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ANAIS | Volume 3

OBRAS DE TERRA

PARTE 1

Realização:
PATROCINADORES
DIAMANTE OURO

BRONZE

PRATA

ESTANHO

DIVULGAÇÃO EDITORAS
Organização:

Apoio:

Apoio Institucional:
Copyright © 2022 by organizadores
Elaboração da ficha catalográfica

Elaboração da ficha catalográfica Diagramação e acabamento


Gildenir Carolino Santos (Bibliotecário) Yuri Barbosa
(Campinas, SP)
Comissão Organizadora Geral –
XX Congresso Brasileiro de Mecânica Organizadores
dos Solos e Engenharia Geotécnica – Anna Sílvia P. Peixoto
(Cobramseg) Celso N. Corrêa
Paulo J. R. Albuquerque (Presidente) Celso Orlando
Anna Sílvia P. Peixoto Ilan Gotlieb
Carlos E. Lautenschläger Jairo Pascoal Júnior
Celso N. Corrêa Marcos M. Futai
Celso Orlando Paulo J. R. Albuquerque
Cristina F. Schmidt
Cristina Tsuha Registro do ISBN
David de Carvalho Galoá
Gilberto Manzali
Ilan Gotlieb Tiragem
Jairo Pascoal Júnior Formato digital (PDF)
Luis F. S. Neves
Marcos Massao Futai Editora
Natália Correia ABMS – Associação Brasileira de Mecânica
Paulo C. B. Ferreti dos Solos e Engenharia Geotécnica
(Campinas, SP)

Catalogação na Publicação (CIP)


Sistema de Bibliotecas da UNICAMP

Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (20.:


2022: Campinas, SP).
C76a Anais do… [recurso eletrônico] /organizadores: Anna Sílvia P. Peixoto…
[et al.]. – Campinas, SP: ABMS, 2022.
1 recurso online.

Vários autores.
Anais do XX Cobramseg.
Modo de acesso: World Web Wide.
Publicação digital no formato PDF. [1,5 GB].
ISBN: 978-65-89463-30-6.

1. Geologia de engenharia – Congressos. 2. Inovação – Congressos.


3.Tecnologia – Congressos. I. Peixoto, Anna Sílvia P. (org.). II. Corrêa, Celso N.
(org.). III. Orlando, Celso (org.). IV. Gotlieb, Ilan (org.). V. Pascoal Júnior,
Jairo (org.). VI. Futai, Marcos M. (org.). VII. Albuquerque, Paulo J. R. (org.).
VIII. Título.
22-027 CDD – 624.151

Bibliotecário: Gildenir Carolino Santos – CRB-8ª/5447

Publicação digital – Brasil


1ª edição – outubro – 2022
ISBN: 978-65-89463-30-6

Atribuição-NãoComercial-Compartilha Igual CC BY-NC-SA

Esta licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam
a você o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos.
Prefácio
A Comissão Organizadora e Cientifica do XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica (XX COBRAMSEG) tem a honra de apresentar os anais do evento mais importante da área em
âmbito nacional.
A Pandemia que acometeu o Brasil e o mundo interferiu em vários eventos dentre eles o próprio
COMBAMSEG, que deveria ter ocorrido em 2020. A Comissão Organizadora e Cientifica começaram a
trabalhar em 2018, por isso, foram 4 anos de trabalho que são coroados entre os dias 23 e 26 de agosto de
2022 no primeiro grande evento Geotécnico brasileiro presencial pós-pandemia.
Inovação e Tecnologia na Geotecnia foi o tema escolhido do XX COBRAMSEG, que representa as
mudanças advindas da transformação digital na sociedade e na Engenharia Geotécnica em avanço
exponencial.
Os trabalhos apresentados nestes anais, compõem quatro eventos: Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Solos e Engenharia Geotécnica, Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas - SBMR, Simpósio Brasileiro
de Engenheiros Geotécnicos Jovens e o Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia. Estes eventos traduzem
o atual estado da arte da geotecnia, com publicações nas mais variadas áreas sobre o tema, com a
participação dos diversos atores da comunidade técnico-cientifica, envolvendo a academia, a execução, a
gestão, o projeto e a governança.
Foram analisados mais de 2.100 resumos que findaram em 1.168 artigos completos publicados. A
comissão organizadora e a cientifica agradecem todos os autores em submeterem seus trabalhos nos eventos,
bem como aos revisores que dedicaram seu precioso tempo na avaliação.

Paulo J. R. Albuquerque Marcos Massao Futai


Presidente da Comissão Organizadora Presidente da Comissão Cientifica
Comissões
COBRAMSEG 2022
Paulo J. R. Albuquerque (Presidente)
Ana Sílvia P. Peixoto
Carlos E. Lautenshcläger
Celso N. Côrrea
Celso Orlando
Cristina F. Schmidt
Cristina Tsuha
David de Carvalho
Gilberto Manzali
Ilan Gotlieb
Jairo Pascoal Júnior
Luis F. S. Neves
Marcos Massao Futai
Natália Correia
Paulo C. B. Ferreti

Comitê Científico
Marcos Massao Futai (Presidente)
Anna Sílvia P. Peixoto
Celso N. Corrêa
Celso Orlando
Ilan Gotlieb
Jairo Pascoal Júnior
Paulo J. R. Albuquerque

Comitê Técnico
Celso Orlando
Celso N. Corrêa
Ilan Gotlieb
Carlos E. Lautenschläger
Jairo Pascoal Júnior
Comitê Financeiro
Celso N. Corrêa
Luis F. S. Neves

GEOJOVEM
Anna Silvia P. Peixoto (Presidente)
Cristina H. C. Tsuha
Jean R. Garcia
Natália S. Correia
Vitor P. Faro

SBMR
Lineu Azuaga Ayres da Silva (Presidente)
Allícia S. S. Oliveira
Anna Luiz M. Ayres da Silva
Carlos E. Lautenschläger
Marcos M. Futai
Talita C. Miranda
Vivian Marchesi

COMITÊ ASSESSOR DO CONGRESSO (CAC)


Maurício M. Sales (Presidente Cobramseg 2014)
Gustavo F. Simões (Presidente Cobramseg 2016)
Luciene E. Lima (Presidente Cobramseg 2018)

Comitê Assessor Local


Faiçal Massad
Fred Falconi
Mauri Gotlieb
Sussumu Niyama

ABMS – DIRETORIA NACIONAL


Fernando Schnaid (Presidente)
Frederico F. Falconi (Vice-Presidente)
Gustavo R. Vianna (Secretário Geral)
Ana Cristina C. F. Sieira (Secretária Executiva)
Neusa M. B. Mota Diretora (Financeira)
André Estêvão F. da Silva (Diretor de Comunicação)
Paulo J. R. Albuquerque (Diretor de Normas Técnicas)
Marianna S. Dias (Diretora do Núcleo Jovem)
CORPOS GERENTES ATUAIS
Corpos gerentes da Sociedade Portuguesa de Geotecnia para o quadriénio 2020-2024

ASSEMBLEIA GERAL
Presidente da Mesa: Ivo Rosa
Secretário: Mafalda Laranjo

DIREÇÃO
Presidente: Alexandre Pinto
Vice-Presidente: Eduardo Fortunato
Secretária Geral: Isabel Fernandes
Secretário Adjunto: Castorina Vieira
Tesoureiro: José Neves

CONSELHO FISCAL
Presidente: Francisco Fernandes
Secretário: Paulo Coelho
Vogal: Gonçalo Diniz Vieira

Comissão Organizadora do XI CLBG


Fernando Schnaid ( Presidente da ABMS )
Alexandre Pinto ( Presidente da SPG )
Paulo J. R. Albuquerque ( Presidente do COBRAMSEG 2022, UNICAMP )
Manuel Matos Fernandes ( Ex-Presidente da SPG; FEUP )
Alexandre Gusmão ( Ex-Presidente da ABMS; Gusmão Eng. Assoc.; UPE )
Jorge Almeida e Sousa ( FCTUC )
Cristina Schmidt ( Comissão organizadora COBRAMSEG 2022; Huesker Brasil )
Castorina Vieira ( Secretária-adjunta da SPG; FEUP )
COMISSÃO CIENTÍFICA
Alexandre Gusmão ( Gusmão Engenheiros Associados / UPE )
Ana Vieira ( Soils & Rocks; LNEC )
Anna Sílvia P. Peixoto ( UNESP )
António Alberto Correia ( FCTUC )
António Viana da Fonseca ( FEUP )
Carlos Emmanuel Lautenschläger ( UEPG )
Celso Nogueira ( ZF Eng. Assoc. )
Celso Orlando ( Infrageo Engenharia )
Cristina Schmidt ( Huesker Brasil )
Ilan Gotlieb ( MG&A Consultores de Solos; ABEG )
Jaime Santos ( IST; TPF )
Jairo Pascoal ( EGT Engenharia Ltda; CBT )
Laura Esteves ( Teixeira Duarte )
Marcos M. Futai ( POLI – USP )
Nuno Cristelo ( Soils & Rocks; UTAD )
Paulo J. R. Albuquerque ( UNICAMP )
Pedro Guedes Melo ( FCTUNL; Consulgeo )
Sara Rios ( Soils & Rocks; FEUP )
Teresa Freitas ( Soils & Rocks; IST )
Tiago Miranda ( UM )
Sumário
EFEITOS DA ADIÇÃO DE BENTONITA SOBRE AS PROPRIEDADES HIDROMECÂNICAS DE UM SOLO
LATERÍTICO ARENOSO ……………………………………………......................................................………….….…………. 14

ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DA PERMEABILIDADE HORIZONTAL NO COMPORTAMENTO DE


SOLOS MOLE ………………………….........................................................................…………………………….….…………. 21

DETERMINAÇÃO DE PROVÁVEIS JAZIDAS PARA ELEMENTOS DE BARRAGEM NA REGIÃO DO


AGRESTE MERIDIONAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO …………....................…………………….….…………. 29

INCERTEZAS NA DEFINIÇÃO DO FATOR DE SEGURANÇA DE UM TALUDE ………………....................…. 37

CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DO SOLO DE ATERRO DO PRÉDIO DE MEDICINA DO CENTRO


ACADEMICO DO AGRESTE- UFPE ………………………………………………….................................…….….…………. 45

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES MÉTODOS DE ESTABILIZAÇÃO MECÂNICA FÍSICO-


GRANULOMÉTRICA DOS SOLOS DA FORMAÇÃO CABO PARA APLICAÇÃO EM OBRAS DE
ENGENHARIA. ……………………………………………………….......................................................................................…. 52

UMA ANÁLISE DOS FATORES DE INFLUÊNCIA NA RESISTÊNCIA DE REJEITOS DE MINÉRIO DE


FERRO ………………………………………............................................................................................................................…. 60

ESTUDO DE CASO: DESCOMISSIONAMENTO E DESCARACTERIZAÇÃO DE BARRAGENS DE ÁGUA


PARA FINS DE ACUMULAÇÃO ……………………………………………………….........................................….…………. 68

CARACTERIZAÇÃO DE SOLO PARA ANÁLISE DE EFICIÊNCIA DE UMA BARRAGEM SUBTERRÂNEA


SUCESSIVA NO AGRESTE PERNAMBUCANO …………………………………………………...........…….….…………. 76

INFLUÊNCIA DO PLANO DE FRATURAS NA ESTABILIDADE DE BARRAGENS DE CONCRETO ….…. 83

DIMENSIONAMENTO DE GEOSSINTÉTICO PARA REFORÇO DE UM ATERRO SOBRE SOLO MOLE


…………………………………………………………………........................................................................................................…. 97

IMPLEMENTAÇÃO COMPUTACIONAL DO MÉTODO DAS FATIAS DE SPENCER …………………….…. 106

RETRO ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUXO ATRAVÉS DA BARRAGEM DE BARREIRAS (PI)


……………………………………………………….….……………………………………………….................................................... 114

CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DE UM SOLO DE ATERRO DE UMA OBRA DA CIDADE DE


CARUARU-PE ……………………………………………………….….……….......................................................................…. 122

ANÁLISE COMPARATIVA DA ESTABILIDADE DE BARRAGENS DE REJEITOS EM MODELOS


REPRESENTATIVOS DE ESTUDO CONSTRUÍDOS PELOS MÉTODOS DE ALTEAMENTO À
MONTANTE, À JUSANTE E LINHA DE CENTRO ……………………………………………………....…..….…………. 130

ANÁLISE NUMÉRICA DA ESTABILIDADE DE TALUDES EMPREGANDO ESTACAS COMO ELEMENTO


DE REFORÇO ……………………………………………………….….……........................................................................……. 138

EXECUÇÃO DE PAVIMENTO FLEXÍVEL: ESTUDO DE CASO DO FORTE SANTA BÁRBARA …………... 146

INFLUÊNCIA DO TIPO DE CAL NO MELHORAMENTO DE UM SOLO ARGILOSO ………………....……. 153

ANÁLISE DE PARÂMETROS GEOTÉCNICOS PÓS-GEOENRIJECIMENTO ………………………………....…. 161

ANÁLISE DA VARIAÇÃO DO COLAPSO DE UM SOLO ARGILOSO DO MUNICÍPIO DE APUCARANA


– PR ……………………………………………………….….……..........................................................................................……. 169

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL COLAPSÍVEL E EXPANSIVO DE SOLOS DO NORDESTE BRASILEIRO


POR MEIO DE MÉTODOS QUALITATIVOS E QUANTITATIVOS …………………………………...................…. 177

CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO GEOTÉCNICA DE POSSÍVEIS JAZIDAS DE SOLO PARA USO


EM RODOVIAS NÃO PAVIMENTADAS .....................................................……………………...................…………. 185

APLICABILIDADE DA DOSAGEM FÍSICO-QUÍMICA EM MISTURAS SOLO-CIMENTO PARA A


PAVIMENTAÇÃO ……………………………………………………….….………...............................................................…. 193

ESTUDO DA RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO DIRETO DE SOLO RESIDUAL DE GNAISSE DO


COMPLEXO EMBU .................................................................……………………………………...…………….….…………. 201

ESTUDO DE CASO: UTILIZAÇÃO DO MÉTODO NÃO DESTRUTIVO (MND) DO TIPO TUNNEL LINER
PARA DRENAGEM URBANA NO MUNICÍPIO DE NATAL ………………………………………………..........……. 209

ANÁLISE DE CARREAMENTO EM MODELO EXPERIMENTAL DE BARRAGEM DE TERRA .......………. 217

EFEITO DA SUCÇÃO NA ESTABILIDADE DE TALUDES DE ATERROS COM SOLOS ARENOSO E


ARGILOSO ……………………………………………………….….............................................................................…………. 225

ESTUDOS GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS E SOLUÇÕES DE ENGENHARIA PARA ATERROS SOBRE


SOLOS MOLES – NOVA TAMOIOS CONTORNOS - CARAGUATATUBA ……………………………........…. 232

ANÁLISE DA DISPERSIBILIDADE DE SOLOS DA PLANÍCIE COSTEIRA SUL DO RIO GRANDE DO SUL


……………………………………………………….….………....................................................................................................…. 240

O CONTROLE TECNOLÓGICO DE UMA PEQUENA CONTENÇÃO EM SOLO GRAMPEADO NA


CIDADE DE PORTO ALEGRE/RS ……………………………………………………….….………...................................…. 248

AVALIAÇÃO DOS MÉTODOS DE CAPACIDADE DE CARGA DE ANCORAGENS EM UMA CORTINA


ATIRANTADA EM BELO HORIZONTE-MG ……………………………………………………….….……...............……. 256
AVALIAÇÃO DO COMPÓSITO SOLO-CAL COMO CAMADA CONSTITUINTE EM PAVIMENTO
URBANO ……………………………………………………….….…………................................................................................. 264

ANÁLISE DA UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE MINERAÇÃO COMO AGREGADOS MIÚDOS EM


BARRAGENS DE CONCRETO ………………………………………………….........................................…….….…………. 271

ANÁLISE ESTATÍSTICA DE CORRELAÇÃO ENTRE A PIEZOMETRIA DE UMA BARRAGEM DE TERRA E


O NÍVEL D’ÁGUA DO SEU RESERVATÓRIO ……………………………………………….............……….….…………. 279

ESTUDO DE UM SOLO ESTABILIZADO COM CIMENTO PORTLAND A PARTIR DO MÉTODO DE


DOSAGEM FÍSICO-QUÍMICA ……………………………………………………….….…........................................………. 287

DIRETRIZES PARA O MONITORAMENTO DE DEFORMAÇÕES E DESLOCAMENTOS EM BARRAGENS


E ESTRUTURAS DE MINERAÇÃO UTILIZANDO GNSS ………………………………………………….….…………. 295

ESTUDO DOS PARÂMETROS GEOTÉCNICOS DE SOLOS MOLES DE ATERROS DO LOTE 5 DA BR101


– PARAÍBA/PB ……………………………………………………….….………......................................................................…. 302

CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA E RESILIENTE DO SUBLEITO DA BASE AÉREA NAVAL SITUADA EM


SÃO PEDRO DA ALDEIA – RJ ……………………………………………………….…..........................................…………. 308

ANÁLISE DO POTENCIAL DE ERODIBILIDADE DE UM CANAL NA BARRAGEM OLHO D’ÁGUA …. 316

UM PANORAMA DO PRÉ-CARREGAMENTO A VÁCUO ……………………………………………………….……. 324

SEGURANÇA DAS BARRAGENS DE MINERAÇÃO NO BRASIL – CASOS DE MARIANA (MG) E


BRUMADINHO (MG) ……………………………………………………….….……........................................................……. 332

ESTUDO GEOTÉCNICO DE UM SOLO DA FORMAÇÃO BARREIRAS DA REGIÃO METROPOLITANA


DO RECIFE (RMR) PARA USO EM CAMADA DE COBERTURA DE ATERRO SANITÁRIO
……………………………………………………….…..…………………….................................................................................…. 340

OTIMIZAÇÃO DA IMPERMEABILIDADE DO NÚCLEO DE UMA BARRAGEM DE TERRA COM BASE


NA RAZÃO η/Liv ...……………………………………………………….….……..............................................................……. 348

DIMENSIONAMENTO E ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DE CONTENÇÃO DE TALUDE POR MEIO DE


CORTINA ATIRANTADA E RETALUDAMENTO ………………………………………….......…………….….…………. 356

ANÁLISE DA ESTABILIDADE DE UM PRESUMIDO CORTE EM TALUDE UTILIZANDO REFORÇO EM


SOLO GRAMPEADO ……………………………………………………….….……….........................................................…. 364

INFLUÊNCIA DO TEMPO DE CURA NA RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO SIMPLES DE MISTURAS


ENTRE SOLO E ELEVADOS TEORES DE EMULSÃO ……………………………………………………….….…………. 372

CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS TÍPICOS DO RECÔNCAVO BAIANO PARA FINS


RODOVIÁRIOS …………………………………………………....................................................................…….….…………. 380

ANÁLISES DE ESTABILIDADE DE TALUDES E DE PERCOLAÇÃO EM UMA BARRAGEM DE TERRA


HOMOGÊNEA SOB A PERSPECTIVA DE SEGURANÇA DE BARRAGENS ………………………................…. 388

ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE TALUDES: UM ESTUDO EM UM TALUDE DE ATERRO PRÓXIMO A


UMA PONTE LOCALIZADA EM PALMAS – TO ……………………………………………………….….........…………. 396

ANÁLISE EM MODELO DE LABORATÓRIO DA SUBSTITUIÇÃO DE FILTRO DE AREIA POR


GEOCOMPOSTO EM BARRAGENS DE TERRA ………………………………………………….….……..............……. 404
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0143 ISBN: 978-65-89463-30-6

XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia


Geotécnica
IX Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas
IX Simpósio Brasileiro de Engenheiros Geotécnicos Jovens
VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos
Jovens
15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP

Efeitos da Adição de Bentonita Sobre as Propriedades


Hidromecânicas de um Solo Laterítico Arenoso
Yago Isaias da Silva Borges
Professor substituto, Universidade Federal do Tocantins, Palmas, Brasil, byagoisaias@yahoo.com.br

Bismarck Chaussê de Oliveira


Engenheiro civil, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, bismarckchausse@gmail.com

Márcia Maria dos Anjos Mascarenha


Professora associada, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, marciamascarenha@gmail.com

RESUMO: Bentonitas são argilas naturais comumente empregadas em obras geotécnicas que requeiram
estanqueidade, como camadas impermeabilizantes de aterros sanitários. Contudo, o emprego desse material
como estabilizante de solos exige cautela, dada o seu elevado potencial de expansão. Assim, o objetivo desse
trabalho é analisar os efeitos da adição de bentonita sódica sobre as propriedades hidromecânicas de um solo
tropical laterítico arenoso da região metropolitana de Goiânia – GO. Além do solo natural, outras duas amostras
foram utilizadas, contendo teores de bentonita iguais a 3% e 6%. Para a análise hidromecânica, foram
realizados ensaios de compactação (energia Proctor normal), permeabilidade e resistência à compressão
simples. Os corpos-de-prova foram compactados em equipamento miniatura, de acordo com a metodologia
MCT. Verificou-se que as amostras contendo bentonita apresentaram maiores valores de umidade ótima,
menores massas específicas aparentes secas máximas, menores coeficientes de permeabilidade e maiores
resistências à compressão simples quando comparadas ao solo sem adições. Por fim, concluiu-se que esses
fenômenos estão intimamente ligados aos processos de hidratação das bentonitas, especialmente aos
mecanismos de adsorção de moléculas de água e íons hidratados.

PALAVRAS-CHAVE: Compactação, permeabilidade, compressão simples, montmorillonita, hidratação.

ABSTRACT: The aim of this study is to analyze the effects of sodium bentonite addition on the
hydromechanical properties of a sandy lateritic tropical soil from the metropolitan region of Goiânia - GO.
Besides the natural soil, two other samples were used, containing bentonite contents of 3% and 6%. For the
hydromechanical analysis, compaction (Proctor standard energy), hydraulic conductivity and unconfined
compression tests were performed. The specimens were compacted in miniature equipment according to the
MCT methodology. It was verified that the samples containing bentonite presented higher values of optimal
moisture content, lower maximum apparent dry mass, lower hydraulic conductivity coefficients and higher
unconfined compression strengths when compared to the soil without additions. Finally, it was concluded that
these phenomena are closely linked to bentonite hydration processes, especially to the adsorption mechanisms
of water molecules and hydrated ions.

KEYWORDS: Compaction, hydraulic conductivity, unconfined compression, montmorillonite, hydration.

1 Introdução

Bentonitas são argilas naturais formadas pelo processo de intemperização de cinzas vulcânicas, tendo
como principal mineral constituinte a montmorilonita (AMADI, 2013). Uma vez que as montmorilonitas
apresentam elevadas superfície específica (800 m²∕g) e carga elétrica líquida negativa, as bentonitas adquirem
a capacidade de atrair moléculas de água e íons hidratados, o que resulta em um processo expansivo no qual o
volume final hidratado pode chegar a dez vezes o volume inicial seco (SHACKELFORD et al., 2000).

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Esse potencial de expansão, quando controlado, torna-se útil para a engenharia geotécnica, visto que
confere às bentonitas a capacidade de reduzir a permeabilidade de solos. Além disso, propriedades como a
elevada capacidade de troca catiônica e de sorção (MORANDINI; LEITE, 2012) habilitam o emprego desse
material em obras que requeiram estanqueidade – seja para conter o avanço de água, ou mesmo de
contaminantes – como camadas de revestimento de aterros sanitários, por exemplo.
Por outro lado, solos altamente intemperizados, como grande parte dos lateríticos encontrados no Brasil,
apresentam estruturas porosas, fruto dos processos de cimentação decorrentes de sua constituição
mineralógica, especialmente da presença de óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio (CAMAPUM DE
CARVALHO et al., 2015). Nessas condições, mesmo compactados, muitos desses solos tornam-se
inadequados para o emprego em obras geotécnicas que exijam parâmetros de permeabilidade e sorção mais
rigorosos.
Assim, o emprego de bentonita como estabilizante químico de solos tropicais lateríticos, como os
supracitados, constitui uma alternativa geotécnica que tem demonstrado resultados satisfatórios, sobretudo no
que diz respeito à redução de permeabilidade (MORANDINI, 2014; MORANDINI; LEITE, 2012; RIBEIRO
et al., 2018). Nesse contexto, o objetivo desse trabalho é analisar os efeitos da adição de bentonita sobre as
propriedades hidromecânicas de um solo tropical laterítico arenoso, com foco em parâmetros comumente
presentes em obras geotécnicas, como compactação, permeabilidade e resistência à compressão simples.

2 Materiais e Métodos

2.1 Materiais

Para realização desse estudo, dois materiais foram utilizados: um solo tropical laterítico arenoso e
bentonita sódica. O solo foi coletado na região metropolitana de Goiânia, a uma profundidade de 0,4 m, sendo
composto, principalmente, por quartzo, gibsita, hematita e caulinita (REZENDE et al., 2016). A bentonita
sódica foi escolhida por sua ampla utilização em obras geotécnicas, sobretudo para redução de coeficientes de
permeabilidade de solos (AMADI; EBEREMU, 2012; AMADI; OSINUBI, 2017; DE LA MORENA et al.,
2018).
Com esses materiais, duas misturas foram formadas: SB3 (97% de solo + 3% de bentonita) e SB6 (94%
de solo + 6% de bentonita). A Tabela 1 apresenta um resumo da caracterização geotécnica desses materiais.

Tabela 1 – Caracterização Geotécnica


Amostra
Item
Solo Bentonita SB3 SB6
Classificação MCT expedita LA’ - LA’-LG’ LG’
Massa específica dos grãos 2,64 2,71 2,63 2,62
Limite de liquidez (%) 37 470 47 54
Limite de plasticidade (%) 27 48 30 27
Índice de plasticidade (%) 10 422 17 27
pH 5,9 9,9 7,3 7,4
Distribuição granulométrica, sem defloculante (%)
Pedregulho 0,1 0,0 0,1 0,1
Areia 62,0 0,0 57,9 55,7
Silte 29,0 89,0 32,2 29,9
Argila 8,9 11,0 9,8 14,3
Distribuição granulométrica, com defloculante (%)
Pedregulho 0,1 - 0,1 0,1
Areia 56,6 - 50,6 52,2
Silte 29,2 - 31,9 29,9
Argila 14,0 - 17,4 17,8
Nota: LA’: solo laterítico arenoso; LG’: solo laterítico argiloso; LA’-LG’: solo laterítico areno-argiloso (DERSA, 2006).

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A bentonita foi utilizada em teores de 3% e 6% a fim de se verificar os efeitos de seu acréscimo gradativo
sobre as propriedades hidromecânicas do solo. Além disso, dados da literatura mostram que solos compactados
tratados com esses percentuais de bentonita apresentam coeficientes de permeabilidade próximos de 1x10 -9
m∕s (MORANDINI, 2014; MORANDINI; LEITE, 2012; RIBEIRO et al., 2018), de modo que maiores teores
impossibilitariam a realização de ensaios em permeâmetros de paredes rígidas.

2.2 Métodos

2.2.1 Compactação

O ensaio de compactação foi realizado de acordo com a metodologia MCT, em equipamento miniatura,
na energia Proctor normal. Nessa metodologia, os corpos-de-prova são cilíndricos, moldados com diâmetro e
altura iguais a 50±1 mm. O ensaio seguiu as preconizações da norma DNER-ME 228 (DNER, 1994).

2.2.2 Permeabilidade

Os corpos-de-prova utilizados nessa etapa foram compactados na condição de umidade ótima (wop) e
massa específica aparente seca máxima (ρdmax), obtidos de acordo com o item 2.2.1. Os moldes cilíndricos
utilizados na compactação foram adaptados como permeâmetros, permitindo, assim, a execução dos ensaios
de permeabilidade sem extração dos corpos-de-prova. A Figura 1 apresenta o modelo de permeâmetro descrito.

Figura 1 – Permeâmetros adaptados.

Os ensaios foram realizados com carga variável, e gradiente hidráulico igual a 10 (0,5 m de coluna
d’água). A saturação foi realizada com fluxo ascendente, utilizando o mesmo gradiente da fase de percolação.
O coeficiente de permeabilidade foi calculado de acordo com a NBR 14545 (ABNT, 2000).

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2.2.3 Resistência à Compressão Simples

Os ensaios de resistência à compressão simples foram realizados com corpos-de-prova compactados


conforme descrito no item 2.2.1, salvo que a altura dos mesmos foi de 100±1 mm, para garantir uma relação
altura x diâmetro de 2:1. Uma vez compactados, os corpos-de-prova foram extraídos, envoltos em filme
plástico e acondicionados em uma caixa vedada por 28 dias (cura selada). A ruptura ocorreu de acordo com as
recomendações da NBR 12770 (ABNT, 1992).

3 Resultados e Discussão

3.1 Compactação

A Figura 2 apresenta as curvas de compactação do solo e das amostras SB3 e SB6.

1,48
Massa específica aparente seca (g/cm³)

1,46
1,44
1,42
1,40
1,38
1,36
1,34
1,32
14 16 18 20 22 24 26 28 30 32
Umidade (%)

SB3 Solo SB6

Figura 2 - Curvas de compactação.

As curvas de compactação apresentadas na Figura 2 demonstram que a adição de bentonita ao solo


ocasionou um aumento de wop e uma redução de ρdmax. Bentonitas são compostas, principalmente, de
montmorilonita, mineral que possui uma elevada superfície específica (800 m²∕g) e carga elétrica líquida
negativa, o que confere a elas uma alta capacidade de adsorção de moléculas de água e íons hidratados
(SHACKELFORD et al., 2000). Portanto, a incorporação de bentonita ao solo exige mais água durante o
processo de hidratação, resultando em maiores valores de wop.
Esse mesmo processo de hidratação faz com que as bentonitas sejam altamente expansivas, formando
um gel ao redor dos grãos de solo, que passam a ter um volume aparente maior, o que, consequentemente,
provoca redução de ρdmax (AMADI, 2013).

3.2 Permeabilidade

Os coeficientes de permeabilidade das amostras, à temperatura de 20°C (k20) são apresentados na Tabela
2.

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Tabela 2 – Coeficientes de permeabilidade das amostras.


Amostra k20 (m ∕s)
Solo 3,4x10-8
SB3 1,3x10-9
SB6 4,5x10-10

Os resultados dos ensaios de permeabilidade indicam que houve uma redução dos coeficientes de
permeabilidade das amostras em uma ordem de magnitude para cada 3% de bentonita adicionado. Resultados
semelhantes podem ser encontrados na literatura (MORANDINI; LEITE, 2012; 2015; AMADI; EBEREMU,
2012; AMADI; OSINUBI, 2017; KERAMATIKERMAN et al., 2017).
De acordo com Shackelford et al (2000) duas propriedades das bentonitas são responsáveis por
fenômenos semelhantes aos observados na Tabela 2: adsorção e expansão. No primeiro caso, as moléculas de
água e os cátions hidratados adsorvidos são mantidos imóveis, criando caminhos irregulares para a água livre,
o que retarda o fluxo. No segundo, as montmorilonitas expandidas ocupam volumes entre 5 e 10 vezes maiores
que seus volumes secos, comprimindo os poros do solo, o que também dificulta o fluxo da água livre.

3.3 Resistência à Compressão Simples

Os valores de resistência à compressão simples (RCS) das amostras são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 – Resistência à compressão simples das amostras.


Amostra RCS (kPa)
Solo 304,4
SB3 390,1
SB6 422,6

Os dados da Tabela 3 demonstram que a adição de bentonita aumentou a resistência à compressão


simples das amostras. Isso pode ser explicado, em primeiro lugar, pelo fato de a bentonita aumentar a coesão
entre as partículas do solo. Embora o processo de carregamento seja por compressão, o processo de ruptura do
solo é, primordialmente, por cisalhamento (Figura 3), fenômeno no qual a coesão interfere de maneira direta.

Figura 3 – Detalhe do plano de cisalhamento.

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Uma segunda provável causa é que, durante o processo de hidratação, a bentonita, ao adsorver as
moléculas de água presentes no solo, promove uma maior atração entre as partículas sólidas, aumentando a
área de contato entre elas (LAMBE; WHITMAN, 1969; AHMED, 2015). Portanto, quanto maior a área de
contato entre as partículas, maior a tensão por elas suportada.

4 Conclusão

Diante dos resultados expostos nesse artigo, verificou-se que a adição de bentonita afetou as
propriedades hidromecânicas do solo laterítico arenoso analisado das seguintes formas: a) aumentando os
valores de umidade ótima e reduzindo os de massa específica aparente seca máxima; b) reduzindo os
coeficientes de permeabilidade; c) aumentando a resistência à compressão simples. Por fim, conclui-se que
esses fenômenos estão intimamente ligados aos processos de hidratação das bentonitas, especialmente aos
mecanismos de adsorção de moléculas de água e íons hidratados.

AGRADECIMENTOS

Esse trabalho é parte de um projeto de pesquisa financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq, processo 408756/2016-0), pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES, código de financiamento 001) e pela CMOC Internacional Brasil, a quem os
autores agradecem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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de ensaio. Rio de Janeiro, 4 p.
ABNT (2000) NBR 14545: Solo - Determinação do coeficiente de permeabilidade de solos argilosos à carga
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24p.
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ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DA PERMEABILIDADE


HORIZONTAL NO COMPORTAMENTO DE SOLOS MOLE
Letícia Pereira de Morais
Doutoranda, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, leticia.12.morais@gmail.com

Amanda Eduarda Soares Araújo


Engenheira Civil, Centro Universitário Uniceub, Brasília, Brasil, amanda.eduarda1995@sempreceub.com

Bruna de Carvalho Faria Lima Lopes


Universidade de Strathclyde, Glasgow, Escócia, bfarialima@gmail.com

Manoel Porfírio Cordão Neto


Professor, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, mporfírio76@gmail.com

RESUMO: Neste trabalho foi realizado um estudo numérico do aterro de Haarajoki (Finnish National Road
Administration, 2019), um aterro teste, instrumentado, construído sobre solo mole. O estudo foi realizado
utilizando uma formulaçao acoplada da qual foi possível obter o comportamento do aterro em termos de
deslocamento, poropressão e tensão efetiva. Além disso, foi realizada uma análise de sensibilidade para avaliar
a influência da permeabilidade horizontal no comportamento do aterro, variável esta que muitas vezes é
estimada. Os resultados mostraram que a ferramenta numérica utilizada produz resultados rigorosos com
relação ao comportamento do aterro. A análise de sensibilidade do coeficiente de permeabilidade horizontal
mostrou que variando esse parâmetro duas ordens de grandeza em relação ao coeficiente de permeabilidade
vertical, ele tem influência nos resultados de deslocamento vertical do aterro.

PALAVRAS-CHAVE: Solo mole, coeficiente de permeabilidade, Método dos Elementos Finito, Análise
hidromecânica acoplada.

ABSTRACT: This work presents a numerical analysis of Haarajoki embakment, a test embankment with field
monitoring, constructed on soft soil. A coupled formulation was used to obtain the behavior of the construction
of the embakment in terms of settlement, porepressure and effective stress. Besides, a sensibility analysis was
performed to evaluate the influence of the horizontal coefficient of permeability on the soil behaviour, variable
which is often estimated. Results shows that numerical analysis provide strict results related to soil behaviour.
Sensibility analysis of the horizontal permeability coefficient showed that varying these parameters two orders
of magnitude, it has little influence on the results of settlement.

KEYWORDS: soft soil, coefficient of permeability, Finite Element Method, Coupled Hydromechanical
Analysis

1 Introdução

Obras rodoviárias, ferroviárias, encontro de pontes são alguns tipos de obras em que se constrói sobre
solos moles. Segundo Massad (2010) os solos moles possuem formação sedimentar recente e apresentam baixa
resistência a penetração, com valores de SPT menores ou iguais a 4 golpes. Esses solos possuem composição
argilosas com baixa capacidade de suporte, elevada compressibilidade e baixa permeabilidade. Massad (2010)
comenta ainda a possibilidade desses solos apresentarem em sua composição matéria orgânica, com cor escura
e cheiro característico. Devido as suas características, alguns problemas geotécnicos relacionados a esses solos
são a sua baixa capacidade de suporte e a ocorrência de recalques futuros. O estudo desses solos no Brasil é
de grande importância pois segundo cita Machado (2012), ao longo de toda a costa do país e nas várzeas dos

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rios é fácil encontrar depósitos de argilas moles, além de áreas com solos competentes estarem se tornando
cada vez mais escassas.
Dificuldades relacionadas as incertezas dos parâmetros dos materiais e simplificações excessivas nos
projetos envolvendo solos moles, acarretam muitas vezes em discrepâncias do projeto com a execução in loco.
Diversos estudos foram realizados com o objetivo de compreender melhor o comportamento desses solos
(Spannenberg, 2003; Lopes, 2011; Machado, 2012; Amavasai, 2015). Os estudos de aterro sobre solos moles
devem avaliar a ocorrência de ruptura de fundação, devido a baixa capacidade de carga desses solos. Além
disso, deve-se observar o fenômeno de adensamento, o qual está relacionado a baixa permeabilidade do solo,
levando a ocorrência de recalques futuros.
Este estudo analisou o aterro Haarajoki, um aterro teste, instrumentado, que possibilita cálculos de
recalques, deslocamentos laterais e variação da poropressão. Ele foi construído com e sem melhoramento no
solo entre Julho e Agosto de 1997, pela Finnish National Road Administration, sendo que diversos estudos
numéricos foram realizados com o objetivo de reproduzir seu comportamento (Lopes, 2011; Amavasai, 2015).
Nesse trabalho foram utilizados dados do aterro de Haarajoki para avaliar a sensibilidade do coeficiente de
permeabilidade horizontal na previsão do comportamento do aterro utilizando o método dos elementos finitos
com formulação hidromecânica acoplada.

2 Coeficiente de permeabilidade de solos moles

Os solos moles são caracterizados por serem de formação sedimentar, e possuírem baixos coeficientes
de permeabilidade. A deposição de sedimentos irá gerar a formação de perfil estratigráficos anisotrópicos.
Dentre as propriedades com características anisotrópicas está o coeficiente de permeabilidade, o qual irá variar
nas direções vertical e horizontal. Diversos ensaios in situ e em laboratório são utilizados na determinação da
permeabilidade dos solos. Ensaios usuais para a determinação do coeficiente de permeabilidade em obras sobre
solos moles são os ensaios de piezocone e ensaio com piezômetro de Casagrande, in situ, e ensaios oedométrico
e ensaio com permeâmetro, em laboratório. Estudos de obras sobre solos moles (Teixeira, 2012; Mello, 2019)
foram realizados e observaram a variabilidade dos resultados do coeficiente de permeabilidade e as diferenças
com relação a permeabilidade dos solos em campo.
O ensaio de piezocone consiste na cravação de uma ponteira cônica de aço, vertical ao solo,
instrumentada, que possibilita a investigação geotécnica do solo. As principais medidas realizadas são de
resistência de ponta, atrito lateral, poropressão, resistividade elétrica e sensor sísmico, sendo elas utilizadas
para obtenção de parâmetros do solo para realização de projetos. De Maio (2005) explica que a poropressão
obtida no piezocone pode ser avaliada sobre dois pontos de vistas. O primeiro está relacionado ao entendimento
da drenabilidade do solo, avaliando a poropressão durante o processo de cravação do cone. Num segundo
enfoque é avaliada é a determinação de parâmetros de adensamento e permeabilidade dos solos argilosos,
realizando o ensaio de dissipação. O coeficiente de permeabilidade horizontal pode ser obtido, por exemplo,
por correlações diretas a partir do ensaio de dissipação (Perez e Fauriel, 1988) ou por correlações indiretas a
partir da estimativa do coeficiente de adensamento horizontal (Burns e Mayne, 2002).
Outro ensaio em campo para determinação da permeabilidade é utilizando o piezômetro de Casagrande.
O ensaio é feito variando-se o nível d’água no interior do piezômetro, e medindo-se o tempo para que as
pressões voltem a se equalizar. O tempo para a equalização é chamado de tempo de retardo e ele é inversamente
proporcional à permeabilidade do solo. Teixeira (2012) cita os métodos de Hvorslev (1951) e Gibson (1963)
para determinação do coeficiente de permeabilidade do solo.
O ensaio oedométrico é realizado em laboratório e consiste no estudo de compressão unidimensional de
um corpo de prova confinado lateralmente. Nesse ensaio, é estudado o fenômeno de adensamento
unidimensional, no qual é possível obter indiretamente a permeabilidade do solo a partir do coeficiente de
adensamento.
Mello (2019) realizou um estudo numérico de aterro sobre solo mole da duplicação da BR-135/MA. Foi
adotado, como referência, o valor do coeficiente de permeabilidade obtido nos de ensaios de piezocone.
Entretanto, as análises numéricas demonstraram que a permeabilidade utilizada era subestimada, ao comparar
o tempo para 95% dos recalques das simulações com o tempo observado em campo. Por retroanálise, foram
estimadas as permeabilidades horizontal e vertical, buscando alcançar o tempo de 95% dos recalques de

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campo. Para a estimativa, foi buscado na literatura relação entre o coeficiente de permeabilidade vertical e
horizontal. Schinaid (2014) apresentou correlações entre o coeficiente de permeabilidade vertical e horizontal
para argilas de diferentes naturezas (Tabela 1). Coutinho (1976) estabeleceu que a relação entre as
permeabilidades horizontais e verticais das argilas brasileiras varia de 1,5 a 2,5. Melo (2019) adotou uma
relação de 2 entre as permeabilidades vertical e horizontal, obtendo resultados satisfatórios.

Tabela 1- Razão de permeabilidade em argilas (Ladd et. al., 1977 e Jamiolkowski et al., 1985)

Natureza da argila Kv/Kh


Argilas homogêneas, sem macroestrutura definida 1,0 a 1,5
Macroestrutura definida, presença de descontinuidades e lentes permeáveis 2,0 a 4,0
Depósitos com ocorrência de várias camadas de material permeável 3,0 a 15

Ensaios de laboratório e de campo podem ser utilizados para determinação da permeabilidade dos solos.
Esses ensaios possuem limitações como a qualidade da amostra indeformada nos ensaios oedométricos, devido
à dificuldade de amostragem do solo mole, e a representatividade da amostra para todo a extensão do maciço.
Teixeira (2012) cita possíveis variações nos resultados de ensaios de permeabilidade in situ com piezômetro
de Casagrande pelo amolgamento do solo na instalação do piezômetro, possibilidade de colmatação do dos
poros e o adensamento do solo acerca do tubo piezométrico. Por fim, a determinação da permeabilidade dos
solos ainda possui muitas imprecisões, o que gera incertezas no problema pois se observa que a mudança na
permeabilidade do solos altera seu comportamento.

3 Metodologia

Neste estudo foram realizadas análises numéricas utilizando elementos finitos. Foi realizada a simulação
de um problema de aterro sobre solo mole, comparando dados da instrumentações com os obtidos na
simulação. Além disso, foi realizada análise de sensibilidade do coeficiente de permeabilidade para observar
como esse parâmetro interfere na previsão do comportamento do solo mole.

3.1 Estudo de caso- Aterro Haarajoki

O aterro de Haarajoki, um aterro sobre solo mole, localizado na Finlandia, foi escolhido para realização
de estudos rigorosos com relação aos fenômenos hidromecânico acoplados que ocorrem na fundação. A seção
estudada foi uma seção em que não foram feitos melhoramentos no solo. O aterro foi instrumentado
possibilidando o monitoramento de recalques, deslocamentos e da dissipação do excesso de poropressão,
fornecendo os parâmetros para realização das simulações numéricas. Para as análises foi considerado o modelo
Modified Cam-Clay, para o solo mole, e o modelo Mohr-Coulomb para o aterro. Os parâmetros utilizados na
análise são apresentados na Tabela 2 e na Tabela 3. Maiores detalhes relacionados a geometria e estratigrafia
do aterro são apresentados em Lopes (2011).
Tabela 2- Parâmetros do solo de fundação- Cam-Clay Modificado

Parâmetros Argila1 Argila 2 Fonte


 (kN/m³) 18 15 Lopes (2011)
' 38,5 21 Lopes (2011)
 0,35 0,2 Lopes (2011)
OCR 15,7 2 Lopes (2011)
e0 1,4 2,5 Lopes (2011)
kx (m/s) 4,05E-09 1,85E-09 Lopes (2011)
ky (m/s) 1,97E-09 1,50E-09 Lopes (2011)
Razão ky/kx 0,49 0,81 Lopes (2011)
 0,05 0,05 Amavasai (2015) -retro análise

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 0,5 0,5 Amavasai (2015) -retro análise

Tabela 3- Parâmetros do aterro- Mohr-Coulomb

 (kN/m³) E (kPa) c' (kPa) '   k (m/s) Fonte


Aterro 20 60000 5 38 0,3 5° 1x 10 (estimado) Lopes (2011)
-4

Neste estudo foi realizada uma simplificação da fundação de solo mole em apenas duas camadas, a
primeira de 2 metros, denominada crosta seca, formada por uma argila altamente pré-adensada devido ao
processo de ressecamento da camada e a segunda camada de 20 metros formada de uma argila levemente
adensada. Na Figura 1(a) observa-se a geometria da análise numérica.
A simulação da construção do aterro foi realizada em 14 etapas relacionadas na Tabela 4. A etapa 1
correspondendo a análise do tipo in situ para geração do estado de tensões e poropressões iniciais e as etapas
seguintes foram realizadas acoplando equilíbrio e fluxo, para consideração do fenômeno de adensamento na
construção do aterro e posterior à construção. O aterro foi construído em 6 etapas, sendo os tempos de
construção correspondentes a construção real do aterro Haarajoki. Na consideração do fenômeno de
adensamento, foi adotada a condição de contorno de poropressão igual zero entre a camada de solo mole e o
aterro.
Tabela 4- Duração das análises

Etapa Duração
Insitu -
Acoplada- construção base 5 dias
Acoplada- adensamento base 17 dias
Acoplada- construção camada 1 2 dias
Acoplada- adensamento camada 1 1 dia
Acoplada- construção camada 2 2 dias
Acoplada- adensamento camada 2 1 dia
Acoplada- construção camada 3 2 dias
Acoplada- adensamento camada 3 1 dia
Acoplada- construção camada 4 2 dias
Acoplada- adensamento camada 4 1 dia
Acoplada- construção camada 5 2 dias
Acoplada- adensamento 1365 dias

3.2 Análises de sensibilidade

Para o estudo da sensibilidade do coeficiente de permeabilidade horizontal e vertical foram feitas mais
10 simulações mantendo a permeabilidade vertical constante e variando a permeabilidade horizontal, segundo
a mesma razão para as duas camadas de solo mole. As análises e os parâmetros de permeabilidade adotados
para cada uma estão apresentados na Tabela 5. Os demais parâmetros do solo foram mantidos iguais.

Tabela 5- Análise de sensibilidade do coeficiente de permeabilidade.

ky (m/s) kx (m/s) ky (m/s) kx (m/s)


Razão ky/kx
(argila 1) (argila 1) (argila 2) (argila 2)
Análise 1 4,05x10-09 4,05x10-09 1,85x10-09 1,85x10-09 1
Análise 2 4,05x10-09 2,46 x10-09 1,85x10-09 1,88 x10-09 0,8
Análise 3 4,05x10-09 3,94 x10-09 1,85x10-09 3,01 x10-09 0,5
Análise 4 4,05x10-09 1,97 x10-08 1,85x10-09 1,50 x10-08 0,1
Análise 5 4,05x10-09 1,97 x10-07 1,85x10-09 1,50 x10-07 0,01
Análise 6 4,05x10-09 1,57 x10-09 1,85x10-09 1,20 x10-09 1,25

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Análise 7 4,05x10-09 9,84 x10-10 1,85x10-09 7,52 x10-10 2


Análise 8 4,05x10-09 6,56 x10-10 1,85x10-09 5,02 x10-10 3
Análise 9 4,05x10-09 1,97 x10-10 1,85x10-09 1,50 x10-10 10
Análise 10 4,05x10-09 1,97 x10-11 1,85x10-09 1,50 x10-11 100

4. Resultados e Discussão

Os resultados das análises numéricas de deslocamento vertical do aterro desse estudo foram comparados
com dados obtidos pela instrumentação do aterro de Haarajoki (Figura 1(b)). Os resultados mostram que a
simulação se aproxima dos resultados obtidos pela instrumentação. Todos os dados foram obtidos no ponto A
da Figura 1(a) ao longo do tempo. Inicialmente foram utilizados para os parâmetros do modelo MCC,  e 
os valores obtidos em Amavasai (2015) (Para a argila 1-  =0,38 e =0,03 e para a argila 2-  =0,3 e  =0,03).
Por retro análise, foi realizada a correção desses parâmetros, utilizando os parâmetros da Tabela 2.

0 500 Tempo (dias) 1000 1500


0,00

A Argila 1 Dados de campo (linha central)


Deslocamento vertical (m)

0,10
Este estudo
0,20
Argila 2 0,30

0,40

0,50

(a) (b)
Figura 1- (a) Geometria do problema (b)Variação dos deslocamentos verticais do aterro com o tempo

A Figura 2 apresenta o resultado do teste de malha do problema. A análise do aterro foi realizada
utilizando uma malha com 3267 elementos. Foram testadas outras três malhas (1288 elementos, 8532
elementos e 12521 elementos) que confirmaram a adequação da malha utilizada no problema. Na Figura 3(a)
apresenta-se os resultados da simulação da variação do excesso de poropressão com o tempo. Observa-se que
a construção do aterro irá gerar um excesso de poropressão que irá ser dissipado com o tempo. A Figura 3(b)
apresenta os resultados da variação da tensão efetiva com o tempo, após a construção do aterro. Os resultados
são coerentes com o que ocorre no fenômeno de adensamento, segundo o qual, com a dissipação do excesso
de poropressão gerado pelo carregamento, ocorre um aumento da tensão efetiva do solo.

Tempo (dias)
0 400 800 1200
0
1288 elementos
Deslocamento vertical (m)

0,1 3267 elementos


8532 elementos
12521 elementos
0,2

0,3

0,4

0,5

Figura 2- Teste de Malha

A Figura 4(a) e (b) apresenta o campo do excesso de poropressões do problema. Observa-se na Figura
4(a) o campo logo após a construção da última camada do aterro, no qual foi gerado excesso de poropressão
na fundação do aterro. A Figura 4(b) apresenta o campo do excesso de poropressão após 1401 dias de
simulação (Tabela 4), no qual ocorreu a dissipação do excesso de poropressão gerado logo abaixo do aterro.

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60 60
Excesso de poropressão ( kPa)
50 50

Tensão efetiva (kPa)


40 40

30 Este estudo 30 Este estudo


20 20
10 10
0 0
37 537 1037 1537 37 537 1037 1537
Tempo (dias) Tempo (dias)

(a) (b)
Figura 3- (a) variação do excesso de poropressão com o tempo (b) Variação da tensão efetiva com o tempo

(a) (b)
Figura 4- (a) Excesso de poropressão após a análise acoplada- construção camada 5 (b) Excesso de
poropressão após a análise acoplada- adensamento

Foram realizadas as análises de sensibilidade da permeabilidade do solo mole. Foi mantida a


permeabilidade vertical e variou-se a permeabilidade horizontal. Na Figura 5 apresenta-se a variação do
deslocamento vertical no ponto A com o tempo para as diferentes razões de permeabilidade. A Tabela 6
apresenta o resumo da variação do recalque com a razão entre ky/kx e o erro com relação aos dados de
instrumentação. Os resultados mostram que os deslocamentos verticais do solo mole sofreram modificações
com o aumento ou diminuição da permeabilidade horizontal em uma ordem de grandeza. Aumentando-se a
permeabilidade horizontal em duas ordens de grandeza (razão 0,01) a diferença foi de 7,2 cm (18%) nos
recalques após 1401 dias com os dados da instrumentação. Nas análises utilizando as demais razões, a variação
foi 5 a 9,5%.
Tabela 6- Variação do recalque com relação a instrumentação

Recalque (m) após 1401 Erro com relação a


Razão
dias instrumentação (%)
0,01 0,328 -18,00
0,1 0,375 -6,25
0,5 0,372 -7,00
0,8 0,369 -7,75
1 0,38 -5,00
1,25 0,368 -8,00
2 0,366 -8,50
3 0,365 -8,75
10 0,363 -9,25
100 0,362 -9,50
Instrumentação 0,4 0,00

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Tempo (dias)
0 500 1000 1500 2000
0,00
Dados de campo (linha central)
razão 0,01

Deslocamento vertical (m)


0,10
razão 0,1
razão 0,5
0,20

0,30

0,40

0,50

Figura 5- Variação do deslocamento vertical na linha central aterro com o tempo (razão 0,01, 0,1, 0,5 e 0,8)

A variação dos recalques com a mudança da razão de permeabilidade foi melhor estudado, visto que
esperava-se que eles fossem iguais. A Figura 6 apresenta a variação das tensões efetivas verticais durante a
simulação para os dados do aterro, razão 0,1 e razão 0,01 para as permeabilidades. Observa-se que apesar das
tensões efetivas após 1401 dias serem correspondentes (Figura 6 (d)), o campo de tensões efetivas verticais ao
longo do tempo depende da relação adotada para a permeabilidade (Figura 6 (b) e (c)). Esse fato permite
observar que a evolução das tensões efetivas ao longo da construção do aterro irá influenciar nos recalques
finais do aterro.

20

razão 0,01
Tensão vertical efetiva (Kpa)

16 razão 0,1
Dados aterro

12

4
0 5 10 15 20 25 30
Distância x (m)

(a) (b)
24
64
razão 0,01
Tensão vertical efetiva (Kpa)

razão 0,01
Tensão vertical efetiva (Kpa)

20 razão 0,1
49 razão 0,1
Dados aterro Dados aterro
16
34
12

19
8

4 4
0 5 10 15 x (m) 20
Distância 25 30 0 5 10 15 x (m)
Distância 20 25 30

(c) (d)
Figura 6- Variação da tensão efetiva vertical (a) Nós para os gráficos (b) Tensões efetivas após adensamento
da camada 3 (c) Tensões efetivas após adensamento da camada 4 (d) Tensões efetivas após 1401 dias

5. Conclusões

O estudo de solos moles vem ganhando importância devido necessidade de cada vez mais se construir
sobre solos moles e pela complexidade do problema por se tratar de um fenômeno hidromecânico acoplado.
Este estudo teve como objetivo fazer um estudo de um aterro sobre solo mole utilizando formulação acoplada,

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bem como analisar a influência da variação da permeabilidade horizontal nos resultados. A análise se mostrou
de acordo com os resultados obtidos em instrumentação de campo de deslocamentos verticais. Além disso, os
resultados de sensibilidade mostram que a variação da permeabilidade horizontal com relação a vertical em
até duas ordens de grandeza geram variações na evolução das tensões verticais efetivas, e consequentemente,
nos resultados de deslocamentos verticais. Entretanto cabe destacar que esse resultado se aplica apenas para o
caso em que não há melhoramento no solo, sendo que casos de utilização de drenos, por exemplo, podem
resultar em diferentes resultados.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Universidade de Brasília, ao Centro Universitário Uniceub e a Coordenação de


Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) e a Furnas Centrais Elétricas S.A- Projeto de P&D 0394-1504/2015.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Fluminense. Dissertação de Mestrado, COPPE/UFRJ
De Mio, G. (2005) Condicionantes geológicos na interpretação de ensaios de piezocone para identificação
estratigráfica na investigação geotécnica e geoambiental. Tese de Doutorado, Escola de Engenharia de
São Carlos, Universidade de São Paulo, 359p.
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Machado, L.V. S. S. (2012) Avaliação do deslocamento vertical de aterro sobre solo mole executado no
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Massad, F. (2010) Obras de Terra: Curso Básico de Geotecnia. 2nd ed., Oficina de Textos, São Paulo
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estudo de caso: BR-135/MA. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Geotecnia,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, 199 p.
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Oficina de textos, São Paulo
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Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia Civil, Pontíficia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, 162 p.
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Tese de Doutorado, Departamento de Engenharia Civil, Pontíficia Universidade Católixa do Rio de Janeiro,
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DETERMINAÇÃO DE PROVÁVEIS JAZIDAS PARA


ELEMENTOS DE BARRAGEM NA REGIÃO DO AGRESTE
MERIDIONAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO
Mário José da Silva Júnior
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Recife – PE, Brasil, mariojuniorufpe@hotmail.com

Miguel Antônio Pires Kelm


Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Recife – PE, Brasil, miguel.kelm@outlook.com

Antônio Italcy de Oliveira Júnior


Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Recife – PE, Brasil, antonioitalcy@hotmail.com

Alice Jadneiza Guilherme de Albuquerque Almeida


Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, Recife – PE, Brasil, aliceguilherme@hotmail.com

RESUMO: Uma das fases importantes no planejamento de obras de engenharia é a procura de ocorrências
naturais de materiais de construção, como pedras, areais, cascalhos, argila e saibro. A localização das áreas
de empréstimo que fornecem o material é um dos fatores que influenciam para o custo da obra e as barragens
é um tipo de obra de grande impacto econômico e socioambiental. O uso de ferramentas de
geoprocessamento são instumentos eficientes no planejamento da identificação de possíveis áreas de
empréstimo de materiais para a construção de barragens. O objetivo deste trabalho foi mapear a região do
agreste meridional do estado de Pernambuco identificando a partir da pedologia da região possivéis jazidas
de extração. Esta avaliação foi realizada com base no levantamento dos solos da região, elaborando uma
matriz pedológica dos solos da região com suas características geotécnicas, possibilitado a classificação dos
materiais para elementos de barragens em três níveis de aplicação (bom, regular e ruim). Na região
predominam os regossolos, planossos e solos litólicos gerando diferentes percentuais da qualidade de jazidas
com relação a aplicação na barragem.

PALAVRAS-CHAVE: Pedologia, Geoprocessamento, Obras de terra, Jazidas, Barragens.

ABSTRACT: One of the important phases in the planning of engineering works is the search for natural
occurrences of construction materials, such as stones, sand, gravel, clay and gravel. The location of the loan
areas that supply the material is one of the factors that influence the cost of the work and the dams are a type
of work with a great economic and socio-environmental impact. The use of geoprocessing tools are efficient
instruments in planning the identification of possible areas for borrowing materials for the construction of
dams. The objective of this work was to map the southern agreste region of the state of Pernambuco,
identifying from the pedology of the region possible extraction deposits. This assessment was carried out
based on a survey of the region's soils, elaborating a pedological matrix of the region's soils with their
geotechnical characteristics, allowing the classification of materials for dam elements in three application
levels (good, regular and bad). In the region, regosols, planosos and litolic soils predominate, generating
different percentages of the quality of deposits in relation to the application in the dam.
KEYWORDS: Pedology, Geoprocessing, Earthworks, Deposits, Dams.

1 Introdução

De acordo com a Agência Nacional das Águas - ANA (2017), o Brasil tem cerca de 23 mil barragens
registradas, identificadas para as mais diversas atividades. Segundo Cirilo (2008), a região do semiárido

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nordestino é pobre em volume de escoamento de água dos rios. Este cenário pode ser compreendido em
função da variabilidade temporal climática da região, como também, das características geológicas
dominantes da região, no qual predomina solos rasos baseados sobre rochas cristalinas e como resultado,
baixas trocas de água entre rio e solo adjacente. O agreste meridional de Pernambuco encontra-se na zona de
transição do tropical chuvoso ao semiárido, esse por sua vez mais predominante na região, o solo da região é
espesso com fertilidade variada (CPRM, 2005).
A construção de barragens é fundamental para o armazenamento de água para o abastecimento
humano. No semiárido nordestino por questões climatológicas, principalmente por insuficiência da
disponibilidade hídrica de algumas regiões que são afetadas pelas secas, as barragens de grande, médio e
pequeno porte são construídas com a finalidade de armazenamento de água para o consumo humano e
combate às secas, como também, utilizadas para diversas finalidades e tipologia do desenvolvimento
regional através de irrigação agrícola, abastecimento industrial e produção animal (NAVA, 2018).
No Brasil as barragens de terra são comumente utilizadas, podendo ser homogêneas ou zonadas, visto
que esta definição e determinada em função do volume e da qualidade e disponibilidade dos materiais
naturais (argila, areia e silte) existentes no local, a utilização destas barragens são pertinentes quando na
região próximo à área da obra houver a disponibilidade de solo argiloso ou areno-siltoso/argiloso, além da
existência de um local adequado para localizar o vertedouro (MEIRELLES, 2019). A barragens são definidas
como barreiras artificiais, construídas transversalmente à direção do escoamento de um curso d’água,
formando um reservatório artificial.
As barragens homogêneas são construídas com apenas um tipo de material geralmente solo argiloso,
com a permeabilidade reduzida depois da compactação do solo, para permitir níveis aceitáveis de percolação
(SILVA E OLIVEIRA, 2019). De acordo com Stephens (2011) se a percolação for excessiva, poderá resultar
em instabilidade e eventualmente a falha de toda ou parte da face à jusante.
As barragens zonadas são constituídas de diferentes tipos de solo em função da disponibilidade dos
materiais, onde os materiais mais permeáveis são lançados nas partes externas da seção transversal da
barragem, priorizando os materiais impermeáveis característica dos solos mais argilosos na parte central,
núcleo da barragem, e os materiais semi-impermeável para a secção a montante (MEIRELLES, 2019).
Barragens zonadas constituem perigo de infiltração menor comparada com as barragens de aterro
homogêneo.
Estas informações são imprescindíveis para a escolha do tipo de barragem, uma vez que a localização
das jazidas ou áreas de empréstimo que fornecem os materiais em áreas próximas do empreendimento, sendo
um dos fatores que influenciam para o custo da obra e, as barragens de terra no contexto geral são obras da
engenharia geotécnica de fácil execução, apesar do grande impacto econômico e socioambiental, são obras
que no geral os custos são reduzidos. De acordo Barbosa (2014) com a escolha do tipo de barragem de terra
é limitada pelas características do local a ser construída, devido à qualidade e a quantidade de material
escavado na construção, como também, disponibilidade de jazidas em áreas próximas ao empreendimento
podendo diminuir os custos do empreendimento. Para Stephens (2011) os custos aumentam quando utilizam
diversos materiais que compõem a estrutura física da barragem, na maioria dos casos os materiais vêm de
áreas de empréstimo diferente, aumentando os custos do empreendimento com escavação e transporte.
As barragens de terra geralmente são pequenos e médios reservatórios utilizados para o acúmulo de
água, geralmente são economicamente viáveis por não utilizar grandes áreas para sua construção, como
também exerce um impacto menor sobre o meio ambiente, geralmente são utilizadas para o abastecimento de
áreas urbanas, formada por núcleos populacionais menores, bem como em propriedades rurais, onde são
destinadas as atividades de irrigação de cultivos e abastecimento de propriedades rurais (ABREU, 2015).
A princípio, antes de se realizar qualquer tipo de levantamento topográfico para a seleção da área de
construção ou empréstimo de materiais para as barragens, devem-se realizar investigações e ensaios
geológico-geotécnicos, com o intuito de conhecer as condições das fundações e sua interação com o material
que será utilizado para a construção. As características físicas do solo são determinantes para a seleção da
área, uma vez que casa região impõe características geotécnicas e geológicas onde às propriedades do local
de extração do material utilizado estejam adequadas para utilização nas obras, em momentos e situações
diferentes. Com isso, se faz necessário à realização de uma seleção preliminar, criteriosa, dos locais
propícios para a seleção de jazida de empréstimo (MEIRELLES, 2019).

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Com o surgimento de novas tecnologias e ferramentas computacionais do Sistema de Informação


Geográfica (SIG), os softwares de geoprocessamento são extremamente importantes e amplamente utilizados
como técnicas na detecção de mudanças no uso da terra (PALMEIRA, 2005). O geoprocessamento permite
análises complexas, ao integrar dados de diversas fontes criando bancos de dados georeferenciado, quando
utilizando simultaneamente aperfeiçoa o processo de identificação de prováveis áreas para jazidas de
empréstimo, as ferramentas computacionais de geoprocessamento associadas às informações, pedológicas,
geológico-geotécnicas do solo de uma região, possibilita a produção de documentos cartográficos, através de
um banco de dados georreferenciado (CÂMARA, DAVIS e MONTEIRO, 2001). Portanto, esta ferramenta
pode auxiliar na criação de dados de uma determinada região, indicando a localização da melhor área para
instalação da barragem, como também, da área de empréstimo dos materiais para a construção.
Com a finalidade de identificar novas áreas de extração para obras de barragens, este trabalho teve
como principal objetivo mapear prováveis jazidas de material de empréstimo na região do agreste meridional
do estado de Pernambuco, a partir do geoprocessamento das características físicas de cada classe pedológica
do solo presente na região e suas possíveis aplicações e restrições na geotecnia.

2 Metodologia

A região denominada por Agreste Meridional de Pernambuco está localizada na Mesorregião do


Agreste e do Sertão Pernambucano, envolve as Microrregiões do Vale do Ipanema, Vale do Ipojuca,
Garanhuns e Sertão do Moxotó. Atualmente a região é composta por vinte e seis municípios. A figura 1
identifica a localização da região do estudo.

Figura 1. Localização da região do Agreste Meridional de Pernambuco.

A avaliação das prováveis jazidas de empréstimos de material para barragem, foi feita com base no
levantamento de reconhecimento dos solos da região (escala 1:100.000), elaborado e executado pela
Embrapa. Com base nesse levantamento foi confeccionada uma matriz pedológica relacionando os solos
abordados em termo de pedologia com suas respectivas características geotécnicas. O cruzamento das
informações das classes pedológicas com o mapa pedológico da região do Agreste Meridional de
Pernambuco e sua associação com características geotécnicas para construção dos elementos de uma
barragem (Tabela 1) possibilitou classificar as prováveis jazidas de empréstimos em três níveis de aplicação
(bom, regular e ruim), resultando em cartas de materiais para elementos de barragem.

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Tabela 1. Classe da ocorrência de solo do Agreste Meridional de Pernambuco, para elementos de uma
barragem.
Corpo

Impermeá
Classe de

Símbolo

Rip-Rap

Poço de
Cut-off

Núcleo
Tapete

Alívio

Dreno
Filtro

Montan
Solo

Jusante
vel

te
Argissolo
PA Regular Regular Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Bom Bom
Amarelo
Latossolo
LA Regular Bom Ruim Bom Ruim Ruim Ruim Bom Bom
Amarelo
Argilossolo
PV
Vermelho Regular Regular Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Bom Bom
A
Amarelo
Neossolo
RY Ruim Ruim Regular Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim
Flúvico
Neossolo
RR Ruim Ruim Ruim Ruim Bom Bom Bom Ruim Ruim
Regolítico
Neossolo
Quartzarêni RQ Ruim Ruim Regular Ruim Bom Bom Bom Ruim Ruim
co
Neossolo
RL Ruim Ruim Bom Ruim Regular Regular Regular Ruim Ruim
Litólico
Planossolo
SX Regular Bom Ruim Regular Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim
Háplico
Planossolo
SN Regular Bom Ruim Regular Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim
Nátrico
Luvissolo
TC Regular Bom Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim
Crômico
Geissolo
GX Bom Bom Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim
Háplico

3 Resultados

Na região predominam os regossolos (neossolos regolítico), planossos (Planossolos Háplicos e


Planossolos Nátricos) e solos litólicos (neossolos litólicos), conforme apresentado na Figura 2. O relevo
suave ondulado e montanhoso e os materiais do subsolo pedregoso e rochoso da região favorecem a
formação desses solos.
Com uma área total de 10.643,07 km² o agreste meridional foi identificado na carta de possíveis
jazidas para filtro, dreno e poço de alívio de barragem uma área de 57,84% da área total classificada como
ruim, 28,84% como bom e 13,33% como regular para tais aplicações (Figura 3).

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Figura 2. Mapa Pedológico do Agreste Meridional de Pernambuco.

Figura 3. Carta de Jazidas para Filtro, Dreno e Poço de Alívio do Agreste Meridional de Pernambuco.

Na carta da qualidade de prováveis jazidas para corpo da barragem à montante e jusante foi observado
que 79,45% da área total da região foi classificada como ruim para estas aplicações e os 20,55% restantes
foram classificados como ruim (Figura 4). Já na carta de prováveis jazidas para rip rap estes valores foram de
4,95% como regular, 13,33% como bom e 62,27% como ruim para tal finalidade (Figura 5).

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Figura 4. Carta de Jazidas para Corpo de Barragem do Agreste Meridional de Pernambuco

Figura 5. Carta de Jazidas para RIP-RAP do Agreste Meridional de Pernambuco.

Na carta da qualidade de prováveis jazidas para tapete impermeável foi observado que 57,54% da área
total da região foi classificada como regular para estas aplicações e os 42,46% restantes foram classificados
como ruim, não sendo verificado nenhuma percentual de áreas classificadas como bom (Figura 6). Já na
carta de prováveis jazidas para cut-off estes valores foram de 14,73% como regular, 42,46% como ruim e
42,81% como bom para tal finalidade (Figura 7). Na carta da qualidade de prováveis jazidas para núcleo da
barragem foi observado que 62,27% da área total da região foi classificada como ruim para esta aplicação,
31,91% como regular e os 5,82% restantes foram classificados como bom, conforme observado na Figura 8.

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Figura 6. Carta de Jazidas para Tapete Impermeável do Agreste Meridional de Pernambuco.

Figura 7. Carta de Jazidas para CUT-OFF do Agreste Meridional de Pernambuco.

Figura 8. Carta de Jazidas para Núcleo do Agreste Meridional de Pernambuco.

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4 Conclusão

Foi possível desenvolver cartas para qualificar possíveis jazidas de solo para construção de
barragens no Agreste Meridional de Pernambuco. As cartas desenvolvidas no presente trabalho servem
como subsídio na tomada de decisões em projetos de barragem de terras na região, uma vez que as mesmas
orientam os pontos onde deve ser realizado uma caracterização mais eficiente da área de implantação, e
como consequência reduz tempo e custos da obra. Vale salientar que a avaliação dos mapeamento das
possíveis jazidas, através da análise da carta interpretativa de zoneamento, não poderá dispensar a
investigação adequada em campo e laboratório.
Outro aspectos importante que vale ser ressaltado é que as cartas foram elaboradas levando em
consideração apenas a pedologia dos solos da região. Para uma maior precisão da qualidade das possíveis
jazidas devem ser levado em consideração também outros fatores tais como a geologia, clima, uso e
ocupação do solo, dentre outros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Incertezas na Definição do Fator de Segurança de Taludes


Denise Maria Soares Gerscovich
Professora Titular, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, deniseg@uerj.br

RESUMO: Estudos de estabilidade de taludes naturais são frequentes em obras de viárias, barragens de terra,
dentre outros. A prática da engenharia estabelece o Fator de Segurança (FS) como indicador de performance
da estabilidade do talude. O FS calculado deve ser confrontado com o FS admissível, definindo a necessidade
ou não de ações de estabilização. Os FS admissíveis são estabelecidos por normas técnicas, com base nas
consequências de sua ruptura. O presente trabalho pretende mostrar algumas singularidades podem ocorrer em
cálculos de estabilidade, usando programa comercial, baseado no Método do Equilíbrio Limite. Para tal, serão
comparados os resultados de duas análises de estabilidade, realizadas por dois projetistas diferentes. A
geometria do talude, posição do nível d'água e estratigrafia são estabelecidas através de resultados de
sondagens à percussão. Os parâmetros geotécnicos são típicos de perfis de solos residuais de encostas naturais
brasileiras. Serão analisados os diferentes critérios de busca da superfície crítica e outras facilidades, que se
encontram em programas de análise de estabilidade. Serão observadas a influência da interpretação dos
resultados de investigação e o tipo da ferramenta de cálculo. Os resultados mostraram diferenças significativas
na estimativa de FS, o que denota a fragilidade do conceito do FS na prática da engenharia geotécnica.
Ressalta-se, ainda, que os FS admissíveis nas normas técnicas são definidos qualitativamente, com base na
experiência pessoal e, portanto, também sujeitos a incertezas.
.
PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de taludes, Fator de segurança, Método de equilíbrio limite.

ABSTRACT: The stability of natural slopes is frequently studied in road works, earth dams, among others. The
engineering practice establishes the Safety Factor (FS) as a performance indicator of the slope stability. The
calculated FS must be compared with the admissible FS, defining the need or not for stabilization actions. The
admissible FS are established by technical standards, based on the consequences of a failure. The present work
intends to show some singularities that can occur in stability calculations, using a commercial program, based
on the Limit Equilibrium Method. The results of two stability analyzes, carried out by two different designers,
will be compared. The slope geometry, water level depth and stratigraphy are established through standard
penetration test results. The geotechnical parameters are typical of residual soil profiles of Brazilian natural
slopes. The different search criteria for the critical surface and other facilities, present in stability analysis
programs, will be analyzed. The influence of the interpretation of the research results and the calculation
approach will be observed. The results showed significant differences in the FS estimate, which indicates the
weakness of the FS concept. It worth to note that the admissible FS are defined qualitatively, based on
engineereing experience and, therefore, are also subject to uncertainties.

KEYWORDS: Slope stability, Factor of safety, Limit equilibrium method

1. Introdução

O tema estabilidade de talude está presente em muitos projetos geotécnicos. Estudos de taludes naturais
são frequentes em obras de rodovias e em ambientes urbanos. Já os taludes construídos decorrem da execução
de barragens, diques, aterros ou mesmo escavações.

A frequência com que eventos catastróficos, envolvendo movimentos de massa, cresceu nos últimos
anos, tem ampliado o interesse no estudo no tema estabilidade de taludes. Tais eventos podem ser classificados
como naturais, quando se devem à ação de intensidades de chuva elevadas, ou antrópicos, quando decorrentes
de rupturas de taludes em instalações industriais. Os movimentos de massa em Nova Friburgo (2011) e Angra
dos Reis (2013), decorrentes de intensidades de chuva extremamente elevadas, e as rupturas de barragens de
rejeito de minério de ferro em Mariana (2015) e Brumadinho (2019) foram eventos marcantes para a

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comunidade geotécnica. As consequenciais a nível de perdas econômicas, ambientais e de vidas humanas


exigiram uma reflexão de toda sociedade.

A prática da engenharia estabelece o Fator de Segurança (FS) como indicador de performance da


estabilidade do talude. A partir de conceitos básicos de engenharia geotécnica, o FS é obtido a partir da razão
entre a resistência do solo e as tensões instabilizantes. Já os FS admissíveis são estabelecidos por órgãos
reguladores, através de suas normas técnicas, e varia de país para país.

A abordagem do problema é usualmente feita em termos de soluções baseadas no método de equilíbrio


limite. O FS representa o fator pelo qual a resistência ao cisalhamento média ao longo de uma determinada
superfície deve ser reduzida de modo que se atinja a condição de ruptura; isto é, se iguale à tensão de
cisalhamento média nesta superfície. Em outras palavras, o FS é obtido a partir da relação entre as forças e/ou
momentos estabilizantes e instabilizantes atuantes em determinada superfície. Como não se conhece a priori a
superfície de ruptura crítica, faz-se necessário realizar análises em diversas superfícies até que se defina àquela
que forneça o menor o FS global.

O FS é função de parâmetros relacionados à geometria, estratigrafia, parâmetros de resistência e


poropressão. Na prática, surgem incertezas relacionadas a: modelo geométrico, eventual condição de não
saturação das camadas, parâmetros geotécnicos (qualidade e representatividade das amostras, ensaio não
representativo da velocidade de carregamento/descarregamento e trajetória de tensão no campo, etc.); ruptura
progressiva gerando incertezas na escolha dos parâmetros de pico vs residual; condições hidrológicas (pressões
de água alteradas por processos de infiltração, artesianismo, lençóis de água empoleirados) ; possibilidade de
geração de poropressão e consequente condição de estabilidade variável com o tempo (a longo prazo ou
final de construção); estimativa do excesso de poropressão, através de modelos baseados nos incrementos
de tensão e tipo de solo, etc.

Os FS admissíveis têm a finalidade de cobrir as incertezas associadas às etapas projetos e construção e


são definidos através das normas técnicas. No caso de encostas naturais e/ou taludes resultantes de cortes e
aterros, a norma NBR 11682 (ABNT, 1991) estabelece as condições exigidas nesses projetos. No caso do uso
de métodos de equilíbrio limite, os FS admissíveis variam entre 1,5 e 1,15, dependendo do grau de segurança
necessário ao local. Considera-se como alto grau de segurança taludes de corpo de barragens ou próximos a
edificações habitacionais, industriais, dentre outros. Já os taludes de baixo grau de segurança são aqueles em
canteiros de obras em geral ou que apresente condições improváveis de gerar qualquer tipo de acidente.

Há vários programas comerciais disponíveis para cálculo do FS por equilíbrio limite. Os programas
apresentam interface gráfica, amigável com o usuário, tornando seu uso praticamente instintivo. O presente
trabalho pretende mostrar algumas singularidades no uso de um programa bem aceito na comunidade
geotécnica.

2. Análises de Estabilidade

O caso analisado consiste em um talude típico, com cerca de 25m de altura, localizado às margens de
um rio. Junto ao pé do talude existe uma camada de aluvião areno-argiloso e a encosta é constituída de uma
camada superficial de solo residual maduro, seguida pelo solo residual jovem, sobrejacente à rocha pouco
alterada. A Figura 1 apresenta a seção transversal, definida a partir de perfis de sondagens à percussão,
realizados em 3 posições no talude. Os parâmetros geotécnicos também estão incluídos na Figura 1. A
estratigrafia e geometria do talude são encontradas facilmente em encostas naturais; assim como a ordem de
grandeza dos parâmetros geotécnicos. Análises de estabilidade foram realizadas utilizando-se um programa
comercial Slide Modeler versão 2018 8.018 (Rocscience Inc)

2.1 Interpretação dos dados de campo

A primeira etapa de um estudo de estabilidade de um talude consiste na definição do modelo geométrico


a ser analisado. Admitindo-se que os resultados da investigação de campo (Figura 1a) tenham sido analisados

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por dois projetistas não é improvável que ocorram diferenças na escolha das seções transversais críticas. A
Figura 1. mostra pequenas diferenças no modelo geológico-geotécnico, com variações na topografia,
estratigrafia e posição do lençol freático. O Projetista 1 considera topografia do terreno com cotas mais
elevadas, a qual se transmite nos limites entre as camadas subjacentes e na posição do lençol freático.

Solo  c´ ´
(kN/m3) (kPa) (o)
Aluvionar 16 0 28
Residual 17 15 32
Maduro
Residual 18,5 20 35
jovem

(a) Topografia e perfil de sondagens à percussão (b) Parâmetros geotécnicos


Figura 1. Investigação de campo e laboratório

35 35

30 Projetista 1 30
Projetista 2
25 25

20 20
15 15
10 10
NA - Projetista 1
5 5 NA - Projetista 2
0 0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65
Distância (m) Distância-------
(m)
(a) Geometria (b) Nível freático
Figura 2. Concepção geométrica dos projetos analisados

As análises de estabilidade foram realizadas usando a opção de malha de círculos, como critério de
busca da superfície potencial de deslizamento. Em todas as análises os limites da malha de centros foi o
mesmo; canto inferior esquerdo em x=-5m e y=20m e canto superior direito em x=23,5m e y 50m. A região
de busca dos centros dos círculos foi definida subdividindo-se os eixos vertical e horizontal em 30 intervalos
e impondo-se incrementos de raio de 1m. O cálculo da poropressão foi feito assumindo uma redução na
distância vertical em relação ao nível d’água através de linhas equipotenciais hipotéticas normais à linha
freática. Foi respeitada a sugestão do programa quanto ao número de fatias (25) e opções de convergência
(tolerância= 0,005 e número máximo de 50 iterações = 50).

A influência do modelo geométrico (topografia e estratigrafia) e posição do lençol freático foram


avaliados comparando-se os resultados das análises de estabilidade. Como indicado na Figura 3, os projetistas
obtiveram superfícies críticas razoavelmente semelhantes, mas fatores de segurança bastante distintos.

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(a) Projetista 1 (FS = 1,29) (b) Projetista 2 (FS = 1, 45)


Figura 3. Análises de estabilidade – Método Bishop simplificado

Os métodos de Jambu, Sarma, Spencer e Morgentern & Price são denominados de rigorosos por
satisfazerem as todas as equações de equilíbrio (Chowdhury 2010; Gerscovich, 2012). Com isso, as forças
entre fatias e as hipóteses com relação a distribuição das suas resultantes ao longo da superfície de ruptura são
introduzidas no cálculo. Dentre estes, o método de Spencer foi desenvolvido exclusivamente para superfície
circular e os demais se aplicam a superfícies quaisquer. A comparação entre os diferentes métodos (Tabela
1.) mostra que a diferença média de FS entre os dois projetistas foi de 0,16. O método de Fellenius é
conhecidamente o mais conservador; os demais praticamente não diferiram.

Tabela 1. Comparação entre métodos de cálculo


Fator de Segurança
Método
Fellenius Bishop Spencer Sarma Morgenstern Price
Projetista 1 1.24 1.29 1.29 1.28 1.29
Projetista 2 1.38 1.45 1.45 1.46 1.45

Tendo como base o modelo geológico do Projetista 1 e a posição do lençol freático do Projetista 2,
obteve-se FS = 1,45. Em outras palavras, pequenas variações na topografia pouco afetam o FS.

A importância do lençol freático em análises de estabilidade é uma questão bem consolidada no meio
geotécnico. Análises de sensibilidade levando-se em conta as incertezas relacionadas a variações sazonais na
posição do lençol freático são fundamentais em um bom projeto geotécnico.

Soma-se ainda a questão de que acima do nível d´água o solo encontra-se numa condição não saturada,
o que lhe confere uma resistência ao cisalhamento adicional proveniente da coesão aparente. Por outro lado,
as camadas superficiais estão sujeitas a processos de infiltração de água de chuva. Tais processos ocorrem de
forma essencialmente vertical e, dependendo da intensidade de chuva, podem inclusive saturar a região
superficial. Como o fluxo é prioritariamente vertical, ocorre mudança nas condições de umidade sem gerar
poropressão. A Figura 4 apresenta os resultados das análises de estabilidade para as duas condições analisadas,
considerando uma redução no intercepto de coesão do solo residual maduro de 15 para 5kPa. Observa-se que
as superfícies de ruptura se restringem ao solo maduro e, como esperado, ocorre redução no FS. No caso do
Projetista 1, a análise aponta a necessidade de medidas de estabilização do talude, ao passo que o Projetista 2
pode afirmar que o talude é estável e, dependendo das condições locais, o FS atende ao valor admissível.

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(a) Projetista 1 (FS = 1,0) (b) Projetista 2 (FS = 1, 2)

Figura 4. Análise de estabilidade pelo método de Bishop com redução do intercepto de coesão do solo
residual maduro de 15kPa para 5kPa

2.2 Interpretação dos dados de campo

Análises de estabilidade, com base na metodologia de equilíbrio limite, não são afetadas pela escolha
do contorno do problema. Por outro lado, recomenda-se que a geometria analisada não impeça amplo processo
de pesquisa da superfície potencial de ruptura.

Para avaliar a adequação dos limites adotados na pesquisa do círculo crítico, a geometria adotada pelo
Projetista 1 foi ampliada em 20m em ambas laterais do contorno. Na Figura 5a os resultados revelam que
mantendo-se o limite de busca original o FS permanece inalterado (FS = 1,29). Entretanto, quando se ampliam
os limites de busca do círculo crítico (Figura 5b), mantendo-se inalterada a malha de círculos (30 x 30 e
incremento de raio de 1m), a convergência do programa se dá para fatores de segurança mais elevados
(FS=1,51) e superfície potencial de ruptura passando pelo pé do talude. Na Figura 5b estão mostrados os 3
círculos mais críticos (FS ≅ 1,5) em conjunto com o círculo de ruptura obtido na Figura 5a (coordenadas do
centro x=11,15m e y=42m e raio =36,16m). Curiosamente, a adoção da metodologia de cálculo para uma
superfície pré-definida ao invés do uso da malha de círculos levou a FS=1,29, compatível com o obtido na
Figura 5a.

(a) Projetista 1 – Limite Restrito (FS = 1,29) (b) Projetista 1 – Limite Ampliado (FS = 1,51)
Figura 5. Análise de estabilidade ampliando-se os limites do contorno - Modelo geométrico do Projetista 1

Ressalta-se ainda que, para os limites ampliados de busca do círculo crítico (Figura 5b), mantendo-se
a mesma região de procura e discretização da malha de círculos, mas alterando-se o incremento de raio para
2m, a convergência se deu para um resultado mais compatível com as análises anteriores, com FS=1,29 (Figura
6).

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Figura 6. Análise de estabilidade para condição de contorno ampliada, com discretização de malha de
círculos 30x30 e incremento de raio de 2m - Modelo geométrico do Projetista 1 (FS=1,29)

Esse resultado mostra claramente que todo FS, obtido em análises de estabilidade, representa
simplesmente o menor valor obtido associado ao critério de pesquisa e método de cálculo. Em outras palavras,
é possível obter o FS mínimo global em outras superfícies que podem ser geradas a partir de alternativas de
definição do círculo crítico.

2.3 Influência do método de procura do círculo crítico

Os programas comerciais de análise de estabilidade, em geral, disponibilizam várias opções para o para
a pesquisa do círculo crítico. As alternativas são: malha de círculos, pesquisa no talude e procura automática.

No caso da opção de pesquisa no talude, o programa requer a definição de limites da variação do ângulo
de entrada no pé do talude. Para a geometria analisada, considerou-se uma faixa de variação de 45o a -45º e
após 5000 superfícies geradas, obtendo-se FS = 1,29, como mostra a Figura 7a. No caso da opção de procura
automática faz-se necessário a definição de parâmetros tais como número de divisões no talude, número de
círculos gerados, número de iterações, etc. Adotando-se os parâmetros sugeridos pelo programa, foram
computadas 4500 superfícies, obtendo-se o mesmo FS (Figura 7b).

Cabe observar que, diferentemente da pesquisa por malha de círculos (Figura 5), a variação dos limites
do contorno não teve influência no FS.

2.4 Influência da forma da superfície de ruptura

Análises de estabilidade foram também realizadas considerando-se superfícies não circulares. Apesar
de não satisfazer as equações de equilíbrio de forças horizontais, o método de Bishop é muito bem aceito para
análises de estabilidade em superfícies circulares. Muitos programas, entretanto, permitem o uso
indiscriminado de qualquer método de análise para qualquer forma de superfície. Por serem códigos fechados,
não fica claro para o usuário qual metodologia é adotada para estender o cálculo de métodos de superfícies
circulares para casos de superfícies não circulares.

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(b) Procura automática (FS = 1,29)


(a) Procura no talude (FS = 1,29)
Figura 7. Análise de estabilidade com diferentes opções de pesquisa para superfície circular - Modelo
geométrico do Projetista 1

A Figura 8 mostra o resultado da análise de estabilidade pelo método de Morgenstern & Price, com o
modelo geométrico do Projetista 1. Apesar de não circular, a superfície de ruptura se assemelha à obtida nas
análises anteriores com superfície circular. Por outro lado, há uma ligeira redução no FS de 1.29 (Figura 3)
para 1.24.

Figura 8. Análise de estabilidade de superfície não circular com opção de pesquisa Cuckoo search – Modelo
Geométrico do Projetista 1 FS= 1.24

3. Comentários finais e Conclusões

Os estudos de estabilidade apresentados neste trabalho envolveram questões associadas à interpretação


dos dados de campo, definição do modelo geométrico, avaliação dos condicionantes de projeto, além das
diferentes alternativas de cálculo do FS.

Os resultados das análises, resumidos na Figura 9, mostram a diversidade de valores de FS que podem
ser determinados para um mesmo talude e usando a mesma ferramenta de cálculo. Ressalta-se que em todas
as análises, com exceção da que avalia os efeitos de eventual processo de infiltração de água de chuva (redução
da sucção), os parâmetros geotécnicos foram mantidos constantes.

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Diferenças na interpretação dos dados de sondagem, particularmente quanto à posição do lençol


freático (Projetista 1 x Projetista 2) podem levar a conclusões opostas (FS=1,45 e FS=1,29) em relação ã
estabilidade do talude. Adicionalmente, caso fosse incorporado eventuais problemas de inoperância na
drenagem superficial (redução da sucção), o talude poderia inclusive ser qualificado como instável.

Na análise das facilidades de cálculo disponibilizadas pelos programas comerciais (forma e tipo de
pesquisa da superfície crítica), um mesmo projetista pode obter FS distintos. Em uma análise, o Projetista 1
obteve FS=1,51, correspondendo a uma condição de segurança alta e, em outra, concluiu que o FS=1,24 era
sequer suficiente para atender a um grau de segurança médio.

Figura 9. Resumo dos FS encontrados nas análises e limites admissíveis estabelecidos pela NBR 11682

A interpretação dos dados de campo na geração do modelo geológico-geotécnico tem papel


fundamental na definição das condições de estabilidade de um talude. A interface extremamente amigável dos
programas de estabilidade pode muitas vezes induzir o projetista a aceitar um determinado cálculo do FS. É
fundamental a inclusão de análises considerando as diferentes alternativas de pesquisa do círculo crítico e de
limites geométricos do problema, para se garantir a qualidade do projeto.

Cabe ressaltar que este trabalho não abordou os aspectos relacionados aos parâmetros geotécnicos. A
qualidade das investigações de campo e as dificuldades de execução e representatividade das amostras levam
a incertezas intrínsecas quanto ao comportamento dos materiais e confiabilidade dos FS obtidos no projeto

Por fim, as diferenças significativas observadas nas análises de estabilidade de um caso simples e
comum em encostas em solo residual, denotam a fragilidade do conceito do FS na prática da engenharia
geotécnica. Acrescenta-se ainda que os níveis de segurança estabelecidos em normas técnicas também
incorporam certo grau de incerteza quanto à performance do talude.

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ABNT (1991) NBR 11 682 – Estabilidade de Taludes. 39p.


Chowdhury, R. N.; Flentje, P. & Bhattacharya, G. (2010). Geotechnical slope analysis; CRS Press, Taylor &
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Gerscovich, D, M. S (2012) Estabilidade de Taludes. Ed Oficina de Texto, São Paulo. Brasil

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Caracterização Geotécnica do Solo de Aterro do Prédio de


Medicina do Centro Academico do Agreste- UFPE
Gustavo Arthur de Lima Leite
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, gustavo.leite170@gmail.com

Maria Isabela Marques da Cunha Vieira Bello


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, isabelamcvbello@hotmail.com

RESUMO: A compactação de solos consiste em melhorar suas propriedades através de processos manuais ou
mecânicos, reduzindo seus vazios pela aplicação de pressão, impacto ou vibração. Esse processo torna o
maciço mais homogêneo, resultando no aumento do peso específico aparente do solo, diminuição dos vazios
do solo, redução da variação dos teores de umidade, compressibilidade e permeabilidade, e um aumento da
resistência ao cisalhamento e à erosão. Este trabalho apresenta os resultados da caracterização geotécnica do
solo natural e compactado utilizado como material de aterro do terreno do recém construído prédio principal
do curso de Medicina do Centro Acadêmico do Agreste, da Universidade Federal de Pernambuco. Foram
realizados ensaios de caracterização completa, compactação, cisalhamento direto e compressão simples.
Constatou-se que o solo da jazida escolhida para empréstimo atende às características esperadas, de forma que
tanto a construção do muro de arrimo, como a realização do aterro, se bem executados respeitando os
parâmetros do solo encontrados, terão estabilidade e segurança ao longo da vida útil da obra.

PALAVRAS-CHAVE: Aterro, Compactação, Caracterização Geotécnica

ABSTRACT: A soil compaction consists of improving its properties using manual or mechanical processes,
applying pressure, impact or vibration for reduced the soil void. This process becomes the soil more
homogeneous, resulting in an increase in specific weight to the soil, a reduction in voids in the soil, a reduction
in the variation of depth, compressibility and permeability and an increase in shear and erosion resistance. This
paper presents the results of the geotechnical characterization of natural and compacted soil, used as
embankment material for the recent construction of the main building of the Medical Course of the Academic
Center of Agreste, of the Federal University of Pernambuco. Complete characterization, compaction, direct
shear and simple compression tests were performed. It should be noted that the soil of the deposit chosen for
loans meets the expected characteristics, so that both the construction of the retaining wall, as well as an
execution on the embankment will have stability and security, if it carried out correctly respecting the
parameters of the soil found.

KEYWORDS: Embankment, Compaction, Geotechnical Characterization

1 Introdução

O estudo do comportamento dos solos é de grande relevância nas diversas áreas da engenharia. Na
construção civil durante a concepção e execução de uma obra, é necessário considerar as características físicas
do solo, a fim de se definir o adequado sistema estrutural a ser utilizado e realizar o correto dimensionamento
da fundação. Além disso, é preciso conhecer a dinâmica do solo ao longo da vida útil da construção, para evitar
a ocorrência de eventuais patologias ou, até mesmo, o colapso da estrutura (Pinto, 2006).
O solo é originado através da ação dos agentes físicos e/ou químicos sobre as rochas que formam a
crosta terrestre, dando origem à material constituído de três fases: sólida, líquida e gasosa. A relação entre
estas três fases (entre volumes, entre massas ou massa e volume) que fundamentam o solo é conhecida por
índices físicos e traz características importantes quanto à estruturação do solo. Outra característica fundamental

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ao solo, além dos índices físicos, diz respeito à composição da fração sólida do solo. A distribuição
granulométrica da fração mineral determina as porcentagens de cada tamanho de partícula que compõem o
solo e é obtida através da análise granulométrica. Os limites de consistência são determinados através do
comportamento do solo em presença de água (Limite de contração, limite de plasticidade e limite de liquidez)
(Das, 2010).
A compactação de solos consiste no procedimento de melhorar as propriedades do terreno através de
processos manuais ou mecânicos, reduzindo os seus vazios pela aplicação de pressão, impacto ou vibração.
Além disso, esse processo torna o maciço mais homogêneo, resultando no aumento do peso específico aparente
do solo. Com a diminuição dos vazios do solo, espera-se uma redução da variação dos teores de umidade, da
compressibilidade e da permeabilidade e um aumento da resistência ao cisalhamento e à erosão.
De acordo com a Diretoria de Planos e Projetos (DPP), da Superintendência de Infraestrutura
(SINFRA) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), estão sendo construídos, no Centro Acadêmico
do Agreste (CAA), três blocos para o curso de Medicina: o edifício sede, com área de construção de 7.310 m²
em quatro pavimentos; o edifício destinado ao biotério, com área de construção de 363,62 m², em pavimento
térreo; e o edifício destinado à unidade básica de saúde, com área de construção de 407,52 m², em pavimento
térreo. O tempo previsto para finalização da obra é de 20 meses. O contrato para construção dos blocos teve o
valor de R$ 19 milhões. Na área de construção do bloco sede, haverá um muro de arrimo e grande quantidade
de solo compactado.
Diante da importância da obra, considerou-se a possibilidade de determinar as propriedades
geotécnicas do solo natural e compactado utilizado como material de aterro e avaliar sua adequação para a
obra. Foram realizados os ensaios de caracterização completa, compactação, cisalhamento direto do solo e
compressão simples.

2 Pesquisas de áreas de jazidas

O solo, devido à sua abundância, tem grande emprego na construção civil como material de construção
ou de suporte para estruturas (Corrêa, 2008). Este é um material cujas propriedades físico-mecânicas possuem
uma grande variabilidade, por serem empregados na engenharia, principalmente em obras rodoviárias, é de
fundamental importância que essas propriedades atinjam o mínimo exigido para seu uso (Bresciani, 2009).
A pesquisa das áreas de jazidas de empréstimo começa com execução de furos de sondagens, em geral
a trado, frequentemente complementados com abertura de poços, visando não só a cubagem do material, como
também a coleta de amostras para a sua identificação tátil e visual e a execução dos primeiros ensaios de
laboratório (Massad, 2010). Entre os ensaios, incluem-se: (a) ensaios de caracterização: granulometria, Limites
de Atterberg, umidade natural e o peso específico dos grãos; (b) ensaios de compactação; (c) ensaios
mecânicos, tais como ensaios de adensamento, triaxiais e de cisalhamento direto em corpos de prova moldados
em laboratório.
A realização dos ensaios dos dois primeiros itens permite: (a) classificar os solos em grupo; (b) comparar
valores da umidade de solos de empréstimos com a hot, obtendo indicações preciosas sobre o acerto da
umidade antes da compactação; (c) confrontar hot com Limite de Plasticidade.
Massad (2010) indica que os ensaios mecânicos são realizados apenas em casos de aterros de muita
responsabilidade, como aterros de barragens de terra, por exemplo, e fornecem parâmetros como c’ e ’, para
análises de estabilidade de taludes. No caso de jazidas de areias, é útil uma caracterização tátil e visual, com a
descrição da forma e da resistência dos grãos. Realiza-se ensaios de granulometria, para se ter uma ideia da
quantidade de “sujos” ou finos (argilas e siltes) existentes. Outros ensaios referem-se a determinação dos
índices de vazio máximo e mínimo, importantes para a obtenção da compacidade relativa ou densidade relativa
de areias compactadas.

3 Área de Estudo

Na área de construção do edifício sede do curso de Medicina, ao longo de toda a parte de trás do mesmo,
haverá um muro de arrimo e grande quantidade de solo compactado (Fig. 1). Foram realizados 9 (nove) furos
do tipo SPT, com profundidade total, de 14,38m. Não foi detectado o lençol de água livre. A profundidade do

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impenetrável se deu entre 0,5m a 1,4m. O perfil geotécnico da área é formado predominantemente por uma
camada única de areia siltosa com alteração de rocha, com NST médio de 30 golpes. Nas Figuras 2 e 3 são
apresentados, respectivamente, uma visão geral da locação do prédio sede, e a sondagem à percussão (SPT)
no Furo SP-02.
A construtora responsável pela obra coletou o solo na jazida de empréstimo sem prévia análise das
condições do solo. Provavelmente a escolha da jazida se deu pela facilidade de acesso à obra e a qualidade do
material, visualmente arenoso.
Diante da importância da obra, Leite (2019) decidiu estudar o solo, através da caracterização geotécnica
de laboratório, verificando sua adequação para uso como material de aterro.

Área do aterro
.
Figura 1. Croqui de localização – bloco principal e Biotério (Lucena, 2017).

Figura 2. Vista geral do local do prédio sede de Medicina do CAA (Lucena, 2017).

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Figura 3. Sondagens à percussão – Furo SP-02 (Lucena, 2017).

4 Metodologia

Leite (2019) realizou no solo de emprestimo do aterro da área do prédio de medicina, ensaios de
caracterização completa (granulometria, limite de liquidez e limite de plasticidade), umidade higroscópica e
umidade natural do solo, CBR e ensaios de cisalhamento direto. Todos os ensaios foram realizados no
laboratório de Geotecnia do Campus Acadêmico do Agreste da Universidade Federal de Pernambuco, em
Caruaru, obedecendo os procedimentos das Normas da ABNT.

5 Resultados e Análises

O solo foi caracterizando como um solo seco, com umidade natural igual a 2,13%. Os teores de umidade
dependem do tipo de solo e situam-se geralmente entre 10 e 40%, podendo ocorrer valores muito baixos (solos
secos) ou muito altos (150% ou mais).
Nas curvas granulométricas normalmente usadas, as ordenadas representam as porcentagens
acumuladas passantes e as abscissas, as aberturas das peneiras em escala logarítmica. Como as aberturas das
peneiras, em uma série padrão, estão em uma razão constante 1:2, um gráfico logarítmico mostra estas
aberturas com espaçamentos iguais (Neville, 1997). A partir da curva granulométrica (Fig. 4), verificou-
se que o solo é composto por 4% de silte, 27% de areia fina a média, 63% de areia média a grossa e
6% de pedregulho, classificado como SW (areia bem graduada).
Determinou-se que D10 é o diâmetro correspondente a 0,15 mm, D30 é o diâmetro correspondente a 0,80
mm e que D60 é o diâmetro correspondente a 3,20 mm. O coeficiente de não uniformidade, Cnu, indica a
amplitude dos grãos, e o coeficiente de curvatura, CC, detecta melhor o formato da curva granulométrica e
permite identificar eventuais descontinuidades ou concentração muito elevada de grão mais grossos no
conjunto. Quanto maior o Cnu, mais bem graduada é a areais. Considera-se que o material é bem-graduado
quando CC está entre 1 e 3. O coeficiente de não uniformidade foi de 21,33 (solo bem uniforme), e o coeficiente
de curvatura foi de 2,78 (solo bem graduado).
O Limite de Liquidez (LL) foi de 18,9%, Limite de Plasticidade (LP) foi igual a 15,24%, o Índice de
Plasticidade (IP) de 3,66%, e Índice de Contração (IC) de 1,1, sendo classificado como areia dura. O peso
específico aparente seco máximo foi de 1,93 g/cm³ e umidade ótima de 11% (Fig. 5). As especificações não
determinam intervalos de umidade ou de peso específico do solo estudado, mas os dados obtidos são
importantes para que seja efetuado aterro devidamente compactado, garantindo estabilidade para a edificação.

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Figura 4. Curva Granulométrica do solo pelo método do peneiramento (Leite, 2019).

Figura 5. Curva de compactação do solo (Leite, 2019).

Os ensaios de resistência ao cisalhamento foram realizados sob tensão normal de 50 kPa, 100 kPa e 200
kPa. A Figura 6 mostra o corpo de prova após sofrer o cisalhamento. Através da equação da tensão cisalhante
obtida da linha de tendência, foram obtidos os valores de 42º para o ângulo de atrito e de 4,74 kPa para coesão.
Segundo a classificação dada por Das (2010) para os ângulos de atrito drenado, o solo em estudo é uma areia
compacta, o que garante uma grande resistência ao cisalhamento, sendo adequada para construções de
contenção, como muros de arrimo.
No ensaio a compressão simples, foi aplicada tensões verticais nas amostras, à uma velocidade constante
de 1 mm/min e de forma crescente, até que houvesse a ruptura das amostras ensaiadas (Figura 7). Assim, foram
obtidas duas curvas de Tensão x Tempo, uma curva para cada amostra ensaiada. Essas curvas podem ser
observadas nas Figuras 7a e 7b. O ponto onde houve ruptura fica evidente no pico da curva, onde ao sofrer
ruptura, a amostra perde resistência à compressão e a tensão normal começa a decrescer. Verifica-se
proximidade no tempo de ruptura, assim como na tensão aplicada no momento desta em cada corpo de prova.
Isso se deve ao fato de as duas terem sido compactadas nas mesmas condições de umidade e energia de
compactação. Mesmo assim existe uma diferença nos resultados, motivo o qual foi necessário mais de um
ensaio para se ter um melhor entendimento da resistência à compressão do solo.
A curva da amostra 1 mostra decaimentos de tensão ao longo do tempo, que embora pequenos e quase
instantâneos mostram que a amostra estava apresentando alguns vazios em seu interior, que eram compactadas
pela prensa durante o ensaio de compressão. Este comportamento, dá a entender que a amostra 2, com curva
muito mais estável, sem decaimentos, estaria com uma melhor resistência. Mas o resultado mostra que a
amostra 2 na realidade, tinha resistência inferior, tendo a amostra 1 superado em 5,1 kPa na tensão de ruptura.

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Figura 6. Corpo de prova após sofrer o cisalhamento (Leite, 2019).

Figura 7. Corpo de prova em processo de compressão pela prensa universal (Leite, 2019).

(a) (b)
Figura 8. Curva Tensão x Tempo do ensaio de Compactação Simples; (a) amostra 1; e (b) amostra 2 (Leite,
2019).

O início da curva da amostra 2 apresentava um valor de aproximadamente 13 kPa em relação ao início


da curva da amostra 1. Isso não está relacionado às propriedades da amostra em sim, mas na execução do

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ensaio, onde a prensa estava com a chapa mais próxima da amostra 2 do que estava no ensaio da amostra 1,
gerando tensões logo no início.
O comportamento observado leva a concluir que, se no ensaio da amostra 1 a prensa levou um tempo
para chegar ao topo da amostra, e a amostra 2, mesmo com a prensa ajustada no local certo no início do ensaio,
ainda levou mais tempo para chegar a romper, a amostra 2 resistiu por mais tempo às tensões aplicadas levando
11,85 segundos a mais para romper, sem contabilizar o tempo que a prensa levou para encostar na amostra 1.
A resistência à compressão do solo adotada foi o resultado médio das duas amostras (182,87 kPa).
O solo utilizado como empréstimo atende aos parâmetros esperados para uma boa execução do aterro,
sendo necessário respeitar esses parâmetros quando no planejamento e execução da obra.

4. Conclusão

O trabalho permiu um melhor entendimento do solo utilizado no aterro para definir sua adequação para
a obra, através de procedimentos experimentais que visam analisar parâmetros relevantes.
Com relação às características granulométricas do solo, obtidas nos ensaios de caracterização do solo,
pode-se concluir que o solo retirado da jazida se trata de uma areia bem graduada, apresentando na sua
composição grãos finos e grãos mais graúdos na proporção que a quantidade de vazios é minimizada, o que
garante uma melhor compactação do solo. A areia é do tipo dura, o que confere a esta, uma propriedade mais
resistente à compressão enquanto compactada. Observou-se característica pouco plástica do solo, o que garante
uma boa estabilidade do solo compactado na umidade ótima.
No ensaio de compactação foram encontradas as propriedades de massa específica aparente seca do solo
assim como sua umidade ótima, dados importantes tanto na fase de planejamento de extração de solo da jazida,
como de planejamento e execução de compactação do solo.
No ensaio de cisalhamento direto, o ângulo de atrito encontrado mostra que o solo apresenta uma
resistência adequada para a construção do muro de arrimo planejado para a obra em questão.
Por fim, o ensaio de compressão simples mostrou uma boa resistência à compressão do solo. Mas é
importante utilizar o valor de tensão máxima encontrado para o cálculo da edificação que irá ser construída
acima do aterro para que não haja superação dessa tensão, levando o aterro a obter complicações a longo prazo.
O solo utilizado como empréstimo na obra do bloco de Medicina no CAA atende aos parâmetros
esperados barra uma boa execução tanto do aterro como do muro de arrimo, sendo necessário apenas respeitar
esses parâmetros quando no planejamento e execução da obra.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bresciani, D. (2019). Análise das propriedades físicas e mecânicas de um solo da formação palermo,
estabilizado com aditivo perma zyme®. 2009. 153 p. TCC (Curso de Engenharia Civil) - Universidade do
Extremo Sul Catarinense, Criciúma.
Corrêa, J. F. (2008). Avalição das melhorias das propriedades físicas e mecânicas de solos originados de rochas
sedimentares pela adição de cal para fins de pavimentação. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
Universidade Federal de Pernambuco, Florianópolis.
Das, B. M. (2010). Fundamentos de Engenharia Geotécnica. São Paulo: Thomson.
Leite, G. A. L. (2019). Caracterização Geotécnica do Solo de Aterro do Prédio de Medicina do Centro
Acadêmico do Agreste- UFPE. Trabalho de Conclusão de Curso de Engenharia Civil, Universidade Federal
de Pernambuco, 53p.
Lucena, Topografia & Construção Ltda (2017). Relatório Técnico de Sondagem Nº 0015/2017.
Massad, F. (2005). Escavações a Céu Aberto em Solos Tropicais da Região Centro-Sul do Brasil. 1. ed. São
Paulo: Ofician de Textos, v. 1. p. 96.
Neville, A. M. (1997). Propriedades do Concreto. São Paulo: PINI, 828p.
Pinto, C. S. (2002). Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 aulas. 2a ed. São Paulo. Oficina de Textos.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0148 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Avaliação de Diferentes Métodos de Estabilização Mecânica


Físico-granulométrica dos Solos da Formação Cabo para
Aplicação em Obras de Engenharia.
Eduardo Jorge Nunes Cavalcanti
Universidade Federal Rural de Pernambuco/ Unidade Acadêmica do Cabo de Santo Agostinho, Cabo de Santo
Agostinho, Brasil, e.nunes.du@gmail.com

Anderson José da Silva


Universidade Federal Rural de Pernambuco/ Unidade Acadêmica do Cabo de Santo Agostinho, Cabo de Santo
Agostinho, Brasil, anderson.ecivil@gmail.com

Cecília Maria Mota Silva Lins


Universidade Federal Rural de Pernambuco/ Unidade Acadêmica do Cabo de Santo Agostinho, Cabo de Santo
Agostinho, Brasil, cecilia.lins@ufrpe.br

Samuel França Amorim


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, samuel_amorim@msn.com

Eduardo Antonio Maia Lins


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Universidade Católica de Pernambuco,
Recife, Brasil, eduardomaialins@gmail.com

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo avaliar o melhoramento de solos compactados com adição
de materiais alternativos, como pó de pedra e fibras de polipropileno, a fim de determinar e avaliar as
características físicas e a resistência dos solos a compressão não confinada, antes e depois da estabilização.
Para isso foram coletadas duas amostras deformadas distintas de um mesmo talude da Formação Cabo, no
Cabo de Santo Agostinho. O melhoramento do solo por meio do reforço físico-granulométrico foi realizado
adicionando aos solos secos 5% de pó de pedra, 0,75% de fibras de polipropileno e uma adição conjunta com
5% de pó de pedra e 0,75% de fibras de polipropileno. Os solos foram classificados pelo Sistema Unificado
de Classificação dos Solos como SM (solo 1) e um MH (solo 2), ambos com massa específica dos grãos de
2,65 g/cm³. Os ensaios de compressão simples determinaram o ganho de resistência para o solo 1, tendo seu
pico na mistura com o pó de pedra com um ganho em média de 117%. Para o solo 2, a fibra obteve resultados
expressivos com relação ao solo natural, sendo obtido um ganho de resistência médio de 99,0%. A junção do
pó de pedra com a fibra no solo 1, não teve alteração significativa, enquanto no solo 2 ocorreu um aumento de
6,7%, ambos comparados a inserção apenas da fibra, e de 112,25% com o solo natural. Concluiu-se que os
materiais utilizados auxiliam no melhoramento de um solo, sendo as técnicas de estabilização física adotadas
uma alternativa tecnicamente viável que pode ser utilizada para solos em camadas de base de aterros,
pavimentos, etc.

PALAVRAS-CHAVE: Formação Cabo, Estabilização Físico-Granulométrica, Melhoramento Mecânico,


Fibras de Polipropileno, Pó de pedra.

ABSTRACT: The present work aims to evaluate the improvement of compacted soils with the addition of
alternative materials, such as stone powder and polypropylene fibers, in order to determine and evaluate the
physical characteristics and resistance of the soils to unconfined compression, before and after stabilization.
For this, two different deformed samples were collected from the same embankment of the Cabo Formation,
in Cabo de Santo Agostinho. The improvement of the soil through the physical-granulometric reinforcement

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was carried out by adding 5% stone powder, 0.75% polypropylene fibers to the dry soil and a joint addition
with 5% stone powder and 0.75% fiber. polypropylene. The soils were classified by the Unified Soil
Classification System as SM (soil 1) and an MH (soil 2), both with a grain bulk specific gravity of 2.65 g/cm³.
The simple compression tests determined the resistance gain for soil 1, with its peak in the mixture with the
stone powder with an average gain of 117%. For soil 2, the fiber obtained expressive results in relation to the
natural soil, with an average resistance gain of 99.0%. The junction of stone powder with fiber in soil 1, did
not change significantly, while in soil 2 there was an increase of 6.7%, both compared to the insertion of only
fiber, and 112.25% with natural soil. It was concluded that the materials used assist in the improvement of a
soil, and the physical stabilization techniques adopted are a technically viable alternative that can be used for
soils in base layers of embankments, pavements, etc.

KEYWORDS: Cabo Formation, Physical-Granulometric Stabilization, Mechanical Improvement,


Polypropylene Fibers, Stone Powder.

1 Introdução

No âmbito da engenharia civil, o solo é definido como um agregado não cimentado de grãos minerais e
matéria orgânica decomposta, com líquido e gás preenchendo os espaços vazios existentes entre as partículas
sólidas (DAS, 2014). O solo é usado como material de construção em diversos projetos da engenharia civil e
de suporte para fundações estruturais. Neste estudo para o conhecimento das propriedades e o comportamento
do solo, a caracterização física e geomecânica possuem grande relevância.
É frequente encontrar solos naturais sem os requisitos necessários para cumprir adequadamente a função
a que estão destinados (CRUZ et al., 2010). Para que os projetos ocorram de forma correta e sem danos
técnicos, econômicos, sociais e ambientais, os processos de estabilização das características dos solos por meio
do melhoramento são saídas eficazes para solucionar tal problema. De modo geral, para melhorar as
características de um solo podem ser utilizados processos de natureza física (estabilização granulométrica),
físico-química (uso de materiais compósitos, por exemplo, solo-cimento-fibra), química (adição de cal,
betume, etc) ou mecânica (compactação) de forma a tornar esse solo estável para os limites de sua utilização
(GUEDES et al.,2014).
Em se tratando do melhoramento do solo por meio da incorporação de fibra, nos últimos 20 anos, tem-
se observado um número crescente de relatos sobre a utilização de fibras de diversos materiais em pesquisas
de laboratório, na área de geotécnica. Segundo Trindade et al. (2004) A grande maioria desses trabalhos atesta
ganhos de resistência e confirmam a ação de fibras como meio de aumentar a ductibilidade dos solos. As fibras
de polipropileno são bastante flexíveis e possuem grande tenacidade. Festugato (2008) observou que uma
matriz de solo arenoso com adição de fibras apresentou maior resistência do que o solo sem reforço. O autor
verificou, além disso, um comportamento de endurecimento nas misturas solo-fibra estudado, como também
que o aspecto das fibras tem importante influência sobre o ganho de resistência e a expansibilidade do material.
Segundo Trindade (2006) em seu estudo comparando diferentes comprimentos e quantitativos de fibras para
o melhoramento em um solo, obteve-se maior resistência a compressão não confinada para todos os
comprimentos em um quantitativo de 0,75% de adição de fibras no solo.
Outro métodos para melhoramento do solo é a aplicação do pó de pedra, onde segundo Bauer (2015) é
um material inerte, mais fino que pedrisco, de graduação entre 0 e 4,8 mm que tem maior porcentagem de
finos que as areias padronizadas, chegando a 28% do material abaixo de 0,075 mm. Santos (2016), em seu
estudo sobre o melhoramento do solo com adição de cal hidratada e pó de pedra, constatou que o maior ganho
de resistência deu-se com a adição de 5% de pó de pedra, mostrando ser, dentre as adições analisadas, a mais
favorável para o incremento de resistência para este solo, o que pode ser visto como alternativa para solucionar
problemas referentes à baixa resistência do solo. Por ser um material inerte, não reage com o solo
quimicamente, com isso a sua utilização para a estabilização se baseia nas técnicas de melhoramento físico
pelo método de estabilização granulométrica.
O propósito deste trabalho é analisar a viabilidade técnica do uso de materiais alternativos, no caso o pó
de pedra e fibras de polipropileno, como estabilizantes em solos com baixa resistência mecânica visando uma
melhora em suas propriedades para a aplicação em obras de engenharia, tendo como referência a resistência
das misturas obtidas a partir do ensaio de resistência a compressão simples (não confinada).

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2 Metodologia

2.1 Coleta de Amostras

As amostras de solos para o desenvolvimento da pesquisa foram retiradas de um mesmo talude, da


Formação Cabo, no município do Cabo de Santo Agostinho-PE. A coleta foi realizada a partir de uma visita
de campo, onde foram retiradas duas amostras distintas deformadas para caracterização física e ensaios
mecânicos. O talude de onde foram retiradas as amostras é composto por um solo formado por conglomerados,
bem característicos da Formação Cabo, composto por clastos que apresentam diferentes granulometrias e
composições granulométricas. O local fica ao lado do Campus Provisório da Unidade Acadêmica do Cabo de
Santo Agostinho (UACSA/UFRPE), na Rodovia Armínio Guilherme, nº 2685, no bairro Garapu, próximo à
rodovia PE-60. As amostras estavam a uma distância de cerca de 1,5 m, mas já apresentavam visualmente
características diferentes marcantes, como é possível ver na Figura 1 do talude e das amostras dos solos 1 e 2.
A escolha da área foi influenciada pelo atrativo causado pela construção do Shopping Costa Dourada para a
região em seu entorno, com um aumento considerável de construções regulares e irregulares.

Figura 1. Talude de onde foram retiradas as amostras dos solos para ensaios e as amostras 1 e 2. Fonte: Autor

2.2 Procedimento Experimental

2.2.1 Caracterização dos Solos

Os ensaios para determinação da caracterização física e para avaliação da resistência dos solos seguiram
as normas específicas da ABNT e foram realizadas no Laboratório de Mecânica dos Solos da UACSA/UFRPE.
Os ensaios que estão apresentados na tabela 1 foram realizados tanto para os solos em seu estado natural quanto
após o melhoramento com a incorporação do pó de pedra e das fibras de polipropileno.

Tabela 1. Parâmetros e normas para determinação da caracterização física e resistência a compressão não
confinada dos solos. Fonte: Autor
Parâmetros Teor de Massa Análise Limite de Limite de Compactação Compressão
Avaliados Umidade Específica Granulométrica Liquidez Plasticidade Simples
Normas de 6457/2016 6458/2016 7181/2016 6459/2016 7180/2016 7182/2016 12770/1992
Referência

Em se tratando da determinação da análise granulométrica, da massa específica, dos limites de Atterberg


e do ensaio de compactação as amostras de solos foram preparadas com secagem prévia até a umidade
higroscópica. Para o ensaio de compactação foi utilizado o método do Proctor Normal.

2.2.2 Caracterização dos Materiais Alternativos

O pó de pedra foi caracterizado segundo a norma da ABNT NBR NM 248/2003, com a obtenção da sua
composição granulométrica, diâmetro máximo e módulo de finura, segundo a norma ABNT NBR 16605/2017,

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com a obtenção da massa específica do agregado miúdo e segundo a norma ABNT NBR NM 46/2003, com a
obtenção do teor de materiais pulverulentos. As fibras de polipropileno seguiram as especificações do
fabricante, sendo constituídas de monofilamentos extremamente finos de polipropileno com diâmetro de
18 µm e um comprimento de 12 mm, possuindo resistência a tração de 500-600 MPa e peso específico de
0,91 g/cm³. A mistura dos solos com as fibras de polipropileno foi realizada de forma manual, segundo
Guedes (2014).

2.2.3 Preparação dos Corpos de Prova

O pó de pedra apresentou influência na granulometria e compactação dos solos, sendo necessário a


caracterização do material em conjunto com os solos, tal influência não foi apresentada pelas fibras de
polipropileno.
Os corpos de prova com os solos foram moldados em um molde cilíndrico de 10x12,7 cm, sendo as
adições realizadas ainda com os solos na umidade higroscópica. Os corpos tiveram dimensões de 6,3x12,6 cm.
A incorporação com o pó de pedra se deu com uma porcentagem de 5% segundo Santos (2016), enquanto a
adição de fibras de polipropileno se deu com uma porcentagem de 0,75%, segundo Trindade (2016), ambos
em relação ao peso do solo seco. A incorporação conjunta das porcentagens teve o intuito de determinar a
influência simultânea dos materiais.
Todos os corpos de prova foram envoltos em insulfilm de PVC e mantidos sobre a bancada por um
período de 24 horas, sendo este o previsto para o seu rompimento pelo ensaio de compressão não-confinada.
Foram realizados dois corpos de prova para cada situação prevista, apresentada na Figura 2.

Figura 2. Corpos de prova moldados na umidade ótima, durante o tempo de espera de 24 horas. Fonte: Autor

2.2.4 Ensaio de Compressão Simples

Após a moldagem dos corpos e o tempo de espera de 24 horas foi realizado a determinação das suas
resistências através do ensaio de compressão simples (não-confinada), sendo realizado em uma prensa para
ensaios de CBR, com velocidade constante de carregamento e anotadas as medidas de deslocamento do
manômetro em um intervalo pré-estabelecido, igual a todos.

3 Resultados

3.1 Caracterização dos Materiais Alternativos

O pó de pedra tem um diâmetro máximo característico de 4,8 mm, teor de materiais pulverulentos de
18,9%, módulo de finura de 2,34, sendo considerado uma areia média. A massa específica do agregado foi
determinada como 2,660 g/cm³.

3.2 Caracterização dos Solos

As análises granulométricas foram realizadas para os solos em estado natural e com a adição do pó de
pedra e estão expressas na Figura 3, onde foi possível observar que a presença do pó de pedra no solo 1 teve
um aumento na porcentagem de finos com uma escala maior do que realizado na incorporação com o solo 2.
A incorporação das fibras não alterou as características granulométricas, mas foi verificada uma alteração nos
limites de consistência.

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Os limites de liquidez, limites de plasticidade, índices de plasticidade e as classificações segundo o


Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS) estão expressos na Tabela 2, para o os solos em seus
estados naturais e com as adições dos materiais alternativos.

Figura 3. Curvas Granulométricas dos solos 1 e 2 no estado natural e com o pó de pedra. Fonte: Autor

Tabela 2. Resultados dos ensaios de caracterização física dos solos. Fonte: Autor
Solo 1 Solo 1 Solo 1 Solo 1 Solo 2 Solo 2 Solo 2 Solo 2
Amostras natural com com com pó natural com com com pó
pó de fibras de pedra pó de fibras de pedra
pedra e fibras pedra e fibras
Limite de Liquidez(%) 46,0 54,0 56,0 59,0 65,0 59,0 63,0 65,0
Limite de Plasticidade(%) 40,0 34,0 31,0 32,0 56,0 50,0 44,0 40,0
Índice de Plasticidade(%) 6,0 20,0 24,0 27,0 9,0 9,0 19,0 25,0
Massa Específica dos 2,653 2,548 - - 2,646 2,779 - -
grãos (g/cm³)
Classificação SM* - - - **MH - - -
*SM- Areia Siltosa
** MH – Silte de alta compressibilidade

Quanto aos limites de Atterberg verificou-se que a incorporação das fibras teve um desempenho maior
que a do pó de pedra, onde ela aumentou o limite de liquidez de ambos os solos e diminui o limite de
plasticidade, tirando os solos classificados como pouco plásticos para uma plasticidade média. Essa
característica se dá pela capacidade das fibras de aumentarem a ductibilidade dos solos, auxiliando no grau de
deformação que aumenta a relação tensão x deformação. A presença apenas do pó de pedra no solo 1 obteve
resultados favoráveis à sua plasticidade, a confirmar pelos seus índices, saindo de um solo pouco plástico para
um de plasticidade média. Neste caso a presença dos finos presente no pó de pedra auxiliou no ganho, caso
que aconteceu de maneira inversa a sua adição no solo 2, o qual tem grande presença de finos. A ação conjunta
dos dois materiais em ambos os solos contribuiu para um ganho de plasticidade.
A tabela 3 apresenta os dados obtidos com os ensaios de compactação dos solos naturais e com adições
do pó de pedra, já as fibras de polipropileno não alteraram as condições granulométricas dos solos e não tinham
capacidade de absorver água, pela sua composição, não alterando a umidade durante as misturas. Esses
resultados mostraram a ação do pó de pedra, dando ao solo 2, um silte de alta compressibilidade, uma
quantidade maior de finos, o que aumentou sua umidade ótima e sua massa específica máxima, enquanto que
no solo 1, a areia siltosa, ocorreu uma diminuição de sua umidade ótima e sua massa específica máxima.

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Tabela 3. Resultados dos ensaios de compactação dos solos. Fonte: Autor


Solo 1 Solo 1 Solo 2 Solo 2
Amostras natural com pó natural com pó
de pedra de pedra
Umidade ótima (%) 18,3 16,0 31,1 32,2
Massa Específica Máxima (g/cm³) 1,812 1,780 1,432 1,532

A diminuição da umidade ótima e da massa específica no solo 1 com pó de pedra em relação ao solo 1
natural e o aumento delas no solo 2 com pó de pedra em relação ao solo 2 natural se dá pela grande quantidade
de materiais finos no pó de pedra, que deixou a mistura com o solo 1 menos densa e no solo 2 mais densa.

3.3 Ensaio de Compressão Simples

Os corpos de prova que foram rompidos em seu estado natural e com a presença do pó de pedra
apresentaram uma ruptura bem mais frágil do que as misturas com as fibras, onde apresentaram altos graus de
deformação. Na figura 4 estão apresentadas as amostras, após o rompimento.

S1-P+F S1-F S1-P S1-Nat S2- Nat S2-P S2-F S2-P+F

Figura 4. Corpos de prova após a realização do ensaio de compressão simples. Descrição: S1-Nat: Solo 1
natural, S1-P: Solo 1 com pó de pedra, S1-F: Solo 1 com Fibras, S1-P+F: Solo 1 com Pó de Pedra e Fibras,
S2-Nat: Solo 2 natural, S2-P: Solo 2 com Pó de pedra, S2-F: Solo 2 com Fibras, S2-P+F: Solo 2 com Pó de
Pedra e Fibras. Fonte: Autor

Nenhuma das amostras utilizadas apresentaram ruptura brusca, sendo possível a coleta dos resultados
após início de ruptura. A Figura 5 apresenta os resultados das resistências dos solos 1 e 2 antes e após o
melhoramento. A Tabela 4 mostra os resultados obtidos de tensão máxima para cada uma das amostras em
cada um dos solos naturais e com as misturas. Ela apresenta também a média das duas tensões, valores esses
usados para calcular e expressar as porcentagens de melhoramento de uma mistura em relação à outra.

Figura 5. Resultados das compressões simples dos solos 1 e 2. Fonte: Autor

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Tabela 4. Tensões máximas obtidas no ensaio de compressão simples. Fonte: Autor


Corpos de prova Tensão Máxima (kPa)
Amostra 1 Amostra 2 Média
Solo 1 natural 67,08 65,31 66,20
Solo 1 com pó de pedra 143,03 145,18 144,11
Solo 1 com fibras 124,81 124,02 124,42
Solo 1 com pó de pedra e fibras 111,02 128,18 119,60
Solo 2 natural 107,89 110,32 109,11
Solo 2 com pó de pedra 80,72 65,28 73,00
Solo 2 com fibras 220,20 214,04 217,12
Solo 2 com pó de pedra e fibras 238,04 225,13 231,59

O solo 1 obteve ganho de resistência com todas as misturas realizadas, tendo seu pico na incorporação
com o pó de pedra, sendo cerca de 117% em média maior que o solo natural. O pó de pedra teve grande
relevância na obtenção da resistência na mistura com o solo 1, possivelmente por contribuir com a estabilização
granulométrica do solo, visto que o solo 1 apresentava-se com fração de partículas maiores que 0,1mm e
quando incorporado pó de pedra aumentou-se a fração de partículas finas do solo. A incorporação das fibras
aos solos também influenciou no aumento da resistência, onde foi observado que o ganho de resistência do
solo 1 com fibras foi semelhante a incorporação conjunta das fibras com o pó de pedra, visto não só no solo 1,
como também no solo 2. Analisando os resultados obtidos para o solo 2 foi observado que a incorporação do
pó de pedra não contribuiu favoravelmente para a resistência do solo, tendo melhores resultados com a mistura
com fibras. A incorporação da fibra no solo 2 apresentou resultados expressivos, onde houve um aumento de
resistência de 99,0% em média em relação ao solo natural. Recomenda-se estudos mais aprofundados para
avaliar com mais detalhes esta interação das fibras e do pó de pedra em diferentes tipos de solos.

4 Conclusão

A partir dos dados obtidos nos ensaios de caracterização física dos solos ao natural e com os
melhoramentos e dos ensaios mecânicos foi possível avaliar o comportamento do solo natural e do solo
melhorado quanto a presença dos materiais alternativos utilizados.
Em se tratando da granulometria as fibras não alteraram as composições dos solos, no entanto o pó de
pedra sim, devido a sua própria composição granulométrica, como o alto teor de materiais pulverulentos,
contribuiu para o aumento da fração fina principalmente do solo 1.
Com relação a plasticidade as fibras tiveram maior influência, tanto só, quanto em conjunto com o pó
de pedra alterando ambos os solos de pouca para uma média plasticidade. O pó de pedra quase não teve
influência no solo 2, diminuiu os seus limites, mas não alterou o índice, em contrapartida a ação dos seus finos
alteraram o solo 2, aumentando o limite de liquidez e reduzindo o limite de plasticidade, aumentando assim
seu índice de plasticidade, fazendo sua plasticidade alterar de pouca para média.
As fibras não influenciaram os índices obtidos pela compactação dos solos, já o pó de pedra, devido a
sua composição granulométrica, aumentou a umidade e a massa específica máxima no solo 2 e reduziu no
solo 1.
Os resultados obtidos no ensaio de compressão simples determinaram qual material proporcionou um
ganho de resistência a cada tipo de solo estudado, sendo o melhoramento com o pó de pedra viável apenas
para o solo 1, areia siltosa (SM), enquanto o uso das fibras de polipropileno mais viável para o solo 2, no caso
o silte de alta compressibilidade (MH). O ensaio também auxiliou a determinar a grande influência das fibras
sobre a ação conjunta com o pó de pedra, levando a obter resultados parecidos a incorporação apenas da fibra,
Deve-se salientar que o processo de homogeneização das fibras com o solo é ainda realizado de forma muito
manual, sendo necessário um estudo para viabilizar o uso em grande escala.
O pó de pedra teve grande relevância na obtenção da resistência na mistura com o solo 1, possivelmente
por contribuir com a estabilização granulométrica do solo. A incorporação das fibras aos solos também
influenciou no aumento da resistência, onde foi observado que o ganho de resistência do solo 1 com fibras foi

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semelhante a incorporação conjunta das fibras com o pó de pedra. Para o solo 2 foi observado que a
incorporação do pó de pedra não contribuiu favoravelmente para a resistência do solo, tendo melhores
resultados com a mistura com fibras. A incorporação da fibra no solo 2 apresentou resultados expressivos,
onde houve um aumento de resistência de 99,0% em média em relação ao solo natural.
As técnicas de melhoramento mecânico físico-granulométrico estudadas proporcionaram ganho de
resistência para os solos, demostrando resultados favoráveis para o uso dessas técnicas de estabilização como
forma de melhorar a capacidade mecânica dos solos. Porém, recomenda-se estudos mais aprofundados para
avaliar com mais detalhes esta interação das fibras e do pó de pedra em diferentes tipos de solos e sua
viabilidade técnico-financeira para o emprego nas obras de engenharia, como por exemplo camadas de base
de aterros e pavimentos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Normas para os ensaios de caracterização do solo.


NBR 6458 (2016) – Grãos de pedregulho retidos na peneira de abertura 4,8 mm - Determinação da Massa
Específica, da massa específica aparente e da absorção de água. NBR 6457 (2016) – Amostra de Solo –
Preparação para Ensaios de Compactação e Ensaios de Caracterização. NBR 6459 (2016) – Solo –
Determinação do Limite de Liquidez. NBR 7180 (2016) – Solo – Determinação do Limite de Plasticidade.
NBR 7181 (2016) – Análise Granulométrica. NBR 7182(2016) – Solo - Ensaio de compactação. NBR 12770
(1992) – Solo coesivo – Determinação da resistência à compressão não confinada – Método de ensaio.
NBR NM 248:2003 - Agregados - Determinação da composição granulométrica. NBR NM 16605 (2017) -
Cimento Portland e outros materiais em pó - Determinação da massa específica. NBR NM 46 (2003) -
Agregados - Determinação do material fino que passa através da peneira 75 um, por lavagem.

CRUZ, M. JALALI, S. Melhoramento do desempenho de misturas solo-cimento. In: CONGRESSO


NACIONAL DE GEOTECNIA, XII. Guimarães, 2010.

DAS, Braja M.; SOBHAN, Khaled. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. São Paulo: Cengage Learning,
2014. Xv, 612 p.

FESTUGATO, L. (2008) Análise do comportamento mecânico de um solo micro-reforçado com fibras de


distintos índices aspectos. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 145 p.

GUEDES, S. B.; COUTINHO, R. Q.; FONSECA, A. J. P. V. (2014). Comportamento de Um Solo Melhorado


por Processos Mecânico (Compactação), Químico (Cimento), Físico (Fibras) e Químico-Físico (Cimento-
Fibra) para Aplicação como Material Contra Erosão para as Estradas de Terra Existentes no
PMAHC/Cabo de Santo Agostinho. XVII Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica. Goiana/GO.

Materiais da Construção 1/ coordenador L.A.Falcão Bauer ; revisão técnica João Fernando Dias.-
5.ed.revisada.– ӏReimpr.ӏ – Rio de Janeiro : LTC, 2015.

SANTOS, Y. R. P. (2016). Comportamento e melhoramento de solos compactados para aplicação em obras


de engenharia civil. Trabalho de conclusão do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de
Pernambuco, Bacharel em Engenharia Civil. Caruaru-PE.

TRINDADE, T. P., Iasbik, I., LIMA, D. C., MINETTE, E., SILVA, C. H. C., CARVALHO, C. A. B., BUENO,
B. S., MACHADO, C. C. Estudos laboratoriais do comportamento de um solo residual arenoso reforçado
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0149 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Uma análise dos fatores de influência na resistência de rejeitos de minério de ferro


Halabi, Ana Luiza M.
Mestranda na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Laboratório de Microestruturas/Geoinfra, São
Paulo, Brasil, halabi.analu@gmail.com

Pileggi, Rafael G.
Professor na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Laboratório de Microestruturas, São Paulo,
Brasil, rafael.pileggi@lme.pcc.usp.br

Futai, M. M.
Professor na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, GeoInfra, São Paulo, Brasil, futai@usp.br

RESUMO: Os rejeitos de mineração são solos artificiais resultado do beneficiamento do minério, armazenados
geralmente misturados com água em estruturas conhecidas como barragens de rejeito, construídas com o
próprio rejeito, em geral o underflow, ou material de empréstimo. Devido à similaridade a solos naturais, o
comportamento desse material é estudado utilizando conceitos da mecânica dos solos. Esse trabalho busca
estudar a resistência do undeflow de rejeitos de minérios de ferro a partir de uma revisão bibliográfica e
análisede fatores de influência na resistência do material. Observou-se que esses materais se comportam, em
geral, como solos não coesivos, com ângulo de atrito elevado devido à angulosidade dos grãos. Foi também
observada a influência da porosidade, da granulometria e da mineralogia no ângulo de atrito desses materiais.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeito, underflow, rejeitos de minério de ferro, resistência, ângulo de atrito, regressão
linear

ABSTRACT: Tailings are artificial soils resulted from the ore processing, usually stored mixed with water in
structures known as tailings dams, built with coarse tailings or borrowed materials. Due to the similarity to
natural soils, the behavior of these materials is studied using concepts of soil mechanics. This paper, therefore,
intends to study the resistance of the undeflow of iron ore tailings, as from a literature review and an analysis
of the factors that weight in its resistance. It was observed that these materials behave, generally, as
cohesionless soils, with an elevated friction angle due to the grains angularity. It is also observed the influence
of the porosity, the granulometry and mineralogy in the friccion angle of these materials.

KEYWORDS: tailings, underflow, iron ore tailings, shear strength, fricction angle, linear regression

1 Introdução

Os rejeitos de mineração são materiais artificiais resultantes da britagem e do beneficiamento do


minério, têm suas características intimamente relacionadas à composição das rochas lavradas e dos processos
para concentração e extração desse minério, com granulometria variando de areias a argilas. Eles se
assemelham bastante aos solos naturais, o que resulta na validade da utilização dos princípios da mecânica dos
solos para projetos.
Resultados de ensaios em rejeitos da lavra de rochas demonstram pequena variação no φ’ no que tange
a granulometria do material, o índice de vazios e o sobre-adensamento, e grande influência do nível de tensões
devido à quebra de partículas (Sarsby, 2013). Além disso, o material apresenta coesão próxima de zero e ângulo

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de atrito entre 30 e 42º, sendo até 6º maior que areias e argilas naturais devido à maior angulosidade (Bussière,
2007). Essa angulosidade também resulta em tensões de contato altas entre os grãos, ocasionando quebra dos
grãos e, consequentemente, resulta em uma envoltória de ruptura curva, especialmente em baixas tensões
confinantes, menores de 300 kPa (Vick, 1983).
Apesar da validade da mecânica dos solos, e de apresentarem uma resistência ao cisalhamento
relativamente alta, são materiais pouco favoráveis para a utilização em estruturas. Isso porque, segundo Sarsby
(2013), a sua falta de coesão os torna propícios a erosão interna e superficial. Este fato, aliado a sua
granulometria e deposição fofa, também o tornam bastante propensos para liquefação. A alta resistência do
material em condições drenadas e de deformações lentas fica evidente em barragens de rejeito mais antigas,
construídas sem projeto, que se mostraram estáveis por bastante tempo apesar da construção com inclinação
elevada. Estas construções chegaram a atingir inclinações de 42º em material sem compactação nas minas de
Fernandinho (Itabirito-MG) e Pico do São Luis (Mariana-MG) (PARRA, et al., 1987a; PARRA, et al., 1987b).
A eventual ruptura dessas estruturas, porém, demonstra a necessidade de ponderação durante o projeto. Além
disso, a grande escala das barragens de rejeito hoje, e os recentes desastres causados por suas rupturas no
Brasil, com a barragem 1 da mina Córrego do Feijão (Brumadinho-MG) em 2019 e a barragem de Fundão
(Mariana-MG) em 2015, demonstram a necessidade de estudos mais aprofundados sobre esse material
Nota-se que, segundo os dados do PNSB (ANM, 2019), mais de 30% das barragens de rejeito do Brasil
são resultado da mineração de ferro do quadrilátero ferrífero. Dessas, cerca de 25% são construídas a montante
e, portanto, tem a fundação de seus maciços apoiadas no underflow de minério de ferro. Esse trabalho, então,
apresenta uma compilação e comparação de resultados de ensaios de resistência de rejeitos de minério de ferro
do quadrilátero ferrífero. Com isso, objetiva-se resumir os resultados encontrados na literatura e analisar
estatísticamente a influência das diferentes propriedades físicas dos rejeitos em sua resistência ao
cisalhamento.

2 Metodologia

Para apresentar uma análise dos fatores de influência na resistência ao cisalhamento de underflow
rejeitos de minério de ferro foi realizada uma revisão sistemática da literatura. em que critério de seleção foi
apresentar os dados de porosidade, peso específico e diâmetro médio dos grãos, definidos como fatores que
influenciam na resistência desses materiais. Foram utilizados como parâmetros de resistência ao cisalhamento
os parâmetros efetivos considerando o critério de ruptura de Mohr-Coulomb. O ângulo de atrito e a coesão
efetivos dos materiais foram obtido a partir de dados disponíveis na literatura, assim como os parâmetros de
resistência para os rejeitos de minérios de ferro presentes na Figura 1.
Os rejeitos da mineração de ferro apresentam coesão baixa, com média próxima a zero, similar a solos
arenosos (Figura 1). O ângulo de atrito efetivo desses materiais, por sua vez, se mostra bastante elevado, com
média de cerca de 36° para os rejeitos de ferro, conforme a Figura 1, com uma variação relativamente pequena
entre os materiais. O levantamento bibliográfico e os dados coletados indicaram que a resistência ao
cisalhamento dos rejeitos é comandada pelo ângulo de atrito, por isso, as correlações foram realizadas para sua
obtenção. Devido às características similares a areias, foram considerados como fatores de maior influência na
resistência desses materiais a distribuição granulométrica, o formato, o tamanho e a resistência dos grãos. Esses
fatores foram utilizados em regressão linear múltipla de maneira a se verificar quantitativamente sua influência
na resistência de rejeitos de minério de ferro. Na Tabela 1 estão apresentados dados utilizados nas análises.
A análise quantitativa da influência das características do rejeito no ângulo de atrito foi realizada em
duas etapas. Primeiramente, uma relação entre a porosidade e a resistência foi encontrata a partir da
normalização do ângulo de atrito efetivo dos rejeitos. Em seguida, foram avaliadosos outros fatores de maior
influência nesse parâmetro de resistência a partir de uma regressão múltipla com o ângulo de atrito como

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variável dependente. Foram definidos como valores a serem analisados a massa específica, que pode ser
correlacionado com a mineralogia e resistência dos materiais, e a granulometria.

,
Figura 1: Gráfico boxplot resumo dos parâmetros de resistência efetivos encontrados na literatura

Tabela 1: Resumo dos dados utilizados nas análises paramétricas e estatística de underflow de rejeito de
minério de ferro.
Curvas de
Fonte Mina Dados Observações
Resistência
3 Granulometrias diferentes;
Espósito (2000) Monjolo 14
Ensaios DS (9 porosidades) e CD (5 porosidades)
2 Granulometrias diferentes;
Espósito (2000) Xingu 14
Ensaios DS (9 porosidades) e CD (5 porosidades)
n, D50, 5 granulometrias/peso específico
Lopes (2000) Xingu 29
ρs, φ’ Ensaios DS (6 porosidades cada)
4 variações da % de Fe;
Hernandez (2002) Monjolo 20
Ensaios DS (4 porosidades cada)
4 granulometrias diferentes;
Presotti (2002) Monjolo 19
Ensaios CD (4 a 6 porosidades cada)

2.1 Análise da influência da porosidade

A existência de uma correlação entre a porosidade, ou o índice de vazios, dos materiais com seu ângulo
de atrito foi previamente estudada por Bjerrum (1961) para areias e Espósito (2000) para rejeitos, sendo
prevista uma relação inversamente proporcional entre os dois. Nas amostras estudadas, porém, essa relação
não se torna evidente, possivelmente devido à influência dos outros fatores mencionados. Assim, em razão da
aparente relação entre a porosidade do material e seu ângulo de atrito, foi proposto encontrar uma linha de
tendência entre a porosidade e o ângulo de atrito normalizado. Para realizar-se essa normalização foi
encontrado φ45%’(o ângulo de atrito para uma porosidade de 45% de cada um dos materiais estudado) para

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cada rejeito ensaiado pelos autores, definido como fator de normalização s. Esse valor foi escolhido por ser
um valor intermediário, contido dentro dos intervalos de porosidades testadas para todas as amostras. Cada
ângulo de atrito efetivo foi então normalizado pelo φ45%’ da respectiva amostra, de maneira a se encontrar o
ângulo de atrito normalizado (i’), que foram então comparados às suas respectivas porosidades. Dessa maneira,
evidenciou-se uma curva de tendência geral do i’ em função da porosidade do empacotamento.
𝜑′
𝑖′ = ⁄𝜑′ (1)
45%

2.2 Análise da influência da granulometria e massa específica dos grãos


Foi considerado como um fator relevante para o ângulo de atrito dos rejeitos arenosos de minério de
ferro a esfericidade do material, que analogamente a areias, apresenta maior resistência ao rolamento e
escorregamento entre as partículas para grãos com maior angulosidade. Li (2017), estudando rejeitos de
minério de ferro encontrou, para os materiais segregados nas barragens, um aumento da esfericidade dos grãos
relacionado ao aumento da granulometria média dos grãos. Esse mesmo fenômeno foi verificado indiretamente
por Presotti (2002), em que observou menores índices de vazios mínimos para rejeitos de granulometrias mais
grosseiras, o que pode ser explicado pelo aumento do empacotamento em grãos mais arredondados. Isso
também significa que, para mesmas porosidades, rejeitos mais grossos apresentam menores densidades
relativas. Nas amostras estudadas, porém, essa relação não se torna evidente.
Milonas (2006) notou, ainda, a influência do teor de ferro no ângulo de atrito de rejeitos com
granulometrias e porosidades similares. Isso pode demonstrar a influência da mineralogia no material, que
fazendo analogia à resistência de areias, está intimamente relacionada à resistência dos grãos e à quebra de
partículas, mais comum em grãos angulares. Observa-se também que o teor de ferro está diretamente
relacionado à massa específica dos grãos, devido ao maior peso específico dos minerais ferrosos quando
comparados aos minerais silicosos, além da granulometria, a ser avaliado conforme processamento e método
de deposição (MILONAS, 2006).
Assim, foi avaliada a influência da massa específica dos grãos (ρs), ligada à sua mineralogia e à
resistência das partículas, assim como a granulometria, melhor representada para rejeitos pelo D50, e a
porosidade, nos ângulo de atrito a partir de uma regressão linear múltipla. Para se para avaliar quais variáveis
apresentam maior impacto relativo no ângulo de atrito efetivo, estas foram normalizadas. Além da utilização
do coeficiente de determinação da amostra, o nível de significância da regressão linear foi avaliado a partir do
teste de hipótese do p-valor. Assim, comparando o p-valor obtido a partir da regressão linear múltipla com o
nível de significância de 0,05, consideramos que a probabilidade da hipótese nula, de que a variável não
influencia no resultado da variável dependente, seja menor que 5% (Hanck et al., 2019) . Nota-se que apesar
de ser demonstrado que relação entre a porosidade e o ângulo de atrito não seria linear, e do desconhecimento
das relações entre as outras variáveis, a aproximação dessa a partir de um modelo linear foi considerada
razoável para a análise proposta.

3 Resultados e Discussões

A Figura 2 apresenta a relação entre esses o ângulo de atrito efetivo dos rejeitos de underflows de minério
de ferro estudado e das respectivas porosidades, em que se torna aparente uma relação inversamente
proporcional entre os dois, conforme previsto. Porém, devido à grande variabilidade dos outros fatores, não
foi possível encontrar uma relação razoável entre esses dois parâmetros para o conjunto de ensaios estudados.
Por isso, foi realizada a normalização de φ’ para cada amostra ensaiado pelos respectivos autores, sendo

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definido como fator de normalização o ângulo de atrito para uma porosidade de 45% obtido a partir da
regressão das respectivas curvas de ângulo de atrito pela porosidade de cada uma das amostras. Os valores
encontrados para φ45%’ são apresentados na Tabela 2.

50
Presotti, 2002
Hernandez (2002)
Espósito (2000) - Xingu
45
Espósito (2000) - Monjolo
Ângulo de atrito efetivo (°)

Lopes (2000)

40

35

30

25
30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65%
Porosidade - n (%)
Figura 2 – Relação entre ângulo de atrito e porosidade underflow de minério de ferro

Os ângulos de atrito normalizados foram então comparados às suas respectivas porosidades no gráfico
apresentado na Figura 3, na qual fica mais evidente uma tendência entre as curvas. Para esse conjunto de dados,
a linha de tendência que melhor define a relação entre o ângulo de atrito normalizado e a porosidade foi
razoavelmente definida como uma potência conforme a Equação 2, com um coeficiente de determinação
bastante satisfatório. Demonstra-se, portanto, uma relação evidente da resistência do material com sua
porosidade.

𝑖′ = 0,5327 ∗ 𝑛−0,779
(2)
No qual:
I é o ângulo de atrito normalizado pelo ângulo de atrito de referência (n=45%);
n é a porosidade do rejeito;

O resultado da normalização demonstra a existência de uma relação entre a porosidade e a variação do ângulo
de atrito efetivo, sendo observado um um coeficiente de determinação de 0,88. Para a aplicação dessa
metodologia, porém, é necessário saber o valor do ângulo de atrito efetivo definido para a porosidade de 45%.
Esse parâmetro, por sua vez, depende de outros fatores de influência no ângulo de atrito do rejeito de minério
de ferro, como as características mineralógicas, granulométricas e de forma estudadas a seguir.

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Tabela 2: Ângulo de atrito efetivo de referência das amostras com porosidade de 45%
Fonte Amostra φ'(45)
Espósito (2000) DS-1X 39,8
Espósito (2000) DS-1M 34,2
Espósito (2000) TDC-1X 38,3
Espósito (2000) TCD-1M 34,6
Lopes (2000) Amostra 02 43,8
Lopes (2000) Amostra 06 38,8
Lopes (2000) Amostra 10 42,2
Lopes (2000) Amostra 10A 47,2
Lopes (2000) Amostra 10B 41,8
Hernandez (2002) Q-14% 33,5
Hernandez (2002) Q-40% 34,1
Hernandez (2002) Q-60% 31,9
Hernandez (2002) Q-80% 31,2
Hernandez (2002) Q-97% 30,2
Presotti (2002) MA8-000/1 39,6
Presotti (2002) MA8-040/1 37,6
Presotti (2002) MA8-080/1 36,8
Presotti (2002) MA8-120/1 35,9

1,3 MA8-000
MA8-040
MA8-080
1,2 MA8-120
Q-14%
Q-40%
1,1
Q-60%
y = 0,5327x-0,779
ϕ'/ϕ'(45%)

Q-80%
R² = 0,884
1 Q-97%
DS-X
DS-M
0,9 TCD-X
TCD-M
Amostra 02
0,8 Amostra 06
Amostra 10
Amostra 10A
0,7
Amostra 10B
30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65% 70%
porosidade - n (%) Power (Todos)

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Figura 3: Curva de Variação do ângulo de atrito normalizado pela porosidade.


Tabela 3: Valores de média e desvio padrão das variáveis independentes
ρs n D50
Média 3,664 0,461 0,184
Desvio Padrão 0,61 0,056 0,062
CoV 16,65% 12,15% 33,70%

Em seguida foi realizada uma regressão linear múltipla das variáveis independentes normalizadas, para
avaliar quais variáveis apresentam maior impacto relativo no ângulo de atrito efetivo. Os valores de média e
desvio padrão utilizados para se realizar a normalização são apresentados na Tabela 3.Os coeficientes de cada
variável independente normalizada são apresentados na Tabela 4, assim como os valores do teste de hipótese.
Os resultados apresentados são considerados satisfatórios, uma vez que se observa previsões condizentes com
os comportamentos observados em ensaios, com um coeficiente de determinação ajustado de 0,30 e assim,
cerca de 30% das variações do ângulo de atrito efetivo são explicadas pelo modelo. O p-valor inferior a 0.05
garante a capacidade preditiva do modelo. Assim, observamos que as três variáveis apresentam influência no
ângulo de atrito efetivo.Assim, observamos que as três variáveis apresentam influência no ângulo de atrito
efetivo. Pelos resultados da Tabela 4 observamos ainda que, o aumento de um desvio padrão do peso específico
(0.61g/cm3) gera um aumento de 2.024 em φ’, já o aumento de um desvio padrão na porosidade (5.6%) diminui
em 2.252 o φ’ enquanto o aumento de um desvio padrão no diâmetro médio dos grãos (0.062 mm) diminui em
0.931 o ângulo de atrito. Esse resultado corrobora com o observado para as porosidades por Espósito (2000)
e Bjerrum et al. (1961), apresentando coeficiente negativo. Além disso, o resultado comprova a relação positiva
entre a resistência de minérios de ferro com o peso específico, conforme proposto por Milonas (2006). Por
fim, nota-se que o diâmetro médio dos grãos apresenta uma menor influência na resistência dos grãos.

Tabela 4: Resultados da regressão linear múltipla


Variável
Parâmetros p-valor
Independente
Intercepto 36,72 < 0,001
Gs' 2,02 < 0,001
n' -2,25 < 0,001
D50' -0,93 0,012

Observa-se, por fim, que essa regressão tem como único objetivo avaliar as influências de fatores pré-
determinados por resultados de ensaios de resistência encontrados na bibliografia no ângulo de atrito. Assim,
a relação encontrada não é condizente com a relação real entre os fatores, que não necessariamente é linear, e
muito menos deve ser utilizada para predições de ângulo de atrito do material, mesmo que os resultados
encontrados tenham validade estatística e capacidade preditiva.

4 Conclusões

A partir da revisão bibliográfica realizada da resistência de underflow de rejeitos de minério de ferro,


além das análises paramétricas e estatísticas do seu ângulo de atrito, foi possível se tirar algumas conclusões
acerca da resistência ao cisalhamento desse material. O ângulo de atrito efetivo desses materiais se mostram
bastante elevados, de cerca de 36°, com uma variação relativamente pequena entre os materiaisAlém disso,

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observou-se que a porosidade é um fator de grande importância no ângulo de atrito dos rejeitos, seguindo uma
correlação exponencial entre as variáveis. Somadas a essa, a partir da regressão linear múltipla notou-se que a
granulometria e a massa específica dos sólidos também podem representar fatores importantes para a
resistência ao cisalhamento. Por fim, destaca-se que os resultados, corroboraram com as hipóteses encontradas
na literatura, em que o aumento do peso específico dos sólidos aumenta a resistência dos rejeitos de minério
de ferro, enquanto o aumento da sua porosidade e do seu tamanho dos grãos médios a diminuem.
É importante destacar ainda que, apesar da alta resistência desses materiais, devido à suas características
mineralógicas e morfológicas principalmente, estruturas construídas com rejeitos de minério de ferro ainda
envolvem riscos elevados. Isso se dá, principalmente, devido à susceptibilidade desses materiais a liquefação.
Portanto, a resistêncianão-drenada de rejeitos de minério de ferro são um fator crucial para projeto.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao


Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo suporte financeiro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANM – Agência Nacional de Mineração, 2019. Classificação das Barragens de Mineração Brasileiras – Data
Base Fev/2019.
Bjerrum, L., Kringstad, S., Kummeneje, O., 1961. The Shear Strength of a Fine Sand. Proc. 5th Int. Conf. Soil
Mech. 1, 27–40.
Bussière, B., 2007. Colloquium 2004: Hydrogeotechnical properties of hard rock tailings from metal mines
and emerging geoenvironmental disposal approaches. Can. Geotech. J. 44, 1019–1052.
https://doi.org/10.1139/t07-040
Espósito, T., Assis, A., Giovannini, M., 2003. Influence of the Variability of Geotechnical Parameters on the
Liquefaction Potential of Tailing Dams. Int. J. Surf. Mining, Reclam. Environ. 16, 304–313.
https://doi.org/10.1076/ijsm.16.4.304.8639
Espósito, T.J., 2000. Metodologia probabilística e observacional aplicada a barragens de rejeito construídas
por aterro hidráulico. Tese Doutorado 363.
Hanck, C., Arnold, M., Gerber, A., Schmelzer, M., 2019. Introduction to programming Econometrics with R,
October.
Hernandez, H.M.O., 2002. Caracterização geomecânica de rejeitos aplicada a barragens de aterro hidráulico.
Diss. Mestrado, Dep. Eng. Civ. e Ambient. Univ. Brasília, Brasília, DF 174.
Lopes, M.C.O., 2000. Disposição hidráulica de rejeitos arenosos e influência nos parâmetros de resistência.
Diss. Mestr. em Geotec. Univ. Brasília.
Presotti, E. da Si., 2002. Influência do teor de ferro nos parâmetros de resistência de um rejeito de minério de
ferro. Diss. Mestr. em Geotec. Univ. Fed. Ouro Preto, Ouro Preto, MG 152.
Sarsby, R., 2013. Environmental geotechnics. Environ. Geotech. https://doi.org/10.1680/eg.27527
Vick, S.G., 1983. Planning, Design, and Analysis of Tailings Dams.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0150 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Estudo de Caso: Descomissionamento e descaracterização de


barragens de água para fins de acumulação
Rafaela Baldi Fernandes
Engenheira Civil, Instituto Brasil, Belo Horizonte, Brasil, rafaela@institutobrasil.org

Lennon de Souza Marcos da Silva


Engenheiro Civil, Instituto Brasil, Rio de Janeiro, Brasil, lennon@institutobrasil.org

Ana Cristina Fontenla Sieira


Engenheira Civil, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, sieira@uerj.br

RESUMO: O processo de descomissionamento e descaracterização de barragens de água para fins de


acumulação é uma alternativa utilizada quando se tem o fim do uso da captação e, em alguns casos, quando a
estabilidade da estrutura é crítica. No caso de estruturas antigas, construídas sem projeto, sem
monitoramento e manutenção, manter as estruturas ativas, do ponto de vista do aporte de água de chuva,
pode impactar significativamente o aumento do risco de ruptura. Desta forma, estruturas nestas condições
devem ser desativadas, e submetidas a análise do melhor processo para reduzir, ao mínimo, o impacto
ambiental nas áreas do entorno com a descaracterização. O estudo apresentado neste trabalho avalia a
estabilidade de processos para descomissionamento e descaracterização de barragens para o Projeto de
Viabilidade de uma barragem de água com problemas de instabilidade estrutural e com elevado volume de
água incidente no reservatório.

PALAVRAS-CHAVE: Descomissionamento, descaracterização, gabiões, barragens de água

ABSTRACT: The process of decommissioning and de-characterization of water dams is an alternative used
for the closure plan or, in some cases, when the stability of the structure is critical. In the case of old
structures, built without design, without monitoring and maintenance, keeping the structures active, from the
point of view of the supply of rainwater, can significantly impact the increased risk of rupture. In this way,
structures in this condition must be deactivated, and submitted to analysis of the best process to reduce, to a
minimum, the environmental impact in the surrounding areas. The study presented in this work evaluates the
stability of processes for decommissioning and de-characterization of dams, in the case of Viability Project
for a water dam with structural instability problems and with a high volume of water incident in the
reservoir.

KEYWORDS: Decommissioning, de-characterization, gabions, water dam

1 Introdução

Quando uma barragem está completamente cheia ou quando a produção de rejeitos cessa, ou finaliza-
se o processo de captação de água, a barragem é tida como inativa. O descomissionamento ocorre a partir do
momento em que não se tem mais o lançamento de resíduos, no caso das barragens de rejeito e, a captação
de água, no caso das barragens de água. Entretanto, o descomissionamento não torna as estruturas imunes às
rupturas ou falhas.
Uma causa provável de falhas em barragens inativas é associada ao aumento do nível d´água do
reservatório, aproximando-se da crista da barragem e, assim, aumentando a freática no maciço e talude de
jusante, levando a deslizamentos e escorregamentos. A construção de diques internos ao reservatório, que
distam da crista, pode reduzir esse afluxo de água, permitindo que ainda possa garantir uma sobrelevação no
reservatório em decorrência de chuvas extremas. Entretanto, deve ser avaliada a resistência do maciço para
essa elevação no carregamento.

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Nesse sentido, é importante prever alguma atividade de descaracterização das estruturas, parcial ou
total, com o objetivo de reduzir, e até eliminar, os riscos associados a rupturas de barragens inativas. Como
descaracterização entende-se a completa remoção do maciço, reestabelecimento da drenagem superficial no
terreno impactado e reintegração da região nos quesitos ambientais. O custo de se manter equipamentos não
funcionais (como bombas, comportas, tubulações e afins) após o descomissionamento das estruturas, além de
toda uma rotina de inspeção e monitoramento, geralmente é mais elevado do que a descaracterização da
estrutura.
Para o processo de descaracterização de uma barragem, o Brasil apresenta uma escassez de normas,
legislações e bibliografias sobre o tema. A NBR 13.028 (2017), que versa sobre a elaboração e apresentação
de projetos de barragem, não dita as normas e diretrizes para o processo de descaracterização dessas
estruturas. No entanto, é necessário que sejam considerados quesitos mínimos de segurança e, para isso, é
importante que seja realizada inspeção de segurança especial com consideração das alterações das condições
a montante e a jusante da barragem. Ainda, deve-se elaborar documentação específica que contenha projeto
de descaracterização bem detalhado, inclusive com as operações de descomissionamento.
Uma divisão clara entre as atividades de descomissionamento e descaracterização, mesmo que sejam
complementares, é facilitada do ponto de vista do monitoramento e manutenção. Estruturas
descomisisionadas ainda necessitam de intenso monitoramento, bem como atividades permanentes de
manutenção. Já para as estruturas descaracterizadas, o monitoramento e atividades de manutenção vão sendo
reduzidos à medida que se tem a remoção da estrutura, mantendo-se nos primeiros meses após a reintegração
e com espaçamentos cada vez maiores. Para desenvolver um bom sistema de monitoramento e manutenção
durante o fechamento é preciso considerar possíveis colapsos no maciço, fundação e ombreiras,
principalmente em termos de deslizamento, liquefação e processos de erosão interna e piping. O regime
pluviométrico, possíveis ataques de vandalismo e deterioração dos sistemas também deve ser
complementares.

2.1 Descaracterização de barragens

Em muitos casos as barragens geram impactos negativos na sociedade e no meio ambiente e a


descaracterização se torna razoável do ponto de vista do reestabelecimento deste tipo de relação. Além disso,
os empreendedores têm visto a remoção completa como uma alternativa preferencial a gerência de
deterioração, instabilidade ou abandono de barragens. A maioria das barragens antigas acaba sendo
descomissionadas e, a partir desse momento, o custo para garantia de estabilidade não é compensado pelo
uso. As barragens podem trazer um grande benefício para a sociedade, mas, também, podem alterar
processos químicos, físicos e biológicos de um ecossistema, sem considerar os danos causados por eventuais
rupturas.
As etapas a serem seguidas para descaracterização de uma estrutura dependem de fatores limitantes de
projeto, bem como de fatores associados a custo, técnica e prazo. Existem várias maneiras de se remover as
barragens e o método escolhido dependerá do mapeamento e variáveis atribuídas a cada um destes fatores. O
tamanho e o tipo da barragem, a quantidade de sedimentos e resíduos no reservatório, o fluxo na fundação da
estrutura, os anseios do proprietário da barragem e quais são suas prioridades e o prazo de remoção da
barragem, geralmente são fatores que afetam o processo de descaracterização. De um modo geral, o custo da
remoção é elevado e as despesas normalmente aumentam proporcionalmente quando um peso maior é dado
às preocupações ambientais. Entretanto, o custo da remoção de barragens geralmente é compartilhado por
várias partes interessadas e, desta forma, torna-se algo efetivo. Além disso, mesmo sendo elevado, é
infinitamente menor do que os custos a longo prazo com monitoramento e manutenção, bem como
pagamento de indenizações e multas ambientais face a um rompimento da estrutura.
Em todas as opções de descaracterização é essencial garantir a estabilidade da estrutura durante as
intervenções para que, durante o esvaziamento e desmonte de reservatório e maciço, sejam assegurados
fatores aceitáveis de segurança. O processo de descaracterização deve ser monitorado do início ao fim para
que sejam possíveis ajustes em caso de condições de tensão diferenciada do esperado em projeto.
No caso das barragens de água, um problema comum é avaliar como os sedimentos transportados
naturalmente pelo rio são depositados no reservatório e, eventualmente, podem ser caracterizados como

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lodos. Esse excesso de sedimentos pode reduzir a capacidade de geração hidrelétrica de um reservatório,
alterar o canal do rio a jusante, aprisionar sedimentos ricos em nutrientes e ampliar as pressões no talude de
montante e ombreiras. Muitas vezes, o sedimento armazenado em um reservatório é excelente para recompor
calhas de rios, reconstruindo o habitat dos peixes e fornecendo nutrientes para a microbacia. Em outros
casos, o sedimento pode aumentar a turbidez do rio, prejudicando a vida aquática, alterando a paisagem e
dificultando a implantação de estruturas.
O sedimento pode ser avaliado antes de ser liberado para determinar se será prejudicial à paisagem a
jusante da estrutura. Nesse caso, também se inclui as barragens de rejeito que possuem percentual de sólido
em suspensão, ou seja, a parcela fluida de material não adensado que se pretende liberar no vale de jusante.
A remoção da barragem pode ter consequências adversas se isso não for considerado, principalmente em
relação à vida selvagem e humana residente abaixo da estrutura.
A solução de abertura de uma brecha na estrutura e liberação gradual dos volumes acumulados é
comumente usada por causa de inúmeras vantagens ecológicas. É um método lento no qual o reservatório é
drenado através de brechas ao longo da estrutura e, novas aberturas são realizadas à medida que o nível do
reservatório é rebaixado para que a água seja drenada com um fluxo consistente. Nesse caso, para as
barragens de água, o sedimento aprisionado atrás da barragem flui para jusante com uma taxa fixa e
proporcional, permitindo que o ecossistema se ajuste às mudanças. Para a barragem de rejeito, é considerável
somente para o caso do percentual do reservatório não adensado. Este método pode levar meses ou até mais
de um ano.

3 Estudo de Caso

O trabalho apresentado neste artigo consistiu no estudo de viabilidade técnica de descomissionamento


de uma barragem de acumulação de água, com o levantamento de dados in loco, como características
geométricas e geotécnicas da estrutura e dimensões do reservatório, maciço e extravasor. Em seguida ao
levantamento de dados, realizou-se o estudo hidrológico para estimar o quantil de água acumulada em
função das drenagens pluviais da bacia e, desta forma, prever o volume acumulado na área do reservatório.
Estimadas as taxas de bombeamento para redução do volume de água no reservatório, em uma condição
segura, verificou-se a abertura de uma brecha controlada, com uso de gabiões. A brecha aberta juntamente
com o esvaziamento permitiria a redução do bombeamento e o direcionamento do fluxo para o canal em
gabião. O canal em gabião foi previsto para direcionar o fluxo de água remanescente no reservatório e, de
forma gradual, permitir com o desmonte do maciço em solo da barragem.

3.1 Esvaziamento do reservatório

O estudo de esvaziamento do reservatório foi elaborado a partir de estudos hidrológicos realizados


com dados provenientes de três postos pluviométricos situados na região do entorno, e a região onde a
barragem encontra-se é caracterizada pela presença de um período seco entre maio e agosto. As séries de
precipitações acumuladas mensais e máxima diárias por mês são apresentadas nas Figuras 1 e 2.

Figura 1. Precipitações Máximas Diárias por mês. Figura 2. Precipitações Totais Mensais.

Com base nos estudos de precipitação, foi verificado um esvaziamento em duas etapas concomitantes,
de forma a se aproveitar o período de estiagem. A primeira etapa consistiu no bombeamento do volume de

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água no reservatório, realizado gradualmente na medida em que seria aberta uma brecha controlada com a
construção de um canal em gabião, no sentido da comporta de fundo já existente na barragem.
A utilização de bombas foi considerara no estudo para que o esvaziamento do reservatório pudesse ser
realizado de forma controlada, além de permitir uma maior estabilidade, visto que não havia estudo
específico sobre volume armazenado no maciço, tipo de fundação, declividades de taludes e estrutura do
maciço. Caso fosse considerada a descaracterização iniciando somente com a abertura da brecha, o fluxo de
água poderia conduzir a uma instabilidade na estrutura.

3.2 Bombeamento

O processo de bombeamento foi estudado com duas balsas de tambor, com a finalidade de suportar
quatro bombas de sucção submersíveis. As bombas foram especificadas com capacidade de bombeamento de
1.500 m³/h ou superior, e com 60 mca ou superior. A restituição da água bombeada foi estimada para ser
direcionada para um rio próximo da barragem, de forma a causar o menor impacto possível no ecossistema
local. As bombas estariam localizadas o mais próximo possível da crista.
De acordo com o cálculo de vazões das bombas, e o regime de chuvas que ocorre de maio a agosto na
região, a previsão foi para um esvaziamento ocorrendo em até 100 dias dentro desse período, considerando o
cenário favorável proporcionado pela época de seca. À medida que o reservatório seria esvaziado, a abertura
da brecha e construção do canal em gabião deveriam ser iniciadas.

3.3 Abertura da brecha

A abertura da brecha é uma etapa importante, sendo considerada o início da descaracterização de fato,
por se tratar do desmonte da estrutura, representando o desvio do curso d’água e a obra que possibilita a
alteração da geometria do maciço. Para o início da escavação, considerou-se o esgotamento do nível d’água
no reservatório com o auxílio das bombas, alcançando um free board de pelo menos 3,0 m. A limpeza prévia
nos taludes de montante e jusante foi apontada como essencial para verificação da condição da estrutura, e as
avaliações de estabilidade consideraram que a estrutura em solo era íntegra (sem erosões superficiais,
ravinamentos e perdas de massa). Tal integridade deveria ser verificada em campo, na implantação do
projeto, em caso de ocorrência de obra.
O principal objetivo da abertura da brecha seria o de promover o encontro do canal a ser criado com a
comporta de fundo da ombreira direita. As Figuras 3 e 4 apresentam a concepção final do canal de gabião.
Após a implantação completa da brecha e do sistema de drenagem, indicou-se como etapa seguinte a de
desmonte do maciço, com inclinações que suportassem os taludes de gabião. O desmonte foi considerado
como sendo iniciado pela crista, seguindo até o próximo patamar quando cada metro for concluído, de forma
a facilitar o acesso dos maquinários durante a obra.

Figura 3. Vista frontal esquemática do canal em gabião.

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Figura 4. Vista isométrica esquemática do canal de drenagem.

3.4 Análises de estabilidade

A inspeção tátil-visual em campo revelou um solo argilo siltoso constituinte do maciço da estrutura.
Devido a impossibilidade de realização de ensaios e avanço de uma campanha de investigação na data de
publicação deste artigo, optou-se por adotar parâmetros com base nas bibliografias correntes. Segundo
JOPPERT JUNIOR (2007), os valores estimados para este tipo de solo são apresentados na Tabela 1.
Por conta da ausência de projeto executivo e projeto cadastral do tipo “as built”, foram estimadas três
seções transversais respeitando as diferenças de geometria encontradas na inspeção de campo. A expectativa
era simular uma situação mais próxima do que realmente foi considerado durante a construção da estrutura.
A seção central, que foi considerada como a seção principal de análise e a mais crítica, é apresentada na
Figura 5. As dimensões estimadas foram adotadas apenas para este estudo de viabilidade de
descomissionamento e desmonte da estrutura, devendo ser validadas em etapas posteriores, com devido
levantamento de campo. As análises de estabilidade permitiram avaliar o esvaziamento associado ao
desmonte, com tendência de aumento do fator de segurança, conforme será demonstrado adiante.
Mesmo com a adoção de valores para os dois tipos de solos, optou-se por realizar retroanálise de
ruptura para validação dos parâmetros e da geometria, considerando uma variação de 5,0 kPa e uma
distribuição uniforme. Para que fosse possível obter um fator de segurança mínimo da ordem de 1,1, as
retroanálises indicaram uma coesão necessária da ordem de 18,5 kPa para o solo do maciço da estrutura. A
análise de estabilidade para validação de geometria e materiais, considerando este valor, é apresentada na
Figura 6.

Tabela 1. Parâmetros adotados para a análise de estabilidade.


Solo Ângulo de atrito Peso específico Coesão
(º) (kN/m³) (kPa)
Argila siltosa 26 19 15
Fundação 30 20 15

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Figura 6. Análise inicial de estabilidade da seção


Figura 5. Seção transversal utilizada para estudo de
estabilidade. central.

Para as análises de estabilidade referentes ao desmonte do maciço, foram considerados três grupos de
análises: (1) estabilidade da brecha em gabião, (2) desmonte do maciço avaliando as seções transversais e (3)
estabilidade longitudinal ao fim da obra. As Figuras 7 a 9 apresentam os resultados, respectivamente.

Figura 7. Análise de estabilidade da brecha executada com gabião.

Figura 8. Exemplo de análise de estabilidade de uma das etapas de escavação.

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Figura 9. Análise de estabilidade da seção longitudinal.

Para execução do gabião, foi considerada também a instalação de um geotêxtil com resistência a tração
igual a 10 kN/m, incorporado às análises. Quanto ao desmonte do maciço, foram previstas em média sete
etapas de escavação analisando a seção transversal conforme o avanço do desmonte. Os fatores de segurança
variaram de 1,25 para uma altura do maciço igual a 15,0 m, a 2,0 para uma altura final igual a 3,0m. Quanto
a seção longitudinal apresentada na figura 9, o desmonte da brecha de abertura pelo lado direito é factível,
para manter uma mesma cota final em um cenário a longo prazo.

3.5 Rebaixamento rápido do lençol

O comportamento do maciço sob um carregamento rápido também foi avaliado para verificação de um
possível cenário crítico, visto que o processo de esvaziamento lento e com o auxílio de bombas foi ponto de
partida do processo de descaracterização. A principal dificuldade foi a obtenção do parâmetro de resistência
não drenada e, através de retroanálise expedita utilizando os ábacos de Taylor, chegou-se a um valor de
resistência não drenada igual a 48,0 kPa. Tal valor foi utilizado cautelosamente, devido o caráter expedito
utilizado em sua obtenção. A análise de estabilidade considerando o rebaixamento rápido do lençol forneceu
um fator de segurança da ordem de 0,97.

4 Considerações Finais

O estudo de viabilidade para descaracterização da barragem de água apresentada exigiu que o


esvaziamento do reservatório fosse verificado em duas etapas concomitantes, com o bombeamento do
volume de água no reservatório, a ser feito de forma gradual, à medida em que fosse aberta uma brecha
controlada com a construção de um canal em gabião, no sentido da comporta de fundo. Ao final, o fluxo de
drenagem pluvial foi previsto para ser direcionado por este canal, através da estrutura de fundo e descarga.
Foi previsto no estudo, e confirmado pelas análises de estabilidade, que o desmonte do maciço deveria ser
realizado após o controle total de fluxo pela brecha controlada. O rebaixamento rápido retorna um valor de
FS de 0,97 na condição não drenada e, por essa razão o bombeamento se mostrou realmente necessário para
controle das taxas de elevação de pressões no aterro.
O presente trabalho considerou o estudo de viabilidade de forma precisa e objetiva. No entanto, serve
de alerta para o fato de que o processo de descomissionamento e descaracterização de barragens é uma pauta
importante e que carece de maiores informações e normativas no âmbito brasileiro, uma vez que o atual
cenário de remoção de barragens alteadas a montante, sob a luz da Resolução nº 13/2019 da Agência
Nacional de Mineração irá resultar em processos de descaracterização que serão baseados em normativas
internacionais e experiências anteriores do empreendedor, não seguindo um padrão adotado e regularizado.
Ressalta-se que a NBR 13.028 (2017) não fornece maiores informações para o projeto específico de
descomissionamento e descaracterização de barragens, deixando os empreendedores com possibilidade de
agirem e executarem as obras com base em normativas internacionais e experiência própria.

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AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos clientes que disponibilizaram os dados para publicação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2009). NBR 11682. Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2017). NBR 13028. Mineração - Elaboração e apresentação de
projeto de barragens para disposição de rejeitos, contenção de sedimentos e reservação de água -
Requisitos. Rio de Janeiro.
GERSCOVICH, Denise M. S. (2016). Estabilidade de Taludes. 2 ed., Oficina de Textos, São Paulo, SP.
JOPPERT JUNIOR, Ivan. (2007). Fundação e contenção de edifícios: qualidade total na gestão do projeto e
execução. 1 ed., Pini, São Paulo, SP.
UNITED STATES SOCIETY ON DAMS (2015). Guidelines for Dam Descomissioning Projects.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0151 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Caracterização de Solo para Análise de Eficiência de uma


Barragem Subterrânea Sucessiva no Agreste Pernambucano
Gabriel Queiroz Moraes Resende
Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru, Brasil, gqmresende@outlook.com

Maria Isabela Marques da Cunha Vieira Bello


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, isabelamcvbello@hotmail.com

Alison de Souza Norberto


Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru, Brasil, alison_norberto@hotmail.com

RESUMO: Barragens subterrâneas são barramentos localizados no depósito aluvial de um rio ou riacho, com
a finalidade de deter o fluxo subterrâneo após cessado o escoamento superficial, proporcionando a montante
do barramento um reservatório subterrâneo que pode ser explorado por uma obra de captação. Trata-se de uma
obra hidroambiental singela e de baixo custo, sendo conhecida na bibliografia a mais de 60 anos. Este trabalho
apresenta os resultados da caracterização geotécnica de um solo, localizado na área da barragem subterrânea
de Cafundó II, última barragem das três barragens subterrâneas sucessivas construídas no povoado de Mutuca,
situado na cidade de Pesqueira (PE). O objetivo deste trabalho foi verificar a eficiência no armazenamento da
maior quantidade possível de água nos aquífero local. O solo foi caracterizado quanto ao seu teor de umidade,
granulometria, limites de Atterberg, compactação proctor normal e percolação a carga variável. Os resultados
obtidos evidenciam a importância de compreender os aspectos e caracteríticas geotécnicas dos solos utilizados
em barragens subterrâneas, para assim tornar mais eficiente o dimensionamento destas estruturas geotécnicas,
sendo uma alternativa eficaz contra a escassez hídrica da região.

PALAVRAS-CHAVE: Barragem subterrânea, Aquíferos, Agreste Pernambucano.

ABSTRACT: Underground dams are dams located in the alluvial deposit of a river or stream, with the purpose
of stopping the underground flow after the surface runoff stops, providing an underground reservoir upstream
of the dam that can be explored by a collection work. It is a simple and low-cost hydro-environmental project,
which has been known in the bibliography for over 60 years. This work presents the results of the geotechnical
characterization of a soil, located in the area of the underground dam of Cafundó II, the last dam of the three
successive underground dams built in the village of Mutuca, located in the city of Pesqueira (PE). The goal of
this work was to verify the efficiency in the storage of the largest possible amount of water in the local aquifer.
The soil was characterized in terms of moisture content, granulometry, Atterberg limits, normal proctor
compaction and percolation at variable load. The results obtained show the importance of understanding the
aspects and geotechnical characteristics of the soils used in underground dams, in order to make the
dimensioning of these geotechnical structures more efficient, being an effective alternative against the water
scarcity of the region.

KEYWORDS: Underground dam, Aquifers, Agreste Pernambucano.

1 Introdução

As falhas na concepção dos sistemas de abastecimento ou no dimensionamento e escolha de tecnologias


alternativas demonstram, muitas vezes, o desconhecimento das peculiaridades da região semiárida (DA
COSTA & CIRILO, 2010). Outro ponto com frequente ocorrência de erros é o que se relaciona com a
realização de ensaios geotécnicos para a correta definição de parâmetros importantes para a tomada de decisões
nos projetos dessas tecnologias, os quais tem finalidade de resolver problemas de abastecimento.

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Uma alternativa importante para o enfrentamento desses problemas em regiões com baixa
disponibilidade hídrica como o semiárido Pernambucano, é a utilização de barragens subterrâneas sucessivas
para a retenção parcial do fluxo d’água afim de possibilitar que essa água retida percole no solo até ficar
armazenada nos lençóis freáticos para posterior utilização em diversas formas (Figura 1).
As barragens subterrâneas representam um tipo de intervenção de baixo custo, simplicidade construtiva
e operacional e que pode ser implantada em larga escala, desde que haja condições naturais para tal (COSTA,
2014). Para monitorar essas condições locais no que tange a parte de parâmetros geotécnicos, é importante que
sejam realizados os ensaios que forneçam informações para uma análise precisa do solo e implantação eficiente
dessas barragens.
A região de implantação destes projetos tem grande relevância na eficiência de armazenamento de água.
Tendo em vista que a região semiárida chove pouco e as chuvas são mal distribuídas no tempo, sendo o cenário
de chuvas sucessivas de dificil ocorrência, em pequenos intervalos. No embasamento cristalino, os solos
geralmente são rasos (cerca de 0,60 m), apresentando baixa capacidade de infiltração, alto escorrimento
superficial e reduzida drenagem natural (SUASSUNA, 2007).
Neste contexto, o presente trabalho apresenta a avaliação e interpretação do comportamento geotécnico
de um solo, localizado na área da barragem de Cafundó II, povoado de Mutuca, na cidade de Pesqueira (PE),
visando a melhor eficiência na implantação e utilização de barragens sucessivas que possibilitem o
armazenamento da maior quantidade possível de água nos aquíferos subterrâneos do local analisado, e assim
diminuir os problemas gerados pela escassez hídrica da região.

2. Caracterização da Área de Estudo

A área da barragem de Cafundó II localiza-se no vale do Riacho Mimoso, na bacia do rio Capibaribe,
que tem início no distrito de Mutuca, cruzando ainda os municípios de Belo Jardim e Jataúba. Mutuca é um
distrito urbano do Município de Pesqueira, no estado de Pernambuco, localizado próximo a região rural onde
são encontradas 19 barragens subterrâneas construídas ao longo do Riacho Mimoso na bacia do Rio Capibaribe
e outros, como resultado de parceria entre o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria Estadual de Ciência,
Tecnologia e Meio Ambiente do Estado de Pernambuco – SECTMA, até o ano de 1998. Na ocasião, a região
foi escolhida para implementação das barragens subterrâneas por ter solos relativamente profundos, condição
importante para esse tipo de obra, e por estar compreendida na região semiárida do Nordeste. A localização
exata das barragens foi feita por geólogos com base em critério estritamente técnico e a construção foi feita
por empresa contratada pelo Governo Estadual.
As barragens subterrâneas construídas no local são de média a grande profundidade, variando de 3,8 a
10 metros, com extensões variando na faixa de 30 a 110 metros, sendo a água subterrânea captada na área a
montante dessas barragens, que são principais fontes hídricas da região.

Figura 1. Funcionamento de uma barragem subterrânea com seus componentes (RIBEIRO, 2016).

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Em referência ao uso e ocupação do solo, a região é figurada por áreas de agricultura familiar, não
associadas, exploradas com culturas anuais e semi-perenes, irrigadas pelos poços amazonas. Na região é
observado maior incidência de culturas olerícolas cultivadas em áreas reduzidas. Isto expressa o caráter
familiar do aluvião, em que o policultivo é praticado de forma esparsa.
Dentre as culturas mais exploradas, em termos de frequência, as olerícolas se sobressaem, destacando-
se a cenoura, o pimentão, o repolho e o tomate, tanto por serem cultivadas em ciclos sucessivos ao longo do
ano, como por ocuparem área maiores e serem mais distribuídas em relação às demais olerícolas. Identifica-
se como principal razão para tal fato o rápido retorno econômico proporcionado por essas culturas, dado ao
ciclo cultural reduzido (anual).

3 Metodologia

A campanha de investigação geotécnica compreendeu retirada de 15 kg de amostras deformadas no


local da barragem de Cafundó II, e realização de ensaios de laboratório.
O solo foi caracterizado quanto ao seu teor de umidade, granulometria, limites de Atterberg,
compactação proctor normal e percolação a carga variável. Todos os ensaios foram realizados no laboratório
de Geotecnia do Campus Acadêmico do Agreste da Universidade Federal de Pernambuco, em Caruaru. Todos
os ensaios foram realizados obedecendo os procedimentos das Normas da ABNT.

4 Resultados e Discussões

4.1 Análise Granulométrica

Nas curvas granulométricas normalmente usadas, as ordenadas representam as porcentagens


acumuladas passantes e as abscissas, as aberturas das peneiras em escala logarítmica. Como as aberturas das
peneiras, em uma série padrão, estão em uma razão constante 1:2, um gráfico logarítmico mostra estas
aberturas com espaçamentos iguais (NEVILLE 1997).
Traçou-se a curva granulométrica disposta no Figura 1, sendo possível verificar que a granulometria da
amostra se enquadra em uma especificação, ou se é muito grossa ou muito fina, ou deficiente em um
determinado tamanho. Com os resultados da curva granulométrica foi calculado o módulo de finura é a soma
dos percentuais acumulados em todas as peneiras da série normal, dividida por 100. Quanto maior o módulo
de finura, mais grosso será o solo. Foi o obtido um valor de 2,51, comparando o resultado com a faixa de
valores apresentada pela norma, a amostra se classifica como um agregado miúdo médio.
Foi calculado o diâmetro máximo da amostra, o qual corresponde ao número da peneira da série normal
na qual a porcentagem acumulada é inferior ou igual a 5%, desde que essa porcentagem seja superior a 5% na
peneira imediatamente abaixo. O diâmetro máximo observado foi de 9,5mm.
O diâmetro efetivo é a abertura da peneira para a qual temos 10% em peso total de todas as partículas
menores que ele (10% das partículas são mais finas que o diâmetro efetivo). Esse parâmetro fornece uma
indicação sobre a permeabilidade das areias. O diâmetro efetivo obtido foi de 0,125 mm.
Quanto ao Coeficiente de Não Uniformidade (CNU), segundo Allen-Hazen, é a razão entre os diâmetros
correspondentes a 60% e 10%, tomados na curva granulométrica. Esta relação indica, a falta de uniformidade,
pois seu valor diminui ao ser mais uniforme o material. O valor calculado de CNU foi de 8,0 relativo ao solo
estudado, apresentando portanto, Uniformidade Média segundo NBR 7181 (ABNT, 2016).
O coeficiente de curvatura fornece a informação do formato da curva, permitindo detectar
descontinuidades no conjunto. Para o intervalo de 1 < CC < 3, o solo é definido como sendo bem graduado.
Para os casos em que CC < 1 ou CC > 3, o solo é caracterizado como sendo mal graduado. Foi obtido um valor
de coeficiente de curvatura de 0,72, classificando o solo analisado como Solo Mal Graduado.
Na análise do teor de umidade do solo utilizado, foi obtido um valor de umidade do solo de 1,57%.

4.2 Avaliações dos limites e consistências

Com relação ao ensaio de Limite de Plasticidade (LP), foram obtidas seis amostras conforme
padronizado, que foram pesadas e passadas em estufa para obtenção das umidades de cada amostra moldada.

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Os valores da umidade tiveram um valor médio de 21,24%. O valor do LP é esse próprio valor de 21,24%
obtido a partir da média aferida de todas as amostras visto que nenhuma precisou ser descartada devido a
distorções acima do permitido. O Índice de Plasticidade (IP) foi de 8,09%.
Antes de comparar os valores obtidos com a Carta de Plasticidade de Casagrande, é possível ainda obter
o valor do Índice de Atividade da amostra (IA), utilizando o percentual de solo passante na peneira com
abertura de 0,075 mm (3,13%), relacionando-o com o IP obtido anteriormente, resultando num IA igual a 2,58.
Para as classificações dos resultados calculados, utilizou-se a Carta de Plasticidade de Casagrande para
corretamente caracterizar o solo em análise quanto a sua consistência (Figura 3). Observa-se que o solo em
estudo se encontra acima da Linha A e à esquerda da Linha B. Isso significa que o solo é argiloso, apresenta
baixa compressibilidade e tem uma plasticidade variando de baixa a média.
Com relação ao IA, com um valor entre 0,75 e 1,25 a argila é considerada normal. Para um valor menor
que 0,75 é considerada inativa e acima de 1,25 a argila é ativa. Comparando com o valor obtido de 2,58, o solo
tem argila considerada ativa.

4.3 Análise da Compactação

Para o ensaio de compactação, aferiu-se os pesos das amostras e posteriormente com a secagem em
estufa foi possível obter as umidades de cada corpo de prova moldado, obtendo os valores necessários para a
obtenção da massa específica aparente seca, necessária para gerar o Figura 4 que relaciona essa massa
específica com a umidade de cada amostra ensaiada.

Figura 2. Distribuição granulométrica da amostra

Figura 3. Resultado da classificação segundo Carta de Plasticidade de Casagrande.

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Figura 4. Curva Densidade Seca X Umidade.

O ponto máximo da curva indica o valor da massa específica aparente seca correspondente a umidade
ótima do solo. O ramo anterior ao ponto de inflexão é chamado de ramo seco, enquanto que o ramo posterior
é chamado de ramo úmido. No ramo seco, a água lubrifica as partículas e facilita o arranjo desta, ocorrendo
por essa razão, o acréscimo do peso especifico aparente seco. No ramo úmido, a água amortiza a compactação
e começa a ter mais água do que sólidos, sendo por essa razão, a diminuição do peso especifico aparente seco.
Da análise da Figura 4, observou-se que o ponto da umidade ótima corresponde a um valor de 10,80%
associado a um valor de massa específica aparente seca de 1,932 kgf/cm3.

4.4 Análise da Permeabilidade

Na realização do ensaio de permeabilidade, após a saturação total do sistema, foram efetuadas as


medidas do nível de água na bureta graduada após determinados intervalos de tempo (30 segundos). Os
resultados dizem respeito as leituras de quando o coeficiente de permeabilidade (k) não apresentava mais
tendências de alteração. O valor médio obtido para este solo foi de um coeficiente de permeabilidade com
valor de 2,14x10-4.
Quanto maior for a temperatura, menor a viscosidade da água e, portanto, mais facilmente ela escoa
pelos vazios do solo com correspondente aumento do coeficiente de permeabilidade (k); k é inversamente
proporcional à viscosidade da água. Por isso, os valores de k são referidos à temperatura de 20°C, o que se faz
pela Equação 1.

ηT
k 20 = kT = kT .Cv (1)
η 20

Onde: kT – o valor de k para a temperatura do ensaio; k20 - é a viscosidade da água a temperatura de 2000C;
kT - é a viscosidade a temperatura do ensaio; CV – relação entre as viscosidades.

O valor de Cv é obtido a partir da Tabela 1 da NBR 14545 (ABNT, 2000), que para uma temperatura de
ensaio de 26°C, tem valor de Cv = 0,867. Já o coeficiente de permeabilidade médio (k) tem valor de 2,14 x
10-4. Utilizando a Equação 1, chega-se ao valor corrigido de k de 1.85x10-4 a 20°C, portanto, a ordem de
grandeza de 10-4. Esse resultado indica uma areia fina com teor de argila ativa.
A precisão dos valores de coeficiente de permeabilidade obtidos em laboratório depende de vários
fatores, como temperatura do fluido, sua viscosidade, possível entrada de bolhas de ar aprisionadas na amostra
de solo, grau de saturação da amostra de solo, migração de finos durante o ensaio e a impossibilidade de
reprodução das condições de campo em laboratório (DAS, 2006).

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O valor real da condutividade hidráulica no campo também não pode ser significativamente
diferente daquele obtido em laboratório em razão de o solo não ser homogêneo. Portanto, deve-se tomar muito
cuidado na avaliação da ordem de grandeza do coeficiente de permeabilidade para todas as considerações de
projeto. Comparando-se os dados obtidos no ensaio com diversas literaturas diferentes, foi possível classificar
o solo com relação a sua permeabilidade. Na Tabela 1 resume as diferenças encontradas nas literaturas para
classificações da permeabilidade do solo, comparadas com o valor de k obtido em laboratório.
O solo analisado, com k de ordem de grandeza de 10-4, classifica-se como areia muito fina, silte, mistura
de ambos e argila, com permeabilidade considerada baixa, de acordo com a classificação utilizada em Caputo
(1996). Este tipo de solo possui permeabilidade baixa se comparada a solos majoritariamente arenosos, porém
essa permeabilidade encontrada não inviabiliza o funcionamento da barragem subterrânea, visto que a
classificação de Casagrande e R.R. Fadum, utilizada na literatura, apresentam intervalos diferentes de outras
literaturas.
Para o intervalo que compreende a ordem de grandeza de 10-4, é possível também classificar a amostra
analisada como sendo de solo permeável, com areias de alta permeabilidade, conforme Tonin (2013).
Seguindo com a comparação entre diferentes classificações presentes nas literaturas, tem-se a
classificação de Bittencour (2016), onde o solo em análise é classificado como argila ou silte de baixa
permeabilidade.
Já utilizando a classificação de Pinto (2002), o solo em análise é classificado como areia média com boa
capacidade de permeabilidade.
Das (2006) classifica um solo com coeficiente de permeabilidade da ordem de 10-4 é caracterizado como
argila de silte, sem adjetivar a permeabilidade como alta ou baixa.
Para o valor de permeabilidade, mesmo com a divergência entre as literaturas, é possível afirmar que o
solo estudado não apresenta características tão favoráveis a percolação da água quanto seria para um local com
maior presença de areias e menor presença de argila e silte.

Tabela 1 - Classificações de permeabilidade entre diferentes literaturas.


Fonte Tipo de Solo Permeabilidade
Caputo (1996) Areia muito fina, silte, mistura de ambos e argila Baixa
Tonin (2013) Areias Alta
Bittencourt (2016) Siltes ou Argilas Baixa
Pinto (2002) Areia média Alta
Braja (2006) Argila de Silte -

5 Conclusões

Através dos ensaios de laboratório realizados no presente estudo, foi possível realizar a caracterização
do solo da região que compreende a barragem subterrânea de Cafundó II, a última de uma sucessão de três
barragens presentes no distrito de Mutuca, na cidade de Pesqueira (PE).
O solo analisado apresenta fatores dos mais diversos que indicam uma baixa eficiência para a percolação
de água até o interior dos aquíferos subterrâneos. A análise granulométrica mostrou um solo com graduação
ruim e alta presença de agregados finos, que diminuem o índice de vazios e dificultam a infiltração da água no
solo. Os limites de Atterberg apontaram para um solo argiloso e com baixas compressibilidade e plasticidade.
Solos argilosos possuem tendências a dificultar a percolação a água, o que reduz a eficiência para a acumulação
de água no solo.
Para o valor de permeabilidade, mesmo com a divergência entre as literaturas, é possível afirmar que o
solo estudado não apresenta características tão favoráveis a percolação da água quanto seria para um local com
maior presença de areias e menor presença de argila e silte.
Os resultados obtidos não demonstram a inviabilidade do local para a presença das barragens
subterrâneas sucessivas, mas apenas indica que o solo da região que as compreende não auxiliam o
equipamento a ter a máxima eficiência no seu propósito de combate a escassez hídrica dessa localidade que
tanto sofre sob os efeitos severos do clima semiárido Nordestino.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANTONELI, V.; THOMAZ, E. L. Comparação de infiltração de água no solo mensurada em período seco e
úmido, em diferentes usos da terra na bacia do arroio Boa Vista, Guamiranga, Paraná. Ambiência, v.5.
BITTENCOURT, D. Permeabilidade e Fluxo Unidimensional em Solos. Notas de Aula. Disponível em:
<http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/17430/material/GEO_II_01_Percolaca
o%20e%20Fluxo%201D_1-2.pdf>. Acesso em: 12 de outubro 2016.
CAPUTO, H. P. Mecânica dos Solos e Suas Aplicações. Rio de Janeiro: LTC, 6ª edição, 234p. 1996.
CIRILO, J.A.; COSTA, W.D. PONTES, M.; MAIA, A.Z. Barragem subterrânea: Um programa pioneiro em
Pernambuco. In: SIMPÓSIO DE RECURSOS HÍDRICOS DO NORDESTE, 4., Campina Grande. 1998.
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Influência do Plano de Fraturas na Estabilidade de Barragens de


Concreto
Darlis Devise
Engenheira Civil, Unochapecó, Chapecó, Brasil, darlis@unochapeco.edu.br

Marlusa Cristina Welter Schafer


Engenheira Civil, Unochapecó, Chapecó, Brasil, marlusacristina@unochapeco.edu.br

Marieli Biondo Lopes


Engenheira Civil, Unochapecó, Chapecó, Brasil, engmary@unochapeco.edu.br

RESUMO: O território nacional possui um potencial hidrológico elevado, o que viabiliza a construção de
usinas hidrelétricas. As barragens mais comuns encontradas são as de concreto gravidade, que devem ser
construídas sobre uma fundação resistente caracterizada por maciços rochosos. Neste trabalho foram
apresentados dois modelos de fundação para este tipo de barragem, um adotado como homogêneo-isotrópico
e o segundo, homogêneo-anisotrópico. Após a avaliação da subpressão por modelagem numérica pode-se
observar que o Modelo 02 apresentou valores de subpressão 40% maiores nas condições de carregamento
normais e 25% maiores nas condições excepcionais. Em relação a segurança da estabilidade global não atendeu
a todos os parâmetros propostos pelo método adotado, sendo que o fator de segurança ao deslizamento ficou
abaixo do estabelecido pela Eletrobrás (2003).
PALAVRAS-CHAVE: Anisotropia, Barragens de Concreto, Maciços Rochosos, Estabilidade Global de
Estruturas.
ABSTRACT: The National territory has a high hydrological potential, thus, making geasible the construction
of the hydroelectric projects. The most common dams found are of gravity concrete, these must be built on a
sturdy foundation characterized by rocky massifs. In this work two foundation models were presented for this
type of dam, one was homogeneous-isotropic and the second, homogenous-anisotropic. After the avaliation of
the numeric methods, it can be observed that the Model 2 presented 40% higher sub pression values under
normal loading conditions and 25% higher under exceptional conditions. Regarding the security of global
stability did not meet all the parameters proposed by the method adopted, being that the displacement safety
factor was bellow the regime established by Eletrobrás (2003).
KEYWORDS: Anisotropy. Concrete Dam. Rocky Massifs. Sub Pression. Global Stability of Structures.

1 Introdução

O Brasil possui território rico em água doce, concentrando 13% de toda a água do planeta (PEREIRA, 2015).
Esse potencial favorece a implantação de usinas hidrelétricas (CRUZ, 1996). Para serem implantadas, as usinas
hidrelétricas necessitam de um estudo acerca das condicionantes de projeto, e quando se trata da fundação, as
obras apoiadas sobre maciços rochosos de boa qualidade permitem estruturas mais esbeltas e mais econômicas.
Nesse tipo de fundação deve-se levar em conta aspectos de deformabilidade e permeabilidade, pois estes
fenômenos presentes nos maciços podem reduzir a segurança (MARQUES FILHO; GERALDO, 1998).
O basalto é uma rocha que possui resistência elevada, podendo ser um maciço de fundação, porém, quando
anisotrópico ele apresenta planos de fraturamento bem desenhados, os quais provocam problemas de
percolação de água, aumentando a condutividade hidráulica do maciço e consequentemente aumentando a
subpressão. A subpressão, quando não estudada em um projeto, pode levar ao colapso da estrutura. Estes
estudos podem ser desenvolvidos empiricamente ou em softwares que utilizam um sistema de modelagem
numérica, que é essencial para garantir a segurança e precisão nos resultados obtidos, com agilidade e
facilidade (MARQUES FILHO; GERALDO, 1998; GUTSTEIN, 2011).
O presente estudo desenvolverá uma pesquisa para verificar a influência de fraturas no maciço de fundação de
barragens de concreto, levando em consideração maciços rochosos homogêneos isotrópicos e homogêneos

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anisotrópicos. A influência será dada pela verificação da estabilidade global da estrutura da barragem quanto
aos critérios impostos pela Eletrobrás (2003). Também serão determinadas as resultantes da subpressão na
estrutura para os dois casos de fundação, o qual será avaliado numericamente.

2. Revisão Bibliográfica

2.1 Considerações Gerais

Barragens de gravidade são estruturas sólidas, em que sua estabilidade é garantida por meio do peso próprio
da superestrutura, ou seja, a sua geometria ifluencia diretamente na estabilidade e na segurança da barragem
(USACE, 1995). Estas estruturas podem ser construídas de concreto convencional (CCV), e concreto
compactado à rolo (CCR), em que a principal diferença entre os métodos é o modo de compactação do concreto
(CORSINI, 2011).
Segundo Frascá e Sartori (1998), o basalto é uma rocha que pode ser encontrada em abundância na crosta
terrestre, o que facilita a utilização deste tipo de material na fundação de barragens. Ele apresenta condições
de fraturamento no maciço, essa caracteristica devido ao alívio de tensões que ocorre em sua formação. Os
maciços rochosos podem ser classificados como isotrópicos e anisotrópicos. Maciços rochosos isotrópicos são
caracterizados por terem as mesmas propriedades em qualquer direção. Já os anisotrópicos são caracterizados
por possuirem uma distribuição aleatória de fraturas ou qualquer outra estrutura planar (MAGALHÃES;
CELLA, 1998).

2.2 Características dos Maciços Rochosos para Fundações de Barragens

As rochas ígneas possuem alta resistência mecânica quando comparada com alguns tipos de rochas
sedimentares e metamórficas, devido a sua homogeneidade. Por este motivo, fundações de barragens de
concreto são indicadas neste tipo de material. Por outro lado, o fato dela ser fraturada pode causar percolação
d’água e aumento da subpressão na barragem, tornando-se uma desvantagem para ele (FRASCA; SARTORI,
1998).
A elevação da subpressão reduz o fator de segurança da análise de estabilidade global, uma vez que é um
esforço que causa momentos solicitantes na estrutura. Para isso, o estudo aprofundado das condições
hidráulicas do maciço de fundação é imprescindível, ele indicará o melhor tratamento de fundação e geometria
adequada para o barramento (MARQUES FILHO; GERALDO, 1998).

2.2.1 Características Hidráulicas

A permeabilidade dos maciços rochosos está relacionada com a sua homogeneidade e isotropia e a sua
homogeneidade e anisotropia (AZEVEDO; ALBUQUERQUE FILHO, 1998). Fatores como o tamanho, a
direção e o preenchimento das descontinuidades são importantes para a correta determinação da
permeabilidade do maciço (GUTSTEIN, 2011).
A permeabilidade dos maciços rochosos é dada em parte pelas descontinuidades e em parte pela rocha intacta,
em que Gutstein (2011) indica que o coeficiente de condutividade hidráulica para os basaltos é de
1𝑥10−7 𝑐𝑚/𝑠. Para a determinação da condutividade hidráulica da rocha intacta deve-se utilizar uma amostra
extraída de campo em um formato cilíndrico. Segundo Azevedo e Albuquerque Filho (1998), os meios de
percolação mais preocupantes em uma fundação de barragem em basalto são as fraturas de planos sub-
horizontais, pois estas possuem alta condutividade hidráulica.

2.2.2 Subpressão

A subpressão é o esforço que ocorre devido à infiltração de água pelas descontinuidades e fraturas presentes
nos maciços rochosos, exercendo uma pressão vertical de baixo para cima (MARQUES FILHO; GERALDO,
1998). Segundo Andrade (1988), são as condições físicas do maciço de fundação da barragem que determinam
a subpressão e a vazão da água. Assim a subpressão não depende da vazão em pontos isolados e sim dos

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caminhos de percolação existentes no maciço de fundação. Para a resolução de problemas com subpressão
devem ser criados cursos de fluxo de água mais longos, resultando em pressões de água menores. Para realizar
esse aumento podem ser utilizados aparelhos de relaxação, como drenos profundos (ANDRADE, 1988).
A linha de drenos reduz o fluxo e o diagrama de pressões na base do barramento, garantindo o aumento da
estabilidade da estrutura. Outra forma utilizada são as cortinas de injeção de nata de cimento, que selam as
fraturas presentes no maciço de fundação, reduzindo o coeficiente de permeabilidade (Op: Cit.).
Para a determinação da subpressão utiliza-se no Brasil, atualmente, os critérios de projetos civil da Eletrobras
(2003), este método relaciona as cargas hidráulicas de montante e jusante, sem levar em consideração as
características do maciço e do tratamento executado. Andrade (1988) por sua vez, estabeleceu um método que
utiliza fator de forma (λ), o qual leva em consideração a melhoria na fundação pela inserção da linha de drenos
(ELETROBRÁS, 2003; ANDRADE, 1988). A determinação do fator de forma (λ) pode variar entre os
maciços rochosos isotrópicos e anisotrópicos. Este fator para maciços anisotrópicos considera as suas
descontinuidades e a condutividade hidráulica obtendo um resultado mais aproximado com o que acontece em
campo (Andrade,1988).

2.3. Carregamentos Impostos Sobre uma Barragem

Segundo Eletrobrás (2003), em uma barragem de concreto podem ocorrer carregamentos devido a força do
vento, cargas acidentais, empuxos hidrodinâmicos, empuxos estáticos e empuxos de assoreamento (Figura 1 –
elaborada pelas autoras). Os efeitos de vento podem ser desprezados para estruturas como casa de força,
vertedouro e barragens maciças (Eletrobrás, 2003). Os sedimentos que se depositam no fundo do reservatório,
junto ao pé de montante, são considerados como carregamento, adotando 10% da altura de montante
(Eletrobrás, 2003). Os empuxos hidrostáticos de montante e jusante são carregamentos que variam de acordo
com o nível de água do reservatório.

Figura 1 – Carregamentos sobre a barragem: a) Nível Máximo Normal; b) Nível Maximorum


As forças devidas aos abalos sísmicos são consideradas como um carregamento excepcional e determinadas
com base nos carregamentos estáticos. Para barragens de concreto com fundação em rocha são considerados
5% do peso próprio para a força vertical e 3% do peso próprio para a força horizontal. Esses esforços não
devem ser levados em conta nos valores de subpressão, apenas no estudo de estabilidade global
(ELETROBRÁS, 2003). As seções típicas e seus carregamentos estão descritas nos Anexos A e B.

2.4 Análise de Estabilidade Global

Segundo Eletrobrás (2003), a análise da segurança global deve ser feita para todas as estruturas principais,
elementos estruturais e interações da estabilidade no contato concreto-rocha, análises de tensão e deformação,
coeficientes de segurança e verificações de tensões atuantes com tensões admissíveis. Na análise da
estabilidade global deve-se verificar o Estado Limite Último de Perda de Equilíbrio Global ou Parcial de
Estruturas que são admitidas como um corpo rígido. Em projetos de barragens esta é uma análise de
estabilidade que avalia movimentos na estrutura como deslizamentos, tombamentos, flutuação, tensões na
base, flambagem, deformações em Estado Limite Último, recalques e vibrações (ELETROBRÁS, 2003). Os
fatores de segurança são definidos pela Eletrobrás (2003), de acordo com os itens a seguir:

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Fator de Segurança à Flutuação (FSF): É a relação entre as forças atuantes a favor da barragem,
carregamentos devido ao peso próprio e entre as forças de subpressão, que atuam no sentido oposto. Fatores
como coesão e atrito devem ser desprezados. Todas as cargas acidentais devem ser ignoradas e as cargas da
estrutura devem ser consideradas como cargas mínimas.
Fator de Segurança ao Tombamento (FST): É a relação entre momento estabilizante e momento atuante,
em relação a um ponto ou linha de rotação. Para momento estabilizante serão considerados os momentos de
peso próprio, cargas permanentes mínimas e cargas devido a equipamentos permanentes. Para momento de
tombamento serão considerados momentos gerados por cargas desestabilizantes, como subpressões, empuxos
de terra e pressões hidrostáticas. Efeitos de coesão e atrito devem ser desprezados.
Fator de Segurança ao Deslizamento (FSD): Trata-se do escorregamento da estrutura, que considera a
superfície de ruptura, incluindo todos os planos de menor resistência, ou planos de superfícies críticas na
estrutura, fundação ou estrutura-fundação. Neste fator de segurança, a parcela de coesão deve ser incluída,
exceto se as investigações de campo provarem o contrário. Segundo a Eletrobrás (2003), os fatores de
segurança mínimos para FSD, FSF, FST, devem ser adotados conforme as Tabelas 1 e 2 (adaptadas de
ELETROBRÁS, 2003), que apresenta as Condições de Carregamento Normal (CCN), Condições de
Carregamento Excepcional (CCE), Condições de Carregamento Limite (CCL) e Condições de Carregamento
de Construção (CCC).

Tabela 1. Fatores de redução da resistência do atrito e da coesão


Fatores de Redução CCN CCE CCL CCC
FSDc 3,0 (4,0)* 1,5 (2,0)* 1,3 (2,0)* 2,0 (2,5)*
FSD𝝓 1,5 (2,0)* 1,1 (1,3)* 1,1 (1,3)* 1,3 (1,3)*

Tabela 2. Fatores de Segurança ao Tombamento FST e Flutuação FSF


Coeficiente de Segurança Carregamentos
CCN CCE CCL CCC
Flutuação – FSF 3,0 (4,0)* 1,5 (2,0)* 1,3 (2,0)* 2,0 (2,5)*
Tombamento – FST 1,5 (2,0)* 1,1 (1,3)* 1,1 (1,3)* 1,3 (1,3)*

3. Materiais e Métodos

3.1 Definições dos Modelos de Estudo

Foram definidos dois modelos de estudo: Modelo 01, homogêneo isotrópico, Modelo 02, homogêneo
anisotrópico. Para cada modelo foi considerada uma cortina de drenos operante (1a; 2a) e outra inoperante (1b;
2b). Determinou-se uma seção geométrica hipotética para a barragem de concreto gravidade baseada na seção
utilizada por por Gutstein, (2003). A dimensão do modelo hidrogeológico obedeceu a recomendação de
Andrade (1988), de 1,5 x B, no qual B é a base do barramento, (Figura 02 – elaborada pelas autoras). A cortina
de drenos apresenta furos de 20 m e 75 mm de diâmetro, com espaçamento de 2 m.

Figura 2 - Seção Geométrica hipotética: a) Dimensões da estrutura e maciço de fundação; b) Dimensões da


cortina drenante

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Para as cargas de água de montante e jusante, foram adotados os valores conforme a Tabela 3 (elaborada pelas
autoras), onde se tem quatro condições de reservatório, sendo Máximo Normal e Mínimo Normal os níveis
normais de operação e Maximorum e Minimorum os níveis mínimos e máximos para não ocorer um colapso
na estrutura.
Tabela 3. Cargas de água de Montante e Jusante
Situação Máximo Mínimo Maximorum Minimorum
Normal Normal
Carga de Montante (m) 45 39 49 35
Carga de Jusante (m) 10 10 10 10

3.2 Determinação do Plano de Fraturamento do Modelo 02

O plano de fraturamento do Modelo 02 foi baseado em um mapeamento realizado no talude rochoso


demonstrado na Figura 3, disponibilizada pela empresa Geobrugg® Brasil. O mapeamento deste talude foi
realizado com visitas ao local, onde foram determinados parâmetros físicos e mecânicos do maciço. A Figura
3 apresenta uma imagem da área do talude estudada obtida através de Veículo Aéreo Não Tripulado (VANT),
onde foram demarcadas as principais famílias de descontinuidades e seus planos de fraturamento.

Figura 3 - Talude rochoso base mapeado para o maciço de fundação


No mapeamento pode-se observar que existem três famílias de descontinuidades, cada uma com uma direção
diferente. Para o estudo da subpressão foram desconsideradas as famílias de descontinuidades inclinadas e
verticais, considerando somente as horizontais, partindo do pressuposto que são essas descontinuidades que
elevam a percolação de água no maciço rochoso de fundação.

3.3 Análise da Subpressão

A subpressão foi determinada através de modelos numéricos, utilizando o software SEEP/W®, versão 2016.
Os materiais dos Modelos 01 e 02 foram o maciço rochoso, o dreno e as descontinuidades. O coeficiente de
permeabilidade do maciço rochoso e do material da descontinuidade foram baseados em bibliografias
consagradas, conforme disposto na Tabela 4, elaborada pelas autoras. A condutividade hidráulica da drenagem
foi determinada a partir da subpressão de Andrade (1988), indicada na Equação 05 do Item 2.3.2. Para a
conduitividade hidráulica do maciço foram adotados os valores expressos na Tabela 4.
Tabela 4. Parâmetros Físicos e Mecânicos
Situação Permeabilidade do Permeabilidade da Permeabilidade do
maciço descontinuidade Dreno
Isotrópico −7
1𝑥10 𝑚/𝑠 - 1,06 𝑚/𝑠
(Oliveira e Brito,
−7
1998) 0,20𝑚/𝑠 2,12 𝑚/𝑠
Anisotrópico 1𝑥10 𝑚/𝑠
(Gutstein, 2011) (Gutstein, 2011)

Os Modelos 01 e 02 foram discretizados em 1927 nós e 1830 elementos, conforme pode ser observado na
Figura 4, as condições de contorno utilizadas para os reservatórios de montante e jusante foram apresentadas
no item 3.1 deste artigo, e a carga média nos drenos, foi calculada pela equação de Andrade (1988).

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a) b)
Figura 4 – Modelos com nós e elementos: a) Dreno operante; b) Dreno inoperante
Foram modeladas quatro situações de reservatório conforme orienta Eletrobrás (2003), para as condições de
carregamento, em que:
 Condição normal CCN: níves normais máximos e mínimos de operação;
 Condição excepcional e limite CCE e CCL: níveis maximorum e minimorum de operação.

3.5 Análise de Estabilidade Global

Os fatores de segurança foram definidos conforme o Item 2.4 deste artigo, e os carregamentos encontrados nas
combinações de carga foram determinados conforme NBR 8681 (2003). O ângulo de atrito interno utilizado
foi de 30° para todas as combinações. O intercepto de coesão utilizado para as condições do modelo isotrópico
foi de 300 kPa e para o modelo anisotrópico 100 kPa. As combinações de carga foram montadas levando em
consideração todos os esforços atuantes na estrutura. A carga acidental de 5 kN/m foi adotada de acordo com
Eletrobrás (2003). Para os modelos de estudo foram avaliadas as condições de carregamento normal (CCN) e
para as limites (CCL), utilizando para as CCN condições normais máxima e mínima e para as CCL condições
maximorum e minimorum.

4. Resultados

4.1 Análise da Subpressão

Para a análise da subpressão do Modelo 1a e Modelo 2a, foram calculados os valores de subpressão nos drenos
operantes, segundo o Método de Andrade (1988). O método leva em consideração um fator de forma diferente
para modelos isotrópicos e anisotrópicos. Os resultados do fator de forma e da subpressão para cada um dos
casos está apresentado na Tabela 5, elaborada pelas autoras.
Tabela 5. Cargas de Subpressão nos Drenos
Condições Carga no Dreno (Sd) Carga no Dreno (Sd)
1a (Isotrópico Operante) (m) 2a (Anisotrópico Operante) (m)
Máximo Normal 8,10 17,32
Mínimo Normal 7,38 15,87
Maximorum 14,79 18,04
Minimorum 6,91 15,00

O fator de forma é a condicionante no aumento da carga de subpressão no dreno, assim como pode-se observar
nos resultados apresentados que na Tabela 5, as cargas de subpressão nos drenos do Modelo 2a, são cerca de
47% maiores que nos drenos do Modelo 1a, com isso pode-se constatar que os meios anisotrópicos causam
aumento na carga de subpressão nos drenos. Foram realizadas modelagens numéricas no Softwre SEEP/W®,
para a observação da carga de subpressão na base do barramento, e os sentidos das linhas de fluxo. Foram

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numericamente modelados os Modelos 1a; 1b e 2a; 2b, para as condições estabelecidas neste trabalho. Nas
Figuras, 5 e 6 podem ser observados esses resultados.

Figura 5 - Modelagem dos Modelos 1b e 2b Figura 6 - Modelagem dos Modelos 1a e 2a


As Figuras 5-a e a 5-c, mostram os Modelos 1b, sendo eles nos casos de reservatório de montante em cota de
nivel máximo normal e maximorum, respectivamente, nos quais as linhas de fluxo se distribuem por toda a
fundação do barramento. Já a Figura 5-b e 5-d, mostram os Modelos 2b, nas mesmas cotas citadas
anteriormente, onde as linhas de fluxo se direcionam para a fratura horizontal, gerando problemas de
percolação de água na fundação da estrutura e aumentando a carga de subpressão.
As Figuras 6-a e a 6-c, mostram os Modelos 1b, estes modelados em mesma cota que os resultados
apresentados na Figura 09, neste caso, as linhas de fluxo se distribuem pela fundação do barramento e se
direcionam ao dreno. Já as Figuras 6-b e 6-d, mostram os Modelos 2b, nas mesmas cotas citadas anteriormente,
onde as linhas de fluxo se direcionam para a fratura horizontal e para o dreno, gerando problemas de percolação
de água na fundação da estrutura e aumento de carga de subpressão na estrutura e no dreno operante. A carga
de subpressão na fundação da estrutura foi calculada para os Modelos 1a, 1b, 2a e 2b e são apresentadas nas
Tabelas 6 e 7, elaboradas pelas autoras.
Tabela 6. Resultados de Subpressão para os Modelos 1a e 2a
Condições Subpressão Modelo - 1a (kN/m) Subpressão Modelo – 2a (kN/m)
Máximo Normal 3945,09 6571,52
Mínimo Normal 3687,38 6194,81
Maximorum 5326,53 6773,31
Minimorum 3613,12 5935,05

A Tabela 6, apresenta os resultados de subressão para os Modelos 1a e 2a com dreno operante, após avaliação
do quadro é possivel concluir que os meios anisotrópicos possuem cargas de subpressão cerca de 40% maiores
que os meios isotrópicos para as condições normais de reservatório e cerca de 25% maiores para as condições
limites.
Tabela 7. Resultados de Subpressão para os Modelos 1b e 2b
Condições Subpressão Modelo – 1b (kN/m) Subpressão Modelo – 2b (kN/m)
Máximo Normal 9709,05 11504,48
Mínimo Normal 9344,02 10472,17
Maximorum 10296,77 12188,92
Minimorum 7887,53 9785,47

A Tabela 7, apresenta os resultados de subressão para os Modelos 1b e 2b com dreno inoperante, o meio
anisotrópico apresenta subpressões 15% maiores que o meio isotrópico para as condições normais e limites.

Após a avaliação das Tabelas 06 e 07, no que diz respeito aos drenos operantes e inoperantes, pode-se observar
que em situações que a drenagem é inoperante a subpressão aumenta em cerca de 55%, em relação a drenagem

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operante. Assim pode-se perceber que a anisotropia e a não utilização/má conservação de drenos influencia de
forma negativa o sistema de cargas de subpressão na fundação de barragens de concreto.

4.2 Análise da Estabilidade Global

Ao total foram calculadas 144 combinações em que a principal carga desfavorável foi a de empuxo de água
de montante, seguida pela subpressão. Esses valores estão dispostos no Anexo C. A estabilidade global da
estrutura em condições de Estado Limite Último Normal apresenta-se estável com fatores de segurança acima
dos exigidos no critério da Eletrobrás (2003), exceto para o Modelo 02 em relação ao deslizamento na condição
máximo normal. No Estado Limite Último Excepcional percebe-se uma instabilidade da estrutura na condição
maximorum para os dois modelos em relação ao deslizamento da estrutura. Os fatores de segurança
encontrados estão descritos na Tabela 8 elaborada pelas autoras:
Tabela 8. Fatores de Segurança
Modelo 01 (Isotrópico) Modelo 02 (Anisotrópico)
FSF FST FSD FSF FST FSD
Máximo Normal 8,23 3,34 1,43 5,59 2,51 1,03
Mínimo Normal 8,81 4,50 1,92 5,93 3,25 1,35
Maximorum 4,10 1,57 0,95 4,18 1,32 0,64
Minimorum 5,16 2,96 1,90 5,21 2,48 1,19

Constatou-se uma instabilidade ao deslizamento na condição maximorum e máximo normal (Modelo 02), pois
a carga mais desfavorável é de empuxo de água que nestas condições é mais elevado que as demais. Para
solucionar este problema sugere-se a utilização de uma linha de chumbadores na fundação. Também pode ser
solucionado com a mudança de geometria da estrutura da barragem de concreto.

5. Conclusão

Neste trabalho foram apresentados dois modelos para a fundação de uma barragem de concreto gravidade com
seção hipotética, um apresenta meio isotrópico e outro, meio anisotrópico. Esta pesquisa mostra uma
comparação entre eles utilizando métodos empíricos e numéricos para obter resultados de subpressão e
estabilidade global.
O método empírico utilizado para encontrar os valores de subpressão foi o critério de Andrade (1988) e o
método numérico foi o SEEP/W® versão 2016. Para as combinações de carga foram utilizados os coeficientes
de ponderação apresentados na NBR 8681 (ABNT, 2003), e para as cargas foi utilizado o critério da Eletrobrás
(2003). O mesmo critério foi utilizado para cálculo da estabilidade global. É possível observar que em meios
anisotrópicos as cargas de subpressão são 40% maiores que em meios isotrópicos, também se constatou que
na situação de drenos inoperantes a subpressão aumenta em 55%. A estabilidade global em meios anisotrópicos
é 35% menor que em meios isotrópicos, e apresenta-se estável nas condições normais, exceto na condição
máximo normal do Modelo 02, em que não atende a estabilidade ao deslizamento. Também, na condição
excepcional maximorum os fatores de segurança ao deslizamento apresentaram-se abaixo do mínimo exigido
pela Eletrobrás (2003), sugerindo a utilização de uma linha de chumbadores na fundação da estrutura, ou
mudança de geometria.
O presente trabalho atendeu os objetivos desejados, demonstrando que meios anisotrópicos apresentam
desafios maiores para a estabilidade da estrutura. Sugere-se que seja utilizado em pesquisas futuras para
complementar o presente trabalho a análise de deslocamentos. Sugere-se também que sejam testadas outras
geometrias de seções com meios anisotrópicos apresentando descontinuidades de diferentes direções, ou então,
para que apresentem a estabilidade global mínima sem a utilização de reforços estruturais.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Edificações. Rio de Janeiro, 1988.

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%20Gera%C3%A7%C3%A3o%20de%20Energia/Crit%C3%A9rios%20de%20Projetos.pdf#search=crite
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Método dos Elementos Finitos. Florianópolis, 2003.

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PEREIRA, G. M. Projeto de Usinas Hidrelétricas: passo a passo. São Paulo: Oficina de Textos, 2015.

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Disponível em: http://rigeo.cprm.gov.br/xmlui/handle/doc/17996?show=full

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ANEXO A - MODELO 1

DETALHE 1 DETALHE 2
NÍVEL RESERVATÓRIO CCC1 (NORMAL MÁXIMA) NÍVEL RESERVATÓRIO CCC2 (NORMAL MINIMA)
ELU NORMAL/ ELS FREQUENTE q ELU NORMAL/ ELS FREQUENTE
q

q - Carga Acidental q - Carga Acidental


Ew - Empuxo de Água Ew - Empuxo de Água
Es - Empuxo de Sedimento Es - Empuxo de Sedimento
W - Peso Próprio Concreto W - Peso Próprio Concreto
S - Subpressão S - Subpressão
Fw - Pressão Hidrodinâmica Fw - Pressão Hidrodinâmica
Ew Wr - Peso Próprio Maciço Rochoso Ew Wr - Peso Próprio Maciço Rochoso
W W

Es Ew Es Ew

S S

DETALHE 3 DETALHE 4
NÍVEL RESERVATÓRIO CCC3 (MAXIMÓRUM) NÍVEL RESERVATÓRIO CCC4 (MINIMÓRUM)
ELU EXCEPCIONAL/ ELS RARA q ELU EXCEPCIONAL/ ELS RARA q
q - Carga Acidental q - Carga Acidental
Ew - Empuxo de Água Ew - Empuxo de Água
Es - Empuxo de Sedimento Es - Empuxo de Sedimento
W - Peso Próprio Concreto W - Peso Próprio Concreto
S - Subpressão S - Subpressão
Fw - Pressão Hidrodinâmica Fw - Pressão Hidrodinâmica
Fw2 Wr - Peso Próprio Maciço Rochoso Fw2 Wr - Peso Próprio Maciço Rochoso
Fw1 Ew Fw1
Ew

W W

Es Ew Es Ew

S S

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DETALHE 1 ANEXO B - MODELO 2 DETALHE 2


NÍVEL RESERVATÓRIO CCC1 (NORMAL MÁXIMA) NÍVEL RESERVATÓRIO CCC2 (NORMAL MINIMA)
ELU NORMAL/ ELS FREQUENTE ELU NORMAL/ ELS FREQUENTE q
q

q - Carga Acidental q - Carga Acidental


Ew - Empuxo de Água Ew - Empuxo de Água
Es - Empuxo de Sedimento Es - Empuxo de Sedimento
W - Peso Próprio Concreto W - Peso Próprio Concreto
S - Subpressão S - Subpressão
Fw - Pressão Hidrodinâmica Fw - Pressão Hidrodinâmica
Ew Ew
Wr - Peso Próprio Maciço Rochoso Wr - Peso Próprio Maciço Rochoso
W W

Es Es
Wr Wr

DETALHE
DESCONTINUIDADE

S
S
25 cm

DETALHE 3 DETALHE 4
NÍVEL RESERVATÓRIO CCC3 (MAXIMÓRUM) NÍVEL RESERVATÓRIO CCC4 (MINIMORUM)
ELU EXCEPCIONAL/ ELS RARA q ELU EXCEPCIONAL/ ELS RARA q
q - Carga Acidental q - Carga Acidental
Ew - Empuxo de Água Ew - Empuxo de Água
Es - Empuxo de Sedimento Es - Empuxo de Sedimento
W - Peso Próprio Concreto W - Peso Próprio Concreto
S - Subpressão S - Subpressão
Fw - Pressão Hidrodinâmica Fw - Pressão Hidrodinâmica
Fw2 Wr - Peso Próprio Maciço Rochoso Wr - Peso Próprio Maciço Rochoso
Fw2
Ew Fw1 Fw1
Ew
W Wc

Es Es Ew
Wr Wr

S S

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23

Anexo C – Combinações de Carga

Modelo 1a - Combinação 01 – Máximo Normal

Peso Próprio (W) 34125 kN/m

Empuxo de Jusante (Ewj) 515,025 kN/m

Empuxo de Montante (Ewm) 10429,25 kN/m

Empuxo de Sedimento (Es) 32,70 kN/m

Subpressão (S) 4142,36 kN/m

Modelo 2a – Combinação 11 - Máximo Normal

Peso Próprio (W) 38587,5 kN/m

Empuxo de Jusante (Ewj) 1158,80 kN/m

Empuxo de Montante (Ewm) 12875,72 kN/m

Empuxo de Sedimento (Es) 40,36 kN/m

Subpressão (S) 6900,10 kN/m

Modelo 1b – Combinação 61 - Maximórum

Peso Próprio (W) 29575 kN/m

Empuxo de Jusante (Ewj) 343,35 kN/m

Empuxo de Montante (Ewm) 8243,83 kN/m

Empuxo de Sedimento (Es) 25,84 kN/m

Subpressão (S) 7207,74 kN/m

Empuxo Hidrodinâmico de Montante (Fw1) 70524,76 kN/m

Empuxo Hidrodinâmico de Jusante (FW2) 310,59 kN/m

Modelo 2b – Combinação 75 - Maximórum

Peso Próprio (W) 35717,5 kN/m

Empuxo de Jusante (Ewj) 772,53 kN/m

Empuxo de Montante (Ewm) 10012,09 kN/m

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Empuxo de Sedimento (Es) 31,38 kN/m

Subpressão (S) 8532,24 kN/m

Empuxo Hidrodinâmico de Montante (Fw1) 11773,8 kN/m

Empuxo Hidrodinâmico de Jusante (Fw2) 898,94 kN/m

Fonte: Elaborado pelas autoras

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0153 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Dimensionamento de Geossintético para Reforço de um Aterro


sobre Solo Mole
Diogo Fellipe Vênus Magalhães
Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru, Brasil, diogofvenus@gmail.com

Maria Isabela Marques da Cunha Vieira Bello


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, isabelamcvbello@hotmail.com

Alison de Souza Norberto


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, alison_norberto@hotmail.com

RESUMO: Construções sobre depósitos de solos moles são motivos de preocupação devido à alta
compressibilidade e baixa resistência desses solos, sendo necessário conhecer suas propriedades geomecânicas
e as técnicas de melhoramento. Na alternativa de reforço do solo, pode-se empregar geossintéticos na base do
aterro, permitindo aumento da sua estabilidade, construção mais rápida e utilização de taludes mais íngremes.
Este trabalho apresenta o dimensionamento de geossintético para reforço de um aterro de solo mole localizado
em Recife - PE, considerando mecanismos de instabilidade de expulsão de solo mole de fundação e de ruptura
generalizada envolvendo aterro, reforço e solo de fundação. O fator de segurança contra expulsão do solo mole
e o fator de segurança mínimo mínimo foram bem próximos, em torno de 1,3. O uso de geossintético como
reforço para o caso estudado mostrou-se eficiente, com significante elevação do fator de segurança de 0,98
para 1,32. O fator de segurança para o uso combinado de geossintético de reforço e a construção de uma berma
foi de 2,37, sendo o maior valor das três opções de estabilização do aterro.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintético, Solos Moles, Estabilidade.

ABSTRACT: Constructions on soft soil deposits are cause for concern due to the high compressibility and low
resistance of these soils, and it is necessary to know their geomechanical properties and improvement
techniques. In the alternative of soil reinforcement, geosynthetics can be used at the base of the landfill,
allowing for increased stability, faster construction and use of steeper slopes. This work presents the
geosynthetic dimensioning for reinforcement of a soft soil embankment located in Recife - PE, considering
instability mechanisms of expulsion of soft soil from foundation and generalized rupture involving
embankment, reinforcement and foundation soil. The safety factor against expulsion from the soft soil and the
minimum minimum safety factor were very close, around 1.3. The use of geosynthetics as reinforcement for
the case studied proved to be efficient, with a significant increase in the safety factor from 0.98 to 1.32. The
safety factor for the combined use of reinforcement geosynthetics and the construction of a shoulder was 2.37,
with the highest value of the three landfill stabilization options.

KEYWORDS: Geosynthetic, Soft Soils, Stability.

1 Introdução

Existem várias soluções que permitem a utilização das áreas de solo mole como: bermas de equilíbrio,
aterro estaqueado, melhoramento do solo e reforço. A escolha de uma delas dependerá de inúmeros fatores,
como condições do solo, nível de recalque aceitável, o espaço disponível, além de custos e prazos de execução.
Na alternativa de reforço do solo, pode-se empregar geossintéticos de reforço na base do aterro, permitindo o
aumento da estabilidade do aterro, a construção mais rápida e a utilização de taludes mais íngremes. Os

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geossintéticos comumente utilizados para reforço em aterros sobre solos moles são: geotêxteis tecidos (GTX-
W), geogrelhas (GGR) e geocélulas (GCE).
Futai (2010) comenta que a melhor forma de se entender como o reforço atua para aumentar o fator de
segurança em aterros sobre solos moles foi apresentada por Jewell (1982). No mecanismo de instabilidade de
um aterro não reforçado, o carregamento vertical é a causa principal da instabilidade, porém, Jewell (1988)
cita mais uma, que é a tensão cisalhante no contato entre o aterro e o solo mole. Essa tensão cisalhante surge,
porque o aterro não está confinado e como não suporta as forças de tração lateral, ocorre o deslocamento
lateral. O uso do reforço na base do aterro sobre solo mole restringe o deslocamento lateral e promove o
aumento da capacidade de carga.
Se o geossintético usado como reforço tiver um módulo de rigidez adequado para a solicitação em
questão, não haverá deformação excessiva do reforço. A força de tração máxima requerida para o reforço no
estado-limite deve ser superior a força de tração máxima necessária para resistir o estado-limite de
deslizamento rotacional, e também à soma das forças de tração máxima necessárias para resistir ao
deslizamento lateral e a expulsão do solo de fundação.
Este trabalho apresenta o dimensionamento de geossintéticos para reforço de um aterro sobre solo mole
localizado em Recife, Pernambuco, estudado por Bello (2004), proposta que evitaria o rompimento do aterro.
Foram considerados os mecanismos de instabilidade de expulsão de solo mole de fundação e de ruptura
generalizada envolvendo aterro, reforço e solo de fundação.

2 Caracterização da área de Estudo

O terreno com cerca de 10.350 m² localiza-se na Br-101, Dois Irmãos, Recife-PE. Foram construídos 3
galpões, sendo um de grande porte com alvenarias de fechamento lateral (50 x 40 m), onde ocorreu a ruptura.
É apresentada na Figura 1 a posição dos galpões, bem como as locações dos furos de sondagem, amostragem
e ensaio de palheta. Os galpões foram projetados em estruturas pré-moldadas de concreto armado, cujos pilares
têm fundação superficial tipo bloco isolado de pedra rachão. O piso foi projetado com uma laje armada de 15
cm de espessura, assente diretamente no terreno.
As sondagens mostraram um perfil composto inicialmente por uma camada de aterro de argila silto-
arenosa, mal compactado, com cerca de 6 m de espessura. Abaixo do aterro tem-se uma camada de argila
siltosa, muito mole a mole com espessura próxima de 1 m. Segue-se uma camada de turfa com argila orgânica,
muito mole a mole, com cerca de 12 m de profundidade. Após os 12 m e até o limite das sondagens (cerca de
30 m de profundidade), segue-se uma camada de argila siltosa, média a rija. O nível d’água situa-se em torno
de 3,75 m de profundidade.

2.1 Histórico da obra

No início da construção o terreno já se encontrava aterrado com restos de metralha e lixo. O terreno foi
regularizado através de um aterro compactado com cerca de 1 m de espessura. Foram executados um muro de
arrimo de gabião com altura entre 3 e 6 m. Durante a execução de terraplenagem, ocorreu um deslizamento
em um dos cantos do terreno vizinho, onde foram observadas várias trincas no terreno paralelas ao muro de
arrimo, que foram vedadas naquela ocasião. Durante a construção do galpão de grande porte, foram observadas
fissuras nas alvenarias de fechamento, e uma abertura das juntas de dilatação do piso. Essas evidências
permitiram concluir que o terreno apresentava uma componente vertical de deslocamento, representada pelo
recalque das camadas argilo-turfosas moles, devido ao peso próprio do aterro e da estrutura, e uma componente
horizontal, devido ao escoamento lateral das camadas na direção no desnível do terreno (Figura 2).
Na época foram propostas duas soluções para combater os movimentos identificados: (a) para o
movimento vertical foi sugerido o reforço de fundações através de estacas metálicas; e (b) para o movimento
horizontal foi sugerida a execução de bermas no fundo do terreno. Como as soluções reparadoras eram
onerosas em função do porte da obra, foi proposto monitorar o desempenho através da instalação de pinos nos
pilares e marcos superficiais no terreno, com controle periódico de topografia da obra, e definir a necessidade
de intervenções. Por decisão do proprietário, não houve monitoramento do local, e os pontos onde exibiam
fissuras foram fechados com argamassa, ocorrendo neste período, a ruptura do terreno em grandes proporções.

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Figura 1. Situação e locação dos furos de sondagem, ensaio de palheta e retirada de amostra (Bello, 2004).

Figura 2. Mecanismo e evidências de escoamento lateral do terreno (Bello, 2004).

3 Metodologia

Inicialmente será realizada a avaliação da estabilidade do aterro não reforçado com altura admissível
considerando-se superfícies circular e não circular. Obtido um fator de segurança (FS) inferior ao de projeto,
parte-se para uma solução de reforço na base do aterro, com o objetivo de aumentar o FS.

3.1 Definição do valor de tração mobilizada no reforço (T).

Para a determinação da tração mobilizada no reforço (T) faz-se necessário a avaliação da estabilidade
considerando: o deslizamento lateral do aterro; ruptura por cunha; e por meio de rupturas circulares, que podem
ser avaliadas utilizando programas de estabilidade ou o método de Low et al. (1990).

3.2 Verificação da possibilidade de expulsão do solo mole

O método de cálculo convencional estuda o equilíbrio do bloco de solo mole sob o talude do aterro.
Assim, o fator de segurança contra a expulsão do solo mole pode ser estimado através da Equação 1.

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 = 
(1)

Onde: PP é a reação passiva contra o deslizamento do bloco de solo mole; RT é a força de aderência no topo
do bloco de solo mole; RB é a força de aderência na base do bloco de solo mole; PA é o esforço ativo atuante
sobre o bloco de solo mole; é a tensão horizontal ativa.

3.3 Ruptura Generalizada

A hipótese de ruptura mais comum em análises preliminares de estabilidade de taludes para obras de
solo reforçado é a de superfície de deslizamento com forma circular e o emprego de métodos de equilíbrio-
limite. O método proposto por Low et al. (1990) que visa o dimensionamento preliminar por meio do método
de equilíbrio-limite. Esse método é utilizado para obter o valor de T para geometrias simples, onde não há
bermas de equilíbrio e onde o aterro pode ser considerado com “comprimento” infinito com plataforma
horizontal e sem sobrecarga. O método fornece o fator de segurança mínimo para as superfícies de ruptura
com centros sobre a vertical passando pelo meio do talude e tangentes a uma linha horizontal a uma
profundidade arbitrada (PALMEIRA e ORTIGÃO, 2004). Variando a profundidade de tangência, pode
determinar o fator de segurança mínimo minimorum da obra. A Equação 2 fornece o fator de segurança mínimo
do aterro reforçado para todas as superfícies tangentes à horizontal na profundidade z.

 = ∙ (2)
 


Onde: F0 é o fator de segurança mínimo para todas as tangentes à horizontal na profundidade z, no caso sem
reforço; T é o esforço de tração mobilizado no reforço; IR é um coeficiente obtido a partir de um gráfico e que
depende da geometria do aterro e da profundidade tangência dos círculos; γat é o peso específico do material
de aterro; e H é a altura do aterro.

Para a utilização do método proposto por Low et al. (1990), é necessário determinar o fator de segurança
da obra, no caso sem reforço, variando a profundidade z, conforme Equação 3.
 $
 =  ×  × + " # + % × &'()*

(3)
 ×

Onde: +,- , . e ) são os parâmetros do aterro; / é a altura do aterro; 012 é a resistência não drenada equivalente
do solo mole; 0′14 e 015 (01 na profundidade z);  , " , % são números de estabilidade.

Após calcular os diferentes valores de T para as diversas profundidades z, obtém-se o Tmax que é o valor
do esforço necessário para alcançar o Fr. Com o valor de Tmáx é possível escolher o tipo de reforço geossintético
dentro das margens de segurança que serão discutidas mais adiante. O raio do círculo crítico, tangente à
horizontal na profundidade z, para o caso reforçado é dado por:


7,"9×:, < >
 ×= 
6 = ;
.@A 6 ≥ D + / (4)
: ,?  >
  ×= 

 5 " GH I


Onde: ' = " × # + 0,5* + (5)
"J

Adota-se o maior valor de T entre os calculados para o K de projeto, sendo que esse valor deve atender
aos critérios de LMNO . Caso não atenda, deve-se alterar a altura ou talude do aterro e repetir os cálculos.

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3.4 Esforço de tração T mobilizada no reforço

Os solos de aterro e de fundação, ao se deslocarem horizontalmente, induzem deformações no


geossintético, que reage e gera um esforço de tração resistente (T), o geossintético atua como um reforço
passivo, restringindo o deslocamento das camadas de solo. O esforço de tração limite (LMNO ) corresponde à
soma do empuxo lateral no aterro e da força cisalhante do solo de fundação, este valor não pode ser excedido
pelo valor do esforço de tração no reforço (T). Assim:

L ≤ LMNO = Q,,- + Q R (6)


Q,,- = S,,- G0,5 ∙ +,- ∙ ℎ,- " + Uℎ,- I (7)
XY
Q R = VW # * (8)
Z

Onde: 014 é a resistência não drenada na interface solo-aterro; α é o fator de redução aplicado para refletir a
minoração da resistência não drenada na interface aterro-solo compressível; VW é a distância entre o local em
que o círculo intercepta o reforço e o pé do talude; S,,- é o coeficiente de empuxo ativo; +,- é o peso específico
do aterro, como ilustrado na Figura 3.

3.5 Definição do esforço de referência do reforço

A resistência de referência do material de reforço GL R I pode ser obtida através de fatores de redução
globais sobre a resistência disponível, também chamada de admissível [L\ calculada em projeto. Esses fatores
de redução globais são dividos à fluência, a danos mecânicos de instalação, à degradação química, e à
degradação biológica (ALMEIDA e MARQUES, 2010).

3.6 Definição da deformação permissível ]^ e do módulo da rigidez

Para determinar a deformação permissível _, no geossintético, no caso de solos de fundação com


resistência constante e profundidade limitada, utilizar a Equação 9 e o ábaco apresentado em Almeida e
Marques (2010):

  . bc  "
`= #
ce
* (9)
 d f

Onde: ℎ$ é a altura de colapso do aterro não reforçado; B é a largura da plataforma; ℎ, g é a espessura da


camada mole; 01 ⁄h1 é a relação entre resistência e módulo de Young não drenado; +,- é o peso específico do
aterro.

A partir da relação da tração mobilizada T com a deformação permissível _, , obtem-se o módulo de


rigidez J. O geossintético utilizado deve ser suficientemente rígido pra evitar deformações excessivas no aterro.
Segundo Palmeira e Ortigão (2004), as deformações admissíveis no elemento de reforço variam de 3 a 10%.

.
Figura 3. Ruptura circular de um aterro sobre solo mole (ALMEIDA e MARQUES, 2010).

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3.7 Cálculo do comprimento do reforço – interação solo / geossintético

Para se garantir a estabilidade da obra, deve-se também ter um comprimento de reforço apropriado, e
um dos fatores a ser analisado é o comprimento de ancoragem (j,H$ ) em ambos os lados do ponto de
interseção da superfície circular de deslizamento crítica com a direção da camada de reforço. Para mobilizar o
esforço de tração (L), o geossintético precisa estar com o devido j,H$ segundo Equação 10.
 ×W
j,H$ = "×l ×[$kb × ×-,Hn\
(10)
m 

Onde: ,H$ é o fator de segurança contra ruptura por deficiência de ancoragem (geralmente [,H$ ≥ 1,5\;
+,- , . p ) são osparâmetros do aterro; / é a altura do aterro; qN é o coeficiente de interação do geossintético
com o solo, obtido por meio de ensaios de arrancamento.

Segundo Almeida e Marques (2010), geogrelhas de malha quadrada com abertura entre 20 mm e 40 mm
podem apresentar qN superiores a 0,8. Para aberturas maiores e poucos membros transversais, qN pode ser
menor que 0,5. Para geotêxteis tecidos, geralmente o valor é em torno de 0,6. Caso o comprimento do reforço
seja insuficiente para atender os requisitos de ancoragem, pode-se aumentar a resistência por ancoragem da
camada de reforço por meio de abatimento do talude ou da utilização de bermas laterais. O comprimento total
do reforço é apresentado na Equação 11:

j R4 ç4 = VW + j,H$ (11)

Onde: VW é a distância entre o local em que o círculo intercepta o reforço e o pé do talude; e j,H$ é o
comprimento de ancoragem.

3.8 Propriedades dos materiais

Bello (2004) estimou as propriedades do aterro a partir da literatura, havendo necessidade pela falta de
obtenção de amostras do aterro e realização de ensaios. Os valores considerados foram +,- =18kN/m³, c’ =
10kN/m², ϕ’ = 30°. Os valores da resistência não drenada da fundação foram determinados a partir do ensaio
de palheta de campo, sendo corrigidos pela proposta de Bjerrum (1973), e variando entre as faixas de 15,58 a
35,49 kPa, em 6 (seis) subcamadas com diferentes.
Após os cálculos da tração mobilizada no aterro e o módulo de rigidez do reforço considerou-se que
para atender os requisitos seria utilizada a geogrelha Fortrac R 300/50-30T, que é feita de poliéster (PET),
possui uma resistência à tração de mais de 300 t⁄A, um alto módulo de rigidez e baixa deformação.

3.9 Determinação das cargas do galpão

Para a determinação da carga total gerada pelo galpão foram analisadas as cargas incidentes em cada
pilar da edificação, através de um relatório de cálculo estrutural. Os pilares foram divididos em centrais que
têm carga individual incidente de u = 150,58 t e em pilares laterais que possuiam carga individual
incidente de u = 126,06 t. Também foi analisada a carga gerada pelos veículos, considerou-se a ocupação
máxima do galpão, onde cada veículo ocupa uma área de yuí$1M4 = 9,00 A² e tem uma massa de }uí$1M4 =
1000 t~, resultando numa carga total de U = 4,04 t⁄A" .

3.10 Análise de estabilidade com uso de software

A verificação da estabilidade do aterro sem reforço foi determinada por meio de uma análise global,
através do método de Bishop no software GEOSLOPE considerando a hipótese da superfície circular e o 01
corrigido. Foram admitidos os seguintes parâmetros para o aterro apresentados no item 3.8.

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Na análise global do aterro pelo método de Bishop através do software GEOSLOPE com a inserção da
resistência (L) obtida pelo método Low et al. (1990), e utilizando o comprimento do reforço geossintético
Gj R4 ç4 I.

4 Análise dos resultados

4.1 Análise de estabilidade do aterro considerando reforço - Dimensionamento do geossintético

Para determinar a tração mobilizada (L) na ruptura por deslizamento lateral em razão do empuxo do
aterro, foi determinado um coeficiente de empuxo ativo S,,- = 0,47. Utilizando os parâmetros de projeto
tanto do aterro quanto do solo, foi realizado o equilíbrio das forças horizontais, resultando em uma tração
mobilizada de L = 3,97 t⁄A.
Para determinar L na ruptura por cunha, foi realizado o somatório de forças resistentes, como o empuxo
passivo Q, g = 874,56 t⁄A, e a força cisalhante mobilizada na argila mole 0, g = 312,48 t⁄A. Este
resultado foi dividido pelo somatório das forças instabilizantes, como o empuxo ativo no aterro Q,,- =
152,28 t⁄A e empuxo ativo na camada de argila Q,, g = 827,96 t⁄A. Supondo um fator de segurança
de 0 = 1,3 , tem-se como resultado então em uma tração mobilizada de L = 87,27 t⁄A.
Para determinar L na ruptura circular, foi calculado o fator de segurança mínimo para as superfícies
tangentes à horizontal. No caso sem reforço, o fator de segurança foi  = 1,37 e foi considerado um fator de
segurança para o caso reforçado de  = 1,45. A tração mobilizada no reforço, para se garantir o fator de
segurança  preestabelecido, é de L = 72,40 t⁄A.
Após a avaliação das possibilidades de ruptura do aterro, em relação ao deslizamento lateral do aterro,
à ruptura por cunha e à ruptura circular, o valor definido da tração no reforço deve ser o maior entre os casos
analisados, sendo o mais crítico a ruptura por cunha com uma tração L = 87,27 t⁄A. Para efeito de projeto
e a favor da segurança a tração foi majorada através de fatores de redução dos geossintéticos (ver Almeida e
Marques, 2010), resultando em uma tração de L = 211,19 t⁄A.
O valor do esforço de tração no reforço a ser utilizado nos cálculos de estabilidade não deve exceder o
esforço de tração limite que pode ser mobilizado (LMNO ) que corresponde à soma do empuxo lateral no aterro
Q,,- = 163,67 t⁄A e a força cisalhante do solo de fundação Q R = 250,54 t⁄A.
Para calcular a força cisalhante foi necessário determinar a distância (VW ) entre o local em que o círculo
de ruptura intercepta o reforço e o pé do talude, como pode ser observado na Figura 4. O somatório de Q,,- e
Q R resultou em um LMNO = 414,21 t/A que é maior que a tração utilizada em projeto.
Após a determinação do equilíbrio de solo mole sob o talude do aterro, foram somados os empuxos
passivos Q = 1823,45 t⁄A e a força de aderência no topo e na base do bloco de solo mole 6W =
312,48 t⁄A e 6f = 312,48 t/A, estes foram divididos pelo somatório pelo empuxo ativo Qƒ =
1873,76 t⁄A, foi encontrado um fator contra a expulsão de solo mole de  = 1,31, mostrando que o aterro
é estável para esta análise.

Figura 4. Ruptura circular de um aterro sobre solo mole.

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Utilizando um módulo de Young não drenado h1 = 5000 tQ', determinou-se o parâmetro


adimensional ` = 0,006 e inserindo este parâmetro no ábaco de Almeida e Marques (2010) foi determinado
que a deformação permissível no reforço é _, = 6 %. Através do esforço de tração L = 211,19 t ⁄A e da
deformação permissível, foi possível determinar o módulo de rigidez (J), que neste caso foi = 3519,8 t⁄A.
Na definição do comprimento do reforço, foi primeiro necessário a determinação do comprimento de
ancoragem, para garantir a fixação do geossintético ao solo. Através do esforço de tração determinado L =
211,19 t⁄A, com um 0 = 1,5, parâmetros de projeto do aterro, além de dados específicos do
geossintético, como o coeficiente de interação do geossintético com o solo qN = 0,6, foi determinado o
comprimento mínimo de ancoragem de j,H$ = 3,6 A, resultando em um comprimento total do reforço de
j R4 ç4 = 25,14 A.
No Quadro 1 é apresentado um resumo dos parâmetros de dimensionamento do geossintético de reforço
obtidos para o caso estudado. Verifica-se uma grande quantidade de parâmetros calculados e estimados a partir
de correlações ou reportados na literatura técnica.

4.2 Análises comparativa da de estabilidade do aterro sem reforço, com reforço geossintético, e uso
combinado de reforço geossintético e berma

Bello (2004) constatou que a proposta de construção da berma, eleva o valor do fator de segurança de
0,98 para 1,66, comparando com a situação sem reforço. Já com a utilização do reforço de geossintético com
comprimento de: j R4 ç4 = 25,14 A e resistência [L\ obtida pelo método Low et al. (1990) e com parâmetros
geotécnicos de: + = 20&/A³, . = 10 tQ' e ) = 35° e dimensões: 2,5 m de altura e 27,0 m de largura, na
condição com apenas o reforço o FS apresentou valor de 1,32. Já na situação com a utilização de bermas, foi
obtido um FS de 2,37, sendo o maior valor das três opções de estabilização do aterro.
Na tabela 1 é apresentado um resumo dos resultados da análise comparativa.
Foi verificado que todas as soluções atendem à segurança contra a ruptura do aterro, considerando os
FS variando de 1,33 a 2,37. A solução adotada em projeto dependeria do valor do fator de segurança mínimo
determinado pelo projetista e proprietário da obra. Diversos fatores como porte da obra, custo e prazo, assim
como a logística da construção podem interferir na escolha da solução mais adequada.

Quadro 1. Resumo dos parâmetros calculados.


Tabela Resumo
Deslizamento lateral T = 3,97 kN/m Coeficiente de empuxo ativo S,,- = 0,47
Tração mobilizada
Ruptura por cunha T = 87,27 kN/m Fator de minoração da resistência α = 0,67
no reforço
Ruptura circular T = 72,40 kN/m Carga total gerada pelo galpão q = 4,04 kN/m²
Peso específico +,- = 18 t/A³ Esforço de tração limite LMNO = 414,21 t/A
Características do Altura ℎ ,- = 6,0 A Empuxo passivo na argila Pparg = 874,56 kN/m
aterro Coesão c = 10 kN/m² Força cisalhante mobilizada na argila Ssarg = 312,48 kN/m
Ângulo de atrito ϕ = 30° Empuxo ativo na camada de argila Paarg = 827,96 kN/m
Raio do círculo crítico do caso reforçado 6 = 18,24 A Empuxo ativo no aterro Paat = 152,28 kN/m
Raio do círculo crítico do caso sem reforço 6 = 19,33 A Fator de segurança contra a expulsão Fe = 1,31
Reação passiva contra o deslizamento do Força de aderência na base do bloco
Pp = 1823,45 kN/m Rb = 312,48 kN/m
bloco de solo mole de solo mole
Força de aderência no topo do bloco de Esforço ativo atuante sobre o bloco
Rt = 312,48 kN/m Pa = 1873,7 kN/m
solo mole de solo mole
Tração mobilizada no reforço T = 211,19 kN/m Deformação permissível _, = 6 %
Ângulo de atrito mobilizado no aterro ϕ = 21° Módulo de rigidez J = 3519,8 kN/m
Distância entre o local em que o círculo Coeficiente de interação do
VW = 21,54 A Ci = 0,6
intercepta o reforço e o pé do talude geossintético com o solo
Fator de segurança mínimo para todas as Comprimento de ancoragem j,H$ = 3,65 A
 = 1,369
tangentes à horizontal na profundidade z Comprimento do reforço j R4 ç4 = 25,19 A

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Tabela 1 - Valores de FS mínimos para diferentes condições de estabilidade.


RESUMO DOS RESULTADOS DA ANÁLISE DE ESTABILIDADE
Condição de SEM COM REFORÇO BERMA + REFORÇO
BERMA
estabilidade REFORÇO (GEOSSINTÉTICO) (GEOSSINTÉTICO)
0,98 1,32 1,66 2,37
FSmín
Bello (2004) Presente pesquisa Bello (2004) Presente pesquisa

5 Conclusões

Esta pesquisa apresentou os procedimentos para dimensionamento de geossintético de reforço para um


aterro de solo mole estudado por Bello (2004). Na análise de estabilidade do aterro considerando reforço,
determinou-se na ruptura por deslizamento lateral, uma tração mobilizada de L = 3,97 t⁄A. Na ruptura por
cunha, a tração mobilizada foi de L = 87,27 t⁄A. Na ruptura circular tração mobilizada no reforço, para se
garantir o fator de segurança  de 1,37, foi de L = 72,40 t⁄A. O esforço de tração limite que pode ser
mobilizado foi LMNO = 414,21 t/A que é maior que a tração utilizada em projeto (L = 211,19 t⁄A). O
fator contra a expulsão de solo mole de  = 1,31, mostrando que o aterro é estável nessa análise. A
deformação permissível no reforço (εa) foi de 6%. O módulo de rigidez (J), foi igual a 3519,8 t⁄A. O
resultado do comprimento total do reforço foi j R4 ç4 = 25,14 A.
A proposta do uso do geossintético como solução para estabilizar o aterro, elevou o fator de segurança
de 0,988 para 1,322, o que possivelmente evitaria a ruptura do mesmo. Bello (2004) constatou que a proposta
de construção da berma, elevaria o valor do fator de segurança de 0,98 para 1,66, o que possivelmente também
evitaria a ruptura. O fator de segurança para o uso combinado de geossintético de reforço e construção de
berma foi de 2,37, sendo o maior valor das três opções de estabilização do aterro. Todas as soluções analisadas
atenderam à segurança contra a ruptura do aterro.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, M.; MARQUES, M. E. Aterros Sobre Solos Moles Projeto e Desempenho. 1ª ed. São Paulo:
Oficina de Textos, 2010.
BJERRUM, L. Problems of Soil Mechanics and Construction of Soft Clays and Structurally Instables Soils.
Proceedings of the 8th International Conference on Soil Mechanics and Foundations Engineering, Moscow,
vol. 2, pp. 111-159. 1973.
BELLO, M. I. Estudo de ruptura em aterros sobre solos moles – aterro do galpão localizado na BR-101 - PE.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife. p. 207, 2004.
FUTAI, M. M. Theoretical and Practical Concepts on Behavior Analysis of Some Rio de Janeiro Clays. DSc.
Seminar, COOPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 133 pp. 2010.
JEWELL, R. A. A limit equilibrium design method for reinforced embankments on soft foundations. In:
INTERNATIONAL CONFERENCE ON GEOTEXTILES, 1982, Las Vegas. Proceedings…Las Vegas, v.
3, p. 671-676. 1982.
LOW, B. K.; WONG, K. S.; LIM, C. Slip circle analysis of reinforced embankment on soft ground. Journal of
Geotextiles and Geomembranes, v. 9, n. 2, p. 165-181, 1990.
PALMEIRA, E. M.; ORTIGÃO, J. A. R. Aplicações em reforço – aterros sobre solos moles. In: Vertematti,
J. C. (Ed.). Manual Brasileiro de Geossintéticos. São Paulo: Edgar Blücher, 2004.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0154 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Implementação Computacional do Método das Fatias de Spencer


Paulo Gustavo Cavalcante Lins
Professor, Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil, plins@ufba.br

Hélio Machado Baptista


Engenheiro Civil, ENVGEO Engenharia, Salvador, Bahia, Brasil, helio@envgeo.com.br

RESUMO: O método das fatias é amplamente utilizado na análise de estabilidade de taludes e


dimensionamento de contenções. O método das fatias proposto por Spencer admite as fatias como corpos
rígidos e atende as condições de equilíbrio de forças e equilíbrio de momentos. O referido método admite a
existência de forças normais e cisalhantes entre as fatias e que a inclinação da resultante destas forças é
constante. O objetivo geral do trabalho é descrever duas implementações computacionais do método das
fatias de Spencer, detalhando formulação e algoritmos utilizados, além dos testes da implementação. O
método das fatias de Spencer possui formulações para um fator de segurança de forças e para um fator de
segurança de momentos. A solução do método é determinada por um valor de inclinação da resultante das
forças inter-fatias que leve ao mesmo fator de segurança de forças e fator de segurança de momentos. As
implementações realizadas em Fortran e no Ambiente Integrado de Desenvolvimento Lazarus funcionaram
de maneira satisfatória. Devido ao seu grau de complexidade o método das fatias de Spencer necessita ser
programado para seu uso prático. O conhecimento dos algoritmos do método habilita o usuário para uma
aplicação com mais domínio das hipóteses de cálculo.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de taludes, Equilíbrio limite, Método das Fatias, Método de Spencer.

ABSTRACT: The slice method is widely used in the analysis of slope stability and reinforcement design.
The slice method proposed by Spencer admits slices as rigid bodies and attends the conditions of force
equilibrium and moment equilibrium. This method admits the existence of normal and shear forces between
the slices and that the inclination of the resultant of these forces is constant. The main objective of this work
is to describe two computational implementations of the Spencer slices method, detailing the formulation
and algorithms used, in addition to the implementation tests. The Spencer slices method has formulations for
a force safety factor and a moment safety factor. The solution of the method is determined by a resultant
inclination value for the inter-slice forces that given the same force safety factor and moment safety factor.
The implementations carried out in Fortran and in the Lazarus Integrated Development Environment works
satisfactorily. Due to its degree of complexity, Spencer slice method needs to be programmed for practical
use. The knowledge of the method algorithms enables the user for an application with more mastery of the
calculation hypotheses.

KEYWORDS: Slope Stability, Limit Equilibrium, Slice Method, Spencer Method.

1 Introdução

Os métodos das fatias são utilizados em muitos estudos de estabilidade de taludes. No Brasil é
corrente o uso do método simplificado de Bishop (1955), além de outros métodos. O método simplificado de
Bishop (1955) garante apenas o equilíbrio de momentos. Bishop (1955) apresentou um método rigoroso que
garante também o equilíbrio de forças além do equilíbrio de momentos, este método rigoroso é menos
utilizado.
Spencer (1967) apresentou um método que garante o equilíbrio de forças e de momentos. Para resolver
o problema Spencer (1967) tomou a hipótese que a inclinação da resultante das forças inter-fatias é
constante. O método das fatias de Spencer (1967) possui formulações para um fator de segurança de forças e
para um fator de segurança de momentos. O fator de segurança de forças e o fator de segurança de momentos

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são respectivamente função do próprio fator de segurança de forças e o fator de segurança de momentos.
Para cada valor de inclinação da resultante das forças inter-fatias existe uma solução para o fator de
segurança de forças e para o fator de segurança de momentos, esta solução é encontrada utilizando o método
de Newton-Raphson. A solução do método é determinada por um valor de inclinação da resultante das forças
inter-fatias que leve ao mesmo fator de segurança de forças e fator de momentos. O método é discutido
dentre outras publicações na tese de Spencer (1970) e no artigo de Spencer (1973).
O presente trabalho discute duas implementações do método, em conformidade com o detalhamento
encontrado na tese de Spencer (1970). A primeira implementação foi um protótipo em Fortran. A segunda
implementação foi feita no Ambiente Integrado de Desenvolvimento Lazarus, em um programa chamado
TaludeSR, cujo o desenvolvimento está relatado em Santana & Lins (2014), Lins et al. (2015), Lins et al.
(2016) e Batista et al. (2018).

2 O Método de Spencer

Spencer (1967, 1970, 1973) detalha a formulação para um método das fatias que garante equilíbrio de
forças e equilíbrio de momentos e admite que a inclinação das forças inter-fatias é constante. O tese de
Spencer (1970) apresenta a formulação em uma forma que facilita a compreensão da implementação
computacional. A tese de Spencer (1970) apresenta em seus anexos vários programas em linguagem
“Extended Mercury Autocode”, com as diferentes versões de programas desenvolvidos.
Os elementos geométricos do círculo de deslizamento considerados são apresentados na Figura 1. A
geometria da i-ésima fatia considerada está representada na Figura 2. Rotinas de geometria são utilizadas
para dividir o círculo em N fatias e para determinar para a i-ésima fatia os valores da inclinação da base da
fatia αi e a altura da fatia hi.
Sendo Qi a resultante de um par de forças inter-fatias, para a i-ésima fatia, a condição de equilíbrio de
forças é garantida por:

i =N

∑ [Q ] = 0 (1)
1
i

Sendo θ a inclinação da resultante das forças inter-fatias Qi, a condição de equilíbrio de momentos é
garantida por:

i =N

∑ [Q cos(α
1
i i − θ )] = 0 (2)

Spencer (1970) utiliza o método de Newton-Raphson para acelerar o processo de solução. A Figura 3
ilustra o princípio das iterações do método de Newton-Raphson. Sendo Ff1 o valor uma primeira tentativa
para o fator de segurança para o equilíbrio de forças, com o método de Newton-Raphson, a próxima tentativa
do fator de segurança para o equilíbrio de forças (Ff2) é obtido por:

i= N

∑ [Q ]
1
i
Ff 2 = Ff 1 − i= N (3)
∂ ∑ [Qi ]
1
∂F f

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Figura 1. Geometria para o círculo de deslizamento (Spencer, 1970).

Figura 2. Geometria das fatias, representando a i-ésima fatia (Spencer, 1970).

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Figura 3. Ilustração do método de Newton-Raphson para sucessivas aproximações (Spencer, 1970).

De forma iterativa o valor do fator de segurança de forças Ff é aplicado na equação (3), até que a
diferença entre duas iterações seja inferior a uma tolerância assumida.
Spencer (1970) apresenta a forma explicita do segundo termo do lado direito da equação (3):

 2 ⋅ c' 
 γ + hi ⋅ tan φ ' (1 − 2 ⋅ ru + cos 2α i ) + F f ⋅ hi ⋅ sen 2α i 
i= N

i= N ∑1  2 ⋅ cosα cos(α − θ ) F + tan φ ' tan(α − θ ) 


[ ]
 
∑1 [Qi ] 
i i f i

= (4)
i=N
 2 ⋅ c' 
∂ ∑ [Qi ] i = N  + hi ⋅ tan φ ' (1 − 2 ⋅ ru + cos 2α i ) + hi ⋅ sen 2α i tan φ ' tan (α i − θ )
γ
1
∂F f
∑1  [
2 ⋅ cos α i cos(α i − θ ) F f + tan φ ' tan(α i − θ ) ]2 
 
 

Onde: c’ é a coesão efetiva, φ é o ângulo de atrito efetivo do solo, ru é o coeficiente de pressão neutra,
e γ é o peso específico do solo, A equação (4) é implementada computacionalmente.
Sendo Fm1 o valor uma primeira tentativa para o fator de segurança para o equilíbrio de momentos,
com o método de Newton-Raphson, a próxima tentativa do fator de segurança para o equilíbrio de momentos
(Fm2) é obtido por:

i=N

∑ [Q cos(α
1
i i − θ )]
Fm 2 = Fm1 − i= N (5)
∂ ∑ [Qi cos(α i − θ )]
1
∂Fm

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Uma forma explicita da equação (5), similar a equação (4), também é implementada
computacionalmente.
Para cada valor de inclinação da resultante das forças inter-fatias (θ) existe uma solução para a
equação de equilíbrio de forças (Ff) e uma solução para a equação de equilíbrio de momentos (Fm). O valor
de inclinação da resultante das forças inter-fatias (θ) onde as duas curvas se encontram define a solução do
problema, conforme ilustrado na Figura 4.

Figura 4. Variação de Ff e Fm com θ (Spencer, 1970).

3 Implementação Computacional

Uma primeira implementação em Fortran foi realizada em Fortran. Este protótipo reproduzia a
codificação do programa em linguagem “Extended Mercury Autocode” chamado de RESULTS26A,
apresentado nos anexos de Spencer (1970). A implementação em Fortran reproduziu bem os dados
apresentados em Spencer (1970).
Uma segunda implementação foi realizada dentro do programa TaludeSR no Ambiente Integrado de
Desenvolvimento Lazarus (Lazarus and Free Pascal Team, 2014). O código TaludeSR, que já possui
implementados: (a) Bishop simplificado sem reforço, com critério Hoek-Brown (Santana & Lins, 2014 e
Lins et al., 2015); (b) Bishop simplificado sem reforço, com critério Mohr-Coulomb; (c) Bishop simplificado
com reforço, com critério Mohr-Coulomb (Lins et al., 2016); (d) Janbu rigoroso sem reforço, com critério
Mohr-Coulomb (Batista et al., 2018). Os testes da implementação no código TaludeSR são descritos a
seguir.

4 Algoritmo do Método

O algoritmo do programa RESULT26A é representado no fluxograma da Figura 5. Inicialmente os


fatores de segurança de força e momento (Ff1 e Fm1) são inicializados com valores unitários. As rotinas de

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geometria determinam as inclinações das bases das fatias (αi) e a altura das fatias (hi). A inclinação média da
massa deslizante da massa deslizante (ψ na Figura 2) é determinada. Um laço variando T de zero até 40 é
iniciado, valores de θ são inicializados em função de T. Este laço de T faz uma construção equivalente a
Figura 4. Com relação a este laço de T, o algoritmo sai do laço e imprime o resultado quando o fator de
segurança de forças se torna maior que o fator de segurança de momentos.
Dentro do laço as expressões de Newton-Raphson para o fator de segurança de forças, equação (3), e
fator de segurança de momentos, equação (5), são calculadas de forma iterativa. As iterações para as duas
equações são repetidas até que ambas apresentem um erro, entre iterações, menor que 0,0001. Deve ser
destacado que no presente algoritmo as duas equações são resolvidas no mesmo laço de iteração, o algoritmo
foi pensado para economizar memória e tempo de processamento. O uso de dois laços de iteração separados
traria maior elegância e legibilidade ao código.

Figura 5. Fluxograma adaptado para o programa RESULTS26A.

5 Resultados e Discussão

O problema apresentado por Spencer (1970) e representado na Figura 6 foi utilizado para testar o
programa TaludeSR. Na análise foi considerado um peso específico de 120 lb/tf3, uma coesão de 240 lb/tf2,
um ângulo de atrito de 40º e um coeficiente de pressão neutra de 0,5.

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Para este problema Spencer (1970) relata um fator de segurança igual a 1,070. No programa TaludeSR
foi calculado um fator de segurança de 1,070 (Figura 7a). No programa Utexas3 o fator de segurança
calculado foi de 1,070 (Figura 7b). No programa Slide se obteve um fator de segurança de 1,069 (Figura 7c).
No programa Slope/W o fator de segurança encontrado foi de 1,069 (Figura 7d).

Figura 6. Problema estudado (Spencer, 1970).

(a) TaludeSR, FS = 1,070 (b) Utexas3, FS = 1,070


1.069

(c) Slide, FS = 1,069 (d) Slope/W, FS = 1,069


Figura 7. Resultado das análises.

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6 Conclusões

O equacionamento e o algoritmo do método de Spencer (1967, 1970, 1973) são apresentados e


discutidos no presente trabalho. O método das fatias de Spencer é um método rigoroso que atende ao
equilíbrio de forças e momentos e assume uma função de inclinação de forças inter-fatias como constante.
O método de Spencer foi objeto de uma implementação em Fortran e outra no Ambiente Integrado de
Desenvolvimento Lazarus. As duas implementações funcionam adequadamente. Os resultados das
implementações são consistentes com os dados de Spencer (1970) e com outros programas que utilizam o
método.
Como futuros trabalhos se pretende generalizar a implementação para diversas camadas e condições
de pressão neutra representada por linha freática. Outro aspecto que deve ser estudado é a característica de
convergência do algoritmo utilizado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Batista, V.M.; Baptista, H.M.; Lins, P.G.C. (2018) Implementação computacional do método de Janbu com
uma aplicação de retro-análise do escorregamento de Vajont. In: VIII Simpósio Brasileiro de Engenheiros
Geotécnicos Jovens (GeoJovem). XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica, Salvador.
Bishop, A.W. (1955) The use of the slip circle in the stability analysis of slopes. Géotechnique, 5(1), p.7-17.
Lazarus and Free Pascal Team (2014) Lazarus. Disponível em: <http://www.lazarus.freepascal.org/>.
Acesso em 13 de março de 2014.
Lins, P.G.C.; Silva, N.T.; Baptista, H.M. (2016) Implementação computacional de análise de estabilidade de
taludes pelo método das fatias considerando tirantes. In: XVIII Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Solos e Engenharia Geotécnica, Belo Horizonte.
Lins, P.G.C.; Vilares Filho, R.S.; Souza, L.Z.S. (2015) Busca por algoritmos genéticos da superfície crítica
de ruptura de taludes com aplicabilidade em mineração. In: 15º Congresso Brasileiro de Geologia de
Engenharia e Ambiental, Bento Gonçalves, RS.
Santana, D.S.; Lins, P.G.C. (2014) Análise de estabilidade de taludes considerando a envoltória de ruptura de
Hoek-Brown em 2D. In: XVII Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica. VI
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Spencer, E. (1967) A method of analysis of the stability of embankments assuming parallel inter-slice forces.
Géotechnique, 17(1), p.11-26.
Spencer, E. (1970) The analysis of the stability of embankments by the method of slices. PhD Thesis,
University of Manchester Institute of Science and Technology. Disponível em: <https://ethos.bl.uk/>.
Acesso em: 8 jun 2018.
Spencer, E. (1973) Thrust line criterion in embankment stability analysis. Géotechnique, 23(1), p.85-100.

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RETROANÁLISE DO COMPORTAMENTO DO FLUXO


ATRAVÉS DA BARRAGEM DE BARREIRAS (PI)
Maria do Carmo Reis Cavalcanti
Professor Adjunto, Universidade Federal do Rio de Janeiro / Escola Politécnica, Rio de Janeiro, Brasil,
carminhacavalcanti@poli.ufrj.br

Marcos Barreto de Mendonça


Professor Associado, Universidade Federal do Rio de Janeiro / Escola Politécnica, Rio de Janeiro, Brasil,
mbm@poli.ufrj.br

João Pedro Soutto Chaves


Graduando Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio de Janeiro / Escola Politécnica, Rio de Janeiro,
Brasil, joaosoutto95@poli.ufrj.br

RESUMO: O trabalho apresenta a retroanálise do comportamento do fluxo através do maciço da barragem


de Barreiras, situada no município de Fronteira, Piauí. Foi utilizado o método dos elementos finitos com
modelo concebido a partir das investigações realizadas após a observação de problemas quando de seu
primeiro enchimento, o qual foi aferido com base nos registros da instrumentação instalada. As análises de
percolação foram desenvolvidas utilizando o programa SEEP/W da Geoslope, tendo sido modelada a seção
de maior altura no leito do rio para a qual se dispunha da estratigrafia do maciço. Os estudos envolveram a
definição e ajustes dos parâmetros de permeabilidade dos materiais constituintes do corpo da barragem e a
simulação das intervenções corretivas executadas no talude de montante. Observou-se que a diferença
percentual média entre as poropressões medidas e as calculadas através de análises numéricas variou entre
34% e 446% de acordo com o cenário considerado. Após ajustados os parâmetros e incorporação dos
tratamentos executados, os resultados comprovaram a necessidade de se considerar o histórico da estrutura
em apreço de forma a gerar modelos de análise confiáveis e representativos para subsidiar tomadas de
decisão no âmbito da segurança de barragens.

PALAVRAS-CHAVE: Barragens, Percolação, Retroanálises, Elementos Finitos, Segurança de Barragens,


Modelagem Numérica.

ABSTRACT: The paper presents the back-analysis of flow through the embankment of Barreiras Dam in the
Brazilian state of Piaui. The model was constructed based upon geotechnical investigations carried out when
problems were observed after the first impounding of the reservoir, and have been validated by comparison
with the data from the instrumentation installed to evaluate the effectiveness of the adopted correction
measures for the observed problems. The numerical analyses were carried out using the SEEP/W finite
element program by GEOSLOPE. The riverbed cross section on station 5 were used to adjust isotropic
hydraulic conductivity parameters aiming to obtain compatibility with the data from the instrumentation. The
inclusion of the cement injections carried out to fill voids detected by infiltrations tests on station 5 led to
better results, demonstrating that to obtain a reliable numerical model it is necessary to take into account the
structure history in order to provide accurate information in future decision processes concerning the
structure safety.

KEYWORDS: Dams, Water flow through porous media, Back analysis, Finite Elements, Dam safety,
Numerical Modelling.

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1 Introdução

A barragem de Barreiras, de propriedade do DNOCS, concluída em 1965, situa-se no vale do rio


Catolé a 3 km da cidade de Fronteira, no estado do Piauí, e tem como finalidade o abastecimento de água. A
estrutura do barramento, com 250m de comprimento e altura máxima de cerca de 40m, constitui-se em aterro
compactado de solo residual areno-silto-argiloso de jazida de empréstimo, sendo a drenagem interna provida
por dreno de pé no trecho do leito do rio, conforme planta da Figura 1 que também apresenta a localização
dos piezômetros instalados.

Estaca 5

Figura 1. Barragem de Barreiras– planta com a estaca 5 destacada (Carvalho e Trindade, 1976 modificado)

A seguir fazemos um breve relato do histórico inicial do comportamento da barragem, conforme


Carvalho e Trindade (1976), o qual subsidiou as definições das características da modelagem numérica.
Após o reservatório atingir a cota 297,64m, em 1974, foram observadas as seguintes ocorrências: (a)
trinca longitudinal a 8m a jusante da crista, com extensão de aproximadamente 160m, (b) abatimento do
corpo da barragem e (c) trincas nas canaletas de drenagem em concreto, tendo sido tais objeto de pareceres
de honoráveis consultores como A. J. Costa Nunes e Jack Hilf para entendimento dos problemas e
recomendações de solução. As investigações geotécnicas realizadas então mostraram que as camadas do
aterro do maciço apresentavam características erráticas tanto quanto à resistência como quanto à natureza e
permeabilidade, assim como os ensaios de infiltração evidenciaram a existência de vazios dentro do maciço.
A causa mais provável para os vazios observados a montante teria sido o recalque de camadas mais
profundas mal compactadas quando de sua saturação, enquanto as camadas sobrejacentes com maior rigidez
e ainda não saturadas não acompanharam tais deformações devido ao efeito de arqueamento. Já no caso do

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talude de jusante, a trinca observada foi atribuída ao recalque diferencial devido ao colapso de camadas mal
compactadas. A pronta ação do DNOCS, executando o preenchimento dos vazios por injeções, evitou os
riscos de instabilização do maciço.

2 Objetivo

Além da própria realização da retroanálise de percolação da barragem de Barreiras, o trabalho teve por
objetivo demonstrar a viabilidade de se desenvolver tais estudos em barragens em operação a partir do
conhecimento de suas características geométricas e geotécnicas, do histórico da estrutura em apreço e dos
registros da instrumentação instalada.
Destaca-se a importância de se conhecer o histórico de ocorrências e intervenções na estrutura em
análise para incorporá-los ao modelo numérico, como a anamnese de um paciente.

3 Metodologia

As análises de percolação foram desenvolvidas utilizando o método dos elementos finitos do módulo
SEEP/W do pacote GeoStudio (GEO-SLOPE International Ltd. 2018).
Os estudos de retroanálise da barragem de Barreiras envolveram as seguintes etapas:
i. Montagem da geometria do modelo numérico para a estaca 5 do barramento - seção de maior altura,
Figura 1 - com base nas sondagens à percussão executadas nesta estaca, as quais mostraram um
maciço bastante heterogêneo tanto quanto à granulometria como à resistência. Como os dados
disponíveis não abrangiam toda a parte de montante extrapolou-se a geometria existente com base
nos padrões geométricos observados.
ii. Pesquisa bibliográfica para definição da faixa de parâmetros de permeabilidade compatíveis com os
materiais encontrados nas sondagens.
iii. Análises considerando meio isotrópico e limites superior e inferior das faixas de parâmetro
encontradas na bibliografia.
iv. Simulação das injeções de cimento no talude de montante em trechos da ombreira esquerda,
inclusive na região da estaca 5, para preencher vazios.
v. Ajuste fino dos parâmetros de permeabilidade;
vi. Avaliação comparativa dos erros em relação aos valores de poropressão registrados na
instrumentação para diferentes condições consideradas no modelo.

3.1 Elaboração do Modelo Geotécnico

A Figura 2 mostra a geometria do maciço segundo as sondagens a percussão executadas na estaca 5 do


barramento, onde pode se observar significativa heterogeneidade de materiais e características de resistência.
A cota do nível d’água do reservatório considerada nas análises foi 294,74m, correspondente às linhas
piezométricas registradas pela instrumentação e apresentadas na Figura 3.

3.2 Parâmetros dos Materiais

3.2.1 Parâmetros obtidos na literatura

Para a definição dos coeficientes de permeabilidade dos materiais foi efetuado, para cada tipo de
material, pesquisa bibliográfica visando definir a faixa de variação de k a ser considerada na retroanálise. Os
intervalos de valores obtidos são apresentados na Tabela 1.
Na Figura 4 é mostrado o modelo gerado para a estaca 5, no qual o maciço foi discretizado em cinco
materiais diferentes de acordo com sua granulometria.

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linha
piezométrica
da estaca 5

Figura 2. Barragem de Barreiras – seção Figura 3. Barragem de Barreiras – linhas


geotécnica na est.5 (Carvalho e Trindade, 1976) piezométricas registradas com destaque para a est. 5.
(Carvalho e Trindade, 1976 modificado)

Figura 4. Barragem de Barreiras – modelo na est. 5 gerado pelo SEEP/W Geoslope.

Tabela 1. Coeficientes de Permeabilidade (m/s)


Materiais Argila muito Argila Areia fina e Areia fina e
siltosa c/areia fina arenosa média siltosa média argilosa
Referências* e média
Boroumand e Baziar
(2009) ~ 2x10-7 2x10-7 ~ 8x10-5

Bowles (1979) 1x10-11 ~ 1x10-7 1x10-11 ~ 1x10-6 5x10-7 ~ 6x10-5


Bowles (1997) 1x10-10 ~ 1x10-7 2x10-10 ~ 5x10-8 1x10-9 ~ 1x10-5 6x10-10 ~ 1x10-7
Craig (2004) 1x10-11 ~ 1x10-9 1x10-9 ~ 1x10-5

Freeze et al (2017) - - 1x10-9 ~ 1x10-5 -

USBR (1987) 8x10-10 ~ 1x10-7 - 1x10-8 ~ 1x10-7 1x10-8 ~ 3x10-8


Terzaghi e Peck (1967) 1x10-9 ~ 1x10-7 ~ 1x10-9 1x10-7 ~ 1x10-5

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3.2.2 Parâmetros da Areia Fina e Média

A definição da permeabilidade da areia fina e média foi feita a partir de correlação empírica com a
faixa granulométrica do material. Considerou-se como faixa granulométrica desse material granular a curva
mais à direita da faixa granulométrica dos materiais da barragem de barreiras, excluindo-se a parcela de
pedregulhos (Figura 5). Como o material apresentava uma parcela considerável de finos e era pouco
uniforme para a aplicação da fórmula de Hazen (1911) apud USBR (2014) - k proporcional ao quadrado do
diâmetro efetivo do solo - foi utilizado o ábaco do USBR (2014) apresentado na Figura 6.

Figura 5. Barragem de Barreiras – Faixa Granulométrica dos Figura 6. Ábaco Permeabilidade x


materiais (Carvalho e Trindade, 1976 modificado) Diâmetro dos grãos
(USBR, 1987 modificado)

3.2.3 Parâmetros considerados no modelo numérico

Inicialmente foram efetuadas análises de percolação para os limites inferior e superior de


permeabilidade de cada material que constitui o maciço da barragem de acordo com os valores mínimo e
máximo levantados na literatura (Tabela 1), excetuando-se a areia fina e média para a qual foi, em ambas as
análises, considerado o valor obtido a partir da curva granulométrica, conforme discutido acima (item 3.2.2).
Essas retroanálises mostraram que os valores reais dos materiais do maciço da barragem de Barreiras
estariam mais próximos do limite superior da faixa de permeabilidade. Dessa forma foram efetuados ajustes
nestes valores buscando-se uma maior compatibilidade com os registros da instrumentação (piezômetros)
instalada, ou seja, que as diferenças entre os valores medidos e os resultantes da análise numérica fossem
menores. Na Tabela 2 são apresentados os três conjuntos de parâmetros de permeabilidade utilizados nas
análises numéricas de percolação, sendo: limite superior, limite inferior e valor ajustado.

Tabela 2. Coeficientes de permeabilidade (m/s) adotados nas análises numéricas - kmáx, kmín e kajustado
Materiais Argila muito
Argila Areia fina e Areia fina e Areia fina e
siltosa c/areia
arenosa média siltosa média argilosa média
Valor de k fina e média
k máx 1 x 10-7 1 x 10-6 1 x 10-5 1 x 10-6
-10 -9 -7
k mín 1 x 10 1 x 10 1 x 10 1 x 10-8 8 x 10-6
k ajustado 1 x 10-7 1 x 10-6 2,5 x 10-5 2 x 10-5

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3.3 Efeito do tratamento com injeções de cimento

Uma vez que os resultados obtidos ainda mostravam algumas incompatibilidades com os registros da
instrumentação foi-se buscar, no histórico da barragem, motivos que justificassem tais discrepâncias. Uma
análise do histórico da barragem mostrou que foram executadas injeções de cimento no talude de montante,
no trecho entre as estacas 2 e 5, para corrigir vazios que surgiram pelos motivos expostos no item 1,
conforme indicado na Figura 7.

(a) (b)
Figura 7. Barragem de Barreiras – Preenchimento de vazios com injeções de cimento - (a) planta; (b) seção
com indicação da geometria inferida dos vazios (Carvalho e Trindade, 1976).

As injeções de cimento no talude de montante foram simuladas no modelo numérico por regiões
através das quais não poderia haver fluxo, conforme mostra a Figura 8, tendo sido repetidas as análises
anteriormente descritas visando avaliar o impacto da presença dessas injeções no comportamento do fluxo no
interior do maciço.

Figura 8. Barragem de Barreiras – Modelo na Est.5 com intrusão de calda de cimento preenchendo vazios
gerado pelo SEEP/W Geoslope.

4 Resultados

A avaliação da compatibilidade entre as medições de campo e os resultados das análises numérica foi
efetuada a partir do cálculo do percentual, em módulo, da diferença entre os valor de poropressão medido e o
calculado em relação ao valor efetivamente medido em cada piezômetro da estaca 5 (P3, P7, P11 e P15). A
Figura 9 mostra, na forma de histograma, os erros percentuais das análises efetuadas, onde se pode observar
claramente o efeito dos valores das permeabilidades dos materiais e da inclusão do tratamento com injeção
de cimento.

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Figura 9. Barragem de Barreiras – Erro percentual entre os valores de poropressão medidos através de
instrumentação e calculados por análise numérica.

Observou-se, de uma forma geral, que o erro percentual médio entre os piezômetros é
significativamente menor para o limite superior dos parâmetros de permeabilidade (erro médio de 89%) em
relação ao limite inferior (erro médio de 446%) tendo-se, para os valores ajustados, erros ainda menores
(erro médio de 63 %), os quais apresentam, quando da consideração das injeções de cimento, redução
adicional dos erros (erro médio de 34%).
Em que pese ainda se observarem discrepâncias nos resultados obtidos, dadas as imprecisões dos
dados disponíveis, em especial quanto à geometria da injeção de nata de cimento no maciço, constata-se a
necessidade de se conhecer bem o histórico de uma estrutura para realizar uma retroanálise adequada.
Nas Figuras 10 e 11 são apresentadas as distribuições de poropressões no maciço, para os parâmetros
ajustados, nas condições com e sem injeções de cimento, onde se pode observar a alteração do regime de
fluxo decorrente da presença da calda de cimento, a qual pode também ser observada na linha piezométrica
correspondente à estaca 5, destacada em azul na Figura 3.

Figura 10. Barragem de Barreiras – Comportamento do regime de fluxo na análise sem calda de cimento

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Figura 11. Barragem de Barreiras – Comportamento do regime de fluxo na análise com calda de cimento

5 Conclusões

Guardadas as devidas proporções quanto à limitação das informações disponíveis, referentes a


estratigrafia, parâmetros de permeabilidade e geometria das injeções, os resultados mostraram que a
modelagem numérica permite simular o comportamento de uma estrutura de barramento para situações
diversas, como o caso estudado da barragem de Barreiras, sendo portanto uma ferramenta de inestimável
valor, tanto para avaliar o comportamento da instrumentação instalada como para subsidiar tomadas de
decisão no âmbito da segurança de barragens.
O trabalho permitiu concluir, por fim, que um aspecto de grande importância para se conceber um
modelo representativo e confiável é o conhecimento, não apenas dos parâmetros e geometria da estrutura,
mas também de seu histórico operacional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Boroumand, A., M. H. (2005) Determination of Compacted clay permeability by Artificial Neural Networks,
Ninth International Water Technology Conference, IWTC9, Sharm El-Sheikh, Egypt
Bowles, J. E. (1979) Physical and Geotechnical Properties of Soils, International Student Edition
McGrawHill, New York, NY, USA, 211 p.
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Carvalho, L.H. e Trindade, S.S.M. (1976) Tópicos de Geomecânica nº 25 – Desempenho e Recuperação da
Barragem Barreiras (Piauí) – Tecnosolo – Separata dos Anais do XI Seminário Nacional de Grandes
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Craig, R. F. (2004) Craig’s Soil Mechanics, Seventh Edition, Spon Press, New York, NY, USA, 32 p.
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Terzaghi, K., Peck, R. B. (1967) Soil Mechanics in Engineering Practice. Michigan University, United States,
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Caracterização Geotécnica de um Solo de Aterro de uma Obra da


Cidade de Caruaru-PE
Yago Ryan Pinheiro dos Santos
Doutorando em engenharia civil, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil,
yago_ryan@hotmail.com

Iara Gonçalves dos Santos


Engenheira Civil, Faculdade Uninassau, Caruaru, Brasil, goncalvesmiranda@hotmail.com.br

Clodoaldo Vieira da Silva Júnior


Engenheiro civil, Faculdade Uninassau, Caruaru, Brasil, clodoaldosilva2015junior@gmail.com

RESUMO: O solo é representado na construção civil como suporte para superestruturas ou como material para
obras de terra. Com o objetivo de conhecer o comportamento de um solo utilizado como material de aterro em
uma obra de um empreendimento comercial localizado na cidade de Caruaru-PE, este foi caracterizado através
de ensaios de laboratório, compreendendo ensaios de umidade natural, determinação da sua massa específica,
análise granulométrica, Limites de Atterberg, ensaio de dipersibilidade, compactação e resistência à
compressão simples, e posteriormente classificado de acordo com os sistemas mais usuais de classificação de
solos (Diagrama Textural, SUCS e TRB). Dentre os resultados obtidos, o solo apresentou umidade natural
baixa (3,43%), massa específica dos grãos de 2,55 g/cm³, umidade ótima de 12,5%, massa específica aparente
seca máxima de 1,89 g/cm³ e resistência à compressão simples de 171 kPa. Relacionando sua composição
granulométrica e os Limites de Atterberg, o solo classificou-se de acordo com o diagrama textural como uma
areia argilosa; de acordo com a carta de plasticidade (SUCS), este foi caracterizado como um argila inorgânica
de mediana plasticidade (CL) e, por fim, mediante a classificação TRB, o solo comportou-se como sendo da
classe A-2-7, apresentando características favoráveis à sua aplicação em campo.

Palavras-chaves: Caracterização geotécnica, Ensaios de laboratório, Compactação, parâmetros de resistência.

ABSTRACT: The soil is represented in civil construction as support for superstructures or as material for land
works. In order to know the behavior of a soil used as landfill material in a work of a commercial enterprise
located in the city of Caruaru-PE, it was characterized through laboratory tests, comprising natural moisture
tests, determination of its specific mass, granulometric analysis, Atterberg Limits, dipersibility test,
compaction and unconfined compressive strength, and subsequently classified according to the most common
soil classification systems (Textural Diagram, SUCS and TRB). Among the results obtained, the soil had low
natural moisture (3.43%), grain specific gravity of 2.55 g / cm³, optimum moisture content of 12.5%, maximum
dry specific gravity of 1.89 g / cm³ and unconfined compressive strength of 171 kPa. Relating its granulometric
composition and the Atterberg Limits, the soil was classified according to the textural diagram as clayey sand;
according to the plasticity letter (SUCS), it was characterized as an inorganic clay with medium plasticity (CL)
and, finally, by means of the TRB classification, the soil behaved as class A-2-7, presenting characteristics
favorable to its application in the field.

Keywords: Geotechnical Characterization, Laboratory tests, Compaction, Strength parameters.

1 Introdução

Os solos se formam por decomposição das rochas, as quais, por sua vez, apresentam-se próxima a
superfície da Terra, fraturadas e fragmentadas em razão da sua própria origem (esfriamento de lavas no caso
de rochas basálticas, por exemplo) ou em virtude de movimentos tectônicos (nos quartzitos, que são rochas
friáveis) ou ainda pela ação do meio ambiente (expansão e contração de térmica e outros) (MASSAD, 2016).

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Segundo Chiossi (2013), uma massa de solo é considerada como um conjunto de partículas sólidas
encerrando vazios ou interstícios de tamanho variado. Os vazios poderão estar preenchidos com ar ou com
água, ou parcialmente com ar e parcialmente com água.
Classificar corretamente o solo é uma tarefa complexa, porém necessária, pois através desta
classificação que se obtém parâmetros capazes de indicar se o material analisado possui propriedades
compatíveis a sua aplicação. A análise do solo para a engenharia tem como conceito prever a reação dos solos
e das rochas, decorrentes da ação do homem. Segundo Pinto (2006), o objetivo de classificação dos solos, sob
o ponto de vista da engenharia, é poder estimar o provável comportamento do solo, ou, pelo menos, orientar o
programa de investigação necessário para permitir a adequada analise de um problema. De acordo com Pinto
(2006), os diferentes solos usados em aplicações distintas na engenharia são agrupados naturalmente de acordo
com suas propriedades e, com isso, surgiram os sistemas de classificação de solos, que tem como objetivo
estimar o provável comportamento do solo ou ao menos orientar o programa de caracterização para que a
análise de um determinado problema seja coerente.
Visando a importância do tema, a finalidade deste trabalho é realizar a caracterização de um solo
utilizado para aterro em um empreendimento comercial em Caruaru – PE, através da realização de ensaios de
laboratório, posteriormente classificando-o e verificando suas características frente à sua aplicação.

2 Caracterização da Área de Estudo

O local de estudo deste trabalho compreende uma obra de um empreendimento comercial localizado no
município de Caruaru-PE, que faz parte da mesorregião do agreste do estado de Pernambuco. A área de estudo
localiza-se mais precisamente na Avenida João de Barros, Bairro Petrópolis, CEP 55030-280, com
coordenadas 8°17’44.72”S e 35°58’17.01”O (Figura 1), nas proximidades da Feira de Caruaru. O
empreendimento trata-se de um novo supermercado, cujo sistema construtivo compreende elementos pré-
moldados de concreto, com vedação em blocos de concreto e cobertura metálica e sistema de fundação
composto por sapatas isoladas. O programa de investigação do subsolo compreendeu a execução de oito furos
de sondagens (Figura 2) do tipo SPT, Standard Penetration Test, (SP-01; SP-01A; SP-02; SP-03; SP-03A; SP-
04 e SP-05) e seis furos de sondagem mista (SM-01; SM-02; SM-03; SM-04; SM-05 e SM-06) compreendendo
SPT e rotativa, esta última necessária devido ao terreno ser formado por maciço rochoso em profundidades
próximas à superfície.

Figura 1. Localização da área de estudo. Figura 2. Localização dos furos de sondagens


executados.

A Figura 3 apresenta um boletim de sondagem representativo do terreno da área de estudo, que mostra,
até uma profundidade investigada de 4,37 m, a ocorrência de aterro arenoso de média compacidade e com

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matéria orgânica na superfície, seguido de camadas de solos arenosos finos e médios e provável rocha de
coloração creme escura, típica da região. Além disso, foi verificado a presença de nível d’água próximo à
superfície (0,25 m). Devido às condições superficiais do terreno, e para concepção da obra, foi necessária a
regularização do terreno por meio da retirada de material original do local na porção superficial, além da
detonação de fragmentos rochosos que impossibilitaram a execução da fundação da edificação. Em seguida,
através dos serviços de terraplanagem, foi lançado uma camada de aterro composto por um solo (o qual será
caracterizado) com grau de empolamento de 1,5, cuja jazida (Figura 4a) está localizada no Bairro Auto do
Moura, também em Caruaru-PE, com coordenadas 8°18'18.57"S e 36° 1'54.14"O. o solo (Figura 4b) foi
disposto na área em questão em camadas de diferentes espessuras, posteriormente compactada em campo em
sua umidade ótima.

Figura 3. Boletim de sondagem SPT representativo do terreno de estudo.

(a) (b)

Figura 4. (a) Jazida onde foi retirado o solo para aterro e (b) solo de aterro.

3 Material e Métodos

3.1 Coleta da Amostra de Solo


A amostra de solo foi coletada na área de estudo no dia 12 de setembro de 2019, no local onde foi
utilizada como material de regularização e aterro. A mesma é do tipo deformada, e sua coleta foi feita com o

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auxílio de ferramentas manuais e posteriormente armazenada em sacolas plásticas e vedada para preservação
da umidade natural do solo, em quantidade necessária para realização dos ensaios previstos. Posteriormente, o
solo foi transportado para o laboratório onde foram realizados os ensaios.

3.2 Umidade Natural


A umidade natural consegue indicar as condições hídricas do solo em campo. Esta umidade foi
determinada utilizando o método de secagem em estufa por 24 horas. Com os valores do solo úmido, solo seco
e massa da água, determinou-se esta umidade, de acordo com a NBR 6457 (2016).

3.3 Massa Específica dos Grãos do Solo


Realizou-se o ensaio de acordo com a NBR 6457 (2016), onde colocou-se o solo em um picnômetro,
saturando-o com água destilada e dispondo-o em uma bomba de vácuo por 15 minutos, e posteriormente
completando o recipiente com água destilada. Registrando-se os valores necessários para a obtenção da massa
específica, utilizou-se duas amostras do mesmo solo para obtenção de uma média aritmética entre as duas
amostras.

3.4 Composição Granulométrica


A composição granulométrica do solo foi determinada por meio da NBR 7181 (2016) – Análise
Granulométrica. Visualmente foi detectado a presença de finos no material coletado e, por isso, foi realizado,
além da etapa de peneiramento, a etapa de sedimentação, utilizando o defloculante hexametafosfato de sódio.
Ao final, foi construída a curva granulométrica, indicando as porcentagens de pedregulho, areia, silte e argila
presentes no solo.

3.5 Limites de Atterberg


3.5.1 Limite de Liquidez
Este limite consiste no menor valor de umidade no qual o solo passa do seu estado plástico para o líquido,
tendo como relação a capacidade de absorção do solo. Ao preparar uma pasta com o solo adicionado de água
destilada de acordo com a NBR 6457 (2016), colocou-se a mesma no aparelho que Casagrande já calibrado, e
o ensaio realizou-se de acordo como se pede. Para cada ponto ensaiado, totalizando-se cinco pontos, registrou-
se o número de golpes para fazer a junção das bordas inferiores da ranhura. Ao estabelecer relações entre o
número de golpes e os teores de umidade, obtém-se o limite de liquidez referente a uma umidade aos 25 golpes.

3.5.2 Limite de Plasticidade


O solo ao encontrar-se no estado plástico perde a sua umidade, passando-se assim para um estado
semissólido, determinando então o limite de plasticidade. Após preparar o solo de acordo com o que se pede
na NBR 6459 (2016), o ensaio seguiu de acordo com a NBR 7180 (2016) – Solo – Determinação do limite de
plasticidade, obedecendo todos os critérios necessários para obter-se os resultados.

3.6 Ensaio de Dispersibilidade (Crumb Test)


Neste trabalho, este ensaio foi realizado com dois tipos de amostras, uma em seu estado natural e outra
com o solo já compactado na sua umidade ótima (com o intuito de analisar a dispersão do solo do modo em
que ele será empregado na obra, compactado). As amostras foram colocadas em béqueres separados que
estavam com cerca de 150 mililitros de água destilada, e as mesmas foram observadas pelo período de uma
hora. Após este período, pode-se avaliar em qual grau de comportamento o solo se encaixa de acordo com a
NBR 13601 (1996), classificação que vai do Grau 1 até o Grau 4.

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3.7 Ensaio de Compactação (Proctor Normal)


Neste ensaio, que seguiu as recomendações da NBR 7182 (2016), foi utilizada uma porção de solo já
destorroado que passou pela peneira 4,8 mm, e inicialmente adicionou-se 4% de água em relação à massa do
solo. A amostra foi moldada em cilindro como se pede e registrou os valores necessários. Retirou-se o solo
compactado do cilindro, cortando-o ao meio, retirou-se uma amostra de solo para análise de umidade. Este
processo repetiu-se por 4 vezes, adicionando-se água em quantidades 3%, 3%, 4%, 4% em relação a massa de
solo.
Com os dados colhidos, foi feita a curva de compactação que representa a massa especifica aparente
seca em função da umidade, em que o ponto máximo dessa curva representa a massa específica aparente seca
máxima, que corresponde a uma umidade ótima.

3.8 Ensaio de Resistência à Compressão Simples


Para este ensaio foi moldado um corpo de prova com dimensões 12 x 10 cm com o auxílio do aparato
de ensaio de compactação. A amostra foi coberta por um plástico filme e papel alumínio, posteriormente
armazenada em uma caixa vedada, para preservação de sua umidade ótima.
De acordo com a NBR 12770 (1992) – Solo coesivo - Determinação de resistência à compressão não
confinada, para a determinação RCS é necessário inicialmente calcular a deformação axial específica do corpo
de prova, para correção da amostra e em seguida, calculou-se a área da seção do corpo de prova corrigida;
assim, determinou-se a resistência do solo compactado.

3.9 Classificação do Solo


Após a realização dos ensaios de caracterização do solo, o solo foi classificado de acordo com três sistemas
de classificação usuais mais tratados dentro da engenharia geotécnica: a Carta de Plasticidade proposta por
Casagrande (1948) do Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS), o Diagrama Trilinear textural
do Bureau of Public Roads e o Sistema TRB/AASHTO.

4 Resultados e Análises
4.1 Umidade Natural
Ao analisar a amostra ensaiada de acordo com o previsto, obteve-se como resultado o valor de 3,43%,
configurando como uma amostra seca.

4.2 Massa Específica do Solo


Com a realização dos ensaios de massa específica dos grãos, obteve-se o valor médio de 2,548% g/cm3,
baseado na média de duas amostras do mesmo solo. Tal valor caracteriza um resultado satisfatório, visto que
a diferença entre os valores das duas amostras ensaiadas diferem-se, em termos numéricos, de um valor abaixo
de 0,02 g/cm3, como recomendado pela NBR que descreve o ensaio.

4.3 Composição Granulométrica


Com os resultados obtidos, determinou-se a curva granulométrica (Figura 5), classificando as
porcentagens de materiais de acordo com a tabela ASTM, com a utilização de defloculante na etapa de
sedimentação. Verifica-se que o solo possui predominância de areia (58,84%), sendo esta formada por 16,43%
de areia grossa, 28,64% de areia média e 13,78% de areia fina, seguido de argila (20,14%), silte (11,63%) e
por fim pedregulho (9,39%) em sua composição. Tal classificação foi considerada pelo fato dos sistemas de
classificação de solo também se basearem na classificação norte americana ASTM.

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AREIA
ARGILA SILTE PEDREGULHO
FINA MÉDIA GROSSA
PORCENTAGEM QUE PASSA (%)

100,0
90,0
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0 Solo
10,0
0,0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
DIÂMETRO DOS GRÃOS (mm) log
Figura 5. Curva de composição granulométrica do solo.

4.4 Limites de Atterberg


Para o limite de liquidez, que solicita que este ensaio seja repetido por cinco vezes, relatou-se durante
os cinco pontos ensaiados 35, 32, 27, 23 e 22 como números necessários de golpes para fazer-se junção das
bordas inferiores, obtendo-se assim os pontos do ensaio. O limite de liquidez do solo é o teor de umidade da
reta correspondente a 25 golpes, expresso em porcentagem, com um valor de LL igual a 40,68 ≅ 41,00%.
No que diz respeito ao limite de plasticidade (LP) do solo, os cilindros de solo foram facilmente
moldados, ganhando a forma desejada de forma rápida. Obteve-se, ao final, o valor de LP é igual a 20,95 ≅
21,00%. Ao obter os valores de limite de plasticidade (LP) e limite de liquidez (LL) do solo, pode-se
estabelecer o valor do índice de plasticidade do solo, que foi de IP = 20%, tratando-se de um solo muito
plástico; quanto ao seu índice de consistência (IC), seu valor é de 1,86, classificando o solo como uma argila
dura; com um índice de liquidez (IL) igual à -0,88, este pode ser caracterizado como um solo argiloso pré-
adensado.

4.5 Ensaio de Dispersibilidade (Crumb Test)


Observando o comportamento do solo em seu estado natural em meio aquoso, o ensaio de
dispersibilidade teve como resultado um solo de grau 2 com um comportamento levemente desprezível, onde
há indícios de turvação no fluído, próximo a superfície do torrão colocado na água destilada. Ao analisar a
segunda amostra, que se encontra em condições de campo, observou-se o desmoronamento da mesma no fundo
do béquer, mas sem ocorrer turvação na água, comportando-se conforme descreve o grau 3, com
comportamento moderadamente dispersível, em que se pode ser observado uma nuvem de partículas
suspensas, e finos no fundo do béquer.

4.6 Ensaio de Compactação (Proctor Normal)


Através dos resultados obtidos com o ensaio de compactação, pode-se ilustrar a curva de compactação
(Figura 6), onde o ponto mais alto encontrado nesta curva representa a massa específica aparente seca máxima,
que corresponde a umidade ótima do sistema. Com base nos dados do gráfico obteve-se o valor de 12,5% de
umidade ótima e 1,89 g/cm3 massa especifica aparente seca máxima. De acordo com tais resultados, o solo em
questão comporta-se como um solo de características mais granulares, necessitando de pouca água para atingir

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sua massa específica aparente seca máxima, o que de fato, é favorável para a sua aplicação em obras de aterro,
pois necessita-se de consumo de água menor se comparado com solos de características mais finas.

2,00
Massa Específica aparente Seca

1,90
Solo
1,80
(g/cm³)

1,70

1,60

1,50

1,40
W
0 2 4 6 8 10 12opt 14 16 18 20 22 24 26
Teor de Umidade (%)

Figura 6. Curva de compactação do solo.

4.7 Ensaio de Resistência à Compressão Simples


Durante o processo deste ensaio, foram catalogados os valores das cargas aplicadas em função do
deslocamento perpendicular (Figura 7). Durante o procedimento, observou-se o valor de carga máxima de
1,38kN e uma variação de deslocamento vertical máximo de 3,42 mm. Relacionando-se os valores observados,
obtém-se um resultado de RCS = 170,79 kPa ≅ 171,00 kPa.

Figura 7. Ensaio de resistência à compressão simples do solo compactado.

4.8 Classificação de Acordo com o Sistema de Classificação de Solos


De acordo com o diagrama Trilinear textural, o solo ensaiado classifica-se como uma areia argilosa.
Analisando-se os dados obtidos, na carta de plasticidade, pode-se classificar o solo ensaiado como uma argila
inorgânica de mediana plasticidade (CL), segundo seus valores de IP = 20% e LL = 41%. Através dos dados
obtidos, para a classificação TRB/AASHTO, o solo é classificado como do grupo A-2-7, que possui como
materiais constituintes, pedregulho e areia siltosa ou argilosa, e que sua classificação, ao ser utilizado como
material de subleito e aterros, é considerado um material de excelente a bom.

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5 Conclusão

De acordo com as investigações feitas, algumas conclusões foram desenvolvidas sobre o material.
Considerando as condições de campo, este atinge a sua massa especifica aparente seca máxima com pequenas
quantidades de água (12,5%); sua resistência à compressão simples apresentou valor de 171 kPa, resistência
considerável e dentro do esperado, visto que o mesmo não passou por nenhum processo de melhoramento
químico (apenas mecânico, com a compactação), para apresentar resistências superiores a esta. De acordo com
a carta de plasticidade de Casagrande, o solo classificou-se como uma argila inorgânica de média plasticidade
(CL). O solo também foi classificado como uma areia argilosa, segundo o Diagrama Trilinear Textural. Através
da classificação TRB/AASHTO, o solo é configurado na classe A-2-7. Neste cenário, o referido trabalho possui
dados que possibilitam a ampliação do conhecimento a respeito dos solos, possibilitando, posteriormente, que
estas informações sejam utilizadas para fins práticos na região.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 6457: Amostra de Solo – Preparação para Ensaios
de Compactação e Ensaio de Caracterização. Rio de Janeiro.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016) NBR 6459: Solo – Determinação do Limite de Liquidez.
Rio de Janeiro.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016) NBR 7180: Solo – Determinação do Limite de Plasticidade.
Rio de Janeiro.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 7181: Solo – Análise granulométrica. Rio de Janeiro.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 7182: Solo – Ensaio de Compactação. Rio de Janeiro.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (1992). NBR12770: Solo coesivo – Determinação da resistência à
compressão não confinada. Rio de Janeiro.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (1996). NBR 13601: Solo – Avaliação Da Dispersibilidade De
Solos Argilosos Pelo Ensaio De Torrão (Crumb Test) –Método De Ensaio. Rio de Janeiro.

Casagrande, A. (1948). Classification and identification of soils. Transactions, ASCE, vol. 113, 30p.

Chiossi, N. J. (2013). Geologia De Engenharia. 3ª Ed. – São Paulo : Oficina de textos.

Massad, F. (2016). Mecânica dos Solos Experimental/Faiçal Massad. – São Paulo : Oficina de Textos.

Pinto, C. S. (2006). Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 Aulas/3º edição Carlos Sousa Pinto. – São
Paulo: Oficina de Textos.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0157 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Análise Comparativa da Estabilidade de Barragens de Rejeitos Em


Modelos Representativos De Estudo Construídos Pelos Métodos
de Alteamento à Montante, à Jusante e Linha de Centro

Ana Luiza de Moura e Costa Bestel


Engenheira Civil, Universidade Positivo, Curitiba, Brasil, analuiza-mouracosta@hotmail.com

Letícia Santucci da Silva Reis


Engenheira Civil, Universidade Positivo, Curitiba, Brasil, leticiasantucci@hotmail.com

Pablo Fernando Sanchez


Engenheiro Civil, Universidade Positivo, Curitiba, Brasil, pablosanchez@up.edu.br

RESUMO: Barragens de rejeitos são estruturas de contenção que armazenam materiais sem valor econômico
provenientes dos processos de mineração. Devido aos relevantes danos ambientais que esses resíduos podem
causar, existe um alto risco associado a essa estrutura, e a necessidade de que sua estabilidade seja garantida
ao longo prazo. Neste contexto, este trabalho objetivou analisar os três métodos construtivos de barragens de
rejeitos – à montante, à jusante e linha de centro - em modelos representativos definidos para o estudo.
Foram analisadas quais as características que se diferenciam entre os métodos construtivos, quando em
conformidade com os critérios de estabilidade física da NBR 13028:2017, realizando-se simulações nos
softwares SEEP/W e SLOPE/W, visando simular o fluxo da água e as superfícies críticas de ruptura para
cada modelo de barragem. Através das análises e comparações entre os três métodos construtivos, a
barragem alteada à montante apresentou-se como melhor alternativa, embora seja o principal modelo
suscetível a rupturas. Dessa forma, verificou-se que além de analisar a estabilidade física através do fator de
segurança, deve-se também levar em consideração que os materiais presentes na barragem estão sujeitos a
incertezas como o fenômeno da liquefação, além da variabilidade existente nas propriedades dos rejeitos, a
qual não é considerada em análises determinísticas convencionais.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeito de Mineração, Barragens de Rejeitos, Segurança de Barragens, Análise de


Estabilidade de Taludes.

ABSTRACT: Tailings dams are containment structures that store materials with no economic value from
mining processes. Due to the relevant environmental damage that these residues can cause, there is a high
risk associated with this structure, and the need for its stability to be guaranteed over the long term. In this
context, this work aimed to analyze the three construction methods of tailings dams - upstream, downstream
and center line - in representative models that were defined for this study. The characteristics that differ
between the construction methods were analyzed, when in compliance with the criteria of physical stability
of NBR 13028: 2017, carrying out simulations in the SEEP/W and SLOPE/W software, aiming to simulate
the water flow and the critical rupture surfaces for each dam model. Through the analyzes and comparisons
between the three construction methods, the dam raised upstream presented itself as the best alternative,
although it is the main model susceptible to ruptures. Thus, it was found that in addition to analyzing
physical stability through the safety factor, it should also be taken into account that the materials present in
the dam are subject to uncertainties such as the liquefaction phenomenon, in addition to the existing
variability in the properties of the tailings, which is not considered in conventional deterministic analyzes.

KEYWORDS: Mining Tailings, Mining Tailings, Dam Safety, Slope Stability Analysis.

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1 Introdução

Barragens de rejeitos muitas vezes utilizam o próprio rejeito no seu processo construtivo, o que
acontece principalmente em barragens construídas pelo método de alteamento à montante. Além deste,
existem outros dois métodos construtivos, chamados de método de alteamento à jusante e método da linha de
centro (ESPÓSITO, 2000).
O método de alteamento à montante acaba sendo o mais utilizado pelas mineradoras, pois é
considerado o mais econômico, mais simples, e o que requer menor espaço físico (LAZARIM, 2015).
Porém, a utilização do mesmo é desaconselhada pelo fato dos seus alteamentos serem construídos sobre o
rejeito armazenado na barragem, considerado um material pouco consolidado, além de apresentar
dificuldades na implantação de um sistema de drenagem, o qual possui grande importância na estabilidade de
uma barragem, auxiliando no controle do fluxo interno da água (FILHO, 2004).
Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), o número de acidentes que envolvem esses tipos
de barragem vem crescendo. Nos últimos cinco anos, ocorreram dois grandes acidentes no Brasil com
barragens construídas por este método, sendo eles nas cidades de Mariana e Brumadinho, ambas no estado
de Minas Gerais, causando danos na economia, sociedade e fauna e flora das regiões.
Os requisitos para a elaboração de projetos de barragens de rejeitos, visando a prevenção de acidentes,
são tratados pela NBR 13028:2017, a qual apresenta coeficientes de segurança que devem ser respeitados, ao
realizar análises de estabilidade de taludes determinísticas.
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é analisar comparativamente a estabilidade à ruptura de
barragens de rejeitos construídas pelos três diferentes métodos, a fim de encontrar características geométricas
que as tornem seguras segundo o critério de estabilidade física para barragens de rejeitos, e possibilitem uma
maior compreensão sobre os processos de ruptura que podem ocorrer neste tipo de estrutura.

2 Fundamentação Teórica

2.1 Rejeitos de Mineração

O comportamento geotécnico dos rejeitos de mineração está diretamente relacionado às características


do mineral, à natureza e à maneira como o rejeito é depositado, e podem ser extraídos de diversos materiais,
como ferro, cobre ou granito (SOARES, 2010).
A granulometria tende a determinar o comportamento do rejeito. Os granulares possuem dimensão
acima de 0,074mm, sendo basicamente areia fina e média e os rejeitos com granulometria abaixo deste valor
são finos, constituídos basicamente de silte e argila (BOCCAMINO, 2017).
Quanto à deposição dos rejeitos, os granulares são depositados nas barragens por mecanismos
hidráulicos, enquanto a lama, caracterizada pelo rejeito fino junto à água, ocorre por sedimentação, após
lançada na barragem através de tubulações (SOARES, 2010). Devido à diferença de velocidade das
partículas presentes na lama, aquelas de maior peso tendem a se depositar próximas ao barramento, e as mais
leves são levadas pelo fluxo da água para o final da barragem (TOMÉ; PASSINI, 2018). Conforme o rejeito
vai sendo depositado na barragem, o processo de adensamento é iniciado, fazendo com que as partículas
percam água, passem a desenvolver tensão efetiva e então, comportem-se como um solo (ARAUJO, 2006).

2.2 Barragens de Rejeitos

As barragens de rejeitos são inicialmente construídas com um dique de partida constituído de solo
compactado e os alteamentos posteriores podem ser construídos com material de empréstimo, estéreis ou
deposição hidráulica de rejeitos (VICK, 1983 apud SABBO; ASSIS; BERTERQUINI, 2017).
Antes do rejeito ser transportado para seu destino final, pode ocorrer a separação entre as partículas
finas e as mais grossas. Os materiais mais grossos poderão ser utilizados para construir o maciço e os
alteamentos da barragem, e a fração mais fina será destinada para dentro dela. Após a descarga da lama para

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dentro da barragem, as partículas maiores irão se depositar próximas à contenção formando a praia de
rejeitos e as menores seguem para o lado oposto, formando a lagoa de decantação (SOARES, 2010).

2.2.1 Métodos Construtivos de Barragens de Rejeitos

Os métodos construtivos de barragens de rejeitos variam de acordo com o deslocamento do eixo da


barragem, conforme são alteadas. O método de alteamento à montante caracteriza-se por construir seus
alteamentos sobre a crista dos alteamentos anteriores e apoiados sobre a praia de rejeitos, deslocando o eixo
da barragem para montante do eixo do dique de partida, ou seja, para dentro da barragem (TOMÉ; PASSINI,
2018). Pela dificuldade na implantação de um sistema interno de drenagem para o controle do nível da água
neste método, uma solução utilizada para evitar a instabilidade é a utilização de um tapete drenante sob o
dique de partida, implantado antes da sua construção (DUARTE, 2008).
Diferentemente, o método de alteamento à jusante caracteriza-se por construir seus alteamentos na
direção oposta ao armazenamento do rejeito, ou seja, para fora da barragem (TOMÉ; PASSINI, 2018). Neste
método, o dique de partida possui um sistema interno de drenagem, constituído por uma parte vertical e outra
horizontal, que se estende até o final do maciço de contenção. Além disso, parte do dreno também é
implantada conforme os alteamentos são construídos (SOARES, 2010).
O método de alteamento linha de centro possui o comportamento estrutural semelhante ao método de
alteamento à jusante, porém o eixo da barragem se mantém junto ao eixo do dique de partida (SOARES,
2010). Neste método, também é possível implantar um sistema interno de drenagem, o qual inicia no dique
de partida, constituído de uma parte vertical e outra horizontal. Conforme os alteamentos são realizados, o
sistema vai sendo implantado (SILVA, 2010). Os três métodos estão representados abaixo, na Figura 1.

Figura 1. Métodos de alteamento A) montante B) jusante C) linha de centro

2.4 Segurança de Barragens

A avaliação dos riscos relacionados a barragens de rejeitos é realizada analisando-se as consequências


de uma possível falha e a probabilidade de ocorrência desta falha, confrontada com seus respectivos efeitos.
Dentre os modos de falhas mais comuns, podem-se destacar a obstrução da estrutura de vertente do rejeito,
rupturas ou quebras nas tubulações da estrutura, erosões provocadas por vazamentos nas tubulações que
conduzem rejeitos ou lançamento incorreto desses materiais, percolação da água pela face da barragem ou
ruptura devido ao cisalhamento (ANCOLD, 1999 apud OLIVEIRA, 2010).
Segundo a NBR 13028:2017 já citada, para a definição dos materiais de construção do maciço da
barragem, além das características geotécnicas convencionais dos materiais de empréstimo, deve-se também
avaliar o potencial de liquefação do material, quando da utilização de rejeitos de mineração.
Para se analisar a estabilidade da barragem, em cada etapa, deve-se verificar de forma isolada ou em
conjunto o maciço de partida e a fundação, os maciços de alteamento à montante, jusante ou linha de centro,
e o rejeito disposto. Além disso, devem também ser consideradas as possibilidades de ruptura local e global.
A NBR 13028:2017 também define fatores de segurança para estas barragens, e estes devem
considerar as condições de carregamento dos materiais envolvidos. Quando a barragem opera com rede de
fluxo em condição normal de operação e nível máximo do reservatório, este fator corresponde a 1,5.

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2.5 Trabalhos Correlatos

Rafael (2012) trabalhou em uma análise do potencial de liquefação de uma barragem de rejeito
estática ou dinâmica alteada à montante, com o auxílio do método empírico de Olson (2001). Foram
realizados três alteamentos, construídos com o próprio rejeito, além do dique de partida. As características
utilizadas na sua análise foram obtidas através de ensaios de compressão triaxial, realizados pelo próprio
autor. Como resultado, o mesmo obteve que a ocorrência de liquefação estática está descartada da estrutura,
sendo assim, são dispensáveis investigações posteriores sobre o comportamento do rejeito pós-liquefeito.
Araujo (2006) realizou seu trabalho a fim de contribuir para o estudo do comportamento de barragens
de rejeito de mineração de ferro. Primeiramente, estudou a percolação da água na barragem base, analisando
a influência do sistema de drenagem e concluindo que, quando existente, diminui a poropressão no talude de
jusante da barragem. Em seguida, obteve o deslocamento da água dentro da barragem, tendo assim, o fluxo
interno da água presente, e por fim, realizou a análise de estabilidade física na estrutura, utilizando três
diferentes métodos, indicando que a barragem em estudo se encontra em estado satisfatório de estabilidade.

3 Materiais e Métodos

3.1 Modelos Representativos de Estudo Adotados Para os Três Métodos Construtivos

Buscando entender as diferenças entre os métodos construtivos de casos gerais de barragens de


rejeitos, foram desenvolvidos três modelos diferentes, sendo um para cada método construtivo, mantendo-se
as características geotécnicas e geométricas iniciais, como a altura final da barragem, largura das cristas e a
inclinação dos taludes dos alteamentos, baseando-se nas barragens de Rafael (2012) e Araujo (2006).
Nos três modelos, a fundação das mesmas foi considerada como rígida, visando-se estudar o corpo da
barragem, composto por dique, alteamentos e reservatório, nos diferentes métodos construtivos. Portanto, as
características geométricas iniciais adotadas estão descritas no Quadro 1, a seguir.

BARRAGEM DIQUE DE PARTIDA ALTEAMENTOS


ALTURA TOTAL 85 m ALTURA 25 m ALTURA 10 m
COMPRIMENTO DA PRAIA DE REJEITOS 100 m LARGURA DA CRISTA 8m LARGURA DA CRISTA 5m
INCLINAÇÃO DA PRAIA DE REJEITOS 2% INCLINAÇÃO DO TALUDE 1V:1,5H INCLINAÇÃO DOS TALUDES 1V:1,5H
Quadro 1. Parâmetros geométricos adotados nos modelos dos três métodos construtivos.

Em relação aos parâmetros geotécnicos, foram adotados os valores de coesão (𝑐) e ângulo de atrito (ϕ)
dos materiais estudados por Rafael (2012), além dos pesos específicos (γ) e permeabilidades, pelo fato do
rejeito apresentar-se em estado compactado e disposto. Nos exemplos de aplicação, o rejeito compactado foi
utilizado para compor os alteamentos do método à montante, enquanto os métodos à jusante e linha de centro
tiveram seus alteamentos constituídos de solo compactado. O rejeito disposto compôs o material armazenado
nas barragens dos três diferentes métodos. O Quadro 2 apresenta os valores desses parâmetros.

COEFICIENTE DE
MATERIAL γ (kN/m³) c (kPa) ϕ (°)
PERMEABILIDADE (m/s)
SOLO COMPACTADO 21 20 36 5,8.10⁻⁶
REJEITO DISPOSTO 24 0 32 3,0.10⁻⁵
REJEITO COMPACTADO 24 0 36 3,5.10⁻⁷
Quadro 2. Parâmetros geotécnicos adotados nos modelos dos três métodos construtivos.

Para o modelo representativo de estudo da barragem alteada à montante considerou-se que a mesma
possui um tapete drenante sob o dique de partida, o qual drenará a água presente na lama internamente à
barragem, visto a dificuldade de implantação de um sistema de drenagem interno.
Já no modelo à jusante, para que ocorra a drenagem da barragem considerou-se um sistema interno, o
qual possui uma parte horizontal apoiada na fundação, uma vertical, internamente ao dique de partida, e

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outra inclinada, acompanhando os alteamentos conforme são construídos. Dessa mesma maneira, na
barragem alteada por linha de centro, considerou-se um sistema interno de drenagem composto por uma
parte horizontal e outra vertical, o qual também tem sua instalação conforme os alteamentos são construídos.

3.2 Análises de Estabilidade

As análises de estabilidade dividiram-se em duas partes, sendo primeiramente analisado o fluxo da


água existente junto ao rejeito no interior do reservatório e, em seguida, feita a análise de estabilidade física
para a determinação da superfície crítica de ruptura.

3.2.1 Análise de Fluxo

A água presente no interior do reservatório junto à lama tende a buscar um caminho livre para se
deslocar para fora da contenção. Visando encontrar este caminho em cada modelo de estudo, contou-se com
o auxílio da versão estudantil gratuita do software SEEP/W, da GeoStudio. Por meio dele, as barragens
foram modeladas conforme as características descritas no Item 3.1 referentes à permeabilidade dos materiais
e as condições de contorno para a análise de fluxo foram definidas, de forma a representar uma situação real.

3.2.1.1 Análise de Fluxo Nos Modelos de Estudo Para os Três Métodos Construtivos

As condições de contorno de entrada da água nos três modelos de estudos foram realizadas da mesma
forma, adotando-se o nível da água presente no reservatório como a cota máxima da barragem. Sendo assim,
considerou-se a energia total do fluido, ou carga total, igual a carga altimétrica de 85m, sendo essa a altura
final da barragem, à 100m de distância do alteamento mais alto, distância esta da praia de rejeitos.
Para o modelo de barragem alteada à montante, a condição de contorno de saída da água foi aplicada
na parte inferior do dique de partida onde está localizado o tapete drenante. A carga total, considerada como
a carga piezométrica, é nula por se tratar de um dreno, adicionada a carga altimétrica, também nula em
relação à fundação da barragem.
Nos modelos à jusante e linha de centro, a condição de contorno de saída da água encontra-se no
sistema interno de drenagem, considerando-se a carga total igual a soma das cargas altimétrica e
piezométrica, sendo a piezométrica nula por se tratar de uma região de drenos.

3.2.2 Determinação da Superfície Crítica de Ruptura dos Taludes

Para a verificação da superfície crítica de ruptura dos taludes dos três métodos construtivos, analisou-
se a estabilidade dos taludes das barragens através do método determinístico de Bishop Simplificado, com o
auxílio da versão estudantil gratuita do software SLOPE/W da GeoStudio. Foram variadas as geometrias dos
alteamentos das barragens de cada modelo, partindo das características iniciais adotadas no Item 3.1.
Devido a barragem alteada à montante possuir seus alteamentos construídos para dentro da contenção,
foi necessário tornar o talude final da barragem mais abatido que o adotado inicialmente. Para que isso fosse
possível, variou-se a largura da crista de cada alteamento, em medidas de 1m, até que o fator de segurança
mínimo correspondente a 1,5 fosse atingido.
Nos modelos alteados à jusante e linha de centro, para atingir este fator de segurança, mantiveram-se
as dimensões das cristas dos alteamentos e variou-se a inclinação apenas do talude do último alteamento para
fora da barragem, o que consequentemente alterou a inclinação final da barragem. Assim, as inclinações
variaram iniciando em 1V:1,5H, em seguida 1V:1,51H, 1V:1,52H e assim por diante até encontrar a
inclinação necessária que garantisse a estabilidade.

4 Apresentação e Análise dos Resultados

4.1 Apresentação dos Resultados

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A Figura 2 apresenta os três modelos representativos de estudo na situação em que se encontram


estáveis. Em cada um deles, é possível visualizar a disposição da linha freática e a superfície crítica de
ruptura. No modelo alteado à montante, representado na Figura 2A, o 𝐹𝑆 mais próximo a 1,5 encontrado
corresponde a 1,54. Para tal, cada alteamento permaneceu com 10m de altura e inclinação dos taludes igual a
1V:1,5H, alterando-se para 6m a largura da crista. A barragem ao todo apresentou inclinação final de 1V:2H.
No método de alteamento à jusante, representado na Figura 2B, para que o fator mínimo de segurança
fosse atingido, a barragem necessitou de uma inclinação final diferente da adotada inicialmente. Nesta
análise, o 𝐹𝑆 encontrado foi igual a 1,51. Para tal, cada alteamento permaneceu com as dimensões
inicialmente adotadas, sendo, 10m de altura e 5m de largura de crista, enquanto a barragem ao todo
apresentou uma inclinação final de 1V:1,7H.
Por fim, representado pela Figura 2C, o modelo alteado por linha de centro teve como resultado para
que a barragem atingisse a estabilidade, as mesmas características do modelo alteado pelo método à jusante.
Dessa forma, o valor do coeficiente de segurança encontrado também foi igual a 1,51 e as características
finais deste modelo se mantiveram com 10m de altura e 5m de largura de crista, enquanto a barragem ao
todo apresentou uma inclinação final de 1V:1,7H.

Figura 2. Modelos estáveis A) montante B) jusante C) linha de centro

4.2 Análise Comparativa

A partir dos resultados e geometrias finais encontradas nas análises de estabilidade dos três métodos
construtivos, montou-se o Quadro 3. Este, apresenta também o volume de material compactado calculado
por metro de comprimento da barragem que seria utilizado caso as mesmas fossem executadas.

MÉTODO FATOR DE INCLINAÇÃO MATERIAL COMPACTADO


CONSTRUTIVO SEGURANÇA FINAL Rejeito (m³/m) Solo (m³/m)
Montante 1,54 1V:2H 1.260,0 1.137,5
Jusante 1,51 1V:1,7H 0,0 11.985,0
Linha de Centro 1,51 1V:1,7H 0,0 7.485,0
Quadro 3. Quadro comparativo dos resultados.

4.3 Análise dos Resultados

Ao analisar os valores do Quadro 3, verifica-se que os modelos alteados à jusante e linha de centro
possuem seus fatores de segurança iguais, enquanto o volume de material utilizado na construção da
barragem alteada à jusante é aproximadamente 60% maior que o volume utilizado na barragem alteada por
linha de centro, concluindo que economicamente, em questão de tempo e volume de material, a utilização do
método de alteamento por linha de centro se sobressai.
Contudo, ao se comparar os três métodos construtivos, levando-se em consideração que todos
respeitam o fator de segurança mínimo e encontram-se estáveis para a verificação à ruptura dos taludes
conforme a NBR 13028:2017, o método à montante se destaca, visto que utiliza menor quantidade de solo
compactado, além de aproveitar o rejeito para a construção dos seus alteamentos, fazendo com que seu custo
final seja reduzido quando comparado aos demais métodos de construção. Porém, este tipo de barragem é o
responsável por diversos casos de ruptura, como os exemplos descritos na Introdução deste trabalho.
Assim, verifica-se a necessidade da investigação de outras possíveis causas para essas rupturas, e
dentre elas pode-se citar o fenômeno da liquefação e a incerteza nos parâmetros adotados para as análises

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determinísticas, as quais utilizam valores médios, e, dadas as diferentes composições dos solos e
principalmente dos rejeitos, esses dados podem não ser os mais representativos.
O fato de que as barragens destinadas à contenção de rejeitos são construídas ao longo de vários anos,
torna-se um desafio no controle do processo construtivo, visto que o material usado pode sofrer variações, da
mesma forma que a mão de obra pode variar com o passar do tempo, o que também altera as características
destes materiais.
Além disso, de acordo com os processos construtivos, barragens alteadas à montante, nas quais o
rejeito é utilizado na construção do maciço, sendo apenas depositado e não compactado tendem a apresentar
maior variabilidade em suas características, uma vez que o processo de compactação é controlado e
verificado, reduzindo a quantidade de vazios, tornando o material mais denso e homogêneo. Isso acaba por
diminuir a variabilidade dos parâmetros de coesão e ângulo de atrito, e, com isso, as incertezas quanto às
propriedades do material. Nesse sentido, barragens alteadas à jusante e por linha de centro, por serem
construídas com material compactado, apresentam menor variabilidade e consequentemente, maior
confiabilidade nos valores médios das propriedades consideradas.
Através de uma curva gaussiana, é possível descrever os erros experimentais que podem surgir, por
exemplo, devido às variações citadas acima. Essa distribuição normal é perfeitamente simétrica e se baseia
nos parâmetros de média e desvio padrão que determinam uma amostra. Em situações que possuem uma
grande incerteza como é o caso das barragens construídas de rejeito, o desvio padrão é maior se comparado
às barragens alteadas com solo compactado, sendo também maior, a probabilidade de instabilidades na
estrutura.
Em um estudo de probabilidade de ruptura, a margem de segurança corresponde à diferença entre a
resistência disponível do material (R) e a carga solicitante a qual o sistema é exposto (S), conforme
representado na Figura 5.

Figura 5. Exemplificação da variabilidade de tensões solicitantes e resistentes.

Ao se considerar valores médios para a resistência disponível e carga solicitante, espera-se que a
tensão resistente do material supere a carga que atua. Quando a variabilidade do material é grande,
observando-se a Figura 5, pode haver uma situação em que elas se igualam, representado pelo ponto C, ou
um momento em que a carga que atua é maior que a resistente, configurando-se uma possível ruptura.
Constata-se então, que a consideração de parâmetros médios pode levar a incertezas na análise de
estabilidade. Dessa forma, a análise que define e considera o fator de segurança igual a 1,5 para a verificação
da estabilidade das barragens não é suficiente para classificá-la como estável, sendo necessário levar em
consideração também, a probabilidade do risco e de uma possível falha ocorrer, a partir de análises
probabilísticas.

5 Considerações Finais

Verificou-se que para a análise do fator de segurança, todos os métodos podem ser estáveis, desde que
sejam construídos com suas particularidades necessárias, diferenciando-se na geometria e quantidade de
material utilizado na construção. A partir disso, verificou-se que o método construtivo de alteamento à
montante é o mais vantajoso dentre os três, uma vez que utiliza em sua maioria rejeito compactado,
diminuindo o custo e aproveitando para a construção o material que seria descartado.
Devido à grande quantidade de acidentes por ruptura de barragens de rejeitos, principalmente as
construídas por este método, este trabalho também mostrou que somente as análises de fator de segurança

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são insuficientes para classificar uma barragem como estável, visto que, o fator de segurança encontrado é
satisfatório, mas a barragem ainda sofre com instabilidades. Além disso, as barragens alteadas à montante
estão sujeitas a incertezas maiores quando comparadas às barragens alteadas à jusante e por linha de centro.
Dessa forma, considera-se imprescindível que sejam feitas análises complementares, como as análises
de suscetibilidade do rejeito à liquefação e também probabilísticas, que levem em consideração a
variabilidade dos parâmetros envolvidos, sugerindo-se para trabalhos futuros o desenvolvimento dessas
análises, além de análises tensão deformação e que indiquem o potencial de liquefação dos materiais
considerados.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE MINERAÇÃO (ANM). Nota Técnica nº5/2019: Barragens Montante. 2019.
ARAUJO, C. B. Contribuição Ao Estudo Do Comportamento De Barragens De Rejeito De Mineração De
Ferro. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro – RJ. 2006.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13028: Mineração - Elaboração e
apresentação de projeto de barragens para disposição de rejeitos, contenção de sedimentos e reservação
de água - Requisitos. Rio de Janeiro. 2017.
BOCCAMINO, G. D. Desenvolvimento De Geometria Para Empilhamento De Rejeito Desaguado De
Minério de Ferro – Estudo De Caso Para Rejeitos Gerados Na Instalação De Tratamento De Minérios
Itabiritícos (ITM-I) em Operação na Mina Do Pico. Dissertação de Mestrado em Geotecnia. Escola de
Minas. Universidade Federal de Ouro Preto. Ouro Preto – MG. 2017.
DUARTE, A. P. Classificação Das Barragens De Contenção De Rejeitos De Mineração e De Resíduos
Industriais No Estado De Minas Gerais em Relação ao Potencial de Risco. Dissertação de Mestrado.
Escola de Engenharia. Universidade Feral de Minas Gerais. Belo Horizonte – MG. 2008.
ESPÓSITO, T. J. Metodologia Probabilística e Observacional Aplicada a Barragens de Rejeito Construídas
por Aterro Hidráulico. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília. Brasília – DF. 2000.
FILHO, L. H. A. Avaliação do Comportamento Técnico de Barragens de Rejeito de Minério de Ferro
Através de Ensaios de Piezocone. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil. Universidade Federal de
Ouro Preto. Ouro Preto – MG. 2004.
LAZARIM, T. P. Espalhamento de Rejeitos Em Cenários de Ruptura De Barragens – Simulações em
Modelo Reduzido e Proposta de Método Para Avaliação De Área Atingida. Dissertação de Mestrado.
Acervo Digital UFPR. Universidade Federal do Paraná. Curitiba – PR. 2015.
OLIVEIRA, J. B. V. R. Manual de Operação de Barragens de Contenção de Rejeito Como Requisito
Essencial ao Gerenciamento Dos Rejeitos e à Segurança Das Barragens. Dissertação de Mestrado em
Geotecnia. Escola de Minas. Universidade Federal de Ouro Preto. Ouro Preto – MG. 2010.
SABBO, G. R.; ASSIS, M. M. G.; BERTERQUINI, A. B. T. Barragens De Retenção de Rejeitos de
Mineração. Revista Engenharia em Ação UniToledo. Universidade Tecnologia Federal do Paraná. Toledo
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SILVA, W. P. Estudo de Potencial de Liquefação Estática de Uma Barragem de Rejeito Alteada Para
Montante Aplicando a Metodologia de Olson (2001). Dissertação de Mestrado em Engenharia
Geotécnica. Universidade Federal de Ouro Preto. Ouro Preto – MG. 2010.
SOARES, L. et al. Tratamento de Minérios: Barragem de Rejeitos. Rio de Janeiro, RJ: CETEM/MCT, 2010.
TOMÉ, R.; PASSINI, M. L. Barragens de Rejeitos de Mineração: Características do Método de Alteamento
Para Montante Que Fundamentaram a Suspensão de Sua Utilização em Minas Gerais. Ciências Social
Aplicas em Revista – Unioeste/MCR. 2018

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Análise Numérica da Estabilidade de Taludes Empregando


Estacas Como Elemento de Reforço
Paula Tannús Resende
Mestranda em Engenharia Civil, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil,
paula.resende@ufu.br

João Felipe dos Santos


Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil,
engcivil.joaofelipe@gmail.com

Jean Rodrigo Garcia


Professor doutor, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil, jean.garcia@ufu.br

RESUMO: Neste artigo analisa-se a estabilidade de taludes reforçados com estacas considerando a
variabilidade dos parâmetros da geometria (comprimento e espaçamento) e posição das estacas, no intuito de
avaliar o comportamento e a variação do fator de segurança com a implementação desse reforço em diferentes
situações. Para tanto, foram empregadas ferramentas computacionais nas análises, por meio dos softwares
Slide e RSpile, que utilizam como base o método do equilíbrio limite para verificar a estabilidade de talude e
as curvas p-y para análise das estacas, respectivamente. Ao modelar a introdução de estacas no talude, notou-
se que esta prática aumenta a estabilidade do mesmo, além de se apresentar como uma alternativa tecnicamente
viável para que o talude atinja um fator de segurança normativamente adequado . Verificou-se ainda que a
localização ótima para a estaca nos casos analisados situa-se próxima a cristã do talude e que quanto maior o
espaçamento entre estacas, menor o efeito para melhoria da estabilidade do talude. Conclui-se que quanto
maior o comprimento da estaca, maior a estabilidade do talude, porém, neste caso, a partir dos 10 m de
comprimento, o aumento do fator de segurança foi pouco significativo.

PALAVRAS-CHAVE: Talude reforçado, estacas como elemento de reforço, esforço horizontal,


estabilidade de taludes.

ABSTRACT: This article analyzes the stability of pile-reinforced slopes considering the variability of the
geometry parameters (length and spacing) and pile position, in order to evaluate the behavior and safety factor
variation with the implementation of this reinforcement in different situations. With this aim, computational
tools were employed in the analyzes, by the use of Slide and RSpile software, which use the limit equilibrium
method to verify slope stability and p-y curves for pile analysis, respectively. When modeling the introduction
of piles in the slope, it was noted that this practice increases the stability of the slope, and presents itself as a
technically viable alternative for the slope to reach a normatively adequate safety factor. It was also observed
that the optimal location for the pile in the analyzed cases is close to the crest slope and that the greater the
spacing between piles, the less the effect in the improvement of the slope’s stability. It is concluded that the
longer the pile length, the greater the slope stability, however, in this case, from 10 m of length, the increase
in the safety factor was not very relevant.

KEYWORDS: Reinforced slope, piles as reinforcement element, horizontal effort, slope stability.

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1 Introdução

O reforço de taludes com estacas é uma técnica utilizada a décadas e mostra ser uma solução eficiente
para o problema de encostas instáveis e com perigo de deslizamentos. O dimensionamento destas estruturas
deve satisfazer a estabilidade interna representada pela resistência ao momento fletor e deflexão da estaca e
ainda garantir a estabilidade global do talude. A interação entre estaca e solo e o comportamento do sistema é
influenciado por vários fatores, tais como as características da estaca e os parâmetros do solo, o que aumenta
a complexidade para entendimento do fenômeno. As causas que têm levado à ruptura de talude possuem
diversas origens, tais como: pluviosidade, inclinação excessiva do talude e as construções a montante do talude
que geram sobrecargas.

O Método do Equilíbrio Limite é amplamente utilizado para o projeto deste tipo de reforço, no qual o
efeito das estacas é considerado como uma força aplicada contra o empuxo ativo. Neste artigo, primeiramente
foi definida uma geometria ao talude em que o fator de segurança (FS) para esta situação fosse deficitário
(1<FS<1,5). Em seguida, foram analisadas diversas situações variando-se a posição do reforço e as
características geométricas da estaca. Dessa forma, foi possível avaliar o efeito da inserção do reforço no fator
de segurança do talude, ou seja, na estabilidade global do talude.

2 Curvas p-y

Segundo Reese, Van Impe e Holtz (2002), o dimensionamento de uma estaca ou grupo de estacas
submetido à forças laterais exige uma análise diferencial não linear que pode ser solucionada através de
métodos numéricos. O problema envolve a interação entre a estaca e o solo pois a resistência do solo depende
do deslocamento horizontal da estaca (Figura 1). Neste modelo, a estaca é considerada como um elemento
livre e o solo é simulado como uma série de molas de Winkler. Ao sofrer um deslocamento (y), o solo responde
com uma resistência (p), conforme Figura 2, em que o módulo de elasticidade (Epy) é dado pela inclinação da
reta secante no gráfico da curva p-y.

Figura 1. Distribuição de tensões em uma estaca submetida a esforços horizontais. (Reese, Van Impe e Holtz,
2002)

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Figura 2. Típica curva p-y. (Adaptado de Reese, Van Impe e Holtz, 2002).

De acordo com Welch e Reese (1972), para solos argilosos sem presença de lençol freático como no
caso deste artigo, a resistência última do solo (pult) pode ser calculada como o menor valor entre os resultados
das equações (1) e (2)

' J (1)
pult = (3+ z + z ) ca b
ca b

(2)
pult =9 cu b

Em que:
γ’ é o peso específico efetivo [kN/m³];
z é a profundidade [m];
ca é a força cisalhante não drenada média até a profundidade z [kPa];
J é um fator determinado experimentalmente por Matlock que vale 0,5;
b é o diâmetro da estaca [m];
cu é a força cisalhante não drenada na profundidade z [kPa];

3 Estabilidade de taludes com estacas: Método do Equilíbrio Limite

Os efeitos do reforço do talude com estacas variam de acordo com o espaçamento, profundidade e posição
das estacas. Ito e Matsui, (1975) propuseram um método para a análise da força lateral que age nestas estacas
em função das características do solo, diâmetro e espaçamento das estacas e concluíram que, nos casos de
solos coesivos, a força de resistência do solo (p) é indicada pela equação (3).

 D D − D2  
p( z ) = c  D1 (3log 1 + 1 tan ) − 2( D1 − D2 )  +  z ( D1 − D2 ) (3)
 D2 D2 8 
Em que:
c é a coesão do solo;
D1 é a distância entre eixos das estacas;
D2 é a distância entre estacas;
γ é o peso específico do solo e
z é a profundidade referenciada a partir da superfície.

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Para o sistema talude com estacas, o fator de segurança é definido conforme equações (4) e (5). A parcela
do momento referente a resistência da estaca pode ser obtida ao multiplicar-se a resistência obtida através da
equação (3) pelo raio da superfície de ruptura.

Momentos resistentes do solo


F= (4)
Momentos de instabilidade - Momento gerado pelo reforço

Resistência ao cisalhamento
F= (5)
Força de cisalhamento requerida para equilíbrio - Resistência do reforço

4 Situação inicial e simulações

A geometria inicialmente adotada para o talude com inclinação 1:1,5 (H:V), resultou em um fator de
segurança deficitário (FS=1,2), ou seja, conisdera-se o talude estável pois o fator de segurança é maior que 1,
porém em desacordo com a ABNT NBR 11682:2009, que estabelece um valor mínimo de 1,5 para este fator
(Figura 3). O maciço do talude é constituído por um solo argiloso com peso específico de 16 kN/m³, coesão
de 23 kPa e ângulo de atrito de 15º. Nestas circunstâncias, o fator de segurança pelo Método de Fellenius é
1,204.

Figura 3. Condição do talude sem reforço.

Em seguida, para reforçar o talude foram introduzidas estacas com 50 cm de diâmetro, variando-se os
parâmetros geométricos (Figura 4). O comprimento das estacas (L) variaram de 3 a 20 m; as espaçamento
entre eixos de estaca (D1) analisadas foram de 2, 3, 4 e 5 vezes o diâmetro da estaca e as distâncias medidas
a partir do pé do talude (X) analisadas foram de 3,4 m, 4 m, 5 m, 6 m e na crista do talude a 6,67 m. O Método
utilizado foi o de Bishop e a zona ativa foi dividida em 10 lamelas.

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Figura 4. Parâmetros geométricos do talude com reforço.

5 Resultados e análises

5.1 Comprimento da estaca

O comprimento da estaca (L) foi variado de 3 m a 20 m e os resultados dos fatores de segurança


calculados pelo Método de Bishop estão indicados na Figura 5. Para esta análise, foi fixado espaçamento entre
eixos de duas vezes o diâmetro e posição da estaca a 4 m do pé do talude. Nota-se que, as estacas até 5 m não
contribuem para a estabilidade do talude. Isto acontece pois estas estacas estão dentro da zona ativa (dentro
do limite da superfície de ruptura). Para comprimentos de estaca de 5 a 10 m, o fator de segurança se eleva
significativamente com o aumento do comprimento da estaca. Já para comprimentos a partir de 10 m, o
aumento do tamanho da estaca passa a não aumentar significativamente a estabilidade do talude.

Figura 5. Variação do fator de segurança com o comprimento da estaca.

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5.2 Espaçamento e posição da estaca

Os fatores de segurança calculados pelo Método de Bishop para uma estaca com diâmetro de 0,5m e
comprimento de 10 m em função do espaçamento entre estacas e posicionamento no talude são apresentados
na Figura 6. Observa-se que, nestas condições, o aumento do espaçamento das estacas diminuiu em 10% o
fator de segurança. Ou seja, verificou-se um aumento do fator de segurança com a diminuição do espaçamento
entre estacas. Isto pode ser compreendido por meio da equação (3), em que a distância entre estacas (D2)
aparece como denominador da função que define a força exercida pelo solo na estaca (p). Como esta força
contribui para aumentar os momentos resistentes, era esperado que o fator de segurança diminuísse com o
aumento do espaçamento entre estacas.

Figura 6. Fatores de segurança em função do espaçamento e posição das estacas no talude.

A distância da estaca até o pé do talude está representada como X na Figura 4. Observa-se que, para
estacas com espaçamento entre eixos igual 2 e 3 vezes o diâmetro da estaca, uma estaca próxima a crista do
talude (distância do pé do talude = 6) resulta em melhor estabilidade, porém o fator de segurança sofre uma
diminuição quando a estaca é posicionada exatamente na crista do talude. Essa constatação também foi
anteriormente verificada por Cai e Ugai (2000), Zhang e Wang (2017), Hassiotis et al. (1997), Ausilio et al.
(2001) e Ito T, Matsui T (1979). Já para estacas com espaçamento (D1) entre eixos de 4 e 5 vezes o diâmetro,
quanto mais próxima da crista do talude, menor a estabilidade.

Figura 7a. Superfície crítica de ruptur a X=6 m Figura 7b. Superfície crítica de ruptura X=6,67 m

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5.3 Análise dos esforços e deslocamentos na estaca

Com base nos resultados acima, foi escolhida a situação com melhor custo benefício dentre as quais o
fator de segurança obtido foi próximo a 1,5. A distância do pé do talude escolhida foi 6 m pois esta se mostrou
a distância ótima pelas análises realizadas. Optou-se por um espaçamento de 2 vezes o diâmetro da estaca pois
foi o diâmetro dentre os analisados que resultou em maior fator de seguraça e um comprimento de 15 m.

O gráfico de deslocamentos e os diagramas de esforço cortante, esforço axial e momento fletor da


situação acima estão representados na Figura 8. Nota-se que os esforços máximos ocorrem a uma profundidade
de 7,115, que corresponde ao local onde a estaca intercepta a superfície de ruptura. Para esta situação, o
deslocamento máximo é de 2,5 cm, pois, durante a modelagem, optou-se por utilizar este deslocamento como
o máximo. A força axial máxima é 180,0 kN, a força cortante máxima é 76,5 kN e o momento fletor máximo
é 80,6 kNm.
Profundidade (m)

Figura 8. Deslocamento e força axial ao longo da estaca

6 Conclusão

Pelas análises realizadas neste artigo, pode-se concluir que quanto maior o comprimento da estaca de
reforço, maior a estabilidade do talude, porém a partir de 10 m de comprimento, para este caso, o FS não
apresenta aumento significativo. Outro aspecto a se destacar é que quanto maior o espaçamento entre estacas,
menor a efetividade do reforço. Observou-se também que, quando analisamos a posição das estacas no talude
pelos Métodos de Equilíbrio Limite, a posição do reforço tem seu efeito otimizado próximo a crista do talude,

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porém não exatamente nela. Conclui-se ainda que os esforços máximos na estaca estão localizados na
profundidade onde a estrutura intercepta a linha de ruptura

AGRADECIMENTOS

Agradece-se à Universidade Federal de Uberlândia pela aquisição das licenças dos softwares utilizados
nesta trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Ausilio, E.; Conte, E.; Dente, G. (2001). Stability Analysis of Slopes Reinforced With Piles. Computers and
Geotechnics, v. 28, n. 8, p. 591–611.
Associação Brasileira De Normas Técnicas (2009). NBR 11682. Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro.
Cai, F.; Ugai, K. (2000) Numerical analysis of the stability of a slope reinforced with piles In: Soils and
Foundations. 2000.
Hassiotis, S.; Chameau, J.; Gunaratne, M. (1997). Design method for stabilization of slopes with piles. Journal
of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering.
Ito T, Matsui T, H. (1979). Design method for the stability analysis of the slope with landingpier. Soils and
Foundations.
Ito, T.; Matsui, T. (1975) Methods to estimate lateral force acting on stabilizing piles. In: Soils and
Foundations.
Reese, L.; Van Impe, W.; Holtz, R. (2002) Single Piles and Pile Groups Under Lateral Loading.
Welch, R.; Reese, L. (1972). Lateral Load Behavior of Drilled Shafts. Research Report Number 89-10 - The
Texas Highway Department, n.89, p.1–231, Disponível em:
<https://library.ctr.utexas.edu/digitized/texasarchive/phase1/89-10-chr.pdf>.
Zhang, G.; Wang, L. (2017). Simplified Evaluation on the Stability Level of Pile-reinforced Slopes. Soils and
Foundations, v. 57, n. 4, p. 575–586. The Japanese Geotechnical Society. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1016/j.sandf.2017.03.009>.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0159 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Execução de Pavimento Flexível : Estudo de Caso Do Forte Santa


Bárbara
Luis Felipe dos Santos Ribeiro
Instituto Federal de Goiás – IFG câmpus Formosa, Brasil, estudanteluis12@gmail.com

André Augusto Nóbrega Dantas 1


Instituto Federal de Goiás – IFG câmpus Formosa, Brasil, andrenobregadantas@yahoo.com.br

Luís Eduardo Correia André


Marina do Brasil, Brasília-DF, eduardocorreia@hotmail.com

RESUMO: A cidade de Formosa/Goiás/Brasil apresenta em sua área urbana um pavimento precário, com
surgimento prematuro e recorrente de patologias. Em contrapartida, nos arredores da cidade se encontra o Forte
Santa Bárbara, uma área militar que apresenta um pavimento de qualidade, com pouco surgimento de
patologias e grande qualidade de rodagem. Em se tratando de obras de pavimentação, o exército brasileiro é
tido como uma referência nacional. O presente estudo é resultado da análise de uma obra de pavimentação
executada pelo Exército Brasileiro, no Forte Santa Bárbara. A obra em questão utiliza a tecnologia de
pavimento flexível com camada de revestimento do tipo concreto asfáltico. A obra foi executada pelo 2º
Batalhão Ferroviário (Batalhão Mauá) sobre acompanhamento da comissão regional de obras da 11° região
militar (CRO-11). Na execução foram seguidos os padrões de qualidade do exército brasileiro, que é
especialista em construção de rodovias e ferrovias a mais de oito décadas. Foram analisados os parâmetros
técnicos e executivos utilizados, traçando um comparativo com pavimentos de mesma natureza executados na
cidade de Formosa e as prescrições das normas nacionais. Confirmando a qualidade do pavimento, são
elencados os motivos técnicos que fazem o Forte Santa Bárbara se sobressair em relação ao pavimento
executado na área urbana da cidade.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimentação asfáltica, pavimento flexível, revestimento asfáltico, infraestrutura


viária, pavimentação

ABSTRACT: The city of Formosa/Goiás/Brazil presents in its urban area a precarious pavement, with
premature and and pathologies often appear. On the other side, in the outskirts of the city is Fort Santa Bárbara,
a military area that has a quality pavement, with little emergence of pathologies and high quality of road. When
it comes to paving works, the Brazilian army is consider a national reference. The present study is the result
of the analysis of a paving work carried out by the Brazilian Army at Fort Santa Bárbara. The work in question
uses flexible paving technology with asphalt concrete coating layer. The work was carried out by the second
Railway Battalion (Batalhão Mauá) under the supervision of the regional works commission of the 11th
military region (CRO-11). In the execution were followed the quality standards of the Brazilian army, which
specializes in construction of highways and railways for over eight decades. We analyzed the technical and
executive parameters used, drawing a comparison with pavements of the same nature executed in the city of
Formosa and the prescriptions of national standards. To Confirme the quality of the pavement, the technical
reasons that make Forte Santa Bárbara stand out in relation to the pavement executed in the urban area of the
city are listed.

KEYWORDS: Asphalt paving, Flexible paving, Asphalt coating, Road infrastructure,

1 Introdução

O município de Formosa, um dos 236 municípios do estado de Goiás, tem uma população de
aproximadamente 110 mil habitantes, distribuídos em uma área de aproximadamente 6 mil quilômetros

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quadrados, o que resulta numa densidade demográfica de aproximadamente 17 habitantes por quilômetro
quadrado . A cidade apresenta pavimentos precários em sua área urbana, com surgimento prematuro e
recorrente de patologias. Em contrapartida, nos arredores da cidade se encontra o Forte Santa Bárbara, uma
área militar que apresenta um pavimento de qualidade, com pouco surgimento de patologias e grande serventia,
proporcionando elevado conforto ao rolamento. Nesse sentido, o presente estudo é resultado da análise da obra
de pavimentação executada pelo Exército Brasileiro no Forte Santa Bárbara. Na obra em questão se utilizou a
tecnologia de pavimento flexível com camada de revestimento flexível do tipo concreto asfáltico, tendo sido a
mesma executada pelo 2º Batalhão Ferroviário (Batalhão Mauá) sob acompanhamento da Comissão Regional
de Obras da 11° Região Militar (CRO-11).
Segundo o livro Pavimentação Asfáltica: Formação básica para engenheiros, da ABEDA (2006), o
revestimento de um pavimento asfáltico é constituído por agregados e ligantes. É a camada que recebe
diretamente as cargas de rolamento e transmite às camadas inferiores. A técnica utilizada para união dos
agregados e ligantes foi por mistura.
Na execução da obra foram seguidos os padrões de qualidade do exército brasileiro, que é conhecido
nacionalmente no ramo da engenharia por possuir expertise em obras de infraestrutura há mais de oito décadas,
sobretudo na construção de rodovias e ferrovias.
A metodologia empregada consiste na avaliação qualitativa da serventia do pavimento em questão,
comparando-se os resultados obtidos com os constantes em trabalhos anteriores para a área urbana da cidade,
bem como na avaliação do processo de execução do revestimento, onde foram analisados os parâmetros
técnicos e executivos utilizados, traçando um comparativo com pavimentos de mesma natureza executados na
área urbana da cidade e as prescrições das normas nacionais.
A partir da análise realizada foi possível confirmar a qualidade do pavimento, além de elencar os
principais fatores técnicos que fazem o pavimento do Forte Santa Bárbara apresentar características superiores
às do pavimento executado na área urbana da cidade.
Os resultados obtidos têm como base os levantamentos visuais realizados que, através das definições
dos Valores de Serventia Atual (VSA) de acordo com as normativas vigentes, indicaram vias com conceitos
entre ruim e péssimo para a área urbana da cidade de Formosa, enquanto que os resultados obtidos para o
pavimento do Forte Santa Bárbara apresentaram vias com conceitos entre bom e ótimo.
Os estudos realizados por Pelisson et al. (2015) constataram que, independente das conformações das
camadas subjacentes, a espessura do revestimento foi o parâmetro de maior influência no surgimento de
defeitos permanentes, principalmente no que se refere às trincas. No Brasil, ainda segundo os autores, tem-se
ignorado todas as evidências relacionadas à importância da espessura do revestimento asfáltico, com a adoção
de valores que, se por um lado representam alguma economia na construção, por outro resultam em custos
elevados de manutenção e reabilitação.
Nesse sentido, as análises e comparações aqui realizadas restringem-se aos revestimentos dos
pavimentos analisados.

1 Materiais e Métodos

Ainda que a deterioração do pavimento esteja diretamente ligada à funcionalidade de todas as suas
camadas constituintes, do ponto de vista do usuário final da via, o estado do revestimento é o ponto de maior
importância, tendo em vista que os defeitos e irregularidades existentes nessa camada são mais facilmente
observados pelos usuários, pois afeta negativamente o conforto ao rolamento.
Assim, neste trabalho, além da descrição da metodologia construtiva adotada pelo Exército Brasileiro na obra
de pavimentação do Forte Santa Bárbara, realizou-se a análise subjetiva da superfície do mesmo.
A metodologia empregada na avaliação dos pavimentos foi a atinente às normas DNIT (2003a; 2003b),
que consiste em avaliar a superfície do pavimento realizando o levantamento visual contínuo no trecho
estudado. Tal avaliação, como citado anteriormente, é preconizada pela norma DNIT (2003b) e consiste na
avaliação subjetiva da superfície dos pavimentos.
A metodologia para a avaliação subjetiva dos pavimentos asfálticos brasileira foi adaptada da
metodologia desenvolvida pela American Association of State Highway and Transportation Officials

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(AASHTO), para a determinação do VSA. O VSA é a medida subjetiva das condições da superfície de um
pavimento no que diz respeito à capacidade do pavimento de atender às exigências do tráfego, no momento da
avaliação, quanto à suavidade e ao conforto, para quaisquer condições de tráfego. (DNIT, 2003b; 2006).
A comparação realizada entre os resultados obtidos para o Forte Santa Bárbara e a área urbana da cidade
de Formosa teve como base os resultados apresentados por Caixêta e Feitoza (2016).

2.1 Procedimento Executivo

O processo executivo do revestimento pavimento do Forte Santa Bárbara tem início com uma limpeza
cuidadosa. Essa limpeza pode ser observada na figura 1.

Figura 1. Limpeza do pavimento a ser revestido.

Após a limpeza, dá se início ao processo de imprimação (pintura) do pavimento. Nesse processo é


aplicado asfalto diluído (CM 300) de baixa viscosidade sobre a base absorvente. Influencia diretamente na
qualidade final do pavimento pois é responsável pela coesão superficial, impermeabilizar e estabelecer a
ligação entre a camada subjacente e o revestimento asfáltico. Na figura 2 é mostrado o processo de imprimação
das vias do Forte Santa Bárbara.

Figura 2. Imprimação das vias.

Passado a imprimação, é medida a temperatura da massa asfáltica a ser empregada. Estando a massa na
temperatura adequada, se dá início a aplicação, sendo feito o acompanhamento da temperatura após o

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lançamento da massa. O processo de lançamento e controle de temperatura é ilustrado nas figuras 3 e 4.

Figura 3. Controle de temperatura.

Figura 4. Lançamento da massa asfáltica.

Após aplicação da massa é feito uma correção de falhas e compactação com o uso de rolos pneumáticos.
As figura 5 e 6 mostram como são feitas as correções e a compactação.

.
Figura 5. Correção de falhas.

Figura 6. Compactação com rolo pneumático.

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Terminada a compactação, as vias são isoladas para uma adequada cura e assentamento da massa. Após
passado o período de isolamento o revestimento se encontra pronto e apto a ser utilizado.

3 Resultados e Discussão

3.1 Procedimento Executivo

Quanto aos parâmetros técnicos e materiais empregados, verificou-se que o 2º Batalhão Ferroviário
seguiu dentro da margem que permite as normas do DNIT. A execução do serviço foi programada para o
período de estiagem, uma vez que não é permitida qualquer tipo de atividade em dias chuvosos. Além disso,
devido à imprimação ter sido executadas dias antes, a equipe reforçou a camada de ligação após uma minuciosa
limpeza, removendo pedregulhos e outras sujeiras da superfície.
A temperatura da mistura asfáltica também foi devidamente controlada. Conforme pode-se verificar na
figura 3, a temperatura de lançamento foi de em média 115°C, valor dentro do intervalo de 107-177°C, disposto
no item 5.4.2 da norma DNIT 031/2006 - ES.

3.2 Avaliação subjetiva da superfície do pavimento

Para a determinação dos Valores de Serventia Atuais foram considerados os trechos apresentados na
figura 7. Foi utilizado o site Google Maps (2018) para a captura da figura:

Figura 7. Trechos considerados na determinação do VSA.

Os autores preencheram as fichas de avaliação, conforme o Anexo A da norma DNIT 009/2003 - PRO
e ao final, foram calculadas as médias com os valores de VSA finais. A tabela 1 apresenta os valores obtidos,
seguida da tabela 2, utilizada para comparação com o estudo realizado para o trecho urbano de Formosa por
Caixeta e Feitoza (2016).

Tabela 1. Resultados dos VSA para o Forte Santa Bárbara.


Trecho Avaliado Valor de Serventia Atual
Trecho 1 4,6
Trecho 2 4,1
Trecho 3 4,7

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Tabela 2. Resultados dos VSA para a área urbana de Formosa-GO (Caixeta e Feitoza, 2016).
Trecho Avaliado Valor de Serventia Atual
Trecho 1 1,0
Trecho 2 1,5
Trecho 3 1,3
Trecho 4 2,0
Trecho 5 0,8

O pavimento finalizado, utilizado para a classificação de acordo a metodologia VSA, pode ser
observado nas figuras 8, 9 e 10.

Figura 8 . Pavimento do trecho 01 finalizado.

Figura 9 . Pavimento do trecho 02 finalizado.

Figura 10 . Pavimento do trecho 03 finalizado.

4 CONCLUSÃO

A utilização do método avaliativo previsto pela norma do DNIT (2003b), através da definição dos

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Valores de Serventia Atual (VSA) que consiste na avaliação subjetiva da superfície dos pavimentos pôde
comprovar a discrepância entre a qualidade encontrada no pavimento do Forte Santa Bárbara e o pavimento
da área urbana de Formosa-GO. Enquanto o VSA para os trechos analisados no Forte Santa Bárbara se
encontraram em torno de 4 e 5, caracterizando de acordo com a norma DNIT 009/2003 - PRO, um
revestimento com conceito entre bom e ótimo, os trechos urbanos da cidade de Formosa-GO tiveram conceitos
de péssimo a ruim com VSA de 0,8 a 1. Tal resultado pode ser explicado quando se analisa os métodos
construtivos utilizados no Forte Santa Bárbara. Pôde-se perceber grande controle na execução, podendo citar
o planejamento para a execução do pavimento em dias de estiagem, limpeza minuciosa da superfície, correta
compactação e a aplicação da massa asfáltica com temperatura devidamente aferida, respeitando sempre as
normas vigentes e buscando um padrão de excelência. Fatores estes, de suma importância, que elevam a
qualidade final do pavimento construído.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à CRO 11 pela solicitude e disponibilidade pela qual foi permitida a realização
deste trabalho. Ainda, agradecem ao IFG Câmpus Formosa e ao professor da disciplina de pavimentação pela
proposição do tema a ser estudado.

REFERÊNCIAS

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Formosa/Goiás/Brasil. XIX Congreso Panamericano de Ingeniería de Tránsito, Transporte y Logística, p.
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0160 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Influência do tipo de cal no melhoramento de um solo argiloso


Isabelli Menegat
Estudante, Univates, Lajeado/RS, Brasil, imenegat@universo.univates.br

Beatriz Hepp Hannes


Estudante, Univates, Lajeado/RS, Brasil, beatriz.hannes@universo.univates.br

Moisés Paulo Malmann


Estudante, Univates, Lajeado/RS, Brasil, moises.malmann@universo.univates.br

Helena Batista Leon


Professora, Univates, Lajeado/RS, Brasil, helena.leon@univates.br

Emanuelle Amanda Gauer


Professora, Univates, Lajeado/RS, Brasil, eagauer@univates.br

RESUMO: Existem diversas áreas da construção civil que exigem grandes movimentações de solos e a
construção de rodovias está entre as maiores demandas. É comum encontrar trechos extensos com solos de
baixa capacidade de suporte e alta deformabilidade das camadas mais superficiais. Sendo assim, essas
condicionantes requerem soluções práticas, de modo que não alterem muito os custos do projeto a ponto de
torná-lo inviável. Dessa forma, este trabalho tem o objetivo principal de analisar a influência exercida pela
adição de diferentes teores e tipos de cales em um solo argiloso, visando o melhoramento de suas propriedades
mecânicas. O solo utilizado nesta pesquisa foi obtido no campus da Universidade de Passo Fundo - UPF. Os
tipos de cales utilizadas são a comercial dolomítica hidratada e a de carbureto (resíduo industrial da produção
do gás acetileno). Para os ensaios foram empregados 𝛾𝑑 de 14, 15 e 16 kN/m³, teores de cal em 3, 6 e 9%,
estabelecidos a partir do método do pH e uma umidade de 19% para todas as dosagens, determinada a partir
de ensaio de compactação com energia modificada. Nos resultados pode-se verificar que a utilização da cal de
carbureto se mostrou mais eficiente do que a cal dolomítica no melhoramento do comportamento mecânico do
solo argiloso em estudo, validando o potencial de destinação mais nobre a um resíduo industrial.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Argiloso, Cal Dolomítica Hidratada, Cal de Carbureto.

ABSTRACT: There are several civil construction fields that require large amounts of earthworks, and the
highway works are among the greatest demands. It is usual to find long paths with low bearing capacity and
high deformability of the most superficial layers of the soil. Therefore, it is required practical solutions, in a
way that they do not alter the project costs to the point of making it unfeasible. Thus, this research aims to
analyze the influence exerted by the addition of different amounts and types of lime in a clayey soil in order
to improve its mechanical properties. The soil was obtained at the University of Passo Fundo campus - UPF.
The two different lime types used are the commercial hydrated dolomitic lime and the Carbide lime (industrial
waste from the acetylene gas production). It was used γd of 14, 15 and 16 kN/m³, lime amounts of 3, 6 and
9%, established according to pH method, and moisture content of 19% for all mixtures, determined from
modified Proctor compaction test. The results showed that the Carbide lime seems to be more efficient than
the dolomitic lime in improving the mechanical behavior of the clayey soil under study. The study endorses
the potential use of an industrial waste in a most noble destination.

KEYWORDS: Clayey Soil, Hydrated Dolomitic Lime, Carbide Lime.

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1 INTRODUÇÃO

Em obras, os solos utilizados devem atender às condições pré-estabelecidas, garantindo a solidez e a


vida útil dos projetos a serem executados sobre os mesmos. Por isso, as técnicas de melhoramento ou
estabilização dos solos compreendem a aplicação de qualquer processo de natureza mecânica, física ou
química, com intenção de modificar as propriedades dos solos, melhorando assim seu comportamento
(NÚÑEZ, 1991). Na construção de estradas, o melhoramento ou estabilização de solos com adição de cal é
uma das técnicas mais antigas utilizadas pela humanidade, mas que, com o passar dos anos, tornou-se
necessário o aperfeiçoamento para sua aplicação (CRISTELO, 2001).
A cal é um produto químico aglomerante derivado de rochas carbonatadas cálcio-magnesianas. A
calcinação dos carbonatos de cálcio e de cálcio magnésio resulta, respectivamente, nos óxidos de cálcio (𝐶𝑎𝑂)
e no cálcio-magnésio (𝐶𝑎𝑂 − 𝑀𝑔𝑂), denominados, em geral, como cal viva ou cal virgem. A cal hidratada é
resultante da hidratação da cal virgem. A cal cálcica possui até 74% de 𝐶𝑎𝑂 na sua composição e baixa
porcentagem de 𝑀𝑔𝑂, em torno de 0,8%. Já a cal dolomítica é composta por cerca de 61% de 𝐶𝑎𝑂 e até 30%
de 𝑀𝑔𝑂(GUIMARÃES, 2002).
A cal de carbureto é uma cal cálcica obtida através da reação entre o carbureto de cálcio (𝐶𝑎𝐶2) e água
(𝐻2 𝑂), definida pela Equação 1 (THOME,1994).

𝐶𝑎𝐶2 + 2𝐻2 𝑂 → 𝐶2 𝐻2 + 𝐶𝑎(𝑂𝐻)2 (1)

Desta reação obtém-se o gás acetileno (𝐶2 𝐻2), usado para o alcance de elevadas temperaturas por meio
de sua queima. Da produção deste gás, ocorre a geração de um resíduo da composição básica, o hidróxido de
cálcio (𝐶𝑎(𝑂𝐻)2 ), em forma aquosa, levado para tanques de decantação, seguindo para o redutor de umidade.
Por ter aptidão poluidora, é descartado em aterro controlado.
Na mistura de cal com um determinado solo úmido ocorrem diversas reações químicas que provocam
a aglutinação das partículas e modificação de suas características, dentre elas as mais importantes: permuta
iônica e floculação (cátions 𝐶𝑎2 + se adsorvem à superfície das partículas reduzindo a sua eletronegatividade
e promovendo a floculação); ação de cimentação (ou reação pozolânica, que ocorre de forma lenta, o que a
torna responsável pela ação a longo prazo da cal na estabilização); e ação de carbonatação (reação da cal com
o dióxido de carbono da atmosfera, alterando quimicamente os minerais argilosos) (COELHO; TORGAL;
JALALI, 2009).
Usace (1994), explica que a reatividade da cal é mais expressiva em solos com média/alta plasticidade,
nos quais aumenta a resistência e a trabalhabilidade, e diminui a expansão volumétrica.
Sendo assim, o presente trabalho possibilita analisar o comportamento de um solo estabilizado com
diferentes teores de dois tipos de cal: a dolomítica hidratada e a cal cálcica (de carbureto). Através de ensaios
de resistência à compressão simples, propõe-se comparar os resultados das misturas, mostrando assim o
desempenho das determinadas cales no melhoramento do solo em estudo.

2 PROGRAMA EXPERIMENTAL

2.1 Materiais

O solo utilizado neste estudo foi obtido no campus da Universidade de Passo Fundo - UPF, na cidade
de Passo Fundo, região norte do estado do Rio Grande do Sul. O referido solo possui diâmetro médio das
partículas (𝐷50 ) de 0,030 mm e peso específico real dos grãos igual a 26,7 kN/m 3 (ABNT, 2016a). A análise
granulométrica do solo pode ser verificada na Figura 1. Ainda, a partir dos dados obtidos nos ensaios de
Limites de Atterberg, com valores de Limite de Liquidez de 39,8% (ABNT, 2016b), Limite de Plasticidade
de 27% (ABNT, 2017), resultando em um Índice de Plasticidade de 13%, foi possível classificar o solo como
um silte de baixa compressibilidade (ML) pelo Sistema Unificado de Classificação dos Solos (ASTM, 2017)
e A-6 pelo Sistema Rodoviário de Classificação (ASTM, 2015).

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Figura 1. Curva granulométrica dos materiais utilizados nesta pesquisa.

As cales utilizadas são do tipo dolomítica comercial hidratada e de carbureto. A cal dolomítica é do
tipo CH-II e possui massa específica de 2,49 g/cm³ (ABNT, 2016a). Já a cal de carbureto é um resíduo da
produção do gás acetileno em uma empresa de gases industriais localizada na região metropolitana de Porto
Alegre e possui massa específica de 2,12 g/cm³ (ABNT, 2016a).

2.2 Dosagem

Na dosagem, foram empregados pesos específicos aparente secos (𝛾𝑑 ) de 14, 15 e 16 kN/m³, a fim de
analisar graus de compactação que variam desde pouco abaixo do 𝛾𝑑𝑚á𝑥 para energia normal e até entre as
energias normal e modificada, obtidos através da realização de ensaio de compactação nas duas energias, de
acordo com a NBR 7182 (ABNT, 2020). Conforme apresenta a Figura 2, para energia modificada o 𝛾𝑑𝑚á𝑥 e a
umidade ótima correspondem a 17,4 kN/m³ e 19%, enquanto que para energia normal estes valores são 15
kN/m³ e 26%, respectivamente.

Figura 2. Curva de compactação.

Já para os teores de cal utilizou-se 3, 6 e 9% a fim de analisar o mínimo teor requerido para a cal de
carbureto e verificar a influência de teores crescentes de cada cal. Estes valores foram obtidos com base no
Método do pH (ASTM, 2019), que determina um teor mínimo de cal necessário para garantir a reatividade da
mistura. Desta forma, obteve-se uma porcentagem necessária de 5% de cal dolomítica e 3% com a utilização
de cal de carbureto.
Quanto à umidade de moldagem, optou-se por utilizar 19% para todas as dosagens, visto que esta é a
umidade ótima obtida no ensaio de compactação com energia modificada, conforme observado na Figura 2,
evitando assim que ocorra a exsudação dos corpos de prova mais compactos.

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2.3 Moldagem e cura dos corpos de prova

Para a realização dos ensaios de resistência à compressão simples as misturas foram compactadas
estaticamente no interior de moldes cilíndricos tripartidos de 100 mm ± 1 mm de altura e 50 mm ± 0,5 mm de
diâmetro. Foram realizadas 9 dosagens diferentes para cada tipo de cal, sendo que, cada uma dessas dosagens
foi moldada em triplicata. Para tanto, foram moldados 54 corpos de provas para cada tipo de cal, variando os
teores de cal em 3, 6 e 9% e os pesos específicos aparente secos (𝛾𝑑 ) de 14, 15 e 16 kN/m³. As amostras foram
submetidas a cura em câmara úmida durante 7 e 28 dias.

2.4 Ensaio de resistência à compressão simples

Os ensaios de resistência à compressão simples foram realizados conforme especificações da NBR


12025 (ABNT, 2012). É importante ressaltar que as amostras foram submetidas a um período de imersão de
24 horas antes de serem submetidas à ruptura a fim de reduzir os efeitos de sucção. Foi utilizada uma prensa
automática com velocidade de deformação controlada de 1,14 mm/min.

3 RESULTADOS

3.1 Resistência à compressão simples em função do teor de cal na dosagem

As Figuras 3, 4 e 5 apresentam as médias dos resultados de resistência à compressão simples obtidos


para cada dosagem, comparando os dois tipos de cal para cada grau de compactação das amostras curadas por
7 e 28 dias.

Figura 3. Resistência (kPa) CPs de γd 14 kN/m³.

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Figura 4. Resistência (kPa) CPs de γd 15 kN/m³.

Figura 5. Resistência (kPa) CPs de γd 16 kN/m³.

Analisando os gráficos das Figuras 3, 4 e 5 é possível perceber o crescente aumento na resistência


das amostras com o incremento das adições de cal, com a maior compactação (maiores pesos específicos) e
também com o maior tempo de cura. A cal de carbureto, por ser uma cal cálcica (cerca de 74% de 𝐶𝑎𝑂 na sua
composição), e possuir maior reatividade ao reagir com os argilominerais do solo, apresentou melhores
resultados do que a cal dolomítica em todas as dosagens analisadas, sendo assim, a cal de carbureto apresenta
maior reatividade em relação a cal dolomítica, fornecendo maior resistência ao solo, tanto inicial quanto a um
prazo maior de cura (28 dias).
Além disso, a resistência da cal de carbureto se apresenta, em todos os casos, superior a cal
dolomítica, tendo uma variação média de 150%. Contendo a menor variação de resistência entre as
cales na dosagem de yd 15 kN/m³ e 9% de cal para 7 dias. Já aos 28 dias, a menor variação apareceu
em γd 16 kN/m³ e 9%. Já a maior variação de resistência entre as cales, nos dois tempos de cura, foi
em γd 14 kN/m³ e 6% de cal, sendo assim, o ponto exemplar da diferença de reatividade das cales.
Em relação ao crescimento da resistência com o aumento da porcentagem, a cal de carbureto
teve crescimento médio de 40%, para 7 dias e 70% para 28 dias. A cal dolomítica obteve crescimento
médio de 85% tanto para 7 como 28 dias.

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3.2 Análise Estatística

A pesquisa tem por objetivo fundamental a análise da influência de todas as variáveis controláveis
durante o programa experimental (peso específico aparente seco (𝛾𝑑 ), teor de cal, tipo de cal e tempo de cura)
e das suas interações na resistência das amostras. Por isso, realizou-se a análise de variância (ANOVA), a fim
de determinar quais dos fatores exercem influência na variável resposta (resistência à compressão simples
(𝑞𝑢 )). A ANOVA foi executada a um nível de significância de 95%, o que indica que os fatores controláveis
que apresentem valores de “p” menores do que 0,05 são estatisticamente significativos. A Tabela 1 apresenta
a análise ANOVA realizada.

Tabela 1. Análise ANOVA.


Fonte GL MQ Valor-F Valor-P Significativo

A: γd (kN/m³) 2 884453 840.94 0.000 SIM

B: Teor de Cal
2 580580 552.02 0.000 SIM
(%)

C: Tipo de Cal
1 1299911 1235.96 0.000 SIM
(%)

D: Tempo de cura 1 45835 43.58 0.000 SIM

A*B 4 32307 30.72 0.000 SIM

A*C 2 42310 40.23 0.000 SIM

A*D 2 1509 1.44 0.244 NÃO

B*C 2 22682 21.57 0.000 SIM

B*D 2 14117 13.42 0.000 SIM

C*D 1 3795 3.61 0.061 NÃO

Erro 88 1052

Total 107

A análise de variância (ANOVA) apresentada na Tabela 1, realizada nos resultados de resistência (𝑞𝑢 ),
mostrou que os efeitos de todas as variáveis controláveis analisadas são estatisticamente significativos. Além
disso, também foram avaliadas as interações de segunda ordem entre todos os fatores controláveis, dentre elas
apenas a relação entre 𝛾𝑑 e tempo de cura e entre tipo de cal e tempo de cura não puderam ser estatisticamente
constatadas com base nos dados avaliados. Desta forma fica explicitado que a variação do 𝛾𝑑 , do teor de cal,
dos tipos de cales e dos tempos de cura exercem influência na resistência das amostras. Na Figura 6 pode-se
observar graficamente a média da variável resposta (𝑞𝑢 ) para cada nível dos fatores controláveis estudados.

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Figura 6. Gráficos dos efeitos principais.

Quanto mais inclinadas as retas do gráfico, maior a magnitude do efeito em análise. Dessa forma,
conforme Figura 6, percebe-se que o efeito do tempo de cura possui menor influência na resistência das
amostras do que todas as outras variáveis analisadas, enquanto o 𝛾𝑑 exerce a maior influência.

3 CONCLUSÃO

A atual e crescente conjectura sustentável e econômica que evidencia o aproveitamento de todos os


tipos de resíduos, neste caso industrial, demonstra a necessidade de avaliar e adaptar as melhores alternativas.
Dessa forma, esta pesquisa demonstrou que substituir a cal dolomítica pela de carbureto torna-se mais eficaz
na estabilização do referido solo, o que representa atribuir grandes vantagens para a construção, tanto em
termos de economia e rentabilidade, quanto do ponto de vista sustentável.
Em análise aos resultados, nota-se que teores maiores de adições das cales favorecem a melhoria das
propriedades geotécnicas das misturas estudadas, especificamente da resistência à compressão simples (𝑞𝑢 )
avaliada. A maior compactação das amostras, representada pelo aumento nos valores de 𝛾𝑑 de moldagem, foi
o fator que mais influenciou no aumento dos valores de resistência. Também, verifica-se que a cal de carbureto
apresenta maior eficiência do que a cal dolomítica, fornecendo melhor resistência ao solo estudado, com
economia de material. Além disso, seu uso gera ganhos ao empreendedor e ao meio ambiente por tratar-se de
um resíduo industrial, diminuindo custos e evitando o descarte em aterros, sem necessidade de fabricação.
Ainda, o maior tempo de cura estudado (28 dias) também apresenta valores melhores de 𝑞𝑢 ,
confirmando que as reações pozolânicas ocorridas entre a cal e os argilominerais se dão de forma lenta, mas
que seguem se desenvolvendo ao longo do tempo. Por isso, é importante analisar longos períodos de cura ao
utilizar a cal como produto estabilizador, inclusive, para novos estudos, é relevante observar as reações em
períodos maiores do que 28 dias.
A ANOVA revelou que todos os fatores controláveis (𝛾𝑑 , teor de cal, tipo de cal e tempo de cura) são
estatisticamente significativos nos resultados de 𝑞𝑢 (variável de resposta).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Purposes (Unified Soil Classification System). West Conshohocken: ASMT, 2017. 10 p;

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Análise de Parâmetros Geotécnicos Pós-Geoenrijecimento


Isabela da Silva Caetano
Engenheira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, belasc92@gmail.com

Bruno Teixeira Lima


Professor, Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro,
Brasil, brunolima.professor@gmail.com

Ana Cristina Castro Fontenla Sieira


Professora, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, sieira@eng.uerj.br

RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo o estudo do valor do coeficiente de redução volumétrica por
adensamento (c) para cada obra analisada. Este parâmetro é utilizado na planilha eletrônica de Rodrigues et
al. (2017) e influencia na previsão da resistência não-drenada, no módulo de Young e no valor de  do
compósito gerado após o geoenrijecimento. Para tal estudo foram utilizadas quatro obras que tiveram a
técnica de geoenrijecimento por grouting, e a partir de medições de parâmetros do solo antes e após a técnica
foi possível chegar a valores de c. Os resultados obtidos levaram à conclusão de que há uma variação desse
parâmetro considerável para solos distintos e inclusive para um mesmo solo em diversas profundidades. E
que, variações de cerca de 20 % em seu valor, por exemplo, provocam divergências consideráveis nos
parâmetros de saída influenciados por este.

PALAVRAS-CHAVE: Geoenrijecimento, Aterros, Solos Moles.

ABSTRACT: This paper aims to study the value of volumetric reduction coefficient by consolidation (c) for
each analyzed site. This parameter is used in the Rodrigues et al. (2017) spreadsheet and influences in
undrained resistance forecast, in Young module and  value of the composite made after geo-hardening
process. For this research, four sites which have used geo-hardening technique by grouting were analyzed
and from soil parameters measures before and after technique was possible to get c value. The results got
provided a conclusion that there is a big variability of this parameter in different soils including to the same
soil in distinct depth. Also the value variability about 20 %, for example, implies in significant divergences
in the output parameters influenced by it.

KEYWORDS: Geo-hardening, Embankment, Soft Soils.

1 Introdução

A técnica de geoenrijecimento é uma das alternativas de melhoramento de solos moles desenvolvidas


no Brasil, onde são feitas injeções de geogrouting – após cravação de geodrenos – de metro em metro, e de
baixo para cima no solo mole, seguindo uma malha geométrica. Como sua utilização inicialmente era
baseada em tentativas anteriores por não possuir muitos estudos, ela passou a ser questionada por
profissionais geotécnicos e então iniciaram-se estudos sobre sua eficácia e modificações no solo (Cirone,
2016).
Visando ampliar a acessibilidade e objetividade dessas informações Rodrigues et al. (2017) criaram
uma planilha dinâmica, em que são inseridos os parâmetros iniciais do solo e do geogrouting, dando como
resposta os parâmetros do compósito formado – resistência não-drenada (Su), módulo de rigidez (E), relação
dos recalques com e sem tratamento do solo () e coeficiente de adensamento vertical (cv).
Ao analisar quatro obras distintas com o intuito de comparar os resultados obtidos pela planilha com
as medições destas obras, percebeu-se a dificuldade de obtenção de um parâmetro de entrada conhecido por

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c (coeficiente de redução volumétrica por adensamento), e então o estudo se voltou para uma melhor
obtenção deste parâmetro que influencia consideravelmente em três dos quatro parâmetros de saída.

2 A Técnica de Geoenrijecimento

A técnica consiste na cravação inicial de geodrenos segundo um padrão de malha geométrica


(triangular, quadrada ou com reforços), seguida da execução de injeções de geogrout - composto de 80:15:5
(areia:silte:cimento) – realizadas de baixo pra cima, respeitando um critério de volume estimado em projeto.
Ao atingir este volume, o tubo é erguido, geralmente 1 metro, e inicia-se a injeção seguinte. Estas injeções
obedecem a mesma padronização de malha dos geodrenos, porém com o espaçamento diferente (na maioria
dos casos, o espaçamento das injeções corresponde ao dobro do utilizado para os geodrenos). Desse
processo, diferente do que se previa inicialmente, originam-se bulbos amorfos, desalinhados e
desaprumados, gerando um meio homogêneo composto de matriz (solo) + reforço (grout).
As melhorias obtidas por esse método são: (1) o aumento da resistência não-drenada; (2) aceleração e
redução das magnitudes dos recalques; e (3) aumento da rigidez do solo. A deformação volumétrica associa-
se à razão de substituição e ao adensamento durante o processo de expansão de cavidades, e devido a sua
complexidade, é representada pelo coeficiente de redução volumétrica por adensamento (c), estudado por
Caetano (2019) e Mussi (2019) e que será analisado neste artigo. O aumento de Su pós geoenrijecimento, de
acordo com a teoria do estado crítico (Wood, 1990), é consequência direta da redução do índice de vazios e o
aumento da rigidez do solo – associada ao módulo de elasticidade – tende a ser maior com o aumento da
tensão confinante, devido ao processo de expansão de cavidades.

2.1 Método de Cálculo

Visando suprir a carência de formulações matemáticas para os novos parâmetros do solo


geoenrijecido, Cirone (2016) desenvolveu uma série de cálculos para prever essas modificações.
Posteriormente, Rodrigues et al. (2017) elaboraram uma planilha eletrônica que, a partir da entrada de dados
iniciais do solo e do geogrout, retorna a previsão de parâmetros do compósito originado.
Para isso, alguns conceitos foram inseridos como o da célula unitária e da razão de substituição (RS).
O primeiro é por definição o volume de controle padrão delimitado por um contorno rígido, drenante e sem
atrito, simétrico à vertical de adensamento, cujas as condições de contorno são determinadas em função da
quantidade e disposição de drenos ao redor da vertical de adensamento (sequência de injeções verticais de
geogrout). A RS é a relação entre a taxa de volume do solo substituída por geogrout, e é influenciada pelo
critério de volume de geogrout em cada injeção e pela geometria da malha de drenos utilizada.

2.1.1 Influência do Parâmetro c

O parâmetro c representa a variação volumétrica que o solo sofre, podendo ser obtido por ensaio de
adensamento. Esse é a relação da variação do volume de vazios do solo antes e após a utilização da técnica
de geoenrijecimento (∆Vv), com o volume de geogrout injetado (Vg), e expresso na Equação 1:

∆𝑉𝑣
𝑐 = 𝑉𝑔
(1)

De acordo com Cirone (2016) os valores da deformação volumétrica (ε), da resistência não-drenada do
solo pós geoenrijecimento (Sus) e do módulo de rigidez equivalente do compósito geoenrijecido (Eeq) são
influenciados pelo coeficiente de redução volumétrica por adensamento (c). Isso mostra o quão importante é
a obtenção deste parâmetro para cada solo. As Equações 2, 3 e 4 são as formas de cálculo dessas
modificações no solo segundo planilha de Rodrigues et al. (2017).

𝜀 = 𝑐 × 𝑅𝑆 (2)

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𝑆𝑢𝑠 = 𝑆𝑢0 𝑒 𝑏𝑐 𝑅𝑆 (3)


1+10𝑅
𝐸𝑒𝑞 = 𝐸0 𝑒 (𝑏𝑐 𝑅𝑆) 1−0,98𝑅𝑆 (4)
𝑆

Onde ε é a deformação volumétrica; c é o coeficiente de redução volumétrica por adensamento; RS é


a razão de substituição; Sus é a resistência não-drenada do solo entre os bulbos de grout; Su0 é a resistência
não-drenada do solo antes do tratamento; b é o parâmetro estudado por Barata e Danzinger (1986) relativo ao
perfil geotécnico do solo; Eeq é o módulo de rigidez do compósito; e E0 é o módulo de rigidez inicial do solo.

2.2 Obtenção de c

Tendo em vista a importância desse parâmetro e a falta de medição deste, o estudo voltou-se para
descobrir através de formulações matemáticas seu valor para cada obra a partir dos parâmetros medidos. Sua
obtenção foi possível por meio da medição, antes e após a aplicação da técnica, da resistência não-drenada e
dos recalques.
Isolando c na Equação 3, obtém-se a Equação 5 que determina o parâmetro a partir de Su desde que
haja a medição da resistência não-drenada do solo antes (Su0) e após (Sus) a aplicação da técnica, de
preferência pelo mesmo método.
𝑆
𝑙𝑛( 𝑢𝑠 )
𝑐 = 𝑆𝑢0
𝑏×𝑅𝑆
(5)

Repetindo o processo na Equação 4, obtém-se a Equação 6 que determina c a partir do módulo de


elasticidade (E) do solo mole. No entanto, este parâmetro não costuma ser adotado neste tipo de solo, pois
sua variação é grande para valores baixos de tensões, como as encontradas em campo. Para facilitar a
obtenção, foram feitas simplificações que substituíram a relação Eeq/E0 pela relação entre recalques ,
facilmente obtida pela previsão de recalques do solo natural e do solo geoenrijecido.
𝐸𝑒𝑞 1−0,98𝑅𝑆 1−0,98𝑅𝑆
𝑙𝑛( × ) 𝑙𝑛(× )
𝑐 =
𝐸0 1+10𝑅𝑆 1+10𝑅𝑆
𝑏×𝑅𝑆
= 𝑏×𝑅𝑆
(6)

3 Obras estudadas

O estudo dos valores de c foi baseado em quatro obras que utilizaram a técnica de geoenrijecimento.
São elas: (1) Condomínio Palms Recreio Residencial; (2) Parque dos Atletas (ambas situadas na zona oeste
do Rio de Janeiro); (3) Rodoanel Mário Covas (Mauá, São Paulo) e (4) tratamento da margem esquerda do
rio Itajaí-Açu (Navegantes, Santa Catarina).
No Condomínio Palms Recreio Residencial, situado no bairro do Recreio dos Bandeirantes, Rio de
Janeiro, foram construídos dois aterros experimentais devidamente instrumentados, um somente com drenos
verticais e o outro com a técnica de geoenrijecimento, para comparação de eficiência das técnicas. As
espessuras da camada de solo mole variavam de 4,5 m a 12,0 m. Maiores informações destas obras são
apresentadas por Chavão (2015) e Riccio et al. (2018).
O Parque dos Atletas, localizado no bairro da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, possuía diversas
espessuras de solo mole, variando até 22 m. No entanto, a região tratada com geoenrijecimento era a de
espessura compreendida entre 3 m e 9 m, para as demais espessuras foram adotados outros tipos de
tratamento. Seu estudo está disponibilizado em Riccio et al. (2013).
A região geoenrijecida do Rodoanel Mário Covas, situado no município de Mauá, em São Paulo, tinha
solo mole de espessura média de 7 m de profundidade. Neste caso, a aplicação da técnica teve peculiaridades
como o espaçamento dos drenos igual ao das verticais de adensamento. Maiores informações podem ser
encontradas em Nogueira (2010).
O tratamento da margem esquerda do rio Itajaí-Açu, localizado no município de Navegantes, Santa

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Catarina, tinha espessura de solo mole com 10 m em média. A região foi dividida em duas áreas, cada uma
seguindo uma configuração de malha (triangular e quadrada com reforço). Seu estudo foi apresentado por
Sandoval (2016).

3.1 Dificuldades na Obtenção dos Parâmetros Medidos

Ao analisar os dados dessas obras notou-se alguns imprevistos, como: (1) a ausência de medição de
um mesmo parâmetro, antes e depois do geoenrijecimento, por meio do mesmo método; (2) a
disponibilidade dos parâmetros solicitados pelas equações; e (3) a qualidade das medições executadas.
Um resumo dos parâmetros utilizados para cada obra pode ser observado na Tabela 1, onde: Perfil
indica o tipo de perfil geotécnico do local tratado baseado no estudo de Barata e Danziger (1986); H é a
espessura da camada de solo mole; cv é o coeficiente de adensamento vertical; Malha indica a configuração
da malha de geodrenos e de verticais de adensamento escolhida; Sg e Sv são os espaçamentos dos geodrenos
e das verticais de adensamento respectivamente; Vg é o volume de geogrout injetado a cada metro de
profundidade e RS é a razão de substituição de cada obra analisada. Nos itens subsequentes serão analisados
os valores de c por meio da resistência não-drenada, medida antes e após a aplicação da técnica, e por meio
dos valores da correlação do recalque do solo natural e do recalque do solo geoenrijecido ()

Tabela 1 - Dados das Obras Estudadas


Sg Sv Vg
Obras Perfil H (m) Malha RSd (%) cv (m²/ano)
(m) (m) (l)
Palmsa S 7 Triangular 1,50 3,00 1100 14,1 0,84 – 3,69
Parque dos Atletasb S 8 Quadrada 1,50 3,00 1000 11,1 6,22
Rodoanelc P-S 7 Quadrada 1,70 1,70 1200 41,5 -*
Rio Itajaí-Açu – Área Quadrada
L 10 1,00 1,41 700 35,0
1e + reforço
3,42 – 40,40
Rio Itajaí-Açu – Área
L 10 Triangular 1,50 3,00 700 9,0
2e
LEGENDA: Perfil S: apresenta camada mole superficial; Perfil P-S: caso intermediário, que apresenta
camada de aterro ou areia com pequena espessura quando comparada com a camada de argila mole; Perfil L:
apresenta depósito de solos moles com uma lente de areia. (Barata e Danziger, 1986)
a c e
Chavão (2015). Nogueira (2010). Sandoval (2016)
b d
Riccio et al. (2013). Rodrigues et al.(2017). *Dados não disponibilizados

3.2 Relação de c x Su

Os valores da resistência não-drenada (Su) de um perfil de solo usualmente variam com a


profundidade. Quanto mais confinado estiver o solo maiores serão as tensões atuantes nele e
consequentemente menor serão os índices de vazios (e0) e maior será o Su.
Segundo a Equação 5 é necessário obter a medição do valor de Su antes e após a aplicação da técnica.
A medição antes é comumente realizada nas obras brasileiras por meio do ensaio de palheta, no entanto, após
o geoenrijecimento a medição nem sempre é realizada e quando é, não costuma ser utilizado o ensaio de
palheta – possivelmente pela fragilidade do equipamento e logística de realização do ensaio ao entrar em
contato com um possível bulbo de grout disperso no caminho do ensaio.
Na obra do Condomínio Palms não foram disponibilizadas as medições após o geoenrijecimento,
impossibilitando a obtenção do c por Su. Já para obra do Parque dos Atletas, o Su nos dois momentos foi
medido pelo ensaio pressiométrico, segundo as correlações de Ghionna e Jamiolkowski (1981) e Briaud
(1986) e estão apresentados na Tabela 2.

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Tabela 2 - Valores de Su - Parque dos Atletas


Ghionna e Jamiolkowski (1981) Briaud (1986)
Prof.
Su0 Sus Su0 Sus
(m)
(kPa) (kPa) (kPa) (kPa)
1,2 13,4 22,2 6,9 17,5
3,0 9,1 16,8 15,9 23,4
5,0 11,2 41,5 20,9 44,4
7,0 80,3 110,5 71,5 75,7

A medição da resistência não-drenada na obra do Rodoanel foi realizada por ensaio de palheta no solo
natural, e após geoenrijecimento foi medida pelo ensaio de penetrômetro dinâmico leve (DPL). Nogueira
(2010) fez uma correlação entre os dois ensaios, e esta foi utilizada para correlacioná-los neste trabalho. Seus
valores estão apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 - Valores de Su - Rodoanel


Entre colunas Próximo aos drenos
Profundidade(m) Su0 (kPa)
Sus (kPa) Sus (kPa)
0 - 3,5 6 6,9 10,1
3,5 – 6,0 25 56,5 73,4

No tratamento da margem esquerda do rio Itajaí-Açu o único ensaio realizado antes e após a aplicação
da técnica foi o pressiométrico, por meio da correlação de Briaud et al. (1985). Devido a ausência de dados
na mesma profundidade, foram correlacionados os valores de Su0 na profundidade 3 m com os valores de Sus
na profundidade 5 m. Os valores encontrados estão mostrados na Tabela 4.

Tabela 4 - Valores de Su - Rio Itajaí-Açu - Áreas 1 e 2


Su0 Su0 Sus
Prof.(m) Ensaio Área Prof (m) Ensaio Sus (kPa)
(kPa) médio(kPa) médio(kPa)
3 PMT-05 2,8 2,8 5 PMT-03 118,0 118,0
1
7 PMT-01 12,0 12,0 7 PMT-04 121,4 121,4
PMT-07 23,0 PMT-04 54,0
PMT-11 18,3 PMT-06 59,1
8 23,1
PMT13 22,0 5 PMT-08 63,9 58,2
PMT-15 29,2 PMT-10 56,0
2 PMT-16 57,9
PMT-02 30,3
PMT-12 56,2
8 40,98
PMT-14 33,4
PMT-18 44,0

Os valores de c obtidos para estas obras através das resistências não-drenadas medidas são
apresentados na Figura 1, onde são percebidos alguns valores acima de 1. Há também uma curva de
tendência dos valores obtidos, que corresponde à previsão de que para maiores valores de Su menores tendem
a ser os valores de c. Vale ressaltar que esta equação da curva não pode ser utilizada como regra, é apenas
uma aproximação da variação para as obras estudadas neste trabalho, sendo necessário maiores estudos e
aprimoramento da mesma para uso geral.

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4,0
Parque dos Atletas - Ghionna e Jamiolkowski
3,5 Parque dos Atletas - Briaud
Rodoanel
3,0 Itajaí-Açu - Perfil tipo L - Área 1
Itajaí-Açu - Parâmetros definidos - Área 1
2,5 Itajaí-Açu - Tipo L - Área 2
c

Itajaí-Açu - Parâmetros definidos - Área 2


2,0

1,5
y = -0,331ln(x) + 1,7392
c = 1,0
1,0
c = 0,5
0,5
c = 0
0,0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Su0
Figura 1 - Compilação de Valores de c x Su0 para as Obras Estudadas

3.3 Relação de c x 

O valor de  é obtido pela relação do recalque final do solo sem tratamento (ρ 0) com o recalque final
do solo geoenrijecido (ρgeo). Apenas na obra do Condomínio Palms foi possível medir os recalques do solo
sem tratamento por meio de placas de recalque (utilizando o método de Asaoka, 1978), uma vez que foi a
única obra que tinha um aterro experimental nesta condição. Para a obra do Parque dos Atletas houve
monitoramento por placas de recalque após geoenrijecimento, e o recalque no solo sem tratamento foi
estimado por Riccio et al. (2013).
Na obra do Rodoanel os valores de recalque antes e depois da aplicação da técnica foram estimados
por Nogueira (2010) para cada placa de recalque, e então neste trabalho foi feito uma média destes valores.
Por  ser muito pequeno possivelmente devido à peculiaridade do espaçamento dos drenos ser igual ao dos
bulbos, não foram encontrados valores possíveis de c (valores positivos). No tratamento da margem
esquerda do rio Itajaí-Açu não houve monitoramento de recalques na área 1, e na área 2 esse monitoramento
foi realizado por apenas 45 dias, não sendo possível realizar a estimativa do recalque final por Asaoka
(1978). Os valores dos recalques antes e após aplicação da técnica, juntamente com sua relação  e o valor
de c encontrado para cada caso, podem ser vistos na Tabela 5.

Tabela 5 - Valores de c x  para as Obras Analisadas


Obra ρ0 ρCPR 1 c
Palms 0,76 m 0,16 m 4,75 0,63
Parque dos Atletas 1,20a m 0,29 m 4,14 0,84
Rodoanel 1,02b m 0,61b m 1,67 <0
a
Riccio et al. (2013)
b
Média dos valores medidos por Nogueira (2010)

3.4 Relação de c x RS

Visando tentar compreender o comportamento deste parâmetro, foram compilados todos os valores
encontrados para c (tanto os obtidos por meio de Su quanto os obtidos por ) associados à razão de
substituição (RS), como pode ser visto na Figura 2. Os resultados obtidos para uma amostra de Caulim

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estudada em laboratório por Mussi (2019) também são apresentados. Pode-se perceber que a maioria dos
resultados se concentraram entre 0,5 e 1,0, possibilitando para estas obras considerar o 0,5 como um valor
pessimista ao invés de 0. Nota-se também o quanto o parâmetro varia para um mesmo solo dependendo da
profundidade estudada, dessa forma os valores obtidos por meio de Su se mostraram mais característicos,
enquanto o obtido por  – por ter sido medida única – podem ser considerados como média.

2 Palms Residence - Via B


1,8
Parque dos Atletas - Via Su Briaud
1,6
Parque dos Atletas - Via Su Ghionna e
1,4 Jamiolkowski
Parque dos Atletas - Via B
1,2
c 1 Rodoanel - Via Su entre colunas
1
c

Rodoanel - Via Su próximo aos drenos


0,8
Itajaí-Açu - Via Su - perfil tipo L - Área 1
0,6 c 0,5
Itajaí-Açu - Via Su - perfil tipo L - Área 2
0,4

0,2 Itajaí-Açu - Via Su - Parâmetros


c 0 definidos - Área 1
0 Itajaí-Açu - Via Su - Parâmetros
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 definidos - Área 2
Amostras de Caulim em laboratório
Razão de Substituição - RS (%) (Mussi, 2019)

Figura 2- Compilação dos Resultados de c das Obras Estudadas em Relação a RS

4 Conclusões

O parâmetro de redução volumétrica por adensamento (c) influencia nos parâmetros de saída Sus, Eeq
e . No entanto, deveria haver um maior cuidado na obtenção e estimativa de seu valor pois notou-se que
este varia consideravelmente para um mesmo solo em diferentes profundidades (por meio de Su). Quanto
maior o Su0 menor tende a ser o valor de c.
O único caso possível de comparar os resultados obtidos pela resistência não-drenada e pela relação de
recalques foi o da obra do Parque dos Atletas. Constatou-se que o valor obtido pelas placas de recalque
representou uma média dos valores obtidos por Su medido a cada profundidade. Para o condominio Palms,
foi encontrado um valor intermediário para o parâmetro através apenas de .
No caso do Rodoanel, embora à princípio pudesse ter o valor do parâmetro pelas duas frentes de
obtenção, não foi capaz de se obter valores positivos. Isto possivelmente ocorreu devido ao amolgamento
gerado pela relação de espaçamento de drenos e de verticais de adensamento ser igual a 1, resultando numa
redução de recalques baixa quando comparada a situação inicial.
No tratamento da margem esquerda do rio Itajaí-Açu, foram detectados algumas incompatibilidades
nas profundidades analisadas antes e após aplicação da técnica (3 m comparado a 5 m) o que pode ter
influenciado na obtenção de alguns valores. Para ambas as áreas, não foi possível prever o parâmetro por ,
pois em uma não houve uso de placas de recalque e na outra o monitoramento foi de apenas 45 dias
impossibilitando o uso do método de Asaoka (1978) para previsões de recalques finais.
Pode-se perceber que entre as obras estudadas o valor pessimista do parâmetro foi de 0,5, e o limite
superior para a maioria dos resultados foi de 1.
Recomenda-se maiores estudos a cerca do parâmetro c para que melhores previsões sejam realizadas.

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Análise da Variação do Colapso de um Solo Argiloso do


Município de Apucarana - PR
José Henrique Nunes Garcia
Engenheiro Civil, Londrina, Brasil, josehenrique.ngarcia@gmail.com

Augusto Montor de Freitas Luiz


Docente, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Apucarana, Brasil, augustom@utfpr.edu.br

RESUMO: A concepção de um mapa mental acerca dos solos da região de Apucarana-PR ainda é deficitária
em função da carência de pesquisas neste sentido. Das inúmeras características inerentes aos solos, chama
a atenção um fenômeno de possível ocorrência na região de estudo: a colapsibilidade da estrutura dos solos,
uma vez que se tem conhecimento da alta porosidade do tipo de solo presente nesta região. Este trabalho
tem por objetivo apresentar um levantamento geotécnico básico de um solo típico de Apucarana e uma
verificação do potencial de colapsibilidade, a partir de uma análise dos critérios teóricos baseados em
Índices Físicos e por critérios baseados em Ensaios edométricos simples, com estágios de carga de
inundação incrementais. Para tanto, foram coletadas amostras deformadas e uma indeformada em diferentes
pontos do município e realizados ensaios, conforme as normas brasileiras e internacional norte-americana.
Os resultados obtidos confirmam a existência de solos argilosos altamente porosos e com certa plasticidade
na região de Apucarana. Os estudos de colapsibilidade, mediante a aplicação de critérios teóricos, apontam
resultados insuficientes para comprovação da existência de material colapsível em três pontos estudados.
Em um estudo mais aprofundado, a partir de ensaios edométricos simples com inundação, os resultados
mostraram que um Nitossolo vermelho apresentou comportamento colapsível de gravidade moderada a
uma tensão de inundação de 207,10 kPa. Conforme o aumento das tensões de inundação, o potencial de
colapso apresentou um crescimento até atingir um valor máximo e, após o pico, uma diminuição que tende
a estabilização.

PALAVRAS-CHAVE: Potencial de Colapso, Adensamento, Colapsibilidade.

ABSTRACT: The conception of a mental map about the soils of the Apucarana-PR region is still deficient
due to the lack of research in this regard. The innumerable characteristics inherent to soils, a phenomenon
of possible occurrence in the study region is noteworthy: the collapsibility of the soil structure, since it is
known of the high porosity of the soil type present in this region. This work aims to present a basic
geotechnical survey of a typical Apucarana soil and a verification of the potential for collapsibility, based
on an analysis of theoretical criteria based on Physical Indexes and by criteria based on simple edometric
tests, with load stages of incremental flooding. For this purpose, deformed and one undeformed sample
were collected in different parts of the city and tests were performed, according to Brazilian and
international standards. The results confirm the existence of highly porous clay soils with some plasticity
in the Apucarana region. Collapsibility studies, through the application of theoretical criteria, show
insufficient results to prove the existence of collapsible material in three studied points. In a more in-depth
study from simple flood edometric tests, the results showed that a red Nitosol exhibited collapsible behavior
of moderate gravity at a soaking stress of 207.10 kPa. As soakings stress increased, the collapse potential
presented a growth to a peak and after, decreased to stabilize.

KEYWORDS: Collapse potential, Consolidation, Collapsibility.

1 Introdução

Das inúmeras características inerentes aos solos, chama a atenção um fenômeno que ocorre em solos
tropicais, inclusive na região Centro-Norte do Paraná: a colapsibilidade da estrutura dos solos. Este

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fenômeno, segundo Lollo (2008), atribui-se aos solos que experimentam reduções de volumes repentinas
quando ocorre aumento de quantidade de água em seus vazios, submetidos ou não a uma aplicação de
sobrecarga. Estes solos são designados como solos colapsíveis.
Uma obra assentada neste tipo de solo pode apresentar uma série de patologias como recalque em
estruturas de fundações, trinca em alvenarias, empenamento de esquadrias, grandes fissuras em elementos
estruturais e até mesmo levar à ruína estruturas antigas, comprometendo a segurança de quem a utiliza
(SEGANTINI, 2008).
Este trabalho objetiva analisar a magnitude do comportamento colapsível, especificamente do
Potencial de Colapso, sob diferentes carregamentos de inundação, de um Nitossolo pertencente ao
município de Apucarana, no estado do Paraná, Brasil.

2 Área de Estudo

Apucarana está situada no Terceiro Planalto Paranaense e, de acordo com Manosso (2005), sobre um
tríplice divisor de águas dos rios Ivaí, Pirapó e Tibagi com altitude média de cota 800m acima do nível do
mar. Além disso, localiza-se sobre uma área de ocorrências de sucessivos derramamentos vulcânicos do
período Juro-Cretáceo, onde predominam rochas basálticas e andesi-basálticas.
Conforme Manosso (2005), na região urbana, os Latossolos Vermelhos estão predominantemente
presentes no platô principal, nas regiões de altas e médias vertentes, com relevos planos e suave ondulado,
enquanto os Nitossolos estão presentes nas regiões de baixas vertentes (vales), com relevo ondulado.
Estudos mais aprofundados acerca das características físicas e mecânicas dos solos são carentes nesta
região.

3 Critérios de Identificação de Solos Colapsíveis

Atualmente existem critérios teóricos, baseados em correlações com Índices Físicos, e ensaios,
laboratoriais ou em campo, para se desenvolver o estudo dos solos colapsíveis. Os critérios teóricos
existentes podem apresentar limitações, pois são restritos aos solos para os quais foram estabelecidos. Já os
critérios para ensaios em laboratório podem retratar as condições ideais para mensuração do colapso. Uma
estimativa em escala real é obtida apenas com critérios para ensaios realizados em campo (RODRIGES e
LOLLO, 2008).
O Quadro 1 apresenta os critérios teóricos de identificação de solos colapsíveis, resumidos por
Rodrigues e Lollo (2008).

Quadro 1. Critérios Teóricos Baseados em Índices Físicos.


Critério Equação Nº Avaliação
0,50 < K < 0,75 → Solos altamente colapsíveis
𝑒𝐿 K<1 → Solos Colapsíveis
Denisov (1951) 𝐾= (1)
𝑒0 K=1 → Argilas não colapsíveis
1,50 < K < 2,00 → Solos não colapsíveis
Código de 𝑒0 − 𝑒𝐿 Solo Colapsível para 𝜆 ≥ −0,1
𝜆 = (2)
Construção da URSS 1 + 𝑒0 Solo Expansivo para 𝜆 ≤ −0,3
𝑤
( 𝑆 0 ) − 𝐿𝑃
Feda (1966) (3) Solo Colapsível para K > 0,85
𝐾= 0
𝐿𝐿 − 𝐿𝑃
Solo Colapsível quando:
Código de Obras da 𝑒0 − 𝑒𝐿 CI < 0,10 para IP entre 1 e 10;
𝐶𝐼 = (4)
URSS 1 + 𝑒0 CI < 0,17 para IP entre 10 e 14;
CI < 0,24 para IP entre 14 e 22;
𝛾𝑤 𝛾𝑤
(𝛾 ) − ( 𝛾 )
Gibbs & Barra (5) Solo Colapsível para R > 1
𝑅= 𝑑 𝑠
𝐿𝐿

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O Quadro 2 apresenta os critérios de identificação de solos colapsíveis baseados em ensaios


edométricos, resumidos por Rodrigues e Lollo (2008).

Quadro 2. Critérios baseados em Ensaios edométricos simples.


Critério Equação Nº Avaliação
PC Gravidade do Problema
0-1% Nenhum
Jennings & Knight ∆𝑒 1-5% Moderado
𝑃𝐶 = ∙ 100% (6)
(1975) 1 + 𝑒𝑖 5-10% Problemático
10-20% Grave
>20% Muito Grave
∆𝑒
Vargas (1978) 𝑖 = (7) Solo Colapsível para i > 0,02
1 + 𝑒𝑖

Onde: 𝑒𝐿 é o índice de vazios no limite de liquidez, dado pela equação 8.:


𝛾
𝑒𝐿 = 𝐿𝐿 ⋅ 𝛾 𝑠 (8)
𝑤
O coeficiente 𝛾𝑠 é o peso específico dos sólidos; 𝛾𝑑 o peso específico do solo seco; 𝛾𝑤 o peso
específico da água; 𝑒0 o índice de vazios no estado natural; 𝑤0 é o teor de umidade natural; 𝑆0 o grau de
saturação natural; LL é o Limite de Liquidez; LP o Limite de Plasticidade; IP o Índice de Plasticidade; ∆𝑒
é a variação do índice de vazios pela inundação e 𝑒𝑖 é o índice de vazios inicial antes da inundação.

4 Metodologia

Para a realização da caracterização e análise do potencial de colapso foram coletadas amostras


deformadas em três pontos (A, B e C) e uma amostra indeformada, no ponto D, conforme a Figura 1.

Figura 1. Locação dos pontos de coleta de amostras.

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As coletas de amostras foram feitas em obras de construção civil, localizadas na região urbana do
município. Sendo que buscou-se coletar em pontos construtivos relevantes, como no interior de blocos de
estacas de fundação.
Os ensaios de caracterização foram realizados em todas as amostras, conforme as Normas brasileiras
da ABNT. Os ensaios edométrico simples na amostra do ponto D, de acordo com a Norma Internacional
Americana (ASTM), indicadas na Tabela 1.

Tabela 1. Ensaios e Normas


Ensaio Norma
Teor de umidade ABNT NBR 6457/2016
Limite de Liquidez ABNT NBR 6459/2016
Limite de Plasticidade ABNT NBR 7180/2016
Massa específica dos sólidos ABNT NBR 6458/2017
Análise Granulométrica ABNT NBR 7181/2016
Determinação da massa específica aparente (in situ) ABNT NBR 9813/2016
Ensaio Edométrico Simples ASTM D2435/2011

A caracterização dos solos permitiu realizar o cálculo dos Índices Físicos e a aplicação dos critérios
teóricos baseados nestes ensaios.
Realizou-se o ensaio edométrico simples sem inundação, com etapas de carga e descarga, a fim de
se obter uma curva de parâmetro e a tensão de pré-adensamento do solo. Em seguida, para este mesmo
bloco, foram realizados quatro ensaios edométricos simples com inundação a tensões incrementais, de 43,6
kPa, 98,1 kPa, 207,1 kPa e 425,1 kPa, aplicadas durante 24h, para se obter uma estimativa do
comportamento do Potencial de Colapso.

5 Resultados: Caracterização e Ensaios Edométricos Simples

Os Índices Físicos do solo estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2. Índices Físicos das amostras


Amostra
Índice Físico Unid.
A B C D
Peso específico natural γn 17,25 14,25 17,66 14,61 kN/m³
Peso específico dos sólidos γs 29,59 29,93 29,23 30,22 kN/m³
Peso específico aparente seco γd 12,29 9,86 13,08 10,45 kN/m³
Teor de umidade natural w 40,5 44,6 35,3 39,9 %
Limite de Liquidez LL 56 58 54 63 %
Limite de Plasticidade LP 42 46 43 48 %
Índice de Plasticidade IP 14 12 11 15 %
Porosidade ƞ 58,9 67,7 55,6 65,4 %
Saturação Sr 85,6 66,4 83,2 64,9 %
Índice de Vazios e 1,408 2,037 1,234 1,892 -
Índice de Vazios no LL eL 1,671 1,739 1,581 1,941 -

A análise granulométrica conjunta indicou que as partículas finas totalizam quase 93% do solo, sendo
cerca de 74% composto por grãos de argila; 18% de silte e aproximadamente 8% de areia fina. A
caracterização básica das três amostras revelaram solos residuais de basalto, de textura argilo siltosa, com
massa específica dos sólidos variando de 29 a 30 kN/m³, índice de plasticidade entre 10% a 15%, com
porosidade e saturação superiores a 55% e 66%, respectivamente.

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Os resultados dos ensaios edométricos simples permitiram a elaboração de um gráfico em que


compara a curva de compressão edométrica para cada estágio de inundação, conforme está ilustrado na
Figura 2.

1,00

0,95

0,90

0,85

0,80
e/e0

0,75

0,70

0,65

0,60

0,55
10,0 100,0 1000,0
log σv (kPa)
CURVA DE ADENSAMENTO NATURAL INUNDAÇÃO (425,1 kPa)
INUNDAÇÃO (207,1 kPa) INUNDAÇÃO (98,1 kPa)
INUNDAÇÃO (43,6 kPa)
Figura 2. Curvas de Compressão Edométricas.

Observa-se, no gráfico, cinco curvas de compressão de índice de vazios (e/e0) versus log σv (kPa) –
tensão vertical. Os índices de vazios são normalizados em relação ao seu estado inicial para facilitar a
visualização gráfica dos ensaios.
Ao final de cada curva, salva a de adensamento natural, ocorreu a inundação da amostra 24 horas
após aplicação da respectiva carga. Neste ponto ocorre a variação do índice de vazios decorrente da
inundação. É possível notar uma diferença maior para a tensão de 207,10 kPa e um valor insignificante para
a tensão de 43,6 kPa. Valores semelhantes foram encontrados por Gutierrez (2005) para um mesmo tipo de
solo, presente no município de Maringá – PR.
A tensão de pré-adensamento obtida pelo ensaio edométrico simples sem inundação foi de 76 kPa.

6 Critérios de Colapsibilidade e Variação do Potencial de Colapso

A seguir serão discutidos os critérios de identificação de solos colapsíveis determinados por meio
dos índices físicos e por ensaios edométricos simples, além da análise da variação do potencial de colapso.

6.1 Critérios Teóricos Baseados em Índices Físicos

A partir dos resultados dos ensaios foi possível aplicar os critérios teóricos baseados nos Índices Físicos,
apresentados no Quadro 1. Salienta-se que estes critérios apresentam alta sensibilidade perante as variações
dos resultados. Além disso, o fato de serem estabelecidos e estudados em diferentes países e tipos de solo

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variados, pode provocar análises imprecisas acerca dos solos tropicais brasileiros. As avaliações dos
critérios teóricos estão apresentadas na Tabela 3.

Tabela 3. Critérios Teóricos Baseados em Índices Físicos


Amostra
Critério
A B C D
Argila não Argila não Argila não
DENISOV K 1,18 0,85 Colapsível 1,28 1,02
colapsível colapsível colapsível
Código Não
Construção  -0,1 Colapsível 0,1 Colapsível -0,2 -0,02 Colapsível
colapsível
URSS
Não Não
FEDA K 0,46 1,83 Colapsível -0,08 0,89 Colapsível
colapsível colapsível

GIBSS & Não Não Não


R 0,8 1,2 Colapsível 0,8 0,97
BARA colapsível colapsível Colapsível
Código de Não se Não se
obras da CI -0,11 aplica (Sr > 0,1 Colapsível -0,16 aplica (Sr > -0,02 Colapsível
URSS 80%) 80%)

Nota-se que para os critérios teóricos baseados em índices físicos, algumas amostras apresentaram
potencial de colapso, enquanto outras não. E ainda, para uma mesma amostra, alguns métodos indicaram
colapsibilidade, diferindo o resultado de outros critérios. De fato, todos os solos analisados possuem
características físicas muito semelhantes e, consequentemente, esperava-se maior conformidade entre os
valores. Em contrapartida, a forma de coleta de cada amostra supostamente pode ter influenciado nos
resultados, já que as amostras A e C foram coletadas praticamente na superfície do terreno.

6.2 Critérios Baseados em Ensaios Edométricos Simples

Os valores de coeficientes de colapso, são calculados de acordo com o Quadro 2, utilizando-se dos
parâmetros de índice de vazios inicial e inundado. O termo coeficiente de colapso ou potencial de colapso
varia na literatura e recebem a denominação de acordo com a preferência de cada autor. A Tabela 4
apresenta os resultados dos critérios baseados nos ensaios edométricos simples realizados.

Tabela 4. Critérios Baseados em Ensaios Edométricos Simples


Tensão de Critério (coeficiente)
Avaliação/ Problema
Inundação (kPa) Vargas (i) Jennings & Knight (PC)
43,6 -0,0002 - Não colapsível
98,1 0,0091 - Não colapsível
207,1 0,2220 2,22% Colapsível/Moderado
425,1 0,1860 - Não colapsível

Estes resultados permitem entender, de forma mais aprofundada, que o solo pode ter comportamento
colapsível ou não, a depender da tensão que está experimentando no momento que sofre o umedecimento
brusco. De fato, para tensões de inundação na ordem próxima de 200 kPa, o Nitossolo vermelho é
considerado como colapsível pelos critérios baseados em ensaios edométricos, além de poder apresentar
problemas moderados em edificações, segundo o critério de Jennings & Knight (1975).

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6.3 Potencial de Colapso

A realização dos quatro ensaios edométricos simples inundados e o cálculo dos coeficientes de
colapso possibilitaram uma relação do comportamento colapsível, entre potencial do solo em se
desestruturar pela tensão que sofre a inundação. A curva que ilustra a variação do potencial de colapso em
função da tensão de inundação é apresentada na Figura 3.

2,45%

1,95%
POTENCIAL DE COLAPSO

1,45%

0,95%

0,45%

-0,05%
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

TENSÃO DE INUNDAÇÃO (kPa)


Figura 3. Curva de Potencial de Colapso versus Tensão de Inundação

A curva permite observar um crescimento do potencial de colapso com o aumento da tensão de


inundação até a ordem próxima de 200 kPa, em que atinge um ponto máximo (pico), seguido de uma suave
diminuição que tende a estabilização, ao se aumentar o carregamento.

7 Conclusões

A realização deste estudo abasteceu de forma pertinente a região de Apucarana, no sentido de


caracterização dos solos argilosos, comportamento mecânico, parâmetros e, especialmente, como alerta de
existência de solos colapsíveis na região.
No que se refere a colapsibilidade, os critérios teóricos não apresentaram um grau de confiança para
comprovar a ocorrência do fenômeno, apesar de alguns deles terem alertado para um possível potencial de
colapso. Assim, é recomendado utilizá-los para uma pré-avaliação, tomando-se as devidas precauções de
comparar todos os critérios, uma vez que ao analisar apenas um critério individualmente, sujeita-se ao risco
de obter uma conclusão imprecisa.
O potencial de colapso encontrado na tensão de inundação de 43,6 kPa, mesmo que de expansão, é
insignificante. Ainda assim poderia se considerar um resultado coerente, como observaram Vilar e Ferreira
(2015), elucidando a possibilidade de expansão de solos argilosos quando inundados sob uma tensão
inferior à de pré-adensamento.
Conclui-se que os Nitossolos vermelhos de Apucarana apresentam comportamentos colapsíveis para
tensões bruscas de inundação na ordem próxima de 200 kPa, no primeiro metro de profundidade. Para
tensões superiores ou inferiores a 200 kPa, os valores de potencial de colapso não permitem dizer que o
solo é colapsível, porém cabe dizer que os valores são muito próximos ao limite de 2% em que o fenômeno
ocorre.

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AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, em especial a equipe do


Campus Apucarana, pela estrutura disponibilizada para a realização deste estudo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

American Society For Testing And Materials ASTM D2435 / D2435M-11 (2011): Standard Test Methods
for One-Dimensional Consolidation Properties of Soils Using Incremental Loading. ASTM
International, West Conshohocken, PA, www.astm.org.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 6457. Amostras de solo: Preparação para ensaios
de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 6458. Grãos de pedregulho retidos na peneira de
abertura 4,8 mm - Determinação da massa específica, da massa específica aparente e da absorção de
água. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 6459. Solo — Determinação do limite de liquidez.
Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 7180. Solo — Determinação do limite de
plasticidade. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 7181. Solo — Análise granulométrica. Rio de
Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 9604. Abertura de poço e trincheira de inspeção
em solo, com retirada de amostras deformadas e indeformadas — Procedimento. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 9813. Solo — Determinação da massa específica
aparente in situ, com emprego de cilindro de cravação. Rio de Janeiro.
Gutierrez, N.H.M. (2005) Influências de aspectos estruturais no colapso de solos do norte do Paraná. Tese
(Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 311p.
Manosso, F.C. (2005) O estudo da paisagem no município de Apucarana – PR: as relações entre a
estrutura geoecológica e organização do espaço. Dissertação (mestrado). Departamento de Geografia
do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Universidade Estadual de Maringá. Maringá.
Lollo, J. A. D. (Org.) (2008) Solos Colapsíveis – Identificação, comportamento, impactos, riscos e soluções
tecnológicas. São Paulo: Cultura Acadêmica: Universidade Estadual Paulista.
Rodrigues, R. A.; Lollo, J. A. D. (2008) Identificação dos Solos Colapsíveis. In: Lollo, J. A. D. (Org.).
Solos Colapsíveis – Identificação, comportamento, impactos, riscos e soluções tecnológicas. São Paulo:
Cultura Acadêmica: Universidade Estadual Paulista, p. 129-150.
Segantini, A. A. D. S. Consequências do Processo de Colapso. In: Lollo, J. A. D. (Org.). Solos Colapsíveis
– Identificação, comportamento, impactos, riscos e soluções tecnológicas. São Paulo: Cultura
Acadêmica: Universidade Estadual Paulista, p. 119-128.
Vilar, O. M.; Ferreira, S. R. M. (2015) Solos colapsíveis e expansivos. In: Carvalho et. al. (Org.) Solos não
saturados no contexto geotécnico. São Paulo. Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica. cap. 15. v. 1. 759p.

1296
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0163 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Avaliação do Potencial Colapsível e Expansivo de Solos do


Nordeste Brasileiro por meio de Métodos Qualitativos e
Quantitativos
Aline Cátia da Silva
Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Recife-PE, Brasil, alinecatia.catia@gmail.com

Amanda Evelyn Barbosa de Aquino


Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Recife-PE, Brasil, amandabarbosaeng@gmail.com

Débora Soares Alves


Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Recife-PE, Brasil, soaresdebora30@gmail.com

Silvio Romero de Melo Ferreira


Universidade Federal de Pernambuco-UFPE, Recife-PE, Brasil, sr.mf@hotmail.com

RESUMO: Na Região Nordeste do Brasil há registros de sérios danos em construções apoiadas em solos
colapsíveis e expansivos, devido à instabilidade volumétrica que sofrem associada à ausência de uma prévia
investigação ou tratamento nas etapas de projeto e execução das obras, sendo importante o reconhecimento
das áreas em que ocorrem. O objetivo deste trabalho é analisar as características geotécnicas e classificar a
colapsibilidade e expansividade de solos da Região Nordeste, por meio de critérios de identificação
qualitativa e quantitativa, publicados na literatura. São agrupadas as características físicas, resultados de
ensaios de laboratório e locais de ocorrência de 172 pontos com solos colapsíveis e expansivos do Nordeste
brasileiro. Os métodos qualitativos têm aplicação restrita na identificação de solos colapsíveis e expansivos.
Os métodos quantitativos de solos colapsíveis da Região Nordeste indicam que tais solos causam danos de
moderados a graves as edificações e os solos expansivos apresentam baixa a muito alta expansividade,
causando danos que vão desde fissuras importantes até a demolição das edificações.

PALAVRAS-CHAVE: Solo colapsível, Solo expansivo, Métodos qualitativos, Métodos quantitativos.

ABSTRACT: In the Northeast Region of Brazil there are records of damage caused constructions about
collapsible and expansive soils, due to its volumetric instability associated with a lack of previous
investigation or treatment in the stages of design and execution of engineering works, making important to
recognize the areas that occurs. Thus, the objective of the work is analyze the geotechnical characteristics
and classify the collapse and expansion of soils from Northeast Region, using qualitative and quantitative
identification methods, published in the literature. The physical characteristics, results of laboratory tests and
places of occurrence of 172 points with collapsible and expansive soils of the Brazilian Northeast are
grouped. Qualitative methods have restricted application in the identification of collapsible and expansive
soils. Quantitative methods of collapsible soils from Northeast Region indicate moderate to severe damage to
buildings and the expansive soils have low to very high expansion, causing important cracks and even
demolition of buildings.

KEYWORDS: Collapsible soil, Expansive soil, Qualitative methods, Quantitative methods.

1 Introdução

Em regiões semi-áridas de clima tropical e temperado, em que a evapotranspiração supera a


precipitação, é comum se encontrar solos não saturados. Tais solos têm sido amplamente estudados na
literatura, sobretudo quando apresentam comportamento colapsível e expansivo, em virtude da instabilidade

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volumétrica ao serem umedecidos. Quando obras de engenharia são assentes nesses solos, sem uma prévia
identificação e tratamento, sérios danos podem ocorrer.
Solos colapsíveis são comumente identificados quanto à origem como residuais, aluvionares ou
eólicos, apresentam uma estrutura porosa e sofrem uma significativa diminuição de volume quando
inundados e submetidos a uma redução de sucção. O estado tensional, velocidade de inundação e tipo de
permeante são alguns fatores influentes no comportamento colapsível desses solos. No Brasil há ocorrência
de solos colapsíveis em todas as regiões (FERREIRA, 2008a).
Solos expansivos apresentam textura argilosa e sofrem deformações de expansão e contração com o
surgimento de fissuras em sua superfície, devido à variação de umidade resultante de repetidos ciclos de
molhagem e secagem. O maior ou menor potencial de expansão deve-se a combinação de fatores intrínsecos,
relacionados a presença de montmorilonita ou vermiculita, e fatores extrísecos, como o clima, vegetação ou
ocupação antrópica na região, que influenciam na umidade do solo local. Há registros da ocorrência deste
tipo de solo em todos os continentes, exceto nas regiões árticas, enquanto que no Brasil os solos expansivos
foram identificados em diversos estados das Regiões Nordeste, Sudeste e Sul (STEINBERG, 2000).
A maior concentração de casos de solos colapsíveis e expansivos citados na literatura nacional
ocorrem nas regiões Nordeste e Sudeste (FERREIRA, 2008b). No Brasil não se tem a estimativa dos custos
com danos causados por esses solos, porém na Região Nordeste há registros de sérios danos causados por
esses solos em edificações, canais de irrigação, pavimentos, dentre outros (JESUS; PINTO, 2018;
OLIVEIRA S. et al., 2018).
Há diversos métodos de classificação de solos colapsíveis e expansivos, divididos em métodos diretos
e indiretos. Os métodos indiretos fornecem indicativos da colapsibilidade e expansividade dos solos a partir
de índices físicos, propriedades plásticas, composição granulométrica, dentre outros, enquanto que os diretos
estimam o grau de colapso e expansão com base na análise real da variação de volume.
Frente aos danos causados as edificações sobrejacentes a esses tipos de solos, identificar previamente
um solo problemático tem sido cada vez mais necessário. Assim, de forma a contribuir com um banco de
dados sobre os solos colapsíveis e expansivos no Nordeste do Brasil, são reunidas e analisadas as
características geotécnicas desses solos em cada estado da região supracitada, bem como os graus de colapso
e expansão, empregando-se métodos diretos quantitativos e indiretos qualitativos de classificação.

2 Materiais e Métodos

A área selecionada para o estudo é a Região Nordeste do Brasil, segunda mais populosa do território
nacional, com concentração populacional e econômica localizada na faixa litorânea, e detentora da terceira
maior área do país, com Produto Interno Bruto (PIB) correspondente a 14,3% do Brasil (IBGE, 2016).
As características geotécnicas e localizações dos solos colapsíveis e expansivos com ocorrências
registradas na Região Nordeste foram obtidas a partir da consulta de artigos de simpósios, congressos,
revistas, dissertações, teses e casos de obras disponibilizados por empresas. As amostras de solo situadas em
mesmas coordenadas geográficas, porém coletadas em diferentes profundidades, são consideradas como
pontos distintos na coleta de dados deste trabalho. Embora as informações coletadas sejam individuais para
cada amostra de solo, a análise é realizada agrupando-se os dados para cada estado da Região Nordeste.
A classificação do potencial de colapso dos solos do Nordeste foi realizada empregando-se os métodos
de Gibbs e Bara (1962), Handy (1973) e Vilar e Rodrigues (2015), de caráter qualitativo, e os critérios
diretos propostos por Reginatto e Ferrero (1973), Jennings e Knight (1975), Vargas (1978) e Lutenegger e
Saber (1988), de caráter quantitativo. Para os solos expansivos foram utilizados métodos indiretos
qualitativos – Skempton (1953), Seed; Woodward e Lundgren (1962), Van Der Merwe (1964), Chen (1965)
e Daksanamurthy e Raman (1973) – e um método de avaliação direta quantitativa – Jimenez e Salas (1980).

3 Resultados e Análises

Foram identificadas 71 ocorrências registradas de solos colapsíveis e 101 casos de solos expansivos na
Região Nordeste do Brasil, distribuídos por mais de 50 municípios, Figura 1. Dos pontos com presença de
solos colapsíveis 45% situam-se no estado de Pernambuco, enquanto que para a ocorrência de solos
expansivos este valor corresponde a 46,5% no mesmo estado. Cabe salientar que algumas referências não

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apresentam todas as características geotécnicas das amostras investigadas, limitando a análise dos dados de
alguns pontos de ocorrência dos 172 identificados.
Na Região Nordeste solos colapsíveis são encontrados nos Complexos Monteiro e Carnaíba,
Formações Tacaratu, Jatobá, Barreiras, Vazantes e São Martins. São identificados solos expansivos
originados do Complexo Monteiro, das Formações São Sebastião, Ipojuca, Maria Farinha, Aliança, Inajá,
Barreiras, Seridó e Calumbi, e dos Grupos Salgueiro, Santo Amaro e Cachoeirinha.

Solos Colapsíveis Solos Expansivos

Piauí: [1] Teresina (Aquino, 2020), [2] Parnaíba Maranhão: [1] Grajaú (Gusmão Filho, 2002); Piauí: [2] Teresina
(Ferreira, 2008b); Ceará: [3] Fortaleza (Moura, Silva (Aquino, 2020), [3] Picos (Oliveira S. et al., 2018); Ceará: [4]
Filho e Dantas Neto, 2011), [4] Icó (Chagas, Moura e Juazeiro do Norte (Souza; Bandeira e Souza, 2018); Rio Grande do
Carneiro, 2019), [5] Crato (Rolim e Bandeira, 2016), Norte: [5] Parelhas (Ferreira, 2008b); Paraíba: [6] Sousa (Ribeiro,
[6] Juazeiro do Norte (Xavier et al., 2018), [7] Missão 2019); Pernambuco: [7] Igarassu, [8] Paulista, [9] Olinda, [10]
Velha, [9] Brejo Santo (Barbosa, Bandeira e Recife, [11] Cabo de Santo Agostinho, [16] Pesqueira, [17] Carnaíba,
Guilherme, 2016), [8] Barbalha (Guilherme et al., [18] Ibimrim, [19] Inajá, [20] Petrolândia, [21] Floresta, [22] Serra
2016); Rio Grande do Norte: [10] São Bento do Norte Talhada, [23] Salgueiro, [24] Cabrobó, [25] Cedro, [27] Petrolina, [28]
(Araújo et al., 2018), [11] Natal (Ferreira, 2008b); Afrânio (Ferreira, 2008a), [12] Ipojuca (Souza; Carvalho e Viana,
Paraíba: [12] Areia, [13] Sapé, [14] João Pessoa 2014), [13] Bonito (Silva e Ferreira, 2018), [14] Agrestina (Silva,
(Ferreira, 2008b); Pernambuco: [15] Goiana (Feitosa, 2018), [15] Brejo da Madre de Deus (Bezerra, 2019), [26] Santa Mª da
Oliveira e Ferreira, 2010), [16] Recife, [17] Gravatá, Boa Vista (Marinho e Ferreira, 2018); Alagoas: [29] Maceió (Ferreira,
[19] Carnaíba, [20] Petrolândia, [22] Cabrobó, [23] 2008b); Sergipe: [30] Nossa Srª da Glória, [32] Rosário do Catete, [33]
Santa Mª da Boa Vista, [24] Petrolina (Ferreira, Santo Amaro das Brotas, [34] Nossa Srª do Socorro, [35] Laranjeiras,
2008b), [18] Santa Cruz do Capibaribe (Oliveira e [36] Aracajú, [37] São Cristóvão, [38] Malhador, [39] Poço Verde
Ferreira, 2012), [21] Floresta (Araújo e Souza Neto, (Cavalcanti Jr., 2017), [31] Malhada dos Bois (Alves, 2013); Bahia:
2014); Sergipe: [25] Estância (Geotec, 2019); Bahia: [40] Juazeiro, [41] Feira de Santana, [46] Salvador (Ferreira, 2008b),
[26] Rodelas, [29] Bom Jesus da Lapa (Ferreira, [42] Amélia Rodrigues, [43] São Sebastião do Passé, [47] Candeias,
2008b), [27] Casa Nova (Brindeiro et al., 2018), [28] [49] Santo Amaro (Oliveira O. et al., 2018), [44] Camaçari (Burgos,
Barreiras (Burgos, Fonseca e Campos, 2010), e [30] 2010), [45] Simões Filho, [48] São Francisco do Conde (Oliveira;
Eunápolis (Coutinho, Castro e Dourado, 2010). Jesus e Miranda, 2006) e [50] Tucano (Jesus e Pinto, 2018).

Figura 1. Municípios do Nordeste brasileiro com ocorrências de solos colapsíveis e expansivos.

Os valores de Limites de Liquidez (LL) e Índices de Plasticidade (IP) dos solos colapsíveis dos
estados do Nordeste estão situados ligeiramente acima da Linha A e à esquerda da Linha B da Carta de
Plasticidade (LL< 50%), Figura 2b. A atividade dos solos (Skempton, 1953) varia de baixa a média, o
potencial expansivo, conforme critério de Van der Merwe (1964) é baixo, e a maioria dos solos se enquadra
como colapsível, segundo Handy (1973), Figura 2a. Pelos critérios de Gibbs e Bara (1962) e Vilar e
Rodrigues (2015), Figuras 2c e 2e, respectivamente, algumas amostras se classificam como não colapsíveis,
contudo apenas estas classificações não desqualificam o caráter colapsível dos solos.

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Pelo critério de Jennings e Knight (1975) a maioria dos solos colapsíveis com tensões de inundação
iguais ou superiores a 200 kPa são problemáticos ou indicam problemas graves quanto ao colapso nas
edificações. Pelo critério de Lutenegger e Saber (1988) os danos são de moderado a grave para grande parte
dos solos registrados. Segundo Vargas (1978), os solos são potencialmente colapsíveis, pois apresentam um
potencial de colapso superior a 2%, já a partir da tensão de 50 kPa, Figura 2c.
Considerando as tensões de pré-consolidação do solo na umidade natural (cn) do solo inundado
previamente (cs), a tensão das terras (vo) e o critério de Reginatto e Ferrero (1973) observa-se que os solos
colapsíveis do Nordeste são Condicionados ao Colapso, indicando que há necessidade de um acréscimo de
tensão para apresentar o colapso ou são Verdadeiramente Colapsíveis, podendo colapsar sobre o peso
próprio, Figura 3.
Quanto aos solos expansivos, os valores de LL e IP encontram-se no entorno da Linha A da Carta de
Plasticidade e a atividade varia de baixa a média, Figuras 4a e 4b. Os métodos indiretos qualitativos adotados
apresentam uma tendência de alta a muito alta expansão para os solos do Nordeste, Figuras 4b e 4c,
excetuando-se o critério de Skempton (1953), o qual qualifica vários solos com baixa a média expansividade,
Figura 4a. No critério de Jimenez Salas (1980), os danos em estruturas assentes em solos expansivos vão
desde fissuras importantes até a demolição das edificações, devido as tensões de expansão serem superiores a
50 kPa, Figura 4d.

Figura 2. Solos colapsíveis: cartas de atividade (a), plasticidade (b), métodos diretos de classificação (c),
critérios de Gibbs e Bara (1962) (d) e Vilar e Rodrigues (2015) (e).

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Obs: σcn – Tensão de pré-consolidação virtual do solo na umidade natural; σ cs – Tensão de pré-consolidação virtual do
solo inundado; σvo – Tensão vertical devido ao peso próprio do solo em campo.
Figura 3. Critério de Reginatto e Ferrero (1973) para solos colapsíveis do Nordeste brasileiro.

Figura 4. Solos Expansivos: cartas de atividade (a), plasticidade, métodos indiretos (b-c) e critério de
Jimenez Salas (1980) (d).

4 Considerações Finais

Este trabalho reúne informações a cerca das características geotécnicas e locais de ocorrência já
registrados na literatura de solos colapsíveis e expansivos do Nordeste brasileiro. Os métodos indiretos têm

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aplicação restrita na identificação de solos colapsíveis e expansivos, devendo ser complementados com
métodos quantitativos diretos.
A maioria dos solos colapsíveis do Nordeste brasileiro são problemáticos, causam problemas graves
nas edificações pela classificação Jennings e Knight (1975), danos de moderados a grave as edificações pela
classificação Lutenegger e Saber (1988) e são solos Condicionados ao Colapso ou Verdadeiramente
Colaspíveis, segundo Reginatto e Ferrero (1973).
Os solos expansivos do Nordeste brasileiro são classificados de alta a muito alta expansão pelos
métodos indiretos qualitativos, excetuando-se o critério de Skempton (1953) que qualifica vários solos com
baixa a média expansividade. Os solos podem causar danos que vão desde fissuras importantes até a
demolição das edificações pelo critério de Jimenez Salas (1980).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a CAPES, CNPQ e PROPESQ pelo apoio concedido por meio das bolsas de
Doutorado, Mestrado e Iniciação Científica.

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Caracterização e classificação geotécnica de possíveis jazidas de


solo para uso em vias não pavimentadas
Luiz Carlos Galvani Junior
Engenheiro Civil, Universidade Federal de Viçosa CRP, Rio Paranaíba, Brasil, eng.galvani@gmail.com

Luiz Eduardo Gil Peppe


Engenheiro Civil, Universidade Federal de Viçosa CRP, Rio Paranaíba, Brasil, luiz.peppe@ufv.br

Lucas Martins Guimarães


Professor Ajunto, Universidade Federal de Viçosa CRP, Rio Paranaíba, Brasil, guimaraeslm@ufv.br

Fernanda Yamaguchi Matarazo


Professora Substituta, Universidade Federal de Viçosa CRP, Rio Paranaíba, Brasil, fernanda.matarazo@ufv.br

Laura Guimarães Oliveira


Estudante, Universidade Federal de Viçosa CRP, Rio Paranaíba, Brasil, laura.g.oliveira@ufv.br

RESUMO: As rodovias não pavimentadas correspondem à aproximadamente 75% do total das estradas
brasileiras (Confederação Nacional de Transporte, 2019), e estas são encontradas, principalmente, em cidades
do interior e estão sob responsabilidade dos municípios, que por sua vez têm o dever de proporcionar segurança
e conforto aos usuários. Devido ao baixo volume de tráfego, é dispensável o revestimento betuminoso na
camada superior, fazendo-se necessário apenas a manutenção com a utilização de solo e maquinários para
regularização da pista de rolamento. Muitas vezes as prefeituras não possuem verba suficiente e/ou corpo
técnico especializado, que ocasiona a manutenção e consevação inadequada. Por essa razão, o estudo deste
trabalho expõe a caracterização e classificação geotécnica, de acordo com as diretrizes do Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) de possíveis jazidas localizadas ao longo do traçado da
estrada vicinal que liga Rio Paranaíba – MG à rodovia BR354, km 294, sentido a Carmo do Paranaíba – MG.
Foram retiradas amostras de três possíveis jazidas, caracterizadas e classificadas pelos métodos Transportation
Research Board (TRB), Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS) e Miniatura, Compactado,
Tropical (MCT). Os três solos estudados são adequados para a utilização como material de manutenção da
rodovia, uma vez que obteve-se alta capacidade suporte e baixa expanção para as amostras, atingindo 96%,
60% e 49% de CBR e 0,05%, 0,60% e 0,03% de expansão, para os solos das jazidas 1, 2 e 3, respecitvamente.

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização de jazidas, classificação geotécnica, rodovia não pavimentada.

ABSTRACT: The unpaved roads correspond to approximately 75% of Brazilian roads (Confederação
Nacional de Transporte, 2019). These roads are mostly found in inner cities and are under municipal
responsibility, which in turn, have the duty to provide safety and comfort for road users. Due to the low volume
of traffic, it is dispensable bituminous coating on the upper layer, making it necessary only the use of soil and
machines for road regularization. Local governments often do not have enough resources and/or specialized
engineer which causes inadequate maintenance and conservation. For this reason, the study of this paper
exposes the geotechnical characterization and classification according to the guidelines of the Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) of possible deposits located along the tracing of the outer
road connecting Rio Paranaíba – MG to BR354 highway, km 294, towards Carmo do Paranaíba – MG. Samples
were collected from three possible fields, characterized and classified by the methods Transportation Research
Board (TRB), Unified Soil Classification System (USCS) and Miniature, Compacted, Tropical (MCT). The
three soils studied are suitable for use as maintenance material, since high support capacity and low expansion
for the samples were obtained, reaching 96%, 60% and 49% of CBR and 0.05%, 0.06% and 0.03% of
expansion, for the soils of deposits 1, 2 and 3, respectively.

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KEYWORDS: Deposits characterization, geotechnical classification, unpaved road.

1 Introdução

As estradas não pavimentadas, também denominadas como estradas de terra, segundo Eaton et al. (1987)
apud Nunes (2003), são vias as quais o revestimento é constituído apenas por solo local, sendo desprovida de
qualquer tipo de tratamento superficial por betume ou cimento Portland. A Confederação Nacional de
Transporte (CNT, 2014) expõe em sua pesquisa que cerca de 80% da malha rodoviária existente não é
pavimentada. Em Minas Gerais, o estado que possui a maior malha rodoviária do Brasil, cerca de 16% da
malha existente, possui 88,3% dela sob concessão dos municípios e de acordo com Nitschke (2012) 90,1%
dos quilômetros não são pavimentados. A pequena quantidade de estradas pavimentadas é justificada pelo alto
custo de implantação e manutenção.
O Alto Paranaíba, região onde se encontra as cidades de Rio Paranaíba e Carmo do Paranaíba, tem como
suas principais atividades econômicas a agropecuária e a extração mineral, o que aumenta a importância das
boas condições das vias não pavimentadas que segundo Nunes (2003), devem possuir boas condições de
conservação, de rolamento e de segurança, já que essas são de grande importância socioeconômica. A estrada
que liga o município de Rio Paranaíba à BR354 possui grande escoamento agropecuário e transporte de
usuários.
Devido aos altos custos para adoção de técnicas de pavimentação, torna-se inviável ao município
pavimentar todas as estradas existentes e para a mitigação deste problema o município deve adotar operações
que garanta segurança e conforto aos usuários. De acordo com Fattori (2007), para iniciar a recuperação da
rodovia não pavimentada, algumas medidas devem ser levadas em consideração para que sejam executadas
com rapidez, pequeno transtorno de tráfego e pouco desperdício de verba, entre elas estão a seleção prévia do
material de jazidas, estudo e checagem de materiais necessário, campo de obra, dentre outros fatores.
Portanto, viu-se necessário caracterizar e classificar possíveis jazidas de solo que estão nas proximidades
da estrada vicinal em questão, diminuindo a distância de implantação e o custo do transporte de material.

2 Objeto de estudo

A rodovia municipal que liga a cidade de Rio Paranaíba – MG à BR354, também conhecida como
Rodovia Sebastião Alves do Nascimento, é uma estrada vicinal, Figura 1, de 19,5 km de extensão, não
pavimentada, que tem como função o escoamento da produção agrícola, assim como o transporte escolar e de
passageiros da região, sendo utilizada como uma via de curto acesso entre as cidades de Rio Paranaíba e Carmo
do Paranaíba.

Figura 1. Rodovia municipal de ligação entre Rio Paranaíba e BR 354, km 294.

2.1 Coleta de amostras

Inicialmente identificou-se as possíveis jazidas de solo ao longo do traçado da rodovia, estas inspeções
foram realizadas por trado manual simples com objetivo de localizar ocorrências de solos granulares,
considerados aproveitáveis como material de reforço e regularização da superfície da via. A avaliação inicial
foi através do ensaio táctil visual de acordo com a NBR 7250 – Identificação e descrição de amostras de solos
obtidas em sondagens de simples reconhecimento dos solos.

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De acordo com o DNIT (2006), os materiais recolhidos na prospecção preliminar devem passar por
ensaios de granulometria, limite de liquidez (LL), limite de plasticidade (LP), equivalente de areia,
compactação, Índice de Suporte Califórnia (CBR) e expansão, Fattori (2007) acrescenta que é recomendado
que seja realizada uma investigação prévia também para a execução e manutenção do pavimento.
Em campo, as três jazidas selecionadas já possuíam sinais de exploração prévia, em vista disso, as
amostras foram coletadas nos perfis dos taludes com auxílio de pá e picareta. A Figura 2 refere-se à jazida 1
(19º 08’ 19,9’’S, 46º 16’ 02,2’’O) à uma distância de 3 metros da rodovia, jazida 2 (19º 08’ 17,8’’S, 46º 16’
03,4’’O) a uma distância de 10 metros da rodovia e jazida 3 (19º 07’ 58,9’’S, 46º 15’ 54,4’’O) a uma distância
média de 20 metros, respecitvamente, e os pontos em vermelho representam os pontos de coleta das amostras.
O solo foi coletado de três pontos distintos na mesma jazida a fim de homogeneizar e melhorar a caracterização
da mesma, Figura 2. As jazidas encontram-se próximas entre si, as jazidas 1 e 2 estão a 100 metros de distância
e a jazida 2 e 3 a 650 metros, confome Figura 3.

Figura 2. Jazidas 1,2 e 3 e pontos de coleta de material.

Figura 3. Localização das jazidas de solo.

2.2 Ensaios realizados

A caracterização e classificação dos solos de jazidas é trivial para os estudos preliminares de


implantação de obras rodoviárias, na Tabela 1 são apresentados os resultados do ensaio granulométrico, limites
de consistência, massa específica dos sólidos, massa específica seca máxima e teor de umidade ótimo e na
Figura 4 as curvas granulométricas.

Tabela 1. Fração granulométrica, limites de Atterberg e massa específica dos sólidos dos solos 1, 2 e 3.
Solo 1 Solo 2 Solo 3
Argila 8,5 15,5 12,2
Silte 4,5 4,7 5,6
Fração Granulométrica (%) Areia 10,2 23,8 32,0
Pedregulho 76,8 56,0 50,2
LL 31,2 33,0 37,5
Limites de Atterberg
LP 16,6 23,8 27,6
(%)
IP 14,6 9,2 9,9
Massa específica dos sólidos (g/cm³) 2,89 2,78 2,96
Massa específica seca máxima (g/cm³) 2,27 2,11 1,96
Teor de umidade ótima (%) 12,2 14,0 18,2

Através da análise da distribuição granulométrica, tem-se que o solo 1 se enquadra na faixa B e os solos
2 e 3 se enquadram na faixa D de especificação de faixas granulométricas preconizadas pelo DNIT (2006).
Apesar da jazida 1 se encontrar próxima à jazida 2 é possível notar uma variação significativa entre as

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distribuições, assim como estas também diferem quanto aos aspectos de cor e textura, já as jazidas 2 e 3, que
se localizam mais distânciadas, possuem semelhança nesses aspectos, esta similaridade pode ser justificada
por terem o mesmo grau de imtemperização dos solos.

Figura 4. Distribuição granulométrica das jazidas 1, 2 e 3.

Na Figura 5 são apresentadas as curvas de compactação dos solos 1, 2 e 3, respectivamente. Notou-se


picos de máximo bem definidos, esses picos devem-se ao alto teor de areia e pedregulho em suas composições.

Solo 1 Solo 2 Solo 3

Figura 5. Curvas de compactação das jazidas 1, 2 e 3.

Rao et al. (2000) explica que o ensaio California Bearing Ratio (CBR) mede a capacidade de um solo
compactado, e é expresso a partir da relação em porcentagem da pressão que um pistão de diâmetro
padronizado aplica em um solo até certo ponto de deformação, com a pressão que esse mesmo pistão penetre
sob mesma deformação em solo padrão de brita. Segundo Senço (2007) o CBR é uma das características mais
admitidas para avaliar o comportamento de um solo. As curvas obtidas para o solo 1, 2 e 3 estão dispostas na
Figura 6.
Solo 2 Solo 3
Solo 1

Figura 6. Curvas CBR para os solos 1, 2 e 3.

A Tabela 2 introduz os resultados dos ensaios CBR obtido nos três solos. Os baixos valores de expansão
caracterizam solos de baixa variação volumétrica quando em imersão, que segundo o DNIT (2006) resulta em
solos de boa aplicabilidade para uso nas camadas de rodovia.
O DNIT (2006) especifíca limites de expação máxima de 2% para solos empregados em subleito, 1%
para materiais de refoço de subleito e sub base e máxima de 0,5% para materiais de base. A elevada fração de

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pedregulhos com significativa fração de ligantes nos solos 1, 2 e 3, proporcionam a estes altas capacidades de
suporte.
Tabela 2. Expansão e CBR dos solos
Solo 1 Solo 2 Solo 3
Expansão (%) 0,05 0,06 0,03
CBR (%) 96 60 49

Um trecho da tabela proposta por South Dakota Local Transportation USA (2000) apud Fattori (2007)
está disposta na Tabela 3, de acordo com Fattori (2007) ela é usada para indicar a espessura mínima da camada
de revestimento em função do tráfego de veículos pesados na rodovia e da capacidade de suporte do subleito.
Considerando esta via com o tráfego de 10 a 25 veículos pesados por dia, é necessário espessura mínima de
18,0 cm deste material compactado na camada de revestimento.

Tabela 3. Expansão e CBR dos solos adaptado de South Dakota Local Transportation USA (2000) apud
Fattori (2007) (modificado)
Volume estimado de veículos pesados Condição de suporte do subleito Espessura mínima sugerida
Baixo 29,0
10 a 25 Médio 13,0
Alto 18,0

3 Classificação dos solos


3.1 Classificação Miniatura, Compactado Tropical (MCT)

Nas Figuras 7, 8 e 9 são apresentadas as famílias de curvas de compactação dos solos e curvas de
deformabilidade dos solos 1, 2 e 3. O fator d’ corresponde ao maior coeficiente angular da reta tangente à
curva correspondente a dez golpes multiplicado por 10³ no gráfico das famílias de compactação, o fator c’
corresponde ao maior coeficiente angular da reta tangente à curva de umidade intermediária no gráfico de
deformabilidade e o fator Pi corresponde à perda de massa por imersão para valores de 10 golpes, obtido no
gráfico das famílias das curvas de compactação. O coeficiente e’ é calculado a partir do coeficiente d’ segundo
a Equação 1.

3 𝑃𝑖 20
𝑒 ′ = √100 + 𝑑′ (1)

Figura 7. Curvas de compactação e perda de imersão e cuvas de deformabilidade do solo 1

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Figura 8. Curvas de compactação e perda de imersão e cuvas de deformabilidade do solo 2

Figura 9. Curvas de compactação e perda de imersão e cuvas de deformabilidade do solo 3

A Tabela 3 apresenta os coeficientes e a perda por imersão obtidos nos respectivos gráficos das famílias
das curvas de compactação e curvas de deformabilidade, para determinação dos fatores de classificação dos
solos.

Tabela 3. Coeficientes, perda por imersão e classificação dos solos pelo método MCT
Fatores MCT Solo 1 Solo 2 Solo 3
c' 0,10 1,40 1,3
d' 59,70 53,33 40,00
Pi 1,00 1,00 1,00
e' 1,10 1,11 1,14
Classificação LA LA’ LA’

O solo LA é uma areia com pouca argila de comportamento laterítico. Este tipo de solo de acordo com
com ábado para classificação MCT apresentada por DNIT (2006) tem característica de possuir alto mini CBR
sem imersão, possuir baixa perda de suporte quando em imersão, baixa expansão e contração, média para baixa
permeabilidade e baixa plasticidade. A baixa perda de suporte por imersão foi confirmada pelo alto CBR
apresentado pelo solo 1, assim como a baixa plasticidade e a baixa expansão.
O solo LA’ é uma areia argilosa com comportamento laterítico. Este tipo de solo possui alto ou muito
alto mini CBR sem imersão, perda considerável de suporte por imersão, baixa expansão e permeabilidade,
contração e plasticidade de baixa a média. A redução da capacidade de suporte por imersão foi confirmada
pela apresentação de menores valores de CBR pelos solos 2 e 3, assim como a baixa plasticidade e a baixa
expansão.
Em razão da alta perda de massa por imersão, pode-se citar que estes solos não são de boa aplicabilidade
na execução de taludes, tendo em vista o fácil carreamento dos grãos pela força da água.

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3.2 Transportation Research Board (TRB)

De posse dos resultados de granulometria e limites de Atterberg e tabela de classificação TRB


apresentada por DNIT (2006) classificou-se os solos conforme Tabela 4.

Tabela 4. Classificação dos solos pelo método TRB


Solo 1 Solo 2 Solo 3
Classificação TRB A-2-6 A-2-4 A-2-4

Os subgrupos A-2-4 e A-2-6 incluem solos contendo 35% ou menos passando na peneira n° 200, com
uma porção menor retida na peneira n° 40, com limites de liquidez menores que 40%. Os três solos, segundo
a classificação, possuem comportamento como sub leito de excelente a bom e basicamente são constituídos
por pedregulhos e areias argilosas.

3.3 Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS)

De posse dos resultados de granulometria e limites de Atterberg e tabela de classificação SUCS


apresentada por DNIT (2006) classificou-se os solos conforme Tabela 5.

Tabela 5. Classificação dos solos pelo método SUCS


Solo 1 Solo 2 Solo 3
Classificação TRB GP SP SP

O solo 1, segundo esta classificação, é mistura de areia e pedregulho com pouco fino, assim como os
solos 2 e 3 que, apesar de não se enquadrarem na mesma classificação do solo 1, são constituídos por areais
pedregulhosas com pouco fino. Segundo o DNIT (2006) são classificados como misturas não uniformes de
material muito grosso, e areia muito fina, faltando partículas com tamanhos intermediários.
De acordo com Pastore et al. (1998), o solo GP possui boa trabalhabilidade como material de construção
e boa resistência quando compactado e saturado, e o solo SP possui trabalhabilidade regular como material de
construção e boa resistência quando compactado e saturado.

4 Conclusão

A partir dos resultados das caracterizações e classificações dos solos das três possíveis jazidas,
localizadas na estrada Rio Paranaíba-MG à BR 354, km 294, concluiu-se que estes solos são de excelente
qualidade para serem utilizados como materiais de manutenção da camada de base da rodovia.
Os solos das jazidas 2 e 3, apesar de estarem mais distantes entre si, apresentaram semelhanças nas
propriedades granulométricas, assim como nos limites de consistência, levando-os à convergência nas
classificações pelos métodos TRB, SUCS e MCT, uma vez que esses métodos levam em conta apenas
granulometria e os limites de Atterberg, enquanto que a jazida 2 apresenta diferenças significativas da jazida
1, mesmo estando mais próximas.
Os resultados das classificações atenderam às inter-relações propostas pelo DNIT (2006).
As localizações intermediárias na rodovia das três possíveis jazidas propiciam diminuição na distância
média de transporte dos solos às áreas em manutenção, gerando aumento na relação custo-benefício, visto que
grande parte dos custos operacionais de manutenção e conservação estão relacionados com o transporte de
materiais. Outro ponto importante para a logística das obras é que não requerem a acomodação dos
trabalhadores no local da obra, sendo necessário apenas o transporte dos colaboradores para o local, devido à
curta distância à cidade.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ensaio. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). NBR 6457. Amostra de solo – preparação de ensaio de
compactação e ensaio de caracterização. Rio de Janeiro
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). NBR 6459. Solo - determinação do limite de liquidez. Rio
de Janeiro
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). NBR 6508: Grãos de solos que passam na peneira de 4,8
mm - determinação da massa específica. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). NBR 7180: Solo - determinação do limite de plasticidade.
Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). NBR 7181: Solo - análise granulométrica. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986). NBR 7182: Solo - ensaio de compactação. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1987). NBR 9895: Solo - índice de suporte Califórnia. Rio de
Janeiro.
Confederação Nacional de Transportes. (2019) Pesquisa CNT de rodovias 2014: relatório gerencial. 2014.
Brasília, DF.
Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte, DNIT. (2006) Manual de pavimentação. 3 ed. Rio de
Janeiro, 274 p.
Fattori, B. J. (2007) Manual para manutenção de estradas com revestimento primário. Trabalho de Diplomação
- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, 2007.
Nitschke, C. A. S. (2012) Metodologia de implementação das redes de atenção de urgência e emergência no
estado de Minas Gerais. Conselho Nacional de Secretários de Saúde: Brasília, DF.
Nunes, T. V. L. (2013) Método de previsão de defeitos em estradas vicinais de terra com base no uso das redes
neurais artificiais: trecho de Aquiraz - CE. 2003. 118f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de
Transportes) - Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE.
Pastore, E. L., Fortes, R. M. (1998). Caracterização e classificação de solos. In: Geologia de Engenharia.
Editores: Antônio Manoel dos Santos Oliveira e Sérgio Nertan Alves de Brito. Associação Brasileira de
Geologia de Engenharia, São Paulo, SP
Rao, A. V. N. (2000) Venkatramaiah, C. Geotechnical Engineering. Hyderguda, Hyderabad, India: Orient
Longman Limited, 585 p.
Senço, W. (2007) Manual de técnicas de pavimentação. 2. ed. São Paulo: Pini, 764 p.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0165 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Aplicabilidade da Dosagem Físico-Química em Misturas Solo-


Cimento para a Pavimentação
José Wilson dos Santos Ferreira
Doutorando em Geotecnia, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, ferreira.jose@aluno.unb.br

Diego Manchini Milani


Mestrando em Eng. Civil, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, diego_milani_@hotmail.com

Michéle Dal Toé Casagrande


Professora Titular, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, mdtcasagrande@unb.br

Raquel Souza Teixeira


Professora Associada, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, Brasil, raquel@uel.br

RESUMO: Concernente ao processo de dosagem de misturas solo-cimento, tem-se atualmente o projeto de


dosagem físico-química proposto pelo DNIT, o qual propõe-se a simplificar o processo de determinação do
teor mínimo de cimento requerido para estabilização química do solo. Assim, o presente estudo visa averiguar
a adequabilidade da metodologia de dosagem físico-química na previsão da resistência mínima de projeto de
misturas solo-cimento para utilização em base de pavimento. Utilizando areia fina à média siltosa e teores de
2, 4, 6, 7, 8 e 10 % de cimento CP II Z-32 e CP V-ARI, além da dosagem físico-química, foram realizados
ensaios de compactação e Resistência à Compressão Simples. A metodologia de dosagem indicou os teores
mínimos de 4 % (CP II) e 7 % (CP V) para estabilização do solo, entretanto, a presença de partículas em
suspensão após período de repouso sucedeu na repetição do ensaio com ajuste no procedimento experimental,
com base no qual as leituras apontaram para os teores de 7 % e 4 % para os cimentos CP II e CP V. Ao analisar
a previsão de ambos ensaios com a RCS, foi demonstrada maior proximidade dos resultados oriundos do ensaio
com ajuste experimental. Por se tratar de metodologia recente, somente a sua utilização em rotinas de ensaios
possibilitará a averiguação de sua viabilidade para diferentes solos e futuras proposições de refinamentos.

PALAVRAS-CHAVE: Dosagem físico-química, Resistência à Compressão Simples, Estabilização química,


Solo-cimento, Pavimentação.

ABSTRACT: Regarding the process of dosing soil-cement mixtures, there is currently the physicochemical
dosing project proposed by DNIT, which proposes to simplify the process of determining the minimum cement
content required for chemical soil stabilization. Thus, the present study aims to investigate the physicochemical
dosing methodology suitability in predicting the minimum design resistance of soil-cement mixtures for use
on pavement base. Using silt sand and contents of 2, 4, 6, 7, 8 and 10% of Type I and Type III Portland cement,
in addition to the physical-chemical dosage, compaction and Unconfined Compression Strength tests were
carried out. The dosage methodology indicated the minimum levels of 4% (Type I) and 7% (Type III) for soil
stabilization, however, the presence of particles in suspension after resting period succeeded in repeating the
test with adjustment in the experimental procedure, based on which the readings pointed to the contents of 7%
and 4% for Type I and Type III cement. When analyzing the prediction of both tests with UCS, the
experimental adjustment test demonstrated a greater agreement to the results. Because it is a recent
methodology, only its use in testing routines will enable the investigation of its feasibility for different soils
and future proposals for refinements.

KEYWORDS: Physicochemical dosage, Unconfined Compression Strength, Chemical Stabilization, Soil-


cement, Paving.

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1 Introdução

A escassez da disponibilidade de materiais naturais com características técnicas adequadas, associada a


limitações impostas por especificações rodoviárias vigentes, faz com que o solo, matéria-prima vastamente
utilizada em obras de pavimentação, frequentemente apresente propriedades que não se enquadram aos
requisitos de projeto.
Sob essa ótica, há a possibilidade de alterar as propriedades do solo local por meio de técnicas de
estabilização, minimizando os efeitos de perturbação ambiental, redução do custo com transportes e
diminuição das emissões de gases poluentes. Nesse sentido, merece destaque a técnica de estabilização química
com adição de cimento, empregada no Brasil desde 1939, por meio da qual obtém-se melhorias no
comportamento mecânico do solo, representado por ganhos de resistência, estabilidade volumétrica,
diminuição de permeabilidade e compressibilidade, com consequente aumento da durabilidade (Consoli et al.,
2007; Cancian et al., 2017; Ferreira, 2019).
Ainda assim, o estudo de misturas solo-cimento para aplicação em camada de estrutura de pavimento
ocorre mediante a moldagem de inúmeros corpos de prova tanto na etapa de dosagem e construção das curvas
de compactação quanto nas investigações laboratoriais de comportamento mecânico, demandando elevado
volume de material natural (Khan et al., 2006; Kutanaei; Choobbasti, 207; Mandal et al., 2018).
Da tentativa de simplificar o procedimento de dosagem de cimento adveio o atual projeto de dosagem
físico-químico proposto pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), baseado na
hidratação do cimento e interação elétrica entre o agente e as partículas de argila, ocasionando mudanças físico-
químicas rápidas no sistema e variações volumétricas (Oliveira; Motta, 2013; Almeida, 2016). Desta forma, o
presente estudo visa verificar a adequabilidade da metodologia de dosagem físico-química na previsão da
resistência mínima de projeto de misturas solo-cimento para emprego em base de pavimento, assim como
contribuir para sua aplicação em estudos futuros.

2 Materiais e Métodos

2.1 Materiais

O solo utilizado no estudo foi coletado em área próxima às margens da rodovia federal BR-376, no
município de Mandaguaçu – PR, localizado a aproximadamente 123 km do Laboratório de Geotecnia da
Universidade Estadual de Londrina – PR (Figura 1), local em que os ensaios foram realizados.
Predominantemente arenoso, o sílicio é o elemento majoritário no solo, apresentando alumínio e ferro em
menores quantidades (Gonçalves et al., 2018).
A caracterização do solo está apresentada na Tabela 1. De acordo com os sistemas de classificação
SUCS (Sistema Unificado de Classificação de Solos), AASHTO (American Association of State Highway and
Transportation Officials) e metodologia MCT, o solo é identificado como uma areia argilosa (SC), pertencente
ao grupo A-2-4 e arenoso fino laterítico (LA’), respectivamente.

Tabela 1. Caracterização do solo. Fonte: Autores.


Parâmetro Valor
-3
Massa Específica Seca Máxima - ρd (g.cm ) 1,87
Mandaguaçu Teor de umidade ótima - ωót (%) 13,7
Massa Específica dos Sólidos - ρs (g.cm-3) 2,69
Londrina Limite de Liquidez - LL (%) 27,0
Limite de Plasticidade - LP (%) 17,0
Índice de Plasticidade - IP (%) 10,0
Areia grossa (%) 0,0
Areia média (%) 37,0
Areia fina (%) 46,5
Silte (%) 16,5
Argila (%) 0,0
Figura 1. Local de coleta do solo. Fonte: Autores.

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Acerca dos agentes estabilizantes, foram utilizados os cimentos Portland com adição de pozolana (CP
II Z-32) e de alta resistência inicial (CP V-ARI). A escolha do CP II se deu pelo uso desse agente em pesquisas
desenvolvidas anteriormente no laboratório de Geotecnia da Universidade Estadual de Londrina, além da
grande disponibilidade desse cimento na região de estudo, ao passo que o uso do CP V foi motivado pela sua
difusão em pesquisas científicas com solo-cimento e pelo acelerado ganho de resistência em idades iniciais
(Consoli et al., 2007; Cancian et al., 2017; Ferreira et al., 2018; Ferreira, 2019).
Todos os experimentos foram realizados utilizando água fornecida pela rede de abastecimento após
processo de destilação.

2.1 Métodos

Para ser empregado nos ensaios de dosagem, compactação e Resistência à Compressão Simples (RCS),
o solo foi preparado seguindo os procedimentos de secagem ao ar, destorroamento, homogeneização,
quarteamento e determinação o teor de umidade higroscópica, com base na Associação Brasileira de Normas
Técnicas – ABNT NBR 6457 (2016).
A dosagem físico-química foi realizada de acordo com o projeto de dosagem proposto pelo
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), sendo separadas 20 g de solo destorroado a
ser colocado em provetas de 250 ml, assim como quantidades de cimento (Figura 2a), calculadas em relação a
porcentagem do agente por massa seca de solo, variando entre 1 e 2 %. As duas porções foram misturadas à
seco (Figura 2b), e adicionado água destilada. Além da proveta de referente (sem adição de cimento), foram
adotados os teores de 2, 4, 6, 7, 8 e 10 %.
Após 24 h de repouso em superfície plana, livre de vibração, a mistura foi agitada durante 30 segundos,
aguardando-se o período mínimo de 2 h para sedimentação e realização de leitura do volume (Figura 2c). Essa
operação foi repetida no decorrer de vários dias, até que se obtivesse em duas leituras consecutivas valores
análogos ou decréscimos.

(a) (b) (c)


Figura 2. Procedimento para realização de dosagem físico-química: a) pesagem da massa de cimento; b)
mistura à seco das porções; c) leitura do volume após 2 h de repouso. Fonte: Autores.

Em virtude da presença de partículas em suspensão após períodos de repouso de 2, 4 e 6 h durante a


execução do Ensaio I, as quais poderiam incorrer em imprecisão nas leituras, a dosagem físico-química foi
repetida. Para a realização do Ensaio II, após o período mínimo de 2 h, foi optado pela realização de
movimentos horizontais durante 10 segundos, com o intuito de sedimentar as partículas que novamente se
encontravam em suspensão, seguindo todas as outras etapas rigorosamente.
Para avaliação da RCS das misturas solo-cimento, foram adotados os teores de 6, 8 e 10 %, em relação
a massa seca de solo, em triplicata. Inicialmente foram obtidos os parâmetros de moldagem, massa seca
específica máxima (ρd máx) e teor de umidade ótima (ωót.), com base na construção das curvas de compactação,
em duplicata, conforme ABNT NBR 12023/2012, empregando cilindro Proctor, na energia normal.
Os corpos de prova que atenderam as tolerâncias de grau de compactação (GC) de 100 ± 2 % e variação
de umidade (Δω) em torno de 0,5 % da úmidade ótima, foram armazenados em sacos plásticos e levados a
câmara de úmida, à temperatura de 23 ± 2 º C e umidade relativa do ar não inferior a 95 %. Após o período de
cura de 7 dias, os corpos de prova foram rompidos em prensa manual de compressão simples, à taxa média de
1,27 mm/min (ABNT NBR 12025/2012).

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3 Resultados e Discussão

Com base na construção das curvas de compactação foram determinados os parâmetros de moldagem
das misturas, massa específica seca máxima - ρd máx (Figura 3a) e teor de umidade ótima - ωót (Figura 3b), para
cada condição experimental.

1,91 14,0
CP II Z-32 CP II Z-32
CP V-ARI CP V-ARI
13,7
1,89
ρd máx(g/cm3)

1,89 13,6

ωót (%)
1,88 1,88 13,5 13,6
13,4 13,5
1,88

1,87
1,86 13,2
1,85 13,0
6 8 10 6 8 10
Teor de cimento (%) Teor de cimento (%)
(a) (b)
Figura 3. Parâmetros de compactação das misturas solo-cimento. Fonte: Autores.

Em função do percentual de adição, para ambos agentes estabilizantes, foi observado uma sútil tendência
de aumento da massa específica seca máxima, apresentando constância para o CP II e suave decréscimo para
o CP V, entre os teores de 8 e 10 %. Supõe-se que o acréscimo de cimento, resultando em aumentos de massa
específica seca, está associado a um limite, a partir do qual a densidade da mistura se torna menos sensível a
essa variação. Em virtude de ser uma areia bem graduada, com aproximadamente 23 % de material menor do
que 0,075 mm, o solo sem adição de cimento, ao ser compactado, já possui um satisfatório entrosamento entre
os grãos e partículas, hipótese confirmada ao comparar a massa específica seca máxima do solo (
Tabela 1) com as obtidas nas misturas.
Em relação ao teor de umidade ótima, foi confirmado, para ambos cimentos, a tendência de acréscimo
de cimento resultando no aumento da demanda de água para estabilização da mistura, em decorrência do
aumento da superfície a ser hidratada.

3.1 Resistência à Compressão Simples

O comportamento mecânico, avaliado sob a ótica da resistência à compressão simples, em função dos
teores e tipo de cimento, está retratado na Figura 4.

4,5 4,5
CP II y = 0,0587x2 - 0,6863x + 3,827 R² = 1 CP V y = -0,0254x2 + 0,818x - 1,5591 R² = 1
4,0 4,0
4,1
3,5 3,5
RCS (MPa)

3,0 3,0 3,4

2,5 2,82,5
2,4
2,0 2,0
2,1
1,8
1,5 1,5
6 7 8 9 10 6 7 8 9 10
Teor de cimento (%) Teor de cimento (%)
Figura 4. Resistência à compressão simples das misturas solo-cimento. Fonte: Autores.

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O incremento de resistência do solo ao ser estabilizado quimicamente fica evidente ao contrastar as


respostas das misturas solo-cimento com as obtidas no solo puro, referente a 0,43 MPa. Os aumentos mínimo
e máximo para o cimento CP II Z-32 foram da ordem de 4,2 e 6,5 vezes, enquanto que para o cimento CP V-
ARI esses incrementos foram de 5,6 e 9,5 vezes.
Com o aumento do teor de cimento são observados ganhos exponencias de resistência para ambos
agentes, de magnitude mais elevadas para o cimento CP V-ARI. Esse comportamento é oriundo de diferente
dosagem entre o calcário e argila durante a produção do clínquer, assim como pela moagem mais fina do
cimento, de maneira que a reação com a água resulte em ganhos de resistência acelerados.
Basedo no critério de resistência à compressão mínima de 2,1 MPa para emprego das misturas solo-
cimento em camada de base de pavimento, estabelecido pelo DNIT-ES 143 (2010), observa-se que somente
teor igual ou superior a 8 % de cimento CP II cumpre esse requisito, ao passo que 6 % de cimento CP V já
demonstra resistência superior ao mínimo de projeto para o solo em estudo.
Ressalta-se que teores inferiores não foram investigados em decorrência do presente estudo focar na
estabilização, compreendida entre teores de 6 e 10 % de adição de cimento.

3.2 Dosagem físico-química

O estudo de dosagem e determinação do teor mínimo de cimento para estabilização foi realizado de
forma a averiguar a concordância da metodologia de dosagem físico-química frente ao critério de resistência
mínima de projeto imposto pelo DNIT, voltados a aplicação das misturas solo-cimento em base de pavimento.
Conforme discutido anteriormente, foram realizados dois ensaios de dosagem físico-química para cada
um dos estabilizantes, em decorrência da constatação de partículas em suspensão no decorrer do ensaio I.
Como é possível averiguar, de acordo com as Tabela 2 e Tabela 3, a realização de movimentos rotacionais
durante o ensaio II, para promover o assentamento do solo em suspensão, resultou em respostas diferentes de
expansão.

Tabela 2 – Ensaio I de dosagem físico-química. Fonte: Autores.


Teor de
Condição Leituras (ml) Vmáx
cimento ΔV (%)
experimental (ml)
(%) 1ª 2ª 3ª 4ª 5ª
Sem adição de
0 27,5 28,0 29,0 30,0 30,0 30,0 0
cimento
2 56,3 64,6 64,1 64,1 62,5 64,6 115
4 58,5 66,0 63,8 62,8 62,8 66,0 120
6 53,7 60,1 59,6 57,4 57,4 60,1 100
CP II Z-32
7 49,5 55,3 55,3 53,2 53,2 55,3 84
8 42,0 46,0 44,0 44,0 44,0 46,0 53
10 46,2 51,9 50,0 49,0 49,0 51,9 73
2 45,0 46,0 44,0 45,0 45,0 46,0 53
4 51,9 51,9 49,0 49,0 48,1 51,9 73
6 50,0 51,0 50,0 48,0 48,0 51,0 70
CP V-ARI
7 51,9 54,7 51,9 50,9 50,9 54,7 82
8 50,0 53,8 50,9 50,0 50,0 53,8 79
10 45,3 49,1 47,2 45,3 45,3 49,1 64

Considerando o ponto de máxima variação volumétrica, correspondente ao teor mínimo de cimento


necessário para a estabilização físico-química completa do solo, no ensaio I (Figura 5) as misturas com cimento
CP II e CP V expandiram até atingirem o máximo em 4 e 7 %, relativas a expansões de 120 e 82 %,
respectivamente.

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Tabela 3 – Ensaio II de dosagem físico-química. Fonte: Autores.

Condição Teor de Leituras (ml) Vmáx. ΔV


experimental cimento (%) (ml) (%)
1ª 2ª 3ª 4ª
Sem adição de
0 29,0 29,0 29,0 29,0 29,0 0
cimento
2 53,0 54,0 53,0 50,5 54,0 86
4 52,0 52,0 51,0 50,0 52,0 79
6 48,0 49,0 47,0 46,5 49,0 69
CP II Z-32
7 52,0 55,0 53,5 52,0 55,0 90
8 49,0 50,0 48,0 48,0 50,0 72
10 52,0 52,0 51,0 50,0 52,0 79
2 50,5 50,5 48,0 48,0 50,5 74
4 50,5 51,0 48,5 48,5 51,0 76
6 43,0 44,0 40,5 40,5 44,0 52
CP V-ARI
7 51,0 49,5 47,5 46,0 51,0 76
8 50,0 48,0 47,0 46,0 50,0 72
10 48,0 46,0 44,0 44,0 48,0 66

No caso do ensaio II (Figura 6), as variações volumétricas máximas de 90 e 76 % foram obtidas com
teores de 7 e 4 % de cimento CP II e CP V. Embora dois pontos tenham apresentado expansão de 76 %, foi
considerado o menor teor que satisfez o requisito de variação volumétrica.

120
115 120 CP II Z-32
100
100 CP V-ARI
Variação Volumétrica (%)

84
79
80 73
82
60 73 70 53
64

40 53

20

0
0 2 4 6 8 10
Teor de cimento (%)
Figura 5. Ensaio I de dosagem físico-química em função do tipo e teores de cimento. Fonte: Autores.

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120
CP II Z-32
100 90 CP V-ARI
86
Variação Volumétrica (%)

79 79
80 69 72

74 76 76 72
60 66

40 52

20

0
0
0 2 4 6 8 10
Teor de cimento (%)
Figura 6. Ensaio II de dosagem físico-química em função do tipo e teores de cimento. Fonte: Autores.

Em análise aos percentuais de cimento CP II e CP V que atingiram a resistência mínima à compressão


de 2,1 MPa, 8 % e 6 % respectivamente (vide Figura 4), observa-se satisfatória previsão do método de dosagem
físico-química ao ser realizado movimentos rotacionais durante 10 segundos (Ensaio II). Embora o teor
mínimo de cimento ARI ensaiado neste trabalho seja 6 %, a resistência à compressão simples obtida nesse
percentual fornece índicos de que quantidade relativamente menor de cimento cumpriria o requisito normativo.

4 Conclusões

A adição de ambos agentes estabilizantes resultou em elevados ganhos de resistência à compressão


simples, quando comparados ao comportamento do solo sem adição, apresentando maior magnitude para o
cimento CP V-ARI, em função de características intrínsecas desse agente estabilizante, evidenciando que parte
significativa dos incrementos de resistência do CP V ocorrem nos sete primeiros dias.
A realização de movimentos rotacionais após o período de repouso no ensaio II de dosagem físico-
química sucedeu em diferentes variações volumétricas quando comparadas ao ensaio I, indicando que a
presença de partículas em suspensão afeta a metodologia.
Ao comparar a previsão do teor de cimento em ambos ensaios com os resultados de RCS, percebe-se
que a inclusão de movimentos rotacionais promoveu uma melhoria na estimativa da quantidade de cimento
CP II Z-32 e CP V-ARI necessária para atingir a resistência mínima normatizada, resultando em proximidade
entre os percentuais de cimento previsto e requerido. Em razão de ser uma metodologia recente, somente a sua
utilização em rotinas de ensaio de misturas solo-cimento possibilitará a proposição de refinamentos em sua
execução.

AGRADECIMENTOS

Os autores expressam sua gratidão ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico


(CNPq), Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Paraná
(FA) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo suporte financeiro,
obtido por meio de Bolsas de Mestrado, Doutorado, Produtividade e auxílio em trabalhos de campo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Almeida, G. B. O. (2016) Incorporação de escória de cobre pós-jateada a um solo areno-argiloso de Sergipe


para aplicação em base de pavimentos. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Civil, Pontifícia Universidade Católica / PUC, Rio de Janeiro, 193 p.

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Associação Brasileira de Normas Técnicas (2012). NBR 12025. Solo-cimento – Ensaio de compressão simples
de corpos de prova cilíndricos – Método de ensaio. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 6457. Amostras de solo – Preparação para ensaios
de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro.
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teor de umidade, da porosidade e do intervalo de tempo até a aplicação da mistura solo-cimento em
pavimento rodoviário. Transportes, 25 (1), p. 41-50.
Consoli, N. C.; Foppa, D.; Festugato, L.; Heineck, K. H. (2007) Key parameters for strength control of
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cimento - Especificação de serviço. Rio de Janeiro.
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Gonçalves, F.; Zanin, R. F. B.; Somera, L. F.; Oliveira, A. D.; Ferreira, J. W. S.; Costa Branco, C. J. M.;
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0166 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Estudo da Resistência ao Cisalhamento Direto de Solo Residual de


Gnaisse do Complexo Embu
Tainá Nogueira de Almeida
Unicamp, Campinas, Brasil, taina.almeida08@gmail.com

Isis Sacramento da Silva


Unicamp, Campinas, Brasil, isisgeologia@gmail.com

Ana Elisa Silva de Abreu


Unicamp, Campinas, Brasil, aeabreu@unicamp.br

RESUMO: Os solos residuais de rochas metamórficas, como as que compõem o Complexo Embu,
embasamento na Região Metropolitana de São Paulo, são marcados por comportamento geotécnico
heterogêneo. A presente pesquisa buscou ampliar o conhecimento sobre a resistência dos solos residuais de
rochas do Complexo Embu, relacionando o comportamento geotécnico dos solos com as estruturas
metamórficas reliquiares. O perfil de alteração estudado encontra-se no município de Itapecerica da Serra,
sudoeste de São Paulo. Foram analisadas 5 porções do perfil denominadas H3A, H4-1, H4-2, H4-3 e H5.
Para cada um dos níveis, realizaram-se ensaios de resistência ao cisalhamento direto saturados com amostras
reconstituídas e indeformadas, com estrutura perpendicular e paralela ao plano de cisalhamento. Foi feita
descrição da mineralogia e aspectos morfológicos da estrutura metamórfica das amostras. São constituídas
basicamente por biotita, muscovita, quartzo e feldspato, com granulação variando no perfil entre muito fina a
média e texturas miloníticas e um material de preenchimento laranja resultado da oxidação de minerais
máficos. A resistência ao cisalhamento das amostras indeformadas aparenta ser controlada pela orientação
preferencial dos minerais micáceos e pela possível presença de cimentação por oxidação e, quando
desagregados e remoldados estes solos perdem grande parte de sua resistência devido ao arranjo aleatório
dos minerais.

PALAVRAS-CHAVE: Resistência ao cisalhamento; estrutura metamórfica; solos residuais.

ABSTRACT: Residual soils developed from metamorphic rocks from the Embu Complex, embasement in
the Metropolitan Region of São Paulo, are marked by heterogeneous geotechnical behavior. The present
research sought to broaden the knowledge about the resistance of residual rock soils of the Embu Complex,
relating the geotechnical behavior of the soils with the relic metamorphic structures. The alteration profile
studied is located in Itapecerica da Serra, southwest of São Paulo. Five portions of the profile named H3A,
H4-1, H4-2, H4-3 and H5 were analyzed. For each of the levels, shear strength tests were performed with
remolded and undeformed samples, with metamorphic structure perpendicular and parallel to the shear
plane. A description of the mineralogy and morphological aspects of the metamorphic structure of the
samples was made. The samples are basically constituted by biotite, muscovite, quartz and feldspar, with
granulation varying in the profile between very fine to medium and mylonitic textures, and an orange filling
material resulting from the oxidation of mafic minerals. The shear strength of the undeformed samples
appears to be controlled by the preferential orientation of the micaceous minerals and the possible presence
of cementation due to oxidation and, when disaggregated and remolded, these soils lose much of their
strength due to the random arrangement of the minerals.

KEYWORDS: Shear strength; metamorphic structure; residual soil.

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1 Introdução

Solo residual é aquele derivado do intemperismo in situ e decomposição de rochas ou fragmentos de


rocha. Por preservar o arcabouço da rocha mãe, solos residuais apresentam anisotropia de resistência
controlada pela estrutura herdada da rocha. Além disso, o grau de intemperismo em solos residuais torna a
rocha mais friável, aumentando a quantidade de vazios, ou causa cimentação por reprecipitação de agentes
cimentantes ou alteração química de minerais (Vaughan, Maccarini e Mokhtar, 1988; Blight e Leong, 2012).
No Brasil, o estudo de solos residuais encontra-se num estágio em que não se pode afirmar a
existência de uma Mecânica de Solos Residuais, já que não existe uma quantidade grande de informações
acumuladas, se comparado aos solos sedimentares no mundo (Futai, Cecílio e Abramento, 2009). No caso de
São Paulo, os estudos geotécnicos se concentraram em sedimentos quaternários, neógenos e paleógenos,
onde se encontram as áreas de maior importância econômica com obras de grande porte, já que a ocupação
de grandes cidades se deu principalmente sobre bacias sedimentares, próximo a cursos d’água e de
geomorfologia plana (Futai, Cecílio e Abramento, 2009).
A expansão do centro urbano e consequente conurbação dos limites das cidades torna o conhecimento
geotécnico dos solos residuais das periferias cada vez mais importante, para melhor aproveitamento do
espaço físico e mobilidade urbana (Silva, 2015). A ampliação da malha metroferroviária de São Paulo
concomitante à expansão urbana, por exemplo, levou à ocupação de áreas de rochas e solos residuais do
embasamento Proterozóico, que apresentam propriedades geotécnicas muito distintas das rochas
sedimentares.
Grande parte do embasamento da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) é constituído por
rochas do Complexo Embu como muscovita-biotita gnaisses/xistos e milonitos (Futai, Cecílio e Abramento,
2009). Pesquisas realizadas sobre os solos residuais dessa unidade (Cecílio Jr, 2009; Futai, Cecílio e
Abramento, 2009; Fiume, 2013; Monteiro, 2016) indicam grande variação composicional e de orientações de
descontinuidades, o que dificulta a definição de um padrão de controle do comportamento geotécnico do
solo.
A resistência de solos saprolíticos de rochas metamórficas varia fortemente em relação à orientação
dos planos da estrutura metamórfica e é diferente para o mesmo solo com a estrutura destruída (solos
desagregados e posteriormento compactados) (Pires e Júnior, 2016). De acordo com Sandroni (1981), com
relação a solos residuais de gnaisse, há uma tendência de menor resistência ao cisalhamento quanto maior o
teor de mica na fração grossa do solo (>100#).
Considerando as questões da expansão urbana da RMSP e a heterogeneidade observada nos perfis de
alteração de rochas do Complexo Embu, é importante ampliar a compreensão sobre o comportamento
geotécnico de solos residuais dessa unidade na RMSP. Dessa forma, o objetivo da presente pesquisa foi
compreender o comportamento de resistência ao cisalhamento de diferentes horizontes de um perfil de
alteração de gnaisse do Complexo Embu; avaliar a influência de aspectos morfológicos da estrutura reliquiar
da rocha na resistência ao cisalhamento, comparando resultados de ensaios em amostras indeformadas e
reconstituídas; e avaliar a relação entre a variação da composição mineralógica do solo residual ao longo do
perfil e a resistência ao cisalhamento, comparando com as relações observadas por Sandroni (1981). O
estudo incluiu, principalmente, ensaios de cisalhamento direto, determinação dos limites de Atterberg e
descrição macroscópica dos diferentes horizontes.

2 Método

2.1 Trabalho de campo e amostragem

O perfil de alteração estudado é um corte de encosta semi-circular e encontra-se a sudoeste no


município de Itapecerica da Serra, às margens da Rodovia Régis Bittencourt, Km 296,5 (Figura 1). Trata-se
de um solo residual de gnaisse do Complexo Embu, com 6 horizontes de alteração, sendo 1 orgânico (HO), 1
transportado (H1) e 4 residuais (H2, H3, H3A, H4 e H5) (Silva, 2019). Um subhorizonte H3A foi definido
por um aumento gradativo de coerência sem mudanças composicionais ou de grau de alteração. O horizonte

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H4 apresenta três principais variações (H4-1, H4-2 e H4-3) marcadas por mudanças de cor e espessura do
bandamento composicional (Silva, 2019).
As coletas de amostras foram realizadas em três saídas de campo ao local de estudo nos dias
14/01/2019, 23/03/2019 e 05/09/2019. Em campo, foram coletadas amostras indeformadas nos horizontes de
alteração denominados H3A, H4-1, H4-2, H4-3 e H5.

Figura 1. Mapa de localização do local de amostragem.

2.2 Ensaios Laboratoriais

Todos os ensaios foram realizados no Laboratório do Departamento de Geotecnia e Transportes da


Faculdade de Engenharia Civil da UNICAMP. Os Limites de Atterberg foram determinados de acordo com
as normas NBR 6459 (ABNT, 2017) e NBR 7180 (ABNT, 2016). A análise granulométrica e a determinação
de índices físicos foram feitas de acordo com as normas NBR 16097 (ABNT, 2012) e NBR 7181 (ABNT,
2018).
Para os ensaios de cisalhamento direto, foram moldados corpos de prova com material indeformado
com estrutura metamórfica paralela e perpendicular ao plano de cisalhamento. Também foram moldados
corpos de prova com material reconstituído, de forma que tivessem a mesma massa específica seca dos
corpos de prova indeformados.
Durante a preparação dos corpos de prova com estrutura paralela, notou-se uma dificuldade na
moldagem de amostras indeformadas devido a rupturas inesperadas. Dessa forma, não foi possível realizar
ensaios para os horizontes H4-1 e H3A com estrutura paralela. As mesmas rupturas ocorreram durante a
confecção dos corpos de prova do H5 nas amostras perpendiculares (Silva, 2019). Os ensaio de cisalhamento
direto foram realizados de acordo com o procedimento descrito por Stancati et al. (1981), com amostras
saturadas. Para cada amostra foram aplicados três valores de tensão normal: 50, 100 e 200 kPa.

2.3 Descrição macroscópica de amostras

Foram descritas amostras de mão coletadas em campo dos horizontes H3A, H4-1, H4-2, H4-3 e H5.
As descrições foram realizadas de acordo com a classificação morfológica de Passchier e Trouw (2005), que
propõem uma classificação de foliações descritiva que independe da sua origem, usando apenas

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características morfológicas. Essa classificação é baseada na distribuição de minerais que definem a foliação
e as divide em foliações contínuas e espaçadas. As rochas com foliação espaçada apresentam dois domínios:
domínio de clivagem e micrólintons. Os domínios de clivagem são planares e paralelos a orientação geral da
foliação e geralmente ricos em mica e minerais como ilmenita, grafita, rutilo e zircão. Os microlintons
encontram-se entre os domínios de clivagem e possuem orientação preferencial mais fraca (Passchier e
Trouw, 2005). Os domínios de clivagem podem ser descritos de acordo com sua quantidade (em
porcentagem) e a relação espacial entre eles (paralela, anastomosada, conjugada). Para a descrição, foi
utilizado o Estereomicroscópio ZEISS Stemi Z6 e as fotos foram tiradas com a câmera digital Axiocam 105
color.
Além disso, foi analisada a mineralogia da fração de tamanho maior que 100# de todos os horizontes
para comparação com os resultados obtidos por Sandroni (1981). Para isso, uma alíquota das amostras
desagregadas foi mantida em estufa por 24 horas para secagem. Depois de secas, as amostras foram
peneiradas em 100# e a fração retida foi observada na lupa.

3 Resultados e Discussões

As amostras dos horizontes do perfil descritas apresentam, de modo geral, foliação espaçada
anastomosada (Figura 2A). A granulação varia entre muito fina a média com texturas miloníticas, como
quartzo ribbon e porfiroclastos de feldspato sigmoidal (Figura 2B). Os domínios de clivagem são compostos
por biotita, muscovita e hornblenda e os microlintons são compostos por quartzo e feldspato muito alterado.
Observou-se também a presença de um material de alteração laranja resultante da oxidação de minerais
máficos, perfazendo entre 5 e 30% do arcabouço das amostras, encontrado também envolvendo os minerais
do material desagregado (Figura 2B e C). A quantidade de domínios de clivagem nos horizontes variou
entre 40 e 70%, controlada pela quantidade total de mica na amostra. A mineralogia da fração >#100 do
material desagregado refletiu a observada nas amostras indeformadas, porém com proporções diferentes
(Tabela 1).

Figura 2. Amostras vistas em lupa. (A) Demarcação da foliação espaçada anastomosada (tracejado branco) com micrólintons
compostos por quartzo (qz) e feldspato e domínios de clivagem compostos por biotita (bt), muscovita (ms) e hornblenda orientadas.
(B) Porfiroclasto de feldspato alterado (felds) e quartzo ribbon (qz). A seta vermelha indica o material laranja resultante da oxidação
de minerais máficos. (C) Fração >100# do material desagregado, com grãos de quartzo (qz), feldspato (felds), muscovita (ms) e
hornblenda (hb). A seta vermelha indica grão envolto pelo material laranja.

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Tabela 1. Resumo da mineralogia e feições encontradas nas amostras indeformadas e desagregadas, com respectivas estimativas de
porcentagem de minerais.

Domínios
Mineralogia amostras Mineralogia amostra
Amostra de Oxidação
indeformadas desagregada (fração >100#)
clivagem
Quartzo: 30%; Muscovita: 60%; Quartzo: 30%; Muscovita 65%;
H3A 70% 30%
Feldspato: 10% Feldspato 5%
Quartzo: 40%; Biotita: 40%; Quartzo: 67%; Biotita 10%;
H4-1 Muscovita: 5%; Feldspato: 10%; Muscovita: 10%; Feldspato: 10%; 60% 15%
Hornblenda: 5% Hornblenda 3%
Quartzo: 50%; Biotita 25%; Quartzo 67%; Biotita 15%;
H4-2 Muscovita 5%; Feldspato 15%; Muscovita 5%; Feldspato 10%; 50% 3%
Hornblenda: 5% Hornblenda 3%
Quartzo 50%; Biotita 15%; Quartzo: 77%; Biotita 5%;
H4-3 Muscovita 10%; Feldspato 20%; Muscovita 10%; Feldspato 5%; 40% 10%
Hornblenda 5% Hornblenda 3%
Quartzo: 35%; Biotita 30%; Quartzo:67%; Biotita 10%;
H5 Muscovita: 10%; Feldspato 10%; Muscovita: 10%; Feldspato 10%; 60% 3%
Hornblenda: 5% Hornblenda 3%

Os resultados dos ensaios de granulometria e índices físicos, realizados por Silva (2019) são
apresentados na Tabela 2 e demonstram que não há uma variação expressiva na granulometria. Os resultados
obtidos de limites de Atterberg apresentaram não plasticidade, o que condiz com a ausência da fração argila
nos ensaios de granulometria.

Tabela 2. Resultados de análise granulométrica e determinação de índices físicos (retirado de Silva, 2019).

Granulometria (%) Índices físicos

Areia (%) Pedregulhos (%) d


Argila (%) Silte (%) w (%) e (%) n (%)
(g/cm³)
Fina Média Grossa Fino Médio Grosso
0,0 43,6 37,3 14,9 4,3 0,0 0,0 0,0 24 - - -
0,0 39,5 34,0 21,0 5,5 0,0 0,0 0,0 13 - - -
0,0 45,1 27,4 20,4 7,1 0,0 0,0 0,0 15 1,803 0,60 37
0,0 19,2 32,7 22,4 11,8 2,6 1,3 0,0 13 1,937 0,51 34
0,0 31,1 26,0 27,0 13,2 2,6 0,0 0,0 12 1,750 0,54 35
0,0 22,7 23,2 19,4 15,0 10,0 9,7 0,0 10 1,910 0,52 34
0,0 24,1 26,8 17,3 11,1 13,9 6,8 0,0 10 1,647 0,79 44

As envoltórias obtidas para amostras reconstituídas apresentam parâmetros de resistências mais baixos
quando comparadas às envoltórias para corpos de prova indeformados (Figura 3A e B, Tabela 3). Nota-se
que nas amostras reconstituídas há menor variação da resistência, enquanto nas amostras com estrutura
preservada há variação notável. Com relação às amostras indeformadas, os ensaios realizados para corpos de
prova com foliação paralela ao plano de cisalhamento indicaram menor resistência em comparação aos
corpos de prova com foliação perpendicular, para todas as amostras. Comparando-se com os dados de
Sandroni 1981 (Figura 3C), a maioria das amostras ensaiadas nesta pesquisa esta no intervalo de 20 a 60%
de mica e as respectivas envoltórias para corpos de prova indeformados não coincidem com os intervalos de
porcentagem definidos. Além disso, com os dados disponíveis, não é possível estabelecer uma relação direta
entre a quantidade de mica e a resistência, com exceção de H4-3 que é a mais resistente em todos os casos e
apresenta menor quantidade de mica.

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Figura 3. (A) Envoltórias de ruptura obtidas para ensaios com foliação perpendicular (Per) e paralela (Par) ao plano de cisalhamento
e amostras reconstituídas (R). (B) Zoom para tensões cisalhantes entre 0 e 200kPa. (C) Comparação com envoltórias propostas por
Sandroni (1981). As porcentagens indicam a variação da quantidade de mica nas amostras.

Tabela 3. Parâmetros de resistência obtidos para foliação perpendicular e paralela ao plano de cisalhamento e amostras
reconstituídas.

Perpendicular Paralelo Reconstituído


Amostra
Coesão (kPa)  (°) Coesão (kPa)  (°) Coesão (kPa)  (°)
H3A 40,5 54,1 - - 27,5 25,3
H4-1 50,0 53,9 - - 11,4 31,8
H4-2 33,8 47,6 66,5 29,2 19,5 31,4
H4-3 236 46,3 120,0 25,0 24,9 32,2
H5 26,2 48,1 8,0 47,5 13,8 30,5

Nota-se que a proporção de micas nas amostras indeformadas varia ao longo do perfil. As amostras
H4-1 e H3A, que apresentam valores mais altos de mica (e também de domínios de clivagem) que as
amostras H5 e H4-2, têm valores de coesão (para corpos de prova com foliação perpendicular ao plano de
cisalhamento) maiores que as últimas. H4-3 representa uma exceção devido à coesão obtida, altamente
discrepante em relação às demais. A quantidade de feldspato na amostra não influencia na resistência das
amostras, já que a porcentagem do mineral se mantém praticamente a mesma ao longo do perfil de alteração.
A quantidade de quartzo observada é maior para as amostras com menos mica, portanto o esperado seriam
parâmetros de resistência maiores para amostras com muito quartzo. Tal relação não corresponde
inteiramente com a realidade, já que a amostra H4-2, que é mais rica em quartzo que a amostra H3A, tem
resistência menor.
A Figura 4 é uma representação gráfica da variação da composição mineralógica no perfil e índices
físicos, assim como os parâmetros de resistência para amostras reconstituídas e indeformadas. As proporções
de minerais na fração maior que #100 não apresentam influência aparente na resistência das amostras do
perfil. A composição observada nas análises macroscópicas não varia muito ao longo do perfil, com exceção
da amostra H3A que apresentou alta quantidade de mica. No entanto, os parâmetros de resistência
encontrados para a amostra H3A indeformada são maiores que para amostras com baixa quantidade de mica,
contradizendo a relação proposta por Sandroni (1981).

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A amostra com maior índice de vazios é a H5 (aproximadamente 0,8). Já a amostra H3A, horizonte
mais alterado do perfil e mais próximo à superfície, apresenta valores mais baixos de índices de vazios
(aproximadamente 0,6), quando o esperado seria o aumento do índice de vazios com o grau de alteração da
amostra devido à perda de minerais por lixiviação (Blight, 2012). O horizonte H4 também apresenta valores
mais baixos que H5 para índice de vazios. Estas relações entre os índices físicos desses solos
provavelemente explicam os parâmetros de resistência ao cisalhamento determinados para as amostras, que
são menores para H5 (horizonte mais preservado, mais profundo) e maiores para H3A (horizonte mais
alterado, mais próximo à superfície). Aventa-se a hipótese de que o processo de alteração da rocha no local
estudado diminui a quantidade de vazios da rocha nas camadas mais evoluídas de solo, possivelmente devido
à ocorrência de cimentação, o que acarreta num ganho de coesão. A presença do preenchimento laranja tanto
nos planos de foliação das amostras indeformadas, quanto recobrindo os minerais desagregados, resultado da
oxidação de minerais máficos, reforça a hipótese da ocorrência deste tipo de agente cimentante nos solos
residuais, de forma semelhante ao que é proposto por Antunes et al. (2015).

Figura 4. Variação de índice de vazios (e), proporção de mica nas amostras indeformadas (mica m) e desagregadas (mica s),
porcentagem de oxidação (ox) e parâmetros de resistência ao longo do perfil de alteração.

4 Considerações Finais

Este trabalho apresentou os resultados de ensaios de cisalhamento direto em amostras de solos


residuais de gnaisse do Complexo Embu na RMSP e um desrição da morfologia e da mineralogia destas
amostras, com o intento de verificar possíveis controles destas características sobre os parâmetros de
resistência destes solos.
Concluiu-se que os parâmetros de resistência ao cisalhamento perpendicular à foliação metamórfica
são muito variados e sistematicamente maiores que os parâmetros de resistência ao cisalhamento
determinados paralelamente à foliação. As amostras reconstituídas apresentaram parâmetros de resistência
sempre menores que as submetidas ao cisalhamento perpendicular ao bandamento. Porém, quando
comparadas à resistência das amostras submetidas a tensão de cisalhamento paralela à estrutura, o ângulo de
atrito é superior em todas as amostras reconstituídas, bem como a coesão de 1 (H5) das 3 amostras.
O aumento da porcentagem de mica na fração maior que 100# não implica necessariamente em uma
redução da resistência ao cisalhamento das amostras, contrariando o que foi proposto por Sandroni (1981).
Amostras de solos mais próximos à superfície, mais alterados e menos coerentes, apresentaram
parâmetros de resistência ao cisalhamento mais elevados que amostras situadas na base do perfil, em maior
profundidade e menos alteradas. Acredita-se que isto se deve à ocorrência de minerais neoformados no
processo de alteração intempérica, que ocasionam cimentação dos grãos nos solos mais evoluídos. Isto

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reforça a importânica da descrição macroscópica destes solos, para que se possam identificar os horizontes
menos resistentes, que não são, necessariamente, os mais superficiais.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio da CNPq no desenvolvimento deste trabalho, através da concessão de bolsa de
pesquisa (Processo: 131800/2018-3).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas (2018). Solos – Análise granulométrica. NBR 7181. Rio
de Janeiro
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas.(2016) Solo – Determinação do limite de liquidez –
Método de ensaio. NBR 6459. Rio de Janeiro.
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2016) Solo – Determinação do limite de plasticidade.
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ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2012) Solo — Determinação do teor de umidade —
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Antunes, F. et al. (2015) ―Solos: Subsídio para estudos de geologia de engenharia‖, Anuario do Instituto de
Geociencias, 38(1), p. 180–198. doi: 10.11137/2015_1_180_198.
Blight, G. (2012) ―Origin and formation of residual soils‖, Mechanics of Residual Soils, Second Edition, p.
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Blight, G. E. e Leong, E. C. (2012) Mechanics of Residual Soils, Environmental & Engineering Geoscience.
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Cecílio Jr, M. de O. (2009) Estudo do comportamento de um túnel em solo residual de gnaisse por meio de
ensaios triaxiais com controle de trajetórias de tensões. Universidade de São Paulo.
Fiume, B. (2013) Geologia estrutural de detalhe para elaboração de modelo conceitual de circulação de
água subterranea: estudo de caso em Jurubatuba, SP. Universidade de São Paulo.
Futai, M. M., Cecílio, M. O. e Abramento, M. (2009) ―Resistência ao Cisalhamento e Deformabilidade de
Solos Residuais da Região Metropolitana de São Paulo‖, in Twin Cities: solos das regiões metropolitanas de
São Paulo e Curitiba. São Paulo: ABMS.
Monteiro, M. D. (2016) Geologia estrutural de detalhe para elaboração de modelo conceitual de circulação
de água subterranea: estudo de caso em Jurubatuba, SP. Universidade de São Paulo.
Passchier, C. W. e Trouw, R. A. J. (2005) Microtectonics, Springer. Nova Iorque: Springer.
Pires, R. R. e Júnior, I. R. (2016) ―Estudo da Resistência ao Cisalhamento dos Solos Residuais Saprolíticos
de Filito da Baixada Cuiabana.‖, Anais do XVIII Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica. doi: 10.20906/cps/cb-09-0045.
Sandroni, S. S. (1981) ―Solos Residuais Gnaissicos. Pesquisas Realizadas na PUC-RJ‖, Seminário
Brasileirro de Solos Tropicais em Engenharia, 2, p. 30.
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Estudo de Caso: Utilização do método não destrutivo (MND) do


tipo Tunnel Liner para drenagem urbana no Município de Natal
Rodrigo Pereira
Engenheiro civil, Strata Engenharia Ltda., Belo Horizonte, Brasil, rodrigoestruturas@gmail.com

Luiz Antônio Naresi Júnior


Engenheiro Civil, Pontifícia Univresidade Católica, Belo Horizonte, Brasil, naresi@progeo.com.br

Anne Karoline Fortunato do Carmo


Engenheira Civil, Pontifícia Universidade Católica, Belo Horizonte, Brasil, annekarolinefc@gmail.com

Vitor Araújo Martins


Engenheiro Civil, Strata Engenharia Ltda., Belo Horizonte, Brasil, vitoraraujomartins@outlook.com

RESUMO: As obras de engenharia civil buscam, cada vez mais, agilidade nos processos e menores
interferências. Com base nisso, o Tunner Liner se apresenta como um Método Não Destrutivo (MND) para a
abertura de túneis estruturados com segmentos de aço corrugado, com uma gama de aplicabilidades,
praticidade na execução, elevada durabilidade e resistência mecânica. De encontro a essa informação, o
presente trabalho tem como objetivo apresentar o estudo de caso sobre os métodos executivos na implantação
do Tunner Liner da travessia urbana, na cidade de Natal, junto ao sistema de drenagem das vias laterais da
BR-101, sendo a alternativa mais ambiental, econômica e tecnicamente viável. A metodolovia foi baseada na
vivênvia e nas referências bibliográficas desse tipo de obra. Durante a execução da obra, houveram patologias
não previstas. Dentre as diversas possíveis causas pode-se citar: número insuficiente de sondagens,
profundidade analisada insuficiente e heterogeneidade do tipo de solo e suas propriedades. Tais erros são
comuns e, muitas vezes, acabam onerando a obra, uma vez que criam a necessidade de medidas interventivas.
Como resultado, percebe-se que a busca por técnicas que não agridam ao meio ambiente e não tragam
transtornos à comunidade durante a sua execução têm sido adotadas em diversas situações. De maneira geral,
a adoção de um MND é favorecida por ser uma solução simples, econômica e segura para a abertura de túneis.
Ao final, a construção bem sucedida dessa obra teve como base a cooperação de todas as áreas envolvidas no
projeto. Em suma, conclui-se que o artigo possui o poder difundir o conhecimento sobre a técnica, contribuindo
com a sociedade e com a engenharia.

PALAVRAS-CHAVE: Geotecnia, Tunner Liner, Drenagem, Técnicas não destrutivas.

ABSTRACT: Civil engineering works increasingly seek agility in processes and less interference. Based on
this, the Tunner Liner presents itself as a non-destructive method for opening structured tunnels with
corrugated steel segments, with a range of applicability, practicality in execution, high durability and
mechanical resistance. This work aims to present the case study on the executive methods in the
implementation of the Tunner Liner of the urban crossing, in the city of Natal, next to the drainage system of
the side roads of the BR-101, being the more environmental, economical and technically feasible alternative.
The methodology was based on the experience and bibliographic references of this type of work. During the
execution of the work, there were unforeseen pathologies. Among the several possible causes we can mention:
insufficient number of soundings, insufficient depth analyzed and heterogeneity of the type of soil and its
properties. Such errors are common and often end up burdening the work, since they create the need for
intervention measures. As result, it is perceived that the search for techniques that do not harm the environment
and do not disturb the community during its execution have been adopted in several situations. In general, the
adoption of a non-destructive method is favored because it is a simple, economical and safe solution for
opening tunnels. In the end, the successful construction of this project was based on the cooperation of all

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areas involved in the project. In short, it is concluded that the article has the power to spread knowledge about
the technique, contributing to society and engineering

KEYWORDS: Geotechnics, Tunner Liner, non-destructive method, drainage.

1 Introdução

A execução de obras com valas a céu aberto em vias de grande densidade de tráfego, como ruas,
avenidas, estradas e ferrovias, causam grandes transtornos e um custo social importante: interrupção do
tráfego, congestionamento no trânsito, acidentes com pedestres e dificuldades de acesso ao comércio e
serviços. Tais fatores levam à preferência por técnicas não-destrutivas.
O método não-destrutivo Tunner Liner, largamente utilizado em milhares de obras no Brasil e no
exterior é a solução mais simples, versátil, econômica e segura para a abertura de túneis, sem interferir na
superfície ou nas atividades.
Naresi (2015) afirma que essa técnica vem sendo largamente utilizadas em redes de esgotos, passagens
de veículos e pedestres, passagens de cabos de telefonia e energia, em obras metroviárias e na mineração,
como encamisamento para proteção mecânica de tubulações de água, esgoto, combustíveis e demais
instalações, na canalização de córregos e como reforço estrutural para túneis.
A técnica executiva de implantação do Tunner Liner, empregando chapas de aço corrugado é de fácil
manuseio, permite escavações com avanço modular de 46 cm ou 50 cm. Com área reduzida de solo exposto,
esse sistema oferece maior segurança ao operador na frente da escavação. Nas flanges das chapas de
revestimento, podem ser fixadas escoras metálicas para apoiar escudos frontais, reduzindo o risco de
desmoronamentos.
A simplicidade da montagem, de progressão rápida, confere alta produtividade ao sistema. A cada novo
segmento do túnel montado, é possível a imediata escavação do anel seguinte. Sendo um sistema de
revestimento com chapas de aço, o Tunnel Liner permite furações e adaptações dentro do túnel para contornar
ou eliminar interferências, não cadastradas, que possam surgir durante a execução.

2 Estudo de Caso

A área de estudo está localizada entre os municípios de Natal e Parnamirim no estado do Rio Grande do
Norte, iniciando no entroncamento da BR-101, com Avenida das Alagoas (5°51.719’S/35°12.881’O) sentido
a Avenida Antoine de Saint Exupéry, chegando até o extravasor na Lagoa de absorção (5°51.554’S/
35°13.504’O), conforme figura 1.

Figura 1: Localização via satélite (Google Maps) e desenho representativo.

Os dados de escavação dos poços de visista (vertical) e dos túneis (horizontal) estão referenciados na

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tabela 1 e 2 abaixo:

Tabela 1 – Detalhe executivo dos PV. Tabela 2 – Detalhe executivo dos Túneis
Poço de Projeto Diâmetro Tunnel Liner Distância Diâmetro
Visita (m) (m) (Escavação Horizontal) (m) (m)
56 6,42 2,20 PV56-PV57 108,89 2,00
57 11,17 2,20 PV57-PV58 194,45 2,00
58 17,20 2,20 PV58-PV59 226,00 2,00
59 17,48 2,20 PV59-PV60 225,00 2,00
60 19,28 2,20 PV60-PV61 180,00 2,00
61 20,50 2,20 PV61-PV62 194,00 2,00
62 27,32 3,20 PV62-PV63 250,00 2,00
63 27,14 3,20 PV63-Extravasor 120,00 2,00

2.2 Estudo Geotécnicos e Geológicos

Previamente ao início da execução da obra, foram efetuadas sondagens à percussão com o intuito de
determinar o tipo de subsolo, a existência do nível do lençol freático e os resultados do ensaio SPT (Standart
Penetration Test). O solo encontrado na classificação para execução do Tunner Liner não foi favorável, por
ser um material não coeso. A geologia ao longo do traçado é bastante simplificada, composta basicamente por
terrenos sedimentares. A faixa dessa bacia sedimentar tem uma largura média oscilando entre 25 e 45 km,
abrangendo toda extensão costeira. A rodovia existente e a ser implantada encontra-se dentro dessa faixa.
Durante a execução dos avanços programados, como método de segurança, Ribeiro Neto (1999) afirma
sobre a necessidade de executar sondagens na frente da escavação. Essas sondagens são executadas através de
furos horizontais e furos com inclinação ascendente para verificação de existência de água ou alteração
localizada de solos. Ressalta-se que em nenhum momento foi encontrado nível d’água.

2.3 Dimensionamento

Naresi (2015) destaca, em relação ao dimensionamento estrutural dos bueiros, que a capacidade de
suporte de estruturas flexíveis de aço corrugado, como no caso do Tunnel Liner, em função da resistência da
sua seção e do confinamento do solo adjacente, impede deformações da estrutura. Nesta situação, apenas
esforços de compressão atuam nas chapas do Tunnel Liner com dimensionamento baseado na teoria do anel
de compressão. O carregamento atuante no Tunnel Liner depende do tipo de solo. Em solos granulares,
considera-se o ângulo de atrito interno do solo e o diâmetro do túnel para o cálculo da carga. As figuras 2 e 3,
a seguir, são referentes aos detalhes do projeto executivo do estudo de caso.

Figura 2 – Corte transversal. Figura 3 – Detalhe do Método Construtivo.


2.4 Implantação

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Tendo sido locado o eixo da obra e dado o início da escavação manual da frente de ataque, a escavação
foi realizada dentro de um perímetro mais justo possível à circunferência externa, com avanço aproximado de
0,46 m. São quatro fatores principais que influenciam na determinação do tipo de método utilizado: diâmetro
ou vão do túnel, tipo de solo, presença de água e o recobrimento de solo sobre o tubo.
O emprego das chapas de aço corrugado é de fácil manuseio, o que traz uma grande vantagem. As
escavações possuem avanço modular de 46 cm e essa área reduzida de solo exposto oferece segurança aos
trabalhadores na frente de escavação conforme representado na figura 4.

Figura 4: Processo construtivo. (Manual de segurança e saúde no trabalho para escavação na indústria da
construção / Serviço Social da Indústria – Brasília: Sesi/DN, 2019).

A cada segmento de túnel realizado, é possível realizar a escavação do anel seguinte. Logo, não há a
necessidade de paralisar ou interromper os serviços. A figura 5 e 6 são referentes ao início do processo de
execução do poço de visita.

Figura 5 – Início da execução do poço de visita. Figura 6 – Início da execução do poço de visita.

O método da escavação manual de microtúneis consiste da ação de mão-de-obra com a utilização de


ferramentas simples realizando avanços progressivos com montagem simultânea de um revestimento metálico
constituído por anéis de chapas de aço corrugado. Esses anéis são formados por um conjunto de segmentos
que são montados e fixados com parafusos e porcas. Além disso, existem orifícios ao longo das chapas que
possibilitam a inclusão de uma calda de injeção a fim de preencher vazios existentes entre as chapas corrugadas
e o maciço escavado, segundo Paiva (2011).
No caso da combinação favorável desses fatores, isto é, túnel de pequeno diâmetro, solo com boa coesão
ou compacidade, ausência de infiltrações ou lençol d’água e recobrimento favorável, resultará em fácil
execução, não requerendo cuidados especiais. A obra em estudo, ao contrário do descrito acima, teve várias
dificuldades nas frentes de serviço devido ao solo arenoso e não coesivo.
Os anéis são solidarizados nos adjacentes por parafusos e porcas, que foram distribuídos ao longo dos
flanges laterais dos anéis. As chapas de cada anel são emendadas por transpasse de parafusos e porcas das
mesmas dimensões, porém com o pescoço quadrado e provido de arruelas de pressão.
Os espaços vazios entre as chapas e o terreno escavado foram preenchidos com injeção de argamassa
(argila, cimento e água), de forma a impedir o fluxo de água na interface chapa metálica-terreno.
As figuras 7, 8, 9 e 10 a seguir ilustram o processo executivo descrito anteriormente.

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Figura 7 – Descida das chapas metálicas Figura 8 – Execução da retirada do material pelo
conforme normas e segurança. poço de visita.

Figura 9 – Montagem da ligação entre as chapas. Figura 10 – Injeção de argamassa.

2.5 Controle topográfico

A declividade e alinhamento definidos em projeto foram controlados periodicamente, à


frequência de um ponto a não mais de 3,00 m de avanço. Os desvios observados foram imediatamente
corrigidos para repor o eixo do túnel escavado na posição do eixo teórico.
Naresi (2015) indica que devem ser ainda verificados, topograficamente, os pontos definidos
ao longo da seção transversal do túnel, para controle das deformações no plano da frente de
escavação. A forma circular dos segmentos é garantido por este controle e de estroncas e tirantes
extensíveis telescópicos que ajustam a forma dos segmentos. A medição é feita por metro linear de
túnel executado. O controle geométrico consistiu na conferência por métodos topográficos correntes,
do alinhamento, esconsidades, declividades, dimensões internas, comprimentos e cotas.

2.6 Revestimento interno

Naresi (2015) descreve que a durabilidade das estruturas metálicas corrugadas empregadas em
obras hidráulicas ou passagens inferiores está relacionada às características do projeto e às condições
do local onde são instaladas. Existem, entretanto, situações especiais de projeto em que a estrutura
metálica é submetida a esforços de impacto constante devido à velocidade e à presença de partículas
sólidas no fluxo. Nesses casos, para prevenir contra o desgaste precoce ou estender a vida útil das
estruturas corrugadas, recomendamos a aplicação de um pavimento sobre parte do perímetro
molhado, que poderá ser inclusive de concreto projetado. A figura 02 mostra o revestimento realizado
no perímetro molhado da estrutura corrugada.

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3 Falhas durante o processo

Coelho (2014) retrata que a instabilização em solo corrediço é um mecanismo local, sendo um
escorregamento de solo que ocorre quando o material do talude atinge o seu ângulo de atrito. Como
se trata de um mecanismo local, as tensões distantes da face não exercem influência e dessa maneira,
o núcleo de areia necessário para estabilização independe da altura de cobertura.
Durante o processo de escavação nas frentes de serviço ocorreram carreamento de material
devido ao tipo de solo da geologia local. As figuras 11 e 12 mostram o efeito piping ocorrido.

Figura 11 – Carreamento do solo piping entre Figura 12 – Vista de cima consequente do


os PV57 e PV58 a 17,9m de profundidade. carreamento do solo piping entre os PV57 e PV58.

Maffei e Murakami (2011) afirmam que os mecanismos nos suportes dos túneis ocorrem
quando a solicitação da estrutura ultrapassa os seus limites de resistência, por carregamentos
excessivos ou por execução de suportes deficientes. Carregamentos excessivos podem ser provocados
por comportamentos imprevistos do maciço, ou por deformações impostas resultantes da alteração
do estado de equilíbrio do conjunto maciço-estrutura provocada pela escavação.
Resultante do carreamento de material e dificuldades nas escavações nas frentes de serviços
adotou-se algumas alternativas. Em primeiro momento optou-se pela técnica de jet grouting para
estabilização do maciço na vertical e horizontal.
Rodrigues (2018) descreve que o jet grouting é uma técnica de melhoramento das
características geotécnicas dos solos, realizada diretamente no interior do terreno, em que envolve a
erosão da estrutura natural do solo através de injeções de calda de cimento, ar ou água, a elevadas
pressões e velocidades. A calda de cimento penetra nos espaços vazios resultantes e mistura-se com
o solo, formando colunas de solo-cimento, com melhores características mecânicas e de menor
permeabilidade. O processo executivo da técnica jet grouting envolve, basicamente, três etapas
distintas, que estão representadas pelas figuras 13, 14 e 15.

Figura 13 – Aplicação do jet grouting.

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Figura 14 – Aplicação de jet grouting – Tunnel Figura 15 – Aplicação de jet grouting (Vertical).
(Horizontal).

Apesar da técnica de consolidação dos solos com jet grouting bastante aplicada em obras, não
foi bem sucedida na geologia local, sendo necessária a utilização de outra metodologia. A segunda
técnica aplicada para consolidação do maciço para escavação frente ao Tunner Liner foi o método do
tubo tracionado, que foi bem adaptada até o final da execução do mesmo.
Para realizar o tracionamento dos tubos foram realizados o aumento do diâmetro dos poços de
visita para 5,0 m, acomodando a máquina em seu interior, sendo mantida a profundidade e a extensão
do túnel conforme projeto.
Posteriormente à execução do furo piloto com o auxílio de perfuratriz horizontal direcional
(HDD), foi mantido a declividade e o alinhamento, sendo usado um rastreador com sonda de grande
sensibilidade. Logo após o furo piloto atingir a outra extremidade, as hastes de perfuração foram
substituídas por haste de tracionamento. Assim, realizou-se a instalação da máquina hidráulica
cravadora. A máquina composta de dois pistões hidráulicos instalados em uma mesa metálica
horizontal é acionada por uma unidade hidráulica e posicionada no Poço de Visita na declividade ou
alinhamento do tubo a ser tracionado.
A cravação se dá com movimentos horizontais dos pistões hidráulicos, tracionando as hastes
metálicas, que são barras maciças de aço carbono SAE-1045, temperadas com diâmetro de 64 mm e
comprimento de 1,0 m. Posiciona-se o tubo a ser arrastado, dando início ao tracionamento das hastes
no solo até atingir a extensão determinada. O tubo arrastado é tracionado através da cabeça do tubo
que é reforçada com chapa (chapa de reforço) e suporte (cruzeta) de espessura de 2’’ x 200 mm
soldado na vertical do tubo a ser tracionado. O solo foi removido do interior do tubo manualmente
com auxílio de pá e o processo foi executado simultaneamente e sucessivamente, um tubo após o
outro. As figuras 16 e 17 apresentam a execução do tubo tracionado.

Figura 16 – Execução do Tubo Tracionado (Montante). Figura 17 – Execução do Tubo Tracionado (Jusante).

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4 Considerações finais

No estudo de caso analisado, ocorreram patologias não previstas na escavação do Tunnel Liner,
isso pode ter ocorrido devido ao número insuficiente de sondagens e ensaios, a uma profundidade
analisada inadequada ou até mesmo a uma propriedade diferente do comportamento do solo, que
deveria levar a fazer testes específicos. Infelizmente, tais erros são comuns principalmente quando se
trata da adoção incorreta de procedimentos, ensaios não padronizados pela norma ou até mesmo o
uso de equipamentos com defeitos e fora da normatização. Uma falha expressiva na sondagem levou
a adoção de valores de projeto e de medidas construtivas adicionais.
A engenharia está sempre em desenvolvimento. Com o crescimento da população, vê-se a busca
em solucionar problemas com métodos não destrutivos. Diversos estudos buscam por técnicas que
não agridam ao meio ambiente e não traga transtornos nas comunidades durante sua execução, devido
a esse fato as novas tecnologias são aperfeiçoadas e passam a se adequar a realidade dos centros
urbanos.
Através da realização desse estudo, entende-se que esse artigo tem o poder de contribuir com a
sociedade e com a Engenharia Geotécnica, visto que o conhecimento dessa técnica permite a
utilização em projetos futuros.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COELHO, A. M. (2014). Gerenciamento de riscos geotécnicos em obras subterrâneas de tuneis. Dissertação


(Mestrado em Engenharia Geotécnica) – Escola de Minas, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP),
Ouro Preto, 2014. 144 f. Disponível em:
<https://www.nugeo.ufop.br/uploads/nugeo_2014/teses/arquivos/dissertacao-adoniran.pdf>. Acesso em:
31/10/2019.
MAFFEI, C. ;MURAKAMI, C. (2011). A observação de Mecanismos de colapso no acompanhamento técnico
de túneis em solo, 2011 - Disponível em: pt.scribd.com/doc/55508677/colapsoato-tuneissolo. Acesso em:
20/09/2019.
Naresi, L. A. (2015). Tunnel Liner - Execução e Problemas Típicos. Sites Google. Disponível em:
<https://sites.google.com/site/lanjconsultoria/75-tunnel-liner---execucao-e-problemas-tipicos>.
PAIVA, A. R. (2011). Escavação de Túneis de Pequenas Dimensões em Áreas Urbanizadas: Tunnel Liner e
Pipe Jacking. Trabalho de conclusão de curso - Curso de Engenharia Civil da Universida de Anhembi
Morumbi, 2011. Disponível em: < https://docplayer.com.br/17938766-Escavacao-de-tuneis-de-pequenas-
dimensoes-em-areas-urbanizadas-tunnel-liner-e-pipe-jacking.html>. Acesso em: 31/10/2019.
RODRIGUES, A.R.D. (2018). Técnicas de Injeção. Jet Grouting, Aplicações e Regras de Dimensionamento,
2018 - Disponível em:
https://iconline.ipleiria.pt/bitstream/10400.8/3854/1/%5B2141546%5D%20Andrea%20Rodrigues-
%20Disserta%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 20/09/2019.
Serviço Social da Indústria. Departamento Nacional. Manual de segurança e saúde no trabalho para escavação
na indústria da construção / Serviço Social da Indústria.– Brasília : SESI/DN, 2019. Disponível em: <
https://bucket-gw-cni-static-cms-si.s3.amazonaws.com/media/filer_public/03/ed/03ed6c9f-af16-4cf8-
a7f8-8af8c2e0d3d4/manual_de_sst_para_escavacao_na_industria_da_construcao.pdf >. Acesso em:
31/10/2019.

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Análise de Carreamento em Modelo Experimental de Barragem de


Terra
Antonio Anderson Fontenele Araújo
Mestre em Engenharia Civil (Geotecnia), Carnaubal, Brasil, anderson_font@hotmail.com

Vanda Tereza Costa Malveira


Porfessora Adjunta, Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA, Sobral, Brasil, tmalveira@hotmail.com

Anderson Borghetti Soares


Professor Adjunto, Universidade Federal do Ceará – UFC, Fortaleza, Brasil, borghetti@ufc.br

RESUMO: Este artigo apresenta um estudo experimental acerca do processo de carreamento de grãos, no qual
se descreve a concepção e o desenvolvimento de dois modelos experimentais de percolação em solos, uma
calha de percolação e um modelo reduzido de barragem de terra, ambos com sistema de drenagem interna
compostos por filtros granulares. Procurou-se realizar uma comparação dos resultados experimentais obtidos
com duas metodologias distintas de dimensionamento de filtros, uma baseada na distribuição de grãos e outra
na distribuição de constrições. A partir do estudo realizado, foi possível identificar alguns cuidados necessários
para a construção e reprodução dos modelos e sugerir qual abordagem dos critérios é mais realista para
identificar o comportamento dos solos apresentados nos modelos.

PALAVRAS-CHAVE: Filtro Granular, Constrições, Erosão Interna, Modelo Experimental, Barragem de


Terra.

ABSTRACT: This paper presents an experimental study on the grain-carrying process, in which the design
and development of two experimental models of seepage, a percolation channel and an embankment dam
model, both with internal drainage system composed of granular filters, is described. A comparison of the
experimental results obtained with two different filter design methodologies, one based on grain size
distribution and the other on constriction size distribution, was performed. From the study carried out, it was
possible to identify some care required for the construction and reproduction of the models and to suggest
which approach to the criteria is more realistic to identify the soil behavior presented in the models.

KEYWORDS: Granular Filter, Constriction, Internal Erosion, Experimental Model, Embankment Dam.

1 Introdução

A partir do critério de Terzaghi, diversas pesquisas foram desenvolvidas, acerca de filtros granulares,
quanto ao seu dimensionamento em barragens de aterro, como Bertram (1940), USBR (1963), Sherard et al.
(1984a, 1984b) e Sherard e Dunnigan (1989). Estes estudos objetivaram analisar a aplicação da relação de
retenção de Terzaghi para diferentes tipos de solos ou então propor relações adicionais. O principal conceito,
presente no critério de Terzaghi e mantido nos estudos posteriores, foi de comparar um tamanho característico
de um grão do filtro com o de um grão do solo base. Esse método tem por base a distribuição das partículas
dos materiais.
Posteriormente, Silveira (1965) foi pioneiro em desenvolver uma metodologia analítica para problemas
de filtração, apresentando o conceito de determinação das constrições de um solo granular. As constrições
podem ser definidas como as menores aberturas que dão acesso aos vazios formados pelos grãos de um solo
granular. Estudos seguintes, abordando a metodologia de Silveira (1965), procuraram melhorar essa
metodologia para atender às características granulométricas e físicas até então não observadas nos métodos
derivados do critério de Terzaghi. Destacam-se os estudos realizados por Silveira et al. (1975) Humes (1998),

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Locke et al. (2001) e Raut e Indraratna (2008). Esse método tem por base a distribuição das constrições do
filtro granular.
Este artigo pretende, portanto, apresentar um estudo acerca dos critérios de retenção de filtros
granulares, baseados na abordagem de distribuição de partículas e constrições a partir de dois modelos
experimentais de barragem de terra, que serão descritos a seguir. Neste estudo, foi escolhido dois critérios para
verificação nos modelos experimentais, o critério de Terzaghi, Equação (1), por distribuição de partículas, e o
critério de Raut e Indraratna (2008), Equação (2), por distribuição de constrições. O procedimento matemático
utilizado para obtenção das curvas de distribuição de constrições seguiu a metodologia simplificada proposta
em Araújo (2019).

D15
⁄d ≤ 4 (1)
85

dc35 ≤ d*85 (2)

2 Modelo de Calha de Percolação

O modelo de calha de percolação consistiu em analisar o comportamento de transições graduais de solos,


sujeitos a um fluxo de água, por meio de uma estrutura construída no Laboratório de Solos (LabSolos) do
curso de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. A estrutura foi
construída em alvenaria, possuindo a face frontal em vidro transparente, uma cortina localizada na metade do
comprimento, para evitar fluxos preferenciais entre a interface da parede com o solo, e uma grade de ferro na
lateral de jusante, conforme ilustra a Figura 1. A estrutura possui 107 cm de comprimento, 57 cm de altura,
47,5 cm de largura e a cortina com 14 cm de comprimento.

Figura 1. Ilustração da estrutura da calha de percolação.


2.1 Materiais

Foram realizados ensaios de caracterização em solos disponíveis no LabSolos para construção da


estrutura de terra. O solo base escolhido foi o material mais fino encontrado, classificado como um SM,
identificado aqui com Solo A, e para o filtro granular, uma areia fina (Areia A). Também foram selecionados
duas granulometrias de britas para compor o sistema de drenagem. As curvas granulométricas são apresentadas
na Figura 2.

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Figura 2. Curvas granulométricas dos materiais da calha de percolação.

2.2 Metodologia Construtiva

Iniciou-se com a preparação dos solos, homogeneizando e retirando a matéria orgânica. Foi adotado
uma umidade igual a ótima de 18,2% para o solo base (Solo A). O solo foi lançado em camadas próximas a 3
cm, realizando a compactação por apiloamento. Ressalta-se que não foi realizado um controle de densidade
do modelo, procurou-se somente atingir um nível adequado de trabalhabilidade. A areia e as britas foram
colocados imediatamente após a compactação das camadas de solo base. Para as areias, o adensamento ocorreu
com o lançamento de água na região definida para o filtro. Para evitar a contaminação de um material no outro,
durante a construção, foi utilizado chapas de aço inoxidável, colocados entre as interfaces dos materiais,
garantindo, assim também, a geometria do modelo projetada. Na Figura 3 está apresentada a seção transversal
da estrutura de solo com as informações dos materiais utilizados. A Figura 4 ilustra o modelo construído. O
modelo ficou operando durante 90 dias em ciclos de enchimento e secagem de reservatório ao longo do dia.

Figura 3. Seção transversal da estrutura de solo da calha de percolação.

Figura 4. Calha de percolação construída.

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3 Modelo de Barragem de Terra

O modelo de barragem de terra foi desenvolvido de uma adaptação de um reservatório de percolação


desenvolvido por Ferreira (2008). O reservatório foi confeccionado numa estrutura em acrílico. Devido à
natureza do estudo, ou seja, de um modelo bidimensional de percolação, o comprimento da estrutura escolhida
deve ser maior que a altura, portanto, foram adotadas as seguintes medidas: 147 cm de comprimento, 20 cm
de largura, 44 cm de altura. A espessura das paredes de acrílico foi de 1,3 cm. Para evitar a formação de fluxos
preferencias pelas interfaces foi adotado uma estrutura, também de acrílico, em formato de “U” na metade do
comprimento, conforme pode ser observado na Figura 5.

Figura 5. Esquema do reservatório de acrílico.


3.1 Materiais

Neste modelo, foram definidos quatro materiais para construção da barragem de terra, dois solos finos
e duas areias. As curvas granulométricas dos materiais são apresentadas na Figura 6. Foi escolhido construir
uma barragem zoneada com o solo base Solo B, colocado na região a jusante, o solo base Solo C, na região a
montante e a Areia B e Areia C para o filtro granular em transição. Além disso, a Brita A, utilizada no modelo
da calha, foi utilizada para o dreno de pé.

Figura 6. Curvas granulométricas dos materiais do modelo de barragem de terra.

3.2 Metodologia Construtiva

Após a homogeneização dos materiais, os solos bases foram colocados e compactados em 21 camadas,
adotando-se um teor de umidade de 14%. Destaca-se que, na compactação, optou-se por deixar o material
menos compacto, para facilitar o desprendimento de grãos e ter uma noção maior da eficácia da granulometria
do filtro. A compactação foi manual por apiloamento, com um soquete de peso leve de 720 g, pois se

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preocupava que um maior peso pudesse danificar a estrutura do acrílico. Foi utilizado uma energia de
compactação em torno de 60% a 70% do Proctor Normal, correlacionado o número de golpes e altura de queda
do soquete. O peso específico do modelo foi obtido de forma indireta por meio de ensaio de compactação,
utilizando as mesmas condições de compactação feitas no modelo. O peso específico foi de 16,56 kN/m³.
Na construção do filtro granular, procurou-se proceder de forma semelhante à construção real de filtros
em barragens, no qual o solo base era escavado e espaço livre preenchido com as areias do filtro. O
adensamento foi realizado também pela queda de água jogada na região. A Figura 7 ilustra o processo de
construção do filtro granular. O modelo finalizado pode ser observado na Figura 8. O projeto da barragem
consiste numa barragem zoneada com 44 cm de altura, 147 cm de extensão, 10 cm de coroamento e taludes
com inclinação de 1,3:1. O filtro granular foi construído com altura de 28 cm e comprimento de 12,5 cm. O
modelo ficou em operação ao longo de 60 dias, mantendo-se o reservatório cheio e numa mesma cota.

Figura 7. Construção do modelo de barragem de terra.

Figura 8. Modelo de barragem de terra (a) finalizado, (b) detalhes do coroamento e (c) dispositivo de
controle de nível d’água.

4 Resultados e Discussões

Os resultados observados neste artigo correspondem somente às questões envolvendo o carreamento de


grãos pelo fluxo de água. Para tanto, foram focos das observações a formação de fluxos preferenciais nas
interfaces, a ocorrência de grãos carreados para fora do dreno, análise granulométrica do filtro granular após
operação e a verificação pelos critérios selecionados para análise.
No primeiro modelo, a calha de percolação, as interfaces de materiais (alvenaria/solo) não geraram
fluxos preferenciais. Portanto, a adoção da cortina ao projeto da estrutura funcionou perfeitamente para

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controlar o fluxo nas interfaces, permitindo o funcionamento adequado do dreno. Durante o período de
observação, nenhum carreamento de solo foi percebido. Essa verificação foi realizada semanalmente,
procurando sinais de grãos depositados na saída do dreno. A granulometria utilizada para o filtro granular foi
adequada para estabilizar qualquer processo de carreamento de grãos.
Em relação aos métodos de dimensionamento, o primeiro verificado foi o de retenção de Terzaghi. A
granulometria da Areia A possui um D15 de 0,345 mm e o solo base Solo A possui um d85 de 1,55 mm. A razão
de retenção encontrada foi de 0,222, inferior a 4, portanto, adequada. O segundo método foi de Raut e
Indraratna (2008). Para tanto, a curva de distribuição de constrições internas foi definida, segundo a
metodologia proposta em Araújo (2019). As distribuições das constrições (CDC) da Areia A e dos grãos do
Solo A, referente a parcela de tamanhos que efetivamente participam do processo de filtração (inferiores a dc 95
de 0,156 mm) estão apresentadas na Figura 9. Considerando o estado compacto de 70%, o valor de dc35 foi de
0,041 mm e o d*85 de 0,133 mm com razão de 0,311, portanto, granulometria de filtro eficiente. Os dois critérios
selecionados apresentaram os mesmos resultados com a granulometria do filtro, sendo eficiente para paralisar
processos de transporte de grãos do solo base.

Figura 9. Distribuição de constrições e grãos dos materiais da calha de percolação.

No segundo modelo, de barragem de terra, também não houve formação de fluxos preferencias entre as
interfaces do acrílico e solo. Porém, foi observado carreamento de grãos através do filtro granular. Essa
verficação foi realizada por meio de uma caixa de inspeção ligada ao fluxo de saída do modelo, onde foi
encontrados grãos depositados no fundo. Uma amostra do filtro (Areia B) foi retirada para uma análise
granulométrica. O resultado das granulometrias antes e após a operação é apresentada na Figura 10. Conforme
pode ser observado, uma fração do Solo C foi capturada no filtro e outra foi levada no fluxo. Nota-se que a
maior fração, em torno de 73%, foi de grãos com diâmetros entre 0,6 mm a 0,425 mm. Por outro lado, 3,4%
das partículas inferiores a 0,075 mm foram capturadas. Se analisar a granulometria do Solo C, percebe-se que
em torno de 43% dos grãos são inferiores a 0,075 mm, ou seja, quase metade dos grãos do solo base são
suscetíveis a serem levados pelo fluxo de água. Portanto, o resultado experimental obtido mostrou que a
granulometria adotada para compor o filtro granular não é adequada para o solo base utilizado, de forma que
o filtro possui uma distribuição granulométrica mais grossa que o necessário para um sistema eficaz de
filtragem, baseado no solo base em questão.
Em relação aos métodos de dimensionamento, o critério de Terzaghi identificou a granulometria do
filtro como eficaz, possuindo um D15 de 1,277 mm e o d85 do solo base de 0,347, obtendo uma razão de retenção
de 3,68, ou seja, inferior a 4. O critério de Raut e Indraratna (2008) identificou a granulometria como ineficaz,
obtendo um dc35 de 0,263 mm e o d*85 de 0,214 mm, ou seja, com o o dc35 maior que d*85, pressupõe-se que
ocorra carreamento de grãos. Na Figura 11 são apresentadas a distribuição das constrições da Areia B junto
com sua distribuição dos grãos e do Solo C. Neste caso, somente o critério baseado na distribuição de
constrições foi capaz de identificar o real comportamento experimental do modelo testado.

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Figura 10. Granulometria do filtro antes e após operação.

Figura 11. Distribuição dos grãos e constrições do modelo de barragem de terra.

5 Conclusão

A partir do estudo realizado, foi possível estabelecer uma metodologia simplificada para construção de
modelos experimentais de percolação em solos para uma análise de carreamento de grãos. Um dos pontos
importantes para definição do modelo foi garantir que a influência das interfaces fosse reduzida com adoção
de estruturas que dificultassem o caminho preferencial, como a cortina e a peça de acrílico utilizados. Em
relação aos resultados obtidos, verifica-se que, apesar da baixa carga hidráulica no qual os modelos estavam
submetidos, foi perceptível a ocorrência de erosão interna, principalmente no modelo de barragem de terra. A
alteração da granulometria do filtro devido a submissão do fluxo de percolação mostra como o processo de
filtração depende da capacidade autofiltrante do material, ou seja, de que ocorra a captura progressiva dos
grãos maiores para que, eventualmente, os grãos menores sejam também capturados. Entretanto, é necessário
que haja uma compatibilidade de tamanhos entre os grãos do filtro e do solo base para que ocorra eficazmente.
Nesse caso, os métodos de dimensionamento verificam essa relação. Visto que, para os critérios selecionados
nesse estudo, somente o que considera a distribuição das constrições obteve relação compatível com o
resultado experimental, é recomendado que as metodologias baseadas nas constrições passe a fazer parte do
processo de avaliação de segurança contra erosão interna de barragens já construídas que foram dimensionadas
somente pelo critério de Terzaghi.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico


(FUNCAP), a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) pelo
suporte no desenvolvimento da pesquisa.

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Pós-Graduação em Engenharia Civil: Geotecnia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.
Bertram, G. E. (1940). Experimental Investigation of Protective Filters. Soil Mechanics Series No. 7, Graduate
School of Engineering, Havard University, Cambridge, Mass.
Humes, C. (1998). Um Novo Enfoque para a Determinação da Curva de Vazios de Filtros Granulares. In: XI
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, Brasília. Anais... Brasília:
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Locke, M.; Indraratna, B.; Adikari, G. (2001). Time-dependent particle transport through granular filters.
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Efeito da sucção na estabilidade de taludes de aterros com solos


arenoso e argiloso
Giovana Bizão Georgetti
Professora Adjunta, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Brasil, ggeorgetti@ufu.br

Natállia Carminati
Engenheira Civil, Patos de Minas, Brasil, natalliac.constru@gmail.com

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar o efeito da sucção matricial na estabilidade de taludes de
aterro, com base em parâmetros de resistência obtidos em laboratório e usando métodos de equilíbrio limite.
As análises foram realizadas para dois maciços homogêneos, sendo um de solo argiloso e um arenoso, em três
cenários: 1 – considerando parâmetros efetivos de resistência, 2 – considerando a sucção uniforme induzida
pela compactação, e 3 – considerando a sucção hidrostática. Os resultados apontam para o cenário 2 como a
condição mais favorável, com aumento de até 131% do fator de segurança com relação ao cenário 1. Com
relação aos tipos de solo, o talude argiloso apresentou-se mais estável em todos os cenários devido à maior
coesão. Foram verificadas contribuições consideráveis da sucção na estabilidade dos taludes de aterro
analisados, tanto para solo argiloso quanto para arenoso em condições pós-compactação e no equilíbrio
hidrostático.

PALAVRAS-CHAVE: Sucção, Resistência ao Cisalhamento, Estabilidade de Taludes.

ABSTRACT: This paper aims at analyzing the effect of matric suction on slope stability of embankments,
based on shear strength parameters obtained in laboratory and using limit equilibrium methods. The analyses
were performed with two homogeneous embankments, a clayey one and a sandy one, in three scenarios: 1 –
considering effective shear strength parameters, 2 – considering uniform compacted-induced suction, and 3 –
considering hydrostatic suction. The results show the scenario 2 as the most favorable, with the safety factor
increasing up to 131% from the scenario 1. Regarding the types of soil, the clayey slope was shown to be more
stable in all the scenarios due to the greater cohesion. Considerable contributions of the suction to the slope
stability were verified for clayey and sandy soils in post-compaction and hydrostatic equilibrium.

KEYWORDS: Suction, Shear Strength, Slope Stability.

1 Introdução

A estabilidade de taludes naturais e de aterros é frequente objeto de estudo em Geotecnia, tendo em vista
o risco associado às rupturas. Dentre os inúmeros fatores envolvidos nas análises de estabilidade está a sucção,
que promove uma coesão aparente no solo não saturado, melhorando sua resistência, como mostrado por
Promotor e López-Acosta (2019) por exemplo.
Embora o perfil de sucção em um maciço seja variável no tempo em função das mudanças ambientais,
há casos nos quais o solo permanece não saturado mesmo com a ocorrência de chuvas, a depender da
condutividade hidráulica do solo e da intensidade das chuvas (Fredlund et al., 2012). Além disso, estudos de
sensibilidade conduzidos por Tan et al. (2014) sugerem que os parâmetros de resistência do solo têm maior
impacto nas análises de estabilidade do que a condutividade hidráulica. Sendo assim, nos aterros com
superfície freática profunda, a baixa permeabilidade de um solo compactado pode proporcionar uma condição
na qual a estabilidade do talude esteja condicionada à resistência não saturada.
Neste contexto, este trabalho estuda dois possíveis perfis de sucção em aterros e analisa a contribuição
da coesão aparente na estabilidade dos taludes por meio de fatores de segurança fornecidos por simulações
numéricas. Os resultados para o solo não saturado foram comparados com a situação na qual apenas os

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parâmetros efetivos de resistência são considerados. Para as análises, usou-se dois tipos de solo, cujos dados
foram obtidos experimentalmente.

2 Caracterização e parâmetros geotécnicos dos solos

As análises foram realizadas considerando dois solos lateríticos, um argiloso e um arenoso, coletados
na cidade de Uberlândia/MG e São Carlos/SP, respectivamente. Os resultados experimentais de caracterização,
classificação, curva de retenção de água e parâmetros de resistência encontram-se resumidos na Tabela 1 e na
Figura 1. Estes dados foram extraídos de Carminati (2018) para a amostra argilosa e de Georgetti (2010) para
a amostra arenosa.

Tabela 1. Características e parâmetros.


Características/parâmetros Solo argiloso Solo arenoso
Areia grossa 0% 4%
Areia média 3% 31%
Areia fina 10% 25%
Silte 3% 5%
Argila 84% 34%
Limite de liquidez 74% 38%
Índice de plasticidade 32% 17%
Massa específica dos sólidos 2,64 g/cm³ 2,69 g/cm³
Classificação Unificada MH SC
Classificação MCT LG’ LA’
Massa específica seca 1,40 g/cm³ 1,67 g/cm³
Umidade 30,2% 14,3%
Ângulo de atrito efetivo 30,7° 31,2°
Coesão efetiva 37,6 kPa 17,1 kPa
Coesão máxima (Vilar, 2006) 331,7 kPa 342,1 kPa

Figura 1. Curvas de retenção de água.

As massa específicas secas e os teores de umidade constantes na Tabela 1 referem-se às condições de


compactação de corpos de prova usados para as curva de retenção de água e os ensaios de resistência, e foram
usados para cálculo de pesos específicos dos aterros.
As curvas de retenção (Figura 1) foram obtidas experimentalmente pelos métodos de papel filtro e funil
de placa porosa e ajustadas aos modelos de Pham e Fredlund (2008) e Van Genuchten (1980) para o solo
argiloso e arenoso, respectivamente. Quanto à obtenção dos parâmetros de resistência, para o solo argiloso, a

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coesão e o ângulo de atrito efetivos foram determinados a partir de ensaios de cisalhamento direto inundados
e a coesão última foi obtida com amostras secas ao ar em compressão simples. No caso do solo arenoso, os
parâmetros foram determinados em ensaios de compressão triaxial em amostras saturadas, não saturadas com
medida de sucção e secas ao ar.
O modelo de Vilar (2006) foi usado para representar a coesão total do solo não saturado, que é calculada
pela coesão efetiva somada a uma parcela de resistência decorrente da presença de sucção:

(𝑢𝑎 −𝑢𝑤 )
𝑐 = 𝑐′ + 1 1
(1)
( )+( )(𝑢𝑎 −𝑢𝑤 )
tan 𝜑′ 𝑐𝑢𝑙𝑡− 𝑐′

sendo que c é o intercepto de coesão total, c’ é a coesão efetiva, φ’ é o ângulo de atrito efetivo, cult é a coesão
máxima, e (ua ‒ uw) é a sucção matricial.

3 Simulações numéricas

As simulações numéricas foram realizadas usando o programa computacional Slide 2018 (Rocscience,
1998-2019), aplicando-se seis métodos de cálculo em análise bidimensional: Fellenius, Bishop simplificado,
Janbu simplificado, Spencer, Morgenstern e Price e Sarma. Os métodos se fundamentam no equilíbrio limite
e na divisão da massa de solo em fatias para cálculo do fator de segurança (FS).
A geometria do talude, mostrada na Figura 2, foi definida com medidas hipotéticas, considerando uma
altura de aterro e inclição de face que podem ser encontradas em obras rodoviárias e outras obras geotécnicas,
sendo a altura de 4 m e a inclinação de 2H:3V, que resulta em um ângulo de 56º. O aterro foi considerado ora
de solo argiloso ora arenoso, sobre um terreno original com suficiente capacidade de suporte e lençol freático
a 1 m de profundidade. No topo do talude foi adicionada uma sobrecarga de 28 kN/m², a qual foi definida
arbitrariamente para se obter um FS de 1,5 na condição mais crítica analisada e respeitando a sobrecarga
mínima exigida pela ABNT NBR 11682:2009. As superfícies de ruptura foram condicionadas a passar pelo
pé do talude (ponto P) para restringir as análises ao aterro.

Figura 2. Geometria do talude.

Três cenários diferentes foram estudados para cada tipo de solo. No primeiro, analisou-se o aterro com
parâmetros saturados, ou seja, com os valores de coesão efetiva e ângulo de atrito efetivo fornecidos na Tabela
1. No segundo, verificou-se o aterro com uma sucção uniforme decorrente da compactação, ou seja,
considerando a coesão total resultante da umidade de compactação do solo. No terceiro, considerou-se a sucção
crescendo linearmente com a altura, a partir do lençol freático até a superfície do aterro, formando um perfil
hidrostático de sucção. Por simplificação, não se considerou a interação solo-atmosfera. Este cenário foi
subdivido em dois, sendo que no 3a, a coesão total foi determinada a partir do modelo hiperbólico, e no 3b foi
analisado o modelo planar de Fredlund et al. (1978) para o solo arenoso, do qual se dispunha do valor de φb
(Georgetti, 2010). A finalidade dos cenários 2 e 3 foi repesentar a condição temporária pós-compactação e
uma condição de mais longo prazo, respectivamente.

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Os demais dados de entrada para as simulações foram determinados a partir da Tabela 1, sendo que o
peso específico do solo foi calculado para cada umidade considerada e o ângulo de atrito efetivo foi constante
para um tipo de solo em todos os cenários.

4 Resultados e discussões

Para exemplificar os resultados das análises de estabilidade, a Figura 5 apresenta as superfícies de


ruptura verificadas para o aterro com solo arenoso usando parâmetros efetivos, esta foi a condição mais crítica
dentre todas as sete simulações. O método de Janbu Simplificado foi o que forneceu o menor fator de segurança
para este e os demais cenários simulados. Considerando os diferentes métodos de estabilidade usados, a
diferença máxima observada nos fatores de segurança para a condição da Figura 3 foi de 7%.

Figura 3. Exemplo de superfícies de ruptura analisadas.

Os menores fatores de segurança obtidos para cada cenário avaliado estão apresentados na Tabela 2,
onde pode-se prontamente notar que o cenário 1 é o mais conservador. Comparando os dois tipos de solo,
percebe-se que para as dimensões deste talude, o efeito da coesão do solo argiloso (20,5 kPa maior que a do
solo arenoso) se sobrepõe ao efeito do atrito, que é apenas 0,5° maior no solo arenoso.

Tabela 2. Fatores de segurança mínimos.


Cenário avaliado Solo argiloso Solo arenoso
1 – Parâmetros efetivos de resistência 2,512 1,513
2 – Solo com sucção pós-compactação 5,807 2,198
3a – Solo com sucção hidrostática – modelo hiperbólico 3,244 2,271
3b – Solo com sucção hidrostática – modelo planar --- 2,165

Em uma visão global dos cenários testados, levando em consideração as características climáticas dos
locais em que foram coletadas as amostras e a geometria estabelecida para o problema, considera-se que a
ocorrência de sucção seja mais realista que a saturação do maciço. Com isso, tem-se que o cenário 1 subestima
a segurança dos taludes, à semelhança do que foi observado no estudo de estabilidade de Promotor e López-
Acosta (2019).
Para analisar os cenários 2 e 3a, nos quais a coesão total do solo não saturado foi obtida em função da
sucção, é mostrada na Figura 4 a representação gráfica do modelo hiperbólico aplicado aos solos em estudo,
junto com retas que indicam a inclinação do ângulo de atrito efetivo de cada solo. Sendo a tangente de φ’ o
fator de ganho de resistência do solo com a tensão normal líquida, ao analisar a figura, nota-se que o modelo
hiperbólico fornece incrementos de resistência com a sucção que são menores que os obtidos por um aumento
de mesma magnitude na tensão normal líquida. Além disso, no intervalo de sucções que foi analisado neste
trabalho, o solo argiloso apresentou coesão sempre maior que o do solo arenoso.

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Figura 4. Representação gráfica do modelo hiperbólico.

O aumento da coesão total dos solos no cenário 2 gerou fatores de segurança mais altos em relação ao
cenário 1. No caso do solo argiloso, a umidade de compactação corresponde a uma sucção de 154 kPa (Figura
1), resultando em uma coesão total de 107 kPa (Figura 4). Para o solo arenoso, a sucção pós-compactação foi
de 31 kPa e a coesão de 34 kPa. Nestas condições, o FS do cenário 2 sofreu aumento de 131% em relação ao
cenário 1 para o solo argiloso, e 45% para o solo arenoso.
O aumento mais modesto no caso do solo arenoso pode ser indiretamente referenciado à sua
característica de retenção de água. A curva de retenção de água do solo arenoso (Figura 1) possui um formato
típico para solos desta granulometria, especialmente no que se refere à dessaturação mais intensa de poros em
baixas sucções, resultado da baixa pressão de entrada de ar. Assim, ocorre que na umidade de compactação, o
solo arenoso se encontra com sucção baixa em relação ao solo argiloso, no qual a dessaturação acontece de
modo mais gradual. Por fim, uma menor sucção resultou em menor coesão para o solo arenoso, sendo este o
principal aspecto a afetar o FS.
No terceiro cenário, o perfil hidrostático de sucção foi igual para ambos os tipos de solos. Esta condição
tende a ser a mais próxima do comportamento real do maciço ao longo da vida útil, aparte da interação com a
atmosfera. Ao comparar os FS, observa-se mais uma vez a predominância do efeito da coesão, uma vez que o
maciço de solo argiloso apresenta maior resistência. Neste caso, predominância da coesão efetiva em relação
aos demais parâmetros considerados na resistência não saturada do solo (ângulo de atrito efetivo e coesão
máxima).
Nos resultados obtidos para o cenário 3a, o FS para o solo argiloso foi intermediário, sendo 29% superior
ao cenário 1 e 44% inferior ao cenário 2. Para o solo arenoso, o FS foi 50% maior que o cenário 1 e muito
próximo dos cenários 2 e 3b. A semelhança de comportamento do solo arenoso nos diferentes cenários não
saturados é justificada pelo fato de a sucção média ser de 30 kPa no perfil do cenário 3, que é próxima à sucção
de compactação deste solo.
Especificamente para o solo arenoso, cujos resultados experimentais de resistência também
possibilitaram um ajuste de envoltória planar (Georgetti, 2010), mostra-se na Figura 5 uma comparação entre
as coesões totais fornecidas pelos dois modelos na faixa de sucção usada neste trabalho. Para a envoltória
planar, a coesão cresce linearmente com a sucção a uma taxa de 0,507, fornecendo valores pouco inferiores ao
modelo hiperbólico.
Quando se trata dos modelos para representar a resistência do solo não saturado, os cenários 3a e 3b
apresentaram uma diferença de apenas 3% no fator de segurança. Para o solo arenoso, o uso de um ou outro
método não afetou significativamente a resistência do talude, embora o modelo planar, como esperado com
base na Figura 5, tenha sido mais conservador.
Por fim, e com base nas análises anteriores, dois fatores se mostraram relevantes na estabilidade de
taludes não saturados: a sucção e a resistência não saturada. Nota-se que a consideração da sucção viabiliza
um projeto mais econômico, desde que possam ser estimados valores e variações sazonais da sucção no perfil.
Dados obtidos em monitoramento pluviométrico e investigação geotécnica podem auxiliar em tal estimativa.

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No tocante à resistência, sua previsão através do modelo hiperbólico se mostrou compatível com o modelo
planar na faixa de sucções analisadas, com a vantagem que o primeiro se baseia em ensaios de mais simples
execução.

Figura 5. Comparação dos modelos hiperbólico e planar.

5 Conclusão

Este trabalho analisou a estabilidade de taludes de aterros homogêneos constituídos de solo argiloso ou
arenoso em três diferentes cenários, sendo as principais conclusões:
‒ Em todos os cenários foi observado que o talude em solo argiloso apresentou maior estabilidade em
relação ao arenoso, o que foi atribuído à sua maior coesão efetiva.
‒ O uso de parâmetros efetivos para avaliar a estabilidade de taludes, que desconsiderou o efeito da
sucção, mostrou-se a condição mais conservadora, subestimando os fatores de segurança.
‒ A condição pós-compactação, que considerou a resistência proveniente da sucção induzida pela
compactação, apresentou a melhor condição de estabilidade para o solo argiloso, com aumento do
FS de 131% em relação ao cenário anterior.
‒ A simulação de longo prazo, assumindo um perfil de sucção hidrostática para o aterro e usando o
modelo hiperbólico para cálculo da coesão total, foi a condição de maior estabilidade para o solo
arenoso, embora não tenha havido variação significativa do FS para os cenários não saturados neste
solo.
‒ A aplicação de conceitos de solos não saturados à análise de estabilidade de taludes gera projetos
mais econômicos, desde que seja possível uma estimativa prévia de valores de sucção em campo.
‒ O uso do modelo hiperbólico mostrou-se vantajoso em relação ao modelo planar para representar a
coesão total do solo, uma vez que os resultados se aproximaram e o modelo hiperbólico requer menor
esforço experimental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2009). NBR 11682. Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro.
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15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP

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Escola de Engenharia de São Carlos / USP, 108 p.
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Estudos Geológico-Geotécnicos e Soluções de Engenharia para


Aterros Sobre Solos Moles – Nova Tamoios Contornos –
Caraguatatuba
Ivan Steinmeyer
Engenheiro Civil, STEINSOLOS Engenharia, São Paulo, Brasil, ivan02@uol.com.br

Marcio Angelieri Cunha


Geólogo, GEOMAC Geologia Geotecnia e Meio Ambiente, São Paulo, Brasil, geomacunha@uol.com.br

Marcos Saito de Paula


Geólogo, JS Geologia Aplicada, São Paulo, Brasil, msaito@jsgeo.com.br

Bruno Paulo Goulart


Engenheiro Civil, Arcadis, São Paulo, Brasil, bruno.goulart@arcadis.com

Faiçal Massad
Prof. Titular, EPUSP, São Paulo, Brasil, faical.massad@usp.br

RESUMO: Este trabalho apresenta os resultados dos estudos geológico-geotécnicos e as soluções de


engenharia adotadas no projeto da Rodovia dos Contornos da Nova Tamoios, de Caraguatatuba até São
Sebastião, no Litoral Norte do Estado de São Paulo, com destaque para a transposição de regiões de solo
mole ao longo de várias planícies aluvionares. As obras foram iniciadas em 2014, totalizando cerca de 36 km
de extensão, incluindo túneis, viadutos, cortes e aterros. Os aterros estenderam-se por cerca de 16 km e
requereram investigações de superfície e subsuperfície realizadas no Lote 2 da referida rodovia, permitindo
encontrar diversas condições de ocorrência de solo mole, onde foram adotadas diferentes soluções de
engenharia, que são objeto do presente trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Aterros sobre solos moles, Obras de terra, Aterros, Rodovias, Caraguatatuba

ABSTRACT: This paper presents the results of the geological-geotechnical studies and the engineering
solutions adopted in the design of the Nova Tamoios Contornos Highway from Caraguatatuba to São
Sebastião, in the North Coast of the State of São Paulo, Brazil, with emphasis on the transposition of soft
soils along several floodplains. The construction started in 2014, totaling about 36 km in length, including
tunnels, bridges, cuts and embankments. The embankments extended for about 16 km and required surface
and subsurface investigations, allowing to find several conditions of soft soil occurrences, where different
engineering solutions were adopted, which are the object of the present paper.

KEYWORDS: Soft soil embankments, Earthworks, Embankments, Highways, Caraguatatuba

1 Introdução

As obras para a implantação da Rodovia dos Contornos da Nova Tamoios, de Caraguatatuba e São
Sebastião, no Litoral Norte do Estado de São Paulo foram iniciadas em 2014, totalizando cerca de 36 km de
extensão, incluindo, túneis, viadutos, cortes e aterros. Os projetos desenvolvidos foram precedidos por
detalhados estudos geológico-geotécnicos ao longo de todo o traçado e nas áreas do entorno dessa rodovia,
destacando-se aqueles realizados para a transposição de regiões de solo mole ao longo de várias planícies
aluvionares, entre elas a Planície Aluvionar de Caraguatatuba de maior extensão onde as obras de aterro
estenderam-se por cerca de 16 km. Nessa Planície, as investigações de superfície e subsuperfície realizadas

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no Lote 2 da referida rodovia, permitiram encontrar diferentes condições de ocorrência de solo mole, onde
foram adotadas diferentes soluções de engenharia, que são objeto do presente trabalho.

2 Objetivos

Neste trabalho pretendeu-se abordar os diversos estudos geológicos e geotécnicos (mapeamentos de


superfície, sondagens à percussão, ensaios de campo e laboratórios) e as respectivas soluções para os aterros
implantados na Planície de Caraguatatuba tendo em conta as diversas formas de ocorrência do solo mole
assim como sua grande heterogeneidade tanto em superfície como em subsuperfície.

3 Metodologia

A metodologia de trabalho para os estudos do solo mole no trecho de travessia da Planície de


Caraguatatuba consistiu na detalhada caracterização de superfície através de mapeamento das áreas
identificáveis visualmente e investigações do subsolo por sondagens e ensaios de campo e de laboratório. Os
ensaios de campo foram definidos a partir do perfil geológico-geotécnico, em 12 locais (denominados ilhas
de ensaios), representando os diversos tipos de ocorrência de solo mole, sendo executados ensaios de vane
test, CPTU e retiradas de amostras shelby para ensaios de laboratório (umidade, densidade real dos grãos,
granulometria por peneiramento e sedimentação, limites de Atterberg e adensamento).

Foram então definidos cenários de ocorrência de solo mole, em função das características geológico-
geotécnicas, utilizando-se como critérios básicos para essa definição a classificação genética, bem como o
mapeamento de campo e os valores de NSPT das sondagens a percussão. A partir da análise dos dados foi
apresentada uma proposta de parâmetros que subsidiaram a definição dos projetos tipo para os diversos
cenários definidos.

4 Caracterização Geológico-Geotécnica dos sedimentos da Planície de Caraguatatuba

A Planície Aluvionar de Caraguatatuba está encaixada no sopé da Serra do Mar, limitadas pelas rochas
do Embasamento Cristalino (migmatitos e granitoides, principalmente) que compõem essas encostas. Essa
planície destaca-se em todo o Litoral Norte pela sua grande dimensão em relação a todas as demais planícies
de menor dimensão, mais comum nessa região. Possui cerca de 12 km de comprimento e 7 km de largura
máxima. Nessa planície encontram-se depósitos Pleistocênicos (sedimentados há mais de 100 mil anos) e
Holocênicos (de 8 mil anos até os nossos dias), descritos a seguir, conforme Suguio e Martin (1978). A
Figura 1 ilustra a geologia da planície e seus entornos.
a) Os depósitos Pleistocênicos, associados à transgressão Cananéia, formam terraços de areias alçados 7 a 8
m de altura, muito dissecados pela erosão; são encontrados ao norte e mesmo no centro e sul,
sobrejacentes a argilas e areias transicionais (em verde na Figura 1);
b) Os depósitos Holocênicos (em amarelo na Figura 1), estão associados à transgressão Santos, com duas
gerações de cordões de areia, retrabalhados por ação eólica e fluvial. No costado da 1ª geração de
cordões, situado mais para o interior da planície, encontram-se os sedimentos argilosos flúvio-lagunares
(SFL) mais antigos (8.000 a 4.400 anos BP - Before Present); em frente aos cordões da 2ª geração, mais
recentes (2.700 anos BP), estão as areias das praias atuais. Sob esses cordões arenosos, e por vezes a eles
associados, encontram-se sedimentos flúvio-lagunares (areias, areias argilosas e argilas orgânicas).
c) Depósitos aluvionares e continentais são encontrados recobrindo os sedimentos holocênicos e, por vezes,
enterrados sob os SFL, reflexos de eventos pretéritos associados a redes hidrográficas antigas e a
corridas de massas. Corridas de massas, como as de 1967, recobriram os sedimentos marinhos
depositados ao longo de milênios, sem desestruturá-los. Prova disso são as variações praticamente
lineares da resistência de ponta corrigida (qt) de muitos dos CPTUs identificados nos ensaios para as
obras do Contorno.

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Figura 1: Mapa geológico da região de Caraguatatuba (Modificado de Suguio e Martin, 1978) e traçado dos Lotes 1 e 2 dos Contornos de Caraguatatuba e São
Sebastião. A – Planície aluvionar de Caraguatatuba. B – Amostra de solo mole de um dos locais de ensaios (Ilha 9). Mapa em Datum SIRGAS 2000, UTM
Zona 23S.

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Os sedimentos flúvio-lagunares (SFL), que ocorrem sob os cordões de areia, foram submetidos à ação
errática de dunas, cujo peso próprio justifica tanto alguns NSPTs relativamente mais elevados de camadas de
argila mole, com valores de 2 a 4 golpes, quanto o seu sobre-adensamento. Ademais, por se tratar de uma
planície, os rios das redes hidrográficas são meandrantes, com mudanças nos cursos dos seus leitos ao longo do
tempo, formando depósitos de solos moles e areias fofas com variações laterais abruptas e ocorrências localizadas.
Alguns desses rios correm paralelamente aos cordões de areia; outros cruzam esses cordões, conforme podem ser
identificados na Figura 1. Esses aspectos, somados aos diferentes processos deposicionais, justificam a extrema
heterogeneidade do subsolo ao longo do traçado estudado.

O perfil geológico ao longo do traçado do Lote 2, elaborado com base nas sondagens, evidência os
diferentes processos deposicionais mencionados acima, onde se constata a grande heterogeneidade do subsolo
no local, atribuída à sua formação geológica. Essa heterogeneidade pode ser caracterizada, segundo o
estaqueamento original da rodovia, definido na Figura 1, da seguinte forma:
a) Entre as estacas 2.000 (próximo ao Rio Santo Antônio) e 2.200 (Morro dos Ingleses), o solo mole aflora na
superfície em depressões úmidas (estaca 2.050) ou dela se aproxima, em geral com 2 a 3 m de cobertura de
sedimentos continentais e areia (estacas 2.070, 2.134 e 2.150 a 2.200);
b) Entre a estaca 2.200 (Morro dos Ingleses) e a estaca 2.290 (trevo projetado), a cobertura com sedimentos
continentais e areias é superior a 6m, que vai diminuindo até a estaca 2370; e
c) Entre as estacas 2.370 e 2.440 o solo mole volta a aflorar; daí em diante, até a estaca 2.750 ocorrem
alternâncias de trechos com espessas coberturas de areias pleistocênicas (ver a Figura 1),ou sedimentos
continentais, e afloramentos de solos moles de depressões úmidas.

5 Classificação das argilas moles e definição de cenários geológico-geotécnicos

Do ponto de vista genético, isto é, de sua formação, as argilas marinhas da Planície Costeira de
Caraguatatuba podem ser classificadas da seguinte forma (Suguio, 1978 e Massad, 2009):
a) Mangue, de deposição recente, com NSPTs nulos, em depressões úmidas atuais (Relatório IPT, 1982).
b) Argilas de SFL (Sedimentos Flúvio-Lagunares), Holocênicas, com NSPTs entre 0 e 2 golpes; e
c) Argilas Transicionais (ATs), depositadas em ambiente misto continental-marinho, durante o
Pleistoceno, são solos muito sobre-adensados, com NSPTs 5.

Foram definidos cenários de ocorrência de solo mole, em função das características geológico-
geotécnicas (Tabela 1). Foram utilizados como critérios básicos para essa definição a classificação genética,
bem como o mapeamento de campo e os valores de N SPT das sondagens a percussão, que se constituem na
informação mais abundante ao longo do traçado dos Contornos. A última coluna dessa tabela apresenta as
descrições mais usadas nos perfis de sondagens para as argilas de cada cenário.

Tabela 1: Definição dos cenários de solos moles

Cenário Tipo de solo NSPT Descrição mais comum nas sondagens


Argila orgânica, em geral preta, com detritos vegetais.
0 Mangue (*) 0 (zero)
Argila marinha, arenosa, cinza, com conchas.
Argila orgânica, preta, com detritos vegetais.
Argila Argila marinha, siltosa, pouco arenosa, micácea, cinza escura.
1 0a1
de SFL Argila plástica, pouco siltosa ou pouco argilosa ou pouco arenosa,
cinza escura ou cinza ou marrom escura, por vezes com conchas.
Argila Argila orgânica, preta, com detritos vegetais.
2 1a2
de SFL Argila plástica, pouco siltosa ou argilosa, cinza escura, por vezes com conchas.
AT – Argila
10 5a9 Argila plástica, pouco arenosa ou pouco siltosa, cinza escura ou cinza.
Transicional

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Nota: (*) O termo Mangue tem a conotação Geotécnica e não se refere a tipo de vegetação.

O subsolo é extremamente heterogêneo, constituído de argilas siltosas com areia fina, entremeadas por
camadas de areias, com teor de argila >42%, umidade natural (h) de 47 a 676%; densidade natural (n) 11,3
e 17,1 kN/m3; LL>50% e IP médio de 55%. Valores de Cc foram inferidos através das medidas das umidades
das amostras. Os Vane Tests (VTs) e os CPTUs confirmaram essa extrema heterogeneidade, quer nos
valores da resistência não drenada (su), das pressões de pré-adensamento ('a) e dos coeficientes de
adensamento (Cv). Quando se passa do Cenário 0 ao 10 (Tabela 2), os valores de RSAs (OCRs) evoluiram,
crescendo da zona 1 até a 6 no diagrama Qt x Bq de Robertson et al. (1986).

Com base nos resultados da investigação foram propostos para o projeto os parâmetros da Tabela 2,
com a recomendação de um acompanhamento por instrumentação na fase executiva, para a sua validação e
eventual adptação às condições reais da obra.

Tabela 2: Definição dos cenários de solos moles

PARÂMETRO CENÁRIO O CENÁRIO 1.1 CENÁRIO 1.2 CENÁRIO 2 CENÁRIO 10


Argila de SFL Argila de SFL
Tipo de Solo Mangue Argila de SFL AT
Aflorante Profunda
NSPT 0 0a1 0a1 1a2 7a9
n (kN/m3) 13,4 14,0 14,3 15,0 15,5
su (kPa) (*) 2+1,33.z 6+1,20.z 15+1,20.z 21+1,43.z 50+2.z
 (Correção
0,70 0,75 0,75 0,75 0,75
deBjerrum)
’a 2+’.z 20+’.z 25+’.z 50+’.z 170+’.z
Cc/(1+eo) (**) 0,40 0,30 0,30 0,30 0,40
Cr/Cc (**) 14% 14% 14% 14% 12%
Cv(na)(cm2/s) 8.10-4 2.10-3 2.10-3 7.10-3 1,5.10-3
C (%) (***) 2,5% 2% 2% 1,5% 1%
Notas :(*) Os su foram obtidos através dos VTs e dos CPTUs, sem a correção de Bjerrum ( ).
(**) Valores obtidos com base nos ensaios de caracterização e de adensamento.
(***) Fórmula de Mesri-Godlewski (1977): C4 a 6% de Cc/(1+eo)

6 Diretrizes adotadas para o projeto dos aterros na Planície de Caraguatatuba

Os estudos de campo e laboratório permitiram estabelecer um modelo geológico geotécnico que


resultaram em diferentes cenários, conforme mostrado anteriormente, sobre os quais foram definidas as
soluções para implantação dos aterros.

Essas soluções consideraram para cada cenário os respectivos parâmetros geométricos e geotécnicos: a
altura do aterro a ser implantado, a espessura da camada de solo mole, a presença e espessura de camada de
cobertura do solo mole e a presença em superfície de solo arenoso ou aterro existente (parte do projeto foi
implantado sobre o antigo traçado da BR 101).

Assim, foram adotados os seguintes tratamentos para as fundações dos aterros:

a) Conviver com recalques de até 5 cm de aterros com as presenças de estruturas rígidas, como Obras de
Artes Especiais (OAE) e Encontros Leves Estruturados (ELE), ou junto à Aterros Estaqueados. Para os
demais trechos o recalque aceitável foi de 25 cm. Para alguns trechos foram implantadas geogrelhas na
base do aterro para atender ao fator de segurança de estabilidade global mínimo de 1,3 para fase de obras
e de 1,5 para a fase de operações. O aumento do fator de segurança entre as fases deveu-se ao ganho de

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resistência das camadas de solo mole devido aos recalques dissipados no decorrer do tempo desde a
implantação do aterro (Figura 2 – Seção Típica 1).
b) Remoção parcial do solo mole na espessura de até 4,00 m, quando em superfície, e conviver com
recalques de até 5 cm, ou 25 cm (Figura 3 – Seção Típica 2).;
c) Remoção total do solo mole até 4,00 m, excepcionalmente até 5,00 m de profundidade (Figura 4 – Seção
Típica 3);
d) Aterro de sobrecarga, por vezes com o auxílio de drenos verticais para redução do tempo de permanência
da sobrecarga, e geogrelhas para se garantir os fatores de segurança de estabilidade globais aceitáveis
(Figura 5 – Seção Típica 4);
e) Para solo mole com espessura superior a 6,00 m, aterro estaqueado que consiste em estrutura mista que
combina uma solução de terraplenagem convencional (a execução do aterro propriamente dito) com uma
solução típica de fundação profunda (estacas projetadas para transferir toda a carga do aterro para
camadas mais resistentes do terreno) (Figura 6 – Seção Típica 5).
f) Encontro Leve Estruturado (ELE) que pode ser considerado como uma obra de arte especial (OAE) de
porte inferior, com menores vãos e elementos estruturais, sendo geralmente utilizado para greides baixos
a intermediários, onde seu principal atrativo é o fato de apresentar custo consideravelmente menor que
uma OAE convencional. Essa solução é aplicada junto aos encontros das OAEs.

As Figuras 2 a 6 ilustram os vários tratamentos das fundações, através de seções típicas.

Figura 2: Seção Típica 1

Figura 3: Seção Típica 2

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Figura 4: Seção Típica 3

Figura 5: Seção Típica 4

Figura 6: Seção Típica 5

7 Conclusões

Os estudos realizados para o projeto geotécnico dos aterros, nas transposições de áreas de solo mole ao
longo do traçado, permitiram diversificar as soluções, fundamentadas nos parâmetros obtidos nas diversas
ilhas de ensaios, altura do aterro, da espessura da camada de solo mole, da presença e espessura de camada
de cobertura do solo mole, em solo arenoso ou aterro existente. Foram adotadas diversas soluções, desde
conviver com recalques de até 25 cm dos aterros, uso de geogrelhas, drenos verticais para acelerar os
recalques, estaqueamento de aterros até a remoção parcial ou total dos solos moles. Recalques menores
(5cm) foram admitidos apenas em aterros próximos aos encontros das Obras de Artes Especiais (OAE) e dos
Encontros Leves Estruturados (ELE).

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LISTA DE SÍMBOLOS

Bq :Coeficiente de Poropressão do CPTU: Bq = (u2 − uo ) (qt −  vo )


Cc :Índice de Compressão
Cr :Índice de Recompressão
Cv; Ch :Coeficientes de Adensamento Primário Vertical e Horizontal
CPTU :CPTU:Cone Penetration Test, com Medida da Pressão Neutra
h :Umidade Natural
(na) :Normalmente Adensado
IP :Índice de Plasticidade
LL :Limite de Liquidez
qt :Resistência de Ponta do Cone, Corrigida
Qt :Resistência de ponta do CPTU adimensionalizada: Qt = (qt −  vo ) /  vo

RSA :Relação de Sobre-adensamento (OCR)
S :Grau de Saturação
u :Pressão Neutra
uo :Pressão Neutra Hidrostática
u2 :Pressão Neutra Medida na Base do Piezocone
VT :Vane Test ou Ensaio da Palheta
 :Fator de correção de Bjerrum
n :Peso Específico Natural
’ :Peso Específico Efetivo ou Submerso
’a :Pressão de Pré-adensamento
vo :Tensão Vertical Total Inicial

AGRADECIMENTOS

À DERSA (Desenvolvimento Rodoviário S/A) pela autorização da utilização e publicação dos


resultados.

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Geotécnica
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Análise da Dispersibilidade de Solos da Planície Costeira Sul do


Rio Grande do Sul
Isadora da Silva Bandeira Lima
Acadêmica de Engenharia Civil, Universidade Federaldo Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
isadorabandeiralima@gmail.com

Natalia Barros Ribeiro


Acadêmica de Engenharia Civil, Universidade Federaldo Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS,
Brasil,natalia.ribeirosls@hotmail.com

Cezar Augusto Burkert Bastos


Docente, Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil, cezarbastos@furg.br

Lisandra Rocha de Moraes


Docente, Universidade Federal do Rio Grande - FURG, Rio Grande/RS, Brasil,
lisandra_moraes@hotmail.com

RESUMO: O presente trabalho apresenta dados sobre a investigação da dispersibilidade de solos presentes
na Planície Costeira Sul do estado do Rio Grande do Sul e a sua atenuação com adição de cal. Evidências de
campo e ensaios de avaliação da disperbilidade, com destaque ao crumb test e ao ensaio sedimentométrico
comparativo, delatam o potencial de erosão coloidal dos planossolos solódicos formados em leques aluviais
e terraços lagunares retrabalhados pelo mar. Pelo crumb test, a adição de cal mostrou atenuar o fenômeno e
constitui umaferramenta para evitar problemas nas estruturas geotécnicas, como erosão interna em barragens
e aterros rodoviários, na região de ocorrência de tais solos.

PALAVRAS-CHAVE: Dispersibilidade, Erosão Coloidal, Planície Costeira do RS, Planossolos Solódicos,


Melhoramento com Cal

ABSTRACT: This work presents data on the investigation of soil dispersibility present in the Southern
Coastal Plain of the state of Rio Grande do Sul and its attenuation with the addition of lime. Field evidence
and tests for assessing dispersion, with emphasis on the crumb test and the comparative sedimentometric
test, reveal the potential for colloidal erosion of the solodicplanossols formed in alluvial fans and lagoon
terraces reworked by the sea. According to the crumb test, the addition of lime has been shown to mitigate
the phenomenon and is a tool to avoid problems in geotechnical structures, such as internal erosion in dams
and road embankments, in the region where such soils occur.

KEYWORDS: Dispersibility, Colloidal Erosion, RS Coastal Plain, SolodicPlanossols, Improvement with


Lime

1 Introdução

Na pesquisa da erodibilidade de solos argilosos, os estudos sobre a dispersão dos solos ganham grande
importância. A chamada erosão coloidal, gerada pela dispersão e transporte de argilas na água de percolação,
é registrada em muitos casos históricos de obras de barragens, aterros e solos naturais, particularmente, na
forma de túneis e ravinas profundas.
As primeiras pesquisas relativas ao tema de argilas dispersivas foram realizadas na segunda metade da
década de 1960, envolvendo feições erosivas observadas em barragens na Austrália. Posteriormente, nos
anos 70, pesquisadores americanos liderados pelo prof. J.L.Sherard procuraram o desenvolvimento de

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critérios de erodibilidade a partir da caracterização da dispersibilidade de solos argilosos. Devido a esses


estudos de colapsos em pequenas barragens, houve uma vasta repercussão do problema dos solos dispersivos
na abordagem de problemas geotécnicos.
Enquanto solos não dispersivos apresentam parâmetros críticos de fluxo bem definidos abaixo do qual
as partículas resistem à erosão, solos com argilas dispersivas não registram esta situação limite, isto porque
as partículas de argila entram em suspensão até mesmo em água parada (Bastos, 1999). Logo, um solo
argiloso dispersivo pode ser considerado aquele onde a tensão cisalhante hidráulica crítica (mínima tensão
cisalhante aplicada pelo fluxo de água capaz de provocar destacamento de partículas por erosão) é sempre
zero (Heinzen e Arulanandan, 1977).
O comportamento dispersivo dos solos está associado principalmente com a relação entre cátions de
sódio, potássio, cálcio e magnésio dissolvidos na água intersticial (Sherard et al., 1976). O sódio age no
sentido de aumentar a espessura da camada dupla de água difusa que envolve as partículas de argila, daí
decorrendo uma redução nas forças de atrção entre partículas, possibilitando que elas sejam destacadas da
massa de solo com mais facilidade. A rápida dispersão de um agregado de solo em água destilada, formando
uma nuvem coloidal, é a principal evidência em campo de um solo dispersivo (Figura 1).
Assume–se, por consenso, que a dispersibilidade das argilas não é reconhecida pelos ensaios de
caracterização correntemente empregados na prática geotécnica.Não existem diferenças significativas nos
teores de argila de solos dispersivos e não dispersivos, entretanto evidências experimentais sugerem que
solos com menos de 10% de argila não apresentam colóides suficientes para dispersão.A dependência da
dispersibilidade de fatores ambientais e externamente controlados, comopor exemplo a química da água
percolante e a umidade de compactação, que vão reger a estrutura dos solos argilosos compactados, faz com
que esta não seja considerada uma propriedade intrínseca do solo e sim uma variável de estado.

Figura 1. Evidência de comportamento dispersivo de amostra de solo testada em campo (Pelotas/RS).Fonte:


Autores

Os principais ensaios empregados na avaliação da dispersão coloidal são: ensaio de pinhole; ensaios
químicos para determinação de sais solúveis na água intersticial; ensaio sedimentométrico comparativo;
ensaio de turbidez; e crumb test. Em Sherard et al.(1976) e Heinzen e Arulanandan (1977) estas técnicas de
ensaio são revistas e estabelecidos critérios à dispersibilidade dos solos.
No ensaio sedimentométrico comparativo (também chamado ensaio duplo hidrométrico ou ensaio de
dispersão SCS), a erodibilidade é indicada, a partir de ensaios de sedimentação, pela porcentagem (ou grau)
de dispersão, que corresponde a razão entre os teores de argila (< 0,005 mm) com e sem defloculante e
agitação mecânica. O desenvolvimento e uso do ensaio são discutidos com detalhe em Decker e Dunnigan
(1977). O tipo de defloculante usado e a condição umidade inicial das amostras para o ensaio são os
principais fatores que influenciam os resultados obtidos. O ensaio sedimentométrico comparativo foi
normatizado no Brasil pela NBR 13602/96.

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O Soil Conservation Service (SCS) considera erodíveis solos com porcentagem de dispersão maior
que 40%. Em Decker (1971) apud Heinzen e Arulanandan (1977) os limites são flexibilizados conforme o
tipo de solo: 40% para solos CL e CH e 25 a 30% para solos ML, SC e SM.
O crumb test, ou ensaios do torrão, desenvolvido por cientistas australianos, consiste num ensaio
qualitativo onde é avaliado o comportamento de um agregado na umidade natural submerso em água
destilada. É considerado um rápido e útil indicador da dispersão, entretanto numa única direção, isto é, se o
crumb test indica dispersão, o solo é provavelmente dispersivo, mas muitas argilas dispersivas não reagem
ao ensaio. O crumb test foi normatizado no Brasil pela NBR 13601/96.
Holmgren e Flanagan (1977) apresentam um extenso estudo sobre os mecanismos e fatores
intervenientes no crumb test. A reação do agregado no ensaio envolve fenômenos de hidratação, desaeração,
fraturamento, expansão osmótica e finalmente dispersão. Os autores assim classificam os tipos de reação das
amostras com a inundação:
 sem resposta: amostra mantém–se intacta;
 abatimento (“slumping”): desintegração total da amostra causada por mecanismos de hidratação e
desaeração;
 fraturamento: amostra se quebra em fragmentos, mantendo a forma original das faces externas. O
principal mecanismo atribuído ao processo é a expansão osmótica;e
 dispersão: amostra mostra evidência de dispersão coloidal. As paredes tornam–se difusas e forma–se
uma nuvem coloidal.

2 Solos Dispersivos na Planície Costeira Sul

2.1 Ocorrência de solos dispersivos, características geológicas e pedológicas e estudos pretéritos

Desde o início das pesquisas de caracterização geotécnica dos solos da Planície Costeira Sul do Rio
Grande do Sul (Bastos, 2002), é relatado processos erosivos acelerados envolvendo perfis de solos
classificados pedologicamente, à época, como Planossolos Solódicos. Pelo novo Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos (Embrapa, 2006) estes solos são hoje classificados de Planossolos Háplicos
Eutróficos Solódicos. São solos desenvolvidos sobre leque aluvionares e terraços lagunares pleistocênicos,
originados dos materiais de intemperismo das rochas cristalinas da Serra do Sudeste carreados das áreas altas
por torrentes de canal e/ou enxurradas e fortemente retrabalhadospelo mar ao longo dos eventos
transgressivos que modelaram a Planície Costeira do RS. Estes solos caracterizam-se por apresentarem
significativos teores de sódio como cátion trocável (o que confere o caráter solódico aos solos).
Em vários locais de ocorrência destes solos são observados processos de erosão por ravinas e até
boçorocas. Nos terrenos erodidos o padrão de ravinamento é típico e o carreamento de finos é notável
(Figura 2). Em muitos casos estes eventos estão associados ao fluxo d´água concentrado originado de
drenagem de estradas vicinais e das rodovias da região. Um exemplo são os espetaculares processos erosivos
verificados às margens da BR116 (Pelotas – Jaguarão), nas proximidades do Horto da Universidade Federal
de Pelotas (Figura 3).Também associados à dispersão dos planossolos tem-se o problema de ruína de
pequenas barragens e taipas em propriedades rurais da região e o problema de erosão interna da Barragem de
Santa Bárbara (Pelotas/RS) cujo núcleo foi construído com solo local (solos dos horizontes subsuperficiais
dos planossolos solódicos e materiais do substrato geológico destes perfis).
A partir destas evidências, Welter e Bastos (2003) estudaram a susceptibilidade à dispersão de 9
(nove) amostras de planossolos de 7 (sete) jazidas situadas na Planície Costeira Sul do RS, nos municípios de
Pelotas e Capão do Leão. Os autores apresentaram resultados de crumb tests, de ensaios sedimentometricos
comparativos e de ensaios químicos da água interticial. A Figura 4 apresentam os dados de identificação e
caracterização apresentados pelos autores e a Figura 5 ilustra a localização de 6 pontos amostrais no mapa
geotécnico da zona urbana de Pelotas (Xavier, 2017). Os solos considerados dispersivos em sua maioria
pertencem a unidade SX3dla (Planossolo Háplico com substrato depósito de leques aluviais).

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Figura 2. Ravinamento típico da ocorrência de solos dispersivos em área urbana do município de Pelotas/RS.
Fonte: Autores

Figura 3. Processo erosivo pela ocorrência de solos dispersivos nas margens da BR116 sul (trecho Pelotas –
Jaguarão), no município de Capão do Leão/RS. Fonte: Autores

Figura 4. Dados de identificação e caracterização de solos potencialmente dispersivos.


Fonte: Welter e Bastos (2003)

Os ensaios de crumb test conduzidos com os solos compactados indicaram grau 4 (comportamento
fortemente dispersivo) para as amostras, exceto a amostra PMOI que não mostrou comportamento
dispersivo. Os ensaios sedimentométricos comparativos revelaram os solos como dispersivos (porcentagem
de dispersão > 40%), com a exceção também do solo PMOI considerado não dispersivo (Figura 6a). Os
ensaios químicos com a água interticial mostraram baixo teor de sais dissolvidos somente para o solo PMOI,
corroborando os resultados dos outros ensaios. A Figura 6b apresenta o critério de identificação de solos
dispersivos com base na porcentagem de dispersão e na % de Na+ presente (Sherard et al., 1976). Observa-se
que a maioria dos solos estudados por Welter e Bastos (2003) situa-se na zona dos solos dispersivos.

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Figura 5. Pontos amostrais (IDs 23, 24, 25, 27, 30 e 31


31)) de Welter e Bastos (2003) no mapa geotécnico de
Xavier (2017). Fonte: Autores

(a) (b)
Figura 6. (a) Resultados dos ensaios sedimentométricos comparativos e (b) aplicação do critério combinando
porcentagem de dispersão e % de Na+. Fonte: Welter e Bastos (2003)

2.2 Extensão do estudo com a investigação do solo MRML – Santa Vitória do Palmar/RS

Com o objetivo de ampliar a investigação dos planossolos situados ainda mais ao sul na Planície
Costeira do RS, foi investigado o potencial de dispersibilidade do solo identificado como Marmeleiro
(MRML).O local de amostragem situa-se no interior do município de Santa Vitória do Palmar/RS, nas
proximidades da subestação de energia elétrica marmeleiro (Figura7a), onde foi encontrado solo areno-
argiloso com as características pedológicas e geológicas indicativas de dispersibilidade.O solo coletado é
representativo dos solos na região, que constituem o subleito de outras estradas vicinais de grande interesse
público e material para pequenas obras de terra rurais. A Figura 7b ilustra o perfil de solo amostrado.
Para análise da dispersibilidade do solo, foram realizados ensaios geotécnicos de caracterização e de
avaliação da dispersibilidade, crumb test (segundo a NBR 13601, ABNT 1996a) e o ensaio
sedimentométrico comparativo (segundo NBR 13602, ABNT 1996b). Com o objetivo de verificar o
potencial inibidor da dispersão provocado pela adição de ccal, al, foram comparados resultados entre o solo
natural e o mesmo com adição de 2% de óxido de cálcio. A porcentagem de cal adicionada à amostra é
calculada em relação com seu peso seco. Os corpos de prova com as amostras de solo natural e de solo
adicionado de cal foram compactados com energia Proctor normal na umidade ótima do solo. Os corpos de
prova tratados com cal permaneceram em processo de cura durante 7 dias e após foram submetidos à 4 horas
de imersão e ensaio de resistência à compressão simples, con
conforme
forme a NBR 7182 (ABNT, 1986). Por fim, os
resíduos dos corpos de prova pós ruptura foram utilizados na realização dos ensaios de dispersibilidade.

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(a)(b)
Figura 7. (a) Local onde foram extraídas as amostras do solo. Ao fundo Subestação Marmeleiro da CEEE;
(b) Perfil de solo do local de obtenção das amostras do solo MRML. Fonte: Autores

O crumb test consiste em dispor pequenos torrões de solo em três béqueres com capacidade de200 ml
preenchidos com 150ml de água destilada. Torrões com diâmetro entre 6mm e 10mm, com formato
aproximadamente esférico foram imersos na água destilada e observados durante 1 hora a fim de verificar as
reações ocorridas e atribuir o correspondente grau de dispersibilidade. Segundo a NBR 13601 (ABNT,
1996b), o comportamento observado no teste pode ser classificado em quatro graus distintos:
 grau 1 –comportamento não dispersivo- o torrão pode absorver água, sofrer esborroamento e
esparramar-se no fundo do béquer, formando uma pilha achatada, mas não se observa sinal de
turvação no líquido;
 grau 2 – comportamento levemente dispersivo – há indicios de turvação na água, próximo ao torrão;
 grau 3 – comportamento moderadamente dispersivo – observa-se uma nuvem de colóides em
suspensão, geralmente finos veios espalhandos no fundo do béquer;
 grau 4 – comportamento fortemente dispersivo – observa-se nuvem coloidal, geralmente uma película
muito fina, cobrindo quase todo o fundo do béquer. Em casos extremos toda a água torna-se turva.
O ensaio sedimentométrico comparativo consiste na comparação entre o ensaio de sedimentação com
o uso do defloculante, conforme NBR 7181 (ABNT, 1988), e sem a utilização do defloculante, seguindo os
procedimentos da NBR 13602 (ABNT, 1996a). Sua finalidade é encontrar a razão entre os percentuais em
massa das partículas com diâmetro inferior a 0,005 mm determinadas, respectivamente, pelo ensaio sem
defloculante e pelo ensaio convencional com uso de defloculante. Obtem-se o parâmetro de avaliação da
dispersibilidade do solo chamado de porcentagem de dispersão. Quanto maior a porcentagem de dispersão,
maior é o potencial dispersivo do solo. O ensaio foi realizado para o solo natural assim como com cal.

3 Resultados

A Figura 8 apresenta a curva granulométrica do solo. A Tabela 1 apresenta os resultados da


caracterização geotécnica do solo MRML. O solo trata-se de uma areia argilosa de alta plasticidade e baixa
atividade, classificada como CL no Sistema Unificado e como A6(7) no sistema AASHTO-HRB.
Curva granulométrica Solo - C/ Defloc.
Solo Subestação Marmeleiro
100

90

% 80

p 70
a
s 60
s
a
50
n
t
40
e

30

20

10

0
0,001 0,01 0,1 1 10

Diâmetro dos grãos em mm

Figura 8. Curva granulométrica do solo MRML. Fonte: Autores

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Tabela 1. Resultados da caracterização geotécnica


geotécnica.. Fonte: Autores
Granulometria
Areia média (%) 10
Areia fina (%) 38
Silte (%) 17
Argila (%) 35
Limites de consistência
LL (%) 37
LP (%) 19
IP (%) 18
Ia 0,51
Classificação geotécnica
Classificação SUCS CL
Classificação HRB A-6(7)
LL – limite de liquidez; LP – limite de plasticidade; IP – índice de plasticidade; Ia – índice de atividade coloidal

Ao realizar o crumb test, o solo MRML apresentou grau 4, fortemente dispersivo, pois observou-se
uma nuvem coloidal cobrindo quase todo o fundo do béquer. Em contrapartida, o solo com adição de cal
demonstrou-se grau 1, com um comportamento não dispersivo, pois não houve indícios de turvação na água.
As diferentes feições podem ser observadas na Figura 7.

Figura 7.Imagens dos ensaios de crumb testsem (esquerda) e com (direita) adição da cal, graus 4 e 1
respectivamente. Fonte: Autores

Em relação ao ensaio sedimentométrico comparativo, para o solo MRML com e sem adição de cal
tem-se as porcentagens de dispersãoconforme Tabela 2.

Tabela 2. Porcentagens de dispersão do solo MRML. Fonte: Autores


porcentual porcentual< porcentagem
< 0,005mm 0,005 mm de dispersão
Material s/d (%) c/d (%) (%)
Solo natural 26,5 39,0 67,9
Solo + cal 24,5 32,5 75,4
s/d – sem defloculante; c/d – com defloculante

O solo apresenta porcentagem de dispersão superior a 40%, sendo caracterizado como solo
dispersivo pelo critério do SCS e de Decker (1971) apud Heinzen e Arulanandan (1977). A adição
de cal, apesar de reduzir o teor de finos, quantificado nos ensaios de sedimentação com e sem
defloculante, não repercutiu favoravelmente no parâmetro porcentagem de dispersão, não
concordando com as evidências do crumb test.

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4 Considerações Finais

O presente trabalho discute a presença de solos dispersivos na Planície Costeira Sul do RS, como
publicado por Welter e Bastos (2003). Um novo ponto amostral mais ao sul da Planície Costeira, no interior
do município de Santa Vitória do Palmar, ratificou,tanto pelo crumbtest como pelo ensaio sedimentométrico
comparativo,o comportamento dispersivoem suspeição pelas evidências pedológicas e geológicas e
caracteres de campo. A adição de cal na razão de 2% em peso mostrou inibir a dispersão em água
destiladano crumb test. Já a porcentagem de dispersão obtida nos ensaios sedimentométricos não comprova
esse efeito. Como no crumbtest, apesar de qualitativo, tem-se a direta observação do fenômeno, indica-se o
melhoramento com cal como uma ferramenta na preveção da erosão coloidalemtais solos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (1988). NBR 7181: análise granulométrica de solos. Rio
de Janeiro, 1988. 13p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (1986).NBR 7182: ensaio de compactação. Rio de
Janeiro, 1986. 9p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (1996a).NBR 13601: avaliação da dispersibilidade de
solos argilosos pelo ensaio do torrão (crumbtest). Rio de Janeiro, 1996. 2p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (1996b).NBR 13602: avaliação da dispersibilidade de
solos argilosos pelo ensaio sedimentométrico comparativo - ensaio de dispersão SCS. Rio de Janeiro,
1996. 5p.
Bastos, C.A.B. (1999) Estudo geotécnico sobre a erodibilidade de solos residuais não saturados. Tese de
Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil/UFRGS. PortoAlegre/RS: 1999, 298p.
Bastos, C.A.B. (2002) Caracterização geotécnica dos solos da Planície Coteira Sul do RS visando o
mapeamento geotécnico. Relatório Técnico de Pesquisa FAPERGS. Rio Grande/RS: 2002. 66p. 9 anexos
Decker, R.S.,Dunnigan, L.P. (1977) Development and use of the Soil Conservation Service dispersion test.
ASTM Special Technical Publication, Philadelphia, n.623, p.94–109, 1977. (Dispersive clays, related
piping, and erosion in geotechnical projects, Eds: Sherard, J.L. and Decker, R.S.).
Embrapa (2006) Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 2ªed. Rio de Janeiro/RJ:Embrapa Solos. 306p.
Heinzen, R.T.; Arulanandan, K. (1977) Factors influencing dispersive clays and methods of
identification.ASTM Special Technical Publication, Philadelphia, n.623, p.202–217, 1977. (Dispersive
clays, related piping, and erosion in geotechnical projects, Eds: Sherard, J.L. and Decker, R.S.).
Holmgren, G.G.S.; Flanagan, C.P. (1977) Factors affecting spontaneous dispersion of soil materials as
evidenced by the crumb test.ASTM Special Technical Publication, Philadelphia, n.623, p.218–239, 1977.
(Dispersive clays, related piping, and erosion in geotechnical projects, Eds: Sherard, J.L. and Decker,
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Sherard, J.L; Dunnigan L.P. and Decker, R.S. (1976) Identification and nature of dispersive soils.Journal of
the Geotechnical Engineering Div., ASCE, v.102 (1976), n.GT4, p.287-301.
Welter, C., Bastos, C.A.B. (2003) Avaliação da dispersibilidade de PlanossolosSolódicos encontrados na
Planície Costeira Sul do RS. In Congresso regional de Iniciação Científica e Tecnológica em Engenharia
– CRICTE’2003. Anais…Itajaí/SC: ABENGE. In CD.
Xavier, S.C. (2017) Mapeamento geotécnico aplicado ao planejamento do uso eocupação do solo da cidade
de Pelotas/RS - estudo voltado à expansão urbana.Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil/UFRGS. PortoAlegre/RS: 2017, 338p.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0172 ISBN: 978-65-89463-30-6

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O Controle Tecnológico De Uma Pequena Contenção Em Solo


Grampeado Na Cidade de Porto Alegre/RS

Debora Benetti
Engenheira Civil, Porto Alegre, Brasil, debora.benetti@edu.pucrs.br

Cleber de Freitas Floriano


Engenheiro Civil, Professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil,
cleber.floriano@pucrs.br

RESUMO: As injeções executadas para os solos grampeados são de suma importância para o funcionamento
do sistema de contenção. O controle tecnológico de uma obra de solo grampeado tem por objetivo testar a
capacidade destas injeções, não somente através dos critérios normativos de resistência da calda de cimento,
mas também como resposta à interface com o solo quando consolidado através de ensaio de arrancamento.
Este trabalho teve por objetivo avaliar o uso da técnica de solo grampeado em um solo residual de granito
em uma obra localizada na cidade de Porto Alegre/RS, a partir de alguns controles tecnológicos como: RCS
(Resistência à Compressão Simples) da calda de cimento de injeção dos grampos e ensaio de arrancamento
de grampo para verificação da tensão de aderência (q s) em grampo protótipo. Para a verificação da RCS
foram moldados in loco mais de 50 corpos de prova de calda de cimento e alguns concretos da obra. Já o
ensaio de arrancamento foi realizado na obra após 28 dias da injeção da calda de cimento, cujo fator água-
cimento especificado foi de 0,5 para o cimento CPII-32. Foi possível realizar um mapa das resistências de
cada grampo injetado. A partir do ensaio de arrancamento de grampo foi possível obter e interpretar a
relação força-deslocamento através de cargas e descargas com um conjunto macaco-bomba-manômetro,
podendo observar que o valor de qs deve ser interpretado em função dos deslocamentos obtidos. Mesmo com
a cura dos corpos de provas ao ar, 85% das amostras ensaiadas variaram de 20 a 32 MPa, sendo que 15%
ficaram em torno de 19 MPa. O ensaio de arrancamento indicou que o valor de q s adotado deve estar na faixa
de valores entre 180 e 245 kPa.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Grampeado, Controle Tecnológico, Ensaio de Arrancamento, Resistência à


Compressão Simples.

ABSTRACT: The injections performed for stapled soils are of paramount importance for the functioning of
the containment system. The technological control of a stapled soil work aims to test the capacity of these
injections, not only through the normative criteria of cement grout resistance, but also in response to the
interface with the soil when consolidated, by pullout test. This work aimed to evaluate the use of the stapled
soil technique in a residual granite soil in a work located in the city of Porto Alegre / RS, using some
technological controls, such as: RCS (Resistance to Simple Compression) of the grout staple injection
cement and staple pullout test to check the adhesion tension (q s) in prototype staple. For the verification of
the RCS, more than 50 specimens of cement grout and some concrete from the construction site were molded
in loco. The pullout test, on the other hand, was carried out at the construction site 28 days after the injection
of the cement solution, whose specified water-cement factor was 0.5 for the CPII-32 cement. The pullout test
result can be related to the direct shear test performed for the system anchoring soil. It was possible to make
a map of the resistances of each injected clamp. From the clamp pullout test, it was possible to obtain and
interpret the force-displacement relationship through loads and discharges with a monkey-pump-manometer
set, observing that the value of qs must be interpreted as a function of the displacements obtained. Even with
the curing of the specimens in the air, 85% of the samples tested ranged from 20 to 32 MPa, with 15% being
around 19 MPa. The pullout test indicated that the value of q s adopted must be in the range of values
between 180 and 245 kPa.

KEYWORDS: Stapled Soil, Technological Control, Pulling Test, Resistance to Simple Compression.

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1 Introdução

Solo grampeado é uma técnica de melhoria de solos que permite a contenção de taludes naturais ou
taludes resultantes do processo de escavação. O grampeamento do solo é obtido através da inclusão de
elementos lineares passivos, semi-rígidos, denominados grampos ou chumbadores. De modo geral, os
grampos são compostos por barras ou tubos de aço que introduzem esforços resistentes de tração e
cisalhamento e na grande maioria dos casos, são moldados in situ por meio das operações de perfuração e
fixação de armação com injeção de calda de cimento.
Em uma estrutura de contenção ou em estabilização de escavações, a técnica utilizada em relação aos
grampos se dá por meio do posicionamento sub-horizontal das ancoragens. Os esforços são principalmente
de tração quando o material tem rigidez compatível com a de solos. Por outro lado, quando a rigidez do
maciço é elevada, como ocorre em rochas, o grampo funciona como um chumbador e os esforços resultam
em combinação de tração e cisalhamento.
A técnica de solo grampeado possui certa similaridade quando comparado com outras obras de
contenção de encostas e estabilização de taludes como: terra armada e cortina atirantada. Destaca-se, o
método da cortina atirantada, onde os tirantes agem como intervenções ativas, enquanto os grampos no solo
possuem trabalho inicial passivo. Ortigão et al. (1995), demonstram que isso ocorre porque os tirantes são
protendidos com cargas de 150 a 1000 kN quando a contenção está pronta, garantindo que não ocorram
deslocamentos da face. Além disso, os esforços de tração são constantes ao longo de todo o comprimento
livre. No caso dos grampos, a protensão não ocorre. No entanto, cargas de 5 a 10 kN são aplicadas para
garantir o contato entre a face e o solo contido (BRUCE, JEWELL, 1986; ORTIGÃO; PALMEIRA; ZIRLIS,
1995).
Ainda não existe norma brasileira para a técnica em solo grampeado. A referência normativa
atualmente está em caminhamento para pauta sob audiência pública. Tal documento recebe o título de
“Muros e taludes em solo reforçado em aterros e solo grampeado (COMITÊ ESPECIAL DE MUROS E
TALUDES EM SOLOS REFORÇADO, ABNT, 2019). A norma fará a substituição da NBR 1986 – Terra
Armada – Especificação.
Para fins de projeto, a resistência ao cisalhamento da interface solo-grampo é um dos parâmetros mais
importantes. Este parâmetro é determinado a partir da experiência dos projetistas, de correlações empíricas
com materiais de referência e se baseiam, fundamentalmente, no tipo de solo e resultados de ensaios de
campo (arrancamento, sondagens a percussão e pressiométricos). A realização de ensaios de arrancamento in
situ é extremamente importante para a quantificação deste parâmetro e, consequentemente, para a elaboração
de projetos mais econômicos e seguros. No entanto, não há uma metodologia generalizada. Diferentes
enfoques conceituais quanto ao mecanismo de ruptura do conjunto solo-grampo, assim como quanto à forma
da superfície potencial de ruptura e natureza das forças atuantes, têm sido apresentados em vários trabalhos
publicados na literatura (STOCKER et al., 1979; SHEN et al., 1981; SCHLOSSER, 1983; JURAN et al.,
1988; BRIDLE, 1989; ANTHOINE, 1990).
Neste contexto de obra que envolve ancoragens, o controle de qualidade deveria ser uma prática
corriqueira para a obra, independentemente do seu porte. O controle de qualidade da obra de solo grampeado
está relacionado à qualidade dos materiais e a compatibilidade com as premissas de projeto. Alguns ensaios
são necessários, pois existem materiais que são produzidos na obra, como é caso da calda de injeção e o
concreto de elementos complementares. Ainda, é de fundamental importância para o funcionamento do
sistema em solo grampeado, o ensaio de arrancamento. Este ensaio deve ser realizado para definir a condição
real da resistência lateral solo-calda (qs) que naturalmente é uma função de múltiplas variáveis, entre elas:
tipo de solo, método de perfuração, aplicação da injeção e propriedades físicas da calda de cimento. Por este
motivo, em qualquer obra com este conceito, deve-se realizar este ensaio, de modo a definir a real condição
de ancoragem em que se encora os grampos na obra.
Portanto, o objetivo deste trabalho é avaliar o controle da qualidade de uma contenção de solo
grampeado em uma obra localizada na cidade de Porto Alegre/RS, através da execução de ensaios que
verificam a resistência a compressão simples (RCS) da calda de cimento das injeções de cada grampo e com
o ensaio de arrancamento de um grampo protótipo ancorado no solo residual instalado no talude da obra.

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2 Metodologia

A obra de contenção em estudo trata-se de um solo grampeado com faceamento em tela metálica da
alta resistência e bioengenharia associada, com extensão de 70m e altura de até 10m, em taludes com
inclinações da ordem de 55°. Neste contexto, foi executado um sistema de drenagem superficial com
descidas d’água em concreto, complementando a funcionalidade da contenção.
A região de estudo localiza-se na cidade de Porto Alegre/RS em uma área condominial na qual passou
por processo de recuperação. Neste local já ocorreu no passado movimentações de solo e rocha por conta de
exploração mineral. Atualmente a área é protegida ambientalmente e as obras que estão sendo realizadas no
local pertencem ao processo de melhoria e adequação da área de lazer. Os taludes no local na sua maior parte
são de corte em solo residual de granito.
Nesta localidade foi realizado um conjunto de obras de recuperação de área degrada em que uma delas
foi objeto do presente trabalho, no que tange, especialmente ao entendimento do sistema de contenção
aplicado (solo grampeado com faceamento verde em tela metálica de alta resistência) e a realização do
controle tecnológico desta. A obra foi motivada pela necessidade de segurança das edificações de lazer à
montante, incluindo uma piscina de 240 m³. A Figura 1 mostra as características do terreno antes e após a
obra.

Figura 1. Imagem da Área de Estudo e a Solução.

O talude de corte logo a jusante da área de banho, encontra-se mais verticalizado no topo e mais
abatido na base. Esta condicionante está atrelada às coesões distintas de horizontes B e C, associadas à
degradação de superfície pela erosão. Os solos do horizonte B, mais argilosos, embora menos resistentes ao
cisalhamento, são mais eficientes aos processos erosivos de superfície e apresentam acentuada evolução
pedogênica que conduzem para uma maior coesão efetiva neste estrato. Por outro lado, os solos do horizonte
C, embora tenham maior resistência ao cisalhamento quando confinados, se demostram mais frágeis aos
processos erosivos e evidentemente menor potencial edáfico, permitindo que os taludes fiquem com faces
expostas.
Os parâmetros necessários ao projeto em solo grampeado foram obtidos por investigações geotécnicas
e por ensaios nos grampos por parte da empresa executora. Embora quase que a totalidade dos problemas do
local estudado estejam associados aos maciços de solo, considera-se de extrema importância o relato da
geologia local, pois, são solos residuais, portanto, originaram-se do intemperismo destas mesmas rochas. Por
isso, o comportamento geomecânico, hidráulico e potencial edáfica tem forte relação com a mineralogia
primária do embasamento cristalizado.
Outro ponto a ser considerado, é a elevada permeabilidade nos solos da região. A área demonstra que
a maior parte da água precipitada é bem drenada pelo terreno, ou seja, infiltra-se e percola com celeridade.
Nessas condições, os níveis freáticos são transientes e dependem muito da intensidade e, sobretudo, da
duração das chuvas.
A curva granulométrica do solo do horizonte B/C demosntra composição predominantemente arenosa
da amostra, identificando solos granulares constituídos de pedregulhos, mas com uma composição argilo-
siltosa de 11%.

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A solução da área estudada consta de um sistema de grampeamento (solo grampeado) e os critérios


aqui estabelecidos foram fornecidos pela empresa executora. Os grampos devem estar espaçados a uma
distância máxima definida a depender do sistema utilizado, bem como o comprimento destas ancoragens
devem ser definidas em função das características do contato grampo-solo e das propriedades estabelecidas
para este grampo.
A solução encontrada leva o conceito de grampeamento-muro a qual deve apresentar rigidez suficiente
para funcionar como um muro, garantindo estabilidade externa como uma contenção deste tipo bem como
deve-se garantir a estabilidade interna.
Os grampos devem ter espaçamentos e ancoragem suficientes para permitir que o sistema funcione de
tal maneira. Para isso, prevê-se a instalação dos grampos associado a telas metálicas, de modo que o
conjunto ancoragem-placas-tela e eventualmente reforços com cabos proporcione estabilidade requerida
interna. A Figura 3 apresenta a seção do grampeamento.

Figura 3. Seção do Grampeamento.

Foi considerada a profundidade de superfície cuja redução de coesão aparente mobiliza um FS=1,0. A
partir desta situação, define-se que o comprimento de grampos deve ser equivalente a este comprimento mais
o comprimento de ancoragem dado pela carga de trabalho T. Assim:

L =Lanc. + Lm (1)

Lanc. – Comprimento ancorado


Lm – Espessura mobilizada por redução de coesão equivale a 1,2m, onde,

𝑇 𝑡𝑟𝑎𝑏
Lanc.= (2)
𝜋 . 𝐷 . 𝑞𝑠

Utilizando carga de trabalho de 80kN, diâmetro de perfuração de 75mm e q s de material arenoso


equivalente a 120 kPa, tem-se que: L= 2,8m+1,2m = 4m.

2.1 Controle Tecnológico

O controle tecnológico foi dividido em obtenção e resutados dos ensaios de arracamento de grampo e
ensaios de resistência à compressão.

2.1.1 Ensaio de Arrancamento de Grampo

O ensaio de arrancamento de grampos não segue nenhuma prescrição normativa, apenas ocorrem
indicações. Assim, através da literatura especializada que os procedimentos e recomendações de ensaios,
esquemas de montagem dos ensaios e interpretações do comportamento de arrancamento do grampo, serão
apresentados.

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O objetivo principal do ensaio de arrancamento é determinar a resistência ao cisalhamento da interface


solo-grampo (qs). Este parâmetro é constantemente estimado durante a fase projeto e posteriormente
verificado por meio de ensaios de arrancamento durante a construção.
O ensaio de arrancamento consiste em se aplicar cargas de tração, por meio de macaco hidráulico à
barra de aço ancorada no terreno. Diante disto, registra-se o deslocamento de arrancamento da cabeça do
grampo. Da curva deslocamento x carga, obtém-se a máxima carga axial de tração cortante no grampo do
ensaio de arrancamento. A resistência ao arrancamento (q s), obtida no ensaio, possui unidade de tensão e é
definida como:

𝐹𝑚á𝑥
qs = (3)
𝜋 . 𝐷 . 𝐿𝑎𝑛𝑐𝑜𝑟𝑎𝑑𝑜

onde:
qs: Resistência ao arrancamento mobilizada;
Fmáx: Máxima carga axial de tração cortante no grampo;
D: Diâmetro da perfuração;
Lancorado: Comprimento ancorado ou injetado do grampo.
O ensaio de arrancamento no grampo consistiu, inicialmente, na aplicação de sobrecarga de 5, 10 e 20
kgf/cm2, mantendo a pressão de 20 kgf/cm2, ocorrendo uma estabilização por 5 minutos. O deslocamento foi
observado através de leituras na placa e na barra. Após foi realizada a descarga de 10 e 5 kgf/cm 2 observando
novamente as leituras. O ensaio prosseguiu aplicando-se as cargas iniciais descritas acima, porém em cada
ciclo acrescentando consecutivamente os carregamentos de 40, 60, 80, 100, 120, 180, 200 e 220 e kgf/cm².
Consequentemente, a descarga continuou sendo feita.

2.1.2 Ensaio de Resistência a Compressão

Para os ensaios de resistência a compressão foi realizada a preparação da calda de cimento, através de
cimento Portland CPII-32 e fator água/cimento igual a 0,5. A calda de cimento foi preparada em quantidade
suficiente para o preenchimento dos furos, sendo em misturador de pá de alta turbulência, respeitando as
recomendações da NBR 7681 (ABNT, 2013).
Ao longo da execução dos grampos, foi feita a moldagem de trinta e oito corpos de prova e não se
realizou o processo de cura imersa. Os corpos de prova ficaram armazenados em local fechado e protegidos
de intempéries. Foram realizadas medidas de diâmetros e alturas e os corpos de prova foram preparados de
acordo com as recomendações da NBR 5739 (ABNT, 2018).
Aos 28 dias, realizou-se o ensaio de compressão uniaxial nos corpos de prova, obedecendo a idade de
rompimento de cada um dos corpos de prova. Neste ensaio os corpos de prova foram submetidos a um
carregamento que aumenta progressivamente até a ruptura da amostra. O valor da força exercida no
momento da ruptura indica a resistência máxima que a calda de cimento suporta.
Os grampos foram executados e numerados segundo a localização da Figura 4, que correspondem a
distribuição no talude de altura variável.

Figura 4. Localização dos Grampos do Solo Grampeado.

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3 Resultados e Análises

Os resultados de resistência à compressão simples da calda de cimento para cada injeção realizada é
apresentada na Figura 5. Nota-se que alguns valores se repetem, pois algumas bateladas serviram para injetar
mais de um grampo.

Figura 5. Mapa da Resistência à Compressão Simples das Amostras.

As resistências à compressão simples da calda de cimento oscilaram de 15,7 a 32,17 MPa, com
exceção de dois corpos de prova que apresentaram 9,0 MPa. A amostra, embora ensaiada, encontrava-se
danifica, provavelmente por ocorrência de dano mecânico no transporte.
A dosagem (fator água-cimento) foi fixada em 0,5. Sendo que o controle de dosagem foi feito com
lançamento em volume de água medido diretamente com marcador no tambor de mistura e posteriormente o
lançamento do cimento. Terminando a mistura, repetia-se o procedimento. Nestas situações a variabilidade
de dosagem é pequena. Sendo assim, as variações mais acentuadas de resultados concentram-se na técnica de
moldagem e cura do CPs, especialmente em campo.
Pode-se dizer, portanto, que a variabilidade de resultados é ocasionada devido a diferentes fatores,
como por exemplo, uma possível armazenagem dos corpos de prova em local desnivelado logo após a
moldagem na obra, a não cura em câmara úmida ou imersa das amostras e as pequenas variações de dosagem
tornam-se condicionantes para a dispersibilidade dos resultados. A respeito do processo de cura, os CPs 2A
e 2B foram curados imersos, enquanto os CPs 1F e 1G foram curados ao ar. Este comparativo foi realizado
justamente para estabelecer uma relação sob o ponto de vista de resistência na interferência do processo de
cura. Os resultados mostram que a cura imersa apresentou 21,5 MPa e 22,6 MPa, para os CPs 2A e 2B,
respectivamente. Enquanto à cura ao ar, a resistência obtida foi de 19,2 MPa e 18,5 MPa, para os CPs 1F e
1G.
A cura submersa proporciona cerca de 14,36% de diferença em comparação ao processo de cura ao ar.
No entanto, a calda de injeção no furo é curada em uma condição intermediária, ou seja, nem na condição ao
ar, nem na condição imersa, mas sim, em meio a um solo com sua umidade natural. Isto significa que a cura
é um importante fator para determinação da resistência da calda de injeção. Admite-se que devido às
condições de confinamento do solo e a baixa perda por evaporação, o resultado dentro do furo de injeção se
aproxima mais da condição de cura imersa do que da cura ao ar. Segundo a NBR 5629 (ABNT, 2018) a
resistência mínima para amostras de calda de cimento é de 20 MPa.
Assim sendo, cerca de 65,8% das amostras ensaiadas apresentam resistência à compressão igual ou
maior que 20 MPa, sendo que o desvio padrão das amostras é de 4,23. Porém, dado o exposto, entende-se
que o mais provável é que todas as injeções atendam o quesito mínimo da norma.
Por outro lado, o ensaio de arrancamento foi executado na haste 17E, estabelecida como um protótipo
com comprimento de ancoragem de 1,5m e livre de 2,5m. A Figura 6 apresenta os resultados obtidos no
ensaio de arrancamento.

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Figura 6. Interpretação do Ensaio de Arranacamento.

Os deslocamentos que promovem as deformações plásticas em níveis de tensões de tração, são


capazes de quebrar a estabilidade do carregamento e são similares aos deslocamentos mobilizados para
estado de tensões confinantes (acima de 200kPa) na posição da curva onde não ocorram mais variações do
deslocamento vertical, ou seja, onde a ruptura se desenvolve a volume constante.
A ruptura ocorreu por cisalhamento do solo dentro do furo e não pelo contato propriamente dito ou
mesmo pela ruptura da calda de cimento. Isso pode ser explicado pelo fato que a injeção em pressões baixas
(bainha) foi suficiente para permitir que a tensão de aderência que corresponde a resistência lateral até
180kPa praticamente sem necessidade de reequilíbrio de carga para a manutenção da força de tração. A partir
desta tensão, até 245kPa é necessário manter a carga, mas ainda ocorre crescimento de tensão aderente, mas
com taxa de crescimento do deslocamento acima de 1mm em 5min.
As pressões baixas na cavidade se equilibram com o estado de tensões geostático do solo. Portanto, o
comportamento mecânico quanto à resistência ao cisalhamento, no instante do arrancamento, pode ser
relacionada com o estado de confinamento em que a cavidade de perfuração consolidada se encontra.
Observando os deslocamentos durante ensaio de arrancamento, no presente caso, as tensões de tração
no grampo passam a não estabilizar em um tempo de 5 min quando estes atingem valores da ordem de
4,5mm. Neste instante, assume-se que ocorreu o início da ruptura (teórica) do contato calda-solo, que na
verdade é a ruptura do solo propriamente dita. A condição de ruptura teórica se estende até a ordem de
8,5mm de deslocamento, quando estes disparam a carregamentos constantes. A partir de então, observa-se a
ruptura física do contato, o qual é dito arrancamento, porém, o solo já sofreu ruptura.
Assim, para garantir a ancoragem de forma eficiente, o valor de resistência ao cisalhamento na
interface solo-grampo de cálculo para as ancoragens deve ser inferior a 180kPa, ou seja, o instante da ruptura
do solo onde s deformações plásticas disparam e não do arrancamento generalizado do grampo.
O valor de resistência ao cisalhamento na interface solo-grampo obtido a partir do ensaio de
arrancamento para este caso encontra-se dentro da faixa de valores propostos por Byrne et al., (1993) de 120-
240 kPa e corroboram com os valores encontrados por Azambuja et al., (2003), embora correspondam a
situações de ensaios e materiais com características distintas, deve-se observar à semelhança.

4 Conclusão

O controle de qualidade em obras é de suma importância para determinar se as premissas de projeto


estão de fato sendo atendidas, bem como traz uma importante ferramenta para a condução de futuros
trabalhos e demonstração da qualidade executiva da obra em solo grampeado. O controle de qualidade
acompanhado neste trabalho foram dois: ensaio de RCS das caldas de injeção e o ensaio de arrancamento
para obtenção do parâmetro qs.
Pode-se observar que a cura dos CPs é de suma importância para os resultados dos ensaios de RCS.
Foram executadas mais de 40 rupturas à compressão simples, as quais com cura ao ar. Tomando esta
consideração, os valores de RCS da calda de cimento atenderia os quesitos de resistência mínima de 20 MPa.

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A partir do ensaio de arrancamento foi possível obter valores de resistência ao cisalhamento da


interface solo-grampo de 245 kPa com deslocamentos da ordem de 8,5mm. No entanto, interpretou-se que
este valor deve ser tomado com cautela, pois quando atinge-se resistência lateral de 180 kPa o solo entra em
plastificação, demostrando que esta deveria ser a resistência ao arrancamento (q s) máximo estabelecido,
atendendo ao preconizado no projeto que foi de 120 kPa. O deslocamento necessário para a total mobilização
da resistência ao cisalhamento da interface dos grampos submetidos ao ensaio de arrancamento mostrou-se
da ordem de 0,21% do comprimento do grampo.
Por fim, o comportamento geomecânico da contenção em solo grampeado pode ser balizado por
resultados de ensaios como os que foram realizados e avaliados neste trabalho.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao cond. Terra Nova Nature, a RCA Infraestrutura e SF Engenharia


Diferenciada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Anthoine, A. (1990) Une méthode pour le dimensionnement à la rupture des ouvrages en sols renforcés.
Revue Française de Géothechnique, (50): 5-17.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2013). NBR 7681-1. Calda de Cimento para Injeção. Rio de
Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2018). NBR 5629. Tirantes ancorados no Terreno. Rio de
Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2018). NBR 5739. Concreto- Ensaios de compressão de corpos
de prova cilindricos. Rio de Janeiro.
Azambuja, E., Strauss, M., Silveira, F. G. (2003) Sistema de contenção em solo grampeado na cidade de
Porto Alegre. In: Workshop Sobre Solo Grampeado, São Paulo. Anais. ABMS; Sinduscon/SP, p. 21-34.
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0173 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Avaliação dos Métodos de Capacidade de Carga de Ancoragens


em uma Cortina Atirantada em Belo Horizonte- MG
Gabriele Martins Gontijo
Mestranda em geotécnia, UFOP, Ouro Preto/MG, Brasil, gabrielegontijo@hotmail.com

Thiago Bomjardim Porto


Professor EBTT, CEFET-MG, Curvelo/MG, Brasil, thiago.porto@cefetmg.br

Romero César Gomes


Professor titular, UFOP, Ouro Preto/MG, Brasil, romero@em.ufop.br

RESUMO: Neste trabalho será apresentada uma comparação da capacidade de carga de um caso real da
recuperação e reforço de uma cortina atirantada no ano de 2018, em Belo Horizonte/MG. Para desenvolvê-lo
foi utilizado um banco de dados disponibilizado pela empresa executora da recuperação da cortina atirantada
com 308 tirantes reinjetáveis e protendidos, construida na década de 70. A técnica de contenção por cortina
atirantada é empregada em locais com áreas restritas e grandes alturas de escavações, e é conhecida por
produzir pequenas deformações. A cortina abordada neste estudo tem como objetivo estabilizar um maciço
da BR-356, no qual possui 160 metros de extensão e é desmembrada em 16 painéis (10m X 11m). As
análises de capacidade de carga para o painel 11, painel crítico, foram realizadas utilizando como base o
perfil topográfico do solo, juntamente com furos de sondagem do tipo SPT, permitindo através de
correlações obterem os parâmetros geológico-geotécnicos do maciço. O cálculo da capacidade de carga foi
realizado por métodos semi-empiricos da literatura técnica e indiretamente a partir da teoria de Mohr
Coulomb. Diante o exposto, esse trabalho irá mostrar em forma de gráficos as diferentes capacidades de
carga encontradas nos métodos de Porto (2015), Bustamante (1985), Falconi (2005) e a teoria de Morh
Coulomb (1773), bem como o possível motivo da diferença entre os mesmos. Com a capacidade de carga
obtida é possível, por “retroanálise” desses dados, encontrar uma otimização para esta cortina atirantada.

PALAVRAS-CHAVE: Capacidade de carga, cortina atirantada, metódos semi-empiricos.

ABSTRACT: This work will compare the carrying capacity of a real case of the recovery and
reinforcement of an anchorage wall in 2018, in Belo Horizonte/MG. To develop it, a database was made
available by the company executing the recovery of the curtain bolt with 308 rejectable and prestressed rods,
built in the 70s. The anchorage wall technique is used in places with restricted areas and high heights
excavations, and is known to produce small deformations. The wall covered in this study aims to stabilize a
BR-356 massif, which is 160 meters long and is broken down into 16 panels (10m X 11m). The load
capacity analyzed from panel 11, a critical panel, were carried out using the topographic profile of the soil as
a base, together with drilling holes of the SPT type, allowing through correlations to obtain the geological-
geotechnical parameters of the massif. The calculation of the load capacity was carried out by semi-empirical
methods in the technical literature and indirectly based on Mohr Coulomb's theory. In view of the above, this
work will graphically show the different load capacities found in the methods of Porto (2015), Bustamante
(1985), Falconi (2005) and the theory of Morh Coulomb (1773), as well the possible reason of the difference
between them. With the load capacity obtained, it is possible, by “retroanalysis” of these data, find an
optimization for the anchorage wall.

KEYWORDS: load capacity, anchorage wall, semi-empirical methods.

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1 Introdução

Com o crescimento populacional e escassez de área, principalmente em grandes centros urbanos como
Belo Horizonte, é necessário que os brasileiros aproveitem áreas com topografias acidentadas. Essas regiões
estão susceptíveis a catástrofes devidas os riscos geológicos que se intensificam em épocas chuvosas. Diante
este contexto, a proposição de conter os maciços é indispensável à execução de uma contenção segura e
eficiente.
As estruturas de contenção são construídas em locais com restrições de espaço e limitação de
deformações horizontais e verticais. Essas infraestruturas podem ser do tipo convencional ou especial, a
escolha é conforme geologia local e recursos financeiros disponíveis. A cortina atirantada, tema deste
trabalho, está entre uma das mais utilizadas por possuir eficiência inquestionável.
A cortina atirantada é uma estrutura composta de concreto armado na forma de parede e ancoragens,
que são conhecidos como tirantes, os quais são injetados ao solo com a função de suportar a carga exercida
pelo maciço e a tração. Em obras de contenção que utilizam ancoragem protendidas e injetáveis é preciso
determinar a capacidade de carga, ou seja, realizar uma análise comportamental dos tirantes presentes na
estrutura.
Este trabalho trata-se de uma obra de contenção que foi construído em encosta desde a década de 70
em Belo Horizonte-MG e precisou de intervenção no ano de 2018 para evitar um desastre após manifestar
algumas patologias. Nele é apresentada uma comparação da capacidade de carga de tirantes através de
métodos semi-empiricos e teórico em um painel (painel 11) da cortina para a otimização da obra. Este estudo
pretende contribuir de alguma forma para a divulgação da técnica de ancoragem protendida ainda com
pequeno número de estudos no Brasil.

2 Contextualização

2.1 Aspectos Geólogico-Geótecnicos da área em estudo

Segundo Silva et al. (1995) apud Parrizi et al. (2004), Belo Horizonte possui três compartimentos
geológicos: Complexo de Formações Superficiais, Complexo Gnáissico ou Complexo Belo Horizonte e
Complexo Metassedimentar. A cortina atiranda da BR-356, local deste estudo, pertence ao Complexo
Metassedimenar, o qual é uma região com problemas de taludes instáveis que são compostos por um maciço
rochoso de filito. O filito é classificado como rocha metamórfica de granulação muito fina e constituído de
minerais micáceos, o que lhe confere um aspecto sedoso. Nos últimos anos na capital mineira foram nesta
região as principais ocorrências de sinistros geotécnicos ou ruinas de contenções.

2.2 Estrutura de Contenção

A cortina atirantada pode ser de concreto armado, projetado, parede diafragma ou perfis metálicos
cravados, é uma técnica de contenção através da execução de uma “cortina” concomitantemente com
perfuração, aplicação, injeção e protenção dos tirantes. A aplicação desta técnica é recomendada para
terrenos com cortes de grande carga a ser contida ou solo de pouca resistência e estabilidade.
De acordo com Cunha (2005), os fortes costeiros do século XVIII foram os pioneiros em estrutura de
contenção no Brasil. No século XIX o uso de contenção expandiu para obras portuárias e urbanas na Bahia e
Rio de Janeiro.
Com o passar dos anos e o crescente desenvolvimento urbano e industrial ocorreu à urgência de
construir em subsolo por escavações mais profundas. Desta forma, More (2003) menciona que o progresso
das estruturas de contenção do solo, a incluir as ancoragens, resultou dos engenheiros geotécnicos
precisarem conciliar o mínimo deslocamento do solo e obras vizinhas com os excessivos esforços
horizontais.
Através de relatos por Cambefort (1964) a primeira aplicação relevante para ancoragem em maciço
rochoso é datada de 1934 como complementação a barragem de Cheurfas, localizada na Argélia. Essas
ancoragens são introduzidas no terreno para resistir às tensões de tração e conduzi-las ao maciço.

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A obra de contenção em estudo está localizada na capital mineira Belo Horizonte, ás margens da
rodovia BR-356, conhecida também como Avenida Nossa Senhora do Carmo. Essa obra de contenção foi
construída aproximadamente em 1975 pela antiga empresa Geotop, com comprimento de 160 m e
subdividida em 16 painéis (10 m de comprimento X 16 m de altura).

2.3 Patologias da Contenção em estudo

Após a construção na década de 70, a contenção da BR-356 nunca enfrentou reparos. Assim como
qualquer obra sem manutenção, a contenção começou a exibir problemas patológicos. No ano de 2018
técnicos da defesa civil perceberam uma movimentação na estrutura de um trecho da pista com risco de
queda do muro da contenção e um abatimento na via.
Além disso, na construção foram verificadas patologias como: trincas, fissuras, presença de musgos,
corrosão da cabeça de ancoragem e perda de protensão do aço.

2.4 Intervenções e Recuperação


Em março de 2018 a defesa civil entregou ao DEER-MG uma notificação diante as circunstâncias das
patologias e problemas na contenção. Assim era esperado que medidas fossem adotadas para mitigar os
riscos e recuperar a contenção da BR-356. Como medida de atenuar as queixas e preocupações dos usuários
da via, o DEER-MG realizou uma selagem imediata nas trincas do pavimento da rodovia e iniciou estudos de
sondagens para avaliar o terreno e definir que tipo de intervenção seria realizado no local.
A Bhtrans fez a interdição de uma faixa da rodovia, a URBEL e defesa civil notificaram as famílias
que viviam na vila São Bento, comunidade localizada ao lado do muro e expostas ao risco. Com a retirada
destas famílias, as máquinas e trabalhadores chegaram para começar os trabalhos de recuperação.
Os operários começaram o processo de estabilização do painel crítico (painel 11), o qual apresentava
um deslocamento na junta de 0,10cm, ou seja, encontrava-se em risco emergencial. Desta forma, os
trabalhadores realizaram um reforço provisório com implantação de três vigas metálicas ancoradas nos
painéis vizinhos através de tirantes com diâmetro de 47 mm e carga trabalho de 833,57 kN. Após esta etapa,
os empregados concentraram-se nas demais placas, cujos riscos eram menores com a perspectiva de
estabilização de toda estrutura em seis meses.
Na obra definitiva de reforço da contenção implantou 308 novos tirantes adjacentes aos existentes com
diâmetros de 32 mm, carga trabalho de 343,23 kN e diâmetro do furo de 10 cm, assim um reforço estrutural
da cortina atirantada foi realizado com acréscimo de 15cm de concreto projetado. Em seguida, a fundação
também foi reforçada com 64 blocos e em cada bloco com instalação de 1(uma) estaca raiz (Φ200mm em
solo e Φ150mm em rocha). Os empuxos do maciço precisavam ser aliviados, logo foram instalados drenos
horizontais profundos (DHP).
Na ocasião da intervenção, diante a ineficiência do antigo sistema de drenagem, os engenheiros
optaram por implantar um novo sistema de drenagem pluvial na área. O projetista responsável optou pela
execução de um sistema de captação não destrutivo, conhecido como túnel bala com comprimento da ordem
de 143 metros. Por outro lado, os sistemas de drenagem de bueiros existentes sob o maciço encontravam-se
danificados com risco de ruptura interna, logo realizou um preenchimento com injeção de concreto auto
adensável. Na extremidade da cortina executou-se um muro de arrimo de flexão para conter o talude. Na
última etapa de recuperação teve uma conformação no passeio, guarda-corpo, sarjeta, nova camada de
pavimentação e implantação de drenagem sob a pista (instalação de novos bueiros convencionais).
Para todos esses serviços foram seguidas as normas vigentes da Associação Brasileira de Normas
Tecnicas (ABNT). A obra conseguiu ser concluída antes do prazo previsto (seis meses- setembro de 2018),
visto que o cronograma foi seguido corretamente e não ocorreu nenhum contratempo. Todo esse processo
teve um custo em torno de 11,9 milhões de reais e gerou 70 empregos.

3 Métodos de Dimensionamento da Capacidade de Carga

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Os métodos teóricos apresentados a seguir são utilizados para auxiliar no dimensionamento dos
trechos ancorados dos tirantes de uma contenção. No entanto é importante salientar que existe empirismo
nestes métodos do cálculo da capacidade de carga dos tirantes.

3.1 Método de Bustamante e Doix (1985)

A capacidade de carga pode ser estimada através das fórmulas (1) e (2) (Bustamante e Doix, 1985).

𝑇𝐿 = 𝜋 . 𝐷𝑠 . 𝐿𝑏 . 𝑞𝑠 (1)

𝐷𝑠 = 𝛽 . 𝐷𝑝 (2)

Onde: TL (capacidade de carga do bulbo -kN/m²); DS (diâmetro médio do bulbo -m); Lb (comprimento
do trecho ancorado ou bulbo- m); qs (resistência ao cisalhamento -kN/m²); Dp (diâmetro perfurado do furo -
m); β (coeficiente de majoração do diâmetro do bulbo - tabelado).
De acordo com o tipo de solo e injeção, os autores Bustamante e Doix (1985) propõem valores
para β, no Tabela 1.
Tabela 1. Coeficiente de majoração do diâmetro do bulbo.

Tipo de Solo Coeficiente β


Com reinjeção Sem reinjeção
Cascalho 1,8 1,3-1,4
Cascalho 1,6-1,8 1,2-1,4
arenoso
Areia com 1,5-1,6 1,2-1,3
cascalho
Areia Grossa 1,4-1,5 1,1-1,2
Areia Média 1,4-1,5 1,1-1,2
Areia Fina 1,4-1,5 1,1-1,2
Areia Siltosa 1,4-1,5 1,1-1,2
Silte 1,4-1,6 1,1-1,2
Argila 1,8-2,0 1,2
Por outro lado, estes autores apresentam os valores da aderência à ruptura (qs) em forma de ábacos. No
caso em estudo, o solo é silte arenoso, logo o ábaco a ser utilizado será de Silte e Areia, conforme Figura 1.

Figura 1. Ábaco para determinação de qs para solo argiloso e siltoso


Fonte: Adaptado de Bustamante e Doix (1985).

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3.2 Falconi (2005)

Falconi baseou seus estudos nesta fórmula e sugeriu um método de calculo simplificado para estimar a
capacidade de carga de ruptura em ancoragens reinjetáveis e protendidas. A capacidade de carga das
ancoragens é apresentada pela equação (3), que depende da resistência ao cisalhamento equação (4) e por vez
subordina-se ao número de golpes (Nspt) da sondagem.

TL   DS Lb qs (3)

 SPT  (4)
qs  15  1
 3 

Onde: TL (capacidade de carga do bulbo-kN); DS (diâmetro médio do bulbo-m); Lb (comprimento do


trecho ancorado do tirante (bulbo)-m); qs (resistência ao cisalhamento-kN/m2); DP (diâmetro perfurado do
furo-m).

3.3 Porto (2015)

Com extrapolações matemáticas da proposta de Van der Veen (1953), Porto chegou às equações (5),
(6) e (7) para cálculo da capacidade de carga geotécnica, diâmetro médio do bulbo, e aderência na ruptura,
respectivamente:

𝑇𝐿 = 𝜋 . 𝐷𝑠 . 𝐿𝑎 . 𝑞𝑠 (5)

𝐷𝑠 = 𝛽 . 𝐷𝑝 (6)

𝑆𝑃𝑇 (7)
𝑞𝑠 = 10 k + ( + 1)
3

Onde: TL (Capacidade de carga do bulbo - kN/m2); Ds (Diametro médio do bulbo - m); La


(Comprimento do trecho ancorado do tirante -m); qs (Aderência de ruptura-kN/m2); Dp (Diametro do furo-
m); β (Coeficiente de majoração do bulbo devido à injeção) e k (Coeficiente de ancoragem - kN/m2).

Na Tabela 2 encontram-se os valores de coeficiente de majoração e ancoragem sugeridas pelo autor.

Tabela 2- Valores dos coeficientes de majoração e ancoragem k (kN/m2)


Solo predominante β Valores de k (kN/m2)
Valores com 80% Valor mais
de confiança provável
Argila Siltosa 2,1 1,2 a 1,29 1,25
Argila Arenosa 2,1 0,9 a 1,01 0,95
Silte Argiloso 1,97 2,37 a 2,77 2,57
Silte 2,11 2,04 a 2,28 2,16
Silte Arenoso 2,25 1,7 a 1,78 1,74
Areia Argilosa 2,2 2,57 a 2,77 2,67
Areia Siltosa 2,2 2,1 a 2,37 2,24
Fonte: Adaptado de Porto (2015)

3.4 Teoria de Mohr Coulomb

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A teoria de Mohr- Coulomb é amplamente utilizada na mecânica do solo, podendo ser estendida na
utilização de cálculo de resistência do solo para uma parede de contenção. A empresa responsável pela
intervenção na contenção da BR-356 baseou nesta teoria para realizar alguns cálculos, pois o solo apresenta
propriedades coesivas. Afinal, essa teoria fornece um modo fácil e rápido de expressar o estado multiaxial de
tensões. A equação utilizada por Coulomb é:

τ = c + σ tan φ (8)

Onde: τ (tensão de cisalhamento na ruptura), σ (tensão normal na ruptura), c (intercepto coesivo), φ


(ângulo de atrito interno).

4 Problema em Estudo

A contenção em estudo está em uma área urbanizada e importante estrada de conexão a demais
cidades da região. A estrutura é dividida em 16 painéis, com o painel mais crítico (11) devido ao
deslocamento de 0,10cm da junta é tema deste estudo. Com a situação deste painel, a empresa executora da
recuperação da cortina optou por um reforço provisório para evitar um colapso da estrutura para retrabalhar
toda contenção, ilustrado Figura 2.

Figura 2. Painel 11 com reforço provisório


Fonte: DEER-MG (2018).

Através de sondagens à percussão do tipo SPT (Standard Penetration Test) verificou um aterro de
material silte arenoso, perfil geológico-geótecnio na Figura 3, em que os valores médios de NSPT dos tirantes
do painel 11 estão representados na Tabela 3 abaixo. Com os dados do SPT os demais parâmetros foram
obtidos com correlações da literatura, sendo: c = 75 kN/m2, φ = 22,5°, ɣ = 20,5 kN/m3 .
De posse de todos esses dados foi possível realizar os cálculos para capacidade de carga de tirantes
para o painel mais critico da contenção em destaque.
Tabela 3. Dados dos tirantes do painel 11.
Dados dos Tirantes Geotécnico
Linha Tirante LL (m)- Trecho livre Lb(m)- Trecho Lt (m)- Trecho SPT
ancorado total
LINHA 1 26 8 34 47
LINHA 2 20 8 28 50
LINHA 3 16 8 24 50
LINHA 4 10 8 18 45

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Figura 3. Perfil geológico-geotecnico do painel 11


Fonte: DEER-MG (2018).

5 Resultados e Discussões

A partir das análises realizadas para o cálculo da capacidade de carga para os tirantes do painel crítico
(painel 11), têm-se os seguintes resultados para cada metódo representada no Gráfico 1 abaixo:

(a) (b)

(c) (d)

Gráfico 1- Capacidade de carga por métodos de cálculo.(a)Linha 1, (b)Linha 2, (c)Linha 3, (d)Linha 4.

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Através dos gráficos percebe que o único método que mantém sempre o mesmo valor para o cálculo
da Carga é de Bustamante, afinal ele não depende do número SPT. A maior diferença de valores está no
método de Porto que pontua 318 kN da Linha 2 e 3 para Linha 4.
Além disso, ao comparar os valores encontrados em cada método constata uma pequena disparidade
nos valores encontrados em Bustamante, Falconi e Morh Coulomb, entretanto, o método de Porto obteve
uma discrepância maior. Essa diferença entre os outros métodos pode ser justificável pelo fato de Porto
(2015) não ter trabalhado em sua pesquisa com solo silte arenoso e os coeficientes utilizados em sua equação
ser um valor aproximado para este tipo de solo.
Bustamante é o método semi-empirico mais antigo tratado neste trabalho, logo ao comparar na linha 2
com os demais métodos, tem-se que Falconi possui uma dispersão de 74,26 kN com Bustamante, essa
diferença é mínima de 5%. Por outro lado, ao comparar Bustamante com Porto à desigualdade é maior em
torno de 45%.

6 Conclusão

Este trabalho teve o objetivo de iniciar uma discussão sobre os diversos métodos presentes na
literatura para cálculo da capacidade de carga de tirantes assim como, aplicação prática dos engenheiros,
visto que para cada caso pode ocorrer particularidades que proíba a utilização de algum método para a obra
em questão. Desta forma, ao executar o trabalho de uma obra de contenção é importante aplicar os métodos
disponíveis e fazer uma análise critica para obter uma obra econômica e segura, minimizando erros do
processo de controle de ancoragens reinjetáveis. Logo o trabalho quis contribuir para transparecer que é
necessário um controle de qualidade das ancoragens projetadas e executadas no Brasil.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o Programa de Pós- Graduação em Engenharia Geotecnica da Universidade


Federal de Ouro Preto (UFOP-NUGEO) e a Coordenação de Aperfeioçamento Pessoal de Nível Superior
(Capes).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bustamante, M. & Doix, B. (1985) Une Méhode Pour le Calcul des Tirants et Micropieux Injectées. Bulletin
des Liaison des Laboratoires des Ponts et Chaussées, nº 140.
Cambefort, H. (1964) Injection des sols, Tomos I e II, Éditions Eyrolles, Paris.
Falconi, F. (2005) Concurso: “Capacidade Geotécnica de Ancoragens reinjetáveis”; IV COBRAE -
Conferência Brasileira sobre Estabilidade de Encostas - Salvador-BA.

More, J. Z. P. (2003) Análise Numérica do comportamento de cortinas atirantadas em solos. Dissertação de


Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro/ PUC-RJ, 120p.
Parizzi, Maria Giovana; Sobreira, Frederico Garcia; Galvão, Terezinha Cássia de Brito; Elmiro, Marcos
Antônio Timbó (2004), Chuvas e escorregamentos de taludes em Belo Horizonte/MG, Simpósio Brasileiro
de Desastres Naturais, GEDN/UFSC, Florianópolis, p: 29-43.

Porto, T. B. (2015). Ancoragens em Solos – Comportamento Geotécnico e Metodologia Via Web para
Previsão e Controle, Tese de doutorado, Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Universidade
Federal de Ouro Preto/UFOP.
Silva, A. S.; Carvalho, E. T.; Fantinel, L. M.; Romano, A. W.; Viana, C. S. (1995) Estudos Geológicos,
Hidrogeológicos, Geotécnicos e Geoambientais Integrados no Município de Belo Horizonte. Convênio:
PMBH, SMP, FUNDEP/UFMG.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0174 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Avaliação Do Compósito Solo-Cal Como Camada Constituinte


Em Pavimento Urbano
Gabrieli Hoffmann Weis
Docente, UDC, Foz do Iguaçu, Brasil, gabrielihweis@gmail.com

Eduardo Damin
Discente, UDC, Foz do Iguaçu, Brasil, eduardodamin@gmail.com

RESUMO: O solo possui grande valia nas atividades de construção civil e engenharia rodoviária, para tanto é
necessário que o mesmo apresente propriedades físicas e mecânicas capazes de suportar as cargas e esforços
aos quais serão submetidos. Para esquivar-se de situações de capacidade de suporte insuficientes é de suma
importância o conhecimento de técnicas de melhoramento e estabilização de solos. A estabilização química é
utilizada para modificar as características dos solos com a utilização de aditivos. A cal como aditivo na
estabilização química de solos é um dos métodos mais antigos, quando misturada ao solo produz reações físico-
químicas capazes de alterar as propriedades do solo promovendo sua estabilização e ganho de resistência.
Nesse sentido o presente estudo tem por objetivo analisar a influência da cal no solo da região oeste do Paraná.
O compósito solo-cal foi analisado na proporção de 5,6%, definido pelo método de pH proposto por Eades e
Grim como sendo o teor ótimo. Os dados obtidos apontam um aumento de resistência em relação ao solo in
natura de 12,26%, demonstrando que a adição da cal ocasiona mudanças imediatas para o solo, tornando-se
uma alternativa tecnicamente viável para aplicação em reforços de subleito e sub-bases de pavimentos urbanos.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização, Solo-Cal, Pavimento.

ABSTRACT: The soil has great value in the activities of civil construction and road engineering, so it is
necessary that it has physical and mechanical properties capable of supporting the loads and efforts to which
they will be submitted. In order to avoid situations of insufficient support capacity, knowledge of soil
improvement and stabilization techniques is of utmost importance. Chemical stabilization is used to modify
soil characteristics with the use of additives. Lime as an additive in the chemical stabilization of soils is one of
the oldest methods, when mixed with the soil it produces physical-chemical reactions capable of altering the
properties of the soil promoting its stabilization and resistance gain. In this sense, the present study aims to
analyze the influence of lime on the soil of western Paraná. The soil-lime composite was analyzed in the
proportion of 5.6%, defined by the pH method proposed by Eades and Grim as being the optimum content.
The data obtained point to an increase of resistance in relation to the natural soil of 12.26%, demonstrating
that the addition of lime causes immediate changes to the soil, becoming a technically viable alternative for
application in reinforcements of subgrade and sub-bases of urban pavements.

KEYWORDS: Stabilization, Soil-Lime, Pavement.

1 Introdução

O solo é um material abundante, de fácil obtenção e manuseio que pode ser empregado em várias áreas
da engenharia. No entanto é comum que o solo de determinadas regiões não atenda às exigências de projeto,
tendo baixa capacidade de suporte. Quando isso acontece existem três soluções a serem analisadas:
- Adaptação do projeto para uso do solo local.
- Substituição do solo local por outro que atenda as exigências do projeto.
- Alteração das propriedades do solo local gerando um solo com novas características que atendam às
exigências de projeto.

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A primeira opção gera um alto custo de projeto e execução, a segunda se torna inviável pelo gasto com
a movimentação de terra, além da necessidade de um local para despejo do solo retirado e o transporte do solo
que será colocado no lugar. A terceira opção é a que tem se mostrado mais viável técnica e economicamente.
Para alteração das propriedades do solo é de suma importância que se tenha conhecimento das suas
características e das técnicas de melhoramento e estabilização para que se possa escolher a melhor técnica a
ser utilizada.
Existem duas técnicas que podem ser utilizadas para estabilização de solos, a primeira emprega meios
mecânicos tais como a correção da granulometria e plasticidade. O segundo emprega meios químicos
utilizando aditivos como a cal.
A cal como aditivo na estabilização química de solos é um dos métodos mais antigos, podendo ser
aplicado de várias maneiras. Segundo Thomé (1994) a cal quando misturada ao solo produz reações físico-
químicas capazes de alterar as propriedades do solo, apresentando melhorias na trabalhabilidade, plasticidade
e variação de volume.
O presente estudo visa analisar os teores de cal adequados para estabilização de solo característico da
região Oeste do Paraná classificado pela EMBRAPA (2006) como latosso vemelho distroférrico para uso como
base e/ou sub-base de pavimento.

2 Base Teorica

A malha rodoviária do país que é responsável por mais de 60% da movimentação de mercadorias e mais
de 90% da movimentação de passageiros enfrenta grandes problemas com a baixa qualidade de infraestrutura,
sendo apenas 12,4% pavimentada (CNT 2018).
No Brasil a execução dos pavimentos é feita através de métodos convencionais, tendo uma grande
aplicação de materiais pétreos, tornando-se inviável economicamente para as vias urbanas onde o trafego é
leve e/ou médio (VILLIBOR et al., 2009).
Para reduzir custos e promover uma maior abrangência da malha rodoviária pode-se utilizar os recursos
locais e novas técnicas de aplicação, entretanto nem sempre o solo da região possui capacidade de suporte para
resistira aos esforços solicitados sendo necessaria a modificação das caracteristicas do solo local, seja por
estabilizações quimicas ou mecânicas.
Segundo Nunez (1991) a cal como aditivo no tratamento de solos é o mais antigo método de
estabilização química, podendo ser aplicado nas mais diversas obras de engenharia. Quando misturada ao solo
a cal produz reações físico-químicas, alterando favoravelmente propriedades do solo como a granulometria,
plasticidade, umidade de campo, peso especifico seco, trabalhabilidade, compactação e resistência
(GUIMARÃES, 1998).
Solo-cal pode ser definido como a mistura compactada de solo, cal e água, geralmente utilizada quando
não se dispões de solo local com as características necessárias para o projeto. Segundo Ingles e Metcalf (1972)
na engenharia rodoviária o solo-cal é utilizado como base e sub-base de pavimentos.

3 Metodologia

Para alcançar os objetivos propostos neste trabalho, formam utilizados os seguintes materiais: solo
residual classificado como latosso vemelho distroférrico segundo a EMBRAPA (2006), cal hidratada
conhecida comercialmente como CH – III, água destilada e água proveniente da companhia de abastecimento
público – SANEPAR.
Todos os ensaios foram realizados no Laboratório de Materiais de Construção e Estruturas no Centro
Universitário Dinâmica das Cataratas – UDC, sendo o trabalho experimental dividido em: produção do
concreto no laboratório, moldagem e compactação dos corpos de prova eavaliação das propriedades hidráulicas
e mecânica.

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3.1 Dosagem de Cal

A dosagem ideal da cal foi determinada através do método de PH regido pela norma D6276 – 99ª ASTM
(2006) e proposto por Eades e Grim em 1966. Segundo o método o teor ótimo de cal é a mínima porcentagem
que resulte em um pH igual a 12,4.
A execução do ensaio consiste em:
a) Selecionar de uma amostra de solo de 25 gramas passante na peneira nº. 40 e seco em estufa;
b) Adicionar 8 teores de cal ao solo 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9%, em função da amostra de solo seco e uma
amostra somente com 2 gramas de cal saturado;
c) Adicionar 100 ml de água destilada a mistura solo cal;
d) Agitar os recipientes por um período de 30 segundos a cada 10 minutos até completar uma hora
de ensaio.
e) Após completar uma hora de ensaio, espera-se 15 minutos e coleta os resultados das amostras
com precisão de 0,01 unidades de pH.

3.2 Ensaio de Compactação

O ensaio de compactação foi realizado conforme preconiza a NBR 7182 (ABNT, 1986), sendo os corpos
de provas ensaiados utilizando cilindros pequenos e aplicando a energia de compactação normal.

Tabela 1. Energias de Compactação. Adaptado de: NBR 7182 (1986)


Energia
Características inerentes a cada energia
Cilindro Normal Intermediária Modificada
de compactação
Soquete Pequeno Grande Grande
Número de camadas 3 3 5
Pequeno
Número de golpes por camada 26 21 27
Soquete Grande Grande Grande
Número de camadas 5 5 5
Grande Número de golpes por camada 12 26 55
Altura do disco espaçador (mm) 63,5 63,5 63,5

Para o ensaio foi utilizado o solo previamente preparado conforme NBR 6457 (ABNT, 2016), com
secagem previa até a umidade higroscópica seca ao ar, sem reuso de material.
Com o auxílio de proveta de vidro adicionou-se água destilada ao solo até obter uma umidade 5% a
baixo da umidade ótima, nas amostras seguintes foi acrescentado 2% de água com relação a amostra anterior.
Com o solo homogeneizado moldou-se os corpos de prova, compactando e aplicando a quantidade de golpes
conforme a Tabela 1. Após a compactação da última camada o cilindro complementar foi retirado e o excesso
de solo removido com a ajuda de uma espátula e nivelado com a régua biselada. O conjunto solo e cilindro foi
pesado com resolução de 1 grama e subtraído o peso do cilindro obtendo o peso úmido do solo compactado
(Ph).
Enquanto compactava-se a segunda camada eram coletadas amostras direto da bandeja para
determinação da umidade de acordo com a NBR 6457.
Este procedimento foi executado para o solo in natura e para o teor ótimo de cal (5,60%).
Para determinar o peso especifico aparente úmido (γ) foi utilizado a equação 4.
Eq. (1)
Ph
γ =
V

γ - Peso específico aparente úmido, em Kn/cm³;


Ph - Peso úmido do solo compactado, em g;
V - Volume útil do molde cilíndrico, em cm³.

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Para determinar o peso especifico aparente seco (γs) foi utilizado a equação 5.
Eq. (2)
Ph x 100
γs =
V (100 + h)

γs = Massa específica aparente seca, em Kn/cm³.


Ph = Peso úmido do solo compactado, em g.
V = Volume útil do molde cilíndrico, em cm³.
h = Teor de umidade do solo compactado, em %.

3.3 Ensaio de compressão não confinada

O ensaio de compressão não confinada foi executado na prensa hidráulica com anel dinamométrico,
capaz de aplicar uma carga de 1 Tonelada conforme preconizando a NBR 12770 (ABNT, 1992).
Para execução do ensaio fez-se uma adaptação quanto ao tamanho do corpo de prova. A norma pede
que seja utilizado corpo de prova com diâmetro mínimo de 35mm e a relação altura-diâmetro deve estar entre
2 e 2,5, mas pela disponibilidade foram utilizados os mesmos copos de prova utilizado para o ensaio de
compactação, tendo 10 cm de diâmetro e 12,75 cm de altura.
O ensaio foi executado para o solo in natura e para o teor ótimo de cal (5,60%), sem tempo de cura.

4 Resultados e Discussões

4.1 Dosagem de cal

O ensaio foi procedido conforme descrito no item 3.1. Segundo o método utilizado o teor ótimo de cal
é a mínima porcentagem que resulte em um pH igual a 12,4.
Na tabela 2 podemos observar o resultado do ensaio de pH.

Tabela 2. Ensaio de pH.


Teor de
0% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 2 (g)
cal
Resultado
4,39 8,27 10,86 11,89 12,11 12,56 12,60 12,36 12,06 12,58
pH

O Gráfico 1 apresenta a variação do pH de acordo com o acréscimo de porcentagem de cal


adicionado ao solo, e o valor de pH de referência de 12,4. Analisando-o e executando o cálculo de terceiro
grau é possível determinar que o teor ideal para estabilizar a do solo do Oeste do Paraná é de 5,60% de cal,
estando de acordo com os teores propostos pelo DNIT (2006) de 5% a 6%.

Gráfico 1 – Ensaio de Ph. Fonte: AUTORES (2019)

4.2 Ensaio de Compactação

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A execução do ensaio de compactação foi realizada conforme descrito no item 3.1.8. A determinação
da umidade ótima (hót) do solo foi obtida por meio da equação 1.
Pode-se observar um aumento da umidade ótima do solo com a adição de cal em relação ao solo in
natura, segundo a bibliografia esse efeito é explicado pela troca de bases ocasionadas na mistura solo-cal,
gerando uma diminuição da camada de água entre as partículas de argila (GUIMARÃES, 2002; MALLELLA,
QUINTUS e SMITH, 2004; NLA et al., 2006).
O

Gráfico 2 apresenta a relação entre a umidade em porcentagem e o peso específico aparente seco γs obtido
através da equação 5.

Gráfico 2 – Umidade x Peso específico. Fonte: AUTORES (2019)

Observa-se um decréscimo no peso especifico aparente seco da mistura solo-cal em relação ao solo in
natura, demonstrando que a cal gera reações rapidamente após sua aplicação em solos argilosos, cimentando
e preenchendo os espaços intercristalinos do solo, tornando grãos de solo mais grossos, friáveis e permeáveis
como era esperado de acordo com (GUIMARÃES, 2002; MALLELLA, QUINTUS e SMITH, 2004; NLA et
al., 2006).

4.3 Ensaio de Compressão Não Confinada

O ensaio de compressão não confinada foi executado conforme descrito no item 3.1.9. Foram ensaiados
5 CPs para o solo in natura e 5 CPs com o teor ideal de cal (5,6%), cada corpo de prova foi moldado com um
teor de umidade diferente.
No Gráfico 3 podemos analisar a mudança de comportamento para cada teor de umidade. Nota-se que
para o solo in natura o aumento de umidade resulta em uma menor tensão de ruptura, já na mistura solo-cal a
resistência cresce até um determinado teor de umidade a partir do qual começa a decrescer.

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Gráfico 3 – Tensão x Umidade. Fonte: AUTORES (2019)

5 Considerações Finais

Nas análises realizadas no item 4, o solo se mostrou suscetível às reações com a cal hidratada,
satisfazendo os critérios do método de pH com 5,60% de cal. Pôde-se verificar que a adição da cal ocasionou
mudanças imediatas para o solo. Sendo perceptível o aumento da umidade ótima paralelo ao decréscimo no
peso especifico aparente seco.
No ensaio de compressão não confinada observou-se um ganho de resistência da mistura solo-cal em
relação ao solo in natura, exceto no teor de umidade de 26%.
Desta maneira, pode-se constatar que o solo estabilizado com cal apresenta melhorias de resistência,
tendo com potencial para aplicação de reforço de subleito, na sub-base e base, como camada constituinte de
pavimento.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradeçem a instituição de ensino Centro Universitário Dinâmica das Cataratas por ceder o
laboratorio de solo para realização dos ensaios.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). NBR 7181. Solo- Análise granulométrica. Rio de Janeiro.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (1992). NBR 12770. Solo Coesivo- Determinação da resistência à
compressão não confinada. Rio de Janeiro.

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 6457. Amostras de solo- Preparação para ensaios de
compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro.

Confederação Nacional do Transporte – CNT (2018). Anuário CNT do Transporte. Disponível em:
https://anuariodotransporte.cnt.org.br/2018/ > Acesso: 15/01/2020.
Departamento Nacional De Infraestrutura De Transportes (2006) PUBL. IPR - 719: Manual de pavimentação.
3 ed. Rio de Janeiro: DNIT: 274 p.

Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias – EMBRAPA (2006) Sistema Brasileiro de Classificação de


Solos, Rio de Janeiro, 306p.

Gumarães, José Epitácio Passos (2002) A Cal - Fundamentos e Aplicações na Engenharia Civil. 2. Ed. São
Paulo, Pini

Ingles, O. G. and Metcalf, J.N (1972) Soil stabilization: principles and practice. 1972. Melbourne:
Butterworths PTY, 372p.

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Mallella, J.; Quintus, H.V.P.E.; Smith, K. L. (2004) Consideration of Lime-Stabilized Layers in Mechanistic-
Empirical Pavement Design. Document submitted à National Lime Association. Champaing, Illinois,
Estados Unidos de América.

Thomé, A (1194) Estudo do comportamento de um solo mole tratado com cal,visando seu uso em fundações
superficiais. Dissertação (Mestrado em Engenharia). CPGEC-UFRGS. Porto Alegre, 149 p.

Villibor, Douglas Fadul et al (2009) Pavimentos de baixo xusto para vias urbanas: Bases alternativas com
solos lateríticos, Gestão de manutenção de vias urbanas. 2. Ed. São Paulo: Arte&Ciência, 196p.

Nunez, W. P. (1991) Estabilização físico-química de um solo residual de arenito Botucatu visando seu
emprego na pavimentação. Dissertação de Mestrado – Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil da
UFRGS. Porto Alegre, 145 p.

1390
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0175 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Análise da Utilização de Resíduos de Mineração como Agregados


Miúdos em Barragens de Concreto
Nubia Gomes Barbosa
Acadêmica do curso de engenharia civil, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Tocantins
(IFTO), Palmas, Brasil, nubiagb@outlook.com

Cleber Decarli de Assis


Professor Me. e Coordenador do curso de engenharia civil, Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Tocantins (IFTO), Palmas, Brasil, decassis@ifto.edu.br

Ronyere Olegário de Araújo


Professor do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto S.A, Instituto Tocantinense Presidente
Antônio Carlos Porto S.A (ITPAC), Porto Nacional, Brasil, ronyere.araujo@itpacporto.edu.br

Diogo Pereira Lima


Professor do Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos Porto S.A, Instituto Tocantinense Presidente
Antônio Carlos Porto S.A (ITPAC), Porto Nacional, Brasil, diogo.lima@itpacporto.edu.br

RESUMO: O objetivo desse trabalho foi analisar a viabilidade técnica da utilização de agregados reciclados
provenientes da atividade de mineração para a produção de agregados miúdos para o concreto compactado a
rolo. Buscou-se comparar as propriedades dos agregados miúdos convencionais com os agregados obtidos pela
escória de ferroníquel por meio dos ensaios laboratoriais de caracterização dos agregados. Os ensaios
realizados foram o de análise granulométrica, massa unitária, massa específica, compactação, índice de vazios
e absorção de água, conforme os procedimentos estabelecidos pelas respectivas normas da Associação
Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. A partir dos resultados levantados observou-se que a aplicação do
resíduo de mineração é promissora, apresentando resultados favoráveis em relação às suas características
físicas, indicando ser uma alternativa viável para a substituição parcial do agregado convencional.

PALAVRAS-CHAVE: Concreto compactado a rolo, agregado reciclado, resíduo de mineração, projeto de


barragens.

ABSTRACT: To analyze the technical feasibility of using recycled aggregates from mining activity
for the production of fine aggregates for roller-compacted concrete was the objective of this study.
The comparison of the properties of conventional fine aggregates and aggregates obtained by ferronickel waste
through laboratory tests for characterization of aggregates was performed. The granulometry, unit mass,
specific mass, compaction, voids ratio and water absorption tests were conducted according to the procedures
established by the respective rules of the Brazilian Association of Technical Standards - ABNT. According to
the raised results, it was observed that the application of mining waste is promising, presented better results in
relation to its physical characteristics, and indicates to be a viable alternative for the partial replacement of
conventional aggregate.

KEYWORDS: roller-compacted concrete, recycled aggregate, mining waste, dams project.

1 Introdução

O processo de produção do aço implica geração de grandes volumes de resíduos sólidos que por não
disporem de uma destinação ambientamente adequada são descartados de forma irregular. Segundo Caselato

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(2010), a indústria siderúrgica gera em torno de 600 kg de resíduos por tonelada de aço produzida, o que torna
este processo produtivo uma problemática ambiental. A fim de mitigar esses impactos são analisadas
alternativas para o reaproveitamento desses materiais.
Conforme Caselato (2010), os resíduos de aciaria podem ser utilizados como material de construção
civil devido as suas propriedades quanto a resistência à derrapagem, drenagem livre, durabilidade, isolamento
ao fogo e cimentação, características estas que o tornam ideal na aplicação em estruturas de concreto, obras
rodoviárias, produtos asfálticos e cimentícios.
Santos (2013) afirma que a escória de ferroníquel possui ideal aplicabilidade em obras de
pavimentação devido sua baixa suscetibilidade à expansão. Além disso, este material é composto
predominantemente por MgO, Fe2O3 e SiO, elementos estes que não apresentam nenhum risco ambiental
quando expostos ao meio ambiente.
O objetivo deste trabalho é avaliar o desempenho técnico dos agregados provenientes da atividade de
mineração, comparando-os com os agregados convencionais a fim de identificar suas propriedades e
determinar a sua viabilidade como material para substituição parcial dos agregados miudos convencionais.
Espera-se com essa pesquisa promover uma mitigação dos impactos ambientais em relação ao descarte
irregular, bem como indicar novas alternativas para proporcionar a redução da utilização dos recursos naturais.

2. Metodologia

O programa experimental abrange os ensaios laboratoriais referentes à caracterização dos agregados


convencionais e agregados reciclados provenientes da atividade de mineração. O estudo foi realizado por meio
da coleta e caracterização dos agregados.

2.1 Coleta dos materiais

Os resíduos de mineração foram coletados no município de Barro Alto, localizado no interior do estado
de Goiás. A escória utilizada neste trabalho foi obtida após a etapa de redução da produção do minério de
níquel. No depósito de Barro alto a escória de ferroníquel é armazenada em estoques sob pilhas únicas,
conforme mostrado na figura 1. Para esse estudo foram utilizados aproximadamente 60 kg do material. O
agregado convencional utilizado nesta pesquisa foi a areia lavada, o qual foi coletado na cidade de Palmas –
TO.

Figura 1. Depósito de ferroníquel.


2.2 Caracterização dos agregados

Essa etapa teve como intuito identificar as propriedades dos agregados para serem avaliadas nas análises
técnicas. Devido apresentarem granulometria fina, não houve a necessidade de realizar o processo de
beneficiamento do material para a produção dos agregados, sendo submetidos apenas ao processo de

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peneiramento, pois foram considerados no estudo os agregados passantes na peneira #4.75 mm. As figuras 3.a
e 3.b mostram os agregados que foram utilizados na produção do concreto.
O resíduo da atividade de mineração foi obtido através do processo de redução do ferroníquel, e
conforme mostrado na figura 2, possui na sua composição altos teores de sílica, magnésio e ferro e apresenta
pequenas concentrações de níquel.

0,1%

11,9%
28,8%
Ni
Fe
51,5% SiO
MgO

Figura 2. Composição do resíduo de ferroníquel.


A caracterização química do resíduo de mineração de ferroníquel foi feita por BRANDT (1997), o
qual realizou estudos referentes à lixiviação e a solubilização da amostra bruta. Por meio da analise foram
identificadas relevantes concentrações de metais tóxicos/perigosos na sua composição, como, por exemplo,
cromo, níquel, cobre e vanádio, no entanto estes metais são inertes, pois esses valores são inferiores aos limites
estabelecidos na NBR 10004 (ABNT, 2004), que trata sobre resíduos sólidos, fato que portanto não
compromete a aplicabilidade do material na produção de agregados. Além disso, aponta-se que o material não
é passível aos processos e lixiviação e solubilização.

(a) (b)
Figura 3. (a) Agregados Convencionais; (b) resíduo de mineração.

Na tabela 1 estão contidas as relações das normas que foram atendidas para a realização de cada ensaio.
Tabela 1. Ensaios de caracterização.
Ensaio Agregado Norma
Miúdo Convencional
Granulometria NM 248/2013
Mineração
Miúdo Convencional NBR NM 9776/1987
Massa Específica
Mineração DNER ME 093/94
Massa Unitária Miúdo Convencional NM 45/2006

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Mineração
Compactação Mineração NBR 7182/2016
Miúdo Convencional
Índice de Vazios NM 45/2006
Mineração
Miúdo Convencional
Absorção de Água NM 30/2001
Mineração

2.2.1 Composição granulométrica

O ensaio de composição granulométrica dos agregados reciclados e convencional atendeu aos


procedimentos estabelecidos na NM 248 que trata sobre a determinação da composição granulométrica dos
agregados (ABNT, 2003). O objetivo desse ensaio foi indicar a curva granulométrica através do método do
peneiramento. A partir da análise granulométrica foram obtidos o módulo de finura e a dimensão máxima do
agregado.

2.2.2 Massa Específca

O ensaio dos agregados miúdos convencionais e reciclados seguiu os métodos de execução estabelecidos
na NBR 9776 (ABNT, 1987) que indica que a massa especifica dos agregados é a relação entre a massa do
agregado seco e seu volume, considerando a presença de vazios internos. Apesar da norma em questão ter sido
cancelada, o procedimento foi realizado através do frasco de Chapman devido a limitações apresentadas
durante a realização do ensaio.
Por apresentar densidade distinta aos demais agregados, a massa específica dos resíduos de mineração
foi determinada por intermédio dos procedimentos contidos no DNER ME 093/94 que trata sobre a massa
específica dos grãos através do método do picnômetro. As figuras 4.a e 4.b mostram os ensaios realizados para
cada tipo de agregado.

(a) (b)

Figura 4. Ensaio de massa específica dos agregados miúdos: (a) Convencional; (b) Mineração.

2.2.3 Massa unitária

A massa unitária foi definida por meio da relação entre a massa e o volume do material excluindo-se a
presença de vazios. Para obter essa massa foram adotados os procedimentos prescritos na NM 45 – Agregados

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– Determinação da massa unitária e do volume de vazios (ABNT, 2006). A partir desse ensaio foram
determinados tambem o índice de vazios.

2.2.4 Compactação

O ensaio de compactação teve como objetivo determinar a relação entre o teor de umidade e a massa
especifica aparente seca dos agregados reciclados quando compactados. Este ensaio foi executado seguindo
os procedimentos estabelecidos na NBR 7182 – Ensaio de compactação (ABNT, 2016). A técnica utilizada
foi a de energia normal, na qual consiste na aplicação de 26 golpes através de um soquete metálico sob três
camadas de solo contidas no cilindro de proctor.

3 Resultados e Discussões

3.1 Caracterização dos agregados

3.1.1 Granulometria

O ensaio de granulometria foi realizado para os agregados convencionais e reciclados. A figura 5


apresenta as suas respectivas curvas granulométricas, bem como os limites estabelecidos pela NBR
7211(ABNT, 2009).

CURVAS GRANULOMÉTICAS
Abertura das peneiras (mm)

0,1 0,15 0,3 0,6 1 1,18 2,36 4,75 6,3 9,5 10


0

10

20
Porcentagens retidas acumuladas
a
30
b
40

50

60

70

80

90
a Miúdo Natural b Mineração
100

Figura 5. Análise granulométrica.

No trabalho, como agregado convencional, foi utilizada areia fina lavada com dimensão máxima
característica de 4,75 mm e módulo de finura de 2,00. O resíduo de mineração possui a mesma dimensão
máxima característica, entretanto aponta um módulo de finura de 3,34. Observa-se na figura 5 que o resíduo
de mineração indicou melhor distribuição granulométrica que a areia lavada, apresentando comportamento de
um material bem graduado.

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3.1.2 Massa específica e massa unitária

O ensaio de massa específica para os agregados convencionais foi realizado seguindo as determinações
da NBR 9776 (ABNT, 1987), enquanto que para os agregados de mineração foi adotado o DNER ME 093/994.
Os procedimentos para o ensaio de massa unitária seguiram os critérios da NBR NM 45 (ABNT, 2002).
Percebe-se por meio da figura 6 que a massa específica do agregado convencional é inferior ao agregado
reciclado. No entanto, as massas unitárias apresentadas para os agregados reciclados são inferiores ao do
agregado convencional.

3,5
2,98
3 2,66
2,5
(g/cm³)

2 1,6 1,47 1,66 1,58


1,5
Convencional
1
Mineração
0,5
0
Massa Específica Massa unitária no Massa unitária no
estado solto estado compactado
Ensaio

Figura 6. Massa específica e massa unitária.


3.1.3 Índice de Vazios e absorção de água

O índice de vazios dos agregados foi obtido por correlações contidas na NBR NM 53, relacionando a
massa específica do agregado, a água e a massa unitária dos agregados no estado solto e compactado. O ensaio
de absorção dos agregados miúdos foi realizado conforme estabelecido na NM 30 (ABNT, 2001). A figura 7
apresenta os resultados obtidos no ensaio.

60
50,64
50 46,85
40,02 37,53
40
%

30
20
7,6
10 1,3
0
Absorção índice de vazios no estado índice de vazios no estado
solto compactado
Ensaio

Convencional Mineração

Figura 7. Absorção de água e índice de vazios.


A partir dos resultados mostrados na figura 7 nota-se que os agregados convencionais possuem menores
índices de vazios que os agregados reciclados, mostrando-se assim mais favorável em relação a esse aspecto.
Percebe-se, entretanto, que apesar do resíduo de mineração indicar maiores taxas de índices de vazios em
relação ao agregado convencional ele apresenta taxas significativamente menores no que tange a taxa de
absorção de água.

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3.1.4 Compactação

O ensaio de compactação foi realizado com o intuito de analisar o comportamento do agregado de


mineração como material granular, bem como identificar a sua umidade ótima, de forma a proporcionar o
entendimento sobre a resistência do material quando submetido a determinado teor de umidade, fator
determinante ao processo produtivo de uma barragem.
Para este ensaio foi aplicada a energia normal de compactação, conforme os procedimentos descritos na
NBR 7182 (ABNT, 2016). A partir da figura 8 é possível inferir que o resíduo de mineração atinge a umidade
ótima com o teor de umidade de 13,58% e com a massa específica seca máxima de 1,812 g/cm³.

Curva de Compactação
1,83
1,82
Peso específico (g/cm³)

1,81
1,80
1,79
1,78
1,77
1,76
1,75
1,74
1,73
1,72
7% 8% 9% 10% 11% 12% 13% 14% 15% 16% 17% 18%
Teor de umidade (%)

Figura 8. Curva de compactação.


4 Considerações Finais

Com o intuito de proporcionar o aproveitamento dos resíduos provenientes da atividade de mineração,


o estudo buscou analisar a viabilidade da utilização do resíduo como agregado para o concreto compactado a
rolo destinado aos projetos de barragens, avaliando o seu desempenho, quando submetido a diferentes análises
laboratoriais.
Por meio do ensaio de granulometria conclui-se que o agregado de ferroníquel indica melhor
distribuição granulométrica do que o agregado convencional, apresentando característica de solos bem
graduados, o que indica melhor comportamento em termos de resistência mecânica e compressibilidade das
partículas.
A presença SiO na composição do agregado de mineração contribui para prevenir o surgimento de
patologias provenientes da interação entre o cimento e os agregados. Além disso, a ausência de grandes
concentrações de óxidos de cálcio indica que o material possui baixa suscentibilidade à expansão, tornando-o
adequado para ser aplicado em diversas obras de engenharia.
Considerando o ensaio de absorção de água, percebe-se que o agregado convencional apesar de possuir
menor indice de vazios apresenta um maior percentual de retenção, o que requer maiores cuidados em relação
a dosagem para a produção do concreto.
Diante do exposto, conclui-se que a utilização dos agregados provenientes de materiais de ferroníquel
em substituição ao material convencional é tecnicamente viável, pois apresenta propriedades químicas e físicas
satisfatórias em relação à absorção de água, índice de vazios, compactação e distribuição granulométrica. Além
disso, o emprego desses materiais proporciona ainda a redução dos custos na técnica de produção, bem como
a mitigação dos impactos ambientais, evitando assim o seu descarte irregular e a retirada de matérias primas
da natureza.
Para os trabalhos futuros sugere-se analisar o comportamento mecânico deste material aliado à produção
do concreto por meio de dosagens sujeitas a diferentes teores do agregado de ferroníquel.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Volume de Vazios. Rio de Janeiro. 2006. 8p.

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Específica, Massa Específica Aparente e Absorção de Água. Rio de Janeiro. 2009. 8p.

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Granulométrica. Rio de Janeiro. 2003. 6p.

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Janeiro, 2009

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Paulo: DNER, 1994.

Santos, Graziella Pereira Pires dos. Um Estudo Sobre a utilização da Escória de Ferroníquel em Pavimento
Rodoviário. 2013. 136 F.

1398
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0176 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Análise Estatística de Correlação entre a Piezometria de uma


Barragem de Terra e o Nível de Água do seu Reservatório
Anderson Gonçalves de Azevedo
Engenheiro Civil, Santa Bárbara – MG, Brasil, anderson95azevedo@gmail.com

André Gonçalves de Azevedo


Engenheiro Civil, Santa Bárbara – MG, Brasil, andre56goncalves@gmail.com

Luiz Antônio Rangel Ianelli


Engenheiro Civil, Mariana – MG , ianelli.luiz@gmail.com

Romero César
Professor Doutor, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto – MG, Brasil, romero@ufop.edu.br

RESUMO: O monitoramento geotécnico através de um sistema adequado de instrumentação é fundamental


para acompanhamento do comportamento das estruturas. Avaliar a integridade de barragens por meio dos
dados coletados é uma tarefa que requer interpretações assertivas, exigindo muitas vezes análises
complementares que auxiliem a busca de respostas para determinados eventos. Em meio às metodologias já
consagradas, estudos a partir de metodologias estatísticas têm sido desenvolvidos para melhor compreensão e
auxílio na tomada de decisões. Dentre esses métodos, os testes de correlação surgem como ferramentas
bastantes úteis em situações em que se pretende avaliar o grau de correlação entre variáveis. Nessa perspectiva,
esse trabalho visa apresentar duas metodologias estatísticas (testes de correlação de Pearson e de Spearman)
para avaliar a interação entre a variação do nível d´água do reservatório de uma barragem de terra e seus
valores de piezometria durante o comissionamento, bem como verificar qual delas é a mais adequada para o
caso estudado. Por conseguinte, foi feita uma análise de aderência das variáveis às premissas que os modelos
de teste exigem, verificando que o teste de Spearman melhor se adequou ao estudo, posteriormente, foi
realizada uma análise bivariada. Dessa, tem-se que os instrumentos instalados abaixo do nível freático
apresentaram correlações significativas com o nível do reservatório e aquelas decresciam no sentido montante-
jusante, sendo a proximidade da drenagem interna um fator preponderante no resultado devido ao alívio de
pressão na região.

PALAVRAS-CHAVE: Pearson, Spearman, Testes de correlação, Piezometria, Reservatório.

ABSTRACT: Geotechnical monitoring through an adequate instrumentation system is essential to observe the
behavior of structures. Evaluating the integrity of dams through collected data is a task that requires assertive
interpretations, often requiring complementary analysis that help in the search for answers to some events. In
the middle of the already established methodologies, studies based on statistical methods have been developing
to improve the compreenssion and to aid in decision making. Among these methods, the correlation tests show
as very useful tools in situations in which the degree of correlation between variables is considered. In this
perspective, this work aims to present two statistical methodologies (Pearson and Spearman correlation tests)
to evaluate the interaction between the variation of the water level in the pond of an earth fill dam and its
piezometry values during commissioning, as well as to verify which of them is the most suitable for the case
studied. Thereafter, an analysis of adherence of the variables to the premises of the models was carried out,
verifying that the Spearman test was better suited to the study, a bivariate analysis was subsequently performed.
In this way, the instruments used below the water table appear strongly correlated with the level of the pond,
and this correlation decreasing from upstream to downstream, being the proximity of internal drainage a
preponderant factor in the result due to porepressure reduce in the region.

KEYWORDS: Pearson, Spearman, Correlation tests, Piezometry, Pond.

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1 Introdução

O monitoramento geotécnico através de um sistema adequado de instrumentação é fundamental para


acompanhamento do comportamento das estruturas. Avaliar a integridade de barragens por meio dos dados
coletados é uma tarefa que requer interpretações assertivas, exigindo muitas vezes análises complementares
que auxiliem a busca de respostas para determinados eventos. Em meio às metodologias já consagradas,
estudos a partir de metodologias estatísticas têm sido desenvolvidos para melhor compreensão e auxílio na
tomada de decisões.
Os métodos de análises estatísticas de dados são múltiplos e procuram atender objetivos diversos. De
acordo com o objeto de estudo podem ser divididos em três principais grupos: análise univariada, análise
bivariada e análise multivariada.
A análise univariada tem como objetivo principal descrever a distribuição dos dados de uma variável
isoladamente. Já para análise bivariada, há um interesse em investigar se duas variáveis têm a tendência de se
modificarem de forma conjunta. E, por último, a análise multivariada permite o estudo de fenômenos
complexos, realizando o tratamento de diversas variáveis ao mesmo tempo.
Nesse contexto, a utilização de uma análise estatística do tipo bivariada aplicada à compreensão dos
comportamentos geotécnicos de barragens, permite por exemplo, realizar uma análise do grau de
relacionamento entre dados da piezometria de uma barragem e o nível d’água do seu reservatório. Miot (2018)
destaca que há uma série de testes estatísticos que exploram a intensidade e o sentido do comportamento mútuo
entre variáveis, os chamados testes de correlação.
Os testes estatísticos podem ser classificados em paramétricos e não-paramétricos. De acordo com
Callegari-Jacques (2003), nos testes paramétricos os valores da variável estudada devem ter distribuição
normal ou aproximação normal. Já os testes não-paramétricos, também chamados por testes de distribuição
livre, não têm exigências quanto ao conhecimento da distribuição da variável.
Os testes estatísticos para correlação mais usuais são os testes de Pearson e o teste de Spearman. O
primeiro é aplicado apenas a variáveis com distribuição normal e só consegue detectar correlações lineares.
Quanto ao teste de Spearman, trata-se de um teste não paramétrico, que não exige normalidade da distribuição
dos dados e que permite detectar qualquer tipo de correlação, inclusive as não lineares (FUSARO, 2007).
Esse trabalho visa verificar para os dois testes estatísticos supracitados (testes de correlação de Pearson
e de Spearman), qual é o mais apropriado na avaliação da interação entre a variação do nível d´água do
reservatório de uma barragem de terra e seus valores de piezometria no período de comissionamento, bem
como interpretar os resultados da análise bivariada e verificar a coerência dos seus dados no caso aplicado à
partir de conceitos geotécnicos.

2 Metodologia

A partir dos registros de leitura do nível d’água do reservatório de uma barragem de terra situada no
quadrilátero ferrífero durante o seu período de comissionamento, foram selecionados dados amostrais de 15
instrumentos (durante o mesmo período) instalados ao longo da barragem com intuito de verificar a correlação
do comportamento desses com a variação do reservatório. Dentre os instrumentos escolhidos, tem-se os dados
de dois indicadores de nível d’água, oito piezômetros acústicos e cinco piezômetros de tubo aberto, levando-
se em consideração que as amostras deviam apresentar tamanhos iguais. Os instrumentos selecionados estão
instalados na ombreira direita, fundação e aterro à montante da crista. Foram descartados da análise os
instrumentos que se apresentaram sem leituras (considerados secos) no período de abrangência do estudo.
A Figura 1Figura 1 apresenta a planta esquemática de localização dos instrumentos analisados e suas
nomenclaturas, em que os indicadores de nível d’água foram referenciados por LI, os piezômetros de tubo
aberto por PI e os piezômetros acústicos como PA.

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Figura 1 – Planta esquemática da estrutura com a localização dos instrumentos do estudo de caso
apresentado.

As análises bivariadas foram realizadas integralmente com o suporte do software estatístico Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS), sendo primeiro verificada a aderência das amostras através de uma
análise exploratória dos dados às premissas dos testes de correlação: Pearson e Spearman. E, na sequência, foi
escolhido o teste mais apropriado às análises objeto do presente estudo.
Os testes de correlação avaliam o grau de interação do comportamento assumido por duas variáveis.
Lira (2004) afirma que a análise de correlação e a análise de regressão são métodos estatísticos amplamente
utilizados para estudar o relacionamento entre variáveis. Todavia, é importante observar que há diferença entre
estes, sendo que os coeficientes de correlação resultantes dos testes de correlação são indicadores que procuram
estabelecer se existe ou não uma relação entre as variáveis de estudo sem que, para isso, seja preciso o ajuste
de uma função matemática como no caso da regressão linear.
A magnitude da interação entre duas variáveis submetidas aos testes de correlação é dada a partir dos
coeficientes de correlação, que assumem valores de -1 até +1, passando pelo zero (independência entre as
variáveis). A Figura 2Figura 2 apresenta gráficos que exemplificam a relação das variáveis em caso de ausência
de correlação e em casos de existência de correlação linear.

Figura 2- Gráfico de dispersão de quatro grupos de dados e seus respectivos coeficientes de correlação de
Pearson (da esquerda pra direita): r = 0 (ausência de correlação), r = 0,8 (fortemente correlacionado
positivamente), r = 1,0 (perfeitamente correlacionado positivamente), e r = -1 (perfeitamente correlacionado
negativamente) (ZOU, TUNCALI e SILVERMAN, 2003)

Segundo Santos (2015), a relação linear entre variáveis é um tipo de relação monotônica. As relações
monotônicas podem ser classificadas em relações monotônicas crescentes e relações monotônicas
decrescentes. Existe ainda, o caso em que as variáveis apresentam entre si uma relação monotônica não-linear.

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As medidas de correlações monotônicas mais utilizadas em Estatística, são os coeficientes de correlação de


Spearman e de Kendall. A Figura 3 apresenta exemplos de relações monotônicas não-lineares entre variáveis.

Figura 3 - Gráficos de dispersão de pares de observação de duas variáveis aleatórias com dependência
monotônica. Em (a), a relação é descrita por y=x³ (relação monotônica crescente). Em (b), a relação é
descrita por y=-2x (relação monotônica decrescente). (SANTOS, 2015)

Em suma, para o teste de correlação de Pearson (teste paramétrico), tem-se que o coeficiente de
correlação de Pearson é uma medida do grau de correlação entre duas variáveis aleatórias aplicada a amostras
com distribuições normais e correlações lineares. O valor do coeficiente varia entre -1 (relação linear
decrescente perfeita) e +1 (relação linear crescente perfeita). Em que, o coeficiente de valor zero indica que
não há dependência linear.
Seja (x,y) = {(Xi,Yi)}, com i = 1, ...,n, uma amostra de dados bivariados,. Pearson (1920) define o
coeficiente de correlação como:


n
( x i  x )( y i  y )
r i 1

 ( x i  x ) 2 i 1( y i  y ) 2
n n
i 1 (1)
Onde,
 
n n
xi yi
x i 1
e y i 1
(2)
n n
Ou seja, o coeficiente de correlação r para o par de variáveis (x,y) é o quociente entre a covariância
amostral das variáveis x e y e o produto dos desvios padrões respetivos:

Cov ( x, y )
r (3)
sx sy

A aplicação do teste de correlação de Pearson exige o cumprimento de algumas suposições, das quais
podemos destacar:
i) A correlação exige que as variáveis sejam quantitativas (contínuas ou discretas) e aleatorias.
ii) Pressupõe distribuição normal das duas amostras estudadas.
iii) Pressupõe correlação linear entre as duas variáveis.
iv) Faz-se necessário a análise de outliers. O coeficiente linear não é robusto a presença de outliers,
devendo ser realizada a exclusão desses.
Atendidos os pré-requisitos para adoção do método estatístico, a conclusão para o teste de correlação
de Pearson é tomada a partir das premissas do teste de hipóteses, em que se considerada a Hipótese Nula (H0)
como sendo a ausência de relação linear entre as variáveis e a Hipótese Alternativa (H1) a existência de relação
linear entre as variáveis. Dessa forma, tem-se:

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H0: r=0
H1: r≠0
Em contrapartida, para o teste de correlação de Spearman (teste não-paramétrico), tem-se que o
coeficiente de Correlação de Spearman mede o grau de correlação entre duas variáveis baseado no rank
(postos) dos valores assumidos por elas, sendo exigido uma correlação monotônica das variáveis, contudo sem
exigir uma distribuição normal dos dados. O valor do coeficiente varia entre -1 (relação monotônica
decrescente perfeita) e +1 (relação monotônica crescente perfeita). Um coeficiente de valor zero indica que as
variáveis são monotonicamente independentes. Spearman (1904) define o coeficiente de correlação pela
expressão abaixo:

6 d i2
  1
n(n 2  1) (4)

Onde di corresponde à distância dos ranks das duas variáveis.


A aplicação do teste de correlação de Spearman exige o cumprimento de algumas suposições, das
quais podemos destacar:
i) A correlação é aplicável tanto para as variáveis que sejam quantitativas, como para variáveis
qualitativas, desde que neste caso ao menos uma das variáveis apresente características ordinais.
ii) Não é exigido normalidade para as amostras de dados.
iii) Sua aplicação não restringe a variáveis que apresentem apenas relação linear, desde que apresentem
comportamento monotônico.
iv) É robusto a presença de outliers, não sendo necessário a exclusão desses durante a análise.
A conclusão para o teste de correlação de Spearman, tomada a partir das premissas do teste de
hipóteses, tem como Hipótese Nula (H0) a ausência de uma relação monótona entre as variáveis e a Hipótese
Alternativa (H1) a existência de relação monótona entre as variáveis. Resumidamente, tem-se:
H0: ρ=0
H1: ρ ≠0
De maneira geral, as hipóteses Nula (H0) e Alternativa (H1) dos testes de correlação de Pearson e
Spearman podem ser também traduzidas para hipóteses mais genéricas, conforme exposto abaixo:
H0: Não há correlação entre as duas variáveis estudadas;
H1: Há correlação entre as duas variáveis estudadas.
Os coeficientes de correlação apresentam propriedades inferenciais e, de acordo com Miot (2018) devem
ser expressos, em textos científicos, com intervalo de confiança de 95% (IC95%). Com base no exposto, para
testar as hipóteses e avaliar a correlação entre variáveis neste trabalho, foi adotado um valor de significância
igual a α=0,05.

3 Resultados e Análises

Conforme exposto, um teste paramétrico pressupõe distribuição normal das duas amostras e
comportamento linear da relação entre as variáveis. Com base nessa afirmação, foram realizados testes de
normalidade nas amostras. A Tabela 1 apresenta os resultados para os testes de normalidade (Kolmogorov-
Smirnov), obtidos através do software estatístico SSPS, em que pelo menos uma variável a ser avaliada de
forma associada apresentou normalidade.

Tabela 1 – Kolmogorov-Smirnov
Statistic Df Sig. (2-tailed)
PA106 0,091 79 0,170
NRM_PA106 0,237 79 0,000
PA111 0,076 79 0,200
NRM_PA111 0,237 79 0,000

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PI119 0,089 78 0,194


NRM_PI119 0,242 78 0,000
Em que:
Df – Tamanho da amostra analisada;
Sig. (2-tailed) – Significância do teste de normalidade;
NRM – Nível do reservatório a montante

Baseado na abordagem de Miot (2017), em que os testes de normalidade pressupõem uma distribuição
normal dos dados como sendo hipótese nula (H0), para um p-valor >0,05 de aderência, foi adotado uma
significância igual a α=0,05.
Ao se observar as significâncias apresentadas na Tabela 1, é possível concluir que as variáveis PI106,
PA111 e PI119 apresentam distribuições normais, contudo seus pares de entrada para o teste de correlação
(NRM_PI106, NRM_PA111 e NRM_PI119) não apresentam distribuições normais. Isso faz com que a
premissa para utilização do teste paramétrico para os dados apresentados não seja atendida e, portanto, seja
necessária a adoção de um teste não paramétrico para avaliar a correlação entre todas as variáveis.
A partir desse resultado, conclui-se que todas as variáveis devam ser analisadas conforme o teste de
correlação por postos de Spearman. A Tabela 2 apresenta os coeficientes de correlação de Spearman obtidos
através do software estatístico SPSS para as variáveis.

Tabela 2 - Coeficiente de correlação de Spearman


N Sig. (2-tailed) Correlation Coefficient
LI105 / NRM_LI105 79 0 0,983
LI108 / NRM_LI108 79 0 0,990
PA100 / NRM_PA100 79 0 0,988
PA101 / NRM_PA101 79 0 0,984
PA104 / NRM_PA104 79 0 0,942
PA105 / NRM_PA105 79 0 -0,933
PA106 / NRM_PA106 79 0 0,742
PA107 / NRM_PA107 79 0,701 -0,044
PA111 / NRM_PA111 79 0 0,712
PA113 / NRM_PA113 79 0 0,987
PA119 / NRM_PA119 79 0 0,994
PI109 / NRM_PI109 78 0 0,973
PI111 / NRM_PI111 79 0,55 -0,068
PI115 / NRM_PI115 79 0 0,437
PI119 / NRM_PI119 78 0 0,827
PI120 / NRM_PI120 78 0 0,635

Em que:
N – Tamanho de cada variável analisada;
Sig. (2-tailed) – Significância de correlação de Spearman
Ao se observar a Tabela 2 com a significância proposta em textos científicos (α=0,05) de acordo com
Miot (2018), é possível concluir que entre as variáveis investigadas, o PA107 e o PI111 não apresentam
correlação com o nível do reservatório durante seu período de enchimento. A Figura 4 apresenta os gráficos
de dispersão das leituras piezométricas dos instrumentos PA107, PA100 e PI120 em relação ao nível d’água
do reservatório à montante, em que pode ser observado o comportamento típico de variáveis que apresentam
ausência de correlação (ρ=0) para o PA107.

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Figura 4 - Gráficos de dispersão das leituras piezométricas dos instrumentos PA107, PA100 e PI120 em
relação ao nível d’água do reservatório

A ausência de correlação entre essas variáveis pode ser atribuída à constância dos valores de leituras
desse instrumento durante o período de análise. O PA107, à exemplo do PI111, tem cota de instalação próxima
ao tapete drenante. Sendo que ambos contêm leituras coincidentes com a cota da drenagem interna e
praticamente constantes no período, sinalizando um funcionamento tal qual esperado de alívio de pressão pelo
sistema de drenagem interna.
Os testes de correlação apresentam coeficientes que demandam interpretação própria a cada valor tido
como resultado, porém é comum que sejam adotados intervalos de referência para os coeficientes de
correlação. Miot (2018) e outras literaturas adotam, de maneira geral: valores entre 0 e 0,3 (ou -0,3 e 0) como
sendo resultados desprezíveis; entre 0,31 e 0,50 (ou -0,50 e -0,31) como correlações fracas; entre 0,51 e 0,70
(ou -0,70 e -0,51) como moderadas; entre 0,71 e 0,90 (ou -0,90 e -0,71) como fortes e acima de 0,90 (ou abaixo
-0,90) muito fortes.
Avaliando a Tabela 2, é possível observar que os instrumentos instalados à montante, PA100 (instalado
na fundação) e LI108 (instalado no aterro à montante da crista), obtiveram correlações positivas muito fortes,
fato já esperado devido à proximidade do reservatório. Nessa região, ocorre rápida saturação do aterro com
avanço da linha freática a partir das proximidades do talude de montante e da superfície da fundação.
Vale salientar que uma correlação forte para o teste de Spearman não é sinônimo de variações de ordem
parecidas de ambas as variáveis correlacionadas em um período. Uma correlação forte diz respeito à
capacidade das variáveis analisadas apresentarem um comportamento monotônico (crescimento ou
decrescimento) associadamente.
Nos instrumentos localizados na região intermediária (instalados na fundação entre a crista e o dreno de
pé), notou-se, assim como o caso do PA107, uma grande influência da proximidade da cota de base do
instrumento ao tapete drenante, tal como os instrumentos mais próximos da drenagem interna, os piezômetros
PA106 e PA111, que apresentaram valores de coeficientes de correlação de baixo a moderado. O PI115, cuja
célula de medição encontra-se apoiada no tapete drenante, apresentou correlação desprezível e o instrumento
PI109, apoiado no terreno de fundação abaixo do tapete drenante, apresentou alto grau de correlação.
A boa resposta do PI109 à variação do nível do reservatório, apesar deste ser um piezômetro de tubo
aberto onde normalmente ocorrem tempos de respostas mais longos, está condicionada ao exposto por Silveira
(2006), que enuncia que a resposta dos piezômetros do tipo tubo aberto instalados na fundação é praticamente
imediata durante a fase de enchimento do reservatório, pois geralmente estão instalados abaixo do nível
freático. Fato confirmado pela existência de fluxo anterior à construção do maciço e, consequentemente,
formação do reservatório.
Os instrumentos localizados na região das proximidades do dreno de pé (PI119 e PI120) apresentaram
correlações boa e moderada, respectivamente. Observa-se também que, a ordem de variação das leituras desses
instrumentos é relativamente pequena. Esse fato se dá, sobretudo, devido à perda de carga ao longo da
barragem (gradiente hidráulico da estrutura) no sentido montante-jusante.

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4 Conclusões

Os testes estatísticos de correlação são importantes técnicas para investigação exploratória da interação
entre variáveis e, apesar de terem como produto um modelo hipotético que deve ser confirmado com maior
nível de detalhes posteriormente, eles se caracterizam como uma ótima técnica de predição de comportamento.
Este trabalho apresentou duas metodologias estatísticas a serem empregadas na avaliação do grau de correlação
entre o nível do reservatório a montante e as leituras dos instrumentos durante o período de enchimento: (1)
Teste de Correlação de Pearson, (2) Teste de correlação por postos de Spearman.
A partir da análise das características das variáveis quantitativas estudadas foi possível definir, por meio
de uma investigação das suposições necessárias à aplicação dos testes de correlação, qual teste era mais
adequado ao estudo. Visto que não foi detectado normalidade para os pares de variáveis estudados, fez-se uso
do teste estatístico de correlação por postos de Spearman, em que foram realizadas correlações através da
análise bivariada fornecida pelo SPSS com uma significância α=0,05.
Dos 15 instrumentos avaliados através do teste de correlação de Spearman, percebeu-se que apenas dois
deles apresentaram valor de significância maior que 0,05 para o teste, e, portanto, de acordo com a Hipótese
Nula não apresentaram correlação. Entre os demais, foi possível observar que o valor de correlação do PI115
é relativamente desprezível sendo classificada a sua correlação com os níveis do reservatório como baixa ou
ausente. Para os demais instrumentos, foram obtidos resultados satisfatórios.
De maneira geral, o teste de correlação de Spearman teve um bom desempenho na avaliação do
comportamento dos instrumentos em relação aos níveis do reservatório da estrutura de terra avaliada em seu
período de enchimento. Outros testes estatísticos não paramétricos, tais como o teste de correlação de Kendall,
bem como observações durante o esvaziamento do reservatório poderiam ser utilizados a fim de se realizar
uma análise comparativa dos resultados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1406
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Estudo de um Solo Estabilizado com Cimento Portland a


Partir do Método de Dosagem Físico-Química
Jefferson Cerqueira Aragão
Graduado Engenharia Civil, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil,
jeffersoncaragao@gmail.com

Ualace Marcelo Sena Leite Pinto


Graduando de Engenharia Civil, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das almas, Barasil,
ualaceleite@outlook.com

Mario Sergio de Souza Almeida


Professor, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil,
mariosergio73@gmail.com.

José Humberto Teixeira Santos


Professor, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, jhtsantos@ufrb.edu.br

Weiner Gustavo Silva Costa


Professor, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, weiner.ufrb@gmail.com.

RESUMO: Com o aumento das construções, faz-se necessário melhorar as propriedades geotécnicas do solo
para poder suportar as exigências de solicitação. Além disso, o solo é um material heterogêneo, portanto, é
essencial que se busque a utilização de compostos para garantir uma melhor homogeneidade. Um composto
aplicado para conseguir essas características é o cimento. Porém, para obter a resistência à compressão do
solo-cimento, diversas etapas devem ser executadas, ocasionando em um tempo considerável para tal feito.
Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo avaliar a relação entre o método de dosagem Físico-
Química e o convencional pela resistência à compressão simples. Utilizou-se para o experimento o solo
coletado na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Campus Cruz das Almas. Para atingir o objetivo
foram realizados ensaios de caracterização e de resistência à compressão simples do solo e do solo-cimento.
Os resultados obtidos indicam que o uso do cimento para estabilização no teor ótimo do método de dosagem
Físico-Química atendeu os critérios para utilização como parede não estrutural. Verificou ainda que não foi
atendido para a aplicação como camada de pavimento.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização, dosagem Físico-Química, solo-cimento.

ABSTRACT: With the increase of the constructions, it is necessary to improve the request. In addition, the
soil is a heterogeneous material, therefore, it is essential that the use of compounds is sought to ensure a
better homogeneity. A material used to achieve these characteristics is cement. However, to determine the
compressive strength of the soil-cement mixture, several steps must be performed, taking a considerable
amount of time. thus, this work aimed to evaluate the relationship between the Physical-Chemical dosing
method and the conventional method determining the compressive strength of the mixture. A soil collected at
the Federal University of Recôncavo da Bahia, located in the city of Cruz das Almas - BA, was used for the
experiment. To achieve the objective, characterization tests and determination of the simple compressive
strength of the soil and soil-cement were carried out.. The results obtained indicate that the use of an
optimum cement content, according to the Physical-Chemical dosing method, met the criteria for using the
mixture as a non-structural wall. It also verified that the material would not be accepted in this condition for
application as a road pavement layer.

KEYWORDS: Soil stabilization, Physical-chemical method, soil-cement.

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1 Introdução

Em condições de solicitação elevada em obras geotécnicas, as propriedades de rigidez e resistência


dos solos disponíveis podem não ser suficientes, o que demanda a busca por novos materiais ou a melhoria
dos materiais existentes. Solos com baixa capacidade de carga quando submetidos a esforços advindos de
obras de engenharia podem ocasionar diversos problemas, e até por em risco a vida das pessoas, levando a
custos econômicos, sociais e ambientais maiores.
Nesses casos, uma alternativa é lançar mão de processos de modificação das propriedades do solo,
conhecidos como estabilização ou melhoramento do solo, e pode ser realizado por meio químico, físico ou
mecânico, com o objetivo de melhorar suas características. O processo de estabilização por meio de aditivos
é bastante empregado, visto que possui um custo relativamente baixo quando comparado a outros meios de
melhoramento, e apresenta um excelente desempenho (VITALI, 2008).
Segundo Vitali (2008) o tratamento de solos com utilização de cimento vem sendo usado na
construção de bases de pavimentos e outras inúmeras aplicações como proteção de taludes em barragens de
terra, entre outros, e em todos os casos são empregados com sucesso. Embora muitas dessas utilizações não
disponham de metodologias para dosagem de misturas de solo-cimento baseadas em critérios racionais,
como há no concreto.
Kedzi (1979) apud Osula (1996) na estabilização de solos lateríticos com cimento inferiu que a
modificação das partículas de argila pelo cimento é provocada pela dissolução dos silicatos e aluminatos das
partículas e dos componentes no ambiente de pH elevado, causados pelo produto de hidratação altamente
reativo de cimento. Além disso, o material dissolvido associa-se ao Ca 2+ para produzir outro agente
cimentante que por sua vez se une a partículas de argila adjacentes. Outrossim, como as partículas de
cimento são muito maiores que as partículas de argila, é mais provável que um esqueleto de argila-cimento e
uma matriz de argila se formem, com as unidades de esqueleto contendo um núcleo (cada um consistindo de
gel de cimento hidratado) ao qual são adicionadas camadas feitas de partículas de argila. Este processo, leva
à formação de partículas mais grosseiras.
Uma forma de se realizar a dosagem da quantidade de cimento a ser utilizado em processo de
estabilização de solos com cimento é o método Físico-Químico, proposto pelo “Central Road Research
Institute of India” (BASSO et al., 2003). Esse método é utilizado em alguns poucos trabalhos em pesquisas
cientificas, agora normatizado no Brasil pelo DNIT (2019).
De acordo com a aplicação, existem normas específicas que apresentam critérios quanto à seleção do
solo a ser utilizado nas misturas de solo-cimento. Em geral, o uso para proteção de taludes e pavimentos faz
com que a seleção do solo seja mais rigorosa em virtude da severidade das solicitações nesses casos. A título
de ilustração, a NBR 12253 (ABNT, 2012), exige que o solo se enquadre nas classificações A1, A2, A3 ou
A4 que contenha 100 % de material passando na peneira de abertura de 76 mm e, no máximo, 45 % de
material retido na peneira de 4,8 mm. Outro ponto de extrema importância presente nessa norma, é que aos
sete dias de idade a resistência mínima admissível deve ser de 2,1 MPa.
A NBR 13553 - Materiais para emprego em parede monolítica de solo-cimento sem função estrutural
- Requisitos (ABNT, 2012) para parede não estruturais com cimento, estabelece a resistência à compressão
mínima exigida de 1 Mpa e capacidade de absorção de água igual ou inferior a 20%.
Trabalhos anteriores já foram realizados através da análise do método de dosagem Físico-Química em
relação ao solo. Como é o caso de Jesus et al. (2018) que utilizou a metodologia para dosagem de solo-cal
onde o teor ótimo da mistura solo-cal foi de 6% de cal. Basso et al. (2003) comparou o método em questão
para os solos típicos do noroeste paranaense. Sendo que o aditivo utilizado foi o cimento. Esse estudo
permitiu concluir que para solos típicos do arenito Caiuá exigem de 4 a 6% de cimento e solos típicos de
basalto de 8 a 10% para obter a estabilização.
Ferraz et al. (2001) executaram um estudo comparativo entre os métodos de dosagem usando
amostras de solos e concluíram que o método de dosagem Físico-Química apresentou para os os teores de
cimento, os resultados inferiores aqueles alcançados por outros métodos.
Nesse contexto, esse trabalho teve por objetivo analisar a relação entre a dosagem segundo o método
de dosagem Físico-Química e a resistência à compressão simples e de que forma o cimento melhora as
propriedades geotécnicas de um Latossolo Amarelo muito comum no município de Cruz das Almas - Bahia.

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2 Materiais e métodos

O trabalho foi conduzido no Laboratório de Solos e Fundações da Universidade Federal do


Recôncavo da Bahia – Campus Cruz das Almas.
O solo estudado foi coletado dentro do Campus da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia em
Cruz das Almas. As coordenadas do local são: latitude 12º40’12.0”S, longitude 39º06’07.0”W. Trata-se de
amostra representativa de um Latossolo, muito presente na região, principalmente nos locais mais altos.
Segundo Rodrigues et al. (2009) as características deste solo são: bastante profundos, desenvolvidos sobre
material sedimentar e ocupando áreas de relevo plano e suave ondulado dos tabuleiros.
No experimento foi utilizado o cimento Portland CP II F 32 da marca CIMPOR.
Foi utilizado o método de dosagem Físico-Química para determinar um teor ótimo de cimento em
relação à massa seca de solo.
O procedimento do método de dosagem Físico-Química consiste em acrescentar uma determinada
quantidade de solo em provetas. Em cada uma das provetas, adiciona-se percentuais crescentes de cimento
em relação ao peso do solo seco, sendo um teor de cimento para cada proveta. Mistura-se o solo e o cimento
ainda secos, agitando as provetas. Introduz-se, então, água destilada e agita-se para ocorrer a
homogeneização da mistura. Após 24 horas, agita-se a mistura com auxilio de bastão de metal até ficar
homogênea. Depois, colocam-se em repouso as provetas, e após 2 horas, realiza-se a leitura do volume
ocupado pela mistura sedimentada. No dia seguinte, realiza-se novamente a agitação e a leitura após 2 horas.
Esta operação deve ser realizada até se obter leituras constantes ou decrescentes. Deste modo, considerando
as variações volumétricas no processo citado, define-se o teor de cimento que gera uma mistura estável. O
ponto máximo da variação volumétrica corresponde ao teor mínimo de cimento requerido para a
estabilização físico-química completa do solo com o tipo de cimento usado na avaliação (DNIT, 2019).
O procedimento do método de dosagem Físico-Química foi adaptado onde: utilizou-se 06 provetas de
100 ml. Colocou-se 10 g de solo passado na peneira nº 10 em cada proveta. Adicionou-se as quantidades de
cimento de 0%, 3%, 5%, 7%, 9% e 11% em relação ao peso do solo seco, sendo um teor de cimento para
cada proveta. Misturou-se o solo e o cimento ainda secos, agitando as provetas. Introduziu-se 25 ml de água
destilada e agitou-se para ocorrer a homogeneização da mistura. Após isso, completou-se para 50 ml e
realizou-se os demais procedimentos descritos acima conforme o DNIT (2019).

0% 5% 7% 9%

Figura 1. Ensaio do método Físico-Químico – Teores de 0%, 5%, 7% e 9% de cimento.

Definido o teor ótimo de cimento foram então caracterizados fisicamente e determinados os


parâmetros ótimos de compactação do solo com o teor ótimo e também para dois teores menores de cimento,
na energia de Proctor Normal.
Os seguintes procedimentos metodológicos foram realizados neste experimento:
• Análise granulométrica, feita de acordo com a norma NBR 7181 (ABNT, 2016); limites de
consistência, determinados de acordo com as normas NBR 6459 (ABNT, 2016) para o limite de liquidez, e
NBR 7180 (ABNT, 2016) para o limite de plasticidade;
• Ensaio de compactação, realizado de acordo com as normas NBR 7182 (ABNT, 2016);
Moldagem de corpos-de-prova cilíndricos de solo-cimento, feita de acordo com a norma NBR 12024
(ABNT, 2012);
• A cura dos corpos-de-prova cilíndricos do solo-cimento compactados nos parâmetros ótimos,
foi realizada para se obter uma mesma taxa de cura. Para tal, os corpos de prova foram inseridos dentro de
um ambiente fechado, simulando uma câmara úmida para equilíbrio da umidade, sem contato direto com

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água. Mediante isso, obteve-se umidade constante de cura, controlada por pesagem das amostras antes e após
o período de cura.
• Ensaios de compressão simples, realizados de acordo com a norma NBR 12025 (ABNT, 1990),
e submetidos às mesmas condições em termos de cura e idade de rompimento.
• Os corpos-de-prova de solo-cimento, de dimensões aproximadamente 100x129 mm, de
diâmetro e altura, respectivamente, foram moldados, curados e rompidos após 7 (sete) dias de cura.

3 Resultados e discussões
3.1 Método de Dosagem Físico-Química

Após realização da dosagem pelo método Físico-Química obteve-se o resultado apresentado na Figura
2 para a variação volumétrica do material sedimentado em função do teor de cimento adicionado à mistura.
Ressalta-se que a variação volumétrica porcentual (ΔV), de cada sedimento de solo-cimento, é calculada em
relação àquela do solo sem cimento.

350
330
310
290
270
ΔV (%)

250
230
210
190
170
150
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Teor de Cimento (%)

Figura 2. Método Físico-Químico.

Na Figura 2 é possível observar o crescimento da variação volumétrica, com o acréscimo do teor de


cimento, até 9% de cimento, seguido de queda para o teor de 11% de cimento. Conforme prescrito por essa
metodologia (DNIT, 2019) o teor de 9% promove na mistura a melhor interação físico-química entre o solo e
o cimento.

3.2 Caracterização Física do Solo e das Misturas

Na Figura 3 são apresentadas as curvas de distribuição granulométrica do solo e das misturas após a
adição de 5%, 7% e 9% de cimento. A Tabela 1 apresenta os percentuais de cada fração granulométrica dos
solos analisados, sendo SN (solo natural), SC 5% (solo-cimento com 5% de teor de cimento), SC 7% (solo-
cimento com 7% de teor de cimento) e SC 9% (solo-cimento com 9% de teor de cimento).
Nota-se que houve uma diminuição no teor de argila com a presença de cimento na mistura. No
entanto o teor de silte aumentou consideravelmente. Outro teor que ocorreu uma elevação foi o de areia fina.
Para as outras frações de solo, o teor se manteve aproximadamente constante.

Tabela 1. Classificação granulométrica dos solos


Fração do solo SN SC 5% SC 7% SC 9%
Argila 39,9% 9,3% 11,3% 13,2%
Silte 11,1% 33,2% 34,3% 32,7%
Areia Fina 20,0% 27,8% 25,9% 24,9%
Areia Média 19,3% 19,9% 18,2% 18,4%
Areia Grossa 9,2% 9,3% 9,7% 9,7%
Pedregulho 0,5% 0,5% 0,6% 1,1%

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Figura 3. Curvas Granulométricas do solo e das misturas.

De acordo com Bauer (2001), esse aumento nos teores de silte e areia se deve ao fato de após o
processo de hidratação, acontecer a cimentação das partículas finas, transformando-as em partículas maiores.
A Tabela 2 exibe os resultados encontrados para os limite de liquidez, limite de plasticidade, e o
cálculo dos índices de plasticidade e de atividade coloidal para o solo natural e solo-cimento para os teores
de 5%, 7% e 9%.

Tabela 2. Limites de Atterberg dos solos


Limite de Limite de Índice de Índice de
Material
Liquidez Plasticidade Plasticidade Atividade
SN 31 % 19 % 12 % 0.30
SC 5% 27 % 21 % 6% 0.65
SC 7% 27 % 20 % 7% 0.62
SC 9% 27 % 23 % 4% 0.30
.
Mediante a Tabela 2, nota-se que há uma redução no limite de liquidez e um aumento no limite de
plasticidade, ocasionando em uma redução no índice de plasticidade mostrando o material com 9% de
cimento como pouco plástico. O índice de atividade coloidal varia sem apresentar um padrão de variação
definida, aumentando com a adição de cimento e redução até o valor do solo natural quando da adição de 9
% de cimento.
Na Tabela 3 pode-se ver a classificação do solo e do solo com adição de cimento.

Tabela 3. Classificação dos solos


Material AASHTO SUCS IG
SN A-6 CL 9
SC 5% A-4 ML 10
SC 7% A-4 ML 10
SC 9% A-4 ML 9

3.3 Ensaios de Compactação

A Tabela 5 e a Figura 4 expressam os resultados encontrados no ensaio de compactação. Esses dados


foram utilizados como orientação (massa específica aparente seca máxima e umidade ótima) para a
compactação dos corpos de prova do solo natural e do solo-cimento com teores de 5%, 7% e 9% para
avaliação da resistência à compressão simples.

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Tabela 5. Parâmetros ótimos de compactação do solo natural e das misturas


Material Umidade ótima (%) Massa específica aparente seca máx.(g/cm³)
SN 14,40 1,85
SC 5% 13,90 1,83
SC 7% 13,70 1,83
SC 9% 14,02 1,85

Figura 4. Curvas de compactação do solo natural e misturas.

Pode-se ver que com o cimento, a umidade ótima teve uma diminuição. Logo, necessita uma menor
quantidade de água para alcançar o melhor ponto de compactação, em relação ao solo natural.

3.4 Resistência à Compressão Simples (RCS)

A Figura 5 e a Tabela 6 apresentam os resultados de resistência à compressão simples (RCS) e as


características físicas de interesse de cada corpo de prova rompido. São elas: d: massa específica aparente
seca; Sr: grau de saturação; GC: Grau de Compactação. Além dos valores médios, desvio padrao e
coeficiente de variação da resistência.

Figura 5. Resultado da resistência à compressão simples.

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Tabela 6. Índices Físicos e valores de resistência à compressão simples


SN SC 5% SC 7% SC 9%
CP 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3
Umidade 14,3
13,7 13,8 14,09 14,79 15,55 14,32 14,63 15,25 14,83 15,18 13,8
(%) 8
d (g/com³) 1,82 1,85 1,83 1,79 1,8 1,75 1,78 1,77 1,79 1,79 1,74 1,82
Sr (%) 85 85 83 83 87 85 85 85 92 92 85 91
GC (%) 99 100 99 98 98 96 97 97 98 97 96 99
125
RCS (KPa) 166 156 162 831 896 843 1098 930 1019 1293 1284
6
Média (KPa) 161 857 1016 1278
Desvio Pad.
5,2 34,7 84,0 19,0
(kPa)
Coef. de
3,2 4,0 8,3 1,5
variação (%)

Observa-se um ganho de resistência considerável em relação ao solo natural. Resultado já esperado,


pois a elevação do teor de cimento ocasiona em uma maior quantidade de produtos de hidratação do cimento,
que são responsáveis pelo ganho de resistência (VITALI, 2008).
Conforme Chadda (1971) ocorre interação elétrica entre as partículas do cimento em hidratação e as
argilosas presentes no solo, ocasionando rápidas alterações físico-químicas. E como resultado, há uma
substancial variação volumétrica da mistura solo-cimento enquanto a mesma permanece em suspensão
aquosa. Na Figura 6 pode-se ver que a relação entre a variação volumétrica e os resultados encontrados de
resistência à compressão simples é exponencial. Observa-se boa correlação entre os dados obtidos para esse
solo.

Figura 6. Variação volumétrica da dosagem pelo método de dosagem Físico-Química por RCS.

4. Considerações Finais

A adição de cimento no solo apresentou modificações consideráveis na sua caracterização física em


comparação do solo natural e o solo com cimento. Para o método de dosagem Físico-Química, o valor
encontrado foi de 9% de cimento na mistura. A partir do ensaio de Resistência à Compressão Simples foi
notado que o cimento provocou um acréscimo na resistência do solo. Porém, nesse mesmo ensaio, fica
evidente que para os teores de cimento utilizados, não foi atendido os critérios normativos de resistência
mínima admissível para gerar uma estabilidade, para emprego como camada de pavimentos. Para o solo em
estudo, o teor da dosagem que gera estabilização pelo método de dosagem Físico-Química (9%), compactado

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na energia de Proctor Normal, apresentou resistência à compressão simples de 1 MPa, podendo assim ser
utilizado como parede não estrutural desde que atenda ao critério de absorção da respectiva norma.

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VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens
15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP

Diretrizes para o monitoramento de deformações e deslocamentos


em barragens e estruturas de mineração utilizando GNSS
Flávio Henrique Carvalho Cardoso
Engenheiro Geotécnico, Tetra Tech, Belo Horizonte, Brasil, flavio.cardoso@tetratech.com

Michelle Granha Giorgini


Engenheira Geotécnica, Tetra Tech, Belo Horizonte, Brasil, michelle.giorgini@tetratech.com

Amanda Queiroz de Paula


Engenheira Geotécnica, Tetra Tech, Belo Horizonte, Brasil, amanda.depaula@tetratech.com

RESUMO: Tendo em vista a necessidade de reduzir o risco associado às barragens e demais estruturas
geotécnicas utilizadas na mineração, como cavas, pilhas e diques, o aprimoramento da auscultação civil tem
estado em evidência tanto nas exigências regulatórias quanto nas estratégias organizacionais de gestão e risco
nas empresas. Nesse contexto, várias tecnologias têm sido utilizadas para complementar e qualificar a
instrumentação de forma a proporcionar medidas cada vez mais confiáveis e precisas. Dentre elas, destaca-se
o uso de receptores GNSS (Global Navigation Satellite System) para o monitoramento de deformação e
deslocamentos nas estruturas e suas imediações. Esses instrumentos podem ser posicionados em campo
seguindo metodologias classificadas em absolutas ou relativas e em dinâmicas ou estáticas. Além disso, as
medidas aferidas estão sujeitas a interferências relacionadas com os satélites artificiais, com a propagação do
sinal, com os receptores e com a estação de referência (estação base). Dentre as principais diretrizes elencadas
no artigo para se obter precisão milimétrica necessária para o monitoramento de estruturas geotécnias
utilizadas na mineração, destaca-se a utilização do método de posicionamento relativo estático, buscando
reduzir as linhas de base entre os instrumentos e locando os instrumentos em locais abertos e, preferencialmete,
longe de outras estruturas.

PALAVRAS-CHAVE: GNSS, barragem, monitoramento, deslocamento, deformação.

ABSTRACT: In view of the need to reduce risk associated with dams and other geotechnical structures
employed in mining activities, such as open pits, dry stacks and dikes, civil auscultation improvements have
been in focus on regulatory requirements and at miners’ risk and management strategies. In this context, several
technologies have been used to complement and to qualify structure’s instrumentation and monitoring
programs, in order to provide more accurate and reliable measures. Among them, stands out GNSS (Global
Navigation Satellite System) receivers for monitoring of displacements in the structures and its surroundings.
These instruments can be positioned in the field following methodologies classified as absolute or relative and
as dynamic or static. In addition, the measures are subject to interferences such as those related to artificial
satellites, to signal propagation, to the receivers and related to the reference station. Among the main guidelines
listed in this article to achieve millimeter accuracy for monitoring geotechnical structures used in mining,
stands out the use of relative static positioning method, seeking to reduce baselines between the instruments
and locating them at locations with free vision of the sky and, preferably, away from other structures.

KEYWORDS: GNSS, dam, monitoring, displacement, deformation.

1 Introdução

As falhas de estruturas geotécnicas configuram risco muito elevado à sociedade, podendo gerar perdas
humanas, ambientais e econômicas, de forma que o monitoramento dessas estruturas torna-se fundamental
para garantir a segurança e/ou reduzir as consequências em eventuais rompimentos (Scaioni et al., 2018). Essa
necessidade de monitoramento é respaudada pela crescente exigência regulatória observada no Brasil em

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resposta às recentes rupturas de barragens de mineração em Minas Gerais. Como exemplo dessas
determinações regulatórias, destaca-se a Portaria do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) n°
70.389/2017 e a Resolução n° 13 da ANM (Agência Nacional de Mineração) que exigem o monitoramento de
deformações e deslocamentos e a associação das medidas com critérios de acionamente de sistemas de alerta.

Dessa forma, observando-se a complexidade das estruturas, várias gradezas e processos devem ser
avaliados, tais como: deformações e deslocamentos superficiais e subterrâneos, percolação pelo maciço e pela
fundação, tensões na estrutura, desenvolvimento de poropressão, entre outros. Para tal, são necessários
diferentes tipos de instrumentos. Neste artigo será dado enfoque aos receptores GNSS, utilizados para o
monitoramento de deformação e deslocamentos nas estruturas e seus arredores.

De acordo com Scaioni et al. (2018), a utilização de métodos de monitoramento baseados em sistemas
GNSS é amplamente difundida para barragens e áreas próximas. Entre as vantagens desses instrumentos está
a flexibilidade de posicionamento, visto que não é necessária visada entre os sensores, precisão milimétrica (a
depender do produto, das condições de instalação e do tratamento dos dados), monitoramento contínuo,
obtenção de coordenadas tridimensionais e baixo custo, se comparado com outras tecnologias, como os radares
SSR (Secondary surveillance radar). A principal desvantagem dos receptores GNSS é a necessidade de
instalação em local aberto para receber o sinal dos satélites.

Destaca-se que, inicialmente, as redes GNSS foram empregadas para medições periódicas com base em
pontos de referências nas adjacências. Entretanto, atualmente são utilizados sistemas automatizados com
receptores GNSS diferenciais, os quais atuam de modo contínuo e integrado a sistemas de alerta (Scaioni et
al., 2018).

O presente artigo busca fazer uso dos conceitos teóricos levantados na literatura técnica e aliá-los à
experiência dos autores com os sensores para fornecer diretrizes quanto à instalação dos sistemas GNSS para
o monitoramento de estruturas geotécnicas. Dessa forma, será apresentada uma descrição dos sensores a nível
de estado da arte e, posteriormente, serão descritas as principais recomendações para o projeto e para a
operação desses sistemas.

2 Fundamentação Teórica

GNSS (Global Navigation Satellite System) é o termo genérico utilizado para referir aos sistemas de
posicionamento espacial baseados em satélites artificiais. Dentre os sistemas atualmente operacionais,
destacam-se o sistema americano, GPS (Global Positioning System), o sistema russo, GLONASS (Sistema de
Navegação Global por Satélite), o europeu, Galileo, e o sistema chinês, BeiDou. Estes sistemas têm sido
extensamente utilizados para monitoramento de deslocamentos, haja vista sua capacidade de proporcionar o
posicionamento geodésico com precisão milimétrica e alta resolução temporal (Marques et al. 2016).

O monitoramento via GNSS é realizado a partir de receptores, constituídos por uma antena e um
processador, capazes de receber e computar o sinal dos satélites fornecendo a posição tridimensional e o tempo
da medição. Observa-se que são necessários sinais de, no mínimo, quatro satélites simultaneamente para a
execução das medidas (Monico, 2008).

2.1 Métodos de posicionamento dos receptores GNSS

Posicionamento diz respeito à determinação da posição de objetos com relação a um referencial


específico. Os métodos de posicionamento são divididos em absolutos, quando as coordenadas estão
associadas diretamente ao geocentro, e relativos, no caso em que as coordenadas são determinadas com relação
a um referencial materializado com coordenadas conhecidas. Além disso, os métodos podem ser divididos
entre estáticos e dinâmicos, a depender da movimentação do objeto a ser posicionado (Monico, 2008).

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Dentre os métodos de posicionamento absoluto, também denominados posicionamento por ponto,


destacam-se o posicionamento por ponto simples (PPS) e o posicionamento por ponto preciso (PPP). Nesses
métodos, a posição dos pontos é determinada no referencial vinculado ao sistema utilizado. No caso do sistema
americano, GPS, as coordenadas são dadas no datum WGS 84. Salienta-se que apesar do PPP proporcionar
medidas mais precisas que o PPS, ambos não atingem acurácia milimétrica (Monico, 2008).

No método de posicionamento relativo dos receptores são obtidas diferenças de coordenadas


tridimensionais (ΔX, ΔY, ΔZ) desassociadas de sistemas de referência (datum). Para tal, as coordenadas de ao
menos um ponto (estação-base) devem ser definidas a priori e quaisquer erros serão propagados para as
coordenadas dos pontos determinados a partir dele (Monico, 2008). Nesse método os receptores coletam dados
dos satélites artificiais simultaneamente e, a partir de combinações lineares entre as medidas, formam-se as
observáveis de Dupla Diferença (DD) que são usadas para estimar as componentes do vetor de linha de base
(Marques et al. 2016). De acordo com Limpach et al. (2016), a precisão deste método está relacionada com o
tamanho da linha de base, com a duração da coleta dos dados e com a diferença de cota entre os receptores. A
Figura 1 ilustra a metodologia relativa representando o vetor linha de base formado entre dois receptores.

Figura 1 - Representação do posicionamento relativo (Marques et al., 2016).

Há ainda o método denominado DGPS (Differential GPS), no qual um receptor é estacionado em uma
estação de referêcia. Este método difere do posicionamento relativo quanto às correções da estação-base que
são aplicadas na estação a ser determinada, enquanto, no posicionamento relativo, cria-se um vetor ligando as
duas estações (Monico, 2008).

2.2 Erros Sistemáticos

As informações básicas dos satélites artificiais são a distância, obtida a partir do código do sinal, e a
diferença de fase da onda portadora emitida pelos satélites. A partir delas é possivel determinar posição,
velocidade e tempo. O processamento destas variáveis incorre em diferentes erros e incertezas sistemáticas,
dentre as quais destacam-se os relacionados com os satélites (órbita e relógio), os relacionados com a
propagação do sinal (refração da ionosfera e troposfera) e os erros associados à percepção do sinal pelo receptor
GPS (relógio do aparelho, centro de fase da antena e atraso entre as portadoras) (Neto, 2017).

Segundo Hofmann-Wellenhof (2008, apud Neto, 2017), os efeitos da ionosfera são os mais nocivos ao
posicionamento por receptores GPS, seguido pelos erros do relógio do satélite e pelas efemérides. Elementos
como multicaminhamento, troposfera e ruídos gerados pelos receptores apresentam menor magnitude no que

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se refere ao posicionamento geodésico, contudo não se pode desprezá-los. A seguir será realizada uma breve
descrição de cada um dos erros supracitados.

2.2.1 Erros relacionados com os satélites

Dentre os erros relacionados com os satélites, destacam-se os relativos às órbitas, aos relógios dos
satélites, à relatividade, ao atraso de grupo e ao centro de fase da antena. Os erros orbitais correspondem aos
erros nas coordenadas dos satélites que são propagados diretamente para a medida aferida. Os erros relativos
aos relógios dos satélites estão associados à diferença entre o tempo indicado pelos relógios atômicos dos
satélites e ao sistema de tempo a eles atribuídos. Quanto aos erros atribuídos à relatividade, eles estão
relacionados com a diferença dos campos gravitacionais atuantes nos relógios dos receptores e dos satélites.
Os erros de atraso de grupo são associados às diferenças entre os caminhos percorridos pelas ondas portadoras
e pelo hardware dos satélites e dos receptores. Por fim, o erro de centro de fase da antena do satélite é associado
à diferença entre este centro e centro de massa do satélite (Monico, 2008).

O detalhemento de cada um desses erros extrapola o objetivo do presente artigo, mas pode ser verificado
em diversos trabalhos anteriormente publicados (Monico, 2008, Neto, 2017). Aqui, cabe apenas a ressalva de
que, quando se faz a utilização do método de posicionamento relativo e a calibração dos instrumentos após a
instalação, esses erros são praticamente eliminados.

2.2.2 Erros relacionados com a propagação do sinal

Quanto à propagação das ondas, destacam-se as interferências do meio de propagação, troposfera e


ionosfera no sinal emitido pelos satélites artificiais, os efeitos do movimento de rotação da Terra nas
coordenadas dos satélites e o multicaminhamento.

No âmbito da ionosfera, o principal efeito é caracterizado pela alteração da velocidade de propagação


dos sinais emitidos pelos satélites, que ocasiona medidas superestimadas nos valores das pseudodistâncias. O
contrário ocorre com as observáveis da fase que possuem suas ondas avançadas, disponibilizando os valores
das pseudodistâncias com valores reduzidos. Destaca-se que o pós-processamento das medidas e a utilização
de linhas de base curtas permite reduzir significativamente a magnitude desses erros (Neto, 2017).

A refração troposférica provoca distorções nos sinais propagados em até 40 km da superfície terrestre e
atinge os sinais de modulação da fase da portadora e do código retardando sua velocidade de propagação. Não
é possível eliminar tais erros por medições entre combinações de simples e dupla diferença devido ao fato
dessa refração não ser dependente da frequência. Portanto, ela deve ser tratada por modelos matemáticos
(LEICK, 2004 apud NETO, 2017).

Destaca-se também o efeito de multicaminho ou de sinais refletidos quando os receptores recebem, além
do sinal que chega diretamente à antena, sinais refletidos em superfícies vizinhas a ela, como construções,
carros, árvores, massa d’água, cercas etc. Em geral, não existem modelos para tratar o efeito do multicaminho
devido às particularidades geométricas de cada local (Monico, 2008). Entretanto, o posicionamento relativo
com linhas de base curtas, o uso de ângulos de corte acima de 5° e a aquisição de dados de longa duração
ajudam a minimizar esse efeito (Neto, 2017).

2.2.3 Erros relacionados com os receptores e antenas

Os erros relativos aos receptores e antenas são similares aos relacionados aos satélites, nos quais
destacam-se a defasagem dos relógios e as diferenças entre o centro de fase e o centro de massa da antena.
Além destes, destaca-se o erro de fase wind-up, relacionado com a orientação da antena e os erros oriundos da
pluralidade de canais que ocasionam diferentes caminhos eletrônicos para cada um dos sinais de diferentes
satélites (MONICO, 2008).

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2.2.4 Erros relacionados com a estação-base

Com relação à estação-base, destacam-se os erros associados às coordenadas da estação, às marés


terrestres, ao movimento do polo, às cargas oceânicas e às cargas atmosféricas (Monico, 2008). A descrição
desses erros é complexa e extrapola o objetivo deste relatório. Não obstante, o método relativo de
posicionamento permite redução significativa da magnitude das variações.

3 Diretrizes para o projeto e operação dos receptores GNSS

O projeto de sistemas de monitoramento por GNSS deve ser especificado levando-se em consideração
as necessidades dos clientes e a viabilidade técnica de sua execução. Dentre as necessidades dos clientes devem
ser observadas a precisão demandada, a disponibilidade de recursos e a disponibilidade de áreas para instalação
dos instrumentos. Por outro lado, para a viabilidade técnica do sistema é necessário avaliar a disponibilidade
de satélites artificiais no local, a quantidade e as especificações mínimas dos receptores, a metodologia de
posicionamento e aquisição dos dados, as possíveis interferências nos dados e o método de transmissão e
processamento dos dados a ser adotado.

Em estruturas geotécnicas empregadas na mineração, como cavas, pilhas e barragens, a detecção de


anomalias e de tendências de deslocamentos se dá a nível de deformações milimétricas. Portanto, para atingir
essa acurácia, é recomendável a adoção do método de posicionamento relativo estático, por ser o mais preciso
dentre os métodos apresentados no item 2.1. Para tal, sugere-se que se disponha de vários receptores, de modo
a criar linhas de base reduzidas entre eles e a estação base. Entretanto, de acordo com Silva et al. (2015), caso
se disponha de apenas um receptor GNSS, ainda é possível adotar o método de posicionamento relativo
utilizando o Sistema de Controle Ativo (SCA) local. As coordenadas das estações desse sistema devem ser
usadas como referências para os demais pontos de medição. Salienta-se que o SCA brasileiro é denominado
Rede Brasileira de Monitoramento Contínuo (RBMC).

Nesse contexto, RICS (2010) descreve as seguintes diretrizes para se obter um sistema GNSS de elevada
precisão: dispor de ao menos 4 estações base em que se conhece as coordenadas no sistema de referência a ser
utilizado, utilizar bases estáveis para os instrumentos, escolher pontos de controle em locais abertos, usar o
método de posicionamento estático relativo e um método preciso de transmissão e tratamento dos dados. No
trabalho constam também as seguintes especificações para o monitoramento de alta precisão (inferior a 10
mm): receptores de dupla frequência, tempo de aquisição de 1 hora para linhas de base de até 20 km, 2 horas
para linhas de base 30 km, 4 horas para linhas de base de 50 km e 6 horas para linhas de base de até 100 km.

A quantidade de receptores necessárias para o monitoramento dos deslocamentos deve ser definida com
base no tipo de estrutura e na disponibilidade oferecida pelo cliente. Para barragens por exemplo, sugere-se
adotar as recomendações feitas por Silveira (2006) para marcos superficiais, a saber: instalação de um
instrumento a cada 100 m para grandes barragens e a cada 50 m para barragens de menor porte.

O método de construção das bases e fundações dos receptores normalmente atende aos princípios
estabelecidos na norma N-1811 da Petrobrás (2005). Além disso, caso seja necessária a movimentação do
sensor, devem-se fixar pinos de centragem forçada (juntamente com uma proteção contra danos mecânicos)
no topo dos pilares dos instrumentos (Silva et al., 2015).

Com relação à escolha dos receptores, Limpach et al. (2016) pontuam que, para linhas de base menores
que 5 – 10 km, a acurácia obtida com receptores de baixo custo e de frequência única é similar à frequência
dos receptores de dupla frequência (L1/L2). Isso se deve ao menor efeito da ionosfera. Entretanto, para linhas
de base longas há a necessidade de considerar a correção dos efeitos ionosféricos e troposféricos nos pós-
processamentos dos sinais. Esta consideração é reforçada por Cina e Piras (2014) que pontuam as seguintes
condições para obter precisão milimétrica com receptores de baixo custo: tempo de aquisição superior a 10
minutos, linha de base inferior a 1 km e utilização de antena externa compatível com a acurácia necessária.

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É importante ressaltar também que, caso a transmissão dos dados coletados pelos receptores GNSS até
a central de processamento seja sem-fio (wireless), deve-se avaliar os locais propícios para a instalação de
repetidores de sinal com visada para cada um dos instrumentos. Esses repetidores devem, preferencialmente,
ser instalados em local de maior elevação e central em relação aos repetidores. Quando a área a ser monitorada
é extensa, recomenda-se a utilização de mais de um repetidor.

Com relação aos erros envolvidos no processo de medição, eles precisam ser mapeados, eliminados ou
minimizados de forma a não comprometer a qualidade das medidas. Neto (2017) pontua medidas como a
utilização de softwares comerciais com modelagem ionosférica e troposférica, uso de redutor de
multicaminhamento, cuidados com o ângulo de corte, instalação da base longe de obstruções e posicionamento
considerando o tráfego veicular.

Segundo Marques et al. (2016), devem-se tomar os devidos cuidados de orientar todos os receptores
para uma mesma direção, visando minimizar efeitos devido à variação de centro de fase das antenas (PCV –
Phase Center Variantion). Destaca-se ainda a importância de se realizar uma calibração das antenas para
obtenção dos parâmetros de PCV e para a redução dos efeitos de multicaminho.

Salienta-se que, quando utilizado o método de posicionamento relativo com linhas de base curtas (< 20
km), não há a necessidade de estimar parâmetros de ionosfera, devido à eliminação desses efeitos na formação
das duplas diferenças. Entretanto, para linhas de base maiores que 20 km é recomendável utilizar dados de
duas freqências e soluções para tratamento dos dados (RICS, 2010).

Para a redução do multicaminhamento, além das técnicas supracitadas, destaca-se a utilização de discos
metálicos acoplados aos sensores, conforme ilustrado na Figura 3. Além disso, quando notada elevada
influência de multicaminho nos resultados, deve-se proceder com a filtragem dos ruídos das portadoras L1 e
L2 dos satélites artificiais no pós-processamento dos dados.

Figura 3 - Exemplo de atenuadores de multicaminho (SILVA et al., 2015).

4 Conclusões

Neste artigo foi realizada uma descrição dos sistemas de monitoramento por receptores GNSS
abrangendo o funcionamento dos instrumentos, os métodos de posicionamento e os erros sistemáticos
associados. Em seguida foram levantadas diversas diretrizes para projeto e operação desses sistemas com base
na literatura técnica e na experiência dos autores.

A partir das considerações descritas, percebe-se que os sistemas GNSS configuram instrumentos
aplicáveis ao monitoramento geodésico de estruturas geotécnicas podendo atingir a acurácia milimétrica
necessária. Para tal, no projeto desses sistemas devem ser seguidas diretrizes quanto ao método de

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posicionamento, às especificações e quantidades dos receptores, aos tratamentos dos possíveis erros e
interferências e à transmissão e tratamento dos dados medidos.

Como principais diretrizes, destacam-se a utilização do método de posicionamento relativo estático dos
instrumentos, a utilização de estações base com coordenadas pré-definidas no sistema de referência a ser
utilizado, a limitação do tamanho da linha de base entre os receptores, a necessidade de instalação dos sensores
em locais abertos e, preferencialmente, livres de estruturas próximas, a necessidade de tratamento dos dados e
a utilização de um sistema preciso de transmissão. Para o caso de sistemas automatizados de monitoramento
contínuo e transmissão wireless, salienta-se a necessidade de visada entre os receptores GNSS e os repetidores
de sinal que encaminham os dados para a central de processamento.

Em suma, há cuidados necessários ao emprego do monitoramento de deformação e deslocamentos a


partir da tecnologia GNSS. Não obstante, trata-se de um método convencional e com erros já compreendidos,
de forma que há abundância de técnicas e diretrizes na literatura para mitigação dos erros potenciais. A precisão
requerida ao monitoramento de estruturas geotécnicas é tangível e o GNSS se apresenta como uma alternativa
à demanda de monitoramento dessas estruturas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Agência Nacional de Mineração (2019) Resolução N° 13, de 8 de agosto de 2019. Estabelece medidas
regulatórias objetivando assegurar a estabilidade de barragens de mineração. Brasília: ANM.
Cina, A., Piras, M. (2014) Performance of low-cost GNSS receiver for landslides monitoring: test and results.
Geomatics, Natural Hazard and Risk, DOI: 10.1080/19475705.2014.889046.
Departamento Nacional de Produção Mineral (2017) Portaria nº 70.389, de 17 de maio de 2017. Cria o
cadastro nacional de barragens de mineração, o sistema integrado de gestão em segurança de barragens de
mineração – SIGBM. Brasília: DNPM.
Limpach, P., Geiger, A., Raetzo, H. (2016) GNSS for Deformation and Geohazard Monitoring in the Swiss
Alps. Proceedings of the 3rd Joint International Symposium on Deformation Monitoring (JISDM 2016).
Vienna.
Marques, H. A., Pacheco, A. P., Tanajura, E. L. X. (2006) Uma abordagem de monitoramento geoespacial de
barragens hidroelétricas a partir do GNSS: resultados preliminares. Estudos Geológicos vol. 26(2).
Monico, J. F. G. (2008) Posicionamento pelo GNSS: descrição, fundamentos e aplicações. 2ª edição. São
Paulo: Editora Unesp.
Neto, J. O. A. (2017) Uso do GPS no monitoramento dinâmico da infraestrutura de transportes: pontes
rodoviárias em concreto. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura
e Urbanismo. Campinas, 2017.

Petrobras (2005) N 1811 de junho de 2005. Instalação de referência de nível profunda (RNP). Contec, rev B.
RICS Guidance Note (2010) Guidelines for the use of GNSS in land surveying and mapping. 2nd ed. RICS
Business Services Ltd, Coventry.
Scaioni, M., Marsella, M., Crosetto, M., Tornatore, V. Wang, J. (2018) Geodetic and remote-sensing sensors
for dam deformation monitoring. Sensors 2018, 18, 3682.
Silva, E. F. (2015) O uso de receptores GPS no monitoramento planimétrico na UHE Luiz Eduardo Magalhaes.
Comitê Brasileiro de Barragens, XXX – Seminário Nacional de Grandes Barragens. Foz do Iguaçu.
Silveira, J. F. A. (2006) Instrumentação e Segurança de Barragens de Terra e Enrocamento. 1ª edição. São
Paulo: Oficina de Textos.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0179 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Estudo dos parâmetros geotécnicos de solos moles de aterros do


lote 5 da BR101 – Paraíba/PB
Erizângela de Abreu Barbosa
Mestranda, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, zan.abreu@hotmail.com

Roberto Quental Coutinho


Professor Orientador, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, robertoqcoutinho@gmail.com

RESUMO: Alta compressibilidade, baixa permeabilidade, alto teor de matéria orgânica, baixa capacidade de
carga e pouca resistência à penetração são características que desafiam a engenharia geotécnica na elaboração
de projetos assentados sobre depósitos sedimentares de solos moles. O uso desses solos na engenharia exige
identificação de seus parâmetros geotécnicos representativos das condições reais de campo, fundamentais na
compreensão de seu comportamento para elaboração dos projetos rodoviários assentados sobre os mesmos. A
obra em estudo é um projeto de adequação da capacidade e restauração da BR 101, trecho da Divisa RN/PB –
Divisa PB/PE Lote 5, com extensão de 54,9 km, onde dois aterros foram analisados, o segundo e oitvao aterro,
ambos assentados sobre solo mole. O segundo aterro está em trecho com extensão de 740 m e o oitavo aterro
em trecho com extensão de 260 m. Foram realizadas sondagens SPT e ensaios geotécnicos, caracterização,
adensamento, ensaios triaxial UU, e ensaios de campo, Vane Test. De acordo com os resultados obtidos, os
parâmetros se encontraram dentro da faixa de valores presentes na literatura para solos moles da BR 101/PE e
de outras regiões de Pernambuco.

PALAVRAS-CHAVE: Aterros, solo mole, parâmetros.

ABSTRACT: High compressibility, low permeability, high organic matter content, low bearing capacity and
low penetration resistance are characteristics that defy geotechnical engineering in design of sedimentary
deposits on soft soils. Use of these soils in engineering requires the identification of representative geothecnical
parameters of the real conditions on field, essentials in the knowledge of their behavior for highway projects
design seated on them. The work under study is an adequacy project of BR 101 capacity and restoration, a
border stretch of RN / PB - Divisa PB / PE 5 lote, with 54.9 km extension, where two embankments were
analyzed, the second and eighth embankments, both seated on soft soil. The second embankment is in a 740
m stretch and the eighth embankment in a 260 m stretch. SPT and geotechnical tests, characterization,
oedometer test, UU triaxial tests, and field tests, Vane tests were carried out. According to the obtained results,
the parameters were within the range values of present in the literature for soft soils from BR 101/PE and
others regions of Pernambuco.

KEYWORDS: embankment, soft soil, parameters.

1 Introdução

Alta compressibilidade, baixa permeabilidade, alto teor de matéria orgânica, baixa capacidade de carga
e pouca resistência à penetração são características que desafiam a engenharia geotécnica na elaboração de
projetos assentados sobre depósitos sedimentares de solos moles. O uso desses solos na engenharia exige
identificação de seus parâmetros geotécnicos representativos das condições reais de campo, fundamentais na
compreensão de seu comportamento para elaboração dos projetos rodoviários assentados sobre os mesmos. A
obra em estudo é um projeto de adequação da capacidade e restauração da BR 101, trecho da Divisa RN/PB –
Divisa PB/PE Lote 5 (2005), com extensão de 54,9 km, onde dois dos aterros, o segundo e o oitavo, foram
analisados, ambos assentados sobre solo mole, com seu comportamento geotécnico verificado.

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A construção de aterros sobre solos moles pode resultar em deformações excessivas e problemas de
estabilidade. Para o dimensionamento de obras assentadas sobre esses solos se faz necessário atender ao fator
de segurança adequado quanto à possibilidade de ruptura e apresentar deformações, no fim ou após a
construção.

Coutinho e Bello (2005) descrevem que quando um engenheiro se deparar com construções assentadas
sobre solos fracos e muito compressíveis, deve-se evitar o solo mole através da relocação do aterro ou do uso
de estrutura elevada, remover o solo mole e substituí-lo por material adequado, tratar o solo melhorando suas
propriedades ou projetar o aterro de acordo com o solo mole.

Portanto, por meio de uma eficiente campanha de ensaios geotécnicos, é possível determinar importantes
parâmetros dos solos que representem as reais condições de campo, base de fundamental importância para
elaboração de eficientes de projetos de engenharia.

2 Objetivos

Os objetivos do trabalho consistem na apresentação e discussão dos resultados dos ensaios de campo e
laboratório para a caracterização geotécnica dos aterros, comparando os resultados obtidos com outros estudos,
da BR 101/PE e de outras regiões de Pernambuco, regiões mais próximos da área estudada.

Segundo Coutinho e Severo (2009), em uma investigação insuficiente, ocorre interpretação inadequada
dos resultados e má descrição das informações. Dessa forma surgem problemas de projeto e de construção
tanto de ordem técnica como de custos. Schnaid e Odebrecht (2014) apontam que as investigações geotécnicas
dependerão da complexidade geológica e geotécnica do local de implantação, da análise dos custos envolvidos
e dos parâmetros a serem obtidos. Dessa forma, quando os ensaios de campo e de laboratório utilizados em
conjunto, a investigação ganha em qualidade, obtendo-se então um melhor entendimento do comportamento
geomecânico do depósito em estudo (Baroni, 2016).

3 Metodologia

3.1 Área de Estudo

A área de estudo trata-se da obra de adequação da capacidade e restauração da rodovia BR 101/PB,


Corredor Nordeste, Lote 5, com extensão total de 54,9 km. Nessa extensão, estudos preliminares sobre os
aspectos geológicos da área onde foi implantada a rodovia confirmaram a evidência da necessidade de trechos
a serem implantados sobre depósitos de solos moles em três grandes setores, Curva de Polares, com extensão
de 55 m, Vale do rio Paraíba, com extensão de 3.320 m, e Vale dos rios Mumbaba e Gramame, com extensão
de 1.540 m. Dois aterros foram analisados, um pertencente ao vale do Paraíba (Aterro 2) e um pertencente ao
Vale dos rios Mumbada e Gramame (Aterro 8).

A geologia ao longo do traçado da rodovia é composta basicamente por terrenos sedimentares


abrangendo toda extensão costeira. Segundo Massad (2003), os depósitos moles das planícies costeiras do
Brasil são solos sedimentares com baixa resistência à penetração, com valores de SPT não superiores a 4
golpes, onde a fração argila imprime as características de solo coesivo e compreensível e que em geral são
argilas moles ou areias argilosas fofas de deposição recente formadas durante o Quaternário .

Este depósito é representado ao longo do traçado por formações mais recentes que constituem os
aluviões, terraços fluviais e mangues, os aluviões são constituídos por sedimentos de origem fluvial, não
consolidados, de natureza variada, formando camadas estratificadas sem disposição preferencial e por
depósitos de material orgânico. Neste contexto é que foram construídos os dois aterros, 2 e 8, onde a

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sedimentação é tipicamente lamosa e a vegetação é de mangue. A localização dos mesmos é mostrada na


Figura 1.

Figura 1. Localização da área de estudo.

3.2 Caracterização Geotécnica do solo de Fundação

No aterro 2 foram executados cinco sondagens a percussão e no aterro 8 três sondagens, de forma a se
determinar com precisão a localização, profundidade e espessura da camada de solo mole. A partir das
sondagens realizadas, foi feita a coleta de amostras para a determinação dos parâmetros físicos, de resistência
e compressibilidade dos materiais constituintes dos aterros.

3.3 Determinação dos Parâmetros Físicos

Para a determinação dos parâmetros físicios para caracterização geotécnica dos dois aterros sobre solos
moles da BR-101/Lote 5/PB serão utilizados ensaios de campo e laboratório. Os ensaios de campo realizados
foram os ensaios de SPT e Vane Test. Os ensaios de laboratório realizados foram os ensaios de caracterização,
adensamento oedométrico e triaxial. No aterro 2, os ensaios realizados foram os ensaios de caracterização,
adensamento e Triaxial UU. No aterro 8, foram realizados os ensaios de caracterização, adensamento e
Cisalhamento “in situ” – Vane Test.

4 Resultados e discussões

4.1 Caracterização geotécnica dos aterros

A partir das sondagens realizadas, o perfil geotécnico vertical mostrou que no aterro 2 a existência de
solos moles constituídos de argila siltosa com matéria orgânica, cinza escura, com uma camada drenante de
areia na face superior. No aterro 8 verificou-se a existência de camadas de solos moles constituídas de um
bolsão de argila orgânica cinza escura e turfa, confinada entre duas camadas drenantes de areia, fina fofa a
pouco compacta, como demonstrado na Figura 2.

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0 Aterro 2 0 Aterro 8
Areia fina, argilo-siltosa, com
restos vegetais, mole, cinza escura.
0,49 (Aterro)
Argila silto-arenosa, rija,
amarela clara (Aterro)

Argila silto-arenosa, c/ raízes,


1,55 muito mole, amarela clara
acinzentada

Silte argiloso, com pouca mica,


2,59
rijo, cinza amarelado variegado.

3,6
Areia fina, pouco siltosa,
median. compacta, amarela
Até 9 - Turfa, c/ resíduos muito
escura amarronzada
4,53 fibrosos, muito mole, cinza escura
e preta.
Areia fina, com pouca areia
média, median. compacta, cinza De 9 até 9,21 - Turfa, c/ resíduos
muito fibrosos, muito mole, cinza
Profundidade (m)

parda variegada.
escura e preta, média
7,9

9,21

Areia fina argilo-siltosa, pouco


Argila orgânica, mole, cinza compacta, cinza escura
9,8
escura
Areia grossa e média, pouco
siltosa, c/ pedr. miúdos, compacta,
10,9 cinza clara

Areia fina e média siltosa,


compacta, cinza clara
11,45

Argila orgânica, mole, cinza


escura, muito mole

14,76

Argila silto-arenosa, com


pedregulho, dura, verde escura
variegada.
16,15

Figura 2. Perfil geotécnico vertical dos aterros 2 e 8.

Ensaios de caracterização foram realizados nos materiais constituintes dos perfis verticais mostrados
Figura 2, e os parâmetros físicos obtidos são mostrados na Tabela 1, com indicação da profundidade onde as
amostras foram retiradas e comparando-os com outros resultados da literatura.

Tabela 1. Propriedades geotécnicas de solos moles.


Cluster Várzea de
Porto de
BR 101/PB Naval de Goiânia da
Suape/PE
Suape/PE BR 101/PE
Parâmetro/Referência
Machado e
Martins Oliveira
Aterro 2 Aterro 8 Coutinho
(2012) (2006)
(2012)
Profundidade (m) 11,0 – 11,5 7,0 - - -
wi (%) 46,68 44,4 80 – 220 35 – 80 63,7 – 102
ɣh (kN/m³) 16,43 13,83 11,6 – 14,9 - -
Argila (%) 46 12 57 – 65 53 67
LL (%) 65 38 104 – 280 60 41 – 69
IP (%) 39 12 60 – 200 35 20 – 33
TMO (%) 3,8 5,0 - 1,5 – 6 -
e0 1,312 1,147 - 0,97 – 2,0 1,6 – 2,6
CR = CC /1+e0 0,234 0,172 0,2 – 0,6 - 0,13 – 0,3
CS/CC 0,240 0,202 0,08 – 0,6 - 0,01 – 4,6
CV (cm²/s) x 10-4 4,19 7,4 1 – 100 - -
wi (%) – Umidade natural do solo; ɣh – Massa específica aparente; LL – Limite de liquidez; IP – Índice de
plasticidade; TMO – Teor de matéria orgânica; e0 – Índice de vazios inicial; CR – Coeficiente de compressão;
CC – Índice de compressão; CS – Índice de expansão; CV – Coeficiente de adensamento.

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De acordo com os resultados obtidos, no aterro 2, o solo mole caracteriza-se por ser uma argila
siltosa, de umidade natural de 46,68% e massa específica de 16,43 kN/m³. Para o aterro 8, o solo apresentou
umidade natural de 44,40% e massa específica de 13,83 kN/m³. Os valores de LL e IP foram de 65% e 39%
para o aterro 2, respectivamente. Para o aterro 8, os valores foram 38% e 12%, respectivamente.

Com relação aos valores de LL, segundo Ferreira e Coutinho (1988), no que diz respeito à depósitos de
argila da planície do Recife, os mesmos apresentam-se na mesma faixa de valores da umidade natural, sendo
em algumas profundidades pouco inferior. Conforme a Tabela 1, pôde-se observar que os valores de LL não
estão próximos aos valores da umidade natural, para os dois aterros estudados, seguindo-se a tendência
observada nos outros estudos. Isto pode ser explicado pela secagem prévia ao qual as amostras foram
submetidas, conforme recomenda a norma brasileira.

Com relação aos parâmetros obtidos do ensaio de adensamento, índice de vazios inicial, coeficiente de
compressão, índice de compressão, índice de expansão e o coeficiente de adensamento, os valores obtidos
estão na mesma faixa de valores da literatura correlatos, como o estudo de Machado e Coutinho (2012), este
realizado na Várzea de Goiânia da BR 101/PE.

Com relação ao ensaio de cisalhamento, para o aterro 8 foi considerado amostras do aterro 10, distante
1,0 km do mesmo, onde foram realizados os ensaios de cisalhamento “in situ” por meio do Vane Test. Para o
aterro 2, a coesão foi obtida pelo ensaio Triaxial UU. Os resultados obtidos são mostrados na Tabela 3.

Tabela 2. Resultados obtidos do ensaio de cisalhamento.


Aterro Prof. (m) Tipo de ensaio SU (kPa)
2 11,00 – 11,50 Triaxial UU 21,00
2,50 22,42
Cisalhamento “in
8 4,50 27,65
situ” – Vane Test
6,50 46,88

Nas profundidades de 4,50 a 6,50 m do aterro 10, existe uma mesma camada de argila mole, siltosa,
pouco arenosa, muito mole, de tonalidade cinza escura. Apesar de não haver mudança de camada, houve esse
aumento brusco dos valores de SU na profundidade de 6,50 m. A razão disto não foi esclarecida e carece de
maiores investigações. Para o projeto, foi determinado que o valor de coesão adotado para o aterro 2 foi de
21,0 kPa e para o projeto do aterro 8, o valor de coesão adotado foi de 28,0 kPa.

4 Conclusão

A execução de toda e qualquer obra de engenharia envolve fatores complexos que, senão devidamente
analisados, podem comprometer toda a execução e consequentemente a qualidade final da obra. Neste trabalho,
apresentamos e discutimos os resultados de ensaios de campo e laboratório para a caracterização geotécnica
de dois aterros, comparando os resultados com os de outros estudos de solos moles, de regiões próximas à area
estudada, da BR 101/PE e de outras regiões de Pernambuco.

De acordo com os resultados obtidos, os parâmetros apresentaram valores próximos aos verificados na
literatura, o que denota que os solos moles da BR 101/PB dos aterros estudados estão enquadrados nas
características geotécnicas dos solos moles da planície de Pernambuco, em especial, dos solos moles da BR
101/PE e do Porto de Suape/PE.

Dessa forma verificou-se a importância dos ensaios de campo e de laboratório na investigação


geotécnica de solos moles. Os parâmetros obtidos devem representar as reais condições de campo e, para tanto,
é necessária uma investigação geotécnica de qualidade, abrangendo todos as análises possíveis, inclusive

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comparando com parâmetros da literatura, considerando as especificidades de cada região verificada. Assim,
os parâmetros obtidos serão mais confiáveis e aptos para servirem de subsídio na elaboração de projetos de
engenharia assentados sobre solos moles.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFPE, a toda equipe do


GEGEP/UFPE e ao Exército Brasileiro, no nome do 1° Grupamento de Engenharia, por ter disponibilizado os
projetos executivos da obra.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Almeida, M. S.; Marques, M. E. Aterros sobre solos moles : projeto e desempenho. São Paulo : Oficina
de Textos. 2010.
Baroni, M. (2010). Investigação geotécnica em argilas orgânicas muito compressíveis em depósitos da
Barra da Tijuca . Dissertação (Mestrado) – COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil.Associação Brasileira
de Normas Técnicas (2006). NBR 12131. Estacas- Prova de carga estática: método de ensaio. Rio de
Janeiro.
Coutinho, R. Q.; Bello, M. I. (2005). Obras de Terra – Aterro sobre Solos Moles, Geotecnia no Nordeste,
Editora Universitária de UFPE.
Coutinho, R. Q.; Severo, R. N. F. (2009). Conferência Investigação Geotécnica para projeto de
estabilidade de enconstas. 5 Conferência Brasileira de Estabilidade de Encostas, COBRAE, São Paulo.
p. 55.
Machado, L.; Coutinho, R. (2012) Caracterização Geotécnica das Argilas Moles na Várzea de Goiana da
BR-101/PE, COBRAMSEG, Porto de Galinhas.
Martins, I. S. M., 2012, Ensaios de Solos em Laboratório das Amostras Retiradas no Local do Cluster
Naval de Suape. Relatório PEC 16036, Fundação COPPETEC, Rio de Janeiro, RJ.
Oliveira, J. T. R.; Parâmetros Geotécnicos Da Argila Mole Do Porto De Suape – PE, COBRAMSEG,
Curitiba, 2006.
Projeto executivo para adequação de capacidade e restauração da BR 101/PB – Corredor Nordeste, Lote 5
(2005).
Schnaid, F., Odebrecht, E. Ensaios de campo e suas aplicações à engenharia de fundações. São Paulo:
Oficina de Textos, 2014.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0180 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Caracterização Geotécnica e Resiliente do Subleito da Base Aérea


Naval Situada em São Pedro da Aldeia – Rj
Jhenifer Terezinha Aparecida Mattos Cescon
Mestrado em Engenharia de Transportes, Instituto Militar de Engenharia - IME, Rio de Janeiro, Brasil,
jhenicescon@gmail.com

Antonio Carlos Rodrigues Guimarães


Prof D.ScSeção de Engenharia de Fortificação e Construção, Instituto Militar de Engenharia – IME, Rio de
Janeiro, Brasil, guimaraes@ime.eb.br

Rebeca Alves da Silva Lemos Passos


Mestrado em Engenharia de Transportes, Instituto Militar de Engenharia - IME, Rio de Janeiro,
Brasil,rebeca_gsm@gmail.com

RESUMO: Segundo a FAA, Federal Aviation Administration - EUA, os pavimentos aeroportuários devem
oferecer o suporte necessário às cargas impostas pelas aeronaves e proporcionar conforto ao rolamento. Para
executar um projeto de pavimento de aeroporto, deve-se conhecer muito bem as propriedades físicas e
mecânicas do subleito, sendo esta estrutura a que acomoda as camadas do pavimento. Caso haja a necessidade
executar uma camada de regularização do subleito, as características do material utilizado nessa camada
também devem ser estudadas e sua execução deve respeitar as especificações de serviço presentes na norma
DNIT: ES - 137/20. O estudo em questão abordará uma avaliação aprofundada do subleito e do material usado
para regularização do subleito, para fins de fundamentar o projeto de execução da pista de pouso e decolagem
da Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia – RJ. Para a caracterização dos solos em estudo, foram realizados
ensaios de compactação com vários percentuais de umidade, de módulo resiliente e de deformação permanente.
Os ensaios mostraram que os materiais utilizados possuem um comportamento satisfatório para os fins em que
se destinam e obtiveram deformações totais baixas quando submetidos à um estado de tensão provavelmente
superior ao atuante em campo quando em operação, não devendo contribuir de maneira significativa para o
afundamento de trilha de roda do pavimento.

PALAVRAS-CHAVE: Pista de pouso, Módulo Resiliente, Deformação Permanente.

ABSTRACT: According to the FAA, the Federal Aviation Administration - USA, airport floors must offer the
necessary support to the loads imposed by the aircraft and offer comfort to the bearing. To execute an airport
pavement project, it is necessary to know very well the chemical and mechanical properties of the subgrade,
this being the structure that accommodates the pavement layers. If there is a need to execute a subgrade
regularization layer, as resources of the material used in that layer, they must also be studied and their execution
must follow the service specifications present in the DNIT standard: ES - 137/20. The study in question deals
with an in-depth assessment of the subgrade and the material used to regulate the subgrade, for lower fins or
the design of the runway for the landing and takeoff of the Naval Air Base of São Pedro da Aldeia - RJ. In
order to characterize the studied soils, compaction tests were carried out with different percentages of
humidity, resilient module and permanent formation. The tests that perform the materials used present a
satisfactory behavior for the fins in which the destination and the deformations are lower than low when used
in a state of tension higher than that triggered in the field during the operation and should not contribute to the
path used for the financing the pavement wheel track.

KEYWORDS: Airstrip, Resilient Module, Permanent Deformation.

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1. Introdução

Segundo a FAA, Federal Aviation Administration - EUA, os pavimentos aeroportuários devem ser
construídos de maneira a oferecer o suporte necessário às cargas impostas pelas aeronaves e proporcionar uma
superfície estável e suave ao rolamento. De acordo com Icao (2004) e Thom (2010), os principais requisitos
de projeto e de operação desse tipo de pavimento estão relacionados com a limitação da deformação da
estrutura, com o propósito de garantir resistência à derrapagem e preservaras aeronaves de possíveis
danos.Dentre os requisitos de um projeto de pavimento de aeroporto, está a necessidade de conhecer os
materiais que compõem cada uma das camadas estruturais, inclusive o subleito, sendo esta estrutura que
acomoda as camadas do pavimento (SENÇO, 2007).
O subleito é dito como o terreno onde é construída a fundação do pavimento. Todos os esforços
exercidos sobre as camadas superiores serão transmitidos para o subleito, portanto “deve ser considerado e
estudado até as profundidades em que atuam significativamente as cargas impostas” (MARQUES, 2012
p.6).Para compreender o subleito é necessário conhecer o solo e suas propriedades, que são analisadas através
de estudos geotécnicos, onde são estabelecidas todas as características relativas aos solos, tanto físicas quanto
mecânicas, assim é possível estabelecer os procedimentos para o dimensionamento do pavimento
(MARQUES, 2012).
A camada de regularização do subleito tem espessura variável, executada no topo do subleito, seu
objetivo é acomodar e tornar a camada regular. Em conformidade com Senço (2007) deve-se evitar, que sejam
executados cortes no material já compactado pelo tráfego, que seja substituída uma camada já compactada por
uma camada a ser compactada, nem sempre é atingido o grau de compactação existente.
O objetivo desse artigo é estudar as propriedades mecânicas do subleito e do material usado para
regularização do subleito da pista de pouso que está sendo executada na base naval de São Pedro da Aldeia –
RJ, através de ensaios especificados pelo DNIT. Foram realizados ensaios para verificação do comportamento
mecânico do solo por meio da variação de teores de umidade, como forma de identificar a limitação da
deformação da estrutura para garantir resistência à derrapagem e preservar as aeronaves de possíveis danos.

2. Materiais e Métodos

2.1. Estudo de Caso

A amostra foi coletada na Cidade de São Pedro da Aldeia/RJ na BAeNSPA, Base Aérea Naval de São
Pedro da Aldeia, onde serão construídas duas pistas de pouso, afim de analisar as propriedades do solo que
serão submetidos às solicitações de carga, foram coletados os dois tipos de solo encontrados no subleito da
futura pista de pouso bem como o solo que compunha o material de empréstimo utilizado para estabilização
do subleito (Figura 1 e 2), conforme determinado pelo projeto de execução da pista.

Figura 1 e 2. Subleito da Pista de Pouso, autor.

2.2. Ensaio de compactação

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O ensaio de compactação foi realizado conforme a DNER-ME 162/94. Após secagem em estufa à 60º,
homogeneização, quarteamento e peneiramento da amostra foi realizada a compactação do solo em cinco
camadas iguais, aplicando energia de compactação modificada. Após obter a altura total de compactação, o
corpo de prova foi removido do molde cilíndrico e separado de sua parte central cerca de duas amostras de
250g cada para determinação de umidade, as amostras foram pesadas e secadas em estufa à 110ºC. O
procedimento foi repetido cinco vezes para cada tipo de solo.

2.3. Módulo de Resiliencia

De acordo com a DNIT 134/2010 – ME, é a relação entre a carga cíclica aplicada, tensão desvio, e a
deformação específica recuperável do material. Esse parâmetro mensura o comportamento elástico de materias
sob ação de cagas repetidas, como as ações das cargas dos veículos sobre o pavimento, e por isso é uma
propriedade essencial para desenvolver projetos de pavimentos asfálticos (NORBACK, 2018).
Como se trata de pavimento de base aeronaval ou de aeródromo militar, optou-se por utilizar a antiga
norma DNIT 134/2010 – ME, pois a mesma é mais rigorosa com o solo do que a nova norma DNIT, que reduz
a quantidade de pares de tensões a serem aplicados nos ensaios de módulo resiliente de material de subleito.
Foi moldado um corpo de prova para cada solo com 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura, com amostra
de solo deformada e nas condições de umidade ótima, obtida com a curva de compactação, que foi levado à
câmara triaxial para aplicação da sequência de carregamentos dinâmicos na fase de condicionamento, a fim de
reduzir a influência das deformações permanentes provenientes das primeiras aplicações da tensão desvio,
seguido pela aplicação da sequência de tensões para obtenção do módulo resiliente.

2.4. Deformação Permanente

A deformação permanente se refere a parcela não-recuperável da deformação total de um pavimento


submetido a ação do tráfego. Essa deformação se acumula ao longo do eixo longitudinal da via causando um
defeito estrutural chamado trilha de roda, ATR, prejudicando adrenagem longitudinal do pavimentoe levando-
o à ruptura (BERNUCCI et al., 2010). Para Guimarães (2009), a deformação permanente está ligada ao
histórico de solicitações no pavimento, que aumenta conforme a resistência ao cisalhamento dos materiais que
o compõe diminui. Pensando nisso, propôs um modelo de obtenção da deformação permanente que inclui as
tensões atuante nos materiais de pavimento, utilizando equipamentos triaxiais de carga repetidas e ensaiando
materiais sob vários níveis de tensão. As constantes utilizadas no dimensionamento do pavimento são obtidas
utilizando a técnica de regressão não linear múltipla nos dados do ensaio (GUIMARÃES, 2009; LIMA, 2016).
Foi obtida a deformação permanente do solo local 2 e do solo de regularização de acordo com as
especificações do modelo desenvolvido pelo Guimarães (2009). Para isso, foi realizado um ensaio triaxial para
cada solo, submetidos a determinados pares de tensões.

3. Resultados

3.1. Caracterização Geotécnica dos Solos

Os solos coletados na BAeNSPA foram ensaiados laboratório do Instituto Militar de Engenharia,


localizado na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Seguindo as determinações da NBR 6457 (ABNT, 1986) e NBR
5734 (1989). Foi determinado o Teor de Umidade do Solo conforme a NBR 6457 (1986). Obteve-sede cada
solo, em seu estado natural, uma umidade média de 9,69% para o solo 1, de 9,2% para o solo 2 e de 16,3%
para o solo 3. As umidades higroscópicas foram de 1,43%, 0,84% e 3,32%, respectivamente.Posteriormente,
foi realizado o Ensaio da Densidade Real dos Grãos, conforme preconizado pelas normas NBR 6508 (1984),
NBR 5734 (1989) e NBR 6457 (1986). Para identificar a textura dos solos em estudo e suas respectivas
terminologias, foi realizado o ensaio de granulometria seguindo as especificações do DNIT: IPR 179 (2006).
Os solos apresentaram as seguintes composições (Tabela 1):

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Tabela 1. Composição dos solos, autor.

O ensaio para a determinação do limite de liquidez foi realizado segundo o DNER – ME 122/1994. Os
resultados foram 29% para o solo local 1, 18,9% para o solo local 2 e 60,5% para o solo de regularização. O
ensaio para a determinação do limite de plasticidade foi realizado conforme as especificações do DNIT, através
do DNER-ME 082/94. Através da diferença numérica entre o Limite de Liquidez e o Limite de Plasticidade
obteve-se o Índice de Plasticidade (IP), conforme determinado pelo DNIT: IPR 742, 2010. Os valores de IP
foram iguais a 8% para o solo local 1, 2,7% para o solo local 2 e 28,1% para o solo de regularização.
De acordo com a classificação TRB, que tem origem na classificação do Public Roads Administration,
o solo local 1 e o solo local 2 foram classificados como solos siltosos, A- 4. E o solo usado para regularização
foi classificado como solo argiloso, A – 7.

3.2. Ensaio de Compactação

O ensaio de compactação foi realizado conforme a DNER-ME 162/94 e foram obtidas as seguintes
curvas de compactação para cada solo. O solo local 1 apresentou umidade ótima de 11% e massa específica
aparente seca de 2,16 g/cm³ (Figura 3). O solo local 2 chegou a7,8% de umidade ótima e massa específica
aparente seca de 2,04 g/cm³ (Figura 4). O solo de regularização chegou a 19,2% de umidade ótima de e 1,71
g/cm³ de massa específica aparente seca. (Figura 5).

Figura 3. Curva de Compactação do Solo Local tipo 1, autor.

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Figura 4. Curva de Compactação do solo local tipo 2, autor.

Figura 5. Curva de Compactação do solo de regularização, autor.

3.3. Módulo de Resiliência

Foram calculados os parâmetros de MR de três modelos matemáticos tradicionais e observado aquele


que melhor se adequa ao comportamento resiliente do solo, tomando como base o coeficiente de correlação,
R2. Notou-se que os solos locais apresentaram melhor correlação no modelo composto (MACEDO, 1996), e
o solo de regularização se adequou de maneira igual no modelo função exclusiva da tensão desvio (SVENSON,
1980), apesar da pequena diferença de 0,0037, que pode ser desprezada (Tabela 2). De modo geral, o modelo
composto foi o que apresentou os melhores índices de correlação e por isso foi escolhido para representar o
comportamento resiliente dos solos.

Tabela 2.Parâmetros de MR para diferentes modelos matemáticos, autor.

Os gráficos a seguir ilustram a variação do módulo de resiliência mediante aplicação das tensões desvio
e confinante conforme preconizado pela norma DNIT (2010).

Solo Local 1 Solo Local 1


Módulo de resiliência - MR

Módulo de resiliência - MR

450 450
400 400
350 350
300
(MPa)

300
(MPa)

250
250
200
200
150
100 150
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,01 0,06 0,11 0,16

Tensão Desvio - 𝛔d (MPa) Tensão Confinante - 𝛔3 (MPa)

Figura 6.Variação do Mr do solo local 1 no modelo composto, autor.

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Solo Local 2 Solo Local 2

Módulo de resiliência -
Módulo de resiliência -

400 390

MR (MPa)
MR (MPa)

350 340

300 290

250 240
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,00 0,05 0,10 0,15
Tensão Desvio - 𝛔d (MPa) Tensão Confinante - 𝛔3 (MPa)

Figura 7.Variação do Mr do solo local 2 no modelo composto, autor.

Solo de Regularização Solo de Regularização


2100 Módulo de resiliência -
Módulo de resiliência -

2000
1600 1500
MR (MPa)
MR (MPa)

1000
1100
500
600
0
100 0,00 0,05 0,10 0,15
0,0 0,2 0,4 Tensão Confinante - 𝛔3 (MPa)
Tensão Desvio - 𝛔d (MPa)
Figura 8.Variação do Mr do solo de regularização no modelo composto.

É possível observar que conforme a tensão desvio aumenta, o MR dos três solos diminui, evento que
tem sido comumente observado em solos finos argilosos desde a pesquisa de (SVENSON, 1980).
Uma comparação entre os módulos de resiliência dos três solos em estudo (Figura 9) mostra que o solo
de regularização foi o que se mostrou mais sensível à variação de tensão, uma vez que possuía o maior MR
sob baixas tensões desvio e confinante e diminuiu consideravelmente com o avanço das mesmas, além disso,
apresentou maior dispensabilidade dos resultados. Já os solos locais 1 e 2 apresentaram uma diminuição de
MR menos acentuada, como pode ser observado pelas retas com menor declividade e menor dispersão dos
dados. De maneira geral, o solo local 2 foi o que se apresentou menos sensível à variação das tensões. A maior
parte dos resultados de módulo resiliente se mostrou acima dos 200 MPa, atingindo valores entre 300 MPa e
350 MPa para os solos locais e ainda maiores para o solo da camada de regularização. Tais valores pode ser
considerados satisfatórios para os respectivos tipos de solos estudados.

1900
MR x 𝛔d dos três solos 1900 MR x 𝛔3 dos três solos
1700
Solo Local 1 1700 Solo Local 1
Módulo de resiliência - MR

Módulo de resiliência - MR

1500
1500
1300 Solo Local 2 Solo Local 2
1300
1100 1100
Solo de Solo de
(MPa)

(MPa)

900 Regularização 900 Regularização


700 700
500 500
300 300
100 100
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,01 0,03 0,05 0,07 0,09 0,11 0,13 0,15
Tensão Confinante - 𝛔3 (MPa) Tensão Confinante - 𝛔3 (MPa)
Figura 9: Comparação da variação do Mr dos três solos.

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3.4. Deformação Permanente

Foi calculada a deformação permanente do solo local 1 e do solo de regularização, de acordo com as
especificações de Guimarães (2009). O N foi limitado em torno de 40.000 ciclos, por limitações de operação
do equipamento, e o valor de deformação plástica total (Ep) para esse número de ciclos foi de 2,287 mm para
o solo local 1 e 1,883mm para o solo de regularização, com valores de 𝛔3 e 𝛔d de 70 kPa e 210 kPa,
respectivamente (Figura 10). Entende-se que essas deformações representam as mesmas sofridas pelos
primeiros 20 cm do subleito após 40.000 aplicações de carga. Observa-se uma diferença de padrão de forma
de curva de deformação, tendo o solo local 1 apresentado uma tendência de acomodamento das deformação
plásticas, ou shakedown, enquanto que o solo de regularização apresenta uma tendência de escoamento
plástico. O solo local 1 apresentou deformação permanente acumulada inferior a 2,5 mm após 40.000 ciclos
de aplicação de cargas, que pode ser considerado baixo, porém não desprezível quando se considera o
somatório da contribuição de todas as camadas. O solo de regularização apresentou resultado final inferior,
mas pela forma da curva tem-se que a deformação permanente total pode ser significativa, dependendo do
número de pousos e decolagens e da carga da aeronave de projeto.
Não se teve acesso ao estudo de tráfego de projeto, mas se sabe que as aeronaves previstas para operação
são leves, constituída de vários helicópteros e alguns tipos de aviões leves de asa fixa, portanto, provavelmente
as tensões induzidas no subleito e camada de regularização serão menores daquelas ensaiadas na presente
pesquisa, indicando comportamento satisfatório daqueles solos quanto ao afundamento de trilha de roda.

Avaliação da Deformação Avaliação da Deformação


Permanente Total Solo Local 1 Permanente Total Solo de
2,5 2
Regularização
2
1,5
Ep (mm)

1,5
Ep (mm)

1 1

0,5 0,5
0
0 20000 40000 60000 0
0 20000 40000 60000
N N

Figura 10: Deformação permanente total dos solos em estudo.

4. Conclusão

No que diz respeito ao comportamento resiliente dos solos ensaiados pode-se afirmar que o modelo
composto mostrou-se mais adequado para representar o comportamento de todos os solos ensaiados, e que os
valores de módulo de resiliência obtidos são compatíveis com os esperados para materiais similares, indicando
comportamento satisfatório para os fins que se destinam, ou seja, subleito e regularização. Quanto à
deformação permanente, os solos ensaiados apresentaram deformações totais baixas, porém não desprezíveis,
considerando ciclos de carregamento de 40.000 unidades e um estado de tensão fixo, muito provavelmente
superior ao efetivamente atuante no campo quando em operação. Assim, estes materiais não deverão contribuir
de maneira significativa para o afundamento de trilha de roda do pavimento.

AGRADECIMENTOS

A CAPES pela bolsa de mestrado e ao Ciro Azevedo pelo apoio nos ensaios em laboratório.

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RERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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mm: determinação da massa específica: método de ensaio.
Associação Brasileira De Normas Técnicas(1986). NBR. 6457 Amostras de solo–Preparação para ensaios de
compactação e ensaios de caracterização, Rio de Janeiro, RJ.
Associação Brasileira De Normas Técnicas (1989).NBR 5734,“. Peneiras para ensaio com telas de tecido
metálico.
Associação Brasileira De Normas Técnicas (1994). NBR 7182. Solo - Ensaio de compactação. Rio deJaneiro.
Albernaz, C. A. V. (1997) Método Simplificado de Retroanálise de Módulos de Resiliência de Pavimentos
Flexíveis a Partir da Bacia de Deflexão. Dissertação de Mestrado, COPPE/UFRJ Rio de Janeiro.
Bernucci, L. B. Motta, L. M. G. Caratti, J. A. P. (2010) Pavimentação Asfáltica: Formação Básica para
Engenheiros. 3 reimpressão. Rio de Janeiro: PETROBRÁS: ABEDA.
Departamento Nacional De Estradas De Rodagem - DNER. Solos – Determinação do Limite de Liquidez –
Método de Referência e Método Expedito.ME 122, 1994.
______. Solos. Determinação da compactação - Método de Ensaio. DNER, M. E. 162/94.
______. Solos – Determinação do Limite de Plasticidade. DNER – ME 082, 1994.
Departamento Nacional De Infraestrutura De Transporte. Diretrizes Básicas para Elaboração de Estudos e
Projetos Rodoviários: Instruções de Serviço. 3 ed. Rio de Janeiro: DNIT, 2006. (IPR. Publ., 717).
______. Manual de Pavimentação. 3 ed. Rio de Janeiro: DNIT, 2006. (IPR. Publ., 179).
______. Pavimentação: Reforço do Subleito – Especificação de Serviço. DNIT, 2010. (ES. Publ., 138).
______. Pavimentação – Regularização do Subleito. DNIT: ES - 137/20.
______. Pavimentação - Solos - Determinação do módulo de resiliência - Método de Ensaio: DNIT. ME
134/2010. Rio de Janeiro - RJ, 2010.
Federal Aviation Administration F. A. A. (2011). Standardizedmethod of reportingairportpavementStrength –
PCN. Advisory Circular n. 150/5335-5B. Washington, DC.
Guimarães, A. C. R. (2009). Um método mecanístico empírico para a previsão da deformação permanente
em solos tropicais constituintes de pavimentos. Tese de Doutorado. Universidade Federal do Rio de
Janeiro. p. 367.
Icao (2002) Manual de servicios de aeropuertos. Parte 2. Estado de lasuperficie de los pavimentos.
Cuartaedición. Organización de Aviación Civil Internacional. Lima, Peru.
Icao(2004) Annex 14 totheConventiononInternational Civil Aviation. Aerodrome Design and Operations.
Volume I. 4th Edition. International Civil Aviation Organization. Montreal, Canada.
Icao (2012) Runway Surface Condition Assessment, Measurement and Reporting. Cir 329. AN/191.
Internacional Civil Aviation Organization. Montreal, Canada.
Lima, C.D.A (2016). “Estudo da deformação permanente de brita graduada”. Dissertação de Mestrado,
Programa de Engenharia Civil da COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro, RJ.
Macedo, J.A.G. (1996) Interpretação de ensaios deflectométricos para avaliação estrutural de pavimentos
flexíveis. Tese de Doutorado– Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ.
Marques, G. L. O (2012).Notas de Aula de Disciplina – Pavimentação. Juiz de Fora: UFJF.
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Misturas Solo Brita. – Rio de Janeiro UFRJ/COPPE.
Senço, W (2007).Manual de técnicas de pavimentação: volume 1, ampl. São Paulo: Pini.
Svenson, M (1980).Ensaios triaxiais dinâmicos de solos argilosos. 1980. Dissertação de Mestrado,
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ.
Thom, N. (2010) Principles of PavementEngineering. London: Thomas TelfordPublishingLtd.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0181 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Análise do Potencial de Erodibilidade de um Canal na Barragem


Olho D’Água
João Victor Martins da Paz 1
Universidade Federal do Cariri, Crato, Brasil, jvmpaz@gmail.com

Wanny Renali Oliveira Grangeiro 2


Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte, Brasil, wanny.g@hotmail.com

Cícero Cordeiro Alexandre 3


Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte, Brasil, cicero_cicero1@hotmail.com

Ana Patrícia Nunes Bandeira 4


Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte, Brasil, ana.bandeira@ufca.edu.br

Vanessa de Souza Batista 5


Universidade Federal do Cariri, Juazeiro do Norte, Brasil, ness4souza@outlook.com

RESUMO: A região do semiárido brasileiro é caracterizada por escassez de água para os diversos fins, e por
conta disso são utilizadas barragens para amenizar os efeitos da seca. Em regiões com este tipo de clima há
períodos do ano que a cobertura vegetal da superífice fica comprometida, que associada ao tipo de solo,
favorece as ocorrências de processos erosivos. Este trabalho apresenta resultados de um estudo sobre o
potencial de erodibilidade do solo do topo do canal extravasor da Barragem Olho D’Água, localizada no
município de Várzea Alegre (CE). Para o estudo foram coletadas amostras deformadas e indeformada de solo,
da margem direita do canal, para realização de ensaios básicos de caracterização, ensaios para estimativa da
desagregação de torrões (Crumb Test e Slaking Test), ensaios de resistência ao cisalhamento e ensaios de
Inderbitzen. Apresentou alta fragilidade quando exposto à água, com um comportamento moderadamente
dispersivo. Com relação ao ensaio de Inderbitzen observou-se que em todas as vazões aplicadas, o primeiro
minuto foi o período em que houve uma maior perda de massa de solo. No ensaio de resistência ao
cisalhamento o solo, quando inundado, apresentou uma brusca queda na coesão. Os resultados mostram que o
solo estudado tem elevado potencial de erodibilidade, sendo necessário adotar medidas de controle à erosão
para evitar que haja assoreamento/colapso da bacia hídrica.

PALAVRAS-CHAVE: Erosão, Desagregação, Segurança de Barragem.

ABSTRACT: The Brazilian semi-arid region is characterized by scarcity of water for various purposes, and as
a result, dams are used to mitigate the effects of drought. In regions with this type of climate, there are periods
of the year when the vegetation cover of the surface is compromised, which associated with the type of soil,
favors the occurrence of erosion processes. This work presents the results of a study on the soil erodibility
potential at the top of the overflow channel of the Olho D’Água Dam, located in the municipality of Várzea
Alegre (CE). For the study, deformed and undisturbed soil samples were collected, from the right margin of
the channel, to carry out basic characterization tests, tests for estimating clod breakdown (Crumb Test and
Slaking Test), shear strength tests and Inderbitzen tests. It showed high fragility when exposed to water, with
a moderately dispersive behavior. Regarding the Inderbitzen test, it was observed that in all flow rates applied,
the first minute was the period in which there was a greater loss of soil mass. in cohesion. The results show
that the studied soil has a high potential for erodibility, being necessary to adopt measures to control erosion
to prevent silting/collapse of the water basin.

KEYWORDS: Erosion, Breakdown, Dam Safety.

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1 Introdução

A região de semiárido brasileiro, presente no Nordeste e Sudeste do Brasil, é caracterizada por


precipitações anuais inferiores a 1000 mm. Por estar próximo ao Equador, o clima apresenta características
que o torna um dos climas mais complexos do mundo. O caráter intermitente dos rios está diretamente ligado
a concentração de chuvas em poucos meses do ano. Para vencer a escassez de água e possibilitar o
desenvolvimento humano, são utilizadas, desde o início da civilização, estruturas artificiais cujo fim é a
retenção de líquidos. Logo, as barragens são alternativas para enfrentar a falta de água ocasionada pela
expressiva irregularidade pluviométrica.
Como em qualquer tipo de obra, as barragens apresentam riscos de segurança ao meio ambiente. Uma
falha no sistema que compõe a barragem pode provocar danos severos. Dessa forma, o constante
monitoramento do comportamento dessas estruturas é fundamental (FUSARO, 2007). No Ceará, a empresa
responsável pelo monitoramento de barragens é a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (COGERH).
Na COGERH, o monitoramento é realizado especificamente pelo setor integrante do organograma da
Companhia, denominada como Gerência de Segurança e Infra-estrutura (GESIN). A GESIN realiza inspeções
periódicas nas barragens baseada em um check-lists e instrumentação geotécnicas. Um dos aspectos que são
abordados no check- lists trata-se dos fatores relacionados à erosão na barragem. A compreensão dos processos
erosivos está intrinsecamente associada a segurança de barragens e o estudo dessa temática é de fundamental
importância devido aos riscos associados e aos acidentes ocorridos no Brasil.
Com base no exposto, este artigo apresenta resultados de um estudo sobre o potencial de erodibilidade
do solo que constitui a margem direita do canal natural extravasor da barragem do Olho D’água, localizada
em Várzea Alegre (CE).

2 Materiais e Métodos

2.1 Aspectos Gerais da Área de Estudo

A barragem Olho D’água, localizada no município de Várzea Alegre, interior do Ceará, foi construída
durante os anos de 1993 à 1998, pelo 3° Batalhão de Engenharia e Construções do Exército. Sua finalidade é
o abastecimento humano, além dos usos para dessedentação animal, recreação de contato primário, irrigação
e o desenvolvimento de projetos de piscicultura. A barragem é do tipo zoneada, com altura máxima de 26,0
m; a largura e extensão do coroamento são de 6,0 m e 381,0 m. A proteção do talude de montante é constituída
por rip-rap e o talude de jusante tem proteção vegetal, com canaletas longitudinais de drenagens e escadarias
para acesso aos instrumentos de medição.
Em um curto período de operação a estrutura apresentou diversas anomalias, exibindo problemas
relacionados ao regime de fluxo na fundação. Ademais, as condições de conservação do talude de jusante
demonstraram um avançado processo erosivo durante o período operacional, em decorrência da ausência de
mecanismos de proteção e de um sistema de drenagem mais eficiente (ARAÚJO, 2013).
Decorridos 8 anos de operação, foram iniciadas obras de recuperação pela COGERH, em maio de 2006,
para promover o aumento da segurança da barragem. Foram instalados poços de alívio, trincheira drenante,
caixas de medição de vazões de percolação. Além disso, houve a recomposição do talude de jusante com
proteção vegetal, instalação dos piezômetros, medidores de nível d’água, e por fim a recuperação do
sangradouro (FONTENELLE; CAVALCANTE; SALES, 2007).
Com relação ao vertedouro, esse sistema foi construído em uma sela topográfica, como uma espécie de
canal de solo natural, sem dispositivos de controle de vazão, a uma distância em torno de 500,0 m da ombreira
direita da barragem. Neste vertedouro, o escoamento da água é direcionado para uma bacia de dissipação. As
Figuras 1 (a) e Figura 1 (b) apresentam a localização e imagens do vertedouro em canal natural.
Em visita realizada em abril de 2018 observou-se diversos processos erosivos no canal do vertedouro,
desde de sulcos a ravinas (Figura 1 (c)). Em alguns pontos foram detectadas canaletas danificadas na crista
dos taludes do canal (Figura 1 (d)) e um grande volume de material assoreado a jusante do vertedouro. Devido
a esses fatores o local foi escolhido para a realização deste trabalho.

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Figura 1. (a) Vista aérea do local da barragem Olho D’água e do Canal do Vertedouro. Fonte: Google
Earth, 2020. Acesso em 27/02/2020; (b) Vista do fundo do canal natural e talude esquerdo do vertedouro;
(c) Ravinamento por erosão no topo do talude esquerdo do canal do vertedouro; (d) Canaleta de
drenagem de crista danificada pelas erosões

2.2 Investigação Geotécnica

Para o estudo do potencial de erodibilidade do solo foram coletadas amostras deformada e indeformada,
a 0,5 m de profundidade da superfície da crista do talude esquerdo do vertedouro.
Em laboratório realizaram-se os ensaios básicos de caracterização (granulometria, por peneiramento e
por sedimentação, peso específico dos grãos e ensaios dos Limites de Atterberg), ensaios de Slaking test e de
Crumb test, ensaios de Inderbitzen e ensaios de resistência ao cisalhamento.
Os ensaios básicos de caracterização seguiram as normas regulamentadoras. As sedimentações foram
realizadas com e sem defloculante. O Ensaio Sedimentométrico Comparativo (ABNT NBR 13602/1996).
considera a fração de argila com o diâmetro de 0,05mm para o cálculo da porcentagem de dispersão. Araújo
(2000, apud Lafayette, 2006) avalia a erodibilidade em função da porcentagem de dispersão (PD), onde os
solos com erodibilidade média apresentam PD entre 20% e 25%, solos com erodibilidade alta apresentam PD
entre 25% e 50% e os solos com erodibilidade muito alta apresentam PD maiores que 50%.
No Slaking test, duas amostras cúbicas de 6,0 cm de aresta foram ensaiadas em duas condições, com
umidade natural e seca ao ar por um período mínimo de 72 horas, conforme sugere Santos (1997). Para o
ensaio de Crumb test, 3 torrões de aproximadamente 6,0 mm de diâmetro foram submersos em 150,0 ml de
água destilada. O ensaio de Inderbitzen não tem norma regulamentadora; para o desenvolvimento deste
trabalho o ensaio foi realizado segundo os procedimentos descritos por Lafayette (2006) e Santos (1997, apud
Bastos, 1999).
Os ensaios de Inderbitzen foram realizados em um equipamento composto por uma rampa hidráulica
metálica de 1,2 m de comprimento por 0,2 m de largura e um orifício com diâmetro de 0,1 m, onde o corpo de
prova é colocado (Figura 2). A rampa permite a variação da declividade, no entanto este estudo foi realizado
com inclinação de 30º. O controle da vazão do fluxo de água foi feito por meio do software ARDUINO IDE,
simulando, assim, o escoamento superficial. Foram realizados ensaios nas vazões de 3,0 L/min, 5,0 L/min, e
7,0 L/min em corpos de prova previamente inundados por um período de 24 horas. As massas de solo erodida
devido aos escoamentos foram coletadas para o posterior estudo da perda de massa e para a análise do potencial
de erodibilidade do solo.

Figura 2. (a) Equipamento de Inderbitzen; (b) Local da amostra no orifício da rampa; (c) Torneira com vazão
controlada; (d) Dados obtidos pelo ARDUINO IDE.

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Os resultados do ensaio permitiram construir um gráfico que relaciona tanto a perda de material, quanto
a velocidade da erosão em relação ao tempo. Durante o escoamento, uma tensão irá provocar a desagregação
do solo, a tensão hidráulica cisalhante, determinada pela Equação 1, onde τh (Pa) é a tensão cisalhante
hidráulica, γw (kN/m³) é o peso específico da água, h (m) é a altura do fluxo e d (m/m) é a inclinação da rampa,
em m/m. De posse da perda de massa de solo, construiu-se o gráfico que o relaciona com a tensão hidráulica
estimando-se a tensão cisalhante crítica, em Pascal, e a taxa de erodibilidade do solo, em g/cm²/min/Pa.
Resultando assim, respectivamente, nos valores de tensão hidráulica em que não haja erosão e a perda de solo
correspondente a tensão hidráulica aplicada.

τh = γw*h*d (1)

Em relação aos ensaios de resistência ao cisalhamento, foram rompidos 06 corpos de prova, sendo 03
na condição de umidade natural e 03 previamente inundados. Os corpos de prova foram dispostos em caixas
prismáticas, de seção quadrada com 10,0 cm de lado de 2,0 cm de altura. Os corpos de prova foram cisalhados
sob tensões normais de 50 kPa, 100 kPa e 150 kPa.

3 Resultados e Discussões

Por meio de uma análise tactil visual percebeu-se que a amostra de solo apresentava coloração vermelho-
amarelada com presença de minerais com brilho, característico dos materiais micáceos. Segundo Fonseca et
al. (2005), a mica exerce uma influência bastante significante na resistência ao cisalhamento; quanto maior a
porcentagem de mica menor é o ângulo de atrito do solo. Isso se deve pelo atrito reduzido entre as partículas
de mica e areia; portanto, a mica é um fator que contribui para o potencial erosivo do solo em estudo.
O ensaio de densidade real dos grãos revelou o valor de 2,678 (g/cm³). Os ensaios de peneiramento e
sedimentação (com e sem defloculante) permitiram construir as curvas granulométricas apresentadas na Figura
3. Observa-se que essas curvas granulométricas apresentaram um solo predominantemente grosso, com menos
de 50% do material passando na peneira 0,075 mm. O percentual de silte aumentou de 17% para 33% quando
o ensaio foi realizado sem defloculante, enquanto o percentual de argila reduziu de 23% para 2% na mesma
condição do ensaio. A porcentagem de dispersão para o solo em estudo é de 66,7%, mostrando que o solo é
considerado altamente erodível.

Figura 3.Curvas granulométricas do solo.

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O Limite de Liquidez obtido para a amostra foi de 33% e o Limite de Plasticidade foi de 20%, resultando
em um Índice de Plasticidade no valor de 13%, se enquadrando na categoria de solo medianamente plástico.
Esses resultados possibilitaram classificar a amostra de solo como SM (areia siltosa), o enquadrando, de acordo
com Llopis Trillo (1999), como de alta erodibilidade.
Os resultados dos ensaios de Slaking Test realizados nas amostras na umidade natural e seca ao ar
mostraram comportamentos classificados como amostras desagregadas por abatimento, devido a alta
fragilidade das amostras quando em contato à água. Um quadro resumo do comportamento de cada etapa do
ensaio está apresentado na Tabela 1. A Figura 4 apresenta um registro fotográfico das etapas de execução do
ensaio.

Tabela 1. Slaking Test.


Condição da Etapa Comportamento das amostras durante o ensaio
Amostra
Umidade natural Água na base Ascensão de água até 90% da amostra e desagregação de
material na base (Figura 4a)
Água 1/3h Ascensão de água até o topo e o material continua desagregando
(Figura 4b)
Água 2/3h Material desagregando em todas as faces (Figura 4c)
Submersão total Total desagregação (Figura 4d)
Seco ao ar Água na base A água ascende até a borda do topo da amostra e material
começa a desagregar
Água 1/3h A água atinge o topo da amostra e há maior volume de material
desagregado
Água 2/3h Solo totalmente saturado com média desagregação
Submersão total Total desagregação

a) b) c) d)

Figura 4. Amostra com umidade natural ao final de cada etapa do ensaio Slaking Test.

Quanto aos resultados dos ensaios de Crumb Test, a ABNT NBR 13601/96 classificada o
comportamento do solo em 4 graus de dispersividade, desde grau 1 enquadrado como não-dispersivo; grau 2,
levemente dispersivo; grau 3, moderadamente dispersivo e grau 4 como fortemente dispersivo. As amostras
ensaiadas foram classificadas, ao final de uma hora de ensaio, como de grau 3 de dispersividade, na classe de
comportamento moderadamente dispersivo, visto que foi possível observar uma nuvem de coloides em
suspensão (Figura 5).

Figura 5. (a) Amostras após uma hora submersas em água destilada; (b) Tamanho das amostras; (c) Resposta
após uma hora mostrando grau de dispersão 3.

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Com relação aos ensaios de Inderbitzen, realizados nas amostras previamente saturadas, a Figura 6
apresenta as curvas Perda de solo versus Tempo, para cada vazão ensaiada. Observa-se nesta figura que, em
todas as vazões aplicadas, os primeiros 10 minutos foram o período em que houve uma maior perda de massa
de solo. Vale ressaltar que quando o ensaio foi realizado na vazão de 7,0 L/min as partículas do solo da porção
de estrutura mais frágil já haviam sido carreadas pelas vazões anteriores, permanecendo as partículas
constituintes da porção mais resistente ao arraste, dada a heterogeneidade do solo, resultando em uma menor
perda de solo.

1,40
PESO SECO ACUMULADO

1,20
1,00
0,80
(g/cm²)

VAZÃO 3,0 L/min


0,60
VAZÃO 5,0 L/min
0,40
VAZÃO 7,0 L/min
0,20
0,00
0 5 10 15 20 25
TEMPO (min)

Figura 6. Curva da Perda de Solo por tempo de ensaio estando o solo na condição inundada e com 30º de
inclinação.

A Figura 7 representa graficamente o somatório da perda de solo seco por área e as tensões de
cisalhamento hidráulico para a inclinação de 30° de cada vazão.

Figura 7. Gráfico de perda de solo versus tensão cisalhante hidráulica.

A partir da equação da reta, foi observado que a tensão hidráulica crítica (τcrit) assume o valor de 1,17
Pa e a taxa de erodibilidade (K) é igual a 0,8 g/cm²/min/Pa. De acordo com Bastos (1999), os solos, em sua
umidade natural, com alta tendência a erodibilidade possuem valores acima de 0,1 g/cm²/min/Pa.
Os ensaios de resistência ao cisalhamento mostraram que houve uma mudança significativa no intercepto
de coesão e de ângulo de atrito quando os corpos de prova foram ensaiados na condição de umidade natural e
previamente inundados. Observa-se na Figura 8 que o intercepto de coesão da amostra na umidade natural foi
de 24 kPa, enquanto que da amostra previamente inundada foi nulo, e que o ângulo de atrito reduziu de 49,1º
para 15,8º quando a amostra passou de umidade natural para inundada. De acordo com Bastos (1999), quando
a variação de coesão (Δc) é maior que 85%, o solo pode ser considerado potencialmente erosivo; os resultados

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sugerem que o solo deste presente estudo se enquadre nesta classe.

220
200 c' = 24,1KPa
180 f' = 49,1°
160
Tensão Cisalhante (KPa)

140
120
100
80
60
40 c' = 0KPa
20 f' = 15,8°

0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Tensão Normal (KPa)
Linear (Condição Inundada) Linear (Condição Natural)

Figura 8. Envoltórias de resistência da amostra nas condições de umidade natural e seca ao ar

4 Conclusões

De acordo com os resultados obtidos, o solo é predominantemente arenoso com pouco percentual de
argila, apresentando fácil desagregação de suas partículas quando imerso em água e quando submetido a um
escoamento superficial. Os resultados dos ensaios de resistência ao cisalhamento mostraram que o solo perde
resistência ao ser submetido à saturação. Estes fatores explicam os diversos processos erosivos verificados na
área de estudo e apontam a necessidade de realização de vistorias contínuas, visto que a base dos taludes podem
sofrer processos erosivos intensos e consequentemente desencandear outros processos de movimentos de
massa, devido estarem em contato mais direto com o fluxo de água que percola pela base do canal natural do
vertedouro. Salienta-se então que é necessário a adoção de medidas que reduzam a potencialidade dos
processos erosivos, a fim de evitar o agravamento da degradação por erosão e o assoreamento da bacia hídrica.
Por fim, conclui-se que as características e os fenômenos observados apontam para a necessidade de ações
estruturadoras e de monitoramento contínuo do desempenho do vertedouro com o intuito de assegurar a
integridade e segurança dos sistemas que compõem a barragem.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Universidade Federal do Cariri, que por meio do Laboratório de Mecânica dos
Solos tornou-se possível a realização deste trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0182 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Um Panorama do Pré-carregamento a Vácuo


Igor Medeiros Cardoso
Mestrando, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, igor.cardoso@coc.ufrj.br

Matheus Dellatorre da Silva Freitas


Mestrando, Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, eng.dellatorre@gmail.com

Márcio S. S. Almeida
Professor Titular, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, marciossal@gmail.com

Maria Esther S. Marques


Professora Associada, Instituto Militar de Engenharia, Rio de Janeiro, Brasil, esther@ime.eb.br

RESUMO: O pré-carregamento a vácuo é uma técnica de aceleração de recalques que substitui a sobrecarga
por aterro na construção de aterros sobre solos moles. Este trabalho objetiva realizar um panorama da técnica
no Brasil, mostrar as vertentes da técnica quanto à forma de aplicação e citar casos de empreendimentos em
que a técnica foi utilizada. É também apresentada uma comparação do tempo de estabilização de recalques de
uma área localizada na região oeste do Rio de Janeiro com a operação do vácuo aplicado dreno a dreno e a
mesma obra com a técnica de sobrecarga convencional com aterros sobre drenos. Os principais aspectos
abordados no artigo foram as diferentes formas de aplicação do vácuo, por membrana ou dreno a dreno, e a
previsão de recalques. Os resultados mostram que o vácuo atua reduzindo consideravelmente o tempo para
estabilização de recalques e é indicado principalmente para casos em que o tempo é um fator agravante na
obra. De modo geral, a técnica pode vir a ser empregada com mais frequência devido aos benefícios técnicos
e econômicos.

PALAVRAS-CHAVE: adensamento, recalques, pré-carregamento à vácuo, aterro, estabilização.

ABSTRACT: Vacuum preloading is a settlement acceleration technique that replaces landfill surcharge at
constructions over soft soils. An overview of the technique at Brazil is presented, with two different ways to
use the method and citing field cases in which vacuum preloading was used. A comparison of settlement
stabilization with time at the west zone of Rio de Janeiro was carried out for two scenarios: vacuum drain-to-
drain application and the usual embankment over soft soil treated with vertical drains. The main aspects of this
work were the types of vacuum application, through membrane and drain to drain, and settlement predictions.
Results show that the action of the vacuum preloading reduces considerably the stabilization time of
settlements and it is more suitable for cases that time is a big factor in the project. In general, the vacuum
preloading technique might be commonly used in the future due to technical and economical benefits.

KEYWORDS: consolidation, settlements, vacuum preloading, embankment, stabilization.

1 Introdução

Com o crescimento das cidades, há um aumento da ocupação de áreas que são consideradas não ideais
para a construção devido aos problemas associados à capacidade de suporte dos solos de fundação. Terrenos
com espessas camadas de argila mole, como as encontradas na zona oeste do Rio de Janeiro, que tiveram sua
ocupação intensificada em meados do século passado, se enquadram nesse caso.
Ao longo da costa brasileira, essa formação de depósitos de solo mole com grandes espessuras de argila
mole são comuns. Marques et al. (2017) e Almeida e Marques (2011) citam obras ao longo da costa brasileira
nas quais a camada de solo compressível varia de 10 m a 50 m de espessura.
A engenharia, então, atua para possibilitar a utilização destes espaços com segurança e responsabilidade
inovando em conhecimento e técnicas para a construção. Uma dessas soluções de melhoria de capacidade de

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solos moles é o pré-carregamento à vácuo, inicialmente apresentada por Kjellman em 1952 e difundida na
década de 80 principalmente na comunidade geotécnica asiática (CHOA, 1989), na Europa (MASSE et al.,
2001) com casos na América do Norte, mais precisamente no Canadá (Marques et al., 2000).
Segundo Almeida e Marques (2014), as principais vantagens do uso da técnica de pré carregamento à
vácuo são: a aplicação instantânea da sobrecarga e, se tratando de uma sobrecarga temporária, uma vez que se
alcança os recalques previstos as bombas são desligadas e não há necessidade de bota fora de material do
aterro. A perda de eficiência do sistema de aplicação do vácuo por membrana pode ocorrer em casos em que
lentes de areia forem detectadas e nos casos em que o nível d’água não está na superfície do terreno
(ALMEIDA E MARQUES, 2014). Este artigo aborda os dois tipos de aplicação da técnica de pré-
carregamento a vácuo e como uma destas técnicas está sendo utilizada na região de Itanhangá, a oeste da
cidade do Rio de Janeiro.

2 Carregamentos convencional e por vácuo

No caso de um aterro convencional, após a construção a sobrecarga é transformada em poro-pressão


(carregamento não drenado) e se dissipa ao longo do tempo, aumentando a tensão efetiva. No carregamento
hidrostático de vácuo, a sobrecarga aplicada pelas bombas trabalha de forma a exercer uma poro-pressão
negativa no interior do solo. Ao diminuir a poropressão, seguindo o princípio das tensões efetivas de Terzaghi,
a tensão efetiva cresce em módulo positivo de maneira similar ao carregamento convencional como ilustrado
na Figura 1 (INDRARATNA, 2009). Deste modo, apesar da carga aplicada pelo vácuo ser hidrostática, o
cálculo de recalques pode ser feito adicionando-se uma tensão vertical referente ao vácuo, para simplificação.

Δu

Figura 1. Comparação entre aterro convencional e sobrecarga à vácuo (adaptado de INDRARATNA, 2009).

A redução da poropressão é de mesma magnitude do valor de incremento da tensão efetiva, Δu, que não
excede a pressão atmosférica de 100 kPa, todavia na prática esse valor se reduz na ordem de 75 a 80 kPa
devido a perdas de vácuo no sistema (conexões, nas bombas de vácuo e drenos verticais).

2.1 Pré carregamento a vácuo por membrana

Quando a técnica foi proposta pelo professor W. Kjellman, em 1952, recorrentes de estudos iniciais na
década de 40 como um método efetivo de melhoria da qualidade do solo, seu sistema consistia em uma
membrana impermeável aplicada por cima de um colchão de areia de 15 cm de espessura, dessa maneira o
“vácuo” exerceria uma sucção na camada de areia e aplicaria uma carga que contribuiria para o recalque do
maciço.
Das etapas de construção desta vertente do carregamento à vácuo seguem: a construção de um aterro de
conquista arenoso, a cravação de drenos pré-fabricados verticais (DPV’s), a distribuição dos drenos horizontais
e conexões na superfície do terreno com o colchão drenante e, por fim, a instalação da membrana e a operação
do vácuo é iniciada.

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A membrana impermeável deve garantir a estanqueidade do sistema. Essa estanqueidade é assegurada


executando-se uma trincheira ao longo da área de aplicação do carregamento. Como a maioria dos casos de
ocorrência de solos moles ocorrem em terrenos que possuem nível d’água aflorante, essa trincheira ficará cheia
de água e, por conseguinte, a membrana ali inserida ficará submersa e estanque. Este método tem uma
eficiência um pouco maior quando comparado com a aplicação do vácuo dreno a dreno, porém considerando
fatores construtivos e custo a técnica dreno a dreno pode se tornar mais viável.
A Figura 2 apresenta um esquema do sistema de aplicação de vácuo por membrana.

Figura 2. Seção típica do sistema de carregamento a vácuo por membrana (MARQUES et al., 2000)
.
2.2 Pré-carregamento á vácuo dreno-a-dreno

A construção desse tipo de sistema se inicia da mesma forma do sistema de membrana, com a execução
do aterro de conquista e cravação dos drenos na espessura pré-determinada de argila mole. O sistema de drenos
horizontais é isolado, não pode conter furos. Como a sucção é diretamente aplicada aos DPV’s verticais, há a
seguridade da drenagem radial.
Ao fim da conexão dos drenos verticais com drenos horizontais, o sistema é ligado e então a
estanqueidade é verificada em cada conector, garantindo que não haja vazamentos e perda de pressão de vácuo
por consequência. Logo após a verificação da estanqueidade, é efetuado o aterro cuidadoso, que tem por
finalidade a proteção do conjunto de mangueiras e conexões localizado na superfície do terreno, já que na
maioria dos casos é aplicada uma sobrecarga física de aterro ao terreno em conjunto com a sobrecarga virtual
do vácuo para que o terreno atinja a cota de projeto pré-estabelecida. A Figura 3 mostra uma seção típica do
sistema dreno-a-dreno.

Figura 3. Seção típica do sistema de vácuo dreno-a-dreno (adaptado de INDRARATNA, 2009).

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3. Casos de obra

A técnica de adensamento por vácuo tem sido extremamente usada em todo o mundo, e mais
particularmente na Ásia (e.g. INDRARATNA et al., 2010).
Recentemente empregada na América Latina, o vácuo dreno a dreno foi utilizado, por exemplo, para a
construção de uma rodovia na Colômbia (CORREA et al., 2016). No aeroporto da Cidade do México a técnica
de adensamento à vácuo foi utilizada na criação de um banco de dados de monitoramento (GHIONNA et al.,
2019; LÓPEZ-ACOSTA et al., 2019a; LÓPEZ-ACOSTA et al., 2019b; VELÁZQUEZ E ARANA, 2019).
Marques (2001) monitorou dois aterros sobre argila mole canadense e estudou a influência da
viscosidade relacionada à temperatura na aplicação do vácuo com membrana. Deotti (2015) realizou o estudo
numérico da mesma argila estudada por Marques (2001) quanto às tensões, deformações, poropressões e
deslocamentos. Já no Brasil, a técnica foi utilizada, por exemplo, em um aterro experimental e pode ser vista
em Sandroni et al. (2012).

3.1 Estudo de caso

A técnica de pré carregamento à vácuo aplicada dreno a dreno está sendo utilizada para aceleração de
recalques em uma obra de construção civil residencial em Itanhangá, situada na zona oeste da cidade do Rio
de Janeiro. A área de estudo possui uma espessura de argila variável de 1 a 15 m em toda sua extensão. Uma
malha de drenos triangular foi utilizada com um espaçamento de 1,30 m.
A Figura 4 mostra uma vista do terreno com detalhe para malha triangular de drenos pré-fabricados
cravados e as conexões em linhas chegando em vários conjuntos de bombas de vácuo ao fundo.

Figura 4. Malha de drenos triangular e conjunto de bombas ao fundo.

Os dados referentes a este empreendimento serão utilizados para uma comparação entra os tempos
necessários para estabilização dos recalques. Para tal, foram coletadas amostras com o amostrador tipo Shelby
em três profundidades (3, 6 e 9 m) e a Tabela 1 mostra a campanha de ensaios realizados tanto em campo
quanto em laboratório.

Tabela 1. Ensaios realizados na argila do Itanhangá.


Investigação Ensaios
Ensaios de Campo SPT, CPTu
Ensaios de Laboratório Caracterização; Adensamento Oedométrico; Ensaios Triaxiais (UU, CIU)

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3.2. Ensaios de SPT e CPTU em campo

Em relação aos ensaios de SPT, foram realizadas 3 campanhas de ensaios, em diferentes períodos,
totalizando 46 verticais de sondagens para um melhor entendimento da estratigrafia dos solos abrangentes no
local. Quanto aos ensaios de piezocone, foram executados 6 verticais com medidas de poropressão 𝑢1 e 𝑢2
em profundidades pré-estabelecidas para posteriormente efetuar o cálculo do 𝑐ℎ . A Figura 5 mostra o resultado
do CPTU 1 atingindo uma profundidade de aproximadamente 13 m de argila mole, com medida de resistência
de ponta, lateral e poropressões.

Figura 5. Ensaio de piezocone com medidas de qt, fs e 𝑢1 e 𝑢2 .

3.3. Caracterização da argila

Para efeitos simplificadores, este artigo se baseia em apenas uma das áreas do terreno, que possui uma
espessura de 10 m de argila mole muito compressível. Com os resultados dos ensaios de campo
complementados pelos ensaios de caracterização e adensamento, os parâmetros de compressibilidade e
definições de projeto foram adquiridos e estão ilustrados nas Tabelas 2 e 3.

Tabela 2. Caracterização e parâmetros de compressibilidade da argila mole.


Gs 𝛾𝑛𝑎𝑡 (𝑘𝑁/𝑚³) 𝑒0 𝐶𝑟 𝐶𝑐 𝑐ℎ (m²/s) 𝐶𝑐/1 + 𝑒0 OCR
2,407 12,3 5,00 0,29 2,25 5,4. 10−8 0,375 1,14
Sendo Gs – densidade real dos grãos; 𝛾𝑛𝑎𝑡 – Peso específico natural; e0 – índice de vazios inicial; Cr – índice
de recompressão; Cc – índice de compressão; ch – coeficiente de adensamento para fluxo horizontal e OCR –
razão de sobreadensamento.

Tabela 3. Parâmetros do solo, da malha de drenos e pressão de vácuo.


harg (m) σ'vm (kPa) σ'v0 (kPa) γat (kN/m³) 𝑑𝑒 F(n) F(s) Δσvácuo (kPa)
10 13,11 11,5 18 1,365 3,07 1,65 80
Sendo harg – espessura da camada de argila; σ'vm – tensão de sobreadensamento da argila; σ'v0 – tensão efetiva
inicial no meio da camada de argila; γat - peso específico do aterro de projeto; de, F(n) e F(s) – Parâmetros da
malha de drenos verticais e Δσvácuo – pressão de vácuo admitida.

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3.4. Recalques e evolução do adensamento

Para o recalque com a sobrecarga de vácuo, uma parcela é adicionada à equação convencional referente
à sobrecarga virtual (Δσvácuo) e esta, então, se torna a Equação 1:

𝐶𝑟 𝜎′𝑣𝑚 𝐶𝑐 𝜎′𝑣0 + 𝛾𝑎𝑡 . ℎ𝑎𝑡 + 𝛾′𝑎𝑡 . ∆ℎ 𝐶𝑐 𝜎′𝑣0 + ∆𝜎𝑣á𝑐𝑢𝑜


∆ℎ = ℎ𝑎𝑟𝑔 . [ . 𝑙𝑜𝑔 ( )+ . 𝑙𝑜𝑔 ( )+ . 𝑙𝑜𝑔 ( )]
1 + 𝑒0 𝜎′𝑣0 1 + 𝑒0 𝜎′𝑣𝑚 1 + 𝑒0 𝜎′𝑣𝑚 (1)

Para que o aterro ao final da operação do vácuo atinja a cota fixa, a altura de aterro necessária para tal é
de 6,5 m. Admitiu-se de forma simplificada que o aterro foi construído em etapa única, para que os resultados
pudessem ser comparados. No caso da construção em etapas, mais indicado para tal altura de aterro, os tempos
de alteamento seriam divergentes pois a argila ganharia resistência de forma diferente ao longo do tempo com
a operação do vácuo. É importante ressaltar que a aplicação do vácuo não mobiliza esforços cisalhantes,
somente o aterro físico mobilizará, permitindo a construção de uma altura maior de aterro físico em uma única
etapa. Deve-se entretanto ressaltar que mesmo melhorando a capacidade de suporte da argila, na realidade da
obra, o carregamento do aterro físico e vácuo não é concomitante e é realizado em etapas para fins de
estabilidade.Assim, o tempo total de obra superior ao aqui apresentado.
O cálculo da evolução dos recalques com o tempo seguiram as equações clássicas de adensamento de
Barron (1948) e Hansbo (1979).
A Figura 6 ilustra a evolução dos recalques com o tempo em duas situações: com 6,5 m de aterro
convencional construído em uma única etapa e o aterro equivalente, porém com início da operação das bombas
de vácuo para aceleração de recalques. Em ambos os cenários a submersão do aterro físico foi considerada nos
cálculos. O recalque total para um aterro de 6,5 m sobre uma argila com tais características é de 3,8 m
considerando os recalques primário e secundário. Pelo gráfico apresentado na Figura 6, com apenas a
sobrecarga, o tempo de estabilização para atingir 95% do recalque final (3,6 m) é de 21,5 meses. Quando a
sobrecarga virtual do vácuo é aplicada este tempo se reduz para aproximadamente 6,4 meses.

Recalque x tempo - Aterro físico com 6,5 de altura


0

0,5

1
Recalques e altura de aterro (m)

1,5 Recalque apenas


para aterro físico
2

2,5

3,5
3,6
4
Recalque aterro
físico + vácuo
4,5

5 6,4 21,5
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
Tempo (meses)

Figura 6. Comparação das curvas recalque x tempo com e sem aplicação de vácuo.

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5 Conclusão

Conclui-se que a aplicação da sobrecarga virtual de vácuo visando acelerar os recalques de aterros
construídos em solos é uma solução que está ganhando espaço no Brasil, mas ainda é cara quando comparada
a outras técnicas de melhoramento de argilas moles. O uso de vácuo é indicado para casos que o fator tempo
é de grande importância para o empreendimento. Na área de estudo deste artigo a redução no tempo para
estabilização dos recalques primário e secundário foi de 21,5 meses para 6,4 meses, com um solo bastante
compressível e elevados recalques, necessitou-se de um aterro de 6,5 m de sobrecarga. Deste modo, a avaliação
da relação custo-benefício da técnica pelo empreendedor é imprescindível.

AGRADECIMENTOS

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal


de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001, e do Programa FAPERJ,
Cientistas do Estado. Agradecem também à Tenda Empreendimentos Imobiliários por permitir obter
os parâmetros do solo em questão. Muito obrigado aos técnicos dos laboratórios da COPPE/UFRJ e
IME.

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Segurança das Barragens de Mineração no Brasil – Casos de


Mariana (MG) e Brumadinho (MG)
Paulo Afonso de Cerqueira Luz
Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie e FAAP, São Paulo, Brasil, paulo.luz@mackenzie.br

Alberto Alonso Lázaro


Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, alberto.alonso@mackenzie.br

Kamila Rodrigues Cassares Seko


Docente, Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, Brasil, kamila.seko@mackenzie.br

RESUMO: Este trabalho tem por objetivos apresentar as características, finalidades, tipos de alteamento
(processos construtivos) e os riscos geológicos associados às barragens de rejeito, também denominadas
barragens de mineração, além de descrever como deve ser realizado o monitoramento e controle do nível de
segurança das mesmas. As rupturas ocorridas recentemente em barragens brasileiras de mineração, como a da
Barragem do Fundão (Mariana – MG), em novembro de 2015, e da Barragem I da Mina do Feijão (Brumadinho
– MG), em janeiro de 2019, causaram inúmeras vítimas fatais, danos ambientais catastróficos e prejuízos
materiais elevados. Tais ocorrências evidenciam a existência de problemas preocupantes com relação à
segurança das barragens desse tipo, existentes no Brasil. São descritos os acidentes ocorridos nessas duas
barragens e também apresentadas sugestões para aperfeiçoar a Lei Nacional de Segurança de Barragens.

PALAVRAS-CHAVE: Barragem de rejeito, mineração, ruptura de barragens.

ABSTRACT: This work aims to show features, purposes, construction methods and geological risks related
to tailing dams. In addition to describing how to monitor and control the safety level of these dams. The recent
failure of Brazilian tailing dams, like Fundão Dam (Mariana City – MG) that failed in November of 2015 and
Dam I of Feijão Mine (Brumadinho City – MG) that failed in January of 2019, caused several fatal victims,
catastrophic environmental damages and great material damages. Such occurrences show the existence of
problems concerning the safety of dams of this type existing in Brazil. Accidents that occurred in these two
dams are described and suggestions are also made to improve the National Dam Safety Law.

KEYWORDS: Tailing dams, mining, dam failure.

1 Introdução e Contextualização

Após as rupturas da Barragem do Fundão, em Mariana (MG), e da Barragem I do Córrego do Feijão,


em Brumadinho (MG), ocorridas em 05/11/2015 e 25/01/2019, respectivamente, aumentou a preocupação do
meio técnico da engenharia e da população com o nível de segurança das barragens de rejeito (mineração)
existentes no Brasil, estejam elas em operação ou desativadas.
Conforme descrito por Luz e Lázaro (2019), essas rupturas provocaram 19 e 270 vítimas fatais (3º maior
acidente do mundo em barragens de rejeito), respectivamente. E uma poluição de 600 km do Rio Doce (maior
desastre ambiental do mundo, envolvendo uma barragem de rejeito) e de 80 km do Rio Paraopeba.
Barragens podem ser definidas como aterros compactados construídos em terra (solo fino) ou
terra/enrocamento (blocos de rocha) destinados a barrar o curso de água de um rio e, portanto, formar um
reservatório. Existem outros tipos de barragens, mas as mais comuns no Brasil são esses dois tipos.
As barragens possuem as principais finalidades: geração de energia elétrica, abastecimento de água,
regularização de cheias de rios e disposição de rejeitos de mineração.
As duas primeiras finalidades estão relacionadas às empresas geradoras de energia elétrica
(hidrelétricas) e de fornecimento de água aos municípios, onde são o item primordial do empreendimento por

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serem sua fonte direta de lucro. Na terceira finalidade, o objetivo é evitar prejuízos decorrentes de inundações
provocadas pelas enchentes de rios nas regiões urbanas das cidades e na zona rural, onde a população rural
pode ser vizinha ao rio. Ressalta-se que este tipo de barragem não se apresenta como uma fonte direta de lucro
e sim um inibidor de perdas materiais e de vidas.
Finalmente, as barragens de rejeito são construídas para cumprir uma exigência da legislação ambiental
– as empresas mineradoras são obrigadas a executar uma estrutura para a disposição permanente do rejeito
(material com baixo teor de minério) de mineração. Esta estrutura tem a função de criar um reservatório, onde
de forma segura e permanente evita-se a poluição de cursos de água ou do lençol freático. Assim sendo, as
barragens de rejeito são encaradas pelas mineradoras como um passivo (prejuízo) que elas obrigatoriamente
têm que executar, mas não geram lucro algum. Este aspecto faz com que boa parte das barragens de mineração
não seja estudada, construída e operada com o mesmo nível de rigor aplicado aos outros tipos de barragens.
Com intuito de ilustrar tal afirmação, ressalta-se que Chambers (2012) apresenta que a ruptura de barragens
com a finalidade de reservação de água pode ser considerada rara nos últimos quarenta anos. Além do possível
uso do próprio rejeito como material de apoio, Roche, Thygesen e Baker (2017) destacam que a barragem para
abastecimento de água é construída em uma única etapa até sua altura final prevista em projeto, seguida do
enchimento do reservatório e início da operação; já as barragens de rejeito são executadas em etapas e
continuam em operação no período de execução das fases de alteamento, e este processo dura por toda a vida
útil da barragem. Estas características podem proporcionar alterações nas operações e gerenciamento das
barragens de rejeitos, além de gerar possíveis desafios não previstos em projetos.

2 Objetivo

Este artigo tem por objetivo a apresentação da concepção de uma barragem de contenção de rejeitos,
seus processos construtivos de alteamento e suas finalidades como parte integrante do processo de operação e
exploração de uma mina, independente do minério a ser extraído.
São citadas outras opções para armazenamento de rejeitos de mineração, além do seu aproveitamento
para outras finalidades. Também é apresentada uma análise dos riscos envolvidos nesse tipo de barragem. E
finalmente é apresentada uma descrição sucinta das duas rupturas ocorridas.

3 Barragens de Rejeito

São executadas sempre em seção “homogênea”, ou seja, com solo fino compactado e um sistema de
drenagem interna (filtros), no vale de um rio, com a função de permitir que os rejeitos de mineração, que são
formados basicamente por argilas, siltes e areias finas, sejam descartados de forma permanente em um
reservatório.
Antes de ser descartado, o rejeito deve ser misturado com água, transformando-se numa suspensão fluida
(sólidos e água), também denominada como polpa, para ser transportado do local do processamento de
separação da mina até o reservatório da barragem, através de tubulações, canaletas ou túneis. Com essas
operações, o rejeito ficará armazenado em definitivo dentro do reservatório.
Destaca-se que o projeto e a construção das barragens de rejeito devem seguir a norma NBR 13028:2017
– Mineração – Elaboração e apresentação de projeto de barragens para disposição de rejeitos, contenção de
sedimentos e reservação de água – Requisitos, elaborada pela ABNT – Associação Brasileira de Normas
Técnicas.
Como os custos de implantação de uma barragem de rejeito são elevados, é uma prática comum a sua
construção por etapas, de acordo com o planejamento operacional de extração de minério de cada mina, que é
realizado para períodos futuros e longos, da ordem de 20 a 30 anos. Existem três tipos de alteamento possíveis
para uma barragem de mineração: a montante, por linha de centro e a jusante.
É importante observar que já existe uma técnica mais moderna para armazenamento de rejeitos, sem a
necessidade de construção de uma barragem, que tem sido utilizada no Brasil: é o empilhamento a seco, que
consiste em submeter o rejeito a um processo de secagem e depois empilhar o todo o material de rejeito já
seco. Outra alternativa para evitar o armazenamento de rejeitos de mineração consiste no seu aproveitamento
para outras finalidades: fabricação de blocos de alvenaria e pisos, aditivo para argamassas, entre outros.

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4 Métodos Construtivos de Alteamento – Descrição e Análise Comparativa

4.1 Alteamento a Montante

É executado através da construção de um dique de partida inicial, constituído por um aterro em solo fino
compactado, com altura variável entre 10 e 20 m. Este dique permite que seja iniciado o despejo do rejeito
num ponto a montante do reservatório, ao longo do curso do rio. Assim que o nível de rejeitos no reservatório
ficar próximo da crista do dique de partida, é executada a 2ª etapa de alteamento da barragem, através da
construção de um novo dique, que tem uma pequena parte da sua base assentada na crista do dique de 1ª etapa
e uma maior parte da sua base fica apoiada no rejeito depositado anteriormente no reservatório. Este processo
é repetido sucessivamente, conforme está apresentado na Figura 1.

Figura 1. Alteamento a montante – Seção típica


Fonte: Luz e Lázaro (2019, p. 77)

Este tipo de alteamento pode ser considerado o mais econômico dentre os três tipos, pois emprega-se
um pequeno volume de solo para compor os sucessivos alteamentos da barragem (diques). Entretanto, este
método acarreta maiores riscos de ruptura da barragem quando comparado aos outros dois métodos. Esta
afirmação está relacionada a dois aspectos geotécnicos desfavoráveis:
a) A linha freática fica próxima do talude de jusante da barragem, nos pontos de contato entre a crista
de cada dique inferior com a base do seu dique superior. Isto pode causar os seguintes problemas: surgências
de água no talude de jusante da barragem, indicadas pela ocorrência de regiões úmidas na face externa da
barragem; e “piping” (erosão interna regressiva), ou seja, a água arrasta os grãos de solo para fora do maciço
da barragem, sendo indicado pelo surgimento de pontos, no talude de jusante da barragem, nos quais está
saindo água suja (água com grãos de solo).
b) A maior parte da base do aterro de uma etapa de alteamento (dique) fica assentada sobre o reservatório
de rejeito formado na etapa anterior. Isto pode causar problemas sérios ao aterro da barragem: diminuição do
fator de segurança da barragem, acarretado pelo baixo valor da resistência ao cisalhamento do material do
rejeito, o que pode provocar a ruptura total da barragem; e liquefação, ou seja, o solo do aterro da barragem
passa ao estado líquido (resistência ao cisalhamento nula), devido aos elevados valores de pressões neutras
nos vazios do solo do aterro da barragem, acarretando uma ruptura brusca (rápida) do maciço da barragem
como um todo. O surgimento de elevados valores de pressões neutras também está associado a um sistema
deficiente de drenagem interna da barragem ou até mesmo inexistente.

4.2 Alteamento por Linha de Centro

Este tipo de alteamento é executado também com um dique de partida inicial, em solo fino compactado,
porém neste método os alteamentos sucessivos são realizados de forma que seja mantida a verticalidade do
eixo da barragem. Neste método, a maior parte do aterro de 2ª etapa fica assentada sobre o dique de 1ª etapa,
restando uma pequena parte apoiada em cima do rejeito existente no reservatório. Este processo é repetido
sucessivamente, conforme está apresentado na Figura 2.

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Figura 2. Alteamento por linha de centro – Seção típica


Fonte: Luz e Lázaro (2019, p. 78)

Comparando-se com o anterior, este tipo de alteamento é mais caro, pois necessita um volume maior de
aterro da barragem para os seus sucessivos alteamentos. Por outro lado, acarreta menores riscos de ruptura que
o método de alteamento a montante, em função de dois aspectos geotécnicos importantes: a linha freática fica
mais afastada do talude de jusante da barragem, e a maior parte do aterro de uma etapa de alteamento fica
assentada sobre o aterro da etapa anterior, que possui resistência ao cisalhamento maior que a do rejeito.

4.3 Alteamento a Jusante

É executado também com um dique de partida inicial, construído com solo fino compactado, mas neste
método os alteamentos sucessivos são executados de forma que o aterro de uma etapa fique totalmente apoiado
sobre o aterro da etapa anterior, pois o corpo da barragem é alteado sempre sobre o talude de jusante. Desta
forma, o aterro do maciço da barragem nunca está apoiado em cima do rejeito já depositado no reservatório.
Este processo é repetido sucessivamente, conforme está apresentado na Figura 3.

Figura 3. Alteamento a jusante – Seção típica


Fonte: Luz e Lázaro (2019, p. 78)

Comparando-se esta metodologia executiva com as apresentadas anteriormente, este tipo de alteamento
pode ser considerado o mais caro dos três por exigir um maior volume de aterro para os sucessivos alteamentos
da barragem. Em compensação, é considerado o método mais seguro de todos, com menor risco de ruptura da
barragem, por causa de dois aspectos geotécnicos favoráveis a um funcionamento adequado da barragem:
a) O aterro compactado da barragem está totalmente construído sempre em cima do aterro executado na
etapa anterior de alteamento, que é um material com resistência adequada, minimizando os riscos de uma
ruptura total da barragem.
b) A linha freática está mais afastada ainda do talude de jusante, em comparação ao alteamento por linha
de centro.
Ressalta-se que estes dois aspectos contribuem para minimizar a possibilidade de ocorrência de
surgências de água no talude de jusante, “piping” no interior do aterro da barragem e ruptura da barragem por
liquefação do seu aterro, tornando a barragem mais segura, desde que sua estabilidade tenha sido verificada

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de forma adequada no seu projeto, que sua construção tenha sido executada de forma apropriada, e que tenha
sido feita uma fiscalização (de execução e de controle tecnológico) eficiente.

5 Riscos e Condicionantes Geológicos, Monitoramento e Controle

5.1 Riscos e Condicionantes Geológicos Associados

O risco geológico é a possibilidade ou probabilidade de ocorrência de acidentes associados a processos


geológicos (ABGE, 2018), tendo como consequência a perdas ou danos às pessoas e suas propriedades,
podendo ser classificados como endógenos, quando associados à dinâmica interna da Terra, como por
exemplo: terremotos, atividades vulcânicas ou “tsunamis”; ou exógenos, quando associados à dinâmica
externa da Terra, como por exemplo: as inundações, as erosões, os escorregamentos, os assoreamentos, bem
como colapso, expansão e liquefação dos solos.
Em função da potencialidade de ocorrência de acidentes e das evidências de processos geológicos
presentes, os riscos são classificados como: risco baixo (R1), risco médio (R2), risco alto (R3) e risco muito
alto (R4) (Min. Cidades/IPT, 2007).
Como condicionantes geológicos para projeto, construção e operação de barragens, devem ser
considerados: o maciço rochoso, as rochas decompostas e os solos que servirão de assentamento de suas
fundações e de materiais de empréstimo para sua construção, esses materiais precisam ser devidamente
caracterizados. As descontinuidades presentes, tais como: estratificação, xistosidade, fraturas, dobramentos,
contatos e falhas, devem ser conhecidas para as previsões de comportamento, assim como da permeabilidade
e condutividade dos materiais envolvidos (ABGE, 2018).

5.2 Monitoramento e Controle

Para a avaliação do comportamento e segurança de barragens, na sua construção e operação, são


utilizados procedimentos e métodos de monitoramento e controle. Essa auscultação das barragens deve ser
realizada durante a construção e por toda vida útil da sua estrutura, podendo ser feita por inspeções visuais e
por emprego de instrumentação geotécnica.
As inspeções visuais são realizadas em toda extensão da barragem, com periodicidade definida e
possibilitam observar possíveis fissuras, obstruções de drenagem, abatimentos e recalques, danos ao sistema
de proteção e as surgências não previstas de água.
Para se conhecer o comportamento do maciço de fundação e da estrutura das barragens, assim como
avaliar as condições de percolação e estabilidade, são realizados processos de aquisição e registros de dados,
obtidos por instrumentos instalados no seu corpo e nas suas fundações. Esse conjunto de procedimentos,
denominado instrumentação geotécnica, permite o registro de: deslocamentos verticais, com tassômetros e
placas de recalque; deslocamentos horizontais, com marcos superficiais e inclinômetros; posição da linha
freática, com medidores de nível d’água e pressões intersticiais (pressões neutras) no seu interior, com
piezômetros, que podem se tubulares, pneumáticos ou elétricos (ABGE, 2018).

6 Rupturas das Barragens de Mariana e Brumadinho

A ruptura da Barragem de Fundão, situada em Mariana (MG), ocorreu em 05/11/2015 e causou um total
de 19 vítimas fatais. O volume armazenado de rejeitos estava em torno de 50 milhões de m3, e a barragem
estava em operação. Houve a destruição de dois vilarejos (distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo)
e de várias propriedades rurais, situados a jusante da barragem; além de causar a poluição total do Rio Doce
até sua foz no Oceano Atlântico, na cidade de Linhares (ES), ao longo de mais de 600 km de extensão do rio.
Esta ruptura causou o que é considerado atualmente como o maior desastre ambiental do mundo, envolvendo
uma barragem de rejeito.
Foi realizado um estudo muito extenso, detalhado e complexo sobre esta ruptura por quatro consultores
independentes. De acordo com o relatório final elaborado por MORGENSTERN et al (2016), em resumo,
ocorreu uma ruptura por liquefação, na ombreira esquerda da barragem, na região onde tinha sido feito um
recuo do eixo original da barragem, para dentro do reservatório, causada pelos seguintes fatores: presença de

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rejeitos fofos (contráteis), existência de saturação do rejeito arenoso e ruptura rápida em situação não drenada,
com diminuição da resistência não drenada do solo, causada pela extrusão lateral de rejeito argiloso (lama),
que tinha sido depositado erradamente sob o rejeito arenoso
Na Figura 4 está apresentada uma vista geral da ruptura da Barragem de Mariana, com a situação antes
e depois da sua ruptura.

Figura 4. Barragem de Mariana – Antes e depois da ruptura


Fonte: Airbus Defense and Space/Spot 6&7/O Globo (2015)
A ruptura da Barragem I da Mina do Feijão, situada em Brumadinho (MG), ocorreu em 25/01/2019,
com um total de 270 vítimas fatais (entre mortos e desaparecidos), conforme relatado por Luz e Lázaro (2019).
O volume armazenado de rejeitos estava em cerca de 12,5 milhões de m3, e a barragem estava desativada há
três anos e meio. Houve a destruição de uma pousada e de várias propriedades rurais; como também a poluição
de cerca de 80 km de extensão do Rio Paraopeba. Esta ruptura é considerada, até o momento, o maior desastre
em barragens no Brasil, em relação ao número de vítimas fatais. Também é considerado o terceiro maior
desastre mundial em barragens de mineração.
As causas da ruptura desta barragem ainda estão sob investigação, mas o que se pode afirmar é que a
ruptura também ocorreu por liquefação, provavelmente por deficiências do sistema de drenagem interna da
barragem. Sobre este aspecto, há relatos de intervenções feitas, meses antes da sua ruptura, para baixar a linha
freática do rejeito e barragem, que estava em posição muito elevada, embora a barragem já tivesse sido
desativada em 2015.
Esta barragem era classificada como sendo de baixo risco de ruptura, mas de alto risco de danos pessoais
(vítimas fatais) e materiais. Infelizmente seu risco de ruptura não era baixo, como ficou comprovado pelo seu
rompimento. Por outro lado, o risco de danos pessoais era mesmo elevado: as instalações do escritório e do
refeitório dos funcionários da Mina do Feijão estavam localizadas a jusante da barragem, no caminho que o
fluxo de lama proveniente de uma ruptura iria percorrer, como de fato acabou ocorrendo.
Na Figura 5 está apresentada uma vista geral da ruptura da Barragem de Brumadinho, com a situação
antes e depois da sua ruptura.

Figura 5. Barragem de Brumadinho – Antes e depois da ruptura


Fonte: adaptado de Engesat (2019)
Deve-se salientar que ambas as barragens (Mariana e Brumadinho) foram construídas pelo processo de
alteamento a montante. Conforme afirmado anteriormente, este tipo de alteamento é considerado o de menor
custo, contudo é o que apresenta um maior risco de ruptura. Também deve-se destacar que, ao longo das etapas
de alteamento, ambas as barragens em estudo tiveram um recuo do seu eixo, para dentro do reservatório, o que

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permitiu que boa parte do maciço da barragem ficasse apoiada integralmente sobre o rejeito, que possui baixa
resistência.

7 Conclusões e Considerações Finais

Após a ruptura de Brumadinho, outras barragens brasileiras de mineração foram consideradas em


situação crítica, pelo Governo ou empresas proprietárias, o que é considerado muito preocupante. Além disso,
existem muitas dessas barragens que nunca foram inspecionadas, sendo que uma boa parte delas já foi
desativada e abandonada, mas que podem estar em situação de alto risco, sem o conhecimento por parte das
empresas de mineração e do Governo. De acordo com a Nota Técnica “Resultado Consolidado das Declarações
de Condição de Estabilidade”, elaborada pela ANM (2019a), das 425 barragens de mineração cadastradas, a
estabilidade foi devidamente atestada em 369 delas, e 56 barragens (13%) não atestaram ou não enviaram o
DCE (Declaração de Condição de Estabilidade).
Conforme a Portaria DNPM 70.389/2017, será interditada imediatamente toda barragem que não
comprovar sua estabilidade por meio do DCE. Entretanto, esta interdição poderá ser suspensa quando
ocorrerem intervenções de forma segura e adequada, descomissionamento ou descaracterização da barragem
(ANM, 2019a).
É importante observar que as barragens brasileiras de rejeito que possuem alto risco de ruptura geralmente
são aquelas construídas por alteamento a montante.
Destaca-se que a China apresentou grandes avanços na segurança das suas barragens em decorrência de
inúmeras mudanças, dentre estas o aumento do rigor das regulamentações vigentes (ROCHE; THYGESEN;
BAKER, 2017).
Como recomendação, pode-se sugerir que sejam discutidas alterações na Lei Nº 12.334/2010, que
instituiu a Política Nacional de Segurança de Barragens, com relação aos seguintes aspectos:
a) Proibição definitiva de construção de novas barragens alteadas a montante.
b) Alteração no protocolo técnico de verificação da segurança de barragens de mineração, com a
realização de análises probabilísticas para avaliação dos riscos, e uma definição mais clara desses riscos
envolvidos e das respectivas responsabilidades por eles.
c) Não isenção da responsabilidade da empresa proprietária da barragem, nos atestados de estabilidade
das barragens de rejeito (DCE). Pela lei atual, a proprietária da barragem é corresponsável por esta análise, em
conjunto com a empresa que é contratada para realizar esse trabalho. A ideia é que a proprietária da barragem
seja a única responsável por esse atestado, pois de fato é dela a responsabilidade pela gestão do ativo em
estudo, não importando qual empresa irá elaborar o atestado.
Além disso, todas as barragens alteadas a montante terão até o dia 15 de agosto de 2021 para concluir o
descomissionamento e a descaracterização da barragem (ANM, 2019b).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Agência Nacional de Mineração, ANM. (2019a) Nota Técnica, Resultado Consolidado das Declarações de
Condição de Estabilidade. Disponível em http://www.anm.gov.br/assuntos/barragens/nota-tecnica-do-
resultado-da-declaracao-de-condicao-de-estabilidade.pdf. Acesso em 26/10/19.
Agência Nacional de Mineração, ANM. (2019b) Nota Explicativa – 15/02/2019: segurança de barragens
focada nas barragens construídas ou alteadas pelo método a montante, além de outras especificidades
referentes. Disponível em http://www.anm.gov.br/noticias/nota-explicativa-sobre-tema-de-seguranca-de-
barragens-focado-nas-barragens-construidas-ou-alteadas-pelo-metodo-a-montante-alem-de-outras-
especificidades-referentes. Acesso em 05/12/19.
Airbus Defense and Space/Spot 6&7/O Globo. Sobre Mariana – MG, novembro/15.
Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental – ABGE. (2018) Geologia de Engenharia e
Ambiental – Vol. 2 – Métodos e Técnicas, Editores: Oliveira, A. M. e Monticelli, J.J. São Paulo.

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Associação Brasileira de Normas Técnicas (2017) NBR 13028. Mineração – Elaboração e apresentação de
projeto de barragens para disposição de rejeitos, contenção de sedimentos e reservação de água –
Requisitos. Rio de Janeiro.
Chambers, D. (2012) Long Term Risk of Releasing Potentially Acid Producing Waste Due to Tailings Dam
Failure. In: 9th International Conference on Acid Rock Drainage (ICARD). Ottawa ON, Canada.
Disponível em: <http://www.csp2.org/files/reports/Long%20Term%20Risk%20of%20Releasing%20
Potentially%20Acid%20Producing%20Waste%20Due%20to%20Tailings%20Dam%20Failure%20-%20I
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Engesat. Sobre Brumadinho – MG, dia 25/01/19. Disponível em: http://www.engesat.com.br/sobre-
brumadinho-mg-dia-25-01-19/. Acesso em: 31/01/19.
Lei Nº 12.334/10 (2010) – Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), Brasília.
Luz, P. A. C. e Lázaro, A. A. (2019) Acidentes em barragens de mineração como Mariana e Brumadinho
podem ser evitados? Revista SODEBRAS, Vol.14, n◦ 168, p. 76-81.
Ministério das Cidades/Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT. (2007) Mapeamento de Riscos em Encostas
e Margem de Rios, Editores: Carvalho, C. S.; Macedo, E. S. e Ogura, A. T. Brasília.
Morgenstern, N.R., Vick, S. G., Viotti, C. B. e Watts, B. D. (2016) Relatório sobre as causas imediatas da
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Roche, C., Thygesen, K. e Baker, E. (2017) Mine tailings storage: safety is no accident. Disponível em:
<https://europa.eu/capacity4dev/file/65558/download?token=hy2ultJj>. Acesso em: 25/01/20.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0184 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Estudo geotécnico de um solo da formação barreiras da Região


metropolitana do Recife (RMR) para uso em camada de cobertura
de aterro sanitário
Alice Jadneiza Guilherme de Albuquerque Almeida
Doutoranda em Engenharia Civil, UFPE, Recife, Brasil, aliceguilherme@hotmail.com

Camila de Melo Tavares


Doutoranda em Engenharia Civil, UFPE, Recife, Brasil, camila.cmt04@gmail.com

Bruno Conde Passos


Mestrando em Engenharia Civil, UFPE, Recife, Brasil, bcondepassos@gmail.com

Antônio Italcy Oliveira Júnior


Doutorando em Engenharia Civil, UFPE, Recife, Brasil, antonioitalcy@hotmail.com

RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo estudar características geotécnicas do solo utilizado na
camada de cobertura do aterro de resíduos sólidos da Muribeca, na cidade de Jaboatão dos Guararapes-PE, a
fim de garantir a eficiência da mesma em impossibilitar que gases produzidos no local escapem para
atmosfera bem como também garantir que líquidos provenientes das precipitações não percolem no aterro e,
por conseguinte, gerem mais lixiviados para serem tratados. Em laboratório, os ensaios realizados na amostra
foram: Ensaios de granulometria com e sem defloculante, limites de plasticidade e liquidez, compactação
pelo proctor normal, para determinação do teor de umidade ótima e densidade seca máxima e a determinação
do coeficiente de condutividade hidráulica utilizando permeâmetro de parede flexível modelo triflex ELE.
Os resultados indicam que a amostra ensaiada se trata de um solo argiloso inorgânico de baixa
compressibilidade – CL (SUCS), quanto a plasticidade, o solo é classificado como altamente plástico de
acordo com a classificação de Jenkins. Com base nos dados obtidos e de acordo com a Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo -CETESB, o solo ensaiado atende aos requisitos para ser usado em
camada de cobertura de aterro.

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização Geotécnica, Aterro Sanitário, Camada de Cobertura.

ABSTRACT: This paper had as objective to do a geotechnical characterization of the soil used in the
covering layer of the Muribeca solid waste landfill, in the city of Jaboatão dos Guararapes-PE, in order to
guarantee its efficiency in preventing gases produced at the site from escaping into the atmosphere well. as
well as ensuring that liquids from precipitation do not seep into the landfill and therefore generate more
leachate to be treated. In the laboratory, the tests performed on the sample were: Granulometry tests with and
without deflocculant, plasticity limits and liquidity, compaction by the normal proctor, to determine the
optimum moisture content and maximum dry density and the determination of the hydraulic conductivity
coefficient using ELE triflex flexible wall permeate. The results indicate that the tested sample is an
inorganic clay soil with low compressibility - CL (SUCS), as for plasticity, the soil is classified as highly
plastic according to the Jenkins classification. Based on the data obtained and according to the
Environmental Company of the State of São Paulo - CETESB, the tested soil meets the requirements to be
used in a landfill cover layer.

KEYWORDS: Geotechnical Characterization, Landfill, Cover Layers.

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1 Introdução

Os aterros sanitários visam atenuar os efeitos dos contaminantes advindos dos resíduos sólidos
urbanos (RSU) a partir do confinamento dos resíduos em camadas compactadas, mitigando as poluições das
águas superficiais e subterrâneas, bem como as emissões de gases para atmosfera. Cerca de 5% das emissões
de gases causadores do efeito estufa são emitidos pelos aterros sanitários (UNEP, 2011).
No Brasil, as emissões ocasionadas por RSU representam 12% do total, sendo que 84% são oriundas
de aterros sanitários (BRASIL, 2010). Para eficiência na redução destas emissões é necessário que haja um
sistema de drenagem eficiente bem como que o mesmo também possua um sistema de cobertura, para evitar
que águas pluviais adentrem no aterro, pois além de aumentar a quantidade de lixiviado, pode-se também
aumentar as chances de que gases escapem para a atmosfera (COSTA, 2015).
Desta maneira, para melhor eficácia recomenda-se o confinamento dos RSU que pode ser realizado a
partir de contenções construídas com solos finos que apresentem características impermeabilizantes após
compactação. Como forma de assegurar a estanqueidade do aterro é necessário analisar as características
geotécnicas do solo compactado utilizado na construção da camada de cobertura do aterro de resíduos
sólidos e verificar se o mesmo atende as principais diretrizes técnicas para aplicação em tal finalidade.
O objetivo do presente trabalho é estudar as características geotécnicas de um solo da Formação
Barreiras na Região Metropolitana do Recife, próximo ao aterro de resíduos sólidos da Muribeca, visando
aplicação do mesmo em camada de cobertura de aterro sanitário, a fim de garantir a eficiência da mesma em
impossibilitar que gases produzidos pela biodegradação dos resíduos escapem para atmosfera bem como
também garantir que líquidos provenientes das precipitações não percolem no aterro e, por conseguinte, gere
mais lixiviado a ser tratado.

2 Materiais e Métodos
2.1 Campo experimental

A jazida no qual foi coletado o solo para a realização dos ensaios situa-se na formação Barreiras da
Região Metropolitana de Recife (RMR), mais precisamente no município de Jaboatão dos Guararapes
(Figura 1), dentro do aterro da Muribeca. As amostras coletadas foram do tipo deformadas e em seguida as
mesmas foram acondicionadas em recipientes plásticos e foram ensaiadas no laboratório de Solos e
Instrumentação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Os experimentos realizados tinham como
finalidade realizar a caracterização física e determinação das propriedades dos materiais utilizados para a
camada.

Figura 1. Localização do município de Jaboatão dos Guararapes na RMR.

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2.2 Ensaios de Laboratório

2.2.1 Ensaios de Caracterização Física e Classificação das Amostras

As amostras deformadas foram preparadas para os ensaios de caracterização conforme metodologia


estabelecida na NBR 6457/2016 e submetidas aos ensaios de análise granulométrica (NBR 7181/2016),
limites de Atterberg (NBR 6459/2016 e NBR 7180/2016) e determinação da massa específica dos grãos do
solo (NBR 6457/2016). Além da análise granulométrica realizada conforme a NBR 7181/2016, foi realizada
também a análise granulométrica conforme metodologia apresentada na NBR 13602/1996, onde a parte fina
é preparada sem o uso do defloculante (hexametafosfato de sódio) e sem dispersor na etapa de sedimentação.
Isto é feito para analisar a granulometria do solo no estado natural nas condições de campo e analisar a
dispersão do solo ao comparar as duas curvas. Ao final dos ensaios, as amostras foram classificadas de
acordo com o Sistema Unificado de Classificação dos Solos – SUCS (Casagrande, 1948), baseado nos dados
de granulometria e o índice de plasticidade.
Os dois valores do teor de umidade que limitam os três estados de comportamentos do solo (líquido,
plástico, quebradiço) são, respectivamente, o limite de liquidez (LL) e o limite de plasticidade (LP). A
diferença entre os limites de liquidez e de plasticidade designa-se como índice de plasticidade (IP), este
indica a faixa de valores em que o solo se apresenta plástico, expresso em porcentagem (FERNANDES,
2016).

2.2.2 Ensaio de Compactação

O ensaio de compactação foi realizado seguindo as recomendações da NBR 7182 - Solo – Ensaio de
compactação (ABNT, 2016). O ensaio foi desenvolvido com reuso do material, cilindro pequeno e energia
de compactação normal

2.2.3 Ensaio de Permeabilidade

Os ensaios de permeabilidade foram realizados utilizando um permeâmetro de parede flexível


modelo Tri-Flex 2 da Soil Test – ELE e seguindo recomendações e roteiros de cálculos apresentados na
norma NBR 14545 (ABNT, 2000).
Para execução dos ensaios de permeabilidade a água e ao ar, foram moldados corpos de prova com o
solo que pretende-se utilizar nas camadas de cobertura. Estes corpos de prova foram compactados com
energia de um Proctor Normal, com massa específica seca máxima, umidade ótima e formato cilíndrico com
as seguintes dimensões: H= 12,7 cm; D= 10 cm e A = 78,54 cm².

2.2.3.1 Permeabilidade a água

Para realização do ensaio de permeabilidade à água foi tido como base a norma ASTM D5084-10
(ASTM, 2010) e foi utilizado o permeâmetro de parede flexível modelo Tri-flex 2 da Soil Test – ELE com
algumas adaptações feitas por Maciel (2003), Mariano (2008), Silva (2005) e Costa (2015). Para dar início
ao procedimento, coloca-se em cima do corpo de prova um conjunto composto de papel filtro, pedra porosa e
“top cap”, seguindo esta sequência. Feito isto, coloca- se no corpo de prova uma membrana de látex e ligas
de borracha, afim de evitar seu contato lateral com a água. Por fim, o corpo de prova é inserido na câmara de
acrílico, como mostra a Figura 2.

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Figura 2. Execução de ensaio de permeabilidade a água.

Com a amostra já dentro da câmara faz-se a conexão da célula de acrílico ao equipamento através das
tubulações, permitindo a entrada de água até encher a célula por completo, em seguida faz-se a drenagem da
água destilada até que não se tenha mais bolhas dentro das tubulações. Quando não houver mais ar dentro do
canal das três buretas do equipamento aumenta-se pressão confinante, que no presente estudo foi até 270kPa.
E assim, dar-se início ao experimento.

2.2.3.2 Permeabilidade ao ar

Para o ensaio de permeabilidade ao ar também foi utilizado o modelo Tri-flex 2 da Soil Test – ELE
com as adaptações propostas por Maciel (2003), que dentre elas, inclui a colocação de um rotâmetro na saída
do corpo de prova afim de fazer a medição da vazão do fluido percolado, que neste caso é ar comprimido. Os
corpos de prova utilizados e a metodologia aplicada foram os mesmos que foram utilizados no ensaio de
permeabilidade à água, diferindo apenas no tipo de fluido utilizado no processo.
O controle da pressão incidente na amostra aplicada pelo permeâmetro é regulado através do painel de
controle do equipamento. Desta forma, é feito uma variação na pressão aplicada e na pressão confinante,
onde é possível analisar através do rotâmetro a vazão de ar percolada para cada variação de pressão. O
rotâmetro utilizado é modelo série 1900, com faixa de leitura de 3 a 30 Nl/h e erro de 5%.

3 Resultado e Discussões

3.1 Ensaios de Caracterização Física

A partir da curva granulométrica obtida com o uso de defloculante, a qual é apresentada na Figura 3
tem-se: D60 igual a 0,077 mm, e D30 igual a 0,004 mm e não foi possível determinar o valor de D10, visto
que os grãos de argila com dimensão menores que 0,001 mm, que é a menor dimensão que se quantifica
através da sedimentação, somam mais que 10%. Assim sendo, o cálculo do Coeficiente de Não
Uniformidade (CNU) e do Coeficiente de Curvatura (CC) torna-se inábil.
Para a curva de granulometria sem defloculante tem-se D10 igual a 0,027 mm, D60 igual a 0,28 mm, e
D30 igual a 0,068 mm; logo, CNU é igual a 10,37 e CC igual a 0,61. Segundo Pinto (2006), para CNU maior
que dois, e quão maior o for, mais bem graduada é a areia; destarte, pelo parâmetro CNU, trata-se de uma
areia bem graduada. Todavia, CC apresentou valor abaixo de 1 (CC entre um e três indica um material bem
graduado); isto indigita descontinuidade na curva, o que implica em deficiência de grãos de determinados

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tamanhos na amostra estudada (PINTO, 2006). De acordo com Heineck (2002), um solo com textura fina
que apresenta não uniformidade das partículas e boa graduação com presença de partículas de vários
tamanhos influencia diretamente a permeabilidade do solo. Isso devido as partículas menores preencherem
os vazios existentes entre as partículas maiores diminuindo o coeficiente de condutividade hidráulica o que
do ponto de vista de camadas de cobertura de aterros sanitários é uma vantagem.

Figura 3. Curvas granulométricas obtidas com e sem uso de defloculante

Ainda avaliando a Figura 3 é possível verificar que o solo apresentou aproximadamente 60% dos
grãos são considerados como partículas finas (silte+argila) e o percentual de partículas consideradas como
areia foi de aproximadamente 40% para o ensaio realizado com defloculante, já o ensaio realizado sem
defloculante apresentou um percentual de 51% para silte, 48% para areia e não apresentou quantidades de
argila. De acordo com Maciel e Jucá (2011) solos de textura fina (teor de silte+argila superior a 50%) e com
pouca presença de pedregulhos são possivelmente materiais com potencial para aplicação em camadas de
coberturas.
Os limites de liquidez e de plasticidade do solo estudado foram de, respectivamente, 49% e 28%. O
índice de plasticidade (IP) do solo ensaiado resultou em um IP = 21%, identificando o solo como altamente
plástico, por apresentar IP > 15%, segundo a classificação de Jenkins (CAPUTO, 1996). Com os resultados
de LL e LP, estipula-se também que a mineral argila predominante nesse solo seja a caulinita, sendo prevista
para essa argila uma atividade entre 0,3-0,5, sendo ela portando classificada como inativa (DAS, 1997;
PINTO, 2006). Os limites de consistência (LL e LP) apresentam relação diretamente proporcional com a
compressibilidade do solo e o IP apresenta relação direta com a coesão do solo influenciando na resistência
ao cisalhamento (PINTO, 2006). Ambas essas características devem ser levadas em consideração na escolha
de um material para base e cobertura de aterros sanitários, pois um material de compressibilidade elevada
pode ocasionar trincas e criar caminhos preferências para infiltração de águas pluviais e deve apresentar
resistência ao cisalhamento adequada aos níveis de tensões que são desenvolvidas em aterros de resíduos
sólidos urbanos. A composição mineralógica dos solos influencia diretamente a plasticidade do material que
por sua vez influencia na sua condutividade hidráulica. De acordo com Heineck (2002), existe uma tendência
de redução do coeficiente de condutividade hidráulica com o aumento do IP. Nesse sentido, os valores dos

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limites de consistência e do IP apresentado pelo solo sugerem que o mesmo pode apresentar comportamento
geotécnico adequado para aplicação em camadas de base e cobertura de aterros sanitários.
Além disto, o solo estudado apresentou classificação segundo o Sistema Unificado de
Classificação de Solos (SCUS) como pertencente ao grupo CL (argilas inorgânicas de plasticidade baixa a
média, argilas pedregulhosas, argilas arenosas, argilas siltosas). De acordo com a Companhia Ambiental do
Estado de São Paulo -CETESB (ROCCA et al., 1993) para que um solo argiloso seja considerado adequado
para aplicação em aterros sanitários, ele deve atender aos seguintes requisitos: ser classificado como CL, CH,
SC OU OH segundo o SUCS, apresentar porcentagem de partículas maior do que 30% passando na peneira
de 0,075 mm, apresentar limite de liquidez maior ou igual a 30% e apresentar índice de plasticidade maior ou
igual a 15%. Portanto, nota-se que o solo utilizado na cobertura do aterro da Muribeca atende todos os
critérios sugeridos pela CETESB.

3.2 Compactação Proctor Normal

Com auxílio do software Microsoft Excel ®, ajustou-se uma linha de tendência para o conjunto de
pontos plotados e pode ser obtida uma equação polinomial para descrever o conjunto de dados com valor de
R²= 0,9932, conforme observado na Figura .

17
Peso Específico. Seco

16,5
16
(kN/m³)

15,5
15
14,5
y = 5E-05x4 - 0,0035x3 + 0,075x2 - 0,4736x + 16,134
14
R² = 0,9932
13,5
13
5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0
Teor de Umidade (%)
Figura 4. Curva de compactação Proctor normal

Para se obter o ponto máximo da curva foram utilizados métodos matemáticos aplicados a equação
obtida. Dessa forma, foi determinado que a umidade ótima de compactação do material foi de h = 16,67% e
o seu peso específico aparente seco associado é de γsmáx = 16,73 kN/m³.

3.3 Determinação do Coeficiente de Permeabilidade

3.3.1 Permeabilidade a água

O ensaio de permeabilidade à água também é executado utilizando o Tri-Flex só que desta vez é
injetado água invés de ar no corpo de prova. Para o solo estudado foi verificado uma permeabilidade à água
em torno de 5,6 *10-9m/s. De acordo com a USEPA (2003) para camadas de cobertura em aterros sanitários é
indicado que os valores de permeabilidade à água sejam inferiores a ordem de grandeza de 10−7 m/s, para
garantir assim que não haja muita percolação de água proveniente das chuvas. O solo estudado apresentou
valores compatíveis com os encontrados por Maciel (2003), Lopes (2011), Costa (2015) e Oliveira Jr et al.,
(2019).

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3.3.2 Permeabilidade ao ar

Para determinar a permeabilidade ao ar do solo a ser utilizado para fazer a camada de cobertura, foi
moldado um corpo de prova com energia de um Proctor Normal na umidade ótima. A trajetória dos ensaios
se deu através do processo de secagem da amostra e a verificação do coeficiente de permeabilidade
correspondente à umidade da amostra. Tendo a validação da Lei de Darcy para fluxos compressíveis foi
possível calcular a permeabilidade ao ar que para o solo em questão foi de aproximadamente 1,4*10-9m/s.

4 Conclusões

Os resultados obtidos permitem concluir que o uso do solo estudado no presente trabalho, situado na
Formação Barreiras da Região Metropolitana do Recife próximo ao aterro de resíduos sólidos da Muribeca
em Jaboatão dos Guararapes – PE, é considerado adequado para compor camadas de coberturas de aterros
sanitários, tendo em vista que as características geotécnicas apresentadas pelo mesmo se encontram dentro
dos padrões exigidos pelas normas vigentes e propostas pela literatura consultada. Como sugestão de
trabalhos futuros os autores indicam analisar misturas do solo estudado no presente trabalho com materiais
alternativos como, por exemplo, resíduos da construção e demolição composto orgânico estabilizado, areias
de fundição, dentre outros materiais, para que possam ser verificados quais são os efeitos da adição destes
materiais nas características geotécnicas e obter materiais com características mais vantajosas para tal
finalidade.

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Otimização da Impermeabilidade do Núcleo de uma Barragem de


Terra com Base na Razão /Liv
Alisson do Nascimento Lima
Mestrando em Engenharia Civil e Ambiental, Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande,
Brasil, alissonnascimentolim@gmail.com

Drª Carina Silvani


Professora na Unidade Acadêmica de Engenharia Civil, Universidade Federal de Campina Grande, Campina
Grande, Brasil, carinasilvani@gmail.com

Mozara Benetti
Doutoranda em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil,
mozara.benetti@hotmail.com.

RESUMO: A necessidade de reserva de água para os usos múltiplos como abastecimento, geração de energia
e reserva, leva a ciência a se mostrar eficiente no desenvolvimento de tecnologias para controlar os
elementos naturais e assim satisfazer as necessidades geradas pelo desenvolvimento econômico e social.
Nesse sentido, as barragens de terra são elementos amplamente utilizados para este fim. Neste contexto foi
analisada a influência, com a quantificação em vazão, de um solo residual tratado com cal e resíduo da
britagem do Basalto, aplicado em forma de um núcleo cimentado a uma barragem de terra zoneada, para
controle da percolação utilizando o Método dos Elementos Finitos (MEF). À área referente ao núcleo
aplicou-se ao mesmo material o agente cimentante, cal dolomitica em teores de 5, 7 e 9%. O peso especifico
aparente seco do núcleo foi variado nos níveis de 16, 17,2 e 18,5 kN/m³. Avaliaram-se três seções
transversais trapezoidais de núcleo cimentado, onde a base menor foi fixada em 8 metros e a base maior
variou em 20, 45 e 70 metros. Os resultados analisados mostram que o teor de cal aplicado não tem
influência direta na redução da percolação, mas que o peso específico aparente seco tem papel fundamental,
com maior amplitude de redução para núcleos com bases menores, ainda mostrando a possibilidade da
otimização do núcleo tratado com base na metologia razão ɳ/Liv.

PALAVRAS-CHAVE: Metodos dos Elementos Finitos, Controle de vazão, Núcleo de Barragem em Solo-
Cal.

ABSTRACT: The need for a water reserve for multiple uses such as supply, power generation and reserve,
leads science to prove efficient in the development of technologies to control natural elements and thus
satisfy the needs generated by economic and social development. In this context, the influence, with flow
quantification, of a residual soil treated with lime and waste from the basalt crushing applied in the form of a
cemented core to a zoned earth dam, was analyzed to control percolation using the Method of Elements
Finite (MEF). The cementing agent, dolomitic lime was applied in levels of 5, 7 and 9% to the nucleus area.
The apparent dry specific weight of the nucleus was varied at levels of 16, 17.2 and 18.5 kN/m³. Three
trapezoidal cross sections of cemented nucleus were evaluated, where the smaller base was fixed at 8 meters
and the larger base varied at 20, 45 and 70 meters. The analyzed results show that the applied lime content
does not have a direct influence on the percolation reduction, but that the specific weight plays a
fundamental role, with a greater amplitude of reduction for nucleus with smaller bases, still showing the
possibility of the optimization of the treated nucleus based on ɳ/Liv ratio methodology.

KEYWORDS: Finite Element Method, Flow control, Dam Nucleus in Soil-Lime.

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1 Introdução

A necessidade de reserva de água para os usos múltiplos como: abastecimento, geração de energia e
reserva, conduz a necessidade da ciência se mostrar eficiente no desenvolvimento de tecnologias para
controlar os elementos naturais e assim satisfazer as necessidades geradas pelo desenvolvimento econômico
e social.
Uma barragem de terra independente da sua finalidade deve satisfazer seu propósito como barramento,
gerar acúmulo de água de forma segura àqueles situados a jusante da obra. A contenção da água feita pelo
barramento deve suprimir as percolações pelo maciço, de modo que as vazões através do corpo da barragem
sejam mínimas, a fim de garantir o volume represado e a segurança da obra. A percolação de água através do
corpo e fundação de barragens de terra pode levar a perdas de água inaceitáveis em climas áridos, devido ao
caráter de escassez deste recurso, além de causar problemas durante a construção e podendo ter efeitos
desestabilizadores na barragem de terra (SOLEYMANI; AKHTARPUR, 2011).
A antecipação e previsão de problemas em barragens de terra começam pela investigação geotécnica
local e do material a ser utilizado. De forma que a verificar se o solo a ser utilizado apresenta parâmetros de
resistência, deformação e permeabilidade satisfatórios a viabilidade do projeto. Fato é que, dependendo da
região e localização da obra, o material presente na região pode não propiciar as características desejáveis.
Onde a demanda de um material adequado as condições de projeto, pode implicar elevados custos de
transporte de áreas de jazida; como alternativa há-se a possibilidade de utilizar técnicas como o
melhoramento do solo, conduzindo-o à uma melhor condição, seja de resistência e/ou permeabilidade.
Por vezes, é verificado que o melhoramento do solo é a escolha mais econômica. Visto que pode se
utilizar técnicas simples ou materiais que não tenham grande impacto econômico no custo final da obra. No
tratamento de solos, pode-se utilizar materiais aglomerantes (como a cal e o cimento), assim como resíduos
industriais, além da aplicação de geossintéticos. Estes componentes, quando adicionados ao solo, irão
ampliar ou suprimir propriedades. Para que assim se possa chegar a um material com características que
melhor se adequem a finalidade proposta de compor um barramento.
No tipo de obra em questão, barragens de terra, um fator preponderante para o uso de um solo é que
este apresente baixo coeficiente de condutividade hidráulica. Isto é, se este irá satisfazer a proposição de
promover uma estanqueidade à água, satisfatória quando aplicado ao maciço. Com isso, diversos estudos
(BENETTI, 2015; IBEIRO, 2016; LOCH 2019; ARAUJO, 2019) analisam a inserção de materiais
aglomerantes que venham a contribuir com a redução do parâmetro de condutividade hidráulica, quando
aplicado materiais que formem ligações junto às partículas de solo, reduzindo a percolação através da massa
de solo.
Dentre os materiais mais usados para o processo de melhoramento de solo está a cal. Usualmente esta
é aplicada a solos com função de melhoramento de resistência, se dosado de forma a obter-se reações
pozolânicas, mas também associa-se a uma redução da permeabilidade deste material. Segundo Azevêdo
(2010) as reações pozolânicas transformam o solo-cal em um material com coesão, no entanto, o solo-cal não
é um material impermeável. Mas sim um material que sofre menos com o efeito erosivo da água, pois a
passagem dela entre os poros após a cimentação pozolânica se dá de forma lenta.
Nesse contexto, foi analisado a influência, com a quantificação em vazão, de um solo residual tratado
com cal e resíduo da britagem do Basalto, aplicado em forma de um núcleo cimentado a uma barragem de
terra, para controle da percolação utilizando o Metodo dos Elementos Finitos (MEF)

3 Metodologia

O presente estudo quantificou e analisou a percolação através do maciço uma barragem de terra, por
intermedio de simulações computacionais utilizando MEF. Para isso, foram utilizados modelos de barragem
do tipo zoneada, com maciço composto por uma mistura de 75% solo residual de arenito Botucatu e 25%
resíduo da britagem do basalto (SRAB-25%RBR) e para a área referente ao núcleo, a mesma mistura
compactada em diferentes pesos especificos secos e com a adição de cal dolomitica em distintos teores.
A aplicação de parte da pesquisa de Benetti (2015) traz como principal parâmetro de entrada o
coeficiente de condutividade hidraulica, resultante da avaliação deste dado para os teores de 5%, 7% e 9% de

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cal, aplicados a mistura SRAB-25%RBR nos níveis de peso específico aparente seco (γd) 16, 17,2 e 18,5
kN/m³, para uma umidade de compactação em 14% (LOPES JUNIOR, 2011) e curados por 28 dias.
À área referente a parte do maciço (área externa ao núcleo), fora analisado através da inserção dos
dados de condutividade correspondente ao teor de 0% de cal e peso específico aparente seco de 17,2 kN/m³.
Além da análise a respeito do teor de cal e o γd do núcleo, também foram avaliados distintos formatos de
núcleo, com a finalidade de se obter dados à respeito da influência das dimensões desse núcleo na vazão
percolada através do maciço, a contribuir na otimização do mesmo.
A aplicação dos dados de condutividade hidráulica, utilizou uma seção transversal com dimensões
especificadas na Figura 1. Ainda adotou-se uma fundação em rocha, para uma melhor verificação da
influência do núcleo. Ao modelo de barragem, apresentado na Figura 1 foi aplicado um filtro do tipo vertical
e horizontal, de material granular, segundo os critérios de filtro de Terzaghi (1922). À considerar uma areia
média como material do filtro (k=10-4 m/s), apresentando uma espessura de 1,5 metros, considerando
aspectos de execução e funcionalidade, de forma que este conduza a carga para jusante de forma a suprimir
as percolações na face do talude, garantindo uma maior segurança contra a ocorrência de piping.

Figura 1. Seção transversal da barragem a ser analisada, dimensões em metros.

Os núcleos trapezoidais utilizados apresentam três tipos de geometria apresentados na Figura 2, com
base menor com mesma dimensão da largura do coroamento da barragem (8 metros) e base maior variável
em 20 metros, 45 metros e 70 metros.

(a) (b)

(c)
Figura 2. Núcleo com base de (a) 20, (b) 45 e (c) 70 metros.

Para mensurar a influência da variação do teor de cal e do peso específico aparente seco como
mecanismos da hipótese inicial de redução do parâmetro de condutividade hidráulica, foram obtidos
resultados de vazão a jusante para distintos modelos de barragem. Quantificação esta, feita através do MEF
utilizando a ferramenta computacional SEEP/W, contido dentro do software GEOSTUDIO. As leituras de
vazão percolada foram obtidas através de uma seção inserida no SEEP/W, posicionada na extremidade
jusante do filtro nos modelos de barragem, como apresenta a Figura 3.

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Figura 3. Posição da seção da barragem utilizada na quantificação da vazão


As análises foram limitadas pelas condições inseridas, sendo estas: forma, coeficientes de
condutividade hidráulica e nível de água no reservatório. As limitações do software se fizeram pelo fato de
haver restrições à versão estudante utilizada, como: na composição do modelo (restrita a três materiais com
suas propriedades de condutividade) e a malha de elementos finitos (limitada a 500 elementos finitos). Assim
obteve-se uma malha com elementos triangulares e quadriláteros de lado 4,7 metros.

3. Resultados e Discussões

Ao correlacionar os dados de vazão resultantes das simulações no SEEP/w com os dados base
de Benetti (2015), pode-se construir gráficos como na Figura 4, que retratam a influência do teor de cal em
cada seção de núcleo, para distintos pesos específicos aparente seco. No que se refere aos dados de vazão,
observou-se que o aumento do teor de cal em nenhum dos casos teve um comportamento exclusivamente
redutor de percolação, visto que a vazão ou apresenta uma certa constância, ou oscila entre reduções e
aumento. Algo que ocorreu de forma similar para os dados de condutividade hidráulica obtidos por Benetti
(2015). Onde através destes vê-se uma inércia da cal como material aglomerante que aumente as ligações
entre partículas e conduza a redução de fluxo.
Segundo Thomé (1999), misturas contendo materiais siltosos, como é o caso do solo residual de
arenito Botucatu, apresentam valores de condutividade hidráulica na ordem de 10 -9 m/s, desde que
adicionadas de um material estabilizante e curadas apropriadamente. A tendência de comportamento
observado por Benetti (2015) condiz com a tendência apresentada em outros trabalhos com solos
cimentados artificialmente (KALINSKI e YERRA, 2005; BELLEZZA e FRATALOCCHI, 2006) em
que o aumento do peso específico aparente seco reduziu o valor do coeficiente de condutividade
hidráulica. (a) (a) (b) (b)

(a) (b)

1471
. .
(c) (c)
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.
(c)
Figura 4. Influência do teor de cal, para o núcleo de base 20 m (a); para o núcleo de base 45 m (b) e núcleo
de base 70 m (c).

Ao analisar a influência do peso específico aparente seco do núcleo, como expõe a Figura 6 apresenta-
se de forma mais efetiva na restrição ao fluxo pelo maciço, em todos os núcleos e para todos os teores de cal.
O aumento do peso específico implica diretamente na redução de vazões. Com ênfase para o núcleo de
menor seção, como representado na Figura 5 (a) e menor influência para núcleos de maior seção como
demonstram as Figuras 5 (b) e (c). A variabilidade da grandeza permeabilidade é influenciada por diversos
fatores dentre eles estão: grau de saturação, dimensão e arranjo estrutural das partículas sólidas
(FIGUEIREDO, 2017). Logo para misturas que apresentem mesma umidade de compactação e dimensões de
grãos similares, como é a em questão, o arranjo estrutural se mostra como principal aspecto influenciador.
(a) (a) (b) (b)
(a) (b)

(a) (b)

(c)(c)(c)
(c)para o núcleo de base 20 m (a); para o núcleo de base
Figura 5. Influência do peso específico aparente seco,
45 m (b) e núcleo de base 70 m (c).

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A influência do tamanho seção do núcleo também mostra-se relevante na Figura 5 e 6, onde quanto
maior área de núcleo esta conduz a menores vazões, com menor dependência das demais variáveis. Onde,
por exemplo, para o mesmo peso específico de núcleo de 16 kN/m³, com teor de cal de 5%, as reduções de
vazão foram de um núcleo com B=20 m para o núcleo com B=70 m da ordem 92%.
Outro aspecto que se mostra considerável relevância, é a influência da porosidade nas vazões
percoladas. Observou-se que a porosidade influi de forma direta e quase proporcional nas redução das
vazões, principalmente em núcleos de menores dimensões, como observa-se na Figura 6. Fato evidenciado
na Figura 6 (a), que para o núcleo de base maior igual a 20 metros, a redução da porosidade dentro de um
mesmo intervalo faz com que as vazões tenham uma maior amplitude de redução, se comparado com as
outras seções de núcleo aplicado. Ao que se refere a cal, observou-se que independentemente do teor de
cal utilizada, a redução da porosidade do material promove uma diminuição considerável na
condutividade hidráulica, de pelo menos uma ordem de grandeza, dentro da faixa de valores avaliada.
Os materiais de cimentação formados devido à adição de cal tendem a diminuir a porosidade do solo
tratado com cal e, portanto, o seu coeficiente de condutividade hidráulica.

(a) (b)

(c)
Figura 6. Gráfico Vazão versus Porosidade, para o núcleo de base 20 m (a); para o núcleo de base 45 m (b) e
núcleo de base 70 m (c)

Ao correlacionar a porosidade com o teor de material cimentante, através da razão entre estas
grandezas, Benetti, (2015) utiliza o expoente de minoração para o teor volumétrico do material cimentante
que melhor se ajusta como previsão do comportamento mecânico e hidráulico, sendo este igual a 0,12.
Assim, aplicando essa metodologia e utilizando os dados de vazão referentes às simulações, dos distintos
modelos de núcleo de barragem, associados aos dados da razão ɳ/Liv0,12 para os dados de coeficientes de

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condutividade hidráulica (parâmetro de entrada nas simulações) foram obtidos gráficos apresentados na
Figura 7.

Figura 7: Vazão percolada versus razão porosidade/cal ajustado do SRAB-25%RBR-CAL.

Ao relacionar dados de vazão com a razão ɳ/Liv0,12 do núcleo foram obtidas as curvas nas quais pode
se observar uma proporcionalidade entre ɳ/Liv0,12 e a vazão percolada através do maciço da barragem.
Proporcionalidade esta descrita através da curva de ajuste com linha de tendência do tipo potência, a qual
apresenta melhores coeficientes de R². Tal coeficiente quanto mais próximo de 1, maiores as chances de
prever as vazões de acordo com as características do material inserido como composição de núcleo e
consequentemente de permeabilidade.
Assim o mecanismo de previsão representado na Figura 7, apresenta considerável funcionalidade, pois
dentro das condições aplicadas a barragem tem-se a possibilidade de prever o comportamento das vazões em
função das dimensões do núcleo e da razão porosidade/ teor volumétrico de material cimentante.

4. Considerações finais.

Ao efeito da cal foi observado que, quando esta aplicada como adição nos teores de 5, 7 e 9%, teve
efeito mínimo de redução de vazões, não havendo uma real representatividade como material aglomerante
que contribuísse para redução das percolações. Logo, as reduções de percolação se restrigiram em função das
outras variáveis estudadas.
Assim observou-se que o aumento do peso específico aparente seco (γd) do núcleo apresenta resposta
direta para redução de vazões. Além disso, o γd influencia diretamente na redução da porosidade da mistura
compactada, a qual exerce influência direta na condutividade hidráulica do material. Isto é, quanto maior o
peso específico aparente seco do núcleo, menor índice de vazios, menos poroso e consequentemente menor a
condutividade hidraulica. Logo, núcleos de maiores γd, conduzem a menores vazões com maior efeito em
núcleos de menor seção transversal.
Outro aspecto observado é que a razão porosidade/teor volumétrico de cal (ɳ/Liv) é eficaz na
otimização do núcleo, sendo este associado aos dados de vazão de acordo com o tamanho do núcleo, constrói
curvas que indicam a tendência de comportamento das vazões percoladas. Por tanto, este apresenta-se como
aspecto útil a determinar uma seção transversal de núcleo, assim como o seu peso específico aparente seco e
o teor de material cimentante, que venha a fornecer melhores resultados de supressão de vazões através do
maciço. Com isso, infere-se que otimizar o núcleo de solo tratado por intermédio metodologia ɳ/Liv faz-se
um mecanismo útil na viabilidade econômica do processo construtivo de barragens de terra zoneada.

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Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 2019.
LOPES JUNIOR, L. S. Metodologia de previsão do comportamento mecânico de solos tratados com cal.
2011. 227 p. Tese (Doutorado em Engenharia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2011.
SOLEYMANI, S.; AKHTARPUR, A. Seepage Analysis for Shurijeh Reservoir Dam Using Finite Element
Method. Geo-frontiers 2011, [s.l.], p.3227-3234, 11 mar. 2011. American Society of Civil Engineers.
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THOMÉ, A. Comportamento de fundações superficiais apoiadas em aterros estabilizados com resíduos
industriais. 1999. 238 p. Tese (Doutorado em Engenharia) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, 1999.

1475
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0186 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Dimensionamento e Análise de Sensibilidade de Contenção de


Talude por Meio de Cortina Atirantada e Retaludamento
Marianne Viviani de Abreu
Assistente de Laboratório, Centro Universitário Ibmec, Rio de Janeiro, Brasil, mariannevabreu@gmail.com

Filipe Almeida Correa do Nascimento


Professor, Centro Universitário Ibmec, Rio de Janeiro, Brasil, filipe.nascimento@ibmec.edu.br

Juliana de Sá Sanchez
Líder de Laboratório, Centro Universitário Ibmec, Rio de Janeiro, Brasil, juliana.ssanchez@yahoo.com.br

RESUMO: O estudo fundamenta a sua importância com base no histórico de acidentes por deslizamento de
encostas no estado do Rio de Janeiro. Neste sentido, tomou por base um projeto de estabilidade de um talude
situado no Norte Fluminense, e propôs a estabilização deste através de uma contenção de Cortina Atirantada
e Retaludamento. A análise foi realizada por meio de um programa comercial, o Slide da RocScience,
utilizando o método de Bishop Simplificado. Além da tradicional análise determinística, foi realizada a análise
de sensibilidade, relacionando os principais parâmetros do solo com o fator de segurança do talude. Por meio
delas foi possível dimensionar a Cortina, utilizando o Método Brasileiro de Atirantamento, e identificar que a
coesão do Solo Residual Jovem foi o fator que exerceu maior impacto na segurança da encosta,
respectivamente, e por isso merece maior cautela por parte do engenheiro projetista.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de Taludes, Análise de Sensibilidade, Análise Determinística, Cortina


Atirantada, Retaludamento.

ABSTRACT: This study is based on the history of slope landslides accidents in Rio de Janeiro’s State. In this
regard, its baseline was a slope stability project located in Norte Fluminense and proposed the slope
stabilization through Grouted Tieback and Slope Restoration. The analysis was carried out through a
RocScience’s commercial software, the Slide, through Bishop’s Simplified Method. In addition to the
traditional deterministic analysis, a sensibility analysis was carried out, relating the main soil parameters with
the slope’s safety factor. By their means it was possible to design the Grouted Tieback, based on the Brasilian
Method, and identify that Recent Residual Soil cohesion wield the greatest impacts on the slope’s safety,
respectively, and thus deserve a greater caution by the project engineer.

KEYWORDS: Slope Stability, Sensibility Analysis, Deterministic Analysis, Grouted Tieback, Slope
Restoration.
sua topografia. Esta tipologia de relevo exige cautela
1 Introdução durante o período de projeto da construção, devido
aos processos de erosão e deslizamento. A análise da
O relevo das cidades do estado do Rio de estabilidade de um talude é fundamental na fase que
Janeiro é um dos principais agravantes para os precede a construção de uma edificação em um
acidentes ocorridos nos períodos de chuvas intensas. terreno que apresenta este tipo de relevo.
O deslizamento de encostas é um dos maiores O processo de formação de solos e rochas,
causadores de mortes e do grande número de pessoas através de intemperismo físico, químico e processos
desabrigadas e desalojadas. De modo especial nos deformacionais, leva a uma grande variabilidade das
ambientes urbanos, é possível observar diversas características geotécnicas dessas formações, visto
ocupações irregulares sobre encostas que colocam que são formados depósitos naturais que combinam
em risco a segurança de moradores e pessoas que diversos materiais com formações mineralógicas
vivem no entorno. Na região serrana, o fator é ainda diferentes. (DA SILVA, 2015 apud ANG & TANG,
mais agravado devido a predominância de taludes em 1975)

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A análise determinística de estabilidade de As principais variáveis consideradas neste


taludes utiliza os parâmetros do solo, ângulo de atrito estudo são:
(𝜃), coesão (c) e resistência ao cisalhamento (𝜏), a) Peso específico do solo;
como sendo constantes através de uma média de b) Ângulo de atrito do solo; e
valores que são obtidos por meio de ensaios de c) Coesão de solo.
campo e/ou laboratório. Contudo, existem projetos
de estabilidade considerados seguros por essas As etapas do estudo seguem na seguinte
análises que acabam rompendo. Diante desse ordem:
contexto, surgiu a análise paramétrica, que avalia a
variabilidade de cada um desses parâmetros e sua I. Avaliação do fator de segurança das seções
influência no Fator de Segurança (FS) do projeto (DA naturais;
SILVA, 2015).
Desta maneira, este artigo aborda um estudo de II. Análise do fator de segurança das seções com
caso em um terreno localizado na serra fluminense, retaludamento, para diferentes ângulos e banquetas;
aplicando conceitos de estabilização de talude e de
sensibilidade dos parâmetros de entrada do software III. Dimensionamento de cortina atirantada para a
de simulação para futura obra. Os dados gerados pelo seção mais crítica associada ao taludamento e
estudo podem servir de base para outros cortes, desde posterior análise da estabilidade do talude;
que resguardadas as características de solo e
geometria do talude. No estudo apresentado, o IV. Análise paramétrica do peso específico, da
proprietário do terreno visa aproveitar a maior porção coesão e do ângulo de atrito de cada um dos solos. O
de área edificável possível em seu terreno. Para isto coeficiente de variação utilizado nesse fatores foi de
será necessário realizar um corte no talude do terreno 8%, 30% e 10%, respectivamente.
e estabilizá-lo.
3 Estudo de Caso
2 Metodologia
O estudo compreende a análise de estabilidade
Os dados de caracterização e resistência do
de um talude situado em Cantagalo, na Serra
solo, relatórios de sondagem e ensaios de
Fluminense, conforme representado na Figura 1
cisalhamento direto, bem como os da topografia do
(GOOGLE MAPS, 2019), e Figura 2 (GEOPHI
talude foram disponibilizados por uma empresa do
ENGENHARIA, 2017).
Rio de Janeiro do ramo de geotecnia (GEOPHI
ENGENHARIA, 2017).
A análise de estabilidade do talude foi
realizada em um programa que utiliza o método do
equilíbrio limite e pode ser utilizado tanto para solos
quanto para rochas, o Slide. O software realiza
análises determinísticas (Bishop Simplificado,
Janbu, Fellenius e outros), de sensibilidade,
probabilísticas e retroanálises (ROCSCIENCE INC,
2003). O Slide é muito utilizado para análises de
superfícies de ruptura circulares e plano – circulares
(DA SILVA, 2015).
O método de cálculo de dimensionamento Figura 1. Situação do talude. Fonte: A autora,
escolhido foi o Método Brasileiro de Atirantamento adaptado de Google Maps, 2019.
(PICCININI, 2015). Com o objetivo de otimizar os
cálculos, foi criada uma planilha no Excel que
permite calcular a força necessária nos tirantes (F),
por meio de iterações com a variação do ângulo
formado pela horizontal com plano de ancoragem
(𝜃𝑎𝑐 ).

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Figura 2. Vista Frontal do Talude Natural. Fonte:


Geophi Engenharia, 2017

Os dados do projeto possibilitaram a Figura 3. Fator de Segurança - Seção 1: Condição


simulação que resultou no fator de segurança do Natural. Fonte: A autora, adaptada de Slide, 2005.
talude, utilizado nas análises, pelo método de Bishop
Simplificado utilizando o software Slide
(ROCSCIENCE INC, 2003) e manipulações
algébricas no Microsoft Excel.

4 Resultados Obtidos

Neste capítulo são expostos os resultados das


análises realizadas neste estudo bem como sua
análise. Nas subseções a seguir é identificada a seção
crítica, realizada a contenção adequada para o talude
e discutido os parâmetros de entrada que exercem
maior influência sobre o fator de segurança.

4.1 Avaliações Determinísticas

4.1.1 Análise da Condição Natural

A análise de estabilidade do talude teve início Figura 4. Fator de Segurança - Seção 2: Condição
com o estudo das quatro seções transversais do Natural. Fonte: A autora, adaptada de Slide, 2005.
projeto em condição natural. O objetivo desta etapa
foi identificar qual era seção mais crítica do projeto
e, portanto, elegível para intervenção de
estabilização.
Nas figuras Figura 3,Figura 4, Figura 5 e
Figura 6 são retratados os resultados das simulações
da análise de estabilidade do talude com seus
respectivos fatores de segurança. A superfície de
ruptura destacada corresponde ao fator de segurança
mínimo global, ou seja, a provável superfície de
deslizamento.

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4.1.2 Análise com Retaludamento

Após a análise da condição natural do talude,


foram realizadas intervenções de retaludamento na
estrutura do maciço. As tabelas Tabela 1, Tabela 2,
Tabela 3 e Tabela 4 apresentam os valores dos fatores
de segurança encontrados para a combinação dos
ângulos de 53º, 60°, 70° e 90° com as banquetas de 3
m e 5 m para as seções 1,2,3 e 4, respectivamente.

Tabela 1. Relação Inclinação x Banqueta x Fator de


Segurança - Seção 1
Seção 1
Banqueta [m]
Inclinação
Figura 5. Fator de Segurança - Seção 3: Condição [graus] 3 5
Natural. Fonte: A autora, adaptada de Slide, 2005. Fator de Segurança (FS)
53 1,385 1,534
60 1,273 1,398
70 1,102 1,266
90 0,665 0,855

Tabela 2. Relação Inclinação x Banqueta x Fator de


Segurança - Seção 2
Seção 2
Banqueta [m]
Inclinação
[graus] 3 5
Fator de Segurança (FS)
53 1,356 1,415
60 1,156 1,246
70 1,052 1,086
90 0,803 0,834
Figura 6. Fator de Segurança - Seção 4: Condição
Tabela 3. Relação Inclinação x Banqueta x Fator de
Natural. Fonte: A autora, adaptada de Slide, 2005.
Segurança - Seção 3
Seção 3
O menor fator de segurança (FS) encontrado
foi o da seção transversal 3, igual a 0,953. Este valor Banqueta [m]
está abaixo do mínimo especificado pela NBR Inclinação
[graus] 3 5
11682/2006 para locais com alto risco de perdas de
Fator de Segurança (FS)
vidas humanas e danos ambientais e materiais e é,
portanto, inadequado para a situação do talude . O 53 1,205 1,204
aspecto preponderante para a diferença do FS das 60 1,059 1,068
seções é a geometria de cada uma delas. Apesar de 70 0,864 0,913
pertencerem ao mesmo talude, os processos de 90 0,658 0,770
intemperismo modificam as regiões do maciço de
maneira heterogênea.

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Tabela 4 Relação Inclinação x Banqueta x Fator de 4.1.3 Análise da seção crítica com a cortina
Segurança - Seção 4 atirantada
Seção 4
A obra de contenção escolhida foi a Cortina
Banqueta [m] Atirantada devido a compatibilidade com os suportes
Inclinação disponíveis no programa e a altura, considerada
[graus] 3 5 significativa, do talude. Esta intervenção foi
Fator de Segurança (FS) dimensionada apenas para a seção crítica do maciço,
53 1,291 1,356 associada ao taludamento de 90°, devido aos aspectos
60 1,128 1,130 construtivos, e para a banqueta que resultou no maior
70 0,920 0,966 fator de segurança para esta inclinação, 5,0 m, vide
Figura 7.
90 0,820 0,857

O aumento da banqueta proporcionou o


aumento do fator de segurança na maioria dos casos
de retaludamento, com exceção do talude de 53º da
seção 3. No entanto, a diferença do FS deste talude
para as duas banquetas foi de apenas 0,001, o que
pode ser atribuído a margem de erro de cálculo deste
tipo de simulação.
O maciço em estudo possui solo
predominantemente coesivo e foi observado que a
variação do ângulo de inclinação entre 53º e 90°
provocou uma alteração relativamente pequena no
FS, igual a 0,2, quando observado o número fora de
um contexto específico. Todavia, num caso em que o
fator de segurança fosse igual a 1,0, o talude seria
considerado na iminência de ruptura. Neste mesmo Figura 7. Seção 3 com retaludamento de 90° e seção
caso, se ele fosse igual a 1,2 e estivesse situado numa de 5 m. Fonte: A autora, adaptada de Slide, 2005.
localidade onde o nível de segurança exigido em
relação a perda de vidas humanas e danos ambientais O Método Brasileiro de Atirantamento foi
e materiais fosse baixo, ele já seria considerado o utilizado para o dimensionamento dos tirantes.
fator de segurança mínimo aceitável (NBR 11682). Durante o procedimento de cálculo, foi verificado
Em todas as seções, a inclinação de 90º apresentou que não seria necessário utilizar uma contenção de
fatores de segurança muito baixos, menores do que cortina no patamar superior, pois o cálculo da força
1,0. Foi possível constatar por meio dos resultados nos tirantes resultou em valores extremamente baixos
que de fato esta angulação não é interessante para a (aproximadamente 0,1 kN), implicando em sua
estabilização de taludes utilizando exclusivamente o inviabilidade construtiva. Sendo assim, foram
retaludamento (DE LIMA, [19--]). dimensionadas apenas duas cortinas, para o patamar
O retaludamento estabilizaria apenas a seção 1 inferior e para o intermediário. O patamar superior
com angulação de 53º e banqueta de 5,0 m. foi estabilizado apenas com retaludamento, com
Entretanto, a seção 3, considerada crítica pelo estudo, inclinação de 21°. Esta angulação foi definida por
permaneceu instável para todas as alterações de meio de iterações, variando inicialmente o ângulo no
geometria. Sendo assim, será necessário combinar o intervalo entre 53° e 90°, e simulando a estabilidade
retaludamento com alguma técnica de contenção, do talude por meio do software adotado. O melhor
com a finalidade de proporcionar segurança a esta resultado obtido foi para o ângulo de 53°, porém ao
obra de terra. se reduzir o ângulo ainda mais obteve-se melhora
significativa, culminando na angulação de 21°.
A primeira etapa do dimensionamento dos
tirantes consiste no cálculo da força necessária de

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tração (F), do número de níveis de tirantes (𝑁𝑡 ) e do


espaçamento vertical entre eles (𝑒𝑣 ), vide Tabela 5.

Tabela 5. Primeira etapa de dimensionamento dos


tirantes
Cortina Cortina
Inferior Superior
F [kN] 221,0 266,6
𝑵𝒕 3,0 3,0
𝒆𝒗 [m] 3,8 3,8

Por fim, é necessário definir o comprimento


livre do tirante (𝐿) e determinar o comprimento do
seu trecho ancorado (𝐿𝑏 ). Como o estudo é realizado
na seção transversal da cortina, seria necessário
dimensionar o comprimento de três tirantes.
Contudo, no desenvolvimento dos cálculos foi
percebido que a aproximação do número de tirantes Figura 8. Fator de Segurança - Seção 3 com Cortina
gerou duas peças estruturais de tamanho mediano e Atirantada. Fonte: A autora, adaptada de Slide, 2005.
uma bastante pequena. Tomando por base esse
resultado, foi tomada a decisão de trabalhar apenas
com dois tirantes. A Tabela 6 apresenta seus 4.2 Análise de Sensibilidade
respectivos comprimentos .
A análise de sensibilidade teve início com a
Tabela 6. Segunda etapa de dimensionamento dos comparação do mesmo parâmetro dos três solos. A
tirantes Figura 9 apresenta o gráfico de análise de
Cortina Inferior Cortina Superior sensibilidade do peso específico.

Tirante Tirante Tirante Tirante


Inferior Superior Inferior Superior
L [m] 7,0 14,0 20,0 24,0
𝑳𝒃 [𝒎] 11,0 7,0 11,0 11,0

De posse da geometria das cortinas e das


especificações dos tirantes, foi possível modelar o
talude com suas respectivas contenções e
retaludamento no software adotado. Inicialmente, o
fator de segurança obtido ficou menor do que o
desejado, 1,5. Sendo assim, foi necessário realizar
ajustes nos tirantes. A provável causa da necessidade
desses ajustes foi a utilização de apenas dois tirantes. Figura 9. Análise de Sensibilidade – Peso Específico.
Por isso, foi necessário aumentar o comprimento do Fonte: A autora, adaptada de Slide, 2005.
bulbo para aumentar a capacidade de carga,
compensando a falta de um tirante Na análise que envolve os pesos específicos, a
A alteração que gerou melhores resultados foi reta que representa o Solo Residual Maduro se
o acréscimo de 0,5 m no trecho ancorado de todos os destaca como a de maior inclinação no gráfico e,
tirantes. O resultado da simulação pode ser portanto, dentre os pesos específicos é o que mais
visualizado na Figura 8. impacta na segurança do talude. Ele é inversamente
proporcional ao valor do fator de segurança, e a partir
de uma variação de aproximadamente 5% acima do

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valor médio do peso específico, o fator de segurança


é inferior a 1,5. O Solo de Alteração de Rocha
apresenta uma reta horizontal aproximada, logo, uma
variação nesse parâmetro praticamente não afeta o
valor do fator de segurança do talude. Já o peso
específico do Solo Residual Jovem é inversamente
proporcional ao fator de segurança, porém seu
impacto é menor do que o peso específico do Solo
Residual Maduro.
Em seguida, foi analisado a relação da coesão
com o fator de segurança, representada na Figura 10.

Figura 11. Análise de Sensibilidade: Ângulo de


Atrito. Fonte: A autora, adaptada de Slide, 2005.

Os ângulos de atrito do Solo de Alteração de


Rocha e do Solo Residual Maduro possuem impactos
similares que podem ser considerados nulos. Já o
Solo Residual Jovem possui uma forte correlação
com o fator de segurança, sendo diretamente
proporcional a ele. O FS é menor do que 1,5 para
todos os valores de ângulo de atrito do Solo Residual
Jovem abaixo do valor médio.
Figura 10. Análise de Sensibilidade – Coesão. Fonte: Por fim, foram analisados em conjunto os
A autora, adaptada de Slide, 2005. parâmetros que obtiveram maior relevância nas
análises anteriores: a coesão e o ângulo de atrito do
Solo Residual Jovem e o peso específico do Solo
Na análise de sensibilidade envolvendo a Residual Maduro, vide Figura 12.
coesão, foi possível perceber que a coesão do Solo de
Alteração de Rocha e do Solo Residual Maduro
possuem pouquíssima influência no fator de
segurança. Já a coesão do Solo Residual Jovem
impacta significativamente no fator de segurança,
sendo diretamente proporcional a este. O valor do FS
é menor do que 1,5 para toda a região onde a coesão
do Solo Residual Jovem é menor do que o valor
médio deste parâmetro.
Posteriormente, foi analisada a relação de
sensibilidade do ângulo de atrito do solos com o fator
de segurança, conforme Figura 11.

Figura 12. Análise de Sensibilidade - Fatores de


maior relevância. Fonte: A autora, adaptada de Slide,
2005.

A coesão e o ângulo de atrito do Solo Residual


Jovem são diretamente proporcionais ao fator de
segurança, porém o coeficiente angular da coesão é
ligeiramente maior do que o do atrito, sendo assim

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mais influente do que o primeiro. Por outro lado, o utilizando abordagem probabilística. Dissertação
peso específico do Solo Residual Maduro é de Mestrado - Universidade Federal de Ouro
inversamente proporcional ao fator de segurança do Preto, Brasil.117p.
talude. Os três juntos representam os fatores que mais
impactam na segurança e estabilidade do talude DE LIMA, Maria José C. P. Alves de Lima. [19--]
Obras de Terra, Vol II. Notas de Aula.
5 Considerações Finais Fortificação e Construção - Instituto Militar de
Engenharia. Rio de Janeiro.
O talude seria estabilizado, fator de segurança
igual 1,507, através de uma combinação de DYWIDAG – SYSTEMS INTERNATIONAL.
intervenções geotécnicas, cortina atirantada e (2018) Sistemas com Protensão com Barras
retaludamento. Sendo assim, não houve uma DYWIDAG: Aplicações Geotécnicas. Brasil. 12p.
intervenção melhor do que a outra, mas sim uma Disponível em:
combinação ideal para o caso do talude de Cantagalo https://www.dywidag.com.br/produtos/sistemas-
em específico. geotecnicos/sistemas-dywidag-ancoragens-em-
A análise de sensibilidade foi fundamental solos-e-rochas/tirantes/ Acesso em: 12 jul. 2019.
para identificar quais são os fatores de maior
influência sobre o fator de segurança. Na encosta GEOPHI ENGENHARIA. (2017) Projeto executivo
estudada, os fatores mais relevantes foram o a coesão de terraplenagem e contenção em solo
e o ângulo de atrito do Solo Residual Jovem e o peso grampeado verde Cordeiro / RJ: Memória de
específico do Solo Residual Maduro. A variação Cálculo. Rio de Janeiro. 50 p. (GPHI-PJ68-MC-
desses parâmetros é o que causa maior impacto no 415-03-001-R00). Disponibilizado pela empresa.
fator de segurança do talude.
Foi visto que apenas os valores de uma LAZARTE, Carlos A. et al. (2015) Geotechnical
variação de 65% ou mais acima dos valores médios Engineering Circular no. 7: Soil Nail Walls -
dos parâmetros coesão e ângulo de atrito do Solo Reference Manual. 7 ed. Federal Highway
Residual Jovem causariam uma estabilidade nesse Administration. U.S. Department of
talude. No caso do peso específico do Solo Residual Transportation. United States.
Maduro, a estabilidade do talude se encontraria na
faixa de valores com variação de 35% ou mais abaixo PICCININI, Isabela Dellalibera. (2015) Metodologia
do valor médio. de cálculo para dimensionamento de cortinas
Dada a variabilidade geotécnica típica desse atirantadas. Trabalho de Conclusão de Curso –
tipo de obra, essa alteração percentual pode, em tese, Universidade Federal de São Carlos, Brasil. 101p.
ser encontrada no terreno. Assim o projetista pode
adotar uma postura mais cautelosa e solicitar mais RIOS FILHO, Marcelo Gomes. (2017) Projeto
amostras para esaios dos parâmetros críticos para Executivo de Estabilização: Ensaio de
determinar essa variabilidade. Laboratório em Solo “Cisalhamento Direto”.
Relatório de Ensaios. Rio de Janeiro. 14p. (GPHI-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PJ68-MC-415-03-001-R00). Disponibilizado
pelo autor.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. (2009) NBR 11682: Estabilidade de ROCSCIENCE INC. (2003) Slide: 2D limit
Encostas. Rio de Janeiro. equilibrium slope stability for soil and rock slopes
– User’s Guide. 207 p.
CORSINI, Rodnei. Taludes atirantados. Revista
Téchne, 6 ed., 2011. Disponível em: VARNES, David J. Slope Movement Types and
http://docplayer.com.br/51724814-Taludes- Processes. Landslides Analysis and Control.
atirantados-tirante-esquema-componentes.html. Washington, D.C., National Academy of Sciences
Acesso em: 20 Ago 2019. p. 11-33, 1978.

DA SILVA, Clíscia Cerceau. (2015) Análise de


estabilidade de um talude da cava de Alegria

1483
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Análise da Estabilidade de um Presumido Corte em Talude


Utilizando Reforço em Solo Grampeado
Mikhael Ferreira da Silva Santos 1
Engenheiro Civil, Mestrando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Recife,
Pernambuco, Brasil, mikhael.santos@ufpe.br

Wilson Ramos Aragão Júnior 2


Engenheiro Civil, Mestrando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Recife,
Pernambuco, Brasil, wilsonramosaragao@hotmail.com

Flávio Leôncio Guedes 3


Engenheiro Civil, Mestrando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Pernambuco, Recife,
Pernambuco, Brasil, f_l_guedes@hotmail.com

Cláudio Vidrih Ferreira 4


Professor Doutor em Geotecnia, Centro Universitário de Ciências e Tecnologia do Maranhão, Caxias,
Maranhão, Brasil, vidrih@vidrih.com.br

RESUMO: O reforço de solo com contenção grampeada é uma solução que vem sendo bastante aplicada no
Brasil, principalmente devido à argilidade da execução e ao custo menor em relação a outras soluções. Diante
disso, este trabalho teve como objetivo o dimensionamento e a análise de estabilidade de uma suposta
escavação reforçada com solo grampeado em Caxias-MA. Para isso, realizou-se, a partir do ensaio SPT,
estimativas dos parâmetros geotécnicos necessários para o estudo, considerando o solo saturado. Através do
software da GeoStudio, SLOPE/W, foi possível analisar a estabilidade da escavação sem e com o reforço em
solo grampeado, que, em relação ao fator de segurança, corresponderam, respctivamente, a 0,923 e a 3,969.

PALAVRAS-CHAVE: SLOPE/W, Obras de Contenção, Solo Reforçado, Grampo.

ABSTRACT: Ground reinforcement with stapled containment is a solution that has been widely applied in
Brazil, mainly due to the flexibility of execution and the lower cost compared to other solutions. Therefore,
this work had as objective or dimensioning and a stability analysis of a submerged excavation reinforced with
soil nailing in Caxias-MA. To do this, perform, from the SPT test, use the necessary geotechnical standards
for the study, considering the saturated soil. Through the GeoStudio software, SLOPE / W, it was possible to
analyze the stability of the excavation without and with the reinforcement in the stapled soil, which, in relation
to the safety factor, corresponding, respectively, 0.923 and 3.969.

KEYWORDS: SLOPE/W, Containment Works, Reinforced Soil, Nail.

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1 Introdução

O desenvolvimento urbano das cidades está exigindo cada vez mais técnicas construtivas rápidas e
seguras. Com isso, projetos e opções executivas que garantam uma eficiência produtiva é de suma importância.
A análise de estabilidade de taludes é uma abordagem de grande magnitude e aplicações geotécnicas,
envolvendo conhecimentos de grandes áreas, tais como geologia de engenharia, hidrologia, mecânica dos solos
e mecânica das rochas. Existem diversos tipos de estruturas de contenção para garantir a estabilidade dos
taludes, dentre eles, cita-se: os muros de gravidade, os muros de flexão, as estruturas ancoradas e as estruturas
de solo reforçado Para as estruturas de solo reforçado a estabilidade é garantinda através do reforço do maciço
de solo e/ou de rocha com a inserção de elementos resistentes no seu interior. Esses mecanismos que trabalham
associadamente com o terreno podem ser, por exemplo, grampos, fitas, geossintéticos, colunas de solo-cimento
ou estacas de qualquer tipo (ABNT, 2009).
A solução de estrutura de contenção grampeada, datada da decada de 1970, é uma técnica utilizada para
reforçar o maciço de solo e/ou de rocha com a incorporação de estruturas denominadas de grampos, que são
elementos lineares passivos, semi-rígidos e resistentes à flexão composta. Os grampos são inseridos a fim de
aumentar os esforços resistentes de tração e de cisalhamento em relação as solicitações internas que podem
ocasionar o movimento de massa, assim, dependendo das condições, podem ser introduzidos no terreno na
posição horizontal ou inclinada. Os grampos são interligados ao maciço de solo juntamente com um
faceamento, comumente em concreto projetado, e um sistema de drenagem.
Este tipo de contenção muitas vezes pode ser vantajoso em comparação com outros sistemas de
contenção (cortinas ancoradas ou parede diafragma). É importante ressaltar que seu comportamento ainda não
é totalmente esclarecido, exigindo pesquisas na área.
Nos últimos anos tem crescido muito o número de edificações na cidade de Caxias/MA, bem como em
todo o estado do Maranhão. O rompimento de taludes no município não é tão comum e sempre ocorre em
chuvas intensas. O período chuvoso de Caxias, em geral, inicia-se no final do ano, novembro ou dezembro, e
estende até final de março ou meados de abril. A Figura 1 ilustra o último rompimento ocorrido no município,
havendo danos materiais para uma empresa situada no local. Pelo fato do deslizamento ocorrer na madrugada,
não houve danos humanos.
Sendo assim, este trabalho possui o escopo de dimensionar a estabilização de uma esvavação de seis
metros de altura executada em solo grampeado. Deste modo, esse estudo permite debater aspectos da solução
de estabilidade de taludes com a técnica de solo grampeado, levando em consideração parâmetros geotécnicos
de um solo do município de Caxias, estado do Maranhão.

Figura 1. Rompimento de talude. Fonte: g1.com.br

2 Materiais e Métodos

2.1 Local de Idealização do Projeto

O local de idealização do projeto, simulando uma edificação com subsolo, situa-se no município de
Caxias, estado do Maranhão, especificamente no centro da cidade. A Figura 2 ilustra a localização no contexto
urbano da cidade.

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Figura 2. Localização do local de estudo. Fonte: Google Earth (2019).

No presente, está sendo executado um projeto de uma edificação de 4 (quatro) pavimentos, sem subsolo.
Foi executado o ensaio Standart Penatration Test (SPT), conforme planta de locação dos furos na Figura 3.

Figura 3. Locação dos furos de sondagem.

2.2 Parâmetros Geotécnicos

É de suma importância a caracterização do solo para definir os esforços exercidos por ele e também
todos os parâmetros geotécnicos. O solo estudado consiste, conforme laudo de sondagem, em camadas de areia
muito fina pouco a média argilosa.
Os parâmetros geotécnicos foram obtidos através do ensaio de SPT. O peso específico e coesão foram
estimados conforme valores médio proposto por Joppert Jr. (2007). O ângulo de atrito foi determinado a partir
da equação sugerida por Texeira (1996). O módulo de elasticidade foi obtido através do produto dos
coeficientes empírios K e α e do Nspt.

2.3 Dados da Geometria da Escavação

Para definição da geometria, foi idealizado uma escavação com seis metros de altura (Figura 4) adotando
as camadas de acordo com o ensaio SPT e considerando uma carga uniformemente distribuída de 20 kN/m².

Figura 4. Geometria da escavação e camadas de solos.

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2.4 Dados da Geometria e Propriedade do Solo Grampeado

2.4.1 Grampos

Considerou o diâmetro dos grampos equivalente a 100 mm, sendo utilizada uma barra de aço de 20 mm.
Considerou uma relação comprimento e altura de 0,8, forçando que o comprimento dos grampos seja de 4
metros (medido ao longo da extensão dos grampos).
O espaçamento entre os grampos foi determinado a partir das recomendações feitas pela FHWA NHI
14 007 (2015), conforme Figura 5. O espaçamento é terminado a partir do ponto mais alto da escavação até a
primeira fileira de grampos. Seu valor deve estar situado entre 0,60 a 1,00 metros, e S v0 menor que Sv.

Figura 5. Espaçamento dos grampos. Fonte: FHWA NHI 14 007 (2015).

A inclinação dos grampos é considerada em relação à horizontal, estando compreendida entre 10° a 20°,
conforme recomendações da FHWA NHI 14 007 (2015). É muito comum a aplicação dos grampos em um
ângulo de 15°, devido algumas questões executivas. Assim, nesse estudo foi considerado 15°.
Como pré-dimentionamento, Clouterre (1991) indicou que deve-se utilizar cerca de 0,7 vezes a altura
da esvação. Sendo recomendado que esse valor esteja entre 0,5 e 1,5 vezes a altura da esvação. Em síntese:
• 0,5 ≤ L ≤ 0,7 para grampos cravados; e
• 0,8 ≤ L ≤ 1,2 para grampos perfurados.
Para o dimensionamento dos grampos, é imprescindível determinar a resistência de aderência (qs) entre
o solo e o grampo. Quanto maior o atrito entre ambos, melhor o desempenho. Ortigão e Syao (2004) definiu
uma correlação entre Nspt e o Qs, obtida através de amostras de arrancamento realizado em São Paulo, Rio de
Janeiro e Brasília, através de furos com 75 a 150 mm com injeção de calda de cimento. A Figura 6 ilustra a
correlação indicada pelos autores, sendo que o valor minimo de qs é 50 kPa.

Figura 6. Correlação entre Qs e Nspt. Fonte: Ortigão e Sayao (2004).

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2.4.2 Análise numérica

Para realizar a análise numérica, foi utilizada o software pertencente à GeoStudio, denominado de
SLOPE/W. Através da análise numérica foi possível determinar a superfície de ruptura crítica e o fator de
segurança associado.
Para realização da análise numérica, utilizou-se o método de Morgenstern e Price (1965), método
similiar ao de Spencer. O método considera uma superfície semi-senoidal, parâmetros constantes
(determinístico), lamelas trapezoidais e pontos específicos.

3 Resultados e Análises

De acordo com o relatório de sondagem, foi determinado perfil mais crítico do solo (Figura 7).

Figura 7. Relatório de sondagem utilizado. Fonte: CSA (2017).

A partir do perfil indicado, foi possível estabelecer critérios de análise. Com base nas camadas de solo
e valores do Nspt disponibilizados pelo ensaio SPT, definiu-se os parâmetros de todas as camadas de solo
considerando a condição mais desfavorável, o macicço saturação, e aplicou ao modelo na simulação numérica
no SLOPE/W. É importante que seja levado em consideração as camadas de uma forma em geral, aplicando
as metodologia de determinação dos parâmetros geotécnicos para cada camada.
O peso específico e a coesão foram adotados a partir da correlação com o Nspt sugerida por Joppert Jr
(2007). Já o ângulo de atrito do solo foi determinado com a correlação proposta por Texeira e Godoy (1996),
conforme equação abaixo:
Φ = √20 𝑥 𝑁𝑠𝑝𝑡 + 15°
Para o módulo de elasticidade, definiu-se a partir de Texeira e Godoy (1996):
E =α × qc
qc = K × Nspt
E = α × K × Nspt
O valor de alfa pode ser visto na Tabela 1, indicada por Texeira e Godoy (1996).

Tabela 1 – Valores do coeficiente alfa.


Solo α
Areia 3
Silte 5
Argila 7
Fonte: Texeira e Godoy (1996).

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O valor de K pode ser visto na Tabela 2.

Tabela 2 – Valores de K.
Solo K (MPa)
Areia com pedregulho 1,10
Areia 0,90
Areia siltosa 0,70
Areia argilosa 0,55
Silte arenoso 0,45
Silte 0,35
Argila arenosa 0,30
Silte argiloso 0,25
Areia siltosa 0,20
Fonte: Texeira e Godoy (1996).

A Tabela 3 ilustra os parâmetros adotados para o solo em análise, conforme ensaio SPT.

Tabela 3. Síntese dos parâmetros adotados considerando o solo saturado.


Camada Parâmetro Valor
γ 18 kN/m³
Areia fina muito argilosa, fofa c 0 kPa
ϕ 25°
γ 19 kN/m³
Areia muito fina argilosa c 5 kPa
ϕ 28°
γ 18 kN/m³
Areia muito fina, argilosa,
c 0 kPa
pouca compacta
ϕ 25°
γ 19 kN/m³
Areia muito fina, argilosa,
c 5 kPa
medianamente compacta
ϕ 28°
γ 18 kN/m³
Silte muito argiloso,
c 7,5 kPa
consistência muito mole
ϕ 20°
γ 19 kN/m³
Argila muito plástica, pouco
c 35 kPa
arenosa, consistência média
ϕ 18°
Argila muito plástica, pouco γ 19 kN/m³
arenosa, pouco a c 20 kPa
medianamente siltosa ϕ 24°

Primeiro foi analisado a estabilidade do maciço escavado sem reforço. A Figura 8 ilustra o resultado da
análise com a ilustração da superfície de ruptura crítica, com Fator de Segurança (FS) equivalente à 0,923.

Figura 8. Análise estabilidade sem reforço.

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Em outras palavras, existe instabilidade na escavação, conforme parâmetros indicados. Vale ressaltar
que a essa profundidade não há presença de lençol freático, sendo um aspecto comum no município.
Para verificar a análise de estabilidade com reforço (solo grampeado), realizou-se inicialmente o pré-
dimensionamento da estrutura. Foi considerado o método Francês estabelecido pelo Projeto Clouterre (1991).
Adotou-se o ângulo de inclinação dos grampos com a horizontal de 15°, considerando todos os grampos
com comprimento de 0,8 x H (altura da escavação, 6 m), ou seja, 4,8 metros. O método frances correlaciona a
densidade de grampeamento (d), tangente do ângulo de atrito interno e a relação de estabilidade “N”. O método
exige que o solo tenha camada homogênica única. Devido esse detalhe de homogeneidade, realizou uma média
dos parâmetros encontrados no ensaio de sondagem.
Para determinar a densidade de grampeamento, aplica-se a seguinte equação:
𝑡
𝑑=
𝛾 𝑥 𝑆𝑣 𝑥 𝑆ℎ
• t (kN/m) – resistência de aderência unitária;
• γ (kN/m³) – peso específico do solo;
• Sv(m) – espaçamento vertical dos grampos;
• Sh(m) – espaçamento horizontal dos grampos.
A relação “N” é dada pela equação abaixo, onde c é coesão, em kPa, e H é a altura do paramento.
𝑐
𝑁=
γ ×H
Para determinar a resistência unitária, considerou-se um fator de segurança igual a 2, ou seja, a relação
entre a tensão admissível é:
𝑞𝑠
𝑞𝑠, 𝑎𝑑𝑚 =
2
A Tabela 4 indica os parâmetros definidos para a análise indicada.

Tabela 4. Resistência unitária dos grampos.


Camada qs, adm (kPa) t (kN/m)
Camada média dos valores 163,57 51,36

Com isso, é possível determinar a densidade dos grampos, indicada abaixo. Como os valores deve estar
entre 0,1 e 1,0, então considerou-se 1,0.
51,36
𝑑= = 1,98
18 𝑥 1,2 𝑥 1,2
Através do ábaco indicado por Clouterre (1991), considerando a relação L/H = 0,8 (Figura 9),
determinou-se o fator de segurança global da estrutura pelo método Francês.
Para determinar o valor, basta sinalar no Ábaco a corrdendada (tan φ, N). A partir desse ponto, liga-se
uma reta com a origem (0,0), indicando um ponto de interceção com a reta paramétrica de “d”. Realizando a
análise do método Francês, determinou-se o fator de segurança de 1,67, sendo maior que 1,5, que é o FS
mínimo indicado pela NBR 6122 (2010).

Figura 9. Análise estabilidade com reforço.

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Aplicando na modelagem numérica as medidas do pré-dimensionamento, foi possível determinar o fator


de segurança pelo método determinístico, considerando a mesma superfície de ruptura, conforme indicado na
Figura 9. Foi considerado o mesmo comprimento dos grampos de 4,8 metros, com tensão características
determinada no método Francês.
Conforme observado, nas condições de pré-dimensionamento, o fator de segurança (FS) foi para 3,969.
O aumento foi signficativo considerando os valores de pré-dimensionamento do método Francês
(CLOUTERRE, 1991).

4 Considerações Finais

Conforme analisado, a aplicação do solo grampeado é uma solução holística na contenção de solos do
subsolo. Considerando o solo estudado em Caxias, o Fator de Segurança aumentou consideravelmente,
garantido uma estabilidade com alta margem de segurança pelo método de Morgenstern-Price. Vale ressaltar
que é possível otimizar o projeto através das características dos grampos a serem utilizado.
No cenário de escavação sem reforço no solo, considerando o solo saturado, observou-se um fator de
segurança equivalente a 0,923. Aplicando o solo reforçado com os grampos nas mesmas condições, com
parâmetros e características geométricas estimadas pelo método Francês, o fator de segurança atingiu 3,969.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Geotechnical Engineering. New Delhi: Springer India.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). (2009) NBR 11682: Estabilidade de
encostas. Rio de Janeiro.
BRITISH STANDARD INSTITUTION. (2010) BS8006-1: Code of practice for strengthened/reinforced soils
and other fills..
BYRNE, R. J. et al. (1998) FHWA-SA-96-69R - Manual for Design and Construction Monitoring of Soil Nail
Walls, Federal Highway Administration.
CLOUTERRE. (1991) Recommendations Clouterre. Paris: Ecole Nationale des Ponts et Chausseés, Presses
de l’ENPC.
CUNHA, E. P. V.; HACHICH, W. C.; FRANÇA, D. C.; PLÁCIDO, R. R.; SCHMIDT, C. F. (2017) Solo
Grampeado: uma análise comparativa entre fator de segurança global (ASD) e LRFD. In: XII Conferencia
Brasileira sobre Estabilidade de Encostas (COBRAE), Florianópolis.
EUROPEAN COMMITTEE FOR STARDARDIZATION. (2010) Eurocode 7 – Geotechnical Design – Part.
1: General Rules.
FEDERAL HIGHWAY ADMINISTRATION. (2015) FHWA-NHI-14-007 – Geotechnical Engineering
Circular No. 7 - Soil Nail Walls - Reference Manual. Washington: Federal Highway Administration.
GARCIA, J. R.; ALBUQUERQUE, P. J. R. D. (2017) Análise de estrutura de contenão aplicada em obra de
pequeno porte. Fundações e obras geotécnicas, p. 40–45, jun.
JOPPERT JR., I. (2007) Fundações e Contenções de Edifícios - Qualidade Total na Gestão do Projeto e
Execução. [s.l.] PINI.
MORGENSTERN, N. R.; PRICE, V. E. (1965) The Analysis of the Stability of General Slip Surfaces.
Geotechnique, vol. 15, p. 79-93.
ORTIGÃO, J. A. R.; SAYÃO, A. S. (2004) Handbook of Slope Stabilisation. Nova York: Springer-Verlag
Berlin Heidelberg GmbH.
TEIXEIRA, A. T.; GODOY, N. S. (1996) Análise, Projeto e Execução de Fundações Rasas. Fundação: Teoria
e Prática. São Paulo: PINI.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0188 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Influência do tempo de cura na resistência à compressão simples


de misturas entre solo e altos teores de emulsão
Natália Jéssica Canuto Oliveira Brito
Mestranda em Geotecnia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, nataliacanutoo@gmail.com

Silvrano Adonias Dantas Neto


Professor Doutor, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, silvrano@ufc.br

Jannyne Correia Girão de Oliveira


Graduanda em Engenharia Civil, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, jannynecorreia@live.com

RESUMO: A estabilização de solos confere a eles melhoria de propriedades tais como a resistência,
deformabilidade e permeabilidade. Dentre os inúmeros métodos de estabilização, podemos citar a adição de
materiais betuminosos ao solo. Os efeitos que são esperados ao se estabilizar um solo com materiais
betuminosos são a melhoria de sua resistência, assim com a diminuição da sua permeabilidade. Diante disto,
foi misturado um solo arenoso com altos teores de emulsão asfáltica e esta mistura foi então compactada. Os
corpos de prova eram expostos ao ar livre durante os períodos de 01 (um), 07 (sete) e vinte e oito (28) dias
para que pudesse ocorrer a ruptura da emulsão, e, por fim, foi o avaliado o comportamento mecânico para cada
tempo de cura, rompendo os corpos de prova através de ensaios de compressão simples. Para tanto fora
coletado o solo no Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará, onde foram realizados ensaios de
laboratório para a sua caracterização e utilizada a emulsão asfáltica com ruptura lenta (RL-1C), onde ambos,
após misturados, foram compactados e rompidos. Após a realização dos ensaios notou-se um aumento da
resistência à compressão simples do material devido a adição da emulsão, e que o tempo de cura da mistura
solo-emulsão asfáltica interferia positivamente no seu comportamento mecânico em razão do ganho de sucção
nos corpos de prova devido a diminuição da umidade após a ruptura da emulsão, mostrando que a utilização
de altos teores de emulsão asfáltica para estabilização de solos se torna viável no ponto de vista técnico.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização de solos, Solo-emulsão, Resistência à compressão

ABSTRACT: Soil stabilization gives them improved properties such as strength, deformability and
permeability. Among the numerous stabilization methods, we can mention the addition of bituminous materials
to the soil. The effects that are expected when stabilizing a soil with bituminous materials are the improvement
of its resistance, as well as the decrease of its permeability. In view of this, a sandy soil was mixed with high
levels of asphalt emulsion and this mixture was then compacted. The specimens were exposed to the outdoors
during the periods of 01 (one), 07 (seven) and twenty-eight (28) days so that the emulsion rupture could occur,
and, finally, the mechanical behavior was evaluated. for each curing time, breaking the specimens through
simple compression tests. For that, the soil was collected at the Pici Campus of the Federal University of Ceará,
where laboratory tests were carried out for its characterization and the asphalt emulsion with slow rupture (RL-
1C) was used, where both, after mixing, were compacted and broken . After the tests, an increase in the
resistance to simple compression of the material was noted due to the addition of the emulsion, and that the
curing time of the soil-asphalt emulsion mixture positively interfered in its mechanical behavior due to the
gain of suction in the bodies of proof due to the decrease in humidity after the break of the emulsion, showing
that the use of high levels of asphalt emulsion for soil stabilization becomes feasible from a technical point of
view.

KEYWORDS: Soil estabilization, Soil emulsion, Compressive strength

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1 Introdução

Existem situações onde o solo que se encontra nas proximidades da obra a ser realizada não cumpre em
sua totalidade ou parcialmente os requisitos e especificações necessárias para a sua utilização, o que pode
ocorrer em construções como barragens, aterros, taludes, dentre outras obras. Nestes casos, podem-se aceitar
o material original e ajustar o prospecto às restrições por ele impostas, utilizar materiais que se encontram a
uma maior distância de transporte, encarecendo a obra, ou alterar as propriedades do solo existente de forma
a criar um material capaz de responder às necessidades da função prevista.
Esta última alternativa é denominada estabilização de solos, e compreende procedimentos que visam a
melhoria e estabilização de propriedades, tais como: resistência, deformabilidade e permeabilidade
(Bordignon, 2015). Existem inúmeros métodos de estabilização de solos, podendo ser de ordem física,
mecânica e química. Onde há estabilização química, quando realizada em solos granulares, ocorre uma
melhoria na sua resistência ao cisalhamento por meio da adição de pequenas quantidades de ligantes nos pontos
de contato entre os grãos, tais como: cimento, cal, resinas e materiais betuminosos.
Os efeitos que são esperados ao se estabilizar um solo com materiais betuminosos são a melhoria da sua
resistência ao cisalhamento, que é provocada pelo envolvimento do solo pelo filme asfáltico, assim como o
aumento da sua impermeabilidade. Um posível material betuminoso a ser utilizado como agente estabilizante
em solos arenosos é a emulsão asfáltica. Esta já foi avaliada por Jacintho (2010), entretanto, nesta ocasião
foram utilizados baixos teores de emulsão asfáltica, e foi constatada uma melhoria das caracteristicas de
estabilidade e erodibilidade do solo quando este está em contato com a água. No entanto, não foram observadas
melhorias significativas quanto a diminuição do coeficiente de permeabilidade com a adição do material
betuminoso.
Em contrapartida, Lima (2016) e Pereira (2018), utilizaram-se de altos teores de emulsão asfáltica, em
torno de 13 a 28%, para a utilização de solos arenosos em núcleos de barragens, onde os autores constataram
que os resultados quanto a compactação, permeabilidade e resistência ao cisalhamento se mostraram
promissores e aceitáveis para utilização da mistura solo-emulsão em barragens de terra.
Tendo em vista os resultados citados anteriormente, neste trabalho também foi analisada a resistência à
compressão simples sem confinamento da mistura de solo com emulsão asfáltica, com materias semelhantes
aos utilizados por estes mesmos autores, a fim de se analisar se há o ganho de resistência com a adição deste
material em grandes teores e se há um aumento significativo desta resistência devido ao tempo de cura deste
material.

2 Fundamentação teórica

A estabilização de solos trata-se de um tratamento artificial, que pode ser realizada através de processos
físicos, químicos ou físico-químicos tornando então o solo um material estável para os limites de sua utilização.
Os três principais métodos para estabilização dos solos são: mecânico, físico e químico.
O ato de estabilizar um solo mecanicamente é fazer o uso de uma simples compactação até que ocorra
um arranjo das partículas do mesmo (Soliz, 2007). Ocorre pela aplicação de uma energia externa de
compactação aplicada ao solo, diminuindo os seus vazios, tornando-os mais resistentes aos esforços externos
e alterando dessa forma a sua compressibilidade e a permeabilidade, podendo ser realizado tanto
individualmente ou em conjunto com outros métodos de estabilização (Medina e Motta, 2005).
Em outros casos há a necessidade de se recorrer a correções da sua composição granulométrica. Neste
tipo de estabilização de solo, que se trata da estabilização fisica, as propriedades do solo são modificadas,
alterando a textura do solo. Pode-se citar como técnicas de estabilização física do solo a correção
granulométrica ou a adição de fibras, tais como, metálicas, minerais, sintéticas ou vegetais (Pinto, 2008). A
estabilização granulométrica é realizada quando quer se alterar as propriedades do solo para atingir um
determinado objetivo, alterando a distribuição das partículas do mesmo (Pereira, 2012).
Já a estabilização química consiste na adição de um ou mais produtos químicos, que são os agentes
estabilizadores, que ao se solidificarem ou reagirem com as partículas de solo aglomeram-nas, vedam os poros
e o tornam o solo repelente à água (Medina e Motta, 2005). A estabilização química também pode ser definida
como a adição de uma ou mais substâncias químicas ao solo, de modo a gerar uma mudança no seu
comportamento quanto ao ganho de resistência e estabilidade às intempéries, e tais mudanças podem

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influenciar também na permeabilidade e na deformabilidade atingindo o objetivo previsto. Pode-se citar como
agentes estabilizadores o cimento, o cal ou o betume (Pereira, 2012).
Devido ser um material betuminoso, tais caracteristicas citadas acima, adquiridas na estabilização
química, também são esperadas ao se utilizar emulsão asfáltica como agente estabilizador de solos arenosos
para serem utilizados tanto em núcleos de barragens, como na construção de aterros, taludes, etc. As emulsões
asfálticas podem ser definidas como a combinação de três componentes: cimento asfáltico de petroléo, água e
agente emulsificante. O processo de emulsificação ocorre quando estes componentes são expostos a um
mecanismo denominado moinho coloidal, que cisalha o asfalto em pequenos glóbulos. O agente emulsificante
é capaz de diminuir a tensão superficial da fase aquosa e se fixar na periferia dos glóbulos de asfalto, de modo
que estes consigam permanecer em suspensão por um determinado período, que depende da formulação da
emulsão (Jacintho, 2010; Lima, 2016).
Quando há o contato entre a emulsão asfáltica e o agregado pétreo, se inicia o processo denominado
ruptura da emulsão, que se trata da separação entre as fases aquosa e asfáltica, o que fornece o recobrimento
do agregado por uma película asfáltica (Bernucci et al. 2008). O tempo de ocorrência deste processo confere
às emulsões asfálticas as características para cada aplicabilidade, bem como serve como base para a sua
classificação em função da velocidade de ruptura, que estão subdividas em ruptura rápida (RR), ruptura média
(RM) e ruptura lenta (RL) (ABEDA, 2006).

3 Materiais e métodos

Nesta sessão são descritos os materiais e métodos utilizados nesta pesquisa.

3.1 Solo utilizado

O solo analisado foi coletado dentro dos limites do Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará
– UFC, no sítio de coordenadas UTM 3°45’10,080’’S e 38°34’22,800’’W, no município de Fortaleza, Estado
do Ceará. Foi escolhido um material arenoso, de modo que fosse possível melhorar suas características técnicas
como o aumento da coesão e diminuição da permeabilidade.
O ensaio de análise granulométrica foi realizado conforme ABNT 7181:2016, seguidos dos ensaios de
limites de liquidez, plasticidade e densidade real dos grãos, regidos pela ABNT 6459:2016, 7180:2016, e
DNER – ME 093:1994, respectivamente. A partir do ensaio de granulometria do solo, onde foram realizados
tanto o peneiramento da amostra como a sedimentação com adição de defloculante (solução de
hexametafosfato de sódio) para três amostras distintas, foram obtidas as curvas granulométricas resultantes
das três amostras do solo utilizado:

100
Porcentagem dos grãos que passa

90 Amostra 01
80 Amostra 02
70 Amostra 03

60
(%)

50
40
30
20
10
0
0,00 0,01 0,10 1,00 10,00 100,00
Diâmetro dos grãos (mm)

Figura 1- Curvas granulométricas das amostras do solo estudado

Tendo como base a granulometria do solo, este pode ser classificado como não uniforme e mal graduado.
Quanto aos índices de consistência, o solo ensaiado foi classificado como não liquido (NL) e não plástico (NP),
que são características de solos arenosos, e apresenta uma densidade real do solo de 2,65, o que gera um valor

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de peso específico dos grãos desse material de 25,99 kN/m³. Com estas informações, de acordo Sistema
Unificado de Classificação do Solos (SUCS), o solo pode ser classificado com uma areia-siltosa (SM).
Para os resultados do ensaio de compactação, realizado de acordo com a norma ABNT 7182:2016,
utilizando a energia de compactação Proctor Normal, a massa específica aparente seca máxima foi de 1,85
g/cm², com teor ótimo de umidade de 9,65% apresentados na curva de compactação apresentada na Figura 2.

1,90
Massa específica aparente seca

1,85
(g/cm³)

1,80

1,75
5,000 7,000 9,000 11,000 13,000
Teor de umidade (%)
Figura 2- Curva de compactação do solo

3.2 Emulsão asfáltica

A emulsão asfáltica utilizada foi do tipo catiônica de ruptura lenta (RL-1C), ideal para utilização em
estabilização de solos. Os ensaios realizados para caracterização da emulsão foram Viscosidade “Saybolt-
Furol” de emulsões asfálticas, determinação da peneiração de emulsões asfálticas e determinação do resíduo
de destilação de emulsão asfáltica. A Tabela 2, apresenta as especificações de cada ensaio com os respectivos
resultados:
Tabela 1- Resultados dos ensaios de caracterização da emulsão asfáltica

Ensaios realizados Norma Especificações -IBP/ABNT Resultados


Viscosidade “Saybolt-Furol”, sSF, à 50ºC NBR 581:1971 Máx. 70 44
Peeiração, 0,84 mm, % em peso NBR 609:1971 Máx. 0,10 0,01
Resíduo, % em peso NBR 6568:1984 Mín. 60 63,2

3.3 Métodos

3.3.1 Procedimentos de mistura entre o solo e a emulsão asfáltica

Os procedimentos que foram realizados para a mistura entre a areia e a emulsão asfáltica seguiram
algumas recomendações de Lima (2016) e Pereira (2018). Os processos executados são descritos a seguir:
i. Destorroamento do solo com auxilio de almofariz e mão de gral;
ii. Homogeneização da amostra;
iii. Utilização do repartidor de amostras até se obter a redução do material de forma
representativa;
iv. Secagem em estufa à 100ºC, por 24 horas no mínimo;
v. Resfriamento do solo à temperatura ambiente;
vi. Pesagem do solo e da emulsão asfáltica a ser utilizada na mistura na porcentagem desejada;
vii. Colocação, aos poucos, da emulsão asfáltica no solo;
viii. Mistura do solo com a emulsão por aproximadamente 5 minutos, através de manipulação
manual;
ix. Quando visivelmente homogeneizada, a mistura solo-emulsão era submetida aos
procedimentos de compactação.
Tais processos foram realizados tanto para a confecção dos corpos de prova para compactação da
mistura solo-emulsão como também para os ensaios de resistência à compressão simples.

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3.3.2 Compactação da mistura solo-emulsão e tempo de cura

Para a mistura solo-emulsão asfáltica, a compactação foi realizada a partir da metodologia Marshall,
nas conformidades da norma DNER – ME 107:1994 – Mistura betuminosa à frio, com emulsão asfáltica –
ensaio Marshall. Onde os teores iniciais de emulsão asfáltica e alguns processos utilizados na compactação
foram baseados também em Lima (2016) e Pereira (2018).

3.3.3 Ensaio de resistência à compressão simples não confinada

Foram ensaiados tanto corpos de prova de solo-emulsão como de areia, para que fosse comparado o
ganho de resistência à compressão simples não confinada devido a adição de altos teores de emulsão asfáltica
neste solo. Os ensaios de resistência à compressão simples não confinada de todas as amostras foram
realizados de acordo com os procedimentos ditados pela NBR 12770:1992 - Solo coesivo – determinação da
resistência à compressão não confinada, onde as dimensões dos corpos de prova eram aproximadamente 5 cm
de diâmetro e 10 cm de altura. Foram avaliados três tempos de cura ao ar livre para que pudesse ocorrer o
precesso de ruptura da emulsão asfáltica. Os períodos de cura estudados para a mistura solo-emulsão foram de
1 (um), 7 (sete) e 28 (vinte e oito) dias, além dos corpos de prova apenas de solo, e todos estes foram moldados
em triplicata.

4 Resultados e discussões

Nesta sessão serão descritos os resultados obtidos para os ensaios realizados e as discussões a respeito
da pesquisa.

4.1 Compactação da mistura solo-emulsão

Seguindo os teores iniciais de emulsão propostos por Lima (2016) e Pereira (2018) para a energia
Marshall, sendo a mistura em estudo compactada imediatamente após a homogeneização entre a emulsão
asfáltica e a areia, constatou-se que o teor ótimo de emulsão asfáltica para tais condições foi de 16%, resultado
semelhante ao de Pereira (2018). A Figura 3 mostra a curva de compactação entre o solo e os altos teores de
emulsão asfáltica:

2,05
Massa especifica aparente do

2
solo-emulsão (g/cm³)

1,95

1,9

1,85

1,8
9 14 19 24
Teor de emulsão (%)

Figura 3- Variação do teor de umidade da mistura solo-emulsão em função do tempo de cura

4.2 Ensaio de resistência à compressão simples não confinada

O solo estabilizado com altos teores de emulsão asfáltica nas condições apresentadas acima possui uma
massa específica aparente de 2,00 g/cm³ para o teor ótimo de emulsão asfáltica de 16%. Com o passar do
período de cura a água presente na emulsão asfáltica evapora, para que ocorra o processo de ruptura da emulsão
asfáltica e, consequentemente, os teores de umidade dos corpos de prova diminuem. A Figura 4 apresenta a
diminuição gradativa das umidades médias dos corpos de prova referentes a cada tempo de cura estudado antes
da realização da compressão simples destes, onde observa-se que com o tempo esta umidade vai ser tornando
constante.

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8,00

6,00

Umidade (%) 4,00

2,00

0,00
0 5 10 15 20 25 30
Tempo de cura (dias)

Figura 4- Variação do teor de umidade da mistura em função do tempo de cura

Ao se realizar o ensaios de compressão simples das amostras de solo e deste estabilizado com a emulsão
asfáltica, observou-se um aumento significativo da resistência à compressão simples de acordo com o tempo
de cura deste material, que por ser um material arenoso em suas condições naturais, apresenta um valor quase
nulo de resistência a esse tipo de compressão, devido aos valores muito baixos de coesão que este solo possui.
Nota-se o aumento gradativo da resistência à compressão simples com o passar do tempo de cura da
mistura solo-emulsão. No primeiro tempo de cura estudado, ao ser exposto ao ar livre por apenas 1 dia, o solo
estabilizado alcançou uma resistência cerca de 600% maior que a inicial, e por fim chega a alcançar uma
resistência 1300% maior que a areia in natura com o passar de 28 dias. As Figuras 5 e 6 apresentam as médias
dos valores de compressão simples que para cada situação em que este solo foi submetido e as curvas de tensão
média versus deformação axial para cada uma destas situações, respectivamente. Verifica-se que todos os
corpos de prova compostos da mistura solo-emulsão analisados obtiveram comportamento tensão versus
deformação especifica axial semelhante, onde os maiores valores de tensão foram observados entre as
deformações axiais de 4 à 5%.

700
Resistência à compressão simples (kPa)

582,391
600

500
399,083
400

300 263,721

200

100 44,145

0
Solo Solo-emulsão Solo-emulsão Solo-emulsão
(01) (07) (28)
Tempo de cura (dias)

Figura 5 - Resistência à compressão simples do solo (sem cura) e das misturas para os diferentes tempos de
cura

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600
Resistência à compressão simples Solo
500 Solo-emulsão (1 dia)
Solo-emulsão (7 dias)
400
Solo-emulsão (28 dias)
(kPa)

300

200

100

0
0 1 2 3 4 5 6 7
Deformação específica axial (%)

Figura 6 - Resistência à compressão simples versus deformação especifica axial do solo e das misturas solo-
emulsão

O ganho de resistência à compressão simples do solo em estudo foi atribuído à sucção causada pela
diminuição da umidade após a ruptura da emulsão asfáltica, o que é confirmado com a dimuição gradativa da
umidade dos corpos de prova de acordo com o tempo esperado para que se ocorresse a cura da mistura. Tal
valor de resistência tende a se manter constante ou próximo após estes vinte e oito dias, em decorrência da
umidade tender a estacionar. Resultados semelhantes também foram obtidos por Jacintho (2010) ao ser estudar
o aumento da resistência à compressão simples de um solo semelhante, também classificado como SM, mas
apenas com o teor de 8% de emulsão, onde este foi exposto ao ar livre por um periodo de 30 dias, constatando
os resultados obtidos.

5 Conclusões

A mistura do solo arenoso com os altos teores de emulsão asfáltica trouxe benefícios ao solo em estudo,
aumentando significativamente a sua resistência à compressão simples. Onde foi observado que com o passar
do periodo de cura da mistura, esta resistência também aumentou de forma considerável, mostrando que a
ruptura completa da emulsão asfáltica é de suma importância para o ganho completo de resistência do sistema,
em razão da sucção que é gerada nos corpos de prova devido a perda de umidade.
Tais resultados mostraram que a utilização de altos teores de emulsão asfáltica para estabilização de
solos arenosos se torna viável no ponto de vista técnico, podendo a mistura solo-emulsão possivelmente ser
utilizada em inúmeras obras geotécnicas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),


pelo apoio financeiro à pesquisa que proporcionou a elaboração deste artigo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Solução para pavimentar sua cidade. 2ª ed. ABEDA, Rio de Janeiro, 144 p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 7181. Solo – Análise granulométrica. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 6459. Solo – Determinação do limite de liquidez. Rio
de Janeiro.

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Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 7180. Solo – Determinação do limite de plasticidade.
Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 7182. Solo – Ensaio de Compactação. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1971). NBR MB 581. Emulsão Asfáltica – Viscosidade “Saybolt-
Furol” de emulsões asfálticas. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1971). NBR 609. Emulsão Asfáltica - Determinação da
peneiração de emulsões asfálticas. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). NBR 6568. Emulsão Asfáltica - Determinação do resíduo
de destilação de emulsão asfáltica . Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1992). NBR 12770. Solo coesivo - Determinação da resistência à
compressão não confinada - Método de ensaio . Rio de Janeiro.
Bernucci, L. B. [el al.] Pavimentação asfáltica : formação básica para engenheiros (2008) PETROBRAS:
ABEDA, Rio de Janeiro, Brasil, 504 p.
Bordignon, V. R. (2015) Efeitos da adição de cal hidratada na estabilização de um solo sedimentar para
pavimentação urbana na região de Curitiba. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-graduação em
Engenharia Civil, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 126 p.
Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1994). DNER-ME 093. Solos – Determinação da densidade
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Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1994). DNER-ME 107. Mistura betuminosa a frio, com
Emulsão asfáltica – Ensaio Marshall.
Jacintho, E. C. (2010) Estudo de propriedades e comportamentos de misturas soloemulsão aplicado a
barragens. Tese de Doutorado, Programa de Pós-graduação em Geotecnia, Universidade de Brasília, 311
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Lima, F. C. (2016) Estudo dos processos de compactação e dosagem de misturas entre solo arenoso e emulsão
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Medina, J. e Motta, L.M.G.(2005) Mecânica dos Pavimentos. 2ª Ed. Edição dos autores, Rio de Janeiro.
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Pereira, C. G. F. (2018) Avaliação do comportamento hidráulico e da resistência ao cisalhamento de misturas
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Pinto, A. R. A. (2008) Fibras de Carauá e Sisal como reforço em matrizes de solo. Dissertação de Mestrado.
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Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, COPPE/UFRJ. 166 p.

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Caracterização e Classificação de Solos Típicos do Recôncavo


Baiano para Fins Rodoviários
Gabriela Antonia Pinto Malaquias
Graduanda em Engenharia Civil, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil,
gabrielapmalaquias@gmail.com.

Mario Sergio de Souza Almeida


Professor, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, mariosergio73@gmail.com.

Weiner Gustavo Silva Costa


Professor, Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, Brasil, weiner.ufrb@gmail.com.

José Roberto Fernandes Galindo


Doutorando, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, robertogalindo@gmail.com.

Lucas Otávio Costa Gomes


Graduando em Engenharia Civil, Centro Universitário de Viçosa - UNIVIÇOSA, Viçosa, Brasil,
lucasgomesecv@gmail.com.

RESUMO: Este estudo analisou a aptidão de três solos típicos do Recôncavo Baiano para utilização em
camadas estruturais de pavimentos rodoviários. Realizou-se ensaios de análise química, compactação na
energia Proctor normal, CBR [Índice de Suporte Califórnia (ISC)] e as classificações TRB, MCT e Resiliente.
Por fim, foram correlacionados os comportamentos indicados em cada classificação com o tipo de
argilomineral presente na fração fina de cada solo. Os resultados obtidos indicam que a classificação MCT é
a mais adequada, pois leva em consideração parâmetros mecânicos e hidráulicos dos solos e que o tipo de
argilomineral é determinante no comportamento do solo. Dois dos três solos estudados apresentaram
resultados satisfatórios, permitindo o uso de solos de ocorrência locais como camadas de pavimentos de baixo
custo.

PALAVRAS-CHAVE: TRB, MCT, Resiliente, Solos laterítico, Argilomineral.

ABSTRACT: This study analyzed the suitability of three soils typical of the Recôncavo Baiano for use in
structural layers of road pavements. Chemical analysis tests, compaction in normal Proctor energy, California
support index and TRB, MCT and Resilient classifications were performed. Finally, the behaviors indicated
in each classification were correlated with the type of clay found in the fine fraction of each soil. The results
obtained indicate that the MCT classification is the most appropriate, as it takes into account mechanical and
hydraulic parameters of the soils and that the type of clay is determinant in the behavior of the soil. Two of the
three soils studied showed satisfactory results, allowing the use of locally occurring soils as low-cost pavement
layers.

KEYWORDS: TRB, MCT, Resilient, Lateritic soils, Clay mineral.

1 Introdução

Os solos que são empregados em construção de estradas necessitam ser identificados e classificados
como materiais de construção, de modo a se antever seu comportamento mecânico e possibilitar o seu emprego
racional nas várias camadas do pavimento rodoviário (MACHADO, 2013). Entre as diversas classificações
empregadas atualmente, uma classificação difundida mundialmente é a TRB (Transportation Research
Board), que leva em consideração os ensaios de análise granulométrica, de limite de liquidez e de limite de
plasticidade do solo. Como seu desenvolvimento foi direcionado aos solos de regiões de climas temperados,

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essa classificação quando empregada em solos de regiões de climas tropicais, apresenta divergências entre o
comportamento esperado pela classificação e o que ocorre na prática.
Em 1976, na COPPE/UFRJ, através de estudos realizado na área de Mecânica dos Pavimentos, por Pinto
e Preussler, se desenvolveu uma classificação de solos baseada em suas propriedades resilientes, possibilitando
que os solos fossem classificados quanto ao comportamento mecânico em termos de deformabilidade elástica.
Ficou conhecida como Classificação Resiliente e se fundamenta no módulo resiliente dos solos (MR ),
determinado conforme procedimentos descritos na norma DNIT 134/2010-ME (DNIT, 2010). Na incapacidade
de definir os módulos de resiliência, é possível estimar a classificação indiretamente, através do percentual de
silte e do CBR (DNIT, 2006).
As classificações ditas tradicionais afirmam que os solos arenosos, areno-siltosos e areno-argilosos
possuem uma qualidade de compactação consideravelmente superior aos solos siltosos e argilosos. Porém, foi
observado que, em execução de camadas de pavimentos, o emprego de muitos solos siltosos e argilosos de
regiões tropicais demonstraram comportamento satisfatório (MACHADO et al., 2016).
Nogami e Villibor (1981, 1995) propuseram um sistema alternativo para classificação de solos tropicais
de granulação fina, denominada MCT (Miniatura, Compactado, Tropical), que é baseada em ensaios que
possibilitam determinar propriedades mecânicas e hídricas de corpos de prova de dimensões reduzidas. Essa
classificação divide os solos em duas classes: solos de comportamento laterítico (L) e solos de comportamento
não laterítico (N) (NOGAMI e VILLIBOR, 1981, 1995; VILLIBOR e ALVES, 2019).
Os solos tropicais, por estarem expostos às condições de clima tropical úmido com temperaturas
elevadas, ação mais intensa da chuva e a evaporação, passam pelo processo de laterização, que ocorre pelo
intenso intemperismo químico combinado com a presença do ácido húmico, gerado pelo surgimento de
vegetação na rocha fragmentada pelo intemperismo físico (VILLIBOR e ALVES, 2019).
Silva et al. (2010) correlacionaram classificações tradicionais com a MCT, para um caso aplicado à
rodovia municipal não pavimentada VCS 346, no município de Viçosa, MG. Foram analisadas 12 amostras de
solos, que segundo a classificação TRB são materiais de comportamento sofrível a péssimo como subleito, e
de acordo com a classificação MCT, 7 amostras apresentaram comportamento laterítico podendo ser
empregadas como reforço de subleito e subleito compactado.
Santos et al. (2018) compararam diferentes sistemas de classificações geotécnicas aplicados a solos das
rodovias MT 206 e MT 320, trecho entre Alta Floresta e Nova Santa Helena, no estado do Mato Grosso. Os
solos em estudo possuiam granulometria fina, com predomínio da fração areia fina, silte e argila. O estudo
demonstrou que das 13 amostras estudadas, somente em 8 delas a classificação defina pela TRB teve
correspondência com a classificação MCT.
No processo de laterização, os cátions básicos são lixiviados e, consequentemente, geram uma
concentração residual de óxidos de ferro e de alumínio. Por conta dessa concentração, a fração argila dos solos
lateríticos é formada por argilominerais do grupo caulinitas e hidróxidos e óxidos hidratados, que reduzem a
capacidade de adsorção de água dos argilominerais e agem como agentes cimentantes naturais entre partículas,
formando agregações estáveis em presença de água. Um solo laterítico compactado em condições ideais
apresenta alta capacidade de suporte e baixa perda dessa capacidade quando imersos em água, sendo essas
duas características de especial interesse na pavimentação (SANTOS e PARREIRA, 2015).
Diante do exposto, este estudo teve por objetivo a análise de três solos típicos do Recôncavo Baiano e
a sua aptidão para uso em camadas estruturais de pavimentos rodoviários. Foram realizados ensaios de análise
química, compactação na energia Proctor normal, CBR [Índice de Suporte Califórnia (ISC)] e aplicadas às
metodologias de classificações TRB, MCT e Resiliente. Por fim, foram correlacionados os comportamentos
indicados em cada classificação com o tipo de argilomineral presente na fração fina de cada solo.

2 Metodologia

2.1 Solos

Os três solos estudados foram coletados em diferentes regiões do Recôncavo Baiano. O primeiro é um
vertissolo conhecido como Massapê, coletado no canteiro central da BR-324/BA (km 565), no trecho entre
Feira de Santana e Salvador. O segundo é um latossolo amarelo distrocoeso, típico do Município de Cruz das

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Almas-BA, chamado neste trabalho de solo UFRB, e foi coletado na área interna da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia (UFRB). O terceiro solo é um residual do granulito/gnaisse, conhecido como Regolito,
coletado na área da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador-BA.
As amostras coletadas foram secas ao ar, destorroadas e acondicionadas em sacos plásticos para
posteriormente serem utilizadas nos ensaios geotécnicos apresentados a seguir.

2.2 Ensaios de caracterização geotécnica

A preparação das amostras para os ensaios de caracterização seguiu as especificações da norma DNER-
ME 041/94 (DNER, 1994a). A análise granulométrica foi realizada de acordo com a norma DNER-ME 051/94
(DNER, 1994b). Os ensaios para definição dos limites de consistência foram executados de acordo com as
normas DNER-ME 122/94 (DNER, 1994c) e DNER-ME 082/94 (DNER, 1994d). A determinação da
densidade real seguiu as recomendações da norma DNER-ME 093/94 (DNER,1994e). Os resultados dos
ensaios de granulometria e limites de consistência foram utilizados para a classificação dos solos pela
metodologia TRB, conforme especificações do manual de pavimentação do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes - DNIT (DNIT, 2006).

2.3 Ensaios de compactação e Índice de Suporte Califórnia (CBR)

Para os três solos estudados foram determinados, a partir do ensaio de compactação na energia Proctor
normal, segundo norma DNIT 164/2013-ME (DNIT, 2013), os parâmetros ótimos de compactação (teor ótimo
de umidade - wót e massa específica aparente máxima do solo seco - ρdmáx). Por fim, a partir do ensaio CBR,
segundo a norma DNIT 172/2016-ME (DNIT, 2016), foram avaliadas as características de resistência e
expansão das amostras de solos. Com os resultados dos ensaios CBR, juntamente com a granulometria dos
solos, foi possível classificar os materiais quanto à resiliência, de acordo com a norma DNER-PRO 269/94
(DNER, 1994f) e metodologias constantes em DNIT (2006).

2.4 Ensaios de compactação Mini-MCV e perda de massa por imersão

Este ensaio consistiu da compactação, em energias variáveis, de corpos de prova em tamanho


miniatura (Ø50 mm). Para o ensaio de compactação Mini-MCV as amostras foram, após secas e destorroadas,
passadas na peneira no 10 (#2,0 mm). Logo após obteve-se, de cada solo, 5 porções com cerca de 500 g cada,
nas quais se adicionou água em quantidade suficiente a obtenção de umidades sucessivamente crescentes, com
taxa de variação próxima a 2%. De cada porção assim preparada retirou-se uma amostra de 200 g e, iniciando
pela porção com menor teor de umidade, se deu início ao procedimento de compactação dos corpos de prova.
Foram realizados golpes sucessivos e efetuadas leituras no extensômetro para determinação das alturas dos
corpos de prova em diferentes séries de golpes, interrompendo o processo quando: i) a diferença entre a leitura
obtida após 4n golpes e a obtida após n golpes foi menor que 2,0 mm; ii) houve intensa exsudação de água, no
topo e na base o corpo-de-prova; ou, iii) o número de golpes atingiu 256.
No ensaio de perda de massa por imersão, os corpos de prova compactados são extrudados 10,0 mm do
molde cilíndrico. Em seguida, o conjunto é colocado em posição horizontal e imerso em água, garantindo-se
que se tenha uma lâmina d’água não inferior a 1 cm acima da superfície externa do molde. São colocadas
cápsulas para coleta do solo que irá se desprender das porções dos corpos de prova. O conjunto ficou assim
imerso por cerca de 20 horas.
Os ensaios de Mini-MCV e perda de massa por imersão foram realizados conforme os procedimentos
prescritos na norma DNER-CLA 259/96 (DNIT, 1996), com necessárias consultas complementares as normas
DNER-ME 258/94 (DNER, 1994g), DNER-ME 256/94 (DNER, 1994h) e DNER-ME 228/94 (DNER, 1994i).

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2.5 Ensaios de análise química

Para identificar o tipo de argilomineral presente na fração fina de cada solo, foi realizada uma avaliação
para os seguintes atributos químicos: pH em água e em KCl (relação solo:solução de 1:2,5); cátions trocáveis
Ca2+ , Mg2+ e Al3+, por titulação após extração com solução de 1 mol.L-1 KCL; Na+ e K+ por fotometria de
chama, após extração com Mehlich-1; H+Al extraídos com acetato de cálcio 0,5 mol.L-1 a pH 7,0 e
determinado com NaOH 0,025 mol.L-1 . Baseado nestes dados e no teor de argila do solo foram calculadas a
capacidade de troca de cátions (CTC), pela soma do resultado de bases trocáveis (Ca2+ + Mg2+ + Na+ + K+) e
acidez (H+Al); o valor de ∆pH (pHKCl - pHH2 O) e da atividade da argila (T), referente à capacidade de troca
de cátions correspondente à fração argila, foi calculada pela Equação 1, além de calcular saturação por base
(V). Também avaliou-se os teores de óxidos de SiO2 , Al2 O3 e Fe2 O3 presentes na fração argila do solo,
determinados por meio de digestão sulfúrica. A partir desses teores foi possível calcular as relações
moleculares Ki e Kr, que são relações entre óxidos, os quais podem indicar a presença de determinados
argilominerais presentes no solo, calculados conforme a Equação 2 e Equação 3 (EMBRAPA, 1997). Os
ensaios descritos foram realizados no Laboratório de Solos da UFRB, Campus Cruz das Almas.

CTC ∙100
T= (1)
teor de argila (%)

SiO2
Ki = 1,70 (2)
Al2 O3

SiO2
Kr = 1,70 (3)
Al2 O3 + Fe2 O3 ∙ 0,6375

3 Resultados e Discussões

3.1 Análise química

Na Tabela 1 estão apresentados os valores encontrados de óxidos de alumínio, além dos valores
calculados de Capacidade de Troca Catiônica do Solo (CTC), Ki, Kr e atividade da fração argila (T).

Tabela 1. Resultados da análise química dos solos.


CTC T
Solo V (%) Al2O3 SiO2 Fe2O3 Ki Kr
(cmolc/kg) (cmolc/kg)
Massapê 95 6,83 21,03 5,40 19,00 5,24 3,48 25,03
Regolito 54 11,63 14,73 12,34 2,60 2,15 1,28 4,81
UFRB 40 8,94 12,43 3,47 3,10 2,36 1,90 8,09

Os índices Ki e Kr refletem o grau de intemperização do solo e indicam o argilomineral presente no


mesmo. Quando Ki e Kr são superiores a 0,75, existe uma predominância de argilominerais do grupo caulinita
(1:1). A mineralogia montmorilonítica (2:1) fica definida quando se tem Ki superior a 2,2, e alta capacidade
de troca de cátions (> 17 cmolc kg-1) (EMBRAPA, 2018).
Os latossolos possuem baixa saturação por bases (V < 50%) e baixa capacidade de troca de cátions,
inferior a 17 cmolc kg-1, e, consequentemente, uma atividade baixa da fração argila ocasionada pelo avançado
processo de intemperização. Como pode ser observado, o solo UFRB apresenta mineralogia caulinítica. Assim
como o solo UFRB, os índices encontrados para o Regolito também sugerem mineralogia caulinítica. Solos
lateríticos são compostos pelo argilomineral caulinita, que possui baixa atividade da fração argila, que
combinado com os óxidos de ferro e alumínio geram uma cimentação natural formando agregações estáveis.

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Os vertissolos possuem alta saturação por bases (V > 50%) e elevada capacidade de troca de cátions
ocasionando uma alta atividade da fração argila e alta relação Ki, que geram expressivas mudanças
volumétricas quando secos (contração) e umedecidos (expansão). Além disso, esses movimentos de expansão
e contração estão relacionados ao tipo de argilomineral presente. No vertissolo em estudo os dados sugerem
uma mineralogia montmorilonítica, podendo ocorrer a formação de fendas e superfícies de compressão quando
secos e micro-relevos quando úmidos (EMBRAPA, 2018).

3.2 Classificação TRB

Na Tabela 2 são apresentados os resultados dos ensaios de caracterização dos solos e sua classificação
TRB. Na Figura 1 as curvas granulométricas dos solos podem ser observadas.
Como se observa, o solo Massapê possui elevado teor de argila (76,8%), caracterizando-se como um
solo plástico com elevado IP. De acordo com a TRB é classificado como A-7-6, um solo siltoso com elevado
índice de plasticidade e sujeito a grandes variações de volume.
O solo UFRB apresenta granulometria fina, com predominância de areia (43,6%), que justifica os limites
de consistência mais amenos quando comparado ao solo Massapê, por exemplo, caracterizando-o como solo
pouco plástico. Segundo a classificação TRB, o solo em questão é classificado como A-4, um solo siltoso
moderadamente plástico.
O solo Regolito apresentou predominância da fração argila (54,2%), tipificando um solo plástico.
Conforme a TRB, o solo se classifica como A-7-5, um solo siltoso, possivelmente altamente elástico suscetível
a grandes variações de volume.
De acordo com o preconizado na classificação TRB, os solos Massapê, UFRB e Regolito, apresentam
comportamento sofrível a péssimo como subleito.

Tabela 2. Características físicas dos solos empregados e classificação TRB.


Limites de consistência
Granulometria (%)
(%)
Solo ρs wp wl
pedregulho areia silte argila 3 IP IG TRB
(g/cm ) (%) (%)
Massapê 0,0 4,9 18,3 76,8 2,67 47,45 93,65 46,20 20 A-7-6
Regolito 1,6 24,5 19,7 54,2 2,64 44,89 60,71 15,82 15 A-7-5
UFRB 1,9 43,6 15,6 38,9 2,62 20,88 28,84 7,96 4 A-4

100
90
80
70
% que passa

60
50
40
Latossolo
30
20 Regolito
10 Massapê
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Argila Silte A.F. A. M. A. G. Pedregulho

Diâmetros (mm)
Figura 1. Curva Granulométrica comparativa dos solos.

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3.3 Classificação resiliente

Os resultados dos ensaios de compactação e CBR (ISC e Expansão CBR) podem ser vistos na Tabela 3.

Tabela 3. Resultados dos ensaios de compactação e CBR.


Curva de compactação
Solo Expansão Classificaçã
wótm (%) ρdmáx (g/cm ) CBR (%) Silte (%)
(%) o Resiliente
Massapê 23,5 1,34 0,0 9,65 12,09 Tipo III
Regolito 31,8 1,33 4,2 0,56 25,02 Tipo III
UFRB 14,1 1,68 2,0 0,04 21,71 Tipo III

Os três solos avaliados foram classificados como tipo III, que de acordo com DNIT (2006) são solos de
comportamento ruim quanto à resiliência, sendo vedado seu emprego em camadas de pavimento. O uso como
subleito, entretanto, exige cuidados e estudos especiais.
Importante destacar que os ensaios CBR neste estudo foram realizados para energia Proctor normal.
Contudo, para o solo UFRB, os resultados do CBR obtidos por Carvalho et al. (2020) nas energias de
compactação Proctor intermediária e modificada, foram de 9,4% e 18,3%, respectivamente. Assim, quando
compactado na energia Proctor intermediária, o solo UFRB passa a ser classificado como Tipo II, podendo ser
empregado como subleito e reforço de subleito. Já para o solo Massapê, os resultados obtidos por Vieira et al.
(2020) indicam que o aumento da enegia de compactação não apresentam diferença quanto a sua classificação
resiliente.

3.4 Classificação MCT

Na tabela 4 constam os parâmetros necessários para realizar a classificação de acordo com metodologia
MCT. O Massapê possui um coeficiente granulométrico (c’) elevado, indicando um alto teor de fração argila
no solo, que é comprovado pela curva granulométrica na Figura 1, além de um d’ baixo, típico de argilas não
lateríticas.
No solo UFRB observa-se um índice d’ elevado, que segundo Nogami e Alves (2019) é um
comportamento esperado de areias argilosas bem graduadas, que possuem argila de natureza laterítica em sua
composição. No Regolito destaca-se a baixa perda de massa por imersão, característica típica de solos
lateríticos. A microestrutura é formada por argilominerais cauliníticos revestidos com óxidos de ferro e
alumínio, que permitem uma aglutinação de todos os componentes do solo, reduzindo sua erodibilidade.

Tabela 4. Índices classificatórios e classificações das amostras segundo a metodologia MCT.


Índices Classificatórios
Solo Classificação MCT
c’ d’ Pi (%) e’
Massapê 2,57 25,45 130,00 1,28 NG’
Regolito 1,96 25,00 0,30 0,93 LG’
UFRB 1,80 136,75 102,00 1,05 LG’

Segundo Nogami e Villibor (1995), solos NG’ apresentam elevada expansibilidade, plasticidade,
compressibilidade e contração. Não são indicados para serem utilizados em camadas nobres dos pavimentos.
Já os solos classificados como LG’ possuem baixa expansão, média contração podendo ser empregados como
revestimento primário, proteção à erosão, base de pavimento, reforço do subleito compactado e subleito
compactado.
A seguir, na Tabela 5, é possível interrelacionar os resultados e comparar as classificações.

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Tabela 5. Classificações dos solos de acordo com cada sistema utilizado.


Solo TRB Resiliente MCT
Massapê A-7-6 Tipo III NG’
Regolito A-7-5 Tipo III LG’
UFRB A-4 Tipo III LG’

Observa-se que, contrariando as classificações TRB e Resiliente, semelhante aos resultados obtidos por
Silva et al. (2010) e Santos et al. (2018), a classificação MCT torna adequado o uso dos solos UFRB e Regolito
para camadas estruturais de pavimentos. Essa viabilização para uso na pavimentação dos dois solos pela
metodologia MCT pode ser, em parte, explicada pela análise química realizada, onde os solos UFRB e Regolito
apresentaram uma mineralogia caulinítica, típica de solos lateríticos, que possuem resistência quando
compactados e estabilidade quando imersos. Já o Massapê em todas as três classificações apresentou-se
inadequado para fins rodoviários, visto que, na análise química, se trata de uma argila tradicional, formada
pelo argilomineral montmorilonita, com elevada expansão, contração e compressibilidade.

4 Conclusões

Neste presente estudo foi possível verificar que a classificação MCT foi a que previu de maneira mais
adequada o comportamento dos solos estudados, pois leva em consideração as propriedades mecânicas e
hidráulicas dos materiais. Evidenciou-se também que o tipo do argilomineral presente na fração fina é
determinante no comportamento do solo e que os parâmetros geotécnicos tradicionais, isoladamente, não são
suficientes para identificar de forma completa o comportamento dos solos tropicais. Por fim, observa-se o
potencial de utilização de solos finos da região do Recôncavo Baiano na pavimentação, podendo contribuir
para a minimização de custos desse tipo de obra de infraestrutura.

AGRADECIMENTOS

Ao PIBIC-UFRB e ao Laboratório de Pavimentação da UFRB pelo apoio para realização da pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brito, C. (2008) A PETROBRAS e a gestão do território no Recôncavo Baiano. Salvador: EDUFBA.


Carvalho, A. S. Y., Almeida, M. S., Costa, W. G. S., Santos, J. H. T. e Vieira, G. R. (2020) Estudo do
Comportamento de um Solo de Subleito Quando Submetido a Diferentes Níveis de Energia de
Compactação. Cruz das Almas.
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Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER). (1994a) DNER-ME 041/94. Solos- preparação de
amostras para ensaio de caracterização. Rio de Janeiro.
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do limite de plasticidade. Rio de Janeiro.
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do limite de liquidez- método de referência. Rio de Janeiro.
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da densidade real. Rio de Janeiro.

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Machado, C. C. Construção e conservação de estradas rurais e florestais. In: C. C. Machado (Ed.);
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Vieira, G. R., Almeida, M. S. S., Costa, W. G. S., Souza, F. C. S. e Malaquias, G. A. P. (2020) Influência da
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Análises de Estabilidade de Taludes e de Percolação em Uma


Barragem de Terra Homogênea Sob a Perspectiva de Segurança
de Barragens
Aniele Lacerda Moreira
Graduada, Universidade de Rio Verde, Rio Verde-GO, Brasil, anielelacerda@hotmail.com

Isabella Christine de Paula Santos


Profa. Mestre, Universidade de Rio Verde, Rio Verde-GO, Brasil, isabellasantos@unirv.edu.br

Ilana Borges de Azevedo


Graduada, Universidade de Rio Verde, Rio Verde-GO, Brasil, ilana-borgesa@hotmail.com

RESUMO: As barragens são estruturas que podem ser criadas para diversas finalidades, tais como, geração de
energia elétrica e lazer. A barragem de terra é uma das mais utilizadas no Brasil, devido a abundância de
materiais disponíveis para sua construção. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é identificar os principais
tópicos relacionados à segurança das barragens de terra, no que diz respeito ao seu dimensionamento, ao
controle de percolação e à estabilidade dos taludes. Para isso, utilizou-se a versão estudantil do software
GeoStudio 2019 (pacotes Seep/W e Slope/W) para executar as análises, considerando a existência e a
inexistência de elementos de controle de percolação no maciço e na fundação da barragem. A geometria
adotada nas modelagens atendeu aos critérios de projeto geométrico e de análise de estabilidade estabelecidos
na literatura; a utilização de elementos de controle de percolação no maciço e na fundação se mostraram
importantes, pois favorecem a segurança da barragem, aumentando sua estabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Análise de Percolação. Anélise de Estabilidade de Taludes. Barragens de Terra


Homogênea. Segurança de Barragens. Modelagem Numérica.

ABSTRACT: Dams are structures that can be created for several purposes, such as generating electricity and
leisure. The earth dam is one of the most used in Brazil, due to the abundance of materials available for its
construction. Thus, the objective of this work is to identify the main topics related to the safety of earth dams,
with regard to their dimensioning, percolation control and slope stability. For this, the student version of the
GeoStudio 2019 software (Seep / W and Slope / W packages) was used to perform the analyzes, considering
the existence and absence of percolation control elements in the massif and in the foundation of the dam. The
geometry adopted in the modeling met the criteria of geometric design and stability analysis established in the
literature; the use of percolation control elements in the massif and the foundation proved to be important, as
they contribute to the safety of the dam, increasing its stability.

KEYWORDS: Percolation Analysis. Slope stability Analysis. Dams of Homogeneous Land. Dam Safety.
Numerical Modeling.

1 Introdução

Barragens são estruturas construídas com a finalidade de obstruir um curso d’água, formando assim um
reservatório, com o objetivo de armazenar a água para diversos fins (CAPUTO, 2017). Dentre os tipos
convencionais, as Barragens de Terra são as mais comumente utilizadas no Brasil, devido a disponibilidade de
material e pelas condições topográficas do país (MASSAD, 2010).
A barragem, independentemente do tipo, é suscetível a falhas. Por essa razão, durante sua concepção, é
importante considerar aspectos que visem a segurança da mesma, desde sua fase de projeto até a fase de
operação. Segundo Oliveira e Brito (1998), a análise de estabilidade de uma barragem abrange um conjunto
de procedimentos, que visa a determinação de uma grandeza capaz de quantificar o quão próximo de uma
ruptura o talude da mesma está, minimizando assim, as chances de ruptura e aumentando sua segurança.

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Tem-se ainda, que uma das maiores preocupações de projetistas de barragens é a percolação de água
pelo maciço e pela fundação de forma descontrolada, devendo ser adotadas medidas que controlem a
percolação de água, de forma a evitá-la ou reduzi-la. Cruz (1996) destaca que, dentre os requisitos de segurança
de uma Barragem, a estanqueidade é fundamental, sendo que é a propriedade onde ocorre o impedimento da
percolação de água da montante para a jusante, pelo maciço e pela fundação, o que segundo Costa (2012) é
impossível em função dos elevados custos para os efeitos esperados.
Considerando-se que as infiltrações e os escorregamentos são duas causas frequentes de rupturas de
barragens de terra, o objetivo deste trabalho é identificar os principais tópicos relacionados à segurança das
barragens de terra, no que diz respeito ao seu dimensionamento, por meio de análises de percolação de água e
de estabilidade dos taludes, nas fases de final da construção e operação da barragem.

2 Materiais e Métodos

Este trabalho foi desenvolvido considerando-se um problema fictício, no qual foi proposta uma seção
hipotética, típica de barragem de terra homogênea. Para o dimensionamento geométrico adotado, baseou-se
em diretrizes de projetos encontradas na literatura e em um projeto de uma barragem de terra de pequeno porte,
localizada no município de Pontalina/GO, construída com 11 m de altura para a finalidade de lazer.
Para a realização do estudo, utilizou-se o software GeoStudio 2019, versão estudantil, por meio dos
pacotes Seep/w e Slope/w. O programa GeoStudio é um programa baseado no método dos elementos finitos,
no qual é possível fazer análises de estabilidade de taludes, de percolação, de tensão e deformação, de sismos
e liquefação, dentre outras.
Desenvolveu-se o estudo considerando a existência e inexistência de elementos de controle de
percolação, com o intuito de observar a importância de tais componentes na segurança da barragem (Figuras
1 e 2). Em função das limitações da versão estudantil do programa GeoStudio, foram realizadas análises de
percolação de água ao longo do maciço e da fundação da barragem, apenas em sua fase de operação, e a de
estabilidade dos taludes de montante e jusante da barragem nas fases de final da construção e operação da
barragem.

Figura 1. Malha da Barragem sem Sistemas de Controle de Percolação.


Fonte: Moreira, Azevedo e Santos (2019).

Figura 2. Malha da Barragem com Sistemas de Controle de Percolação.


Fonte: Moreira, Azevedo e Santos (2019).

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Para avaliar a existência de elementos de controle de percolação, adotou-se um sistema de drenagem


interno no maciço da barragem (filtros (drenos) vertical e horizontal); um cut-off na fundação, devido ao fato
da fundação ser constituída de um material permeável; e um dreno de pé a jusante (Figura 2).
Em relação a geometria adotada para a barragem, considerou-se a mesma com altura igual a 11 m; crista
com 6 m de comprimento; e taludes de montante e jusante com inclinação igual a 2,5(H):1,0(V). O material
utilizado no maciço da barragem foi uma argila siltosa e na fundação um areia siltosa, assumindo-se que estes
materiais se comportam de acordo com a teoria de mecânica dos solos saturados, não levando em conta os
efeitos da sucção. Com isso, no Quadro 1 são apresentados os parâmetros geotécnicos dos solos utilizados.
Quanto à espessura dos filtros, foi adotado o valor de 0,8 m para ambos, devido ao fato de ser uma
barragem de pequeno porte e por ser a espessura mínima estabelicida para o dreno vertical em Cruz (1996).
Para o dreno de pé, considerou-o com 1,6 m de espessura, 4 m de crista e mesma inclinação do talude de
jusante.

Quadro 1 – Parâmetros dos solos utilizados no estudo


Material Parâmetros Valores Referências
Peso específico 17 kN/m³ Cintra et al., (2011)
-8
Coeficiente de permeabilidade 1x10 m/s Pinto (2006)
Argila Siltosa
Coesão efetiva 37,5 kPa Cruz (1996)
Ângulo e atrito interno 30° Moraes (1976)
Peso específico 20 kN/m³ Cintra et al., (2011)
-5
Coeficiente de permeabilidade 1x10 m/s Pinto (2006)
Areia Siltosa
Coesão efetiva 1 kPa Cruz (1996)
Ângulo e atrito interno 35° Moraes (1976)
Peso específico 21 kN/m³ Moraes (1976)
-5
Areia Siltosa Coeficiente de permeabilidade 1x10 m/s Massad (2010)
Ângulo e atrito interno 35° Moraes (1976)
Fonte: Próprios autores (2020).

Na análise de percolação, é necessário aplicar condições de contorno ao longo da barragem, sendo que,
na fase de operação, no talude de montante, estabeleceu-se o nível de água máximo do reservatório com carga
total da água igual a 9 m. Já na fase de final da construção, considerou-se a carga total de água igual a zero a
montante, pois nesta fase, o reservatório ainda não foi enchido. Para o talude de jusante, a condição de contorno
escolhida foi a drenage, a qual permite que a água saia do domínio se a pressão se exceder a 0 kPa, com carga
igual a zero.
Quanto ao número de nós e elementos utilizados nas modelagens dos problemas, a versão estudantil
possui uma limitação com 500 elementos. Com isso, as modelagens foram executadas com um total de 484
(Figura 1) e 478 (Figura 2) elementos do tipo quadrangulares e triangulares, e 580 (Figura 1) e 567 (Figura 2)
nós, com o tamanho de 1,7 m dos elementos.

3 Considerações sobre as Análises Realizadas

3.1 Análise de Percolação

Quanto à permeabilidade, levou-se em consideração que a perda de d’água através da fundação e do


maciço não deve ser excessiva e que as pressões d’água na base do talude de jusante não devem ser elevadas,
pois reduzem consideravelmente a estabilidade deste talude, e que gradientes de saída elevados podem
provocar erosões, além de poder provocar o efeito de areia movediça na fundação.
As análises foram realizadas considerando estado de regime permanente, pois não é possível fazer
análise de fluxo transiente, que é a vazão que atravessa uma dada seção por unidade de tempo, na versão
estudantil do programa GeoStudio.

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3.2 Análise de Estabilidade dos Taludes da Barragem

Adotou-se o fator de segurança (FS) contra a ruptura do solo como sendo o critério de avaliação da
estabilidade dos taludes da barragem, nas fases de operação e final da construção, sendo que o FS é definido
como a razão entre as forças estabilizadoras e as forças desestabilizadoras (MASSAD, 2010). Dessa forma,
considerou-se como referência os valores indicados no Manual da Eletrobrás, sendo que na fase de construção,
a barragem é projetada para ficar com fator de segurança (FS) mínimo de 1,3; e na fase de operação, o FS a
ser atendido é de 1,5 (ELETROBRÁS, 2003).
Na fase final da construção, considera-se que o maciço acabou de ser construído e o reservatório ainda
não foi enchido, enquanto que na fase de operação, está sendo considerada a barragem durante sua vida útil,
em situação estacionária. O reservatório já está cheio, a água já está percolando.

4 Resultados e Discussão

4.1 Análise de Percolação

Para analisar a percolação de água pelo maciço e fundação da barragem, considera-se que a barragem
está em operação, o que provoca o fluxo de água. Nas Figuras 3 e 4 são apresentadas as análises sem considerar
e considerando a existência dos elementos de percolação.
Pelas Figuras 3 e 4, percebe-se que os vetores de fluxo indicam o sentido da percolação, que vai da
montante para a jusante, tanto no maciço, quanto na fundação, e que o cut-off faz com que a força de percolação
pela fundação seja reduzida. A linha de percolação, que infiltra no maciço na altura do N.A.máx do reservatório,
na Figura 3 segue ao longo de todo o maciço, podendo aflorar no talude de jusante, enquanto que na Figura 4,
a linha é interceptada pelo conjunto de filtros. Dessa forma, nota-se que os filtros se tornam o caminho
preferencial para a percolação da água, pois a areia siltosa possui uma permeabilidade maior do que o material
do maciço.
O fato da água poder aflorar no talude de jusante, no caso em que não há um sistema de drenagem
interno, é preocupante, pois no caso de haver alguma falha ou fissura no maciço pode ocorrer a formação do
fenômeno piping, o que compromete a segurança da barragem. Em relação ao dreno de pé, notou-se que ele é
um elemento necessário para que a água oriunda das infiltrações seja encaminhada para fora da barragem sem
provocar possíveis carreamentos de partículas de solo ao longo do tempo.

Figura 3 – Análise de Percolação da Barragem sem Sistemas de Controle de Cercolação.


Fonte: Próprios Autores (2020).

Figura 4 - Análise de Percolação da Barragem com Sistemas de Controle de Percolação.


Fonte: Próprios Autores (2020).

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A Figura 5 apresenta um gráfico da distribuição da poropressão na estrutura da barragem de terra a partir


do pé do talude montante até o pé do talude jusante, para a situação sem controle de percolação; e a Figura 6,
o grafico da distribuição das pressões neutras ao longo do maciço considerando a existência dos elementos de
controle de percolação.
Poropressão X Distânica (maciço)
90
80
Poropressão (kPa)

70
60
50
40
30
20
10
0
0 10 20 30 40 50 60 70
Distância (m)

Figura 5 – Poropressão ao Longo do Maciço da Barragem sem Sistemas de Controle de Percolação.


Fonte: Moreira, Azevedo e Santos (2019).
Novo Gráfico (2)
90
80
Poropressão (kPa)

70
60
50
40
30
20
10
0
0 10 20 30 40 50 60 70
Distância (m)

Figura 6 – Poropressão ao Longo do Maciço da Barragem com Sistemas de Controle de Percolação.


Fonte: Próprios autores (2020).

Percebe-se que a tendência da poropressão ao longo da barragem é de diminuição de seus valores, o que
pode ser atribuído a dificuldade da água percolar, em função da baixa permeabilidade do material do maciço
(Figuras 5 e 6). Na figura 6, é ilustrado que o valor da pressão neutra tem uma redução rápida quando se
aproxima do filtro vertical, passando a ser quase nula, o que confirma a hipótese de que o sistema de drenagem
interno controla o fluxo de água pelo maciço, fazendo com que a linha freática não passe pelo talude a jusante,
o que aumenta sua estabilidade.

4.2 Análises de Estabilidade

4.2.1 Fase Final da Construção

Nessa fase considera-se que o maciço acabou de ser construído e que a poropressão é negativa, pois
ainda não há pressão de água estabelecida pelo reservatório. Com o passar do tempo, começa a surgir
poropressão positiva (poropressão construtiva), devido ao carregamento.
Nas Figuras 7 e 8 são apresentados os resultados para as análises considerando e sem considerar
elementos de controle de percolação para os taludes de montante. Na Tabela 1, pode ser vista uma comparação
entre os FS obtidos nas modelagens e os valores especificados no manual da Eletrobrás, para os taludes de
montante e jusante.
Observa-se que os fatores de segurança FS obtidos nas análises dos taludes a jusante e a montante
atenderam aos valores estabelecidos no Manual da Eletrobrás (2003). Logo, a seção escolhida atende com
segurança às condições de ruptura.

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Figura 7 – Análise de Estabilidade no Talude de Montante na Fase de Final da Construção - Barragem sem
Sistemas de Controle de Percolação.
Fonte: Moreira, Azevedo e Santos (2019).

Figura 8 – Análise de Estabilidade no Talude de Montante na Fase de Final da Construção - Barragem com
Sistemas de Controle de Percolação.
Fonte: Próprios autores (2020).

Tabela 1 – Comparação de Fator de Segurança (FS) na fase de construção


Valores Valores referência
Análises obtidos pela – Eletrobrás
análise (2003)
Análise de estabilidade no talude de jusante na fase de construção
2,510 1,3
-barragem sem sistemas de controle de percolação.
Análise de estabilidade no talude de montante na fase de
2,709 1,3
construção - barragem sem sistemas de controle de percolação
Análise de estabilidade no talude de jusante na fase de construção
2,614 1,3
- barragem com sistemas de controle de percolação.
Análise de estabilidade no talude de montante na fase de
2,598 1,3
construção - barragem com sistemas de controle de percolação.
Fonte: Próprios autores (2020).

4.2.1 Fase de Operação

É a avaliação da barragem durante sua vida útil. Nesta fase, a poropressão atuante não é mais a
construtiva, é a poropressão estabelecida na análise de percolação estacionária. Como indicado no manual da

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Eletrobrás (2003), esta análise é a mais conservadora, porque é a situação que vai predominar na vida útil da
barragem.
Nas Figuras 9 e 10 são apresentados os resultados das análises nos casos de não haver e havendo
elementos de controle de percolação para o talude jusante, e na Tabela 2, apresenta-se uma comparação entre
os FS obtidos nas modelagens para ambos os taludes e os valores especificados no manual da Eletrobrás.
Os valores obtidos pelas análises atendem aos critérios de FS propostos no Manual da Eletrobrás e
mostram que a barragem, mesmo sem os sistemas de controle de percolação, apresenta segurança quanto à
possibilidade de ocorrência de escorregamento.
Os FS em ambas as condições, com e sem sistema de controle de percolação, em ambas as análises (final
da construção e operação), atenderam aos critérios estabelecidos no Manual da Eletrobrás, o que pode ser
atribuído à geometria da barragem, adotando-se taludes mais brandos, e à qualidade dos materiais empregados
nos problemas, considerando-se parâmetros de resistência e permeabilidade adequados.
A utilização dos elementos de controle de percolação aumentaram a estabilidade do talude de jusante.
Além disso, nota-se que a superfície de ruptura é profunda, passando pela fundação, o que indica que a
resistência do material da fundação influencia na estabilidade da barragem.

Figura 9 – Análise de estabilidade no talude de jusante (fase de operação) - barragem sem sistemas de
controle de percolação.
Fonte: Moreira, Azevedo e Santos (2019).

Figura 10 – Análise de estabilidade no talude de jusante (fase de operação) - barragem com sistemas de
controle de percolação.
Fonte: Próprios Autores (2020).

Tabela 2 – Comparação de Fator de Segurança (FS) na fase de operação


Valores Valores
Análises obtidos pela referência –
análise Eletrobrás (2003)
Análise de estabilidade no talude de jusante - 1,5
2,220
barragem sem sistemas de controle de percolação
Análise de estabilidade no talude de montante -
4,215 1,5
barragem sem sistemas de controle de percolação
Análise de estabilidade no talude de jusante -
2,608 1,5
barragem com sistemas de controle de percolação

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Análise de estabilidade no talude de montante -


3,492 1,5
barragem com sistemas de controle de percolação
Fonte: Próprios autores (2020).

5. Conclusões

Percebe-se pelas análises de percolação, que os elementos de controle de fluxo contribuem para a
estabilidade, pois o fluxo é interceptado pelo conjunto de filtros, tornando-se um caminho preferencial para a
água. A barragem sem o sistema de drenagem interno (filtros) possui o risco de ocorrência de piping, devido
ao fato de a água poder aflorar à jusante caso ocorra alguma anomalia, o que compromete a segurança da
mesma.
A existência de um sistema de drenagem interno na barragem é adequado na perspectiva de segurança,
no entanto, pode-se dizer, que no caso pequenas barragens de terra homogêneas que possuem um bom controle
de execução e compactação, com utilização de material em quantidade e qualidade adequados, esse sistema
pode ser dispensado, pois a barragem apresenta um FS acima do estabelecido na literatura.
Pelas análises de estabilidade de taludes, percebe-se que a superfície de ruptura é profunda, passando
pela fundação. Isso indica que a fundação é formada por um solo menos resistente do que o utilizado no
maciço, e que ao projetar a barragem, este fato deve ser levado em consideração, pois a resistência da fundação
influencia diretamente no comportamento dos taludes da barragem, afetando sua estabilidade.
Para eventuais estudos, é indicado a análise em situações de rebaixamento rápido, e em efeitos sísmicos,
os quais não foram possíveis serem realizados devido à limitação da versão estudantil do software GeoStudio.
Além disso, realizar análises em três dimensões (3D) também se torna válida, pois é possível se assemelhar
mais às condições de campo.

REFERÊNCIAS

CAPUTO, H. P.; CAPUTO, A. N.; RODRIGUES, J. M. A. (2017) Mecânica dos solos e suas aplicações:
mecânica das rochas, fundações e obras de terra. v. 2, 7. Ed., LTC, Rio de Janeiro, Brasil.
CINTRA, J. A.; AOKI, N.; ALBIERO, J. H. (2001) Fundações diretas: projeto geotécnico.: Oficina de Textos,
São Paulo, 136 p.
COSTA, W. D. (2012) Geologia de Barragens, Oficina de Textos,. São Paulo, Brasil, 352 p.
CRUZ, P. T. (1996) 100 barragens brasileiras: casos históricos, materiais de construção, projeto. Oficina de
Textos, São Paulo, Brasil, 647p.
ELETROBRÁS (Centrais Elétricas Brasileiras S. A.). (2003) Critérios de projeto civil de Usinas Hidrelétricas.
CBDB,. 278 p.
GEOSLOPE. Opções de licenciamento. Disponível em:
<https://www.geoslope.com/products/geostudio/licensing>. Acesso em 01 de nov. 2019.
MASSAD, F. (2010) Obras e terra: curso básico de geotecnia. 2 ed., Oficina de Textos, São Paulo, 216 p.
MORAES, M. C. (1976) Estruturas de Fundações, Mcgraw Hill, São Paulo.
MOREIRA; A. L,; AZEVEDO; I. B.; SANTOS; I. C. P. (2019). Análises de percolação e estabilidade de
taludes em uma barragem de terra homogênea sob a perspectiva de segurança de barragens. Trabalho de
Conclusão de Curso, Faculdade de Engenharia Civil, Universidade de Rio Verde, 21p
OLIVEIRA, A.M.S. BRITO, S.N.A. (Eds.). (1998) Geologia de engenharia. Associação Brasileira de Geologia
de Engenharia (ABGE), São Paulo, 424 p.
PINTO, C. S. (2006) Curso básico de mecânica dos solos.3ed., Oficina de Textos, São Paulo, 368 p.

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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0191 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Análise de Estabilidade de Taludes: um Estudo em um Talude de


Aterro Próximo a uma Ponte Localizada em Palmas – TO

Jessica Batista Peixoto da Cruz


Estudante, Centro Universitário Católica do Tocantins,Palmas,Brasil,jessica.peixoto@a.catolica-to.edu.br

Flavio Vieira da Silva Júnior


Professor Adjunto, Centro Universitário Católica do Tocantins,Palmas,Brasil,flavio.junior@p.catolica-
to.edu.br
Alexandre Cerqueira de Jesus
Professor Adjunto, Centro Universitário Católica do Tocantins,Palmas,Brasil,alexandre.Jesus@p.catolica-
to.edu.br

RESUMO: Investiga-se o mecanismo de rutura de um talude de aterro compactado próximo ao encontro de


uma ponte na Cidade de Palmas, capital do estado do Tocantins. Realizou-se análise de fluxo para
determinação do perfil de sucção do solo para diferentes condições de infiltração durante o período de 28 dias.
Mediante os resultados de ensaios realizados em laboratório e adoção do modelo de Vilar (2006) para análise
da resistência ao cisalhamento do solo, para condição não saturada, pode-se identificar que o mecanismo de
escorregamento do talude em questão, está associado a perda da resistência ao cisalhamento devido o avanço
de frente de umedecimento associado com mecanismo de erosão regressiva na base do talude e elevação do
nível de água do córrego de Sussuapara na Via NS-03.

PALAVRAS-CHAVE: Mecanismo de rutura, Solo não saturado, Análise de fluxo, perfil de sucção e Fator de
segurança

ABSTRACT: The rupture mechanism of a compacted embankment near the meeting of a bridge in the city of
Palmas, capital of the state of Tocantins, is investigated. Flow analysis was performed to determine the soil
suction profile for different infiltration conditions during the 28-day period. Through the results of tests carried
out in the laboratory and the adoption of the Vilar (2006) model for analyzing the shear strength of the soil for
Unsaturated condition, it is possible to identify that the slope mechanism of the slope in question is associated
with loss of resistance to shear due to the advance of wetting associated with a mechanism of regressive erosion
at the base of the slope and elevation of the water level of the stream of Sussuapara in Via NS-03

KEYWORDS: Break mechanism, Unsaturated soil, Flow analysis, suction profile and Safety factor

1 Introdução

Pontes são obras de engenharia que unem ruas, bairros, cidades, estados e até mesmo países, sendo
assim, a mínima interdição pode afetar completamente a rotina e o convívio de uma sociedade, pois tem se a
visão de uma ponte, por algo constante. Nesse contexto, esse trabalho objetiva fazer um estudo da estabilidade
do talude de uma ponte localizada em Palmas, identificando os principais mecanismos que condicionaram a
instabilidade do talude lateral e consequentemente a interdição.
Segundo Mitre (2005), vários fatores inerentes ao projeto ou execução de OAE’s (como em pontes), podem
levar a processos de envelhecimento, dano ou obsolescência, reduzindo sua capacidade de atender aos
requisitos de utilização, que são a funcionalidade, a segurança estrutural e a durabilidade, podendo citar causas
ambientais e de uso.

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1.2 Área de Estudo

A Cidade de Palmas, capital do estado do Tocantins é uma cidade relativamente nova, sua fundação
ocorreu em meados de 1988 com a criação do Estado. Dessa maneira suas estruturas de infraestrutura são
novas principalmente as pontes e viadutos construídos a partir deste período de povoamento da capital;
A região possui um clima tropical com dois períodos bem característicos, um seco e o outro chuvoso,
com cerca de seis meses para ambos. A média história anual de precipitação na cidade de Palmas é de 1690
mm/ano, sendo que as chuvas iniciam no período de novembro e se estendem até março. No que se refere as
temperaturas a média anula esta na ordem de 31,7º segundo os dados do UNIMET.
A geologia do município de Palmas é constituída por rochas da Bacia do Parnaíba, Na bacia da sub-
bacia Sussuapara é composto por sedimentos finos plástico de coloração acinzentada de espessura na ordem
de 4 a 10 metros provenientes das coberturas Cenozóicas dos Complexos Metamórficos e Faixa de
dobramentos do Proterozóico Médio a Superior (SDUH, 2005). O material coletado (amostra deformada) na
base do aterro e caracterizado em laboratório apresenta tais características de material fino e plástico e saturado
tendo em vista ter sido coletado na margem do córrego.
O presente trabalho esta delimitada para avaliação das condições de um aterro compactado executado
nas imediações do córrego da Sussuapara na Via NS-03. Essa via é uma importante ligação entre as regiões
norte e central de Palmas, por onde trafegam várias pessoas todos os dias, além de ser rota para caminhões de
carga que passam por Palmas para ter acesso ao terminal de cargas da ferrovia Norte-Sul. A Figura 1 apresenta
a localização da região de estudo.

Figura 1 – Localização da Área de Estudo.

Após intensas chuvas no período de dezembro de 2018 apareceram uma série de trincas na crista do
aterro localizado no encontra da ponte. Essas trincas de tração evoluíram até que em 05 de dezembro de 2018
ocorreu a o escorregamento de parte do aterro levando a interdição da via. As fotos abaixo apresentam a
extensão da rutura do talude do aterro.

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Figura 2 – Rutura do Talude do aterro rodoviário no encontro de ponte.

2 Metodologia

O trabalho foi desenvolvido em duas etapas distintas. A primeira etapa investigativa foi realizado com
a coleta de informações sobre a geometria do escorregamento e do talude bem como caracterização geotécnica.
Na segunda etapa foram realizados simulações numéricas para a avaliação dos mecanismos de rutura do aterro.

2.1 Levantamento fotogramétrico

Utilizou-se um drone da marca DJI, modelo Phantom 4 Pro. Ao todo, foram utilizados 6 GCPs (Ground
Control Points), também chamados de pontos de apoio, destinados a servir de base para a correção entre o
sistema de coordenadas da imagem com o do terreno e serão utilizados no software de processamento. O voo
foi planejado no software Drone Deploy, a 70 metros de altura e com 75% de sobreposição lateral e
longitudinal.
As imagens capturadas pelo equipamento foram processadas no software Agisoft Photoscan, gerando
uma nuvem de pontos, a qual a partir da passagem de vários filtros foi possível gerar o modelo digital do
terreno (MDT) e consequentemente as curvas de nível. Mediante a modelagem das curvas de nível foi possível
restituir a seção crítica da encosta em de acordo com a metodologia proposta por Jesus e Vilar (2007).

2.2 Caracterização Geotécnica

Mediante a abertura da trincheira sub vertical no corpo do aterro, conforme foto acima foi possível
identificar que o aterro era composto por duas camadas de solo de textura distinta apoiada sobre a fundação
(terreno natural). Mediante esta abertura foram retiradas amostras indeformadas com intuito da realização de
ensaios de cisalhamento direto, determinação da densidade in situ e permeabilidade. Também foram retidas
amostras deformadas para realização de ensaio de compactação e caracterização granulométrica, cujos
resultados são apresentados na Tabela abaixo.

Tabela 1 – Síntese dos Resultados de Ensaios de Laboratório realizados nas amostras retiradas em campo
Solo Pedreg Areia Silt. Arg. s dmax GC k
(%) (%) (%) (%) (kN/m³) (kN/m³) (%) (cm/s)
Camada 1 6,0 57 25 12 26,5 12,8 70,7 10-3
Camada 2 15 43,5 14,5 27 26,8 13,6 96,4 10-5
Fundação 0 22 48 30 26,6 - - 10-4

Em relação a estratigrafia da seção estudada, pode-se avaliar através das medidas diretas dos horizontes,
que a camada 1 mais superficial apresentava uma espessura média na ordem de 1,8 metros seguida por uma
segunda camada de 6,2 metros de espessura apoiada sobre sub-leito natural (fundação). A primeira camada é
constituída de uma areia siltosa com argila com coloração vermelho escuro com permeabilidade na ordem de
10-3 cm/s com grau de compactação baixa (material fofo). Na camada adjacente é encontrado uma textura de
uma areia argilosa com pedregulho de coloração amarelo ocre com grau de compactação na ordem de 10 -5

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cm/s. Por fim para a complementação do modelo geotécnico foi considerado o nível de água na base do aterro,
tendo em vista do aterro esta na região do córrego do Sussuapara.
Vilar (2006) apresentou uma metodologia simplificada para estimar a resistência ao
cisalhamento do solo não saturado. Segundo o autor o intercepto coesivo (c) do solo obedece uma
função hiperbólica (Equação 1) cujo parâmetros (a e b) são determinados de dados experimentais da
amostra na umidade residual e na condição saturada

𝑐 = 𝑐 ′ + 𝑎+𝑏∗ (1)

Onde: c’ – Coesão do solo na condição saturada ; a e b – Parâmetros mecânicos e  - Sucção


matricial.
Logo a equação de Morh- Coulomb pode ser rescrita através da expressão 2:

𝜏 = [𝑐 ′ + 𝑎+𝑏∗ ] + (𝜎 − 𝑢𝑤 ) ∗ 𝑇𝑎𝑛𝜑′ (2)

Para a aplicação da metodologia de Vilar (2006) é necessário se obter a envoltória de ruptura do solo
seco ou numa umidade conhecida, desde que esta seja menor que a umidade que se deseja estimar a resistência.
Tal metodologia foi aplicada para amostra retirada da camada 1 devido esta camada ser mais influenciada
pelas variações climàticas.
Foram realizados ensaios de cisalhamento direto do tipo CD em corpos de prova na condição inundada,
seca ao ar (Teor de umidade Higroscópico) e no teor de umidade de campo. Mediante os resultados
apresentados foi possível definir os parâmetros (a e b) e coesão efetiva na condição inundada.
Para a camada 2 foram realizados ensaio de cisalhamento direto para as condições inundadas e na
condição de Umidade ótima do material. Os ensaios foram realizados para os níveis de tensão normal de 50
kPa, 100 kPa e 150 kPa, todos na condição drenada (CD). A Tabela 2 apresenta os resultados dos ensaios
realizados enquanto na Figura 3 é apresentado os resultados experimentais obtidos em laboratório.

Tabela 2 – Síntese dos Resultados de Caracterização mecânica do solo


Solo Envoltória de Solo Não Saturado Envoltória de Solo Saturado
a b c’ ’ c’ ’
Camada 1 1,768 0,0072 8,6 29° - -
Camada 2 - - 82,4 34º 5,6 27°
Fundação* - - - - 10 25º
*Nota: Parâmetros de Resistência adotados.

(b)
(a)
Figura 4 – Síntese dos Resultados de Ensaio de Cisalhamento Direto para condição seca ao ar (a) e Inundado
(b)

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2.3 Simulação Numérica

Para o presente trabalho foi realizado simulações numéricas utilizando-se do pacote Geo-
Studio- 2012. Utilizou-se as sub-rotinas do SEEP para realização da simulação de fluxo e o SLOPE-
W para realização das retroanálises.

2.3.1 Simulação de Fluxo

Para realização da simulação das chuvas no período em destaque foi tomada as seguintes hipóteses e
premissas:

Adotou-se para a condição inicial o perfil de sucção versus elevação do talude em equilíbrio hidrostático
com a posição inicial do lençol freático antes do período da chuva. Adotou-se o nível inicial de sucção de 60
kPa conforme sugere os trabalhos de Calle (2000).

As precipitações adotada de acordo com a equação [3] de intensidade-frequência e duração desenvolvida


pela Silva e Miranda (2017). Definiu-se o tempo de recorrência de 10 anos e a duração de chuvas de 8 horas.
Foi considerado a análise a partir do dia 08 de novembro de 2017 até o dia 05 de dezembro em consonância
com os dados pluviométricos da estação meteorológica de Palmas (Figura 7).

963,84∗100,152
𝑖= (𝑡+14)0,784
(3)

Todo o volume de água precipitado que não se infiltra no corpo do talude escoa instantaneamente, não
criando dessa maneira lâmina de água ao longo da superfície do Talude. Foi considerado a taxa de evaporação
agindo sobre o talude. Em vista de não ter sido realizado ensaio para determinação da curva de retenção e
curva de condutividade hidráulica do solo, foi considerado a proposta da determinação indireta a partir dos
resultados de ensaio de granulometria e permeabilidade saturada do solo (VAZ et al, 2004) utilizando-se o
modelo de Van Genuchten (1980). Os parâmetros hidráulicos ajustados são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 – Síntese dos Parâmetros Hidráulicos ajustado para modelo de Van Genuchten (1980).
Solo  n m s r k
(cm/s)
Camada 1 0,090 1,7 0,5 0,35 0,10 10-3
Camada 2 0,012 2,5 0,63 0,40 0,28 10-5

Foram realizados simulações de infiltração durante 28 dias que antecede o escorregamento. Entretanto é
apresentado na Figura 4 o resultado de 10 etapas de simulação. As análises apresentadas estão espaçadas de
forma temporal a cada 3 dias a partir da data de início (03 de outubro).

2.3.2 Retroanálise

No decorrer deste trabalho existe dois mecanismos de ruptura a ser avaliado através da retroanálise. No
primeiro caso, as simulações serão realizadas de forma a verificar se o mecanismo de escorregamento esta
associado a evolução da frente de umedecimento do solo e consequentemente a diminuição da coesão do solo.
Para avaliação dos fatores de segurança do talude durante o período chuvoso é realizado uma pseudo
acoplamento hidráulico mecânico.
Tal análise é considerada desta maneira devido o fato da simulação ser realizada considerando o critério
de ruptura de Morh-Coulomb mas adotando a variação da resistência do solo não saturado através da equação
[ 1 ] sendo usados os dados de entrada o perfil de sucção obtido para as simulações de fluxo (infiltração)
realizadas no SEEP.

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A segunda simulação levará em consideração o alteamento do nível do córrego Sussuapara em um metro


e modificação da geometria na base do aterro. Tal avaliação se deve ao fato das condições geométricas do
aterro encontrada próxima a cabeceira do aterro indicavam um processo erosivo devido o solapamento da base.

3 Análise de Resultados

As simulações numéricas para avaliação do perfil de saturação é apresentado na Figura 4 abaixo. Notar
que a posição da frente de saturação avançam com o passar dos dias a medida que a água da chuva infiltra no
solo sobretudo nas profundidades inferiores a 2,5 metros. Entretanto pode-se perceber que a posição do lençol
freático não muda de posição, considerando somente a contribuição da água infiltrada. É possível verificar a
variação da coesão do solo para as diferentes etapas da análise de fluxo realizado.

Figura 4 – Perfil da frente de Saturação obtida nas simulações numéricas realizadas durante o período 03 de
outubro a 12 de novembro a de 2018.

Mediante os resultados do perfil da frente de saturação foi realizado a retroanálise do escorregamento


para determinação dos fatores de segurança, sendo realizado a análise em dez cenários distintos definidos
através das precipitações geradas nos 28 dias que antecederam o escorregamento. Os resultados são plotados
na Figura 5.
Os resultados indicam que o fator de segurança inicial do aterro estava na ordem de 1,95 inferior ao que
é recomendado para este tipo de obra. Entretanto com os seguidos períodos de chuva, o fator de segurança
atinge valor de 1,21 que corresponde a queda de 37 % do fator de segurança em 28 dias. Apesar desta queda
os resultados obtidos não indicam que o mecanismo de avanço de frente de umedecimento fosse o suficiente
para o escorregamento.
A segunda análise considerou que ocorreu uma modificação da geometria da base do aterro devido a
erosão progressiva do solo em função da falta de proteção na saia do aterro associada com a elevação do nível

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do córrego em 1 metro devido ao período chuvoso. Também foi considerado o último perfil de sucção do solo
obtido pela análise realizada no SEEP.
A Figura 06 (b) representativa da seção crítica e das condições de contorno apresentadas no parágrafo
anterior indicam que o fator de segurança mínimo seria de 1,057.

Figura 5 – Evolução do Fator de Segurança e o nível de precipitação pluviométrica diária

(a) (b)
Figura 6 - Seção Critica final para o mecanismo de frente de umedecimento (a) e elevação do córrego e erosão
regressiva (b).

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5 Conclusões

A variação da coesão do solo, avaliada qualitativamente neste trabalho, sugere ser um fator importante
na deflagração da ruptura, tendo em vista que o valor de ângulo de atrito pouco variou nos resultados obtidos
pelo laboratório ou através de correlações em ensaios de campo, ou resultados obtidos na literatura, quando
comparados com os valores obtidos pela retroanálise.
O modelo proposto por Vilar (2006) para determinação da resistência ao cisalhamento do solo não
saturado associado a análise de fluxo para determinação dos perfis de sucção em diferentes condições de
infiltração mostrou-se eficaz no trabalho.
Os resultados da retroanálise indicam que o mecanismo de ruptura do solo está associado a perda da
resistência ao cisalhamento devido o avanço de frente de umedecimento associado com mecanismo de erosão
regressiva na base do talude e elevação do nível de água do córrego de Sussuapara na Via NS-03.
Os resultados demonstram a capacidade do método de retroanálise em avaliar os parâmetros mais
prováveis no instante da ruptura, bem como avaliar os prováveis mecanismos relacionados a esse evento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Calle, J. A. C. Análise de ruptura de talude em solo não saturado. Dissertação de Mestrado. Escola de
Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo. São Carlos, 2000.

Freitas Silva, Miranda, T.C Determinação da equação e curva de intensidade duração e Frequência Simpósio
de Recursos Hídricos do Nordeste.

Van Genuchten, M. T. A closed form equation for predicting the hydraulic conductivity of unsaturated soils.
Soil Sci. Soc. Am. J., Madison, v. 44, p. 892-898, 1980.

Vaz, C. M. P.; Iossi, M. F.; Naime, J. M.; Macedo, A.; Reichert, J. M.; Reinert, D. J.; Cooper, M. Estimating
soil water retention from particle size distribution for Brazilian soils. Soil Sci. Soc. Am. J., Madison, 2004.
(no prelo)

VILAR, O.M, (2006). A Simplified procedure to Estimate the Shear Strength Envelope of Unsaturated Soils.
Canadian Geotechnical Journal. V.43, N(4 ), p 1088-1095

1523
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0192 ISBN: 978-65-89463-30-6

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Análise em modelo de laboratório da substituição de filtro de areia


por geocomposto em barragens de terra
Rafael Anibele
Discente de mestrado, PPGECC, UFPR, Curitiba, Brasil, rafaelanibele@gmail.com

Elis Regina Halitski


Discente de graduação, Departamento de Engenharia Civil, UEPG, Ponta Grossa, Brasil,
elisreginahalitski@hotmail.com

Bianca Penteado de Almeida Tonus


Professora MSc, Departamento de Engenharia Civil, UEPG, Ponta Grossa, Brasil, bpatonus@uepg.br

Carlos Emmanuel Ribeiro Lautenschläger


Professor Dr, Departamento de Engenharia Civil, UEPG, Ponta Grossa, Brasil, cerlautenschlager@uepg.br

RESUMO: Este estudo destina-se à avaliação da utilização de um geocomposto drenante em substituição a areia como
material para o dreno vertical, utilizado como método de controle de percolação em barragens de terra. O geocomposto
foi instalado de forma vertical associado a tapete drenante, construindo-se uma seção em modelo de laboratório.
Adotou-se seção típica com altura total de 0,3 m, talude de montante com inclinação de 1:2,5 e talude de jusante com
inclinação de 1:2,0. O solo argilo-arenoso utilizado para construção do corpo da barragem passou por ensaios de
caracterização, permeabilidade e compactação com energia normal de Proctor e a areia utilizada no dreno horizontal
passou por ensaios de caracterização, índice de vazios máximo e mínimo e permeabilidade. As poropressões e a vazão
drenada do corpo do modelo foram monitoradas. A seção testada em laboratório foi modelada numericamente,
empregando análise de fluxo em elementos finitos e também foi analisada através do traçado de rede de fluxo. Os
resultados de vazão obtidos através do modelo de laboratório e da rede de fluxo apresentam semelhança, sendo que o
resultado numérico apresenta certa diferença em relação a estes. Quanto as poropressões, os resultados experimentais
apresentam semelhança com os resultados obtidos pela modelagem numérica e pelo traçado da rede de fluxo. Assim,
uma vez que o emprego do geossintético em substituição ao dreno de areia convencional atendeu ao objetivo, afirma-
se que o geossintético substitui com segurança o dreno de areia para o modelo de laboratório.

PALAVRAS-CHAVE: barragem de terra, geossintético, geocomposto drenante, modelo de laboratório, dreno


vertical, controle de percolação.

ABSTRACT: This study is intended to measure a draining geocomposite in replacing sand as a material for
vertical drain, used as a method for controlling percolation in earth dams. The geocomposite was installed
vertically in association with the horizontal drain, building a section in a laboratory model. A typical section
was adopted with a total height of 0.3m, 1:2.5 upstream slope and 1:2.0 downstream slope. The clayey soil used on
the construction of the dam body was submitted to characterization, permeability and compaction tests with normal
Proctor energy, and the sand used in the horizontal drain was submitted to characterization, maximum and minimum
void index and permeability tests. Pore pressure and drained flow of the laboratory model body were monitored. The
section tested in the laboratory was numerically modeled, using finite element flow analysis and was also analyzed
using flow net. The flow results obtained through the laboratory model and the flow net are similar, although the
numerical result presents some difference in relation to those. Relative to pore pressures, experimental results show
similarity with those obtained by numerical modeling and the flow net. Thus, once the use of geosynthetic was
satisfactory in replacing the conventional sand drain, it can be said that the geosynthetic safely replaces the sand drain
for the laboratory model.

KEYWORDS: Earth dam, geosynthetic, draining geocomposite, laboratory model, vertical drain, percolation control.

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1 Introdução

A construção de barragens de terra para aproveitamento dos recursos hídricos com diferentes finalidades é
uma atividade muito antiga. As primeiras barragens foram construídas muito antes do advento da mecânica dos solos
e das modernas técnicas de engenharia, sendo que uma das barragens mais antigas de que se tem notícia foi construída
pelos egípcios há aproximadamente 6,8 mil anos, com 12 m de altura, e rompeu por transbordamento (MASSAD,
2010).
Após o aparecimento e evolução da mecânica dos solos, a construção de barragens passou por uma grande
evolução, com critérios de projeto e controle tecnológico elevados, sempre procurando possibilitar a total segurança e
operacionalidade da estrutura (CRUZ, 1996).
Segundo Massad (2010), a maioria dos acidentes registrados com barragens provém de problemas causados
pelo fluxo de água livre pela estrutura, o que evidencia a importância de que medidas de controle de percolação sejam
adotadas.
Segundo Cruz (1996), o método clássico para controle de fluxo livre de água pelo corpo da barragem
adotado pelos projetistas consiste no uso de drenos horizontal e vertical de areia, técnica consagrada e amplamente
utilizada na mecânica dos solos.
Uma alternativa aos convencionais drenos de areia para aplicação como elemento de drenagem interna são
os geossintéticos. Os primeiros geossintéticos com aplicação de filtragem e contenção de erosão em obras hidráulicas
apareceram na Holanda na década de 1950. A partir daí, sua aplicação em obras hidráulicas e geotécnicas tem
aumentado constantemente. A aplicação de geossintéticos como meio filtrante-drenante foi a primeira a ser
amplamente divulgada e aceita no Brasil (AGUIAR, VERTEMATTI, 2015).

2 Barragens de terra

Barragens são estruturas que tem por objetivo a criação de um reservatório de água para um ou mais usos, como
geração de energia, irrigação, regularização de níveis d’água em rios para navegação, abastecimento urbano, entre
outros. Os principais materiais empregados para sua construção são o concreto, o enrocamento e o solo. No Brasil, o
solo é um material largamente utilizado para construção de barragens, devido a topografia dominante de vales abertos,
propícia para esse tipo de barragem e a grande disponibilidade de material de empréstimo (MARANGON, 2004). As
barragens de terra admitem construção sobre quase qualquer tipo de fundação, desde rocha sã até a argila mole, e
podem ser do tipo homogêneas e zoneadas. Uma seção típica de barragem de terra zoneada aparece na figura 1.

Figura 1. Seção típica de barragem de terra zoneada. Fonte: Cruz (1996)

A seção típica de uma barragem de terra apresenta sistema de drenagem interna, composto de dreno horizontal
e vertical a fim de interceptar a água que percola no corpo da barragem e através das fundações, evitando que ela aflore
na face de jusante e cause problemas de estabilidade e de piping. O piping consiste da erosão interna do solo provocada
pelo carreamento de partículas pelo fluxo de água. O dreno geralmente é constituído de material granular, obedecendo
os critérios de Terzaghi, e, além de impedir o fluxo de água através do corpo da barragem, ainda auxilia na dissipação
das poropressões construtivas e em caso de rebaixamento rápido (MASSAD, 2010).
Para dimensionamento dos drenos, segundo Massad (2010), primeiro procede-se a determinação da vazão a ser
captada pelos mesmos, para que junto das dimensões geométricas provindas da seção projetada seja aplicada a lei de

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Darcy para determinação da espessura de cada dreno. Após, verifica-se se os materiais dos drenos e os solos que o
envolvem atendem aos critérios de Terzaghi.
Os critérios do filtro de Terzaghi são função da granulometria, considerando o D15, que é o diâmetro dos grãos
de solo relativo a 15% passante, e o D85, que é o diâmetro dos grãos de solo relativo a 85% passante. Para garantir a
proteção contra o piping, a relação D15 (filtro)/D85(solo) deve ser menor do que cinco, e para garantir a passagem da água,
a relação D15 (filtro)/D15(solo) deve ser maior do que cinco.
A areia como elemento filtrante pode ser substituída por materiais geossintéticos. No Brasil, a aplicação de
geossintéticos em filtragem foi amplamente aceita e divulgada em diversos tipos de obras. Isso se deve a sua
regularidade de propriedades inerente ao seu processo de fabricação, que dá a obra uma qualidade superior e
considerável redução de custos em comparação com os filtros de agregado convencionais. Outras vantagens da
utilização do geossintético como filtro são que a espessura do filtro é menor, há continuidade no meio filtrante mesmo
que ocorram recalques na estrutura e facilidade de instalação principalmente no caso de filtros inclinados (AGUIAR,
2015; VERTEMATTI, 2015). No entanto, na construção de barragens os geossintéticos ainda não são largamente
empregados.

3 Metodologia

3.1 Caixa de acrílico utilizada para construção do modelo

A caixa de acrílico utilizada para a construção do modelo, apresentada na Figura 2, foi confeccionada com
chapas de acrílico transparente, de 8,0 mm de espessura. Possui dois extravasores, um a montante e um a jusante, para
permitir seu esvaziamento bem como para que se mantenha a constância do nível de água a jusante do modelo. Ela
possui perfurações para a instalação dos piezômetros, em posições definidas no projeto da seção.

Figura 2. Caixa de acrílico utilizada para construção do modelo de laboratório (ANIBELE, 2019).

3.2 Projeto da seção

Determinadas as dimensões da caixa de acrílico utilizada para construção do modelo, foi realizado o projeto
da seção de barragem de terra de forma que fosse contemplado pelas dimensões da caixa, tanto em altura, quando em
comprimento. O projeto da seção foi baseado em indicações da literatura, abrangendo inclinação de taludes relativa
ao solo empregado para construção, e com fundação impermeável.
A seção adotada é do tipo homogênea, e o sistema de drenagem interno é composto pelo filtro horizontal
em areia e vertical em geossintético. A seção projetada para o modelo está na Figura 3.

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Figura 3. Projeto da seção do modelo de laboratório (ANIBELE, 2019).

3.3 Ensaios realizados no solo utilizado na barragem e na areia empregada no dreno horizontal

O solo para construção do modelo passou por ensaios de caracterização, compactação e permeabilidade. A
areia utilizada para o dreno horizontal do modelo passou por ensaios de caracterização, índices de vazios máximo e
mínimo e permeabilidade. Os resultados dos ensaios realizados no solo e na areia utilizados na construção do modelo
são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Resultados dos ensaios realizados no solo e na areia utilizados no modelo.


Densidade Índice de Índice de Compactação - energia Coeficiente de
Ensaio real dos LL LP IP vazios vazios normal – (γd em kN/m³ / hot Condutividade
grãos máximo mínimo em %) Hidráulica (m/s)
Solo 2,669 37 - NP - - 15,3/ 26 3,935.10-9
Areia 2,697 - - - 0,718 0,481 - 5,272.10-3

As curvas granulométricas do solo utilizado na construção do corpo da barragem do modelo e da areia


utilizada na construção do filtro são mostradas nas Figuras 4(a) e 4(b), respectivamente.
Foram realizados testes de compactação no modelo para o peso específico seco máximo da energia normal
de Proctor, através dos quais se observou ser extremamente difícil alcançar o referido peso específico seco no
alteamento do modelo. Diante disso, o peso específico seco foi sendo reduzido para a umidade ótima referente ao
Proctor normal até um peso específico seco de obtenção factível através dos meios disponíveis para imprimir energia
nos diferentes alteamentos. O peso específico seco máximo adotado para execução do modelo após os testes foi o de
13,0 kN/m³. A compacidade relativa da areia no dreno horizontal foi de 77,5%.

100 100
90 90
80 80
70 70
% Passante

60 60
50 50
% Passante

40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000 0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
Diâmetro da partícula (mm) Diâmetro da partícula (mm)
Figura 4. Curvas granulométricas dos materiais utilizados no modelo (a) Solo argilo-arenoso empregado na
construção do aterro; (b) areia empregada na construção do dreno (ANIBELE, 2019)

3.4 Verificação dos critérios de filtro de Terzaghi

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Para a verificação dos critérios de filtro de Terzaghi, os diâmetros relativos a cada porcentagem passante
foram retirados da curva granulométrica, sendo eles D15(filtro) = 0,185, D15(solo) = 0,0001 e D85(solo) = 0,3. O diâmetro
referente a 15% passante para o solo não pode ser extraído diretamente da curva granulométrica, pois a última leitura
do ensaio de sedimentação ainda é superior a 15% passante, então, o ponto foi extrapolado da curva.
Aplicando-se os critérios de Terzaghi apresentadas anteriormente, observa-se que os mesmos foram atendidos,
podendo-se afirmar que não ocorrerá piping e que o dreno possuirá um elevado coeficiente de condutividade
hidráulica, não ocorrendo a colmatação no filtro.

3.5 Rede de fluxo determinada para o modelo, simulação numérica do modelo e cálculo da vazão

Para a determinação da vazão que percola pelo modelo, necessária para o cálculo da espessura do dreno
horizontal e verificação do dreno vertical, foi utilizada a rede de fluxo e a modelagem numérica. A rede de fluxo
traçada manualmente para o modelo é apresentada na Figura 5 e o modelo numérico simulado para a seção é
apresentado na Figura 6.

Figura 5. Rede de fluxo traçada manualmente para o modelo (ANIBELE, 2019).

Figura 6. Modelo numérico simulado para o modelo (ANIBELE, 2019).

A vazão determinada através da rede de fluxo é de 1,79.10-8 m³/s e a vazão determinada através da
modelagem numérica é de 1,46.10-9 m³/s, ambas utilizando os parâmetros ensaiados para o solo. Para as duas situações,
rede de fluxo e simulação numérica, foi considerada anisotropia de permeabilidade de 4 vezes maior a permeabilidade
na direção horizontal do que na direção vertical.

3.6 Cálculo da espessura do dreno horizontal

O dimensionamento do dreno horizontal se deu com base na lei de Darcy, considerando que o dreno trabalha
em carga. A vazão total que o filtro deverá escoar foi determinada tanto pelo modelo numérico quanto pela rede de
fluxo. Os valores encontrados de vazão unitária foram de 1,79.10-8 m³/s através da rede de fluxo e de 1,46.10-9 m³/s
através do modelo numérico. Como as duas vazões unitárias não são iguais, adotou-se a maior das duas para o
dimensionamento do filtro, a favor da segurança. Logo, a vazão obtida através da rede de fluxo é a que será utilizada
no dimensionamento.
Considerando-se a dimensão horizontal do filtro de 0,7 m, coeficiente de condutividade hidráulica ensaiado
para a areia e vazão unitária já calculada, aplicando a equação de Darcy, temos que a espessura do dreno horizontal é
igual a 0,0138 m.

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3.7 Geocomposto drenante utilizado no dreno vertical

O geocomposto drenante utilizado no dreno vertical é composto de três camadas, sendo elas duas camadas
de geotêxtil, uma em cada face, que servem como elemento filtrante do solo, e uma camada intermediária às duas de
geotêxtil, composta de um uma esteira de drenagem tridimensional.
Os valores admissíveis de vazão unitária através do geossintético são fornecidos pela fabricante. Eles já
levam em conta a capacidade de permissividade em conjunto com a capacidade de transmissividade para diferentes
tensões horizontais máximas a que está submetido o geossintético, considerando sua instalação na vertical. Segundo o
catálogo do geocomposto utilizado neste estudo, para tensões horizontais até 10 kPa, 50 kPa e 100 kPa, as vazões
unitárias admissíveis são de 0,00284 m³/s.m, 0,00135 m³/s.m e 0,00041 m³/s.m, respectivamente.
Adotando-se um k0 de 0,5 e utilizando os parâmetros ensaiados para o solo, temos que a maior tensão a que
está submetido o geossintético no modelo é de 2,315 kPa, enquadrando-se na primeira faixa de valores, para tensões
até 10 kPa. Para essa tensão, a drenagem máxima do geocomposto é de 0,00284 m³/s.m.
Como a vazão a ser drenada considerada no cálculo foi a obtida pela rede de fluxo, por motivo já explicitado,
e que é de 1,79.10-8 m³/s, o geocomposto atende a vazão do modelo.

3.8 Construção do modelo

A construção do modelo se deu através de múltiplos alteamentos de 0,20 m, com controle da compactação
por volume e imprimindo energia aos alteamentos através de um soquete metálico. O dreno horizontal foi alteado em
duas camadas de 0,02 m para facilitação da execução, perfazendo uma espessura total de 0,04 m, atendendo com
segurança a espessura calculada. A geometria construída para controlar a compactação dos alteamentos, bem como a
sequência de um alteamento são mostradas nas figuras 7 (a) e (b) e 8.

Figura 7. (a). Geometria desenhada na caixa de acrílico para controle da compactação de cada alteamento;
(b) Primeiro alteamento lançado, compactado e escarificado (ANIBELE, 2019).

Figura 8. Modelo finalizado e operando (ANIBELE, 2019).

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ISBN: 978-65-89463-30-6

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15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP

4 Resultados

Os resultados de vazão e poropressões obtidos para o modelo de laboratório, para a rede de fluxo e para o
modelo numérico são apresentados na Tabela 2. A posição dos piezômetros A e B é indicada na figura 9.

Tabela 2. Vazões unitárias e poropressões obtidas através das diferentes propostas.


Método de obtenção de Poropressão (kPa)
Vazão unitária (m³/s)
dados Piezômetro A Piezômetro B
-8
Rede de fluxo 1,7954.10 0,347 0,624
Modelo numérico 1,4641.10-9 0,350 0,683
Modelo de laboratório 9,546510-7 0,392 0,697

Figura 9. Posição dos piezômetros A e B (ANIBELE, 2019).

Observou-se uma diferença significativa na vazão determinada através da rede de fluxo e através do modelo
numérico com a vazão aferida no modelo. A vazão gerada pelo modelo numérico foi a menor de todas, enquanto a
vazão gerada pela rede de fluxo foi intermediária e a vazão realmente aferida no modelo foi a maior.
O fato do modelo numérico ter gerado a menor vazão de todas tem uma das causas relacionada com a
precisão da solução numérica utilizando elementos finitos. O modelo numérico representa a seção idealizada, com os
materiais representados e suas propriedades atribuídas de forma que a solução representa o que ocorreria se a execução
se desse totalmente da forma como esperado em projeto. Seria o caso de uma execução perfeita, onde a compactação
projetada fosse alcançada de forma exata em todas as regiões e em todos os alteamentos da barragem, onde o
coeficiente de condutividade hidráulica não variasse de forma alguma, seja nas regiões de borda ou em regiões onde
a heterogeneidade própria da maioria dos materiais geotécnicos o torna diferente dentro da mesma seção, construída
com o mesmo material e compactada da mesma forma, e também considera que a anisotropia de permeabilidade não
se altera em nenhum local da seção.
A vazão gerada pela rede de fluxo foi uma vazão intermediária a do modelo numérico e a do modelo de
laboratório. Como o desenho da rede de fluxo é um exercício de execução dificultada, a vazão gerada através dela
pode variar conforme se desenha de uma ou outra forma a rede. A rede pode assumir infinitas configurações, conforme
quem a desenha, e isso afeta diretamente o cálculo de vazão. No caso da rede de fluxo, as hipóteses de que o coeficiente
de condutividade hidráulica é igual em toda seção, sem que ocorra nenhuma variação, e de que a anisotropia de
permeabilidade também é constante em toda a seção, também afetam o resultado.
Por fim, observa-se a vazão do modelo de laboratório, que é a maior de todas. Essa vazão é a representação
do projeto construído, onde a compactação pode sofrer pequenas variações ao longo dos alteamentos, onde o
coeficiente de condutividade hidráulica pode variar em toda em seção, dependendo do material e da forma como foi
compactado, onde a anisotropia de permeabilidade pode variar em diferentes regiões da seção, e onde o efeito de borda,
na interface entre solo e acrílico, ocorre.
As poropressões nos pontos de instalação dos piezômetros A e B, calculadas através da rede de fluxo e do
modelo numérico, e as aferidas no modelo de laboratório, forneceram valores próximos. As poropressões calculadas
pela rede de fluxo e obtidas pelo modelo numérico ficaram muito próximas, e as poropressões aferidas no modelo
ficaram com valor um pouco mais elevado do que as calculadas.
As diferenças de resultado de vazão podem ser atribuídas às particularidades metodológicas de cada análise.
Contudo, a similaridade entre os valores de poro-pressão obtidos nas posições dos piezômetros indica que as três
análises são comparáveis e apresentam resultados similares para a avaliação da eficiência do uso do filtro de
geocomposto.

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5 Conclusão

O objetivo geral deste trabalho, que foi a análise de comportamento da utilização do geossintético como
material do dreno vertical em substituição ao tradicional material utilizado nos drenos, que é a areia, foi atingido. Isso
pode ser afirmado porque, mesmo com certa diferença entre resultados obtidos nas diferentes análises, que levaram a
uma vazão de projeto inferior a que ocorreu no modelo, o geocomposto drenante cumpriu sua função de drenagem
interna. O uso da camada drenante com geossintético possibilitou a retirada de água do interior do corpo da barragem
do modelo de laboratório de forma eficiente, continua, sem colmatação e sem piping, fazendo com que a freática não
se estabelecesse de forma descontrolada aflorando no talude de jusante. Sua função de controle de percolação livre
pelo corpo da barragem foi atingida.
Assim, para o modelo de laboratório, é possível substituir com eficiência o dreno vertical de areia pelo
geocomposto drenante, e se for projetado de forma conveniente, essa substituição também pode ser estendida para
barragens em escala real.
Maiores detalhes sobre este trabalho podem ser encontrados em Anibele (2019).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a empresa Maccaferri pelo fornecimento do geocomposto drenante utilizado neste
estudo e ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Ponta Grossa pelo empenho na obtenção
e fornecimento da caixa de acrílico utilizada na construção do modelo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Anibele, R. (2019) Análise em modelo de laboratório da substituição de filtro de areia por geocomposto em barragens
de terra. Trabalho de conclusão de curso, Bacharelado em Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Civil,
UEPG.
Aguiar, P. R.; Vertematti, J.C. (2015) Aplicações em filtração. In: Vertematti, J.C. (Orgs.) Manual brasileiro de
geossintéticos. 2ª. ed. São Paulo: Blucher.
Cruz, P. T. (1996) 100 barragens brasileiras: casos históricos, materiais de construção e projeto. São Paulo: Oficina de
Textos.
Lambe, T. W.; Whitman, R. V. (1969) Soil mechanics. SI version. John Wiley & Sons.
Marangon, M. (2004) Tópicos em Geotecnia e Obras de Terra. Material didático ou institucional. Universidade Federal
De Juiz De Fora, Faculdade de Engenharia, Departamento de Transportes e Geotecnia. Juiz de Fora.
Massad, F. (2010) Obras de Terra. 2ª. ed. São Paulo: Editora Oficina de Textos. São Paulo.
Pinto, C.S. (2006) Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 aulas. 3ª. ed. São Paulo: Editora Oficina de Textos.

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Realização:

Link para a imagem: https://pt-br.facebook.com/CampinasDepressiva/photos/torre-do-casteloinaugurada-em-1940-a-constru%C3%A7%C3%A3o-possui-27-metros-de-altura-aprox/1632337323514269/

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