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OBRAS DE TERRA
PARTE 1
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ESTANHO
DIVULGAÇÃO EDITORAS
Organização:
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Copyright © 2022 by organizadores
Elaboração da ficha catalográfica
Vários autores.
Anais do XX Cobramseg.
Modo de acesso: World Web Wide.
Publicação digital no formato PDF. [1,5 GB].
ISBN: 978-65-89463-30-6.
Esta licença permite que outros remixem, adaptem e criem a partir do seu trabalho para fins não comerciais, desde que atribuam
a você o devido crédito e que licenciem as novas criações sob termos idênticos.
Prefácio
A Comissão Organizadora e Cientifica do XX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica (XX COBRAMSEG) tem a honra de apresentar os anais do evento mais importante da área em
âmbito nacional.
A Pandemia que acometeu o Brasil e o mundo interferiu em vários eventos dentre eles o próprio
COMBAMSEG, que deveria ter ocorrido em 2020. A Comissão Organizadora e Cientifica começaram a
trabalhar em 2018, por isso, foram 4 anos de trabalho que são coroados entre os dias 23 e 26 de agosto de
2022 no primeiro grande evento Geotécnico brasileiro presencial pós-pandemia.
Inovação e Tecnologia na Geotecnia foi o tema escolhido do XX COBRAMSEG, que representa as
mudanças advindas da transformação digital na sociedade e na Engenharia Geotécnica em avanço
exponencial.
Os trabalhos apresentados nestes anais, compõem quatro eventos: Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Solos e Engenharia Geotécnica, Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas - SBMR, Simpósio Brasileiro
de Engenheiros Geotécnicos Jovens e o Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia. Estes eventos traduzem
o atual estado da arte da geotecnia, com publicações nas mais variadas áreas sobre o tema, com a
participação dos diversos atores da comunidade técnico-cientifica, envolvendo a academia, a execução, a
gestão, o projeto e a governança.
Foram analisados mais de 2.100 resumos que findaram em 1.168 artigos completos publicados. A
comissão organizadora e a cientifica agradecem todos os autores em submeterem seus trabalhos nos eventos,
bem como aos revisores que dedicaram seu precioso tempo na avaliação.
Comitê Científico
Marcos Massao Futai (Presidente)
Anna Sílvia P. Peixoto
Celso N. Corrêa
Celso Orlando
Ilan Gotlieb
Jairo Pascoal Júnior
Paulo J. R. Albuquerque
Comitê Técnico
Celso Orlando
Celso N. Corrêa
Ilan Gotlieb
Carlos E. Lautenschläger
Jairo Pascoal Júnior
Comitê Financeiro
Celso N. Corrêa
Luis F. S. Neves
GEOJOVEM
Anna Silvia P. Peixoto (Presidente)
Cristina H. C. Tsuha
Jean R. Garcia
Natália S. Correia
Vitor P. Faro
SBMR
Lineu Azuaga Ayres da Silva (Presidente)
Allícia S. S. Oliveira
Anna Luiz M. Ayres da Silva
Carlos E. Lautenschläger
Marcos M. Futai
Talita C. Miranda
Vivian Marchesi
ASSEMBLEIA GERAL
Presidente da Mesa: Ivo Rosa
Secretário: Mafalda Laranjo
DIREÇÃO
Presidente: Alexandre Pinto
Vice-Presidente: Eduardo Fortunato
Secretária Geral: Isabel Fernandes
Secretário Adjunto: Castorina Vieira
Tesoureiro: José Neves
CONSELHO FISCAL
Presidente: Francisco Fernandes
Secretário: Paulo Coelho
Vogal: Gonçalo Diniz Vieira
EXECUÇÃO DE PAVIMENTO FLEXÍVEL: ESTUDO DE CASO DO FORTE SANTA BÁRBARA …………... 146
ESTUDO DE CASO: UTILIZAÇÃO DO MÉTODO NÃO DESTRUTIVO (MND) DO TIPO TUNNEL LINER
PARA DRENAGEM URBANA NO MUNICÍPIO DE NATAL ………………………………………………..........……. 209
RESUMO: Bentonitas são argilas naturais comumente empregadas em obras geotécnicas que requeiram
estanqueidade, como camadas impermeabilizantes de aterros sanitários. Contudo, o emprego desse material
como estabilizante de solos exige cautela, dada o seu elevado potencial de expansão. Assim, o objetivo desse
trabalho é analisar os efeitos da adição de bentonita sódica sobre as propriedades hidromecânicas de um solo
tropical laterítico arenoso da região metropolitana de Goiânia – GO. Além do solo natural, outras duas amostras
foram utilizadas, contendo teores de bentonita iguais a 3% e 6%. Para a análise hidromecânica, foram
realizados ensaios de compactação (energia Proctor normal), permeabilidade e resistência à compressão
simples. Os corpos-de-prova foram compactados em equipamento miniatura, de acordo com a metodologia
MCT. Verificou-se que as amostras contendo bentonita apresentaram maiores valores de umidade ótima,
menores massas específicas aparentes secas máximas, menores coeficientes de permeabilidade e maiores
resistências à compressão simples quando comparadas ao solo sem adições. Por fim, concluiu-se que esses
fenômenos estão intimamente ligados aos processos de hidratação das bentonitas, especialmente aos
mecanismos de adsorção de moléculas de água e íons hidratados.
ABSTRACT: The aim of this study is to analyze the effects of sodium bentonite addition on the
hydromechanical properties of a sandy lateritic tropical soil from the metropolitan region of Goiânia - GO.
Besides the natural soil, two other samples were used, containing bentonite contents of 3% and 6%. For the
hydromechanical analysis, compaction (Proctor standard energy), hydraulic conductivity and unconfined
compression tests were performed. The specimens were compacted in miniature equipment according to the
MCT methodology. It was verified that the samples containing bentonite presented higher values of optimal
moisture content, lower maximum apparent dry mass, lower hydraulic conductivity coefficients and higher
unconfined compression strengths when compared to the soil without additions. Finally, it was concluded that
these phenomena are closely linked to bentonite hydration processes, especially to the adsorption mechanisms
of water molecules and hydrated ions.
1 Introdução
Bentonitas são argilas naturais formadas pelo processo de intemperização de cinzas vulcânicas, tendo
como principal mineral constituinte a montmorilonita (AMADI, 2013). Uma vez que as montmorilonitas
apresentam elevadas superfície específica (800 m²∕g) e carga elétrica líquida negativa, as bentonitas adquirem
a capacidade de atrair moléculas de água e íons hidratados, o que resulta em um processo expansivo no qual o
volume final hidratado pode chegar a dez vezes o volume inicial seco (SHACKELFORD et al., 2000).
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Esse potencial de expansão, quando controlado, torna-se útil para a engenharia geotécnica, visto que
confere às bentonitas a capacidade de reduzir a permeabilidade de solos. Além disso, propriedades como a
elevada capacidade de troca catiônica e de sorção (MORANDINI; LEITE, 2012) habilitam o emprego desse
material em obras que requeiram estanqueidade – seja para conter o avanço de água, ou mesmo de
contaminantes – como camadas de revestimento de aterros sanitários, por exemplo.
Por outro lado, solos altamente intemperizados, como grande parte dos lateríticos encontrados no Brasil,
apresentam estruturas porosas, fruto dos processos de cimentação decorrentes de sua constituição
mineralógica, especialmente da presença de óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio (CAMAPUM DE
CARVALHO et al., 2015). Nessas condições, mesmo compactados, muitos desses solos tornam-se
inadequados para o emprego em obras geotécnicas que exijam parâmetros de permeabilidade e sorção mais
rigorosos.
Assim, o emprego de bentonita como estabilizante químico de solos tropicais lateríticos, como os
supracitados, constitui uma alternativa geotécnica que tem demonstrado resultados satisfatórios, sobretudo no
que diz respeito à redução de permeabilidade (MORANDINI, 2014; MORANDINI; LEITE, 2012; RIBEIRO
et al., 2018). Nesse contexto, o objetivo desse trabalho é analisar os efeitos da adição de bentonita sobre as
propriedades hidromecânicas de um solo tropical laterítico arenoso, com foco em parâmetros comumente
presentes em obras geotécnicas, como compactação, permeabilidade e resistência à compressão simples.
2 Materiais e Métodos
2.1 Materiais
Para realização desse estudo, dois materiais foram utilizados: um solo tropical laterítico arenoso e
bentonita sódica. O solo foi coletado na região metropolitana de Goiânia, a uma profundidade de 0,4 m, sendo
composto, principalmente, por quartzo, gibsita, hematita e caulinita (REZENDE et al., 2016). A bentonita
sódica foi escolhida por sua ampla utilização em obras geotécnicas, sobretudo para redução de coeficientes de
permeabilidade de solos (AMADI; EBEREMU, 2012; AMADI; OSINUBI, 2017; DE LA MORENA et al.,
2018).
Com esses materiais, duas misturas foram formadas: SB3 (97% de solo + 3% de bentonita) e SB6 (94%
de solo + 6% de bentonita). A Tabela 1 apresenta um resumo da caracterização geotécnica desses materiais.
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A bentonita foi utilizada em teores de 3% e 6% a fim de se verificar os efeitos de seu acréscimo gradativo
sobre as propriedades hidromecânicas do solo. Além disso, dados da literatura mostram que solos compactados
tratados com esses percentuais de bentonita apresentam coeficientes de permeabilidade próximos de 1x10 -9
m∕s (MORANDINI, 2014; MORANDINI; LEITE, 2012; RIBEIRO et al., 2018), de modo que maiores teores
impossibilitariam a realização de ensaios em permeâmetros de paredes rígidas.
2.2 Métodos
2.2.1 Compactação
O ensaio de compactação foi realizado de acordo com a metodologia MCT, em equipamento miniatura,
na energia Proctor normal. Nessa metodologia, os corpos-de-prova são cilíndricos, moldados com diâmetro e
altura iguais a 50±1 mm. O ensaio seguiu as preconizações da norma DNER-ME 228 (DNER, 1994).
2.2.2 Permeabilidade
Os corpos-de-prova utilizados nessa etapa foram compactados na condição de umidade ótima (wop) e
massa específica aparente seca máxima (ρdmax), obtidos de acordo com o item 2.2.1. Os moldes cilíndricos
utilizados na compactação foram adaptados como permeâmetros, permitindo, assim, a execução dos ensaios
de permeabilidade sem extração dos corpos-de-prova. A Figura 1 apresenta o modelo de permeâmetro descrito.
Os ensaios foram realizados com carga variável, e gradiente hidráulico igual a 10 (0,5 m de coluna
d’água). A saturação foi realizada com fluxo ascendente, utilizando o mesmo gradiente da fase de percolação.
O coeficiente de permeabilidade foi calculado de acordo com a NBR 14545 (ABNT, 2000).
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3 Resultados e Discussão
3.1 Compactação
1,48
Massa específica aparente seca (g/cm³)
1,46
1,44
1,42
1,40
1,38
1,36
1,34
1,32
14 16 18 20 22 24 26 28 30 32
Umidade (%)
3.2 Permeabilidade
Os coeficientes de permeabilidade das amostras, à temperatura de 20°C (k20) são apresentados na Tabela
2.
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Os resultados dos ensaios de permeabilidade indicam que houve uma redução dos coeficientes de
permeabilidade das amostras em uma ordem de magnitude para cada 3% de bentonita adicionado. Resultados
semelhantes podem ser encontrados na literatura (MORANDINI; LEITE, 2012; 2015; AMADI; EBEREMU,
2012; AMADI; OSINUBI, 2017; KERAMATIKERMAN et al., 2017).
De acordo com Shackelford et al (2000) duas propriedades das bentonitas são responsáveis por
fenômenos semelhantes aos observados na Tabela 2: adsorção e expansão. No primeiro caso, as moléculas de
água e os cátions hidratados adsorvidos são mantidos imóveis, criando caminhos irregulares para a água livre,
o que retarda o fluxo. No segundo, as montmorilonitas expandidas ocupam volumes entre 5 e 10 vezes maiores
que seus volumes secos, comprimindo os poros do solo, o que também dificulta o fluxo da água livre.
Os valores de resistência à compressão simples (RCS) das amostras são apresentados na Tabela 3.
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Uma segunda provável causa é que, durante o processo de hidratação, a bentonita, ao adsorver as
moléculas de água presentes no solo, promove uma maior atração entre as partículas sólidas, aumentando a
área de contato entre elas (LAMBE; WHITMAN, 1969; AHMED, 2015). Portanto, quanto maior a área de
contato entre as partículas, maior a tensão por elas suportada.
4 Conclusão
Diante dos resultados expostos nesse artigo, verificou-se que a adição de bentonita afetou as
propriedades hidromecânicas do solo laterítico arenoso analisado das seguintes formas: a) aumentando os
valores de umidade ótima e reduzindo os de massa específica aparente seca máxima; b) reduzindo os
coeficientes de permeabilidade; c) aumentando a resistência à compressão simples. Por fim, conclui-se que
esses fenômenos estão intimamente ligados aos processos de hidratação das bentonitas, especialmente aos
mecanismos de adsorção de moléculas de água e íons hidratados.
AGRADECIMENTOS
Esse trabalho é parte de um projeto de pesquisa financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq, processo 408756/2016-0), pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES, código de financiamento 001) e pela CMOC Internacional Brasil, a quem os
autores agradecem.
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0144 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Neste trabalho foi realizado um estudo numérico do aterro de Haarajoki (Finnish National Road
Administration, 2019), um aterro teste, instrumentado, construído sobre solo mole. O estudo foi realizado
utilizando uma formulaçao acoplada da qual foi possível obter o comportamento do aterro em termos de
deslocamento, poropressão e tensão efetiva. Além disso, foi realizada uma análise de sensibilidade para avaliar
a influência da permeabilidade horizontal no comportamento do aterro, variável esta que muitas vezes é
estimada. Os resultados mostraram que a ferramenta numérica utilizada produz resultados rigorosos com
relação ao comportamento do aterro. A análise de sensibilidade do coeficiente de permeabilidade horizontal
mostrou que variando esse parâmetro duas ordens de grandeza em relação ao coeficiente de permeabilidade
vertical, ele tem influência nos resultados de deslocamento vertical do aterro.
PALAVRAS-CHAVE: Solo mole, coeficiente de permeabilidade, Método dos Elementos Finito, Análise
hidromecânica acoplada.
ABSTRACT: This work presents a numerical analysis of Haarajoki embakment, a test embankment with field
monitoring, constructed on soft soil. A coupled formulation was used to obtain the behavior of the construction
of the embakment in terms of settlement, porepressure and effective stress. Besides, a sensibility analysis was
performed to evaluate the influence of the horizontal coefficient of permeability on the soil behaviour, variable
which is often estimated. Results shows that numerical analysis provide strict results related to soil behaviour.
Sensibility analysis of the horizontal permeability coefficient showed that varying these parameters two orders
of magnitude, it has little influence on the results of settlement.
KEYWORDS: soft soil, coefficient of permeability, Finite Element Method, Coupled Hydromechanical
Analysis
1 Introdução
Obras rodoviárias, ferroviárias, encontro de pontes são alguns tipos de obras em que se constrói sobre
solos moles. Segundo Massad (2010) os solos moles possuem formação sedimentar recente e apresentam baixa
resistência a penetração, com valores de SPT menores ou iguais a 4 golpes. Esses solos possuem composição
argilosas com baixa capacidade de suporte, elevada compressibilidade e baixa permeabilidade. Massad (2010)
comenta ainda a possibilidade desses solos apresentarem em sua composição matéria orgânica, com cor escura
e cheiro característico. Devido as suas características, alguns problemas geotécnicos relacionados a esses solos
são a sua baixa capacidade de suporte e a ocorrência de recalques futuros. O estudo desses solos no Brasil é
de grande importância pois segundo cita Machado (2012), ao longo de toda a costa do país e nas várzeas dos
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rios é fácil encontrar depósitos de argilas moles, além de áreas com solos competentes estarem se tornando
cada vez mais escassas.
Dificuldades relacionadas as incertezas dos parâmetros dos materiais e simplificações excessivas nos
projetos envolvendo solos moles, acarretam muitas vezes em discrepâncias do projeto com a execução in loco.
Diversos estudos foram realizados com o objetivo de compreender melhor o comportamento desses solos
(Spannenberg, 2003; Lopes, 2011; Machado, 2012; Amavasai, 2015). Os estudos de aterro sobre solos moles
devem avaliar a ocorrência de ruptura de fundação, devido a baixa capacidade de carga desses solos. Além
disso, deve-se observar o fenômeno de adensamento, o qual está relacionado a baixa permeabilidade do solo,
levando a ocorrência de recalques futuros.
Este estudo analisou o aterro Haarajoki, um aterro teste, instrumentado, que possibilita cálculos de
recalques, deslocamentos laterais e variação da poropressão. Ele foi construído com e sem melhoramento no
solo entre Julho e Agosto de 1997, pela Finnish National Road Administration, sendo que diversos estudos
numéricos foram realizados com o objetivo de reproduzir seu comportamento (Lopes, 2011; Amavasai, 2015).
Nesse trabalho foram utilizados dados do aterro de Haarajoki para avaliar a sensibilidade do coeficiente de
permeabilidade horizontal na previsão do comportamento do aterro utilizando o método dos elementos finitos
com formulação hidromecânica acoplada.
Os solos moles são caracterizados por serem de formação sedimentar, e possuírem baixos coeficientes
de permeabilidade. A deposição de sedimentos irá gerar a formação de perfil estratigráficos anisotrópicos.
Dentre as propriedades com características anisotrópicas está o coeficiente de permeabilidade, o qual irá variar
nas direções vertical e horizontal. Diversos ensaios in situ e em laboratório são utilizados na determinação da
permeabilidade dos solos. Ensaios usuais para a determinação do coeficiente de permeabilidade em obras sobre
solos moles são os ensaios de piezocone e ensaio com piezômetro de Casagrande, in situ, e ensaios oedométrico
e ensaio com permeâmetro, em laboratório. Estudos de obras sobre solos moles (Teixeira, 2012; Mello, 2019)
foram realizados e observaram a variabilidade dos resultados do coeficiente de permeabilidade e as diferenças
com relação a permeabilidade dos solos em campo.
O ensaio de piezocone consiste na cravação de uma ponteira cônica de aço, vertical ao solo,
instrumentada, que possibilita a investigação geotécnica do solo. As principais medidas realizadas são de
resistência de ponta, atrito lateral, poropressão, resistividade elétrica e sensor sísmico, sendo elas utilizadas
para obtenção de parâmetros do solo para realização de projetos. De Maio (2005) explica que a poropressão
obtida no piezocone pode ser avaliada sobre dois pontos de vistas. O primeiro está relacionado ao entendimento
da drenabilidade do solo, avaliando a poropressão durante o processo de cravação do cone. Num segundo
enfoque é avaliada é a determinação de parâmetros de adensamento e permeabilidade dos solos argilosos,
realizando o ensaio de dissipação. O coeficiente de permeabilidade horizontal pode ser obtido, por exemplo,
por correlações diretas a partir do ensaio de dissipação (Perez e Fauriel, 1988) ou por correlações indiretas a
partir da estimativa do coeficiente de adensamento horizontal (Burns e Mayne, 2002).
Outro ensaio em campo para determinação da permeabilidade é utilizando o piezômetro de Casagrande.
O ensaio é feito variando-se o nível d’água no interior do piezômetro, e medindo-se o tempo para que as
pressões voltem a se equalizar. O tempo para a equalização é chamado de tempo de retardo e ele é inversamente
proporcional à permeabilidade do solo. Teixeira (2012) cita os métodos de Hvorslev (1951) e Gibson (1963)
para determinação do coeficiente de permeabilidade do solo.
O ensaio oedométrico é realizado em laboratório e consiste no estudo de compressão unidimensional de
um corpo de prova confinado lateralmente. Nesse ensaio, é estudado o fenômeno de adensamento
unidimensional, no qual é possível obter indiretamente a permeabilidade do solo a partir do coeficiente de
adensamento.
Mello (2019) realizou um estudo numérico de aterro sobre solo mole da duplicação da BR-135/MA. Foi
adotado, como referência, o valor do coeficiente de permeabilidade obtido nos de ensaios de piezocone.
Entretanto, as análises numéricas demonstraram que a permeabilidade utilizada era subestimada, ao comparar
o tempo para 95% dos recalques das simulações com o tempo observado em campo. Por retroanálise, foram
estimadas as permeabilidades horizontal e vertical, buscando alcançar o tempo de 95% dos recalques de
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campo. Para a estimativa, foi buscado na literatura relação entre o coeficiente de permeabilidade vertical e
horizontal. Schinaid (2014) apresentou correlações entre o coeficiente de permeabilidade vertical e horizontal
para argilas de diferentes naturezas (Tabela 1). Coutinho (1976) estabeleceu que a relação entre as
permeabilidades horizontais e verticais das argilas brasileiras varia de 1,5 a 2,5. Melo (2019) adotou uma
relação de 2 entre as permeabilidades vertical e horizontal, obtendo resultados satisfatórios.
Tabela 1- Razão de permeabilidade em argilas (Ladd et. al., 1977 e Jamiolkowski et al., 1985)
Ensaios de laboratório e de campo podem ser utilizados para determinação da permeabilidade dos solos.
Esses ensaios possuem limitações como a qualidade da amostra indeformada nos ensaios oedométricos, devido
à dificuldade de amostragem do solo mole, e a representatividade da amostra para todo a extensão do maciço.
Teixeira (2012) cita possíveis variações nos resultados de ensaios de permeabilidade in situ com piezômetro
de Casagrande pelo amolgamento do solo na instalação do piezômetro, possibilidade de colmatação do dos
poros e o adensamento do solo acerca do tubo piezométrico. Por fim, a determinação da permeabilidade dos
solos ainda possui muitas imprecisões, o que gera incertezas no problema pois se observa que a mudança na
permeabilidade do solos altera seu comportamento.
3 Metodologia
Neste estudo foram realizadas análises numéricas utilizando elementos finitos. Foi realizada a simulação
de um problema de aterro sobre solo mole, comparando dados da instrumentações com os obtidos na
simulação. Além disso, foi realizada análise de sensibilidade do coeficiente de permeabilidade para observar
como esse parâmetro interfere na previsão do comportamento do solo mole.
O aterro de Haarajoki, um aterro sobre solo mole, localizado na Finlandia, foi escolhido para realização
de estudos rigorosos com relação aos fenômenos hidromecânico acoplados que ocorrem na fundação. A seção
estudada foi uma seção em que não foram feitos melhoramentos no solo. O aterro foi instrumentado
possibilidando o monitoramento de recalques, deslocamentos e da dissipação do excesso de poropressão,
fornecendo os parâmetros para realização das simulações numéricas. Para as análises foi considerado o modelo
Modified Cam-Clay, para o solo mole, e o modelo Mohr-Coulomb para o aterro. Os parâmetros utilizados na
análise são apresentados na Tabela 2 e na Tabela 3. Maiores detalhes relacionados a geometria e estratigrafia
do aterro são apresentados em Lopes (2011).
Tabela 2- Parâmetros do solo de fundação- Cam-Clay Modificado
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Neste estudo foi realizada uma simplificação da fundação de solo mole em apenas duas camadas, a
primeira de 2 metros, denominada crosta seca, formada por uma argila altamente pré-adensada devido ao
processo de ressecamento da camada e a segunda camada de 20 metros formada de uma argila levemente
adensada. Na Figura 1(a) observa-se a geometria da análise numérica.
A simulação da construção do aterro foi realizada em 14 etapas relacionadas na Tabela 4. A etapa 1
correspondendo a análise do tipo in situ para geração do estado de tensões e poropressões iniciais e as etapas
seguintes foram realizadas acoplando equilíbrio e fluxo, para consideração do fenômeno de adensamento na
construção do aterro e posterior à construção. O aterro foi construído em 6 etapas, sendo os tempos de
construção correspondentes a construção real do aterro Haarajoki. Na consideração do fenômeno de
adensamento, foi adotada a condição de contorno de poropressão igual zero entre a camada de solo mole e o
aterro.
Tabela 4- Duração das análises
Etapa Duração
Insitu -
Acoplada- construção base 5 dias
Acoplada- adensamento base 17 dias
Acoplada- construção camada 1 2 dias
Acoplada- adensamento camada 1 1 dia
Acoplada- construção camada 2 2 dias
Acoplada- adensamento camada 2 1 dia
Acoplada- construção camada 3 2 dias
Acoplada- adensamento camada 3 1 dia
Acoplada- construção camada 4 2 dias
Acoplada- adensamento camada 4 1 dia
Acoplada- construção camada 5 2 dias
Acoplada- adensamento 1365 dias
Para o estudo da sensibilidade do coeficiente de permeabilidade horizontal e vertical foram feitas mais
10 simulações mantendo a permeabilidade vertical constante e variando a permeabilidade horizontal, segundo
a mesma razão para as duas camadas de solo mole. As análises e os parâmetros de permeabilidade adotados
para cada uma estão apresentados na Tabela 5. Os demais parâmetros do solo foram mantidos iguais.
1144
ISBN: 978-65-89463-30-6
4. Resultados e Discussão
Os resultados das análises numéricas de deslocamento vertical do aterro desse estudo foram comparados
com dados obtidos pela instrumentação do aterro de Haarajoki (Figura 1(b)). Os resultados mostram que a
simulação se aproxima dos resultados obtidos pela instrumentação. Todos os dados foram obtidos no ponto A
da Figura 1(a) ao longo do tempo. Inicialmente foram utilizados para os parâmetros do modelo MCC, e
os valores obtidos em Amavasai (2015) (Para a argila 1- =0,38 e =0,03 e para a argila 2- =0,3 e =0,03).
Por retro análise, foi realizada a correção desses parâmetros, utilizando os parâmetros da Tabela 2.
0,10
Este estudo
0,20
Argila 2 0,30
0,40
0,50
(a) (b)
Figura 1- (a) Geometria do problema (b)Variação dos deslocamentos verticais do aterro com o tempo
A Figura 2 apresenta o resultado do teste de malha do problema. A análise do aterro foi realizada
utilizando uma malha com 3267 elementos. Foram testadas outras três malhas (1288 elementos, 8532
elementos e 12521 elementos) que confirmaram a adequação da malha utilizada no problema. Na Figura 3(a)
apresenta-se os resultados da simulação da variação do excesso de poropressão com o tempo. Observa-se que
a construção do aterro irá gerar um excesso de poropressão que irá ser dissipado com o tempo. A Figura 3(b)
apresenta os resultados da variação da tensão efetiva com o tempo, após a construção do aterro. Os resultados
são coerentes com o que ocorre no fenômeno de adensamento, segundo o qual, com a dissipação do excesso
de poropressão gerado pelo carregamento, ocorre um aumento da tensão efetiva do solo.
Tempo (dias)
0 400 800 1200
0
1288 elementos
Deslocamento vertical (m)
0,3
0,4
0,5
A Figura 4(a) e (b) apresenta o campo do excesso de poropressões do problema. Observa-se na Figura
4(a) o campo logo após a construção da última camada do aterro, no qual foi gerado excesso de poropressão
na fundação do aterro. A Figura 4(b) apresenta o campo do excesso de poropressão após 1401 dias de
simulação (Tabela 4), no qual ocorreu a dissipação do excesso de poropressão gerado logo abaixo do aterro.
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60 60
Excesso de poropressão ( kPa)
50 50
(a) (b)
Figura 3- (a) variação do excesso de poropressão com o tempo (b) Variação da tensão efetiva com o tempo
(a) (b)
Figura 4- (a) Excesso de poropressão após a análise acoplada- construção camada 5 (b) Excesso de
poropressão após a análise acoplada- adensamento
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Tempo (dias)
0 500 1000 1500 2000
0,00
Dados de campo (linha central)
razão 0,01
0,30
0,40
0,50
Figura 5- Variação do deslocamento vertical na linha central aterro com o tempo (razão 0,01, 0,1, 0,5 e 0,8)
A variação dos recalques com a mudança da razão de permeabilidade foi melhor estudado, visto que
esperava-se que eles fossem iguais. A Figura 6 apresenta a variação das tensões efetivas verticais durante a
simulação para os dados do aterro, razão 0,1 e razão 0,01 para as permeabilidades. Observa-se que apesar das
tensões efetivas após 1401 dias serem correspondentes (Figura 6 (d)), o campo de tensões efetivas verticais ao
longo do tempo depende da relação adotada para a permeabilidade (Figura 6 (b) e (c)). Esse fato permite
observar que a evolução das tensões efetivas ao longo da construção do aterro irá influenciar nos recalques
finais do aterro.
20
razão 0,01
Tensão vertical efetiva (Kpa)
16 razão 0,1
Dados aterro
12
4
0 5 10 15 20 25 30
Distância x (m)
(a) (b)
24
64
razão 0,01
Tensão vertical efetiva (Kpa)
razão 0,01
Tensão vertical efetiva (Kpa)
20 razão 0,1
49 razão 0,1
Dados aterro Dados aterro
16
34
12
19
8
4 4
0 5 10 15 x (m) 20
Distância 25 30 0 5 10 15 x (m)
Distância 20 25 30
(c) (d)
Figura 6- Variação da tensão efetiva vertical (a) Nós para os gráficos (b) Tensões efetivas após adensamento
da camada 3 (c) Tensões efetivas após adensamento da camada 4 (d) Tensões efetivas após 1401 dias
5. Conclusões
O estudo de solos moles vem ganhando importância devido necessidade de cada vez mais se construir
sobre solos moles e pela complexidade do problema por se tratar de um fenômeno hidromecânico acoplado.
Este estudo teve como objetivo fazer um estudo de um aterro sobre solo mole utilizando formulação acoplada,
1147
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bem como analisar a influência da variação da permeabilidade horizontal nos resultados. A análise se mostrou
de acordo com os resultados obtidos em instrumentação de campo de deslocamentos verticais. Além disso, os
resultados de sensibilidade mostram que a variação da permeabilidade horizontal com relação a vertical em
até duas ordens de grandeza geram variações na evolução das tensões verticais efetivas, e consequentemente,
nos resultados de deslocamentos verticais. Entretanto cabe destacar que esse resultado se aplica apenas para o
caso em que não há melhoramento no solo, sendo que casos de utilização de drenos, por exemplo, podem
resultar em diferentes resultados.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Dissertação de Mestrado, Department of Civil and Environmental Engineering, Division of Geo
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Fluminense. Dissertação de Mestrado, COPPE/UFRJ
De Mio, G. (2005) Condicionantes geológicos na interpretação de ensaios de piezocone para identificação
estratigráfica na investigação geotécnica e geoambiental. Tese de Doutorado, Escola de Engenharia de
São Carlos, Universidade de São Paulo, 359p.
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Oficina de textos, São Paulo
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Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia Civil, Pontíficia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, 162 p.
Teixeira, C.F. (2012) Análise dos Recalques de um aterro sobre solos muito moles da Barra da Tijuca- RJ.
Tese de Doutorado, Departamento de Engenharia Civil, Pontíficia Universidade Católixa do Rio de Janeiro,
326p.
1148
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0145 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Uma das fases importantes no planejamento de obras de engenharia é a procura de ocorrências
naturais de materiais de construção, como pedras, areais, cascalhos, argila e saibro. A localização das áreas
de empréstimo que fornecem o material é um dos fatores que influenciam para o custo da obra e as barragens
é um tipo de obra de grande impacto econômico e socioambiental. O uso de ferramentas de
geoprocessamento são instumentos eficientes no planejamento da identificação de possíveis áreas de
empréstimo de materiais para a construção de barragens. O objetivo deste trabalho foi mapear a região do
agreste meridional do estado de Pernambuco identificando a partir da pedologia da região possivéis jazidas
de extração. Esta avaliação foi realizada com base no levantamento dos solos da região, elaborando uma
matriz pedológica dos solos da região com suas características geotécnicas, possibilitado a classificação dos
materiais para elementos de barragens em três níveis de aplicação (bom, regular e ruim). Na região
predominam os regossolos, planossos e solos litólicos gerando diferentes percentuais da qualidade de jazidas
com relação a aplicação na barragem.
ABSTRACT: One of the important phases in the planning of engineering works is the search for natural
occurrences of construction materials, such as stones, sand, gravel, clay and gravel. The location of the loan
areas that supply the material is one of the factors that influence the cost of the work and the dams are a type
of work with a great economic and socio-environmental impact. The use of geoprocessing tools are efficient
instruments in planning the identification of possible areas for borrowing materials for the construction of
dams. The objective of this work was to map the southern agreste region of the state of Pernambuco,
identifying from the pedology of the region possible extraction deposits. This assessment was carried out
based on a survey of the region's soils, elaborating a pedological matrix of the region's soils with their
geotechnical characteristics, allowing the classification of materials for dam elements in three application
levels (good, regular and bad). In the region, regosols, planosos and litolic soils predominate, generating
different percentages of the quality of deposits in relation to the application in the dam.
KEYWORDS: Pedology, Geoprocessing, Earthworks, Deposits, Dams.
1 Introdução
De acordo com a Agência Nacional das Águas - ANA (2017), o Brasil tem cerca de 23 mil barragens
registradas, identificadas para as mais diversas atividades. Segundo Cirilo (2008), a região do semiárido
1149
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nordestino é pobre em volume de escoamento de água dos rios. Este cenário pode ser compreendido em
função da variabilidade temporal climática da região, como também, das características geológicas
dominantes da região, no qual predomina solos rasos baseados sobre rochas cristalinas e como resultado,
baixas trocas de água entre rio e solo adjacente. O agreste meridional de Pernambuco encontra-se na zona de
transição do tropical chuvoso ao semiárido, esse por sua vez mais predominante na região, o solo da região é
espesso com fertilidade variada (CPRM, 2005).
A construção de barragens é fundamental para o armazenamento de água para o abastecimento
humano. No semiárido nordestino por questões climatológicas, principalmente por insuficiência da
disponibilidade hídrica de algumas regiões que são afetadas pelas secas, as barragens de grande, médio e
pequeno porte são construídas com a finalidade de armazenamento de água para o consumo humano e
combate às secas, como também, utilizadas para diversas finalidades e tipologia do desenvolvimento
regional através de irrigação agrícola, abastecimento industrial e produção animal (NAVA, 2018).
No Brasil as barragens de terra são comumente utilizadas, podendo ser homogêneas ou zonadas, visto
que esta definição e determinada em função do volume e da qualidade e disponibilidade dos materiais
naturais (argila, areia e silte) existentes no local, a utilização destas barragens são pertinentes quando na
região próximo à área da obra houver a disponibilidade de solo argiloso ou areno-siltoso/argiloso, além da
existência de um local adequado para localizar o vertedouro (MEIRELLES, 2019). A barragens são definidas
como barreiras artificiais, construídas transversalmente à direção do escoamento de um curso d’água,
formando um reservatório artificial.
As barragens homogêneas são construídas com apenas um tipo de material geralmente solo argiloso,
com a permeabilidade reduzida depois da compactação do solo, para permitir níveis aceitáveis de percolação
(SILVA E OLIVEIRA, 2019). De acordo com Stephens (2011) se a percolação for excessiva, poderá resultar
em instabilidade e eventualmente a falha de toda ou parte da face à jusante.
As barragens zonadas são constituídas de diferentes tipos de solo em função da disponibilidade dos
materiais, onde os materiais mais permeáveis são lançados nas partes externas da seção transversal da
barragem, priorizando os materiais impermeáveis característica dos solos mais argilosos na parte central,
núcleo da barragem, e os materiais semi-impermeável para a secção a montante (MEIRELLES, 2019).
Barragens zonadas constituem perigo de infiltração menor comparada com as barragens de aterro
homogêneo.
Estas informações são imprescindíveis para a escolha do tipo de barragem, uma vez que a localização
das jazidas ou áreas de empréstimo que fornecem os materiais em áreas próximas do empreendimento, sendo
um dos fatores que influenciam para o custo da obra e, as barragens de terra no contexto geral são obras da
engenharia geotécnica de fácil execução, apesar do grande impacto econômico e socioambiental, são obras
que no geral os custos são reduzidos. De acordo Barbosa (2014) com a escolha do tipo de barragem de terra
é limitada pelas características do local a ser construída, devido à qualidade e a quantidade de material
escavado na construção, como também, disponibilidade de jazidas em áreas próximas ao empreendimento
podendo diminuir os custos do empreendimento. Para Stephens (2011) os custos aumentam quando utilizam
diversos materiais que compõem a estrutura física da barragem, na maioria dos casos os materiais vêm de
áreas de empréstimo diferente, aumentando os custos do empreendimento com escavação e transporte.
As barragens de terra geralmente são pequenos e médios reservatórios utilizados para o acúmulo de
água, geralmente são economicamente viáveis por não utilizar grandes áreas para sua construção, como
também exerce um impacto menor sobre o meio ambiente, geralmente são utilizadas para o abastecimento de
áreas urbanas, formada por núcleos populacionais menores, bem como em propriedades rurais, onde são
destinadas as atividades de irrigação de cultivos e abastecimento de propriedades rurais (ABREU, 2015).
A princípio, antes de se realizar qualquer tipo de levantamento topográfico para a seleção da área de
construção ou empréstimo de materiais para as barragens, devem-se realizar investigações e ensaios
geológico-geotécnicos, com o intuito de conhecer as condições das fundações e sua interação com o material
que será utilizado para a construção. As características físicas do solo são determinantes para a seleção da
área, uma vez que casa região impõe características geotécnicas e geológicas onde às propriedades do local
de extração do material utilizado estejam adequadas para utilização nas obras, em momentos e situações
diferentes. Com isso, se faz necessário à realização de uma seleção preliminar, criteriosa, dos locais
propícios para a seleção de jazida de empréstimo (MEIRELLES, 2019).
1150
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2 Metodologia
A avaliação das prováveis jazidas de empréstimos de material para barragem, foi feita com base no
levantamento de reconhecimento dos solos da região (escala 1:100.000), elaborado e executado pela
Embrapa. Com base nesse levantamento foi confeccionada uma matriz pedológica relacionando os solos
abordados em termo de pedologia com suas respectivas características geotécnicas. O cruzamento das
informações das classes pedológicas com o mapa pedológico da região do Agreste Meridional de
Pernambuco e sua associação com características geotécnicas para construção dos elementos de uma
barragem (Tabela 1) possibilitou classificar as prováveis jazidas de empréstimos em três níveis de aplicação
(bom, regular e ruim), resultando em cartas de materiais para elementos de barragem.
1151
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Tabela 1. Classe da ocorrência de solo do Agreste Meridional de Pernambuco, para elementos de uma
barragem.
Corpo
Impermeá
Classe de
Símbolo
Rip-Rap
Poço de
Cut-off
Núcleo
Tapete
Alívio
Dreno
Filtro
Montan
Solo
Jusante
vel
te
Argissolo
PA Regular Regular Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Bom Bom
Amarelo
Latossolo
LA Regular Bom Ruim Bom Ruim Ruim Ruim Bom Bom
Amarelo
Argilossolo
PV
Vermelho Regular Regular Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Bom Bom
A
Amarelo
Neossolo
RY Ruim Ruim Regular Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim
Flúvico
Neossolo
RR Ruim Ruim Ruim Ruim Bom Bom Bom Ruim Ruim
Regolítico
Neossolo
Quartzarêni RQ Ruim Ruim Regular Ruim Bom Bom Bom Ruim Ruim
co
Neossolo
RL Ruim Ruim Bom Ruim Regular Regular Regular Ruim Ruim
Litólico
Planossolo
SX Regular Bom Ruim Regular Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim
Háplico
Planossolo
SN Regular Bom Ruim Regular Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim
Nátrico
Luvissolo
TC Regular Bom Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim
Crômico
Geissolo
GX Bom Bom Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim Ruim
Háplico
3 Resultados
1152
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Figura 3. Carta de Jazidas para Filtro, Dreno e Poço de Alívio do Agreste Meridional de Pernambuco.
Na carta da qualidade de prováveis jazidas para corpo da barragem à montante e jusante foi observado
que 79,45% da área total da região foi classificada como ruim para estas aplicações e os 20,55% restantes
foram classificados como ruim (Figura 4). Já na carta de prováveis jazidas para rip rap estes valores foram de
4,95% como regular, 13,33% como bom e 62,27% como ruim para tal finalidade (Figura 5).
1153
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Na carta da qualidade de prováveis jazidas para tapete impermeável foi observado que 57,54% da área
total da região foi classificada como regular para estas aplicações e os 42,46% restantes foram classificados
como ruim, não sendo verificado nenhuma percentual de áreas classificadas como bom (Figura 6). Já na
carta de prováveis jazidas para cut-off estes valores foram de 14,73% como regular, 42,46% como ruim e
42,81% como bom para tal finalidade (Figura 7). Na carta da qualidade de prováveis jazidas para núcleo da
barragem foi observado que 62,27% da área total da região foi classificada como ruim para esta aplicação,
31,91% como regular e os 5,82% restantes foram classificados como bom, conforme observado na Figura 8.
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4 Conclusão
Foi possível desenvolver cartas para qualificar possíveis jazidas de solo para construção de
barragens no Agreste Meridional de Pernambuco. As cartas desenvolvidas no presente trabalho servem
como subsídio na tomada de decisões em projetos de barragem de terras na região, uma vez que as mesmas
orientam os pontos onde deve ser realizado uma caracterização mais eficiente da área de implantação, e
como consequência reduz tempo e custos da obra. Vale salientar que a avaliação dos mapeamento das
possíveis jazidas, através da análise da carta interpretativa de zoneamento, não poderá dispensar a
investigação adequada em campo e laboratório.
Outro aspectos importante que vale ser ressaltado é que as cartas foram elaboradas levando em
consideração apenas a pedologia dos solos da região. Para uma maior precisão da qualidade das possíveis
jazidas devem ser levado em consideração também outros fatores tais como a geologia, clima, uso e
ocupação do solo, dentre outros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RESUMO: Estudos de estabilidade de taludes naturais são frequentes em obras de viárias, barragens de terra,
dentre outros. A prática da engenharia estabelece o Fator de Segurança (FS) como indicador de performance
da estabilidade do talude. O FS calculado deve ser confrontado com o FS admissível, definindo a necessidade
ou não de ações de estabilização. Os FS admissíveis são estabelecidos por normas técnicas, com base nas
consequências de sua ruptura. O presente trabalho pretende mostrar algumas singularidades podem ocorrer em
cálculos de estabilidade, usando programa comercial, baseado no Método do Equilíbrio Limite. Para tal, serão
comparados os resultados de duas análises de estabilidade, realizadas por dois projetistas diferentes. A
geometria do talude, posição do nível d'água e estratigrafia são estabelecidas através de resultados de
sondagens à percussão. Os parâmetros geotécnicos são típicos de perfis de solos residuais de encostas naturais
brasileiras. Serão analisados os diferentes critérios de busca da superfície crítica e outras facilidades, que se
encontram em programas de análise de estabilidade. Serão observadas a influência da interpretação dos
resultados de investigação e o tipo da ferramenta de cálculo. Os resultados mostraram diferenças significativas
na estimativa de FS, o que denota a fragilidade do conceito do FS na prática da engenharia geotécnica.
Ressalta-se, ainda, que os FS admissíveis nas normas técnicas são definidos qualitativamente, com base na
experiência pessoal e, portanto, também sujeitos a incertezas.
.
PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de taludes, Fator de segurança, Método de equilíbrio limite.
ABSTRACT: The stability of natural slopes is frequently studied in road works, earth dams, among others. The
engineering practice establishes the Safety Factor (FS) as a performance indicator of the slope stability. The
calculated FS must be compared with the admissible FS, defining the need or not for stabilization actions. The
admissible FS are established by technical standards, based on the consequences of a failure. The present work
intends to show some singularities that can occur in stability calculations, using a commercial program, based
on the Limit Equilibrium Method. The results of two stability analyzes, carried out by two different designers,
will be compared. The slope geometry, water level depth and stratigraphy are established through standard
penetration test results. The geotechnical parameters are typical of residual soil profiles of Brazilian natural
slopes. The different search criteria for the critical surface and other facilities, present in stability analysis
programs, will be analyzed. The influence of the interpretation of the research results and the calculation
approach will be observed. The results showed significant differences in the FS estimate, which indicates the
weakness of the FS concept. It worth to note that the admissible FS are defined qualitatively, based on
engineereing experience and, therefore, are also subject to uncertainties.
1. Introdução
O tema estabilidade de talude está presente em muitos projetos geotécnicos. Estudos de taludes naturais
são frequentes em obras de rodovias e em ambientes urbanos. Já os taludes construídos decorrem da execução
de barragens, diques, aterros ou mesmo escavações.
A frequência com que eventos catastróficos, envolvendo movimentos de massa, cresceu nos últimos
anos, tem ampliado o interesse no estudo no tema estabilidade de taludes. Tais eventos podem ser classificados
como naturais, quando se devem à ação de intensidades de chuva elevadas, ou antrópicos, quando decorrentes
de rupturas de taludes em instalações industriais. Os movimentos de massa em Nova Friburgo (2011) e Angra
dos Reis (2013), decorrentes de intensidades de chuva extremamente elevadas, e as rupturas de barragens de
rejeito de minério de ferro em Mariana (2015) e Brumadinho (2019) foram eventos marcantes para a
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Há vários programas comerciais disponíveis para cálculo do FS por equilíbrio limite. Os programas
apresentam interface gráfica, amigável com o usuário, tornando seu uso praticamente instintivo. O presente
trabalho pretende mostrar algumas singularidades no uso de um programa bem aceito na comunidade
geotécnica.
2. Análises de Estabilidade
O caso analisado consiste em um talude típico, com cerca de 25m de altura, localizado às margens de
um rio. Junto ao pé do talude existe uma camada de aluvião areno-argiloso e a encosta é constituída de uma
camada superficial de solo residual maduro, seguida pelo solo residual jovem, sobrejacente à rocha pouco
alterada. A Figura 1 apresenta a seção transversal, definida a partir de perfis de sondagens à percussão,
realizados em 3 posições no talude. Os parâmetros geotécnicos também estão incluídos na Figura 1. A
estratigrafia e geometria do talude são encontradas facilmente em encostas naturais; assim como a ordem de
grandeza dos parâmetros geotécnicos. Análises de estabilidade foram realizadas utilizando-se um programa
comercial Slide Modeler versão 2018 8.018 (Rocscience Inc)
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por dois projetistas não é improvável que ocorram diferenças na escolha das seções transversais críticas. A
Figura 1. mostra pequenas diferenças no modelo geológico-geotécnico, com variações na topografia,
estratigrafia e posição do lençol freático. O Projetista 1 considera topografia do terreno com cotas mais
elevadas, a qual se transmite nos limites entre as camadas subjacentes e na posição do lençol freático.
Solo c´ ´
(kN/m3) (kPa) (o)
Aluvionar 16 0 28
Residual 17 15 32
Maduro
Residual 18,5 20 35
jovem
35 35
30 Projetista 1 30
Projetista 2
25 25
20 20
15 15
10 10
NA - Projetista 1
5 5 NA - Projetista 2
0 0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65
Distância (m) Distância-------
(m)
(a) Geometria (b) Nível freático
Figura 2. Concepção geométrica dos projetos analisados
As análises de estabilidade foram realizadas usando a opção de malha de círculos, como critério de
busca da superfície potencial de deslizamento. Em todas as análises os limites da malha de centros foi o
mesmo; canto inferior esquerdo em x=-5m e y=20m e canto superior direito em x=23,5m e y 50m. A região
de busca dos centros dos círculos foi definida subdividindo-se os eixos vertical e horizontal em 30 intervalos
e impondo-se incrementos de raio de 1m. O cálculo da poropressão foi feito assumindo uma redução na
distância vertical em relação ao nível d’água através de linhas equipotenciais hipotéticas normais à linha
freática. Foi respeitada a sugestão do programa quanto ao número de fatias (25) e opções de convergência
(tolerância= 0,005 e número máximo de 50 iterações = 50).
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VI Conferência Sul Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens
15 a 18 de Setembro de 2020 – Campinas - SP
Os métodos de Jambu, Sarma, Spencer e Morgentern & Price são denominados de rigorosos por
satisfazerem as todas as equações de equilíbrio (Chowdhury 2010; Gerscovich, 2012). Com isso, as forças
entre fatias e as hipóteses com relação a distribuição das suas resultantes ao longo da superfície de ruptura são
introduzidas no cálculo. Dentre estes, o método de Spencer foi desenvolvido exclusivamente para superfície
circular e os demais se aplicam a superfícies quaisquer. A comparação entre os diferentes métodos (Tabela
1.) mostra que a diferença média de FS entre os dois projetistas foi de 0,16. O método de Fellenius é
conhecidamente o mais conservador; os demais praticamente não diferiram.
Tendo como base o modelo geológico do Projetista 1 e a posição do lençol freático do Projetista 2,
obteve-se FS = 1,45. Em outras palavras, pequenas variações na topografia pouco afetam o FS.
A importância do lençol freático em análises de estabilidade é uma questão bem consolidada no meio
geotécnico. Análises de sensibilidade levando-se em conta as incertezas relacionadas a variações sazonais na
posição do lençol freático são fundamentais em um bom projeto geotécnico.
Soma-se ainda a questão de que acima do nível d´água o solo encontra-se numa condição não saturada,
o que lhe confere uma resistência ao cisalhamento adicional proveniente da coesão aparente. Por outro lado,
as camadas superficiais estão sujeitas a processos de infiltração de água de chuva. Tais processos ocorrem de
forma essencialmente vertical e, dependendo da intensidade de chuva, podem inclusive saturar a região
superficial. Como o fluxo é prioritariamente vertical, ocorre mudança nas condições de umidade sem gerar
poropressão. A Figura 4 apresenta os resultados das análises de estabilidade para as duas condições analisadas,
considerando uma redução no intercepto de coesão do solo residual maduro de 15 para 5kPa. Observa-se que
as superfícies de ruptura se restringem ao solo maduro e, como esperado, ocorre redução no FS. No caso do
Projetista 1, a análise aponta a necessidade de medidas de estabilização do talude, ao passo que o Projetista 2
pode afirmar que o talude é estável e, dependendo das condições locais, o FS atende ao valor admissível.
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Figura 4. Análise de estabilidade pelo método de Bishop com redução do intercepto de coesão do solo
residual maduro de 15kPa para 5kPa
Análises de estabilidade, com base na metodologia de equilíbrio limite, não são afetadas pela escolha
do contorno do problema. Por outro lado, recomenda-se que a geometria analisada não impeça amplo processo
de pesquisa da superfície potencial de ruptura.
Para avaliar a adequação dos limites adotados na pesquisa do círculo crítico, a geometria adotada pelo
Projetista 1 foi ampliada em 20m em ambas laterais do contorno. Na Figura 5a os resultados revelam que
mantendo-se o limite de busca original o FS permanece inalterado (FS = 1,29). Entretanto, quando se ampliam
os limites de busca do círculo crítico (Figura 5b), mantendo-se inalterada a malha de círculos (30 x 30 e
incremento de raio de 1m), a convergência do programa se dá para fatores de segurança mais elevados
(FS=1,51) e superfície potencial de ruptura passando pelo pé do talude. Na Figura 5b estão mostrados os 3
círculos mais críticos (FS ≅ 1,5) em conjunto com o círculo de ruptura obtido na Figura 5a (coordenadas do
centro x=11,15m e y=42m e raio =36,16m). Curiosamente, a adoção da metodologia de cálculo para uma
superfície pré-definida ao invés do uso da malha de círculos levou a FS=1,29, compatível com o obtido na
Figura 5a.
(a) Projetista 1 – Limite Restrito (FS = 1,29) (b) Projetista 1 – Limite Ampliado (FS = 1,51)
Figura 5. Análise de estabilidade ampliando-se os limites do contorno - Modelo geométrico do Projetista 1
Ressalta-se ainda que, para os limites ampliados de busca do círculo crítico (Figura 5b), mantendo-se
a mesma região de procura e discretização da malha de círculos, mas alterando-se o incremento de raio para
2m, a convergência se deu para um resultado mais compatível com as análises anteriores, com FS=1,29 (Figura
6).
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Figura 6. Análise de estabilidade para condição de contorno ampliada, com discretização de malha de
círculos 30x30 e incremento de raio de 2m - Modelo geométrico do Projetista 1 (FS=1,29)
Esse resultado mostra claramente que todo FS, obtido em análises de estabilidade, representa
simplesmente o menor valor obtido associado ao critério de pesquisa e método de cálculo. Em outras palavras,
é possível obter o FS mínimo global em outras superfícies que podem ser geradas a partir de alternativas de
definição do círculo crítico.
Os programas comerciais de análise de estabilidade, em geral, disponibilizam várias opções para o para
a pesquisa do círculo crítico. As alternativas são: malha de círculos, pesquisa no talude e procura automática.
No caso da opção de pesquisa no talude, o programa requer a definição de limites da variação do ângulo
de entrada no pé do talude. Para a geometria analisada, considerou-se uma faixa de variação de 45o a -45º e
após 5000 superfícies geradas, obtendo-se FS = 1,29, como mostra a Figura 7a. No caso da opção de procura
automática faz-se necessário a definição de parâmetros tais como número de divisões no talude, número de
círculos gerados, número de iterações, etc. Adotando-se os parâmetros sugeridos pelo programa, foram
computadas 4500 superfícies, obtendo-se o mesmo FS (Figura 7b).
Cabe observar que, diferentemente da pesquisa por malha de círculos (Figura 5), a variação dos limites
do contorno não teve influência no FS.
Análises de estabilidade foram também realizadas considerando-se superfícies não circulares. Apesar
de não satisfazer as equações de equilíbrio de forças horizontais, o método de Bishop é muito bem aceito para
análises de estabilidade em superfícies circulares. Muitos programas, entretanto, permitem o uso
indiscriminado de qualquer método de análise para qualquer forma de superfície. Por serem códigos fechados,
não fica claro para o usuário qual metodologia é adotada para estender o cálculo de métodos de superfícies
circulares para casos de superfícies não circulares.
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A Figura 8 mostra o resultado da análise de estabilidade pelo método de Morgenstern & Price, com o
modelo geométrico do Projetista 1. Apesar de não circular, a superfície de ruptura se assemelha à obtida nas
análises anteriores com superfície circular. Por outro lado, há uma ligeira redução no FS de 1.29 (Figura 3)
para 1.24.
Figura 8. Análise de estabilidade de superfície não circular com opção de pesquisa Cuckoo search – Modelo
Geométrico do Projetista 1 FS= 1.24
Os resultados das análises, resumidos na Figura 9, mostram a diversidade de valores de FS que podem
ser determinados para um mesmo talude e usando a mesma ferramenta de cálculo. Ressalta-se que em todas
as análises, com exceção da que avalia os efeitos de eventual processo de infiltração de água de chuva (redução
da sucção), os parâmetros geotécnicos foram mantidos constantes.
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Na análise das facilidades de cálculo disponibilizadas pelos programas comerciais (forma e tipo de
pesquisa da superfície crítica), um mesmo projetista pode obter FS distintos. Em uma análise, o Projetista 1
obteve FS=1,51, correspondendo a uma condição de segurança alta e, em outra, concluiu que o FS=1,24 era
sequer suficiente para atender a um grau de segurança médio.
Figura 9. Resumo dos FS encontrados nas análises e limites admissíveis estabelecidos pela NBR 11682
Cabe ressaltar que este trabalho não abordou os aspectos relacionados aos parâmetros geotécnicos. A
qualidade das investigações de campo e as dificuldades de execução e representatividade das amostras levam
a incertezas intrínsecas quanto ao comportamento dos materiais e confiabilidade dos FS obtidos no projeto
Por fim, as diferenças significativas observadas nas análises de estabilidade de um caso simples e
comum em encostas em solo residual, denotam a fragilidade do conceito do FS na prática da engenharia
geotécnica. Acrescenta-se ainda que os níveis de segurança estabelecidos em normas técnicas também
incorporam certo grau de incerteza quanto à performance do talude.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0147 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: A compactação de solos consiste em melhorar suas propriedades através de processos manuais ou
mecânicos, reduzindo seus vazios pela aplicação de pressão, impacto ou vibração. Esse processo torna o
maciço mais homogêneo, resultando no aumento do peso específico aparente do solo, diminuição dos vazios
do solo, redução da variação dos teores de umidade, compressibilidade e permeabilidade, e um aumento da
resistência ao cisalhamento e à erosão. Este trabalho apresenta os resultados da caracterização geotécnica do
solo natural e compactado utilizado como material de aterro do terreno do recém construído prédio principal
do curso de Medicina do Centro Acadêmico do Agreste, da Universidade Federal de Pernambuco. Foram
realizados ensaios de caracterização completa, compactação, cisalhamento direto e compressão simples.
Constatou-se que o solo da jazida escolhida para empréstimo atende às características esperadas, de forma que
tanto a construção do muro de arrimo, como a realização do aterro, se bem executados respeitando os
parâmetros do solo encontrados, terão estabilidade e segurança ao longo da vida útil da obra.
ABSTRACT: A soil compaction consists of improving its properties using manual or mechanical processes,
applying pressure, impact or vibration for reduced the soil void. This process becomes the soil more
homogeneous, resulting in an increase in specific weight to the soil, a reduction in voids in the soil, a reduction
in the variation of depth, compressibility and permeability and an increase in shear and erosion resistance. This
paper presents the results of the geotechnical characterization of natural and compacted soil, used as
embankment material for the recent construction of the main building of the Medical Course of the Academic
Center of Agreste, of the Federal University of Pernambuco. Complete characterization, compaction, direct
shear and simple compression tests were performed. It should be noted that the soil of the deposit chosen for
loans meets the expected characteristics, so that both the construction of the retaining wall, as well as an
execution on the embankment will have stability and security, if it carried out correctly respecting the
parameters of the soil found.
1 Introdução
O estudo do comportamento dos solos é de grande relevância nas diversas áreas da engenharia. Na
construção civil durante a concepção e execução de uma obra, é necessário considerar as características físicas
do solo, a fim de se definir o adequado sistema estrutural a ser utilizado e realizar o correto dimensionamento
da fundação. Além disso, é preciso conhecer a dinâmica do solo ao longo da vida útil da construção, para evitar
a ocorrência de eventuais patologias ou, até mesmo, o colapso da estrutura (Pinto, 2006).
O solo é originado através da ação dos agentes físicos e/ou químicos sobre as rochas que formam a
crosta terrestre, dando origem à material constituído de três fases: sólida, líquida e gasosa. A relação entre
estas três fases (entre volumes, entre massas ou massa e volume) que fundamentam o solo é conhecida por
índices físicos e traz características importantes quanto à estruturação do solo. Outra característica fundamental
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ao solo, além dos índices físicos, diz respeito à composição da fração sólida do solo. A distribuição
granulométrica da fração mineral determina as porcentagens de cada tamanho de partícula que compõem o
solo e é obtida através da análise granulométrica. Os limites de consistência são determinados através do
comportamento do solo em presença de água (Limite de contração, limite de plasticidade e limite de liquidez)
(Das, 2010).
A compactação de solos consiste no procedimento de melhorar as propriedades do terreno através de
processos manuais ou mecânicos, reduzindo os seus vazios pela aplicação de pressão, impacto ou vibração.
Além disso, esse processo torna o maciço mais homogêneo, resultando no aumento do peso específico aparente
do solo. Com a diminuição dos vazios do solo, espera-se uma redução da variação dos teores de umidade, da
compressibilidade e da permeabilidade e um aumento da resistência ao cisalhamento e à erosão.
De acordo com a Diretoria de Planos e Projetos (DPP), da Superintendência de Infraestrutura
(SINFRA) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), estão sendo construídos, no Centro Acadêmico
do Agreste (CAA), três blocos para o curso de Medicina: o edifício sede, com área de construção de 7.310 m²
em quatro pavimentos; o edifício destinado ao biotério, com área de construção de 363,62 m², em pavimento
térreo; e o edifício destinado à unidade básica de saúde, com área de construção de 407,52 m², em pavimento
térreo. O tempo previsto para finalização da obra é de 20 meses. O contrato para construção dos blocos teve o
valor de R$ 19 milhões. Na área de construção do bloco sede, haverá um muro de arrimo e grande quantidade
de solo compactado.
Diante da importância da obra, considerou-se a possibilidade de determinar as propriedades
geotécnicas do solo natural e compactado utilizado como material de aterro e avaliar sua adequação para a
obra. Foram realizados os ensaios de caracterização completa, compactação, cisalhamento direto do solo e
compressão simples.
O solo, devido à sua abundância, tem grande emprego na construção civil como material de construção
ou de suporte para estruturas (Corrêa, 2008). Este é um material cujas propriedades físico-mecânicas possuem
uma grande variabilidade, por serem empregados na engenharia, principalmente em obras rodoviárias, é de
fundamental importância que essas propriedades atinjam o mínimo exigido para seu uso (Bresciani, 2009).
A pesquisa das áreas de jazidas de empréstimo começa com execução de furos de sondagens, em geral
a trado, frequentemente complementados com abertura de poços, visando não só a cubagem do material, como
também a coleta de amostras para a sua identificação tátil e visual e a execução dos primeiros ensaios de
laboratório (Massad, 2010). Entre os ensaios, incluem-se: (a) ensaios de caracterização: granulometria, Limites
de Atterberg, umidade natural e o peso específico dos grãos; (b) ensaios de compactação; (c) ensaios
mecânicos, tais como ensaios de adensamento, triaxiais e de cisalhamento direto em corpos de prova moldados
em laboratório.
A realização dos ensaios dos dois primeiros itens permite: (a) classificar os solos em grupo; (b) comparar
valores da umidade de solos de empréstimos com a hot, obtendo indicações preciosas sobre o acerto da
umidade antes da compactação; (c) confrontar hot com Limite de Plasticidade.
Massad (2010) indica que os ensaios mecânicos são realizados apenas em casos de aterros de muita
responsabilidade, como aterros de barragens de terra, por exemplo, e fornecem parâmetros como c’ e ’, para
análises de estabilidade de taludes. No caso de jazidas de areias, é útil uma caracterização tátil e visual, com a
descrição da forma e da resistência dos grãos. Realiza-se ensaios de granulometria, para se ter uma ideia da
quantidade de “sujos” ou finos (argilas e siltes) existentes. Outros ensaios referem-se a determinação dos
índices de vazio máximo e mínimo, importantes para a obtenção da compacidade relativa ou densidade relativa
de areias compactadas.
3 Área de Estudo
Na área de construção do edifício sede do curso de Medicina, ao longo de toda a parte de trás do mesmo,
haverá um muro de arrimo e grande quantidade de solo compactado (Fig. 1). Foram realizados 9 (nove) furos
do tipo SPT, com profundidade total, de 14,38m. Não foi detectado o lençol de água livre. A profundidade do
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impenetrável se deu entre 0,5m a 1,4m. O perfil geotécnico da área é formado predominantemente por uma
camada única de areia siltosa com alteração de rocha, com NST médio de 30 golpes. Nas Figuras 2 e 3 são
apresentados, respectivamente, uma visão geral da locação do prédio sede, e a sondagem à percussão (SPT)
no Furo SP-02.
A construtora responsável pela obra coletou o solo na jazida de empréstimo sem prévia análise das
condições do solo. Provavelmente a escolha da jazida se deu pela facilidade de acesso à obra e a qualidade do
material, visualmente arenoso.
Diante da importância da obra, Leite (2019) decidiu estudar o solo, através da caracterização geotécnica
de laboratório, verificando sua adequação para uso como material de aterro.
Área do aterro
.
Figura 1. Croqui de localização – bloco principal e Biotério (Lucena, 2017).
Figura 2. Vista geral do local do prédio sede de Medicina do CAA (Lucena, 2017).
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4 Metodologia
Leite (2019) realizou no solo de emprestimo do aterro da área do prédio de medicina, ensaios de
caracterização completa (granulometria, limite de liquidez e limite de plasticidade), umidade higroscópica e
umidade natural do solo, CBR e ensaios de cisalhamento direto. Todos os ensaios foram realizados no
laboratório de Geotecnia do Campus Acadêmico do Agreste da Universidade Federal de Pernambuco, em
Caruaru, obedecendo os procedimentos das Normas da ABNT.
5 Resultados e Análises
O solo foi caracterizando como um solo seco, com umidade natural igual a 2,13%. Os teores de umidade
dependem do tipo de solo e situam-se geralmente entre 10 e 40%, podendo ocorrer valores muito baixos (solos
secos) ou muito altos (150% ou mais).
Nas curvas granulométricas normalmente usadas, as ordenadas representam as porcentagens
acumuladas passantes e as abscissas, as aberturas das peneiras em escala logarítmica. Como as aberturas das
peneiras, em uma série padrão, estão em uma razão constante 1:2, um gráfico logarítmico mostra estas
aberturas com espaçamentos iguais (Neville, 1997). A partir da curva granulométrica (Fig. 4), verificou-
se que o solo é composto por 4% de silte, 27% de areia fina a média, 63% de areia média a grossa e
6% de pedregulho, classificado como SW (areia bem graduada).
Determinou-se que D10 é o diâmetro correspondente a 0,15 mm, D30 é o diâmetro correspondente a 0,80
mm e que D60 é o diâmetro correspondente a 3,20 mm. O coeficiente de não uniformidade, Cnu, indica a
amplitude dos grãos, e o coeficiente de curvatura, CC, detecta melhor o formato da curva granulométrica e
permite identificar eventuais descontinuidades ou concentração muito elevada de grão mais grossos no
conjunto. Quanto maior o Cnu, mais bem graduada é a areais. Considera-se que o material é bem-graduado
quando CC está entre 1 e 3. O coeficiente de não uniformidade foi de 21,33 (solo bem uniforme), e o coeficiente
de curvatura foi de 2,78 (solo bem graduado).
O Limite de Liquidez (LL) foi de 18,9%, Limite de Plasticidade (LP) foi igual a 15,24%, o Índice de
Plasticidade (IP) de 3,66%, e Índice de Contração (IC) de 1,1, sendo classificado como areia dura. O peso
específico aparente seco máximo foi de 1,93 g/cm³ e umidade ótima de 11% (Fig. 5). As especificações não
determinam intervalos de umidade ou de peso específico do solo estudado, mas os dados obtidos são
importantes para que seja efetuado aterro devidamente compactado, garantindo estabilidade para a edificação.
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Os ensaios de resistência ao cisalhamento foram realizados sob tensão normal de 50 kPa, 100 kPa e 200
kPa. A Figura 6 mostra o corpo de prova após sofrer o cisalhamento. Através da equação da tensão cisalhante
obtida da linha de tendência, foram obtidos os valores de 42º para o ângulo de atrito e de 4,74 kPa para coesão.
Segundo a classificação dada por Das (2010) para os ângulos de atrito drenado, o solo em estudo é uma areia
compacta, o que garante uma grande resistência ao cisalhamento, sendo adequada para construções de
contenção, como muros de arrimo.
No ensaio a compressão simples, foi aplicada tensões verticais nas amostras, à uma velocidade constante
de 1 mm/min e de forma crescente, até que houvesse a ruptura das amostras ensaiadas (Figura 7). Assim, foram
obtidas duas curvas de Tensão x Tempo, uma curva para cada amostra ensaiada. Essas curvas podem ser
observadas nas Figuras 7a e 7b. O ponto onde houve ruptura fica evidente no pico da curva, onde ao sofrer
ruptura, a amostra perde resistência à compressão e a tensão normal começa a decrescer. Verifica-se
proximidade no tempo de ruptura, assim como na tensão aplicada no momento desta em cada corpo de prova.
Isso se deve ao fato de as duas terem sido compactadas nas mesmas condições de umidade e energia de
compactação. Mesmo assim existe uma diferença nos resultados, motivo o qual foi necessário mais de um
ensaio para se ter um melhor entendimento da resistência à compressão do solo.
A curva da amostra 1 mostra decaimentos de tensão ao longo do tempo, que embora pequenos e quase
instantâneos mostram que a amostra estava apresentando alguns vazios em seu interior, que eram compactadas
pela prensa durante o ensaio de compressão. Este comportamento, dá a entender que a amostra 2, com curva
muito mais estável, sem decaimentos, estaria com uma melhor resistência. Mas o resultado mostra que a
amostra 2 na realidade, tinha resistência inferior, tendo a amostra 1 superado em 5,1 kPa na tensão de ruptura.
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Figura 7. Corpo de prova em processo de compressão pela prensa universal (Leite, 2019).
(a) (b)
Figura 8. Curva Tensão x Tempo do ensaio de Compactação Simples; (a) amostra 1; e (b) amostra 2 (Leite,
2019).
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ensaio, onde a prensa estava com a chapa mais próxima da amostra 2 do que estava no ensaio da amostra 1,
gerando tensões logo no início.
O comportamento observado leva a concluir que, se no ensaio da amostra 1 a prensa levou um tempo
para chegar ao topo da amostra, e a amostra 2, mesmo com a prensa ajustada no local certo no início do ensaio,
ainda levou mais tempo para chegar a romper, a amostra 2 resistiu por mais tempo às tensões aplicadas levando
11,85 segundos a mais para romper, sem contabilizar o tempo que a prensa levou para encostar na amostra 1.
A resistência à compressão do solo adotada foi o resultado médio das duas amostras (182,87 kPa).
O solo utilizado como empréstimo atende aos parâmetros esperados para uma boa execução do aterro,
sendo necessário respeitar esses parâmetros quando no planejamento e execução da obra.
4. Conclusão
O trabalho permiu um melhor entendimento do solo utilizado no aterro para definir sua adequação para
a obra, através de procedimentos experimentais que visam analisar parâmetros relevantes.
Com relação às características granulométricas do solo, obtidas nos ensaios de caracterização do solo,
pode-se concluir que o solo retirado da jazida se trata de uma areia bem graduada, apresentando na sua
composição grãos finos e grãos mais graúdos na proporção que a quantidade de vazios é minimizada, o que
garante uma melhor compactação do solo. A areia é do tipo dura, o que confere a esta, uma propriedade mais
resistente à compressão enquanto compactada. Observou-se característica pouco plástica do solo, o que garante
uma boa estabilidade do solo compactado na umidade ótima.
No ensaio de compactação foram encontradas as propriedades de massa específica aparente seca do solo
assim como sua umidade ótima, dados importantes tanto na fase de planejamento de extração de solo da jazida,
como de planejamento e execução de compactação do solo.
No ensaio de cisalhamento direto, o ângulo de atrito encontrado mostra que o solo apresenta uma
resistência adequada para a construção do muro de arrimo planejado para a obra em questão.
Por fim, o ensaio de compressão simples mostrou uma boa resistência à compressão do solo. Mas é
importante utilizar o valor de tensão máxima encontrado para o cálculo da edificação que irá ser construída
acima do aterro para que não haja superação dessa tensão, levando o aterro a obter complicações a longo prazo.
O solo utilizado como empréstimo na obra do bloco de Medicina no CAA atende aos parâmetros
esperados barra uma boa execução tanto do aterro como do muro de arrimo, sendo necessário apenas respeitar
esses parâmetros quando no planejamento e execução da obra.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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estabilizado com aditivo perma zyme®. 2009. 153 p. TCC (Curso de Engenharia Civil) - Universidade do
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Das, B. M. (2010). Fundamentos de Engenharia Geotécnica. São Paulo: Thomson.
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Pinto, C. S. (2002). Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 aulas. 2a ed. São Paulo. Oficina de Textos.
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0148 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo avaliar o melhoramento de solos compactados com adição
de materiais alternativos, como pó de pedra e fibras de polipropileno, a fim de determinar e avaliar as
características físicas e a resistência dos solos a compressão não confinada, antes e depois da estabilização.
Para isso foram coletadas duas amostras deformadas distintas de um mesmo talude da Formação Cabo, no
Cabo de Santo Agostinho. O melhoramento do solo por meio do reforço físico-granulométrico foi realizado
adicionando aos solos secos 5% de pó de pedra, 0,75% de fibras de polipropileno e uma adição conjunta com
5% de pó de pedra e 0,75% de fibras de polipropileno. Os solos foram classificados pelo Sistema Unificado
de Classificação dos Solos como SM (solo 1) e um MH (solo 2), ambos com massa específica dos grãos de
2,65 g/cm³. Os ensaios de compressão simples determinaram o ganho de resistência para o solo 1, tendo seu
pico na mistura com o pó de pedra com um ganho em média de 117%. Para o solo 2, a fibra obteve resultados
expressivos com relação ao solo natural, sendo obtido um ganho de resistência médio de 99,0%. A junção do
pó de pedra com a fibra no solo 1, não teve alteração significativa, enquanto no solo 2 ocorreu um aumento de
6,7%, ambos comparados a inserção apenas da fibra, e de 112,25% com o solo natural. Concluiu-se que os
materiais utilizados auxiliam no melhoramento de um solo, sendo as técnicas de estabilização física adotadas
uma alternativa tecnicamente viável que pode ser utilizada para solos em camadas de base de aterros,
pavimentos, etc.
ABSTRACT: The present work aims to evaluate the improvement of compacted soils with the addition of
alternative materials, such as stone powder and polypropylene fibers, in order to determine and evaluate the
physical characteristics and resistance of the soils to unconfined compression, before and after stabilization.
For this, two different deformed samples were collected from the same embankment of the Cabo Formation,
in Cabo de Santo Agostinho. The improvement of the soil through the physical-granulometric reinforcement
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was carried out by adding 5% stone powder, 0.75% polypropylene fibers to the dry soil and a joint addition
with 5% stone powder and 0.75% fiber. polypropylene. The soils were classified by the Unified Soil
Classification System as SM (soil 1) and an MH (soil 2), both with a grain bulk specific gravity of 2.65 g/cm³.
The simple compression tests determined the resistance gain for soil 1, with its peak in the mixture with the
stone powder with an average gain of 117%. For soil 2, the fiber obtained expressive results in relation to the
natural soil, with an average resistance gain of 99.0%. The junction of stone powder with fiber in soil 1, did
not change significantly, while in soil 2 there was an increase of 6.7%, both compared to the insertion of only
fiber, and 112.25% with natural soil. It was concluded that the materials used assist in the improvement of a
soil, and the physical stabilization techniques adopted are a technically viable alternative that can be used for
soils in base layers of embankments, pavements, etc.
1 Introdução
No âmbito da engenharia civil, o solo é definido como um agregado não cimentado de grãos minerais e
matéria orgânica decomposta, com líquido e gás preenchendo os espaços vazios existentes entre as partículas
sólidas (DAS, 2014). O solo é usado como material de construção em diversos projetos da engenharia civil e
de suporte para fundações estruturais. Neste estudo para o conhecimento das propriedades e o comportamento
do solo, a caracterização física e geomecânica possuem grande relevância.
É frequente encontrar solos naturais sem os requisitos necessários para cumprir adequadamente a função
a que estão destinados (CRUZ et al., 2010). Para que os projetos ocorram de forma correta e sem danos
técnicos, econômicos, sociais e ambientais, os processos de estabilização das características dos solos por meio
do melhoramento são saídas eficazes para solucionar tal problema. De modo geral, para melhorar as
características de um solo podem ser utilizados processos de natureza física (estabilização granulométrica),
físico-química (uso de materiais compósitos, por exemplo, solo-cimento-fibra), química (adição de cal,
betume, etc) ou mecânica (compactação) de forma a tornar esse solo estável para os limites de sua utilização
(GUEDES et al.,2014).
Em se tratando do melhoramento do solo por meio da incorporação de fibra, nos últimos 20 anos, tem-
se observado um número crescente de relatos sobre a utilização de fibras de diversos materiais em pesquisas
de laboratório, na área de geotécnica. Segundo Trindade et al. (2004) A grande maioria desses trabalhos atesta
ganhos de resistência e confirmam a ação de fibras como meio de aumentar a ductibilidade dos solos. As fibras
de polipropileno são bastante flexíveis e possuem grande tenacidade. Festugato (2008) observou que uma
matriz de solo arenoso com adição de fibras apresentou maior resistência do que o solo sem reforço. O autor
verificou, além disso, um comportamento de endurecimento nas misturas solo-fibra estudado, como também
que o aspecto das fibras tem importante influência sobre o ganho de resistência e a expansibilidade do material.
Segundo Trindade (2006) em seu estudo comparando diferentes comprimentos e quantitativos de fibras para
o melhoramento em um solo, obteve-se maior resistência a compressão não confinada para todos os
comprimentos em um quantitativo de 0,75% de adição de fibras no solo.
Outro métodos para melhoramento do solo é a aplicação do pó de pedra, onde segundo Bauer (2015) é
um material inerte, mais fino que pedrisco, de graduação entre 0 e 4,8 mm que tem maior porcentagem de
finos que as areias padronizadas, chegando a 28% do material abaixo de 0,075 mm. Santos (2016), em seu
estudo sobre o melhoramento do solo com adição de cal hidratada e pó de pedra, constatou que o maior ganho
de resistência deu-se com a adição de 5% de pó de pedra, mostrando ser, dentre as adições analisadas, a mais
favorável para o incremento de resistência para este solo, o que pode ser visto como alternativa para solucionar
problemas referentes à baixa resistência do solo. Por ser um material inerte, não reage com o solo
quimicamente, com isso a sua utilização para a estabilização se baseia nas técnicas de melhoramento físico
pelo método de estabilização granulométrica.
O propósito deste trabalho é analisar a viabilidade técnica do uso de materiais alternativos, no caso o pó
de pedra e fibras de polipropileno, como estabilizantes em solos com baixa resistência mecânica visando uma
melhora em suas propriedades para a aplicação em obras de engenharia, tendo como referência a resistência
das misturas obtidas a partir do ensaio de resistência a compressão simples (não confinada).
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2 Metodologia
Figura 1. Talude de onde foram retiradas as amostras dos solos para ensaios e as amostras 1 e 2. Fonte: Autor
Os ensaios para determinação da caracterização física e para avaliação da resistência dos solos seguiram
as normas específicas da ABNT e foram realizadas no Laboratório de Mecânica dos Solos da UACSA/UFRPE.
Os ensaios que estão apresentados na tabela 1 foram realizados tanto para os solos em seu estado natural quanto
após o melhoramento com a incorporação do pó de pedra e das fibras de polipropileno.
Tabela 1. Parâmetros e normas para determinação da caracterização física e resistência a compressão não
confinada dos solos. Fonte: Autor
Parâmetros Teor de Massa Análise Limite de Limite de Compactação Compressão
Avaliados Umidade Específica Granulométrica Liquidez Plasticidade Simples
Normas de 6457/2016 6458/2016 7181/2016 6459/2016 7180/2016 7182/2016 12770/1992
Referência
O pó de pedra foi caracterizado segundo a norma da ABNT NBR NM 248/2003, com a obtenção da sua
composição granulométrica, diâmetro máximo e módulo de finura, segundo a norma ABNT NBR 16605/2017,
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com a obtenção da massa específica do agregado miúdo e segundo a norma ABNT NBR NM 46/2003, com a
obtenção do teor de materiais pulverulentos. As fibras de polipropileno seguiram as especificações do
fabricante, sendo constituídas de monofilamentos extremamente finos de polipropileno com diâmetro de
18 µm e um comprimento de 12 mm, possuindo resistência a tração de 500-600 MPa e peso específico de
0,91 g/cm³. A mistura dos solos com as fibras de polipropileno foi realizada de forma manual, segundo
Guedes (2014).
Figura 2. Corpos de prova moldados na umidade ótima, durante o tempo de espera de 24 horas. Fonte: Autor
Após a moldagem dos corpos e o tempo de espera de 24 horas foi realizado a determinação das suas
resistências através do ensaio de compressão simples (não-confinada), sendo realizado em uma prensa para
ensaios de CBR, com velocidade constante de carregamento e anotadas as medidas de deslocamento do
manômetro em um intervalo pré-estabelecido, igual a todos.
3 Resultados
O pó de pedra tem um diâmetro máximo característico de 4,8 mm, teor de materiais pulverulentos de
18,9%, módulo de finura de 2,34, sendo considerado uma areia média. A massa específica do agregado foi
determinada como 2,660 g/cm³.
As análises granulométricas foram realizadas para os solos em estado natural e com a adição do pó de
pedra e estão expressas na Figura 3, onde foi possível observar que a presença do pó de pedra no solo 1 teve
um aumento na porcentagem de finos com uma escala maior do que realizado na incorporação com o solo 2.
A incorporação das fibras não alterou as características granulométricas, mas foi verificada uma alteração nos
limites de consistência.
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Figura 3. Curvas Granulométricas dos solos 1 e 2 no estado natural e com o pó de pedra. Fonte: Autor
Tabela 2. Resultados dos ensaios de caracterização física dos solos. Fonte: Autor
Solo 1 Solo 1 Solo 1 Solo 1 Solo 2 Solo 2 Solo 2 Solo 2
Amostras natural com com com pó natural com com com pó
pó de fibras de pedra pó de fibras de pedra
pedra e fibras pedra e fibras
Limite de Liquidez(%) 46,0 54,0 56,0 59,0 65,0 59,0 63,0 65,0
Limite de Plasticidade(%) 40,0 34,0 31,0 32,0 56,0 50,0 44,0 40,0
Índice de Plasticidade(%) 6,0 20,0 24,0 27,0 9,0 9,0 19,0 25,0
Massa Específica dos 2,653 2,548 - - 2,646 2,779 - -
grãos (g/cm³)
Classificação SM* - - - **MH - - -
*SM- Areia Siltosa
** MH – Silte de alta compressibilidade
Quanto aos limites de Atterberg verificou-se que a incorporação das fibras teve um desempenho maior
que a do pó de pedra, onde ela aumentou o limite de liquidez de ambos os solos e diminui o limite de
plasticidade, tirando os solos classificados como pouco plásticos para uma plasticidade média. Essa
característica se dá pela capacidade das fibras de aumentarem a ductibilidade dos solos, auxiliando no grau de
deformação que aumenta a relação tensão x deformação. A presença apenas do pó de pedra no solo 1 obteve
resultados favoráveis à sua plasticidade, a confirmar pelos seus índices, saindo de um solo pouco plástico para
um de plasticidade média. Neste caso a presença dos finos presente no pó de pedra auxiliou no ganho, caso
que aconteceu de maneira inversa a sua adição no solo 2, o qual tem grande presença de finos. A ação conjunta
dos dois materiais em ambos os solos contribuiu para um ganho de plasticidade.
A tabela 3 apresenta os dados obtidos com os ensaios de compactação dos solos naturais e com adições
do pó de pedra, já as fibras de polipropileno não alteraram as condições granulométricas dos solos e não tinham
capacidade de absorver água, pela sua composição, não alterando a umidade durante as misturas. Esses
resultados mostraram a ação do pó de pedra, dando ao solo 2, um silte de alta compressibilidade, uma
quantidade maior de finos, o que aumentou sua umidade ótima e sua massa específica máxima, enquanto que
no solo 1, a areia siltosa, ocorreu uma diminuição de sua umidade ótima e sua massa específica máxima.
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A diminuição da umidade ótima e da massa específica no solo 1 com pó de pedra em relação ao solo 1
natural e o aumento delas no solo 2 com pó de pedra em relação ao solo 2 natural se dá pela grande quantidade
de materiais finos no pó de pedra, que deixou a mistura com o solo 1 menos densa e no solo 2 mais densa.
Os corpos de prova que foram rompidos em seu estado natural e com a presença do pó de pedra
apresentaram uma ruptura bem mais frágil do que as misturas com as fibras, onde apresentaram altos graus de
deformação. Na figura 4 estão apresentadas as amostras, após o rompimento.
Figura 4. Corpos de prova após a realização do ensaio de compressão simples. Descrição: S1-Nat: Solo 1
natural, S1-P: Solo 1 com pó de pedra, S1-F: Solo 1 com Fibras, S1-P+F: Solo 1 com Pó de Pedra e Fibras,
S2-Nat: Solo 2 natural, S2-P: Solo 2 com Pó de pedra, S2-F: Solo 2 com Fibras, S2-P+F: Solo 2 com Pó de
Pedra e Fibras. Fonte: Autor
Nenhuma das amostras utilizadas apresentaram ruptura brusca, sendo possível a coleta dos resultados
após início de ruptura. A Figura 5 apresenta os resultados das resistências dos solos 1 e 2 antes e após o
melhoramento. A Tabela 4 mostra os resultados obtidos de tensão máxima para cada uma das amostras em
cada um dos solos naturais e com as misturas. Ela apresenta também a média das duas tensões, valores esses
usados para calcular e expressar as porcentagens de melhoramento de uma mistura em relação à outra.
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O solo 1 obteve ganho de resistência com todas as misturas realizadas, tendo seu pico na incorporação
com o pó de pedra, sendo cerca de 117% em média maior que o solo natural. O pó de pedra teve grande
relevância na obtenção da resistência na mistura com o solo 1, possivelmente por contribuir com a estabilização
granulométrica do solo, visto que o solo 1 apresentava-se com fração de partículas maiores que 0,1mm e
quando incorporado pó de pedra aumentou-se a fração de partículas finas do solo. A incorporação das fibras
aos solos também influenciou no aumento da resistência, onde foi observado que o ganho de resistência do
solo 1 com fibras foi semelhante a incorporação conjunta das fibras com o pó de pedra, visto não só no solo 1,
como também no solo 2. Analisando os resultados obtidos para o solo 2 foi observado que a incorporação do
pó de pedra não contribuiu favoravelmente para a resistência do solo, tendo melhores resultados com a mistura
com fibras. A incorporação da fibra no solo 2 apresentou resultados expressivos, onde houve um aumento de
resistência de 99,0% em média em relação ao solo natural. Recomenda-se estudos mais aprofundados para
avaliar com mais detalhes esta interação das fibras e do pó de pedra em diferentes tipos de solos.
4 Conclusão
A partir dos dados obtidos nos ensaios de caracterização física dos solos ao natural e com os
melhoramentos e dos ensaios mecânicos foi possível avaliar o comportamento do solo natural e do solo
melhorado quanto a presença dos materiais alternativos utilizados.
Em se tratando da granulometria as fibras não alteraram as composições dos solos, no entanto o pó de
pedra sim, devido a sua própria composição granulométrica, como o alto teor de materiais pulverulentos,
contribuiu para o aumento da fração fina principalmente do solo 1.
Com relação a plasticidade as fibras tiveram maior influência, tanto só, quanto em conjunto com o pó
de pedra alterando ambos os solos de pouca para uma média plasticidade. O pó de pedra quase não teve
influência no solo 2, diminuiu os seus limites, mas não alterou o índice, em contrapartida a ação dos seus finos
alteraram o solo 2, aumentando o limite de liquidez e reduzindo o limite de plasticidade, aumentando assim
seu índice de plasticidade, fazendo sua plasticidade alterar de pouca para média.
As fibras não influenciaram os índices obtidos pela compactação dos solos, já o pó de pedra, devido a
sua composição granulométrica, aumentou a umidade e a massa específica máxima no solo 2 e reduziu no
solo 1.
Os resultados obtidos no ensaio de compressão simples determinaram qual material proporcionou um
ganho de resistência a cada tipo de solo estudado, sendo o melhoramento com o pó de pedra viável apenas
para o solo 1, areia siltosa (SM), enquanto o uso das fibras de polipropileno mais viável para o solo 2, no caso
o silte de alta compressibilidade (MH). O ensaio também auxiliou a determinar a grande influência das fibras
sobre a ação conjunta com o pó de pedra, levando a obter resultados parecidos a incorporação apenas da fibra,
Deve-se salientar que o processo de homogeneização das fibras com o solo é ainda realizado de forma muito
manual, sendo necessário um estudo para viabilizar o uso em grande escala.
O pó de pedra teve grande relevância na obtenção da resistência na mistura com o solo 1, possivelmente
por contribuir com a estabilização granulométrica do solo. A incorporação das fibras aos solos também
influenciou no aumento da resistência, onde foi observado que o ganho de resistência do solo 1 com fibras foi
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semelhante a incorporação conjunta das fibras com o pó de pedra. Para o solo 2 foi observado que a
incorporação do pó de pedra não contribuiu favoravelmente para a resistência do solo, tendo melhores
resultados com a mistura com fibras. A incorporação da fibra no solo 2 apresentou resultados expressivos,
onde houve um aumento de resistência de 99,0% em média em relação ao solo natural.
As técnicas de melhoramento mecânico físico-granulométrico estudadas proporcionaram ganho de
resistência para os solos, demostrando resultados favoráveis para o uso dessas técnicas de estabilização como
forma de melhorar a capacidade mecânica dos solos. Porém, recomenda-se estudos mais aprofundados para
avaliar com mais detalhes esta interação das fibras e do pó de pedra em diferentes tipos de solos e sua
viabilidade técnico-financeira para o emprego nas obras de engenharia, como por exemplo camadas de base
de aterros e pavimentos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DAS, Braja M.; SOBHAN, Khaled. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. São Paulo: Cengage Learning,
2014. Xv, 612 p.
Materiais da Construção 1/ coordenador L.A.Falcão Bauer ; revisão técnica João Fernando Dias.-
5.ed.revisada.– ӏReimpr.ӏ – Rio de Janeiro : LTC, 2015.
TRINDADE, T. P., Iasbik, I., LIMA, D. C., MINETTE, E., SILVA, C. H. C., CARVALHO, C. A. B., BUENO,
B. S., MACHADO, C. C. Estudos laboratoriais do comportamento de um solo residual arenoso reforçado
com fibras de polipropileno, visando à aplicação em estradas florestais. Revista Árvore. p.215-221. 2006.
1179
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0149 ISBN: 978-65-89463-30-6
Pileggi, Rafael G.
Professor na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Laboratório de Microestruturas, São Paulo,
Brasil, rafael.pileggi@lme.pcc.usp.br
Futai, M. M.
Professor na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, GeoInfra, São Paulo, Brasil, futai@usp.br
RESUMO: Os rejeitos de mineração são solos artificiais resultado do beneficiamento do minério, armazenados
geralmente misturados com água em estruturas conhecidas como barragens de rejeito, construídas com o
próprio rejeito, em geral o underflow, ou material de empréstimo. Devido à similaridade a solos naturais, o
comportamento desse material é estudado utilizando conceitos da mecânica dos solos. Esse trabalho busca
estudar a resistência do undeflow de rejeitos de minérios de ferro a partir de uma revisão bibliográfica e
análisede fatores de influência na resistência do material. Observou-se que esses materais se comportam, em
geral, como solos não coesivos, com ângulo de atrito elevado devido à angulosidade dos grãos. Foi também
observada a influência da porosidade, da granulometria e da mineralogia no ângulo de atrito desses materiais.
PALAVRAS-CHAVE: Rejeito, underflow, rejeitos de minério de ferro, resistência, ângulo de atrito, regressão
linear
ABSTRACT: Tailings are artificial soils resulted from the ore processing, usually stored mixed with water in
structures known as tailings dams, built with coarse tailings or borrowed materials. Due to the similarity to
natural soils, the behavior of these materials is studied using concepts of soil mechanics. This paper, therefore,
intends to study the resistance of the undeflow of iron ore tailings, as from a literature review and an analysis
of the factors that weight in its resistance. It was observed that these materials behave, generally, as
cohesionless soils, with an elevated friction angle due to the grains angularity. It is also observed the influence
of the porosity, the granulometry and mineralogy in the friccion angle of these materials.
KEYWORDS: tailings, underflow, iron ore tailings, shear strength, fricction angle, linear regression
1 Introdução
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de atrito entre 30 e 42º, sendo até 6º maior que areias e argilas naturais devido à maior angulosidade (Bussière,
2007). Essa angulosidade também resulta em tensões de contato altas entre os grãos, ocasionando quebra dos
grãos e, consequentemente, resulta em uma envoltória de ruptura curva, especialmente em baixas tensões
confinantes, menores de 300 kPa (Vick, 1983).
Apesar da validade da mecânica dos solos, e de apresentarem uma resistência ao cisalhamento
relativamente alta, são materiais pouco favoráveis para a utilização em estruturas. Isso porque, segundo Sarsby
(2013), a sua falta de coesão os torna propícios a erosão interna e superficial. Este fato, aliado a sua
granulometria e deposição fofa, também o tornam bastante propensos para liquefação. A alta resistência do
material em condições drenadas e de deformações lentas fica evidente em barragens de rejeito mais antigas,
construídas sem projeto, que se mostraram estáveis por bastante tempo apesar da construção com inclinação
elevada. Estas construções chegaram a atingir inclinações de 42º em material sem compactação nas minas de
Fernandinho (Itabirito-MG) e Pico do São Luis (Mariana-MG) (PARRA, et al., 1987a; PARRA, et al., 1987b).
A eventual ruptura dessas estruturas, porém, demonstra a necessidade de ponderação durante o projeto. Além
disso, a grande escala das barragens de rejeito hoje, e os recentes desastres causados por suas rupturas no
Brasil, com a barragem 1 da mina Córrego do Feijão (Brumadinho-MG) em 2019 e a barragem de Fundão
(Mariana-MG) em 2015, demonstram a necessidade de estudos mais aprofundados sobre esse material
Nota-se que, segundo os dados do PNSB (ANM, 2019), mais de 30% das barragens de rejeito do Brasil
são resultado da mineração de ferro do quadrilátero ferrífero. Dessas, cerca de 25% são construídas a montante
e, portanto, tem a fundação de seus maciços apoiadas no underflow de minério de ferro. Esse trabalho, então,
apresenta uma compilação e comparação de resultados de ensaios de resistência de rejeitos de minério de ferro
do quadrilátero ferrífero. Com isso, objetiva-se resumir os resultados encontrados na literatura e analisar
estatísticamente a influência das diferentes propriedades físicas dos rejeitos em sua resistência ao
cisalhamento.
2 Metodologia
Para apresentar uma análise dos fatores de influência na resistência ao cisalhamento de underflow
rejeitos de minério de ferro foi realizada uma revisão sistemática da literatura. em que critério de seleção foi
apresentar os dados de porosidade, peso específico e diâmetro médio dos grãos, definidos como fatores que
influenciam na resistência desses materiais. Foram utilizados como parâmetros de resistência ao cisalhamento
os parâmetros efetivos considerando o critério de ruptura de Mohr-Coulomb. O ângulo de atrito e a coesão
efetivos dos materiais foram obtido a partir de dados disponíveis na literatura, assim como os parâmetros de
resistência para os rejeitos de minérios de ferro presentes na Figura 1.
Os rejeitos da mineração de ferro apresentam coesão baixa, com média próxima a zero, similar a solos
arenosos (Figura 1). O ângulo de atrito efetivo desses materiais, por sua vez, se mostra bastante elevado, com
média de cerca de 36° para os rejeitos de ferro, conforme a Figura 1, com uma variação relativamente pequena
entre os materiais. O levantamento bibliográfico e os dados coletados indicaram que a resistência ao
cisalhamento dos rejeitos é comandada pelo ângulo de atrito, por isso, as correlações foram realizadas para sua
obtenção. Devido às características similares a areias, foram considerados como fatores de maior influência na
resistência desses materiais a distribuição granulométrica, o formato, o tamanho e a resistência dos grãos. Esses
fatores foram utilizados em regressão linear múltipla de maneira a se verificar quantitativamente sua influência
na resistência de rejeitos de minério de ferro. Na Tabela 1 estão apresentados dados utilizados nas análises.
A análise quantitativa da influência das características do rejeito no ângulo de atrito foi realizada em
duas etapas. Primeiramente, uma relação entre a porosidade e a resistência foi encontrata a partir da
normalização do ângulo de atrito efetivo dos rejeitos. Em seguida, foram avaliadosos outros fatores de maior
influência nesse parâmetro de resistência a partir de uma regressão múltipla com o ângulo de atrito como
1181
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variável dependente. Foram definidos como valores a serem analisados a massa específica, que pode ser
correlacionado com a mineralogia e resistência dos materiais, e a granulometria.
,
Figura 1: Gráfico boxplot resumo dos parâmetros de resistência efetivos encontrados na literatura
Tabela 1: Resumo dos dados utilizados nas análises paramétricas e estatística de underflow de rejeito de
minério de ferro.
Curvas de
Fonte Mina Dados Observações
Resistência
3 Granulometrias diferentes;
Espósito (2000) Monjolo 14
Ensaios DS (9 porosidades) e CD (5 porosidades)
2 Granulometrias diferentes;
Espósito (2000) Xingu 14
Ensaios DS (9 porosidades) e CD (5 porosidades)
n, D50, 5 granulometrias/peso específico
Lopes (2000) Xingu 29
ρs, φ’ Ensaios DS (6 porosidades cada)
4 variações da % de Fe;
Hernandez (2002) Monjolo 20
Ensaios DS (4 porosidades cada)
4 granulometrias diferentes;
Presotti (2002) Monjolo 19
Ensaios CD (4 a 6 porosidades cada)
A existência de uma correlação entre a porosidade, ou o índice de vazios, dos materiais com seu ângulo
de atrito foi previamente estudada por Bjerrum (1961) para areias e Espósito (2000) para rejeitos, sendo
prevista uma relação inversamente proporcional entre os dois. Nas amostras estudadas, porém, essa relação
não se torna evidente, possivelmente devido à influência dos outros fatores mencionados. Assim, em razão da
aparente relação entre a porosidade do material e seu ângulo de atrito, foi proposto encontrar uma linha de
tendência entre a porosidade e o ângulo de atrito normalizado. Para realizar-se essa normalização foi
encontrado φ45%’(o ângulo de atrito para uma porosidade de 45% de cada um dos materiais estudado) para
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cada rejeito ensaiado pelos autores, definido como fator de normalização s. Esse valor foi escolhido por ser
um valor intermediário, contido dentro dos intervalos de porosidades testadas para todas as amostras. Cada
ângulo de atrito efetivo foi então normalizado pelo φ45%’ da respectiva amostra, de maneira a se encontrar o
ângulo de atrito normalizado (i’), que foram então comparados às suas respectivas porosidades. Dessa maneira,
evidenciou-se uma curva de tendência geral do i’ em função da porosidade do empacotamento.
𝜑′
𝑖′ = ⁄𝜑′ (1)
45%
3 Resultados e Discussões
A Figura 2 apresenta a relação entre esses o ângulo de atrito efetivo dos rejeitos de underflows de minério
de ferro estudado e das respectivas porosidades, em que se torna aparente uma relação inversamente
proporcional entre os dois, conforme previsto. Porém, devido à grande variabilidade dos outros fatores, não
foi possível encontrar uma relação razoável entre esses dois parâmetros para o conjunto de ensaios estudados.
Por isso, foi realizada a normalização de φ’ para cada amostra ensaiado pelos respectivos autores, sendo
1183
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definido como fator de normalização o ângulo de atrito para uma porosidade de 45% obtido a partir da
regressão das respectivas curvas de ângulo de atrito pela porosidade de cada uma das amostras. Os valores
encontrados para φ45%’ são apresentados na Tabela 2.
50
Presotti, 2002
Hernandez (2002)
Espósito (2000) - Xingu
45
Espósito (2000) - Monjolo
Ângulo de atrito efetivo (°)
Lopes (2000)
40
35
30
25
30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65%
Porosidade - n (%)
Figura 2 – Relação entre ângulo de atrito e porosidade underflow de minério de ferro
Os ângulos de atrito normalizados foram então comparados às suas respectivas porosidades no gráfico
apresentado na Figura 3, na qual fica mais evidente uma tendência entre as curvas. Para esse conjunto de dados,
a linha de tendência que melhor define a relação entre o ângulo de atrito normalizado e a porosidade foi
razoavelmente definida como uma potência conforme a Equação 2, com um coeficiente de determinação
bastante satisfatório. Demonstra-se, portanto, uma relação evidente da resistência do material com sua
porosidade.
𝑖′ = 0,5327 ∗ 𝑛−0,779
(2)
No qual:
I é o ângulo de atrito normalizado pelo ângulo de atrito de referência (n=45%);
n é a porosidade do rejeito;
O resultado da normalização demonstra a existência de uma relação entre a porosidade e a variação do ângulo
de atrito efetivo, sendo observado um um coeficiente de determinação de 0,88. Para a aplicação dessa
metodologia, porém, é necessário saber o valor do ângulo de atrito efetivo definido para a porosidade de 45%.
Esse parâmetro, por sua vez, depende de outros fatores de influência no ângulo de atrito do rejeito de minério
de ferro, como as características mineralógicas, granulométricas e de forma estudadas a seguir.
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Tabela 2: Ângulo de atrito efetivo de referência das amostras com porosidade de 45%
Fonte Amostra φ'(45)
Espósito (2000) DS-1X 39,8
Espósito (2000) DS-1M 34,2
Espósito (2000) TDC-1X 38,3
Espósito (2000) TCD-1M 34,6
Lopes (2000) Amostra 02 43,8
Lopes (2000) Amostra 06 38,8
Lopes (2000) Amostra 10 42,2
Lopes (2000) Amostra 10A 47,2
Lopes (2000) Amostra 10B 41,8
Hernandez (2002) Q-14% 33,5
Hernandez (2002) Q-40% 34,1
Hernandez (2002) Q-60% 31,9
Hernandez (2002) Q-80% 31,2
Hernandez (2002) Q-97% 30,2
Presotti (2002) MA8-000/1 39,6
Presotti (2002) MA8-040/1 37,6
Presotti (2002) MA8-080/1 36,8
Presotti (2002) MA8-120/1 35,9
1,3 MA8-000
MA8-040
MA8-080
1,2 MA8-120
Q-14%
Q-40%
1,1
Q-60%
y = 0,5327x-0,779
ϕ'/ϕ'(45%)
Q-80%
R² = 0,884
1 Q-97%
DS-X
DS-M
0,9 TCD-X
TCD-M
Amostra 02
0,8 Amostra 06
Amostra 10
Amostra 10A
0,7
Amostra 10B
30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65% 70%
porosidade - n (%) Power (Todos)
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Em seguida foi realizada uma regressão linear múltipla das variáveis independentes normalizadas, para
avaliar quais variáveis apresentam maior impacto relativo no ângulo de atrito efetivo. Os valores de média e
desvio padrão utilizados para se realizar a normalização são apresentados na Tabela 3.Os coeficientes de cada
variável independente normalizada são apresentados na Tabela 4, assim como os valores do teste de hipótese.
Os resultados apresentados são considerados satisfatórios, uma vez que se observa previsões condizentes com
os comportamentos observados em ensaios, com um coeficiente de determinação ajustado de 0,30 e assim,
cerca de 30% das variações do ângulo de atrito efetivo são explicadas pelo modelo. O p-valor inferior a 0.05
garante a capacidade preditiva do modelo. Assim, observamos que as três variáveis apresentam influência no
ângulo de atrito efetivo.Assim, observamos que as três variáveis apresentam influência no ângulo de atrito
efetivo. Pelos resultados da Tabela 4 observamos ainda que, o aumento de um desvio padrão do peso específico
(0.61g/cm3) gera um aumento de 2.024 em φ’, já o aumento de um desvio padrão na porosidade (5.6%) diminui
em 2.252 o φ’ enquanto o aumento de um desvio padrão no diâmetro médio dos grãos (0.062 mm) diminui em
0.931 o ângulo de atrito. Esse resultado corrobora com o observado para as porosidades por Espósito (2000)
e Bjerrum et al. (1961), apresentando coeficiente negativo. Além disso, o resultado comprova a relação positiva
entre a resistência de minérios de ferro com o peso específico, conforme proposto por Milonas (2006). Por
fim, nota-se que o diâmetro médio dos grãos apresenta uma menor influência na resistência dos grãos.
Observa-se, por fim, que essa regressão tem como único objetivo avaliar as influências de fatores pré-
determinados por resultados de ensaios de resistência encontrados na bibliografia no ângulo de atrito. Assim,
a relação encontrada não é condizente com a relação real entre os fatores, que não necessariamente é linear, e
muito menos deve ser utilizada para predições de ângulo de atrito do material, mesmo que os resultados
encontrados tenham validade estatística e capacidade preditiva.
4 Conclusões
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observou-se que a porosidade é um fator de grande importância no ângulo de atrito dos rejeitos, seguindo uma
correlação exponencial entre as variáveis. Somadas a essa, a partir da regressão linear múltipla notou-se que a
granulometria e a massa específica dos sólidos também podem representar fatores importantes para a
resistência ao cisalhamento. Por fim, destaca-se que os resultados, corroboraram com as hipóteses encontradas
na literatura, em que o aumento do peso específico dos sólidos aumenta a resistência dos rejeitos de minério
de ferro, enquanto o aumento da sua porosidade e do seu tamanho dos grãos médios a diminuem.
É importante destacar ainda que, apesar da alta resistência desses materiais, devido à suas características
mineralógicas e morfológicas principalmente, estruturas construídas com rejeitos de minério de ferro ainda
envolvem riscos elevados. Isso se dá, principalmente, devido à susceptibilidade desses materiais a liquefação.
Portanto, a resistêncianão-drenada de rejeitos de minério de ferro são um fator crucial para projeto.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1187
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0150 ISBN: 978-65-89463-30-6
ABSTRACT: The process of decommissioning and de-characterization of water dams is an alternative used
for the closure plan or, in some cases, when the stability of the structure is critical. In the case of old
structures, built without design, without monitoring and maintenance, keeping the structures active, from the
point of view of the supply of rainwater, can significantly impact the increased risk of rupture. In this way,
structures in this condition must be deactivated, and submitted to analysis of the best process to reduce, to a
minimum, the environmental impact in the surrounding areas. The study presented in this work evaluates the
stability of processes for decommissioning and de-characterization of dams, in the case of Viability Project
for a water dam with structural instability problems and with a high volume of water incident in the
reservoir.
1 Introdução
Quando uma barragem está completamente cheia ou quando a produção de rejeitos cessa, ou finaliza-
se o processo de captação de água, a barragem é tida como inativa. O descomissionamento ocorre a partir do
momento em que não se tem mais o lançamento de resíduos, no caso das barragens de rejeito e, a captação
de água, no caso das barragens de água. Entretanto, o descomissionamento não torna as estruturas imunes às
rupturas ou falhas.
Uma causa provável de falhas em barragens inativas é associada ao aumento do nível d´água do
reservatório, aproximando-se da crista da barragem e, assim, aumentando a freática no maciço e talude de
jusante, levando a deslizamentos e escorregamentos. A construção de diques internos ao reservatório, que
distam da crista, pode reduzir esse afluxo de água, permitindo que ainda possa garantir uma sobrelevação no
reservatório em decorrência de chuvas extremas. Entretanto, deve ser avaliada a resistência do maciço para
essa elevação no carregamento.
1188
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Nesse sentido, é importante prever alguma atividade de descaracterização das estruturas, parcial ou
total, com o objetivo de reduzir, e até eliminar, os riscos associados a rupturas de barragens inativas. Como
descaracterização entende-se a completa remoção do maciço, reestabelecimento da drenagem superficial no
terreno impactado e reintegração da região nos quesitos ambientais. O custo de se manter equipamentos não
funcionais (como bombas, comportas, tubulações e afins) após o descomissionamento das estruturas, além de
toda uma rotina de inspeção e monitoramento, geralmente é mais elevado do que a descaracterização da
estrutura.
Para o processo de descaracterização de uma barragem, o Brasil apresenta uma escassez de normas,
legislações e bibliografias sobre o tema. A NBR 13.028 (2017), que versa sobre a elaboração e apresentação
de projetos de barragem, não dita as normas e diretrizes para o processo de descaracterização dessas
estruturas. No entanto, é necessário que sejam considerados quesitos mínimos de segurança e, para isso, é
importante que seja realizada inspeção de segurança especial com consideração das alterações das condições
a montante e a jusante da barragem. Ainda, deve-se elaborar documentação específica que contenha projeto
de descaracterização bem detalhado, inclusive com as operações de descomissionamento.
Uma divisão clara entre as atividades de descomissionamento e descaracterização, mesmo que sejam
complementares, é facilitada do ponto de vista do monitoramento e manutenção. Estruturas
descomisisionadas ainda necessitam de intenso monitoramento, bem como atividades permanentes de
manutenção. Já para as estruturas descaracterizadas, o monitoramento e atividades de manutenção vão sendo
reduzidos à medida que se tem a remoção da estrutura, mantendo-se nos primeiros meses após a reintegração
e com espaçamentos cada vez maiores. Para desenvolver um bom sistema de monitoramento e manutenção
durante o fechamento é preciso considerar possíveis colapsos no maciço, fundação e ombreiras,
principalmente em termos de deslizamento, liquefação e processos de erosão interna e piping. O regime
pluviométrico, possíveis ataques de vandalismo e deterioração dos sistemas também deve ser
complementares.
1189
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lodos. Esse excesso de sedimentos pode reduzir a capacidade de geração hidrelétrica de um reservatório,
alterar o canal do rio a jusante, aprisionar sedimentos ricos em nutrientes e ampliar as pressões no talude de
montante e ombreiras. Muitas vezes, o sedimento armazenado em um reservatório é excelente para recompor
calhas de rios, reconstruindo o habitat dos peixes e fornecendo nutrientes para a microbacia. Em outros
casos, o sedimento pode aumentar a turbidez do rio, prejudicando a vida aquática, alterando a paisagem e
dificultando a implantação de estruturas.
O sedimento pode ser avaliado antes de ser liberado para determinar se será prejudicial à paisagem a
jusante da estrutura. Nesse caso, também se inclui as barragens de rejeito que possuem percentual de sólido
em suspensão, ou seja, a parcela fluida de material não adensado que se pretende liberar no vale de jusante.
A remoção da barragem pode ter consequências adversas se isso não for considerado, principalmente em
relação à vida selvagem e humana residente abaixo da estrutura.
A solução de abertura de uma brecha na estrutura e liberação gradual dos volumes acumulados é
comumente usada por causa de inúmeras vantagens ecológicas. É um método lento no qual o reservatório é
drenado através de brechas ao longo da estrutura e, novas aberturas são realizadas à medida que o nível do
reservatório é rebaixado para que a água seja drenada com um fluxo consistente. Nesse caso, para as
barragens de água, o sedimento aprisionado atrás da barragem flui para jusante com uma taxa fixa e
proporcional, permitindo que o ecossistema se ajuste às mudanças. Para a barragem de rejeito, é considerável
somente para o caso do percentual do reservatório não adensado. Este método pode levar meses ou até mais
de um ano.
3 Estudo de Caso
Figura 1. Precipitações Máximas Diárias por mês. Figura 2. Precipitações Totais Mensais.
Com base nos estudos de precipitação, foi verificado um esvaziamento em duas etapas concomitantes,
de forma a se aproveitar o período de estiagem. A primeira etapa consistiu no bombeamento do volume de
1190
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água no reservatório, realizado gradualmente na medida em que seria aberta uma brecha controlada com a
construção de um canal em gabião, no sentido da comporta de fundo já existente na barragem.
A utilização de bombas foi considerara no estudo para que o esvaziamento do reservatório pudesse ser
realizado de forma controlada, além de permitir uma maior estabilidade, visto que não havia estudo
específico sobre volume armazenado no maciço, tipo de fundação, declividades de taludes e estrutura do
maciço. Caso fosse considerada a descaracterização iniciando somente com a abertura da brecha, o fluxo de
água poderia conduzir a uma instabilidade na estrutura.
3.2 Bombeamento
O processo de bombeamento foi estudado com duas balsas de tambor, com a finalidade de suportar
quatro bombas de sucção submersíveis. As bombas foram especificadas com capacidade de bombeamento de
1.500 m³/h ou superior, e com 60 mca ou superior. A restituição da água bombeada foi estimada para ser
direcionada para um rio próximo da barragem, de forma a causar o menor impacto possível no ecossistema
local. As bombas estariam localizadas o mais próximo possível da crista.
De acordo com o cálculo de vazões das bombas, e o regime de chuvas que ocorre de maio a agosto na
região, a previsão foi para um esvaziamento ocorrendo em até 100 dias dentro desse período, considerando o
cenário favorável proporcionado pela época de seca. À medida que o reservatório seria esvaziado, a abertura
da brecha e construção do canal em gabião deveriam ser iniciadas.
A abertura da brecha é uma etapa importante, sendo considerada o início da descaracterização de fato,
por se tratar do desmonte da estrutura, representando o desvio do curso d’água e a obra que possibilita a
alteração da geometria do maciço. Para o início da escavação, considerou-se o esgotamento do nível d’água
no reservatório com o auxílio das bombas, alcançando um free board de pelo menos 3,0 m. A limpeza prévia
nos taludes de montante e jusante foi apontada como essencial para verificação da condição da estrutura, e as
avaliações de estabilidade consideraram que a estrutura em solo era íntegra (sem erosões superficiais,
ravinamentos e perdas de massa). Tal integridade deveria ser verificada em campo, na implantação do
projeto, em caso de ocorrência de obra.
O principal objetivo da abertura da brecha seria o de promover o encontro do canal a ser criado com a
comporta de fundo da ombreira direita. As Figuras 3 e 4 apresentam a concepção final do canal de gabião.
Após a implantação completa da brecha e do sistema de drenagem, indicou-se como etapa seguinte a de
desmonte do maciço, com inclinações que suportassem os taludes de gabião. O desmonte foi considerado
como sendo iniciado pela crista, seguindo até o próximo patamar quando cada metro for concluído, de forma
a facilitar o acesso dos maquinários durante a obra.
1191
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A inspeção tátil-visual em campo revelou um solo argilo siltoso constituinte do maciço da estrutura.
Devido a impossibilidade de realização de ensaios e avanço de uma campanha de investigação na data de
publicação deste artigo, optou-se por adotar parâmetros com base nas bibliografias correntes. Segundo
JOPPERT JUNIOR (2007), os valores estimados para este tipo de solo são apresentados na Tabela 1.
Por conta da ausência de projeto executivo e projeto cadastral do tipo “as built”, foram estimadas três
seções transversais respeitando as diferenças de geometria encontradas na inspeção de campo. A expectativa
era simular uma situação mais próxima do que realmente foi considerado durante a construção da estrutura.
A seção central, que foi considerada como a seção principal de análise e a mais crítica, é apresentada na
Figura 5. As dimensões estimadas foram adotadas apenas para este estudo de viabilidade de
descomissionamento e desmonte da estrutura, devendo ser validadas em etapas posteriores, com devido
levantamento de campo. As análises de estabilidade permitiram avaliar o esvaziamento associado ao
desmonte, com tendência de aumento do fator de segurança, conforme será demonstrado adiante.
Mesmo com a adoção de valores para os dois tipos de solos, optou-se por realizar retroanálise de
ruptura para validação dos parâmetros e da geometria, considerando uma variação de 5,0 kPa e uma
distribuição uniforme. Para que fosse possível obter um fator de segurança mínimo da ordem de 1,1, as
retroanálises indicaram uma coesão necessária da ordem de 18,5 kPa para o solo do maciço da estrutura. A
análise de estabilidade para validação de geometria e materiais, considerando este valor, é apresentada na
Figura 6.
1192
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Para as análises de estabilidade referentes ao desmonte do maciço, foram considerados três grupos de
análises: (1) estabilidade da brecha em gabião, (2) desmonte do maciço avaliando as seções transversais e (3)
estabilidade longitudinal ao fim da obra. As Figuras 7 a 9 apresentam os resultados, respectivamente.
1193
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Para execução do gabião, foi considerada também a instalação de um geotêxtil com resistência a tração
igual a 10 kN/m, incorporado às análises. Quanto ao desmonte do maciço, foram previstas em média sete
etapas de escavação analisando a seção transversal conforme o avanço do desmonte. Os fatores de segurança
variaram de 1,25 para uma altura do maciço igual a 15,0 m, a 2,0 para uma altura final igual a 3,0m. Quanto
a seção longitudinal apresentada na figura 9, o desmonte da brecha de abertura pelo lado direito é factível,
para manter uma mesma cota final em um cenário a longo prazo.
O comportamento do maciço sob um carregamento rápido também foi avaliado para verificação de um
possível cenário crítico, visto que o processo de esvaziamento lento e com o auxílio de bombas foi ponto de
partida do processo de descaracterização. A principal dificuldade foi a obtenção do parâmetro de resistência
não drenada e, através de retroanálise expedita utilizando os ábacos de Taylor, chegou-se a um valor de
resistência não drenada igual a 48,0 kPa. Tal valor foi utilizado cautelosamente, devido o caráter expedito
utilizado em sua obtenção. A análise de estabilidade considerando o rebaixamento rápido do lençol forneceu
um fator de segurança da ordem de 0,97.
4 Considerações Finais
1194
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AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0151 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Barragens subterrâneas são barramentos localizados no depósito aluvial de um rio ou riacho, com
a finalidade de deter o fluxo subterrâneo após cessado o escoamento superficial, proporcionando a montante
do barramento um reservatório subterrâneo que pode ser explorado por uma obra de captação. Trata-se de uma
obra hidroambiental singela e de baixo custo, sendo conhecida na bibliografia a mais de 60 anos. Este trabalho
apresenta os resultados da caracterização geotécnica de um solo, localizado na área da barragem subterrânea
de Cafundó II, última barragem das três barragens subterrâneas sucessivas construídas no povoado de Mutuca,
situado na cidade de Pesqueira (PE). O objetivo deste trabalho foi verificar a eficiência no armazenamento da
maior quantidade possível de água nos aquífero local. O solo foi caracterizado quanto ao seu teor de umidade,
granulometria, limites de Atterberg, compactação proctor normal e percolação a carga variável. Os resultados
obtidos evidenciam a importância de compreender os aspectos e caracteríticas geotécnicas dos solos utilizados
em barragens subterrâneas, para assim tornar mais eficiente o dimensionamento destas estruturas geotécnicas,
sendo uma alternativa eficaz contra a escassez hídrica da região.
ABSTRACT: Underground dams are dams located in the alluvial deposit of a river or stream, with the purpose
of stopping the underground flow after the surface runoff stops, providing an underground reservoir upstream
of the dam that can be explored by a collection work. It is a simple and low-cost hydro-environmental project,
which has been known in the bibliography for over 60 years. This work presents the results of the geotechnical
characterization of a soil, located in the area of the underground dam of Cafundó II, the last dam of the three
successive underground dams built in the village of Mutuca, located in the city of Pesqueira (PE). The goal of
this work was to verify the efficiency in the storage of the largest possible amount of water in the local aquifer.
The soil was characterized in terms of moisture content, granulometry, Atterberg limits, normal proctor
compaction and percolation at variable load. The results obtained show the importance of understanding the
aspects and geotechnical characteristics of the soils used in underground dams, in order to make the
dimensioning of these geotechnical structures more efficient, being an effective alternative against the water
scarcity of the region.
1 Introdução
1196
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Uma alternativa importante para o enfrentamento desses problemas em regiões com baixa
disponibilidade hídrica como o semiárido Pernambucano, é a utilização de barragens subterrâneas sucessivas
para a retenção parcial do fluxo d’água afim de possibilitar que essa água retida percole no solo até ficar
armazenada nos lençóis freáticos para posterior utilização em diversas formas (Figura 1).
As barragens subterrâneas representam um tipo de intervenção de baixo custo, simplicidade construtiva
e operacional e que pode ser implantada em larga escala, desde que haja condições naturais para tal (COSTA,
2014). Para monitorar essas condições locais no que tange a parte de parâmetros geotécnicos, é importante que
sejam realizados os ensaios que forneçam informações para uma análise precisa do solo e implantação eficiente
dessas barragens.
A região de implantação destes projetos tem grande relevância na eficiência de armazenamento de água.
Tendo em vista que a região semiárida chove pouco e as chuvas são mal distribuídas no tempo, sendo o cenário
de chuvas sucessivas de dificil ocorrência, em pequenos intervalos. No embasamento cristalino, os solos
geralmente são rasos (cerca de 0,60 m), apresentando baixa capacidade de infiltração, alto escorrimento
superficial e reduzida drenagem natural (SUASSUNA, 2007).
Neste contexto, o presente trabalho apresenta a avaliação e interpretação do comportamento geotécnico
de um solo, localizado na área da barragem de Cafundó II, povoado de Mutuca, na cidade de Pesqueira (PE),
visando a melhor eficiência na implantação e utilização de barragens sucessivas que possibilitem o
armazenamento da maior quantidade possível de água nos aquíferos subterrâneos do local analisado, e assim
diminuir os problemas gerados pela escassez hídrica da região.
A área da barragem de Cafundó II localiza-se no vale do Riacho Mimoso, na bacia do rio Capibaribe,
que tem início no distrito de Mutuca, cruzando ainda os municípios de Belo Jardim e Jataúba. Mutuca é um
distrito urbano do Município de Pesqueira, no estado de Pernambuco, localizado próximo a região rural onde
são encontradas 19 barragens subterrâneas construídas ao longo do Riacho Mimoso na bacia do Rio Capibaribe
e outros, como resultado de parceria entre o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria Estadual de Ciência,
Tecnologia e Meio Ambiente do Estado de Pernambuco – SECTMA, até o ano de 1998. Na ocasião, a região
foi escolhida para implementação das barragens subterrâneas por ter solos relativamente profundos, condição
importante para esse tipo de obra, e por estar compreendida na região semiárida do Nordeste. A localização
exata das barragens foi feita por geólogos com base em critério estritamente técnico e a construção foi feita
por empresa contratada pelo Governo Estadual.
As barragens subterrâneas construídas no local são de média a grande profundidade, variando de 3,8 a
10 metros, com extensões variando na faixa de 30 a 110 metros, sendo a água subterrânea captada na área a
montante dessas barragens, que são principais fontes hídricas da região.
Figura 1. Funcionamento de uma barragem subterrânea com seus componentes (RIBEIRO, 2016).
1197
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Em referência ao uso e ocupação do solo, a região é figurada por áreas de agricultura familiar, não
associadas, exploradas com culturas anuais e semi-perenes, irrigadas pelos poços amazonas. Na região é
observado maior incidência de culturas olerícolas cultivadas em áreas reduzidas. Isto expressa o caráter
familiar do aluvião, em que o policultivo é praticado de forma esparsa.
Dentre as culturas mais exploradas, em termos de frequência, as olerícolas se sobressaem, destacando-
se a cenoura, o pimentão, o repolho e o tomate, tanto por serem cultivadas em ciclos sucessivos ao longo do
ano, como por ocuparem área maiores e serem mais distribuídas em relação às demais olerícolas. Identifica-
se como principal razão para tal fato o rápido retorno econômico proporcionado por essas culturas, dado ao
ciclo cultural reduzido (anual).
3 Metodologia
4 Resultados e Discussões
Com relação ao ensaio de Limite de Plasticidade (LP), foram obtidas seis amostras conforme
padronizado, que foram pesadas e passadas em estufa para obtenção das umidades de cada amostra moldada.
1198
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Os valores da umidade tiveram um valor médio de 21,24%. O valor do LP é esse próprio valor de 21,24%
obtido a partir da média aferida de todas as amostras visto que nenhuma precisou ser descartada devido a
distorções acima do permitido. O Índice de Plasticidade (IP) foi de 8,09%.
Antes de comparar os valores obtidos com a Carta de Plasticidade de Casagrande, é possível ainda obter
o valor do Índice de Atividade da amostra (IA), utilizando o percentual de solo passante na peneira com
abertura de 0,075 mm (3,13%), relacionando-o com o IP obtido anteriormente, resultando num IA igual a 2,58.
Para as classificações dos resultados calculados, utilizou-se a Carta de Plasticidade de Casagrande para
corretamente caracterizar o solo em análise quanto a sua consistência (Figura 3). Observa-se que o solo em
estudo se encontra acima da Linha A e à esquerda da Linha B. Isso significa que o solo é argiloso, apresenta
baixa compressibilidade e tem uma plasticidade variando de baixa a média.
Com relação ao IA, com um valor entre 0,75 e 1,25 a argila é considerada normal. Para um valor menor
que 0,75 é considerada inativa e acima de 1,25 a argila é ativa. Comparando com o valor obtido de 2,58, o solo
tem argila considerada ativa.
Para o ensaio de compactação, aferiu-se os pesos das amostras e posteriormente com a secagem em
estufa foi possível obter as umidades de cada corpo de prova moldado, obtendo os valores necessários para a
obtenção da massa específica aparente seca, necessária para gerar o Figura 4 que relaciona essa massa
específica com a umidade de cada amostra ensaiada.
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O ponto máximo da curva indica o valor da massa específica aparente seca correspondente a umidade
ótima do solo. O ramo anterior ao ponto de inflexão é chamado de ramo seco, enquanto que o ramo posterior
é chamado de ramo úmido. No ramo seco, a água lubrifica as partículas e facilita o arranjo desta, ocorrendo
por essa razão, o acréscimo do peso especifico aparente seco. No ramo úmido, a água amortiza a compactação
e começa a ter mais água do que sólidos, sendo por essa razão, a diminuição do peso especifico aparente seco.
Da análise da Figura 4, observou-se que o ponto da umidade ótima corresponde a um valor de 10,80%
associado a um valor de massa específica aparente seca de 1,932 kgf/cm3.
ηT
k 20 = kT = kT .Cv (1)
η 20
Onde: kT – o valor de k para a temperatura do ensaio; k20 - é a viscosidade da água a temperatura de 2000C;
kT - é a viscosidade a temperatura do ensaio; CV – relação entre as viscosidades.
O valor de Cv é obtido a partir da Tabela 1 da NBR 14545 (ABNT, 2000), que para uma temperatura de
ensaio de 26°C, tem valor de Cv = 0,867. Já o coeficiente de permeabilidade médio (k) tem valor de 2,14 x
10-4. Utilizando a Equação 1, chega-se ao valor corrigido de k de 1.85x10-4 a 20°C, portanto, a ordem de
grandeza de 10-4. Esse resultado indica uma areia fina com teor de argila ativa.
A precisão dos valores de coeficiente de permeabilidade obtidos em laboratório depende de vários
fatores, como temperatura do fluido, sua viscosidade, possível entrada de bolhas de ar aprisionadas na amostra
de solo, grau de saturação da amostra de solo, migração de finos durante o ensaio e a impossibilidade de
reprodução das condições de campo em laboratório (DAS, 2006).
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O valor real da condutividade hidráulica no campo também não pode ser significativamente
diferente daquele obtido em laboratório em razão de o solo não ser homogêneo. Portanto, deve-se tomar muito
cuidado na avaliação da ordem de grandeza do coeficiente de permeabilidade para todas as considerações de
projeto. Comparando-se os dados obtidos no ensaio com diversas literaturas diferentes, foi possível classificar
o solo com relação a sua permeabilidade. Na Tabela 1 resume as diferenças encontradas nas literaturas para
classificações da permeabilidade do solo, comparadas com o valor de k obtido em laboratório.
O solo analisado, com k de ordem de grandeza de 10-4, classifica-se como areia muito fina, silte, mistura
de ambos e argila, com permeabilidade considerada baixa, de acordo com a classificação utilizada em Caputo
(1996). Este tipo de solo possui permeabilidade baixa se comparada a solos majoritariamente arenosos, porém
essa permeabilidade encontrada não inviabiliza o funcionamento da barragem subterrânea, visto que a
classificação de Casagrande e R.R. Fadum, utilizada na literatura, apresentam intervalos diferentes de outras
literaturas.
Para o intervalo que compreende a ordem de grandeza de 10-4, é possível também classificar a amostra
analisada como sendo de solo permeável, com areias de alta permeabilidade, conforme Tonin (2013).
Seguindo com a comparação entre diferentes classificações presentes nas literaturas, tem-se a
classificação de Bittencour (2016), onde o solo em análise é classificado como argila ou silte de baixa
permeabilidade.
Já utilizando a classificação de Pinto (2002), o solo em análise é classificado como areia média com boa
capacidade de permeabilidade.
Das (2006) classifica um solo com coeficiente de permeabilidade da ordem de 10-4 é caracterizado como
argila de silte, sem adjetivar a permeabilidade como alta ou baixa.
Para o valor de permeabilidade, mesmo com a divergência entre as literaturas, é possível afirmar que o
solo estudado não apresenta características tão favoráveis a percolação da água quanto seria para um local com
maior presença de areias e menor presença de argila e silte.
5 Conclusões
Através dos ensaios de laboratório realizados no presente estudo, foi possível realizar a caracterização
do solo da região que compreende a barragem subterrânea de Cafundó II, a última de uma sucessão de três
barragens presentes no distrito de Mutuca, na cidade de Pesqueira (PE).
O solo analisado apresenta fatores dos mais diversos que indicam uma baixa eficiência para a percolação
de água até o interior dos aquíferos subterrâneos. A análise granulométrica mostrou um solo com graduação
ruim e alta presença de agregados finos, que diminuem o índice de vazios e dificultam a infiltração da água no
solo. Os limites de Atterberg apontaram para um solo argiloso e com baixas compressibilidade e plasticidade.
Solos argilosos possuem tendências a dificultar a percolação a água, o que reduz a eficiência para a acumulação
de água no solo.
Para o valor de permeabilidade, mesmo com a divergência entre as literaturas, é possível afirmar que o
solo estudado não apresenta características tão favoráveis a percolação da água quanto seria para um local com
maior presença de areias e menor presença de argila e silte.
Os resultados obtidos não demonstram a inviabilidade do local para a presença das barragens
subterrâneas sucessivas, mas apenas indica que o solo da região que as compreende não auxiliam o
equipamento a ter a máxima eficiência no seu propósito de combate a escassez hídrica dessa localidade que
tanto sofre sob os efeitos severos do clima semiárido Nordestino.
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0152 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: O território nacional possui um potencial hidrológico elevado, o que viabiliza a construção de
usinas hidrelétricas. As barragens mais comuns encontradas são as de concreto gravidade, que devem ser
construídas sobre uma fundação resistente caracterizada por maciços rochosos. Neste trabalho foram
apresentados dois modelos de fundação para este tipo de barragem, um adotado como homogêneo-isotrópico
e o segundo, homogêneo-anisotrópico. Após a avaliação da subpressão por modelagem numérica pode-se
observar que o Modelo 02 apresentou valores de subpressão 40% maiores nas condições de carregamento
normais e 25% maiores nas condições excepcionais. Em relação a segurança da estabilidade global não atendeu
a todos os parâmetros propostos pelo método adotado, sendo que o fator de segurança ao deslizamento ficou
abaixo do estabelecido pela Eletrobrás (2003).
PALAVRAS-CHAVE: Anisotropia, Barragens de Concreto, Maciços Rochosos, Estabilidade Global de
Estruturas.
ABSTRACT: The National territory has a high hydrological potential, thus, making geasible the construction
of the hydroelectric projects. The most common dams found are of gravity concrete, these must be built on a
sturdy foundation characterized by rocky massifs. In this work two foundation models were presented for this
type of dam, one was homogeneous-isotropic and the second, homogenous-anisotropic. After the avaliation of
the numeric methods, it can be observed that the Model 2 presented 40% higher sub pression values under
normal loading conditions and 25% higher under exceptional conditions. Regarding the security of global
stability did not meet all the parameters proposed by the method adopted, being that the displacement safety
factor was bellow the regime established by Eletrobrás (2003).
KEYWORDS: Anisotropy. Concrete Dam. Rocky Massifs. Sub Pression. Global Stability of Structures.
1 Introdução
O Brasil possui território rico em água doce, concentrando 13% de toda a água do planeta (PEREIRA, 2015).
Esse potencial favorece a implantação de usinas hidrelétricas (CRUZ, 1996). Para serem implantadas, as usinas
hidrelétricas necessitam de um estudo acerca das condicionantes de projeto, e quando se trata da fundação, as
obras apoiadas sobre maciços rochosos de boa qualidade permitem estruturas mais esbeltas e mais econômicas.
Nesse tipo de fundação deve-se levar em conta aspectos de deformabilidade e permeabilidade, pois estes
fenômenos presentes nos maciços podem reduzir a segurança (MARQUES FILHO; GERALDO, 1998).
O basalto é uma rocha que possui resistência elevada, podendo ser um maciço de fundação, porém, quando
anisotrópico ele apresenta planos de fraturamento bem desenhados, os quais provocam problemas de
percolação de água, aumentando a condutividade hidráulica do maciço e consequentemente aumentando a
subpressão. A subpressão, quando não estudada em um projeto, pode levar ao colapso da estrutura. Estes
estudos podem ser desenvolvidos empiricamente ou em softwares que utilizam um sistema de modelagem
numérica, que é essencial para garantir a segurança e precisão nos resultados obtidos, com agilidade e
facilidade (MARQUES FILHO; GERALDO, 1998; GUTSTEIN, 2011).
O presente estudo desenvolverá uma pesquisa para verificar a influência de fraturas no maciço de fundação de
barragens de concreto, levando em consideração maciços rochosos homogêneos isotrópicos e homogêneos
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anisotrópicos. A influência será dada pela verificação da estabilidade global da estrutura da barragem quanto
aos critérios impostos pela Eletrobrás (2003). Também serão determinadas as resultantes da subpressão na
estrutura para os dois casos de fundação, o qual será avaliado numericamente.
2. Revisão Bibliográfica
Barragens de gravidade são estruturas sólidas, em que sua estabilidade é garantida por meio do peso próprio
da superestrutura, ou seja, a sua geometria ifluencia diretamente na estabilidade e na segurança da barragem
(USACE, 1995). Estas estruturas podem ser construídas de concreto convencional (CCV), e concreto
compactado à rolo (CCR), em que a principal diferença entre os métodos é o modo de compactação do concreto
(CORSINI, 2011).
Segundo Frascá e Sartori (1998), o basalto é uma rocha que pode ser encontrada em abundância na crosta
terrestre, o que facilita a utilização deste tipo de material na fundação de barragens. Ele apresenta condições
de fraturamento no maciço, essa caracteristica devido ao alívio de tensões que ocorre em sua formação. Os
maciços rochosos podem ser classificados como isotrópicos e anisotrópicos. Maciços rochosos isotrópicos são
caracterizados por terem as mesmas propriedades em qualquer direção. Já os anisotrópicos são caracterizados
por possuirem uma distribuição aleatória de fraturas ou qualquer outra estrutura planar (MAGALHÃES;
CELLA, 1998).
As rochas ígneas possuem alta resistência mecânica quando comparada com alguns tipos de rochas
sedimentares e metamórficas, devido a sua homogeneidade. Por este motivo, fundações de barragens de
concreto são indicadas neste tipo de material. Por outro lado, o fato dela ser fraturada pode causar percolação
d’água e aumento da subpressão na barragem, tornando-se uma desvantagem para ele (FRASCA; SARTORI,
1998).
A elevação da subpressão reduz o fator de segurança da análise de estabilidade global, uma vez que é um
esforço que causa momentos solicitantes na estrutura. Para isso, o estudo aprofundado das condições
hidráulicas do maciço de fundação é imprescindível, ele indicará o melhor tratamento de fundação e geometria
adequada para o barramento (MARQUES FILHO; GERALDO, 1998).
A permeabilidade dos maciços rochosos está relacionada com a sua homogeneidade e isotropia e a sua
homogeneidade e anisotropia (AZEVEDO; ALBUQUERQUE FILHO, 1998). Fatores como o tamanho, a
direção e o preenchimento das descontinuidades são importantes para a correta determinação da
permeabilidade do maciço (GUTSTEIN, 2011).
A permeabilidade dos maciços rochosos é dada em parte pelas descontinuidades e em parte pela rocha intacta,
em que Gutstein (2011) indica que o coeficiente de condutividade hidráulica para os basaltos é de
1𝑥10−7 𝑐𝑚/𝑠. Para a determinação da condutividade hidráulica da rocha intacta deve-se utilizar uma amostra
extraída de campo em um formato cilíndrico. Segundo Azevedo e Albuquerque Filho (1998), os meios de
percolação mais preocupantes em uma fundação de barragem em basalto são as fraturas de planos sub-
horizontais, pois estas possuem alta condutividade hidráulica.
2.2.2 Subpressão
A subpressão é o esforço que ocorre devido à infiltração de água pelas descontinuidades e fraturas presentes
nos maciços rochosos, exercendo uma pressão vertical de baixo para cima (MARQUES FILHO; GERALDO,
1998). Segundo Andrade (1988), são as condições físicas do maciço de fundação da barragem que determinam
a subpressão e a vazão da água. Assim a subpressão não depende da vazão em pontos isolados e sim dos
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caminhos de percolação existentes no maciço de fundação. Para a resolução de problemas com subpressão
devem ser criados cursos de fluxo de água mais longos, resultando em pressões de água menores. Para realizar
esse aumento podem ser utilizados aparelhos de relaxação, como drenos profundos (ANDRADE, 1988).
A linha de drenos reduz o fluxo e o diagrama de pressões na base do barramento, garantindo o aumento da
estabilidade da estrutura. Outra forma utilizada são as cortinas de injeção de nata de cimento, que selam as
fraturas presentes no maciço de fundação, reduzindo o coeficiente de permeabilidade (Op: Cit.).
Para a determinação da subpressão utiliza-se no Brasil, atualmente, os critérios de projetos civil da Eletrobras
(2003), este método relaciona as cargas hidráulicas de montante e jusante, sem levar em consideração as
características do maciço e do tratamento executado. Andrade (1988) por sua vez, estabeleceu um método que
utiliza fator de forma (λ), o qual leva em consideração a melhoria na fundação pela inserção da linha de drenos
(ELETROBRÁS, 2003; ANDRADE, 1988). A determinação do fator de forma (λ) pode variar entre os
maciços rochosos isotrópicos e anisotrópicos. Este fator para maciços anisotrópicos considera as suas
descontinuidades e a condutividade hidráulica obtendo um resultado mais aproximado com o que acontece em
campo (Andrade,1988).
Segundo Eletrobrás (2003), em uma barragem de concreto podem ocorrer carregamentos devido a força do
vento, cargas acidentais, empuxos hidrodinâmicos, empuxos estáticos e empuxos de assoreamento (Figura 1 –
elaborada pelas autoras). Os efeitos de vento podem ser desprezados para estruturas como casa de força,
vertedouro e barragens maciças (Eletrobrás, 2003). Os sedimentos que se depositam no fundo do reservatório,
junto ao pé de montante, são considerados como carregamento, adotando 10% da altura de montante
(Eletrobrás, 2003). Os empuxos hidrostáticos de montante e jusante são carregamentos que variam de acordo
com o nível de água do reservatório.
Segundo Eletrobrás (2003), a análise da segurança global deve ser feita para todas as estruturas principais,
elementos estruturais e interações da estabilidade no contato concreto-rocha, análises de tensão e deformação,
coeficientes de segurança e verificações de tensões atuantes com tensões admissíveis. Na análise da
estabilidade global deve-se verificar o Estado Limite Último de Perda de Equilíbrio Global ou Parcial de
Estruturas que são admitidas como um corpo rígido. Em projetos de barragens esta é uma análise de
estabilidade que avalia movimentos na estrutura como deslizamentos, tombamentos, flutuação, tensões na
base, flambagem, deformações em Estado Limite Último, recalques e vibrações (ELETROBRÁS, 2003). Os
fatores de segurança são definidos pela Eletrobrás (2003), de acordo com os itens a seguir:
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Fator de Segurança à Flutuação (FSF): É a relação entre as forças atuantes a favor da barragem,
carregamentos devido ao peso próprio e entre as forças de subpressão, que atuam no sentido oposto. Fatores
como coesão e atrito devem ser desprezados. Todas as cargas acidentais devem ser ignoradas e as cargas da
estrutura devem ser consideradas como cargas mínimas.
Fator de Segurança ao Tombamento (FST): É a relação entre momento estabilizante e momento atuante,
em relação a um ponto ou linha de rotação. Para momento estabilizante serão considerados os momentos de
peso próprio, cargas permanentes mínimas e cargas devido a equipamentos permanentes. Para momento de
tombamento serão considerados momentos gerados por cargas desestabilizantes, como subpressões, empuxos
de terra e pressões hidrostáticas. Efeitos de coesão e atrito devem ser desprezados.
Fator de Segurança ao Deslizamento (FSD): Trata-se do escorregamento da estrutura, que considera a
superfície de ruptura, incluindo todos os planos de menor resistência, ou planos de superfícies críticas na
estrutura, fundação ou estrutura-fundação. Neste fator de segurança, a parcela de coesão deve ser incluída,
exceto se as investigações de campo provarem o contrário. Segundo a Eletrobrás (2003), os fatores de
segurança mínimos para FSD, FSF, FST, devem ser adotados conforme as Tabelas 1 e 2 (adaptadas de
ELETROBRÁS, 2003), que apresenta as Condições de Carregamento Normal (CCN), Condições de
Carregamento Excepcional (CCE), Condições de Carregamento Limite (CCL) e Condições de Carregamento
de Construção (CCC).
3. Materiais e Métodos
Foram definidos dois modelos de estudo: Modelo 01, homogêneo isotrópico, Modelo 02, homogêneo
anisotrópico. Para cada modelo foi considerada uma cortina de drenos operante (1a; 2a) e outra inoperante (1b;
2b). Determinou-se uma seção geométrica hipotética para a barragem de concreto gravidade baseada na seção
utilizada por por Gutstein, (2003). A dimensão do modelo hidrogeológico obedeceu a recomendação de
Andrade (1988), de 1,5 x B, no qual B é a base do barramento, (Figura 02 – elaborada pelas autoras). A cortina
de drenos apresenta furos de 20 m e 75 mm de diâmetro, com espaçamento de 2 m.
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Para as cargas de água de montante e jusante, foram adotados os valores conforme a Tabela 3 (elaborada pelas
autoras), onde se tem quatro condições de reservatório, sendo Máximo Normal e Mínimo Normal os níveis
normais de operação e Maximorum e Minimorum os níveis mínimos e máximos para não ocorer um colapso
na estrutura.
Tabela 3. Cargas de água de Montante e Jusante
Situação Máximo Mínimo Maximorum Minimorum
Normal Normal
Carga de Montante (m) 45 39 49 35
Carga de Jusante (m) 10 10 10 10
A subpressão foi determinada através de modelos numéricos, utilizando o software SEEP/W®, versão 2016.
Os materiais dos Modelos 01 e 02 foram o maciço rochoso, o dreno e as descontinuidades. O coeficiente de
permeabilidade do maciço rochoso e do material da descontinuidade foram baseados em bibliografias
consagradas, conforme disposto na Tabela 4, elaborada pelas autoras. A condutividade hidráulica da drenagem
foi determinada a partir da subpressão de Andrade (1988), indicada na Equação 05 do Item 2.3.2. Para a
conduitividade hidráulica do maciço foram adotados os valores expressos na Tabela 4.
Tabela 4. Parâmetros Físicos e Mecânicos
Situação Permeabilidade do Permeabilidade da Permeabilidade do
maciço descontinuidade Dreno
Isotrópico −7
1𝑥10 𝑚/𝑠 - 1,06 𝑚/𝑠
(Oliveira e Brito,
−7
1998) 0,20𝑚/𝑠 2,12 𝑚/𝑠
Anisotrópico 1𝑥10 𝑚/𝑠
(Gutstein, 2011) (Gutstein, 2011)
Os Modelos 01 e 02 foram discretizados em 1927 nós e 1830 elementos, conforme pode ser observado na
Figura 4, as condições de contorno utilizadas para os reservatórios de montante e jusante foram apresentadas
no item 3.1 deste artigo, e a carga média nos drenos, foi calculada pela equação de Andrade (1988).
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a) b)
Figura 4 – Modelos com nós e elementos: a) Dreno operante; b) Dreno inoperante
Foram modeladas quatro situações de reservatório conforme orienta Eletrobrás (2003), para as condições de
carregamento, em que:
Condição normal CCN: níves normais máximos e mínimos de operação;
Condição excepcional e limite CCE e CCL: níveis maximorum e minimorum de operação.
Os fatores de segurança foram definidos conforme o Item 2.4 deste artigo, e os carregamentos encontrados nas
combinações de carga foram determinados conforme NBR 8681 (2003). O ângulo de atrito interno utilizado
foi de 30° para todas as combinações. O intercepto de coesão utilizado para as condições do modelo isotrópico
foi de 300 kPa e para o modelo anisotrópico 100 kPa. As combinações de carga foram montadas levando em
consideração todos os esforços atuantes na estrutura. A carga acidental de 5 kN/m foi adotada de acordo com
Eletrobrás (2003). Para os modelos de estudo foram avaliadas as condições de carregamento normal (CCN) e
para as limites (CCL), utilizando para as CCN condições normais máxima e mínima e para as CCL condições
maximorum e minimorum.
4. Resultados
Para a análise da subpressão do Modelo 1a e Modelo 2a, foram calculados os valores de subpressão nos drenos
operantes, segundo o Método de Andrade (1988). O método leva em consideração um fator de forma diferente
para modelos isotrópicos e anisotrópicos. Os resultados do fator de forma e da subpressão para cada um dos
casos está apresentado na Tabela 5, elaborada pelas autoras.
Tabela 5. Cargas de Subpressão nos Drenos
Condições Carga no Dreno (Sd) Carga no Dreno (Sd)
1a (Isotrópico Operante) (m) 2a (Anisotrópico Operante) (m)
Máximo Normal 8,10 17,32
Mínimo Normal 7,38 15,87
Maximorum 14,79 18,04
Minimorum 6,91 15,00
O fator de forma é a condicionante no aumento da carga de subpressão no dreno, assim como pode-se observar
nos resultados apresentados que na Tabela 5, as cargas de subpressão nos drenos do Modelo 2a, são cerca de
47% maiores que nos drenos do Modelo 1a, com isso pode-se constatar que os meios anisotrópicos causam
aumento na carga de subpressão nos drenos. Foram realizadas modelagens numéricas no Softwre SEEP/W®,
para a observação da carga de subpressão na base do barramento, e os sentidos das linhas de fluxo. Foram
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numericamente modelados os Modelos 1a; 1b e 2a; 2b, para as condições estabelecidas neste trabalho. Nas
Figuras, 5 e 6 podem ser observados esses resultados.
A Tabela 6, apresenta os resultados de subressão para os Modelos 1a e 2a com dreno operante, após avaliação
do quadro é possivel concluir que os meios anisotrópicos possuem cargas de subpressão cerca de 40% maiores
que os meios isotrópicos para as condições normais de reservatório e cerca de 25% maiores para as condições
limites.
Tabela 7. Resultados de Subpressão para os Modelos 1b e 2b
Condições Subpressão Modelo – 1b (kN/m) Subpressão Modelo – 2b (kN/m)
Máximo Normal 9709,05 11504,48
Mínimo Normal 9344,02 10472,17
Maximorum 10296,77 12188,92
Minimorum 7887,53 9785,47
A Tabela 7, apresenta os resultados de subressão para os Modelos 1b e 2b com dreno inoperante, o meio
anisotrópico apresenta subpressões 15% maiores que o meio isotrópico para as condições normais e limites.
Após a avaliação das Tabelas 06 e 07, no que diz respeito aos drenos operantes e inoperantes, pode-se observar
que em situações que a drenagem é inoperante a subpressão aumenta em cerca de 55%, em relação a drenagem
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operante. Assim pode-se perceber que a anisotropia e a não utilização/má conservação de drenos influencia de
forma negativa o sistema de cargas de subpressão na fundação de barragens de concreto.
Ao total foram calculadas 144 combinações em que a principal carga desfavorável foi a de empuxo de água
de montante, seguida pela subpressão. Esses valores estão dispostos no Anexo C. A estabilidade global da
estrutura em condições de Estado Limite Último Normal apresenta-se estável com fatores de segurança acima
dos exigidos no critério da Eletrobrás (2003), exceto para o Modelo 02 em relação ao deslizamento na condição
máximo normal. No Estado Limite Último Excepcional percebe-se uma instabilidade da estrutura na condição
maximorum para os dois modelos em relação ao deslizamento da estrutura. Os fatores de segurança
encontrados estão descritos na Tabela 8 elaborada pelas autoras:
Tabela 8. Fatores de Segurança
Modelo 01 (Isotrópico) Modelo 02 (Anisotrópico)
FSF FST FSD FSF FST FSD
Máximo Normal 8,23 3,34 1,43 5,59 2,51 1,03
Mínimo Normal 8,81 4,50 1,92 5,93 3,25 1,35
Maximorum 4,10 1,57 0,95 4,18 1,32 0,64
Minimorum 5,16 2,96 1,90 5,21 2,48 1,19
Constatou-se uma instabilidade ao deslizamento na condição maximorum e máximo normal (Modelo 02), pois
a carga mais desfavorável é de empuxo de água que nestas condições é mais elevado que as demais. Para
solucionar este problema sugere-se a utilização de uma linha de chumbadores na fundação. Também pode ser
solucionado com a mudança de geometria da estrutura da barragem de concreto.
5. Conclusão
Neste trabalho foram apresentados dois modelos para a fundação de uma barragem de concreto gravidade com
seção hipotética, um apresenta meio isotrópico e outro, meio anisotrópico. Esta pesquisa mostra uma
comparação entre eles utilizando métodos empíricos e numéricos para obter resultados de subpressão e
estabilidade global.
O método empírico utilizado para encontrar os valores de subpressão foi o critério de Andrade (1988) e o
método numérico foi o SEEP/W® versão 2016. Para as combinações de carga foram utilizados os coeficientes
de ponderação apresentados na NBR 8681 (ABNT, 2003), e para as cargas foi utilizado o critério da Eletrobrás
(2003). O mesmo critério foi utilizado para cálculo da estabilidade global. É possível observar que em meios
anisotrópicos as cargas de subpressão são 40% maiores que em meios isotrópicos, também se constatou que
na situação de drenos inoperantes a subpressão aumenta em 55%. A estabilidade global em meios anisotrópicos
é 35% menor que em meios isotrópicos, e apresenta-se estável nas condições normais, exceto na condição
máximo normal do Modelo 02, em que não atende a estabilidade ao deslizamento. Também, na condição
excepcional maximorum os fatores de segurança ao deslizamento apresentaram-se abaixo do mínimo exigido
pela Eletrobrás (2003), sugerindo a utilização de uma linha de chumbadores na fundação da estrutura, ou
mudança de geometria.
O presente trabalho atendeu os objetivos desejados, demonstrando que meios anisotrópicos apresentam
desafios maiores para a estabilidade da estrutura. Sugere-se que seja utilizado em pesquisas futuras para
complementar o presente trabalho a análise de deslocamentos. Sugere-se também que sejam testadas outras
geometrias de seções com meios anisotrópicos apresentando descontinuidades de diferentes direções, ou então,
para que apresentem a estabilidade global mínima sem a utilização de reforços estruturais.
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ANEXO A - MODELO 1
DETALHE 1 DETALHE 2
NÍVEL RESERVATÓRIO CCC1 (NORMAL MÁXIMA) NÍVEL RESERVATÓRIO CCC2 (NORMAL MINIMA)
ELU NORMAL/ ELS FREQUENTE q ELU NORMAL/ ELS FREQUENTE
q
Es Ew Es Ew
S S
DETALHE 3 DETALHE 4
NÍVEL RESERVATÓRIO CCC3 (MAXIMÓRUM) NÍVEL RESERVATÓRIO CCC4 (MINIMÓRUM)
ELU EXCEPCIONAL/ ELS RARA q ELU EXCEPCIONAL/ ELS RARA q
q - Carga Acidental q - Carga Acidental
Ew - Empuxo de Água Ew - Empuxo de Água
Es - Empuxo de Sedimento Es - Empuxo de Sedimento
W - Peso Próprio Concreto W - Peso Próprio Concreto
S - Subpressão S - Subpressão
Fw - Pressão Hidrodinâmica Fw - Pressão Hidrodinâmica
Fw2 Wr - Peso Próprio Maciço Rochoso Fw2 Wr - Peso Próprio Maciço Rochoso
Fw1 Ew Fw1
Ew
W W
Es Ew Es Ew
S S
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Es Es
Wr Wr
DETALHE
DESCONTINUIDADE
S
S
25 cm
DETALHE 3 DETALHE 4
NÍVEL RESERVATÓRIO CCC3 (MAXIMÓRUM) NÍVEL RESERVATÓRIO CCC4 (MINIMORUM)
ELU EXCEPCIONAL/ ELS RARA q ELU EXCEPCIONAL/ ELS RARA q
q - Carga Acidental q - Carga Acidental
Ew - Empuxo de Água Ew - Empuxo de Água
Es - Empuxo de Sedimento Es - Empuxo de Sedimento
W - Peso Próprio Concreto W - Peso Próprio Concreto
S - Subpressão S - Subpressão
Fw - Pressão Hidrodinâmica Fw - Pressão Hidrodinâmica
Fw2 Wr - Peso Próprio Maciço Rochoso Wr - Peso Próprio Maciço Rochoso
Fw2
Ew Fw1 Fw1
Ew
W Wc
Es Es Ew
Wr Wr
S S
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0153 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Construções sobre depósitos de solos moles são motivos de preocupação devido à alta
compressibilidade e baixa resistência desses solos, sendo necessário conhecer suas propriedades geomecânicas
e as técnicas de melhoramento. Na alternativa de reforço do solo, pode-se empregar geossintéticos na base do
aterro, permitindo aumento da sua estabilidade, construção mais rápida e utilização de taludes mais íngremes.
Este trabalho apresenta o dimensionamento de geossintético para reforço de um aterro de solo mole localizado
em Recife - PE, considerando mecanismos de instabilidade de expulsão de solo mole de fundação e de ruptura
generalizada envolvendo aterro, reforço e solo de fundação. O fator de segurança contra expulsão do solo mole
e o fator de segurança mínimo mínimo foram bem próximos, em torno de 1,3. O uso de geossintético como
reforço para o caso estudado mostrou-se eficiente, com significante elevação do fator de segurança de 0,98
para 1,32. O fator de segurança para o uso combinado de geossintético de reforço e a construção de uma berma
foi de 2,37, sendo o maior valor das três opções de estabilização do aterro.
ABSTRACT: Constructions on soft soil deposits are cause for concern due to the high compressibility and low
resistance of these soils, and it is necessary to know their geomechanical properties and improvement
techniques. In the alternative of soil reinforcement, geosynthetics can be used at the base of the landfill,
allowing for increased stability, faster construction and use of steeper slopes. This work presents the
geosynthetic dimensioning for reinforcement of a soft soil embankment located in Recife - PE, considering
instability mechanisms of expulsion of soft soil from foundation and generalized rupture involving
embankment, reinforcement and foundation soil. The safety factor against expulsion from the soft soil and the
minimum minimum safety factor were very close, around 1.3. The use of geosynthetics as reinforcement for
the case studied proved to be efficient, with a significant increase in the safety factor from 0.98 to 1.32. The
safety factor for the combined use of reinforcement geosynthetics and the construction of a shoulder was 2.37,
with the highest value of the three landfill stabilization options.
1 Introdução
Existem várias soluções que permitem a utilização das áreas de solo mole como: bermas de equilíbrio,
aterro estaqueado, melhoramento do solo e reforço. A escolha de uma delas dependerá de inúmeros fatores,
como condições do solo, nível de recalque aceitável, o espaço disponível, além de custos e prazos de execução.
Na alternativa de reforço do solo, pode-se empregar geossintéticos de reforço na base do aterro, permitindo o
aumento da estabilidade do aterro, a construção mais rápida e a utilização de taludes mais íngremes. Os
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geossintéticos comumente utilizados para reforço em aterros sobre solos moles são: geotêxteis tecidos (GTX-
W), geogrelhas (GGR) e geocélulas (GCE).
Futai (2010) comenta que a melhor forma de se entender como o reforço atua para aumentar o fator de
segurança em aterros sobre solos moles foi apresentada por Jewell (1982). No mecanismo de instabilidade de
um aterro não reforçado, o carregamento vertical é a causa principal da instabilidade, porém, Jewell (1988)
cita mais uma, que é a tensão cisalhante no contato entre o aterro e o solo mole. Essa tensão cisalhante surge,
porque o aterro não está confinado e como não suporta as forças de tração lateral, ocorre o deslocamento
lateral. O uso do reforço na base do aterro sobre solo mole restringe o deslocamento lateral e promove o
aumento da capacidade de carga.
Se o geossintético usado como reforço tiver um módulo de rigidez adequado para a solicitação em
questão, não haverá deformação excessiva do reforço. A força de tração máxima requerida para o reforço no
estado-limite deve ser superior a força de tração máxima necessária para resistir o estado-limite de
deslizamento rotacional, e também à soma das forças de tração máxima necessárias para resistir ao
deslizamento lateral e a expulsão do solo de fundação.
Este trabalho apresenta o dimensionamento de geossintéticos para reforço de um aterro sobre solo mole
localizado em Recife, Pernambuco, estudado por Bello (2004), proposta que evitaria o rompimento do aterro.
Foram considerados os mecanismos de instabilidade de expulsão de solo mole de fundação e de ruptura
generalizada envolvendo aterro, reforço e solo de fundação.
O terreno com cerca de 10.350 m² localiza-se na Br-101, Dois Irmãos, Recife-PE. Foram construídos 3
galpões, sendo um de grande porte com alvenarias de fechamento lateral (50 x 40 m), onde ocorreu a ruptura.
É apresentada na Figura 1 a posição dos galpões, bem como as locações dos furos de sondagem, amostragem
e ensaio de palheta. Os galpões foram projetados em estruturas pré-moldadas de concreto armado, cujos pilares
têm fundação superficial tipo bloco isolado de pedra rachão. O piso foi projetado com uma laje armada de 15
cm de espessura, assente diretamente no terreno.
As sondagens mostraram um perfil composto inicialmente por uma camada de aterro de argila silto-
arenosa, mal compactado, com cerca de 6 m de espessura. Abaixo do aterro tem-se uma camada de argila
siltosa, muito mole a mole com espessura próxima de 1 m. Segue-se uma camada de turfa com argila orgânica,
muito mole a mole, com cerca de 12 m de profundidade. Após os 12 m e até o limite das sondagens (cerca de
30 m de profundidade), segue-se uma camada de argila siltosa, média a rija. O nível d’água situa-se em torno
de 3,75 m de profundidade.
No início da construção o terreno já se encontrava aterrado com restos de metralha e lixo. O terreno foi
regularizado através de um aterro compactado com cerca de 1 m de espessura. Foram executados um muro de
arrimo de gabião com altura entre 3 e 6 m. Durante a execução de terraplenagem, ocorreu um deslizamento
em um dos cantos do terreno vizinho, onde foram observadas várias trincas no terreno paralelas ao muro de
arrimo, que foram vedadas naquela ocasião. Durante a construção do galpão de grande porte, foram observadas
fissuras nas alvenarias de fechamento, e uma abertura das juntas de dilatação do piso. Essas evidências
permitiram concluir que o terreno apresentava uma componente vertical de deslocamento, representada pelo
recalque das camadas argilo-turfosas moles, devido ao peso próprio do aterro e da estrutura, e uma componente
horizontal, devido ao escoamento lateral das camadas na direção no desnível do terreno (Figura 2).
Na época foram propostas duas soluções para combater os movimentos identificados: (a) para o
movimento vertical foi sugerido o reforço de fundações através de estacas metálicas; e (b) para o movimento
horizontal foi sugerida a execução de bermas no fundo do terreno. Como as soluções reparadoras eram
onerosas em função do porte da obra, foi proposto monitorar o desempenho através da instalação de pinos nos
pilares e marcos superficiais no terreno, com controle periódico de topografia da obra, e definir a necessidade
de intervenções. Por decisão do proprietário, não houve monitoramento do local, e os pontos onde exibiam
fissuras foram fechados com argamassa, ocorrendo neste período, a ruptura do terreno em grandes proporções.
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Figura 1. Situação e locação dos furos de sondagem, ensaio de palheta e retirada de amostra (Bello, 2004).
3 Metodologia
Inicialmente será realizada a avaliação da estabilidade do aterro não reforçado com altura admissível
considerando-se superfícies circular e não circular. Obtido um fator de segurança (FS) inferior ao de projeto,
parte-se para uma solução de reforço na base do aterro, com o objetivo de aumentar o FS.
Para a determinação da tração mobilizada no reforço (T) faz-se necessário a avaliação da estabilidade
considerando: o deslizamento lateral do aterro; ruptura por cunha; e por meio de rupturas circulares, que podem
ser avaliadas utilizando programas de estabilidade ou o método de Low et al. (1990).
O método de cálculo convencional estuda o equilíbrio do bloco de solo mole sob o talude do aterro.
Assim, o fator de segurança contra a expulsão do solo mole pode ser estimado através da Equação 1.
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=
(1)
Onde: PP é a reação passiva contra o deslizamento do bloco de solo mole; RT é a força de aderência no topo
do bloco de solo mole; RB é a força de aderência na base do bloco de solo mole; PA é o esforço ativo atuante
sobre o bloco de solo mole; é a tensão horizontal ativa.
A hipótese de ruptura mais comum em análises preliminares de estabilidade de taludes para obras de
solo reforçado é a de superfície de deslizamento com forma circular e o emprego de métodos de equilíbrio-
limite. O método proposto por Low et al. (1990) que visa o dimensionamento preliminar por meio do método
de equilíbrio-limite. Esse método é utilizado para obter o valor de T para geometrias simples, onde não há
bermas de equilíbrio e onde o aterro pode ser considerado com “comprimento” infinito com plataforma
horizontal e sem sobrecarga. O método fornece o fator de segurança mínimo para as superfícies de ruptura
com centros sobre a vertical passando pelo meio do talude e tangentes a uma linha horizontal a uma
profundidade arbitrada (PALMEIRA e ORTIGÃO, 2004). Variando a profundidade de tangência, pode
determinar o fator de segurança mínimo minimorum da obra. A Equação 2 fornece o fator de segurança mínimo
do aterro reforçado para todas as superfícies tangentes à horizontal na profundidade z.
= ∙ (2)
Onde: F0 é o fator de segurança mínimo para todas as tangentes à horizontal na profundidade z, no caso sem
reforço; T é o esforço de tração mobilizado no reforço; IR é um coeficiente obtido a partir de um gráfico e que
depende da geometria do aterro e da profundidade tangência dos círculos; γat é o peso específico do material
de aterro; e H é a altura do aterro.
Para a utilização do método proposto por Low et al. (1990), é necessário determinar o fator de segurança
da obra, no caso sem reforço, variando a profundidade z, conforme Equação 3.
$
= × × + " # + % × &'()*
(3)
×
Onde: +,- , . e ) são os parâmetros do aterro; / é a altura do aterro; 012 é a resistência não drenada equivalente
do solo mole; 0′14 e 015 (01 na profundidade z); , " , % são números de estabilidade.
Após calcular os diferentes valores de T para as diversas profundidades z, obtém-se o Tmax que é o valor
do esforço necessário para alcançar o Fr. Com o valor de Tmáx é possível escolher o tipo de reforço geossintético
dentro das margens de segurança que serão discutidas mais adiante. O raio do círculo crítico, tangente à
horizontal na profundidade z, para o caso reforçado é dado por:
;×
7,"9×:, < >
×=
6 = ;
.@A 6 ≥ D + / (4)
: ,? >
×=
Adota-se o maior valor de T entre os calculados para o K de projeto, sendo que esse valor deve atender
aos critérios de LMNO . Caso não atenda, deve-se alterar a altura ou talude do aterro e repetir os cálculos.
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Onde: 014 é a resistência não drenada na interface solo-aterro; α é o fator de redução aplicado para refletir a
minoração da resistência não drenada na interface aterro-solo compressível; VW é a distância entre o local em
que o círculo intercepta o reforço e o pé do talude; S,,- é o coeficiente de empuxo ativo; +,- é o peso específico
do aterro, como ilustrado na Figura 3.
A resistência de referência do material de reforço GL R I pode ser obtida através de fatores de redução
globais sobre a resistência disponível, também chamada de admissível [L\ calculada em projeto. Esses fatores
de redução globais são dividos à fluência, a danos mecânicos de instalação, à degradação química, e à
degradação biológica (ALMEIDA e MARQUES, 2010).
. bc "
`= #
ce
* (9)
d f
.
Figura 3. Ruptura circular de um aterro sobre solo mole (ALMEIDA e MARQUES, 2010).
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Para se garantir a estabilidade da obra, deve-se também ter um comprimento de reforço apropriado, e
um dos fatores a ser analisado é o comprimento de ancoragem (j,H$ ) em ambos os lados do ponto de
interseção da superfície circular de deslizamento crítica com a direção da camada de reforço. Para mobilizar o
esforço de tração (L), o geossintético precisa estar com o devido j,H$ segundo Equação 10.
×W
j,H$ = "×l ×[$kb × ×-,Hn\
(10)
m
Onde: ,H$ é o fator de segurança contra ruptura por deficiência de ancoragem (geralmente [,H$ ≥ 1,5\;
+,- , . p ) são osparâmetros do aterro; / é a altura do aterro; qN é o coeficiente de interação do geossintético
com o solo, obtido por meio de ensaios de arrancamento.
Segundo Almeida e Marques (2010), geogrelhas de malha quadrada com abertura entre 20 mm e 40 mm
podem apresentar qN superiores a 0,8. Para aberturas maiores e poucos membros transversais, qN pode ser
menor que 0,5. Para geotêxteis tecidos, geralmente o valor é em torno de 0,6. Caso o comprimento do reforço
seja insuficiente para atender os requisitos de ancoragem, pode-se aumentar a resistência por ancoragem da
camada de reforço por meio de abatimento do talude ou da utilização de bermas laterais. O comprimento total
do reforço é apresentado na Equação 11:
Onde: VW é a distância entre o local em que o círculo intercepta o reforço e o pé do talude; e j,H$ é o
comprimento de ancoragem.
Bello (2004) estimou as propriedades do aterro a partir da literatura, havendo necessidade pela falta de
obtenção de amostras do aterro e realização de ensaios. Os valores considerados foram +,- =18kN/m³, c’ =
10kN/m², ϕ’ = 30°. Os valores da resistência não drenada da fundação foram determinados a partir do ensaio
de palheta de campo, sendo corrigidos pela proposta de Bjerrum (1973), e variando entre as faixas de 15,58 a
35,49 kPa, em 6 (seis) subcamadas com diferentes.
Após os cálculos da tração mobilizada no aterro e o módulo de rigidez do reforço considerou-se que
para atender os requisitos seria utilizada a geogrelha Fortrac R 300/50-30T, que é feita de poliéster (PET),
possui uma resistência à tração de mais de 300 t⁄A, um alto módulo de rigidez e baixa deformação.
Para a determinação da carga total gerada pelo galpão foram analisadas as cargas incidentes em cada
pilar da edificação, através de um relatório de cálculo estrutural. Os pilares foram divididos em centrais que
têm carga individual incidente de u = 150,58 t e em pilares laterais que possuiam carga individual
incidente de u = 126,06 t. Também foi analisada a carga gerada pelos veículos, considerou-se a ocupação
máxima do galpão, onde cada veículo ocupa uma área de yuí$1M4 = 9,00 A² e tem uma massa de }uí$1M4 =
1000 t~, resultando numa carga total de U = 4,04 t⁄A" .
A verificação da estabilidade do aterro sem reforço foi determinada por meio de uma análise global,
através do método de Bishop no software GEOSLOPE considerando a hipótese da superfície circular e o 01
corrigido. Foram admitidos os seguintes parâmetros para o aterro apresentados no item 3.8.
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Na análise global do aterro pelo método de Bishop através do software GEOSLOPE com a inserção da
resistência (L) obtida pelo método Low et al. (1990), e utilizando o comprimento do reforço geossintético
Gj R4 ç4 I.
Para determinar a tração mobilizada (L) na ruptura por deslizamento lateral em razão do empuxo do
aterro, foi determinado um coeficiente de empuxo ativo S,,- = 0,47. Utilizando os parâmetros de projeto
tanto do aterro quanto do solo, foi realizado o equilíbrio das forças horizontais, resultando em uma tração
mobilizada de L = 3,97 t⁄A.
Para determinar L na ruptura por cunha, foi realizado o somatório de forças resistentes, como o empuxo
passivo Q, g = 874,56 t⁄A, e a força cisalhante mobilizada na argila mole 0, g = 312,48 t⁄A. Este
resultado foi dividido pelo somatório das forças instabilizantes, como o empuxo ativo no aterro Q,,- =
152,28 t⁄A e empuxo ativo na camada de argila Q,, g = 827,96 t⁄A. Supondo um fator de segurança
de 0 = 1,3 , tem-se como resultado então em uma tração mobilizada de L = 87,27 t⁄A.
Para determinar L na ruptura circular, foi calculado o fator de segurança mínimo para as superfícies
tangentes à horizontal. No caso sem reforço, o fator de segurança foi = 1,37 e foi considerado um fator de
segurança para o caso reforçado de = 1,45. A tração mobilizada no reforço, para se garantir o fator de
segurança preestabelecido, é de L = 72,40 t⁄A.
Após a avaliação das possibilidades de ruptura do aterro, em relação ao deslizamento lateral do aterro,
à ruptura por cunha e à ruptura circular, o valor definido da tração no reforço deve ser o maior entre os casos
analisados, sendo o mais crítico a ruptura por cunha com uma tração L = 87,27 t⁄A. Para efeito de projeto
e a favor da segurança a tração foi majorada através de fatores de redução dos geossintéticos (ver Almeida e
Marques, 2010), resultando em uma tração de L = 211,19 t⁄A.
O valor do esforço de tração no reforço a ser utilizado nos cálculos de estabilidade não deve exceder o
esforço de tração limite que pode ser mobilizado (LMNO ) que corresponde à soma do empuxo lateral no aterro
Q,,- = 163,67 t⁄A e a força cisalhante do solo de fundação Q R = 250,54 t⁄A.
Para calcular a força cisalhante foi necessário determinar a distância (VW ) entre o local em que o círculo
de ruptura intercepta o reforço e o pé do talude, como pode ser observado na Figura 4. O somatório de Q,,- e
Q R resultou em um LMNO = 414,21 t/A que é maior que a tração utilizada em projeto.
Após a determinação do equilíbrio de solo mole sob o talude do aterro, foram somados os empuxos
passivos Q = 1823,45 t⁄A e a força de aderência no topo e na base do bloco de solo mole 6W =
312,48 t⁄A e 6f = 312,48 t/A, estes foram divididos pelo somatório pelo empuxo ativo Q =
1873,76 t⁄A, foi encontrado um fator contra a expulsão de solo mole de = 1,31, mostrando que o aterro
é estável para esta análise.
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4.2 Análises comparativa da de estabilidade do aterro sem reforço, com reforço geossintético, e uso
combinado de reforço geossintético e berma
Bello (2004) constatou que a proposta de construção da berma, eleva o valor do fator de segurança de
0,98 para 1,66, comparando com a situação sem reforço. Já com a utilização do reforço de geossintético com
comprimento de: j R4 ç4 = 25,14 A e resistência [L\ obtida pelo método Low et al. (1990) e com parâmetros
geotécnicos de: + = 20&/A³, . = 10 tQ' e ) = 35° e dimensões: 2,5 m de altura e 27,0 m de largura, na
condição com apenas o reforço o FS apresentou valor de 1,32. Já na situação com a utilização de bermas, foi
obtido um FS de 2,37, sendo o maior valor das três opções de estabilização do aterro.
Na tabela 1 é apresentado um resumo dos resultados da análise comparativa.
Foi verificado que todas as soluções atendem à segurança contra a ruptura do aterro, considerando os
FS variando de 1,33 a 2,37. A solução adotada em projeto dependeria do valor do fator de segurança mínimo
determinado pelo projetista e proprietário da obra. Diversos fatores como porte da obra, custo e prazo, assim
como a logística da construção podem interferir na escolha da solução mais adequada.
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5 Conclusões
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1225
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0154 ISBN: 978-65-89463-30-6
PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de taludes, Equilíbrio limite, Método das Fatias, Método de Spencer.
ABSTRACT: The slice method is widely used in the analysis of slope stability and reinforcement design.
The slice method proposed by Spencer admits slices as rigid bodies and attends the conditions of force
equilibrium and moment equilibrium. This method admits the existence of normal and shear forces between
the slices and that the inclination of the resultant of these forces is constant. The main objective of this work
is to describe two computational implementations of the Spencer slices method, detailing the formulation
and algorithms used, in addition to the implementation tests. The Spencer slices method has formulations for
a force safety factor and a moment safety factor. The solution of the method is determined by a resultant
inclination value for the inter-slice forces that given the same force safety factor and moment safety factor.
The implementations carried out in Fortran and in the Lazarus Integrated Development Environment works
satisfactorily. Due to its degree of complexity, Spencer slice method needs to be programmed for practical
use. The knowledge of the method algorithms enables the user for an application with more mastery of the
calculation hypotheses.
1 Introdução
Os métodos das fatias são utilizados em muitos estudos de estabilidade de taludes. No Brasil é
corrente o uso do método simplificado de Bishop (1955), além de outros métodos. O método simplificado de
Bishop (1955) garante apenas o equilíbrio de momentos. Bishop (1955) apresentou um método rigoroso que
garante também o equilíbrio de forças além do equilíbrio de momentos, este método rigoroso é menos
utilizado.
Spencer (1967) apresentou um método que garante o equilíbrio de forças e de momentos. Para resolver
o problema Spencer (1967) tomou a hipótese que a inclinação da resultante das forças inter-fatias é
constante. O método das fatias de Spencer (1967) possui formulações para um fator de segurança de forças e
para um fator de segurança de momentos. O fator de segurança de forças e o fator de segurança de momentos
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são respectivamente função do próprio fator de segurança de forças e o fator de segurança de momentos.
Para cada valor de inclinação da resultante das forças inter-fatias existe uma solução para o fator de
segurança de forças e para o fator de segurança de momentos, esta solução é encontrada utilizando o método
de Newton-Raphson. A solução do método é determinada por um valor de inclinação da resultante das forças
inter-fatias que leve ao mesmo fator de segurança de forças e fator de momentos. O método é discutido
dentre outras publicações na tese de Spencer (1970) e no artigo de Spencer (1973).
O presente trabalho discute duas implementações do método, em conformidade com o detalhamento
encontrado na tese de Spencer (1970). A primeira implementação foi um protótipo em Fortran. A segunda
implementação foi feita no Ambiente Integrado de Desenvolvimento Lazarus, em um programa chamado
TaludeSR, cujo o desenvolvimento está relatado em Santana & Lins (2014), Lins et al. (2015), Lins et al.
(2016) e Batista et al. (2018).
2 O Método de Spencer
Spencer (1967, 1970, 1973) detalha a formulação para um método das fatias que garante equilíbrio de
forças e equilíbrio de momentos e admite que a inclinação das forças inter-fatias é constante. O tese de
Spencer (1970) apresenta a formulação em uma forma que facilita a compreensão da implementação
computacional. A tese de Spencer (1970) apresenta em seus anexos vários programas em linguagem
“Extended Mercury Autocode”, com as diferentes versões de programas desenvolvidos.
Os elementos geométricos do círculo de deslizamento considerados são apresentados na Figura 1. A
geometria da i-ésima fatia considerada está representada na Figura 2. Rotinas de geometria são utilizadas
para dividir o círculo em N fatias e para determinar para a i-ésima fatia os valores da inclinação da base da
fatia αi e a altura da fatia hi.
Sendo Qi a resultante de um par de forças inter-fatias, para a i-ésima fatia, a condição de equilíbrio de
forças é garantida por:
i =N
∑ [Q ] = 0 (1)
1
i
Sendo θ a inclinação da resultante das forças inter-fatias Qi, a condição de equilíbrio de momentos é
garantida por:
i =N
∑ [Q cos(α
1
i i − θ )] = 0 (2)
Spencer (1970) utiliza o método de Newton-Raphson para acelerar o processo de solução. A Figura 3
ilustra o princípio das iterações do método de Newton-Raphson. Sendo Ff1 o valor uma primeira tentativa
para o fator de segurança para o equilíbrio de forças, com o método de Newton-Raphson, a próxima tentativa
do fator de segurança para o equilíbrio de forças (Ff2) é obtido por:
i= N
∑ [Q ]
1
i
Ff 2 = Ff 1 − i= N (3)
∂ ∑ [Qi ]
1
∂F f
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De forma iterativa o valor do fator de segurança de forças Ff é aplicado na equação (3), até que a
diferença entre duas iterações seja inferior a uma tolerância assumida.
Spencer (1970) apresenta a forma explicita do segundo termo do lado direito da equação (3):
2 ⋅ c'
γ + hi ⋅ tan φ ' (1 − 2 ⋅ ru + cos 2α i ) + F f ⋅ hi ⋅ sen 2α i
i= N
Onde: c’ é a coesão efetiva, φ é o ângulo de atrito efetivo do solo, ru é o coeficiente de pressão neutra,
e γ é o peso específico do solo, A equação (4) é implementada computacionalmente.
Sendo Fm1 o valor uma primeira tentativa para o fator de segurança para o equilíbrio de momentos,
com o método de Newton-Raphson, a próxima tentativa do fator de segurança para o equilíbrio de momentos
(Fm2) é obtido por:
i=N
∑ [Q cos(α
1
i i − θ )]
Fm 2 = Fm1 − i= N (5)
∂ ∑ [Qi cos(α i − θ )]
1
∂Fm
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Uma forma explicita da equação (5), similar a equação (4), também é implementada
computacionalmente.
Para cada valor de inclinação da resultante das forças inter-fatias (θ) existe uma solução para a
equação de equilíbrio de forças (Ff) e uma solução para a equação de equilíbrio de momentos (Fm). O valor
de inclinação da resultante das forças inter-fatias (θ) onde as duas curvas se encontram define a solução do
problema, conforme ilustrado na Figura 4.
3 Implementação Computacional
Uma primeira implementação em Fortran foi realizada em Fortran. Este protótipo reproduzia a
codificação do programa em linguagem “Extended Mercury Autocode” chamado de RESULTS26A,
apresentado nos anexos de Spencer (1970). A implementação em Fortran reproduziu bem os dados
apresentados em Spencer (1970).
Uma segunda implementação foi realizada dentro do programa TaludeSR no Ambiente Integrado de
Desenvolvimento Lazarus (Lazarus and Free Pascal Team, 2014). O código TaludeSR, que já possui
implementados: (a) Bishop simplificado sem reforço, com critério Hoek-Brown (Santana & Lins, 2014 e
Lins et al., 2015); (b) Bishop simplificado sem reforço, com critério Mohr-Coulomb; (c) Bishop simplificado
com reforço, com critério Mohr-Coulomb (Lins et al., 2016); (d) Janbu rigoroso sem reforço, com critério
Mohr-Coulomb (Batista et al., 2018). Os testes da implementação no código TaludeSR são descritos a
seguir.
4 Algoritmo do Método
1230
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geometria determinam as inclinações das bases das fatias (αi) e a altura das fatias (hi). A inclinação média da
massa deslizante da massa deslizante (ψ na Figura 2) é determinada. Um laço variando T de zero até 40 é
iniciado, valores de θ são inicializados em função de T. Este laço de T faz uma construção equivalente a
Figura 4. Com relação a este laço de T, o algoritmo sai do laço e imprime o resultado quando o fator de
segurança de forças se torna maior que o fator de segurança de momentos.
Dentro do laço as expressões de Newton-Raphson para o fator de segurança de forças, equação (3), e
fator de segurança de momentos, equação (5), são calculadas de forma iterativa. As iterações para as duas
equações são repetidas até que ambas apresentem um erro, entre iterações, menor que 0,0001. Deve ser
destacado que no presente algoritmo as duas equações são resolvidas no mesmo laço de iteração, o algoritmo
foi pensado para economizar memória e tempo de processamento. O uso de dois laços de iteração separados
traria maior elegância e legibilidade ao código.
5 Resultados e Discussão
O problema apresentado por Spencer (1970) e representado na Figura 6 foi utilizado para testar o
programa TaludeSR. Na análise foi considerado um peso específico de 120 lb/tf3, uma coesão de 240 lb/tf2,
um ângulo de atrito de 40º e um coeficiente de pressão neutra de 0,5.
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Para este problema Spencer (1970) relata um fator de segurança igual a 1,070. No programa TaludeSR
foi calculado um fator de segurança de 1,070 (Figura 7a). No programa Utexas3 o fator de segurança
calculado foi de 1,070 (Figura 7b). No programa Slide se obteve um fator de segurança de 1,069 (Figura 7c).
No programa Slope/W o fator de segurança encontrado foi de 1,069 (Figura 7d).
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6 Conclusões
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Batista, V.M.; Baptista, H.M.; Lins, P.G.C. (2018) Implementação computacional do método de Janbu com
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Geotécnicos Jovens (GeoJovem). XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica, Salvador.
Bishop, A.W. (1955) The use of the slip circle in the stability analysis of slopes. Géotechnique, 5(1), p.7-17.
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Acesso em 13 de março de 2014.
Lins, P.G.C.; Silva, N.T.; Baptista, H.M. (2016) Implementação computacional de análise de estabilidade de
taludes pelo método das fatias considerando tirantes. In: XVIII Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Solos e Engenharia Geotécnica, Belo Horizonte.
Lins, P.G.C.; Vilares Filho, R.S.; Souza, L.Z.S. (2015) Busca por algoritmos genéticos da superfície crítica
de ruptura de taludes com aplicabilidade em mineração. In: 15º Congresso Brasileiro de Geologia de
Engenharia e Ambiental, Bento Gonçalves, RS.
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Hoek-Brown em 2D. In: XVII Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica. VI
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Spencer, E. (1967) A method of analysis of the stability of embankments assuming parallel inter-slice forces.
Géotechnique, 17(1), p.11-26.
Spencer, E. (1970) The analysis of the stability of embankments by the method of slices. PhD Thesis,
University of Manchester Institute of Science and Technology. Disponível em: <https://ethos.bl.uk/>.
Acesso em: 8 jun 2018.
Spencer, E. (1973) Thrust line criterion in embankment stability analysis. Géotechnique, 23(1), p.85-100.
1233
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0155 ISBN: 978-65-89463-30-6
ABSTRACT: The paper presents the back-analysis of flow through the embankment of Barreiras Dam in the
Brazilian state of Piaui. The model was constructed based upon geotechnical investigations carried out when
problems were observed after the first impounding of the reservoir, and have been validated by comparison
with the data from the instrumentation installed to evaluate the effectiveness of the adopted correction
measures for the observed problems. The numerical analyses were carried out using the SEEP/W finite
element program by GEOSLOPE. The riverbed cross section on station 5 were used to adjust isotropic
hydraulic conductivity parameters aiming to obtain compatibility with the data from the instrumentation. The
inclusion of the cement injections carried out to fill voids detected by infiltrations tests on station 5 led to
better results, demonstrating that to obtain a reliable numerical model it is necessary to take into account the
structure history in order to provide accurate information in future decision processes concerning the
structure safety.
KEYWORDS: Dams, Water flow through porous media, Back analysis, Finite Elements, Dam safety,
Numerical Modelling.
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1 Introdução
Estaca 5
Figura 1. Barragem de Barreiras– planta com a estaca 5 destacada (Carvalho e Trindade, 1976 modificado)
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talude de jusante, a trinca observada foi atribuída ao recalque diferencial devido ao colapso de camadas mal
compactadas. A pronta ação do DNOCS, executando o preenchimento dos vazios por injeções, evitou os
riscos de instabilização do maciço.
2 Objetivo
Além da própria realização da retroanálise de percolação da barragem de Barreiras, o trabalho teve por
objetivo demonstrar a viabilidade de se desenvolver tais estudos em barragens em operação a partir do
conhecimento de suas características geométricas e geotécnicas, do histórico da estrutura em apreço e dos
registros da instrumentação instalada.
Destaca-se a importância de se conhecer o histórico de ocorrências e intervenções na estrutura em
análise para incorporá-los ao modelo numérico, como a anamnese de um paciente.
3 Metodologia
As análises de percolação foram desenvolvidas utilizando o método dos elementos finitos do módulo
SEEP/W do pacote GeoStudio (GEO-SLOPE International Ltd. 2018).
Os estudos de retroanálise da barragem de Barreiras envolveram as seguintes etapas:
i. Montagem da geometria do modelo numérico para a estaca 5 do barramento - seção de maior altura,
Figura 1 - com base nas sondagens à percussão executadas nesta estaca, as quais mostraram um
maciço bastante heterogêneo tanto quanto à granulometria como à resistência. Como os dados
disponíveis não abrangiam toda a parte de montante extrapolou-se a geometria existente com base
nos padrões geométricos observados.
ii. Pesquisa bibliográfica para definição da faixa de parâmetros de permeabilidade compatíveis com os
materiais encontrados nas sondagens.
iii. Análises considerando meio isotrópico e limites superior e inferior das faixas de parâmetro
encontradas na bibliografia.
iv. Simulação das injeções de cimento no talude de montante em trechos da ombreira esquerda,
inclusive na região da estaca 5, para preencher vazios.
v. Ajuste fino dos parâmetros de permeabilidade;
vi. Avaliação comparativa dos erros em relação aos valores de poropressão registrados na
instrumentação para diferentes condições consideradas no modelo.
Para a definição dos coeficientes de permeabilidade dos materiais foi efetuado, para cada tipo de
material, pesquisa bibliográfica visando definir a faixa de variação de k a ser considerada na retroanálise. Os
intervalos de valores obtidos são apresentados na Tabela 1.
Na Figura 4 é mostrado o modelo gerado para a estaca 5, no qual o maciço foi discretizado em cinco
materiais diferentes de acordo com sua granulometria.
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linha
piezométrica
da estaca 5
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A definição da permeabilidade da areia fina e média foi feita a partir de correlação empírica com a
faixa granulométrica do material. Considerou-se como faixa granulométrica desse material granular a curva
mais à direita da faixa granulométrica dos materiais da barragem de barreiras, excluindo-se a parcela de
pedregulhos (Figura 5). Como o material apresentava uma parcela considerável de finos e era pouco
uniforme para a aplicação da fórmula de Hazen (1911) apud USBR (2014) - k proporcional ao quadrado do
diâmetro efetivo do solo - foi utilizado o ábaco do USBR (2014) apresentado na Figura 6.
Tabela 2. Coeficientes de permeabilidade (m/s) adotados nas análises numéricas - kmáx, kmín e kajustado
Materiais Argila muito
Argila Areia fina e Areia fina e Areia fina e
siltosa c/areia
arenosa média siltosa média argilosa média
Valor de k fina e média
k máx 1 x 10-7 1 x 10-6 1 x 10-5 1 x 10-6
-10 -9 -7
k mín 1 x 10 1 x 10 1 x 10 1 x 10-8 8 x 10-6
k ajustado 1 x 10-7 1 x 10-6 2,5 x 10-5 2 x 10-5
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Uma vez que os resultados obtidos ainda mostravam algumas incompatibilidades com os registros da
instrumentação foi-se buscar, no histórico da barragem, motivos que justificassem tais discrepâncias. Uma
análise do histórico da barragem mostrou que foram executadas injeções de cimento no talude de montante,
no trecho entre as estacas 2 e 5, para corrigir vazios que surgiram pelos motivos expostos no item 1,
conforme indicado na Figura 7.
(a) (b)
Figura 7. Barragem de Barreiras – Preenchimento de vazios com injeções de cimento - (a) planta; (b) seção
com indicação da geometria inferida dos vazios (Carvalho e Trindade, 1976).
As injeções de cimento no talude de montante foram simuladas no modelo numérico por regiões
através das quais não poderia haver fluxo, conforme mostra a Figura 8, tendo sido repetidas as análises
anteriormente descritas visando avaliar o impacto da presença dessas injeções no comportamento do fluxo no
interior do maciço.
Figura 8. Barragem de Barreiras – Modelo na Est.5 com intrusão de calda de cimento preenchendo vazios
gerado pelo SEEP/W Geoslope.
4 Resultados
A avaliação da compatibilidade entre as medições de campo e os resultados das análises numérica foi
efetuada a partir do cálculo do percentual, em módulo, da diferença entre os valor de poropressão medido e o
calculado em relação ao valor efetivamente medido em cada piezômetro da estaca 5 (P3, P7, P11 e P15). A
Figura 9 mostra, na forma de histograma, os erros percentuais das análises efetuadas, onde se pode observar
claramente o efeito dos valores das permeabilidades dos materiais e da inclusão do tratamento com injeção
de cimento.
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Figura 9. Barragem de Barreiras – Erro percentual entre os valores de poropressão medidos através de
instrumentação e calculados por análise numérica.
Observou-se, de uma forma geral, que o erro percentual médio entre os piezômetros é
significativamente menor para o limite superior dos parâmetros de permeabilidade (erro médio de 89%) em
relação ao limite inferior (erro médio de 446%) tendo-se, para os valores ajustados, erros ainda menores
(erro médio de 63 %), os quais apresentam, quando da consideração das injeções de cimento, redução
adicional dos erros (erro médio de 34%).
Em que pese ainda se observarem discrepâncias nos resultados obtidos, dadas as imprecisões dos
dados disponíveis, em especial quanto à geometria da injeção de nata de cimento no maciço, constata-se a
necessidade de se conhecer bem o histórico de uma estrutura para realizar uma retroanálise adequada.
Nas Figuras 10 e 11 são apresentadas as distribuições de poropressões no maciço, para os parâmetros
ajustados, nas condições com e sem injeções de cimento, onde se pode observar a alteração do regime de
fluxo decorrente da presença da calda de cimento, a qual pode também ser observada na linha piezométrica
correspondente à estaca 5, destacada em azul na Figura 3.
Figura 10. Barragem de Barreiras – Comportamento do regime de fluxo na análise sem calda de cimento
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Figura 11. Barragem de Barreiras – Comportamento do regime de fluxo na análise com calda de cimento
5 Conclusões
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Boroumand, A., M. H. (2005) Determination of Compacted clay permeability by Artificial Neural Networks,
Ninth International Water Technology Conference, IWTC9, Sharm El-Sheikh, Egypt
Bowles, J. E. (1979) Physical and Geotechnical Properties of Soils, International Student Edition
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52.
Carvalho, L.H. e Trindade, S.S.M. (1976) Tópicos de Geomecânica nº 25 – Desempenho e Recuperação da
Barragem Barreiras (Piauí) – Tecnosolo – Separata dos Anais do XI Seminário Nacional de Grandes
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Hazen, A. (1911) Dams on Sand Foundations, discussion. American Society of Civil Engineers, Transactions,
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USBR (1987) Design of Small Dams, United States Department of the Interior Bureau of Reclamation,Third
Edition, 98 p.
USBR (2014) Embankment Dams, Design Standards N°13, United States Department of the Interior Bureau
of Reclamation.
1241
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0156 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: O solo é representado na construção civil como suporte para superestruturas ou como material para
obras de terra. Com o objetivo de conhecer o comportamento de um solo utilizado como material de aterro em
uma obra de um empreendimento comercial localizado na cidade de Caruaru-PE, este foi caracterizado através
de ensaios de laboratório, compreendendo ensaios de umidade natural, determinação da sua massa específica,
análise granulométrica, Limites de Atterberg, ensaio de dipersibilidade, compactação e resistência à
compressão simples, e posteriormente classificado de acordo com os sistemas mais usuais de classificação de
solos (Diagrama Textural, SUCS e TRB). Dentre os resultados obtidos, o solo apresentou umidade natural
baixa (3,43%), massa específica dos grãos de 2,55 g/cm³, umidade ótima de 12,5%, massa específica aparente
seca máxima de 1,89 g/cm³ e resistência à compressão simples de 171 kPa. Relacionando sua composição
granulométrica e os Limites de Atterberg, o solo classificou-se de acordo com o diagrama textural como uma
areia argilosa; de acordo com a carta de plasticidade (SUCS), este foi caracterizado como um argila inorgânica
de mediana plasticidade (CL) e, por fim, mediante a classificação TRB, o solo comportou-se como sendo da
classe A-2-7, apresentando características favoráveis à sua aplicação em campo.
ABSTRACT: The soil is represented in civil construction as support for superstructures or as material for land
works. In order to know the behavior of a soil used as landfill material in a work of a commercial enterprise
located in the city of Caruaru-PE, it was characterized through laboratory tests, comprising natural moisture
tests, determination of its specific mass, granulometric analysis, Atterberg Limits, dipersibility test,
compaction and unconfined compressive strength, and subsequently classified according to the most common
soil classification systems (Textural Diagram, SUCS and TRB). Among the results obtained, the soil had low
natural moisture (3.43%), grain specific gravity of 2.55 g / cm³, optimum moisture content of 12.5%, maximum
dry specific gravity of 1.89 g / cm³ and unconfined compressive strength of 171 kPa. Relating its granulometric
composition and the Atterberg Limits, the soil was classified according to the textural diagram as clayey sand;
according to the plasticity letter (SUCS), it was characterized as an inorganic clay with medium plasticity (CL)
and, finally, by means of the TRB classification, the soil behaved as class A-2-7, presenting characteristics
favorable to its application in the field.
1 Introdução
Os solos se formam por decomposição das rochas, as quais, por sua vez, apresentam-se próxima a
superfície da Terra, fraturadas e fragmentadas em razão da sua própria origem (esfriamento de lavas no caso
de rochas basálticas, por exemplo) ou em virtude de movimentos tectônicos (nos quartzitos, que são rochas
friáveis) ou ainda pela ação do meio ambiente (expansão e contração de térmica e outros) (MASSAD, 2016).
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Segundo Chiossi (2013), uma massa de solo é considerada como um conjunto de partículas sólidas
encerrando vazios ou interstícios de tamanho variado. Os vazios poderão estar preenchidos com ar ou com
água, ou parcialmente com ar e parcialmente com água.
Classificar corretamente o solo é uma tarefa complexa, porém necessária, pois através desta
classificação que se obtém parâmetros capazes de indicar se o material analisado possui propriedades
compatíveis a sua aplicação. A análise do solo para a engenharia tem como conceito prever a reação dos solos
e das rochas, decorrentes da ação do homem. Segundo Pinto (2006), o objetivo de classificação dos solos, sob
o ponto de vista da engenharia, é poder estimar o provável comportamento do solo, ou, pelo menos, orientar o
programa de investigação necessário para permitir a adequada analise de um problema. De acordo com Pinto
(2006), os diferentes solos usados em aplicações distintas na engenharia são agrupados naturalmente de acordo
com suas propriedades e, com isso, surgiram os sistemas de classificação de solos, que tem como objetivo
estimar o provável comportamento do solo ou ao menos orientar o programa de caracterização para que a
análise de um determinado problema seja coerente.
Visando a importância do tema, a finalidade deste trabalho é realizar a caracterização de um solo
utilizado para aterro em um empreendimento comercial em Caruaru – PE, através da realização de ensaios de
laboratório, posteriormente classificando-o e verificando suas características frente à sua aplicação.
O local de estudo deste trabalho compreende uma obra de um empreendimento comercial localizado no
município de Caruaru-PE, que faz parte da mesorregião do agreste do estado de Pernambuco. A área de estudo
localiza-se mais precisamente na Avenida João de Barros, Bairro Petrópolis, CEP 55030-280, com
coordenadas 8°17’44.72”S e 35°58’17.01”O (Figura 1), nas proximidades da Feira de Caruaru. O
empreendimento trata-se de um novo supermercado, cujo sistema construtivo compreende elementos pré-
moldados de concreto, com vedação em blocos de concreto e cobertura metálica e sistema de fundação
composto por sapatas isoladas. O programa de investigação do subsolo compreendeu a execução de oito furos
de sondagens (Figura 2) do tipo SPT, Standard Penetration Test, (SP-01; SP-01A; SP-02; SP-03; SP-03A; SP-
04 e SP-05) e seis furos de sondagem mista (SM-01; SM-02; SM-03; SM-04; SM-05 e SM-06) compreendendo
SPT e rotativa, esta última necessária devido ao terreno ser formado por maciço rochoso em profundidades
próximas à superfície.
A Figura 3 apresenta um boletim de sondagem representativo do terreno da área de estudo, que mostra,
até uma profundidade investigada de 4,37 m, a ocorrência de aterro arenoso de média compacidade e com
1243
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matéria orgânica na superfície, seguido de camadas de solos arenosos finos e médios e provável rocha de
coloração creme escura, típica da região. Além disso, foi verificado a presença de nível d’água próximo à
superfície (0,25 m). Devido às condições superficiais do terreno, e para concepção da obra, foi necessária a
regularização do terreno por meio da retirada de material original do local na porção superficial, além da
detonação de fragmentos rochosos que impossibilitaram a execução da fundação da edificação. Em seguida,
através dos serviços de terraplanagem, foi lançado uma camada de aterro composto por um solo (o qual será
caracterizado) com grau de empolamento de 1,5, cuja jazida (Figura 4a) está localizada no Bairro Auto do
Moura, também em Caruaru-PE, com coordenadas 8°18'18.57"S e 36° 1'54.14"O. o solo (Figura 4b) foi
disposto na área em questão em camadas de diferentes espessuras, posteriormente compactada em campo em
sua umidade ótima.
(a) (b)
Figura 4. (a) Jazida onde foi retirado o solo para aterro e (b) solo de aterro.
3 Material e Métodos
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auxílio de ferramentas manuais e posteriormente armazenada em sacolas plásticas e vedada para preservação
da umidade natural do solo, em quantidade necessária para realização dos ensaios previstos. Posteriormente, o
solo foi transportado para o laboratório onde foram realizados os ensaios.
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4 Resultados e Análises
4.1 Umidade Natural
Ao analisar a amostra ensaiada de acordo com o previsto, obteve-se como resultado o valor de 3,43%,
configurando como uma amostra seca.
1246
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AREIA
ARGILA SILTE PEDREGULHO
FINA MÉDIA GROSSA
PORCENTAGEM QUE PASSA (%)
100,0
90,0
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0 Solo
10,0
0,0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
DIÂMETRO DOS GRÃOS (mm) log
Figura 5. Curva de composição granulométrica do solo.
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sua massa específica aparente seca máxima, o que de fato, é favorável para a sua aplicação em obras de aterro,
pois necessita-se de consumo de água menor se comparado com solos de características mais finas.
2,00
Massa Específica aparente Seca
1,90
Solo
1,80
(g/cm³)
1,70
1,60
1,50
1,40
W
0 2 4 6 8 10 12opt 14 16 18 20 22 24 26
Teor de Umidade (%)
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5 Conclusão
De acordo com as investigações feitas, algumas conclusões foram desenvolvidas sobre o material.
Considerando as condições de campo, este atinge a sua massa especifica aparente seca máxima com pequenas
quantidades de água (12,5%); sua resistência à compressão simples apresentou valor de 171 kPa, resistência
considerável e dentro do esperado, visto que o mesmo não passou por nenhum processo de melhoramento
químico (apenas mecânico, com a compactação), para apresentar resistências superiores a esta. De acordo com
a carta de plasticidade de Casagrande, o solo classificou-se como uma argila inorgânica de média plasticidade
(CL). O solo também foi classificado como uma areia argilosa, segundo o Diagrama Trilinear Textural. Através
da classificação TRB/AASHTO, o solo é configurado na classe A-2-7. Neste cenário, o referido trabalho possui
dados que possibilitam a ampliação do conhecimento a respeito dos solos, possibilitando, posteriormente, que
estas informações sejam utilizadas para fins práticos na região.
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Paulo: Oficina de Textos.
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0157 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Barragens de rejeitos são estruturas de contenção que armazenam materiais sem valor econômico
provenientes dos processos de mineração. Devido aos relevantes danos ambientais que esses resíduos podem
causar, existe um alto risco associado a essa estrutura, e a necessidade de que sua estabilidade seja garantida
ao longo prazo. Neste contexto, este trabalho objetivou analisar os três métodos construtivos de barragens de
rejeitos – à montante, à jusante e linha de centro - em modelos representativos definidos para o estudo.
Foram analisadas quais as características que se diferenciam entre os métodos construtivos, quando em
conformidade com os critérios de estabilidade física da NBR 13028:2017, realizando-se simulações nos
softwares SEEP/W e SLOPE/W, visando simular o fluxo da água e as superfícies críticas de ruptura para
cada modelo de barragem. Através das análises e comparações entre os três métodos construtivos, a
barragem alteada à montante apresentou-se como melhor alternativa, embora seja o principal modelo
suscetível a rupturas. Dessa forma, verificou-se que além de analisar a estabilidade física através do fator de
segurança, deve-se também levar em consideração que os materiais presentes na barragem estão sujeitos a
incertezas como o fenômeno da liquefação, além da variabilidade existente nas propriedades dos rejeitos, a
qual não é considerada em análises determinísticas convencionais.
ABSTRACT: Tailings dams are containment structures that store materials with no economic value from
mining processes. Due to the relevant environmental damage that these residues can cause, there is a high
risk associated with this structure, and the need for its stability to be guaranteed over the long term. In this
context, this work aimed to analyze the three construction methods of tailings dams - upstream, downstream
and center line - in representative models that were defined for this study. The characteristics that differ
between the construction methods were analyzed, when in compliance with the criteria of physical stability
of NBR 13028: 2017, carrying out simulations in the SEEP/W and SLOPE/W software, aiming to simulate
the water flow and the critical rupture surfaces for each dam model. Through the analyzes and comparisons
between the three construction methods, the dam raised upstream presented itself as the best alternative,
although it is the main model susceptible to ruptures. Thus, it was found that in addition to analyzing
physical stability through the safety factor, it should also be taken into account that the materials present in
the dam are subject to uncertainties such as the liquefaction phenomenon, in addition to the existing
variability in the properties of the tailings, which is not considered in conventional deterministic analyzes.
KEYWORDS: Mining Tailings, Mining Tailings, Dam Safety, Slope Stability Analysis.
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1 Introdução
Barragens de rejeitos muitas vezes utilizam o próprio rejeito no seu processo construtivo, o que
acontece principalmente em barragens construídas pelo método de alteamento à montante. Além deste,
existem outros dois métodos construtivos, chamados de método de alteamento à jusante e método da linha de
centro (ESPÓSITO, 2000).
O método de alteamento à montante acaba sendo o mais utilizado pelas mineradoras, pois é
considerado o mais econômico, mais simples, e o que requer menor espaço físico (LAZARIM, 2015).
Porém, a utilização do mesmo é desaconselhada pelo fato dos seus alteamentos serem construídos sobre o
rejeito armazenado na barragem, considerado um material pouco consolidado, além de apresentar
dificuldades na implantação de um sistema de drenagem, o qual possui grande importância na estabilidade de
uma barragem, auxiliando no controle do fluxo interno da água (FILHO, 2004).
Segundo a Agência Nacional de Mineração (ANM), o número de acidentes que envolvem esses tipos
de barragem vem crescendo. Nos últimos cinco anos, ocorreram dois grandes acidentes no Brasil com
barragens construídas por este método, sendo eles nas cidades de Mariana e Brumadinho, ambas no estado
de Minas Gerais, causando danos na economia, sociedade e fauna e flora das regiões.
Os requisitos para a elaboração de projetos de barragens de rejeitos, visando a prevenção de acidentes,
são tratados pela NBR 13028:2017, a qual apresenta coeficientes de segurança que devem ser respeitados, ao
realizar análises de estabilidade de taludes determinísticas.
Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é analisar comparativamente a estabilidade à ruptura de
barragens de rejeitos construídas pelos três diferentes métodos, a fim de encontrar características geométricas
que as tornem seguras segundo o critério de estabilidade física para barragens de rejeitos, e possibilitem uma
maior compreensão sobre os processos de ruptura que podem ocorrer neste tipo de estrutura.
2 Fundamentação Teórica
As barragens de rejeitos são inicialmente construídas com um dique de partida constituído de solo
compactado e os alteamentos posteriores podem ser construídos com material de empréstimo, estéreis ou
deposição hidráulica de rejeitos (VICK, 1983 apud SABBO; ASSIS; BERTERQUINI, 2017).
Antes do rejeito ser transportado para seu destino final, pode ocorrer a separação entre as partículas
finas e as mais grossas. Os materiais mais grossos poderão ser utilizados para construir o maciço e os
alteamentos da barragem, e a fração mais fina será destinada para dentro dela. Após a descarga da lama para
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dentro da barragem, as partículas maiores irão se depositar próximas à contenção formando a praia de
rejeitos e as menores seguem para o lado oposto, formando a lagoa de decantação (SOARES, 2010).
1252
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Rafael (2012) trabalhou em uma análise do potencial de liquefação de uma barragem de rejeito
estática ou dinâmica alteada à montante, com o auxílio do método empírico de Olson (2001). Foram
realizados três alteamentos, construídos com o próprio rejeito, além do dique de partida. As características
utilizadas na sua análise foram obtidas através de ensaios de compressão triaxial, realizados pelo próprio
autor. Como resultado, o mesmo obteve que a ocorrência de liquefação estática está descartada da estrutura,
sendo assim, são dispensáveis investigações posteriores sobre o comportamento do rejeito pós-liquefeito.
Araujo (2006) realizou seu trabalho a fim de contribuir para o estudo do comportamento de barragens
de rejeito de mineração de ferro. Primeiramente, estudou a percolação da água na barragem base, analisando
a influência do sistema de drenagem e concluindo que, quando existente, diminui a poropressão no talude de
jusante da barragem. Em seguida, obteve o deslocamento da água dentro da barragem, tendo assim, o fluxo
interno da água presente, e por fim, realizou a análise de estabilidade física na estrutura, utilizando três
diferentes métodos, indicando que a barragem em estudo se encontra em estado satisfatório de estabilidade.
3 Materiais e Métodos
Em relação aos parâmetros geotécnicos, foram adotados os valores de coesão (𝑐) e ângulo de atrito (ϕ)
dos materiais estudados por Rafael (2012), além dos pesos específicos (γ) e permeabilidades, pelo fato do
rejeito apresentar-se em estado compactado e disposto. Nos exemplos de aplicação, o rejeito compactado foi
utilizado para compor os alteamentos do método à montante, enquanto os métodos à jusante e linha de centro
tiveram seus alteamentos constituídos de solo compactado. O rejeito disposto compôs o material armazenado
nas barragens dos três diferentes métodos. O Quadro 2 apresenta os valores desses parâmetros.
COEFICIENTE DE
MATERIAL γ (kN/m³) c (kPa) ϕ (°)
PERMEABILIDADE (m/s)
SOLO COMPACTADO 21 20 36 5,8.10⁻⁶
REJEITO DISPOSTO 24 0 32 3,0.10⁻⁵
REJEITO COMPACTADO 24 0 36 3,5.10⁻⁷
Quadro 2. Parâmetros geotécnicos adotados nos modelos dos três métodos construtivos.
Para o modelo representativo de estudo da barragem alteada à montante considerou-se que a mesma
possui um tapete drenante sob o dique de partida, o qual drenará a água presente na lama internamente à
barragem, visto a dificuldade de implantação de um sistema de drenagem interno.
Já no modelo à jusante, para que ocorra a drenagem da barragem considerou-se um sistema interno, o
qual possui uma parte horizontal apoiada na fundação, uma vertical, internamente ao dique de partida, e
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outra inclinada, acompanhando os alteamentos conforme são construídos. Dessa mesma maneira, na
barragem alteada por linha de centro, considerou-se um sistema interno de drenagem composto por uma
parte horizontal e outra vertical, o qual também tem sua instalação conforme os alteamentos são construídos.
A água presente no interior do reservatório junto à lama tende a buscar um caminho livre para se
deslocar para fora da contenção. Visando encontrar este caminho em cada modelo de estudo, contou-se com
o auxílio da versão estudantil gratuita do software SEEP/W, da GeoStudio. Por meio dele, as barragens
foram modeladas conforme as características descritas no Item 3.1 referentes à permeabilidade dos materiais
e as condições de contorno para a análise de fluxo foram definidas, de forma a representar uma situação real.
3.2.1.1 Análise de Fluxo Nos Modelos de Estudo Para os Três Métodos Construtivos
As condições de contorno de entrada da água nos três modelos de estudos foram realizadas da mesma
forma, adotando-se o nível da água presente no reservatório como a cota máxima da barragem. Sendo assim,
considerou-se a energia total do fluido, ou carga total, igual a carga altimétrica de 85m, sendo essa a altura
final da barragem, à 100m de distância do alteamento mais alto, distância esta da praia de rejeitos.
Para o modelo de barragem alteada à montante, a condição de contorno de saída da água foi aplicada
na parte inferior do dique de partida onde está localizado o tapete drenante. A carga total, considerada como
a carga piezométrica, é nula por se tratar de um dreno, adicionada a carga altimétrica, também nula em
relação à fundação da barragem.
Nos modelos à jusante e linha de centro, a condição de contorno de saída da água encontra-se no
sistema interno de drenagem, considerando-se a carga total igual a soma das cargas altimétrica e
piezométrica, sendo a piezométrica nula por se tratar de uma região de drenos.
Para a verificação da superfície crítica de ruptura dos taludes dos três métodos construtivos, analisou-
se a estabilidade dos taludes das barragens através do método determinístico de Bishop Simplificado, com o
auxílio da versão estudantil gratuita do software SLOPE/W da GeoStudio. Foram variadas as geometrias dos
alteamentos das barragens de cada modelo, partindo das características iniciais adotadas no Item 3.1.
Devido a barragem alteada à montante possuir seus alteamentos construídos para dentro da contenção,
foi necessário tornar o talude final da barragem mais abatido que o adotado inicialmente. Para que isso fosse
possível, variou-se a largura da crista de cada alteamento, em medidas de 1m, até que o fator de segurança
mínimo correspondente a 1,5 fosse atingido.
Nos modelos alteados à jusante e linha de centro, para atingir este fator de segurança, mantiveram-se
as dimensões das cristas dos alteamentos e variou-se a inclinação apenas do talude do último alteamento para
fora da barragem, o que consequentemente alterou a inclinação final da barragem. Assim, as inclinações
variaram iniciando em 1V:1,5H, em seguida 1V:1,51H, 1V:1,52H e assim por diante até encontrar a
inclinação necessária que garantisse a estabilidade.
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A partir dos resultados e geometrias finais encontradas nas análises de estabilidade dos três métodos
construtivos, montou-se o Quadro 3. Este, apresenta também o volume de material compactado calculado
por metro de comprimento da barragem que seria utilizado caso as mesmas fossem executadas.
Ao analisar os valores do Quadro 3, verifica-se que os modelos alteados à jusante e linha de centro
possuem seus fatores de segurança iguais, enquanto o volume de material utilizado na construção da
barragem alteada à jusante é aproximadamente 60% maior que o volume utilizado na barragem alteada por
linha de centro, concluindo que economicamente, em questão de tempo e volume de material, a utilização do
método de alteamento por linha de centro se sobressai.
Contudo, ao se comparar os três métodos construtivos, levando-se em consideração que todos
respeitam o fator de segurança mínimo e encontram-se estáveis para a verificação à ruptura dos taludes
conforme a NBR 13028:2017, o método à montante se destaca, visto que utiliza menor quantidade de solo
compactado, além de aproveitar o rejeito para a construção dos seus alteamentos, fazendo com que seu custo
final seja reduzido quando comparado aos demais métodos de construção. Porém, este tipo de barragem é o
responsável por diversos casos de ruptura, como os exemplos descritos na Introdução deste trabalho.
Assim, verifica-se a necessidade da investigação de outras possíveis causas para essas rupturas, e
dentre elas pode-se citar o fenômeno da liquefação e a incerteza nos parâmetros adotados para as análises
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determinísticas, as quais utilizam valores médios, e, dadas as diferentes composições dos solos e
principalmente dos rejeitos, esses dados podem não ser os mais representativos.
O fato de que as barragens destinadas à contenção de rejeitos são construídas ao longo de vários anos,
torna-se um desafio no controle do processo construtivo, visto que o material usado pode sofrer variações, da
mesma forma que a mão de obra pode variar com o passar do tempo, o que também altera as características
destes materiais.
Além disso, de acordo com os processos construtivos, barragens alteadas à montante, nas quais o
rejeito é utilizado na construção do maciço, sendo apenas depositado e não compactado tendem a apresentar
maior variabilidade em suas características, uma vez que o processo de compactação é controlado e
verificado, reduzindo a quantidade de vazios, tornando o material mais denso e homogêneo. Isso acaba por
diminuir a variabilidade dos parâmetros de coesão e ângulo de atrito, e, com isso, as incertezas quanto às
propriedades do material. Nesse sentido, barragens alteadas à jusante e por linha de centro, por serem
construídas com material compactado, apresentam menor variabilidade e consequentemente, maior
confiabilidade nos valores médios das propriedades consideradas.
Através de uma curva gaussiana, é possível descrever os erros experimentais que podem surgir, por
exemplo, devido às variações citadas acima. Essa distribuição normal é perfeitamente simétrica e se baseia
nos parâmetros de média e desvio padrão que determinam uma amostra. Em situações que possuem uma
grande incerteza como é o caso das barragens construídas de rejeito, o desvio padrão é maior se comparado
às barragens alteadas com solo compactado, sendo também maior, a probabilidade de instabilidades na
estrutura.
Em um estudo de probabilidade de ruptura, a margem de segurança corresponde à diferença entre a
resistência disponível do material (R) e a carga solicitante a qual o sistema é exposto (S), conforme
representado na Figura 5.
Ao se considerar valores médios para a resistência disponível e carga solicitante, espera-se que a
tensão resistente do material supere a carga que atua. Quando a variabilidade do material é grande,
observando-se a Figura 5, pode haver uma situação em que elas se igualam, representado pelo ponto C, ou
um momento em que a carga que atua é maior que a resistente, configurando-se uma possível ruptura.
Constata-se então, que a consideração de parâmetros médios pode levar a incertezas na análise de
estabilidade. Dessa forma, a análise que define e considera o fator de segurança igual a 1,5 para a verificação
da estabilidade das barragens não é suficiente para classificá-la como estável, sendo necessário levar em
consideração também, a probabilidade do risco e de uma possível falha ocorrer, a partir de análises
probabilísticas.
5 Considerações Finais
Verificou-se que para a análise do fator de segurança, todos os métodos podem ser estáveis, desde que
sejam construídos com suas particularidades necessárias, diferenciando-se na geometria e quantidade de
material utilizado na construção. A partir disso, verificou-se que o método construtivo de alteamento à
montante é o mais vantajoso dentre os três, uma vez que utiliza em sua maioria rejeito compactado,
diminuindo o custo e aproveitando para a construção o material que seria descartado.
Devido à grande quantidade de acidentes por ruptura de barragens de rejeitos, principalmente as
construídas por este método, este trabalho também mostrou que somente as análises de fator de segurança
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são insuficientes para classificar uma barragem como estável, visto que, o fator de segurança encontrado é
satisfatório, mas a barragem ainda sofre com instabilidades. Além disso, as barragens alteadas à montante
estão sujeitas a incertezas maiores quando comparadas às barragens alteadas à jusante e por linha de centro.
Dessa forma, considera-se imprescindível que sejam feitas análises complementares, como as análises
de suscetibilidade do rejeito à liquefação e também probabilísticas, que levem em consideração a
variabilidade dos parâmetros envolvidos, sugerindo-se para trabalhos futuros o desenvolvimento dessas
análises, além de análises tensão deformação e que indiquem o potencial de liquefação dos materiais
considerados.
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1257
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0158 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Neste artigo analisa-se a estabilidade de taludes reforçados com estacas considerando a
variabilidade dos parâmetros da geometria (comprimento e espaçamento) e posição das estacas, no intuito de
avaliar o comportamento e a variação do fator de segurança com a implementação desse reforço em diferentes
situações. Para tanto, foram empregadas ferramentas computacionais nas análises, por meio dos softwares
Slide e RSpile, que utilizam como base o método do equilíbrio limite para verificar a estabilidade de talude e
as curvas p-y para análise das estacas, respectivamente. Ao modelar a introdução de estacas no talude, notou-
se que esta prática aumenta a estabilidade do mesmo, além de se apresentar como uma alternativa tecnicamente
viável para que o talude atinja um fator de segurança normativamente adequado . Verificou-se ainda que a
localização ótima para a estaca nos casos analisados situa-se próxima a cristã do talude e que quanto maior o
espaçamento entre estacas, menor o efeito para melhoria da estabilidade do talude. Conclui-se que quanto
maior o comprimento da estaca, maior a estabilidade do talude, porém, neste caso, a partir dos 10 m de
comprimento, o aumento do fator de segurança foi pouco significativo.
ABSTRACT: This article analyzes the stability of pile-reinforced slopes considering the variability of the
geometry parameters (length and spacing) and pile position, in order to evaluate the behavior and safety factor
variation with the implementation of this reinforcement in different situations. With this aim, computational
tools were employed in the analyzes, by the use of Slide and RSpile software, which use the limit equilibrium
method to verify slope stability and p-y curves for pile analysis, respectively. When modeling the introduction
of piles in the slope, it was noted that this practice increases the stability of the slope, and presents itself as a
technically viable alternative for the slope to reach a normatively adequate safety factor. It was also observed
that the optimal location for the pile in the analyzed cases is close to the crest slope and that the greater the
spacing between piles, the less the effect in the improvement of the slope’s stability. It is concluded that the
longer the pile length, the greater the slope stability, however, in this case, from 10 m of length, the increase
in the safety factor was not very relevant.
KEYWORDS: Reinforced slope, piles as reinforcement element, horizontal effort, slope stability.
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1 Introdução
O reforço de taludes com estacas é uma técnica utilizada a décadas e mostra ser uma solução eficiente
para o problema de encostas instáveis e com perigo de deslizamentos. O dimensionamento destas estruturas
deve satisfazer a estabilidade interna representada pela resistência ao momento fletor e deflexão da estaca e
ainda garantir a estabilidade global do talude. A interação entre estaca e solo e o comportamento do sistema é
influenciado por vários fatores, tais como as características da estaca e os parâmetros do solo, o que aumenta
a complexidade para entendimento do fenômeno. As causas que têm levado à ruptura de talude possuem
diversas origens, tais como: pluviosidade, inclinação excessiva do talude e as construções a montante do talude
que geram sobrecargas.
O Método do Equilíbrio Limite é amplamente utilizado para o projeto deste tipo de reforço, no qual o
efeito das estacas é considerado como uma força aplicada contra o empuxo ativo. Neste artigo, primeiramente
foi definida uma geometria ao talude em que o fator de segurança (FS) para esta situação fosse deficitário
(1<FS<1,5). Em seguida, foram analisadas diversas situações variando-se a posição do reforço e as
características geométricas da estaca. Dessa forma, foi possível avaliar o efeito da inserção do reforço no fator
de segurança do talude, ou seja, na estabilidade global do talude.
2 Curvas p-y
Segundo Reese, Van Impe e Holtz (2002), o dimensionamento de uma estaca ou grupo de estacas
submetido à forças laterais exige uma análise diferencial não linear que pode ser solucionada através de
métodos numéricos. O problema envolve a interação entre a estaca e o solo pois a resistência do solo depende
do deslocamento horizontal da estaca (Figura 1). Neste modelo, a estaca é considerada como um elemento
livre e o solo é simulado como uma série de molas de Winkler. Ao sofrer um deslocamento (y), o solo responde
com uma resistência (p), conforme Figura 2, em que o módulo de elasticidade (Epy) é dado pela inclinação da
reta secante no gráfico da curva p-y.
Figura 1. Distribuição de tensões em uma estaca submetida a esforços horizontais. (Reese, Van Impe e Holtz,
2002)
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Figura 2. Típica curva p-y. (Adaptado de Reese, Van Impe e Holtz, 2002).
De acordo com Welch e Reese (1972), para solos argilosos sem presença de lençol freático como no
caso deste artigo, a resistência última do solo (pult) pode ser calculada como o menor valor entre os resultados
das equações (1) e (2)
' J (1)
pult = (3+ z + z ) ca b
ca b
(2)
pult =9 cu b
Em que:
γ’ é o peso específico efetivo [kN/m³];
z é a profundidade [m];
ca é a força cisalhante não drenada média até a profundidade z [kPa];
J é um fator determinado experimentalmente por Matlock que vale 0,5;
b é o diâmetro da estaca [m];
cu é a força cisalhante não drenada na profundidade z [kPa];
Os efeitos do reforço do talude com estacas variam de acordo com o espaçamento, profundidade e posição
das estacas. Ito e Matsui, (1975) propuseram um método para a análise da força lateral que age nestas estacas
em função das características do solo, diâmetro e espaçamento das estacas e concluíram que, nos casos de
solos coesivos, a força de resistência do solo (p) é indicada pela equação (3).
D D − D2
p( z ) = c D1 (3log 1 + 1 tan ) − 2( D1 − D2 ) + z ( D1 − D2 ) (3)
D2 D2 8
Em que:
c é a coesão do solo;
D1 é a distância entre eixos das estacas;
D2 é a distância entre estacas;
γ é o peso específico do solo e
z é a profundidade referenciada a partir da superfície.
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Para o sistema talude com estacas, o fator de segurança é definido conforme equações (4) e (5). A parcela
do momento referente a resistência da estaca pode ser obtida ao multiplicar-se a resistência obtida através da
equação (3) pelo raio da superfície de ruptura.
Resistência ao cisalhamento
F= (5)
Força de cisalhamento requerida para equilíbrio - Resistência do reforço
A geometria inicialmente adotada para o talude com inclinação 1:1,5 (H:V), resultou em um fator de
segurança deficitário (FS=1,2), ou seja, conisdera-se o talude estável pois o fator de segurança é maior que 1,
porém em desacordo com a ABNT NBR 11682:2009, que estabelece um valor mínimo de 1,5 para este fator
(Figura 3). O maciço do talude é constituído por um solo argiloso com peso específico de 16 kN/m³, coesão
de 23 kPa e ângulo de atrito de 15º. Nestas circunstâncias, o fator de segurança pelo Método de Fellenius é
1,204.
Em seguida, para reforçar o talude foram introduzidas estacas com 50 cm de diâmetro, variando-se os
parâmetros geométricos (Figura 4). O comprimento das estacas (L) variaram de 3 a 20 m; as espaçamento
entre eixos de estaca (D1) analisadas foram de 2, 3, 4 e 5 vezes o diâmetro da estaca e as distâncias medidas
a partir do pé do talude (X) analisadas foram de 3,4 m, 4 m, 5 m, 6 m e na crista do talude a 6,67 m. O Método
utilizado foi o de Bishop e a zona ativa foi dividida em 10 lamelas.
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5 Resultados e análises
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Os fatores de segurança calculados pelo Método de Bishop para uma estaca com diâmetro de 0,5m e
comprimento de 10 m em função do espaçamento entre estacas e posicionamento no talude são apresentados
na Figura 6. Observa-se que, nestas condições, o aumento do espaçamento das estacas diminuiu em 10% o
fator de segurança. Ou seja, verificou-se um aumento do fator de segurança com a diminuição do espaçamento
entre estacas. Isto pode ser compreendido por meio da equação (3), em que a distância entre estacas (D2)
aparece como denominador da função que define a força exercida pelo solo na estaca (p). Como esta força
contribui para aumentar os momentos resistentes, era esperado que o fator de segurança diminuísse com o
aumento do espaçamento entre estacas.
A distância da estaca até o pé do talude está representada como X na Figura 4. Observa-se que, para
estacas com espaçamento entre eixos igual 2 e 3 vezes o diâmetro da estaca, uma estaca próxima a crista do
talude (distância do pé do talude = 6) resulta em melhor estabilidade, porém o fator de segurança sofre uma
diminuição quando a estaca é posicionada exatamente na crista do talude. Essa constatação também foi
anteriormente verificada por Cai e Ugai (2000), Zhang e Wang (2017), Hassiotis et al. (1997), Ausilio et al.
(2001) e Ito T, Matsui T (1979). Já para estacas com espaçamento (D1) entre eixos de 4 e 5 vezes o diâmetro,
quanto mais próxima da crista do talude, menor a estabilidade.
Figura 7a. Superfície crítica de ruptur a X=6 m Figura 7b. Superfície crítica de ruptura X=6,67 m
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Com base nos resultados acima, foi escolhida a situação com melhor custo benefício dentre as quais o
fator de segurança obtido foi próximo a 1,5. A distância do pé do talude escolhida foi 6 m pois esta se mostrou
a distância ótima pelas análises realizadas. Optou-se por um espaçamento de 2 vezes o diâmetro da estaca pois
foi o diâmetro dentre os analisados que resultou em maior fator de seguraça e um comprimento de 15 m.
6 Conclusão
Pelas análises realizadas neste artigo, pode-se concluir que quanto maior o comprimento da estaca de
reforço, maior a estabilidade do talude, porém a partir de 10 m de comprimento, para este caso, o FS não
apresenta aumento significativo. Outro aspecto a se destacar é que quanto maior o espaçamento entre estacas,
menor a efetividade do reforço. Observou-se também que, quando analisamos a posição das estacas no talude
pelos Métodos de Equilíbrio Limite, a posição do reforço tem seu efeito otimizado próximo a crista do talude,
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porém não exatamente nela. Conclui-se ainda que os esforços máximos na estaca estão localizados na
profundidade onde a estrutura intercepta a linha de ruptura
AGRADECIMENTOS
Agradece-se à Universidade Federal de Uberlândia pela aquisição das licenças dos softwares utilizados
nesta trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ausilio, E.; Conte, E.; Dente, G. (2001). Stability Analysis of Slopes Reinforced With Piles. Computers and
Geotechnics, v. 28, n. 8, p. 591–611.
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Hassiotis, S.; Chameau, J.; Gunaratne, M. (1997). Design method for stabilization of slopes with piles. Journal
of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering.
Ito T, Matsui T, H. (1979). Design method for the stability analysis of the slope with landingpier. Soils and
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Ito, T.; Matsui, T. (1975) Methods to estimate lateral force acting on stabilizing piles. In: Soils and
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Reese, L.; Van Impe, W.; Holtz, R. (2002) Single Piles and Pile Groups Under Lateral Loading.
Welch, R.; Reese, L. (1972). Lateral Load Behavior of Drilled Shafts. Research Report Number 89-10 - The
Texas Highway Department, n.89, p.1–231, Disponível em:
<https://library.ctr.utexas.edu/digitized/texasarchive/phase1/89-10-chr.pdf>.
Zhang, G.; Wang, L. (2017). Simplified Evaluation on the Stability Level of Pile-reinforced Slopes. Soils and
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<http://dx.doi.org/10.1016/j.sandf.2017.03.009>.
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0159 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: A cidade de Formosa/Goiás/Brasil apresenta em sua área urbana um pavimento precário, com
surgimento prematuro e recorrente de patologias. Em contrapartida, nos arredores da cidade se encontra o Forte
Santa Bárbara, uma área militar que apresenta um pavimento de qualidade, com pouco surgimento de
patologias e grande qualidade de rodagem. Em se tratando de obras de pavimentação, o exército brasileiro é
tido como uma referência nacional. O presente estudo é resultado da análise de uma obra de pavimentação
executada pelo Exército Brasileiro, no Forte Santa Bárbara. A obra em questão utiliza a tecnologia de
pavimento flexível com camada de revestimento do tipo concreto asfáltico. A obra foi executada pelo 2º
Batalhão Ferroviário (Batalhão Mauá) sobre acompanhamento da comissão regional de obras da 11° região
militar (CRO-11). Na execução foram seguidos os padrões de qualidade do exército brasileiro, que é
especialista em construção de rodovias e ferrovias a mais de oito décadas. Foram analisados os parâmetros
técnicos e executivos utilizados, traçando um comparativo com pavimentos de mesma natureza executados na
cidade de Formosa e as prescrições das normas nacionais. Confirmando a qualidade do pavimento, são
elencados os motivos técnicos que fazem o Forte Santa Bárbara se sobressair em relação ao pavimento
executado na área urbana da cidade.
ABSTRACT: The city of Formosa/Goiás/Brazil presents in its urban area a precarious pavement, with
premature and and pathologies often appear. On the other side, in the outskirts of the city is Fort Santa Bárbara,
a military area that has a quality pavement, with little emergence of pathologies and high quality of road. When
it comes to paving works, the Brazilian army is consider a national reference. The present study is the result
of the analysis of a paving work carried out by the Brazilian Army at Fort Santa Bárbara. The work in question
uses flexible paving technology with asphalt concrete coating layer. The work was carried out by the second
Railway Battalion (Batalhão Mauá) under the supervision of the regional works commission of the 11th
military region (CRO-11). In the execution were followed the quality standards of the Brazilian army, which
specializes in construction of highways and railways for over eight decades. We analyzed the technical and
executive parameters used, drawing a comparison with pavements of the same nature executed in the city of
Formosa and the prescriptions of national standards. To Confirme the quality of the pavement, the technical
reasons that make Forte Santa Bárbara stand out in relation to the pavement executed in the urban area of the
city are listed.
1 Introdução
O município de Formosa, um dos 236 municípios do estado de Goiás, tem uma população de
aproximadamente 110 mil habitantes, distribuídos em uma área de aproximadamente 6 mil quilômetros
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quadrados, o que resulta numa densidade demográfica de aproximadamente 17 habitantes por quilômetro
quadrado . A cidade apresenta pavimentos precários em sua área urbana, com surgimento prematuro e
recorrente de patologias. Em contrapartida, nos arredores da cidade se encontra o Forte Santa Bárbara, uma
área militar que apresenta um pavimento de qualidade, com pouco surgimento de patologias e grande serventia,
proporcionando elevado conforto ao rolamento. Nesse sentido, o presente estudo é resultado da análise da obra
de pavimentação executada pelo Exército Brasileiro no Forte Santa Bárbara. Na obra em questão se utilizou a
tecnologia de pavimento flexível com camada de revestimento flexível do tipo concreto asfáltico, tendo sido a
mesma executada pelo 2º Batalhão Ferroviário (Batalhão Mauá) sob acompanhamento da Comissão Regional
de Obras da 11° Região Militar (CRO-11).
Segundo o livro Pavimentação Asfáltica: Formação básica para engenheiros, da ABEDA (2006), o
revestimento de um pavimento asfáltico é constituído por agregados e ligantes. É a camada que recebe
diretamente as cargas de rolamento e transmite às camadas inferiores. A técnica utilizada para união dos
agregados e ligantes foi por mistura.
Na execução da obra foram seguidos os padrões de qualidade do exército brasileiro, que é conhecido
nacionalmente no ramo da engenharia por possuir expertise em obras de infraestrutura há mais de oito décadas,
sobretudo na construção de rodovias e ferrovias.
A metodologia empregada consiste na avaliação qualitativa da serventia do pavimento em questão,
comparando-se os resultados obtidos com os constantes em trabalhos anteriores para a área urbana da cidade,
bem como na avaliação do processo de execução do revestimento, onde foram analisados os parâmetros
técnicos e executivos utilizados, traçando um comparativo com pavimentos de mesma natureza executados na
área urbana da cidade e as prescrições das normas nacionais.
A partir da análise realizada foi possível confirmar a qualidade do pavimento, além de elencar os
principais fatores técnicos que fazem o pavimento do Forte Santa Bárbara apresentar características superiores
às do pavimento executado na área urbana da cidade.
Os resultados obtidos têm como base os levantamentos visuais realizados que, através das definições
dos Valores de Serventia Atual (VSA) de acordo com as normativas vigentes, indicaram vias com conceitos
entre ruim e péssimo para a área urbana da cidade de Formosa, enquanto que os resultados obtidos para o
pavimento do Forte Santa Bárbara apresentaram vias com conceitos entre bom e ótimo.
Os estudos realizados por Pelisson et al. (2015) constataram que, independente das conformações das
camadas subjacentes, a espessura do revestimento foi o parâmetro de maior influência no surgimento de
defeitos permanentes, principalmente no que se refere às trincas. No Brasil, ainda segundo os autores, tem-se
ignorado todas as evidências relacionadas à importância da espessura do revestimento asfáltico, com a adoção
de valores que, se por um lado representam alguma economia na construção, por outro resultam em custos
elevados de manutenção e reabilitação.
Nesse sentido, as análises e comparações aqui realizadas restringem-se aos revestimentos dos
pavimentos analisados.
1 Materiais e Métodos
Ainda que a deterioração do pavimento esteja diretamente ligada à funcionalidade de todas as suas
camadas constituintes, do ponto de vista do usuário final da via, o estado do revestimento é o ponto de maior
importância, tendo em vista que os defeitos e irregularidades existentes nessa camada são mais facilmente
observados pelos usuários, pois afeta negativamente o conforto ao rolamento.
Assim, neste trabalho, além da descrição da metodologia construtiva adotada pelo Exército Brasileiro na obra
de pavimentação do Forte Santa Bárbara, realizou-se a análise subjetiva da superfície do mesmo.
A metodologia empregada na avaliação dos pavimentos foi a atinente às normas DNIT (2003a; 2003b),
que consiste em avaliar a superfície do pavimento realizando o levantamento visual contínuo no trecho
estudado. Tal avaliação, como citado anteriormente, é preconizada pela norma DNIT (2003b) e consiste na
avaliação subjetiva da superfície dos pavimentos.
A metodologia para a avaliação subjetiva dos pavimentos asfálticos brasileira foi adaptada da
metodologia desenvolvida pela American Association of State Highway and Transportation Officials
1267
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(AASHTO), para a determinação do VSA. O VSA é a medida subjetiva das condições da superfície de um
pavimento no que diz respeito à capacidade do pavimento de atender às exigências do tráfego, no momento da
avaliação, quanto à suavidade e ao conforto, para quaisquer condições de tráfego. (DNIT, 2003b; 2006).
A comparação realizada entre os resultados obtidos para o Forte Santa Bárbara e a área urbana da cidade
de Formosa teve como base os resultados apresentados por Caixêta e Feitoza (2016).
O processo executivo do revestimento pavimento do Forte Santa Bárbara tem início com uma limpeza
cuidadosa. Essa limpeza pode ser observada na figura 1.
Passado a imprimação, é medida a temperatura da massa asfáltica a ser empregada. Estando a massa na
temperatura adequada, se dá início a aplicação, sendo feito o acompanhamento da temperatura após o
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Após aplicação da massa é feito uma correção de falhas e compactação com o uso de rolos pneumáticos.
As figura 5 e 6 mostram como são feitas as correções e a compactação.
.
Figura 5. Correção de falhas.
1269
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Terminada a compactação, as vias são isoladas para uma adequada cura e assentamento da massa. Após
passado o período de isolamento o revestimento se encontra pronto e apto a ser utilizado.
3 Resultados e Discussão
Quanto aos parâmetros técnicos e materiais empregados, verificou-se que o 2º Batalhão Ferroviário
seguiu dentro da margem que permite as normas do DNIT. A execução do serviço foi programada para o
período de estiagem, uma vez que não é permitida qualquer tipo de atividade em dias chuvosos. Além disso,
devido à imprimação ter sido executadas dias antes, a equipe reforçou a camada de ligação após uma minuciosa
limpeza, removendo pedregulhos e outras sujeiras da superfície.
A temperatura da mistura asfáltica também foi devidamente controlada. Conforme pode-se verificar na
figura 3, a temperatura de lançamento foi de em média 115°C, valor dentro do intervalo de 107-177°C, disposto
no item 5.4.2 da norma DNIT 031/2006 - ES.
Para a determinação dos Valores de Serventia Atuais foram considerados os trechos apresentados na
figura 7. Foi utilizado o site Google Maps (2018) para a captura da figura:
Os autores preencheram as fichas de avaliação, conforme o Anexo A da norma DNIT 009/2003 - PRO
e ao final, foram calculadas as médias com os valores de VSA finais. A tabela 1 apresenta os valores obtidos,
seguida da tabela 2, utilizada para comparação com o estudo realizado para o trecho urbano de Formosa por
Caixeta e Feitoza (2016).
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Tabela 2. Resultados dos VSA para a área urbana de Formosa-GO (Caixeta e Feitoza, 2016).
Trecho Avaliado Valor de Serventia Atual
Trecho 1 1,0
Trecho 2 1,5
Trecho 3 1,3
Trecho 4 2,0
Trecho 5 0,8
O pavimento finalizado, utilizado para a classificação de acordo a metodologia VSA, pode ser
observado nas figuras 8, 9 e 10.
4 CONCLUSÃO
A utilização do método avaliativo previsto pela norma do DNIT (2003b), através da definição dos
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Valores de Serventia Atual (VSA) que consiste na avaliação subjetiva da superfície dos pavimentos pôde
comprovar a discrepância entre a qualidade encontrada no pavimento do Forte Santa Bárbara e o pavimento
da área urbana de Formosa-GO. Enquanto o VSA para os trechos analisados no Forte Santa Bárbara se
encontraram em torno de 4 e 5, caracterizando de acordo com a norma DNIT 009/2003 - PRO, um
revestimento com conceito entre bom e ótimo, os trechos urbanos da cidade de Formosa-GO tiveram conceitos
de péssimo a ruim com VSA de 0,8 a 1. Tal resultado pode ser explicado quando se analisa os métodos
construtivos utilizados no Forte Santa Bárbara. Pôde-se perceber grande controle na execução, podendo citar
o planejamento para a execução do pavimento em dias de estiagem, limpeza minuciosa da superfície, correta
compactação e a aplicação da massa asfáltica com temperatura devidamente aferida, respeitando sempre as
normas vigentes e buscando um padrão de excelência. Fatores estes, de suma importância, que elevam a
qualidade final do pavimento construído.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CRO 11 pela solicitude e disponibilidade pela qual foi permitida a realização
deste trabalho. Ainda, agradecem ao IFG Câmpus Formosa e ao professor da disciplina de pavimentação pela
proposição do tema a ser estudado.
REFERÊNCIAS
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0160 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Existem diversas áreas da construção civil que exigem grandes movimentações de solos e a
construção de rodovias está entre as maiores demandas. É comum encontrar trechos extensos com solos de
baixa capacidade de suporte e alta deformabilidade das camadas mais superficiais. Sendo assim, essas
condicionantes requerem soluções práticas, de modo que não alterem muito os custos do projeto a ponto de
torná-lo inviável. Dessa forma, este trabalho tem o objetivo principal de analisar a influência exercida pela
adição de diferentes teores e tipos de cales em um solo argiloso, visando o melhoramento de suas propriedades
mecânicas. O solo utilizado nesta pesquisa foi obtido no campus da Universidade de Passo Fundo - UPF. Os
tipos de cales utilizadas são a comercial dolomítica hidratada e a de carbureto (resíduo industrial da produção
do gás acetileno). Para os ensaios foram empregados 𝛾𝑑 de 14, 15 e 16 kN/m³, teores de cal em 3, 6 e 9%,
estabelecidos a partir do método do pH e uma umidade de 19% para todas as dosagens, determinada a partir
de ensaio de compactação com energia modificada. Nos resultados pode-se verificar que a utilização da cal de
carbureto se mostrou mais eficiente do que a cal dolomítica no melhoramento do comportamento mecânico do
solo argiloso em estudo, validando o potencial de destinação mais nobre a um resíduo industrial.
ABSTRACT: There are several civil construction fields that require large amounts of earthworks, and the
highway works are among the greatest demands. It is usual to find long paths with low bearing capacity and
high deformability of the most superficial layers of the soil. Therefore, it is required practical solutions, in a
way that they do not alter the project costs to the point of making it unfeasible. Thus, this research aims to
analyze the influence exerted by the addition of different amounts and types of lime in a clayey soil in order
to improve its mechanical properties. The soil was obtained at the University of Passo Fundo campus - UPF.
The two different lime types used are the commercial hydrated dolomitic lime and the Carbide lime (industrial
waste from the acetylene gas production). It was used γd of 14, 15 and 16 kN/m³, lime amounts of 3, 6 and
9%, established according to pH method, and moisture content of 19% for all mixtures, determined from
modified Proctor compaction test. The results showed that the Carbide lime seems to be more efficient than
the dolomitic lime in improving the mechanical behavior of the clayey soil under study. The study endorses
the potential use of an industrial waste in a most noble destination.
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1 INTRODUÇÃO
Desta reação obtém-se o gás acetileno (𝐶2 𝐻2), usado para o alcance de elevadas temperaturas por meio
de sua queima. Da produção deste gás, ocorre a geração de um resíduo da composição básica, o hidróxido de
cálcio (𝐶𝑎(𝑂𝐻)2 ), em forma aquosa, levado para tanques de decantação, seguindo para o redutor de umidade.
Por ter aptidão poluidora, é descartado em aterro controlado.
Na mistura de cal com um determinado solo úmido ocorrem diversas reações químicas que provocam
a aglutinação das partículas e modificação de suas características, dentre elas as mais importantes: permuta
iônica e floculação (cátions 𝐶𝑎2 + se adsorvem à superfície das partículas reduzindo a sua eletronegatividade
e promovendo a floculação); ação de cimentação (ou reação pozolânica, que ocorre de forma lenta, o que a
torna responsável pela ação a longo prazo da cal na estabilização); e ação de carbonatação (reação da cal com
o dióxido de carbono da atmosfera, alterando quimicamente os minerais argilosos) (COELHO; TORGAL;
JALALI, 2009).
Usace (1994), explica que a reatividade da cal é mais expressiva em solos com média/alta plasticidade,
nos quais aumenta a resistência e a trabalhabilidade, e diminui a expansão volumétrica.
Sendo assim, o presente trabalho possibilita analisar o comportamento de um solo estabilizado com
diferentes teores de dois tipos de cal: a dolomítica hidratada e a cal cálcica (de carbureto). Através de ensaios
de resistência à compressão simples, propõe-se comparar os resultados das misturas, mostrando assim o
desempenho das determinadas cales no melhoramento do solo em estudo.
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL
2.1 Materiais
O solo utilizado neste estudo foi obtido no campus da Universidade de Passo Fundo - UPF, na cidade
de Passo Fundo, região norte do estado do Rio Grande do Sul. O referido solo possui diâmetro médio das
partículas (𝐷50 ) de 0,030 mm e peso específico real dos grãos igual a 26,7 kN/m 3 (ABNT, 2016a). A análise
granulométrica do solo pode ser verificada na Figura 1. Ainda, a partir dos dados obtidos nos ensaios de
Limites de Atterberg, com valores de Limite de Liquidez de 39,8% (ABNT, 2016b), Limite de Plasticidade
de 27% (ABNT, 2017), resultando em um Índice de Plasticidade de 13%, foi possível classificar o solo como
um silte de baixa compressibilidade (ML) pelo Sistema Unificado de Classificação dos Solos (ASTM, 2017)
e A-6 pelo Sistema Rodoviário de Classificação (ASTM, 2015).
1274
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As cales utilizadas são do tipo dolomítica comercial hidratada e de carbureto. A cal dolomítica é do
tipo CH-II e possui massa específica de 2,49 g/cm³ (ABNT, 2016a). Já a cal de carbureto é um resíduo da
produção do gás acetileno em uma empresa de gases industriais localizada na região metropolitana de Porto
Alegre e possui massa específica de 2,12 g/cm³ (ABNT, 2016a).
2.2 Dosagem
Na dosagem, foram empregados pesos específicos aparente secos (𝛾𝑑 ) de 14, 15 e 16 kN/m³, a fim de
analisar graus de compactação que variam desde pouco abaixo do 𝛾𝑑𝑚á𝑥 para energia normal e até entre as
energias normal e modificada, obtidos através da realização de ensaio de compactação nas duas energias, de
acordo com a NBR 7182 (ABNT, 2020). Conforme apresenta a Figura 2, para energia modificada o 𝛾𝑑𝑚á𝑥 e a
umidade ótima correspondem a 17,4 kN/m³ e 19%, enquanto que para energia normal estes valores são 15
kN/m³ e 26%, respectivamente.
Já para os teores de cal utilizou-se 3, 6 e 9% a fim de analisar o mínimo teor requerido para a cal de
carbureto e verificar a influência de teores crescentes de cada cal. Estes valores foram obtidos com base no
Método do pH (ASTM, 2019), que determina um teor mínimo de cal necessário para garantir a reatividade da
mistura. Desta forma, obteve-se uma porcentagem necessária de 5% de cal dolomítica e 3% com a utilização
de cal de carbureto.
Quanto à umidade de moldagem, optou-se por utilizar 19% para todas as dosagens, visto que esta é a
umidade ótima obtida no ensaio de compactação com energia modificada, conforme observado na Figura 2,
evitando assim que ocorra a exsudação dos corpos de prova mais compactos.
1275
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Para a realização dos ensaios de resistência à compressão simples as misturas foram compactadas
estaticamente no interior de moldes cilíndricos tripartidos de 100 mm ± 1 mm de altura e 50 mm ± 0,5 mm de
diâmetro. Foram realizadas 9 dosagens diferentes para cada tipo de cal, sendo que, cada uma dessas dosagens
foi moldada em triplicata. Para tanto, foram moldados 54 corpos de provas para cada tipo de cal, variando os
teores de cal em 3, 6 e 9% e os pesos específicos aparente secos (𝛾𝑑 ) de 14, 15 e 16 kN/m³. As amostras foram
submetidas a cura em câmara úmida durante 7 e 28 dias.
3 RESULTADOS
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A pesquisa tem por objetivo fundamental a análise da influência de todas as variáveis controláveis
durante o programa experimental (peso específico aparente seco (𝛾𝑑 ), teor de cal, tipo de cal e tempo de cura)
e das suas interações na resistência das amostras. Por isso, realizou-se a análise de variância (ANOVA), a fim
de determinar quais dos fatores exercem influência na variável resposta (resistência à compressão simples
(𝑞𝑢 )). A ANOVA foi executada a um nível de significância de 95%, o que indica que os fatores controláveis
que apresentem valores de “p” menores do que 0,05 são estatisticamente significativos. A Tabela 1 apresenta
a análise ANOVA realizada.
B: Teor de Cal
2 580580 552.02 0.000 SIM
(%)
C: Tipo de Cal
1 1299911 1235.96 0.000 SIM
(%)
Erro 88 1052
Total 107
A análise de variância (ANOVA) apresentada na Tabela 1, realizada nos resultados de resistência (𝑞𝑢 ),
mostrou que os efeitos de todas as variáveis controláveis analisadas são estatisticamente significativos. Além
disso, também foram avaliadas as interações de segunda ordem entre todos os fatores controláveis, dentre elas
apenas a relação entre 𝛾𝑑 e tempo de cura e entre tipo de cal e tempo de cura não puderam ser estatisticamente
constatadas com base nos dados avaliados. Desta forma fica explicitado que a variação do 𝛾𝑑 , do teor de cal,
dos tipos de cales e dos tempos de cura exercem influência na resistência das amostras. Na Figura 6 pode-se
observar graficamente a média da variável resposta (𝑞𝑢 ) para cada nível dos fatores controláveis estudados.
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Quanto mais inclinadas as retas do gráfico, maior a magnitude do efeito em análise. Dessa forma,
conforme Figura 6, percebe-se que o efeito do tempo de cura possui menor influência na resistência das
amostras do que todas as outras variáveis analisadas, enquanto o 𝛾𝑑 exerce a maior influência.
3 CONCLUSÃO
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1280
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0161 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo o estudo do valor do coeficiente de redução volumétrica por
adensamento (c) para cada obra analisada. Este parâmetro é utilizado na planilha eletrônica de Rodrigues et
al. (2017) e influencia na previsão da resistência não-drenada, no módulo de Young e no valor de do
compósito gerado após o geoenrijecimento. Para tal estudo foram utilizadas quatro obras que tiveram a
técnica de geoenrijecimento por grouting, e a partir de medições de parâmetros do solo antes e após a técnica
foi possível chegar a valores de c. Os resultados obtidos levaram à conclusão de que há uma variação desse
parâmetro considerável para solos distintos e inclusive para um mesmo solo em diversas profundidades. E
que, variações de cerca de 20 % em seu valor, por exemplo, provocam divergências consideráveis nos
parâmetros de saída influenciados por este.
ABSTRACT: This paper aims to study the value of volumetric reduction coefficient by consolidation (c) for
each analyzed site. This parameter is used in the Rodrigues et al. (2017) spreadsheet and influences in
undrained resistance forecast, in Young module and value of the composite made after geo-hardening
process. For this research, four sites which have used geo-hardening technique by grouting were analyzed
and from soil parameters measures before and after technique was possible to get c value. The results got
provided a conclusion that there is a big variability of this parameter in different soils including to the same
soil in distinct depth. Also the value variability about 20 %, for example, implies in significant divergences
in the output parameters influenced by it.
1 Introdução
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c (coeficiente de redução volumétrica por adensamento), e então o estudo se voltou para uma melhor
obtenção deste parâmetro que influencia consideravelmente em três dos quatro parâmetros de saída.
2 A Técnica de Geoenrijecimento
O parâmetro c representa a variação volumétrica que o solo sofre, podendo ser obtido por ensaio de
adensamento. Esse é a relação da variação do volume de vazios do solo antes e após a utilização da técnica
de geoenrijecimento (∆Vv), com o volume de geogrout injetado (Vg), e expresso na Equação 1:
∆𝑉𝑣
𝑐 = 𝑉𝑔
(1)
De acordo com Cirone (2016) os valores da deformação volumétrica (ε), da resistência não-drenada do
solo pós geoenrijecimento (Sus) e do módulo de rigidez equivalente do compósito geoenrijecido (Eeq) são
influenciados pelo coeficiente de redução volumétrica por adensamento (c). Isso mostra o quão importante é
a obtenção deste parâmetro para cada solo. As Equações 2, 3 e 4 são as formas de cálculo dessas
modificações no solo segundo planilha de Rodrigues et al. (2017).
𝜀 = 𝑐 × 𝑅𝑆 (2)
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2.2 Obtenção de c
Tendo em vista a importância desse parâmetro e a falta de medição deste, o estudo voltou-se para
descobrir através de formulações matemáticas seu valor para cada obra a partir dos parâmetros medidos. Sua
obtenção foi possível por meio da medição, antes e após a aplicação da técnica, da resistência não-drenada e
dos recalques.
Isolando c na Equação 3, obtém-se a Equação 5 que determina o parâmetro a partir de Su desde que
haja a medição da resistência não-drenada do solo antes (Su0) e após (Sus) a aplicação da técnica, de
preferência pelo mesmo método.
𝑆
𝑙𝑛( 𝑢𝑠 )
𝑐 = 𝑆𝑢0
𝑏×𝑅𝑆
(5)
3 Obras estudadas
O estudo dos valores de c foi baseado em quatro obras que utilizaram a técnica de geoenrijecimento.
São elas: (1) Condomínio Palms Recreio Residencial; (2) Parque dos Atletas (ambas situadas na zona oeste
do Rio de Janeiro); (3) Rodoanel Mário Covas (Mauá, São Paulo) e (4) tratamento da margem esquerda do
rio Itajaí-Açu (Navegantes, Santa Catarina).
No Condomínio Palms Recreio Residencial, situado no bairro do Recreio dos Bandeirantes, Rio de
Janeiro, foram construídos dois aterros experimentais devidamente instrumentados, um somente com drenos
verticais e o outro com a técnica de geoenrijecimento, para comparação de eficiência das técnicas. As
espessuras da camada de solo mole variavam de 4,5 m a 12,0 m. Maiores informações destas obras são
apresentadas por Chavão (2015) e Riccio et al. (2018).
O Parque dos Atletas, localizado no bairro da Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, possuía diversas
espessuras de solo mole, variando até 22 m. No entanto, a região tratada com geoenrijecimento era a de
espessura compreendida entre 3 m e 9 m, para as demais espessuras foram adotados outros tipos de
tratamento. Seu estudo está disponibilizado em Riccio et al. (2013).
A região geoenrijecida do Rodoanel Mário Covas, situado no município de Mauá, em São Paulo, tinha
solo mole de espessura média de 7 m de profundidade. Neste caso, a aplicação da técnica teve peculiaridades
como o espaçamento dos drenos igual ao das verticais de adensamento. Maiores informações podem ser
encontradas em Nogueira (2010).
O tratamento da margem esquerda do rio Itajaí-Açu, localizado no município de Navegantes, Santa
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Catarina, tinha espessura de solo mole com 10 m em média. A região foi dividida em duas áreas, cada uma
seguindo uma configuração de malha (triangular e quadrada com reforço). Seu estudo foi apresentado por
Sandoval (2016).
Ao analisar os dados dessas obras notou-se alguns imprevistos, como: (1) a ausência de medição de
um mesmo parâmetro, antes e depois do geoenrijecimento, por meio do mesmo método; (2) a
disponibilidade dos parâmetros solicitados pelas equações; e (3) a qualidade das medições executadas.
Um resumo dos parâmetros utilizados para cada obra pode ser observado na Tabela 1, onde: Perfil
indica o tipo de perfil geotécnico do local tratado baseado no estudo de Barata e Danziger (1986); H é a
espessura da camada de solo mole; cv é o coeficiente de adensamento vertical; Malha indica a configuração
da malha de geodrenos e de verticais de adensamento escolhida; Sg e Sv são os espaçamentos dos geodrenos
e das verticais de adensamento respectivamente; Vg é o volume de geogrout injetado a cada metro de
profundidade e RS é a razão de substituição de cada obra analisada. Nos itens subsequentes serão analisados
os valores de c por meio da resistência não-drenada, medida antes e após a aplicação da técnica, e por meio
dos valores da correlação do recalque do solo natural e do recalque do solo geoenrijecido ()
3.2 Relação de c x Su
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A medição da resistência não-drenada na obra do Rodoanel foi realizada por ensaio de palheta no solo
natural, e após geoenrijecimento foi medida pelo ensaio de penetrômetro dinâmico leve (DPL). Nogueira
(2010) fez uma correlação entre os dois ensaios, e esta foi utilizada para correlacioná-los neste trabalho. Seus
valores estão apresentados na Tabela 3.
No tratamento da margem esquerda do rio Itajaí-Açu o único ensaio realizado antes e após a aplicação
da técnica foi o pressiométrico, por meio da correlação de Briaud et al. (1985). Devido a ausência de dados
na mesma profundidade, foram correlacionados os valores de Su0 na profundidade 3 m com os valores de Sus
na profundidade 5 m. Os valores encontrados estão mostrados na Tabela 4.
Os valores de c obtidos para estas obras através das resistências não-drenadas medidas são
apresentados na Figura 1, onde são percebidos alguns valores acima de 1. Há também uma curva de
tendência dos valores obtidos, que corresponde à previsão de que para maiores valores de Su menores tendem
a ser os valores de c. Vale ressaltar que esta equação da curva não pode ser utilizada como regra, é apenas
uma aproximação da variação para as obras estudadas neste trabalho, sendo necessário maiores estudos e
aprimoramento da mesma para uso geral.
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4,0
Parque dos Atletas - Ghionna e Jamiolkowski
3,5 Parque dos Atletas - Briaud
Rodoanel
3,0 Itajaí-Açu - Perfil tipo L - Área 1
Itajaí-Açu - Parâmetros definidos - Área 1
2,5 Itajaí-Açu - Tipo L - Área 2
c
1,5
y = -0,331ln(x) + 1,7392
c = 1,0
1,0
c = 0,5
0,5
c = 0
0,0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Su0
Figura 1 - Compilação de Valores de c x Su0 para as Obras Estudadas
3.3 Relação de c x
O valor de é obtido pela relação do recalque final do solo sem tratamento (ρ 0) com o recalque final
do solo geoenrijecido (ρgeo). Apenas na obra do Condomínio Palms foi possível medir os recalques do solo
sem tratamento por meio de placas de recalque (utilizando o método de Asaoka, 1978), uma vez que foi a
única obra que tinha um aterro experimental nesta condição. Para a obra do Parque dos Atletas houve
monitoramento por placas de recalque após geoenrijecimento, e o recalque no solo sem tratamento foi
estimado por Riccio et al. (2013).
Na obra do Rodoanel os valores de recalque antes e depois da aplicação da técnica foram estimados
por Nogueira (2010) para cada placa de recalque, e então neste trabalho foi feito uma média destes valores.
Por ser muito pequeno possivelmente devido à peculiaridade do espaçamento dos drenos ser igual ao dos
bulbos, não foram encontrados valores possíveis de c (valores positivos). No tratamento da margem
esquerda do rio Itajaí-Açu não houve monitoramento de recalques na área 1, e na área 2 esse monitoramento
foi realizado por apenas 45 dias, não sendo possível realizar a estimativa do recalque final por Asaoka
(1978). Os valores dos recalques antes e após aplicação da técnica, juntamente com sua relação e o valor
de c encontrado para cada caso, podem ser vistos na Tabela 5.
3.4 Relação de c x RS
Visando tentar compreender o comportamento deste parâmetro, foram compilados todos os valores
encontrados para c (tanto os obtidos por meio de Su quanto os obtidos por ) associados à razão de
substituição (RS), como pode ser visto na Figura 2. Os resultados obtidos para uma amostra de Caulim
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estudada em laboratório por Mussi (2019) também são apresentados. Pode-se perceber que a maioria dos
resultados se concentraram entre 0,5 e 1,0, possibilitando para estas obras considerar o 0,5 como um valor
pessimista ao invés de 0. Nota-se também o quanto o parâmetro varia para um mesmo solo dependendo da
profundidade estudada, dessa forma os valores obtidos por meio de Su se mostraram mais característicos,
enquanto o obtido por – por ter sido medida única – podem ser considerados como média.
4 Conclusões
O parâmetro de redução volumétrica por adensamento (c) influencia nos parâmetros de saída Sus, Eeq
e . No entanto, deveria haver um maior cuidado na obtenção e estimativa de seu valor pois notou-se que
este varia consideravelmente para um mesmo solo em diferentes profundidades (por meio de Su). Quanto
maior o Su0 menor tende a ser o valor de c.
O único caso possível de comparar os resultados obtidos pela resistência não-drenada e pela relação de
recalques foi o da obra do Parque dos Atletas. Constatou-se que o valor obtido pelas placas de recalque
representou uma média dos valores obtidos por Su medido a cada profundidade. Para o condominio Palms,
foi encontrado um valor intermediário para o parâmetro através apenas de .
No caso do Rodoanel, embora à princípio pudesse ter o valor do parâmetro pelas duas frentes de
obtenção, não foi capaz de se obter valores positivos. Isto possivelmente ocorreu devido ao amolgamento
gerado pela relação de espaçamento de drenos e de verticais de adensamento ser igual a 1, resultando numa
redução de recalques baixa quando comparada a situação inicial.
No tratamento da margem esquerda do rio Itajaí-Açu, foram detectados algumas incompatibilidades
nas profundidades analisadas antes e após aplicação da técnica (3 m comparado a 5 m) o que pode ter
influenciado na obtenção de alguns valores. Para ambas as áreas, não foi possível prever o parâmetro por ,
pois em uma não houve uso de placas de recalque e na outra o monitoramento foi de apenas 45 dias
impossibilitando o uso do método de Asaoka (1978) para previsões de recalques finais.
Pode-se perceber que entre as obras estudadas o valor pessimista do parâmetro foi de 0,5, e o limite
superior para a maioria dos resultados foi de 1.
Recomenda-se maiores estudos a cerca do parâmetro c para que melhores previsões sejam realizadas.
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0162 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: A concepção de um mapa mental acerca dos solos da região de Apucarana-PR ainda é deficitária
em função da carência de pesquisas neste sentido. Das inúmeras características inerentes aos solos, chama
a atenção um fenômeno de possível ocorrência na região de estudo: a colapsibilidade da estrutura dos solos,
uma vez que se tem conhecimento da alta porosidade do tipo de solo presente nesta região. Este trabalho
tem por objetivo apresentar um levantamento geotécnico básico de um solo típico de Apucarana e uma
verificação do potencial de colapsibilidade, a partir de uma análise dos critérios teóricos baseados em
Índices Físicos e por critérios baseados em Ensaios edométricos simples, com estágios de carga de
inundação incrementais. Para tanto, foram coletadas amostras deformadas e uma indeformada em diferentes
pontos do município e realizados ensaios, conforme as normas brasileiras e internacional norte-americana.
Os resultados obtidos confirmam a existência de solos argilosos altamente porosos e com certa plasticidade
na região de Apucarana. Os estudos de colapsibilidade, mediante a aplicação de critérios teóricos, apontam
resultados insuficientes para comprovação da existência de material colapsível em três pontos estudados.
Em um estudo mais aprofundado, a partir de ensaios edométricos simples com inundação, os resultados
mostraram que um Nitossolo vermelho apresentou comportamento colapsível de gravidade moderada a
uma tensão de inundação de 207,10 kPa. Conforme o aumento das tensões de inundação, o potencial de
colapso apresentou um crescimento até atingir um valor máximo e, após o pico, uma diminuição que tende
a estabilização.
ABSTRACT: The conception of a mental map about the soils of the Apucarana-PR region is still deficient
due to the lack of research in this regard. The innumerable characteristics inherent to soils, a phenomenon
of possible occurrence in the study region is noteworthy: the collapsibility of the soil structure, since it is
known of the high porosity of the soil type present in this region. This work aims to present a basic
geotechnical survey of a typical Apucarana soil and a verification of the potential for collapsibility, based
on an analysis of theoretical criteria based on Physical Indexes and by criteria based on simple edometric
tests, with load stages of incremental flooding. For this purpose, deformed and one undeformed sample
were collected in different parts of the city and tests were performed, according to Brazilian and
international standards. The results confirm the existence of highly porous clay soils with some plasticity
in the Apucarana region. Collapsibility studies, through the application of theoretical criteria, show
insufficient results to prove the existence of collapsible material in three studied points. In a more in-depth
study from simple flood edometric tests, the results showed that a red Nitosol exhibited collapsible behavior
of moderate gravity at a soaking stress of 207.10 kPa. As soakings stress increased, the collapse potential
presented a growth to a peak and after, decreased to stabilize.
1 Introdução
Das inúmeras características inerentes aos solos, chama a atenção um fenômeno que ocorre em solos
tropicais, inclusive na região Centro-Norte do Paraná: a colapsibilidade da estrutura dos solos. Este
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fenômeno, segundo Lollo (2008), atribui-se aos solos que experimentam reduções de volumes repentinas
quando ocorre aumento de quantidade de água em seus vazios, submetidos ou não a uma aplicação de
sobrecarga. Estes solos são designados como solos colapsíveis.
Uma obra assentada neste tipo de solo pode apresentar uma série de patologias como recalque em
estruturas de fundações, trinca em alvenarias, empenamento de esquadrias, grandes fissuras em elementos
estruturais e até mesmo levar à ruína estruturas antigas, comprometendo a segurança de quem a utiliza
(SEGANTINI, 2008).
Este trabalho objetiva analisar a magnitude do comportamento colapsível, especificamente do
Potencial de Colapso, sob diferentes carregamentos de inundação, de um Nitossolo pertencente ao
município de Apucarana, no estado do Paraná, Brasil.
2 Área de Estudo
Apucarana está situada no Terceiro Planalto Paranaense e, de acordo com Manosso (2005), sobre um
tríplice divisor de águas dos rios Ivaí, Pirapó e Tibagi com altitude média de cota 800m acima do nível do
mar. Além disso, localiza-se sobre uma área de ocorrências de sucessivos derramamentos vulcânicos do
período Juro-Cretáceo, onde predominam rochas basálticas e andesi-basálticas.
Conforme Manosso (2005), na região urbana, os Latossolos Vermelhos estão predominantemente
presentes no platô principal, nas regiões de altas e médias vertentes, com relevos planos e suave ondulado,
enquanto os Nitossolos estão presentes nas regiões de baixas vertentes (vales), com relevo ondulado.
Estudos mais aprofundados acerca das características físicas e mecânicas dos solos são carentes nesta
região.
Atualmente existem critérios teóricos, baseados em correlações com Índices Físicos, e ensaios,
laboratoriais ou em campo, para se desenvolver o estudo dos solos colapsíveis. Os critérios teóricos
existentes podem apresentar limitações, pois são restritos aos solos para os quais foram estabelecidos. Já os
critérios para ensaios em laboratório podem retratar as condições ideais para mensuração do colapso. Uma
estimativa em escala real é obtida apenas com critérios para ensaios realizados em campo (RODRIGES e
LOLLO, 2008).
O Quadro 1 apresenta os critérios teóricos de identificação de solos colapsíveis, resumidos por
Rodrigues e Lollo (2008).
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4 Metodologia
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As coletas de amostras foram feitas em obras de construção civil, localizadas na região urbana do
município. Sendo que buscou-se coletar em pontos construtivos relevantes, como no interior de blocos de
estacas de fundação.
Os ensaios de caracterização foram realizados em todas as amostras, conforme as Normas brasileiras
da ABNT. Os ensaios edométrico simples na amostra do ponto D, de acordo com a Norma Internacional
Americana (ASTM), indicadas na Tabela 1.
A caracterização dos solos permitiu realizar o cálculo dos Índices Físicos e a aplicação dos critérios
teóricos baseados nestes ensaios.
Realizou-se o ensaio edométrico simples sem inundação, com etapas de carga e descarga, a fim de
se obter uma curva de parâmetro e a tensão de pré-adensamento do solo. Em seguida, para este mesmo
bloco, foram realizados quatro ensaios edométricos simples com inundação a tensões incrementais, de 43,6
kPa, 98,1 kPa, 207,1 kPa e 425,1 kPa, aplicadas durante 24h, para se obter uma estimativa do
comportamento do Potencial de Colapso.
A análise granulométrica conjunta indicou que as partículas finas totalizam quase 93% do solo, sendo
cerca de 74% composto por grãos de argila; 18% de silte e aproximadamente 8% de areia fina. A
caracterização básica das três amostras revelaram solos residuais de basalto, de textura argilo siltosa, com
massa específica dos sólidos variando de 29 a 30 kN/m³, índice de plasticidade entre 10% a 15%, com
porosidade e saturação superiores a 55% e 66%, respectivamente.
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1,00
0,95
0,90
0,85
0,80
e/e0
0,75
0,70
0,65
0,60
0,55
10,0 100,0 1000,0
log σv (kPa)
CURVA DE ADENSAMENTO NATURAL INUNDAÇÃO (425,1 kPa)
INUNDAÇÃO (207,1 kPa) INUNDAÇÃO (98,1 kPa)
INUNDAÇÃO (43,6 kPa)
Figura 2. Curvas de Compressão Edométricas.
Observa-se, no gráfico, cinco curvas de compressão de índice de vazios (e/e0) versus log σv (kPa) –
tensão vertical. Os índices de vazios são normalizados em relação ao seu estado inicial para facilitar a
visualização gráfica dos ensaios.
Ao final de cada curva, salva a de adensamento natural, ocorreu a inundação da amostra 24 horas
após aplicação da respectiva carga. Neste ponto ocorre a variação do índice de vazios decorrente da
inundação. É possível notar uma diferença maior para a tensão de 207,10 kPa e um valor insignificante para
a tensão de 43,6 kPa. Valores semelhantes foram encontrados por Gutierrez (2005) para um mesmo tipo de
solo, presente no município de Maringá – PR.
A tensão de pré-adensamento obtida pelo ensaio edométrico simples sem inundação foi de 76 kPa.
A seguir serão discutidos os critérios de identificação de solos colapsíveis determinados por meio
dos índices físicos e por ensaios edométricos simples, além da análise da variação do potencial de colapso.
A partir dos resultados dos ensaios foi possível aplicar os critérios teóricos baseados nos Índices Físicos,
apresentados no Quadro 1. Salienta-se que estes critérios apresentam alta sensibilidade perante as variações
dos resultados. Além disso, o fato de serem estabelecidos e estudados em diferentes países e tipos de solo
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variados, pode provocar análises imprecisas acerca dos solos tropicais brasileiros. As avaliações dos
critérios teóricos estão apresentadas na Tabela 3.
Nota-se que para os critérios teóricos baseados em índices físicos, algumas amostras apresentaram
potencial de colapso, enquanto outras não. E ainda, para uma mesma amostra, alguns métodos indicaram
colapsibilidade, diferindo o resultado de outros critérios. De fato, todos os solos analisados possuem
características físicas muito semelhantes e, consequentemente, esperava-se maior conformidade entre os
valores. Em contrapartida, a forma de coleta de cada amostra supostamente pode ter influenciado nos
resultados, já que as amostras A e C foram coletadas praticamente na superfície do terreno.
Os valores de coeficientes de colapso, são calculados de acordo com o Quadro 2, utilizando-se dos
parâmetros de índice de vazios inicial e inundado. O termo coeficiente de colapso ou potencial de colapso
varia na literatura e recebem a denominação de acordo com a preferência de cada autor. A Tabela 4
apresenta os resultados dos critérios baseados nos ensaios edométricos simples realizados.
Estes resultados permitem entender, de forma mais aprofundada, que o solo pode ter comportamento
colapsível ou não, a depender da tensão que está experimentando no momento que sofre o umedecimento
brusco. De fato, para tensões de inundação na ordem próxima de 200 kPa, o Nitossolo vermelho é
considerado como colapsível pelos critérios baseados em ensaios edométricos, além de poder apresentar
problemas moderados em edificações, segundo o critério de Jennings & Knight (1975).
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A realização dos quatro ensaios edométricos simples inundados e o cálculo dos coeficientes de
colapso possibilitaram uma relação do comportamento colapsível, entre potencial do solo em se
desestruturar pela tensão que sofre a inundação. A curva que ilustra a variação do potencial de colapso em
função da tensão de inundação é apresentada na Figura 3.
2,45%
1,95%
POTENCIAL DE COLAPSO
1,45%
0,95%
0,45%
-0,05%
0 50 100 150 200 250 300 350 400 450
7 Conclusões
1295
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AGRADECIMENTOS
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1296
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0163 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Na Região Nordeste do Brasil há registros de sérios danos em construções apoiadas em solos
colapsíveis e expansivos, devido à instabilidade volumétrica que sofrem associada à ausência de uma prévia
investigação ou tratamento nas etapas de projeto e execução das obras, sendo importante o reconhecimento
das áreas em que ocorrem. O objetivo deste trabalho é analisar as características geotécnicas e classificar a
colapsibilidade e expansividade de solos da Região Nordeste, por meio de critérios de identificação
qualitativa e quantitativa, publicados na literatura. São agrupadas as características físicas, resultados de
ensaios de laboratório e locais de ocorrência de 172 pontos com solos colapsíveis e expansivos do Nordeste
brasileiro. Os métodos qualitativos têm aplicação restrita na identificação de solos colapsíveis e expansivos.
Os métodos quantitativos de solos colapsíveis da Região Nordeste indicam que tais solos causam danos de
moderados a graves as edificações e os solos expansivos apresentam baixa a muito alta expansividade,
causando danos que vão desde fissuras importantes até a demolição das edificações.
ABSTRACT: In the Northeast Region of Brazil there are records of damage caused constructions about
collapsible and expansive soils, due to its volumetric instability associated with a lack of previous
investigation or treatment in the stages of design and execution of engineering works, making important to
recognize the areas that occurs. Thus, the objective of the work is analyze the geotechnical characteristics
and classify the collapse and expansion of soils from Northeast Region, using qualitative and quantitative
identification methods, published in the literature. The physical characteristics, results of laboratory tests and
places of occurrence of 172 points with collapsible and expansive soils of the Brazilian Northeast are
grouped. Qualitative methods have restricted application in the identification of collapsible and expansive
soils. Quantitative methods of collapsible soils from Northeast Region indicate moderate to severe damage to
buildings and the expansive soils have low to very high expansion, causing important cracks and even
demolition of buildings.
1 Introdução
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volumétrica ao serem umedecidos. Quando obras de engenharia são assentes nesses solos, sem uma prévia
identificação e tratamento, sérios danos podem ocorrer.
Solos colapsíveis são comumente identificados quanto à origem como residuais, aluvionares ou
eólicos, apresentam uma estrutura porosa e sofrem uma significativa diminuição de volume quando
inundados e submetidos a uma redução de sucção. O estado tensional, velocidade de inundação e tipo de
permeante são alguns fatores influentes no comportamento colapsível desses solos. No Brasil há ocorrência
de solos colapsíveis em todas as regiões (FERREIRA, 2008a).
Solos expansivos apresentam textura argilosa e sofrem deformações de expansão e contração com o
surgimento de fissuras em sua superfície, devido à variação de umidade resultante de repetidos ciclos de
molhagem e secagem. O maior ou menor potencial de expansão deve-se a combinação de fatores intrínsecos,
relacionados a presença de montmorilonita ou vermiculita, e fatores extrísecos, como o clima, vegetação ou
ocupação antrópica na região, que influenciam na umidade do solo local. Há registros da ocorrência deste
tipo de solo em todos os continentes, exceto nas regiões árticas, enquanto que no Brasil os solos expansivos
foram identificados em diversos estados das Regiões Nordeste, Sudeste e Sul (STEINBERG, 2000).
A maior concentração de casos de solos colapsíveis e expansivos citados na literatura nacional
ocorrem nas regiões Nordeste e Sudeste (FERREIRA, 2008b). No Brasil não se tem a estimativa dos custos
com danos causados por esses solos, porém na Região Nordeste há registros de sérios danos causados por
esses solos em edificações, canais de irrigação, pavimentos, dentre outros (JESUS; PINTO, 2018;
OLIVEIRA S. et al., 2018).
Há diversos métodos de classificação de solos colapsíveis e expansivos, divididos em métodos diretos
e indiretos. Os métodos indiretos fornecem indicativos da colapsibilidade e expansividade dos solos a partir
de índices físicos, propriedades plásticas, composição granulométrica, dentre outros, enquanto que os diretos
estimam o grau de colapso e expansão com base na análise real da variação de volume.
Frente aos danos causados as edificações sobrejacentes a esses tipos de solos, identificar previamente
um solo problemático tem sido cada vez mais necessário. Assim, de forma a contribuir com um banco de
dados sobre os solos colapsíveis e expansivos no Nordeste do Brasil, são reunidas e analisadas as
características geotécnicas desses solos em cada estado da região supracitada, bem como os graus de colapso
e expansão, empregando-se métodos diretos quantitativos e indiretos qualitativos de classificação.
2 Materiais e Métodos
A área selecionada para o estudo é a Região Nordeste do Brasil, segunda mais populosa do território
nacional, com concentração populacional e econômica localizada na faixa litorânea, e detentora da terceira
maior área do país, com Produto Interno Bruto (PIB) correspondente a 14,3% do Brasil (IBGE, 2016).
As características geotécnicas e localizações dos solos colapsíveis e expansivos com ocorrências
registradas na Região Nordeste foram obtidas a partir da consulta de artigos de simpósios, congressos,
revistas, dissertações, teses e casos de obras disponibilizados por empresas. As amostras de solo situadas em
mesmas coordenadas geográficas, porém coletadas em diferentes profundidades, são consideradas como
pontos distintos na coleta de dados deste trabalho. Embora as informações coletadas sejam individuais para
cada amostra de solo, a análise é realizada agrupando-se os dados para cada estado da Região Nordeste.
A classificação do potencial de colapso dos solos do Nordeste foi realizada empregando-se os métodos
de Gibbs e Bara (1962), Handy (1973) e Vilar e Rodrigues (2015), de caráter qualitativo, e os critérios
diretos propostos por Reginatto e Ferrero (1973), Jennings e Knight (1975), Vargas (1978) e Lutenegger e
Saber (1988), de caráter quantitativo. Para os solos expansivos foram utilizados métodos indiretos
qualitativos – Skempton (1953), Seed; Woodward e Lundgren (1962), Van Der Merwe (1964), Chen (1965)
e Daksanamurthy e Raman (1973) – e um método de avaliação direta quantitativa – Jimenez e Salas (1980).
3 Resultados e Análises
Foram identificadas 71 ocorrências registradas de solos colapsíveis e 101 casos de solos expansivos na
Região Nordeste do Brasil, distribuídos por mais de 50 municípios, Figura 1. Dos pontos com presença de
solos colapsíveis 45% situam-se no estado de Pernambuco, enquanto que para a ocorrência de solos
expansivos este valor corresponde a 46,5% no mesmo estado. Cabe salientar que algumas referências não
1298
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apresentam todas as características geotécnicas das amostras investigadas, limitando a análise dos dados de
alguns pontos de ocorrência dos 172 identificados.
Na Região Nordeste solos colapsíveis são encontrados nos Complexos Monteiro e Carnaíba,
Formações Tacaratu, Jatobá, Barreiras, Vazantes e São Martins. São identificados solos expansivos
originados do Complexo Monteiro, das Formações São Sebastião, Ipojuca, Maria Farinha, Aliança, Inajá,
Barreiras, Seridó e Calumbi, e dos Grupos Salgueiro, Santo Amaro e Cachoeirinha.
Piauí: [1] Teresina (Aquino, 2020), [2] Parnaíba Maranhão: [1] Grajaú (Gusmão Filho, 2002); Piauí: [2] Teresina
(Ferreira, 2008b); Ceará: [3] Fortaleza (Moura, Silva (Aquino, 2020), [3] Picos (Oliveira S. et al., 2018); Ceará: [4]
Filho e Dantas Neto, 2011), [4] Icó (Chagas, Moura e Juazeiro do Norte (Souza; Bandeira e Souza, 2018); Rio Grande do
Carneiro, 2019), [5] Crato (Rolim e Bandeira, 2016), Norte: [5] Parelhas (Ferreira, 2008b); Paraíba: [6] Sousa (Ribeiro,
[6] Juazeiro do Norte (Xavier et al., 2018), [7] Missão 2019); Pernambuco: [7] Igarassu, [8] Paulista, [9] Olinda, [10]
Velha, [9] Brejo Santo (Barbosa, Bandeira e Recife, [11] Cabo de Santo Agostinho, [16] Pesqueira, [17] Carnaíba,
Guilherme, 2016), [8] Barbalha (Guilherme et al., [18] Ibimrim, [19] Inajá, [20] Petrolândia, [21] Floresta, [22] Serra
2016); Rio Grande do Norte: [10] São Bento do Norte Talhada, [23] Salgueiro, [24] Cabrobó, [25] Cedro, [27] Petrolina, [28]
(Araújo et al., 2018), [11] Natal (Ferreira, 2008b); Afrânio (Ferreira, 2008a), [12] Ipojuca (Souza; Carvalho e Viana,
Paraíba: [12] Areia, [13] Sapé, [14] João Pessoa 2014), [13] Bonito (Silva e Ferreira, 2018), [14] Agrestina (Silva,
(Ferreira, 2008b); Pernambuco: [15] Goiana (Feitosa, 2018), [15] Brejo da Madre de Deus (Bezerra, 2019), [26] Santa Mª da
Oliveira e Ferreira, 2010), [16] Recife, [17] Gravatá, Boa Vista (Marinho e Ferreira, 2018); Alagoas: [29] Maceió (Ferreira,
[19] Carnaíba, [20] Petrolândia, [22] Cabrobó, [23] 2008b); Sergipe: [30] Nossa Srª da Glória, [32] Rosário do Catete, [33]
Santa Mª da Boa Vista, [24] Petrolina (Ferreira, Santo Amaro das Brotas, [34] Nossa Srª do Socorro, [35] Laranjeiras,
2008b), [18] Santa Cruz do Capibaribe (Oliveira e [36] Aracajú, [37] São Cristóvão, [38] Malhador, [39] Poço Verde
Ferreira, 2012), [21] Floresta (Araújo e Souza Neto, (Cavalcanti Jr., 2017), [31] Malhada dos Bois (Alves, 2013); Bahia:
2014); Sergipe: [25] Estância (Geotec, 2019); Bahia: [40] Juazeiro, [41] Feira de Santana, [46] Salvador (Ferreira, 2008b),
[26] Rodelas, [29] Bom Jesus da Lapa (Ferreira, [42] Amélia Rodrigues, [43] São Sebastião do Passé, [47] Candeias,
2008b), [27] Casa Nova (Brindeiro et al., 2018), [28] [49] Santo Amaro (Oliveira O. et al., 2018), [44] Camaçari (Burgos,
Barreiras (Burgos, Fonseca e Campos, 2010), e [30] 2010), [45] Simões Filho, [48] São Francisco do Conde (Oliveira;
Eunápolis (Coutinho, Castro e Dourado, 2010). Jesus e Miranda, 2006) e [50] Tucano (Jesus e Pinto, 2018).
Os valores de Limites de Liquidez (LL) e Índices de Plasticidade (IP) dos solos colapsíveis dos
estados do Nordeste estão situados ligeiramente acima da Linha A e à esquerda da Linha B da Carta de
Plasticidade (LL< 50%), Figura 2b. A atividade dos solos (Skempton, 1953) varia de baixa a média, o
potencial expansivo, conforme critério de Van der Merwe (1964) é baixo, e a maioria dos solos se enquadra
como colapsível, segundo Handy (1973), Figura 2a. Pelos critérios de Gibbs e Bara (1962) e Vilar e
Rodrigues (2015), Figuras 2c e 2e, respectivamente, algumas amostras se classificam como não colapsíveis,
contudo apenas estas classificações não desqualificam o caráter colapsível dos solos.
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Pelo critério de Jennings e Knight (1975) a maioria dos solos colapsíveis com tensões de inundação
iguais ou superiores a 200 kPa são problemáticos ou indicam problemas graves quanto ao colapso nas
edificações. Pelo critério de Lutenegger e Saber (1988) os danos são de moderado a grave para grande parte
dos solos registrados. Segundo Vargas (1978), os solos são potencialmente colapsíveis, pois apresentam um
potencial de colapso superior a 2%, já a partir da tensão de 50 kPa, Figura 2c.
Considerando as tensões de pré-consolidação do solo na umidade natural (cn) do solo inundado
previamente (cs), a tensão das terras (vo) e o critério de Reginatto e Ferrero (1973) observa-se que os solos
colapsíveis do Nordeste são Condicionados ao Colapso, indicando que há necessidade de um acréscimo de
tensão para apresentar o colapso ou são Verdadeiramente Colapsíveis, podendo colapsar sobre o peso
próprio, Figura 3.
Quanto aos solos expansivos, os valores de LL e IP encontram-se no entorno da Linha A da Carta de
Plasticidade e a atividade varia de baixa a média, Figuras 4a e 4b. Os métodos indiretos qualitativos adotados
apresentam uma tendência de alta a muito alta expansão para os solos do Nordeste, Figuras 4b e 4c,
excetuando-se o critério de Skempton (1953), o qual qualifica vários solos com baixa a média expansividade,
Figura 4a. No critério de Jimenez Salas (1980), os danos em estruturas assentes em solos expansivos vão
desde fissuras importantes até a demolição das edificações, devido as tensões de expansão serem superiores a
50 kPa, Figura 4d.
Figura 2. Solos colapsíveis: cartas de atividade (a), plasticidade (b), métodos diretos de classificação (c),
critérios de Gibbs e Bara (1962) (d) e Vilar e Rodrigues (2015) (e).
1300
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Obs: σcn – Tensão de pré-consolidação virtual do solo na umidade natural; σ cs – Tensão de pré-consolidação virtual do
solo inundado; σvo – Tensão vertical devido ao peso próprio do solo em campo.
Figura 3. Critério de Reginatto e Ferrero (1973) para solos colapsíveis do Nordeste brasileiro.
Figura 4. Solos Expansivos: cartas de atividade (a), plasticidade, métodos indiretos (b-c) e critério de
Jimenez Salas (1980) (d).
4 Considerações Finais
Este trabalho reúne informações a cerca das características geotécnicas e locais de ocorrência já
registrados na literatura de solos colapsíveis e expansivos do Nordeste brasileiro. Os métodos indiretos têm
1301
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aplicação restrita na identificação de solos colapsíveis e expansivos, devendo ser complementados com
métodos quantitativos diretos.
A maioria dos solos colapsíveis do Nordeste brasileiro são problemáticos, causam problemas graves
nas edificações pela classificação Jennings e Knight (1975), danos de moderados a grave as edificações pela
classificação Lutenegger e Saber (1988) e são solos Condicionados ao Colapso ou Verdadeiramente
Colaspíveis, segundo Reginatto e Ferrero (1973).
Os solos expansivos do Nordeste brasileiro são classificados de alta a muito alta expansão pelos
métodos indiretos qualitativos, excetuando-se o critério de Skempton (1953) que qualifica vários solos com
baixa a média expansividade. Os solos podem causar danos que vão desde fissuras importantes até a
demolição das edificações pelo critério de Jimenez Salas (1980).
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a CAPES, CNPQ e PROPESQ pelo apoio concedido por meio das bolsas de
Doutorado, Mestrado e Iniciação Científica.
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0164 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: As rodovias não pavimentadas correspondem à aproximadamente 75% do total das estradas
brasileiras (Confederação Nacional de Transporte, 2019), e estas são encontradas, principalmente, em cidades
do interior e estão sob responsabilidade dos municípios, que por sua vez têm o dever de proporcionar segurança
e conforto aos usuários. Devido ao baixo volume de tráfego, é dispensável o revestimento betuminoso na
camada superior, fazendo-se necessário apenas a manutenção com a utilização de solo e maquinários para
regularização da pista de rolamento. Muitas vezes as prefeituras não possuem verba suficiente e/ou corpo
técnico especializado, que ocasiona a manutenção e consevação inadequada. Por essa razão, o estudo deste
trabalho expõe a caracterização e classificação geotécnica, de acordo com as diretrizes do Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) de possíveis jazidas localizadas ao longo do traçado da
estrada vicinal que liga Rio Paranaíba – MG à rodovia BR354, km 294, sentido a Carmo do Paranaíba – MG.
Foram retiradas amostras de três possíveis jazidas, caracterizadas e classificadas pelos métodos Transportation
Research Board (TRB), Sistema Unificado de Classificação dos Solos (SUCS) e Miniatura, Compactado,
Tropical (MCT). Os três solos estudados são adequados para a utilização como material de manutenção da
rodovia, uma vez que obteve-se alta capacidade suporte e baixa expanção para as amostras, atingindo 96%,
60% e 49% de CBR e 0,05%, 0,60% e 0,03% de expansão, para os solos das jazidas 1, 2 e 3, respecitvamente.
ABSTRACT: The unpaved roads correspond to approximately 75% of Brazilian roads (Confederação
Nacional de Transporte, 2019). These roads are mostly found in inner cities and are under municipal
responsibility, which in turn, have the duty to provide safety and comfort for road users. Due to the low volume
of traffic, it is dispensable bituminous coating on the upper layer, making it necessary only the use of soil and
machines for road regularization. Local governments often do not have enough resources and/or specialized
engineer which causes inadequate maintenance and conservation. For this reason, the study of this paper
exposes the geotechnical characterization and classification according to the guidelines of the Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) of possible deposits located along the tracing of the outer
road connecting Rio Paranaíba – MG to BR354 highway, km 294, towards Carmo do Paranaíba – MG. Samples
were collected from three possible fields, characterized and classified by the methods Transportation Research
Board (TRB), Unified Soil Classification System (USCS) and Miniature, Compacted, Tropical (MCT). The
three soils studied are suitable for use as maintenance material, since high support capacity and low expansion
for the samples were obtained, reaching 96%, 60% and 49% of CBR and 0.05%, 0.06% and 0.03% of
expansion, for the soils of deposits 1, 2 and 3, respectively.
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1 Introdução
As estradas não pavimentadas, também denominadas como estradas de terra, segundo Eaton et al. (1987)
apud Nunes (2003), são vias as quais o revestimento é constituído apenas por solo local, sendo desprovida de
qualquer tipo de tratamento superficial por betume ou cimento Portland. A Confederação Nacional de
Transporte (CNT, 2014) expõe em sua pesquisa que cerca de 80% da malha rodoviária existente não é
pavimentada. Em Minas Gerais, o estado que possui a maior malha rodoviária do Brasil, cerca de 16% da
malha existente, possui 88,3% dela sob concessão dos municípios e de acordo com Nitschke (2012) 90,1%
dos quilômetros não são pavimentados. A pequena quantidade de estradas pavimentadas é justificada pelo alto
custo de implantação e manutenção.
O Alto Paranaíba, região onde se encontra as cidades de Rio Paranaíba e Carmo do Paranaíba, tem como
suas principais atividades econômicas a agropecuária e a extração mineral, o que aumenta a importância das
boas condições das vias não pavimentadas que segundo Nunes (2003), devem possuir boas condições de
conservação, de rolamento e de segurança, já que essas são de grande importância socioeconômica. A estrada
que liga o município de Rio Paranaíba à BR354 possui grande escoamento agropecuário e transporte de
usuários.
Devido aos altos custos para adoção de técnicas de pavimentação, torna-se inviável ao município
pavimentar todas as estradas existentes e para a mitigação deste problema o município deve adotar operações
que garanta segurança e conforto aos usuários. De acordo com Fattori (2007), para iniciar a recuperação da
rodovia não pavimentada, algumas medidas devem ser levadas em consideração para que sejam executadas
com rapidez, pequeno transtorno de tráfego e pouco desperdício de verba, entre elas estão a seleção prévia do
material de jazidas, estudo e checagem de materiais necessário, campo de obra, dentre outros fatores.
Portanto, viu-se necessário caracterizar e classificar possíveis jazidas de solo que estão nas proximidades
da estrada vicinal em questão, diminuindo a distância de implantação e o custo do transporte de material.
2 Objeto de estudo
A rodovia municipal que liga a cidade de Rio Paranaíba – MG à BR354, também conhecida como
Rodovia Sebastião Alves do Nascimento, é uma estrada vicinal, Figura 1, de 19,5 km de extensão, não
pavimentada, que tem como função o escoamento da produção agrícola, assim como o transporte escolar e de
passageiros da região, sendo utilizada como uma via de curto acesso entre as cidades de Rio Paranaíba e Carmo
do Paranaíba.
Inicialmente identificou-se as possíveis jazidas de solo ao longo do traçado da rodovia, estas inspeções
foram realizadas por trado manual simples com objetivo de localizar ocorrências de solos granulares,
considerados aproveitáveis como material de reforço e regularização da superfície da via. A avaliação inicial
foi através do ensaio táctil visual de acordo com a NBR 7250 – Identificação e descrição de amostras de solos
obtidas em sondagens de simples reconhecimento dos solos.
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De acordo com o DNIT (2006), os materiais recolhidos na prospecção preliminar devem passar por
ensaios de granulometria, limite de liquidez (LL), limite de plasticidade (LP), equivalente de areia,
compactação, Índice de Suporte Califórnia (CBR) e expansão, Fattori (2007) acrescenta que é recomendado
que seja realizada uma investigação prévia também para a execução e manutenção do pavimento.
Em campo, as três jazidas selecionadas já possuíam sinais de exploração prévia, em vista disso, as
amostras foram coletadas nos perfis dos taludes com auxílio de pá e picareta. A Figura 2 refere-se à jazida 1
(19º 08’ 19,9’’S, 46º 16’ 02,2’’O) à uma distância de 3 metros da rodovia, jazida 2 (19º 08’ 17,8’’S, 46º 16’
03,4’’O) a uma distância de 10 metros da rodovia e jazida 3 (19º 07’ 58,9’’S, 46º 15’ 54,4’’O) a uma distância
média de 20 metros, respecitvamente, e os pontos em vermelho representam os pontos de coleta das amostras.
O solo foi coletado de três pontos distintos na mesma jazida a fim de homogeneizar e melhorar a caracterização
da mesma, Figura 2. As jazidas encontram-se próximas entre si, as jazidas 1 e 2 estão a 100 metros de distância
e a jazida 2 e 3 a 650 metros, confome Figura 3.
Tabela 1. Fração granulométrica, limites de Atterberg e massa específica dos sólidos dos solos 1, 2 e 3.
Solo 1 Solo 2 Solo 3
Argila 8,5 15,5 12,2
Silte 4,5 4,7 5,6
Fração Granulométrica (%) Areia 10,2 23,8 32,0
Pedregulho 76,8 56,0 50,2
LL 31,2 33,0 37,5
Limites de Atterberg
LP 16,6 23,8 27,6
(%)
IP 14,6 9,2 9,9
Massa específica dos sólidos (g/cm³) 2,89 2,78 2,96
Massa específica seca máxima (g/cm³) 2,27 2,11 1,96
Teor de umidade ótima (%) 12,2 14,0 18,2
Através da análise da distribuição granulométrica, tem-se que o solo 1 se enquadra na faixa B e os solos
2 e 3 se enquadram na faixa D de especificação de faixas granulométricas preconizadas pelo DNIT (2006).
Apesar da jazida 1 se encontrar próxima à jazida 2 é possível notar uma variação significativa entre as
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distribuições, assim como estas também diferem quanto aos aspectos de cor e textura, já as jazidas 2 e 3, que
se localizam mais distânciadas, possuem semelhança nesses aspectos, esta similaridade pode ser justificada
por terem o mesmo grau de imtemperização dos solos.
Rao et al. (2000) explica que o ensaio California Bearing Ratio (CBR) mede a capacidade de um solo
compactado, e é expresso a partir da relação em porcentagem da pressão que um pistão de diâmetro
padronizado aplica em um solo até certo ponto de deformação, com a pressão que esse mesmo pistão penetre
sob mesma deformação em solo padrão de brita. Segundo Senço (2007) o CBR é uma das características mais
admitidas para avaliar o comportamento de um solo. As curvas obtidas para o solo 1, 2 e 3 estão dispostas na
Figura 6.
Solo 2 Solo 3
Solo 1
A Tabela 2 introduz os resultados dos ensaios CBR obtido nos três solos. Os baixos valores de expansão
caracterizam solos de baixa variação volumétrica quando em imersão, que segundo o DNIT (2006) resulta em
solos de boa aplicabilidade para uso nas camadas de rodovia.
O DNIT (2006) especifíca limites de expação máxima de 2% para solos empregados em subleito, 1%
para materiais de refoço de subleito e sub base e máxima de 0,5% para materiais de base. A elevada fração de
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pedregulhos com significativa fração de ligantes nos solos 1, 2 e 3, proporcionam a estes altas capacidades de
suporte.
Tabela 2. Expansão e CBR dos solos
Solo 1 Solo 2 Solo 3
Expansão (%) 0,05 0,06 0,03
CBR (%) 96 60 49
Um trecho da tabela proposta por South Dakota Local Transportation USA (2000) apud Fattori (2007)
está disposta na Tabela 3, de acordo com Fattori (2007) ela é usada para indicar a espessura mínima da camada
de revestimento em função do tráfego de veículos pesados na rodovia e da capacidade de suporte do subleito.
Considerando esta via com o tráfego de 10 a 25 veículos pesados por dia, é necessário espessura mínima de
18,0 cm deste material compactado na camada de revestimento.
Tabela 3. Expansão e CBR dos solos adaptado de South Dakota Local Transportation USA (2000) apud
Fattori (2007) (modificado)
Volume estimado de veículos pesados Condição de suporte do subleito Espessura mínima sugerida
Baixo 29,0
10 a 25 Médio 13,0
Alto 18,0
Nas Figuras 7, 8 e 9 são apresentadas as famílias de curvas de compactação dos solos e curvas de
deformabilidade dos solos 1, 2 e 3. O fator d’ corresponde ao maior coeficiente angular da reta tangente à
curva correspondente a dez golpes multiplicado por 10³ no gráfico das famílias de compactação, o fator c’
corresponde ao maior coeficiente angular da reta tangente à curva de umidade intermediária no gráfico de
deformabilidade e o fator Pi corresponde à perda de massa por imersão para valores de 10 golpes, obtido no
gráfico das famílias das curvas de compactação. O coeficiente e’ é calculado a partir do coeficiente d’ segundo
a Equação 1.
3 𝑃𝑖 20
𝑒 ′ = √100 + 𝑑′ (1)
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A Tabela 3 apresenta os coeficientes e a perda por imersão obtidos nos respectivos gráficos das famílias
das curvas de compactação e curvas de deformabilidade, para determinação dos fatores de classificação dos
solos.
Tabela 3. Coeficientes, perda por imersão e classificação dos solos pelo método MCT
Fatores MCT Solo 1 Solo 2 Solo 3
c' 0,10 1,40 1,3
d' 59,70 53,33 40,00
Pi 1,00 1,00 1,00
e' 1,10 1,11 1,14
Classificação LA LA’ LA’
O solo LA é uma areia com pouca argila de comportamento laterítico. Este tipo de solo de acordo com
com ábado para classificação MCT apresentada por DNIT (2006) tem característica de possuir alto mini CBR
sem imersão, possuir baixa perda de suporte quando em imersão, baixa expansão e contração, média para baixa
permeabilidade e baixa plasticidade. A baixa perda de suporte por imersão foi confirmada pelo alto CBR
apresentado pelo solo 1, assim como a baixa plasticidade e a baixa expansão.
O solo LA’ é uma areia argilosa com comportamento laterítico. Este tipo de solo possui alto ou muito
alto mini CBR sem imersão, perda considerável de suporte por imersão, baixa expansão e permeabilidade,
contração e plasticidade de baixa a média. A redução da capacidade de suporte por imersão foi confirmada
pela apresentação de menores valores de CBR pelos solos 2 e 3, assim como a baixa plasticidade e a baixa
expansão.
Em razão da alta perda de massa por imersão, pode-se citar que estes solos não são de boa aplicabilidade
na execução de taludes, tendo em vista o fácil carreamento dos grãos pela força da água.
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Os subgrupos A-2-4 e A-2-6 incluem solos contendo 35% ou menos passando na peneira n° 200, com
uma porção menor retida na peneira n° 40, com limites de liquidez menores que 40%. Os três solos, segundo
a classificação, possuem comportamento como sub leito de excelente a bom e basicamente são constituídos
por pedregulhos e areias argilosas.
O solo 1, segundo esta classificação, é mistura de areia e pedregulho com pouco fino, assim como os
solos 2 e 3 que, apesar de não se enquadrarem na mesma classificação do solo 1, são constituídos por areais
pedregulhosas com pouco fino. Segundo o DNIT (2006) são classificados como misturas não uniformes de
material muito grosso, e areia muito fina, faltando partículas com tamanhos intermediários.
De acordo com Pastore et al. (1998), o solo GP possui boa trabalhabilidade como material de construção
e boa resistência quando compactado e saturado, e o solo SP possui trabalhabilidade regular como material de
construção e boa resistência quando compactado e saturado.
4 Conclusão
A partir dos resultados das caracterizações e classificações dos solos das três possíveis jazidas,
localizadas na estrada Rio Paranaíba-MG à BR 354, km 294, concluiu-se que estes solos são de excelente
qualidade para serem utilizados como materiais de manutenção da camada de base da rodovia.
Os solos das jazidas 2 e 3, apesar de estarem mais distantes entre si, apresentaram semelhanças nas
propriedades granulométricas, assim como nos limites de consistência, levando-os à convergência nas
classificações pelos métodos TRB, SUCS e MCT, uma vez que esses métodos levam em conta apenas
granulometria e os limites de Atterberg, enquanto que a jazida 2 apresenta diferenças significativas da jazida
1, mesmo estando mais próximas.
Os resultados das classificações atenderam às inter-relações propostas pelo DNIT (2006).
As localizações intermediárias na rodovia das três possíveis jazidas propiciam diminuição na distância
média de transporte dos solos às áreas em manutenção, gerando aumento na relação custo-benefício, visto que
grande parte dos custos operacionais de manutenção e conservação estão relacionados com o transporte de
materiais. Outro ponto importante para a logística das obras é que não requerem a acomodação dos
trabalhadores no local da obra, sendo necessário apenas o transporte dos colaboradores para o local, devido à
curta distância à cidade.
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ABSTRACT: Regarding the process of dosing soil-cement mixtures, there is currently the physicochemical
dosing project proposed by DNIT, which proposes to simplify the process of determining the minimum cement
content required for chemical soil stabilization. Thus, the present study aims to investigate the physicochemical
dosing methodology suitability in predicting the minimum design resistance of soil-cement mixtures for use
on pavement base. Using silt sand and contents of 2, 4, 6, 7, 8 and 10% of Type I and Type III Portland cement,
in addition to the physical-chemical dosage, compaction and Unconfined Compression Strength tests were
carried out. The dosage methodology indicated the minimum levels of 4% (Type I) and 7% (Type III) for soil
stabilization, however, the presence of particles in suspension after resting period succeeded in repeating the
test with adjustment in the experimental procedure, based on which the readings pointed to the contents of 7%
and 4% for Type I and Type III cement. When analyzing the prediction of both tests with UCS, the
experimental adjustment test demonstrated a greater agreement to the results. Because it is a recent
methodology, only its use in testing routines will enable the investigation of its feasibility for different soils
and future proposals for refinements.
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1 Introdução
2 Materiais e Métodos
2.1 Materiais
O solo utilizado no estudo foi coletado em área próxima às margens da rodovia federal BR-376, no
município de Mandaguaçu – PR, localizado a aproximadamente 123 km do Laboratório de Geotecnia da
Universidade Estadual de Londrina – PR (Figura 1), local em que os ensaios foram realizados.
Predominantemente arenoso, o sílicio é o elemento majoritário no solo, apresentando alumínio e ferro em
menores quantidades (Gonçalves et al., 2018).
A caracterização do solo está apresentada na Tabela 1. De acordo com os sistemas de classificação
SUCS (Sistema Unificado de Classificação de Solos), AASHTO (American Association of State Highway and
Transportation Officials) e metodologia MCT, o solo é identificado como uma areia argilosa (SC), pertencente
ao grupo A-2-4 e arenoso fino laterítico (LA’), respectivamente.
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Acerca dos agentes estabilizantes, foram utilizados os cimentos Portland com adição de pozolana (CP
II Z-32) e de alta resistência inicial (CP V-ARI). A escolha do CP II se deu pelo uso desse agente em pesquisas
desenvolvidas anteriormente no laboratório de Geotecnia da Universidade Estadual de Londrina, além da
grande disponibilidade desse cimento na região de estudo, ao passo que o uso do CP V foi motivado pela sua
difusão em pesquisas científicas com solo-cimento e pelo acelerado ganho de resistência em idades iniciais
(Consoli et al., 2007; Cancian et al., 2017; Ferreira et al., 2018; Ferreira, 2019).
Todos os experimentos foram realizados utilizando água fornecida pela rede de abastecimento após
processo de destilação.
2.1 Métodos
Para ser empregado nos ensaios de dosagem, compactação e Resistência à Compressão Simples (RCS),
o solo foi preparado seguindo os procedimentos de secagem ao ar, destorroamento, homogeneização,
quarteamento e determinação o teor de umidade higroscópica, com base na Associação Brasileira de Normas
Técnicas – ABNT NBR 6457 (2016).
A dosagem físico-química foi realizada de acordo com o projeto de dosagem proposto pelo
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), sendo separadas 20 g de solo destorroado a
ser colocado em provetas de 250 ml, assim como quantidades de cimento (Figura 2a), calculadas em relação a
porcentagem do agente por massa seca de solo, variando entre 1 e 2 %. As duas porções foram misturadas à
seco (Figura 2b), e adicionado água destilada. Além da proveta de referente (sem adição de cimento), foram
adotados os teores de 2, 4, 6, 7, 8 e 10 %.
Após 24 h de repouso em superfície plana, livre de vibração, a mistura foi agitada durante 30 segundos,
aguardando-se o período mínimo de 2 h para sedimentação e realização de leitura do volume (Figura 2c). Essa
operação foi repetida no decorrer de vários dias, até que se obtivesse em duas leituras consecutivas valores
análogos ou decréscimos.
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3 Resultados e Discussão
Com base na construção das curvas de compactação foram determinados os parâmetros de moldagem
das misturas, massa específica seca máxima - ρd máx (Figura 3a) e teor de umidade ótima - ωót (Figura 3b), para
cada condição experimental.
1,91 14,0
CP II Z-32 CP II Z-32
CP V-ARI CP V-ARI
13,7
1,89
ρd máx(g/cm3)
1,89 13,6
ωót (%)
1,88 1,88 13,5 13,6
13,4 13,5
1,88
1,87
1,86 13,2
1,85 13,0
6 8 10 6 8 10
Teor de cimento (%) Teor de cimento (%)
(a) (b)
Figura 3. Parâmetros de compactação das misturas solo-cimento. Fonte: Autores.
Em função do percentual de adição, para ambos agentes estabilizantes, foi observado uma sútil tendência
de aumento da massa específica seca máxima, apresentando constância para o CP II e suave decréscimo para
o CP V, entre os teores de 8 e 10 %. Supõe-se que o acréscimo de cimento, resultando em aumentos de massa
específica seca, está associado a um limite, a partir do qual a densidade da mistura se torna menos sensível a
essa variação. Em virtude de ser uma areia bem graduada, com aproximadamente 23 % de material menor do
que 0,075 mm, o solo sem adição de cimento, ao ser compactado, já possui um satisfatório entrosamento entre
os grãos e partículas, hipótese confirmada ao comparar a massa específica seca máxima do solo (
Tabela 1) com as obtidas nas misturas.
Em relação ao teor de umidade ótima, foi confirmado, para ambos cimentos, a tendência de acréscimo
de cimento resultando no aumento da demanda de água para estabilização da mistura, em decorrência do
aumento da superfície a ser hidratada.
O comportamento mecânico, avaliado sob a ótica da resistência à compressão simples, em função dos
teores e tipo de cimento, está retratado na Figura 4.
4,5 4,5
CP II y = 0,0587x2 - 0,6863x + 3,827 R² = 1 CP V y = -0,0254x2 + 0,818x - 1,5591 R² = 1
4,0 4,0
4,1
3,5 3,5
RCS (MPa)
2,5 2,82,5
2,4
2,0 2,0
2,1
1,8
1,5 1,5
6 7 8 9 10 6 7 8 9 10
Teor de cimento (%) Teor de cimento (%)
Figura 4. Resistência à compressão simples das misturas solo-cimento. Fonte: Autores.
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O estudo de dosagem e determinação do teor mínimo de cimento para estabilização foi realizado de
forma a averiguar a concordância da metodologia de dosagem físico-química frente ao critério de resistência
mínima de projeto imposto pelo DNIT, voltados a aplicação das misturas solo-cimento em base de pavimento.
Conforme discutido anteriormente, foram realizados dois ensaios de dosagem físico-química para cada
um dos estabilizantes, em decorrência da constatação de partículas em suspensão no decorrer do ensaio I.
Como é possível averiguar, de acordo com as Tabela 2 e Tabela 3, a realização de movimentos rotacionais
durante o ensaio II, para promover o assentamento do solo em suspensão, resultou em respostas diferentes de
expansão.
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No caso do ensaio II (Figura 6), as variações volumétricas máximas de 90 e 76 % foram obtidas com
teores de 7 e 4 % de cimento CP II e CP V. Embora dois pontos tenham apresentado expansão de 76 %, foi
considerado o menor teor que satisfez o requisito de variação volumétrica.
120
115 120 CP II Z-32
100
100 CP V-ARI
Variação Volumétrica (%)
84
79
80 73
82
60 73 70 53
64
40 53
20
0
0 2 4 6 8 10
Teor de cimento (%)
Figura 5. Ensaio I de dosagem físico-química em função do tipo e teores de cimento. Fonte: Autores.
1318
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120
CP II Z-32
100 90 CP V-ARI
86
Variação Volumétrica (%)
79 79
80 69 72
74 76 76 72
60 66
40 52
20
0
0
0 2 4 6 8 10
Teor de cimento (%)
Figura 6. Ensaio II de dosagem físico-química em função do tipo e teores de cimento. Fonte: Autores.
4 Conclusões
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1320
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0166 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Os solos residuais de rochas metamórficas, como as que compõem o Complexo Embu,
embasamento na Região Metropolitana de São Paulo, são marcados por comportamento geotécnico
heterogêneo. A presente pesquisa buscou ampliar o conhecimento sobre a resistência dos solos residuais de
rochas do Complexo Embu, relacionando o comportamento geotécnico dos solos com as estruturas
metamórficas reliquiares. O perfil de alteração estudado encontra-se no município de Itapecerica da Serra,
sudoeste de São Paulo. Foram analisadas 5 porções do perfil denominadas H3A, H4-1, H4-2, H4-3 e H5.
Para cada um dos níveis, realizaram-se ensaios de resistência ao cisalhamento direto saturados com amostras
reconstituídas e indeformadas, com estrutura perpendicular e paralela ao plano de cisalhamento. Foi feita
descrição da mineralogia e aspectos morfológicos da estrutura metamórfica das amostras. São constituídas
basicamente por biotita, muscovita, quartzo e feldspato, com granulação variando no perfil entre muito fina a
média e texturas miloníticas e um material de preenchimento laranja resultado da oxidação de minerais
máficos. A resistência ao cisalhamento das amostras indeformadas aparenta ser controlada pela orientação
preferencial dos minerais micáceos e pela possível presença de cimentação por oxidação e, quando
desagregados e remoldados estes solos perdem grande parte de sua resistência devido ao arranjo aleatório
dos minerais.
ABSTRACT: Residual soils developed from metamorphic rocks from the Embu Complex, embasement in
the Metropolitan Region of São Paulo, are marked by heterogeneous geotechnical behavior. The present
research sought to broaden the knowledge about the resistance of residual rock soils of the Embu Complex,
relating the geotechnical behavior of the soils with the relic metamorphic structures. The alteration profile
studied is located in Itapecerica da Serra, southwest of São Paulo. Five portions of the profile named H3A,
H4-1, H4-2, H4-3 and H5 were analyzed. For each of the levels, shear strength tests were performed with
remolded and undeformed samples, with metamorphic structure perpendicular and parallel to the shear
plane. A description of the mineralogy and morphological aspects of the metamorphic structure of the
samples was made. The samples are basically constituted by biotite, muscovite, quartz and feldspar, with
granulation varying in the profile between very fine to medium and mylonitic textures, and an orange filling
material resulting from the oxidation of mafic minerals. The shear strength of the undeformed samples
appears to be controlled by the preferential orientation of the micaceous minerals and the possible presence
of cementation due to oxidation and, when disaggregated and remolded, these soils lose much of their
strength due to the random arrangement of the minerals.
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1 Introdução
2 Método
1322
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H4 apresenta três principais variações (H4-1, H4-2 e H4-3) marcadas por mudanças de cor e espessura do
bandamento composicional (Silva, 2019).
As coletas de amostras foram realizadas em três saídas de campo ao local de estudo nos dias
14/01/2019, 23/03/2019 e 05/09/2019. Em campo, foram coletadas amostras indeformadas nos horizontes de
alteração denominados H3A, H4-1, H4-2, H4-3 e H5.
Foram descritas amostras de mão coletadas em campo dos horizontes H3A, H4-1, H4-2, H4-3 e H5.
As descrições foram realizadas de acordo com a classificação morfológica de Passchier e Trouw (2005), que
propõem uma classificação de foliações descritiva que independe da sua origem, usando apenas
1323
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características morfológicas. Essa classificação é baseada na distribuição de minerais que definem a foliação
e as divide em foliações contínuas e espaçadas. As rochas com foliação espaçada apresentam dois domínios:
domínio de clivagem e micrólintons. Os domínios de clivagem são planares e paralelos a orientação geral da
foliação e geralmente ricos em mica e minerais como ilmenita, grafita, rutilo e zircão. Os microlintons
encontram-se entre os domínios de clivagem e possuem orientação preferencial mais fraca (Passchier e
Trouw, 2005). Os domínios de clivagem podem ser descritos de acordo com sua quantidade (em
porcentagem) e a relação espacial entre eles (paralela, anastomosada, conjugada). Para a descrição, foi
utilizado o Estereomicroscópio ZEISS Stemi Z6 e as fotos foram tiradas com a câmera digital Axiocam 105
color.
Além disso, foi analisada a mineralogia da fração de tamanho maior que 100# de todos os horizontes
para comparação com os resultados obtidos por Sandroni (1981). Para isso, uma alíquota das amostras
desagregadas foi mantida em estufa por 24 horas para secagem. Depois de secas, as amostras foram
peneiradas em 100# e a fração retida foi observada na lupa.
3 Resultados e Discussões
As amostras dos horizontes do perfil descritas apresentam, de modo geral, foliação espaçada
anastomosada (Figura 2A). A granulação varia entre muito fina a média com texturas miloníticas, como
quartzo ribbon e porfiroclastos de feldspato sigmoidal (Figura 2B). Os domínios de clivagem são compostos
por biotita, muscovita e hornblenda e os microlintons são compostos por quartzo e feldspato muito alterado.
Observou-se também a presença de um material de alteração laranja resultante da oxidação de minerais
máficos, perfazendo entre 5 e 30% do arcabouço das amostras, encontrado também envolvendo os minerais
do material desagregado (Figura 2B e C). A quantidade de domínios de clivagem nos horizontes variou
entre 40 e 70%, controlada pela quantidade total de mica na amostra. A mineralogia da fração >#100 do
material desagregado refletiu a observada nas amostras indeformadas, porém com proporções diferentes
(Tabela 1).
Figura 2. Amostras vistas em lupa. (A) Demarcação da foliação espaçada anastomosada (tracejado branco) com micrólintons
compostos por quartzo (qz) e feldspato e domínios de clivagem compostos por biotita (bt), muscovita (ms) e hornblenda orientadas.
(B) Porfiroclasto de feldspato alterado (felds) e quartzo ribbon (qz). A seta vermelha indica o material laranja resultante da oxidação
de minerais máficos. (C) Fração >100# do material desagregado, com grãos de quartzo (qz), feldspato (felds), muscovita (ms) e
hornblenda (hb). A seta vermelha indica grão envolto pelo material laranja.
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Tabela 1. Resumo da mineralogia e feições encontradas nas amostras indeformadas e desagregadas, com respectivas estimativas de
porcentagem de minerais.
Domínios
Mineralogia amostras Mineralogia amostra
Amostra de Oxidação
indeformadas desagregada (fração >100#)
clivagem
Quartzo: 30%; Muscovita: 60%; Quartzo: 30%; Muscovita 65%;
H3A 70% 30%
Feldspato: 10% Feldspato 5%
Quartzo: 40%; Biotita: 40%; Quartzo: 67%; Biotita 10%;
H4-1 Muscovita: 5%; Feldspato: 10%; Muscovita: 10%; Feldspato: 10%; 60% 15%
Hornblenda: 5% Hornblenda 3%
Quartzo: 50%; Biotita 25%; Quartzo 67%; Biotita 15%;
H4-2 Muscovita 5%; Feldspato 15%; Muscovita 5%; Feldspato 10%; 50% 3%
Hornblenda: 5% Hornblenda 3%
Quartzo 50%; Biotita 15%; Quartzo: 77%; Biotita 5%;
H4-3 Muscovita 10%; Feldspato 20%; Muscovita 10%; Feldspato 5%; 40% 10%
Hornblenda 5% Hornblenda 3%
Quartzo: 35%; Biotita 30%; Quartzo:67%; Biotita 10%;
H5 Muscovita: 10%; Feldspato 10%; Muscovita: 10%; Feldspato 10%; 60% 3%
Hornblenda: 5% Hornblenda 3%
Os resultados dos ensaios de granulometria e índices físicos, realizados por Silva (2019) são
apresentados na Tabela 2 e demonstram que não há uma variação expressiva na granulometria. Os resultados
obtidos de limites de Atterberg apresentaram não plasticidade, o que condiz com a ausência da fração argila
nos ensaios de granulometria.
Tabela 2. Resultados de análise granulométrica e determinação de índices físicos (retirado de Silva, 2019).
As envoltórias obtidas para amostras reconstituídas apresentam parâmetros de resistências mais baixos
quando comparadas às envoltórias para corpos de prova indeformados (Figura 3A e B, Tabela 3). Nota-se
que nas amostras reconstituídas há menor variação da resistência, enquanto nas amostras com estrutura
preservada há variação notável. Com relação às amostras indeformadas, os ensaios realizados para corpos de
prova com foliação paralela ao plano de cisalhamento indicaram menor resistência em comparação aos
corpos de prova com foliação perpendicular, para todas as amostras. Comparando-se com os dados de
Sandroni 1981 (Figura 3C), a maioria das amostras ensaiadas nesta pesquisa esta no intervalo de 20 a 60%
de mica e as respectivas envoltórias para corpos de prova indeformados não coincidem com os intervalos de
porcentagem definidos. Além disso, com os dados disponíveis, não é possível estabelecer uma relação direta
entre a quantidade de mica e a resistência, com exceção de H4-3 que é a mais resistente em todos os casos e
apresenta menor quantidade de mica.
1325
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Figura 3. (A) Envoltórias de ruptura obtidas para ensaios com foliação perpendicular (Per) e paralela (Par) ao plano de cisalhamento
e amostras reconstituídas (R). (B) Zoom para tensões cisalhantes entre 0 e 200kPa. (C) Comparação com envoltórias propostas por
Sandroni (1981). As porcentagens indicam a variação da quantidade de mica nas amostras.
Tabela 3. Parâmetros de resistência obtidos para foliação perpendicular e paralela ao plano de cisalhamento e amostras
reconstituídas.
Nota-se que a proporção de micas nas amostras indeformadas varia ao longo do perfil. As amostras
H4-1 e H3A, que apresentam valores mais altos de mica (e também de domínios de clivagem) que as
amostras H5 e H4-2, têm valores de coesão (para corpos de prova com foliação perpendicular ao plano de
cisalhamento) maiores que as últimas. H4-3 representa uma exceção devido à coesão obtida, altamente
discrepante em relação às demais. A quantidade de feldspato na amostra não influencia na resistência das
amostras, já que a porcentagem do mineral se mantém praticamente a mesma ao longo do perfil de alteração.
A quantidade de quartzo observada é maior para as amostras com menos mica, portanto o esperado seriam
parâmetros de resistência maiores para amostras com muito quartzo. Tal relação não corresponde
inteiramente com a realidade, já que a amostra H4-2, que é mais rica em quartzo que a amostra H3A, tem
resistência menor.
A Figura 4 é uma representação gráfica da variação da composição mineralógica no perfil e índices
físicos, assim como os parâmetros de resistência para amostras reconstituídas e indeformadas. As proporções
de minerais na fração maior que #100 não apresentam influência aparente na resistência das amostras do
perfil. A composição observada nas análises macroscópicas não varia muito ao longo do perfil, com exceção
da amostra H3A que apresentou alta quantidade de mica. No entanto, os parâmetros de resistência
encontrados para a amostra H3A indeformada são maiores que para amostras com baixa quantidade de mica,
contradizendo a relação proposta por Sandroni (1981).
1326
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A amostra com maior índice de vazios é a H5 (aproximadamente 0,8). Já a amostra H3A, horizonte
mais alterado do perfil e mais próximo à superfície, apresenta valores mais baixos de índices de vazios
(aproximadamente 0,6), quando o esperado seria o aumento do índice de vazios com o grau de alteração da
amostra devido à perda de minerais por lixiviação (Blight, 2012). O horizonte H4 também apresenta valores
mais baixos que H5 para índice de vazios. Estas relações entre os índices físicos desses solos
provavelemente explicam os parâmetros de resistência ao cisalhamento determinados para as amostras, que
são menores para H5 (horizonte mais preservado, mais profundo) e maiores para H3A (horizonte mais
alterado, mais próximo à superfície). Aventa-se a hipótese de que o processo de alteração da rocha no local
estudado diminui a quantidade de vazios da rocha nas camadas mais evoluídas de solo, possivelmente devido
à ocorrência de cimentação, o que acarreta num ganho de coesão. A presença do preenchimento laranja tanto
nos planos de foliação das amostras indeformadas, quanto recobrindo os minerais desagregados, resultado da
oxidação de minerais máficos, reforça a hipótese da ocorrência deste tipo de agente cimentante nos solos
residuais, de forma semelhante ao que é proposto por Antunes et al. (2015).
Figura 4. Variação de índice de vazios (e), proporção de mica nas amostras indeformadas (mica m) e desagregadas (mica s),
porcentagem de oxidação (ox) e parâmetros de resistência ao longo do perfil de alteração.
4 Considerações Finais
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reforça a importânica da descrição macroscópica destes solos, para que se possam identificar os horizontes
menos resistentes, que não são, necessariamente, os mais superficiais.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o apoio da CNPq no desenvolvimento deste trabalho, através da concessão de bolsa de
pesquisa (Processo: 131800/2018-3).
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1328
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0167 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: As obras de engenharia civil buscam, cada vez mais, agilidade nos processos e menores
interferências. Com base nisso, o Tunner Liner se apresenta como um Método Não Destrutivo (MND) para a
abertura de túneis estruturados com segmentos de aço corrugado, com uma gama de aplicabilidades,
praticidade na execução, elevada durabilidade e resistência mecânica. De encontro a essa informação, o
presente trabalho tem como objetivo apresentar o estudo de caso sobre os métodos executivos na implantação
do Tunner Liner da travessia urbana, na cidade de Natal, junto ao sistema de drenagem das vias laterais da
BR-101, sendo a alternativa mais ambiental, econômica e tecnicamente viável. A metodolovia foi baseada na
vivênvia e nas referências bibliográficas desse tipo de obra. Durante a execução da obra, houveram patologias
não previstas. Dentre as diversas possíveis causas pode-se citar: número insuficiente de sondagens,
profundidade analisada insuficiente e heterogeneidade do tipo de solo e suas propriedades. Tais erros são
comuns e, muitas vezes, acabam onerando a obra, uma vez que criam a necessidade de medidas interventivas.
Como resultado, percebe-se que a busca por técnicas que não agridam ao meio ambiente e não tragam
transtornos à comunidade durante a sua execução têm sido adotadas em diversas situações. De maneira geral,
a adoção de um MND é favorecida por ser uma solução simples, econômica e segura para a abertura de túneis.
Ao final, a construção bem sucedida dessa obra teve como base a cooperação de todas as áreas envolvidas no
projeto. Em suma, conclui-se que o artigo possui o poder difundir o conhecimento sobre a técnica, contribuindo
com a sociedade e com a engenharia.
ABSTRACT: Civil engineering works increasingly seek agility in processes and less interference. Based on
this, the Tunner Liner presents itself as a non-destructive method for opening structured tunnels with
corrugated steel segments, with a range of applicability, practicality in execution, high durability and
mechanical resistance. This work aims to present the case study on the executive methods in the
implementation of the Tunner Liner of the urban crossing, in the city of Natal, next to the drainage system of
the side roads of the BR-101, being the more environmental, economical and technically feasible alternative.
The methodology was based on the experience and bibliographic references of this type of work. During the
execution of the work, there were unforeseen pathologies. Among the several possible causes we can mention:
insufficient number of soundings, insufficient depth analyzed and heterogeneity of the type of soil and its
properties. Such errors are common and often end up burdening the work, since they create the need for
intervention measures. As result, it is perceived that the search for techniques that do not harm the environment
and do not disturb the community during its execution have been adopted in several situations. In general, the
adoption of a non-destructive method is favored because it is a simple, economical and safe solution for
opening tunnels. In the end, the successful construction of this project was based on the cooperation of all
1329
ISBN: 978-65-89463-30-6
areas involved in the project. In short, it is concluded that the article has the power to spread knowledge about
the technique, contributing to society and engineering
1 Introdução
A execução de obras com valas a céu aberto em vias de grande densidade de tráfego, como ruas,
avenidas, estradas e ferrovias, causam grandes transtornos e um custo social importante: interrupção do
tráfego, congestionamento no trânsito, acidentes com pedestres e dificuldades de acesso ao comércio e
serviços. Tais fatores levam à preferência por técnicas não-destrutivas.
O método não-destrutivo Tunner Liner, largamente utilizado em milhares de obras no Brasil e no
exterior é a solução mais simples, versátil, econômica e segura para a abertura de túneis, sem interferir na
superfície ou nas atividades.
Naresi (2015) afirma que essa técnica vem sendo largamente utilizadas em redes de esgotos, passagens
de veículos e pedestres, passagens de cabos de telefonia e energia, em obras metroviárias e na mineração,
como encamisamento para proteção mecânica de tubulações de água, esgoto, combustíveis e demais
instalações, na canalização de córregos e como reforço estrutural para túneis.
A técnica executiva de implantação do Tunner Liner, empregando chapas de aço corrugado é de fácil
manuseio, permite escavações com avanço modular de 46 cm ou 50 cm. Com área reduzida de solo exposto,
esse sistema oferece maior segurança ao operador na frente da escavação. Nas flanges das chapas de
revestimento, podem ser fixadas escoras metálicas para apoiar escudos frontais, reduzindo o risco de
desmoronamentos.
A simplicidade da montagem, de progressão rápida, confere alta produtividade ao sistema. A cada novo
segmento do túnel montado, é possível a imediata escavação do anel seguinte. Sendo um sistema de
revestimento com chapas de aço, o Tunnel Liner permite furações e adaptações dentro do túnel para contornar
ou eliminar interferências, não cadastradas, que possam surgir durante a execução.
2 Estudo de Caso
A área de estudo está localizada entre os municípios de Natal e Parnamirim no estado do Rio Grande do
Norte, iniciando no entroncamento da BR-101, com Avenida das Alagoas (5°51.719’S/35°12.881’O) sentido
a Avenida Antoine de Saint Exupéry, chegando até o extravasor na Lagoa de absorção (5°51.554’S/
35°13.504’O), conforme figura 1.
Os dados de escavação dos poços de visista (vertical) e dos túneis (horizontal) estão referenciados na
1330
ISBN: 978-65-89463-30-6
tabela 1 e 2 abaixo:
Tabela 1 – Detalhe executivo dos PV. Tabela 2 – Detalhe executivo dos Túneis
Poço de Projeto Diâmetro Tunnel Liner Distância Diâmetro
Visita (m) (m) (Escavação Horizontal) (m) (m)
56 6,42 2,20 PV56-PV57 108,89 2,00
57 11,17 2,20 PV57-PV58 194,45 2,00
58 17,20 2,20 PV58-PV59 226,00 2,00
59 17,48 2,20 PV59-PV60 225,00 2,00
60 19,28 2,20 PV60-PV61 180,00 2,00
61 20,50 2,20 PV61-PV62 194,00 2,00
62 27,32 3,20 PV62-PV63 250,00 2,00
63 27,14 3,20 PV63-Extravasor 120,00 2,00
Previamente ao início da execução da obra, foram efetuadas sondagens à percussão com o intuito de
determinar o tipo de subsolo, a existência do nível do lençol freático e os resultados do ensaio SPT (Standart
Penetration Test). O solo encontrado na classificação para execução do Tunner Liner não foi favorável, por
ser um material não coeso. A geologia ao longo do traçado é bastante simplificada, composta basicamente por
terrenos sedimentares. A faixa dessa bacia sedimentar tem uma largura média oscilando entre 25 e 45 km,
abrangendo toda extensão costeira. A rodovia existente e a ser implantada encontra-se dentro dessa faixa.
Durante a execução dos avanços programados, como método de segurança, Ribeiro Neto (1999) afirma
sobre a necessidade de executar sondagens na frente da escavação. Essas sondagens são executadas através de
furos horizontais e furos com inclinação ascendente para verificação de existência de água ou alteração
localizada de solos. Ressalta-se que em nenhum momento foi encontrado nível d’água.
2.3 Dimensionamento
Naresi (2015) destaca, em relação ao dimensionamento estrutural dos bueiros, que a capacidade de
suporte de estruturas flexíveis de aço corrugado, como no caso do Tunnel Liner, em função da resistência da
sua seção e do confinamento do solo adjacente, impede deformações da estrutura. Nesta situação, apenas
esforços de compressão atuam nas chapas do Tunnel Liner com dimensionamento baseado na teoria do anel
de compressão. O carregamento atuante no Tunnel Liner depende do tipo de solo. Em solos granulares,
considera-se o ângulo de atrito interno do solo e o diâmetro do túnel para o cálculo da carga. As figuras 2 e 3,
a seguir, são referentes aos detalhes do projeto executivo do estudo de caso.
1331
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Tendo sido locado o eixo da obra e dado o início da escavação manual da frente de ataque, a escavação
foi realizada dentro de um perímetro mais justo possível à circunferência externa, com avanço aproximado de
0,46 m. São quatro fatores principais que influenciam na determinação do tipo de método utilizado: diâmetro
ou vão do túnel, tipo de solo, presença de água e o recobrimento de solo sobre o tubo.
O emprego das chapas de aço corrugado é de fácil manuseio, o que traz uma grande vantagem. As
escavações possuem avanço modular de 46 cm e essa área reduzida de solo exposto oferece segurança aos
trabalhadores na frente de escavação conforme representado na figura 4.
Figura 4: Processo construtivo. (Manual de segurança e saúde no trabalho para escavação na indústria da
construção / Serviço Social da Indústria – Brasília: Sesi/DN, 2019).
A cada segmento de túnel realizado, é possível realizar a escavação do anel seguinte. Logo, não há a
necessidade de paralisar ou interromper os serviços. A figura 5 e 6 são referentes ao início do processo de
execução do poço de visita.
Figura 5 – Início da execução do poço de visita. Figura 6 – Início da execução do poço de visita.
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Figura 7 – Descida das chapas metálicas Figura 8 – Execução da retirada do material pelo
conforme normas e segurança. poço de visita.
Naresi (2015) descreve que a durabilidade das estruturas metálicas corrugadas empregadas em
obras hidráulicas ou passagens inferiores está relacionada às características do projeto e às condições
do local onde são instaladas. Existem, entretanto, situações especiais de projeto em que a estrutura
metálica é submetida a esforços de impacto constante devido à velocidade e à presença de partículas
sólidas no fluxo. Nesses casos, para prevenir contra o desgaste precoce ou estender a vida útil das
estruturas corrugadas, recomendamos a aplicação de um pavimento sobre parte do perímetro
molhado, que poderá ser inclusive de concreto projetado. A figura 02 mostra o revestimento realizado
no perímetro molhado da estrutura corrugada.
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Coelho (2014) retrata que a instabilização em solo corrediço é um mecanismo local, sendo um
escorregamento de solo que ocorre quando o material do talude atinge o seu ângulo de atrito. Como
se trata de um mecanismo local, as tensões distantes da face não exercem influência e dessa maneira,
o núcleo de areia necessário para estabilização independe da altura de cobertura.
Durante o processo de escavação nas frentes de serviço ocorreram carreamento de material
devido ao tipo de solo da geologia local. As figuras 11 e 12 mostram o efeito piping ocorrido.
Maffei e Murakami (2011) afirmam que os mecanismos nos suportes dos túneis ocorrem
quando a solicitação da estrutura ultrapassa os seus limites de resistência, por carregamentos
excessivos ou por execução de suportes deficientes. Carregamentos excessivos podem ser provocados
por comportamentos imprevistos do maciço, ou por deformações impostas resultantes da alteração
do estado de equilíbrio do conjunto maciço-estrutura provocada pela escavação.
Resultante do carreamento de material e dificuldades nas escavações nas frentes de serviços
adotou-se algumas alternativas. Em primeiro momento optou-se pela técnica de jet grouting para
estabilização do maciço na vertical e horizontal.
Rodrigues (2018) descreve que o jet grouting é uma técnica de melhoramento das
características geotécnicas dos solos, realizada diretamente no interior do terreno, em que envolve a
erosão da estrutura natural do solo através de injeções de calda de cimento, ar ou água, a elevadas
pressões e velocidades. A calda de cimento penetra nos espaços vazios resultantes e mistura-se com
o solo, formando colunas de solo-cimento, com melhores características mecânicas e de menor
permeabilidade. O processo executivo da técnica jet grouting envolve, basicamente, três etapas
distintas, que estão representadas pelas figuras 13, 14 e 15.
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Figura 14 – Aplicação de jet grouting – Tunnel Figura 15 – Aplicação de jet grouting (Vertical).
(Horizontal).
Apesar da técnica de consolidação dos solos com jet grouting bastante aplicada em obras, não
foi bem sucedida na geologia local, sendo necessária a utilização de outra metodologia. A segunda
técnica aplicada para consolidação do maciço para escavação frente ao Tunner Liner foi o método do
tubo tracionado, que foi bem adaptada até o final da execução do mesmo.
Para realizar o tracionamento dos tubos foram realizados o aumento do diâmetro dos poços de
visita para 5,0 m, acomodando a máquina em seu interior, sendo mantida a profundidade e a extensão
do túnel conforme projeto.
Posteriormente à execução do furo piloto com o auxílio de perfuratriz horizontal direcional
(HDD), foi mantido a declividade e o alinhamento, sendo usado um rastreador com sonda de grande
sensibilidade. Logo após o furo piloto atingir a outra extremidade, as hastes de perfuração foram
substituídas por haste de tracionamento. Assim, realizou-se a instalação da máquina hidráulica
cravadora. A máquina composta de dois pistões hidráulicos instalados em uma mesa metálica
horizontal é acionada por uma unidade hidráulica e posicionada no Poço de Visita na declividade ou
alinhamento do tubo a ser tracionado.
A cravação se dá com movimentos horizontais dos pistões hidráulicos, tracionando as hastes
metálicas, que são barras maciças de aço carbono SAE-1045, temperadas com diâmetro de 64 mm e
comprimento de 1,0 m. Posiciona-se o tubo a ser arrastado, dando início ao tracionamento das hastes
no solo até atingir a extensão determinada. O tubo arrastado é tracionado através da cabeça do tubo
que é reforçada com chapa (chapa de reforço) e suporte (cruzeta) de espessura de 2’’ x 200 mm
soldado na vertical do tubo a ser tracionado. O solo foi removido do interior do tubo manualmente
com auxílio de pá e o processo foi executado simultaneamente e sucessivamente, um tubo após o
outro. As figuras 16 e 17 apresentam a execução do tubo tracionado.
Figura 16 – Execução do Tubo Tracionado (Montante). Figura 17 – Execução do Tubo Tracionado (Jusante).
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4 Considerações finais
No estudo de caso analisado, ocorreram patologias não previstas na escavação do Tunnel Liner,
isso pode ter ocorrido devido ao número insuficiente de sondagens e ensaios, a uma profundidade
analisada inadequada ou até mesmo a uma propriedade diferente do comportamento do solo, que
deveria levar a fazer testes específicos. Infelizmente, tais erros são comuns principalmente quando se
trata da adoção incorreta de procedimentos, ensaios não padronizados pela norma ou até mesmo o
uso de equipamentos com defeitos e fora da normatização. Uma falha expressiva na sondagem levou
a adoção de valores de projeto e de medidas construtivas adicionais.
A engenharia está sempre em desenvolvimento. Com o crescimento da população, vê-se a busca
em solucionar problemas com métodos não destrutivos. Diversos estudos buscam por técnicas que
não agridam ao meio ambiente e não traga transtornos nas comunidades durante sua execução, devido
a esse fato as novas tecnologias são aperfeiçoadas e passam a se adequar a realidade dos centros
urbanos.
Através da realização desse estudo, entende-se que esse artigo tem o poder de contribuir com a
sociedade e com a Engenharia Geotécnica, visto que o conhecimento dessa técnica permite a
utilização em projetos futuros.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1336
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0168 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Este artigo apresenta um estudo experimental acerca do processo de carreamento de grãos, no qual
se descreve a concepção e o desenvolvimento de dois modelos experimentais de percolação em solos, uma
calha de percolação e um modelo reduzido de barragem de terra, ambos com sistema de drenagem interna
compostos por filtros granulares. Procurou-se realizar uma comparação dos resultados experimentais obtidos
com duas metodologias distintas de dimensionamento de filtros, uma baseada na distribuição de grãos e outra
na distribuição de constrições. A partir do estudo realizado, foi possível identificar alguns cuidados necessários
para a construção e reprodução dos modelos e sugerir qual abordagem dos critérios é mais realista para
identificar o comportamento dos solos apresentados nos modelos.
ABSTRACT: This paper presents an experimental study on the grain-carrying process, in which the design
and development of two experimental models of seepage, a percolation channel and an embankment dam
model, both with internal drainage system composed of granular filters, is described. A comparison of the
experimental results obtained with two different filter design methodologies, one based on grain size
distribution and the other on constriction size distribution, was performed. From the study carried out, it was
possible to identify some care required for the construction and reproduction of the models and to suggest
which approach to the criteria is more realistic to identify the soil behavior presented in the models.
KEYWORDS: Granular Filter, Constriction, Internal Erosion, Experimental Model, Embankment Dam.
1 Introdução
A partir do critério de Terzaghi, diversas pesquisas foram desenvolvidas, acerca de filtros granulares,
quanto ao seu dimensionamento em barragens de aterro, como Bertram (1940), USBR (1963), Sherard et al.
(1984a, 1984b) e Sherard e Dunnigan (1989). Estes estudos objetivaram analisar a aplicação da relação de
retenção de Terzaghi para diferentes tipos de solos ou então propor relações adicionais. O principal conceito,
presente no critério de Terzaghi e mantido nos estudos posteriores, foi de comparar um tamanho característico
de um grão do filtro com o de um grão do solo base. Esse método tem por base a distribuição das partículas
dos materiais.
Posteriormente, Silveira (1965) foi pioneiro em desenvolver uma metodologia analítica para problemas
de filtração, apresentando o conceito de determinação das constrições de um solo granular. As constrições
podem ser definidas como as menores aberturas que dão acesso aos vazios formados pelos grãos de um solo
granular. Estudos seguintes, abordando a metodologia de Silveira (1965), procuraram melhorar essa
metodologia para atender às características granulométricas e físicas até então não observadas nos métodos
derivados do critério de Terzaghi. Destacam-se os estudos realizados por Silveira et al. (1975) Humes (1998),
1337
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Locke et al. (2001) e Raut e Indraratna (2008). Esse método tem por base a distribuição das constrições do
filtro granular.
Este artigo pretende, portanto, apresentar um estudo acerca dos critérios de retenção de filtros
granulares, baseados na abordagem de distribuição de partículas e constrições a partir de dois modelos
experimentais de barragem de terra, que serão descritos a seguir. Neste estudo, foi escolhido dois critérios para
verificação nos modelos experimentais, o critério de Terzaghi, Equação (1), por distribuição de partículas, e o
critério de Raut e Indraratna (2008), Equação (2), por distribuição de constrições. O procedimento matemático
utilizado para obtenção das curvas de distribuição de constrições seguiu a metodologia simplificada proposta
em Araújo (2019).
D15
⁄d ≤ 4 (1)
85
1338
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Iniciou-se com a preparação dos solos, homogeneizando e retirando a matéria orgânica. Foi adotado
uma umidade igual a ótima de 18,2% para o solo base (Solo A). O solo foi lançado em camadas próximas a 3
cm, realizando a compactação por apiloamento. Ressalta-se que não foi realizado um controle de densidade
do modelo, procurou-se somente atingir um nível adequado de trabalhabilidade. A areia e as britas foram
colocados imediatamente após a compactação das camadas de solo base. Para as areias, o adensamento ocorreu
com o lançamento de água na região definida para o filtro. Para evitar a contaminação de um material no outro,
durante a construção, foi utilizado chapas de aço inoxidável, colocados entre as interfaces dos materiais,
garantindo, assim também, a geometria do modelo projetada. Na Figura 3 está apresentada a seção transversal
da estrutura de solo com as informações dos materiais utilizados. A Figura 4 ilustra o modelo construído. O
modelo ficou operando durante 90 dias em ciclos de enchimento e secagem de reservatório ao longo do dia.
1339
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Neste modelo, foram definidos quatro materiais para construção da barragem de terra, dois solos finos
e duas areias. As curvas granulométricas dos materiais são apresentadas na Figura 6. Foi escolhido construir
uma barragem zoneada com o solo base Solo B, colocado na região a jusante, o solo base Solo C, na região a
montante e a Areia B e Areia C para o filtro granular em transição. Além disso, a Brita A, utilizada no modelo
da calha, foi utilizada para o dreno de pé.
Após a homogeneização dos materiais, os solos bases foram colocados e compactados em 21 camadas,
adotando-se um teor de umidade de 14%. Destaca-se que, na compactação, optou-se por deixar o material
menos compacto, para facilitar o desprendimento de grãos e ter uma noção maior da eficácia da granulometria
do filtro. A compactação foi manual por apiloamento, com um soquete de peso leve de 720 g, pois se
1340
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preocupava que um maior peso pudesse danificar a estrutura do acrílico. Foi utilizado uma energia de
compactação em torno de 60% a 70% do Proctor Normal, correlacionado o número de golpes e altura de queda
do soquete. O peso específico do modelo foi obtido de forma indireta por meio de ensaio de compactação,
utilizando as mesmas condições de compactação feitas no modelo. O peso específico foi de 16,56 kN/m³.
Na construção do filtro granular, procurou-se proceder de forma semelhante à construção real de filtros
em barragens, no qual o solo base era escavado e espaço livre preenchido com as areias do filtro. O
adensamento foi realizado também pela queda de água jogada na região. A Figura 7 ilustra o processo de
construção do filtro granular. O modelo finalizado pode ser observado na Figura 8. O projeto da barragem
consiste numa barragem zoneada com 44 cm de altura, 147 cm de extensão, 10 cm de coroamento e taludes
com inclinação de 1,3:1. O filtro granular foi construído com altura de 28 cm e comprimento de 12,5 cm. O
modelo ficou em operação ao longo de 60 dias, mantendo-se o reservatório cheio e numa mesma cota.
Figura 8. Modelo de barragem de terra (a) finalizado, (b) detalhes do coroamento e (c) dispositivo de
controle de nível d’água.
4 Resultados e Discussões
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controlar o fluxo nas interfaces, permitindo o funcionamento adequado do dreno. Durante o período de
observação, nenhum carreamento de solo foi percebido. Essa verificação foi realizada semanalmente,
procurando sinais de grãos depositados na saída do dreno. A granulometria utilizada para o filtro granular foi
adequada para estabilizar qualquer processo de carreamento de grãos.
Em relação aos métodos de dimensionamento, o primeiro verificado foi o de retenção de Terzaghi. A
granulometria da Areia A possui um D15 de 0,345 mm e o solo base Solo A possui um d85 de 1,55 mm. A razão
de retenção encontrada foi de 0,222, inferior a 4, portanto, adequada. O segundo método foi de Raut e
Indraratna (2008). Para tanto, a curva de distribuição de constrições internas foi definida, segundo a
metodologia proposta em Araújo (2019). As distribuições das constrições (CDC) da Areia A e dos grãos do
Solo A, referente a parcela de tamanhos que efetivamente participam do processo de filtração (inferiores a dc 95
de 0,156 mm) estão apresentadas na Figura 9. Considerando o estado compacto de 70%, o valor de dc35 foi de
0,041 mm e o d*85 de 0,133 mm com razão de 0,311, portanto, granulometria de filtro eficiente. Os dois critérios
selecionados apresentaram os mesmos resultados com a granulometria do filtro, sendo eficiente para paralisar
processos de transporte de grãos do solo base.
No segundo modelo, de barragem de terra, também não houve formação de fluxos preferencias entre as
interfaces do acrílico e solo. Porém, foi observado carreamento de grãos através do filtro granular. Essa
verficação foi realizada por meio de uma caixa de inspeção ligada ao fluxo de saída do modelo, onde foi
encontrados grãos depositados no fundo. Uma amostra do filtro (Areia B) foi retirada para uma análise
granulométrica. O resultado das granulometrias antes e após a operação é apresentada na Figura 10. Conforme
pode ser observado, uma fração do Solo C foi capturada no filtro e outra foi levada no fluxo. Nota-se que a
maior fração, em torno de 73%, foi de grãos com diâmetros entre 0,6 mm a 0,425 mm. Por outro lado, 3,4%
das partículas inferiores a 0,075 mm foram capturadas. Se analisar a granulometria do Solo C, percebe-se que
em torno de 43% dos grãos são inferiores a 0,075 mm, ou seja, quase metade dos grãos do solo base são
suscetíveis a serem levados pelo fluxo de água. Portanto, o resultado experimental obtido mostrou que a
granulometria adotada para compor o filtro granular não é adequada para o solo base utilizado, de forma que
o filtro possui uma distribuição granulométrica mais grossa que o necessário para um sistema eficaz de
filtragem, baseado no solo base em questão.
Em relação aos métodos de dimensionamento, o critério de Terzaghi identificou a granulometria do
filtro como eficaz, possuindo um D15 de 1,277 mm e o d85 do solo base de 0,347, obtendo uma razão de retenção
de 3,68, ou seja, inferior a 4. O critério de Raut e Indraratna (2008) identificou a granulometria como ineficaz,
obtendo um dc35 de 0,263 mm e o d*85 de 0,214 mm, ou seja, com o o dc35 maior que d*85, pressupõe-se que
ocorra carreamento de grãos. Na Figura 11 são apresentadas a distribuição das constrições da Areia B junto
com sua distribuição dos grãos e do Solo C. Neste caso, somente o critério baseado na distribuição de
constrições foi capaz de identificar o real comportamento experimental do modelo testado.
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5 Conclusão
A partir do estudo realizado, foi possível estabelecer uma metodologia simplificada para construção de
modelos experimentais de percolação em solos para uma análise de carreamento de grãos. Um dos pontos
importantes para definição do modelo foi garantir que a influência das interfaces fosse reduzida com adoção
de estruturas que dificultassem o caminho preferencial, como a cortina e a peça de acrílico utilizados. Em
relação aos resultados obtidos, verifica-se que, apesar da baixa carga hidráulica no qual os modelos estavam
submetidos, foi perceptível a ocorrência de erosão interna, principalmente no modelo de barragem de terra. A
alteração da granulometria do filtro devido a submissão do fluxo de percolação mostra como o processo de
filtração depende da capacidade autofiltrante do material, ou seja, de que ocorra a captura progressiva dos
grãos maiores para que, eventualmente, os grãos menores sejam também capturados. Entretanto, é necessário
que haja uma compatibilidade de tamanhos entre os grãos do filtro e do solo base para que ocorra eficazmente.
Nesse caso, os métodos de dimensionamento verificam essa relação. Visto que, para os critérios selecionados
nesse estudo, somente o que considera a distribuição das constrições obteve relação compatível com o
resultado experimental, é recomendado que as metodologias baseadas nas constrições passe a fazer parte do
processo de avaliação de segurança contra erosão interna de barragens já construídas que foram dimensionadas
somente pelo critério de Terzaghi.
AGRADECIMENTOS
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Pós-Graduação em Engenharia Civil: Geotecnia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.
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1344
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0169 ISBN: 978-65-89463-30-6
Natállia Carminati
Engenheira Civil, Patos de Minas, Brasil, natalliac.constru@gmail.com
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar o efeito da sucção matricial na estabilidade de taludes de
aterro, com base em parâmetros de resistência obtidos em laboratório e usando métodos de equilíbrio limite.
As análises foram realizadas para dois maciços homogêneos, sendo um de solo argiloso e um arenoso, em três
cenários: 1 – considerando parâmetros efetivos de resistência, 2 – considerando a sucção uniforme induzida
pela compactação, e 3 – considerando a sucção hidrostática. Os resultados apontam para o cenário 2 como a
condição mais favorável, com aumento de até 131% do fator de segurança com relação ao cenário 1. Com
relação aos tipos de solo, o talude argiloso apresentou-se mais estável em todos os cenários devido à maior
coesão. Foram verificadas contribuições consideráveis da sucção na estabilidade dos taludes de aterro
analisados, tanto para solo argiloso quanto para arenoso em condições pós-compactação e no equilíbrio
hidrostático.
ABSTRACT: This paper aims at analyzing the effect of matric suction on slope stability of embankments,
based on shear strength parameters obtained in laboratory and using limit equilibrium methods. The analyses
were performed with two homogeneous embankments, a clayey one and a sandy one, in three scenarios: 1 –
considering effective shear strength parameters, 2 – considering uniform compacted-induced suction, and 3 –
considering hydrostatic suction. The results show the scenario 2 as the most favorable, with the safety factor
increasing up to 131% from the scenario 1. Regarding the types of soil, the clayey slope was shown to be more
stable in all the scenarios due to the greater cohesion. Considerable contributions of the suction to the slope
stability were verified for clayey and sandy soils in post-compaction and hydrostatic equilibrium.
1 Introdução
A estabilidade de taludes naturais e de aterros é frequente objeto de estudo em Geotecnia, tendo em vista
o risco associado às rupturas. Dentre os inúmeros fatores envolvidos nas análises de estabilidade está a sucção,
que promove uma coesão aparente no solo não saturado, melhorando sua resistência, como mostrado por
Promotor e López-Acosta (2019) por exemplo.
Embora o perfil de sucção em um maciço seja variável no tempo em função das mudanças ambientais,
há casos nos quais o solo permanece não saturado mesmo com a ocorrência de chuvas, a depender da
condutividade hidráulica do solo e da intensidade das chuvas (Fredlund et al., 2012). Além disso, estudos de
sensibilidade conduzidos por Tan et al. (2014) sugerem que os parâmetros de resistência do solo têm maior
impacto nas análises de estabilidade do que a condutividade hidráulica. Sendo assim, nos aterros com
superfície freática profunda, a baixa permeabilidade de um solo compactado pode proporcionar uma condição
na qual a estabilidade do talude esteja condicionada à resistência não saturada.
Neste contexto, este trabalho estuda dois possíveis perfis de sucção em aterros e analisa a contribuição
da coesão aparente na estabilidade dos taludes por meio de fatores de segurança fornecidos por simulações
numéricas. Os resultados para o solo não saturado foram comparados com a situação na qual apenas os
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parâmetros efetivos de resistência são considerados. Para as análises, usou-se dois tipos de solo, cujos dados
foram obtidos experimentalmente.
As análises foram realizadas considerando dois solos lateríticos, um argiloso e um arenoso, coletados
na cidade de Uberlândia/MG e São Carlos/SP, respectivamente. Os resultados experimentais de caracterização,
classificação, curva de retenção de água e parâmetros de resistência encontram-se resumidos na Tabela 1 e na
Figura 1. Estes dados foram extraídos de Carminati (2018) para a amostra argilosa e de Georgetti (2010) para
a amostra arenosa.
1346
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coesão e o ângulo de atrito efetivos foram determinados a partir de ensaios de cisalhamento direto inundados
e a coesão última foi obtida com amostras secas ao ar em compressão simples. No caso do solo arenoso, os
parâmetros foram determinados em ensaios de compressão triaxial em amostras saturadas, não saturadas com
medida de sucção e secas ao ar.
O modelo de Vilar (2006) foi usado para representar a coesão total do solo não saturado, que é calculada
pela coesão efetiva somada a uma parcela de resistência decorrente da presença de sucção:
(𝑢𝑎 −𝑢𝑤 )
𝑐 = 𝑐′ + 1 1
(1)
( )+( )(𝑢𝑎 −𝑢𝑤 )
tan 𝜑′ 𝑐𝑢𝑙𝑡− 𝑐′
sendo que c é o intercepto de coesão total, c’ é a coesão efetiva, φ’ é o ângulo de atrito efetivo, cult é a coesão
máxima, e (ua ‒ uw) é a sucção matricial.
3 Simulações numéricas
As simulações numéricas foram realizadas usando o programa computacional Slide 2018 (Rocscience,
1998-2019), aplicando-se seis métodos de cálculo em análise bidimensional: Fellenius, Bishop simplificado,
Janbu simplificado, Spencer, Morgenstern e Price e Sarma. Os métodos se fundamentam no equilíbrio limite
e na divisão da massa de solo em fatias para cálculo do fator de segurança (FS).
A geometria do talude, mostrada na Figura 2, foi definida com medidas hipotéticas, considerando uma
altura de aterro e inclição de face que podem ser encontradas em obras rodoviárias e outras obras geotécnicas,
sendo a altura de 4 m e a inclinação de 2H:3V, que resulta em um ângulo de 56º. O aterro foi considerado ora
de solo argiloso ora arenoso, sobre um terreno original com suficiente capacidade de suporte e lençol freático
a 1 m de profundidade. No topo do talude foi adicionada uma sobrecarga de 28 kN/m², a qual foi definida
arbitrariamente para se obter um FS de 1,5 na condição mais crítica analisada e respeitando a sobrecarga
mínima exigida pela ABNT NBR 11682:2009. As superfícies de ruptura foram condicionadas a passar pelo
pé do talude (ponto P) para restringir as análises ao aterro.
Três cenários diferentes foram estudados para cada tipo de solo. No primeiro, analisou-se o aterro com
parâmetros saturados, ou seja, com os valores de coesão efetiva e ângulo de atrito efetivo fornecidos na Tabela
1. No segundo, verificou-se o aterro com uma sucção uniforme decorrente da compactação, ou seja,
considerando a coesão total resultante da umidade de compactação do solo. No terceiro, considerou-se a sucção
crescendo linearmente com a altura, a partir do lençol freático até a superfície do aterro, formando um perfil
hidrostático de sucção. Por simplificação, não se considerou a interação solo-atmosfera. Este cenário foi
subdivido em dois, sendo que no 3a, a coesão total foi determinada a partir do modelo hiperbólico, e no 3b foi
analisado o modelo planar de Fredlund et al. (1978) para o solo arenoso, do qual se dispunha do valor de φb
(Georgetti, 2010). A finalidade dos cenários 2 e 3 foi repesentar a condição temporária pós-compactação e
uma condição de mais longo prazo, respectivamente.
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Os demais dados de entrada para as simulações foram determinados a partir da Tabela 1, sendo que o
peso específico do solo foi calculado para cada umidade considerada e o ângulo de atrito efetivo foi constante
para um tipo de solo em todos os cenários.
4 Resultados e discussões
Os menores fatores de segurança obtidos para cada cenário avaliado estão apresentados na Tabela 2,
onde pode-se prontamente notar que o cenário 1 é o mais conservador. Comparando os dois tipos de solo,
percebe-se que para as dimensões deste talude, o efeito da coesão do solo argiloso (20,5 kPa maior que a do
solo arenoso) se sobrepõe ao efeito do atrito, que é apenas 0,5° maior no solo arenoso.
Em uma visão global dos cenários testados, levando em consideração as características climáticas dos
locais em que foram coletadas as amostras e a geometria estabelecida para o problema, considera-se que a
ocorrência de sucção seja mais realista que a saturação do maciço. Com isso, tem-se que o cenário 1 subestima
a segurança dos taludes, à semelhança do que foi observado no estudo de estabilidade de Promotor e López-
Acosta (2019).
Para analisar os cenários 2 e 3a, nos quais a coesão total do solo não saturado foi obtida em função da
sucção, é mostrada na Figura 4 a representação gráfica do modelo hiperbólico aplicado aos solos em estudo,
junto com retas que indicam a inclinação do ângulo de atrito efetivo de cada solo. Sendo a tangente de φ’ o
fator de ganho de resistência do solo com a tensão normal líquida, ao analisar a figura, nota-se que o modelo
hiperbólico fornece incrementos de resistência com a sucção que são menores que os obtidos por um aumento
de mesma magnitude na tensão normal líquida. Além disso, no intervalo de sucções que foi analisado neste
trabalho, o solo argiloso apresentou coesão sempre maior que o do solo arenoso.
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O aumento da coesão total dos solos no cenário 2 gerou fatores de segurança mais altos em relação ao
cenário 1. No caso do solo argiloso, a umidade de compactação corresponde a uma sucção de 154 kPa (Figura
1), resultando em uma coesão total de 107 kPa (Figura 4). Para o solo arenoso, a sucção pós-compactação foi
de 31 kPa e a coesão de 34 kPa. Nestas condições, o FS do cenário 2 sofreu aumento de 131% em relação ao
cenário 1 para o solo argiloso, e 45% para o solo arenoso.
O aumento mais modesto no caso do solo arenoso pode ser indiretamente referenciado à sua
característica de retenção de água. A curva de retenção de água do solo arenoso (Figura 1) possui um formato
típico para solos desta granulometria, especialmente no que se refere à dessaturação mais intensa de poros em
baixas sucções, resultado da baixa pressão de entrada de ar. Assim, ocorre que na umidade de compactação, o
solo arenoso se encontra com sucção baixa em relação ao solo argiloso, no qual a dessaturação acontece de
modo mais gradual. Por fim, uma menor sucção resultou em menor coesão para o solo arenoso, sendo este o
principal aspecto a afetar o FS.
No terceiro cenário, o perfil hidrostático de sucção foi igual para ambos os tipos de solos. Esta condição
tende a ser a mais próxima do comportamento real do maciço ao longo da vida útil, aparte da interação com a
atmosfera. Ao comparar os FS, observa-se mais uma vez a predominância do efeito da coesão, uma vez que o
maciço de solo argiloso apresenta maior resistência. Neste caso, predominância da coesão efetiva em relação
aos demais parâmetros considerados na resistência não saturada do solo (ângulo de atrito efetivo e coesão
máxima).
Nos resultados obtidos para o cenário 3a, o FS para o solo argiloso foi intermediário, sendo 29% superior
ao cenário 1 e 44% inferior ao cenário 2. Para o solo arenoso, o FS foi 50% maior que o cenário 1 e muito
próximo dos cenários 2 e 3b. A semelhança de comportamento do solo arenoso nos diferentes cenários não
saturados é justificada pelo fato de a sucção média ser de 30 kPa no perfil do cenário 3, que é próxima à sucção
de compactação deste solo.
Especificamente para o solo arenoso, cujos resultados experimentais de resistência também
possibilitaram um ajuste de envoltória planar (Georgetti, 2010), mostra-se na Figura 5 uma comparação entre
as coesões totais fornecidas pelos dois modelos na faixa de sucção usada neste trabalho. Para a envoltória
planar, a coesão cresce linearmente com a sucção a uma taxa de 0,507, fornecendo valores pouco inferiores ao
modelo hiperbólico.
Quando se trata dos modelos para representar a resistência do solo não saturado, os cenários 3a e 3b
apresentaram uma diferença de apenas 3% no fator de segurança. Para o solo arenoso, o uso de um ou outro
método não afetou significativamente a resistência do talude, embora o modelo planar, como esperado com
base na Figura 5, tenha sido mais conservador.
Por fim, e com base nas análises anteriores, dois fatores se mostraram relevantes na estabilidade de
taludes não saturados: a sucção e a resistência não saturada. Nota-se que a consideração da sucção viabiliza
um projeto mais econômico, desde que possam ser estimados valores e variações sazonais da sucção no perfil.
Dados obtidos em monitoramento pluviométrico e investigação geotécnica podem auxiliar em tal estimativa.
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No tocante à resistência, sua previsão através do modelo hiperbólico se mostrou compatível com o modelo
planar na faixa de sucções analisadas, com a vantagem que o primeiro se baseia em ensaios de mais simples
execução.
5 Conclusão
Este trabalho analisou a estabilidade de taludes de aterros homogêneos constituídos de solo argiloso ou
arenoso em três diferentes cenários, sendo as principais conclusões:
‒ Em todos os cenários foi observado que o talude em solo argiloso apresentou maior estabilidade em
relação ao arenoso, o que foi atribuído à sua maior coesão efetiva.
‒ O uso de parâmetros efetivos para avaliar a estabilidade de taludes, que desconsiderou o efeito da
sucção, mostrou-se a condição mais conservadora, subestimando os fatores de segurança.
‒ A condição pós-compactação, que considerou a resistência proveniente da sucção induzida pela
compactação, apresentou a melhor condição de estabilidade para o solo argiloso, com aumento do
FS de 131% em relação ao cenário anterior.
‒ A simulação de longo prazo, assumindo um perfil de sucção hidrostática para o aterro e usando o
modelo hiperbólico para cálculo da coesão total, foi a condição de maior estabilidade para o solo
arenoso, embora não tenha havido variação significativa do FS para os cenários não saturados neste
solo.
‒ A aplicação de conceitos de solos não saturados à análise de estabilidade de taludes gera projetos
mais econômicos, desde que seja possível uma estimativa prévia de valores de sucção em campo.
‒ O uso do modelo hiperbólico mostrou-se vantajoso em relação ao modelo planar para representar a
coesão total do solo, uma vez que os resultados se aproximaram e o modelo hiperbólico requer menor
esforço experimental.
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0170 ISBN: 978-65-89463-30-6
Faiçal Massad
Prof. Titular, EPUSP, São Paulo, Brasil, faical.massad@usp.br
PALAVRAS-CHAVE: Aterros sobre solos moles, Obras de terra, Aterros, Rodovias, Caraguatatuba
ABSTRACT: This paper presents the results of the geological-geotechnical studies and the engineering
solutions adopted in the design of the Nova Tamoios Contornos Highway from Caraguatatuba to São
Sebastião, in the North Coast of the State of São Paulo, Brazil, with emphasis on the transposition of soft
soils along several floodplains. The construction started in 2014, totaling about 36 km in length, including
tunnels, bridges, cuts and embankments. The embankments extended for about 16 km and required surface
and subsurface investigations, allowing to find several conditions of soft soil occurrences, where different
engineering solutions were adopted, which are the object of the present paper.
1 Introdução
As obras para a implantação da Rodovia dos Contornos da Nova Tamoios, de Caraguatatuba e São
Sebastião, no Litoral Norte do Estado de São Paulo foram iniciadas em 2014, totalizando cerca de 36 km de
extensão, incluindo, túneis, viadutos, cortes e aterros. Os projetos desenvolvidos foram precedidos por
detalhados estudos geológico-geotécnicos ao longo de todo o traçado e nas áreas do entorno dessa rodovia,
destacando-se aqueles realizados para a transposição de regiões de solo mole ao longo de várias planícies
aluvionares, entre elas a Planície Aluvionar de Caraguatatuba de maior extensão onde as obras de aterro
estenderam-se por cerca de 16 km. Nessa Planície, as investigações de superfície e subsuperfície realizadas
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no Lote 2 da referida rodovia, permitiram encontrar diferentes condições de ocorrência de solo mole, onde
foram adotadas diferentes soluções de engenharia, que são objeto do presente trabalho.
2 Objetivos
3 Metodologia
Foram então definidos cenários de ocorrência de solo mole, em função das características geológico-
geotécnicas, utilizando-se como critérios básicos para essa definição a classificação genética, bem como o
mapeamento de campo e os valores de NSPT das sondagens a percussão. A partir da análise dos dados foi
apresentada uma proposta de parâmetros que subsidiaram a definição dos projetos tipo para os diversos
cenários definidos.
A Planície Aluvionar de Caraguatatuba está encaixada no sopé da Serra do Mar, limitadas pelas rochas
do Embasamento Cristalino (migmatitos e granitoides, principalmente) que compõem essas encostas. Essa
planície destaca-se em todo o Litoral Norte pela sua grande dimensão em relação a todas as demais planícies
de menor dimensão, mais comum nessa região. Possui cerca de 12 km de comprimento e 7 km de largura
máxima. Nessa planície encontram-se depósitos Pleistocênicos (sedimentados há mais de 100 mil anos) e
Holocênicos (de 8 mil anos até os nossos dias), descritos a seguir, conforme Suguio e Martin (1978). A
Figura 1 ilustra a geologia da planície e seus entornos.
a) Os depósitos Pleistocênicos, associados à transgressão Cananéia, formam terraços de areias alçados 7 a 8
m de altura, muito dissecados pela erosão; são encontrados ao norte e mesmo no centro e sul,
sobrejacentes a argilas e areias transicionais (em verde na Figura 1);
b) Os depósitos Holocênicos (em amarelo na Figura 1), estão associados à transgressão Santos, com duas
gerações de cordões de areia, retrabalhados por ação eólica e fluvial. No costado da 1ª geração de
cordões, situado mais para o interior da planície, encontram-se os sedimentos argilosos flúvio-lagunares
(SFL) mais antigos (8.000 a 4.400 anos BP - Before Present); em frente aos cordões da 2ª geração, mais
recentes (2.700 anos BP), estão as areias das praias atuais. Sob esses cordões arenosos, e por vezes a eles
associados, encontram-se sedimentos flúvio-lagunares (areias, areias argilosas e argilas orgânicas).
c) Depósitos aluvionares e continentais são encontrados recobrindo os sedimentos holocênicos e, por vezes,
enterrados sob os SFL, reflexos de eventos pretéritos associados a redes hidrográficas antigas e a
corridas de massas. Corridas de massas, como as de 1967, recobriram os sedimentos marinhos
depositados ao longo de milênios, sem desestruturá-los. Prova disso são as variações praticamente
lineares da resistência de ponta corrigida (qt) de muitos dos CPTUs identificados nos ensaios para as
obras do Contorno.
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Figura 1: Mapa geológico da região de Caraguatatuba (Modificado de Suguio e Martin, 1978) e traçado dos Lotes 1 e 2 dos Contornos de Caraguatatuba e São
Sebastião. A – Planície aluvionar de Caraguatatuba. B – Amostra de solo mole de um dos locais de ensaios (Ilha 9). Mapa em Datum SIRGAS 2000, UTM
Zona 23S.
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Os sedimentos flúvio-lagunares (SFL), que ocorrem sob os cordões de areia, foram submetidos à ação
errática de dunas, cujo peso próprio justifica tanto alguns NSPTs relativamente mais elevados de camadas de
argila mole, com valores de 2 a 4 golpes, quanto o seu sobre-adensamento. Ademais, por se tratar de uma
planície, os rios das redes hidrográficas são meandrantes, com mudanças nos cursos dos seus leitos ao longo do
tempo, formando depósitos de solos moles e areias fofas com variações laterais abruptas e ocorrências localizadas.
Alguns desses rios correm paralelamente aos cordões de areia; outros cruzam esses cordões, conforme podem ser
identificados na Figura 1. Esses aspectos, somados aos diferentes processos deposicionais, justificam a extrema
heterogeneidade do subsolo ao longo do traçado estudado.
O perfil geológico ao longo do traçado do Lote 2, elaborado com base nas sondagens, evidência os
diferentes processos deposicionais mencionados acima, onde se constata a grande heterogeneidade do subsolo
no local, atribuída à sua formação geológica. Essa heterogeneidade pode ser caracterizada, segundo o
estaqueamento original da rodovia, definido na Figura 1, da seguinte forma:
a) Entre as estacas 2.000 (próximo ao Rio Santo Antônio) e 2.200 (Morro dos Ingleses), o solo mole aflora na
superfície em depressões úmidas (estaca 2.050) ou dela se aproxima, em geral com 2 a 3 m de cobertura de
sedimentos continentais e areia (estacas 2.070, 2.134 e 2.150 a 2.200);
b) Entre a estaca 2.200 (Morro dos Ingleses) e a estaca 2.290 (trevo projetado), a cobertura com sedimentos
continentais e areias é superior a 6m, que vai diminuindo até a estaca 2370; e
c) Entre as estacas 2.370 e 2.440 o solo mole volta a aflorar; daí em diante, até a estaca 2.750 ocorrem
alternâncias de trechos com espessas coberturas de areias pleistocênicas (ver a Figura 1),ou sedimentos
continentais, e afloramentos de solos moles de depressões úmidas.
Do ponto de vista genético, isto é, de sua formação, as argilas marinhas da Planície Costeira de
Caraguatatuba podem ser classificadas da seguinte forma (Suguio, 1978 e Massad, 2009):
a) Mangue, de deposição recente, com NSPTs nulos, em depressões úmidas atuais (Relatório IPT, 1982).
b) Argilas de SFL (Sedimentos Flúvio-Lagunares), Holocênicas, com NSPTs entre 0 e 2 golpes; e
c) Argilas Transicionais (ATs), depositadas em ambiente misto continental-marinho, durante o
Pleistoceno, são solos muito sobre-adensados, com NSPTs 5.
Foram definidos cenários de ocorrência de solo mole, em função das características geológico-
geotécnicas (Tabela 1). Foram utilizados como critérios básicos para essa definição a classificação genética,
bem como o mapeamento de campo e os valores de N SPT das sondagens a percussão, que se constituem na
informação mais abundante ao longo do traçado dos Contornos. A última coluna dessa tabela apresenta as
descrições mais usadas nos perfis de sondagens para as argilas de cada cenário.
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Nota: (*) O termo Mangue tem a conotação Geotécnica e não se refere a tipo de vegetação.
O subsolo é extremamente heterogêneo, constituído de argilas siltosas com areia fina, entremeadas por
camadas de areias, com teor de argila >42%, umidade natural (h) de 47 a 676%; densidade natural (n) 11,3
e 17,1 kN/m3; LL>50% e IP médio de 55%. Valores de Cc foram inferidos através das medidas das umidades
das amostras. Os Vane Tests (VTs) e os CPTUs confirmaram essa extrema heterogeneidade, quer nos
valores da resistência não drenada (su), das pressões de pré-adensamento ('a) e dos coeficientes de
adensamento (Cv). Quando se passa do Cenário 0 ao 10 (Tabela 2), os valores de RSAs (OCRs) evoluiram,
crescendo da zona 1 até a 6 no diagrama Qt x Bq de Robertson et al. (1986).
Com base nos resultados da investigação foram propostos para o projeto os parâmetros da Tabela 2,
com a recomendação de um acompanhamento por instrumentação na fase executiva, para a sua validação e
eventual adptação às condições reais da obra.
Essas soluções consideraram para cada cenário os respectivos parâmetros geométricos e geotécnicos: a
altura do aterro a ser implantado, a espessura da camada de solo mole, a presença e espessura de camada de
cobertura do solo mole e a presença em superfície de solo arenoso ou aterro existente (parte do projeto foi
implantado sobre o antigo traçado da BR 101).
a) Conviver com recalques de até 5 cm de aterros com as presenças de estruturas rígidas, como Obras de
Artes Especiais (OAE) e Encontros Leves Estruturados (ELE), ou junto à Aterros Estaqueados. Para os
demais trechos o recalque aceitável foi de 25 cm. Para alguns trechos foram implantadas geogrelhas na
base do aterro para atender ao fator de segurança de estabilidade global mínimo de 1,3 para fase de obras
e de 1,5 para a fase de operações. O aumento do fator de segurança entre as fases deveu-se ao ganho de
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resistência das camadas de solo mole devido aos recalques dissipados no decorrer do tempo desde a
implantação do aterro (Figura 2 – Seção Típica 1).
b) Remoção parcial do solo mole na espessura de até 4,00 m, quando em superfície, e conviver com
recalques de até 5 cm, ou 25 cm (Figura 3 – Seção Típica 2).;
c) Remoção total do solo mole até 4,00 m, excepcionalmente até 5,00 m de profundidade (Figura 4 – Seção
Típica 3);
d) Aterro de sobrecarga, por vezes com o auxílio de drenos verticais para redução do tempo de permanência
da sobrecarga, e geogrelhas para se garantir os fatores de segurança de estabilidade globais aceitáveis
(Figura 5 – Seção Típica 4);
e) Para solo mole com espessura superior a 6,00 m, aterro estaqueado que consiste em estrutura mista que
combina uma solução de terraplenagem convencional (a execução do aterro propriamente dito) com uma
solução típica de fundação profunda (estacas projetadas para transferir toda a carga do aterro para
camadas mais resistentes do terreno) (Figura 6 – Seção Típica 5).
f) Encontro Leve Estruturado (ELE) que pode ser considerado como uma obra de arte especial (OAE) de
porte inferior, com menores vãos e elementos estruturais, sendo geralmente utilizado para greides baixos
a intermediários, onde seu principal atrativo é o fato de apresentar custo consideravelmente menor que
uma OAE convencional. Essa solução é aplicada junto aos encontros das OAEs.
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7 Conclusões
Os estudos realizados para o projeto geotécnico dos aterros, nas transposições de áreas de solo mole ao
longo do traçado, permitiram diversificar as soluções, fundamentadas nos parâmetros obtidos nas diversas
ilhas de ensaios, altura do aterro, da espessura da camada de solo mole, da presença e espessura de camada
de cobertura do solo mole, em solo arenoso ou aterro existente. Foram adotadas diversas soluções, desde
conviver com recalques de até 25 cm dos aterros, uso de geogrelhas, drenos verticais para acelerar os
recalques, estaqueamento de aterros até a remoção parcial ou total dos solos moles. Recalques menores
(5cm) foram admitidos apenas em aterros próximos aos encontros das Obras de Artes Especiais (OAE) e dos
Encontros Leves Estruturados (ELE).
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LISTA DE SÍMBOLOS
AGRADECIMENTOS
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RESUMO: O presente trabalho apresenta dados sobre a investigação da dispersibilidade de solos presentes
na Planície Costeira Sul do estado do Rio Grande do Sul e a sua atenuação com adição de cal. Evidências de
campo e ensaios de avaliação da disperbilidade, com destaque ao crumb test e ao ensaio sedimentométrico
comparativo, delatam o potencial de erosão coloidal dos planossolos solódicos formados em leques aluviais
e terraços lagunares retrabalhados pelo mar. Pelo crumb test, a adição de cal mostrou atenuar o fenômeno e
constitui umaferramenta para evitar problemas nas estruturas geotécnicas, como erosão interna em barragens
e aterros rodoviários, na região de ocorrência de tais solos.
ABSTRACT: This work presents data on the investigation of soil dispersibility present in the Southern
Coastal Plain of the state of Rio Grande do Sul and its attenuation with the addition of lime. Field evidence
and tests for assessing dispersion, with emphasis on the crumb test and the comparative sedimentometric
test, reveal the potential for colloidal erosion of the solodicplanossols formed in alluvial fans and lagoon
terraces reworked by the sea. According to the crumb test, the addition of lime has been shown to mitigate
the phenomenon and is a tool to avoid problems in geotechnical structures, such as internal erosion in dams
and road embankments, in the region where such soils occur.
1 Introdução
Na pesquisa da erodibilidade de solos argilosos, os estudos sobre a dispersão dos solos ganham grande
importância. A chamada erosão coloidal, gerada pela dispersão e transporte de argilas na água de percolação,
é registrada em muitos casos históricos de obras de barragens, aterros e solos naturais, particularmente, na
forma de túneis e ravinas profundas.
As primeiras pesquisas relativas ao tema de argilas dispersivas foram realizadas na segunda metade da
década de 1960, envolvendo feições erosivas observadas em barragens na Austrália. Posteriormente, nos
anos 70, pesquisadores americanos liderados pelo prof. J.L.Sherard procuraram o desenvolvimento de
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Os principais ensaios empregados na avaliação da dispersão coloidal são: ensaio de pinhole; ensaios
químicos para determinação de sais solúveis na água intersticial; ensaio sedimentométrico comparativo;
ensaio de turbidez; e crumb test. Em Sherard et al.(1976) e Heinzen e Arulanandan (1977) estas técnicas de
ensaio são revistas e estabelecidos critérios à dispersibilidade dos solos.
No ensaio sedimentométrico comparativo (também chamado ensaio duplo hidrométrico ou ensaio de
dispersão SCS), a erodibilidade é indicada, a partir de ensaios de sedimentação, pela porcentagem (ou grau)
de dispersão, que corresponde a razão entre os teores de argila (< 0,005 mm) com e sem defloculante e
agitação mecânica. O desenvolvimento e uso do ensaio são discutidos com detalhe em Decker e Dunnigan
(1977). O tipo de defloculante usado e a condição umidade inicial das amostras para o ensaio são os
principais fatores que influenciam os resultados obtidos. O ensaio sedimentométrico comparativo foi
normatizado no Brasil pela NBR 13602/96.
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O Soil Conservation Service (SCS) considera erodíveis solos com porcentagem de dispersão maior
que 40%. Em Decker (1971) apud Heinzen e Arulanandan (1977) os limites são flexibilizados conforme o
tipo de solo: 40% para solos CL e CH e 25 a 30% para solos ML, SC e SM.
O crumb test, ou ensaios do torrão, desenvolvido por cientistas australianos, consiste num ensaio
qualitativo onde é avaliado o comportamento de um agregado na umidade natural submerso em água
destilada. É considerado um rápido e útil indicador da dispersão, entretanto numa única direção, isto é, se o
crumb test indica dispersão, o solo é provavelmente dispersivo, mas muitas argilas dispersivas não reagem
ao ensaio. O crumb test foi normatizado no Brasil pela NBR 13601/96.
Holmgren e Flanagan (1977) apresentam um extenso estudo sobre os mecanismos e fatores
intervenientes no crumb test. A reação do agregado no ensaio envolve fenômenos de hidratação, desaeração,
fraturamento, expansão osmótica e finalmente dispersão. Os autores assim classificam os tipos de reação das
amostras com a inundação:
sem resposta: amostra mantém–se intacta;
abatimento (“slumping”): desintegração total da amostra causada por mecanismos de hidratação e
desaeração;
fraturamento: amostra se quebra em fragmentos, mantendo a forma original das faces externas. O
principal mecanismo atribuído ao processo é a expansão osmótica;e
dispersão: amostra mostra evidência de dispersão coloidal. As paredes tornam–se difusas e forma–se
uma nuvem coloidal.
Desde o início das pesquisas de caracterização geotécnica dos solos da Planície Costeira Sul do Rio
Grande do Sul (Bastos, 2002), é relatado processos erosivos acelerados envolvendo perfis de solos
classificados pedologicamente, à época, como Planossolos Solódicos. Pelo novo Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos (Embrapa, 2006) estes solos são hoje classificados de Planossolos Háplicos
Eutróficos Solódicos. São solos desenvolvidos sobre leque aluvionares e terraços lagunares pleistocênicos,
originados dos materiais de intemperismo das rochas cristalinas da Serra do Sudeste carreados das áreas altas
por torrentes de canal e/ou enxurradas e fortemente retrabalhadospelo mar ao longo dos eventos
transgressivos que modelaram a Planície Costeira do RS. Estes solos caracterizam-se por apresentarem
significativos teores de sódio como cátion trocável (o que confere o caráter solódico aos solos).
Em vários locais de ocorrência destes solos são observados processos de erosão por ravinas e até
boçorocas. Nos terrenos erodidos o padrão de ravinamento é típico e o carreamento de finos é notável
(Figura 2). Em muitos casos estes eventos estão associados ao fluxo d´água concentrado originado de
drenagem de estradas vicinais e das rodovias da região. Um exemplo são os espetaculares processos erosivos
verificados às margens da BR116 (Pelotas – Jaguarão), nas proximidades do Horto da Universidade Federal
de Pelotas (Figura 3).Também associados à dispersão dos planossolos tem-se o problema de ruína de
pequenas barragens e taipas em propriedades rurais da região e o problema de erosão interna da Barragem de
Santa Bárbara (Pelotas/RS) cujo núcleo foi construído com solo local (solos dos horizontes subsuperficiais
dos planossolos solódicos e materiais do substrato geológico destes perfis).
A partir destas evidências, Welter e Bastos (2003) estudaram a susceptibilidade à dispersão de 9
(nove) amostras de planossolos de 7 (sete) jazidas situadas na Planície Costeira Sul do RS, nos municípios de
Pelotas e Capão do Leão. Os autores apresentaram resultados de crumb tests, de ensaios sedimentometricos
comparativos e de ensaios químicos da água interticial. A Figura 4 apresentam os dados de identificação e
caracterização apresentados pelos autores e a Figura 5 ilustra a localização de 6 pontos amostrais no mapa
geotécnico da zona urbana de Pelotas (Xavier, 2017). Os solos considerados dispersivos em sua maioria
pertencem a unidade SX3dla (Planossolo Háplico com substrato depósito de leques aluviais).
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Figura 2. Ravinamento típico da ocorrência de solos dispersivos em área urbana do município de Pelotas/RS.
Fonte: Autores
Figura 3. Processo erosivo pela ocorrência de solos dispersivos nas margens da BR116 sul (trecho Pelotas –
Jaguarão), no município de Capão do Leão/RS. Fonte: Autores
Os ensaios de crumb test conduzidos com os solos compactados indicaram grau 4 (comportamento
fortemente dispersivo) para as amostras, exceto a amostra PMOI que não mostrou comportamento
dispersivo. Os ensaios sedimentométricos comparativos revelaram os solos como dispersivos (porcentagem
de dispersão > 40%), com a exceção também do solo PMOI considerado não dispersivo (Figura 6a). Os
ensaios químicos com a água interticial mostraram baixo teor de sais dissolvidos somente para o solo PMOI,
corroborando os resultados dos outros ensaios. A Figura 6b apresenta o critério de identificação de solos
dispersivos com base na porcentagem de dispersão e na % de Na+ presente (Sherard et al., 1976). Observa-se
que a maioria dos solos estudados por Welter e Bastos (2003) situa-se na zona dos solos dispersivos.
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(a) (b)
Figura 6. (a) Resultados dos ensaios sedimentométricos comparativos e (b) aplicação do critério combinando
porcentagem de dispersão e % de Na+. Fonte: Welter e Bastos (2003)
2.2 Extensão do estudo com a investigação do solo MRML – Santa Vitória do Palmar/RS
Com o objetivo de ampliar a investigação dos planossolos situados ainda mais ao sul na Planície
Costeira do RS, foi investigado o potencial de dispersibilidade do solo identificado como Marmeleiro
(MRML).O local de amostragem situa-se no interior do município de Santa Vitória do Palmar/RS, nas
proximidades da subestação de energia elétrica marmeleiro (Figura7a), onde foi encontrado solo areno-
argiloso com as características pedológicas e geológicas indicativas de dispersibilidade.O solo coletado é
representativo dos solos na região, que constituem o subleito de outras estradas vicinais de grande interesse
público e material para pequenas obras de terra rurais. A Figura 7b ilustra o perfil de solo amostrado.
Para análise da dispersibilidade do solo, foram realizados ensaios geotécnicos de caracterização e de
avaliação da dispersibilidade, crumb test (segundo a NBR 13601, ABNT 1996a) e o ensaio
sedimentométrico comparativo (segundo NBR 13602, ABNT 1996b). Com o objetivo de verificar o
potencial inibidor da dispersão provocado pela adição de ccal, al, foram comparados resultados entre o solo
natural e o mesmo com adição de 2% de óxido de cálcio. A porcentagem de cal adicionada à amostra é
calculada em relação com seu peso seco. Os corpos de prova com as amostras de solo natural e de solo
adicionado de cal foram compactados com energia Proctor normal na umidade ótima do solo. Os corpos de
prova tratados com cal permaneceram em processo de cura durante 7 dias e após foram submetidos à 4 horas
de imersão e ensaio de resistência à compressão simples, con
conforme
forme a NBR 7182 (ABNT, 1986). Por fim, os
resíduos dos corpos de prova pós ruptura foram utilizados na realização dos ensaios de dispersibilidade.
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(a)(b)
Figura 7. (a) Local onde foram extraídas as amostras do solo. Ao fundo Subestação Marmeleiro da CEEE;
(b) Perfil de solo do local de obtenção das amostras do solo MRML. Fonte: Autores
O crumb test consiste em dispor pequenos torrões de solo em três béqueres com capacidade de200 ml
preenchidos com 150ml de água destilada. Torrões com diâmetro entre 6mm e 10mm, com formato
aproximadamente esférico foram imersos na água destilada e observados durante 1 hora a fim de verificar as
reações ocorridas e atribuir o correspondente grau de dispersibilidade. Segundo a NBR 13601 (ABNT,
1996b), o comportamento observado no teste pode ser classificado em quatro graus distintos:
grau 1 –comportamento não dispersivo- o torrão pode absorver água, sofrer esborroamento e
esparramar-se no fundo do béquer, formando uma pilha achatada, mas não se observa sinal de
turvação no líquido;
grau 2 – comportamento levemente dispersivo – há indicios de turvação na água, próximo ao torrão;
grau 3 – comportamento moderadamente dispersivo – observa-se uma nuvem de colóides em
suspensão, geralmente finos veios espalhandos no fundo do béquer;
grau 4 – comportamento fortemente dispersivo – observa-se nuvem coloidal, geralmente uma película
muito fina, cobrindo quase todo o fundo do béquer. Em casos extremos toda a água torna-se turva.
O ensaio sedimentométrico comparativo consiste na comparação entre o ensaio de sedimentação com
o uso do defloculante, conforme NBR 7181 (ABNT, 1988), e sem a utilização do defloculante, seguindo os
procedimentos da NBR 13602 (ABNT, 1996a). Sua finalidade é encontrar a razão entre os percentuais em
massa das partículas com diâmetro inferior a 0,005 mm determinadas, respectivamente, pelo ensaio sem
defloculante e pelo ensaio convencional com uso de defloculante. Obtem-se o parâmetro de avaliação da
dispersibilidade do solo chamado de porcentagem de dispersão. Quanto maior a porcentagem de dispersão,
maior é o potencial dispersivo do solo. O ensaio foi realizado para o solo natural assim como com cal.
3 Resultados
90
% 80
p 70
a
s 60
s
a
50
n
t
40
e
30
20
10
0
0,001 0,01 0,1 1 10
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Ao realizar o crumb test, o solo MRML apresentou grau 4, fortemente dispersivo, pois observou-se
uma nuvem coloidal cobrindo quase todo o fundo do béquer. Em contrapartida, o solo com adição de cal
demonstrou-se grau 1, com um comportamento não dispersivo, pois não houve indícios de turvação na água.
As diferentes feições podem ser observadas na Figura 7.
Figura 7.Imagens dos ensaios de crumb testsem (esquerda) e com (direita) adição da cal, graus 4 e 1
respectivamente. Fonte: Autores
Em relação ao ensaio sedimentométrico comparativo, para o solo MRML com e sem adição de cal
tem-se as porcentagens de dispersãoconforme Tabela 2.
O solo apresenta porcentagem de dispersão superior a 40%, sendo caracterizado como solo
dispersivo pelo critério do SCS e de Decker (1971) apud Heinzen e Arulanandan (1977). A adição
de cal, apesar de reduzir o teor de finos, quantificado nos ensaios de sedimentação com e sem
defloculante, não repercutiu favoravelmente no parâmetro porcentagem de dispersão, não
concordando com as evidências do crumb test.
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4 Considerações Finais
O presente trabalho discute a presença de solos dispersivos na Planície Costeira Sul do RS, como
publicado por Welter e Bastos (2003). Um novo ponto amostral mais ao sul da Planície Costeira, no interior
do município de Santa Vitória do Palmar, ratificou,tanto pelo crumbtest como pelo ensaio sedimentométrico
comparativo,o comportamento dispersivoem suspeição pelas evidências pedológicas e geológicas e
caracteres de campo. A adição de cal na razão de 2% em peso mostrou inibir a dispersão em água
destiladano crumb test. Já a porcentagem de dispersão obtida nos ensaios sedimentométricos não comprova
esse efeito. Como no crumbtest, apesar de qualitativo, tem-se a direta observação do fenômeno, indica-se o
melhoramento com cal como uma ferramenta na preveção da erosão coloidalemtais solos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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de Janeiro, 1988. 13p.
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Janeiro, 1986. 9p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (1996a).NBR 13601: avaliação da dispersibilidade de
solos argilosos pelo ensaio do torrão (crumbtest). Rio de Janeiro, 1996. 2p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) (1996b).NBR 13602: avaliação da dispersibilidade de
solos argilosos pelo ensaio sedimentométrico comparativo - ensaio de dispersão SCS. Rio de Janeiro,
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Bastos, C.A.B. (1999) Estudo geotécnico sobre a erodibilidade de solos residuais não saturados. Tese de
Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil/UFRGS. PortoAlegre/RS: 1999, 298p.
Bastos, C.A.B. (2002) Caracterização geotécnica dos solos da Planície Coteira Sul do RS visando o
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Decker, R.S.,Dunnigan, L.P. (1977) Development and use of the Soil Conservation Service dispersion test.
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Heinzen, R.T.; Arulanandan, K. (1977) Factors influencing dispersive clays and methods of
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Holmgren, G.G.S.; Flanagan, C.P. (1977) Factors affecting spontaneous dispersion of soil materials as
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Sherard, J.L; Dunnigan L.P. and Decker, R.S. (1976) Identification and nature of dispersive soils.Journal of
the Geotechnical Engineering Div., ASCE, v.102 (1976), n.GT4, p.287-301.
Welter, C., Bastos, C.A.B. (2003) Avaliação da dispersibilidade de PlanossolosSolódicos encontrados na
Planície Costeira Sul do RS. In Congresso regional de Iniciação Científica e Tecnológica em Engenharia
– CRICTE’2003. Anais…Itajaí/SC: ABENGE. In CD.
Xavier, S.C. (2017) Mapeamento geotécnico aplicado ao planejamento do uso eocupação do solo da cidade
de Pelotas/RS - estudo voltado à expansão urbana.Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil/UFRGS. PortoAlegre/RS: 2017, 338p.
1367
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0172 ISBN: 978-65-89463-30-6
Debora Benetti
Engenheira Civil, Porto Alegre, Brasil, debora.benetti@edu.pucrs.br
RESUMO: As injeções executadas para os solos grampeados são de suma importância para o funcionamento
do sistema de contenção. O controle tecnológico de uma obra de solo grampeado tem por objetivo testar a
capacidade destas injeções, não somente através dos critérios normativos de resistência da calda de cimento,
mas também como resposta à interface com o solo quando consolidado através de ensaio de arrancamento.
Este trabalho teve por objetivo avaliar o uso da técnica de solo grampeado em um solo residual de granito
em uma obra localizada na cidade de Porto Alegre/RS, a partir de alguns controles tecnológicos como: RCS
(Resistência à Compressão Simples) da calda de cimento de injeção dos grampos e ensaio de arrancamento
de grampo para verificação da tensão de aderência (q s) em grampo protótipo. Para a verificação da RCS
foram moldados in loco mais de 50 corpos de prova de calda de cimento e alguns concretos da obra. Já o
ensaio de arrancamento foi realizado na obra após 28 dias da injeção da calda de cimento, cujo fator água-
cimento especificado foi de 0,5 para o cimento CPII-32. Foi possível realizar um mapa das resistências de
cada grampo injetado. A partir do ensaio de arrancamento de grampo foi possível obter e interpretar a
relação força-deslocamento através de cargas e descargas com um conjunto macaco-bomba-manômetro,
podendo observar que o valor de qs deve ser interpretado em função dos deslocamentos obtidos. Mesmo com
a cura dos corpos de provas ao ar, 85% das amostras ensaiadas variaram de 20 a 32 MPa, sendo que 15%
ficaram em torno de 19 MPa. O ensaio de arrancamento indicou que o valor de q s adotado deve estar na faixa
de valores entre 180 e 245 kPa.
ABSTRACT: The injections performed for stapled soils are of paramount importance for the functioning of
the containment system. The technological control of a stapled soil work aims to test the capacity of these
injections, not only through the normative criteria of cement grout resistance, but also in response to the
interface with the soil when consolidated, by pullout test. This work aimed to evaluate the use of the stapled
soil technique in a residual granite soil in a work located in the city of Porto Alegre / RS, using some
technological controls, such as: RCS (Resistance to Simple Compression) of the grout staple injection
cement and staple pullout test to check the adhesion tension (q s) in prototype staple. For the verification of
the RCS, more than 50 specimens of cement grout and some concrete from the construction site were molded
in loco. The pullout test, on the other hand, was carried out at the construction site 28 days after the injection
of the cement solution, whose specified water-cement factor was 0.5 for the CPII-32 cement. The pullout test
result can be related to the direct shear test performed for the system anchoring soil. It was possible to make
a map of the resistances of each injected clamp. From the clamp pullout test, it was possible to obtain and
interpret the force-displacement relationship through loads and discharges with a monkey-pump-manometer
set, observing that the value of qs must be interpreted as a function of the displacements obtained. Even with
the curing of the specimens in the air, 85% of the samples tested ranged from 20 to 32 MPa, with 15% being
around 19 MPa. The pullout test indicated that the value of q s adopted must be in the range of values
between 180 and 245 kPa.
KEYWORDS: Stapled Soil, Technological Control, Pulling Test, Resistance to Simple Compression.
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1 Introdução
Solo grampeado é uma técnica de melhoria de solos que permite a contenção de taludes naturais ou
taludes resultantes do processo de escavação. O grampeamento do solo é obtido através da inclusão de
elementos lineares passivos, semi-rígidos, denominados grampos ou chumbadores. De modo geral, os
grampos são compostos por barras ou tubos de aço que introduzem esforços resistentes de tração e
cisalhamento e na grande maioria dos casos, são moldados in situ por meio das operações de perfuração e
fixação de armação com injeção de calda de cimento.
Em uma estrutura de contenção ou em estabilização de escavações, a técnica utilizada em relação aos
grampos se dá por meio do posicionamento sub-horizontal das ancoragens. Os esforços são principalmente
de tração quando o material tem rigidez compatível com a de solos. Por outro lado, quando a rigidez do
maciço é elevada, como ocorre em rochas, o grampo funciona como um chumbador e os esforços resultam
em combinação de tração e cisalhamento.
A técnica de solo grampeado possui certa similaridade quando comparado com outras obras de
contenção de encostas e estabilização de taludes como: terra armada e cortina atirantada. Destaca-se, o
método da cortina atirantada, onde os tirantes agem como intervenções ativas, enquanto os grampos no solo
possuem trabalho inicial passivo. Ortigão et al. (1995), demonstram que isso ocorre porque os tirantes são
protendidos com cargas de 150 a 1000 kN quando a contenção está pronta, garantindo que não ocorram
deslocamentos da face. Além disso, os esforços de tração são constantes ao longo de todo o comprimento
livre. No caso dos grampos, a protensão não ocorre. No entanto, cargas de 5 a 10 kN são aplicadas para
garantir o contato entre a face e o solo contido (BRUCE, JEWELL, 1986; ORTIGÃO; PALMEIRA; ZIRLIS,
1995).
Ainda não existe norma brasileira para a técnica em solo grampeado. A referência normativa
atualmente está em caminhamento para pauta sob audiência pública. Tal documento recebe o título de
“Muros e taludes em solo reforçado em aterros e solo grampeado (COMITÊ ESPECIAL DE MUROS E
TALUDES EM SOLOS REFORÇADO, ABNT, 2019). A norma fará a substituição da NBR 1986 – Terra
Armada – Especificação.
Para fins de projeto, a resistência ao cisalhamento da interface solo-grampo é um dos parâmetros mais
importantes. Este parâmetro é determinado a partir da experiência dos projetistas, de correlações empíricas
com materiais de referência e se baseiam, fundamentalmente, no tipo de solo e resultados de ensaios de
campo (arrancamento, sondagens a percussão e pressiométricos). A realização de ensaios de arrancamento in
situ é extremamente importante para a quantificação deste parâmetro e, consequentemente, para a elaboração
de projetos mais econômicos e seguros. No entanto, não há uma metodologia generalizada. Diferentes
enfoques conceituais quanto ao mecanismo de ruptura do conjunto solo-grampo, assim como quanto à forma
da superfície potencial de ruptura e natureza das forças atuantes, têm sido apresentados em vários trabalhos
publicados na literatura (STOCKER et al., 1979; SHEN et al., 1981; SCHLOSSER, 1983; JURAN et al.,
1988; BRIDLE, 1989; ANTHOINE, 1990).
Neste contexto de obra que envolve ancoragens, o controle de qualidade deveria ser uma prática
corriqueira para a obra, independentemente do seu porte. O controle de qualidade da obra de solo grampeado
está relacionado à qualidade dos materiais e a compatibilidade com as premissas de projeto. Alguns ensaios
são necessários, pois existem materiais que são produzidos na obra, como é caso da calda de injeção e o
concreto de elementos complementares. Ainda, é de fundamental importância para o funcionamento do
sistema em solo grampeado, o ensaio de arrancamento. Este ensaio deve ser realizado para definir a condição
real da resistência lateral solo-calda (qs) que naturalmente é uma função de múltiplas variáveis, entre elas:
tipo de solo, método de perfuração, aplicação da injeção e propriedades físicas da calda de cimento. Por este
motivo, em qualquer obra com este conceito, deve-se realizar este ensaio, de modo a definir a real condição
de ancoragem em que se encora os grampos na obra.
Portanto, o objetivo deste trabalho é avaliar o controle da qualidade de uma contenção de solo
grampeado em uma obra localizada na cidade de Porto Alegre/RS, através da execução de ensaios que
verificam a resistência a compressão simples (RCS) da calda de cimento das injeções de cada grampo e com
o ensaio de arrancamento de um grampo protótipo ancorado no solo residual instalado no talude da obra.
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2 Metodologia
A obra de contenção em estudo trata-se de um solo grampeado com faceamento em tela metálica da
alta resistência e bioengenharia associada, com extensão de 70m e altura de até 10m, em taludes com
inclinações da ordem de 55°. Neste contexto, foi executado um sistema de drenagem superficial com
descidas d’água em concreto, complementando a funcionalidade da contenção.
A região de estudo localiza-se na cidade de Porto Alegre/RS em uma área condominial na qual passou
por processo de recuperação. Neste local já ocorreu no passado movimentações de solo e rocha por conta de
exploração mineral. Atualmente a área é protegida ambientalmente e as obras que estão sendo realizadas no
local pertencem ao processo de melhoria e adequação da área de lazer. Os taludes no local na sua maior parte
são de corte em solo residual de granito.
Nesta localidade foi realizado um conjunto de obras de recuperação de área degrada em que uma delas
foi objeto do presente trabalho, no que tange, especialmente ao entendimento do sistema de contenção
aplicado (solo grampeado com faceamento verde em tela metálica de alta resistência) e a realização do
controle tecnológico desta. A obra foi motivada pela necessidade de segurança das edificações de lazer à
montante, incluindo uma piscina de 240 m³. A Figura 1 mostra as características do terreno antes e após a
obra.
O talude de corte logo a jusante da área de banho, encontra-se mais verticalizado no topo e mais
abatido na base. Esta condicionante está atrelada às coesões distintas de horizontes B e C, associadas à
degradação de superfície pela erosão. Os solos do horizonte B, mais argilosos, embora menos resistentes ao
cisalhamento, são mais eficientes aos processos erosivos de superfície e apresentam acentuada evolução
pedogênica que conduzem para uma maior coesão efetiva neste estrato. Por outro lado, os solos do horizonte
C, embora tenham maior resistência ao cisalhamento quando confinados, se demostram mais frágeis aos
processos erosivos e evidentemente menor potencial edáfico, permitindo que os taludes fiquem com faces
expostas.
Os parâmetros necessários ao projeto em solo grampeado foram obtidos por investigações geotécnicas
e por ensaios nos grampos por parte da empresa executora. Embora quase que a totalidade dos problemas do
local estudado estejam associados aos maciços de solo, considera-se de extrema importância o relato da
geologia local, pois, são solos residuais, portanto, originaram-se do intemperismo destas mesmas rochas. Por
isso, o comportamento geomecânico, hidráulico e potencial edáfica tem forte relação com a mineralogia
primária do embasamento cristalizado.
Outro ponto a ser considerado, é a elevada permeabilidade nos solos da região. A área demonstra que
a maior parte da água precipitada é bem drenada pelo terreno, ou seja, infiltra-se e percola com celeridade.
Nessas condições, os níveis freáticos são transientes e dependem muito da intensidade e, sobretudo, da
duração das chuvas.
A curva granulométrica do solo do horizonte B/C demosntra composição predominantemente arenosa
da amostra, identificando solos granulares constituídos de pedregulhos, mas com uma composição argilo-
siltosa de 11%.
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Foi considerada a profundidade de superfície cuja redução de coesão aparente mobiliza um FS=1,0. A
partir desta situação, define-se que o comprimento de grampos deve ser equivalente a este comprimento mais
o comprimento de ancoragem dado pela carga de trabalho T. Assim:
L =Lanc. + Lm (1)
𝑇 𝑡𝑟𝑎𝑏
Lanc.= (2)
𝜋 . 𝐷 . 𝑞𝑠
O controle tecnológico foi dividido em obtenção e resutados dos ensaios de arracamento de grampo e
ensaios de resistência à compressão.
O ensaio de arrancamento de grampos não segue nenhuma prescrição normativa, apenas ocorrem
indicações. Assim, através da literatura especializada que os procedimentos e recomendações de ensaios,
esquemas de montagem dos ensaios e interpretações do comportamento de arrancamento do grampo, serão
apresentados.
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𝐹𝑚á𝑥
qs = (3)
𝜋 . 𝐷 . 𝐿𝑎𝑛𝑐𝑜𝑟𝑎𝑑𝑜
onde:
qs: Resistência ao arrancamento mobilizada;
Fmáx: Máxima carga axial de tração cortante no grampo;
D: Diâmetro da perfuração;
Lancorado: Comprimento ancorado ou injetado do grampo.
O ensaio de arrancamento no grampo consistiu, inicialmente, na aplicação de sobrecarga de 5, 10 e 20
kgf/cm2, mantendo a pressão de 20 kgf/cm2, ocorrendo uma estabilização por 5 minutos. O deslocamento foi
observado através de leituras na placa e na barra. Após foi realizada a descarga de 10 e 5 kgf/cm 2 observando
novamente as leituras. O ensaio prosseguiu aplicando-se as cargas iniciais descritas acima, porém em cada
ciclo acrescentando consecutivamente os carregamentos de 40, 60, 80, 100, 120, 180, 200 e 220 e kgf/cm².
Consequentemente, a descarga continuou sendo feita.
Para os ensaios de resistência a compressão foi realizada a preparação da calda de cimento, através de
cimento Portland CPII-32 e fator água/cimento igual a 0,5. A calda de cimento foi preparada em quantidade
suficiente para o preenchimento dos furos, sendo em misturador de pá de alta turbulência, respeitando as
recomendações da NBR 7681 (ABNT, 2013).
Ao longo da execução dos grampos, foi feita a moldagem de trinta e oito corpos de prova e não se
realizou o processo de cura imersa. Os corpos de prova ficaram armazenados em local fechado e protegidos
de intempéries. Foram realizadas medidas de diâmetros e alturas e os corpos de prova foram preparados de
acordo com as recomendações da NBR 5739 (ABNT, 2018).
Aos 28 dias, realizou-se o ensaio de compressão uniaxial nos corpos de prova, obedecendo a idade de
rompimento de cada um dos corpos de prova. Neste ensaio os corpos de prova foram submetidos a um
carregamento que aumenta progressivamente até a ruptura da amostra. O valor da força exercida no
momento da ruptura indica a resistência máxima que a calda de cimento suporta.
Os grampos foram executados e numerados segundo a localização da Figura 4, que correspondem a
distribuição no talude de altura variável.
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3 Resultados e Análises
Os resultados de resistência à compressão simples da calda de cimento para cada injeção realizada é
apresentada na Figura 5. Nota-se que alguns valores se repetem, pois algumas bateladas serviram para injetar
mais de um grampo.
As resistências à compressão simples da calda de cimento oscilaram de 15,7 a 32,17 MPa, com
exceção de dois corpos de prova que apresentaram 9,0 MPa. A amostra, embora ensaiada, encontrava-se
danifica, provavelmente por ocorrência de dano mecânico no transporte.
A dosagem (fator água-cimento) foi fixada em 0,5. Sendo que o controle de dosagem foi feito com
lançamento em volume de água medido diretamente com marcador no tambor de mistura e posteriormente o
lançamento do cimento. Terminando a mistura, repetia-se o procedimento. Nestas situações a variabilidade
de dosagem é pequena. Sendo assim, as variações mais acentuadas de resultados concentram-se na técnica de
moldagem e cura do CPs, especialmente em campo.
Pode-se dizer, portanto, que a variabilidade de resultados é ocasionada devido a diferentes fatores,
como por exemplo, uma possível armazenagem dos corpos de prova em local desnivelado logo após a
moldagem na obra, a não cura em câmara úmida ou imersa das amostras e as pequenas variações de dosagem
tornam-se condicionantes para a dispersibilidade dos resultados. A respeito do processo de cura, os CPs 2A
e 2B foram curados imersos, enquanto os CPs 1F e 1G foram curados ao ar. Este comparativo foi realizado
justamente para estabelecer uma relação sob o ponto de vista de resistência na interferência do processo de
cura. Os resultados mostram que a cura imersa apresentou 21,5 MPa e 22,6 MPa, para os CPs 2A e 2B,
respectivamente. Enquanto à cura ao ar, a resistência obtida foi de 19,2 MPa e 18,5 MPa, para os CPs 1F e
1G.
A cura submersa proporciona cerca de 14,36% de diferença em comparação ao processo de cura ao ar.
No entanto, a calda de injeção no furo é curada em uma condição intermediária, ou seja, nem na condição ao
ar, nem na condição imersa, mas sim, em meio a um solo com sua umidade natural. Isto significa que a cura
é um importante fator para determinação da resistência da calda de injeção. Admite-se que devido às
condições de confinamento do solo e a baixa perda por evaporação, o resultado dentro do furo de injeção se
aproxima mais da condição de cura imersa do que da cura ao ar. Segundo a NBR 5629 (ABNT, 2018) a
resistência mínima para amostras de calda de cimento é de 20 MPa.
Assim sendo, cerca de 65,8% das amostras ensaiadas apresentam resistência à compressão igual ou
maior que 20 MPa, sendo que o desvio padrão das amostras é de 4,23. Porém, dado o exposto, entende-se
que o mais provável é que todas as injeções atendam o quesito mínimo da norma.
Por outro lado, o ensaio de arrancamento foi executado na haste 17E, estabelecida como um protótipo
com comprimento de ancoragem de 1,5m e livre de 2,5m. A Figura 6 apresenta os resultados obtidos no
ensaio de arrancamento.
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4 Conclusão
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AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1375
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0173 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Neste trabalho será apresentada uma comparação da capacidade de carga de um caso real da
recuperação e reforço de uma cortina atirantada no ano de 2018, em Belo Horizonte/MG. Para desenvolvê-lo
foi utilizado um banco de dados disponibilizado pela empresa executora da recuperação da cortina atirantada
com 308 tirantes reinjetáveis e protendidos, construida na década de 70. A técnica de contenção por cortina
atirantada é empregada em locais com áreas restritas e grandes alturas de escavações, e é conhecida por
produzir pequenas deformações. A cortina abordada neste estudo tem como objetivo estabilizar um maciço
da BR-356, no qual possui 160 metros de extensão e é desmembrada em 16 painéis (10m X 11m). As
análises de capacidade de carga para o painel 11, painel crítico, foram realizadas utilizando como base o
perfil topográfico do solo, juntamente com furos de sondagem do tipo SPT, permitindo através de
correlações obterem os parâmetros geológico-geotécnicos do maciço. O cálculo da capacidade de carga foi
realizado por métodos semi-empiricos da literatura técnica e indiretamente a partir da teoria de Mohr
Coulomb. Diante o exposto, esse trabalho irá mostrar em forma de gráficos as diferentes capacidades de
carga encontradas nos métodos de Porto (2015), Bustamante (1985), Falconi (2005) e a teoria de Morh
Coulomb (1773), bem como o possível motivo da diferença entre os mesmos. Com a capacidade de carga
obtida é possível, por “retroanálise” desses dados, encontrar uma otimização para esta cortina atirantada.
ABSTRACT: This work will compare the carrying capacity of a real case of the recovery and
reinforcement of an anchorage wall in 2018, in Belo Horizonte/MG. To develop it, a database was made
available by the company executing the recovery of the curtain bolt with 308 rejectable and prestressed rods,
built in the 70s. The anchorage wall technique is used in places with restricted areas and high heights
excavations, and is known to produce small deformations. The wall covered in this study aims to stabilize a
BR-356 massif, which is 160 meters long and is broken down into 16 panels (10m X 11m). The load
capacity analyzed from panel 11, a critical panel, were carried out using the topographic profile of the soil as
a base, together with drilling holes of the SPT type, allowing through correlations to obtain the geological-
geotechnical parameters of the massif. The calculation of the load capacity was carried out by semi-empirical
methods in the technical literature and indirectly based on Mohr Coulomb's theory. In view of the above, this
work will graphically show the different load capacities found in the methods of Porto (2015), Bustamante
(1985), Falconi (2005) and the theory of Morh Coulomb (1773), as well the possible reason of the difference
between them. With the load capacity obtained, it is possible, by “retroanalysis” of these data, find an
optimization for the anchorage wall.
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1 Introdução
Com o crescimento populacional e escassez de área, principalmente em grandes centros urbanos como
Belo Horizonte, é necessário que os brasileiros aproveitem áreas com topografias acidentadas. Essas regiões
estão susceptíveis a catástrofes devidas os riscos geológicos que se intensificam em épocas chuvosas. Diante
este contexto, a proposição de conter os maciços é indispensável à execução de uma contenção segura e
eficiente.
As estruturas de contenção são construídas em locais com restrições de espaço e limitação de
deformações horizontais e verticais. Essas infraestruturas podem ser do tipo convencional ou especial, a
escolha é conforme geologia local e recursos financeiros disponíveis. A cortina atirantada, tema deste
trabalho, está entre uma das mais utilizadas por possuir eficiência inquestionável.
A cortina atirantada é uma estrutura composta de concreto armado na forma de parede e ancoragens,
que são conhecidos como tirantes, os quais são injetados ao solo com a função de suportar a carga exercida
pelo maciço e a tração. Em obras de contenção que utilizam ancoragem protendidas e injetáveis é preciso
determinar a capacidade de carga, ou seja, realizar uma análise comportamental dos tirantes presentes na
estrutura.
Este trabalho trata-se de uma obra de contenção que foi construído em encosta desde a década de 70
em Belo Horizonte-MG e precisou de intervenção no ano de 2018 para evitar um desastre após manifestar
algumas patologias. Nele é apresentada uma comparação da capacidade de carga de tirantes através de
métodos semi-empiricos e teórico em um painel (painel 11) da cortina para a otimização da obra. Este estudo
pretende contribuir de alguma forma para a divulgação da técnica de ancoragem protendida ainda com
pequeno número de estudos no Brasil.
2 Contextualização
Segundo Silva et al. (1995) apud Parrizi et al. (2004), Belo Horizonte possui três compartimentos
geológicos: Complexo de Formações Superficiais, Complexo Gnáissico ou Complexo Belo Horizonte e
Complexo Metassedimentar. A cortina atiranda da BR-356, local deste estudo, pertence ao Complexo
Metassedimenar, o qual é uma região com problemas de taludes instáveis que são compostos por um maciço
rochoso de filito. O filito é classificado como rocha metamórfica de granulação muito fina e constituído de
minerais micáceos, o que lhe confere um aspecto sedoso. Nos últimos anos na capital mineira foram nesta
região as principais ocorrências de sinistros geotécnicos ou ruinas de contenções.
A cortina atirantada pode ser de concreto armado, projetado, parede diafragma ou perfis metálicos
cravados, é uma técnica de contenção através da execução de uma “cortina” concomitantemente com
perfuração, aplicação, injeção e protenção dos tirantes. A aplicação desta técnica é recomendada para
terrenos com cortes de grande carga a ser contida ou solo de pouca resistência e estabilidade.
De acordo com Cunha (2005), os fortes costeiros do século XVIII foram os pioneiros em estrutura de
contenção no Brasil. No século XIX o uso de contenção expandiu para obras portuárias e urbanas na Bahia e
Rio de Janeiro.
Com o passar dos anos e o crescente desenvolvimento urbano e industrial ocorreu à urgência de
construir em subsolo por escavações mais profundas. Desta forma, More (2003) menciona que o progresso
das estruturas de contenção do solo, a incluir as ancoragens, resultou dos engenheiros geotécnicos
precisarem conciliar o mínimo deslocamento do solo e obras vizinhas com os excessivos esforços
horizontais.
Através de relatos por Cambefort (1964) a primeira aplicação relevante para ancoragem em maciço
rochoso é datada de 1934 como complementação a barragem de Cheurfas, localizada na Argélia. Essas
ancoragens são introduzidas no terreno para resistir às tensões de tração e conduzi-las ao maciço.
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A obra de contenção em estudo está localizada na capital mineira Belo Horizonte, ás margens da
rodovia BR-356, conhecida também como Avenida Nossa Senhora do Carmo. Essa obra de contenção foi
construída aproximadamente em 1975 pela antiga empresa Geotop, com comprimento de 160 m e
subdividida em 16 painéis (10 m de comprimento X 16 m de altura).
Após a construção na década de 70, a contenção da BR-356 nunca enfrentou reparos. Assim como
qualquer obra sem manutenção, a contenção começou a exibir problemas patológicos. No ano de 2018
técnicos da defesa civil perceberam uma movimentação na estrutura de um trecho da pista com risco de
queda do muro da contenção e um abatimento na via.
Além disso, na construção foram verificadas patologias como: trincas, fissuras, presença de musgos,
corrosão da cabeça de ancoragem e perda de protensão do aço.
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Os métodos teóricos apresentados a seguir são utilizados para auxiliar no dimensionamento dos
trechos ancorados dos tirantes de uma contenção. No entanto é importante salientar que existe empirismo
nestes métodos do cálculo da capacidade de carga dos tirantes.
A capacidade de carga pode ser estimada através das fórmulas (1) e (2) (Bustamante e Doix, 1985).
𝑇𝐿 = 𝜋 . 𝐷𝑠 . 𝐿𝑏 . 𝑞𝑠 (1)
𝐷𝑠 = 𝛽 . 𝐷𝑝 (2)
Onde: TL (capacidade de carga do bulbo -kN/m²); DS (diâmetro médio do bulbo -m); Lb (comprimento
do trecho ancorado ou bulbo- m); qs (resistência ao cisalhamento -kN/m²); Dp (diâmetro perfurado do furo -
m); β (coeficiente de majoração do diâmetro do bulbo - tabelado).
De acordo com o tipo de solo e injeção, os autores Bustamante e Doix (1985) propõem valores
para β, no Tabela 1.
Tabela 1. Coeficiente de majoração do diâmetro do bulbo.
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Falconi baseou seus estudos nesta fórmula e sugeriu um método de calculo simplificado para estimar a
capacidade de carga de ruptura em ancoragens reinjetáveis e protendidas. A capacidade de carga das
ancoragens é apresentada pela equação (3), que depende da resistência ao cisalhamento equação (4) e por vez
subordina-se ao número de golpes (Nspt) da sondagem.
TL DS Lb qs (3)
SPT (4)
qs 15 1
3
Com extrapolações matemáticas da proposta de Van der Veen (1953), Porto chegou às equações (5),
(6) e (7) para cálculo da capacidade de carga geotécnica, diâmetro médio do bulbo, e aderência na ruptura,
respectivamente:
𝑇𝐿 = 𝜋 . 𝐷𝑠 . 𝐿𝑎 . 𝑞𝑠 (5)
𝐷𝑠 = 𝛽 . 𝐷𝑝 (6)
𝑆𝑃𝑇 (7)
𝑞𝑠 = 10 k + ( + 1)
3
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A teoria de Mohr- Coulomb é amplamente utilizada na mecânica do solo, podendo ser estendida na
utilização de cálculo de resistência do solo para uma parede de contenção. A empresa responsável pela
intervenção na contenção da BR-356 baseou nesta teoria para realizar alguns cálculos, pois o solo apresenta
propriedades coesivas. Afinal, essa teoria fornece um modo fácil e rápido de expressar o estado multiaxial de
tensões. A equação utilizada por Coulomb é:
τ = c + σ tan φ (8)
4 Problema em Estudo
A contenção em estudo está em uma área urbanizada e importante estrada de conexão a demais
cidades da região. A estrutura é dividida em 16 painéis, com o painel mais crítico (11) devido ao
deslocamento de 0,10cm da junta é tema deste estudo. Com a situação deste painel, a empresa executora da
recuperação da cortina optou por um reforço provisório para evitar um colapso da estrutura para retrabalhar
toda contenção, ilustrado Figura 2.
Através de sondagens à percussão do tipo SPT (Standard Penetration Test) verificou um aterro de
material silte arenoso, perfil geológico-geótecnio na Figura 3, em que os valores médios de NSPT dos tirantes
do painel 11 estão representados na Tabela 3 abaixo. Com os dados do SPT os demais parâmetros foram
obtidos com correlações da literatura, sendo: c = 75 kN/m2, φ = 22,5°, ɣ = 20,5 kN/m3 .
De posse de todos esses dados foi possível realizar os cálculos para capacidade de carga de tirantes
para o painel mais critico da contenção em destaque.
Tabela 3. Dados dos tirantes do painel 11.
Dados dos Tirantes Geotécnico
Linha Tirante LL (m)- Trecho livre Lb(m)- Trecho Lt (m)- Trecho SPT
ancorado total
LINHA 1 26 8 34 47
LINHA 2 20 8 28 50
LINHA 3 16 8 24 50
LINHA 4 10 8 18 45
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5 Resultados e Discussões
A partir das análises realizadas para o cálculo da capacidade de carga para os tirantes do painel crítico
(painel 11), têm-se os seguintes resultados para cada metódo representada no Gráfico 1 abaixo:
(a) (b)
(c) (d)
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Através dos gráficos percebe que o único método que mantém sempre o mesmo valor para o cálculo
da Carga é de Bustamante, afinal ele não depende do número SPT. A maior diferença de valores está no
método de Porto que pontua 318 kN da Linha 2 e 3 para Linha 4.
Além disso, ao comparar os valores encontrados em cada método constata uma pequena disparidade
nos valores encontrados em Bustamante, Falconi e Morh Coulomb, entretanto, o método de Porto obteve
uma discrepância maior. Essa diferença entre os outros métodos pode ser justificável pelo fato de Porto
(2015) não ter trabalhado em sua pesquisa com solo silte arenoso e os coeficientes utilizados em sua equação
ser um valor aproximado para este tipo de solo.
Bustamante é o método semi-empirico mais antigo tratado neste trabalho, logo ao comparar na linha 2
com os demais métodos, tem-se que Falconi possui uma dispersão de 74,26 kN com Bustamante, essa
diferença é mínima de 5%. Por outro lado, ao comparar Bustamante com Porto à desigualdade é maior em
torno de 45%.
6 Conclusão
Este trabalho teve o objetivo de iniciar uma discussão sobre os diversos métodos presentes na
literatura para cálculo da capacidade de carga de tirantes assim como, aplicação prática dos engenheiros,
visto que para cada caso pode ocorrer particularidades que proíba a utilização de algum método para a obra
em questão. Desta forma, ao executar o trabalho de uma obra de contenção é importante aplicar os métodos
disponíveis e fazer uma análise critica para obter uma obra econômica e segura, minimizando erros do
processo de controle de ancoragens reinjetáveis. Logo o trabalho quis contribuir para transparecer que é
necessário um controle de qualidade das ancoragens projetadas e executadas no Brasil.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Hidrogeológicos, Geotécnicos e Geoambientais Integrados no Município de Belo Horizonte. Convênio:
PMBH, SMP, FUNDEP/UFMG.
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0174 ISBN: 978-65-89463-30-6
Eduardo Damin
Discente, UDC, Foz do Iguaçu, Brasil, eduardodamin@gmail.com
RESUMO: O solo possui grande valia nas atividades de construção civil e engenharia rodoviária, para tanto é
necessário que o mesmo apresente propriedades físicas e mecânicas capazes de suportar as cargas e esforços
aos quais serão submetidos. Para esquivar-se de situações de capacidade de suporte insuficientes é de suma
importância o conhecimento de técnicas de melhoramento e estabilização de solos. A estabilização química é
utilizada para modificar as características dos solos com a utilização de aditivos. A cal como aditivo na
estabilização química de solos é um dos métodos mais antigos, quando misturada ao solo produz reações físico-
químicas capazes de alterar as propriedades do solo promovendo sua estabilização e ganho de resistência.
Nesse sentido o presente estudo tem por objetivo analisar a influência da cal no solo da região oeste do Paraná.
O compósito solo-cal foi analisado na proporção de 5,6%, definido pelo método de pH proposto por Eades e
Grim como sendo o teor ótimo. Os dados obtidos apontam um aumento de resistência em relação ao solo in
natura de 12,26%, demonstrando que a adição da cal ocasiona mudanças imediatas para o solo, tornando-se
uma alternativa tecnicamente viável para aplicação em reforços de subleito e sub-bases de pavimentos urbanos.
ABSTRACT: The soil has great value in the activities of civil construction and road engineering, so it is
necessary that it has physical and mechanical properties capable of supporting the loads and efforts to which
they will be submitted. In order to avoid situations of insufficient support capacity, knowledge of soil
improvement and stabilization techniques is of utmost importance. Chemical stabilization is used to modify
soil characteristics with the use of additives. Lime as an additive in the chemical stabilization of soils is one of
the oldest methods, when mixed with the soil it produces physical-chemical reactions capable of altering the
properties of the soil promoting its stabilization and resistance gain. In this sense, the present study aims to
analyze the influence of lime on the soil of western Paraná. The soil-lime composite was analyzed in the
proportion of 5.6%, defined by the pH method proposed by Eades and Grim as being the optimum content.
The data obtained point to an increase of resistance in relation to the natural soil of 12.26%, demonstrating
that the addition of lime causes immediate changes to the soil, becoming a technically viable alternative for
application in reinforcements of subgrade and sub-bases of urban pavements.
1 Introdução
O solo é um material abundante, de fácil obtenção e manuseio que pode ser empregado em várias áreas
da engenharia. No entanto é comum que o solo de determinadas regiões não atenda às exigências de projeto,
tendo baixa capacidade de suporte. Quando isso acontece existem três soluções a serem analisadas:
- Adaptação do projeto para uso do solo local.
- Substituição do solo local por outro que atenda as exigências do projeto.
- Alteração das propriedades do solo local gerando um solo com novas características que atendam às
exigências de projeto.
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A primeira opção gera um alto custo de projeto e execução, a segunda se torna inviável pelo gasto com
a movimentação de terra, além da necessidade de um local para despejo do solo retirado e o transporte do solo
que será colocado no lugar. A terceira opção é a que tem se mostrado mais viável técnica e economicamente.
Para alteração das propriedades do solo é de suma importância que se tenha conhecimento das suas
características e das técnicas de melhoramento e estabilização para que se possa escolher a melhor técnica a
ser utilizada.
Existem duas técnicas que podem ser utilizadas para estabilização de solos, a primeira emprega meios
mecânicos tais como a correção da granulometria e plasticidade. O segundo emprega meios químicos
utilizando aditivos como a cal.
A cal como aditivo na estabilização química de solos é um dos métodos mais antigos, podendo ser
aplicado de várias maneiras. Segundo Thomé (1994) a cal quando misturada ao solo produz reações físico-
químicas capazes de alterar as propriedades do solo, apresentando melhorias na trabalhabilidade, plasticidade
e variação de volume.
O presente estudo visa analisar os teores de cal adequados para estabilização de solo característico da
região Oeste do Paraná classificado pela EMBRAPA (2006) como latosso vemelho distroférrico para uso como
base e/ou sub-base de pavimento.
2 Base Teorica
A malha rodoviária do país que é responsável por mais de 60% da movimentação de mercadorias e mais
de 90% da movimentação de passageiros enfrenta grandes problemas com a baixa qualidade de infraestrutura,
sendo apenas 12,4% pavimentada (CNT 2018).
No Brasil a execução dos pavimentos é feita através de métodos convencionais, tendo uma grande
aplicação de materiais pétreos, tornando-se inviável economicamente para as vias urbanas onde o trafego é
leve e/ou médio (VILLIBOR et al., 2009).
Para reduzir custos e promover uma maior abrangência da malha rodoviária pode-se utilizar os recursos
locais e novas técnicas de aplicação, entretanto nem sempre o solo da região possui capacidade de suporte para
resistira aos esforços solicitados sendo necessaria a modificação das caracteristicas do solo local, seja por
estabilizações quimicas ou mecânicas.
Segundo Nunez (1991) a cal como aditivo no tratamento de solos é o mais antigo método de
estabilização química, podendo ser aplicado nas mais diversas obras de engenharia. Quando misturada ao solo
a cal produz reações físico-químicas, alterando favoravelmente propriedades do solo como a granulometria,
plasticidade, umidade de campo, peso especifico seco, trabalhabilidade, compactação e resistência
(GUIMARÃES, 1998).
Solo-cal pode ser definido como a mistura compactada de solo, cal e água, geralmente utilizada quando
não se dispões de solo local com as características necessárias para o projeto. Segundo Ingles e Metcalf (1972)
na engenharia rodoviária o solo-cal é utilizado como base e sub-base de pavimentos.
3 Metodologia
Para alcançar os objetivos propostos neste trabalho, formam utilizados os seguintes materiais: solo
residual classificado como latosso vemelho distroférrico segundo a EMBRAPA (2006), cal hidratada
conhecida comercialmente como CH – III, água destilada e água proveniente da companhia de abastecimento
público – SANEPAR.
Todos os ensaios foram realizados no Laboratório de Materiais de Construção e Estruturas no Centro
Universitário Dinâmica das Cataratas – UDC, sendo o trabalho experimental dividido em: produção do
concreto no laboratório, moldagem e compactação dos corpos de prova eavaliação das propriedades hidráulicas
e mecânica.
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A dosagem ideal da cal foi determinada através do método de PH regido pela norma D6276 – 99ª ASTM
(2006) e proposto por Eades e Grim em 1966. Segundo o método o teor ótimo de cal é a mínima porcentagem
que resulte em um pH igual a 12,4.
A execução do ensaio consiste em:
a) Selecionar de uma amostra de solo de 25 gramas passante na peneira nº. 40 e seco em estufa;
b) Adicionar 8 teores de cal ao solo 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9%, em função da amostra de solo seco e uma
amostra somente com 2 gramas de cal saturado;
c) Adicionar 100 ml de água destilada a mistura solo cal;
d) Agitar os recipientes por um período de 30 segundos a cada 10 minutos até completar uma hora
de ensaio.
e) Após completar uma hora de ensaio, espera-se 15 minutos e coleta os resultados das amostras
com precisão de 0,01 unidades de pH.
O ensaio de compactação foi realizado conforme preconiza a NBR 7182 (ABNT, 1986), sendo os corpos
de provas ensaiados utilizando cilindros pequenos e aplicando a energia de compactação normal.
Para o ensaio foi utilizado o solo previamente preparado conforme NBR 6457 (ABNT, 2016), com
secagem previa até a umidade higroscópica seca ao ar, sem reuso de material.
Com o auxílio de proveta de vidro adicionou-se água destilada ao solo até obter uma umidade 5% a
baixo da umidade ótima, nas amostras seguintes foi acrescentado 2% de água com relação a amostra anterior.
Com o solo homogeneizado moldou-se os corpos de prova, compactando e aplicando a quantidade de golpes
conforme a Tabela 1. Após a compactação da última camada o cilindro complementar foi retirado e o excesso
de solo removido com a ajuda de uma espátula e nivelado com a régua biselada. O conjunto solo e cilindro foi
pesado com resolução de 1 grama e subtraído o peso do cilindro obtendo o peso úmido do solo compactado
(Ph).
Enquanto compactava-se a segunda camada eram coletadas amostras direto da bandeja para
determinação da umidade de acordo com a NBR 6457.
Este procedimento foi executado para o solo in natura e para o teor ótimo de cal (5,60%).
Para determinar o peso especifico aparente úmido (γ) foi utilizado a equação 4.
Eq. (1)
Ph
γ =
V
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Para determinar o peso especifico aparente seco (γs) foi utilizado a equação 5.
Eq. (2)
Ph x 100
γs =
V (100 + h)
O ensaio de compressão não confinada foi executado na prensa hidráulica com anel dinamométrico,
capaz de aplicar uma carga de 1 Tonelada conforme preconizando a NBR 12770 (ABNT, 1992).
Para execução do ensaio fez-se uma adaptação quanto ao tamanho do corpo de prova. A norma pede
que seja utilizado corpo de prova com diâmetro mínimo de 35mm e a relação altura-diâmetro deve estar entre
2 e 2,5, mas pela disponibilidade foram utilizados os mesmos copos de prova utilizado para o ensaio de
compactação, tendo 10 cm de diâmetro e 12,75 cm de altura.
O ensaio foi executado para o solo in natura e para o teor ótimo de cal (5,60%), sem tempo de cura.
4 Resultados e Discussões
O ensaio foi procedido conforme descrito no item 3.1. Segundo o método utilizado o teor ótimo de cal
é a mínima porcentagem que resulte em um pH igual a 12,4.
Na tabela 2 podemos observar o resultado do ensaio de pH.
1387
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A execução do ensaio de compactação foi realizada conforme descrito no item 3.1.8. A determinação
da umidade ótima (hót) do solo foi obtida por meio da equação 1.
Pode-se observar um aumento da umidade ótima do solo com a adição de cal em relação ao solo in
natura, segundo a bibliografia esse efeito é explicado pela troca de bases ocasionadas na mistura solo-cal,
gerando uma diminuição da camada de água entre as partículas de argila (GUIMARÃES, 2002; MALLELLA,
QUINTUS e SMITH, 2004; NLA et al., 2006).
O
Gráfico 2 apresenta a relação entre a umidade em porcentagem e o peso específico aparente seco γs obtido
através da equação 5.
Observa-se um decréscimo no peso especifico aparente seco da mistura solo-cal em relação ao solo in
natura, demonstrando que a cal gera reações rapidamente após sua aplicação em solos argilosos, cimentando
e preenchendo os espaços intercristalinos do solo, tornando grãos de solo mais grossos, friáveis e permeáveis
como era esperado de acordo com (GUIMARÃES, 2002; MALLELLA, QUINTUS e SMITH, 2004; NLA et
al., 2006).
O ensaio de compressão não confinada foi executado conforme descrito no item 3.1.9. Foram ensaiados
5 CPs para o solo in natura e 5 CPs com o teor ideal de cal (5,6%), cada corpo de prova foi moldado com um
teor de umidade diferente.
No Gráfico 3 podemos analisar a mudança de comportamento para cada teor de umidade. Nota-se que
para o solo in natura o aumento de umidade resulta em uma menor tensão de ruptura, já na mistura solo-cal a
resistência cresce até um determinado teor de umidade a partir do qual começa a decrescer.
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5 Considerações Finais
Nas análises realizadas no item 4, o solo se mostrou suscetível às reações com a cal hidratada,
satisfazendo os critérios do método de pH com 5,60% de cal. Pôde-se verificar que a adição da cal ocasionou
mudanças imediatas para o solo. Sendo perceptível o aumento da umidade ótima paralelo ao decréscimo no
peso especifico aparente seco.
No ensaio de compressão não confinada observou-se um ganho de resistência da mistura solo-cal em
relação ao solo in natura, exceto no teor de umidade de 26%.
Desta maneira, pode-se constatar que o solo estabilizado com cal apresenta melhorias de resistência,
tendo com potencial para aplicação de reforço de subleito, na sub-base e base, como camada constituinte de
pavimento.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradeçem a instituição de ensino Centro Universitário Dinâmica das Cataratas por ceder o
laboratorio de solo para realização dos ensaios.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). NBR 7181. Solo- Análise granulométrica. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1992). NBR 12770. Solo Coesivo- Determinação da resistência à
compressão não confinada. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR 6457. Amostras de solo- Preparação para ensaios de
compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro.
Confederação Nacional do Transporte – CNT (2018). Anuário CNT do Transporte. Disponível em:
https://anuariodotransporte.cnt.org.br/2018/ > Acesso: 15/01/2020.
Departamento Nacional De Infraestrutura De Transportes (2006) PUBL. IPR - 719: Manual de pavimentação.
3 ed. Rio de Janeiro: DNIT: 274 p.
Gumarães, José Epitácio Passos (2002) A Cal - Fundamentos e Aplicações na Engenharia Civil. 2. Ed. São
Paulo, Pini
Ingles, O. G. and Metcalf, J.N (1972) Soil stabilization: principles and practice. 1972. Melbourne:
Butterworths PTY, 372p.
1389
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Mallella, J.; Quintus, H.V.P.E.; Smith, K. L. (2004) Consideration of Lime-Stabilized Layers in Mechanistic-
Empirical Pavement Design. Document submitted à National Lime Association. Champaing, Illinois,
Estados Unidos de América.
Thomé, A (1194) Estudo do comportamento de um solo mole tratado com cal,visando seu uso em fundações
superficiais. Dissertação (Mestrado em Engenharia). CPGEC-UFRGS. Porto Alegre, 149 p.
Villibor, Douglas Fadul et al (2009) Pavimentos de baixo xusto para vias urbanas: Bases alternativas com
solos lateríticos, Gestão de manutenção de vias urbanas. 2. Ed. São Paulo: Arte&Ciência, 196p.
Nunez, W. P. (1991) Estabilização físico-química de um solo residual de arenito Botucatu visando seu
emprego na pavimentação. Dissertação de Mestrado – Curso de Pós-Graduação em Engenharia Civil da
UFRGS. Porto Alegre, 145 p.
1390
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0175 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: O objetivo desse trabalho foi analisar a viabilidade técnica da utilização de agregados reciclados
provenientes da atividade de mineração para a produção de agregados miúdos para o concreto compactado a
rolo. Buscou-se comparar as propriedades dos agregados miúdos convencionais com os agregados obtidos pela
escória de ferroníquel por meio dos ensaios laboratoriais de caracterização dos agregados. Os ensaios
realizados foram o de análise granulométrica, massa unitária, massa específica, compactação, índice de vazios
e absorção de água, conforme os procedimentos estabelecidos pelas respectivas normas da Associação
Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. A partir dos resultados levantados observou-se que a aplicação do
resíduo de mineração é promissora, apresentando resultados favoráveis em relação às suas características
físicas, indicando ser uma alternativa viável para a substituição parcial do agregado convencional.
ABSTRACT: To analyze the technical feasibility of using recycled aggregates from mining activity
for the production of fine aggregates for roller-compacted concrete was the objective of this study.
The comparison of the properties of conventional fine aggregates and aggregates obtained by ferronickel waste
through laboratory tests for characterization of aggregates was performed. The granulometry, unit mass,
specific mass, compaction, voids ratio and water absorption tests were conducted according to the procedures
established by the respective rules of the Brazilian Association of Technical Standards - ABNT. According to
the raised results, it was observed that the application of mining waste is promising, presented better results in
relation to its physical characteristics, and indicates to be a viable alternative for the partial replacement of
conventional aggregate.
1 Introdução
O processo de produção do aço implica geração de grandes volumes de resíduos sólidos que por não
disporem de uma destinação ambientamente adequada são descartados de forma irregular. Segundo Caselato
1391
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(2010), a indústria siderúrgica gera em torno de 600 kg de resíduos por tonelada de aço produzida, o que torna
este processo produtivo uma problemática ambiental. A fim de mitigar esses impactos são analisadas
alternativas para o reaproveitamento desses materiais.
Conforme Caselato (2010), os resíduos de aciaria podem ser utilizados como material de construção
civil devido as suas propriedades quanto a resistência à derrapagem, drenagem livre, durabilidade, isolamento
ao fogo e cimentação, características estas que o tornam ideal na aplicação em estruturas de concreto, obras
rodoviárias, produtos asfálticos e cimentícios.
Santos (2013) afirma que a escória de ferroníquel possui ideal aplicabilidade em obras de
pavimentação devido sua baixa suscetibilidade à expansão. Além disso, este material é composto
predominantemente por MgO, Fe2O3 e SiO, elementos estes que não apresentam nenhum risco ambiental
quando expostos ao meio ambiente.
O objetivo deste trabalho é avaliar o desempenho técnico dos agregados provenientes da atividade de
mineração, comparando-os com os agregados convencionais a fim de identificar suas propriedades e
determinar a sua viabilidade como material para substituição parcial dos agregados miudos convencionais.
Espera-se com essa pesquisa promover uma mitigação dos impactos ambientais em relação ao descarte
irregular, bem como indicar novas alternativas para proporcionar a redução da utilização dos recursos naturais.
2. Metodologia
Os resíduos de mineração foram coletados no município de Barro Alto, localizado no interior do estado
de Goiás. A escória utilizada neste trabalho foi obtida após a etapa de redução da produção do minério de
níquel. No depósito de Barro alto a escória de ferroníquel é armazenada em estoques sob pilhas únicas,
conforme mostrado na figura 1. Para esse estudo foram utilizados aproximadamente 60 kg do material. O
agregado convencional utilizado nesta pesquisa foi a areia lavada, o qual foi coletado na cidade de Palmas –
TO.
Essa etapa teve como intuito identificar as propriedades dos agregados para serem avaliadas nas análises
técnicas. Devido apresentarem granulometria fina, não houve a necessidade de realizar o processo de
beneficiamento do material para a produção dos agregados, sendo submetidos apenas ao processo de
1392
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peneiramento, pois foram considerados no estudo os agregados passantes na peneira #4.75 mm. As figuras 3.a
e 3.b mostram os agregados que foram utilizados na produção do concreto.
O resíduo da atividade de mineração foi obtido através do processo de redução do ferroníquel, e
conforme mostrado na figura 2, possui na sua composição altos teores de sílica, magnésio e ferro e apresenta
pequenas concentrações de níquel.
0,1%
11,9%
28,8%
Ni
Fe
51,5% SiO
MgO
(a) (b)
Figura 3. (a) Agregados Convencionais; (b) resíduo de mineração.
Na tabela 1 estão contidas as relações das normas que foram atendidas para a realização de cada ensaio.
Tabela 1. Ensaios de caracterização.
Ensaio Agregado Norma
Miúdo Convencional
Granulometria NM 248/2013
Mineração
Miúdo Convencional NBR NM 9776/1987
Massa Específica
Mineração DNER ME 093/94
Massa Unitária Miúdo Convencional NM 45/2006
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Mineração
Compactação Mineração NBR 7182/2016
Miúdo Convencional
Índice de Vazios NM 45/2006
Mineração
Miúdo Convencional
Absorção de Água NM 30/2001
Mineração
O ensaio dos agregados miúdos convencionais e reciclados seguiu os métodos de execução estabelecidos
na NBR 9776 (ABNT, 1987) que indica que a massa especifica dos agregados é a relação entre a massa do
agregado seco e seu volume, considerando a presença de vazios internos. Apesar da norma em questão ter sido
cancelada, o procedimento foi realizado através do frasco de Chapman devido a limitações apresentadas
durante a realização do ensaio.
Por apresentar densidade distinta aos demais agregados, a massa específica dos resíduos de mineração
foi determinada por intermédio dos procedimentos contidos no DNER ME 093/94 que trata sobre a massa
específica dos grãos através do método do picnômetro. As figuras 4.a e 4.b mostram os ensaios realizados para
cada tipo de agregado.
(a) (b)
Figura 4. Ensaio de massa específica dos agregados miúdos: (a) Convencional; (b) Mineração.
A massa unitária foi definida por meio da relação entre a massa e o volume do material excluindo-se a
presença de vazios. Para obter essa massa foram adotados os procedimentos prescritos na NM 45 – Agregados
1394
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– Determinação da massa unitária e do volume de vazios (ABNT, 2006). A partir desse ensaio foram
determinados tambem o índice de vazios.
2.2.4 Compactação
O ensaio de compactação teve como objetivo determinar a relação entre o teor de umidade e a massa
especifica aparente seca dos agregados reciclados quando compactados. Este ensaio foi executado seguindo
os procedimentos estabelecidos na NBR 7182 – Ensaio de compactação (ABNT, 2016). A técnica utilizada
foi a de energia normal, na qual consiste na aplicação de 26 golpes através de um soquete metálico sob três
camadas de solo contidas no cilindro de proctor.
3 Resultados e Discussões
3.1.1 Granulometria
CURVAS GRANULOMÉTICAS
Abertura das peneiras (mm)
10
20
Porcentagens retidas acumuladas
a
30
b
40
50
60
70
80
90
a Miúdo Natural b Mineração
100
No trabalho, como agregado convencional, foi utilizada areia fina lavada com dimensão máxima
característica de 4,75 mm e módulo de finura de 2,00. O resíduo de mineração possui a mesma dimensão
máxima característica, entretanto aponta um módulo de finura de 3,34. Observa-se na figura 5 que o resíduo
de mineração indicou melhor distribuição granulométrica que a areia lavada, apresentando comportamento de
um material bem graduado.
1395
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O ensaio de massa específica para os agregados convencionais foi realizado seguindo as determinações
da NBR 9776 (ABNT, 1987), enquanto que para os agregados de mineração foi adotado o DNER ME 093/994.
Os procedimentos para o ensaio de massa unitária seguiram os critérios da NBR NM 45 (ABNT, 2002).
Percebe-se por meio da figura 6 que a massa específica do agregado convencional é inferior ao agregado
reciclado. No entanto, as massas unitárias apresentadas para os agregados reciclados são inferiores ao do
agregado convencional.
3,5
2,98
3 2,66
2,5
(g/cm³)
O índice de vazios dos agregados foi obtido por correlações contidas na NBR NM 53, relacionando a
massa específica do agregado, a água e a massa unitária dos agregados no estado solto e compactado. O ensaio
de absorção dos agregados miúdos foi realizado conforme estabelecido na NM 30 (ABNT, 2001). A figura 7
apresenta os resultados obtidos no ensaio.
60
50,64
50 46,85
40,02 37,53
40
%
30
20
7,6
10 1,3
0
Absorção índice de vazios no estado índice de vazios no estado
solto compactado
Ensaio
Convencional Mineração
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3.1.4 Compactação
Curva de Compactação
1,83
1,82
Peso específico (g/cm³)
1,81
1,80
1,79
1,78
1,77
1,76
1,75
1,74
1,73
1,72
7% 8% 9% 10% 11% 12% 13% 14% 15% 16% 17% 18%
Teor de umidade (%)
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR NM 30: Agregado miúdo – Determinação da absorção de
água. Rio de Janeiro, 2001. 3p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR NM 45: Agregados – Determinação da Massa Unitária e do
Volume de Vazios. Rio de Janeiro. 2006. 8p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR NM 53: Agregado Graúdo – Determinação da Massa
Específica, Massa Específica Aparente e Absorção de Água. Rio de Janeiro. 2009. 8p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7182: Solo – Ensaio de Compactação. Rio de Janeiro, 2016.
9p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7211: Agregados para concreto – Especificação. Rio de
Janeiro, 2009
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9776: Agregados - Determinação da massa específica de
agregados miúdos por meio do frasco Chapman. Rio de Janeiro, 1987.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10004: Resíduos Sólidos – Classificação. Rio de Janeiro,
2004. 71p.
Brandt Meio Ambiente. Relatório de Caracterização da Escória Granulada de Redução. Belo Horizonte/MG
- Brasil, jan 1997.
Caselato, Lucila. Panorama de Escória de Aciaria no Brasil. Belo Horizonte – Brasil, nov 2010.
Departamento Nacional de Estradas De Rodagem. DNER – ME 093: Determinação da densidade real. São
Paulo: DNER, 1994.
Santos, Graziella Pereira Pires dos. Um Estudo Sobre a utilização da Escória de Ferroníquel em Pavimento
Rodoviário. 2013. 136 F.
1398
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0176 ISBN: 978-65-89463-30-6
Romero César
Professor Doutor, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto – MG, Brasil, romero@ufop.edu.br
ABSTRACT: Geotechnical monitoring through an adequate instrumentation system is essential to observe the
behavior of structures. Evaluating the integrity of dams through collected data is a task that requires assertive
interpretations, often requiring complementary analysis that help in the search for answers to some events. In
the middle of the already established methodologies, studies based on statistical methods have been developing
to improve the compreenssion and to aid in decision making. Among these methods, the correlation tests show
as very useful tools in situations in which the degree of correlation between variables is considered. In this
perspective, this work aims to present two statistical methodologies (Pearson and Spearman correlation tests)
to evaluate the interaction between the variation of the water level in the pond of an earth fill dam and its
piezometry values during commissioning, as well as to verify which of them is the most suitable for the case
studied. Thereafter, an analysis of adherence of the variables to the premises of the models was carried out,
verifying that the Spearman test was better suited to the study, a bivariate analysis was subsequently performed.
In this way, the instruments used below the water table appear strongly correlated with the level of the pond,
and this correlation decreasing from upstream to downstream, being the proximity of internal drainage a
preponderant factor in the result due to porepressure reduce in the region.
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1 Introdução
2 Metodologia
A partir dos registros de leitura do nível d’água do reservatório de uma barragem de terra situada no
quadrilátero ferrífero durante o seu período de comissionamento, foram selecionados dados amostrais de 15
instrumentos (durante o mesmo período) instalados ao longo da barragem com intuito de verificar a correlação
do comportamento desses com a variação do reservatório. Dentre os instrumentos escolhidos, tem-se os dados
de dois indicadores de nível d’água, oito piezômetros acústicos e cinco piezômetros de tubo aberto, levando-
se em consideração que as amostras deviam apresentar tamanhos iguais. Os instrumentos selecionados estão
instalados na ombreira direita, fundação e aterro à montante da crista. Foram descartados da análise os
instrumentos que se apresentaram sem leituras (considerados secos) no período de abrangência do estudo.
A Figura 1Figura 1 apresenta a planta esquemática de localização dos instrumentos analisados e suas
nomenclaturas, em que os indicadores de nível d’água foram referenciados por LI, os piezômetros de tubo
aberto por PI e os piezômetros acústicos como PA.
1400
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Figura 1 – Planta esquemática da estrutura com a localização dos instrumentos do estudo de caso
apresentado.
As análises bivariadas foram realizadas integralmente com o suporte do software estatístico Statistical
Package for the Social Sciences (SPSS), sendo primeiro verificada a aderência das amostras através de uma
análise exploratória dos dados às premissas dos testes de correlação: Pearson e Spearman. E, na sequência, foi
escolhido o teste mais apropriado às análises objeto do presente estudo.
Os testes de correlação avaliam o grau de interação do comportamento assumido por duas variáveis.
Lira (2004) afirma que a análise de correlação e a análise de regressão são métodos estatísticos amplamente
utilizados para estudar o relacionamento entre variáveis. Todavia, é importante observar que há diferença entre
estes, sendo que os coeficientes de correlação resultantes dos testes de correlação são indicadores que procuram
estabelecer se existe ou não uma relação entre as variáveis de estudo sem que, para isso, seja preciso o ajuste
de uma função matemática como no caso da regressão linear.
A magnitude da interação entre duas variáveis submetidas aos testes de correlação é dada a partir dos
coeficientes de correlação, que assumem valores de -1 até +1, passando pelo zero (independência entre as
variáveis). A Figura 2Figura 2 apresenta gráficos que exemplificam a relação das variáveis em caso de ausência
de correlação e em casos de existência de correlação linear.
Figura 2- Gráfico de dispersão de quatro grupos de dados e seus respectivos coeficientes de correlação de
Pearson (da esquerda pra direita): r = 0 (ausência de correlação), r = 0,8 (fortemente correlacionado
positivamente), r = 1,0 (perfeitamente correlacionado positivamente), e r = -1 (perfeitamente correlacionado
negativamente) (ZOU, TUNCALI e SILVERMAN, 2003)
Segundo Santos (2015), a relação linear entre variáveis é um tipo de relação monotônica. As relações
monotônicas podem ser classificadas em relações monotônicas crescentes e relações monotônicas
decrescentes. Existe ainda, o caso em que as variáveis apresentam entre si uma relação monotônica não-linear.
1401
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Figura 3 - Gráficos de dispersão de pares de observação de duas variáveis aleatórias com dependência
monotônica. Em (a), a relação é descrita por y=x³ (relação monotônica crescente). Em (b), a relação é
descrita por y=-2x (relação monotônica decrescente). (SANTOS, 2015)
Em suma, para o teste de correlação de Pearson (teste paramétrico), tem-se que o coeficiente de
correlação de Pearson é uma medida do grau de correlação entre duas variáveis aleatórias aplicada a amostras
com distribuições normais e correlações lineares. O valor do coeficiente varia entre -1 (relação linear
decrescente perfeita) e +1 (relação linear crescente perfeita). Em que, o coeficiente de valor zero indica que
não há dependência linear.
Seja (x,y) = {(Xi,Yi)}, com i = 1, ...,n, uma amostra de dados bivariados,. Pearson (1920) define o
coeficiente de correlação como:
n
( x i x )( y i y )
r i 1
( x i x ) 2 i 1( y i y ) 2
n n
i 1 (1)
Onde,
n n
xi yi
x i 1
e y i 1
(2)
n n
Ou seja, o coeficiente de correlação r para o par de variáveis (x,y) é o quociente entre a covariância
amostral das variáveis x e y e o produto dos desvios padrões respetivos:
Cov ( x, y )
r (3)
sx sy
A aplicação do teste de correlação de Pearson exige o cumprimento de algumas suposições, das quais
podemos destacar:
i) A correlação exige que as variáveis sejam quantitativas (contínuas ou discretas) e aleatorias.
ii) Pressupõe distribuição normal das duas amostras estudadas.
iii) Pressupõe correlação linear entre as duas variáveis.
iv) Faz-se necessário a análise de outliers. O coeficiente linear não é robusto a presença de outliers,
devendo ser realizada a exclusão desses.
Atendidos os pré-requisitos para adoção do método estatístico, a conclusão para o teste de correlação
de Pearson é tomada a partir das premissas do teste de hipóteses, em que se considerada a Hipótese Nula (H0)
como sendo a ausência de relação linear entre as variáveis e a Hipótese Alternativa (H1) a existência de relação
linear entre as variáveis. Dessa forma, tem-se:
1402
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H0: r=0
H1: r≠0
Em contrapartida, para o teste de correlação de Spearman (teste não-paramétrico), tem-se que o
coeficiente de Correlação de Spearman mede o grau de correlação entre duas variáveis baseado no rank
(postos) dos valores assumidos por elas, sendo exigido uma correlação monotônica das variáveis, contudo sem
exigir uma distribuição normal dos dados. O valor do coeficiente varia entre -1 (relação monotônica
decrescente perfeita) e +1 (relação monotônica crescente perfeita). Um coeficiente de valor zero indica que as
variáveis são monotonicamente independentes. Spearman (1904) define o coeficiente de correlação pela
expressão abaixo:
6 d i2
1
n(n 2 1) (4)
3 Resultados e Análises
Conforme exposto, um teste paramétrico pressupõe distribuição normal das duas amostras e
comportamento linear da relação entre as variáveis. Com base nessa afirmação, foram realizados testes de
normalidade nas amostras. A Tabela 1 apresenta os resultados para os testes de normalidade (Kolmogorov-
Smirnov), obtidos através do software estatístico SSPS, em que pelo menos uma variável a ser avaliada de
forma associada apresentou normalidade.
Tabela 1 – Kolmogorov-Smirnov
Statistic Df Sig. (2-tailed)
PA106 0,091 79 0,170
NRM_PA106 0,237 79 0,000
PA111 0,076 79 0,200
NRM_PA111 0,237 79 0,000
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Baseado na abordagem de Miot (2017), em que os testes de normalidade pressupõem uma distribuição
normal dos dados como sendo hipótese nula (H0), para um p-valor >0,05 de aderência, foi adotado uma
significância igual a α=0,05.
Ao se observar as significâncias apresentadas na Tabela 1, é possível concluir que as variáveis PI106,
PA111 e PI119 apresentam distribuições normais, contudo seus pares de entrada para o teste de correlação
(NRM_PI106, NRM_PA111 e NRM_PI119) não apresentam distribuições normais. Isso faz com que a
premissa para utilização do teste paramétrico para os dados apresentados não seja atendida e, portanto, seja
necessária a adoção de um teste não paramétrico para avaliar a correlação entre todas as variáveis.
A partir desse resultado, conclui-se que todas as variáveis devam ser analisadas conforme o teste de
correlação por postos de Spearman. A Tabela 2 apresenta os coeficientes de correlação de Spearman obtidos
através do software estatístico SPSS para as variáveis.
Em que:
N – Tamanho de cada variável analisada;
Sig. (2-tailed) – Significância de correlação de Spearman
Ao se observar a Tabela 2 com a significância proposta em textos científicos (α=0,05) de acordo com
Miot (2018), é possível concluir que entre as variáveis investigadas, o PA107 e o PI111 não apresentam
correlação com o nível do reservatório durante seu período de enchimento. A Figura 4 apresenta os gráficos
de dispersão das leituras piezométricas dos instrumentos PA107, PA100 e PI120 em relação ao nível d’água
do reservatório à montante, em que pode ser observado o comportamento típico de variáveis que apresentam
ausência de correlação (ρ=0) para o PA107.
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Figura 4 - Gráficos de dispersão das leituras piezométricas dos instrumentos PA107, PA100 e PI120 em
relação ao nível d’água do reservatório
A ausência de correlação entre essas variáveis pode ser atribuída à constância dos valores de leituras
desse instrumento durante o período de análise. O PA107, à exemplo do PI111, tem cota de instalação próxima
ao tapete drenante. Sendo que ambos contêm leituras coincidentes com a cota da drenagem interna e
praticamente constantes no período, sinalizando um funcionamento tal qual esperado de alívio de pressão pelo
sistema de drenagem interna.
Os testes de correlação apresentam coeficientes que demandam interpretação própria a cada valor tido
como resultado, porém é comum que sejam adotados intervalos de referência para os coeficientes de
correlação. Miot (2018) e outras literaturas adotam, de maneira geral: valores entre 0 e 0,3 (ou -0,3 e 0) como
sendo resultados desprezíveis; entre 0,31 e 0,50 (ou -0,50 e -0,31) como correlações fracas; entre 0,51 e 0,70
(ou -0,70 e -0,51) como moderadas; entre 0,71 e 0,90 (ou -0,90 e -0,71) como fortes e acima de 0,90 (ou abaixo
-0,90) muito fortes.
Avaliando a Tabela 2, é possível observar que os instrumentos instalados à montante, PA100 (instalado
na fundação) e LI108 (instalado no aterro à montante da crista), obtiveram correlações positivas muito fortes,
fato já esperado devido à proximidade do reservatório. Nessa região, ocorre rápida saturação do aterro com
avanço da linha freática a partir das proximidades do talude de montante e da superfície da fundação.
Vale salientar que uma correlação forte para o teste de Spearman não é sinônimo de variações de ordem
parecidas de ambas as variáveis correlacionadas em um período. Uma correlação forte diz respeito à
capacidade das variáveis analisadas apresentarem um comportamento monotônico (crescimento ou
decrescimento) associadamente.
Nos instrumentos localizados na região intermediária (instalados na fundação entre a crista e o dreno de
pé), notou-se, assim como o caso do PA107, uma grande influência da proximidade da cota de base do
instrumento ao tapete drenante, tal como os instrumentos mais próximos da drenagem interna, os piezômetros
PA106 e PA111, que apresentaram valores de coeficientes de correlação de baixo a moderado. O PI115, cuja
célula de medição encontra-se apoiada no tapete drenante, apresentou correlação desprezível e o instrumento
PI109, apoiado no terreno de fundação abaixo do tapete drenante, apresentou alto grau de correlação.
A boa resposta do PI109 à variação do nível do reservatório, apesar deste ser um piezômetro de tubo
aberto onde normalmente ocorrem tempos de respostas mais longos, está condicionada ao exposto por Silveira
(2006), que enuncia que a resposta dos piezômetros do tipo tubo aberto instalados na fundação é praticamente
imediata durante a fase de enchimento do reservatório, pois geralmente estão instalados abaixo do nível
freático. Fato confirmado pela existência de fluxo anterior à construção do maciço e, consequentemente,
formação do reservatório.
Os instrumentos localizados na região das proximidades do dreno de pé (PI119 e PI120) apresentaram
correlações boa e moderada, respectivamente. Observa-se também que, a ordem de variação das leituras desses
instrumentos é relativamente pequena. Esse fato se dá, sobretudo, devido à perda de carga ao longo da
barragem (gradiente hidráulico da estrutura) no sentido montante-jusante.
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4 Conclusões
Os testes estatísticos de correlação são importantes técnicas para investigação exploratória da interação
entre variáveis e, apesar de terem como produto um modelo hipotético que deve ser confirmado com maior
nível de detalhes posteriormente, eles se caracterizam como uma ótima técnica de predição de comportamento.
Este trabalho apresentou duas metodologias estatísticas a serem empregadas na avaliação do grau de correlação
entre o nível do reservatório a montante e as leituras dos instrumentos durante o período de enchimento: (1)
Teste de Correlação de Pearson, (2) Teste de correlação por postos de Spearman.
A partir da análise das características das variáveis quantitativas estudadas foi possível definir, por meio
de uma investigação das suposições necessárias à aplicação dos testes de correlação, qual teste era mais
adequado ao estudo. Visto que não foi detectado normalidade para os pares de variáveis estudados, fez-se uso
do teste estatístico de correlação por postos de Spearman, em que foram realizadas correlações através da
análise bivariada fornecida pelo SPSS com uma significância α=0,05.
Dos 15 instrumentos avaliados através do teste de correlação de Spearman, percebeu-se que apenas dois
deles apresentaram valor de significância maior que 0,05 para o teste, e, portanto, de acordo com a Hipótese
Nula não apresentaram correlação. Entre os demais, foi possível observar que o valor de correlação do PI115
é relativamente desprezível sendo classificada a sua correlação com os níveis do reservatório como baixa ou
ausente. Para os demais instrumentos, foram obtidos resultados satisfatórios.
De maneira geral, o teste de correlação de Spearman teve um bom desempenho na avaliação do
comportamento dos instrumentos em relação aos níveis do reservatório da estrutura de terra avaliada em seu
período de enchimento. Outros testes estatísticos não paramétricos, tais como o teste de correlação de Kendall,
bem como observações durante o esvaziamento do reservatório poderiam ser utilizados a fim de se realizar
uma análise comparativa dos resultados.
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1406
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0177 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Com o aumento das construções, faz-se necessário melhorar as propriedades geotécnicas do solo
para poder suportar as exigências de solicitação. Além disso, o solo é um material heterogêneo, portanto, é
essencial que se busque a utilização de compostos para garantir uma melhor homogeneidade. Um composto
aplicado para conseguir essas características é o cimento. Porém, para obter a resistência à compressão do
solo-cimento, diversas etapas devem ser executadas, ocasionando em um tempo considerável para tal feito.
Nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo avaliar a relação entre o método de dosagem Físico-
Química e o convencional pela resistência à compressão simples. Utilizou-se para o experimento o solo
coletado na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Campus Cruz das Almas. Para atingir o objetivo
foram realizados ensaios de caracterização e de resistência à compressão simples do solo e do solo-cimento.
Os resultados obtidos indicam que o uso do cimento para estabilização no teor ótimo do método de dosagem
Físico-Química atendeu os critérios para utilização como parede não estrutural. Verificou ainda que não foi
atendido para a aplicação como camada de pavimento.
ABSTRACT: With the increase of the constructions, it is necessary to improve the request. In addition, the
soil is a heterogeneous material, therefore, it is essential that the use of compounds is sought to ensure a
better homogeneity. A material used to achieve these characteristics is cement. However, to determine the
compressive strength of the soil-cement mixture, several steps must be performed, taking a considerable
amount of time. thus, this work aimed to evaluate the relationship between the Physical-Chemical dosing
method and the conventional method determining the compressive strength of the mixture. A soil collected at
the Federal University of Recôncavo da Bahia, located in the city of Cruz das Almas - BA, was used for the
experiment. To achieve the objective, characterization tests and determination of the simple compressive
strength of the soil and soil-cement were carried out.. The results obtained indicate that the use of an
optimum cement content, according to the Physical-Chemical dosing method, met the criteria for using the
mixture as a non-structural wall. It also verified that the material would not be accepted in this condition for
application as a road pavement layer.
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1 Introdução
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2 Materiais e métodos
0% 5% 7% 9%
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água. Mediante isso, obteve-se umidade constante de cura, controlada por pesagem das amostras antes e após
o período de cura.
• Ensaios de compressão simples, realizados de acordo com a norma NBR 12025 (ABNT, 1990),
e submetidos às mesmas condições em termos de cura e idade de rompimento.
• Os corpos-de-prova de solo-cimento, de dimensões aproximadamente 100x129 mm, de
diâmetro e altura, respectivamente, foram moldados, curados e rompidos após 7 (sete) dias de cura.
3 Resultados e discussões
3.1 Método de Dosagem Físico-Química
Após realização da dosagem pelo método Físico-Química obteve-se o resultado apresentado na Figura
2 para a variação volumétrica do material sedimentado em função do teor de cimento adicionado à mistura.
Ressalta-se que a variação volumétrica porcentual (ΔV), de cada sedimento de solo-cimento, é calculada em
relação àquela do solo sem cimento.
350
330
310
290
270
ΔV (%)
250
230
210
190
170
150
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Teor de Cimento (%)
Na Figura 3 são apresentadas as curvas de distribuição granulométrica do solo e das misturas após a
adição de 5%, 7% e 9% de cimento. A Tabela 1 apresenta os percentuais de cada fração granulométrica dos
solos analisados, sendo SN (solo natural), SC 5% (solo-cimento com 5% de teor de cimento), SC 7% (solo-
cimento com 7% de teor de cimento) e SC 9% (solo-cimento com 9% de teor de cimento).
Nota-se que houve uma diminuição no teor de argila com a presença de cimento na mistura. No
entanto o teor de silte aumentou consideravelmente. Outro teor que ocorreu uma elevação foi o de areia fina.
Para as outras frações de solo, o teor se manteve aproximadamente constante.
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De acordo com Bauer (2001), esse aumento nos teores de silte e areia se deve ao fato de após o
processo de hidratação, acontecer a cimentação das partículas finas, transformando-as em partículas maiores.
A Tabela 2 exibe os resultados encontrados para os limite de liquidez, limite de plasticidade, e o
cálculo dos índices de plasticidade e de atividade coloidal para o solo natural e solo-cimento para os teores
de 5%, 7% e 9%.
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Pode-se ver que com o cimento, a umidade ótima teve uma diminuição. Logo, necessita uma menor
quantidade de água para alcançar o melhor ponto de compactação, em relação ao solo natural.
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Figura 6. Variação volumétrica da dosagem pelo método de dosagem Físico-Química por RCS.
4. Considerações Finais
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na energia de Proctor Normal, apresentou resistência à compressão simples de 1 MPa, podendo assim ser
utilizado como parede não estrutural desde que atenda ao critério de absorção da respectiva norma.
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1414
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0178 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Tendo em vista a necessidade de reduzir o risco associado às barragens e demais estruturas
geotécnicas utilizadas na mineração, como cavas, pilhas e diques, o aprimoramento da auscultação civil tem
estado em evidência tanto nas exigências regulatórias quanto nas estratégias organizacionais de gestão e risco
nas empresas. Nesse contexto, várias tecnologias têm sido utilizadas para complementar e qualificar a
instrumentação de forma a proporcionar medidas cada vez mais confiáveis e precisas. Dentre elas, destaca-se
o uso de receptores GNSS (Global Navigation Satellite System) para o monitoramento de deformação e
deslocamentos nas estruturas e suas imediações. Esses instrumentos podem ser posicionados em campo
seguindo metodologias classificadas em absolutas ou relativas e em dinâmicas ou estáticas. Além disso, as
medidas aferidas estão sujeitas a interferências relacionadas com os satélites artificiais, com a propagação do
sinal, com os receptores e com a estação de referência (estação base). Dentre as principais diretrizes elencadas
no artigo para se obter precisão milimétrica necessária para o monitoramento de estruturas geotécnias
utilizadas na mineração, destaca-se a utilização do método de posicionamento relativo estático, buscando
reduzir as linhas de base entre os instrumentos e locando os instrumentos em locais abertos e, preferencialmete,
longe de outras estruturas.
ABSTRACT: In view of the need to reduce risk associated with dams and other geotechnical structures
employed in mining activities, such as open pits, dry stacks and dikes, civil auscultation improvements have
been in focus on regulatory requirements and at miners’ risk and management strategies. In this context, several
technologies have been used to complement and to qualify structure’s instrumentation and monitoring
programs, in order to provide more accurate and reliable measures. Among them, stands out GNSS (Global
Navigation Satellite System) receivers for monitoring of displacements in the structures and its surroundings.
These instruments can be positioned in the field following methodologies classified as absolute or relative and
as dynamic or static. In addition, the measures are subject to interferences such as those related to artificial
satellites, to signal propagation, to the receivers and related to the reference station. Among the main guidelines
listed in this article to achieve millimeter accuracy for monitoring geotechnical structures used in mining,
stands out the use of relative static positioning method, seeking to reduce baselines between the instruments
and locating them at locations with free vision of the sky and, preferably, away from other structures.
1 Introdução
As falhas de estruturas geotécnicas configuram risco muito elevado à sociedade, podendo gerar perdas
humanas, ambientais e econômicas, de forma que o monitoramento dessas estruturas torna-se fundamental
para garantir a segurança e/ou reduzir as consequências em eventuais rompimentos (Scaioni et al., 2018). Essa
necessidade de monitoramento é respaudada pela crescente exigência regulatória observada no Brasil em
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resposta às recentes rupturas de barragens de mineração em Minas Gerais. Como exemplo dessas
determinações regulatórias, destaca-se a Portaria do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) n°
70.389/2017 e a Resolução n° 13 da ANM (Agência Nacional de Mineração) que exigem o monitoramento de
deformações e deslocamentos e a associação das medidas com critérios de acionamente de sistemas de alerta.
Dessa forma, observando-se a complexidade das estruturas, várias gradezas e processos devem ser
avaliados, tais como: deformações e deslocamentos superficiais e subterrâneos, percolação pelo maciço e pela
fundação, tensões na estrutura, desenvolvimento de poropressão, entre outros. Para tal, são necessários
diferentes tipos de instrumentos. Neste artigo será dado enfoque aos receptores GNSS, utilizados para o
monitoramento de deformação e deslocamentos nas estruturas e seus arredores.
De acordo com Scaioni et al. (2018), a utilização de métodos de monitoramento baseados em sistemas
GNSS é amplamente difundida para barragens e áreas próximas. Entre as vantagens desses instrumentos está
a flexibilidade de posicionamento, visto que não é necessária visada entre os sensores, precisão milimétrica (a
depender do produto, das condições de instalação e do tratamento dos dados), monitoramento contínuo,
obtenção de coordenadas tridimensionais e baixo custo, se comparado com outras tecnologias, como os radares
SSR (Secondary surveillance radar). A principal desvantagem dos receptores GNSS é a necessidade de
instalação em local aberto para receber o sinal dos satélites.
Destaca-se que, inicialmente, as redes GNSS foram empregadas para medições periódicas com base em
pontos de referências nas adjacências. Entretanto, atualmente são utilizados sistemas automatizados com
receptores GNSS diferenciais, os quais atuam de modo contínuo e integrado a sistemas de alerta (Scaioni et
al., 2018).
O presente artigo busca fazer uso dos conceitos teóricos levantados na literatura técnica e aliá-los à
experiência dos autores com os sensores para fornecer diretrizes quanto à instalação dos sistemas GNSS para
o monitoramento de estruturas geotécnicas. Dessa forma, será apresentada uma descrição dos sensores a nível
de estado da arte e, posteriormente, serão descritas as principais recomendações para o projeto e para a
operação desses sistemas.
2 Fundamentação Teórica
GNSS (Global Navigation Satellite System) é o termo genérico utilizado para referir aos sistemas de
posicionamento espacial baseados em satélites artificiais. Dentre os sistemas atualmente operacionais,
destacam-se o sistema americano, GPS (Global Positioning System), o sistema russo, GLONASS (Sistema de
Navegação Global por Satélite), o europeu, Galileo, e o sistema chinês, BeiDou. Estes sistemas têm sido
extensamente utilizados para monitoramento de deslocamentos, haja vista sua capacidade de proporcionar o
posicionamento geodésico com precisão milimétrica e alta resolução temporal (Marques et al. 2016).
O monitoramento via GNSS é realizado a partir de receptores, constituídos por uma antena e um
processador, capazes de receber e computar o sinal dos satélites fornecendo a posição tridimensional e o tempo
da medição. Observa-se que são necessários sinais de, no mínimo, quatro satélites simultaneamente para a
execução das medidas (Monico, 2008).
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Há ainda o método denominado DGPS (Differential GPS), no qual um receptor é estacionado em uma
estação de referêcia. Este método difere do posicionamento relativo quanto às correções da estação-base que
são aplicadas na estação a ser determinada, enquanto, no posicionamento relativo, cria-se um vetor ligando as
duas estações (Monico, 2008).
As informações básicas dos satélites artificiais são a distância, obtida a partir do código do sinal, e a
diferença de fase da onda portadora emitida pelos satélites. A partir delas é possivel determinar posição,
velocidade e tempo. O processamento destas variáveis incorre em diferentes erros e incertezas sistemáticas,
dentre as quais destacam-se os relacionados com os satélites (órbita e relógio), os relacionados com a
propagação do sinal (refração da ionosfera e troposfera) e os erros associados à percepção do sinal pelo receptor
GPS (relógio do aparelho, centro de fase da antena e atraso entre as portadoras) (Neto, 2017).
Segundo Hofmann-Wellenhof (2008, apud Neto, 2017), os efeitos da ionosfera são os mais nocivos ao
posicionamento por receptores GPS, seguido pelos erros do relógio do satélite e pelas efemérides. Elementos
como multicaminhamento, troposfera e ruídos gerados pelos receptores apresentam menor magnitude no que
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se refere ao posicionamento geodésico, contudo não se pode desprezá-los. A seguir será realizada uma breve
descrição de cada um dos erros supracitados.
Dentre os erros relacionados com os satélites, destacam-se os relativos às órbitas, aos relógios dos
satélites, à relatividade, ao atraso de grupo e ao centro de fase da antena. Os erros orbitais correspondem aos
erros nas coordenadas dos satélites que são propagados diretamente para a medida aferida. Os erros relativos
aos relógios dos satélites estão associados à diferença entre o tempo indicado pelos relógios atômicos dos
satélites e ao sistema de tempo a eles atribuídos. Quanto aos erros atribuídos à relatividade, eles estão
relacionados com a diferença dos campos gravitacionais atuantes nos relógios dos receptores e dos satélites.
Os erros de atraso de grupo são associados às diferenças entre os caminhos percorridos pelas ondas portadoras
e pelo hardware dos satélites e dos receptores. Por fim, o erro de centro de fase da antena do satélite é associado
à diferença entre este centro e centro de massa do satélite (Monico, 2008).
O detalhemento de cada um desses erros extrapola o objetivo do presente artigo, mas pode ser verificado
em diversos trabalhos anteriormente publicados (Monico, 2008, Neto, 2017). Aqui, cabe apenas a ressalva de
que, quando se faz a utilização do método de posicionamento relativo e a calibração dos instrumentos após a
instalação, esses erros são praticamente eliminados.
A refração troposférica provoca distorções nos sinais propagados em até 40 km da superfície terrestre e
atinge os sinais de modulação da fase da portadora e do código retardando sua velocidade de propagação. Não
é possível eliminar tais erros por medições entre combinações de simples e dupla diferença devido ao fato
dessa refração não ser dependente da frequência. Portanto, ela deve ser tratada por modelos matemáticos
(LEICK, 2004 apud NETO, 2017).
Destaca-se também o efeito de multicaminho ou de sinais refletidos quando os receptores recebem, além
do sinal que chega diretamente à antena, sinais refletidos em superfícies vizinhas a ela, como construções,
carros, árvores, massa d’água, cercas etc. Em geral, não existem modelos para tratar o efeito do multicaminho
devido às particularidades geométricas de cada local (Monico, 2008). Entretanto, o posicionamento relativo
com linhas de base curtas, o uso de ângulos de corte acima de 5° e a aquisição de dados de longa duração
ajudam a minimizar esse efeito (Neto, 2017).
Os erros relativos aos receptores e antenas são similares aos relacionados aos satélites, nos quais
destacam-se a defasagem dos relógios e as diferenças entre o centro de fase e o centro de massa da antena.
Além destes, destaca-se o erro de fase wind-up, relacionado com a orientação da antena e os erros oriundos da
pluralidade de canais que ocasionam diferentes caminhos eletrônicos para cada um dos sinais de diferentes
satélites (MONICO, 2008).
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O projeto de sistemas de monitoramento por GNSS deve ser especificado levando-se em consideração
as necessidades dos clientes e a viabilidade técnica de sua execução. Dentre as necessidades dos clientes devem
ser observadas a precisão demandada, a disponibilidade de recursos e a disponibilidade de áreas para instalação
dos instrumentos. Por outro lado, para a viabilidade técnica do sistema é necessário avaliar a disponibilidade
de satélites artificiais no local, a quantidade e as especificações mínimas dos receptores, a metodologia de
posicionamento e aquisição dos dados, as possíveis interferências nos dados e o método de transmissão e
processamento dos dados a ser adotado.
Nesse contexto, RICS (2010) descreve as seguintes diretrizes para se obter um sistema GNSS de elevada
precisão: dispor de ao menos 4 estações base em que se conhece as coordenadas no sistema de referência a ser
utilizado, utilizar bases estáveis para os instrumentos, escolher pontos de controle em locais abertos, usar o
método de posicionamento estático relativo e um método preciso de transmissão e tratamento dos dados. No
trabalho constam também as seguintes especificações para o monitoramento de alta precisão (inferior a 10
mm): receptores de dupla frequência, tempo de aquisição de 1 hora para linhas de base de até 20 km, 2 horas
para linhas de base 30 km, 4 horas para linhas de base de 50 km e 6 horas para linhas de base de até 100 km.
A quantidade de receptores necessárias para o monitoramento dos deslocamentos deve ser definida com
base no tipo de estrutura e na disponibilidade oferecida pelo cliente. Para barragens por exemplo, sugere-se
adotar as recomendações feitas por Silveira (2006) para marcos superficiais, a saber: instalação de um
instrumento a cada 100 m para grandes barragens e a cada 50 m para barragens de menor porte.
O método de construção das bases e fundações dos receptores normalmente atende aos princípios
estabelecidos na norma N-1811 da Petrobrás (2005). Além disso, caso seja necessária a movimentação do
sensor, devem-se fixar pinos de centragem forçada (juntamente com uma proteção contra danos mecânicos)
no topo dos pilares dos instrumentos (Silva et al., 2015).
Com relação à escolha dos receptores, Limpach et al. (2016) pontuam que, para linhas de base menores
que 5 – 10 km, a acurácia obtida com receptores de baixo custo e de frequência única é similar à frequência
dos receptores de dupla frequência (L1/L2). Isso se deve ao menor efeito da ionosfera. Entretanto, para linhas
de base longas há a necessidade de considerar a correção dos efeitos ionosféricos e troposféricos nos pós-
processamentos dos sinais. Esta consideração é reforçada por Cina e Piras (2014) que pontuam as seguintes
condições para obter precisão milimétrica com receptores de baixo custo: tempo de aquisição superior a 10
minutos, linha de base inferior a 1 km e utilização de antena externa compatível com a acurácia necessária.
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É importante ressaltar também que, caso a transmissão dos dados coletados pelos receptores GNSS até
a central de processamento seja sem-fio (wireless), deve-se avaliar os locais propícios para a instalação de
repetidores de sinal com visada para cada um dos instrumentos. Esses repetidores devem, preferencialmente,
ser instalados em local de maior elevação e central em relação aos repetidores. Quando a área a ser monitorada
é extensa, recomenda-se a utilização de mais de um repetidor.
Com relação aos erros envolvidos no processo de medição, eles precisam ser mapeados, eliminados ou
minimizados de forma a não comprometer a qualidade das medidas. Neto (2017) pontua medidas como a
utilização de softwares comerciais com modelagem ionosférica e troposférica, uso de redutor de
multicaminhamento, cuidados com o ângulo de corte, instalação da base longe de obstruções e posicionamento
considerando o tráfego veicular.
Segundo Marques et al. (2016), devem-se tomar os devidos cuidados de orientar todos os receptores
para uma mesma direção, visando minimizar efeitos devido à variação de centro de fase das antenas (PCV –
Phase Center Variantion). Destaca-se ainda a importância de se realizar uma calibração das antenas para
obtenção dos parâmetros de PCV e para a redução dos efeitos de multicaminho.
Salienta-se que, quando utilizado o método de posicionamento relativo com linhas de base curtas (< 20
km), não há a necessidade de estimar parâmetros de ionosfera, devido à eliminação desses efeitos na formação
das duplas diferenças. Entretanto, para linhas de base maiores que 20 km é recomendável utilizar dados de
duas freqências e soluções para tratamento dos dados (RICS, 2010).
Para a redução do multicaminhamento, além das técnicas supracitadas, destaca-se a utilização de discos
metálicos acoplados aos sensores, conforme ilustrado na Figura 3. Além disso, quando notada elevada
influência de multicaminho nos resultados, deve-se proceder com a filtragem dos ruídos das portadoras L1 e
L2 dos satélites artificiais no pós-processamento dos dados.
4 Conclusões
Neste artigo foi realizada uma descrição dos sistemas de monitoramento por receptores GNSS
abrangendo o funcionamento dos instrumentos, os métodos de posicionamento e os erros sistemáticos
associados. Em seguida foram levantadas diversas diretrizes para projeto e operação desses sistemas com base
na literatura técnica e na experiência dos autores.
A partir das considerações descritas, percebe-se que os sistemas GNSS configuram instrumentos
aplicáveis ao monitoramento geodésico de estruturas geotécnicas podendo atingir a acurácia milimétrica
necessária. Para tal, no projeto desses sistemas devem ser seguidas diretrizes quanto ao método de
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ISBN: 978-65-89463-30-6
posicionamento, às especificações e quantidades dos receptores, aos tratamentos dos possíveis erros e
interferências e à transmissão e tratamento dos dados medidos.
Como principais diretrizes, destacam-se a utilização do método de posicionamento relativo estático dos
instrumentos, a utilização de estações base com coordenadas pré-definidas no sistema de referência a ser
utilizado, a limitação do tamanho da linha de base entre os receptores, a necessidade de instalação dos sensores
em locais abertos e, preferencialmente, livres de estruturas próximas, a necessidade de tratamento dos dados e
a utilização de um sistema preciso de transmissão. Para o caso de sistemas automatizados de monitoramento
contínuo e transmissão wireless, salienta-se a necessidade de visada entre os receptores GNSS e os repetidores
de sinal que encaminham os dados para a central de processamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0179 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Alta compressibilidade, baixa permeabilidade, alto teor de matéria orgânica, baixa capacidade de
carga e pouca resistência à penetração são características que desafiam a engenharia geotécnica na elaboração
de projetos assentados sobre depósitos sedimentares de solos moles. O uso desses solos na engenharia exige
identificação de seus parâmetros geotécnicos representativos das condições reais de campo, fundamentais na
compreensão de seu comportamento para elaboração dos projetos rodoviários assentados sobre os mesmos. A
obra em estudo é um projeto de adequação da capacidade e restauração da BR 101, trecho da Divisa RN/PB –
Divisa PB/PE Lote 5, com extensão de 54,9 km, onde dois aterros foram analisados, o segundo e oitvao aterro,
ambos assentados sobre solo mole. O segundo aterro está em trecho com extensão de 740 m e o oitavo aterro
em trecho com extensão de 260 m. Foram realizadas sondagens SPT e ensaios geotécnicos, caracterização,
adensamento, ensaios triaxial UU, e ensaios de campo, Vane Test. De acordo com os resultados obtidos, os
parâmetros se encontraram dentro da faixa de valores presentes na literatura para solos moles da BR 101/PE e
de outras regiões de Pernambuco.
ABSTRACT: High compressibility, low permeability, high organic matter content, low bearing capacity and
low penetration resistance are characteristics that defy geotechnical engineering in design of sedimentary
deposits on soft soils. Use of these soils in engineering requires the identification of representative geothecnical
parameters of the real conditions on field, essentials in the knowledge of their behavior for highway projects
design seated on them. The work under study is an adequacy project of BR 101 capacity and restoration, a
border stretch of RN / PB - Divisa PB / PE 5 lote, with 54.9 km extension, where two embankments were
analyzed, the second and eighth embankments, both seated on soft soil. The second embankment is in a 740
m stretch and the eighth embankment in a 260 m stretch. SPT and geotechnical tests, characterization,
oedometer test, UU triaxial tests, and field tests, Vane tests were carried out. According to the obtained results,
the parameters were within the range values of present in the literature for soft soils from BR 101/PE and
others regions of Pernambuco.
1 Introdução
Alta compressibilidade, baixa permeabilidade, alto teor de matéria orgânica, baixa capacidade de carga
e pouca resistência à penetração são características que desafiam a engenharia geotécnica na elaboração de
projetos assentados sobre depósitos sedimentares de solos moles. O uso desses solos na engenharia exige
identificação de seus parâmetros geotécnicos representativos das condições reais de campo, fundamentais na
compreensão de seu comportamento para elaboração dos projetos rodoviários assentados sobre os mesmos. A
obra em estudo é um projeto de adequação da capacidade e restauração da BR 101, trecho da Divisa RN/PB –
Divisa PB/PE Lote 5 (2005), com extensão de 54,9 km, onde dois dos aterros, o segundo e o oitavo, foram
analisados, ambos assentados sobre solo mole, com seu comportamento geotécnico verificado.
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A construção de aterros sobre solos moles pode resultar em deformações excessivas e problemas de
estabilidade. Para o dimensionamento de obras assentadas sobre esses solos se faz necessário atender ao fator
de segurança adequado quanto à possibilidade de ruptura e apresentar deformações, no fim ou após a
construção.
Coutinho e Bello (2005) descrevem que quando um engenheiro se deparar com construções assentadas
sobre solos fracos e muito compressíveis, deve-se evitar o solo mole através da relocação do aterro ou do uso
de estrutura elevada, remover o solo mole e substituí-lo por material adequado, tratar o solo melhorando suas
propriedades ou projetar o aterro de acordo com o solo mole.
Portanto, por meio de uma eficiente campanha de ensaios geotécnicos, é possível determinar importantes
parâmetros dos solos que representem as reais condições de campo, base de fundamental importância para
elaboração de eficientes de projetos de engenharia.
2 Objetivos
Os objetivos do trabalho consistem na apresentação e discussão dos resultados dos ensaios de campo e
laboratório para a caracterização geotécnica dos aterros, comparando os resultados obtidos com outros estudos,
da BR 101/PE e de outras regiões de Pernambuco, regiões mais próximos da área estudada.
Segundo Coutinho e Severo (2009), em uma investigação insuficiente, ocorre interpretação inadequada
dos resultados e má descrição das informações. Dessa forma surgem problemas de projeto e de construção
tanto de ordem técnica como de custos. Schnaid e Odebrecht (2014) apontam que as investigações geotécnicas
dependerão da complexidade geológica e geotécnica do local de implantação, da análise dos custos envolvidos
e dos parâmetros a serem obtidos. Dessa forma, quando os ensaios de campo e de laboratório utilizados em
conjunto, a investigação ganha em qualidade, obtendo-se então um melhor entendimento do comportamento
geomecânico do depósito em estudo (Baroni, 2016).
3 Metodologia
Este depósito é representado ao longo do traçado por formações mais recentes que constituem os
aluviões, terraços fluviais e mangues, os aluviões são constituídos por sedimentos de origem fluvial, não
consolidados, de natureza variada, formando camadas estratificadas sem disposição preferencial e por
depósitos de material orgânico. Neste contexto é que foram construídos os dois aterros, 2 e 8, onde a
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No aterro 2 foram executados cinco sondagens a percussão e no aterro 8 três sondagens, de forma a se
determinar com precisão a localização, profundidade e espessura da camada de solo mole. A partir das
sondagens realizadas, foi feita a coleta de amostras para a determinação dos parâmetros físicos, de resistência
e compressibilidade dos materiais constituintes dos aterros.
Para a determinação dos parâmetros físicios para caracterização geotécnica dos dois aterros sobre solos
moles da BR-101/Lote 5/PB serão utilizados ensaios de campo e laboratório. Os ensaios de campo realizados
foram os ensaios de SPT e Vane Test. Os ensaios de laboratório realizados foram os ensaios de caracterização,
adensamento oedométrico e triaxial. No aterro 2, os ensaios realizados foram os ensaios de caracterização,
adensamento e Triaxial UU. No aterro 8, foram realizados os ensaios de caracterização, adensamento e
Cisalhamento “in situ” – Vane Test.
4 Resultados e discussões
A partir das sondagens realizadas, o perfil geotécnico vertical mostrou que no aterro 2 a existência de
solos moles constituídos de argila siltosa com matéria orgânica, cinza escura, com uma camada drenante de
areia na face superior. No aterro 8 verificou-se a existência de camadas de solos moles constituídas de um
bolsão de argila orgânica cinza escura e turfa, confinada entre duas camadas drenantes de areia, fina fofa a
pouco compacta, como demonstrado na Figura 2.
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0 Aterro 2 0 Aterro 8
Areia fina, argilo-siltosa, com
restos vegetais, mole, cinza escura.
0,49 (Aterro)
Argila silto-arenosa, rija,
amarela clara (Aterro)
3,6
Areia fina, pouco siltosa,
median. compacta, amarela
Até 9 - Turfa, c/ resíduos muito
escura amarronzada
4,53 fibrosos, muito mole, cinza escura
e preta.
Areia fina, com pouca areia
média, median. compacta, cinza De 9 até 9,21 - Turfa, c/ resíduos
muito fibrosos, muito mole, cinza
Profundidade (m)
parda variegada.
escura e preta, média
7,9
9,21
14,76
Ensaios de caracterização foram realizados nos materiais constituintes dos perfis verticais mostrados
Figura 2, e os parâmetros físicos obtidos são mostrados na Tabela 1, com indicação da profundidade onde as
amostras foram retiradas e comparando-os com outros resultados da literatura.
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De acordo com os resultados obtidos, no aterro 2, o solo mole caracteriza-se por ser uma argila
siltosa, de umidade natural de 46,68% e massa específica de 16,43 kN/m³. Para o aterro 8, o solo apresentou
umidade natural de 44,40% e massa específica de 13,83 kN/m³. Os valores de LL e IP foram de 65% e 39%
para o aterro 2, respectivamente. Para o aterro 8, os valores foram 38% e 12%, respectivamente.
Com relação aos valores de LL, segundo Ferreira e Coutinho (1988), no que diz respeito à depósitos de
argila da planície do Recife, os mesmos apresentam-se na mesma faixa de valores da umidade natural, sendo
em algumas profundidades pouco inferior. Conforme a Tabela 1, pôde-se observar que os valores de LL não
estão próximos aos valores da umidade natural, para os dois aterros estudados, seguindo-se a tendência
observada nos outros estudos. Isto pode ser explicado pela secagem prévia ao qual as amostras foram
submetidas, conforme recomenda a norma brasileira.
Com relação aos parâmetros obtidos do ensaio de adensamento, índice de vazios inicial, coeficiente de
compressão, índice de compressão, índice de expansão e o coeficiente de adensamento, os valores obtidos
estão na mesma faixa de valores da literatura correlatos, como o estudo de Machado e Coutinho (2012), este
realizado na Várzea de Goiânia da BR 101/PE.
Com relação ao ensaio de cisalhamento, para o aterro 8 foi considerado amostras do aterro 10, distante
1,0 km do mesmo, onde foram realizados os ensaios de cisalhamento “in situ” por meio do Vane Test. Para o
aterro 2, a coesão foi obtida pelo ensaio Triaxial UU. Os resultados obtidos são mostrados na Tabela 3.
Nas profundidades de 4,50 a 6,50 m do aterro 10, existe uma mesma camada de argila mole, siltosa,
pouco arenosa, muito mole, de tonalidade cinza escura. Apesar de não haver mudança de camada, houve esse
aumento brusco dos valores de SU na profundidade de 6,50 m. A razão disto não foi esclarecida e carece de
maiores investigações. Para o projeto, foi determinado que o valor de coesão adotado para o aterro 2 foi de
21,0 kPa e para o projeto do aterro 8, o valor de coesão adotado foi de 28,0 kPa.
4 Conclusão
A execução de toda e qualquer obra de engenharia envolve fatores complexos que, senão devidamente
analisados, podem comprometer toda a execução e consequentemente a qualidade final da obra. Neste trabalho,
apresentamos e discutimos os resultados de ensaios de campo e laboratório para a caracterização geotécnica
de dois aterros, comparando os resultados com os de outros estudos de solos moles, de regiões próximas à area
estudada, da BR 101/PE e de outras regiões de Pernambuco.
De acordo com os resultados obtidos, os parâmetros apresentaram valores próximos aos verificados na
literatura, o que denota que os solos moles da BR 101/PB dos aterros estudados estão enquadrados nas
características geotécnicas dos solos moles da planície de Pernambuco, em especial, dos solos moles da BR
101/PE e do Porto de Suape/PE.
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comparando com parâmetros da literatura, considerando as especificidades de cada região verificada. Assim,
os parâmetros obtidos serão mais confiáveis e aptos para servirem de subsídio na elaboração de projetos de
engenharia assentados sobre solos moles.
AGRADECIMENTOS
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0180 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Segundo a FAA, Federal Aviation Administration - EUA, os pavimentos aeroportuários devem
oferecer o suporte necessário às cargas impostas pelas aeronaves e proporcionar conforto ao rolamento. Para
executar um projeto de pavimento de aeroporto, deve-se conhecer muito bem as propriedades físicas e
mecânicas do subleito, sendo esta estrutura a que acomoda as camadas do pavimento. Caso haja a necessidade
executar uma camada de regularização do subleito, as características do material utilizado nessa camada
também devem ser estudadas e sua execução deve respeitar as especificações de serviço presentes na norma
DNIT: ES - 137/20. O estudo em questão abordará uma avaliação aprofundada do subleito e do material usado
para regularização do subleito, para fins de fundamentar o projeto de execução da pista de pouso e decolagem
da Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia – RJ. Para a caracterização dos solos em estudo, foram realizados
ensaios de compactação com vários percentuais de umidade, de módulo resiliente e de deformação permanente.
Os ensaios mostraram que os materiais utilizados possuem um comportamento satisfatório para os fins em que
se destinam e obtiveram deformações totais baixas quando submetidos à um estado de tensão provavelmente
superior ao atuante em campo quando em operação, não devendo contribuir de maneira significativa para o
afundamento de trilha de roda do pavimento.
ABSTRACT: According to the FAA, the Federal Aviation Administration - USA, airport floors must offer the
necessary support to the loads imposed by the aircraft and offer comfort to the bearing. To execute an airport
pavement project, it is necessary to know very well the chemical and mechanical properties of the subgrade,
this being the structure that accommodates the pavement layers. If there is a need to execute a subgrade
regularization layer, as resources of the material used in that layer, they must also be studied and their execution
must follow the service specifications present in the DNIT standard: ES - 137/20. The study in question deals
with an in-depth assessment of the subgrade and the material used to regulate the subgrade, for lower fins or
the design of the runway for the landing and takeoff of the Naval Air Base of São Pedro da Aldeia - RJ. In
order to characterize the studied soils, compaction tests were carried out with different percentages of
humidity, resilient module and permanent formation. The tests that perform the materials used present a
satisfactory behavior for the fins in which the destination and the deformations are lower than low when used
in a state of tension higher than that triggered in the field during the operation and should not contribute to the
path used for the financing the pavement wheel track.
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1. Introdução
Segundo a FAA, Federal Aviation Administration - EUA, os pavimentos aeroportuários devem ser
construídos de maneira a oferecer o suporte necessário às cargas impostas pelas aeronaves e proporcionar uma
superfície estável e suave ao rolamento. De acordo com Icao (2004) e Thom (2010), os principais requisitos
de projeto e de operação desse tipo de pavimento estão relacionados com a limitação da deformação da
estrutura, com o propósito de garantir resistência à derrapagem e preservaras aeronaves de possíveis
danos.Dentre os requisitos de um projeto de pavimento de aeroporto, está a necessidade de conhecer os
materiais que compõem cada uma das camadas estruturais, inclusive o subleito, sendo esta estrutura que
acomoda as camadas do pavimento (SENÇO, 2007).
O subleito é dito como o terreno onde é construída a fundação do pavimento. Todos os esforços
exercidos sobre as camadas superiores serão transmitidos para o subleito, portanto “deve ser considerado e
estudado até as profundidades em que atuam significativamente as cargas impostas” (MARQUES, 2012
p.6).Para compreender o subleito é necessário conhecer o solo e suas propriedades, que são analisadas através
de estudos geotécnicos, onde são estabelecidas todas as características relativas aos solos, tanto físicas quanto
mecânicas, assim é possível estabelecer os procedimentos para o dimensionamento do pavimento
(MARQUES, 2012).
A camada de regularização do subleito tem espessura variável, executada no topo do subleito, seu
objetivo é acomodar e tornar a camada regular. Em conformidade com Senço (2007) deve-se evitar, que sejam
executados cortes no material já compactado pelo tráfego, que seja substituída uma camada já compactada por
uma camada a ser compactada, nem sempre é atingido o grau de compactação existente.
O objetivo desse artigo é estudar as propriedades mecânicas do subleito e do material usado para
regularização do subleito da pista de pouso que está sendo executada na base naval de São Pedro da Aldeia –
RJ, através de ensaios especificados pelo DNIT. Foram realizados ensaios para verificação do comportamento
mecânico do solo por meio da variação de teores de umidade, como forma de identificar a limitação da
deformação da estrutura para garantir resistência à derrapagem e preservar as aeronaves de possíveis danos.
2. Materiais e Métodos
A amostra foi coletada na Cidade de São Pedro da Aldeia/RJ na BAeNSPA, Base Aérea Naval de São
Pedro da Aldeia, onde serão construídas duas pistas de pouso, afim de analisar as propriedades do solo que
serão submetidos às solicitações de carga, foram coletados os dois tipos de solo encontrados no subleito da
futura pista de pouso bem como o solo que compunha o material de empréstimo utilizado para estabilização
do subleito (Figura 1 e 2), conforme determinado pelo projeto de execução da pista.
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O ensaio de compactação foi realizado conforme a DNER-ME 162/94. Após secagem em estufa à 60º,
homogeneização, quarteamento e peneiramento da amostra foi realizada a compactação do solo em cinco
camadas iguais, aplicando energia de compactação modificada. Após obter a altura total de compactação, o
corpo de prova foi removido do molde cilíndrico e separado de sua parte central cerca de duas amostras de
250g cada para determinação de umidade, as amostras foram pesadas e secadas em estufa à 110ºC. O
procedimento foi repetido cinco vezes para cada tipo de solo.
De acordo com a DNIT 134/2010 – ME, é a relação entre a carga cíclica aplicada, tensão desvio, e a
deformação específica recuperável do material. Esse parâmetro mensura o comportamento elástico de materias
sob ação de cagas repetidas, como as ações das cargas dos veículos sobre o pavimento, e por isso é uma
propriedade essencial para desenvolver projetos de pavimentos asfálticos (NORBACK, 2018).
Como se trata de pavimento de base aeronaval ou de aeródromo militar, optou-se por utilizar a antiga
norma DNIT 134/2010 – ME, pois a mesma é mais rigorosa com o solo do que a nova norma DNIT, que reduz
a quantidade de pares de tensões a serem aplicados nos ensaios de módulo resiliente de material de subleito.
Foi moldado um corpo de prova para cada solo com 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura, com amostra
de solo deformada e nas condições de umidade ótima, obtida com a curva de compactação, que foi levado à
câmara triaxial para aplicação da sequência de carregamentos dinâmicos na fase de condicionamento, a fim de
reduzir a influência das deformações permanentes provenientes das primeiras aplicações da tensão desvio,
seguido pela aplicação da sequência de tensões para obtenção do módulo resiliente.
3. Resultados
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O ensaio para a determinação do limite de liquidez foi realizado segundo o DNER – ME 122/1994. Os
resultados foram 29% para o solo local 1, 18,9% para o solo local 2 e 60,5% para o solo de regularização. O
ensaio para a determinação do limite de plasticidade foi realizado conforme as especificações do DNIT, através
do DNER-ME 082/94. Através da diferença numérica entre o Limite de Liquidez e o Limite de Plasticidade
obteve-se o Índice de Plasticidade (IP), conforme determinado pelo DNIT: IPR 742, 2010. Os valores de IP
foram iguais a 8% para o solo local 1, 2,7% para o solo local 2 e 28,1% para o solo de regularização.
De acordo com a classificação TRB, que tem origem na classificação do Public Roads Administration,
o solo local 1 e o solo local 2 foram classificados como solos siltosos, A- 4. E o solo usado para regularização
foi classificado como solo argiloso, A – 7.
O ensaio de compactação foi realizado conforme a DNER-ME 162/94 e foram obtidas as seguintes
curvas de compactação para cada solo. O solo local 1 apresentou umidade ótima de 11% e massa específica
aparente seca de 2,16 g/cm³ (Figura 3). O solo local 2 chegou a7,8% de umidade ótima e massa específica
aparente seca de 2,04 g/cm³ (Figura 4). O solo de regularização chegou a 19,2% de umidade ótima de e 1,71
g/cm³ de massa específica aparente seca. (Figura 5).
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Os gráficos a seguir ilustram a variação do módulo de resiliência mediante aplicação das tensões desvio
e confinante conforme preconizado pela norma DNIT (2010).
Módulo de resiliência - MR
450 450
400 400
350 350
300
(MPa)
300
(MPa)
250
250
200
200
150
100 150
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,01 0,06 0,11 0,16
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Módulo de resiliência -
Módulo de resiliência -
400 390
MR (MPa)
MR (MPa)
350 340
300 290
250 240
0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,00 0,05 0,10 0,15
Tensão Desvio - 𝛔d (MPa) Tensão Confinante - 𝛔3 (MPa)
2000
1600 1500
MR (MPa)
MR (MPa)
1000
1100
500
600
0
100 0,00 0,05 0,10 0,15
0,0 0,2 0,4 Tensão Confinante - 𝛔3 (MPa)
Tensão Desvio - 𝛔d (MPa)
Figura 8.Variação do Mr do solo de regularização no modelo composto.
É possível observar que conforme a tensão desvio aumenta, o MR dos três solos diminui, evento que
tem sido comumente observado em solos finos argilosos desde a pesquisa de (SVENSON, 1980).
Uma comparação entre os módulos de resiliência dos três solos em estudo (Figura 9) mostra que o solo
de regularização foi o que se mostrou mais sensível à variação de tensão, uma vez que possuía o maior MR
sob baixas tensões desvio e confinante e diminuiu consideravelmente com o avanço das mesmas, além disso,
apresentou maior dispensabilidade dos resultados. Já os solos locais 1 e 2 apresentaram uma diminuição de
MR menos acentuada, como pode ser observado pelas retas com menor declividade e menor dispersão dos
dados. De maneira geral, o solo local 2 foi o que se apresentou menos sensível à variação das tensões. A maior
parte dos resultados de módulo resiliente se mostrou acima dos 200 MPa, atingindo valores entre 300 MPa e
350 MPa para os solos locais e ainda maiores para o solo da camada de regularização. Tais valores pode ser
considerados satisfatórios para os respectivos tipos de solos estudados.
1900
MR x 𝛔d dos três solos 1900 MR x 𝛔3 dos três solos
1700
Solo Local 1 1700 Solo Local 1
Módulo de resiliência - MR
Módulo de resiliência - MR
1500
1500
1300 Solo Local 2 Solo Local 2
1300
1100 1100
Solo de Solo de
(MPa)
(MPa)
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Foi calculada a deformação permanente do solo local 1 e do solo de regularização, de acordo com as
especificações de Guimarães (2009). O N foi limitado em torno de 40.000 ciclos, por limitações de operação
do equipamento, e o valor de deformação plástica total (Ep) para esse número de ciclos foi de 2,287 mm para
o solo local 1 e 1,883mm para o solo de regularização, com valores de 𝛔3 e 𝛔d de 70 kPa e 210 kPa,
respectivamente (Figura 10). Entende-se que essas deformações representam as mesmas sofridas pelos
primeiros 20 cm do subleito após 40.000 aplicações de carga. Observa-se uma diferença de padrão de forma
de curva de deformação, tendo o solo local 1 apresentado uma tendência de acomodamento das deformação
plásticas, ou shakedown, enquanto que o solo de regularização apresenta uma tendência de escoamento
plástico. O solo local 1 apresentou deformação permanente acumulada inferior a 2,5 mm após 40.000 ciclos
de aplicação de cargas, que pode ser considerado baixo, porém não desprezível quando se considera o
somatório da contribuição de todas as camadas. O solo de regularização apresentou resultado final inferior,
mas pela forma da curva tem-se que a deformação permanente total pode ser significativa, dependendo do
número de pousos e decolagens e da carga da aeronave de projeto.
Não se teve acesso ao estudo de tráfego de projeto, mas se sabe que as aeronaves previstas para operação
são leves, constituída de vários helicópteros e alguns tipos de aviões leves de asa fixa, portanto, provavelmente
as tensões induzidas no subleito e camada de regularização serão menores daquelas ensaiadas na presente
pesquisa, indicando comportamento satisfatório daqueles solos quanto ao afundamento de trilha de roda.
1,5
Ep (mm)
1 1
0,5 0,5
0
0 20000 40000 60000 0
0 20000 40000 60000
N N
4. Conclusão
No que diz respeito ao comportamento resiliente dos solos ensaiados pode-se afirmar que o modelo
composto mostrou-se mais adequado para representar o comportamento de todos os solos ensaiados, e que os
valores de módulo de resiliência obtidos são compatíveis com os esperados para materiais similares, indicando
comportamento satisfatório para os fins que se destinam, ou seja, subleito e regularização. Quanto à
deformação permanente, os solos ensaiados apresentaram deformações totais baixas, porém não desprezíveis,
considerando ciclos de carregamento de 40.000 unidades e um estado de tensão fixo, muito provavelmente
superior ao efetivamente atuante no campo quando em operação. Assim, estes materiais não deverão contribuir
de maneira significativa para o afundamento de trilha de roda do pavimento.
AGRADECIMENTOS
A CAPES pela bolsa de mestrado e ao Ciro Azevedo pelo apoio nos ensaios em laboratório.
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RESUMO: A região do semiárido brasileiro é caracterizada por escassez de água para os diversos fins, e por
conta disso são utilizadas barragens para amenizar os efeitos da seca. Em regiões com este tipo de clima há
períodos do ano que a cobertura vegetal da superífice fica comprometida, que associada ao tipo de solo,
favorece as ocorrências de processos erosivos. Este trabalho apresenta resultados de um estudo sobre o
potencial de erodibilidade do solo do topo do canal extravasor da Barragem Olho D’Água, localizada no
município de Várzea Alegre (CE). Para o estudo foram coletadas amostras deformadas e indeformada de solo,
da margem direita do canal, para realização de ensaios básicos de caracterização, ensaios para estimativa da
desagregação de torrões (Crumb Test e Slaking Test), ensaios de resistência ao cisalhamento e ensaios de
Inderbitzen. Apresentou alta fragilidade quando exposto à água, com um comportamento moderadamente
dispersivo. Com relação ao ensaio de Inderbitzen observou-se que em todas as vazões aplicadas, o primeiro
minuto foi o período em que houve uma maior perda de massa de solo. No ensaio de resistência ao
cisalhamento o solo, quando inundado, apresentou uma brusca queda na coesão. Os resultados mostram que o
solo estudado tem elevado potencial de erodibilidade, sendo necessário adotar medidas de controle à erosão
para evitar que haja assoreamento/colapso da bacia hídrica.
ABSTRACT: The Brazilian semi-arid region is characterized by scarcity of water for various purposes, and as
a result, dams are used to mitigate the effects of drought. In regions with this type of climate, there are periods
of the year when the vegetation cover of the surface is compromised, which associated with the type of soil,
favors the occurrence of erosion processes. This work presents the results of a study on the soil erodibility
potential at the top of the overflow channel of the Olho D’Água Dam, located in the municipality of Várzea
Alegre (CE). For the study, deformed and undisturbed soil samples were collected, from the right margin of
the channel, to carry out basic characterization tests, tests for estimating clod breakdown (Crumb Test and
Slaking Test), shear strength tests and Inderbitzen tests. It showed high fragility when exposed to water, with
a moderately dispersive behavior. Regarding the Inderbitzen test, it was observed that in all flow rates applied,
the first minute was the period in which there was a greater loss of soil mass. in cohesion. The results show
that the studied soil has a high potential for erodibility, being necessary to adopt measures to control erosion
to prevent silting/collapse of the water basin.
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1 Introdução
2 Materiais e Métodos
A barragem Olho D’água, localizada no município de Várzea Alegre, interior do Ceará, foi construída
durante os anos de 1993 à 1998, pelo 3° Batalhão de Engenharia e Construções do Exército. Sua finalidade é
o abastecimento humano, além dos usos para dessedentação animal, recreação de contato primário, irrigação
e o desenvolvimento de projetos de piscicultura. A barragem é do tipo zoneada, com altura máxima de 26,0
m; a largura e extensão do coroamento são de 6,0 m e 381,0 m. A proteção do talude de montante é constituída
por rip-rap e o talude de jusante tem proteção vegetal, com canaletas longitudinais de drenagens e escadarias
para acesso aos instrumentos de medição.
Em um curto período de operação a estrutura apresentou diversas anomalias, exibindo problemas
relacionados ao regime de fluxo na fundação. Ademais, as condições de conservação do talude de jusante
demonstraram um avançado processo erosivo durante o período operacional, em decorrência da ausência de
mecanismos de proteção e de um sistema de drenagem mais eficiente (ARAÚJO, 2013).
Decorridos 8 anos de operação, foram iniciadas obras de recuperação pela COGERH, em maio de 2006,
para promover o aumento da segurança da barragem. Foram instalados poços de alívio, trincheira drenante,
caixas de medição de vazões de percolação. Além disso, houve a recomposição do talude de jusante com
proteção vegetal, instalação dos piezômetros, medidores de nível d’água, e por fim a recuperação do
sangradouro (FONTENELLE; CAVALCANTE; SALES, 2007).
Com relação ao vertedouro, esse sistema foi construído em uma sela topográfica, como uma espécie de
canal de solo natural, sem dispositivos de controle de vazão, a uma distância em torno de 500,0 m da ombreira
direita da barragem. Neste vertedouro, o escoamento da água é direcionado para uma bacia de dissipação. As
Figuras 1 (a) e Figura 1 (b) apresentam a localização e imagens do vertedouro em canal natural.
Em visita realizada em abril de 2018 observou-se diversos processos erosivos no canal do vertedouro,
desde de sulcos a ravinas (Figura 1 (c)). Em alguns pontos foram detectadas canaletas danificadas na crista
dos taludes do canal (Figura 1 (d)) e um grande volume de material assoreado a jusante do vertedouro. Devido
a esses fatores o local foi escolhido para a realização deste trabalho.
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Figura 1. (a) Vista aérea do local da barragem Olho D’água e do Canal do Vertedouro. Fonte: Google
Earth, 2020. Acesso em 27/02/2020; (b) Vista do fundo do canal natural e talude esquerdo do vertedouro;
(c) Ravinamento por erosão no topo do talude esquerdo do canal do vertedouro; (d) Canaleta de
drenagem de crista danificada pelas erosões
Para o estudo do potencial de erodibilidade do solo foram coletadas amostras deformada e indeformada,
a 0,5 m de profundidade da superfície da crista do talude esquerdo do vertedouro.
Em laboratório realizaram-se os ensaios básicos de caracterização (granulometria, por peneiramento e
por sedimentação, peso específico dos grãos e ensaios dos Limites de Atterberg), ensaios de Slaking test e de
Crumb test, ensaios de Inderbitzen e ensaios de resistência ao cisalhamento.
Os ensaios básicos de caracterização seguiram as normas regulamentadoras. As sedimentações foram
realizadas com e sem defloculante. O Ensaio Sedimentométrico Comparativo (ABNT NBR 13602/1996).
considera a fração de argila com o diâmetro de 0,05mm para o cálculo da porcentagem de dispersão. Araújo
(2000, apud Lafayette, 2006) avalia a erodibilidade em função da porcentagem de dispersão (PD), onde os
solos com erodibilidade média apresentam PD entre 20% e 25%, solos com erodibilidade alta apresentam PD
entre 25% e 50% e os solos com erodibilidade muito alta apresentam PD maiores que 50%.
No Slaking test, duas amostras cúbicas de 6,0 cm de aresta foram ensaiadas em duas condições, com
umidade natural e seca ao ar por um período mínimo de 72 horas, conforme sugere Santos (1997). Para o
ensaio de Crumb test, 3 torrões de aproximadamente 6,0 mm de diâmetro foram submersos em 150,0 ml de
água destilada. O ensaio de Inderbitzen não tem norma regulamentadora; para o desenvolvimento deste
trabalho o ensaio foi realizado segundo os procedimentos descritos por Lafayette (2006) e Santos (1997, apud
Bastos, 1999).
Os ensaios de Inderbitzen foram realizados em um equipamento composto por uma rampa hidráulica
metálica de 1,2 m de comprimento por 0,2 m de largura e um orifício com diâmetro de 0,1 m, onde o corpo de
prova é colocado (Figura 2). A rampa permite a variação da declividade, no entanto este estudo foi realizado
com inclinação de 30º. O controle da vazão do fluxo de água foi feito por meio do software ARDUINO IDE,
simulando, assim, o escoamento superficial. Foram realizados ensaios nas vazões de 3,0 L/min, 5,0 L/min, e
7,0 L/min em corpos de prova previamente inundados por um período de 24 horas. As massas de solo erodida
devido aos escoamentos foram coletadas para o posterior estudo da perda de massa e para a análise do potencial
de erodibilidade do solo.
Figura 2. (a) Equipamento de Inderbitzen; (b) Local da amostra no orifício da rampa; (c) Torneira com vazão
controlada; (d) Dados obtidos pelo ARDUINO IDE.
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Os resultados do ensaio permitiram construir um gráfico que relaciona tanto a perda de material, quanto
a velocidade da erosão em relação ao tempo. Durante o escoamento, uma tensão irá provocar a desagregação
do solo, a tensão hidráulica cisalhante, determinada pela Equação 1, onde τh (Pa) é a tensão cisalhante
hidráulica, γw (kN/m³) é o peso específico da água, h (m) é a altura do fluxo e d (m/m) é a inclinação da rampa,
em m/m. De posse da perda de massa de solo, construiu-se o gráfico que o relaciona com a tensão hidráulica
estimando-se a tensão cisalhante crítica, em Pascal, e a taxa de erodibilidade do solo, em g/cm²/min/Pa.
Resultando assim, respectivamente, nos valores de tensão hidráulica em que não haja erosão e a perda de solo
correspondente a tensão hidráulica aplicada.
τh = γw*h*d (1)
Em relação aos ensaios de resistência ao cisalhamento, foram rompidos 06 corpos de prova, sendo 03
na condição de umidade natural e 03 previamente inundados. Os corpos de prova foram dispostos em caixas
prismáticas, de seção quadrada com 10,0 cm de lado de 2,0 cm de altura. Os corpos de prova foram cisalhados
sob tensões normais de 50 kPa, 100 kPa e 150 kPa.
3 Resultados e Discussões
Por meio de uma análise tactil visual percebeu-se que a amostra de solo apresentava coloração vermelho-
amarelada com presença de minerais com brilho, característico dos materiais micáceos. Segundo Fonseca et
al. (2005), a mica exerce uma influência bastante significante na resistência ao cisalhamento; quanto maior a
porcentagem de mica menor é o ângulo de atrito do solo. Isso se deve pelo atrito reduzido entre as partículas
de mica e areia; portanto, a mica é um fator que contribui para o potencial erosivo do solo em estudo.
O ensaio de densidade real dos grãos revelou o valor de 2,678 (g/cm³). Os ensaios de peneiramento e
sedimentação (com e sem defloculante) permitiram construir as curvas granulométricas apresentadas na Figura
3. Observa-se que essas curvas granulométricas apresentaram um solo predominantemente grosso, com menos
de 50% do material passando na peneira 0,075 mm. O percentual de silte aumentou de 17% para 33% quando
o ensaio foi realizado sem defloculante, enquanto o percentual de argila reduziu de 23% para 2% na mesma
condição do ensaio. A porcentagem de dispersão para o solo em estudo é de 66,7%, mostrando que o solo é
considerado altamente erodível.
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O Limite de Liquidez obtido para a amostra foi de 33% e o Limite de Plasticidade foi de 20%, resultando
em um Índice de Plasticidade no valor de 13%, se enquadrando na categoria de solo medianamente plástico.
Esses resultados possibilitaram classificar a amostra de solo como SM (areia siltosa), o enquadrando, de acordo
com Llopis Trillo (1999), como de alta erodibilidade.
Os resultados dos ensaios de Slaking Test realizados nas amostras na umidade natural e seca ao ar
mostraram comportamentos classificados como amostras desagregadas por abatimento, devido a alta
fragilidade das amostras quando em contato à água. Um quadro resumo do comportamento de cada etapa do
ensaio está apresentado na Tabela 1. A Figura 4 apresenta um registro fotográfico das etapas de execução do
ensaio.
a) b) c) d)
Figura 4. Amostra com umidade natural ao final de cada etapa do ensaio Slaking Test.
Quanto aos resultados dos ensaios de Crumb Test, a ABNT NBR 13601/96 classificada o
comportamento do solo em 4 graus de dispersividade, desde grau 1 enquadrado como não-dispersivo; grau 2,
levemente dispersivo; grau 3, moderadamente dispersivo e grau 4 como fortemente dispersivo. As amostras
ensaiadas foram classificadas, ao final de uma hora de ensaio, como de grau 3 de dispersividade, na classe de
comportamento moderadamente dispersivo, visto que foi possível observar uma nuvem de coloides em
suspensão (Figura 5).
Figura 5. (a) Amostras após uma hora submersas em água destilada; (b) Tamanho das amostras; (c) Resposta
após uma hora mostrando grau de dispersão 3.
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Com relação aos ensaios de Inderbitzen, realizados nas amostras previamente saturadas, a Figura 6
apresenta as curvas Perda de solo versus Tempo, para cada vazão ensaiada. Observa-se nesta figura que, em
todas as vazões aplicadas, os primeiros 10 minutos foram o período em que houve uma maior perda de massa
de solo. Vale ressaltar que quando o ensaio foi realizado na vazão de 7,0 L/min as partículas do solo da porção
de estrutura mais frágil já haviam sido carreadas pelas vazões anteriores, permanecendo as partículas
constituintes da porção mais resistente ao arraste, dada a heterogeneidade do solo, resultando em uma menor
perda de solo.
1,40
PESO SECO ACUMULADO
1,20
1,00
0,80
(g/cm²)
Figura 6. Curva da Perda de Solo por tempo de ensaio estando o solo na condição inundada e com 30º de
inclinação.
A Figura 7 representa graficamente o somatório da perda de solo seco por área e as tensões de
cisalhamento hidráulico para a inclinação de 30° de cada vazão.
A partir da equação da reta, foi observado que a tensão hidráulica crítica (τcrit) assume o valor de 1,17
Pa e a taxa de erodibilidade (K) é igual a 0,8 g/cm²/min/Pa. De acordo com Bastos (1999), os solos, em sua
umidade natural, com alta tendência a erodibilidade possuem valores acima de 0,1 g/cm²/min/Pa.
Os ensaios de resistência ao cisalhamento mostraram que houve uma mudança significativa no intercepto
de coesão e de ângulo de atrito quando os corpos de prova foram ensaiados na condição de umidade natural e
previamente inundados. Observa-se na Figura 8 que o intercepto de coesão da amostra na umidade natural foi
de 24 kPa, enquanto que da amostra previamente inundada foi nulo, e que o ângulo de atrito reduziu de 49,1º
para 15,8º quando a amostra passou de umidade natural para inundada. De acordo com Bastos (1999), quando
a variação de coesão (Δc) é maior que 85%, o solo pode ser considerado potencialmente erosivo; os resultados
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220
200 c' = 24,1KPa
180 f' = 49,1°
160
Tensão Cisalhante (KPa)
140
120
100
80
60
40 c' = 0KPa
20 f' = 15,8°
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160
Tensão Normal (KPa)
Linear (Condição Inundada) Linear (Condição Natural)
4 Conclusões
De acordo com os resultados obtidos, o solo é predominantemente arenoso com pouco percentual de
argila, apresentando fácil desagregação de suas partículas quando imerso em água e quando submetido a um
escoamento superficial. Os resultados dos ensaios de resistência ao cisalhamento mostraram que o solo perde
resistência ao ser submetido à saturação. Estes fatores explicam os diversos processos erosivos verificados na
área de estudo e apontam a necessidade de realização de vistorias contínuas, visto que a base dos taludes podem
sofrer processos erosivos intensos e consequentemente desencandear outros processos de movimentos de
massa, devido estarem em contato mais direto com o fluxo de água que percola pela base do canal natural do
vertedouro. Salienta-se então que é necessário a adoção de medidas que reduzam a potencialidade dos
processos erosivos, a fim de evitar o agravamento da degradação por erosão e o assoreamento da bacia hídrica.
Por fim, conclui-se que as características e os fenômenos observados apontam para a necessidade de ações
estruturadoras e de monitoramento contínuo do desempenho do vertedouro com o intuito de assegurar a
integridade e segurança dos sistemas que compõem a barragem.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Universidade Federal do Cariri, que por meio do Laboratório de Mecânica dos
Solos tornou-se possível a realização deste trabalho.
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Márcio S. S. Almeida
Professor Titular, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, marciossal@gmail.com
RESUMO: O pré-carregamento a vácuo é uma técnica de aceleração de recalques que substitui a sobrecarga
por aterro na construção de aterros sobre solos moles. Este trabalho objetiva realizar um panorama da técnica
no Brasil, mostrar as vertentes da técnica quanto à forma de aplicação e citar casos de empreendimentos em
que a técnica foi utilizada. É também apresentada uma comparação do tempo de estabilização de recalques de
uma área localizada na região oeste do Rio de Janeiro com a operação do vácuo aplicado dreno a dreno e a
mesma obra com a técnica de sobrecarga convencional com aterros sobre drenos. Os principais aspectos
abordados no artigo foram as diferentes formas de aplicação do vácuo, por membrana ou dreno a dreno, e a
previsão de recalques. Os resultados mostram que o vácuo atua reduzindo consideravelmente o tempo para
estabilização de recalques e é indicado principalmente para casos em que o tempo é um fator agravante na
obra. De modo geral, a técnica pode vir a ser empregada com mais frequência devido aos benefícios técnicos
e econômicos.
ABSTRACT: Vacuum preloading is a settlement acceleration technique that replaces landfill surcharge at
constructions over soft soils. An overview of the technique at Brazil is presented, with two different ways to
use the method and citing field cases in which vacuum preloading was used. A comparison of settlement
stabilization with time at the west zone of Rio de Janeiro was carried out for two scenarios: vacuum drain-to-
drain application and the usual embankment over soft soil treated with vertical drains. The main aspects of this
work were the types of vacuum application, through membrane and drain to drain, and settlement predictions.
Results show that the action of the vacuum preloading reduces considerably the stabilization time of
settlements and it is more suitable for cases that time is a big factor in the project. In general, the vacuum
preloading technique might be commonly used in the future due to technical and economical benefits.
1 Introdução
Com o crescimento das cidades, há um aumento da ocupação de áreas que são consideradas não ideais
para a construção devido aos problemas associados à capacidade de suporte dos solos de fundação. Terrenos
com espessas camadas de argila mole, como as encontradas na zona oeste do Rio de Janeiro, que tiveram sua
ocupação intensificada em meados do século passado, se enquadram nesse caso.
Ao longo da costa brasileira, essa formação de depósitos de solo mole com grandes espessuras de argila
mole são comuns. Marques et al. (2017) e Almeida e Marques (2011) citam obras ao longo da costa brasileira
nas quais a camada de solo compressível varia de 10 m a 50 m de espessura.
A engenharia, então, atua para possibilitar a utilização destes espaços com segurança e responsabilidade
inovando em conhecimento e técnicas para a construção. Uma dessas soluções de melhoria de capacidade de
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solos moles é o pré-carregamento à vácuo, inicialmente apresentada por Kjellman em 1952 e difundida na
década de 80 principalmente na comunidade geotécnica asiática (CHOA, 1989), na Europa (MASSE et al.,
2001) com casos na América do Norte, mais precisamente no Canadá (Marques et al., 2000).
Segundo Almeida e Marques (2014), as principais vantagens do uso da técnica de pré carregamento à
vácuo são: a aplicação instantânea da sobrecarga e, se tratando de uma sobrecarga temporária, uma vez que se
alcança os recalques previstos as bombas são desligadas e não há necessidade de bota fora de material do
aterro. A perda de eficiência do sistema de aplicação do vácuo por membrana pode ocorrer em casos em que
lentes de areia forem detectadas e nos casos em que o nível d’água não está na superfície do terreno
(ALMEIDA E MARQUES, 2014). Este artigo aborda os dois tipos de aplicação da técnica de pré-
carregamento a vácuo e como uma destas técnicas está sendo utilizada na região de Itanhangá, a oeste da
cidade do Rio de Janeiro.
Δu
Figura 1. Comparação entre aterro convencional e sobrecarga à vácuo (adaptado de INDRARATNA, 2009).
A redução da poropressão é de mesma magnitude do valor de incremento da tensão efetiva, Δu, que não
excede a pressão atmosférica de 100 kPa, todavia na prática esse valor se reduz na ordem de 75 a 80 kPa
devido a perdas de vácuo no sistema (conexões, nas bombas de vácuo e drenos verticais).
Quando a técnica foi proposta pelo professor W. Kjellman, em 1952, recorrentes de estudos iniciais na
década de 40 como um método efetivo de melhoria da qualidade do solo, seu sistema consistia em uma
membrana impermeável aplicada por cima de um colchão de areia de 15 cm de espessura, dessa maneira o
“vácuo” exerceria uma sucção na camada de areia e aplicaria uma carga que contribuiria para o recalque do
maciço.
Das etapas de construção desta vertente do carregamento à vácuo seguem: a construção de um aterro de
conquista arenoso, a cravação de drenos pré-fabricados verticais (DPV’s), a distribuição dos drenos horizontais
e conexões na superfície do terreno com o colchão drenante e, por fim, a instalação da membrana e a operação
do vácuo é iniciada.
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Figura 2. Seção típica do sistema de carregamento a vácuo por membrana (MARQUES et al., 2000)
.
2.2 Pré-carregamento á vácuo dreno-a-dreno
A construção desse tipo de sistema se inicia da mesma forma do sistema de membrana, com a execução
do aterro de conquista e cravação dos drenos na espessura pré-determinada de argila mole. O sistema de drenos
horizontais é isolado, não pode conter furos. Como a sucção é diretamente aplicada aos DPV’s verticais, há a
seguridade da drenagem radial.
Ao fim da conexão dos drenos verticais com drenos horizontais, o sistema é ligado e então a
estanqueidade é verificada em cada conector, garantindo que não haja vazamentos e perda de pressão de vácuo
por consequência. Logo após a verificação da estanqueidade, é efetuado o aterro cuidadoso, que tem por
finalidade a proteção do conjunto de mangueiras e conexões localizado na superfície do terreno, já que na
maioria dos casos é aplicada uma sobrecarga física de aterro ao terreno em conjunto com a sobrecarga virtual
do vácuo para que o terreno atinja a cota de projeto pré-estabelecida. A Figura 3 mostra uma seção típica do
sistema dreno-a-dreno.
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3. Casos de obra
A técnica de adensamento por vácuo tem sido extremamente usada em todo o mundo, e mais
particularmente na Ásia (e.g. INDRARATNA et al., 2010).
Recentemente empregada na América Latina, o vácuo dreno a dreno foi utilizado, por exemplo, para a
construção de uma rodovia na Colômbia (CORREA et al., 2016). No aeroporto da Cidade do México a técnica
de adensamento à vácuo foi utilizada na criação de um banco de dados de monitoramento (GHIONNA et al.,
2019; LÓPEZ-ACOSTA et al., 2019a; LÓPEZ-ACOSTA et al., 2019b; VELÁZQUEZ E ARANA, 2019).
Marques (2001) monitorou dois aterros sobre argila mole canadense e estudou a influência da
viscosidade relacionada à temperatura na aplicação do vácuo com membrana. Deotti (2015) realizou o estudo
numérico da mesma argila estudada por Marques (2001) quanto às tensões, deformações, poropressões e
deslocamentos. Já no Brasil, a técnica foi utilizada, por exemplo, em um aterro experimental e pode ser vista
em Sandroni et al. (2012).
A técnica de pré carregamento à vácuo aplicada dreno a dreno está sendo utilizada para aceleração de
recalques em uma obra de construção civil residencial em Itanhangá, situada na zona oeste da cidade do Rio
de Janeiro. A área de estudo possui uma espessura de argila variável de 1 a 15 m em toda sua extensão. Uma
malha de drenos triangular foi utilizada com um espaçamento de 1,30 m.
A Figura 4 mostra uma vista do terreno com detalhe para malha triangular de drenos pré-fabricados
cravados e as conexões em linhas chegando em vários conjuntos de bombas de vácuo ao fundo.
Os dados referentes a este empreendimento serão utilizados para uma comparação entra os tempos
necessários para estabilização dos recalques. Para tal, foram coletadas amostras com o amostrador tipo Shelby
em três profundidades (3, 6 e 9 m) e a Tabela 1 mostra a campanha de ensaios realizados tanto em campo
quanto em laboratório.
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Em relação aos ensaios de SPT, foram realizadas 3 campanhas de ensaios, em diferentes períodos,
totalizando 46 verticais de sondagens para um melhor entendimento da estratigrafia dos solos abrangentes no
local. Quanto aos ensaios de piezocone, foram executados 6 verticais com medidas de poropressão 𝑢1 e 𝑢2
em profundidades pré-estabelecidas para posteriormente efetuar o cálculo do 𝑐ℎ . A Figura 5 mostra o resultado
do CPTU 1 atingindo uma profundidade de aproximadamente 13 m de argila mole, com medida de resistência
de ponta, lateral e poropressões.
Para efeitos simplificadores, este artigo se baseia em apenas uma das áreas do terreno, que possui uma
espessura de 10 m de argila mole muito compressível. Com os resultados dos ensaios de campo
complementados pelos ensaios de caracterização e adensamento, os parâmetros de compressibilidade e
definições de projeto foram adquiridos e estão ilustrados nas Tabelas 2 e 3.
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Para o recalque com a sobrecarga de vácuo, uma parcela é adicionada à equação convencional referente
à sobrecarga virtual (Δσvácuo) e esta, então, se torna a Equação 1:
Para que o aterro ao final da operação do vácuo atinja a cota fixa, a altura de aterro necessária para tal é
de 6,5 m. Admitiu-se de forma simplificada que o aterro foi construído em etapa única, para que os resultados
pudessem ser comparados. No caso da construção em etapas, mais indicado para tal altura de aterro, os tempos
de alteamento seriam divergentes pois a argila ganharia resistência de forma diferente ao longo do tempo com
a operação do vácuo. É importante ressaltar que a aplicação do vácuo não mobiliza esforços cisalhantes,
somente o aterro físico mobilizará, permitindo a construção de uma altura maior de aterro físico em uma única
etapa. Deve-se entretanto ressaltar que mesmo melhorando a capacidade de suporte da argila, na realidade da
obra, o carregamento do aterro físico e vácuo não é concomitante e é realizado em etapas para fins de
estabilidade.Assim, o tempo total de obra superior ao aqui apresentado.
O cálculo da evolução dos recalques com o tempo seguiram as equações clássicas de adensamento de
Barron (1948) e Hansbo (1979).
A Figura 6 ilustra a evolução dos recalques com o tempo em duas situações: com 6,5 m de aterro
convencional construído em uma única etapa e o aterro equivalente, porém com início da operação das bombas
de vácuo para aceleração de recalques. Em ambos os cenários a submersão do aterro físico foi considerada nos
cálculos. O recalque total para um aterro de 6,5 m sobre uma argila com tais características é de 3,8 m
considerando os recalques primário e secundário. Pelo gráfico apresentado na Figura 6, com apenas a
sobrecarga, o tempo de estabilização para atingir 95% do recalque final (3,6 m) é de 21,5 meses. Quando a
sobrecarga virtual do vácuo é aplicada este tempo se reduz para aproximadamente 6,4 meses.
0,5
1
Recalques e altura de aterro (m)
2,5
3,5
3,6
4
Recalque aterro
físico + vácuo
4,5
5 6,4 21,5
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
Tempo (meses)
Figura 6. Comparação das curvas recalque x tempo com e sem aplicação de vácuo.
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5 Conclusão
Conclui-se que a aplicação da sobrecarga virtual de vácuo visando acelerar os recalques de aterros
construídos em solos é uma solução que está ganhando espaço no Brasil, mas ainda é cara quando comparada
a outras técnicas de melhoramento de argilas moles. O uso de vácuo é indicado para casos que o fator tempo
é de grande importância para o empreendimento. Na área de estudo deste artigo a redução no tempo para
estabilização dos recalques primário e secundário foi de 21,5 meses para 6,4 meses, com um solo bastante
compressível e elevados recalques, necessitou-se de um aterro de 6,5 m de sobrecarga. Deste modo, a avaliação
da relação custo-benefício da técnica pelo empreendedor é imprescindível.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1451
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0183 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Este trabalho tem por objetivos apresentar as características, finalidades, tipos de alteamento
(processos construtivos) e os riscos geológicos associados às barragens de rejeito, também denominadas
barragens de mineração, além de descrever como deve ser realizado o monitoramento e controle do nível de
segurança das mesmas. As rupturas ocorridas recentemente em barragens brasileiras de mineração, como a da
Barragem do Fundão (Mariana – MG), em novembro de 2015, e da Barragem I da Mina do Feijão (Brumadinho
– MG), em janeiro de 2019, causaram inúmeras vítimas fatais, danos ambientais catastróficos e prejuízos
materiais elevados. Tais ocorrências evidenciam a existência de problemas preocupantes com relação à
segurança das barragens desse tipo, existentes no Brasil. São descritos os acidentes ocorridos nessas duas
barragens e também apresentadas sugestões para aperfeiçoar a Lei Nacional de Segurança de Barragens.
ABSTRACT: This work aims to show features, purposes, construction methods and geological risks related
to tailing dams. In addition to describing how to monitor and control the safety level of these dams. The recent
failure of Brazilian tailing dams, like Fundão Dam (Mariana City – MG) that failed in November of 2015 and
Dam I of Feijão Mine (Brumadinho City – MG) that failed in January of 2019, caused several fatal victims,
catastrophic environmental damages and great material damages. Such occurrences show the existence of
problems concerning the safety of dams of this type existing in Brazil. Accidents that occurred in these two
dams are described and suggestions are also made to improve the National Dam Safety Law.
1 Introdução e Contextualização
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serem sua fonte direta de lucro. Na terceira finalidade, o objetivo é evitar prejuízos decorrentes de inundações
provocadas pelas enchentes de rios nas regiões urbanas das cidades e na zona rural, onde a população rural
pode ser vizinha ao rio. Ressalta-se que este tipo de barragem não se apresenta como uma fonte direta de lucro
e sim um inibidor de perdas materiais e de vidas.
Finalmente, as barragens de rejeito são construídas para cumprir uma exigência da legislação ambiental
– as empresas mineradoras são obrigadas a executar uma estrutura para a disposição permanente do rejeito
(material com baixo teor de minério) de mineração. Esta estrutura tem a função de criar um reservatório, onde
de forma segura e permanente evita-se a poluição de cursos de água ou do lençol freático. Assim sendo, as
barragens de rejeito são encaradas pelas mineradoras como um passivo (prejuízo) que elas obrigatoriamente
têm que executar, mas não geram lucro algum. Este aspecto faz com que boa parte das barragens de mineração
não seja estudada, construída e operada com o mesmo nível de rigor aplicado aos outros tipos de barragens.
Com intuito de ilustrar tal afirmação, ressalta-se que Chambers (2012) apresenta que a ruptura de barragens
com a finalidade de reservação de água pode ser considerada rara nos últimos quarenta anos. Além do possível
uso do próprio rejeito como material de apoio, Roche, Thygesen e Baker (2017) destacam que a barragem para
abastecimento de água é construída em uma única etapa até sua altura final prevista em projeto, seguida do
enchimento do reservatório e início da operação; já as barragens de rejeito são executadas em etapas e
continuam em operação no período de execução das fases de alteamento, e este processo dura por toda a vida
útil da barragem. Estas características podem proporcionar alterações nas operações e gerenciamento das
barragens de rejeitos, além de gerar possíveis desafios não previstos em projetos.
2 Objetivo
Este artigo tem por objetivo a apresentação da concepção de uma barragem de contenção de rejeitos,
seus processos construtivos de alteamento e suas finalidades como parte integrante do processo de operação e
exploração de uma mina, independente do minério a ser extraído.
São citadas outras opções para armazenamento de rejeitos de mineração, além do seu aproveitamento
para outras finalidades. Também é apresentada uma análise dos riscos envolvidos nesse tipo de barragem. E
finalmente é apresentada uma descrição sucinta das duas rupturas ocorridas.
3 Barragens de Rejeito
São executadas sempre em seção “homogênea”, ou seja, com solo fino compactado e um sistema de
drenagem interna (filtros), no vale de um rio, com a função de permitir que os rejeitos de mineração, que são
formados basicamente por argilas, siltes e areias finas, sejam descartados de forma permanente em um
reservatório.
Antes de ser descartado, o rejeito deve ser misturado com água, transformando-se numa suspensão fluida
(sólidos e água), também denominada como polpa, para ser transportado do local do processamento de
separação da mina até o reservatório da barragem, através de tubulações, canaletas ou túneis. Com essas
operações, o rejeito ficará armazenado em definitivo dentro do reservatório.
Destaca-se que o projeto e a construção das barragens de rejeito devem seguir a norma NBR 13028:2017
– Mineração – Elaboração e apresentação de projeto de barragens para disposição de rejeitos, contenção de
sedimentos e reservação de água – Requisitos, elaborada pela ABNT – Associação Brasileira de Normas
Técnicas.
Como os custos de implantação de uma barragem de rejeito são elevados, é uma prática comum a sua
construção por etapas, de acordo com o planejamento operacional de extração de minério de cada mina, que é
realizado para períodos futuros e longos, da ordem de 20 a 30 anos. Existem três tipos de alteamento possíveis
para uma barragem de mineração: a montante, por linha de centro e a jusante.
É importante observar que já existe uma técnica mais moderna para armazenamento de rejeitos, sem a
necessidade de construção de uma barragem, que tem sido utilizada no Brasil: é o empilhamento a seco, que
consiste em submeter o rejeito a um processo de secagem e depois empilhar o todo o material de rejeito já
seco. Outra alternativa para evitar o armazenamento de rejeitos de mineração consiste no seu aproveitamento
para outras finalidades: fabricação de blocos de alvenaria e pisos, aditivo para argamassas, entre outros.
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É executado através da construção de um dique de partida inicial, constituído por um aterro em solo fino
compactado, com altura variável entre 10 e 20 m. Este dique permite que seja iniciado o despejo do rejeito
num ponto a montante do reservatório, ao longo do curso do rio. Assim que o nível de rejeitos no reservatório
ficar próximo da crista do dique de partida, é executada a 2ª etapa de alteamento da barragem, através da
construção de um novo dique, que tem uma pequena parte da sua base assentada na crista do dique de 1ª etapa
e uma maior parte da sua base fica apoiada no rejeito depositado anteriormente no reservatório. Este processo
é repetido sucessivamente, conforme está apresentado na Figura 1.
Este tipo de alteamento pode ser considerado o mais econômico dentre os três tipos, pois emprega-se
um pequeno volume de solo para compor os sucessivos alteamentos da barragem (diques). Entretanto, este
método acarreta maiores riscos de ruptura da barragem quando comparado aos outros dois métodos. Esta
afirmação está relacionada a dois aspectos geotécnicos desfavoráveis:
a) A linha freática fica próxima do talude de jusante da barragem, nos pontos de contato entre a crista
de cada dique inferior com a base do seu dique superior. Isto pode causar os seguintes problemas: surgências
de água no talude de jusante da barragem, indicadas pela ocorrência de regiões úmidas na face externa da
barragem; e “piping” (erosão interna regressiva), ou seja, a água arrasta os grãos de solo para fora do maciço
da barragem, sendo indicado pelo surgimento de pontos, no talude de jusante da barragem, nos quais está
saindo água suja (água com grãos de solo).
b) A maior parte da base do aterro de uma etapa de alteamento (dique) fica assentada sobre o reservatório
de rejeito formado na etapa anterior. Isto pode causar problemas sérios ao aterro da barragem: diminuição do
fator de segurança da barragem, acarretado pelo baixo valor da resistência ao cisalhamento do material do
rejeito, o que pode provocar a ruptura total da barragem; e liquefação, ou seja, o solo do aterro da barragem
passa ao estado líquido (resistência ao cisalhamento nula), devido aos elevados valores de pressões neutras
nos vazios do solo do aterro da barragem, acarretando uma ruptura brusca (rápida) do maciço da barragem
como um todo. O surgimento de elevados valores de pressões neutras também está associado a um sistema
deficiente de drenagem interna da barragem ou até mesmo inexistente.
Este tipo de alteamento é executado também com um dique de partida inicial, em solo fino compactado,
porém neste método os alteamentos sucessivos são realizados de forma que seja mantida a verticalidade do
eixo da barragem. Neste método, a maior parte do aterro de 2ª etapa fica assentada sobre o dique de 1ª etapa,
restando uma pequena parte apoiada em cima do rejeito existente no reservatório. Este processo é repetido
sucessivamente, conforme está apresentado na Figura 2.
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Comparando-se com o anterior, este tipo de alteamento é mais caro, pois necessita um volume maior de
aterro da barragem para os seus sucessivos alteamentos. Por outro lado, acarreta menores riscos de ruptura que
o método de alteamento a montante, em função de dois aspectos geotécnicos importantes: a linha freática fica
mais afastada do talude de jusante da barragem, e a maior parte do aterro de uma etapa de alteamento fica
assentada sobre o aterro da etapa anterior, que possui resistência ao cisalhamento maior que a do rejeito.
É executado também com um dique de partida inicial, construído com solo fino compactado, mas neste
método os alteamentos sucessivos são executados de forma que o aterro de uma etapa fique totalmente apoiado
sobre o aterro da etapa anterior, pois o corpo da barragem é alteado sempre sobre o talude de jusante. Desta
forma, o aterro do maciço da barragem nunca está apoiado em cima do rejeito já depositado no reservatório.
Este processo é repetido sucessivamente, conforme está apresentado na Figura 3.
Comparando-se esta metodologia executiva com as apresentadas anteriormente, este tipo de alteamento
pode ser considerado o mais caro dos três por exigir um maior volume de aterro para os sucessivos alteamentos
da barragem. Em compensação, é considerado o método mais seguro de todos, com menor risco de ruptura da
barragem, por causa de dois aspectos geotécnicos favoráveis a um funcionamento adequado da barragem:
a) O aterro compactado da barragem está totalmente construído sempre em cima do aterro executado na
etapa anterior de alteamento, que é um material com resistência adequada, minimizando os riscos de uma
ruptura total da barragem.
b) A linha freática está mais afastada ainda do talude de jusante, em comparação ao alteamento por linha
de centro.
Ressalta-se que estes dois aspectos contribuem para minimizar a possibilidade de ocorrência de
surgências de água no talude de jusante, “piping” no interior do aterro da barragem e ruptura da barragem por
liquefação do seu aterro, tornando a barragem mais segura, desde que sua estabilidade tenha sido verificada
1455
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de forma adequada no seu projeto, que sua construção tenha sido executada de forma apropriada, e que tenha
sido feita uma fiscalização (de execução e de controle tecnológico) eficiente.
A ruptura da Barragem de Fundão, situada em Mariana (MG), ocorreu em 05/11/2015 e causou um total
de 19 vítimas fatais. O volume armazenado de rejeitos estava em torno de 50 milhões de m3, e a barragem
estava em operação. Houve a destruição de dois vilarejos (distritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo)
e de várias propriedades rurais, situados a jusante da barragem; além de causar a poluição total do Rio Doce
até sua foz no Oceano Atlântico, na cidade de Linhares (ES), ao longo de mais de 600 km de extensão do rio.
Esta ruptura causou o que é considerado atualmente como o maior desastre ambiental do mundo, envolvendo
uma barragem de rejeito.
Foi realizado um estudo muito extenso, detalhado e complexo sobre esta ruptura por quatro consultores
independentes. De acordo com o relatório final elaborado por MORGENSTERN et al (2016), em resumo,
ocorreu uma ruptura por liquefação, na ombreira esquerda da barragem, na região onde tinha sido feito um
recuo do eixo original da barragem, para dentro do reservatório, causada pelos seguintes fatores: presença de
1456
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rejeitos fofos (contráteis), existência de saturação do rejeito arenoso e ruptura rápida em situação não drenada,
com diminuição da resistência não drenada do solo, causada pela extrusão lateral de rejeito argiloso (lama),
que tinha sido depositado erradamente sob o rejeito arenoso
Na Figura 4 está apresentada uma vista geral da ruptura da Barragem de Mariana, com a situação antes
e depois da sua ruptura.
1457
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permitiu que boa parte do maciço da barragem ficasse apoiada integralmente sobre o rejeito, que possui baixa
resistência.
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1459
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0184 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo estudar características geotécnicas do solo utilizado na
camada de cobertura do aterro de resíduos sólidos da Muribeca, na cidade de Jaboatão dos Guararapes-PE, a
fim de garantir a eficiência da mesma em impossibilitar que gases produzidos no local escapem para
atmosfera bem como também garantir que líquidos provenientes das precipitações não percolem no aterro e,
por conseguinte, gerem mais lixiviados para serem tratados. Em laboratório, os ensaios realizados na amostra
foram: Ensaios de granulometria com e sem defloculante, limites de plasticidade e liquidez, compactação
pelo proctor normal, para determinação do teor de umidade ótima e densidade seca máxima e a determinação
do coeficiente de condutividade hidráulica utilizando permeâmetro de parede flexível modelo triflex ELE.
Os resultados indicam que a amostra ensaiada se trata de um solo argiloso inorgânico de baixa
compressibilidade – CL (SUCS), quanto a plasticidade, o solo é classificado como altamente plástico de
acordo com a classificação de Jenkins. Com base nos dados obtidos e de acordo com a Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo -CETESB, o solo ensaiado atende aos requisitos para ser usado em
camada de cobertura de aterro.
ABSTRACT: This paper had as objective to do a geotechnical characterization of the soil used in the
covering layer of the Muribeca solid waste landfill, in the city of Jaboatão dos Guararapes-PE, in order to
guarantee its efficiency in preventing gases produced at the site from escaping into the atmosphere well. as
well as ensuring that liquids from precipitation do not seep into the landfill and therefore generate more
leachate to be treated. In the laboratory, the tests performed on the sample were: Granulometry tests with and
without deflocculant, plasticity limits and liquidity, compaction by the normal proctor, to determine the
optimum moisture content and maximum dry density and the determination of the hydraulic conductivity
coefficient using ELE triflex flexible wall permeate. The results indicate that the tested sample is an
inorganic clay soil with low compressibility - CL (SUCS), as for plasticity, the soil is classified as highly
plastic according to the Jenkins classification. Based on the data obtained and according to the
Environmental Company of the State of São Paulo - CETESB, the tested soil meets the requirements to be
used in a landfill cover layer.
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1 Introdução
Os aterros sanitários visam atenuar os efeitos dos contaminantes advindos dos resíduos sólidos
urbanos (RSU) a partir do confinamento dos resíduos em camadas compactadas, mitigando as poluições das
águas superficiais e subterrâneas, bem como as emissões de gases para atmosfera. Cerca de 5% das emissões
de gases causadores do efeito estufa são emitidos pelos aterros sanitários (UNEP, 2011).
No Brasil, as emissões ocasionadas por RSU representam 12% do total, sendo que 84% são oriundas
de aterros sanitários (BRASIL, 2010). Para eficiência na redução destas emissões é necessário que haja um
sistema de drenagem eficiente bem como que o mesmo também possua um sistema de cobertura, para evitar
que águas pluviais adentrem no aterro, pois além de aumentar a quantidade de lixiviado, pode-se também
aumentar as chances de que gases escapem para a atmosfera (COSTA, 2015).
Desta maneira, para melhor eficácia recomenda-se o confinamento dos RSU que pode ser realizado a
partir de contenções construídas com solos finos que apresentem características impermeabilizantes após
compactação. Como forma de assegurar a estanqueidade do aterro é necessário analisar as características
geotécnicas do solo compactado utilizado na construção da camada de cobertura do aterro de resíduos
sólidos e verificar se o mesmo atende as principais diretrizes técnicas para aplicação em tal finalidade.
O objetivo do presente trabalho é estudar as características geotécnicas de um solo da Formação
Barreiras na Região Metropolitana do Recife, próximo ao aterro de resíduos sólidos da Muribeca, visando
aplicação do mesmo em camada de cobertura de aterro sanitário, a fim de garantir a eficiência da mesma em
impossibilitar que gases produzidos pela biodegradação dos resíduos escapem para atmosfera bem como
também garantir que líquidos provenientes das precipitações não percolem no aterro e, por conseguinte, gere
mais lixiviado a ser tratado.
2 Materiais e Métodos
2.1 Campo experimental
A jazida no qual foi coletado o solo para a realização dos ensaios situa-se na formação Barreiras da
Região Metropolitana de Recife (RMR), mais precisamente no município de Jaboatão dos Guararapes
(Figura 1), dentro do aterro da Muribeca. As amostras coletadas foram do tipo deformadas e em seguida as
mesmas foram acondicionadas em recipientes plásticos e foram ensaiadas no laboratório de Solos e
Instrumentação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Os experimentos realizados tinham como
finalidade realizar a caracterização física e determinação das propriedades dos materiais utilizados para a
camada.
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O ensaio de compactação foi realizado seguindo as recomendações da NBR 7182 - Solo – Ensaio de
compactação (ABNT, 2016). O ensaio foi desenvolvido com reuso do material, cilindro pequeno e energia
de compactação normal
Para realização do ensaio de permeabilidade à água foi tido como base a norma ASTM D5084-10
(ASTM, 2010) e foi utilizado o permeâmetro de parede flexível modelo Tri-flex 2 da Soil Test – ELE com
algumas adaptações feitas por Maciel (2003), Mariano (2008), Silva (2005) e Costa (2015). Para dar início
ao procedimento, coloca-se em cima do corpo de prova um conjunto composto de papel filtro, pedra porosa e
“top cap”, seguindo esta sequência. Feito isto, coloca- se no corpo de prova uma membrana de látex e ligas
de borracha, afim de evitar seu contato lateral com a água. Por fim, o corpo de prova é inserido na câmara de
acrílico, como mostra a Figura 2.
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Com a amostra já dentro da câmara faz-se a conexão da célula de acrílico ao equipamento através das
tubulações, permitindo a entrada de água até encher a célula por completo, em seguida faz-se a drenagem da
água destilada até que não se tenha mais bolhas dentro das tubulações. Quando não houver mais ar dentro do
canal das três buretas do equipamento aumenta-se pressão confinante, que no presente estudo foi até 270kPa.
E assim, dar-se início ao experimento.
2.2.3.2 Permeabilidade ao ar
Para o ensaio de permeabilidade ao ar também foi utilizado o modelo Tri-flex 2 da Soil Test – ELE
com as adaptações propostas por Maciel (2003), que dentre elas, inclui a colocação de um rotâmetro na saída
do corpo de prova afim de fazer a medição da vazão do fluido percolado, que neste caso é ar comprimido. Os
corpos de prova utilizados e a metodologia aplicada foram os mesmos que foram utilizados no ensaio de
permeabilidade à água, diferindo apenas no tipo de fluido utilizado no processo.
O controle da pressão incidente na amostra aplicada pelo permeâmetro é regulado através do painel de
controle do equipamento. Desta forma, é feito uma variação na pressão aplicada e na pressão confinante,
onde é possível analisar através do rotâmetro a vazão de ar percolada para cada variação de pressão. O
rotâmetro utilizado é modelo série 1900, com faixa de leitura de 3 a 30 Nl/h e erro de 5%.
3 Resultado e Discussões
A partir da curva granulométrica obtida com o uso de defloculante, a qual é apresentada na Figura 3
tem-se: D60 igual a 0,077 mm, e D30 igual a 0,004 mm e não foi possível determinar o valor de D10, visto
que os grãos de argila com dimensão menores que 0,001 mm, que é a menor dimensão que se quantifica
através da sedimentação, somam mais que 10%. Assim sendo, o cálculo do Coeficiente de Não
Uniformidade (CNU) e do Coeficiente de Curvatura (CC) torna-se inábil.
Para a curva de granulometria sem defloculante tem-se D10 igual a 0,027 mm, D60 igual a 0,28 mm, e
D30 igual a 0,068 mm; logo, CNU é igual a 10,37 e CC igual a 0,61. Segundo Pinto (2006), para CNU maior
que dois, e quão maior o for, mais bem graduada é a areia; destarte, pelo parâmetro CNU, trata-se de uma
areia bem graduada. Todavia, CC apresentou valor abaixo de 1 (CC entre um e três indica um material bem
graduado); isto indigita descontinuidade na curva, o que implica em deficiência de grãos de determinados
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tamanhos na amostra estudada (PINTO, 2006). De acordo com Heineck (2002), um solo com textura fina
que apresenta não uniformidade das partículas e boa graduação com presença de partículas de vários
tamanhos influencia diretamente a permeabilidade do solo. Isso devido as partículas menores preencherem
os vazios existentes entre as partículas maiores diminuindo o coeficiente de condutividade hidráulica o que
do ponto de vista de camadas de cobertura de aterros sanitários é uma vantagem.
Ainda avaliando a Figura 3 é possível verificar que o solo apresentou aproximadamente 60% dos
grãos são considerados como partículas finas (silte+argila) e o percentual de partículas consideradas como
areia foi de aproximadamente 40% para o ensaio realizado com defloculante, já o ensaio realizado sem
defloculante apresentou um percentual de 51% para silte, 48% para areia e não apresentou quantidades de
argila. De acordo com Maciel e Jucá (2011) solos de textura fina (teor de silte+argila superior a 50%) e com
pouca presença de pedregulhos são possivelmente materiais com potencial para aplicação em camadas de
coberturas.
Os limites de liquidez e de plasticidade do solo estudado foram de, respectivamente, 49% e 28%. O
índice de plasticidade (IP) do solo ensaiado resultou em um IP = 21%, identificando o solo como altamente
plástico, por apresentar IP > 15%, segundo a classificação de Jenkins (CAPUTO, 1996). Com os resultados
de LL e LP, estipula-se também que a mineral argila predominante nesse solo seja a caulinita, sendo prevista
para essa argila uma atividade entre 0,3-0,5, sendo ela portando classificada como inativa (DAS, 1997;
PINTO, 2006). Os limites de consistência (LL e LP) apresentam relação diretamente proporcional com a
compressibilidade do solo e o IP apresenta relação direta com a coesão do solo influenciando na resistência
ao cisalhamento (PINTO, 2006). Ambas essas características devem ser levadas em consideração na escolha
de um material para base e cobertura de aterros sanitários, pois um material de compressibilidade elevada
pode ocasionar trincas e criar caminhos preferências para infiltração de águas pluviais e deve apresentar
resistência ao cisalhamento adequada aos níveis de tensões que são desenvolvidas em aterros de resíduos
sólidos urbanos. A composição mineralógica dos solos influencia diretamente a plasticidade do material que
por sua vez influencia na sua condutividade hidráulica. De acordo com Heineck (2002), existe uma tendência
de redução do coeficiente de condutividade hidráulica com o aumento do IP. Nesse sentido, os valores dos
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limites de consistência e do IP apresentado pelo solo sugerem que o mesmo pode apresentar comportamento
geotécnico adequado para aplicação em camadas de base e cobertura de aterros sanitários.
Além disto, o solo estudado apresentou classificação segundo o Sistema Unificado de
Classificação de Solos (SCUS) como pertencente ao grupo CL (argilas inorgânicas de plasticidade baixa a
média, argilas pedregulhosas, argilas arenosas, argilas siltosas). De acordo com a Companhia Ambiental do
Estado de São Paulo -CETESB (ROCCA et al., 1993) para que um solo argiloso seja considerado adequado
para aplicação em aterros sanitários, ele deve atender aos seguintes requisitos: ser classificado como CL, CH,
SC OU OH segundo o SUCS, apresentar porcentagem de partículas maior do que 30% passando na peneira
de 0,075 mm, apresentar limite de liquidez maior ou igual a 30% e apresentar índice de plasticidade maior ou
igual a 15%. Portanto, nota-se que o solo utilizado na cobertura do aterro da Muribeca atende todos os
critérios sugeridos pela CETESB.
Com auxílio do software Microsoft Excel ®, ajustou-se uma linha de tendência para o conjunto de
pontos plotados e pode ser obtida uma equação polinomial para descrever o conjunto de dados com valor de
R²= 0,9932, conforme observado na Figura .
17
Peso Específico. Seco
16,5
16
(kN/m³)
15,5
15
14,5
y = 5E-05x4 - 0,0035x3 + 0,075x2 - 0,4736x + 16,134
14
R² = 0,9932
13,5
13
5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0
Teor de Umidade (%)
Figura 4. Curva de compactação Proctor normal
Para se obter o ponto máximo da curva foram utilizados métodos matemáticos aplicados a equação
obtida. Dessa forma, foi determinado que a umidade ótima de compactação do material foi de h = 16,67% e
o seu peso específico aparente seco associado é de γsmáx = 16,73 kN/m³.
O ensaio de permeabilidade à água também é executado utilizando o Tri-Flex só que desta vez é
injetado água invés de ar no corpo de prova. Para o solo estudado foi verificado uma permeabilidade à água
em torno de 5,6 *10-9m/s. De acordo com a USEPA (2003) para camadas de cobertura em aterros sanitários é
indicado que os valores de permeabilidade à água sejam inferiores a ordem de grandeza de 10−7 m/s, para
garantir assim que não haja muita percolação de água proveniente das chuvas. O solo estudado apresentou
valores compatíveis com os encontrados por Maciel (2003), Lopes (2011), Costa (2015) e Oliveira Jr et al.,
(2019).
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3.3.2 Permeabilidade ao ar
Para determinar a permeabilidade ao ar do solo a ser utilizado para fazer a camada de cobertura, foi
moldado um corpo de prova com energia de um Proctor Normal na umidade ótima. A trajetória dos ensaios
se deu através do processo de secagem da amostra e a verificação do coeficiente de permeabilidade
correspondente à umidade da amostra. Tendo a validação da Lei de Darcy para fluxos compressíveis foi
possível calcular a permeabilidade ao ar que para o solo em questão foi de aproximadamente 1,4*10-9m/s.
4 Conclusões
Os resultados obtidos permitem concluir que o uso do solo estudado no presente trabalho, situado na
Formação Barreiras da Região Metropolitana do Recife próximo ao aterro de resíduos sólidos da Muribeca
em Jaboatão dos Guararapes – PE, é considerado adequado para compor camadas de coberturas de aterros
sanitários, tendo em vista que as características geotécnicas apresentadas pelo mesmo se encontram dentro
dos padrões exigidos pelas normas vigentes e propostas pela literatura consultada. Como sugestão de
trabalhos futuros os autores indicam analisar misturas do solo estudado no presente trabalho com materiais
alternativos como, por exemplo, resíduos da construção e demolição composto orgânico estabilizado, areias
de fundição, dentre outros materiais, para que possam ser verificados quais são os efeitos da adição destes
materiais nas características geotécnicas e obter materiais com características mais vantajosas para tal
finalidade.
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Mozara Benetti
Doutoranda em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil,
mozara.benetti@hotmail.com.
RESUMO: A necessidade de reserva de água para os usos múltiplos como abastecimento, geração de energia
e reserva, leva a ciência a se mostrar eficiente no desenvolvimento de tecnologias para controlar os
elementos naturais e assim satisfazer as necessidades geradas pelo desenvolvimento econômico e social.
Nesse sentido, as barragens de terra são elementos amplamente utilizados para este fim. Neste contexto foi
analisada a influência, com a quantificação em vazão, de um solo residual tratado com cal e resíduo da
britagem do Basalto, aplicado em forma de um núcleo cimentado a uma barragem de terra zoneada, para
controle da percolação utilizando o Método dos Elementos Finitos (MEF). À área referente ao núcleo
aplicou-se ao mesmo material o agente cimentante, cal dolomitica em teores de 5, 7 e 9%. O peso especifico
aparente seco do núcleo foi variado nos níveis de 16, 17,2 e 18,5 kN/m³. Avaliaram-se três seções
transversais trapezoidais de núcleo cimentado, onde a base menor foi fixada em 8 metros e a base maior
variou em 20, 45 e 70 metros. Os resultados analisados mostram que o teor de cal aplicado não tem
influência direta na redução da percolação, mas que o peso específico aparente seco tem papel fundamental,
com maior amplitude de redução para núcleos com bases menores, ainda mostrando a possibilidade da
otimização do núcleo tratado com base na metologia razão ɳ/Liv.
PALAVRAS-CHAVE: Metodos dos Elementos Finitos, Controle de vazão, Núcleo de Barragem em Solo-
Cal.
ABSTRACT: The need for a water reserve for multiple uses such as supply, power generation and reserve,
leads science to prove efficient in the development of technologies to control natural elements and thus
satisfy the needs generated by economic and social development. In this context, the influence, with flow
quantification, of a residual soil treated with lime and waste from the basalt crushing applied in the form of a
cemented core to a zoned earth dam, was analyzed to control percolation using the Method of Elements
Finite (MEF). The cementing agent, dolomitic lime was applied in levels of 5, 7 and 9% to the nucleus area.
The apparent dry specific weight of the nucleus was varied at levels of 16, 17.2 and 18.5 kN/m³. Three
trapezoidal cross sections of cemented nucleus were evaluated, where the smaller base was fixed at 8 meters
and the larger base varied at 20, 45 and 70 meters. The analyzed results show that the applied lime content
does not have a direct influence on the percolation reduction, but that the specific weight plays a
fundamental role, with a greater amplitude of reduction for nucleus with smaller bases, still showing the
possibility of the optimization of the treated nucleus based on ɳ/Liv ratio methodology.
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1 Introdução
A necessidade de reserva de água para os usos múltiplos como: abastecimento, geração de energia e
reserva, conduz a necessidade da ciência se mostrar eficiente no desenvolvimento de tecnologias para
controlar os elementos naturais e assim satisfazer as necessidades geradas pelo desenvolvimento econômico
e social.
Uma barragem de terra independente da sua finalidade deve satisfazer seu propósito como barramento,
gerar acúmulo de água de forma segura àqueles situados a jusante da obra. A contenção da água feita pelo
barramento deve suprimir as percolações pelo maciço, de modo que as vazões através do corpo da barragem
sejam mínimas, a fim de garantir o volume represado e a segurança da obra. A percolação de água através do
corpo e fundação de barragens de terra pode levar a perdas de água inaceitáveis em climas áridos, devido ao
caráter de escassez deste recurso, além de causar problemas durante a construção e podendo ter efeitos
desestabilizadores na barragem de terra (SOLEYMANI; AKHTARPUR, 2011).
A antecipação e previsão de problemas em barragens de terra começam pela investigação geotécnica
local e do material a ser utilizado. De forma que a verificar se o solo a ser utilizado apresenta parâmetros de
resistência, deformação e permeabilidade satisfatórios a viabilidade do projeto. Fato é que, dependendo da
região e localização da obra, o material presente na região pode não propiciar as características desejáveis.
Onde a demanda de um material adequado as condições de projeto, pode implicar elevados custos de
transporte de áreas de jazida; como alternativa há-se a possibilidade de utilizar técnicas como o
melhoramento do solo, conduzindo-o à uma melhor condição, seja de resistência e/ou permeabilidade.
Por vezes, é verificado que o melhoramento do solo é a escolha mais econômica. Visto que pode se
utilizar técnicas simples ou materiais que não tenham grande impacto econômico no custo final da obra. No
tratamento de solos, pode-se utilizar materiais aglomerantes (como a cal e o cimento), assim como resíduos
industriais, além da aplicação de geossintéticos. Estes componentes, quando adicionados ao solo, irão
ampliar ou suprimir propriedades. Para que assim se possa chegar a um material com características que
melhor se adequem a finalidade proposta de compor um barramento.
No tipo de obra em questão, barragens de terra, um fator preponderante para o uso de um solo é que
este apresente baixo coeficiente de condutividade hidráulica. Isto é, se este irá satisfazer a proposição de
promover uma estanqueidade à água, satisfatória quando aplicado ao maciço. Com isso, diversos estudos
(BENETTI, 2015; IBEIRO, 2016; LOCH 2019; ARAUJO, 2019) analisam a inserção de materiais
aglomerantes que venham a contribuir com a redução do parâmetro de condutividade hidráulica, quando
aplicado materiais que formem ligações junto às partículas de solo, reduzindo a percolação através da massa
de solo.
Dentre os materiais mais usados para o processo de melhoramento de solo está a cal. Usualmente esta
é aplicada a solos com função de melhoramento de resistência, se dosado de forma a obter-se reações
pozolânicas, mas também associa-se a uma redução da permeabilidade deste material. Segundo Azevêdo
(2010) as reações pozolânicas transformam o solo-cal em um material com coesão, no entanto, o solo-cal não
é um material impermeável. Mas sim um material que sofre menos com o efeito erosivo da água, pois a
passagem dela entre os poros após a cimentação pozolânica se dá de forma lenta.
Nesse contexto, foi analisado a influência, com a quantificação em vazão, de um solo residual tratado
com cal e resíduo da britagem do Basalto, aplicado em forma de um núcleo cimentado a uma barragem de
terra, para controle da percolação utilizando o Metodo dos Elementos Finitos (MEF)
3 Metodologia
O presente estudo quantificou e analisou a percolação através do maciço uma barragem de terra, por
intermedio de simulações computacionais utilizando MEF. Para isso, foram utilizados modelos de barragem
do tipo zoneada, com maciço composto por uma mistura de 75% solo residual de arenito Botucatu e 25%
resíduo da britagem do basalto (SRAB-25%RBR) e para a área referente ao núcleo, a mesma mistura
compactada em diferentes pesos especificos secos e com a adição de cal dolomitica em distintos teores.
A aplicação de parte da pesquisa de Benetti (2015) traz como principal parâmetro de entrada o
coeficiente de condutividade hidraulica, resultante da avaliação deste dado para os teores de 5%, 7% e 9% de
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cal, aplicados a mistura SRAB-25%RBR nos níveis de peso específico aparente seco (γd) 16, 17,2 e 18,5
kN/m³, para uma umidade de compactação em 14% (LOPES JUNIOR, 2011) e curados por 28 dias.
À área referente a parte do maciço (área externa ao núcleo), fora analisado através da inserção dos
dados de condutividade correspondente ao teor de 0% de cal e peso específico aparente seco de 17,2 kN/m³.
Além da análise a respeito do teor de cal e o γd do núcleo, também foram avaliados distintos formatos de
núcleo, com a finalidade de se obter dados à respeito da influência das dimensões desse núcleo na vazão
percolada através do maciço, a contribuir na otimização do mesmo.
A aplicação dos dados de condutividade hidráulica, utilizou uma seção transversal com dimensões
especificadas na Figura 1. Ainda adotou-se uma fundação em rocha, para uma melhor verificação da
influência do núcleo. Ao modelo de barragem, apresentado na Figura 1 foi aplicado um filtro do tipo vertical
e horizontal, de material granular, segundo os critérios de filtro de Terzaghi (1922). À considerar uma areia
média como material do filtro (k=10-4 m/s), apresentando uma espessura de 1,5 metros, considerando
aspectos de execução e funcionalidade, de forma que este conduza a carga para jusante de forma a suprimir
as percolações na face do talude, garantindo uma maior segurança contra a ocorrência de piping.
Os núcleos trapezoidais utilizados apresentam três tipos de geometria apresentados na Figura 2, com
base menor com mesma dimensão da largura do coroamento da barragem (8 metros) e base maior variável
em 20 metros, 45 metros e 70 metros.
(a) (b)
(c)
Figura 2. Núcleo com base de (a) 20, (b) 45 e (c) 70 metros.
Para mensurar a influência da variação do teor de cal e do peso específico aparente seco como
mecanismos da hipótese inicial de redução do parâmetro de condutividade hidráulica, foram obtidos
resultados de vazão a jusante para distintos modelos de barragem. Quantificação esta, feita através do MEF
utilizando a ferramenta computacional SEEP/W, contido dentro do software GEOSTUDIO. As leituras de
vazão percolada foram obtidas através de uma seção inserida no SEEP/W, posicionada na extremidade
jusante do filtro nos modelos de barragem, como apresenta a Figura 3.
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3. Resultados e Discussões
Ao correlacionar os dados de vazão resultantes das simulações no SEEP/w com os dados base
de Benetti (2015), pode-se construir gráficos como na Figura 4, que retratam a influência do teor de cal em
cada seção de núcleo, para distintos pesos específicos aparente seco. No que se refere aos dados de vazão,
observou-se que o aumento do teor de cal em nenhum dos casos teve um comportamento exclusivamente
redutor de percolação, visto que a vazão ou apresenta uma certa constância, ou oscila entre reduções e
aumento. Algo que ocorreu de forma similar para os dados de condutividade hidráulica obtidos por Benetti
(2015). Onde através destes vê-se uma inércia da cal como material aglomerante que aumente as ligações
entre partículas e conduza a redução de fluxo.
Segundo Thomé (1999), misturas contendo materiais siltosos, como é o caso do solo residual de
arenito Botucatu, apresentam valores de condutividade hidráulica na ordem de 10 -9 m/s, desde que
adicionadas de um material estabilizante e curadas apropriadamente. A tendência de comportamento
observado por Benetti (2015) condiz com a tendência apresentada em outros trabalhos com solos
cimentados artificialmente (KALINSKI e YERRA, 2005; BELLEZZA e FRATALOCCHI, 2006) em
que o aumento do peso específico aparente seco reduziu o valor do coeficiente de condutividade
hidráulica. (a) (a) (b) (b)
(a) (b)
1471
. .
(c) (c)
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.
(c)
Figura 4. Influência do teor de cal, para o núcleo de base 20 m (a); para o núcleo de base 45 m (b) e núcleo
de base 70 m (c).
Ao analisar a influência do peso específico aparente seco do núcleo, como expõe a Figura 6 apresenta-
se de forma mais efetiva na restrição ao fluxo pelo maciço, em todos os núcleos e para todos os teores de cal.
O aumento do peso específico implica diretamente na redução de vazões. Com ênfase para o núcleo de
menor seção, como representado na Figura 5 (a) e menor influência para núcleos de maior seção como
demonstram as Figuras 5 (b) e (c). A variabilidade da grandeza permeabilidade é influenciada por diversos
fatores dentre eles estão: grau de saturação, dimensão e arranjo estrutural das partículas sólidas
(FIGUEIREDO, 2017). Logo para misturas que apresentem mesma umidade de compactação e dimensões de
grãos similares, como é a em questão, o arranjo estrutural se mostra como principal aspecto influenciador.
(a) (a) (b) (b)
(a) (b)
(a) (b)
(c)(c)(c)
(c)para o núcleo de base 20 m (a); para o núcleo de base
Figura 5. Influência do peso específico aparente seco,
45 m (b) e núcleo de base 70 m (c).
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A influência do tamanho seção do núcleo também mostra-se relevante na Figura 5 e 6, onde quanto
maior área de núcleo esta conduz a menores vazões, com menor dependência das demais variáveis. Onde,
por exemplo, para o mesmo peso específico de núcleo de 16 kN/m³, com teor de cal de 5%, as reduções de
vazão foram de um núcleo com B=20 m para o núcleo com B=70 m da ordem 92%.
Outro aspecto que se mostra considerável relevância, é a influência da porosidade nas vazões
percoladas. Observou-se que a porosidade influi de forma direta e quase proporcional nas redução das
vazões, principalmente em núcleos de menores dimensões, como observa-se na Figura 6. Fato evidenciado
na Figura 6 (a), que para o núcleo de base maior igual a 20 metros, a redução da porosidade dentro de um
mesmo intervalo faz com que as vazões tenham uma maior amplitude de redução, se comparado com as
outras seções de núcleo aplicado. Ao que se refere a cal, observou-se que independentemente do teor de
cal utilizada, a redução da porosidade do material promove uma diminuição considerável na
condutividade hidráulica, de pelo menos uma ordem de grandeza, dentro da faixa de valores avaliada.
Os materiais de cimentação formados devido à adição de cal tendem a diminuir a porosidade do solo
tratado com cal e, portanto, o seu coeficiente de condutividade hidráulica.
(a) (b)
(c)
Figura 6. Gráfico Vazão versus Porosidade, para o núcleo de base 20 m (a); para o núcleo de base 45 m (b) e
núcleo de base 70 m (c)
Ao correlacionar a porosidade com o teor de material cimentante, através da razão entre estas
grandezas, Benetti, (2015) utiliza o expoente de minoração para o teor volumétrico do material cimentante
que melhor se ajusta como previsão do comportamento mecânico e hidráulico, sendo este igual a 0,12.
Assim, aplicando essa metodologia e utilizando os dados de vazão referentes às simulações, dos distintos
modelos de núcleo de barragem, associados aos dados da razão ɳ/Liv0,12 para os dados de coeficientes de
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condutividade hidráulica (parâmetro de entrada nas simulações) foram obtidos gráficos apresentados na
Figura 7.
Ao relacionar dados de vazão com a razão ɳ/Liv0,12 do núcleo foram obtidas as curvas nas quais pode
se observar uma proporcionalidade entre ɳ/Liv0,12 e a vazão percolada através do maciço da barragem.
Proporcionalidade esta descrita através da curva de ajuste com linha de tendência do tipo potência, a qual
apresenta melhores coeficientes de R². Tal coeficiente quanto mais próximo de 1, maiores as chances de
prever as vazões de acordo com as características do material inserido como composição de núcleo e
consequentemente de permeabilidade.
Assim o mecanismo de previsão representado na Figura 7, apresenta considerável funcionalidade, pois
dentro das condições aplicadas a barragem tem-se a possibilidade de prever o comportamento das vazões em
função das dimensões do núcleo e da razão porosidade/ teor volumétrico de material cimentante.
4. Considerações finais.
Ao efeito da cal foi observado que, quando esta aplicada como adição nos teores de 5, 7 e 9%, teve
efeito mínimo de redução de vazões, não havendo uma real representatividade como material aglomerante
que contribuísse para redução das percolações. Logo, as reduções de percolação se restrigiram em função das
outras variáveis estudadas.
Assim observou-se que o aumento do peso específico aparente seco (γd) do núcleo apresenta resposta
direta para redução de vazões. Além disso, o γd influencia diretamente na redução da porosidade da mistura
compactada, a qual exerce influência direta na condutividade hidráulica do material. Isto é, quanto maior o
peso específico aparente seco do núcleo, menor índice de vazios, menos poroso e consequentemente menor a
condutividade hidraulica. Logo, núcleos de maiores γd, conduzem a menores vazões com maior efeito em
núcleos de menor seção transversal.
Outro aspecto observado é que a razão porosidade/teor volumétrico de cal (ɳ/Liv) é eficaz na
otimização do núcleo, sendo este associado aos dados de vazão de acordo com o tamanho do núcleo, constrói
curvas que indicam a tendência de comportamento das vazões percoladas. Por tanto, este apresenta-se como
aspecto útil a determinar uma seção transversal de núcleo, assim como o seu peso específico aparente seco e
o teor de material cimentante, que venha a fornecer melhores resultados de supressão de vazões através do
maciço. Com isso, infere-se que otimizar o núcleo de solo tratado por intermédio metodologia ɳ/Liv faz-se
um mecanismo útil na viabilidade econômica do processo construtivo de barragens de terra zoneada.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0186 ISBN: 978-65-89463-30-6
Juliana de Sá Sanchez
Líder de Laboratório, Centro Universitário Ibmec, Rio de Janeiro, Brasil, juliana.ssanchez@yahoo.com.br
RESUMO: O estudo fundamenta a sua importância com base no histórico de acidentes por deslizamento de
encostas no estado do Rio de Janeiro. Neste sentido, tomou por base um projeto de estabilidade de um talude
situado no Norte Fluminense, e propôs a estabilização deste através de uma contenção de Cortina Atirantada
e Retaludamento. A análise foi realizada por meio de um programa comercial, o Slide da RocScience,
utilizando o método de Bishop Simplificado. Além da tradicional análise determinística, foi realizada a análise
de sensibilidade, relacionando os principais parâmetros do solo com o fator de segurança do talude. Por meio
delas foi possível dimensionar a Cortina, utilizando o Método Brasileiro de Atirantamento, e identificar que a
coesão do Solo Residual Jovem foi o fator que exerceu maior impacto na segurança da encosta,
respectivamente, e por isso merece maior cautela por parte do engenheiro projetista.
ABSTRACT: This study is based on the history of slope landslides accidents in Rio de Janeiro’s State. In this
regard, its baseline was a slope stability project located in Norte Fluminense and proposed the slope
stabilization through Grouted Tieback and Slope Restoration. The analysis was carried out through a
RocScience’s commercial software, the Slide, through Bishop’s Simplified Method. In addition to the
traditional deterministic analysis, a sensibility analysis was carried out, relating the main soil parameters with
the slope’s safety factor. By their means it was possible to design the Grouted Tieback, based on the Brasilian
Method, and identify that Recent Residual Soil cohesion wield the greatest impacts on the slope’s safety,
respectively, and thus deserve a greater caution by the project engineer.
KEYWORDS: Slope Stability, Sensibility Analysis, Deterministic Analysis, Grouted Tieback, Slope
Restoration.
sua topografia. Esta tipologia de relevo exige cautela
1 Introdução durante o período de projeto da construção, devido
aos processos de erosão e deslizamento. A análise da
O relevo das cidades do estado do Rio de estabilidade de um talude é fundamental na fase que
Janeiro é um dos principais agravantes para os precede a construção de uma edificação em um
acidentes ocorridos nos períodos de chuvas intensas. terreno que apresenta este tipo de relevo.
O deslizamento de encostas é um dos maiores O processo de formação de solos e rochas,
causadores de mortes e do grande número de pessoas através de intemperismo físico, químico e processos
desabrigadas e desalojadas. De modo especial nos deformacionais, leva a uma grande variabilidade das
ambientes urbanos, é possível observar diversas características geotécnicas dessas formações, visto
ocupações irregulares sobre encostas que colocam que são formados depósitos naturais que combinam
em risco a segurança de moradores e pessoas que diversos materiais com formações mineralógicas
vivem no entorno. Na região serrana, o fator é ainda diferentes. (DA SILVA, 2015 apud ANG & TANG,
mais agravado devido a predominância de taludes em 1975)
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4 Resultados Obtidos
A análise de estabilidade do talude teve início Figura 4. Fator de Segurança - Seção 2: Condição
com o estudo das quatro seções transversais do Natural. Fonte: A autora, adaptada de Slide, 2005.
projeto em condição natural. O objetivo desta etapa
foi identificar qual era seção mais crítica do projeto
e, portanto, elegível para intervenção de
estabilização.
Nas figuras Figura 3,Figura 4, Figura 5 e
Figura 6 são retratados os resultados das simulações
da análise de estabilidade do talude com seus
respectivos fatores de segurança. A superfície de
ruptura destacada corresponde ao fator de segurança
mínimo global, ou seja, a provável superfície de
deslizamento.
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Tabela 4 Relação Inclinação x Banqueta x Fator de 4.1.3 Análise da seção crítica com a cortina
Segurança - Seção 4 atirantada
Seção 4
A obra de contenção escolhida foi a Cortina
Banqueta [m] Atirantada devido a compatibilidade com os suportes
Inclinação disponíveis no programa e a altura, considerada
[graus] 3 5 significativa, do talude. Esta intervenção foi
Fator de Segurança (FS) dimensionada apenas para a seção crítica do maciço,
53 1,291 1,356 associada ao taludamento de 90°, devido aos aspectos
60 1,128 1,130 construtivos, e para a banqueta que resultou no maior
70 0,920 0,966 fator de segurança para esta inclinação, 5,0 m, vide
Figura 7.
90 0,820 0,857
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mais influente do que o primeiro. Por outro lado, o utilizando abordagem probabilística. Dissertação
peso específico do Solo Residual Maduro é de Mestrado - Universidade Federal de Ouro
inversamente proporcional ao fator de segurança do Preto, Brasil.117p.
talude. Os três juntos representam os fatores que mais
impactam na segurança e estabilidade do talude DE LIMA, Maria José C. P. Alves de Lima. [19--]
Obras de Terra, Vol II. Notas de Aula.
5 Considerações Finais Fortificação e Construção - Instituto Militar de
Engenharia. Rio de Janeiro.
O talude seria estabilizado, fator de segurança
igual 1,507, através de uma combinação de DYWIDAG – SYSTEMS INTERNATIONAL.
intervenções geotécnicas, cortina atirantada e (2018) Sistemas com Protensão com Barras
retaludamento. Sendo assim, não houve uma DYWIDAG: Aplicações Geotécnicas. Brasil. 12p.
intervenção melhor do que a outra, mas sim uma Disponível em:
combinação ideal para o caso do talude de Cantagalo https://www.dywidag.com.br/produtos/sistemas-
em específico. geotecnicos/sistemas-dywidag-ancoragens-em-
A análise de sensibilidade foi fundamental solos-e-rochas/tirantes/ Acesso em: 12 jul. 2019.
para identificar quais são os fatores de maior
influência sobre o fator de segurança. Na encosta GEOPHI ENGENHARIA. (2017) Projeto executivo
estudada, os fatores mais relevantes foram o a coesão de terraplenagem e contenção em solo
e o ângulo de atrito do Solo Residual Jovem e o peso grampeado verde Cordeiro / RJ: Memória de
específico do Solo Residual Maduro. A variação Cálculo. Rio de Janeiro. 50 p. (GPHI-PJ68-MC-
desses parâmetros é o que causa maior impacto no 415-03-001-R00). Disponibilizado pela empresa.
fator de segurança do talude.
Foi visto que apenas os valores de uma LAZARTE, Carlos A. et al. (2015) Geotechnical
variação de 65% ou mais acima dos valores médios Engineering Circular no. 7: Soil Nail Walls -
dos parâmetros coesão e ângulo de atrito do Solo Reference Manual. 7 ed. Federal Highway
Residual Jovem causariam uma estabilidade nesse Administration. U.S. Department of
talude. No caso do peso específico do Solo Residual Transportation. United States.
Maduro, a estabilidade do talude se encontraria na
faixa de valores com variação de 35% ou mais abaixo PICCININI, Isabela Dellalibera. (2015) Metodologia
do valor médio. de cálculo para dimensionamento de cortinas
Dada a variabilidade geotécnica típica desse atirantadas. Trabalho de Conclusão de Curso –
tipo de obra, essa alteração percentual pode, em tese, Universidade Federal de São Carlos, Brasil. 101p.
ser encontrada no terreno. Assim o projetista pode
adotar uma postura mais cautelosa e solicitar mais RIOS FILHO, Marcelo Gomes. (2017) Projeto
amostras para esaios dos parâmetros críticos para Executivo de Estabilização: Ensaio de
determinar essa variabilidade. Laboratório em Solo “Cisalhamento Direto”.
Relatório de Ensaios. Rio de Janeiro. 14p. (GPHI-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS PJ68-MC-415-03-001-R00). Disponibilizado
pelo autor.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. (2009) NBR 11682: Estabilidade de ROCSCIENCE INC. (2003) Slide: 2D limit
Encostas. Rio de Janeiro. equilibrium slope stability for soil and rock slopes
– User’s Guide. 207 p.
CORSINI, Rodnei. Taludes atirantados. Revista
Téchne, 6 ed., 2011. Disponível em: VARNES, David J. Slope Movement Types and
http://docplayer.com.br/51724814-Taludes- Processes. Landslides Analysis and Control.
atirantados-tirante-esquema-componentes.html. Washington, D.C., National Academy of Sciences
Acesso em: 20 Ago 2019. p. 11-33, 1978.
1483
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0187 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: O reforço de solo com contenção grampeada é uma solução que vem sendo bastante aplicada no
Brasil, principalmente devido à argilidade da execução e ao custo menor em relação a outras soluções. Diante
disso, este trabalho teve como objetivo o dimensionamento e a análise de estabilidade de uma suposta
escavação reforçada com solo grampeado em Caxias-MA. Para isso, realizou-se, a partir do ensaio SPT,
estimativas dos parâmetros geotécnicos necessários para o estudo, considerando o solo saturado. Através do
software da GeoStudio, SLOPE/W, foi possível analisar a estabilidade da escavação sem e com o reforço em
solo grampeado, que, em relação ao fator de segurança, corresponderam, respctivamente, a 0,923 e a 3,969.
ABSTRACT: Ground reinforcement with stapled containment is a solution that has been widely applied in
Brazil, mainly due to the flexibility of execution and the lower cost compared to other solutions. Therefore,
this work had as objective or dimensioning and a stability analysis of a submerged excavation reinforced with
soil nailing in Caxias-MA. To do this, perform, from the SPT test, use the necessary geotechnical standards
for the study, considering the saturated soil. Through the GeoStudio software, SLOPE / W, it was possible to
analyze the stability of the excavation without and with the reinforcement in the stapled soil, which, in relation
to the safety factor, corresponding, respectively, 0.923 and 3.969.
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1 Introdução
O desenvolvimento urbano das cidades está exigindo cada vez mais técnicas construtivas rápidas e
seguras. Com isso, projetos e opções executivas que garantam uma eficiência produtiva é de suma importância.
A análise de estabilidade de taludes é uma abordagem de grande magnitude e aplicações geotécnicas,
envolvendo conhecimentos de grandes áreas, tais como geologia de engenharia, hidrologia, mecânica dos solos
e mecânica das rochas. Existem diversos tipos de estruturas de contenção para garantir a estabilidade dos
taludes, dentre eles, cita-se: os muros de gravidade, os muros de flexão, as estruturas ancoradas e as estruturas
de solo reforçado Para as estruturas de solo reforçado a estabilidade é garantinda através do reforço do maciço
de solo e/ou de rocha com a inserção de elementos resistentes no seu interior. Esses mecanismos que trabalham
associadamente com o terreno podem ser, por exemplo, grampos, fitas, geossintéticos, colunas de solo-cimento
ou estacas de qualquer tipo (ABNT, 2009).
A solução de estrutura de contenção grampeada, datada da decada de 1970, é uma técnica utilizada para
reforçar o maciço de solo e/ou de rocha com a incorporação de estruturas denominadas de grampos, que são
elementos lineares passivos, semi-rígidos e resistentes à flexão composta. Os grampos são inseridos a fim de
aumentar os esforços resistentes de tração e de cisalhamento em relação as solicitações internas que podem
ocasionar o movimento de massa, assim, dependendo das condições, podem ser introduzidos no terreno na
posição horizontal ou inclinada. Os grampos são interligados ao maciço de solo juntamente com um
faceamento, comumente em concreto projetado, e um sistema de drenagem.
Este tipo de contenção muitas vezes pode ser vantajoso em comparação com outros sistemas de
contenção (cortinas ancoradas ou parede diafragma). É importante ressaltar que seu comportamento ainda não
é totalmente esclarecido, exigindo pesquisas na área.
Nos últimos anos tem crescido muito o número de edificações na cidade de Caxias/MA, bem como em
todo o estado do Maranhão. O rompimento de taludes no município não é tão comum e sempre ocorre em
chuvas intensas. O período chuvoso de Caxias, em geral, inicia-se no final do ano, novembro ou dezembro, e
estende até final de março ou meados de abril. A Figura 1 ilustra o último rompimento ocorrido no município,
havendo danos materiais para uma empresa situada no local. Pelo fato do deslizamento ocorrer na madrugada,
não houve danos humanos.
Sendo assim, este trabalho possui o escopo de dimensionar a estabilização de uma esvavação de seis
metros de altura executada em solo grampeado. Deste modo, esse estudo permite debater aspectos da solução
de estabilidade de taludes com a técnica de solo grampeado, levando em consideração parâmetros geotécnicos
de um solo do município de Caxias, estado do Maranhão.
2 Materiais e Métodos
O local de idealização do projeto, simulando uma edificação com subsolo, situa-se no município de
Caxias, estado do Maranhão, especificamente no centro da cidade. A Figura 2 ilustra a localização no contexto
urbano da cidade.
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No presente, está sendo executado um projeto de uma edificação de 4 (quatro) pavimentos, sem subsolo.
Foi executado o ensaio Standart Penatration Test (SPT), conforme planta de locação dos furos na Figura 3.
É de suma importância a caracterização do solo para definir os esforços exercidos por ele e também
todos os parâmetros geotécnicos. O solo estudado consiste, conforme laudo de sondagem, em camadas de areia
muito fina pouco a média argilosa.
Os parâmetros geotécnicos foram obtidos através do ensaio de SPT. O peso específico e coesão foram
estimados conforme valores médio proposto por Joppert Jr. (2007). O ângulo de atrito foi determinado a partir
da equação sugerida por Texeira (1996). O módulo de elasticidade foi obtido através do produto dos
coeficientes empírios K e α e do Nspt.
Para definição da geometria, foi idealizado uma escavação com seis metros de altura (Figura 4) adotando
as camadas de acordo com o ensaio SPT e considerando uma carga uniformemente distribuída de 20 kN/m².
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2.4.1 Grampos
Considerou o diâmetro dos grampos equivalente a 100 mm, sendo utilizada uma barra de aço de 20 mm.
Considerou uma relação comprimento e altura de 0,8, forçando que o comprimento dos grampos seja de 4
metros (medido ao longo da extensão dos grampos).
O espaçamento entre os grampos foi determinado a partir das recomendações feitas pela FHWA NHI
14 007 (2015), conforme Figura 5. O espaçamento é terminado a partir do ponto mais alto da escavação até a
primeira fileira de grampos. Seu valor deve estar situado entre 0,60 a 1,00 metros, e S v0 menor que Sv.
A inclinação dos grampos é considerada em relação à horizontal, estando compreendida entre 10° a 20°,
conforme recomendações da FHWA NHI 14 007 (2015). É muito comum a aplicação dos grampos em um
ângulo de 15°, devido algumas questões executivas. Assim, nesse estudo foi considerado 15°.
Como pré-dimentionamento, Clouterre (1991) indicou que deve-se utilizar cerca de 0,7 vezes a altura
da esvação. Sendo recomendado que esse valor esteja entre 0,5 e 1,5 vezes a altura da esvação. Em síntese:
• 0,5 ≤ L ≤ 0,7 para grampos cravados; e
• 0,8 ≤ L ≤ 1,2 para grampos perfurados.
Para o dimensionamento dos grampos, é imprescindível determinar a resistência de aderência (qs) entre
o solo e o grampo. Quanto maior o atrito entre ambos, melhor o desempenho. Ortigão e Syao (2004) definiu
uma correlação entre Nspt e o Qs, obtida através de amostras de arrancamento realizado em São Paulo, Rio de
Janeiro e Brasília, através de furos com 75 a 150 mm com injeção de calda de cimento. A Figura 6 ilustra a
correlação indicada pelos autores, sendo que o valor minimo de qs é 50 kPa.
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Para realizar a análise numérica, foi utilizada o software pertencente à GeoStudio, denominado de
SLOPE/W. Através da análise numérica foi possível determinar a superfície de ruptura crítica e o fator de
segurança associado.
Para realização da análise numérica, utilizou-se o método de Morgenstern e Price (1965), método
similiar ao de Spencer. O método considera uma superfície semi-senoidal, parâmetros constantes
(determinístico), lamelas trapezoidais e pontos específicos.
3 Resultados e Análises
De acordo com o relatório de sondagem, foi determinado perfil mais crítico do solo (Figura 7).
A partir do perfil indicado, foi possível estabelecer critérios de análise. Com base nas camadas de solo
e valores do Nspt disponibilizados pelo ensaio SPT, definiu-se os parâmetros de todas as camadas de solo
considerando a condição mais desfavorável, o macicço saturação, e aplicou ao modelo na simulação numérica
no SLOPE/W. É importante que seja levado em consideração as camadas de uma forma em geral, aplicando
as metodologia de determinação dos parâmetros geotécnicos para cada camada.
O peso específico e a coesão foram adotados a partir da correlação com o Nspt sugerida por Joppert Jr
(2007). Já o ângulo de atrito do solo foi determinado com a correlação proposta por Texeira e Godoy (1996),
conforme equação abaixo:
Φ = √20 𝑥 𝑁𝑠𝑝𝑡 + 15°
Para o módulo de elasticidade, definiu-se a partir de Texeira e Godoy (1996):
E =α × qc
qc = K × Nspt
E = α × K × Nspt
O valor de alfa pode ser visto na Tabela 1, indicada por Texeira e Godoy (1996).
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Tabela 2 – Valores de K.
Solo K (MPa)
Areia com pedregulho 1,10
Areia 0,90
Areia siltosa 0,70
Areia argilosa 0,55
Silte arenoso 0,45
Silte 0,35
Argila arenosa 0,30
Silte argiloso 0,25
Areia siltosa 0,20
Fonte: Texeira e Godoy (1996).
A Tabela 3 ilustra os parâmetros adotados para o solo em análise, conforme ensaio SPT.
Primeiro foi analisado a estabilidade do maciço escavado sem reforço. A Figura 8 ilustra o resultado da
análise com a ilustração da superfície de ruptura crítica, com Fator de Segurança (FS) equivalente à 0,923.
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Em outras palavras, existe instabilidade na escavação, conforme parâmetros indicados. Vale ressaltar
que a essa profundidade não há presença de lençol freático, sendo um aspecto comum no município.
Para verificar a análise de estabilidade com reforço (solo grampeado), realizou-se inicialmente o pré-
dimensionamento da estrutura. Foi considerado o método Francês estabelecido pelo Projeto Clouterre (1991).
Adotou-se o ângulo de inclinação dos grampos com a horizontal de 15°, considerando todos os grampos
com comprimento de 0,8 x H (altura da escavação, 6 m), ou seja, 4,8 metros. O método frances correlaciona a
densidade de grampeamento (d), tangente do ângulo de atrito interno e a relação de estabilidade “N”. O método
exige que o solo tenha camada homogênica única. Devido esse detalhe de homogeneidade, realizou uma média
dos parâmetros encontrados no ensaio de sondagem.
Para determinar a densidade de grampeamento, aplica-se a seguinte equação:
𝑡
𝑑=
𝛾 𝑥 𝑆𝑣 𝑥 𝑆ℎ
• t (kN/m) – resistência de aderência unitária;
• γ (kN/m³) – peso específico do solo;
• Sv(m) – espaçamento vertical dos grampos;
• Sh(m) – espaçamento horizontal dos grampos.
A relação “N” é dada pela equação abaixo, onde c é coesão, em kPa, e H é a altura do paramento.
𝑐
𝑁=
γ ×H
Para determinar a resistência unitária, considerou-se um fator de segurança igual a 2, ou seja, a relação
entre a tensão admissível é:
𝑞𝑠
𝑞𝑠, 𝑎𝑑𝑚 =
2
A Tabela 4 indica os parâmetros definidos para a análise indicada.
Com isso, é possível determinar a densidade dos grampos, indicada abaixo. Como os valores deve estar
entre 0,1 e 1,0, então considerou-se 1,0.
51,36
𝑑= = 1,98
18 𝑥 1,2 𝑥 1,2
Através do ábaco indicado por Clouterre (1991), considerando a relação L/H = 0,8 (Figura 9),
determinou-se o fator de segurança global da estrutura pelo método Francês.
Para determinar o valor, basta sinalar no Ábaco a corrdendada (tan φ, N). A partir desse ponto, liga-se
uma reta com a origem (0,0), indicando um ponto de interceção com a reta paramétrica de “d”. Realizando a
análise do método Francês, determinou-se o fator de segurança de 1,67, sendo maior que 1,5, que é o FS
mínimo indicado pela NBR 6122 (2010).
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4 Considerações Finais
Conforme analisado, a aplicação do solo grampeado é uma solução holística na contenção de solos do
subsolo. Considerando o solo estudado em Caxias, o Fator de Segurança aumentou consideravelmente,
garantido uma estabilidade com alta margem de segurança pelo método de Morgenstern-Price. Vale ressaltar
que é possível otimizar o projeto através das características dos grampos a serem utilizado.
No cenário de escavação sem reforço no solo, considerando o solo saturado, observou-se um fator de
segurança equivalente a 0,923. Aplicando o solo reforçado com os grampos nas mesmas condições, com
parâmetros e características geométricas estimadas pelo método Francês, o fator de segurança atingiu 3,969.
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0188 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: A estabilização de solos confere a eles melhoria de propriedades tais como a resistência,
deformabilidade e permeabilidade. Dentre os inúmeros métodos de estabilização, podemos citar a adição de
materiais betuminosos ao solo. Os efeitos que são esperados ao se estabilizar um solo com materiais
betuminosos são a melhoria de sua resistência, assim com a diminuição da sua permeabilidade. Diante disto,
foi misturado um solo arenoso com altos teores de emulsão asfáltica e esta mistura foi então compactada. Os
corpos de prova eram expostos ao ar livre durante os períodos de 01 (um), 07 (sete) e vinte e oito (28) dias
para que pudesse ocorrer a ruptura da emulsão, e, por fim, foi o avaliado o comportamento mecânico para cada
tempo de cura, rompendo os corpos de prova através de ensaios de compressão simples. Para tanto fora
coletado o solo no Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará, onde foram realizados ensaios de
laboratório para a sua caracterização e utilizada a emulsão asfáltica com ruptura lenta (RL-1C), onde ambos,
após misturados, foram compactados e rompidos. Após a realização dos ensaios notou-se um aumento da
resistência à compressão simples do material devido a adição da emulsão, e que o tempo de cura da mistura
solo-emulsão asfáltica interferia positivamente no seu comportamento mecânico em razão do ganho de sucção
nos corpos de prova devido a diminuição da umidade após a ruptura da emulsão, mostrando que a utilização
de altos teores de emulsão asfáltica para estabilização de solos se torna viável no ponto de vista técnico.
ABSTRACT: Soil stabilization gives them improved properties such as strength, deformability and
permeability. Among the numerous stabilization methods, we can mention the addition of bituminous materials
to the soil. The effects that are expected when stabilizing a soil with bituminous materials are the improvement
of its resistance, as well as the decrease of its permeability. In view of this, a sandy soil was mixed with high
levels of asphalt emulsion and this mixture was then compacted. The specimens were exposed to the outdoors
during the periods of 01 (one), 07 (seven) and twenty-eight (28) days so that the emulsion rupture could occur,
and, finally, the mechanical behavior was evaluated. for each curing time, breaking the specimens through
simple compression tests. For that, the soil was collected at the Pici Campus of the Federal University of Ceará,
where laboratory tests were carried out for its characterization and the asphalt emulsion with slow rupture (RL-
1C) was used, where both, after mixing, were compacted and broken . After the tests, an increase in the
resistance to simple compression of the material was noted due to the addition of the emulsion, and that the
curing time of the soil-asphalt emulsion mixture positively interfered in its mechanical behavior due to the
gain of suction in the bodies of proof due to the decrease in humidity after the break of the emulsion, showing
that the use of high levels of asphalt emulsion for soil stabilization becomes feasible from a technical point of
view.
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1 Introdução
Existem situações onde o solo que se encontra nas proximidades da obra a ser realizada não cumpre em
sua totalidade ou parcialmente os requisitos e especificações necessárias para a sua utilização, o que pode
ocorrer em construções como barragens, aterros, taludes, dentre outras obras. Nestes casos, podem-se aceitar
o material original e ajustar o prospecto às restrições por ele impostas, utilizar materiais que se encontram a
uma maior distância de transporte, encarecendo a obra, ou alterar as propriedades do solo existente de forma
a criar um material capaz de responder às necessidades da função prevista.
Esta última alternativa é denominada estabilização de solos, e compreende procedimentos que visam a
melhoria e estabilização de propriedades, tais como: resistência, deformabilidade e permeabilidade
(Bordignon, 2015). Existem inúmeros métodos de estabilização de solos, podendo ser de ordem física,
mecânica e química. Onde há estabilização química, quando realizada em solos granulares, ocorre uma
melhoria na sua resistência ao cisalhamento por meio da adição de pequenas quantidades de ligantes nos pontos
de contato entre os grãos, tais como: cimento, cal, resinas e materiais betuminosos.
Os efeitos que são esperados ao se estabilizar um solo com materiais betuminosos são a melhoria da sua
resistência ao cisalhamento, que é provocada pelo envolvimento do solo pelo filme asfáltico, assim como o
aumento da sua impermeabilidade. Um posível material betuminoso a ser utilizado como agente estabilizante
em solos arenosos é a emulsão asfáltica. Esta já foi avaliada por Jacintho (2010), entretanto, nesta ocasião
foram utilizados baixos teores de emulsão asfáltica, e foi constatada uma melhoria das caracteristicas de
estabilidade e erodibilidade do solo quando este está em contato com a água. No entanto, não foram observadas
melhorias significativas quanto a diminuição do coeficiente de permeabilidade com a adição do material
betuminoso.
Em contrapartida, Lima (2016) e Pereira (2018), utilizaram-se de altos teores de emulsão asfáltica, em
torno de 13 a 28%, para a utilização de solos arenosos em núcleos de barragens, onde os autores constataram
que os resultados quanto a compactação, permeabilidade e resistência ao cisalhamento se mostraram
promissores e aceitáveis para utilização da mistura solo-emulsão em barragens de terra.
Tendo em vista os resultados citados anteriormente, neste trabalho também foi analisada a resistência à
compressão simples sem confinamento da mistura de solo com emulsão asfáltica, com materias semelhantes
aos utilizados por estes mesmos autores, a fim de se analisar se há o ganho de resistência com a adição deste
material em grandes teores e se há um aumento significativo desta resistência devido ao tempo de cura deste
material.
2 Fundamentação teórica
A estabilização de solos trata-se de um tratamento artificial, que pode ser realizada através de processos
físicos, químicos ou físico-químicos tornando então o solo um material estável para os limites de sua utilização.
Os três principais métodos para estabilização dos solos são: mecânico, físico e químico.
O ato de estabilizar um solo mecanicamente é fazer o uso de uma simples compactação até que ocorra
um arranjo das partículas do mesmo (Soliz, 2007). Ocorre pela aplicação de uma energia externa de
compactação aplicada ao solo, diminuindo os seus vazios, tornando-os mais resistentes aos esforços externos
e alterando dessa forma a sua compressibilidade e a permeabilidade, podendo ser realizado tanto
individualmente ou em conjunto com outros métodos de estabilização (Medina e Motta, 2005).
Em outros casos há a necessidade de se recorrer a correções da sua composição granulométrica. Neste
tipo de estabilização de solo, que se trata da estabilização fisica, as propriedades do solo são modificadas,
alterando a textura do solo. Pode-se citar como técnicas de estabilização física do solo a correção
granulométrica ou a adição de fibras, tais como, metálicas, minerais, sintéticas ou vegetais (Pinto, 2008). A
estabilização granulométrica é realizada quando quer se alterar as propriedades do solo para atingir um
determinado objetivo, alterando a distribuição das partículas do mesmo (Pereira, 2012).
Já a estabilização química consiste na adição de um ou mais produtos químicos, que são os agentes
estabilizadores, que ao se solidificarem ou reagirem com as partículas de solo aglomeram-nas, vedam os poros
e o tornam o solo repelente à água (Medina e Motta, 2005). A estabilização química também pode ser definida
como a adição de uma ou mais substâncias químicas ao solo, de modo a gerar uma mudança no seu
comportamento quanto ao ganho de resistência e estabilidade às intempéries, e tais mudanças podem
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influenciar também na permeabilidade e na deformabilidade atingindo o objetivo previsto. Pode-se citar como
agentes estabilizadores o cimento, o cal ou o betume (Pereira, 2012).
Devido ser um material betuminoso, tais caracteristicas citadas acima, adquiridas na estabilização
química, também são esperadas ao se utilizar emulsão asfáltica como agente estabilizador de solos arenosos
para serem utilizados tanto em núcleos de barragens, como na construção de aterros, taludes, etc. As emulsões
asfálticas podem ser definidas como a combinação de três componentes: cimento asfáltico de petroléo, água e
agente emulsificante. O processo de emulsificação ocorre quando estes componentes são expostos a um
mecanismo denominado moinho coloidal, que cisalha o asfalto em pequenos glóbulos. O agente emulsificante
é capaz de diminuir a tensão superficial da fase aquosa e se fixar na periferia dos glóbulos de asfalto, de modo
que estes consigam permanecer em suspensão por um determinado período, que depende da formulação da
emulsão (Jacintho, 2010; Lima, 2016).
Quando há o contato entre a emulsão asfáltica e o agregado pétreo, se inicia o processo denominado
ruptura da emulsão, que se trata da separação entre as fases aquosa e asfáltica, o que fornece o recobrimento
do agregado por uma película asfáltica (Bernucci et al. 2008). O tempo de ocorrência deste processo confere
às emulsões asfálticas as características para cada aplicabilidade, bem como serve como base para a sua
classificação em função da velocidade de ruptura, que estão subdividas em ruptura rápida (RR), ruptura média
(RM) e ruptura lenta (RL) (ABEDA, 2006).
3 Materiais e métodos
O solo analisado foi coletado dentro dos limites do Campus do Pici da Universidade Federal do Ceará
– UFC, no sítio de coordenadas UTM 3°45’10,080’’S e 38°34’22,800’’W, no município de Fortaleza, Estado
do Ceará. Foi escolhido um material arenoso, de modo que fosse possível melhorar suas características técnicas
como o aumento da coesão e diminuição da permeabilidade.
O ensaio de análise granulométrica foi realizado conforme ABNT 7181:2016, seguidos dos ensaios de
limites de liquidez, plasticidade e densidade real dos grãos, regidos pela ABNT 6459:2016, 7180:2016, e
DNER – ME 093:1994, respectivamente. A partir do ensaio de granulometria do solo, onde foram realizados
tanto o peneiramento da amostra como a sedimentação com adição de defloculante (solução de
hexametafosfato de sódio) para três amostras distintas, foram obtidas as curvas granulométricas resultantes
das três amostras do solo utilizado:
100
Porcentagem dos grãos que passa
90 Amostra 01
80 Amostra 02
70 Amostra 03
60
(%)
50
40
30
20
10
0
0,00 0,01 0,10 1,00 10,00 100,00
Diâmetro dos grãos (mm)
Tendo como base a granulometria do solo, este pode ser classificado como não uniforme e mal graduado.
Quanto aos índices de consistência, o solo ensaiado foi classificado como não liquido (NL) e não plástico (NP),
que são características de solos arenosos, e apresenta uma densidade real do solo de 2,65, o que gera um valor
1494
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de peso específico dos grãos desse material de 25,99 kN/m³. Com estas informações, de acordo Sistema
Unificado de Classificação do Solos (SUCS), o solo pode ser classificado com uma areia-siltosa (SM).
Para os resultados do ensaio de compactação, realizado de acordo com a norma ABNT 7182:2016,
utilizando a energia de compactação Proctor Normal, a massa específica aparente seca máxima foi de 1,85
g/cm², com teor ótimo de umidade de 9,65% apresentados na curva de compactação apresentada na Figura 2.
1,90
Massa específica aparente seca
1,85
(g/cm³)
1,80
1,75
5,000 7,000 9,000 11,000 13,000
Teor de umidade (%)
Figura 2- Curva de compactação do solo
A emulsão asfáltica utilizada foi do tipo catiônica de ruptura lenta (RL-1C), ideal para utilização em
estabilização de solos. Os ensaios realizados para caracterização da emulsão foram Viscosidade “Saybolt-
Furol” de emulsões asfálticas, determinação da peneiração de emulsões asfálticas e determinação do resíduo
de destilação de emulsão asfáltica. A Tabela 2, apresenta as especificações de cada ensaio com os respectivos
resultados:
Tabela 1- Resultados dos ensaios de caracterização da emulsão asfáltica
3.3 Métodos
Os procedimentos que foram realizados para a mistura entre a areia e a emulsão asfáltica seguiram
algumas recomendações de Lima (2016) e Pereira (2018). Os processos executados são descritos a seguir:
i. Destorroamento do solo com auxilio de almofariz e mão de gral;
ii. Homogeneização da amostra;
iii. Utilização do repartidor de amostras até se obter a redução do material de forma
representativa;
iv. Secagem em estufa à 100ºC, por 24 horas no mínimo;
v. Resfriamento do solo à temperatura ambiente;
vi. Pesagem do solo e da emulsão asfáltica a ser utilizada na mistura na porcentagem desejada;
vii. Colocação, aos poucos, da emulsão asfáltica no solo;
viii. Mistura do solo com a emulsão por aproximadamente 5 minutos, através de manipulação
manual;
ix. Quando visivelmente homogeneizada, a mistura solo-emulsão era submetida aos
procedimentos de compactação.
Tais processos foram realizados tanto para a confecção dos corpos de prova para compactação da
mistura solo-emulsão como também para os ensaios de resistência à compressão simples.
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Para a mistura solo-emulsão asfáltica, a compactação foi realizada a partir da metodologia Marshall,
nas conformidades da norma DNER – ME 107:1994 – Mistura betuminosa à frio, com emulsão asfáltica –
ensaio Marshall. Onde os teores iniciais de emulsão asfáltica e alguns processos utilizados na compactação
foram baseados também em Lima (2016) e Pereira (2018).
Foram ensaiados tanto corpos de prova de solo-emulsão como de areia, para que fosse comparado o
ganho de resistência à compressão simples não confinada devido a adição de altos teores de emulsão asfáltica
neste solo. Os ensaios de resistência à compressão simples não confinada de todas as amostras foram
realizados de acordo com os procedimentos ditados pela NBR 12770:1992 - Solo coesivo – determinação da
resistência à compressão não confinada, onde as dimensões dos corpos de prova eram aproximadamente 5 cm
de diâmetro e 10 cm de altura. Foram avaliados três tempos de cura ao ar livre para que pudesse ocorrer o
precesso de ruptura da emulsão asfáltica. Os períodos de cura estudados para a mistura solo-emulsão foram de
1 (um), 7 (sete) e 28 (vinte e oito) dias, além dos corpos de prova apenas de solo, e todos estes foram moldados
em triplicata.
4 Resultados e discussões
Nesta sessão serão descritos os resultados obtidos para os ensaios realizados e as discussões a respeito
da pesquisa.
Seguindo os teores iniciais de emulsão propostos por Lima (2016) e Pereira (2018) para a energia
Marshall, sendo a mistura em estudo compactada imediatamente após a homogeneização entre a emulsão
asfáltica e a areia, constatou-se que o teor ótimo de emulsão asfáltica para tais condições foi de 16%, resultado
semelhante ao de Pereira (2018). A Figura 3 mostra a curva de compactação entre o solo e os altos teores de
emulsão asfáltica:
2,05
Massa especifica aparente do
2
solo-emulsão (g/cm³)
1,95
1,9
1,85
1,8
9 14 19 24
Teor de emulsão (%)
O solo estabilizado com altos teores de emulsão asfáltica nas condições apresentadas acima possui uma
massa específica aparente de 2,00 g/cm³ para o teor ótimo de emulsão asfáltica de 16%. Com o passar do
período de cura a água presente na emulsão asfáltica evapora, para que ocorra o processo de ruptura da emulsão
asfáltica e, consequentemente, os teores de umidade dos corpos de prova diminuem. A Figura 4 apresenta a
diminuição gradativa das umidades médias dos corpos de prova referentes a cada tempo de cura estudado antes
da realização da compressão simples destes, onde observa-se que com o tempo esta umidade vai ser tornando
constante.
1496
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8,00
6,00
2,00
0,00
0 5 10 15 20 25 30
Tempo de cura (dias)
Ao se realizar o ensaios de compressão simples das amostras de solo e deste estabilizado com a emulsão
asfáltica, observou-se um aumento significativo da resistência à compressão simples de acordo com o tempo
de cura deste material, que por ser um material arenoso em suas condições naturais, apresenta um valor quase
nulo de resistência a esse tipo de compressão, devido aos valores muito baixos de coesão que este solo possui.
Nota-se o aumento gradativo da resistência à compressão simples com o passar do tempo de cura da
mistura solo-emulsão. No primeiro tempo de cura estudado, ao ser exposto ao ar livre por apenas 1 dia, o solo
estabilizado alcançou uma resistência cerca de 600% maior que a inicial, e por fim chega a alcançar uma
resistência 1300% maior que a areia in natura com o passar de 28 dias. As Figuras 5 e 6 apresentam as médias
dos valores de compressão simples que para cada situação em que este solo foi submetido e as curvas de tensão
média versus deformação axial para cada uma destas situações, respectivamente. Verifica-se que todos os
corpos de prova compostos da mistura solo-emulsão analisados obtiveram comportamento tensão versus
deformação especifica axial semelhante, onde os maiores valores de tensão foram observados entre as
deformações axiais de 4 à 5%.
700
Resistência à compressão simples (kPa)
582,391
600
500
399,083
400
300 263,721
200
100 44,145
0
Solo Solo-emulsão Solo-emulsão Solo-emulsão
(01) (07) (28)
Tempo de cura (dias)
Figura 5 - Resistência à compressão simples do solo (sem cura) e das misturas para os diferentes tempos de
cura
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600
Resistência à compressão simples Solo
500 Solo-emulsão (1 dia)
Solo-emulsão (7 dias)
400
Solo-emulsão (28 dias)
(kPa)
300
200
100
0
0 1 2 3 4 5 6 7
Deformação específica axial (%)
Figura 6 - Resistência à compressão simples versus deformação especifica axial do solo e das misturas solo-
emulsão
O ganho de resistência à compressão simples do solo em estudo foi atribuído à sucção causada pela
diminuição da umidade após a ruptura da emulsão asfáltica, o que é confirmado com a dimuição gradativa da
umidade dos corpos de prova de acordo com o tempo esperado para que se ocorresse a cura da mistura. Tal
valor de resistência tende a se manter constante ou próximo após estes vinte e oito dias, em decorrência da
umidade tender a estacionar. Resultados semelhantes também foram obtidos por Jacintho (2010) ao ser estudar
o aumento da resistência à compressão simples de um solo semelhante, também classificado como SM, mas
apenas com o teor de 8% de emulsão, onde este foi exposto ao ar livre por um periodo de 30 dias, constatando
os resultados obtidos.
5 Conclusões
A mistura do solo arenoso com os altos teores de emulsão asfáltica trouxe benefícios ao solo em estudo,
aumentando significativamente a sua resistência à compressão simples. Onde foi observado que com o passar
do periodo de cura da mistura, esta resistência também aumentou de forma considerável, mostrando que a
ruptura completa da emulsão asfáltica é de suma importância para o ganho completo de resistência do sistema,
em razão da sucção que é gerada nos corpos de prova devido a perda de umidade.
Tais resultados mostraram que a utilização de altos teores de emulsão asfáltica para estabilização de
solos arenosos se torna viável no ponto de vista técnico, podendo a mistura solo-emulsão possivelmente ser
utilizada em inúmeras obras geotécnicas.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1499
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0189 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Este estudo analisou a aptidão de três solos típicos do Recôncavo Baiano para utilização em
camadas estruturais de pavimentos rodoviários. Realizou-se ensaios de análise química, compactação na
energia Proctor normal, CBR [Índice de Suporte Califórnia (ISC)] e as classificações TRB, MCT e Resiliente.
Por fim, foram correlacionados os comportamentos indicados em cada classificação com o tipo de
argilomineral presente na fração fina de cada solo. Os resultados obtidos indicam que a classificação MCT é
a mais adequada, pois leva em consideração parâmetros mecânicos e hidráulicos dos solos e que o tipo de
argilomineral é determinante no comportamento do solo. Dois dos três solos estudados apresentaram
resultados satisfatórios, permitindo o uso de solos de ocorrência locais como camadas de pavimentos de baixo
custo.
ABSTRACT: This study analyzed the suitability of three soils typical of the Recôncavo Baiano for use in
structural layers of road pavements. Chemical analysis tests, compaction in normal Proctor energy, California
support index and TRB, MCT and Resilient classifications were performed. Finally, the behaviors indicated
in each classification were correlated with the type of clay found in the fine fraction of each soil. The results
obtained indicate that the MCT classification is the most appropriate, as it takes into account mechanical and
hydraulic parameters of the soils and that the type of clay is determinant in the behavior of the soil. Two of the
three soils studied showed satisfactory results, allowing the use of locally occurring soils as low-cost pavement
layers.
1 Introdução
Os solos que são empregados em construção de estradas necessitam ser identificados e classificados
como materiais de construção, de modo a se antever seu comportamento mecânico e possibilitar o seu emprego
racional nas várias camadas do pavimento rodoviário (MACHADO, 2013). Entre as diversas classificações
empregadas atualmente, uma classificação difundida mundialmente é a TRB (Transportation Research
Board), que leva em consideração os ensaios de análise granulométrica, de limite de liquidez e de limite de
plasticidade do solo. Como seu desenvolvimento foi direcionado aos solos de regiões de climas temperados,
1500
ISBN: 978-65-89463-30-6
essa classificação quando empregada em solos de regiões de climas tropicais, apresenta divergências entre o
comportamento esperado pela classificação e o que ocorre na prática.
Em 1976, na COPPE/UFRJ, através de estudos realizado na área de Mecânica dos Pavimentos, por Pinto
e Preussler, se desenvolveu uma classificação de solos baseada em suas propriedades resilientes, possibilitando
que os solos fossem classificados quanto ao comportamento mecânico em termos de deformabilidade elástica.
Ficou conhecida como Classificação Resiliente e se fundamenta no módulo resiliente dos solos (MR ),
determinado conforme procedimentos descritos na norma DNIT 134/2010-ME (DNIT, 2010). Na incapacidade
de definir os módulos de resiliência, é possível estimar a classificação indiretamente, através do percentual de
silte e do CBR (DNIT, 2006).
As classificações ditas tradicionais afirmam que os solos arenosos, areno-siltosos e areno-argilosos
possuem uma qualidade de compactação consideravelmente superior aos solos siltosos e argilosos. Porém, foi
observado que, em execução de camadas de pavimentos, o emprego de muitos solos siltosos e argilosos de
regiões tropicais demonstraram comportamento satisfatório (MACHADO et al., 2016).
Nogami e Villibor (1981, 1995) propuseram um sistema alternativo para classificação de solos tropicais
de granulação fina, denominada MCT (Miniatura, Compactado, Tropical), que é baseada em ensaios que
possibilitam determinar propriedades mecânicas e hídricas de corpos de prova de dimensões reduzidas. Essa
classificação divide os solos em duas classes: solos de comportamento laterítico (L) e solos de comportamento
não laterítico (N) (NOGAMI e VILLIBOR, 1981, 1995; VILLIBOR e ALVES, 2019).
Os solos tropicais, por estarem expostos às condições de clima tropical úmido com temperaturas
elevadas, ação mais intensa da chuva e a evaporação, passam pelo processo de laterização, que ocorre pelo
intenso intemperismo químico combinado com a presença do ácido húmico, gerado pelo surgimento de
vegetação na rocha fragmentada pelo intemperismo físico (VILLIBOR e ALVES, 2019).
Silva et al. (2010) correlacionaram classificações tradicionais com a MCT, para um caso aplicado à
rodovia municipal não pavimentada VCS 346, no município de Viçosa, MG. Foram analisadas 12 amostras de
solos, que segundo a classificação TRB são materiais de comportamento sofrível a péssimo como subleito, e
de acordo com a classificação MCT, 7 amostras apresentaram comportamento laterítico podendo ser
empregadas como reforço de subleito e subleito compactado.
Santos et al. (2018) compararam diferentes sistemas de classificações geotécnicas aplicados a solos das
rodovias MT 206 e MT 320, trecho entre Alta Floresta e Nova Santa Helena, no estado do Mato Grosso. Os
solos em estudo possuiam granulometria fina, com predomínio da fração areia fina, silte e argila. O estudo
demonstrou que das 13 amostras estudadas, somente em 8 delas a classificação defina pela TRB teve
correspondência com a classificação MCT.
No processo de laterização, os cátions básicos são lixiviados e, consequentemente, geram uma
concentração residual de óxidos de ferro e de alumínio. Por conta dessa concentração, a fração argila dos solos
lateríticos é formada por argilominerais do grupo caulinitas e hidróxidos e óxidos hidratados, que reduzem a
capacidade de adsorção de água dos argilominerais e agem como agentes cimentantes naturais entre partículas,
formando agregações estáveis em presença de água. Um solo laterítico compactado em condições ideais
apresenta alta capacidade de suporte e baixa perda dessa capacidade quando imersos em água, sendo essas
duas características de especial interesse na pavimentação (SANTOS e PARREIRA, 2015).
Diante do exposto, este estudo teve por objetivo a análise de três solos típicos do Recôncavo Baiano e
a sua aptidão para uso em camadas estruturais de pavimentos rodoviários. Foram realizados ensaios de análise
química, compactação na energia Proctor normal, CBR [Índice de Suporte Califórnia (ISC)] e aplicadas às
metodologias de classificações TRB, MCT e Resiliente. Por fim, foram correlacionados os comportamentos
indicados em cada classificação com o tipo de argilomineral presente na fração fina de cada solo.
2 Metodologia
2.1 Solos
Os três solos estudados foram coletados em diferentes regiões do Recôncavo Baiano. O primeiro é um
vertissolo conhecido como Massapê, coletado no canteiro central da BR-324/BA (km 565), no trecho entre
Feira de Santana e Salvador. O segundo é um latossolo amarelo distrocoeso, típico do Município de Cruz das
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Almas-BA, chamado neste trabalho de solo UFRB, e foi coletado na área interna da Universidade Federal do
Recôncavo da Bahia (UFRB). O terceiro solo é um residual do granulito/gnaisse, conhecido como Regolito,
coletado na área da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador-BA.
As amostras coletadas foram secas ao ar, destorroadas e acondicionadas em sacos plásticos para
posteriormente serem utilizadas nos ensaios geotécnicos apresentados a seguir.
A preparação das amostras para os ensaios de caracterização seguiu as especificações da norma DNER-
ME 041/94 (DNER, 1994a). A análise granulométrica foi realizada de acordo com a norma DNER-ME 051/94
(DNER, 1994b). Os ensaios para definição dos limites de consistência foram executados de acordo com as
normas DNER-ME 122/94 (DNER, 1994c) e DNER-ME 082/94 (DNER, 1994d). A determinação da
densidade real seguiu as recomendações da norma DNER-ME 093/94 (DNER,1994e). Os resultados dos
ensaios de granulometria e limites de consistência foram utilizados para a classificação dos solos pela
metodologia TRB, conforme especificações do manual de pavimentação do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes - DNIT (DNIT, 2006).
Para os três solos estudados foram determinados, a partir do ensaio de compactação na energia Proctor
normal, segundo norma DNIT 164/2013-ME (DNIT, 2013), os parâmetros ótimos de compactação (teor ótimo
de umidade - wót e massa específica aparente máxima do solo seco - ρdmáx). Por fim, a partir do ensaio CBR,
segundo a norma DNIT 172/2016-ME (DNIT, 2016), foram avaliadas as características de resistência e
expansão das amostras de solos. Com os resultados dos ensaios CBR, juntamente com a granulometria dos
solos, foi possível classificar os materiais quanto à resiliência, de acordo com a norma DNER-PRO 269/94
(DNER, 1994f) e metodologias constantes em DNIT (2006).
1502
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Para identificar o tipo de argilomineral presente na fração fina de cada solo, foi realizada uma avaliação
para os seguintes atributos químicos: pH em água e em KCl (relação solo:solução de 1:2,5); cátions trocáveis
Ca2+ , Mg2+ e Al3+, por titulação após extração com solução de 1 mol.L-1 KCL; Na+ e K+ por fotometria de
chama, após extração com Mehlich-1; H+Al extraídos com acetato de cálcio 0,5 mol.L-1 a pH 7,0 e
determinado com NaOH 0,025 mol.L-1 . Baseado nestes dados e no teor de argila do solo foram calculadas a
capacidade de troca de cátions (CTC), pela soma do resultado de bases trocáveis (Ca2+ + Mg2+ + Na+ + K+) e
acidez (H+Al); o valor de ∆pH (pHKCl - pHH2 O) e da atividade da argila (T), referente à capacidade de troca
de cátions correspondente à fração argila, foi calculada pela Equação 1, além de calcular saturação por base
(V). Também avaliou-se os teores de óxidos de SiO2 , Al2 O3 e Fe2 O3 presentes na fração argila do solo,
determinados por meio de digestão sulfúrica. A partir desses teores foi possível calcular as relações
moleculares Ki e Kr, que são relações entre óxidos, os quais podem indicar a presença de determinados
argilominerais presentes no solo, calculados conforme a Equação 2 e Equação 3 (EMBRAPA, 1997). Os
ensaios descritos foram realizados no Laboratório de Solos da UFRB, Campus Cruz das Almas.
CTC ∙100
T= (1)
teor de argila (%)
SiO2
Ki = 1,70 (2)
Al2 O3
SiO2
Kr = 1,70 (3)
Al2 O3 + Fe2 O3 ∙ 0,6375
3 Resultados e Discussões
Na Tabela 1 estão apresentados os valores encontrados de óxidos de alumínio, além dos valores
calculados de Capacidade de Troca Catiônica do Solo (CTC), Ki, Kr e atividade da fração argila (T).
1503
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Os vertissolos possuem alta saturação por bases (V > 50%) e elevada capacidade de troca de cátions
ocasionando uma alta atividade da fração argila e alta relação Ki, que geram expressivas mudanças
volumétricas quando secos (contração) e umedecidos (expansão). Além disso, esses movimentos de expansão
e contração estão relacionados ao tipo de argilomineral presente. No vertissolo em estudo os dados sugerem
uma mineralogia montmorilonítica, podendo ocorrer a formação de fendas e superfícies de compressão quando
secos e micro-relevos quando úmidos (EMBRAPA, 2018).
Na Tabela 2 são apresentados os resultados dos ensaios de caracterização dos solos e sua classificação
TRB. Na Figura 1 as curvas granulométricas dos solos podem ser observadas.
Como se observa, o solo Massapê possui elevado teor de argila (76,8%), caracterizando-se como um
solo plástico com elevado IP. De acordo com a TRB é classificado como A-7-6, um solo siltoso com elevado
índice de plasticidade e sujeito a grandes variações de volume.
O solo UFRB apresenta granulometria fina, com predominância de areia (43,6%), que justifica os limites
de consistência mais amenos quando comparado ao solo Massapê, por exemplo, caracterizando-o como solo
pouco plástico. Segundo a classificação TRB, o solo em questão é classificado como A-4, um solo siltoso
moderadamente plástico.
O solo Regolito apresentou predominância da fração argila (54,2%), tipificando um solo plástico.
Conforme a TRB, o solo se classifica como A-7-5, um solo siltoso, possivelmente altamente elástico suscetível
a grandes variações de volume.
De acordo com o preconizado na classificação TRB, os solos Massapê, UFRB e Regolito, apresentam
comportamento sofrível a péssimo como subleito.
100
90
80
70
% que passa
60
50
40
Latossolo
30
20 Regolito
10 Massapê
0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetros (mm)
Figura 1. Curva Granulométrica comparativa dos solos.
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Os resultados dos ensaios de compactação e CBR (ISC e Expansão CBR) podem ser vistos na Tabela 3.
Os três solos avaliados foram classificados como tipo III, que de acordo com DNIT (2006) são solos de
comportamento ruim quanto à resiliência, sendo vedado seu emprego em camadas de pavimento. O uso como
subleito, entretanto, exige cuidados e estudos especiais.
Importante destacar que os ensaios CBR neste estudo foram realizados para energia Proctor normal.
Contudo, para o solo UFRB, os resultados do CBR obtidos por Carvalho et al. (2020) nas energias de
compactação Proctor intermediária e modificada, foram de 9,4% e 18,3%, respectivamente. Assim, quando
compactado na energia Proctor intermediária, o solo UFRB passa a ser classificado como Tipo II, podendo ser
empregado como subleito e reforço de subleito. Já para o solo Massapê, os resultados obtidos por Vieira et al.
(2020) indicam que o aumento da enegia de compactação não apresentam diferença quanto a sua classificação
resiliente.
Na tabela 4 constam os parâmetros necessários para realizar a classificação de acordo com metodologia
MCT. O Massapê possui um coeficiente granulométrico (c’) elevado, indicando um alto teor de fração argila
no solo, que é comprovado pela curva granulométrica na Figura 1, além de um d’ baixo, típico de argilas não
lateríticas.
No solo UFRB observa-se um índice d’ elevado, que segundo Nogami e Alves (2019) é um
comportamento esperado de areias argilosas bem graduadas, que possuem argila de natureza laterítica em sua
composição. No Regolito destaca-se a baixa perda de massa por imersão, característica típica de solos
lateríticos. A microestrutura é formada por argilominerais cauliníticos revestidos com óxidos de ferro e
alumínio, que permitem uma aglutinação de todos os componentes do solo, reduzindo sua erodibilidade.
Segundo Nogami e Villibor (1995), solos NG’ apresentam elevada expansibilidade, plasticidade,
compressibilidade e contração. Não são indicados para serem utilizados em camadas nobres dos pavimentos.
Já os solos classificados como LG’ possuem baixa expansão, média contração podendo ser empregados como
revestimento primário, proteção à erosão, base de pavimento, reforço do subleito compactado e subleito
compactado.
A seguir, na Tabela 5, é possível interrelacionar os resultados e comparar as classificações.
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Observa-se que, contrariando as classificações TRB e Resiliente, semelhante aos resultados obtidos por
Silva et al. (2010) e Santos et al. (2018), a classificação MCT torna adequado o uso dos solos UFRB e Regolito
para camadas estruturais de pavimentos. Essa viabilização para uso na pavimentação dos dois solos pela
metodologia MCT pode ser, em parte, explicada pela análise química realizada, onde os solos UFRB e Regolito
apresentaram uma mineralogia caulinítica, típica de solos lateríticos, que possuem resistência quando
compactados e estabilidade quando imersos. Já o Massapê em todas as três classificações apresentou-se
inadequado para fins rodoviários, visto que, na análise química, se trata de uma argila tradicional, formada
pelo argilomineral montmorilonita, com elevada expansão, contração e compressibilidade.
4 Conclusões
Neste presente estudo foi possível verificar que a classificação MCT foi a que previu de maneira mais
adequada o comportamento dos solos estudados, pois leva em consideração as propriedades mecânicas e
hidráulicas dos materiais. Evidenciou-se também que o tipo do argilomineral presente na fração fina é
determinante no comportamento do solo e que os parâmetros geotécnicos tradicionais, isoladamente, não são
suficientes para identificar de forma completa o comportamento dos solos tropicais. Por fim, observa-se o
potencial de utilização de solos finos da região do Recôncavo Baiano na pavimentação, podendo contribuir
para a minimização de custos desse tipo de obra de infraestrutura.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0190 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: As barragens são estruturas que podem ser criadas para diversas finalidades, tais como, geração de
energia elétrica e lazer. A barragem de terra é uma das mais utilizadas no Brasil, devido a abundância de
materiais disponíveis para sua construção. Dessa forma, o objetivo deste trabalho é identificar os principais
tópicos relacionados à segurança das barragens de terra, no que diz respeito ao seu dimensionamento, ao
controle de percolação e à estabilidade dos taludes. Para isso, utilizou-se a versão estudantil do software
GeoStudio 2019 (pacotes Seep/W e Slope/W) para executar as análises, considerando a existência e a
inexistência de elementos de controle de percolação no maciço e na fundação da barragem. A geometria
adotada nas modelagens atendeu aos critérios de projeto geométrico e de análise de estabilidade estabelecidos
na literatura; a utilização de elementos de controle de percolação no maciço e na fundação se mostraram
importantes, pois favorecem a segurança da barragem, aumentando sua estabilidade.
ABSTRACT: Dams are structures that can be created for several purposes, such as generating electricity and
leisure. The earth dam is one of the most used in Brazil, due to the abundance of materials available for its
construction. Thus, the objective of this work is to identify the main topics related to the safety of earth dams,
with regard to their dimensioning, percolation control and slope stability. For this, the student version of the
GeoStudio 2019 software (Seep / W and Slope / W packages) was used to perform the analyzes, considering
the existence and absence of percolation control elements in the massif and in the foundation of the dam. The
geometry adopted in the modeling met the criteria of geometric design and stability analysis established in the
literature; the use of percolation control elements in the massif and the foundation proved to be important, as
they contribute to the safety of the dam, increasing its stability.
KEYWORDS: Percolation Analysis. Slope stability Analysis. Dams of Homogeneous Land. Dam Safety.
Numerical Modeling.
1 Introdução
Barragens são estruturas construídas com a finalidade de obstruir um curso d’água, formando assim um
reservatório, com o objetivo de armazenar a água para diversos fins (CAPUTO, 2017). Dentre os tipos
convencionais, as Barragens de Terra são as mais comumente utilizadas no Brasil, devido a disponibilidade de
material e pelas condições topográficas do país (MASSAD, 2010).
A barragem, independentemente do tipo, é suscetível a falhas. Por essa razão, durante sua concepção, é
importante considerar aspectos que visem a segurança da mesma, desde sua fase de projeto até a fase de
operação. Segundo Oliveira e Brito (1998), a análise de estabilidade de uma barragem abrange um conjunto
de procedimentos, que visa a determinação de uma grandeza capaz de quantificar o quão próximo de uma
ruptura o talude da mesma está, minimizando assim, as chances de ruptura e aumentando sua segurança.
1508
ISBN: 978-65-89463-30-6
Tem-se ainda, que uma das maiores preocupações de projetistas de barragens é a percolação de água
pelo maciço e pela fundação de forma descontrolada, devendo ser adotadas medidas que controlem a
percolação de água, de forma a evitá-la ou reduzi-la. Cruz (1996) destaca que, dentre os requisitos de segurança
de uma Barragem, a estanqueidade é fundamental, sendo que é a propriedade onde ocorre o impedimento da
percolação de água da montante para a jusante, pelo maciço e pela fundação, o que segundo Costa (2012) é
impossível em função dos elevados custos para os efeitos esperados.
Considerando-se que as infiltrações e os escorregamentos são duas causas frequentes de rupturas de
barragens de terra, o objetivo deste trabalho é identificar os principais tópicos relacionados à segurança das
barragens de terra, no que diz respeito ao seu dimensionamento, por meio de análises de percolação de água e
de estabilidade dos taludes, nas fases de final da construção e operação da barragem.
2 Materiais e Métodos
Este trabalho foi desenvolvido considerando-se um problema fictício, no qual foi proposta uma seção
hipotética, típica de barragem de terra homogênea. Para o dimensionamento geométrico adotado, baseou-se
em diretrizes de projetos encontradas na literatura e em um projeto de uma barragem de terra de pequeno porte,
localizada no município de Pontalina/GO, construída com 11 m de altura para a finalidade de lazer.
Para a realização do estudo, utilizou-se o software GeoStudio 2019, versão estudantil, por meio dos
pacotes Seep/w e Slope/w. O programa GeoStudio é um programa baseado no método dos elementos finitos,
no qual é possível fazer análises de estabilidade de taludes, de percolação, de tensão e deformação, de sismos
e liquefação, dentre outras.
Desenvolveu-se o estudo considerando a existência e inexistência de elementos de controle de
percolação, com o intuito de observar a importância de tais componentes na segurança da barragem (Figuras
1 e 2). Em função das limitações da versão estudantil do programa GeoStudio, foram realizadas análises de
percolação de água ao longo do maciço e da fundação da barragem, apenas em sua fase de operação, e a de
estabilidade dos taludes de montante e jusante da barragem nas fases de final da construção e operação da
barragem.
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Na análise de percolação, é necessário aplicar condições de contorno ao longo da barragem, sendo que,
na fase de operação, no talude de montante, estabeleceu-se o nível de água máximo do reservatório com carga
total da água igual a 9 m. Já na fase de final da construção, considerou-se a carga total de água igual a zero a
montante, pois nesta fase, o reservatório ainda não foi enchido. Para o talude de jusante, a condição de contorno
escolhida foi a drenage, a qual permite que a água saia do domínio se a pressão se exceder a 0 kPa, com carga
igual a zero.
Quanto ao número de nós e elementos utilizados nas modelagens dos problemas, a versão estudantil
possui uma limitação com 500 elementos. Com isso, as modelagens foram executadas com um total de 484
(Figura 1) e 478 (Figura 2) elementos do tipo quadrangulares e triangulares, e 580 (Figura 1) e 567 (Figura 2)
nós, com o tamanho de 1,7 m dos elementos.
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Adotou-se o fator de segurança (FS) contra a ruptura do solo como sendo o critério de avaliação da
estabilidade dos taludes da barragem, nas fases de operação e final da construção, sendo que o FS é definido
como a razão entre as forças estabilizadoras e as forças desestabilizadoras (MASSAD, 2010). Dessa forma,
considerou-se como referência os valores indicados no Manual da Eletrobrás, sendo que na fase de construção,
a barragem é projetada para ficar com fator de segurança (FS) mínimo de 1,3; e na fase de operação, o FS a
ser atendido é de 1,5 (ELETROBRÁS, 2003).
Na fase final da construção, considera-se que o maciço acabou de ser construído e o reservatório ainda
não foi enchido, enquanto que na fase de operação, está sendo considerada a barragem durante sua vida útil,
em situação estacionária. O reservatório já está cheio, a água já está percolando.
4 Resultados e Discussão
Para analisar a percolação de água pelo maciço e fundação da barragem, considera-se que a barragem
está em operação, o que provoca o fluxo de água. Nas Figuras 3 e 4 são apresentadas as análises sem considerar
e considerando a existência dos elementos de percolação.
Pelas Figuras 3 e 4, percebe-se que os vetores de fluxo indicam o sentido da percolação, que vai da
montante para a jusante, tanto no maciço, quanto na fundação, e que o cut-off faz com que a força de percolação
pela fundação seja reduzida. A linha de percolação, que infiltra no maciço na altura do N.A.máx do reservatório,
na Figura 3 segue ao longo de todo o maciço, podendo aflorar no talude de jusante, enquanto que na Figura 4,
a linha é interceptada pelo conjunto de filtros. Dessa forma, nota-se que os filtros se tornam o caminho
preferencial para a percolação da água, pois a areia siltosa possui uma permeabilidade maior do que o material
do maciço.
O fato da água poder aflorar no talude de jusante, no caso em que não há um sistema de drenagem
interno, é preocupante, pois no caso de haver alguma falha ou fissura no maciço pode ocorrer a formação do
fenômeno piping, o que compromete a segurança da barragem. Em relação ao dreno de pé, notou-se que ele é
um elemento necessário para que a água oriunda das infiltrações seja encaminhada para fora da barragem sem
provocar possíveis carreamentos de partículas de solo ao longo do tempo.
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70
60
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0 10 20 30 40 50 60 70
Distância (m)
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Percebe-se que a tendência da poropressão ao longo da barragem é de diminuição de seus valores, o que
pode ser atribuído a dificuldade da água percolar, em função da baixa permeabilidade do material do maciço
(Figuras 5 e 6). Na figura 6, é ilustrado que o valor da pressão neutra tem uma redução rápida quando se
aproxima do filtro vertical, passando a ser quase nula, o que confirma a hipótese de que o sistema de drenagem
interno controla o fluxo de água pelo maciço, fazendo com que a linha freática não passe pelo talude a jusante,
o que aumenta sua estabilidade.
Nessa fase considera-se que o maciço acabou de ser construído e que a poropressão é negativa, pois
ainda não há pressão de água estabelecida pelo reservatório. Com o passar do tempo, começa a surgir
poropressão positiva (poropressão construtiva), devido ao carregamento.
Nas Figuras 7 e 8 são apresentados os resultados para as análises considerando e sem considerar
elementos de controle de percolação para os taludes de montante. Na Tabela 1, pode ser vista uma comparação
entre os FS obtidos nas modelagens e os valores especificados no manual da Eletrobrás, para os taludes de
montante e jusante.
Observa-se que os fatores de segurança FS obtidos nas análises dos taludes a jusante e a montante
atenderam aos valores estabelecidos no Manual da Eletrobrás (2003). Logo, a seção escolhida atende com
segurança às condições de ruptura.
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Figura 7 – Análise de Estabilidade no Talude de Montante na Fase de Final da Construção - Barragem sem
Sistemas de Controle de Percolação.
Fonte: Moreira, Azevedo e Santos (2019).
Figura 8 – Análise de Estabilidade no Talude de Montante na Fase de Final da Construção - Barragem com
Sistemas de Controle de Percolação.
Fonte: Próprios autores (2020).
É a avaliação da barragem durante sua vida útil. Nesta fase, a poropressão atuante não é mais a
construtiva, é a poropressão estabelecida na análise de percolação estacionária. Como indicado no manual da
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Eletrobrás (2003), esta análise é a mais conservadora, porque é a situação que vai predominar na vida útil da
barragem.
Nas Figuras 9 e 10 são apresentados os resultados das análises nos casos de não haver e havendo
elementos de controle de percolação para o talude jusante, e na Tabela 2, apresenta-se uma comparação entre
os FS obtidos nas modelagens para ambos os taludes e os valores especificados no manual da Eletrobrás.
Os valores obtidos pelas análises atendem aos critérios de FS propostos no Manual da Eletrobrás e
mostram que a barragem, mesmo sem os sistemas de controle de percolação, apresenta segurança quanto à
possibilidade de ocorrência de escorregamento.
Os FS em ambas as condições, com e sem sistema de controle de percolação, em ambas as análises (final
da construção e operação), atenderam aos critérios estabelecidos no Manual da Eletrobrás, o que pode ser
atribuído à geometria da barragem, adotando-se taludes mais brandos, e à qualidade dos materiais empregados
nos problemas, considerando-se parâmetros de resistência e permeabilidade adequados.
A utilização dos elementos de controle de percolação aumentaram a estabilidade do talude de jusante.
Além disso, nota-se que a superfície de ruptura é profunda, passando pela fundação, o que indica que a
resistência do material da fundação influencia na estabilidade da barragem.
Figura 9 – Análise de estabilidade no talude de jusante (fase de operação) - barragem sem sistemas de
controle de percolação.
Fonte: Moreira, Azevedo e Santos (2019).
Figura 10 – Análise de estabilidade no talude de jusante (fase de operação) - barragem com sistemas de
controle de percolação.
Fonte: Próprios Autores (2020).
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5. Conclusões
Percebe-se pelas análises de percolação, que os elementos de controle de fluxo contribuem para a
estabilidade, pois o fluxo é interceptado pelo conjunto de filtros, tornando-se um caminho preferencial para a
água. A barragem sem o sistema de drenagem interno (filtros) possui o risco de ocorrência de piping, devido
ao fato de a água poder aflorar à jusante caso ocorra alguma anomalia, o que compromete a segurança da
mesma.
A existência de um sistema de drenagem interno na barragem é adequado na perspectiva de segurança,
no entanto, pode-se dizer, que no caso pequenas barragens de terra homogêneas que possuem um bom controle
de execução e compactação, com utilização de material em quantidade e qualidade adequados, esse sistema
pode ser dispensado, pois a barragem apresenta um FS acima do estabelecido na literatura.
Pelas análises de estabilidade de taludes, percebe-se que a superfície de ruptura é profunda, passando
pela fundação. Isso indica que a fundação é formada por um solo menos resistente do que o utilizado no
maciço, e que ao projetar a barragem, este fato deve ser levado em consideração, pois a resistência da fundação
influencia diretamente no comportamento dos taludes da barragem, afetando sua estabilidade.
Para eventuais estudos, é indicado a análise em situações de rebaixamento rápido, e em efeitos sísmicos,
os quais não foram possíveis serem realizados devido à limitação da versão estudantil do software GeoStudio.
Além disso, realizar análises em três dimensões (3D) também se torna válida, pois é possível se assemelhar
mais às condições de campo.
REFERÊNCIAS
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CINTRA, J. A.; AOKI, N.; ALBIERO, J. H. (2001) Fundações diretas: projeto geotécnico.: Oficina de Textos,
São Paulo, 136 p.
COSTA, W. D. (2012) Geologia de Barragens, Oficina de Textos,. São Paulo, Brasil, 352 p.
CRUZ, P. T. (1996) 100 barragens brasileiras: casos históricos, materiais de construção, projeto. Oficina de
Textos, São Paulo, Brasil, 647p.
ELETROBRÁS (Centrais Elétricas Brasileiras S. A.). (2003) Critérios de projeto civil de Usinas Hidrelétricas.
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GEOSLOPE. Opções de licenciamento. Disponível em:
<https://www.geoslope.com/products/geostudio/licensing>. Acesso em 01 de nov. 2019.
MASSAD, F. (2010) Obras e terra: curso básico de geotecnia. 2 ed., Oficina de Textos, São Paulo, 216 p.
MORAES, M. C. (1976) Estruturas de Fundações, Mcgraw Hill, São Paulo.
MOREIRA; A. L,; AZEVEDO; I. B.; SANTOS; I. C. P. (2019). Análises de percolação e estabilidade de
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Conclusão de Curso, Faculdade de Engenharia Civil, Universidade de Rio Verde, 21p
OLIVEIRA, A.M.S. BRITO, S.N.A. (Eds.). (1998) Geologia de engenharia. Associação Brasileira de Geologia
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PINTO, C. S. (2006) Curso básico de mecânica dos solos.3ed., Oficina de Textos, São Paulo, 368 p.
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https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0191 ISBN: 978-65-89463-30-6
PALAVRAS-CHAVE: Mecanismo de rutura, Solo não saturado, Análise de fluxo, perfil de sucção e Fator de
segurança
ABSTRACT: The rupture mechanism of a compacted embankment near the meeting of a bridge in the city of
Palmas, capital of the state of Tocantins, is investigated. Flow analysis was performed to determine the soil
suction profile for different infiltration conditions during the 28-day period. Through the results of tests carried
out in the laboratory and the adoption of the Vilar (2006) model for analyzing the shear strength of the soil for
Unsaturated condition, it is possible to identify that the slope mechanism of the slope in question is associated
with loss of resistance to shear due to the advance of wetting associated with a mechanism of regressive erosion
at the base of the slope and elevation of the water level of the stream of Sussuapara in Via NS-03
KEYWORDS: Break mechanism, Unsaturated soil, Flow analysis, suction profile and Safety factor
1 Introdução
Pontes são obras de engenharia que unem ruas, bairros, cidades, estados e até mesmo países, sendo
assim, a mínima interdição pode afetar completamente a rotina e o convívio de uma sociedade, pois tem se a
visão de uma ponte, por algo constante. Nesse contexto, esse trabalho objetiva fazer um estudo da estabilidade
do talude de uma ponte localizada em Palmas, identificando os principais mecanismos que condicionaram a
instabilidade do talude lateral e consequentemente a interdição.
Segundo Mitre (2005), vários fatores inerentes ao projeto ou execução de OAE’s (como em pontes), podem
levar a processos de envelhecimento, dano ou obsolescência, reduzindo sua capacidade de atender aos
requisitos de utilização, que são a funcionalidade, a segurança estrutural e a durabilidade, podendo citar causas
ambientais e de uso.
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A Cidade de Palmas, capital do estado do Tocantins é uma cidade relativamente nova, sua fundação
ocorreu em meados de 1988 com a criação do Estado. Dessa maneira suas estruturas de infraestrutura são
novas principalmente as pontes e viadutos construídos a partir deste período de povoamento da capital;
A região possui um clima tropical com dois períodos bem característicos, um seco e o outro chuvoso,
com cerca de seis meses para ambos. A média história anual de precipitação na cidade de Palmas é de 1690
mm/ano, sendo que as chuvas iniciam no período de novembro e se estendem até março. No que se refere as
temperaturas a média anula esta na ordem de 31,7º segundo os dados do UNIMET.
A geologia do município de Palmas é constituída por rochas da Bacia do Parnaíba, Na bacia da sub-
bacia Sussuapara é composto por sedimentos finos plástico de coloração acinzentada de espessura na ordem
de 4 a 10 metros provenientes das coberturas Cenozóicas dos Complexos Metamórficos e Faixa de
dobramentos do Proterozóico Médio a Superior (SDUH, 2005). O material coletado (amostra deformada) na
base do aterro e caracterizado em laboratório apresenta tais características de material fino e plástico e saturado
tendo em vista ter sido coletado na margem do córrego.
O presente trabalho esta delimitada para avaliação das condições de um aterro compactado executado
nas imediações do córrego da Sussuapara na Via NS-03. Essa via é uma importante ligação entre as regiões
norte e central de Palmas, por onde trafegam várias pessoas todos os dias, além de ser rota para caminhões de
carga que passam por Palmas para ter acesso ao terminal de cargas da ferrovia Norte-Sul. A Figura 1 apresenta
a localização da região de estudo.
Após intensas chuvas no período de dezembro de 2018 apareceram uma série de trincas na crista do
aterro localizado no encontra da ponte. Essas trincas de tração evoluíram até que em 05 de dezembro de 2018
ocorreu a o escorregamento de parte do aterro levando a interdição da via. As fotos abaixo apresentam a
extensão da rutura do talude do aterro.
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2 Metodologia
O trabalho foi desenvolvido em duas etapas distintas. A primeira etapa investigativa foi realizado com
a coleta de informações sobre a geometria do escorregamento e do talude bem como caracterização geotécnica.
Na segunda etapa foram realizados simulações numéricas para a avaliação dos mecanismos de rutura do aterro.
Utilizou-se um drone da marca DJI, modelo Phantom 4 Pro. Ao todo, foram utilizados 6 GCPs (Ground
Control Points), também chamados de pontos de apoio, destinados a servir de base para a correção entre o
sistema de coordenadas da imagem com o do terreno e serão utilizados no software de processamento. O voo
foi planejado no software Drone Deploy, a 70 metros de altura e com 75% de sobreposição lateral e
longitudinal.
As imagens capturadas pelo equipamento foram processadas no software Agisoft Photoscan, gerando
uma nuvem de pontos, a qual a partir da passagem de vários filtros foi possível gerar o modelo digital do
terreno (MDT) e consequentemente as curvas de nível. Mediante a modelagem das curvas de nível foi possível
restituir a seção crítica da encosta em de acordo com a metodologia proposta por Jesus e Vilar (2007).
Mediante a abertura da trincheira sub vertical no corpo do aterro, conforme foto acima foi possível
identificar que o aterro era composto por duas camadas de solo de textura distinta apoiada sobre a fundação
(terreno natural). Mediante esta abertura foram retiradas amostras indeformadas com intuito da realização de
ensaios de cisalhamento direto, determinação da densidade in situ e permeabilidade. Também foram retidas
amostras deformadas para realização de ensaio de compactação e caracterização granulométrica, cujos
resultados são apresentados na Tabela abaixo.
Tabela 1 – Síntese dos Resultados de Ensaios de Laboratório realizados nas amostras retiradas em campo
Solo Pedreg Areia Silt. Arg. s dmax GC k
(%) (%) (%) (%) (kN/m³) (kN/m³) (%) (cm/s)
Camada 1 6,0 57 25 12 26,5 12,8 70,7 10-3
Camada 2 15 43,5 14,5 27 26,8 13,6 96,4 10-5
Fundação 0 22 48 30 26,6 - - 10-4
Em relação a estratigrafia da seção estudada, pode-se avaliar através das medidas diretas dos horizontes,
que a camada 1 mais superficial apresentava uma espessura média na ordem de 1,8 metros seguida por uma
segunda camada de 6,2 metros de espessura apoiada sobre sub-leito natural (fundação). A primeira camada é
constituída de uma areia siltosa com argila com coloração vermelho escuro com permeabilidade na ordem de
10-3 cm/s com grau de compactação baixa (material fofo). Na camada adjacente é encontrado uma textura de
uma areia argilosa com pedregulho de coloração amarelo ocre com grau de compactação na ordem de 10 -5
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cm/s. Por fim para a complementação do modelo geotécnico foi considerado o nível de água na base do aterro,
tendo em vista do aterro esta na região do córrego do Sussuapara.
Vilar (2006) apresentou uma metodologia simplificada para estimar a resistência ao
cisalhamento do solo não saturado. Segundo o autor o intercepto coesivo (c) do solo obedece uma
função hiperbólica (Equação 1) cujo parâmetros (a e b) são determinados de dados experimentais da
amostra na umidade residual e na condição saturada
𝑐 = 𝑐 ′ + 𝑎+𝑏∗ (1)
Para a aplicação da metodologia de Vilar (2006) é necessário se obter a envoltória de ruptura do solo
seco ou numa umidade conhecida, desde que esta seja menor que a umidade que se deseja estimar a resistência.
Tal metodologia foi aplicada para amostra retirada da camada 1 devido esta camada ser mais influenciada
pelas variações climàticas.
Foram realizados ensaios de cisalhamento direto do tipo CD em corpos de prova na condição inundada,
seca ao ar (Teor de umidade Higroscópico) e no teor de umidade de campo. Mediante os resultados
apresentados foi possível definir os parâmetros (a e b) e coesão efetiva na condição inundada.
Para a camada 2 foram realizados ensaio de cisalhamento direto para as condições inundadas e na
condição de Umidade ótima do material. Os ensaios foram realizados para os níveis de tensão normal de 50
kPa, 100 kPa e 150 kPa, todos na condição drenada (CD). A Tabela 2 apresenta os resultados dos ensaios
realizados enquanto na Figura 3 é apresentado os resultados experimentais obtidos em laboratório.
(b)
(a)
Figura 4 – Síntese dos Resultados de Ensaio de Cisalhamento Direto para condição seca ao ar (a) e Inundado
(b)
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Para o presente trabalho foi realizado simulações numéricas utilizando-se do pacote Geo-
Studio- 2012. Utilizou-se as sub-rotinas do SEEP para realização da simulação de fluxo e o SLOPE-
W para realização das retroanálises.
Para realização da simulação das chuvas no período em destaque foi tomada as seguintes hipóteses e
premissas:
Adotou-se para a condição inicial o perfil de sucção versus elevação do talude em equilíbrio hidrostático
com a posição inicial do lençol freático antes do período da chuva. Adotou-se o nível inicial de sucção de 60
kPa conforme sugere os trabalhos de Calle (2000).
963,84∗100,152
𝑖= (𝑡+14)0,784
(3)
Todo o volume de água precipitado que não se infiltra no corpo do talude escoa instantaneamente, não
criando dessa maneira lâmina de água ao longo da superfície do Talude. Foi considerado a taxa de evaporação
agindo sobre o talude. Em vista de não ter sido realizado ensaio para determinação da curva de retenção e
curva de condutividade hidráulica do solo, foi considerado a proposta da determinação indireta a partir dos
resultados de ensaio de granulometria e permeabilidade saturada do solo (VAZ et al, 2004) utilizando-se o
modelo de Van Genuchten (1980). Os parâmetros hidráulicos ajustados são apresentados na Tabela 3.
Tabela 3 – Síntese dos Parâmetros Hidráulicos ajustado para modelo de Van Genuchten (1980).
Solo n m s r k
(cm/s)
Camada 1 0,090 1,7 0,5 0,35 0,10 10-3
Camada 2 0,012 2,5 0,63 0,40 0,28 10-5
Foram realizados simulações de infiltração durante 28 dias que antecede o escorregamento. Entretanto é
apresentado na Figura 4 o resultado de 10 etapas de simulação. As análises apresentadas estão espaçadas de
forma temporal a cada 3 dias a partir da data de início (03 de outubro).
2.3.2 Retroanálise
No decorrer deste trabalho existe dois mecanismos de ruptura a ser avaliado através da retroanálise. No
primeiro caso, as simulações serão realizadas de forma a verificar se o mecanismo de escorregamento esta
associado a evolução da frente de umedecimento do solo e consequentemente a diminuição da coesão do solo.
Para avaliação dos fatores de segurança do talude durante o período chuvoso é realizado uma pseudo
acoplamento hidráulico mecânico.
Tal análise é considerada desta maneira devido o fato da simulação ser realizada considerando o critério
de ruptura de Morh-Coulomb mas adotando a variação da resistência do solo não saturado através da equação
[ 1 ] sendo usados os dados de entrada o perfil de sucção obtido para as simulações de fluxo (infiltração)
realizadas no SEEP.
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3 Análise de Resultados
As simulações numéricas para avaliação do perfil de saturação é apresentado na Figura 4 abaixo. Notar
que a posição da frente de saturação avançam com o passar dos dias a medida que a água da chuva infiltra no
solo sobretudo nas profundidades inferiores a 2,5 metros. Entretanto pode-se perceber que a posição do lençol
freático não muda de posição, considerando somente a contribuição da água infiltrada. É possível verificar a
variação da coesão do solo para as diferentes etapas da análise de fluxo realizado.
Figura 4 – Perfil da frente de Saturação obtida nas simulações numéricas realizadas durante o período 03 de
outubro a 12 de novembro a de 2018.
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do córrego em 1 metro devido ao período chuvoso. Também foi considerado o último perfil de sucção do solo
obtido pela análise realizada no SEEP.
A Figura 06 (b) representativa da seção crítica e das condições de contorno apresentadas no parágrafo
anterior indicam que o fator de segurança mínimo seria de 1,057.
(a) (b)
Figura 6 - Seção Critica final para o mecanismo de frente de umedecimento (a) e elevação do córrego e erosão
regressiva (b).
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5 Conclusões
A variação da coesão do solo, avaliada qualitativamente neste trabalho, sugere ser um fator importante
na deflagração da ruptura, tendo em vista que o valor de ângulo de atrito pouco variou nos resultados obtidos
pelo laboratório ou através de correlações em ensaios de campo, ou resultados obtidos na literatura, quando
comparados com os valores obtidos pela retroanálise.
O modelo proposto por Vilar (2006) para determinação da resistência ao cisalhamento do solo não
saturado associado a análise de fluxo para determinação dos perfis de sucção em diferentes condições de
infiltração mostrou-se eficaz no trabalho.
Os resultados da retroanálise indicam que o mecanismo de ruptura do solo está associado a perda da
resistência ao cisalhamento devido o avanço de frente de umedecimento associado com mecanismo de erosão
regressiva na base do talude e elevação do nível de água do córrego de Sussuapara na Via NS-03.
Os resultados demonstram a capacidade do método de retroanálise em avaliar os parâmetros mais
prováveis no instante da ruptura, bem como avaliar os prováveis mecanismos relacionados a esse evento.
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1523
https://doi.org/10.4322/cobramseg.2022.0192 ISBN: 978-65-89463-30-6
RESUMO: Este estudo destina-se à avaliação da utilização de um geocomposto drenante em substituição a areia como
material para o dreno vertical, utilizado como método de controle de percolação em barragens de terra. O geocomposto
foi instalado de forma vertical associado a tapete drenante, construindo-se uma seção em modelo de laboratório.
Adotou-se seção típica com altura total de 0,3 m, talude de montante com inclinação de 1:2,5 e talude de jusante com
inclinação de 1:2,0. O solo argilo-arenoso utilizado para construção do corpo da barragem passou por ensaios de
caracterização, permeabilidade e compactação com energia normal de Proctor e a areia utilizada no dreno horizontal
passou por ensaios de caracterização, índice de vazios máximo e mínimo e permeabilidade. As poropressões e a vazão
drenada do corpo do modelo foram monitoradas. A seção testada em laboratório foi modelada numericamente,
empregando análise de fluxo em elementos finitos e também foi analisada através do traçado de rede de fluxo. Os
resultados de vazão obtidos através do modelo de laboratório e da rede de fluxo apresentam semelhança, sendo que o
resultado numérico apresenta certa diferença em relação a estes. Quanto as poropressões, os resultados experimentais
apresentam semelhança com os resultados obtidos pela modelagem numérica e pelo traçado da rede de fluxo. Assim,
uma vez que o emprego do geossintético em substituição ao dreno de areia convencional atendeu ao objetivo, afirma-
se que o geossintético substitui com segurança o dreno de areia para o modelo de laboratório.
ABSTRACT: This study is intended to measure a draining geocomposite in replacing sand as a material for
vertical drain, used as a method for controlling percolation in earth dams. The geocomposite was installed
vertically in association with the horizontal drain, building a section in a laboratory model. A typical section
was adopted with a total height of 0.3m, 1:2.5 upstream slope and 1:2.0 downstream slope. The clayey soil used on
the construction of the dam body was submitted to characterization, permeability and compaction tests with normal
Proctor energy, and the sand used in the horizontal drain was submitted to characterization, maximum and minimum
void index and permeability tests. Pore pressure and drained flow of the laboratory model body were monitored. The
section tested in the laboratory was numerically modeled, using finite element flow analysis and was also analyzed
using flow net. The flow results obtained through the laboratory model and the flow net are similar, although the
numerical result presents some difference in relation to those. Relative to pore pressures, experimental results show
similarity with those obtained by numerical modeling and the flow net. Thus, once the use of geosynthetic was
satisfactory in replacing the conventional sand drain, it can be said that the geosynthetic safely replaces the sand drain
for the laboratory model.
KEYWORDS: Earth dam, geosynthetic, draining geocomposite, laboratory model, vertical drain, percolation control.
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1 Introdução
A construção de barragens de terra para aproveitamento dos recursos hídricos com diferentes finalidades é
uma atividade muito antiga. As primeiras barragens foram construídas muito antes do advento da mecânica dos solos
e das modernas técnicas de engenharia, sendo que uma das barragens mais antigas de que se tem notícia foi construída
pelos egípcios há aproximadamente 6,8 mil anos, com 12 m de altura, e rompeu por transbordamento (MASSAD,
2010).
Após o aparecimento e evolução da mecânica dos solos, a construção de barragens passou por uma grande
evolução, com critérios de projeto e controle tecnológico elevados, sempre procurando possibilitar a total segurança e
operacionalidade da estrutura (CRUZ, 1996).
Segundo Massad (2010), a maioria dos acidentes registrados com barragens provém de problemas causados
pelo fluxo de água livre pela estrutura, o que evidencia a importância de que medidas de controle de percolação sejam
adotadas.
Segundo Cruz (1996), o método clássico para controle de fluxo livre de água pelo corpo da barragem
adotado pelos projetistas consiste no uso de drenos horizontal e vertical de areia, técnica consagrada e amplamente
utilizada na mecânica dos solos.
Uma alternativa aos convencionais drenos de areia para aplicação como elemento de drenagem interna são
os geossintéticos. Os primeiros geossintéticos com aplicação de filtragem e contenção de erosão em obras hidráulicas
apareceram na Holanda na década de 1950. A partir daí, sua aplicação em obras hidráulicas e geotécnicas tem
aumentado constantemente. A aplicação de geossintéticos como meio filtrante-drenante foi a primeira a ser
amplamente divulgada e aceita no Brasil (AGUIAR, VERTEMATTI, 2015).
2 Barragens de terra
Barragens são estruturas que tem por objetivo a criação de um reservatório de água para um ou mais usos, como
geração de energia, irrigação, regularização de níveis d’água em rios para navegação, abastecimento urbano, entre
outros. Os principais materiais empregados para sua construção são o concreto, o enrocamento e o solo. No Brasil, o
solo é um material largamente utilizado para construção de barragens, devido a topografia dominante de vales abertos,
propícia para esse tipo de barragem e a grande disponibilidade de material de empréstimo (MARANGON, 2004). As
barragens de terra admitem construção sobre quase qualquer tipo de fundação, desde rocha sã até a argila mole, e
podem ser do tipo homogêneas e zoneadas. Uma seção típica de barragem de terra zoneada aparece na figura 1.
A seção típica de uma barragem de terra apresenta sistema de drenagem interna, composto de dreno horizontal
e vertical a fim de interceptar a água que percola no corpo da barragem e através das fundações, evitando que ela aflore
na face de jusante e cause problemas de estabilidade e de piping. O piping consiste da erosão interna do solo provocada
pelo carreamento de partículas pelo fluxo de água. O dreno geralmente é constituído de material granular, obedecendo
os critérios de Terzaghi, e, além de impedir o fluxo de água através do corpo da barragem, ainda auxilia na dissipação
das poropressões construtivas e em caso de rebaixamento rápido (MASSAD, 2010).
Para dimensionamento dos drenos, segundo Massad (2010), primeiro procede-se a determinação da vazão a ser
captada pelos mesmos, para que junto das dimensões geométricas provindas da seção projetada seja aplicada a lei de
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Darcy para determinação da espessura de cada dreno. Após, verifica-se se os materiais dos drenos e os solos que o
envolvem atendem aos critérios de Terzaghi.
Os critérios do filtro de Terzaghi são função da granulometria, considerando o D15, que é o diâmetro dos grãos
de solo relativo a 15% passante, e o D85, que é o diâmetro dos grãos de solo relativo a 85% passante. Para garantir a
proteção contra o piping, a relação D15 (filtro)/D85(solo) deve ser menor do que cinco, e para garantir a passagem da água,
a relação D15 (filtro)/D15(solo) deve ser maior do que cinco.
A areia como elemento filtrante pode ser substituída por materiais geossintéticos. No Brasil, a aplicação de
geossintéticos em filtragem foi amplamente aceita e divulgada em diversos tipos de obras. Isso se deve a sua
regularidade de propriedades inerente ao seu processo de fabricação, que dá a obra uma qualidade superior e
considerável redução de custos em comparação com os filtros de agregado convencionais. Outras vantagens da
utilização do geossintético como filtro são que a espessura do filtro é menor, há continuidade no meio filtrante mesmo
que ocorram recalques na estrutura e facilidade de instalação principalmente no caso de filtros inclinados (AGUIAR,
2015; VERTEMATTI, 2015). No entanto, na construção de barragens os geossintéticos ainda não são largamente
empregados.
3 Metodologia
A caixa de acrílico utilizada para a construção do modelo, apresentada na Figura 2, foi confeccionada com
chapas de acrílico transparente, de 8,0 mm de espessura. Possui dois extravasores, um a montante e um a jusante, para
permitir seu esvaziamento bem como para que se mantenha a constância do nível de água a jusante do modelo. Ela
possui perfurações para a instalação dos piezômetros, em posições definidas no projeto da seção.
Figura 2. Caixa de acrílico utilizada para construção do modelo de laboratório (ANIBELE, 2019).
Determinadas as dimensões da caixa de acrílico utilizada para construção do modelo, foi realizado o projeto
da seção de barragem de terra de forma que fosse contemplado pelas dimensões da caixa, tanto em altura, quando em
comprimento. O projeto da seção foi baseado em indicações da literatura, abrangendo inclinação de taludes relativa
ao solo empregado para construção, e com fundação impermeável.
A seção adotada é do tipo homogênea, e o sistema de drenagem interno é composto pelo filtro horizontal
em areia e vertical em geossintético. A seção projetada para o modelo está na Figura 3.
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3.3 Ensaios realizados no solo utilizado na barragem e na areia empregada no dreno horizontal
O solo para construção do modelo passou por ensaios de caracterização, compactação e permeabilidade. A
areia utilizada para o dreno horizontal do modelo passou por ensaios de caracterização, índices de vazios máximo e
mínimo e permeabilidade. Os resultados dos ensaios realizados no solo e na areia utilizados na construção do modelo
são apresentados na Tabela 1.
100 100
90 90
80 80
70 70
% Passante
60 60
50 50
% Passante
40 40
30 30
20 20
10 10
0 0
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000 0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
Diâmetro da partícula (mm) Diâmetro da partícula (mm)
Figura 4. Curvas granulométricas dos materiais utilizados no modelo (a) Solo argilo-arenoso empregado na
construção do aterro; (b) areia empregada na construção do dreno (ANIBELE, 2019)
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Para a verificação dos critérios de filtro de Terzaghi, os diâmetros relativos a cada porcentagem passante
foram retirados da curva granulométrica, sendo eles D15(filtro) = 0,185, D15(solo) = 0,0001 e D85(solo) = 0,3. O diâmetro
referente a 15% passante para o solo não pode ser extraído diretamente da curva granulométrica, pois a última leitura
do ensaio de sedimentação ainda é superior a 15% passante, então, o ponto foi extrapolado da curva.
Aplicando-se os critérios de Terzaghi apresentadas anteriormente, observa-se que os mesmos foram atendidos,
podendo-se afirmar que não ocorrerá piping e que o dreno possuirá um elevado coeficiente de condutividade
hidráulica, não ocorrendo a colmatação no filtro.
3.5 Rede de fluxo determinada para o modelo, simulação numérica do modelo e cálculo da vazão
Para a determinação da vazão que percola pelo modelo, necessária para o cálculo da espessura do dreno
horizontal e verificação do dreno vertical, foi utilizada a rede de fluxo e a modelagem numérica. A rede de fluxo
traçada manualmente para o modelo é apresentada na Figura 5 e o modelo numérico simulado para a seção é
apresentado na Figura 6.
A vazão determinada através da rede de fluxo é de 1,79.10-8 m³/s e a vazão determinada através da
modelagem numérica é de 1,46.10-9 m³/s, ambas utilizando os parâmetros ensaiados para o solo. Para as duas situações,
rede de fluxo e simulação numérica, foi considerada anisotropia de permeabilidade de 4 vezes maior a permeabilidade
na direção horizontal do que na direção vertical.
O dimensionamento do dreno horizontal se deu com base na lei de Darcy, considerando que o dreno trabalha
em carga. A vazão total que o filtro deverá escoar foi determinada tanto pelo modelo numérico quanto pela rede de
fluxo. Os valores encontrados de vazão unitária foram de 1,79.10-8 m³/s através da rede de fluxo e de 1,46.10-9 m³/s
através do modelo numérico. Como as duas vazões unitárias não são iguais, adotou-se a maior das duas para o
dimensionamento do filtro, a favor da segurança. Logo, a vazão obtida através da rede de fluxo é a que será utilizada
no dimensionamento.
Considerando-se a dimensão horizontal do filtro de 0,7 m, coeficiente de condutividade hidráulica ensaiado
para a areia e vazão unitária já calculada, aplicando a equação de Darcy, temos que a espessura do dreno horizontal é
igual a 0,0138 m.
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O geocomposto drenante utilizado no dreno vertical é composto de três camadas, sendo elas duas camadas
de geotêxtil, uma em cada face, que servem como elemento filtrante do solo, e uma camada intermediária às duas de
geotêxtil, composta de um uma esteira de drenagem tridimensional.
Os valores admissíveis de vazão unitária através do geossintético são fornecidos pela fabricante. Eles já
levam em conta a capacidade de permissividade em conjunto com a capacidade de transmissividade para diferentes
tensões horizontais máximas a que está submetido o geossintético, considerando sua instalação na vertical. Segundo o
catálogo do geocomposto utilizado neste estudo, para tensões horizontais até 10 kPa, 50 kPa e 100 kPa, as vazões
unitárias admissíveis são de 0,00284 m³/s.m, 0,00135 m³/s.m e 0,00041 m³/s.m, respectivamente.
Adotando-se um k0 de 0,5 e utilizando os parâmetros ensaiados para o solo, temos que a maior tensão a que
está submetido o geossintético no modelo é de 2,315 kPa, enquadrando-se na primeira faixa de valores, para tensões
até 10 kPa. Para essa tensão, a drenagem máxima do geocomposto é de 0,00284 m³/s.m.
Como a vazão a ser drenada considerada no cálculo foi a obtida pela rede de fluxo, por motivo já explicitado,
e que é de 1,79.10-8 m³/s, o geocomposto atende a vazão do modelo.
A construção do modelo se deu através de múltiplos alteamentos de 0,20 m, com controle da compactação
por volume e imprimindo energia aos alteamentos através de um soquete metálico. O dreno horizontal foi alteado em
duas camadas de 0,02 m para facilitação da execução, perfazendo uma espessura total de 0,04 m, atendendo com
segurança a espessura calculada. A geometria construída para controlar a compactação dos alteamentos, bem como a
sequência de um alteamento são mostradas nas figuras 7 (a) e (b) e 8.
Figura 7. (a). Geometria desenhada na caixa de acrílico para controle da compactação de cada alteamento;
(b) Primeiro alteamento lançado, compactado e escarificado (ANIBELE, 2019).
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4 Resultados
Os resultados de vazão e poropressões obtidos para o modelo de laboratório, para a rede de fluxo e para o
modelo numérico são apresentados na Tabela 2. A posição dos piezômetros A e B é indicada na figura 9.
Observou-se uma diferença significativa na vazão determinada através da rede de fluxo e através do modelo
numérico com a vazão aferida no modelo. A vazão gerada pelo modelo numérico foi a menor de todas, enquanto a
vazão gerada pela rede de fluxo foi intermediária e a vazão realmente aferida no modelo foi a maior.
O fato do modelo numérico ter gerado a menor vazão de todas tem uma das causas relacionada com a
precisão da solução numérica utilizando elementos finitos. O modelo numérico representa a seção idealizada, com os
materiais representados e suas propriedades atribuídas de forma que a solução representa o que ocorreria se a execução
se desse totalmente da forma como esperado em projeto. Seria o caso de uma execução perfeita, onde a compactação
projetada fosse alcançada de forma exata em todas as regiões e em todos os alteamentos da barragem, onde o
coeficiente de condutividade hidráulica não variasse de forma alguma, seja nas regiões de borda ou em regiões onde
a heterogeneidade própria da maioria dos materiais geotécnicos o torna diferente dentro da mesma seção, construída
com o mesmo material e compactada da mesma forma, e também considera que a anisotropia de permeabilidade não
se altera em nenhum local da seção.
A vazão gerada pela rede de fluxo foi uma vazão intermediária a do modelo numérico e a do modelo de
laboratório. Como o desenho da rede de fluxo é um exercício de execução dificultada, a vazão gerada através dela
pode variar conforme se desenha de uma ou outra forma a rede. A rede pode assumir infinitas configurações, conforme
quem a desenha, e isso afeta diretamente o cálculo de vazão. No caso da rede de fluxo, as hipóteses de que o coeficiente
de condutividade hidráulica é igual em toda seção, sem que ocorra nenhuma variação, e de que a anisotropia de
permeabilidade também é constante em toda a seção, também afetam o resultado.
Por fim, observa-se a vazão do modelo de laboratório, que é a maior de todas. Essa vazão é a representação
do projeto construído, onde a compactação pode sofrer pequenas variações ao longo dos alteamentos, onde o
coeficiente de condutividade hidráulica pode variar em toda em seção, dependendo do material e da forma como foi
compactado, onde a anisotropia de permeabilidade pode variar em diferentes regiões da seção, e onde o efeito de borda,
na interface entre solo e acrílico, ocorre.
As poropressões nos pontos de instalação dos piezômetros A e B, calculadas através da rede de fluxo e do
modelo numérico, e as aferidas no modelo de laboratório, forneceram valores próximos. As poropressões calculadas
pela rede de fluxo e obtidas pelo modelo numérico ficaram muito próximas, e as poropressões aferidas no modelo
ficaram com valor um pouco mais elevado do que as calculadas.
As diferenças de resultado de vazão podem ser atribuídas às particularidades metodológicas de cada análise.
Contudo, a similaridade entre os valores de poro-pressão obtidos nas posições dos piezômetros indica que as três
análises são comparáveis e apresentam resultados similares para a avaliação da eficiência do uso do filtro de
geocomposto.
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5 Conclusão
O objetivo geral deste trabalho, que foi a análise de comportamento da utilização do geossintético como
material do dreno vertical em substituição ao tradicional material utilizado nos drenos, que é a areia, foi atingido. Isso
pode ser afirmado porque, mesmo com certa diferença entre resultados obtidos nas diferentes análises, que levaram a
uma vazão de projeto inferior a que ocorreu no modelo, o geocomposto drenante cumpriu sua função de drenagem
interna. O uso da camada drenante com geossintético possibilitou a retirada de água do interior do corpo da barragem
do modelo de laboratório de forma eficiente, continua, sem colmatação e sem piping, fazendo com que a freática não
se estabelecesse de forma descontrolada aflorando no talude de jusante. Sua função de controle de percolação livre
pelo corpo da barragem foi atingida.
Assim, para o modelo de laboratório, é possível substituir com eficiência o dreno vertical de areia pelo
geocomposto drenante, e se for projetado de forma conveniente, essa substituição também pode ser estendida para
barragens em escala real.
Maiores detalhes sobre este trabalho podem ser encontrados em Anibele (2019).
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a empresa Maccaferri pelo fornecimento do geocomposto drenante utilizado neste
estudo e ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Ponta Grossa pelo empenho na obtenção
e fornecimento da caixa de acrílico utilizada na construção do modelo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Anibele, R. (2019) Análise em modelo de laboratório da substituição de filtro de areia por geocomposto em barragens
de terra. Trabalho de conclusão de curso, Bacharelado em Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Civil,
UEPG.
Aguiar, P. R.; Vertematti, J.C. (2015) Aplicações em filtração. In: Vertematti, J.C. (Orgs.) Manual brasileiro de
geossintéticos. 2ª. ed. São Paulo: Blucher.
Cruz, P. T. (1996) 100 barragens brasileiras: casos históricos, materiais de construção e projeto. São Paulo: Oficina de
Textos.
Lambe, T. W.; Whitman, R. V. (1969) Soil mechanics. SI version. John Wiley & Sons.
Marangon, M. (2004) Tópicos em Geotecnia e Obras de Terra. Material didático ou institucional. Universidade Federal
De Juiz De Fora, Faculdade de Engenharia, Departamento de Transportes e Geotecnia. Juiz de Fora.
Massad, F. (2010) Obras de Terra. 2ª. ed. São Paulo: Editora Oficina de Textos. São Paulo.
Pinto, C.S. (2006) Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 aulas. 3ª. ed. São Paulo: Editora Oficina de Textos.
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