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Anais do Simpósio de Prática de

Engenharia Geotécnica na Região


Centro Oeste (GEOCENTRO 2017)

Dias 09 a 11 de Novembro de 2017


Mercure Goiânia Hotel – Goiânia – GO

Autores: André Luís Brasil Cavalcante


Renato Resende Angelim
Antônio Luciano Fonseca
© 2017. ABMS – Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica

Direitos reservados para(s) o(s) autor(es), protegidos pela Lei 9610/98.

A originalidade dos artigos e as opiniões emitidas são de inteira responsabilidade de seus


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autorização do(s) autor(es).”

C376a
ABMS.
Anais do Simpósio de Prática de Enegnharia
Geotécnica na Região Centro-Oeste (GEOCENTRO 2017) /
André Luís Brasil Cavalcante, Renato Resende Angelim,
Antônio Luciano Fonceca, organizadores – Goiânia:
Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica, 2017.
xvii, 854 p.; 21,0 x 29,7 cm.

ISBN 978-85-67950-05-1

1. Engenharia Geotécnica. 2. Solos Tropicais. 3. Geotecnia


Ambiental. I. Cavalcante, André Luís Brasil II. Angelim,
Renato Resende, III. Fonseca, Antônio Luciano, IV. ABMS.

CDU 624.13 : 628

Diagramação e Editoração

Nicholas Veres Barros

Arte da Capa

Dhara Vieira Alcântara

ii 
 
COMISSÃO ORGANIZADORA

Presidente

Renato Resende Angelim (UFG) - Presidente

Comissão Organizadora

André Luís Brasil Cavalcante (NRCO-ABMS/UnB)


Antônio Luciano Fonseca (NRCO-ABMS/Sete Engenharia)
Carlos Petrônio Leite da Silva (NRCO-ABMS/IFB)
Cristiano Zandoná dos Santos (NRCO-ABMS/Lotufo Engenharia)
Eder Carlos Guedes dos Santos (UFG)
Márcia Maria dos Anjos Mascarenha (UFG)
Maurício Martines Sales (ABMS/UFG)

Coordenador da Comissão Científica

André Luís Brasil Cavalcante (NRCO-ABMS/UnB)

Comissão Técnica

Andrelisa Santos De Jesus (UFG)


Arlam Carneiro Silva Jr. (IFG)
Carlos Alberto Lauro Vargas (UFG)

Carlos Medeiros (EMBRE)


Carlos Petrônio Leite da Silva (IFB)
Cláudia Márcia Coutinho Gurjão (UnB)
Cristiano Zandoná dos Santos (Lotufo Engenharia)
Dhara Vieira Alcântara (UnB)
Douglas Magalhães Albuquerque Bittencourt (PUC-GO)
Eder Carlos Guedes dos Santos (UFG)

iii 
 
Fabiani Maria Dalla Rosa Barbosa (UFMT/UnB)
Gilson de Faria Neves Gitirana Júnior (UFG)
Glacielle Medeiros (ITPAC)
Gregório Luís Silva Araújo (UnB)
Hernán Eduardo Martínez Carvajal (UnB)
Ilço Ribeiro Junior (IFMT)
João Guilherme Rassi (ITPAC)
João Paulo Souza e Silva (UFG)
José Camapum de Carvalho (UnB)
Juan Felix Rodriguez Rebolledo (UnB)
Katherin Rocio Cano Rojas (UnB)
Lílian Ribeiro de Rezende (UFG)
Luan Carlos de Sena Monteiro Ozelim (UnB)
Lucas Parreira de Faria Borges (UnB)
Luis Anselmo da Silva (IFMT)
Luiz Carlos Figueiredo (IFMT)
Manoel Porfírio Cordão Neto (UnB)
Manuelle Santos Góis (UnB)
Márcia Maria dos Anjos Mascarenha (UFG)
Marisaides Goutte Lima (Ginger CEBTP)
Marta Pereira da Luz (PUC-GO/FURNAS)
Mateus Bezerra Alves da Costa (UnB)
Maurício Martines Sales (UFG)
Mylane Viana Hortegal (DNIT)
Newton Moreira de Souza (UnB)
Nicholas Veres Barros (UnB)
Patrícia de Araújo Romão (UFG)
Paulo Augusto Diniz Silva (IFG)
Renata Conciani Nunes (UCB)

iv 
 
Renato Cabral Guimarães (UEG/FURNAS)
Ricardo Mendonça de Moraes (UnB)
Silvana Fava Marchezini (UnB)
Suzana Aparecida da Silva (IFMT)


 
APRESENTAÇÃO

O Simpósio de Prática de Engenharia Geotécnica na Região Centro-Oeste


(GEOCENTRO 2017) tem por objetivo promover o intercâmbio de conhecimentos
técnico-científicos e na medida do possível a interação com a sociedade. Embora aberto
à comunidade técnico-científica como um todo, o público alvo principal é a comunidade
geotécnica, sendo, portanto, um evento focado em disciplina específica. O evento volta-
se para a discussão de aspectos teóricos e práticos ligados à engenharia geotécnica
buscando avançar na construção do conhecimento e na prática da engenharia.
Nesses anais estão reunidos os trabalhos apresentados e discutidos no evento
sobre diferentes temas, indo desde artigos voltados para questões ambientais até
trabalhos focados em casos de obras geotécnicas e controle tecnológico.
Incumbido da honrosa oportunidade de escrever essa apresentação agradeço em
nome de todos os participantes dos eventos, ao Núcleo Centro-Oeste da Associação
Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, à Comissão Organizadora,
aos Consultores que atuaram na revisão dos trabalhos, aos Autores dos artigos, aos
Palestrantes, aos Integrantes das mesas, e a todos que direta ou indiretamente
contribuíram para o sucesso do Simpósio. Felicitações a todos.

André Luís Brasil Cavalcante

vi 
 
PREFÁCIO

Esta é a quarta edição do Simpósio de Práticas Geotécnicas do Centro Oeste. As


edições anteriores mostraram um sucesso de público e de técnica que motivaram a
continuação do evento.
Este evento reúne mais de uma centena de artigos técnicos escritos por
pesquisadores e profissionais. O evento traz a experiência e a pesquisa de diferentes
profissionais. A disponibilidade de tempo e espaço para a realização de contatos
comerciais agrega as comunidades científica e do mundo do trabalho com a ideia de
propiciar um ambiente favorável a interação que conduza a ampliação da pesquisa
aplicada e em parceria destes dois grupos tão importantes.
A Comissão Organizadora deixa, antecipadamente, registrado os sinceros
agradecimentos a todos que ajudaram e contribuíram para tornar possível esse evento,
principalmente seus patrocinadores e apoiadores. Agradecemos, também, a todos os
relatores, debatedores e participantes em geral, sem o que ficaria impossível realizar este
evento.
Desejamos sucesso a todos, assim como aconteceu nos eventos anteriores.

Goiânia, Novembro de 2017.

A Comissão Organizadora

vii 
 
SUMÁRIO

DESEMPENHO E SEGURANÇA DE OBRAS GEOTÉCNICAS 1


Análise do Desempenho Geotécnico da Barragem de Enrocamento com face de Concreto de Itá por meio da

Aplicação de Método de Elementos Finitos (Kurt André Pereira Amann & Caique Roberto de Almeida) ..... 2
Análises da Ruptura em Trecho da BR-060 no Município de Alexânia, Goiás, e Condições Após Seis Anos da
Recuperação (Rideci Farias, Tiago Matias Lino, Haroldo Paranhos, Itamar de Souza Bezerra, Ranieri Araújo

Farias Dias, Alexsandra Maiberg Hausser) ..................................................................................... 8


Avaliação em Laboratório da Deformabilidade de uma Mistura Solo-RCD para Fins de Pavimentação

(Eduardo Montoya Botero, Patricia Helena dos Santos Martins, Vitor José da Silva Souza) ........................... 15
Estabilização Dos Solos Com Cal: Um Estudo de Caso Dirigido a um Solo Areno-argiloso na Formação

Aquidauana (Marcelo Macedo Costa, Jaime Ferreira da Silva) ............................................................ 21


Estudo de caracterização do solo da Estrada Coaceral Sul, município de Formosa do Rio Preto-Bahia (Pedro

Henrique Rocha Santana, Vinícius de Oliveira Kühn) ............................................................... 27


Influência de Vibrações na Resistência do Concreto Durante Execução de Serviços de Fundação (Gláucio

Ribeiro Cerqueira) ................................................................................................................. 33


Suscetibilidade a Erosão de Materiais Inconsolidados em Alexânia-GO e Porto Nacional-TO (Glacielle
Fernandes Medeiros, Palloma Borges Soares, Renata de Morais Farias, Ana Sofia Oliveira Japiassu, Andressa Fiuza
40
de Souza, Gustavo Henrique Vieira Ferreira, Wesney Ferreira da Silva, João Guilherme Rassi Almeida) ..............
Uso do Método First Order Second Moment (FOSM) na Determinação da Estabilidade de Muros de Arrimo

(Marianne Bayerl Neves, Eduardo Montoya Botero) ............................................................... 46


ENSAIOS DE LABORATÓRIO E CAMPO E MODELAGEM FÍSICA .......... 52
Análise da Aplicação de Fundações Rasas a partir de Resultados de Provas de Carga em Solo de Cascavel-

PR (Michele Kaiser Vieira, Josiane Radoll, Maycon André de Almeida) ................................................. 53


Análise da Influência das Densidades dos Grãos no Ensaio de Sedimentação (Andrea Cardona Pérez, Rocio del
Carmen Pérez Collantes, Sabrina Marques Rodrigues, José Camapum de Carvalho, Renato Cabral Guimarães,

Renato Batista de Oliveira) ....................................................................................................... 59


Análise da Utilização de Células Triaxiais para a Realização de Ensaios de Permeabilidade (Marcos Túlio

Fernandes, Glaucimar Lima Dutra, Maxwell de Freitas da Silva) ........................................................... 65


Análise do comportamento geotécnico de estacas tipo mini-rap, sob a ótica de modelos reduzidos (não
centrifugado) 1g (Yuri Philippe Pinto da Costa, Tales Moreira Moreira de Oliveira, Ramon Albis Rodrigues

Pinto, Willian de Oliveira Maia) ................................................................................................. 71


Análise do Comportamento Mecânico de um Solo Laterítico Reforçado com Fibras Naturais - Penas de

Frango (R.J. Llanque Ayala, J. Camapum de Carvalho, Ana Laura Martínez Hernández) ............................. 77
Análise do Desempenho da Utilização do Ultrapicnômetro na Determinação da Massa Específica dos Grãos
de Solo (Alexia Regine Costa Silva, Gabriel de Sousa Meira, Renato Cabral Guimarães, Emídio Neto de Souza

Lira, Eduardo Pereira Rodrigues Chaves) ...................................................................................... 83


 

viii 
 
Análise do Densímetro Não-Nuclear SDG 200 Aplicado a Qualificação de Materiais em Pavimentação

Rodoviária (Anna Marinella Carizzio Monteiro, Marta Pereira da Luz) .................................................. 89


Análise Mecânica da Utilização de Escória de Ferro Silício-Manganês em Pavimentação Asfáltica (Ana Mara

Araujo Torres) ............................................................................................................... 95


Análise Numérica de Radier Estaqueado em Solo Arenoso do Nordeste do Brasil (Jeandson Willck Nogueira

de Macedo, Osvaldo Freitas Neto, Wilson Cartaxo Soares, Roberto Quental Coutinho, Renato Pinto da Cunha) ... 101
Caracterização Geoambiental da Área do Aterro Sanitário de Boa Vista, Roraima (Adriano Frutuoso da

Silva, Rafael Sullyvan Braz da Silva, Silvestre Lopes da Nóbrega, Larissa de Castro Ribeiro) ........................ 107
Caracterização Geotécnica de um Solo Argiloso de Campo Grande/MS (Fernanda Nandes Ribeiro, Kamila
Farias Corrêa de Carvalho, Rafael Ribeiro Polvere, Fabricio Jeronimo Gonzalez Dias, José Otavio Serrão

Eleutério) ............................................................................................................................ 112


Caracterização Geotécnica do Solo de Planaltina-GO Para Obras Civis (Wemerson Rodrigues Caixêta,

Isabella Magalhães Valadares, André Augusto Nóbrega Dantas) ........................................................... 117


Comparação entre Ensaios de Laboratório e de Campo: Vane Test e Cisalhamento Direto (Giancarlo

Andrade Machado, Leilanny Costa Cardoso, Matheus Silva de Oliveira, Ivonne Alejandra Gutierres) ............... 123
Comportamento de Dois Cascalhos Lateríticos Após Compactações Sucessivas (Yokozawa, S. Y., Fernandes,

P. C., Camapum de Carvalho, J., Oliveira, R. B.) ............................................................................. 126


Construção de Permeâmetro de Carga Constante com Materiais Alternativos de Baixo Custo (Luis Felipe
dos Santos Ribeiro, Alexandre Borges Fernandes Camozzi, André Augusto Nóbrega Dantas, Leonardo Antônio
Spindola dos Santos, Lucas Silveira Ferreira Silva, Milton Pereira das Neves Filho, Pedro Marcelino Junior, Rafael

Henrique de Matos Silva) ................................................................................................. 134


Determinação da Eficiência do Ensaio SPT através de Prova de Carga Estática sobre Amostrador Padrão

(Lucas Dallacosta, Maycon André de Almeida) ............................................................................... 139


Determinação dos Parâmetros de Adensamento de Solo Superficial e Lateritico de Cascavel/PR (Marcos Toni

Junior, Maycon André de Almeida) ....................................................................................... 145


Ensaios sísmicos na investigação geotécnica de um perfil de solo de Bauru-SP (Breno Padovezi Rocha, Alfredo

Lopes Saab, Heraldo Luiz Giacheti) ................................................................................... 150


Estimativa da Condutividade Hidráulica Usando Ensaios em Furo de Sondagem (Tiago João Pizoli, Antônio

Belincanta, Juliana Azoia Lukiantchuki, Jeselay Hemetério Cordeiro dos Reis) .......................................... 156
Estudo Comparativo Entre Resultados do SPT e PANDA para Solo Tropical do Município de Aparecida de

Goiânia-GO (Rafael Louza Goulart, Marta Pereira da Luz, Ricardo Moreira Vilhena) ................................. 162
Infiltração, Colapsividade e Absorção dos Estratos Superficiais da Área de Implantação do Setor
Habitacional Jardins Mangueiral no Distrito Federal (Rideci Farias, Haroldo Paranhos, Yngrid Pereira

Marques, Luana Rangel Marques, Maicon Paiva da Silva) .................................................................. 168


Influência da Metodologia Utilizada na Preparação de Amostras para Análise de Difração de Raios X de um
Perfíl de Solo de Brasília (Sabrina Marques Rodrigues, Renato Cabral Guimarães, José Camapum de Carvalho,
Renato Batista de Oliveira, Heloisa Helena A. B. da Silva) 175
Influência da Pureza da Água na Estabilidade Estrutural dos Solos Frente à Compactação (Sacha Cristina do

Nascimento Aquino, Jéssica Azevedo Coelho, José Camapum de Carvalho) ......................................... 181

ix 
 
Influência da Resistência à Tração de Solo Não Saturado em Análise de Estabilidade de Talude (Maria
Fernanda Wamser Barra, Nivalda Aparecida Condé de Oliveira, Juliana Santos Fabre, Tatiana Tavares Rodriguez)

........................................................................................................................... 187
Modelo Didático para Simulação do Fenômeno de Areia Movediça (Sebastião Geraldo Guimarães Junior,
Isabella Magalhães Valadares, Alexandre Borges Fernandes Camozzi, Milton Pereira das Neves Filho, Marcus

Vinicius Araujo da Silva Mendes) ............................................................................................... 192


Modelo Físico-Matemático de Dissipação de Forças no Solo (Gustavo Luz Carvalho, Hemilly Cristine Lobo

Fernandes, Jordan Lopes Albino, Tales Moreira de Oliveira, Leandro Neves Duarte) ................................... 197
Monitoramento da Água Subterrânea para Ensaio de Prova de Carga em Solo Basáltico (Daniel Russi,

Sandra Garcia Gabas, Giancarlo Lastoria) ...................................................................................... 203


Proposta de Concepção de Colchão Drenante com Material Alternativo – Escória de Aciaria (Jullianny

Isabelle da Silva Pereira, André Luís Brasil Cavalcante) ..................................................................... 209


Utilização de Solo Aditivado com Fosfogesso para Melhoramento de Sub-Base Rodoviária (Pedro César de

Souza Macedo, Jairo Furtado Nogueira) ........................................................................................ 216


FUNDAÇÕES, CONTENÇÃO E ESTABILIDADE DE TALUDES 222
A Importância do Controle da Qualidade de Estacas (Pedro Cavalheiro Ribeiro da Silva, Thiago Francisco dos

Santos, Lucas Savio Fagundes) .............................................................................................. 223


A Injeção de Maciços para Obtenção de Solo Grampeado de Deformações Irrelevantes (Cairbar Azzi Pitta,

Max Valério Rodrigues Barbosa, Max Gabriel Timo Barbosa, André Pacheco de Assis) ............................... 231
Ações Geoambientais de Recuperação em Encostas e Acessos à Linha de Transmissão em 500 KV no Trecho
Localizado nos Municípios de Colinas do Sul e Niquelândia, Estado de Goiás (Rideci Farias, Haroldo
Paranhos, Elson Oliveira de Almeida, Maicon Vitor Oliveira, Erani Bastos, Marcelo de Oliveira, José Augusto de

A. Lopes, Mariana Rezende, Udo Gebrath) .................................................................................... 237


Estudo de Caso: Análise Comparativa entre Métodos Semi-Empíricos de Capacidade de Carga Axial e
Prova de Carga de Estaca Hélice Contínua em uma Obra de Cuiabá-MT (Marília Leite Agustinho, Ilço

Ribeiro Júnior) ...................................................................................................................... 244


Análise Comparativa entre Soluções de Contenção para Edifícios de Três Subsolos no Município de

Cascavel/PR (Robson Keretch, Camila Oltramari, Maycon André de Almeida) ......................................... 257
Análise da Estabilidade de Gabião - Sistemas de Contenções (João Guilherme Rassi Almeida, José Filho
Ferreira Costa, Leandro de Oliveira Chaves, Israel Silveira Barbosa, Samuel Vinicius Soares da Silva, Glacielle

Fernande Medeiros) ................................................................................................................ 263


Análise da Estabilidade de Talude Utilizando Sísmica de Refração (Luisa Barbosa Pereira, Bruna Leal Melo de

Oliveira, Pedro Cruz de Moura Lima, David Silva de Queiroz) ......................................................... 268
Análise das Soluções de Fundações de Edifícios para Diferentes Perfis Geológico-Geoctécnicos no Município
de Fortaleza (Thiago Moura da Costa Ayres, Carla Beatriz Costa de Araujo, Lara de Oliveira Costa, Laís

Verissimo do Nascimento, Thiago Pinheiro Nogueira) ................................................................. 274


Análise de Deslocamentos Verticais de Fundações em Radier Estaqueado em Obras de Silos Graneleiros

(Humberto Laranjeira de Souza Filho, Marcone de Oliveira Junior) ....................................................... 280


 
Análise de Grupo de Estacas Carregadas Lateralmente (Ana Flávia Ferreira Marques, Camila Hikari Harada,

Douglas Magalhães Albuquerque Bittencourt) .................................................................................  286


Análise do desempenho de fundações para a construção de obras de arte especial em área urbana de

Brasília-DF (Neusa Maria Bezerra Mota, Gabriela de Athayde Duboc Bahia, Gustavo Soares Araújo) ..............  292
Análise e Proposta de Recuperação de um Processo Erosivo de Grandes Dimensões, Localizado no
Município de Planaltina/GO (Rideci Farias, Rhael Maycon Noronha Ribeiro, Haroldo Paranhos, Itamar de Souza

Bezerra) ...................................................................................................................... 299


Análise Numérica de Estacas Sob Carregamentos Combinados (Paulo Cesar Alves de Amorim, Maurício

Martins Sales, Carlos Alberto Lauro Vargas) ..................................................................................  306


Análise Paramétrica de Projeto de Contenção em Cortina de Estacas com Grampos (Maria Beatriz Toniol,

Douglas Magalhães Albuquerque Bittencourt) ................................................................................  313


Análise Probabilística e Determinística da Estabilidade de Taludes em Barragem de Terra do Estado do
Ceará (Fernando Feitosa Monteiro, Andressa de Araujo Carneiro, Yago Machado Pereira de Matos, Giovanna

Monique Alelvan) .................................................................................................................. 319


Análises, Estabilização de Contenção em Gabiões às Margens da BR-060 e Condições Após Cinco Anos da
Instalação, no Município de Guapó/GO (Rideci Farias, Haroldo Paranhos, Itamar de Souza Bezerra, Silvio

Lourenço da Silva Filho, Ranieri Araújo Farias Dias) ........................................................................  325


Avaliação da Estabilidade dos Taludes das Margens do Riacho Camaragibe em Pernambuco (Yago Ryan
Pinheiro dos Santos, Jayne Araújo Silva, Alison de Souza Norberto, Artur Paiva Coutinho, Maria Isabela Marques

da Cunha Vieira Bello) ................................................................................................. 332


Avaliação da Influência do NSPT na Previsão da Capacidade de Carga de Estacas Raiz a partir de Análise
Estatística (Fernando Feitosa Monteiro, Alfran Sampaio Moura, Marcos Fábio Porto de Aguiar, Renato Pinto da

Cunha, Yago Machado Pereira de Matos) ...................................................................................... 340


Avaliação das Medidas Mitigadoras das Movimentações de Massa na Rodovia dos Tamoios (km 68 ao
km 81) – Caraguatatuba – SP (Palloma Ribeiro Cuba dos Santos, Thiago Stefano Passos Sagres, Vinicius Hiuri

Araujo) ............................................................................................................................... 346


Calibração dos Coeficientes Empíricos dos Métodos Semi-empíricos de Estimativa de Capacidade de Carga

(Henrique Alexandre Rondon, Luiz Carlos de Figueiredo, Ilço Ribeiro Junior) .................................. 352
Comparação Geotécnica Entre Três Tipos de Fundações Profundas: Estudo de Caso – Ponte Ferroviária

(Malena Araújo Campos, Priscila Christiane dos Santos Oliveira, Julián Asdrubal Buriticá García) .................. 359
Comparativo da Capacidade Suporte de Estacas Escavadas sob Ação de Carregamento Axial (Flávio Luiz de
Carvalho, Caio Araujo Marinho, Tales Moreira de Oliveira, Higor Pena Coelho, Túlio Pena da Silva, Douglas

Henrique Santos Sousa) ........................................................................................................... 365


Desenvolvimento de Equipamento de Monitoramento para o Controle Executivo de Estacas Tipo Raiz

(Alfran Sampaio Moura, José Melchior Filho, Fernando Feitosa Monteiro) ............................................... 371
Desenvolvimento de um Software Acadêmico para Auxiliar na Tomada de Decisão Quanto aos Tipos de

Fundações (Adriano Douglas Girardello, Maycon André de Almeida) .................................................... 377

xi 
 
Desenvolvimento de uma Ferramenta Computacional para Estimativa da Capacidade de Carga em Estacas
Hélice Contínua (Alan Henrique Carneiro Brito, Mauro Alexandre Paula de Sousa, Railson Rodrigues da Silva

Nascimento, Vanessa Silva Carvalho, Taís da Silva Costa, Andreia Torres Camargos) .................................  382
Detection of Seasonal Variations in Rigidity of a Clayey Landslide in Brasilia by Ambient Noise
Interferometry (Preliminary Results) (Yawar Hussain, Gabriel Coutinho Farias, Alexandre Moreno Ferreira,

Hernan Martinez-Carvajal) ....................................................................................................... 388


Determinação do Coeficiente de Reação Vertical (Kv) e Horizontal (Kh) de um Solo Tropical em Cuiabá

(Luiz Carlos de Figueiredo, Ilço Ribeiro Junior, Reyder Rodrigues Pires, Silvana Fava Marchezini) .................  393
Estabilidade de Taludes de Escavação em Mina de Grafita (Thaís Guimarães dos Santos, Ériclis Pimenta

Freire) ................................................................................................................................  399


Estabilidade de Talude: Estudo de caso em Juiz de Fora – MG (Achilles Cappellesso Júnior, Ana Carla de
Freitas Vasconcelos, Gabriel Alves Teixeira, Nelson Lucas de Queiroz Souza, Maria Luísa Gomes Gonçalves,

Pedro Henrique Soares da Cunha, Ygor dos Santos Carneiro) ............................................................... 406
Um Estudo de Caso sobre a Aferição da Parcela de Resistência de Atrito Lateral em Fundações Profundas

(Caique Roberto de Almeida) .................................................................................................... 411


Estudo de Prova de Carga Dinâmica em Estacas Hélice Contínua Através de Análise Tipo Capwap em Solo

da Formação Barreiras (Jarleson Andrião, Fernanda Simões Ribeiro Curcio, Priscila Cristina Henke) ............. 417
Fluxo de Água em Meios Porosos Induzido por Acréscimo de Tensões (Nicholas Veres Barros, André Luís
Brasil Cavalcante) 423
Implementação em Planilha Eletrônica de Métodos de Equilíbrio Limite para Análise de Estabilidade de

Taludes (Higor Biondo de Assis, Admir José Giacon Junior, Caio Gorla Nogueira) .................................... 431
Novas Abordagens na Avaliação da Segurança de Taludes de Terra (Lara Batista Ferreira Pereira, Arthur

Duarte Dias, Lais Magalhães Wind, Arlam Carneiro Silva Júnior) ......................................................... 437
Previsão de Esforços e Deslocamento Horizontal em Cortina de Estacas Secantes Estroncadas em Solo
Arenoso do Estado de Goiás (FLEURY, Mateus Porto, COSTA, Rodolpho Marcell Martins Bueno, DIAS, Daniel

Carmo, VARGAS, Carlos Alberto Lauro) ............................................................................. 443


Projeto de Fundação Tubulão Específico para Cada Estrutura de Ancoragem de uma Linha de Transmissão

(Rafael Felipe de Souza Tavares, Danilo Campos Lopes, Fabrício Tiago Borges) ...................... 451
Projetos de Fundações Submetidas a Carregamentos Transversais com Estacas Inclinadas (Carlos Eduardo

Costa de Oliveira, Lucas Teodoro Marques Lopes) ...........................................................................  456


Proposta de um Novo Modelo de Contenção Denominado Sanduíche de Escória e GYS (Ricardo Cabette

Ramos, Lilian Agda de Oliveira, Tales Moreira de Oliveira) ................................................................  462


Recuperação de Talude à Margem da MG 425 em Vargem Alegre – MG. Estudo de Caso (Flávio de Freitas

Gonçalves, Fábio José Generoso, Edna Cristina Leal) ........................................................................  469


Reforço de Fundações do Teatro Goiânia (Sandoval Junqueira) .........................................................  475
Retroanálise do Comportamento de Fundação do Tipo Sapata Estaqueada, Utilizando Análise Não Linear
por Métodos Numéricos (Guilherme Antônio Almeida Fontes, Douglas Henrique Santos Sousa, Leandro Neves

Duarte) ............................................................................................................................... 479

xii 
 
Solução Técnica para um Escorregamento de Taludes – Estudo de Caso (Kabeb Ferraz Louro, Luiz Carlos de

Figueiredo, Ilço Ribeiro Junior) .................................................................................................. 484


Variação dos Fatores de Segurança para Taludes nas Condições Seca e Saturada (Thiago Moura da Costa
Ayres, Carla Beatriz Costa de Araújo, Caiubi de Sousa Fernandes, Silvrano Adonias Dantas Neto, Dennis Teixeira

Rodrigues) ................................................................................................................ 491


GEOSSINTÉTICOS E MELHORAMENTO DE SOLOS 497
Análise de Estabilidade de um Aterro sobre Solo Mole com Utilização de Geogrelhas, Geodrenos e Bermas

(Narayana Saniele Massocco) .................................................................................................... 498


Aplicabilidade de Geossintéticos em Obras de Engenharia (Gabriela Callegario Santolin, Juliângelo Kayo Sangi

de Oliveira, Marcus Gabriel Souza Delfino) ............................................................................ 504


Aspectos Gerais sobre Ensaios de Puncionamento em Geomembrana (Andressa de Araujo Carneiro,

Chan Kou Wha) .................................................................................................................... 510


Aumento da Resistência do Solo com Adição de Fibra Natural (Leilanny Costa Cardoso, Renata Conciani

Nunes) ............................................................................................................................... 514


Avaliação da Capacidade Drenante de um Geocomposto Aplicado no Telhado Verde do Prédio da
Procuradoria Geral da República em Brasília, Após 14 Anos de Sua Aplicação (Haroldo Paranhos,

Rideci Farias, Joyce Maria Lucas Silva, Leonardo Ramalho Sales) ........................................................ 520
Avaliação da Influência do Teor de Fibras de Polietileno Tereftalato (PET) nos Parâmetros Ótimos de um
Solo Arenoso (Gabriela Bolini dos Santos, Willian de Brito Giacometti, Naiara Pereira Pradela, Maitê Rocha

Silveira, Paulo César Lodi, Roger Augusto Rodrigues, Caio Gorla Nogueira) ............................................ 526
Avaliação da Resistência Uniaxial de Solo Arenoso pela Inclusão de Fibras de Polietileno Tereftalato (PET)
(Naiara Pereira Pradela, Paulo César Lodi, Maitê Rocha Silveira, Laís Maciel, Roger Augusto Rodrigues,

Caio Gorla Nogueira) .............................................................................................................. 531


Avaliação da Resistência Uniaxial do Poliestireno Expandido em Diferentes Densidades (Mariana Basolli
Borsatto, Paulo César Lodi, Beatriz Garcia, Beatriz Aliberti da Conceição, Bruna Rafaela Malaghini,

José Orlando Avesani Neto) ...................................................................................................... 535


Avaliação Experimental da Resistência ao Cisalhamento e ao Arrancamento entre Geossintéticos e Tiras
Metálicas Lisas em Areias (Rodrigo César Pierozan, Nelson Padrón Sánchez, Gregório Luís Silva Araújo,

Ennio Marques Palmeira) ......................................................................................................... 539


Caracterização Geomecânica em Misturas de Solo Laterítico-Cal Aérea para Utilização em Base de Vias no

Distrito Federal (Thamara Silva Barbosa, Lucas Gabriel Lopes da Silva, Rideci de Jesus da Costa Farias) ......... 545
Estudo da Aplicação de Técnicas de Melhoramento de Solo Mole com Foco no Uso do Coproduto KR (Luísa
Braz da Silva Ramos, Caroline Forestti Oliveira, Douglas de Oliveira Joaquim, Vinicius Rocha Poltronieri, Patrício

José Moreira Pires) ....................................................................................................... 550


Influência da Adição de Cal Hidratada na Resistência de um Solo Sedimentar (Jair Arrieta Baldovino,

Eclesielter Batista Moreira, João Luiz Rissardi, Ronaldo Luis dos Santos Izzo, Eduardo Vieira de Goes Rocha) ... 556
Influência do Efeito da Compactação do Solo e da Rigidez do Reforço no Dimensionamento de Estrutura de

Contenção em Solo Reforçado com Geogrelha (Gabriella de Andrade Coni, Catharine Brandão) .............. 563

xiii 
 
Melhoramento de Solos com Cal: Análise por meio de Árvores de Decisão e Regras de Associação (Philippe

Barbosa Silva, Rosemary Janneth Llanque Ayala) ............................................................................ 569


Melhoramento de Solos com Uso de Canudos Plásticos Reciclados (Lucas Gabriel Lopes Da Silva, Thamara

Silva Barbosa, Ivonne Gutiérrez Gongora Alejandra) ......................................................................... 574


Obtenção Simplificada de Parâmetros Geotécnicos de um Solo Sedimentar Estabilizado com Cal (João Luiz
Rissardi, Eclesielter Batista Moreira, Jair Arrieta Baldovino, Amanda Dalla Rosa Johann, Ronaldo Luís dos Santos

Izzo) ......................................................................................................................... 578


Proposta de Estabilização Química do Solo Arenoso para Pavimentação da TO-30 em São Felix do
Tocantins (Mauro Alexandre Paula de Sousa, Sócrates Leite Pereira, Ana Caroliny Vanderley Carvalho,

Marcus Vinicius Vieira Viana Souza, José Vicente Benevides Ribeiro, Silas Nunes Costa) ............................ 584
GEOTECNIA AMBIENTAL E APLICADA À MINERAÇÃO 590
Análise de Sedimentos Depositados em Bacia de Infiltração (Rafael Salles Pereira, José Camapum de Carvalho,

Andrea Cardona Pérez, Rocio del Carmen Perez Collantes) .................................................... 591
Análise Geoambiental e Normativa para Restrição Construtiva: Caso Setor de Mansões Dom Bosco,
Brasília, Distrito Federal (Anna Luiza Garção de Oliveira , Ana Beatriz Ulhoa Coblachini, Ikaro Toshio Yokpy,

Ana Luisa Oliveira da Silva) ......................................................................................................  596


Análise Probabilística do Transporte e Contaminantes em Meio Saturado (Ana Luiza Rappel de Amorim,

André Luís Brasil Cavalcante) ................................................................................................... 601


Comportamento de Resistência à Compressão não Confinada de um Solo Laterítico Contaminado com Óleo
Diesel (José Wilson Batista da Silva, Leonardo Vinícius Paixão Daciolo, Natália de Souza Correia,

Fernando Henrique Martins Portelinha) ......................................................................................... 608


Estudo Comparativo da Permeabilidade do Solo e a Legislação do Plano Diretor da Cidade de Cuiabá – MT

(Tailane Coimbra da Rosa, Marcos de Oliveira Valin Jr, Ilço Ribeiro Junior) ....................................... 614
Influência da Adição de Bentonita no Melhoramento de Solos Tropicais na Utilização de Camadas de Base

de Aterros Sanitários (Ligia Abreu Martins, Yago Guidini da Cunha, Karla Maria Wingler Rebelo) ............... 621
Proposta de Concepção de Ensaio em Coluna para Solos Lateríticos e Saprolíticos (Raquel Martins da Silva,

André Luís Brasil Cavalcante) ................................................................................................... 627


Reciclagem de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) na Região Metropolitana de Goiânia-GO

(Mateus Porto Fleury, Nelson Siqueira Neto, Eder Carlos Guedes dos Santos) ........................................... 634
Utilização de Rejeito de Bauxita na Geotecnia (Débora Louyse Alpes de Melo, Luisa Barbosa Pereira) .......... 640
EROSÃO 646
A Erosão e a Equação de Perda de Solo (USLE/ RUSLE): Uma Revisão Bibliográfica (Jarleson Andrião,

Priscila Cristina Henke) ........................................................................................................... 647


Erodibilidade de Solos Situados nas Bordas Da UHE de Itumbiara e Batalha (Pedro Parlandi Almeida,

Márcia Maria dos Anjos Mascarenha, Marta Pereira da Luz) ................................................................ 654
Erodibilidade dos Solos Residuais do Complexo Juiz de Fora (Lucas Henrique Vieira, Mateus Lino Leite,

Tatiana Tavares Rodriguez) ....................................................................................................... 660

xiv 
 
Estudo de Caso da Instabilização e Ruptura de Encostas na Erosão da Avenida Elmo Serejo,
Taguatinga/Distrito Federal (Mariane Rodrigues da Vitória, Rideci Farias, Haroldo Paranhos,

Ranieri Araújo Farias Dias, Itamar de Souza Bezerra) ........................................................................ 666


Melhoria das Propriedades Físico-químicas dos Solos com Aproveitamento de Vinhaça (Ataliba Cordeiro

Ávila Júnior, Átala Rebeca da Silva Ávila, Taís Lara Pio Santos, Fernanda Posch Rios, Giovane Batalione) ....... 673
Sistema de Monitoramento e Análise de Riscos de Deslizamento de Encostas para o Município de Ouro

Preto (Ricardo Cabette Ramos, Marconi Arruda Pereira, Tales Moreira de Oliveira, Heraldo Nunes Pitanga) ...... 679
Vulnerabilidade de Materiais Inconsolidados Quanto à Erodibilidade as Margens da To-455 no Distrito de
Luzimangues – Porto Nacional – TO (Glacielle Fernandes Medeiros, Gustavo Henrique Vieira Ferreira, Wesney
Ferreira da Silva, Jhonathan Morais Resplandes, Rafael Resplandes Rodrigues Junior , Mauro Alexandre Paula de

Sousa) ..................................................................................................................... 685


SOLOS NÃO SATURADOS, EXPANSIVOS, COLAPSÍVEIS E MOLES 692
A Influência da Sucção na Resistência ao Cisalhamento de um Solo Residual de Diabásio Indeformado

(Narayana Saniele Massocco, Orlando Martini de Oliveira, Gabriel Bellina Nunes, Rafael A. dos Reis Higashi) ... 693
Análise da Ascensão Capilar de um Solo Arenoso (Jair Arrieta Baldovino, Eclesielter Batista Moreira,

Alexandre Cardoso, Juliana Mazzarolo, Ronaldo Luis dos Santos Izzo) ................................................... 699
Avaliação dos Critérios de Identificação de Solos Colapsíveis no Centro-Oeste (Alexia Regine Costa Silva,
Sabrina Marques Rodrigues, Renato Cabral Guimarães, José Camapum de Carvalho, Manuel Porfírio Cordão

Neto) ................................................................................................................................. 704


Avaliação Geotécnica e Dimensionamento da Camada de Reforço Sobre Solos Moles na Obra do Trevo de
Triagem Norte, Em Brasília/DF, Brasil (Rideci Farias, Haroldo Paranhos, Elson Oliveira de Almeida,

Joyce Maria Lucas Silva, Hellen Evenyn Fonseca da Silva, Lucas Inácio da Silva) ...................................... 710
Correlação entre ensaios SPT e PANDA 2 (Penetrômetro leve de energia variável) em solos tropicais

(Caio Sales Campos, Yanko Batista Llobet, Renato Resende Angelim) ................................................... 717
Estudo Comparativo de Curvas de Retenção da Água no Solo Obtidos com Métodos de Otimização (Aguero-

Martinez, Domingo Stalin) ............................................................................................. 723


Estudo Experimental do Comportamento de Solos Expansivos em Amostras Compactadas (Vitor Hugo de

Oliveira Barros, Alison de Souza Norberto, Analice França Lima Amorim, Tiago Barbosa da Silva) ................ 728
Relação entre a Plasticidade do Solo e o Ponto de Entrada de Ar na Curva Característica de Retenção de
Água (José Camapum de Carvalho, Renato Cabral Guimarães, Sumi Siddiqua, Amin Bigdeli, Priscila Nunes

Muniz Barreto) ..................................................................................................................... 734


PAVIMENTAÇÃO 740
Análise Numérica do Efeito do Sobrepeso Sobre o Pavimento Rodoviário (Veronica Ferreira Soares, Isa

Lorena da Silva Barbosa) ......................................................................................................... 741


Avaliação das Tensões e Deformações nas Camadas de Pavimento Flexível devido ao Aumento do Número
de Eixos e da Variação do Módulo de Elasticidade (Darym Júnior Ferrari de Campos, Luiza Nicolato,

José Camapum de Carvalho) ..................................................................................................... 748

xv 
 
Desenvolvimento de uma Ferramenta Computacional para Comparação dos Métodos de Dimensionamento
de Pavimentos Asfálticos: Empírico x Mecanicístico (Felipe Aguiar Teixeira Sampaio de Barros, Júlia Leite

Schultz, Danúbia Teixeira Silva) ................................................................................................. 756


Empregabilidade de Materiais Secundários na Estabilização de Base de Pavimentos Flexíveis (Nathália
Araújo Boaventura de Souza e Silva, Matheus Silva de Oliveira, Guilherme R. F. Almeida de França,

Ivonne Alejandra Maria Gutiérrez Góngora) ................................................................................... 762


Emprego de Resíduo de Polietileno de Baixa Densidade em Mistura Base para Pavimentação (Giancarlo

Andrade Machado, Leidiane Moraes Garcia) .................................................................................. 768


Estabilização de solos com Incorporação de Escória de Dessulfuração KR em Camadas para Pavimentação
(Caroline Forestti Oliveira, Luísa Braz da Silva Ramos, Carlos Magno Sossai Andrade, Hully Carvalho Picoli,

Patrício José Moreira Pires) ....................................................................................................... 772


Estudo Comparativo de Duas Técnicas de Avaliação de Pavimentos Aplicado à Rodovia BA- 447 e Análise

de sua Funcionalidade (Rafael Malheiro Santos, Vinícius de Oliveira Kühn) ........................................... 778
Estudo de Mistura Asfáltica Densa Produzida com Agregado Mineral Basáltico Obtido no Estado do

Tocantins (Andira Nurrielli de Oliveira Costa, Janaina Lima de Araújo, João Paulo Souza Silva) .................... 784
Estudo de Mistura Solo Cal com Fragmentos de Borracha (Emanoel Raimundo da Silva Sá Júnior,

Joel Carlos Moizinho, Adriano Frutuoso da Silva) ............................................................................ 790


Estudo de Retroanálise para Caracterização das Camadas do Pavimento da BR 040 (Aline Ferreira Andalício,
Ana Mara Araújo Torres, Mariana Alvarenga Ruas e Silva, Rodolfo César Costa Arantes,

Mariana Maia Ribeiro Silva, Celso Luiz dos Santos Romeiro Junior) ........................................................ 797
Influência de Resíduos de Construção e Demolição em um Solo Argiloso para Pavimentação (Eclesielter
Batista Moreira, Jair de Jesús Arrieta Baldovino, João Luiz Rissardi, Alexandre Cardoso, Ronaldo Luis dos Santos

Izzo) ......................................................................................................................... 803


Mistura Asfáltica Tipo AAUQ Fabricada com Areia do Rio Branco, Boa Vista-Roraima (Ana Kelle Neves

Mesquita, Joaquim Araújo Costa Neto, Joel Carlos Moizinho) .............................................................. 809
Parâmetros de Resistência de Misturas de Solo Laterítico de Brasília com Resíduo de Vidro para
Pavimentação (Douglas Quixabeira Freire, Lucas Gabriel Lopes da Silva, Thamara Silva Barbosa, Renata

Conciani Nunes) .................................................................................................................... 815


Patologias em Pavimentos Rígidos – Estudo de Caso na Mesoregião do Sudoeste Amazonense (Luis Eduardo

Correia André, André Augusto da Nobrega Dantas) .......................................................................... 820


Pavimento Econômico com Base Alternativa de Argila Laterítica Reforçada com Lodo de Esgoto Calcinado
(Eduardo Damin, Décio Lopes Cardoso, Eclesielter Batista Moreira, Heloise Sasso Teixeira,

Alexandre Cardoso, Daniane Vicentini) ........................................................................................ 825


Possível Reutilização de Resíduos da Construção Civil em Sub-Base e Base de Pavimentos (Laís de Almeida

Dantas Vieira, Aliryan Chaves de Sousa, Rideci Farias, Haroldo Paranhos) .............................................. 831
Solos Arenosos Lateríticos Amazônicos do Norte do Amapá para Uso em Pavimentação (Eclesielter Batista
Moreira, Jair de Jesús Arrieta Baldovino, João Luiz Rissardi, Alexandre Cardoso, Ronaldo Luis dos Santos Izzo) 837
Uso de Resíduo da Produção do Aço em Camadas de Pavimentação Rodoviária (Thamyres Cardoso de

Carvalho, Ivonne Alejandra Maria Gutierrez Gongora) ...................................................................... 843

xvi 
 
Utilização de Misturas de Resíduo de Corte de Rochas Ornamentais, Cascalho Laterítico e Asfalto Fresado
na Pavimentação (Guilherme Barbosa Teixeira, Hiago de Bessa Bezerra, Pedro Augusto Barbosa Borges,

Lilian Ribeiro de Rezende, João Renato Prandina) ............................................................................ 849

xvii 
 
Desempenho e Segurança
de Obras Geotécnicas

TEMA 1


Análise do Desempenho Geotécnico da Barragem de Enrocamento
com face de Concreto de Itá por meio da Aplicação de Método de
Elementos Finitos
Kurt André Pereira Amann
Centro Universitário FEI, São Bernardo do Campo, Brasil, kpereira@fei.edu

Caique Roberto de Almeida


Centro Universitário FEI, São Bernardo do Campo, Brasil, crdealme@gmail.com

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo efetuar análises em termos de deformações na
Barragem de Enrocamento com Face de Concreto (BEFC) de Itá com o intuito de avaliar o
desempenho geomecânico de seu maciço de enrocamento em interação com lajes de concreto armado.
As simulações efetuadas tomam por preceito a execução de modelos em análise por etapas
construtivas e carregamento hidrostático. Apresenta-se, com o intuito de subsidiar as simulações
desenvolvidas, uma breve revisão bibliográfica responsável por abordar aspectos básicos de projeto,
bem como o comportamento mecânico de aterros de enrocamento. Destaca-se a utilização do software
ANSYS, fundamentado no Método dos Elementos Finitos, para o adequado desenvolvimento de
estudos relacionados ao desempenho do sistema geotécnico-estrutural.

PALAVRAS-CHAVE: BEFC, Itá, Desempenho Geomecânico, Elementos Finitos

1 INTRODUÇÃO fundamentadas na Mecânica dos Enrocamentos


e em princípios da Engenharia Geotécnica.
Ao longo da história, o processo de A justificativa acerca da escolha da Barragem
desenvolvimento do projeto de Barragens de de Enrocamento com Face de Concreto de Itá
Enrocamento com Face de Concreto evoluiu de para aplicação de Método de Elementos Finitos
um estágio essencialmente empírico, em que consiste na interação entre dois importantes
decisões técnicas eram tomadas a partir do aspectos: a ocorrência de trincas e infiltrações na
acúmulo de experiência de profissionais da área, laje de concreto, com consequente percolação no
para um cenário em que pesquisas mediante aterro, assim como a observação de recalques em
ensaios, análises numéricas e softwares de um maciço de enrocamento representativo do
modelagem computacional passaram a constituir modelo de zoneamento proposto em Cooke
ferramentas fundamentais no sentido de se (1987).
compor um sólido projeto.
Seguindo tal tendência, o presente artigo tem 2 GENERALIDADES
por objetivo apresentar os resultados referentes à
aplicação do Método de Elementos Finitos por 2.1 Definição e elementos constitutivos
meio do software ANSYS à Barragem de
Enrocamento com Face de Concreto de Itá, haja Barragens de enrocamento com face de concreto
vista o intuito de se simular o comportamento são definidas como elementos geotécnico-
geomecânico dos elementos geotécnicos e estruturais constituídos por um maciço rochoso
estruturais em análise construtiva por etapas e compactado em camadas em interação com uma
carregamento hidrostático, inicialmente membrana de concreto armado (COOKE e
estudados por meio de premissas teóricas SHERARD, 1987).

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De forma geral, Barragens de Enrocamento 2B – Transição de rocha fina processada,
com Face de Concreto apresentam estrutura compactada em camadas de 30 a 50cm
principal constituída por enrocamento zoneado e 3A – Rocha miúda selecionada, compactada em
compactado, haja vista necessidade de camadas de 30 a 50 cm
resistência de solicitações provenientes do nível 3B – Enrocamento compactado em camadas de
do reservatório, além de sua natural finalidade de 80 a 100cm
atuar como barramento para a água ou outro 3C – Enrocamento compactado em camadas de
material. Por outro lado, este tipo de barragem é 150 a 200 cm
caracterizado pela existência de laje de concreto 3D – Enrocamento somente lançado e opcional
situada sobre o talude de montante, atuando
como septo impermeável (COOKE e 2.3 Comportamento geomecânico
SHERARD, 1987).
O plinto, situado entre a fundação e a laje de Fundamentalmente, o comportamento mecânico
concreto da barragem, possui a função de de maciços de enrocamento depende da quebra
controlar o fenômeno da percolação, bem como que ocorre entre os blocos e seus contatos, bem
os gradientes hidráulicos que se desenvolvem na como do rearranjo de materiais rochosos no
fundação (BASSO, 2007). interior do aterro, por conta do acréscimo de
A Figura 1 sintetiza graficamente os principais pressão interna, responsável por provocar
elementos constituintes de uma BEFC. crescimento proporcional dos valores de força de
contato entre as partículas, que tendem a superar
a resistência ao esmagamento de regiões
específicas dos blocos (Cruz et al., 2014). Vale
destacar a existência de dois processos físicos
que ocorrem em BEFCs:
A - Fluência: corresponde ao processo de
acomodação gradativa e progressiva dos blocos
Figura 1. Seção transversal típica de uma BEFC
de rocha e suas partículas em razão de alterações
(Fonte: Basso, 2007)
no arranjo estrutural do maciço.
B - Colapso: fenômeno resultante do
2.2 Zoneamento típico esmagamento das pontas rochosas, que tendem a
perder resistência quando se encontram em
Reconhecidos no meio técnico por constituírem estado submerso.
uma das mais importantes contribuições à Barragens de enrocamento com face de
concepção de BEFCs, os artigos publicados em concreto apresentam duas fases distintas de
1987 por Cooke definiram as funções e solicitações. Primeiramente, observa-se que a
requisitos de diferentes zonas de materiais no construção da barragem impõe carregamentos
maciço de enrocamento de BEFCs. A Figura 3 próprios ao aterro, em virtude do peso
retrata o zoneamento de uma BEFC: proveniente de camadas superiores sobre os
materiais dispostos em regiões inferiores em
termos de cotas. Por outro lado, o enchimento do
reservatório ocasiona carregamento hidrostático
a ser transmitido pela laje de concreto. A Figura
3 exibe a seção deformada ao final da construção
de um maciço de enrocamento.
Figura 2. Zoneamento típico de uma BEFC
(Fonte: Autores, “adaptado de” Cooke, 1987)
Legenda
1A – Solo impermeável
1B – Random - Qualquer tipo de material
impermeável
Figura 3. Abaulamento da seção do maciço ao final da
2A – Transição de rocha fina processada (filtro)
construção (Fonte: Mori, 1999

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A Figura 4, por sua vez, ilustra o deslocamento transversal, bem como seus respectivos
do talude de montante em direção a jusante por parâmetros computados em modelo
conta do carregamento hidrostático. computacional são sintetizados na Figura 5.

Figura 5. Especificação dos materiais da BEFC de ITÁ


Figura 4. Deflexão da face de montante por conta do (Fonte: Autores “adaptado” de Souza, 2008)
enchimento do reservatório (Fonte: Mori, 1999)
3.3 Interface
3 CONSIDERAÇÕES PARA MODELAGEM
Em estudos que exprimem a interação entre
Para validação do modelo bidimensional em materiais de propriedades físicas bastante
estado plano de deformações, faz-se necessária a distintas, como o contato enrocamento-estrutura,
consideração do corte da seção da barragem em verifica-se a necessidade de se utilizar elementos
estudo, com imposição de espessura de 1 metro. especiais para que se compatibilize deformações
Através das condições de contorno, para atender e tensões.
à exigência de restrição dos movimentos A criação de uma interface com elementos
perpendiculares à seção, impede-se em toda a distintos dos materiais é sugerida em Cruz et al.
barragem os deslocamentos no eixo Z, rotações (2014) para representar o contato entre face de
no eixo X e rotações no eixo Y. concreto e enrocamento. Deste modo, na
Ao considerar a barragem apoiada em modelagem realizada, criou-se uma interface
fundação rochosa, deve-se inibir os movimentos com o elemento de barra (BEAM 188), com
da base. Para isso, faz-se necessário restringir seção transversal de 1x1 m e mesmas condições
todos os graus de liberdade dos nós localizados de contorno da fase de construção. O módulo de
na cota inicial. elasticidade utilizado, expressivamente menor
do que o dos materiais de contato, foi de 1 MPa
3.1 Modelagem por etapas construtivas e coeficiente de Poisson de 0,3.
As barras são elementos unidimensionais,
Para que a obtenção dos deslocamentos em fase portanto sua divisão de elementos finitos é feita
construtiva siga a simulação mais próxima da através de seus nós adjacentes e ao longo de sua
realidade, é necessária a realização de cálculo extensão, diferentemente das chapas. A barra
incremental, sendo a modelagem realizada sobrepôs a linha divisória entre o enrocamento e
através de diversas etapas construtivas. a laje, dividindo com estes, os mesmos nós da
Algumas premissas são necessárias para malha estrutural.
validação do modelo. Primeiramente, deve-se
considerar que apenas uma espessura 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
determinada será construída, sendo que esta é a
única responsável por aplicar carregamento no 4.1 Deslocamentos verticais em análise
restante da estrutura no momento de sua construtiva única e por etapas
construção. Ao incrementar uma nova camada,
as etapas previamente construídas têm seu peso A fim de evidenciar a necessidade de
desconsiderado, uma vez que estes já agiram na modelagem computacional através de
estrutura gerando os deslocamentos obtidos sobreposição das camadas construtivas iniciou-
durante seu alteamento. se a simulação do comportamento da barragem
com apenas uma etapa de construção. Os
3.2 Parâmetros dos materiais resultados, apesar de não condizentes com o
desempenho real da barragem, foram utilizados
A disposição dos enrocamentos na seção

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com o intuito de se evidenciar a necessidade de A Figura 9 sintetiza os valores finais de
modelagem por etapas construtivas similares às deslocamentos obtidos a partir dos recalques por
observadas em campo. A Figura 6 ilustra o etapas construtivas, aplicando-se cálculo
modelo estrutural realizado através do ANSYS incremental dos deslocamentos nodais no centro
para uma camada construtiva, com discretização da barragem, em sua direção X (responsável por
dos elementos finitos para cada três metros. apresentar maiores deformações). Verifica-se
recalque máximo de 3,944 metros na região
central da barragem, onde atuam maiores níveis
de tensões de confinamento.

Figura 6. Representação da estrutura discretizada

O local de deslocamento máximo encontra-se


na região superior da barragem, com valor de -
5,77119 m, como mostrado na Figura 7.

Figura 9. Gráfico deslocamento vertical (m) x altura (m)

A análise desenvolvida em diferentes etapas


Figura 7. Deslocamentos da estrutura para uma etapa
construtiva. [m]
construtivas revela, nas porções inferior e
superior da barragem, valores de recalques
O peculiar comportamento desta análise se significativamente menores em relação às
deve ao fato de que, ao simular-se a construção demais alturas. Na base, isso ocorre pelo fato de
de toda a barragem em apenas uma camada, os que a fundação rochosa tende a apresentar
enrocamentos não são compactados reduzidos deslocamentos, enquanto no topo
gradualmente, ao tempo em que todo o observa-se o estreitamento da seção e menor
carregamento proveniente do peso próprio da peso aplicado.
estrutura age em etapa única. As etapas construtivas 5,6 e 7 apresentaram,
A análise seguinte considera a estrutura respectivamente, máximos valores de recalques
construída em sete etapas. A modelagem foi de 0,71339 m, 0,393904 m e 0,94829 m, o que
realizada com as mesmas condições de contorno evidencia o fato de que o alteamento das últimas
e mesma discretização dos elementos finitos da etapas de construção pouco influencia o
análise anterior. A Figura 8 ilustra os deslocamento vertical da barragem. Esses
deslocamentos obtidos para a quarta etapa resultados se devem ao fato de que os
construtiva, que apresentou recalque máximo de enrocamentos das etapas anteriores já obtiveram
1,73821 m, o maior entre as camadas analisadas. considerável grau de compactação, fenômeno
que ocorre de forma menos acentuada a cada
camada. Outro fator determinante é que os
módulos de elasticidade dos enrocamentos
tornam-se maiores conforme aumenta-se a altura
da barragem, fazendo com que os materiais que
compõe as últimas camadas provoquem menor
deformação do maciço.
Figura 8. Deslocamentos verticais da quarta etapa [m]

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4.2 Deslocamentos horizontais na laje de A Figura 12 apresenta o deslocamento final da
concreto face de montante antes e depois da construção da
laje de concreto. Observa-se poucas alterações
Os deslocamentos horizontais da estrutura, entre as duas fases. O efeito do abaulamento se
obtidos a partir das simulações anteriores à preserva, como esperado. O nó localizado na
construção da laje de concreto, se caracterizam altura de 98m apresenta, em ambos os estágios,
por apresentar estreitamento na metade superior o maior deslocamento final (antes da construção
da barragem e alargamento na metade inferior. da laje: 0,6682m e depois de sua construção:
Este fato é ilustrado na Figura 10, onde observa- 0,7003m).
se a movimentação da estrutura conforme
expectativa da Figura 3, que ilustra o fenômeno
do abaulamento. O maior deslocamento obtido,
nesta etapa construtiva (6ª etapa) foi de 0,119648
m no topo da barragem.

Figura 12. Deslocamento horizontal final na face de


montante antes (direita) e depois (esquerda) da construção
da laje de concreto
Figura 10. Deslocamento horizontal por conta da
construção da 6ª camada [m] A Figura 13 ilustra os deslocamentos
horizontais na laje de concreto e enrocamento da
A Figura 11 apresenta os deslocamentos face de montante. Observa-se que os
horizontais desenvolvidos na face de montante deslocamentos desenvolvidos na laje de concreto
com a construção de cada etapa construtiva. acompanham os recalques do maciço de
Observa-se que os deslocamentos horizontais enrocamento. Observa-se também que os
máximos são obtidos após a construção da 4ª deslocamentos causados por conta da construção
camada e apresentam valores na ordem de 0,50 da laje são menores. O maior deslocamento
m. Esta camada está entre as cotas 325,5 m e obtido nesta análise foi de 3,50 cm na altura de
348,5 m. A partir desta camada, observa-se que 90 m da barragem.
os deslocamentos horizontais se reduzem em
magnitude de mais de 50%. Isto pode ser
justificado pelo fato de que, de forma geral,
quanto mais espessa for a camada, mais
suscetível à ocorrência de recalque ela estará.

Figura 13. Deslocamentos horizontais na laje de concreto


e enrocamento

Figura 11. Deslocamentos Horizontais Face de Montante


(m)

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4.3 Deslocamentos em etapa de enchimento do quando comparado à simulação baseada em
reservatório etapa única de carregamento. Desse modo,
assinala-se a limitação de análises conduzidas
Durante a fase de enchimento, os movimentos com base na composição de BEFCs em etapa
que ocorrem na barragem devido a ação do única, visto que deformações excessivas
carregamento hidrostático tornam a barragem desenvolvidas em modelo real são compensadas
mais rígida, fazendo com que os módulos de pela disposição das camadas superiores.
elasticidade usados nesta etapa sejam diferentes É notável a concentração de deslocamentos
dos que foram usados na fase de construção. Em no cerne da barragem, pois observa-se, de forma
Cruz et al. (2014) argumenta-se, a partir de geral, o efeito de confinamento acentuado na
dados provenientes do enchimento de diferentes zona central de maciços de enrocamento. Quanto
BEFCs, que o módulo de elasticidade tende a aos deslocamentos causados pela construção da
aumentar de 2 a 3 vezes quando comparado aos laje de concreto, observa-se que estes são
valores de módulo de elasticidade usados na pequenos e que acompanham a deformação do
construção da barragem. enrocamento, tendo em vista característica
Empregou-se, portanto, valores de módulo de flexível da laje de concreto.
elasticidade em etapa de carregamento Convém citar que os valores de deslocamento
hidrostático 2,5 vezes superiores às estimativas obtidos em etapa de carregamento hidrostático
de módulo de elasticidade empregados em revelaram-se satisfatórios, haja vista sua
cenário de construção por etapas. proximidade com relação aos valores medidos
A Figura 14 exibe os resultados obtidos para os em campo.
deslocamentos combinados a partir dos eixos x e
y em etapa de carregamento hidrostático. O REFERÊNCIAS
maior valor de recalque registrado nesta etapa foi
de 0,308511m. Basso, R. V. (2007) Estudo tensão-deformação de um
enrocamento visando barragens de enrocamento
com face de concreto. Dissertação de Mestrado -
Curso de Engenharia Civil, Engenharia Geotécnica,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 129 p.
Cooke, J.B.; Sherard, J.L. (1987); “Concrete-Face
Rockfill Dam: II. Design”, Journal of Geotechnical
Engineering, ASCE, Vol. 113
Cruz, P.T.; Freitas, M.; Materón, B. (2014) Barragens de
enrocamento com face de concreto. São Paulo:
Oficina de Texto 2014.
Figura 14. Deslocamentos combinados eixos x e y [m] Mori, R.T. Deformações e trincas em barragens de
enrocamento com face de concreto. Simpósio sobre
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS barragens de enrocamento com face de concreto, 2,
1999, Florianópolis, SC. CBDB, p. 47-60.
A partir das revisões bibliográficas e análises Souza, K. S. (2008) Barragens de enrocamento com face
computacionais efetuadas ao longo do presente de concreto: Análise de tensões pelo método dos
trabalho foi possível concluir que o elementos finitos na fase construtiva por etapas.
desenvolvimento de análises numéricas baseadas Dissertação de Mestrado - Curso de Engenharia
Civil, Universidade Federal de Santa Catarina,
em Método de Elementos Finitos constitui uma Florianópolis, 160 p.
importante ferramenta para a adequada avaliação
do desempenho de projetos de Barragens de
Enrocamento com Face de Concreto.
Tendo por preceito de análise a aplicação do
método de elementos finitos por meio do
software ANSYS, conclui-se que a análise
geotécnica efetuada através de etapas
construtivas constitui modelo mais preciso

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Análises da Ruptura em Trecho da BR-060 no Município de
Alexânia, Goiás, e Condições Após Seis Anos da Recuperação
Rideci Farias, D. Sc.
UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

Tiago Matias Lino, B. Sc.


Instituto de Ensino Superior Planalto (IesPlan), Brasília, Brasil, tiagoltmatias@gmail.com

Haroldo Paranhos, M. Sc.


UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, reforsolo@gmail.com

Itamar de Souza Bezerra, M. Sc.


Maccaferri, Goiânia, Brasil, itamar@maccaferri.com.br

Ranieri Araújo Farias Dias, Estudante de Engenharia.


Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém, Brasil, ranierileislie@yahoo.com.br

Alexsandra Maiberg Hausser, Estudante de Engenharia.


UniCEUB, Brasília, Brasil, alexsandramaiberg@hotmail.com

RESUMO: O Rompimento da BR-060/GO ocorreu na divisa entre o Distrito Federal e o estado de


Goiás, próximo à cidade de Alexânia/GO, km 24, dia 28 de dezembro de 2010. Em média, na
rodovia passa cerca de 60 mil veículos por dia. A região é caracterizada por terreno acidentado com
morros, vales e baixadas, fatores estes que contribuíram para o ocorrido. Também é cercada por
diversos cursos d’agua. O deslizamento de terra resultou em uma cratera com cerca de 60 metros de
comprimento e 12 metros de profundidade, interditando completamente a via e o tráfego de
veículos. As obras de recuperação objetivaram a execução dos dispositivos de drenagem superficial
e subterrânea, serviços de contenção em gabião, pavimentação e recuperação ambiental. Assim
sendo, este Artigo objetiva apresentar análises das possíveis causas, mas também as soluções
adotadas para recuperação do trecho avariado.

PALAVRAS-CHAVE: BR 060, Alexânia/GO, Estabilidade, Ruptura e Recuperação.

principal para recuperação do trecho inclui o


1 INTRODUÇÃO sistema de contenção em gabião, associados a
obras complementares com vistas à recuperação
Este artigo objetiva apresentar análises das do trecho para a liberação do tráfego na via.
possíveis causas do deslizamento, mas também
as soluções adotadas para recuperação do trecho
que rompeu da BR-060/GO na divisa entre o 2 LOCALIZAÇÃO DO TRECHO
Distrito Federal e o estado de Goiás, próximo a AVARIADO
cidade de Alexânia/GO. Ademais das condições
atuais, seis anos após o término da recuração do O trecho que sofreu ruptura localiza-se próximo
trecho avariado. A solução a divisa do Distrito Federal e o estado de Goiás,
próximo a cidade de Alexânia/GO. A região é

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


caracterizada por topografia acidentada e áreas
sujeitas a escoamento e cursos d’agua. A Figura
1 mostra o mapa geral de localização da área
onde ocorreu a ruptura, que fica próximo a 15
km da cidade de Alexânia/GO.

Figura 4. Trecho rompido da BR-060/GO (31/12/2010).

Em função do ocorrido, desviou-se o trânsito


em duas alternativas ao motorista que partia do
Distrito Federal a Goiânia. Um pela BR-070,
Figura 1. Localização do rompimento da BR 060/GO
(DNIT, 2011).
rumo a Cocalzinho, até a GO-414 e depois à
BR-060, o que aumenta em 28 quilômetros. A
O deslizamento de terra com uma cratera outra opção era chegar à GO-010 por Luziânia e
próximo de 60m de comprimento e 12 metros seguir até Goiânia. Nesse caso, são 50
de profundidade, interditou a via e o tráfego de quilômetros mais, elevando para 250 km a
veículos na região. O intenso período de chuvas distância entre Brasília e Goiânia. A Figura 5
seria a causa principal do deslizamento, mostra os caminhos alternativos para os
felizmente sem vítimas, apesar da gravidade. As motoriastas quando a interdição da BR-060.
Figuras 2 a 4 mostram o trecho que rompeu.

Figura 2. Trecho rompido da BR-060/GO (31/12/2010).

Figura 5. Caminhos alternativos quando da interdição da


BR-060 (Jornal Correio Braziliense, 2011).

3 ANÁLISES DAS POSSÍVEIS CAUSAS

3.1. Alto Índice Pluviométrico – Saturação


do Solo

O período chuvoso na região, com grande


intensidade entre os meses de dezembro e
Figura 3. Trecho rompido da BR-060/GO (31/12/2010). janeiro, aumentou a saturação do solo, vindo a
provocar processos erosivos, principalmente
erosão interna, mas também elevação no valor
da percolação e a consequente diminuição da

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resistência do solo nos locais onde o regime de também para a execução de sondagem tipo SPT
escoamento das águas eram mais concentrados. a fim de se verificar as condições do sobsolo,
Ademais, a montante do corte realizado para lençol freático da região, além de auxiliar nos
instalação da rodovia, há uma área considerável estudos do projeto básico.
em que houve a supressão da vegetação nativa De início foram três furos de sondagem
objetivando investimentos na agricultura e totalizando 45,35 (quarenta e cinco metros e
pecuária. Além da supressão de vegetação, trinta e cinco centímetros). Tais sondagens
verificou-se a instação de bacia no terreno para foram denominadas de SPT 01, SPT 02 e SPT
armazenamento de água que conciliada à 03, conforme indicação da Figura 8, sendo o
infiltração e escoamento provocaram ao SPT 1 à margem do rodovia e o SPT 02 e SPT
possível caminho preferencial de fluxo na 03 no eixo de cada uma das pistas.
massa de solo vindo ao aumento da saturação
do subsolo à rodovia, com a consequente
instabilização do maciço. A Figura 6 mostra o
possível fluxo no interior do maciço, e na
Figura 7 apresenta-se uma vista da área com a
bacia de infiltração a montante do trecho da
rodovia que sofreu a ruptura.

Figura 8. Localização dos furos de sondagem SPT (BR-


060, km 24).

A Figura 9 mostra a execução da sondagem


SPT 01 à margem da rodovia.

Figura 6. Possível fluxo no interior do maciço (Lino,


2016).

Baciadeinfiltração
Fluxodeágua
ErosãoͲPontoCritico

Montantedanascente

Figura 9. Vista de execução da sondagem SPT 1 (BR-


Figura 7. Bacia de infiltração a montante da rodovia 060, km 24).
(Lino, 2016).
Ao se considerar o tipo de solo encontrado,
Apesar de alguns dados e características verificou-se tratar, predominantemente, de uma
inicias da obra, não se poderia dizer o que camada de aterro + material do corpo estradal
realmente tinha causado o rompimento da com espessura variável de até três metros.
rodovia. Para isso, foram realizadas Subjacente a esta camada, silte - argiloso a
investigações mais detalhadas da região, pouco argiloso/arenoso a pouco arenoso,
conforme a seguir. variável até 3,0 metros de espessura. Em
seguida, argila silto-arenosa / silte arenoso,
3.2. Investigação Geotécnica pouco argiloso.
Além das inspeções na área do sinistro, patiu-se O nível d’água no SPT 01 encontrava-se a

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1,50m da “boca” do furo. No SPT 02 a 6,10m, e
no SPT 03 na profundidade de 7,15m. Diante
disso, foi possível estabelecer o possível
comportamento da linha freática no maciço.

4 ANÁLISES DE ESTABILIDADE DO
TALUDE

As análises de estabilidade foram subsidiadas


com verificações locais adicionadas a
correlações com as sondagens SPT para escolha Figura 10. Análise de estabilidade com o solo natural
dos parâmetros. As correlações foram (Lino, 2016). (FS = 1,454).
embasadas nos trabalhos de Godoy (1972) apud
Cintra et al. (2003) para o peso específico. Para
o ângulo de atrito foram utilizados quatro
trabalhos, a saber, com a média dos valores
obtidos: a) De Mello (1971) apud Schnaid
(2000); b) Gibbs e Holtz (1957) apud Schnaid;
c) Godoy (1983) apud Cintra et al. (2003); d)
Teixeira (1996) apud Cintra et al. (2003). Para a
coesão foram adotados valores comuns para o
tipo de solo local que variam de 0 kPa até 15
kPa. Para o solo seco foi adotado a coesão de
10 kPa. Para o solo saturado foi adotado a Figura 11. Análise de estabilidade com o solo saturado
coesão 0 KPa. (Lino, 2016). (FS = 1,117).
Na simulação com o solo não saturado
trabalhou-se com 10 kPa para coesão, 30º para
o ângulo de atrito e 17 kN/m3 para o peso 4 SOLUÇÕES PARA RECUPERAÇÃO DO
específico do solo. A Figura 10 mostra o fator TRECHO AVARIADO
de segurança na estabilidade do talude igual a
1,454. Simulação feita com os dados empíricos O projeto desenvolvido pelo DNIT trouxe uma
do solo natural, valor este condizente com os série de soluções com drenagem superficial e
critérios mínimos de fatores de segurança da subterrânea, contenção com gabião,
NBR 11682/2003. pavimentação, mas também a recuperação
A segunda simulação de estabilidade ambiental da área afetada pelas obras.
considerou o solo saturado. Para o solo saturado
trabalhou-se com 0 (zero) kPa para coesão, 4.1. Drenagem Superficial e Subterrânea
permanecendo 30º para o ângulo de atrito,
apesar de ser menor, o que baixaria ainda mais A drenagem subterrânea objetiva a retirada de
o fator de segurança, e 17 kN/m3 para o peso água do maciço. No andamento das obras de
específico do solo. A Figura 11 mostra o fator escavação e remoção do solo saturado, uma das
de segurança igual a 1,117. Nota-se a esperada preocupações era canalizar o fluxo de água a
redução do fator de segurança com a coesão de um destino adequado. Assi, foram executados
0 kPa, considerando o solo saturado. Apesar do sistemas de drenagem profunda - dreno
fator de segurança ser maior que 1, não está profundo com manta geotêxtil, dreno sub-
condizente com os critérios de segurança da horizontal (DHP) e colchão drenante. As
NBR 11682/2003. Figuras 12 a 15 mostram parte da execução da
drenagem profunda. Já na Figura 16 mostra-se
parte da drenagem superficial com a obra
finalizada.

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Figura 12. Escavações para a instalação de drenos
profundos (Lino, 2011). Figura 16. Descida d’água lisa executado as margens do
trecho recuperado na Rodovia BR 060.

4.2. Contenção em Gabião

Solução bastante utilizada, seja para


estabilidade de aterros, contenção, proteção
superficial de encostas, de cursos d’águas e
rodovias. São elementos de forma prismática ou
cilíndrica, constituídos por uma rede metálica e
preenchidos com pedras de mão ou seixos
rolados, destinadas à solução de problemas
Figura 13. Execução de drenos profundos (Lino, 2011). geotécnicos, hidráulicos e de controle da
erosão. Os gabiões podem ser, (gabião tipo
caixa, gabião tipo colchões Reno ou gabião em
sacos). Os gabiões são capazes de drenar as
águas de percolação dos terrenos e de resistir a
todos os tipos de esforços, e sobretudo, de
trabalhar sob tração eliminando assim um dos
principais fatores de instabilidade.
Para a recuperação do aterro e resolver os
problemas de drenagem, utilizou-se estruturas
em gabião. Foram executadas quatro tipos, três
do tipo caixa e um do tipo Reno. As Figuras 17
Figura 14. Perfuração para instalação de DHP (Lino, e 18 mostram a seção tipo da rodovia e em
2011). seguida nas Figuras 19 a 21 mostram-se a
execução e alguns dos sistemas em gabião, e
nas Figuras 22 e 23 o trecho finalizado.

Figura 15. Execução do colchão drenante.


Figura 17. Seção transversal da BR 060 no trecho
rompido (DNIT, 2011).

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Figura 18. Seção tipo para o trecho recuperado da BR
060 (DNIT, 2011). Figura 22. Trecho recuperado e finalizado (Lino, 2016).

Figura 19. Execução da contenção em gabião. Figura 23. Trecho recuperado e finalizado (Lino, 2016).

5 CONCLUSÕES / RECOMENDAÇÕES

Este artigo procurou apresentar análises das


possíveis causas do deslizamento, mas também
as soluções adotadas para recuperação do trecho
que rompeu da BR-060/GO na divisa entre o
Distrito Federal e o estado de Goiás, próximo à
cidade de Alexânia/GO. Assim, diante dos
estudos e verificações de campo, mas também
das devidas análises é possível concluir:
Figura 20. Execução da contenção em gabião. a) O período chuvoso na região, com grande
intensidade entre os meses de dezembro e

janeiro, aumentou a saturação do solo, e a
percolação com caminhos preferenciais de
fluxo vindo a provocar processos erosivos,
principalmente erosão interna, mas também a
GabiãoCͲTipocaixa consequente diminuição da resistência do
Pontodedesague maciço nos locais onde o regime de escoamento
GabiãoAͲTiporeno
Grota
das águas eram mais concentrados;
ContençãoemGabião GabiãoBͲTipocaixa

b) Assim, uma das principais causas da ruptura


do trecho rodoviário, foi o grau de saturação do
solo e o aumento da poro pressão, ocasionados
Figura 21. Sistema implantado com a finalização da obra. pelas chuvas, com a consequente instabilização

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do maciço; sistema implantado, procedeu-se à visita, em
de julho de 2017, ao local em que ocorreu a
c) A montante do corte realizado para ruptura e constatou-se que as obras implantadas
instalação da rodovia, havia uma área estão condizentes com o funcionamento
considerável em que houve a supressão da esperado.
vegetação nativa objetivando investimentos na
agricultura e pecuária. Além da supressão de
vegetação, verificou-se a instação de bacia no AGRADECIMENTOS
terreno para armazenamento de água que
conciliada à infiltração e ao escoamento Ao Departamento Nacional de Infraestrutura de
provocaram o possível caminho preferencial de Transportes (DNIT), a JM Terraplenagem e
fluxo na massa de solo vindo ao aumento da Construções Ltda., a Reforsolo Engenharia
saturação do subsolo à rodovia; Ltda., Universidade Católica de Brasília (UCB),
Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) e
d) Ao se analisar possíveis causas de ruptura em ao Instituto de Ensino Superior Planalto com
rodovia, tem-se como grande importância os contribuições importantes que tornaram
estudos geológicos-geotécnicos, ambiental e possível a realização deste trabalho.
hidrológico de uma região para a execução de
obras de engenharia. Com esses estudos pode-
se determinar a melhor forma e o tipo mais REFERÊNCIAS
adequado de obra a ser implantada;
ASTM D3080/D3080M:2011 - Standard Test Method for
e) A interferência e a ação humana tem Direct Shear Test of Soils Under Consolidated
Drained Conditions.
provocado aspectos negativos no meio CINTRA, J. C. A.; AOKI, N.; ALBIERO, J. H. Tensão
ambiente, consequentemente interferindo em admissível em fundações diretas. São Paulo: Rima,
obras de engenharia. Essas ações provocam a 2003. 134 p.
degradação do solo, processos erosivos graves e Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
mudanças na dinâmica superficial e DNIT: 2011. Projeto Executivo de Obra Emergencial
para a Rodovia BR-060/GO, Div. DF/GO Entrº BR-
subterrânea de regiões. No estudo de caso em 364 (Contorno de Jataí), Entrº GO-425 – Entrº GO-
questão, essa interferência ocasionou o 139 (Início Travessia Urbana Alexânia).
surgimento de nascentes e bacias de infiltração, Geo-slope international. (2012). Stress deformation
fatores que contribuíram para o rompimento da modeling with SIGMA ⁄W, an engineering
rodovia; methodology. 335 p.
LINO, T. M. Estabilização de Taludes. 2016. 82p.
Trabalho de Conclusão de Especialização, Publicação
f) Com a análise dos problemas ambientais ENC. TCC– 020.1, Departamento de Engenharia
encontrados na região, justifica-se a execução Civil, Instituto de Ensino Superior Planalto, Brasília,
dos dispositivos de drenagem e a contenção em DF.
gabião. A drenagem subterrânea e superficial SCHNAID, F. (2000) – Ensaios de Campo de suas
Aplicações à Engenharia de Fundações. 1ª. Edição,
tem como objetivo conduzir as águas para
Oficina de Textos, São Paulo, 189 p.
locais adequados, evitando danos a obra
implantada. Já as estruturas de contenção em
gabião, tem como objetivo principal conter o
aterro e evitar os processos erosivos;

g) A importância de medidas preventivas em


vez das corretivas a fim de evitar danos em
obras e(ou) trantornos à população e danos ao
meio ambiente;

h) A fim verificar as condições atuais do

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Avaliação em Laboratório da Deformabilidade de uma Mistura
Solo-RCD para Fins de Pavimentação
Eduardo Montoya Botero
Centro Universitário IESB, Brasília, Brasil, eduardo.montoya@iesb.br

Patricia Helena dos Santos Martins


Centro Universitário IESB, Brasília, Brasil, martins.iesb@gmail.com

Vitor José da Silva Souza


Centro Universitário IESB, Brasília, Brasil, souza.iesb@gmail.com

RESUMO: A enorme geração de resíduos da construção civil, associada à deposição irregular,


acarretam inúmeros impactos negativos para o meio ambiente, assim como no campo social e
econômico. A sua reutilização gera diminuição dos impactos ambientais causados por esses
materiais e a redução de custos e quantidade de matéria prima de um empreendimento. Estudos
mostram que a introdução de tais materiais na uniformização e no processo de compactação do
solo podem apresentar comportamento positivo para emprego em obras rodoviárias. Com isso, o
artigo visa a caracterização do solo escolhido com ensaios laboratoriais e efetuar ensaios para
diferentes proporções de solo natural e resíduos.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos da construção civil, Correta Gestão, Sustentabilidade.

1 INTRODUÇÃO imprópria em locais inapropriados causa vários


efeitos negativos na localidade como
A nova conjuntura, realçada pela carência dificuldades para o tráfego de veículos e
de recursos naturais e por uma preocupação pedestres, modificação da paisagem,
com o meio ambiente tem feito com que todos complicações no funcionamento da drenagem
os setores da sociedade têm impulsionado a urbana, assoreamento de recursos hídricos além
busca por soluções sustentáveis para o seu da possibilidade de multiplicação de vetores de
desenvolvimento. doenças, por exemplo.
Neste novo cenário é necessário que a Diante desse quadro de tentar minimizar os
indústria da construção civil passe por impactos ambientais provocados pelas
adequações ou transformações uma vez que atividades da construção civil, com base em
suas atividades são responsáveis por critérios do desenvolvimento sustentável além
importantes impactos ambientais em todas as de acreditar na importância do emprego de
fases da produção passando desde a extração resíduos de construção e demolição para fins de
de matéria prima até a demolição (SCOTT pavimentação esse trabalho tem como objetivo
HOOD, 2006). estudar o comportamento de RCD misturado ao
Segundo o mesmo autor dentre os efeitos solo quando submetidos à um ensaio de
causados pela construção civil em grandes compressão simples.
centros urbanos a produção de resíduos de
construção e demolição (RCD) pode ser
considerada como uma das principais
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
consequências.
A disposição desses resíduos de maneira
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


2.1 Resíduos da Construção Civil pelos Municípios e pelo Distrito Federal.

Para tentar frear o avanço dos efeitos da


degradação ambiental sobre a sociedade e 2 COMPOSIÇÃO DOS SOLOS DO
seguir os preceitos descritos na Agenda 21 ESTADO DE GOIÁS
(2003), é imprescindível aos gestores públicos
buscar um desenvolvimento sustentável que A Região Centro-Oeste é conhecida pelo seu
guie suas ações. grande potencial para se transformar no celeiro
O tema relativo a resíduos sólidos é atual e de grãos do mundo, em função da excelência do
de grande interesse e relevância aos clima, do elevado percentual de áreas com
municípios brasileiros, sobretudo após a edição relevo suavizado e da elevada fertilidade física
da Política Nacional de Resíduos Sólidos dos solos.
(PNRS) em 2011. O Estado de Goiás possui um solo com as
Os Resíduos de Construção e Demolição, principais características da região do cerrado:
ou Resíduos da Construção Civil (RCC) estão cor avermelhada em função da grande presença
definidos no PNRS e pela Resolução Conama de óxido ferroso e ácido e sua composição foi
nº 307/2002, art. 2º, inc. I, como os produtos dada pelo Sistema Estadual de Geoinformação
de construções, revitalizações, preparação de de Goiás (SIEG, 2014). A área de estudo,
terrenos ou demolição relacionados à indústria enunciada pela figura 1, localiza-se em uma
da construção civil. região de vasta diversidade de solos.
O RCD é responsável por um grande
impacto ambiental e é, frequentemente,
disposto de maneira clandestina em terrenos
baldios, tendo sua potencialidade
desperdiçada. Contudo, com as políticas que
visam o gerenciamento dos resíduos da
construção civil, tal prática sofre desuso nos
últimos anos (SCHWENGBER, 2016).

2.2 Classificação dos Resíduos da Construção


Civil
Figura 1. Localização do município de Olhos
O Conselho Nacional do Meio Ambiente D’Água.
(CONAMA) considera a necessidade da
diminuição dos impactos causados ao meio Os solos do Estado de Goiás podem ser
ambiente pela indústria da construção civil. classificados em seis tipos: argissolos,
Sendo assim, o Conselho foi responsável pela cambissolos, chernossolos, gleissolos,
publicação de resoluções que visam latossolos e neossolos.
estabelecer procedimentos, diretrizes e
critérios para o descarte de resíduos, definindo 4 DEFORMAÇÃO DO SOLO
temas como resíduos da construção civil
(RCC), transportadores e geradores, agregado De acordo com Callister et al. (2008) muitos
reciclado e o seu gerenciamento adequado. materiais estão submetidos a cargas ou forças,
Publicada no ano de 2002 pelo CONAMA, quando empregados. Diante disso é de
a Resolução nº 307 os preceitos para o fundamental importância saber quais
gerenciamento de RCC, com foco em propriedades um determinado material possui,
estabelecer diretrizes para, se possível, a não de modo que ele satisfaça ao projeto e suporte
geração de resíduos, ou a aplicação dos “3Rs” esforços sem apresentar deformações
da sustentabilidade (reduzir, reciclar e excessivas ou ruptura.
reutilizar) pelos geradores de tais resíduos. A Esse comportamento mecânico está
resolução prevê ainda a implementação de um relacionado com a relação entre o carregamento
Plano Integrado de Gerenciamento de aplicado e sua resposta ao esforço. Por meio de
Resíduos da Construção Civil, a ser elaborado ensaios realizados em laboratório as
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propriedades mecânicas dos materiais podem maneiras diferentes de comportamento do
ser determinadas, simulando condições de material, de acordo com nível de deformação
trabalho. imposto, ilustrado na figura 3.
Segundo Hibbeler (2010) a resistência de O primeiro deles é o comportamento elástico
um material está relacionada com sua o qual é caracterizado pela reta da primeira
propensão de suportar um carregamento sem região do gráfico, indicando a
sofrer deformação excessiva ou ruptura. proporcionalidade existente entre tensão e
Essa é uma propriedade característica de deformação.
cada material e pode ser determinada pelo Um material se comporta de maneira elástica
ensaio de compressão. Apesar da possibilidade até o limite de elasticidade, a partir do qual o
de indicar muitas propriedades mecânicas corpo não volta a sua forma original depois que
importantes, esse ensaio é essencialmente uma carga é removida.
utilizado para definir a relação entre a tensão A segunda região da curva representa o
normal média e deformação normal média em escoamento, onde o material, submetido a uma
materiais. tensão superior àquela aplicada na região
Utilizando os dados registrados, pode-se elástica, sofre deformação permanentemente,
determinar a tensão nominal, ou tensão de ou deformação plástica.
engenharia, dividindo a força aplicada P pela Quando o escoamento é finalizado e uma
área original da seção transversal do corpo de nova tensão é aplicada é possível notar um
prova (CP). crescimento da curva até que uma tensão
Pelos resultados coletados no ensaio de máxima seja atingida, chamada de limite de
compressão, é possível calcular vários valores resistência. Esse comportamento é chamado de
da tensão e da deformação correspondentes no endurecimento por deformação.
corpo de prova e, então, construir um gráfico Por fim a estricção, representada pela última
com esses valores e a curva resultante é região do gráfico, mostra a curva alcançando
denominada diagrama tensão-deformação. um valor chamado de tensão de ruptura,
Hibeller (2010) ressalta que dois diagramas causando a quebra do corpo de prova.
tensão-deformação jamais serão idênticos, uma
vez que os resultados do ensaio dependem de
variáveis como taxa de carga utilizada,
imperfeições e composição do material e
temperatura, por exemplo.

Figura 3. Diagrama tensão-deformação para um


material dúctil, Hibbeler (2010).

4.1. Resistência à Compressão Simples (RCS)

O ensaio de resistência à compressão


simples é regulamentado pelo Departamento
Figura 2. Diagrama tensão deformação para um Nacional de Estradas e Rodagem (DNER) pela
plástico metacrilato, Hibbeler (2010). norma DNER-ME 201/94 -Solo-cimento -
compressão axial de CP cilíndricos.
O traçado desse gráfico indica quatro A norma estabelece o modo como deve ser
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realizado o ensaio de compressão axial de
corpos-de-prova cilíndricos moldados de solo-
cimento tanto para a determinação do teor de
cimento para a estabilização do solo quanto
para o controle de qualidade do solo-cimento
na obra.
Em virtude do presente trabalho focar no
comportamento de solo com RCD, não haverá
adição de cimento ao solo, de modo que
adaptações serão necessárias para a realização
do ensaio. Os resultados do ensaio RCS
permitem definir a tensão necessária para o
rompimento do corpo de prova, tensão de
ruptura, decorrente da compressão axial
atuante.
Essa tensão é calculada pela razão entre a
força aplicada e a área da seção transversal do
CP. A resistência a compressão simples de um Figura 4. Mapa de solos do Estado de Goiás, SIEG
solo coesivo pode ser determinada pela NBR (2014).
12770/1992 - Determinação da resistência à
compressão não confinada. Para a amostragem do solo, foi realizada
A norma estabelece os mecanismos para a uma escavação de 1,50 metro em maio de 2017
determinação da resistência à compressão, não na Rua B, 14. Após a retirada, o solo foi
confinada (ou simples), de CPs compostos de embalado em saco plástico para manter a
solos coesivos, por meio do emprego de carga umidade natural e encaminhado ao laboratório
axial. Para a realização do ensaio neste de mecânica dos solos, onde amostras foram
trabalho optou-se pela moldagem de CPs preparadas para secagem e realização dos
compactados. ensaios previstos.

4.2. Classificação do solo - Sistema Unificado


de Classificação de Solos 5. RESULTADOS E CONCLUSÕES

Para a classificação do solo empregado Foram selecionados os seguintes ensaios:


neste estudo foi utilizado o Sistema Unificado teor de umidade, ensaio por peneiramento e
de Classificação de Solos (SUCS), regulado sedimentação, limites de Atterberg e ensaio de
pela norma americana D2488-69 (AMERICAN compactação para a caracterização do solo
SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS – natural.
ASTM, 1975). Serão consideradas diferentes proporções de
Este sistema possui como parâmetros para a mistura de solo-RCD para a confecção da curva
classificação dos solos os limites de Atterberg, de deformabilidade pela tensão de acordo com a
granulometria e presença de matéria orgânica. Tabela 1. O material reciclado utilizado foi a
De acordo com o SUCS os solos são areia reciclada fina disponibilizada pela
enquadrados em três categorias principais: Fornecedora ABV.
solos de granulometria grossa, solos de
granulometria fina e solos orgânicos. Tabela 1. Teor de umidade utilizado.
Para o município de Olhos D’Água e de % SOLO SOLO = SOLO= SOLO =
UMIDADE NATURAL 80% 70% 60%
acordo com o mapa de solos, o solo
característico é o latossolo que, de acordo com 5% abaixo 12,35% 12,35% 10,35% 10,35%
Lopes e Guidolin (1989), são solos 3% abaixo 14,35% 14,35% 12,35% 12,35%
inorgânicos, profundos (normalmente
ÓTIMO 17,35% 17,35% 15,35% 15,35%
superiores a 2 metros), com cores variando de
vermelho a amarelo, apresentam alto teor de 3% acima 20,35% 20,35% 18,35% 18,35%
silte e argila e alta permeabilidade.
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


5% acima 22,35% 22,35% 20,35% 20,35% Rosangela Santos e Rodrigo Santos que, em
Assim, avaliou-se o comportamento diversos momentos, representaram apoio
mecânico e suas propriedades químicas e através de palavras e sentimentos de carinho.
físicas do solo em questão quando misturado a
resíduos de construção e demolição, REFERÊNCIAS
comprovando sua viabilidade para fins de
American Society for Testing and Materials (ASTM).
pavimentação. D2488 – 69. (1975) Recommended Practice for
Do gráfico abaixo, o qual mostra as curvas Description of Soils (Visual-Manual Procedure).
de compactação do solo natural com as de solo Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1992)
e RCD, é possível verificar que houve uma NBR 12770/1992. Solo coesivo - Determinação da
diminuição do teor de umidade ótima e resistência à compressão não confinada. Rio de
aumento do peso específico a medida que se Janeiro: ABNT, 4p.
adicionou RCD na mistura. Brasil. (2002) Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA). Resolução CONAMA nº 307, de 5 de
julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e
Gráfico 5 - Compactação solo natural e solo + RCD procedimentos para a gestão dos resíduos da
construção civil. Brasil, 2002. 3 p. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/estruturas/a3p/_arquivos/
36_09102008030504.pdf>. Acesso em: 14 mar.
2017.
______.______. (2011) Plano Nacional de Resíduos
Sólidos – Versão preliminar para consulta pública.
Brasília, DF. Disponível em: <
http://www.mma.gov.br/estruturas/253/_publicacao/
253_publicacao02022012041757.pdf>. Acesso em:
30 abr. 2017.
Callister Jr., W. (2008) Ciência e Engenharia dos
Materiais, uma introdução. 7ª Edição, Ed.
Como conclusões gerais os estudos Guanabara.
realizados com resíduos de construção e Departamento Nacional de Estradas e Rodagem
demolição configuram a possibilidade de reuso (DNER). (1994) DNER-ME 201/94: Solo-cimento
do RCD visando substituir recursos naturais, – compressão axial de corpos de prova cilíndricos.
escassos, diminuir a deposição ilegal de Rio de Janeiro.
resíduos sólidos, e até mesmo melhorar Hibbeler, R. C. (2010) Resistência dos Materiais. 7. Ed.
São Paulo: Pearson Prentice Hall.
propriedades geotécnicas dos materiais usados Lopes, A.; Guidolin, J. (1989) Interpretação de análise
nas obras. de solo: conceitos e aplicações. 2.ed. São Paulo,
A presente pesquisa também pode ANDA. 50p. (Boletim Técnico, 2). Disponível em:
influenciar a reutilização de resíduos de <http://www.anda.org.br/multimidia/boletim_02.pdf
construção e demolição, uma vez que, pelos >. Acesso em: 10 maio 2017.
resultados dos ensaios, percebe-se a melhora Scott Hodd, R. (2006) Análise da Viabilidade Técnica
do comportamento mecânico e estrutural do da Utilização de Resíduos de Construção e
Demolição como Agregado Miúdo Reciclado na
solo quando da incorporação do RCD. Confecção de Blocos de Concreto para
Pavimentação. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, RS.
AGRADECIMENTOS Departamento de Engenharia Civil. Disponível em:
< http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/
Ao nosso orientador, professor Eduardo 12112/000623333.pdf;sequence=1>. Cesso em 15
Montoya, pela paciência e dedicação expressas maio 2017.
Schwengber, E. R. (2016) Resíduos da Construção
nos diversos momentos de orientação, além de Civil. 2016. 82 f. Trabalho de Conclusão de Curso
representar uma direção consistente e sólida à (Especialização em Direito Ambiental Nacional e
elaboração deste trabalho. À coordenadora e Internacional) – Universidade Federal do Rio
aos demais professores do curso de Engenharia Grande do Sul, Porto Alegre. Disponível em: <
Civil do Centro Universitário IESB, por http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/1
transmitirem conhecimentos importantes para 43395/000994532.pdf?sequence=1>. Acesso em: 22
a nossa formação profissional. Em especial à abr. 2017.
Sistema Estadual de Geoinformação (SIEG). (2014)
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


Mapa de solos do Estado de Goiás. Atlas do Estado
de Goiás.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


Estabilização Dos Solos Com Cal (Um Estudo de Caso Dirigido a
um Solo Areno-argiloso na Formação Aquidauana)
Marcelo Macedo Costa
UFMS, Aquidauana, Brasil, marcelommc1@hotmail.com

Jaime Ferreira da Silva


UFMS, Aquidauana, Brasil, jaime.ferreira@ufms.br

RESUMO: O presente texto tem como objetivo apresentar estudos através de ensaios que tratam da
viabilidade das misturas solo-cal como suporte na pavimentação urbana nas cidades de Aquidauana-
MS e Anastácio-MS com utilização do Latossolo Vermelho-Amarelo. Nos procedimentos
metodológicos foram realizados cinco ensaios de compactação com as seguintes percentagens (2, 3,
5, 7 e 8), mistura do Latossolo Vermelho-Amarelo, expansão 0,19 % e ISC 36,5%. A mistura de 5%
dá a estabilização mecânica necessária e satisfaz a execução da pavimentação de ruas de baixo
tráfego, ficando seu custo um quinto (1/4) a menos sem a utilização do cascalho.

PALAVRAS-CHAVE: Suporte,Estabilização,Pavimentação

1 INTRODUÇÃO influenciar as propriedades de resistência


mecânica, permeabilidade e deformabilidade
Dentre as técnicas de estabilização de solos deste, atingindo-se, então, o objetivo de
em estradas, duas tem-se destacado devido ao estabilizá-lo.
sucesso alcançado com diversos tipos de solos: Quanto à estabilização química, objeto desta
(1) estabilização mecânica, por compactação ou pesquisa, solos estabilizados com cal (misturas
correção granulométrica; (2) estabilização solo-cal) são produtos conhecidos no contexto
química, com adição de cimento, cal e betume, técnico-científico internacional. A estabilização
entre outros materiais. solo-cal em estradas engloba várias
A estabilização mecânica por compactação modalidades, com especial destaque para:
refere-se ao processo de tratamento de um solo modificação dos solos pela ação da cal, com
com a finalidade de minimizar sua porosidade vistas a acelerar o processo construtivo; melhoria
pela aplicação de sucessivas cargas, pressupondo do subleito; e, melhoria da resistência e
que a redução do volume de vazios relaciona-se durabilidade dos solos de graduação fina, no
com um ganho de resistência mecânica. Por intuito de utilizá-los, após a estabilização, como
outro lado, a estabilização mecânica engloba as camadas tradicionais dos pavimentos
melhorias introduzidas em um solo pela mistura rodoviários.
deste com outro ou outros materiais que No Brasil, os estudos sobre o emprego de
possibilitem a obtenção de um novo produto com agentes estabilizantes nos solos, até o presente
propriedades adequadas para determinados fins momento, gozam de pouca divulgação e não
de engenharia. estão regulamentados pelos organismos
Com relação a estabilização química, pode-se estaduais e federais rodoviários, via
afirmar que ela consiste na adição de um especificação de serviço.
determinada substância química ao solo, de Referindo-se a geologia da Formação
modo a resultar em mudanças que venham a Aquidauana, o conhecimento que esta é dividida

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em três intervalos estratigráficos, segundo Em se tratando de processos de estabilização
SHNEIDER et al. (1974) a saber: a) o inferior, dos solos e, considerando que a modalidade solo-
caracterizado por conglomerado basal seguido cal goza de boas referências bibliográficas no
de arenitos vermelhos a róseos, médios e meio técnico brasileiro, é de interesse uma breve
grossos, com estratificação cruzada acanalada, citação aos estabilizantes comumente
diamictitos e arenitos esbranquiçados; b) o empregados e aos processos de estabilidade solo-
intervalo médio, de siltitos, folhelhos e arenitos cal, em particular.
finos, vermelhos e róseos, laminados, com
intercalações de diamictito e folhelho cinza- 2.1 Materiais
esverdeado; e c) o intervalo superior, dominado
por arenitos vermelhos com estratificação 2.1.1 A Cal
cruzada.
Complementando estas informações, Cal hidráulica é o aglomerante que resulta da
CORRÊA et al. (1979) divide a Formação calcinação e posterior pulverização por
Aquidauana em três unidades informais, a saber, processos de imersão ou suspensão em água, de
a) a inferior, de arenitos, arcóseo, subarcóseo e calcários argilosos a uma temperatura inferior à
arenitos conglomeráticos mal selecionados, com da fabricação dos cimentos.
seixos de quartzito e gnaisses; b) a unidade Em função de sua composição química, a cal
média, de siltitos e argilitos com intercalações de hidráulica é definida pelo índice de
arenitos e diamictitos; e c) a unidade superior, hidraulicidade de VICAT (I) ou pelo módulo de
composta de arcóseos e arenitos, hidraulicidade (M), que são dados pelas relações
subordinadamente siltitos. Dados palinológicos que se seguem, em que se consideram as
apresentados por DAEMON e QUADROS percentagens em peso de seus elementos
(1970), indicam que a Formação Aquidauana é constituintes:
do Carbonífero Superior (Stephaniano).
Em toda essa área, o clima é bastante variável, ܵ௜ ܱଶ ൅ ‫݈ܣ‬ଶ ܱଷ ൅ ‫݁ܨ‬ଶ ܱଷ ൅ ‫݁ܨ‬ଶ ܱଷ
‫ܫ‬ൌ 
mas são os fatores litológicos e geomorfológicos ‫ ܱܽܥ‬൅ ‫ܱ݃ܯ‬
que respondem pelas diferentes fisionomias
savanícolas observadas. O clima é do tipo ‫ ܱܽܥ‬൅ ‫ܱ݃ܯ‬
termoxeroquimênico atenuado. A duração do ‫ܯ‬ൌ 
ܱܵ݅ଶ ൅ ‫ܫܣ‬ଶ ܱଷ ൅ ‫݁ܨ‬ଶ ܱଷ
período seco é 3 a 4 meses e as precipitações de
1000 mm a 1500 mm anuais. 
A partir de um perfil de solo característico da
O tempo de pega, não só das cales, mas dos
Formação Aquidauana, pode-se distinguir os
aglomerantes hidráulicos em geral é função do
seguintes horizontes:
índice de hidraulicidade: quanto maior o índice
Horizonte B: Apresenta-se como uma
de hidraulicidade I, tanto mais rápida a pega da
camada bastante espessa, de coloração vermelha
cal, ou do aglomerante.
ou vermelha-amarelada e classificam-se em
Horizonte B latossólico; Horizonte B textural; As matérias-primas para a fabricação das
Horizonte B incipiente; Horizonte grei e cales hidráulicas são os calcários impuros: com
Horizonte esporádico. 20% - 30% de argila e 70% - 80% de calcário
Diante das características de ocorrência de (CaCO3).
solos nesta região, Formação Aquidauana/MS,
esta pesquisa tem como objetivo efetuar um A fabricação da cal hidráulica é realizada nos
estudo de laboratório para averiguar a eficiência mesmos tipos de fornos empregados para a
da estabilização com cal de um solo com obtenção de cal aérea, que tanto podem ser
propriedades areno-argiloso característico do intermitentes como contínuos.
horizonte B. A “American Society for Testing Materials”
(ASTM), em sua designação C 141-67, atualizada
2 REVISÃO DE LITERATURA em 1978, estabelece as seguintes especificações
para os tipos definidos de cal hidráulica:

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Cal hidráulica de alto teor em cálcio – cal que De acordo com ensaios de laboratório o solo
não contém mais de 5% de óxido de magnésio SCA pode ser descrito como constituído de
(da porção não volátil). 65,75% de fração de areia e de 34,25% de fração
silte e argila, segundo a escala granulométrica
Cal hidráulica magnesiana – cal que contém adotada pelo DNIT (2006). Para este solo,
mais de 5% de óxido de magnésio (da porção não reporta, também, um limite de liquidez de
volátil). 17,6%, um índice de plasticidade de 2,3 e a
2.1.2 A Estabilização Solo-Cal presença de caulinita, oxi-hidróxidos (goethita e
hematita) e hidróxido de alumínio (gibbsita).
No emprego das misturas solo-cal considera-
se, de modo geral, os solos de granulometria fina,
onde a cal pode ser utilizada como um agente 3.1.2 Os Estabilizantes
estabilizador primário e único. A ação da cal
nestes solos está ligada a fenômenos de troca A cal utilizada nas misturas foi uma cal
catiônica, responsáveis por ações de floculação, hidratada, fabricada pela indústria de calcinação
e a reações pozolânicas, responsáveis por efeitos (Calcinação MAX) e denominada Supermax CH
de cimentação LIMA et al. (1993). Os autores I, empregada em argamassas em várias cidades.
fazem referências à troca catiônica em geral,
como também às mudanças na plasticidade do 3.2 Métodos
solo e podem dar origem, ainda a pequenos
aumentos na resistência mecânica das misturas 3.2.1 Metodologia de Campo
solo-cal, enquanto que as reações pozolânicas
resultam em consideráveis ganhos de resistência As amostras foram colhidas em taludes com
mecânica. pá, enxada, picareta. Após a aquisição das
Segundo a TRB (2012), recomenda-se que os amostras, estas foram armazenadas no
solos nos ensaios para fins de dosagem em Laboratório do Instituto Federal de Mato Grosso
percentagem da cal na estabilização, estes terão do Sul (IFMS) para posterior emprego nos
ganhos significativos de resistência com o ensaios oportunos.
respectivo estabilizante, do ensaio de
compressão simples de amostras moldadas na 3.2.2 Metodologia de Laboratório
energia do ensaio de compactação Proctor
Normal; no caso em que se deseje uma melhor Os procedimentos de laboratório englobaram
trabalhabilidade do solo, com ganhos modestos as seguintes etapas:
de resistência mecânica, além dos ensaios de - Peneiramento das amostras em peneiras de
compressão simples, pode-se utilizar, também, o abertura de malha 2 mm;
Índice de Suporte Califórnia (ISC). - Secagem do solo à sombra, com as amostras
recolhidas em bandejas;
3 MATERIAIS E MÉTODOS - Armazenamento das amostras em sacos
plásticos, vedados, para posterior utilização.
3.1 Materiais Logo após esta sequência, procedeu-se aos
seguintes ensaios de caracterização do solo:
3.1.1 O Solo - Granulometria: NBR 7217/87;
- Massa Específica dos Grãos do Solo: NBR
A escolha incidiu sobre um solo Latossolo 6457/86;
vermelho amarelo, ocorrendo no horizonte B, em - Limites de Atterberg: NBR-6459/ABNT
uma rampa de corte na BR-419, município de (LL), NBR-7180/ABNT (LP);
Aquidauana, km 14. Este material, aqui - Compactação: NBR 7182/86 (Ensaio de
denominado de SCA, de comportamento pouco Compactação Proctor Normal ).
expansivo não tem sido objeto de estudos nos Em relação aos ensaios de compressão
Setores de Geotecnia. simples e compressão diametral, bem como o
ensaio ISC (energia normal de compactação),

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todos os corpos de prova foram moldados à partir e 14 dias, sendo uma metade ensaiada em
de valores da massa específica seca máxima e do compressão simples e a outra em compressão
teor de umidade ótimo, que constituem-se em um diametral, a velocidade de 1,00 mm/min.
par ordenado obtido do ensaio de compactação.
Os corpos de prova para os ensaios de 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
compressão simples e diametral foram moldados E DISCUSSÕES PERTINENTES
por processo dinâmico, em três camadas
submetidas ao esforço de compactação do 4.1 Apresentação dos resultados
Proctor Normal. Os corpos de prova
apresentaram dimensões de 100 mm de diâmetro O Quadro 1 apresenta os resultados dos
por 125 mm de altura. A ruptura dos corpos de ensaios de caracterização tecnológica do solo
prova se deu na velocidade de 1,00 mm/min. SCA e o Quadro 2 traz os resultados dos ensaios
Quanto aos ensaios de ISC, os corpos de de compactação executados com as misturas.
prova foram moldados na energia de As variações da resistência mecânica a
compactação do ensaio Proctor Normal. A compressão simples e diametral para diferentes
seguir, levou-se os corpos de prova devidamente teores de cal em função do tempo de cura das
aparelhados com a sobrecarga e tripés de leitura misturas são evidenciadas nos Quadros 3 e 4,
de expansão à câmara úmida onde ficaram sendo que a relação entre as resistências à
imersos em tanques de água por 96 horas, com compressão simples e diametral. Obtidas nos
leituras de expansão a cada 24 horas. Findada ensaios, são apresentadas no Quadro 5.
esta etapa, os corpos de prova foram levados a Os resultados dos ensaios ISC constam do
uma prensa CBR para fins de avaliação da Quadro 6.
capacidade de suporte.
Procurou-se avaliar o comportamento do solo 4.2 Discussão dos Resultados
SCA , na forma: adição de cal ao solo seco ao ar,
nos teores de 2%, 3%, 5%, 7% e 8%. Todos os 4.2.1 Ensaio de Compactação
percentuais referem-se à massa seca do solo.
Para as misturas obtidas nestes percentuais Para as misturas solo-cal, notou-se uma
(solo-cal), quase não se encontram disponíveis, diminuição da massa específica seca máxima
no Brasil, especificações para os ensaios de para 7% e 8% e um aumento no teor da umidade,
compactação e resistência. para teores crescentes a partir de 5% de cal.
Para os ensaios de compactação, as misturas
foram obtidas adicionando-se ao solo, 4.2.2 Ensaio de Compressão Simples
inicialmente, a cal deixando-se a mistura em
repouso por 24 horas. Em seguida, procedeu-se, Notou-se, para as misturas solo-cal, um
então, ao ensaio de compactação. crescimento da resistência em função do
Quanto à determinação do valor ISC das aumento do teor de cal ( menos a do 3%) e do
misturas, a metodologia empregada no ensaio foi período de cura das amostras, conforme no
a mesma citada no item 3.2.2 Metodologia de Quadro 3.
Laboratório. A medida que se elevou o teor de cal para 8%
Com relação aos corpos de prova a serem nas misturas solo-cal, Quadro 3, notou-se ganho
rompidos nos ensaios de compressão simples e significativo na resistência mecânica com
compressão diametral, estes foram moldados à aumentos no tempo de cura e perda no 3% .
semelhança do processo descrito também no
item 3.2.2 Metodologia de Laboratório. Foram 4.2.3 Ensaio de Compressão Diametral
preparados doze corpos de prova por teor de
mistura do solo e agentes estabilizantes, os quais Os resultados do ensaio de compressão
foram armazenados em sacos plásticos vedados diametral, apresentados no Quadro 4 reafirmam
e identificados, após o que foram mantidos em o comportamento observado a partir dos dados
câmara úmida. Os corpos de prova foram do ensaio de compressão simples, para as
rompidos, respeitando-se os dias de cura de 1, 7 misturas solo-cal. Para o período de cura de 14

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dias os teores de cal, exceção 3%, os resultados (Valores kPa)
obtidos apresentam altas substanciais nas Mistura Dias de Cura
1 Dia 7 Dias 14 Dias
resistências medidas e pouca dispersão.
SCA 77 104 135
SCA+2%CAL 92 132 188
4.2.4 Índice Suporte Califórnia SCA+3%CAL 122 175 200
SCA+5%CAL 105 150 215
Em relação às misturas solo-cal (Quadro 6) SCA+7%CAL 146 209 298
observou-se um aumento substancial nos valores SCA+8%CAL 154 220 314
ISC, podendo-se citar o percentual de 45,2% de
Quadro 5 – Variação da Relação Compressão Simples/
ganho para o teor de 2%, e, crescente, chegando Compressão Diametral das misturas Solo-cal em relação
a 87,1% em 8% , não houve expansão para aos dias de cura.
teores crescentes de cal. Em relação ao solo, este Mistura Dias de Cura
resultado de acordo com FERRAZ (1994) 1 Dia 7 Dias 14 Dias
corresponde com as pesquisas realizadas. SCA 3,73 3,59 3,59
SCA+2%CAL 6,60 6,57 6,59
SCA+3%CAL 4,70 4,67 5,85
5 QUADROS DE RESULTADOS SCA+5%CAL 5,88 5,88 5,86
SCA+7%CAL 4,16 4,15 4,16
Quadro 1 – Parâmetros Tecnológicos do Solo SCA SCA+8%CAL 4,39 4,39 4,39
LL (%) IP (%) ISC (%) EXP (%)
17,6 2,3 36,5 0,19 Quadro 6 – Resultados referentes à expansibilidade do
solo, via ensaio ISC.
LP (%) RCS ‫ڜ‬d Máx Wot H.R.B. Misturas ISC Expansibilidade
(kPa) (g/cm³) (%) (%) (%)
15,3 3,5 2,049 9,9 A-2-4 SCA 36,5 0,19
SCA+2%CAL 53,0 0
SCA+3%CAL 54,6 0
Quadro 2- Resultados referentes às curvas de compactação SCA+5%CAL 59,4 0
mistura Teor de umidade Massa SCA+7%CAL 56,7 0
ótimo % específica seca SCA+8%CAL 68,3 0
máxima g/cm³
SCA 9,9 2049 6 CONCLUSÃO
SCA + 2%CAL 9,7 2060
SCA + 3%CAL 9,8 2040 A presente pesquisa permitiu concluir que:
SCA +5%CAL 10,3 2018 a) Resultados Relativos à Resistência à
SCA + 7%CAL 12,0 1880 Compressão simples:
SCA + 8%CAL 12,4 1892 x Misturas Solo-cal: Houve um ganho
de resistência para todas as misturas e
todos os dias de cura analisados,
Quadro 3 – Variação da Resistência à compressão simples resultando em resistência à
das misturas Solo-cal em relação aos dias de cura.
(Valores em kPa) compressão simples maior que aquela
Mistura Dias de Cura do solo natural em até 87,1%, como
1 Dia 7 Dias 14 Dias foi o caso da mistura solo-cal com 8%,
para o período de cura de 14 dias.
SCA 287 373 485
b) Resultados Relativos à Compressão
SCA+2%CAL 607 867 1239
Diametral
SCA+3%CAL 573 818 1169
x Misturas Solo-cal: Observou-se um
SCA+5%CAL 617 882 1260 comportamento semelhante aquele
SCA+7%CAL 607 867 1239 detectado a partir dos resultados dos
SCA+8%CAL 676 966 1380 ensaios de compressão simples,
porém, notando-se uma maior redução
dos resultados do ensaio de .
Quadro 4- Variação da Resistência à Compressão SCA+3%CAL
Diametral das misturas solo-cal em relação aos dias de
cura.

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c) Resultados Relativos ao índice de Suporte
Califórnia (ISC)
x Para as misturas solo-cal, observou-se
um aumento significativo nos valores
ISC e não houve expansão para teores
crescentes de cal.

7 COMENTÁRIOS FINAIS

Avalia-se que este estudo com a aplicação da


cal a 5% no Latossolo Vermelho-Amarelo atinge
o suporte necessário para a pavimentação urbana
de baixo tráfego das cidades de Aquidauana-MS
e Anastácio-MS, sem a necessidade de utilização
de cascalho.

8 AGRADECIMENTOS

Externamos os nossos agradecimentos ao


Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS),
ao laboratorista Hélvercio Rodrigues da
Empresa Técnica de Engenharia Ltda (ETEL) e
a Pró reitoria de Pós Graduação da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).

REFERÊNCIAS

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Lewski, G.; Cavallon, L. A.; Cerqueira, N. L. S.;
Nogueira, V. L. Projeto Bodoquena: relatório final.
Goiânia: CPRM, 1976. 8 v. Convênio DNPM /
CPRM.).
Daemon, R. F.; Quadros, L. P. Bioestratigraia do
Neopaleozóico da bacia do Paraná. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 24., 1970, Brasília.
Anais ... Brasília: SBG, 1970. p. 359-412.
DNIT. Manual de Pavimentação, 2 ed. Rio de Janeiro,
2006.
Ferraz, R.L.; “Contribuição ao estudo da estabilização
dos solos para fins rodoviários e habitacionais”.
Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de
Viçosa, Viçosa-MG.1994
Lima, D.C.; Rohm, S.A.; Barbosa, P.S “Estabilização dos
solos III: Misturas solo-cal para fins
rodoviários”.Impresa Universitária, Universidade
Federal de Viçosa, Publicação nº334, Viçosa-MG.
32p.1993.
Schneider, R. L.; Mühlmann, H.; Tommasi, E.; Medeiros,
R. A.; Daemon, R. F.; Nogueira, A. A. Revisão
estratigráfica da Bacia do Paraná. In: Congresso
Brasileiro de Geologia, 28. Porto Alegre.1974
TRB, “State-of-the-art: Lime Stabilization: Reactions,
Properties, Design, Construction”. In: Transportation
Research Board. august 2012.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Estudo de caracterização do solo da Estrada Coaceral Sul,
município de Formosa do Rio Preto-Bahia.
Pedro Henrique Rocha Santana
Engenheiro Civil, Barreiras, Bahia, Brasil, pedrohrs@outlook.com

Vinícius de Oliveira Kühn


Universidade Federal do Oeste da Bahia, Barreiras, Brasil, vinicius.kuhn@ufob.edu.br

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo principal avaliar uma estrada não pavimentada localizada
no extremo Oeste da Bahia, no município de Formosa do Rio Preto. Essa avaliação ocorreu através
do levantamento visual de campo e análise laboratórial do solo. Após as análises, foi possivel
classificar o solo em arenoso com porcentagens de material fino (silte e argila). A estrada apresentou
em sua grande parte, graduação uniforme com baixa capacidade de suporte e fraca plasticidade. Outro
aspecto relevante na estrada, está na falta de um sistema drenagem eficente ao longo de toda a sua
extensão.

PALAVRAS-CHAVE: Estrada não pavimentada, análise visual da superfície; análise laboratorial.

1 INTRODUÇÃO O objetivo desse trabalho é avaliar a estrada da


Coaceral Sul através do levantamento visual da
De acordo com os dados da Confederação estrada e ensaios geotécnicos laboratoriais
Nacional de Transporte-CNT (2016), o Brasil
possuía uma malha rodoviária de 1.720.756 km 2 REVISÃO DE LITERATURA
de extensão, sendo 211.468 km de rodovias
pavimentadas, o que corresponde a 12,3% do 2.1 Infraestrutura rodoviária do oeste da Bahia
total, 1.351.979 km de rodovias não e contexto retgional
pavimentadas, ou seja 78,6% da malha
rodoviária brasileira, além de 157.309 km de Segundo Santos Filho e Rios Filho (2008), a
rodovias planejadas, correspondente a 9,1% da fundação de Brasília no ano de 1960 possibilitou
malha nacional. uma maior interligação das regiões do país. O
Nesse contexto o estudo das vias não governo federal passou a investir na ampliação
pavimentadas surge como fator importante para da sua malha rodoviária a partir do projeto de
as rodovias, visto que abrange a maioria das Integração Nacional. Nesse contexto, surge
estradas do país. Logo, é fundamental o rodovias de extrema importância no oeste baiano,
desenvolvimento de pesquisas que colaborem na como é o caso da BR-135 e BR-242, que
soluções dos corriqueiros problemas encontrados possibilitaram a ligação da região oeste com a
nesse tipo de estrada. capital federal e a capital do estado
O estudo geotécnico surge com a respectivamente. A partir de então, outras
responsabilidade de investigar o solo com o importantes rodovias foram sendo construídas na
intuito prever o comportamento do terreno de região, possibilitando a ligação do oeste da Bahia
qualquer obra construtiva, além de fornecer os com grandes centros consumidores.
parâmetros básicos para determinar a capacidade Na região Oeste da Bahia, algumas iniciativas
de suporte do solo. de recuperação de estradas partem da iniciativa
privada, como é o caso de parcerias da
Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


(AIBA) e o governo do estado, bem como da De acordo com Fontenele (2001), a superfície
Associação Baiana dos Produtores de Algodão de uma estrada não pavimentada sofre mudança
(ABAPA). em um ciclo muito acelerado, de forma que é
Segundo a Associação Baiana de Produtores necessária manutenção nessas vias em um
de Algodão (2016), um grande projeto de período de 1 a 2 anos, ao contrário das rodovias
recuperação das estradas do oeste baiano é a pavimentadas que são planejadas para durarem
Patrulha Mecanizada, criada no ano de 2013 com de 5 a 20 anos.
o intuito de melhorar o transporte de cargas do
Oeste para os principais centros comerciais. O 3 MATERIAIS E MÉTODOS
programa conta até o ano de 2017 com cerca de
1000 km de pavimento recuperado, promovendo 3.1 Escolha da via analisada
ainda a preservação do meio ambiente e
melhorias na drenagem de águas pluviais. A A estrada da Coaceral Sul está localizada no
Figura 1 mostra um trecho de recuperação de município de Formosa do Rio Preto no extremo
estrada da Patrulha Mecanizada. oeste da Bahia, o estudo da via contempla 37 km
de extensão sendo iniciada na interceptação com
a BA-225 e seu final à 2 km da ponte do Rio
Sapão. A estrada não pavimentada serve de
escoamento de grãos para várias fazendas da
região com destino aos principais portos
nacionais. A Figura 2 mostrada a localização da
estrada em estudo e as principais vias em seu
entorno.

Figura 1 – Projeto Patrulha Mecanizada. Fonte: ABAPA,


2016.

2.2 Operação e conservação de rodovias não


pavimentadas

No Brasil, apesar da malha rodoviária não


pavimentada ser bastante superior da malha
pavimentada, poucas informações são Figura2– Estrada da Coaceral Sul e principais vias da
divulgadas a respeito da conservação e região. Fonte: Modificado de Google Earth, 2017.
manutenção dessas estradas. Com isso, muitas
estradas que sofrem algum tipo de intervenção, 3.1 Elementos avaliados e procedimento de
são executadas através de métodos empíricos, análise.
sem o emprego de mão de obra qualificada e
utilizando materiais de baixa qualidade. Para melhor avaliação da superfície da Coaceral
Segundo Oda (1995), a drenagem nas Sul, os 37 km de extensão da via foram divididos
estradas não pavimentadas pode ser feita de duas em 20 trechos, cada qual contendo 1,85km.
maneiras, a primeira superficial e a segunda Foram avaliados em cada trecho, a existência ou
subterrânea. A superficial tem a finalidade de não das patologias definidas no Manual de
captar e remover a água da superfície do Conservação e Recuperação das Estradas
pavimento. Para isso, é recomendado que as Vicinais, pelo IPT (1988). Em cada trecho foi
estradas não pavimentadas possuam coletado amostras de solo para analise
abaulamento transversal que variam de 3 a 4%. laboratorial por meio de ensaios de
Já a drenagem subterrânea tem a finalidade de caracterização.
interceptar as águas no subsolo do leito da Para obtenção das caracteristicas do solo,
estrada. foram realizados os ensaios de granulometria,

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segundo a NBR 7181 (1984a), limite de liquidez
conforme a NBR 6459 (1984b), Limite de
plasticidade, NBR 7180 (1984c), massa
especifica dos grãos, NBR 6508 (1984d),
Ensaios de compactação conforme a 7182 (1986)
e I.S.C confome DNER ME 172 (2016).

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Avaliação das patologias.


Figura 4 –Formação de atoleiros na borda da pista.
Na avaliação visual da estrada Coaceral Sul,
pôde-se notar em diversos trechos, problemas de Foi observado a formação de erosão como
drenagem que culminaram na formação de mostrado na Figura 5. Esse tipo de problema
panelas e atoleiros, tanto no eixo quanto nas geralmente começa na formação de pequenos
bordas da pista. Em cada trecho da estrada foi sulcos onde o solo possui baixa resistência,
avaliado o nível em que se encontrava o eixo da porém com a falta de escoamento da água, os
via em relação as bordas,para verificação de sulcos começam a se transformar em grandes
abaulameto ou não nos trechos da estrada. ravinas. Esse problema pode estar atrelado ainda
Na avaliação dos 37 km da estrada, cerca de ao carreamento de finos para o interior do solo
80% (29,70 km) se encontrava com pouco ou local, semelhante a erosão interna que ocorre em
nenhum tipo de abaulamento em sua seção barragens de terra, fenômeno muito comum em
transversal, sendo 60% (22,30 km) do eixo da via solos com curvas granulométricas mal
se encontrava no mesmo nível das bordas e 20% graduadas, que possuem baixa estabilidade ao
(7,4km) abaixo. Nesses trechos foram fluxo de água através do solo.
encontradas as piores condições de rolamento da
pista, estando presente grande quantidade de
buracos, conforme apresentado na Figuras 3.

Figura 5 – Formação de erosão em trecho da Coaceral Sul.

Figura 3 – Grande quantidade de buracos na via. Outra patologia encontrada com frequência na
Coaceral Sul, foi o excesso de material de fino
Devido ao estudo ter sido realizado no período evidenciado principalmente com o levantamento
chuvoso da região, foi nítido a grande dificuldade de nuvem de poeira na passagem de caminhões
do escoamento das águas pluviais. Outra pesados, como mostrado na Figura 6. Esse tipo
patologia associada com falta de um sistema de de patologia coloca em risco a segurança dos
drenagem eficiente foi evidenciada em campo na condutores devido a diminuição da visibilidade
formaçao de atoleiros, conforme mostrado nas da pista, além de reduzir a vida útil dos motores
Figuras 12. Além disso essas patologia pode ter dos veículos.
sido causadas pela baixa capacidade de suporte
do subleito em relação ao grande fluxo de
veículos pesado na via.


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patologias como: trilha de rodas, excesso de pó,
segregação lateral, ondulações, entre outros

Figura 6 – Excesso de pó em trecho da CoaceralSul.

Foi observado que em 95% da extensão da via Figura 8 - Curvas granulométricas das 10 primeiras
amostras.
foi apresentado pelo menos um tipo de patologia,
em algumas regiões foram avaliados até 4
defeitos ocorridas em um único trecho. Na Figura
7 é apresentado todas as patologias evidenciadas
em campo.

Figura 9- Curvas granulométricas das 10 ultimas amostras.

4.2.2 Limites de consistência e massa especifica


dos grãos.

Figura 7– Patologias encontradas na Coaceral Sul Na tabela 1 são apresentados os valores


encontrados para as 20 amostras da Coaceral Sul
4.2 Resultados dos ensaios laboratoriais. no que se diz respeito a massa especifica, ao
limite de liquidez, limite de plasticidade e o
4.2.1 Análise Granuloemétrica. índice de plasticidade.

As curvas granulométricas das 20 amostras da Tabela 1– Limites de consistência e massa especifica das
Coaceral Sul foram expostas nas Figuras 8 e 8. 20 amostras da estrada.
Foi observado que a estrada em estudo é  Massaespecífica Limitede Limitede Índicede
composta por cerca de 60% de areia média, Amostra
1
(g/cm³)
2,729
liquidez(%)
18,00
plasticidade(%)
14,83
plasticidade(%)
3,17
seguido por cerca de 20% de areia fina e 20% 2
3
2,645
2,701
18,40
15,4
12,00
11,4
6,40
4,00
distribuído entre silte e argila, em seus 37 km de 4
5
2,896
2,768
12,4
16,5
10,4
12,4
2,00
4,1
via. Em virtude do solo ser composto 6
7
2,901
2,930
6,5
14,4
NP
NP
NP
NP
basicamente por areia de pequena dimensão 8 2,986 12 NP NP
9 3,004 13,5 NP NP
associado a grande quantidade de material fino, 10 2,853 14,5 10,99 3,51

o solo da estrada apresenta baixa permeabilidade.


11 2,852 15,00 11,95 3,05
12 2,448 15,3 12,04 3,26

Pôde-se notar a presença de material fino 13


14
2,745
2,587
16,03
15,9
13,3
13,5
2,73
2,4

presente em todas as amostras. Em contrapartida, 15


16
2,745
2,828
14,3
15,1
12,5
13,05
1,8
2,05
os grãos de grande dimensão (Pedregulho e Areia 17
18
2,649
2,670
14,8
15,10
12,1
13,10
2,7
2,00
Grossa) não foram encontrados no ensaio. Esse 19
20
2,890
2,750
16,20
15,4
13,4
13,04
2,8
2,36
tipo de solo revela um desequilíbrio de material
presente na estrada, favorecendo o surgimento de Os solos que apresentam grande quantidade de
material fino (silte e argila), são materiais mais

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plásticos. Verificou-se que 80% das amostras se
encontrava na faixa de fraca plasticidade, ou seja,
apesar de apresentarem porcentagens de material
fino, o material arenoso foi predominante.

4.2.3 Classificação do Solo. Tabela 3 – Condições de compactação 20 amostras.


Amostra Densidadesecamáxima(g/cm³)Umidadeótima(%)

Com base nas análises granulométricas e de 1


2
1,9612,60
1,7414,00
consistência pôde-se determinar a classificação 3 1,7313,10

do solo segundo o Sistema Unificado (SUCS) e 4


5
1,9010,20
1,6513,10
Classificação Rodoviária (HRB), conforme 6 2,0012,00

apresentado na Tabela 2.
7 1,9012,10
8 1,8810,40
9 2,009,60
10 1,8011,80
Tabela 2– Classificação SUCS e HRB. 11 1,7811,70
Amostra Índicedegrupo ClassificaçãoSUCS ClassificaçãoHRB 12 1,9712,40
1 0 SM AͲ2Ͳ4 13 1,8411,50 
2 0 SMͲSC AͲ2Ͳ4 14 1,8211,20
3 0 SMͲSC AͲ2Ͳ4 15 1,8811,00
4 0 SM AͲ2Ͳ4 16 1,829,80
5 0 SMͲSC AͲ2Ͳ4 17 1,899,60
6 0 SM AͲ2Ͳ4
18 1,889,80
7 0 SM AͲ2Ͳ4
19 1,8910,00
8 0 SM AͲ2Ͳ4
20 1,9010,50
9 0 SM AͲ2Ͳ4
10 0 SM AͲ2Ͳ4
11 0 SM AͲ2Ͳ4
12 0 SM AͲ2Ͳ4
13 0 SM AͲ2Ͳ4
14
15
0
0
SM
SM
AͲ2Ͳ4
AͲ2Ͳ4
4.2.5 Indice de Suporte Califórnia.
16 0 SM AͲ2Ͳ4
17 0 SM AͲ2Ͳ4
18 0 SM AͲ2Ͳ4 Os valores do Indice de Suporte California
19
20
0
0
SM
SM
AͲ2Ͳ4
AͲ2Ͳ4 (I.S.C.), são apresentados na Tabela 4 segundo
suas respectivas umidade otima. Foi verificado
valores adequados apenas para material de
De acordo com a Tabela 2, das 20 amostras de
subleito ( •2%), devido a falta de materiais de
solo 17 (85%) foram classificadas como areia
maiores resistências o solo apresentou baixa
siltosa (SM) e 3 (15%) classificadas como areia
capacidade de suporte ao longo dos 20 trechos da
siltosa-argilosa (SM-SC) segundo os parâmetros
estrada, variando o I.S.C de 5 a 14%.
do Sistema de Classificação Unificada. Já para a
Classificação Rodoviária (HRB) 100% das Tabela 4 – I.SC das 20 amostras da Coaceral Sul.
amostras se encaixaram no subgrupo A-2-4 ,
sendo considerado material de predominância
AmostraUmidadeÓtima(%) I.S.C(%)
arenosa , com variadas porcenatgens de material 112,60 8,10
fino (silte e argila) ao longo dos 20 trechos. 214,00 7,00
313,10 5,80
410,20 14,00
4.2.4 Ensaio de Compactação. 513,40 7,80
612,00 10,10
712,10 11,30
Devido a maior coesão do material fino, as 810,40
99,60
9,90
11,00
amostras com maiores porcentagens de silte e 1011,80 10,00
argila apresentaram valores de umidade ótima na 1111,70
1212,40
11,90
11,00
faixa de 12 a 14% enquanto que as amostras com 1311,50 11,00

pequena quantidade de finos apresentaram 1411,20


1511,00
10,15
9,80
umidade ótima na faixa de 9 a 13%,conforme 169,80 8,80

apresentado na Tabela 3. 179,60


189,80
9,00
11,80
1910,00 13,20
2010,50 10,20

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Associação Brasileira De Norma Técnicas, ABNT NBR
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 7182: Solo – Ensaio de compactação-Métodos de
Ensaio. Rio de Janeiro, 1986b.

Pelos resultados laboratoriais das 20 amostras de


solo, percebeu-se que a falta de materiais de CNT – Confederação Nacional do Transporte. (2016).
Pesquisa CNT de rodovias 2016: relatório gerencial.
maior resistência foram determinantes para o CNT: SEST: SENAT, Brasília, 399 p.
aparecimentos da maioria das patologias. Além
disso a falta de manutenção rotineira na via, DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura
colaborou para o agravamento das patologias já de Transporte. IPR 719: Manual de Pavimentação, 3ª
existentes. Ed. Rio de Janeiro, 2006, 274 p.
A mal graduação do solo, possibilitou a DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de
formação de camadas de baixa resistência e de Transporte. IPR ME 172:  Determinação do Índice de
pequena durabilidade. Nos periodos chuvosos foi Suporte Califórnia utilizando amostras não trabalhadas-
nitido a falta de sistema de drenagem em boa Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2016.
parte da rodovia, formando grandes poças d’água
e atoleiros. Fontenele, H.B. Estudo para Adaptação de um Método de
A mistura desse solo com material de Classificação de Estradas Não Pavimentadas às
granulação grosseira, como é o caso do cascalho, Condições do Município de São Carlos/SP. Dissertação
pode ser uma solução viavel na região, em Mestrado, São Carlos,2001.
virtude das grandes áreas de cascalho presentes
Oda,S.Caracterização de uma rede municipal de estradas
em regiões vizinhas. Esse tipo de mistura pode não pavimentadas. Dissertação de Mestrado. São
dar ao solo uma estrutura mais compacta, devido Carlos,1995.
a melhor interação do material fino nos
intertiscios do material grosseiro, aumento a sua Santos, A. R., Pastore E. L. Junior F. A. CUNHA, M.
A. Estradas Vicinais de Terra. Manual Técnico para
resistência.
Conservação e Recuperação. Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. 2ª edição,
REFERÊNCIAS São Paulo,1988.

Santos Filho, A.M. E Rios Filho, J.N.V. A Revalorização


Associação Baiana Dos Produtores De Algodão. Projeto
Econômica do Oeste Baiano a partir da Expansão da
Patrulha Mecanizada- Disponível em: <
Agricultura Moderna e Surgimento de um Novo
http://abapa.com.br/projeto-patrulha-
Território: O Municipio de Luis Eduardo Magalhães-
%20mecanizada/>. Acesso em: 14 de julho, 2017.
BA,2008.

Associação Brasileira De Norma Técnicas, ABNT NBR


6459: Solo – Determinação do Limite de Liquidez –
Métodos de Ensaio. Rio de Janeiro, 1984b.

Associação Brasileira De Norma Técnicas, ABNT NBR


6508: Grãos de Solos que Passam na Peneira de 4,8
mm – Determinação da Massa Específica – Métodos
de Ensaio. Rio de Janeiro, 1984d.

Associação Brasileira De Norma Técnicas, ABNT NBR


7180: Solo – Determinação do Limite de Plasticidade
– Métodos de Ensaio. Rio de Janeiro, 1984c.

Associação Brasileira De Norma Técnicas, ABNT NBR


7181: Solo – Análise Granulométrica – Métodos de
Ensaio. Rio de Janeiro, 1984a.

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Influência de Vibrações na Resistência do Concreto Durante
Execução de Serviços de Fundação
Gláucio Ribeiro Cerqueira, Esp. Eng.
Cerqueira e Guebara Engenharia, São Paulo, Brasil, glaucio@cgfc.com.br

RESUMO: O presente trabalho visa analisar os efeitos de vibrações causadas por cravações de perfis
metálicos na resistência do concreto em suas idades iniciais. São apresentados valores de velocidade
de partícula utilizados para efeitos de valores limites, e um caso de obra onde foram medidas as
vibrações causadas pela cravação de elementos metálicos, e analisadas as possíveis consequências na
resistência do concreto.

PALAVRAS-CHAVE: Vibração em Concreto, Concreto em Idades Inicias, Concreto recém


lançado, Fundações.
concreto, conforme citação de diversos
autores, entre eles:
1 INTRODUÇÃO Ansell e Silfwebrand (2003, apud Fernandes
2011, p. 602), “A cura do concreto é vulnerável
Na fase de execução de fundações, de uma
a perturbações de vibrações de grandes
maneira cada vez mais expressiva, tem-se a
magnitudes”.
necessidade de executar tarefas de forma
Fernandes (2011) ainda cita que vibrações
simultânea, visando equalizar prazos e reduzir
podem ser danosas ao processo de cura do
custos fixos.
concreto, além de poder prejudicar a aderência
Em determinadas situações específicas, tal
aço-concreto.
simultaneidade se apresenta como uma
Hulshizer and Desai (1984, apud Tawfiq
necessidade logística, muito além de
2003), “Concreto com menos de 24 horas de
preocupações com custos e prazos. Isso
idade é particularmente vulnerável ao
acontece, por exemplo, em reforços de
enfraquecimento de suas propriedades caso
fundação de obras de arte, onde a interdição da
sujeito a intensa vibração”.
via para execução destes trabalhos causaria
Desta forma, é relevante entender os efeitos de
enormes desconfortos.
vibrações nas propriedades do concreto em
Desta forma, ocorreriam situações com peças
suas idades iniciais, em função da ordem de
recém concretadas sob o efeito de vibrações,
grandeza destas vibrações e de distâncias entre
condição que também pode ocorrer em casos
a fonte de vibração e o elemento de concreto.
onde tenha-se que, em um mesmo período,
cravar estacas e concretar blocos de
coroamento ou até estacas escavadas.
Nestes cenários, o concreto, logo após sua
mistura, estaria sujeito a vibrações, o que
poderia influenciar nas propriedades deste

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2 CONCEITUAÇÃO –
VELOCIDADES DE ONDA E DE
PARTÍCULA

Sabe-se que quando um esforço dinâmico é


aplicado em um meio elástico, a deformação
correspondente se propaga sob a forma de Figura 02 – Onda S (Teixeira, 2000)
ondas elásticas, sendo que estas ondas Ondas superficiais – Formam-se e propagam-
transferem energia por meio de movimento de se nas camadas superficiais da terra.
partículas. Amplitude diminui fortemente com a
Como definição de ondas, pode-se considerar, profundidade e possuem grande energia. Só se
segundo Gandolfo (2013), como um fenômeno propagam se houver interface com o ar acima
físico, pelo qual ocorre propagação da energia de um semi-espaço sólido.
no tempo e no espaço. - Onda Rayleigh, figura 03 - Caracterizada
As ondas podem ser eletromagnéticas, pelo movimento elíptico das partículas.
transportando energia eletromagnética (luz, pp
ondas de rádio), ou ondas mecânicas,
transportando energia mecânica (som, onda na
corda e ondas sísmicas, as quais são relevantes
ao estudo em questão).
O movimento das partículas no meio
caracteriza diferentes tipos de ondas sísmicas, Figura 03 – Onda Rayleigh (Teixeira, 2000)
indicadas nas figuras 1,2, 3 e 4:
- Onda Love, figura 04 - O movimento das
- Onda compressional P (primária), figura 01 – partículas é horizontal e perpendicular à
O movimento das partículas é paralelo à direção de propagação.
direção de propagação (longitudinal).
As ondas P se propagam mais rapidamente nos
materiais (são as primeiras que chegam).

Figura 04 – Onda Love (Teixeira, 2000)

Como as ondas transferem energia por meio de


movimento de partículas, os valores de pico de
velocidade de partícula serão fatores de
Figura 01 – Onda P (Teixeira, 2000) comparação para análise do efeito das
vibrações nas características do concreto em
- Onda cisalhante S (secundária), figura 02 – O suas idades iniciais.
movimento das partículas é perpendicular à
direção de propagação (transversal). 3 LIMITES DE PICO DE
Propaga-se apenas pela porção sólida do solo, VELOCIDADE DE PARTÍCULA
não sendo afetada pela saturação do terreno. É
mais lenta do que a onda P. Diversos estudos foram elaborados visando
determinar um limite de pico de velocidade de
partícula, a partir do qual esperam-se impactos

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nas propriedades dos concretos em suas idades Tabela 01 – Referências de pico de velocidade de
iniciais. Estas preocupações estão partícula para concreto com idade de até 12 horas

relacionadas, por exemplo, a execução de Até 12 horas de idade


estaca escavada próxima de estacas recém pico de vel. de partícula (mm/s)
concretadas, ou ainda para cravação de estacas Idade do Kwan Hulshi Gamble Bryson
na mesma região onde haverá tais concreto and zer and and and
concretagens. (hs) Lee Desai Simpson Cooley
Woods (1997), fez uma pesquisa com diversas (1998) (1984) (1985) (1985)
agências americanas reguladoras de transporte < 3 e 4 10,16 10,16
06-08 20,32 38,1 5,08 5,08
e apontou que, 28 das 48 agências consultadas
10-12 30,48 38,1
indicaram problemas no concreto devido
vibrações.
Existem também alguns autores que

Idade do concreto no momento


12
apresentam resultados de pesquisas onde, a 11

da vibração (horas)
preocupação com alteração nas propriedades 10
9
do concreto devido vibrações são 8
desnecessárias. 7
Bastian (1970 apud Tawfiq 2003) realizou 6
5
cinco estudos e chegou à seguinte conclusão: 4
“Não existem razões para acreditar que 3
2
vibrações devidas à cravação de uma estaca, 1
inclusive durante as horas críticas, de 12 a 14 0
0 5 10 15 20 25 30 35 40
horas, influenciariam no concreto de estacas
Pico de Velocidade de Partícula (mm/s)
escavadas. Portanto, restrições de cravação de
estacas próximas a concretos recém lançados
devem ser baseadas em outros fatores além da Hulshizer and Desai (1984)
Kwan and Lee (1998)
vibração”.
Gamble and Simpson (1985)
Apesar da divergência nas opiniões, muitos
Bryson and Cooley (1985)
pesquisadores concordam que a vibração pode
afetar as propriedades do concreto em suas Figura 05 – Limites de vibração para concreto com
idades iniciais. idade de até 12 horas
A tabela 01 a seguir e seu respectivo gráfico,
indicado na figura 05, apresentam as propostas Entre 12 e 24 horas, o limite de velocidade
de quatro autores quanto ao limite de pico de partícula varia entre 10 e 70mm/s, sendo
velocidade de partícula (ppv) para não causar 35mm/s valor médio. Já para 48 horas, as
danos nas propriedades do concreto, nas velocidades variam entre 25 e 100mm/s, sendo
primeiras 12 horas de idade. 50mm/s um valor médio, conforme tabela 02 e
Nota-se que nestas primeiras 12 horas, os gráfico da figura 06.
autores recomendam um limite de pico de
velocidade de partícula entre 5 e 38,1mm/s.





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Tabela 02 – Referências de pico de velocidade de cravou, com auxílio de um martelo vibratório,
partícula para concreto com idade de após 12 horas  uma camisa metálica com diâmetro de 90cm e
Após 12 horas de idade comprimento de 12m, em um solo arenoso na
cidade de Boca Raton, na Flórida, EUA.
Idade do concreto (hs)

pico de veo. de partícula (mm/s)


Para medir as vibrações, ele instalou 8
Bryson and Cooley

Olofesson (1998)
Simpson (1985)

Kwan and Lee

Hulshizer and
geofones triaxiais, que são transdutores

Desai (1984)
Gamble and

eletromecânicos que convertem o movimento


(1985)

(1998)
das partículas do terreno (vibrações mecânicas
do solo) em um sinal elétrico, gerado a partir
do deslocamento relativo entre um condutor
12 5,1 5,1 30,0 0,0 38,1 em forma de bobina móvel e um forte imã
24 10,2 50,8 70,0 14,0 50,8 permanente.
48 25,4 50,8 80,0 30,0 100,0 Os geofones foram instalados de maneira a
72 30,5 50,8 100,0 40,0 175,0 formar um “círculo” ao redor da camisa
168 50,8 101,6 125,0 60,0 175,0 metálica, em profundidades diferentes, círculo
 este com raio de 2,70m.
Também foram instalados acelerômetros na
Idade do concreto no momento da vibração (horas)

180
168
camisa e no solo.
156 A figura 07 a seguir ilustra a disposição citada
144 acima.
132
120
108
96
84
72
60
48
36
24
12
0 25 50 75 100 125 150 175 200
Pico de Velocidade de Partícula (mm/s)
Figura 07 – Disposição dos elementos para estudo da
vibração no concreto
Gamble and Simpson (1985)
Bryson and Cooley (1985) Tais medições indicaram picos de velocidade
Hulshizer and Desai (1984)
Kwan and Lee (1998)
de partícula no solo de:
Olofesson (1998) x 20mm/s a 1,50m da fonte;
x 6,8mm/s a 3,0m da fonte;
Figura 06 – Limites de vibração para concreto com x 2mm/s a 4,5m da fonte.
idade a partir de 12 horas
Período de vibração:
3.1 Cravação de Camisa Metálica e Análise x Lote 1 – Desde o início da mistura
de seus Efeitos no Concreto (cimento/água) até o tempo que atingiu
4000psi (28MPa) – 21 horas.
Para estudar a influência da vibração induzida
em estacas escavadas na obra, Tawfiq (2003),

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x Lote 2 – A partir do momento que Trata-se da construção de um edifício


atingiu 500psi (3,45MPa) até 4000psi comercial em São Paulo, com 12 andares e dois
(28Mpa) - Entre 11,00 e 15,00 horas. níveis de subsolo.
A figura 08 a seguir indica os valores de
Caracterização geológica do local
resistência à compressão do concreto em
O perfil geológico é constituído de uma
função de picos de velocidade de partícula que
camada superficial de aterro com espessuras
os corpos de prova foram submetidos. Para
entre 1,0m e 4,0m, seguida de camada de areia
este exemplo, a vibração iniciou-se após 11
fofa a pouco compacta atingindo
horas da mistura, e terminou com 15 horas
profundidades de 6,00m a 10,00m, seguida de
após a mistura, ficando exposto a vibração por
camadas de argila, com espessuras entre 10,0m
4 horas.
e 25,0m até atingir o impenetrável a percussão.
As amostras do lote 1 não apresentaram
redução na resistência à compressão do
Solução de Contenção
concreto.
Baseando-se em dados técnicos, a solução
adota de contenção foi em perfis metálicos
cravados, com pranchas de madeira entre eles.
Para esta cravação foi utilizado bate-estacas a
queda livre, com martelo de 2.000kg.
Os perfis metálicos que geraram a vibração
tinham as seguintes características:
Seção em “I” com 250mm de altura e 150mm
de largura, com 38,5kg/m, 65kg/m e 101kg/m.
A profundidade de cravação era de 18m.

Figura 08 – Resistência do concreto em função de ppv Medidas de vibração


(Tawfiq 2003) A empresa LPC latina foi responsável pela
instrumentação. Foram medidas as vibrações
Nota-se uma pequena redução na resistência
junto ao vizinho, estando este distante da fonte
do concreto dos corpos de prova submetidos a
aproximadamente 10m. A figura 10 indica em
50mm/s de ppv. Desta forma, segundo Tawfiq
planta a localização do ponto de
(2003) conclui-se que com 50mm/s de ppv,
instrumentação e as fontes de vibração.
ocorreu uma redução de 9% na resistência à
compressão do concreto.

4 ESTUDO DE CASO

Apresenta-se a seguir um caso onde foram


medidas as vibrações geradas por cravação de
elementos de contenção, a fim de verificar os
valores de picos de velocidade de partícula e
compará-los aos limites indicados na literatura,
acima dos quais espera-se impactos nas
propriedades do concreto.
Empreendimento

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.




A ordem de grandeza e as condições destas
vibrações, assim como destas reduções, variam
em função, principalmente, do pico de
velocidade de partícula, da distância entre a
fonte de vibração e o ponto de lançamento do
concreto, do período que este concreto fica
exposto a tal vibração, entre outros.
Para execução de estacas escavadas, pode-se
concluir, com base em diversos autores, que a
orientação é respeitar uma distância mínima
de 3 vezes o diâmetro da estaca para execução
de outra estaca, sendo que até atingir seu
tempo final de cura, o concreto não deve ser
submetido a vibrações que gerem picos de
velocidade de partícula superiores a 50mm/s.
Figura 10 – Fonte de vibração e ponto de instrumentação
Para estacas metálicas cravadas, o estudo de
caso mostrou um pico de velocidade de
Conclusões
partícula de 9mm/s a uma distância de 10m,
O relatório da empresa responsável pela
para um martelo de cravação de 2.000kg. Desta
instrumentação indicou que, com uma fonte de
forma, espera-se que para menores distâncias,
vibração devido à cravação de um perfil
obtenha-se ppv maior que o medido, onde,
metálico com uso de martelo a queda livre, a
desta forma, as preocupações com as
10m de distância, as leituras coletadas
propriedades do concreto nas proximidades se
apontaram valores de pico de velocidade de
tornem necessárias.
partícula de 9mm/s. Segundo os limites
apresentados nos gráficos das figuras 05 e 06,
AGRADECIMENTOS
os limites de ppv variam entre 5 e 10mm/s, nas
À LPC Latina, pelo fornecimento da
primeiras 3 horas de mistura, e entre 10 e informação de pico de velocidade de partícula
70mm/s com 12 horas. medido in loco devido à cravação de perfis
Desta forma, de uma maneira mais prudente, metálicos;
poderia se evitar cravar perfis no mesmo dia de
concretagens, para o caso de distâncias REFERÊNCIAS
inferiores a 10m entre o ponto de lançamento
Fernandes, F. J.; Bittencourt, N. T.; Helene. P. (2011).
do concreto e a fonte de vibração. Concreto submetido a vibrações nas primeiras
De qualquer maneira, os limites de ppv idades. Revista Ibracon de estruturas e materiais.
apresentados por diversos autores variam Volume 4, Number 4, p. 592-609 – ISSN 1983-
4195.
consideravelmente, tornando a avaliação e Gandolfo, O. C. B.; (2013). Métodos sísmicos para a
tomada de decisão muito pessoais. caracterização geotécnica dos maciços.
Apresentação na Faculdade de Engenharia de São
Paulo. 218p.
5 CONCLUSÕES Junttan – Número de golpes por minuto, Finlândia
Disponível em
O concreto em sua idade inicial, quando https://www.junttan.com/products/hydraulic-
submetido a vibrações, pode sofrer impacto em impact-hammers acesso em 24.11.2016.
Kwan, A.K.H.; Lee, P.K.K. (1998). A Study of the effects
suas propriedades, inclusive com redução de of Blasting Vibration on Green Concrete,
resistência à compressão. Consulting Agrement n° CE21/94 - GEO Report

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.




n°12. Government of the Hong Kong Special
Administration Region.
Reddy, D.V.; (2012) Response of a Freshly Placed Full
Scale Concrete Drilled Shaft to Vibrations Induced
by Adjacent Shaft Installation, 37th Conference on
Our World in Concrete & Structures: 29 - 31 –
August 2012, Singapure.
Tawfiq, Kamal (2003). Effect of Vibration on Concrete
Strehngth During Foundation Construction. Final
Report. Florida Department of Transportation.
FDOT Contract BC No. 352-14.
Teixeira, W. et al. Decifrando a Terra. Vol 1. Compania
Editora Nacional. 2000.
Woods, R. D.; (1997). Dynamic Effects of Pile
Installation on Adjacent Structures. NCHRP
Synthesis 253 – Transpotation Reserch Board –
National reserch Council

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Suscetibilidade a Erosão de Materiais Inconsolidados em
Alexânia-GO e Porto Nacional-TO.
Glacielle Fernandes Medeiros
UNIBRAS/ ITPAC, Araguaína – TO, Brasil, medeiros.agrimensura@gmail.com

Palloma Borges Soares


UNIBRAS/ ITPAC, Araguaína - TO, Brasil, pallomaborges24@gmail.com

Renata de Morais Farias


UNIBRAS/ ITPAC, Araguaína – TO, Brasil, renatafariasmorais@gmail.com

Ana Sofia Oliveira Japiassu


UNIBRAS/ ITPAC, Araguaína – TO, Brasil, asojapiassu@gmail.com

Andressa Fiuza de Souza


UNIBRAS/ ITPAC, Araguaína – TO, Brasil, andressafiuza@outlook.com

Gustavo Henrique Vieira Ferreira


ITPAC, Porto Nacional – TO, Brasil, gustavo_vieira51@hotmail.com

Wesney Ferreira da Silva


ITPAC, Porto Nacional – TO, Brasil, wesneyfuel@hotmail.com

João Guilherme Rassi Almeida


UNIBRAS/ ITPAC, Araguaína – TO, Brasil, cerradoguilherme@gmail.com

RESUMO: Um dos principais motivos condicionantes da erosão dos solos é a erodibilidade, que é a
propriedade do solo que expressa a maior ou menor facilidade com que suas partículas são soltas e
transportadas pela ação de um agente erosivo. Com isso, o presente estudo objetivou analisar e
comparar a erodibilidade dos solos em Alexânia - GO e Porto Nacional - TO. Para tanto foram
coletadas amostras e realizados ensaios de caracterização, ensaios de desagregação e de Inderbitzen
destinados à análise da erodibilidade dos materiais e ensaios de pastilha para classificação dos solos
tropicais.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio. Erosões. Processos Erosivos. Taludes.

1 INTRODUÇÃO pedológicos, a erosão pode ser acelerada e


agravada pela incorreta utilização do solo pelas
A erosão do solo é definida como um conjunto atividades humanas, fazendo-se assim
de processos pelos quais as partículas de solo e necessário um conhecimento das características
fragmentos de rochas são desprendidos e deste recurso natural e um planejamento
transportados por agentes da natureza como apropriado, já que quando estes não são
água, vento e gelo. Apesar de ser um processo executados, podem ser ocasionados impactos
que ocorre naturalmente, por ações de fatores ambientais e danos relevantes para a economia,
climáticos, geológicos, geomorfológicos e sociedade e preservação dos ecossistemas

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(DEMARCHI; ZIMBACK, 2014). Sherard (1976 apud FÁCIO, 1991) também
Uma das principais causas de degradação do buscou relacionar a resistência dos solos à
solo é a erosão hídrica, que pode ser laminar, erosão com o índice de plasticidade (IP),
linear, ou em anfiteatro. Na erosão laminar o concluindo que solos com IP >15 apresentam
escoamento da água é difuso na vertente, sendo boa resistência, com 6 < IP < 15 média
que a perda de solo é quase imperceptível, por resistência e com IP < 6 baixa resistência.
arrastar de maneira uniforme as camadas mais Todavia Fácio (1991) evidencia que esse
superficiais, que na maior parte dos casos sistema de classificação é incompleto, pois
representam às camadas mais férteis do perfil outros estudos mostram discordância com essas
de solo. Na erosão linear o escoamento da água classificações sugeridas.
ocorre de modo concentrado através de sentidos Gray e Leiser (1989) apud Chuquipiondo
preferenciais, formando incisões na forma de (2007) embasados no Sistema Unificado de
sulcos, ravinas e voçorocas. (MEDEIROS, Classificação dos Solos (SUCS) propõem que
2014). A forma de anfiteatro ocorre geralmente os solos possuem resistência em relação aos
quando a erosão perde a linearidade assumindo processos erosivos, seguindo a ordem do mais
forma mais concentrada levando a queda de erodível ao menos erodível: ML > SM > SC >
blocos oriundos de instabilizações de taludes MH > OL > CL > CH > GM > GP > GW.
(CARVALHO et al., 2006). Mencionam ainda que a erodibilidade é baixa
A erosão hídrica ocorre por meio do em solos bem graduados e alta em areias finas e
desprendimento das partículas de solo que pode siltes uniformes, e que quanto ao teor de argila
ser provocado pelo choque direto das gotas de e a matéria orgânica a relação com os processos
chuva ou pelas águas que escoam na superfície, erosivos é inversa. Outro fator relevante é que
sendo que este escoamento possibilita o geralmente quanto maior o teor de umidade e
transporte das partículas para as áreas em que se menor o índice de vazios, mais resistente o solo
verifica o escoamento concentrado. Uma das será frente aos processos erosivos.
formas de controlar os processos erosivos é O estudo foi realizado em duas áreas, sendo
reduzir a velocidade e o volume de escoamento que a primeira corresponde à alta bacia do
superficial (TOLEDO et al., 2012). ribeirão Barreiro, um dos afluentes do médio
Segundo Bastos (2004) a erodibilidade é um curso do rio das Areias, localizado no
dos principais motivos condicionantes da erosão município de Alexânia – GO, conforme Figura
dos solos, sendo a propriedade do solo que 2a, e a segunda corresponde a um talude
expressa a maior ou menor facilidade com que localizado entre os quilômetros 26 e 27 da
suas partículas são soltas e transportadas pela rodovia TO-455 que liga Porto Nacional –TO
ação de um agente erosivo. Molinero Júnior et ao distrito de Luzimangues – TO, segundo
al. (2011) relaciona a erodibilidade com os Figura 2b. Para a definição de ambas as áreas
limites de consistência, onde os autores consideraram-se à presença expressiva de
dividiram a carta de plasticidade em três zonas processos erosivos, o acesso e a viabilidade de
de erodibilidade, de acordo com a Figura 1. execução dos trabalhos de campo e de ensaios
geotécnicos. Sendo assim procurou-se comparar
a resistência aos processos erosivos dos solos
dos dois estados.

Figura 1. Carta de plasticidade (Molinero Junior et al., (a) (b)


2011)
Figura 2. Área de estudo (a) Alexânia-GO; (b) Porto
Nacional-TO.

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2 MATERIAIS E MÉTODOS Posteriormente realizaram-se ensaios de
Inderbitzen para a rampa na inclinação do
2.1 Atividades de Campo terreno e para a inclinação padrão, conforme
Tabela 1, sendo que a inclinação do terreno para
Para o reconhecimento da área, foram a amostra 1 foi determinada por meio do Mapa
realizados estudos por meio de documentação Hipsométrico, gerado pelo banco SRTM banda
cartográfica existente, o que possibilitou uma X e para a amostra 2 a inclinação foi
previa caracterização ambiental, geológica e determinada no local de amostragem, por meio
geomorfológica dos tipos de solos das duas do uso de distânciometros. Especificou-se a
áreas. vazão do fluxo de água em 50 ml/s e as
O ponto de coleta da amostra 1 (Alexânia - amostras foram moldadas com amostradores de
GO) encontra-se em uma área com ocorrência dimensões prismáticas de aproximadamente 10
de intensos processos erosivos lineares, cm de lado e 5 cm de altura.
ocasionando a existência de ravinas e
voçorocas. Já a área da amostra 2 (Porto Tabela 1. Inclinação da rampa do Inderbitzen para a
Nacional - TO), além da ocorrência expressiva amostra 1 e 2.
de processos erosivos lineares, é possível Inclinação Terreno Inclinação Padrão
identificar com facilidade processos laminares. Amostra 1 10° 10°
Com o intuito de comparar à resistência aos
processos erosivos dos solos em estudo, Amostra 2 40° 10°
coletou-se amostras deformadas para os ensaios
de caracterização e índices físicos. Para os A metodologia do ensaio de Inderbitzen e os
ensaios de desagregação foram coletados cálculos para a estimativa da massa de solo
torrões e para os ensaios de erodibilidade perdida foram realizados conforme a Equação
amostras indeformadas, utilizando os moldes do 1, propostas por Almeida (2013).
ensaio Inderbitzen, sendo que para a amostra 1
o equipamento foi desenvolvido por Aguiar 100 u M R200
(2009) e para a amostra 2 utilizou-se o MT = (1)
100 - PP200
equipamento adaptado deste autor.
Onde:
2.2 Ensaios Laboratoriais
MT - massa total erodida;
MR200 - massa lavada retida na peneira n° 200
Buscando identificar e classificar as amostras
(0,075 mm);
em estudo foram realizados ensaios de
PP200 - porcentagem passante na peneira n° 200
caracterização segundo os parâmetros da NBR
(0,075 mm).
6457 (ABNT,1986), NBR 7181 (ABNT, 1984),
NBR 6459 (ABNT, 1984), NBR 7180 (ABNT,
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
1984) e NBR 6508 (ABNT, 1984).
Para classificação dos solos tropicais
Posteriormente serão expostos os
realizou-se o ensaio de Identificação Expedita
resultados referentes à caracterização do
do Solo Laterítico – “Método da Pastilha”
material, ensaios específicos para solos
conforme diretrizes estabelecidas por Dersa
tropicais e de erodibilidade.
(2006) e por Fortes et al. (2002).
A Tabela 2 apresenta os valores dos índices
A fim de analisar os solos quanto à
físicos das amostras em estudo, os quais
resistência a erodibilidade foram realizados os
consistem em teor de umidade higroscópica
ensaios de desagregação e Inderbitzen. Para o
(w), limite de liquidez (™୐ ), limite de
ensaio de desagregação seguiu-se a metodologia
proposta por Santos (1997), em etapas de plasticidade (™୔ ), índice de plasticidade (IP) e
imersão total e parcial, em amostras massa específica dos grãos (ࢢs).
indeformadas de solo, semelhantes a cubos de
aproximadamente 60 mm de arestas.

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Tabela 2. Índices físicos das amostras em estudo.
W WL WP IP (ࢢs)
Amostra 1 2,09 36,56 20,88 15,67 2,55
Amostra 2 1,35 36,62 24,64 11,98 2,68

A Figura 3 apresenta as curvas


granulométricas com defloculante das amostras
estudadas, de acordo com os parâmetros da
NBR 7181 (ABNT, 1984), e a Tabela 3 apresenta
a porcentagem de cada fração granulométrica
constituintes das amostras em estudo.

Figura 4. Identificação Expedita dos Solos das duas


amostras estudadas.

Nota-se boa relação entre os resultados


obtidos nos ensaios de desagregação (imersão
parcial e total) e Inderbitzen. A amostra 1
Figura 3. Curva granulométrica com defloculante das analisada na inclinação de 10° apresentou baixa
amostras 1 e 2. perda de material no ensaio de Inderbitzen,
segundo Figura 5, e baixa perda de material no
Tabela 3. Porcentagem de cada fração granulométrica ensaio de desagregação, conforme Figura 7a.
com defloculante.
Com Defloculantes
Enquanto isso, a amostra 2 ensaiada na
Fração Faixa (mm)
Amostra1 Amostra2 inclinação de 40° apresentou perda considerável
Argila <0,002 22,15 31,68 de material no ensaio de Inderbitzen, conforme
0,002-0,06 16,78 51,46
Silte
Areia Fina 0,06-0,2 47,87 14,10
Figura 6, apontando abatimento e fraturamento
Areia Média 0,2-0,6 10,44 0,95 durante os ensaios de desagregação, de acordo
Areia Grossa 0,6-2,0 1,83 1,81 com a Figura 7b.
2,0-6,0 0,93 0,00
Pedregulho
Sendo que as curvas da Figura 5 e 6
100 100
representam a massa erodida retida que é o
material retido na peneira n° 200 (0,075 mm)
Baseado na análise granulométrica e nos
durante o ensaio de Inderbitzen e a massa total
índices físicos, a classificação segundo o
erodida que é esse material retido durante o
Sistema Unificado de Classificação dos Solos
ensaio de Inderbitzen mais os resultados do
(SUCS), foi de argila de baixa
ensaio de granulometria do peneiramento fino.
compressibilidade (CL) para a amostra 1 e
argila de baixa compressibilidade (CL) ou silte
de baixa compressibilidade (ML) para a MassaErodidaAcumulada

amostra 2.
Através do ensaio de Identificação Expedita
dos Solos, observou-se, conforme a Figura 4,
que a amostra 1 apresentou uma elevada
resistência à penetração do penetrômetro e uma
média contração diametral, sendo assim
classificada preliminarmente como um solo
Figura 5. Massa erodida acumulada no ensaio de
arenoso laterítico ou argiloso laterítico (LA’-
Inderbitzen para a Amostra 1.
LG’). Já à amostra 2 apresentou contração
diametral em seu DN (Diâmetro Nominal) e foi
classificada como solo argiloso não laterítico
(NG’).

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MassaErodidaAcumulada amostra 2 pode-se concluir que ela apresenta
baixa resistência aos processos erosivos por se
tratar de um solo siltoso.

4 CONCLUSÕES

O propósito deste estudo foi comparar a


resistência dos solos frente aos processos
Figura 6. Massa erodida acumulada no ensaio de erosivos, mediante a realização de ensaios
Inderbitzen para a Amostra 2. laboratoriais.
A amostra 1 foi retirada de uma área
levemente inclinada com uso dolo para
pastagem. Enquanto isso, a amostra 2 foi
retirada de um trecho sem vegetação e com
visíveis problemas de erosões lineares e
laminares.
Foi possível verificar que os ensaios
específicos de erodibilidade por apresentarem
resultados mais concretos na análise do solo
Amostra 1 Amostra 2
frente aos processos erosivos, são mais
(a) (b) eficientes que a análise isolada dos índices
Figura 7. Ensaio de desagregação por imersão total com físicos.
corpo de prova após 24 horas: (a) Amostra 1; (b) Amostra Os ensaios de desagregação apresentaram
2.
resultados coerentes com aqueles obtidos nos
ensaios de Inderbitzen e uma boa correlação
Nas duas amostras submetidas ao ensaio com as observações de campo. A partir da
realizado com a inclinação de 10° observou-se análise da amostra 1, verificou-se que o
baixa perda de material. Visto que estas processo erosivo pode ter sido provocado pela
amostras apresentaram a mesma característica ação antrópica, ou ainda devido aos efeitos de
nos índices físicos, conclui-se que a grande impactos de gotas de chuva ou de solapamento
perda de material na amostra 2 durante o ensaio provocado pelo curso da água. E na amostra 2
de Inderbitzen, se deu devido a inclinação da constatou-se através do ensaio de Inderbitzen
rampa. Logo, é provável que se a amostra 1 for que a inclinação do talude também é propulsora
submetida a uma inclinação tão grande, a para as erosões observadas in loco.
mesma apresentará maior perda de material. Analisando o índice físico observou-se
Comparando os resultados obtidos nos média resistência nas duas amostras, porém ao
ensaios de Inderbitzen e de desagregação com comparar os resultados dos ensaios de
os resultados obtidos por meio dos parâmetros erodibilidade, a amostra 1 apresentou maior
físicos, pode-se observar que a amostra 1 se resistência do que a amostra 2, devido a
enquadra como material com boa resistência inclinação do terreno, características
aos processos erosivos e a amostra 2 apresentou geotécnicas e as próprias condições de campo.
média resistência a estes processos.
A diferença na resistência a erodibilidade
identificada pelo ensaio de Inderbitzen justifica- REFERÊNCIAS
se pela inclinação do terreno/rampa usada
durante o ensaio, visto que a amostra 1 foi ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
encontrada em áreas com 10º de inclinação e a TÉCNICAS. NBR 6457 – Amostras de Solo –
amostra 2 em áreas de 40º de inclinação em Preparação para Ensaios de Compactação e Ensaios
de Caracterização. Rio de Janeiro, 1986, 9p.
relação ao plano. Já se analisados os parâmetros
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
físicos, em geral, as amostras foram TÉCNICAS. NBR 7181 - Solo-Análise
classificadas como de média a baixa resistência granulométrica. Rio de Janeiro, 1984a, 13p.
aos processos erosivos, sendo que no caso da

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Goiás, Escola de Engenharia Civil, Programa de Pós-
TÉCNICAS. NBR 6459 – Solo - determinação do Graduação em Geotecnia, Estruturas e Construção
limite de liquidez. São Paulo, 1984b, 6p. Civil. 172 p.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Molinero Junior, J. A.; Borges, K. R.; Silva, Da F. A. F.;
TÉCNICAS. NBR 7180 – Solo - determinação do Franco, M. A. M.; Maia, C. S. (2011). Avaliação da
limite de plasticidade. São Paulo, 1984c, 3p. erodibilidade de solos da BR-050 (Uberlândia –
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Uberaba). In: V Simpósio Sobre Solos Tropicais E
TÉCNICAS. NBR 6508 - Grãos de Solos que Passam Processos Erosivos No Centro-Oeste. Brasília:
na Peneira de 4,8mm - Determinação da massa Editora Ipanema, 399p.
específica. Ri de Janeiro, 1984d, 8p. Santos, R. M. M. (1997). Caracterização geotécnica e
Aguiar, de V. G. (2009). Bacia hidrográfica do córrego análise do processo evolutivo das erosões no
granada – Aparecida de Goiânia – GO: os processos Município de Goiânia. Dissertação Mestrado em
erosivos e a dinâmica espacial urbana. Dissertação Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil.
Mestrado em Geotecnia, Programa de Pós Graduação Universidade de Brasília, Brasília. 138 p.
em Geotecnia, Estruturas e Construção Civil, Goiânia, Toledo, J. S.; Maria, I. C.; Dechen S. C. F. (2012).
97 p. Impactos de Chuvas Intensas na Erosão Hidrica em
Almeida, J. G. R. (2013). Erodibilidade de Solos Solo com Tratamento de Lodo de Esgoto. In:
Tropicais não Saturados nos Municípios de Senador Congresso Interinstitucional de Iniciação Cientifica,
Canedo e Bonfinópolis-GO. Dissertação Mestrado, 6., Jaguariúna, 10 p. Disponível
Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Estruturas em: http://www.cnpma.embrapa.br/eventos/2012/ciic/
e Construção Civil, Universidade Federal de Goiás, cd_anais/Artigos/RE12132.pdf. Acesso em: 11 de
Goiânia-GO, 127 p. Julho de 2017.
Bastos, C. A. B. (2004). Estudo Geotécnico Sobre a
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Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Departamento de Engenharia Civil,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 303 p.
Carvalho, José Camapum et al. (2006). Processos
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Chuquipiondo, I. G. V. (2007). Avaliação da estimativa
do potencial de erodibilidade de solos nas margens
de cursos de água: Estudo de caso trecho de vazão
reduzida capim branco I Araguari Minas Gerais.
Dissertação Mestrado em Geotécnica, Programa de
Pós-Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e
Recursos Hídricos, Universidade Federal de Minas
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Demarchi, J. C. e Zimback, C. R.
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de Perda de Solo na Sub-Bacia do Ribeirão das
Perobas. Energia na Agricultura, Vol. 29, p.102-114.
Disponível
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9/137626/ISSN1808-8759-2014-29-02-102-
114.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 08 de
Julho de 2017.
Dersa (2006). Diretrizes para identificação expedita do
solo laterítico - “Método da Pastilha”. São Paulo.
Fácio, J. A. (1991). Proposição de uma metodologia de
estudo da erodibilidade dos solos do Distrito Federal.
Dissertação Mestrado em Geotecnia, Departamento
de Engenharia Civil. Universidade de Brasília,
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Fortes, R. M.; Zuppolini Neto, A.; Mareghi, J. V. (2002).
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para identificação expedita de solos tropicais. In: 11ª
Reunião De Pavimentação Urbana. Porto Alegre.
Medeiros, G. F. (2014). Susceptibilidade à erosão na alta
Bacia do Ribeirão barreiro – Alexânia-Go.
Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Uso do Método First Order Second Moment (FOSM) na
Determinação da Estabilidade de Muros de Arrimo
Marianne Bayerl Neves
Centro Universitário IESB, Brasília, Brasil, mariannebneves@hotmail.com

Eduardo Montoya Botero, MSc.


Centro Universitário IESB, Brasília, Brasil, eduardo.botero@iesbr.br

RESUMO: Este trabalho discorre sobre o cálculo da confiabilidade e da probabilidade de ruptura de


muros de arrimo, utilizando o método Fisrt Order Second Moment (FOSM) para inserir a
variabilidade do ângulo de atrito, coesão e peso específico do solo na avaliação da estabilidade
dessas estruturas por meio de fatores de segurança. Para auxiliar a implementação do método,
foram propostas planilhas de cálculo que buscaram sistematizar o problema. A análise da
estabilidade utilizando métodos probabilísticos complementa o fator de segurança, fornecendo uma
noção qualitativa da performance da estrutura e a influência de cada parâmetro do solo na variância
dos fatores de segurança.

PALAVRAS-CHAVE: Abordagem Probabilística. Estruturas de Contenção. Método FOSM. Muros


de Arrimo.

1 INTRODUÇÃO independentes (U. S. ARMY CORPS OF


ENGINEERS, 1997).
Os muros de arrimo são estruturas utilizadas Dessa forma, buscou-se propor planilhas de
para a contenção massas de solo, como afirmam cálculo que sistematizassem a utilização do
Ranzini e Negro Jr (1998). Para efetuar seu FOSM na determinação da estabilidade de
dimensionamento, é necessário que se muros de arrimo para a obtenção da
determine a magnitude e a forma como o confiabilidade e da probabilidade de ruptura da
empuxo de terra é distribuído (CRAIG, 2014). estrutura.
Após o dimensionamento, é de praxe avaliar
uma estrutura por meio de fatores de segurança, 2 CARACTERIZAÇÃO DOS
levando em consideração valores PARÂMETROS MECÂNICOS DO SOLO
determinísticos para os parâmetros envolvidos,
ou seja, sem considerar as incertezas. No Os parâmetros utilizados na implementação do
entanto, é possível estabelecer uma abordagem método FOSM para o cálculo do fator de
probabilística para o problema do cálculo do segurança (coesão, ângulo de atrito e peso
fator de segurança, considerando a variabilidade específico) deverão tratados, de acordo com
inerente dos parâmetros. (U. S. ARMY CORPS Aoki (2009), como variáveis aleatórias
OF ENGINEERS, 1997). contínuas, cuja distribuição de densidade de
Dentre vários métodos existentes para a probabilidade possa ser assumida como normal.
realização do tratamento dos parâmetros De acordo com Assis (2002), quando se tem
mecânicos do solo, tem-se o método First Order escassez de ensaios das amostras para a
Second Moment (FOSM) que fornece os determinação dos desvios-padrão dos
momentos de uma função a partir dos parâmetros mecânicos do solo, pode ser feito o
momentos de suas variáveis aleatórias uso de coeficientes de variação (v) obtidos de

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valores típicos estimados, como expresso na utiliza-se como resistência a capacidade de
Equação 1. No caso dos parâmetros peso carga da fundação da estrutura (qu), calculada
específico, coesão e ângulo de atrito, o no caso do presente muro, usando a fórmula
coeficiente de variação foi apresentado na geral que considera a excentricidade e a
Tabela 1. inclinação do carregamento. Por sua vez, a
solicitação será dada pela tensão máxima
V desenvolvida na base do muro devido as
v= (1) solicitações (qmax) (MARCHETTI, 2007).
P

Tabela 1. Valores típicos dos coeficientes de variação qu


FS
Parâmetro Coeficiente de variação (%) q max
Peso específico 03 (de 02 a 08)
Coesão 40 (de 20 a 80) (2)
Ângulo de atrito 10 (de 04 a 20)
Fonte: Assis (2002)

3 FATORES DE SEGURANÇA PARA


MUROS DE ARRIMO

Os muros se diferem entre si por sua geometria,


material e método construtivo (RANZINI;
NEGRO JR, 1998). Dessa forma, a partir do
momento em que se determina a geometria do
muro e os materiais a serem empregados, é
possível determinar os esforços atuantes e
dimensionar as estruturas, de modo que elas Figura 1. Esforços atuantes e dimensões em muro de
arrimo de flexão com base horizontal e aterro inclinado
resistam a esses esforços (CRAIG, 2014). Fonte: Adaptado de U. S. Army Corps of Engineers
Toma-se como exemplo o muro ilustrado na (1989)
Figura 1, com base na qual os fatores de
segurança aqui apresentados serão Para o cálculo da tensão desenvolvida na
desenvolvidos. Isso não impede, no entanto, base do muro, é feita, primeiramente, a
que a metodologia aplicada seja extendida para determinação do carregamento vertical em sua
outras estruturas, ao se fazer as devidas base (N), dado pelo somatório das parcelas do
adaptações. Os valores para as dimensões e peso próprio (Pp), do peso das massas de solo
carregamentos apresentados encontram-se que se encontram sobre a região estrutural do
sintetizados na Tabela 2. muro (Psi) e da componente vertical do empuxo
ativo (Ev), como expresso na Equação 3
Tabela 1. Valores para dimensões da seção transversal do (MARCHETTI, 2007).
exemplo
Dimensão Unidade Valor Numérico
B m 2,50 N Pp  Psi  E v (3)
Xs1 m 0,76
Xs2 m 0,40 De acordo com Marchetti (2007), a
Xm m 1,04 excentricidade do ponto onde a resultante do
As1 m² 6,00 carregamento vertical atua (e) é obtida pelo
As2 m² 0,64 quociente entre o somatório de momentos
Am m² 1,26
realizado a partir do ponto médio da base do
muro (Mo) e o carregamento vertical
3.1 Capacidade de Carga do Solo
anteriormente calculado, como expresso pela
Equação 4.
Para o cálculo do fator de segurança da
capacidade de carga do solo (Equação 2),

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Mo garantida ao se atender a condição de equilíbrio
e (4)
N dos momentos gerados no ponto 0 pelos
esforços atuantes no muro (U. S. ARMY
A partir da determinação da excentricidade CORPS OF ENGINEERS, 1989).
do carregamento, é possível calcular a tensão Como exposto por Marchetti (2007), as
máxima desenvolvida na região entre o solo e a solicitações serão dadas pelos pelos momentos
estrutura. Caso e ” B/6, ocorrerão esforços de gerados pelo peso das massas de solo (Psi.xsi),
compressão em toda a base do muro e a tensão pelo peso próprio do muro (Pp.xp), pelo empuxo
máxima será dada pela Equação 5; caso passivo (Ep.yp) e pela componente vertical do
contrário, como o solo não suporta esforços de empuxo ativo (Ev.xa). A solicitação será dada
tração, a tensão desenvolvida não estará pelo momento gerado pela componente
distribuída por toda a base do muro e seu valor horizontal do empuxo ativo (Eh.ya). O fator de
máximo será dado pela Equação 6 (U. S. segurança cantra o tombamento do muro é
ARMY CORPS OF ENGINEERS, 1989). expresso na Equação 8.

N § 6e · Psi ˜ x si  Pp ˜ x p  E p ˜ y p  E v ˜ x a
q max ¨1  ¸ (5) FS (8)
B© B¹ Eh ˜ ya
4§ N ·
q max ¨ ¸ (6)
3 © B  2e ¹
4 FOSM
3.2 Deslizamento Sobre a Base
De acordo com Assis (2002), o FOSM é
utilizado para obter os momentos (valor
Para evitar que deslocamentos horizontais
esperado e desvio padrão) dos fatores de
excessivos ocorram, ou seja que haja
segurança a partir dos momentos dos
deslizamento do muro sobre a base, utiliza-se o
parâmetros de entrada da função, todos
fator de segurança obtido por meio dos esforços
admitidos como variáveis aleatórias de
de cisalhamento resistentes, mobilizados na
distribuição normal (Xi).
interface entre o solo e o muro, e do esforço
O primeiro momento – valor esperado – dos
gerado pela componente horizontal do empuxo
fatores de segurança é obtido ao se calcular o
(U. S. ARMY CORPS OF ENGINEERS,
fator de segurança, utilizando os próprios
1989).
valores esperados dos parâmetros mecânicos do
A resistência mobilizada será dada pelo
solo, como expresso na Equação 9 (U. S.
somatório de três parcelas: uma que leva em
ARMY CORPS OF ENGINEERS, 1997).
conta a força de atrito entre o solo e a estrutura,
uma que leva em conta a resistência
proporcionada pela coesão e outra que
E>FS @ FS E M , E c , E J (9)
considera a contribuição do empuxo passivo
gerado pela massa de solo na região frontal do Por sua vez, o desvio padrão (ʍ[FS]) é obtido
muro. A solicitação, por sua vez, será dada pela ao se extrair a raiz quadrada da variância. Como
parcela horizontal do empuxo ativo que age no o cálculo da variância envolve a determinação
muro (MARCHETTI, 2007). de uma derivada parcial, cuja obtenção analítica
O fator de segurança contra o deslizamento é pode se tornar difícil, realiza-se uma
dado por Marchetti (2007) pela Equação 7. aproximação numérica com uma variação
incremental ǻX. Ao se substituir a derivada
0,67 N ˜ tgM  c ˜ B  E p parcial pela aproximação numérica, obtém-se a
FS (7) Equação 10 (U. S. ARMY CORPS OF
Eh ENGINEERS, 1997).
3.3 Segurança Contra o Tombamento
ª§ FS X  'X  E>FS @ · 2 º
A segurança cotra o tombamento do muro é Var>FS @ ¦ ««¨¨ i i
¸¸ VarX i » (10)
'X i »¼
¬© ¹

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de uma configuração em série dos fatores de
4.1 Índice De Confiabilidade segurança. Isso significa que haverá uma
performance insatisfatória se qualquer um dos
De acordo com U. S. Army Corps of Engineers seus fatores de segurança vier a falhar. Dessa
(1997), o índice de confiabilidade pode ser forma, a confiabilidade do sistema será dada
utilizado como artifício para se fazer uma pelo produto de todas as confiabilidades (Rn),
comparação entre a confiabilidade de diferentes como explícito na Equação 14 (U. S. ARMY
estruturas, levando em conta somente valores CORPS OF ENGINEERS, 1997).
esperados e desvios-padrão.
De acordo com Assis (2002), ao se tomar o R R1 R2 ...Rn 1  p 1  p ... 1  p
f1 f2 fn
(14)
fator de segurança crítico igual à unidade –
resistência igual à solicitação – obtém-se o De acordo com U. S. Army Corps Of
índice de confiabilidade ɴ por meio da Equação Engineers (1997), a partir do índice de
11 que expressa a distância entre o valor confiabilidade ȕ, obtém-se subsídio para a
esperado do fator de segurança e seu valor avaliação qualitativa do nível de performance
crítico em termos de desvio-padrão. esperado, o que possibilita sua comparação com
outras estruturas, na medida que o índice
E >FS @  1 padroniza as performances individuais. Os
E (11)
V >FS @ níveis de performance da estrutura são expostos
na Tabela 2.
5.2 Probabilidade de Ruptura e
Confiabilidade Tabela 2. Relação entre o nível de performance esperado
de acordo com o índice de confiabilidade e a
probabilidade de performance insatisfatória da estrutura
A partir do índice de confiabilidade ȕ, calcula-
Probabilidade de
se o valor da função de distribuição normal Nível de Performance
Beta Performance
acumulada para a obtenção da probabilidade de Esperado
Insatisfatória
ruptura (pf), como ilustrado pela Equação 12
Alto 5 0,0000003
(U.S. ARMY CORPS OF ENGINEERS, 1997).
Bom 4 0,00003
pf \  E (12) Acima do esperado 3 0,001
Abaixo do esperado 2,5 0,006
Fraco 2 0,023
Como alegado por U.S. Army Corps of Insatisfatório 1,5 0,07
Engineers (1997), a confiabilidade (R) e a Arriscado 1 0,16
probabilidade de ruptura (pf) são propriedades Fonte: U. S. Army Corps of Engineers (1997)
que somadas resultam em uma unidade, já que
se considera que uma estrutura é confiável até o 6 RESULTADOS
momento em que ocorre falha. Como o que se
busca é garantir que a estrutura não atinja os A partir do exposto, foi possível a confecção de
estados limites, a confiabilidade será definida planilhas de cálculo que auxiliam na obtenção
em termos da probabilidade de ocorrência de de maneira sistemática da confiabilidade e da
ruptura (falha da condição de estabilidade), probabilidade de ruptura de um muro de arrimo.
como dado pela Equação 13. Os valores de entrada das planilhas
apresentadas são os valores esperados, os
R  pf 1l R 1 p f (13) coeficientes de variação, e o incremento
utilizado no cálculo da variância de cada
5.3 Confiabilidade Geral parâmetro. A partir dos coeficientes de
variação, calculam-se os desvios-padrão e a
Como um muro de arrimo demanda a variância de cada variável. A Tabela 3 organiza
verificação de vários fatores de segurança, a os dados necessários para a inicialização do
confiabilidade geral poderá ser obtida por meio método.

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O segundo fator de segurança planilhado é o
Tabela 3. Valores de entrada para a implementação do contra o deslizamento do muro sobre sua base,
FOSM como apresentado na Tabela 5. Da mesma
Ângulo de Peso
Parâmetro (X)
atrito
Coesão
Específico
forma que realizado anteriormente, efetuam-se
Unidade ° kPa kN/m³
todos os cálculos quatros vezes, preenchendo as
colunas da planilha. Determina-se a resistência
Valor Esperado 25 5 18
e a solicitaçao, com as quais se calcula o fator
Coeficiente de
variação
10 20 3 de segurança e as parcelas de variância de cada
Desvio Padrão 2,5 1 0,54
coluna. Os valores dos empuxos foram
calculados usando a teoria de Rankine, de
Variância 6,25 1 0,29
forma que se considera a coesão do solo.
Incremento (%) 10 10 10
ǻX 2,5 0,5 1,8 Tabela 5. Fator de segurança contra o deslizamento (2)
X+ǻX 27,5 5,5 19,8 E(ࢥ) ࢥ+ǻࢥ E(ࢥ) E(ࢥ)
Parâmetros E(c) E(c) c+ǻc E(c)
E(Ȗ) E(Ȗ) E(Ȗ) Ȗ+ǻȖ
O primeiro fator de segurança a ser Empuxo Passivo
calculado é o da capacidade de carga do solo, 24,9 27,6 25,6 26,7
(Ep) (kN)
utilizando a Tabela 4. Empuxo Ativo (Ea)
54,5 47,2 52,0 62,4
(kN)
Tabela 4. Fator de segurança da capacidade de carga (1) Carregamento
165,1 163,3 164,5 179,2
E(ࢥ) ࢥ+ǻࢥ E(ࢥ) E(ࢥ) Vertical (N) (kN)
Parâmetros E(c) E(c) c+ǻc E(c) Resistência
E(Ȗ) E(Ȗ) E(Ȗ) Ȗ+ǻȖ 89,0 97,0 90,8 95,2
(0,67Ntgࢥ+cB+Ep)
Carregamento
165,1 163,3 164,5 179,2 Solicitação (Eh) 52,3 45,6 50,3 60,3
Vertical (N)
Capacidade de FS 1,69 2,13 1,81 1,58
Carga da Fundação 506,4 735,3 560,2 533,6 (FS(Xi+ǻxi)-
‫ޤ‬ 0,17 0,23 -0,06
(kN/m²) E[FS])/ǻxi
Momento Mo [(FS(Xi+ǻxi)-
33,5 21,9 29,6 39,4 ‫ޤ‬ 0,19 0,05 0,00
(kN.m) E[FS])/ǻxi]²VarXi
Excentricidade (m)
0,20 0,13 0,18 0,22
(e=Mo/N)
e”B/6 ou e>B/6 < < < < O fator de segurança contra o tombamento é
qmax 98,2 86,3 94,3 110,2 calculado por último. Determinam-se os valores
dos carregamentos e das coordenadas onde eles
FS 5,16 8,52 5,94 4,84
atuam, em cada uma das quatro colunas. A
(FS(Xi+ǻxi)-
‫ޤ‬ 1,35 1,57 -0,17 partir desses dados, efetua-se o cálculo dos
E[FS])/ǻxi
[(FS(Xi+ǻxi)-
fatores de segurança e das parcelas de variância
‫ޤ‬ 11,32 2,47 0,01 em cada um dos pontos, como apresentado na
E[FS])/ǻxi]²VarXi
Tabela 6.
Uma vez obtidos os fatores de seguranca,
Calcula-se primeiramente a resistência dada
realiza-se o somatório das parcelas de variância
pela capacidade de carga da fundação do muro,
calculadas em cada tabela para a obtenção da
utilizando os parâmetros especificados em cada
variância de cada fator de segurança, com o
coluna. Na sequência, calcula-se o
qual se calcula o desvio-padrão. Por
carregamento vertical e o momento Mo para
consequência o índice de confiabilidade pode
determinar a excentricidade da resultante, a
ser determinado. Com os ídices de
partir da qual se define a equação para o cálculo
confiabilidade, calcula-se a probabilidade de
da tensão qmax. Na sequência, calculam-se os
ruptura e a confiabilidade de cada fator de
quatro fatores de segurança (um em cada coluna
segurança, como expresso na Tabela 7.
da planilha), com os quais se determina a
A confiabilidade geral da estabilidade do muro
parcela da variância do fator de segurança
de arrimo será dada pelo produto entre as
gerada pelo incremento de cada variável.
confiabilidades obtidas na Tabela 7, seguindo o

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disposto na Equação 15, e a probabilidade de obtenção do desvio-padrão que caracteriza a
ruptura (ocorrência de estado insatisfatório) do distribuição de probabilidades da estrutura.
muro de arrimo será dada ao se isolar a Além disso, o método FOSM possibilita a
probabilidade de ruptura na Equação 14. Dessa identificação das parcelas de contribuição de
forma, obteve-se uma confiabilidade de 0,945 e cada parâmetro mecânico do solo na variância
uma probabilidade de ruptura para o muro de dos fatores de segurança calculados.
0,046. Ressalta-se que no momento de se
estabelecer as equações para o cálculo dos
Tabela 6. Fator de segurança contra o tombamento (3) fatores de segurança, é interessante escrevê-las
E(ࢥ) ࢥ+ǻࢥ E(ࢥ) E(ࢥ)
Parâmetros E(c) E(c) c+ǻc E(c)
primeiramente em função dos parâmetros, cuja
E(Ȗ) E(Ȗ) E(Ȗ) Ȗ+ǻȖ influência está sendo avaliada. Dessa forma, o
Peso do Solo uso das planilhas apresentadas é facilitado, uma
108,0 108,0 108,0 118,8
(Ps1) (kN) vez que, para a implementação do método
Peso Próprio (Pp) FOSM é necessário fazer o cálculo dos mesmos
31,5 31,5 31,5 31,5
(kN)
fatores de segurança várias vezes.
Empuxo Passivo
24,9 27,6 25,6 26,7 Recomenda-se, além disso, que o cálculo dos
(Ep) (kN)
Empuxo Ativo empuxos envolvidos seja feito por meio de
14,1 12,2 13,5 16,2
Vertical (Ev) (kN) teorias que levem em conta a contribuição da
Empuxo Ativo coesão, uma vez que se deseja saber qual é a
Horizontal (Eh) 52,6 45,6 50,3 60,3
parcela de influência desse parâmetro sobre a
(kN)
R (kN.m) 236,0 236,9 236,3 256,1
variância dos fatores de segurança.
Sempre que se deseje avaliar uma estrutura
S (kN.m) 77,2 66,9 73,8 88,5
com geometria diferente da aqui proposta, deve-
FS 3,06 3,54 3,20 2,90
se proceder uma adaptação dos fatores de
(FS(Xi+ǻxi)-
E[FS])/ǻxi
‫ޤ‬ 0,17 0,23 -0,06 segurança apresentados para que eles modelem
adequadamente as condições reais do muro.
[(FS(Xi+ǻxi)-
‫ޤ‬ 0,23 0,09 0,00
E[FS])/ǻxi]²VarXi
REFERÊNCIAS
Tabela 7. Cálculo da probabilidade de falha e
AOKI, N. (2009). O Dogma do Fator de Segurança.
canfiabilidade de cada fator de segurança
Curso sobre a inclusão da probabilidade de ruínas no
Fator de Seguranca 1 2 3 cálculo do fator de segurança. São Paulo: ABMS,
Var[FS] 13,8 0,24 0,32 2009.
ı[FS] 3,71 0,49 0,57 ASSIS, A. P. et al. (2002) Métodos estatísticos e
probabilísticos em geotecnia. Apostila Publicação
ȕ=(E[FS]-1)/ı[FS] 1,12 1,40 3,63 G.AP-002/01, UnB, Brasília, Distrito Federal.
pf=ȥ(-ȕ) 0,046 0,000 0,000 CRAIG, R. F.; KNAPPETT, J. A. (2014) Mecânica dos
R=1-pf 0,954 1,000 1,000 solos. Tradução de Amir Kurban. 8th ed., LTC, Rio
de Janeiro.
MARCHETTI, O. (2007) Muros de arrimo. 1st ed.,
Blucher, São Paulo.
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS RANZINI, S. M. T.; NEGRO Jr, A. (1998) Obras de
contenção: tipos métodos construtivos, dificuldades
Os fatores de segurança podem ser calculados executivas in HACHIC, Waldemar (Ed.) et al.
Fundações: teoria e prática. 2nd ed., Pini, São Paulo.
levando em conta uma abordagem U.S. ARMY CORPS OF ENGINEERS. (1997)
probabilística, observando a variação do seu Engineering and design, introduction to probability
comportamento de acordo com a variabilidade and reliability methods for use in geotechnical
dos parâmetros mecânicos do solo como a engineering. Letter No. 1110-2-547, Department of
coesão, o ângulo de atrito e o peso específico. the Army, Washington.
______. (1989) Engineering and design, retaining and
A análise da estabilidade de muros de arrimo flood walls. Engineer Manual. EM 1110-2-2502,
complementam o significado do fator de Department of the Army, Washington.
segurança, porque fornece uma ideia da
dispersão dos valores calculados por meio da

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Ensaios de Laboratório e
Campo e Modelagem
Física

TEMA 2


Análise da Aplicação de Fundações Rasas a partir de Resultados de
Provas de Carga em Solo de Cascavel-PR
Michele Kaiser Vieira
Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, michelekvieira@gmail.com

Josiane Radoll
Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, josiradoll@hotmail.com

Maycon André de Almeida


Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, mayconalmeida@creapr.org.br

RESUMO: As fundações por sapatas são muito utilizadas em solos arenosos, principalmente devido
a sua alta resistencia ao cisalhamento, não sendo possível, porém dizer o mesmo dos solos lateríticos
típicos do interior do Paraná, que apresentam alto teor de argila e, portanto, alta suscetibilidade a
recalques devido a adensamento das camadas superficiais do solo. Partindo deste pressuposto, o
objetivo deste artigo foi determinar a tensão admissível do solo laterítico e colapsível da cidade de
Cascavel/PR e a influência de sua colapsibilidade. Para tanto, foram realizados um total de 6 provas
de carga no solo do Campo Experimental de Engenharia do Centro Universitário da Faculdade Assis
Gurgacz (FAG), sendo 3 no estado natural e 3 com pré-inundação do solo por 24 horas. Obteve-se
como resultados, as tensões admissíveis médias de 28,61 kPa e de 18,73 kPa, para as condições
naturais e pré-inundadas por 24 hrs, respectivamente, além de comprovar o efeito da colapsibilidade
do solo na ruptura, com deslocamentos contínuos na ruptura.

PALAVRAS-CHAVE: Prova de carga, solo colapsível, Fundações rasas.

1 INTRODUÇÃO compactos, situação não compatível com o solo


existente na região de Cascavel-PR. Devido a
A cidade de Cascavel situa-se na região oeste do isso, é necessária e de extrema importância a
Estado do Paraná, na região Sul do País e foi execução de ensaios específicos no solo e
declarada região metropolitana em janeiro de considerar nos mesmos as cargas reais da futura
2015. Possui economia predominantemente edificação, a fim de estimar e evitar futuros
agrícola, entretanto, atualmente a construção problemas de recalque. Pode-se dizer que o
civil tem se destacado na região, fato esse que estudo para a execução deste tipo de fundação na
torna necessário o aperfeiçoamento das técnicas região não tem recebido a devida atenção,
existentes em engenharia para a realidade da acarretando problemas de patologias na
região. fundação e na estrutura.
De acordo com Lorenzi (2012) o solo Baseadas nas informações supracitadas foram
encontrado na Região Oeste Paranaense é conduzidas um total de 6 provas de carga no
caracterizado como solo argiloso poroso. A Campo Experimental de Engenharia da FAG
porosidade elevada confere a este solo (CEEF), com o objetivo de analisar a viabilidade
características colapsíveis. ou não da utilização do sistema de fundações
As fundações rasas têm um alto desempenho rasas em obras na cidade.
quando aplicadas em solos arenosos e
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2 REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO 3 METODOLOGIA

2.1 Solos Foram realizadas seis provas de cargas, sendo


três nas condições naturais de campo e três
O objetivo da identificação do tipo de solo a ser realizando umedecimento prévio por 24hrs, a
estudado é poder estimar o seu comportamento fim de verificar o efeito da colapsibilidade do
provável e/ou, estabelecer o programa de solo local. As provas de carga foram realizadas
investigação necessário para permitir a adequada nas mesmas cavas, com um intervalo de 1 ano
análise de um problema. entre elas, entre 2014 e 2015.
O solo é formado basicamente pela ação de
fatores que podem ser físico ou mecânico, 3.1 Caracterização do solo local
químico e biológico. A sua origem depende da
ação do clima, dos organismos, do relevo e do A caracterização do solo do CEEF foi realizada
tempo. por Zen (2016), através de ensaios de
De acordo com Pinto (2006), a primeira granulometria conjunta e índices de consistência,
característica notável que diferencia os solos é o onde verificou-se a presença de uma camada
tamanho de suas partículas, possuindo uma espessa de argila silto arenosa com
grande diversidade no tamanho de seus grãos. aproximadamente 9 metros. Em relação ao
Os solos são classificados, também, quanto à sistema unificado (SUCS), é classificado como
sua origem, sendo eles os solos residuais, um solo argiloso muito compressível (CH), ao
transportados e orgânicos. passo que no sistema rodoviário (TRB), foi
identificado como A-7-6, correspondendo a uma
2.2 Ensaios de Placa argila siltosa medianamente plástica,
classificada como regular a mau para utilização
O ensaio de placa busca descrever, em campo, o como subleito.
comportamento da fundação superficial Na Tabela 1, pode-se observar os valores
submetida à ação das cargas da estrutura. De médios dos principais índices físicos
acordo com Alonso (1991), o ensaio é realizado determinados para a primeira camada de solo
devido a transmissão de determinada pressão identificada do CEEF.
sobre o solo por meio de uma placa rígida com
área mínima de 0,5m². A placa é carregada por Tabela 1. Índices físicos da primeira camada do CEEF
meio de um macaco hidráulico que reage contra CAMADA 1
VALORES MÉDIOS
1 a 9 metros
um sistema de reação, que pode ser um caixão
W (%) 39
carregado, ancoragem ou um grupo de tirantes, WL (%) 53
conforme Figura 1. WP (%) 38
IP (%) 15
Argila (%) 70,07
Silte (%) 25,26
Areia (%) 4,67
Peso Específico dos Sólidos (kN/m³) 26,69
Muito mole
Consistência
a Média
Peso específico natural (kN/m³) 16,68
Índice de vazios (e) 1,22

3.2 Materiais e Equipamentos

Figura 1. Sistemas de prova de carga em placa Todas as provas de carga utilizaram o mesmo
sistema de aquisição de dados e aplicação de
Os resultados da prova de carga em geral são carregamento, a fim de evitar dipersões nos
apresentados em gráficos tensão x recalque. resultados. Foi utilizado uma placa metálica
circular com diâmetro de 0,80m e espessura de
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25mm, resultando em uma área de 0,50 m² para 3.3 Execução das provas de carga
aplicação do carregamento sobre o solo. Para
gerar o carregamento, utilizou-se um macaco 3.3.1 Provas de Carga em Condições Naturais
hidráulico tipo garrafa, com pistão hidráulico e de Umidade
fuso manual de ajuste, com capacidade para
suportar até 16 tf, verificado e calibrado Para os três ensaios foram executados cavas com
inicialmente em laboratório através de prensa aproximadamente 80 cm no Campo
hidraulica. Experimental de Engenharia da FAG (CEEF).
Para aquisição de dados, utilizou-se uma Os ensaios foram realizados em trincheiras
célula de carga contendo capacidade para 20 tf, escavadas manualmente até a profundidade
interligada a sistema de leitura de dados digital. ensaiada.
Para a leitura dos deslocamentos verticais da Na realização dos ensaios as cargas foram
placa foram utilizados quatro extensômetros aplicadas ao sistema em estágios de 10% da
localizados em quatro pontos diametralmente tensão admissível provável do solo. Em cada
opostos da placa. Foram utilizados estágio de carga, os recalques foram lidos
extensômetros sensíveis a 0,01 mm, com imediatamente após a aplicação desta carga e
capacidade de leitura de até 10 mm, desta forma após os intervalos de tempo sucessivamente
foi preciso zerá-los quando os mesmos se dobrados, sendo 1, 2, 4, 8 e 15 minutos. Aplicou-
aproximavam do deslocamento de 9 mm, visto se novo acréscimo de carga depois de verificado
que a NBR 6489/84 recomenda que o ensaio seja a estabilização dos recalques em até 5% entre as
executado até no mínimo 25 mm de recalque. leituras sucessivas.
Os extensômetros foram fixados em vigas de Os ensaios prosseguiram até que se observou
reação posicionadas em porção de solo que não um recalque total de 25 mm, e a descarga foi
sofria influência do carregamento imposto pela realizada em dois estágios sucessivos de
placa, a fim de evitar alterações na leitura. aproximadamente 50% da carga total, lendo-se
Para todas as provas de carga o sistema de os recalques de imediato e 15 minutos após a
reação consistiu em utilizar contrapesos de grua, descarga.
com aproximadamente 1 tf cada, sobre as viga de Durante os ensaios foram coletadas amostras
reação. Dependendo do tipo de prova de carga e de solo para a identificação do teor de umidade
a capacidade de carga esperada do solo, eram para obter um controle das condições locais, bem
utilizados mais ou menos contrapesos de forma como identificar possíveis influências da
a obter uma reação de pelo menos o dobro da umidade nos ensaios.
carga de ruptura. Uma imagem do sistema Realizou-se um novo carregamento quando
montado, conforme descrito, pode ser visto na verificava-se a estabilização de recalques de pelo
Figura 2. menos 5%, conforme preconiza a NBR 6489/84.

3.3.2 Provas de Carga com Inundação


Preliminar de Solo

Antes de realizar as provas de carga o solo foi


umedecido durante 24 hrs, com uma vazão
média dos furos de 0,5 lts/min. As valas
utilizadas foram as mesmas escavadas para
realização das provas de carga nas condições
naturais, visto que estas foram executadas
primeiramente. (Figura 3).
A partir dos resultados determinados para as
condições naturais, realizou-se o cálculo para a
Figura 2. Sistema utilizado para as provas de carga determinação dos acréscimos de carga. A NBR
6489/84 recomenda que sejam feitos
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


incrementos de carga de no máximo 20% da Tabela 2. Resultados finais dos ensaios com solo natural
carga admissível. Ensaio w ʌ ıult ıadm
(%) (mm) (kPa) (kPa)
PCN1 39,89 53,10 55,22 27,61
PCN2 37,46 57,14 66,24 33,12
PCN3 36,92 58,82 50,21 25,10

Observa-se que devido ao teor de umidade


apresentado na Tabela 1 ser praticamente o
mesmo nos três ensaios, pode-se dizer que não
houve alterações nos resultados devido a esse
fator. As cargas de ruptura obtidas nos ensaios
estão muito próximas, o que comprova que a
Figura 3. Prova de carga com inundação preliminar execução dos ensaios foi bem sucedida.
O solo apresentou em todos os ensaios
afundamento na região abaixo da placa,
4 ANÁLISES E DISCUSSÕES cisalhando-o rente as suas bordas, caracterizando
uma ruptura por puncionamento.
4.1 Provas de carga nas Condições Naturais
4.2 Prova de Carga com Inundação
As tensões de ruptura (ıult) foram obtidas a partir Preliminar de Cava por 24hrs
das curvas tensão x deformação, resultado das
provas de carga realizadas nas 3 cavas, conforme As tensões de ruptura (ıult) no estado inundado
apresentado na Figura 4. foram obtidas pelas curvas tensão x deformação,
resultado das provas de carga realizadas nas 3
Tensão(KPa) cavas, conforme apresentado na Figura 5.
0 10 20 30 40 50 60 70 80
0
Tensão(kPa)
Deslocamento(mm)

10 0 10 20 30 40 50 60
0
Deformação(mm)

20 PCN1 PCI1
30 PCN2 10 PCI2
PCN3 PCI3
40 20
50
30
60
40
70
Figura 4. Curvas tensão x deformação das provas de 50
carga com solo nas condições naturais Figura 5. Curvas tensão x deformação das provas de
carga com solo pré-inundado por 24hrs
Utilizando o critério de Van der Veen (1953),
foram determinadas as tensões de ruptura de Na trincheira onde foi realizada a prova de
todas as provas de carga, considerando uma carga inundada 1 (PCI1), a mangueira que
deformação de 25mm. Já as tensões admissíveis deveria irrigar a vala durante 24 horas foi
foram determinadas através da aplicação de um desligada durante a noite, devido ao fato de a
fator de segurança igual a 2,0 sobre o valor da mesma estar localizada em local com fluxo de
tensão de ruptura. Os resultados são pessoas. Isto fez com que o solo não alcançasse
apresentados na Tabela 2. Sendo“ȡ” a grau de saturação suficiente para que a
deformação máxima na ruptura e “w” o teor de colapsibilidade influenciasse significativamente
umidade no momento do ensaio. sua carga de ruptura. Desta forma a tensão de
ruptura alcançada foi de 50 kPa. Esse valor foi
muito próximo das provas de carga com o solo
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


em condições naturais e apresentou dispersão Tabela 4. Comparativo de resultados das provas de carga
com relação aos demais ensaios com pré- ʌ ıult ıadm Variação
PC (%)
inundação do solo, confirmando a falha na (mm) (kPa) (kPa)
PCN1 53,10 55,22 27,61
saturação. 1 16%
PCI1 46,82 46,35 23,17
Os resultados extraídos das curvas tensão x PCN2 57,14 66,24 33,12
deformação podem ser observados na Tabela 3. 2 42%
PCI2 50,00 38,11 19,05
PCN3 58,82 50,21 25,10
3 27%
Tabela 3. Resultados finais dos ensaios. PCI3 50,00 36,84 18,42
Ensaio ʌ ıult ıadm
(mm) (kPa) (kPa)
PCI1 46,82 46,35 23,17 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
PCI2 25,00 38,11 19,05
PCI3 25,00 36,84 18,42
A realização desta pesquisa teve como principal
objetivo analisar o comportamento das camadas
4.3 Análise Comparativa entre Provas de
superficiais do solo laterítico e colapsível
Carga
existente na cidade de Cascavel-PR, a fim de
comprovar a viabilidade ou não da utilização de
Ao comparar os ensaios com e sem inundação
fundações diretas sobre o solo.
preliminar do solo, verifica-se que este solo
Foi determinada uma tensão admissível
sofreu uma redução na tensão de ruptura média
média, da camada superficial do solo do Campo
de 30%, resultado esse já esperado pelos autores,
Experimetal, de 28,61 kPa, nas condições
conforme apontado por Branco et al (2016), para
naturais e de 18,73 kPa para a condição de pré-
solo de Londrina/PR uma redução de quase 60%.
inundação do solo por 24 hrs (desconsiderando
Para a prova de carga 1 observou-se que o fato
PCI1).
de a vazão ter sido interrompida durante a noite,
Verificou-se redução significativa na
o solo não alcançou grau de saturação suficiente
capacidade de carga do solo umedecido quando
para que houvesse a destruição das ligações entre
comparado à sua condição não-saturada. Para as
as partículas e consequente colapso do solo,
provas de carga 2 e 3 verificou-se redução da
influenciando assim no formato da curva tensão
tensão admissível de 42% e 27%,
x deformação. No entanto, utilizando a
respectivamente, ao comparar com o solo com
extrapolação proposta por Van der Veen (1953)
umidade natural. Já para a prova de carga na cava
foi possível determinar a tensão de ruptura
1, devido a falha no sistema de saturação
estimada para uma deformação de 25mm, tendo
preliminar, a diferença foi somente de 16%.
aproximação com os demais ensaios.
O solo analisado demonstrou características
Na Tabela 4 é apresentado um resumo dos
colapsíveis devido ao fato de ter sofrido
resultados obtidos e a variação determinada entre
deformações excessivas repentinas, sem
as provas de carga executadas na mesma cava.
alteração da tensão, conforme foi verificado
Percebe-se uma menor variação justamente nos
durante a realização dos ensaios. A redução
ensaios realizados na cava 1, justificada pela
significativa na capacidade de carga do solo
falha na saturação verificada antes do ensaio pré-
umedecido também caracteriza o fenômeno do
inundado, que acabou não sendo eficaz e gerou
colapso.
resultados bem próximos ao das condições
Esta pesquisa comprovou a importância de se
naturais.
realizar provas de carga para fundações diretas
considerando, também, a saturação do solo, pois
sua capacidade de carga sofreu drástica redução
devido à colapsibilidade, o que pode ocasionar
em sérios danos devido a recalques excessivos
ou recalques diferenciais, e até mesmo no
colapso da estrutura assentada sobre este solo.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


O dimensionamento de sapatas deve ser
realizado considerando a pior situação possível
para a estrutura, ou seja, uma situação onde há
percolação de água no solo durante longos
períodos, e consequentemente quebra das
ligações entre as partículas de solo e brusca
perda de resistência, ocasionando recalques
bruscos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao apoio de todos que


auxiliaram e apoiaram a realização dessas
pesquisas.

REFERÊNCIAS

Alonso, Urbano Rodriguez. Previsão e controle das


fundações. 1991. 142 p. São Paulo.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. Prova de


carga direta sobre terreno de fundações. NBR
6489/1984. Rio de Janeiro, 1984.

Branco, C. J. M. C; Zambom, V. S; Cancian, V. A;


Teixeira, R. S. Estimativa de Recalque de Sapata
Apoiada em Solo Argiloso Típico de Londrina/PR.
XVIII Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica. Belo Horizonte, 2016.

Lorenzi, V. Avaliação do Desempenho de Estacas


Escavadas com o Método de Alargamento de Fuste.
Dissertação de Mestrado. UFRJ. COPPE. 2012.

Pinto, Carlos de Sousa. Curso Básico de Solos em 16


aulas. 3ª edição. 2006. São Paulo.

Van Der Veen, C. The Bearing Capacity of a Pile. Proc.


Third International Conference Soil Mechanics
Foundation Engineering, Zurich, vol. II. 1953.

Zen, B. A. B. Caracterização Geotécnica do Subsolo do


Campo Experimental do Centro Acadêmico da FAG
em Cascavel/PR. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Engenharia Civil) - Faculdade Assis
Gurgacz, Cascavel/Pr, 2016.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


Análise da Influência das Densidades dos Grãos no Ensaio de
Sedimentação
Andrea Cardona Pérez
Universidade de Brasilia, Brasilia DF, Brasil, andreita-29@hotmail.com

Rocio del Carmen Pérez Collantes


Universidade de Brasilia, Brasilia DF, Brasil, pcrocio@yahoo.com

Sabrina Marques Rodrigues


Universidade Estadual de Goiás, Anápolis, Brasil, sabrinamarques02@hotmail.com

José Camapum de Carvalho


Universidade de Brasília, Brasília DF, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

Renato Cabral Guimarães


Furnas e UEG, Goiânia, Brasil, renatocg@furnas.com.br e renato.guimaraes@ueg.br

Renato Batista de Oliveira


Furnas, Goiânia, Brasil, renatoba@furnas.com.br

RESUMO: Foi feito um estudo experimental com o objetivo de estabelecer se é necessário considerar
na determinação dos tamanhos de partículas do ensaio de sedimentação, a variação com o tempo de
ensaio da massa especifica dos grãos (Gs) da mistura solo água, em lugar de um valor médio como
tradicionalmente tem sido feito. Para isto se determinou, durante a execução do ensaio, o valor de Gs
ao longo da proveta para 4 amostras ensaiadas: duas amostras coletadas nas profundidades de 1m e
11m de um perfil de intemperismo tropical, e duas amostras de bentonita oriundas dos Estados da
Paraíba e de Minas Gerais. Os resultados mostram que em geral, a variação na granulometria,
considerando os valores mínimos e máximos do Gs encontrados para as misturas solo-água não é
significativa. Porém, se analisados os minerais presentes no solo em separado, é possível constatar a
influência da densidade dos grãos na avaliação do tamanho das partículas presentes no solo.

PALAVRAS-CHAVE: Mineralogia, Curva granulométrica, Solos Intemperizados, Bentonita

1 INTRODUÇÃO nos resultados.


Este artigo visa analisar a possibilidade de
Sempre se tem considerado que todo o processo que o Gs dos grãos, intervindo na leitura
de sedimentação que acontece durante o ensaio densimétrica, mude com o tempo durante a
para determinar a granulometria da fração fina de execução do ensaio, o que levaria a uma variação
um solo, ocorre em função do tamanho dos nas medições feitas com o densímetro, que
grãos, e para obter o diâmetro das partículas, tem conduziriam a uma imprecisão na determinação
sido tradicionalmente utilizado o valor médio de da granulometria real do solo. Para avaliar tais
densidade dos grãos (Gs) do material em estudo. alterações considerou-se amostragens feitas ao
No entanto, estima-se que tanto a densidade dos longo da proveta para um determinado tempo de
minerais como a forma das partículas interfiram ensaio, pois ao longo do tempo a precipitação das

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


partículas vai alterando a densidade média para tradicional é que maior o tamanho da partícula
a leitura densimétrica. mais rápido ela cairá (Budhu, 2000). Essa
Além disso, foram efetuados ensaios de raio velocidade de queda é determinada a partir da lei
X nas amostras de 1m e 11m, visando estabelecer de Stokes, na qual é assumida que a partícula é
uma Gs média do solo com base na Gs de cada esférica e que não se apresentam colisões entre
um dos minerais que o compõem, sendo os elas, o que claramente não se cumpre na sua
valores médios obtidos posteriormente totalidade (Das, 2001). A partir da equação de
comparados com os valores determinados velocidade de precipitação se obtém a equação
experimentalmente e usados nas análises para a determinação do diâmetro das partículas,
granulométricas. Com isto pretende-se equação (1).
estabelecer, se poderia estar intervindo no
processo de sedimentação, as densidades dos
30Ș L
minerais que compõem o solo, já que um mesmo D=ඨ ඨ ሺͳሻ
material pode conter minerais com densidade de (Gs-1)ȡw t
5, como o caso da Hematita, ou de 2,3, como é o
caso da Gibbsita. Além de se trabalhar com os D: Diâmetro das partículas
valores experimentais médios se analisou a ߟ: Viscosidade da água
influência na curva granulométrica se o mineral L: Distância de queda das partículas
considerado apresentasse elevada ou pequena t: Tempo de queda
densidade dos grãos. ȡw: Densidade da água
Gs: Densidade dos grãos

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Para a equação 1, sempre se tem utilizado um


valor médio da densidade dos grãos do solo, mas
Os solos em geral, são compostos por três fases, as diferentes densidades dos minerais que
líquida, sólida e gasosa. A fase sólida é compõem esse solo, podem eventualmente
constituída por matéria orgânica e matéria interferir no processo de sedimentação, o qual
inorgânica. Em um perfil de solo tropical o mais sempre se tem atribuído só ao tamanho dos
comum é que o conteúdo de matéria orgânica grãos.
diminua com a profundidade e que a composição A densidade dos grãos pode ser obtida
mineralógica mude ao longo do perfil. experimentalmente por meio de um picnômetro
O solo apresenta dois tipos de massa convencional, seguindo o procedimento descrito
específica, a massa específica dos grãos, a qual é na NBR 6508 ou usando um pentapicnômetro, o
obtida a partir da relação entre a massa e o qual é um equipamento que usa o princípio de
volume do material sólido, omitindo o volume de Arquimedes (deslocamento de fluido) e a lei de
vazios presente entre as partículas, e a massa Boyle (expansão de gás) para encontrar o
específica aparente, a qual, ao contrário, leva em volume real do material sólido e com ele
conta esse volume de vazios. Estes dois tipos de determinar a densidade real dos grãos. O uso do
Massa específica são necessários para a obtenção gás garante uma maior acurácia, e embora
de resultados em diferentes ensaios de possam ser usados vários tipos deles, é
laboratório. A massa específica dos grãos é recomendável usar o Hélio devido a que este
também tratada em termos de peso específico e apresenta um menor tamanho atómico podendo
de densidade real, sendo que neste caso ela é penetrar nas fissuras e poros menores
obtida normalizando-se a massa específica dos (“Quantachrome Instruments”, [s.d.]).
sólidos em relação a massa específica da água.
O ensaio de sedimentação, é um dos ensaios
onde seus resultados podem variar 3 METODOLOGIA
consideravelmente, segundo o valor de massa
específica dos grãos utilizado nos cálculos. Este Para avaliar se as densidades dos diferentes
ensaio é feito para determinar a distribuição minerais que formam a estrutura do solo, podem
granulométrica dos solos finos, e seu princípio ou não intervir no processo de sedimentação,

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



foram coletadas amostras deformadas no campo As amostras coletadas foram levadas para a
experimental do Programa de Pós-Graduação em estufa e após secagem se determinou a massa
Geotecnia (PPGG) da Universidade de Brasília especifica de cada uma delas mediante o uso do
(UnB) nas profundidades de 1m e 11m pentapicnômetro disponível no laboratório de
representando, segundo Pastore (1996) citado geotecnia da UnB.
por (Guimarães, 2002), um solo residual Adicionalmente foram obtidas as curvas
laterítico e um solo saprolítico respectivamente. granulométricas com defloculante de cada uma
Também foram utilizadas duas amostras de das amostras, visando verificar se apresentam
bentonita, uma proveniente do Estado da Paraíba diferenças significativas entre a curva obtida
e a outra do Estado de Minas Gerais. com o Gs médio, que é a que se usa comumente,
Inicialmente se pegaram 140gr de cada uma e as curvas obtidas usando o valor mínimo e
das amostras, misturadas com 250ml de agente máximo entre as densidades determinadas com o
dispersor, representando assim o dobro do método anteriormente descrito.
recomendado pela norma correspondente ao Complementarmente se avaliou a influência
ensaio de sedimentação (NBR-7181, 2016). Essa das densidades mínima e máxima apresentadas
alteração foi adotada de modo a que se na literatura para os minerais presentes nas
dispusesse de solo suficiente para fazer os profundidades de 1m e 11m. Para 1m foram
ensaios de densidade real usando o consideradas as densidades da gibbsita
pentapicnômetro. (densidade mínima) e da hematita (densidade
As amostras foram deixadas em repouso por máxima). Para a profundidade 11m se usou a
um período mínimo de 12 horas e depois densidade da caulinita (densidade mínima) e da
submetidas à ação do aparelho dispersor ilmenita (densidade máxima).
seguindo os 15 minutos estabelecidos na norma.
Depois, se colocou cada uma das misturas nas
provetas onde se deixou sedimentar, por um 4 RESULTADOS E ANÁLISES
tempo de 10 minutos as amostras de 1m e as duas
bentonitas, e por 1 hora a amostra de 11m.
Completado esse tempo, se procedeu a coleta de Foram feitos ensaios de raio x para os solos de
5 amostras de cada uma das provetas, conforme 1m e 11m de profundidade, com o objetivo de
ilustrado na figura 1. Destaca-se que a adoção obter a composição mineralógica
dos intervalos de tempo distintos para os dois semiquantitativa e os teores correspondentes a
solos se deu de modo a se trabalhar com trechos cada um dos minerais constituintes. Buscando na
intermediários das curvas granulométricas de literatura valores de densidade para cada um
sedimentação. desses minerais, se determinou um valor mínimo
e máximo de massa especifica para estes dois
solos. Estes resultados são apresentados nas
Tabelas 1 e 2.

Tabela 1. Valores do Gs médio para o solo de 1m, a partir


da sua composição mineralógica.
Minerais no Gs min da Gs máx da
Teor
solo de 1m literatura literatura
Anatásio 0,8% 3,9 3,9
Gibbsita 29,9% 2,3 2,4
Hematita 9,0% 4,9 5,3
Caulinita 19,0% 2,1 2,6
Quartzo 40,0% 2,65 2,65
Ilmenita 0,8% 4,7 4,7
Maghemita 0,5% 4,9 4,9
Figura 1. Procedimento de coleta das amostras para a Gs media do solo 2,68 2,84
determinação da massa específica.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Pode se observar nas Figuras 2 e 3, uma
Tabela 2. Valores do Gs médio para o solo de 11m, a partir variação da massa especifica ao longo da
da sua composição mineralógica.
proveta, em comparação com os valores médios
Minerais no Gs min da Gs máx da apresentados nas Tabelas 1 e 2. Para o solo de
Teor
solo de 11m literatura literatura 1m de profundidade o valor médio dos dados de
Gs mostrados na curva, é de 2,66 um pouco mais
Ilita 25,7% 2,8 2,8
abaixo do valor mínimo obtido a partir dos teores
Caulinita 53,1% 2,1 2,6 dos minerais que formam a estrutura desse solo.
Muscovita 14,0% 2,67 3,0 No caso do solo de 11m, a Gs média obtida a
Quartzo 6,3% 2,65 2,7 partir das curvas foi de 2,78 e o máximo obtido
Ilmenita 0,9% 4,7 4,7 pelas densidades dos minerais foi de 2,73.
Gs media do solo 2,42 2,73 Para o caso das bentonitas, a densidade média
de seus grãos, foi 2,498 para a bentonita
Do mesmo jeito, se encontraram as densidades proveniente da Paraíba e 2,476 para a de Minas
dos grãos para cada uma das amostras coletadas Gerais, apresentando esta última, maior variação
ao longo da proveta, para as profundidades de ao longo da proveta. Estes valores ficaram dentro
1m e 11m e para as bentonitas de Minas Gerais e da faixa estabelecida para este tipo de argila, o
Paraíba, estes valores são mostrados nas Figuras qual segundo a literatura, pode variar entre 2.3 e
2 e 3, respectivamente. 2.6.
As variações de densidade registradas ao
longo das provetas podem ter sido geradas, por
diferenças químico-mineralógicas e no caso das
bentonitas por variações no grau de hidratação.
Também pode interferir nos resultados a forma
que as partículas apresentam, já que um mineral
com forma mais esférica pode cair mais rápido
que um de forma lamelar mesmo que o primeiro
seja menos denso.
Tomando o valor mínimo e máximo de cada
uma das curvas anteriores, mostradas nas
Figuras 2 e 3, se traçaram as curvas
granulométricas oriundas apenas da
Figura 2. Variação da Gs ao longo da proveta para o solo sedimentação para compará-las com a curva
de 1m e 11m de profundidade, após dos 10min e 1h de resultante do uso do valor médio de densidade.
sedimentação respectivamente. Os resultados obtidos estão apresentados nas
figuras 4, 5, 6 e 7, as quais correspondem
respectivamente ao solo de 1m, 11m e às
bentonitas Paraíba e Minas Gerais.
Constata-se nessas Figuras que a variação
gerada pelos valores mínimos e máximos de Gs
para esses tempos em relação ao valor médio de
Gs geralmente adotada, é suficientemente
pequena não comprometendo assim o uso do
valor médio da densidade dos grãos, no ensaio
de sedimentação.

Figura 3. Variação do Gs ao longo da proveta para as


amostras de bentonita depois dos 10min de sedimentação.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Figura 4. Distribuição granulométrica para o solo de 1m Figura 7. Distribuição granulométrica para a bentonita de
de profundidade com o valor de Gs médio, máximo e Minas Gerais com o valor de Gs médio, máximo e mínimo,
mínimo, para um tempo de sedimentação de 10min. para um tempo de sedimentação de 10min.

Apesar dessa constatação em relação aos


valores de densidade real obtidas
experimentalmente, optou-se por avaliar ainda o
que ocorreria com as curvas se o material fosse
composto apenas pelos minerais mais e menos
densos presentes nos solos coletado a 1m e a 11m
de profundidade.
As Figuras 8 e 9 mostram que ao se trabalhar
com os minerais mais e menos densos indicados
nas Tabelas 1 e 2, passam a ocorrer importantes
diferenças nas curvas granulométricas indicando
assim a necessidade de maiores reflexões sobre
os resultados dos ensaios de granulometria por
sedimentação. É evidente que no solo não
Figura 5. Distribuição granulométrica para o solo de 11m ocorreria a variação da curva como um todo, mas
de profundidade com o valor de Gs médio, máximo e poderiam ocorrer variações ao longo da curva
mínimo, para um tempo de sedimentação de 1h.
compreendidas entre as duas curvas extremas
mostradas nas Figuras 8 e 9.

Figura 6. Distribuição granulométrica para a bentonita de


Paraíba com o valor de Gs médio, máximo e mínimo, para Figura 8. Distribuição granulométrica para o solo de 1m
um tempo de sedimentação de 10min. de profundidade com os valores de Gs da Tabela 1.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



licenciatura, Programa de Saneamento e proteção
ambiental, Universidade Nacional de Comahue,
Tomado de http://tesis.bioetica.org/pab2-1.htm
Budhu, M. (2000) Soil Mechanics and Foundations, John
Wiley & Sons, Inc., New York, USA, 616p, 24.
Das, B. M. (2001) Fundamentals of Geotechnical
Engineering. Applied Mechanics Reviews (3o ed),
Chris Carson, Madrid, España, 637p. Tomado de
http://doi.org/10.1115/1.1421116
Guimarães, R. C. (2002) Análise das propriedades e
comportamento de um perfil de solo laterítico
aplicada ao estudo do desempenho de estacas
escavadas, Dissertação de Mestrado, Porgrama de
Pós-Graduação em Geotecnia, Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental,Universidade de
Brasília, Brasília DF, 180p, 60–61.
Figura 9. Distribuição granulométrica para o solo de 11m Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT. NBR
de profundidade com os valores de Gs da Tabela 2. 7181: Solo-Análise Granulométrica, método de
ensaio. Brasil. 2016.
Quantachrome Instruments. ([s.d.]). Recuperado 26 de
julho de 2017, de
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS http://www.quantachrome.com/technologies/densit
y.html
Os resultados apresentados e analisados nesse
artigo apontam como satisfatório o modo como
se determina a curva granulométrica por
sedimentação usando-se um valor médio da
densidade real dos grãos.
Mesmo assim, de modo a ampliar o
entendimento dos ensaios de sedimentação e se
necessário introduzir alterações de
procedimento, será relevante avaliar resultados
com outros tempos de sedimentação, outros tipos
de solo e fazer raio X para cada uma das
amostras coletadas ao longo da proveta de modo
a se averiguar a repetibilidade da diversidade de
composição mineralógica. Com isso será
possível avaliações mais acuradas sobre a real
influência de se trabalhar com o valor médio de
Gs nas análises das curvas granulométricas
obtidas por sedimentação.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq e à CAPES pelo


apoio dado as pesquisas que subsidiaram esse
artigo.

REFERÊNCIAS

Brissio, P. A. (2005). Evaluación preliminar del estado de


contaminación en suelos de la provincia del
Neuquén donde se efectúan actividades de
explotación hidrocarburífera, Dissertação de

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Análise da Utilização de Células Triaxiais para a Realização de
Ensaios de Permeabilidade
Marcos Túlio Fernandes
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, Brasil, marcostuliofernandes@hotmail.com

Glaucimar Lima Dutra


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, galdutra@hotmail.com

Maxwell de Freitas da Silva


Universidade Presidente Antônio Carlos, Ipatinga, Brasil, maxfreitas19@yahoo.com.br

RESUMO: O permeâmetro de parede flexível vem sendo muito utilizado na determinação do


coeficiente de permeabilidade de solos, devido a sua eficiência no processo de saturação. Logo o
presente trabalho tem como finalidade analisar a eficiência de se realizar ensaios de permeabilidade
em células triaxiais, adotando um modelo de montagem simples. Para isto, foram executados ensaios
em corpos de prova indeformados e compactados, tanto no permeâmetro de parede rígida como no
flexível. Ao analisar os valores encontrados, concluiu-se que os obtidos com o permeâmetro de parede
flexível são bem próximos dos encontrados com o permeâmetro de parede rígida, evidenciando a
vantagem na rapidez de montagem e um pequeno ganho no processo de saturação.

PALAVRAS-CHAVE: Coeficiente de Permeabilidade, Ensaios de Permeabilidade, Percolação de


Água.

1 INTRODUÇÃO com permeabilidade menor que 10-4 cm/s a


aplicação de carga constante promove uma
A determinação do coeficiente de difícil determinação das medidas, pois o volume
permeabilidade é de grande importância na coletado em um curto espaço de tempo é
engenharia geotécnica, pois a partir desta pequeno. Já os permeâmetros de parede rígida à
propriedade do solo pode-se realizar diversas carga variável são ideais para solos argilosos e
análises envolvendo o fluxo de água no solo. siltes, com permeabilidade média variando entre
Para se determinar o valor do coeficiente de 10-4 e 10-6 cm/s.
permeabilidade (K) são utilizados métodos Jesus (2012) cita que a utilização de
diretos e indiretos, sendo os métodos indiretos permeâmetros de parede flexível é mais voltada
pouco usuais, pois não refletem valores para solos pouco permeáveis, em que o processo
significativos. Dentre os métodos diretos tem-se de saturação pode levar muito tempo ou até
os executados em campo (Infiltrômetro de anel mesmo não ocorrer, pois o processo de saturação
duplo, permeâmetro Guelph, ensaios de dos permeâmetros de parede flexível é mais
bombeamento e infiltração em furos de eficiente, utilizando uma contrapressão.
sondagem, etc.), e os executados em laboratório A vantagem da utilização deste permeâmetro,
(permeâmetros de parede rígida e flexível). além de poder executar ensaios em solos de
Segundo Head (1981), os permeâmetros de baixa permeabilidade, é de poder controlar as
parede rígida, atuando sob cargas constantes, são tensões confinantes no momento do ensaio,
ideais para medir a permeabilidade de areias e simulando assim uma situação real de campo.
em alguns casos cascalhos, sendo que em solos Com base nos relatos das vantagens de

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utilização de permeâmetros de parede flexível Os ensaios de caracterização que foram
para a obtenção do coeficiente de realizados são: granulometria, massa específica
permeabilidade, este trabalho veio avaliar o dos sólidos e limites de Atterberg. Além disto,
desempenho da realização de ensaios de foram feitos ensaios de compactação para
permeabilidade em permeâmetros de parede obtenção da curva de compactação. Os
flexível, utilizando células triaxiais e um resultados dos ensaios podem ser vistos na
esquema de montagem simples, semelhante ao Tabela 1.
do permeâmetro de parede rígida. Para isto
foram executados ensaios em três solos distintos Tabela 1. Resultados dos ensaios de caracterização.
e comparado os resultados encontrados com os Solo
Propriedades
obtidos com o permeâmetro de parede rígida. ETA AE VS
Ȗs (kN/m³) 27,30 29,68 26,23

2 MATERIAIS E MÉTODOS Ȗd máx (kN/m³) 13,90 13,23 17,28


w máx (%) 32,45 32,00 14,60
2.1 Áreas de Estudo LL (%) 76 71 N/P
LP (%) 45 48 N/P
Para a concepção desta pesquisa foram
Percentual de Argila (%) 73 31 10
escolhidas três áreas, todas situado no município
Percentual de Silte (%) 5 48 20
de Viçosa – MG. A escolha destas áreas se deu
pelo fato de as mesmas possuírem solos com Percentual de Areia (%) 22 21 70
características distintas, sendo eles Argiloso, N/P - não plástico
Arenoso e Siltoso, tendo assim uma visão do
comportamento do ensaio em solos com Com o auxílio dos dados encontrados nos
propriedades distintas e coeficientes de ensaios de caracterização, foi possível classificar
permeabilidade variados. os solos segundo a classificação textural
A primeira área de estudo está localizada desenvolvida pelo Departamento de Agricultura
próxima à estação de tratamento de água (ETA) dos Estados Unidos (USDA), como sendo argila,
do município de Viçosa, na rua Saae, com o solo do ETA, argila lemo siltosa, o solo do AE
coordenadas geográficas 20º45’45.32”S e e lemo arenoso o solo presente na Vila
42º52’29.04”O. Secundino.
A segunda área situa-se próximo ao aeroporto
(AE) de Viçosa, ao lado da BR 356, saída do 2.3 Ensaios de Permeabilidade em Laboratório
município de Viçosa em direção à cidade de Ubá,
com coordenadas geográficas 20º45’20.07”S e Nas áreas de estudo foram coletadas amostras
42º50’24.47”O. para a realização dos ensaios em laboratório,
Por fim, a terceira e última área é localizada estas amostras foram retiradas em blocos
dentro da UFV, em um local denominado Vila seguindo as recomendações da NBR 9604/86.
Secundino (VS), situado entre o Departamento A partir dos blocos retirados foram moldados
de Zootecnia e o de Medicina e Enfermagem, ao os corpos de prova com 10 cm de diâmetro por
lado da rua que liga os dois departamentos, com 20 cm de altura, para a realização dos ensaios em
as seguintes coordenadas geográficas permeâmetros de parede rígida, e de 5 cm de
20º45’47.92”S e 42º51’29.15”O. diâmetro por 10 cm de altura para a realização
dos ensaios em células triaxiais. Foram
2.2 Caracterização das Áreas de Estudo realizados também ensaios de permeabilidade
em amostras compactadas com 100% da energia
Nas áreas estudadas foram coletadas amostras do proctor normal. A Figura 1 demonstra a
para ensaios de caracterização geotécnica, com o retirada dos blocos e moldagem dos corpos de
objetivo de determinar propriedades dos solos prova para os ensaios.
que possam interferir na permeabilidade, e
classificar o solo da área em questão.

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Figura 1. Retirada dos blocos e moldagem dos corpos de
prova.

Os ensaios foram realizados em


permeâmetros de parede rígida e em células
triaxiais, sob carga variável, promovendo o fluxo
de forma ascendente para melhor eficácia no
processo de saturação. O processo de montagem
das células triaxiais foi semelhante ao do ensaio
de compressão triaxial, e os ensaios com os Figura 3. Esquema de montagem do ensaio em
permeâmetros de parede rígida foram permeâmetro de parede rígida.
executados seguindo as orientações da NBR
14545/00. O exemplo de montagem do ensaio O procedimento para a realização dos ensaios
com a célula triaxial e com o permeâmetro rígido nos dois permeâmetros foi o mesmo. Após a
podem ser vistos nas Figuras 2 e 3. montagem da célula e da câmara com o corpo de
prova é realizado o processo de saturação e
leituras de vazão. O ensaio inicia-se com o
enchimento das buretas com água (a água
utilizada deve ser filtrada) realizando baixos
incrementos de carga, tomando o devido cuidado
para não promover uma carga hidráulica que
venha a causar piping na amostra, e faz-se as
leituras dos níveis de água inicial e final, após
um dado intervalo de tempo, ou então, anota-se
o tempo gasto para que o nível de água desça de
uma dada altura inicial até uma final, sendo que,
para melhor controle, a leitura inicial deve ser
sempre a mesma.
No ensaio em célula triaxial a diferença entre
a pressão confinante e a pressão que promove o
fluxo foi de 5 kPa. A pressão que promove o
fluxo foi de no máximo 12 kPa, para que não haja
adensamento da amostra durante o ensaio,
reduzindo o índice de vazios e interferindo no
resultado do mesmo.
É considerado que o corpo de prova atingiu
um estado de saturação quando se obtém quatro
Figura 2. Esquema de montagem do ensaio com célula
leituras iguais de vazão para a mesma carga
triaxial. hidráulica. No decorrer do ensaio é anotado o
nível de água inicial, o final, o tempo de ensaio e
a temperatura da água. Com os dados coletados

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nos ensaios é possível obter os coeficientes de Tabela 3. Resultados dos ensaios de permeabilidade
permeabilidade, calculados pela Equação 1. realizados em permeâmetro de parede flexível.
Determinações
Local Propriedades
La H0 (1) 1º 2º 3º
K=2,1 Log K (cm/s) 2,22E-04 5,94E-05 1,47E-04
AT H1
ETA Ȗd (kN/m³) 11,84 12,57 11,38
Em que: CV 56,94%
L: comprimento do corpo de prova; K (cm/s) 8,34E-05 7,63E-05 9,41E-05
AE Ȗd (kN/m³) 10,71 10,99 10,84
A: área da seção transversal do corpo de
CV 10,60%
prova;
K (cm/s) 6,24E-04 5,96E-04 6,19E-04
A: área da seção transversal do tubo de carga;
VS Ȗd (kN/m³) 14,17 14,7 14,51
H0: altura inicial da água no tubo de carga no
CV 2,42%
tempo t0;
H1: altura final da água no tubo de carga no
tempo t1; e Como pode ser notado, os resultados variaram
T: tempo de ensaio (t1 – t2). um pouco em função do peso específico seco,
sendo esta variação evidenciada nos ensaios
realizados no solo do ETA, onde a diferença do
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES coeficiente de permeabilidade entre as repetições
atingiu uma ordem de grandeza, passando de 10-
4
3.1 Resultados dos Ensaios de Permeabilidade para 10-5 cm/s.
Para os outros solos estudados os valores
Na Tabela 2 mostra-se os resultados obtidos encontrados entre as repetições foram bem
através dos ensaios realizados em amostras próximos, sendo que para o solo do AE ficou em
indeformadas em permeâmetros de parede torno de 10-5 cm/s e no solo da VS de 10-4 cm/s.
rígida. O fato do solo do ETA, apesar de ser um solo
argiloso, apresentar um coeficiente de
Tabela 2. Resultados dos ensaios de permeabilidade permeabilidade bem próximo do solo da VS, que
realizados com o permeâmetro de parede rígida. é um solo arenoso, deve-se a maior presença de
Determinações macroporos. Como relatado por Mesquita e
Local Propriedades
1º 2º 3º Moraes (2004) a presença de macroporos e
K (cm/s) 3,55E-04 6,65E-04 6,21E-05 vazios conectados podem interferir
ETA Ȗd (kN/m³) 11,67 11,37 12,06 consideravelmente nos resultados dos ensaios.
CV 83,61% Os coeficientes de variação (CV) foram
K (cm/s) 8,17E-05 9,09E-05 8,63E-05 maiores nos solos do ETA, em torno de 83,61%
AE Ȗd (kN/m³) 10,80 11,18 10,69 nos ensaios realizados em permeâmetros de
CV 5,34% parede rígida e 56,94% nos ensaios realizados
K (cm/s) 2,73E-04 4,12E-04 4,04E-04 em permeâmetros de parede flexível, logo, como
VS Ȗd (kN/m³) 14,60 14,90 14,84 mencionado por Fonseca e Martins (2011),
CV 21,44% apresentam alta dispersão entre os resultados
pois seus CV são maiores do que 30%. O solo do
A seguir apresenta-se, na Tabela 3, os AE e da VS apresentaram CV menores do que
resultados dos ensaios de permeabilidade no 30%, indicando uma menor dispersão entre os
permeâmetro de parede flexível com amostras resultados.
indeformadas. Coeficientes de variação altos foram
encontrados também no trabalho de Rodriguez et
al. (2015), e são comuns ao se medir esta
propriedade do solo como citado por Guimarães
(2013).

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3.2 Comparação entre os resultados Na Tabela 4 apresenta-se a comparação entre os
encontrados com o permeâmetro de parede resultados obtidos nos dois permeâmetros, rígido
rígida com os de parede flexível e flexível.

Tabela 4. Comparação entre os resultados encontrados com os permeâmetros de parede rígida e flexível, para as amostras
indeformadas.
Permeâmetro de parede rígida Permeâmetro de parede flexível
K 1 méd / Variação
Local K 1 (cm/s) K 2 (cm/s)
K 2 méd (%)
1º 2º 3º 1º 2º 3º
ETA 3,55E-04 6,65E-04 6,21E-05 2,22E-04 5,94E-05 1,47E-04 2,52 152%
AE 8,17E-05 9,09E-05 8,63E-05 8,34E-05 7,63E-05 9,41E-05 1,02 2%
VS 2,73E-04 4,12E-04 4,04E-04 6,24E-04 5,96E-04 6,19E-04 0,59 -41%

Através dos resultados de (K) encontrados mais próximos para o solo do Vila Secundino,
com os dois permeâmetros pode-se verificar que pois o solo presente nesta área é um arenoso, no
os dois apresentam resultados bem próximos, qual, por possuir poros maiores e menor
sendo que o permeâmetro de parede rígida, para presença de finos o processo de saturação
o solo do ETA (argiloso), resultou em valores mesmo no permeâmetro de parede rígida é
maiores do que os obtidos no permeâmetro de eficiente. O solo do AE não demostrou
parede flexível, evidenciando uma maior discrepância entre os resultados encontrados
eficácia no processo de saturação com o com os dois permeâmetros, apresentando uma
permeâmetro de parede flexível em solos finos, variação de apenas 2%.
embora a variação média não tenha sido grande,
sendo esta de 152%, o que se tratando de 3.3 Ensaios realizados em corpos de prova
coeficiente de permeabilidade é muito pouco, compactados
pois ao se mediar esta propriedade o mais
relevante é a ordem de grandeza em que se Nos corpos de prova compactados pode-se notar
encontram. algo semelhante ao que acontece com as
No solo da VS os resultados de (K) no amostras retiradas de campo. Na Tabela 5 estão
permeâmetro rígido foram menores do que no os resultados dos ensaios realizados em corpos
flexível, cerca de 41%, podendo ser avaliados de prova compactados para os permeâmetros de
como bem próximos. Estes resultados deram parede rígida e flexível.
Tabela 5. Comparação entre os resultados encontrados com os permeâmetros de parede rígida e flexível, para as amostras
compactadas.
Variação
Permeâmetros de parede Rígida Permeâmetros de parede Flexível
Local K1/K2 (%)
K 1 (cm/s) K 2 (cm/s)
ETA 6,56E-07 2,70E-07 2,43 143%
AE 2,32E-06 2,10E-06 1,11 11%
VS 2,44E-05 2,33E-05 1,05 5%

Pode-se notar que quando compactados há parede flexível, evidenciando, assim como nos
uma redução significativa nos valores dos ensaios executados com amostras indeformadas,
coeficientes (K) para os solos estudados. Esta um aumento de 2,43 vezes o valor de (K). Para
redução deve-se à uma diminuição do índice de os solos do AE e da VS os valores encontrados
vazios e rearranjo das estruturas do solo. pelos dois permeâmetros foram quase que iguais.
Para o solo do ETA observou-se um Logo pode-se contatar uma vantagem ao
coeficiente (K) 143% maior quando executado o executar o ensaio em permeâmetro de parede
ensaio em um permeâmetro de parede rígida do flexível, por promover uma saturação melhor
que quando executado em um permeâmetro de como evidenciada no solo do ETA, comprovado

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por uma redução do valor de (K) e também pela Rodriguez, T. T.; Weiss, L. A.; Teixeira, R. S.; Branco, C.
facilidade de montagem e execução do ensaio. J. M. C. (2015) Permeabilidade de Solo Laterítico Por
Diferentes Métodos. Semina: Ciências Exatas e
Uma das vantagens também constatadas ao Tecnológicas, Londrina, Vol. 36, n. 2, p. 17-32.
executar o ensaio em permeâmetros de parede
flexível é o menor tempo gasto no processo de
saturação, devido as dimensões das amostras
serem reduzidas.

4 CONCLUSÃO

Notou-se que a realização dos ensaios de


permeabilidade em células triaxiais mostrou-se
tão eficiente quanto à realização em
permeâmetros de parede rígida, reportando
resultados muito próximos, como visto na área
do AE onde a variação foi de apenas 2% para
amostras indeformadas e 11% para amostras
compactadas. Concluiu-se que a realização dos
ensaios em células triaxiais garantem uma
rapidez maior no processo de montagem dos
ensaios e um pequeno ganho no processo de
saturação em solos argilosos, como constatado
no solo do ETA.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas (2000). NBR


14545 – Solo – Determinação do Coeficiente de
Permeabilidade de Solos Argilosos a Carga Variável,
ABNT, Rio de Janeiro, RJ, 12p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). NBR
9604 – Abertura de Poço e Trincheira de Inspeção em
Solo, Com Retirada de Amostras Deformadas e
Indeformadas – Procedimento. ABNT, Rio de Janeiro,
RJ, 9p.
Fonseca, J. S. e Martins, G. A. (2011) Curso de Estatística,
6. Ed, São Paulo: Atlas, 320p.
Guimarães, W. D. (2013) Caracterização da
Condutividade Hidráulica dos Solos e Estudo da
Vulnerabilidade à Contaminação dos Aquíferos da
Sub-Bacia do Córrego Palmital – Viçosa/MG. Tese de
Doutorado, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,
MG, 60 p.
Head, K. H. (1981) Manual of Soil Laboratory Testing,
Pentech Press, London, cp. 10, Vol. 2, p. 396-458.
Jesus, L. S. (2012) Estudo da Permeabilidade dos Solos de
Fundação do Aterro de Resíduos Sólidos Urbanos de
Bauru/SP, Dissertação Mestrado, Universidade
Estadual Paulista, Bauru, SP, 190p.
Mesquita, M. G. B. F. e Moraes, S. O. (2004) A
Dependência Entre a Condutividade Hidráulica
Saturada e Atributos Físicos do Solo, Ciência Rural,
Santa Maria, Vol. 34, n. 3, p. 963-969.

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Análise do comportamento geotécnico de estacas tipo mini-rap, sob
a ótica de modelos reduzidos (não centrifugado) 1g
Yuri Philippe Pinto da Costa
Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco (MG), Brasil, eng.yuricosta@gmail.com

Tales Moreira Moreira de Oliveira


Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco (MG), Brasil, tales@ufsj.edu.br

Ramon Albis Rodrigues Pinto


Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco (MG), Brasil, ramon.arodrigues@hotmail
.com

Willian de Oliveira Maia


Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco (MG), Brasil, womaia27@gmail.com

RESUMO: Verificou-se a influência do número de estacas no comportamento geotécnico de Sapata


Estaqueada. Com base nas respostas das curvas de carga x deslocamento, para sapatas assentadas em
0, 1, 2 e 4 estacas tipo RAP modificadas e em escala reduzida tipo 1g. Os valores para a tensão de
ruptura foram obtidos pelo método de Van der Veen e a partir destes a tensão e o deslocamento
admissível correspondente. Aplicou-se também o critério de Boston, por meio de análise gráfica. O
arranjo experimental consistiu em um delineamento inteiramente casualizado (DIC), contendo cinco
repetições e quatro tratamentos. Os resultados foram submetidos à ANOVA, a um nível de cinco por
cento de probabilidade, sendo verificados pelo teste Scott Knott. Para a geometria empregada
verificou-se, estatisticamente, que duas estacas abaixo da sapata apresentam a melhor resposta sobre
o ponto de vista dos deslocamentos e cargas admissíveis.

PALAVRAS-CHAVE: Modelo Reduzido 1g, Estaca Mini-RAP, Sapata Estaqueada, Escória de


Aciaria.

1 INTRODUÇÃO sendo uma estaca do tipo RAP, porém executada


com escória de aciaria em substituição ao
Ao grupo de estacas estudadas e desenvolvidas agregado natural britado. Possui um método
com finalidades de melhoramento dos solos se executivo de baixo custo, utilizando o Martelo
incluem as estacas de agregado compactado, do ensaio de sondagem a Percussão (SPT). Um
nomeadas de RAP®, Rammed Aggregate Piers, processo executivo simplificado que visa ser
desenvolvida e patenteada pela empresa Norte abrangente. Desenvolvido por Oliveira et al.
Americana Geopier. A granulometria do (2016) e denominada, aqui, como RAP
material, o diâmetro da estaca, a energia de modificada. O estudo foi realizado em escala
compactação e os equipamentos utilizados reduzida do tipo similitude restritiva 1g e com
possuem metodologias e tecnologias exclusivas objetivo de se verificar melhor comportamento
e patenteadas pela Geopeier (IONESCU e geotécnico, para um sistema composto por
BECK, 2010). sapata estaqueada, variando o número de estacas
Este trabalho se dispõe a estudar uma nova RAP modificada abaixo da sapata.
proposta de estaca para melhoramento do solo,

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2 MATERIAIS foi utilizado a escória de aciaria. Dispondo da
granulometria apresentada por Oliveira et al.
De acordo com a numeração encontrada na (2016), aplicou-se uma escala de projeto igual a
Figura 1, o aparato para realização dos ensaios 15% aos diâmetros definidos obtendo-se a
consiste em um pórtico de reação (10) onde foi granulometria mostrada na Tabela 1.
instalado um atuador pneumático ou cilindro
pneumático (4), para a aplicação da carga. A
base do pórtico apresenta duas guias, uma a
esquerda e outra à direita, em perfil cantoneira
(1), para servir de apoio à caixa (2) que fica livre
para ser movimentada para frente e para trás. O
controle da carga aplicada é realizado por meio
de registros (6 e 8). O ar comprimido é gerado
por um compressor, em sequência, o filtro de ar
(9), no início do sistema, manômetro de pressão
(7) e cilindro pneumático.

Figura 2. Base eletromagnética com garras específicas.

Tabela 1. Granulometria empregada na estaca RAP


modificada do modelo reduzido.
Número da Peneira Abertura (mm) % passante
4 4,75 100
10 2,00 64,9
16 1,18 49,8
50 0,3 25,1
Figura 1. Esquema do aparato utilizado. 200 0,075 12,6

Além dos equipamentos supracitados, foi Idealizou-se uma relação entre a energia de
construído um pórtico metálico. A ele se conecta compactação das estacas RAP modificada,
uma base eletromagnética que possui garras proposta por Oliveira et al (2016), e do Modelo
específicas para se prender o relógio reduzido, em função do peso específico aparente
comparador. Conforme pode ser visto na Figura seco do solo, encontrado no Campo na execução
2. dos protótipos em escala real e outra
O modelo reduzido de fundação do presente desenvolvida especialmente para o modelo
trabalho foi confeccionado por estacas reduzido. Desta forma buscou-se por um novo
compactadas, RAP modificada, de 36 cm de peso específico aparente, visto que para um
comprimento, com 2,25 cm de diâmetro. Para a mesmo tipo de solo, quanto maior o seu peso
sapata, foi selecionada uma placa metálica específico aparente, mais compactado se
circular com 12 cm de diâmetro. O solo de encontra, consequentemente, melhores são suas
sustentação em escala reduzida trata-se de um propriedades de resistência.
material amostrado do campo experimental, Assim, utilizando um recipiente de volume
onde foi realizado um protótipo em escala real. conhecido e uma amostra do solo do campo
Logo, com propriedades geotécnicas conhecidas. experimental, sendo esta seca ao ar e a sombra,
O solo fora compactado no interior da caixa com destorroada e peneirada em peneira de abertura
propriedades pré-determinadas descritas mais igual a 3,7 mm, foram testadas diferentes
adiante. umidades de forma que após a sua compactação
Como agregado para a construção das estacas,

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no interior do recipiente pudesse escolher aquele Por padronização, independente da
peso que permitisse a abertura de um furo sem profundidade, a estaca foi executada em
que ocorresse o seu fechamento, além de estar camadas com cerca de 4,5 cm de escória solta,
sobre o menor peso específico aparente possível. aproximadamente 68g, sempre compactada por
Para tal, obteve-se uma massa úmida de 8,944 ação de um golpe do soquete.
kg, com uma umidade igual a 24,34%, Visando a compreensão do comportamento
semelhante ao campo experimental, com um de sapatas estaqueadas com estacas Mini-RAP,
peso específico aparente seco ( J d) de 10,7 utilizou-se uma placa metálica circular, com
kN/m³. Utilizando o método de frasco e areia, espessura igual a 5 mm e diâmetro igual 12 cm,
auferiu, para as condições do campo que também respeita o fator de escala de 15% do
experimental, um peso específico aparente seco protótipo para simular a sapata.
igual a 14,7 kN/m³. Logo, o grau de compactação
em relação ao campo experimental é de 72%.
Quanto as estacas, foram construídas com 3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS
2,25cm de diâmetro e 36 cm de profundidade,
respeitando a proporção de 15% em relação a 3.1 Procedimentos dos ensaios
escala real.
Por meio de uma relação linear entre os pesos Para o estudo relativo ao quantitativo de estacas
específicos aparente seco de campo e aquela sobre sapatas estaqueadas utilizou-se um
adotada no modelo reduzido e a energia de delineamento inteiramente casualizado (DIC),
compactação utilizada na confecção das estacas contendo 4 tratamentos e 5 repetições, num total
em campo (12,9 kgf.cm/cm³), chegou-se ao valor de 20 ensaios. Os ensaios foram efetuados até a
de 9,4 kgf.cm/cm³ para a energia de ruptura geotécnica dos modelos, com
compactação das estacas do modelo reduzido. incrementos de cargas iguais, sendo cada estágio
Desta forma, determinou-se o número de golpes desenvolvido em um tempo pré-determinado
para o soquete do ensaio Proctor Normal, com (Modo rápido).
altura de queda igual a 35cm e peso igual a 2,5
kgf, como sendo igual a 1 golpe por camada. 3.2 Ensaios de calibração
Para a confecção das estacas, confeccionou-
se um trado pequeno adaptado para a escavação Procedeu-se a calibração do anel dinamométrico,
(1), um pilão com rosca (2) para a conexão de executando a deformação do anel por meio de
hastes de diversos tamanhos (3) constituídas de aplicação de cargas devidamente planejadas. As
barras rosqueadas permitindo, na outra aplicações foram realizadas em intervalos de
extremidade, a sua conexão a uma base com área carga de 100 em 100 kgf, por meio da ação de
suficiente (4) para receber a atuação do martelo uma prensa universal. Para cada carga aplicada
do soquete. Como pode ser visto pela figura 3, a mediu-se a deformação por meio do
seguir. deslocamento (į) do anel, com três repetições.
Com isso verificou-se que a constante do anel
encontrava-se igualmente a especificada pelo
fabricante, 462,82 kgf/mm.

3.3 Preparação do solo de fundação para os


modelos reduzidos

O solo de fundação se trata do mesmo


encontrado no campo experimental onde se
desenvolveu o protótipo em escala real por
Oliveira et al (2016). Sabendo-se que a massa de
solo compactada ao final possuirá 80 cm de
Figura 3. Equipamentos utilizados para confecção das
altura, no interior da caixa, pode-se determinar o
estacas.
volume de solo compactado como sendo igual a

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0,80 m³. Relacionando-se o volume da caixa com detalhamento e para sua execução foi plotado o
o peso especifico e evidenciado no item 2, e esquema da figura 5 em um filme transparente
executando-se a compactação do solo em 16 para a confecção dos moldes de madeira.
camadas por prensagem do solo com a pressão
exercida pelo cilindro pneumático ligado a uma
base quadrada, determinou-se a massa de solo
para cada uma das referidas camadas como
sendo igual a 53,28 kg de solo seco, que
convertido para massa de solo úmido dá
quantidade de solo igual a 66,25 kg, que deve ser
disposta na caixa para posterior compactação.
Para compactação do solo no interior da caixa,
utilizou-se uma pressão interna proveniente do Figura 5. Posicionamento para 4 e 2 estacas em relação a
cilindro pneumático de 10 kgf/cm², utilizando sapata.
uma placa quadrada de aço rígida com 51 cm de
lado. A placa metálica com 12 cm de diâmetro,
localizada na base do anel dinamométrico em
3.4 Procedimento executivo contato com o solo (figura 6), deve possuir sua
borda espaçada de cada lado da caixa com no
Para o estudo da influência do número de estacas mínimo 24 cm e entre placas de no mínimo 28
dispostas abaixo da sapata, a fim de compreender cm, objetivando-se assim e respectivamente a
o comportamento de sapatas estaqueadas, não influencia pro-reflexão de tensões e a
construiu-se um tratamento, representado pela modificação ou alteração das propriedades do
figura 3, que foi repetido 5 vezes. Nesta figura solo pelo conjunto de estaca e ensaio adjacente.
podem ser visualizadas as unidades
experimentais, sendo: sapata assente sobre o solo 3.5 Prova de Carga
de fundação e sapatas assentes sobre o solo de
fundação tratado com 4 estacas Mini-RAP, 2 Para a obtenção dos dados o pistão foi
estacas Mini-RAP e 1 estaca Mini-RAP, no posicionado sobre o centro da placa circular
sentido horário de orientação na figura. metálica com rótula, de modo a não ocorrer
transferência de momento fletor na ligação anel
dinamométrico/placa.
As cargas foram aplicadas por um cilindro
pneumático. Este permite utilizar a pressão de ar
comprimido oriunda do compressor, para fazer o
embolo se descolocar tanto em sentido
ascendente quanto descendente, mostrado na
figura 1 item 4.
A aquisição dos dados foi realizada de forma
analógica, por meio de um anel dinamométrico,
para determinar a carga aplicada e por meio de
relógio comparador analógico, com precisão de
0,01 mm que permite leituras até 50 mm, cuja
função é medir os deslocamentos verticais da
placa. A figura 6 exibe os equipamentos
supracitados para aquisição dos dados.

Figura 4. Localização das provas de carga de um 3.6 Análise dos resultados


tratamento.
Para análise dos resultados obtidos das provas de
Quanto às estacas, a figura 5 traz o seu carga, foi gerado um gráfico de carga x

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deslocamento. Com isso foi possível aplicar o colunas exibem a tensão admissível em kPa dos
método de Van der Veen (1953), com objetivo resultados obtidos para placa isolada, placa com
de se obter a carga de ruptura, cujo o valor fora uma estaca, duas estacas e quatro estacas.
dividido por dois, para se obter a carga A tabela 3 apresenta os respectivos valores de
admissível e posteriori obter o seu deslocamento deslocamentos admissíveis em mm, referentes as
admissível, sendo este último submetido a uma tensões apresentadas na tabela 2.
análise estatística.
Tabela 2. Tabela resumo para o método de Van der Veen.
Tensão Admissível (kPa) – Tratamento
Quantidade estacas
Repetição
Zero 1 2 4
N1 85,0 105,5 80,0 95,0
N2 115,0 114,0 86,0 97,5
N3 115,0 114,0 86,0 95,0
N4 115,0 105,5 80,0 95,0
N5 115,0 145,0 80,0 105,0
N6 115,0 105,5 80,0 95,0

Tabela 3. Tabela resumo dos deslocamentos para as


tensões admissíveis.
Tratamentos (mm)
Quantidade estacas
Repetição
Zero 1 2 4
N1 10,8 13,7 3,8 4,1
N2 22,4 11,9 3,6 2,8
N3 23,4 7,9 3,3 3,8
N5 41,8 15,0 7,1 8,0
Figura 6. Equipamentos para a aquisição de dados. N6 57,7 27,2 8,4 15,6

3.7 Análise estatística A figura 7 apresenta o resultado para o teste


Scott-Knott, cujas comparações das médias dos
Realizou-se uma análise de variância (ANOVA), diferentes tratamentos foram plotados em um
a um nível de 5% de probabilidade seguido do gráfico de barras com seu respectivo desvio
teste Scott knott, visando averiguar a existência padrão e sua letra de diferenciação.
ou não de uma diferença significativa em relação
a sapata isolada e sapatas estaqueadas, no que
concerne aos deslocamentos. Sendo que para a
análise de Skott knott os dados estatisticamente
iguais, ou seja de mesmo comportamento que a
sapata sem estaca são representados pela letra (a)
e aqueles de comportamento diferentes (b), (c)
ou (d) etc.

4 Resultados
Figura 7. Gráfico de barras com os erros e análise pelo
teste de Scott-Knott.
A tabela 2 apresenta os resultados obtidos para a
carga admissível, obtida empregando-se FS igual
Para o caso da análise gráfica proposta,
a 2 ao método de Van der Veen, para as provas
utilizando o critério de Boston, pode-se extrair
de carga realizadas. Na primeira colona é
suas respectivas tensões resumidas na tabela 4.
apresentado o código da repetição, onde cada
linha representa uma repetição e as demais

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Tabela 4. Tensões admissíveis- Critério Boston sapata e das estacas esta relação proposta
Tratamentos (kPa) permite incluir apenas 2 estacas estando
Quantidade estacas condizente por tanto com as observações
Repetição
Zero 1 2 4 levantadas pela análise de similitude restritiva do
N1 66,5 77,0 103,0 122,0 modelo reduzido empregado.
N2 61,0 93,0 121,0 150,0
N3 59,0 110,5 115,0 129,0
6 Conclusão
N5 38,0 77,5 88,0 113,0
N6 20,0 61,0 89,0 73,5 Através do modelo reduzido não centrifugado,
1.g, desenvolvido no laboratório foi feita a
correta aquisição de dados relativos ao problema
5 Discussão geotécnico proposto para aferição dos métodos
de análise disponíveis.
Segundo critério de Boston, tabela 5, verificou- A estaca Mini-Rap melhora as propriedades
se que as tensões admissíveis foram inferiores ao do solo, reduzindo os deslocamentos ocorridos,
método de Van der Veen, porém é possível caso estas não existissem e que a quantidade de
perceber, com o aumento do número de estacas estacas sob sapatas deve respeitar as dimensões
sob a placa, ocorre aumento na rigidez do solo. da sapata para delimitar o seu quantitativo.
As tensões para o deslocamento admissível
aumentaram.
De acordo com o teste de Skott Knott (1974), AGRADECIMENTOS
não há diferenciação entre o número de estacas
abaixo da sapata, pois, como pode ser Os autores deste artigo prestam agradecimentos
vislumbrado pelo gráfico da figura 6, todos os ao grupo de pesquisa INFRAGEO –
tratamentos contendo estaca abaixo da sapata Infraestrutura de Transportes e Obras
apresentam a letra de diferenciação (b), mas Geotécnicas, do Departamento de Tecnologia
diferente de (a), já que (a) representa o caso de 0 em Engenharia Civil, Computação e
estacas e estando condizente com a análise de Humanidades da Universidade Federal de São
ANOVA. João del-Rei Campus Alto Paraopeba – UFSJ-
Ainda segundo este mesmo gráfico para as CAP.
condições de similitude restritiva,
qualitativamente, verifica-se que a adição de 2 REFERÊNCIAS
estacas abaixo da sapata apresenta o melhor
comportamento. Porém esta última afirmação ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
está apresentada de forma contrária, ao esperado, TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e execução de
fundações. Rio de Janeiro, 2010. 91 p.
já que se esperava que quanto maior o número de IONESCU, B., BECK, A., Soil Improvement by Geopier®
estacas menores seriam os deslocamentos e Aggregate Piers. In: International Scientific
melhor seria o comportamento. Conference - CIBv, 2010. Braúov. p. 264 – 268, 2010.
Contudo Velloso e Lopes (2010) indicam que as OLIVEIRA, T. M. Notas de Aula, UFSJ, Campus Alto
distâncias entre eixos de estacas, se inferiores a Paraopeba, INFRAGEO, 2016
OLIVEIRA, T. M.; BICALHO, L. A.; BATISTA, S H. et
três vezes o diâmetro não apresentam al. Estaca RAP modificada. Congresso Brasileiro
comportamento desejado. Como pode ser Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica.
comprovado pela análise estatística aplicada, Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro
indicando que não houve variação significativa, Branco – MG, 2016.
para os deslocamentos, entre os grupos de SCOTT, A. J.; KNOTT, M. A. A cluster analysis method
for grouping means in analysis of variance.
sapatas estaqueadas. Biometrics. Raleigh, v.30, n.3, p.507-512, Sept. 1974.
Tal fato ocorre porque não há comportamento VAN DER VEEN, C. The bearing capacity of a pile. Proc.
individual pleno das estacas. A proximidade Third International Conference on Soil Mechanics and
apenas cria efeito de bloco, o qual deve ser Foundation Engineering, Zurich, V. 2, 1953
evitado. Entretanto em relação as dimensões da VELLOSO, D. A.; LOPES, F. R.Fundações – Fundações
Profundas, Oficina de Textos, São Paulo/SP.V.2.2010.

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Análise do Comportamento Mecânico de um Solo Laterítico
Reforçado com Fibras Naturais - Penas de Frango
R.J. Llanque Ayala
Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil,
jannethllanque@gmail.com

J. Camapum de Carvalho
Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Universidade de Brasília, Brasília, Brasil,
camapumdecarvalho@gmail.com

Ana Laura Martínez Hernández


Instituto Tecnológico de Querétaro, Universidade Nacional de México, México, almh72@gmail.com

RESUMO: O objetivo deste trabalho foi avaliar o comportamento de um solo laterítico com reforço
da fibra natural pena de frango. As penas de frango foram utilizadas como reforço no solo nos teores
de 0,25%, 0,50% e 0,75% em peso em relação ao solo seco. Após realizados ensaios de mini-CBR e
tração, analisou-se o potencial deste material como reforço. Verificou-se que as fibras não
influenciam de forma relevante no CBR do solo, no entanto, verifica-se seu grande potencial na
melhoria da resistência à tração. Essa resistência aumenta com o incremento do teor de fibras no solo.
Identifica-se um teor de 0,50% de penas como quantidade ideal no solo, valores inferiores não
apresentam grandes modificações comportamentais.

PALAVRAS-CHAVE: Mini-CBR, Resistência à Tração, Solos Lateríticos.

1 INTRODUÇÃO comportamento mecânico de um solo laterítico


com adição de penas de frango para ser utilizado
Na construção rodoviária o solo é geralmente como parte da estrutura de pavimentos
classificado a partir de suas propriedades físicas rodoviarios.
que estabelecem o seu potencial para uso em
camadas de estruturas de pavimento. O problema 2 MELHORIA DE SOLOS COM FIBRAS
começa quando o solo não é aceito como NATURAIS
material para construção e na região não se têm
outras alternativas além daquele solo ou se tem a As fibras naturais, dependendo da sua origem,
custo muito elevado o que inviabiliza a obra. são classificadas em: animais, vegetais e
A natureza é caracterizada pela diversidade minerais. Geralmente, são resultado de
biológica que se apresenta através de todas as processos industriais e descartadas na maior
espécies tanto na flora quanto na fauna. A parte dos casos, tornando-se elementos
evolução da indústria que gera qualidade de vida poluidores do ecossistema.
aos habitantes, gera também resíduos dos Para minimizar o impacto ambiental, muitas
principais produtos adquiridos em um pesquisas estão em andamento buscando
determinado tempo. Desses resíduos, parte dos reaproveita-las. O presente estudo volta-se para
provenientes da indústria aviaria são o uso da fibra natural pena de frango.
considerados fibras de origem animal.
O objetivo principal do trabalho é analisar o A característica principal das fibras animais

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pelos e penas está centrada no bio-polímero bicos, escamas e penas. Estas estruturas estão
denominado queratina que constitui-se em ligadas por pontes de enxofres sendo que quanto
elemento principal. maior o número de pontes, maior a rigidez da
Sales (2011) estudou o uso do cabelo humano queratina.
verificando altos valores na resistência à tração e Nas penas de frango podem-se, portanto,
melhorando o comportamento do solo. encontrar ambos os tipos de queratina. Segundo
Galán-Marin et al. (2010) utilizaram a fibra a estrutura da pena, a queratina apresenta-se em
natural lã de ovelha. O reforço do solo com este até 95% de concentração (Martínez-Hernández
material permitiu melhorar a resistência à & Velasco-Santos, 2012).
compressão quando combinado com outro
reforço, nesse trabalho, com alginato, 3 MATERIAIS E MÉTODOS
subproduto das algas marinhas.
Montes-Zarazúa et al. (2015) evidenciaram O estudo foi realizado em laboratório utilizando-
uma melhora nas propriedades de um solo se equipamentos convencionais como estufa,
expansivo quando adicionados 3% de fibras de equipamento de mini-compactação e prensa
penas de frango reduzindo a relação de vazios o CBR. Os ensaios foram realizados utilizando-se
que permite um melhor desempenho do solo como material fibras da pena de frango e um solo
como material de fundação. laterítico argiloso coletado à 3m de profundidade
As penas de frango são constituídas por uma no campo experimental do Programa de Pós-
parte central dura denominada raque. Da raque Graduação em Geotecnia da Universidade de
saem filamentos laterais chamados de barbas e Brasília. Foram preparadas misturas das penas
das barbas saem fibrilas denominadas bárbulas. de frango com o solo nas proporções de 0,25%,
Na Figura 1 apresenta-se a estrutura de uma pena 0,50% e 0,75% em peso de penas cortadas em
de frango. comprimentos entre 1,00 cm e 1,50 cm. Foi
utilizada a pena inteira cortada.
Os métodos de ensaio utilizados foram
basicamente: os ensaios de compactação em
equipamento miniatura (DNER-ME 256/94), o
ensaio mini-CBR (DNER-ME 254/97) e os
ensaios necessários à classificação pela
metodologia convencional MCV (DNER-ME
RAQUE 258/94).
O ensaio de tração foi realizado sob os
princípios estabelecidos na norma DNER-ME
BARBA 138/94.
A Tabela 1 apresenta a descrição da
BÁRBULAS composição das doze amostras ensaiadas e os
três tipos de ensaios realizados em laboratório.
Na amostra 1 além de serem feitos os ensaios de
mini-Proctor de compactação, mini-CBR e
tração, foi realizado também o ensaio mini-MCV
para classificação do material.
Figura 1. Estrutura de uma pena de frango.
Tabela 1. Ensaios realizados.
Quanto à queratina, é um material biológico Teor de Pena Ensaios
Amostra Solo Mini mini -
insolúvel presente em bicos, lã, unhas, cabelo, 0,25% 0,50% 0,75%
próctor CBR
Tração
couraças de tartaruga, chifres e penas. 1 puro - - - x x x
Segundo a estrutura interna da queratina, ela 2 99,75% 0,25% - - x x x
3 99,50% - 0,50% - x x x
se classifica em queratina Į e ȕ. A queratina Į se 4 99,25% - - 0,75% x x x
caracteriza por ser flexível e está presente em
cabelos e pelos, e a ȕ formada em laminas, o que Para a obtenção da curva de compactação
leva a maior rigidez, está presente em unhas, partiu-se do solo na umidade natural (w=18,9%)

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umedecendo-se ou secando-se ao ar o solo Quanto à classificação TRB considerando-se
segundo a necessidade para atingir a umidade a análise granulométrica realizada sem uso de
pretendida. Para maior equalização da umidade defloculante o solo é classificado como um silte
no solo, todas as amostras após preparadas na argiloso pertencente ao grupo A-4.
umidade desejada foram ensacadas e Conclui-se assim, que de um modo geral
armazenadas por 24 horas antes da realização do existe certa concordância entre os resultados das
ensaio de compactação. classificações realizadas. Dada a natureza
laterítica do solo torna-se recomendável que se
4 PROPRIEDADES DOS MATERIAIS leve em conta a classificação MCT do solo.
UTILIZADOS Nas penas foram realizados ensaios de
densidade real (Gs), obtendo-se um valor médio
As penas de frango utilizadas foram obtidas do de 1,07, valor concordante com os obtidos por
abatedouro Casa Grande localizado em Brasília- Kock (2006) quem determina uma faixa de Gs de
DF. Após preparação as fibras apresentavam 0,70 a 1,20. Na Tabela 2 apresenta-se o resumo
comprimento variando entre 1,00 cm e 1,50 cm das características dos materiais.
com diâmetros das penas naturais variando entre
0,5 e 1 mm sem levar em consideração a raque. Tabela 2. Resumo caracterização dos materiais
O solo foi coletado a 3,0 m de profundidade Material Solo Pena
no Campo Experimental do Programa de Pós- Gs 2,65 1,07
Graduação em Geotecnia da Universidade de WL 35 -
Brasília e é classificado como areia argilosa WP 23 -
quando se faz uso de defloculante e argila siltosa
IP 12 -
quando o mesmo não é usado, de cor vermelho
escura. Considerando-se os resultados do ensaio Classificação MCT LA' -
de difração de raios X (DRX), tem-se um solo Classificação SUCS ML -
com predomínio de gibbsita e caulinita, e a Classificação HRB A-4 -
presença de quartzo, hematita, goethita,
anastásio e rutilo. Análise que concorda com o 5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS
trabalho de Guimarães (2002). Na Figura 2 RESULTADOS
apresentam-se as curvas granulométricas do
solo, com e sem o uso de defloculante. Foram realizados ensaios de compactação, mini-
CBR e tração. A seguir apresentam-se os
resultados dos ensaios.

5.1 Mini-compactação

A Figura 3 apresenta as curvas de compactação


obtidas para o solo comparado com teor de
0,25%, 0,50% e 0,75%. Para o teor de 0,25% se
observa que em termos de peso especifico
aparente seco máximo o resultado se aproxima
do obtido para o solo sem adição de pena
Figura 2. Granulometria do solo com e sem defloculante. passando a ser menor com um aumento na
umidade ótima na medida em que se aumenta o
Para a classificação do solo a ser melhorado teor de pena. Observa-se ainda que o aumento no
foi realizado o ensaio mini–MCV (DNER-ME teor de pena tende a espraiar a curva de
258/94). Com base nesses resultados o solo é compactação. Ambas as observação indicam que
classificado como areia argilosa laterítica (LA’). as penas atuam resistindo à compactação, ou
Segundo o Sistema de Classificação seja, conferindo resistência ao cisalhamento ao
Unificada de Solos o solo utilizado é classificado solo.
como silte inorgânico de baixa plasticidade.

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16,5 solo puro tende a diminuir o CBR do solo.
Peso específico aparente seco (kN/m3)
16,0 Apesar da tendência de piora do comportamento
os resultados são muito dispersos requerendo
15,5
assim mais análises.
15,0

14,5 36
14,0 31

Mini - CBR (%)


13,5 26
21
13,0
14 16 18 20 22 24 26 16
Umidade(%)
11
Solo puro Solo+0,25% pena
Solo+0,50% pena Solo+0,75% pena 6
Figura 3. Curvas de compactação solo e misturas. 1
13 14 15 16
Na Tabela 3 apresentam-se os resultados dos Peso específico aparente seco (kN/m3)

ensaios de compactação. Solo puro Solo + 0,25% pena


Solo + 0,50% pena Solo + 0,75% pena

Tabela 3. Resultado compactação. Figura 5. Influência das fibras no comportamento do solo.


Solo 0,25% 0,50% 0,75%
Propriedade
Puro pena pena pena 5.3 Resistência à tração
Wótima% 18,90 19,64 20,98 21,78
Ȗd (g/cm³) 16,12 16,06 15,77 15,27 Os ensaios de resistência à tração foram
realizados na condição de compactação, ou seja,
5.2 Mini-CBR não saturada.
A Figura 6 apresenta a relação resistência à
Os ensaios de mini-CBR foram realizados após tração máxima e o peso específico aparente seco.
inundação dos corpos de prova conforme Evidencia-se dos resultados que para o teor de
previsto em norma. 0,25% de penas a resistência máxima manteve-
A Figura 4 apresenta os resultados de pressão se inalterada tendendo em seguida a aumentar
versus penetração obtidos nos ensaios de CBR com o incremento no teor de fibras na mistura.
realizados sobre o solo puro. O melhor Os maiores valores de resistência são para teores
comportamento foi obtido para o solo de 0,75% de fibras.
compactado próximo à umidade ótima
fornecendo um CBR de 31%. 180
170
5,0 160
Resistência à Tração (kPa)

4,5 150
4,0 140
3,5 130
3,0 120
Pressão (MPa)

2,5 110
2,0 100
1,5 90
1,0 80
0,5 15,50 15,70 15,90 16,10
0,0 Peso específico aparente seco (kN/m3)
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 Solo puro Solo + 0,25% Pena
Penetração (mm) Solo + 0,50% Pena Solo + 0,75% Pena
15,9% 17,7% 18,3%
20,07% 20,7% Figura 6. Resistência à tração máxima.
Figura 4. Curva de mini-CBR solo puro
Objetivando avaliar a contribuição das fibras
A Figura 5 mostra que a adição de fibras ao após a ruptura do solo apresenta-se na Figura 7

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os valores de resistência residual considerando- que varia o comportamento com o aumento do
se 5% de deformação diametral dos corpos de teor de fibras (Figura 9).
prova. Constata-se que em todos os casos
ocorreu incremento da resistência à tração 120
residual mesmo para o teor de pena igual a
100
0,25%.

Resistência à Tração (kPa)


80
120
60
100
40
Resistência à Tração (kPa)

80
20

60 0
19,5 20 20,5 21 21,5 22 22,5
40 Umidade (%)
Solo Puro 0,25% Pena 0,50% Penas 0,75% Penas
20
Figura 9. Resistência à tração para 5% de deformabilidade
0 - Umidade (%).
15,50 15,60 15,70 15,80 15,90 16,00 16,10
Peso específico aparente seco (kN/m3)
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Solo puro Solo + 0,25% Pena
Solo + 0,50% Pena Solo + 0,75% Pena
Figura 7. Resistência à tração a 5% de deformabilidade. Verificou-se a partir dos resultados de
compactação obtidos que o incremento no teor
Na Figura 8 apresenta-se a relação resistência de penas gera uma redução do peso específico
à tração – umidade (%) do solo puro e das aparente seco máximo exceto para a mistura com
misturas solo – pena. Confirma-se nessa figura o 0,25% de pena. Constatou-se ainda que a adição
mesmo comportamento já verificado em relação de penas tornou as curvas de compactação
ao peso específico aparente seco, ou seja, pouca menos íngremes. Tanto a suavização das curvas
ou nenhuma influência para 0,25% de pena e como a diminuição do peso específico aparente
melhoria do comportamento a partir da seco podem ser vistos como uma maior
incorporação de 0,50% de pena. resistência do solo à compactação quando da
adição das penas.
180
Em termos de CBR verificou-se uma
170 tendência à diminuição da resistência do solo
160 com a incorporação de pena.
Resistência à Tração (kPa)

150 Os resultados mostram ainda que a adição de


140 pena tende a melhorar a resistência à tração do
130 solo estudado inclusive preservando parte dela
120 para grandes deformações.
110 A continuidade dos estudos permitirá análises
100 mais completas do comportamento das misturas
90 solo-pena.
80
19,5 20 20,5 21 21,5 22 22,5
Umidade (%)
AGRADECIMENTOS
Solo Puro 0,25% Pena 0,50% Penas 0,75% Penas
Os autores agradecem ao técnico Renato Batista
Figura 8. Resistência à tração - umidade%. e à FURNAS Centrais Eletricas S.A. pelo apoio
dado no estudo da microestrutura das penas. Eles
Para deformações diametrais de 5%, os agradecem ainda ao CNPq pelo apoio dado ao
valores de resistência a tração das misturas com desenvolvimento da pesquisa..
fibra em função da umidade são superiores aos Agradecem ainda ao abatedouro Casa Grande
valores obtidos no ensaio com solo puro, sendo pelo fornecimento das penas para esta pesquisa.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



REFERÊNCIAS

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Pontifícia Universidade Católica do Río de Janeiro.
Rio de Janeiro. 105p.
Sales, K. C. dos S. (2011). Melhoria de Solos por Inclusão
de Fibras Naturais. Dissertação de Mestrado.
Universidade de Brasília. 97 p.
Santiago, G. A., & Botaro, V. R. (2005). Estabilização de
um solo com fibras de sisal de distribuição aleatória
tratadas superficialmente com EPS reciclado.
Dissertação de Mestrado. Universidade de Ouro Preto.
100p.
Santos, Paulo Aparecido dos, Giriolli. João Carlos,
Amarasekera. Jay, M. G. (2006). Natural Fibers Plastic
Composites for Automotive Applications. SABIC
Innovative Plastics, 1–9.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Análise do Desempenho da Utilização do Ultrapicnômetro na
Determinação da Massa Específica dos Grãos de Solo
Alexia Regine Costa Silva
Universidade Estadual de Goiás, Anápolis, Brasil, alexiaregine2@gmail.com

Gabriel de Sousa Meira


Universidade Estadual de Goiás, Anápolis, Brasil, gabrieldmeira@gmail.com

Renato Cabral Guimarães


Furnas GST.E e Universidade Estadual de Goiás, Goiânia, Brasil, renatocg@furnas.com.br e
renato.guimaraes@ueg.br

Emídio Neto de Souza Lira


Furnas GST.E, Aparecida de Goiânia, Brasil, enslira@furnas.com.br

Eduardo Pereira Rodrigues Chaves


Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil, eduardoprchaves@gmail.com

RESUMO: Considerando a crescente demanda por metodologias mais atuais e precisas para
determinação de diversos parâmetros geotécnicos, foi realizado um estudo comparativo de duas
metodologias empregadas para a obtenção da massa específica dos grãos, sendo elas: balão
volumétrico (previsto em norma) e ultrapicnômetro, de modo a contribuir com os estudos para
validação do ultrapicnômetro. Foi realizada uma análise estatística (z-score) dos resultados obtidos
para amostras do campo experimental da UnB e de dois programas interlaboratoriais. Os resultados
evidenciaram que o ultrapicnômetro corrobora com a metodologia prevista em norma, tornando
relevante a realização de estudos complementares que buscam validar tal metodologia.

PALAVRAS-CHAVE: Massa Específica dos Grãos, Ultrapicnômetro, Z-Score.

1 INTRODUÇÃO com a Associação Brasileira de Normas


Técnicas (ABNT) por meio da Norma
O comportamento de um determinado solo Brasileira Regulamentadora, NBR, 6502:1995,
depende diretamente da quantidade e da forma tal característica delineia a relação existente
com que suas fases (sólido, líquida e gasosa) se entre a massa dos grãos de um solo (fase sólida)
apresentam em seu interior. Segundo Pinto e o volume do mesmo.
(2006), ao se relacionar as características Segundo Massad (2016) o método de
provenientes das três fases naturais do solo é determinação da massa específica dos grãos de
possível determinar propriedades que salientam solos finos, previsto no Anexo B da NBR 6458-
esse material, evidenciando uma elevada gama 2016 (Antiga NBR 6508), faz uso intensivo de
de aspectos físicos que permitem tipificar o diversos tipos de manipulações que englobam
material ao qual está sendo trabalhado. ações de pesagem e aquecimento controlado do
Segundo Massad (2016) uma importante conjunto balão-amostra-água. Tais ações, por
propriedade que permite discernir um tipo de serem realizadas de forma manual, estão
solo é a massa específica dos grãos. De acordo sujeitas a uma maior condicionante de erros

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sistemáticos, podendo assim induzir a falsas XXI Programa Interlaboratorial de Ensaios -
análises dos parâmetros de caracterização da Solos (2015), e duas provenientes do XXII
amostra. Recentemente o uso de novas Programa Interlaboratorial de Ensaios - Solos
tecnologias no controle técnico de materiais, (2016). Nessas foram realizados somente os
como, por exemplo, os aparelhos de ensaios com a utilização do ultrapicnômetro,
adensamento e triaxial automatizados, vem uma vez que os ensaios, fazendo-se uso do
ganhando espaço no mercado laboratorial no balão volumétrico, já haviam sido realizados
intuito de otimizar os processos atuais para participação dos interlaboratoriais citados.
existentes. Com o mesmo propósito, há algum A Tabela 1 apresenta o programa de ensaios
tempo, faz-se uso do equipamento denominado realizados, junto à nomenclatura adotada para
ultrapicnômetro para a determinação da massa identificar as amostras utilizadas.
específica de diferentes tipos de materiais,
dentre eles, na construção civil, o cimento. Tabela 1. Programa de Ensaios Realizados.
Aplicar essa nova técnica em solos é um desafio Metodologia
Origem ID.1 Prof.2
no sentido de automatizar processos em NBR 6458 Ultr.3
laboratórios geotécnicos a exemplo do que já A1 2m X X
vem sendo utilizado cotidianamente para alguns A2 4m X X
ensaios especiais. A3 6m X X
Com base no exposto anteriormente, este UnB A4 8m X X
trabalho apresenta um estudo comparativo de A5 10 m X X
duas metodologias empregadas para a A6 12 m X X
determinação da massa específica dos grãos,
I1 - X X
sendo elas: balão volumétrico (previsto em
Inter.
2015

norma) e utilização do aparelho I2 - X X


ultrapicnômetro, com o objetivo de avaliar o
uso do método do ultrapicnômetro para I3 - X X
Inter.
2016

realização do ensaio de massa específica dos


grãos para materiais passantes na peneira de I4 - X X
2,0 mm. Para tanto, foram realizados ensaios 1
ID.– Identificação da amostra; 2 Prof.– Profundidade; e 3
com amostras de solos siltosos e argilosos. Os Utr.– Ultrapicnômetro.
resultados obtidos foram analisados não só pela
intercomparação entre os métodos acima 2.1 Determinação da Massa Específica dos
selecionados, mas também sob a ótica de Grãos – NBR 6458
análise estatística de resultados de diferentes
laboratórios acreditados junto ao Instituto As amostras foram previamente preparadas
Nacional de Metrologia, Qualidade e conforme a NBR 6457:1986, exceto pelo
Tecnologia (INMETRO). método de secagem, realizado em estufa à 60ºC,
no período de aproximadamente 12 horas, de
modo a comparar com a metodologia do
2 MATERIAIS E MÉTODOS ultrapicnômetro que prevê essa secagem.
Os ensaios foram realizados com a amostra
Foram utilizadas seis amostras de solo, passada na peneira de 2,0 mm e utilizando a
provenientes do Campo Experimental da metodologia descrita no Anexo B da NBR
Universidade de Brasília (UnB) obtidas para 6458/2016, sendo que para a retirada do ar dos
diferentes profundidades de um mesmo perfil, grãos foi utilizado o processo de aquecimento
de modo a se contemplar o mesmo material de com chapa aquecedora.
origem submetido a diferentes níveis de
intemperização. Com isto, realizou-se uma 2.2 Determinação da Massa Específica dos
análise comparativa dos resultados obtidos. Grãos Utilizando o Ultrapicnômetro
Em seguida, foram ensaiadas mais quatro
amostras de solo, sendo duas fornecidas pelo

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Neste estudo foi utilizado o ultrapicnômetro Realizadas todas as configurações
Pentapyc 5200e da Quantachrome Instrument ( necessárias do equipamento, o mesmo inicia
Figura 1), capaz de determinar o volume real seus procedimentos através da execução de
dos sólidos com base na teoria de deslocamento algoritmos específicos, onde primeiramente é
dos fluidos (neste caso do gás hélio), proposta determinado o volume dos grãos utilizando a
por Arquimedes, e ainda considerando a lei de Equação (1) de Clapeyron que descreve o
Boyle sobre transformação isotérmica. comportamento de um gás ideal.

PV nRT (1)

Em que: P é a pressão (atm); V é o volume


(L); n é o número de mols do gás utilizado
(neste caso o gás hélio); R é a constante
universal dos gases ideais; e T é a temperatura
(K).
Utilizando-se o volume determinado pela
Equação 1 e a massa de solo inserida no
equipamento, determina-se o valor da massa
específica dos grãos. Sendo este valor
determinado diversas vezes, conforme
Figura 1. Pentapyc 5200e. especificado pelo operador nas configurações
iniciais. Neste estudo foram realizadas doze
Antes de iniciar os ensaios é necessário determinações, sendo este valor o máximo
passar as amostras na peneira de abertura permitido pelo equipamento. Assim sendo, o
2,0 mm (nº 10) e garantir que esteja o mais valor final de massa específica, fornecido pelo
próximo possível de seu estado seco, a fim de equipamento, equivale a média dos valores
minimizar a influência que as partículas de água armazenados a cada execução.
exercem na determinação do volume real dos
grãos. Para isto, tomou-se cerca de 120 g do 2.3 Análise Estatística Z-Score Robusto
material e realizou-se a secagem em estufa à
100ºC por 8 horas. A metodologia em questão é aplicada pela
Em seguida, o material foi transferido para o Nacional Association for Testing Authourities -
recipiente metálico próprio do equipamento. Australia (NATA- Austrália) para avaliação do
Ressalta-se que o material deverá estar desempenho de laboratórios de controle
distribuído de maneira uniforme dentro do tecnológico na determinação de parâmetros
recipiente, de modo que não haja partículas característicos de amostras de ensaios, como
aderidas às paredes do mesmo. Com isto, o por exemplo, massa específica e porosidade.
recipiente metálico é inserido em uma das Tal avaliação é realizada através de um
câmaras do equipamento (Figura 2), programa denominado Interlaboratorial em que
possibilitando o início do ensaio. duas amostras semelhantes, de um dado
material, são analisadas pelas instituições
integrantes do programa e os resultados obtidos
são analisados para aferir a qualidade dos
serviços disponíveis de controle tecnológico no
Brasil.
Assim sendo, tal método estatístico prevê a
análise da distribuição normal, considerando a
variável padronizada, z-score, onde utiliza-se a
mediana afim de obter uma média com uma
menor interferência dos valores extremos. Para
obtenção da dispersão dos valores fornecidos,
Figura 2. Inserção da amostra no equipamento.

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emprega-se a amplitude interquartílica (IQ), Tabela 2. Classificação dos laboratórios segundo o
definida pela diferença entre o maior (Q3) e desempenho.
menor (Q1) quartil. Vale observar que Q1 é o |z| Desempenho
valor limite, onde abaixo deste estão presentes |z| <2 Satisfatório
2<|z|<3 Questionável
25% dos resultados e Q3 é o valor acima do |z|t3 Insatisfatório
qual se encontram outros 25% dos resultados.
No entanto, para se utilizar o IQ na distribuição
normal padrão, é necessário multiplicá-lo pelo
3 RESULTADOS
valor de 0,7413, obtendo assim uma amplitude
interquartílica normalizada (IQN) compatível
Na Tabela 3 são apresentados os resultados
com o desvio padrão.
obtidos pelas duas metodologias para as
Na prática, o cálculo do z-score nos
amostras provenientes do campo experimental
programas interlaboratoriais, normalmente, se
da UnB. Verifica-se, com exceção das amostras
dá através da análise de um par de resultados,
A2 e A3, que a diferença obtida é maior que
ou seja, duas amostras são distribuídas para
0,02 g/cm³, ou seja, maior que a diferença
todos os laboratórios participantes do programa
aceita nos dois ensaios realizados de acordo
a fim de obter a variabilidade dentre e entre os
com a NBR 6458.
laboratórios. Com isso, determinam-se dois
valores de z-score para cada par de amostras Tabela 3. Resultados obtidos pelo método do
onde um representa a variação dos valores ultrapicnômetro e da NBR 6458.
obtidos por um único laboratório (dentre) Massa Especifica dos
enquanto o outro se refere aos valores obtidos ID. Grãos [g/cm³] Diferença
por laboratórios distintos (entre). Contudo, este [g/cm³]
Ultr. NBR 6458
trabalho visa analisar apenas a reprodutibilidade
A1 2,69 2,73 0,042
do ensaio de massa específica pelo método do
ultrapicnômetro, sendo então necessária apenas A2 2,71 2,71 0,005
a determinação do z-score entre os laboratórios. A3 2,72 2,71 0,008
O valor de z-score entre os laboratórios é A4 2,76 2,71 0,048
determinado conforme exposto na Equação (3) A5 2,85 2,78 0,067
em função da soma padronizada, Equação (2) e A6 2,84 2,72 0,124
utilizando o par de resultados fornecido pelos
laboratórios.
A Figura 3 apresenta a comparação entre os
AB métodos, onde se pode observar a dispersão dos
S (2) resultados obtidos, sendo que não se observa
2
uma tendência entre as metodologias.
Em que: A e B representam os valores
2,90
obtidos, respectivamente, para cada amostra
fornecidas aos laboratórios.
Ultrapicnômetro[g/cm³]

2,85

S  md(S) 2,80
Z (3)
IQN(S)
2,75

Em que: S é a soma padronizada de um par 2,70


de resultados; md é a mediana; IQN é o
intervalo interquartílico normalizado. 2,65
2,65 2,70 2,75 2,80 2,85 2,90
Para se verificar o desempenho dos
NBR6458[g/cm³]
laboratórios participantes, a ABNT ISSO/IEC
Guia 43-1 (1999) propõem que os valores de z- Figura 3. Intercomparação entre os métodos de
score sejam classificados conforme apresentado determinação da massa específica dos grãos.
na Tabela 2.

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Segundo Chui et al (2004) a realização de comparação com os resultados obtidos no
uma média de “n” repetições de um ensaio não ultrapicnômetro.
é suficiente para representar o valor real de As Figuras 4 e 5 apresentam os resultados
determinado parâmetro, sendo então necessário obtidos nos interlaboratoriais pela metodologia
verificar a incerteza associada a este. Isto posto, da NBR 6458 (resultados em preto) e utilizando
para se avaliar o grau de exatidão de um o ultrapicnômetro (resultados em vermelho).
determinado resultado, deve-se considerar os Verifica-se que os resultados obtidos pelo
valores já apresentados na literatura como um ultrapicnômetro apresentaram |z| <2, ou seja,
referencial, ou, na ausência deste, pode-se ainda resultado satisfatório (Tabela 2) quando
ser realizado um programa interlaboratorial, comparado com a metodologia da NBR 6458.
visto que este permite avaliar, por meio de Essa análise demostra que apesar do
estudos estatísticos, a precisão dos resultados comparativo entre as duas metodologias
fornecidos por diversos laboratórios. apresentarem variação maior que 0,02 g/cm3,
Vale ressaltar que a realização de um quando se realiza uma análise estatísticas, os
programa interlaboratorial permite: avaliar a resultados das duas metodologias são
competência técnica dos laboratórios compatíveis, ou seja, os resultados obtidos no
participantes; compatibilizar os resultados ultrapicnômetro corroboram com a metodologia
obtidos, caso não existam valores de referência; já difundida no meio geotécnico para
e obter parâmetros de precisão para uma determinação da massa especifica dos grãos.
determinada metodologia (CHUI et al, 2004). Ressalta-se que a metodologia em análise
Aplicado o método estatístico z-score, foram apresentou um tempo de execução inferior ao
obtidos os valores de 1,050 e 0,058, método convencional e ainda uma maior
respectivamente, para o XXI Programa repetitividade quanto ao número de execução de
Interlaboratorial de Ensaios de Solos de 2015 ensaios. Características estas que norteiam a
(participação de 19 laboratórios) e XXII otimização do processo produtivo e conferem
Programa Interlaboratorial de Ensaios de Solos ao ultrapicnômetro certa vantagem quanto a
de 2016 (participação de 18 laboratórios). metodologia de ensaio descrita em norma.
Utilizando essas análises foi realizada

4 4
3 3
NúmerodosDesvios

2 2
1 1
0 0
Ͳ1 Ͳ1
Ͳ2 Ͳ2
Ͳ3 Ͳ3
Ͳ4 Ͳ4
Utr.

Laboratórios
Figura 4. Z-Score entre laboratórios para ensaio de massa específica dos grãos (2015).

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4 4
3 3

NúmerodosDesvios
2 2
1 1
0 0
Ͳ1 Ͳ1
Ͳ2 Ͳ2
Ͳ3 Ͳ3
Ͳ4 Ͳ4
Utr.

Laboratórios
Figura 5. Z-Score entre laboratórios para ensaio de massa específica dos grãos (2016).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os autores agradecem a Furnas Centrais


Elétricas e seu corpo de funcionários, que
Ao se comparar os dois métodos de ensaios oportunizaram a realização dos ensaios e
propostos, pôde-se averiguar que a metodologia análises presentes neste artigo.
que prevê a utilização do ultrapicnômetro
denota menor tempo de execução de ensaio,
proporcionando uma otimização do processo de REFERÊNCIAS
análise do material. Por se tratar de um
mecanismo automatizado que apresenta uma Assis, A. P. et al. Método Estatístico e Probabilísticos em
menor interferência humana, quando comparada Geotecnia. Brasília: G.AP-003C/99, 1999. p. 4.9-4.11
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6458 -
à metodologia presente em norma, o Grãos de Pedregulho Retidos na Peneira de abertura
ultrapicnômetro exibe um menor risco da 4,8 mm – Determinação da Massa Específica, da
ocorrência de erros sistemáticos durante a Massa Específica Aparente e da Absorção de Água.
execução da análise laboratorial, o que Rio de Janeiro: [s.n.], 2016. p. 6-10.
proporciona uma maior confiabilidade quanto à Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6457:
Amostras de Solo - Preparação para Ensaios de
repetitividade do ensaio. Compactação e Ensaios de Caracterização. Rio de
A partir da análise dos resultados pode-se Janeiro: [s.n.], 1986. 9 p.
inferir que, por apresentar valores que se Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6502:
enquadram no intervalo de aceitação proposto Rochas e Solos. Rio de Janeiro: [s.n.], 1995. 18 p.
pelos programas interlaboratoriais, a Comissão Técnica de Laboratórios de Ensaios em
Construção Civil. XXI Programa Interlaboratorial de
metodologia do ultrapicnômetro corrobora com Ensaios – Solos e XVII Programa Interlaboratorial de
o procedimento normatizado. Todavia, Ensaios – Metodologia MCT. 2015. p. 14 e p. 83.
considerando a diferença entre os resultados das Comissão Técnica de Laboratórios de Ensaios em
duas metodologias de forma isolada, observa-se Construção Civil. XXII Programa Interlaboratorial
uma diferença não compatível com o limite de de Ensaios – Solos e XVIII Programa
Interlaboratorial de Ensaios – Metodologia MCT.
dispersão, de 0,02 g/cm³, aceito pela NBR 2016. p. 13 e p. 78.
6458. Neste contexto, propõem-se a realização Chui, Q. S. H.; Iamashita, J. M. D. A. B. O Papel dos
de estudos complementares que visem Programas Interlaboratoriais para a Qualidade dos
apresentar uma adaptação quanto ao processo Resultados Analíticos. Quimica Nova, São Paulo, v.
de amostragem e procedimento de execução 27, n. 6, 2004. ISSN 1678-7064.
Massad, F. Mecânica dos Solos Experimental. 1nd ed.,
para viabilizar o uso desta nova metodologia na Oficina de Texto, 2016. São Paulo, Brasil, p.33 - 62.
determinação da massa específica dos grãos de Pinto, C. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16
solos. Aulas. 3nd ed., Oficina de Texto, 2006. São Paulo,
Brasil, p. 38 – 39.
Quantachrome Instruments. Operation Manual for
Pentapyc 5200e e Pentafoam 5200e. Quantachrome
AGRADECIMENTOS Instruments, 2009. Florida, Estados Unidos, p. 12.

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Análise do Densímetro Não-Nuclear SDG 200 Aplicado a
Qualificação de Materiais em Pavimentação Rodoviária
Anna Marinella Carizzio Monteiro
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil, anna_carizzio@hotmail.com

Marta Pereira da Luz


Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Eletrobras Furnas, Goiânia, Brasil, martapluz@gmail.com

RESUMO: Em engenharia geotécnica a checagem das condições dos materiais em campo são
premissas necessárias para a implantação de obras de terra seguras e duráveis. Desta forma, poder
contar com técnicas ágeis e precisas é tudo que se deseja. Com este foco o SDG 200 foi fabricado
para fornecer dados de umidade e densidade in situ, caracterizando-se como não destrutivo e sem
precauções quanto ao uso, restando algumas dúvidas quanto a sua aplicação para o eficaz controle de
camadas compactadas em rodovias. Para tanto, este estudo visa avaliar sua efeciência aplicando-o a
pavimentos flexíveis de quatro distintos materiais, constituintes de uma pista experimental no
munícipio de Goiânia-GO. Como resultado foi possível identificar sua maior dificuldade quando
aplicado a materiais mais granulares e a necessidade de um estudo laboratorial mais aprofundado.

PALAVRAS-CHAVE: SDG, Ensaio in situ, Umidade, Densidade, Pavimentação.

1 INTRODUÇÃO
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A importância da obtenção da densidade e do
teor de umidade em projetos geotécnicos é O SDG 200 é um equipamento fabricado pela
notória, fato que embasa a diversidade de ensaios TransTech Systems, Inc., o qual permite a
e metodologias criadas para essas obtenção de medidas de densidade seca e úmida,
determinações, que vão desde os ensaios teor de umidade e grau de compactação a uma
convencionais, tais como frasco de areia e profundidade de 30 cm, aplicável a solos padrões
cilindro biselado, penetrômetros estáticos e da construção civil, naturais ou compactados.
dinâmicos, até equipamentos elétricos e mesmo A Figura 1 apresenta o equipamento e
nucleares. Tal preocupação visa sanar questões seu processo de funcionamento (TransTech
de ordem técnica, tendo em vista principalmente Systems, Inc., 2016; Berney, Mejías-Santiago
a agilidade executiva do ensaio e, assim, and Kyzar, 2013). Destaca-se o fato de ser um
liberação das praças, além de econômicas, ensaio não destrutivo, realizado através do
sociais e ambientais. É nestes quesitos que os simples contato com o solo, uma vez que seu
ensaios in situ têm ganhado cada vez mais método de operação se baseia na espectroscopia
destaque, criados para se agilizar os processos e de impedância elétrica (EIE ou EIS).
minimizar as majorações que tornam os projetos
mais onerosos e trabalhosos que o necessário.
Para tanto, a presente pesquisa se embasou no
estudo do densímetro não nuclear, modelo
SDG 200 (Soil Density Gauge), visando avaliar
a sua aplicabilidade em obras geotécncias e
aplicadas a difentes materiais.

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armazenamento, transporte e/ou operação são
eliminadas. Facilitando seu manuseio, uma vez
que não são necessários grandes conhecimentos
e cuidados, quando comparado ao nuclear.
A TransTech limita o uso do SDG 200 ao
intervalo de temperatura de -20° a 40° C e
umidade entre 10% e 90%, sem condensação.

2.1 Calibração
Figura 1. Esquema do SDG 200 (Adaptado de ERDC,
2013)
Para início do ensaio, é necessária uma
O campo elétrico é criado pelos anéis calibração interna, onde, conforme explicitado
componentes do equipamento, o interno atuando na Figura 2 (a), são requeridos detalhes do
como transmissor e o externo como receptor. material a ser estudado, dados obtidos através de
Ocasinando a interação de um campo externo ensaios para obtenção da curva granulométrica
com o momento de dipolo elétrico do solo, (ABNT, 1987), limites de Atterberg (ABNT,
efetuado a um intervalo de frequências entre 2016a; ABNT, 2016b) e de compactação
0,3 MHz e 31 MHz. (Pluta, Hewitt, 2009). (ABNT, 2016d). Ensaios estes necessários para
A interação macroscópica do campo o projeto, portanto, não se tornam um empecilho
eletromagnético em materiais é descrito pelas ou dificuldade a se julgar.
equações de Maxwell, estas levam em
consideração as seguintes propriedades
constitutivas dos materiais: permeabilidade
magnética, permissividade dielétrica e
condutividade elétrica. Sendo a propriedade
dielétrica a resposta eletromagnética
predominante nos solos. Para tanto, a Equação 1
dispõe o cálculo da constante dielétrica aplicada
a solos:

݇ ൌ ሾߠ݇௪ ఈ ൅ ሺͳ െ ߟሻ݇௦ ఈ ൅ ሺߟ െ ߠሻ݇௔ ఈ ሿଵȀఈ (1)

Onde ݇ é a constante dielétrica do solo ݇௪ ǡ ݇௦ ݁; a)


݇௔ são as pertinentes à água, grãos e ar,
respectivamente; ߠ é a fração volumétrica de
água; ߟ a porosidade; e Į uma constante
determinada empicamente para cada tipo de solo
(Zabko, 2008).
Assim, a diferença da constante dielétrica do
b)
ar, da água e dos grãos que compõe o solo em
estudo permitem a estimava dos parâmetros de Figura 2. (a) Visor referente aos dados para calibração e
compactação, densidade seca e úmida e teor de (b) padrão de coleta de dados (Adaptado de
TransTech Systems, Inc., 2016; TransTech Systems, Inc.,
umidade. Verifica-se que a premissa de seu 2008)
funcionamento está no fato de que quanto mais
compactado, a fração relativa ao volume de ar é Após a calibração interna, faz-se necessária
reduzida, levando ao aumento dos volumes uma calibração externa, os chamados offset,
referentes à água e ao solo, majorando tanto onde, embasado em um ensaio secundário
a permissividade quanto a condutividade do (frasco de areia, por exemplo), pode-se
meio (Gamache et al., 2008). determinar a densidade e o teor de umidade. Isto,
Ao utilizar de corrente contínua de baixa tendo em vista avaliar a variação média entre os
tensão, as preocupações quanto ao

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métodos e proporcionar um deslocamento linear aplica-se a solos granulares sem plasticidade.
dos dados obtidos com o SDG 200, a fim de se Mejias-Santiago, Berney e Bradley (2013),
obter resultados mais realísticos. Estudos buscando aprofundar o uso e avaliar os
realizados pela USACE (US Army Corps of resultados do SDG, analisaram seus resultados
Engineers), TR 11-42 e TR 13-6, discorrem que comparativamente aos do NDG, aplicados a 16
o equipamento só pode ser utilizado como (dezesseis) solos distintos. Inovaram ao propor
parâmetro de controle de qualidade quando uma equação múltipla linear para calibração do
submetido a uma correta calibração (Berney, densímetro não nuclear, aplicada ao cálculo da
Kyzar e Oyelam, 2011; Berney, Mejías-Santiago densidade, levando-se em conta características
e Kyzar, 2013). do solo, do espectro de frequência, da variação
Após estes procedimentos, pode-se, então, SDG-NDG e das leituras de densidade e teor de
iniciar o uso do equipamento. O ensaio é umidade obtidas pelo SDG.
executado através da média de 5 (cinco) Pluta e Hewitt (2009), por sua vez, ao
leituras realizadas seguindo a ordem e posição estudarem 5 (cinco) tipos de solos, propuseram
apresentadas na Figura 2 (b) (Gamache et al. uma calibração para cálculo da densidade úmida
2008; Berney, 2013). pautada na área de superfície de cada um deles.
Berney, Mejías-Santiago e Kyzar (2013), Comparando os dados SDG e NDG, obtiveram
discorrem sobre o fato de o SDG 200 utilizar uma redução no erro entre as leituras da média
uma série gradual de algoritmos para a de densidade úmida de até 119%. Contudo, tal
determinação apropriada da equação de método não foi divulgado.
calibração, sendo que esta varia conforme se
altera a classificação de solos da USCS.
Portanto, embora tenham efetuado testes em 7 3 METODOLOGIA
(sete) lotes distintos, devido a pequena alteração
na dimensão dos grãos, os autores concluíram O estudo em questão foi realizado no trecho
não haver razão para recalibrá-lo. experimental de pavimento flexível de materiais
diversos (solo-filer, solo-pó de micaxisto, solo-
2.2 Estudos Desenvolvidos brita e cascalho), situado à Rua Amélia Rosa, no
Sítio dos Ipês, na região metropolitana de
Berney, Kyzar e Oyelam (2011) ao estudarem a Goiânia, Goiás, próximo ao CEASA, executada
comparação entre 9 (nove) ensaios distintos para por Luz (2008) e Araújo (2008).
determinação do teor de umidade, os aplicaram a
7 (sete) solos distintos. Puderam concluir que o
SDG 200 apresentou-se a melhor metodologia
entre as testadas, quando comparado à estufa de
laboratório. Tais resultados foram obtidos após a
correção do equipamento pela calibração externa
(offset).
Posteriormente, Berney, Mejías-Santiago
e Kyzar (2013) estudaram os mesmos solos,
contudo, no que diz respeito aos dados de
densidade. Para tanto, procuraram comparar o
SDG 200, EDG (Electrical Density Gauge),
frasco de areia e SS (Steel Shot) com o NDG Figura 3. Mapa de localização do trecho experimental
(Nuclear Density Gauge), obtendo o SDG 200 (GoogleEarth, 2017)
como o melhor parâmetro para determinação da
Foram realizadas baterias de ensaios em dois
densidade. Contudo, atestou-se a necessidade da
pontos no bordo direito de cada sub-trecho, uma
calibração externa para a manutenção da
vez que, sendo uma pista experimental, o
precisão. Observou-se também que, apesar de
acostamento foi realizado sob controle e
não apresentar nenhuma rejeição à variabilidade
métodos equivalentes à pista. Além de o bordo
dos solos estudados, seu melhor funcionamento
esquerdo contar com a presença de calçamento e

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encanamentos, impedindo a execução neste. umidade, respectivamente, ambos referentes ao
Os ensaios foram feitos utilizando: SDG 200, segundo ponto do sub-trecho de cascalho. Tal
frasco de areia (ABNT, 2016e) e membrana constatação é bastante relevante, uma vez que o
plástica, para os materiais granulares, e cilindro material foi diretamente aplicado após extraido
biselado (ABNT, 2016f). de uma jazida natural, com características de
Para a calibração interna foram utilizados os heterogeneidade próprias de um material desta
dados disponibilizados nos trabalhos de natureza que não permitem torná-lo
Luz (2008) e Araújo (2008), pertinentes ao perfeitamente homogeneo.
projeto e implantação da pista frente a cada qual
material. 4.2 Análise comparativa entre SDG 200 e
A fim de se estabelecer parâmetros de Ensaios Convencionais
comparação entre os dados de densidade e
umidade, sendo estes de grandezas físicas Como os dados variam mediante material e
distintas, o cálculo do coeficiente de variação método aplicado, optou-se por efetuar uma
(Equação 2) torna-se relevante, uma vez que média entre os resultados tanto dos ensaios
adimensional, permite o estudo do convencionais quanto das leituras efetuadas pelo
comportamento do equipamento frente a cada SDG 200. Para tanto, a Tabela 3 apresenta os
qual determinação e material. dados de análise estatística aplicados a cada
ponto de ensaio (PE) e ao material, este último
‫ܲܦ‬Ǥ ͳͲͲ
‫ܸܥ‬ሺΨሻ ൌ   (2) englobando os resultados dos dois pontos que
ܺ compõe cada sub-trecho.
Onde: Nota-se pois que, quanto a densidade seca, o
DP = Desvio Padrão; solo-brita se revelou mais variante, com
ܺ ൌ Média Aritmética. coeficiente em quase 13% e quanto a umidade o
cascalho obteve o destaque, com coeficiente em
quase 60%.
4 RESULTADOS Deste modo, percebe-se a maior dificuldade
do equipamento na determinação da umidade,
4.1 Variações entre os Dados do SDG 200 em quando somente com calibração interna. E, de
Cada Ponto de Ensaio uma forma geral, uma maior facilidade quando
aplicado aos materiais finos, onde pôde-se
Analisando os resultados obtidos nas três leituras observar os menores índices de variação. Sendo
efetuadas em cada ponto de ensaio, foi obtido os que, a exceção do comparativo da umidade, que
maiores coeficiente de variação iguais a 1,047% obteve coeficiente em quase 15%, todos os
e 12,207%, relativos à densidade e teor de demais permaneceram por volta de 7%.
Tabela 3. Análise Estatística aplicada aos dados do SDG 200 e da Média dos Ensaios Convencionais
w (%) Ȗd (kN/m³)
PE CV (%) Média CV (%)
SDG Média Conv SDG
PE Material Conv PE Material
Filler 1 21,233 18,600 9,248 15,426 17,653 9,519
7,592 6,846
Filler 2 21,033 22,350 4,293 15,380 15,598 0,993
Micaxisto 1 21,100 16,300 18,150 15,237 16,448 5,403
14,932 6,828
Micaxisto 2 21,367 16,450 18,388 15,540 17,705 9,210
Brita 1 21,000 13,900 28,771 15,141 19,250 16,897
24,788 12,851
Brita 2 21,200 13,400 31,881 15,319 18,805 14,447
Cascalho 1 4,433 15,200 77,557 20,080 16,835 12,432
59,038 8,461
Cascalho 2 5,267 14,700 66,812 20,350 18,725 5,881

A Figura 5, por sua vez, esquematiza de forma gráfica e resumida o comportamento dessa

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análise comparativa frente as duas unidades e os aplicado aos materiais finos e, no entanto, a
materiais em questão. Tornado perceptível a persistência do equipamento no fornecimento da
averiguação do melhor comportamento quando umidade em 21%.

21,250
21,100

21,100
22 25

20
Peso Esecífico Seco (kN/m³)

20
20,475
18 16,375

Umidade (%)
14,950 15
13,650
16

4,850
10
14

5
15,403

15,389

15,230

20,215
16,014

16,232

17,129

18,998
12

10 0
Solo Filler Solo Micaxisto Solo Brita Cascalho
Materiais

Média Ensaios Convencionais SDG 200

Umidade - Média Ensaios Convencionais Umidade - SDG 200

Figura 5. Resultados de Umidade e Densidade Frente à Média dos Ensaios Convencionais e do SDG 200, Aplicados aos
Materiais em Estudo
pertinentes a cada qual material.
4.3 OffSet Os resultados, como anteriormente
apresentados em relação ao coeficiente de
A Tabela 4 apresenta os offsets obtidos a cada variação, destaca a maior necessidade de
um dos materiais. Como já relatado, este dado é correção frente aos materiais granulares.
relativo à margem de erro a qual o equipamento Corroborando a maior facilidade do
está sujeito, uma vez que propenso à inúmeras equipamento quando aplicado aos finos, uma vez
variáveis, como mineralogia do solo em questão, que obteve-se baixos valores.
alterações nos padrões da água e ar que o
envolve, tendo-se em vista que são consideradas
as condições ideais, possíveis interferências 5 CONCLUSÕES
externas como campos eletromagnéticos de
cabos ou equipamentos próximos, dentre outras. A partir dos dados e análises realizadas foi
possível averiguar a melhor eficiência do
Tabela 4. Offsets equipamento, visando somente calibração
Material w (%) Ȗd (kN/m³) interna, quando aplicado a misturas de materiais
mais finos, gerando uma menor dispersão entre
Filler -0,671 1,222
os resultados e menores offsets. Este fato pode
Solo- Pó de
-4,858 1,688 estar diretamente associado a questão de estes
Micaxisto
Solo Brita -7,450 3,798 proporcionarem uma melhor homogeneização
Cascalho 10,100 -2,435 do material, se assemelhando aos dados de
entrada (calibração interna).
Os dados relativos à umidade deixaram a
Para tanto, tais dados foram obtidos pela
desejar, uma vez que concentrando-se no valor
diferença entre os dados referentes a cada
de 21%, e sendo inviável a alteração controlada
método aplicado, ou seja, a média obtida entre as
desta, para averiguação da sensibilidade do
seis leituras efetuadas com o SDG 200 e a média
equipamento, uma vez que os ensaios foram
entre os quatro ensaios convencionais, ambos

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executados em pista experimental. Este Content. Report No. ERDC/GSL TR-11-42. US Army
comportamento pode estar associado a algum Corps of Engineers Geotechnical and Structures
Laboratory, Vicksburg, MS, 2011.
defeito do equipamento não identificado durante Berney Iv, E. S., Mejías-Santiago, M., And Kyzar, J. D..
a pesquisa. Non-Nuclear Alternatives to Monitoring Moisture-
O desenvolvimento dos ensaios e a análise do Density Response in Soils. Report No. ERDC/GSL
funcionamento e resultados do equipamento TR-13-6. US Army Corps of Engineers Geotechnical
esclareceram a limitação que a metodologia and Structures Laboratory, Vicksburg, MS, 2013.
Berney Iv, E. S., Mejías-Santiago, M., And Beasley, J. .
proporcionou. O SDG 200, por ser novo no Validation Tests of a Non Nuclear Combined Asphalt
mercado e possuir poucos estudos and Soil Density Gauge. Report No. ERDC/GSL TR-
desenvolvidos, exige uma avaliação mais 14-10. US Army Corps of Engineers Geotechnical and
aprofundada onde, após a obtenção dos offsets Structures Laboratory, Vicksburg, MS, 2014.
poder-se-á estabelecer alterações no maciço, Gamache, R. W.; Kianirad E.; Pluta, S.; Jersey, S. R.;
And Alshawabkeh, A.N.. A rapid field soil
frente ao teor de umidade e ao grau de characterization system for construction control.
compactação, possibilitando verificar sua Transportation Research Record: Journal
efeciência efetiva, através da percepção de sua of the Transportation Research Board 617: 1-12, 2008.
sensibilidade a essas imposições. Disponível em:
<http://www.transtechsys.com/pdf/sdg%20paper3.pdf
>. Acesso no dia 24 de outubro de 2016.
Luz, M. P. da. Aproveitamento de Fíler de Pedreiras da
AGRADECIMENTOS Região Metropolitana de Goiânia em Pavimentos
Flexíveis Urbanos – Avaliação Técnica e
Agradecemos à Pró-Reitoria de Pesquisa Socioambiental. Doutorado, Ciências Ambientais,
(PROPE) da PUC Goiás pelo apoio para a Universidade Católica de Goiás; Goiânia –GO, 2008.
Mejias-Santiago, M., E.S. Berney Iv, E. S. And Bradley,
realização desta pesquisa. Bem como à C.T. (2013). Evaluation of A Non-Nuclear Soil Density
Eletrobras Furnas pela disponibilidade do Gauge on Fine-Grained Soils. No. ERDC/GSL TR-13-
equipamento laboratório e da eficiente equipe, 20. US Army Corps of Engineers Geotechnical and
tornando esta mesma possível. Structures Laboratory, Vicksburg, MS, 2013.
Pluta, Sarah E.; Hewitt, John W. Non-Destructive
Impedance Spectroscopy Measurement for Soil
REFERÊNCIAS Characteristics. Geotechnical Special Publication No.
189, Characterization, Modeling, and Performance of
ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. Geomaterials. GeoHunan International Conference,
NBR 6459 – Determinação do Limite de Liquidez – 2009.
Classificação. Rio de Janeiro, 2016a. TransTech System, Inc. Soil Density Gauge SDG 200
______. NBR 7180 – Solo – Determinação do Limite de - Operator’s Handbook. Disponível em:
Plasticidade. Rio de Janeiro, 2016b. <ௗhttp://www.transtechsys.com/products/sdg200.php
______. NBR 6457 – Amostras de Solo – Preparação >. Acesso no dia 13 de setembro de 2016.
para Ensaios de Compactação e Ensaios de TransTech System, Inc. Final Project Report:
Caracterização. Rio de Janeiro, 2016c. Development of a Non-Nuclear Soil Density Gauge to
______. NBR 7182 – Solo – Ensaio de Compactação. Rio Eliminate the Need for Nuclear Density Gauges.
de Janeiro, 2016d. Schenectady, NY, 2008.
______. NBR 7185 – Solo- Determinação da Massa Zabko, J. (2008). Development of a Non-Nuclear Soil
Específica Aparente in situ, com Emprego do Frasco Density Gauge to Eliminate the Need for Nuclear
de Areia. Rio de Janeiro, 2016e. Density Gauges, US Dept of Homeland Security
______. NBR 7217 – Agregados- Determinação da Domestic Nuclear Detection Office, Washington,
Composição Granulométrica. Rio de Janeiro, 1987a. 137 p.
______. NBR 9813 – Solo- Determinação da Massa
Específica Aparente in situ, com Emprego de Cilindro
de Cravação. Rio de Janeiro, 2016f.
______. NBR 9895 – Solo- Índice de Suporte Califórnia.
Rio de Janeiro, 2016g.
Araújo, W.E.L. (2008). Aproveitamento de Resíduos da
Extração de Micaxisto em Pavimentos Flexíveis.
Dissertação de mestrado. Escola de Engenharia Civil,
Programa de Pós-graduação em Engenharia do Meio
Ambiente. Univ. Federal de Goiás, Goiânia, 76-135 p.
Berney Iv, E.S., Kyzar, J., And Oyelam L.. Device
Comparison for Determining Field Soil Moisture

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Análise Mecânica da Utilização de Escória de Ferro Silício-
Manganês em Pavimentação Asfáltica
Ana Mara Araujo Torres
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto- MG, Brasil, anamara_araujo100@hotmail.com

RESUMO: Na busca de alternativas para o uso de recursos naturais, adotou-se a metodologia de


dosagem Superpave, confeccionando misturas betuminosas com escória de Ferro-Silício Manganês.
Essas misturas foram submetidas a avaliação mecânica através dos ensaios de resistência à tração
estática por compressão diametral, módulo de resiliência e vida de fadiga por compressão diametral
a tensão controlada. Os resultados, utilizando o agregado siderúrgico, foram comparados com os
obtidos para uma mistura com brita convencional. As análises dos resultados possibilitaram ponderar
que essa escória pode ser, a princípio, utilizada para compor o revestimento asfáltico como uma
alternativa técnica viável.

PALAVRAS-CHAVE: Comportamento Mecânico, Escória, Pavimentos Alternativos, Superpave.

1. INTRODUÇÃO economicamente. O baixo custo de obtenção


do agregado siderúrgico viabiliza sua
Atualmente, um dos resíduos de maior volume utilização, principalmente próximo às usinas
gerado nas indústrias siderúrgicas são as produtoras, além de ser uma alternativa correta
escórias que representam 67% de todos os ambientalmente para disposição do material do
resíduos desse setor (Moura, 2000). Esses gerador.
resíduos industriais têm conquistado uma Até o momento, a maioria das aplicações no
atenção maior para a reciclagem e para Brasil foram em camadas de base e sub-base e
aplicabilidade em outras áreas. Fato atribuído em menor grau em misturas asfálticas a quente.
tanto por aspectos econômicos, quanto Esta pouca experiência de uso de escória em
ambientais. tratamento superficial motivou o presente
Dentre os variados setores da construção estudo.
civil, a área da pavimentação é uma grande Para tanto, tem-se como objetivo avaliar a
consumidora dos recursos naturais, como os viabilidade técnica do uso de escória de
materiais rochosos, que são transformados em ferroliga como agregado, a partir da
brita, originada do desmonte de rocha viva até caracterização mecânica para misturas
a granulometria desejada. O atual cenário de asfálticas do tipo concreto asfáltico.
limitações destes recursos para melhoria da
infraestrutura viária motiva a busca de
alternativas para implantação e/ou recuperação
da malha rodoviária e ferroviária do país.
Dessa forma, cada vez mais o emprego da
escória nas camadas do pavimento pode ser
uma alternativa viável, técnica e


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2. METODOLOGIA Tabela 1. Composição de Agregados das misturas


adotadas.

A escória estudada é a Ferro-Sílico Manganês


(FeSiMn), Figura 1, proveniente de uma
grande empresa de Mineração, localizada no
município de Ouro Preto/MG. A quantidade
total de escória gerada diariamente depende do
blend de minério, no entanto, estima-se uma
produção de 138 t/dia a 161 t/dia, dado
referente ao ano de 2017. A terceira etapa, objeto de estudo desse
artigo, consiste na avaliação mecânica das
misturas por meio dos ensaios de Módulo de
Resiliência (MR), Resistência a Tração
Estática por Compressão Diametral (RT) e
Fadiga por Compressão Diametral a Tensão
Controlada, com a finalidade de comparar a
resistência das três misturas dosadas.
O Módulo de Resiliência expressa a relação
da tensão de tração aplicada repetidamente no
plano diametral vertical do corpo de prova com
a deformação de tração recuperável
Figura 1. Armazenamento da escória em pilhas no correspondente, a uma determinada
pátio de estocagem.
temperatura. Dado pela Equação 1.
A investigação dos materiais e das misturas
asfálticas foi dividida em três etapas.
Inicialmente, foram caracterizados os (1)
materiais utilizados como matéria prima das
misturas asfálticas. A escória de FeSiMn Onde:
passou pelas etapas de caracterização física, MR= Módulo de Resiliência.
química e ambiental, essa fase, que apresentou ıt=Tensão de Tração.
resultados satisfatórios, permitiu validar suas İr = Deformação específica vertical
propriedades para utilização como agregado resiliente ou recuperável.
para pavimentação.
No segundo passo, foram realizados ensaios Esse ensaio para obtenção do Módulo de
para a determinação do teor de projeto das Resiliência em misturas asfálticas é
misturas betuminosas, adotando-se a preconizado pela especificação do DNIT-
compactação da metodologia Superpave, de DNER-ME 133/94 (DNIT, 1994).
forma que atendesse aos requisitos da Faixa B O ensaio de Resistência à Tração por
do DNIT. Para estas análises, admitiu-se um compressão diametral (RT), também
tráfego de 3x106 a 3x107, com um Nprojeto de denominado como “ensaio brasileiro”, foi
100 giros. As misturas adotadas bem como elaborado inicialmente pelo professor Lobo
suas respectivas composições granulométricas Carneiro, em 1943, com o intuito de definir de
podem ser verificadas na Tabela 1. Todas essas maneira indireta a resistência à tração de
misturas se enquadraram nos parâmetros corpos de prova de concreto de cimento
volumétricos analisados. Portland por solicitações estáticas. Depois, o
método foi adaptado para a caracterização de
misturas asfálticas com o emprego de frisos


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metálicos curvos (Bernucci et al, 2008). Sua


execução foi realizada segundo a norma DNER-
ME 138/94, a Figura 2, ilustra parte da execução do
ensaio.

 Figura 3. Detalhe do CP quase no final do ensaio de


fadiga.

3. RESULTADOS

Inicialmente, são apresentados os Módulos de


Figura 2. Esquema do ensaio de Resistência à Tração Resiliência obtidos. Para cada mistura, são
indireta (RT) e equipamento utilizado.
mostrados três ensaios de módulo de
A vida de fadiga (N) do material pode ser resiliência. E a cada ensaio, têm-se três valores
determinada como o número total de determinados para cada um dos três ciclos de
aplicações de carga que levam o corpo de carregamento. Na Figura 4, visualiza-se
prova a uma ruptura estrutural (Pinto, 1991; graficamente, os módulos determinados.
Pinto e Preussler, 2002), sendo expressa pela
Equação 2 e o ensaio ilustrado na Figura 3.

(2)


Onde:

N = Vida de Fadiga;
ǻı = Diferença entre as tensões de Figura 4. Módulos de Resiliência das misturas, à 25°C.
Compressão e Tração no centro da amostra;
K, n = constantes determinadas O maior valor médio de MR encontrado foi
experimentalmente, em escalas logarítmicas. para a mistura denominada convencional, com
teor de CAP de 4,5%. Observa-se que para as
misturas de escória, a escória 1, que possui um
maior teor de CAP, 4,8%, apresentou um
maior valor de MR, em relação a mistura
escória 2, com teor de CAP de 4,3%.
Percebe-se, que foram encontrados altos
valores de módulos, indicando que as misturas
em análise possuem uma alta rigidez. Esses


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altos valores podem ser justificados devido ao Dentre as misturas, não foram apresentadas
baixo teor de projeto encontrado para todas as grandes dispersões de valores de RT, a maior
misturas, uma vez que, há a tendência de que a variação encontrada foi para a mistura
mistura tenha a sua rigidez diminuída com o denominada escória 2. E o maior valor médio
aumento de teor de ligante na mesma. de RT encontrado, 3,23 Mpa, foi para a mistura
É relevante ressaltar que, afirmar que E2, com teor de 4,5% de ligante. As misturas
quanto maior o valor do módulo de resiliência escória 1 e convencional apresentaram os
melhor o desempenho da mistura asfáltica mesmos valores de RT.
pode não ser verdadeiro. As misturas asfálticas Comparando as misturas de escória,
devem possuir flexibilidade suficiente para conforme esperado, o maior valor de RT foi
suportar as solicitações do tráfego e boa encontrado para a mistura escória 2, que possui
resistência a tração para evitar rupturas o menor teor de ligante. Isso deve-se ao fato de
precoces (REIS, 2002). que, uma maior concentração de ligante na
Em estudos referenciados sobre a análise mistura asfáltica tende a torná-la mais flexível,
mecânica das misturas asfálticas com o enfraquecendo o intertravamento entre as
emprego de outros tipos de escória, os MR partículas de agregados pelo aumentando do
encontrados, quando comparados com as afastamento dos grãos, e dessa forma,
misturas desse trabalho, destoaram muito e se diminuindo a resistência a tração estática da
apresentaram bem inferiores. Assim sendo, mistura.
acredita-se que a heterogeneidade dos Para a relação MR/RT, quanto menor essa
agregados da escória possui bastante relação, melhor o comportamento mecânico
relevância e influência direta nos resultados de garantindo uma combinação de boa
MR, uma vez que cada tipo de escória flexibilidade para uma certa resistência à
apresenta propriedades e características tração. Portanto, apresentou-se um melhor
peculiares. comportamento a escória 2, seguida da escória
Para análise da Resistência a Tração, foram 1, resultando que, para esses ensaios, houve
realizados três ensaios para cada mistura, um melhor desempenho das misturas
sendo o resultado médio de RT uma média compostas pelo agregado siderúrgico em
aritmética. Na Tabela 2, estão dispostos esses relação à composta pelo agregado
resultados médios de Resistência a Tração convencional.
Indireta por Compressão Diametral (RT) e Para determinação da Vida de Fadiga das
também a relação MR/RT obtida para todas as misturas, as amostras foram submetidas a um
misturas analisadas. nível de tensão que variou de 40 a 15% do
valor da RT, para as misturas escória 1 e
Tabela 2. Resultados dos ensaios de MR e RT. convencional, e de 35% a 10% para a mistura
RT Módulo de escória 2.
RT A partir das Tabelas 3,4 e 5, observou-se
Mistura Médio Resiliência MR/RT
(MPa)
(MPa) (Mpa) que para as tensões baixas a Mistura 2 tem uma
tendência maior a Vida de Fadiga do que as
2,3
misturas escória 1 e convencional. A boa
C 2,38 2,31 10312 4464
relação apresentada pela mistura escória 2,
2,25
com relação ao módulo de resiliência e a
2,4
E2 3,65 3,23 9885 3060
resistência à tração (MR/RT), foi comprovado
3,64
nesse resultado do ensaio de vida de fadiga.
2,39 Para as altas tensões, a mistura
E1 2,29 2,31 10027 4341 convencional passa a ter uma tendência a uma
2,25 Vida de Fadiga maior em relação as demais.
Ressaltando que que as considerações sobre a


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Vida de fadiga valem considerando a mesma Na Tabela 6, estão expressas as constantes


estrutura das camadas, sendo a única camada (K e n), o coeficiente de regressão linear (R2),
variável a do revestimento asfáltico. bem como os modelos de fadiga obtidos para
as curvas de fadiga das misturas analisadas¸
Tabela 3. Resultados do ensaio de Vida de Fadiga da destacando-se a relação entre a diferença de
mistura Convencional, à 25°C. tensões aplicadas com a vida de fadiga.
Convencional
Número de Diferença Deformação Tabela 6. Parâmetros das Curvas de Fadiga das
Aplicações de Tensões Específica misturas, analisado por Diferença de Tensões.

(N) (Mpa) Resiliente (İ) Parâmetros


1205 3,7 8,96E-05
Mistura Modelo de Fadiga
K n R²
2027 3,23 7,84E-05
9932 2,77 6,72E-05
E1 3,98E+05 4,859 0,9541 N=3,98E+05(1/ǻı)4,86
8752 2,31 5,60E-05 E2 5,07E+05 5,178 0,9942 N=5,07E+05(1/ǻı)5,18
31076 1,85 4,48E-05 C 3,26E+05 4,108 0,9403 N=3,26E+05(1/ǻı)4,11 
68188 1,39 3,36E-05 
 A constante n, que indica a inclinação da
Tabela 4. Resultados do ensaio de Vida de Fadiga da curva, das misturas contendo escória de
mistura Escória 1, à 25°C. FeSiMn e da convencional, exibiram valores
Escória 1 próximos, demonstrando que as curvas de
Número de Diferença Deformação fadiga das mesmas, apresentam uma
Aplicações de Tensões Específica correspondência das declividades. Na
(N) (Mpa) Resiliente (İ) literatura, autores apontam valores deste
coeficiente entre 1,58 até 7,1.
552 3,7 9,22E-05
O valor de K da mistura escória 2
1596 3,23 8,06E-05 apresentou o maior valor. E para as
2093 2,77 6,91E-05 composições escória 1 e convencional, que
13734 2,31 5,76E-05 foram submetidas a mesmas proporções de
14908 1,85 4,61E-05 níveis de tensões, foram apresentados valores
de K bem próximos, o que indica que as vidas
75204 1,39 3,46E-05  de fadiga dessas misturas são semelhantes.
 Esperava-se que a Vida de Fadiga da
Tabela 5. Resultados do ensaio de Vida de Fadiga da mistura convencional fosse mais elevada que
mistura Escória 2, à 25°C.
as misturas contendo escória, pelo fato dessa
Escória 2 ter apresentado um maior valor de MR que as
Número de Diferença Deformação outras misturas, não sendo comprovado essa
Aplicações de Tensões Específica característica nesses ensaios de fadiga.
(N) (Mpa) Resiliente (İ) Estatisticamente, vale ressaltar que a
qualidade do “ajuste” dos modelos de
232 4,52 1,14E-04
regressão linear empregados se mostraram
545 3,88 9,80E-05 apropriados, em todos os casos, já que
880 3,23 8,17E-05 apresentaram valores de coeficiente de
3170 2,58 6,54E-05 determinação (R2) superiores a 0,93%, sendo
que quanto mais próximos a 1, menor é a
17180 1,94 4,90E-05
dispersão dos pontos ensaiados em relação ao
149217 1,29 3,27E-05  modelo.



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É de suma importância, enfatizar que as REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


diferenças de tensões que ocorrem no
pavimento dependem de sua estrutura como ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
um todo e do valor de rigidez de cada camada, TÉCNICAS. NBR 15087: Misturas asfálticas:
determinação da resistência à tração por compressão
dessa forma, ao avaliar o desempenho à fadiga diametral. Rio de Janeiro, 2004.
de misturas asfálticas, deve ser considerada ASTM - AMERICAN SOCIETY OF TESTING AND
para análise todo o sistema de camadas MATERIALS. D 4123: Standard method of indirect
constituintes do pavimento, e não apenas pela tension test for resilient modulus of bituminous
curva de fadiga gerada para a mistura asfáltica, mixtures. Philadelphia, 1982.
Bernucci, L. et al. (2008). Pavimentação Asfáltica –
como ressalta Medina e Motta (2005). Formação Básica para Engenheiros. Rio de Janeiro:
Petrobras e Abeda.
Medina, J. de; Motta, L. M. G. da. (2005). Mecânica dos
4 CONCLUSÃO Pavimentos. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2 ed.
380p.
Moura, W. A. (2000). Utilização de escória de cobre
A reutilização das escórias é, atualmente, um como adição e como agregado miúdo para concreto.
aspecto de extrema relevância no processo de Tese de doutorado, Universidade Federal do Rio
sustentabilidade, já que seu emprego diminui a Grande do Sul, Porto Alegre, 207 p.
extração e o uso de recursos naturais. Contudo, Pinto, S. (1991). Estudo do Comportamento à Fadiga de
embora apresentem grande potencial de Misturas Betuminosas e Aplicação na Avaliação
Estrutural de Pavimentos. Tese de Doutorado,
aplicação na construção civil, e em especial COPPE/ UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
nas obras rodoviárias do país, é necessário Pinto, S., Preussler, E.S., (2002), Pavimentação
conhecer e analisar se seus parâmetros Rodoviária – Conceitos Fundamentais sobre
atendem as determinações de cada projeto e/ou Pavimentos Flexíveis. 2.ed. Rio de Janeiro, Copiarte.
aplicação, de maneira segura e eficiente. Reis, E. L. (2005). Caracterização de resíduos
provenientes da planta de beneficiamento do
Considerando os parâmetros mecânicos minério de manganês sílico carbonatado da RDM-
das misturas, a mistura escória 2 apresentou Unidade Morro da Mina, 2005. 124 f. Dissertação
uma melhor relação entre o módulo de mestrado, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro
resiliência e a resistência à tração por Preto.
compressão diametral (MR/RT) comparado as
demais misturas.
Com relação a Vida de fadiga, constatou-
se que para as tensões baixas, a mistura escória
2 apresenta uma tendência maior a Vida de
Fadiga. Já para as altas tensões, a mistura
convencional predispõe a ter uma maior Vida
de Fadiga do que as outras misturas. Ressalva-
se que as considerações acerca da Vida de
fadiga presumem a mesma estrutura das
camadas, variando apenas o revestimento
asfáltico.
Portanto, do ponto de vista técnico, o
emprego da escória de FeSiMn como
agregado em misturas betuminosas do tipo
CBUQ apresenta grande potencial de uso em
substituição ao agregado convencional, a
partir de uma análise mecânica.

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Análise Numérica de Radier Estaqueado em Solo Arenoso do
Nordeste do Brasil
Jeandson Willck Nogueira de Macedo
UFRN, Natal, Brasil, jeandson_ufrn@hotmail.com

Osvaldo Freitas Neto


UFRN, Natal, Brasil, osvaldocivil@ct.ufrn.br

Wilson Cartaxo Soares


Concresolo & Copesolo, João Pessoa, Brasil, soares.wilson@gmail.com

Roberto Quental Coutinho


UFPE, Recife, Brasil, robertoqcoutinho@gmail.com

Renato Pinto da Cunha


UnB, Brasília, Brasil, rpcunha@unb.br

RESUMO: O presente trabalho tem como principal objetivo modelar fundação em radier
estaqueado, em solo arenoso, e realizar uma análise comparativa quanto ao desempenho de dois
softwares geotécnicos baseados no método dos elementos finitos. Para isso, foram realizadas
modelagens com auxílio do Software Plaxis 3D Foundation, utilizando um banco de dados
disponibilizados por Pezo (2013), que retroanalisou as provas de carga estática realizadas por
Soares (2011), por meio do programa CESAR LCPC 3D. Os resultados destas modelagens foram
confrontados, percebendo-se uma satisfatória aproximação das curvas carga-recalque resultantes de
ambas as plataformas numéricas, para todas as fundações simuladas.

PALAVRAS-CHAVE: Radier estaqueado, modelagem numérica, método dos elementos finitos.

1 INTRODUÇÃO de compactação, podendo proporcionar


vantagens técnicas e econômicas quando
O grande potencial dos solos arenosos para uso comparadas aos métodos tradicionais. Poulos
da técnica de radier estaqueado e a escassez de (1991) afirma que a técnica de radier
estudos desta concepção de projeto, em solos da estaqueado tem seu emprego favorecido em
região, estimulam o desenvolvimento de argilas médias e rijas, além de solos arenosos
pesquisas direcionadas ao melhor entendimento relativamente compactos, com elevados NSPT já
do comportamento deste tipo de fundação. As nas primeiras camadas de solo.
fundações em radier estaqueados diferenciam- Segundo Novak et al. (2005), a grande
se das concepções tradicionais de projeto pela dificuldade no cálculo dos radier estaqueados
consideração das diversas interações que provém da desconsideração das diversas
ocorrem entre os elementos estruturais e o solo, interações existentes entre os variados
especialmente as originadas pelo contato do elementos que compõem o sistema. Contudo,
elemento superficial com o solo. com o desenvolvimento dos modelos numéricos
A técnica do radier estaqueado tem excelente computacionais, o método dos elementos finitos
desempenho em solos arenosos com alto grau surge como uma ferramenta de grande

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importância na análise do comportamento deste 2.1 Método Poulos, Davis e Randolph (PDR)
tipo de fundação.
Para o desenvolvimento desta pesquisa, Poulos e Davis (1980) apresentaram um modelo
optou-se pelo uso do programa Plaxis 3D tri-linear para descrever o comportamento do
Foundation, e por meio deste foram realizadas radier estaqueado quanto as previsões de carga-
modelagens numéricas de provas de carga recalque, sendo este baseado na consideração da
estática executadas por Soares (2011), em mobilização total das estacas que integram o
fundações nas concepções de radier radier estaqueado. Enquanto Randolph (1994)
estaqueados, grupo de estacas e radiers sugeriu estimar a rigidez do radier estaqueado
isolados, localizadas em região de solo arenoso, por meio da expressão:
na cidade de João Pessoa - PB.
Nestas simulações, foram utilizados os K PG  (1 - 2 D RP ) K R
K PR = (1)
parâmetros geotécnicos estimados por Pezo 1  D RP
2
( K R / K PG )
(2013). Estes foram retroanalisados, pelo autor
supracitado, de maneira que o comportamento
tensão-deformação do conjunto solo-fundação Onde:
se aproximasse dos resultados das provas de KPR = rigidez do radier estaqueado;
carga, especialmente no alcance dos recalques KPG = rigidez do grupo de estacas;
correspondentes aos últimos estágios. KR = rigidez do radier isolado;
O objetivo desta pesquisa consiste numa Ƚୖ୔ = coeficiente de interação radier-estaca.
análise comparativa entre a previsão das curvas
carga-recalque resultantes das modelagens no Onde o percentual de carga absorvida e
software Plaxis 3D Foundation em comparação transmitida ao solo pelo radier (X) é dado por:
aos resultados estimados por Pezo (2013), com
auxílio do programa CESAR LCPC. PR K R (1 - D RP )
X = (2)
PT K PG  K R (1  2D RP )

2 MÉTODOS DE ANÁLISES DE 2.2 Métodos dos elementos finitos (MEF)


RADIER ESTAQUEADO
O Método dos elementos finitos corresponde a
Existe um vasto número de métodos para uma das ferramentas numéricas mais utilizadas
análise e dimensionamento de fundações em para análise de estruturas de fundações,
radier estaqueado, como os métodos podendo está prontamente disponível para
simplificados, os métodos computacionais processamento em computadores pessoais,
aproximados e os métodos computacionais através de diversos softwares geotécnicos.
rigorosos. A possibilidade de adequação das condições
Dentre as análises mais rigorosas, destaca-se de contorno ao modelo real e a oportunidade de
como uma das ferramentas mais eficazes, o se definir os modelos construtivos peculiares a
método dos elementos finitos tridimensionais cada um dos materiais, permite ao software,
(MEF). Segundo Novak et al. (2005), o MEF simular, com certa precisão, o comportamento
corresponde ao mais adequado método para de diversos sistemas de fundação,
análises de radier estaqueado, tendo em vista a especialmente os sistemas mais complexos,
dificuldade dos métodos simplificados no como as fundações em radier estaqueado.
equacionamento das complexas interações entre A ferramenta finita empregada nesta
os componentes do sistema de fundação. pesquisa foi o software Plaxis 3D Foundation,
Quanto as metodologias simplificadas, pode- na sua versão 1.1. Este programa foi
se destacar os métodos baseados na teoria da desenvolvido na Holanda, pela Universidade
elasticidade, como a formulação “PDR”, que é Tecnológica de Delft e representa uma das
uma combinação dos métodos de Poulos e plataformas finitas mais consolidadas no
Davis (1980) e Randolph (1994). mercado quanto a análise computacional de
problemas geotécnicos.

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3 METODOLOGIA 3.2 Parâmetros geotécnicos

3.1 Estudo experimental de Soares (2011) Com o objetivo de estimar parâmetros


geotécnicos que representem com maior
Soares (2011) realizou sete provas de carga fidelidade o comportamento das curva carga-
estática em fundações, projetadas em escala recalque resultantes das provas de carga
real, considerando-se três sistemas distintos de analisadas nesta pesquisa, Pezo (2013), realizou
fundação, sendo executado um total de quatorze retroanálise do módulo de deformabilidade e
estacas do tipo Hollow Auger, medindo cada ângulo de atrito das camadas de solo. Neste
uma, 0,3 m de diâmetro e 4,5 m de processo de ajuste, ao autor contou com auxílio
comprimento, além de um bloco pré-moldado do programa CESAR LCPC v4 3D, na sua
rígido com 1,55 m x 1,55 m x 0,85 m. versão 1.07, uma ferramenta numérica
Os ensaios foram realizados na faixa costeira fundamentada no método dos elementos finitos.
da cidade de João Pessoa-PB, uma região Estes parâmetros retroanalisados foram
características pela presença de solos arenosos utilizados nesta pesquisa para alimentação do
com alto índice de resistência a penetração software Plaxis 3D Foundation nas simulações
(NSPT), já nas primeiras camadas de solo, numéricas realizadas (Tabelas 1 e 2).
conforme pode-se verificar nos perfis de solo
disponibilizados pelo autor (Figura 1). Tabela 1. Parâmetros geotécnicos Pezo (2013)
As fundações ensaiadas foram: Camada Ȗ E
NSPT ‫ݝ‬
ƒ Um radier isolado; (m) (kN/m³) (MPa)
ƒ Três radiers estaqueados, com uma, duas e 0–1 12,5 17 0,3 69,8
quatro estacas; 1–4 8,08 19 0,3 45,1
ƒ Três grupos de estacas, com uma, duas e
4–7 31 21 0,3 173
quatro estacas.
7 – 14 9,07 20 0,3 50,6

Tabela 2. Coeficiente de atrito interno do solo I' (q)


retroanalisados por Pezo (2013)

Camada Radier Radier estaqueado Grupo de estacas


(m) isolado uma Duas quatro Uma duas quatro

0-1 46 37 33 32 31 32 32
1-4 38 31 27 27 26 27 26
4-7 45 37 33 32 31 32 32
7 - 14 34 28 25 24 24 25 24

Figura 1. Valores médios dos NSPT para quatro sondagens 3.3 Parâmetros do concreto armado
(SP1, SP2, SP3 e SP4).

As concepções de radier estaqueados foram Para os elementos estruturais, estacas e bloco,


diferenciadas as fundações de grupo de estacas, foram adotados os parâmetros mecânicos do
exclusivamente, pela consideração do contato concreto disponibilizados no trabalho de Soares
do radier com o solo. Soares (2011) concluiu (2011), respectivamente 21,5 GPa para o
que a consideração do contato bloco-solo modulo de elasticidade (Ec), e 25 kN/m³, para o
proporciona, não só ganhos com o aumento da peso específico do concreto armado (Ȗc).
capacidade de carga, como também a redução
significativa dos recalques nas fundações 3.4 Modelagem numérica computacional
estaqueadas, conclusão que condiz com os
estudos apresentados por Poulos (2001) e De Na modelagem numérica no Plaxis 3D, de
Sanctis et al. (2002). início, foram especificadas as propriedades

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geométricas das fundações estudadas e os O Plaxis utiliza o critério de Coulomb na
parâmetros geotécnicos apresentados nos itens distinção entre os comportamentos elástico e
3.2 e 3.3, para cada uma das camadas de solo. plásticos, especialmente nas regiões de
Em seguida, foram escolhidos os modelos mudança abrupta de condições de contorno
construtivos dos materiais, adotando-se para o entre solo e o elemento estrutural, onde os
solo, o modelo elástico-plástico de Mohr- recalques tendem a ser maiores. O manual da
Coulomb, e para o concreto armado, o modelo ferramenta, sugere a adoção de um coeficiente
linear-elástico, por estes modelos representarem de interface (RINTER) na ordem de 2/3 para solos
com boa fidelidade as propriedades mecânicas o qual não se tenha seus valores pré-
de cada um dos materiais supracitados. determinados. Sendo este valor, o utilizado nas
As estacas dos grupos e radiers estaqueados sete modelagens deste trabalho.
foram simuladas por meio do comando “pile”,
sendo utilizado ainda, o comando “Floor”, para
a representação das fundações em radier. 4 ANÁLISE DO RESULTADOS
Segundo Freitas Neto (2011), as incoerências
dos resultados numéricos, muitas vezes, podem Processado os resultados, as curvas carga-
ser creditadas ao modelo constitutivo utilizado recalque obtidas nas sete modelagens realizadas
para modelar o solo, às condições de contorno no programa Plaxis 3D foram comparadas as
adotadas, ao nível de refinamento da malha de previsões de carregamento estimas por Pezo
elementos finitos e ao uso dos elementos de (2013) através do programa CESAR LCPC.
interface entre as estacas e o solo. Observa-se na figura 3, que a curva carga-
As condições de contorno são definidas, de recalque resultante da modelagem do radier
forma que se minimize, ao máximo, as isolado, com uso do Plaxis 3D (NUM.CR.B),
interferências destes limites nos resultados apresenta comportamento um pouco mais rígido
obtidos na simulação. Nesta pesquisa, foram que a modelada no CESAR LCPC.
adotados os limites equivalentes a seis vezes a
largura do radier (B) para o plano horizontal, Carga (kN)
em ambas as direções, e uma profundidade da 0 250 500 750 1000 1250 1500
malha tridimensional equivalente a três vezes o
Deslocamento (mm)

0
comprimento da estaca (L), conforme pode-se
observar na figura 3.b. A configuração adotada -5
satisfaz os limites mínimos sugeridos por Sosa
(2010), para os três tipos de fundações -10
analisados nesta pesquisa. Ressalta-se que nas
-15
regiões onde se tenha as maiores tensões, a
malha foi refinada, de forma a garantir o -20
equilíbrio da análise. (Figura 3.a). EXP NUM.CR.B PEZO

Figura 3. Curvas carga-recalque do radier isolado Plaxis


x CESAR LCPC (Pezo 2013) x Experimental (Soares
2011).

3L Para o radier com uma estaca, as curvas


obtidas pelos dois softwares apresentam
previsões de recalques praticamente idênticas,
conforme pode-se observar na figura 4.
a)
b) 6B

Figura 2. Malha bidimensional (a) e tridimensional (b) do


radier estaqueado com duas estacas.

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Carga ( kN) Carga (kN)
0 250 500 750 1000 1250 1500 0 750 1500 2250 3000 3750
0 0

Deslocamento (mm)
Deslocamento (mm)

Ͳ10
-5
Ͳ20
-10 Ͳ30
Ͳ40
-15 Ͳ50
Ͳ60
-20
EXP PENZO NUM.CR.R4 R=0,67
EXP PEZO NUM.CR.R1 R=0,67

Figura 6. Curvas carga-recalque do radier estaqueado


com quatro estacas - Plaxis 3D Foundation x CESAR
Figura 4. Curvas carga-recalque do radier estaqueado
LCPC (Pezo 2013) x Experimental (Soares 2011).
com uma estaca - Plaxis 3D Foundation x CESAR LCPC
(Pezo 2013) x Experimental (Soares 2011).
Carga (kN)
0 100 200 300 400 500 600
A análise da figura 5 demostra boa
conformidade entre as curvas modeladas pelo Deslocamento (mm) Ͳ10
CESAR LCPC e no Plaxis 3D (NUM.CR R2),
com esse último tendendo a apresentar Ͳ30
recalques pouco superiores ao decorrer do
carregamento do radier com duas estacas. Ͳ50

Ͳ70
Carga (kN)
0 500 1000 1500 2000 2500 Ͳ90
EXP PEZO NUM.CR.G1 R=0,67
0
Deslocamento (mm)

-10 Figura 7. Curvas carga-recalque do radier grupo com uma


estaca - Plaxis 3D Foundation x CESAR LCPC (Pezo
-20
2013) x Experimental (Soares 2011).
-30
Nas análises dos grupos de duas e quatro
-40
estacas, respectivamente figuras 8 e 9, também
-50 se percebe uma boa conformidade entre as
EXP NUM.CR.R2 R=0,67 PENZO previsões das curvas carga-recalque obtidas
com o Plaxis 3D Foundation em comparação a
Figura 5. Curvas carga-recalque do radier estaqueado modelagem realizada por Pezo (2013) no
com duas estacas - Plaxis 3D Foundation x CESAR software CESAR LCPC.
LCPC (Pezo 2013) x Experimental (Soares 2011).
Durante a realização das modelagens, com o
objetivo de entender melhor a interferência do
Na figura 6 percebe-se boa semelhança entre coeficiente de interface (RINTER) nas análises
as curvas modeladas pelo CESAR LCPC e no das sete fundações estudadas, foram realizadas
Plaxis 3D (NUM.CR.R4), que mais uma vez algumas simulações variando o RINTER no
apresentou rigidez um pouco inferior durante o intervalo entre 2/3 e 1. Verificando, que a
carregamento do radier com quatro estacas. medida em que se aumenta o RINTER as curvas
Para o grupo de uma estaca, as previsões de carga-recalque tendem a apresentar maior
tensões e deformações estimadas pelas duas rigidez (recalques inferiores), com exceção ao
plataformas apresentam-se de forma bastante radier isolado, o qual não se constatou nenhuma
semelhante, conforme observa-se na Figura 7. alteração nas previsões de carga e recalque com
a variação deste coeficiente.

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Carga (kN) AGRADECIMENTOS
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
0 Ao Professor Dr. Osvaldo de Freitas Neto, pela
confiança no desenvolvimento desta pesquisa, e
Deslocamento (mm)

Ͳ10
a todos que os demais amigos do curso de
Ͳ20 Engenharia Civil da Universidade Federal do
Ͳ30 Rio Grande do Norte (UFRN).
Ͳ40
Ͳ50
REFERÊNCIAS
Ͳ60
EXP PENZO NUM.CR.G2 R=0,67
De Sanctis, L., Mandolini, A., Russo, G .& Viggiani, C.
(2002). “Some remarks on the optimum design of
Figura 8. Curvas carga-recalque do grupo com duas
piled rafts.” Proc., ASCE Deep Foundations 2002: An
estacas - Plaxis 3D Foundation x CESAR LCPC (Pezo
International Perspective on Theory, Design,
2013) x Experimental (Soares 2011).
Construction,amd Performance.VA,EUA. p.405–425.
Leshchinsky, D. e Perry, E.B. (1987) A Design Procedure
Carga ( kN) for Geotextile Reinforced Walls, Geosynthetics'87,
0 500 1000 1500 2000 2500 IFAI, New Orleans, LA, USA, Vol. 1, p. 95-107.
0 Silva, A.R.L. (1995) Análise de Estabilidadede Aterros
Reforçados Sobre Solos Moles, Dissertação de
Deslocamento (mm)

-15 Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Geotecnia,


Departamento de Engenharia Civil, Universidade de
-30 Brasília, 183 p.
-45 Freitas Neto, O. (2013) Avaliação Experimental e
Numérica de Radiers Estaqueados com Estacas
-60 Defeituosas em Solo Tropical do Brasil, Tese de
Doutorado, Departamento de Engenharia Civil e
-75 Ambiental, Universidade de Brasília, 253 p.
EXP. PEZO NUM.CR.G4 R=0,67 Novak, J. L., Reese, L.C. & Wang, S. T. (2005) Analysis
of Pile-Raft Foundations with 3D Finite-Element
Figura 9. Curvas carga-recalque do grupo com quatro Method. Proceedings of the Structures congress.
estacas - Plaxis 3D Foundation x CESAR LCPC (Pezo Pezo, O.B. (2013) Análises Numéricas de Provas de
2013) x Experimental (Soares 2011). Carga em Radier Estaqueado Utilizando o Método
dos Elementos Finitos, Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Centro de tecnologia e Geociências, Universidade
4 CONCLUSÕES Federal de Pernambuco, 183 p.
Poulos, H. G. e Davis, E.H. (1980) Pile Foundatin
As modelagens numéricas realizadas no Plaxis Analysis and Design. New York, NY, USA, 397 p.
Poulos, H. G. (1980) Foundation economy via piled raft
3D Foundation v1.1, utilizando os parâmetros systems. Keynote Paper of Pile talk International’ 91.
geotécnicos retroanalisados por Pezo (2013), Kuala Lumpur, p. 97-106.
representaram, de forma bastante satisfatória, o Poulos, H. G. (2001) Methods of Analysis of Piled Raft
comportamento das sete curvas carga-recalque Foundations. A Report Prepared on Technical
retroanalisadas, pelo autor, com auxílio do Committee TC18 on Piled Foundations. Chairman:
Prof. Dr. Ir W.F. Van Impe. International Society of
programa CESAR LCPC v4 3D. Soil Mechanics and Geotechnical Engineering.
A avaliação comparativa entre diferentes as Randolph, M. F. (1994) Design methods for pile groups
ferramentas computacionais contribuem para and piled rafts. State of art report. Proc. 13h Intern.
validação dos modelos numéricos e permitem Conf. on Soil Mechanics and Foundation Eng., New
uma melhor compreensão do comportamento Delhi, v. 5, p. 61-82.
Soares, W.C. (2011) Radier Estaqueado Com Estacas
das fundações em radier estaqueados em solos
Hollow Auger Em Solo Arenoso, Tese de Doutorado,
característicos da região. Departamento de Engenharia Civil, Universidade de
Pernambuco, 302 p.

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Caracterização Geoambiental da Área do Aterro Sanitário de Boa
Vista, Roraima
Adriano Frutuoso da Silva
Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Brasil, adriano.silva@ufrr.br

Rafael Sullyvan Braz da Silva


Petrobras, Boa Vista, Brasil, rafaelsullyvan@hotmail.com

Silvestre Lopes da Nóbrega


Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Brasil, silvestre.lopes@ufrr.br

Larissa de Castro Ribeiro


Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Brasil, larissa.ribeirocr@gmail.com

RESUMO: O aterro de disposição de resíduos sólidos de Boa Vista, capital do estado de Roraima,
caracteriza-se como um aterro controlado, localizado a 1 km do perímetro urbano, e a 150 m de um
Igarapé, afluente do Rio Branco. Este trabalho, tem por objetivo a caracterização geoambiental da
área do aterro, tendo em vista os impactos ambientais no solo e nos corpos hídricos do entorno. Para
tanto, utilizou-se como metodologia informações de mapas geográficos, visitas de campo, e
caracterização geotécnica do subsolo por meio de ensaio de campo e laboratório. Os resultados
obtidos mostraram que o aterro de disposição de resíduos do município de Boa Vista apresenta-se
como uma fonte em potencial de contaminação do solo, da água e do ar em sua área de influencia,
devido a ocorrência falhas quanto à disposição dos resíduos, cobertura das células de resíduos,
revestimento de base e falta de tratamento de chorume; o solo de fundação do aterro caracteriza-se
como areno-argiloso, com valores de permeabilidade e taxa de infiltração superiores aos valores
recomendados para o revestimento de base de um aterro sanitário. Contudo, recomenda-se que sejam
feitos estudos complementares, visando quantificar os impactos gerados, alertando a respeito dos
danos ambientais e riscos à saúde pública.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos, Aterro, Solo, Chorume.

1 INTRODUÇÃO contaminação e poluição dos corpos hídricos,


tornando-os impróprios para usos nobres.
O crescimento populacional e industrial fez com A decomposição do lixo de resíduos sólidos
que grande quantidade de resíduos fossem gera, entretanto, um líquido de coloração escura,
produzidos e descartados de alguma forma na formado a partir de bactérias decompositoras
biosfera, comprometendo assim a qualidade deste, denominado “chorume”, que é altamente
ambiental. Este problema é ainda mais grave nos poluidor (Orth, 1981). Sob a ação da chuva, o
chamados países subdesenvolvidos ou em chorume se mistura com a água que infiltra na
desenvolvimento, onde há pouco ou nenhum massa de lixo, formando o percolado. A
saneamento básico, o que contribui para a infiltração deste líquido nos solos é uma das

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maiores preocupações ambientais, uma vez que
este percolado normalmente transporta uma série
de compostos químicos e biológicos capazes de
poluir os mananciais de águas superficiais ou
subterrâneas.
A poluição das águas pelo chorume pode
provocar endemias ou intoxicações, se houver a
presença de organismos patogênicos e
substâncias tóxicas em determinadas
concentração acima do limite de tolerância
fisiológica, animal e vegetal (Sisinno, 2000).
Em Boa Vista, Capital do Estado de Roraima,
Região Norte do Brasil, a disposição de resíduos
sólidos urbanos é feita em um aterro controlado,
sem sistema de impermeabilização, drenagem e
tratamento de chorume e gases, o qual fica acerca
de 200 m do Igarapé Wai Grande, afluente direto
do Rio Branco.
Dentro deste contexto, o presente trabalho
teve como objetivo o estudo do subsolo do aterro
de Boa Vista-RR, por meio de ensaios de
caracterização fisica do solo e permeabilidade,
tendo em vista a contaminação do solo e das Figura 1. Localização do aterro de disposição de resíduos
sólidos, Boa Vista-RR.
águas na área de influência do aterro.
Para realização desse trabalho foram
realizadas visitas de campo na área do aterro,
2 MATERIAL E MÉTODO
conforme ilustrado nas Figuras 2, 3 e 4, para
conhecimento da área de estudo, determinação
O estudo foi realizado no principal aterro de
dos pontos de coleta de amostras de solos e
disposição de resíduos sólidos do estado de
chorume e ensaio in situ. Observa-se falhas no
Roraima, onde são dispostos os resíduos do
sistema de disposição dos resíduos, cobertura,
município de Boa Vista. O qual localiza-se no
revestimento de base e tratamento do chorume.
km 494 da BR-174, a 1 km do perímetro urbano,
com uma área de aproximadamente 46 hectares.
O aterro está inserido na micro bacia do
Igarapé Wai Grande, região que apresenta um
maior índice pluviométrico, sendo assim mais
úmida que a capital Boa Vista, o que de certa
forma é desvantajoso, haja vista que a produção
de chorume é intensificada pelo aumento das
chuvas. A hidrografia da região mostra que a
célula principal do aterro está situada cerca de
150 m do Igarapé Wai Grande. A Figura 1
apresenta um mapa de localização do aterro.

Figura 2. Visita de campo ao aterro (registro em 2011).

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(ABNT, 2015). A Figura 6 a seguir, mostra o
procedimento utilizado para a retirada das
amostras deformadas de solo utilizando um trado
manual tipo “concha”.

(150,0

Figura 6. Coleta de amostras de solo.

Para caracterização do horizonte de solos,


Figura 3. Visita de campo ao aterro - falhas no sistema de foram realizados no laboratório de Mecânica dos
tratamento do chorume (registro em 2011). Solos da UFRR, ensaios de caraterização física
(umidade, granulometria por peneiramento e
com uso granulômetro a laser, limite de liquidez
e limite de plasticidade). Em seguida, foram
realizados ensaios de permeabilidade in situ, por
rebaixamento em furo de sondagem, obtendo-se
o coeficiente de permeabilidade in situ (k) e a
taxa de infiltração do solo in situ (i), como
ilustrado na Figura 7.

Figura 4. Visita de campo ao aterro - falhas no sistema de


cobertura e revestimento de base (registro em 2011).
Figura 7. Cálculo da permeabilidade e da taxa de
A Figura 5 apresenta os pontos de coleta: os infiltração in situ.
pontos em vermelho representam os locais de
retirada de amostras de solo e os pontos em Os ensaios foram realizados com circulação
preto, representam os locais de coleta de de água e de chorume da decomposição dos
amostras de chorume. resíduos do aterro, a fim de avaliar o padrão de
fluxo da água e do chorume através do solo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1. Caracterização geográfica da área do


aterro

Foram obtidos mapas, através do Zoneamento


Figura 5. Localização dos pontos de amostragem de solo
e de chorume. Econômico Ecológico do Estado de Roraima
(ZEE – RR), permitindo caracterizar a área onde
Após a visita de campo e identificação dos está situado o aterro de disposição de resíduos
pontos de amostragem, foram realizados os furos sólidos de Boa Vista-RR.
de “sondagem a trado”, de acordo com a norma Geologicamente, o aterro sanitário está
NBR 9603 - Sondagem a trado – Procedimento situado na Formação Boa Vista;
geomorfologicamente trata-se de uma superfície

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pediplanada de relevo plano; pedologicamente o 3.2. Caracterização geotécnica da área do
solo da área é formado por latossolos amarelos aterro
de textura arenosa.
As Figuras 8, 9 e 10 apresentam os mapas A Tabela 1 apresenta os índices físicos
obtidos para área de estudo. obtidos para as amostras de solo da área do aterro
em estudo e a Figura 11 as curvas
granulométricas.

Tabela 1. Parâmetros fisicos do solo.


Prof. w LL LP
Furo IP
(m) (%) (%) (%)
ST-01 2.00 9,66 24.25 18.21 6.04
ST-02 1.98 11,02 22.82 20.14 2.68
ST-03 2.20 7,49 22.30 19.15 3.15
ST-04 5.00 12,59 20.33 19.36 0.97
ST-05 5.50 11,34 20.09 19.20 0.89
ST-06 1.80 8,80 23.42 17.79 5.63
ST-07 1.50 11,51 23.03 17.72 5.31
ST-08 4.00 13,16 39.99 25.31 14.68
ST-09 2.00 9,66 24.25 18.21 6.04
ST-10 1.98 11,02 22.82 20.14 2.68
Figura 8. Mapa da geologia da área do aterro.

Figura 11. Análise granulométrica das amostras de solo


do aterro de disposição de resíduos de Boa Vista-RR.

Figura 9. Mapa geomorfológico da área do aterro.


Os resultados mostraram que o solo do aterro
apresenta teor de umidade relativamente baixo,
variando de aproximadamente 7,5 a 13,2%.
A análise granulométrica das amostras de solo
do aterro sanitário (ilustrada na Figura 10)
revelou que o mesmo está assente sobre uma
camada de solo fino, com porcentagem bastante
significante de areia, seguida de silte e argila.
De acordo com a carta de plasticidade de
Casagrande, o solo da área do aterro sanitário,
até a profundidade média de 2,00 m, foi
classificado como um solo SC (solo areno-
argiloso) e abaixo desta profundidade (2,00 m)
foi classificado como solo CL-ML (solo argilo-
Figura 10. Mapa pedológico da área do aterro. siltoso de baixa compressibilidade). Com
permeabilidade in situ de 8x10-4 cm/s com
circulação de água e de 7xͳͲିହ cm/s com

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circulação de chorume (Silva & Frutuoso, 2011). gerados.
A Figura 12 apresenta o perfil geotécnico do Geotecnicamente, o solo de fundação do
subsolo da área do aterro. aterro caracteriza-se como solo areno-argiloso,
com valores de permeabilidade e taxa de
infiltração superiores aos valores recomendados
para o revestimento de base de terro sanitário.
Isto é preocupante, uma vez que, durante a visita
de campo foram observadas falhas nos sistemas
de deposição dos resíduos, cobertura e
Figura 12. Perfil do solo da área do aterro de disposição revestimento de base. Além disso não existe
de resíduos de Boa Vista-RR. tratamento de chorume no aterro.
Observou-se sugêrncia de chorume a jusante
3.3. Ensaio de campo (Permeabilidade e da célula principal do aterro. A migração do
Infiltração) chorume através do solo poderá atingir o lençol
freático e também o Igarapé Wai Grande, situado
Os ensaios de permeabilidade e taxa de a apenas 150 m da célula principal do aterro.
infiltração in situ, realizados com circulação de Contudo, recomenda-se que estudos
água, revelaram que a mesma percola no interior complementares sejam realizados na área do
do solo com coeficiente de permeabilidade da aterro e no entorno, na pespectiva de quantificar
ordem de k = 8,0x10-4 cm/s, e taxa de infiltração o pontencial de contaminação do solo e de seus
igual a i = 5,9x10-6m3/m2.s. recursos naturais.
Já os ensaios realizados com circulação de
chorume mostraram que o mesmo percola no
interior do solo com coeficiente de AGRADECIMENTOS
permeabilidade da ordem de k = 7,0x10-5 cm/s, e
taxa de infiltração igual a i = 1,6x10-6 m3/m2.s. Os autores agradecem o suporte financeiro ao
A partir dos valores de permeabilidade e taxa Conselho Nacional de Desenvolvimento
de infiltração, pode-se dizer que o chorume Cientifico e Tecnologico (CNPq).
possui maior dificuldade de percolação e
infiltração no meio poroso (solo) que a água,
como esperado. Afinal, o mesmo carrea uma REFERÊNCIAS
série de compostos químicos e biológicos.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
NBR9603: Sondagem a Trado. Rio de Janeiro, 2015.
Orth, M.H. Aterros Sanitários. Revista de Limpeza
4. CONCLUSÕES Pública. V.8, no 20, p.26-34, 1981.
Sisinno, C. L. S. Resíduos Sólidos, Ambiente e Saúde:
Os estudos realizados na área do aterro de uma Visão Multidisciplinar. Editora Fiocruz, Rio de
disposição de resíduos sólidos de Boa Vista, Janeiro, p. 62, 2000.
Roraima, mostrou a fragilidade e vunerabilidade Silva, R.S.B; Frutuoso, A. Estudo do solo e do percolado
do aterro sanitário de Boa Vista/RR. X EPIC –
que o solo e o corpo hídrico estão sendo Encontro de Pesquisa e Iniciação Cientifica,
expostos. Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, 2011.
Geologicamente, o aterro está situado na
Formação Boa Vista; geomorfologicamente
trata-se de uma superfície pediplanada de relevo
plano; pedologicamente o solo pertence ao grupo
dos latossolos amarelos alumínicos de textura
arenosa; climatologicamente, em relação a
capital Boa Vista, tem como desvantagem seu
maior índice pluviométrico, visto que desta
forma a produção de chorume é intensificada,
aumentando assim os impactos ambientais

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Caracterização Geotécnica de um Solo Argiloso de Campo
Grande/MS
Fernanda Nandes Ribeiro
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande/MS, Brasil,
fernanda.n.ribeiro@hotmail.com

Kamila Farias Corrêa de Carvalho


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande/MS, Brasil, kamilafariasc@gmail.com

Rafael Ribeiro Polvere


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande/MS, Brasil,
rafaelpolvere@hotmail.com

Fabricio Jeronimo Gonzalez Dias


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande/MS, Brasil,
fabriciogonzalezdias@gmail.com

José Otavio Serrão Eleutério


Professor Assistente da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande/MS, Brasil,
otavio.eleuterio@ufms.br

RESUMO: Existem poucos ou nenhum resultado referente as características geotécnicas do solo do


estado do Mato Grosso do Sul. Este trabalho apresenta uma primeira avaliação das características de
um solo da cidade de Campo Grande-MS avaliada por meio de ensaios triaxiais convencionais CIU
(Consolidated Isotropic Undrained) executados no laboratório de geotecnia da Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul. Foram utilizadas três amostras indeformadas para a realização dos ensaios
triaxiais, e amostras deformadas para os ensaios de caracterização. Os resultados dos parâmetros de
resistência encontrados nos ensaios corroboram o tipo de solo encontrado nas sondagens de simples
reconhecimento com medidas de SPT executadas no local.

PALAVRAS-CHAVE: Caracterização Geotécnica, Ensaio Triaxial, Parâmetros de Resistência.

1 INTRODUÇÃO

O solo de predominância no município de ensaios utilizando amostras indeformadas. Com


Campo Grande – MS é denominado como a finalidade de identificar os valores de tensão e
latossolo vermelho, sendo ele distroférrico ou deformação do solo analisado, o ensaio de
distrófico. Esses solos têm perfis mineralógicos compressão triaxial foi considerado o mais
profundos, sendo bem drenados e com adequado por simular, em laboratório, com
porosidade alta. Poucos são os dados referentes relativa precisão e sob condições controladas, os
à resistência ao cisalhamento obtida por meio de estados que os solos estarão submetidos em
ensaios laboratoriais. A partir dessa necessidade campo.
de estudar e avaliar as reais condições do solo em Para tal, utilizou-se o Sistema Automático
campo nessa região, foi feito uma série de Triaxial da fabricante Wille Geotechnik“,

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composto por equipamentos de grande precisão,


como: sistema pneumático de carregamento, ߪԢ ൌ ߪ െ ‫ݑ‬ (1)
célula de carga, sistemas de medida das
deformações axiais através dos LVDTs (Linear Onde ‫ ݑ‬é a parcela que atua na água e nos grãos
Variable Differential Transducer), regulador de sólidos em todas as direções com igual
pressão para aplicação da tensão desviadora e de intensidade, denominada poropressão.
confinamento, bem como programa Terzaghi (1943) conceituou que somente as
computacional para monitorar, registrar e pressões efetivas mobilizam resistência ao
armazenar as informações obtidas no decorrer do cisalhamento, surgindo:
ensaio. Este foi realizado no estado adensado
isotropicamente e não-drenado, o qual fornece os ߬ ᇱ ൌ ܿԢ ൅ ߪ ᇱ ‫߮݃ݐ‬Ԣ (2)
dados indispensáveis para obtenção dos
parâmetros de resistência: ângulo de atrito Onde, na expressão matemática, o primeiro
efetivo e coesão do solo. termo corresponde a tensão interna de resistência
O solo ensaiado possui característica de solo por atrito fictício ou proveniente do
silto-arenoso coletado na profundidade de um entrosamento de suas partículas traduzida pela
metro, cujo valor apontado no ensaio de SPT força de coesão, e; o segundo termo, à tensão
variou entre 3 e 4 golpes para as sondagens interna de resistência por atrito proveniente dos
executadas nas proximidades (Figura 1). contatos entre as partículas sólidas, dependente
da arrumação estrutural e da ocorrência da
poropressão que refletirá diretamente no valor
deߪԢ.

3 METODOLOGIA

3.1 Campo experimental

As amostras coletadas são provenientes do


campo experimental de Fundações, que se
encontra na cidade universitária da UFMS -
Campo Grande - Mato Grosso do Sul – MS
Figura 1 - NSPT vs Profundidade (Figura 2). O local apresenta uma cava de um
metro de profundidade, efetuada conforme
ABNT NBR 9604/86, de onde foram retiradas as
2 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO amostras deformadas e indeformadas para
DE SOLOS SATURADOS realização dos ensaios (Figura 3).

A ruptura dos solos é quase sempre um


fenômeno de cisalhamento, só em condições
especiais ocorrem rupturas por tensões de tração.
A resistência ao cisalhamento de um solo define-
se como a máxima tensão de cisalhamento que o
solo pode suportar sem sofrer ruptura, ou a
tensão de cisalhamento do solo no plano em que
a ruptura ocorrer (PINTO, 2006).
O estado de tensões pode ser determinado
tanto em termos de tensões totais (ߪሻ como de
tensões efetivas (ߪԢሻ. Segundo o princípio das
tensões efetivas de Terzaghi, essa relação é dada
por: Figura 2 - Planta de locação do campo experimental

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material, separando-os dos demais. Para tal


finalidade foi executado o ensaio conforme
especifica a ABNT NBR 6458/2016 (Anexo B).
Assim, encontrou-se o valor de 2,647 g/cm³ na
temperatura padrão de 20°C, adotando teor de
umidade igual a 2,5%.

3.3.2 Limites de Consistência

Esta determinação envolve os ensaios de Limite


de Liquidez e Plasticidade, respectivamente
prescritos nas normas NBR 6459/2016 e NBR
Figura 3 - Coleta de amostras 7180/2016. A partir disso, para o Limite de
Liquidez, obteve-se 40% e para o Limite de
Nas proximidades foram realizados dois furos Plasticidade, 28,1%.
de sondagens com medida de SPT, indicando De posse destes dados, é possível calcular,
presença de solo silto-arenoso na profundidade por correlações e fórmulas pré-estabelecidas, os
de coleta das amostras. O perfil geotécnico da Índices de Plasticidade (IP) e de Consistência
área é apresentado na figura 4 a seguir. (IC). Logo, os valores de IP e IC são 11,9% e
1,1%, para um teor de umidade natural referente
a 26,6%, conforme o solo foi encontrado.

3.3.3 Análise Granulométrica Conjunta

Os solos apresentam heterogeneidade na


distribuição dos tamanhos dos grãos, assim,
torna-se necessário o uso conjunto dos ensaios de
peneiramento e sedimentação. Nestes, é possível
classificar o solo pela sua granulometria através

da curva traçada no gráfico (porcentagem
Figura 4 – Sondagens executadas dentro da área de passante x diâmetro dos grãos) de acordo com a
interesse. ABNT NBR 7181/2016 e com o uso de
defloculante (Figura 5).
3.2 Amostragem

Para a realização dos ensaios, foram retiradas


aproximadamente 2 quilogramas de amostra
deformada e 3 amostras de solo indeformadas.
As amostras indeformadas foram retiradas no
formato cilíndrico com 5 centímetros de
diâmetro e aproximadamente 10 centímetros de
comprimento, embaladas com papel filme para
evitar perda de umidade e guardadas para
posterior ensaio triaxial CIU. 
Figura 5 - Curva Granulométrica
3.3 Caracterização do solo
Tabela 1 – Resumo dos ensaios de caracterização.
3.3.1 Massa específica do sólido ȡs wnat Wl Wp IP IC
(g/cm³) (%) (%) (%) (%) (%)
A massa específica do sólido se torna necessária 2,65 26,6 40 28,1 11,9 1,1
para obter correlações de um determinado
Nota: ȡs = massa específica dos sólidos; wnat = teor de

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umidade natural; Wl = limite de liquidez; Wp = limite de


plasticidade; IP = índice de plasticidade, e; IC = índice de
consistência.

Tabela 2 - Resultados dos ensaios de granulometria


Argila (%) Silte (%) Areia (%)
54 19 27

3.4 Ensaio triaxial convencional CIU

O ensaio triaxial CIU (ASTM D 4767) foi  


realizado em três fases básicas e primordiais: Figura 6 - Processos preparatórios para ensaio triaxial
saturação, adensamento e cisalhamento.
O processo de saturação do corpo de prova foi A velocidade da deformação axial foi igual a
avaliado a partir do parâmetro B de Skempton 0,1 mm/min, até a deformação axial mínima de
(1954), que mede a relação entre a variação de 3%, onde foi evidenciado a ruptura das amostras
poropressão em um corpo de prova na condição ensaiadas.
não drenada pela variação de tensão total
imposta, sendo:
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
ο௨
‫ܤ‬ൌ (3)
οఙ೎
Os resultados obtidos nos ensaios triaxiais com
tensões confinantes de 50, 100 e 150 kPa são
Onde: ο‫ ݑ‬- Excesso de poropressão gerado; apresentados na Figura 7. As curvas tensão
οߪ௖ - Acréscimo de tensão confinante desviadora vs. deformação axial apontou para
aplicado. um solo com característica normalmente
O corpo de prova era considerado saturado adensado, sem ocorrência de pico na ruptura nas
quando o parâmetro ‫ ܤ‬fosse igual ou superior a curvas supracitadas.
0,95. As pressões necessárias para garantir a As tensões desviadoras na ruptura para cada
saturação dos corpos foram crescentes, com amostra e suas respectivas deformações são
aplicação de contrapressão que garantisse uma apresentadas na Tabela 4.
tensão confinante constante e o alcance do limite
satisfatório do parâmetro ‫ܤ‬. Tabela 4 - Tensões desviadoras na ruptura para cada
amostra
Tabela 3 - Parâmetros B de Skempton finais Amostra 1 2 3
Tensão confinante (kPa) 50 100 150 Tensão desviadora
Parâmetro ‫ܤ‬ 0,97 0,98 0,98 27,62 47,65 66,95
(kPa)
Deformação axial (%) 1,06 1,17 1,071
Após a saturação total do corpo de prova, há
o período de adensamento, com a dissipação do A representação gráfica dos sucessivos
excesso de poropressão. As três amostras foram estados de tensões das amostras, ou seja, os
adensadas com tensões confinantes de 50, 100 e caminhos de tensões (Martins, 2016) são
150 kPa, respectivamente, para posteriormente apresentados na Figura 8.
serem cisalhadas. Com auxílio do traçado dos correspondentes
E por fim, a fase de cisalhamento, com tensão círculos de Mohr para cada tensão confinante
confinante constante e sem drenagem de água. (Figura 9), obteve-se, então, uma envoltória de
Durante o carregamento, em diversos intervalos resistência equivalente a:
de tempo, mediu-se o acréscimo de tensão axial
(tensão desviadora) que está atuando e a ߬ ᇱ ൌ ߪ ᇱ ‫ͻͳ݃ݐ‬ǡͺι (4)
deformação vertical do corpo de prova.
Com ângulo de atrito efetivo de ͳͻǡͺι e
intercepto de coesão próximo de zero.

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O solo superficial ensaiado apresentou


índices de solo normalmente adensado, argilo
siltoso, com ângulo de atrito efetivo de ͳͻǡͺι e
intercepto de coesão próximo de zero.

REFERÊNCIAS

American Society for Testing and Materials (1995) ASTM


D4767 – 11: Standard Test Method for Consolidated
Undrained Triaxial Compression Test for Cohesive
 Soils. Reprinted from the Annual Book of ASTM
Figura 7 - Tensão desviadora vs. deformação Standards.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6458 (Anexo B): Grãos de solos
que passam na peneira de abertura 4,8 mm –
Determinação da massa específica. Rio de Janeiro,
2016.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6459: Solo – Determinação do
limite de liquidez. Rio de Janeiro, 2016.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 7180: Solo – Determinação do
limite de plasticidade. Rio de Janeiro, 2016.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 7181: Solo – Análise
granulométrica. Rio de Janeiro, 2016.

Figura 8 - Caminho das tensões totais e efetivas ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
 TÉCNICAS. NBR 9604: Abertura de poço e trincheira
de inspeção em solo, com retirada de amostras
deformadas e indeformadas - Procedimento. Rio de
Janeiro, 2016.
Bressalini, L.A.; Bica, A.V.D. e Silveira, R.M. (2005)
Resultados de ensaios triaxiais em um solo coluviar de
arenito da escarpa da Serra Geral em Timbé do Sul
(SC). IV COBRAE - Conferência Brasileira sobre
Estabilidade de Encostas – Salvador - BA.
Carvalho, J.C. ... [et.al.] orgs.. (2015). Solos não saturados
no contexto geotécnico. São Paulo: Associação
Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica, 759 p.
Martins, I. S. M. (2016). Sobre algumas grandezas, suas
 unidades e suas definições. Willy Lacerda – Doutor no
Figura 9 - Traço da envoltória de resistência
saber e na arte de viver.
Pinto, C.S. (2006) Curso Básico de Mecânica dos Solos.
Nota-se na Figura 7 que as curvas 3.ed São Paulo: Oficina de Textos.
apresentaram um pico de resistência ao PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPO GRANDE.
cisalhamento com deformações axiais até 2%, Plano Municipal de Saneamento Básico de Campo
Grande. Instituto Municipal de Planejamento Urbano,
seguido de suave queda de tensão desviadora
2013.
com o aumento das deformações axiais. Santos, A.G. (2003) Estudo do comportamento resiliente
de três solos da região de Campo Grande – MS e da
relação entre o módulo de resiliência e resultados de
5 CONCLUSÃO ensaios de compressão simples. Tese de Mestrado em
Engenharia Civil – Área de Transportes da USP – São
Carlos.
Foram realizados ensaios de caracterização Terzaghi, K. Theoretical Soil Mechanics. John Wiley and
completa e ensaios triaxiais convencionais CIU Sons, 1943.
em amostras de solo coletado no campo
experimental de Fundações da UFMS.

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Caracterização Geotécnica do Solo de Planaltina-GO Para Obras
Civis
Wemerson Rodrigues Caixêta
Instituto Federal de Goiás, Formosa, Brasil, wrcaixeta@gmail.com

Isabella Magalhães Valadares


Instituto Federal de Goiás, Formosa, Brasil, isabellamv.civil@gmail.com

André Augusto Nóbrega Dantas


Instituto Federal de Goiás, Formosa, Brasil, eng.andreaugusto@yahoo.com.br

RESUMO: A elevada concentração populacional na região do Distrito Federal e entorno traz consigo
problemas relacionados à rápida ocupação do solo dessa região. Um exemplo é o município goiano
de Planaltina, o qual apresenta notória carência de obras de infraestrutura urbana, principalmente no
que tange às obras de saneamento básico e de pavimentação das vias. Objetivando-se atender às
necessidades básicas dos projetistas no que diz respeito ao comportamento do solo do município,
além de servir como base para trabalhos futuros acerca do tema, realizou-se nesse trabalho a
caracterização do solo do mesmo, obtendo sua distribuição granulométrica, massa específica e limites
de Atterberg, além da curva de compactação. Os ensaios foram realizados no Laboratório de
Mecânica dos Solos do IFG – Formosa e, de posse dos parâmetros obtidos através dos mesmos, pôde-
se classificar o solo do município como uma argila pouco plástica. Os demais resultados obtidos são
apresentados no decorrer do trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: caracterização geotécnica, caracterização física, ensaios de laboratório.

1 INTRODUÇÃO último censo do IBGE (2010), com densidade


demográfica de 32,1 hab/km².
Desde a segunda metade do século passado, Com um IDH de 0,669, índice este abaixo da
sobretudo devido à transição da capital federal média nacional, apenas 24,2% dos domicílios
ao centro do país, a região centro-oeste sofreu possuem sistema de esgotamento sanitário
um desenfreado crescimento populacional, adequado e somente 2,1% dos domicílios
principalmente nas regiões do entorno do urbanos estão situados em vias públicas com
Distrito Federal. O aumento da população trouxe presença de drenagem pluvial, calçadas,
consigo a rápida ocupação do solo, quer por meio pavimentação e meio-fio adequados. (IBGE,
da urbanização ou dos avanços no setor 2010)
agropecuário, causando elevado impacto Os dados supracitados evidenciam a
socioambiental e aumentando a carência de necessidade de investimentos para a implantação
obras de infraestrutura na região. de obras de infraestrutura – sobretudo urbana –
O município de Planaltina (Figura 1), um dos no município, principalmente no que diz respeito
246 do estado de Goiás, está situado na região à pavimentação das vias, acessibilidade e obras
leste do estado, no Planalto Central do Brasil. O de saneamento tais como sistema de
município que faz parte da Região Integrada de esgotamento sanitário e de drenagem de águas
Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno pluviais.
possuía cerca de 80 mil habitantes, conforme o

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solos dentro de uma mesma área de estudo,
principalmente em uma país de dimensões
continentais como o Brasil, bem como sua
grande possibilidade de emprego nas obras de
engenharia devido ao fácil acesso, é fácil notar a
necessidade de que se disponha de dados acerca
das características do solo quase que de forma
pontual. O conhecimento do comportamento do
solo ainda em fase de pré-projeto torna possível
a detecção de incompatibilidades no que diz
respeito às exigências do projeto, podendo servir
assim como indicador de viabilidade.
(SACHETTI et al., 2014)
Figura 1. Foto de satélite da área urbana de Planaltina- Conforme Pinto (2006), a principal
GO. Fonte: Google. característica que diferencia os solos é o
tamanho das partículas que os compõem, não
Observada a carência da existência tanto de sendo fácil a sua determinação a olho nu,
obras de infraestrutura quanto de estudos acerca devendo assim ser empregado o ensaio de
do solo da região estudada e conhecida a grande análise granulométrica, que torna possível
variabilidade dos solos do país, bem como a conhecer além das dimensões das partículas os
necessidade do conhecimento de parâmetros seus percentuais existentes na amostra, tornando
referentes ao solo ainda na fase de pré-projeto, possível a classificação do solo de acordo com o
parâmetros esses obtidos através dos ensaios de tamanho dos grãos. Ainda segundo o autor, a
caracterização realizados em laboratório, nesse importância da determinação da granulometria
trabalho realiza-se a caracterização do solo de dos solos reside no fato de que, embora solos de
Planaltina-GO, além da determinação da curva mesma origem apresentem características
de compactação do mesmo, com o objetivo de comuns, frequentemente apresentam dispersões
que estes sirvam como suporte para projetos – ou de constituição.
trabalhos – futuros no município, tanto para Embora de importância inquestionável,
obras de infraestrutura quanto para obras de apenas a distribuição granulométrica de um solo
construção civil. não é suficiente para caracterizar com eficiência
o seu comportamento. Assim, dada a
variabilidade do comportamento físico dos solos
2 IMPORTÂNCIA DA argilosos em função do teor de umidade, faz-se
CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA PARA necessário o conhecimento dos limites de
OBRAS DE INFRAESTRUTURA consistência de Atterberg, a citar: limites de
liquidez (LL) e de plasticidade (LP). O LL e o
Em toda e qualquer obra de engenharia civil, LP representam, respectivamente, os limites
principalmente as que dizem respeito à superior e inferior do intervalo de umidades no
engenharia geotécnica como os cortes e aterros, qual o solo apresenta comportamento plástico,
assim como para obras de construção civil e sendo o índice de plasticidade (IP) representado
infraestrutura, faz-se indispensável o estudo do pela diferença entre os mesmos. Acima do LL o
solo da região de implantação da mesma, a fim solo se comporta como um líquido, com aspecto
de se obter dados acerca do comportamento do de lama, tendo sua resistência ao cisalhamento
solo e consequentemente da viabilidade do praticamente nula. Abaixo do LP o solo é frágil
projeto, aplicando-se para tanto ensaios que e quebradiço. Tais características de plasticidade
determinem parâmetros essenciais tais como sua são ditadas principalmente pela parcela fina dos
granulometria, massa específica, limites de solos, podendo solos que apresentam a mesma
liquidez e de plasticidade, capacidade de carga, porcentagem de argila ter um comportamento
teor de umidade ótimo, dentre outros. diferente, a depender das características
Sabendo-se da grande heterogeneidade dos mineralógicas das amostras. (DAS, 2014;

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FIORI, 2009; KNAPPETT, 2016; PINTO, 2006) obras do perímetro urbano do município são
Nas obras de engenharia civil, por vezes é construídas, bem como as obras de infraestrutura
necessário que se acelere o processo de do município.
adensamento do solo através da compactação. A
compactação visa sobretudo aumentar o contato
entre os grãos e tornar o aterro mais homogêneo,
aumentando a densidade e reduzindo o índice de
vazios do mesmo, melhorando diversas
propriedades com isto. Assim, emprega-se a
compactação tanto para aterros quanto para a
melhoria de camadas de fundação dos
pavimentos, execução de barragens de terra,
dentre outros. O tipo do solo, as características
da obra e/ou exigidas no projeto são os fatores Figura 2. Local aproximado da coleta da amostra.
que ditam o processo de compactação a ser
empregado, a umidade em que o solo deve se De posse da amostra de solo, procedeu-se
encontrar e a massa específica a ser atingida. com o preparo da mesma de acordo com a ABNT
Portanto, emprega-se o Ensaio de Proctor a fim NBR 6457: 2016, onde foi determinada a
de obter o teor de umidade ótimo e a massa quantidade de material para a análise
específica aparente seca máxima. Para Pinto granulométrica do solo de acordo com a
(2006), o emprego da compactação – que traz dimensão dos grãos maiores da amostra,
consigo a importância da obtenção dos determinada apenas por observação visual.
parâmetros obtidos através do Ensaio de Proctor Desse modo, a massa da amostra preparada para
– é justificado pela diminuição de futuros o ensaio foi de 1 kg, pois a amostra de solo tem
recalques, aumento da rigidez e resistência do dimensões menores de 5 mm. Para os ensaios de
solo, bem como da diminuição da limites de liquidez e plasticidade foi necessária a
permeabilidade. quantidade de 200 g de material passante na
peneira de 0,42 mm. O mesmo aconteceu para o
ensaio de massa especifica, onde foi necessária a
3 METODOLOGIA quantidade de 500g de amostra de solo passante
na peneira de 4,8 mm. Já para o preparo da
Inicialmente realizou-se uma visita de campo na amostra para o ensaio de compactação,
manhã do dia 26 de maio de 2017, com o intuito observou-se que a amostra passa integralmente
de recolher uma amostra significativa do solo do pela peneira de 4,8 mm, tendo sido tomados
município, através da qual foi possível o cerca de 7 kg para tal. Ressalta-se que para todos
conhecimento da principal jazida utilizada como os ensaios as amostras foram preparadas com
área de empréstimo de material para as obras de secagem prévia, uma vez que a umidade natural
infraestrutura do município. Dada a situação, da amostra de solo colhida apresentou valor de
optou-se por realizar a coleta das amostras 28,4%. A umidade higroscópica encontrada após
deformadas no interior da jazida, com a secagem ao ar livre foi de 8,0%. Todas as
profundidade aproximada de 10 m, no ponto com determinações de umidade realizadas seguiram o
coordenadas geográficas de 15°27’04,4’’S e que preconiza a ABNT NBR 6457: 2016.
47°37’55,3’’W (Figura 2). Removida a camada A determinação da massa específica dos
orgânica, procedeu-se com a coleta da amostra sólidos se deu conforme preconiza a ABNT
deformada com o auxílio de enxadão e pá, NBR 6458:2017, utilizando-se para tal o
colocando a mesma em um saco devidamente picnômetro de 1000 cm³. Verificada a
lacrado, a fim de evitar a perca da umidade inexistência da curva de calibração do
natural do solo. Ressalta-se que apesar do solo picnômetro a ser empregado no ensaio,
em questão sofrer rigoroso intemperismo, procedeu-se inicialmente com sua calibração e
considerou-se que a amostra recolhida determinação da mesma. Uma vez determinada
representa bem o solo sobre o qual a maioria das a curva de calibração e de posse da amostra

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previamente submersa em água destilada,
realizou-se o ensaio repetindo-se as pesagens do A determinação dos limites de liquidez (LL)
conjunto (Figura 3) para 5 temperaturas e plasticidade (LP) do solo foi realizada
diferentes, a fim de obter o valor da massa conforme a ABNT NBR 6459: 2016 e ABNT
específica dos sólidos a 20 °C. Ressalta-se que a NBR 7180:2016, respectivamente. Utilizaram-se
pressão de vácuo empregada, bem como seu 100 g da amostra do solo preparada conforme a
tempo de aplicação seguiram rigorosamente a ABNT NBR 6457: 2016 para cada ensaio.
norma. Ressalta-se que os períodos mínimos de
homogeneização da amostra exigidos pela
norma foram atendidos. (Figura 5)

Figura 3. Pesagem do conjunto picnômetro/água/solo.

O ensaio de análise granulométrica conjunta Figura 5. Homogeneização das amostras para ensaios de
LL e LP.
foi realizado de acordo com a ABNT NBR 7181:
2016. Conforme a norma, realizou-se tanto o
O ensaio de compactação foi realizado
ensaio de peneiramento quanto o de
conforme a ABNT NBR 7182: 2016, utilizando-
sedimentação (Figura 4), para o qual o
se o cilindro pequeno e energia normal.
defloculante empregado foi a solução de
Inicialmente adicionou-se água até atingir o teor
hexametafosfato de sódio.
de umidade de 20% – 5% abaixo da umidade
ótima presumível – então procedeu-se com a
realização do ensaio, repetindo-se o mesmo por
quatro vezes com incrementos de umidade de
2%, totalizando cinco pontos. Ressalta-se que o
ensaio foi realizado com reuso do material.

4 RESULTADOS

Ao obter os resultados da análise granulométrica


percebe-se que, de acordo com o Sistema
Unificado de Classificação dos Solos
apresentado por Das (2014), o solo classifica-se
como uma argila pouco plástica (CL) tendo
aproximadamente 6% de areia média em sua
composição e 80% de finos (Tabela 1). Este
material teve sua curva granulométrica (Figura
6), índices físicos (Tabela 2) e curva de
compactação (Figura 7) determinados no
Laboratório de Mecânica dos Solos do IFG –
Figura 4. Ensaio de sedimentação.
Câmpus Formosa.

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Tabela 1. Distribuição Granulométrica. 5 CONCLUSÃO
Diâmetro % Passante
(mm)
Sabendo-se da grande variabilidade dos solos do
4,800 100,00 país, além dos diferentes comportamentos que
2,000 92,17 podem estes apresentar perante as situações das
1,200 90,47 quais são submetidos ao longo do tempo, torna-
0,600 87,76 se evidente a necessidade de se conhecer o
0,420 86,20 comportamento do solo de implantação de obras
0,300 83,95 de engenharia civil ainda na fase de pré-projeto,
0,150 81,98 tornando possível detectar e sanar eventuais
0,075 79,90 incompatibilidades entre as exigências do
0,068 76,74 projeto e as características do solo ainda em fase
0,009 65,28 de planejamento. Portanto, é indicado que se
0,002 51,54 conheçam parâmetros básicos como: tipo de
solo, granulometria, limites de liquidez e
plasticidade, além do teor de umidade ótimo para
o caso de obras rodoviárias.
100,00
Verificada a carência de obras de
infraestrutura no município de Planaltina-GO,
Percentual que Passa

80,00
assim como de trabalhos referentes à
60,00 caracterização do solo do mesmo, realizou-se tal
caracterização neste trabalho. Ressalta-se que,
40,00 apesar de não representar o foco deste trabalho,
é inegável a importância dos parâmetros
20,00
fornecidos pelos ensaios de sondagem realizados
0,00 em campo, como é o caso do SPT (Standart
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000 Penetration Test), o ensaio de campo mais
Diâmetro da Partícula (mm) difundido no Brasil e que fornece parâmetros de
Figura 6. Curva granulométrica. estado e resistência do solo, além do nível do
lençol freático. Todas essas informações serão
importantes na etapa de pré-projeto das obras do
Tabela 2. Resultado dos ensaios de caracterização. município, pois a análise que contempla todos
Massa específica dos sólidos 2,620 g/cm³ esses parâmetros básicos pode não trazer danos
Limite de Liquidez, LL 50% futuros, gerando uma economia de tempo e
Limite de Plasticidade, LP 31%
Índice de Plasticidade, IP 19%
recursos financeiros.

AGRADECIMENTOS
1,55
Massa específica aparente

1,50 Agradecemos ao Laboratório de Mecânica dos


Solos do IFG – Campus Formosa, pelo suporte
seca (g/cm³)

1,45
na realização dos ensaios.
1,40
1,35

1,30 REFERÊNCIAS
19 21 23 25 27 29
Teor de umidade (%) Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
(2016a). NBR 6457: Amostras de Solo – Preparação
Figura 7. Curva de compactação. para ensaios de compactação ensaios de
caracterização. Rio de Janeiro. Brasil. 8 p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



(2017). NBR 6458: Grãos de pedregulho retidos na
peneira de abertura 4,8 mm – Determinação da massa
específica, da massa específica aparente seca e da
absorção de água. Rio de Janeiro. Brasil. 10 p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
(2016b). NBR 6459: Solo – Determinação do limite de
liquidez. Rio de Janeiro. Brasil. 5 p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
(2016c). NBR 7180: Solo – Determinação do limite de
plasticidade. Rio de Janeiro. Brasil. 3 p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
(2016d). NBR 7181: Solo – Análise granulométrica.
Rio de Janeiro. Brasil. 12 p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.
(2016e). NBR 7182: Solo – Ensaio de compactação.
Rio de Janeiro. Brasil. 9 p.
Das, B. M. e Sobhan, K. (2014). Fundamentos de
engenharia geotécnica. Tradução da 8. ed. norte-
americana., Cengage Learning, São Paulo, SP, Brasil,
612 p.
Fiori, A. P. e Carmignani, L. (2009). Fundamentos de
mecânica dos solos e das rochas: aplicações na
estabilidade de taludes. 2. ed., Editora UFPR, Curitiba,
PR, Brasil, 604 p.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
(2010). Cidades: Planaltina, Goiás. Disponível em:
https://cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/go/planaltina/pan
orama. Acesso em: 07 de julho de 2017.
Knappett, J. A. e Craig, R. F. (2016). Craig mecânica dos
solos. 8. ed., LTC, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 419 p.
Pinto, C. S. (2006). Curso Básico de Mecânica dos Solos
em 16 Aulas. 3. ed., Oficina de Textos, São Paulo, SP,
Brasil, 367 p.
Sachetti, A. S.; Rojas, J. W. J. e Heineck, K. S. (2014).
Caracterização Geotécnica dos Solos de Passo Fundo e
Erechim, e Geológica da Rocha de Passo Fundo.
Revista de Engenharia Civil IMED. Passo Fundo, RS,
Brasil.

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Comparação entre Ensaios de Laboratório e de Campo: Vane Test
e Cisalhamento Direto
Giancarlo Andrade Machado
Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, gam2304@gmail.com.

Leilanny Costa Cardoso


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, leilannyccardoso@gmail.com.

Matheus Silva de Oliveira


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, matheus.s.o15@gmail.com.

Ivonne Alejandra Gutierres


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, ivonne.gongora@ucb.br.

RESUMO: Com a busca crescente de melhores resultados e de ensaios geotécnicos, este artigo
apresenta a comparação de dois ensaios de caracterização de solos: cisalhamento direto e Torvane.
O ensaio de cisalhamento direto, é realizado em laboratório, com amostra indeformada ou
compactada dentro de uma caixa bipartida, já o Torvane pode ser feito tanto em laboratório como in
situ com os mesmos tipos de amostras. Neste trabalho, foram executadas simulações em laboratório
dos dois ensaios com o solo laterítico de Brasília em uma amostra de solo compactado em estado
mole. Por fim verificaram-se eficiência de cada ensaio, analisando suas possíveis aplicações.

PALAVRAS-CHAVE: Vane Test, Cisalhamento, Resistência ao Cisalhamento, Torvane

1 INTRODUÇÃO executado, devido as obras terem prazos curtos


e apertados para sua entrega e a exigência de
A resistência ao cisalhamento em um solo é a um padrão de qualidade.
capacidade do solo suportar a uma carga sem a O presente trabalho tem o objetivo de
sua ruptura. Leonards(1962) define a resistência analisar os dados coletados dos ensaios, fazer
ao cisalhamento como a tensão de cisalhamento comparação para verificar a eficiência dos
sobre o plano de ruptura, na ruptura. As ensaios e verificar a acurácia do ensaio de
características da resistência ao cisalhamento do cisalhamento direto e ensaio de palheta.
solo têm diversas utilidades na mecânica dos
solos: fundações, estabilidade de taludes,
empuxo de terra, capacidade de carga, e outras 2 MATERIAIS E MÉTODOS
(PINTO, 2006)
A comparação dos ensaios de laboratório de Os ensaios de comparação à resistência serão
cisalhamento direto e de campo vane test realizados com o solo de argila mole, mas para
(ensaio de palheta), foi proposto por obter uma obter esse solo fez-se uma simulação com o
enorme quantidade de diferentes ensaios solo laterítico presente na Universidade
realizados em campo e em laboratório. Tendo Católica de Brasília.
em vista a uma necessidade de ter uma precisão
maior entre os resultados. Com isso, concluir 2.1 Solo Laterítico
qual deles gasta menor tempo para ser

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O solo foi coletado na Universidade Católica de dependendo da palheta usada, a leitura pode ser
Brasília. Para retirada da amostra a qual se direta. O dispositivo possui três palhetas,
utilizou para a realização dos ensaios, foram listadas a seguir na Tabela 1, cada uma com
descartados os primeiros cem centímetros do oito lâminas posicionadas em ângulo reto. A
solo, devido à grande quantidade de matéria palheta grande possui mais oito lâminas
orgânica presente. Com uma coloração menores adicionais, também pocisionadas em
avermelhada, o solo em questão apresentava ângulo reto assim como mostra a Figura 1.
alta presença de minérios de ferro em sua
composição. Para a realização dos objetivos Tabela 1. Parâmetros das Palhetas do Torvane
deste trabalho, inicialmente foi feita a Palheta Diâmetro (cm)* Multiplicador de
escala
caracterização do solo, determinada pelos Pequena 1,86 2,5
ensaios de: massa específica dos grãos (NBR Média 2,49 1
6508), limite de liquidez (NBR 6459), limite de Grande 4,735 0,2
plasticidade (NBR 7180), compactação para *Os diâmetros tabelados estão corrigidos em
descobrir a umidade ótima (NBR 7182), coesão função dos valores especificados pelos fabricantes.
e ângulo de atrito (ASTM D3080) e a análise
granulométrica (NBR 7181).
A umidade do solo utilizado para a
simulação de um solo mole foi de 37%. Antes
de encontrarmos a umidade ideal para a
realização dos ensaios foram realizadas
simulações com a umidade de 30% que o solo
não atingiu um estado mole e com 40 e 45%
que o solo atingiu um estado de lama.

2.2 Ensaio de Palheta (Torvane)

O ensaio de torvane é utilizado para medição de


resistência não drenada de solos coesivos, cujo
aparelho é constituído por um botão graduado,
Figura 1. Ensaio de Palhetas – Torvane
onde é feita a leitura. É feita uma torção pela
haste com mola, acoplada a um disco com A execução do ensaio consiste na cravação
palhetas, com dimensões variando de acordo da palheta na superfície plana e aplica-se uma
com o tipo do solo e suas condições atuais. A rotação manual não maior que 90° por segundo,
energia elástica acumulada na mola de torção na Figura 2 está demonstrado o equipamento
provoca a ruptura do solo por cisalhamento, e a utilizado. Mede-se então o torque necessário
resistência obtida se drenagem do solo para romper o solo (amolgar). O tipo de palheta
corresponde ao seu valor de coesão. utilizada varia de acordo com o tipo de solo. A
(LAZARIM, 2015) palheta pequena é usada para argilas mais
O ensaio de palheta escolhido foi o Torvane rígidas, a palheta média é usada para solos
que fornece um método rápido e eficiente para saturados coesivos não-drenados, que podem
determinar os valores de resistência ao ser um pouco mais maleáveis, e a palheta
cisalhamento de solos coesivos. O controle da grande é utilizada para argilas mais moles e
compactação do solo neste ensaio é feito pelo solos remoldados.
próprio usuário, não havento necessidade de
adensamento. (VIEIRA, 2008) O Torvane pode
ser usado em testes “in loco” ou em laboratório,
em amostras indeformadas com uma supefície
plana e que tenham uma área maior que 2’’ de
diâmetro. Possui um mostrador com escala que
vai de 0 a 1 kgf/cm² x 0,05 kgf/cm² e

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adensado drenado, contemplado três tensões
normais: 10 Kpa, 20 Kpa e 40 Kpa.
Cada corpo de prova permaneceu adensando
na própria máquina de cisalhamento por 1 hora
interrupta, contudo no ato de cisalha, utilizou-se
velocidade constante de 0,02 mm/mim. Na
figura 4, é mostrada a máquina de cisalhamento
usado para os ensaios.

Figura 2. Equipamento Torvane utilizado

Antes de aplicar a rotação deve-se ter certeza


que o marcador está alinhado com a marca zero,
e o tempo de rotação até o rompimento deve
estar em um intervalo de 5 a 10 segundos, para
melhorar a precisão do ensaio que pode ser Figura 4. Ensaio de Cisalhamento Direto
comprometido pela acomodação do solo, Figura
3. Já a Figura 5 ilustra-se a caixa repartidora e
os equipamentos adjacentes e necessários para
realização do ensaio de cisamento.

Figura 5. Acessórios do ensaio de cisalhamento

1 – Célula bipartida ou caixa de cisalhamento;


2 – Fundo metálico removível;
3 e 5 – Pedras porosas;
4 e 6 – Placa metálica perfurada com canais;
7 – Tampa de compressão da carga normal com
esfera de aço;
8 – Vazador (5,00 x 5,00 x 2,00 cm) contendo a
amostra;
Figura 3. Rotação no Torvane 9 e 10 – Cápsulas contendo amostras de solo;
11 – Martelo de madeira;
2.3 Ensaio de Cisalhamento Direto 12 - Tarugo de madeira;

Foram feitos ensaios de cisalhamento para A amostra utilizada para realizar o ensaio,
avaliar os parâmetros de resistência do solo foi talhada a partir da compactação na umidade
argiloso. A amostra constituída em sua ótima para energia intermediária. Com o auxílio
totalidade de solo. Este ensaio foi feito de modo de um estilete, começa a se talhar a amostra do

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corpo de prova compactada. Com as dimensões 1 0,725 0,145 14,2196
de 5 cm de largura e comprimento por 2 cm de 2 0,840 0,168 16,47517
3 0,700 0,14 13,72931
altura.
A média da resistência da Palheta 0,2 do
3 RESULTADOS E DISCURÇÕES ensaio de Vane Test é 14,8 kPa, com uma
variância de 1,4297 kPa e um desvio padrão de
3.1 Caracterização do Solo 1,1957 kPa.

A Tabela 2 apresenta as principais 3.3 Cisalhamento Direto


características do solo utilizado nos ensaios.
Após a realização do ensaio de cisalhamento
Tabela 2. Características do Solo Laterítico de Brasília. direto não drenado, se traçou a envoltória de
Parâmetros analisados Resultados morh coulumb, que possui uma confiabilidade
Massa específica dos grãos (g/cm3) 2.61 de 99,11%. A Tabela 4 mostra os resultados
Limite de Liquidez (%) 48 obtidos com o ensaio de cisalhamento
Limite de Plasticidade (%) 31
Umidade Ótima (%) 27 Tabela 4. Resultados do Cisalhamento Direto.
Coesão (KPa) 45,62
Carga 1 2 3
Ângulo de Atrito (°) 26
ıN (kPa) 10 20 40
IJmax (kPa) 4,28 5,05 6,13
De acordo com a classificação de SUCS, o Coesão (kPa) 3,74
solo foi classificado como um silte de baixa Ângulo de
3,47
compressibilidade (ML). Atrito (º)
Já na Figura 6 pode-se notar o gráfico da
curva granulométrica deste solo, a qual é bem De acordo com a tabela 4, e aplicando-se a
distribuida. equação:

100,00 ߬ ൌ ܿ ൅ ߪ ‫݃ܶ כ‬ሺ߮ሻ (1)


95,00
Com os parâmetros c = coesão, ij = ângulo
90,00
de atrito (grau), ı = tensão normal aplicando-se
% que passa

85,00 no ponto 3, consegue-se a tensão de 17,35 kPa.


80,00 Resultado sendo muito satisfatório tendo em
75,00 vista a pequena tensão aplicada inicialmente.
70,00

65,00
4 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÃO
60,00
0,001 0,010 0,100 1,000 10,000 100,000
Discorrendo sobre a comparação dos ensaios de
Diâmetro das partículas (mm) cisalhamento direto e vane test, pode-se notar
Figura 6. Curva granulométrica do Solo. que o ensaio de campo, vane test, tem uma
imprecisão maior, tendo como o ensaio de
3.2 Vane test cisalhamento direto uma precisão de 99,11%.
Fazendo uma comparação mais precisa, o
O ensaio de Torvane foi realizado com a ensaio de torvane teve uma precisão de 85,3%
palheta grande (palheta 0,2) pelas em relação ao resultado do ensaio de
características do solo, e os resultados podem cisalhamento direto. Obteve-se resultados muito
ser encontrados na Tabela 3 a seguir. próximos, levando em consideração uma média
de valores obtidos no vane test, tem-se o valor
Tabela 3. Resultados Torvane (Palheta 0,2).
Posição Valor lido Resultado Valor
de 14,8 Kpa de resistência e de 17,35 kpa para o
(kgf/cm²) x 0,2 Final cisalhamento.
(kgf/cm²) (kPa)

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Relacionando os ensaios de acordo com suas Físicos do Solo Franco Arenoso e Argiloso sob
vantagens e desvantagens. O ensaio de Condições Diferenciadas de Manejo – Rio de Janeiro
cisalhamento direto se mostrou mais preciso
que o ensaio de torvane, sendo então o mais
recomendado para aplicações que necessitem de
uma maior exatidão. Em contraponto, o ensaio
de torvane se apresentou mais prático e rápido,
além de não necessitar de mão de obra
especializada, ao contrário do ensaio de
cisalhamento direto. Por ser um ensaio que
pode ser realizado tanto em laboratório como
“in situ”, o torvane acaba se tornando uma
alternativa muito mais barata e versátil.
Ambos os ensaios são eficazes quanto aos
seus resultados, e suas respectivas diferenças se
mostraram bastante claras. A utilização do
torvane não fica então debilitada pela baixa
precisão, podendo ser aplicado tanto para
levantamentos quanto para dimensionamentos
mais simplificados.

REFERÊNCIAS

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND


MATERIALS. ASTM D3080 – Standard Test Method
for Direct Shear Test of Soils Underconsolodated
Drained. Estados Unidos, 1998.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6459: solo – determinação do
limite de liquidez. Rio de Janeiro, 1984.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6508: Grãos de solos que passam
na peneira de 4,8mm – Determinação da massa
específica. Rio de Janeiro, 1984.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 7180: Determinação do Limite de
Plasticidade. Rio de Janeiro, 1984.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 7181: solo – análise
granulométrica. Rio de Janeiro, 1984.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 7182: solo – ensaio de
compactação. Rio de Janeiro, 1986.
Das, Braja M. (2012). Fundamentos de Engenharia
Geotécnica. Tradução da 7ª. Edição NorteAmericana.
São Paulo, SP, Brasil: CENGAGE Learning, 632 p.
Lazarim, T.P.(2015) Espalhamento de Rejeitos em
Cenários de Ruptura de Barragens - Simulações em
Modelo Reduzido e Proposta de Método para
Avaliação de Área Atingida. Curitiba, UFPR.
Leonards, G. A. et al. (1962) Foundation Engineering.
London: McGraw-Hill.
Pinto, C.S. (2006). Curso Básico de Mecânica dos Solos.
3ª. Edição, 2ª Reimpressão. São Paulo, SP, Brasil:
oficina de Textos, 356 p.
Vieira D. A. et al. (2008) Comportamento de Atributos

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Comportamento de Dois Cascalhos Lateríticos Após Compactações
Sucessivas
Yokozawa, S. Y.
UnB, Brasília, Brasil, yumi.yokozawa@hotmail.com

Fernandes, P. C.
UnB, Brasília, Brasil, paulocostaf@gmail.com

Camapum de Carvalho, J.
UnB, Brasília, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

Oliveira, R. B.
Furnas, Goiânia, Brasil, renatoba@furnas.com.br

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo analisar como os solos lateríticos se comportam
peculiarmente quando comparados com os solos não tropicais. A análise foi realizada através de
ensaios de compactações sucessivas com reuso do material, para identificar a fadiga estrutural do solo
depois de uma determinada quantidade de energia. Para compor este documento foram realizados
estudos para verificar internamente a amostra e como aconteceu esta fadiga. Esses estudos foram
realizados por meio de análises granulométricas, análises mineralógicas e microestruturas. Percebeu-
se através de ISC, que o material mais intemperizado sofreu fadiga estrutural e perdeu capacidade de
suporte a partir de uma determinada energia, pois os agregados cimentados que davam resistência ao
material foram destruídos e transformados em partículas menores que dão menos resistência ao
material no ensaio ISC. Foi possível concluir também que o material menos intemperizado não
chegou a entrar em fadiga estrutural, apresentando um comportamento mais semelhante a materiais
não tropicais.

PALAVRAS-CHAVE: Comportamento, Solo Laterítico, Compactação, Mineralogia.

1 INTRODUÇÃO laterítico fino rico em agregações identificaram


por meio do uso de defloculante, que com a
Este trabalho tem como objetivo verificar o desagregação dos microagregados lateríticos o
comportamento peculiar de dois solos lateríticos, solo aumentou o peso específico aparente seco e
através de amostras que foram submetidas a diminuiu a capacidade de suporte avaliada por
compactações sucessivas. meio de ensaios de Índice de Suporte Califórnia
Materiais não tropicais geralmente aumentam –ISC.
a capacidade de suporte conforme a energia de O emprego de energia além da capacidade
compactação aumenta. No entanto, segundo admissível do solo pode destruir os agregados
Camapum de Carvalho et al. (1996), os nele presentes. Essa alteração textural pode
cascalhos lateríticos são constituídos por acarretar redução no ISC. Para avaliar esse
concreções lateríticas resultantes da cimentação aspecto foram realizados ensaios de
por óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio, que granulometria, compactação com e sem reuso do
pode ser destruída com uma determinada energia solo seguidos de ensaios ISC na condição de
de compactação. compactação, ou seja, sem imersão em água.
Guimarães et al. (1997) ao estudarem um solo Adicionalmente, as amostras foram

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analisadas mineralogicamente por Difração de A amostra compactada no Proctor
Raios X (DRX), verificando o grau de Intermediário, foi em seguida submetida ao
intemperismo do material, e observadas no ensaio de ISC e desmoldada. A seguir, o material
Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) foi novamente submetido a esta rotina mais três
para analisar microestruturalmente como que vezes, totalizando, cada amostra quatro
estes materiais se comportaram frente à compactações sucessivas.
compactação. Após as compactações sucessivas, a umidade
do material foi novamente determinada de modo
2 MATERIAIS E MÉTODOS a verificar se houve perda significativa de água
no solo durante o processo das compactações
2.1 Materiais analisados sucessivas.

Foram extraídos materiais de duas 2.4 Ensaios granulométricos


cascalheiras que fornecem material para
construção de estruturas de pavimento em obras Foram determinadas curvas granulométricas
do Distrito Federal e entorno. por peneiramento (Norma DNER-ME 080/94)
A primeira cascalheira (amostra 1) fica para o material amostra natural antes da primeira
localizada na Região Administrativa de São compactação, e após as quatro compactações
Sebastião – DF e a amostra foi coletada nas sucessivas com reuso de modo a perceber a
coordenadas (15°57'3.60"S, 47°41'49.20"O, mudança na sua granulometria.
datum WGS84).
De acordo com os ensaios de caracterização 2.4 Análise mineralógica
realizados anteriormente o material está
classificado como A-2-4 de acordo com a A análise mineralógica do material foi
classificação TRB. efetuada por Difratometria de Raios X (DRX)
Já a segunda cascalheira (amostra 2) está pelo método do pó. Com agradecimento a Furnas
localizada no Novo Gama – GO e também foi Centrais Elétricas S.A. que realizou as análises.
classificada, segundo a classificação TRB, como Estas análises foram realizadas em
A-2-4. O material foi coletado nas coordenadas equipamento difratômetro de raios X, marca
(16° 2'43.00"S, 48° 6'54.20"O, datum WGS84). Siemens, modelo D5000 com os seguintes
parâmetros instrumentais: anodo tubo de
2.2 Ensaios de compactação Cobalto (Co), potência de 40kV e 30mA,
varredura de 0,02°/s. A partir dos dados
Inicialmente realizou-se a determinação da coletados, as interpretações dos difratogramas
umidade hidroscópica, segundo a Norma DNER- foram executadas em software de análises EVA
ME 080/94. e banco de dados ICDD.
Posteriormente foram realizados ensaios de
compactação das amostras de solo sem o reuso 2.5 Microscópio Eletrônico de Varredura
do material, conforme a Norma DNIT 164/2013-
ME em energia de compactação de Proctor Foram realizadas análises microscópicas das
Intermediário, para a determinação da umidade amostras, submetidas a alto vácuo com
ótima e peso específico aparente seco máximo. ampliações de 100, 300, 1000 e 5000 vezes. As
observações microscópicas foram realizadas em
2.3 Ensaios de ISC Furnas Centrais Elétricas S.A. em equipamento
MEV marca TESCAN, modelo XMU
A partir dos resultados de compactação foram
realizados ensaios de ISC. Adotou-se a Norma 3 RESULTADOS
DNIT 172/2016 – ME como balizadora, porém a
penetração do pistão se deu em corpos de prova 3.1 Ensaios de compactação
não saturados moldados na umidade ótima
definida para a amostra sem reuso. Os dados são apresentados na Tabela 1 e as

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Figuras 1 e 2 apresentam as curvas de tendo em vista os diversos fatores que
compactação das amostras. Destaca-se que na influenciam o ensaio. Porém, com os resultados
Tabela 1 foram apresentados todos os resultados apresentados é possível chegar a conclusões
obtidos com as compactações. importantes. Optou-se nesse trabalho por
Esses resultados mostram que, para perdas de analisar globalmente a resistência à penetração
umidade semelhantes, ao longo do reuso, a no ensaio de ISC em lugar de avaliar de modo
amostra 1 apresentou aumento do peso isolado os valores de ISC.
específico aparente seco com o reuso e a amostra
2 diminuição. 90 1ª Compactação
85 2ª Compactação
80
75 3ª Compactação
70
Tabela 1. Resultados do ensaio de compactação – Proctor 65 4ª Compactação
60

Pressão (kg/cm²)
Intermediário. 55
50
Solo Jd (kN/m3) w (%) 45
40
Amostra Amostra Amostra Amostra 35
1 2 1 2
30
25
Sem reuso 17,83 19,20 13,4 14,60 20
15
1º reuso 18,27 19,04 12,8 14,03 10
5
2º reuso 18,69 18,92 12,2 13,46 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
3º reuso 18,87 18,88 11,6 12,90
Penetração (mm)
18,1 Figura 3 Curvas de penetração da amostra 1
17,90
Ȗd (kN/m3)

17,1 13,40 As Figuras 3 e 4 apresentam respectivamente


16,1 para as amostras 1 e 2 os resultados dos ensaios
de ISC obtidos.
15,1
9
10 11 12 13 14 15 16 17 18
70 1ª Compactação
w (%) 65
60 2ª Compactação
Pressão (kg/cm²)

Figura 1 Curva de compactação da amostra 1 55 3ª Compactação


50
45 4ª Compactação
40
19,2 19,20 35
30
Ȗd (kN/m3)

25
14,60 20
18,2 15
10
5
17,2 0
8 9
10 11 12 13 14 15 16 17 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
w (%) Penetração (mm)
Figura 2 Curva de compactação da amostra 2 Figura 4 Curvas de penetração da amostra 2

Após compactações sucessivas o teor de Para a amostra 1 não se observa na Figura 3,


umidade da amostra 1 reduziu de 13,4% para mudança significativa na forma das curvas
11,6%, uma redução de 1,8%. A amostra 2 obtidas nos ensaios de ISC, no entanto, para o
apresentou uma redução de 1,7%, saindo de segundo e terceiro reuso se observa uma
14,6% para 12,9%. Estas reduções embora significativa ampliação na capacidade de suporte
aceitáveis e não significativa, pode interferir na do solo. Observa-se nessa figura que a inflexão
sucção/capilaridade afetando não só a nas curvas tende a ocorrer para o mesmo nível de
compactação como o ISC. A Tabela 1 apresentou penetração do pistão (aproximadamente 5mm), o
os valores de peso específico aparente seco e teor que aponta para semelhança estrutural entre as
de umidade obtidos para os corpos de prova amostras ensaiadas. Camapum de Carvalho et al.
compactados na condição ótima. (1987) mostraram ao analisar curvas de
resistência x deformação axial oriundas de
3.2 Resultados de ISC ensaios de compressão simples realizados sobre
amostras de solo calcário compactadas em
É fato que os ensaios de ISC geralmente diferentes condições que a forma das mesmas
apresentam certa dispersão nos seus resultados, guarda relação direta com a estrutura do solo.

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A maior resistência à penetração que se 100
Amostra 1 sem reuso Amostra 1 com reuso Amostra 2 sem reuso Amostra 2 com reuso

observa para a amostra 1 após o segundo e 90

terceiro reuso pode estar atrelada a maior sucção 80


70
nele atuante devido à ampliação do teor de finos

Passando (%)
60
e diminuição da umidade de compactação 50

somando-se a isso o aumento do peso específico 40


30
aparente seco do solo com seu reuso (Tabela 1). 20
Já para a amostra 2, observa-se na Figura 4 10
0
que o trecho inicial linear da curva obtida para a 0,01 0,1 1 10
Diâmetro das partículas (mm)
amostra sem reuso é bem mais amplo que o
obtido para as amostras com reuso, embora as Figura 5 Curva Granulométrica das Amostra 1 e 2 antes e
depois das compactações sucessivas.
resistências finais não sejam tão distintas. Esses
comportamentos são condizentes com as
A amostra 2 sofreu uma significativa redução
alterações granulométricas sofridas pelo solo
granulométrica nas frações retidas nas peneiras
com o seu reuso. O reuso conduziu o solo ao
de abertura 9,5 mm e 4,8mm, como mostrado na
aumento do teor de finos, mas também a uma
Figura 5, justamente no material classificado
maior uniformidade, interferindo assim na
como pedregulho, o que demonstra que o
distribuição de poros e, portanto, na sucção,
material granular não suportou a energia de
ocorrendo aparentemente uma compensação
compactação aplicada de modo repetido. Essa
entre o efeito do aumento do teor de finos e a
perda na granulometria, de 24% em 9,5mm e
maior uniformidade do tamanho dos grãos. O
42% em 4,8mm pode justificar a queda repentina
aumento no teor de finos certamente contribuiu
no ISC do material.
também para a diminuição no peso especifico
aparente seco com o reuso da amostra (Tabela 1).
3.4 Análise mineralógica
3.3 Análise granulométrica
Os resultados de DRX obtidos para as
É esperado que o material, após sucessivas amostras 1 e 2 estão apresentados na Tabela 2.
compactações, se torne mais fino, pois haverá a Observa-se que os dois solos apresentam
quebra pelo menos de parte de suas concreções. composição qualitativa muito semelhantes. Na
Observando os gráficos constantes na Figura análise semiquantitativa, no entanto, é possível
5 verifica-se que a amostra 1 apresenta textura observar maior quantidade de quartzo e de óxi-
mais fina que a amostra 2. Observa-se ainda que hidróxidos de ferro na amostra 2 e maior teor de
a quebra de grãos não é tão importante na caulinita na amostra 1.
amostra 1 como o é na 2, no entanto, cabe
Tabela 2. Composição mineralógica das amostras 1 e 2.
destaque ao aumento de 8% no seu teor de finos, Mineral Amostra 1 Amostra 2
o que deve impactar ampliando a Anatase 3,2% 2,5%
sucção/capilaridade atuante no solo compactado Gibbsita 6,9% 5,8%
submetido ao ensaio de ISC na condição não Goethita 10,3% 22,4%
saturada. Hematita 14,5% 14,4%
Ilita 3,7% -
A graduação textural na amostra 1 é Caolinita 48,9% 25,3%
preservada, no entanto, na amostra 2 o reuso do Quartzo 8,2% 17,7%
solo reduz essa graduação tornando-o mais Sericita, mica 4,3% 11,9%
uniforme. Essas particularidades texturais
certamente influenciaram nos resultados de ISC A presença de maior quantidade de óxi-
como se verá nas discussões apresentadas no hidróxidos de fero na amostra 2 aponta para um
item 3.5. solo com maior teor de agregados confirmando
assim o material mais granular conforme se
observará nas análises granulométricas. O maior
teor de quartzo e menor teor de argilominerais
(caulinita e ilita) pode estar favorecendo a maior

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desagregação da amostra 2 em consequência da
compactação.

3.5 Microscópio Eletrônico de Varredura

No equipamento de microscopia eletrônica de


varredura foi possível analisar aspectos
microestruturais característicos das duas
amostras.
A Figura 6 obtida para a amostra 1 indica a
presença de poros nos agregados, mas a Figura 7
indica a presença de microagregados
relativamente densos, sendo partículas menos
Figura 8 Amostra 1, aumento 4970 vezes
densas (grãos escuros) agregadas por material
com maior densidade (regiões mais claras)
A Figura 9 mostra a concentração de poros
rompidos em plano bem definido, ou seja, sem
nos agregados da amostra 2 o que contribui para
grande perturbação estrutural do macro
facilitar a quebra no processo de compactação. A
agregado. A maior ampliação mostra na Figura 8
imagem mostrada na Figura 10 indica uma
uma estrutura agregada estável com aspecto
estrutura de agregado porosa e aparentemente
bastante cimentado.
frágil. Essa estrutura de agregado mais porosa
que a da amostra 1 (Figuras 7 e 8) é confirmada
pela imagem mostrada na Figura 11.

Figura 6 Amostra 1, aumento 276 vezes.

Figura 9 Amostra 2, aumento 290 vezes;

Figura 7 Amostra 1, aumento 1060 vezes.

Figura 10 Amostra 2, aumento 1290 vezes.

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formato que nelas se verifica aliada à
significativa quebra de agregados indicada nas
análises granulométricas apontam para uma
piora no comportamento mecânico desse solo
com o seu reuso.
O presente artigo aponta para a necessidade
de se aprofundar os estudos sobre a alteração do
comportamento mecânico dos solos lateríticos
concrecionados quando da sua recompactação.

AGRADECIMENTOS

À Divisão de Apoio Tecnico (DIATEC) da


Figura 11 Amostra 2, aumento 5000 vezes.
Companhia Urbanizadora da Nova Capital do
Essas imagens microestruturais corroboram Brail – Novacap, pelo apoio nas coletas e
com os resultados das análises granulométricas disponibilidade do laboratório de solos.
obtidas assim como com os resultados de ISC. À Gerência de Pesquisa, Serviços e Inovação
Além de analisar o quanto a superfície do Tecnológica (GST.E) de Furnas Centrais
material é porosa é possível observar os seus Elétricas S.A. que nos disponilizou
microporos. Foi identificado que o material da equipamentos e pessoal para fazer as analises,
amostra 2 tinha uma superfície mais trincada, microscopias e mineralógicas.
enquanto a amostra 1 é mais intacta, como
mostrado anteriormente nas imagens. REFERÊNCIAS

Camapum de Carvalho, J., Crispel, J.J., Mieussens, C. &


4 CONCLUSÕES Nardone, A. (1987). Reconstituição de Corpos de
Prova em Laboratório. Reltório de pesquisa LPC
Após a análise granulométrica, variação do No145. INSA-UPS Toulouse, France. 90p.
ISC e análise mineralógica dos materiais que
sofreram compactações sucessivas é possível Camapum de Carvalho, J., Guimarães, R.C., Cardoso,
F.B.F, & Pereira, J.H.F. (1996). Proposta de uma nova
verificar que a amostra 1 apresenta um material metodologia para ensaios de sedimentação. 30a
com menor grau de intemperismo do que o da Reunião Anual de Pavimentação, ABPv, Salvador, Ba,
amostra 2. 2: 520-531.
Esta conclusão se dá pela identificação
mineralógica do material que apontou DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes. DNER-ME 080/94 – Solos – análise
proporcionalmente menor teor de gibsita em granulométrica por peneiramento. Rio de Janeiro,
relação ao teor de caulinita mais ilita na amostra 1994.
1 do que na amostra 2.
Quanto ao comportamento verificado por DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de
meio dos ensaios de ISC realizados sobre as Transportes. DNIT 164/2013 – ME – Solos –
Compactação utilizando amostras não trabalhadas –
amostras com e sem reuso na umidade de Método de Ensaio. Rio de Janeiro, 2013.
compactação, ou seja, na condição não saturada,
a melhoria da resistência verificada para a DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de
amostra 1 após o segundo e terceiro reuso deve Transportes. DNIT 172/2016 – ME – Solos – Solos –
ser visto com cautela. As curvas granulométricas Determinação do Índice de Suporte Califórnia
utilizando amostras não trabalhadas – Método de
apontam para um aumento no teor de finos com ensaio, 2016.
o reuso ocorrendo paralelamente uma redução na
umidade o que pode ter propiciado um aumento Guimarães, R. C.; Camapum de Carvalho, J.; Farias, M.
da sucção que seria responsável pela melhoria M. (1997). Contribuição ao Estudo da Utilização dos
verificada na resistência. Solos Finos em Pavimentação. 1º Simposio
Internacional de Pavimentação de Rodovias de Baixo
Já para amostra 2, apesar da quase Volume de Trafego, Volume 2.
sobreposição das curvas de ISC, a mudança de

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Construção de Permeâmetro de Carga Constante com Materiais
Alternativos de Baixo Custo

Luis Felipe dos Santos Ribeiro


Instituto Federal de Goiás – Campus Formosa, Formosa, Brasil, estudanteluis12@gmail.com

Alexandre Borges Fernandes Camozzi


Instituto Federal de Goiás – Campus Formosa, Formosa, Brasil, Alexandre.camozzi@ifg.edu.br

André Augusto Nóbrega Dantas


Instituto Federal de Goiás – Campus Formosa, Formosa, Brasil, eng.andreaugusto@yahoo.com.br

Leonardo Antônio Spindola dos Santos


Instituto Federal de Goiás – Campus Formosa, Formosa, Brasil, leospindola@hotmail.com

Lucas Silveira Ferreira Silva


Instituto Federal de Goiás – Campus Formosa, Formosa, Brasil, lucass534@gmail.com

Milton Pereira das Neves Filho


Instituto Federal de Goiás – Campus Formosa, Formosa, Brasil, miltonengtec@gmail.com

Pedro Marcelino Junior


Instituto Federal de Goiás – Campus Formosa, Formosa, Brasil, pmjunior39@gmail.com

Rafael Henrique de Matos Silva


Instituto Federal de Goiás – Campus Formosa, Formosa, Brasil, rafael.henriquesilva19@gmail.com

RESUMO: A eficiência demanda soluções criativas para as eventuais crises financeiras que afetam o
orçamento da educação. O estudo de Engenharia quando combinado a teoria com a prática fornece
ao estudante uma grande eficácia no entendimento do conteúdo apresentado em sala de aula.
Entretanto, no ramo das ciências tecnológicas para desenvolver a parte prática é sempre necessário
utilizar equipamentos de laboratório e campo que necessitam de um grande investimento por parte
da Instituição para obtê-los. Desta forma, este artigo apresenta a construção de um permeâmetro
alternativo, de carga constante, com materiais reutilizáveis que são encontrados do nosso dia a dia.
Este dispositivo explica fenômenos referentes às disciplinas de Geotecnia e promovem uma melhor
qualidade no ensino de Engenharia Civil do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de
Goiás, Campus Formosa. O modelo final do dispositivo teve um custo total de cinquenta reais, com
resultados satisfatórios, comprovando assim, que o conhecimento técnico aliado à criatividade é
uma solução bastante satisfatória em tempos difíceis para a pesquisa cientifica no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE: Geotecnia, Equipamentos didáticos, Materiais reutilizáveis, Permeâmetro

1 INTRODUÇÃO civil, os alunos se deparam com diversos


Assim como em qualquer processo conceitos teóricos que são de difícil
educativo, no decorrer do curso de engenharia compreensão sem auxilio de uma visão prática.

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O processo de aprendizagem de engenharia está alcançados.
intimamente relacionado aos recursos didáticos
utilizados pelo corpo docente em aulas 2 MATERIAIS E MÉTODOS
presenciais. Isso leva à busca de diferentes
formas e processos didáticos para que o aluno(a) O permeâmetro de carga constante foi
de engenharia consiga assimilar mais construído no laboratório de Mecânica dos Solos
adequadamente e melhor os conteúdos de cada do Curso de Engenharia Civil, no Instituto
disciplina (BORTOLO e LINHARES 2006). Federal de Goiás - Campus Formosa. O
Para o aprendizado da disciplina de Mecânica equipamento foi construído a partir de materiais
dos Solos, o estudo da influência da água nos reutilizáveis, com prévia pesquisa para que os
solos é um assunto de extrema importância. Com materiais escolhidos satisfizessem o objetivo do
muita frequência, a água ocupa a maior parte ou projeto: baixo custo, resultados satisfatórios e
a totalidade dos vazios do solo. Submetida a um recurso didático eficiente para a melhoria do
diferenças de potenciais, a água se deslocar-se aprendizado.
no seu interior (SOUSA PINTO, 2006). O O permeâmetro foi construído com dois
conhecimento da percolação de água nos solos galões de água mineral de 20 litros, sendo um
possibilita a análise de cálculo das vazões, para reservatório de água e o outro para
análise de recalques, estudo da estabilidade que moldagem e armazenamento do corpo de prova.
está relacionada com as tensões efetivas, enfim, Duas torneiras de filtro para conexão entre os
alguns dos comportamentos que estão ligados galões com espessura diametral de cinco oitavos
aos problemas práticos mais tradicionais quando polegadas. Duas torneiras de pia com meia
se trata de solos. polegada de diâmetro interno funcionando como
Visto isso, buscando tornar o curso de ladrão, sendo que elas foram adaptadas com o
engenharia civil mais didático, são necessários propósito de reduzir a perda de carga. Uma
equipamentos de laboratório. O presente torneira para manter a água no reservatório
trabalho tem como objetivo apresentar o constante, assim tendo um controle de carga e a
desenvolvimento de um dispositivo didático com outra para que pudesse ser feito o cálculo da
uso de materiais de fácil acesso, reutilizáveis e vazão que percola o corpo de prova. Uma
de baixo custo, irá instrumentar a disciplina de mangueira de nível para ligar os dois galões de
Mecânica dos Solos, mais especificamente no meia polegada. Manta geotêxtil Bidim de
estudo da permeabilidade dos solos: o drenagem para proteger, reforçar e separar o
permeâmetro de carga constante. A concepção corpo de prova dos outros materiais.
de se desenvolver um equipamento com
materiais de fácil acesso, reutilizáveis e de baixo 2.1 CONSTRUÇÃO DO EQUIPAMENTO:
custo, está ligada com o objetivo de facilitar a
reprodução do equipamento em outras intuições A seguir uma descrição dos procedimentos
públicas que passam por problemas realizados para a confecção do permeâmetro.
orçamentários devido a grave crise econômica 1) Primeiramente foram confeccionados os
enfrentada pelo Brasil, dificultando assim, a recipientes com o uso de uma segueta e
aquisição de novos equipamentos. de um aparelho de solda. Com a segueta
Para a elaboração do dispositivo, foi feito um foi possível cortar os recipientes de forma
estudo através de referências bibliográficas do que possibilitasse uma maior
funcionamento de um permeâmetro de carga trabalhabilidade dos mesmos. E,
constante para poder chegar a um projeto que posteriormente, com o uso do aparelho de
conciliasse a teoria com os recursos disponíveis. solda foram feitos quatro furos para fixar
Ao concluir a construção do permeâmetro, foram as torneiras, dois para unir os galões, um
realizados testes que proporcionassem a para controle de carga e outro para
comparação com resultados já existentes de aferição de vazão pós percolamento.
outros equipamentos padronizados, buscando
encontrar possíveis erros técnicos e de execução
para aumentar o nível de exatidão dos resultados

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Figura 3: Primeira camada e terceira camada (Brita 1). (Fonte:
Figura 1:Instalação do controlador de carga (Fonte:Própria) Própria)

2) Após feitos os furos foram anexadas as Com o propósito de separar com exatidão as
torneiras e para unir os galões uma três faixas foi utilizado uma manta geotêxtil
mangueira de nível foi utilizada. Cabe
salientar que no galão que armazena o
corpo de prova a torneira foi anexada na
base no eixo do galão de modo que a
percolação ocorresse de baixo para cima.

Figura 4: Manta geotêxtil que separa o corpo de prova das


demais cargas. (Fonte: Própria)

Para este ensaio teste foi utilizada uma


Figura 2: Instalação da torneira que conecta os dois amostra de solo arenoso como componente do
recipientes. (Fonte: Própria) corpo de prova. Este compôs a camada
intermediária, de forma que o mesmo permanece
Feitos os furos, anexadas as torneiras e com suas dimensões constantes e recebesse um
encaixada a mangueira os galões estavam unidos fluxo também constante.
e o permeâmetro estava pronto.

2.2 ENSAIO

Com o equipamento finalizado foi


selecionada a amostra afim de realizar o ensaio
de permeabilidade como teste. A preparação do
corpo de prova prosseguiu dividindo o recipiente
que o armazena em três faixas. As duas faixas
que envolviam o corpo de prova foram
compostas por brita 1, de modo a obter uma
melhor drenagem do fluxo que iria percolar o
corpo de prova e conhecer as dimensões do Figura 5: Confecção do corpo de prova. (Fonte: Própria)
mesmo.
Preenchida a última camada com brita 1 o
corpo de prova estava pronto para ser ensaiado.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Após a construção do Permeâmetro de carga


constante, o equipamento foi testado e calibrado.
Foi utilizado um solo arenoso presente no
Laboratório de Mecânica dos Solos do IFG –
Câmpus Formosa, no qual toda a caracterização
física e os ensaios de permeabilidade conforme a
norma vigente já tinha sido previamente
realizados.
A primeira etapa foi analisar a caracterização
do solo quanto ao ensaio de granulometria,
NBR-7181, de modo a realizar uma comparação
Figura 6: Equipamento pronto em funcionamento. (Fonte: entre os valores do coeficiente de
Própria) permeabilidade para a Lei de Darcy e para a Lei
de Hazen. Cabe salientar que a Lei de Hazen
Com o ensaio finalizado, o grupo retomou os apresenta valores aproximados para o
estudos bibliográficos afim de compreender coeficiente de permeabilidade.
melhor as formas de obtenção do coeficiente de
permeabilidade (k) e a utilização dos parâmetros
obtidos no ensaio. O coeficiente de
permeabilidade indica a velocidade real média
na qual um fluído escoa através dos vazios
presentes nos solos.
Para quantificação do coeficiente de
permeabilidade do solo (k) foi utilizada a
equação constitutiva conhecida como Lei de
Darcy:

 Figura 7: Curva granulométrica do solo estudado. (Fonte:


ܸǤ‫ܮ‬  Própria)
݇ൌ ሺͳሻ
݄Ǥ‫ܣ‬Ǥ‫ݐ‬
 A Obtenção do diâmetro efetivo (D10) do solo
Sendo os termos: foi realizada a partir da curva granulométrica.
V = Volume d’água observado no recipiente Com esse valor foi possível quantificar o
graduado no tempo t (m³); coeficiente k através da Lei de Darcy.
h = Altura da carga hidráulica, constante durante
Tabela 1: Valores de k via Lei de Hazen
o ensaio (m); D10 (mm) k=100(D10)² (m/s)
A = Área da secção do corpo de prova (m²); 0,42 1,764x10^-5
L = Altura do corpo de prova (m);
t = Tempo decorrido para a água percolar no
A obtenção do coeficiente de permeabilidade
volume V (s).
através do permeâmetro confeccionado, ou seja,
Para promover uma comparação de resultados
aplicando a lei de Darcy resultou em:
e analisar se o equipamento estava funcionando
corretamente, o coeficiente de permeabilidade Tabela 2: Valores para obtenção de k via Lei de Darcy
também foi calculado a partir da Lei de Hazen, ȋȀ•Ȍ ͹ǡ͵͸ͺšͳͲെͷ
que fornece um valor aproximado para k –ȋ•Ȍ 22,285
relacionado ao diâmetro efetivo do solo (‫ݐ݂݁݁ܦ‬Ǥ), ȋͿȀ•Ȍ 4,487 x ͳͲെͷ
obtido a partir do ensaio de granulometria: ŠȋȌ 1,21
ŽȋȌ 0,11
݇ൌͳͲͲǤ‫ݐ݂݁݁ܦ‬
ʹ ሺʹ) •ȋ;Ȍ 0,05536
ȋͿȌ 0,001
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de baixo custo. Sendo possível assim, concluir o
Mediante aos resultados obtidos há diferença equipamento com aproximadamente cinquenta
entre os valores de k. reais.

Tabela 3: Valores comparativos de k. REFERÊNCIAS


LeideDarcy LeidaHazen
ȋm/sȌ 7,368 x ͳͲെͷ 1,764xͳͲെͷ ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TECNICAS – ABNT, NBR-7181 – Análise
É possível visualizar de acordo com algumas Granulométrica de Solos, outubro de 1984, Rio de
Janeiro.
bibliografias que o coeficiente ͳͲെͷ obtido no
BORTOLO, K. F.; LINHARES, J. C. Verificação
permeametro alternativo é caracteristico de da necessidade de dispositivos didáticos para o ensino na
areias. graduação em engenharia mecânica. XXXIV - Congresso
Brasileiro de Ensino de Engenharia. Passo Fundo: UPF.
Tabela 4: valores típicos do coeficiente de permeabilidade
2006.
( Pinto,2009) SOUSA PINTO, Carlos. Curso Básico de Mecânica dos
‘Ž‘ ȋȀ•Ȍ Solos e 16 Aulas. 3ª. ed. São Paulo: Oficina de Textos,
2006. 367 p.
”‰‹Žƒ• <ͳͲെͻ
‹Ž–‡• ͳͲെ͸ͳͲെͻ
”‡‹ƒ•ƒ”‰‹Ž‘•ƒ• ͳͲെ͹
”‡‹ƒ•ˆ‹ƒ• ͳͲെͷ
”‡‹ƒ•±†‹ƒ• ͳͲെͶ
”‡‹ƒ•‰”‘••ƒ• ͳͲെ͵

5 CONCLUSÃO

Mediante aos resultados obtidos e ao


aprofundamento nas leis de Darcy e Hazen,
pode-se concluir então que o permeâmetro
alternativo pode ser utilizado com fins didáticos
e em classificações de solos no laboratório da
instituição. Tendo em vista que o mesmo
produz resultados similares aos de um
permeâmetro original.
As disciplinas da área de Geotecnia,
relacionadas ao curso de Engenharia Civil,
necessitam de recursos didáticos para uma
melhor compreensão dos fênomenos estudados.
Este equipamento, será de grande utilidade para
a melhoria do aprendizado das disciplinas no
IFG – Campus Formosa. Contudo, o processo de
confecção do equipamento (Permeâmetro de
Carga Constante), proporcionou, uma maior
experiência relacionada à percolação do solo.
Devido a limitações de verbas para o
investimento em projetos de pesquisa e extensão,
um dos objetivos do projeto, seria construir um
equipamento didático com menor custo possível.
Tal objetivo foi alcançado, foi possível concluir
o permêametro reutilizando alguns materiais
que se encontravam em desuso, e com algumas
peças

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Determinação da Eficiência do Ensaio SPT através de Prova de
Carga Estática sobre Amostrador Padrão
Lucas Dallacosta
Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, lucass_dc@hotmail.com

Maycon André de Almeida


Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, mayconalmeida@creapr.org.br

RESUMO: O ensaio de simples reconhecimento do solo (SPT) é o método mais utilizado no mundo
para determinar parâmetros de resistência do solo usados no dimensionamento de fundações, e devido
ao grande número de fatores que influenciam seus resultados é indispensável a medida de sua
eficiência. O artigo teve como objetivo determinar a eficiência do ensaio SPT através de provas de
carga estática sobre amostrador padrão. Para isso foi usado um sistema constituído por macaco
hidráulico, célula de carga, extensômetros e um sistema de reação com contrapesos de concreto. Os
ensaios foram conduzidos no campo experimental de engenharia da Faculdade Assis Gurgacz (FAG)
em Cascavel/PR. Através das prova de carga realizadas, a eficiência média obtida foi de 44,12% para
três ensaios SPT realizados nas profundidades de 7,60, 7,10 e 6,90 metros.

PALAVRAS-CHAVE: Sondagem SPT; Prova de carga estática; Eficiencia de sondagem SPT.

1 INTRODUÇÃO com a metodologia podem influenciar no


resultado do ensaio. No Brasil a normatização do
O Standart Penetration Test (SPT) é utilizado ensaio de simples reconhecimento do solo (SPT)
para determinação de parâmetros de resistência é feita pela NBR 6484/2001, a qual descreve
in situ do solo para dimensionamento de passo a passo a aparelhagem padronizada e a
fundações. Por ser um método de grande metodologia que deve ser imposta.
simplicidade e robustez se tornou de uso corrente A eficiência de um ensaio SPT é representada
dentro da engenharia geotécnica e pela quantidade da energia imposta no sistema
principalmente da engenharia de fundações, que seja realmente utilizada na cravação do
sendo hoje a ferramenta de investigação do solo amostrador, sendo a transferência dessa energia
mais utilizada no Brasil e no mundo. Esse tipo de caracterizada pelo impacto do martelo sobre a
sondagem normalmente é utilizada quando se composição cabeça-de-bater-hastes-amostrador.
deseja conhecer o tipo do solo, espessura de suas O cálculo da eficiência é de grande importância,
camadas, a localização do nível de água e os uma vez que, os valores do índice de resistência
índices de resistência a penetração do solo. do solo (Nspt) obtidos no ensaio, podem ser
Sendo o SPT um ensaio utilizado em grande diferentes para diferentes eficiências, por ser
escala, de acordo com Cavalcante (2002), a diretamente dependente da quantidade de
comunidade científica da área de geotecnia tem energia transmitida ao sistema. (NEVES, 2004).
mostrado crescentes preocupações em relação ao
seu desempenho, questionando o valor de sua
eficiência. A preocupação relacionada ao
desempenho ocorre pelo fato de ser um trabalho
envolvendo condições de equipamentos,
processos e pessoas que não estando de acordo

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2 REFERENCIAL TEÓRICO oferecido pelo solo, e consiste na aplicação de
esforços estáticos crescentes à composição,
2.1 Ensaio de sondagem SPT registrando os deslocamentos afim de reproduzir
a curva de carga-deslocamento, de modo que
O procedimento da sondagem SPT é feito em através da área da curva pode-se determinar a
várias etapas distintas, sendo o primeiro passo a energia cinética entregue ao sistema e que é
locação dos furos e quantidades, devendo esta usada para determinação da eficiência do ensaio
marcação ser feita com piquete de madeira ou (NEVES, 2004).
outro material e ter a identificação do furo.
Após definidos os pontos para os ensaios 2.2 Energia no Ensaio SPT
inicia-se o processo de furação, que consiste na
abertura do furo no qual será inserido o O índice de resistência Nspt, corresponde a um
amostrador para ensaio. A sondagem é iniciada dado diretamente relacionado a energia contida
com o trado-concha até atingir a profundidade de no golpe do martelo, a qual é transmitida ao
1 m, para as camadas subsequentes é empregado conjunto de hastes e aplicada na cravação do
o trado helicoidal e para profundidades abaixo amostrador. De forma geral, pode-se deduzir que
do nível d’água é utilizado o trepano com quanto menor a energia disponível em cada
circulação de água. Durante as operações de golpe maior será o valor do Nspt, portanto isso
perfuração, caso a parede do fuste se mostre significa que o valor de Nspt é inversamente
instável, é obrigatória a descida do tubo de proporcional a energia efetivamente transmitida
revestimento até onde se fizer necessário sendo à haste. (BELINCANTA e FERRAZ, 2000).
que o tubo deve ficar a uma distância de no O mecanismo de transferência de energia no
mínimo 50 cm do fundo do furo. SPT está associado ao impacto do martelo sobre
O ensaio de penetração é a próxima etapa, a cabeça-de-bater e a consequente onda
sendo determinado o índice de resistência (Nspt) longitudinal de compressão que se propaga tanto
e feita a coleta de amostras para análise, as quais para baixo ao longo da composição de hastes,
devem ser colhidas por meio do amostrador- quanto para cima no próprio martelo. A
padrão a cada metro a partir de 1 m de transferência de energia ocorre no momento em
profundidade. que a energia potencial do martelo, que é
Para determinar o indice de resistencia Nspt, levantado a uma altura de 75 cm e em seguida
o amostrador deve ser conectado a composição solto em queda livre, se transforma em energia
de cravação e colocado no furo até apoiar cinética no momento anterior ao impacto, e
suavemente no fundo, após esse posicionamento posterior a esse se transforma na energia
é colocado a cabeça de bater e utilizando como dinâmica que é transferida ao conjunto de hastes.
referência o tubo de revestimento marca-se com Ao longo deste processo, considerando as
um giz nas hastes três segmentos de 15 cm perdas, pode-se dizer que somente uma parte da
totalizando um trecho de 45 cm. Em seguida energia que foi transmitida às hastes chegou ao
inicia-se o processo de cravação do amostrador- amostrador e foi aplicada na cravação deste.
padrão até completar os 45cm de penetração por A onda da energia do impacto do martelo é
meio de impactos sucessivos do martelo caindo transmitida em forma de impulsos com durações
livremente a uma altura de 75cm, registrando t, de acordo com a Equação 1, onde L é igual ao
separadamente a quantidade de golpes comprimento do martelo e c é a velocidade de
necessárias para cravação de cada segmente de propagação da onda.
15 cm. O índice de resistência (Nspt) é o
ଶǤ௅
resultado da soma da quantidade de golpes para ‫ ݐ‬ൌ (1)

cravação dos últimos 30 cm.
A velocidade do martelo no momento do
2.1 Prova de Carga Estática no SPT impacto, a relação de impedância do martelo e
das hastes, o comprimento da composição e as
A prova de carga estática sobre o amostrador é perdas no impacto são fatores de extrema
usado para obtenção de um valor de resistência influência na intensidade e forma da onda

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longitudinal de compressão. Um esquema do V a energia potencial do sistema; Wnc o trabalho
sistema é apresentado na Figura 1. efetuado por forças não conservativas; į é a
variação em um intervalo de tempo (t1-t2); t1 o
tempo incial do período considerado; t2 o tempo
final do período considerado.
Esta expressão mostra que a energia que se
conserva durante o evento se transforma de um
tipo de energia para outro em um intervalo de
tempo considerado, sendo a energia nominal do
Figura 1. Sistema basico de percussão empregado para SPT transformada em energia potencial de
desmonte de rochas e valido para solos (Cavalcante,2002) deformação (V), energia cinética (T) e trabalho
(W).
No momento do impacto do martelo sobre a A eficiência do ensaio SPT pode ser definida
composição de hastes, eles somente permanecem de acordo com a Equação 4.
em contato até o instante de chegada da onda
ascendente refletida na extremidade da ்ಲ
ߟ௦ ൌ  ܺͳͲͲሺΨሻ (4)

composição, sendo esse tempo caracterizado
pela Equação 2, onde “l” é igual ao comprimento
Em que: ܶ஺ é a energia cinética máxima
do conjunto de hastes e “c” a velocidade de
transmitida ao sistema; Șs é a eficiência
propagação da onda.
calculada através do trabalho do amostrador na
ଶǤ௟ cravação do solo e, U a energia potencial teórica.
‫ ݐ‬ൌ (2) No momento em que o amostrador atinge a

penetração maxima, TA se transforma em
A energia transferida do impacto cessa no energia potencial de deformação (V). Aplicando-
momento em que o martelo perde contato com as se o Princípio de Hamilton ao sistema
hastes, no entanto, pode vir a ter um novo amostrador-solo, verifica-se que V é igual a
impacto com as hastes, tendo a transferência da soma da energia potencial de deformação
energia remanescente do martelo, que elástica com o trabalho das forças resistentes não
dependendo da intensidade pode ou não ter conservativas (W).
influência na cravação do amostrador Desta forma, considerando o evento como
(BELINCANTA, 1985). citado, Aoki & Cintra (2000 apud Neves, 2004)
sugerem que a eficiência (Șs) pode ser calculada
2.3 Eficiência no Ensaio SPT através do trabalho gerado na cravação do
amostrador, pela Equação 5 (NEVES, 2004).
A energia que define o trabalho que é realmente
ௐ೛
entregue ao solo, pode ser devidamente ߟ௦ ൌ  ܺͳͲͲሺΨሻ (5)

caracterizada a partir da utilização do Princípio
de conservação de energia de Hamilton. Onde Șs é a eficiência calculada através do
Este princípio expressa que a variação das trabalho do amostrador na cravação do solo; Wp
energias cinéticas e potenciais, somado ao é o trabalho final gerado pelas forças resistentes
trabalho efetuado pelas forças não conservativas, não conservativas mobilizada ao longo do
compreendido em um instante entre t1 e t2 é igual amostrador durante a sua cravação e U a energia
à zero. A aplicação deste princípio no ensaio SPT potencial teórica.
foi sugerida por Aoki e Cintra (2000 apud Na prova de carga estática, Wp é definido
CAVAVALCANTE, 2002), e teve validação como a área sob a curva carga-deslocamento,
através de prova de carga estática no SPT. Este para um recalque específico.
princípio pode ser descrito pela Equação 3.
௧మ ௧

‫׬‬௧ ߜሺܶ െ ܸሻ݀‫ ݐ‬൅ ‫׬‬௧ ߜሺܹ௡௖ ሻ݀‫ ݐ‬ൌ Ͳ (3) 3 MATERIAIS E MÉTODOS
భ భ

Onde T é a energia cinética total do sistema; Foram realizadas provas de carga estática no

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conjunto amostrador padrão, para três sondagens profundidade.
SPT executadas no Campo Experimental de
Engenharia da FAG (CEEF), localizada em Tabela 2. Características das provas de carga realizadas.
Cascavel/PR, a uma profundidade de 7 metros.

3.1 Caracterização do solo local

A caracterização do solo do CEEF foi realizada A realização dos ensaios começou com a
por Zen (2016). Segundo a autora a classificação aplicação de carga em estágios variados, através
do solo, conforme especificado na NBR 7181/16 do macaco hidráulico, sendo que em cada estágio
e de acordo com a curva granulométrica, é de foi feita a leitura dos deslocamentos, pelos
uma argila silto arenosa. Em relação ao sistema relógios comparadores instalados na primeira
unificado (SUCS), é classificado como um solo haste do ensaio SPT, por meio de uma base
argiloso muito compressível (CH), ao passo que magnética articulada. As leituras de cada estágio
no sistema rodoviário (TRB), foi identificado foram feitas até que o deslocamento entre duas
como A-7-6, correspondendo a uma argila leituras consecutivas fosse menor que 0,5 mm.
siltosa medianamente plástica, classificada como Os deslocamentos registrados foram
regular a mau para utilização como subleito. relacionados com o valor da carga aplicada,
Na Tabela 1, pode-se observar os valores medido por uma célula de carga ligada a um
médios dos principais índices físicos sistema de aquisição de dados. O ensaio foi
determinados para a primeira camada de solo realizado até atingir a penetração em valor igual
identificada do CEEF. ao desejado (valor médio da penetração
dinâmica de um golpe do martelo para cravação
Tabela 1. Índices físicos da primeira camada do CEEF
CAMADA 1 dos 30 cm, em ensaio SPT realizado
VALORES MÉDIOS anteriormente a este). A Figura 2 representa a
1 a 9 metros
W (%) 39 montagem de um dos ensaios.
WL (%) 53
WP (%) 38
IP (%) 15
Argila (%) 70,07
Silte (%) 25,26
Areia (%) 4,67
Massa Específica do Sólidos (kN/m³) 26,69
Muito mole
Consistência
a Média
Peso específico natural (kN/m³) 16,68
Índice de vazios (e) 1,22

3.2 Provas de carga sobre amostrador

Os ensaios foram efetuados em um conjunto de


equipamento de sondagens SPT, dotado de torre Figura 2. Montagem de uma prova de carga estática no
com roldana fixa utilizando corda de sisal, amostrador SPT
operados manualmente para acionamento do
sistema com martelo padronizado de uma massa
de ferro com total de 65 kg. A Tabela 2 apresenta 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS
as características das provas de carga realizadas, RESULTADOS
indicando a profundidade de execução do ensaio
e o valor do índice de penetração Nspt nesta A Tabela 3 exibe o laudo da sondagem
considerado representativo do terreno. O terreno
tem solo composto basicamente por argila
siltosa, com capacidade variando de muito mole
à compacta. Os valores de Nspt apresentados

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neste laudo foram obtidos a cada metro de necessário para cravação do amostrador na
profundidade e correspondem à soma do número profundidade de execução da prova de carga
de golpes para os últimos 30 cm de cravação do estática
amostrador. Os incrementos de carga foram definidos
através da resistencia mobilizada (Rs), que
Tabela 3. Características do solo ensaiado. representa a carga máxima utilizada para
cravação do amostrador no último golpe do
martelo no ensaio dinâmico realizado para essa
prova de carga. A resistencia mobilizada pode
ser determinada pela Equação 7.
ఎೞǤೆǤಿೞ೛೟
Rs § (7)
ଷ଴

Na estimativa da resistência mobilizada (Rs),


foi usada uma eficiência média de 82%, para
diferentes tipos de tripés de sondagem, que
A Figura 3 apresenta as curvas carga- segundo Cavalcante (2002) pode ser considerada
deslocamento das provas de carga estática a eficiência média brasileira.
realizadas. Observa-se que os trechos de A Tabela 4 apresenta os resultados das
descarregamento das curvas são praticamente eficiências medidas através das três provas de
horizontais, sendo assim a parcela de energia carga estática realizadas, sendo que as sondagens
potencial elástica existente neste ensaio de valor foram realizadas todas acima do nível da água e
desprezível para o solo argiloso em questão. em solos argilosos não saturados.

Tabela 4. Resultados obtidos através das provas de carga

Para a primeira prova de carga os incrementos


de carga foram de 0,45kN para cada estágio,
devido a isso pode ter havido uma ruptura mais
rápida do que a esperada.
Já para a terceira prova de carga, com
incrementos de carga menores (0,1 a 0,2kN),
Figura 3. Curva carga-deslocamento das provas de carga
estática sob amostrador padrão
pode-se observar uma curva carga-deslocamento
mais nítida e uma ruptura mais lenta devido ao
O valor do trabalho Wp que representa a comportamento do solo que levou o ensaio a uma
energia necessária para o cálculo da eficiência, carga mais aproximada da Resistência
foi calculado através da área compreendida entre mobilizada (Rs).
a curva carga-deslocamento e uma linha A eficiencia média determinada para os tres
horizontal correspondente à magnitude da ensaios foi de aproximadamente 44%, ou seja,
penetração média do amostrador (Pp). apenas 44% da energia empregada no sistema
Determinado a partir da seguinte Equação 6. chegou até o amostrador padrão. Considerando
isso, é possivel afirmar que os valores de NSPT
Pp =
ଷ଴
(cm) (6) determinados para a presente cota são, na
ேೞ೛೟ realidade, apenas aproximadamente metade dos
obtidos pelo ensaio de resistencia e que projetos
Onde Nspt é o número de golpes do martelo de fundação desenvolvidos utilizando os

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resultados originais, estariam contra a segurança. de ser executado, sendo recomendado para
Analisando os resultados obtidos foi possível realização sempre que possível.
constatar que a maior parte da variação da Com a obtenção da eficiência da sondagem
eficiência do ensaio SPT se dá por desvios no SPT, é de extrema importância a realização de
método de execução do procedimento provas de carga estática sobre estacas no mesmo
normatizado. Durante os ensaios deste trabalho tipo de solo, a fim de verificar a real capacidade
foi possível verificar a influência da de carga de estacas embutidos no solo, para aferir
aparelhagem usada (hastes tortas, corda se a determinação da eficiência do SPT é
desgastada) e a influência humana durante a realmente válida e significativa no
execução (altura da queda do martelo). dimensionamento de estacas.

5 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS

Os resultados experimentais apresentados neste Assossiação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT.


trabalho permitem analisar a variabilidade dos Estacas – Prova de carga estática: NBR 12131. Rio de
Janeiro, 1992.
valores de energia em um ensaio SPT através do
método de prova de carga estática sobre Assossiação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT..
amostrador padrão, sendo possível constatar que Sondagens de simples reconhecimento com SPT –
a maior parte da variação se dá por desvios do Método de ensaio: NBR 6484. Rio de Janeiro, 2001.
método normatizado para o real e se usado os
Aoki, N. Pontos de discussões sobre o tema Energia no
resultados para projetos de fundações podem vir SPT. Cobramseg. Rio de Janeiro: Búzios, p.2211-2213,
a ser elaborados projetos não confiáveis. 2008.
Para as provas de cargas realizadas no Campo
Experimental de Engenharia da FAG foi obtido Belincanta, A. Energia dinâmica no SPT – Resultados de
o valor médio de ruptura de 2,82kN para uma uma investigação teórico – experimental. Dissertação
(Mestrado), Escola Politécnica, Universidade de São
profundidade média de 7 metros de um solo Paulo, São Paulo: São Paulo, 1985.
argiloso laterítico. A eficiência média brasileira
segundo Cavalcante (2002) é de 82% para Belincanta, A.; Ferraz, R. L. Acta Scientiarum 22(5).
diferentes tipos de tripés de sondagem, sendo Contribuição da Universidade Estadual de Maringá
assim, a eficiência média obtida neste trabalho no entendimento da sondagem de simples
reconhecimento com SPT. Paraná: Maringá, p. 1463-
que foi de 44,12% é muito aproximada aos 47% 1482, 2000.
obtido por Neves (2004) em trabalho realizado
com mesma metodologia, comprovando que a Cavalcante, E. H. Investigação teórico – experimental
baixa eficiência se deve principalmente pelas sobre o SPT. Tese (Doutorado), Coordenação dos
falhas envolvendo aparelhagem (hastes tortas, programas de Pós – Graduação de Engenharia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
corda desgastada, martelo sem coxim de Janeiro: Rio de Janeiro, 2002.
madeira) e a influência humana durante a
execução (altura da queda do martelo). Neves, L. F. S. Metodologia para a determinação da
Pode-se concluir com o valor da eficiência eficiência do ensaio SPT através da prova de carga
obtida que muitas vezes os valores de Nspt estática sobre o amostrador padrão. Dissertação
(Mestrado em Geotecnia), Escola de Engenharia de
utilizados para projetos de fundações estão São Carlos, Universidade de São Paulo, São Paulo: São
distantes dos valores reais, no caso dos ensaios Carlos, 2004.
SPT deste trabalho a baixa eficiência faz com
que o índice Nspt obtido seja maior que o real e Pinto, C. S. Curso básico de mecânica dos solos em 16
se usado para projetos de fundações podem ser aulas. 3 ed. São Paulo: Oficina de textos, 2006.
elaborados projetos não confiáveis e contra a Zen, B. A. B. Caracterização Geotécnica do Subsolo do
segurança. Campo Experimental do Centro Acadêmico da FAG
Em geral o método de cálculo de eficiência em Cascavel/PR. Trabalho de Conclusão de Curso
através da prova de carga estática sobre o (Graduação em Engenharia Civil) - Faculdade Assis
amostrador padrão se mostrou um ensaio simples Gurgacz, Cascavel/Pr, 2016.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Determinação dos Parâmetros de Adensamento de Solo Superficial
e Lateritico de Cascavel/PR
Marcos Toni Junior
Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, eng.marcostoni@gmail.com

Maycon André de Almeida


Centro Universitário Assis Gurgacz, Cascavel, Brasil, mayconalmeida@creapr.org.br

RESUMO: Para a implantação de fundações rasas para edificações é necessário o conhecimento de


parametros do solo que refletem seu comportamento quanto a possiveis recalques após o
carregamento. Diante disto, este artigo tem como objetivo apresentar os parâmetros obtidos através
de três ensaios de adensamento realizados com amostras indeformadas de solo superfícial do Campo
Experimental de Engenharia do Centro Universitário FAG, em Cascavel/PR, de acordo com a NBR
12.007/90. Com a realização dos ensaios foi possível determinar o valor médio da tensão de pré-
adensamento de 400 kPa, um índice de compressão de 0,275 e um coeficiente de adensamento de
0,026 cm²/seg.

PALAVRAS-CHAVE: Adensamento, Compressibilidade, Fundações Rasas.

1 INTRODUÇÃO e estudos do solo, destacam-se a pressão de pré-


adensamento (ı’vm), o índice de compressão
Cascavel está situada na região Oeste paranaense (Cc) e o coeficiente de adensamento (Cv).
e região Sul do Brasil e, atualmente, a construção Entende-se por adensamento de solo a
civil tem se destacado na região. Esse fato torna redução dos seus vazios com o tempo, devido à
necessário o estudo e o aperfeiçoamento das saída da água do seu interior, podendo ser
técnicas existentes em engenharia, causado pelo acréscimo de tensão originado por
especialmente na área de fundações, para a novas edificações, pela drenagem do solo, entre
realidade da região. outros (PINTO, 2006).
As cargas das edificações são diretamente O potencial de compressibilidade de um solo
transferidas para o solo, que devem possuir pode ser determinado por vários métodos, sendo
capacidade de carga para resistir aos esforços, que o mais utilizado é o método clássico
sem que ocorram deslocamentos. No entanto, ao desenvolvido por Terzaghi (1943) e conhecido
receberem tensões superficiais impostas pelas no Brasil como ensaio de adensamento
fundações rasas, os solos presentes na região de lateralmente confinado ou ensaio edométrico
estudo acabam sofrendo deformações Desta forma, o principal objetivo do artigo foi
(recalques). determinar a curva e os parâmetros de
De acordo com Pinto (2006), o recalque que adensamento de solo superficial residual e
os solos sofrem, quando submetidos à tensões, laterítico da cidade de Cascavel – PR.
está diretamente relacionado com a
compressibilidade do solo, as condições de
estado em que o solo se encontra, bem como o 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
tipo de solo, também influenciam na
deformabilidade do solo. 2.1 Ensaio de Adensamento
Alguns parâmetros obtidos através de ensaios
de laboratório auxiliam na execução de projetos No entendimento de Pinto (2006), o ensaio de

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adensamento tem por objetivo a determinação Também, a partir das aparas de solo foi
experimental das características do solo que determinado o peso específico real dos grãos de
interessam à determinação dos recalques solo, de acordo com a NBR 6508/84.
provocados pelo adensamento. Sua concepção A caracterização geotécnica do solo do CEEF
corresponde ao estudo de um modelo para a foi realizada por Zen (2016). Segundo a autora a
posterior interpretação do protótipo. classificação do solo, conforme especificado na
Todos os tipos de aparelhos utilizados no NBR 7181/16 e de acordo com a curva
laboratório para a determinação das granulométrica, é de uma argila silto arenosa.
características de adensamento de um solo, Em relação ao sistema unificado (SUCS), é
denominados edômetros, aplicam o princípio classificado como um solo argiloso muito
introduzido por Terzaghi (1943), conhecido compressível (CH), ao passo que no sistema
como princípio da compressão de uma amostra, rodoviário (TRB), foi identificado como A-7-6,
geralmente indeformada, de altura pequena em correspondendo a uma argila siltosa
relação ao diâmetro, confinada lateralmente por medianamente plástica, classificada como
um anel rígido e colocada entre dois discos regular a mau para utilização como subleito.
porosos. Na Tabela 1, pode-se observar os valores
O anel rígido procura reproduzir no médios dos principais índices físicos
laboratório o que ocorre na natureza, onde a determinados para a primeira camada de solo
deformação lateral da massa de solo solicitada identificada do CEEF, que possui
pela obra é impedida pelo restante do maciço aproximadamente 10 metros de espessura.
terroso que a envolve. A carga é aplicada sobre a
pedra porosa superior por meio de um disco Tabela 1. Índices físicos da primeira camada do CEEF
metálico rígido e a compressão é medida com o CAMADA 1
VALORES MÉDIOS
1 a 9 metros
auxílio de um extensômetro (com sensibilidade
W (%) 39
de 0,01 mm). Em geral são aplicados de 8 a 10 LL (%) 53
carregamentos podendo chegar a 2 semanas de LP (%) 38
ensaio. IP (%) 15
Argila (%) 70,07
Silte (%) 25,26
Areia (%) 4,67
3 MATERIAIS E MÉTODOS Massa específica do sólidos (g/cm³) 2,67
Muito mole
Consistência
Os ensaios foram realizados no laboratório de a Média
mecânica dos solos do Centro Universitário da Massa específica natural (g/cm³) 1,67
Faculdade Assis Gurgacz (FAG) em Índice de vazios (e) 1,22
Cascavel/PR.
3.2 Realização do ensaio odométrico
3.1 Coleta de solo e caracterização
Como o solo é considerado um solo mole, foi
As amostras para a realização dos ensaios foram aplicada uma pressão de 2 kPa e, após 5 min do
coletadas por meio de um molde no formato de solo já estabilizado, zerou-se o extensômetro,
um anel com diâmetro de 10 cm e altura de 3 cm. atendendo a NBR 12.007/90. Decorrido esse
No total, foram 3 amostras indeformadas tempo, aplicou-se uma pressão de 10 kPa e,
coletadas em três poços distintos da cota -1,5 m imediatamente após a aplicação da carga, fez-se
do Campo Experimental de Engenharia da FAG a inundação do corpo de prova, atendendo
(CEEF). novamente as especificações da norma. As
Finalmente, em laboratório, foi feita a demais cargas aplicadas foram de 20, 40, 80,
raspagem do solo rente ao topo e base do anel, e 160, 320, 640, 1280 kPa, mantendo-se cada
os restos de solo resultantes da raspagem do pressão pelo período de tempo de 24 horas.
corpo de prova foram acondicionados em 3 Para cada estágio de pressão, fez-se a leitura
cápsulas e levados à estufa para posteriormente do extensômetro da altura do corpo de prova,
determinar o teor de umidade inicial do solo. imediatamente antes do carregamento (tempo

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zero) e, a seguir, nos intervalos de tempo 15s, Tabela 2. Índices físicos das amostras coletadas em campo
30s, 1min, 2min, 4min, 8min, 15min, 30min, Amostras: CP1 CP2 CP3
1hr, 2 hrs, 4 hrs, 8 hrs, 16 hrs e 24 hrs. O esquema Ȗn (kN/m³) 12,1 15,9 15,2
Ȗd (kN/m³) 9,17 10,9 10,2
do ensaio pode ser visto na Figura 1. Teor de umidade (%) 32 46 49
Índice vazios (e) 1,90 1,45 1,62
Porosidade (%) 65 59 61
Peso específico dos
26,7 26,7 26,7
sólidos (kN/m³)

Como pode ser visto na tabela, ocorreram


variações nos índices de vazios das amostras,
que podem ser explicadas devido a leves
compactações ocorridas durante o processo de
coleta e moldagem dos corpos de prova, assim
como erros na determinação dos indices fisicos
iniciais das amostras, como massa especifica
e/ou teor de umidade.
Com o índice de vazios calculado para cada
incremento de carga, foi possível montar a curva
de adensamento (e x log ı) do solo para os três
ensaios. As curvas referentes aos ensaios de
Figura 1. Ensaio de adensamento sendo realizado adensamento estão apresentadas na Figura 2.
Essas curvas foram normalizadas, onde o índice
Completadas as leituras correspondentes ao de vazios final de cada estágio é dividido pelo
máximo carregamento empregado, efetuou-se o índice de vazios inicial, de modo que as curvas
descarregamento do corpo de prova em 3 possuem origem pelo mesmo ponto (ei/eo).
estágios, fazendo-se leituras no extensômetro de
expansão do corpo de prova, devido ao alívio de 1,10
CP1
pressão. 1,05 CP2
Após o término do ensaio, realizou-se a CP3
pesagem do solo e, posteriormente, dividiu-se o 1,00
IndicedeVazios(e)

solo do anel em 3 cápsulas que foram então


0,95
levadas à estufa para se determinar o teor de
umidade final das amostras. 0,90
Para cada amostra indeformada retirada da
cota -1,5m foram realizados os mesmos 0,85
procedimentos, sendo que no total foram feitos 3
0,80
ensaios de adensamento. Após a realização do
ensaio foram determinados os parâmetros de 0,75
adensamento dos corpos de prova.
0,70
10 100 1000 10000
4 APRESENTAÇÃO RESULTADOS Tensãoefetivavertical(ʍ'v)
Figura 2. Curvas de adensamento das 3 amostras
4.1 Curvas de adensamento
A tensão pré-adensamento (ı’vm), que
Os índices físicos foram determinados representa a maior tensão que o solo esteve
imediatamente antes da execução do ensaio, submetido durante sua vida geológica, foi
durante o processo de moldagem dos corpos de determinada graficamente pelo método de
prova (CP), e apresentado na Tabela 2. Casagrande e a média para os três corpos de
prova determinada foi de 460 kPa. Já para o
método de Pacheco e Silva (1970), também

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realizado graficamente, a média determinada foi resultados.
de 453 kPa. A Tabela 4 apresenta uma análise relacionada
Considerando a cota de extração dos corpos aos valores dos índices físicos iniciais
de prova (- 1,50 m), pode-se considerar este solo encontrados nos ensaios.
como pré adensado, com razão de pré-
adensamento inferior a 1. Tabela 4. Resultados estatísticos das amostras 1, 2 e 3
ei w (%) Ȗn (kN/m³)
4.2 Parâmetros de adensamento Média 1,66 42,33 14,40
Desvio Padrão 0,23 9,07 2,02
Coef. Variação (%) 13,72 21,43 14,04
Em cada estágio de carregamento do ensaio
obteve-se a evolução dos recalques em função do Verifica-se que ocorreu uma dispersão
tempo. Essa evolução seguiu a própria teoria do considerável quanto a umidade dos corpos de
adensamento, portanto, a curva obtida é prova, que acabou afetandos os demais índices.
semelhante a todas as curvas de recalque. O A partir dos valores do coeficiente de variação
ajuste desta curva à curva teórica permite (CV) pode-se verificar que entre os resultados
determinar o coeficiente de adensamento, ocorreu alta dispersão, de acordo com Pimentel
aplicando-se o tempo real em que ocorreu um Gomes (1990). Este autor utiliza com referencial
certo recalque e o fator tempo corresponde à de variabilidade valores de CV menores de 10%
respectiva porcentagem de recalque. para amostras de baixa dispersão, entre 10% a
Para a determinação do coeficiente de 20% amostras de média dispersão, entre 20% a
adensamento (Cv) pode-se utilizar os métodos 30% amostras de alta dispersão e acima de 30%
gráficos de Taylor e Casagrande. Tais métodos amostra com muita alta.
apresentam resultados muito próximos, no A variação da umidade acentuada se explica
entanto, há solos em que os resultados não pela incidência de chuvas entre a coleta das
definem convenientemente o trecho retilíneo do amostra 1 e as amostras 2 e 3, o que alterou as
processo de Taylor, enquanto que outros, com condições de campo das amostras.
acentuado adensamento secundário, tornam Eliminando os dados referente a amostra 1 é
difícil a aplicação do processo de Casagrande. possível ter um resultado com baixa dispersão,
Para o trabalho em questão e o solo analisado conforme apresentado na Tabela 5.
deste trabalho, optou-se por utilizar o método de
Taylor (1948). Tabela 5. Resultados estatísticos das amostras 2 e 3
Na Tabela 3 são apresentados os índices de ei w (%) Ȗn (kN/m³)
vazios dos corpos de prova, assim como o índice Média 1,54 47,50 15,55
de compressão (Cc) e o coeficiente de Desvio Padrão 0,12 2,12 0,49
Coef. Variação (%) 7,83 4,47 3,18
adensamento (Cv), obtido pelo método gráfico de
Taylor.
Considerando isso, os valores finais
Tabela 3. Índices físicos das amostras coletadas em campo determinados para os parâmetros de
Amostras: CP1 CP2 CP3 deformabilidade do solo são para o índice de
Cv (cm²/s) 0,032 0,030 0,023 compressão (Cc) de 0,275, para o coeficiente de
Cc 0,30 0,27 0,28 adensamneot (Cv) de 0,026 cm²/s e para a tensão
Índice vazios inicial 1,90 1,45 1,62 de pré adensamento (ı’vm) de 400 kPa.
Índice vazios final 1,58 1,19 1,34
Os resultados obtidos apresentaram valores
próximos aos determinados por Komori et al
4.3 Análise de variabilidade dos parâmetros
(2014), que verificou um coeficiente médio do
obtidos através dos ensaios de adensamento
coeficiente de adensamento de 0,0167 cm²/s e
um índice de compressão médio de 0,65, para o
A partir dos parâmetros de deformablilidade
solo da região de Londrina/PR, visto que o solo
determinados foi realizado uma análise
da região de Cascavel/PR possui características
estatística como média, desvio padrão e
lateríticas e colapsíveis bem semelhantes ao dos
coeficiente de variação (relação entre o desvio
autores.
padrão e média) dos dados, afim de validar os

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5 CONCLUSÕES São Paulo: Oficina de Textos, 2006.

Este artigo apresentou os resultados obtidos a Zen, B. A. B. Caracterização Geotécnica do Subsolo do


Campo Experimental do Centro Acadêmico da FAG
partir de 3 ensaios oedométricos realizados em em Cascavel/PR. Trabalho de Conclusão de Curso
amostras indeformadas de solo superficial, (Graduação em Engenharia Civil) - Faculdade Assis
coletados do campo experimental de engenharia Gurgacz, Cascavel/Pr, 2016.
da FAG em Cascavel/PR. O solo estudado é
classificado, de acordo com Zen (2016), como Taylor, D. Fundaments of soil Mechanics. New York:
John Wiley & Sons, 1948.
uma argila siltosa, laterítica e colapsível,
contendo aproximadamente 90% de particulas
finas e alta porosidade.
O estudo estatístico dos parâmetros de
adensamento determinados a partir dos ensaios
realizados neste artigo, apresentou variabilidade
média, em geral, com valores de coeficientes de
variação abaixo de 10 % e entre 10 % e 20 %,
este último considerando os 3 corpos de prova.
Desconsiderando o corpo de prova 1, que
apresentou características de índices físicos
ligeiramente diferentes das amostras 2 e 3,
obteve-se valores médios finais de índice de
compressão (Cc) de 0,275 e coeficiente de
adensamento (Cv) de 0,026 cm²/s.
É interessante que novos ensaios sejam
realizados de modo a confirmar os resultados
obtidos e melhorar o coeficiente de variação das
amostras, possibilitando assim dados mais
precisos para estimativas de recalques de obras
que venham a utilizar fundações rasas.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 12.007 –


Solo: Ensaio de adensamento unidimensional –
Método de ensaio. Rio de Janeiro, 1990.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6508 –


Solo: Determinação da massa especifica dos grãos.
Rio de Janeiro, 1984.

Komori, E. T; Teixeira, R.S; Branco, C. J. M. C;


Rodriguez, T. T. Variabilidade dos Parâmetros de
Deformabilidade do Solo da Cidade de Londrina/PR.
Anais: XVII Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Solos e Engenharia Geotécnica (Cobramseg). 2014.

Pacheco e Silva, C. S. Shearing Strenght of a soft clay


Depositnear Rio de Janeiro. Geotechnique, v.3, pp.
300-305. 1970.

Pimentel Gomes, F. (1990) Curso de Estatística


Experimental. 12.ed. Piracicaba: Nobel, 467p.

Pinto, C. S. Curso Básico de Mecânica dos Solos. 3 ed.

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Ensaios sísmicos na investigação geotécnica de um perfil de solo
de Bauru-SP
Breno Padovezi Rocha
Escola de Engenharia de São Carlos, Departamento de Geotecnia, São Carlos, Brasil,
brenop@sc.usp.br

Alfredo Lopes Saab


Faculdade de Engenharia de Bauru, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Bauru, Brasil,
alfredo.saab@hotmail.com

Heraldo Luiz Giacheti


Faculdade de Engenharia de Bauru, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Bauru, Brasil,
giacheti@feb.unesp.br

RESUMO: Este artigo apresenta os resultados de ensaios sísmicos crosshole, downhole, dilatômetro
sísmico (SDMT), cone sísmico (SCPT) e SPT sísmico (S-SPT) realizados em um perfil de solo
tropical de Bauru - SP. Resultados similares foram obtidos, demostrando boa concordância nos perfis
de Go versus profundidade determinados pelas diferentes técnicas. Vantagens e desvantagens
referentes a procedimentos de execução e interpretação dessas técnicas são brevemente discutidos.

PALAVRAS-CHAVE: Investigação Geotécnica, Ensaios sísmicos, Módulo de Cisalhamento


Máximo (Go).

1 INTRODUÇÃO tanto para as condições drenadas quanto não


drenadas.
No estudo do comportamento mecânico dos O comportamento elástico do solo pode ser
solos frente às solicitações dinâmicas, os representado pelo módulo de cisalhamento
parâmetros elásticos, especialmente o módulo de máximo (Go) e pelo módulo de Young (Eo) que
cisalhamento máximo (Go), são de extrema segundo a teoria da elasticidade é dado por Eo =
importância. No Brasil, a crescente demanda de 2Go (1 + Ȟ), onde Ȟ = coeficiente de Poisson. Go
projetos geotécnicos na área de dinâmica dos pode ser calculado a partir da determinação da
solos faz com que seja necessário conhecer velocidade de propagação da onda cisalhante
melhor as diferentes técnicas de ensaio, bem (Vs), empregando-se métodos geofísicos de
como a forma de interpretação de seus campo ou de laboratório (Woods, 1978). Em
resultados. níveis de deformações onde é válido assumir
O conhecimento da degradação da rigidez em regime elástico, é possível calcular o valor do
relação a um intervalo de deformações é crítico módulo de cisalhamento máximo (Go) através da
na concepção de projetos de engenharia teoria da elasticidade, pela equação 1,
geotécnica (Clayton, 2011). apresentada a seguir:
Go é o parâmetro de rigidez que se refere ao
estado inicial indeformado do solo e permite a G o = U .Vs
2
(1)
avaliação do comportamento tensão-
deformação-resistência do solo para
onde:
carregamentos estáticos, cíclicos e dinâmicos, Go : módulo de cisalhamento máximo (MPa);

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U : massa espécífica do solo (kg/m³); das ondas sísmicas geradas na superfície e
Vs : velocidade de onda cisalhante (m/s); captadas por um ou mais transdutores sísmicos
posicionados a diferentes profundidades. Na
Este trabalho apresenta e discute os interpretação dos resultados, considera-se que o
procedimentos de execução e interpretação de percurso percorrido entre a fonte e o receptor é
diferentes ensaios sísmicos (crosshole, realizado em trajetória linear.
downhole, cone sísmico, dilatômetro dilatômetro A determinação da velocidade de propagação
sísmico e SPT sísmico). Os ensaios foram da onda cisalhante pode ser realizada por meio
realizados no campo experimental da Unesp de de três métodos: o primeiro tempo de chegada, o
Bauru. Resultados similares de Vs, e cross-over e o cross-correlation. De acordo com
consequentemente Go, foram obtidos por meio Campanella e Stewart (1992), o método cross-
das diferentes técnicas empregadas. correlation supera os demais, pois é menos
afetado por distorções no sinal, conduzindo a
resultados mais consistentes e confiáveis.
2 ENSAIOS SÍSMICOS

2.1 Ensaio crosshole

O ensaio sísmico crosshole, também conhecido


como ensaio sísmico entre furos, é um dos
métodos mais eficazes para a determinação in
situ de Go. Esta técnica tem como principal
objetivo a determinação em profundidade das
velocidades de propagação das ondas de
compressão (P) e/ou cisalhantes (S), sendo
normalizado pela ASTM (2007).
O ensaio consiste na geração de ondas
sísmicas em furos de sondagem e o registro em
um ou mais furos adjacentes. O espaçamento
entre o furo da fonte e o primeiro furo do Figura 1: Representação esquemática do ensaio crosshole
receptor deve ser de 1,5 a 3 m e a distância entre (adaptado de ASTM, 2007).
os furos subsequentes do receptor deve ser de 3
a 6 m de distância (ASTM, 2007). A fonte e os 2.3 Cone Sísmico
transdutores sísmicos (geofones) são
posicionados na mesma cota, e a determinação Em meados dos anos 1980, incorporou-se ao
de Vs é realizada a cada metro. cone elétrico um sistema para aquisição de ondas
Destaca-se o cuidado especial com a abertura sísmicas, que passou a ser conhecido como cone
e preparação desses furos. O procedimento sísmico (SCPT). A velocidade de propagação de
sugerido pela ASTM (2007) consiste em revestí- ondas sísmicas e, consequentemente o módulo
los com tubos metálicos ou de PVC (Policloreto de cisalhamento máximo do solo, podem ser
de Polivinila), solidários ao terreno, por meio da determinadas com rapidez, precisão e elevado
utilização de uma calda de cimento (Figura 1). grau de repetitividade. Além das vantagens de
possibilitar a obtenção de todas as informações
2.2 Ensaio downhole possíveis em um ensaio CPT (qc e fs), o SCPT
pode também ser utilizado a um custo muito
O ensaio downhole (ASTM, 2008) é realizado baixo, quando se emprega a técnica do downhole
em um único furo de sondagem, ao invés de três. (Campanella et al., 1986). O cone sísmico
Esta técnica é realizada cravando-se uma apresenta as mesmas características de um cone
ponteira sísmica no subsolo, evitando assim a padrão diferenciando-se deste, pela inserção de
necessidade de preparação do furo. O ensaio um geofone ou um acelerômetro localizado em
consiste em determinar o tempo de propagação seu interior.

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O emprego da técnica downhole, durante o Nesta determinação, deve-se considerar a Lei de
ensaio SCPT, envolve basicamente três etapas: Snell.
medida do tempo de chegada das ondas S,
determinação da velocidade da onda S (Vs) em
cada profundidade de ensaio e o cálculo do
módulo de cisalhamento máximo (Go) para cada
uma dessas profundidades. Cada uma dessas
etapas possui incertezas e pode levar a erros
acumulativos que devem ser reduzidos. Um
esquema de como é realizado o ensaio downhole,
durante o SCPT, é apresentado na Figura 2.

Figura 3: Representação esquemática do ensaio S-SPT


(adaptado de Pedrini e Giacheti, 2012).

Bang e Kim (2007) descreveram dois


métodos para este cálculo: DTR (tempo de atraso
entre os receptores em série) e DTS (tempo de
atraso entre as fontes seriais). Pedrini (2012)
sugeriu utilizar o método DTS. Neste método,
determina-se o momento exato da chegada da
Figura 2: Representação esquemática do ensaio downhole
com SCPT (adaptado de Karl e Degrande, 2006). onda cisalhante, traçando-se os sinais sísmicos
captados em diferentes profundidades. A Figura
2.4 Ensaio SPT sísmico (S-SPT) 4 mostra um perfil típico desses sinais, captados
pelo geofone posicionado a 10,5 m de distância
O ensaio SPT com sísmica uphole (S-SPT) é um do furo de sondagem, bem como o ponto de
recurso antigo, porém pouco empregado. Este chegada da onda cisalhante.
ensaio é detalhadamente descrito em Bang e Kim Mais detalhes para a interpretação e execução
(2007) e Pedrini (2012). de ensaios S-SPT podem ser encontrados em
O ensaio é realizado a cada profundidade do Bang e Kim (2007) e Pedrini (2012).
ensaio SPT (geralmente a cada metro), onde é
gerada uma onda sísmica, a qual é captada e
aquisicionada em superfície por meio de
transdutores sísmicos (geofones) e sistema de
aquisição de dados. Uma representação
esquemática do ensaio S-SPT é apresentado na
Figura 3.
O equipamento utilizado para a realização do
ensaio S-SPT é o mesmo empregado na
realização de ensaios SPT convencionais. As
ondas sísmicas são geradas pelo golpe de um
martelo de mão de 2 kg na cabeça de bater do
ensaio SPT.
Para a determinação do perfil de Vs, é
necessário determinar a trajetória de propagação
da onda pelo maciço de solo, pois os transdutores
sísmicos estão longe do furo de sondagem, bem Figura 4: Sinais sísmicos e identificação da chegada da
como o tempo de chegada das ondas cisalhantes. onda cisalhante (Pedrini e Giacheti, 2012).

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2.5 Dilatômetro sísmico (SDMT) experimental da Unesp de Bauru, localizado na
cidade de Bauru (SP). Ensaios de campo,
O ensaio de dilatômetro de Marchetti (DMT) incluindo ensaios SPT (Sondagem de Simples
consiste em se cravar a lâmina do DMT Reconhecimento com SPT), CPT (Ensaio de
utilizando-se preferencialmente um sistema Cone), DMT (Ensaios Dilatométricos) e PMT
hidráulico e uma estrutura de reação. A lâmina (Pressiômetro de Ménard) foram anteriormente
penetra verticalmente no interior da massa de realizados neste local. Além disso, amostras
solo a velocidade constante (2 a 4 cm/s) e a cada deformadas e indeformadas foram retiradas de
20 cm interrompe-se a cravação, e aplica-se poços de inspeção para realização de ensaios de
pressão de gás através da unidade de controle, caracterização em laboratório.
inflando a membrana, por meio de uma Este perfil de solo consiste em uma areia fina,
mangueira que passa pelo interior do pouco argilosa, marrom avermelhada, não
hasteamento utilizado na cravação da lâmina no saturada, com comportamento laterítico até 13 m
terreno. Deteminam-se as pressões necessárias de profundadidade, e classificada como SM-SC
para que a membrana perca o contato com o pela SUCS (Giacheti et al., 1998).
equipamento sensível (po) e a pressão necessária Sete ensaios sísmicos, sendo um crosshole
para que a membrana se desloque 1,1 mm (p1) (CH 1), dois downholes (DH 1 e DH 2), um cone
(Marchetti, 1980). A partir dessas leituras, sísmico (SCPT 1), um SPT sísmico (S-SPT 1) e
calcula-se os parâmetros intermediários (ID, KD e dois dilatômetros sísmicos (SDMT 1 e SDMT 2)
ED) utilizados na classificação e estimativa de foram realizados neste campo experimental. O
parâmetros geotécnicos através do ensaio DMT. ensaio crosshole foi realizado até 14 m de
O dilatômetro sísmico (SDMT) é uma profundidade, enquanto os outros ensaios foram
combinação do dilatômetro de Marchetti (DMT) realizados até 20 m de profundidade. Na Figura
com um módulo sísmico para a determinação da 6 tem-se a localização dos ensaios sísmicos
velocidade de propagação de ondas (Vp e Vs) existentes.
(Marchetti et al., 2008). O ensaio é
conceitualmente semelhante ao ensaio de cone
sísmico (SCPT).
A Figura 5.a ilustra o módulo sísmico que
consiste em um elemento cilíndrico instalado
acima da lâmina do DMT, equipado com dois
geofones espaçados 0,5 m. Na Figura 5.b tem-se
a representação esquemática do ensaio SDMT e
a Figura 5.c o equipamento para a realização do Figura 6: Localização dos ensaios sísmicos realizados no
ensaio dilatométrico sísmico. campo experimental da Unesp de Bauru

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Figura 7 apresenta os resultados dos ensaios


sísmicos realizados no campo experimental da
Unesp de Bauru, demonstrando os valores de Vs,
e consequentemente de Go, em função da
profundidade.
a) b) c) O perfil típico do local, definido a partir do
Figura 5: Lâmina DMT e módulo sísmico (a); Execução ensaio S-SPT, é apresentado na Figura 7.a.
do ensaio (b); Equipamento SDMT (Marchetti et al., 2008) Figura 7.b. apresenta os valores de NSPT ao longo
da profundidade. Os valores de NSPT aumentam
quase linearmente até 10 m de profundidade. Os
3 PERFIL DE SOLO ESTUDADO
perfis de Vs determinados segundo as diferentes
técnicas estão representados na Figura 7.c,
O perfil de solo estudado encontra-se no campo

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enquanto os perfis de Go, apresentados na Figura Inúmeros são os ensaios sísmicos (crosshole,
7.d, foram calculados com base nesses valores de downhole, SCPT, S-SPT e SDMT) que
Vs e nos valores de massa específica natural do possibilitam a determinação de Vs e Go.
solo, determinados a partir de amostras Resultados de ensaios sísmicos realizados no
indeformadas coletadas de poços exploratórios campo experimental da Unesp de Bauru
(ABNT, 1986). mostram que os valores de Vs e Go determinados
Verifica-se uma boa concordância entre os pelas diferentes técnicas apresentaram boa
perfis de Vs e Go obtidos pelos diferentes ensaios concordância, demonstrando que qualquer uma
sísmicos. dessas técnicas podem ser empregadas para a
determinação do perfil de Vs e
Perfil N SPT Vs (m/s) Go (MPa)
(SPT) 0 10 20 30 40 0 150 300 450 600 0 125 250 375 500
consequentemente de Go.
0
3 O ensaio crosshole é um dos métodos mais
2 3
3/32 eficazes para determinação in situ do perfil de
4 Areia
3/33
6/27 Go, entretanto seu custo mais elevado pode
Fina
4/33
6 Pouco
Argilosa 11 dificultar sua execução em alguns projetos
Profundidade (m)

8
Marron
Avermelhado
12
11
geotécnicos. Neste sentido, os ensaios de cone
10
16
17
sísmico (SCPT), SPT sísmico (S-SPT) e o
SM - SC

12
15
15
dilatômetro sísmico (SDMT) são técnicas
LA'

14
NA' 11
14
interessantes na investigação do subsolo, uma
17
15
vez que permitem obter os perfis de Vs e Go, bem
16
25
30
como as medidas de qc, fs, NSPT, po e p1,
18 18
a)
a) 17 b) c) d)
respectivamente, permitindo uma melhor
b) c) d)
20
NA não encontrado até
a profundidade de 30m
CH1
caracterização geotécnica do subsolo.
DH1
DH2
SCPT1
S-SPT1
SDMT1
SDMT2
AGRADECIMENTOS
Figura 7: Resultados dos ensaios sísmicos realizados no
campo experimental da Unesp de Bauru Os autores agradecem a Fundação de Pesquisa
do Estado de São Paulo – FAPESP (Projeto
Observa-se um progressivo aumento dos 2015/16270-0 e 2010/50650-3), o Conselho
valores de Vs e Go até aproximadamente 12 m, Nacional de Desenvolvimento Científico e
seguido de uma tendência de estabilização, após Tecnológico – CNPq (Projeto 2015/308895 e
esta profundidade. 2012/310867) e a Coordenação de
Os ensaios SCPT, S-SPT e SDMT se mostram Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
ferramentas interessantes na determinação do CAPES, pelo apoio ao desenvolvimento de suas
perfil de Vs e, consequentemente de Go. Além pesquisas.
disso, apresentam menor custo, quando
comparados aos ensaios crosshole, pois, neste
ensaio, é necessário a preparação dos furos de REFERÊNCIAS
sondagem, como citado anteriormente (Ku et al.,
2013). ABNT NBR 9604 (1986). Abertura de poço e trincheira de
inspeção em solo, com retirada de amostras
deformadas e indeformadas – Procedimentos, 9 p.
ASTM-D4428 (2007). Standard test method for Crosshole
5 CONCLUSÕES seismic testing, 11p.
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A velocidade de onda cisalhante (Vs), bem como Seismic Testing, 11p.
o módulo de cisalhamento máximo (Go) tem sido Bang, E.S. e Kim, D.S. (2007). Evaluation of shear wave
velocity profile using SPT based up-hole method. Soil
amplamente empregados em problemas Dynamics and Earthquake Engineering. v. 27, p.741–
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Woods, R.D. (1978) Measurement of dynamic soil
properties, Earthquake Engineering and Soil
Dynamics, vol. 1, p.91–178.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Estimativa da Condutividade Hidráulica Usando Ensaios em Furo
de Sondagem
Tiago João Pizoli
Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, tiagopizoli@hotmail.com

Antônio Belincanta
Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, abelincanta@uem.br

Juliana Azoia Lukiantchuki


Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, jazoia@yahoo.com.br

Jeselay Hemetério Cordeiro dos Reis


Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil, jeselay@hotmail.com

RESUMO: A permeabilidade é uma propriedade muito importante para o dimensionamento de


diferentes tipos de obras de engenharia e é quantificada por meio do coeficiente de condutividade
hidráulica. Esse coeficiente pode ser determinado usando ensaios de campo ou em laboratório. Os
ensaios de campo possuem vantagem de conservar as condiçoes de serviço da obra, no entanto, sua
interpretação é feita usando fórmulas cujas condições de contorno que não são bem definidas. Desta
forma, o objetivo desse trabalho foi realizar o estudo da estimativa da condutividade hidráulica
usando furos de sondagem executados a trado manual. Os ensaios foram realizados com carga
constante e variável acima do nível d’água. Os resultados de condutividade hidráulica observados
foram na ordem de 10-4 cm/s. A heterogeneidade da estrutura do solo laterítico e a saturação do solo
são as prováveis condicionantes da variabilidade encontrada.

PALAVRAS-CHAVE: Condutividade Hidráulica, Ensaios de Permeabilidade in situ, Pemeabilidade.

1 INTRODUÇÃO aparente seco, o teor de umidade saturado e não


saturado do solo, o grau de saturação, a
Em obras de drenagem, o principal fenômeno composição química e mineralógica, o fluído
físico a ser estudado é o de percolação que percolante, a densidade e viscosidade deste, e,
consiste na descrição do fluxo de água no interior finalmente, a temperatura.
do maciço de solos. O coeficiente de permeabilidade ou
A propriedade do solo que representa a condutividade hidráulica, pode ser determinado
capacidade do material permitir a passagem usando ensaios de laboratórios ou de campo. Em
pelos seus vazios denomina-se permeabilidade. geral, os ensaios em laboratório apresentam a
A permeabilidade pode ser considerada como vantagem de ter as condições de contorno bem
uma constante a ser obtida pela lei de Darcy. controladas, mas tem como desvantagem a falta
Para Caputo (1996), o grau de permeabilidade de preservação das condições de campo que são
pode ser expresso numericamente pelo afetadas na extração das amostras, transporte e
“coeficiente de permeabilidade”. moldagem do corpo de prova. Por outro lado, os
Fantinatti et al. (2006) aponta que este ensaios de campo conservam as propriedades do
parâmetro depende de fatores como: o índice de solo e as condições naturais de serviço da obra,
vazios, a estrutura do solo, o peso específico embora não possuam condições de contorno bem

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definidas. aproximada de 18 m. O nível d’água do subsolo
Dentre os ensaios de permeabilidade em encontra-se geralmente na profundidade média
campo, destacam-se os realizados em furos de de 16 m.
sondagem, que são largamente utilizados devido Na Tabela 1 são mostrados os resultados de
a sua praticidade. Esses ensaios podem ser feitos ensaios de caracterização física do solo do local
abaixo ou acima do nível d’água, com carga de ensaio à uma profundidade de 1,60 e 3,20
constante e carga variável. metros feitas por Gutierrez (2005).
Segundo a ABGE (2013), um dos fatores
condicionantes em relação à validade desses Tabela 1. Características Físicas do Solo.
ensaios é o regime de escoamento, que deve ser Características Símbolo e Prof. Prof.
Unidade 1,6m 3,2m
permanente para o uso da maioria das
Peso específico Ȗ (kN/m³) 13,47 12,61
formulações. Abaixo do nível d’água esse Peso espec. seco Ȗd(kN/m³) 10,21 9,60
regime é mais rapidamente atingido, já em Umidade natural w (%) 31,9 31,3
ensaios executados acima do nível de água uma Grau de saturação Sr (%) 49,2 43,9
prévia saturação do solo deve ser feita para que Índice de Vazios e 1,970 2,205
o regime de escoamento seja alcançado . Porosidade Ș (%) 66,3 68,8
Um outro fator a se considerar é a dificuldade
de se determinar o tempo necessário para atingir A camada em análise de solo é classificada
a saturação. Um tempo inadequado pode então como argila siltosa, mas essa classificação
ocasionar erros na interpretação dos resultados e, não retrata fielmente a granulometria do
portanto, no valor da condutividade hidráulica. material, que apesar de constituído
Neste contexto, este trabalho mostra uma essencialmente por argila, apresenta um
análise dos métodos de determinação do comportamento de material granular, quanto a
coeficiente de condutividade hidráulica usando condutividade hidráulica.
ensaios de carga constante e variável em furos de Em relação a micromorfologia desse solo,
sondagem executados com trado manual no solo este é constituído principalmente por
não-saturado da cidade de Maringá/PR. microagregados de formas arredondadas e
subarredondadas, cujo arranjo gera uma elevada
porosidade intermicroagregados, altamente
2 MATERIAIS E MÉTODOS comunicante, possuindo alta capacidade de
retenção de água e teor de umidade natural
2.1 Local elevado. Entretanto, esses elevados valores de
umidade não implicam em um alto grau de
Os ensaios de infiltração e coleta das amostras de saturação, devido ao alto índice de vazios
solo foram feitos no Campo Experimental de (GUTIERREZ, 2005).
Fundações da Universidade Estadual de
Maringá. 2.2 Ensaios de Campo
Segundo publicação apresentada por
Belincanta e Gutierrez (2006), o subsolo dessa 2.2.1 Preparação do Furo
área tem sua camada superficial de solo evoluído
(Latossolo Vermelho férrico), de origem O furo onde foram realizados os ensaios foi
proveniente da alteração de basalto, constituída preparado conforme as especificações do
de argila siltosa porosa, de cor marrom boletim técnico da ABGE de 2013.
avermelhado, com espessura aproximada de 9,5 Para os ensaios de infiltração, foram
m. Ainda conforme Belincanta e Gutierrez utilizados os seguintes equipamentos: a) Trado,
(2006), a camada abaixo da camada superficial composto por peças de aço e cobre, de diâmetro
de solo evoluído é constituída de argila siltosa e igual a 2 ½” (63,5 mm) e altura de 2,50 metros;
silte argilo-arenoso, de cor variegada, com b) tubo para o revestimento: de PVC rígido, com
matriz na tonalidade marrom, roxo ou cinza bolsa, diâmetro de 10 cm e altura de 60 cm; c)
amarelado. Abaixo das duas camadas de solo tubo para realização das leituras: de acrílico,
encontra-se a rocha basáltica, na profundidade diâmetro de 10 cm e altura de 100 cm , graduado

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em centímetros; d) tambor graduado em litros do furo.
com capacidade de aproximadamente 200 litros; Acima do furo foi colocado um tubo de
e) provetas com capacidade de 1 e 2 litros; f) acrílico transparente de 10 cm de diâmetro e 100
escarificador de madeira com extremidade com cm de comprimento, este foi encaixado na bolsa
elementos metálicos perfuro-cortantes, e altura do tubo de revestimento e vedado com auxílio da
2,50 metros; g) cola de silicone; h) cronômetro; cola de silicone. Este tubo foi utilizado para obter
i) planilha para anotação dos dados. os dados dos ensaios.
Um esquema do furo usado para a realização
dos ensaios de campo é mostrado na Figura 1 e 2.2.2 Saturação Prévia do Furo
sua preparação é descrita a seguir.
Todos os ensaios foram realizados com
saturação prévia de 1, 2, 3 e 4 horas para futura
análise.
Esses ensaios tomavam em média 25 minutos
para serem concluídos, portanto, esse tempo foi
contado como a saturação do furo para a hora
seguinte já que não era interrompida a inserção
de água no furo.

2.2.3 Ensaio com Carga Constante

Após a saturação da primeira uma hora do furo,


deu-se início ao ensaio com carga constante. A
posição do nível d’água foi mantida na posição
de 2,30 m em relação ao fundo do furo, ou seja,
a 0,30 m acima do nível do solo.
A água foi inserida no furo com o auxílio de
provetas. O nível era verificado visualmente e
era mantido sempre constante. Foram
computados os volumes de água introduzidos no
furo nos tempos de 5, 10, 15 e 20 minutos.
Após o término do primeiro ensaio, esperou-
se a o tempo necessário para completar a
Figura 1. Esquema do Furo Realizado Para os Ensaios de saturação da segunda hora e o ensaio foi
Campo. novamente feito conforme as mesmas
especificações já citadas. Respectivamente foi
Primeiramente, utilizando o trado manual foi feito o mesmo procedimento para a 3ª e 4ª hora.
feito um furo com um diâmetro de 10 cm e uma O cálculo da permeabilidade foi feito a partir
profundidade de 60 cm. Depois foi inserido no da Equação 1 proposta por Zangar (1953) e pela
furo o revestimento de PVC. Após isto, a folga Equação 2 proposta por Soares et al (1996).
entre a camisa e o solo foi preenchida com graute
para vedar evitar a fuga de água. Após a secagem Q 1
do graute o furo foi aumentado até a k=( ) (1)
h Cu ˜ r
profundidade de 2 metros.
As paredes foram escarificadas para retirar
qualquer vedação do solo causada pelo trado. O Q 2L
k=( ) ln (2)
furo foi parcialmente preenchido com material 2S ˜ L ˜ hc D
granular até a altura de no mínimo 10 cm acima
do revestimento. Foi usado uma camada de areia Onde: ݇ é condutividade hidráulica, em cm/s;
lavada, passando na peneira nº 2, em contato Q é a vazão para manter a carga constante, em
com a parede do furo e outra de brita ½ no centro cm3/s; h é a altura do nível d’água mantido em

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relação ao fundo do furo, em cm; ‫ ݎ‬é o raio do 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
furo, em cm; hc é a altura definida como sendo a
altura do nível d’ água até a metade do furo na 3.1 Valores da Condutividade Hidráulica
parte não revestida, em cm; L é comprimento do Obtidos com Ensaio de Carga Constante
furo não revestido, em cm; D é o diâmetro do
furo, em cm; e Cu é coeficiente de condutividade A Tabela 2 mostra os valores de permeabilidade
para meios não saturados dado pela Equação 3. média encontrados nos três dias de ensaio após 4
horas de saturação prévia.
1 r h
= [ sinh -1 ( ) - 1] (3) Tabela 2. Condutividade hidráulica obtidas com ensaio de
Cu 2S ˜ h r carga constante (cm/s).
Fórmulas 1º dia 2º dia 3º dia Média
2.2.4 Ensaio com Carga Variável (1) Zangar
4,41 x10 4,29 x10 4,71x10 4,47 x10-4
-4 -4 -4
(1953)
(2) Soares et
Após o ensaio de carga constante, imediatamente 7,71 x10-4 7,50 x10-4 8,24 x10-4 7,82 x10-4
al (1996)
foi feito o de carga variável. Com o uso das
provetas, foi inserido água no furo até uma altura
Os valores obtidos apresentam a mesma
de 2,80 m em relação ao fundo do furo. Após
grandeza (10-4) e proporção, sendo o resultado da
isto, interrompeu-se a adição de água e
segunda formulação 1,75 vezes maior que o da
monitorou-se o rebaixamento do nível em
primeira.
relação ao tempo.
O valor da condutividade abaixou no segundo
Medidas de tempo foram feitas a cada
dia em relação ao primeiro dia e no terceiro dia
rebaixamento de 10 cm do nível d’ água, até a
foi maior em relação aos outros. No entanto, a
altura de 2,30 m em relação ao fundo do furo. Os
variação dos valores em relações aos dias foi de
valores obtidos foram anotados nas planilhas.
apenas 4%, classificada como baixa.
Após a anotação, repetiu-se, imediatamente, esse
A diferença de valores entre as formulações
ensaio por mais três vezes para fazer-se a média
pode estar atrelada às condições de contorno
dos tempos.
utilizadas por cada autor
Após o término do primeiro ensaio, esperou-
se a o tempo necessário para completar a
3.2 Valores da Condutividade Hidráulica
saturação da segunda hora e o ensaio foi
Obtidos com Ensaio de Carga Variável
novamente feito conforme as mesmas
especificações já citadas.
Os resultados apresentados na Tabela 3 também
Respectivamente foi feito o mesmo
foram obtidos após 4 horas de saturação prévia.
procedimento para a 3ª e 4ª hora.
A condutividade hidráulica foi obtida a partir Tabela 3. Condutividade hidráulica obtidas com ensaio de
da Equação 4 proposta por Gilg e Gavard (1957). carga variável (cm/s).
Fórmulas 1º dia 2º dia 3º dia Média
'h d 12 (4) Gilg e
8,09 x10-4 8,03 x10-4 8,17 x10-4 8,10 x10-4
k=( ) (4) Gavard
't 8 ˜ h0 ˜ d ˜ L
A variação dos resultados desse método em
Onde: k é condutividade hidráulica, em cm/s; relação aos dias de ensaio foi menor que 1%. Em
¨h é diferença entre o nível d’água inicial e o relação aos ensaios de carga constante, os
final; ¨t é o tempo necessário para o resultados desse ensaio se assemelharam aos
rebaixamento ¨h; d1 é o diâmetro do furo na obtidos pela segunda formulação apresentada
parte do revestimento, em cm; d é o diâmetro do por Soares et al. (1996).
furo, em cm; h0 é a altura do centro da parte
revestida do furo até o nível d’água inicial, em 3.3 Relação entre a condutividades obtidas e o
cm; e L é a altura da parte não revestida do furo, tempo de saturação
em cm.
Além dos valores de permeabilidade obtidos

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após 4 horas de saturação prévia, foram medidos 1Dia 2Dia 3Dia
12,0EͲ04
também os valores intermediários para análise.

k carga variável (GILG e GAVARD) (cm/s)


Primeiramente, analisando-se os dados de
11,0EͲ04
condutividade hidráulica da primeira formulação
de carga constante (ZANGAR, 1953) com a de 10,0EͲ04
carga variável (GILG E GAVARD,1957) notou-
se que em ambos a variação da condutividade 09,0EͲ04
hidráulica diminuiu após 4 horas de saturação do
solo (Figura 3). 08,0EͲ04

Pode-se observar também, que todos os


07,0EͲ04
valores obtidos apresentam uma
proporcionalidade. A permeabilidade obtida no 06,0EͲ04
ensaio de carga variável foi de 1,75 vezes maior

06,0EͲ04

07,0EͲ04

08,0EͲ04

09,0EͲ04

10,0EͲ04

11,0EͲ04

12,0EͲ04
que a obtida no de carga constante do primeiro
método. k carga constante (SOARES et al) (cm/s)

12EͲ04 Figura 4. Permeabilidades obtidas nos ensaios com carga


1º Dia - Carga variável e carga constante (SOARES et al, 1996) em
Constante
(ZANGAR)
relação ao tempo de saturação.
10EͲ04
Condutividade hidráulica (cm/s)

2º Dia - Carga
Constante
08EͲ04
(ZANGAR) 4 CONCLUSÃO
3º Dia - Carga
Constante
(ZANGAR)
Os ensaios realizados em campo tanto com carga
06EͲ04
variável quanto constante apresentaram valores
1º Dia - Carga
Variável
de condutividade hidráulica na mesma ordem de
04EͲ04 (GILG e
GAVARD)
grandeza de 10-4 cm/s.
2º Dia - Carga
Os resultados obtidos através do ensaio com
Variável
(GILG e
carga constante aplicados na formulação de
02EͲ04
GAVARD) Zangar (1953) foram 56% menores em relação
3º Dia - Carga
Variável
ao ensaio com carga variável. Já os resultados
00E+00 (GILG e
GAVARD)
com carga constante aplicados na formulação
0 1 2 3 4 5 apresentada por Soares et al (1996) apresentaram
Tempo de saturação prévia (horas) pouca divergência em comparação ao ensaio
com carga variável, sendo apenas 2% menores.
Figura 3. Permeabilidades obtidas nos ensaios com carga
variável e carga constante (ZANGAR,1953) em relação
Em relação ao tempo de saturação prévia
ao tempo de saturação. necessário, verificou-se que quanto maior o
tempo de saturação, menor é a variabilidade dos
A Figura 4 representa os resultados da dados encontrados, ou seja, com um maior
segunda formulação de carga constante tempo de saturação há uma menor necessidade
(SOARES et al, 1996) quando tabulados de múltiplas coletas de dados.
juntamente com os dados obtidos com o ensaio Dessa forma, em obras de engenharia onde a
de carga variável (GILG e GAVARD,1957). infiltração é o fator mais importante, por
A variabilidade entre os resultados também exemplo em poços de infiltração ou fossas
diminuiu em relação ao tempo de saturação. sépticas, para um dimensionamento a favor da
Através da dispersão dos dados, próximas a reta segurança, indica-se um maior tempo de
de 45º, pode-se notar que os valores entre as saturação prévia para a determinação do
duas formulações foram bastante similares. coeficiente de permeabilidade, ou que a
Nesse caso a permeabilidade obtida no ensaio de determinação seja feita após um dia chuvoso, ou
carga variável foi aproximadamente 2% maior seja, com a maior umidade do solo possível.
que a obtida pela formulação de carga constante.

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REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. ABNT NBR


14545: Solo: determinação do coeficiente de
permeabilidade de solos argilosos a carga variável.
Rio de Janeiro, 2000.
Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e
Ambiental- ABGE. Ensaios de permeabilidades em
solos: orientações para sua execução no campo. São
Paulo: ABGE, 2013.
Belincanta, A. e Gutierrez, N.H.M. (2006). Campos
Experimentais Brasileiros. XIII Cong. Brasileiro de
Mec. Solos e Engenharia Geotécnica, Curitiba.
Workshop Campos Experimentais de Fundações. v.
único. p.28 – 35.
Caputo, H.P. Mecânica dos Solos e Suas Aplicações. Rio
de Janeiro: LTC, 6ª edição, 1996. 234p
Fantinatti, P.H.A; Neto, F.P.F.; Tibana, S. e Almeida, F.T.
Ensaios de Permeabilidade In Situ em Solos
Saturados. Laboratório de Engenharia Civil,
Universidade Estadual do Norte Fluminense, Rio de
Janeiro, Brasil.
Gilg B. e Gavard M. (1957) Calcul de la perméabilité par
dês essais d’eau dans les sondagens en alluvions.
Bulletin Technique de la Suisse Romande, v. 83, n. 4.
Gutierrez, A. (2005). Influências de aspectos estruturais
no colapso de solos do norte do Paraná. 311f.
Dissertação (Doutorado em Geotecnia) – Universidade
de São Paulo-Escola de Engenharia de São Carlos, São
Carlos.
Soares, J.M.D.; Pinheiro, R.J.B. e Tavares, I.S. (1996).
Mecânica dos solos – Notas de aula. Santa Maria:
UFSM.
Zangar, C.N. (1953) Theory and problems of water
percolation. Denver: USBR, Engineering
Monographs, 8.

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Estudo Comparativo Entre Resultados do SPT e PANDA para
Solo Tropical do Município de Aparecida de Goiânia-GO.
Rafael Louza Goulart
Eletrobras Furnas, Aparecida de Goiânia (GO), Brasil. Endereço eletrônico:
rafaellg@furnas.com.br/ rafaellglouza@gmail.com

Marta Pereira da Luz


Eletrobras Furnas, Aparecida de Goiânia (GO), Brasil. Endereço eletrônico:
martaluz@furnas.com.br

Ricardo Moreira Vilhena


Eletrobras Furnas, Aparecida de Goiânia (GO), Brasil. Endereço eletrônico:
rvilhena@furnas.com.br

RESUMO: Neste estudo procurou-se correlacionar os resultados dos métodos de ensaios SPT e
PANDA, utilizando dois diâmetros de ponteiras cônicas: 2 cm² e 4 cm². Foram elencadas as
principais características de cada ensaio, destacando-se as vantagens e desvantagens da utilização
de cada metodologia. As metodologias foram aplicadas em dois pontos distintos, em área localizada
no município de Aparecida de Goiânia - GO, formada por solo tropical estratificado.
Estabeleceram-se perfis comparativos entre os valores do índice de resistência à penetração (NSPT) e
resistência de ponta (qd), constatando-se a maior eficiência do ensaio PANDA com ponta de 4 cm²
na obtenção da resistência do solo, por não apresentar influência do atrito lateral da haste em seus
resultados.

PALAVRAS-CHAVE: SPT, PANDA, Ensaios em campo, Correlações.

1 INTRODUÇÃO sucção) e extrínsecos (temperatura,


carregamento) do solo (ANGELIM, 2011).
As investigações geotécnicas são de O Ensaio de Penetração Padrão ou SPT
fundamental importância para análise do (Standard Penetration Test) é sem dúvida o
conjunto que envolve a resistência do solo e mais difundido e aplicado em investigações
suas principais características físicas. Os geológicas e geotécnicas. Características como
ensaios de campo são, portanto, primordiais o baixo custo, simplicidade de execução e a
para a elaboração de projetos de fundação, fácil aplicação dos seus resultados contribuem
aterros compactados, taludes e contenções, para a difusão e ampla utilização do ensaio,
pavimentos e demais obras geotécnicas. sendo este a alternativa primária para estudos de
Dentre as principais vantagens que reconhecimento do solo (CRUZ JR. et al.,
contribuem para a execução de ensaios em 2014; ANGELIM, 2011). Não obstante, a
campo, destacam-se a rapidez na execução, se metodologia SPT não oferece valores de
comparado aos ensaios em laboratório, além da resistência do solo de forma direta, mas através
possibilidade de analisar o maciço nas de correlações estabelecidas a partir de
condições reais em que se encontra, permitindo parâmetros empíricos.
o levantamento de aspectos intrínsecos O crescente desenvolvimento da engenharia
(umidade, tensão de confinamento, densidade, geotécnica nas últimas décadas vem
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


acompanhado da evolução tecnológica dos amostras deformadas do solo, a cada metro de
ensaios de campo, promovendo maior precisão e profundidade, para análise táctil visual, conforme
rapidez na execução e na obtenção de seus NBR 6484 (ABNT, 2001). Estas amostras
resultados (MARQUES; REZENDE e também podem ser direcionadas a laboratórios,
GITIRANA JR., 2014). É neste contexto que para ensaios de caracterização, resistência,
surge a metodologia PANDA, composta por um adensamento e permeabilidade, dentre outros, de
penetrômetro leve de energia variável utilizado forma a obter características complementares ao
na aferição da resistência de solos de maneira solo, de acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2010).
direta, sem a necessidade da aplicação de A obtenção de amostras, a cada metro, permite o
fórmulas empíricas. conhecimento da estratigrafia do terreno, além
Este trabalho apresenta um estudo disso, a sondagem à percussão, onde é realizado o
comparativo entre as metodologias SPT e ensaio SPT, permite a medição do nível d’água,
PANDA, aplicadas a um solo residual tropical. A fatores importantes para a análise geológica e
região adotada para desenvolvimento dos ensaios geotécnica do solo, assim como parâmetros
localiza-se no município de Aparecida de indispensáveis para a escolha do tipo de fundação
Goiânia-GO, nas dependências da Gerência de que melhor atende aos requisitos técnicos
Serviços e Inovação Tecnológica (GST.E) de (capacidade de carga e recalque) e executivos.
Furnas. Procurou-se estabelecer as principais
diferenças entre as duas metodologias, indicando
seus aspectos positivos e negativos, além de
verificar o comportamento da resistência de
ponta (qd) e do índice de resistência à penetração
(NSPT), para diferentes profundidades, analisando
a influência da composição granulométrica do
solo nestes resultados.

2 BREVE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 SPT Figura 1. Representação esquemática do ensaio SPT (PINTO,


2006)
No Brasil, o procedimento de execução do ensaio
SPT é normalizado pela NBR 6484 (ABNT, Embora o ensaio SPT seja normalizado,
2001). De forma sucinta, o ensaio consiste na diversas críticas fundamentam-se na
cravação de um amostrador padrão acoplado a discrepância de resultados, dependência do
uma haste, utilizando-se uma massa de 65 kg em operador, tipo e qualidade dos materiais e a
queda livre de 75 cm. O índice de Resistência à adoção de processos executivos que diferem do
Penetração (NSPT) consiste no cálculo dos golpes disposto em norma, por parte das empresas de
necessários para penetrar o amostrador padrão sondagem (BELINCANTA, 1998). Tais fatores
nos 30 cm finais, em trecho de 45 cm (GALVIS afetam a energia que é efetivamente transferida
e ESQUIVEL, 2015). O NSPT é utilizado como ao amostrador pelo golpe do martelo, resultando
parâmetro para correlações empíricas em variações nos resultados do NSPT (CRUZ JR.
empregadas no cálculo da capacidade de carga e et al., 2014). A utilização de correlações
recalque de fundações, baseadas em observações empíricas também é questionada, já que estas
práticas (CRUZ JR. et al., 2014). Na Figura 1 é estão restritas a solos de uma mesma região e
apresentado o esquema de execução do ensaio que possuam comportamento semelhante, não
SPT. devendo ser extrapoladas para uso geral.
Além de um ensaio penetrométrico, o SPT A aparelhagem necessária para a execução
permite também a realização de sondagem de do ensaio SPT é robusta, de forma que o ensaio
simples reconhecimento. São coletadas torna-se passivo de dificuldades de acesso em
obras rurais e obras urbanas de pequeno porte

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(FIGUEIREDO; CUNHA e CONCIANE, impacto, M é a massa do martelo, p
2013). corresponde à massa das hastes e da ponta, e
“e” representa a profundidade de penetração da
2.2 PANDA ponta para um golpe do martelo.

PANDA (Pénétremétré Autonome Numérique


Dynamique Assisté par Ordinateur) é um
penetrômetro dinâmico leve de energia variável.
Foi desenvolvido na França, em 1991, pela
empresa Sol Solution, em parceria com a
Universidade Blaise Pascal de Clermont-
Ferrand (ANGELIM, 2011), ganhando
popularidade a partir de então, passando a ser
largamente utilizado na França e em países da
Europa central (LANGTON e COURT, 1999).
No Brasil, porém, a utilização do PANDA ainda
se concentra no meio acadêmico.
O equipamento necessário ao ensaio é
apresentado na Figura 2, e consiste nos
seguintes materiais: martelo manual de
aproximadamente 2 kg; hastes de 50 cm de
comprimento e 14 mm de diâmetro; ponta com
formato cônico, com área de 2, 4 ou 10 cm²; Figura 2. Equipamento PANDA (Adaptado de SOL
sensor de penetração, dispositivo eletrônico SOLUTION, 2004)
para armazenamento dos dados (central de
aquisição) e terminal de comunicação (SOL O PANDA possui restrições quanto à
SOLUTION, 2004). Trata-se de um profundidade máxima de ensaio, que varia entre
equipamento de fácil utilização, leve e muito 5 e 7 metros, de acordo com a literatura. Tal
portátil, com uma massa total de apenas 20 kg, restrição deve-se a registros de perda de
possibilitando a realização do ensaio em precisão dos resultados em maiores
ambientes de difícil acesso (porões, grandes profundidades (CRUZ JR. et al., 2014). Outros
declives, túneis), onde ensaios tradicionais, fatores limitantes são: resistência máxima do
como SPT e CPT, seriam inviáveis (CRUZ JR. solo de 50 MPa; tamanho máximo da partícula
et al., 2014). de solo igual a 50 mm; dificuldade na
manutenção da verticalidade no processo de
O ensaio consiste na aplicação de uma
energia variável a partir de golpes do martelo. cravação das hastes (MARQUES, REZENDE e
Para cada golpe são registradas a velocidade do GITIRANA JR., 2014). Além disso, o PANDA
impacto e a penetração da haste com a ponta não permite a retirada de amostras do solo
cônica no solo. A partir destes valores, é ensaiado, não viabilizando a análise
calculada a resistência de ponta de forma direta, estratiografica do solo.
sem a necessidade de correlações empíricas, de
acordo com a Equação 1 (DIEMER, VARGAS
e ANGELIM, 2014): 3 METODOLOGIA

1 MV ² Os ensaios SPT e PANDA foram realizados nas


qd =  2 1
p (1) dependências da Gerência de Serviços e
A e 1 Inovação Tecnológica (GST.E), área
M pertencente à Eletrobras Furnas, no município
de Aparecida de Goiânia-GO. As amostras de
Em que: qd é a resistência de ponta, A é a solo retiradas durante as sondagens foram
área da ponta cônica, V é a velocidade de ensaiadas no Laboratório de Solos da GST.E.

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As coordenadas planimétricas dos pontos Tabela 1. Ensaios de laboratório
ensaiados foram obtidas a partir de GPS de Ensaio Norma
navegação e as altimétricas pelo sistema NBR 6458
Massa específica real dos grãos
(ABNT, 2016a)
geodésico do Google Earth. O sistema
NBR 6459
geodésico adotado foi o UTM, datum WGS84 e Limite de Liquidez
(ABNT, 2016b)
zona 22 K.
NBR 7180
Dentre as investigações realizadas, foram Limite de Plasticidade
(ABNT,2016c)
selecionadas para o estudo comparativo duas
NBR 7181
sondagens com ensaios SPT e quatro ensaios Análise granulométrica
(ABNT,2016d)
PANDA, executados nos meses de maio a
agosto de 2016, são eles o SP-01 e o SP-02,
apresentados na Figura 3. 3.2 Ensaios PANDA

Após a execução dos furos do SPT, para cada


ponto foram realizados, no raio de 1 metro, os
Subestação ensaios PANDA. A profundidade limite
Bandeirante GST.E
adotada para os ensaios foi a mesma do SPT, 5
metros. Foram utilizados dois diâmetros de
ponteiras cônicas: 2 cm² e 4 cm². Obteve-se a
partir dos ensaios o valor da resistência de
SP-02
SP-01
ponta para cada profundidade, estes dados
foram tratados e utilizados na análise gráfica
comparativa com os resultados dos ensaios
Figura 3. Localização dos furos de sondagem SPT. SPT.

3.1 Ensaios SPT


4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para cada ponto escolhido foi realizado um
único furo, sendo este executado a partir da 4.1 Caracterização e análise geológico-
superfície, até a profundidade de 5 metros. Para geotécnica do solo
cada metro foram registrados os valores de
NSPT, usados na composição dos gráficos de A caracterização do solo determina o domínio
índice de resistência à penetração, também de validade do estudo em questão. As
foram retiradas amostras para análise tátil- propriedades físicas do solo, obtidas a partir de
visual. Os furos foram realizados sem amostras dos pontos SP-01 e SP-02, são
circulação de água e sem necessidade de apresentadas na Tabela 2, juntamente à sua
revestimentos. O nível d’água (N.A.) após 24 classificação no sistema unificado.
horas não foi encontrado nas profundidades
investigadas, sendo assim, foi considero N.A. Tabela 2. Propriedades e classificação
seco para todas as sondagens. Em nenhum dos Limites
Profundidade Ȗs Classificação
furos atingiu-se o impenetrável, adotando-se a Ponto (m) (KN/m³) wL wP IP SUCS
profundidade de 5 metros como critério de % % %
parada. 1,0-2,50 27,08 55 34 21 SC-SM
Para os ensaios de laboratório, elencados na SP
2,50-3,50 27,51 59 33 26 MH-CH
Tabela 1, foram retiradas amostras obtidas em 01
3,50-5,00 27,39 60 36 24 MH-CH
três profundidades diferentes: entre 1 m e 2,5
m; entre 2,5 m e 3,5 m e entre 3,5 m e 5 m. O 1,00-2,50 26,84 44 28 16 ML-CL
SP
resultado destes ensaios auxiliaram a 02 2,50-3,50 24,66 47 30 17 ML-CL
classificação e análise geológico-geotécnica do 3,50-5,00 27,01 53 35 18 MH-CH
solo local.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



A partir da análise tátil-visual, nos ensaios trecho 02, onde a resistência com a ponta de 2
SPT de cada furo, os solos investigados foram cm² apresenta brusca elevação ao transitar de
classificados em três horizontes distintos. O um solo arenoso para um solo coesivo. A
primeiro foi caracterizado como solo influência do atrito lateral é acentuada pelo
coluvionar, formado por areia argilosa, aumento da profundidade, devido ao aumento
homogênea e de coloração variável de vermelha da superfície de contato da haste com o furo. O
a marrom. O solo coluvionar é um solo arenoso mesmo comportamento é verificado no ensaio
transportado por gravidade, com camada de SPT, desta forma, ambos os ensaios apresentam
solo orgânico nos centímetros iniciais, valores de resistência do solo acrescidas da
homogêneo e de grãos arredondados. O influência da resistência da haste. Percebe-se
segundo horizonte é formado por solo residual então uma maior similaridade entre os gráficos
maduro de micaxisto, argila arenosa laterítica, dos ensaios SPT e PANDA com ponta de 2 cm²,
vermelha, com fragmentos de quartzitos. O já que ambos sofrem influência do atrito lateral
terceiro horizonte é caracterizado como residual promovido pelo contato da haste com a parede
jovem de quartzo micaxisto, silte argilo-arenoso do furo.
a argila siltosa, micáceo, cor variegada (roxo, O ensaio PANDA com ponta de 4 cm², por
marrom e cinza) com fragmentos de quartzito e sua vez, fornece resistências mais baixas se
de comportamento saprolítico. comparado ao PANDA com ponta de 2 cm²,
visto que o diâmetro da ponta é superior ao da
4.2 Análise comparativa entre SPT e haste, reduzindo a influência do atrito entre a
PANDA haste e o solo, o que elucida o fato dos ensaios
com ponta de 2 cm² e 4 cm² apresentarem
Os perfis obtidos no ensaio PANDA para cada pequena variação de resistência para os trechos
furo estão apresentados na Figura 4, assim iniciais, sendo que para maiores profundidades
como o resultado de NSPT do ensaio de SPT. a variação aumenta e a resistência com a ponta
Para facilitar a comparação, foi retirada a de 2 cm² tende a ser superior.
dispersão dos dados no ensaio PANDA, Outro fator que evidencia a menor influência
mantendo apenas os resultados de resistência do atrito na resistência do solo no ensaio com
obtidos nas mesmas profundidades em que ponta de 4 cm² é o seu comportamento ao
foram determinados os valores de NSPT. atingir um solo de alta compressibilidade,
Para o ensaio PANDA com ponta de 2 cm², presente nas camadas mais profundas do
com diâmetro próximo ao da haste de execução terreno, onde nota-se ganho de resistência
do ensaio, percebe-se que há influência do atrito inferior ao observado para o ensaio com a ponta
entre a haste e a parede do furo na resistência de de 2 cm² (Figura 4B, trecho 03), e, em certas
ponta (qd). Esta influência varia com a ocasiões, queda de resistência, conforme Figura
granulometria e a condição de compactação do 4A, trecho 03.
solo, conforme indica o perfil da figura 4A,

Figura 4. Perfis SPT e PANDA: (A) SP-01; (B) SP-02

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



5 CONCLUSÕES 8,8 mm – Determinação da massa específcia, da
massa específica aparente e da absorção de água,
Rio de Janeiro, 2016a.
O ensaio SPT possui restrições, tais como a Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6459:
dependência de fórmulas empíricas para a Solo – Determinação do limite de liquidez, Rio de
conversão de seus resultados (NSPT) em Janeiro, 2016b.
resistência, assim como a influência da Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6484:
resistência lateral da haste em seus resultados. Solo - Sondagens de simples reconhecimento com
SPT-Método de ensaio, Rio de Janeiro, 2001.
Entretanto, a utilização do SPT é determinante Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7180:
para o conhecimento das características Solo – Determinação do limite de liquidez, Rio de
geológicas e geotécnicas do solo, já que permite Janeiro, 2016c.
a coleta e classificação de amostras durante o Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7181:
decorrer do ensaio. Solo – Análise granulométrica, Rio de Janeiro, 2016d.
Belincanta, A (1998). Avaliação de fatores intervenientes
Partindo da comparação entre os ensaios no índice de resistência à penetração do SPT, Tese de
SPT, PANDA com ponta de 2 cm² e PANDA Doutorado, Escola de Engenharia de São Carlos, São
com ponta de 4 cm², conclui-se que a Carlos, 141 p.
metodologia que apresentou melhor Cruz Jr., A.J; Gitirana JR., G.F.N.; Sales, M.M.; Viana,
representação da resistência do solo é o P.M.F (2014). Determinação do Perfil de Sucções a
Partir de Amostras de SPT, e Verificação de
PANDA com ponta de 4cm², já que este não Correlações entre Sucção, NSPT, e PANDA para Solos
sofre influências do atrito lateral em seu Argilosos Superficiais da Cidade de Goiânia, In:
resultado, conforme observado no perfil XVII Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
comparativo, garantindo uma base de dados Engenharia Geotécnica- COBRAMSEG, Goiânia,
mais fidedigna em relação à resistência do solo, Brasil.
Diemer, F.; Vargas, C. A. L.; Angelim, R. R. (2014).
o que fornece aos projetistas informações mais Comparação do número Nd (qd/ıv0) dinâmico com o
seguras e consistentes. ângulo de atrito de um solo compactado, In: XVII
Conclui-se, portanto, que as metodologias Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
SPT e PANDA são complementares, sendo que Engenharia Geotécnica- COBRAMSEG, Goiânia,
o PANDA representa melhor a resistência do Brasil.
Figueiredo, L.C; Cunha, R.P.; Conciani, W (2013). An
solo, além de possibilitar a execução do ensaio overview on existing dynamic cone penetration test
de forma mais rápida e direta, devido à sua research related to the Central Area of Brazil,
portabilidade e praticidade. O SPT, por sua vez, Geotechnical and Geophysical Site Characterization,
permite uma melhor avaliação qualitativa do London, v. 4, p. 1669-1675.
solo, servindo como parâmetro importante para Galvis, J. Z.; Esquivel, E. R (2015). Evaluation of
internal and external stresses on the SPT sampler,
anteprojetos de fundação. DYNA, Medellín, v. 83, n. 105, p. 229-236.
Langton, D.D; Court, M (1999). The Panda lightweight
AGRADECIMENTOS penetrometer for soil investigation and monitoring
material compaction, Ground Engineering,
Os autores agradecem à Eletrobras Furnas pelos Macclesfield, Cheshire, p. 33-39.
Marques, M. O.; Rezende, L. R.; Gitirana JR., G. F. N.
materiais e suporte técnico fornecido para a (2014). Análise comparativa entre resultados do
realização dos ensaios de campo e laboratório. Dynamic Cone Penetrometer (DCP) e do
Penetrometre Autonome Numerique Dynamique
REFERÊNCIAS Assisté par Ordinatur (PANDA) em trechos de
pavimentos experimentais, In: XVII Congresso
Angelim, R. R (2011). Desempenho de Ensaios Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Pressiométricos em Aterros Compactados de Geotécnica, COBRAMSEG, Goiânia, Brasil.
Barragens de Terra na Estimativa de Parâmetros Pinto, C. S (2006). Curso Básico de Mecânica Dos Solos
Geotécnicos, Tese de Doutorado em Engenharia Civil, Com Exercícios Resolvidos, 3. Ed., Oficina de Textos,
Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasília, São Paulo, 367 p.
Brasília, 291 p. Sol Solution (2004). PANDA 2 Handbook, Ver. 1.03.06,
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6122: França. (CD-ROM)
Projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro,
2010.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6458:
Grãos de pedregulho retidos na peneira de abertura

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Infiltração, Colapsividade e Absorção dos Estratos Superficiais da
Área de Implantação do Setor Habitacional Jardins Mangueiral no
Distrito Federal
Rideci Farias, D. Sc.
UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

Haroldo Paranhos, M. Sc.


UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, reforsolo@gmail.com

Yngrid Pereira Marques


UCB / Brasília, Brasil, yngrid_marques94@hotmail.com

Luana Rangel Marques


UCB / Brasília, Brasil, luanar22.marques@gmail.com

Maicon Paiva da Silva


UCB / Reforsolo Engenharia / Brasília, Brasil, mpaivads@gmail.com

RESUMO: O Setor Habitacional Jardins Mangueiral é fruto de uma parceria público-privada em


que o Governo do Distrito Federal cedeu a área para construção a um determinado grupo com
financiamento realizado pela Caixa Econômica Federal, dentro do Programa Minha Casa. Trata-se
de um bairro com infraestrutura adequada ao empreendimento. Dessa forma, com a instalação do
setor habitacional, fez-se necessária a destinação de áreas condizentes do bairro em questão com
vistas à infiltração das águas pluviais. Dentro desse contexto, este artigo procura apresentar os
resultados e discussões das investigações geotécnicas efetuadas na área e em solos coletados no
local de implantação do empreendimento. Dentre outras conclusões, verificou-se o aumento da
densificação com a profundidade do material contrapondo com a diminuição da permeabilidade à
medida que a profundidade aumenta. Tal fato evidencia a influência do intemperismo nas camadas
superiores dos estratos de solo existentes na área.

PALAVRAS-CHAVE: Investigação Geotécnica, Jardins Mangueiral, Infiltração, Solos.

possível comportamento dos solos localizados


1 INTRODUÇÃO nas áreas que foram destinadas para infiltração
de águas pluviais.
Este artigo objetiva apresentar os resultados das Os pesos específicos mostram que em termos
investigações geotécnicas efetuadas na área e de gênese os solos superficiais e subjacentes
em solo coletados no local de implantação do apresentam composições similares e típicas de
Setor Habitacional. Os estudos consistiram na argilas e areias. A porosidade do material
execução de ensaios de infiltração “in situ”, decresce então com a profundidade como um
retirada de amostras de solo, ensaios de resultado da densificação (aumento da massa
granulometria, massa específica natural do solo, específica aparente). As permeabilidade obtidas
massa específica de grãos do solo, cisalhamento são da ordem de 10-3 cm/s nas profundidades de
direto e adensamento com vistas a verificar o 1,50m e 10-4 cm/s para as profundidades de 3,0

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metros. São apresentados resumos dos
resultados dos ensaios geotécnicos efetuados e
parâmetros determinados. Em termos de
adensamento foram realizados um total de 6
(seis) ensaios com vistas a verificar um possível
comportamento do solo no estado natural e do
colapso do solo em tensões pré-determinadas.
Tais ensaios foram realizados nas três amostras
de solo coletadas ao longo da área.
Figura 3. Visão micro da área de implantação do Setor
Habitacional Mangueiral.
2 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE
EXECUÇÃO DOS ESTUDOS
3 ENSAIOS EXECUTADOS
A área de execução dos estudos localiza-se às
proximidades da DF 463, DF 001 e do Jardim
A campanha de ensaios envolveu ensaios de
Botânico de Brasília, conforme mostram as
campo e ensaios de laboratório. Os ensaios de
Figuras 1, 2 e 3, retiradas do Google Earth.
campo compreenderam infiltração e
identificação táctil-visual dos solos. Já os
ensaios de laboratório compreenderam os
ensaios de granulometria, massa específica
natural do solo, massa específica dos grãos de
solo, cisalhamento direto e adensamento. A
seguir, apresentam-se os ensaios executados.

3.1 Ensaios de Campo: Ensaios de


Infiltração

Para os ensaios de infiltração “in situ” foram


Figura 1. Visão macro da área de implantação do Setor definidos 20 (vinte) pontos ao longo da área de
Habitacional Mangueiral. implantação do Setor Habitacional Mangueiral.
As localizações dos 20 pontos foram definidas
com a projetista e também de verificações em
campo. O critério utilizado para definição dos
pontos foi com base na verificação de parte das
possíveis áreas destinadas para infiltração de
águas pluviais. Tais ensaios visaram verificar os
coeficientes de permeabilidade da área em
estudo. Os ensaios consistiram em executar nas
profundidades de 1,5 m e 3,0 m, ou seja, a cada
ponto foram executados dois ensaios de
infiltração com vistas a verificar uma média ao
longo do perfil de solo em estudo. A partir dos
Figura 2. Visão macro da área de implantação do Setor
resultados dos ensaios foi possível gerar as
Habitacional Mangueiral.
curvas de isopermeabilidades estimadas para as
profundidades de 1,5 e 3,0 metros, em
consequência pode-se determinar também as
curvas de isopermeabilidades médias estimadas
para o setor habitacional como um todo. A
Tabela 1 apresenta as permeabilidades obtidas

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



para os pontos estudados nas profunidades de Peso Específico Saturado kN/m3 17,51
1,5m e 3,0m para cada ponto estudado, mas (kN/m3)
também a média ao longo do perfil estudado. Índice de Vazios - 1,20
Verifica-se que os valores de permeabilidade Porosidade % 54,57
obtidos são, predominantemente, da ordem de Grau de Saturação (%) % 90,35
grandeza de 10-3 cm/s nas profundidades de
1,50m e 10-4 cm/s para as profundidades de 3,0 Tabela 3. Resumo dos resultados dos ensaios geotécnicos
metros. efetuados e parâmetros determinados para a Amostra 02.
AMOSTRA 02 (Profundidade de 1,5 m)
Tabela 1. Permeabilidades obtidas para os pontos
estudados. Peso Específico Natural kN/m3 11,04
PERMEABILIDADE (cm/s)
Furo Prof. 1,5 m Prof. 3,0 m Média
Umidade natural % 23,21
CA 01 2,49E-04 1,37E-05 1,31E-04 Coesão Efetiva (Condição
kPa 3
CA 02 1,91E-03 1,97E-04 1,05E-03 Inundada)
CA 03 2,04E-03 2,81E-04 1,16E-03 Ângulo de atrito efetivo (Condição
graus 16
CA 04 2,49E-03 5,92E-05 1,28E-03 Inundada)
CA 05 1,36E-03 2,73E-05 6,95E-04 Coesão Efetiva (Condiç ão
kPa 11
CA 06 1,96E-03 5,13E-04 1,24E-03 Natural)
CA 07 1,88E-03 3,09E-04 1,09E-03 Ângulo de atrito efetivo (Condição
graus 17
CA 08 1,46E-03 1,02E-03 1,24E-03 Natural)
CA 09 2,66E-03 7,05E-04 1,68E-03 Peso Específico Aparente Seco
CA 10 1,66E-03 4,57E-04 1,06E-03
kN/m3 8,96
(kN/m3)
CA 11 1,15E-03 3,85E-04 7,69E-04 Peso Específico dos Sólidos (ou
CA 12 1,15E-03 5,35E-04 8,43E-04 g/cm3 2,71
dos Grãos)
CA 13 2,83E-03 6,18E-04 1,73E-03
Peso Específico Saturado (kN/m3) kN/m3 15,46
CA 14 4,40E-03 5,97E-04 2,50E-03
CA 15 3,00E-03 6,36E-04 1,82E-03 Índice de Vazios - 1,97
CA 16 2,05E-03 1,09E-03 1,57E-03
CA 17 7,03E-03 9,27E-04 3,98E-03 Porosidade % 66,29
CA 18 3,31E-03 4,65E-04 1,89E-03 Grau de Saturação (%) % 31,98
CA 19 6,43E-03 2,87E-04 3,36E-03
CA 20 1,19E-03 3,61E-04 7,75E-04
Tabela 4. Resumo dos resultados dos ensaios geotécnicos
efetuados e parâmetros determinados para a Amostra 03.
3.2 Ensaios de Laboratório
AMOSTRA 03 (Profundidade de 1,5 m)
No total foram coletadas três amostras Peso Específico Natural kN/m3 12,59
indeformadas de solo para execução dos ensaios Umidade natural % 39,91
em laboratório. Tais ensaios compreenderam Peso Específico Aparente
granulometria, massa específica natural do solo, kN/m3 9,00
Seco (kN/m3)
massa específica dos grãos de solo, Peso Específico dos Sólidos (ou
cisalhamento direto e adensamento. As Tabelas g/cm3 2,71
dos Grãos)
2, 3 e 4, a seguir, apresentam resumos dos Peso Específico Saturado
resultados dos ensaios geotécnicos efetuados e kN/m3 15,48
(kN/m3)
parâmetros determinados. 1,95
Índice de Vazios -
Tabela 2. Resumo dos resultados dos ensaios geotécnicos Porosidade % 66,14
efetuados e parâmetros determinados para a Amostra 01. Grau de Saturação (%) % 55,37
AMOSTRA 01 (Profundidade de 2,5 m)
Peso Específico Natural kN/m3 17,00 Em termos de adensamento foram realizados
Umidade natural % 39,75
um total de 6 (seis) ensaios com vistas a
verificar um possível comportamento do solo
Peso Específico Aparente kN/m3 12,16 no estado natural e do colapso do solo em
Seco (kN/m3)
Peso Específico dos Sólidos (ou
tensões pré-determinadas. Tais ensaios foram
g/cm3 2,73 realizados nas três amostras de solo coletadas
dos Grãos)
ao longo da área de implantação do Setor

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Habitacional Mangueiral. Duas amostras
denominadas de “Amostra 1” e “Amostra 3”
foram coletadas em locais das áreas destinadas
à infiltração e outra amostra denominada de
“Amostra 2” foi coletada entre os pontos 19 e
20 (pontos denominados para a
permeabilidade). A Tabela 5 apresenta um
resumo dos resultados dos ensaios de
adensamento para as tensões pré-determinadas.
Tabela 5. Resumo dos resultados dos ensaios de
adensamento.
Figura 5. Saturação do furo para o ensaio de infiltração.
Tensão Índice de Vazios
Tipo Coefic.
de
Amostra de de
Colapso Inicial Final Colapso
Ensaio
(kPa)

01 Colapso 25 1,168 1,127 0,019


Natural
(Até 480 - 2,0765 1,6021 -
02 kPa)
Colapso 24 2,0100 1,9200 0,030
Colapso 106 1,8388 1,2700 0,200
Natural
(Até 805 - 2,0781 1,1861 -
03 kPa)
Colapso 423 1,6857 1,1364 0,2045 Figura 6. Medição da infiltração d’água no furo.

As Figuras 4 a 7 mostram a preparação e


execução de ensaios de infiltração “in situ”. Em
seguida, nas Figuras 8, 9 e 10, escavação e
retirada de amostra de solo para os ensaios em
laboratório, e nas Figuras 11 a 14 mostras vistas
do Setor Habitacional Jardins Mangueiral, já
consolidado, com as áreas destinadas à
infiltração das águas pluviais.

Figura 7. Medição da infiltração d’água no furo.

Figura 4. Execução de furo para ensaio de infiltração.

Figura 8. Poço para retirada de amostra indeformada.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Bacia de Infiltração

Figura 9. Parafinamento de amostra indeformada de solo. Figura 13. Vista micro de uma das quadras habitacionais.

Bacia de Infiltração

Figura 14. Vista de uma bacia de infiltração de águas


Figura 10. Amostra indeformada parafinada de solo para pluviais.
ensaios em laboratório.

4 RESULTADOS E CONSIDERAÇÕES DOS


ESTUDOS GEOTÉCNICOS EXECUTADOS

Este Artigo objetivou apresentar os resultados


das investigações geotécnicas efetuadas na área
e em solos coletados no local de implantação do
Setor Habitacional Jardins Mangueiral. Diante
dos estudos foi possível verificar que em termos
estratigráficos há uma predominância de solos
Figura 11. Vista geral do Setor Habitacional Mangueiral. argilo-arenosos e/ou argilo-siltosos na camada
superficial da área em estudo. Com base nas
condições de densificação, permeabilidade e
adensamento dos estratos superficiais
Bacia de Infiltração investigados foi possível concluir que:
01) A densificação com a profundidade do
material em estudo e a diminuição da
permeabilidade à medida que a profundidade
aumenta. Tal fato evidencia a influência do
intemperismo nas camadas superiores dos
estratos de solo existentes na área. Os pesos
específicos das partículas mostram que em
Figura 12. Vista micro de uma das quadras habitacionais. termos de gênese os solos superficiais e
subjacentes apresentam composições similares

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



e típicas de argilas e areias. A porosidade do solo natural ora existente, haveria então que se
material descresce então com a profundidade prever a execução de um sistema de drenagem
como um resultado da densificação (aumento da que coletasse e conduzisse as águas superficiais
massa específica aparente). Os ensaios de ao entorno da área compactada avaliando-se
permeabilidade realizados em campo indicam o então a infiltração das águas superficiais com
decréscimo de permeabilidade dos solos com a base nos valores de permeabilidade ora
profundidade. Verifica-se que os valores de apresentados neste estudo;
permeabilidade obtidos são, 05) Os estudos ora apresentados
predominantemente, da ordem de grandeza de demonstram permeabilidade adequada dos solos
10-3 cm/s nas profundidades de 1,50m e 10-4 superficiais da área em estudo. Notadamente,
cm/s para as profundidades de 3,0 metros; verifica-se também a compatibilidade da área
02) Os valores de porosidade e ao acúmulo de águas superficiais em bacias
permeabilidade obtidos nas investigações topográficas de pequenas dimensões.
geotécnicas de campo e laboratório permitiram Entretanto, a impermeabilização de uma
constatar a importante influência do determinada área devido à construção de uma
intemperismo nas propriedades de infiltração de benfeitoria gera preocupações que são
águas pluviais nos estratos superficiais da área controversiais em natureza. Uma das
em estudo. A combinação dos dados preocupações diz respeito à influência das
estratigráficos das análises geotécnicas aqui águas de escoamento superficial que serão
efetuadas, confirmam a densificação com o direcionadas às áreas adjacentes e com
aumento de profundidade dos estratos potenciais de erodibilidade que serão função do
superficiais da área. Tal fato reflete na menor projeto de drenagem; Tal projeto deveria
permeabilidade dos estratos inferiores os quais compatibilizar a energia da água nos pontos de
ainda mantém uma estruturação mais descarga com a erodibilidade dos solos onde
consistente. Ressalte-se, entretanto, que tal estas descargas ocorrerão;
consistência certamente não se manteria se os 06) Em termos de colapsividade, informa-
ensaios de permeabilidade fossem efetuados se que alguns solos não-saturados sofrem uma
nos possíveis planos preferenciais de brusca redução do índice de vazios quando
“fraturamento” dos solos; saturam e (ou) recebem algum tipo de
03) As camadas superficiais apresentam solicitação. Este comportamento, por exemplo,
permeabilidades adequadas com certa é típico das argilas porosas de Brasília. A causa
capacidade de armazenamento de líquidos que está associada aos macros poros que se
diminui com a profundidade conforme formaram a partir de um processo de lixiviação
demonstrado com a redução da porosidade pela água, onde as partículas finas são carreadas
(densificação) com o aumento da profundidade. para camadas mais profundas e deixado nos
Aliado a este fato, pode-se verificar que há contactos um material cimentante (geralmente o
variabilidade espacial dos parâmetros carbonato de cálcio ou o óxido de ferro). Com a
hidráulicos (porosidade e permeabilidade) saturação, esse material cimentante é dissolvido
decorrentes do grau de intemperismo existente. e o colapso da estrutura da argila pode ocorrer
Com base nestes resultados pode-se estimar que devido a alguma solicitação. O papel do
águas superficiais que atinjam o solo de material cimentante pode ser feito por forças
cobertura ora existente, infiltrar-se-ão em tempo capilares que surgem nos solos não-saturados e
relativamente curtos dependendo da capacidade que também se perdem com a saturação. Assim,
de retenção do terreno superficial em termos de o grau de colapsibilidade de uma argila pode ser
bacias topográficas; definido a partir de um índice chamado de
04) Na alternativa de que fossem coeficiente de colapso “i” obtido em ensaios de
executados aterros argilosos e (ou) siltosos com adensamento em que a amostra é inundada a
determinado grau de compactação e de determinada tensão maior ou igual a que atua
permeabilidade relativamente inferior ao do no campo. Geralmente, se o coeficiente de
colapso (i) for > 0,02 o solo é considerado

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



colapsível. Para as amostras ensaiadas, verifica-
se um valor baixo do Coeficiente de Colapso
(0,019 para a Amostra 01 e 0,030 para a
Amostra 02), com tensões de 25 e 24 kPa na
inundação, respectivamente. Para tensões mais
elevadas, tem-se, o que era de se esperar,
valores mais elevados do Coeficiente de
Colapso. Entretanto, como a análise detêm-se
para pequenas bacias de infiltração, é de se
esperar que a destinação das águas pluviais, em
quantidades adequadas, não causará danos em
termos de colapso nessas bacias topográficas.

AGRADECIMENTOS

A Reforsolo Engenharia Ltda., Universidade


Católica de Brasília (UCB), Centro
Universitário de Brasília (UniCEUB) e ao
Instituto de Ensino Superior Planalto com
contribuições importantes que tornaram
possível a realização deste trabalho.

REFERÊNCIAS

ABNT / NBR 9603 – Sondagem a trado.


ABNT / NBR 6122 – Projeto e execução de fundações.
ABNT / NBR 13441 – Rochas e solos.
ABNT / NBR 13969 – Procedimento para estimar a
capacidade de percolação do solo.
Associação Brasileira de Geologia de Engenharia
(ABGE). Ensaios de Permeabilidade em Solos –
Boletim nº 4. Orientações para sua execução no
campo, 3a. edição, 1996, 35p.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Influência da Metodologia Utilizada na Preparação de Amostras
para Análise de Difração de Raios X de um Perfíl de Solo de
Brasília
Sabrina Marques Rodrigues
UEG, Anápolis, Brasil, sabrinamarques02@hotmail.com

Renato Cabral Guimarães


Furnas e UEG, Goiânia, Brasil, renatocg@furnas.com.br e renato.guimaraes@ueg.br

José Camapum de Carvalho


UnB, Brasília, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

Renato Batista de Oliveira


Furnas, Goiânia, Brasil, renatoba@furnas.com.br

Heloisa Helena A. B. da Silva


Furnas, Goiânia, Brasil, heloisah@furnas.com.br

RESUMO: O presente trabalho visa contribuir para o entendimento da interferência da metodologia


usada na preparação das amostras nas análises de difração de raios X, com amostras retiradas em um
perfil de solo tropical da cidade de Brasília. Foram realizadas análises da amostra integral e da fração
argilosa com coletas em 1 minuto, 1 hora e 8 horas de sedimentação. Em todas as amostras da fração
argila aplicou-se o método de orientação por esfregaço e do gotejamento na preparação das lâminas.
Nessas lâminas preparadas realizaram-se ainda os tratamentos de glicolagem e calcinação. Ao se
avaliar os difratogramas das análises da fração argilosa, percebe-se que o método de orientação por
esfregaço se apresentou melhor para a interpretação dos difratogramas.

PALAVRAS-CHAVE: Orientação de partículas, Solos Tropicais, Difração de Raios X.

1 INTRODUÇÃO pelos minerais formados como resultado do seu


intemperismo.
Um solo tropical é produzido pela ação do A caracterização mineralógica de um solo
intemperismo, que se reflete como um conjunto auxilia no entendimento de suas propriedades e
de modificações físicas e químicas, comportamento, no entanto, são pouco aplicadas
desintegração e decomposição que alteram as na prática da engenharia brasileira.
propriedades e estrutura do solo impactando Em relação à identificação mineralógica do
diretamente em seu comportamento solo, a difratometria de raios X é uma técnica
hidromecânico (BURGOS, 2016). intensivamente utilizada na caracterização de
A mineralogia é um dos fatores controladores materiais desde a década de 30 do século XX.
do tamanho, da forma e das propriedades físicas Segundo Guimarães (1999) a difratometria de
e químicas das partículas do solo. A matéria raios X constitui uma técnica essencial para
mineral do solo é representada pelos minerais caracterização mineralógica dos argilominerais e
constituintes do material de origem do solo, e/ou de outros constituintes de granulação fina do
solo.

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Desde o surgimento, essa técnica vem seco, sendo esta ciclagem determinante na
passando por melhoramento contínuo, formação do solo laterítico (CAMAPUM DE
principalmente a instrumentação de raios X. Os CARVALHO et al., 2015).
equipamentos de difração são modernizados
constantemente proporcionando análises mais 2.2 Aspectos Mineralógicos dos Solos
precisas. Além da instrumentação, as técnicas de Tropicais
preparação da amostra também foram
aprimoradas nas últimas décadas. 2.2.1 Mineralogia dos Solos Lateríticos
A preparação pode influenciar os resultados,
principalmente no caso de solos tropicais, De acordo com Nogami e Villibor (1995), os
dependendo do grau de intemperismo, desde a solos superficiais lateríticos apresentam uma
etapa de secagem do solo até a metodologia de mineralogia simples, sendo que o quartzo é um
preparação das lâminas que são utilizadas na mineral encontrado com muita frequência e de
análise. maneira predominante na fração areia desses
Visando avaliar a influência do processo de solos.
preparação de amostras utilizado na difração de Ocorre frequentemente, sobretudo na fração
raios X, nesse trabalho, serão avaliados e pedregulho, a laterita ou concreção laterítica que
comparados os resultados obtidos entre: análise resultam da junção de vários minerais que se
da fração integral e da fração argilosa; método aglomeram. É constituída essencialmente de
do gotejamento e o método de orientação por óxidos hidratados de ferro e de alumínio.
esfregaço; análises nos diferentes tempos de Na fração argila dos solos lateríticos, podem-
coleta de material em sedimentação; análise de se encontrar constituintes minerais, como
amostra em estado natural, saturadas por argilominerais, óxidos e hidróxidos de ferro e
etilenoglicol e calcinadas. alumínio e constituintes orgânicos. O
argilomineral predominante nessa fração é a
caulinita que é o membro da família dos
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA argilominerais menos ativos coloidalmente. Os
óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio de
2.1 Solos Tropicais comum presença nos solos tropicais são a
hematita, goethita e gibbsita. Eles possuem
Solo tropical é aquele que, comparado aos solos propriedades cimentantes e contribuem com a
não tropicais, apresenta peculiaridades de cor vermelha e amarela nesses solos (NOGAMI
propriedades e comportamentos em decorrência e VILLIBOR, 1995; CARDOSO, 2002).
da atuação de processos geológicos e
pedológicos, típicos das regiões tropicais 2.2.2 Mineralogia dos Solos Saprolíticos
úmidas. Assim, para que um solo possa ser
considerado tropical, é primordial que ele possua A composição mineralógica dos solos
peculiaridades de interesse geotécnico e não saprolíticos é variada, ao contrário dos solos
apenas tenha sido formado em região de clima lateríticos, podendo ser simples ou
tropical úmido (NOGAMI e VILLIBOR, 1995). extremamente complexa, dependendo do tipo de
Nogami e Villibor (1995) destacaram dentro rocha matriz e do seu grau de intemperização. No
dos solos tropicais duas classes: os solos entanto, é bastante típica a ocorrência de
lateríticos e os solos saprolíticos, mas há que se mineralogia complexa em todas as suas frações
destacar que entre esses dois solos geralmente granulométricas (DELGADO, 2002).
encontra-se presente uma camada de solo de Na fração areia, os solos saprolíticos podem
transição. possuir uma grande variedade de minerais, tais
Nas regiões tropicais, pode-se dizer que como feldspatos, micas, além do quartzo. A
existem apenas duas estações climáticas: seca e constituição da fração silte é da mesma forma
chuvosa. Essa alternância de clima faz com que que na fração areia, muito variada, e também
os solos sofram um processo de lixiviação no pode ocorrer a presença de principalmente
período chuvoso e de ressecamento no período

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caulinita, mica e quartzo (NOGAMI e O material coletado foi encaminhado para
VILLIBOR, 1995). análise nos Laboratórios da Divisão de
Na fração argila dos solos saprolíticos há a Tecnologia em Engenharia Civil da Gerência de
possibilidade de ocorrerem argilominerais mais Serviços e Inovação Tecnológica de FURNAS,
ativos coloidalmente, tais como os da família das localizados em Aparecida de Goiânia - GO.
esmectitas.
3.2 Preparação das Amostras para Difração de
2.3 Solos da Região do Distrito Federal Raios X

O Distrito Federal localiza-se no Centro-Oeste A análise difratométrica dos minerais dos solos
do Brasil, com uma área de 5814 km2. É coberto compreende as etapas de preparação, análise e
por um manto de solo resultante de interpretação do difratograma.
intemperismo, principalmente químico, Neste trabalho, foram realizadas análises
associado a processos de lixiviação e laterização integral ou total (contempla as diferentes frações
de idade Terciária/Quaternária (MENDONÇA et granulométricas do solo) e análises da fração
al., 1994). argilosa, sendo que as amostras de solo utilizadas
Segundo Otálvaro (2013) o solo do Distrito foram previamente secas ao ar.
Federal é resultado de condições climáticas Para realização das análises integral as
alternadas entre secas-frias e úmidas-quentes, e amostras foram destorroadas e moídas até
dessa forma nos períodos com condições úmidas obtenção de 100% do material passante na
quentes intensifica-se a perda de sílica e o ganho peneira Nº 200 (0,074 mm). Então, se fez a
na acumulação de óxidos e hidróxidos de ferro e montagem desse material no porta amostras
alumínio. depositando e compactando o pó.
Um alto grau de intemperismo e lixiviação foi A preparação para análises da fração argilosa
responsável pela formação deste solo, o que foi feita por dispersão com hexametafosfato de
conduziu à formação de uma estrutura bastante sódio, agitação e sedimentação. Posteriormente,
porosa com altos índices de vazios fizeram-se coletas de material com a pipeta nos
(GUIMARÃES, 2002). tempos de 1 minuto, 1 hora e 8 horas, sempre
coletando a parte sobrenadante. Com essa
metodologia, buscou avaliar se o material
3 MATERIAIS E MÉTODOS coletado apresentava composição mineralógica
distinta segundo o tempo de coleta, pois o
3.1 Solos Estudados processo de sedimentação se fundamenta no
tamanho, densidade e forma dos grãos do solo
As análises deste trabalho foram realizadas com como um todo, conforme a Lei de Stokes.
solo residual coletado no Campo Experimental Para preparação das lâminas da fração
do Programa de Pós-Graduação em Geotecnia da argilosa para a análise do material coletado da
Universidade de Brasília que se situa no Campus proveta, se utilizou o método do gotejamento e o
Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília-DF. método da orientação por esfregaço.O método
Foram coletadas amostras indeformadas para do gotejamento foi realizado com a deposição do
se evitar possíveis variações das características material coletado em suspensão com a pipeta
estruturais e mineralógicas do solo procedentes diretamente na lâmina e deixando-o secar
da manipulação. Para a coleta das amostras, progressivamente. Nesse método, a orientação se
realizou-se um poço com 12 m de profundidade dá pela ação da sucção natural durante o
e 1,2 m de diâmetro, retirando amostras nas processo de secagem ao ar.
profundidades de 2, 4, 6, 8, 10 e 12 m. As O método da orientação por esfregaço foi
amostras, tomadas de forma cúbica com feito transferindo-se o sobrenadante coletado
dimensões de aproximadamente 30x30x30 cm, com a pipeta para tubos de ensaio e levando-os
foram parafinadas e guardadas em câmara úmida para a centrífuga. A fração argila decantada por
(condições de temperatura estáveis). centrifugação foi espalhada sobre a lâmina de
vidro. Utilizando-se outra lâmina foi feito a

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prensagem com raspagem aplicando-se perfil de solo. Pode-se notar que nas
movimentos repetidos na mesma direção e profundidades de 2 a 8 m o solo é composto
sentido. Com isso busca-se obter a orientação basicamente por quartzo, caulinita, gibbsita e
das partículas. traços de hematita. A partir da profundidade
A Figura 1 ilustra o aspecto visual das lâminas 10 m ocorre grande aumento na quantidade de
preparadas com o método do gotejamanto (a) e caulinita, o aparecimento da muscovita (mica), a
orientado por esfregaço (b). concentração de quartzo diminui e desaparecem
as ocorrencias de gibbsita e hematita.
Neste trabalho, além das análises integral,
realizaram-se análises somente da fração argila.
Isso é recomendável, pois na análise integral se
verifica o conjunto de minerais cristalinos totais
presentes no solo e ao se analisar apenas a fração
argila, os picos dos argilominerais (menos
cristalinos) podem ser mais bem evidenciados
por meio de orientações das partículas.
(a) (b) O processo de coleta de material em
Figura 1. Lâminas Preparadas com (a) Método do
Gotejamento; (b) Método Orientado por Esfregaço.
diferentes tempos (1 minuto, 1 e 8 horas) foi
realizado com o intuito de se buscar identificar
Foram realizadas, nestas lâminas da fração diferenças mineralógicas conforme o nível de
argila, preparadas segundo os dois métodos, a sedimentação da mistura.
análise do solo natural (apenas com secagem ao Na sequência, são apresentados difratogramas
ar) e outras análises com tratamentos de comparativos das amostras coletadas da fração
saturação por etilenoglicol e calcinação. argilosa em todos os tempos de sedimentação
estudados para 2 (representando de 2 a 8 m) e 10
metros do perfil de solo, com o método orientado
4 RESULTADOS (Figura 3) e com método do gotejamento (Figura
4).
As análises do perfil de solo estudado
permitiram a caracterização mineralógica de 2 a (a) 2 m
12 m, conforme Figura 2.
Caulinita

2000
Caulinita
Lin (Counts)

Vermiculita

Gibbsita
Muscovita

4000
Gibbsita
Caulinita
Muscovita

Caulinita
Quartzo
Muscovita

8 horas
Quartzo

1 hora
12m
1 minuto
Lin (Counts)

0
10 m
2000 3 10 20 30 40 50 60
Gibbsita Hematita
8m 2-Theta - Scale
Muscovita
Muscovita

6m
(b) 10 m
Caulinita

4m
Caulinita

2000
Lin (Counts)

2m
Alophana

0 Muscovita
3 10 20 30 40 50 60 70
Mica

2-Theta - Scale
8 horas
874.2016 - profundidade 2 m 877.2016 - profundidade 8 m
875.2016 - profundidade 4 m 878.2016 - profundidade 10 m
1 hora
876.2016 - profundidade 6 m 879.2016 - profundidade 12 m

Figura 2. Caracterização Mineralógica Integral do Perfil de 1 minuto


0
Solo Estudado de 2 a 12 m. 3 10 20 30 40 50 60

2-Theta - Scale
Figura 3. Análise da Fração Argila pelo Método
Por esta técnica, devido a composição
Orientado: (a) 2 m e (b) 10 m.
mineralógica identificada, foi possível a
confirmação da evolução intempérica deste

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muscovita ocorre em lâminas e em escamas que
(a) 2 m
facilitam a sua permanencia em suspensão no
meio líquido.
2000
Lin (Counts)

Segundo Guimarães (1999), as pequenas


Vermiculita

Caulinita
Muscovita

Caulinita
Gibbsita
Gibbsita
dimensões dos argilominerais e sua estrutura
8 horas cristalina mal definida não propiciam a formação
1 hora de reflexões intensas. Dessa forma, é
1 minuto interessante utilizar o método orientado para
0

3 10 20 30 40 50 60
análise da fração argilosa a fim de se evidenciar
2-Theta - Scale os argilominerais através da orientação das
partículas, visto que a maioria dos argilominerais
Muscovita

(b) 10 m
Muscovita

têm partículas em formato de placas,


favorecendo a orientação paralela ao suporte da
Caulinita

2000
Lin (Counts)

amostra imposto pelo método orientado.


Caulinita
Alophana

Muscovita
Comparativamente as Figuras 3 e 4 apontam,
Mica

8 horas
que, para as condições de preparação de
1 hora
amostras adotadas, o método de orientação por
1 minuto
0
esfregaço permitiu uma melhor orientação das
3 10 20 30 40 50
partículas. A presença de picos menos intensos e
2-Theta - Scale
Figura 4. Análise da Fração Argila pelo Método do com pior definição nas amostras preparadas por
Gotejamento: (a) 2 m e (b) 10 m. gotejamento é bastante visível em relação ao
argilomineral caulinita que aparece notoriamente
Nas análises realizadas da fração argilosa, menos realçado na técnica de gotejamento. Essa
verificou-se que o mineral quartzo e os demais particularidade foi observada em todas as
minerais primários densos não foram amostras.
identificados e nas profundidades de 2 a 8 m A finalidade de se realizar os tratamentos de
surgiram traços de vermiculita, mineral não saturação por etilenoglicol e calcinação nas
identificado na fração integral. Confirma-se lâminas preparadas com os dois métodos é
então, a importância de se realizar também possibilitar que as informações sejam cruzadas e
análises apenas na fração argila de modo a permitam a identificação mais completa dos
permitir que sobressaiam picos não detectados argilominerais presentes no solo. Por tratamento
na análise da amostra integral. de saturação por etilenoglicol não foi
A densidade dos minerais primários como identificada a presença de argilominerais
anatásio, ilmenita, espinélio, rutilo e quartzo é expansivos no solo estudado.
maior que as densidades dos demais minerais Na Figura 5 se apresenta um difratograma da
presentes nas amostras, e isso explicaria, pelo fração argila de uma amostra a 2 metros de
menos em parte, eles não serem identificados nas profundidade, fazendo-se uso da técnica da
análises ao final da sedimentação, pois segundo orientação por esfregaço para amostra coletada
a Lei de Stokes eles se depositaram na proveta após 8 horas. Observa-se a presença de caulinita
anteriormente aos demais minerais com com pico principal a 7,14 Å, e a gibbsita com
densidade inferior. pico principal a 4,83 Å, ambos minerais não
Verificou-se nos difratogramas que o mineral apresentam mais picos na análise calcinada e na
muscovita não é identificado na análise de 8 análise com saturação por etilenoglicol não
horas de sedimentação para as amostras de 2 a 8 houve alteração em relação à análise natural.
metros de profundidade. Esperava-se que este Verifica-se também a presença da vermiculita
mineral já não ocorrece nos tempos de com pico a 14,21 Å na análise natural
sedimentação 1 minuto e 1 hora por ter permanecendo o mesmo na análise com
densidade maior que a do quartzo. Porém, saturação por etilenoglicol, porém na análise
somente no tempo de sedimentação de 8 horas calcinada o pico colapsa e desloca para
ocorreu sua separação. Isto confirma que a forma aproximadamente 11 Å.
também influencia na sedimentação, visto que a

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confiabilidade e otimização de empreendimentos
de energia – código ANEEL 0394-1504/2015.

REFERÊNCIAS
Burgos, J.F. (2016) Influência da Microestrutura no
Comportamento Mecânico dos Solos Tropicais
Naturais e Compactados, Dissertação de Mestrado,
Publicação G.DM-272A/16, Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
Brasília, Brasília, DF, 183 p.
Camapum de Carvalho, J.; Gitirana Jr, G. F. N.; Machado,
S.L.; Mascarenha, M.M.A.; Silva Filho, F.C. (2015)
Solos Não Saturados no Contexto Geotécnico.
Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e
Figura 5. Análise Acumulada da Fração Argila Preparada Engenharia Geotécnica, São Paulo, SP, 759 p.
por Esfraço, coletada após 8 horas. Cardoso, F.B.F. (2002) Propriedades e Comportamento
Mecânico de Solos do Planalto Central brasileiro,
Tese de Doutorado, Publicação G.TD-009A/02,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Universidade de Brasília, Brasília, DF, 357 p
Delgado, A. K. C. (2002) Influência da Sucção no
Destaca-se a importância de se fazer Comportamento de um Perfil de Solo Tropical
simultaneamente as análises integral e a da Compactado, Dissertação de Mestrado, Publicação
fração argilosa da amostra para se identificar G.DM-093A/02, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 200
todos os minerais possíveis presentes no solo. A p.
análise da fração argilosa possibilita a Guimarães, E. M. (1999) Difratometria de raios X -
identificação de minerais que não apresentem Minicurso ministrado no XXVII Congresso Brasileiro
picos evidentes na amostra total devido sua má de Ciências do Solo, Departamento de Mineralogia e
cristalinidade e/ou baixa quantidade. Petrologia, Universidade de Brasília, Brasília, DF,
18 p.
Com os resultados das análises, verificou-se Guimarães, R.C. (2002) Análise das Propriedades e
uma vantagem na utilização do método de Comportamento de um Perfil de Solo Laterítico
orientação por esfregaço em relação ao método Aplicada ao Estudo do Desempenho de Estacas
do gotejamento para fração argila desses solos, Escavadas, Dissertação de Mestrado, Publicação
evidenciado na identificação dos argilominerais, G.DM – 091A/02, Departamento de Engenharia Civil
e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF,
como a caulinita. Desta forma, sugere-se um 183 p.
estudo específico com outras técnicas de Mendonça, A.F., Lima, A., Barros, J.G.C., Cortopassi Jr.,
gotejamento a fim de se estabelecer uma R.; Cortopassi, R. (1994) Critérios Geológicos e
conclusão definitiva sobre o uso ou não deste Geotécnicos para Execução de Sondagens na Área do
procedimento. Distrito Federal, X Congresso Brasileiro de Mecânica
dos Solos e Engenharia de Fundações, ABMS, Foz do
Quanto ao tempo de sedimentação, houve Iguaçu, PR , Vol. 2, p. 389-395.
uma melhor separação dos argilominerais em Nogami, J.S. e Villibor, D.F. (1995) Pavimentação de
tempos maiores (8 horas) em relação aos tempos Baixo Custo em Solos Lateríticos, Ed. Vilibor, São
iniciais (1 minuto e 1 hora). Paulo, SP, 240 p.
Otálvaro, I.F. (2013) Comportamento Hidromecânico de
um Solo Tropical Compactado, Tese de Doutorado,
Publicação G.TD-082/13, Departamento de
AGRADECIMENTOS Engenharia Civil, Universidade de Brasília, Brasília,
DF, 122 p.
Os autores agradecem a Furnas Centrais
Elétricas S.A. Este trabalho apresenta parte do
estudo desenvolvido no Programa de P&D da
ANEEL – projeto intitulado Metodologias e
infraestrutura tecnológica para ampliação da

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Influência da Pureza da Água na Estabilidade Estrutural dos Solos
Frente à Compactação
Sacha Cristina do Nascimento Aquino
Centro Universitário do Distrito Federal, Brasília – DF, Brasil, sachaaquinoo@gmail.com

Jéssica Azevedo Coelho


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Uruaçu - GO, Brasil,
jessica1901@gmail.com

José Camapum de Carvalho


Universidade de Brasília-UnB, Brasília – DF, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

RESUMO: Nos ensaios laboratoriais, em conformidade com as especificações das normas, utiliza-
se água destilada no umedecimento do solo. Para compactação em campo se faz necessário à
utilização de dados experimentais, realizados em laboratório, corroborando assim a necessidade de
que os seus padrões de execução sejam similares ao da obra. De acordo com a literatura, para a
realização da compactação deve-se observar o tipo de solo, o método de compactação, a quantidade
e qualidade da água, a energia aplicada e a temperatura ambiente. O trabalho foi motivado pela
grande contaminação que vem ocorrendo em cursos d’água e reservatórios no Brasil o que pode
ocasionar grandes diferenças entre a pureza da água usada nos ensaios de laboratório e a utilizada
no umedecimento do solo em campo durante a construção das estruturas de pavimento. Observou-se
para as amostras de solos coletadas em profundidades de 1 m e 5 m, que houve um aumento no peso
específico do solo para amostras com água do córrego quando comparado ao obtido com utilização
de água destilada e água potável.

PALAVRAS-CHAVE: Propriedades Físicas, Propriedades Químicas, Solos Tropicais.

1 INTRODUÇÃO estabilização é realizado em condições de


laboratórios com a finalidade de identificar a
A compactação aplicada em campo depende do umidade e o peso específico aparente seco ideal
tipo de solo, da finalidade da obra e de suas para aplicação em campo. Sendo estes dois
condições de execução. E, a partir dela, em índices denominamos de teor de umidade ótima
princípio deve-se definir a metodologia que e peso específico aparente seco máximo.
mais se aproxima das condições em campo para De acordo com Camapum de Carvalho et al.,
realização do ensaio em laboratório. Dentre os (1987), a compactação realizada em laboratório
fatores normalmente observados para realização é definida a partir da metodologia que mais
dos ensaios em laboratório estão o tipo de solo, reflete as condições de campo. Tendo como
o método de compactação, a quantidade da água aspectos relevantes o tipo de solo, a qualidade e
e a energia aplicada (CAMAPUM DE quantidade da água, a temperatura, o método de
CARVALHO et al.,1987). compactação e a energia aplicada. No caso de
A estabilização estrutural consiste na projetos rodoviários o uso em laboratório mais
densificação do solo, para um determinado teor comum é da compactação dinâmica, mesmo
de umidade, através da aplicação de uma que, dependendo da quantidade de agregações
energia mecânica (HOLTZ E KOVACS, 1981). do material, ela não represente de modo
Segundo Aquino et al. (2016), o processo de adequado a compactação de campo.

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Por se tratar de um dos aspectos relevantes comparação da pureza da água. Sendo uma
para estabilização dos solos por meio da amostra de água destilada, outra de água
compactação, este artigo tem como objetivo potável proveniente da rede de abastecimento
analisar a influência da pureza da água no público coletada no Laboratório de Geotecnia
processo de compactação de um perfil de solo da UnB e a terceira coletada em córrego
da região metropolitana de Brasília. Segundo poluído por coliformes.
Camapum de Carvalho et al. (2015), Na Tabela 1, observa-se a diferença de pH da
dependendo do tipo de solo, a qualidade da água destilada para a água potável e para a
água pode interferir no comportamento e no proveniente do córrego. A condutividade
resultado da compactação. No caso de solos elétrica (uS/cm) da água destilada se apresenta
profundamente intemperizados, a interação da muito inferior às demais amostras de água,
água com o solo pode gerar desagregação do podendo ter este fator, devido à composição
material quando o pH do conjunto solo-água é química, grande influência na interação água-
alterado passando pelo ponto de carga zero. solo.
Essa particularidade mostra assim, a
importância do presente artigo, pois nem Tabela 1- Análise das águas usadas no estudo.
sempre as características da água usada em Água
Parâmetro
campo são semelhantes à da água que foi usada Destilada Potável Córrego
nos estudos de laboratório. pH 7,0 6,7 6,3

Condutividade (uS/cm) 2,25 19,18 23,3

2 METODOLOGIA
A elevada condutividade elétrica da água
Para este estudo foram coletadas amostras em proveniente do córrego se justifica pela
um poço localizado na região da Asa Norte, no presença de coliformes totais e fecais e outros
Campo Experimental do Programa de Pós- compostos químicos comuns no esgoto
Graduação em Geotecnia da Universidade de doméstico. A presença de coliformes na água
Brasília (UnB), Brasília – DF, em duas destilada e na água potável não foi avaliada por
profundidades, 1 m e 5 m, considerando-se tratar-se de água proveniente de abastecimento
assim, solos submetidos a níveis de público e, portanto, em princípio, tratada. A
intemperização distintos. Para avaliar a amostra do córrego apresentou coliformes totais
diferença de comportamento foram utilizadas maiores que 7,3 NMP por 100 ml.
amostras de água com grau de pureza diferente.
Sendo, os tipos de água usadas no estudo, os 3.2 pH das amostras de solos misturados aos
descritos a seguir: água destilada; água potável três fluidos
oriunda da rede de distribuição local; água
proveniente de córrego contaminado por O ensaio de pH do solo foi realizado embasado
coliformes. no Manual da Emprapa. A Tabela 2 apresenta
Por fim, foram realizados ensaios de os resultados de pH em Água e KCl obtidos
verificação da pureza da água e ensaios de pH, para as profundidades de 1m e 5m e os
compactação e CBR para as amostras de solo. resultados de ponto de carga zero (PCZ)
calculados com base nesses resultados
utilizando-se a equação 1 (KENG E UEHARA,
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 1974, apud CAMAPUM DE CARVALHO et
al., 2015). Em ambos os casos, pH em água e
3.1 Propriedades da água KCl, utilizou-se água destilada nos ensaios.

Foram utilizados três tipos de amostras de água PCZ = 2 pHKCl – pHH2O (1)
com qualidades distintas para efeito de
Tabela 2. Resultados de pH dos solos estudados

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


Profundidade (m) pHH2O pHKCl PCZ O ensaio de compactação Mini-Proctor,
1 5 4,9 4,8 metodologia definida por Nogami e Villibor,
5 5,9 5,4 4,9 consiste em um processo de compactação
laboratorial mais econômico e apropriado aos
Considerando-se os resultados de pH obtidos solos tropicais finos, como é o caso dos solos
para as águas utilizadas (Tabela 1) e os estudados, visto que faz uso de uma quantidade
resultados de PCZ indicados na Tabela 2 menor de amostra do que a compactação
estima-se que apenas para a amostra de solo dinâmica convencional tipo Proctor. A energia
coletada na profundidade de 1 para a qual aplicada em todas as amostras neste estudo
ocorre certa proximidade entre o pH do solo seguindo essa metodologia de ensaio foi a
(5) e aquele correspondente ao ponto de carga intermediária.
zero (4,8) ocorre algum risco de desagregação Como complementação foram realizados
devido ao pH das águas utilizadas. Nesse caso, ensaios de Mini-CBR para verificação de
ao serem adicionadas à amostra de solo as alterações na resistência à penetração. Esses
águas usadas o pH passaria pelo PCZ ensaios foram realizados com o solo na
possibilitando com sua mais fácil umidade ótima de compactação sem o uso de
desagregação. No entanto, apesar das imersão.
diferenças existentes entre os pHs das três A amostra de solo coletada a 1 m de
águas usadas (Tabela 1), a Figura 1 mostra, ao profundidade (Figura 2) apresentou umidades
se analisar os pH das amostras de solo ótimas aproximadamente iguais para os três
misturadas com os três tipos de água, que o pH tipos de água, no entanto, os pesos específicos
das amostras coletadas a 1 m e 5 m de aparentes secos foram distintos. Foi encontrado
profundidade não são muito diferentes entre as um peso específico aparente seco para a água
misturas. Porém, apesar de pequenas as do córrego igual a 16,27 kN/m3, para a água
diferenças, observa-se, Figura 1, que elas são destilada igual a 15,81 kN/m3 e para a água
maiores para a água potável e menores para a potável igual a 15,44 kN/m3. Observa-se que
água proveniente do córrego e que para a tais resultados são coerentes com as
profundidade de 1 m o pH da mistura solo – proximidades entre os valores de Ph mostrados
na Figura 1 e o ponto de carga zero obtido para
água do córrego se aproxima do PCZ
essa profundidade (Tabela 1), ou seja, os
oferecendo assim certo risco de desagregação
maiores valores de peso específico aparente
quanto a esse parâmetro.
seco foram obtidos para as amostras mais
propensas a desagregação em função dos pHs
pHdosolo induzidos pelas águas. Cabe salientar que os
resultados de limite de liquidez e plasticidade
Solo+ÁguadoCórrego Solo+ÁguaPotável apresentados por Carvajal et al. (2005) são
Solo+ÁguaDestilada
muito semelhantes entre amostras naturais e
desagregadas por ação de ultrassom, ou seja, a
4,9 5,1 5 5,7 6 5,9 água presente no interior dos agregados e que
não interfere, em princípio, no comportamento
corresponde à água que passa a atuar no
1M 5M comportamento com as partículas desagregadas,
explicando assim a inexistência de variação nas
Figura 1. pH do solo para as profundidades de 1 m e 5 m.
umidades ótimas obtidas para os três tipos de
água.
3.3 Compactação Mini-Proctor e resultados de Observa-se ainda nessa figura, que o ramo
Mini-CBR seco foi mais íngreme e o ramo úmido mais
suave para a água do córrego enquanto o ramo
seco foi mais suave e o úmido mais íngreme

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para a água potável. Sabe-se que solos com valores iguais a 87%, enquanto a amostra com
maior variação de sucção, maior efeito água destilada e potável apresentaram valores
lubrificador da água e maior quebra de próximos entre 9 e 8%. Como os ensaios de
agregados tendem a apresentarem ramos seco Mini-CBR foram realizados na condição não
mais íngremes. O ramo seco mais íngreme saturada, o maior valor desse índice obtido para
obtido para a água do córrego aponta para a o solo misturado à água do córrego pode estar
maior desagregação do solo e o ramo úmido atrelado a uma maior sucção presente no solo
mais suave corrobora com esse entendimento, em função da desagregação que nele teria
pois com a maior desagregação amplia-se o ocorrido, pois com a desagregação tende a
potencial de geração de pressões neutras desaparecerem os macroporos passando a
positivas durante a compactação do solo no sucção a maiores valores ao atuarem em poros
ramo úmido, suavizando sua inclinação. menores.
Diante dessas particularidades, estima-se que
a água do córrego possibilitou uma maior
desagregação do solo durante o processo de
compactação e a água potável uma menor
desagregação, assumindo a água destilada
comportamento intermediário.
Na Figura 2 foram ainda desenhadas as curvas
de saturação considerando-se o peso específico
dos grãos obtido por Guimarães (2002) e a
curva de saturação considerando um peso
específico dos grãos igual a 29,42 kN/m3, valor
esse necessário para que se evitasse a Figura 3 – Mini-CBR para solo de 1 m de profundidade.
interceptação da curva de compactação pela
curva de saturação. Portanto, embora não tenha A amostra de solo coletada a 5 m de
sido determinado, essa análise aponta para duas profundidade, conforme a Figura 4, embora
possibilidades: ou a amostra utilizada no tenha apresentado valores similares de peso
presente estudo apresenta valor de densidade específico aparente seco máximo (16,47
dos grãos superior ao obtido por Guimarães kN/m3) e umidade ótima (21,6%) para a água
(2002), ou elementos e compostos químicos destilada e a água potável. O peso específico
presentes na água do córrego contribuíram para aparente seco máximo foi ligeiramente superior
a elevação da densidade dos grãos do solo. (16,5 kN/m3) e a umidade ótima um pouco
menor (21,2%) ao se utilizar água do córrego.
Pode ser considerado que em relação a amostra
coletada a 1 m de profundidade, a amostra
coletada a 5 m de profundidade foi muito pouco
afetada pelo tipo de água usado fazendo
sobressair a importância de se considerar o
nível de intemperização do sofrido pelo solo
nesse tipo de análise.

Figura 2 – Curva de compactação para solo de 1 m de


profundidade.

Como se pode observar na Figura 3, o Mini-


CBR, na umidade ótima, mostrou-se maior nas
amostras com água do córrego apresentando

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importância de se considerar os efeitos do
tratamento dispensado ao solo na fase de
preparação de amostras quando se trabalha com
solos tropicais.

Figura 4 - Curva de compactação para solo de 5m de


profundidade.

Quanto ao formato das curvas observa-se com


maior clareza apenas uma maior inclinação para
o ramo seco da curva de compactação obtida
para o solo misturado à água do córrego. Figura 5 - Curva de compatação para solo seco ao ar
Observa-se ainda na Figura 4 que a curva obtida (Aquino, 2016) e seco na lâmpada de 5 m de
profundidade.
para a mistura com água do córrego tem o seu
ramo úmido tocando a curva de saturação
obtida considerando-se a densidade dos grãos O Mini-CBR da amostra proveniente de 5 m
obtida por Guimarães (2002) o que corrobora de profundidade mostrou-se similar para a água
com a ideia de que essa água estaria alterando a do potável e a água proveniente do córrego,
densidade dos grãos do solo. apresentando o valor de 87% e 82%
Comparando-se às curvas de compactação respetivamente, e para a água destilada o valor
obtidas para 1 m de profundidade verifica-se de 110% (Figura 6). É interessante observar que
sem exceção uma maior declividade das curvas o valor obtido para a água do córrego para a
de compactação obtidas para a profundidade de profundidade de 5 m é muito semelhante ao
5 m o que aponta para essa profundidade um valor obtido para a profundidade de 1 m, assim
solo mais degrado e apresentando assim como o são os valores de peso específico
maiores variações de sucção com a variação do aparente seco e teor de umidade ótimo, o que
teor de umidade. corrobora, segundo as análises que foram
Comparando os dados desse estudo com os apresentadas para as duas profundidades, com o
obtidos por Aquino et al. (2016) para o solo fato de que para a profundidade de 1 m a água
oriundo de 5m de profundidade, observou-se do córrego agiu no sentido de facilitar a
um comportamento semelhante, sendo que com desagregação do solo durante o processo de
um pequeno deslocamento na curva gerado pelo compactação.
aumento do peso especifico aparente seco e pela
diminuição da umidade ótima.
Conforme exposto por Pessoa (2004), o
procedimento realizado para preparação de
amostras, compreendendo a secagem e o
destorroamento, afeta o resultado da
compactação devido a diferenças na dilatação
térmica do material e eventualmente na sucção.
O que justifica o deslocamento da curva na
Figura 5, pois o solo utilizado neste artigo foi
seco por lâmpadas atingindo maiores
temperaturas que o estudado por Aquino et al. Figura 6 – Mini-CBR para solo de 5 m de profundidade.
(2016) foi seco ao ar. Essa constatação realça a

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
4 CONCLUSÃO Brasília. Brasília, DF, 6p.
Carvajal, H. E. M.; Camapum de Carvalho, J. &
Fernándes, G. (2005). Influência da desagregação nos
A respeito da influência da pureza da água na limites de Atterberg. II Simpósio sobre Solos
estabilização estrutural do solo nas Tropicais e Processos Erosivos no Centro-Oeste. UFG
profundidades estudadas, pôde-se concluir que – Goiânia. pp. 217-225.
a água do córrego, por apresentar maior Departamento nacional de estradas e rodagem (1994).
DNER – ME 258 – Solos Compactados em
contaminação em relação às demais e alterações equipamento miniatura – Mini-MCV. EMBRAPA.
nas propriedades químicas, provocou um Centro Nacional de Pesquisa de Solos (1997).
aumento de peso específico nas duas amostras Manual de métodos de análise de solo– 2. ed. rev.
analisadas, sendo esse aumento mais atual. – Rio de Janeiro. 212 p.
significativo na amostra coletada a 1 m de Holtz, R.D. & Kovacs, W.D. (1981).An introduction to
geotechnical engineering. PrenticeHall, Eagle wood
profundidade e fruto segundo as discussões Cliffs.
apresentadas de sua maior desagregação. Keng, J.C.W. & Uehara, G. (1974). Chemistry,
Desta forma, pode-se concluir que para uma mineralogy and taxonomy of Oxisols and Ultisols.
maior eficiência da compactação de campo em Proceedings Soil and Crop Science Society of
relação à de laboratório, faz-se necessário Florida, 33: 119-126.
utilizar na compactação água com propriedades Pessoa, F.H.C. (2004). Análises dos solos de Urucu para
Fins de Uso Rodoviário. Dissertação de Mestrado,
químicas similares.
Publicação nº G. DM-117A/04, Departamento de
O estudo colocou ainda em evidência que a Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
influência da qualidade da água na compactação Brasília, Brasília, DF, 151 p.
e comportamento do solo depende do nível de
intemperização que este sofreu. Cabe ainda
destacar que como os Mini-CBRs foram
determinados para a condição não saturada
onde a sucção exerce grande influência é
possível que na condição saturada esse
parâmetro passe por grandes reduções devido à
textura mais fina do solo oriunda da
desagregação.

REFERÊNCIAS

Aquino, S., Coelho, J. & Camapum de Carvalho, J.


(2016). Análise da influência da qualidade da água na
compactação de solos tropicais. 45a RAPv – Reunião
anual de pavimentação. 19º ENACOR – Encontro
nacional de conservação rodoviária.
Camapum de Carvalho, J., Crispel, J.J., Mieussens, C. &
Nardone, A. (1987). La Reconstitution des
éprouvettes en laboratoire: Théorie et pratique
opératoire. Rapport de recherche LPC No145. Paris:
Laboratoire Central de Ponts et Chaussées. 54 p.
Camapum de Carvalho, J., Junior, G., Machado, S.,
Mascarenhas & M., Filho, F. (2015). Solos não
saturados no contexto geotécnico. São Paulo.
Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica.
Carvalho, M.N. (1995). Seminário da disciplina
Geotecnia dos Solos Tropicais. Programa de Pós-
Graduação em Geotecnia. Departamento de

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Influência da Resistência à Tração de Solo Não Saturado em
Análise de Estabilidade de Talude
Maria Fernanda Wamser Barra
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, fernanda.barra@engenharia.ufjf.br

Nivalda Aparecida Condé de Oliveira


UFJF, Juiz de Fora, Brasil, nivalda.oliveira@engenharia.ufjf.br

Juliana Santos Fabre


COPPE-UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, juliana.fabre@coc.ufrj.br

Tatiana Tavares Rodriguez


UFJF, Juiz de Fora, Brasil, tatiana.rodriguez@ufjf.edu.br

RESUMO: Estudar os parâmetros de resistência do solo é importante na avaliação da estabilidade de


taludes. Alguns autores sugerem considerar uma parcela de resistência à tração, obtida pelo ensaio de
compressão diametral em disco. Realizou-se ensaios de tração no solo em condição não saturada, e
com esses resultados e com os obtidos pelo ensaio de cisalhamento direto, foi gerada uma envoltória
linear com tração e uma sem tração. Com as envoltórias, realizou-se análise de estabilidade, afim de
identificar aquela que melhor representa o solo. Os resultados obtidos indicaram influência da tração
tanto nos parâmetros de resistência, quanto nas análises de estabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Resistência à tração, Envoltória de Resistência, Análise de Estabilidade.

1 INTRODUÇÃO de segurança bastante diferentes em análises de


taludes rasos.
Apesar do grande avanço nos estudos de Diante disso, a partir de amostras
estabilidade e entendimento dos mecanismos de indeformadas de solo, foram realizados ensaios
ruptura, o escorregamento de taludes ainda é um de compressão diametral para determinar a
problema recorrente no Brasil. Por isso, a análise resistência à tração do solo não saturado e,
da estabilidade é essencial. Para tanto, é também, para aplicar esse valor na determinação
necessário conhecer os parâmetros de resistência da envoltória de resistência ao cisalhamento.
do solo e como eles influenciam na estabilidade Para gerar as evoltórias com e sem consideração
de taludes. da resistência à tração, foram utilizados os
Os parâmetros de resistência são obtidos a resultados dos ensaios de cisalhamento direto
partir das envoltórias de resistência, que por sua realizados por Oliveira Júnior (2016) neste
vez podem ser obtidas a partir de ensaios de mesmo solo. Com estes dados, foi possível
resistência ao cisalhamento direto. Moraes Silva avaliar a influência da resistência à tração no
et al. (2005) propuseram considerar também o intercepto coesivo e no ângulo de atrito, e
valor da resistência à tração no traçado da também como o fator de segurança, na análise de
envoltória de solos com cimentação natural, estabilidade de taludes, variou de acordo com
como os solos residuais lateríticos e coluvionares esses parâmetros obtidos.
lateríticos, já que a consideração ou não desse
valor referente à tração do solo geraram fatores

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


2 LOCAL DE ESTUDO arenosa no ensaio com defloculante. A curva
granulométrica obtida está representada na
2.1 Localização Figura 2.

Foi escolhido para estudo um solo da cidade de


Juiz de Fora (MG), encontrado na região
indicada na Figura 1, localizada na Pró Reitoria
de Infraestrutura (PROINFRA) da Universidade
Federal de Juiz de Fora.
O solo apresenta macroporos, visíveis a olho
nu. O local situa-se entre uma região formada por
sedimentos fluviais e coluviais, e outra
denominada Megasseqüência Andrelândia, com
presença de sillimanita-granada-biotita gnaisse,
com intercalações de quartzito impuro, rocha Figura 2. Curva Granulométrica Solo PROINFRA
(OLIVEIRA JÚNIOR, 2014).
calcissilicática, anfibolito e gondito. O solo
residual maduro, poroso e de coloração
2.3 Ensaio de Cisalhamento Direto
amarelada, apresenta nas frações argila e silte, a
presença predominante dos minerais caulinita e
Oliveira Junior (2016) realizou ensaios de
quartzo, além de alguns picos de feldspato. Já
cisalhamento direto para o solo com valores de
para a fração areia, foram vistos alguns picos de
tensão normal de 25 kPa, 50 kPa, 100 kPa e 200
Ilita e Mica, além daqueles citados anteriormente
kPa. Para algumas amostras, foi observado um
nas outras frações (Rosa e Oliveira, 2015).
pico de tensão nas curvas de tensão cisalhante
em função do deslocamento horizontal, enquanto
outras amostras não apresentaram esse mesmo
pico de tensão. Esta diferença de comportamento
foi atribuída à alta heterogeneidade do solo,
Pórtico Norte UFJF principalmente em função da macroporosidade
evidente e da existência de microraízes. Por isso,
foram utilizados, neste trabalho, apenas os
valores de tensão normalߪ‫ ݎ‬e tensão cisalhante
߬௥ para as amostras que não apresentaram esse
pico de tensão (Tabela 2).

Figura 1. Local de estudo (GOOGLE, 2017). Tabela 2. Valores do ensaio de cisalhamento direto
(Modificado de OLIVEIRA JUNIOR, 2016).
2.2 Caracterização Física ࣌࢘ (kPa) ࣎࢘ (kPa)
50 47,1
Os índices físicos referentes ao solo estudado, 50 88,1
obtidos por Oliveira Júnior (2016), encontram-se 100,1 143,1
reunidos na Tabela 1, onde ‘ȡnat’ é o peso 200,3 223,1
específico natural; ‘ȡd’ é o peso específico seco;
‘ȡs’ é o peso específico dos sólidos; ‘e’ é o índice
de vazios e ‘S’ é o grau de saturação. 3 ENSAIOS DE LABORATÓRIO
Tabela 1. Índices Físicos (Modificado de OLIVEIRA
JUNIOR, 2016). 3.1 Ensaio de compressão diametral
ȡnat(g/cm³) ȡd(g/cm³) ȡs(g/cm³) e S(%)
1,70 1,38 2,82 1,05 62,10 Para determinar a resistência à tração, foi
adotada a metodologia proposta por Rodriguez
(2005), com as alterações no procedimento de
O solo apresenta granulometria de argila
moldagem propostas por Fabre (2016). Foram

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moldados 4 corpos de prova em forma de disco Tabela 3. Resultados do ensaio de compressão diametral.
com dimensões de 5,2 cm de diâmetro interno e Teor de
Tensão de Média
CP umidade
2,6 cm de altura. As amostras foram rompidas tração (kPa)
(%)
(kPa)
em uma prensa mecânica, no mordente 1 5,7 21,9
estabelecido por Rodriguez (2005),
2 7,1 22,0
esquematizado na Figura 4. 6,4
3 6,6 22,7
4 6,1 23,1

4 ENVOLTÓRIAS DE RESISTÊNCIA

A envoltória de resistência obtida a partir dos


resultados do ensaio de cisalhamento direto de
Figura 4. Mordente utilizado no ensaio de compressão Oliveira Junior (2016) está apresentada na
diametral (RODRIGUEZ, 2005). Figura 6. Essa envoltória indicou intercepto
coesivo de 21,9 kPa e ângulo de atrito de 46º.
Um transdutor de deslocamento mede o
deslocamento vertical e uma célula de carga 250
mede a força aplicada. A aquisição de dados é y=1,0346x+21,787
feita com o auxílio do software CDREV, R²=0,9275
200
Tensãocisalhante(kPa)

desenvolvido pelo engenheiro Ricardo Gil da


COPPE/UFRJ. O ensaio é realizado até que seja
observado o surgimento de uma fissura no centro 150 c'=21,9kPa
da amostra. Foi calculado o teor de umidade para ੮'=46ȗ
todas as amostras, com o material obtido após o 100
fim do ensaio.
A tensão de tração (ߪ௧ ) é dada pela Equação 1,
50
onde P é a força na qual foi observada a fissura
primária (Figura 5), D é o diâmetro medido no
ponto correspondente à fratura e L o 0
comprimento axial do disco. 0 100 200 300
Tensãonormal(kPa)
ଶ௉
ߪ௧ ൌ (1)
గ஽௅ Figura 6. Envoltória linear sem tração.

Considerando a parcela de resistência à tração


no solo, foi obtida a envoltória da Figura 7, com
intercepto coesivo de 14,5 kPa e ângulo de atrito
de 47º.

Figura 5. Aparecimento da fissura primária.

Os resultados obtidos estão na Tabela 3. O


valor médio foi de 6,4 kPa, com desvio padrão
de 0,6 kPa, variância de 0,4 e coeficiente de
variação de 10%.

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250
y=1,0881x+14,535
R²=0,9541
200
Tensãocisalhante(kPa)

150

c'=14,5kPa
100 ੮'=47ȗ

50

Figura 9. Fator de segurança para parâmetros considerando


0 a tração.
Ͳ10 40 90 140 190 240
Tensãonormal(kPa)
6 CONCLUSÕES
Figura 7. Envoltória linear com tração.
A partir das duas envoltórias geradas, verificou-
se que, ao considerar a resistência à tração,
5 ANÁLISE DE ESTABILIDADE houve mudança principalmente no valor do
intercepto coesivo do solo, de 21,9 kPa (sem
Com os parâmetros de resistência do solo tração) para 14,5 kPa (com tração). O valor do
obtidos através das duas envoltórias, foi ângulo de atrito interno sofreu pouca alteração.
realizada análise determinística de estabilidade Com isso, houve influência no fator de segurança
de talude no módulo Slope/W do software do talude, de 3,7 para a envoltória sem tração,
Geostudio. para 3,0 na envoltória com tração, uma redução
Para a envoltória traçada apenas com os de 19%. Indicando assim, que o solo em estudo
valores do ensaio de cisalhamento direto, foi é melhor representado pela envoltória com
obtido fator de segurança de 3,7, como mostra a tração.
Figura 8.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à UFJF pelas bolsas de


iniciação científica BIC/UFJF e
PROVOQUE/UFJF, indispensáveis para a
realização deste trabalho.

REFERÊNCIAS

Fabre, J. S. (2016). Influência da tração na determinação


Figura 8. Fator de segurança para parâmetros sem tração. de parâmetros de resistência de solos. Trabalho de
conclusão de curso, Universidade Federal de Juiz de
Fora, 64 p.
Já com os parâmetros obtidos da envoltória Google. Programa Google Earth, versão 7.1, 2017.
que consideou a resistência à tração, foi obtido Oliveira Junior, M. R. de. (2016). Análise de estabilidade
fator de segurança de 3,0, como mostra a Figura de talude por método probabilístico. Trabalho de
9. conclusão de curso, Universidade Federal de Juiz de
Fora, 68 p.
Oliveira Junior, M. R. de. (2014). Estabilidade de talude
do campus da UFJF. Relatório de iniciação científica

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



– Programa Jovens Talentos. Universidade Federal de
Juiz de Fora, 34 p.
Rodriguez, T.T. (2005). Proposta de Classificação
Geotécnica para Colúvios Brasileiros. Tese Doutorado
em Engenharia Civil. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, 370 p.
Moraes Silva, T.R., Nunes, A. L. L. S. e Lacerda W. A.
(2005). Resistência ao cisalhamento de dois solos
coluvionares lateríticos através de ensaios de:
compressão diamentral e cisalhamento direto. In: IV
COBRAE - Conferência Brasileira sobre Estabilidade
de Encostas, Salvador: ABMS, v. 2, p. 193-204.
Rosa, J. P. e Oliveira, M. S. (2015). Análise mineralógica
de solos. Relatório de Pesquisa, Universidade Federal
de Juiz de Fora, MG, 32p.

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Modelo Didático para Simulação do Fenômeno de Areia
Movediça
Sebastião Geraldo Guimarães Junior
IFG, Formosa, GO, sebastiaoggj@gmail.com

Isabella Magalhães Valadares


IFG, Formosa, GO, isabellamv.civil@gmail.com

Alexandre Borges Fernandes Camozzi


IFG, Formosa, GO, alexandre.camozzi@ifg.edu.br

Milton Pereira das Neves Filho


IFG, Formosa, GO, miltonengtec@gmail.com

Prof. Dr. Marcus Vinicius Araujo da Silva Mendes


IFG, Formosa, GO, mvasmendes.ifg@gmail.com

RESUMO: O fenômeno de areia movediça decorre de um fluxo ascendente de água que satura os
grãos de areia, reduzindo o contato entre os grãos. O objetivo deste trabalho foi a elaboração de um
modelo físico que simule de forma didática o fenômeno de areia movediça em escala reduzida. As
metodologias empregadas são de caráter quantitativo e qualitativo, determinadas por meio da
construção de um Permeâmetro de carga constante e um aquário que simule o efeito em escala
reduzida. O aparato desenvolvido para o ensaio teve êxito em sua execução, demonstrando de
forma didática a simulação do efeito em laboratório.

PALAVRAS-CHAVE: Areia Movediça, Permeâmetro, Areia, Tensão Especifica.

1 INTRODUÇÃO seja, a água tem facilidade de circular nesta


condição.
Para Campos (2012) a Mecânica dos Solos Segundo Caputo (1988), a permeabilidade é
divide os materiais que cobrem a terra em 4 a propriedade do solo de permitir que a água
grupos, sendo eles: Rochas (terreno rochoso); escorra através dele e é atribuído ao coeficiente
Solos arenosos; Solos siltosos e Solos argilosos. de permeabilidade dimensionar numericamente
Segundo a ABNT NBR 6502:1995 os solos esta propriedade.
arenosos podem ser classificados entre areia O fenômeno de areia movediça se dá quando
fina (0,06 mm a 0,2 mm), areia média (0,2 mm um grande fluxo de água preenche os vazios da
a 0,6 mm) e areia grossa (0,6 mm a 2,0 mm). areia anulando o atrito entre os grãos.
Portanto Campos (2012) define solos (FREITAS, 2017). Esta situação ocorre em
arenosos como um solo composto de grãos margens de rios, lagos, praias, pântanos e em
visíveis a olho nu e que apresentam como uma regiões próximas a fontes subterrâneas.
das características principais, a falta de coesão Para Cabral (2017) a nomenclatura
entre os grãos, isto é, seus grãos são facilmente “movediça” é empregada a esse fenômeno, pois
separados uns dos outros permitindo assim uma a inexistência de atrito entre os grãos permite
grande permeabilidade nesses tipos de solos, ou

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que a areia assuma propriedades de líquido, tal recurso será utilizado, quais os processos
como se tornar móvel. executados e qual é o evento a ser simulado. As
Este fenômeno acontece quando a areia é variáveis são os diferentes tipos de areia e suas
submetida a uma condição de fluxo ascendente distintas permeabilidades. O processo é um
constante, de tal forma que experimente uma fluxo contínuo e ascendente de água. O recurso
tensão específica nula, resultando na resistência por sua vez é o meio por onde a água irá
do solo igual a zero, com isso o equilíbrio dos percolar, neste caso, a coluna de areia. A soma
grãos é rompido fazendo que o solo se encontre de todos estes componentes possibilita a
em uma situação de instabilidade. simulação e favorece o estudo da areia
(CAVALCANTE, 2006). movediça.
Assim, a relevância deste trabalho se dá em A fim de eliminar uma das variáveis foi
estudar e aprimorar o entendimento referente ao desenvolvido um sistema BMA (sistema
fenômeno de areia movediça, apresentando composto de brita malha e areia). Esse sistema,
conceitos e definições que expliquem a independentemente do tipo de areia utilizada, é
ocorrência e o funcionamento do mesmo, capaz de permitir que a permeabilidade
podendo ao final deste processo, confeccionar permaneça na escala de ͳͲିଶ ܿ݉Ȁ‫ ݏ‬só havendo
um equipamento que simule o fenômeno com o pequenas alterações na escala milimétrica. A
intuito de apresentar as demais pessoas de realização da simulação de areia movediça com
forma tátil visual, seu funcionamento e suas a permeabilidade em uma escala de ͳͲିଶ ܿ݉Ȁ‫ݏ‬
consequências. é uma boa opção uma vez que esta
permeabilidade é uma das mais prováveis para a
ocorrência do fenômeno. Afirmação deduzida
2 METODOLOGIA através do ensaio de permeabilidade e
simulação do efeito em laboratório.
As metodologias empregadas para o artigo são
de caráter quantitativo e qualitativo, para tanto,
foi desenvolvido um equipamento com intuito 4 DESCRIÇÃO DO EQUIPAMENTO E
de simular o fenômeno de areia movediça em MATERIAIS
escala reduzida. Para o fim de análise, foram
coletados dados referentes à granulometria dos
grãos de areia, coeficiente de permeabilidade
(K) e observado o percentual de imersão (I)
durante o fenômeno.

3 ESTUDOS INICIAIS

Inicialmente elaborou-se o projeto do


equipamento a ser utilizado. As principais
preocupações quanto ao equipamento foram:
projetá-lo de forma a simular o fenômeno da
areia movediça, sendo um equipamento hábil a
realizar ensaios de permeabilidade do solo
utilizado, que tenha mecanismos que
possibilitem o controle da situação na
ocorrência do fenômeno de areia movediça em
escala reduzida e que possibilite a compreensão
da ocorrência do mesmo.
Para ententer e analisar uma simulação deve-
se antes entender suas partes constituíntes, isto
é, saber quais são as variáveis do sistema, que Figura 1. Projeto 2D do equipamento utilizado para

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ensaio de permeabilidade e simulação do fenômeno de permeabilidade tinha entrada de água de forma
areia movediça, composto por: (1) e (2) aquário para ascendente, localizado no centro de sua base,
simulação do fenômeno, (3) reservatório de água e (4)
aquário utilizado para o ensaio de permeabilidade.
com isso a medida que a água entrava criava-se
uma seção onde sua vazão central era maior que
O equipamento foi planejado e projetado para as demais regiões, o segundo fato é que a areia
estudo da Permeabilidade em laboratório. Foi é um material granular fino e em contato direto
construído com material reutilizado e três tipos com a entrada de água entupia o local, que além
de aquários que se interligam, formando um de impossibilitar o ensaio causava perda de
sistema mútuo de ensaios. material.
O primeiro aquário dispõe dimensões de 70 A disposição dos materiais no equipamento,
cm x 35 cm x 50 cm e é constituído como mostra a Figura 2 foi: brita 1, a malha
essencialmente por duas partes. Partes essas geodrenante e areia, que era a variável estudada,
separadas por uma folha de vidro a uma respectivamente nessa ordem.
distância de 50 cm partindo da extremidade
esquerda do aquário. A folha de vidro tem
espessura de 5 mm e contém um corte circular
de 5 cm de diâmetro na altura de 42 cm da
mesma.
A primeira parte do aquário (1) é destinada
para o ensaio de simulação do efeito de areia
movediça em escala reduzida e a segunda parte
(2) tem função de reservar a água excedente
durante o ensaio.
O segundo aquário dispõe de dimensões de
25 cm x 20 cm x 20 cm e contém um corte na
parte inferior de uma das suas faces destinado a
Figura 2. Disposições dos materiais.
saída de água que é regulada por uma torneira
plástica. Este aquário é o terceiro módulo do
equipamento (3) e tem a função de ser um
5 ATIVIDADES EXECUTADAS
reservatório de água, mantendo o volume
constante já que é sempre reabastecido pelo
Com o intuito de comprovar a eficiência do
segundo módulo (2).
equipamento foram realizadas as atividades
O terceiro aquário dispõe de dimensões de
propostas para ele, para que no final fosse
25 cm x 20 cm x 20 cm e contém um furo no
possível afirmar a sua utilidade.
centro de sua base para permitir um fluxo de
água ascendente. Este aquário é o quarto e
5.1 Caracterização do solo
último módulo do equipamento (4) destinado ao
ensaio do coeficiente de permeabilidade (K).
Antes mesmo da utilização do equipamento foi
Todos os aquários são de vidro, sustentados
feito o processo para a caracterização do solo
por um aparato feito de mesas escolares
quanto a sua granulometria, utilizando como
reutilizadas.
referência os procedimentos da NBR 7181
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
4.1 Malha Geodrenante
TÉCNICAS, 2016.)
Para a execução do ensaio de permeabilidade e
5.2 Coeficiente de permeabilidade (K)
desenvolvimento da simulação foi utilizado
uma malha Geodrenante Bidim, que é capaz de
Para se provar a eficiência do sistema BMA foi
impedir a passagem da areia e permitir somente
realizado o ensaio de permeabilidade utilizando
a passagem do fluido.
o equipamento desenvolvido no projeto e
Foi decidida a utilização da malha por dois
aplicando o sistema BMA.
motivos, o aquário utilizado para o ensaio de

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Para Caputo (1988) o coeficiente de 6.2 Coeficiente de permeabilidade (K)
permeabilidade de um solo pode ser
quantificado numericamente utilizando a Lei de Depois de desenvolver o sistema BMA foram
Darcy expressa pela seguinte equação: executados os ensaios para a determinação do
coeficiente de permeabilidade utilizando o
୕ equipamento desenvolvido durante o projeto.
ൌ (1)
୅୶୍
O equipamento atua como um Permeâmetro
de carga constante, onde existem dois
Onde:
reservatórios sendo que em um deles a água é
K: coeficiente de permeabilidade;
mantida constante e percola o sistema BMA que
Q: vazão;
está alocado no segundo aquário. Depois deste
A: área da seção transversal;
processo o coeficiente de permeabilidade (K)
I: gradiente hidráulica.
foi determinado.
5.3 Simulação do fenômeno Tabela 1. Media da permeabilidade do sistema BMA.
Areia K (cm/s)
Para comprovar a eficácia em simular o efeito, Grossa 1,18xͳͲିଶ
o sistema BMA foi submetido a um fluxo Média 1,05xͳͲିଶ
contínuo e ascendente de água para a realização Fina 1,00xͳͲିଶ
da simulação. Média do sistema 1,08xͳͲିଶ

Com os valores apresentados na Tabela 1 é


6 RESULTADOS
provada a eficiência do sistema BMA, já que
ele consegue manter a permeabilidade em uma
Os resultados encontrados coincidem com as mesma intensidade independentemente do tipo
propriedades físicas esperadas e o sistema BMA
de areia.
cumpriu o esperado mantendo a permeabilidade
constante em todas as simulações.
6.3 Simulação do fenômeno
6.1 Caracterização do solo
O fenômeno de areia movediça em escala
reduzida executado em laboratório teve
Quanto à caracterização do solo foi adquirida
eficiência em apresentar a situação de forma
150 quilogramas de areia para a realização de
didática. O corpo de prova sujeito ao fenômeno
todos os ensaios propostos pela pesquisa.
foi submerso com a aplicação do fluxo
Utilizando a ABNT NBR 7181:2016 toda a
ascendente de água. Este provou que as
areia do projeto foi lavada, secada e peneirada,
partículas de areia em um ambiente saturado
separando os grãos quanto à sua granulometria.
com fluxo constante perdem contato entre si e
se comportam como um fluido.

Gráfico 1. Classificação das areias (%)


Figura 3. Aparato para execução do fenômeno de areia
O Gráfico 1 mostra em porcentagem a movediça.
quantidade de cada tipo de areia contido no lote.

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A Figura 3 mostra o momento em que a água Disponível em
começa a saturar os grãos de areia. <http://www.forumdaconstrucao.com.br/
conteudo.php?a=9&Cod=59>. Acesso em 05 de abril
de 2017.
CAPUTO H.P (1988) – Mecânica dos solos e suas
7 CONCLUSÕES aplicações, volume 1, 6 ed., ver. e ampl., Rio de
Janeiro, BR, p. 71.
O experimento desenvolvido demonstrou um FREITAS, Eduardo de. "Areia Movediça"; Brasil Escola.
Disponível em
bom desempenho do equipamento para utiliza- <http://brasilescola.uol.com.br/geografia/
lo como auxílio didático durante o estudo de areiamovedica.htm>. Acesso em 05 de abril de 2017.
permeabilidade. A pesquisa alcançou seu
objetivo, demonstrando que a permeabilidade
do sistema BMA criado, pode não interferir na
permeabilidade das areias, uma vez que a
permeabilidade do sistema se encontra
consideravelmente constante e não se difere em
grande escala com as areias estudadas.
Os ensaios comprovaram que o fenômeno de
areia movediça ocorre somente com o fluxo de
água constante, de forma que a água contida no
sistema faz com que as partículas saturadas não
mantenham contato.
Portanto com base nos resultados de
permeabilidade avaliados no sistema e no ato da
situação do fenômeno, entende-se que este
aparato desenvolvido para compreensão do
estudo das permeabilidades de solos, neste caso,
solos arenosos é de bom uso.

AGRADECIMENTOS

Ao Laboratório de Mecânica dos Solos do


Instituto Federal de Educação, ciência e
Tecnologia de Goiás, Câmpus Formosa.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. NBR 6502: Rochas e solos. Rio de
Janeiro, 1995.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 7381: Solo- Analise
Granulométrica. Rio de Janeiro, 2016.
CABRAL, Gabriela de. "Areia Movediça"; Mundo
educação. Disponível em <http://mundoeducacao
.bol.uol.com.br/curiosidades/areia-movedica.htm>.
Acesso em 05 de abril de 2017.
CAVALCANTE, Erinaldo de. "Mecânica dos Solos 2-
Notas de Aula"; Amazonaws. Disponível em
<https://goo.gl/oN0F1X>. Acesso em 05 de abril de
2017.
CAMPOS, Iberê de. " Conheça os três tipos principais de
solo: areia, silte e argila"; Fórum da Construção.

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Modelo Físico-Matemático de Dissipação de Forças no Solo
Gustavo Luz Carvalho
Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil, g_luz10@yahoo.com.br

Hemilly Cristine Lobo Fernandes


Universidade Federal de São João Del Rei, Congonhas, Brasil, hemilly.ifmg@gmail.com

Jordan Lopes Albino


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, jordan.civil@gmail.com

Tales Moreira de Oliveira


Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil, tales@ufsj.edu.br

Leandro Neves Duarte


Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco, Brasil, leandro.duarte@ufsj.edu.br

RESUMO: Com o objetivo de estabelecer uma equação teórica para o cálculo do raio de influência
da tensão radial provocada por uma estaca RAP modificada, utilizou-se de metodologias existente na
bibliografia para o cálculo das tensões no solo devido a uma sobrecarga. Através das metodologias e
artifícios matemáticos utilizadas encontrou-se um raio de influência da ordem de 2 a 2,5 vezes o
diâmetro da estaca analisada para um grupo de situações fictícia.

PALAVRAS-CHAVE: Estaca RAP-Modificada, Melhoramento de Solo, Raio de influência

1 INTRODUÇÃO Desta forma a hipótese de que os apoios são


indeslocáveis fica prejudicada, e nas estruturas
Toda construção de engenharia civil, de uma hiperestáticas, que são a grande maioria, as
forma ou de outra, se apoia sobre o solo cargas inicialmente calculadas são modificadas.
(edifícios, pontes, torres de transmissão, etc.). A As técnicas de melhoramento de solo
transmissão das cargas da estrutura para o solo surgiram com o intuito de melhorar as
se dá pelo elemento estrutural conhecido como propriedades físico-mecânicas dos solos
fundação (AZEREDO, 1988). A elaboração do objetivando a atenuação do problema de
projeto de fundações necessita de conhecimento interação solo-estrutura. Diversas são as técnicas
na área de Geotecnia, abrangendo a área de para melhoramento dos solos as quais
Geologia de Engenharia, Mecânica dos Solos e dependerão do tipo de solicitação e uso ao qual o
Mecânica das Rochas. Incialmente o engenheiro material será submetido. Pesquisas vem sendo
de estrutura supõe que os apoios sejam estruturas realizadas para o uso de estacas do tipo Geopier
indeslocáveis, resultando em um conjunto de Rammed Aggregate Piers (RAP). Tal estaca é
cargas (forças verticais, horizontais e momentos) executada através da perfuração do solo, seguido
que será transmitido para as fundações da introdução de camadas de agregado e
(VELLOSO & LOPES, 2010). compactação das respectivas camadas. Essa
Acontece que, independentemente do tipo de compactação gera bulbos a cada camada,
fundação, quando carregadas solicitarão o resultando em um melhoramento das condições
terreno, que sofrerá deformação, resultando em geotécnicas do solo (HANDY et al., 1999). O
deslocamentos verticais, horizontais e rotações. objetivo da estaca RAP não é ser o elemento

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principal, mas sim proporcionar um uma escavadeira que aplica uma carga sobre o
melhoramento, em um raio de influência, do solo material granular que está dentro do furo
onde a estaca é construída. executado com trado no solo. Esse material
Algumas das vantagens da estaca RAP é um granular é lançado verticalmente a cada 30 cm
custo competitivo em relação aos modelos de com diâmetro em torno de 60 cm.
estacas e o seu método construtivo não depende Este estudo teve como base o modelo da
de um grande aparato tecnológico, mesmo estaca RAP, porém com algumas modificações
possuindo equipamentos específicos. Para para o meio brasileiro, que atenda edificações de
verificar a influência da aplicação desse tipo de médio porte e com um processo construtivo mais
estaca no solo, faz-se necessário entender outro simples. A estaca RAP modificada é construída
conceito, os modelos físicos-matemáticos. com pequeno diâmetro de 15 cm, executada com
A função principal de um modelo é ajudar a escória e tendo o processo de compactação
explicar uma parte de uma teoria mais avançada, realizado com o sistema de percussão do SPT.
ou mais “abstrata”, em termos de uma teoria já
conhecida e aceita. Dessa forma, equações 2.2 Boussinesq (1885)
matemáticas são transferidas de uma teoria para
a outra, embora a interpretação original do Uma carga quando aplicada na superfície de um
formalismo seja apenas parcialmente mantida: terreno induz tensões, com consequentes
faz-se uso das similaridades e analogias na deformações, no interior da massa de solo.
estrutura e no funcionamento descritos pelas Levando em consideração uma força aplicada
equações (HUTTEN, 1967). agindo perpendicularmente e concentrada na
Para que um fenômeno possa ser tratado superfície de um semi-espaço elástico pode-se
matematicamente, é necessário, em primeiro utilizar a teoria proposta por Boussinesq (1885),
lugar, caracterizá-lo por um conjunto de representada na Figura 1, onde o mesmo
parâmetros suscetíveis de medição: é a chamada desenvolveu equações para o cálculo de tensões
construção do modelo físico. Esse modelo deve efetivas vertical ሺߪ௭ ሻ, radial (ߪ௥ ሻ, tangencial (ߪ௧ ሻ
obedecer, segundo critérios estabelecidos pelo e de cisalhamento (߬௥௭ ሻ, admitindo constante o
investigador, a certas leis, teorias e/ou hipóteses. módulo de elasticidade do solo (Das, 2007).
O conjunto dessas leis, teorias e/ou hipóteses
impostas a o modelo físico permite escrever
certas equações (e/ou inequações) que
constituem o modelo matemático do problema
(LUCIEN, 1978).

1.1 Objetivos

Este trabalho tem como objetivo utilizar de


artifícios físico-matemáticos e teóricos para
determinar o raio de influência no solo da força
aplicada à camada de escória compactada em Figura 1. Tensões em um meio elástico causados por uma
estacas tipo RAP. carga pontual.

Segundo Das (2007) apud Boussinesq (1885)


2 MATERIAIS E MÉTODOSEstaca RAP a tensão vertical ሺߪ௭ ሻ é dada por:

A estaca RAP (Rammed Aggregate Pier) é um P


¨ız = I (1)
modelo de estaca, cujo o sistema construtivo foi z2 1
patenteado pela empresa norte americana Em que:
Geopier, que é constituída de agregados
compactados e construída por um processo de 3 1
I1 = (2)
compactação utilizando um pilão adaptado a 2ʌ [ሺrΤzሻ2 +1]5/2

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Onde P é a carga, z a profundidade em relação
a superfície e r a distância no plano até a ı r = P [2ȞA + C + ሺ1-2ȞሻF] (5)
localização do ponto analisado.
Os valores de A, B, C e F são obtidos através
2.3 Love (1929) das tabelas, usando a relação z/a e r/a.
Onde P é carga distribuída sobre a placa e Ȟ é
A partir da integração da equação proposta por o coeficiente de Poisson.
Boussinesq, Love (1929) definiu que a tensão
vertical abaixo do centro de uma área circular 2.5 Melan (1932)
flexível e uniformemente carregada,
representada pela Figura 2, é dada através da
Equação 3.

Figura 3. Tensão vertical abaixo de uma linha de carga.

Para uma linha de carga flexível de comprimento


infinito na superfície de uma massa de solo semi-
infinita a tensão vertical dentro da massa de solo
Figura 2. Tensão vertical abaixo de uma placa circular. foi proposta por Melan (1932), onde foi realizada
a integração em linha da solução proposta por
Boussinesq. Assim a equação proposta por
Melan (1932) para a tensão vertical é dada por:
‫ۓ‬ ۗ
ۖ 1 ۖ
¨ız = P 1 - (3) 2Qz³
‫۔‬ ܽ 2 ۘ
3/2 ız = (6)
ۖ ൤1+ ቀ z ቁ ൨ ۖ
2
ʌ(x2 +z2 )
‫ە‬ ۙ
Onde Q é a carga linear, z a profundidade de
Onde P é a carga distribuída sobre a placa, r a
análise e x a distância do centro de aplicação da
distância radial do centro da placa até o local de
força até o ponto analisado.
analise, z a profundidade do ponto a ser
analisado e a é o raio da superfície do
2.6 Mindlin (1936)
carregamento circular.
Mindlin estudou e desenvolveu a solução para
2.4 Ahlvin e Ulery (1962)
problemas que envolvam cargas no interior de
um semi-espaço elástico. O problema está
Foster e Ahlvin (1954) desenvolveram gráficos
ilustrado na Figura 4. A carga P age em um ponto
para avaliar a tensão vertical, tangencial e radial
localizado a uma distância z da superfície.
para solo com coeficiente de Poisson igual a 0,5.
(Davis, 1996).
Em Seguida esse trabalho foi aprimorado por
Para o caso de uma carga pontual vertical, a
Ahlvin e Ulery (1962) permitindo a avaliação
solução de Mindlin é mais convenientemente
das tensões em qualquer ponto do solo de acordo
estabelecida em termos da solução dada por
com o coeficiente do Poisson (Poulos & Davis,
Boussinesq (1885). Considere a área de atuação
1974). As expressões propostas são o cálculo das
dos deslocamentos e tensões para a solução de
tensões no interior do solo devido ao
Boussinesq nas regiões abaixo de z = c. Essas
carregamento na superfície como demonstrado
tensões e deslocamentos são encontradas
na Figura 2, são:
também para as soluções de Mindlin, porém com
ız = P [A+B] (4)

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termos adicionais aplicados a Boussinesq (2006) apud John Wiley & Sons, Inc. (1974),
(Davis, 1996). para encontrar os valores de A, B e C, chegou-se
a uma equação para tensão radial na parede do
furo de:

ır = P Ȟ (8)

O valor de P foi determinado através da força


de impacto, provocada pela queda do martelo,
dividido pela área do furo. Assim temos que a
tensão radial na parede do furo será:

4mgh
ır = Ȟ
D ʌ d²

O raio de influência será limitado a uma


Figura 4. Tensão na direção x devido a um carregamento distância onde a tensão radial seja um valor de
no interior no solo. 10% da tensão radial na parede do furo, ou seja:

A equação proposta por Mindlin (1936) para 0.4 mgh


ır = Ȟ (9)
o cálculo da tensão na direção x é dada por: D ʌ d²

Px 3x² (1-2Ȟ) ሺ1-2Ȟሻ 3.2 Raio de influência por Mindlin


ıx = ቊ 5+ - -
8ʌ(1-Ȟ) R1 R1 3 R2 3
Simplificando a equação de Mindlin (1936) para
3x2 - 6ሺ3-2Ȟሻcz + 18c2 30cx²(z-c) que atenda as hipóteses de:
- ቋ
R2 5 R2 7 (7) x c = z = H;
x R1 = r = x;
Onde P é a carga e Ȟ é o coeficiente de Poisson e Temos que:
as demais variáveis estão expressas na Figura 5.

3 DESENVOLVIMENTO TEÓRICO

3.1 Tensão radial na parede do furo

Para a verificação do raio de influência da estaca


RAP modificada inicialmente encontrou-se a
força transmitida ao solo pela queda do martelo
para em seguida determinar a tensão radial que
essa força provocaria. Desta forma utilizando a
Equação (5) proposta por Ahlvin e Ulery (1962),
e estabelecendo como hipóteses que:
x Será analisada a tensão radial na
superfície de contato da força, ou seja, z
igual a 0; Figura 5. Simplificação da teoria de Mindlin (1936).
x Será considerada a tensão máxima na Pr 3r² (1-2Ȟ) ሺ1-2Ȟሻ
parede do furo, ou seja, r/a = 1. ıx = ቊ 5 + 3 - -
8ʌ(1-Ȟ) r r R2 3
De posse dessas hipóteses e utilizando as
tabelas propostas por Ahlvin e Ulery (1962), 3r2 - 6ሺ3-2ȞሻH² + 18H2

encontradas na publicação de Poulos & Davis R2 5 (10)

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Q = ır ʌ d e que a tensão vertical será igual a


Como a tensão radial em algum momento será tensão radial, temos que:
igual a tensão na direção x temos que:
z = 2d (15)
ır = ı x (11)

Fazendo as devidas simplificações e 4 ANÁLISE DAS EQUAÇÕES


operações matemáticas obteve-se que:
Para uma análise dos resultados demonstrado no
R52 ൣ3,2Ȟr2 ሺ1 - Ȟሻ - ሺ4 - 2Ȟሻd2 ൧ + desenvolvimento teórico calculou-se o raio de
R22 ൣሺ1 - 2Ȟሻd2 r3 ൧ = - 3d²r5 - 12ȞH2 d2 r3 influência para cada equação para três situações
(12)
fictícias, com os seguintes dados:
Onde R2 = (r² + 4H²)1/2.
Profundidade do furo (H1): 4,00 metros;
Diâmetro do furo (d1): 0,20 metros;
3.3 Raio de influência por Boussinesq
Poisson (Ȟ1) = 0,33;
A partir da Equação (1) de Boussinesq, Espessura da escória (L1): 0,30 metros.
considerando que:
Profundidade do furo (H2): 4 metros;
Diâmetro do furo (d2): 0,15 metros;
ır = ı v (13)
Poisson (Ȟ2) = 0,33;
Espessura da escória (L2): 0,30 metros.

Profundidade do furo (H3): 4,00 metros;


Diâmetro do furo (d3): 0,10 metros;
Poisson (Ȟ3) = 0,33;
Espessura da escória (L3): 0,30 metros.

4.1 Raio de influência pela teoria de Mindlin

Através do software MATLAB foi desenvolvido


um programa com a finalidade de plotar um
gráfico da Equação (12), para os valores pré-
estabelecidos da situação fictícia. Desta forma
Figura 6. Simplificação da teoria de Boussinesq (1885). foi possível verificar qual o valor do raio de
A partir das hipóteses de: influência (r) necessário para zerar a equação.
x r = 0; Para a Equação (12) foi obtido um raio de
x R = z. influência igual a 0,47 metros para a primeira
Fazendo as devidas operações matemáticas situação, 0,35 metros para a segunda situação e
encontramos que 0,23 metros para a terceira situação.
Através de simulações feitas no programa
ficou constatado que a variação da profundidade
z = ඥ0,4775 ʌ d (14)
do furo não representa mudança significativas,
entretanto o diâmetro do furo é o principal fator.
Para P = ır ʌ d.
4.2 Raio de influência pela teoria de
3.4 Raio de influência por Melan Boussinesq
Substituindo os valores fictícios na Equação (14)
Através da metodologia proposta por Melan foi encontrado um raio de influência igual a 0,55
(1932) na Equação (6), considerando que a carga metros para a primeira situação, 0,47 metros para

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a segunda situação e 0,39 metros para a terceira BUENO, B.S.,VILAR, O.M. Apostila de mecânica dos
situação. solos. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1979.
136p. Apostila.
CAPUTO, H.P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6ª
4.3 Raio de influência pela teoria de Melan Ed. v1. Rio de Janeiro: LTC. 244p. 1988.
CUNHA. E.R. Apostila de mecânica dos solos. Minas
Substituindo os valores fictícios na Equação (15) Gerais: Centro de ensino superior de Uberaba, 2011.
foi encontrado um raio de influência igual a 0,40 122p. Apostila.
DAS, Braja M. Fundamentos da engenharia geotécnica /
para a primeira situação, 0,30 metros para a Braja M. Das; tradução All Tasks; revisão técnica
segunda situação e 0,20 metros para a terceira Pérsio Leister de Almeida Barros. 6°ed. São Paulo:
situação. Thomson. 577p. 2007.
DAVIS, R.O., and A.P.S. Selvadurai. Elasticity and
Geomechanics, Cambridge: Cambrigde UP, 1996.
Print.
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS FILHO, J. A. G. Fundações do conhecimento geológico à
prática da engenharia. Editora Universitária UFPE,
A Tabela 1 traz os valores do raio de influência 1998. 345p.
encontrado para cada metodologia utilizada na HANDY, R.L., Fox, N.S., and K.J. Wissmann. 1999. Short
elaboração das equações. Aggregate Piers Reinforce Soils Near Tunnels.
Geotechnical Special Publication No. 90: Geo-
Engineering for Underground Facilities, ASCE, pp.
Tabela 1: Raio de influência em metros 1039-1047
Situação HUTTEN, Ernest H. The Ideas of Physics. Edinburgh,
Método
1 2 3 London: Oliver & Boyd, 1967. Print.
Boussinesq (1885) 0,55 0,47 0,39 LOVE, A.E.H, The stress produced in a semi-infinite solid
by pressure on parto f the boundary. 1929. Phil.
Melan (1932) 0,40 0,30 0,20
Trans. R.Soc. Lond. A 228,377-420.
Mindlin (1936) 0,47 0,35 0,23 LUCIEN, Pierre. A Gênese do Método Científico. Ed.
Campus. RJ, 1978 (Pgs 141 e 142).
Através da Tabela 1 é possível constatar que MELAN, E., 1932. Der spanningzustand der durch eine
o raio de influência calculado através dos Einzelkraft im Innern beanspruchten Halbschiebe, Z.
Angew. Math. Mech., vol 12.
métodos de Mindlin (1936) e Melan (1932) MINDLIN, R. D., 1936. Force at a point in the interior of
foram próximos, enquanto que pelo método de a semi-infinite solid. Jnl. Appl. Phys., vol. 7, No. 5,
Boussinesq (1885) manteve-se um pouco pp. 195-202.
distante quando comparados com os outros. Vale NAKAMURA, J. Fundações e contenções. Julho, 2013.
ressaltar que ambas as metodologias tiveram raio Disponível em:
<http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-
de influência próximo aos valores de 2 e 2,5 tecnicas/28/artigo291146-3.aspx> Acessado: 06 de
vezes o diâmetro da estaca. agosto de 2017.
ORTIGÃO, J.A.R. Introdução à mecânica dos solos dos
estados críticos. 3° ed. Rio de Janeiro: Terratek.
REFERÊNCIAS 385p. 2007.
RAZEGUI, H. R. NIROUMAND, B. GHIASSIAN, H. A
field study of the behavior of small-scale single
AHLVIN, R. G., ULERY, H. H., Tabulated values for
rammed aggregate piers, testing methodology and
determining the complete pattern of stresses, strains,
interpretation. Scientia Iranica A (2011) 18(6). 1198-
and deflections beneath a uniform load on a 1206. Sharif University of Technology.
homogeneous half space. Highway Research Board, SILVA. A.P.J. Apostila de mecânica dos solos. Rio
Bulletin 342, pp. 1-13. 1962. Grande do Norte: Universidade Potiguar, 2009. 61p.
AZEREDO, H. A. O Edifício até sua Cobertura. São Apostila.
Paulo: Edgard Blücher LTDA, 1988 VELLOSO, D., LOPES, F. Fundações: critérios de
BOSCH, Dante René. Interpretação do ensaio projeto, investigação do subsolo, fundações
pressiométrico em solos coesivos friccionais através superficiais e fundações profundas. São Paulo:
de métodos analíticos. 150 f. Dissertação de Oficina de Textos, 2010. 568 p.
mestrado - Curso de Engenharia Civil, CPGEC,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 1996.
BOUSSINESQ, J. Applications des potentials à l’étude de
l’equilibre et du mouvement des solides elastiques –
Gauthier-Villars, Paris, 1885.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Monitoramento da Água Subterrânea para Ensaio de Prova de
Carga em Solo Basáltico
Daniel Russi
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, Brasil, daniel.russi@gmail.com

Sandra Garcia Gabas


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, Brasil, sandra.gabas@ufms.br

Giancarlo Lastoria
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, Brasil, g.lastoria@ufms.br

RESUMO: Esse trabalho apresenta resultados de caracterização de solo basáltico e monitoramento


do nível d’água em 2016 numa área do Câmpus da UFMS. Foi executada uma prova de carga, duas
sondagens de simples reconhecimento, uma sondagem a trado manual e uma trincheira de
amostragem para identificação geotécnica. A amplitude máxima de variação do nível do lençol
freático durante o período foi da ordem de dois metros. Os valores extremos do nível d'água
medidos neste intervalo foram de 4,82 e 6,75 no P1; 4,39 e 6,53 m no P2; 4,33 e 6,42 m no P3 e
5,12 e 7,25 m no P4.

PALAVRAS-CHAVE: Variação do lençol freático, Ensaios de caracterização geotécnica, Fundação


superficial.

1 INTRODUÇÃO que o ensaio de placa constitui a maneira mais


adequada para se estabelecer as características
A pesquisa está sendo desenvolvida na área carga-recalque. A utilização não frequente
experimental de geotecnia e hidrogeologia, desse ensaio se deve a dificuldades nas áreas
instalada dentro do Câmpus da Universidade técnica e econômica. Na área econômica, deve-
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) em se ao alto custo do ensaio e ao longo tempo de
Campo Grande. execução. Esses fatores econômicos impedem
Várias pesquisas na área de geotecnia que os ensaios sejam feitos em uma quantidade
ambiental têm se voltado à busca de soluções com validade estatística, gerando limitações de
que minimizem a degradação ao meio ambiente. ordem técnica. Outras limitações são a
Parte delas consiste no melhoramento de necessidade de extrapolação dos resultados e a
características mecânicas do solo a partir da identificação do conceito de ruptura.
adição de elementos resultantes de atividades Segundo Thomé (1999) o desenvolvimento
industriais e da construção civil, normalmente de materiais alternativos é de fundamental
descartados no meio ambiente. importância para as áreas de construção e
Este trabalho é parte de um estudo mais geotecnia, pois essas áreas tem potencial para
amplo, onde está sendo estudada a adição de utilizá-los em grandes quantidades.
resíduos da construção civil ao solo para De acordo com Ferreira e Thomé (2011),
melhorar a resistência mecânica para fundações uma forma de diminuir os problemas causados
superficiais. pelo acúmulo de resíduos é a sua reciclagem.
Segundo Décourt e Quaresma Filho (1996), Os autores buscaram avaliar a viabilidade
há um consenso na engenharia de fundações técnica da utilização de resíduos da construção

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


e demolição como reforço de solo residual de local da prova de carga em placa, descrito em
basalto trabalhando com misturas de 25, 50 e 2.4 e os poços de monitoramento de nível
75% de resíduos a fim de obter a máxima d’água descritos em 2.5.
capacidade de suporte e a mínima deformação.
Após ensaios de laboratório, executaram ensaio 30

de placas em solo natural e em solo melhorado


ÁREA EXPERIMENTAL DE
com resíduo, o que levou a concluir que é GEOTECNIA E
HIDROGEOLOGIA
viável a incorporação de resíduos da construção P4 A= 1.000 m²
ao solo, melhorando consideravelmente as suas
características de suporte.
Vargas (1977), ao discutir a resistência de
solos compactados, relata que a experiência

32
TR-A
mostra que os índices de resistência de um solo
decrescem com o aumento da umidade. SP-01 SP-02
A NBR 6122 (ABNT, 2010) orienta que nos P1 P2
projetos em solos colapsíveis seja considerada a ST-1
possibilidade de encharcamento do solo.
Milititsky et al. (2015) alerta que as E1(30)
variações de umidade não são fáceis de

6.0
P3
controlar, pois a água pode se deslocar
verticalmente ou horizontalmente abaixo das LEGENDA:
SP-01, SP-02 : Sondagem simples reconhecimento
fundações provocando mudanças nos níveis de TR-A : Trincheira de amostragem
P1, P2, P3, P4 : Poços de monitoramento
sucção e também de volume, devido a ST-1 : Sondagem a trado
E1(30): Prova de carga
movimentos alternados de expansão e
compressão. Para os solos colapsíveis, os Figura 1. Área experimental de geotecnia e hidrogeologia
autores alertam que as variações sazonais no
nível do lençol freático (regime de chuvas e 2.2 Investigação do subsolo
presença de vegetação) podem determinar a
ocorrência de patologias. Devido à alta 2.2.1 Sondagem de simples reconhecimento
permeabilidade, os solos porosos superficiais (SPT)
podem ser particularmente colapsíveis, pois a
água das chuvas percorre seus vazios sem Foram executadas duas sondagens de simples
saturá-los. O aumento do teor de umidade até reconhecimento (SP-01 e SP-02). As sondagens
um valor crítico pode levar o solo a perder sua foram conduzidas até a profundidade de 22,10
estrutura de macrovazios por colapso estrutural. m e 20,00 m, respectivamente, seguindo as
prescrições da NBR 6484 (ABNT, 2001). No
momento da execução das sondagens, o nível
2 METODOLOGIA freático encontrava-se em 8,40 e 8,30 m de
profundidade.
2.1 Considerações iniciais
2.2.2 Sondagem a trado
A área experimental de geotecnia e
hidrogeologia encontra-se dentro do Câmpus da Foi executada uma Sondagem a trado (ST-1)
Univesidade Federal de Mato Grosso do Sul com trado de 15 cm de diâmetro, seguindo as
(Figura 1). Foi instalada em 2014 para atender à prescrições da NBR 9603 (ABNT, 1986a). Foi
demanda de estudos e pesquisas na área de conduzida até a profundidade de 4,00 m,
geotecnica e hidrogeologia. retirando amostras a cada metro. As amostras
Compreende uma área de aproximadamente defomadas foram levadas ao Laboratório de
1.000 m². A Figura 1 apresenta Geotecnia para os ensaios de caracterização
esquematicamente o local de cada uma das (análise granulométrica, peso específico dos
investigações do subsolo descritas em 2.2, o grãos de solo e limites de consistência).

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2.2.3 Trincheira de amostragem 2.4 Ensaios de campo

Foi executada uma Trincheira de amostragem 2.4.1 Prova de carga


(TR-A), escavada mecanicamente. Removeu-se
uma camada densa de vegetação, desprezando Na área de estudo, conforme indicado na Figura
os primeiros 50 cm escavados. A partir dos 50 1, foi executada uma prova de carga lenta em
cm até aproximadamente 1,25 m, coletou-se o solo natural, do tipo SML (Slow Maintained
material escavado em sacos plásticos para os Load Test) com placa de 30 cm de diâmetro. O
ensaios de caracterização. ensaio foi executado dentro de uma trincheira
escavada mecanicamente em uma profundidade
2.3 Ensaios de laboratório de aproximadamente 80 cm com relação ao
nível natural do terreno. Os incrementos de
2.3.1 Teor de umidade natural do solo carga foram da ordem de 2,40 kN, seguindo as
prescrições da NBR 6489 (ABNT, 1984e).
Nos locais de coleta das amostras do solo,
foram separadas e pesadas amostras para 2.5 Instalação de poços de monitoramento de
determinação da umidade natural, seguindo as água subterrânea
prescrições da NBR 6457 (ABNT, 1986b). A
umidade natural foi medida nos primeiros Com o objetivo de acompanhar a variação no
metros das duas sondagens de simples nível do lençol freático e identificar o
reconhecimento (SP-01 e SP-02), na sondagem comportamento do fluxo da água subterrânea na
a trado (feito a cada metro) e da trincheira de área de estudo, além de permitir a coleta de
amostragem. amostras de água para análise de suas
propriedades físico-químicas, foram instalados
2.3.2 Análise granulométrica quatro poços de monitoramento (P1, P2, P3 e
P4), Figura 2.
O solo coletado na Sondagem a trado (ST-1) e Dois desses poços (P1 e P2) foram instalados
na Trincheira de amostragem (TR-A) foi levado no momento de execução das duas Sondagens
ao Laboratório de Geotecnia para o ensaio de de simples reconhecimento (SP-01 e SP-02)
análise granulométrica. Foram seguidas as onde, depois de finalizada a sondagem, foram
prescrições da NBR 7181 (ABNT, 1984a). inseridos no local de execução do ensaio canos
de PVC de 1” (com tampão no fundo e
2.3.3 Peso específico dos grãos de solo ranhurados na base da coluna), circundados por
pré-filtro.
Para a obtenção do peso específico dos grãos de Os outros dois poços (P3 e P4) seguiram um
solo foram seguidas as indicações da NBR 6508 procedimento de execução semelhante ao
(ABNT, 1984b), realizadas em amostras de 50 g descrito anteriormente. Foi feito um furo com o
passantes na peneira 10. Foram feitos ensaios equipamento de sondagem de simples
em triplicata no solo retirado da ST-1 e em reconhecimento, porém, não foi feita a
duplicata do solo retirado da TR-A. amostragem SPT. Uma coluna de 1” revestiu o
furo, o qual foi preenchido por pré-filtro com
2.3.4 Limites de consistência granulometria 1,8 a 2,5 mm.
As medidas do nível d’água foram tomadas
Os ensaios de limite de liquidez (LL) foram semanalmente, com utilização de medidor
executados de acordo com a NBT 6459 (ABNT, eletrônico, com precisão centimétrica.
1984c), o limite de plasticidade (LP) foi
realizado conforme NBR 7180 (ABNT, 1984d).
O limite de contração (LC) e a relação de
contração (RC) foram feitas conforme NBR
7183 (ABNT, 1982).

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38 P1 P2 P3 P4 3.2 Análise granulométrica

10

10

10
Os ensaios de análise granulométrica estão
10

10

10

10
TUBO LISO-1"

TUBO LISO-1"
dispostos nas Figuras 3 e 4, onde,

TUBO LISO-1"
TUBO LISO-1/2"

426

500
respectivamente apresentam-se as curvas

235
323

granulométricas para os ensaios com material


TUBO LISO-1"
proveniente da Sondagem a trado (ST-1) e o
FILTRO-1/2"

600

resultado da Trincheira de amostragem (TR-A).


600

TUBO LISO-1"

TUBO LISO-1"
600

600
1606

1680
TUBO LISO-1"
2015
2075

FILTRO-1/2"

600
600

FILTRO-1/2"

FILTRO-1/2"
600

600

PRÉ
FILTRO
PRÉ
FILTRO-1/2"

FILTRO
FILTRO-1/2"

600
600

PRÉ
PRÉ FILTRO
FILTRO

Figura 3. Curvas granulométricas sondagem a trado.


Figura 2. Perfil dos poços de monitoramento de água.

3 APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS

Apresentam-se a seguir os resultados dos


ensaios de laboratório e de campo realizados.

3.1 Umidade natural

A Tabela 1 apresenta os teores de umidade em


cada uma das situações.
De maneira geral, os ensaios de umidade
Figura 4. Curva granulométrica trincheria amostragem.
natural variaram e 22,0 a 42,0%.

Tabela 1. Umidade natural 3.3 Peso específico dos grãos de solo


Profunidade (m) Umidade (%)
1,00 – 1,45 23,7 A Tabela 2 resume os resultados do Peso
SP-01
2,00 – 2,45 26,1 específico dos grãos de solo para a Sondagem a
3,00 – 3,45 30,3 trado (ST-1) e a Trincheira de amostragem (TR-
4,00 – 4,45 34,6
A). Os valores médios variaram entre 28,19 a
1,00 – 1,45 24,0
2,00 – 2,45 26,5 29,03 kN/m³.
SP-02 3,00 – 3,45 30,2
4,00 – 4,45 35,8 Tabela 2. Peso específico real de solo
5,00 – 5,45 42,0 Profundidade (m) Peso espec. (kN/m³)
0,00 – 1,00 26,8 0,00 – 1,00 28,71
1,00 – 2,00 26,6 1,00 – 2,00 28,76
ST-1 ST-1
2,00 – 3,00 27,2 2,00 – 3,00 28,44
3,00 – 4,00 22,0 3,00 – 4,00 29,03
TR-A 0,50 – 1,25 24,2 TR-A 0,50 – 1,25 28,19

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3.4 Limites de consistência

Para o solo obtido na sondagem a trado, o limite


de liquidez em todo o perfil variou entre 44 e
53%, o Limite de plasticidade variou de 34 a
43% e o Índice de plasticidade variou de 6 a
11%. O Limite de contração se variou entre
21,4 e 24,6% e a Relação de contração
permaneceram entre 1,7 e 1,8%.

3.5 Prova de carga

A prova de carga em placa de 30 cm, foi Figura 6. Níveis do lençol freático no ano de 2016.
conduzida até a carga de 19,86 kN,
correspondendo a uma tensão de 0,28 MPa e A Figura 7 apresenta o mapa
resultou em um recalque de 29,56 mm. A potenciométrico, o qual indica o fluxo da água
Figura 5 apresenta os resultados em forma de subterrânea.
curva tensão x recalque.
Tensão (MPa)
0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35
0
-3
-6
-9
-12
-15
-18
-21
Recalque (mm)

-24
-27
-30
-33
-36

Figura 5. Curva tensão x recalque

3.6 Água subterrânea


Figura 7. Mapa potenciométrico

Tomou-se como base o ano de 2016 para


detalhar a variação do nível freático, medidos 4 CONCLUSÕES
no período de janeiro de 2016 a dezembro de
2016. Os resultados da sondagem de simples
Pode-se observar que houve uma grande reconhecimento conduziram a índices de
variação dos níveis no decorrer do ano, resistência à penetração partindo de 2, nas
chegando a diferenças da ordem de dois metros camadas iniciais, e chegando até valores
(Figura 6). superiores a 50, nas camadas mais profundas
Os valores extremos do nível d'água medidos (em torno de vinte metros de profundidade).
neste intervalo foram de 4,82 e 6,75 no P1; 4,39 O solo apresenta predominância de argila,
e 6,53 m no P2; 4,33 e 6,42 m no P3 e 5,12 e variando entre 50 e 59%, seguidas por silte,
7,25 m no P4. variando entre 11 e 17%. O peso específico dos
grãos situa-se entre 28,19 kN/m³ e 29,03 kN/m³.
Os limites de liquidez variaram entre 44 e 53%,

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os limite de plasticidade variaram entre 34 e ____. NBR 6508: grãos de solos que passam na peneira
43%. de 4,8 mm – determinação da massa específica, Rio de
Janeiro, 1984b.
A curva da prova de carga indica um solo de ____. NBR 7180: solo – determinação do limite de
baixa capacidade de suporte, chegando a uma plasticidade. Rio de Janeiro, 1984d.
tensão de 0,28 MPa com uma deformação de ____. NBR 7181: solo - Análise granulométrica. Rio de
29,56 mm. Janeiro, 1984a.
Os níveis do lençol freático nos quatro poços ____. NBR 7183:limite de contração. Rio de Janeiro,
1982.
de monitoramento chegaram a uma variação da ____. NBR 9603: sondagem a trado. Rio de Janeiro,
ordem de dois metros. Tal fato tem relevante 1986a.
significado prático pois, no Brasil, em obras de ____. NBR 6122: projeto e execução de fundações. Rio
pequeno e médio porte, muitas vezes é adotado de Janeiro, 2010.
o nível freático indicado apenas no perfil de Decourt, L. e Quaresma Filho, A. R. (1996)
Estabelecimento das curvas carga-recalque de
sondagem SPT, sem que seja feito um fundações através de provas de carga em mini placa.
monitoramento por pelo menos um ano para se In: 3° Seminário de Engenharia de Fundações
obter as variações de nível e antever possíveis Especiais e Geotecnia, Anais... p. 1–9, São Paulo.
complicações que essa variação pode acarretar Ferreira, M. de C. e Thomé, A. (2011) Utilização de
nas obras de engenharia. resíduo da construção e demolição como reforço de
um solo residual de basalto, servindo como base de
Não se tinha conhecimento da variação do fundações superficiais. Teoria e prática na
nível do lençol freático na área estudada e não Engenharia Civil, v. 18, p. 1–12.
se esperava a variação observada. Contudo, tal Milititsky, J.; Consoli, N. C. e Schnaid, F. (2015)
variação contempla a distância suficiente da Patologia das fundações. 2. ed., Oficina de textos,
base da placa (que simula uma futura São Paulo, SP. Brasil, 256 p.
Thomé, A. Comportamento de fundações superficiais
fundação), o que permite a garantia de que o apoiadas em aterros estabilizados com resíduos
lençol frático não irá atingir o bulbo de pressões industriais. Tese de Doutorado, Programa de Pós-
previsto para a futura fundação, descartando-se Graduação em Engenharia Civil, Universidade
a possibilidade de perda de resistência à Federal do Rio Grande do Sul, 238 p.
compressão por umidade ou inundação do solo. Vargas, M. (1977) Introdução à mecânica dos solos.
McGraw-Hill, São Paulo, SP, Brasil, 509 p.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Zortéa Construções


Ltda, Mecfor Engenharia, ArcelorMittal Brasil
S.A, Funsolos Construtora e Engenharia Ltda,
Sermix Serviços e Concretagem Ltda, Tornearia
Beretta Ltda e ao Laboratório de geotecnia da
UFMS.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. NBR 6457: amostras de solo - Preparação
para ensaios de compactação e ensaios de caracterização.
Rio de Janeiro, 1986b.
____. NBR 6459: solo – determinação do limite de
liquidez. Rio de Janeiro, 1984c.
____. NBR 6484: solo - Sondagens de simples
reconhecimento com SPT - Método de ensaio. Rio de
Janeiro, 2001.
____. NBR 6489: prova de carga direta sobre terreno de
fundação. Rio de Janeiro, 1984e.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Proposta de Concepção de Colchão Drenante com Material
Alternativo – Escória de Aciaria.
Jullianny Isabelle da Silva Pereira
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, jispcivil@gmail.com

André Luís Brasil Cavalcante


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, abrasil@unb.br

RESUMO: Neste trabalho será apresentado um estudo do uso da escória de aciaria em colchões
drenantes. Para isto, faz-se necessário o conhecimento de parâmetros geotécnicos tais como: peso
específico, coeficiente de permeabilidade e expansão deste material. A metodologia utilizada foi
experimental. Foram realizados ensaio de permeabilidade, ensaios de expansão e ensaio de queda,
tendo sido encontrados os respectivos parâmetros. A partir dos resultados deste trabalho vê-se que a
escória de aciaria tem grande potencial para substituir os materiais naturais utilizados em colchões
drenantes, visto que esta trará menos danos ambientais e maiores vantagens financeiras com seu uso.

PALAVRAS-CHAVE: Colchão Drenante, Escória de Aciaria, Permeabilidade, Expansão.

1 INTRODUÇÃO de pedreiras naturais. No entanto, esta extração


traz grandes impactos ambientais, além de ser
Na construção de rodovias são imprescindíveis o onerosa e cada dia mais difícil de ser realizada,
dimensionamento e a construção de sistemas de devido ao rigor das leis ambientais. Dessa forma,
drenagem, sendo que estes têm como função a torna-se necessário o estudo de novos materiais,
que gerem menos danos ambientais e sejam mais
expulsão das águas do pavimento. Faz-se
viáveis economicamente.
necessário a retirada da água do pavimento, pois
Neste trabalho, será proposto o uso de escória
esta pode causar danos a estrutura, tais como:
de aciaria para a concepção de um colchão
trincamento dos revestimentos, perda de rigidez
drenante. A escória é um subproduto da produção
na base e sub-bases, além de redução no módulo
do aço, ou seja, um material alternativo e não
de resiliência em solos finos granulares
natural, cuja utilização diminuirá os impactos
(SUZUKI et al., 2013).
ambientais da produção do aço. Além de evitar
Além dos danos estruturais, a segurança do
que novas pedreiras sejam abertas, se tornando
usuário também é prejudicada, pois o excesso de
um material com menores custos ambientais, e
água aumenta o tempo de frenagem e há o risco
economicamente viável para regiões que estão
de deslizamento do veículo sobre a lâmina de
perto de grandes produtoras de aço.
água caso se forme.
Tendo em vista esta problemática, foram
criados mecanismos de drenagem, sendo que 2 METODOLOGIA
estes podem ser superficiais ou profundos. O
primeiro grupo tem como representantes Para a obtenção dos resultados primeiramente
principais as sarjetas, valetas de proteção, entre se fez necessário um estudo sobre o que eram os
outras. Já no segundo grupo tem-se os colchões colchões drenantes, suas aplicações e quais
drenantes e os drenos profundos. parâmetros geotécnicos eram de suma
Na atualidade, colchões drenantes são importâncias para tal dimensionamento.
construídos com areias grossas ou brita retiradas

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Em seguida, viu-se que para a concepção de Tabela 2. Distribuição granulométrica para os ensaios de
um dreno, é necessário garantir uma expansão.
granulometria tal que proteja o dreno contra a Faixa Granulométrica
colmatação e tenha permeabilidade suficiente Tamanho dos
para que a água escoe. grãos (mm) Massa (g)
A partir disso partiu-se para a elaboração dos 0,075 52
ensaios. Primeiramente, foi realizado o ensaio de 2,36 235
queda para se determinar o peso específico dos 4,75 1882
grãos. Em seguida, realizou-se o ensaio de
9,5 2024
permeabilidade tendo como base a normativa
NBR 13292 (ABNT, 1995). No entanto, foi 12,75 1151
necessária a construção de um permeâmetro
devido ao tamanho dos grãos da amostra e fez-se 3.1 Ensaio de queda
algumas modificações na normativa. Por fim
foram feitos ensaio de expansão segundo as O ensaio de queda não possui nenhuma
normas NBR 9895 (ABNT, 1987) e normativa normativa como base. No entanto, este tem como
113 (DNIT, 2009), ambas com modificações intuito a aferição da massa específica da amostra
devido ao tipo do material e tamanho dos grãos em estudo.
da amostra. Este ensaio consiste no lançamento da
amostra de diferentes alturas para que assim
3 ENSAIOS possa se obter o peso específico da mesma.
Para a execução do ensaio, primeiramente,
O material em questão possui grãos em uma se mediu a altura e o diâmetro de um recipiente
extensa faixa granulométrica, sendo que esta cilíndrico, para que se pudesse calcular o volume
varia de grãos de 0,075 mm até grãos maiores que posteriormente. Em seguida, este recipiente foi
50 mm. Visto isso, para a elaboração dos ensaios pesado e foram feitas marcas de alturas com
se fez necessário a determinação de um faixa auxílio de um giz, conforme Figura 1.
granulométrica. Após as marcações e utilizando a amostra
A faixa granulométrica foi definida por separada conforme a Tabela 1, as amostras foram
Marchezini (2016) e está disposta na Tabela 1. lançadas das alturas de 5 cm, 10 cm, 15 cm, 20
Esta faixa granulométrica foi utilizada para os cm e 25 cm, conforme mostrado na Figura 2. Para
ensaios de permeabilidade e ensaio de queda. cada camada de amostra lançada se tentava
Já para o ensaio de expansão se optou por manter uma determinada proporção de peso e
ensaiar apenas grãos menores que 12,5 mm, e a volume.
faixa granulométrica está disposta na Tabela 2.
Tabela 1. Distribuição granulométrica da faixa C1
Faixa Granulométrica
Tamanho dos
Massa (g)
grãos (mm)
50 4952
(a) (b)
37,5 4666 Figura 1. Ensaio de queda: (a) pesagem; (b) marca s
25 7856 utilizadas no ensaio.
19 6962
12,5 2112
4,75 905
2,36 831
0,075 1007
Total 29291
(a) (b)
Figura 2. Ensaio de queda: (a) lançamento da amostra; (b)
Aferição da altura.
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.

foi colocado sobre um recipiente com areia, para
Após o lançamento da amostra, esta foi se garantir que este ficasse nivelado (Figura 4a).
acomodada para ficar a mais nivelada possível, e a Se colocou areia em cerca de 15 cm da altura do
amostra foi novamente pesada. Para cada altura permeâmetro. Sobre este material se colocou uma
foram feitos 3 ensaios e se tirou a média dos placa metálica, para que servisse de suporte para
valores, para se obter o peso especifico. amostra. Esta placa foi acoplada abaixo do ponto
É válido ressaltar, que o ensaio de queda além de saída de água, para não influenciar na vazão
de estabelecer o peso específico, ainda traz de saída (Figura 4b). Com um nível se garantiu
parâmetros executivos que podem ser utilizados que este estivesse na horizontal.
em campo, pois simula o lançamento dos grãos Em seguida, os piezômetros foram acoplados e
sobre o solo. Isto, justifica o fato de não ter sido um painel de leitura das cargas também,
incluído o ensaio de compactação nas baterias de conforme mostrado na Figura 3.
ensaios, pois em campo o dreno não é Para se manter a vazão de abastecimento
compactado diretamente. constante durante o ensaio, fez-se necessário a
montagem de um sistema com uma bomba de
3.2 Ensaio de permeabilidade alimentação. Ou seja, a bomba de alimentação
retirava água de um grande reservatório para
Para execução deste ensaio foi utilizada como abastecer o permeâmetro e, este lançava a água
base a norma NBR 13292 (ABNT, 1995). No de saída no reservatório. Com isso, tem-se uma
entanto, esta abrange materiais com grãos de no vazão constante, além do fato de se reutilizar a
máximo 19 mm. Desta forma, algumas modifica- água dos ensaios evitando assim desperdícios
ções se fizeram necessárias. conforme Figura 3.
Primeiramente, foi necessário a confecção de
um permeâmetro com dimensões adequadas para
o tamanho dos grãos. Como descrito na Tabela
1, o maior grão da amostra tem 50 mm de
diâmetro e, segundo a normativa citada
anteriormente, o permeâmetro deve ter diâmetro
interno entre 8 e 12 vezes do diâmetro do maior
grão da amostra. Logo, o diâmetro interno do
(a) (b)
permeâmetro utilizado foi de cerca de 40 cm, a Figura 4. Permeâmetro: (a) recipiente utilizado para o
altura total de 1,10 m e a altura útil, ou seja, a nivelamento; (b) disco metálico de suporte.
altura da amostra para o ensaio foi de 60 cm. O
permeâmetro foi feito com tubo PVC (Figura 3). Ao fim da montagem, se colocou a amostra dentro
No permeâmetro também foram acoplados do permeâmetro, sendo que está possuía altura
piezômetros para a aferição da carga sobre a útil de 60 cm. Então, a amostra foi saturada, ou
amostra, sendo que estes, durante a execução do seja, colocou-se água até que as bolhas de ar se
ensaio, auxiliaram no controle da carga evitando dissipassem e a altura de água começasse a se
assim caídas bruscas e desarranjo nas vazões. manter constante (Figura 5).

Figura 3. Configuração final do permeâmetro, com bomba Figura 5. Amostra sendo saturada.
e piezômetros instalados.
Em seguida, com o uso de um recipiente com
Após a confecção do permeâmetro, se
volume conhecido e de um cronômetro o ensaio
montou o ensaio. O permeâmetro montado
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foi executado. Ou seja, mediu-se o tempo que se
gastava para se completar um determinado
volume. A carga hidráulica sobre a amostra era
de cerca de 76,5 cm de coluna de água. Por fim,
a temperatura da água no ensaio foi aferida.

3.3 Ensaio de expansão


(a) (b)
Para o ensaio de expansão usou-se como base
duas normativas: a NBR 9895 (ABNT, 1987), Figura 7. (a)Conjunto com haste, amostra e cilindro e pesos;
para solos e a Normativa 113 (DNIT, 2009). É (b) Conjunto completo com extensômetro. Fonte: Acervo
válido ressaltar que o material em estudo não se do autor.
adequa a nenhuma normativa, pois é alternativo Antes de prosseguir com ensaio, os pesos,
e não é usado para fins de colchão drenante até o extensômetro e haste foram pesados, e logo após
presente momento. Logo foram feitas todo conjunto foi pesado.
modificações nas metodologias. Para cada amostra também foi aferida a
Para o início da execução deste ensaio umidade.
separou-se a amostra conforme mostrado na
Tabela 2. Após isto com auxílio de um 3.3.1 Ensaio tendo como base a norma NBR 9895
paquímetro e trena se mediu a altura e o diâmetro (ABNT, 1987)
interno do corpo cilíndrico metálico que foi
utilizado. Para a amostra tendo como base esta norma,
Com o auxílio da trena, mediu-se 6 cm, e não se fez compactação devido ao tamanho dos
marcou-se dentro do cilindro. Este espaço ficou grãos e dificuldade de se compactar, além do fato
reservado para os pesos que ficaram sobre a de drenos não serem diretamente compactados
amostra. em campo.
Em seguida, o peso do cilindro foi aferido. Logo a norma não foi seguida na integra,
Feito isto, a amostra foi lançada sobre o corpo além dessa norma ser sugerida para solos. No
cilíndrico de tal forma que tentou-se manter uma entanto, foram feitas 3 amostras da forma que
altura constante de cerca de 12 cm, conforme foi descrito na seção anterior. A amostra foi
Figura 6a. Quando se chegou a marca dos 6 cm, colocada em um recipiente de tal forma que
rasou-se a amostra e tentou-se mantê-la nivelada ficasse encoberta por água, conforme a Figura 8.
(Figura 6b). Após colocar a amostra na água esperou-se até
que as bolhas de ar se dissipassem e foi efetuada
a primeira leitura. Após isto, durante 4 dias foram
feitas leituras do extensômetro.

(a) (b)
Figura 6. Montagem do corpo de prova: (a) lançamento da
amostra; (b) nivelamento da amostra.

Após este processo, foram adicionados ao Figura 8. Conjunto submerso.


conjunto corpo de prova e amostra a haste que
ficou em contato com o extensômetro e pesos 3.3.2 Ensaio tendo como base a Normativa 113
com massa total de aproximadamente 4540 g (DNIT, 2009)
(Figura 7a). Por fim, foi adicionado o
extensômetro para que as leituras de expansão A montagem do corpo de prova é feita
sejam fossem feitas, conforme Figura 7b. segundo descrito na Seção 3.3 deste trabalho.
A amostra foi colocada em um recipiente com
água a 38ºC e depois levada a uma estufa com
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temperatura igual a 71 ºC. Após 30 minutos foi campo deve estar dentro desta faixa, para se
feita a primeira leitura. garantir a constância na massa específica.
Durante 14 dias deve-se fazer as leituras dos
extensômetro, no entanto, para se fazer as 4.2 Resultados e análises do ensaio de
leituras é necessário repor a água dos recipientes permeabilidade.
que estão dentro da estufa e apenas 2 horas da
reposição. Após a reposição pode-se fazer a De acordo com a metodologia apresentada na
leitura. Seção 3.2, se fez possível a obtenção dos
resultados que serão apresentados nesta seção.
4 RESULTADOS E ANÁLISES Vale ressaltar que o diâmetro interno do
permeâmetro é igual a 38,7 cm, que a altura da
Nesta seção serão apresentados os resultados amostra é igual a 60 cm e a coluna de água acima
e análises de todos os ensaios descritos na Seção dela é igual a 76,5 cm. A temperatura da água, no
3. momento da realização do ensaio, encontrava-se
a 25ºC.
4.1. Resultados e análises do ensaio de queda. Na Tabela 8 está registrado o tempo e o volume
coletado em 6 amostras, sendo que para a medida
Por meio da metodologia apresentada na do volume se usou uma proveta graduada e o
Seção 3.1 se obteve os resultados para as alturas tempo foi aferido com o cronômetro e o k
de queda de 5 cm, 10 cm, 15 cm, 20 cm e 25 cm. encontrado foi calculado por:
Para o cálculo da massa específica, se utilizou
a razão entre a massa total subtraída da massa do V .L
k (1)
cilindro e o volume do cilindro. Além disso, se H.A.t
averiguo se os resultados de cada pesagem não
diferiram da média mais que 5%, sendo Onde, V é o volume dado em cm³, L é a altura da
estabelecido assim um limite inferior e um amostra em cm, H é a coluna de água em cm, A
superior. Nenhuma das amostras obtive valores é a área de contato em cm², t é o tempo para se
fora do intervalo de limite superior e de limite atingir determinado volume em s e k é o
inferior, e os resultados obtidos estão mostrados coeficiente de permeabilidade dado em cm/s.
na figura 9 abaixo. Na Tabela 3, k corrigido é a permeabilidade
em uma temperatura de 20ºC. Sendo que para
Massa específica vs Altura de Queda isso multiplicou-se o kmédio por 0,867.
Tabela 3 – Resultados do Ensaio de
Massaespecifica(kg/m³)

1910,00 Permeabilidade.
1900,00 Volume Tempo k
1890,00 (cm³) (s) (cm/s)
1880,00 930 1,53 0,41
1870,00 930 1,53 0,41
0 5 10 15 20 25 30
895 1,27 0,47
AlturadeQueda(cm)
965 1,64 0,39
Figura 9 – Gráfico da Massa Específica vs Altura de Queda. 946 1,84 0,34
Por meio do gráfico da Figura 9, vê-se que 995 1,58 0,42
conforme aumenta-se a altura de queda da Kmédio (cm/s) 0,41
amostra, a massa específica também aumenta. Kcorrgido (cm/s) 0,36
Este fenômeno é esperado, pois conforme a altura
cresce maior o grau de empacotamento das Tendo em vista o material em questão tem-se que
partículas. o coeficiente de permeabilidade é igual a 3,6.10¹
Além disso, é visto que entre as alturas 10 a cm/s. Este valor é menor do que a permeabilidade
20 cm tem-se uma massa específica utilizada para materiais drenantes, no entanto, é
aproximadamente constante. Visto isto, pode-se maior que a permeabilidade de brita graduada
recomendar que a altura de queda para a simples.
disposição da escória de aciaria nos drenos em É valido ressaltar que esta permeabilidade
deve ser maior na faixa granulométrica usada
para colchão drenantes, pois neste os finos serão
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desconsiderados, logo a permeabilidade do 1987). Até este dia, a expansão foi de
material tende a aumentar. aproximadamente 0%.
Neste trabalho, se optou por uma faixa mais Observando o resultado até o 11º dia, tem-se
ampla de granulometria para se conhecer melhor que dependendo da umidade a expansão muda,
o material em estudo. ou seja, a expansão depende do teor de água na
amostra inicial. No entanto, a maior expansão
4.3 Resultados e análises do ensaio de expansão. encontrada foi de 0,20%, ou seja, praticamente
desprezível.
Nesta seção serão apresentados os resultados A partir dos dados obtidos em ensaio foi
dos ensaios a luz das normas apresentadas na construído o gráfico mostrado na Figura 11.
Seção 3.3. A partir do gráfico vê-se que para esta
amostra, tem-se uma umidade ótima que é cerca
4.3.1 Resultados e análises segundo a norma de 5%, ou seja, nesta umidade a amostra
NBR 9895 (ABNT, 1987). apresentará a menor expansão, cerca de 0,05%

Neste ensaio usou-se 3 corpos, e usou-se Expansão vs Umidade


a metodologia de acordo com a seção 3.3.1. No 0,25
entanto nas leituras não houve movimento do 0,20

Expansão (%)
0,15
extensômetro.
0,10
Deste modo a expansão foi calculada
0,05
segundo a equação 2. 0,00
0,00 5,00 10,00 15,00
E =(( Lf – Li)*100) /He (2)
Umidade (%)
Onde, E é a expansão dada em porcentagem, Lf é
a última dada mm, e Li é a primeira leitura feita Figura 11 – Gráfico de Expansão vs Umidade.
dada em mm e He é a altura do copo de prova
dada em mm. 5 CONCLUSÃO
Por meio dos ensaios realizados neste
Também se aferiu a umidade desta amostra. O trabalho foi possível encontrar uma massa
valor encontrado foi de 1,24%. Como a leitura especifica média igual a 1886,65 kg/m³, um
inicial e final foram iguais a expansão neste índice permeabilidade igual a 3,6.10-¹ cm/s e
ensaio foi igual a 0%. Isto pode ter ocorrido uma expansão máxima de 0,20% na umidade
devido ao fato desta norma ter um tempo de 0,41%.
submersão pequeno e por ser uma norma Com isto, pode-se recomendar que a altura de
indicada para solos. lançamento deste material, em campo, deve estar
4.3.2 Resultados e análises da Normativa 113 entre 10 cm e 20 cm, pois nesta faixa a massa
(DNIT, 2009). específica se mantém constante, de tal modo que
os demais parâmetros geotécnicos permanecem
Na Tabela 10 apresenta-se as leituras feitas do constantes.
ensaio durante os 11 primeiros dias. Vale A permeabilidade encontrada é maior que a de
ressaltar que a norma fazer a recomendação de uma brita simplesmente graduada, no entanto é
serem ensaiados 14 dias. menor do que a usada em colchões drenantes. No
A umidade da amostra 1 era 0,41%, da entanto, na faixa escolhida se tem bastante
amostra 2 era 4,73% e da amostra 3 era 10,07%. materiais finos que não são utilizados em drenos.
A expansão foi calculada por meio da Eq. (2), Logo, recomenda-se o ensaio de permeabilidade
sendo que He é igual a 11,8 cm, pois foi
apenas para granulometrias acima de 25 mm, para
descontado 6 cm da altura total do corpo de
que assim o coeficiente de permeabilidade seja
prova, que era de 17,8 cm.
majorado.
Por meio das leituras feitas até o dia 4 é
possível ver que não houve grande expansão.
No que diz respeito a expansão, a máxima
Este fato pode validar o que ocorreu no ensaio de
apresentada é igual a 0,20%, fato que faz o
expansão baseado na norma NBR 9895 (ABNT,
material muito bom para o uso de drenos, pois
não ocorrerá grandes expansões assim não
trazendo danos estruturais para bases e sub-base
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.

de pavimentos. Ainda foi estimada uma umidade
ótima de cerca de 5% para se obter uma expansão
praticamente nula.
E válido ressaltar que neste trabalho as
normativas citadas foram utilizadas apenas como
referência e nenhuma foi seguida a rigor.
A escória de aciaria se mostrou um material
com grande potencial para fins de drenagem.
Além de apresentar bons parâmetros geotéc-
nicos, apresenta ganhos ambientais, tais como
uma destinação para a escória de aciaria e o
incentivo ao não uso das pedreiras, além de poder
trazer vantagens econômicas. No entanto, são
necessários estudos de viabilidade deste produto,
além de se garantir que este é um material inerte,
ou seja, não trará mudanças na água que
percolará por ele.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o suporte dado pelo


Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes), pela Universidade de
Brasília e pela Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, para financiar esta pesquisa.

REFERÊNCIAS

ABNT (1987). Associação Brasileira de Normas Técnicas.


NBR 9895.Solo – Índice de Suporte Califórnia.
Terminologia. Rio de Janeiro.14p.

ABNT (1995). Associação Brasileira de Normas Técnicas.


NBR 13292.Solo – Determinação do coeficiente de
permeabilidade de solos granulares á carga constante.
Terminologia. Rio de Janeiro.8p.

DNIT (2009) Departamento Nacional de Infraestrutura de


Transporte. DNIT 113. Pavimentação rodoviária –
Agregado Artificial – Avaliação do potencial de expansão
de escória de aciaria – Método de ensaio. Terminologia.
Rio de Janeiro.12p

DNIT (2006). Departamento Nacional de Infraestrutura e


Transporte. Manual de Drenagem de Rodovias. 2ª
edição. Publicação IPR – 724, Rio de Janeiro. 337p.

Marchezini, S. F (2016). Estudo do Agregado Siderúrgico


para Uso em Drenagem Profunda. XVIII Congresso
Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica. Minas Gerais.7 p.

Suzuki, C.Y. Azevedo, A.M. Kabbach Junior, F.I. (2013).


Drenagem subsuperficial de pavimentos: conceitos e
dimensionamento. Oficina de Textos, São Paulo.240p.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Utilização de Solo Aditivado com Fosfogesso para Melhoramento
de Sub-Base Rodoviária
Pedro César de Souza Macedo
Centro Universitário de Brasília - UniCEUB, Brasília, Brasil, pedromedeirosmacedo@gmail.com

Jairo Furtado Nogueira, M.Sc.


Centro Universitário de Brasília - UniCEUB, Brasília, Brasil, Jairo.Nogueira@uniceub.br

RESUMO: Esse trabalho tem como intuito de analisar o fosfogesso como material para ser
misturado com solo com diferentes teores de fosfogesso para que possa ser utilizado como sub-base
em obras rodoviárias. Para tanto foram feitos ensaios geotécnicos para caracterizar o material
natural e as misturas e também foi feito ensaio de compactação e ISC para saber se haveria um
incremento de resistência do. O fosfogesso foi coletado de uma indústria de fertilizantes em
Catalão-GO. O solo foi retirado de uma jazida utilizada pelo DER-DF que fica próximo a rodovia
DF-435. Foram utilizados os seguintes teores de fosfogesso: sem aditivos (natural), 8%, 15% e
20%. Foi possível observar que ao aumentar o teor de fosfogesso houve aumento da umidade ótima
e redução do peso especifico. No ensaio de ISC, observou-se que a melhor porcentagem de
fosfogesso foi de 15% e que as misturas podem ser utilizadas para sub-base.

PALAVRAS-CHAVE: Solo, Fosfogesso, solo aditivo.

1 INTRODUÇÃO apresenta propriedades físicas e químicas


similares à do gesso.
O Brasil é um país que tem sua população O uso de fosfogesso em base e sub-base de
aumentada a cada ano e a produção de resíduos pavimentos urbanos e rodoviários já é realidade
industriais e residenciais também têm em alguns países. Nos Estados Unidos, trechos
aumentado cada vez mais (IBGE,2010). Essa de rodovias foram construídos utilizando o
geração de resíduos industrias torna-se cada vez resíduo fosfogesso. Um exemplo do sucesso
mais complexas e problemáticas, pois podem alcançado pelo uso do fosfogesso está
causar problemas ambientais e de saúde pública localizado na cidade de La Porte no estado do
se não houver o devido descarte, reciclagem ou Texas. Testes e monitoramentos realizados ao
armazenamento correto. Contudo, devido a longo de 5 anos, após a construção de um
restrições ambientais mais rígidas e ao trecho da malha viária, sinalizaram e indicaram
armazenamento mais caro têm surgido que o pavimento sob tráfego intenso ainda
incentivos a pesquisas que procurem soluções apresenta boa capacidade de suporte, ocasião
para o reaproveitamento desses resíduos. Um em que se utilizou na base misturas de
desses resíduos é o fosfogesso. fosfogesso e cimento nas proporções de 90% e
O fosfogesso é um resíduo resultante da 10%, respectivamente (CHANG et al., 1989).
produção do ácido fosfórico que é o principal Diante das informações apresentadas, esse
componente de fertilizantes de fosfatos. O artigo irá estudar a viabilidade da mistura do
fosfogesso é o resíduo gerado durante o fosfogesso com solo para o aproveitamento do
processo de produção de ácido fosfórico - mesmo, pois poderá contribuir para uma
P2O5, cuja matéria-prima principal é a rocha redução do impacto ambiental e para uma
apatita (AQUINO,2005). O fosfogesso construção de rodovias mais sustentáveis.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


2 EXPERIMENTO REALIZADOS tem-se amostras mais uniformes e homogêneas.
Após a realização do ensaio de compactação
O solo utilizado nessa pesquisa é proveniente de foi feito o ensaio de expansão e penetração com
uma jazida do DER-DF que fica localizada ao todos os corpos de prova, o ensaio de expansão
longo da rodovia DF-435 nas proximidades de foi realizado seguindo a norma ABNT NBR
Brazlândia. O fosfogesso foi coletado de uma 9895/1987 – Solo – Indicie Suporte Califórnia
indústria em se encontra em Catalão-GO

3 RESULTADOS E ANÁLISES
2.1 Preparação das amostras
3.1 Análise granulométrica
Foi escavado aproximadamente 200 Kg de
material com ferramentas manuais e colocados A análise granulométrica foi realizada por
em sacos de 50 Kg. A retirada do material foi peneiramento fino, peneiramento grosso e
feita de forma cuidadosa para que ele ficasse o sedimentação. Na Tabela 1 apresenta o resumo
mais homogêneo possível. do resultado da caracterização do material
Após a coleta de todo o material, este foi natural sem o uso do defloculante
levado para o laboratório do UniCEUB da asa
norte, para preparação dos devidos ensaios Tabela 1. Caracterização do solo sem defloculante
MATERIAL % do material
geotécnicos.
As análises feitas por Takeda (1998), no
20,0<Pedregulho
fosfogesso produzido nas indústrias de grosso<60,0 2,1
fertilizantes em São Paulo, mostraram que o
fosfogesso possui um comportamento 6,0<Pedregulho
granulométrico como um silte médio<20,0 17,3
Foram feitos os ensaios de análise
granulométrica que é basicamente a 2,0<Pedregulho fino<6,0 13,5
determinação do tamanho dos diâmetros das
várias partículas que há no solo. O método de 0,6<Areia grossa<2,0 17,0
para analise granulométrica é descrito pela
norma ABNT NBR 7181/84 – Solo – Análise 0,2<Areia média<0,6 22,3
granulométrica que com esse método é possível
obter a curva de distribuição granulométrica e
fazer a classificação do solo a partir dela. 0,06< Areia fina <0,2 17,2
Os limites de Atterberg são os limites de
liquidez e limite de plasticidade que servem
para descrever a consistência de solo granulares 0,002 < Silte < 0,06 10,4
finos com teores de umidade que variam e
também foi realizado o ensaio MCT. Argila < 0,002 0,2
total
A execução do ensaio de compactação foi 97,9
baseada na norma a ABNT NBR 7182/1986 –
Solo – Ensaio de Compactação. Esse ensaio Na Tabela 1 é possível observar que o
normatizado vem com o objetivo de encontrar a material possui uma quantidade expressiva de
relação entre o teor de umidade (w%) e a massa material grosso e uma quantidade grande de
especifica aparente seca (‫ڜ‬d), quando o solo areai, logo é possível observar que esse material
sofre uma compactação de uma dada energia. é um solo pedregulhoso arenoso.
Os ensaios foram feitos para o solo natural e O resultado da análise granulométrica
com as porcentagens de fosfogesso de 8%, resumido está na Tabela 2. Nessa Tabela 2 é
10%, 15% e 20%. A energia de compactação possível verificar que a quantidade de material
usada foi a intermediária com 26 golpes. Usou- granular continua sendo o mesmo, porém no
se uma máquina de compactação, pois assim material arenoso é possível ver que o tipo de

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



areia predominante muda e que há um aumento 3.2 Limites de Atterberg
na quantidade de argila.
Os limites de Atterberg são os limites de
Tabela 2. Caracterização do solo com defloculante liquidez e os limites de plasticidade, os valores
MATERIAL % do material
do são respectivamente 48,81% e 31,07%. Com
20,0<Pedregulho os valores dos limites de liquidez e de
grosso<60,0 2,1 plasticidade foi possível calcular o índice de
plasticidade.
6,0<Pedregulho
médio<20,0 17,3 O índice de plasticidade é a subtração do
limite de liquidez pelo limite de plasticidade.
2,0<Pedregulho
13,5 Logo o Índice de plasticidade é igual a 18,77%.
fino<6,0
Com esse valor é possível classificar o solo
0,6<Areia grossa<2,0 14,5 quanto a plasticidade do solo e sua classificação
0,2<Areia média<0,6 15,2 foi de elasticidade média, pois o valor está entre
10% e 20%.
Com os dados coletados da análise
0,06< Areia fina <0,2 16,4 granulométrica, do limite de liquidez e de
plasticidades foi possível calcular o índice de
0,002 < Silte < 0,06 12,0 grupo que é igual a 2. Com esse valor de índice
de grupo, foi possível classificar esse solo como
Argila < 0,002 8,9 sendo um A-2-7 segundo a classificação
Total
100,0 ASSHTO que define para essa classificação que
o comportamento do solo é de excelente e a
Por fim, com os dados da análise bom para subleito.
granulométrica com e sem defloculante
conseguiu-se fazer as curvas de granulometria
que se encontra na Figura1. Nessa Figura 1 é 3.3 Ensaio MCT
possível observar que as amostra com e sem
defloculante estão muito semelhantes, isso é Foi feito os ensaios para determinar a contração
decorrente ao alto teor de material do material em anéis e sua dureza. Com esses
pedregulhoso, já que o defloculante não faz resultados foi possível classificar o solo quanto
muito efeito em material granular. a metodologia MCT. A resistência de
esmagamento da bola seca foi muito alta, pois
não foi possível esmaga-la com a pressão do
dedão sobre a bola contra uma placa dura.
Com os dados de contração foi possível
verificar que a contração média foi de 0,9489
maior que 0,6 mm e dessa forma conseguiu-se
calcular C´ que obteve um resultado igual a
1,345, pode-se verificar a classificação MCT. O
solo foi classificado como sendo um solo
arenoso laterítico e argiloso laterítico.

3.4 Ensaio de compactação

Foram feitas 4 curvas de compactação, sendo a


Figura 1. Granulometria com e sem Defloculante primeira curva sem mistura para obter
O ensaio de massa especifica dos grãos foi parâmetros comparativos com as curvas dos
realizado e encontrou-se um resultado de Gs solos misturados com fosfogesso. As outras
igual a 2,66 g/cm3. curvas de compactação foram feitas alterando o

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teor de fosfogesso da mistura. Foram feitas as
curvas com 8%, 15% e 20% de fosfogesso. PesoEspecificoAprenteSecoX
Ao analisar a Figura 2 pode-se afirmar que TeordeFosfogesso
houve uma certa tendência de diminuição do 17 15%;

MassaEspecificaAprenteSeca
0%;16,69
peso especifico aparente seco nas amostras com 16,55
o aumento do teor de mistura de fosfogesso. A 16,5
umidade ótima também sofreu uma tendência 8%;16,05
de queda com o aumento da quantidade de 16
fosfogesso. 20%;
15,5 15,37

CurvasdeCompactação 15

14,5
17,00 0% 8% 15% 20%
0
16,50 % Teor de Fosfogesso (%)
ɶd(KN/m3)

16,00 8
% Figura 3. Peso Específico Aparente Seco x Teor de
15,50 Fosfogesso
15
15,00 %
14,50 20 Ao analisar a Figura 3 é possível observar que
% para mesma umidade que é cerca de 18%, tem-
14,00
se um valor de peso especifico seco maior para
10,0 20,0 30,0
a porcentagem de 15% de fosfogesso que foi de
W(%) 16,55 Kn/m3. Um valor muito próximo do solo
natural em sua umidade ótima.
Figura 2. Curvas de Compactação

Na Figura 3 é possível ver um comparativo do 3.4 Ensaio de índice suporte Califórnia


peso especifico aparente seco com o teor de
fosfogesso, sendo que nessa análise tentou-se No ensaio do índice de suporte Califórnia
pegar as mesmas umidades como está na Tabela foram obtidos os resultados de expansão e de
3 para que houvesse menos uma incógnita para penetração, foi então selecionado os maiores
se analisar valores dos dados de penetração das
penetrações de 2,54 mm e de 5,08 mm,
Tabela 3. Valores do peso especifico com mesma
umidade conforme recomenda a norma ABNT NBR
Fosfoges Teor de 9896/1987- SOLO- ÍNDICE SUPORTE
Jd ( (kN/m3) CALIFÓRNIA. Com os melhores dados de
so umidade(% )
0% 16,69 17,33 ISC% das misturas e do solo natural foi
8% 16,05 18,879 possível criar a tabela com o resumo dos dados.
15% 16,55 18,1
20% 15,37 18,9 Tabela 4. Resumo dos Dados do ISC

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Teorde Teor de Penetração Pressão (Mpa) Expansão PesoEsp.
ISC(%)
fosfogess umidade(%) (mm) Corrigida Padrão (%) (kN/m3)
2,54 2,68 6,9 38,84
0% 17,33 0,07 16,09
5,08 3,67 10,35 35,46
2,54 1,82 6,9 26,33
8% 18,88 0,05 16,05
5,08 2,78 10,35 26,83
2,54 2,89 6,9 41,88
15% 18,10 0,07 16,55
5,08 4,17 10,35 40,29
2,54 1,76 6,9 25,48
20% 18,00 0,24 15,37
5,08 2,62 10,35 25,31
Na Figura 4 é possível analisar a influência do
teor do fosfogesso nos resultados do ISC.
Novamente é possível ver que a mistura com
15% foi a que obteve melhores resultados
comprado as outras misturas e também obteve Figura 5. Pressão x Penetração
um ganho de resistência de 7,25% quando
comparado com o solo natural.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
ISCXTeordeFosfogesso
44,00 15;41,88 Nota-se que para verificar o aumento de
40,00
0;38,84 resistência da mistura é necessário usar uma
36,00
porcentagem específica de fosfogesso. É
32,00
necessário que se chegue a uma porcentagem
28,00
8;26,83
20;25,48
aproximada de 15% de fosfogesso para que se
adquira um ganho de resistência no solo. Já as
ISC(%)

24,00
outras porcentagens de 8%, e 20% mostradas
20,00
nessa pesquisa não obtiveram os mesmos
16,00
resultados, quando comparada ao solo sem
12,00
aditivo.
8,00
Observou-se nessa pesquisa que o solo natural
4,00 atende os parâmetros do Manual de
0,00 Pavimentação do DNIT para sub-base e
0 8 15 20
TEORDEFOSFOGESSO(%) subleito, pois possuem um ISC% maior que
20%.
Figura 4. ISC X Teor de Fosfogesso Conclui-se, que as misturas podem ser
aplicadas para sub-base e subleito rodoviários,
Na Figura 5 é possível ver a comparação dos pois para essas finalidades a mistura de 15%
resultados de penetração com as diferentes apresenta os parâmetros mínimos necessários
misturas. Os resultados escolhidos para esse solicitados pelo Manual de Pavimentação do
gráfico foram baseados nos corpos de provas DNIT, que exige um ISC de 20% para a sub-
que obtiveram maiores valores de ISC (%) para base. Para o reforço do subleito, um ISC maior
cada teor de mistura. Ao analisar a figura 5, que de projeto, logo dependendo do projeto é
consegue-se verificar uma tendência de queda possível utilizar como subleito.
nos valores de pressão com o aumento do teor
de fosfogesso, porém é notável que a mistura de
15% se sobressai em relação a todos os AGRADECIMENTOS
resultados novamente, tendo o maior valor de
penetração. Antes de tudo, agradeço a Deus por me
conceder saúde e oportunidade de concluir mais
essa etapa da minha vida.

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Agradeço aos meus pais, José Romero César Impactos ambientais . IBRAFOS - Instituto brasileiro
de Macedo e Lucia Maria Medeiros de Souza, do fosfato .
GHAFOORI & CHANG, N. &.. Investigation of
por me darem essa oportunidade para realizar phosphate mining waste for construction materials.
este curso superior, apoiando de todas as formas Journal of Materials in Civil Engineering . (1993)
que precisei durante toda essa jornada, espero
que um dia possa retribuir o que eles fizeram KANNO W.M.; Rosseto H.L e Ferreira M.S (2008).
por mim. Agradeço aos meus irmãos, Luísa Disponivel em :
http://www.saocarlos.usp.br/index.php?option=com_c
Gabriela de Souza Macedo e Lucas Medeiros de ontent&task=view&id=251&Itemid=170 Acesso em:
Souza Macedo pelo apoio oferecido durante 29 de maio 2016.
esses anos. MESQUITA, G.M. Aplicação de misturas de fosfogesso
Agradeço à minha namorada, Ingrid Ribeiro e solos tropicais finos na pavimentação. Dissertação
Soares da Mata, me incentivando nesses 2 anos de mestrado, Universidade Federal de Goiás, Escola
de Engenharia Civil, Programa de Pós-Graduação em
de namoro, ajudando a concretizar o meu Engenharia do Meio Ambiente. Goiânia, 2007, 144p.
objetivo de enfim me tornar um Engenheiro ______NBR 5734. Peneiras para Ensaio. Rio de Janeiro.
Civil. Além dos meus amigos Sandra Patrícia, 1989.
Renato, Leonardo Dias, Roberto Dias, Elder, ______. NBR 6457. Amostra de solos - Preparação para
João Paulo, Luis Monjardim, Anderson, Camila ensaio de caracterização e compactação. Rio de
Janeiro. 1986.
Marques por caminhar juntos nessa jornada de ______. NBR 6459. Solo - determinação do limite de
graduação. Quero agradecer em especial liquidez. Rio de Janeiro. 1984.
também ao meu, Prof. M.Sc. Jairo Furtado ______. NBR 6502. Rochas e solos–Terminologia. Rio
Nogueira - pelos seus conselhos, seu tempo, de Janeiro. 1995.
suas dicas valiosas, sua gigantesca paciência e ______. NBR 6508. Grãos de Solos que Passaram na
Peneira de 4,8 mm - Determinação da Massa
calma. Específica. Rio de Janeiro. 1984.
Aos técnicos do Laboratório de Geotecnia do ______. NBR 7180. Solo - Determinação do limite de
UniCEUB, Vanílson Gustavo, Regis, Francisco, Plasticidade. Rio de Janeiro. 1984.
pela sua atenção e total dedicação nos ensaios ______. NBR 7181. Solos - Análise Granulométrica. Rio
realizados. de Janeiro. 1984.
______. NBR 7182. Solos - Ensaio de Compactação. Rio
de Janeiro. 1986.
______. NBR 7207. Terminologia e Classificação de
REFERÊNCIAS Pavimentação . Rio de Janeiro. 1982.
______. NBR 9895. Índice Suporte Califórnia - CBR.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Rio de Janeiro. 1987
TÉCNICAS. NOGAMI, JOB SHUJI – Pavimento de Baixo Custo para
AQUINO, P. E. A produção de ácido fosforico e a Vias Urbanas : 2. ed.-Ampliada– São Paulo: Arte e
geração de fosfogesso. (21 de janeiro de 2005) In: Ciência , 2009
Desafios Tecnológicos para o Reaproveitamento do ______. NORMA DNIT 138/2010 – ES: Pavimentos
Fosfogesso. Fonte: flexíveis – Reforço do subleito - Especificação de
<http:/www.fosfogesso.eng.ufmg.br>. serviço. Rio de Janeiro. 2010c.
CAPUTO, H. P. Mecânica dos Solos e Suas Aplicações. .
3ª. ed. Rio de Janeiro:Livros Técnicos e Cientificos PINTO, Carlos de Sousa. Curso Básico de Mecânica dos
Editora S.A., Volume 1, 1976. Solos em 16 aulas. 3ª Ed. São Paulo: Oficina de
CHANG, W. F.; CHING, D. A.; HO, R. Phosphogypsum Textos, 2006.
for Secondary RoadConstruction. University of SENÇO, Wlastermiler de - Manual de técnicas de
Miami. Florida Institute of Phosphate Research, pavimentação : 2. ed. Volume 1– São Paulo: Pini,
Bartow, Florida,1989. 2007
DAS, Braja M e KHALED SOBHAN.: Fundamentos de .
engenharia geotécnica. Tradução 8ª. ed São Paulo:
CENGAGE Learning, 2014.
DNIT - DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTE. Manual
de Pavimentação. 3ª. ed. Rio de Janeiro: DNIT, 2006.
FERNANDES, F. R. C.; LUZ, A. B.; CASTILHOS, Z.
C.Agrominerais para o Brasil. Rio de
Janeiro:CETEM/MCT, 2010. 380 p.
FREITAS, J. (1992). A disposição de fosfogesso e seus

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Fundações, Contenção e
Estabilidade de Taludes

TEMA 3


A Importância do Controle da Qualidade de Estacas
Pedro Cavalheiro Ribeiro da Silva
Concremat Engenharia e Tecnologia SA, São Paulo, Brasil, pcavalheiro1@gmail.com

Thiago Francisco dos Santos


Concremat Engenharia e Tecnologia SA, São Paulo, Brasil, thiago.fsantos@icloud.com

Lucas Savio Fagundes


Concremat Engenharia e Tecnologia SA, São Paulo, Brasil, lucassaviofagundes@gmail.com

RESUMO: Durante o último século grandes avanços foram observados no desenvolvimento de


diversos métodos não-destrutivos para avaliação da qualidade de fundações profundas executadas em
obras. Esses ensaios permitem verificar a capacidade de carga das estacas e também avaliar a
integridade do elemento estrutural. Neste estudo, são apresentadas as principais características dos
métodos mais usuais e um estudo de caso em São Paulo - Brasil, no qual a avaliação das estacas por
meio de alguns desses ensaios foi fundamental para a identificação de elementos com anomalias, o
que comprometeria o bom comportamento da estrutura prevista, deixando evidente a importância da
avaliação prévia por meio de ensaios nas estacas.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações profundas, Provas de carga, Integridade de estacas.

1 INTRODUÇÃO necessidade de realização de ensaios in situ afim


de comprovar a qualidade das fundações, tanto
A utilização de fundações profundas foi do ponto de vista da integridade do elemento
fundamental no desenvolvimento da engenharia estrutural de fundação como do comportamento
civil, viabilizando a construção de estruturas de da interação solo-estaca.
grande porte em locais onde o subsolo apresenta Atualmente, no Brasil, as normas
baixa capacidade de suporte. Assim, diversos relacionadas a fundações preconizam dois
estudos passaram a ser realizados visando avaliar ensaios principais para o controle de qualidade
a capacidade de carga das estacas, bem como a de fundações profundas, Provas de Carga
integridade das mesmas. Estática (PCE) e Ensaios de Carregamento
Segundo Teixeira (2000), historicamente Dinâmico (ECD), visando obter as cargas
pode-se estabelecer a década de 30 como o admissíveis das estacas ensaiadas. Cintra e Aoki
marco que separa uma era primitiva de uma era (2010) afirmam que os conceitos de fator de
de avanço tecnológico na execução de fundações segurança, global e parcial, são insuficientes
no Brasil. Desta forma, a capacidade de carga para a análise abrangente da segurança de uma
das fundações passou a ser objeto de diversos fundação, defendendo a necessidade de análises
estudos que permitem dimensionar as fundações mais aprofundadas utilizando o conceito de
de forma mais segura e racional através de probabilidade de ruína.
metodologias teóricas, semi-empíricas ou Neste contexto, diversos autores como
modelagens numéricas. No entanto, ao se Rausche e Robinson (2010), Cruz et al. (2014);
considerar todas as variáveis envolvidas na Likins (2015) entre outros, publicaram estudos
execução das estacas, incluindo a variabilidade com recomendações e análises de diversos tipos
das propriedades do solo e incertezas inerentes de ensaios que permitem uma melhor avaliação
aos métodos executivos, fica evidente a quanto à qualidade das fundações.

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2 ENSAIOS EM ESTACAS Para a medição durante o ensaio, monta-se um
sistema composto por deflectômetros com
A seguir serão apresentados os principais ensaios precisão mínima de 0,01 mm e curso apropriado
disponíveis para avaliação da qualidade de (mínimo 30 mm). As cargas aplicadas no topo da
estacas, no que diz respeito a integridade e estaca são controladas através de manômetro
capacidade de carga das mesmas. instalado no sistema de alimentação do macaco
hidráulico ou célula de carga instalada sobre o
2.1 Prova de Carga Estática (PCE) macaco hidráulico.
No resultado dos ensaios tem-se uma curva
Este ensaio tem como objetivo verificar o carga versus deslocamento (recalque), onde
comportamento das estacas previsto em projeto, figuram as anotações feitas no início e fim de
por meio da aplicação de esforços estáticos e do cada estágio de carregamento e
registro de deslocamentos correspondentes. As descarregamento.
principais normas da ABNT relacionadas a este A quantidade de ensaios deve ser definida
ensaio são: NBR 6122/10 – “Projeto e Execução conforme normatização vigente e especificações
de Fundações” e NBR 12131/06 – “Estacas - de projeto, sendo geralmente 1 % das estacas da
Prova de carga estática - Método de ensaio”. obra, arredondando-se para mais.
O ensaio consiste na aplicação de cargas A execução da prova de carga pode ter
crescentes sobre uma estaca, por meio de macaco carregamento lento, rápido ou misto, cujos
hidráulico, reagindo contra um sistema estável estágios de carregamento e critérios de
de reação, com capacidade suficiente para estabilização são definidos na norma NBR
garantir que o ensaio alcance a carga de ensaio 12131/06.
com segurança. Dentre os principais tipos de Na Figura 1 tem-se uma foto de uma
reação, pode-se citar: montagem para a execução de uma PCE.
x “Cargueira”: trata-se de uma plataforma
com peso composto por areia, ferro,
água, entre outros. Este tipo de reação é
pouco utilizado atualmente devido à
dificuldade de realização e ao alto risco
envolvido;
x Estacas de reação: o sistema é composto
por vigas ancoradas às estacas vizinhas,
através de barras roscadas, trabalhando à
tração. Este sistema passou a ser usual
com a evolução das barras roscadas que
suportam cargas cada vez mais elevadas;
x “Capacetes”: este sistema é composto
por uma estrutura metálica ancorada no
terreno através de tirantes. No Brasil este
sistema é mais usual em Provas de Carga
em estacas de grande diâmetro, com Figura 1. Exemplo de Prova de Carga Estática realizada
cargas mais elevadas; com “capacete”. (Fonte: Concremat)
x Célula expansiva: este processo
alternativo foi desenvolvido por um Um aspecto que deve ser verificado se dá nos
brasileiro (Silva, 1986), em que uma casos em que pode ocorrer efeito de atrito
célula é introduzida no fuste da estaca negativo. Nesse caso, as camadas que irão gerar
antes da concretagem. Neste caso a parte atrito negativo oferecerão atrito positivo durante
superior da estaca trabalha à compressão a prova de carga. Assim, a estaca deverá atender
enquanto a parte superior da estaca ao que exige a norma para carga útil somada com
funciona como reação trabalhando à a negativa. (Velloso e Lopes, 2010)
tração.

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2.2 Ensaio de Carregamento Dinâmico (ECD) parâmetros básicos de resistência através
do Método Case (Jansz et al., 1976) ou
Também conhecido como método dinâmico de similar;
grande deformação, esse ensaio tem como x Após processamento dos dados por
principal objetivo determinar a carga mobilizada solução completa da Equação de Onda,
de estacas através de golpes aplicados às estacas com resultados mais detalhados através
com sistemas de percussão, utilizando a teoria da do método CAPWAP (Rausche et al.,
equação de onda, permitindo também avaliar a 1985), por exemplo.
integridade das estacas. Na Figura 2 tem-se uma foto de uma
São referências para o ensaio as normas da montagem para a execução da ECD em uma
ABNT: NBR 13208/07 – “Estacas – Ensaio de obra.
Carregamento Dinâmico” e NBR 6122/10 –
“Projeto e Execução de Fundações” e a norma da
ASTM – D-4945/00 “Standard Test Method for
High-Strain Dynamic Testing of Piles”.
Para o ensaio utilizam-se dois pares de
sensores instalados diametralmente opostos no
topo da estaca, sendo eles:
x Acelerômetros: utilizados para o registro
das velocidades e dos deslocamentos,
após a integração das acelerações no
tempo;
x Extensômetros: para medir as
deformações causadas pelos golpes. É
possível obter as forças atuantes durante
a aplicação dos golpes por meio das
características da estaca (seção e módulo
de elasticidade).
A quantidade mínima de ensaios deve
Figura 2. Exemplo de Ensaio de Carregamento Dinâmico.
obedecer ao preconizado pela normatização (Fonte: Concremat)
vigente, podendo geralmente substituir algumas
das PCE’s, na proporção de 5 ECD’s para cada 2.3 Método Dinâmico de Pequena Deformação
PCE. (PIT)
Para o carregamento dinâmico é
imprescindível que o pilão tenha peso Também conhecido como ensaio PIT (Pile
equivalente entre 2 e 3% da carga de admissível Integrity Tester), este método é empregado
das estacas. Em geral, no caso de estacas visando obter informações sobre a continuidade
cravadas, o mesmo equipamento utilizado na e integridade física de estacas cravadas, que
cravação (bate-estacas) é adequado para podem ter sido danificadas durante a cravação,
realização do ensaio. ou moldadas in loco, que podem apresentar
Após a instalação dos sensores são aplicados estrangulamento do fuste ou falhas de
diversos golpes com o sistema de percussão. concretagem (juntas frias, desmoronamento da
Atualmente, a metodologia mais utilizada é de escavação, entre outros). O método é útil
energias crescentes, ou seja, os golpes são também, em determinadas situações, para
aplicados com alturas de queda maiores para confirmação do comprimento de estacas.
cada golpe. Esse ensaio não destrutivo passou a ser
A partir dos sinais médios de força e popular no Brasil na década passada e vem
velocidade medidos, é possível interpretar os provando ser uma ferramenta valiosa na
resultados da monitoração pela teoria da avaliação do comprimento e da integridade de
Equação de Onda, em duas fases: estacas. (Morgano, 1996)
x No momento do ensaio, obtendo Apesar de se tratar de um método usual em

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obras brasileiras, a falta de uma norma técnica variações na seção da estaca ou mesmo
regulamentadora específica no Brasil, como a alterações nas características do concreto ao
americana ASTM – D-5882/16, cria uma longo da profundidade.
situação de desconforto, no que tange a Na Figura 3 tem-se uma foto da realização de
padronização da execução do ensaio e a análise um ensaio de pequenas deformações.
dos resultados, que muitas vezes não é em parte
ou totalmente conclusiva por limitações da
própria metodologia. (Bumgenstab e Beim,
2014)
O ensaio é realizado com um golpe de martelo
manual aplicado axialmente à estaca,
preferencialmente no seu topo, onde é colado um
acelerômetro por meio de um material de ligação
temporária, como cera ou vaselina.
A avaliação da integridade de estacas é
realizada por meio de análise das variações da
impedância ao longo do tempo medido a partir Figura 3. Exemplo de um ensaio de pequenas
deformações. (Fonte: Concremat)
da aplicação do golpe, considerando conhecida a
velocidade de propagação da onda no concreto, 2.4 Método Sísmico
que é geralmente 3.500 a 4.700 m/s.
A impedância de uma estaca (Z) relaciona-se Os métodos sísmicos possibilitam a verificação
com a sua seção transversal (A), o módulo de da integridade estrutural do concreto utilizado na
elasticidade (E) e o peso específico (ȡ) do execução de estacas moldadas in loco, através de
concreto de acordo com a equação 1. pares de tubos pré-instalados em estacas
escavadas, paredes diafragma e tubulões. Nestes
ܼ ൌ ‫ܣ‬ඥ‫ܧ‬Ǥ ߩ (1) ensaios uma pequena fonte de vibração é
introduzida em um furo e a captação é feita por
A ocorrência de danos nas estacas é um sensor colocado em outro furo ao lado,
identificada ao se observar uma redução da conhecido por Cross-Hole, ou no mesmo furo em
impedância da estaca, caracterizada por um nível diferente, no caso de ensaio Down-Hole.
pulso para cima, no mesmo sentido do pulso Como referência utiliza-se a norma ASTM –
inicial, observado entre o pulso inicial e o pulso D-6760/08.
de reflexão da ponta da estaca. Para a execução do ensaio instala-se alguns
Recomenda-se a execução desse ensaio como tubos com diâmetro nominal interno mínimo de
controle de qualidade do maior percentual 50 mm, sendo que os mesmos são fixados junto
possível das estacas em uma obra, tendo em vista a armadura longitudinal e fechados com um CAP
que os diagnósticos são fortemente baseados na na extremidade inferior, evitando que o concreto
comparação dos sinais obtidos e grande entre pelo tubo durante a concretagem. Após a
quantidade de estacas que podem ser ensaiadas concretagem os tubos são preenchidos com água
por dia de serviço em campo. doce. A leitura de variação da frequência entre o
Vale observar que, apesar deste ensaio ser emissor e o receptor é realizada ao longo de toda
muito utilizado em todo o mundo, ele apresenta a profundidade, caracterizando a integridade
algumas limitações. Estudos indicam que o estrutural do concreto que constitui a estaca em
ensaio é bem sucedido em estacas não muito diferentes profundidades.
longas, com profundidades até 30 a 50 vezes o
diâmetro da estaca e em alguns casos a 2.5 Thermal Integrity Profiler (TIP)
resistência do solo também pode provocar
reflexões que podem dificultar a avaliação dos Esse método permite avaliar a integridade das
resultados. A avaliação dos resultados também estacas moldadas in loco através do calor gerado
pode ser dificultada em casos de estacas durante a cura do cimento, medido por sensores
moldadas in situ, nas quais podem ocorrer de temperatura instalados em diferentes posições

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ao longo da estaca. estacas do tipo raiz, com diâmetro nominal de 41
A temperatura esperada em um dado ponto de cm, comprimento total de 14 m e carga
medição depende do diâmetro da estaca, da admissível de 130 tf. É relevante registrar que as
composição do concreto, do instante da medição estacas foram cravadas aproximadamente 5,0 m
e da distância ao centro do fuste. As medições em solo e a partir desta profundidade foram
obtidas com o TIP alertam para regiões embutidas em rocha, caracterizadas como pouco
possivelmente suspeitas e podem ser usadas para alteradas.
estimar-se o formato do fuste e determinar-se o No caso estudado foi prevista a realização de
recobrimento de concreto. O instrumento avalia duas Prova de Carga Estática (PCE) em
a qualidade do concreto da totalidade da seção diferentes estacas. No entanto, em virtude dos
transversal, incluindo a porção exterior à gaiola resultados obtidos em uma das estacas, optou-se
de armadura, e ao longo de todo o comprimento. por realizar também uma campanha ensaios PIT
Este método, apesar de ainda pouco difundido para avaliação da integridade do elemento
no Brasil, foi utilizado com sucesso em algumas estrutural em todas as estacadas da obra.
obras brasileiras, como por exemplo o caso
citado em Cruz et al. (2014). 3.2 Provas de Carga Estática

2.6 Outros ensaios 3.2.1 Dados dos Ensaios

Os métodos apresentados são atualmente os A execução de prova de carga estática foi do tipo
principais ensaios para avaliação da qualidade de lenta, com carga de ensaio de 263 tf. As cargas
estacas. No entanto, existem outros métodos para são aplicadas conforme descrito em norma NBR
avaliação da qualidade de fundações profundas 12131/06 com incrementos de carga de 20% da
como, por exemplo, Saximeter para carga de trabalho. Abaixo na Tabela 1 apresenta-
monitoramento do martelo e da estaca durante a se o plano de carga utilizado no ensaio, definido
cravação, Gamma-Gamma Logging (GGL) que para o macaco específico do ensaio.
utiliza um emissor radioativo por método cross-
hole, Parallel Inductive Method (PIM) para Tabela 1. Estágios de carregamento.
avaliação de estacas metálicas, entre outros. Estágios Carga (tf) Pressão (kgf/cm²)
(Hussein e Likins, 2005)
1 26,0 23,0
2 52,0 54,0
3 CASO DE OBRA
3 78,0 84,0
4 105,0 114,0
A seguir descreve-se um caso de obra no Brasil, 5 131,0 144,0
no qual a realização de ensaios para avaliação da 6 157,0 190,0
qualidade das estacas foi fundamental para 7 171,0 190,0
garantir um desempenho adequado das 8 184,0 205,0
fundações como elemento estrutural. 9 197,0 220,0
10 210,0 235,0
3.1 Características da Obra 11 223,0 250,0
12 236,0 265,0
A obra em questão está situada na região 13 249,0 280,0
14 263,0 295,0
metropolitana da cidade de São Paulo, onde as
sondagens indicam solo aluvionar arenoso, com
baixa capacidade de suporte, a profundidade de Após o carregamento previsto, a carga foi
aproximadamente 4,0 m de profundidade, com estabilizada durante um período de 12 horas e em
espessuras variáveis. Sob a camada de solo seguida procedeu-se ao descarregamento em 4
encontra-se o maciço rochoso, a estágios, conforme Tabela 2 abaixo:
aproximadamente 5,0 m de profundidade
próximo ao local em estudo.
As fundações da obra são compostas por
Tabela 2. Estágios de descarregamento.

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Estágios Carga (tf) Pressão (kgf/cm²)
Ensaio 2 houve ruptura da estaca próximos ao
carregamento de 77 tf, ou seja, a estaca suportou
1 210,0 262,0 menos que 60% de sua carga de projeto. Nota-se
2 157,0 197,0 que até o 3º estágio de carregamento o ensaio
3 105,0 131,0
prosseguia normalmente com um deslocamento
4 52,0 55,0
acumulado de 7,3 mm, e foi a partir do fim desse
5 0,0 0,0
estágio que se registrou um deslocamento
excessivo de 20,6 mm de acumulado, não
3.2.2 Equipamentos utilizados
permitindo a continuação do carregamento. Em
seguida, realizou-se o descarregamento do
Para a execução da prova de carga estática foram
ensaio que obteve um deslocamento residual de
utilizados os seguintes equipamentos:
12,6 mm.
x Conjunto de macaco hidráulico, bomba e Após a ocorrência do resultado indesejado no
manômetro com capacidade máxima de Ensaio 2, optou-se pela realização de ensaios de
500tf, devidamente aferidos e calibrados; integridade (PIT) em praticamente todas as
x Quatro extensômetros com 50 mm de estacas da obra, a fim de verificar a situação de
curso e precisão de 0,01 mm, instalados cada uma. Os dados e os resultados desses
diametralmente opostos no bloco de ensaios são apresentados no item 3.3 a seguir.
fundação;
x Conjunto de perfis metálicos travados 3.3 Ensaio de integridade de pequena
através de sistema de monobarras deformação (PIT)
roscadas ancoradas nas estacas vizinhas.
3.3.1 Dados dos Ensaios PIT
3.2.3 Resultados dos ensaios de PCE’s
Para a realização dos ensaios, as estacas foram
Os ensaios foram realizados de acordo o plano inicialmente arrasadas visando eliminar todo o
de carga apresentado nas Tabelas 1 e 2. concreto de má qualidade presente no topo da
Na Figura 6 apresentam-se os gráficos estaca. Em seguida o topo da estaca foi
resultantes dos ensaios de prova de carga desbastado com lixadeira elétrica, deixando a
realizados. superfície nivelada, lisa e limpa.
Durante o ensaio, fixou-se um acelerômetro
Carga (tf)
piezoelétrico de alta sensibilidade na superfície
0
0 50 100 150 200 250 300
preparada no topo da estaca, utilizando uma
resina adesiva. Em cada estaca foram aplicados
-5
no mínimo 4 golpes consecutivos aplicados com
Deslocamento (mm)

-10
um martelo elétrico pequeno, em um ângulo de
ataque horizontal, garantindo que não sejam
-15 geradas trincas durante este processo. Os sinais
PCE - Ensaio 1 foram registrados e obtida a média para análise
-20
PCE - Ensaio 2 dos resultados.
-25
3.3.2 Resultado do Ensaio PIT
Figura 6. Gráfico carga x deslocamento dos ensaios de
PCE. Foram 267 estacas ensaiadas e a maior parte dos
ensaios apresentaram resultados satisfatórios,
Por meio do gráfico apresentado na Figura 6, indicando estacas íntegras, sem qualquer
é possível notar que no Ensaio 1 a estaca variação de impedância ao longo da
suportou, aproximadamente, 2 vezes sua carga profundidade, conforme é o caso observado na
de projeto, que ocasionou um deslocamento de Figura 7.
3,5 mm. No descarregamento, teve-se um
residual de 1,1mm.
Na mesma figura é possível observar que no

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Tabela 3. Classificação da severidade do dano em função
do valor de Beta (Rausche e Goble, 1979).

Beta (E) Severidade do dano


1,0 Íntegra
0,8 – 1,0 Dano Leve
Figura 7. Exemplo de resultado do ensaio PIT, indicando 0,6 – 0,8 Dano Significativo
estaca íntegra.
<0,6 Seriamente Danificada
Contudo, 8 estacas apresentaram resultado
com redução de impedância a aproximadamente No caso apresentado na Figura 8 pode-se
4 metros do topo das estacas, sugerindo provável concluir queD é igual a 0,18, resultando em
dano na estaca nesta profundidade, como pode parâmetro E igual a 0,68. Ao se avaliar o
ser avaliado no caso apresentado a seguir na resultado obtido no exemplo acima com os
Figura 8. parâmetros para classificação de severidade do
dano apresentados por Rausche e Goble (1979),
conclui-se que a estaca em questão apresenta
Redução de
Impedância Dano Significativo, condizente com os
resultados esperados.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Figura 9. Exemplo de resultado do ensaio PIT, indicando No presente estudo foram apresentados os
estaca com anomalia. principais métodos utilizados atualmente para
controle de qualidade de fundações profundas.
Estes ensaios que apresentaram redução de São vários os métodos e cada um deles possuem
impedância são condizentes com os resultados características próprias e complementares entre
de PCE’s realizados na obra, que indicaram si.
capacidade de carga inferior ao previsto em O estudo de caso analisado inicialmente
projeto, provavelmente por dano ou redução de indicou, por meio de ensaios de PCE, uma
seção das estacas. deficiência na capacidade de carga em uma das
estacas da obra. Devido a esse resultado
3.2.3 Interpretação do Resultado indesejado, optou-se por realizar ensaios de PIT
no restante das estacas da obra, o que foi possível
A magnitude dos possíveis danos encontrados só identificar mais 8 estacas com anomalia.
pode ser estimada quando a ponta da estaca está Estes resultados deixam evidente a
aparente no sinal. Nesse caso, as amplitudes de importância da realização de ensaios in situ para
reflexão da ponta e do pulso inicial devem ser avaliar a qualidade das estacas como elemento
igualadas e a intensidade da variação de de fundação, podendo assim prevenir futuros
impedância pode ser calculada pelo método imprevistos na obra.
Beta. De maneira simplificada, ȕ é a razão da
variação de impedância Z2 para Z1 (Rausche e
Goble, 1979): AGRADECIMENTOS

௓మ ଵିఈ Agradecemos à Área de Negócios de Inspeções


ߚൌ ൌቀ ቁ (2)
௓భ ଵାఈ e Laboratórios da empresa Concremat
Engenharia e Tecnologia por disponibilizar as
Onde: Į é a amplitude da reflexão do dano informações necessárias para desenvolvimento
dividida por duas vezes a amplitude do pulso deste estudo.
inicial, em relação à linha de referência adotada.
Na Tabela 3 apresentam-se as classificações
definidas para cada intervalo de ȕ.

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REFERÊNCIAS Silva, P.E.C.A.F. (1986) Célula Expansiva
Hidrodinâmica - Uma Nova Maneira de
ABNT NBR 6122 (1996). Projeto e execução de Executar Provas de Carga. CBMSEF 8, Porto
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ABNT NBR 12131 (1992). Estacas – Provas de Teixeira, A.H. (2000). Uma retrospectiva e as
carga estática. tendências da engenharia de fundações no
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Application of Geophysics to Environmental
and Engineering Problems (SAGEEP),
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A Injeção de Maciços para Obtenção de Solo Grampeado de
Deformações Irrelevantes
Cairbar Azzi Pitta
Solotrat, São Paulo, Brasil, azzi@solotrat.com.br

Max Valério Rodrigues Barbosa


Solotrat, Brasília, Brasil, max@solotrat.com.br

Max Gabriel Timo Barbosa


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, maxtimo@globo.com

André Pacheco de Assis


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, aassis@unb.br

RESUMO: Neste artigo investigou-se o efeito das injeções de maciços no projeto e execução de Solo
Grampeado Injetado. Essa investigação deu-se por meio da análise de uma contenção de obra urbana,
de quase 18 m de altura, executada em São Paulo/SP em 2010. A obra, realizada pela Solotrat,
apresentava extensômetros múltiplos como dispositivo de controle de deformações. Com o acesso
aos dados obtidos nos extensômetros, realizou-se simulações numéricas para comparar-se como a
obra se comportaria com e sem o efeito das injeções. Os resultados sugerem que as deformações
irrelevantes obtidas em obra só poderiam ser atingidas em simulações numéricas caso a maior
interação maciço-chumbador fosse considerada. Essa maior interação, quando comparada ao Solo
Grampeado não injetado, é possibilitada pelas injeções de maciço multifásicas da Solotrat.

PALAVRAS-CHAVE: Contenções, Solo Grampeado, Injeção de Maciços, Simulações Numéricas.

1 INTRODUÇÃO portanto, não era recomendada a sua execução


em obras urbanas, especialmente em locais com
A aplicação da tecnologia do Solo Grampeado, lençol freático elevado e com edificações
conhecida como soil nailing na literatura vizinhas. Entretanto, com a evolução do projeto
internacional, vem crescendo mundialmente e do processo de execução, a técnica de Solo
(FHWA, 2003). Grampeado começou a ser empregada em obras
No Brasil a técnica teve seu início em 1972, urbanas. Esse emprego foi possibilitado pela
na Rodovia dos Imigrantes. À época, como a injeção multifásica, e atualmente a tecnologia de
obra não era adjacente a edificações, não houve Solo Grampeado Injetado tornou-se a solução
a preocupação com as deformações do talude mais indicada para obras urbanas no Brasil.
contido. A execução do Solo Grampeado Injetado, que
Analogamente à obra da Rodovia dos possibilitou essa mudança de cenário no
Imigrantes, durante 20 anos a maioria das obras mercado brasileiro, tem diversas vantagens
de Solo Grampeado eram de infraestrutura, com frente ao Solo Grampeado voltados a obras de
menor preocupação quanto às deformações. menor preocupação com deformações, não
Assim, o senso comum era que o Solo injetado. Dentre essas vantagens cita-se o
Grampeado deformava excessivamente, e, adensamento do solo adjacente aos

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chumbadores, o aumento da coesão local do que permitem diferenciar o Solo Grampeado
maciço, a diminuição da permeabilidade global Injetado de um Solo Grampeado não injetado, o
da contenção e a homogeneização do solo sendo estudo de caso de uma obra de Solo Grampeado
tratado. Além disso a execução da técnica não Injetado será apresentado, com simulações
envolve grandes equipamentos e atividades que numéricas computacionais.
conturbem as vizinhanças. Detalhes executivos
do Solo Grampeado Injetado podem ser vistos 2 ESTUDO DE CASO – CONTENÇÕES
em Zirlis et al. (2015). DA AVENIDA PUJOL
Não obstante, mesmo após o amplo emprego
bem-sucedido do Solo Grampeado Injetado em Como parte da construção de um edifício
obras urbanas, a premissa de que qualquer obra residencial que requeria 2 pavimentos de
de Solo Grampeado gera deformações garagens, uma contenção em Solo Grampeado
inadmissíveis ainda é difundida. Essa premissa Injetado foi projetada (Hosken, 2010). A fase
advém não só de projetos que não consideram a final de execução da obra pode ser observada na
influência das injeções no comportamento do Figura 2.
maciço sendo contido, mas também de
execuções de contenções em meio urbano por
meio de Solo Grampeado não injetado, em que
há somente o preenchimento de calda de cimento
no espaço anelar (bainha) entre o furo e o grampo
(barra metálica constituinte do chumbador). A
diferença de conceito pode ser entendida na
Figura 1.

Figura 2 – Contenções da avenida Pujol/SP (Pitta, 2010)

2.1 Caracterização do Maciço

No local de implantação da contenção foram


realizadas investigações geológico-geotécnicas
consistindo principalmente do exame de
sondagens. Neste exame concluiu-se que a seção
geológico-geotécnica das contenções consistia
predominantemente de argilas siltosas, cuja
Figura 1 – Solo Grampeado não injetado, acima e Solo rigidez aumentava com a profundidade.
Grampeado Injetado abaixo.
Hipotetizou-se que o maciço podia ser
representado por 4 camadas horizontais de argila
De forma a ilustrar os efeitos das injeções,
siltosa. A primeira camada foi denominada AS1,

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de 0 a 8 m, a segunda camada foi denominada Tabela 3. Parâmetros dos chumbadores
AS2, de 8 a 16 m, a terceira camada foi Parâmetros
denominada AS3, de 16 a 35 m e a quarta Rigidez Axial EA (kN/m) 1,53. 105
camada foi denominada AS4, de 35 a 50 m. O Rigidez à Flexão EI (kNm2/m) 53,74
nível de água à época da construção estava à cota Peso w (kN/m/m) 0,5
Diâmetro do grampo (m) 0,02
de 106,00 m, 12 m de profundidade. Os Diâmetro do furo (m) 0,075
parâmetros geológico-geotécnicos considerados ȣ 0,2
são apresentados na Tabela 1. Na Figura 3 pode-se observar a seção típica, com
o arranjo das inclusões metálicas e a localização
Tabela 1. Parâmetros geotécnicos dos extensômetros, dispostos nas cotas 116,9 m,
Camada Ȗ (kN/m3) c’(kN/m2) ĭ’ (0) 110,9 m e 101,9 m para fins de controle de
AS1 18 1.102 10 deformações. Nas Figuras 4 e 5 vê-se o controle
AS2 18 1,4.102 15 de injeção da obra, com gráficos
AS3 18 3.102 15
AS4 18 5.102 25 isopressiométricos e isovolumétricos,
Camada E (MPa) K0 ȣ respectivamente, para aumentar a confiabilidade
AS1 20 0,8 0,25 da injeção multifásica da Solotrat.
AS2 30 0,7 0,25
AS3 60 0,7 0,25
AS4 80 0,6 0,25

2.2 Caracterização da Contenção

A contenção, de 17,7 m de altura, foi


dimensionada com paramento em concreto
projetado de espessura de 0,07 m, reforçado com
fibra sintética estrutural (Sheikan®). A seção
típica analisada apresentava chumbadores sub-
horizontais (10 graus de inclinação) espaçados
verticalmente em 1,0 m e horizontalmente em
1,0 m. Os sete primeiros chumbadores
apresentavam 14,0 m de comprimento e os dez
remanescentes 13,0 m de comprimento. Quatro
linhas de chumbadores subverticais (10 graus de
inclinação) dispostas junto ao paramento nas
cotas de 118,0 m, 111,5 m, 106,0 m e 101,0 m,
reforçavam o paramento. Os chumbadores
verticais em cada linha, espaçados 1,0 m entre si,
possuíam 19,0 m, 6,0 m, 6,0 m e 3,5 m
respectivamente. Os parâmetros do paramento
em concreto projetado e dos chumbadores,
ambos dimensionados em regime elástico,
podem ser observados nas Tabelas 2 e 3.

Tabela 2. Parâmetros do paramento


Parâmetro
Rigidez Axial EA (kN/m) 4. 1010
2
Rigidez Flexural EI (kNm /m) 4. 107
Peso w (kN/m/m) 8,3
Espessura t (m) 0,07
ȣ 0,15

Figura 3 – Seção típica da contenção (Hosken, 2010)

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3 SIMULAÇÕES NUMÉRICAS – EFEITO
DA INJEÇÃO

De forma a avaliar o efeito das injeções de


cimento no maciço no comportamento das
contenções em Solo Grampeado, simulou-se
numericamente no PLAXIS 2D, software de
elementos finitos de amplo uso na comunidade
geotécnica, duas situações. A primeira situação
foi simulada sem considerar as injeções de
cimento enquanto a segunda situação
considerou-se o efeito de maior interação entre
chumbador e maciço propiciado pela técnica de
injeções multifásicas da Solotrat (Zirlis et al.,
2015).

3.1 Simulação sem Consideração dos Efeitos


da Injeção

As simulações numéricas bidimensionais


realizadas seguiram exatamente os
procedimentos de análise e hipóteses de
simulação descritas por Singh & Babu (2009) e
Figura 4 – Exemplo de Gráfico Isovolumétrico para o utilizou-se como parâmetros os dados das
controle das injeções multifásicas Tabelas 1, 2 e 3.
De forma que se pudesse comparar as
deformações de campo obtidas pelos
extensômetros com as deformações obtidas no
software PLAXIS sem a consideração dos
efeitos de injeção selecionou-se os pontos junto
ao paramento de concreto projetado coincidentes
com a cota dos extensômetros em campo.
Os deslocamentos finais obtidos podem ser
observados na Figura 6. A comparação com o
valor real de obra pode ser vista na Figura 7.

3.2 Simulação com Consideração dos Efeitos


da Injeção

As simulações numéricas bidimensionais


realizadas seguiram os procedimentos de análise
e hipóteses de simulação descritas por Singh &
Babu (2009), com o acréscimo de etapas em que
se considerou que os chumbadores estavam
totalmente ancorados ao terreno. Essa
consideração foi possível por meio da hipótese
de que o ponto final de cada chumbador era
indeslocável.

Figura 5 – Exemplo de Gráfico Isopressiométrico para o


controle das injeções multifásicas

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extensômetros com as deformações obtidas no
software PLAXIS com a consideração do efeito
das injeções selecionou-se os pontos junto ao
paramento de concreto projetado coincidentes
com a cota dos extensômetros em campo.
As deformações finais obtidas podem ser
observadas na Figura 8. A comparação com o
valor real de obra pode ser vista na Figura 9.

Figura 6 – Deslocamentos finais obtidos numericamente


da situação sem injeção

Figura 8 – Deslocamentos finais obtidos numericamente


da situação com injeção

Figura 7 – Comparação dos deslocamentos finais obtidos


de obra com os simulados numericamente sem o efeito da
injeção

Esta hipótese se justifica pela interação mais


rígida entre o maciço e o chumbador devidos à
injeção multifásica executada pela Solotrat
(Zirlis et al., 2015). Os parâmetros descritos nas
tabelas 1, 2 e 3 foram usados como dados de
entrada. Figura 9 – Comparação dos deslocamentos finais obtidos
De forma que se pudesse comparar as de obra com os simulados numericamente com o efeito da
deformações de campo obtidas pelos injeção

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4 DISCUSSÃO analisando numericamente os projetos de Solo
Grampeado Injetado, dado que muitas das obras
A literatura de Solo Grampeado recomenda, para documentadas na literatura são de Solo
atendimento ao estado limite de serviço, um grampeado não injetado. O estudo de caso da
deslocamento horizontal máximo do paramento Avenida Pujol foi um desses projetos.
igual a 0,1 a 0,3%H em solos argilosos, em que Neste estudo, ao se considerar que há uma
H é a altura da contenção (FHWA, 2003). Dessa maior aderência entre maciço e chumbador,
forma, quando se simula numericamente obras representada pela hipótese de indeslocabilidade
de Solo Grampeado cujos deslocamentos do último ponto do chumbador, houve
gerados pelo software sejam superiores a 0,1%H, proximidade dos resultados das simulações
há uma preocupação dos projetistas e das numéricas com os resultados de obra
empresas executoras de escolher uma solução Visto os efeitos gerados pelas injeções, que
mais onerosa, como tirantes ancorados no possibilitam contenções de deformações
terreno, a fim de que se mitiguem os irrelevantes, os autores consideram que o Solo
deslocamentos supostamente altos. Grampeado Injetado pode levar à obtenção de
Neste caso de obra, por meio da análise das contenções de obras urbanas estáveis, de
Figuras 6 e 7, nota-se que os deslocamentos baixíssimas deformações e de melhor
simulados na situação sem o efeito da injeção previsibilidade.
chegariam a 43 mm, o que representaria um
deslocamento de 0,25%H, dentro da faixa AGRADECIMENTOS
aceitável, porém com um risco atrelado. Esse
risco advém da estimativa paramétrica e da Os autores gostariam de agradecer à Solotrat
variação do método executivo dentre empresas Engenharia Geotécnica Ltda e à M. Hosken
executoras. Engenharia por ceder os dados de projeto e as
Percebe-se nas Figuras 8 e 9 que quando se leituras dos extensômetros. Também é prestado
levaram em conta os efeitos das injeções, houve agradecimento ao CNPq e à UnB pelo acesso ao
um deslocamento máximo de 2,1 mm, software PLAXIS 2D e à consultoria.
representando apenas 0,012%H de
deslocamento, atendendo ao limite de serviço REFERÊNCIAS
mínimo. Esses deslocamentos simulados
numericamente se aproximaram bastante dos FHWA (2003) Geotechnical engineering circular No 7—
deslocamentos de obra quando se considerou os soil nail walls. Report FHWA0-IF-03–017. US
Department of Transportation, Federal Highway
efeitos das injeções, de forma conservativa. A Administration, Washington DC.
obra apresentou um deslocamento máximo de Hosken, J.E.M. (2010). Projeto geotécnico/estrutural
face de 1,1 mm, apenas 0,0063%H de executivo de solo grampeado da Avenida Pujol – São
deslocamento, representando deformações Paulo (SP). Documentos do projeto executivo. M.
irrelevantes. Hosken Engenharia, São Paulo, SP, p.1-15.
Pitta, C.A. (2010) Relatório Fotográfico – Avenida Pujol
– São Paulo (SP). Solotrat, São Paulo, SP, 53p.
5 CONCLUSÕES Singh, V. P. & Babu, G.L.S. (2009). 2D Numerical
Simulations of Soil Nail Walls. Geotechnical and
A técnica de Solo Grampeado, após mais de 40 Geological Engineering, p.299–309.
anos de emprego em obras urbanas no Brasil, Zirlis, A. C., Souza, G. J. T., Pitta, C.A. 2015. Manual de
Serviços Geotécnicos. Solotrat, São Paulo, SP, 93 p.
consolida-se como uma alternativa viável em
diversas situações. De forma que a técnica seja
usada seguramente e com maior controle de
deformações, a injeção multifásica é
recomendada.
Apesar dessa recomendação, os efeitos da
injeção multifásica são de estimativa difícil em
projeto. Para melhorar essa quantificação dos
efeitos da injeção, a Solotrat está retro

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Ações Geoambientais de Recuperação em Encostas e Acessos à
Linha de Transmissão em 500 KV no Trecho Localizado nos
Municípios de Colinas do Sul e Niquelândia, Estado de Goiás
Rideci Farias, D. Sc.
UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

Haroldo Paranhos, M. Sc.


UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, reforsolo@gmail.com

Elson Oliveira de Almeida, Estudante em Engenharia Civil.


UniCEUB, Brasília, Brasil, elsu10@hotmail.com

Maicon Vitor Oliveira, B. Sc.


MMJ Engenharia Ltda., Brasília, Brasil, mmjengenharia@gmail.com

Erani Bastos, B. Sc.


Dossel Ambiental Consultoria e Projetos Ltda., Brasília, Brasil, erani@dosselambiental.com.br

Marcelo de Oliveira, B. Sc.


Dossel Ambiental Consultoria e Projetos Ltda., Brasília, Brasil, marcelo@dosselambiental.com.br

José Augusto de A. Lopes, B. Sc.,


Dossel Ambiental Consultoria e Projetos Ltda., Brasília, Brasil, augusto@dosselambiental.com.br

Mariana Rezende, B. Sc.


Dossel Ambiental Consultoria e Projetos Ltda.

Udo Gebrath
State Grid Brazil Holding S.A., Rio de Janeiro, Brasil, udo.gebrath@stategrid.com.br

RESUMO: A implantação e operação de um empreendimento linear como uma linha de transmissão


de energia envolve uma série de atividades que, dependendo da natureza dos terrenos, pode causar
impactos diversos ao meio ambiente. Dentre as preocupações de ordem ambiental na construção estão
a estabilidade de encostas, o controle de erosões, a geração de sedimentos oriundos das escavações e
movimentações de terra, mas também a necessidade de recuperação das áreas afetadas pela obra ao
longo do traçado. Dentro desse contexto, são necessárias medidas que visam preservar as instalações
existentes, bem como o próprio empreendimento e o meio ambiente. A principal justificativa é a
necessidade de recuperação e estabilização de acessos, das encostas e áreas terraplenadas, evitando
possíveis danos aos solos, vegetação, ao sistema hidrográfico, aos mananciais e à própria integridade
do empreendimento. Assim sendo, este artigo apresenta os procedimentos adotados para tentar
devolver às áreas que sofreram interferências, as características ambientais quais eram antes e(ou)
adequá-las à nova realidade, e necessárias também à operação e manutenção de uma linha de
transmissão.

PALAVRAS-CHAVE: Geoambientais, Recuperação, Acessos, Encostas, Linha de Transmissão.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


1 INTRODUÇÃO Depressão do Alto Tocantins. Esses relevos são
sustentados por rochas do embasamento
Geralmente a fase de implantação de um cristalino de idade arqueana e proterozoicas,
empreendimento linear como uma linha de rochas sedimentares e ígneas mesozoicas e
transmissão (LT) de energia elétrica é a que coberturas detrito-lateríticas cenozoicas.
provoca os maiores impactos ao meio ambiente. A região está inserida no Domínio
Para isso, são necessárias ações que produzam Morfoclimático dos Chapadões Tropicais
efeitos práticos e rápidos à recuperação das áreas recobertos por Cerrados e penetrados por
afetadas pela instalação do empreendimento Florestas Galerias que apresenta temperaturas
e(ou) decorrentes da ação da natureza, mas elevadas e períodos de chuva bem definidos. Os
também por questões antrópicas. Nesse meses de verão: dezembro, janeiro e fevereiro
contexto, Adotam-se critérios e dispositivos a são os mais chuvosos, sendo os períodos mais
serem considerados no sentido de recuperar, secos os meses de maio a setembro.
proteger e estabilizar os locais afetados e buscar Verifica-se que as principais restrições
o equilíbrio com as áreas circunvizinhas visando relativas ao meio físico, na Área de Influência
à continuidade da operação e manutenção da LT. Direta (AID), são as serras e escarpas com maior
Para isso, busca-se apresentar um diagnóstico de intensidade no trecho norte. Essas formações
impactos desses empreendimentos, mas também interceptam em alguns trechos transversalmente
procedimentos usuais para tentar devolver às à AID. A Figura 1 apresenta o traçado de
áreas afetadas, as características ambientais localização do empreendimento, na Figura 2
quais eram antes e(ou) adequá-las à nova mostra-se vista geral do relevo típico no trecho
realidade, e necessárias também à operação e norte da linha de transmissão, e na Figura 3
manutenção de uma LT instalada nos Estados de apresenta-se encosta característica, bem como
Goiás, Distrito Federal e Minas Gerais. escorregamentos naturais ocorrentes, mesmo
sem intervenções antrópicas.

2 CARACTERÍSTICAS E
49°00” 48°30” 48°00” 47°30” 47°00”

LOCALIZAÇÃO DO EMPREENDIMENTO 46°30”


13°30” 13°30”

SE-Serra da Mesa 2

A LT em questão é de 500 kV, com extensão


Cavalcante Brasília

aproximada de 675 km, e tem início no


Colinas
14°00” do Sul 14°00”

município de Colinas do Sul/GO e segue até o Niquelândia Goiás

município de Araguari/MG. O percurso é


46°00”
14°30” 14°30”

seccionado em subestações nos municípios de Água Fria


de Goiás

Luziânia/GO e Paracatu/MG. De Luziânia, parte


15°00” 15°00”

um ramal que segue para Noroeste, em direção a Formosa

Samambaia/DF, operada por Furnas e localizada


15°30” 15°30”

DF
na Região Administrativa Recanto das Emas no Santo Antônio
Brasília

do Descoberto SE-Samambaia
Valparaíso

DF. Neste artigo, enfatiza-se a parte norte da LT


16°00” de Goiás 16°00”
Cidade
Novo Ocidental
Gama
Luziânia
Minas Gerais
localizada nos Municípios de Colinas do Sul e SE-Luziânia

Niquelândia, Estado de Goiás.


16°30” 16°30”

3 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DAS


17°00”
SE-Paracatu 4

ÁREAS DE INFLUÊNCIA
Paracatu

17°30”

Em termos gerais, o empreendimento está


inserido no Planalto Central, envolvendo a área
18°00”
Catalão
Goiandira

Ouvidor Davinópolis

de chapadas, que constitui o divisor de águas das Cumari Três Ranchos

bacias dos rios Tocantins, Paraná e São


18°30”
SE-Emborcação

Araguari

Francisco. Composta de áreas dissecadas pelos 49°00” 48°30” 48°00” 47°30” 47°00” 46°30”

constituintes dessas bacias e áreas aplanadas da Figura 1. Traçado de localização do empreendimento.

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alguns chapadões, as “mesas”, intercalados por
serras de grande altitude. As escarpas destas
serras apresentam intrusões de relevo
relativamente plano, os pedimentos, onde a
instalação da LT encontrou menores
dificuldades.
A seguir os tipos de terrenos observados e
atravessados pelo empreendimento com as
principais características geotécnicas.
Figura 2. Relevo típico no trecho norte da Linha de a) Planícies Fluviais/Veredas: Presença de
Transmissão.
lençol freático elevado e riscos de inundações
anuais. Solos moles com estabilidade precária
das paredes de escavação e possibilidade de
Escorregamento natural recalques;
b) Rampas de Cimeira: podem apresentar
erosão laminar e em sulcos. Erosão de
intensidade alta nas bordas da chapada;
c) Colina e Rampas: Possibilidade de erosão
laminar e em sulcos nas áreas de terraplenagem
e nas drenagens das estradas de serviço e
escavação de fundações. Assoreamento
localizado de canais fluviais. Presença de
matacões no solo e afloramentos de rocha que
podem dificultar escavações.
Figura 3. Vista de escorregamento natural. d) Morrotes, Morros e Colinas e Morros
Escarpados: Presença de matacões no solo e
Outra condicionante vinculada aos aspectos afloramentos de rocha que dificulta escavações.
do meio físico são as regiões com pouca Risco de escorregamentos localizados devido à
disponibilidade de acessos. Essas regiões em exposição do contato solo/rocha, em áreas
muitos casos coincidem com relevos de serras e saturadas ou com surgência d’água e ao
escarpas, mas em outros casos ocorrem sobre descalçamento em taludes de corte ou superfície
relevos menos acidentados, porém com elevada de encosta. Erodibilidade elevada dos solos.
densidade de drenagem, onde a necessidade de
construção dos caminhos de acessos gera
impactos ambientais significativos. 4 DIAGNÓSTICO DA SITUAÇÃO DOS
Ressalta-se também que dentre as ACESSOS ÀS TORRES DA LINHA DE
condicionantes do meio físico estão os relevos TRANSMISSÃO
dissecados que se desenvolvem a partir das
bordas de tabuleiro. Em geral esse tipo de Os principais passivos ambientais encontrados
formação apresenta declividade no levantamento realizado em campo estão
progressivamente maior conforme se aproxima relacionados a drenagens, aos processos
das chapadas, o que torna o traçado quase erosivos, deposição de material e instabilidade
longitudinal, relativamente desfavorável. de encostas. Neste trabalho, dá-se ênfase as
Em geral, a rede de drenagem na AID esculpi encostas.
relevos bastante dissecados, cujos desníveis se Para o desenvolvimento deste trabalho foi
reduzem de norte para sul. Tal relevo resulta em realizado um amplo registro fotográfico
chapadões intercalados por vertentes mais ou realizado nos meses de agosto de 2016 e janeiro
menos abruptas, observadas no terço inferiores de 2017 a fim de subsidiar os trabalhos de campo
do Trecho Norte e nos demais trechos. Nos dois e de escritório. Tal registro foi realizado por
terços superiores do Trecho Norte, encontra-se a meio de câmeras fotográficas e captação de
formação que dá nome ao trecho, formada por imagens obtidas das filmagens com drones a fim

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de indicar soluções tecnicamente viáveis e
eficazes para recuperação das áreas, ressaltando-
se que em função da dinâmica local, tais soluções
podem ser adaptadas ou mesmo modificadas a
fim de se buscar o equilíbrio com o meio
ambiente de inserção do empreendimento.
Assim, mesmo com as ações já definidas, é
perfeitamente possível que sofram adaptações,
pois quando da implantação em campo, para
isso, são acompanhadas por profissionais
especializados a fim de se buscar o mais alto grau
de eficiência nas intervenções. As Figuras 4 a 7 Figura 7. Abertura de caminho de acesso à Torre da LT
para instalação e manutenção.
mostram a abertura de caminhos de acessos ao
empreendimento que podem provocar
instabilidade em encostas. 5 PRINCIPAIS AÇÕES ADOTADAS
PARA RECUPERAÇÃO DAS ÁREAS
DEGRADAS

As ações da fase de operação atendem às normas


técnicas brasileiras e à legislação pertinente, bem
como a prática da engenharia. As atividades
relativas ao empreendimento e ao meio ambiente
são acompanhadas e monitoradas
permanentemente. Dentre as principais ações
adotadas na correção e(ou) recuperação
Figura 4. Abertura de caminho de acesso à Torre da LT objetivando em especial a estabilidade das
para instalação e manutenção. encostas, estão: a) Correção / Adequação do leito
das estradas de acesso; b) Construção /
Recuperação de camalhões; c) Reconformação /
Retaludamento de taludes; d) Reconstrução /
Reconstituição de bueiros; e) Reparo em
estruturas de madeira (paliçadas); f) Construção
de gabião com pedra-de-mão; g) Canaletas em
taludes; h) Execução de sarjetas; i) Construção
de escadas hidráulicas; j) Instalação de
biomantas e revegetação de talude; k)
Implantação de tela metálica em taludes; l)
Figura 5. Abertura de caminho de acesso à Torre da LT Execução de sistema de contenção com sacaria;
para instalação e manutenção. m) Aplicação de Cal-Jet em taludes; n)
Utilização de semeadura em taludes. A seguir
são apresentadas as principais técnicas adotadas
com vistas à recuperação das áreas degradadas.

5.1 Correção / Adequação do Leito das Estradas


de Acesso

Para que a pista de rolamento exerça seu papel


são feitos ajustes da inclinação, de forma a
permitir uma trafegabilidade segura, mas
Figura 6. Abertura de caminho de acesso à Torre da LT também resguardar a plataforma quanto à
para instalação e manutenção. deterioração sofrida. Atividades de correção

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consistem na regularização do leito dos acessos, Estruturas armadas (Figura 10), flexíveis,
deixando-os levemente inclinado (§ 4%) para a drenantes, de grande durabilidade e resistentes.
base do corte elevando a segurança da estrada e No caso em questão são utilizadas pedras do
facilitando captação da água pela canaleta de prórpio local a fim de minimização de custos.
base do corte ou sarjeta da via de acesso.

5.2 Construção / Recuperação de Camalhões

Os camalhões serão construídos seguindo a


técnica de terraços, formado pela combinação de
um canal (valeta) e de um camalhão (monte de
terra ou dique), conforme Figura 8, em intervalos
dimensionados no sentido transversal ao leito da
estrada de acesso, formando uma barreira e
Figura 10. Sistema de contenção de taludes com gabião
conduzindo o escoamento superficial para a
com pedra-de-mão local.
saída de água.
5.6 Instalação de Biomantas e Revegetação de
Talude

As biomantas tem basicamente como matéria


prima a fibra de coco e palha agrícola, utilizadas
Figura 8. Exemplo de corte de camalhão simples. em diversas práticas de controle de erosão. As
características principais são a permeabilidade,
5.3 Reconformação / Retaludamento de Taludes proteção superficial do solo contra escoamento
superficial e demais intemperes, e integração
Realizado por maquinários e manualmente para ambiental. As Figuras 11 e 12 mostram
corrigir e/ou prevenir erosões e basicamente a técnica utilizada no
desmoronamentos de materiais que possam cair empreendimento em questão.
sobre a pista.

5.4 Estruturas de Madeira (Paliçadas)

As paliçadas são anteparos que objetivam a


retenção de sedimentos oriundos dos
escoamentos superficiais. No caso em questão,
são construídas com pontaletes de madeira e
tábuas (Figura 9).

Figura 11. Detalhamento da instalação de Biomantas.

Figura 9. Paliçada utilizada para retenção de sedimentos.

5.5 Construção de Gabião com Pedra-de- Figura 12. Consorciamento de gramíneas e leguminosas,
Mão Local associado a biomanta.

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5.7 Implantação de Tela Metálica estabilização de taludes e contenção de encostas,
bastante utilizado para obturação das erosões
A tela de alta resistência é uma técnica (Figuras 16, 17 e 18). Geralmente com sacos de
empregada para complemento na contenção dos ráfia ou sacos de linhagem, quando a mistura de
taludes quanto a deslizamentos e quedas de solo-cimento se solidifica, os sacos deixam de
blocos de rochas, ou como fixador das biomantas ser necessários em termos estruturais da obra de
(Figura 13 - Bastante utilizada para material contenção.
rochoso, Figura 14 - Bastante utilizada em solo,
e Figura 15).


Figura 16. Exemplo de utilização de sacaria para


Figura 13. Exemplo de fixação da tela de resistência com preenchimento em erosão.
placa.

Figura 17. Utilização de sacaria para proteção de taludes.

Figura 14. Exemplo de fixação com vergalhão.

Figura 18. Utilização de sacaria para proteção de taludes.

5.9 Aplicação de Cal-Jet em Taludes

Figura 15. Aplicação de biomanta e tela metálica para Técnica desenvolvida em 2009, pelo Geólogo
fixação. Álvaro Rodrigues Santos, é subsidiada na
pulverização de calda fluida de cal com
5.8 Execução de Sistema de Contenção com aglutinantes fixadores sobre as superfícies de
Sacaria solo a serem protegidos (Figuras 19). O grande
trunfo da técnica Cal-Jet é assegurado pela
O sistema com sacaria, denominado por alguns conjunção dos seguintes atributos: bom
como rip-rap, é uma técnica alternativa para

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desempenho, baixo custo, praticidade de
aplicação, alto rendimento na aplicação
(m2/dia/operador) e grande durabilidade. A
técnica Cal-Jet utiliza a cal hidratada para pintura
produzida e comercializada por diversas marcas.

Figura 20. Semeadura manual.

Observação: foram realizadas consultas a


diversos “sites” da internet no ano de 2017 com
vistas a familiarização aos processos executivos
Figura 19. Aplicação de Cal-Jet com tela metálica para das variadas técnicas indicadas e utilizadas em
proteção de taludes. campo.

5.10 Semeadura
6 CONCLUSÕES
Segundo o comunicado técnico da Embrapa, nº
105 (2007), o estilosante-campo-grande não Este artigo procurou apresentar os
necessita de preparo prévio do solo, contanto que procedimentos adotados para tentar devolver às
se aumente a quantidade de sementes aplicadas. áreas que sofreram interferências, as
A semeadura ideal deve ter profundidade de 1 a características ambientais quais eram antes e(ou)
3 cm, pois superficialmente ou a profundidades adequá-las à nova realidade, e necessárias
maiores não há bom estabelecimento da planta. também à operação e manutenção de uma linha
A área a ser revegetada possui alta declividade e, de transmissão, e atualmente, ano de 2017, os
seguindo a recomendação do Manual Técnico de processos executivos se encontram em
Recuperação de Áreas Degradadas do IBAMA andamento e os devidos acompanhamento são
(1990) para essas condições utiliza-se a técnica realizados para que publicações futuras possam
de hidrossemeadura e em complemento, a mostrar o comportamento de cada solução
manual (ou a lanço). utilizada.

5.10.1 Hidrossemeadura
AGRADECIMENTOS
Consiste em semear espécies herbáceas em meio
aquo-pastoso, composto por substâncias que A State Grid Brazil Holding S.A., a Dossel
auxiliam na fixação e crescimento das plantas e, Ambiental Consultoria e Projetos Ltda., a
na retenção da umidade. Exige equipamento Reforsolo Engenharia Ltda., MMJ Engenharia
adequado, consistindo em moto-bomba e tanque Ltda., Universidade Católica de Brasília (UCB),
com pás agitadoras, além de uma mangueira ou Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) e
canhão para dispersão da mistura (IBAMA, ao Instituto de Ensino Superior Planalto com
1990). contribuições importantes que tornaram possível
a realização deste trabalho.
5.10.2 Semeadura Manual

A semeadura manual (Figura 20) é realizada em REFERÊNCIAS


complemento à hidrossemeadura, quando
julgado necessário. EMBRAPA, Comunicado Técnico 105. ISSN 1516-9308.
Campo Grande, MS. 2007.
IBAMA, Manual Técnico de Recuperação de Áreas
Degradadas. Brasília, DF. 1990.

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Estudo de Caso: Análise Comparativa entre Métodos Semi-
Empíricos de Capacidade de Carga Axial e Prova de Carga de
Estaca Hélice Contínua em uma Obra de Cuiabá-MT
Eng. Marília Leite Agustinho
Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil, mar.engcivil@gmail.com

Prof. Esp. Ilço Ribeiro Júnior


Instituto Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil, ilco.ribeiro@cba.ifmt.edu.br

RESUMO: Apresenta-se, neste trabalho um estudo de caso de uma obra no município de Cuiabá, em
que no desenvolver do projeto de fundações optou-se pelo uso de estacas hélice contínua em
determinados locais da edificação. O estudo consiste na comparação entre as capacidades de carga
determinadas por métodos semi-empíricos tradicionais e um método específico para a estaca hélice
contínua com as cargas de ruptura encontrada em ensaios de prova de carga. Primeiramente, fez-se
investigações geotécnicas por meio de sondagem a percussão SPT (Standard Penetration Test) para
reconhecimento do perfil de solo da obra, determinando assim as correlações empíricas para o método
de cálculo da capacidade de carga axial pelo método de Décourt e Quaresma (1982), Aoki e Velloso
(1975) e Antunes e Cabral (1996). As provas de cargas realizadas em seis estacas do tipo hélice
contínua, forneceram por meio de extrapolação de Van de Veen, a carga de ruptura determinada no
ensaio. Após as análises feitas, chegou-se à conclusão de que mais ensaios de provas de cargas devem
ser feitos para avaliar a carga de ruptura que esgota a ligação esta-solo e determinar assim, novos
correlações empíricas calibradas para o solo do município de Cuiabá.

PALAVRAS-CHAVE: Estaca hélice contínua, Capacidade de carga, Métodos semi-empíricos, Prova


de carga.

1 INTRODUÇÃO superestrutura em camadas de solo resistentes,


geralmente em grandes profundidades, sem
A engenharia de fundações vem evoluindo causar grandes perturbações no solo e em
constantemente em busca de novos elementos de edificações adjacentes. O método consiste na
fundação, que possuam alta produtividade, moldagem “in loco” de elementos cilíndricos de
ausência de vibrações e ruídos na execução, concreto armado, escavados por meio de um
elevada capacidade de carga e controle de trado contínuo, tipo hélice, até atingir a cota
qualidade durante a execução da estaca, entre estabelecida em projeto, sujeitos a esforços de
outros aspectos. Dentro deste propósito, compressão e/ou tração e/ou flexão.
surgiram no mercado recentemente e tiveram um O emprego de estacas executadas com trado
grande desenvolvimento nos últimos anos, a de hélice contínua surgiu nos Estados Unidos por
estaca do tipo hélice contínua, sendo desde então volta da década de 1950, no entanto, foi a partir
uma opção de fundação de enorme interesse de 1980 que esta técnica começou-se a
comercial nos grandes centros urbanos do país desenvolver com a elaboração de equipamentos
(ALMEIDA NETO, 2002). apropriados e específicos para este tipo de
A estaca de hélice contínua possibilita a fundação.
execução de elementos estruturais, com função Já no Brasil, a utilização deste tipo de estaca
da distribuição dos esforços oriundos da teve início no ano de 1987 mas somente na

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década de 1990 tornou-se consolidada no país de fundação. Portanto, precisa-se examinar a
com a importação de equipamentos segurança em relação a perda da capacidade de
especializados com maior poder de arranque carga e avaliar os recalques sob as cargas de
para a execução da estaca hélice contínua. Hoje, serviço.
é possível executar uma estaca de até 1200 mm Deste modo, para a determinação da carga
de diâmetro e 32 metros de comprimento, e de admissível deve-se primeiramente determinar a
acordo com a evolução dos equipamentos estas carga de ruptura, também conhecida como
dimensões só tendem a aumentar. capacidade de carga axial.
De acordo com van Impe apud ANJOS A prática mais comum para se determinar a
(2006), as estacas escavadas representam mais capacidade de carga axial é a adoção de métodos
da metade da preferência no mundo. Seu uso tem semi empíricos que se baseiam em ensaios in situ
se estendido, além de estaca de carga, à execução de penetração (CPT e SPT).
de paredes de estacas para contenção de Existem vários métodos de cálculo para a
encostas, pré-furos para estaqueamento com previsão da carga última das fundações
perfis metálicos ou estacas pré-moldadas de profundas. No caso particular da estaca hélice
concreto, objetivando a transposição de camadas contínua, podem ser utilizados alguns métodos
do solo com SPT mais elevado. gerais, aplicáveis a vários tipo de estacas, em que
Atualmente, o emprego de estaca de hélice se destacam os métodos descritos por Aoki e
contínua vem se difundindo no município de Velloso (1975), Deucourt e Quaresma (1978),
Cuiabá, em algumas obras na região, opta-se Velloso (1981) e Teixeira (1996).
pela troca de fundação, dando preferência a este Além de métodos específicos para a
tipo de estaca. Entretanto, nota-se que, muitas determinação da carga última de estacas do tipo
vezes a capacidade de carga da estaca hélice, tais como os métodos de Antunes e
determinada através do dimensionamento semi- Cabral (1996) e de Alonso (1996).
empírico não condiz com a capacidade de carga
determinada na prova de carga, necessitando 2.3 Prova de Carga
assim, de uma análise detalhada.
Dentre os ensaios de campo mais utilizados
na engenharia de fundações, destacam-se as
2 CONTEXTUALIZAÇÃO provas de cargas estáticas como um dos mais
importantes. A comprovação da importância
2.1 Estacas hélice contínua dada a este ensaio está na norma técnica
brasileira de projetos de execução de fundações
A estaca hélice contínua é uma estaca de NBR 6122 da ABNT, recentemente revisada. .
concreto moldada in loco, executada por meio de Em seu novo contexto, a norma admite um
trado contínuo e injeção de concreto, sob pressão significativa redução em coeficientes de
controlada, através da haste central do trado segurança a serem adotados em projetos,
simultaneamente a sua retirada. utilizados no cálculo de cargas admissíveis,
desde que tenham sido realizadas,
2.2 Capacidade de Carga axial primeiramente, provas de carga em quantidade
adequada. (FALCONI, 1998)
Um projeto de fundações deve garantir, não A prova de carga tradicional ou estática é um
somente a estabilidade do terreno de suporte mas ensaio do tipo “tensão x deformação” realizado
também o próprio elemento estrutural. Sendo no solo estudado para receber as solicitações, ou
assim, a norma 6122 (1996) estabelece que a em um elemento estrutural de fundação
carga admissível sobre uma estaca ou tubulão construído para a obra ou especialmente para ser
isolado é a força aplicada sobre a mesma testado.
provocando apenas recalques que a construção Os ensaios realizados são utilizados
pode suportar sem inconvenientes e oferecendo, principalmente como verificação de desempenho
simultaneamente, segurança satisfatória contra a de um elemento estrutura de fundação, quanto à
ruptura ou escoamento do solo ou do elemento ruptura e recalques.

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De maneira geral, as provas de carga
realizadas em estacas e Tubulões tem como
objetivo verificar o comportamento previsto em
projeto (capacidade de cargas e recalques) e
definir a carga de serviço em casos em que não
se consegue fazer uma previsão deste
comportamento.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Ambiente da pesquisa Figura 1. Localização e implementação da obra.

A obra analisada neste trabalho é a construção 3.2 Características geotécnicas do local da obra
do novo Hospital e Pronto-Socorro Municipal de
Cuiabá. O ensaio de investigação geotécnico mais
Segundo dados do INPE (2017), Cuiabá difundido no Brasil é o SPT, assim, o seu uso é
possui um clima tropical úmido, com frequente em métodos semi-empíricos de
temperaturas elevadas e alto índice dimensionamento como demostrados
pluviométrico. A precipitação Anual gira em anteriormente neste trabalho.
torno de 1350mm, com chuvas concentradas Deste modo, o estudo consistiu na análise de
principalmente entre os meses de Setembro e boletins de sondagens para determinação de
Maio, tendo precipitação máxima no mês de resistência e classificação do solo.
janeiro, de aproximadamente 250mm. Cuiabá é Foram realizadas 4 sondagens mistas
considerada uma das regiões mais quentes do (Sondagem rotativa e percussiva) e 24 sondagens
país, com temperatura média mensal de 27ºC nos à percussão (Standard Penetration Test) em toda
meses de outubro a março. a área que compreende a projeção da construção,
A obra é classificada como uma construção de os furos no canteiro foram dispostos conforme o
médio porte, com ocupação de 21 mil metros croqui da figura 15 logo abaixo.
quadrados, localizada na Rua Orivaldo M. de Pela proximidade com as estacas ensaiadas
Souza S/N no bairro Ribeirão do Lipa, próximo neste trabalho, apenas os furos de Sondagem
ao Centro de Eventos do Pantanal, no município SPT 2, SPT 7, SPT 18 SPT 22 E SPT 24 foram
de Cuiabá a 15º 33’24,59” de latitude sul e considerados e estão destacados na figura 2
56º06’24,59” de longitude oeste e que tem como abaixo.
objetivo diminuir a superlotação das demais
unidades de pronto atendimento do município de
Cuiabá.
A fundação deste empreendimento está
concluída e em determinados pontos da obra,
optou-se pelo uso da estaca tipo hélice contínua.

Figura 2. Localização dos furos de sondagem.

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3.3 Prova de carga estática meio de carregamento dos elementos estruturais
da fundação.
3.3.1 Apresentação Desse modo, para validar o dimensionamento
das estacas da obra do novo Hospital e Pronto
Foram realizados em campo, ensaios de prova Socorro Municipal de Cuiabá, fez-se os ensaios
de carga estática direta sobre estacas pelo das estacas apresentadas anteriormente para que
método de cargas rápidas. haja calibração dos modelos de cálculos e na
O relatório de prova de carga a compressão definição dos coeficientes de segurança
em estacas elaborado pela empresa contratada específico para a estacas.
apresenta um número total de 07 ensaios,
número este determinado de acordo com a norma 3.3.3 Montagem
NBR 6122:2010 que especifica a quantidade de
1% do conjunto de estacas de mesma O sistema de reação estável adotado para as
característica na obra. estacas ensaiadas é composto por uma viga
As estacas ensaiadas são estacas escavadas do metálica de 6m de comprimento e duas estacas
tipo hélice contínua, os diâmetros variam de de reação que contem tirantes DIWIDAG com
40cm a 60 cm e o comprimento das estacas transpasse de 4m dentro da estaca concretada
chegam até 8,5 metros. As características das armada de ponta a ponta e de 2m acima do nível
estacas encontram-se na tabela 1 logo abaixo, do solo. O dispositivo de aplicação de carga que
bem como os furos de sondagens próximos as atua contra o sistema de reação é constituído por
mesmas. um macaco hidráulico alimentado por uma
bomba elétrica.
Tabela 1. Características das estacas ensaiadas As estacas de reação são equidistantes 2,80m
Estacas Diâmetro Comp. Furo de do centro da estaca ensaiada obedecendo assim
sondagem
as recomendações da norma NBR 12131:2006
PAE 101 40 5,50 SPT 07
PAF 103 40 5,50 SPT 02 que especifica para estacas de diâmetro
PF 103/PC 03 60 7,50 SPT 02 circulares uma distância livre mínima de três
PQ 106/PM 06 60 6,50 SPT 18 vezes o maior diâmetro ou ao menos 1,5 metros
PE 107/PB 02 60 8,50 SPT 07 do eixo da estaca ao ponto mais próximo do eixo
PS 120/PK 16 60 7,50 SPT 22 do bulbo dos tirantes.
PT 124/PN 06 60 7,50 SPT 24

Como o objetivo deste trabalho é comparar e


analisar as capacidades de carga determinada nos
métodos semi-empíricos com a capacidade de
carga determinada pelo ensaio, apenas as estacas
ensaiadas em solo natural foram consideradas.
A prova de carga da estaca PT 124/PN 06 foi
descartada pela movimentação da estaca de
reação.

3.3.2 Objetivos

Mesmo com a evolução dos métodos semi-


empíricos, o ensaio ainda é o meio mais seguro
para se avaliar a capacidade de carga de um
determinada estaca.
Segundo a Norma NBR 6122:2010 o objetivo
da prova é carga é determinar as características
de deformabilidade e resistência do terreno por Figura 3. Esquema geral da montagem da prova de carga

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Pelo método de cargas rápidas, realizou-se o
carregamento no topo da estaca, com estágios e
incrementos de carga iguais, até a perceptível
estabilização de recalque.
Todas as estacas foram carregadas em 10
estágios de 1 minuto, assim que houve uma certa
estabilização do recalque no topo da estaca foi
realizado a leitura em mais 4 estágios com
incrementos de 1 minuto em relação ao estágio
Figura 4. Vista lateral da prova de carga a compressão
anterior.
Já na estaca PQ 106/PM 6, o número de
Nas estaca ensaiadas, fez-se o coroamento estágios adicionais foi igual a 8. Sendo assim, o
com blocos de 90x90x70cm, estando a face tempo de duração de cada estágio variaram de 1
superior dos blocos coincidente com o nível a 9 minutos.
natural do terreno. O carregamento foi realizado em 2 ciclos, em
Sobre estes blocos, foi posicionado um que o primeiro ciclo recebeu uma carga de ajuste
macaco hidráulico, com carga máxima de 100tf, de 5,3tf (com exceção das estacas PAE 101 E
responsável por imprimir à estaca a carga PAF 103).
desejada no ensaio. Os recalques foram medidos Neste trabalho, apenas o primeiro ciclo será
com 02 deflectômetros digitais das marcas considerado visto que a variação de recalque
Digimess e Pantec. Estes, foram posicionados medido no segundo ciclo não diferiu muito do
em 02 vértices da estaca e fixos por bases primeiro.
magnéticas apoiadas em viga metálica, fixada ao Para as estacas PF 103, PQ 106 e PE 107
solo na posição transversal a viga de foram realizados um incremento de carga de
carregamento para não sofrerem influência dos 5,30tf em nos 10 primeiros estágios, assim que
tirantes. houve uma estabilização de recalque, a carga foi
mantida. Já para as estacas PAE 101 e PAF 103,
este incremento foi de 1,06tf, enquanto que para
a estaca PS120, de 9,55tf.

3.3.5 Critério de cálculo

Para a determinação da capacidade de carga


de ruptura foram utilizados os métodos de
ruptura da NBR 6122:2010 e de extrapolação de
Van der Veen, além do critério convencional de
ruptura que é definida como o deslocamento em
10% do diâmetro da estaca.
Os gráficos de curva extrapoladas foram
determinados através de uma planilha
automatizada do sofware excel elaborada pelo
Figura 5. Execução da prova de carga
Engenheiro José Antônio Schiavon, mestre e
doutorando em geotecnia pela escola de
O conjunto macaco-bomba utilizado no
engenharia de São Carlos.
ensaio atende a especificação da norma NBR
Para verificar se o critério de Van der Veen é
12131:2006 de que a capacidade de aplicação de
aplicável ao trecho experimental da carga curva
carga deva ser ao menos de 20% maior que o
x recalque foi adotado um critério apresentado
máximo carregamento previsto para o ensaio.
por CINTRA (2013) em que a extrapolação é
classificada de acordo com um nível de
3.3.4 Método de ensaio
confiabilidade baseados no coeficiente de

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determinação r² e a carga de ruptura atingida no Também foi calculada a capacidade de carga
ensaio. de acordo com a norma NBR 6122:2010, em que
Uma curva sofre um bom ajuste quando r² é apenas 20% da carga admissível pode ser
suficientemente próximo de 1, e a confiabilidade suportada pela ponta da estaca.
desta extrapolação é dada na tabela 2 a seguir. Quanto as Sondagens, foram consideradas no
cálculo apenas aquelas localizadas próximas as
Tabela 2. Extrapolação de Van der Veen estacas.
Excedente à carga aplicada no Extrapolação
ensaio (%)
” 25% Confiável 4 RESULTADO E DISCUSSÕES
25% - 50% Aceitável
4.1 Sondagens
50% - 75% Tolerável
• 75% Inaceitável Os resultados dos ensaios de SPT são
apresentados no gráfico 1 logo abaixo.

3.4 Método de cálculo para a determinação semi- Gráfico 1. Sondagens SPT


empírica da capacidade de carga NSPT
0 20 40 60
Com a finalidade comparativa, a capacidade
0
de carga foi determinada por 3 diferentes
métodos semi-empíricos: Décourt-Quaresma
(1982), Aoki-Velloso (1975), Antunes e Cabral 1
(1996).
Os métodos Décourt-Quaresma (1982) e 2
Aoki-Velloso (1975) foram escolhidos por se
tratarem de métodos mais tradicionais de 3
determinação de capacidade de carga, enquanto
PROFUNDIDADE (M)

que o método Antunes e Cabral (1996) é


4
considerado um método particular da estaca do
tipo hélice contínua, sendo relevante para este
trabalho. 5
O procedimento de cálculo para a capacidade
de carga pelos métodos Décourt-Quaresma e 6
Aoki-Velloso é o mesmo apresentado
anteriormente, apenas para o método Antunes e 7
Cabral foi adotado uma postura diferente. Os
fatores ߚଵ e ߚଶ , que dependem do tipo de solo,
8
são expressos em intervalo pelos autores do
método. Sendo Assim, optou-se por calcular a
capacidade de carga determinada por esses 9
fatores considerando o limite inferior, o limite
superior e a média destes intervalos. 10
A capacidade de carga por atrito lateral,
SPT02 SPT07 SPT18
ponta, última e admissível é automaticamente
calculada com o auxílio de uma planilha no SPT22 SPT24
software Excel elaborada pelo autor, em que os
dados de entrada correspondem apenas aos
valores de SPT, classificação do solo em cada 4.2 Provas de cargas
camada, diâmetro da estaca e o fator de
segurança. A carga máxima pretendida no ensaio é
definida pela NBR 6122:2010 como sendo duas

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vezes a carga admissível prevista em projeto A determinação da carga de ruptura foi
para ensaios realizados exclusivamente para determinada através da extrapolação de Van Der
avaliação de desempenho. Veen nas estacas que apresentaram um gráfico
A tabela 3 demostra resumidamente as carga recalque em que a interação estaca-solo
cargas máximas determinadas para realização mostrou-se elastica.
do ensaio, bem como as características das Os ensaios nas estacas PAF 103 e PF 103
estaca ensaiadas. resultaram em gráficos com notória
verticalização, curva do tipo aberta,
Tabela 3. Capacidades de carga máxima atingida na apresentando ruptura nítida, não necessitando
prova de carga assim do uso da extrapolação de Van Der Veen
Estaca D Comp. Carga Carga de
(mm) (m) ruptura projeto
para a determinação da carga de ruptura.
(kN) (kN) Os resultados da determinação da carga de
ruptura são resumidamente expressos na tabela 4
abaixo.

PAE 101 40 5,50 127,2 63,60 Tabela 4. Carga de ruptura das estacas
PAF 103 40 5,50 106 53,00 Estaca Carga de Extrapolação de r²
ruptura Van Der Veen
PF 103 60 7,50 625,6 312,80 (kN) (kN)
PQ 106 60 6,50 508,9 254,45 PAE 101 127,2 153 0,99262
PAF 103 106 - -
PE 107 60 8,50 508,9 254,45 PF 103 625,6 - -
PQ 106 508,9 520 0,99224
PS 120 60 7,50 900 450,00
PE 107 508,9 550 0,99104
PS 120 900 960 0,81226
De acordo com os deslocamentos
correspondentes as cargas aplicadas no ensaio de 4.3 Capacidade de carga pelos métodos semi-
cada estaca, elaborou-se o gráfico carga empíricos
recalque, resumidamente apresentado no gráfico
2 logo abaixo. Com os dados fornecidos pela sondagem a
percussão próximas as estacas ensaiadas, se
Gráfico 2. Curva carga x recalque das estacas obteve um perfil de solo em que foi possível
Carga aplicada (kN) determinar coeficientes de correções para os
0 200 400 600 800 métodos Décourt e Quaresma (1982) e Aoki e
0 Velloso (1975).
Como o tipo de solo encontrado nas camadas
0,5 de sondagem não variam muito, apresentando
1 predominância de solo silto arenoso, estes
coeficientes foram generalizados para todas as
Deslocamento (mm)

1,5 estacas e estão resumidos nas tabelas a seguir.


2
Tabela 5. Coeficientes adotados para os métodos semi-
2,5 empíricos de Décourt e Quaresma e Aoki e Velloso
Tipo de Décourt e Quaresma Aoki e Velloso
3 solo
C Į ȕ K Į (%)
(kN/m²)
3,5 (kN/m²)
Silte 250 0,3 1,0 250 2,2
4
arenoso
4,5
PAE101 PAF103 PF103
PQ106 PE107 PS120

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Gráfico 3. Capacidade de carga por métodos semi-
empíricos para a estaca PAE 101
Tabela 6. Coeficientes adotados para os método semi-
empírico de Antunes e Cabral
Tipo de Antunes e Cabral
solo ߚͳ ߚʹ 1098,616
inf sup Média inf sup Média
973,5
Silte 2,5 3,5 3 1 2 1,5 868,967

Capacidade de carga (kN)


arenoso 724
639,314
Tendo em posse estas variáveis, foi
549,308
determinada a capacidade de carga ultima e 486,75
434,4835
admissível para cada estaca. 362
319,657 319,877
Para a determinação da carga admissível foi 282,707
213,799
266,605
adotado um coeficiente de segurança mínimo 156,44
153 153 153 153 153
estipulado pela norma NBR 6122:2010 igual a
2,0. Decoúrte Aokie Antunese Antunese Antunese
Quaresma Velloso Cabral Cabral Cabral
Também foi determinada a capacidade de
(1982) (1975) (1996) (1996) (1996)
carga última e admissível segundo a inferior superior média
recomendação da norma NBR 6122:2010 em Cargaadmissível
que somente 20% da capacidade de carga última Provadecarga
deve ser resistido pela ponta. Cargaadmissível(NBR6122:2010)
Neste caso, considerou-se para o cálculo da
carga admissível os coeficientes recomendados
As barras verticais do gráfico 3 correspondem
por Décourt (1982) de 1,3 para a parcela de
aos valores de capacidades de cargas últimas
mobilização lateral e de 4,0 para a parcela da
para os três métodos de dimensionamento, sem
ponta. Para os demais casos o coeficiente
qualquer calibração por algum tipo de fator de
adotado foi o mesmo estipulado anteriormente
segurança.
segundo as recomendações da norma NBR
Nota-se que a capacidade de carga admissível
6122:2010.
determinada pela norma NBR 6122:2010 é bem
mais conservadora em relação a capacidade de
4.3.1 Capacidade de carga da estaca PAE 101
carga considerada originalmente pelos autores
dos métodos, isto se deve ao fato de que a norma
Os resultados dos dimensionamentos semi-
brasileira para projeto e execução de fundações
empíricos para a estaca PAE 101 são expressos
leva em consideração que recalques muito
no gráfico 3 a seguir.
pequenos promovem a mobilização da parcela de
atrito lateral em comparação ao recalques
exigidos para a mobilização da ponta da estaca.
Ou seja, somente quando boa parte do atrito
lateral for esgotado é que a resistência da ponta
começa a ser mobilizada.
O resultado de capacidade de carga
determinado de acordo com a norma NBR
6122:2010 para o método Décourt-Quaresma
(1982) apresentou um valor mais próximo ao
resultado de capacidade de carga encontrado no
ensaio.
Nota-se que, com a adoção do limite inferior
para os fatores ߚଵ eߚଶ , os valores encontrados
apresentam um valor absoluto de carga última

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bem menor do que o encontrado no método aumento de carga imprimida no ensaio, conferiu
Décourt e Quaresma. Entretanto, quando se trata a prova de carga uma capacidade também maior
de carga admissível o valor mais conservador é em relação as estacas PAE 101 e PAF 103.
determinado pelo método de Décourt-Quaresma
(1982), visto que o coeficiente de segurança Gráfico 5. Capacidade de carga por métodos semi-
adotado para a ponta da estaca é bem maior do empíricos para a estaca PF 103
que o coeficiente adotado no método Antunes- 3477,35
Cabral (1996).
2936,5
2799,16

Capacidade de carga (kN)


4.3.2 Capacidade de carga da estaca PAF 103 2474
2119,63

Para a estaca PAF 103, os resultados da 1738,675


determinação da capacidade de carga pelo 1468,25 1399,58
1237
métodos semi-empíricos são apresentados no 1076,334 958,9 1059,815
1210,622
1019,576
gráfico 4 logo abaixo. Percebe-se que a variação 625,6 625,6
828,438
625,6 625,6 625,6
de capacidade de carga determinada pelos os
métodos semi-empíricos, ocorreu da mesma
maneira que a estaca PAE 101, comentada inferior superior média
anteriormente. Decoúrte Aokie AntuneseCabral(1996)
Quaresma Velloso
Gráfico 4. Capacidade de carga por métodos semi- (1982) (1975)
empíricos para a estaca PAF 103
Cargaadmissível
NormaNBR6122:2010
1677,61 Provadecarga

1372 1357,17
1231,5
4.3.4 Capacidade de carga da estaca PQ 106
Capacidade de carga (kN)

1036,726
Já nos resultados do dimensionamento da
capacidade de carga da estaca PQ 106 é possível
838,805
notar que em alguns métodos a capacidade de
686
615,75 629,573678,585 carga determinada pela norma NBR 6122:2010 é
518,363 531,557
419,798
477,7 433,535 inferior à capacidade de carga determinada pela
prova de carga.
106 106 106 106 106 Estes resultados são apresentados no gráfico
6.
inferior superior média
O método de Décourt-Quaresma (1982)
Decoúrte Aokie AntuneseCabral(1996) forneceu valores abaixo da carga de ruptura
Quaresma Velloso encontrada no ensaio de prova de carga,
(1982) (1975)
portando mais conservadores.
Provadecarga
Verificou-se também que, novamente, o
Cargaadmissível método Antunes-Cabral (1996) pelo limite
NormaNBR6122:2010 inferior do intervalo dos fatores apresenta
proximidade com os valores determinados pelo
método de Décourt e Quaresma.
4.3.3 Capacidade da carga da estaca PF 103

No gráfico 5 logo abaixo, é apresentado os


resultados dos dimensionamentos de capacidade
de carga para a estaca PF 103.
As observações são as mesmas apresentadas
as estacas anteriores. No entanto, nota-se que o

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Gráfico 7. Capacidade de carga por métodos semi-
empíricos para a estaca PE 107
Gráfico 6. Capacidade de carga por métodos semi- 4694,955
empíricos para a estaca PQ 106 4244,5

Capacidade de carga (kN)


3694,045
2666,27
2852 2693,13
2264
2103,61 2347,4775
Capacidade de carga (kN)

2122,25
1682,5 1847,0225
1541,09 1426 1346,565 1226,928
1080,6 1012,788
714,406 808,458
1333,135 550 550 550 550 550
1132 1051,805
841,25 770,545 751,532 inferior superior média
580,9 625,944
520
464,369 520 520
500,456 520 520 Decoúrte Aokie AntuneseCabral(1996)
Quaresma Velloso
(1982) (1975)
inferior superior média
Decoúrte Aokie AntuneseCabral(1996) Provadecarga
Quaresma Velloso
(1982) (1975) NormaNBR6122:2010
Cargaadmissível Cargaadmissível
NormaNBR6122:2010
Provadecarga
Devido aos esforços da estrutura computarem
à estaca uma solicitação maior, a carga máxima
4.3.5 Capacidade de carga da estaca PE 107 atingida pelo de ensaio de prova de carga foi de
duas vezes a carga prevista de projeto,
Os resultados dos cálculos para a determinando uma carga de ruptura 1,08 vezes
determinação da capacidade de carga da estaca do que a ensaiada.
PE 107 pelos métodos semi-empíricos são No entanto, é possível inferir do gráfico 7 que
expressos no gráfico 7. a discrepância de valores de capacidade de carga
semi-empírica é muito alta em relação a
capacidade de carga determinada pelo ensaio.
Os valor que mais se aproximou da
capacidade de carga determinada pela prova de
carga foi aquele determinado pelo método
Décourt-Quaresma (1982) seguindo as
especificações da norma NBR 6122:2010 sobre
a porcentagem de carga máxima resistida pela
ponta. E mesmo assim, ainda encontram-se
contrários a segurança.

4.3.6 Capacidade de carga da estaca PS 120

Por fim, a última estaca ensaiada apresentou


resultados mais satisfatórios quanto a segurança
da fundação.
O gráfico 8 abaixo, apresenta resumidamente
os valores de capacidades de carga semi-
empíricas em comparação a carga de ruptura
determinada no ensaio de capacidade de carga.

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No entanto, em comparação com os
Gráfico 8. Capacidade de carga por métodos semi- resultados obtidos nos ensaios de prova de carga
empíricos para a estaca PS 120 apenas a estaca PS120 apresentou uma
3134,68 capacidade de carga definida pelos métodos
Décourt e Quaresma (1982), Aoki e Velloso
2612 2505,105 (1975) e Antunes e Cabral (1996) a favor da
2147,5 segurança. Ou seja, com uma carga admissível
Capacidade de carga (kN)

1875,53 menor do que a carga de ruptura.


1567,34
Vale ressaltar que, apenas a última estaca (PS
1306 1252,5525 120) foi ensaiada com um carga máxima de teste
1073,75
960 960 960
937,765 1032,378
960 866,891
960 próxima a maior capacidade de carregamento
845,311 789,7 701,202 que poderia ser imprimida pelo macaco
hidráulico à estaca. E, mesmo assim, os
recalques medidos foram muito pequenos não
inferior superior média
chegando nem aos 10% do diâmetro da estaca
Decoúrte Aokie AntuneseCabral(1996) ensaiada para a caracterização de ruptura
Quaresma Velloso convencional.
(1982) (1975)
Desse modo, para que haja deslocamentos
satisfatórios para a determinação de carga de
Provadecarga
Cargaadmissível
ruptura a partir de um gráfico curva x recalque
NormaNBR6122
próximo a realidade da estaca, cargas maiores
devem ser aplicadas.
Deve-se atentar também que a prova de carga
Os métodos de Décourt e Quaresma (1982),
realizadas nas estacas foi pelo método de cargas
Aoki e Velloso (1975), Antunes e Cabral (1996)
rápidas, com estágios de 1 minuto e o maior
forneceram um valor de capacidade de carga a
tempo em que umas das estacas se manteve
favor da segurança considerando apenas uma
carregada foi de 9 minutos. De acordo com a
certa porcentagem para a mobilização da ponta
norma NBR 6122:2010, o tempo de duração de
na parcela de capacidade de carga admissível da
cada estágio deve ser no mínimo igual a 5
estaca.
minutos, independente da estabilização dos
Vale ressaltar que de acordo com a norma
deslocamentos, para ensaios de prova de carga
NBR 6122:2010, o método de Antunes e Cabral
para o método de cargas rápidas
(1996) para o limite inferior retornou um valor
Sendo assim, frente a estes fatos é possível
de capacidade de carga admissível 36% menor
concluir que as provas de carga utilizadas como
que a carga de ruptura encontrada no solo pelo
material para este trabalho tinham como
ensaio de capacidade de carga, sendo
finalidade verificar o desempenho da estaca para
considerado a favor da segurança.
subsidiar as decisões tomadas em projeto, e não
Entretanto ainda não atende a especificação
para mobilizar o esgotamento da ligação estaca-
mínima da norma NBR 6122:2010 em que o
solo.
fator mínimo de segurança deva ser igual a 2,0.
Portanto, para que a hipótese de que esta
variação de capacidade de carga determinada
pelo método semi-empírico e a capacidade de
5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES
carga determinada pelo ensaio é causado pela
não correta caracterização do solo seja
Os valores de capacidade de carga pelos
verificada, dados de provas de carga onde
métodos semi-empíricos das estacas aqui
ocorreu uma maior solicitação do solo precisam
analisadas foram muito elevados. Resultado este
ser analisadas.
esperado, visto que as investigações geotécnicas
Frente a essa análise, os coeficientes de
próximas as fundações profundas apontaram
correlações empíricas utilizados nos métodos
maciços de solo com alto índice de resistência a
semi-empíricos podem ser calibrados com o
penetração.
auxílio destas provas de cargas diminuindo a

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



variação entre a capacidade de carga axial semi- 193. Dissertação (Mestrado) – Escola Politécnica,
empírica e a carga de ruptura do ensaio. Universidade de São. São Paulo.
À futuras pesquisas, sugere-se a adoção de um ANJOS, G. J.M. (2006). Estudos do comportamento de
maior tempo para cada estágio de carregamento fundações escavadas em solos tropicais. 340p. Tese (
durante o ensaio de prova de carga e se possível Doutorado)- Faculdade de Tecnologia, UnB. Brasília.
adotar uma prova de carga mista para que as
mobilizações dos recalques sejam maiores.
CAPUTO, A. N.; TAROZZO, H;
De acordo com CINTRA (2013) reensaios na ALONSO,U.R.;ANTUNES, W.R. (1997). Estacas hélice
mesma estaca comprovam que a capacidade de é contínua : projeto, execução e controle. São Paulo:
no mínimo igual ao valor anterior, podendo até Associação Brasileira de Mecânica dos solos e engenharia
aumentar, mesmo que antes tenha havido ruptura Geotécnica – Núcleo Regional de São Paulo. 59p.
ou atingido um recalque elevado.
CINTRA, J. C. A.; AOKI, N.; TSUHA, C. (2013).
Como a ocorrência de ruptura geotécnica na Fundações: ensaios estáticos e dinâmicos. 1 ed. São
prova de carga não condena a estaca, ensaios que Paulo: oficina de textos,2013.
tendem a desestabilizar a interação estaca-solo é
capaz de retornar valores mais fiéis para futuras COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS
calibrações de coeficientes semi-empíricos para MINERAIS. Sistema de Informação
a região de Cuiabá. Geoambiental de Cuiabá, Várzea Grande e
Entorno. Vol 1. Goiânia: CPRM, 2004. Disponível
em: < http://www.cprm.gov.br/>. Acessao em: 04
REFERÊNCIAS de abril de 2017.

ALBUQUERQUE, P. J.R. (2001) Estacas escavadas, CONCIANI, W.; SILVA, W. P.; CAMPOS, I. C.
hélice contínua e ômega: estudo do comportamento à O. Características de deformabilidade dos solos
compressão em solo residual diabásio, através de provas saprolíticos da baixada cuiabana através de
de carga instrumentadas em profundidade. 260p. Tese ensaios de campo e laboratório. In:
(Doutorado) – Escola Politécnica, Universidade de São. COBRAMSEG, 13., 2006, Curitiba. Anais...
São Paulo. Curitiba: ABMS, 2006. p. 1-6.
ANTUNES, W. R.; TAROZZO, H. (1996). Estacas tipo
hélice contínua. In: HACHICH, W. ; et al. Fundações: DECOURT, L. et al. Fundações: teoria e prática. 2 ed.
teoria e prática. São Paulo: ed. PINI. São Paulo: Editora pini Ltda.,1998. P. 275-276.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS DANZIER, B. R. Estudo de correlações entre ensaios de


TÉCNICAS –ABNT (1996). Projeto e execução de penetração estática e dinâmica e suas aplicações ao
fundações – NBR 6122/96. Rio de Janeiro. projeto de fundações profundas. 1982. Tese (Mestrado em
Engenharia Civil) – COPPE, Universidade Federal do Rio
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS de Janeiro, Rio de Janeiro, 1982.
TÉCNICAS – ABNT (2001). Sondagens de simples
reconhecimento com SPT: método de ensaio – NBR FALCONI, F. F.;HACHICH, W.;SAES, J. L.; FROTA,
6484/01. Rio de Janeiro. C.; CARVALHO, S. C.; NIYAMA,S.. Fundações: Teoria
e prática. 2 ed. São Paulo: PINI,1998.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS – ABNT (2006). Estacas: prova de carga INSTITUTO DE PESQUISAS ESPACIAIS. Estações de
estática – NBR 12131/06. Rio de Janeiro. Cuiabá: Climatologia local. Disponível em: <INPE
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TÉCNICAS –ABNT (1994). Estacas – Ensaio de
carregamento dinâmico– NBR 13208/94. Rio de Janeiro. LAPROVITERA, H. Reavaliação de método semi-
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partir de banco de dados. Tese (Mestrado em Engenharia
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GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



PINTO, Carlos de Souza. Curso básico de mecânica dos
solos em 16 aulas . 3 ed. São Paulo: Oficinas de textos,
2006.

VAN DER VEEN, C. The bearing capacity of a pile. In:


ICSMFE, 3., 1953, Zurich. PROCEEDING… Zurich:
ICSMFE,1953. V. 2,P. 84-90.

VELLOSO, D. A; AOKI,N. SALOMNI, J. A. Fundações


para silo vertical de 100.000t no porto de Paranaguá. In:
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VELLOSO, D. A.; LOPES, F. R. Fundações: critério de


projeto. Investigação do subsolo, fundações superficiais,
fundações profundas. V. completo. São Paulo: Oficina de
textos. 2014. P.568.

STRAUB, H. A history os civil engineering. Cambridge:


the M.I.T. Press, 1964.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Análise Comparativa entre Soluções de Contenção para Edifícios
de Três Subsolos no Município de Cascavel/PR
Robson Keretch
Centro Universitário FAG, Cascavel, PR, Brasil, robson_keretch@hotmail.com

Camila Oltramari
Centro Universitário FAG, Cascavel, PR, Brasil, ca_oltramari@hotmail.com

Maycon André de Almeida


Centro Universitário FAG, Cascavel, PR, Brasil, mayconalmeida@creapr.org.br

RESUMO: Devido à escassez de espaços urbanos, crescimento populacional e aumento de veículos


por família, uma das alternativas utilizadas para construir edifícios que atenda às necessidades e
conforto das mesmas é a utilização de subsolos dos edifícios, porém, para o emprego desse artificio
as edificações necessitam de soluções para evitar deslocamento do solo. Este artigo teve como
objetivo realizar o dimensionamento, analisar a segurança e comparar o custo unitário para execução
de quatro sistemas de contenções para edifícios contendo três níveis de subsolo em solo característico
do centro do município de Cascavel/PR. Diante da habitualidade e disponibilidade de equipamentos
na região, foram delimitados quatro sistemas de contenções: parede diafragma, cortina de estacas
escavadas com trado mecânico com e sem a utilização de tirantes e cortina de estacas metálicas com
preenchimento em placas de concreto. O dimensionamento e as verificações de segurança foram
determinados através do software CYPECAD 2014 e a análise comparativa de custos entre as
técnicas foi feita com o auxílio da Tabela Sinapi e Sicro2, onde se verificou que a solução em cortina
de estacas escavadas com tirantes é a mais viável economicamente para o caso estudado.

PALAVRAS-CHAVE: Contenções, análise viabilidade, cortina estacas.

1 INTRODUÇÃO duas preocupações constantes: a de instala-lo o


mais rapidamente possível, já que os
Contenção é todo elemento ou estrutura destinado deslocamentos laterais evoluem com o tempo; e
a contrapor-se a empuxos ou tensões geradas em de evitar espaços vazios entre a parede do
maciço cuja condição de equilíbrio foi alterada escoramento e o maciço escorado (HACHICH
por algum tipo de escavação, corte ou aterro 1998).
(HACHICH, 1998). Além disso, é extremamente necessário que
O detalhe mais importante de execução advém se tomem os cuidados recomendados no que diz
do conceito de que o escoramento deve, tanto respeito à drenagem adequada do terreno, a fim
quanto possível, suprir o confinamento dado pelo de evitar uma sobrecarga com o acúmulo de
próprio solo antes da escavação, isto é, deve ser água infiltrada na terra.
capaz de impedir deslocamentos laterais além dos Considerando a limitação e a demanda cada
que ocorrem inevitavelmente no intervalo de vez maior do espaço urbano, as empresas tem,
tempo que decorre entre a escavação e a cada vez mais, a necessidade de utilizar subsolos
instalação do escoramento. Deve haver, portanto, para obter o maior aproveitamento dos terrenos.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


Diante disso, este tema foi escolhido visto a Quando o empuxo lateral é combatido apenas
dificuldade que as construtoras enfrentam em pelo engaste da cortina no solo (ficha), a cortina
escolher a melhor solução na contenção de é dita em balanço. Caso a ficha não seja suficiente
subsolos. para equilibrar o empuxo lateral, pode-se
Atualmente, os edifícios localizados no considerar o uso de tirantes, a fim de providenciar
município de Cascavel/PR estão sendo um suporte lateral adequado (SANTOS, 2013).
executados com cerca de vinte pavimentos, o que Este sistema de contenção tem seu processo
necessita em geral de dois ou mais subsolos. executivo semelhante ao da estaca escavada sem
Desta forma, o presente estudo baseou-se nestas tirante, porém são executados os tirantes nas
informações para sua realização. cotas previstas em projeto em geral entre as
Com isso o presente artigo apresenta o estacas e unidos a partir de viga metálica ou
comparativo de custo entre os quatro sistemas de concreto ao longo da cortina, que tem a função
contenções, sendo elas parede diafragma, cortina de receber a carga da contenção e dissipar nos
de estacas escavadas com trado mecânico com e tirantes.
sem a utilização de tirante e cortina em estacas O uso de tirantes possui como inconveniente
metálicas cravadas com fechamento em placas de o tempo de instalação e, como são instalados
concreto, que são as mais indicadas e com maior além dos limites do terreno, podem influenciar
disponibilidade de equipamentos próximos a as fundações contíguas e necessitam de
região em estudo. autorização dos proprietários dos terrenos
vizinhos para sua execução.
Tanto a viga de coroamento, executada no
2 REVISÃO BIBLIOGRAFICA topo da estaca, quanto a viga de solidarização
intermediaria, executada entre o topo e o fundo
2.1 Parede Diafragma da estaca, são utilizadas nas estacas escavadas,
com ou sem tirantes, dependendo de quais e
A parede diafragma permite executar, ao longo de quantas forem necessárias para sua
todo o perímetro da contenção, uma parede estabilização.
continua de concreto armado, sem provocar Ambas possuem a mesma função, que é a
vibrações ou desconfinar o terreno adjacente distribuição dos esforços ao longo das estacas,
praticamente em qualquer tipo de solo, acima ou podendo servir também de apoio às ancoragens.
abaixo do nível d’água (HACHICH, 1998).
Esta operação se adapta a praticamente 2.3 Estacas metálicas cravadas com
qualquer tipo de terreno, porém possui o preenchimento em placas de concreto
inconveniente de pouca disponibilidade no
mercado e o alto custo de operação. Estacas metálicas cravadas com preenchimento
em placas de concreto são escoramentos
2.2 Cortina de estacas escavadas com trado constituídos por perfis verticais "I" de aço,
mecânico com e sem tirantes cravados ao longo dos planos das faces laterais
antes do início da escavação. A cravação é feita
Executada na superfície do terreno, este tipo de até atingir uma determinada profundidade que
solução possui grande disponibilidade no possa ser contida pelos perfis verticais. As
mercado, rapidez de execução e é bastante pranchas horizontais de concreto recebem o
adotado na execução de contenções em solos empuxo do terreno e o transmitem às abas dos
coesivos, sem presença de matacões e acima do perfis verticais (MANFE, 2013).
nivel d´água. Possui como vantagem a fabricação com
Possui como inconvenientes a necessidade de precisão nas dimensões, execução rápida e
locais planos para locomoção do equipamento de limpa, e como desvantagem transporte até a
execução e o grande acúmulo de solo retirado, obra, estocagem de materiais e espaço para
exigindo remoção constante (REBELLO P. C. Y, execução na obra.
2008).

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



3 MATERIAIS E MÉTODOS (SICRO2 – Novembro/2016) do Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes
Para realização das simulações e (DNIT), sendo que algumas composições
dimensionamentos, utilizou-se o software específicas, não encontradas nas planilhas de
CypeCad versão 2014, módulo cortinas. Este apoio, foram elaboradas com base em pesquisa
software possui uma ampla gama de realizada em empresas da região.
ferramentas para cálculo estrutural, lançamento, Para todos os orçamentos foi considerada a
dimensionamento e detalhamento dos faixa de um metro linear de obra, vezes a
elementos utilizados para cálculo de diversos profundidade de cada caso e não foram
tipos de fundações, além de calcular os esforços considerados serviços comuns a todos os tipos de
presentes na contenção simulada. obra, como limpeza do terreno, sondagens,
Para os quatros dimensionamentos realizados canteiro de obra, movimento de terra, etc.
no software, foi considerada uma carga acidental
de 2 toneladas por m² na superfície do maciço
escorado, uma profundidade de 18m para as 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
contenções e 9m para as escavações e
fechamentos. 4.1 Parede Diafragma
A caracterização geotécnica do solo central da
cidade foi realizada através de ensaio SPT Conforme Figura 1, no dimensionamento desta
coletado e apresenta as seguintes características: contenção utilizou-se a parede com 40cm de
A primeira camada possui 8,45m de espessura, armadura vertical com barras de
profundidade e é constituída em argila marrom diâmetro de 12,5mm a cada 15cm e armadura
avermelhada com consistência mole à rija, já a horizontal com diâmetro de 10mm a cada 20cm.
segunda camada está entre 8,45m e 13m de Considerou-se a utilização de dois tirantes
profundidade na constituição de argila marrom com 12m de profundidade cada, nos níveis
avermelhada com consistência dura, e a terceira -1,20m e -5,20m, que foram os mais indicados
camada está localizada entre 13m e 18m de pois proporcionaram os menores deslocamentos
profundidade e composta de argila roxa com no topo, com carga prevista de 15 toneladas e
consistência rija a dura. Ressalta-se que este é um um ângulo de inclinação de 15 graus com a
perfil representativo da região central da cidade, horizontal. O espaçamento entre tirantes
podendo ocorrer variações dependendo da região. adotado foi de 1,5 metros.
Nesta sondagem utilizada não foi constatado
nível de lençol freático, porém esta característica
pode variar conforme a área de escolha. Caso
fosse constatado lençol freático na caracterização
do solo em estudo, as cortinas de estacas
escavadas com trado mecânico com e sem
tirantes deveriam ser substituídas por hélice
continua ou solução equivalente que permita a
execução abaixo do nível d´água, alterando os
custos de implantação.
Um dos critérios para o dimensionamento foi
a utilização do Estado Limite de Serviço, que está
associado à durabilidade e bom desempenho Figura 1: Contenção em parede diafragma
funcional do sistema, utilizando deslocamentos
médios máximos de 10cm no topo da contenção. A Tabela 01 abaixo apresenta a estimativa de
Após o estudo, elaboraram-se os orçamentos de custo desta contenção, com suas composições,
cada contenção com o auxílio das planilhas do valores unitários e totais, sempre considerando
Sistema nacional de pesquisa de custos e índices uma faixa linear de 1 metro, que totalizou em
da construção civil (SINAPI – Setembro/2017) e R$19.363,57.
do Sistema de custos referenciais de obras
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Ressaltando que não foi considerado o custo subsolo, não tendo, portanto, valor adicional para
da guia em alvenaria ou em concreto necessário sua execução.
para a execução da escavação da contenção.
Para elaboração do orçamento foram utilizadas
as seguintes composições do SINAPI: 93971
(tirantes para protensão); 95587 (Corte, dobra e
montagem estacas CA-50 12,5mm); 92794
(Corte e dobra CA-60 10,0mm) e do SICRO2 foi
utilizada a composição 3S0332900 (concreto
usinado – confecção e lançamento). As
composições referentes ao equipamento foram
obtidas através de orçamento diretamente com o
fornecedor mais próximo da cidade.
Figura 2: Contenção em estacas sem tirantes
Tabela 1. Quantitativo e custo de parede diafragma
Itens Quant. Unitário Total Foi adotada uma carga horizontal de
R$ R$ 3 toneladas no topo da cortina simulando uma
M.O Perfuração
e Deslocamento
18,0m² 230,00 4140,00 escora em forma de viga de concreto aéreo,
Concreto usinado apoiada sobre estacas, que ficará provisoriamente
7,2m³ 366,66 2639,95
Fck20MPa bombeado até a execução das lajes. Tal viga não se encontra
Armadura CA50 10mm
Fornecimento e corte
332kg 6,44 2138,08 no quantitativo e deve ser dimensionada por
Armadura CA50 12mm projetista estrutural de acordo com o vão da
Fornecimento e corte
1180kg 7,07 8342,60
edificação.
Execução de tirante
com mais de 10mts, Conforme planilha orçamentaria representada
I7cm, incluindo na Tabela 02, pode-se verificar que o custo total
perfuração equipamento 18mL 116,83 2102,94 por metro linear da estaca escavada foi de
manual, armadura de
20mm e preenchido R$5.527,52.
com nata de cimento
Total (por metro linear) 19.363,57 Tabela 2. Custo de cortina em estacas sem tirantes
Itens Quant. Unitário Total
4.2 Cortina de estacas escavadas com trado R$ R$
M.O Perfuração
mecânico sem tirantes e Deslocamento
25,2mL 81,50 2119,00
Armadura CA50
Fornecimento e corte
508,6kg 5,02 2553,17
Conforme demonstrado na Figura 02,
Armadura CA60
considerou-se para esta contenção o diâmetro das Fornecimento e corte
35,75kg 8,34 298,16
estacas com 50 cm, a distância entre os eixos de Alvenaria 5,40m² 32,20 173,88
80 cm, armadura vertical com 10 barras de Chapisco 9,00m² 4,92 44,28
Emboço 9,00m² 37,67 339,03
diâmetro 16mm a armadura horizontal com
Total (por metro linear) 5.527,52
diâmetro de 5mm a cada 15cm. É necessária uma
viga de coroamento sobre as estacas e seu
quantitativo foi somado ao aço e concreto a ser Para elaboração do orçamento foram utilizadas
utilizado nas estacas. as seguintes composições do SINAPI: 87477
O diâmetro utilizado na cortina de estacas (alvenaria de tijolos); 87889 (chapisco paredes c/
escavadas sem tirantes foi maior que o das estacas argamassa cimento e areia); 87795 (Emboço ou
da cortina com tirantes devido à necessidade de massa única em argamassa); 92791 (Corte e dobra
reduzir os deslocamentos no topo da contenção. CA-60 5,0mm) e 95579 (Corte, dobra e
Exclusivamente nesta contenção, foi adotado montagem CA-50 16,0mm). A composição
um talude de serviço com 3,5 m de altura, 2,3 m referente a escavação e concretagem das estacas
de comprimento e ângulo de 45q, com o objetivo foi obtida através de alteração da composição
de criar um empuxo passivo no sistema. O talude 90885 do SINAPI considerando um diâmetro de
é simplesmente deixado durante a escavação do 50cm e incluindo a mobilização do equipamento.
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.

4.3 Cortina de estacas escavadas com trado paredes c/ argamassa cimento e areia); 87795
mecânico com tirantes (Emboço ou massa única em argamassa); 92796
(Corte e dobra CA-50 16,0mm); 92792 (Corte e
Para o dimensionamento desta contenção, foi dobra CA-60 6,3mm) e 95579 (Montagem de
adotado um diâmetro de 40 cm, com distância armaduras para estacas); 93971 (tirantes para
entre eixos de 80 cm, armadura vertical com 10 protensão) e 90885 (Execução e concretagem de
barras com diâmetro de 16mm e armadura estacas de 40cm acima de 15 metros). O valor
horizontal com diâmetro de 6,3mm a cada 7cm, relativo ao deslocamento do equipamento já foi
conforme Figura 3. somado proporcionalmente ao quantitativo de
escavação, assim como o quantitativo de concreto
e armadura da viga de coroamento sobre as
estacas, item obrigatório para esse tipo de
solução.

4.4 Cortina de estacas metálicas com


preenchimento em placas de concreto

No dimensionamento desta contenção


considerou-se o perfil metálico W460x97 a cada
metro com preenchimento em placas pré-
Figura 3: Contenção em estacas com tirantes moldadas de concreto armado com 15 cm de
espessura.
Considerou-se a utilização de dois tirantes com Para os tirantes, a solução foi a mesma adotada
12m de profundidade cada, nos níveis -1,20 e para o caso anterior, com duas linhas de tirantes
-5,20 metros, com carga de 15 toneladas e um apoiadas nas cotas -1,20m e -5,20m e mesmo
ângulo de inclinação de 15º com a horizontal, carregamento de 15 toneladas imposto. No
espaçados a cada 2 metros. entanto, a primeira linha de tirantes (cota -1,20m)
Conforme planilha orçamentaria apresentada teve de ser espaçada em 1,50m para evitar
na Tabela 03, pode-se verificar que o custo total grandes deformações no topo da cortina, já a
por metro linear da solução geotécnica foi de segunda linha manteve o espaçamento de 2,00m.
R$6.025,34. Conforme planilha orçamentaria representada
na Tabela 04, pode-se verificar que o custo total
Tabela 3. Custo de cortina em estacas com tirantes por metro linear da contenção em estacas
Itens Quant. Unitário Total metálicas foi de R$15.983,09.
R$ R$
M.O Perfuração 27mL 55,94 1510,38
Armadura CA50 Tabela 4. Custo de cortina em estacas metálicas
Fornecimento e corte
360kg 5,79 2084,40 Itens Quant. Unitário Total
Armadura CA60 R$ R$
Fornecimento e corte
59kg 7,99 471,41 Perfil Metálico “I”
Alvenaria 5,40m² 32,20 173,88 incluindo cravação e 18mL 777,61 13967,98
Chapisco 9,00m² 4,92 44,28 mobilização
Emboço 9,00m² 37,67 339,03 Armadura CA50
Fornecimento e corte
95kg 6,84 649,80
Execução de tirante
com mais de 10mts, Concreto usinado
Fck20MPa bombeado
2,00m³ 366,66 733,33
I7cm, incluindo
Execução de tirante
perfuração equipamento 12mL 116,83 1401,96
com mais de 10mts,
manual, armadura de
20mm e preenchido I7cm, incluindo
com nata de cimento perfuração equipamento 17mL 116,83 1986,11
manual, armadura de
Total (por metro linear) 6.025,34 20mm e preenchido
com nata de cimento
Para elaboração do orçamento foram Total (por metro linear) 15.983,09
utilizadas as seguintes composições do SINAPI:
87477 (alvenaria de tijolos); 87889 (chapisco
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.

Para elaboração do orçamento foram 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
utilizadas as seguintes composições do SINAPI:
92921 (Corte e dobra CA-50 12,5mm) e 93971 Apesar do sistema de estacas escavadas sem
(tirantes para protensão) e do SICRO2 as tirantes ter sido identificada como a solução mais
composições números 2S0340404 econômica (R$ 5.527,52/mL), o sistema de
(Fornecimento e cravação de perfil metálico “I”) contenção que apresenta a melhor solução
e 3S0332900 (concreto usinado – confecção e técnica, aliada a um custo baixo, é a opção em
lançamento). As composições referentes ao estacas escavadas com trado mecânico e uso de
equipamento e a compra dos perfis já incluem tirantes. Tal solução é rápida, economicamente
mobilização e deslocamento dos fornecedores barata e principalmente segura, apresentando
mais próximos da cidade. baixíssimos deslocamentos no topo da mesma.
Ressaltando que o nível d’agua pode
4.5 Análise dos sistemas influenciar na escolha da estaca escavada, nesse
caso a escavação estudada ficou acima do nível
Comparando as quatro soluções estudadas, as do lençol freático, portanto, se constatada a
opções em estacas escavada apresentaram os presença de água no local da obra, pode ser
melhores valores finais, sendo que a opção sem necessário alterar para hélice continua ou solução
utilização de tirantes apresentou uma redução de equivalente, alterando e aumentando os custos de
8,3% em relação à cortina de estacas escavadas execução.
com tirantes, que apresentou o segundo melhor Embora o fator econômico seja relevante e
custo. muitas vezes determinante para a escolha da
Salientando que não foram inclusos o tempo contenção, outros critérios devem ser analisados
para execução de cada método e pormenores, para a decisão final, como a disponibilidade de
como por exemplo, a retirada dos solos da equipamentos, espaço na obra, nível do lençol
escavação, espaço e acesso à obra e deslocamento freático, mão de obra especializada, tempo de
dos equipamentos de execução. execução, entre outros.
O deslocamento dos equipamentos pode gerar
aumento nos custos, principalmente no custo da REFERÊNCIAS
parede diafragma, sendo esta a solução com
menor disponibilidade de equipamentos na Hachich, W. Fundações teoria e pratica: Concepção de
região, lembrando que, se a quantidade de obras de contenção. 2.ed. São Paulo, 1998.
contenção foi considerável o custo será diluído
Manfe, F. E. Análise comparativa entre os tipos de
por metro linear e a influência final pode ser
contenção de solo usuais em Cascavel-PR. Cascavel,
baixa, da mesma forma que o transporte das 2013. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
estacas metálicas pode gerar um aumento Engenharia Civil) – Faculdade Assis Gurgacz.
significativo no custo deste tipo de solução.
Outro item que pode onerar a contenção e deve Rebello P. C. Y. Guia prático de projeto, execução e
ser levado em consideração é a colocação da dimensionamento. São Paulo 2008.
armadura, que no caso da parede diafragma é de
grande volume, sendo necessário um Santos, A. F. Avaliação do desempenho de uma cortina de
estacas espaçadas, atirantada, em areia, Natal, 2013.
equipamento de maior porte na obra para iça-la e
Dissertação (Pós-graduação em Engenharia Civil)
colocá-la nos locais de aplicação. Já para estacas Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
escavadas um equipamento de médio ou pequeno
porte já soluciona o problema. Lembrando que Sicro2 – Sistema de custos referencias de obras.
entre os tipos de equipamentos utilizados os http://www.dnit.gov.br/custos-e-pagamentos/sicro-
2/sul/parana/2016/novembro/pr-11-16-sem-
valores de locação da hora trabalhada são muito
desoneracao.rar. Acessado 13/10/2017.
distintos.
Sinapi – Sistema nacional de pesquisa de custos e indices da
construção civil.
http://www.caixa.gov.br/site/Paginas/downloads.aspx#c
ategoria_655. Acessado 13/10/2017.
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.

Análise da Estabilidade de Gabião - Sistemas de Contenções
João Guilherme Rassi Almeida
Centro Universitário Tocantinense Presidente Antonio Carlos – UNITPAC e Pontifícia Universidade
Católica de Goiás – PUC/GO, Araguaina, Brasil, jgmeioambiente@gmail.com

José Filho Ferreira Costa


Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC/GO, Goiania, Brasil, jose_ffc@hotmail.com

Leandro de Oliveira Chaves


Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC/GO, Goiania, Brasil, samuraichaves@hotmail.com

Israel Silveira Barbosa


Centro Universitário Tocantinense Presidente Antonio Carlos - UNITPAC, Araguaina, Brasil,
israel_7000@hotmail.com

Samuel Vinicius Soares da Silva


Centro Universitário Tocantinense Presidente Antonio Carlos - UNITPAC, Araguaina, Brasil,
samuknet@gmail.com

Glacielle Fernande Medeiros


Centro Universitário Tocantinense Presidente Antonio Carlos – UNITPAC, Araguaína, Brasil,
medeiros.agrimensura@gmail.com

RESUMO: O Solo apresenta uma grande variação em suas propriedades físicas e mecânicas, as que
estão ligadas ao cisalhamento são fundamentais para a manutenção da estabilidade dos taludes de
solo. O maior objetivo da pesquisa de estabilidade de taludes naturais ou artificiais é a verificação da
condição de segurança determinada através de coeficiente ou fator de segurança. Com isso, foram
caracterizadas as movimentações de massa, contenção de taludes, análises de estabilidade e apresenta
também uma solução adotada para proteção de um talude na Rodovia Federal BR-060, localizado no
município de Varjão-GO.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de Talude, Estudo de Caso, Proteção de Talude.

1 INTRODUÇÃO suas propriedades físicas e mecânicas, as que


estão ligadas ao cisalhamento são fundamentais
Hoje em dia, um dos grandes problemas para a manutenção da estabilidade dos taludes de
vivenciados pela população brasileira é a solo. Em áreas urbanizadas ou que estão em
instabilidade de encostas, que vêm provocando processo de urbanização a ruptura destes taludes
mais acidentes de repercusão nacional e pode causar perdas imensuráveis de vidas
colocando várias vidas em risco, principalmente humanas e de bens matérias.
em períodos chuvosos, pois a água modifica suas Escorregamento é um movimento de massa que
caracteristicas iniciais, diminuindo sua ocorre em encostas devido principalmente às
resistencia ao cisalhamento. intempéries, aos cortes e aumentos de
O Solo apresenta uma grande variação em poropressões. A ocorrência de escorregamentos

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


terrosos em rodovias brasileiras é elevada e gera decorrente de solicitações naturais ou da ação do
grande destruição, necessitando assim, de obras homem (GUIDICINI; NIEBLE, 1984).
emergenciais para repor o estrago ocasionado Segundo Guidicini & Nieble (1984) ao se
pelos mesmos. analisar a estabilidade dos taludes é interessante
atentar para os fatores de instabilização dos
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA mesmos. As primeiras análises a serem
realizadas nos taludes são os possíveis fatores de
2.1 Processos Erosivos e Movimentação de instabilidade que poderão atuar ao longo do
Massas em Taludes tempo sobre a sua estrutura. As principais causas
de instabilidade de acordo com Terzaghi (1967)
Ao se estudar os movimentos de massa de solo, são: Causas internas: que são as que atuam
necessita-se, primeiramente, definir o que são reduzindo a resistência interna do material
taludes, que, segundo Caputo (1987), constituinte do talude, sem que haja mudança no
compreende-se como quaisquer superfícies aspecto geométrico; Causas Externas: são
inclinadas que limitam um maciço de terra ou provocadas pelo aumento das tensões de
rocha. Podem ser naturais, que é o caso das cisalhamento, sem que haja a diminuição da
encostas, ou artificiais, como os taludes de cortes resistência que igualando ou superando a
e aterros. resistência intrínseca do solo levam o maciço a
Processos erosivos trata-se da destruição condição de ruptura; Causas Intermediárias: são
da estrutura do solo e sua remoção, sobretudo as que causam os efeitos de agente externos no
pela escoamento superficial das águas, interior do talude.
depositando-o em áreas mais baixas do relevo. Ao se analisar a estabilidade de um
Este processo pode ocorrer tanto em encostas determinado talude procura-se correlacioná-lo
naturais como em taludes de corte e de aterro. com um determinado Coeficiente de Segurança
Podem se apresentar por escoamento laminar, ou Fator de Segurança (FS), que pode ser
lavando a superfície do terreno como um todo, definido de várias maneiras, cada uma
sem formar canais definidos e por escoamento implicando em valores diferentes. Estes
concentrado, formando as ravinas e podendo coeficientes são definidos na relação entre
chegar à configuração de voçorocas, à medida resistência ao cisalhamento do solo (S) e a tensão
que atinge o lençol freático. (DER-SP, 1991) cisalhante atuante (t), conforme Sandroni e
De acordo com Sandroni e Sayão (1994), a Sayão (1994) expõe na Equação 1:
estabilidade ou instabilidade de uma encosta

depende da interação de um conjunto de fatores, ‫ ܵܨ‬ൌ  (1)

sendo estes: Ângulo de repouso, natureza do Sendo que:
material na encosta, quantidade de água FS = fator de segurança;
infiltrada nos materiais, inclinação da encosta e s = resistência ao cisalhamento do solo;
presença de vegetação. t = tensão cisalhante atuante.
2.2 Análises de Estabilidade de Taludes A resistência ao cisalhamento é dada pela
equação 2:
Como se sabe, o maior objetivo da pesquisa de
estabilidade de taludes naturais ou artificiais é a S = c´ + ı .tg ij (2)
verificação da condição de segurança Sendo:
determinada através de coeficiente ou fator de S = tensão cisalhante;
segurança. A estrutura será considerada segura c’ = Coesão (KPa);
somente quando puder suportar as ações a elas ı = Tensão Normal (KPa);
solicitadas durante sua vida útil sem ser ij´= Ângulo de Atrito Interno efetivo;
impedida de desempenhar as funções para as O valor do fator de segurança admissível
quais foram concebidas. Com a análise é definido através das possíveis consequências de
permitido definir a geometria mais adequada ou ruptura, implicando na perda de vidas humanas e
mais econômica para garantir a segurança, econômicas (GEORIO, 2000).

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



tipo colchão e tipo saco. Cada um utilizado onde
2.3 Métodos de Estabilização de Taludes melhor se adaptar seu formato à conformação da
obra. São utilizados como proteção superficial
Existem vários tipos de obras de estabilização de de encostas, proteção de margens de rios e
taludes disponíveis na nos dias de hoje, a escolha riachos, são também utilizados com muros de
por um ou outro método depende do tipo de contenção.
problema a ser resolvido, viabilidade de A permeabilidade e seu efeito drenante é a
execução e viabilidade financeira do projeto a ser característica funcional de maior destaque em
desenvolvido. O Departamento de Estradas e uma estrutura de gabião. Esta propriedade
Rodagens do Estado de São Paulo – DER (1991) permite o fluxo de águas de percolação do
cita alguns métodos de estabilização de taludes: maciço, aliviando o empuxo hidrostático sobre o
Reconstrução em aterro, Retaludamento, Obras sistema de contenção. Outro benefício da
de drenagem, Obras de proteção superficial e capacidade de drenar a água interna e de eliminá-
Sistema de Contenções. la, externamente, é o da contribuição à
consolidação do solo, a favor da segurança e
2.4 Sistemas de Contenções eficiência da obra. (BRIGHETTI, e MARTINS
2001).
A realização de obras de contenção é
caracterizada por diversos tipos de projetos, 3 METODOLOGIA
como subsolos de edificações, abertura de vala
para instalações de dutos, canalizações, estradas A realização de obras de contenção é
e estabilização de encostas (GUIDICINI; caracterizada por diversos tipos de projetos,
NIEBLE, 1984). como subsolos de edificações, abertura de vala
Segundo Ranzini (1972), contenção é todo para instalações de dutos, canalizações, estradas
elemento ou estrutura destinado a contrapor-se a e estabilização de encostas (GUIDICINI;
empuxos ou tensões geradas em maciço, cuja NIEBLE, 1984).
condição de equilíbrio foi alterada por algum O presente projeto foi desenvolvido em um
tipo de escavação, corte ou aterro. processo de estabilização de uma encosta, às
De acordo com Gerscovich (2010), o margens da Rodovia Federal BR-060, localizada
empuxo ativo verifica-se quando determinada ao longo do município de Varjão-GO. Ressalta-
estrutura é construída para suportar um maciço se que a obra foi concluída em 2013. Com base
de solo, onde as forças que o solo exerce sobre nos parâmetros do muro, solos (coesão e ângulo
as estruturas são de natureza ativa. O solo de atrito), nível de água e cargas externas
“empurra” a estrutura que reage tendendo a solicitadas, utilizou-se o software GawacWin
afastar-se do maciço. Por outro lado, quando a 2003 para obtenção dos Fatores de Segurança
estrutura é “empurrada” contra o solo, a força (deslizamento, tombamento e ruptura global)
exercida pela estrutura sobre o solo é de natureza para posterior realização das análises dos
passiva. resultados.
DER (1991) classifica essas obras de Obtém-se primeiramente os dados
contenção como: Muros de Arrimo, Obras topográficos com base no relevo e na inclinação
especiais de estabilização e Soluções da encosta:
alternativas. Todas têm a finalidade conter
maciços de solos, quando construídas em centros
urbanos ou em áreas de lazer, devem se integrar
o máximo possível no meio em que se
encontram, tanto do ponto de vista ambiental
como paisagístico.

2.4.1 Muros de Gabiões


Figura 1 - Corte esquemático do gabião (MACCAFERRI,
Existem três tipos de gabiões: gabião tipo caixa,
2013)

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execução da obra foi instalada a manta geotêxtil
A contenção, conforme especificado pelo e isto foi levado em consideração nos cálculos.
projeto, tem como parâmetros de entrada os
seguintes dados: inclinação do muro de 6º, 4 ANALISE DOS RESULTADOS
porosidade do gabião de 30% e peso especifico Os resultados da estabilidade do talude com as
da pedra britada aplicada na estrutura foi de 24,2 hipóteses de resistência estão na tabela 1.
kN/m³. Tabela 1 - Parâmetros de entrada e Fatores de segurança
Outro fator importante para os cálculos de do caso real e simulações.
projeto são os parâmetros de entrada do solo, tais
como: peso específico natural, ângulo de atrito e Casos 1 2 3 4 5 6 7 8
݊_T
coesão, sendo que os dois últimos são os (°)
28 28 28 28 23 28 28 23
principais parâmetros de resistência do solo e C_T
podem ser obtidos por meio de ensaios de 5 5 - - - - 5 -
(KPa)
resistência. Os dados obtidos nos ensaios para o N.A_T
0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 0,5 7,5 7,5
solo de fundação foram: Peso específico: 18 (m)
KN/m³; Ângulo de atrito: 23º; Coesão: 4 KPa. ݊_F
23 23 23 28 23 23 23 23
(°)
Para o solo de terrapleno foram obtidos os C_F
seguintes resultados: Peso específico: 18 KN/m³; 4 - 4 - - - 4 -
(KPa)
Ângulo de atrito: 28º; Coesão: 5 KPa.
FSD 2,1 2,1 2 2,3 1,6 1,9 1,6 1,3
Dada a influência do nível de água como
fator de instabilidade foram adotados níveis de FST 4,8 4,8 4,4 4,4 3,7 4,4 3,3 2,8
água tanto para a fundação (por haver um
córrego próximo) como para o terrapleno. Para o FSR 1,3 1,2 4.35 1,4 1,1 1,2 2,8 0,9
presente projeto foram adotadas alturas de um
metro de nível de água na fundação e mais meio Legenda:
metro no terrapleno.
Por haver uma rodovia próxima à encosta ij_T: ângulo de atrito no terrapleno;
foram adotadas sobrecargas externas supostas C_T: coesão no terrapleno;
uniformemente distribuídas de 20 KN/m². N. A._T: nível de água no terrapleno;
Tendo esses dados em mãos verificou-se o ij_F: ângulo de atrito na fundação;
fator de segurança de deslizamento, tombamento C_F: coesão na fundação;
e ruptura global. Além de verificar o fator de FSD: Fator de segurança de deslizamento;
segurança do talude também foi verificado o FST: Fator de segurança de tombamento;
comportamento da encosta caso fossem FSR: Fator de segurança de ruptura global.
apresentadas situações desfavoráveis, tais como:
diminuição da resistência do solo, redução da Pôde-se observar que, na situação original (Caso
coesão, redução do ângulo de atrito e aumento do 01), os fatores de segurança contra deslizamento
nível de água no terrapleno. Para tanto foram e tombamento atingiram valores de relativa alta
supostas oito hipóteses, sendo que na primeira o resistência, atendendo o recomendável pela
solo está com as suas características originais e norma e o recomendado por Georio (2000). Já
na hipótese 2, por exemplo, foi retirada a coesão quanto ao o fator de ruptura global, pôde-se
do solo de fundação. As demais hipóteses e as observar que a magnitude do F.S. foi atendida
considerações estão na tabela 1. para uma obra de risco de perdas econômicas e
É importante ressaltar que características humanas de médio potencial.
construtivas são importantes para a manutenção Tendo como base que a presente estrutura
de resistência caso uma das hipóteses se apresenta risco de vida e risco econômico de
comprove real, tal como o aumento do nível de médio potencial, pôde-se observar que os Casos
água. Esta situação pode ser solucionada com a 03 e 04 também atenderam aos especificados por
instalação de uma manta geotêxtil permitindo a Georio (2000). No Caso 03 foram excluídos os
passagem de água sem o transporte do solo, o dados de coesão do terrapleno e mantidos os
que poderia causar a erosão do talude. Na demais dados, porém, visto que o solo em

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questão apresenta características de um solo com REFERÊNCIAS
pouca argila (baixa coesão) notou-se que a
mesma não influenciou significativamente nos Brighetti, G. e Martins, J. R . S. (2001). Estabilização de
resultados finais. No Caso 04 excluiu-se a coesão margens: Obras Hidráulicas. Escola politécnica.
Departamento de Engenharia Hidraulica e Sanitaria,
do terrapleno e da fundação, porém aumentou-se São Paulo, Brasil.
o ângulo de atrito do solo de fundação Caputo, H. P. (1987). Mecânica dos Solos e sua
(simulação de compactação), sendo assim o solo Aplicações: Mecânica das Rochas, Fundações e Obras
mostrou-se com parâmetros superiores aos de Terra. 6 ed. LTC, Rio de Janeiro, Brasil., 498 p.
originais. DER-SP - Departamento de Estradas de Rodagem do
estado de São Paulo (1991). Taludes de Rodovias:
Para os casos 05, 06 e 07 foi possível Orientação para diagnóstico e soluções de seus
observar significativa redução nos Fatores de problemas. São Paulo, Brasil. 206 p.
Segurança. No Caso 05 foi considerado um solo Gerscovich, D. M. S. (2010). Estruturas de Contenção e
sem coesão e simulando uma compactação mal Empuxos de Terra. Faculdade de Engenharia/UERJ.
executada no terrapleno (ângulo de atrito Departamento de Estruturas e Fundações. Rio de
Janeiro, Brasil.
reduzido de 28º para 23º). Para o Caso 06 Guidicini, E.; Nieble, C. M. (1984). Estabilidade de
simulou-se um solo bastante arenoso tanto na Taludes Naturais e de Escavação. Edgard Blücher. São
base quanto no terrapleno (coesão igual à zero). Paulo, Brasil, 170p.
No Caso 07 mantiveram-se as Ranzini, S. M. T. et al. (1972) Estabilidade de Taludes
características originais do solo, porém criou-se Escavados em Minas a Céu Aberto. APGA. São Paulo,
Brasil. 58p.
uma situação pouco provável para um gabião, Sandroni, S.S; Sayão, A.S.F. J. (1994). Avaliação
elevando-se o nível de água no terrapleno, até estatística do coeficiente de segurança de taludes.
próximo à superfície do mesmo. Este parâmetro PUC-RJ. Rio de Janeiro, Brasil.
seria pouco provável de acontecer, pois o gabião Terzaghi, K. (1967). Mecanismos de Escorregamentos de
é um material de drenagem elevada. Terra. Tradução de E. Pichler. Departamento de Livros
e Publicações do Grêmio Politécnico, São Paulo.
Por fim, no Caso 08 realizou-se a situação
mais crítica analisada com nível de água
semelhante ao do Caso 07 e com parâmetros dos
solos semelhantes ao do Caso 05. O Caso 08 foi
o único que apresentou F.S. < 1,0, ou seja,
instabilidade do sistema. Ressalta-se, também,
que este caso é de improvável ocorrência.

5 CONCLUSÃO

Após realizado o estudo pode-se concluir que o


gabião executado pela Empresa Maccaferri
apresentou-se bastante estável, pois mesmo
simulando aspectos favoráveis a ruptura do
sistema, o mesmo mostrou-se resistente à
maioria dos casos solicitados. Pode-se ainda
observar que os parâmetros de coesão, por serem
de baixa magnitude nos solos de terrapleno e
fundação, pouco influenciaram nos resultados
finais. Já o parâmetro de ângulo de atrito
mostraram-se mais expressivos quanto à
resistência em geral, principalmente quanto à
ruptura global, pois a ruptura passa a depender
mais do maciço do solo do que da própria
estrutura

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Análise da Estabilidade de Talude Utilizando Sísmica de Refração
Luisa Barbosa Pereira
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, luisabarbosapereira@gmail.com

Bruna Leal Melo de Oliveira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, brunalealmelo@gmail.com

Pedro Cruz de Moura Lima


Universidade Federal do Pampa, Caçapava do Sul, Brasil, pedrocruzgeofisica@gmail.com

David Silva de Queiroz


Universidade Federal do Pampa, Caçapava do Sul, Brasil, david.queiroz1@hotmail.com

RESUMO: A ocupação territorial desordenada vem favorecendo a ocorrência de graves acidentes em


decorrência da ocupação de zonas de grande vulnerabilidade geotécnica. Desta forma, o presente
trabalho tem como objetivo analisar a estabilidade, avaliar a vulnerabilidade em relação à ocorrência
de acidentes e sugerir soluções de estabilização para os taludes estudados. Foram realizados perfis
geofísicos de sísmica de refração e utilizado o software Slope-W para a análise da estabilidade dos
taludes. De acordo com o fator de segurança obtido e levando em conta as condições precárias das
construções da área, conclui-se que se trata de uma área de grande vulnerabilidade.

PALAVRAS-CHAVE: Geotecnia, Geofísica, Movimentações de massa, Vulnerabilidade.

1 INTRODUÇÃO atingirem todas as áreas de maior declividade


das cidades, é inegável que os acidentes são
O processo de urbanização brasileiro e a maiores e mais frequentes nas favelas,
ausência quase que completa de áreas loteamentos irregulares e demais formas de
urbanizadas destinadas a moradia popular, levou assentamentos precários que abrigam a
a população de mais baixa renda a tentar resolver população de baixa renda.
este problema ocupando áreas vazias Porém, este cenário tem se desenvolvido
desprezadas pelo mercado. Neste processo, áreas também em regiões onde vivem as famílias de
ambientalmente frágeis, como margens de rios e classes média à alta, uma vez que vem sendo
arroios, mangues e encostas íngremes cada vez mais comum e elegante construções
desocupadas, foram ocupadas de forma precária. serem realizadas em áreas de exclusividade,
Segundo Carvalho et al. (2007) a como praias e reservas ambientais, violando leis
precariedade da ocupação (representada por e construindo mansões em áreas ecologicamente
aterros instáveis, taludes de corte em encostas sensíveis protegidas por lei.
íngremes, palafitas, ausência de redes de Segundo Carvalho e Galvão (2006) fatores
abastecimento de água e coleta de esgoto), econômicos, políticos, sociais e culturais
aumenta a vulnerabilidade das áreas já contribuem para o avanço e a perpetuação desse
naturalmente frágeis, fazendo com que surjam quadro indesejável.
setores de alto risco que, por ocasião dos Todos os parágrafos devem ser totalmente
períodos chuvosos mais intensos, têm sido palco justificados, à esquerda e à direita de cada
de graves acidentes. De fato, apesar da coluna.
possibilidade de ocorrência de deslizamentos

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Em linhas gerais, o problema das áreas de dimensões de 25 km x 12 km. Sua idade
risco de deslizamentos, enchentes e inundações magmática é de aproximadamente 550 Ma, com
nas cidades brasileiras podem ser sintetizadas datação por isocrônica Rb/Sr (Sartori e
nos itens: crise econômica e social com solução Kawashita, 1985). Esta unidade foi mapeada na
a longo prazo, política habitacional para baixa escala 1:25.000 (Bitencourt et al., 1998) onde
renda historicamente ineficiente, ineficácia dos dois contrastantes blocos delimitados por
sistemas de controle do uso e ocupação do solo, estruturas tendendo a NW podem ser
inexistência de legislação adequada para as áreas reconhecidos. No norte desta estrutura,
suscetíveis aos riscos mencionados, inexistência leucogranitos (principalmente sienogranitos) são
de apoio técnico para as populações e cultura muito abundantes, particularmente sobre
popular de “morar no plano” (Carvalho et al., topografias altas. Já ao sul das falhas, os
2007). leucogranitos estão praticamente ausentes,
porém granitóides biotita (monzogranitos,
granodioritos e porções diorítica) aparecem
2 OBJETIVOS bastante.

O presente trabalho tem como objetivo


determinar parâmetros geotécnicos através da 4 METODOLOGIA
velocidade de propagação das ondas sísmicas
compressional (P) e cisalhante (S), estimar o Para o desenvolvimento deste estudo foram
contato entre o material inconsolidado e o realizadas as seguintes etapas de trabalho:
embasamento rochoso, analisar a estabilidade do análise preliminar da área, levantamento
talude, avaliar a vulnerabilidade em relação à topográfico, levantamento geofísico, cálculo dos
ocorrência de acidentes e sugerir soluções de parâmetros geotécnicos e análise da estabilidade
estabilização. do talude.
Primeiramente, foi realizada uma visita à área
a fim de se fazer um levantamento das principais
3 ÁREA DE ESTUDO características, sendo possível notar que a área
apresenta grande quantidade de blocos e
A área de estudo localiza-se no município de matacões de granito, e que estes apresentam-se
Caçapava do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil bastante alterados e fraturados (Figura 2). Além
(Figura 1). Em relação à geologia local, a área disso, também foi observada a percolação de
está inserida na parte central do escudo Sul esgoto a céu aberto bem próximo às residências
Riograndense, mais precisamente na suíte (Figura 3).
granítica Caçapava do Sul.

Figura 1. Mapa de localização da área de estudo.


Figura 2. Presença de blocos e matacões de granito na área
de estudo.
A suíte granítica Caçapava do Sul, segundo
Bitencourt (1983) consiste de um corpo com

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necessário inserir no software os valores de peso
específico do solo (‫)ڜ‬, ângulo de atrito (ѫ) e
coesão. Como este trabalho não utiliza dados
diretos oriundos de ensaios geotécnicos, esses
parâmetros foram estimados através de
correlações com os parâmetros elásticos
calculados (Razão de Poisson e Módulo de
Young).
Os valores dos parâmetros utilizados para
cada material estão presentes na tabela abaixo
(Tabela 1).
Tabela 1 – Valores dos parâmetros geotécnicos utilizados
Figura 3. Percolação de esgoto a céu aberto próximo as no software Slope-W
residências.
‫ڜ‬ Coesão
Após a visita à área, foi feito o levantamento Material (kN/m3) ‫׎‬ (KPa)
topográfico realizando amostragem do perfil do Solo Saprolítico (argila arenosa) 16 25 0
talude a cada 10 metros.
O próximo passo foi realizar o levantamento Granito alterado e fraturado 22 30 80
geofísico do talude utilizando o método de
sísmica de refração rasa. O sismógrafo utilizado Granito sã 30 40 200
foi o Summit II Compact da marca DMT, o
arranjo entre os geofones foi de 5 metros, os tiros
foram feitos a cada 20 metros e o processamento 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
dos dados foi realizado utilizando o método de
tomografia de refração, que se baseia nas Após o levantamento topográfico, através dos
premissas dos levantamentos clássicos de dados coletados, foi feito o modelo topográfico
refração e técnica MASW. do talude. O talude estudado possui 120 metros
Levando em conta que as velocidades de de comprimento, 20 metros de altura e
propagação das ondas sísmicas longitudinais (P) declividade de 70% na sua porção mais alta.
e transversais (S) são diretamente proporcionais Através do processamento dos dados
aos parâmetros elásticos dos materiais, e geofísicos, foi realizado um modelo sísmico
conhecendo essas velocidades é possível tomográfico (Figura 4). Por meio deste, é
calcular os parâmetros elásticos Razão de possível inferir que nas laterais o talude é
Poisson (‫ )ݒ‬e Módulo de Young (E). composto por uma camada de solo pouco
espessa em contato abrupto com um granito
ೇ೛
ቀ ቁ²ିଶ muito fraturado e alterado e uma região mais
‫ݒ‬ൌ ೇೞ
ೇ೛ (1) profunda composta por granito menos alterado e
ଶቀ ቁ²ିଶ fraturado, mais próximo de um granito sã. Essa
ೇೞ

ሺଵିଶ௩ሻሺଵା௩ሻ análise é confirmada pelos resultados de Vs,


‫ ܧ‬ൌ ܸ‫;݌‬Ǥ ߩǤ ሺଵି௩ሻ
(2) inferidos através da técnica MASW, que
identificam as mesmas camadas em grande parte
do perfil.
Onde ܸ‫ ݌‬é a velocidade da onda longitudinal, O comportamento diferenciado dos dois
ܸ‫ ݏ‬é a velocidade da onda transversal e ߩ a últimos perfis de Vs podem indicar uma zona
densidade do material. com presença de água, visto que analisando
Para a análise numérica da estabilidade deste somente esta velocidade não é possível observar
talude foi utilizado o software Slope-W, o qual as mesmas variações de camadas observadas na
utiliza a teoria do equilíbrio limite para calcular análise de Vp, uma vez que as ondas cisalhantes
o fator de segurança de taludes em solos ou não sofrem influência deste possível fluído. Este
rochas. Para realizar a análise numérica, é fato poderia ser confirmado com a realização de

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levantamento elétrico, mais indicado para região estudada (Tabelas 2,3 e 4). Essa região do
caracterização de zonas saturadas. talude coincide com a região com presença de
água, inferida por geofísica. Já na análise do
talude na porção esquerda (Figura 6), foi obtido
um fator de segurança de 1,085, desta forma,
conclui-se que esta porção do talude também
encontra-se instável.

Figura 4. Modelo sísmico tomográfico, onde as linhas


pretas representam as variações das velocidades de Vs
inferidas por processo de inversão.

Além do modelo sísmico tomográfico, que


possibilita a interpretação mais realista do
subsolo do terreno através de uma imagem
Figura 5. Análise da estabilidade do talude a direita.
(Figura 5), com o levantamento geofísico
também são obtidos os valores numéricos da
velocidade da onda P, velocidade da onda S e
densidade de cada camada identificada ao longo
do perfil geofísico.
Utilizando os valores de Vp, Vs e densidade
de cada camada, foram calculados os parâmetros
elásticos Razão de Poisson (através da Equação
1) e Módulo de Young (através da Equação 2).
Posteriormente calculou-se a média desses
parâmetros para cada camada (Camada 1, 2 e 3),
de forma a utilizar esses valores para estimar os Figura 6. Análise da estabilidade do talude a esquerda.
parâmetros geotécnicos necessários para a
análise numérica da estabilidade do talude Tabela 2 – Nível de segurança desejado contra a perda de
através da Tabela 1. vidas humanas (NBR 11682: 2009), destacado em cinza a
O contato solo-rocha constitui, em geral, uma classificação para a área estudada.
zona de transição entre esses materiais. Quando Nível de Critérios
segurança
ocorre um contraste de resistência acentuado Áreas com intensa movimentação
entre eles, com inclinação forte e, e permanência de pessoas, como
principalmente, na presença de água, a zona de edificações públicas, residenciais
contato pode condicionar a instabilidade do ou industriais, estádios, praças e
talude. As descontinuidades geológicas Alto demais locais, urbanos ou não,
com possibilidade de elevada
presentes nos maciços rochosos e em solos de concentração de pessoas.
alteração constituem também planos ao longo Ferrovias e rodovias de tráfego
dos quais pode haver escorregamento. intenso.
A análise da estabilidade do talude na porção Áreas e edificações com
direita (Figura 5) apresenta um fator de movimentação e permanência
Médio
restrita de pessoas. Ferrovias e
segurança de 1,269. Desta forma, conclui-se que
rodovias de tráfego moderado.
o talude encontra-se instável, uma vez que Áreas e edificações com
segundo a NBR 11682 (2009), os fatores de movimentação e permanência
Baixo
segurança em relação à vida humana e contra eventual de pessoas. Ferrovias e
danos materiais e ambientais, de acordo com as rodovias de tráfego reduzido.
tabelas 2, 3 e 4, deve ser no mínimo 1,4 para a

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Tabela 3 – Nível de segurança desejado contra danos obras pode ser a principal ferramenta na
materiais e ambientais (NBR 11682: 2009), destacado em contenção dos problemas de instabilização.
cinza a classificação para a área estudada.
Nível de Critérios
As principais soluções de estabilização de
segurança taludes são: mudanças na geometria, como o
Danos materiais: Locais próximos retaludamento; bermas e contrafortes; estruturas
a propriedades de valor de alto de contenção; ancoragem passiva ou ativa;
valor histórico, social ou sistemas de drenagem; e proteção contra erosão.
patrimonial, obras de grande porte
Para o caso em estudo, uma solução viável e
e áreas que afetem serviços
Alto essenciais. vantajosa seria o grampeamento do solo, uma
Danos ambientais: Locais sujeitos espécie de ancoragem passiva, utilizada em
a acidentes ambientais graves, tais cortes ou escavações e consiste em um reforço
como nas proximidades de obtido através da inclusão de elementos
oleodutos, barragens de rejeito e
resistentes (grampos) de forma a introduzir
fábricas de produtos tóxicos.
Danos materiais: Locais próximos esforços resistentes de tração e cisalhamento. O
a propriedades de valor de sistema utiliza, basicamente, chumbadores,
Médio
moderado. concreto projetado e drenagem, e tem como
Danos ambientais: Locais sujeitos objetivo estabilizar taludes de corte de forma
a acidentes ambientais temporária ou, o que é mais comum, permanente
moderados.
Danos materiais: Locais próximos (Figura 7). É facilmente aplicado a taludes
a propriedades de valor de valor inclinados, sem necessidade de cortes adicionais
Baixo reduzido. para verticalização da parede. Tem execução
Danos ambientais: Locais sujeitos relativamente rápida e custo relativamente baixo
a acidentes ambientais reduzidos. se comparado a outras tecnologias.
Tabela 4 – Fatores de segurança mínimos para
Além disso, como o maciço rochoso da área
deslizamentos (NBR 11682: 2009), destacado em cinza o apresenta-se muito fraturado, permitindo grande
fator de segurança obtido para a área estudada. fluxo de água, a qual atua diminuindo as forças
Nível de segurança contra resistentes do talude e aumenta as forças atuantes
danos a vidas humanas no sentido do deslizamento, devem ser
Nível de segurança realizados dispositivos de drenagem juntamente
contra danos materiais Alto Médio Baixo com a solução de estabilização. Desta forma,
e ambientais sugere-se a realização de drenos horizontais
Alto 1,5 1,5 1,4 profundos, que são elementos que captam as
Médio 1,5 1,4 1,3 águas distantes da face do talude, neste caso
Baixo 1,4 1,3 1,2
armazenadas na rocha fraturada, por meio de
tubos plásticos drenantes, perfurados e
recobertos por manta geotêxtil, instalados em
6 SOLUÇÕES DE ESTABILIZAÇÃO
perfurações no solo.
Para o cálculo do solo grampeado foram
Para evitar o possível rompimento do talude,
utilizados os seguintes dados: aço 50 com 32mm
soluções de estabilização devem ser
de diâmetro, carga de escoamento de 402kN e
implementadas, assim como dispositivos de
carga de trabalho de 258kN; resistência ao
drenagem, os quais aumentam o fator de
arrancamento (qs) de 203kPa; fator de redução
segurança do maciço, e com isso, melhora sua
de 1,5; comprimento de 6m, arbitrado
estabilidade.
inicialmente; inclinação do grampo no talude a
Na engenharia geotécnica, existem inúmeros
direita (ș) = 15°; inclinação do grampo no talude
métodos de estabilização de taludes, e na maioria
a esquerda (ș) = 165°; espaçamento vertical e
dos casos de processos de massas, executam-se
horizontal de 2m; diâmetro do furo (Dp) de
diversos tipos de soluções combinadas. É
0,10m; coeficiente de majoração diâmetro
importante ressaltar que as obras de drenagem e
grampo (ȕ) de 1,9; diâmetro médio do bulbo
de proteção superficial não devem ser vistas
(De) de 0,18m; resistência à tração do grampo
somente como obras auxiliares ou
(Tr) de 258 kN; fator de redução do grampo de
complementares, pois a correta execução destas

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1,0 e o NSPT da camada foi estimado em 35 vulnerabilidade, sendo necessário um
golpes. monitoramento regular para evitar acidentes.
Os cálculos da carga de trabalho e da O método de investigação se mostrou
resistência ao arrancamento foram realizados por bastante eficaz ao imagear a subsuperficie e
meio das equações abaixo, respectivamente: indicar zonas de interesse. Além disso, a análise
conjunta entre os dados de Vp (obtidos de forma
ሺ஼௔௥௚௔ௗ௘௧௥௔௕௔௟௛௢ሻ direta) e os dados de Vs (obtidos através do
ܳൌ ‫Ͳ כ‬ǡͻ (3)
ிௌ MASW) conseguiram suprir a ausência de dados
ௌ௉் geotécnicos obtidos de forma direta,
‫ݍ‬௦ ൌ ͳͲ݇ ቀ ൅ ͳቁ (4) viabilizando a análise de estabilidade por meio

de uma investigação indireta e mais abrangente
Após a execução do grampeamento do solo, em área, diferente dos métodos convencionais.
observa-se que os fatores de segurança As soluções de estabilização e de drenagem
aumentaram consideravelmente, garantindo sugeridas são essenciais, uma vez que elas
desta forma a estabilidade dos taludes (Figura 8 aumentam o fator de segurança do talude
e 9). significativamente, aumentando as forças
resistentes e diminuindo as forças atuantes no
maciço.
Apesar dos resultados satisfatórios, vale
ressaltar que a obtenção de parâmetros
geotécnicos obtidos de forma indireta
(geofísica), sem nenhum tipo de amarração com
dados obtidos de forma direta (SPT, ensaios
laboratoriais), não é indicada e ainda requer
muitos estudos para melhor entender sua real
confiabilidade e aplicabilidade.

Figura 9. Análise da estabilidade do talude a direita após


a execução da medida de estabilização. REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 11682


(2006). Estabilidade de Taludes. Rio de Janeiro. 39 p.
Bitencourt, M.F.A.S. (1983). Metamorfitos da região de
Caçapava do Sul, RS - Geologia e relações com o corpo
granítico. In: I Simpósio Sul-Brasileiro de Geologia,
Porto Alegre.
Bitencourt, M.F., Philipp, R.P., Dillenburg, S., Lisboa,
N.A., Porcher, C.C., Sommer, C.A. (1998). Mapa
Geológico 1:25.000 das Folhas Caçapava do Sul,
Passo do Salsinho, Durasnal e Arroio Santa Bárbara,
RS, Porto Alegre.
Carvalho, C.S., Galvão, T. (2006). Prevenção de Riscos de
Deslizamentos em Encostas: Guia para Elaboracao de
Figura 10. Análise da estabilidade do talude a esquerda
Politicas Municipais. Ed. Gráfica Brasil. Brasília,
após a execução da medida de estabilização.
Ministério das Cidades. 111p.
Carvalho, C.S., de Macedo, E.S., Ogura, A.T. (2007).
7 CONCLUSÃO Mapeamento de Riscos em Encostas e Margem de
Rios, – Brasília: Ministerio das Cidades; Instituto de
Levando em conta o fator de risco e Pesquisas Tecnológicas – IPT.
Sartori, P.L.P., Kawashita, K. (1985). Petrologia e
considerando que a área apresenta uma camada Geocronologia do Batólito Granítico de Caçapava do
de material inconsolidado pouco espessa em Sul, RS. In: II Simpósio Sul-Brasileiro de Geologia,
contato abrupto com o embasamento rochoso e Florianópolis, pp. 102–107.
que grande parte das construções da área são
precárias, conclui-se que se trata de uma área de

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Análise das Soluções de Fundações de Edifícios para Diferentes
Perfis Geológico-Geoctécnicos no Município de Fortaleza
Thiago Moura da Costa Ayres
Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, thiagoayres1@hotmail.com

Carla Beatriz Costa de Araujo


Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, carlabeatriz@unifor.br

Lara de Oliveira Costa


Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, eulara10@hotmail.com

Laís Verissimo do Nascimento


Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, laisverissimo@edu.unifor.br

Thiago Pinheiro Nogueira


Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, thiagopnog@hotmail.com

RESUMO: O objetivo deste trabalho é a indicação de soluções de fundações e ensaios


complementares necessários ao projeto, por meio da análise de perfis geológico-geotécnicos
desenvolvidos através de boletins de sondagens SPT realizadas no município de Fortaleza. Analisou-
se três perfis geológico-geotécnicos, tendo como soluções: para Perfil de solo 01, que apresenta
camadas predominantemente arenosas, sugeriu-se a adoção de fundações superficiais para
construções de pequeno e médio porte, e fundações profundas para as de grande porte, para o Perfil
02, predominantemente argiloso, foram adotadas diferentes soluções de fundações e para o Perfil 03,
o qual apresenta camadas arenosas e argilosas, fundações profundas.

PALAVRAS-CHAVE: Projeto de Fundações, Perfil Géologico-Geotécnico, Ensaio SPT.

1 INTRODUÇÃO Para que se tenha uma correta caracterização


do solo, devem ser feitos ensaios de campo e de
Fundações são elementos construtivos que laboratório, os quais permitem descobrir as
transmitem as cargas provenientes da propriedades do terreno em que vai ser
superestrutura ao terreno em que se apoia sem construída a fundação.
causar ruptura (AZEREDO, 1997). Portanto, as Há diversos ensaios de campo para
fundações devem possuir resistência adequada caracterizar o solo. Alguns dos mais conhecidos
para conseguir suportar as tensões causadas são: a Sondagem à Percussão (SPT), o Ensaio de
pelos esforços solicitantes. Penetração do Cone (CPT), o ensaio de palheta
As características e o tipo de solo devem ser (Vane Test), o ensaio de placa, a sondagem
corretamente analisados, a fim de que se tenha rotativa e a prova de carga.
uma representação fiel das características do O nível de investigação geotécnica deve ser
mesmo, permitindo, assim, que se evite erros de definido em função da superestrutura e das
escolha da solução de fundação (USACE, 2001). condições do subsolo. Se houverem solos
Dessa forma, para elaboração do projeto de compressíveis e de baixa resistência, é essencial
fundação é necessário conhecer a topografia da realizar uma investigação geotécnica mais
área, dados geológico-geotécnico, dados sobre elaborada, utilizando diversas técnicas de ensaio
construções vizinhas e dados da estrutura a que permitam caracterizar de forma adequada as
construir (VELLOSO e LOPES, 2010). características da camada do terreno ou do

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maciço rochoso (SCHNAID e ODEBRECHT, 2 MATERIAIS E MÉTODOS
2012).
Com esta investigação do subsolo, é possível Para esse estudo, foram analisados 3 perfis
identificar as camadas de solo presentes, o nível geológicos-geotécnicos, denominados Perfil 01,
do lençol freático e a capacidade de carga do solo Perfil 02 e o Perfil 03 traçados a partir das
a diferentes profundidades (SCHNAID e sondagens do tipo SPT realizadas no município
ODEBRECHT, 2012). A partir do relatório, é de Fortaleza. A identificação do local não foi
possível analisar a capacidade carga do solo, a feita devido a não autorização por parte das
fim de dimensionar o tipo de fundação mais empresas que executaram a sondagem e por se
viável. tratar de um trabalho preliminar, sem projeto da
Segundo Associação Brasileira de Normas edificação definido, só foram utilizados duas
Técnicas (ABNT, 2010), as fundações são sondagens SPT para a elaboração de cada perfil.
convencionalmente separadas em dois grandes Assim, fez-se recomendações de ensaios
grupos: fundações superficiais (ou "diretas" ou complementares e foram apresentadas possíveis
"rasas") e fundações profundas. soluções de fundações, para cada perfil
A fundação direta é responsável pela geológico-geotécnico, considerando estruturas
transmissão das cargas provenientes da de pequeno, médio e grande porte.
superestrutura para as camadas mais superficiais
do solo. Para isso, é necessário que o solo possua 2.1 Perfil 01
uma determinada resistência capaz de suportar as
cargas solicitantes. Esse tipo de solução é A Figura 01 apresenta o perfil geológico-
indicado quando a profundidade de geotécnico da sondagem 01. Não foi identificado
assentamento não exceder 2 metros, sendo a nível de água ao longo da sondagem.
opção tecnicamente e economicamente mais
viável (REBELLO, 2008).
As fundações superficiais são divididas em:
blocos, sapatas (isoladas, corridas e associadas)
e radiers (ABNT, 2010).
No caso das fundações profundas, a
transmissão de cargas da superestrutura se dá
pela: base (resistência de ponta), superfície
lateral (resistência de fuste) e a associação dessas
duas. O assentamento neste tipo de fundação é,
normalmente, feito para profundidades maiores
que o dobro de sua menor dimensão e, pelo
menos, a cota de 3 metros abaixo do nível do
solo. Este grupo compreende as estacas e os
tubulões (REBELLO, 2008).
Devido à importância técnica e econômica, a
escolha de uma solução de fundação apropriada
ao perfil geológico-geotécnico é fundamental Figura 1 – Perfil de sondagem 01
para a execução de um projeto. O objetivo deste
artigo é a indicação de soluções de fundações e Em suas camadas mais superficiais,
seus respectivos ensaios complementares encontram-se areia fina cinza, com entulho de
necessários ao projeto, por meio da análise de construção, com compacidade de fofa a pouco
perfis geológico-geotécnicos desenvolvidos compacta, a qual continua até uma profundidade
através de boletins de sondagens SPT realizadas entre 1,40 e 1,60 metros do nível do terreno.
no município de Fortaleza. Em seguida, há a presença de areia fina, cor
cinza, com compacidade variando de fofa a
compacta, indo até de 5,50 a 6,00 metros
aproximadamente, seguidos de areia fina de cor

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variegada, muito compacta, entre as A seguir, há uma camada composta por argila
profundidades de 6,00 e 8,15 metros. siltosa com cores cinza e vermelha, com
Como camada mais profunda, há uma areia fina consistência variando de rija a dura, tendo
argilosa com cor variegada, muito compacta, espessura de 0,65 a 4,45 metros. Sob estas
contendo laterita, solo que possui grande camadas, há argila muito micácea cinza e branca,
concentração de óxidos de ferro e alumínio, com de rija a dura, com profundidade iniciando de
profundidade que se inicia de 5,50 a 8,15 metros 3,45 a 4,45 metros do nível do terreno, e
e chega ao limite da sondagem, atingindo de 9,45 metros até parte do limite do
aproximadamente de 8,11 a 9,25 metros. impenetrável à percussão, com profundidade de
11,35 metros. Esta camada está em volta de outra
2.2 Perfil 02 camada de solo, composta por argila muito
micácea branca e amarela, com caulim
A Figura 02 apresenta o perfil geológico- (caulinita), com profundidade de 5,45 a 8,50
geotécnico da sondagem 02. No qual, foi metros.
identificado nível de água a cerca de 1,00 m de A camada mais profunda é formada por argila
profundidade no primeiro furo e 0,65 m de muito micácea cinza e branca, com consistência
profundidade no segundo. dura, variando de 9,45 metros de profundidade
até o limite do impenetrável à percussão, que tem
profundidade de 11,35 a 16,39 metros.

2.3 Perfil 03

A Figura 03 apresenta o perfil traçado a partir da


realização das sondagens SPT. Foi identificado
nível de água a cerca de 0,65 m de profundidade
no primeiro furo e no início do segundo.

Figura 2 – Perfil de sondagem 02


Figura 3 – Perfil de sondagem 03
A camada mais superficial de solo é composta
por areia siltosa variegada, contendo Na camada mais superficial, foi encontrada
pedregulhos, medianamente compacta a dura, areia fina a média de cor cinza, compacidade fofa
com profundidade terminando de 0,65 a 3,45 a pouco compacta, com profundidade final
metros do nível do terreno. variando de 2,80 a 3,80 metros.

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Sob essa camada inicial, há argila arenosa mede as cargas aplicadas ao solo e das
preta, contendo material orgânico, mole, com deformações geradas, a diferença esta no
profundidade de 2,80 a 5,70 metros do nível do método, pois, neste ensaio, uma estaca é
terreno, e após esta, há uma camada de solo de carregada com até duas vezes a carga de
argila arenosa cinza, mole, com profundidade trabalho.
iniciando em 3,80 metros e finalizando em 8,70 Em relação ao tipo de solo analisado neste
metros. Ao lado dessa camada, é encontrada perfil, não há qualquer impedimento para a
areia argilosa fina a média, preta, fofa, com execução dos diversos tipos de estacas, sendo a
profundidade de 5,70 a 9,00 metros. escolha determinada pelo orçamento e pelas
Sob essas camadas, encontra-se uma areia construções vizinhas, já que algumas estacas
pouco argilosa, de fina a grossa, acinzentada, de produzem muitas vibrações no solo, podendo
pouco a medianamente compacta, com acarretar em problemas com as edificações que
profundidade de 9,00 metros até o limite do não suportam tantas vibrações.
impenetrável (10,45 metros). A Tabela 1 apresenta as possíveis soluções de
A última camada de solo é composta por areia fundações e os ensaios complementares
siltosa, de fina a média, cinza, medianamente indicados para estruturas de pequeno, médio e
compacta, com profundidade de 8,70 metros até grande porte assentes sobre o solo do perfil
o limite do impenetrável. analisado.

Tabela 1. Recomendações de solução de fundações e


3 RESULTADOS ensaios de acordo com o tipo de estrutura para Perfil 01.
Tipos de Soluções Ensaios
Estrutura possíveis complementares
3.1 Perfil 01 Edificações de Radiers Ensaio de Placa
pequeno porte Sapatas
Para o Perfil 01, recomenda-se para edificações Edificações de Radiers Ensaio de Placa
de pequeno e médio porte, a adoção de fundações médio porte Sapatas
superficiais do tipo sapata ou radier, pois o solo, Edificações de Estacas Prova de Carga
grande porte Tubulões
aparentemente, tem baixa capacidade de carga.
Para a execução das fundações, deve ser retirada
3.2 Perfil 02
a camada superior de solo, pois se trata de uma
camada de aterro não-controlado, composta por
Para o Perfil 02, recomenda-se para edificações
areia fina com presença de resíduo de
de pequeno porte, o uso de blocos de fundação,
construção.
pois o solo apresenta altos valores de índice de
Para que opte-se por um radier como
resistência à penetração (14 a 28 golpes/30 cm).
fundação de estruturas de pequeno e médio
Deve ser feito, no entanto, uma coleta de
porte, deve ser feito primeiramente um ensaio de
amostras indeformadas, a fim de se verificar o
placa, pois, por meio deste, é possível analisar a
recalque, através do ensaio de adensamento, ou
viabilidade de fundação como radier em função
executar na obra o ensaio de palheta para
das cargas aplicadas ao solo por meio de uma
verificação da resistência do solo.
placa e das deformações geradas.
Para edificações de médio e grande porte,
Conforme Medeiros (2013), para perfis de
pode-se utilizar sapatas. Deve ser feita uma
solos arenosos em Fortaleza, como, por
coleta de amostras indeformadas para verificar o
exemplo, dos terrenos localizados na Av. Padre
recalque, pelo ensaio de adensamento, que
Antônio Tomás, com NSPT médio de 4 golpes,
ocorre em camadas de argila saturada. Caso seja
apresentaram tensão pelo ensaio de placa de 200
feita a opção de utilizar fundação do tipo
kPa, podendo, então, receber fundações
profunda, além de ser necessário realizar prova
superficiais, com dimensões de até 3 m x 3 m.
de carga, há certas restrições ao tipo de fundação
Para edificações de grande porte, é
profunda a se utilizar.
recomendada a adoção de fundações profundas e
É possível executar tubulões ou estacas tipo
como ensaio complementar, a prova de carga
hélice contínua e raiz. As estacas tipo Franki,
estática, que, assim como o ensaio de placa,
Strauss e escavadas mecanicamente não devem

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ser executadas por haver presença nível freático, Tabela 3. Recomendações de solução de fundações e
e as estacas pré-moldadas porque o terreno é ensaios de acordo com o tipo de estrutura para Perfil 03.
Tipos de Soluções Ensaios
formado por argila rija a dura, o que dificulta a Estrutura possíveis complementares
inserção da mesma no solo. Edificações de Fundação Adensamento
A Tabela 2 apresenta as possíveis soluções de pequeno porte superficial Prova de carga
fundações e os ensaios complementares Estacas
indicados para estruturas de pequeno, médio e Tubulões
grande portes assentes sobre o solo do perfil Edificações de Estacas Prova de carga
médio porte Tubulões
analisado. Edificações de Estacas Prova de carga
grande porte Tubulões
Tabela 2. Recomendações de solução de fundações e
ensaios de acordo com o tipo de estrutura para Perfil 02.
Tipos de Soluções Ensaios
Estrutura possíveis complementares 4 CONCLUSÃO
Edificações de Blocos de Adensamento
pequeno porte fundação Coleta de amostras Neste trabalho, foram traçados perfis geológico-
indeformadas
Vane Test
geotécnicos de diferentes regiões do município
Edificações de Sapatas Adensamento de Fortaleza. A partir destes, foram apresentadas
médio porte Estacas Coleta de amostras possíveis soluções de fundação para estruturas
Tubulões indeformadas de pequeno, médio e grande porte.
Vane Test O Perfil 01, no qual houve predominância de
Prova de carga
solos arenosos, foi recomendada a adoção de
Edificações de Sapatas Adensamento
grande porte Estacas Coleta de amostras fundação superficial para estruturas de pequeno
Tubulões indeformadas e médio porte e o ensaio de placa, como ensaio
Vane Test complementar. Para estruturas de grande porte
Prova de carga foi recomendada a adoção de uma fundação
profunda, ficando a escolha do tipo de estaca a
3.3 Perfil 03 critério do orçamento e das eventuais vibrações
que alguns tipos de estacas podem transmitir às
A Tabela 3 apresenta as soluções de fundações e construções vizinhas.
ensaios complementares para o Perfil 03. Para No caso do Perfil 02, com a presença de argila
estruturas de pequeno porte, caso seja feita a em sua maior parte, o solo apresentou uma alta
opção pela utilização de fundação superficial, capacidade de carga, para o qual foram
deve ser coletada amostra indeformada de solo recomendadas fundações superficiais para
para fazer o ensaio de adensamento, e verificar a estruturas de pequeno, médio e grande porte,
resistência do solo. Deve ser verificado também sendo necessário como ensaio complementar, o
o bulbo de tensões gerados pelos elementos da ensaio de adensamento com a coleta de amostras
infraestrutura. indeformadas, ou o ensaio de palheta (Vane
Para edificações de pequeno, médio e grande Test).
porte, é possível a execução de fundação Para o Perfil 03, foi indicado para edificações
profunda. Os tipos de fundações profundas de pequeno, médio e grande porte foi
possíveis são: estacas tipo hélice contínua, raiz, recomendado o uso de fundações profundas,
pré-moldadas e tubulões, não sendo possíveis tendo restrições quanto ao tipo de estaca a ser
outros tipos de estacas porque há presença de utilizada, além da execução de um ensaio de
nível freático, o que impossibilita a execução de complementar de prova de carga.
estacas como: a Franki, a Strauss, a escavada Vale ressaltar que não foram fornecidas
mecanicamente e a broca. Como ensaio outras informações a respeito da construção,
complementar, é essencial fazer prova de carga como área da obra ou planta de cargas, portanto,
para analisar as deformações e recalques gerados não foi possível constatar informações sobre o
pelos carregamentos. número de sondagens ou qual a solução
definitiva de fundação. Além disso, é de grande
importância a realização dos ensaios

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complementares para o projeto de uma fundação
adequada, tanto financeira quanto tecnicamente.

REFERÊNCIAS
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. NBR
6122: Projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro:
ABNT, 2010.

Azeredo, H. A. O Edifício Até sua Cobertura. 2ª ed. São


Paulo: Edgar Blucher, 1997.

Medeiros, P. M. Avaliação da Previsão do Comportamento


Geotécnico de Fundações Superficiais Assentes em
Subsolos Arenosos de Baixa Compacidade em
Fortaleza a Partir de Ensaios de Placa. 2013. 176f.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil),
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.

Rebello, Y. C. P. Fundações: guia prático de projeto,


execução e dimensionamento. 4ª ed. São Paulo:
Ziguarte Editora, 2008.

Schnaid, F.; Odebrecht, E. Ensaios de Campo e Suas


Aplicações à Engenharia. 2ed. São Paulo: Oficina da
Textos, 2012.

U. S. Army Corps of Engineers – USACE. Geotechnical


Investigations. Engineer Manual. Manual n° 1110-1-
1804, Jan. 2001. Disponível em:
<http://www.publications.usace.army.mil/Portals/76/P
ublications/EngineerManuals/EM_1110-1-1804.pdf>.
Acesso em 21 mar. 2017.

Velloso, D. A.; Lopes, F. R. Fundações: critérios de


projeto, investigação do subsolo, fundações
superficiais, fundações profundas. São Paulo: Oficina
de Textos, 2010.

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Análise de Deslocamentos Verticais de Fundações em Radier
Estaqueado em Obras de Silos Graneleiros
Humberto Laranjeira de Souza Filho
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, humbertolar@gmail.com

Marcone de Oliveira Junior


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, marcone@outlook.com

RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo analisar o comportamento de diferentes


configurações de estacas sob um radier, que constituem a fundação de um silo graneleiro. Para isso,
faz-se uso do programa computacional GARP para análise dos deslocamentos gerados após a
solicitação da fundação. Obtém-se, ao final das análises, uma comparação para que se determine uma
configuração ideal de estacas que apresente desempenho satisfatório para o tipo de obra analisado.
Os resultados mostram-se coerentes e permitem a otimização do projeto de fundação para o silo.

PALAVRAS-CHAVE: Fundações, Fundação mista, Radier estaqueado, Silos.

1 INTRODUÇÃO recalques da estrutura. Desta forma, a laje de


fundo fica “livre” para se deslocar sob a ação de
Silos agrícolas ou graneleiros, segundo Silva um alto carregamento, o que pode comprometer
(2000, apud Hezel, 2007), são estruturas que o desempenho do sistema gerando grandes
apresentam condições necessárias para a recalques.
preservação da qualidade dos produtos agrícolas Assim sendo, uma solução proposta seria o
a granel por longos períodos de armazenamento, aproveitamento da capacidade estrutural da laje
especificamente grãos e sementes. com a associação de estacas sob ela como forma
Alves (2001) define os silos como de amenizar os recalques dos silos, denominando
construções as quais têm por finalidade o um conjunto misto conhecido por radier
armazenamento de produto sólido, granular ou estaqueado. Sales (2000), define o termo como o
pulverulento, a granel. Podem ser projetados e sistema de fundação que envolve a associação de
construídos em diversas formas e tamanhos um elemento superficial (radier ou sapata) com
dependendo do tipo de utilização e do processo uma estaca ou grupo de estacas, sendo ambas as
para os quais são requeridos. partes responsáveis pelo desempenho da
Do ponto de vista do projeto de tais fundação quanto a capacidade de carga e
estruturas, os silos em geral estão submetidos a recalques.
altas faixas de carregamento cíclicos e com uma Desta forma, a utilização deste sistema em
mobilização rápida dos esforços, de forma que a obras de silos graneleiros pode se tornar uma
carga transferida ao terreno requer um projeto de alternativa interessante, principalmente sob
fundações eficaz, capaz de suportar todo o condições de subsolo não favoráveis, pois
carregamento de forma a não comprometer o devido ao alto carregamento derivado dos grãos,
bom funcionamento da estrutura. os recalques gerados na estrutura podem vir a
Uma configuração usual do sistema de inutiliza-la.
fundações em silos é o estaqueamento em torno
de seu anel externo, como forma de garantir a
capacidade de carga do sistema e evitar possíveis

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2 REFERENCIAL TEÓRICO entendimento de todo o sistema de fundação
requer conhecimento não somente sobre a
2.1 Fundações em radier estaqueado interação entre a estaca isolada e o solo em volta,
mas também da influência mútua entre as estacas
O termo radier estaqueado, já definido dentro do grupo mais o radier e o solo.
anteriormente, refere-se, segundo Janda et al. Entretanto, Sales (2000) afirma que a
(2009), ao sistema de fundação no qual ambos os análise do sistema em radier estaqueado não é
componentes estruturais, radier e estaca, feita de forma simples e direta, por se tratar de
interagem entre si e com o solo ao redor para um problema tridimensional, no qual o
suportar as cargas verticais, horizontais e mecanismo de transferência de carga e a resposta
momentos advindos da superestrutura. O sistema carga-recalque apresentam natureza complexa,
diferencia-se do grupo de estacas convencional por envolver diferentes mecanismo de interação
principalmente pelo fato de que nele há contato entre os elementos envolvidos.
direto entre o bloco e o solo, como pode ser visto
na Fig. 1. 2.2 Métodos de Projeto

Poulos (2001) elaborou um processo racional de


projeto para o sistema de radier estaqueado,
composto em três etapas:
a) Estágio Preliminar: Avaliação da viabilidade
da utilização do radier estaqueado, e do número
de estacas necessárias para satisfazer os
requisitos de projeto. Primeiramente, se avalia o
desempenho do radier isolado, por meio de
métodos analíticos, e então a partir da resposta
Figura 1. Configuração de uma fundação mista de radier do elemento quanto a recalques diferenciais e
estaqueado (modificado de Mandolini, 2003). totais e capacidades de cargas;
b) Estágio Secundário: Avaliação mais detalhada
Poulos et al. (2011) afirma que a aplicação para definir onde as estacas são necessárias e
mais eficaz do uso do radier estaqueado ocorre suas características gerais.
quando o radier isolado fornece uma capacidade c) Estágio Final Detalhado: Obtenção do número
de carga adequada, mas seus recalques totais ótimo de estacas, sua configuração e localização,
e/ou diferenciais excedem valores aceitáveis. bem como o cálculo da distribuição detalhada de
De acordo Soares (2011) a premissa do uso recalques, momentos fletores e cortantes no
do radier estaqueado é obter vantagem do radier, e as cargas e momentos nas estacas.
contato entre o solo e o bloco ou radier, de forma Geralmente demanda o uso de um programa de
que este último pode ser dimensionado, tanto computador adequado que leve em conta de
para aumentar o suporte de carga da fundação, maneira racional a interação entre solo, radier e
como para reduzir o número de estacas estaca, bem como o efeito da superestrutura, por
necessárias no controle de recalques. meio do Método dos Elementos Finitos (M.E.F),
De acordo Sousa e Cunha (2005) o bloco ou Método dos Elementos de Contorno (M.E.C), ou
radier ao exercer tensões sobre o solo, métodos híbridos que combinam os dois últimos
compartilha com as estacas a divisão de cargas para análise do sistema.
que antes eram absorvidas somente pelas estacas
no caso de grupos sem contanto radier/solo. A 2.3 Ferramenta numérica – GARP
partir do momento em que há o contato, maior
interação ocorrerá entre os elementos de O programa GARP (Geotechnical Analysis of
fundação, proporcionando ao radier maior Raft With Piles), em sua versão mais atual,
capacidade de suporte e melhor desempenho trabalha, segundo Sales et al. (2010), a
quanto a recalques. metodologia “plate-on-springs” no qual o radier
Cunha e Pando (2013) afirmam que o é considerado como vários elementos planos de

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placa retangular, através do Método dos
Elementos Finitos (M.E.F.) e as estacas são
consideradas como elementos de molas com
rigidez equivalente.
De maneira geral, o programa GARP
fornece o comportamento de todo o sistema em
radier estaqueado, no que compete a relação
carga-recalque, distribuição de cargas nas
estacas, proporção de cargas transmitidas ao
radier e as estacas, momentos fletores nas estacas Figura 2. Configuração de estacas sob o silo.
e no radier, e a configuração de recalques totais
e diferenciais ao longo da profundidade. A tabela 1 apresenta as características das
Poulos (2001) aponta algumas estacas do conjunto.
considerações favoráveis utilizadas pelo
programa GARP: Tabela 1. Características das estacas.
x Heterogeneidade das camadas de solo; Elemento Diâme Compri- Quantida- Capacida-
x Limitação da pressão abaixo do radier; -tro mento (m) de de última
(m) (kN)
x Comportamento carga-recalque não linear, Estacas 0,4 20 40 608,9
incluindo limitação da capacidade da estaca do anel
em compressão e tração; Estacas 0,4 20 20 608,9
x Estacas de rigidez e capacidade de carga do túnel
Estacas 0,3 20 Variável 440,2
diferentes dentro do sistema;
do radier
x Facilidade em alterar-se da locação e do
número de estacas; O trabalho analisará o estaqueamento da laje
x Consideração de carregamentos de fundo como forma de minoração de possíveis
concentrados, uniformes e momentos; recalques e buscando a otimização do projeto, de
x Efeitos do campo de deslocamento do solo forma que o sistema se comporte como um radier
devido a recalques por consolidação ou estaqueado. A análise será conduzida por meio
expansão. do programa GARP, e consistirá da análise dos
deslocamentos verticais máximos do sistema de
estaqueamento do problema proposto
3 METODOLOGIA anteriormente, além de 4 configurações distintas
de locação de estacas ao longo da laje do fundo
A metodologia aqui proposta consiste em uma do silo ou radier, conforme Fig. 3. A primeira
análise de sensibilidade quanto ao delas constará com 40 estacas para o silo (R40),
comportamento de deslocamentos verticais da a segunda 32 estacas (R32), a terceira 24 estacas
fundação de um silo graneleiro de 15 m de (R24), a quarta 16 estacas para o silo (R16) e
diâmetro, com anel externo em concreto de 0,4 uma última com 8 estacas (R8).
m de espessura e 0,8 m de altura, estaqueado ao
longo de todo seu perímetro, e túnel central para
saída dos grãos também estaqueado, como
ilustrado na Fig. 2. A carga adotada para a laje
de fundo do silo foi de 80 kPa e para o anel 120
kPa.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

As análises foram realizadas utilizando


parâmetros anteriormente abordados e os
resultados mostraram-se coerentes. O número de
estacas no radier interferiu diretamente nos
deslocamentos verticais até certo ponto. O fator
preponderante quanto ao desempeno em relação
aos deslocamentos demonstrou ser a locação das
estacas ao longo da laje. Para as configurações
propostas, não houve deslocamentos verticais
maiores que 5 cm, o que é perfeitamente
aceitável para o tipo de obra analisado.
A Fig. 5 apresenta os resultados de
deslocamentos verticais obtidos para as
configurações, começando pelo modelo sem
Figura 3. Configurações de estacas analisadas.
estacas sob o radier, passando à R8, R16, R24,
R32 e por último, a R40.
As análises serão feitas considerando
estacas com comprimento de 20 m e
espaçamento entre eixos de 1,5 m e diâmetro
constante de 30 cm, para cada configuração
proposta, como também adotando um radier de
espessura igual a 15 cm em todos os casos. Os
parâmetros adotados para os elementos das
estacas do radier e para o solo, uma areia argilosa
da região de Mato Grosso, são ilustrados na Fig.
4.

Figura 4. Radier proposto sobre estacas e propriedades.

O elemento superficial, o radier, será


modelado a partir de elementos retangulares que
se aproximem do formato circular dos silos, pois
o programa é capaz de simular apenas elementos
retangulares; já os elementos profundos, as
estacas, serão simulados como molas que
apresentem rigidez equivalente as estacas.
O objetivo é, desta forma, obter resultados
de deslocamentos verticais para cada caso
proposto e analisar, assim, os valores
encontrados, a fim de discutir os resultados e
obter correlações.

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fundo do silo, atingindo valores da ordem de 2
cm no anel externo.
Embora a distribuição desses deslocamentos
divirja entre as diferentes configurações
estudadas, uma análise otimizada, partindo de
parâmetros técnicos e econômicos, mostra que
uma configuração com 16 estacas (R16) é
eficiente na estabilização dos deslocamentos
verticais apresentados devido às cargas aplicadas
na laje do silo, pois o aumento do número de
estacas, a partir deste valor, não provocou
mudança significativa na performance do radier
estaqueado.
Portanto, de acordo os resultados
encontrados, deve-se procurar uma configuração
que envolva o menor número possível de estacas
e seja regularmente distribuída ao longo do
radier para que se tenha uma resposta viável
economicamente e um desempenho mais
uniforme, em relação aos deslocamentos
verticais, ao longo do elemento superficial, o que
no caso analisado envolve tanto o anel externo,
quanto a laje de fundo do silo.

AGRADECIMENTOS

À CAPES pela concessão de bolsas.

Figura 5. Resultados de deslocamentos verticais para REFERÊNCIAS


diferentes configurações de estacas sob o radier.
Alves, V. (2001). Análise e Dimensionamento de Silos de
Os deslocamentos verticais ao longo da Concreto Armado: Desenvolvimento de um Programa
configuração original, sem estacas na laje do Computacional. Dissertação de Mestrado, Faculdade
de Engenharia Agrícola, Universidade Estadual de
fundo, apenas no anel externo e no túnel central, Campinas, Campinas, SP, 98 p.
apresentaram maiores valores, e uma Conciani, W. (1997). Estudo do Colapso do Solo Através
distribuição irregular destes, o que para de Ensaios de Placa Monitorados com Tensiômetros e
estruturas sensíveis como silos, poderia Tomografia Computadorizada. Tese de Doutorado,
comprometer o seu funcionamento. Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de
São Paulo, São Carlos, SP, 179 p.
A configuração original, apresenta Cunha, R. P., Pando, M. (2013). Influence of Pile-Soil-
deslocamentos verticais da ordem de 3 cm na Raft Parameters on the Behavior of Piled Raft and
região do anel externo, atingindo valores Conventional Piled Group Foundations. Soils and
máximos de 4 cm na região da laje de fundo. Para Rocks, 36 (1): 21-35.
a configuração R8, os deslocamentos da laje de Hezel, C. R. (2007). Avaliação das Pressões em Silos
Verticais Conforme Diferentes Normas Internacionais.
fundo reduziram para 3 cm de maneira geral, Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
com pequenas regiões desta deslocando 4 cm, em Engenharia Agrícola, Universidade Estadual do
chegando a 2 cm na região do anel. Para as Oeste do Paraná, Cascavel, PR, 139 p.
demais configurações, com 16 ou mais estacas, o Janda, T., Cunha, R. P., Kuklik, P. & Anjos G.M. (2009).
deslocamento máximo vertical é constante, de Three Dimensional Finite Element Analysis and Back-
Analysis of CDA Standard Pile Groups and Piled Rafts
2,5 cm, concentrados nas regiões da laje de Founded on Tropical Soil. Soil and Rocks, 32 (1): 3-18.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Mandolini, A. (2003). Design of Pile Raft Foundations:
Practice and Development. In: Proceedings of the 4th
International Geotechnical Seminar on Deep
Foundation on Bored and Auger Piles, BAP IV,
Bélgica, p. 59-80.
Poulos, H.G. (2001). Piled Raft Foundations: Design and
Applications. Géotechnique, 51(2), 95-113.
Poulos, H. G., Small, J. C., & Chow, H. (2011). Piled Raft
Foundations for Tall Buildings. Geotechnical
Engineering, 42(2), 78–84.
Sales, M. M. (2000). Análise do Comportamento de
Sapatas Estaqueadas. Tese de Doutorado. Publicação
G.TD/002A, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 229
p.
Sales, M. M., Small, J. C. & Poulos H. G. (2010).
Compensated Piled Rafts in Clayey Soils: Behaviour,
Measurements, and Predictions. Can. Geotech. J. 47:
327-345.
Soares, W. C. (2011). Radier Estaqueado Com Estacas
Hollow Auger Em Solo Arenoso. Tese de Doutorado,
Departamento de Engenharia Civil, Universidade
Federal de Pernambuco, Recife, PE, 302 p.

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Análise de Grupo de Estacas Carregadas Lateralmente
Ana Flávia Ferreira Marques
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil, anamarques.eng@gmail.com

Camila Hikari Harada


Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil, hikari1564@gmail.com

Prof. MSc. Douglas Magalhães Albuquerque Bittencourt (Co-autor)


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, prof.douglas.pucgo@gmail.com

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo principal uma análise do comportamento carga-
deslocamento de grupos de estacas engastadas em blocos, visando solucionar problemas de
dimensionamentos em fundações submetidas a carregamentos laterais. Foram avaliados fatores
influenciadores do deslocamento, indicados por Poulos e Davis (1980), como o módulo de
elasticidade do solo, o fator de flexibilidade das estacas e a disposição das estacas no bloco. A
resolução do método foi implementada em planilha eletrônica. Por fim foram analisadas a influência
do número de estacas, da geometria do bloco e da variação dos diâmetros no deslocamento e na
divisão de forças em blocos de estacas.

PALAVRAS-CHAVE: Método de Poulos e Davis (1980), Desenvolvimento de Planilhas Eletrônicas,


Digitalização de Ábacos, Análise de Deslocamentos.

1 INTRODUÇÃO A adoção desse procedimento simplificado


pode resultar em um superdimensionamento de
As construções tem se tornado mais complexas, algumas estacas, implicando em gastos
devido ao aumento significativo dos esforços. desnecessários, e um subdimensionamento de
Isso evidencia a necessidade de se realizar um outras, o que pode significar que a estrutura está
estudo mais completo e aprimorado das sujeita a carregamentos maiores do que os quais
estruturas de fundações. ela foi calculada para suportar. Desta maneira,
Para atender a essa necessidade são utilizados denota-se a importância da avaliação dessas
diversos métodos que avaliam o comportamento abordagens, tendo em vista a adequação das
de estacas. Segundo Meneses (2007) os métodos metodologias de projeto de fundações em blocos
encontram-se muito mais desenvolvidos quando sobre estacas submetidas a carregamento lateral.
tratam de estacas isoladas do que para grupos de
estacas.
Atualmente, os métodos de cálculo mais 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
utilizados para analisar a influência das cargas
laterais em grupos de estacas, consistem 2.1 Metodologia proposta por Poulos e
basicamente em dividir a carga horizontal Davis (1980)
aplicada no bloco igualmente para todas as
estacas. Esta premissa apresenta dúvidas quanto Para Poulos e Davis (1980) a determinação do
a sua assertividade, pois desta forma a influência deslocamento de uma estaca engastada no bloco
do restante do grupo é negligenciada como um se dá pela Equação (1).
fator de cálculo.

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H ȕ (Figura 1) entre a direção do carregamento e a
ȡ= ൬IȡF ൰  (1)
ES .L ΤFȡF linha que une os centros das estacas k e j;
Hk = carregamento na estaca k.
onde: O fator s, que corresponde à distância de
‫ܫ‬ఘி = fator de influência elástica para centro a centro das estacas, e o fator ȕ, que é o
deslocamentos devido à força horizontal ângulo entre a linha que une os centros das
aplicada no topo da estaca com topo engastado, estacas e a linha da direção do carregamento,
fornecido por meio de um ábaco. estão representados na Figura (1). Estes valores,
‫ܨ‬ఘி = razão de fator deslocamento plástico determinados pela geometria do bloco, são de
para estaca engastada, fornecido por meio de um grande significância para as próximas etapas de
ábaco. cálculo.
Poulos (1973a) constata que o fator plástico
(Fȡ) “está em função, primariamente, da
excentricidade relativa da estaca (e/L), do fator
de flexibilidade (Kr) e do nível do carregamento
aplicado, que pode ser convenientemente
expresso por H/Hu, onde Hu é o carregamento
lateral último de ruptura”.
A excentricidade avaliada por Poulos (1973) é
tida como sendo o comprimento da estaca que
está acima do nível do solo. Em exemplos
apresentados por Poulos e Davis (1980), o valor
de Fȡ só é considerado no cálculo de estruturas
Figura 1. Representação dos fatores s e ȕ adaptada de
que apresentam essa excentricidade citada. Poulos e Davis (1980).
Casos nos quais ela não existe, como em
exemplo desenvolvido pelos mesmos autores, Um dos principais problemas no método
considera-se valor unitário para Fȡ. O estudo descrito por Poulos e Davis (1980) para solos
realizado neste trabalho não engloba situações com módulo de elasticidade constante é a não
com excentricidade, por isso a obtenção de tal consideração de sua estrutura como estratificada.
valor não será apresentada. Mas com auxílio de um inclinômetro, Nip e Ng
Para um grupo de estacas, Poulos e (2005) mediram o deslocamento de estacas
Davis (1980) definem que o deslocamento de submetidas a carregamento lateral e por meio da
uma estaca k no grupo é dado, por superposição, análise de resultados foi possível concluir que os
pela equação (2). deslocamentos laterais são mais significativos no
topo das estacas. Portanto, só é necessária a
‫ ۍ‬n ‫ې‬ utilização de um único valor de Es, o do topo da
IȡF ‫ێ‬෍൫H . Į ‫ۑ‬
ȡk = ȡHkj ൯ +Hk ‫ۑ‬ (2) estaca, na equação (2).
Es .L ‫ێ‬ j
‫ ێ‬j=1 ‫ۑ‬ Para obter o valor de ĮȡHkj, é preciso definir o
‫ ۏ‬jk ‫ے‬ fator de flexibilidade (Kr) da estaca.

Ep . Ip
onde: Kr = (3)
ȡk = deslocamento da estaca k do grupo; Es . L4
IȡF = fator de influência para deslocamentos
devido à força horizontal aplicada no topo da onde:
estaca com topo engastado, fornecido por meio Ep = módulo de elasticidade da estaca;
de um ábaco. Ip = momento de inércia da seção da estaca;
Es = módulo de elasticidade do solo; Es = módulo de elasticidade do solo;
Hj = carregamento na estaca j; L = comprimento da estaca.
ĮȡHkj = valor para duas estacas, correspondente
ao espaçamento entre as estacas k e j e o ângulo

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Utilizando o valor de Kr é possível determinar destes valores, torna-se possível determinar as
o fator de influência (IȡF) por meio de ábaco do forças horizontais e também o deslocamento de
fator de influência fornecido por Poulos e cada estaca.
Davis (1980) em sua literatura.
Os mesmos autores apresentam uma série de
outros ábacos, como o da Figura (3), que variam 3 IMPLEMENTAÇÃO EM PLANILHA
conforme o ângulo (ȕ), a distância (s), o fator de ELETRÔNICA
flexibilidade da estaca (Kr), o comprimento da
estaca (L) e seu diâmetro (d). Os autores ainda Primeiramente, designou-se um campo para
consideram o solo como um meio elástico receber os dados do solo, do bloco e do material
contínuo e observam que a variação do da estaca. Sendo estes dados o comprimento L da
coeficiente de Poisson (Ȟs) não influencia estaca, o módulo de elasticidade do solo Es, os
significativamente nos resultados de fatores Fȡf e Iȡf, a força total aplicada no centro
deslocamentos. Por isso, o valor adotado para o do bloco Hg, o diâmetro das estacas do bloco †,
coeficiente foi de 0,5. Com estes dados é os espaçamentos sA e sB representados na
possível determinar o valor para ĮȡHkj. Figura (4), e o valor aproximado de Kr.

Figura 4 - Bloco de 6 estacas: divisão da força e


espaçamentos sA e sB

Devido à complexidade do cálculo, foram


feitas mais de uma planilha, sendo cada uma para
um tipo de bloco de estacas específico. Neste
trabalho serão apresentados blocos regulares de
5, 6, 7, 8 e 16 estacas e um irregular de 5 estacas
(5I).
Foi definida a Equação (4) do somatório das
Figura 3. Ábaco para ĮȡHkj adaptado de Poulos e Davis forças das estacas do bloco. A resolução desta
(1980). equação depende do número de estacas de cada
bloco e da forma como a força Hg é dividida para
Poulos e Davis (1980) assumem que o cada estaca do conjunto.
somatório das forças que são aplicadas em cada As Figuras (5), (6), (7), (8) e (9) apresentam as
estaca (Hj) é exatamente igual ao carregamento geometrias, as divisões de forças adotadas para
total aplicado (Hg) no bloco, ou seja, as estacas cada bloco e os espaçamentos escolhidos durante
recebem todo o carregamento aplicado, como o desenvolvimento do traballho a serem
mostra a Equação (4). inseridos na planilha eletrônica para cada caso.
n

Hg = ෍ Hj  (4)
j=1

A distribuição das forças horizontais ocorre de


acordo com a geometria do bloco. A Figura (4)
apresenta o modelo de distribuição das cargas, Figura 5. Bloco de 5 estacas regular com divisão de
forças
sugerido por Poulos e Davis (1980). Partindo

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ábacos disponibilizados pelo autor em seus
livros. A obtenção destes de forma manual pode,
em alguns casos, acarretar na perda de precisão,
além de tornar o método mais demorado e
trabalhoso.
Juntamente com a implementação em planilha
eletrônica, foi feita a digitalização de todos os
Figura 6. Bloco de 5 estacas irregular com divisão de ábacos fornecidos pelos autores por meio do
forças programa WebPlotDigitizer® (Ankit Rohatgi,
2010). Com isso, foram obtidas as equações de
cada curva, de cada ábaco, e tornou-se possível a
criação de uma planilha mais completa e
dinâmica, onde se dispensa a consulta dos
valores para ĮȡHkj, pois eles são gerados
automaticamente, sendo necessário apenas a
inserção de dados referentes ao próprio solo e ao
bloco de estacas. Isto proporcionou uma grande
economia de tempo para o estudo.
Para cada bloco foi possível criar um número
Figura 7. Bloco de 7 estacas regular com divisão de forças
diferente de equações para o deslocamento. O
que define este número de equações é o número
de forças diferentes que surgem com a divisão de
Hg. Para melhor explicar esta situação, será
adotado um bloco com seis estacas para o
restante do desenvolvimento desta metodologia.
Para este caso específico, existem duas forças
diferentes atuando no topo das estacas, como é
possível perceber pela Figura (4). Isso implicou
em duas equações (Equações 5 e 6) de
Figura 8. Bloco de 8 estacas regular com divisão de forças deslocamento, uma para H1 e outra para H2.

ɏ
ɏ ൌ ሾሺ ͳ Ǥሺͳ൅Ƚͳ͵ ൅ȽͳͶ ൅Ƚͳ͸ ሻ
• Ǥ (5)
൅ሺ ʹ ǤሺȽͳʹ ൅Ƚͳͷ ሻሿ

IȡF
ȡk = [ሺH1 .(Į21 +Į23 +Į24 +Į26 ሻ
Es .L (6)
+ሺH2 .(1+Į25 ሻ]

Utilizando as equações (4), (5) e (6), monta-se


um sistema com 3 equações para 3 incógnitas.
Em planilha eletrônica é possível resolver um
Figura 9. Bloco de 16 estacas regular com divisão de sistema de diversas formas, mas a mais simples
forças delas é por meio de multiplicação matrizes.
Com o desenvolvimento da multiplicação de
O estudo das interações entre estacas proposto matrizes, obtém-se os valores para deslocamento
por Poulos e Davis (1980) requer a leitura de e forças horizontais de cada estaca.
alguns fatores como ĮȡHkj e IȡF, por meio de

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4 RESULTADOS Os blocos propostos pelo estudo que
apresentavam maior simetria foram os de 5 e de
A planilha desenvolvida tornou muito rápido o 16 estacas. Foi possível perceber que quanto
cálculo da divisão das forças e também dos maior o número de estacas do bloco, maior é a
deslocamentos dos blocos estudados. Isso porcentagem da diferença entre as forças
permitiu que fossem supostas diversas situações calculadas pela geometria e as forças igualmente
para serem analisadas. distribuídas.
As maiores forças calculadas (Caso 2A)
4.1 Divisão da Força Aplicada no Bloco para representaram as estacas com maior risco de
as Estacas subdimensionamento, pois em todos os casos
estudados, a maior força presente no bloco era
É comum assumir que a força horizontal sempre superior ao caso 1. Em blocos como o de
aplicada no centro do bloco se divide de forma 16 estacas, a diferença percentual superou 50 %
igualitária para todas as estacas a ele ligadas. A a mais de carregamento.
primeira análise constituiu em comparar esta Para as menores forças de cada bloco (Caso
força, igualmente dividida, com a proposta de 2B), identificou-se a possibilidade de um
Poulos e Davis (1980), na qual a divisão da força superdimensionamento, pois a carga suportada
se dá pela geometria do bloco. É importante nestas estacas é bem inferior ao valor estimado
ressaltar, que a proposta da divisão da força pela divisão igualitária. Este comportamento foi
aplicada no bloco para as estacas, independe do observado, principalmente, no bloco de 5 estacas
diâmetro das mesmas. irregular, no qual ultrapassou o valor de 60 % a
menos de carga.
Tabela 1. Comparação da divisão de forças:
Modelo Atual x Modelo Proposto. 4.2 Comparação de deslocamentos para
Caso1 Caso Dif. Caso 2B Dif. Blocos Regulares e Irregulares
Bloco
(kN) 2A (kN) (%) (kN) (%)
5I 20 28,68 43 7,53 -62 Blocos mais irregulares apresentaram, durante o
5 20 22,68 13 9,30 -54 desenvolvimento do trabalho, maior variação na
6 16,67 19,65 18 10,69 -36 distribuição dos valores das forças nas estacas.
7 14,29 16,68 17 10,79 -24 Para garantir que o número de estacas não fosse
8 12,5 15,10 21 9,56 -24 mais uma variável na análise, foram avaliados os
16 6,25 9,62 54 5,38 -14 blocos de 5 estacas regular e irregular (Figuras 5
e 6). Isso permitiu uma análise da influência da
Na Tabela (1) o caso 1 corresponde ao valor da geometria dos blocos nos deslocamentos.
força (Hg = 100kN) dividida igualmente pelo
número de estacas do bloco. Já o caso 2 Tabela 2. Deslocamentos Blocos de 5 Estacas
representa os valores das forças divididas de Regular Irregular
d (cm) ȡ (mm) ȡ (mm)
acordo com a geometria de cada bloco, sendo o
caso 2A a maior força e o caso 2B a menor. Além 30 2,05 1,42
disso, são apresentadas as diferenças percentuais 40 1,54 1,07
entre os casos 2 e 1.
50 1,23 0,85
Para obter os resultados expressos na
Tabela (1) foram adotados: um diâmetro fixo de 60 1,02 0,71
50cm, um mesmo tipo de solo (Es = 40 MPa), 70 0,88 0,61
uma mesma força de 100 kN, um espaçamento 80 0,77 0,53
de três vezes o diâmetro e um comprimento de 90 0,68 0,47
dez vezes o diâmetro. Variou-se apenas o 100 0,61 0,43
número de estacas do bloco. Tornou-se possível
observar que, quanto menos simétrico eram os Quando se comparou os deslocamentos
blocos, mais discrepantes eram os valores das calculados para os dois blocos, representados na
forças entre os dois casos. Tabela (2), percebeu-se que o de geometria mais

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irregular apresentou menores deslocamentos, de forças máximas encontradas por meio do
para um mesmo valor de força aplicada ao centro cálculo.
do bloco, mesmas condições de solo e mesmo Para blocos em que se tem menor número de
sentido de aplicação da força. estacas, as diferenças de valores entre a divisão
pela geometria e a divisão média da carga, não
6 CONCLUSÕES foram muito expressivas. Mesmo assim, conclui-
se, que existe a necessidade de se encontrar as
A análise de Poulos e Davis (1980) para grupos forças por meio da geometria do bloco para o
de estacas é um pouco extensa e necessita da dimensionamento de uma estrutura de
avaliação de fatores como ĮȡHkj, que devem ser fundações. Pois assim, se trabalha a favor da
retirados de ábacos fornecidos pelos mesmo segurança.
autores. Com a digitalização destes ábacos, Para trabalhos futuros, se sugere um estudo
facilitou-se a resolução do método e foi voltado para o aprimoramento da planilha
garantida maior precisão nos resultados eletrônica do método de Poulos e Davis (1980),
encontrados. Porém, o processo de digitalização inserindo como parâmetros de avaliação a
e implementação em planilha foram heterogeneidade das camadas de solo. Além
extremamente trabalhosos e demandaram muito disso, pode-se também utilizar a digitalização de
tempo. ábacos para facilitar o dimensionamento para
Após implementação da metodologia de carregamentos verticais de fundações.
Poulos e Davis (1980), fez-se a avaliação da
distribuição do carregamento horizontal em
grupos de 5, 6, 7, 8 e 16 estacas. Foi possível AGRADECIMENTOS
efetuar uma comparação entre os valores de
carregamento horizontal suportado por cada Ao Prof. Dr. Maurício Martines Sales,
estaca tendo em vista a metodologia referenciada gostaríamos de agradecer pela paciência e pela
e a metodologia tradicional de distribuição partilha de conhecimento que tanto nos ajudou
igualitária de forças entre as estacas. Pode-se neste trabalho.
observar uma distribuição heterogênea deste
carregamento. Em geral, as estacas mais externas REFERÊNCIAS
nos blocos receberam maiores forças, enquanto
as mais internas suportaram menores forças. Meneses, P. J. B. de S. Grupos de estacas sob
Com os resultados de distribuição pode-se inferir acções horizontais, análise com recurso a
a possibilidade de um dimensionamento multiplicadores-p., 2007. Universidade
equivocado ao se assumir divisão igualitária da Técnica de Lisboa, Dissertação (Mestrad em
força. Além disso, não foi possível perceber Engenharia Civil), Lisboa, 2007.
qualquer influência da variação dos diâmetros na Nip, D. C. N.; Ng, C. W. W. Back – Analysis of
divisão das forças para as estacas. Laterally Loaded Bored Piles. Geotechnical
A constatação da ocorrência de cargas Engineering, 158, Issue GE2, p. 63-73. (2005)
diferentes nas estacas, permite que se faça um Poulos, H. G.; Load-deflection prediction for
dimensionamento específico para cada elemento laterally-loaded piles. Australien
do conjunto. Isso permite uma otimização do Geomechanics Jour., Vol G3, No. 1, pp 1-8,
detalhamento das armaduras de tal forma que 1973a.
somente se utilize a armadura necessária em Poulos, H. G.; Davis, E. H. Pile foundation
função do esforço identificado. Para grandes analysis and design. John Wiley & Sons Inc.,
blocos, como o de 16 estacas, a sugestão de New York, 1980.
dimensionamento estrutural é que se adote a WebPlotDigitizer®. Ankit Rohatgi, 2017.
força média para as estacas que estariam sendo
superdimensionadas, ou seja, aquelas que
recebem força menor que a média. Para as outras
estacas, sugere-se que sejam adotados os valores

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Análise do desempenho de fundações para a construção de obras
de arte especial em área urbana de Brasília-DF
Neusa Maria Bezerra Mota
UniCEUB, Brasília, Brasil, neusa.mota@uniceub.br

Gabriela de Athayde Duboc Bahia


UniCEUB, Brasília, Brasil, gabriela.bahia@uniceub.br

Gustavo Soares Araújo


Via Engenharia, Brasília, Brasil, gustavo.araujo@grupovia.com

RESUMO: Este trabalho apresenta os resultados de duas provas de carga realizadas em estaca tipo
raiz, com 0,41 m de diâmetro, para análise de desempenho das fundações de dois viadutos
rodoviárias 09L e 09W, similares, localizadas em área urbana do plano piloto de Brasília-DF,
conhecido como Trevo de Triagem Norte. Foi realizada a determinação da capacidade de carga e
recalque das estacas, em comparação com a previsão de projeto. Para a realização do trabalho foram
realizadas estimativas de capacidade de carga por meio do método de Van der Veen (1953) e do
método da NBR 6122 (ABNT,2010), com o intuito de analisar a aplicabilidade dos mesmos e
comparação dos resultados obtidos por meio de cada análise. Os resultados mostraram que os
métodos de extrapolação da curva forneceram valores próximos à carga máxima do ensaio. Na
carga de trabalho prevista em projeto para as OAE’s 09L e 09W constaram-se diferenças
significativas em termos de recalque, correspondente a 1,20% e 0,05% do diâmetro da estaca,
respectivamente, e foram de fundamental importância para auxiliar o projetista na tomada de
decisão quanto a adequabilidade do projeto a realidade local.

PALAVRAS-CHAVE: Desempenho, Prova de carga, Fundações, Obra de arte especial.

1 INTRODUÇÃO porque ela determina o comportamento real da


estaca quando submetida a um carregamento
Sabe-se que para o desenvolvimento de um estático.
projeto de fundações são imprescindíveis a Na execução de obras de arte especiais
determinação da capacidade de carga (OAE’s), exige-se uma maior cautela e acurácia
admissível e a previsão dos recalques dos para a elaboração dos projetos, devido a
elementos de fundações. complexidade da obra, que envolve uma grande
Ainda que existam métodos semi-empíricos variedade de especialidades.
e analíticos para a determinação da capacidade Sabendo da dificuldade envolvida para a
de carga admissível das fundações, a prova de realização de um projeto de OAE’s e da
carga estática é o método recomendado pela importância de avaliar o desempenho das
NBR 6122 (ABNT, 2010) para obtenção da fundações durante a sua execução, este artigo
capacidade admissível (ou carga resistente de apresenta os resultados de duas provas de carga,
projeto) de estacas, tanto na fase de elaboração em estaca raiz, pertencentes ao projeto de
do projeto, como para análise do seu fundação de dois viadutos rodoviários 09L e
desempenho após a execução do projeto. Isso 09W, similares, localizadas em área urbana do

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plano piloto de Brasília-DF, de forma a analisar em se arbitrar um valor de carga de ruptura Qult
o desempenho das suas fundações. e verificar se os pontos da curva carga-recalque
satisfazem ou não a equação 1, (Aviz, 2006):

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Q = Qult . (1-e-ɲ . r ) (1)

2.1 Considerações Gerais Sendo:

Os projetos de fundações exigem a execução de Q: Carga vertical aplicada em determinado


investigações do subsolo que determinem a estágio de carregamento;
capacidade de carga do terreno de fundação. r: é o correspondente recalque medido no topo
Dessa forma, os projetos devem ser concebidos da estaca;
com base na caracterização geotécnica e Į: é o coeficiente que define a forma da curva.
geológica do local onde serão implantadas as
estruturas especiais, com o mínimo de O método de rigidez de Decourt (1996)
desperdício possível de concreto. considera que a ruptura da fundação ocorre
De acordo com a NBR 6122 (ABNT, 2010), quando sua rigidez tende a zero.
é obrigatória a execução de provas de carga O método da NBR 6122 (ABNT, 2010)
estática (PCE) em no mínimo 1% da quantidade recomenda nos casos de não haver ruptura
total de estacas, arredondando-se sempre para durante a execução do ensaio, estimar o valor
mais, em obras com estaca raiz que tiverem um da carga limite na interseção da curva carga-
número mínimo superior a 75 (setenta e cinco) recalque com a reta definida pela equação 2
estacas. No caso dos viadutos em estudo, tem-se (Aviz, 2006):
44 (quarenta e quatro) estacas na OAE 09L e 44
(quarenta e quatro) estacas na OAE 09W. ஽ ொ௅
൅ (2)
ଷ଴ ஺ா
2.2 Prova de Carga
Sendo:
A prova de carga estática é realizada com o
objetivo de obter os valores de carga D: Diâmetro do círculo circunscrito à estaca;
admissíveis de uma fundação e os seus Q: carga;
deslocamentos resultantes. L: comprimento total da estaca;
A etapa mais apropriada para a sua A: área da seção transversal da estaca;
realização é durante a fase de elaboração ou E: módulo de elasticidade da estaca.
adequação do projeto, ou seja, antes da
execução das fundações (Bahia, 2013). Isso
porque a execução da prova de carga permite 3 METODOLOGIA
otimizar os projetos de fundações, minimizando
os custos e desperdícios de concreto, ou então 3.1 Caracterização da Obra e do Subsolo
apontam a necessidade de alteração do projeto
ou mesmo o reforço das fundações. Os viadutos rodoviários em estudo estão sobre o
Dentre os critérios utilizados para estimativa lago Paranoá, área urbana do Plano Piloto de
de carga de ruptura, destaca-se o critério de Van Brasília e ligam a Asa Norte ao Lago Norte e
Der Veen (1953), o método de rigidez do região norte do DF, como Planaltina e
Décourt (1996) e o método da NBR 6122 Sobradinho, e marcam o extremo norte do Eixo
(2010). Esses métodos foram desenvolvidos Rodoviário de Brasília, conforme observado na
para extrapolação da curva carga-recalque figura 1. Ao norte dos viadutos, existem a DF-
exclusivamente para fundações submetidas à 007, conhecida como Estrada Parque Torto
compressão axial (Zammataro et al, 2003). (EPTT), que dá acesso à Granja do Torto e
O critério de Van Der Veen para a à DF-003; e a DF-005, denominada Estrada
extrapolação da curva carga-recalque consiste Parque Península Norte (EPPN).

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Enquanto o solo da região do viaduto 09L foi
caracterizado em: de 0,00 m a 1,00 m aterro em
argila arenosa com matéria orgânica; de 1,00 m
a 7,00 m argila arenosa mole; de 7,00 a 13,00 m
argila siltosa, mole a rija; de 13,00 m a 15,00 m
silte argiloso duro; de 15,00 m a 19,00 m silte
argilo-arenoso duro; e 19,00 m a 20,00 m silte
argilo-arenoso, duro, com pedregulhos,
conforme observado na figura 3.
Figura 1. Localização da obra: OAE’s 09L e 09W.

Devido a intensidade do tráfego diário sobre


o viaduto principal já existente, cerca de 80 mil
veículos, houve a necessidade de duplicação da
capacidade de tráfego do viaduto principal, o
que motivou a execução de dois novos viadutos,
OAE’s, 09W e 09L, que somados possuem a
mesma capacidade do viaduto principal, 09C
que será demolido e reconstruído.
As fundações dos viadutos 09W e 09L foram
em estacas raiz, sendo a 09W com diâmetro de
0,41 m e profundidade aproximada de 13,0 m e
a 09L com diâmetro de 0,41 m e profundidade
aproximada entre 19,0 m a 25,0 m. Figura 3. Perfil característico no local da OAE 09L
Foram realizados sete furos de sondagem
mista, três na região do viaduto 09L e quatro na 3.2 Provas de Carga
região do viaduto 09W, os quais perfizeram em
média vinte metros de profundidade. Dessa As provas de carga estáticas foram do tipo
forma, o solo da região do viaduto 09W foi lenta. A locação das provas de carga pode ser
caracterizado em: de 0,00 m a 1,00 m aterro em observada nas figuras 4 e 5.
argila arenosa com matéria orgânica; de 1,00 m
a 9,00 m argila arenosa muito mole a média; de
9,00 a 13,00 m silte argilo-arenoso com
pedregulho duro; de 13,00 m a 18,00 m silte
argilo-arenoso duro; 18,00 m a 20,00 m silte
argilo-arenoso com pedregulho, (figura 2).

Figura 4. Localização da prova de carga da OAE 09W.

Figura 5. Localização da prova de carga da OAE 09L.


Figura 2. Perfil do solo no local do viaduto 09W

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As provas de carga foram realizadas nos dias A PC2 foi iniciada por uma carga de 255,1
26 e 27 de setembro de 2016 (PC1), pertencente kN e os demais estágios foram incrementados
ao viaduto 09W, e nos dias 16 e 17 de de 255,1 kN em relação ao estágio anterior,
novembro de 2016 (PC2), do viaduto 09L. mantendo-se a carga até a estabilização dos
Para a realização da prova de carga PC1, deslocamentos, no mínimo em 30 (trinta)
pertencente a OAE 09W, foi utilizada uma minutos, conforme NBR 12131 (ABNT, 2006).
estaca pertencente à obra, com diâmetro de 0,41 A PC2 foi conduzida até a carga de 2550,6
m e profundidade aproximada de 15,0 m. O kN e foi mantida por 12 (doze) horas. Em
bloco de coroamento apresentou dimensões de seguida foi realizada a descarga em 4 (quatro)
0,70 x 0,70 x 0,70 m, com topo a 0,15 m acima estágios de 637,6 kN, mantendo-se por um
do solo e resistência de 30 MPa. tempo de estabilização mínimo de 15 (quinze)
Para a realização PCE, adotou-se como minutos ou o tempo necessário a estabilização.
sistema de reação viga metálica ancorada com 1 O comportamento da curva carga-recalque
(um) tirante de 63 mm de diâmetro em cada pode ser analisado conforme figura 6.
uma das estacas de reação, as quais
apresentaram diâmetro de 0,41 m e
comprimento de 18 m, resistência característica
de 25 MPa, e estavam afastadas de 2,35 m de
distância do eixo da estaca ensaiada.
O peso total instalado sobre a estaca de ação
foi de aproximadamente 700 kg, sendo a
resistência característica da estaca de 25 MPa.
A PC1 foi iniciada por uma carga de 206,0
kN e os demais estágios foram incrementados
de 206,0 kN em relação ao estágio anterior,
mantendo-se a carga até a estabilização dos Figura 6. Curva carga x recalque teórica (Massad, 1992)
deslocamentos, no mínimo em 30 (trinta)
O trecho 0-3, retilíneo, ocorre devido a fase
minutos, conforme NBR 12131 (ABNT, 2006).
pseudo-elástica de mobilização do atrito lateral.
A PC1 foi conduzida até a carga de 2060,1
O ponto 3 aponta o instante que o atrito lateral
kN e foi mantida por 12 (doze) horas. Em
atinge o seu valor máximo no topo da estaca.
seguida foi realizada a descarga em 4 (quatro)
O trecho 3-4, curva ou parábola, apresenta o
estágios de 515,0 kN, mantendo-se por um
avanço do atrito lateral ao longo do fuste.
tempo de estabilização mínimo de 15 (quize)
O trecho 4-5 ocorre a mobilização da
minutos ou o tempo necessário a estabilização.
resistência de ponta, trecho pseudo-elástico.
Para a PC2, prova de carga do viaduto 09L,
O trecho 5-6 representa o valor máximo
foi utilizada uma estaca não pertencente à obra,
atingido pela ponta da estaca e carga máxima
cujo diâmetro foi de 0,41 m e a profundidade de
total da estaca.
14,0 m. O bloco de coroamento apresentou
O trecho 6-7 apresenta o descarregamento
dimensões de 0,70 x 0,70 x 0,62 m, com topo a
correspondente ao primeiro trecho (0-3).
0,15 m acima do solo e resistência de 30 MPa.
O trecho 7-8, curvilíneo, corresponde ao
Para a realização da PC2, adotou-se como
descarregamento do trecho 3-4.
sistema de reação viga metálica ancorada com 1
O trecho 8-9 corresponde ao
(um) tirante de 60 mm de diâmetro em cada
descarregamento que se comporta como trecho
uma das estacas de reação, as quais
retilíneo, conforme o trecho inicial da curva.
apresentaram diâmetro de 0,41 m e
comprimento de 18 m, resistência característica
de 20 MPa, e estavam afastadas de 2,35 m de
4 ANÁLISES E RESULTADOS
distância do eixo da estaca ensaiada.
O peso total instalado sobre a estaca de ação
A seguir apresentam-se os resultados da prova
foi de aproximadamente 700 kg, sendo a
de carga da PC1 (figura 7) e da PC2 (figura 8)
resistência característica da estaca de 20 MPa.
em termos de recalque último medido e da

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carga aplicada em escala logarítimica. 0 500 1000
Carga (kN)
1500 2000 2500
0,0

Carga Aplicada (kN) y=6EͲ05xͲ 0,0008


R²=0,9868
100,0 1000,0 10000,0 0,1
0

0,2 y=0,0002xͲ 0,1045


10 R²=0,9745

Recalque (mm)
0,3

Recalque (mm)
20

0,4
30 Bloco+Fuste
y=0,0003xͲ 0,2105
Bloco+Fuste+Ponta R²=0,9998
0,5
40 Plastificação

0,6
50
MédiadosExtensômetros Figura 10. Curva PC2 – 09L – equações dos trechos
Figura 7. Curva carga recalque PC1 – 09W.
Na figura 9 observa-se uma mudança de
comportamento para a estaca na carga de
1371,6 kN enquanto na figura 10 essa mudança
ocorre na carga de 661,9 kN. A partir dessas
cargas o conjunto bloco-fuste-base começa a
trabalhar até a carga de aproximadamente
2226,1 kN para a PC1 e de 1215,8 kN para a
PC2. A partir desses carregamentos o conjunto
solo-estaca indica sinais de plastificação global,
o que não significa necessariamente a ruptura,
Figura 8. Curva carga recalque PC2 – 09L. apenas aponta para a carga a partir da qual os
recalques passam a ser mais significantes.
Nestas figuras observa-se que as estacas da Nas figuras 11 e 12, têm-se os resultados das
OAE’s 09W e 09L apresentaram recalques estimativas de carga de ruptura pelo método de
finais de 42,63 mm, o que corresponde a Van der Veen da PC1 e PC2, respectivamente.
10,40% do diâmetro da estaca e 0,50 mm, o que
corresponde a 0,12% do diâmetro da estaca,
respectivamente. Na carga de trabalho de
1275,3 kN da PC1 a deformação foi de
aproximadamente 4,93 mm, o que corresponde
a 1,20% do diâmetro da estaca, enquanto na
carga de 1275,3 kN da PC2 a deformação foi de
aproximadamente 0,21 mm, o que corresponde
a 0,05% do diâmetro da estaca.
As figuras 9 e 10 apresentam as curvas
carga-recalque indicando as linhas de tendência Figura 11. Resultado PC1– 09W método Van der Veen
e suas equações nos trechos verificados da PC1
e PC2, respectivamente.

Carga (kN)
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
0

y=0,0037xͲ 0,4237
R²=0,9449
10

y=0,0236xͲ 28,524
R²=0,9805
Recalque (mm)

20

30
y=0,0396xͲ 64,007
R²=1
Bloco+Fuste
40
Bloco+Fuste+Ponta
Plastificação
Figura 12. Resultado PC2 – 09L método Van der Veen
50

Figura 9. Curva PC1 – 09W – equações dos trechos Por meio da figura 11 é possível observar que a

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carga de ruptura foi estimada em 2800 kN. projeto.
Enquanto na Figura 12 observa-se que a carga
de ruptura foi estimada em 3000 kN. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na figura 13 tem-se o resultado da
estimativa de carga de ruptura obtida pelo Os resultados de prova de carga apresentados
método NBR 6122 (ABNT, 2010), para a PC1. neste artigo subsidiaram o projetista quanto à
Observa-se que o valor estimado para a carga definição do comportamento das estacas sob
de ruptura da estaca foi de 2138,6 kN com carregamentos verticais.
recalque de 22,72 mm Na carga de trabalho prevista em projeto de
1275,3 kN para as OAE’s 09W e 09L, estacas
ensaiadas com 0,41 m e comprimentos de 15 m
e 14 m, constaram-se diferenças significativas
em termos de recalque, correspondente a 1,20%
e 0,05% do diâmetro da estaca,
respectivamente, porém valores inferiores a 10
mm de deformação, valor característico de
recalque para este tipo de obra, o que
possibilitou a conformidade das referidas
estacas para o empreendimento.
Destaca-se, neste caso, a variabilidade
Figura 13. Resultado - NBR 6122/10 PC1– 09W geotécnica e a importância da execução de
prova de carga estática, conforme prevê a NBR
No caso da PC2, não foi possível obter a 6122 (ABNT, 2010), para análise de
estimativa de carga por meio do método da desempenho das fundações de obras de arte
NBR6122 devido ao pequeno recalque sofrido especiais, na fase de exceção da obra, no seu
pela estaca, que superestimou a carga. início, para auxiliar o projetista na tomada de
Vale ressaltar que o método de Van der Veen decisão quanto a adequabilidade do projeto a
para as estimativas de carga de ruptura deve ser realidade local.
utilizado com cautela quando utilizados para Por fim, os métodos de extrapolação da
recalques muito pequenos, pois em geral o curva forneceram valores próximos à carga
método superestima este valor de carga. máxima do ensaio, sendo o método da NBR
Destaca-se, que os métodos de previsão de 6122 mais conservador que o método de Van
carga de ruptura representam estimativas. der Veen, que se mostrou adequado a realidade
Na Tabela 1 tem-se em resumo os recalques local.
correspondentes as cargas de trabalho previstas
em projeto para as OAE’s 09L e 09W.
REFERÊNCIAS
Tabela 1. Recalques para as capacidades de carga de
projeto
ABNT (2006). Estaca – Prova de carga estática – Método
Carga de Recalque de ensaio: NBR-12131. Associação Brasileira de
OAE
trabalho (kN) (mm) Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ, 8p.
09L 0,21 ABNT (2010). Projeto e execução de fundações: NBR-
1275,3 kN
09W 4,93 6122. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio
de Janeiro, RJ, 91p.
Na análise de desempenho das fundações, Aviz, L. B. M. (2006). Estimativa da capacidade de carga
com tipologias similares e em regiões de estacas por métodos semi-empíricos e teóricos.
estratigráficas próximas, para OAE’s estudadas Dissertação de mestrado em engenharia civil, PUC-
RIO, p.128.
é possível observar a influência da variabilidade Bahia, G. A. D. (2013). Análise do desempenho de
geotécnica da obra, sendo necessário que o fundações durante a construção de edifício localizado
projetista considere em projeto comportamento no DF. Monografia, Engenharia Civil, UniCEUB, DF,
distintos das fundações e novas definições de 183p.
capacidade de carga a serem adotadas em Decourt, L (1996). A ruptura de fundações avaliada com
base no conceito rigidez, III SEFE; São Paulo, v. 1,

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



pp. 215-224.
Massad, F. Sobre a interpretação de provas de carga em
estacas, considerando as cargas residuais na ponta e a
reversão do atrito lateral. Parte I: Solos relativamente
homogêneos. Solos e Rochas, São Paulo, v. 15, n. 2,
p. 103-115, 1992.
Van der Veen, C. (1953). The bearing capacity of a pile.
III Int. Conf. On Soil Mech. And Found. Eng., Zurich,
v. 2, p. 125-151.
Zammataro, B. B.; Albuquerque, P. J. R.; Carvalho, D.
C.; Menezes, S. M. (2003). Utilização dos métodos de
previsão de carga de ruptura à compressão, em provas
de carga horizontais. São Paulo, p. 10.

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Análise e Proposta de Recuperação de um Processo Erosivo de
Grandes Dimensões, Localizado no Município de Planaltina/GO
Rideci Farias.
UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

Rhael Maycon Noronha Ribeiro.


Universidade Católica de Brasília (UCB), Brasília, Brasil, rhaelmaycon@gmail.com

Haroldo Paranhos.
UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, reforsolo@gmail.com

Itamar de Souza Bezerra.


Maccaferri, Goiânia, Brasil, itamar@maccaferri.com.br

RESUMO: O rápido processo de crescimento das áreas urbanas no país, com ocupações e poucos
cuidados ao meio físico, tem ocasionado sérios e numerosos problemas erosivos. Na região central
do Brasil, a situação não é muito diferente, requerendo intervenções urgentes com vistas à
recuperação das áreas degradadas. Nesse contexto, um processo erosivo de grandes dimensões
localizado no município de Planaltina/GO evolui há mais de duas décadas principalmente pelo
avanço da ocupação humana aliado a sistemas de drenagem pouco condizentes com a situação
local, mas também à falta de intervenções adequadas que tem contribuído para a conversão de
encostas com elevado grau de instabilidade e riscos às áreas adjacentes. Assim sendo, este Artigo
busca apresentar uma análise e proposta de recuperação para o processo erosivo em questão com o
objetivo de aproveitamento da área a ser recuperada para o lazer, esporte, educação, entre outros.

PALAVRAS-CHAVE: Recuperação, Erosão, Planaltina/GO, Uso e Ocupação do Solo

1 INTRODUÇÃO PLANALTINA/GO

Os constantes problemas relacionados a O município de Planaltina/GO (Coordenadas


processos erosivos causam preocupações 15° 27' 10" S e 47° 36' 50") localiza-se na
diversas de forma que os autores deste Artigo Mesorregião do Leste Goiano na Microrregião
têm acompanhado uma erosão localizada no do Entorno do Distrito Federal, com limites aos
município de Planaltina, Estado de Goiás, desde municípios de Formosa, Água Fria de Goiás,
o ano de 2007. Dentro desse contexto, este Mimoso de Goiás e Padre Bernardo. A distância
trabalho objetiva apresentar uma análise e até a Capital Federal é próximo de 63 km. O
proposta de recuperação para o processo município está na Região Integrada de
erosivo em questão com vistas ao Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno
aproveitamento da área a ser recuperada com (RIDE), região integrada de desenvolvimento
destinação ao lazer, esporte, educação, entre econômico, criada pela Lei Complementar nº
outros. 94, de 19/02/1998.

3 ASPECTOS GERAIS
2 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE

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3.1 Síntese do Clima da Região Distrito Federal. Assim pela proximidade da
região, a seguir, alguns modelos que tentam
O clima da região, segundo a classificação traduzir o tipo de ocorrência.
climática de Köppen, compreende: clima Costa (1981) estudou sobre erosões na
tropical de savanas, clima tropical de altitudes cidade do Gama (DF) e classificou dois tipos
entre 1.000 e 1.200 metros com temperatura do principais de ocorrência, a erosão laminar e as
mês mais frio inferior a 18°C e meses mais voçorocas. As análises de evolução das erosões,
quente com média superior a 22°C, chuva de classificou o desenvolvimento da erosão em
verão e seca no inverno, e o clima tropical. A quatro fases:
precipitação anual média é da ordem de 1.600 I - na primeira fase ocorre a formação da
mm. Em outubro inicia-se a estação chuvosa, erosão superficial e em sulcos;
em que a ação mecânica das gotas de chuva II - na segunda fase há o aprofundamento em
sobre a superfície do solo ressecado pela seção “V” até atingir a rocha decomposta;
prolongada estação seca pode provocar erosão III - na terceira fase ocorre o
com maior intensidade nas áreas mais desenvolvimento na rocha decomposta com
inclinadas. Nos meses que se seguem, o escavações no sentido horizontal propiciando a
escoamento pluvial passa a atuar mais formação de uma seção em forma de “U”; e
intensamente até o mês de maio, quando as IV - na quarta fase ao nível de base da rocha
chuvas já são escassas. Informações sã, com alargamento de base e surgimento de
predominantes consultadas no sítio da novas erosões nos flancos.
Wikipedia, em julho de 2017. Mortari (1994) propôs um “Modelo
Encaixado” para evolução das erosões no
3.2 Síntese da Vegetação da Região Distrito Federal como sendo fruto dos
condicionantes geológico-geotécnicos e
O bioma cerrado abrange toda a área do
estruturais da região, principalmente da
município, do Distrito Federal, assim como os
orientação, mergulho das camadas dos
Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do
saprólitos e metassedimentos do domínio
Sul, parte do Mato Grosso, Oeste da Bahia e
geológico local. Pelo “Modelo Encaixado”, no
Oeste de Minas Gerais. Nesse bioma são
início do processo erosivo as voçorocas
registradas as ocorrências de vários tipos de
apresentam geralmente a forma em “V” e
vegetação como: cerradão; cerrado típico;
evoluem em profundidade, largura e extensão
cerrado ralo ou campo cerrado; campo sujo -
em função dos condicionantes hídricos e
tem composição florística semelhante a do
características geotécnicas do solo.
cerrado típico e a do cerrado ralo; campo limpo;
O processo evolui até atingir o substrato
mata ciliar; veredas; e, campos rupestres.
rochoso, que na região do Distrito Federal é
3.3 Síntese do Sistema Hidrográfico constituído, em sua maioria de ardósia e
metarritimitos que, face à tectônica atuante,
O sistema hidrográfico do município é apresentam seus estratos bastante inclinados,
caracterizado por cursos d'água que apresentam com mergulho das camadas da ordem de 40º a
características típicas de drenagem de área de 60º.
planalto onde são frequentes os desníveis e os O fluxo d’água ao atingir esse contato, tende
vales encaixados. a se “encaixar” e fluir seguindo
aproximadamente a sua orientação e tendendo a
3.4 Modelo Evolutivo de Erosões para a se aprofundar, acompanhando o próprio
Região mergulho das camadas menos resistentes.
À medida que o encaixe se aprofunda, torna-
Há vários modelos que tentam traduzir os se mais evidenciado, e o material vai ficando
processos evolutivos das erosões para as mais mais resistente, tendendo a estabilizar o fundo
diversas localidades. No Centro-Oeste, diversos da erosão, com o desgaste da base passando a
estudos foram desenvolvidos para a Região do ser considerado um processo de erosão

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



geológica normal. Este tipo de comportamento
dificulta o meandro do canal de fundo, Erosão Estabilizada (Lado direito)
Córrego Lambari
impedindo a erosão lateral com alargamento da Corpo Principal
base (forma trapezoidal) até um perfil de Ramificação 02

equilíbrio com posterior desenvolvimento de


vegetação. No Distrito Federal e Região do
Erosão lateral (Lado esquerdo) Ramificação 01
Entorno, como o município de Planaltina, Fotos Fotos

ocorrem erosões tipicamente em forma de “V” e Fotos 79 a 90


4° Trecho
Fotos 73 a 78
3° Trecho
43 a 72
2° Trecho
7 a 42 Fotos 1 a 6
1° Trecho Cabeceira da Erosão

a profundidade está limitada à existência de Desenho sem escala

Figura 2. Croqui da erosão.


saprólitos.
4.1 Descrição de Cada um dos Trechos da
4 CARACTERIZAÇÃO DA EROSÃO Erosão
ESTUDADA
4.1.1 Primeiro Trecho
Processo erosivo constituído, no início, de duas
ramificações com extensão aproximada de 180 Estende-se desde o início da erosão até ao ponto
metros cada. Em seguida às duas ramificações, aproximado de 200 metros e é constituído de
a erosão é constituída de um corpo principal duas ramificações com aproximadamente 180
com extensão próxima de 2.340 metros e metros cada. Presença de vegetação formada
taludes variando a até próximo de 40 metros. por espécies de médio a pequeno porte
A erosão caracteriza-se por uma voçoroca de (mamonas, mangueiras, etc.) e espécies
grande dimensão, provocada, principalmente, rasteiras como braquiária. Adicionalmente, tem-
pelo deságue de duas drenagens existentes em se:
suas cabeceiras. Tal deságue é constituído de a) Ramificação 01 - Presença de drenagem
um tubo de 1200 mm, numa ramificação, e mais com tubo de 1200 mm; solo transportado com
dois tubos de 1500 mm, em outra ramificação. pequenos blocos de rocha. As bases dos taludes
O sedimento gerado na erosão provoca o são constituídas por rochas duras e rochas
constante assoreamento do córrego existente ao médias fraturadas.
final do processo erosivo principal. Próximo a b) Ramificação 02 – Presença de drenagem
1.080 metros há uma erosão lateral, lado com dois tubos de 1500 mm cada; rocha dura
esquerdo, com extensão aproximada de 54 estratificada e pequenos blocos de rocha.
metros e largura média de 14 metros. Próximo a As Figuras 3 a 5 mostram o deságue e vistas
1.680 metros há uma erosão lateral, do lado das ramificações.
direito com extensão aproximada de 320 metros
e largura média de 5 metros. A Figura 1
apresenta a visão geral do processo erosivo.

Figura 1. Localização do processo erosivo no município Figura 3. Deságue na ramificação 1.


Planalt ina/GO.
Para melhor compreensão, dividiu-se a
erosão em 4 (quatro) trechos principais,
conforme mostra a Figura 2.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Figura 4. Deságue na ramificação 2. Figura 7. Processo erosivo no segundo trecho.

4.1.3 Terceiro Trecho

Este trecho se estende, aproximadamente, a


partir da distância 680 metros do início da
erosão, e vai até a distância aproximada de 980
metros.
Verifica-se a predominância de taludes em
latossolo vermelho, latossolo amarelo e
cambissolos, e a surgência de água no vale da
erosão com a conseqüente saturação das bases
dos taludes. A Figura 8 apresenta uma vista do
Figura 5. Vista da ramificação 2.
processo erosivo no terceiro trecho.
4.1.2 Segundo Trecho

Estende-se 20 metros depois da junção das duas


ramificações, próximo de 200 metros do início
da erosão, e vai até cerca de 680m. Presença de
rocha friável macia, e predominância de
latossolo vermelho, latossolo amarelo e
cambissolo, blocos de rochas - assentes a rocha
dura na base dos taludes. Tal camada de rocha
até a altura de 2 metros. Presença de taludes em
rochas fraturadas. As Figuras 6 e 7 mostram
vistas do processo erosivo no segundo trecho.
Figura 8. Processo erosivo no terceiro trecho.

4.1.4 Quarto Trecho

Este trecho se estende, aproximadamente, a


partir da distância 980m do início da erosão, e
vai até a distância aproximada de 2.339,11m.
Verifica-se a predominância de solo de
alteração com alternância de latossolos, e a
surgência de água no vale da erosão com a
consequente saturação das bases dos taludes. As
Figuras 9 e 10 mostram vistas do processo
Figura 6. Processo erosivo no segundo trecho. erosivo no quarto trecho.

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A concepção do projeto parte com a
recuperação da área degradada pelo
disciplinamento correto das águas pluviais e a
preparação da infra-estrutura para instalação de
um parque linear composto de elementos
estruturados com reflorestamento, iluminação,
anfiteatro, quadras poliesportivas, pista para
skate, entre outros, de forma a beneficiar o
maior número de pessoas. De uma forma geral,
Parques Lineares são intervenções urbanísticas
que visam recuperar para os cidadãos a
Figura 9. Processo erosivo no quarto trecho (Foto de consciência do sítio natural em que vivem,
2007. A residência vista já foi consumida pela erosão).
ampliando progressivamente as áreas verdes, de
lazer, recreação, etc. Com vistas a instituir um
conjunto de ações, sob a coordenação do
Executivo, e participação de proprietários,
moradores, usuários e investidores em geral,
visando promover transformações urbanísticas
estruturais e a progressiva valorização e
melhoria da qualidade ambiental do município
incorporados ao Sistema de Áreas Verdes da
cidade. A infra-estrutura proposta para a área a
ser recuperada está descrita no Item 8.

Figura 10. Córrego assoreado ao final do processo


erosivo. 7 POPULAÇÃO A SER BENEFICIADA

A população a ser beneficiada compreende toda


5 RISCOS NO ENTORNO DA EROSÃO a do município de Planaltina, mais
especificamente a do bairro Setor Mansões do
Além da erosão como um todo se constituir Setor Oeste e suas áreas contíguas estimada em
como uma área de risco, há pontos específicos mais de 10.000 pessoas, segundo estima da
que merecem atenção especial, tais como as Prefeitura Municipal de Planaltina.
mostrada na Figura 11.

8 PROJETO PROPOSTO

A seguir, o resumo do projeto concebido.

8.1 Águas Pluviais

De uma forma geral o projeto consiste na


captação das águas superficiais e condução das
mesmas, de forma disciplinada, até o córrego
Lambari, localizado ao final da erosão. Ao
longo do trecho da erosão, outros lançamentos
Figura 11. Residência próxima à erosão.
podem ser observados: uma rede BSTC de 1200
a 570 metros; uma rede BSTC de 800 a 740
6 CONCEPÇÃO / DESCRIÇÃO DO metros e outra rede BSTC de 800 a 1090 metros
PROJETO da origem.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Uma contribuição em forma de erosão,
estabilizada, que compreende 15% do fluxo Todos os dejetos provenientes das intalações
total, é observada a 1680 metros da origem. internas do parque deverão futuramente receber
Com o objetivo de disciplinar o fluxo, foi o tratamento adequado, antes do lançamento na
proposto o prolongamento dos lançamentos em rede.
BDTC e BSTC até a convergência dos mesmos.
Apartir desta convergência,(a 200 m do início), 8.4 Pisos e Pavimentos
com objetivo de tornar a área aproveitavel para
As áreas de estacionamentos deverão ser de
fins coletivos é sugerida a condução das águas
bloco intertravado. Os caminhos e passeios
por meio de galeria .
devem revestidos em concreto. As águas
Com a finalidade de reduzir a velocidade do
provenientes de áreas não pavimentadas
sistema e otimizar a topografia, são sugeridos
deverão ser direcionadas para as bacias de
alguns dissipadores de energia.
retenção para postriormente serem laçadas na
A partir de 680 metros, a estrutura drenante
rede.
passa de galeria para gabião, indo este, até o
desague, no córrego Lambari. 8.5 Reflorestamento e Tratamento
O projeto prevê o recebimento de futuros Paisagístico
lançamentos das áreas urbanizáveis limítrofes à
erosão. As espécies a serem plantadas serão
basicamente árvores de médio porte nativas do
8.2 Aterros e Contenções cerrado e características do município, bem
como palmeiras e arbustos que possam
Após a avaliação criteriosa dos tipos de solos, constituir cercas vivas ou do tipo trepadeiras.
por meio tátil-visual e de ensaios, presentes ao Recomenda-se, dentro de ações de educação
longo da erosão, foram definidas as soluções ambiental a serem desenvolvidas pelo
geotécnicas adequadas a cada perfil. Executivo, acordo com os moradores
As soluções de contenção levam em conta a cincunvizinhos para que os mesmos plantem
menor utilização de solos importados. Para esta árvores em suas propriedades, permitindo o uso
prática deve-se fazer uma compensação entre os comum. Neste caso, recomenda-se que se dê
volumes de corte e de aterro. preferência às espécies frutíferas.
Os taludes instáveis devem ser retaludados Quanto ao tratamento paisagístico, este será
com inclinação compatível com o tipo de solo e o elemento estruturador dos espaços projetados,
revegetados, evitando assim o início de novos definindo seus limites, seus percursos e
processos erosivos superficiais. melhorando a qualidade ambiental.
Como o processo erosivo atingiu o horizonte
“C” do solo, carreando a camada vegetal 8.6 Parque Linear Proposto
superficial, há a necessidade de se importar solo
de maior fertilidade (“solo vegetal”) para o A futura instalação do Parque Proposto, além da
tratamento superficial dos taludes. infra-estrutura a ser montada, visa também,
Para os taludes sem a possibilidade de motivar programas educacionais objetivando os
retaludamento, para uma inclinação segura, devidos cuidados com o lixo domiciliar, à
sugere-se a inclusão de elementos de reforço limpeza dos espaços públicos, ao permanente
geossintético, de forma que estas estruturas saneamento dos cursos d’água e à fiscalização
reforçadas sejam incorporadas a área, sem desses espaços. A infra-estrutura compreende:
intrusão visual. a) Quadras poliesportiva com piso de concreto
Nas áreas destinadas a uso coletivo e práticas para a prática de futebol de salão, voleibol e
esportivas a teraplenagem deve ser feita em basquete; b) Campo de futebol society; c)
platores. A drenagem das cristas e dos pés dos Quadra de areia para a prática de futevôlei e
taludes deverão ser encaminhadas por meio de voleibol; d) Pista para caminhadas formadas por
canaletas para bocas de lobo. rampas, obstáculos e curvas necessárias ao
8.3 Esgotamento Sanitário desempenho do esporte; e) Playground

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contendo vários brinquedos para crianças com Os trechos em solo de baixa capacidade de
idade de dois a dez anos; f) Aparelhos para suporte deverão ser removido para áreas de
ginástica; g) Lanchonete com cobertura e área onde estes solos não exerçam a função portante.
para descanso; h) Área coberta para jogos de
mesa (dominó, damas, cartas, xadrez, etc.); i)
Quiosques com churrasqueira; j) Instalações AGRADECIMENTOS
sanitárias; k) Estacionamento para carros e
A Reforsolo Engenharia Ltda., Prefeitura
bicicletário; l) Ciclovia; m) Guarita
Municipal de Planaltina de Goiás, Universidade
administração; n) Anfiteatro; o) Espaço para
Católica de Brasília (UCB), IesPlan e
esportes radicais (pista para skate, escalada,
UniCEUB, com contribuições importantes que
etc.). A concepção/opção por parques lineares
tornaram possível a realização deste trabalho,
foi subsidiada por meio de consultas em
mas também ao Programa de Pós-Graduação
bibliografias que tratam do assunto. Dentre as
em Geotecnia da Universidade de Brasília com
consultadas, pode citar, dentre outras,
a disponibilização do Projeto PRONEX.
(Bartalini, 1996); (Carneiro, 1997) e (Kliass,
1993).
REFERÊNCIAS
9 IMPLANTAÇÃO DAS OBRAS BARTALINI, Vladimir. Os Parques Públicos Municipais
em São Paulo. Paisagem e Ambiente 9. São Paulo:
A implantação das obras propostas deverá se FAUUSP, 1996.
dar conforme o projeto e seguindo as CARNEIRO, Ana Rita S. O Projeto, as Funções e o Uso
dos Parques Urbanos em Recife. Paisagem e
Especificações Técnicas para obras de infra- Ambiente 10. São Paulo: FAUUSP, 1997.
estrutura (captação das águas superficiais e COSTA, W. D. Taludes Naturais: “Caso Histórico de
condução das mesmas, de forma disciplinada, Erosão na Cidade do Gama, DF”. Curso de Extensão
até o córrego Lambari, localizado ao final da Universitária - Obras de Terra e Fundações Especiais.
erosão, incluindo-se também os platores e ABMS e UnB, Brasília, p CI/01 - CI/46, 1981.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Planaltina_(Goi%C3%A1s)
contenções de taludes) a ser descrita no Projeto http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&c
Executivo, estando previsto um prazo de 8 odmun=521760&search=||infogr%E1ficos:-
(oito) meses para a sua realização. informa%E7%F5es-completas.
Deve-se aproveitar o período de estiagem KLIASS, Rosa G. Os Parques Urbanos de São Paulo. São
para melhor andamento dos serviços de Paulo: Pini,1993.
MORTARI, D. Caracterização Geotécnica e Análise do
movimentação de terra e drenagem. Já para as
Processo Evolutivo das Erosões no Distrito Federal.
obras de revegetação, tratamento superficial dos Dissertação de Mestrado, Publicação G.DM-010A/94,
taludes e paisagismo deverá aproveitar o início Departamento de Engenharia Civil, Universidade de
do período chuvoso. Brasília, Brasília, DF, 200 p., 1994.
A regularização do canal principal será PROJETO PRONEX – CNPq/ENC. Prevenção e
recuperação de áreas potenciais de degradação por
executada utilizando método convencional. A
processo de erosão superficial, profunda interna no
existência de vias marginais facilitará a Centro-Oeste no âmbito do Programa de Apoio a
logística da obra, uma vez que as mesmas Núcleos de Excelência – Pronex (2002). Responsável
poderão ser utilizadas como caminho de Técnico: Geólogo Edson Souza Medeiros. Supervisão
serviço. e Coordenação: Professores Newton Moreira de
Todo material escavado deverá ser utilizado Souza e José Camapum de Carvalho, 2002.
nos aterros (compensação de volumes). Deve-se
dar preferência inicialmente pela utilização dos
materiais rochosos como embasamento das
estruturas de aterro. Para a revegetação da área
deverá ser importado solo vegetal apropriado.
O trecho a ser protegido com gabião manta
deverá ser executado conforme o projeto,
respeitando as especificações técnicas.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.




Análise Numérica de Estacas Sob Carregamentos Combinados
Paulo Cesar Alves de Amorim
Universidade Federal de Goiás, Escola de Engenharia Civil e Ambiental, Goiânia - GO, Brasil,
paulo.amorim@hotmail.com
Maurício Martins Sales
Universidade Federal de Goiás, Escola de Engenharia Civil e Ambiental, Goiânia - GO, Brasil,
salesmauricio@gmail.com
Carlos Alberto Lauro Vargas
Universidade Federal de Goiás, Escola de Engenharia Civil e Ambiental, Goiânia - GO, Brasil,
carloslauro@hotmail.com

RESUMO: Este trabalho teve como objetivo estudar, numericamente, a importância da carga vertical
em fundações de estaca isoladas com carregamentos laterais, usando métodos tensão-deformação 3D
por meio do software DIANA. Os estudos foram feitos, por meio de ferramenta numérica, utilizando
o método dos elementos finitos (MEF). Foram analisadas várias estacas isoladas sujeitas a cargas
combinadas, de mesmo diâmetro, e variando: i) a carga vertical, ii) o comprimento e iii) os parâmetros
do solo. A presença da carga vertical associada à carga horizontal implicou num aumento dos
deslocamentos horizontais, bem como do momento interno gerado na estaca. A redução do módulo
de elasticidade do solo junto com o aumento da carga vertical resultou em aumento do deslocamento
horizontal e do momento interno da peça.

Palavras-chave: Estacas, Cargas combinadas, Carregamento lateral, Método dos elementos finitos
(MEF).

1. INTRODUÇÃO problema, desde que se use corretamente a


modelagem do comportamento do solo.
No Brasil, muitas obras com carregamentos Existem vários autores que estudaram estacas
elevados vêm sendo executadas com estacas isoladas com cargas horizontal e momento ao
submetidas a cargas combinadas, onde a parcela mesmo tempo, entre estes pode- se citar, Matlock
de carga horizontal é bastante relevante, tais e Reese (1960), Miche (19301 apud ALONSO,
como, fundações de linha de transmissão, 1989) e Hetenyi (1946).
subestações, torres de telecomunicação, Lee; Prezzi e Salgado (2013), Fayun; Haibing
aerogeradores, estruturas offshore e estruturas de e Shengli (2011) e Liang; Zhang e Wang (2015)
pórticos de subestações. citam que a influência da carga vertical em
Programas de computadores desenvolvidos estacas isoladas com cargas horizontal e
utilizando o método dos Elementos Finitos momento deve ser levada em consideração, já
(MEF) são muito confiáveis para o estudo deste Khodair e Mohti (2014) cita que a influência da


1
Miche, R.J. – Investigation of Piles Subject to Horizontal
Forces. Journal of the School of Engineering, n°. Giza,
Egypt, 1930.

1
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


carga vertical em estacas sujeitas a carga utilizada foi de H=100 kN e de 100 kNm para o
combinadas pode ser negligenciada. momento. Sendo o solo homogêneo em todo o
Poulos e Davis (1980) obtiveram o perfil.
deslocamento horizontal, devido a
carregamentos transversais, em estaca imersa em Tabela 1 – Dados da estacas e do solo.
solo, através da teoria da elasticidade. Esses Parâmetros da Parâmetros do solo
Parâmetros
estacas KR=10-4 KR=1
autores apontam que algumas das vantagens em
Módulo de Es=53333,3 Es=5,33
utilizar o método da teoria da elasticidade são as elasticidade
Ep=25 GPa
3 kPa kPa
possibilidades de aplicação para um grupo de Coeficiente de
estaca e de considerar o solo sendo um meio Ȟp=0,2 Ȟs =0,5 Ȟs=0,5
Poisson
continuo usando parâmetros do solo tais como: Comprimento 25 m
módulo de elasticidade do solo (Es) e coeficiente Largura 1m
de Poisson do solo (Ȟs). 
2. VALIDAÇÃO DO USO DO As comparações com os resultados de
SOFTWARE DIANA momento feitas através do software DIANA e os
resultados extraídos do livro de Poulos e Davis
Este item apresenta a validação do software
(1980), considerando apenas força horizontal
DIANA, devido ao momento interno da estaca,
aplicada no topo da estaca, estão apresentadas na
com resultados de análises obtidas na literatura.
Figura 1. Na Figura 2 tem-se as mesmas
O software DIANA é uma potente ferramenta
comparações, mas com apenas momento
baseada nos métodos dos deslocamentos e
aplicado na seção transversal no topo da estaca.
utilizando MEF, possibilitando cálculos
tridimensionais, lineares e não lineares. O Mz/HL
programa foi desenvolvido pela TNO DIANA Ͳ,050 ,050 ,150
BV (2011). 0
Poulos e Davis (1980) estudaram estacas com 0,1
carregamentos transversais. Esses autores 0,2
simularam uma estaca isolada flutuante com o 0,3
topo livre, de geometria retangular, sendo está 0,4
z/L

considerada com uma placa fina de largura B, 0,5


comprimento L e constante de flexibilidade EpIp. 0,6
Poulos e Davis (1980) consideraram um solo
0,7
ideal, isotrópico, homogêneo e sendo um
0,8 PouloseDavisKR=1
material elástico semi-infinito.
0,9 PouloseDavisKR=10^Ͳ4
Para solucionar o problema de estacas
1 DIANAKR=1
isoladas, Poulos e Davis (1980) dividiram a
DIANAKR=10^Ͳ4
mesma em 21 elementos e sugeriram o fator de
flexibilidade da estaca (KR), conforme a Equação
1.
EpI p
KR (1)
E s L4
Onde: Ep módulo de elasticidade do material
da estaca, Ip momento inercia, Es é o módulo de
elasticidade do solo, L comprimento da estaca e
KR fator de flexibilidade.
Os parâmetros utilizados para essa validação
estão apresentados na Tabela 1. Os valores do
módulo de elasticidade do solo foram calculados
utilizados a Equação 1. A carga horizontal

2
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Figura 1 – Resultados de momento, por meio do software Broms (1964a2 apud POULOS; DAVIS, 1980),
DIANA e Poulos e Davis (1980), com aplicação somente Pyke e Beikae (1985), sendo esses valores
da carga horizontal.
variando de0,74 a 2 Es/D. Desse modo, a relação
Mz/M entre o Es e o kh, utilizados nas análises ficaram
Ͳ,200 ,000 ,200 ,400 ,600 ,800 1,000 entre 0,74 a 2 Es/D.
0 
kh D
O 4 (3)
0,2 4Ep I p 
Onde: kh é o coeficiente de elasticidade do
z/L

0,4
solo, Ep – módulo de elasticidade da estaca, Es –
0,6 modulo de elasticidade do solo, Ip – momento de
PouloeDavisKR=1 inercia da estaca, D – diâmetro da estaca e Ȝ –
0,8 PouloseDavisKR=10^Ͳ4 rigidez relativa solo-estaca.
DIANAKR=1
Segundo Hetenyi (1946), para uma estaca ser
1
considerada longa, basta ȜL•4. Portanto, usou-se
DIANAKR=10^Ͳ4
ȜL=2 e 6, visando ter uma estaca curta e outra
longa.
Figura 2 – Resultados de momento, por meio do software Os comprimentos (L) das estacas isoladas,
DIANA e Poulos e Davis (1980), com aplicação apenas do
momento. para o solo de módulo de elasticidade (Es) igual
a 5 e 10 MPa, definido pelo ȜL de
Por meio das Figuras 1 e 2, observa-se uma aproximadamente 2 e 6 estão apresentados na
boa aproximação entre resultados de momento Tabela 3.
extraídas do livro de Poulos e Davis (1980) e por
Tabela 3 – Comprimento das estacas definido pelo ȜL.
meio do Software DIANA para um KR=1 e com
uma pequena diferença entre os resultados Módulo de elasticidade ȜL Comprimento (L)
obtidos para KR=10-4. De uma forma geral, pode- 2 5m
se considerar que os resultados foram Es=5 MPa
6 15 m
satisfatórios.
2 4m
Es=10 MPa
3. DEFINIÇÃO DAS CARGAS E 6 12 m
COMPRIMENTO DAS ESTACAS
Em todas as modelagens feitas adotou-se para
As variações das cargas verticais aplicadas nas as estacas diâmetro de 500 mm, módulo de
análises para obter os resultados deste trabalho elasticidade Ep de 25 GPa e coeficiente de
estão expostas na Tabela 2. Poisson (Ȟp) igual a 0,2. O solo foi considerado
homogêneo com coeficiente de Poisson do solo
Tabela 2 – Variação das cargas verticais e momentos. (Ȟs) igual a 0,3 e módulo de elasticidade variando
Carga horizontal (H) Carga vertical (P) de 5 MPa a 10 MPa, conforme
90 kN 0 kN Tabela .
20 x H=1800 kN
Tabela 4 – Parâmetros da estaca e do solo.
A rigidez relativa solo-estaca (Ȝ) – parâmetro Parâmetros Estaca Solo
utilizado para definir se a estaca é longa ou não, Diâmetro D=500 mm Não se aplica
segundo Hetenyi (1946), é usado em solução que Módulo de Ep=25 GPa Es= 5 e 10 MPa
utiliza o coeficiente de reação horizontal do solo elasticidade
(kh) como parâmetro de entrada, conforme Coeficiente de Ȟp=0,2 Ȟs =0,3
Poisson
Equação 3. Vários autores sugeriram relações
entre o Es e o kh, tais como: Terzaghi (1955),


2
Broms. B.B. Lateral resistance of piles in cohesive soil.
JSMFD, ASCE. V 90, n. SM2, p. 27-65, 1964a.

3
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


4. CARACTERISTICAS DAS MALHAS 5.1 Comparação entre ES de 5 e 10 MPa
UTILIZADAS
As Figuras 3 e 4 apresentam os resultados de
Os estudos foram feitos utilizando uma malha de momento e deslocamento respectivamente das
domínio de 2L na direção horizontal e vertical, análises das estacas com comprimento de L= 4 e
sendo o ponto de início localizado no eixo do 5 m e módulo de elasticidade Es=5 e 10 MPa para
topo da estaca. momento e deslocamento respectivamente. Vale
As características da malha, com quantidades lembrar que ambos os comprimentos foram
de elementos e nós utilizados nas análises feitas definidos para ȜL=2.
com o solo de módulo de elasticidade igual a 5
Momento (kNm)
MPa, estão dispostas da Tabela e para o módulo 0 10 20 30 40 50 60 70
de elasticidade igual a 10 MPa estão na Tabela 6. 0

Tabela 5 – Característica da malhas para Es=5 MPa.


1
Malha
Comprimento Comprimento

Profundidade (m)
L=5 m L=15 m 2

N° de elementos total 23400 108252


N° de elementos da 3
estaca 150 450
N° de nós total 91223 421232 4
N° de nós da estaca 1208 3558
Tipo de elemento da
estaca Pentaedro Pentaedro 5
L=5m;P=0kN;Es=5MPa
Tipo de elemento do Pentaedro e Pentaedro e L=5m;P=1800kN;Es=5MPa
solo Hexaédrico Hexaédrico L=4m;P=0kN;Es=10MPa
L=4m;P=1800kN;Es=10MPa
Tabela 6 – Características da malhas das estacas para 
Figura 3 – Momento obtido no DIANA – D=500 mm,
Es=10 MPa.
Es=10 MPa e H=90 kN, Es=5e10MPa.
Malha
Comprimento Comprimento Deslocamento (mm)
L=4 m L=12 m
N° de elementos 23120 76170 Ͳ4 Ͳ2 0 2 4 6 8 10 12
total 0
N° de elementos 120 720
da estaca 1
N° de nós total 88683 364210
N° de nós da 973 5838
Profundidade m

2
estaca
Tipo de elemento Pentaedro Pentaedro
da estaca 3
Tipo de elemento Pentaedro e Pentaedro e
do solo Hexaédrico Hexaédrico 4

5. ANÁLISE PARAMÉTRICA
5
As análises paramétricas foram feitas por meio L=5m;P=0kN;Es=5MPa
das comparações dos resultados obtidos pelo L=5m;P=1800kN;Es=5MPa
Software DIANA, variando a carga vertical,
entre as análises realizadas com módulo de L=4m;P=0kN;Es=10MPa

elasticidade do solo (Es) = 5 e 10 MPa. L=4m;P=1800kN;Es=10MPa

4
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


Figura 4 – Deslocamento obtido no DIANA – D=500 mm Deslocamento (mm)
e H=90 kN, Es=5 e 10 MPa. Ͳ2 0 2 4 6 8 10 12
0
Por meio das Figuras 3 e 4, observou-se que, 1
mesmo quando a estaca tem o mesmo valor de 2
ȜL, os pontos de rotação são diferentes. Os 3
acréscimos de momentos e deslocamentos

Profundidade (m)
4
horizontais – devido à carga vertical – são 5
6
maiores em estacas inseridas em solo com menor
7
módulo de elasticidade, ou seja, solo mais 8
deformável. 9
As Figuras 5 e 6 demonstram os resultados de 10
momento e deslocamento respectivamente 11 L=15m;P=0kN;Es=5MPa
obtidos para estacas de ȜL=6 e comprimentos de 12 L=15m;P=1800kN;Es=5MPa
L=12 m, com Es =10 MPa, e de L=15 m, com 13
L=12m;P=0kN;Es=10MPa
14
módulo de elasticidade Es=5 MPa. As cargas são L=12m;P=1800kN;Es=10MPa
15
as mesmas em ambas as análises. Figura 6 – Deslocamento horizontal obtido no DIANA –
Momento (kNm) D=500 mm e H=90 kN, Es=5 e 10 MPa.
Ͳ10 0 10 20 30 40 50 60 70 80
0 Analisando as Figuras 5 e 6, nota-se que,
1 diferentemente das estacas curtas, as estacas
2 longas têm pontos de giro que se localiza
3 aproximadamente a 6m de profundidade, ou seja,
4 independentemente do comprimento da estaca e
5 de módulo de elasticidade do solo, os pontos de
Profundidade (m)

6
giro ficaram próximos. Outro aspecto que se nota
7
por meio dessas figuras é que, quando o solo é
8
mais deformável, o acréscimo do momento
9
interno e do deslocamento horizontal das estacas,
10
11
devido o acréscimo da carga vertical, são
12 L=15m;P=0kN;Es=5MPa maiores.
13 L=15m;P=1800kN;Es=5MPa Nas Figuras 7 e 8 foram plotadas as
14 L=12m;P=0kN;Es=10MPa comparações relativas referentes aos pontos
15 L=12m;P=1800kN;Es=10MPa máximo obtidos em cada análise, para estacas de
comprimentos L=4 e 12 m, com módulos de
Figura Erro! Nenhum texto com o estilo especificado foi
elasticidade Es=10 MPa e L=5 e 15 m, para
encontrado no documento. – Momento obtido no
DIANA – D=500 mm e H=90 kN, Es=5 e 10 MPa. estacas com módulo de elasticidade Es=5 MPa.
Esses valores em percentual foram obtidos com
a divisão do valor máximo encontrado nas
análises com carga vertical 1800 kN pelo valor
máximo encontrado na análise com carga de
P=0, referentes às estacas de comprimentos
iguais.

5
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Variação do momento aproximadamente 9,55% e de 5,80%,


respectivamente.
0% 5% 10% 15%
0 6. CONCLUSÕES
Carga vertical (kN)

450 Neste item são apresentadas as principais


conclusões deste trabalho.
900 x Os resultados da verificação do DIANA,
com as soluções analíticas, valida o uso do
1350 DIANA para o presente estudo;
x Os resultados das análises mostraram que
1800 a presença da carga vertical associada à carga
L=5m;Es=5MPa
horizontal implicou num aumento dos
L=15m;Es=5MPa deslocamentos horizontais e também no valor do
L=4m;Es=10MPa momento interno gerado na estaca;
L=12m;Es=10MPa x Percentualmente os acréscimos
provocados foram pequenos e dependem da
Figura 7 – Variação do momento – D = 500 mm e H = 90
kN, Es=5 e 10 MPa. geometria da estaca e deformabilidade do solo;
x As estacas mais curtas indicaram estar
Variação do deslocamento sujeitas à maior influência da presença da carga
vertical, do que as estacas mais longas;
0% 2% 4% 6% 8% 10%
x Solos com menores módulos elásticos, e
0
Carga vertical (kN)

portanto mais deformáveis, apresentaram maior


450 acréscimo dos deslocamentos horizontais e do
momento fletor, quando estas estacas estavam
900 sujeitas à presença da carga vertical.
1350
AGRADECIMENTOS
1800
L=5m;Es=5MPa Agradeço a FAPEG, pela bolsa de estudo
concedida durante dois anos de mestrado.
L=15m;Es=5MPa
REFERÊNCIAS
L=4m;Es=10MPa
Alonso, U. R. (1989). Dimensionamneto de Fundações
L=12m;Es=10MPa Profundas.1. ed. São Paulo: Edgard Blucher,. 169 p.
Figura 8 – Variação do deslocamento horizontal – D=500 Fayun, L.; Haibing, C.; Shengli, C. (2011). Influences of
mm e H=90 kN, Es=5 e 10 MPa. axial on the lateral response of pile with integral
equation method. INTERNATIONAL JOURNAL
FOR NUMERICAL AND METHODS IN
Por meio das Figuras 7 e 8, notou-se a GEOMECHANICS. p. 1-15.
influência da carga vertical em relação ao Hetenyi, M. (1946). Beams on Foundation. 11. ed,
momento interno da estaca e o deslocamento Michigan: University de Michigan, 256 p.
horizontal da mesma, chegando a um acréscimo Khodair, Y.; Mohti, A. A. (2014). Numerical Analysis of
de aproximadamente 7,92%, para o Pile – Soil Interaction Under Axial an Lateral Loads.
International Journal of Concrete Structures and
deslocamento horizontal, e 11,84%, para o Materials. v 8, n° 2, p 239-249.
momento interno da estaca em análises com Lee, J.; Prezzi, M.; Salgado, R. (2013). Influence of Axial
módulo de elasticidade igual a 5 MPa e estacas on the Lateral Capacity of Instrumented Steel Model
com comprimento de 5 m. Para as estacas de Piles. International Journal of Pavement Research and
comprimento L=15 m inseridas em solo com Technology. v 6, n° 2.
Liang, F.; Zhang, H.; Wang, J. (2015). Variational
módulo de elasticidade Es=5 MPa, observou-se, Solution for the Effect of Vertical Load on the Lateral
para o momento interno da estaca e o Response of Offshore piles. Ocean Engineering. v 99,
deslocamento horizontal, acréscimos de p 23-33.
Matlock, H.; Reese, L. C. (1960). Generalized solutions
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GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


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Netherlands: TNO DIANA, 294 p.

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Análise Paramétrica de Projeto de Contenção em Cortina de
Estacas com Grampos
Maria Beatriz Toniol
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil, beatriztoniol@gmail.com

Douglas Magalhães Albuquerque Bittencourt


Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil, prof.douglas.pucgo@gmail.com

RESUMO: Estruturas de contenção são obras fundamentais no ato de erigir edificações,


principalmente quando envolvem contrução de subsolos, pois garantem estabilidade do maciço
geotécnico. Nesse contexto, este trabalho objetiva identificar uma solução ótima de contenção em
cortina de estacas grampeadas, por meio de uma análise paramétrica. Com auxílio do software
CYPE-2012 (CYPE, 2016), foram processadas modelagens numéricas das contenções, avaliando
parâmetros geotécnicos e geométricos dos elementos estruturais e composição de custos finais da
obra. Concluiu-se que as soluções ótimas são aquelas que atendem aos requisitos de segurança e
apresentam estacas de menores diâmetros e maiores espaçamentos, resultando no menor custo final.

PALAVRAS-CHAVE: Estruturas de Contenção, Dimensionamento Geotécnico, Dimensionamento


Estrutural, Composição de Custos.

1 INTRODUÇÃO paramétrica para identificar soluções ótimas de


projetos de contenção em cortinas de estacas
As obras de contenção são empregadas com o grampeadas, tendo em vista escavações para
intuito de viabilizar a execução de obras dois e três subsolos. Para isso, secundariamente,
geotécnicas que seriam inviáveis e de evitar objetivou-se avaliar o comportamento dessas
deformações excessivas e até o colapso de uma estruturas de contenção, variando-se tipos de
estrutura. Dessarte, as cortinas de estacas solo, diâmetro das estacas e espaçamento entre
espaçadas surgem como uma alternativa versátil as mesmas e ângulo de inclinação dos grampos.
e eficaz à estabilização de escavações verticais. Por fim, obtiveram-se os custos por metro
Essa técnica consiste, basicamente, na quadrado de escavação, para identificação das
construção de uma parede de estacas alinhadas melhores soluções de projeto.
e espaçadas entre suas faces internas, e tem por
finalidade tornar uma região instável em uma 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
zona potencialmente estável, que resiste aos
esforços atuantes. Nesse método, podem ser 2.1 Considerações iniciais
incluídas ancoragens passivas, denominadas
grampos, que garantem a estabilidade do As estruturas de contenção são obras projetadas
volume de solo durante o processo executivo. com o propósito de conter um maciço de solo e
Como uma contenção urbana, pretende-se satisfazer a condição de estabilidade do mesmo,
minimizar os deslocamentos da fundação e a fim de evitar situações de ruptura. Essas
maximizar a segurança da escavação para estruturas podem ser entendidas como um
trabalhadores e para os cidadãos. alicerce, hábil a sustentar esforços provenientes
Constituiu-se como objetivo principal deste de maciços geológicos, a partir da substituição
trabalho o desenvolvimento de uma análise parcial ou total da massa de solo estabilizadora,

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com a inserção de elementos estruturais, que injeção faseada da calda para execução do
apresentam rigidez distinta daquela apresentada bulbo de selagem, para posteriormente realizar
pelo paramento (RANZINI, NEGRO Jr., 1998). a protensão, no caso de tirantes (BRITO, 1999).
Essas estruturas devem satisfazer, a três Para o dimensionamento dessas estruturas,
condições: a segurança contra o deslizamento e Costa Nunes (1987) propõe um método de
o tombamento, a pressão do solo contra a base cálculo no qual considera o efeito da pressão de
deve ser igual ou menor do que a pressão injeção diretamente sobre o valor do atrito
admissível do solo e a deformação não deve ser lateral do bulbo, definindo-se a carga limite da
excessiva. Além disso, o desempenho ancoragem. Para a determinação da resistência
favorável de uma contenção depende de sua ao cisalhamento, o mesmo autor admite uma
estabilidade externa e interna serem satisfeitas pressão residual de injeção estimada em 50% da
(TERZAGHI; PECK; MESRI, 1996). pressão de injeção aplicada, baseada no critério
de ruptura de Mohr-Coulomb.
2.2 Cortinas de Estacas Espaçadas

As cortinas de estacas espaçadas constituem-se 3 METODOLOGIA


como um método de contenção periférica e sua
técnica consiste fundamentalmente na Desenvolveu-se uma análise paramétrica, a fim
perfuração e na concretagem de uma linha de de identificar soluções ótimas de contenção em
estacas no terreno, espaçadas de 0,5 a 1,5 cortinas de estacas espaçadas grampeadas, com
metros entre as faces internas, sendo escavações para dois e três subsolos. Esta se
posteriormente escavado um dos lados do solo desenvolveu em aspectos quantitativos, a partir
(MEIRELES; MARTINS, 2006). da coleta de resultados fornecidos pelo software
Para se alcançar a estabilidade dessa CYPE-2012 (CYPE, 2016), bem como por
estrutura, dependendo da altura e da carga sobre planilhas desenvolvidas para o
o terreno, tem-se a necessidade de execução de dimensionamento da estrutura de contenção.
linhas de ancoragens, podendo essas ser
passivas ou ativas. De acordo com Santa 3.1 Aplicação do CYPE-2012 e Dados de
(2010), as ancoragens passivas (grampos) Entrada do Programa
consistem em um reforço sem tensionamento
prévio, que solidarizam uma extremidade da O software CYPE-2012 (CYPE, 2016) foi a
cordoalha do concreto, enquanto as ancoragens ferramenta numérica com a qual se desenvolveu
ativas (tirantes) atuam sob pós-tensionamento a modelagem computacional do estudo. Para
do terreno através da instalação de um reforço. esta pesquisa, utilizou-se o módulo referente a
A técnica de grampeamento do solo, seja ela Elementos de Contenção, com o método de
em situação permanente ou provisória, não é paredes de estacas de concreto.
regulamentada pela Associação Brasileira de Para as definições de propriedades dos
Normas Técnicas (ABNT), ou seja, não há uma materiais, optou-se por concreto C-20, ou seja,
norma que a especifique. Porém, o com resistência característica à compressão
procedimento executivo referente às ancoragens (fck) de 20 MPa, e aços CA-50 e CA-60. Para o
tem por base a execução de tirantes, cobrimento, foi adotado o valor 5 cm, segundo
estabelecida pela NBR 5629 (ABNT 2006), critérios da NBR 6118 (ABNT, 2014), quanto
quanto a tirantes ancorados no terreno. A aos procedimentos das estruturas de concreto.
sequência construtiva das ancoragens se dá por
perfuração à percussão, seguida da introdução 3.2 Definição dos Parâmetros Adotados
de um tubo manchete, para fins de execução do
bulbo de selagem, e do tubo liso, no caso das O comprimento da ficha foi determinado por
paredes do furo não serem autossustentáveis. tentativas, a fim de que fosse atingido um fator
Executa-se a armadura no interior do tubo liso e de segurança mínimo de 1,5, conforme proposto
fora do tubo manchete, para então realizar a por Saes, Stucchi e Milittisky (1998).
selagem do furo com calda. Logo, inicia-se Definiu-se que seriam simuladas escavações
de 3,5 m, que correspondem à espessura das

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camadas de solo. Para dois subsolos, têm-se cobrimento adotado foi de 5cm. A definição
duas combinações de camadas de solos, desses valores levou em consideração os
enquanto que, para três subsolos, têm-se três parâmetros referentes às estacas escavadas.
combinações. A Tabela 1 ilustra os parâmetros
de solos que foram avaliados, sendo Ȗ o peso 3.3.2 Dimensionamento dos Grampos
específico, c a coesão e Ø o ângulo de atrito.
O modelo de dimensionamento estrutural e
Tabela 1. Parâmetros dos Solos. geotécnico dos grampos tomou por base a NBR
 Ȗ (kN/m³) c (kPa) Ø (°) 6122 (ABNT, 2010) e a NBR 6118 (ABNT,
SOLO 1 16,5 5 24 2014). O dimensionamento do diâmetro do
SOLO 2 18,0 10 27 grampo, bem como a bitola da armadura
SOLO 3 19,5 15 30 utilizada, o comprimento do grampo e o número
SOLO 4 21,0 20 33 de manchetes foram definidos a partir da
SOLO 5 22,5 25 36 metodologia proposta por Costa Nunes (1987).
O diâmetro mínimo e máximo do grampo
As análises foram propostas em modelagens foram, respectivamente, 0,1 e 0,15 m. A pressão
com variação do diâmetro das estacas e do de injeção do grampo adotada foi de 200 kPa.
espaçamento entre as mesmas, que são
ilustrados na Tabela 4. 3.4 Composição dos Custos

Tabela 2. Diâmetros e espaçamentos avaliados. Para as estacas, foram analisados os custos da


Diâmetro (m) Espaçamentos (m) execução de estacas escavadas mecanicamente,
0,35 0,70 0,87 1,05 por metro de perfuração, do volume de concreto
0,40 0,80 1,00 1,20 utilizado para o preenchimento, em metros
0,50 1,00 1,25 1,50 cúbicos, e do peso do aço à armadura.
Para os grampos, avaliaram-se os custos de
Os grampos foram introduzidos no maciço em perfuração do grampo, por metro, incluindo o
cotas definidas, a partir da visualização de preço de mobilização dos equipamentos, do
situações práticas, em que, normalmente, são peso do aço e do cimento utilizado para o
introduzidos a 0,80 m acima da cota de preenchimento das bainhas e das manchetes.
escavação. Considerou para a inclinação deles Para as bainhas, considerou-se o consumo
os valores de 5, 10, 15, 20, 25 e 30 graus. de cimento de 600 kg/m³, convertidos em sacos
de 50 kg. Para cada manchete, tem-se um saco
3.3 Dimensionamentos Estruturais de cimento. Lembra-se, ainda, que os custos
unitários foram obtidos por meio de uma
3.3.1 Dimensionamento da Armadura das pesquisa de mercado na cidade de Goiânia, em
Estacas setembro de 2016.
A Tabela 3 ilustra os valores de cada
Em cortinas de estacas grampeadas, tem-se insumo utilizado na composição de custos.
armadura longitudinal e transversal para as
Tabela 3. Preços unitários dos insumos.
estacas. Para esse cálculo, foram desenvolvidas Insumo Unidade Preço (R$)
planilhas, tendo em vista as especificações da 14,00
Estacas escavadas ݊35 m
NBR 6122 (ABNT, 2010) e da NBR 6118
Estacas escavadas ݊40 m 16,00
(ABNT, 2014). Foi necessário definir a
resistência característica do concreto à Estacas escavadas ݊50 m 18,00
compressão (fck), adotando o valor de 20 MPa e Perfuração dos grampos m 100,00
a resistência de escoamento característica do Mobilização dos equipamentos un 3000,00
aço (fyk), adotando o valor de 500 MPa. 16,40
Cimento CPII-F sc
O coeficiente de minoração da resistência
Concreto C20 m³ 162,40
do concreto (Ȗc) adotado foi de 1,9, e o
Aço kg 3,00
coeficiente de ponderação (Ȗf), de 1,4. O

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO armadura longitudinal e transversal e os valores
são apresentados por metro quadrado de
4.1 Verificação de Parâmetros Geotécnicos escavação. Na Figura 1 ilustra-se a diferença de
peso calculada para estacas com diâmetro de
O Fator de Segurança mínimo para esse tipo de 0,35 m, 0,40 m e 0,50 m, respectivamente, para
contenção foi atingido em todas as análises, situações de escavação de dois subsolos.
sendo necessário apenas o aumento do
comprimento da ficha. Em situações de três 14,00
subsolos, foi suficiente estabelecer uma ficha 12,00
mínima de 3 m de comprimento. 10,00 Espaçamento

Peso (kg)
Observou-se, entretanto, que o 8,00 mínimo
deslocamento da estrutura apresentou-se 6,00 Espaçamento
excessivo em algumas situações. Isso ocorreu, 4,00 médio
para dois subsolos, nas 36 primeiras 2,00
0,00 Espaçamento
simulações, as quais apresentam diâmetros de máximo
0,35 0,40 0,50
0,35 m e 0,40 m e combinou-se os solos 1 e 2.
Diâmetro das estacas (m)
Também, nas análises com três subsolos, com a
combinação de solos menos resistentes e
Figura 1. Gráfico de peso da armadura (dois subsolos).
variações das estacas de diâmetros de 0,30 m e
0,40 m. Portanto, essas análises foram
O resultado esperado é que, com o aumento do
descartadas como soluções viáveis à contenção.
espaçamento entre as estacas, mantendo as
mesmas características geométricas e
4. 2 Análises Inviáveis
geotécnicas, tenha-se o aumento do peso das
armaduras. No entanto, para algumas situações,
Outras situações tornaram-se inviáveis à
pequenos esforços resultaram em armadura
execução, a partir das avaliações relacionadas
mínima. Por esse fato, com o aumento do
ao dimensionamento estrutural. Para dois
espaçamento, tinham-se menos estacas e,
subsolos, os resultados das simulações
consequentemente, menor peso de armadura.
correspondentes à combinação dos solos 1 e 2,
Para a ilustração das simulações com três
que apresentam estacas de diâmetros de 0,50 m,
subsolos, a Figura 2 apresenta os melhores
com espaçamentos entre as mesmas de 1,25 m e
resultados de peso de armadura por metro
1,50 m, solicitaram elevadas cargas no grampo,
quadrado de escavação.
o que o faz incapaz de sustentar as deformações
do maciço de solo durante a fase de execução.
Para três subsolos, algumas análises também 35,00
apresentaram resultados insatisfatórios quanto à 30,00
carga no grampo. São elas: todas com duas 25,00 Espaçamento
Peso (kg)

linhas de ancoragens e, com três linhas, as 20,00 mínimo


situações com diâmetro de 0,50 m e 15,00 Espaçamento
espaçamento máximo, ambas em simulações 10,00 médio
com combinação de solos com parâmetros 5,00 Espaçamento
menos resistentes; e as análises com estacas de 0,00 máximo
diâmetro de 0,40 m e espaçamento de máximo, 0,35 0,40 0,50
e de diâmetro de 0,50 m e espaçamento médio e Diâmetro das estacas (m)
máximo, com combinação dos solos 2, 3 e 4 e
duas linhas de grampos. Figura 2. Gráfico de peso da armadura (três subsolos).

4.3 Verificações de Parâmetros de Projeto Quanto ao volume de concreto necessário ao


preenchimento das estacas, as Figuras 3 e 4
O peso total da armadura das estacas leva em ilustram quantitativamente, por metro quadrado
consideração a soma da área de aço necessária à de escavação, para dois e três subsolos,
respectivamente.

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0,30 4.4 Obtenção de Custos
Volume de concreto (m³)
0,25
0,20 Espaçamento A composição dos custos totais da obra foi
0,15
mínimo analisada por metro quadrado de escavação. Os
0,10 Espaçamento melhores resultados, ou seja, aqueles que
0,05
médio apresentaram menor custo correspondem às
0,00 Espaçamento situações com maior espaçamento entre as
0,35 0,40 0,50 máximo estacas, para todos os diâmetros.
Diâmetro das estacas (m) Em uma análise geral, as Tabelas 4 e 5
destacam os principais resultados encontrados
Figura 3. Gráfico de volume de concreto (dois subsolos) em relação ao custo total da obra, apresentando
os melhores preços à obra de contenção para
0,30 dois e três subsolos, respectivamente.
Volume de concreto (m³)

0,25 Identificam-se as análises por combinações de


Espaçamento solos, diâmetro e espaçamento das estacas. Na
0,20
mínimo segunda situação (Tabela 5), as duas primeiras
0,15
Espaçamento linhas correspondem a duas séries de
0,10
médio ancoragens e as demais, três.
0,05
Espaçamento
0,00 Tabela 4. Melhores custos para dois subsolos.
máximo
0,35 0,40 0,50 Combinações Diâmetro Espaçamento Melhor custo
Diâmetro das estacas (m) de solos (m) (m) (R$)
Solos 1 e 2 0,50 1,00 362,34
Figura 4. Gráfico de volume de concreto (três subsolos). Solos 2 e 3 0,35 1,05 145,34
Solos 3 e 4 0,40 1,20 103,06
Observam-se resultados crescentes em relação Solos 4 e 5 0,40 1,20 91,87
ao diâmetro das estacas e decrescentes de
acordo com o aumento do espaçamento entre as Tabela 5. Melhores custos para três subsolos.
mesmas. Isso porque esse quantitativo depende Combinações de Diâmetr Espaçament Melhor
de fatores geométricos, com variações solos o (m) o (m) Preço (R$)
padronizadas entre as modelagens. Portanto, Solos 2, 3 e 4 0,40 1,20 277,79
estacas com diâmetro de 0,35 m são mais Solos 3, 4 e 5 0,40 1,20 202,04
vantajosas nessa avaliação, pois requerem Solos 1, 2 e 3 0,50 1,25 369,30
menor volume de concreto em sua composição. Solos 2, 3 e 4 0,50 1,50 230,81
Os resultados de comprimento do grampo
Solos 3, 5 e 5 0,40 1,20 170,74
necessário à estabilidade durante o processo de
escavação não seguiram um padrão de
ilustração. Isso porque, para o dimensionamento Por fim, para melhor visualização de como cada
do grampo, a carga atuante no mesmo torna-se item interfere na composição de custos da obra,
determinante e essa se apresentou variável, as Tabelas 6 e 7 apresentaram a relação
destacando a inclinação do grampo como fator percentual de cada insumo, dentro da solução
de influência. Para as soluções viáveis com dois mais viável de cada combinação de solos.
subsolos, variaram de 6 a 12 metros de Tabela 6. Porcentagem de cada item na composição de
comprimento. Com três subsolos, observou-se custos da obra, para dois subsolos.
que o comprimento dos mesmos é maior na Solos Solos Solos Solos
Item
primeira linha de ancoragens e diminui na 1e2 2e3 3e4 4e5
segunda e na terceira linha. Variaram de 6 a 12 Execução das Estacas 9,45 15,37 17,84 19,92
metros na primeira linha, de 6 a 9 metros na Armadura das Estacas 13,44 21,38 22,40 25
segunda linha e mantiveram o comprimento de Concreto das Estacas 16,74 17,15 22,76 25,40
6 metros para as situações com uma terceira Perfuração do Grampo 48,12 38,42 29,74 24,90
linha de grampos. Armadura do Grampo 5,05 2,58 3,12 1,67
Cimento do Grampo 7,20 5,10 4,14 3,11

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Tabela 7. Porcentagem de cada item na composição de melhores soluções se deram com diâmetros de
custos da obra, para três subsolos. 0,40 m, com custos de R$ 103,06 e R$ 91,87,
Solos Solos Solos Solos Solos
Item 2, 3 e 4 3, 4 e 5 1, 2 e 3 2, 3 e 4 3, 4 e 5 respectivamente; todas com espaçamento
Execução máximo entre as estacas. Para três subsolos, as
6,22 8,55 5,01 6,72 10,12
das Estacas melhores soluções avaliadas comparativamente
Armadura
20,86 16,99 13,18 15,95 17,05 se deram com estacas de diâmetro de 0,40 m e
das Estacas
Concreto 0,50 m, com valores em custos variando de R$
12,82 17,63 14,35 19,23 20,86
das Estacas 170,74 para solos mais resistentes com três
Perfuração linhas de grampos e R$ 351,27 para solos
49,99 48,93 54,41 47,16 42,17
do grampo
Armadura
menos resistentes e com duas linhas de
4,15 2,61 5,62 4,52 3,89 grampos.
do Grampo
Cimento do
5,96 5,29 7,42 6,42 5,91
Por fim, concluiu-se, dentro das análises
Grampo para três subsolos, que uma terceira linha de
ancoragens torna-se necessária quando o solo
apresenta parâmetros de resistência baixos.
5 CONCLUSÕES Esses resultados são coerentes com o que fora
esperado, uma vez que as piores situações são
As cortinas de estacas espaçadas com grampos aquelas que exigem maior consumo dos
tornam-se um método viável e seguro de insumos analisados.
contenção, podendo efetivar-se como uma
solução econômica ao analisar diferentes REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
parâmetros na composição dos custos finais da
obra. Os objetivos estipulados à pesquisa foram Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT
atendidos e identificaram-se soluções ótimas de (2014). NBR 6118: Projeto de estruturas de
contenção com essa técnica. concreto – Procedimento. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT
Observou-se que algumas situações se (2010). NBR 6122: Projeto e execução de
apresentaram inviáveis à execução. Isso porque fundações. Rio de Janeiro.
não atenderam às exigências de projeto quanto Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT
ao fator de segurança, ao deslocamento ou ao (2006). NBR 6118: Execução de tirantes acorados
no terreno. Rio de Janeiro.
dimensionamento da estrutura. Quanto às Brito, J. (1999). Cortinas de Estacas Moldadas.
análises dos resultados obtidos, as grandes Universidade de Lisboa- Instituto Superior Técnico.
variações se deram quando se alternou as Lisboa, p. 22.
características do solo. COSTA NUNES. A. J. (1987). First Casagrande Lecture
- Ground Prestressing. In: VIII PCSMFE.
A partir das verificações dentro de cada Cartagena, Colômbia, p. 159-165.
combinação de tipos de solo, pôde-se perceber CYPE. (2016). Software Cype- Elementos de contenção:
que os parâmetros mais influentes nas Cortinas. 1ed. Cype Ingenieros, S.A. Acesso em:
modelagens foram o diâmetro e o espaçamento setembro de 2016.
das estacas. Por outro lado, o ângulo de Meireles, A. B.; Martins, J. G. (2006). Execução de
Cortinas de Estacas. 1. Ed. [s.l]: [s.n].
inclinação no grampo demonstrou-se influente Ranzini, S. M. T.; Negro Jr., A. (2003). Obras de
na resistência do mesmo, o que afeta seu o Contenção: Tipos, métodos construtivos,
dimensionamento. dificuldades executivas. In: HACHICH, W., et al.
Quanto ao custo, notou-se que as soluções (Ed.). Fundações - Teoria e Prática. 2. Ed. São
ótimas foram, em maioria, aquelas em que as Paulo: Editora Pini, ABMS / ABEF, p. 497.
Saes, J. L.; Stucchi, F. R.; Milititsky, J. (2003).
estacas possuiam menores diâmetros e maiores
Concepção de Obras de Contenção. In: HACHICH,
espaçamentos, inversamente às situações menos W., et al. (Ed.). Fundações - Teoria e Prática. 2. Ed.
favoráveis. Para a contenção de dois subsolos, São Paulo: Editora Pini, ABMS / ABEF, p. 518-519
combinando camadas com os solos 2 e 3, a Santa, V.B.B. (2010). Controle de Qualidade de
melhor solução se deu com diâmetros de Ancoragens Passivas e Ativas. Universidade de
Lisboa- Instituto Superior Técnico. Lisboa.
0,35 m, obtendo o custo, por metro quadrado, Terzaghi, K.; Peck, R. B.; Mesri, G. (1996). Soil
de R$ 145,34, enquanto que, para para as Mechanics in Engineering Practice. 3. Ed. Canada:
combinações dos solos 3 e 4 e solos 4 e 5, as Copyright, p. 327-240.

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Análise Probabilística e Determinística da Estabilidade de Taludes
em Barragem de Terra do Estado do Ceará
Fernando Feitosa Monteiro
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, engffmonteiro@gmail.com

Andressa de Araujo Carneiro


Universidade Federal do Piauí, Teresina, Brasil, andressa@ufpi.edu.br

Yago Machado Pereira de Matos


Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, yago_mpm@hotmail.com

Giovanna Monique Alelvan


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, giovannaalelvan@gmail.com

RESUMO: O presente trabalho tem o objetivo avaliar a estabilidade do talude de montante de uma
barragem de terra no estado do Ceará durante sua fase final de construção utilizando metodologias
determinísticas e probabilísticas. Proporcionando um melhor entendimento da análise probabilística
na avaliação de risco em barragens de terra. Verifica-se que a probabilidade de falha obtida pelos
métodos de FOSM e Monte Carlo apresentaram valores concordantes. O estudo ainda mostrou que a
metodologia probabilística auxilia no cálculo da probabilidade intrínseca nos projetos de engenharia,
contrapondo à falsa ideia que altos FS implicam em projetos mais seguros.

PALAVRAS-CHAVE: Análise Probabilística, Barragens de Terra, Estabilidade de Taludes.

1 INTRODUÇÃO torna uma ferramenta adicional que permite


quantificar as incertezas dos parâmetros
As análises usuais de estabilidade de taludes são envolvidos neste estudo.
baseadas no método de equilíbrio limite com
intuito de obter o valor do fator de segurança Sayão (2010) relata que, no período de 2002 a
(FS). Os dados utilizados na análise são 2010, no Brasil foram registrados
geralmente os valores médios, mas nem sempre aproximadamente 800 incidentes com barragens,
estes dados são os mais representativos, devido o que resulta em três a quatro falhas em
às incertezas existentes, e principalmente às barragens por dia, sendo verificados desde
diferentes condições de composição dos solos. pequenos problemas de operação ou
Em decorrência das inúmeras incertezas manutenção, até grandes desastres. Assim, o
envolvidas nos projetos das barragens, bem presente trabalho tem o objetivo avaliar a
como ao elevado número de barragens de terra estabilidade do talude de montante de uma
existentes no Brasil, é necessária a utilização de barragem de terra no estado do Ceará durante a
metodologias que levem em consideração a fase final de construção, a partir de metodologias
variabilidade dos componentes envolvidos nas determinísticas e probabilísticas proporcionando
análises de estabilidade, uma vez que essas uma melhor compreensão da aplicação da
incertezas não são levadas em consideração nos análise probabilística na avaliação de risco em
métodos determinísticos convencionais (CRUZ, barragens de terra.
1996). Nesse contexto, a análise probabilística se

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2 ESTABILIDADE DE TALUDES termos de prejuízos materiais, como no que
concerne perdas de vidas humanas. No caso
2.1 Métodos determinísticos específico das obras de barragens, o Corpo de
Engenheiros do Exército Americano (USACE,
Segundo Soares (1996), o enfoque 2003) sugere os valores mínimos para os fatores
determinístico nos métodos de estudo utilizados de segurança a serem adotados em cada etapa do
para análise da estabilidade de taludes consiste projeto das barragens, conforme é indicado na
em selecionar valores adequados para as Tabela 1.
variáveis dominantes e calcular seus fatores de
segurança correspondentes a diversas situações Tabela 1. Fatores de segurança para taludes de barragens
Fluxo
de solicitação.
Tipos de Final de Permanente Rebaixamento
Taludes Construção de longo Rápido
De acordo com Brito (2003), Fellenius prazo
apresentou o Método das Fatias em 1936, no Taludes
Segundo Congresso de Grandes Barragens de
realizado em Washington. Esse método foi Barragens
, diques, 1,3 1,5 1,0 - 1,2
desenvolvido pela Comissão Sueca de Geotecnia aterros e
e melhorado por Fellenius. O método admite taludes de
uma superfície de ruptura circular e consiste em escavação
dividir a massa acima da superfície de ruptura
em fatias verticais, assumindo-se que as forças 2.2 Métodos probabilísticos
resultantes nos lados opostos de cada fatia são
iguais e em sentidos opostos atuando numa Fenton e Griffiths (2008) relatam que a
mesma linha paralela à base da fatia. Para variabilidade inerente aos solos e rochas sugere
resolver o problema, algumas hipóteses que os sistemas geotécnicos são altamente
simplificadoras são necessárias. O método de suscetíveis a interpretações estatísticas. Na
Bishop, tem como hipótese que a resultante das abordagem estatística, a entrada das
forças entre as fatias é horizontal. O fator de características do solo é feita em termos de
segurança é dado pela a seguinte equação: médias e variâncias, levando a estimativas de
probabilidade de falha (PF) e índice de
confiabilidade (E). Este tipo de análise é baseada
(1) em alguns princípios dos métodos
determinísticos (equilíbrio limite), mas sua
maior vantagem é que podem ser quantificadas
(2) as incertezas inerentes.

A avaliação probabilística da estabilidade de um


A solução resulta de um processo iterativo, no talude é realizada considerando-se usualmente o
qual é arbitrado o valor do fator de segurança FSi fator de segurança médio FS como uma função
da Equação 2 e calcula-se o fator FS. O processo das variáveis aleatórias Xi, independentes, que
repete-se até que o valor calculado (FS) se iguale representam os parâmetros geotécnicos e/ou
ao valor arbitrado (FSi). geométricos (GUEDES, 1997). Obtêm-se a
probabilidade de ruptura do talude como sendo
Araújo (2013) explica que a estabilidade dos igual à área sob a curva da distribuição FS
taludes é analisada com o objetivo de obter a definida por FS൑1,0. Para isso, as variáveis
superfície potencial de ruptura que demonstre o envolvidas são normalmente representadas por
menor valor para o fator de segurança calculado curvas de distribuição normal, conforme
a partir de metodologias determinísticas, o qual sugerido por Priest & Brown (1983), Sandroni &
é comparado a um valor admissível. Este valor Sayão (1992).
admissível é normalmente estipulado em função
das consequências de ruptura do talude, tanto em

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Morlá-Catalán & Cornell (1976), considerando o Wolff (1996) propôs que, em análises da
fator de segurança como normalmente estabilidade de taludes comuns, seja designada
distribuído, chegaram à seguinte formulação uma probabilidade de ruptura de 10-3 (índice de
para o índice E: confiabilidade de 3), como aceitável. No caso
aplicado a taludes críticos, taludes de barragens,
FS  1 sugere-se uma probabilidade de ruptura de 3x10-
E (3) 5
V
(índice de confiabilidade de 4), como aceitável.
FS Já a “British Columbia Hydro” (Nielsen et al,
1994) propôs probabilidades de ruptura de 10-4
O índice de confiabilidade indica o número de como aceitáveis para barragens.
desvios-padrão que distancia a ruptura do
coeficiente de segurança encontrado. O valor de Harr (1987) descreve que a ideia básica do
E complementa o valor do FS e permite estimar método FOSM (First Order Second Moment) é
a probabilidade de ruptura. Este índice pode ser expressar a função de performance (fator de
relacionado com a probabilidade de ruptura, segurança) como uma função de diferentes
P[R], desde que se conheça a forma da variáveis aleatórias consideradas na análise
distribuição do FS. A Figura 1 mostra a relação estatística. O método é chamado de Segundo
entre E e P[R], para o caso de distribuição Momento porque usa a variância (segundo
Normal (Gaussiana), do coeficiente de segurança momento da função de performance). É também
(ASSIS et al, 2001). referido como sendo de 1ª ordem porque usa só
a primeira derivada da série de Taylor (Linear).
O procedimento consiste em variar
separadamente cada parâmetro, observando-se a
variação correspondente do valor da função de
performance ou desempenho FS. A aproximação
da derivada parcial de cada parâmetro é obtida
através da razão entre a variação observada do
FS e a variação estipulada para cada parâmetro.

No grupo de métodos probabilísticos exatos, a


Figura 1. Relação entre E e P[R] para distribuição Normal metodologia mais empregada é a de Monte
do coeficiente de segurança Carlo. Assis et al (2001) relatam que o objetivo
do método de Monte Carlo é encontrar uma
Segundo Baecher (1982), a Figura 2 apresenta as solução numérica aproximada da distribuição de
probabilidades de ruptura aceitáveis para probabilidade da variável dependente y, definida
diferentes tipos de obra. No caso de barragens, por uma função de engenharia, por meio de
uma probabilidade de ruptura da ordem de 10-4 amostragens aleatórias referentes a valores das
pode ser aceitável. variáveis independentes Xi e sucessivas
avaliações da referida função. Repetindo este
procedimento N vezes, tem-se uma amostra de
valores discretos da variável y, e, portanto, pode-
se calcular sua média, seu desvio-padrão, plotar
o histograma de frequências e obter a
distribuição probabilística que possui o melhor
ajuste. Repetindo-se o procedimento
sucessivamente, fazendo com que o número de
simulações N seja cada vez maior, tendendo ao
infinito, as estatísticas amostrais e a forma da
distribuição de probabilidade da variável y
tendem para o valor populacional, ou seja, a
solução pode ser considerada exata.
Figura 2. Probabilidade de rupturas admissíveis

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3 ESTUDO DE CASO Para a análise de estabilidade a partir dos
métodos determinísticos e probabilísticos, foi
A barragem analisada está localizada no estudado a fase final de construção da barragem.
município de Aquiraz, no estado do Ceará. A metodologia determinística utilizada para
Geologicamente, a região de implantação desta estimar o fator de segurança foi a de Bishop.
barragem, foi caracterizada pela presença do Quanto aos métodos probabilísticos, empregou-
Complexo Caicó, Grupo Barreiras e aluviões. O se os métodos de FOSM e Monte Carlo. Os
Complexo Caicó, cristalino, constitui-se por coeficientes de variação adotados nas análises
gnaisses, de coloração cinza clara, e probabilísticas para todos os tipos de solo foram:
magmáticos. O Grupo Barreiras, responsável por peso específico igual a 3%, coesão efetiva igual
cerca de 95% da cobertura da região, é a 40% e o ângulo efetivo de resistência igual a
representado por argilas variegadas e arenitos 10%.
avermelhados, incluindo seixos de quartzo e
rochas cristalinas diversas. Na região litorânea é
encontrada um material areno argiloso, já nas 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
porções mais próximas à costa, a lixiviação
contribui para carrear material argiloso, 4.1 Segundo momento de primeira ordem
resultando uma cobertura superior mais arenosa (FOSM)
(SRH, 1998).
Para a análise da estabilidade do talude de
Após análise das alternativas para o barramento, montante, foi utilizado o programa SLIDE. No
baseando-se nos estudos técnicos e econômicos, estudo para a análise de estabilidade foram
o arranjo geométrico escolhido foi o apresentado consideradas as variações das características dos
na Figura 3. Observa-se que a seção tipo possui solos apresentadas na Tabela 3. A determinação
inclinações suaves. O maciço foi constituído por da variância do fator de segurança, foi seguida a
um solo de alteração de origem gnáissica, recomendação de Farias e Assis (1998),
proveniente das escavações do vertedouro. Este empregando-se incrementos iguais a 10% nos
solo caracteriza-se como areia argilo-siltosa, e parâmetros dos solos.
granulometria variada, com pedregulhos
constituídos de quartzo, feldspato e mica. A Tabela 3 apresenta a metodologia de FOSM
para a determinação do índice de confiabilidade
(E) e das contribuições relativas de cada
parâmetro. As análises foram determinadas pelo
método de Bishop, considerando a etapa final de
construção da barragem, e o fator de segurança
médio FS = 1,416. Considerando V[FS] =
0,026, calculado na Tabela 3, obtêm-se o desvio
padrão do fator de segurança V[FS] = 0,142.
Figura 3. Seção da Barragem.
Com base na equação 3, calcula-se o índice de
confiabilidade E= 2,56, que corresponde a
A barragem possui uma altura aproximada de 16 probabilidade de falha de 5,23 x 10-3.
metros, o talude de montante possui inclinação
de 1(V):2(H), e talude de jusante 1(V):2(H). A Tabela 3. Metodologia FOSM
( G FSi/ G Xi)² Contribuição
Tabela 2 apresenta os parâmetros dos solos Parâmetro Xi G Xi G FSi V [Xi]
. V [Xi] (%)
constituintes da barragem. J kN/m³) 17,60 1,76 -0,019 0,28 0,000032 0,12
Maciço I R 27,40 2,74 0,133 7,51 0,017689 67,05
c (kPa) 6,40 0,64 0,023 6,55 0,008464 32,08
Tabela 2. Parâmetros dos solos analisados
J kN/m³) 18,50 1,85 0,002 0,31 0,000000 0,00
Solo I ( o) c (kPa) J (kN/m³) Solo
I R 30,00 3,00 0,014 9,00 0,000196 0,74
Residual
Maciço 27,4 6,4 17,6 c (kPa) 0,00 0,00 -0,089 0,00 0,000000 0,00
J kN/m³) 18,50 1,85 0,000 0,31 0,000000 0,00
Residual 30 0 Solo de
18,5 Fundação
I R 30,00 3,00 0,000 9,00 0,000000 0,00
c (kPa) 0,00 0,00 0,000 0,00 0,000000 0,00
Fundação 30 0 18,5 V [FS] = 0,026 100

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4.2 Método de Monte Carlo Avaliando o resultado da metodologia
deterministica isoladamente, verifica-se um fator
Foram realizadas simulações com 1000, 10000, de segurança de 1,416, que de acordo com a
100000, 1000000 e 10000000 valores para os 5 USACE (2003), indica que o talude de montante
parâmetros de incertezas que constituem o da barragem analisada é considerado estável para
cálculo do fator de segurança. A geração a fase final de construção. Ao passo que nas
aleatória pode ser realizada através do software análises probabilísticas, o talude estudado
SLIDE, empregando os dados de acordo com a apresenta uma probabilidade de falha superior as
Tabela 4. recomendas por Baecher (1982), Wolff (1986) e
Nielsen et al (1994). Esta inconsistência está
Tabela 4. Parâmetros de entrada - Monte Carlo relacionada à desconsideração das incertezas dos
Desvio Relativo Relativo parâmetros geotécnicos nas análises
Parâmetros Média
Padrão Minímo Máximo convencionais de estabilidade de taludes.
J (kN/m³) 17,60 0,53 1,06 1,06
Maciço I (o) 27,40 2,74 5,48 5,48
c (kPa) 6,40 2,56 5,12 5,12 5 CONCLUSÕES
J (kN/m³) 18,50 0,56 1,11 1,11
Solo Observa-se que as imprecisões nos dados de
I (o) 30,00 3,00 6,00 6,00
Residual projeto referentes aos parâmetros geotécnicos do
c (kPa) 0,00 0,00 0,00 0,00
solo podem influenciar na incerteza do fator de
Os valores mínimos (Rmin) e máximo relativos segurança, os erros sistemáticos e a dispersão das
(Rmax) representam a distância destes valores até amostras são as principais causas de
o valor médio da distribuição. Para a análise indefinições.
utilizando a distribuição normal, adotou-se um
nível de confiança com 95,0%, ou seja, um A análise probabilística associada a
intervalo de dois desvios padrão para as análises determinística, pode auxiliar na avaliação dos
utilizando o método de Monte Carlo. Adquiridos requisitos de segurança dos taludes de barragens,
estes dados, calcula-se diretamente a média e o de maneira a tornar mais perceptíveis os riscos
desvio padrão do FS possibilitando, assim, a envolvidos, os quais podem afetar de modo
determinação do índice de confiabilidade (E), significativo a estabilidade de taludes em
como visto na Tabela 5. barragens de terra.

Tabela 5. Resultados das simulações Monte Carlo Das análises probabilísticas realizadas, conclui-
se que não existe uma diferença significativa
Número de
E [F] V[F] FSmin FSmax E entre as probabilidades de falha obtidas pelos
Simulações
métodos de FOSM e Monte Carlo. O estudo
1000 1,43 0,141 1,064 1,848 3,08 indica que o método de FOSM é aceitável para a
10000 1,43 0,141 1,021 1,867 3,05 prática, devido à sua simplicidade de cálculo e à
100000 1,43 0,141 0,984 1,902 3,05 obtenção de informações adicionais
1000000 1,43 0,141 0,989 1,898 3,04 (porcentagens de cada parâmetro na variância do
fator de segurança). Segundo a metodologia de
Ao observar a evolução dos valores das FOSM, os parâmetros que apresentaram maior
estatísticas (média, desvio padrão, probabilidade influência na estabilidade do talude de montante
de falha etc.) e a forma da distribuição de analisado foram a coesão e o ângulo de atrito do
probabilidade com a evolução do número de solo do maciço.
simulações, percebe-se a não ocorrência das
variações destes valores com o aumento do A partir das análises determinísticas e
número de simulações, aceitando-se o resultado probabilísticas, percebe-se que o fator de
da simulação de Monte Carlo. Verificando-se segurança estimado por métodos determinísticos
pode apresentar uma análise de estabilidade
um índice de confiabilidade (E) de 3,05 e uma
equivocada. Assim, o fator de segurança
probabilidade de falha na ordem de 1,14 x 10-3.

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proporciona um falso senso de segurança, Mining and Metallurgy, Section A, London.
quando analisado isoladamente. Portanto, ele SANDRONI, S.S. e SAYÃO, A.S.F.J. (1992) Avaliação
estatística do coeficiente de segurança de taludes. 1ª
não é um indicador suficiente para concluir a Conferência Brasileira sobre Estabilidade de Encostas,
segurança do talude. COBRAE, vol. 2, 523-536.
SAYÃO, Alberto. Palestra Técnica: Considerações
Geotécnicas sobre a Segurança de Barragens.Revista
AGRADECIMENTOS Geotecnia & Fundações, 2010. Disponível em:
http://www.revistafundacoes.com.br/pdf/revista%200
2/Palestra%20t%C3%A9cnica . Acesso em 10 jun,
Os autores agradecem ao CNPq e a FUNCAP 2017.
pelo apoio financeiro e concessão de bolsas. SRH – Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do
Ceará. Projeto Executivo da Barragem Catu - Tomo III
- Relatório Geral - Vol 1- Memorial Descritivo. Kl.
Tomo III,1988.
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BAECHER G. B. (1982). Statistical Methods in Site environment: From theory to practice, Geotechnical
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BRITO, C. B. – Programação dinâmica aplicada à análise
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PRIEST, S.D.; BROWN, E.T. (1983) Probabilistic
stability analysis of variable rock slopes. Institution of

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Análises, Estabilização de Contenção em Gabiões às Margens da
BR-060 e Condições Após Cinco Anos da Instalação, no Município
de Guapó/GO
Rideci Farias, D. Sc.
UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

Haroldo Paranhos, M. Sc.


UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, reforsolo@gmail.com

Itamar de Souza Bezerra.


Maccaferri do Brasil, Goiânia, Brasil, itamar@maccaferri.com.br

Silvio Lourenço da Silva Filho


Maccaferri do Brasil, Goiânia, Brasil, silvio.lourenco@maccaferri.com.br

Ranieri Araújo Farias Dias, Estudante de Engenharia.


Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém, Brasil, ranierileislie@yahoo.com.br

RESUMO: Este trabalho apresenta a ruptura no ano de 2011 em um talude de corte rodoviário com
extensão aproximada de 100m, às margens da BR-060 no trecho urbano do município de Guapó/GO.
Realizaram-se incursões a campo para verificação das condições geotécnicas, coleta de amostras de
solo, ensaios em laboratório, análises de estabilidades dos taludes e a consequente proposição de
estabilização de estrutura de contenção em gabiões com altura de 6,0 m, retaludamento sobre o muro
e plantio de grama com vistas à proteção contra erosão superficial. A solução adotada para contenção
do trecho avariado se mostrou vantajosa sob o aspecto econômico diante de outras soluções, e a
simplicidade executiva proporcionou celeridade ao processo executivo, permitindo a execução em
pleno período chuvoso. Procedeu-se à visita, no início de 2017, ao local em que ocorreu a intervenção,
e constatou-se que as obras implantadas estão condizentes com o funcionamento esperado.

PALAVRAS-CHAVE: BR-060, Guapó, Estabilização, Contenção, Gabiões.

1 INTRODUÇÃO Guapó/GO. A Figura 1 apresenta a localização


do município de Guapó/GO em relação à capital
Com a implantação e (ou) adequação de Goiânia, e na Figura 2 mostra-se em destaque o
rodovias, muitas das vezes, há a necessidade de trecho da BR-060 no município de Guapó/GO.
se proceder a cortes em determinados trechos O trecho em questão é parte integrante da
que ocasionam taludes consideráveis que duplicação da BR-060, uma obra do governo
merecem atenção especial da parte geotécnica. federal sob gestão do ministério dos transportes
Dessa forma, este trabalho apresenta o estudo de e executada pelo Departamento Nacional de
um trecho rodoviário de extensão aproximada de Infraestrutra de Transportes (DNIT), que se
100 (cem) metros com taludes de corte com estende de Goiânia até ao município de Jataí/GO.
alturas, também aproximadas, de 10 (dez) metros A Figura 3 apresenta a situação do talude
localizado às margens da BR-060, região estudado antes da deflagração da ruptura.
metropolitana de Goiânia, no município de

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


Figura 1. Localização do município de Guapó/GO em
relação a capital Goiânia/GO.

Figura 4. Vista do trecho que sofreu ruptura.

Figura 2. Área em destaque da BR-060 em Guapó/GO.

Figura 5. Vista do trecho que sofreu ruptura.

Figura 3. Vista da duplicação da BR-060 no trecho do


município de Guapó/GO.

2 RUPTURA DO TRECHO EM CORTE –


BR-060
Figura 6. Vista do trecho que sofreu ruptura.
As Figuras 4 a 7 apresentam um levantamento
fotográfico realizado no dia 26 de outubro de
2011 com as condições do trecho que sofreu
ruptura, localizado na área da Estaca 593.
Verifica-se nas fotos que o talude lateral à
Rodovia encontrava-se em processo de
degradação e ou instabilização progressiva que
requeria intervenções urgentes com vistas à
mitigação do problema em curso. Observou-se
também que o problema foi agravado pela
percolação de água oriunda de tubulação de
concreto, provocando excesso de poro pressão,
diminuindo a resistência ao cisalhamento do Figura 7. Vista do trecho que sofreu ruptura.
solo.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



A Tabela 1, a seguir, apresenta o trecho rompido (Estaca 593 a 595). As amostras foram
verificado com as altitudes da crista e do pé dos denominadas de Amostra 1, 2 e 3. Em termos
taludes, bem como as alturas dos mesmos. Em tátilvisual, a Amostra 1 é corresponde a um solo
termos de geometria, no trecho verificado, os vermelho a variegado. Esse solo é predominante
taludes apresentam alturas até aproximadamente no trecho rompido. A Amostra 2 corresponde a
10 metros, conforme evidenciado nas seções uma argila arenosa variegada e a Amostra 3
analisadas e mostradas neste trabalho. corresponde a um arenito variegado pouco
resistente.
Tabela 1. Extensões aproximadas de cada Corte estudado. As três Amostras de solos foram utilizadas na
 TALUDE execução dos ensaios de umidade natural,
ALTITUDE (m)
ESTACA
CRISTA PÉ
ALTURA (m) granulometria (peneiramento e sedimentação),
590 719,728 711,320 8,408 densidade real dos grãos, limites de liquidez e
591 720,672 712,091 8,581 plasticidade. Entretanto, para a Amostra 1, por
592 721,430 712,861 8,569
593 721,901 713,632 8,269 ser a mais representativa no trecho que sofreu
594 722,914 714,402 8,512 ruptura, bem como outros trechos, procedeu-se
595
596
723,609
724,357
714,624
714,818
8,985
9,539
aos ensaios de cisalhamento direto com vistas à
597 725,159 715,498 9,661 definição dos parâmetros de resistência dessa
598 725,953 716,101 9,852 amostra.
599 726,749 717,735 9,014
600 727,639 719,275 8,364 Para os ensaios de cisalhamento direto, os
601 728,318 720,359 7,959 corpos-de-prova foram ensaiados na condição
natural com vistas a verificar a estabilidade dos
A Figura 8 ilustra o perfil do talude rompido, taludes nessa condição, mas também na
entre as estacas 593 e 595. Os trechos de condição inundada objetivando verificar o
montante e jusante do escorregamento não possível comportamento mecânico crítico do
sofreram ruptura, no entanto apresentavam solo no período chuvoso e (ou) uma possível
erosões em diferentes estágios evolutivos, saturação ocasionada por outros fatores.
indicando alta suscetibilidade a nova ocorrência Segundo banco de dados do INMET (2012),
de danos, por isso, tomou-se a decisão de se a precipitação acumulada no período foi de
estudar uma área para contenção que 190mm, correspondendo ao início do período
contemplasse o trecho sujeito a possíveis chuvoso na região para o mês de outubro.
instabilizações. A Tabela 2 apresenta a identificação da
Amostra 1 bem como o resumo dos resultados
dos ensaios geotécnicos efetuados e parâmetros
determinados.

Tabela 2. Resumo dos resultados dos ensaios geotécnicos


efetuados e parâmetros determinados para a Amostra 1.

Figura 8. Seção transversal do corte após ruptura.

3 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA DA
ÁREA

Para a determinação dos parâmetros necessários


à verificação da estabilidade dos taludes, foram
coletados três blocos indeformados do trecho

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4 ANÁLISES DE ESTABILIDADES
EFETUADAS

As análises de estabilidade foram realizadas


utilizando os programas SLOPE/W e
MACSTARS®2000, considerando os
parâmetros do solo na condição natural e
inundada, de acordo com os ensaios de
cisalhamento direto, com sobrecarga de 20 kPa
na crista do talude em ambas as situações e por
último foi calculada a estabilidade da solução
contemplando a utilização dos gabiões. As
Figuras 9 a 12 mostram algumas das análises
realizadas e na Tabela 3 apresenta-se um resumo
dos resultados dessas análises com os devidos Figura 11. Estabilidade do Talude da Estaca 597
(Parâmetros do solo na condição inundada com sobrecarga
fatores de segurança obtidos. de 20 kPa). Método Bishop.

Figura 9. Estabilidade do Talude da Estaca 597


(Parâmetros do solo na condição natural com sobrecarga
de 20 kPa.). Método Bishop. Figura 12. Estabilidade do Talude da Estaca 597
(Parâmetros do solo na condição inundada com sobrecarga
de 20 kPa). Morgenstern-Price.

Tabela 3. Resumo dos resultados das análises realizadas


com os devidos fatores de segurança obtidos.
MÉTODOͲFATORDESEGURANÇA(FS)
CONDIÇÕES Bishop MorgensternͲPrice MÉDIA(FS)
Comparâmetrosdosolo
naturalͲComsobrecargade 1,53 1,522 1,526
20kPanacristadotalude
Comparâmetrosdosolo
inundadoͲComsobrecargade 0,976 0,971 0,9735
20kPanacristadotalude

Os resultados obtidos entre os métodos de


Figura 10. Estabilidade do Talude da Estaca 597 Bishop e Morgenstern-Price, resumidos na
(Parâmetros do solo na condição natural com sobrecarga Tabela 3, foram muito próximos e condizentes
de 20 kPa). Morgenstern-Price.

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com a situação real da obra estudada. Percebe-se
que, estando o solo na condição saturada, o
talude é potencialmente instável e dessa forma
com o vazamento da tubulação e a intensificação
do período chuvoso na região, houve a
deflagração do processo de instabilização.
Procedeu-se às análises sem simulação do
lençol freático por não ser detectada essa
situação para o trecho analisado. Considerou-se
tão somente os parâmetros para o solo na
condição inundada. No entanto, há de se ressaltar
que na época chuvosa, há o escoamento natural
das águas pluviais pelos taludes ora existente de
forma que poderá haver certa infiltração no solo. Figura 13. Análise de estabilidade global, contemplando
Ressalte-se ainda que em algumas situações o solução em gabiões, com FS:1.31 (Parâmetros do solo
solo do maciço se encontra na condição não na condição inundada com sobrecarga de 20 kPa).
saturada, na zona acima do nível d’água, o que
pode ser considerado na análise pela inclusão do
parâmetro de resistência Ɏb. Entretanto tal
situação não foi considerada pelo fato do período
chuvoso em curso. Como forma de
exemplificação, apresenta-se a equação de
resistência ao cisalhamento como sendo:

(1)

Sendo:

Figura 14. Análise de estabilidade ao deslizamento/


tombamento e fundação, contemplando solução em
gabiões, com FSde = 1.45; FSto = 2,43; FSpf = 1,84
5 SOLUÇÃO DE ESTABILIZAÇÃO (Parâmetros do solo na condição inundada com
sobrecarga de 20 kPa).
ADOTADA
As análises de estabilidades apresentadas nas
Visando atender às necessidades dos aspectos
Figuras 13 e 14 mostram que a solução em
geotécnicos, econômicos e executivos para a
gabião é eficiente para o caso em apreço e que
obra em questão, definiu-se como solução uma
poderia ser adotada como forma de
estrutura de contenção em gabiões com altura de
estabilização.
6,0m e retaludamento com inclinação de
A estabilidade foi alcançada com seis
(2H:1V), seguido de plantio de gramíneas
camadas de gabiões, sendo a primeira com 5,0m
visando a proteção contra a erosão superficial.
de largura, a segunda com 4,0m, a terceira com
As Figuras 13 e 14 mostram as análises de
3,5m, a quarta com 2,5m, a quinta com 1,5m e a
estabilidade estudadas para o caso em questão já
última camada com 1,0m de largura. Ao tardoz
contemplando a inserção da solução adotada em
da estrutura foi utilizado um geotêxtil não tecido,
gabiões, onde além da avaliação quanto à
MacTex N40.2, com resistência longitudinal a
estabilidade global da estrutura, também foram
tração de 10kN/m, com a principal função de
avaliados os coeficientes de segurança quanto ao
promover o processo de filtração, facilitando a
deslizamento, tombamento e pressões na
drenagem e impedido a fuga de material fino
fundação.

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para o interior das caixas.
Os gabiões são elementos modulares, com
formatos variados e são confeccionados a partir
de telas metálicas em malha hexagonal de dupla
torção, sendo tipicamente preenchidos por
pedras de granulometria adequada e costurados
entre si. Dessa forma, alinhado com a boa prática
da engenharia são destinados para a solução de
problemas geotécnicos, hidráulicos e controle de
erosão. A solução tem como principais
diferenciais, a elevada resistência e flexibilidade
das malhas metálicas, grande potencial drenante Figura 16. Execução do sistema de contenção em gabião.
em função da arrumação das pedras no interior
das caixas, versatilidade, baixo impacto
ambiental com rápida integração ao ambiente
circundante e por último, mas não menos
importante, são consideravelmente econômicos
quando comparados a soluções semelhantes.

6 EXECUÇÃO DA SOLUÇÃO

Após a limpeza do terreno com a retirada do


material rompido, deu-se início à montagem e
Figura 17. Execução do sistema de contenção em gabião.
amarração dos gabiões obedecendo à seção de
projeto. O material de enchimento deve ter bom
peso específico e não ser friável, garantindo o
comportamento e a resistência esperada para a
estrutura. O enchimento das caixas deve ser por
etapas, conforme mostra a Figura 15.

Figura 18. Execução do sistema de contenção em gabião.

Figura 15. Etapas para enchimento dos gabiões caixa e


colocação dos tirantes de amarração. (Barros, 2005).

As Figuras 16, 17 e 18 apresentam a execução do


sistema em gabião, e na Figura 19 mostra-se o
muro finalizado. Posteriormente, nas Figuras 20
e 21 apresenta-se o estágio da obra no início do
ano de 2017. Figura 19. Muro finalizado apto a receber o retaludamento
na parte superior.

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2017, ao local em que ocorreu a intervenção e
constatou-se que as obras implantadas estão
condizentes com o funcionamento esperado.

AGRADECIMENTOS

Ao Departamento Nacional de Infraestrutura de


Figura 20. Etapas para enchimento dos gabiões caixa e
Transportes (DNIT), Maccaferri do Brasil Ltda.,
colocação dos tirantes de amarração. (Google Earth, Reforsolo Engenharia Ltda., Universidade
2017). Católica de Brasília (UCB), Centro Universitário
de Brasília (UniCEUB) e ao Instituto de Ensino
Superior Planalto com contribuições importantes
que tornaram possível a realização deste
trabalho.

REFERÊNCIAS

BARROS, P. L. A. (2005) Obras De Contenção - Manual


Técnico, Maccaferri do Brasil Ltda. – São Paulo.
Figura 21. Etapas para enchimento dos gabiões caixa e Geo-slope international. (2012). Stability modeling with
colocação dos tirantes de amarração. (Google Earth, SLOPE»W, an engineering methodology. 238 p.
2017). GOOGLE EARTH. Disponível em
http://www.google.com/earth/index.html. Acesso em:
13 de julho de 2017.
7 CONCLUSÕES INMET. Instituto Nacional de Meteorologia. (2012).
Disponível em: <http// www.inmet.gov.br>. Acesso
em: 02 de fevereiro de 2012.
Este estudo procurou apresentar e analisar o Software – BR – Manual de Referência Mac.S.T.A.R.S
emprego de técnicas em gabião para recuperação 2000 – PT.
de um trecho que sofreu ruptura de talude. Os
estudos realizados permitiram concluir que:

a) O talude lateral à Rodovia encontrava-se em


processo de degradação e ou instabilização
progressiva que requeria intervenções urgentes
com vistas à mitigação do problema em curso.
Observou-se também que o problema foi
agravado pela percolação de água oriunda de
tubulação de concreto, provocando excesso de
poro pressão, diminuindo a resistência ao
cisalhamento do solo;

b) A solução adotada em gabiões se mostrou


vantajosa, sob o aspecto econômico diante de
outras soluções e a sua simplicidade executiva
proporcionou celeridade ao processo executivo,
permitindo a execução em pleno período
chuvoso sem nenhum tipo de intercorrência;

c) A fim verificar as condições atuais do sistema


implantado, procedeu-se à visita, no início de

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Avaliação da Estabilidade dos Taludes das Margens do Riacho
Camaragibe em Pernambuco
Yago Ryan Pinheiro dos Santos
Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, Caruaru, Brasil,
yago_ryan@hotmail.com

Jayne Araújo Silva


Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, Caruaru, Brasil,
jayne.a.silva@hotmail.com

Alison de Souza Norberto


Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, Caruaru, Brasil,
alison_norberto@hotmail.com

Artur Paiva Coutinho


Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, Caruaru, Brasil,
arthur.coutinho@yahoo.com.br

Maria Isabela Marques da Cunha Vieira Bello


Universidade Federal de Pernambuco, Centro Acadêmico do Agreste, Caruaru, Brasil,
isabelamcvbello@hotmail.com

RESUMO: Diversos fatores podem desencadear o movimento de massa de taludes e levar a prejuízos,
sejam eles financeiros ou perdas de vidas humanas. Em períodos chuvosos, eventos envolvendo
movimentos de massa são mais comuns de acontecerem, pois, o solo encontra-se saturado,
diminuindo assim sua resistência ao cisalhamento. Dentre esses fenômenos, está o caso em que a
vazão de rios e riachos está cheia e, por apresentarem muitas vezes traços erosivos em suas margens,
a ação da água acaba levando porções de solo até seus leitos, provocando o assoreamento e tornando
os taludes das margens desses cursos d’água instáveis. Por estes motivos, motivou-se o estudo da
estabilidade dos taludes das margens do Riacho Camaragibe, localizado no Município de
Camaragibe-PE, para avaliar a possibilidade de vir assorear o riacho em épocas de chuvas fortes,
assim como uma movimentação inadequada de solo que poderia causar danos nas edificações
próximas. Tais taludes possuem altura variando entre 0,5 m e 2,0 m e apresentam traços erosivos
formados pelos solapamentos e desmonte de material terroso ocasionados no período chuvoso, em
que a vazão do curso d’água está cheia. O estudo analisou a estabilidade de três seções do riacho com
a utilização do software SLOPE/W (do GeoSlope Internacional 2012), por meio de dados obtidos em
sondagens SPT em seis pontos ao longo das margens, da topografia local (inclinação, altura e
comprimento das margens) e de informações sobre os parâmetros geotécnicos dos solos presentes na
região, obtidos dentro da bibliografia técnica local. Os resultados dos valores dos fatores de segurança
(FS) mostraram instabilidade dos taludes nas três seções analisadas, sendo necessário recorrer a
métodos de estabilização. Como obra de intervenção sugerida no estudo, está a aplicação da estrutura
de contenção do tipo revestimento em gabião, que permitirá a existência de conexão hidráulica entre
o aquífero e o curso d’água, além de garantir segurança satisfatória do ponto de vista de estabilidade.

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PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de taludes, Investigação geológico-geotécnica, Fator de
segurança.

1 INTRODUÇÃO deposição de material no fundo do corpo d’água.


As consequências do assoreamento dos leitos
A análise de estabilidade de taludes é bastante dos rios são diversas e pode-se citar a
estudada devido aos riscos associados à sua possibilidade de inundações, comprometimento
instabilidade como riscos materiais, que levam a de fauna e flora natural e aumento da turbidez.
prejuízos financeiros, e riscos à vidas humanas. Para auxiliar no estudo da estabilidade de
Os taludes ou encostas naturais são taludes ou encostas, utiliza-se, comumente, um
superfícies inclinadas, constituídas de material programa comercial, o SLOPE/W da GeoSlope
terroso e/ou rochoso, provenientes dos processos Internacional, que leva em consideração diversos
geomorfológicos e geológicos ocasionados pelo métodos de cálculo para avaliar os fatores de
intemperismo, que podem sofrer modificações segurança em diversas condições.
antrópicas (Filho e Virgili, 1998). A bibliografia apresenta vários métodos para
Na definição de Carmignani e Fiori (2009) avaliar a estabilidade de talude. O GeoSlope
sobre taludes, os autores também citam a apresenta a opção de cálculo com diversos tipos
distinção entre talude natural e talude artificial. destes métodos, sendo escolhidos para o
Segundo eles, os taludes naturais são assim desenvolvimento deste trabalho o Ordinary
denominados as encostas e vertentes, e os taludes (Fellenius) (1927), Bishop Simplificado (1955),
artificiais são compreendidos como cortes e Morgenstern – Price (1965), Spencer (1967) e o
aterros. Janbu Simplificado (1968).
Alguns problemas associados a taludes naturais Alguns dados são relevantes na análise dos
e artificiais são erosão, desagragação superficial, fatores de segurança dos taludes e que são
escorregamento em corte, escorregamento em extraídos da investigação de campo e ensaios
aterro, recalque em aterro, queda de bloco e laboratoriais. As técnicas de intervenção a serem
rolamento de bloco (Maragon, 2006). Os fatores aplicadas, se necessárias, devem levar em
que levam a instabilidade de taludes são consideração o tipo de obra, sua manutenção e
saturação do solo em épocas de chuvas intensas, fica a critério do corpo técnico responsável.
que levam a diminuição da resistência do solo, A finalidade deste estudo foi avaliar a
inclinação inadequada, fatores antrópicos, estabilidade de taludes em seis pontos distintos
remoção da vegetação, entre outros. nas margens do riacho Camaragibe, devido a
As forças atuantes em um talude, segundo construção de um condomínio residencial
Carmignani e Fiori (2009) são as forças peso, próximo ao local e necessidade de evitar
que são características de cada material possíveis desmoronamentos. assoreamentos e
constituinte, as forças ocasioandas pelo inundações.
fenômeno de resistência ao cisalhamento e as
forças geradas pelo escoamento da água. A falta
de equilíbrio entre estas forças é o que gera a 2 ÁREA DE ESTUDO
movimentação de massa.
A movimentação de massa em um talude O riacho Camaragibe pertence à cidade de
normalmente transporta uma grande quantidade Camaragibe, um dos 14 municípios que
de material. Esse transporte de material pode compõem a Região Metropolitana do Recife
levar a diversos inconvenientes como interdição (RMR). O município encontra-se
de estradas, assoreamento de rios, soterramentos geologicamente inserido na província
de habitações, que necessitam de intervenção Borborema, representada pelos litótipos da Suíte
técnica para remediação. Itaporanga, Formação Muribeca-Membro
A relevância de se analisar a estabilidade dos Carmópolis, Grupo Barreiras e Depósitos
taludes nos leito dos rios e riachos se dá devido Flúvio-lagunares. A Suíte Intrusiva Itaporanga,
a alteração da vazão de água que ocorre com a calcialcalina de médio a alto potássio, engloba

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granitos e granodioritos porfiríticos associados a
dioritos. A Formação Muribeca-Membro
Carmópolis, constitui-se de conglomerados
originados de leques aluviais. O Grupo
Barreiras, está representado por arenitos e
arenitos conglomeráticos com intercalações de
siltito e argilito. Os Depósitos Flúvio-lagunares,
englobam filitos arenosos e carbonosos. (CPRM,
2005).
Segundo Bandeira (2009), em Camaragibe
destacam-se os sedimentos do Grupo Barreiras, Figura 2. Riacho Camaragibe.
abrangendo os tabuleiros do norte município,
como também no norte de Recife, e nos restos de
tabuleiros e morros existentes entre os limites
mnicipais norte de Jaboatão dos Guararapes e
Sul de Recife, como pode ser visto na Figura 1.

(a)

(b)

Figura 1. Ocorrência da Formação Barreiras em


Camaragibe e região (BANDEIRA, 2009).

Tal riacho (Figura 2) possui topografia com


taludes nas suas margens com alturas das seções (c)
variando entre 0,5 e 2,0 metros, (Figura 3 a-c), e Figura 3 a-c. Seções das margens do riacho Camaragibe –
a. Seção 01; b. Seção 02; c. Seção 03.
apresentam processos erosivos formados pelos
solapamentos e desmonte de material terroso
Devido as suas formas e características
ocasionado pelo período de chuvas (aumentando
geológico-geotécnicas não é possível afirmar se
a vazão do riacho), que faz com que com que a
seus taludes apresetam condições estáveis, sendo
força de arrasto das suas águas carreiem porções
assim necessária a análise de estabilidade dos
de solo da área, por meio de descalçamento nas
mesmos, e com os resultados condicionar se
bases.
necessário for, um projeto de estabilização, para
assim impedir possiveis deslizamentos.

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3 METODOLOGIA Para a obtenção dos valores de FS, foram
utlizados diversos métodos que dividem as
3.1 Obtenção dos parâmetros geológico- superficies dos taludes em fatias, presentes no
geotécnicos programa computacional utilizado. Foram eles:
métodos de equilíbrio limite não rigorosos, como
Os parâmetros geológico-geotécnicos utilizados o Ordinary (1927), em que não se considera
para este estudo foram obtidos através de um forças entre as fatias, o Bishop Simplificado
programa de investigação do subsolo com a (1955), cuja resultante das forças é horizontal e
utilização do ensaio de SPT (Standard o Janbu Simplificado (1968), onde a resultante
Penetration Test) e da utilização de dados das forças é horizontal e considera efeitos de
referentes ao solo da área de estudo presentes na forças tangenciais presentes; métodos de
bibliografia local. equilíbrio limite rigorosos, como o Morgenstern
O programa de investigação geotécnica do – Price (1965), onde define-se uma função para
subsolo consistiu na realização de 06 furos de calcular o equilíbrio entre as forças e os
sondagens de reconhecimento através do ensaio momentos presentes na análise e o Spencer
de SPT. Tais furos foram distribuídos de maneira (1967), em que as resultantes das forças entre
uniforme ao longo de toda a área de interesse do fatias têm inclinações constantes através da
estudo, nas proximidades das seções 01, 02 e 03, massa do solo.
já apresentadas anteriormente. O ensaio Valores inferiores a 1,5 para os fatores de
determinou a ocorrência de cada tipo de solo segurança calculados indicarão instabilidade
encontrado na região, assim como sua resistência para os taludes, de acordo com a classificação
por meio do NSPT. proposta pelo DNIT (2010). A Tabela 2 mostra
Os parâmetros de peso específico do solo (J), as classes de cada intervalo de fator de segurança
coesão (c') e ângulo de atrito (I'), necessários utilizado pelo órgão citado anteriormente.
para a avaliação da estabilidade dos taludes,
foram obtidos na bibliografia de Gusmão Filho Tabela 2. Classes de cada intervalo de fator de segurança
(DNIT, 2010).
(1998), que indica os valores desses parâmetros
Intervalo de FS Classes Diagnóstico
para os solos presentes na cidade de Camaragibe, 0 < FS < 1 1
como está apresentado na Tabela 1. Instabilidade
1 ” FS < 1,5 2
1,5 ” FS < 2 3 Estabilidade crítica
Tabela 1. Parâmetros geotécnicos dos solos das seções 2 ” FS < 3 4 Boa estabilidade
analisadas (Gusmão Filho, 1998). 3 ” FS < 4 5 Alta estabilidade
J c' I' 4 ” FS < 5 6
Tipo de Solo Excelente
3
(kN/m ) (kPa) (q) 5 ” FS < 8 7
estabilidade
8 ” FS < 10 8
Silte arenoso 30 0,0 30
FS • 10 9
Argila siltosa 25 15,0 26

3.2 Análise de estabilidade de taludes 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

As análises referentes à estabilidade dos taludes 4.1 Características geológico-geotécnicas do


do riacho Camaragibe foram realizadas através local
da utilização do programa computacional
SLOPE/W, da GeoSlope Internacional (2012), De uma forma geral, o perfil geotécnico da área
em sua versão de estudante. estudada, identificado através dos furos de
As informações obtidas por meio da topografia sondagens (Figura 4 a-f), é formado por camadas
local, dos ensaios de SPT realizados e dos de silte arenoso, argila siltosa, areia média e fina,
parâmetros da bibliografia técnica foram argila orgânica e camadas de turfa. A presença
inseridas como dados de entrada no programa, de das camadas de argila orgânica e de turfa é
forma a se obter os resultados relacionados aos indicativo de área de várzea, o qual corresponde
valores de fator de segurança (FS) de cada uma com o observado em campo, e também se
das seções do riacho analisadas. relaciona com o tipo de solo: os Espodossolos e

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os Gleissolos Háplicos. As camadas de argila
orgânica e turfa, correspondem à evolução
histórica de expansão de terrenos dentro da
Região Metropolitana do Recife através do uso
da tecnologia do aterro (BANDEIRA, 2009).

(d)

(a)

(e)

(b)

(f)
Figura 4 a-e. Perfis de sondagens do solo – a. furo 1; b.
furo 2; c. furo 3; d. furo 4; e. furo 5; f. furo 6.

(c)

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Dentre as camadas identificadas, as que
apresentaram ser mais resistentes foram as de
areia média grossa a fina siltosa, com NSPT de
48 a 55/20, correspondente a solos muito
compactos, seguidas das camadas de areia fina e
média silto argilosa com pedregulho,
encontradas sempre após camadas de turfa e
argila mole, que apresentam resistências
inferiores.
Fazendo o uso da composição apresentada
pelas camadas de solo nos perfis de sondagem,
Figura 5. Fsmín pelo método de Janbu na seção 01 –
de uma forma geral, os taludes apresentam uma Lado A.
camada silto arenosa na sua superfície, enquanto
que apresenta uma camada argilo siltosa na sua
porção mais abaixo, sendo esta composição Tabela 3. FSmín para cada método na Seção 1 – Lado A.
considerada para a análise de sua estabilidade,
cujos parâmetros utilizados são aqueles Método de Análise FSmín
apresentados por Gusmão Filho (1998).
Morgenstern-Price 1,158
Spencer 1,158
4.2 Avaliação da estabilidade dos taludes Bishop 1,158
Janbu 1,140
Fazendo uso da topografia das seções 01, 02 e 03 Ordinary 1,156
do riacho, as quais foram seccionadas em dois
taludes cada uma, e usando os dados da A Tabela 4 apresenta os valores de FSmín para o
composição do solo apresentados nos perfis de talude da Seção 01 – lado B, o qual apresentou o
sondagem em que, de uma forma geral, menor fator de segurança para Método de Janbu
apresentaram na região superficial solo silte com valor de 1,432 (Figura 6), que segundo
arenoso e abaixo, uma camada de argila siltosa, DNIT (2010), o talude encontra-se instável.
foram estudados as estabilidades de 6 taludes
utilizando o SLOPE/W com os 5 métodos de
análises apresentados anteriormente, tendo
talude a seguinte especificação: talude da seção
01 – lado A; talude da seção 01 – lado B, talude
da seção 02 – lado A, talude da seção 02 – lado
B, talude da seção 03 – lado A, e por fim, talude
da seção 03 – lado B.
A Tabela 3 apresenta os valores de FSmín
para o talude da Seção 01 – lado A, o qual
apresentou o menor fator de segurança para
Método de Janbu com valor de 1,140 (Figura 5), Figura 6. FSmín pelo Método de Janbu na Seção 01 –
Lado B.
que, segundo o DNIT (2010), o talude encontra-
se instável.
Tabela 4. FSmín para cada método na Seção 01 – Lado
B.

Método de Análise FSmín

Morgenstern-Price 1,462
Spencer 1,463
Bishop 1,462
Janbu 1,432
Ordinary 1,434

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A Tabela 5 apresenta os valores de FSmín para Tabela 6. FSmín para cada método na Seção 2 – Lado B.
o talude da Seção 02 – lado A, o qual apresentou
Método de Análise FSmín
o menor fator de segurança para Método de
Janbu e Ordinary com valor de 1,019 (Figura 7), Morgenstern-Price 0,899
que, segundo o DNIT (2010), o talude encontra- Spencer 0,899
se instável. Bishop Simp. 0,899
Janbu 0,889
Ordinary 0,889

A Tabela 7 apresenta os valores de FSmín para


o talude da Seção 03 – lado A, o qual apresentou
o menor fator de segurança para Método de
Janbu com valor de 0,848 (Figura 9), que
segundo DNIT (2010), o talude encontra-se
instável.

Figura 7. FSmín pelo Método de Janbu e Ordinário na


Seção 02 – Lado A.

Tabela 5. FSmín para cada método na Seção 02 – Lado


A.

Método de Análise FSmín

Morgenstern-Price 1,027
Spencer 1,028
Bishop Simp. 1,027
Janbu 1,019
Ordinary 1,019

A Tabela 6 apresenta os valores de FSmín para Figura 9. FSmín pelo Método de Janbu na Seção 03 –
o talude da Seção 02 – lado B, o qual apresentou Lado A.
o menor fator de segurança para Método de
Janbu e Ordinary com valor de 0,889 (Figura 8), Tabela 7. FSmín para cada método na Seção 03 – Lado
que segundo DNIT (2010), o talude encontra-se A.
instável.
Método de Análise FSmín

Morgenstern -Price 0,863


Spencer 0,864
Bishop Simp. 0,863
Janbu 0,848
Ordinary 0,889

A Tabela 8 apresenta os valores de FSmín para


o talude da Seção 03 – lado B, o qual apresentou
o menor fator de segurança para Método de
Janbu com valor de 0,977 (Figura 10), que,
Figura 8. FSmín pelo método Janbu e Ordinay na seção segundo o DNIT (2010), o talude encontra-se
02 – Lado B.

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instável. danos ambientais e perdas humanas.
A análise de estabilidade realizada nos taludes
das margens do riacho Camaragibe com o uso do
software GeoSlope, para os cinco métodos de
análise, apontaram valores dos fatores de
segurança inferiores a 1,5, sendo considerados
instáveis de acordo com a classificação proposta
pelo DNIT (2010). Com isso, valida-se a
necessidade de elaborar propostas de
estabilização dos maciços, a fim de evitar futuros
problemas como o deslizamento de porções de
solo até o leito do riacho, causando o seu
assoreamento.

REFERÊNCIAS
Figura 10. FSmín pelo método de Janbu na Seção 03 – Bandeira, A. P., Coutinho, R. Q., Alheiros, M. M. (2009).
Lado B. Importância da Caracterização Geológico-Geotécnica
e da Chuva para Gerenciamento de Áreas de Riscos.
Tabela 8. FSmín para cada método na Seção 3 – Lado B. V COBRAE. Anais, São Paulo-SP, 10p.
Bishop, A.W. (1955). The Use of the Slip Circle in the
Método de Análise FSmín Stability Analysis of Slopes. Geotechnique, Vol.5,
No.1, pp.7-17.
Morgenstern -Price 0,991 Carmignani, L.; Fiori, A. P. (2009). Fundamentos de
Spencer 0,991 Mecânica dos Solos e das Rochas: aplicações na
Bishop Simp. 0,991 estabilidade de taludes. 2ª ed. rev. e ampl. – Curitiba:
Janbu 0,977 Ed. UFPR.
Ordinary 1,022 CPRM (2005). Diagnóstico do Município de Matriz de
Camaragibe. Projeto Cadastro de Fontes de
Abastecimento por Água Subterrânea. Pernambuco,
Basil.
Pode-se observar com esses resultados que os DNIT (2010). Manual de implantação básica de rodovia.
valores de FSmín apresentaram-se abaixo de 1,5 Manual de implantação básica de rodovia. 3ª ed. Rio
para todas as seções, apresentando-se instáveis de Janeiro, Brasil.
segundo os critérios do DNIT (2010). Fellenius, W. (1927). Erdstatische Berechnungen mit
É notável também que os resultados dos Reibung und Kohasion. Ernst, Berlin.
Filho, O. A., Virgili, J. C. (1998). Estabilidade de Taludes.
métodos de Morgnester-Price, Spencer e Bishop In: Oliveira, A. M. S.; Brito, S. N. A. de. Geologia de
Simplificado tendenciaram para os mesmos Engenharia. São Paulo: Associação Brasileira de
resultados em todas as seções. O Método de Geologia de Engenharia.
Janbu apresentou o menor fator de segurança Gusmão Filho, J. A. (1998). Fundações: Do conhecimento
para todas as seções. Já o Método Ordinary geológico à prática da engenharia. Ed. Universitária
UFPE, Recife-PE, 345p.
apresentou oscilação de resultados para a Seção Janbu, N. (1968). Slope Stability Computations. Soil
02, em ambos os lados apresentou valores iguais Mechanics and Foundation Engineering Report.
aos do Método de Janbu, sendo estes os valores Technical University of Norway, Trondheim.
de FSmín das seções, mas na Seção 3 apresentou Marangon, M. (2017). Estabilidade de Taludes. Tópicos
valores superiores aos demais métodos. em Geotecnia e Obras de Terra. Minas Gerais. UFJF.
2006. Disponível em: <
http://www.ufjf.br/nugeo/files/2009/11/togot_Unid04
EstabilidadeTaludes01.pdf > Acesso em: 11 de Julho
5 CONCLUSÕES de 2017.
Morgenstern, N.R. e Price, V.E. (1965). The analysis of
O estudo acerca da estabilidade de taludes torna- the stability of general slip surface. Geotechnique
15(1), 79-93.
se cada vez mais necessário, de modo a Spencer, E. (1967). A Method of Analysis of the Stability
solucionar os problemas relacionados aos of Embankments Assuming Parallet Interslice Forces.
episódios de instabilidade, que podem causar Geotechnique, Vol.17, No.1, pp.11-26.

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Avaliação da Influência do NSPT na Previsão da Capacidade de
Carga de Estacas Raiz a partir de Análise Estatística
Fernando Feitosa Monteiro
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, engffmonteiro@gmail.com

Alfran Sampaio Moura


Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, alfransampaio@ufc.br

Marcos Fábio Porto de Aguiar


Instituto Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, marcosfpa@hotmail.com

Renato Pinto da Cunha


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, rpcunha@unb.br

Yago Machado Pereira de Matos


Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, yago_mpm@hotmail.com

RESUMO: A estimativa da capacidade de carga de fundações profundas a nível de projeto no Brasil


é normalmente determinada a partir de métodos semi-empíricos que utilizam o índice de resistência
a penetração do ensaio SPT (NSPT) como parâmetro entrada. O presente artigo tem o objetivo de
avaliar a variabilidade do NSPT e sua influência na estimativa da capacidade de carga de duas estacas
raiz executadas em um solo com valores elevados de NSPT na cidade de Fortaleza, no estado do
Ceará. A análise realizada consistiu em estimar a capacidade de carga de duas estacas raiz a partir
dos métodos de Aoki e Velloso (1975) modificado por Monteiro (1997) e Cabral (1986) utilizando
valores médios de NSPT e valores médios de NSPT com acréscimo e decréscimo de um desvio
padrão. Comparando os valores obtidos pelos métodos semi-empíricos de capacidade de carga com
os valores de capacidade de carga fornecidos em dois ensaios de prova de carga estática lenta,
considerando uma variabilidade de ± 20% nos seus resultados. A partir das análises realizadas,
observou-se que a utilização da estatística para uma análise da capacidade de carga de uma estaca
pode ser uma opção auxiliar à utilização de, apenas, um fator de segurança, procedimento,
habitualmente, realizado em projetos de fundações profundas, permitindo a otimização dos custos e
das soluções adotadas em projeto.

PALAVRAS-CHAVE: Capacidade de Carga, Estaca Raiz, Métodos Semi-Empíricos.

1 INTRODUÇÃO diversas correlações reportadas na literatura.


Assim, estimativa da capacidade de carga de
Dentre os ensaios de investigação de solo in situ, fundações a nível de projeto no Brasil, está
o mais consagrado por várias décadas no Brasil diretamente associada a parâmetros obtidos de
tem sido o SPT (Standard Penetration Test). O ensaios de campo como o ensaio SPT.
ensaio consiste em extrair amostras do solo ao No projeto de fundações, a investigação
longo do perfil e na determinação do índice de geotécnica normalmente é limitada, sendo
resistência a penetração (NSPT), o qual possui necessária a utilização de critérios, como os

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valores médios das sondagens ou, até mesmo, a ‫ܭ‬Ǥ ܰ௣ ܷ
utilização da sondagem que apresenta os piores ൌ Ǥ ‫ܣ‬௣ ൅  ෍ሺȽǤ Ǥ ௅ Ǥ ȟሻ (2)
ଵ ‫ܨ‬ଶ
valores de NSPT. Assim, o presente trabalho tem ଵ

o objetivo de avaliar a variabilidade do NSPT e


sua influência na estimativa da capacidade de onde: a capacidade de carga da estaca (R) é
carga. determinada pela soma da resistência lateral (RL)
e de ponta (RP). D e K são parâmetros
determinados pelo tipo de solo, F1 e F2 são os
2 MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS DE respectivos fatores de escala e correção; e NP e
CAPACIDADE DE CARGA NL são, nessa ordem, os valores do NSPT na cota
de apoio da estaca e o NSPT médio na camada de
Segundo Amann (2010) os métodos semi- solo de espessura ǻL.
empíricos podem ser definidos como os que Posteriormente, o método sofreu atualizações
partem das formulações teóricas já consagradas, para a sua utilização em estacas mais recentes,
mas que permitem determinar as tensões como as estacas raiz e hélice contínua, de forma
máximas de atrito e de ponta a partir de que Monteiro (1997) propôs a alteração dos
correlações com ensaios de campo. Já de acordo valores dos coeficientes . e D, função do tipo de
com a ABNT (2010), são considerados métodos solo, bem como dos coeficientes F1 e F2.
semi-empíricos aqueles em que as propriedades
dos materiais, estimados com base em 2.2 Método de Cabral (1986)
correlações, são usadas em teorias adaptadas da
Mecânica dos Solos. Cabral (1986) descreve a capacidade de carga de
estacas tipo raiz com um diâmetro final B ”
2.1 Método de Aoki e Velloso (1975) 0,45m e injetada com uma pressão p ” 400 kPa
modificado por Monteiro (1997) como:
O método de Aoki e Velloso (1975) foi
ܳ‫ ݐ݈ݑ‬ൌ ሺߚ௢ ߚଶ ܰ௕ ሻ‫ܣ‬௕ ൅ ܷ ෍ሺߚ௢ ߚଵ ܰሻ ο‫ܮ‬ (3)
desenvolvido a partir de um estudo comparativo
entre resultados de provas de carga em estacas e
sondagens à percussão. O método pode ser onde: ǻL é a espessura de solo caracterizado por
utilizado tanto com dados do SPT como de certo NSPT, Nb corresponde ao NSPT no nível da
ensaio de cone. A princípio a expressão da ponta, ȕ1 e ȕ2 são fatores que dependem do tipo
capacidade de carga da estaca foi definida de solo e ȕo é um fator que depende do diâmetro
relacionando a resistência de ponta e o atrito da estaca B e da pressão de injeção p.
lateral da estaca com resultados do CPT, como
visto na Figura 1. 3 ANÁLISE ESTATÍSTICA EM
GEOTECNIA

Ang e Tang (1975) relatam que, na Engenharia


Civil e, principalmente, na área da Geotecnia, já
há bastante tempo, tem sido reconhecido que as
propriedades dos materiais do solo são
inerentemente variáveis, já que depósitos
naturais são caracterizados por camadas
irregulares de vários tipos de materiais, com
diversas faixas de densidades, oriundos de
Figura 1. Esquema de tensões e forças atuantes na estaca
misturas diversas e possuidores de outras
propriedades que afetam a resistência,
 ൌ  ௟ ൅ ܴ௣ (1) deformabilidade e permeabilidade do depósito.
Assim, é conhecido que carregamentos e
parâmetros podem sofrer variações em torno de

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seus valores adotados, o que leva a uma conhecimento da distribuição de probabilidades
inevitável convivência com riscos de falhas de das variáveis, como visto na Figura 2. Desse
obras geotécnicas (ASSIS et al, 2001). modo, verifica-se que com apenas três desvios
padrões, é possível obter 99,7% dos dados. A
3.1 Desvio Padrão utilização da distribuição normal é recomendada
para amostras com mais de 30 elementos, sendo
Dependendo da quantidade de dados que em geotecnia, dificilmente dispõe-se de
disponíveis, vários métodos podem ser utilizados tantos dados, sendo necessário recorrer a
para estimar os desvios padrões dos parâmetros distribuições alternativas, como a de Student. De
geotécnicos. De modo geral, o desvio padrão é acordo com Ramirez e Reis (2016), a
determinado a partir da variância dos dados distribuição de Student é similar a distribuição
como exibido na equação a seguir: normal, ambas são simetrícas em relação a média
zero. A distribuição de Student reflete uma maior
variabilidade, com curvas mais alargadas,
(4) propostas para amostras pequenas, e diferente da
normal uma vez que a sua variação depende da
quantidade de elementos que compõem a
amostra, sendo sempre maior do que 1. Quanto
onde Xii é o valor de uma observação, ܺത௜ é a maior o grau de liberdade (Ȟ), mais a distribuição
média das observações e n o número de Student se aproxima da distribuição normal
observações. (Figura 3).

3.2 Coeficiente de Variação

O coeficiente de variação é a medida relativa da


variação. Sendo expresso como uma
percentagem, desse modo, o coeficiente de
variação descreve a dispersão dos dados em
relação à média aritmética conforme a expressão
a seguir:
ఙ Figura 2. Distribuição de probabilidade para variáveis
‫ܸܥ‬ሺΨሻ ൌ  ത ͳͲͲ (5)
௑ normalmente distribuídas.

onde V é o desvio padrão da amostra e ܺത é a


média aritimética das observações. Na
engenharia geotécnica, a estimativa do desvio
padrão dos parâmetros a partir do coeficiente de
variação tem ganhado popularidade, pois é
possível associar os valores de coeficiente de
variação as propriedades físicas medidas como
coesão, ângulo de atrito e peso específico . Harr Figura 3. Distribuição de Student para diferentes n de
(1984) e Kulhawy (1992) indicam valores de amostras.
coeficiente de variação entre 15% e 45% para o
índice de resistência a penetração (NSPT). 4 ESTUDO DE CASO

3.3 Distribuição Normal As estacas raiz analisadas foram executadas para


fundação de um edifício residencial de 22
A distribuição normal é uma ferramenta muito pavimentos localizado em um terreno na rua
conhecida e utilizada na análise estatística, Caio Cid, no bairro eng°. Luciano Cavalcante na
comumente referida como distribuição de Gauss. região metropolitana de Fortaleza, no estado do
Uma grande vantagem de sua popularidade, é o Ceará. As duas estacas possuem um

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comprimento de 15 m, diâmetro de 0,410 m e utilizados valores de NSPT médio entre as 5
pressão de injeção de 300 kPa. O levantamento sondagens realizadas e valores médios com
de informações geológico-geotécnicas da obra acréscimo e decréscimo de 1 desvio padrão (+V
foi baseado em dados coletados através de e -V) para uma distribuição normal. Analisando,
relatórios de sondagens à percussão. Na obra, assim, a variabilidade da capacidade de carga
foram realizados 5 ensaios de sondagem à estimada pelos métodos semi-empíricos e
percurssão, sendo 2 sondagens executadas na comparando com os resultados obtidos a partir
torre 1 e 3 sondagens na torre 2. As estacas de ensaios de prova de carga estática lento
analisadas estão localizadas na torre 2, como (SML).
exibido na Figura 4.

Figura 4. Localização das sondagens e das estacas

A Figura 5 mostra os resultados das


sondagens realizadas na obra onde as estacas
estudadas foram executadas. São apresentados
também o valores de NSPT médio ao longo da
profundidade, bem como o coeficiente de
variação (CV) dos valores do NSPT. O perfil Figura 5. Resultados dos ensaios SPT
estatigráfico é, predominantemente, composto
por uma camada de areia argilosa até 12 m de A Figura 6 exibe os resultados dos ensaios de
profundidade, seguido por uma camada de argila prova de carga estática lenta realizados nas
siltosa com 3 m de espessura e a partir dos 16 m estacas raiz avaliadas. Durante o ensaio de prova
de profundidade, verificou-se a ocorrência de de carga estática, a estaca 1 foi submetida a uma
arenito. Quanto ao NSPT, verificaram-se valores carga de 2400 kN, alcançando um recalque
baixos até, aproximadamente, 3 m de máximo de 11,24 mm. Após o descarregamento,
profundidade, seguido de valores bastante obteve-se um recalque residual de 3,05 mm. Já a
elevados, entre 20 a 60. Vale ressaltar que, para estaca 2 foi sujeita, também, a uma carga
valores mais elevados de índice de resistência à máxima de 2400 kN, verificando-se um recalque
penetração (NSPT), limitou-se o NSPT em 60. A máximo observado de 10,38 mm e recalque
adoção desse valor foi realizada de forma a residual medido após o descarregamento de 2,86
compatibilizar o comportamento observado em mm. Observa-se, ainda, a partir das curvas carga
campo com a execução das estacas visando as x recalque, que as estacas não apresentaram
análises de comportamento, como relatado em ruptura e que a perceptível linearidade indica um
Monteiro (2016). As maiores divergências entre comportamento, predominantemente, elástico,
valores de índice de resistência a penetração sendo necessário avaliar a carga de ruptura a
ocorreram até 2 m e entre 12 e 14 m de partir da extrapolação das curvas carga x
profundidade. Analisando a variabilididade do recalque utilizando métodos que considerem
NSPT como parâmetro para o dimensionamento uma ruptura física, como o de Décourt (1996).
de estacas do tipo raiz a partir de métodos semi- Vericou-se que a carga de ruptura da estaca 1
empíricos, realizaram-se estimativas de seria de 4557 kN e a da estaca 2 seria de 4386
capacidade de carga a partir dos métodos de kN. A Tabela 1 mostra a estimativa da
Aoki e Velloso (1975) modificado por Monteiro capacidade de carga para estacas do tipo raiz a
(1997) e pelo método de Cabral (1986). Foram partir dos métodos semi-empíricos propostos por

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Cabral (1986) e Aoki e Velloso (1975) utilizando Observa-se em uma análise preliminar, que,
valores de NSPT médio entre as sondagens de modo geral, ambas metodologias semi-
realizadas e valores médios com acréscimo e empíricas superestimaram a capacidade das
decréscimo de 1 desvio padrão (+V e -V) para o estacas estudadas e que os métodos semi-
NSPT. empíricos apresentaram valores concordantes
entre si até um comprimento de estaca de 10 m.
Os métodos de Monteiro (1997) e de Cabral
(1986), quando utilizaram valores de NSPT
médio, estimaram capacidades de carga de 4872
e 4987 kN respectivamente. Estes valores,
quando comparados com os valores de referência
obtidos dos ensaios de prova de carga,
apresentaram discrepâncias da ordem de 12%
contra a segurança. Já para a análise utilizando
valores de NSPT médio acrescido de um desvio
padrão, notou-se, evidentemente, a ocorrência de
Figura 6. Curvas carga x recalque – Estacas 1 e 2
valores de capacidade de carga superiores aos
valores de referência em uma média de 23%, ou
Tabela 1. Capacidade de Carga – Métodos semi-empíricos
Capacidade de
seja, a nível de projeto, o aumento do NSPT
Método estaria superestimando a capacidade de carga do
Carga (kN)
conjunto estaca-solo, atuando contra a
Monteiro (1997) - N SPT 4872 segurança. Para o cenário onde se adotou valores
Monteiro (1997) - (+ʍ) 5536 de NSPT médio com descréscimo de um desvio
Monteiro (1997) - (-ʍ) 4208 padrão, constatou-se uma redução da capacidade
Cabral (1986) - de carga da ordem de 8%, quando comparados a
N SPT 4987
capacidade de carga determinada pelos ensaios
Cabral (1986) - (+ı) 5718
de prova de carga, sendo este, a favor da
Cabral (1986) - (-ı) 4256
PCE - Estaca 1 4557
segurança. Vale ressaltar, que as análises
PCE - Estaca 2 4386 mencionadas estão sendo realizadas com valores
de capacidade de carga última, sem a utilização
A Figura 7 mostra como a capacidade de de fatores de segurança.
carga varia com o comprimento da estaca ao Fellenius (1980) avaliou os fatores que afetam
longo da profundidade. As linhas verticais o resultado de uma prova de carga, como o tipo
representam os valores de capacidade de carga de carregamento, elementos de reação, macaco
da estaca obtidos a partir dos ensaios de prova de hidráulico, leituras de deflectômetros e células
carga advindos da extrapolação das curvas carga de carga. O autor concluiu que o erro estimado
x recalque pelo método de Décourt (1996). pode variar entre ± 10 e 25%, sendo a maioria da
ordem de 15 a 20% como valores comumente
adotados na prática da engenharia de fundações
e publicações nacionais e internacionais.
Na prática da engenharia de fundações, a
capacidade de carga determinada por um ensaio
de prova de carga é aceita de maneira que não se
avalia a variabilidade dos resultados do ensaio.
Assim, considerando a ocorrência de
variabilidade do ensaio de prova de carga e
adotando uma variação de ± 20% da capacidade
de carga determinada pelo ensaio como
aceitável, verifica-se que os cenários adotando
valores de NSPT médio e valores de NSPT médio
Figura 7. Variação da capacidade de carga com o
comprimento da estaca com descréscimo de um desvio padrão são

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aceitáveis. Quanto ao cenário onde se adotaram
valores médios de NSPT acrescidos de um desvio AGRADECIMENTOS
padrão, ainda se observou uma capacidade de
carga superestimada em 8%, quando comparada Os autores agradecem ao CNPq e a FUNCAP
ao valor de referência levando em consideração pelo apoio financeiro e concessão de bolsas.
a variabilidade do ensaio de prova de carga.

REFERÊNCIAS
4 CONCLUSÕES
Amann, K.A.P. (2010). Metodologia Semiempírica
O estudo mostrou que a estimativa da capacidade Unificada para a Estimativa da Capacidade de Carga
de Estacas. 2010. 430 f. Tese (Doutorado) - Curso de
de carga a partir de métodos semi-empíricos Engenharia Civil, Escola Politécnica da Universidade
baseados no índice de resistência a penetração de São Paulo, São Paulo.
(NSPT) apresenta uma variabilidade, Ang, A.H.-S. e Tang, W.H. (1975). Probability Concepts
razoalvemente, significativa para um solo com in Engineering Planning and Design, Vol. 1, Basic
elevada resistência. Verificou-se que as maiores Principles, John Wiley, New York.
Aoki, N. e Velloso, D.A. (1975). An Approximate Method
discrepâncias nos valores de NSPT ocorreram nas to Estimate the Bearing Capacity of Piles. In: V PAN
profundidades superficiais (até 2 m) e em AMERICAN CSMFE, 5, Buenos Aires. Proceeding.
profundidades intermediárias (entre 12 e 14 m). Buenos Aires. v. 1, p. 367-376.
Ao avaliar a capacidade de carga das estacas Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2010). 6122:
raiz a partir de valores médios de NSPT, prática Projeto e Execução de Fundações. Rio de Janeiro:
Moderna. 91 p.
adotada de forma habitual em projetos de Assis, A.P., Espósito, T.J., Gardoni, M.G. e Silva,
fundações profundas no Brasil, observou-se uma P.D.E.A. (2001). Métodos Estatísticos Aplicados à
superestimação da capacidade de carga última da Geotecnia. Publicação G.AP–002/01, Depart mento de
estaca quando comparada a capacidade de carga Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
determinada pelos ensaios de prova de carga sem Brasília, Brasília, DF, 177 p.
Cabral, D.A. (1986). O uso da estaca raiz como fundação
avaliar a variabilidade do ensaio. Já de obras normais. In: CBMSEF, 8., Porto
considerando a variabilidade de ± 20% da Alegre. Anais.... Porto Alegre, 1986. v. 6, p. 71 - 82.
determinação da capacidade de carga da estaca Décourt, L. (1996). A Ruptura de Fundações Avaliada
pelo ensaio de prova de carga, as estimativas com Base no Conceito de Rigidez. SEFE lll, São Paulo,
pelos métodos semi-empíricos utilizando valores vol. 1.
Fellenius, B.H. (1980). The analysis of results from routine
médios de NSPT se tornaram aceitáveis, ou seja, a pile load tests. Gr. Eng. London, 13(6): 19–31.
favor da segurança. Harr, M.E. (1984). Reliability-based design in civil
Os cenários analisados mostraram que ao engineering. Henry M. Shaw Lecture, Dept. of Civil
utilizar valores médios de NSPT acrescidos de um Engineering, North Carolina State University, Raleigh,
desvio padrão, ocorreu uma superestimação da N.C.
Kulhawy, F.H. (1992). On the Evaluation of Soil
capacidade de carga da estaca, mesmo levando Properties. ASCE Geotech. Spec. Publ. No. 31,
em consideração a variabilidade do ensaio de 95-115.
prova de carga. Ao passo que no cenário onde Monteiro, P.F. (1997). Capacidade de Carga de Estaca:
adotaram-se valores médios de NSPT com Método de Aoki-Velloso. São Paulo: Franki Ltda.
descréscimo de um desvio padrão, a capacidade Monteiro, F.F. (2016). Desenvolvimento de uma proposta
para o controle executivo de estaca raiz. 2016. 115 f.
de carga foi subestimada, levando em Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil,
consideração ou não a variabilidade do ensaio Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.
de prova carga. Ramirez, R.G. e Reis, J. H .C. (2016). Segurança e
A partir das análises realizadas, observou-se Confiabilidade em Estruturas de Contenção: Estudo de
que a utilização da estatística para uma análise Caso. Revista Geotecnia. V. 138, p. 37 - 60.
da capacidade de carga de uma estaca pode ser
uma opção auxiliar à adoção de um fator de
segurança de 2, como habitualmente é efetuado
em projetos de fundações profundas, otimizando
os custos e as soluções adotadas em projeto.

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Avaliação das Medidas Mitigadoras das Movimentações de Massa
na Rodovia dos Tamoios (km 68 ao km 81) – Caraguatatuba – SP
Palloma Ribeiro Cuba dos Santos
Unicamp, Campinas, Brasil, pallomar@gmail.com

Thiago Stefano Passos Sagres


Unicamp, Campinas, Brasil, tssegre@gmail.com

Vinicius Hiuri Araujo


IFSP, São Paulo, Brasil, vinicius.hiuri@gmail.com

RESUMO: Movimentos de massa ocorrem frequentemente no Brasil ocasionandos principalmente


devido aos índices pluviométricos e as ações humanas desordenadas, resultando em perdas materiais
e humanas. O estudo de intervenções construtivas que atuem como ações mitigadoras reduz
consideravelmente a probabilidade de ocorrência de eventos catastróficos. Como o objeto de estudo,
o trecho de Serra da Rodovia dos Tamoios em Caraguatatuba, entre o km 68 e o km 81, recontruido
após uma grande movimentação de terra, , em 1967, devastando a rodovia, com mais de 400 mortes.
Foram avaliadas as condições atuais da medidas empregadas neste trecho, onde constatou-se que a
existência de encostas suscetíveis às movimentações de terra, somada às intervenções inapropriadas
para contenção de maciços terrosos e rochosos pode ter motivado quatro novos deslizamentos de terra
em de março de 2017.
PALAVRAS-CHAVE: Ações mitigadoras, Movimentos de Massa.

1 INTRODUÇÃO mitigadoras, evitando-se as movimentações de


massa e consequentemente a ocorrência de
Os movimentos de solo são objeto de eventos catastróficos.
interesse de grande parte de pesquisadores e Para este estudo, foi considerado o trecho de
planejadores e/ou administradores públicos, uma Serra da Rodovia dos Tamoios, uma vez que o
vez que sua ocorrência pode atingir áreas volume médio diário é alto, onde em 2014 este
importantes na infraestrutura para um país, índice era de 17.253 veículos, segundo a
como, por exemplo: rodovias, linhas de Secretaria de Logística e Transportes do Estado
transmissão de energia e telecomunicações, além de São Paulo (2017). Além de possuir diversas
de complexos industriais e centros urbanos, intersecções com outras rodovias importantes do
tendo como consequência mais grave a perda de estado: Via Dutra (BR-116), Rodovia Carvalho
vidas humanas (GOMES, 2006). Pinto (SP-070) e Rodovia Rio-Santos (SP-
Caputo (1987) afirma também que mesmo 55/BR-101).
com o propósito do surgimento da mecânica dos Durantes os meses de verão em
solos focada em compreender os fenômenos de Caraguatatuba, período de alto volume de
instabilidades em maciços terrosos e rochosos, tráfego, no ano de 1967 houve precipitações que
estes eventos ainda são os problemas somaram cerca de 600 mm e ocasionaram, em 18
majoritários nesta área da engenharia. de março do mesmo ano, diversos
Verifica-se, então, a importância do estudo de escorregamentos translacionais, totalizando 436
agentes deflagradores, bem como a análise de mortes e 400 casas totalmente destruídas
intervenções construtivas que atuem como ações (CRUZ, 1974 apud LISTO, 2015).

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


Por estas e outras razões expostas neste (1998) a deflagração das instabilizações de
trabalho é que se procedeu o estudo de campo taludes e encostas é controlada por uma cadeia
exploratório na região, cujos resultados das de eventos, muitas vezes de caráter cíclico, que
avaliações mitigadoras serão apresentados e tem sua origem com a formação da própria rocha
discutidos posteriormente. e toda sua história geológica e geomorfológica
subsequente, como movimentos tectônicos,
2 OBJETIVO intemperismo, erosão, ação antrópica, etc.
Guidicini e Nieble (1984) distingue os
Avaliar os atuais mecanismos de mitigação de agentes deflagradores em:
movimentos de massa aplicados para a -predisponentes: Condições geológicas,
prevenção de deslizamentos e estabilização de geométricas e climática-hidrológicas em função
áreas de risco valendo-se de estudo de campo apenas de condições naturais, não atuando qualquer
explanatório na Rodovia dos Tamoios, forma de ação antrópica
Caraguatatuba – SP, no trecho de Serra. -efetivos: Elementos diretamente responsáveis pelo
desencadeamento do movimento de massa,
incluindo-se a ação antrópica, podendo ser
preparatório ou imediato (chuva intensa, terremoto,
3 METODOLOGIA vento, etc.)
De acordo com Tominaga et al. (2009),
Inicialmente, foi desenvolvida revisão escorregamento de solos e/ou rochas, ocorrem
bibliográfica sobre os tipos de movimentação de geralmente associados a eventos pluviométricos
massa, agentes causadores, consequências, intensos e prolongados durante os períodos
medidas usuais para prevenção, bem como a chuvosos, que, na região tropical brasileira,
análise da eficiência das referidas medidas. corresponde ao verão, especificamente nos
Feito isso, foi realizado estudo de campo meses que iniciam o ano.
explanatório para caracterizações in situ dos
métodos de contenção utilizados na Rodovia dos 4.3 Ações mitigadoras
Tamoios (SP-099), no trecho de Serra
compreendido entre o km 68 e o km 81. Ações mitigadoras dos movimentos de massa
incluem todas as atividades que objetivam
4 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA amenizar as consequências ou mesmo evitar a
ocorrência dos movimentos de massa. Cerri et al.
4.1 Movimentos de Massa (2007) apresenta algumas tipologias de
intervenções focadas na redução de riscos:
Consonante com a definição proposta por Tipo de Descrição
Montoya (2013), os movimentos de massa Intervenção
compreendem os processos geológicos exógenos Correspondem a serviços
que envolvem mobilização de material rochoso manuais e/ou utilizando
Serviços de
e/ou terroso em direção a partes mais baixas por equipamentos de pequeno porte
limpeza e
para remoção de resíduos e
ação da gravidade. recuperação
recuperação de sistemas de
Os movimentos de massa, segundo Filho drenagem existentes.
(1992), são classificados em rastejo (creep),
Obras de
escorregamentos (slides), quedas (falls) e drenagem
corridas (flows). Implantação de sistemas
superficial,
drenantes superficias, como:
proteção
4.2 Agentes deflagradores canaletas, caixas de transição e
vegetal
escadas d’água. Inclui também
(gramíneas) e
proteção de taludes com
Os agentes deflagradores dos movimentos de desmonte de
gramíneas.
massa são fatores que induzem o dinamismo dos blocos e
diversos fenômenos anteriormente listados. matacões
De acordo com Augusto Filho e Virgili

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Tipo de Descrição trechos principais: trecho de planalto e trecho de
Intervenção Serra. A Erro! Fonte de referência não
Sistemas como trincheiras encontrada. ilustra a localização de estudo,
Obras de drenantes e poços de destacada em azul, realizada em 08 de julho de
drenagem de rebaixamento que correspondem 2016. Nesta oportunidade foram verificadas as
subsuperfície a serviços parcialmente ou diversas ações mitigadoras implantadas e
totalmente mecanizados. mantidas pela Concessionária Tamoios frente às
Estruturas de Implantação de estruturas de movimentações ocorridas ou em locais de risco,
contenção contenção como: tirantes, estacas, as quais serão analisadas e discutidas.
localizadas ou muros de contenção, gabiões,
lineares muros de concreto, etc.
Obras de Predomínio de serviços
terraplanagem mecanizados que incluem cortes,
de médio e aterros, compactação, desvio e
grande portes canalização de córregos.
Estruturas de
Implantação de estruturas de
contenção de
contenção com grandes altura e
médio e
largura, envolvendo obras de
grandes
muros de gravidade, cortinas, etc.
portes Figura 1 – Trechos de estudo de campo exploratório,
Retirada definitiva de moradias compreendido entre o km 68 (marcador verde) e o km 81
Remoção de em áreas de risco ou remoção (marcador vermelho) da Rodovia dos Tamoios (Fonte:
moradias temporária para implantação de Google Earth, 2016).
obras de contenção, por exemplo. O percurso de 13 quilômetros de extensão foi
Quadro 1 – Tipologia de intervenções focadas à redução realizado parcialmente por meio de veículo
de riscos identificados (Fonte: Cerri et al., 2007). automotivo e parcialmente a pé, com diversas
As medidas preventivas são distinguidas por paradas nos locais em que foram verificadas
Tominaga et al. (2009) em não estruturais e medidas para evitar ou reduzir os movimentos de
estruturais, no qual estas últimas estão massa, anteriormente citados.
relacionadas com obras de engenharia de alto Após a verificação in loco, procedeu-se a
custo, como por exemplo: contenções de compreensão dos procedimentos aplicados para
encostas, implantação de sistemas drenantes e a prevenção de deslizamentos e estabilização de
adequação/readequação urbana. áreas de risco na Rodovia dos Tamoios,
As medidas não estruturais fazem referência Caraguatatuba – SP, no trecho de Serra.
as ações de planejamento e gerenciamento do Entre o km 68 e o km 81 da Rodovia dos
uso do solo, tais como: zoneamento, plano Tamoios há diversos trechos com muros de
preventivo de defesa civil (PPDC) e educação concreto, que além de exercer a função de guarda
ambiental. roda, contém a base das encostas. Apesar de vida
útil extensa, notou-se que, em alguns trechos,
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES DO referidos muros não possuíam barbacãs ou
ESTUDO DE CAMPO EXPLORATÓRIO outros dispositivos para drenagem de água
pluvial do maciço recostado, e os que possuíam
Compreendidos os movimentos de massa, estavam sem manutenção.
seus causadores e as medidas comumente Por esta razão, estes muros apresentavam
aplicadas para redução de danos, foi feito estudo manchas de infiltração de água em toda sua base
de campo exploratório in loco na Rodovia dos (onde há o acúmulo da água impedido de escoar),
Tamoios nos dois sentidos da via entre os km 68 trincas e fissuras que afetam a duração de sua
e km 81, trecho de Serra, localizado no vida útil. Durante todo o trecho de serra
município de Caraguatatuba, no Estado de São constatou-se construção de escada d’água para
Paulo. Nesta etapa explanatória buscou-se drenagem superficial do terreno.
avaliar as ações mitigadoras aplicadas para As escadas d’água da Rodovia dos Tamoios
contenção de encostas às margens da rodovia. no trecho estudado (km 68 ao km 81)
A Rodovia dos Tamoios é dividida em dois apresentavam-se conectadas à galerias

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subterrâneas, não prejudicando o traçado Figura 2– Maciço rochoso e Figura 3 – Sacos de solo-
rodoviário, não ocasionado imperfeições na terroso com grande volume cimentos colocados na
verticalizado às margens da base da encosta.
superfície de rodagem e não permitindo que Rodovia dos Tamoios.
parte da água pluvial que escoa pelas encostas se (Fonte: Autor)
encaminhe pela via pavimentada. A cobertura parcial por detritos dos sacos de
Outra ação mitigadora dos movimentos de solo-cimento ainda permite observar que a
massa foi observada entre o km 77 e o km 78, no encosta está em movimento de escorregamento.
sentido litoral. Para possibilitar a criação de uma Pelos estudos realizados quanto aos diversos
pista auxiliar de segurança pavimentada, a tipos de ações de mitigação que impedem a
Concessionária Tamoios executou obras de corte movimentação de massa, observa-se que o
e aterro no local. retaludamento ou a construção de muro de
Além do corte, foi executado retaludamento gravidade com grande altura, apesar de serem
do maciço remanescente, de modo a garantir alternativas mais dispendiosas do que sacos de
maior estabilidade da encosta. Comparando-se solo-cimento, seriam soluções mais adequadas e
as características observadas em 2015, o duradouras para contenção do grande volume
retaludamento foi feito através de corte com observado no km 74.
abrandamento da inclinação do talude e redução Nas proximidades do km 71 da Rodovia dos
de sua altura. Adicionalmente, foi realizado o Tamoios, no sentido de Paraibuna e São José dos
plantio de placas de grama na superfície Campos, conforme Figura 4, observou-se
inclinada e na crista do talude, reduzindo o encosta íngreme protegida com lonas plásticas.
escoamento superficial de água pluvial Infere-se que, novamente, houve ação provisória
diretamente sobre o solo e permitindo que os e/ou emergencial, justificado pelo custo e pela
vazios do solo sejam preenchidos pelas raízes da facilidade na obtenção do material.
vegetação, garantindo maior resistência e Complementarmente, vê-se que as lonas se quer
estabilidade do maciço terroso. cobrem toda a superfície, de modo que a
Por outro lado, durante as observações de infiltração de água pluvial e o carreamento de
campo exploratório, foram verificadas, ações material não fica impedido nestes locais vazados
mitigadoras de contenção de massa que (desprotegidos), indicados com seta vermelha na
aparentavam-se inadequadas e encostas imagem a seguir.
suscetíveis à movimentação sem qualquer Além da suscetibilidade quanto ao
proteção. carreamento de detritos e infiltração de água
No km 74 da Rodovia dos Tamoios, no pluvial, observou-se que as lonas plásticas
sentido de Caraguatatuba, vide Figura 2, estavam simplesmente apoiadas, sem qualquer
observou-se grande maciço rochoso e terroso às contrapeso que impedissem o próprio
margens da via rodoviária, sem qualquer escorregamento do material superficial.
acostamento ou afastamento que o distancie dos
veículos que trafegam neste trecho. Em sua base
verificou-se que foram colocados sacos de solo-
cimento na tentativa de garantir maior
estabilidade à encosta. Observa-se que os sacos
de solo-cimento já estão parcialmente cobertos
por detritos do próprio maciço (Figura 3).

Figura 4 – Aplicação de lonas plásticas para conter


escorregamentos na encosta (Fonte: Autor).
Ainda que outras alternativas de contenção
possuam alto custo de implantação, a proteção

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superficial com argamassa ou concreto se mostra Março foi, inclusive, um mês atípico, onde foram
mais adequada, pois não exigem manutenção relatados 24 dias de chuva, e uma precipitação
frequente e impedem os escorregamentos acumulada de 610,4 mm, superando a média
translacionais. histórica do mês (258,2 mm) em 136,41%.
Também no sentido de Paraibuna e São José Isto posto, vê-se que os deslizamentos
dos Campos, próximo ao km 71 da Rodovia dos ocorridos no dia 15 de março de 2017, além dos
Tamoios constatou-se encosta íngreme altos índices pluviométricos, podem ter sido
totalmente desprotegida bem próximo ao trecho ocasionados, também, pelas más ações
de circulação de veículos. Pela ausência de antrópicas praticadas na região quanto à
cobertura vegetal no local e pela alta inclinação mitigação dos movimentos de massa no trecho
da encosta, infere-se que está ocorrendo um de Serra da Rodovia dos Tamoios. Fatores estes
escorregamento rotacional, colocando em risco que foram os principais agentes deflagradores
os usuários da rodovia. destacados no presente trabalho.
Como se trata de local com vegetação densa,
o retaludamento da encosta implicaria na
remoção parcial das árvores. A grande extensão 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
superficial da maciço terroso também inviabiliza
economicamente a proteção superficial com Para manutenção de uma rodovia segura aos
material artificial. Diante do que foi exposto e do seus usuários, à população local e aos
estudo realizado no presente trabalho, a ação investimentos aplicados na infraestrutura viária,
mitigadora que se mostra mais adequada para deve-se compreender quais os tipos de
este local são os muros de gravidade que devem movimentação de massa, seus agentes
ser corretamente dimensionados e construídos na causadores, as medidas mitigadoras e o histórico
base da encosta, não afetando a vegetação local. Partindo-se desse conhecimento, o estudo
existente e garantindo maior segurança aos de campo exploratório deve ser realizado para
usuários da rodovia. verificação do estado de conservação e da
Na madruga do dia 15 de março de 2017 eficácia de cada uma das ações que tentam evitar
(Figura 5), 04 deslizamentos ocorreram os escorregamentos, as quedas, etc.
exatamente no trecho em estudo deste trabalho: No caso da Rodovia dos Tamoios, entre o km
km 74, 77,5, 79 e 80,1. Felizmente, não houve 68 e o km 81 (Trecho de Serra), constatou-se que
nenhuma vítima. Entretanto, houve interdição da algumas alternativas de contenção de encosta,
Rodovia dos Tamoios, em ambos os sentidos, apesar de possuírem caráter provisório, estão
desde o km 55 ao km 81, com duração de mais sendo mantidas de forma permanente.
de 13 horas: das 02 horas e 30 minutos às 15 A existência de encostas suscetíveis às
horas e 45 minutos (CONCESSIONÁRIA movimentações de terra, somada às intervenções
TAMOIOS, 2017). inapropriadas para contenção de maciços
terrosos e rochosos pode ter motivado os quatro
deslizamentos de terra apurados no dia 15 de
março de 2017, exatamente no trecho em estudo.
Ainda que não tenha ocasionado nenhuma
morte, os deslizamentos impediram a circulação
na Rodovia dos Tamoios, em ambos os sentidos,
por mais de 13 horas. Os altos índices
pluviométricos no município de Caraguatatuba,
Figura 5 – Deslizamento ocorrido na madrugada de 15 de em razão do seu papel como agente deflagrador
março de 2017 (Fonte: Bittencourt, 2017). dos movimentos de massa. No mês de março de
Os movimentos de massa que interditaram 2017, por exemplo, as chuvas superaram em
completamente a Rodovia dos Tamoios mais de 130% a média histórica do mês, que, já
ocorreram durante fortes chuvas. A Somar é alta: 258,2 mm.
Meteorologia (2017) apurou uma precipitação de Ainda que as constatações visuais in loco
122,8 mm para o dia 15 de março de 2017. puderam alertar sobre o risco no trecho de Serra

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da Rodovia dos Tamoios, uma avaliação Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/106837>.
completa das ações mitigadoras implantadas e Acesso em: 14 mai. 2016.
necessárias exigem uma análise mais detalhada CONCESSIONÁRIA TAMOIOS. Notícias:
de todas as obras de contenção de encosta de uma Concessionária atua em diversas frentes em caso de
rodovia e o mapeamento de todas as áreas de queda de barreiras. Disponível em:
risco. Desta forma, devem ser incluídos estudos <http://concessionariatamoios.com.br/noticias/show/311/
de viabilidade econômica de cada uma das ações concessionaria-atua-em-diversas-frentes-em-caso-de-
mitigadoras disponíveis, análise estrutural das queda-de-barreiras. >. Acesso em 18 mar. 2017.
obras de grande e médio porte, estudos do perfil CRUZ, O. A Serra do Mar e o Litoral na Área de
geotécnico do solo, análise do fator de segurança Caraguatatuba: Contribuição à Geomorfologia
de encostas e taludes, apuração de dados Litorânea. 1974. 181p. Tese de Doutorado. Universidade
georreferenciais, e outras ferramentas para de São Paulo (USP). Instituto de Geografia, São Paulo, SP,
aprofundamento do tema. 1974.
O estudo de campo exploratório e a GOMES, R. A. T. Modelagem de Previsão de Massa a
metodologia apresentada neste trabalho Partir da Combinação de Modelos de Escorregamentos e
mostraram-se fundamentais para compreensão Corridas de Massa. 2006. 101p. Tese de Doutorado.
preliminar das ações mitigadoras e, mesmo que Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Instituto
haja necessidade de maior abrangência das de Geociências, Rio de Janeiro, RJ, 2006.
análises, o trabalho apresentado permitiu alertar
GOOGLE EARTH. Disponível em: < https://earth.
uma área afetada pelos movimentos de passa, https://earth.google.com google.com. >Acesso em 11
ainda que não tenha sido possível evitar os jun. 2016.
deslizamentos de 15 de março de 2017. Diante
disso, sugere-se que sejam elaborados estudos GUIDICINI, G.; NIEBLE, C. M. Estabilidade de Taludes
similares em outras rodovias com a participação Naturais e de Escavação. 3º ed. São Paulo: Edgard
Blucher, 1984, 216p.
de órgãos governamentais e das concessionárias
administradoras, na tentativa de compreender as LISTO, F. L. R. Propriedades Geotécnicas dos Solos e
características e necessidades locais e de alertar Modelagem Matemática de Previsão a Escorregamentos
os efetivos responsáveis pela implantação de Translacionais Rasos. 2015. 187p. Tese de Doutorado.
ações mitigadoras dos movimentos de massa. Universidade de Sã Paulo (USP). Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, São Paulo, SP, 2015.
REFERÊNCIAS MONTOYA, C. A. H. Incertezas, Vulnerabilidade e
Avaliação de Risco Devido a Deslizamentos em Estradas.
AUGUSTO FILHO, O.; VIRGILI, J.C. Estabilidade de 2013. 273p. Tese de Doutorado. Universidade de Brasília
taludes. In: OLIVEIRA, A.M.S. & BRITO, S.N.A. (UnB). Faculdade de Tecnologia, Departamento de
Geologia de Engenharia. São Paulo: Associação Engenharia Civil e Ambiental, Brasília, DF, 2013.
Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE), 1998.
Capítulo 15, p. 243-269. SECRETARIA DE LOGÍSTICA E TRANSPORTE DO
ESTADO DE SÃO PAULO. Estatística de Tráfego –
BITTENCOURT, J. Deslizamento de terra interdita Volume Diário Médio – SP-099. Disponível em: <
Rodovias dos Tamoios e Rio-Santos, em Caraguá. Tamoio http://200.144.30.103/vdm/SFCG_VdmRodComerciais.a
News: Notícias do Litoral Norte de São Paulo. 16 mar. sp?CodRodovia=SP%20099>.Acesso em 18 mar. 2017.
2017. Disponível em: <http://www.tamoiosnews.com.br/
estradas/deslizamento-de-terra-interdita-rodovias-dos- TOMINAGA, L. K.; SANTORO, J.; AMARAL, R.
tamoios-e-rio-santos-em-caragua/>. Acesso em 18 mar. Desastres Naturais: Conhecer para Prevenir. São Paulo:
2017. Instituto Geológico, 2009, 196p.

CAPUTO, H. P. Mecânica dos Solos e suas Aplicações. 6º


ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1987.
512p. v. 2.

CERRI, L. E. S.; NOGUEIRA, F. R.; CARVALHO C. S.;


MACEDO, E. S.; AUGUSTO FILHO; O. Mapeamento de
Risco em Assentamentos Precários no Município de São
Paulo (SP). Geociências, v. 26, n. 2, 2007, p. 143-150.

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Calibração dos Coeficientes Empíricos dos Métodos Semi-
empíricos de Estimativa de Capacidade de Carga
Henrique Alexandre Rondon
IFMT - Instituto Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil, henriquearondon@gmail.com.

Luiz Carlos de Figueiredo


IFMT - Instituto Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil, lucafi13@gmail.com.

Ilço Ribeiro Junior


IFMT - Instituto Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil, ilco.ribeiro@cba.ifmt.edu.br.

RESUMO: Partindo-se do pressuposto que as correlações empíricas dos métodos semi-empíricos de


estimativa de capacidade de carga de estacas são genéricas, propõe-se a adequação destas correlações
às caracteristicas do solo local. Metodologicamente, realizou-se a análise de resultados de provas de
carga e SPT de fundações por estacas em hélice contínua executadas em uma obra de Cuiabá-MT.
Os resultados apontam que existe a necessidade de criação de um banco de dados de provas de carga
e SPT, e também que a correção das correlações empíricas proporcionam menor disparidade entre a
previsão de capacidade de carga e o resultado da prova de carga.

PALAVRAS-CHAVE: Estaca Helíce Contínua, Métodos Semi-Empíricos, Capacidade de Carga,


Prova de Carga.

1 INTRODUÇÃO estimativa da capacidade de carga dos elementos


de fundações por estacas, entretanto, devido o
A engenharia de fundações busca solo constituir-se de um material natural e
constantemente novas soluções que heterogêneo não é possível determinar seu
proporcionem maior eficiência, economia e comportamento em relação a solicitação de
segurança para as fundações. Dentre as várias esforços sem antes realizar um estudo
opções encontradas atualmente no Brasil, pode- geotécnico. Da mesma forma, não se pode
se dar destaque a fundação por estaca do tipo esperar que o solo de uma região distinta daquela
hélice contínua. onde fora realizado os estudos para determinação
A estaca do tipo hélice contínua é uma dos coeficientes empíricos, apresente o mesmo
fundação de concreto moldada “in loco”, cuja comportamento geotécnico.
execução consiste na perfuração do solo por Segundo Amann (2010), a verificação da
meio da introdução de um trado heleicoidal até aplicabilidade dos métodos semi-empíricos tem
atingir a profundidade estipulada em projeto, e se dado por meio de comparações das
posteriormente o preenchimento com concreto. estimativas semi-empíricas com os resultados do
Andrade (2009) afirma que esse tipo de estaca ensaio de prova de carga, classificando os
vem sendo cada vez mais difundido no Brasil métodos em “conservadores” ou “contra a
devido sua eficiência em relação aos demais segurança”, desconsiderando-se na maioria das
tipos, principalmente às estacas cravadas, seu vezes a possibilidade de efetuar qualquer
método executivo proporciona maior rapidez, correção a fim de tornar sua aplicação adequada
com o mínimo de ruídos e vibrações. ao solo local.
Atualmente existem diversos métodos para Em vista da crescente aplicação das estacas

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do tipo hélice contínua, e da necessidade de realizou-se a comparação entre o valor real
obter-se resultados mais próximos da realidade, (prova de carga) e o valor estimado (métodos de
o presente estudo busca realizar a calibração dos previsão). Para tanto, analisou-se os resultados
coeficientes empíricos utilizados nas equações de cinco provas de carga estáticas executadas
semi-empíricas em uma obra executada no pelo método de cargas rápidas.
município de Cuiabá/MT. As estacas ensaiadas são escavadas do tipo
hélice contínua, com comprimento variando
entre 5,5 a 8,5 metros e diâmetros de 40 e 60 cm.
2 OBJETIVOS

2.1 Geral 5 PREVISÃO DE CAPACIDADE DE


CARGA
A presente pesquisa pretende calibrar os
coeficientes de correlações semi-empíricas 5.1 Métodos semi-empíricos
utilizadas na estimativa de capacidade de carga
de estacas do tipo hélice contínua executadas no Segundo Amann (2010) os métodos semi-
novo Hospital e Pronto-Socorro de Cuiabá/MT. empíricos utilizam a parte teórica dos métodos
teóricos e empíricos e complementa-as com a
2.2 Específicos parte prática dos ensaios in situ (SPT e CPT).
Em seu estudo Polido (2013) verificou que os
x Analisar os resultados dos ensaios de métodos semi-empíricos para estimativa de
SPT (Standard Penetration Test) e capacidade de carga são os mais empregados no
provas de cargas estáticas realizadas em Brasil. Grande parcela das correlações dos
uma obra de Cuiabá/MT. métodos semi-empíricos baseiam-se na
x Determinar novos valores de coeficientes investigação geotécnica por meio do ensaio de
empíricos para o solo do local da obra. SPT. Entre esses métodos merecem destaques o
de Aoki & Velloso (1975) e o de Décourt &
Quaresma (1978).
3 SOLO ESTUDADO
5.1.1 Aoki & Velloso (1975)
Segundo Silva et al. (2005) o solo da baixada
cuiabana está no Domínio Tectônico Interno do O método Aoki & Velloso (1975) tem sua gênese
Cinturão de Dobramentos do Paraguai, no CPT, posteriormente, as fórmulas foram
caracterizado por um vasto conjunto adaptadas para o ensaio de SPT.
metassedimentar. De acordo com Magalhães (2005) para
De acordo com os resultados obtidos por meio determinar-se a capacidade de carga (R) das
de sondagens SPT o solo do local constitui-se de estacas tal método leva em consideração o tipo
um silte arenoso de cor variegada, de de solo e de estaca analisados. A capacidade de
consistência variando de pouco compacto a carga (Equação 1) é estimada pela somatória das
muito compacto. parcelas de atrito de ponta e lateral da estaca.

K Np n
(D K N L )
4 PROVA DE CARGA R
F1
Ap  U ¦
1 F2
'L (1)

As provas de carga foram executadas no


Onde:
município de Cuiabá/MT durante a execução da
K e Į: coeficientes em função do tipo de solo,
construção da nova sede do Hospital e Pronto-
respectivamente para a ponta e atrito lateral;
Socorro do município.
Np: índice de resistência a penetração na cota de
Como o intuito desta pesquisa é de realizar a
apoio da ponta da estaca;
calibração dos coeficientes empregados nos
NL: índice de resistência a penetração na camada
métodos de previsão de capacidade de carga,

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de solo de espessura ȴL; lateral;
Ap: área de ponta da estaca; C : coeficiente empírico do solo da ponta.
U: perímetro da estaca;
ȴL: trecho do comprimento da estaca; Amann (2010) ressalta que este método leva
F1 e F2: fatores de escala e correção. em consideração o cisalhamento lateral pela
média dos SPT’s, enquanto Aoki e Velloso
Segundo Magalhães (2005), inicialmente fora considera a somatória trecho a trecho da estaca.
proposto pelos autores a adoção dos coefientes Destaca-se, também, que Décourt & Quaresma
F1 = 3,5 e F2 = 7,0, para estacas escavadas com (1978) prioriza o comportamento do solo, e não
lama bentonítica, posteriormente, adotou-se os sua classificação específica como fez Aoki &
valores F1 = 3,0 e F2 = 6,0, os quais são utilizados Velloso (1975).
até hoje.
Os autores Velloso e Lopes (2010) afirmam
que o primeiro estudo para determinação dos 6 CÁLCULO DO PERCENTUAL DE
valores de F1 e F2 para estacas do tipo hélice ERRO
contínua fora desenvolvido em 1994, após outras
avaliações dos valores desses fatores adotou-se A Equação 3 esclarece o método para estimativa
F1 = 2,0 e F2 = 4,0. do erro existente.

5.1.2 Décourt & Quaresma (1978) R Q


E (%) u100 (3)
Q
Magalhães (2005) afirma que este método fora
desenvolvido originalmente baseando-se em Onde:
resultados de ensaios de SPT. A princípio sua E: percentual de erro, em porcentagem;
aplicação era voltada para estacas de R: resistência total estimada pelo métodos semi-
deslocamento, a qual é considerada estaca de empíricos, em kN/m²;
referência, alguns anos após o seu Q: resistência obtida no ensaio de prova de carga,
desenvolvimento o método fora adaptado para os em kN/m².
demais tipos de estacas. Recentemente tal Procurou-se determinar o percentual de erro
método fora adaptado também aos resultados de existente entre o valor da capacidade de carga
SPT-T, através do conceito Neq. estimada através dos métodos semi-empíricos e
Ressalta-se que o modelo do método o valor obtido na prova de carga a fim de
apresentado aqui trata-se da versão Décourt mensurar-se a disparidade existente.
(1996a), onde o mesmo inseriu os coeficientes de
tipo de estaca e de solo Į e ȕ.
A carga última (Qult) é dada pela soma das 7 RESULTADOS
parcelas de atrito lateral e resistência de ponta,
como mostra a Equação 2. 7.1 Solo estudado

ª § N SPT · º
Qult «U L ¨
 1¸ E 10 »  N P C D AP (2)
A Figura 1 apresenta os resultados de três
sondagens realizadas no local da obra.
¬« © 3 ¹ ¼»

Onde:
N SPT : número de golpes médio ao longo do fuste
da estaca 3 ” N ” 50;
N P : média dos três valores de SPT em torno da
ponta (1,0 m acima e 1,0 m abaixo);
D e E : coeficientes empíricos de tipo da estaca
e solo, respectivamente para a ponta e atrito

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Analisando-se os resultados das provas de
carga observou-se a ocorrência de ruptura nítida
nas estacas PAF 103 e PF 103. Para a estaca PAF
103 tal fato verificou-se no 12º estágio, onde
mantendo-se constante o carregamento houve
aumento do deslocamento e baixa recuperação
elástica após o descarregamento. Para a estaca
PF 103 observou-se que apesar de não ocorrer
incremento de carga no 12º estágio ocorreu
Figura 1. Sondagens SPT. aumento do recalque, seguido de uma pequena
recuperação elástica. Embora isso, todas as
O SPT 02 encontra-se próximo as estacas estacas tiveram recuperação elástica quando se
PAF 103 e PF 103. Nota-se que para este furo a compara o recalque máximo (ȡmax) com o
consistência do solo varia entre medianamente recalque final para carga zero (ȡfinal). O
compactado e muito compactado, com encurtamento elástico (ȡe) (Tabela 1) foi
resistência elevada (> 40) a profundidade de 3 estimado tendo como parâmetro o módulo de
metros. elasticidade para o concreto em 21 GPa,
O SPT 07 situa-se próximo as estacas PAE conforme Aoki & Cintra (2010). Para todas as
101 e PE 107. Nos dois primeiros metros da estacas ensaiadas houve recuperação elástica.
sondagem verificou-se a presença de um silte
areno-argiloso pouco compacto, nas demais Tabela 1. Parâmetros das estacas ensaiadas com prova de
cotas da sondagem verificou-se um solo silte carga estática.
Estaca ĭ Carga L ȡmax ȡfinal ȡe
arenoso com consistência variando de pouco
cm kN m mm mm mm
compacto a muito compacto. PAF103 40 106,0 5,50 0,42 0,4 0,22
O SPT 18 encontra-se próximo a estaca PQ PF 103 60 625,6 7,50 0,90 0,65 0,79
106. O solo encontrado nesta sondagem fora PAE101 40 127,2 5,50 0,38 0,14 0,27
identificado como silte arenoso de consistência PE 107 60 508,9 8,50 1,15 0,52 0,73
variando entre medianamente compacto a muito PQ 106 60 508,9 6,50 1,99 1,31 0,56
compacto. Nesta sondagem percebe-se a redução
e posterior aumento do índice de resistência, essa A Figura 3 apresenta o gráfico dos recalques
variação deu-se devido a presença de máximo, final e encurtamento elástico, este
pedregulhos a profundidade de 2,45 a 3,45 último devido ao elemento estrutural. É possível
metros. verificar que para estaca PAF 103 a resposta do
solo foi nitidamente colapsível e que a a estaca
7.2 Prova de carga PE 107 tem uma resposta elástica melhor que a
PQ 106 para uma mesma carga e diâmetro, pois
A Figura 2 demonstra o comportamento das mediu abaixo do encurtamento elástico, fato
estacas ensaiadas. oriundo da influência do comprimento da estaca.

2,4
2,2
2,0
1,8 Umax
1,6 Ufinal
1,4 Ue
U mm

1,2
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
PAF103 PF 103 PAE101 PE 107 PQ 106
Estacas

Figura 2. Curva carga versus recalque. Figura 3. Comparação dos recalques medido e estimados.

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7.3 Previsão de capacidade de carga versus
prova de carga determinada

Após a execução da sondagem do solo, aplicou-


se os dados obtidos nas equações de previsão de
capacidade de carga e com auxílio do software
Microsoft Excel gerou-se os gráficos
apresentados a seguir. A finalidade do presente
trabalho é a realização da calibração dos
coeficientes empirícos Į e ȕ (Aoki-Velloso) e C
(Décourt-Quaresma), desta forma, ressalta-se Figura 5. Comparação previsão de capacidade de carga x
valor prova de carga da estaca PF 103.
que não fora realizada a extrapolação dos valores
obtidos na prova de carga uma vez que para tal Observa-se que a capacidade de carga
finalidade fora necessário basear-se no valor real estimada pelo método de Aoki-Velloso fora
obtido em campo. cerca de 478% maior que o valor verificado na
O gráfico apresentado na Figura 4, exibe os prova de carga, enquanto pelo método de
valores encontrados para a estaca PAF 103 por Décourt-Quaresma essa diferença fora de
meio dos métodos de Aoki-Velloso e Décourt- aproximadamente 403%. Após análise das
Quaresma para as parcelas: lateral, de ponta e estimativas constatou-se um desvio padrão de
total, respectivamente. 231,25 kN entre os dois métodos.
O gráfico apresentado na Figura 6 demonstra
os resultados de previsão de capacidade de carga
para estaca PAE 101.

Figura 4. Comparação previsão de capacidade de carga x


valor prova de carga da estaca PAF 103.

Analisando-se o gráfico acima verifica-se a Figura 6. Comparação previsão de capacidade de carga x


desproporção existente entre os valores valor prova de carga da estaca PAE 101.
estimados pelos métodos semi-empíricos e o
valor obtido na prova de carga, diferença essa Nota-se que a disparidade entre os valores
superior a 1180%. Observa-se também a estimados e o valor da prova de carga para a
disparidade entre os próprios métodos de estaca PAE 101 fora superior a 580% e um
previsão de capacidade de carga, para os valores desvio padrão de 124,75 kN entre o método de
estimados para a estaca PAF 103 nota-se um Aoki-Velloso e Décourt-Quaresma.
desvio padrão de 70,25 kN entre os métodos. No gráfico presente na Figura 7 é apresentado
A determinação da estimativa de capacidade o dimensionamento de capacidade de carga da
de carga da estaca PF 103 é apresentada na estaca PE 107.
Figura 5 abaixo.

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Tabela 2. Percentual de erro entre estimativa e medição da
prova de carga.
PAF PF PAE PE PQ
Método
103 103 101 107 106
Aoki-
1219,9 378,6 680,4 750,5 353,7
Velloso
Décourt-
1084,7 303,3 480,4 471,5 237,1
Quaresma

Observa-se que o método Décourt-Quaresma


fora o que apresentou as menores porcentagens
Figura 7. Comparação previsão de capacidade de carga x de erro em relação a prova de carga, com valores
valor prova de carga da estaca PE 107. variando entre 237,1% e 1084,7%. Já o método
Aoki-Velloso apresentou valores entre 353,7% e
Comparando-se as parcelas totais das 1219,9%. Mesmo um método sendo mais
previsões de capacidade com o valor obtido na próximo dos valores reais obtidos em campo,
prova de carga, verifica-se que houve uma existe a necessidade de efetuar-se a correção dos
disparidade de cerca de 571% pelo método de coeficientes empíricos.
Décourt-Quaresma e de aproximadamente 850%
pelo Aoki-Velloso. Essa estaca fora a que
apresentou o maior desvio padrão entre os 8 CONCLUSÃO
valores estimados pelos métodos semi-
empíricos, apresentando um desvio padrão de Neste estudo pode-se constatar as discrepâncias
696,25 kN. existentes entre os valores estimados por meio
A Figura 8 apresenta os valores estimados dos métodos semi-empíricos mais comumente
para a estaca PQ 106. utilizados e os valores reais determinados em
campo. A proposta inicial do presente trabalho
era realizar a calibração dos coeficientes
empíricos adotados nos métodos de Aoki-
Velloso e Décourt-Quaresma para uma obra
local. Tal calibração seria realizada por meio de
regressão linear, a qual não pode ser executada
devido a ausência de mais resultados de provas
de carga.
Sugere-se o desenvolvimento de um banco de
dados o qual contenha valores obtidos em
Figura 8. Comparação previsão de capacidade de carga x ensaios de provas de carga e SPT para o solo do
valor prova de carga da estaca PQ 106.
município de Cuiabá-MT. Dessa forma, será
possível calibrar os métodos para a obra em
A estaca PQ 106 fora a que apresentou os
análise, bem como, para o solo do município,
menores porcentagens de disparidade entre o
assim como os próprios autores de tais métodos
valor determinado na prova de carga e os valores
orientam.
estimados pelos métodos, para a estaca PQ 106
A baixa capacidade de recuperação elástica
essa diferença não ultrapassou 453%, para os
das estacas indicam que a parte estrutural da
valores estimados para tal estaca notou-se um
estaca está sendo mais mobilizada que o solo.
desvio padrão de 290,75 kN entre o método de
Não se pode afirmar que o solo atingiu o
Aoki-Velloso e Décourt-Quaresma.
limite elástico de carga com as trajetórias de
tensões impostas, pois os recalques atingidos
7.4 Percentual de erro
estão todos menores que 2,2% do diâmetro das
estacas.
A Tabela 2 apresenta os valores dos erros entre
os valores estimados e a prova de carga.

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REFERÊNCIAS

Amann, K.A.P. (2010) Metodologia Semiempírica


Unificada Para a Estimativa da Capacidade de Carga
de Estacas, Tese de Doutorado, Departamento de
Engenharia de Estruturas e Geotecnica, Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo, 46-69 p.
Andrade, G.M. de (2009) Fundação em Estaca Hélice
Contínua: Estudo de Caso em Obras de Viaduto no
Município de Feira de Santana-BA, Monografia de
Graduação, Departamento de Engenharia Civil,
Universidade Estadual de Feira de Santana, 41 p..
Cintra, J. C. A.; Aoki, N. Fundações por estacas – projeto
geotécnico. São Paulo: Editora Oficina de Textos,
2010. 96 p.
Magalhães, P.H.L. (2005) Avaliação dos Métodos de
Capacidade de Carga e Recalque de Estacas Hélice
Contínua Via Provas de Carga, Dissertação de
Mestrado, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Universidade de Brasília, 1-27 p.
Polido, U. F. (2013) Experiência com Estaca Hélice
Contínua na Região Sudeste – Algumas Questões
Práticas, CTF 2013 – Conferência em Tecnologia de
Fundações.
Silva, W. P. Da; Campos, I. C. O.; Conciani, W. (2005)
Uso de Prova de Carga para Projetos de Fundações, I
Seminário Mato-Grossense de Habitação de Interesse
Social, 683 p.
Velloso, D. de A.; Lopes, F. de R. (2010) Fundações:
Critérios de Projeto, Investigação do Subsolo,
Fundações Superficiais, Fundações Profundas, São
Paulo: Oficina de Textos, 2010, 264-265 p.

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Comparação Geotécnica Entre Três Tipos de Fundações Profundas:
Estudo de Caso – Ponte Ferroviária
Malena Araújo Campos
Centro Universitário IESB, Brasília, Brasil, eng.malenacampos@gmail.com

Priscila Christiane dos Santos Oliveira


Centro Universitário IESB, Brasília, Brasil, priw.oliveira@gmail.com

Julián Asdrubal Buriticá García


Universidade de Brasília UnB, Brasília, Brasil, julianburitica@gmail.com

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo comparar geotecnicamente três tipos de fundações
profundas utilizadas comumente em pontes e viadutos, a estaca escavada, estaca raiz e tubulão, a ser
executada em um perfil de solo silte arenoso. Trata-se de um estudo de caso de um projeto de
fundação de uma ponte ferroviária no estado da Bahia, Brasil. A análise baseou-se na comparação dos
resultados obtidos através de métodos empíricos amplamente utilizados para determinação da
capacidade de carga de Aoki e Velloso e Decourt e Quaresma, e os métodos analíticos de Terzaghi e
Vesic. Realizou-se também o cálculo do estaqueamento ideal a partir do método de Schiel, onde se
determinaram os esforços em cada uma das estacas do grupo de fundação. Por fim, determinou-se a
profundidade necessária para cada elemento, onde se verificou grande variabilidade nos resultados, o
que faz com que seja difícil escolher a melhor alternativa de solução e o método executivo.

PALAVRAS-CHAVE: Fundação profunda, Pontes, Capacidade de carga, estaqueamento.

1 INTRODUÇÃO designados a receber e suportar com


estabilidade as cargas provenientes de uma
As pontes são construções designadas a determinada estrutura e transmiti-las a camada
interligarem pontos inacessíveis separados por mais resistente do solo. Podem ser classificadas
rios, vales, obstáculos naturais ou artificiais, em fundação superficial ou fundação profunda.
composta por três elementos constituintes, A fundação superficial é o elemento de
superestrutura, mesoestrutura e infraestrutura. fundação onde a carga é transferida ao solo
Durante o processo de desenvolvimento da pelas tensões emitidas na base da fundação. A
técnica, constatou-se que as maiores dificuldades fundação profunda é o elemento de fundação
encontradas não decorriam da disponibilidade dos caracterizado por transmitir as cargas recebidas
materiais para confeccioná-las e nem do ao solo pela base, pela superfície lateral ou por
dimensionamento estrutural, mas do correto ambas, e apresentar uma profundidade mínima
levantamento de dados dos parâmetros 3m (metros) (CAMPOS, 2015).
geotécnicos do solo, presentes no local da Dessa forma, esse presente trabalho visa
construção, e da escolha e execução do grupo de abordar o grupo de fundações mais utilizadas em
fundações utilizadas (GUSMÃO, 2008). pontes, quais critérios utilizados para escolha e
As fundações são elementos estruturais métodos percorridos ao longo desse processo

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constituinte da infraestrutura. normalmente essa pressão é adicionada a ar
comprimido resultando numa argamassa mais
adensada.
2 FUNDAÇÃO EM PONTES As estacas raiz podem ser empregadas em
diferentes situações onde os demais tipos de
Segundo Caputo (2014) a fundação de uma estacas não podem ser executados, como
ponte é definida por um elemento que suporta (JOPPERT JR, 2013):
com estabilidade a edificação estrutural, suas
cargas atuantes, cargas permanentes e cargas x Locais em que não possa receber grandes
verticais. Em geral, as pontes são construídas vibrações;
em terrenos onde os solos estão submersos em x Por possuírem equipamentos de pequeno
água, sendo estes classificados como porte em geral, pode ser executada em
sedimentar, saturado, ou na maioria dos casos, ambientes restritos;
solos arenosos, onde apresenta grande x Podem ser executadas em diversas
suscetibilidade a erosão devido à inclinações e no sentido vertical.
movimentação de água.
Contudo, a fundação de uma ponte deve 2.1.2 Estaca escavada
assegurar em sua utilização, as exigências
mínimas de funcionalidade, vida útil e Denomina-se estaca escavada, aquela onde há
segurança da edificação. A funcionalidade está retirada do material escavado. Esse sistema
ligada à inibição de deslocamentos. A vida útil possui vantagens quanto às restrições de
precisa ser no mínimo, igual à da estrutura que execução, pois pode ser realizada praticamente
a sustenta. E a segurança deve garantir as em qualquer tipo de solo, com ausência ou
condições de ruptura sugeridas pelas normas presença de nível d’água e não possui vibração
técnicas vigentes, tanto no solo que irá recebê- na sua execução (JOPPERT JR, 2013).
la, quanto nos elementos estruturais que a Durante o processo de escavação as paredes
compõem (GUSMÃO, 2008). do fuste, podem não ser suportadas, e o apoio
para que não ocorra o estrangulamento do
2.1 Fundações profundas fuste, pode ser previsto com a utilização de
revestimento de camisa metálica que pode ser
Knappett e Graig (2014), afirmam que a recuperável ou não, camisa de concreto ou por
profundidade do solo ou rocha com boa fluido estabilizante (lama bentonítica)
resistência é fundamental na hora da escolha da (VELLOSO e LOPES, 2010).
fundação. Pois somente através dessa grandeza
é possível atingir a resistência necessária para 2.1.3 Tubulão
os esforços recebidos e dar a estrutura um
recalque admissível. Dessa maneira as É um tipo de fundação profunda que se
fundações comumente utilizadas em pontes são diferencia das estacas pelo seu processo
as do tipo profundas por estabelecer maior executivo, pois em sua execução há descida de
resistência comparada à fundação superficial. operário na base, seja para finalizar a geometria
2.1.1 Estaca raiz da escavação ou para finalizar limpeza do
mesmo. Possibilitando a verificação do solo de
De acordo com Joppert Jr (2013), a estaca raiz apoio, do comprimento de escavação, do
caracteriza-se por ser um tipo de estaca diâmetro do fuste e da base (VELLOSO e
moldada no local, por meio de injeções de LOPES, 2010).
argamassa ou calda de cimento sobre pressão,

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originadas da estrutura às estacas, podendo o
3 CAPACIDADE DE CARGA DO SOLO mesmo ser constituído por estacas verticais,
estacas inclinadas ou por ambas.
A carga vertical total que a ponte resistirá, Abreu (2014 apud CUNHA, 1996), aponta
consiste no somatório de cargas permanentes e que os métodos de Schiel e Nökkentved
cargas verticais móveis. As cargas permanentes desprezam aos empuxos laterais do solo,
são compostas pelo peso próprio da estrutura e de considerando as estacas como hastes bi
todas as sobrecargas fixas. E as cargas verticais rotuladas e que a deformação do bloco de
coroamento é desprezada diante das
móveis são as cargas provenientes de
deformações das estacas, supondo-se o
carregamentos que passam pela ponte, como comportamento elástico do estaqueamento.
automóveis, trens, pedestre entre outros. Portanto, Existem outros métodos que determinam os
deve-se levar em consideração todas as esforços axiais em estacas e os componentes de
combinações cabíveis dentre os diferentes tipos um estaqueamento, entre esses, o método do
de carregamentos previstos pelas normas professor Schiel (1957), sobressai-se pelo
estruturais para poder definir e projetar a tratamento matricial, proporcionando
estrutura adequada (ALONSO, 2012). resultados satisfatórios, quando as estacas
Apesar das fundações profundas possuírem possuem grandes comprimentos e são apoiadas
em substratos pouco rígidos.
diferentes métodos executivos, que também
implica em processos de cálculos diferentes. Elas 4.1 Método de Schiel (1957)
podem ser tratadas de maneira semelhantes, pois
o princípio de funcionamento é o mesmo De acordo com Barros (2009 apud SCHIEL,
(GUSMÃO, 2008). 1957) o avanço tecnológico permitiu o
A capacidade de carga para as fundações desenvolvimento de programas computacionais
que facilitam a análise do bloco de
profundas de pontes pode ser calculada pelos
estaqueamento, tendo como destaque o método
métodos empíricos de Aoki e Velloso e Decourt e de Schiel. Método simples, que reduz
Quaresma, baseado nos resultados dos ensaios de significativamente o número de incógnitas,
sondagem a percussão padrão (SPT) e pelos desconsiderando a ação do solo e permitindo a
métodos analíticos analisados por Terzaghi e análise do carregamento de estacas. Sendo
Vesic, que depende fator dos parâmetros de resumido nas seguintes hipóteses:
resistência do solo, coesão e ângulo de atrito
x O bloco de coroamento é um elemento
obtido a partir de ensaios de cisalhamento direito
rígido;
ou ensaios de compressão triaxial (GUSMÃO, x O material da estaca corresponde à lei de
2008). Hooke;
x A carga distribuída nas estacas é
proporcional ao deslocamento do topo da
estaca em relação ao seu eixo, antes do
deslocamento.
4 CÁLCULO DE ESTAQUEAMENTO 5 METODOLOGIA E ESTUDO DE
CASO
Conforme Alonso (2012), estaqueamento é um
conjunto de estacas solidarizadas pelo bloco de O presente estudo foi redigido em torno de uma
coroamento. A necessidade de criar um bloco ponte ferroviária real, localizada no Estado da
de coroamento é para distribuir as cargas Bahia, cujas informações necessárias para o

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comparativo geotécnico de sua infraestrutura fundação encontrada foi granito, apresentando
foram fornecidas pela empresa responsável, algumas variações. As camadas indicadas e os
autora do projeto, que não possui interesse em ser respectivos parâmetros de resistência encontram-
identificada para fins de trabalhos acadêmicos. se resumidos na Tabela 01 a seguir.
A ponte escolhida possui vãos com trinta
metros de comprimento, cinco apoios, dois Tabela 01. Parâmetros de resistência – Apoio 04
encontros e pilares com sete a oito metros de Prof.
Peso Ângulo
altura. Material Específico
Coesão
de Atrito
topo da
Para síntese de trabalho e precisão dos (kPa) camada
ߛ௦௔௧ (kN/m³) ij (°)
(m)
resultados, foi escolhido apenas um apoio da Solo Silto
estrutura para o processo de análise, o quarto 18 5 30 00
Arenoso
apoio, devido as características geológicas mais Granito
desfavoráveis identificadas pelo relatório de pouco 23 45 35 7,1
alterado
sondagem. Granito
As fundações comparadas são estaca raiz, 24 150 45 13,6

estaca escavada e tubulão, com diâmetros de Fonte: EMPRESA RESPONSÁVEL PELO PROJETO
0,41m, 0,80m e no tubulão diâmetro de fuste de
1,20m e 3m de alargamento da base, Após atingir a profundidade de 7m, a
respectivamente, por serem os diâmetros mais sondagem apresentou rocha do tipo granito com
usuais. características pouca alterada e com RQD (Rock
Quality Designation) de baixa categoria 20%,
5.1 Parâmetros Geotécnicos do Apoio 4 porém as testemunhas exibiram uma rocha muito
fraturada. Por esse motivo, adotou-se o mesmo
A sondagem realizada no apoio foi do tipo Mista, solo de silte arenoso para a profundidade de 7,1 a
que consistiu na união do procedimento de 14m. Portanto, para fins de cálculo e para a
sondagem à percussão com o de sondagem aplicação dos métodos de cálculo da capacidade
rotativa. Este tipo de sondagem permitiu a de carga do solo, utilizou-se o Nspt obtido entre a
transição das camadas de solo silte arenoso de cor
diferenciação das camadas de solo pelo método
cinza com o granito muito fraturado, com um
SPT e pela testemunha retirada do solo, número de 51 golpes.
encaminhada posteriormente para análise em A sondagem apresentou para a rocha do tipo
laboratório, realizados pela empresa. sã, poucas alterações e muito consistente com
A investigação geotécnica indicou a presença RQD de 95,16%.
de solo até uma profundidade de 7,1m e a partir
desse ponto rocha granítica com diferentes 5.2 Cargas atuantes no bloco de fundação
condições de fraturamento e alteração. O nível de
água foi encontrado a 13,8m. Para a primeira As cargas utilizadas para o dimensionamento
camada (0,0 a 7,1m), as sondagens indicaram um foram provenientes dos carregamentos
solo silto arenoso compacto com Nspt de 43. Os permanentes e móveis da superestrutura,
parâmetros de resistência foram fornecidos com mesoestrutura e dos carregamentos longitudinais
e transversais devido à ação da frenagem,
base em correlações com o SPT e a partir de
aceleração, empuxo de terra, choque lateral e
ensaio de cisalhamento direto realizado no
vento.
material superficial. Os carregamentos externos característicos
Devido a natureza do material silto arenoso, foram calculados na base do bloco de fundação
adotou-se 30° como ângulo de atrito e coesão de para diferentes combinações de possíveis
5kPa, além de um peso específico de 18kN/m³. situações ocorrentes na ponte.
Para as demais profundidades, a rocha de

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Diante dessas combinações considerou-se para situação que apresentou menor resistência
fins de cálculo a combinação que apresentou admissível entre os métodos para cada tipo de
condições mais críticas, onde os esforços e fundação, e a profundidade mínima que atendesse
momentos são maiores. Estabelecendo a seguinte os esforços solicitantes. Resumidos no Gráfico 01
configuração apresentada na Figura 01. a seguir:

Gráfico 01. Resultados alcançados

7000

6000 5770,51

Resistência Admissível (kN)


Estaca Escavada
5000 (Decourt e
Quaresma)
4000 Estaca Raiz
2753,08
(Decourt e
3000 Quaresma)
2000 1581,62 Tubulão
(Terzagui)
1000
Figura 01. Configuração vetorial dos carregamentos
externos.
0
Fundações
5.3 Cálculo do Estaqueamento
Através de tentativas de quantitativos de
Com o auxílio do software EstaqV, modelagem elementos, realizados no software EstaqV, que
computacional do método matricial proposto por atendessem o carregamento exigido, determinou-
Schiel, obteve-se os resultados do estaqueamento se um grupo de dezesseis estacas raiz, nove
para o carregamento proposto. estacas escavadas e quatro tubulões.
Os dados fornecidos ao programa foram as Posteriormente, com os resultados obtidos, o
forças axiais externas, momentos externos, altura elemento de cada grupo que mais fora solicitado.
do bloco e as coordenadas x-y de cada elemento Estabelecendo, para o elemento de fundação
no bloco, que definiu as cargas axiais aplicadas estaca raiz, com diâmetro de 0,41m e com um
em cada estaca, possibilitando determinar a bloco composto de 16 estacas a 10m de
estaca mais solicitada. profundidade, carga axial máxima de 1573kN.
Considerou-se os mesmos esforços externos Para o elemento de fundação, estaca escavada,
para cada estaqueamento, por ter analisado com diâmetro de 0,80m e com um bloco
apenas um apoio especifico da ponte. composto de 9 estacas a 9m de profundidade,
Para fins de cálculo, adotou-se um bloco de uma carga axial máxima de 2723,65kN.
coroamento com dimensões de 6,0m x 6,0m x O elemento de fundação do tipo tubulão, com
2,0m, por atender os espaçamentos requeridos por fuste de 1,20m e alargamento da base de 3m, em
cada elemento de fundação. Onde se calculou a um bloco com 4 tubulões a 14m de profundidade,
força exercida pelo bloco na fundação, somando- uma carga axial máxima de 5491,42kN.
se o resultado obtido a força axial no eixo z.
6 ANÁLISE DOS RESULTADOS CONCLUSÃO

Utilizando os métodos de cálculo da capacidade Tecnicamente a estaca raiz e estaca escavada


de carga, descritos anteriormente, obteve-se a apresentam melhores condições para ser
situação mais crítica para cada metro de empregada no estudo caso, pois comparado ao
profundidade analisada pelas sondagens, ou seja, processo executivo do tubulão, onde deverá ser

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necessário o emprego de tipo ar comprimido, por
haver a presença de lâmina de água e ainda ter a
quantidade do material escavado
significativamente maior. Portanto, o
procedimento da estaca raiz e estaca escavada
oferecem menos riscos aos operários na obra e é
executado de forma mais fácil.

REFERÊNCIAS

ABREU, José Antônio. Avaliação do comportamento de


grupos de fundação carregados lateralmente em solo
poroso colapsível e tropical do distrito federal. Brasília:
UnB, 2014. 200 f. Dissertação (Dissertação de
Mestrado em Geotecnia) – Faculdade de Tecnologia,
Universidade de Brasília, 2014.
ALONSO, Urbano Rodriguez. Dimensionamento de
Fundações Profundas. 2 ed. São Paulo, 2012.
BARROS, Rodrigo. Análise de blocos de concreto armado
sobre duas estacas com cálice totalmente embutido
mediante presença de viga de travament. São Paulo:
USP, 2009. 199 f. Dissertação (Dissertação de Mestrado
em Engenharia de Estruturas) – Faculdade de
Tecnologia, Universidade de São Carlos, 2019.
CAMPOS, João Carlos de. Elementos de fundação em
concreto. 1 ed. São Paulo, 2015.
CAPUTO, Homero Pinto. Mecânica dos solos e suas
aplicações. 6 ed. Rio de Janeiro, 2014.
GUSMÃO, Jaime de Azevedo Filho. Fundações de pontes.
2 ed. Recife, 2008.
CRAIG, R. F.; KNAPPETT, J. A. Craig Mecânica dos
Solos. 8 ed. Rio de Janeiro. 2014.
JOPPERT JR, Ivan. Fundações e contenções de edifícios:
qualidade total na gestão do projeto e execução. 1 ed.
São Paulo, 2013.
SCHIEL, Frederico. Estática de Estaqueamentos,
Publicação Número 10. 2 Ed. Escola de Engenharia de
São Carlos, USP, 1957.
VELLOSO, Dirceu de Alencar; LOPES, Francisco de
Rezende. Fundações Profundas. Vol. 2. São Paulo,
2010.

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Comparativo da Capacidade Suporte de Estacas Escavadas sob
Ação de Carregamento Axial
Flávio Luiz de Carvalho
Universidade Federal de São João del-Rei, Campus Alto Paraopeba, Ouro Branco-MG, Brasil,
flaviocs.sl@gmail.com

Caio Araujo Marinho


Universidade Federal de São João del-Rei, Campus Alto Paraopeba, Ouro Branco-MG, Brasil,
caio.araujo.marinho@gmail.com

Tales Moreira de Oliveira


Universidade Federal de São João del-Rei, Campus Alto Paraopeba, Ouro Branco-MG, Brasil,
tales@ufsj.edu.br

Higor Pena Coelho


Universidade Federal de São João del-Rei, Campus Alto Paraopeba, Ouro Branco-MG, Brasil,
higorpenacoelho@gmail.com

Túlio Pena da Silva


Universidade Federal de São João del-Rei, Campus Alto Paraopeba, Ouro Branco-MG, Brasil,
tuliopena@gmail.com

Douglas Henrique Santos Sousa


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto-MG, Brasil, douglahssousa@gmail.com

RESUMO: Este trabalho teve por objetivo comparar o valor da capacidade de carga em Estacas
Escavadas. Realizaram-se duas provas de cargas em estacas. Determinaram-se também os valores
de carga última através de métodos semi-empiricos e por meio de modelagem numérica no software
Plaxis 3D. De posse dos resultados, observou-se boa aproximação entre os métodos propostos, e
ainda que na utilização de software para simulação de Prova de Carga obteve-se resultados mais
precisos e seguros quanto comparados aos métodos semi-empiricos.

PALAVRAS-CHAVE: Capacidade Suporte, Prova de Carga, Plaxis 3D.

1 INTRODUÇÃO a segurança e desempenho de uma estrutura.


Este teste teve sua primeira documentação com
O desafio cada vez maior de reduzir o tempo de Leonardo da Vinci, no século XV, com a
execução de obras faz com que estudos a finalidade de avaliar o comportamento
respeito de métodos semi-empíricos e estrutural de uma edificação (Timoshenko,
numéricos venham sendo realizados e 1953). Com a revolução industrial, no século
aprimorados a fim de validar sua confiabilidade, XIX, a padronização de processos tornou-se
quando comparados a Provas de Carga. prática necessária como forma de garantia de
Para fundações, o ensaio de prova de carga é qualidade. Junto com a normatização e
uma forma essencial e demorada para verificar padronização da prova de carga, métodos semi-

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empíricos e numéricos foram sendo
desenvolvidos e aperfeiçoados para a obtenção
da capacidade de carga de uma fundação sem a
execução da prova de carga.
Nessa pesquisa foram realizadas provas de
carga em duas estacas. Com os valores da
capacidade de carga obtidos, realizaram-se
comparações com os resultados determinados
pelas relações semi-empíricas e com a
modelagem numérica. Os valores obtidos foram
comparados com alguns dos métodos mais
utilizados no Brasil, sendo estes Aoki-Velloso
(1975), Décourt-Quaresma (1978) e Teixeira
(1996) para relações empíricas e com os Figura 2. Croqui do campo experimental .
resultados obtidos pelo software de modelagem
numérica Plaxis 3D. 2.2 Investigação geotécnica

A investigação geotécnica tem o objetivo de


2 MATERIAIS E MÉTODOS caracterização do solo, fornecendo dados que
possibilitam a estimativa da carga de ruptura
2.1 Localização e caracterização das estacas para as estacas ensaiadas por meios de
correlações semi-empíricas. Para a investigação
Os elementos ensaiados estão localizadas em do campo experimental usou-se dos métodos
um campo experimental na Universidade diretos de Sondagem à Trado, segundo a ABNT
Federal de São João Del Rei, Campus Alto NBR 9603 (1986) e Sondagem de Simples
Paraopeba, localizado no km 7 da rodovia MG Reconhecimento a Percussão, em conformidade
443, da cidade de Ouro Branco – MG, como com a ABNT NBR 6484 (2001). Da Sondagem
destacado na figura 1. à Trado, foram recolhidas amostras a cada 0,5
m de profundidade, para posterior
caracterização em laboratório. Na figura 3 é
apresentado o resultado da sondagem a
percussão.

Figura 1. Localização do Campo experimental.

Os mesmos são Estacas Escavadas


Argamassadas. No processo construtivo foi
utilizado trado manual e argamassa moldada in
loco. Na tabela 1 é apresentado as dimensões
das estacas e na figura 2 um croqui detalhado
do campo experimental. Figura 3. Resultado da sondagem a percussão.

Tabela 1. Elementos Ensaiados Para a classificação do solo foram realizadas as


Elemento Diâmetro (cm) Comprimento (cm) análises rápidas de Resistência do solo seco na
E1 15 415 forma de torrão, Teste de sujar as mãos,
E2 15 615

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Dispersão em água, Teste de desagregação do
solo submerso e Exame Tátil Visual.

2.3 Prova de carga

O desempenho de uma estrutura é analisado


através da medição e controle de efeitos
causados pela aplicação de ações internas e
externas. O ensaio de prova de carga é realizado
após a montagem do sistema de reação, que
consiste basicamente em um macaco hidráulico, Figura 5. Carga de Ruptura. (ANBT NBR 6122:2010)
disco espaçador provido de rótula, viga de
reação ancorada por meio de tirantes, relógios 2.4 Métodos Semi-empíricos
comparadores para aferição de deslocamentos,
braços articulados e viga suporte para fixação No Brasil tem-se geralmente o SPT como único
dos relógios. Na Figura 4 é apresentado o ensaio de campo disponível, fato que propicia a
sistema descrito. prática de relacionar medidas de Nspt
diretamente com a capacidade de carga de
estacas (Lobo, 2005).

2.4.1 Método Aoki-Velloso

Consiste em determinar uma parcela referente a


resistência de ponta e outra de atrito lateral,
expressada em Velloso (2012).

k . N spt . D . k . N spt
Q ult = A b .  U .¦ . 'l (1)
F1 F2

Sendo definido “Ab“ como a área de ponta da


estaca, “¨l” o comprimento ao longo de cada
Figura 4. Sistema de reação para Estaca E1. camada do solo, “Nspt” o valor do indice de
resistência a penetração, “U” o perímetro, “k, ɲ,
O ensaio iniciou com a anotação das leituras F1 e F2” parâmetros dependentes do tipo de
dos relógios comparadores, e logo após a solo, para os dois primeiros e do tipo de estaca,
aplicação de carga na estaca. Os incrementos para os últimos.
foram em estágios de 10% da carga de trabalho Monteiro (1997) sugeriu valores para k e Į
prevista. A carga, em cada estágio, foi mantida em função do tipo de solo, descritos na tabela 2:
durante 10 minutos, sendo feita a leitura dos
relógios no instante de aplicação da carga e em Tabela 2. Parâmetros k e ɲ
intervalos de tempos de 1 e 10 minutos até a Tipo de solo k (tf/m²) ɲ(%)
carga máxima do ensaio, na qual foi aferido
Silte Arenoso 50,0 3,0
deslocamentos nos tempos de 30, 90 e 120
minutos. Após a conclusão da etapa de
carregamento, procedeu-se o estágio de Tabela 3. Parâmetros F1 e F2
descarregamento, realizado em cinco estágios Tipo de estaca F1 F2
até o descarregamento total. Escavada 3,0 2F1
A carga de ruptura foi determinada de acordo
com a ANBT NBR 6122:2010 – Projeto e 2.4.2 Método Décourt-Quaresma
execução de fundações, conforme indicado na
figura 5. O método apresentado por Luciano Décourt e

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Arthur R. Quaresma para determinar a problema, permitindo a comparação com os
capacidade de carga de estacas sem dados obtidos em campo e através dos Métodos
deslocamento, encontrado em HACHICH Semi-empiricos. Utilizou-se a versão Plaxis 3D
(2000). Sugere-se a utilização de coeficientes Į Foundation Versão Introductory.
e ȕpara estacas escavadas. Para alimentação do programa, utilizou-se
dos valores do Módulo de Elasticidade
Q ult = D . A b . q p ,ult  E .U .W l ,ult . 'l (2) Longitudinal (E), Ângulo de Atrito ( ) ) e
Coesão do solo. Em estudo prévio realizado no
q p, ult = k . N p, spt (3) mesmo campo experimental, Rocha e Gomes
(2016), determinaram o valor do Módulo de
Elasticidade Transversal (G) por meio de
§ N l,spt · Ensaio Pressiômetrico de Ménard (PMT).
W l ,ult = 10 . ¨¨ ¸¸  1 (5)
© 3 ¹ Aplicando a Equação 6, pode-se determinar o
valor de E:
Na tabela 4 é apresentado o parâmetro k, e
na Tabela 5 os valores de Į e ȕ para a estaca E
G (6)
tipo escavada: 2 . (1  Q )

Tabela4. Parâmetro k. Para o coeficiente de Poisson (Q )


Tipo de solo k (tf/m²) recomenda-se a utilização do valor de 0,33.
Silte Arenoso 25,0 (NEVES, 2006).
Para a estimativa do Ângulo de atrito,
Tabela5. Parâmetro Į e ȕ para estaca escavada. Teixeira (1996) recomenda:
Tipo de solo ɲ ɴ
Silte Arenoso 0,60 0,65 ) 20 . N  15 q (7)

2.4.3 Método Teixeira (1996)


3 RESULTADOS
A formulação proposta por Teixeira (1996) para
o cálculo de estacas, é apresentada na Assim como descrito no item 2.5 obtiveram-se
Equação 5: os resultados apresentados na tabela 7, sendo
estes os parâmetros de entrada para o Software.
Q ult = D . A b . N b  E .U .N l . L (5)
Tabela 7. Parâmetro de entrada do Software
Parâmetro Valor
Tem-se também os valores de Į e ȕ em
Modulo de Elasticidade Trans. (G) 4123,00 KPa
função do tipo de estaca e solo, para as
formulações de Teixeira (1996), indicados na Módulo de Elasticidade Long. (E) 10967,18 KPa
tabela 6. Coesão 35 KPa
Ângulo de atrito 32°
Tabela 6. Parâmetro ɲeɴ
Coeficiente de Poisson 0,33
Tipo de solo Į (tf/m²) ȕ (tf/m²)
Silte Arenoso 16,00 0,40 Na figura 6 é possivel observar a interface
gráfica do programa, na qual é indicada a
2.5 Plaxis 3D análise de resultados por meio de escala de
cores e valores.
O PLAXIS 3D é um programa de elementos
finitos que lida com problemas de geometria
complexa e sequências construtivas. O Software
foi utilizado para modelagem computacional do

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Figura 6. Análise de resultados Plaxis 3D.

De acordo com o disposto no item 2.3,


tem-se as curvas denominadas “Carregamento” Figura 8. Curva carga x deslocamento na estaca E2.
e “Descarregamento”, nas Figuras 7 e 8.
A curva denomidada “Plaxis” indica o Analisando os resultados obtidos por meio dos
resultado para a análise do Software, de acordo métodos semi-empiricos apresentados em 2.4.1,
com o item 2.5. 2.4.2 e 2.4.3, a tabela 8 mostra as relações entre
A estaca E1 apresentou ruptura para um valor os valores estimados e os obtidos nos testes de
de recalque de 8 mm e carga última de 8,70 tf carga e na modelagem utilizando-se o Plaxis.
quando submetida a prova de carga. Na análise
do Plaxis 3D tem-se para um valor de recalque Tabela 8. Comparação de valores
de 7,40 mm a carga última de 8,83 tf. Método E1 (tf) E2 (tf)
Prova de carga 8,70 12,00
Aoki-Velloso 11,94 15,35
Décourt-Quaresma 11,78 15,34
Teixeira 15,98 21,43
Plaxis 3D 7,87 8,83

5 CONCLUSÕES

Os valores obtidos nas correlações se


mostraram pouco superiores aos valores
encontrados nas Provas de carga e na simulação
numérica, devendo-se ser conservador ao
utilizá-los. Percebe-se a importância da
Figura 7. Curva carga x deslocamento na estaca E1. execução de ensaios de campo para ratificar a
validade das informações obtidas por
A estaca E2 apresentou ruptura para um correlações, desta forma, contribui-se para que
valor de recalque de 9,17 mm e carga última de se obtenha estruturas confiáveis.
12,00 tf quando submetida a prova de carga. Na Observa-se que a aplicação de modelagem
análise do Plaxis 3D tem-se para um valor de numérica para determinação de capacidade de
recalque de 7,83 mm a carga última de 7,87 tf. carga, apresenta-se como uma alternativa
viável a ser utilizada para complementar os
estudos realizados por meio de métodos semi-
empiricos.

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AGRADECIMENTOS

Os autores deste artigo prestam agradecimentos


ao grupo de pesquisa INFRAGEO –
Infraestrutura de Transportes e Obras
Geotécnicas, ao Departamento de Tecnologia
em Engenharia Civil, Computação e
Humanidades da Universidade Federal de São
João del-Rei Campus Alto Paraopeba – UFSJ-
CAP.

REFERÊNCIAS

ABNT NBR 6122:2010 – Projeto e execução de


fundações. Rio de Janeiro, 2010. p.24-26.
DUARTE, L.N. (2006). Análise de prova de carga
instrumentada em uma sapata rígida. Viçosa: UFV.
p.38.
HACHICH,W. et al. Fundações – Teoria e Prática. 2ª ed.
São Paulo: Pini, 2000.
LOBO, B.O. (2005). Método de previsão de capacidade
de carga de estacas: Aplicação dos conceitos de
energia do ensaio SPT. Porto Alegre: UFRGS. p.1.
MONTEIRO, P. F. (1997). Capacidade de carga de
estacas – método Aoki-Velloso, Relatório interno de
Estacas Franki Ltda.
ROCHA. S.A., GOMES. T.B. (2016) Análise Geotécnica
de Prova de Parga Bidirecional com Célula
Expansiva Hidrodidâmica Arcos e P&P. UFSJ, Brasil.
p.65.
TEIXEIRA, A. H. (1996). Projeto e execução de
fundações. In: SEFE, 3., São Paulo. Anais... São
Paulo, v. 1.
TIMOSHENKO,S.P.History of strength of materials.
New York,McGraw-Hill,(1953).
VELLOSO, D.A. DE REZENDE , L.F. Fundações –
Volume Completo. São Paulo: Oficina do texto, 2012.

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Desenvolvimento de Equipamento de Monitoramento para o
Controle Executivo de Estacas Tipo Raiz
Alfran Sampaio Moura
Universidade federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, alfransampaio@ufc.br

José Melchior Filho


Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil, melchior_filho@hotmail.com

Fernando Feitosa Monteiro


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, engffmonteiro@gmail.com

RESUMO: Para estacas raiz, o controle executivo é realizado, geralmente, através da execução de
provas de carga estáticas. Para propor um procedimento de controle do desempenho de estacas raiz,
adotou-se um procedimento, utilizando um velocímetro, para medir algumas variáveis em campo
durante a execução da estaca. As variáveis medidas foram correlacionadas com a capacidade de carga
da estaca. Tais pesquisas foram iniciadas por Lima (2014), Moura et al (2015) e Monteiro (2016).
Este artigo tem por objetivo apresentar os procedimentos propostos para o controle executivo de
estacas raiz, e algumas modificações do equipamento que estão sendo desenvolvidas.

PALAVRAS-CHAVE: Estaca Raiz, Desenvolvimento de Equipamentos, Controle Executivo,


Método de Verificação de Desempenho.

1 INTRODUÇÃO

Há diversos métodos para verificar o verificação de desempenho é feita, atualmente,


desempenho de fundações profundas que variam apenas após a sua execução, por meio de ensaios
de acordo com o tipo de estaca. No caso da estaca de provas de carga estáticas. Visto que,
hélice-contínua, há o método tradicional, diferentemente da estaca hélice-contínua, o
proposto por Silva e Camapum de Carvalho processo executivo da estaca raiz impossibilita o
(2010), no qual se monitora a pressão necessária fácil monitoramento das variáveis durante a
para se aplicar um torque durante a escavação da escavação, percebe-se, então, a necessidade de
fundação. Este método permite, então, realizar o estudos nesse sentido.
controle executivo da estaca, através de uma Portanto, esta pesquisa busca discutir sobre o
relação direta entre o torque aplicado pela aprimoramento de uma metodologia viável para
perfuratriz e a resistência do solo. o monitoramento das variáveis necessárias para
Entretanto, para o caso da estaca raiz, a o controle executivo de estacas raiz.

2 DESEMPENHO DE ESTACAS RAIZ

O controle executivo é um procedimento Para estacas moldadas “in loco”, o controle é


necessário para a verificação em campo do realizado através de observação da qualidade dos
desempenho de estacas e tal procedimento varia insumos e seu consumo, da correta execução de
dependendo do tipo de estaca. cada etapa do processo, da verificação da

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tolerância quanto aos desvios angulares e pela posicionamento da armadura e tempo de injeção.
realização de ensaios de prova de carga estática O controle pós-executivo é feito através de
e ensaios de integridade (PIT). ensaios de campo, para se verificar a integridade
No caso das estacas do tipo hélice contínua, do elemento estrutural e o desempenho da
além dos métodos de controle tradicionais, uma fundação. Para a verificação do desempenho da
proposta mais recente foi elaborada por Silva fundação, geralmente, realiza-se provas de carga
(2011), na qual se verifica que a energia estática ou dinâmica (LIMA & MOURA, 2016).
mecânica medida na estaca, durante sua A norma NBR 6122/2010, em seu anexo L.9,
execução, é diretamente proporcional a descreve procedimentos que devem ser
capacidade de carga da estaca. No entanto, o realizados para se obter desempenho satisfatório
atual estado da arte da estaca raiz é necessário a da argamassa utilizada em estacas raiz. Tais
realização de provas de carga para o controle de procedimentos são: a argamassa, que deve ter um
desempenho da estaca executada. fck de pelo menos 20 MPa, o consumo de
De acordo com Cadden et al (2004), o processo cimento não deve ser inferior a 600 kg/m³, o fator
executivo da estaca raiz é semelhante ao da água/comento adotado deve estar entre 0,5 e 0,6
estaca hélice contínua, no qual há limitações de e o agregado empregado deve ser areia e/ou
coleta de informações durante sua execução. O pedrisco.
equipamento utilizado, geralmente, não indica Lima (2014), Moura et al (2015) e Lima e
mudanças das condições geotécnicas quando há Moura (2016), apresentam uma nova
transição entre camadas de solo, e os registros metodologia para o controle executivo de estacas
coletados durante a execução das estacas raiz não raiz, através da elaboração de fórmulas empíricas
possibilita a caracterização numérica dos que relacionam as variáveis medidas durante a
materiais encontrados, tal como o número de execução das estacas com a carga de ruptura. Os
golpes para as estacas cravadas. Além disso, dados obtidos em campo foram colhidos de três
existem as incertezas das condições das paredes estacas, com diâmetros de 350 e 410 mm e de
laterais do furo antes da concretagem. Por fim, o comprimentos entre 12 e 16 m, monitoradas
autor sugere que, devido a falta da coleta de utilizando-se de um velocímetro digital.
registros adequados, o controle executivo seja Monteiro (2016), utilizando a mesma
feito através de inspeções de profissionais metodologia, continuou os estudos iniciados por
experientes com relação ao processo de Lima (2014) e Moura et al (2015), monitorando
instalação. um número maior de estacas raiz, com o
Atualmente, o processo de controle executivo propósito de comparar e melhorar a formulação
de estacas raiz é realizado através da observação empírica anteriormente propostas. O autor
das seguintes variáveis: consumo de cimento, concluiu que as expressões propostas pelo
número de golpes de ar comprimido, mesmo apresentam resultados satisfatórios e
comparação do solo escavado com o solo obtido possuem sentido físico para a capacidade de
na sondagem, tempo de escavação, tempo de carga das estacas.

3 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS NA PESQUISA

O monitoramento da execução das estacas raiz é estacas, tais como: o tempo de execução da
dividido em duas etapas. A primeira etapa se escavação, número de golpes de ar aplicados,
baseia no controle dos equipamentos e dos consumo de cimento, velocidade angular média
procedimentos utilizados para a execução da e máxima do rotor da perfuratriz, distância linear
estaca, observando algumas variáveis, como: equivalente percorrida pela rotação do rotor e o
diâmetro do rotor da perfuratriz, diâmetro da tempo necessário para a penetração da broca de
broca de perfuração, comprimento da estaca, comprimentos pré-determinados.
diâmetro da estaca e a pressão de injeção de ar. O equipamento utilizado na pesquisa (Figura
A segunda etapa consiste na medição de 1) é composto de: um velocímetro digital, com
variáveis durante o processo executivo das duas casas decimais de precisão, um imã de

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neodímio e um cronômetro. Figura 1. Equipamento de monitoramento.

O velocímetro, juntamente com o imã, são


usados para medir a distância percorrida pelo
rotor da perfuratriz da estaca e o cronômetro se
mede o tempo de perfuração da broca entre
intervalos, previamente, delimitados. Com o
intervalo tempo, decorrido em cada avanço da
escavação calcula-se a velocidade linear do rotor
e a velocidade de perfuração da broca, e
relacionados diretamente com a resistência de
atrito lateral e de ponta da estaca,
respectivamente.

4 ENSAIOS PRELIMINARES

4.1 Locais de estudo

Na Figura 2 está apresentado os locais de estudo


selecionados para o desenvolvimento da
presente pesquisa. Foram selecionados cinco
locais para serem estudados. Em todas as áreas
de estudadas estavam sendo construídas obras
civis, com fundações em estacas do tipo raiz.
Todas as obras estão situadas no município de
Fortaleza.
A Tabela 1 apresenta informações sobre as
estacas estudadas em cada obra.


Figura 2. Localização das áreas estudadas.

Tabela 1. Dados gerais das estacas de cada obra.


Obra
Dados
1 2 3 4 5
Estaca 1 2 3 4 5 6 7 8
L (m) 7,7 7,7 15 15 26 12 16 12
D (mm) 410 410 410 410 410 350 410 410
Pressão de
400 400 300 300 300 300 300 300
injeção (kPa)

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Carga de
1000,0 1000,0 1200,0 1200,0 1400,0 800,0 1200,0 1200,0
Trabalho (kN)

4.2 Resultados do monitoramento

Como mencionado, foi realizado o Tabela 2 está presente informações obtidas sobre
acompanhamento de medidas de algumas a geometria e o controle tecnológico das estacas
variáveis durante a execução das estacas, na estudadas.

Tabela 2. Dados da geometria e do controle tecnológico das estacas.

Diâmetro Comprimento Tempo de Pressão de injeção No de golpes de Consumo de


Estaca
(m) (m) execução (min) de ar (kPa) ar cimento (kg/m)

1 0,41 7,7 196 400 2 91


2 0,41 7,7 183 400 1 91
3 0,41 15 185 300 3 47
4 0,41 15 117 300 3 47
5 0,41 26 279 300 3 27
6 0,35 12 155 300 4 58
7 0,41 16 320 300 7 44
8 0,41 12 280 300 6 58

Na etapa de monitoramento das variáveis durante o tempo de escavação; velocidade


relativas ao desempenho da estaca, durante a fase angular da broca de perfuração, que advém da
de escavação, são registradas as medidas de: frequência do rotor; velocidade linear da broca
penetração e tempo de escavação, a partir das de perfuração, que está associada a frequência do
quais obteve-se a velocidade de avanço; rotor. Os resultados do monitoramento durante a
frequência do rotor, que é determinada a partir fase executiva da estaca estão apresentados na
do número de rotações realizadas pelo rotor Tabela 3.

Tabela 3. Resultados do monitoramento das variáveis relacionadas com o desempenho das estacas
Velocidade Velocidade
Penetração Frequência vb
Estaca Tempo (s) de Avanço Angular Nspt,ponta Nspt,lat
(m) (Hz) (m/s)
(m/s) (rad/s)
0,10 38,00 2,63E-03 2,01 12,60 1,95
0,20 51,00 3,92E-03 2,50 15,72 2,44
1 60 50
0,20 78,00 2,56E-03 2,15 13,50 2,09
0,20 72,00 2,78E-03 2,25 14,13 2,19
0,10 27,00 3,70E-03 1,76 11,08 1,72
0,20 50,00 4,00E-03 2,67 16,76 2,60
2 60 52
0,20 56,00 3,57E-03 1,36 8,55 1,33
0,20 54,00 3,70E-03 2,65 16,62 2,58
0,10 11,22 8,91E-03 2,55 16,00 2,48
3 0,10 8,27 1,21E-02 1,15 7,24 1,12 60 33
0,20 19,28 1,04E-02 0,99 6,21 0,96
0,10 4,76 2,10E-02 2,00 12,57 1,95
4 0,20 9,78 2,04E-02 1,95 12,24 1,90 60 32
0,20 15,84 1,26E-02 1,20 7,56 1,17
0,10 18,59 5,38E-03 1,54 9,66 1,50
5 0,20 34,30 5,83E-03 1,94 12,21 1,89 60 52
0,20 43,19 4,63E-03 1,76 11,08 1,72
0,15 29,00 5,20E-03 3,99 25,10 3,89
6 10 6
0,20 43,00 4,70E-03 4,06 25,48 3,95

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0,30 30,00 1,00E-02 2,05 12,86 1,99
7 39 22
0,20 27,00 7,40E-03 2,44 15,32 2,37
0,30 38,00 7,90E-03 1,61 10,14 1,57
8 22 22
0,20 44,00 4,50E-03 4,38 27,52 4,27

5 MELHORIAS DOS EQUIPAMENTOS EM DESENVOLVIMENTO

Este estudo se baseia na continuação de dois para que seja possível a coleta dos dados sem que
outros estudos: Lima (2014) e Monteiro (2016). ocorra paradas entre os intervalos, restando,
Tendo como finalidade o aprimoramento dos somente, a parada final da escavação.
métodos de coleta de dados utilizados pelos
autores.
Como aprimoramento dos equipamentos,
propõe-se, incialmente, a utilização de quatro
imãs, posicionados diametralmente opostos,
dividindo a circunferência do rotor em quatro
partes iguais, e a utilização de um velocímetro
com precisão de três casas e maior alcance entre
o sensor utilizado e o seu display, ou seja,
utilizando um velocímetro wireless (Figura 3),
Figura 3. Velocímetro wireless com precisão de três casas.

6 CONCLUSÕES

Neste estudo, foram apresentadas propostas para devido ao arredondamento de valores, não
o aprimoramento do procedimento de controle interfira nos resultados obtidos.
executivo de estacas raiz. A metodologia é O velocímetro wireless, por possuir um maior
baseada no monitoramento de variáveis de alcance entre o sensor e seu display, ajuda no
execução das estacas (velocidade de avanço e monitoramento em tempo real das variáveis,
velocidade linear da broca de perfuração), diminuindo, assim, o número de paradas
correlacionando-as com o desempenho da necessárias para a coleta dos dados.
estaca. A utilização de quatro imãs, ao invés de um,
Com o presente estudo, é possível concluir, diminui o erro oriundo da parada, pois ao dividir
então, que é fundamental a utilização de um a circunferência do rotor em quatro, a distância
velocímetro com precisão de pelo menos três máxima não computada por parada, diminui para
casas decimais para que o erro acumulado, um quarto.

REFERÊNCIAS

Cadden, A; Gomez, J; Bruce, D. Micropiles: recent ENGENHARIA, v. 25, n. 2, p. 95-104, 2016.


advances and future trends. In: ASCE. Current Moura, A S; Lima, D R; Monteiro, F F. A preliminary
practices and future trends in deep foundations. Los proposal: executive control of root piles. The
Angeles: Asce, 2004. p. 140-165. Electronic Journal of Geotechnical
Lima, D R. Contribuição ao estudo do desempenho de Engineering. Stillwater, p. 12906-12920. 2015.
estacas do tipo raiz. 2014. 122p. Dissertação Monteiro, F F. Desenvolvimento de uma proposta para o
(Mestrado) - Curso de Engenharia Civil, Departamento controle executivo de estacas do tipo raiz. 128p.
de Engenharia Hidráulica e Ambiental, Universidade Dissertação de Mestrado - Curso de Engenharia Civil,
Federal do Ceará, Fortaleza, 2014. Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental,
Lima, D R; Moura, A S. Controle executivo de estacas raiz Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2016.
a partir de medidas de campo. In: CIÊNCIA E Silva, C M. Energia e confiabilidade aplicadas aos

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estaqueamentos tipo hélice contínua. 311p. Tese
(Doutorado) - Curso de Engenharia Civil,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental,
Universidade de Brasília, Brasília, 2011.
Silva, C M; Camapum de Carvalho, J. Metodologia para o
controle de qualidade dos estaqueamentos tipo hélice
contínua - A rotina SCCAP. In: Fundações e Obras
Geotécnicas, v.1, 2010.

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Desenvolvimento de um Software Acadêmico para Auxiliar na
Tomada de Decisão Quanto aos Tipos de Fundações
Adriano Douglas Girardello
Centro Universitário FAG, Cascavel-PR, Brasil, adrianogirardello@gmail.com

Maycon André de Almeida


Centro Universitário FAG, Cascavel-PR, Brasil, mayconalmeida@creapr.org.br

RESUMO: A relação entre o solo e as estruturas de fundação é complexa, sendo que a eleição do
melhor sistema de fundação para um determinado local é de suma importância para evitar problemas
na execução e estabilidade final da edificação. Objetivou-se o desenvolvimento de um software
acadêmico para ajudar na tomada de decisão quanto aos tipos de fundações baseadas em um
determinado terreno de aplicação. A partir do embasamento teórico, foi possível estruturar o
algoritmo, estabelecendo as principais regras que ele deveria seguir para gerar os resultados de forma
correta. O software foi desenvolvido em linguagem de programação Java e foram utilizadas duas
sondagens SPT reais para analisar os resultados gerados, os quais foram condizentes com a teoria.
Ao final do trabalho concluiu-se que o software efetivamente ajuda o profissional na tomada de
decisão do sistema de fundação a ser empregado em um terreno, além de ser uma ferramenta de
aprendizado por parte da comunidade acadêmica.

PALAVRAS-CHAVE: Tipos de Fundações, Sondagem, Software de fundações.

1 INTRODUÇÃO indicado na NBR 6122 (ABNT, 2010) que trata


acerca do projeto e execução de fundações.
Dentre as etapas construtivas de uma obra de Estes fatores relacionados aumentam a
engenharia, destaca-se a infraestrutura, responsabilidade na escolha correta de um
considerada a parte da construção que se sistema de fundação para um determinado local,
encontra abaixo do nível do solo, sendo dada as incertezas envolvidas. No processo de
responsável pela estabilidade, segurança e decisão, entre qual sistema de fundação utilizar,
longevidade da obra. Para uma execução faz-se necessário uma análise completa sobre os
adequada desta etapa é necessário que sejam tipos disponíveis e suas aplicações nos mais
adotados os melhores métodos executivos, dado diversos tipos de terrenos que pode se deparar.
as peculiaridades de cada local e da edificação a Neste contexto, um problema recorrente em
ser executada. obras que se tem o desenvolvimento dos vários
A relação entre o solo e as estruturas de projetos de forma independente, sem a
fundação é complexa, o que leva a autores do comunicação eficiente entre os projetistas e
assunto a deixarem claro que a Mecânica dos executores, é a incompatibilização e as
Solos não é uma ciência exata, conforme citado especificações incorretas que podem ocorrer, o
por Neto (1998). Outra evidência desta qual acarreta sérios problemas na etapa
inexatidão sobre tal relação, está indicada nos executiva. Isto fica melhor ilustrado em obras
altos valores dos coeficientes de segurança públicas, quando a Lei nº 8.666 de 21 de junho
adotados nos cálculos das estruturas, podendo de 1993, que institui normas para as licitações,
chegar a valores superiores a 3 (três), como estabelece que as diferentes etapas de projetos e

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execução de uma obra devem ser realizadas por conta bibliografias consagradas na área de
empresas diferentes. fundações, artigos, trabalhos científicos e
A possibilidade de erros é grande, reportagens de revistas especializadas.
principalmente no projeto e execução das
fundações, pois nem sempre o projetista de 2.2 Método executivo
fundações possui dados corretos do local da
obra. Quando se inicia a execução, problemas de O software, nomeado como BASE, foi
empregabilidade do sistema escolhido ficam desenvolvido na linguagem de programação
evidentes, sendo necessário realizar adaptações e Java, e possibilita que o usuário insira
até mesmo a mudança do sistema empregado. informações sobre o local de execução de uma
Segundo Lopes e Velloso (1998), os determinada obra. Com base nas entradas, o
elementos necessários para o desenvolvimento sistema computacional processa cada
de um projeto de fundações, e consequentemente informação, comparando de que forma cada
a apuração adequada do sistema de execução sistema de fundação reage a determinada
são: a topografia da área, dados geológicos- característica do local. Dependendo da interação
geotécnicos, dados da estrutura a construir e entre as características e a fundação, pode
dados sobre construções vizinhas. Porém, fatores ocorrer a não indicação de uso do sistema de
econômicos, tempo e disponibilidade também fundação, a sua indicação de uso com algumas
podem ser determinantes no momento da restrições ou a indicação de uso sem restrições,
escolha. sendo que para cada restrição, ou não indicação
A eleição do melhor método executivo de um de um sistema de fundação, uma justificativa é
sistema de fundação deve levar em conta todas apresentada.
as condições do local de aplicação, e a Para auxiliar no desenvolvimento do
confrontação das características de cada sistema. software, uma tabela resumo foi desenvolvida, a
Este trabalho deve ser realizado com fim de compreender como a análise é realizada,
responsabilidade, pois a não consideração de como pode se observar na Tabela 1.
uma característica, pode inviabilizar o sistema
em uma fase futura, gerando grandes perdas Tabela 1 - Relações entre sistemas de fundações e fatores
econômicas e atrasos. que influenciam na sua escolha.
Abaixo Possibilidadede Executaem
Este artigo visa criar um software que Pequeno Médio Grande Necessitamde Causam Causam
do
Atravessa
estrangulamento terrenosmuito
Porte Porte Porte equipamentos Vibração Ruídos Matacões
auxiliará na análise entre as condições locais e as N.A. dofusteemsolos inclinados
Sapatas x x x Não Não Não Não Sim Nãoseaplica Sim
características de cada sistema de fundações, Radier x Não Não Não Não Sim Não Não
automatizando o processo através de uma Prémoldadaconcreto x x Sim Sim Sim Sim Não Não Não
Prémoldadamadeira x Sim Sim Sim Sim Não Não Não
interface gráfica para auxiliar na tomada de Prémoldadametalica x x Sim Não Sim Sim Não Não Não
decisão. Franki x x Sim Sim Sim Sim Não Sim Não
Apiloada x Sim Sim Sim Não Não Não Sim
Omega x Sim Não Não Sim Não Não Não
TradoManual x Não Não Não Não Não Não Sim
TradoMecanico x x x Sim Não Não Não Não Não Não
2 METODOLOGIA Strauss x x Sim Não Não Sim Não Sim Sim
HeliceContínua x x x Sim Não Não Sim Não Não Não
Estacão x Sim Não Não Sim Não Não Não
2.1 Tipo de estudo e embasamento teórico Barrete x Sim Não Não Sim Sim Não Não
Raiz x x Sim Não Não Sim Sim Não Não
Microestacas x x Sim Não Não Sim Sim Não Sim
HollowAuger x Sim Não Não Sim Não Não Não
Para a realização deste estudo, utilizou-se o Tubulões x x Não Não Não Não Sim Não Sim
procedimento técnico de pesquisa bibliográfica Tubulãocomarcomprimido x x Não Não Não Sim Sim Não Sim

principalmente em publicações, com caráter


exploratório.
Para realizar a análise dos fatores que 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
influenciam na escolha de um sistema de
fundação para um determinado local, tanto as Para validação do software, realizou-se a
características dos fatores, quanto as aplicação em dois casos reais de terrenos na
características de cada tipo de fundação foram cidade de Cascavel-PR. As sondagens SPT
estudadas e confrontadas. O estudo levou em

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foram fornecidas por uma empresa de fundações Após realizar o processamento, o software
regional. gerou os resultados, como mostra a Figura 2.

3.1 Simulação 1

O primeiro terreno considerado tem a


sondagem SPT realizada nos dias 24 e 25 de
janeiro de 2017 na Rua Minas Gerais esquina
com a Rua Vicente Machado, centro de
Cascavel-PR. Os dados necessários para realizar
a análise foram obtidos junto à empresa de
fundações, assim como análise do entorno da Figura 2. Resultado gerado pelo software com os dados
do terreno 1.
obra e da sondagem SPT.
A obra, ainda não iniciada, trata-se de um
edifício residencial de grande porte, com cargas As fundações indicadas pelo software foram:
aproximadas de 500 toneladas por pilar. O Tubulão a ar comprimido, estacas pré-moldada
terreno está localizado na região central da de concreto, estaca pré-moldada metálica, estaca
cidade, possuindo acesso a equipamentos e Franki, estaca Ômega, estaca hélice contínua,
pouca inclinação. A vizinhança é composta por estacão, estaca barrete, estaca raiz e
edifícios residenciais com no máximo 15 anos de microestacas. O grande número de opções
construção, sendo assim não há restrições quanto validadas pelo software são reflexos de poucas
à vibração e ruídos. restrições existentes nos dados de entrada.
Analisando-se a respectiva sondagem SPT Já as fundações indicadas com restrição
encontrou-se os seguintes dados para o foram: estaca com trado mecânico, tubulão e
processamento: sapata. A restrição gerada a todas é a mesma, que
a fundação não pode ser executada abaixo do
x NSPT nos primeiros metros igual a 15;
nível d’água, sendo assim não se pode executar
x Nível d’água presente na cota -15 m;
a fundação com mais de 15 metros de
x Há presença de matacões ou rocha a 28,04 m; profundidade, cota esta do nível d’água. Apesar
x Não há presença de solos moles saturados. do sistema de fundação em sapatas ser uma
fundação rasa, a restrição é gerada, pois há a
O software foi configurado com os dados hipótese de execução de 5 subsolos de 3 metros,
obtidos, conforme mostra a Figura 1. Neste caso, chegando assim a apoiar a sapata na cota -15
optou-se por não marcar “sim” para a presença metros.
de rocha a 28,04 metros pois traria restrições As fundações não recomendadas foram:
indevidas sobre a escolha dos sistemas de Hollow Auger, estaca Strauss, estaca trado
fundação. manual, estaca apiloada, estaca pré-moldada de
madeira e radier. Todos os sistemas de fundações
foram eliminados pela não compatibilidade de
porte de obra. Os sistemas que não podem ser
executados com presença do lençol freático,
Strauss, trado manual, apiloada e radier também
receberam restrição de não execução abaixo do
nível d’água.

3.2 Simulação 2

O segundo terreno analisado possui a sondagem


SPT realizada no dia 08/03/2017, localizada na
Rua Londrina, centro de Cascavel-PR. Como
Figura 1. Software BASE configurado com os dados do não foi informado o número predial, presumiu-
terreno 1. se que seja uma região baixa, pois possui lençol

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freático a apenas 5,8 m de profundidade. Neste As fundações recomendadas foram: tubulão a
caso, para o software analisar mais situações, ar comprimido, estaca raiz e microestacas. As
considerou-se que o terreno se localiza próximo poucas opções validadas são resultado das
a uma edificação muito antiga e também muitas restrições impostas pelo terreno,
próximo a um hospital, gerando restrições de principalmente a presença de matacões, topo
vibração e ruídos. rochoso e nível d’água próximo a superfície,
O porte da obra considerado é médio, sendo onde permanecem indicadas sem nenhuma
uma edificação residencial. Por ser localizado restrição, apenas sistemas de fundação que
em uma região central da cidade, o terreno possui podem perfurar rocha e não são influenciadas
pouca inclinação e tem total acesso a pelo nível d’água.
equipamentos. As fundações recomendadas com restrição
Analisando-se a respectiva sondagem SPT foram a Hollow Auger, hélice contínua, Strauss,
encontrou-se os seguintes dados para o trado mecânico, pré-moldada metálica e tubulão,
processamento: sendo que apenas com exceção do tubulão, todos
x NSPT nos primeiros metros igual a 5; sistemas apresentaram restrição quanto a
x Nível d’água presente na cota -5,8 m; presença de matacões e topo rochoso, sendo
x Presença de rocha ou matacão na cota -8,8 m; necessários verificações adicionais no caso de
x Não há presença de solos moles saturados; matacões e apoio de no máximo 8,80 m das
estacas em caso de topo rochoso. O sistema de
O software foi configurado com os dados trado mecânico, também apresentou restrição de
obtidos, conforme mostra a Figura 3. execução abaixo do nível do lençol freático
assim como o tubulão. Também foi gerada uma
restrição de não utilização da estaca pré-moldada
metálica, a qual gera ruídos pelo seu processo
executivo.
As demais fundações foram classificadas
como não recomendadas. Os sistemas de
fundação barrete, estacão, trado manual, ômega,
apiloada e radier não foram validados devido ao
porte de obra incompatível com o sistema de
fundação. As estacas Franki, pré-moldadas de
madeira, pré-moldadas de concreto e novamente
a apiloada geraram restrições de utilização
devido aos seus métodos executivos gerar
vibrações nas edificações vizinhas precárias.
As fundações diretas radier e sapata, tiveram
Figura 3. Software BASE configurado com os dados do
terreno 2. a sua inviabilidade aferida pela não execução em
solos com NSPT menor que 6.
Após realizar o processamento, o software
gerou os resultados, como mostra a Figura 4.
4 CONCLUSÕES

O trabalho propôs o desenvolvimento de um


software de cunho acadêmico para auxiliar na
tomada de decisões quanto à escolha de
fundações para um determinado local, que foi
desenvolvido na linguagem de programação
Java.
O software não foi integrado com um sistema
de banco de dados, desta forma, apresenta a
Figura 4. Resultado gerado pelo software com os característica de não permitir a entrada de novos
dados do terreno 2

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sistemas de fundações, assim como novas REFERÊNCIAS
restrições para ser analisadas pelo mesmo,
porém pode ser adicionado futuramente caso Associação Brasileiras de Normas Técnicas, NBR
necessário. 6122/2010. (2010) Projeto e execução de fundações.
ABNT, Rio de Janeiro.
Com a aplicação do software em exemplos
reais em dois terrenos na cidade de Cascavel-PR, Brasil. Lei nº 6.888, de 21 de Junho de 1993. (1993)
realizou-se a análise dos resultados gerados e Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição
verificou-se que as respostas de indicação, Federal, institui normas para licitações e contratos da
indicação com restrições e não indicações dos Administração Pública e dá outras providências.
Brasília.
sistemas de fundações fornecidas foram
coerentes com a literatura embasada e que Lopes, F. R. e Velloso, D.; Niyama, S. (1998) Fundações:
normalmente são especificadas por profissionais Teoria e prática. 2 ed., Pini, São Paulo.
da área, validando-se assim o software.
O software tem grande utilidade ainda como Neto, A. D. F. N. Niyama, S. (1998) Fundações: Teoria e
uma ferramenta de aprendizado, visto a sua fácil prática. 2 ed., Pini, São Paulo.
usabilidade e a grande gama de informações a
respeito de fundações que possui. O trabalho
contempla 19 sistemas de fundações,
descrevendo-as, ilustrando-as e apontando as
principais vantagens e desvantagens. O mesmo
está disponível a toda comunidade acadêmica
que desejar utilizá-lo, a fim de entender melhor
as relações do solo com os sistemas de fundações
existentes. Juntamente com o software, foi
desenvolvido um manual técnico do mesmo, de
modo a facilitar seu acesso, uso e aplicação.
Apesar da validação do software, o mesmo
deve ser utilizado apenas para auxiliar nas
investigações para escolha do melhor sistema de
fundação a ser empregado em um determinado
local. Uma escolha definitiva deve ser realizada
por um profissional segundo um estudo
criterioso das cargas e as demais variáveis
pertinentes tratadas neste trabalho, assim como a
viabilidade econômica e de logística, não
abordadas no mesmo. Assim sendo, a escolha de
um sistema de fundação deve ser tomada
utilizando a orientação técnica de um
profissional capacitado e não apenas com o uso
indiscriminado do software
(https://mega.nz/#!i95mSBQa!g1fycJcGtuh7qr
Qak5Va8J_VK0OwFeg9bFySLbeBLLY).

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que contribuíram para a


realização deste trabalho.

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Desenvolvimento de uma Ferramenta Computacional para
Estimativa da Capacidade de Carga em Estacas Hélice Contínua
Alan Henrique Carneiro Brito
ITPAC Porto Nacional, Porto Nacional, Brasil, allanhennrique@hotmail.com

Mauro Alexandre Paula de Sousa


ITPAC Porto Nacional, Porto Nacional, Brasil, mauroapsousa@gmail.com

Railson Rodrigues da Silva Nascimento


ITPAC Porto Nacional, Porto Nacional, Brasil, railsonsilva94@hotmail.com

Vanessa Silva Carvalho


ITPAC Porto Nacional, Porto Nacional, Brasil, wannessahcarvalho@gmail.com

Taís da Silva Costa


ITPAC Porto Nacional, Porto Nacional, Brasil, taissilvacosta499@gmail.com

Andreia Torres Camargos


ITPAC Porto Nacional, Porto Nacional, Brasil, andreiato_camargo@hotmail.com

RESUMO: Aplicação de técnicas computacionais na resolução de problemas da engenharia civil tem


tornado progressivamente intensa, processos manuais de cálculos complexos vem sendo substituído por
ferramentas computacionais capazes de realizá-los de forma rápida e eficiente. O artigo apresenta a
ferramenta elaborada e instruída para efetuar cálculos da estimativa capacidade de carga em estacas
hélice continua isolada, baseado na NBR 6122:2010 - Projeto e Execução de Fundações e nos métodos
semi-empíricos. Ao inserir dados geométricos da estaca e geotécnicos do terreno a ferramenta
determinará o valor da estimativa da capacidade de carga, vista disso o emprego dos valores obtidos na
prática requer conhecimento dos princípios de operação e suas influências.

PALAVRAS-CHAVE: Métodos semi-empíricos, VBA, Fundações, NBR 6122:2010.

1 INTRODUÇÃO em uma construção, pois é responsável por


absorver todo carregamento proveniente da
O uso de ferramentas computacionais superestrutura e posteriormente transmitir ao solo
proporciona grande diferencial ao profissional, com total segurança. Determinar a estimativa da
quanto para as empresas, à automatização de capacidade de carga de uma fundação profunda
processos traz grandes vantagens competitivas ao por estaca é indispensável, visto que é a grandeza
mercado. O emprego destas tem sido um essencial para conceber um projeto de fundação,
elemento preponderante na construção civil, para tal utiliza-se os métodos correntes,
trazendo efeitos favoráveis, como redução de conhecidos como métodos semi-empíricos, que
tempo, o que torna quase impossível trabalhar baseia diretamente nos resultados de sondagem
sem o auxílio das mesmas em nosso dia-a-dia. SPT, processo de exploração e reconhecimento
As fundações são um dos principais componentes do subsolo.

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Efetuar cálculos numéricos pode ser uma tarefa
difícil não tendo os mecanismos e recursos
apropriados. Sem uma rotina computacional é
possível que sejam realizados manualmente com
auxílio de uma calculadora, entretanto isso pode
levar a longo período de tempo, vista disso o
emprego da programação computacional como
VBA (Visual Basic for Applications) auxilia na
resolução dessa tarefa, apresentando eficiência e
versatilidade. Figura 1. Planilha de cálculo do método Aoki & Velloso
Fonte: Elaboração própria (2017).
2 METODOLOGIA
Na etapa de desenvolvimento da interface da
O desenvolvimento de uma ferramenta ferramenta computacional, foram inseridas as
computacional para cálculos de fundações há interfaces gráficas do programa por meio do VBA
certa complexidade, mas tem grande eficiência, o do Microsoft Excel, e implantadas as interfaces,
que facilita na elaboração de um projeto, com os botões, campos de textos, gráficos, imagens,
esse intuito elaborou-se uma ferramenta dentre outros.
computacional para cálculos da estimativa da
capacidade de carga em estacas isoladas do tipo
hélice continua.
Para criação da ferramenta computacional foi
necessário conhecimento aprofundado na área, o
qual contribuiu no direcionamento e suporte,
deste modo realizou-se uma análise
bibliográfica, resultando em informações
adquiridas que abrange o tema, destacando os
métodos semi-empíricos para estimativa da
capacidade de carga, normas técnicas pertinentes Figura 2. Interface principal da ferramenta
e a linguagem de programação. Fonte: Elaboração própria (2017).
A fase de estudo e compreensão envolveu
basicamente em instruir o procedimento de cada A interação planilhas com a ferramenta
método semi-empírico (Aoki & Velloso e computacional executada por meio de códigos,
Décourt & Quaresma) e suas diferenças, levando rotinas e sub-rotinas, permitiu por sua vez a
em ponderação a norma regulamentadora vinculação entre as planilhas de cálculo com a
6122/2010 - Projeto e execução de fundações. interface da ferramenta computacional, além das
No desenvolvimento das planilhas de cálculo ações a serem efetuadas, resultando na ferramenta
como apresentado na Figura 1, realizou-se o computacional, intitulada de Pile Load. Como se
processo de execução dos cálculos, ou seja, apresenta na Figura 3, o código é responsável por
inserida as variáveis necessárias para vincular os resultados, por exemplo, quando
determinação da estimativa da capacidade de executado o comando a Label 31 que é o texto
carga nas estacas hélice contínua, bem como inicial (0,00) da capacidade de carga admissível
análises e verificações de possíveis erros. do Aoki & Velloso é alterado para o texto que
está na célula G12 da Planilha 5 do Excel.

Figura 3. Código de interação entre planilha e ferramenta

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computacional
Fonte: Elaboração própria (2016).

Figura 5. Interface de abertura da ferramenta.


Fonte: Elaboração própria (2017).

Figura 4. Parte dos resultados da ferramenta


Fonte: Elaboração própria (2017). 3.1.2 Interface do termo de responsabilidade
Após passarem-se os 8 segundos, a interface de
Validação da ferramenta, esta etapa teve como abertura fecha-se automaticamente e apresenta-se
finalidade a verificação de confiabilidade da
a interface do termo de responsabilidade, onde
ferramenta, por meio de casos disponíveis na
transmite ao usuário do programa que o
literatura para diferentes situações, além de elaborador da ferramenta não responsabiliza por
comparação com outros trabalhos. avarias ocasionadas pelo uso de informações
disponibilizadas pelo programa. A interface é
3 RESULTADOS
composta por dois botões de opções e um botão
de comando (Avançar) desativado, apresentada
3.1 Interfaces da ferramenta computacional
na Figura 6, o usuário terá que optar por uma das
O programa resultou-se em três interfaces: de opções, conforme a opção for selecionada o botão
abertura, do termo responsabilidade e a principal de comando é habilitado e seu nome é alterado,
da ferramenta. caso a opção selecionada for <Não aceito os
termos do contrato de licença>, o botão Avançar
é habilitado e seu nome é alterado para <Sair>, e
3.1.1 Interface de abertura caso seja clicado o programa fechará
Na interface de abertura o usuário tem o primeiro automaticamente. Na condição de selecionar
contato visual com a ferramenta, esta tem <Aceito os termos do contrato de licença> o
permanência automática de 8 segundos, onde botão Avançar será habilitado e seu nome será
reproduz uma imagem contendo nome do alterado para <Entrar>, desta forma o usuário
programa, informações, além da logo da aceitará os termos imposto e será carregada a
instituição, como mostra na Figura 5. interface do programa, onde se beneficiará
totalmente com acesso a ferramenta
computacional, Pile Load.

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c) Tipo de solo: Formado por uma caixa de
combinação que apresenta os tipos de solo,
devendo ser selecionado de acordo com o
relatório de sondagem no qual mais
assemelha.

d) Gráfico representativo do índice de SPT: No


campo da imagem é projetado o gráfico do
índice de SPT de acordo com os valores
inseridos.
Figura 6. Interface do termo de responsabilidade da
ferramenta computacional, Pile Load. e) Representação gráfica da estaca e nível
Fonte: Elaboração própria (2017). d’água: É criada uma representação gráfica
da estaca e nível d’agua quando inserida seus
3.1.3 Interface da ferramenta respectivos valores.

f) Cota de apoio da estaca: Em metros, formada


A interface da ferramenta, é a área principal, por uma caixa de combinação, as opções
como mostra na Figura 7, o usuário introduzirá variam de 3 a 50 (números inteiros), devendo
todos os dados geométricos da estaca e ser selecionado a cota que deseja calcular a
geotécnicos do terreno nos campos vazios, para capacidade de carga, evidente que não pode
que seja realizada a estimativa da capacidade de superior a profundidade da sondagem.
carga em estacas Hélice contínua isolada.
g) Diâmetro: Em centímetros, formado por uma
caixa de combinação, onde as opções são
diâmetros comerciais da Estaca Hélice
Contínua, e concede-se a liberdade para o
usuário digitar no campo outro tipo de
diâmetro que não há nas opções.

h) Capacidade de carga estrutural: Está


relacionado ao diâmetro, o campo de texto é
bloqueado, o valor é alterado de acordo com o
Figura 7. Interface principal da ferramenta. diâmetro escolhido, caso o diâmetro não seja
Fonte: Elaboração própria (2017). um dos predefinido o campo fica em branco.

a) Cota (Índice de SPT): Composto por botões i) Nível d’água: Dada em metros, formada por
de alternância, ao clicados liberam os campos uma caixa de combinação, suas opções
ao lado (Índice de SPT Iniciais, Finais e Tipo variam de 1 a 50 (números inteiros).
de solo), devem ser pressionados de acordo
com a profundidade dada na sondagem. j) Opção da carga admissível: A opção da
carga admissível é composta por três botões, o
b) Índice de SPT (Iniciais e Iniciais): Os campos primeiro botão de opção é o <F.S. seguindo a
de Índice de SPT iniciais e finais devem ser NBR 6122/2010> caso selecionado o fator de
preenchidos de acordo com o relatório de segurança utilizado para cálculo da estimativa da
sondagem, vale ressaltar que os mesmos só capacidade de todos os métodos será igual a 2,0
aceitam números que variam de 0 a 60. preconizado pela NBR 6122/2010, já na condição
de selecionar o botão de opção <F.S. dos

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respectivos autores> será utilizado os fatores de Em um estudo realizado por Viana (2013) com
segurança particular dos autores para seus finalidade a comparação de custos das fundações
respectivos métodos, como foi citado de obras executadas no setor Noroeste de Brasília
anteriormente. Já na hipótese de optar-se pelo – DF, onde se utilizou relatórios de sondagens
menor valor basta selecionar a opção <Menor para estimativa da capacidade de carga dos
resultado entre os F.S.>. Vale destacar que se elementos de fundação e posteriormente o
selecionado a opção <F.S. seguindo a NBR orçamento. O mesmo utilizou um programa de
6122/2010> e pela estaca se tratar de ser fundações do Site Engenharia, que determina,
escavada, a carga admissível será no máximo para projetos, a carga admissível em estacas. O
1,25 vezes a resistência do atrito lateral na programa realiza cálculos automáticos a partir de
ruptura, o que difere também dos <F.S. dos processos dos respectivos autores Aoki-Velloso
respectivos autores>. (1975), Decourt-Quaresma (1978), Henrique
Teixeira (1996) entre outros. Para cálculo da
k) Botão Limpar campos: Formado por um capacidade de carga admissível da estaca Hélice
botão de comando, ao clicar o botão surgirá uma contínua com diâmetro de 60 cm, assentada a
mensagem (Você deseja mesmo limpar todos os uma profundidade de 27 metros, vale ressaltar
campos?), caso a opção seja não, a caixa de que os resultados são dados em toneladas.
mensagem apenas fechará, do contraditório todos
os campos da interface do programa serão limpos.

l) Botão Calcular/Atualizar: Botão de


comando deve ser clicado após serem
preenchidos todos os campos citados
anteriormente para que seja calculada a
capacidade de carga na estaca hélice contínua,
caso contrário surgirá as seguintes caixas de
mensagens de avisos. Deve-se sempre que
alterado algum dado clicar novamente para que
possam ser atualizados os campos dos resultados
e dos gráficos.

k) Botão gerar relatório em PDF: Botão onde o


usuário terá acesso ao relatório do cálculo de cada
método, após ser clicado aparecerá uma
Mensagem, (Você deseja gerar o relatório em
PDF?) Caso o usuário clique em Sim, será criado
um arquivo da rotina em PDF.

3.2 Avaliação da ferramenta


Figura 8. Interface do programa Site Engenharia utilizando
o relatório de Sondagem.
Para averiguar a confiabilidade da ferramenta Fonte: Viana (2013).
foram concretizados testes comparativos com
ferramentas similares que estão disponíveis na É possível identificar pelos resultados da carga
literatura. admissível que os fatores de seguranças utilizados
para efeito de cálculo foram os dos próprios
autores dos métodos, entretendo não é possível
verificar a rotina do cálculo executado. Para

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comparação entre os programas foram utilizado
os mesmos parâmetros geotécnicos e dimensões 4 CONCLUSÃO
do elemento estrutural, e o resultado obtido é
apresentado na figura 9 e 10 abaixo. A estaca hélice contínua que é uma das fundações
profundas mais evolutivas, tem rigoroso controle de
qualidade, o processo de execução é dinâmico,
consiste na perfuração do solo com um trado
helicoidal por rotação, e injeção de concreto pela
respectiva haste central do trado simultaneamente sua
retirada do solo, a armadura é implantada em seguida.
O Ensaio SPT constitui o mais popular exemplo
brasileiro de uso de métodos diretos para estimativa
da capacidade de carga de fundações.
Aliando-se métodos manuais a programação
computacional desenvolve-se ferramentas capazes de
realizar rotinas automáticas de cálculos. Quando se
Figura 9. Interface da Pile Load utilizando os mesmo trata da linguagem VBA é plausível identificar a força
valores do relatório de sondagem. da linguagem da programação do Microsoft Excel,
Fonte: Elaboração própria (2017). como o modo de vincular suas planilhas a interfaces
gráficas, além de ocultar todo o processo, tornando
um programa altamente recomendado para empresas
de todos os portes, uma vez que utiliza o software,
Microsoft Excel que é altamente popular nos meios
acadêmicos e profissionais.

5 REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.


Figura 10 – Resultado da ferramenta Pile Load. NBR 6122: Projeto e execução de fundações. Rio de
Janeiro, 2010. 103 p.
Fonte: Elaboração própria (2017).
VIANA, C. A. Estudo comparativo de custos de obras de
É notável que os resultados apresentados pela fundações no setor noroeste de Brasília - DF. 2013. 73f.
ferramenta mostraram-se similares comparando com o Graduação (Bacharel em Engenharia Civil) – Centro
Universitário de Brasília (UNICEUB), Brasília - DF. 2014.
programa Site Engenharia, como mostra na Figura 11,
apesar das variações decorrentes das considerações
feitas por cada autor e rotina os valores encontram-se
com margens aceitáveis de arredondamento, deste
modo pode-se garantir que a ferramenta Pile Load é
confiável.
2000,00 1586,00
1435,14
1500,00 1148,10 1223,50
861,05 861,00
1000,00
500,00
0,00
Aoki& Décourt& Média
Velloso Quaresma

PileLoad SiteEngenharia

Figura 11. Gráfico comparativo entre ferramentas.


Fonte: Elaboração própria (2017).

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


Detection of Seasonal Variations in Rigidity of a Clayey
Landslide in Brasilia by Ambient Noise Interferometry
(Preliminary Results)
Yawar Hussain1
1
Department of Civil and Environmental Engineering, University of Brasilia, Brasilia,
Brazil, email: yawar.pgn@gmail.com

Gabriel Coutinho Farias2


2
Institute of Geosciences, University of Brasilia, Brasilia, Brazil, email:gabrielcout@gmail.com

Alexandre Moreno Ferreira3


3
TerraSense, Brasilia, Brazil, email:moreno.rferreira@gmail.com

Hernan Martinez-Carvajal4
4
Department of Civil and Environmental Engineering, University of Brasilia, Brasilia,
Brazil, email: hmartinezc30@gmail.com

SUMMARY: Clay-rich geological formations are responsible for many landslides, the rainfall-
dependent dynamics of which are still poorly understood and intensely debated. Complex
integration, multiplicity, and non-linearity of factors involved make landslide (LS) related
investigations difficult. This study applied a monitoring approach to natural scale mass movement
in Federal District of Brazil by the combined use of Noise Interferometry (NI) and Unmanned
Aerial Vehicle (UAV) under the influence of rainfall. In NI the impulse response between sensors is
calculated by cross-correlation of recorded ambient noise wavefields at these stations. The time-
lapse changes in the materials are then calculated by relative velocity changes. In future, results of
these velocity changes will be compared with the surface deformations of LS obtained by the drone
images taken at different times. Since seismic monitoring resolves events with the most precise
timing, the method presents a potential for further Early Warning Systems tools.

KEYWORD: Brasilia, Time-lapse monitoring, Early warning system, UAV.

Brazil (Hussain et al., 2017). These landslides


1 INTRODUCTION are usually subjected to rapid acceleration due
Landslide (LS) failures may seriously damage to periods of intense (seasonal) rainfalls
the human and environmental resources of the (change in rigidity).
affected region. Shallow and rainfall triggered The Sobradinho landslide (SLS) is a
clay rich mass movements have a greater share representative of many landslides in the area,
in the global terrestrial hazards. The tragedies which are developed in lacustrine sediments,
of 1967 and more recently of 2011 in Rio de and their movements are mostly controlled by
Janeiro are the tragic reminder of the atrocities the water infiltration. In the case of clayey LS
caused by such type of mass movements in the acceleration is related to change in rheology
of the material (i.e. a change from solid to

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liquid) as described by Mainsant et al., (2012a). value of cross correlation function varies from 1
These effects of saturation on the LS mobility (CCmax) to 0 (CCmin). Where '1' is being the
has also been verified by laboratory scaled 100% similarity while 0 is the least similarity.
experiment, where the shear wave velocity (Vs) Then from these time-lapse correlograms
change was found correlated with the change in relative changes in the velocity (¨v/v) between
Rheology of the clay sample (Mainsant et al., perturbed and reference (averaged) GF are
2011b). It is concluded that transition from obtained using different techniques (Stretching
solid to liquid can be monitored by Vs etc.), ¨v/v by stretching technique. If the
variations. Unfortunately, the determination of medium exhibits a spatially homogeneous
viscoplastic properties of the fine grained relative velocity change ¨v/v, the relative
material is difficult in laboratory experiment. travel-time shifts (¨IJ) between the perturbed
Therefore, in this study, an alternative approach and reference GFs is independent of the lapse
is adopted where the noise related techniques time (IJ) at which it is measured ¨v/v = í¨IJ /IJ =
are used for the estimations of Vs at finer const.
resolutions in a continuous mode.
To monitor seasonal impacts on the landslide 2.1 Experimental setup
mechanics, we started acquisition campaigns in Brasilia (DF) comprises an area of 5.783 km2
2016 and 2017 inwhich short period and is located between 17030' and 16003' south
seismometers were deployed that monitor the and 47025' and 48012' west. There is an intense
soil rigidity at three levels of saturations. From limestone mining in the study area. All
time to time the high resolution remote sensing landforms of the area are under erosional effects
of SLS surface was also done with the because of rainfall. The climate in the area is
Phantom-4 drone before and after the raining semi-humid tropical with a rainy summer and
season. dry winter. The mean annual precipitation in the
area is of 1.442,5 mm. The technical studies to
locate the new national capital had indicated a
high soil susceptibility to erosion. The slope
2 METHODOLOGY chosen for this work is located in the cow and
The concept of interferometry was applied to horse farm in a small vicinity naming 'Rua de
geophysics by Claerbout (1968) after its Matto' as shown in Figure 1.
previous applications in the field of astronomy.
Seismic interferometry is a technique used to
extract the Green’s function/impulse response,
which accounts for the wave propagation
between receivers. It uses ambient vibrations
for the creation of virtual sources. These waves
pass through the medium between sensors and
can be used to probe the states of the material.
The changes in the geological medium are
induced by stress changes, fluid saturation,
damage and fluid pore pressure.
One advantage of this GF is that main energy
is compose of surface waves, which could be
useful for estimating elastic modules. The Figure 1. Starting from top left to right location of
degree of similarity between two incoming Federal District on the map of Brazil, position of Ribeirão
Contagem Basin on Federal District and lithological units
wavefields is determined by the cross of Ribeirão Contagem Basin. Sobradinho landslide
correlation (CC) function of these signals. The (bottom left), zoomed image along with the sensors

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positions (bottom right). processing steps will be repeated for all surveys
carried out at different times. UAV-based
2.2 Data processing remote sensing of the SLS was done using a
Data acquisition consisted of deployment of 10 quad-rotor remote sensing platform. In order to
Sorcel L-4A-3D short period seismometers with detect small surface fissures and cracks, we
natural a frequency response of 2 Hz. Data was need to achieve a 10-20cm resolution. After
recorded in a continuous mode at a sampling data acquisition all the images were processed
rate of 250 sample per second (SPS) with using photogrammetric software (PhotoScane).
DASS-130 Ref-Tek dataloggers. The time and The relative displacements of the some known
positions are provided by the ten GPS-130 positions like stones and vegetable patches on
locks. The sensors were placed in 2- landslide images can be used for the
Dimensional (2-D) geometry where average determination dynamism of LS. The
sensor spacing were kept less than 20 meters. orthomosaic images and DEM taken at
The remote sensing of the Sobradinho landslide timescales will be compared in future studies.
was done with Phantom-4 drone. Hence, in this way displacements between
Processing steps consist of detrending of images will be detected. High resolution (10cm)
signal, mean subtraction, and then finally the DEM is shown in Figure 3. These DEMs takem
instrument response was removed. Then at differernt times scales will be compared. In
multitaper method was applied to a 1-hour time this way, the growth of fissures and cracks on
window and power spectrum was estimated. In the surface of deforming slope will be
this way, a high frequency resolution is determined (Rothmund et al., 2017).
achieved shorter record, which decreases the
number of computed frequencies in a spectrum.
Cross-correlations of all pair of stations (S1 to
S8) for ZZ, RR and TT were done to obtain the
GF. The cross-correlation was done at 4s time
window and stacked GFs (900 time windows of
4 s) for each hour. Th Stretching Technique
(ST) is applied to the coda part of GF (casual
part, between 1 and 2 s). The reference trace
was the stack of the 24 GF and the analysis was Figure 3. High resolution (10cm) Digital Elevation Model
done with filtered traces between 4 and 12 Hz (DEM) obtained from Phantom-4 Drone.
frequency range.

3. RESULTS (PRELIMINARY)
Figure 4 shows the cross-correlation functions
between S1 and S8 stations for ZZ, RR and ZR
Figure 2. One hour record of ambient noise (right).
Unprocessed trace is displayed after normalization. A components. The traces are filtered between 3
segment of 30 sec around a transient event (left). Units in to 8 Hz. Results show that ZZ and RR traces are
the figure are arbitrary. almost identical, the correlation pulse is close to
zero, indicating the proximity of the stations.
2.4 Unmanned aerial vehicle (UAV) Same results are observed on TT component.
The employed methodology is mainly However, ZR component exhibits waveforms in
composed of two phases: the first one is the times delays larger than +- 0,5 Sec, mainly in
UAV mission planning and its execution, while acausal part. Some of these arrivals could be
the latter is the image processing. These ballistic waves, but in general, coda waves

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trains appear and disappear along the day. the relative changes in seismic velocities are
Relative velocity changes between station S5 estimated using limited data. Follow studies
and S6 from midnight of day 07/11/2016 to will link these changes to the states of landslide
midnight of next day. High velocity changes are material, mainly because of rainfall induced
seen that are mainly because of an intense degree of saturation.
rainfall event (Figure 5). In future, the relative ACKNOWLEDGMENTS
velocity changes dv/v among all the possible The seismometers used in this study were taken
station pairs will be done by considering all from Pool of Brazilian Equipments (PegBr),
three temporal scales (seasons) i.e. before, Rio de Janeiro. The first author would like to
during and after the rainy season in Brasilia. thank Prof. Marco Ianniruberto of Institute of
Geosciences, UnB for lending DGPS.

REFERENCES
Claerbout, J.F. (1968) Synthesis of a layered
medium from its acoustic transmission
response, Geophysics, Vol. 33, 264–269.
Czarny, R. Marcak, H. Nakata, N. Pilecki, Z.
and Isakow, Z. (2016) Monitoring Velocity
Changes Caused By Underground Coal
Mining Using Seismic Noise, Pure and
Applied Geophysics, Vol. 17, p. 1907-1916.
Figure 4. Cross correlations functions; ZZ, RR and ZR Mainsant, G.E. Larose, C. Brönnimann, D.
components bandpass filtered between 3 to 8 Hz. One Jongmans, C. Michoud, and M. Jaboyedoff
day long cross-correlation calculated for dry period (2012a) Ambient seismic noise monitoring
record (November 2). of a clay landslide: Toward failure
prediction, Journal of Geophysical Research,
Vol. 117, p. F01030.
Mainsant, G. Jongmans, D. Chambon, G.
Larose, E. and Baillet, L. (2012b)
Shear wave velocity as an indicator for
rheological changes in clay materials:
Lessons from laboratory experiments,
Figure 5. Relative velocity change dv/v observed in the Geophysical Research Letters, Vol. 39.
coda of the correlations between S1 and S5 of Z Larose, E. Bontemps, N. Lacroix, P. and
component at 8-16 Hz coda part. The color bar is the best
fit. Maquerhua, E.T. (2017) Landslide
monitoring in southern Peru: SEG
Geoscientists Without Borders® project, In
SEG Technical Program Expanded Abstracts
CONCLUSIONS 2017 (p. 5322- 5326), Society of Exploration
Geophysicists.
From these preliminary studies following Rothmund, S. Vouillamoz, N. and Joswig, M.
conclusions has been drawn. (2017) Mapping slow-moving alpine
Images of landslide taken with drone are used landslides by UAV-Opportunities and
to make a high resolution digital elevation limitations, The Leading Edge, Vol. 36, p.
model of the area (10cm resolution). The 571-579.
ambient seismic noise was processed to obtain Hussain, Y. Carvajal, H.M. Cárdenas-Soto, M.
green function between station pairs. Finally, Uagoda, R. and Martino, S. (2017)

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Microtremor Response of a Mass Movement
in Federal District of Brazil, Anuario do
Instituto de Geociencias, Vol. 3(2017).

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Determinação do Coeficiente de Reação Vertical (Kv) e Horizontal
(Kh) de um Solo Tropical em Cuiabá
Luiz Carlos de Figueiredo
IFMT - Instituto Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil, figueiredo@cba.ifmt.edu.br.

Ilço Ribeiro Junior


IFMT - Instituto Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil, ilco.ribeiro@cba.ifmt.edu.br.

Reyder Rodrigues Pires


IFMT - Instituto Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil, reyder_rodrigues@hotmail.com.

Silvana Fava Marchezini


IFMT - Instituto Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil, silvana.marchezini@cba.ifmt.edu.br.

RESUMO: Este trabalho apresenta a determinação dos coeficientes verticais e horizontais de um solo
solo tropical, com perfil silte argiloso, na cidade de Cuiabá, Centro-Oeste do Brasil. A metodologia
utilizada baseia-se na utilização de sondagens de SPT e execução de provas de carga verticais para a
obtenção do coeficiente de reação vertical (kv) e de provas de carga horizontal para a determinação
do coeficiente de reação horizontal (kh). Para ambos os coeficientes foram empregados a Hipótese de
Winkler. Os resultados mostraram que os ensaios SPT apresentam proporcionalidade com kv e que a
obtenção de kh indicou a coerência do método empregado.

PALAVRAS-CHAVE: Coeficiente de Reação Vertical, Coeficiente Reação Horizontal, Hipótese de


Winkler; Solo Tropical.

1 INTRODUÇÃO garanta segurança e economicidade de uma


fundação.
No ramo da engenharia civil há muitas questões
relacionadas a carregamentos, sejam esses 1.1 Pressões de contato
oriundos das cargas vivas, do peso da estrutura
e/ou derivado de outras fontes são projetados A literatura geotécnica apresenta diversos
para serem transmitidos às fundações onde a conceitos e modelos de análise da interação solo-
carga é dissipada no solo. De modo geral as fundação que têm por objetivo determinar os
estruturas são dimensionadas com apoios deslocamentos reais da fundação, embora
indeslocáveis que contrariam o comportamento possam ser agrupados em dois grandes grupos:
do solo. De fato, o solo apresenta, quando diretos da análise da interação ou indiretos por
solicitado pelas cargas estruturais, deformação meio das pressões de contato com componentes
plástica com recalques e levantamentos, que normal e cisalhante na vizinhança solo-fundação
alteram os esforços atuantes nos elementos (VELLOSO, 2010).
estruturais. Nesse contexto, o solo e os Para Velloso (2010), um aspecto importante na
deslocamentos que este provoca nas estruturas análise de interação solo-fundação é o das
contituem parte importante da solução que pressões de contato. Fatores como características
da carga aplicada, rigidez relativa fundação-solo,

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proriedades dos solos e intensidade das cargas são independentes, a coesão das partículas no
afetam diretamente a referida análise. meio solo fica comprometida (PORTO, 2010).
Desses fatores, o da rigidez relativa fundação
solo foi quantificado por vários autores em 1.2.3 Os coeficientes de reação do solo
propostas que variavam conforme o tipo de
fundação, a exemplo de Meyerhof (1953) e Pela Hipótese de Winkler as pressões de contato
Schultze (1966), apud Velloso (2010) para uma são proporcionais ao recalque, como mostra a
fundação retangular e Padfield e Sharrock (1983) Figura 1. Como se observa o coeficiente de
para radier. reação se aplica de modo simplificado para uma
Em relação ao fator solo-estrutura solo- fundação assentada diretamente ao solo e o
estrutura Meyerhof (1953) substituiu toda a conceito de molas independentes é facilmente
estrutura da edificação, segundo uma direção, compreendido.
por uma viga de rigidez à flexão; Chamecki
(1956) considerou a interação solo estrutura, ou
seja, o efeito dos recalques causados pela carga
da estrutura que modificaria as cargas propostas
pelo projetista estrutural; Aoki e Lopes (1975)
apresentaram uma proposta para o caso de
fundações que impõem tensões uma às outras
nas quais os apoios em molas são substituídos
por um meio elástico; Poulos (1975), seguido por Figura 1 – Modelo de Winkler (Velloso, 2010).
Gusmão (1990) propõe uma análise com base em
meio elástico, possível com o uso de ferramenta A determinação do coeficiente de reação
computacional. vertical pode ser simplificada como mostrada na
Equação 1:
1.2 Hipótese de Winkler
q kv U (1)
Velloso (2010) apresenta dois modelos para
representar o solo, na análise da interação solo- onde q é a carga aplicada, kv é o coeficiente de
estrutura: hipótese de Winkler e meio contínuo. reação vertical e ȡ é o recalque. Segundo Velloso
O modelo de meio contínuo pode ser elástico e (2010) o coeficiente de reação vertical é
elastoplástico. Na primeira variante há algumas conhecido por modelo de molas ou modelo do
soluções para vigas e placas baseadas na Teoria fluido denso. Nota-se que a unidade é igual à do
da Elasticidade; na segunda é necessária a peso específico (FL-3).
solução numérica, pelo método de elementos No caso de estacas submetidas a esforços
finitos. laterais a reação do solo não é tão simples,
O modelo com base na Hipótese de Winkler, mesmo considerando a Hipótese de Winkler.
proposta em 1867, considera uma viga sobre um Velloso (2010) cita a natureza do solo, o nível de
meio elástico, no qual o solo é substituído por carregamento, e a forma e dimensão da estaca
uma série de molas horizontais, idênticas, como variáveis que influenciam na reação do
independentes entre si, igualmente espaçadas e solo. A condição de trabalho da estaca fornece os
de comportamento elástico linear (ARAÚJO, deslocamentos horizontais e os esforços internos
2013). da estaca. A Figura 2 mostra a condição de
A hipótese de Winkler, pelo seu fácil trabalho de uma estaca submetida a esforço
entendimento, é a mais difundida no meio lateral e a representação em modelo pela
geotécnico (Milani, 2013). Embora a solução Hipótese de Winkler. Nota-se que a aplicação da
simplificadora seja atraente, deve-se considerar carga no topo livre e frontal da estaca provoca
como precaução que se trata de um modelo linear um deslocamento diferencial entre o topo da
de tensão-deformação e que não leva em conta a estaca e a sua base.
dispersão área de influência (Milani, 2012).
Como se trata de um modelo no qual as molas

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seguinte sequência: Furo 01 , P 15; Furo 03, P
17; Furo 08, P 19, Furo 11, P 14, Furo 13, P 20.
O perfil do solo foi caracterizado como silte
argiloso. Os ensaios de SPT obedeceram aos
critérios da NBR 6484 (ABNT, 2001).
Tabela 1 – Dados dos ensaios de sondagem SPT.
Z NSPT NSPT NSPT NSPT NSPT
M Furo 01 Furo 03 Furo 08 Furo 11 Furo 13
1 50 0 0 0 0
2 50 0 0 0 0
3 50 50 10 0 0
Figura 2 – Estaca submetida a uma força transversal:
reação solo real (a) e modelada pela Hipótese de Winkler 4 50 50 2 0 0
(b), (Velloso, 2010). 5 50 50 16 0 4
6 50 50 12 11 50
Para uma estaca submetida esforço lateral, o 7 50 50 50 10 50
solo resiste ao deslocamento horizontal por 8 50 50 50 14 50
tensões contra frente da estaca e cisalhantes na
9 50 50 50 38 50
lateral da estaca; quase não há resistência na
10 50 50 50 50 50
parte de trás da estaca. Observa-se que essa
tipificação de reação do solo independe da forma 11 50 50 50 50 50
da seção transversal da estaca, Velloso(2010). A 12 50 50 50 50 50
Figura 3 exemplifica a reação do solo para uma 13 50 50 50 50 50
um esforço lateral em estaca. 14 50 50 50 50 50
15 50 50 50 50 50
16 50 50 50 50 50
17 50 50 50 50 50
Média 50 44,11 34,71 27,82 35,53

Nas sondagens F05, F08, F11 e F13, nos


Figura 3 – Reação do solo contra o deslocamento primeiros metros da sondagem não houve
horizontal da estaca, (Velloso, 2010). registro do índice do NSPT, por motivos não
especificados no relatório, paras estas foram
A Equação 2 descreve para a Hipótese de adotadas o índice de “0”.
Winkler a reação horizontal em função da tensão
normal horizontal (FL-2):

p kh v (2)

onde p é a tensão normal horizontal atuando na


frente da estaca (numa faixa de largura B=
diâmetro ou largura da estaca), kh é o coeficiente
de reação horizontal (FL-3) e v é o deslocamento
horizontal no sentido do eixo y.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Foram realizados cinco sondagens de SPT,


Tabela 1, nas proximidades dos ensaios de prova Figura 4 – Localização dos ensaios para determinação dos
de carga de placa em placa, na Arena Pantanal coeficientes de reação do solo (Google Maps [Arena
Pantanal] ).
em Cuiabá, Figura 4. Os arranjos seguem a

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As provas de carga verticais foram executadas baixa restituição elástica da prova de carga P 14,
utilizando-se uma placa quadrada com em função da carga aplicada para essa prova de
dimensões de 71 cm. Para este ensaio foi adotado carga ter sido 70% das demais provas de carga
o método de carregamento rápido. A estrutura de verticais, chama a atenção e cuidado para os
reação caracteriza-se por viga de reação solos tropicais no tocante a deformação plástica
ancorada em estacas paralelas. em função da magnitude da carga. De todo modo
Tanto as provas de carga verticais em placas o ensaio de SPT concorda em proporcionalidade
quanto os ensaios de SPT ancoraram a com os resultados da prova de carga vertical em
determinação do coeficiente de reação vertical placa. Argui-se, porque nã foi fornecido para
do solo. este artigo, que os índices de NSPT=0 tratam-se
Foram realizadas seis provas de carga de material de aterro que depois foi retirado para
horizontais no topo de estacas do tipo hélice se atingir as cotas de rasamento dos blocos onde
contínua com diâmetro de 600 mm e foram realizadas as provas de carga.
comprimento de 12 metros, pareadas no seguinte
arranjo: ET 01 e ET 02; ET 03 e ET 04; ET 05 e 0
ET 06. As provas de carga horizontal deram 2

suporte para a determinação do coeficiente de 4


6
reação do solo horizontal. Todas as provas de 8

carga obedeceram a NBR 12131 (ABNT, 2006). 10


12
A Figura 5 mostra o posicionamento dos furos 14
U (mm)

de SPT distribuídos na Arena Pantanal, enquanto 16


18
20
22
24 P 15 -> F 01=>SPT_Médio=50
P 17 -> F 03 => SPT_Médio=44,11
26 P 19 -> F 08 => SPT_Médio=34,71
28 P 20 -> F 13=>SPT_Médio=35,53
30 P 14 -> F 11=>SPT_Médio=27,82

32
34

0 100 200 300 400 500 600


Carga (kN)
Figura 6 - Resultado das provas de carga em placa.

A Tabela 2 apresenta da esquerda para direita; o


nome da prova de carga o coeficiente de reação
vertical do solo calculado (kv), o recalque
máximo, o recalque permanente para a carga
aplicada, e um coeficiente de restituição elástica
Figura 5 – Distribuição dos furos de SPT na Arena em percentagem (CR). Foi aduzido esse
Pantanal. parâmetro geotécnico, pelos autores, (CR), dado
que o uso de uma arena submete o solo a
3 RESULTADOS
variação de carga considerável, além disso a
carga horizontal, devido ao vento, também não
O comportamento das provas de carga
pode ser negligenciada. CR é dado pela Equação
verticais P 15, P 17 e P 19, P 14, e P 20 são
3:
apresentadas na Figura 6, a carga efetiva máxima
para as três primeiras provas de carga é de §U ·
CR ¨ máx  1¸ u100 (3)
592,03 kN; a P 14 tem carga máxima efetiva de ¨U ¸
© perm ¹
419,57kN e a P 20 tem carga máxima efetiva de
593,51 kN.
Reitera-se, no cálculo do CR, que há uma
Nota-se que a resposta do solo, para a medida
proporcionalidade entre esse parâmetro e a
de recalque e restituição elástica, para cada prova
média do NSPT. Embora essa proporcionalidade
de carga vertical em placa é proporcional à
não seja linear, ainda que todo o perfil tenha sido
média do NSPT. Além, disso como se trata de um
cacterizado para o mesmo tipo de solo. Ressalta-
solo de grande resistência ao SPT, ainda assim a

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



se, a limitação do ensaio SPT para o limite verus deslocamento para as estacas 1, 2, 3 e 4,
último de resistência do solo. Os relatórios dos preservando o conceito de molas do método de
ensaios de SPT apontam NSPT=50 para a maioria Winkler. A discrepância dos resultados é
dos pontos perfilados, porém deduz-se pelos mostrada pelo Coeficiente de Variação, 164%.
resultados de kv que se trata de mera indicação Nota-se que o coeficiente de reação horizontal,
do limite penetração do equipamento. embora a maioria na casa de milhar de kN/m3,
ainda carece de maior precisão para o método
Tabela 2 – Dados correlacionados à reação do solo empregado, o da Hipótes de Winkler.
vertical (kv)
P.C. Kv NSPT ȡmáx ȡperm CR
Tabela 3 – Dados correlacionados à reação do solo
(kN/m3) Médio (mm) mm) (%)
horizontal (kh)
P 15 2,22x105 50 5,29 3,03 42,70
P.C. Kh ȡmáx ȡperm CR
P 17 1,59x105 44,11 7,36 1,97 73,20
(kN/m3) (mm) mm) (%)
P 19 5,96x104 34,71 19,7 7,95 59,54
P 20 5,09x104 35,53 23,1 20,00 13,42 Estaca 1 3,13x103 21,60 8,84 59,07
P 14 2,59x104 24,72 32,15 30,38 5,96 Estaca 2 3,12x103 22,66 7,38 67,43
Estaca 3 4,96x103 17,47 7,26 58,44
Estaca 4 2,55x103 32,58 1,51 53,52
A Figura 7 apresenta o resultado das provas Estaca 5 3,49x104 1,02 0,76 25,49
de carga horizontais para as estacas 1, 2, 3, 4, 5 Estaca 6 7,30x103 4,88 1,44 70,49
e 6, pareadas uma ao lado da outra do seguinte
modo: Estaca 1 e Estaca 2; Estaca 3 e Estaca 4; CONCLUSÕES
Estaca 5 e Estaca 6. Todas as estacas foram
submetidas à mesma carga máxima aplicada: O método empregado para obtenção dos
256,43 kN. coeficientes reação do solo pelo modelo que
emprega a Hipótese de Winkler demonstrou que
0 para os coeficientes de reação vertical (kv)
2
4 obedece a uma proporcionalidade com o ensaio
6
8
SPT e que a pareação entre as estacas submetidas
10
12
a esforço horizontal para obtenção do coeficiente
14 de reação horizontal (kh) demonstraram que o
U (mm)

16
18 método é coerente, embora haja necessidade,
20
22
para ambos os coeficientes de mais investigação,
24
Estaca 1 dada a clara dispersão dos resultados, a priori,
26
28
Estaca 2
Estaca 3 oriundos da anisotropia do solo. Além disso, no
30
32
Estaca 4
Estaca 5 tocante as provas de carga horizontal, parte da
34
36
Estaca 6
restituição é devida ao material da estaca, não há
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300
certeza de que o solo manteria uma elasticidade
Carga (kN) correlacionada ao material estrutural da estaca.
Figura 7 - Resultado das provas de carga horizontal.
REFERÊNCIAS
Nota-se que a resposta do solo, para a medida
de recalque máximo, para cada prova de carga Aoki, N.; Lopes, F.R. (1975). Estimating stresses
horizontal, foram semelhantes entre os pares das and settlements due to deep foundations by
estacas, exceto para o par formado pelas estacas the Theory of Elasticity. In:
5 e 6, Tabela 3. O coeficiente de restituição, PANAMERICAM CONFERENCE ON
embora com a visível discrepância da Estaca 5, SOIL MECHANICS AND FOUNDATION
apresentou média de 55,74 com desvio padrão de ENGINEERING, 5., Buenos Aires.
16,07 e Coeficiente de Variação de 28%. Proceedings...Buenos Aires: PCSMFE.
No que se refere ao coeficiente de reação do Araújo, A.G.D. (2013). Provas de carga estática
solo horizontal (kh), vale notar que foi com carregamento lateral em estacas hélice
considerado para o cálculo desse parâmetro, o contínua e cravadas metálicas em areia.
trecho linear da curva carga deslocamento. A Dissertação de Mestrado. Universidade
juízo dos autores, foi desprezada o par carga Federal do Rio Grande do Norte. Natal, RN,

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221f.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 12131. (2006).Estacas -
Prova de carga estática - Método de ensaio.
Rio de Janeiro.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6484. (2001). Solo -
Sondagens de simples reconhecimentos
com SPT - Método de ensaio. Rio de Janeiro.
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estrutura e sua influência em recalques de
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Meyerhof,G.G. (1953). Some recent foundation
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Milani, A.S. (2012). Análise de torres metálicas
treliçadas de linha de transmissão
considerando a interação solo-estrutura.
Dissertação de Mestrado. Universidade
Federal de Santa Maria, RS, 190 p.
Padfield, C.J.;Sharrock, M.J. (1983). Settlement
of structures on clay soils, CIRIA special
Publication 2/ PSA Civil Engineering
Technical Guide 38. London: Department of
the Environment.
Porto, T.B.(2010). Estudo da interação de
paredes de alvenaria estrutural com a parede
de fundação. Dissertação de Mestrado.
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte.
Poulos, H.G.(1975). Settlement analysis of
structural foundations systems, In: SOUTH-
EAST ASIAN CONFERENCE ON SOIL
ENGINEERING, 4. Kuala Lumpur.
Proceedings... Kuala Lumpur, South-East
Asian Conference on Soil Engineering, Vol.
4, p. 52-62.
Velloso, D.A. (2010). Fundações, Oficina de
Textos, São Paulo, SP, Brasil.

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Estabilidade de Taludes de Escavação em Mina de Grafita
Thaís Guimarães dos Santos
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, thaisguimaraess@hotmail.com

Ériclis Pimenta Freire


Universidade Federal de Alfenas, Poços de Caldas, Brasil, ericlis.pimenta@unifal-mg.edu.br

RESUMO: Com a necessidade de explotação de corpos minerais cada vez mais profundos, surge a
crescente importância das análises de estabilidade de taludes de escavação na mineração. Neste
âmbito, a geometria dos taludes representa a otimização da economia e da segurança das escavações
na lavra. Neste contexto, este artigo apresenta um estudo de caso onde foram verificadas as
condições de estabilidade de taludes escavados em rochas intemperizadas em uma mina de grafita,
por meio de análises determinísticas e cinemáticas. Algumas seções apresentaram fatores de
segurança muito próximos de 1,0 e foi verificada também a potencialidade de movimento de massa
nos Taludes Norte e Sul.

PALAVRAS-CHAVE: Taludes, Estabilidade, Fator de segurança, Ruptura.

1 INTRODUÇÃO 2 PRINCIPAIS MODOS DE RUPTURA


EM TALUDES
O exaurimento de jazidas superficiais impõe a
lavra, taludes cada vez mais íngremes e Segundo Hoek & Bray (apud Menezes, 2013),
consequentemente com menores fatores de as rupturas mais comuns em taludes são:
segurança, o que tem impulsionado na ruptura circular, ruptura planar, ruptura em
mineração estudos geotécnicos cada vez mais cunha e ruptura por tombamento, ambas
complexos. descritas a seguir.
Entre os fatores relevantes para as análises
de estabilidade de taludes de cava, segundo 2.1 Ruptura Circular
Reis (2010) está o caráter provisório dos taludes
que permite que sejam executados projetos com São caracterizadas por movimentos rotacionais,
superfícies bastante inclinadas. Este fato com superfície de ruptura curva ou côncava, em
viabiliza o empreendimento do ponto de vista materiais homogêneos, coesos, isotrópicos,
econômico, pois há uma redução da relação taludes íngremes e maciços rochosos
estéril/minério e como consequência, há intensamente fraturados.
diminuição dos gastos com a remoção,
transporte e armazenamento do estéril. 2.2 Ruptura Planar
Neste contexto, este artigo objetiva verificar
as condições de estabilidade de taludes de Este modo de ruptura tem os planos de
escavação em uma mina de grafita localizada no escorregamentos condicionados por
estado de Minas Gerais e definir, se necessário, descontinuidades no interior das massas de solo
as medidas preventivas para a continuidade das ou rocha. Além disto, conforme Wyllie & Mah
operações. (2004) para que haja ruptura planar o talude
deve apresentar as seguintes condições:
1. O mergulho do plano da descontinuidade ser
menor do que o ângulo de inclinação da face do

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talude ( p< f); 2.4 Ruptura por Tombamento
2. O mergulho do plano do escorregamento
deve ser maior que o ângulo de atrito deste Este tipo de ruptura ocorre com mais frequência
plano ( p> ); em taludes escavados em rochas sedimentares
estratificada ou metamórficas estratificadas,
3. O plano de deslizamento com a direção de
envolvendo a rotação de colunas ou blocos de
±20° em relação à direção da face do talude;
rocha sobre um ponto fixo. O tombamento
4. A extremidade superior da superfície de
ocorre quando as direções da face do talude e da
deslizamento deve interceptar o plano de topo
descontinuidade são paralelas (+/- 20 graus) e o
do talude ou termina em uma fenda de tração;
mergulho da descontinuidade é contrário ao
5. As superfícies de alívio lateral do maciço
mergulho da face do talude, Fig. 2. Além disto,
rochoso são de baixa resistência ou o plano de
a projeção do vetor da força peso cai fora da
escorregamento passa pela porção convexa do
base do bloco ou da coluna considerada,
talude.
causando a rotação do elemento (Assis, 2003).
Podem ocorrer em outros litotipos que
2.3 Ruptura em Cunha
obedecem ao supracitado.
A ruptura em cunha é um escorregamento de
blocos devido ao encontro de duas
descontinuidades formando uma linha de
interseção cuja direção intercepte a face do
talude e inclinação da interseção (ȥi) seja
menor que a inclinação da face (ȥfi), conforme
demonstrado na Fig. 1. Para que haja a Figura 2. Ruptura por tombamento Flexural (Hoek &
Bray apud Menezes, 2013)
movimentação do bloco, o ângulo de atrito
médio (‫ )׋‬dos dois planos de descontinuidade
deve ser menor que o ângulo da linha de 3 MÉTODO DE EQUILÍBRIO-LIMITE
interseção das descontinuidades, ou seja, ȥfi>
ȥi> ‫( ׋‬Wyllie & Mah, 2004 apud Menezes A estabilidade de talude é geralmente analisada
2013). de forma determinística a partir do fator de
segurança (FS), calculado pela avaliação das
forças que atuam ao longo de uma superfície
potencial de ruptura, considerando estáveis
taludes onde a relação entre as forças e/ou
momentos resistentes e atuantes é maior que um
(Cavalcante, 1997).
O método do equilíbrio limite trata-se da
metodologia mais difundida atualmente e que
assume na análise de estabilidade de taludes a
ruptura do maciço, dividida em lamelas (slice),
ao longo de uma superfície potencial de ruptura
(Assis, 2003). O método admite uma superfície
de ruptura bem definida, que o critério de
ruptura de Mohr-Coulomb é satisfeito ao longo
da superfície potencial de ruptura e que o fator
de segurança ao longo desta superfície é único,
sendo determinado a partir de equações que
satisfaçam o equilíbrio estático de forças em
duas direções ortogonais e/ou de momentos
Figura 1. Ruptura em cunha, vista da face do talude, (Reis, 2010).
demonstrando a definição dos ângulos (Wyllie & Mah, Os métodos de equilíbrio-limite introduzem
2004 apud Menezes 2013).

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hipóteses para complementar as equações de coloração cinza médio a escuro, pela
equilíbrio visto que o número de incógnitas do xistosidade e pela friabilidade.
problema é em geral superior ao número de
equações fornecidas pela estática. Sendo assim, 4.2 Análises de estabilidade
o método apresenta limitações, das quais se
destacam as mais relevantes (Assis, 2003): As análises de estabilidades realizadas foram as
- Por ser um método de análise estático, não análises cinemáticas e análises determinísticas.
considera as deformações. Para as análises cinemáticas, foram
- Supõe tensões uniformemente distribuídas, analisados os mecanismos de rupturas
portanto deve-se tomar cuidado com as rotacionais, planares, em cunha e por
concentrações de tensão devido à forma da tombamento. Dessa forma, foram identificados
superfície de falha ou a interação rocha- primeiramente as regiões que potencialmente
descontinuidade. oferecem mais riscos de ruptura através dos
- Se os processos e mecanismos de ruptura são estereogramas.
complexos, as análises são inadequadas devido Para as análises determinísticas, estabeleceu-
a simplicidade dos modelos. se como base de referência a necessidade de se
Entre os métodos mais utilizados, pode-se utilizar um programa computacional. Assim
citar Fellenius, Taylor, Bishop, Janbu, selecionou-se a ferramenta Slope/W do
Morgenstern & Price, Spencer, Sarma e GLE. software GeoStudio, sendo utilizada a versão de
2007, fazendo-se uso dos métodos de equilíbrio
limite de Fellenius (1936), Bishop (1955) e
4 ESTUDO DE CASO Janbu (1973) e Morgenstern-Price (1965).
De forma sucinta, o método de Fellenius,
4.1 Geologia da área de estudo que foi o primeiro método desenvolvido,
considera para os cáluclos uma superfície de
As principais formações em sequência ruptura circular, divide a massa deslizante em
estratigráfica de acordo com pesquisa geológica lamelas e não considera forças interlamelares. O
realizada in loco: método dispensa o processo iterativo.
x Xistos Metabásicos: São anfibólio e Já o método de Bishop, considerado
micaxistos parcialmente migmatizados rigoroso, considera uma superfície de ruptura
degradados em intensa cor avermelhada. circular, divide a massa deslizante em lamelas,
x Quartzitos: Macroscopicamente definido considera a resultante das forças interlamelares
como uma rocha de coloração cinza amarelada, horizontal e as forças cisalhantes entre lamelas
granulometria fina a grossa, totalmente como nulas.
fraturada com preenchimento de material O método de Janbu Simplificado, considera
ferruginoso, recristalizado e, às vezes, uma superfície de ruptura qualquer, que a
migmatizado. Sua constituição predominante é resultante das forças interlamelares é horizontal
de quartzo, raras muscovitas, grafita, material e um fator empírico (fo) é utilizado para
ferruginoso e minerais opacos. considerar as forças cisalhantes interlamelares
x Xisto/Gnaisse Superior: Rocha bastante Por fim, método de Morgenstern-Price
migmatizada a milonitizada devido aos fortes considera uma superfície de ruptura qualquer, a
processos tectônicos regionais. Em direção da resultante das forças interlamelares é
profundidade apresenta-se semi compacta a determinada pelo uso de uma função arbitrada.
compacta, cor cinza esverdeada escura a quase Também é considerado um método rigoroso de
preta, orientada pela distribuição preferencial da boa acurária, assim como Bishop.
biotita.
x Xisto Grafitoso: É a unidade econômica
para explotação de grafita de maior interesse. É 5 RESULTADOS E ANÁLISES
composto principalmente por quartzo, grafita,
mica, porções de material caulínico e às vezes A seguir, os parâmetros geotécnicos, Tab. 1, das
ferruginoso. A rocha caracteriza-se pela litologias presentes na mina, bem como o mapa

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geológico e altimétrico (ver ANEXO) e
estereograma, Fig.3, que foram utilizados para
realizar as análises de estabilidade.

Tabela 1. Parâmetros das litologias da mina


Litolgia J c' I'
(kN/m )3 (kPa) (q)
Migmatito 20 30 31
Metabásica 18 14 20
Xisto Grafitso 19 90 26
Quartzito 21 280 36
Migmatito Grafitoso 19 90 26
Gnaisse 18 65 25
Fonte: Arquivos da empresa

Os Taludes Norte possuem ângulos variando


entre 60 a 70° e azimute de 190º e os Taludes
Sul possuem inclinação de 50 a 70º e azimutes
de 10º, estando o corpo mineral
predominantemente na porção sul da mina. As
Figura 3. Estereograma de falha, foliações e taludes
bermas têm em média 5 m, altura de bancada de Fonte: Arquivos da empresa
10m, inclinação global dos Taludes Norte é de
43 e do Sul é de 40°. Identifica-se também claramente que na
As foliações possuem mergulho entre 30º e região SW pode haver a ruptura em cunha no
40º e azimute de 180º. Já as fraturas possuem encontro das foliações e fratura. Porém,
mergulhos que variam de 60º a 70º e azimute de observou-se que a interseção destas
300º. descontinuidades tem direção do mergulho
Fazendo uso de estereograma, Fig 3, muito divergente da face dos taludes, ou seja,
verificou-se a potencialidade de ruptura planar para o interior do maciço, sendo a direção da
dos Taludes Norte, pois os taludes e foliações linha de intersecção de aproximadamente 240º.
possuem direções próximas (” 20º) e as Portanto embora haja a formação de cunhas
foliações possuem mergulho menor que os estas não comprometem a estabilidade do
taludes e também menores ângulos de atrito maciço na região analisada
interno, o que pode desencadear uma ruptura Não há probabilidade de ruptura planar nos
translacional. Os outros requisitos para que haja taludes Sul. Entretanto, verifica-se a
ruptura planar não puderam ser analisados por possibilidade de ocorrer tombamento nestes
insuficiência de dados. taludes, haja vista que os Taludes Sul possuem
direções oposta as foliações e ambos possuem
mergulhos próximos. Contudo, ressalta-se que
este é um movimento de massa que é
desencadeado por algum evento que descalce os
blocos e estes venham a cair por gravidade, ou
seja, menos provável que ocorra tendo em vista
a dinâmica de escavações das lavras em geral.
Rupturas circulares não foram identificadas
pelo estereograma, pois há apenas duas famílias
de descontinuidades.
Feita as análises cinemáticas, foram
realizadas as análises determinísticas das 11
seções indicadas no mapa (ANEXO), os
resultados encontram-se nas Tab. 2 e 3.

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Tabela 2. Fatores de segurança das seções sul parâmetros de resistência.
FS - Talude Sul Para investigar a razão pela qual isso ocorre
Seção Fellenius Bishop Janbu M-P foi feita uma análise paramétrica da seção S 08-
S 02 - 02' 0,97 0,97 0,96 0,93 08’ na rocha metabásica contemplando os
S 03 - 03' 1,19 1,14 1,17 1,19 parâmetros peso específico, ângulo de atrito
S 04 - 04' 1,07 1,16 1,07 1,15
interno e coesão. Os resultados encontram-se
nas Fig. 4, 5e 6 a seguir.
S 05 - 05' 1,43 1,44 1,49 1,47
S 06 - 06' 2,42 2,41 2,33 2,45
FS x Peso específico
S 07 - 07' 2,31 2,36 2,36 2,33 1
S 08 - 08' 0,93 0,88 0,92 0,92 0,8
Fellenius
S 09 - 09' 0,90 0,79 0,88 0,88 0,6
Bishop

FS
S 10 - 10' 0,98 0,96 1,00 0,99 0,4
Janbu
S 11 - 11' 0,97 1,04 0,99 1,07 0,2
M-P
0
Aux 04- 04' 1,29 1,36 1,28 1,33
16 18 20 22
Fonte: GeoStudio 2007 Peso específico ( kN/m³)

Tabela 3. Fatores de segurança das seções norte


Figura 4. Gráfico FS x Peso específico
FS - Talude Norte Fonte: GeoStudio 2007
Seção Fellenius Bishop Janbu M-P
S 02 - 02' 2,55 2,50 2,72 2,85 FS x Coesão
S 03 - 03' 2,55 2,52 2,67 2,72 1,2
S 04 - 04' 2,34 2,32 2,32 1,90 1
Fellenius
0,8
S 05 - 05' 2,54 2,39 2,51 2,56
Bishop
FS

0,6
S 06 - 06' 2,46 2,41 2,53 2,60
0,4 Janbu
S 07 - 07' 2,38 2,20 2,36 2,36 0,2 M-P
S 08 - 08' 2,38 2,16 2,33 2,37 0
S 09 - 09' 4,10 4,42 3,82 2,29 14 16 18 20
Coesão (kPa)
S 10 - 10' 3,20 3,10 3,50 5,24
Figura 5. Gráfico FS x Coesão
S 11 - 11' 13,19 12,65 12,74 12,2 Fonte: GeoStudio 2007
Aux 04- 04' 2,53 2,52 2,52 2,54
Fonte: GeoStudio 2007 FS x Ângulo de atrito interno

Avaliando os fatores de segurança obtidos, 1


atenta-se para os baixos fatores de segurança 0,8 Fellenius
dos Taludes Sul quando comparados com os da 0,6 Bishop
FS

região Norte. A isso são atribuídos o caimento 0,4


Janbu
topográfico da região sul, que verificado pelo 0,2
M-P
mapa e pelas seções, impõe uma forte 0
inclinação aos taludes para que seja acessado o 18 20 22 24
corpo mineral. Ângulo de atrito interno (º)
Algumas seções dos Taludes Sul Figura 6. Gráfico FS x Ângulo de atrito interno
apresentaram fatores de segurança muito Fonte: GeoStudio 2007
próximos de 1, o que indica potencialidade de
ruptura. As duas seções que apresentam Os cálculos revelam que o aumento do peso
significativos fatores de segurança menores que específico faz com que haja uma queda no fator
1, seções S 08 – 08’ e S 09 – 09’, exibiram as de segurança, pois o aumento da tensão normal
superfícies potenciais de ruptura na rocha é menos significante que o aumento da tensão
metabásica, na qual se pode verificar baixos resistente ao cisalhamento. Já com o aumento

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de coesão e ângulo de atrito ocorre o contrário, ruptura planar nos taludes da região Norte e
ambos são diretamente proporcionais ao fator baixos fatores de segurança na região Sul, na
de segurança, o que comprova o esperado, pois qual deverá ser feito um retaludamento nos
por definição o ângulo de atrito interno é uma taludes com fatores de segurança menores que
medida de resistência ao cisalhamento dos 1,2. Este baixo fator de segurança estabelecido
materiais decorrente do atrito entre as partículas é justificável pela provisoriedade dos taludes de
e a coesão é uma medida de resistência escavações em minas, que possuem baixa vida
decorrente da ação de forças cimentantes útil. Também foi constatada a possibilidade de
presentes entre as partículas minerais. tombamento nos Taludes Sul.
Levando-se em consideração a variabilidade Entre os métodos de equilíbrio limite
de alguns parâmetros em campo devido a utilizados, recomenda-se a utilização do método
heterogeneidade natural dos maciços, de Morgenstern-Price.
recomenda-se uma investigação dos parâmetros
geotécnicos mais refinada. Além disto,
recomenda-se nas seções onde se obteve fatores REFERÊNCIAS
de segurança menores que 1,2 a necessidade da
alteração da geometria do talude de modo a Assis, A. P. (2003). Mecânica das Rochas. Brasília: Unb.
suavizar a inclinação dos taludes, visto que já Notas de aula.
Cavalcante, R. F. (1997). Análise de Estabilidade de
há na mina um rebaixamento do lençol freático Taludes de Mineração por Métodos do Equilíbrio
e já há histórico de pequenos deslizamentos de Limite e Tensão-Deformação. Dissertação de
massa. Mestrado, Publicação GDM - 046/97, Departamento
Todavia, a análise estática é uma análise de Engenharia Civil, Universidade de Brasília,
bidimensional, isso significa que essas fatias Brasília, DF, 113 p.
Menezes, D. A. (2013). Ruptura e análise dos modos
podem estar sendo sustentadas por outras, ou taludes operacionais em itabirito compacto. 192 f.
seja, pode estar ocorrendo um confinamento Dissertação (Mestrado) - Curso de Geotcnia,
lateral. Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto,
Entre os métodos de equilíbrio limite 2013. Disponível em:
utilizados, recomenda-se para esta mina em <http://www.repositorio.ufop.br/handle/123456789/3
690>. Acesso em: 01 nov. 2016.
questão que seja utilizado o Morgenstern-Price, Reis, R. C. (2010). Estudo de estabilidade de taludes da
pois entre os métodos mais rigorosos, ele mina de Tapira-MG. Ouro Preto: UFOP, 2010.
considera esforços horizontais, ao contrário do Disponível em:
método de Bishop e por em algumas seções os <http://www.nugeo.ufop.br/joomla/attachments/articl
taludes serem muito inclinados, com ângulos de e/11/Dissertação Renato Capucho Reis.pdf>. Acesso
em: 2 dez. 2013.
70º, faz-se necessário essa análise.

6 CONCLUSÃO

A geologia regional tem um grande impacto na


estabilidade da cava da mina de grafita. Isso
pôde ser constatado com as análises
paramétricas que contribuíram para verificar a
influência das variáveis nos resultados dos
fatores de segurança. O aumento de peso
específico faz diminuir significativamente o
fator de segurança e o aumento da coesão e do
ângulo interno de atrito contribui de forma
efetiva para a estabilidade. O aumento da
inclinação e a presença de lençol freático são
também determinantes no valor do FS, fazendo
com que haja diminuição deste.
As análises revelaram potencialidades de

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ANEXO

Mapa Geológico e Altimétrico

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Estabilidade de Talude: Estudo de caso em Juiz de Fora - MG
Achilles Cappellesso Júnior
Universidade Católica de Brasilia – UCB, Brasília, Brasil, juniorcappellesso@gmail.com

Ana Carla de Freitas Vasconcelos


Universidade Católica de Brasília – UCB, Brasília, Brasil, anacarlav95@gmail.com

Gabriel Alves Teixeira


Universidade Católica de Brasília – UCB, Brasília, Brasil, gabrielalvesteixeira02@gmail.com

Nelson Lucas de Queiroz Souza


Universidade Católica de Brasilia – UCB, Brasília, Brasil, nelsonbrazdequeiroz@hotmail.com

Maria Luísa Gomes Gonçalves


Universidade Católica de Brasília – UCB, Brasília, Brasil, marialuisagomes4@gmail.com

Pedro Henrique Soares da Cunha


Universidade Católica de Brasília – UCB, Brasília, Brasil, pedro497@gmail.com

Ygor dos Santos Carneiro


Universidade Católica de Brasília – UCB, Brasília, Brasil, ygosdjk@gmail.com

RESUMO: Devido ao crescimento populacional nas últimas décadas, a ocupação de áreas irregulares
se tornaram frequentes, porém esse movimento do ponto de vista técnico é alarmante devido a
estabilidade de taludes. O presente trabalho busca com base nos conhecimento das propriedades do
solo, apresentar os fatores que promoveram tal instabilidade, relatando por meio das informações
obtidas algumas medidas preventivas e corretivas que poderiam ser aplicadas ao caso.

PALAVRAS-CHAVE: Instabilidade, Movimento de massa, Ocupação irregular, Talude.

1 INTRODUÇÃO relação ao maciço restante, o que ocorre ao longo


de uma superfície de ruptura. Tais movimentos
Segundo Caputo (1988), talude é uma de massa são classificados em quatro tipos:
superfície inclinada de solo ou rocha que pode rastejo, escorregamento, quedas e corridas, onde
ser natural (encostas) ou artificial onde é são diferenciados a partir das características do
constituído por meio de corte ou aterro, material, do movimento e de sua geometria.
possuindo inclinação da superfície em relação a Deste modo, encostas que possuem
horizontal, devendo ser compactado, além de ocupações irregulares tem sido a causa de
conter um sistema de drenagem e cobertura inúmeras fatalidades devido a instabilização de
vegetal, tudo isso auxiliando na sua taludes em áreas densamente povoadas, o que
estabilização. vem ganhando destaque ultimamente, gerando
Em determinadas condições pode ocorrer o preocupação aos profissionais da área que são
movimento de massa em um talude, que é o capacitados a realizarem avaliações acerca das
deslocamento de uma porção do mesmo em

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condições de segurança que os maciços de terra edificações, o caso aqui retratado não foge a
possam apresentar. (MARANGON, 2009). regra, sendo solicitado a suportar uma carga em
O trabalho em questão tem como objetivo seu corpo maior do que a que foi projetado e
realizar um estudo de caso acerca da estabilidade ainda suportando as forças de empuxo advindas
de taludes com base no conhecimento das do solo contido, a geometria do talude sofreu
propriedades geológicas e geomêcanicas dos alterações, um dos parâmentros estabilizantes de
materiais que os constituem, além de apresentar maior importância (GONGORA, 2017).
os fatores que influenciam, desencadeiam e Além do possíveis agravantes já citados,
condicionam as instabilidades. Realizando pôr nenhum sistema de drenagem contribuia para
fim a apresentação dos tipos de medidas manter o equilibro do próprio talude, tendo assim
preventivas que poderiam ser tomadas visando a base ou pé do mesmo desprotegido. Um fato
evitar o acidente, apresentando também as valido a ser apresentado é que uma construtora
possíveis medidas corretivas ou estabilizadoras estava realizando uma obra estrutural acerca de
para os danos causados pelo mesmo. três meses, referente a um novo empreendimento
atrás da área residencial que apresentou a
problemática. O condomínio não era de
2 O CASO responsabilidade da construtora, porém diante do
ocorrido, a mesma prestou auxílio aos moradores
O objeto de estudo foi um acidente causado para evitar que o problema se agravasse,
pelo escorregamento de talude, localizado em promovendo a longo prazo a restauração do
uma area residencial na Rua Clóvis Seroa de talude.
Motta no bairro São Geraldo, Zona Sul de Juiz O talude veio à colapso no dia 03 de outubro
de Fora – MG (Figura 1). de 2016. Na figura 2, é possível verificar que
além dos possíveis fatores contribuintes para o
escorregamento, o bairro de São Geraldo (parte
inferior direita do mapa) é umas das áreas da
cidade com risco de escorregamento.

Figura 1. Localização do acidente (Google Earth, 2017).

O escorregamento ocorreu em uma area


densamente povoada com uma alta taxa de
ocupação do solo e, consequentemente menos
áreas infiltráveis, contribuindo para um aumento
de vazão de escoamento run-off da região. O
talude ficava na região mais baixa do bairro, o
que significa que a maior parte da enxurrada não
drenada e não infiltrada desaguava ali,
agravando a problematica.
O corpo do talude era ocupado por
edificações, reflexo da contingência
populacional desordenada, dificilmente taludes
são projetados para suportarem à carga de Figura 2. Mapas de Riscos a Escorregamento na Área
Urbana de Juiz de Fora – MG (UFJF, 2005)

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3.1 Medidas Preventivas

2.1 Danos Causados Para prevenção de acidentes envolvendo


colapso de taludes, é necessário estudos prévios
Segundo o jornal local Tribuna de Minas, detalhados do local, ou seja, é necessario alinhar
antes de ocorrer o acidente em análise, um a estudos geotécnicos e hidrogeológicos do local
primeiro escorregamento de terra de baixo porte as propriedades do solo a ser usado. Assim é
havia ocorrido na manhã do dia 2 de outubro de necessario definir a geometria do talude,
2016, ferindo uma senhora. Já no dia 3 de inclinação, fator de segurança preciso, proteção
outubro, com as fortes chuvas durante a superficial do talude e um sistema de drenagem
madrugada, ocorreu novamente a movimentação eficiente.
de massa, esta em maior escala, o que No caso estudado, por ser um talude natural
comprometeu as residências do local. No dia de solo, a principal medida preventiva seria uma
seguinte a Defesa Civil foi acionada onde análise prévia das áreas suscetíveis ao
averiguou os riscos e informou que havia a deslizamento como mostra o mapa da Figura 2,
necessidade dos moradores deixarem suas juntamente com estudos hidrogeológicos,
residências pois estavam em uma área de alto geotécnicos e o poder público, para que fosse
risco, sendo que duas casas poderiam desabar proibida a construção de edificações nas
(Figura 3), devido aos danos diretos sofridos margens do talude que forem definidas como
pelas edificações causados pelo movimento de sendo áreas de risco; outra medida muito
massa, o que acarretou na retirada de oito importante seria a drenagem, obras de terra que
famílias do local, sendo realocadas não conteplam sistema de drenagem
provisoriamente em apartamentos e hotéis da possivelmente estão fadadas ao colapso.
cidade, gerando prejuízos sociais e materiais a Com a ação da água pluvial pode-se
estas famílias. desecadear erosões de grande porte no solo ali
retratado e o pipping, também conhecido como
erosão interna. Para evitar que a água infiltre
mais do que o limite do gradiente crítico do solo,
que é a iminência do movimento das partículas
diante a passagem de água (PEREIRA DE
JESUS, 2017), promovendo assim o aumentando
de sua poropressão, seu empuxo e superando o
fator de segurança do talude, causando a
instabilidade do mesmo, podendo promover o
movimento de solo
Além da drenagem, a cobertura superficial
com vegetação, afim de prevenir erosões, ou até
mesmo a concepção de estruturas de contenção,
que impossibilitaria movimento de massa,
seriam medidas preventivas eficazes neste caso.
Figura 3. Risco de desabamento de duas residências
(Tribuna de Minas, 2016).

3.2 Medidas Corretivas


3 ESTUDOS PREVENTIVOS E
CORRETIVOS Antes de determinarmos as ações a serem
tomadas para correção do acidente em questão, é
A seguir serão apresentados as medidas a necessário primeiro conhecer o solo com que
serem tomadas para solucionar e/ou amenizar a está se trabalhando. Primeiramente podemos
problematica do acidente. fazer um levantamento topográfico com o
objetivo de determinar a projeção plana e o
relevo, entre os pontos que caracterizam a

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geometria do talude. Em segundo lugar devemos A escolha da alternativa corretiva irá
fazer uma análise geotécnica e granulométrica, depender de alguns aspectos, como por exemplo,
começando pela retirada de amostras o acesso, meios de transporte disponiveis para
indeformadas (Figura 4), para conservar o teor obra, altura do talude e disponibilidade de
de umidade e a estrutura do material, e materiais. Como o acidente em estudo envolveu
deformadas, seguindo as normas da NBR 9604. algumas residências como é possível visualizar
na Figura 6, fica inviável realizar a medida
corretiva de retaludamento, pois é necessário ter
uma disponibilidade de área livre, e solo
grampeado pois é uma técnica empregada em
cortes e escavações.

Figura 4 - Coleta de amostra indeformada de solo.


(Geoquality, 2017)

A partir da amostra indeformada se realiza os


ensaios de cisalhamento direto, para obtenção
dos parâmetros de ângulo de atrito (߮), coesão
(ܿ) e peso específico (ߛ).
Após obter todas as informações possíveis
acerca do solo com o qual irá se trabalhar, é
possível definir as melhores soluções a serem Figura 6. Área afetada pelo acidente. (Tribuna de Minas,
empregadas. 2016)
Algumas alternativas apresentadas para
corrigir problemas decorrentes do movimento de Deste modo as medidas que de fato se tornam
massa são apresentadas na Figura 5. viáveis para o acidente em estudo são
apresentadas a seguir.
Retaludamento x Cortinas ancoradas: possui flexibilidade,
ou seja, pode ser empregada tanto em corte
como aterro, onde tem a característica de limitar
Drenagem e proteção os deslocamentos do terreno;
superfícial
x Muros: é uma solução considerada
barata para aterros, pode ser aplicado em solos
Muros de arrimo,
muro de gambiões de fundação de baixa capacidade de carga
Taludes em solo
quando o solo é compactado e envelopado com
Cortinas atirantadas,
geossintético, pois se torna bastante flexível.
terra armada x Reforço com geossintéticos: pode-se
utilizar geogrelha associada a um geotêxtil para
Reforço com fazer o reforço mecânico do solo.
geossintéticos x Drenagem e proteção superficial: é uma
medida que pode ser tomada em todos os
Solo Grampeado taludes.

Figura 5. Fase de solução, taludes em solo, alternativas


(Manual GEO-RIO, 2000)

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4 CONCLUSÃO AGRADECIMENTOS

O desenvolvimento do presente estudo Agradecemos todo o apoio prestado pela


possibilitou a percepção dos elementos Fundação de Apoio e Pesquisa do Distito Federal
essenciais para a compreensão da ocorrência do – FAP – DF e pela instituiçao de ensino
acidente no caso abordado. Portanto, mesmo não Universidade Católica de Brasília – UCB.
havendo a possibilidade de uma análise in loco,
o levantamento de dados pertinentes à disposição
do talude, condições climáticas e mapa de risco REFERÊNCIAS
de escorregamento na cidade, foram ferramentas
que facilitaram a interpretação do caso. Caputo, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6.ed.,
ver. ampl. Rio de Janeiro, RJ: LTC, c1998. V.
A necessidade de um estudo prévio para
Gongora, I. Notas de aula: Mecânica dos Solos II.
entender a correlação das propriedades Universidade Católica de Brasília, 2017.
mecânicas e hidráulicas do solo se faz Marangon, M. Unidade 4 – Estabilidade de Taludes. 2009.
importante para que um plano de ação Disponível em:
preventivo seja feito, com o intuito de <http://www.ufjf.br/nugeo/files/2009/11/togot_Unid0
4EstabilidadeTaludes01.pdf>. Acesso em: 28 de abr.
contemplar medidas que minimizem ou
de 2017.
neutralizem possíveis danos aos envolvidos. Pereira de Jesus, S. R. C. C. B. Processos erosivos. Distrito
Desta forma, nem sempre há levantamento Federal, Aula de Geotecnia Ambiental – UCB. 23 de
prévio dos fatores de influência citados março de 2017.
anteriormente, em justificativa da celeridade Tribuna de Minas. Chuva Desaloja Oito Famílias. 2016.
Disponível em:
necessária para o andamento da atividade que
<http://www.tribunademinas.com.br/chuva-desaloja-
venha ser executada. oito-familias/>. Acesso em: 21 de maio de 2017.
Em contrapartida, as possíveis cargas
atuantes no talude e a interação com a água
proveniente da chuva, conforme descrito no
desenvolvimento do estudo, fez com que
houvesse a percolação do fluido e
posteriormente o carreamento dos grãos de
estruturação do solo. A observação prévia deste
efeito permite a abordagem de práticas
geotécnicas existentes, a fim de aplicar medidas
de prevenção ou corretivas, como o caso do
estudo abordado.
Portanto, a contribuição dos recursos
levantados para uma abordagem do ponto de
vista acadêmico a respeito do caso citado, possui
grande relevância para o desenvolvimento de
uma análise crítica dos aspectos geotécnicos
inseridos nas diversas aplicações práticas do
cotidiano. O senso de tomada de decisão
mediante as alternativas disponíveis para cada
tipo de situação, até mesmo as problemáticas,
torna-se potencial para o conhecimento prático e
teórico, vislumbrando o desenvolvimento
profissional e êxito na aplicação dos recursos
geotécnicos disponíveis.





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Um Estudo de Caso sobre a Aferição da Parcela de Resistência de
Atrito Lateral em Fundações Profundas
Caique Roberto de Almeida
Centro Universitário FEI, São Bernardo do Campo, Brasil, crdealme@gmail.com

RESUMO: O presente trabalho tem por intuito a proposição da separação das parcelas resistência de
atrito lateral e ponta em uma estaca ensaiada através de prova de carga estática, por meio da aplicação
de uma nova abordagem matemática de transferência de carga, apresentada em Amann (2010). Nesse
sentido, objetiva-se comparar os resultados de resistência obtidos por meio do novo enfoque com a
modelagem computacional, proveniente de Método de Tensões Efetivas, da estaca que constitui
objeto de estudo. Por fim, confrontam-se os resultados parciais alcançados com a aplicação de
métodos semiempíricos de amplo uso na literatura geotécnica brasileira.

PALAVRAS-CHAVE: Transferência de Carga, Atrito Lateral, Métodos Semiempíricos.

1 INTRODUÇÃO

Amann (2010) aponta o uso de métodos de


transferência de carga como uma importante
ferramenta a fim de se obter a separação das
parcelas de resistência de atrito e de ponta de
fundações profundas. Entre outros aspectos, tais
resultados permitem aferir os valores de
coeficientes estimados por métodos
semiempíricos, considerando a deformação
elástica do material da estaca que, ao ser
carregada, interage por atrito com o solo ao
longo do fuste.
O Método das Leis de Cambefort Modificadas Figura 1. Método das Leis de Cambefort Modificadas por
(LCM) e o Método das Duas Retas (MASSAD e Massad.
(Fonte: Massad, 1992)
LAZO, 1998) analisam, sob ação exclusiva da
carga de atrito lateral (Alr), o valor do recalque Em que:
elástico da estaca, conforme ilustra a Figura 1. x y0 – recalque no topo da estaca;
Vale salientar o significado físico de cada x P0 – carga aplicada ao topo da estaca;
trecho: o segmento 0-3 revela comportamento x Kr – rigidez estrutural da estaca;
pseudoplástico; o intervalo 3-4 evidencia x K – rigidez relativa estaca (fuste)-solo;
performance viscoplástica, em que o x ȕ’ – coeficiente de influência da ponta na
cisalhamento lateral é mobilizado transferência de carga do fuste;
progressivamente ao longo do fuste; e o trecho
x ȕ3’ – valor de ȕ’ para mobilização plena
4-5, que sintetiza a mobilização da resistência de
do atrito no topo da estaca;
ponta até a ruptura.
x ȝ – coeficiente de carga residual;
x y1 – recalque do topo na mobilização
plena do atrito no topo da estaca;
x yo4 – recalque do topo na mobilização
plena do atrito à cota da ponta da estaca;

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x yo5 – recalque do topo na ruptura da Realizou-se prova de carga estática em uma
ponta; estaca escavada a seco com trado mecânico, de
x R – coeficiente de rigidez do solo da diâmetro nominal de 25cm e comprimento de
ponta; 10m. Empregou-se concreto usinado com
x Sp – área da seção da ponta. cimento de alta resistência inicial, com fck =
20MPa e slump 7 +/- 1cm. Utilizou-se armadura
mínima de três barras longitudinais de diâmetro
Por outro lado, Décourt (1996) propõe o ajuste 8mm.
da curva carga-recalque através de uma
expressão hiperbólica, responsável por definir a 2.2 Caracterização geotécnica do terreno
rigidez (Rig), conforme assinala a Equação 1:
As sondagens realizadas no terreno onde
Rig = P0 / y0 = C2 + C1.P0 (1) executou-se a prova de revelaram a presença de
solo do tipo areia argilosa em estado pouco
Seguindo tal linha de raciocínio, é possível compacto (índices de resistência à penetração
traçar-se, no diagrama de rigidez, as equações de variando de 5 a 8 golpes) até a profundidade de
cada trecho da curva carga-recalque, conforme a 1,5m.
proposta das Leis Modificadas de Cambefort. Entre as profundidades 1,5m e 9,5m observou-
Tal proposta é ilustrada pela Figura 2. se argila de consistência média a dura (índices de
resistência à penetração variando de 10 a 20
golpes). A partir da profundidade 9,5m encontra-
se silte argiloso de consistência média (índice de
resistência à penetração médio de 10 golpes).
A posição do nível de água é estável na
profundidade de 6m.

2.3 Curva carga x recalque e diagrama de


rigidez

A Figura 3 exibe os valores, em curva de carga


x recalque, obtidos por conta da execução de
Figura 2. Trechos da curva carga-recalque do Método das prova de carga estática. Apresenta-se também o
Leis de Cambefort Modificadas (LCM) lançadas no ajuste preliminar das curvas por meio do Método
diagrama de rigidez.
(Fonte: Amann, 2010)
das Duas Retas.

Destaca-se, como assinalado na Figura 2, que


a fácil visualização dos trechos da curva no
diagrama de rigidez, segundo as LCM, permite
importantes análises com relação ao processo de
transferência de carga: o trecho linear designado
por Décourt (1996) como domínio de atrito
corresponde, sob ponto de vista das LCM, ao
trecho 3-4 da função de rigidez, que apresenta
reduzida curvatura e evidencia a mobilização do
atrito ao longo do fuste. Verifica-se também que
o trecho 4-5, no diagrama de rigidez, equivale ao
segmento 4-5 das Leis de Camberfort.
Figura 3. Curva carga x recalque referente à estaca E1 e
2 PROVA DE CARGA ajuste preliminar pelo Método das Duas Retas

2.1 Descrição da estaca ensaiada


A Figura 4 sintetiza, por sua vez, o diagrama

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de rigidez de Décourt, referente à estaca E1.

Figura 4. Diagrama de rigidez referente à estaca E1 Figura 5. Obtenção da carga de ruptura convencional em
conformidade com a NBR 6122 (ABNT, 2010)
3 PREVISÃO DA CAPACIDADE DE
CARGA 3.3 Previsão da capacidade de carga pela
aplicação de software Método de Tensões
3.1 Previsão da capacidade de carga pela Efetivas
aplicação de métodos semiempíricos
A Figura 6 exibe o perfil geotécnico modelado
Com o intuito de se obter o pré- no software GEO5, por meio do Método de
dimensionamento da estaca que constitui objeto Tensões Efetivas (CONDUTO, 2001) para a
de estudo do presente artigo, aplicou-se os obtenção do valor de capacidade de carga de
métodos de Aoki-Velloso (1975) e Décourt- 470,99 kN. Assinala-se que o valor de resistência
Quaresma (1978) ao estudo de caso, obtendo-se mobilizada por atrito lateral foi de 417,97 kN,
os valores apresentados na Tabela 1. enquanto a resistência de ponta foi de 53,01 kN.

Tabela 1.Previsão da capacidade de carga por métodos


semiempíricos.
Método Rp Rl Ru
(kN) (kN) (kN)
Aoki-V. 63,0 380,1 443,1
Déc.-Q 51,5 485,0 536,5

3.2 Previsão da capacidade de carga pela


análise da curva carga x recalque

O valor da carga de ruptura da estaca ensaiada


foi obtido por meio de recomendação da norma
NBR 6122 (ABNT, 2010), responsável por
Figura 6. Perfil geotécnico modelado no software
afirmar que, em casos de ruptura convencional, Rocscience
a carga de ruptura é aquela equivalente à
interseção da curva carga-recalque com a reta A Figura 7, por sua vez, apresenta uma
resultante da Equação 2: estimativa do desenvolvimento de recalques
imediatos na estaca modelada, de acordo com
r = (D / 30) + (P x L) / (E x A) (2) pressupostos de Poulos (1980) e da Teoria da
Elasticidade.
A carga de ruptura resultante foi de 440 kN,
conforme demonstra a Figura 5.

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A conversão da variável X = P02 permite a
obtenção dos valores das constantes c1 e c2 por
regressão linear, desprezando-se possíveis
trechos de descarregamento. Os resultados são
sintetizados na Figura 9.

Figura 7. Estimativa do desenvolvimento de recalques para


a estaca E1

A Figura 8 sintetiza o comportamento do


módulo de reação do solo com a profundidade do
terreno.

Figura 9. Ajuste do trecho 3-4 para a estaca E1

Para o trecho assinalado acima os valores de c1


e c2 são 0,183mm e 2,417 mm/kN2.
O ajuste do trecho 4-5, por sua vez, é o que
apresenta maior importância para a adequada
interpretação do ensaio. A Figura 10 apresenta os
pontos selecionados nesta etapa.

Figura 8. Evolução de Kh com a profundidade do terreno

4 AFERIÇÃO DA PARCELA DE ATRITO


LATERAL

Amann (2010) propõe a análise do diagrama de


Rigidez de Décourt para que se obtenha, por
meio da ampliação da escala dos trechos de Figura 10. Ajuste do trecho 4-5 para a estaca E1
ensaio, maior entendimento no que concerne o
comportamento geomecânico da estaca. O comportamento da reta 4-5 pode ser definido
A concepção do método estatístico pressupõe através da Equação 4:
o ajuste dos pontos resultantes da prova de carga
estática aos trechos do modelo matemático P0 = d1 + d2. y0 (4)
proveniente do Método das Duas Retas.
Inicialmente, ajusta-se o trecho 3-4, conforme Os devidos cálculos estatísticos revelaram
expressão matemática sintetizada pela Equação valores de d1 e d2 de 412,984 kN e 2,178 kN/
3: mm, respectivamente. É importante citar que d1
é responsável por determinar o valor de
y0 = c1 + c2. P02 (3) resistência do atrito lateral, conforme revela o

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Método das Duas Retas. O valor de d2, por sua Na Figura 12 observa-se com facilidade a
vez, define a rigidez relativa entre solo e ponta qualidade dos ajustes propostos sobre a curva
da estaca. representativa dos pontos provenientes da
A Figura 11 exibe o ajuste dos trechos 0-2 e 2- execução de prova de carga estática (isto é, as
3. A identificação visual de duas retas distintas curvas correspondentes ao ajuste de cada trecho
(em lilás e em amarelo) permite inferir que a adequam-se, de forma satisfatória, a suas
estaca possui comportamento geomecânico respectivas posições sobre a curva equivalente
similar a estacas de bulbo intermediário. ao ensaio realizado), de forma a validar os
procedimentos empregados ao longo do item 4.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O valor aferido de 412,98 kN para resistência


mobilizada por atrito lateral na estaca ensaiada,
por meio de metodologia proposta em Amann
(2010), revelou-se confiável, haja vista
proximidade com relação aos valores de
capacidade de carga ao longo do fuste calculados
através de outros respaldáveis métodos, a
exemplo dos semiempíricos Aoki-Velloso
(380,10 kN), Décourt-Quaresma (485,00 kN) e
Figura 11. Ajuste do trecho 0-2-3 para a estaca E1 modelagem computacional fundamentada no
Método das Tensões Efetivas (417,97 kN).
O trecho 0-2-3 foi ajustado por meio de modelo As relativamente baixas diferenças obtidas
proposto na Equação 5: entre as resistências calculadas podem ser
justificadas por conta do emprego de diferentes
P0 = b1 + b2. y0 (5) coeficientes em cada método de estimativa de
carga de ruptura.
Observa-se a obtenção dos valores 56,953 kN A interpretação do comportamento da curva
e 119,250 kN/ mm para os parâmetros b1 e b2, carga x recalque, por meio da NBR 6122
respectivamente. (ABNT, 2010), apresentou capacidade de carga
O ajuste final dos pontos selecionados por de 440 kN em ruptura convencional, valor
meio do Diagrama de Rigidez (AMANN, 2010) compatível com as estimativas efetuadas ao
permite melhor visualizar o comportamento de longo do presente trabalho.
cada trecho analisado. Tal avaliação emprega os Destaca-se que o emprego da metodologia
valores dos parâmetros b1, b2, c1, c2, d1 e d2 nas matemática de transferência de carga empregada
equações dispostas na Figura 2 para traçar as no presente artigo permite não só a aferição da
curvas de rigidez teóricas apresentadas na Figura parcela referente ao atrito lateral em fundações
12. profundas, mas também a possibilidade de se
avaliar, para todo o Diagrama de Rigidez
Teórico de Décourt, a qualidade dos ajustes
efetuados ao longo do procedimento estatístico
em cada trecho da curva carga x recalque
esquematizados no Diagrama de Rigidez. Nesse
sentido, vale assinalar o potencial dessa
ferramenta matemática no que tange a avaliação
da confiabilidade dos valores de capacidade de
carga por atrito lateral provenientes de diferentes
métodos de previsão de carga mobilizada ao
longo do fuste.
Figura 12. Diagrama de Rigidez Teórico para a estaca E1

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REFERÊNCIAS

Amann, K.P.A. (2010) Metodologia semiempírica


unificada para a estimativa da capacidade de carga de
estacas, Tese de Doutorado, Programa de Pós-
Graduação em Geotecnia, Departamento de
Engenharia Civil, Universidade de São Paulo.
Aoki, N. e Velloso, D.A. (1987) An Approximate Method
to estimate the Bearing Capacity of Piles. Proceedings
of the 5th Pan American Conference on Soil Mechanics
and Foundation Engineering, Buenos Aires, vol.1,
1975 .
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6122
Projeto e execução de Fundações. RJ, 2010
Conduto, D. P. (2001) Foundation Design Principles and
Practices, 2nd ed., McGraw Hill, New York, NY,
USA.
Décourt, L. (1996) Análise e Projeto de Fundações
Profundas – Estacas. Fundações teoria e prática. 1 ed.
São Paulo, ABMS, 1996. P.265 – 301
Décourt, L. e Quaresma, A.R. (1978) Capacidade de
carga de Estacas a partir de valores de SPT.
COBRAMSEG, RJ, vol.1, p.45-53,1978
Massad, F. (1992). Comportamento de estacas escavadas
de elevadas compressibilidades. Seminário de
Engenharia de Fundações Especiais, 1992. São Paulo,
v.1, p. 245-254
Massad, F.; Lazo, G., K.P.A. (1998). Método gráfico para
interpretar a curva carga-recalque de provas de carga
verticais em estacas rígidas e curtas. Congresso
Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica, COBRAMSEG XI. Brasília, ABMS,
1997, v.3, p. 1407-1414

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Estudo de Prova de Carga Dinâmica em Estacas Hélice Contínua
Através de Análise Tipo Capwap em Solo da Formação Barreiras
Jarleson Andrião
UCL, Serra/ES, Brasil, jarleson.andriao@hotmail.com

Fernanda Simões Ribeiro Curcio


AMT, Serra/ES , Brasil, fernanda.curcio@arcelormittal.com

Priscila Cristina Henke


URI, Santo Ângelo/RS, Brasil, priscilahenke@gmail.com

RESUMO: O artigo apresenta resultados de ensaio de carregamento dinâmico (ECD) através do


programa CAPWAP realizado em quatro estacas hélice contínua executado no perfil geotécnico da
Formação Geológica Barreiras de uma região da Grande Vitória/ES. Foram realizadas
interpretações a partir de coleta de sinais e análises CAPWAP nas estacas objetivando extrair e
acrescentar parâmetros geotécnicos da região. Os resultados encontrados foram satisfatórios,
relacionados a parâmetros de deslocamento da estaca, distribuição da resistência ao longo do fuste,
nega, atrito lateral, além da resistência média encontrada de 2,00 vezes a carga de trabalho de
projeto.

PALAVRAS-CHAVE: Estacas Hélice Continua, Ensaio de Carregamento Dinâmico, CAPWAP,


Formação Barreiras

1 INTRODUÇÃO Vitória, capital do ES, desde 1989 tem-se


utilizado as estacas hélice continua. Estudos
Dotadas de um grande avanço tecnológico e realizados por Polido et al (2015) afirmam que
com elevada capacidade de carga, as estacas ainda são poucos os dados de campo sobre
“hélice contínua” foram introduzidas no Brasil provas de carga instrumentadas para que se
em 1987, e tiveram uma larga utilização a partir definam parâmetros de projeto, persistindo
do ano de 1993 (Caputo et al., 1997). Utilizada dúvidas quanto às parcelas de atrito e ponta nos
em obras de fundações profundas, constituída solos da região da Grande Vitória, que são
por concreto moldado in loco e executada por aspectos importantes a serem considerados no
meio de trado contínuo e injeção de concreto controle de qualidade do estaqueamento.
pela própria haste do trado (NBR 6122, 2010), Partindo deste contexto, o presente estudo
este tipo de estaca tornou-se frequente devido às apresenta resultados de ensaio de carregamento
características tecnológicas, e vantagens dinâmico (ECD) através do programa
técnicas, proporcionando execução de CAPWAP de quatro estacas tipo hélice
fundações de forma rápida, com alta velocidade continua executado no perfil geotécnico da
de cravação, baixo custo e eliminação de Formação Geológica Barreiras com objetivos de
vibrações, responsáveis por danos em extrair e acrescentar parâmetros geotécnicos e
edificações vizinhas. de projeto da região estudada. Os resultados
Na região da Grande Vitória/ ES, que apresentados foram baseados no ensaio de
engloba os municípios de Vila Velha, Cariacica, análise de carregamento dinâmico com energia
Viana, Guarapari, Serra e Fundão, além de crescente, conforme a NBR 13208 (2007) e

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fundamentado na teoria da equação da onda sondagem SPT, perfazendo um total de 116,42
idealizada por Smith (1960), objetivando m de perfuração. De um total de 80 estacas
determinar a capacidade de carga da interação cravadas, foi realizada a seleção de 4 estacas
estaca-solo aleatórias para a execução das provas de carga
dinâmicas. As estacas selecionadas estavam
2 CARACTERÍSTICAS DO ESTUDO situadas entre as prospecções geotécnicas SPT1,
SPT2, e SPT3 atingindo profundidades de 20,73
2.1 Investigação Geológico-geotécnica do local m, 20,78 m; 9,55 m respectivamente. O perfil
geotécnico representado pela Figura 1 refere-se
O estudo realizado localiza-se no município de as sondagens realizadas em torno das 4 estacas
Serra/ES, a cerca de 1200 m da costa marítima. ensaiadas.
A área experimental apresenta O perfil é constituído em toda a sua
predominantemente solos típicos da Formação profundidade por argilas plásticas, com
Geológica Barreiras, constituídos por camadas variações de areia média a fina, de consistência
de areia e argila geralmente de algumas dezenas rija a dura com ocorrência de laterita em
de metros de espessura que se estende por mais algumas de suas camadas intervalares,
de 5.000 quilômetros ao longo da costa comprovando as características da Formação
nacional, do Amapá ao Rio de Janeiro (Rossetti, Geológica Barreiras. O índice de resistência a
2013). Nunes (2011) afirma que, a Formação penetração médio (NSPTmédio) nos 3 furos foi de
Barreiras é composta por uma sequência de 27, 30 e 38 respectivamente.
sedimentos detríticos, siliciclásticos de origem
fluvial e marinha, pouco ou não consolidados,
mal selecionados e de cores variegadas,
variando de areias finas a grossas, argilas cinza
avermelhadas com matriz caulinítica, solos
laterizados provenientes de superfícies
intemperizadas e ocorrências escassas de
estruturas sedimentares.
Quanto a investigação geotécnica da área de
estudo, foram executados 7 (sete) furos de

Figura 1. Perfil Geotécnico entre as estacas selecionadas.

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2.2 Características de projeto e execução do para a estimativa da resistência mobilizada da
ensaio interação solo-estaca, além de outras
informações através da teoria da equação de
As estacas em estudo foram projetadas com onda, com base no modelo concebido por Smith
carga de trabalho de 77 tf, e executadas com (1960). O ensaio é baseado na aquisição de
trado de 50 cm de diâmetro com comprimentos sinais, através de instrumentação, de força e
variando de 12 a 15 m. Das 80 estacas cravadas velocidade da onda provocada pelo impacto do
na obra, foram selecionadas 4 estacas para a martelo, com auxílio do equipamento “PDA,
realização do ECD. A quantidade de estacas que realiza uma serie de cálculos, inclusive a
selecionadas adotou os parâmetros da NBR estimativa da resistência mobilizada da
6122 (2010), ou seja, 5% do total de estacas interação solo-estaca, através do método de
com carga de trabalho entre 600 kN e 1000 kN CASE. O referido método é baseado numa série
para realização do ensaio. de simplificações tais como a homogeneidade e
Em todas as estacas ensaiadas (Tabela 1) foi uniformidade da estaca, incluindo o processo
utilizado o método das energias crescentes, iterativo de ajuste dos parâmetros do modelo
utilizando martelo de queda livre de 3,2 t para a (solo-estaca) realizado através do programa
aplicação de golpes sucessivos e sistema de CAPWAP (Gallegos, 2014).
amortecimento composto por coxim de A aquisição dos dados durante o ECD deste
compensado de madeira, obedecendo a critérios trabalho foi realizado através de 2 pares de
de paralização prescritos pela NBR 13218 dispositivos de instrumentação fixados no fuste
(2007). próximo ao topo das estacas moldadas in loco
ensaiadas, para aquisição de respostas
Tabela 1. Características geométricas das estacas dinâmicas. Tais dispositivos instalados são
ensaiadas. extensômetros elétricos (transdutores de
Compr. deformação ou de força) e acelerômetros
Compr. Carga de
Estaca

Diâmetro abaixo dos


(cm) sensores
embutido trabalho (transdutores de aceleração), instalados em
(m) (tf) quadrantes espaçados de 180° com objetivo de
(m)
43 50 14,15 13,85 77,0 mensurar força e velocidade respectivamente.
47 50 13,90 13,70 77,0
50 50 14,00 13,70 77,0 3.1 Método CAPWAP
58 50 13,40 13,20 77,0
O programa CAPWAP é o mais utilizado para
As características geométricas das estacas estimativa da capacidade de carga de estacas e
ensaiadas executadas com concreto fck superior distribuição de resistências ao longo da
a 30 Mpa, de acordo com os resultados dos profundidade do fuste, a partir dos dados de
ensaios de resistência a compressão estão medição de força e aceleração. No modelo
apresentadas na Tabela 1. Os comprimentos e CAPWAP as forças de reação do solo são
diâmetros informados na Tabela 1 referem as passivas e tem sido suficientemente satisfatório,
dimensões das estacas no momento do ensaio. na maioria dos casos, expressá-las como função
apenas do movimento da estaca. Quanto a
3 PROCEDIMENTO E ANÁLISE DO reação do solo, este é representado por
ENSAIO componentes elastoplásticos e viscolineares
(Aoki el al, 1998). Assim o modelo possui para
Os Ensaios de Carregamento Dinâmico são cada ponto algumas incógnitas descritas a
amplamente utilizados no Brasil com a seguir:
utilização do aparelho PDA (Pile Driving
Analyser) e a utilização do software CAPWAP - Resistência estática máxima (Ru): Para cada
(Case Pile Wave Analisys Program) para elemento de solo, a análise CAPWAP assume
análise dos resultados. um comportamento elastoplástico ideal.
Desta forma, a realização do ECD consiste na
aplicação de um carregamento axial na estaca

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- Resistência Máxima Mobilizada (RMX): satisfatória para determinada estaca em uma
Compreende a soma do atrito lateral total com a obra. Por outro lado, pode-se estimar a
resistência de ponta. capacidade de carga de uma estaca conhecendo-
se sua nega (Danziger, 2004). A nega dos
- Quake: Deslocamento elástico da estaca em ensaios realizados neste estudo foi coletada em
relação ao solo, necessário para mobilizar toda campo por equipe topográfica, representada
a sua resistência (Olavo, 2014). No modelo pela Tabela 2, variando de 3,0 mm a 7,0 mm.
elastoplástico ideal, o valor da máxima
deformação elástica do elemento de solo é Tabela 2. Características geométricas das estacas
denominado de “ Quake”. A partir desse ponto, ensaiadas.

Tota (mm)
o programa assume total plastificação do solo.

Martelo (t)
Alturas de Nega por

Estaca

Nega
Peso
Valores compreendidos entre 1,00 mm e 7,00 queda golpe
mm são aceitáveis (MURAKAMI, 2015). (cm) (mm)

- Energia máxima na estaca (EMX): A variação 43 40/60 3,2 3,0/0,0 3,0


47 40/60/80/100 3,2 4,0/1,0/1,0/1,0 7,0
da energia transferida para a estaca com o 50 40/60/80 3,2 1,0/2,0/0,0 3,0
tempo. 58 40/60 3,2 2,0/1,0 3,0

- Deslocamento máximo (DMX): é o valor do Para os golpes onde a nega foi igual a zero o
deslocamento máximo das partículas na região valor foi substituído por 0,1 mm. Esta alteração
dos sensores. Esse valor é igual ao repique, se faz necessária uma vez que o CAPWAP não
acrescida a nega. aceita um valor nulo para a nega.

A partir do programa CAPWAP foi 3 ANÁLISE DOS RESULTADOS


realizado o método “melhor ajuste”, onde o
usuário do programa interfere nos parâmetros Para a análise CAPWAP foram selecionados os
buscando o melhor ajuste do modelo simulado golpes correspondentes a maior solicitação de
com os dados obtidos em campo. cada ensaio. A Tabela 3 apresenta resultados
dos ECD obtidos utilizando os golpes
3.2 Nega e Repique elástico do Golpe selecionados.

Para se obter os resultados da análise CAPWAP Tabela 3. Resultados obtidos pela Análise CAPWAP.
torna-se necessário informar ao programa a Atrito Lateral Resistência

Quake de Ponta
Máximo (mm)
Quake Lateral

(t) de Ponta
Resistência
Mobilizada

“nega” do golpe a ser analisado. A nega é a


(RMX)
Estaca

(mm)
(tf)

penetração que sofre a estaca ao receber um


(tf) (%) (tf) (%)
golpe ao final da cravação através do martelo de
queda livre, a nega é uma condição necessária
43 271,2 237,0 87% 34,2 13% 1,667 1,046
para conhecer a resistência mobilizada de uma 47 160,3 112,8 70% 47,5 30% 1,872 1,590
estaca (NBR 6122, 2010). Beim et al. (2012) 50 225,1 195,8 87% 29,3 13% 2,664 1,442
afirma que valores da nega deve ser no mínimo 58 235,9 185,7 79% 50,2 21% 1,779 2,158
2,5mm, para que seja possível comparar valores
entre a Prova de Carga Estática (PCE) e o ECD. As resistências indicadas na Tabela 3 acima,
O procedimento para a coleta da nega são denominadas “resistências mobilizadas”,
permite conhecer não só a medição da nega, pois quando o valor de deslocamento vertical
mas também do “repique” (deslocamento permanente (“nega”) for de pequena magnitude,
elástico), usado na estimativa de capacidade de a capacidade medida é inferior a capacidade de
carga. A nega é correlacionada à capacidade de suporte do solo na ruptura. Para os casos de alta
carga da estaca através das fórmulas dinâmicas. resistência, a capacidade de suporte da estaca
Assim, a partir da capacidade de carga desejada pode estar limitada a sua capacidade de carga
(determinada através de métodos teóricos ou como elemento estrutural
semi-empíricos), pode-se fixar a nega máxima

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A Tabela 4 apresenta as tensões máximas
atuando nas estacas e suas respectivas
profundidades abaixo dos sensores, obtidas a
partir da análise CAPWAP. As tensões
cisalhantes referem-se a integridade estaca/solo,
ou seja, é a resistência ao cisalhamento do solo
mobilizada pelo golpe de referência

Tabela 4. Tensões Máximas obtidas pela Análise


CAPWAP.
Compressão Tração Cisalhante
Profundidade

Profundidade

Profundidade
Estaca

TMáx. (Mpa)

TMáx. (Mpa)

TMáx. (Mpa)
(%)

(%)

(%)
Figura 3. Curvas de Carga x Deslocamento.
43 14,80 1,00 2,90 0,00 0,17 9,10
47 17,50 1,00 2,91 7,50 0,08 12,8 A linha contínua representa o comportamento
50 17,70 1,00 3,13 8,00 0,18 6,00 da região onde houve a instrumentação
58 15,10 1,00 3,10 0,00 0,16 5,30
(instalação dos sensores) no fuste da estaca,
enquanto que a linha tracejada representa o
Através dos dados obtidos pelo PDA e
comportamento da ponta da estaca. Nesta
analisados pelo CAPWAP com os sinais de
simulação correspondente ao comportamento da
força e velocidade obtidos em campo, é
estaca no instante do teste dinâmico, para cada
possível traçar curvas de resistência mobilizada
carga incremental na ponta, o programa calcula
(RMX) versus o deslocamento máximo de cada
a carga e o recalque resultante no topo, levando
golpe (DMX). A Figura 02 representa a curva
em consideração a elasticidade da estaca e do
RMX x DMX de todas as estacas ensaiadas.
solo. Após o período de repouso, após a
cravação da estaca, o comportamento anotado
3000 pode ser diferente. Visto que a simulação é feita
no momento do ensaio (Gallegos, 2014).
2500
A PCE de desempenho foi conduzida até o
2000
valor de 2250 kN, aproximadamente 3,0 vezes a
RESITÊNCIA (KN)

carga de trabalho. Observa-se um deslocamento


1500 máximo de aproximadamente 6,2 mm.
Analisando as curvas da Figura 3, observa-
1000
se uma pequena inflexão na linha contínua a
500
partir de 2000 kN, mostrando que deste ponto
Estaca 47 Estaca 50
Estaca 58 Estaca 43 em diante o atrito lateral se comportou de forma
0 diferente, demonstrando uma tendência ao
2 3 4 5
DESLOCAMENTO (MM)
esgotamento do atrito. Em relação a carga de
ponta (linha tracejada) foi crescente e constante
Figura 2. Curvas de Resistência x Deslocamento.
durante o ensaio.

O método de análise CAPWAP é capaz de


simular prova de carga estática, 4 CONCLUSÕES
consequentemente elaborando uma curva carga
x deslocamento (recalque). Na Figura 03 é Após os dados obtidos em campo e analisados
apresentada a simulação de uma das estacas pelo método CAPWAP, foram obtidas as
ensaiadas, correspondente à estaca ES 50. seguintes análises dos resultados e
considerações finais:
- Os resultados dos ensaios em todas as
estacas foram satisfatórios comprovando a

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qualidade e confiabilidade do estaqueamento. mestrado - Pontifícia Universidade Católica do Rio de
As estacas ensaiadas obtiveram uma resistência Janeiro, Dept. de Engenharia Civil. RJ, 2014.
Murakami, Daniel Kina. Novo procedimento para a
média de 2,00 vezes a carga de trabalho, valor realização de análise CAPWAP no ensaio de
superior ao exigido pela NBR 6122 (2010) de carregamento dinâmico em estacas pré-moldadas.
no mínimo 1,60 vezes a carga de trabalho; Dissertação de Mestrado, EPUSP, São Paulo, 2015.
- Os resultados dos valores de Nunes, Fabio Carvalho. Grupo Barreiras: Característcas,
deslocamento elástico da estaca em relação ao gênese e evidências de neotectonismo / Fabio
Carvalho Nunes e Enio Fraga da Silva.Rio de Janeiro:
solo (Quake), são aceitáveis, visto que os Embrapa Solos, 2011. 31 p. (Boletim de Pesquisa e
valores foram compreendidos dentro dos Desenvolvimento / Embrapa Solos, ISSN 1678-0892;
padrões estabelecidos conforme citado por 194).
MURAKAMI (2015). Polido,U.F; Borjaille Alledi, C.T.D.; Minette, E.;
- As “Negas” obtidas em todos os Albuquerque, P.J.R. Estaca Hélice Contínua
Instrumentad: Previsão de Carga de Ruptura por
golpes foram baixas, em concordância com Métodos Semiempíricos vs. Prova de Carga. Revista
altos valores de resistência obtidos. Geotecnia, Vol. 135, p. 115-127, 2015.
- Em todos os casos houve Rossetti, D. F. et al. Late Oligocene–Miocene
predominância de resistência por atrito lateral, transgressions along the equatorial and eastern
conforme esperado para este tipo de estaca. margins of Brazil. Earth-Science Reviews. v. 123, p.
87-112. Ago. 2013.
- Controles de cravação por nega e Smith, E. A. L. Pil e Driving Analysis by the Wave
formulações dinâmicas mostraram-se eficientes Equation. Journal of the Soil Mechanics and
e confiáveis neste estudo de caso; Foundation Division. Proc. of American Society
- Através de todos os ensaios com Civil Engineering (ASCE), Agosto, 1960.
energia crescente analisado pelo método Olavo, L.H.F. Análise de Valores de Quake e Damping
obtidos a partir de 144 estacas de carregamento
CAPWAP, conclui-se que a Prova de Carga dinâmico executados na região de Curitiba – PR.
Dinâmica é uma boa opção para verificar o XVII COBRANSEG. Goiânia, 2014.
comportamento de estacas do tipo hélice
contínua.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6122 –


Projeto e Execução de Fundações. Rio de Janeiro –
RJ. 2010.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13218 –
Estacas – Ensaio de carregamento Dinâmico. Rio
de Janeiro – RJ. 2007.
Aoki,pNelson;Niyama, Sussumu; Chamecki, Paulo
Roberto. Fundações Teoria e Prática.Pag:723 a 750.
São Paulo. Pini. 1998 p. 723-750.
Beim, J., Luna, S.C. Results of Dynamic and static load
tests on helical piles in varved clay of Massachusetts.
DFI Journal. Vol 8. p.58-67 (2012).
Caputo, A.N.; Tarozzo, H.; Alonso, U.R.; Antunes, W.R.
(1997). Estaca hélice contínua: projeto, execução e
controle. ABMS. São Paulo: Núcleo Regional de São
Paulo. SP, 1997.
Danziger, BR.; lves, AML; Lopes, FR. Métodos
dinâmicos para previsão e controle do
comportamento de estacas cravadas. Teoria e Prática
na Engenharia Civil. Antônio Marcos de Lima Alves,
Francisco de Rezende Lopes & Bernadete Ragoni
Danziger. ISSN 1677-3047 Ed. Dunas. Vol. 4. Abril
de 2004.
Gallegos, Ronald Vera. Aplicabilidade da equação de
onda e de fórmulas dinâmicas na estimativa da
capacidade de carga em estacas. Dissertação de

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Fluxo de Água em Meios Porosos Induzido por Acréscimo de
Tensões
Nicholas Veres Barros
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, nicholasveres@gmail.com

André Luís Brasil Cavalcante


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, albrasilc@gmail.com

RESUMO: O objetivo deste trabalho é desenvolver um código no software Wolfram Mathematica que permita
calcular o adensamento primário ao longo do tempo de um solo argiloso, induzido por acréscimos de tensão
provocados por sistemas de cargas pontuais ou de carregamentos uniformes retangulares, resguardadas as
hipóteses simplificadoras dos modelos adotados. Para isso, foram utilizadas as soluções de Boussinesq e
Newmark para o cálculo dos acréscimos de tensão, e o modelo de adensamento unidimensional de Terzaghi
para a determinação do adensamento primário ao longo do tempo. O resultado é um código que permite a
visualização dos recalques ao longo do tempo e dos acréscimos de tensão na massa de solo.

PALAVRAS-CHAVE: Adensamento, Acréscimos de Tensão, Wolfram Mathematica.

1 INTRODUÇÃO carga pontual na superfície de um material


homogêneo, isotrópico e elástico-linear e que se
O fluxo de fluidos em meios porosos é um fenômeno estende num semiespaço infinito, enquanto a solução
de grande importância em diversas áreas da de Newmark é uma extensão daquela de Boussinesq,
Engenharia. Em particular na Engenharia Civil, o usada para determinar os acréscimos de tensão
fluxo de água é muito relevante devido aos seus vertical devido a um carregamento retangular
efeitos nos solos e, concomitantemente, nas uniforme nas mesmas condições da solução original
estruturas construídas sobre o solo; neste sentido, o (material elástico-linear, homogêneo, etc.).
recalque por adensamento, provocado pela expulsão Neste trabalho, foram feitas pequenas
da água do solo por acréscimos de tensão, é um modificações algébricas na formulação de
fenômeno de elevada importância geotécnica e, Boussinesq para facilitar a aplicação de várias cargas
portanto, foco deste estudo. pontuais simultâneas, e desenvolvido um algoritmo
Assim, buscou-se estender a aplicação de que permite a aplicação de vários carregamentos
formulações simples de acréscimos de tensão retangulares uniformes simultâneos pela solução de
associando-as ao modelo de adensamento Newmark.
unidimensional proposto por Terzaghi para estudar o Para a determinação do adensamento primário, foi
fenômeno em questão. O resultado é um código utilizado o modelo de adensamento unidimensional
desenvolvido no software Wolfram Mathematica que de Terzaghi. Este modelo considera um solo
permite calcular os acréscimos de tensão e saturado, onde as partículas sólidas e a água são
adensamento do solo ao longo do tempo para incompressíveis e o fluxo é unidimensional e
qualquer combinação de cargas pontuais ou de vertical; além disso, considera ainda que a lei de
carregamentos retangulares, resguardadas as Darcy é válida (fluxo laminar), que a permeabilidade
hipóteses simplificadoras dos modelos adotados. e a compressibilidade do solo são constantes e que o
solo é elástico-linear.
Utilizando as formulações de acréscimos de
2 METODOLOGIA tensão modificadas em conjunto com o modelo de
adensamento de Terzaghi, foi possível desenvolver
Os acréscimos de tensão foram calculados utilizando um código no software Wolfram Mathematica que
as formulações de Boussinesq e de Newmark. A determina os recalques por adensamento ao longo do
solução de Boussinesq é utilizada para determinar tempo num solo argiloso e gera uma visualização
acréscimos de tensão devido á aplicação de uma tridimensional da bacia de recalque.

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3 SOLUÇÃO DE BOUSSINESQ
n
3z 3 n Qi
Seja Q a intensidade da carga pontual aplicada sobre 'V z ¦ 'V z ,i ¦
2S i 1 Ri5
(6)
a superfície do solo. O acréscimo de tensão vertical i 1

ǻız e os acréscimos de tensão horizontais ǻıx e ǻıy n


'V ¦ 'V x,i
são descritos pela solução de Boussinesq da seguinte x
i 1
forma (e conforme a Figura 1): (7)
n § Q ª 3( x*)2 z ­
° ( x*)2 ( y*)2 ( y*)2 z °» ¸
½º ·
¦ ¨¨ i « (12Q ) ®  ¾ ¸
i 1 ¨ 2S «¬ Ri °¯ Ri ˜ri2 ( Ri  z ) Ri3˜ri2 °¿»¼ ¸
5
3 ˜ Q ˜ z3 © ¹
'V z (1)
2S ˜ R 5 'V y
n
¦ 'V y ,i
i 1
Q ª 3x 2 z ­ x2  y 2 y 2 z ½º
'V x « 5  (1  2Q ) ® 2  3 2 ¾» n §Q ª 3( y*) 2 z ­° ( y*) 2  ( x*) 2 ( x*) 2 z ½°º · (8)
2S ¬ R ¯ Rr ( R  z ) R r ¿¼ (2) ¦¨ i « 5  (1  2Q ) ® »¸
3 2¾

i 1 ¨ 2S
¯° Ri ˜ ri ( Ri  z ) Ri ˜ ri ¿°¼» ¸¹
2
© ¬« Ri
Q ª3y z 2
­ y x 2
x z ½º
2 2
'V y « 5  (1  2Q ) ® 2  3 2 ¾» (3) x* x  xi (9)
2S ¬ R ¯ Rr ( R  z ) R r ¿¼
y* y  yi (10)
r x2  y 2 (4) ri ( x*)2  ( y*)2 (11)

R x2  y 2  z 2 (5) Ri ( x*)2  ( y*)2  z 2 (12)

onde, Q = coeficiente de Poisson [adimensional]. onde, n = quant. de cargas pontuais [adimensional].

Note das Equações (1) a (3) e da Figura 1 que as


coordenadas x, y e z são tomadas relativamente ao 4 SOLUÇÃO DE NEWMARK
ponto de aplicação da carga pontual.
O acréscimo de tensão vertical ǻız abaixo do canto
de um carregamento retangular uniforme com
dimensões B e L pode ser determinado ao se integrar
a Equação (1), considerando o carregamento sobre
uma área infinitesimal dxÂdy como uma carga pontual
de intensidade qÂdxÂdy, sendo q a intensidade do
carga uniformemente distribuída. Assim, a Equação
(1) se torna:

3 ˜ q ˜ dx ˜ dy ˜ z 3
d 'V z (13)
2S ˜ R5

A integração da Equação (13) com limites


horizontais x = 0 a x = L e y = 0 e y = B resulta na
solução de Newmark, que tem a seguinte forma:
Figura 1. Acréscimos de tensão e referencial considerado.
ª 2m ˜ n m 2  n 2  1 m 2  n 2  2 º
Se a carga for aplicada num ponto arbitrário de « 2 ˜ 2 »
q « m  n  m ˜ n 1 m  n 1 »
2 2 2 2
coordenadas xi e yi na superfície do solo, as Equações
'V z (14)
(1) a (3) podem ser modificadas de modo a considerar 4S « § 2m ˜ n m 2  n 2  1 · »
este deslocamento, substituindo x e y por (x ± xi) e «  tan ¨
1
¸ »
« ¨ m2  n2  m2 ˜ n2  1 ¸ »
(y ± yi). Essa modificação torna possível considerar ¬ © ¹ ¼
os acréscimos de tensões provocados por um sistema
de cargas pontuais (i.e., várias cargas com
intensidades distintas), bastando somar os acréscimos onde,
provocados por cada carga individualmente (o que é q = intensidade do carregamento unif. [F.L-2];
possível porque se admitiu que o solo é um material B = comprimento do retângulo de carg. unif. [L];
homogêneo e elástico-linear). Assim, tem-se: L = largura do retângulo de carg. unif. [L];

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m B / z [adimensional]; Figura 3 a seguir:
n L / z [adimensional];

O termo arco tangente na Equação (14) deve ser


um ângulo não negativo em radianos. Quando
m 2  n 2 +1< m 2 ˜ n 2 , o termo se torna negativo, e
deve-se somar ʌ ao resultado do arco tangente.
O acréscimo de tensão vertical num ponto
diretamente abaixo da área do carregamento pode ser
determinado dividindo-se a área em quatro
retângulos auxiliares de carga q e somando os
acréscimos individuais calculados no canto de cada
um (o que é possível porque se admitiu que o solo é
homogêneo e elástico-linear). No caso de pontos em
outras regiões, o acréscimo de tensão também pode
ser determinado utilizando quatro retângulos
Figura 3. Sistemas de coord. local (x', y') e global (x, y).
auxiliares, mas deve se subtrair o acréscimo de alguns
dos retângulos auxiliares ao invés de soma-los.
A determinação do acréscimo de tensão vertical
mostrada na Figura 2 é um dos casos mais simples.
Pretende-se determinar o acréscimo para um sistema
de carregamentos, é necessário determina-lo para
cada retângulo individualmente e em todos os pontos
do solo. Ao final, os acréscimos individuais são
somados, de modo a encontrar o acréscimo de tensão
vertical total. Assim, é necessário detalhar como se
dá esta determinação, o que será feito a seguir.
Visando determinar o acréscimo de tensão
individual, é necessário identificar a região em que
cada ponto do solo se encontra em relação ao
retângulo de carregamento considerado. Para isso,
divide-se o solo em quatro regiões distintas conforme
mostra a Figura 4 a seguir:
Figura 2. Divisão da área carregada para um ponto
diretamente abaixo da mesma.

Note na Figura 2 que a área carregada encontra-se


posicionada no sistema de coordenadas com seu
canto inferior esquerdo na origem. Entretanto, a
formulação matemática do problema se torna mais
fácil de ser analisada se o sistema de coordenadas for
tomado no centro do retângulo de carregamento.
Além disso, é possível obter o acréscimo de
tensão vertical devido a um sistema de carregamentos
retangulares uniformes (i.e., vários retângulos de
carregamento uniforme, podendo cada um possuir
intensidades e dimensões distintas) ao se considerar
dois sistemas de coordenadas: um sistema de Figura 4. Divisão da área em regiões.
coordenadas local para cada um dos retângulos de
carregamento uniforme, estando a origem deste
sistema no centro do retângulo considerado, e um A região da Figura 4 em que o ponto se encontra
sistema de coordenadas global, onde cada retângulo pode ser determinada a partir de suas coordenadas,
pode ser localizado pelas coordenadas xj e yj do seu conforme a Tabela 1.
respectivo centro. Esta situação está representada na

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Tabela 1. Localização do ponto de determinação do
acréscimo. Tabela 2. Parâmetros m e n para a região 1.

Região Limite x Limite y Retângulo mi ni


x  xj d L auxiliar
1 2 y  yj d B
2 (y  yj )  B (x  x j )  L
I 2 2
2 x  xj d L y  yj ! B
2 2 z z
3 x  xj ! L y  yj d B (y  yj )  B (x  x j )  L
II 2 2
2 2
z z
4 x  xj ! L y  yj ! B (y  yj )  B (x  x j )  L
2 2 III 2 2
z z
O retângulo de carregamento é então dividido em (y  yj )  B (x  x j )  L
quatro retângulos auxiliares, semelhante ao mostrado IV 2 2
na Figura 5 e na Figura 6. z z
Em seguida, devem ser determinados os
parâmetros m e n da Equação (14) para os retângulos
auxiliares, sendo que estes parâmetros dependem da Tabela 3. Parâmetros m e n para a região 2.
região em que o ponto se encontra, conforme
Retângulo mi ni
mostram a Tabela 2 à Tabela 5 a seguir: auxiliar
y  yj  B (x  x j )  L
I 2 2
z z
y  yj  B (x  x j )  L
II 2 2
z z
y  yj  B (x  x j )  L
III 2 2
I II z z
y  yj  B (x  x j )  L
IV 2 2
z z
III IV
Tabela 4. Parâmetros m e n para a região 3.

Retângulo mi ni
auxiliar
Figura 5. Retângulos auxiliares para a região 1. (y  yj )  B x  xj  L
I 2 2
z z
(y  yj )  B x  xj  L
II 2 2
II z z
(y  yj )  B x  xj  L
I III 2 2
z z
(y  yj )  B x  xj  L
IV 2 2
z z
III

IV

Figura 6. Retângulos auxiliares para as regiões 2, 3 e 4.

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Tabela 5. Parâmetros m e n para a região 4.
'e
Retângulo mi ni 'H H dr (18)
auxiliar 1  e0
y  yj  B x  xj  L
I 2 2
z z onde,
y  yj  B x  xj  L Hdr = altura drenada da camada de solo [L];
II 2 2
z ǻH = variação da altura da camada de solo [L];
z
ǻe = variação do índ. de vazios [adimensional];
y  yj  B x  xj  L
III 2 2 e0 = índice de vazios inicial [adimensional].
z z
y  yj  B x  xj  L O adensamento pode ser induzido por
IV 2 2
z z
acréscimos de tensão, e assim, a variação do
índice de vazios estará ligada a estes acréscimos.
Particularmente, o adensamento primário de
Com os parâmetros m e n dos retângulos solos argilosos pode ser descrito em termos de
auxiliares determinados, aplica-se a Equação (14) a acréscimos de tensão, relacionando estes à
cada um dos auxiliares, de modo que o acréscimo de variação do índice de vazios e ao estado de
tensão devido ao retângulo de carregamento inicial adensamento do solo (pré-adensado,
será dado por: normalmente adensado ou sub-adensado).
Para argilas normalmente adensadas ou sub-
4
'V z , j ¦ 'V
i 1
z , ji , na região 1; (15) adensadas, a variação do índice de vazios pode
ser dada por:
2 4
'V z , j ¦ 'V z , ji ¦ 'V z , ji , outras regiões. (16)
i 1 i 3 § V '  'V ' ·
'e Cc log ¨ 0 ' ¸ (19)
© V0 ¹
onde,
i = número do retângulo auxiliar (I a IV); No caso de argilas pré-adensadas com tensão
j = número do retângulo de carregamento. efetiva final menor que a tensão de pré-adensamento,
tem-se:
O acréscimo de tensão vertical total ǻız, devido
ao sistema de retângulos de carregamento, será dado
por: § V '  'V ' ·
'e Ce log ¨ 0 ' ¸ (20)
© V0 ¹
k
'V z ¦ 'V
j 1
z, j (17)
Já no caso de argilas pré-adensadas com tensão
efetiva final maior que a tensão de pré-adensamento,
onde, tem-se:
j = número do retângulo de carregamento;
k = quant. de retângulos de carregamento. §V' · § V '  'V ' ·
'e Ce log ¨ oc' ¸  Cc log ¨ oc ' ¸ (21)
© V0 ¹ © V oc ¹
5 ADENSAMENTO DE TERZAGHI onde,
O adensamento do solo está intimamente ligado à ǻe = variação do índ. de vazios [adimensional];
variação do volume dos vazios do solo. Em sua forma Ce = coeficiente do ramo de expansão da curva
mais simples, o adensamento pode ser tratado como de adensamento [adimensional];
sendo unidimensional, de forma que a variação da Cc = coeficiente do ramo de compressão da curva
altura da camada de solo pode ser considerada como de adensamento [adimensional];
sendo proporcional à variação do seu índice de ı¶0 = tensão efetiva inicial do solo [F.L-2];
vazios, como a seguir: ı¶oc = tensão de pré-adensamento do solo [F.L-2];

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ǻı¶ = acréscimo de tensão médio da camada de 6 EXEMPLO DE APLICAÇÃO
solo [F.L-2].
A seguir, um exemplo mostrando a aplicação do
Se a distribuição de tensão no solo for parabólica, código desenvolvido no Wolfram Mathematica
o acréscimo de tensão médio na camada de solo pode versão 10.2, utilizando o algoritmo feito para a
ser determinado por: solução de Newmark e o modelo de adensamento
de Terzaghi.
'V topo
'
 4'V meio
'
 'V base
' Considere uma camada de solo argiloso
'V ' (22) saturado disposto sobre uma base rochosa
6
impermeável, conforme a Figura 7.

O acréscimo de tensão médio pode ser


determinado utilizando as soluções de Boussinesq ou
de Newmark discutidas anteriormente, dependendo Cc = 0,280
Ce = 0,028
do tipo de carregamento (pontual ou uniformemente Argila saturada
distribuído). H = 8m ı¶oc = 20 kPa
Particularmente, é possível determinar um ı¶0 = 30 kPa
acréscimo médio para cada par x,y do sistema de
coordenadas, assim definindo uma espécie de bacia e0 = 0,8
de adensamento, ou seja, divide-se o solo em várias
colunas (uma para cada par de coordenadas), e
determina-se o acréscimo de tensão médio para cada Base rochosa
uma delas. Assim, é possível determinar a variação
da altura de cada uma dessas colunas utilizando as Figura 7. Perfil de solo do exemplo.
Equações (19) a (22).
Surge ainda uma possibilidade interessante: é
possível determinar, para cada par x,y do sistema de
coordenadas, o adensamento primário instantâneo, Aplica-se dois retângulos de carregamento
utilizando o modelo de Terzaghi para o adensamento uniforme (denominados 1 e 2). O primeiro com
unidimensional aliado às soluções de Boussinesq e intensidade q1 = 30 kN.m-2 e o segundo com q2 =
Newmark já discutidas. Para isso, estima-se o 60 kN.m-2. O retângulo 1 tem dimensões
percentual do adensamento primário num B = L = 3 m, e centro x1 = -1,5 m, y1 = -1,5 m. O
determinado tempo utilizando a fórmula de Brinch- retângulo 2 tem dimensões B = L = 4 m, e centro
Hansen mostrada a seguir: x2 = 2,0 m, y2 = 2,0 m.

cv ˜ t Calcula-se a distribuição de acréscimos de


Tv (t ) (23) tensão vertical utilizando a solução de Newmark.
H dr2
Os acréscimos determinados no topo, no meio e
Tv3 (t ) na base da camada de argila são mostrados na
U (t ) 6 (24) Figura 8.
Tv3 (t )  0.5

'e
'H (t ) H dr U (t ) (25)
1  e0

onde,
Tv(t) = fator tempo [adimensional];
cv = coeficiente de adensamento do solo [L2.T-1];
U(t) = percentual do adensamento primário
concluído no tempo t [adimensional];
ǻH(t) = variação total da altura da camada de
solo no tempo t [L].

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Figura 9. Acréscimo médio de tensão efetiva vertical.
Coordenadas x e y em metros, escala vertical em kPa.

Com a distribuição do acréscimo médio,


determina-se o estado final da bacia de
adensamento (Figura 10).

Figura 8. Distribuição de acréscimos de tensão no topo,


meio e base. Coordenadas x e y em metros, escala vertical
em kPa.

Então, tem-se o acréscimo médio de tensão


vertical, conforme mostrado na Figura 9. Figura 10. Estado final da bacia de adensamento.
Coordenadas x, y e z em metros.

Utilizando a fórmula de Brinch-Hansen, é


possível determinar o estado da bacia de
adensamento para qualquer período de tempo
após a aplicação das cargas. Admitindo
cv = 3,6.10-9 m2.s-1, o tempo necessário para
ocorrência de 50% do adensamento final
(U(t) = 50%) é de aproximadamente 110 anos. A
bacia de adensamento para t = 110 anos é
mostrada na Figura 11.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



REFERÊNCIAS

Caputo, H. P. (1973) Mecânica dos Solos e Suas


Aplicações, vol. 2, 3ª ed., Ed. Livros Técnicos e
Científicos.
Das, M. B. (2014). Advanced Soil Mechanics, 4th ed.,
CRC Press, Florida, FL, USA.
Das, M. B. (2006). Fundamentos da Engenharia
Geotécnica. 6ª ed., Ed. Thomsom.
Ortigão, J. A. R. (2007). Introdução à Mecânica dos Solos
dos Estados Críticos. 3ª ed., Ed. Terratek

Figura 11. Bacia de adensamento para t = 110 anos (50%


do adensamento final).

7 CONCLUSÃO

A partir do estudo realizado, foi possível


desenvolver um código no software Wolfram
Mathematica versão 10.2 capaz de calcular os
acréscimos de tensão numa massa de solo semi-
infinita e de determinar os recalques por
adensamento, gerando uma visualização
tridimensional dos recalques ao longo do tempo.
Os acréscimos de tensão foram calculados
usando as formulações de Boussinesq para
cargas pontuais e de Newmark para
carregamentos triangulares, e os recalques foram
determinados a partir do modelo de adensamento
unidimensional proposto por Terzaghi. Os
resultados fornecidos pelo código são coerentes,
desde que respeitadas as hipóteses
simplificadoras das formulações e do modelo
adotados.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o suporte dado pelo


Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes) e pela Universidade de
Brasília, para financiar esta pesquisa.

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Implementação em Planilha Eletrônica de Métodos de Equilíbrio
Limite para Análise de Estabilidade de Taludes
Higor Biondo de Assis
Faculdade de Engenharia, UNESP, Bauru/SP, Brasil, higorbassis@gmail.com

Admir José Giacon Junior


Faculdade de Engenharia, UNESP, Bauru/SP, Brasil, juniorgiacon@gmail.com

Caio Gorla Nogueira


Faculdade de Engenharia, UNESP, Bauru/SP, Brasil, cgnogueira@feb.unesp.br

RESUMO: As graves consequências em termos de perdas humanas e materiais fazem com que a
análise de estabilidade de taludes tenha um papel importante na área geotécnica. Deste modo, o
presente artigo propõe a implementação dos métodos de Fellenius e Bishop Simplificado em uma
planilha eletrônica, detalhando o equacionamento analítico adotado para discretização da geometria
do talude e superfície de ruptura. Com a finalidade de avaliar a implementação proposta, foram
realizadas comparações com exemplos presentes na literatura e um programa comercial, ambos com
um solo homogêneo sem a presença de nível d’água. As comparações realizadas mostraram a
influência do número de lamelas utilizado na análise no cálculo do FS.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de Taludes, Métodos de Equilíbrio Limite, Método de


Fellenius, Método de Bishop Simplificado.

1 INTRODUÇÃO limitações que os métodos apresentam e apontar


críticas construtivas acerca de seus resultados.
O estudo da estabilidade de taludes apresenta Nesse contexto, o presente artigo pretende
elevada importância na engenharia devido ao demonstrar de forma sistemática a
alto índice de pessoas e até mesmo cidades implementação dos métodos de Fellenius e
inteiras instaladas em encostas, pois essas áreas Bishop Simplificado de análise de estabilidade
podem apresentar riscos de instabilidades em de taludes em uma planilha eletrônica de
maciços de solos e rochas provocando acidentes cálculo para fácil utilização tanto por
graves e com consequências sociais severas. engenheiros, quanto por estudantes no
Deste modo, a relevância da questão da aprendizado desses métodos.
segurança de estruturas geomecânicas, como os
taludes, ante as ações que alteram as variáveis
relacionadas à estabilidade do maciço de solo 2 MECÂNICA DOS SOLOS APLICADA
ou rocha ocasionou, no decorrer dos últimos À ESTABILIDADE DE TALUDES
anos, um grande número de estudos
relacionados à determinação de um fator de De acordo com Pinto (2006), o critério de
segurança com alto nível de credibilidade. ruptura que melhor define esse comportamento
Com o surgimento de computadores, as do solo é o convergente de Mohr – Coulomb, o
análises de estabilidade de taludes ficaram qual determina que o colapso ocorre quando as
progressivamente mais rápidas, eficientes e tensões atuantes no plano atingem as
econômicas, possibilitando ainda identificar envoltórias dos Círculos de Mohr. Esse critério

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de resistência é estabelecido por Coulomb pela
Equação (1), que correlaciona em sua
formulação, a resistência ao cisalhamento do
solo (W) com a tensão normal (V) e os
parâmetros de coesão (c’) e ângulo de atrito (‫)’׋‬
do solo.

IJ c'  ı u tang I ' (1)

3 MÉTODOS DE EQUILÍBRIO LIMITE Figura 1- Método de Fellenius: geometria do talude e


discretização em lamelas.

Os Métodos de Equilíbrio Limite (MEL) têm O método de Fellenius considera o equilíbrio


como premissa principal a definição de uma de forças na direção perpendicular à SR
superfície crítica de ruptura do talude e, a partir circular, conforme ilustrado na Figura 2.
disso, a verificação do equilíbrio da massa de
solo acima dessa superfície, através da
comparação entre os esforços resistentes
definidos no contorno dessa superfície e os
esforços atuantes na tentativa de desestabilizar a
massa de solo no talude (FERNANDES, 2016).
A verificação matemática da segurança se faz
pelo cálculo de um fator de segurança (FS)
obtido pela razão entre esforços resistentes e
esforços atuantes (SILVA, 2013).
Dentre os inúmeros métodos de equilíbrio Figura 2 - Método de Fellenius: equilíbrio de uma lamela.
limite, neste artigo foram escolhido os métodos
de Fellenius e Bishop Simplificado, os quais Onde: bo é a distância linearizada entre os
foram implementados em uma planilha pontos do segmento BE que definem as
eletrônica para s sistematização do cálculo do extremidades da base da fatia. Note que aqui se
FS, considerando uma discretização qualquer define uma aproximação, pois a base da lamela
das superfícies de ruptura dos taludes. é circular em função do formato da SR definida
A verificação do menor FS é realizada pelo método, mas é linearizada para efeito do
através de tentativas de posicionamento da cálculo. Portanto, é possível perceber que esse
superfície de ruptura (SR), a partir da variação erro é minimizado através da discretização do
de uma malha de posições do centro e do raio perfil da SR em cada vez mais lamelas.
de uma superfície circular, que é definida como Após a discretização em n lamelas,
padrão pelos métodos escolhidos. Assim, a determina-se o peso (W) de cada lamela, o qual
segurança é verificada através do menor fator é decomposto em sua base em uma força
de segurança obtido em todas essas análises. tangencial (T) e normal (N), como descrito na
Equação (2). Na análise de estabilidade de
3.1 Método de Fellenius taludes pelo método de Fellenius são
desprezadas as forças laterais entre as lamelas.
O método de Fellenius considera que a SR O peso do solo na lamela (W) correspondente à
tem forma cilíndrica ou esférica e consiste na área da lamela multiplicada pelo peso
divisão da seção transversal de ruptura em fatias específico solo que a constitui (Ȗ). Para o
verticais de igual largura (b) denominadas cálculo em maciços de solos onde o nível
lamelas. Na sequência, analisa-se o equilíbrio d’água estiver presente, a pressão neutra (u)
das forças que atuam em cada lamela, conforme atuante na base de cada lamela deverá ser
pode ser visto na Figura 1. considerada para cálculo do FS. Portanto, a
expressão do FR é dada por:

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4 IMPLEMENTAÇÃO DOS MÉTODOS
n EM UMA PLANILHA ELETRÔNICA
¦ (W u cos Į i i  u i u b oi ) u tg I '
FS i 1
n
 ... Adaptando os métodos referenciados acima é
¦ Wi u sen Į i possível elaborar um programa capaz de
i 1 calcular a geometria do talude, a superfície de
n
ruptura a ser analisada e, consequentemente, o
¦ c'ub oi
respectivo FS.
...  n
i 1
(2) Com o intuito de demonstrar a programação
¦ W u sen Į
i 1
i i de forma concisa, será adotado um talude de
solo homogêneo sem a presença de nível d’
água (N.A.), apresentando uma SR com formato
3.2 Método de Bishop Simplificado
circular.
O método de Bishop Simplificado 4.1 Descrição da Implementação
assemelha-se ao método de Fellenius, pois
considera a SR circular. Porém, o método de Inicialmente, adotou-se um sistema de eixos
Bishop Simplificado mostra-se um método para caracterização geométrica do talude,
iterativo, visto que a incógnita do FS aparece através de um plano cartesiano, posicionado de
nos dois lados da equação, conforme observado modo que sua origem seja sempre coincidente
na Equação (3). com o ponto que determina o pé do talude
(intersecção da Reta 1 com a Reta 2), conforme
n
§ (Wi  u i u b i ) u tg I ' ·
¦ ¨¨ ¸¸ ilustrado na Figura 3.
FS
i 1© mD ¹  ...
n

¦ W u sen Į
i 1
i i

n
§ c'ub i ·
¦ ¨¨ 1 © mD ¹
¸¸
... 
i
n
(3)
¦ W u sen Į
i 1
i i

O parâmetro ݉ఈ é fixado pela Equação (4).

§ tg D i u tg I ' · Figura 3 – Método de Equilíbrio Limite: parâmetros


mD ¨1  ¸ u cos D i (4) geométricos.
© FS ¹

Adota-se um valor inicial para o valor de FS x Da superfície de ruptura a ser analisada:


na Equação (4) afim da determinação de ݉ఈ , - R: raio da circunferência que descreve
empregado no cálculo do FS conforme Equação a SR [m];
(3). A cada iteração, um valor de FS é - xc: abscissa do centro da circunferência
calculado, e este deve ser comparado com o (ponto C) que define a SR [m];
valor de FS informado inicialmente. Esse - yc: ordenada do centro da
processo deve ser realizado até que ambos os circunferência (ponto C) que define a
valores de FS apresentem erro relativo inferior SR [m].
ao erro máximo admissível informado pelo x Da geometria do talude:
usuário (MASSAD, 2010). - h: altura do desnível do talude [m];
- L: comprimento da projeção horizontal
do talude [m];
- n: número inteiro positivo de lamelas

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em que o talude será discretizado para ...  senT u yc (11)
cálculo do FS. A verificação de intersecção na Reta 3 se dá
x Dos parâmetros do solo: pela Equação (12), com xR3 > L.
- c’: coesão efetiva [kN/m²];
- ‫’׋‬: ângulo de atrito efetivo [graus];
- Ȗ: peso específico do solo [kN/m³]. x R3 R 2  h 2  2 u h u yc  yc  xc (12)

A inclinação do talude (‫ )ת‬em relação à Para determinação de x0 e xn verifica-se se x0


horizontal é dada conforme a Equação (5). e xn são definidos por xR1 , xR2 ou xR3, sendo
x0<xn. Para isso, os intervalos de validade
§h· estabelecidos para xRi devem ser respeitados.
T tg 1 ¨ ¸ (5) Caso os pontos de intersecção da SR com a
©L¹
ST atinjam somente a Reta 1 ou a Reta 3, ou
não ocorra a intersecção em nenhumas dessas
As Equações (6), (7) e (8) definem,
retas, os parâmetros de entrada de SR e
respectivamente, as equações das Retas 1, 2 e 3
geometria do talude devem ser revistos.
que definem o talude.
Definidos os pontos de intersecção, é
necessário dividir a seção de ruptura do talude
y1 0 (6) em lamelas iguais, como prescreve os métodos
de análise utilizados, onde a largura da lamela
y2 x u tgș (7) (b) é dada pela Equação (13).

y3 h (8) xn  x0
b (13)
n
Na sequência é necessária a verificação da
intersecção da SR com a respectiva reta que Em seguida, encontram-se as coordenadas
compõe a superfície do talude (ST), para que as dos vértices de cada lamela, conforme
abscissas dos pontos inicial (x0) e final (xn) descrevem as Equações (14), (15) e (16), a
sejam determinadas. A Equação (9) verifica a partir das abscissas inicial e final de cada
intersecção da ST com a Reta 1, com xR1 < 0. lamela. Sendo xi = xo para a primeira lamela e
para as demais, xi será o valor da Equação (14)
x R1
 R 2  y c2  xc (9)
correspondente à lamela i  1 .

x i 1 xi  bi (14)
Podem existir situações em que a SR
analisada somente fará intersecção com a Reta
2. Nestes casos é preciso verificar estes pontos y SRi  R 2
 x i2  2 u x c u x i  x c2  x c (15)
de intersecção para a definição adequada da
posição final da SR. Isso é realizado pelas
y SRi 1  ( R 2  x i21  2 u x c u x i 1  x c2  ...
Equações (10) e (11), para 0 ” xR2,i ” L.
...  x c ) (16)
x R2;1  cosT u ( R  cosT u ( x  y )  2 u ...
2 2 2
c
2
c
1 A determinação das ordenadas de xi e xi+1 na
... u senT u cosT u xc u yc )  cosT u xc  ...
2 SR se dá a partir das equações de reta que
...  senT u yc (10) definem a superfície do talude nos intervalos
xi<0, 0 ” xi ” L ou xi > L. Para y STi e y STi1 , se xi
x R2;2 cosT u ( R 2  cosT 2 u ( xc2  yc2 )  2 u ... e/ou xi+1 forem maiores ou iguais a L, então
1
y STi e/ou y STi1 são iguais a y 3 ; se xi e ou xi+1
... u senT u cosT u xc u yc )  cosT u xc  ...
2
forem menores que L e maiores que zero, então,
y STi e/ou y STi1 são iguais a y 2 ; se xi e/ou xi+1

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forem menores que zero, então y STi e/ou y ST i  1 análises foram comparados com resultados
referenciados na literatura e resultados
são iguais a y1 .
fornecidos por programas comerciais de
É preciso que a ordenada do centro da SR estabilidade de taludes.
sempre seja maior que h para que a formulação
utilizada seja válida. Essa é uma das limitações 5.1 Exemplo 1
que a planilha ainda possui.
Após a definição das coordenadas do O exemplo 1 compara o FS pelo método de
polígono da lamela, encontra-se a altura média Fellenius referente ao talude analisado por DAS
da lamela ( h mi ) conforme Equação (17). (2014), Exemplo 15.8, o qual apresenta as
características descritas na Tabela 1.

h mi
y STi
 y SRi  y STi1  y SRi 1 (17) Tabela 1 – Características do Talude do Exemplo 1
2 Parâmetros Geotécnicos
c' (kN/m²) 20,00
A partir de h mi é possível calcular o peso da ࢥ' (°) 20,00
lamela i através da Equação (18). Ȗ (kN/m³) 16,00
Parâmetros Geométricos
h (m) 14,00
Wi h mi ub u J (18)
L (m) 24,25

O ângulo formado entre a base da lamela e a As coordenadas xc e yc analisadas são,


horizontal ( D ) pode ser obtido conforme a respectivamente, (6,22; 18,98) (m) e R = 19,97
Equação (19). m. Na análise realizada pela planilha eletrônica
desenvolvida, variou-se o número de lamelas a
§ y SR  y SRi · fim de avaliar a influência da discretização no
Di tan 1 ¨ i1 ¸ (19) cálculo do FS e também a razão entre a área da
¨ y ST  y ST ¸
© i1 i ¹ seção de ruptura calculada numericamente e
área da mesma seção calculada analiticamente
Pelo método de Fellenius é necessário (Ac/Ar). Os resultados obtidos estão
encontrar o comprimento da base de cada uma apresentados na Figura 4 e Tabela 2.
das lamelas (boi), conforme a Equação (20),
diferente do Método de Bishop Simplificado,
que mede apenas a largura da lamela na direção 1,72
1,70
1,00

horizontal. 1,68
0,99
Fator de Segurança (FS)

1,66
1,64
b
boi (20)
Ac/Ar

1,62 0,98
cos D i 1,60
1,58
0,97
1,56
A partir dos valores de ܹ௜ , ߙ௜ e b, e para o 1,54
método de Fellenius ܾ௢೔ , calculam-se os 1,52 0,96
0 15 30 45 60 75 90 105 120 135 150
esforços resistentes e solicitantes para cada nº de lamelas (n)

lamela conforme informado nas Equações (3) e Fellenius Bishop Simplif. Das (2014) Ac/Ar

(4) para o método de Bishop Simplificado e na Figura 4 – Resultados do talude do Exemplo 1.


Equação (2) para o método de Fellenius.
Tabela 2 – Resultado Comparativo do Exemplo 1
FS
FS FS Das Erro
5 COMPARATIVO DE RESULTADOS n Bishop Ac/Ar
Fellenius (2015) Fellenius
Simplif.
7 1,5883 1,7017 1,55 2,47% 0,9633
Para efeitos de análise, dois exemplos de
14 1,5453 1,6540 - 0,30% 0,9904
taludes foram adotados. Os resultados das
28 1,5339 1,6413 - 1,04% 0,9975

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50 1,5310 1,6380 - 1,23% 0,9992 50 1,996 2,075 - 1,78% 0,9995
150 1,5297 1,6366 - 1,31% 0,9999 150 1,995 2,075 - 1,81% 0,9999
5.2 Exemplo 2 6 CONCLUSÃO

O exemplo 2 considera como base de Com base nas análises comparativas


comparação um talude demonstrado no manual demonstradas nos exemplos 1 e 2 foi possível
do programa comercial SLIDETM (RocScience concluir que a formulação matemática
Inc.), com as características apresentadas pela empregada na elaboração da planilha é válida e
Tabela 3. O método utilizado foi o de Bishop fornece resultados condizentes com as fontes de
Simplificado. O FS também foi calculado referência. Além disso, concluiu-se que o FS
segundo Fellenius. pode variar sensivelmente devido ao número de
lamelas em que o problema é discretizado, o
Tabela 3 - Características do Talude do Exemplo 2 que permite concluir que 50 lamelas é um
Parâmetros Geotécnicos número considerado ótimo para realização das
c' (kN/m²) 20 análises, contrapondo-se aos valores mais
ࢥ' (°) 20 usuais de 10 a 12 lamelas, para ambos os
Ȗ (kN/m³) 20
métodos de equilíbrio limite implementados. A
Parâmetros Geométricos
partir desse número, pouco varia o FS e também
h (m) 7,5
L (m) 15
a razão Ac/Ar.

As coordenadas xc e yc utilizadas foram,


AGRADECIMENTOS
respectivamente, (3,69; 15,56) (m) e R = 15,99
m.
Ao PIBIC/Reitoria UNESP pela bolsa
Na análise realizada pela planilha eletrônica
concedida para realização da Iniciação
elaborada, variou-se o número de lamelas a fim
Científica. À Coordenação de Aperfeiçoamento
de avaliar a influência da discretização no
de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pelo
cálculo do FS e a razão Ac/Ar. Os resultados
apoio ao desenvolvimento de suas pesquisas.
obtidos foram apresentados pela Figura 5 e
Tabela 4.
REFERÊNCIAS
2,12 1,00
DAS, B. M. Das. Fundamentos da Engenharia
2,10
Geotécnica. São Paulo: Cengage Learning, 2014.
Fator de Segurança (FS)

1,00
2,08 FERNANDES, M. A. Estudo dos mecanismos de
2,06
instabilização em um talude de solo arenoso não
saturado localizado na região centro-oeste paulista.
Ac/Ar

0,99
2,04 Universidade de São Paulo. São Carlos, p. 283. 2016.
2,02
FERREIRA, J. L. F. Análise de estabilidade de taludes
0,99
pelos métodos de Janbu e Spencer. Universidade do
2,00 Porto. Porto, p. 122. 2013.
1,98 0,98 MASSAD, F. Obras de terra: curso básico de geotecnia.
0 15 30 45 60 75 90 105 120 135 150 2ª. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2010. 63-74 p.
Nº de lamelas (n)
PINTO, C. D. S. Curso básico de mecânica dos solos. 3°.
Fellenius Bishop Simplif. Slide - Sample Problems Ac/Ar ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006. 14-15 p.
SILVA, A. F. P. Desenvolvimento de um programa de
Figura 5 – Talude do Exemplo 2 cálculo automático de estabilidade de taludes pelo
método de Correia. Universidade do Porto. Porto, p.
Tabela 4 – Resultado Comparativo do Exemplo 2 153. 2013.
FS FS Slide Erro - ROCSCIENCE INC. Slide 2D limit equilibrium slope
FS
n Bishop Sample Bishop Ac/Ar stability for soil and rocks slopes - User's Guide.
Fellenius
Simplif. Problems Simplif. Disponível em:
7 2,018 2,102 2,113 0,54% 0,9800 <https://www.rocscience.com/downloads/slide/Slide_Tut
14 2,001 2,082 - 1,49% 0,9950 orialManual.pdf> . Acesso em 20/07/2017.
28 1,996 2,076 - 1,74% 0,9987

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Novas Abordagens na Avaliação da Segurança de Taludes de
Terra
Lara Batista Ferreira Pereira
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Aparecida de Goiânia, Brasil,
larabatistaeng@gmail.com

Arthur Duarte Dias


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Aparecida de Goiânia, Brasil,
artuleta@hotmail.com

Lais Magalhães Wind


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Aparecida de Goiânia, Brasil,
laiswind@gmail.com

Arlam Carneiro Silva Júnior


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás, Aparecida de Goiânia, Brasil,
arlamjr@gmail.com

RESUMO: O crescimento populacional em áreas urbanas contribui para o surgimento de moradias


em encostas e áreas de risco. Visando o bem estar público, buscam-se medidas de avaliar o risco e
tomar precauções de segurança. A pesquisa tem como principal objetivo discutir possíveis
metodologias de gerenciamento de risco em taludes a partir de análises de casos de deslizamentos
de terra ou de áreas susceptíveis, avaliar dados pluviométricos e verificar da geometria atual destes
taludes por meio de imagens de satélites. Os resultados englobam a identificação de fatores
importantes para a estabilidade de taludes e análise e comparação da condição atual.

PALAVRAS-CHAVE: Deslizamento de Talude, Gerenciamento de Risco, Métodos


Determinísticos, Fator de Segurança.

1 INTRODUÇÃO emergenciais para socorrer as vítimas e tomar


medidas reparatórias do local. Sendo assim,
A Engenharia Civil se preocupa com a desastres naturais envolvendo movimentos de
análise físico-matemática relacionada à terra podem impactar diretamente a economia
estabilidade de taludes com o objetivo principal do estado. De maneira geral, as autoridades
de prevenir desastres ou mitigar os seus danos. necessitam do suporte de engenheiros
Deslizamentos de terra podem causar diversos geotécnicos capacitados para analisar a
prejuízos financeiros, dificuldades sociais e estabilidade de áreas de risco, com o intuito de
principalmente, gerar uma situação de risco assegurar condições de bem estar público. Por
para a vida das pessoas que frequentam áreas de isso, é de grande relevância estudar o sobre
risco. O inadequado posicionamento das movimentos de terra e métodos de análise de
autoridades perante esse tipo de condição de estabilidade de taludes.
risco pode indicar de problemas de governo e O Brasil ainda possui certa dificuldade
de gestão de recursos. Em casos extremos de devido à falta de registro histórico
catástrofes as o governo precisa dispor de ações pluviométrico e de escorregamento, afirmam

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Guidicini & Nieble (1984). Deslizamentos de estabilidade e para definição do relevo por meio
solo costumam ser registrados quando possui de imagens de satélite, é muito interessante para
vítima ou prejuízo direto para as pessoas. No compreender o processo de deslizamentos de
entanto, são diversos os casos de eventos de terra, por se tratar de assuntos intimamente
instabilidade de taludes que não são registrados, relacionados.
mas que poderia trazer informações importantes
para estudiosos do assunto. Segundo Futai 2 METODOLOGIA
(2011), os escorregamentos em solos não
saturados são muito comuns no Brasil. O clima A metodologia dessa pesquisa investiga uma
tropical, típico de uma grande área do Brasil, abordagem de gerenciamento de risco, que se
contribui para a formação de solos espessos, inicia a partir de estudos de casos históricos
além de apresentar elevados índices relacionados a deslizamentos de terra e de áreas
pluviométricos. O tipo de deslizamento mais de risco cuja estabilidade foi estudada. São
comum no Brasil ocorre devido à alta utilizados os programas Google Earth,
quantidade de água infiltrada no solo, GeoStudio e Microsoft Excel como ferramentas
geralmente no período de estação chuvosa de para o desenvolvimento da metodologia. Por
cada região. meio da caracterização do solo e obtenção dos
A instabilidade de taludes, responsável por dados de índice pluviométrico, baseados em
grande parte dos deslizamentos de terra, está trabalhos anteriores e imagem da geometria
relacionada principalmente com: condicionantes atual adquirida por satélite é feita a analise a
naturais e condicionantes antrópicos. São estabilidade atual dos taludes escolhidos.
condicionantes naturais a incidência de chuva, Vale ressaltar que os dados a respeito da
características geomorfológicas – relevo, caracterização do solo, como parâmetros de
topografia, declividade – e características resistência, índices físicos do solo, camadas de
geotécnicas. Dentre condicionantes antrópicos, solo, nível d’água, perfil do solo estudo, etc. são
a ocupação e uso do solo são os mais obtidos pelo estudo de caso escolhido. Esses
relevantes. Ou seja, existem diversos fatores elementos possibilitam a análise de estabilidade
que tem relação direta com a estabilidade de pelo método de Bishop Simplificado e pelo
talude, como a característica e classificação do Software GeoStudio. Naqueles casos com a
solo, a carga solicitada, o peso próprio do ocorrência de deslizamentos por incidência de
talude, o grau de saturação do solo, a posição do chuvas intensas, é interessante verificar o índice
lençol freático e a geometria do talude. pluviométrico que resultou no incidente, para
Atualmente, existe o acesso a programas de que possa ser comparado de maneira geral com
imagem de satélite e versões estudantis outros casos.
gratuitas de programas de análise de Além das informações citadas anteriormente,
estabilidade de obras de terra. O avanço da é necessário que o estudo apresente a geometria
tecnologia e surgimento de ferramentas do talude traçada pelos autores, para que possa
computacionais contribui efetivamente para o essa geometria ser comparada com a geometria
gerenciamento de risco e estudos sobre atual obtida pelo programa Google Earth. Sendo
estabilidade de taludes. Essa realidade inspirou assim, deve haver a possibilidade da região
a metodologia da pesquisa, pois são utilizados estuda ser encontrada no Google Earth. Estudos
programas como GeoStudio, Google Earth e de casos de taludes rodoviários não foram
Microssoft Excel, que são extremamente uteis viáveis para a pesquisa, pois apresentam uma
para o desenvolvimento de análise de maior dificuldade de serem localizados.
estabilidade de taludes. Com essas informações constatadas, é feita a
O estudo de temas como movimentos de busca pela localização da região no Google
terra, relação entre pluviosidade e Earth. A partir disso, é traçado o corte do local
deslizamentos, fatores que influenciam o – o mais próximo possível da seção identificada
movimento, gerenciamento de risco, análise de na referência bibliográfica. O software fornece
estabilidade de taludes e uma breve orientação o nível do terreno por meio de uma imagem
sobre os programas utilizados para análise de com o traçado do relevo. Com a utilização de

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um programa de análise gráfica, é possível geográficas fornecidas pelo Google Earth, tipo
obter um conjunto de coordenadas dos pontos de solo, vegetação e ocupação do local.
que formam esse relevo. Esse conjunto de A Tabela 1 apresenta as informações
pontos são lançados no GeoStudio a fim de referentes a localização dos casos. A
criar a geometria atual, mais próxima da identificação da coordenada do talude é
geometria fornecida por satélite. Dessa maneira, interessante porque facilita o acesso à
realiza-se a análise de estabilidade do perfil de localização para estudantes que desejarem
solo pelo método de Bishop através do visualizar a situação da região através do
GeoStudio. Nesta análise, o software retorna o Google Earth.
fator de segurança e a superfície de ruptura
crítica. Tabela 1. Resumo - Localização dos casos
A análise de estabilidade também é feita por Caso Local Coordenadas
meio do método de Bishop simplificado, Caso I Rua Rio Claro, 522-828. -22.271521,
Parque residencial Solares. -42.598874
utilizando uma planilha eletrônica no Excel. Foi Nova Friburgo. RJ
feita uma simplificação da geometria do terreno Caso II Rua Rio Claro, 522-828. -22.271984,
para se aproximar de um talude regular, em Parque residencial Solares. -42.599004
função da necessidade do método de Bishop Nova Friburgo. RJ
Simplificado. A partir das informações de Caso III Antigo lixão do morro de +6.277125,
Marávia da cidade de -75.567884
centro e raio que determinaram a superfície de Medellin, Colômbia
ruptura obtida no GeoStudio, esses valores são Caso IV Morro São Jorge. -22.223494,
inseridos na planilha eletrônica e é obtido um Conselheiro Paulino. Nova -42.531878
novo fator de segurança. Desta maneira, é Friburgo - RJ
possível comparar os fatores de segurança Caso V Morro Floresta. Conselheiro -22.223494,
Paulino. Nova Friburgo - RJ -42.531878
obtidos pelos dois métodos, considerando a Caso VI Córrego do Monjolinho - São -22.008665,
região crítica fornecida pelo GeoStudio. Esses Carlos - SP -47.903622
valores representam a condição de estabilidade
atual. A Tabela 2 apresenta um resumo dos casos
Os resultados são definidos pela comparação com informações do tipo de solo, vegetação e
da geometria original do estudo, a geometria ocupação. Nota-se que nem todos os casos
atual simplificada e a geometria atual obtida possuem histórico de deslizamento, mas são
pelo Google Earth, juntamente com seus regiões de risco o que torna extremamente
respectivos fatores de segurança. Ao comparar válida uma análise de estabilidade.
esses elementos, tem-se a intenção de analisar o
que foi modificado na região e quais os fatores Tabela 2. Resumo – Solo, ocupação e vegetação.
que provavelmente influenciaram na diferença Caso Tipo de solo Vegeta- Ocupa-
de fator de segurança. A alteração nesses ção ção
valores é particular em cada caso. Caso I Solo residual Sim Não
derivado do
granito
Caso II Solo residual Sim Não
3 RESULTADOS derivado do
granito
Foram estudados casos históricos de ruptura Caso III Resíduo de Não Sim
solos urbanos
de taludes ocorridos no Brasil e casos de áreas Caso IV Solo Sim A
de risco sujeitas a movimento de terra. Os casos colúvionar, Jusante
estão relacionados a um processo de silte arenoso
deslizamento de terra ou a um local de risco, Caso V Solo residual, Sim Sim
onde foi feita uma análise de estabilidade. argila siltosa
Caso VI Solo residual Sim Não
Em busca de verificar a estabilidade atual de basalto
dos taludes, é importante destacar algumas
informações essenciais de cada caso, como a Nos próximos tópicos, serão apresentadas as
localização, data de deslizamento, coordenadas geometrias da referência bibliográfica e as

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geometrias atuais obtidas pelo Google Earth, de 3.3 Caso III - Estudo de caso Antigo Lixão do
cada caso. Morro de Morávia, Fernandes et al. (2013)

3.1 Caso I - Estudo de caso da Encosta em 1.482


1.478
Campo do Coelho, Machado et al. (2013), seção 1.474
Nível d’água
A 1.470

1.218 1.466

1.208 1.462

1.198 1.458

1.188 1.454

1.178
1.450
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
1.168

1.158
Figura 5. Geometria do estudo de Fernandes et al. (2013)
1.148

1.138 Geometria
1.128 1.480 Simplificada
1.118 Nível d’água
1.470
1.108

1.098
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220 1.460

Figura 1. Geometria do estudo de Machado et al. (2013)


1.450
1.225

1.215

1.205 Geometria 1.440


1.195
Simplificada
1.185 1.430
1.175 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
1.165
Figura 6. Geometria atual obtida pelo Google Earth e
1.155

1.145 geometria simplificada para o Caso III.


1.135

1.125

1.115

1.105

1.095 3.4 Caso IV – Estudo de caso da Encosta do


1.085

1.075 Morro São Jorge em Nova Friburgo, Guerra e


1.065
0 50 100 150 200 250 Ehrlich (2016).
Figura 2. Geometria atual obtida pelo Google Earth e
geometria simplificada para o Caso I. 1.100

1.050

3.2 Caso II - Estudo de caso da Encosta em 1.000

Campo do Coelho, Machado et al. (2013), seção


950

900

B 850

1.210
800
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1.000

1.200

1.190 Figura 7. Geometria do estudo de Guerra e Ehrlich


1.180 (2016).
1.170

1.160 1.150

1.150
1,485
Geometria
1.140
Simplificada
1.130 1.050

1.120

1.110

1.100 950

1.090
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220

Figura 3. Geometria do estudo de Machado et al. (2013) 850


0 100 200 300 400 500 600 700

1.210

1.200
Figura 8. Geometria atual obtida pelo Google Earth e
1.190
Geometria geometria simplificada para o Caso IV.
1.180

1.170
Simplificada
1.160

1.150

1.140

1.130
3.5 Caso V – Estudo de caso da Encosta do
1.120

1.110
Morro Floresta em Nova Friburgo, Guerra e
1.100
0 50 100 150 200 250
Ehrlich (2016).
Figura 4. Geometria atual obtida pelo Google Earth e
geometria simplificada para o Caso II.

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955 Geometria
945 Nível d’água Simplificada
830
935

925 820
Solo
915 810
Rocha
905
800
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
895

885
Figura 14. Geometria atual obtida pelo Google Earth e
geometria simplificada para o Caso VI (b).
875
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 130 140 150 160

Figura 9. Geometria do estudo de Guerra e Ehrlich


(2016). 3.8 Informações complementares de cada
caso.
954
Geometria
Simplificada Cada estudo de caso possui um tipo de solo
944
diferente. A Tabela 3 apresenta os parâmetros
934
de resistência e índices físicos do solo, como o
924
peso específico, ângulo de atrito e coesão.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Tabela 3. Parâmetros de resistência e índices físicos do


Figura 10. Geometria atual obtida pelo Google Earth e solo de cada caso:
geometria simplificada para o Caso V. Solo do J c' I'
Caso 3
(kN/m ) (kPa) (q)
Caso I 17,8 8,7 48,0
Caso II 17,8 8,7 48,0
3.6 Caso VI (a) - Estudo de caso Córrego do
Caso III 16,0 21,3 28,4
Monjolinho em São Carlos, Eiras et al. (2016) Caso IV 16,8 4,9 31,7
Caso V 16,9 0,0 31,0
810
Nível d’água Caso VIa 16,4 19,0 29,0
Solo Caso VIb 17,86 19,0 29,0
800
Rocha
790
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Diversos fatores estão relacionados ao
Figura 11. Geometria do estudo de Eiras et al. (2016) desencadeamento de colapso do solo. A água é
um dos elementos que mais influencia na
estabilidade do solo. A maioria dos
Nível d’água Geometria escorregamentos está associada a episódios de
Simplificada
830 elevada pluviosidade, de duração compreendida
820
Solo
entre algumas poucas horas até alguns dias,
conforme Guidicini & Nieble (1984).
810
Rocha Nota-se na Tabela 3 que cada caso possui
800
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 uma diferente caracterização do solo e dados de
Figura 12. Geometria atual obtida pelo Google Earth e chuva, e mesmo assim, alguns deles sofreram
geometria simplificada para o Caso VI (a).
deslizamento ou se caracterizavam como área
de risco. Isso mostra que diferentes tipos de
solo, associados a um índice pluviométrico
3.7 Caso VI (b) - Estudo de caso Córrego do
elevado, geometria desfavorável e outros
Monjolinho em São Carlos, Eiras et al. (2016)
fatores que influenciam na estabilidade do
talude, podem estar sujeito a deslizamento. Os
810 valores críticos de chuva irão variar com o tipo
Nível d’água Solo de solo, relevo e ocupação da região. A Tabela
800
Rocha 4 mostra informações complementares de dados
790
pluviométricos de cada caso.
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Figura 13. Geometria do estudo de Eiras et al. (2016)

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Tabela 4. Informações complementares: ferramentas de análise de estabilidade de
Caso Dados pluviométricos taludes, o GeoStudio e o Google Earth se
Caso I 166 mm em 2 dias mostraram muito interessante para a realização
Caso II 166 mm em 2 dias
Caso III Sem dados da metodologia. É notável que os métodos
Caso IV 110 mm em 10 dias anteriores e 180 mm matemáticos juntamente com programas
nas ultimas 4 horas computacionais contribuem efetivamente para a
Caso V 110 mm em 10 dias anteriores e 180 mm realização de análises e desenvolvimento de
nas ultimas 4 horas novas abordagens de gerenciamento de risco. O
Caso VIa Sem dados
Caso VIb Sem dados estudo da estabilidade de taludes por meio da
análise de fator de segurança é de grande
Com o intuito de comparar e analisar os relevância pra o gerenciamento de risco. O
resultados obtidos como um todo, a Tabela 5 gerenciamento de risco de taludes é muito
indica os valores de fator de segurança do importante e pode ser abordado de diversas
estudo de cada caso, o fator de segurança atual maneiras diferentes. Isso contribui para prevenir
reanalisado pelo GeoStudio e fator de segurança e mitigar problemas relacionados a
do talude simplificado, analisado por meio da deslizamento de terra.
planilha eletrônica.
Tabela 5. Fator de segurança de cada caso: AGRADECIMENTOS
Caso FS F.S. F.S.
do estudo atual talude
simplif.
Os autores agradecem ao CNPq e ao
Caso I 2,030 2,522 2,731 Instituto Federal de Goiás de Aparecida de
Caso II 2,000 2,512 2,863 Goiânia pelo suporte as pesquisas e a todos os
Caso III 1,800 3,019 1,870 alunos e professores que contribuíram para o
Caso IV 1,000 1,485 1,834 desenvolvimento desta pequisa.
Caso V 1,024 1,359 1,690
Caso VIa 2,500 3,575 2,057
Caso VIb 1,500 2,314 1,438
REFERÊNCIAS
Oberva-se que nos casos III, IV, V, VIa e
EIRAS, C. G. S.; SILVA, J. L.; AUGUSTO FILHO, O.
VIb houve uma grande alteração da geometria Análise de Estabilidade de Talude na Área Urbana da
do talude, que promove uma discrepância entre Cidade de São Carlos – SP. Congresso Brasileiro de
o valor do FS. Já nos casos I e II, a geometria Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica. Out.
atual está próxima à do estudo, resultando em 2016.
valores do FS mais aproximados. O fator de FERNANDES, L. R.; ARAÚJO, G. L. S.; CARVAJAL,
H. E. M. C.; Estudo de Estabilidade de Taludes do
segurança fornecido pela geometria Antigo Lixão do Morro de Morávia da Cidade de
simplificada diverge um pouco mais devido a Medellín, Colômbia. VI Conferência Brasileira de
sua simplificação dos dados. Algumas Encostas. Out. 2013.
informações como imprecisão do nível d’água e FUTAI, M. M., MELO, D. F. M., CARDOSO JR., C. R.
do relevo por parte do Google Earth devido à & DUENAS, V. Z. Estabilidade de encostas em
condições não-saturadas. VII Simpósio Brasileiro de
ocupação do local pode intereferir no resultado. Solos Não Saturados. Pirenópolis, GO, 2: p. 77-98.
2011.
4 CONCLUSÃO GUERRA, U. G. & EHRLICH, M. Retroanálise de
Ruptura de Taludes em Nova Friburgo/RJ. Congresso
Uma das conclusões sobre o Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica. Out. 2016.
desenvolvimento da pesquisa é que as GUIDICINI, G. & NIEBLE, C. M. Estabilidade de
reanálises dos taludes estudados evidenciam a taludes naturais e de escavação. 2.ed. São Paulo:
influência dos principais fatores como o tipo de Edgard Blücher. 1984.
solo, a geometria do talude e o grau de MACHADO, K. M.; BECKER, L. B.; AVELAR, A. S.;
umidade, que estão diretamente relacionados ao GUIMARÃES, G. V. M.; Retroanálise de um
Deslizamento de Encosta em Solo Residual em
valor do fator de segurança e grau de Campo do Coelho, Nova Friburgo/RJ. Conferência
estabilidade do talude. Além disso, sobre as Brasileira de Encostas. Out. 2013.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Previsão de Esforços e Deslocamento Horizontal em Cortina de
Estacas Secantes Estroncadas em Solo Arenoso do Estado de Goiás
FLEURY, Mateus Porto
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás, engcivilmateusfleury@gmail.com

COSTA, Rodolpho Marcell Martins Bueno


Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Goiás, rodolphommbcosta@hotmail.com

DIAS, Daniel Carmo


Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Goiás, engdanieldias@gmail.com

VARGAS, Carlos Alberto Lauro


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás, carloslauro@hotmail.com

RESUMO: É notoria a necessidade de subsolos mais profundos nos novos empreendimentos,


acarretando em contenções mais robustas. Portanto, faz-se necessário a realização de projetos com
estimativa de deslocamento, possibilitando o controle de qualidade dessas estruturas. Estre trabalho
tem como objetivo comparar os esforços e deslocamento horizontal em uma estrutura de contenção
por meio de diferentes métodos de previsão de comportamento. Foram simulados os processos
construtivos no software Geo5, módulos dimensionamento e verificação de contenção além da
envoltória de Terzaghi e Peck. Conclui-se que nenhum das metodologias está numericamente correta
pois são métodos diferentes, porém recomenda-se utilizar o módulo verificação de contenção devido
a previsão de deslocamento.

PALAVRAS-CHAVE: Cortina, Equilíbrio Limite, Método de Winkler, Envoltória de Terzaghi e


Peck.

1 INTRODUÇÃO empuxo ativo (ka), dado pela Equação (1),


enquanto para Rankine é dado pela Equação (2).
As estruturas de contenções estão cada vez mais
presentes nos projetos de engenharia. O aumento ‫݊݁ݏ‬ଶ ሺߙ ൅ ߶ሻǤ ሾ‫݊݁ݏ‬ଶ ߙǤ ‫݊݁ݏ‬ሺߙ െ ߜሻሿିଵ
݇௔ ൌ ଶ
da execução dessa estrutura decorre da
‫݊݁ݏ‬ሺ߶ ൅ ߜሻǤ ‫݊݁ݏ‬ሺ߶ െ ߚሻ (1)
necessidade de melhor aproveitamento do ቌͳ ൅ ඨ ቍ
‫݊݁ݏ‬ሺߙ െ ߜሻǤ ‫݊݁ݏ‬ሺߙ ൅ ߚሻ
espaço urbano e da frequente criação de subsolos
para estacionamento de edificações. ݇௔ ൌ ‫;݃ݐ‬ሺͶͷ െ ‫׎‬Τʹሻ (2)
O estudo relacionado a contenção parte da
estimativa dos esforços em que a estrutura está Onde ‫ ׋‬é o angulo de atrito do solo, ߜ o
submetida, ou seja, o esforço lateral do solo, angulo de atrito solo-muro, ߙ a inclinação do
denominado empuxo do solo. Coulomb (1776) e anteparo (muro, cortina) e ߚ a inclinação do
Rankine (1857) foram os primeiros terrapleno.
pesquisadores a obterem resultados que até hoje Estes métodos clássicos são baseados no
são utilizados na previsão da pressão lateral do equilíbrio limite, pois não consideram no cálculo
solo. Coulomb determinou o coeficiente de dos empuxos a deformação da estrutura sujeita

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as pressões do solo, adotando uma relação de deslocamentos, atravéz de métodos que
rígido-plástica entre o solo e a deformação preveem esses deslocamentos, funcionando
(SANTOS JR; BARROS, 2010). como controle de qualidade de obras de
A partir dos métodos clássicos, novos contenção.
modelos foram criados para prever o Mediante esse cenário, o objetivo deste
comportamento dessas estruturas. Winkler estudo é comparar os esforços atuantes na
(1867) foi o primeiro a representar o solo com estrutura de contenção (cortina e escoramentos)
um sistema de molas lineares independentes por meio de diferentes métodos de previsão de
entre si, ou seja, discretizar o solo em elementos. comportamento (equilíbrio limite, interação
O modelo é bastante simples e portanto acarreta solo/estrutura – Winkler, e envoltórias de
algumas desvantagens como: i) considerar o Terzaghi e Peck). O estudo também tem o
comportamento do solo linear; ii) desconsiderar propósito de analisar a perevisão do
a continuidade do solo e a coesão entre deslocamento horizontal da cortina. Por fim,
partículas; e iii) atribuir o comportamento físico busca-se identificar a influencia do Fator de
do solo em função da rigidez das molas (LOPES; Segurança (FS) adotado nos esforços gerados
VELLOSO; SANTA MARIA, 1998; PORTO; por cada metodologia e também na deformação
SILVA, 2010; CHRISTAN, 2012). horizontal da cortina de contenção.
Frente a crescente execução de obras de
contenção Terzaghi e Peck desenvolveram outra
metodologia de previssão de comportamento. 2 METODOLOGIA
Estes autores verificaram, por meio de vários
estudos de caso, que as pressões de terra Atravéz dos métodos citados, serão estimados os
exercidas sobre uma contenção com mais de dois esforços e deslocamentos de uma estrutura de
pontos de apoio pode ser representada por um contenção com quatro níveis de escoramento
envoltória. Para solos arenosos, essa envoltória (estroncas) e os esforços sobre estas estruturas.
corresponde a uma pressão de 0,65.Ka.Ȗ.h Como as envoltórias de Terzaghi e Peck devem
uniforme ao longo de toda escavação, sendo o ser utilizadas como um artifício para
empuxo Ka calculado segundo os critérios de dimensionamento de estruturas de suporte, ou
Rankine (TERZAGHI, PECK e MERSI, 1940). seja, somente para fornecer os esforços nas
Nesse cenário, depara-se com diversos estroncas, a comparação dos esforços atuantes na
métodos desenvolvidos para prever o cortina será feita entre os métodos do equilíbrio
comportamento dessas estruturas. Um desses limite e interação solo/estrutura (TERZAGHI;
métodos, equilíbrio limite, é utilizado para PECK; MERSI, 1940). A previsão de
cortinas em balanço com um nível de deslocamento somente é informada pelo modelo
escoramento e que sofrem rotação na ponta, de Winkler, portanto, não é possível comparar os
porém, o mesmo acaba sendo utilizado para resultados obtidos com os demais métodos
previsão de comportamento de estruturas que utilizados neste estudo.
não atendem a premissa citada (TACITANO, O Método do Equilíbrio Limite e o Método da
2006). Dessa forma faz-se necessário inverstigar Interação Solo-Estrutura serão aplicados
qual a relação entre os esforços gerados por este utilizando-se o software Geo5 v.18
método, com outros métodos que atendam as (desenvolvido pela empresa FINE), nos módulos
características da estrutura. Projeto de Contenções e Verificação de
Ademais, a melhor maneira para monitorar a Contenções, respectivamente. Já para as
qualidade dos projetos de contenção se dá pela envoltórias de Terzaghi e Peck, o cálculo dos
instrumentação das cortinas para monitoramento esforços nas estroncas se deu por método
dos deslocamentos. O monitoramento das analítico.
tensões atuantes (tanto na cortina quanto nos
escoramentos) requer uma instrumentação 2.1 Apresentação do estudo de caso e perfil
bastante complexa frente a intrumentação para geotécnico
deslocamento. Portanto cada vez mais torna-se
necessário nos projetos de contenção, a previsão A contenção analisada foi projetada em uma

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fazenda localizada no município de Jussara – nível, com distância horizontal de três metros
GO, e faz parte da estrutura de um reservatório entre os eixos dos perfis (Figura 1a).
As estacas secantes, tipo hélice contínua, foram O perfil geotécnico (Figura 1b) da região foi
projetadas com diâmetro de 60 cm e elaborado com base em três ensaios de
espaçamento de 54 cm (eixo a eixo). sondagem (Standard Penetration Test – SPT)
No projeto foi idealizada a cortina com quatro realizados conforme Norma Brasileira (NBR)
linhas de estroncas, compostas de perfil I 6484 (ABNT, 2001).
(W250x44,8) implantados sobre longarinas
(W250x73,0), igualmente distribuídas em cada

(a) (b)
Figura 1. Estrutura de contenção estroncada: (a) seção transversal, (b) perfil geotécnico.

2.2 Parâmetros do solo ‫ܧ‬௦


݇௛ ൌ (3)
‫ܦ‬Ǥ ሺͳ െ ߥ;ሻ
A partir do perfil geotécnico apresentado, o furo
SP01 foi escolhido pois apresenta a situação Onde D é o diâmetro da estaca, Ȟ é o coeficiente
mais desfavorável geotecnicamente, ou seja, de Poisson (adotou-se 0,35 para o solo arenoso)
camadas mais espessas de solo, com menores e Es é o módulo de elasticidade do solo
valores de NSPT. (calculado em função do NSPT) conforme
Os parâmetros angulo de atrito interno (ࢥ), Equação 4 (SALES e BITTENCOURT, 2010).
angulo de atrito entre solo-estrutura (cortina; į),
peso específico do solo (Ȗ) e peso específico do ‫ܧ‬௦ ൌ ͵ ‫ܰ כ‬ௌ௉்௠ (4)
solo saturado (Ȗsat) foram adotados conforme os
valores paresentados por Joppert Jr. (2007), A Tabela 1 apresenta os parâmetros geotécnicos
porém com as experiencias adquiridas no estudo utilizados nas modelagens.
dos solos do estado de Goiás.
O coeficiente de reação horizontal do solo (kh) 2.3 Metodologia de simulação da execução da
foi estimado através da Equação (3), baseada no cortina
método da elasticidade, por camada de solo
(Schmitt; 19951 apud SALES; CUNHA; A execução da cortina foi simulada no software
FARIAS, 2012). Geo5. A cota 0.00 foi adotada como o topo da
viga de coroamento das estacas. A simulação

1 Schmitt, P. (1995). “Méthode empirique d’evaluation


du coeficiente de reaction du sol vis-á-vis des ouvrages
de soutènement souples”. Geotechnique , 6: 94-98.

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Tabela 1 – Parametros geotecnicos do solo.
Solo Parâmetro Valor Unidade ͳ
‫ܨ‬Ǥ ܵǤ ൌ (5)
Areia ࢥ 28 º ܿ௥௣
Argilosa į 9 º
Marrom Ȗ 16,0 kN/m³ Após o dimensionamento geométrico, as
(fofa) Ȗsat 17,5 kN/m³
NSPTm 4 -
estapas construtivas foram simuladas no módulo
Es 12 MPa Verificação de Contenções (Geo5). Neste
kh 22,8 MN/m² módulo o programa não possibilida a inserção do
Areia fina ࢥ 32 º crp, portanto, o “fator de segurança” considerado
à média į 10 º refere-se ao comprimento total da estrutura,
(medianamente Ȗ 18,0 kN/m³
calculado para cada FS no módulo anterior.
Compacta) Ȗsat 19,5 kN/m³
NSPTm 8 - Por fim, atravéz de solução analítica
Es 24 MPa empregou-se as envoltórias de Terzaghi e Peck.
kh 45,6 MN/m² O esforço em cada estronca é numericamente
Areia média à ࢥ 35 º igual à área de influência sob a qual está
grossa į 12 º
submetida. O cálculo da área será equivalente ao
(compacta à Ȗ 20,0 kN/m³
muito Ȗsat 21,0 kN/m³ comprimento da camada de solo que influencia
compacta) NSPTm 26 - no carregamento de uma linha de estroncas,
Es 78 MPa multiplicado pelo valor 0,65.Ka.Ȗ.H (Ka
kh 148,1 MN/m² calculado pela Equação (2), ߛ de 16 kN/m³ e H
de 7,75 m).
ocorreu em dez etapas, descritas abaixo:
1ª: Escavação de 1,05 m até a cota -1,05m;
2ª: Implantação da primeira linha de 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
estroncas na cota -0,25 m (eixo da viga de
coroamento das estacas); Neste tópico serão apresentados os resultados
3ª: Escavação de 2,35 m até a cota -3,40 m; das modelagens realizadas. É importante
4ª: Implantação da segunda linha de salientar que os resultados aqui mencionados não
estroncas na cota -2,60 m; foram analisados separadamente, mas sim por
5ª: Escavação de 2,15 m até a cota -5,55m; meio de uma envoltória, ou seja, análise dos
6ª: Implantação da terceira linha de resultados de cada etapa construtiva simulada
estroncas na cota -4,75; nos softwares, onde, os resultados analisados
7ª: Escavação de 1,55 m até a cota -7,10 m; (apresentados na Tabela 2) traduzem os
8ª: Implantação da quarta linha de máximos esforços e deslocamentos obtidos.
estroncas na cota -6,30 m; O comprimento da estrutura mostrou pequena
9ª: Escavação até a cota -7,75 m. variação (Cv = 7,5%) para os três FS analisandos.
10ª: Reservatório preenchido com água até Entretando, depara-se que quanto maior o FS
a cota de -0,50 m. adotado, maior o comprimento total da estrutura.
Esse fato se justifica pois o FS está relacionado
2.4 Modelagem com a redução do empuxo passivo. Dessa forma,
quanto menor o empuxo passivo atuante, será
Inicialmente utilizou-se o módulo Projeto de necessário maior embutimento da estrutura no
Contenção (Geo5) para simular as etapas solo (ficha), para que ocorra o equilíbrio de
construtivas e realizar o dimensionamento forças atuantes na estrutura. Quanto ao
geométrico da estrutura (determinação do comprimento da ficha, para FS =1,0 a ficha
comprimento máximo da estrutura). Os necessária foi de 3,45 m (9ª etapa executiva),
empuxos ativos e passivos foram determinados enquanto para os demais fatores de segurança, a
pela teoria clássica de Coulomb. 7ª etapa foi considerada a etapa mais crítica,
O dimensionamento foi feito para três fatores necessitando de um comprimento de ficha de
de segurança (FS), 2,0; 1,5 e 1,0, calculados em 5,08 m (FS = 1,5) e 5,84 m (FS = 2,0).
relação ao coeficiente de redução do empuxo
passivo (crp), conforme Equação (5).

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Tabela 2. Resultados de esforços e deslocamentos máximos encontrados pelas modelagens realizadas.
Comprimento, esforços e deslocamento da cortina Esforços nas estroncas (kN)
Pressão do
Método FS Comp. Momento Cortante Desloc.
solo -0,25 -2,60 -4,75 -6,30
(m) (kNm/m) (kN/m) (mm)
(kPa)
Equilíbrio 1,0 11,20 48,20 77,67 - - 60,75 226,67 381,62 300,11
limite 1,5 12,18 55,98 117,64 - - 66,09 250,53 413,95 339,06
2,0 12,94 68,95 114,95 - - 72,16 278,43 448,38 393,23
Interação - 11,20 130,61 66,72 49,98 4,18 78,33 198,64 201,50 51,36
solo- - 12,18 121,95 62,96 91,83 3,99 78,35 192,22 193,51 51,01
estrutura - 12,94 113,28 65,60 95,48 3,81 79,03 186,26 180,81 49,19
Evoltória
de
- - - - 29,10 - 124,41 196,43 161,51 194,25
Terzaghi
e Peck

Figura 2. Distribuição do (A) deslocamento horizontal (FS = 1,0), (B) esforços de momento fletor e cortante (FS = 1,0) e
(C) pressão de solo; atuantes na 9ª etapa executiva.

Ainda na análise pelo equilíbrio limite, os estronca mais próxima após a escavação passa a
esforços de momento fletor e cortante estar submetida a maiores esforços que as
apresentaram maior variação se comparado com estroncas anteriormentes instaladas. Essa
o comprimento, com Cv de 19,5% e 24,9%, justificativa se comprova pois após atingir o
respectivamente. É interessante destacar que os máximo valor de esforço, ocorre uma redução
máximos esforços foram encontrados na 7ª etapa gradativa do esforço da mesma estronca nas
executiva, independente do FS adotado. Deveras demais etapas. Contata-se que maiores foram os
ocorreu aumento nos esforços de momento fletor esforços para a simulação com FS = 2,0, mas a
e cortante com o aumento do FS. Esse fato variação dos esforços em cada nível em relação
decorre do aumento do fator de segurança, que ao FS não foram equivalentes, 8,8%, 10,5%,
diminui o empuxo passivo mobilizado, ou seja, 8,1% e 14,3% para as estroncas implantadas nos
diminui a resistência do solo que contribui com níveis -0,25, -2,60, -4,75 e -6,30,
o equilíbrio, levando ao incremento de esforços respectivamente.
na estrutura (aumento da ficha e, Passando para os resultados da modelagem
consequentemente, incremento de esforços na pelo método da interação solo-estrutura, outros
estrutura). dois comportamentos podem ser analisados: i)
Quanto aos esforços nas estroncas, para os deformação da estrutura; e ii) pressão exercida
três FS adotados, percebeu-se que os máximos pelo solo.
esforços de cada nível foram encontrados uma A Figura 2a mostra a distribuição dos
etapa após sua intalação (exemplo: Estronca deslocamentos na 9ª etapa executiva para FS =
nível -2,60 intalada na 4ª etapa, com esforço 1,0. Para os três fatores de segurança analisado o
máximo na 5ª etapa). Esses resultados se deslocamento máximo ocorreu na cota -6,30,
justificam pela própria metodologia de cálculo, com valores de 4,18; 3,99 e 3,81 mm, para os FS
haja vista que a etapa após a instalação da de 1,0; 1,5 e 2,0; respectivamente. A região
estronca consiste em escavação, ou seja, a abaixo da cota - 6,30 está submetida aos maiores

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esforços, como mostrado na Figura 2a. Pelo fato introduzir um coeficiente de redução do empuxo
dessa região apresentar menor rigidez que a passivo, conforme ja mencionado. Dessa forma,
região superior (em virtude das estroncas), nessa modelagem, somente o comprimento da
ocorre maior deformação cortina. Acima da cota estrutura variou. Em virtude do coeficiente da
-6,30, os deslocamentos começam a diminui mola kh, não se alterar com o aumento da
atingindo valor de 0,7 mm no topo da cortina, dimensão da cortina, os resultados apresentaram
comprovando a hipótese citada. pequena variação.
Quanto a pressão de solo exercida na Passando para análise dos esforços
estrutura, a Figura 2c apresenta a distribuição produzidos pela envoltória de Terzaghi e Peck,
dessas pressões para os FS analisados e a pressão as quatro linhas de estroncas apresentam
média determinada pela envoltória de Terzaghi e esforços com coeficiente de variação de 16,1%.
Peck. O valor máximo foi encontrado na sétima Essa variação decorre da área de influencia que
etapa executiva, para FS=1,0, e 9ª etapa para os está sendo atribuida para cada estronca. A
demais FS. Porém, os valores médios exercidos segunda linha de estroncas possui maior área de
para os FS de 1,0, 1,5 e 2,0 foram 21,49; 20,93 e influência, e por isso obtem maior esforço,
20,12 kPa, respectivamente. Com os valores porém se assemelha ao esforço obtida na quarta
médios de pressão do solo, é possível comparar linha, que possui área de influencia semelhante.
com o método empírico de Terzaghi e Peck Passando para a comparação dos modelos
(29,10 kPa). Dessa forma, o valor proposto pela utilizados, é importante salientar que as
envoltória é 28,4% maior que a média dos comparações foram realizadas em relação a
valores encontrados na modelagem. Esse fato média dos esforços máximos encontrados em
comprova que a envoltória de Terzaghi e Peck cada FS adotado, no que se refere aos métodos
consiste em uma estimativa e logo apresenta um do equilíbrio limite e interação solo estrutura.
fator de segurança excessivamente alto, o que Em relação ao momento fletor atuante na
acarreta no superdimensionamento das cortina, mostrado Figura 2b, a distribuição no
estruturas de suporte. Porém, é possível sua modelo de interação solo-estrutura difere muito
aplicação desde que o projetista tenha se comparada ao modelo clássico. Quanto aos
conhecimento do fato mencionado. valores máximos, o primeiro apresenta
Em relação ao esforço de momento fletor e resultados cerca de duas vezes maior que o
cortante atuante na cortina, a modelagem pelo segundo. Ao analissar o esforço cortante,
modelo verificação de contenção apresentou percebe-se que o formato da distribuição é, de
pequena variaçao dos resultados, Cv=7,1% certa forma, semelhante, porém acima da cota de
relativo ao momento e 3,3% à cortante. Para os -6,0 m, o esforço produzido pelo modelo de
três fatores de segurança analisados o pico Winkler é maior que o equilíbrio limite. Quanto
desses esforços ocorreu na 9ª etapa executiva, ao valor máximo da cortante, pelo primeiro
conforme mostrado na Figura 1b. método citado, foi menor que os resultados do
Ao analisarmos os máximos esforços atuantes segundo método, não variando conforme o valor
nas estroncas, percebe-se que a variação é do FS adotado.
pequena assim como os esforços atuantes na Quanto aos esforços nas estroncas, verifica-se
cortina. A terceira linha de estronca foi a que que, excetuando a primeira linha de estronca, os
apresentou maior coeficiente de variação (Cv = esforços previstos pelo modelo de interação
5,8%). Os valores máximo de esforços foram solo-estrutura apresentaram valores máximos
encontrados na 3ª etapa (primeira linha), 10ª inferiores aos modelo do equilíbrio limite. A
etapa (segunda linha) e 9ª etapa (terceira e quarta diferença dos esforços aumenta quanto menor a
linhas) executiva. cota da estronca, ou seja, a diferença dos
Com esses resultados de esforços, tanto na esforços entre as duas modelagens é maior na
cortina como nas estroncas, percebe-se que a quarta linha que na terceira linha.
modelagem pelo método da interação solo O modelo empírico de Terzaghi e Peck
estrutura sofreu pouco influencia do fator de mostrou esforços superestimados para a primeira
segurança. Isso ocorre pois no modelo linha de estronca em relação as outras duas
verificação de contenção, não é permitido modelagens. Na segunda linha de escoras, o

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modelo de interação solo estrutura prevê utilizando modelos com interação solo-
esforços semelhantes ao modelo empírico. Na estrutura para prever os deslocamentos
terceira linha o primeiro modelo já preve horizontais da contenção;
esforços 15,9% maior que o segundo. A x O modelo empírico de Terzaghi e Peck,
modelagem pelo método do equilíbrio limite apresenta resultados bastante
fornece em ambas linhas de estronca, esforços conservadores pois superestima o
superiores as duas outras modelagens. Ao empuxo de solo.
analisarmos a quarta linha, percebe-se uma Como indicações para estudos futuros,
divergencia muito grande nos esforços previstos. recomenda-se que sejam realizadas
Portanto, através das análises, percebe-se que comparações de softwares que utilizam o
não há um padrão nas diferenças dos esforços em mesmo modelo (ex. métodos dos elementos
cada linha de estronca, ou seja, apresenta-se uma finitos), simulando estruturas de contenção
grande dispersão nos resultados, ora muito em meios contínuos elástico lineares.
acima, ora semelhante e outrora abaixo em cada
linha.
Dessa forma constata-se que o principal fator AGRADECIMENTOS
que leva a divergência dos resultados deve-se ao
tipo de modelo adotado para previsão de O primeiro autor gostaria de agradecer ao CNPq
comportamento da cortina. Portanto é notória a pela bolsa de mestrado fornecidas pela
dificuldade dos projetistas em prever o instituição. Os demais autores agradecem as
comportamento real de uma cortina com informações concedidas pela ENGESOL
precisão. Caputo et al. (1998) acrescenta que Engenharia de Solos Ltda. para realização deste
outros fatores interferem na obtenção dos estudo.
esforços e deslocamentos atuantes, tais como: i)
o processo construtivo; ii) a rigidez de estrutura; REFERÊNCIAS
e iii) os parâmetros do solo.
Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 6484
(2001): Solo – Sondagem de simples reconhecimento
com SPT – Método de Ensaio. Rio de Janeiro, Brasil.
5 CONCLUSÃO Christan, P. (2012) Estudo da interação solo-estaca
sujeito a carregamento horizontal em ambientes
Neste estudo foram realizadas modelagens para submersos, Dissertação de mestrado em Engenharia
prever o comportamento de um estrutura de Civil. Universidade Tecnológica Federal do Paraná,
contenção estroncada em solo não coesivo na Curitiba, Brasil.
Jopert Jr., I. (2007) Fundações e contenções em edifícios:
região do estado de Goiás. As modelagens foram qualidade total na gestão do projeto e execução. PINI,
realizadas utilizando três modelos diferentes a São Paulo, Brasil.
fim de comparar seus resultados e também Lopes, F.R. Velloso, D.A. e Santa Maria, P.E.L. (1998)
dentro do mesmo modelo, haja vista que foram Princípios e modelos básicos de análise. In: Hachich,
realizadas modelagens com três fatores de W. Falconi, F.F. Saes, J.L. Frota, R.G.Q. Carvalho,
C.S. e Niyama, S.. Fundações Teoria e Prática. 2ª ed.
segurança diferentes. Com este estudo conclui- São Paulo: PINI, p. 185-187.
se: Porto, T.B. e Silva, R.M.. (2010) Study of a structural
x A previsão do comportamento de uma masonry building with the analysis of soli-structure
estrutura de contenção é relacionado com interaction. Mecánica Computacional Vol XXIX,
o modelo adotado, portanto nenhuma das págs. 1555-1574 Buenos Aires, Argentina.
Sales, M.M. Cunha, R.P. e Farias, M.M.. (2012) O uso do
metodologias analisadas está Método das Diferenças Finitas na Análise de Estacas
numericamente incorreta; Carregadas Lateralmente. p 245 – 252.
x Apesar das várias ferramentas disponíveis Sales, M.M. e Bittencourt, D.M.A.. (2010) Análises de
no mercado, cabe aos profissionais a fundações estaqueadas utilizando estacas de diferentes
escolha do modelo que melhor representa comprimentos. Artigo do XV Congresso Brasileiro de
Mecânica de Solos e Engenharia Geotécnica, ABMS.
seu estudo; Gramado, RS, p.1-8.
x Recomenda-se que, em situações de
projeto, no mínimo ocorra a simulação

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Santos Jr. P.J e Barros, P.L.A.. (2010) Cálculo do Empuxo
Ativo com Determinação numérica da Superfície
freática. Campinas, SP, Brasil.
Tacitano, M.. (2006) Análise das paredes de contenção
através de método unidimensional evolutivo, Tese de
Doutorado. Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, SP, Brasil.
Terzaghi, K. Peck, R. B. e Mersi, G.. (1940) Soil
Mechanics in Engineering Pratice. 3nd ed., JhonWiley
& Sons, Inc., New York, NY, USA.

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Projeto de Fundação Tubulão Específico para Cada Estrutura de
Ancoragem de uma Linha de Transmissão
Rafael Felipe de Souza Tavares
Cemig Distribuição SA, Belo Horizonte, Brasil, rafael.tavares@cemig.com.br

Danilo Campos Lopes


Cemig Distribuição SA, Belo Horizonte, Brasil, dcampos@cemig.com.br

Fabrício Tiago Borges


Cemig Distribuição SA, Belo Horizonte, Brasil, fabricio.borges@cemig.com.br

RESUMO: As fundações de estruturas metálicas têm impacto significativo no preço de implantação


de uma nova Linha de Transmissão (LT). A escolha do tipo de fundação está relacionada às
características do solo e à acessibilidade da estrutura, sendo o tubulão o mais utilizado pela
Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). A empresa começou a avaliar maneiras de reduzir
os custos das fundações, dentre as medidas está sendo executado o dimensionamento dessas para os
esforços específicos da estrutura, sendo observadas reduções significativas de volume de concreto
dos tubulões em estruturas de ancoragem. Este trabalho apresenta um comparativo de uma LT
projetada.

PALAVRAS-CHAVE: Estruturas Metálicas, Linhas de Transmissão, Fundação, Tubulão.

1 INTRODUÇÃO Estes procedimentos de padronização de


projetos remetem à época em que os recursos
Linhas de Transmissão são obras lineares, nas para cálculo eram limitados, sendo conveniente
quais as estruturas estão distribuídas em faixas o uso de tabelas e ábacos para agilizar o projeto.
quilométricas. Este tipo de empreendimento Deste modo as estruturas e fundações podem
atravessa relevos diversificados, variando de ficar superdimensionadas.
zonas alagáveis à picos íngremes, sendo que Quando se considera a condição na qual a
algumas estruturas possuem acessos difíceis estrutura está submetida, parâmetros e
(HOROCHOSKI, 2014). configurações reais, na maioria dos casos, os
De acordo com Chaves (2004), em uma LT, esforços são aquém dos limites suportados por
a estrutura está sujeita a cargas e condições esta, havendo, como consequência, menores
geológico-geotécnicas únicas. Porém visando cargas nas fundações (GONTIJO, 2017).
uma economia na fabricação e em escala de O avanço computacional e a acessibilidade a
montagem, buscou-se padronizar os tipos de novos programas e rotinas de cálculos,
torres, criando séries dimensionadas para o pior permitem uma redução do tempo de análise e
caso de aplicação. um refinamento do projeto. A modelagem de
Assim como nas estruturas, em fundações de cada torre, com os parâmetros e configurações
LTs têm-se utilizado projetos padronizados, reais, permite a individualização das cargas nas
dimensionados para as piores situações, ao fundações, aumentando a eficiência do projeto
invés de se projetar especificamente para as destas.
cargas de cada estrutura e as características do
solo do local (CHAVES, 2004).

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2 ESFORÇOS ATUANTES NA maiores esforços atuando na torre. Situação que
FUNDAÇÃO DE UMA ESTRUTURA DE LT não se reflete na maioria das estruturas em uma
LT.
Os esforços que atuam nas fundações em linhas Em estruturas de ancoragem, o cálculo do
de transmissão são causados, em sua grande carregamento, considerando as cargas reais,
maioria, pela própria estrutura. Portanto para apresenta maior variação em relação às cargas
dimensionar a fundação deve-se conhecer os máximas suportadas por esta do que em
carregamentos que atuam na torre. Chaves estruturas de suspensão.
(2004) divide os principais esforços em
verticais, de tração axiais nos cabos e pressão
dinâmica do vento. Aguilera (2007) divide em 3 FUNDAÇÕES DE LTs
duas categorias verticais e horizontais:
• Esforços verticais: relativo ao peso próprio Tubulão é uma das fundações mais utilizadas
da estrutura, equipamentos fixados nesta, nas linhas de transmissão da Cemig devido à
cadeias de isoladores e cabos que podem atuar facilidade de execução, resistência e
no sentido de cima para baixo ou o contrário durabilidade. De acordo com Chaves (2004), é
(arrancamento), etc; bastante utilizado no Brasil por serem
• Esforços horizontais: provocado pela ação fundações eficientes e com baixo custo, sem
dinâmica do vento no corpo da estrutura e nos exigência de reaterrro e pouca intervenção no
cabos, diferença de tração axial dos cabos em terreno e no entorno.
lados opostos da estrutura, deflexão no O tubulão caracteriza-se como uma fundação
caminhamento da linha que provoca esforços profunda escavada e moldada com concreto
transversais, etc. armado, com a possibilidade de alargamento de
A estrutura é avaliada considerando base, o que aumenta sua capacidade de carga
hipóteses de carregamento, pois esforços que (VELOZO, 2010). A profundidade varia de 3 a
atuam nesta são de natureza diversas, e deve se 10 metros.
avaliar combinações de eventos e adotar os A desvantagem do tubulão está relacionada à
maiores esforços encontrados, ou seja, a maior acessibilidade e distância da estrutura, pois se o
tração e compressão de todos os cenários. local for difícil de chegar ou longe de
Chaves (2004) afirma que as hipóteses fornecedores de concreto usinado, o transporte
críticas resultam nas fundações os seguintes de materiais e a construção em si se tornam
carregamentos: mais complexos e caros (CHAVES, 2004).
• Máxima compressão com horizontais
correspondentes; 3.1 Dimensionamento da fundação
• Máxima tração com horizontais
correspondentes; O dimensionamento do tubulão é realizado em
• Máxima força horizontal transversal; função das cargas transferidas pelos pés da
• Máxima força horizontal longitudinal. estrutura para a fundação. Considerando as
O autor conclui que, devido às estruturas hipóteses de carregamento da torre esta é
metálicas serem geralmente treliçadas, as verificada para resistir aos esforços de
ligações são consideradas como nós articulados, compressão, tração e horizontais máximos. De
deste modo não transmitem momentos para as acordo com Gontijo (2017), são realizadas
fundações. seguintes análises:
Um tipo de estrutura pode ter sua altura
alterada, adotando extensões e pés de tamanhos • Verificação dos esforços de compressão: a
diferentes. Por ter quatro apoios a estrutura fundação é dimensionada para resistir aos
necessita desta flexibilidade nas dimensões dos esforços através do atrito lateral e resistência
pés para se acomodar no terreno. oferecida pela base do tubulão.
O projeto de um novo tipo de estrutura • Verificação dos esforços de tração: para a
considera esta na maior altura, ou seja, com situação de arrancamento foi adotado o método
extensões e pés nas maiores dimensões e desenvolvido pela Universidade de Grenoble

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que é fundamentado em modelos reduzido e camada, o solo é classificado adotando o
estudos teóricos (RUFFIER, 1985). conhecimento empírico de classificação.
• Verificação dos esforços horizontais: a
resistência da fundação aos esforços laterais é 4.2 Esforços atuantes na fundação
realizada pelo método descrito por Wiggins
(1969), onde os empuxos passivos e ativos do Os esforços que atuam nas estruturas de
solo auxiliam o equilíbrio fundação. ancoragem foram calculados pela CR Gontijo
Engenharia de Projetos. Cada estrutura foi
modelada conforme sua geometria real,
3 METODOLOGIA considerando extensões e pés que serão
adotados para a análise estrutural. A partir
O estudo se baseará na comparação dos projetos destes dados, as cargas nas fundações podem
padronizados e individualizado de fundações do ser determinadas.
tipo tubulão para estruturas metálicas. Para
tanto será realizado um levantamento dos 4.3 Redução na LT
esforços nas fundações devido às ações nas
estruturas de ancoragem de uma linha de De posse dos dados de esforços e solos a Cemig
transmissão e os parâmetros do solo obtidos pode calcular e definir a geometria do tubulões
através de sondagem. das estruturas de ancoragem da LT. A Tabela 1
As estrutura de suspensão não apresentam apresenta o comparativo do volume de concreto
variações significativas das cargas, por este entre o projeto padronizado e o considerando as
motivo será adotado o projeto padrão para estas cargas reais das estruturas de ancoragem. Nas
torres. estruturas de suspensão foi adotado projeto
Os dados analisados serão de um projeto real padronizado, deste modo não houve alteraração
de uma LT da Cemig, cujos esforços e do volume.
parâmetros foram obtidos pela empresa para o
empreendimento. O orçamento dos materiais e Tabela 1. Comparação do volume de concreto e custo na
LT.
serviços será calculado através do banco de Fundação Fundação
preços da concessionária. Padrão Individualizada
Para exemplicação será demonstrada Total Suspensão(m³) 366,544 366,544
comparação dos resultados de uma estrutura
Total ancoragem(m³) 562,66 303,84
desta LT.
Total (m³) 952,468 670,384
Total (R$ x mil) 1.544,06 1.086,77
4 LT ARCOS 1– PIMENTA, 138 kV
Avaliando os dados, constata-se uma
Os dados para análise foram obtidos pela redução de 46% do volume de concreto em
CEMIG para a construção da LT Arcos 1– estruturas de ancoragem e em 29,6% quando se
Pimenta, 138 kV. A linha possui 35,16 km, com considera o volume total de concreto para todas
107 estruturas metálicas, sendo quatro as estruturas da LT. Este resultado permite uma
existentes compartilhadas com outra LT. Das redução de R$457.290,00 nos serviços de
estruturas que serão construídas, 77 torres são fundação no empreendimento.
de suspensão e 33 de ancoragem.
4.4 Avaliação especifica da estrutura 20
4.1 Parâmetros e cálculo da resistência do
solo A estrutura 20, denominada “DL3A”, é uma
torre metálica autoportante, treliçada, que
Foi realizada a sondagem SPT pela empresa possui quatro pés de apoio. Possui a função de
TOPGEO Consultoria. De posse destes dados, ancoragem, com capacidade de suportar até 60º
serão calculados os parâmetros e de deflexão no alinhamento da LT quando
correlacionando o número de golpes por aplicada como intermediária e 90° quando

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utilizada como fim-de-linha. Os cabos Houve uma redução de 26,2% no volume de
condutores nesta estrutura são CAA Linnet concreto e consequentimente uma redução de
Aero Z (Liga TAW), dispostos em forma R$10.700,00 para execução das fundações
triangular. Já o cabo para-raios é CAA Petrel. A tubulões da estrutura 20.
tabela 2 apresenta a aplicação desta estrutura na
LT e os maiores valores suportados,
considerando as hipóteses de carregamento.

Tabela 2. Comparação dos parâmetros e configuração da


Estr.20.
Aplicação Adotada no
Máxima projeto
Tipo DL3A
Altura útil (m) 29,50 22,00
Extensão (m) 12,00 12,00
A 9,00 1,50
Pés B 9,00 1,50
(m) C 9,00 1,50
D 9,00 1,50
Vão Médio (m) 1.255 305
Figura 1. Comparação da profundidade entre o tubulão
Vão Gravante (m) 600 304 padrão e o calculado com as cargas reais da Estr.20.
Ângulo 90° 90°

A CR Gontijo realizou a modelagem da 5 CONCLUSÃO


estrutura 20, considerando os dados específios
desta e obteve as cargas nas fundações (tabela Os avanços das ferramentas de cálculo
3). permitem a elaboração de um projeto específico
de fundações para estruturas de Linhas de
Tabela 3. Cargas nas fundações Transmissão, com menor prazo e maior
Vertical Resultante eficiência ao empreendimento. O uso das cargas
(kgf) Horizontal (kgf) que atuam nas fundações e os parâmetros do
Compressão 52.691 9.924 solo reais permitiram uma redução significativa
Tração 47.430 9.016 no volume de concreto, escavação, transporte
de materiais, armação e formas para novas LTs.
De posse destas cargas e dos parâmetros do Por ter projetos específicos para as estruturas é
solo, a Cemig pode dimensionar os quatro necessário um controle maior da documentação
tubulões da estrutura 20. Na tabela 4 é e mais fiscalização durante a execução da obra.
apresentado o comparativo entre a fundação A mudança estimulou o desenvolvimento e o
padrão com a individualizada. A profundidade aumento do conhecimento da equipe própria da
dos tubulões foram reduzidas (Figura 1). Cemig para elaboração de projeto de fundações,
refletindo na redução de custos de novos
Tabela 4. Comparação do volume de concreto e custos na empreendimentos.
Estr.20.
Fundação Fundação
Padrão Individualizada REFERÊNCIAS
Concreto (m³) 26,39 19,48
Aguilera. J. R. F. et al. (2007) Estruturas Treliçadas
Custo (R$ x mil) 40,87 30,17 Esbeltas Sob Ação do Vento. Dissertação (Mestrado).
PUC-Rio.
Chaves. R. et al. (2004) Fundações de Torres de Linhas
de Transmissão e Telecomunicações. Belo Horizonte,

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



MG. 192 p. Dissertação (Mestrado). Escola de
Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais,
UFMG.
Gontijo. H. D. O. et al. (2017) Projeto de Fundação
Individualizado por Torre em uma Nova Linha de
Transmissão. ERIAC - Encuentro Regional
Iberoamericano de Cigré.
Horochoski. L. et al. (2014) Uma Visão para Ensaios de
Campo Focado na Obtenção de Dados para Projetos
de Fundação de Linhas de Transmissão. Revista de
Engenharia e Tecnologia, v. 6, n. 3, p. Páginas 180-
185, 2014.
Ruffier. A. P. (1985) Análise de Fundações Submetidas a
Esforços de Arrancamento, pelo Método de
Elementos Finitos. Dissertação (Mestrado).
Universidade Federal do Rio de Janeiro. UFRJ.
Velozo. L. T. et al. (2010) Metodização do Estudo das
Fundações para Suportes de Linhas de Transmissão.
Tese (Doutorado). PUC-Rio.
Wiggins. R. L. (1969) Analysis and Design of Tower
Foundations. Journal of the Power Division. Vol. 95,
Issue 1, p. 77-100.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Projetos de Fundações Submetidas a Carregamentos Transversais
com Estacas Inclinadas
Carlos Eduardo Costa de Oliveira
Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil, ce.engcivil@gmail.com

Lucas Teodoro Marques Lopes


Pontifícia Universidade Católica de Goiás, Goiânia, Brasil, lucasteodoroml@gmail.com

RESUMO: Com a análise de literaturas como as de Kavazanjian (2006) e Moore (2005), defensoras
do uso de estacas inclinadas em casos de grandes esforços transversais, propõe-se um estudo de
viabilidade técnica e econômica para comparar o emprego destas com estacas verticais. A análise
abrange o estaqueamento, detalhamento das estacas e cálculo de custos. Para a composição dos
custos, utilizou-se fundações verticais do tipo hélice contínua e inclinadas do tipo pré-moldadas
cravadas. Os resultados comprovaram que, a implantação de estacas inclinadas fica condicionada a
carregamentos transversais elevados e a solução se dá por estacas relativamente curtas, devido ao alto
custo do maquinário e da mão de obra.

PALAVRAS-CHAVE: fundações, estaca inclinada, viabilidade econômica, estudo comparativo.

1 INTRODUÇÃO estacas. Estudos de viabilidade como o de


Sérvulo (2012) e o de Bianchin (2013),
O uso de estacas pré-moldadas com inclinação defendem a utilização de estacas do tipo hélice
em relação ao nível do solo como solução de contínua neste tipo de estrutura. Entretanto, não
projeto de fundações surgiu com o propósito de é feita uma comparação com estacas inclinadas
atenuar os efeitos das cargas transversais nas nestes estudos. Nestas situações de grandes
fundações. O esforço gerado pela combinação solicitações de esforços transversais a literatura,
das forças vertical e horizontal resulta em um como em Kavazanjian (2006) e Moore (2005),
vetor que pode ser admitido como carga axial recomenda o uso de estacas inclinadas.
nesse tipo de estaca, reduzindo o volume de Apesar da elevada quantidade de variáveis
concreto necessário para resistir a esses esforços. que um estudo de projeto de fundações apresenta
Dessa forma, é possível que a inclinação das (característica do solo, variabilidade da
estacas seja uma solução mais econômica em estrutura, condições ambientais), este trabalho
projetos com grandes solicitações transversais. tem como objetivo avaliar o emprego e
As estacas hélice contínua e pré-moldadas viabilidade econômica de estacas inclinadas
verticais são muitas vezes utilizadas em casos como solução de fundação para pilares com
que outras soluções poderiam ser mais carregamento transversal.
vantajosas. Vê-se, assim, a carência de estudos
comparativos entre o uso de estacas verticais e
inclinadas que ampliem a discussão sobre o tema 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
e aumentem o conhecimento sobre esse método
pouco difundido no país. A fundamentação teórica deste trabalho
Em silos e galpões, estruturas que geralmente apresentará os métodos utilizados para o
apresentam grandes cargas transversais, é dimensionamento das estacas verticais e
comum a opção por fundações compostas por inclinadas.

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2.1 Dimensionamento à compressão 2.3 Método de Schiel

Segundo Alonso (2012), caso não seja Responsável pela criação de um dos métodos
constatada a ruptura por flambagem, o clássicos para o cálculo de estaqueamentos,
dimensionamento da armadura à compressão da Schiel propôs uma solução que emprega cálculos
estaca poderá ser feito de acordo com a NBR matriciais, apresentando a vantagem de
6118 (ABNT, 2014) a partir da equação (12). possibilitar o uso de softwares para automatizar
o processo de cálculo. Entretanto, segundo
߱ ή ߛ௙ ή ܰ௞ ൌ Ͳǡͺͷ‫ܣ‬௖ ή ݂௖ௗ ൅ ‫ܣ‬ᇱ௦ ή ݂௬ௗ (12) Schiel (1957 apud ALONSO, 2012) este método
despreza a contenção lateral do solo e considera
Em que Ȧ é a majoração da carga de as estacas como hastes bi rotuladas. Para Alonso
compressão, Ȗf é o coeficiente de ponderação da (2012), esta é a principal crítica ao método
resistência do concreto, Nk é a carga de proposto por Schiel. Dessa forma, as interações
compressão aplicada, Ac é a área da seção do solo com a estrutura não são contempladas, o
transversal de concreto, fcd é a resistência de que implica em resultados aproximados com
cálculo à compressão do concreto, ‫ܣ‬ᇱ௦ é a área da imprecisão no dimensionamento.
seção transversal da armadura longitudinal de Para Schiel (1957 apud ALONSO, 2012) são
compressão e f´yd é a resistência característica à feitas três hipóteses para dar continuidade ao
compressão do aço. processo de cálculo do estaqueamento. O bloco
de coroamento deve ser infinitamente rígido,
2.2 Dimensionamento à tração desprezando as deformações em relação à
deformação superior sofrida pelas estacas. O
Segundo Alonso (2012), caso haja a presença de material das estacas obedece à lei de Hooke e a
tração, a estaca será sempre armada, sendo a carga em cada componente do estaqueamento é
seção da armadura de tração definida a partir da proporcional à projeção que o deslocamento do
abertura máxima permitida de fissuras. Pode-se topo da estaca cria sobre o eixo vertical da
então usar a fórmula simplificada, fornecida pela mesma.
NBR 6118 (ABNT, 2014) e expressa pela Ainda segundo Schiel (1957 apud ALONSO,
equação (13), onde Ȧ é o menor dos valores 2012) as estacas recebem uma orientação
obtidos. composta pelas coordenadas ‫ݔ‬௜ ,‫ݒ‬௜ e ‫ݖ‬௜ de sua
cota de arrasamento. Essas cotas serão
߶ Ͷߪ௦௜ relacionadas a um sistema qualquer de eixos
‫ۓ‬ ή cartesianos onde o eixo x é vertical e orientado
ͳʹǡͷ݊ଵ ‫ܧ‬௦ ή ݂௖௧௠
߱൏ (13) para baixo, como visto na Figura (1).
‫ ߶ ۔‬ή ߪ௦௜ Ͷ
ή ൬ ൅ Ͷͷ൰
‫ʹͳە‬ǡͷ ή ݊ଵ ή ‫ܧ‬௦ ߩ௥௜

Em que ‫ ׋‬é o diâmetro das barras tracionadas,


em milímetros, n1 é o coeficiente de
conformação superficial da armadura, Es é o
módulo de elasticidade do aço, ısi é a tensão de
tração no centro de gravidade da armadura, ȡri é
a taxa de armadura e ݂௖௧௠ é a resistência média à
tração do concreto, que pode ser calculada, em
acordo com a NBR 6118 (ABNT, 2014) a partir Figura 1. Representação da projeção que o deslocamento
da equação (14). do topo da estaca cria sobre o eixo vertical da mesma.
Medidas dos ângulos Į e Ȧ da estaca. Fonte: Adaptado de
ଶȀଷ Alonso (2012).
݂௖௧௠ ൌ Ͳǡ͵ ή ݂௖௞ (14)
O ângulo de inclinação da estaca com a
vertical é representado por ߙ e considerado
sempre como positivo. O ângulo de projeção do

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eixo da estaca no plano (y, z) será medido sempre
a partir do eixo y e representado por Ȧ, sendo
positivo somente quando medido no sentido
horário. A relação carga-deslocamento no topo
da estaca é dada pela rigidez da mesma e
calculada por meio da equação (15).

‫ܧ‬௜ ή ‫ܣ‬௜
ܵ௜ ൌ (15)
‫ܮ‬௜

Em que S é a rigidez, E é o módulo de


elasticidade, A é a área da seção transversal, L o
comprimento da estaca e N a carga em cada
estaca. Sendo que para estacas sujeitas a um Figura 2 - Representação dos estaqueamentos simétricos
encurtamento ǻL1, a carga é calculada a partir da com a indicação numérica de cada estaca. Fonte:
equação (16). Adaptado de Alonso (2012).

ܰ௜ ൌ ܵ௜ ή ȟ‫ܮ‬ଵ (16) Este critério é derivado de uma aproximação


pois, considera que em algumas das estacas
Por último, a rigidez do grupo de estacas é inclinadas do grupo as cargas são decorrentes de
definido a partir de uma estaca utilizada como suas componentes verticais.
referência.
3 METODOLOGIA
2.4 Método de Nokkentved
Os dados de projeto utilizados, como os
Com as mesmas hipóteses do método de Schiel, carregamentos dos pilares e a sondagem SPT
que desconsidera a presença do solo e a interação (Standard Penetration Test), são provenientes de
entre as estacas, Nokkentved propôs uma um projeto real, já executado e concluído. Fez-se
solução focada no cálculo de estaqueamentos a escolha de utilizar dados provenientes de um
simétricos, contudo funcional para qualquer tipo projeto visando que este trabalho esteja mais
de estaqueamento. Para um grupo de estacas próximo de situações que possam ser
iguais (Si = 1) e simétrico, a carga em cada estaca encontradas na prática.
pode ser calculada a partir da equação (17), Para o cálculo e dimensionamento das
sendo o ângulo Į obtido a partir das Tabelas de fundações deste trabalho, foram escolhidos três
Nokkentved, V representa a carga vertical na pilares em situações de carregamentos distintos,
estaca, H a carga horizontal e M o momento. visando compreender as diferentes situações que
possam ocorrer. As três situações compreendidas
…‘• ߙ௜ •‹ ߙ௜ ܲ௜ pelos pilares escolhidos são:
ܰ௜ ൌ ܸ ή
σ …‘•; ߙ௜
൅‫ܪ‬ή
σ •‹; ߙ௜
൅‫ܯ‬ή
σ ‫;݌‬
(17)
¾ Pilar P1: apresenta uma uniformidade nos
Em Alonso (2012), a análise do cálculo parte valores do momento fletor, carregamentos
do princípio que o estaqueamento é projetado vertical e horizontal;
nos dois planos de simetria, como visto na Figura ¾ Pilar P2: a carga vertical é muito maior em
(2). relação ao carregamento horizontal e
Assim, é feita uma correspondência de valor momento fletor;
de cos²Įi à cada elemento do conjunto de estacas ¾ Pilar P3: o momento fletor e carregamento
e os valores de sen²Įi serão aplicados somente horizontal possuem valores elevados.
aos elementos projetados. No cálculo de Hz as
estacas 2, 3, 10 e 11 terão ângulo com a vertical Os valores dos carregamentos presentes nos
(Į) igual a 0º e quando se realizar o cálculo de pilares escolhidos podem ser observados no
Hy, as estacas de 5 a 8 terão Į = 0º. Quadro 2.

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Quadro 2 – Carregamentos atuantes nos pilares.
Fz Fx Fy Mx My
Pilar
(kN) (kN) (kN) (kN.m) (kN.m)
P1 362,57 79,13 115,56 189,14 157,57
P2 850,5 –0,14 –7,81 –35,33 –2,37
P3 776,99 668,14 2,69 12,01 2237,37

Após escolhidos os pilares a serem utilizados Figura 4 – Disposição das estacas e dimensões do bloco
neste trabalho, definiu-se um ensaio de para o pilar P2.
sondagem SPT padrão a ser utilizado para todos
os pilares. Definidos os pilares e a sondagem a
ser utilizada, as metodologias aplicadas se
dividem em duas, uma para as estacas verticais
do tipo hélice continua e outra para as estacas
inclinadas do tipo pré-moldadas. Figura 5 – Disposição das estacas e dimensões do bloco
Os preços utilizados foram obtidos a partir de para o pilar P3.
levantamento feito em empresas goianas e
consulta a tabela de custos de obras civis da A quantidade de aço necessária para os
Agetop (AGETOP, 2016), Sistema Nacional de blocos, em quilogramas, foi calculada a partir do
Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil volume de concreto dos blocos, sendo essa
(SINAPI, 2017) e do Sistema de Custos relação estabelecida em 70 kg/m³, e pode ser
Rodoviários (SICRO II,2016). observada no Quadro 4.

4 RESULTADOS Quadro 4 – Quantidade de aço em quilogramas para as


fundações calculadas.
Aço total das estacas (kg) Aço do bloco
4.1 Estacas Verticais Pilar
Armadura Estribos (kg)
P1 825 33 161
Os resultados obtidos, podem ser observados a P2 158 71 129
seguir. O Quadro 3 apresenta os resultados P3 3003 247 1159
obtidos para o número de estacas, diâmetro e
profundidade das estacas e as Figuras (3), (4) e A partir dos resultados encontrados para as
(5) apresentam a esquematização das soluções. dimensões das estaca se dos blocos, foi possível
quantificar o volume de concreto necessário,
Quadro 3 – Características das fundações de pilar. como demonstrado no Quadro 5.
Número Diâmetro das Profundidade
Pilar
de Estacas estacas (m) das estacas (m)
Quadro 5 – Volume de concreto das fundações calculadas.
P1 2 0,5 10
Volume de concreto (m³)
P2 2 0,5 8 Pilar
Estacas Bloco
P3 2 0,6 10
P1 3,93 2,30
P2 3,14 1,84
P3 5,65 16,56

Dos valores encontrados foram determinados


os custos finais para a execução, expostos no
Quadro 6.

Quadro 6 – Custos finais para execução das fundações


calculadas.
Custos Finais (R$) Custo
Pilar Total
Concreto Aço Maquinário
(R$)
P1 1610,9 5095,6 800,00 7506,5
Figura 3 – Disposição das estacas e dimensões do bloco P2 1288,7 1802,2 640,00 3730,9
para o pilar P1. P3 5830,4 22909,4 1000,00 29739

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4.2 Estacas Inclinadas Quadro 6 – Custo da execução das estacas inclinadas por
bate-estacas.
Os resultados provenientes dos custos foram Diâmetro Execução Profundidade Número Valor total
divididos em quatro quadros. O Quadro 6 (cm) (R$/m) (m) de estacas (R$)
apresenta o custo da execução das estacas (un)
inclinadas contabilizando a mão de obra e a 23 48 6 14 4032,00
mobilização do equipamento. As Figuras (6), (7) 40 75 12 10 9000,00
e (8) apresentam a esquematização das soluções.
A definição do custo dos blocos de
coroamento pode ser visto a seguir no Quadro 7,
onde foram determinados o volume de concreto
e o peso do aço de cada bloco resultando em um
custo total para os mesmos.

Quadro 7 – Custo do bloco de coroamento.


Custo do Peso de Custo Custo
Concreto
Pilar concreto aço do aço total
(m³)
(R$) (Kg) (R$) (R$)
P1 2,31 265 161,7 6,37 1642,18
P2 1,76 265 123,2 6,37 1251,18
P3 9,99 265 699,3 6,37 7101,89

Obtiveram-se os valores unitários de cada


Figura 6 – Disposição das estacas e dimensões do bloco estaca pré-moldada variando de acordo com o
para o pilar P1.
diâmetro, o comprimento e a taxa de aço das
mesmas, representados no Quadro 8.

Quadro 8 – Custo das estacas pré-moldadas.


Custo por Número de
Custo total
Pilar estaca estacas
(R$)
(R$) (un)
P1 320,25 8 2562,00
P2 320,25 6 1921,50
P3 1249,68 10 12496,80

Os valores totais podem ser observados no


Quadro 9.
Figura 7 – Disposição das estacas e dimensões do bloco
para o pilar P2. Quadro 9 – Custo total das fundações calculadas.
Custo das Custo dos Custo da execução
Valor total
estacas Blocos das estacas
(R$)
(R$) (R$) (R$)
16979,80 9994,85 13032,00 40006,65

4.3 Comparação de resultados

Obtidos os custos para as soluções vertical e


inclinada, é possível comparar as viabilidades
econômicas destas soluções. O Quadro 10
apresenta os custos totais obtidos para cada
solução.
Figura 8 – Disposição das estacas e dimensões do bloco
para o pilar P3.

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Quadro 10 – Comparação econômica entre as soluções. Concluiu-se, que o uso de estacas inclinadas
Custo total (R$) Relação apresenta-se economicamente desvantajosa para
Pilar Vertical/Inclinada
Vertical Inclinada
(%)
situações onde os valores do momento fletor e
P1 7506,46 6508,18 115,33 carregamento vertical sejam muito baixos ou
P2 3730,89 4900,18 76,13 tenham que ser executadas com profundidades
P3 29739,84 28598,29 103,99 muito elevadas.
Valor
40977,19 40006,65 102,43 Nos casos em que os esforços horizontais e os
Total momentos fletores são consideráveis, as estacas
inclinadas apresentaram uma pequena vantagem
A partir das informações expostas no Quadro econômica em relação as verticais.
10 nota-se que, as soluções verticais encontradas Considerando-se as variáveis encontradas no
apresentam valor total 2,43% maior que o dimensionamento e execução de uma fundação
encontrado para as soluções inclinadas. nota-se que, apesar da relevância obtidos, o
A diferença encontrada entre os valores se dá estudo limitou-se aos dados de projeto utilizados
pelo fato de que a execução das estacas e preços auferidos, especificamente para o
inclinadas apresenta valor consideravelmente cenário da construção civil em Goiânia, Goiás.
maior que o das estacas verticais, devido ao alto
custo da importação do maquinário e baixa REFERÊNCIAS
utilização deste método no Brasil. Assim,
mesmo em situações onde o uso de estacas Agência goiana de transportes e obras. Tabela 125 – custos
inclinadas se apresenta mais vantajoso, a de obras civis. Goiânia: agetop, 2016.
diferença entre os custos apresenta valores Alonso, U. R. Dimensionamento de Fundações Profundas.
relativamente baixos. 2 ed. São Paulo: Blucher, 2012.
Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR
Um exemplo disso pode ser visto nas estacas 6118/2014: Projeto de estruturas de concreto –
inclinadas da fundação do pilar P3, que Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2014.
apresentam valor 3,99% inferior a solução com Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR
estacas verticais. Devido a sua profundidade de 6122/2010: Projeto e execução de fundações. Rio de
12 metros as estacas inclinadas de P3 geram um Janeiro: ABNT, 2010.
Bianchin, D. Fundações para bases de silos metálicos de
custo de execução de R$ 9.000,00, fundo plano. Ijuí: UNIJUÍ, 2013.
representando 31,47% dos custos finais da Décourt, L; quaresma, A. R. F. Capacidade de carga de
fundação. estacas a partir de valores de SPT. VI Congresso
Na fundação do pilar P2 observa-se maior Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de
custo total para a fundação com estacas Fundações, ABMS: p. 45-53.
Kavazanjian, E. J. A Driven Pile Advantage,
inclinadas, tal situação ocorre devido aos PILEDRIVER, Q4, Arizona State, 2006.
carregamentos presentes no pilar P2, sendo o Matlock, H.; reese, L. C. Foundation analysis of offshore
carregamento vertical (Fz) muito maior em pile supported structures. Proc. Fifth Int. Conference
relação ao carregamento horizontal e momento on Soil Mechanics and Foundation Engineering, Paris,
fletor. Assim, percebe-se a desvantagem v.2, 1961, p.91-97.
Moore, M. A. Raked piles. Structure magazine. C3 Ink,
econômica do uso de estacas inclinadas em San Francisco, p.49-53, December 2005.
situações na qual o carregamento horizontal e Santos, L. M. Cálculo de concreto armado. Volume 2. São
momento fletor assumem valores muito baixos. Paulo: LMS, 1981.
A situação notada na fundação dimensionada Schiel, F., Estática de Estaqueamentos, Publicação nº10,
para o pilar P1 ocorre devido aos esforços Escola de Engenharia de São Carlos, p. 142, 1957.
Sérvulo, A. C. O. Análise tridimensional automática de
provenientes do pilar, apresentando uma blocos de coroamento. Anápolis: UEG, 2012.
uniformidade nos valores do momento fletor, Sistema De Custos Rodoviários. Relatório Analítico de
carregamentos vertical e horizontal. A solução Composições de Custos. São Paulo: SICRO II,2016.
mais econômica se deu com o uso de estacas Sistema Nacional De Pesquisa De Custos E Índices Da
inclinadas curtas, com 6 metros de profundidade, Construção Civil. Tabela de preços de insumos. São
Paulo: SINAPI, 2017.
logo, o alto custo de execução por metro linear Zammataro, B. B. Comportamento de estacas tipo
não foi um fator determinante para o custo final escavada e hélice contínua, submetidas a esforços
da fundação. horizontais. São Paulo: UNICAMP, 2007.

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Proposta de um Novo Modelo de Contenção Denominado
Sanduíche de Escória e GYS
Ricardo Cabette Ramos
UFSJ, Ouro Branco-MG, Brasil, ricardo.cabette@outlook.com

Lilian Agda de Oliveira


UFSJ, Ouro Branco-MG, Brasil, lilianagdadeoliveira@gmail.com

Tales Moreira de Oliveira


UFSJ, Ouro Branco-MG, Brasil, tales@ufsj.edu.br

RESUMO: Diversas tecnologias têm sido criadas para controle de processos de movimentação de
massa em taludes e encostas naturais. Estes avanços tecnológicos tornam-se mais atrativos quando se
consegue aliar ao viés econômico, parâmetros sustentáveis. Nesse contexto, justifica-se a proposta de
se estudar este novo modelo de contenção de taludes e encostas naturais, o qual se denominou
Sanduíche de Escória e GYS. Isso porque, o mesmo utiliza da escória de aciaria, material muito
encontrado na região de estudo e considerado um resíduo da indústria siderúrgica. Inicialmente, foi
proposto uma análise qualitativa deste sistema de contenção. Assim, elaborou-se um modelo em
escala reduzida (1.g), cujos parâmetros utilizados foram proporcionais a um estudo inicial concebido
para a contenção, em escala real, a ser implementado para estabilizar uma voçoroca presente no
Campus Alto Paraopeba da Universidade Federal de São João del-Rei, localizado na cidade de Ouro
Branco em Minas Gerais. Os resultados obtidos foram bastante satisfatórios, uma vez que, o modelo
Sanduíche de Escória e GYS não apresentou deslocamentos excessivos resistindo a uma tensão de
elevada magnitude para as condições de miniatura instaladas.

PALAVRAS-CHAVE: Movimentação de massa, Contenção de Taludes, Sanduíche de Escória e


GYS.

1 INTRODUÇÃO gerar estabilização do maciço oferecendo


resistência à movimentação de massa [12],
Em uma grande parte do território brasileiro é incluindo a reconstituição de taludes e encostas
possível encontrar solos propícios à formação de erodidas. A contenção é construída introduzindo-
processos erosivos, os quais podem impactar o se uma estrutura que apresenta rigidez distinta
meio ambiente podendo ocasionar danos daquela do terreno a que o mesmo irá conter [8].
materiais e até mesmo vítimas fatais. No que tange a crescente pressão e controle
De acordo com [1], a erosão é um processo por parte de órgãos públicos fiscalizadores e o
de desagregação e transporte do solo. Esta pode interesse da população em geral em benefício do
ocorrer por meio de agentes como a água e o meio ambiente, tem-se fomentado a discussão
vento, ou mesmo por meios antrópicos. Com a pela busca de técnicas de recuperação de áreas
finalidade de conter este fenômeno, surgem degradadas por diversas atividades [2]. Com isso,
métodos que visam a estabilidade e contenção técnicas de contenção têm se tornado cada vez
dos maciços. mais frequentes e necessárias para conter os
Entende-se por obras de contenção estruturas taludes e encostas com processos erosivos
construídas pela engenharia civil, que visam instalados.
Os processos erosivos geralmente são
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Nesse cenário e dentre as diversas 3 METODOLOGIA
consequências de um processo erosivo,
encontram-se as voçorocas, as quais são 3.1 Materiais
definidas por [6] como uma escavação ou rasgão
de solo ou rocha decomposta, que permite a Para execução da proposta de miniatura,
exposição do lençol subterrâneo. Para tanto, confeccionou-se uma caixa de dimensões
torna-se crucial a busca por contenções capazes 100x80x60 cm, vedada lateralmente e no fundo
de estabilizar tal dano ambiental. com madeira, para contenção de solo no seu
Dentre as soluções eficazes para a interior. Desenvolveu-se um pórtico de 150 cm
minimização dos processos erosivos acentuados, de altura para servir de suporte de aplicação da
destaca-se a construção de estruturas físicas, carga. No que se refere ao preenchimento da
diminuindo assim, a perda e movimentação de caixa, empregou- se a areia grossa de rio lavada.
sedimentos que são as principais causas do Para elaboração do sanduíche, aplicou-se uma
aparecimento das voçorocas [3]. Aliado a este tela de nylon com malha quadrada de 1,52 mm,
propósito, este trabalho desenvolveu um novo para revestir a escória de aciaria de dimensão
modelo de contenção denominado Sanduíche de aproximada de 4,25 mm. De forma a simular a
Escória e GYS. aderência entre o sanduíche e o fundo da caixa,
foi introduzida uma camada de solo com
espessura de 5 cm. Em relação a aplicação de
2 JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS cargas, utilizou-se um sistema de macaco
hidráulico, da marca MERAX, e bomba, sobre a
O Sanduíche de Escória e GYS tem como qual foi acoplado um manômetro para aferição
proposta desenvolver uma contenção que busque das cargas. Este manômetro tem como fabricante
trazer uma nova alternativa para aplicação de a BOVENAU, e possui leitura máxima de 30
escória de aciaria. Este apresenta-se como um toneladas-força. Para medição dos
modelo de contenção de baixo custo e de fácil deslocamentos, foram utilizados relógios
execução, possibilitando ainda a inserção da comparadores, da marca DIGIMESS.
escória a uma nova alternativa de aplicação,
retirando a mesma dos pátios de deposito e as 3.2 Métodos
inserindo nas obras de contenção.
Nesse contexto, foi proposto inicialmente um A proposição real para o sanduíche seria com
estudo sobre a ótica de um modelo reduzido (1.g) diâmetro de 1,5m a ser implantado em um talude
para o estudo do comportamento da escória e do de 8m de altura. Além disso, a escória utilizada
geossintético (GYS), de maneira que a redução para este modelo seria a de número 3, cujo
esteja relacionada a um fator de escala em diâmetro é de aproximadamente 5,8 cm. Nesse
relação as suas dimensões reais para estabilizar contexto, ao correlacionar o real com a
uma Voçoroca, que foi objeto deste estudo. A miniatura, em uma escala de 5%, obteve-se como
miniatura proposta possibilita a obtenção de um parâmetros para o sanduíche, um diâmetro de
controle das variáveis que envolvem o sistema 10cm, com altura do talude de 40cm.
em discussão. O estudo do modelo de contenção, Sanduíche
Assim, têm-se como objetivo analisar de Escória e GYS, inicializou-se com a
qualitativamente a proposta de contenção construção da miniatura, através da fabricação da
denominada Sanduíche de Escória e GYS, caixa e do pórtico. Após esta etapa, iniciou-se o
aferindo o seu comportamento quando da processo construtivo do sistema. Primeiramente,
solicitação externa de cargas. confeccionou-se o sanduíche de escória através
do envelopamento com a tela de nylon, em forma
elíptica com dimensão 10x78 cm. Em seguida,
foi introduzida a escória. Cabe ressaltar que os
dados de caracterização da escória da VSB
utilizada na contenção, foram realizados pelo
INFRAGEO. Logo após a elaboração dos
sanduíches, foi feito o empilhamento do mesmo
em forma de pirâmide. Este foi realizado em
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cinco camadas, seguido do lançamento de areia proposto constatou-se que à medida que as
atrás do sistema de contenção. cargas eram elevadas, de 500 em 500 kgf a cada
Com o pórtico e a caixa montados, Figura 1, 10 minutos, a estrutura se deslocava vertical e
foi desenvolvido o ensaio de prova de carga horizontalmente.
(NBR12131:2006) por meio do macaco A curva tensão x deslocamento horizontal,
hidráulico, de maneira a possibilitar a análise do apresentado no Gráfico 1, evidencia o
comportamento da contenção. deslocamento da estrutura de contenção. Pode-se
observar que até 500 kPa o deslocamento foi
bastante acentuado, com o valor aproximado de
13,7 mm. Após este carregamento, observou-se
que o deslocamento tende a ser constante,
mesmo elevando-se o carregamento aplicado.

Gráfico 1 - Curva Tensão x Deslocamento Horizontal.


Figura 1- Modelo reduzido do Sanduíche de Escória
e GYS. No que refere-se ao deslocamento vertical,
Antes do desenvolvimento do ensaio, foi apresentado no Gráfico 2, observou-se o mesmo
realizada a calibração do manômetro, a partir da comportamento relatado anteriormente, porém
utilização da prensa universal. Esta se faz tendo o deslocamento estabilizado a partir da
necessária para alcançar resultados fidedignos tensão de 566,6 kPa, quando da constância de
aos das leituras efetuadas. Este processo ocorreu deslocamento a partir de 47,6 mm,
com aplicação de cargas e estágios predefinidos, aproximadamente.
de forma a se determinar, para cada estágio de
carga conhecido, o carregamento equivalente
lido no manômetro instalado na bomba.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O ensaio de prova de carga realizado contou


com esforços axiais que promoveram
deslocamentos na estrutura. No que tange ao
carregamento da força, este foi aplicado sobre
uma placa de aço cuja área foi de 1125 cm².
Sendo assim, os resultados foram analisados por
meio da tensão aplicada em kPa. Desse modo, Gráfico 2- Curva Tensão x Deslocamento Vertical.
após uma análise qualitativa do sistema
Cabe ressaltar que devido à limitação do
macaco hidráulico utilizado, o carregamento

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máximo aplicado foi de 30 toneladas-força (tf).
Entretanto, estima-se que a estrutura suportaria
uma aplicação de carga ainda mais elevada.
O deslocamento inicial pode ser explicado
pela acomodação e compactação realizadas pelo
sistema de aplicação de carga ao sistema, visto
que a escória que preenche o Sanduíche não fora
compactada, mas apenas lançada.
Outro fator observado foi a presença de
fissuras na areia existente atrás do sistema de
contenção. Sendo essas facilmente observadas a
partir da tensão de aproximadamente de 230 kPa,
que culminou nos deslocamentos horizontais
Figura 3- Modelo de contenção escória e GYS.
medidos, conforme pode ser observado pela
Figura 2. Comprovando-se assim, a existência do
deslocamento na estrutura de contenção. 5 CONCLUSÃO

Os avanços tecnológicos vêm contribuindo


significativamente para o surgimento de novas
técnicas de engenharia e tornando cada vez mais
viável a implementação destas em benefício da
população. Contudo, nota-se que algumas vezes,
estas não estão inseridas a um viés sustentável.
Partindo desta ideia e com base nos resultados
obtidos, pode-se constatar que o deslocamento
do mesmo é ínfimo ao correlacionar com as
cargas aplicadas, permitindo concluir que o
sistema apresenta um grande potencial de
aplicação. Além de possuir ainda um viés
ambiental correto. Para uma abordagem mais
Figura 2 - Representação das fissuras presentes na areia. ampla em relação a esta nova técnica de
contenção, faz-se necessários estudos em escala
Por fim, com os ensaios e as análises real, tendo em vista que o resultado do modelo
qualitativas realizadas, verificou-se que o reduzido apresentou-se altamente positivo.
modelo Sanduíche de Escória e GYS apresentou
um comportamento acima do esperado. Isso
porque, o mesmo atingiu uma elevada AGRADECIMENTOS
capacidade de carga com baixos deslocamentos,
mantendo sua estabilidade após aplicação de 30 Agradecemos ao grupo de pesquisa INFRAGEO
toneladas, conforme Figura 3. Presume-se que de – Infraestrutura de Transportes e Obras
acordo com a análise qualitativa da estrutura, a Geotécnicas, ao Departamento de Tecnologia em
mesma encontrava-se ainda distante da ruptura. Engenharia Civil, Computação e Humanidades
da Universidade Federal de São João del-Rei,
Campus Alto Paraopeba – UFSJ/CAP, a empresa
Mecânica Precisa Biquense LTDA e a VSB,
pelos materiais utilizados na pesquisa.

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REFERÊNCIAS

[1] CARVALHO, J. C.; DINIZ, N. C. Cartilha Erosão.


Programa de Pós-Graduação em Geotecnia.
Universidade de Brasília: FINATEC, 2007. 34p. 3rd
Edition. Brasília.
[2] DIAS, D. M.; SANTOS, E. C.; GOMES, D. P. P.
Bioengenharia dos solos para estabilização de taludes
aplicada nas indústrias nucleares do Brasil – INB.
Disponível em: <
https://ie.org.br/site/ieadm/arquivos/arqnot6501.pdf>
Acesso em: 13 de agosto de 2017.
[3] EMBRAPA. SOLOS. Relatório técnico e plano de
monitoramento do projeto de recuperação de áreas
degradadas. Rio de Janeiro, 2002.
[4] LIMA, D. C.; BUENO, B. S.; SILVA, C. H. C.
Estabilização dos solos II: técnicas e aplicações a solos
da microrregião de Viçosa. Viçosa, MG, MG: UFV.
1993. 32 p. (publicação, 333).
[5] LIMA, P.G. Mecanismo de evolução da voçoroca e
quantificação dos impactos associados por modelagem
matemática: Estudo de caso da voçoroca mangue seco,
São Gonçalo do Bação (MG). 2016. 148 p.
Monografia. Programa de Pós-Graduação em
Geotecnia, Universidade Federal de Ouro Preto.
[6] LOPES, S. L; GUERRA, A. J. T. Monitoramento de
voçorocas por satélites GPS em áreas de areia
quartzosa podzolizada: Praia Mole, Florianópolis-SC.
In. VII Simpósio Nacional de Controle de Erosão,
Goiânia-GO, 2001, v. 1, n. 1, p. 106.
[7] PINTO, C.S. Curso básico de mecânica dos solos. São
Paulo: Oficina de textos. 2000. 247 p.
[8] RANZINI, S.M.T.; NEGRO JUNIOR, A. Obras de
contenção: tipos, métodos construtivos, dificuldades
executivas. In: HACHICH, W.; FALC -515.8o
COBRAMSEF, Porto Alegre. Anais,
v. 7. Porto Alegre: ABMS, p.178-190.
[9] SILVA, R. A. F. Aplicação da Engenharia Natural na
Estabilização de Taludes. Tese de Mestrado em
Engenharia Civil, Centro de Ciências Exatas e da
Engenharia (CCEE) da Universidade da Madeira,
Campus Universitário da Penteada. Funchal, Portugal,
2012.
[10] VARGAS, M. Introdução à mecânica dos solos.
São Paulo: Universidade de São Paulo. 1977. 509p.
[11] VERTEMATTI, J.C. Manual brasileiro de
geossintéticos. 2. ed. 2015. São Paulo. Blucher. 570 p.
8470-1080
[12] WOLLE, C.M. (1972). “Taludes naturais –
mecanismos de estabilização e critérios de segurança”.
Tese de Mestrado, Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo. São Paulo.

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Recuperação de Talude à Margem da MG 425 em Vargem Alegre
– MG. Estudo de Caso.
Flávio de Freitas Gonçalves
Engenheiro Civil, Ipatinga, Brasil, flavio@grupolam.com.br

Fábio José Generoso


Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, Pirapora, Brasil, fabio.generoso@ifnmg.edu.br

Edna Cristina Leal


Engenheira Civil, Viçosa, Brasil, ednacrisleal@gmail.com

RESUMO: Sendo o transporte rodoviário o maior responsável pelo fluxo de bens e pessoas pelo
país, aliado ao relevo montanhoso do estado de Minas Gerais; obras de cortes e aterros são
corriqueiramente utilizadas para dar origem a estradas e rodovias. Por consequência dessas obras os
taludes expostos pelos cortes ou a passagem de estradas por áreas já incialmente instáveis, são
necessárias instervenções para garantir a segurança e estabilidade dessas estradas. Logo obras de
recuperações de taludes a margem dessas rodovias são usualmente necessárias, justificando a
importância do estudo apresentado. O objetivo principal desse estudo de caso é apresentar a
recuperação de um talude à margem da MG 425 em Vargem Alegre por meio da utilização de
hidrossemeadura, com uma área de face do talude de 8574 m² a ser semeada. Foram também
contemplados estudos geológicos a fim de conhecer o solo local, a inclinação do talude e definir o
melhor método de recuperação para o estudo de caso. Assim como o desenvolvimento de sistemas
de drenagem nessários para garantir a estabilidade do maciço e evitar o carreamento de solo ou do
material do plantio pela hidrossemeadura. O método mostrou-se eficiente, com uma ótima
qualidade de brotação e fixação ao talude, mas ainda se fazendo necessárias visitas periódicas para
controle da eficiência do sistema de drenagem do maciço.

PALAVRAS-CHAVE: Talude, Rodovia, Retaludamento, Hidrossemeadura.

1 INTRODUÇÃO ressaltam-se os fenômenos naturais e a falta de


ensaios técnicos dos materiais que compoe o
Cada vez mais, deparamos com trechos de maciço e também, não obstante, mão de obra
estrada obstruídos por deslizamentos de terra. especializada.
Muito comum durante e após os períodos Na região deste talude, após ensaio SPT,
chuvosos. Causador de inúmeros acidentes em observou-se que predomina o solo residual nos
rodovias, estes problemas têm sido um grande horizontes B e C com matriz rochosa de
desafio para o meio técnico especializado, gnaisse. Objetivando a estabilização deste
chamado “Estabilidade de Talude”. Na sua talude, foram realizados o retaludamento,
maioria, são obras de extrema responsabilidade drenagem e a cobertura de sua face por
e de custo relativamente elevado. A falta de hidrossemeadura.
manutenções como, instrumentação, drenagem
e replantio de vegetação, são os principais
fatores dos deslizamentos de encosta, mas

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Tipos de Talude e Movimento de Massa

Segundo Gerscovich (2012) talude é a


denominação que se dá a qualquer superfície
inclinada de uma maciço de solo ou rocha.
Podendo ser natural, chamado de encosta ou
construído pelo homem no caso de aterros e
cortes.
Os taludes construídos devem ser executados Figura 1. Corrida de massa. Fonte: Cemaden –
em condições adequadas a garantir sua Disponível em: http://www.cemaden.gov.br
estabilidade e segurança, logo, antes de
executa-los devem ser analisadas e verificadas A subsidência, movimento demonstrado na
suas condições satisfatórias de estabilidade. Já Figura 2, trata-se de movimento de massa com
os taludes naturais podem se encontrar em deslocamento vertical, podendo ser contínuo ou
condições de instabilidade, sendo necessárias instantâneo. Segundo Gerscovich (2012) a
intervenções para que se garanta suas condições subsistência pode ser classificada conforme seu
de segurança. Ainda segundo Gerscovich mecanismo deflagrador em recalque,
(2012), a instabilidade de encostas resulta de desabamento ou queda, e afundamento.
sua própia dinâmica de evolução, onde os
processos físico-químicos de alteração de rocha
dão origem a materiais menos resistentes, e
sobre a influência da topografia local geram
condições propícias à ruptura.
Entende-se como movimento de massa
qualquer deslocamento de um determinado
valume de solo. Em geral, a literatura trata os
movimentos de massa como processos
associados a problemas de instabilidade de Figura 2. Subsidência ou Colapso. Fonte: Cemaden –
encostas, (Gerscovich,2012). Disponível em: http://www.cemaden.gov.br
Segundo Gerscovich (2009), os movimentos
de massa diferem-se quanto a sua velocidade de Os recalques tem por característica
movimentação e pela sua forma de ruptura. E a movimentos vertiais ocasionados pela variação
partir da identificação desses fatores os das tensões efetivas, em decorrência de
movimentos de massa podem ser agrupados em esvacções, sobrecargas ou rebaixamento de
3 categorias: escoamento, subsidências e lençol freático.
escorregamento. O desabamento ou queda, apresentado na
O escoamento subdivide-se em rastejo e Figura 3, são movimentos bruscos de alta
corrida. O rastejo apresenta movimento lento e velocidade, envolvendo blocos rochosos que se
contínuo, sua superfície de ruptura não está bem deslocam em queda livre ao longo de uma
definida, e sua causa geralmente está associada superfície inclinada. Por ultimo o afundamento
a ação da gravidade, temperatura e umidade. A que segundo Gerscovich (2012) origina-se na
corrida, demonstrada na Figura 1, apresenta remoçao de uma fase sólida, líquida ou gasosa,
movimentos rápidos, comportando-se como um cujas causas comuns são: ação erosiva das
flúido e dentre suas causas destaca-se a perda águas subterrâneas; atividades de mineração;
de resistência pelo excesso de água no solo. efeito de vibração em sedimentos não
consolidados; exploração de petróleo; e
bombeamento de águas subterrâneas.

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Segundo Gerscovich (2012) o objetivo da
análise de estabilidade é determinar a
possibilidade de ocorrência de escorregamento
de massa de solo de um talude natural ou
construído. De maneira geral essa análise é
realizada pela comparação das tensões
cisalhantes mobilizadas com a resistência ao
cisalhamento.
IJ
f
Figura 3. Quedas. Fonte: Cemaden – Disponível em: Fs = (1)
IJ
http://www.cemaden.gov.br mob
O escorregamento é caracterizado por um Onde: > 1 Obra estável.
deslocamento de massa rápido e com superfície = 1 Ocorre ruptura.
de ruptura bem definida, é dentre os < 1 Não tem significado físico.
movimentos de massa o mais frequente e Por definição, segundo Gerscovich (2009), o
catastrófico. Este movimento de massa fator de segurança é o fator pelo qual os
deflagra-se quando as tensões cisalhantes parâmetros de resistência podem ser reduzidos
mobilizadas se igualam á resitência do de tal forma a tornar o talude em estado de
cisalhamento. A Figura 4 e Figura 5 a seguir equilíbrio limite ao longo de uma superfície.
esquematizam os diferentes tipos de A norma NBR 11682 (ABNT,2006)
escorregamentos. estabelece que o fator de segurança deve
abranger não somente a situação atual do talude
como prever sua utilização futura, que pode
sofrer cortes, sobrecarga ou infiltrações.

2.2.1 Equilíbrio limite

Este método baseia-se no equlíbrio de uma


massa ativa de solo, podendo ser delimitada por
uma superfície de ruptura circular, poligonal ou
de geometria qualquer. Assumindo que a
ruptura se dá ao longo de uma superfície e que
todos os elementos ao longo dessa superfície
Figura 4. Escorregamento Rotacional. Fonte: Cemaden –
Disponível em: http://www.cemaden.gov.br atingem simultaneamente a mesma condição de
FS – Fator de Segurança (Gerscovich, 2009).

2.2.2 Fator de Segurança

De acordo com Marangon (2006), entende-se


por fator de segurança o valor numérico da
relação estabelicida entre a resistência ao
cisalhamento disponível do solo para garantir o
equilíbrio do corpo deslizante e tensão de
cisalhamento mobilizada, sob o efeito dos
esforços atuantes.

2.2.3 Análise de tensões


Figura 5. Escorregamento Translacional. Fonte: Cemaden
– Disponível em: http://www.cemaden.gov.br
Baseia-se na análise tensão x deformação, e é
realizada com o auxílio de programas
2.2 Análise de estabilidade
computacionais, pelo método dos elementos
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finitos (MEF) ou das diferenças finitas (MDF). de difícil acesso e em taludes de grande
A grande vantagem desssa abordagem está no inclinação.
fato de que os programas disponíveis no O laçamento é feito por um jato de alta
mercado possibilitam a incorporação de várias pressão, que fixa a pasta na superfície do
características dos materiais envolvidos. terreno, conferindo ao plantio além de proteção,
(Gerscovich, 2012). o controle de umidade do solo, temperatura e
reduzindo impactos da chuva sobre a superfície
2.3 Método de estabilidade semeada, evitando a erosão do solo ou o
carreamento das sementes.
2.3.1 Método de Fellenius A vegetação resultante do plantio é
usualmente gramíneas, leguminosas ou outras
Segundo Marangon (2006), esse método não espécies nativas. Sua proteção ao talude inicia-
considera interação entre as lamelas do solo, se com a cobertura do solo e após seu
admitindo que as resultantes das forças laterais crescimento favorece a estabilidade do maciço
em cada lado da lamela são colineares e de por um sistema radicular.
igual magnitude. Sendo a única interação entre
as lamelas consideradas a advinda da ruptura 3 MATERIAIS E MÉTODOS
progressiva que sempre ocorre quando da
ruptura de qualquer massa de solo. 3.1 Local

2.3.2 Método de Bishop O talude em estudo encontra-se às margens da


rodovia MG 425, EST 2393, na cidade de
No método de Bishop leva-se em conta a Vargem Alegre – MG. A situação inicial do
intereação entre as várias lamelas (Marangon, talude pode ser vista na Figura 6.
2006). No método simplificado o equilíbrio das
forças se dá na direção vertical, sendo este
altamente recomendado para superfiície de
falha circular.

2.4 Drenagem

A drenagem tem como objetivo captar e escoar


as águas pluviais, por meio de mecanismos de
drenagem, diminuindo assim a sua infiltração
no maciço, e consequêntemente o seu risco
potencial.
Os mecanimos de drenagem podem ser
superficiais como o caso das canaletas, denos e Figura 6- Talude cobrindo parte da pista
valetas, que são dipostos longitudinalmente no
talude; ou profundos, que captam a água do 3.2 Geologia do terreno
interior do maciço. E ainda em casos de taludes
altamente inclinados, podem ser adotadas as Foram realizados furos de sondagens e a
escadas de dicipação, que diminuem a predominância foi de silte areno argiloso no
velocidade da água escoada, logo, seu potencial topo e da metade para baixo, argila areno siltosa
de risco de erosão e carreamento de solo. com presença de bloco de rochas, solo residual
jovem, ou seja, saprolito. Na Figura 7 é possível
2.5 Hidrossemeadura para proteção de talude ver parte do material intemperizado na base do
talude, horizonte B e C.
A hidrossemeadura consiste na aplicação de
uma pasta composta por fertilizantes, sementes
e uma camada protetora de forma
hidromecânica. Dentre suas vantagens está no
fato dessa técnica poder ser aplicada em locais
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Quadro 1 – Traços para hidrossemeadura

Figura 7- Vista do material intemperizado no talude


Para o caso em estudo, a face do talude possui
uma área de 8574 m2, e fazendo as devidas
3.3 Inclinação do talude proporções, chegou-se ao quantitativo de
insumos que consta no Quadro 2.
Os padrões (inclinações estabelecidas
empiricamente, como referência inicial) usuais Quadro 2 – Traço utilizado para a estabilização do talude
indicam as inclinações associadas aos gabaritos
estabelecidos nos triângulos retângulos
mostrados na Figura 3.

Figura 3- Inclinações, estabelecidas empiricamente.

Estes gabaritos são frequentemente usados na 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO


prática da Engenharia, porém, para um grande
número de casos de taludes não se obtém a sua Para a estabilização do talude, foram feitos os
estabilidade com estas inclinações, sendo serviços de terraplanagem para atingir as
necessária a realização de uma análise de inclinações de 1:1, 1:2 e 1:2,5 de cima para
estabilidade (Marangon, 2006). baixo, Figura 8.
3.4 Cobertura vegetal (Hidrossemeadura)

Para o a proteção da face do talude, foram


utilizados os insumos constantes no Quadro 1
com um traço para 1 (um) hectare ou para 2000
m2.
No Quadro 1, pode-se observar os traços para
hidrossemeadura.

Figura 8 – Vista da inclinação do talude

Foram construidos os canais para drenagem de


topo e de frente, Figura 9.

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Figura 9 – Canaletas para drenagem de topo Figura 11 – Perfil transversal do talude

Quanto à cobertura vegetal, foi adotado o


quantitativo de insumos do Quadro 2,
1,248
atendendo à prática usual de obras, Figura 10.

Figura 12 – Resultado da análise de estabilidade

Observa-se que respeitando as características do


solo, conseguiu-se uma boa resposta no
comportamento do talude quanto à estabilidade,
Figura 10 – Cobertura vegetal no talude obtendo um FS>1, sendo de 1,248, Figura 12. A
cobertura vegetal teve uma ótima brotação,
No Quadro 3 estão os dados empregados na fixando-se de forma efetiva e contribuindo na
análise, obtidos através de sondagens SPT e proteção contra as intempéries. Sendo viável
correlações encontradas na literatura geotécnica economicamente e ecologicamente correta,
para obtenção do ângulo de atrito, coesão e peso além de um visual mais harmonioso.
específico. Em suma, vale ressaltar a importância de um
correto estudo geotécnico do maciço e
Quadro 3 – Parâmetros geotécnicos do solo consequentemente de um sistema de drenagem
Camada Solo
I c
J nat ( KN m 3 ) eficaz para a proteção do talude, além de
° (KPa) acompanhamento periódico e de manutenção
Silte dos serviços, principalmente as drenagens.
Solo 1 Areno 27 30 20
Argiloso
REFERÊNCIAS
Argila
Solo 2 Areno 20 50 19
Siltosa Gerscovich, D.M.S. (2009) Apostila Estabilidade de
3 Bedrock Rocha - - - Taludes, Departamento de Estruturas e Fundações,
Faculdade de Engenharia/UERJ, Rio de Janeiro, BR.
Gerscovich, D.M.S. (2012) Estabilidade de Taludes, 1nd
A análise da estabilidade do talude foi através ed., Oficina de Textos, São Paulo, SP, BR, 168p.
do software Geoslope® e o Método de Bishop. Marangon, M. (2006) Apostila Tópicos em Geotecnia e
Na Figura 11 pode ser observado o perfil Obras de Terra, Unidades 03 e 04 – Geotecnia de
Contenções, Universidade Federal de Juiz de Fora,
transversal, as camadas do solo e a linha Juiz de Fora, BR.
piezométrica. Massad, F. (2010) Obras de Terra – Curso Básico de
Geotecnia, 2nd ed., Oficina de Textos, São Paulo, SP,
BR, 216p.

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Reforço de Fundações do Teatro Goiânia
Sandoval Junqueira
SONAF, Goiânia/GO, Brasil, sonaf@terra.com.br

RESUMO: Esse artigo relata, principalmente o reforço de fundações em estacas tipo MEGA, do
Teatro Goiânia, onde esses elementos de fundações são formados pela cravação de trechos
cilíndricos de concreto armado, de 25 cm de diâmetro e 80 cm de comprimento. O macaco,
reagindo-se sob a fundação direta do prédio, crava um trecho que é sobreposto por um segundo que,
ao ser cravado, empurra o primeiro, até que a estaca, formada pela superposição de alguns
segmentos atinja uma profundidade que lhe confere uma capacidade tal, que, dividida por 1,5, nos
fornece a capacidade de carga do conjunto. Aqui, também, faz-se um relato sobre a história daquele
que já se chamou Cine Teatro Goiânia e que hoje, é o mais refinado local de Goiânia para
apresentação de peças teatrais e musicais.

PALAVRAS-CHAVE: Estaca Mega, Teatro Goiânia, Reforço de Fundação, Estaca de Reação.

1 INTRODUÇÃO posicionado sob a fundação no momento da


cravação das estacas.
Este artigo tem como objetivo a descrição de Após a cravação e realizada a interligação
reforço de fundação do antigo Cine Teatro dos segmentos de estaca e feita a incorporação
Goiânia, hoje simplesmente Teatro Goiânia. desta, no bloco, sob a fundação em sapata, o
Esta edificação, projetada em Art Deco e local é preenchido com solo cimento e, em
construída por volta da inauguração de Goiânia, seguida, nova escavação, ao lado da primeira
apresentava em 1976, várias trincas em 45º, estaca é executada, para instalação de uma
caracterizando recalques diferenciais cuja segunda estaca.
estabilização foi feita mediante a instalação de
estacas de reação, cilíndricas, com 25 cm de
diâmetro, de concreto armado de capacidade de 2 CINE TEATRO GOIÂNIA
carga estrutural de 30, 40 e 50 tf.
Nessa ocasião, foi verificada a estabilização 2.1 Histórico
do prédio com o auxílio de nivelamento de
precisão onde se utilizou nível óptico, equipado O Teatro Goiânia, o mais distinto e tradicional
com micrômetro, tendo como referência dois espaço cultural, faz parte de um conjunto de
benchmarks de 20 metros de profundidade, edificações construídas no início da construção
instalados nas laterais do edifício e, pinos para de Goiânia. O Correio Oficial de 12 de junho de
apoio de mira, fixados na estrutura do prédio. 1942 escrevia: “A inauguração do Cine Teatro
Essa mira, dotada de barra de aço ínvar Goiânia vai ser marcada por uma super
apresenta um coeficiente de dilatação dez vezes produção da Metro Goldwyn Mayer na próxima
menor do que as convencionais. terça feira”.
A metodologia de cravação das estacas se Esse prédio que foi inaugurado em 14 de
baseia no procedimento de reação sob as julho de 1942, havia recebido o Batismo
fundações (vigas de fundação com abas, Cultural de Goiânia com programação entre 1º e
assemelhando-se sapatas corridas). Foi 11 de julho de 1942. Nesses dias ocorreu a
necessário a escavação de cerca de 2,5 metros entrega das chaves da cidade ao, então, Prefeito
de profundidade para que o macaco pudesse ser Venerano de Freitas. A construção do Cine

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Teatro Goiânia foi iniciada em 1940 tendo Tabela 1. Sondagem SPT.
como seu projetista o arquiteto Jorge Félix. Prof. SPT DESCRIÇÃO DAS AMOSTRAS
(m) 2º+3º
Em 1976, antes de ser submetido a uma
reforma pela Construtora Serrana, o prédio teve -1,00 - Arg. Aren. Verm.
suas fundações reforçadas com estacas tipo -1,45 3 Arg. Aren. Verm., consist. mole
Mega sob a Responsabilidade Técnica desse -2,45 4 Arg. Aren. Verm., consist. mole
autor, com a supervisão do Professor Marcello -3,45 8 Arg. Aren. Verm., consist. média
da Cunha Moraes, diretores da SONAF, que -4,45 9 Arg. Aren. Verm., consist. média
havia sido contratada pela antiga SUPLAN, -5,45 13 Arg. Aren. Verm., consist. rija
cujo estaqueamento foi fiscalizado pelo saudoso -6,45 12 Silte aren. Verm., mediam. compacto
Engenheiro Calculista Mário Metran.
-7,45 9 Silte arg. Verm., micáceo, consist.
Aos 56 anos de idade, o Cine Goiânia, como média
era chamado, sofreu uma segunda reforma com -8,45 15 Silte arg. var (verm.), mt. micáceo,
o acréscimo de 100 lugares que abriga, hoje, consist. rija
836 pessoas. -9,45 14 Silte arg. var (verm.), mt. micáceo,
Com o atual nome, de Teatro Goiânia, ele foi consist. rija
-10,45 17 Silte arg. var (verm.), consist. rija
tombado a partir do Despacho Nº 1.096/82 de
-11,45 20 Silte arg. var (verm.), consist. dura
18/11/82. A lei Nº 1079 de 09/05/89 criava a
Fundação Cultural Pedro Ludovico, antecessora -12,45 28 Silte arg. var (verm.), consist. dura
da Agência Goiana de Cultura, proprietária do -13,45 55 Silte arg. var (verm.), micáceo,
consist. dura
Teatro, cujo nome do estabelecimento passou a
-14,45 56/29 Silte arg. var (verm.), micáceo,
ser Centro Cultural João Bênio (cineasta goiano consist. dura
que presidiu o Cine Teatro Goiânia entre 1982 e
1984) (DA PAIXÃO JÚNIOR, 2012).
2.3 As Fundações Originais
2.2 O Solo Local
Em 1938 foi criada a Seção de Solos e
Geologicamente, Goiânia está situada em zona Fundações no IPT (Instituto de Pesquisa
de contato do Grupo Araxá - Complexo Goiano Tecnológica), sob a coordenação do Engenheiro
(OLIVEIRA, 1986 apud JUNQUEIRA, 1994), Odair Grilo (SAYÃO, 2010).
ambos do período Pré-Cambriano. Um perfil Portanto, em 1940 os conhecimentos de
genérico dessa região mostra basicamente três mecânica dos solos e fundações eram, ainda,
camadas: a superior - de evolução pedogênica, é pouco difundidos no Brasil e, o projeto das
composta de argila vermelha porosa (às vezes fundações do Teatro Goiânia, provavelmente,
arenosa ou muito arenosa), laterizada, foi elaborado pelo engenheiro responsável pela
característica de regiões quentes com períodos parte estrutural desse edifício.
alternados de chuva e de seca, com boas As fundações eram diretas, em sapata corrida
condições de drenagem. A segunda camada, de onde, pilares e paredes descarregavam suas
solo residual maduro, é formada de um silte cargas. Essas sapatas se assentavam a uma
róseo (às vezes arenoso ou muito arenoso), profundidade de 2,5 metros, em argila porosa
sobrejacente à uma terceira de solo saprolítico pouco arenosa que, em sondagem executada, na
de rochas metamórficas (JUNQUEIRA, 1994). mesma quadra do prédio, informou número de
A Tabela 1 mostra, relacionando-se com a golpes igual a 4 para cravação dos últimos 30
profundidade e número de golpes para os cm do amostrador tipo Raymond.
últimos 30 cm, um dos furos que a Sete
Engenharia executou para a Saneago, na lateral 2.4 O Recalque Diferencial
direita do Teatro Goiânia, em 2005. Esse furo,
feito sob as prescrições da NBR 6484 de 2002, As trincas em 45º que apareceriam na alvenaria
mostrou o lençol freático numa profundidade de do prédio depois de 35 anos de construído
10 metros. causaram preocupação aos engenheiros da
SUPLAN que aprovaram e licitaram a

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recuperação desse Teatro. Permanece porém, a
dúvida sobre a causa do recalque excessivo 3 ESTACAS MEGA NO BRASIL
porque não se trata de recalque imediato em
argila estimado pela Teoria da Elasticidade, já Tendo-se instalado no Brasil em 1935, em 13 de
que essa ocorrência não se passou durante a novembro deste ano, a empresa Estacas Franki
construção e sim muitos anos depois. Ltda., cravou a primeira estaca em tubos de aço
Também não podemos dar como causa o recuperáveis. Depois, entre 27/12/37 e 30/05/38
fenômeno do adensamento por não se tratar de ela executa a primeira obra em estacas de
solo saturado a região de apoio das sapatas. reação, patenteadas por aquela empresa com o
Vale a pena observar que em setembro de nome de “ESTACAS MEGA” (JUNQUEIRA,
2011 iniciou-se as fundações em Estacas Hélice 1994).
Contínua Monitoradas, nessa mesma quadra, a
obra subterrânea da Vila Cultural, evitando-se
para a época atual, fundação assente em argila 4 ESTACAS TIPO MEGA EM GOIÁS
porosa, parcialmente saturada, mesmo na
estação de chuvas. Observações em obras de reforço de fundações
em estacas MEGA, na antiga Capital Federal,
2.5 As Estacas de Reforço pelo Professor Marcello da Cunha Moraes,
antes da conclusão do curso de engenharia civil
A empresa vencedora da licitação foi a goiana na antiga Escola Nacional de Engenharia - hoje
SONAF e a modalidade de reforço foi estacas UFRJ - em 1956, poderiam ser consideradas
tipo MEGA, vazadas e, com diâmetro externo como sementes para a evolução desse tipo de
de 25 cm. Estas estacas sobrepostas e formadas estaca em Goiás. Mas o reforço de fundações do
por seguimentos de 80 cm, interligadas com Edifício Cascatinha - na Avenida Goiás, em
argamassa e vergalhões, cravados com macaco Goiânia - executado pela empresa Estacas
reagindo-se sob as fundações do edifício. Franki Ltda. - foi o primeiro, nessa capital, a
Esses segmentos eram armados para que a usar a metodologia de estacas de reação. Esse
estaca, depois de pronta, atingisse uma carga serviço foi realizado entre seis de agosto e três
estrutural de 40 e 50 tf (a de 30 tf não era de outubro de 1969. Nessa obra utilizou-se
armada). Os segmentos eram moldados e pares de estacas de 30 cm de diâmetro para o
curados na Vila Jaraguá, sede da MCM reforço de quatro pilares, cuja profundidade
Indústria e Comércio. dessas estacas variou-se entre 9 e 16 metros.

5 CONCLUSÕES

Tendo suas fundações em Estacas Hélice


Contínua Monitoradas, a Vila Cultural, obra
subterrânea executada na cabeça da quadra onde
se situa o Teatro Goiânia, teve seu início no
segundo semestre de 2011, cujo solo de apoio
mostra lençol freático a uma profundidade 10
metros (SETE ENGENHARIA, 2005). Essa
modalidade de fundações, seria aquela técnico-
econômica ideal, para as fundações do Teatro
Goiânia se o edifício fosse construído depois do
aparecimento das Estacas Hélice Contínua
Monitoradas. Porém, o insucesso de fundações
diretas assentes em argilas porosas de nossa
Figura 1. Corte mostrando Estacas Prensadas instaladas região vem servir de exemplo para a
como reforço de fundações sob “viga de fundação” - Cine
Teatro Goiânia (JUNQUEIRA, 1994).

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comunidade geotécnica.
Este artigo mostra, também, que houve
sucesso no reforço com a instalação de estacas,
reagindo-se sob a própria estrutura do prédio,
atividade única que seria praticamente
impossível com estacas raiz, por exemplo,
devido à dificuldade de se entrar com
equipamento no interior do prédio em estudo.

AGRADECIMENTOS

O autor agradece ao Engenheiro Mailson


Queiroz pela elaboração das figuras.

REFERÊNCIAS

Da Paixão Júnior, M.M. (2012) Teatro Goiânia,


Disponível em: <http://cultura.seduc.go.gov.br/teatro-
goiania/>, Acesso em 27/08/2017.
Junqueira, S. (1994) Aspectos Práticos Sobre a
Instalação e Utilização de Estacas Prensadas,
Dissertação de Mestrado, Departamento de Estruturas
e Fundações, EPUSP, Vol. 1, Vol. 2.
Sayão, A. (2010). História da Engenharia Geotécnica no
Brasil, 60 anos da ABMS, 252 p.
Sete Engenharia (2005) Relatório Interno, Goiânia, GO,
Brasil.

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Retroanálise do Comportamento de Fundação do Tipo Sapata
Estaqueada, Utilizando Análise Não Linear por Métodos
Numéricos
Guilherme Antônio Almeida Fontes
Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco-MG, Brasil, guilhermeaafontes@gmail.com

Douglas Henrique Santos Sousa


Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco-MG, Brasil, douglashssousa@gmail.com

Leandro Neves Duarte


Universidade Federal de São João Del Rei, Ouro Branco-MG, Brasil, leandro.duarte@ufsj.edu.br

RESUMO: Este trabalho teve como principal objetivo, analisar o comportamento e a interação entre
estruturas de fundações do tipo, sapata e sapata estaqueada, com base em uma prova de carga já
executada por (Duarte,2012) e a utilização de modelos numéricos adequados, utilizando o software
Plaxis 3d Foundation, versão introdutória. Com base nos dados obtidos por Duarte, na prova de carga
em uma sapata estaqueada e com os resultados de ensaios laboratoriais do solo, calibrou-se um
modelo numérico para representação da interação solo-estrutura, utilizando-se da teoria de Mohr-
Coulomb. De posse da calibração do modelo, alterou-se os parâmetros da estrutura de fundação, como
o comprimento da estaca abaixo da sapata, e analisou-se o comportamento para cada modelo
proposto. Os modelos idealizados foram: SESH 1,2 (sapata + uma estaca com 1,2m de profundidade),
SESH 2 (sapata + uma estaca com 2m de profundidade), SESH 4,8 (sapata + uma estaca com 4,8m
de profundidade), SESH 0 (sapata sem estaca) e S4ESH 1,2 (sapata + quatro estacas com 1,2m de
profundidade). Tomou-se como base para análise de rigidez, a carga necessária para promover o
recalque correspondente a 25mm e 10mm na estrutura. O modelo que obteve maior acréscimo de
capacidade de carga foi o SESH 4,8, com um total de 158% quando comparado com o modelo SESH
0.

PALAVRAS-CHAVE: Sapata estaqueada, Modelos numéricos e Fundações

1 INTRODUÇÃO No Brasil, as primeiras estacas a serem


observadas à luz de ensaios de prova de carga
1.1 Considerações iniciais foram as estacas das fundações da Estação da
E.F. Noroeste, em Bauru, São Paulo, em 1936,
A inserção no solo de elementos de grande de responsabilidade técnica do I.P.T. (Vargas,
comprimento como blocos de rochas e troncos 1990).
de árvores, trabalhando na contribuição de No início, o conjunto de estacas era calculado
fundações de grandes castelos e igrejas, desprezando-se o radier (ou bloco, ou sapata, ou
remontam de dezenas de séculos atrás. Por volta placa) sobre ele, admitindo apenas as estacas
do início da revolução industrial e da como elementos receptores dos esforços
sistematização da produção é que estudos se oriundos da edificação.
iniciaram a fim de contribuírem com a redução Os primeiros estudos teóricos a considerar a
dos custos de grandes empreendimentos contribuição do bloco apoiado no solo
(Terzaghi e Peck, 1967). superficial em um grupo de estacas foi o de

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Kishida & Meyerhof (1965). No qual a partir da
análise de grupo de estacas em areias, sugeriram
duas formas possíveis de ruptura, onde se
verificava o comportamento de estacas muito
espaçadas e pouco espaçadas.
Quanto ao comportamento carga-recalque de
uma fundação com a presença de um elemento
superficial associada a uma estaca, o primeiro
trabalho teórico conhecido foi de Poulos (1968),
que considerou a interação estaca/bloco para
uma estaca isolada com um “cap”, conforme
figura 1.
Figura 2. Sapata estaqueada utilizada por Duarte.

De acordo com Duarte, seu comportamento era


do tipo Sapata rígida, construída em concreto
armado. De posse dos dados da tese de Duarte,
e dos parâmetros demonstrados por ele, foi
utilizado o programa Plaxis 3d Fundation, versão
2013 introdutória, para realização das análises
numéricas.
Figura 1 . Efeito do “cap” no recalque de uma estaca
2.2 Métodos
isolada (Poulos, 1968).

Poulos considerou o solo como um semi- A fase numérica da pesquisa constituiu-se,


espaço elástico e o “cap” da estaca como rígido. essencialmente, da simulação com base nas
Denominando-se por “L” o comprimento da seguintes etapas:
estaca, “d” o diâmetro da estaca e “dC” o 1. Calibração do modelo numérico, tomando
diâmetro do “cap”, concluiu que quanto menor o como referência o modelo da prova de carga de
comprimento da estaca em relação ao seu Duarte, denominado neste trabalho por (SESH
diâmetro (L/d), maior a influência do “cap” na 1,2);
redução de recalques. Também observou que 2. Após calibração, retirou-se à estaca do
para estacas curtas (L/d < 10) a existência do modelo (SESH 0);
“cap” não deve ser desprezada. 3. Em seguida, aumentou-se o comprimento
da estaca para 2 m de profundidade (SESH 2);
2 MATERIAIS E MÉTODOS 4. Posteriormente, aumentou-se o
comprimento da estaca para 4,8 m de
2.1 Materiais profundidade (SESH 4,8);
5. Após as análises anteriores, aumentou-se
Este trabalho tomou com referência o uso da para 4 estacas de 1,2 metros, abaixo da sapata
Prova de carga 02 da tese de doutorado de (S4ESH 1,2);
(Duarte,2012). A Sapata quadrada utilizada por 6. Por fim, comparou-se o comportamento
Duarte, apresentava dimensões de 80x80cm e dos respectivos modelos e através das curvas
uma estaca localizada no centro de 1,2m de carga x recalque foram analisados os ganhos de
profundidade e 9cm de diâmetro, conforme capacidade de carga para a fundação.
figura 2.
3 RESULTADOS E ANÁLISES

3.1 Calibração do modelo numérico

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Para a calibração do modelo numérico, 3.2 Variação das profundidades e do número
foram utilizados os dados obtidos pelo ensaio de estacas
triaxial tipo Consolidado e Drenado (CD)
oriundos do trabalho desenvolvido por Duarte, Com o intuito de se analisar o ganho de
2012. Estes parâmetros estão apresentados na capacidade de carga da fundação e com auxílio
Tabela 1. Ressalta-se que para uma melhor do programa Plaxis 3d Foundation, realizou-se
representação e ajuste do comportamento carga simulações numéricas alterando-se as condições
x recalque da fundação em estudo, os valores de geométricas da fundação em estudo. Assim
coesão e ângulo de atrito foram reduzidos em sendo, foram idealizados os seguintes modelos,
16% do seu valor original. SESH 2 (sapata + uma estaca com 2m de
profundidade), SESH 4,8 (sapata + uma estaca
Tabela 1. Paramêtros para calibração do modelo. com 4,8m de profundidade), SESH 0 (sapata sem
Prova de Carga 02 (Duarte,2012) Ideal estaca) e S4ESH 1,2 (sapata + quatro estacas
Tipo de Solo 63C7M30S com 1,2m de profundidade).Os resultados do
Poison - Ȟ 0,33 comportamento Carga X Recalque estão
Ângulo de atrito - ij 27,00 22,68 mostrados graficamente na Figura 4.
Coesão - C' (Kpa) 39,40 33,096
Ângulo dilatancia - ȥ 0
Peso específico nat - ࢢ 14,85
Peso específico sub - ࢢ 14,85
Largura Sapata (m) 0,80
Cota de assentamento (m) 0,55
Carga de trabalho - KN/m² 556,79
Diametro estaca 0,09 m
Profundidade estaca 1,2

Com os dados apresentados na tabela 1,


calibrou-se o modelo numérico SESH 1,2
(sapata + uma estaca com 1,2m de Figura 4. Resultados Carga x Recalque dos modelos.
profundidade), em seguida, os resultados foram
plotados em um gráfico de Carga x Recalque, da Nota-se que após a retirada da estaca, no
simulação numérica em conjunto com os dados modelo intitulado SESH 0, houve uma perda
obtidos no ensaio realizado por Duarte, 2012, considerável de rigidez, quando comparado com
conforme apresentado na Figura 3. os resultados das demais simulações, e
consequentemente uma deformação maior, para
um mesmo nível de carga aplicada. Entretanto,
no modelo com uma estaca de 2 metros (SESH
2), ocorreu um aumento da rigidez e obteve-se
deslocamentos menores, conforme apresentado
na Figura 4. Para comparação do ganho de
rigidez, com a modificação da composição
sapata mais estacas, tomou-se como valor de
referência, os recalques correspondentes a 25mm
e 10 mm. Valores estes utilizados como
referencial para o bom desempenho de uma
fundação. Dessa forma, com base na Figura 5,
inicialmente utilizou-se o valor de recalque igual
a 25 mm para comparação do ganho da
Figura 3. Calibração do modelo numérico
capacidade de carga, nos modelos SESH 0,
SESH 1,2 e SESH 2. Conforme descrito na
Tabela 2. Para se verificar os acréscimos, no

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ganho de rigidez da fundação, quando são
embutidas as estacas, os referidos aumentos na 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
capacidade de carga foram comparados com o
modelo sem estaca (SESH 0). O presente trabalho teve como objetivo
simular numericamente, com o auxílio do
Tabela 2. Aumento da capacidade de carga devido à software Plaxis 3D, cinco modelos de provas de
presença de estaca para um recalque de 25 mm.
Aumento na
carga, tendo como fonte de calibração um ensaio
capacidade de carga realizado por Duarte, 2012, em uma sapata com
Modelo Carga (kN) em % , quando uma estaca. O modelo numérico, com os
comparado com o parâmetros de resistência do solo (ângulo de
modelo SESH 0 atrito e coesão) reduzidos em 16%, mostrou-se
SESH 0 250 - satisfatório quando seus resultados foram
SESH 1,2 269 7,60% comparados com os obtidos na prova de carga
SESH 2,0 326 30,40% realizada fisicamente. Após o processo de
calibração, foram idealizados modelos
Analisando os resultados, observou-se um numéricos com o objetivo de se avaliar o ganho
ganho médio de 7,6 % da capacidade de carga da capacidade de carga da fundação quando se
para o modelo com uma estaca de 1,2 m de alteram as condições das estacas. Os modelos
profundidade e um aumento de 30,4% da idealizados foram: SESH 1,2 (sapata + uma
capacidade de carga para sapata com uma estaca estaca com 1,2m de profundidade), SESH 2
de 2,0 m de profundidade, em relação a sapata (sapata + uma estaca com 2m de profundidade),
que não tem presença de estacas. SESH 4,8 (sapata + uma estaca com 4,8m de
Posteriormente, analisou-se o ganho de profundidade), SESH 0 (sapata sem estaca) e
capacidade de carga para um recalque de 10mm. S4ESH 1,2 (sapata + quatro estacas com 1,2m de
O uso desse valor de recalque de referência, profundidade). O modelo que obteve maior
justifica-se pelo fato de os modelos SESH 4,8 e acréscimo de capacidade de carga foi o SESH
S4ESH 1,2 terem apresentado um recalque bem 4,8, com um total de 158% quando comparado
inferior a 25mm. Os valores de aumento da com o modelo SESH 0. Pode-se concluir que o
capacidade de carga estão apresentados na ganho da rigidez da fundação foi mais
Tabela 3. significativo quando se alterou o comprimento
da estaca e menos significativo quando se alterou
Tabela 3. Aumento da capacidade de carga devido à a quantidade de estacas.
presença de estaca para um recalque de 10 mm.
Aumento na capacidade de
Carga carga em %, quando
AGRADECIMENTOS
Modelo
(KN) comparado com o modelo
SESH 0 Apoiadores deste projeto, DTECH/UFSJ, Grupo
SESH 0 128 - de Pesquisa em Infraestrutura de Transportes e
SESH 1,2 150 17% Obras Geotécnicas – INFRAGEO e FAPEMIG.
S4ESH 1,2 210 64%
SESH 2,0 185 45%
SESH 4,8 330 158% REFERÊNCIAS

KISHIDA, H. & MEYERHOF, G.G (1965). Bearing


Conforme mostrado na Tabela 3, nota-se os capacity of pile groups under eccentric loads in sand. Proc.
seguintes ganhos na capacidade de carga: no 6th ICSMFE, Toronto, 2:270-274.
modelo SESH 1,2 um ganho de 17 %, no modelo
S4SH 1,2 um ganho de 64%, no modelo SESH 2 TERZAGHI, K. & PECK, R.B. (1967). Soil Mechanichs
um ganho de 45% e no modelo SESH 4,8 um in Engineering Practice. John Wiley and Sons, New York.
ganho de 158%. Ressalta-se que o aumento no
POULOS, H. G. (1968). Analysis if Pile Groups.
comprimento das estacas modelo (SESH 4,8) Géotechnique, n°.18,p.448-471.
apresentou um ganho de capacidade de carga
superior ao modelo com aumento na quantidade ABNT (1984) Prova de carga sobre terreno de fundação,
de estacas (S4SH 1,2). NBR 6484, Rio de Janeiro, RJ, 2 p.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



VARGAS, M. Provas de Carga em Estacas – Uma
apreciação histórica. Revista Solos e Rochas, v. 13, n. 1,
1990, São Paulo.

DUARTE, L. N., 2012. Avaliação do Comportamento


Solo-Estrutura de Elementos de Fundação Tipo Sapata
Estaqueada. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa -
MG.

PLAXIS 3D Foundation, Versão Introdutória,2013,


PLAXIS BV, Netherlands.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Solução Técnica para um Escorregamento de Taludes – Estudo de
Caso
Kabeb Ferraz Louro
Intituto Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil, kaleb.louro@hotmail.com

Luiz Carlos de Figueiredo


Intituto Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil, figueiredo@cba.ifmt.edu.br

Ilço Ribeiro Junior


Intituto Federal de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil, ilco.ribeiro@cba.ifmt.edu.br

RESUMO: Este trabalho tem por objetivo analisar a estabilidade de um talude de corte, onde o modelo
de escorregamento é do tipo creep, e, através de métodos numéricos simplificados, investigar as possíveis
causas da instabilidade e correlacionar com as patologias encontradas na via adjacente ao talude. Os
resultados obtidos através das análises determinísticas demonstram que o talude em sua forma original é
classificado como risco iminente de ruptura, e após implantação da solução técnica, pode ser considerado
estável e teoricamente sem risco de ruptura, e que não compromete a segurança dos usuários e garante a
vida útil do empreendimento.

PALAVRAS-CHAVE: Taludes, Estabilidade, Análise, Patologia.

1 INTRODUÇÃO diminuição da resistência do material que


compõe o talude ou do maciço como um todo. O
Os taludes são empregados em diversas obras de material que compõe um talude tem a tendência
engenharia, abrangendo desde pequenas obras natural de escorregar sob a influência da força da
até as mais complexas. gravidade, entre outras que são suportadas pela
O principal problema que envolve essas resistência ao cisalhamento do próprio material.
estruturas geotécnicas refere-se à análise de sua A análise de estabilidade de taludes consiste
estabilidade, relacionada a movimentações de em averiguar sua estabilidade em diferentes tipos
massas de solo. de obras geotécnicas, sob diferentes condições
As consequências causadas pela ruptura de de solicitação, de modo a permitir a execução de
talude são muitas vezes inestimáveis, prejuízos projetos econômicos e seguros.
não apenas nas construções e equipamentos, mas O objetivo desse estudo foi analisar a
as perdas de vidas humanas estão tornando parte estabilidade dos taludes de corte conformados
do cotidiano da engenharia. para construção dos subsolos em uma obra
A análise de estabilidade deve ser feita em comercial e sua correlação com as patologias
qualquer obra onde há a presença de taludes, encontradas no pavimento da rua denominada
como por exemplo em barragens de contenção “Gravataí”, que delimita a construção. Para isso
de rejeitos, barragens de usinas hidrelétricas, foi levado em consideração o aspecto técnico,
cortes de estradas ou rodovias e na mineração como: cálculo de estabilidade, ensaios
(ZANARDO, 2014). laboratoriais e “in situ”, e análise probabilística.
Os mecanismos que levam este talude a Também visa expor a solução de engenharia
instabilidade e ruptura são aqueles que levam a adotada para recompor e estabilizar o talude de
um aumento dos esforços atuantes ou a uma corte onde houve o escorregamento.

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De modo geral, estes materiais estão
intemperizados nas profundidades menores, de
2 MÉTODO tal modo que, junto à superfície os minerais
primários são abundantes. Estes minerais
O método de trabalho parte do axioma que, para primários são, em muitos casos, expansivos e
a adoção de uma solução adequada e exequível, dispersivos como é o caso da montmorilonita
que solucione definitivamente os problemas sódica. O intemperismo atua de modo distinto,
patológicos, o processo deve passar formando bolsões de materiais com maior ou
obrigatoriamente pelo entendimento do menor grau de alteração. Em alguns casos a
problema para que possa ser solucionado coesão do solo o aproxima do comportamento
definitivamente as causas oriundas dessas das rochas. Por outro lado, em alguns locais
patologias. ocorrem bolsões de feldspatos, oriundos do
Portanto, para o desencadeamento do intemperismo dos filitos e sericitos. Estes
trabalho, segue: feldspatos agem como lubrificantes entre duas
1. Levantamento de dados da obra e do folhações das rochas. Deste modo, estes
substrato (estudo geológico – geotécnico); materiais tornam-se instáveis quando cortados e
2. Analisar a estabilidade do maciço na expostos ao ambiente atmosférico.
geometria que se encontra; Ensaios já realizados com material similar, na
3. Investigar as possíveis causas que levaram mesma região de estudo, demonstraram alta
o maciço a instabilidade. Nesta vertente há três variabilidade de coesão e ângulo de atrito, dado
possíveis hipóteses: que ambos aumentam com a diminuição do grau
a) Sobrecarga em excesso na crista do talude de alteração, conforme Futai, et al (1998) e Pires
na fase final da obra, devido à grande & Ribeiro Jr (2016). O relatório de sondagem
concentração de guindastes para içamento de apresentados na Figura 1, têm a mesma
letreiros publicitários e painéis de acabamento característica de índice de penetração a
para fachada; percussão estudado por Futai et al. (1998).
b) Saturação do terreno por ruptura de
tubulação de água ou esgoto, fazendo com que o
maciço perdesse sua estabilidade;
c) Compactação inadequada na camada
inclinada de regularização da geometria do
talude na fase construtiva, fazendo uma camada
deslizar sobre a outra.
4. Implantar possíveis soluções e medidas a
serem tomadas para solução do problema;

3 ESTUDO GEOLÓGICO - Figura 1. Perfil de SPT mais próximo da região com


GEOTÉCNICO patologia.

O local onde está implantado o 4 ÁREA DE ESTUDO:


empreendimento comercial fica na região de CARACTERÍSTICAS DA OBRA E DO SOLO
abrangência da Formação Miguel Sutil,
pertencente ao Grupo Cuiabá. Neste local há O empreendimento tem cerca de 102 mil m² de
uma grande presença de dobramentos e o área construída, distribuídos em cinco pisos,
metamorfismo o que gerou filitos e sericitos incluindo estacionamento, e está localizado nas
entremeados por meta-arenitos esparsos. As proximidades do Aeroporto Internacional
foliações estão alinhadas na direção E-W. Marechal Rondon, na cidade de Várzea Grande
Mergulho médio, generalizado tem um ângulo – MT.
de 40º com a horizontal, existindo uma camada O empreendimento fora inaugurado no final
de depósito sedimentar acima do solo residual, de 2015, e 60 dias depois, começaram a se
(MIGLIORINI, 1999).

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desencadear alguns processos patológicos no mergulho da xistosidade em seu plano
pavimento da Rua Gravataí. desfavorável a segurança. Quando um destes
Esta patologia foi caracterizada por fissuras, fatores ocorre, uma pequena região (até 4m³ de
trincas e rachaduras no sentido longitudinal do solo) da camada de solo residual e estruturada
pavimento, na camada de revestimento asfáltico pela xistosidade e planos de clivagem,
e de suporte (base e sub-base). Rachaduras e simplesmente desaba.
recalques também foram localizados Para acerto do posicionamento e geometria do
longitudinalmente ao passeio e no pavimento da talude, este recebeu um aterro inclinado 1:1 e
rua Gravataí, como visto na Figura 2. uma altura média de 3m como apresentado na
Figura 4.

Passeio
Rua

At
er
ro
Recalque e rachaduras
no passeio
Patologias no sentido Solo Natural
longitudinal do pavimento
Figura 2. Patologias no passeio e no pavimento.

Após visita “in loco” e análise detalhada dos


Figura 4. Configuração do talude na região de maior
processos e procedimentos construtivos, bem concentração de patologias.
como a concepção de projeto das estruturas de
contenção e fundações, e imagens da fase
construtiva na região onde ocorreu as patologias, Afim de verificar as camadas de compactação
encontrou-se a ocorrência de uma ruptura local e determinar o grau de compactação do solo,
do talude em sua fase de conformação, como realizou-se a determinação do Peso específico
pode ser visto na Figura 3, constatando-se que o “in situ” com emprego do frasco de areia e a
processo patológico designava ser de natureza compactação do solo, podendo determinar assim
geotécnica, onde, claramente havia acontecido o grau de compactação.
uma instabilidade no maciço de terra, e isso Para a coleta de amostra, adotou-se duas
levou às trincas e rachaduras longitudinais no profundidades básica: AM01 - 1,10m e AM02 -
pavimento. 1,85m. Observa-se na Tabela 1, os resultados
obtidos no ensaio em campo.
Tabela 1. Resultados dos ensaios de Peso específico "in
Ruptura Local
situ" pelo frasco de areia.
durante escavação
AM 1 – 1,10m AM 2 – 1,85m
Jnat 21,52 kN/m³ 21,74 kN/m³
Jd 18,43 kN/m³ 18,66 kN/m³
W 16,74 % 16,49 %

As amostras coletadas foram encaminhadas


ao laboratório e submetidas aos procedimentos
para determinação das curvas de compactação do
solo, segundo ABNT NBR 7182/1988. Como
não haviam informações relativas a energia
Figura 3. Patologias no passeio e no pavimento. aplicada na compactação do aterro na fase de
obra, adotou-se como parâmetro de
Provavelmente isto tenha ocorrido por compactação, a aplicação da energia de Próctor
alguma falha local do terreno que, somados ao normal, com reuso de amostra.

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Os parâmetros obtidos na compactação para 5 INSERÇÃO DOS PARÂMETROS E
AM01 - profundidade de 1,10m, foram: Peso CONDIÇÕES DE CONTORNO PARA
específico seco máximo, Jdmáx = 20,35 kN/m³, ANÁLISE DA ESTABILIDADE DOS
umidade ótima, wót= 11,05%, e, para a TALUDES
profundidade de 1,85m, obteve-se Jdmáx = 20,15
kN/m³, e teor de umidade wót=10,75%. Os A inserção dos parâmetros necessários para as
resultados obtidos entre as duas amostras foram análises de simulação numérica deve representar
muito próximos, indicando uma congruência nas ao máximo, a situação em campo. Portanto, a
características de compactação. geometria definida para o talude foi uma altura
de 3,0m, e inclinação 1V:1H, ou seja, 45º. Foi
22,8
22,6
considerada uma camada de solo compactado
AM 2 sobre a camada de solo indeformado, com sua
Peso Específico Seco (Jd)

22,4
AM 1
22,2 devida xistosidade e planos de clivagem no
22 mesmo sentido do corte, ou seja, condição mais
21,8
desfavorável ao deslizamento, encontrado em
21,6
todo o lado analisado da obra.
21,4
21,2
A Tabela 3 sumariza os parâmetros usados
21 nas análises numéricas. Para a obtenção destes
20,8 valores os resultados dos ensaios de compressão
6% 8% 10% 12% 14% 16% 18% 20% 22%
Teor de Umidade (W% )
foram tratados estatisticamente. Para as amostras
Figura 5. Curvas de compactação das amostras de aterro. indeformadas, os parâmetros adotados estão
convergentes com aqueles medidos em campo e
Grau de compactação de um solo é a relação laboratório por Futai et al. (1998) ou tirados de
entre o peso específico seco do solo compactado correlações empíricas com o SPT. Já, para a
no campo, e o peso específico seco máximo, camada compactada, as amostras foram
obtido no ensaio padrão de compactação. consideradas um peso específico menor. O solo
As exigências de especificação para o Grau de natural foi considerado impermeável, pois seu
compactação variam conforme o tipo de obra e coeficiente de permeabilidade é extremamente
exigência de órgão contratante. baixo, devido ao baixo índice de vazios do solo.
Na Tabela 2 pode-se verificar que o Grau de Os cálculos para as análises da estabilidade
Compactação (GC) na profundidade de 1,10m é foram efetuados pelo software GeoStru Slope –
de 90,56% e do solo a 1,85m de profundidade, Estabilidade de Taludes, utilizando métodos de
89,93%. Estes resultados estão abaixo do equilíbrio limites pelo método de Fellenius
mínimo de 95% exigidos em projeto, e mostram (1936).
uma porosidade significativa do solo. Mesmo O coeficiente de segurança inserido é o
que na região não houvesse nenhuma estrutura recomendado pela NBR 11682:2009,
descarregando diretamente ao solo, havia a Estabilidade de encostas; sendo 1,5 para taludes
necessidade de uma melhor compactação, pois de terra. Foram também inseridos coeficientes de
cargas acidentais ou não previstas podem minoração para assim aumentar a confiabilidade
desencadear recalques. na obtenção dos resultados, sendo de 1,25 para a
tangente do ângulo de resistência ao cortante e
Tabela 2. Comparação dos resultados da compactação: coesão eficaz, e de 1,4 para coesão não drenada.
campo vs laboratório.
AM01 AM02 Tabela 3. Parâmetros empregados nas análises de
21,52 21,74 estabilidade dos taludes.
Jnat
kN/m³ kN/m³ Solo Camada Solo
CAMPO 18,43 18,66 Parâmetro
Jd Compactada Indeformado
kN/m³ kN/m³ Jnat (kN/m3) 20,5 22,0
W 16,74% 16,49 % Jsat (kN/m3) 22,5 22,6
20,35 20,75 I ( o)
Jdmáx 28 30
LAB. kN/m³ kN/m³
Coesão (kPa) 40 50
Wót 11,05 % 10,75 %
Permeabilidade Permeável Impermeável
GC (%) 90,56% 89,93%

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Foram também consideradas duas cargas forças tangenciais e normais às paredes das
concentradas, de intensidade 170 kN (17t), fatias. O fator de segurança crítico
distantes 1,20m e 2,80m respectivamente da corresponde ao de menor valor encontrado
crista, representando um caminhão ou guindaste para FS está expresso na Figura 7, onde se
com as patas de apoio, situado na Rua Gravataí. obteve FS um valor igual a 1,35.
A camada de aterro tem uma espessura inclinada
de 1,5m ao longo de todo plano inclinado.
Subjacente a camada de aterro, encontra-se o
solo saprolítico de filito no seu estado
indeformado. Para a análise, foi considerado NA
(nível de água do lençol freático) inexistente, ou
abaixo da cota considerada. Sua configuração
final, para análise determinística, é mostrada na
Figura 6.

Figura 7. Análise do Talude na configuração de


execução. Cunha de Ruptura com menor coeficiente
de segurança, pelo método de Fellenius.
Fonte: GeoStru-Slope, 2015.

Os resultados das análises de estabilidade do


Talude, na Rua Gravataí, apresentam um fator de
segurança menor que 1,5, ou seja, menores que
Figura 6. Configuração final para análise o mínimo recomendado pela NBR 11682/2009,
determinística - Talude da Rua Gravataí - H=3,0m,
i=1V:1H. Fonte: GeoStru-Slope, 2015. podendo ser classificados como Taludes
Instáveis e com risco iminente de ruptura.
Os coeficientes de segurança apresentados,
6 RESULTADOS DAS ANÁLISES DE são condicionados ao fato de que o solo não se
ESTABILIDADE DO TALUDE sature e se acumule pressão neutra no interior do
EXECUTADO maciço. Se este fato ocorrer, há uma diminuição
ainda maior na segurança.
Para as análises dos casos dos taludes Vistos os problemas de estabilidade
definitivos, relativos à condição de segurança apresentados, lança-se uma proposta técnica para
no trabalho, na fase construtiva e na utilização a solução definitiva do problema, a fim de que o
durante a vida útil do Várzea Grande talude se tornasse estável e seguro, dentro dos
Shopping, foi adotado os critérios de parâmetros das normas pertinentes para o caso.
segurança previsto na NBR 11682/2009.
Para efeito de simulação, todas as 7 PROPOSTA DE SOLUÇÃO TÉCNICA
considerações já foram descritas no item 5
deste capítulo.
A proposta para tornar o talude estável e seguro,
As análises de estabilidade global e local
dentro do que recomenda a ABNT NBR
também foram procedidas por simulações
11682/2009, parte do princípio de construir uma
determinísticas globais e locais utilizando o
estrutura de reforço do maciço, onde este sistema
método de Fellenius (1936).
de reforço irá ajudar na contenção de terra e
O método de Fellenius (1936) considera a
absorção de carga móvel e acidental que possa
superfície de ruptura como forma circular, e o
atuar na crista do talude.
fator de segurança do talude é calculado
Seguindo os mesmos parâmetros do solo e
unicamente através do equilíbrio de
carregamentos descrito na análise determinística
momentos, não levando em consideração as
realizada anteriormente, e, inserindo uma linha

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de estacas com I=40cm. L=6m, com 8 CONCLUSÕES
distanciamento entre eixos de 1,20m e uma viga
de 50 x 50cm no topo, interligando as cabeças A atenção central deste estudo foi de identificar
das estacas, cuja configuração da seção as causas do surgimento das patologias no
transversal pode ser visto na Figura 8. pavimento e no passeio da Rua “Gravataí”,
adotando medidas técnicas corretivas, onde o
problema possa ser solucionado de forma
definitiva.
Após as análises dos projetos do
empreendimento, da forma e desencadeamento
das patologias, estudos de interferência de rede
de água ou esgoto, do estado do solo que compõe
o maciço de terra e as simulações determinísticas
de segurança do talude, pode-se concluir que as
patologias advieram principalmente do solo mal
compactado. As sobrecargas na crista do talude,
apenas catalizaram para o desencadeamento todo
o processo patológico.
Fatores que contribuíram de forma relevante
para o desencadeamento do processo patológico,
foram:
Figura 8. Configuração do talude com o sistema de
a) Devido a rupturas locais do talude na fase
reforço. Fonte: GeoStru-Slope, 2015.
de escavação e conformação do talude, a
Para efeito de simulação com o sistema de geometria final do talude foi concebida com solo
reforço, os cálculos para as análises da compactado, criando uma interface de maior
estabilidade foram efetuados pelo software SPW permeabilidade e uma linha de fluxo na junção
– Cortinas atirantadas e acoplados ao entre o solo compactado e o indeformado,
Estabilidade de Taludes. Também foram ocasionando o escorregamento lento entre as
adotados os métodos de equilíbrio limites de duas camadas.
Fellenius (1936). b) O aterro compactado que está
O coeficiente de segurança mínimo obtidos conformando a geometria do talude não foi
por Fellenius = 2,79, como mosta a superficie na devidamente compactado, apresentando grau de
Figura 9. O fator de Segurança (FS) para o talude compactação GC em torno de 90%, sendo menor
com sistema de reforço é superior ao mínimo que o mínimo recomendado de 95%. Lembra-se
recomendado pela ABNT NBR 11682/2009, de ainda sobre a dificuldade prática em se
FS = 1,5, atestando a segurança da solução. compactar trechos com alto grau de inclinação
de terra, sendo aí uma região de maior atenção.
c) As análises determinísticas da segurança
do talude por Fellenius – CS = 1,35, sendo
portanto, menor que o mínimo recomendado
pela ABNT NBR 11682/2009, de CS=1,5. O fato
de ter coeficientes de segurança menores do que
1,5, mas maiores que 1,0, não significa que o
talude vai romper de imediato, mas tem maior
probabilidade, onde qualquer interferência
externa, poderá desencadear o processo de
ruptura, sem com que este esteja com o mínimo
do grau exigido pela norma vigente.
d) No passeio (calçada), localizado na crista
Figura 9. Análise do Talude na configuração com sistema
de reforço. Fonte: GeoStru-Slope, 2015.
do talude, não havia qualquer tipo de armação,
não sendo este pavimento, nem o talude

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propriamente dito, preparado para receber as
altas cargas concentradas pelas patas dos
guindastes, como acontecido.
Para tornar o Talude estável e seguro, dentro
do que recomenda a ABNT NBR 11682/2009,
recomendou-se a execução de uma estrutura de
reforço do maciço, onde este sistema irá ajudar
na contenção de terra e absorção de carga móvel
e acidental que possa atuar na crista do talude.
Indicou-se para este tipo de reforço a
execução de estacas no interior do maciço de
terra, interligadas por uma viga de topo, bem
como a reconstrução da base do passeio,
compactando devidamente sua base e armando
sua estrutura para absorção de cargas acidentais,
como as patas dos guindastes.
Após a realização das recomendações
previstas neste estudo, os taludes analisados
podem ser considerados estáveis e seguros, não
comprometendo de qualquer forma a segurança
dos frequentadores do empreendimento e a
segurança definitiva do uso ao longo da vida útil
do empreendimento.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2009). NBR


11682 – Estabilidade de encostas. Rio de Janeiro.
_____(1988). NBR7182 – Ensaio de compactação. Rio
de Janeiro.
Migliorini, R. B. (1999). Geologia da Depressão
Cuiabana. Tese de doutorado ao Instituto de
Geociências da USP. 1999.
Fellenius, W. (1936). Calculation of the stability of earth
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paper D-48, pp. 445-463, Washington D.C.
Zanardo, B. F.. (2014). Análise de estabilidade de taludes
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2014. 36 fls. Universidade Federal de Alfenas–
Campus de Poços de Caldas, MG.
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Baixada Cuiabana. In: Cobramseg, 12. Brasília.
Anais..., V. 1. Brasília: ABMS. p. 221-228.
Pires, R. R. e Ribeiro Junior, I. (2016). Estudo da
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Saprolíticos de Filito da Baixada Cuiabana. . In:
Cobramseg, 18. Belo Horizonte. Anais..., ABMS.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Variação dos Fatores de Segurança para Taludes nas Condições
Seca e Saturada.
Thiago Moura da Costa Ayres
Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, thiagoayres1@hotmail.com

Carla Beatriz Costa de Araújo


Professora Auxiliar Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, carlabeatriz@unifor.br
Doutoranda Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil

Caiubi de Sousa Fernandes


Universidade de Fortaleza, Fortaleza. Brasil, caiubi_mota@hotmail.com

Silvrano Adonias Dantas Neto


Professor Associado Universidade Federal do Ceará, Brasil, silvrano@ufc.br
Dennis Teixeira Rodrigues
Universidade de Fortaleza, Fortaleza, Brasil, dennisifce@hotmail.com

RESUMO: Este artigo tem por objetivo analisar a variação dos fatores de segurança de um talude sob
as condições seca e saturada. A amostra de solo foi coletada dentro do campus da Universidade de
Fortaleza e realizaram-se ensaios de granulometria, limite de liquidez, limite de plasticidade,
densidade real dos grãos, compactação e cisalhamento direto. Utilizou-se um software para a análise
do fator de segurança. Observou-se uma redução cerca de 60% no fator de segurança do talude na
presença da saturação, sendo desta forma, a condição de saturação de grande relevância a análise de
taludes.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade de taludes, Saturação, Fator de segurança, Geotecnia.

1 INTRODUÇÃO avaliada a variação da coesão e do ângulo de


atrito da amostra de solo na condição seca e na
Os estudos sobre estabilidade de taludes são de condição de saturação total e analisado o fator de
suma importância uma vez que as consequências segurança por meio de software.
causadas por sua ruptura são muitas das vezes
inestimáveis. Mesmo com um avanço
significativo nos estudos de engenharia de 2 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
taludes, ainda ocorrem diversos casos de
rompimento com perdas significativas de vidas e A análise de estabilidade de um talude por
equipamentos, principalmente em perídos métodos analíticos, é calculado por meio de um
chuvosos, onde o solo fica saturado. fator de segurança. Para se determinar tal fator
Sabe-se que a água atua no solo através da de segurança, verifica-se o equilíbrio entre as
geração de poropressão e ,em condições não cargas estabilizantes (resistência do solo ou
saturadas, por meio da sucção, ou seja, a água rocha) e instabilizantes (cargas externas e peso
altera a resistência do solo e, consequentemente, do solo), não havendo, portanto, qualquer
as condições de estabilidade de taludes. consideração quanto a magnitude dos
Devido à influência que saturação tem sobre deslocamentos necessários à mobilização
a estabilidade de taludes, neste trabalho é (Milititsky et al., 2016).

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


Entre as causas mais comuns para o de ruptura circular e parte da hipótese que a força
rompimento de um talude, estão a variação na resultante entre as fatias é horizontal e que elas
frente de saturação e a alteração ou modificação se anulam, chega-se à expressão para o cálculo
progressiva da estrutura do solo sob a ação de do FS pelas Equações 4 e 5.
agentes geológicos. Estas causas diminuem a
resistência ao cisalhamento do solo, levando à ଵ ଵ
‫ ܵܨ‬ൌ  ȭ ቀሾܿ ᇱ ܾ ൅ ሺܹ െ ‫ܾݑ‬ሻ‫߶݃ݐ‬Ԣሿ ቁ (4)
ஊ୛೔ ௦௘௡ఈ ௠ఈ
sua instabilidade. O avanço da frente de
saturação prossegue mesmo após a chuva cessar,
Sendo:
o que pode levar à rupturas alguns dias após a
ocorrência de grandes precipitações, em dias nos ୲ୟ୬ ఈǤ୲ୟ୬ థᇱ
quais a precipitação foi nula ou mesmo muito ݉ߙ ൌ …‘• ߙ ቂͳ ൅ ቃ (5)
ிௌ௜
baixa (MENEZES e CAMPOS, 1992).
Segundo Milititsky, Consoli e Schnaid Onde:
(2016), os coeficientes de segurança de encostas D: é a inclinação da base da fatia;
naturais são, em geral, próximos da unidade, u: poropressão;
bastando pequenas intervenções antrópicas ou W: peso da fatia;
fenômenos associados as chuvas intensas para c: coesão;
provocar escorregamentos, pois ela contribui I: ângulo de atrito;
para o aumento do peso específico da camada do
material, aumento da poro-pressão, diminuição A Figura 1 ilustra as forças atuantes em uma
da tensão efetiva, e redução da coesão aparente. fatia por esse método.
A análise de estabilidade clássica equilíbrio
limite considera uma típica seção transversal e
define o fator de segurança Fs como a razão entre
o momento resistente e o momento atuante,
como é mostrado nas Equações 2 e 3
(VANMARCKE, 2011).

ி௢௥­௔௦௥௘௦௜௦௧௘௡௧௘௦
‫ ܵܨ‬ൌ (2)
ி௢௥­௔௦௔௧௨௔௡௧௘௦

Ou seja:
ఛ೑
‫ ܵܨ‬ൌ (3) Figura 1 - Forças atuantes em uma fatia pelo método de
ఛ೘೚್
Bishop.
Onde:
O precesso repete-se até que o valor
‫ܵܨ‬ǣ ˆƒ–‘”†‡•‡‰—”ƒ­ƒ calculado de FS se iguale ao valor arbitrado de
FSi.
߬௙ ǣ ”‡•‹•–²…‹ƒƒ‘…‹•ƒŽƒ‡–‘†‘•‘Ž‘
No método de Morgenstern-Price, de acordo
߬௠௢௕ ǣ –‡• ‘…‹•ƒŽŠƒ–‡ƒ–—ƒ–‡ com Gerscovich (2016), considera-se o
equilíbrio de forças na direção normal e
Para o cálculo do fator de segurança, foram
tangencial à base da fatia, associado ao critério
utilidados duas metodologias de cálculo,
de ruptura Mohr-Coulomb, assim temos a
Morgenstern-Price e Bishop simplificado.
Equação 6:
Segundo Gerscovich (2016), método de
Morgenstern-Price é resolvido iterativamente, ଵ ே௫ మ
definindo-se previamente a função de ‫ܧ‬ሺ‫ݔ‬ሻ ൌ ቂ‫ ܮ݅ܧ‬൅ ܲ௫ ቃ (6)
௟ା௄௫ ଶ
distribuição de forças entre fatias que compõe a
superfície de ruptura do talude, já no método de
Bishop simplificado considera-se uma superfície

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Onde as variáveis K, L, N e P são definidas pelas laboratória e, com os resultados desses ensaios,
seguintes equações como: realizou-se, então, a análise do fator de
segurança de um perfil de talude adotado para o
௧௚థᇱ estudo por meio de software, utlizando-se das
‫ ܭ‬ൌ ߣ݇ ቄ ൅ ‫ܣ‬ቅ (7)
ிௌ metodologias de cálculo de Bishop simplificado
஺௧௚థᇲ ௧௚థᇱ
e de Morgenstern-Price. Por fim, analisou-se os
‫ ܮ‬ൌͳെ ൅ ߣ݉ ቀ ൅ ‫ܣ‬ቁ (8) resultados obtidos e foram feitas as conclusões
ிௌ ிௌ
cabíveis.
௧௚థᇱ
ሾʹ‫ܹܣ‬ௐ ൅ ‫ ݌‬െ ‫ݎ‬ሺͳ ൅ ‫ܣ‬ଶ ሻሿ ൅ O solo utilizado nos ensaios deste trabalho foi
ܰൌ
ிௌ coletado do material de bota fora da obra de uma
ሺെʹܹௐ ൅ ‫ܣ݌‬ሻ (9) academia localizada internamente ao campus da

Universidade de Fortaleza, na cidade de
ܲ ൌ ሼሺܿ െ ‫߶݃ݐݏ‬ሻሺͳ ൅ ‫ܣ‬ଶ ሻ ൅ ܸௐ ‫ ߶݃ݐܣ‬ᇱ ൅ Fortaleza, estado do Ceará. O campus se localiza
ிௌ
‫߶݃ݐݍ‬Ԣሽ ൅ ሼ‫ ܣݍ‬െ ܸௐ ሽ (10) na Avenida Washington Soares, 1321.

Com relação ao equilíbrio de momentos, tem-se:

‫ܯ‬ሺ‫ݔ‬ሻ ൌ ‫ܧ‬ሺ‫ݕ‬௧ െ ‫ݕ‬ሻ (11)

௫ ௗ௬
‫ܯ‬ሺ‫ݔ‬ሻ ൌ ‫ܯ‬௘ௐ ሺ‫ݔ‬ሻ ൅ ‫׬‬௫଴ ቀߣ݂ െ ቁ ‫ݔ݀ܧ‬ (12)
ௗ௫

Onde, ‫ܯ‬௘ௐ ሺ‫ݔ‬ሻé dado por:


௑ ௗ௬
‫ܯ‬௘ௐ ሺ‫ݔ‬ሻ ൌ ‫׬‬௑଴ ቀെܲௐ ቁ ݀‫ ݔ‬൅ ሾܲௐ ሺ‫ ݕ‬െ ݄ሻሿ (13)
ௗ௫

Figura 3 – Local de retirada da amostra.


O método é resolvido iterativamente,
definindo-se previamente a função de
Realizarem-se ensaios de granulometria,
distribuição de forças entre fatias, assumindo-se
limite de liquidez, limite de plasticidade,
valores para FS e Ȝ e calculando-se E(x) e M(x)
densidade real dos grãos e compactação e
para cada fatia. A Figura 2 ilustra as forças
cisalhamento direto. Na Figura 2, apresenta-se a
atuantes em uma fatia por esse método.
curva granulométrica do solo.
(GERSCOVICH, 2016).

Figura 2 - Forças atuantes em uma fatia pelo método de Figura 4 – Curva granulométrica
Morgentern-Prince.
Como, segundo os ensaios de limite de
liquidez e limite de plasticidade, o solo
3 MATERIAIS E MÉTODOS apresenta-se como não plático, a amostra é
classificada, utilizando o Sistema Unificado de
Inicialmente, realizou-se a coleta de amostras, Classificação dos Solos (SUCS), como um solo
em seguida, procedeu-se aos ensaios de arenoso mal graduado e com poucos finos e,

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segundo o Transportation Research Board saturação total, onde, para as tensões normais
(TRB), como um A-3. aplicadas às amostras, as tensões cisalhantes
No ensaio de densidade real dos grãos, correspondentes foram 51 kPa, 106,8 kPa e
obteve-se o resultado de 2,54 g/cm³. 187,2 kPa, respectivamente.
Prosseguiu-se ao ensaio de compactação para
a determinação da umidade ótima e do peso
específico máximo seco, cujo os valores são,
respectivamente, 6,5% e 1,98g/cm³. (Figura 3)

Figura 7 – Resultado do cisalhamento direto na condição


saturada

Os parâmetros de resistência do solo nas duas


Figura 5 – Gráfico do ensaio de compactação condições citadas anteriormente encontradas no
ensaio são apresentados na Tabela 1.
Neste trabalho foram realizados ensaios de
cisalhamento direto em corpos de prova na Tabela 1. Coesão (c') e ângulo de atrito (I') encontrados
condição de umidade ótima e completamente no ensaio de cisalhamento direto .
Condição da c' I'
saturados; em ambos os ensaio a sua velocidade Amostra (kPa) (q)
de deformação foi controlada (0,1 mm/min) e as Umidade ótima 23,03 44,05
tensões normais aplicadas foram de 50 kPa, 100 Saturação total 10,78 41,77
kPa e 200 kPa. A amostra de solo foi moldada
em moldes quadrados de 5 cm de lado por 2 cm
Para análise da influência da da saturação do
de altura.
talude estudado, utilizou-se o software Slide,
A Figura 4 apresenta os resultados do ensaio
versão 6.0, da empresa Rocscience, licenciado
de cisalhamento direto para a condição de
na Universidade Federal do Ceará. O talude em
úmidade ótima, onde, para as tensões normais
análise possui uma altura de 10 metros e uma
aplicadas às amostras, as tensões cisalhantes
inclinação de 1V:1,5H. (Figura 5)
correspondentes foram 71,5 kPa, 119,5 kPa e
216,6 kPa, respectivamente.

Figura 8 – Geometria do talude estudado.


Figura 6 – Resultado do cisalhamento direto na condição
seca.
4 RESULTADOS
A Figura 5 apresenta os resultados do ensaio
de cisalhamento direto para a condição de Nas Figura 6 e 7 apresentam-se os resultados do

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fator de segurança para os métodos
Morgenstern-Price e Bishop Simplificado,
respectivamente para o talude na condição de
umidade ótima. Para ambos os métodos foi
obtido o mesmo fator de segurança de 2,9.

Figura 11 – Fator de segurança do perfil de talude na


condição saturada pelo método de Morgenstern-Price.

Figura 9 – Fator de segurança do perfil de talude na


condição seca pelo método de Morgenstern-Price.

Figura 12 – Fator de segurança do perfil de talude na


condição saturada pelo método de Bishop Simplificado.

Figura 10 – Fator de segurança do perfil de talude na


5 CONCLUSÃO
condição seca pelo método de Bishop Simplificado.
Este artigo apresenta os resultados de ensaios de
Para o talude saturado, considerando os laboratório e análises de estabilidade em taludes
resultado do ensaio de cislhamento direto e o nas condições de umidade ótima e saturação
fluxo de água no talude, obteve-se um fator de total.
segurança de 1,2 (Figura 8 e Figura 9) pelas duas Os resultados apresentam que os fatores de
metodologias de cálculo estudadas. segurança na condição de umidade ótima, por
Por meio dos resultados obtidos, pode-se meio de Morgenstern-Price e Bishop
verificar que na condição de saturação total há simplificado, são da ordem 2,9. Já para a
uma redução no fator de segurança do talude. condição saturada, os valores calculados do fator
Isto ocorree devido à diminuição da coesão do de segurança foram 1,2.
material na presença de água. Desse modo, nota-se que para o perfil de
talude estudado o fluxo de água reduziu em,

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aproximadamente, 60% o fator de segurança do
talude para ambas as metodologias de cálculo.
Por meio dos ensaios de laboratório foi
possível verificar que a coesão do material
também reduzida em 50% na condição de
saturação total.
Foi possível verificar que a água no solo altera
o comportamento do talude, podendo levar este
à ruptura, sendo muito importante verificar
sempre os fatores de segurança de taludes em
condições de fluxo de água.

REFERÊNCIAS

Vanmarcke, E. (2011). Equilibrium Failure of Long Earth


Slopes: How it Depends on Length. 2 Ed. Geo Risk,
ASCE. Disponível em:
<http://ascelibrary.org/doi/abs/10.1061/41183%28418
%291>. Acesso em: 27 de junho de 2017.

Gerscovich, D. M. S. (2016). Estabilidade de taludes. 2


Ed. Oficina de textos, São Paulo.

Menezes, M. S. S. e Campos, L. E. P. (1992) Estabilização


de taludes em solos residuais tropicais, in: 1a
COBRAE Rio de Janeiro, volume I, 101-110 pp.

Milititsky, J; Consoli, N. C; Schnaid, F. (2015). Patologia


das fundações. 2 Ed. Oficina de textos, São Paulo,
2015.

Pinto, C. S. (2006). Curso básico de mecânica dos solos


em 16 aulas. 3 Ed. Oficina de textos, São Paulo.

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Geossintéticos e
Melhoramento de Solos

TEMA 4


Análise de Estabilidade de um Aterro sobre Solo Mole com
Utilização de Geogrelhas, Geodrenos e Bermas
Narayana Saniele Massocco
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, nsaniele@gmail.com

RESUMO: Esta pesquisa tem como objetivo analisar a estabilidade de um aterro sobre um trecho de
solo mole e, a partir disto indicar medidas para o aumento do fator de segurança do aterro sobre o
qual será construído uma rodovia, e, propor melhorias nas condições do solo. Com os dados de
resistência de um perfil foi possível verificar o fator de segurança através do software Slide. O solo
nas condições normais apresentadas apresentou um fator de segurança de 0,7, necessitando portanto
de medidas que aumentassem a segurança, a solução foi a implatação de bermas e geogrelhas para a
estabilidade e geodrenos para as condições de recalque o qual obteve um fator de segurança de 1,4.

PALAVRAS-CHAVE: Fator de segurança, Software Slide, Drenos, Recalque.

1 INTRODUÇÃO geodrenos, bermas e geogrelhas no intuito de


servir como auxílio a projetos geotécnicos.
Devido ao crescimento populacional,
econômico e social do Brasil nestas últimas 2 METODOLOGIA
décadas, houve, de certa forma, um crescimento
na área da infraestrutura, e desse modo, a 2.1 Perfil do solo e medidas de análise
necessidade de implantar rodovias, aterros e
barragens foi crescendo. O interessante é que Os parâmetros de resistência utilizados neste
essas obras são muitas vezes instaladas nas trabalho refere-se a um banco de dados
áreas onde há a predominância de solos com geotécnicos extraídos da pesquisa de Massocco
baixa resistência, como o caso dos solos moles. (2013), o qual corresponde a uma área de
É fato que a estabilidade e recalques de estudo localizada entre os municípios de
aterro sobre solos moles é um fator bastante Tubarão e São Martinho (SC), mostrado na
discutido, e assim, devido a baixa capacidade Figura 1; a linha vermelha corresponde ao
suporte deste solo, são necessárias medidas que traçado da rodovia que foi construída nesta
aumentem a estabilidade e garanta a aceleração região, e, onde os ensaios e parâmetros foram
dos rescalques. obtidos. Com relação às características do solo
As formas de viabilizar a construção de mole, foi utilizado um perfil de resistência não
aterro são através de técnicas e entre as quais drenada (Su), obtidos a partir de dados de
estão: Construção em etapas, aplicação de Piezocone (CPTu) e ensaio de palheta (Vane
sobrecargas temporárias, instalação de drenos test), até uma profundidade de 20 metros.
verticais para acelerar o recalque, utilização de A Figura 2 corresponde de forma
estacas, geossintético e bermas para aumentar o simplificada o perfil do solo estudado de
fator de segurança e etc (MASSOCCO, 2013). resistência não drenada provenientes dos dados
O presente trabalho visa analisar um trecho de CPTu e palheta. Percebe–se que o solo está
de aterro sobre solo mole em que foi implantada dividido em 3 camadas, estas por sua vez são:
uma rodovia na região de Tubarão-SC. Através Turfa (0 a 4 metros), argila muito mole cinza
do uso do software Slide, e com o estudo de escuro (4 a 16 metros), argila mole à média (16
estabilidade e recalque, propor soluções como a 20 metros).

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software foi visar uma maior precisão, pois
através dele é possível calcular um número
maior de iterações, dado que pode analisar as
condições de construção de aterro por vários
métodos de cálculos.
O fator de segurança foi encontrado no
programa pelo método de Bishop (1995)
simplificado. Este método divide a cunha de
escorregamento em diversas lamelas, levando
em conta as reações entre as fatias vizinhas, e
considera as forças de interação entre fatias
como sendo apenas horizontais.
No software Slide 6.0, inicialmente foram
Figura 1. Localização do traçado da rodovia definidos os limites entre as camadas, as
especificações de cada camada, do aterro e
É possível perceber as resistências não pavimento, nível de água e os parâmetros de
drenadas (Su) obtidas na faixa de 0 a 4 metros resistência. Após esse processo, foi realizada a
com Su de 10 kPa, 4 a 10 metros com análise do fator de segurança, interpretando-se
resistência de 15 kPa; entre 10 e 16 metros com os resultados e inseridos métodos de melhorias
20 kPa e por último no perfil entre 16 e 20 para aumento do Fator de segurança.
metros a resistência não drenada de 30 kPa.
2.3 Condições de melhoria do aterro

Para melhoria da estabilidade do aterro


foram utilizados os ábacos de Jakobson (1948),
para implantação de bermas de equilíbrio,
geogrelhas com o uso do próprio software.

2.3.1 Processo de aceleração do recalque

Com uma base de dados de ensaio de


adensamento e recalque total deste trecho, foi
Figura 2. Perfil do solo adotado para análise de
estabilidade e recalque
possível calcular o tempo para que 90% do
adensamento ocorra e verificou a necessidade
O aterro considerado para análise neste de medidas de aceleração do recalque.
trecho de solo possui medidas de 40 metros de Para saber o tempo que 90% do recalque
largura por 0,55 metros de altura destinados ao leva para ocorrer, utilizou-se o método de
pavimento, com aterro compactado de 2,5 m de Taylor (1948). Desse modo, o tempo, em anos,
altura e colchão drenante de 0,5 metros de foi definido pela equação (1).
altura. A altura de 2,5 metros do aterro foi
determinada a partir dos conceitos de Pinto (0,9332 u log(1  U)  0, 0851) u hca 2 (1)
t 90 =
(1966) em que há uma análise de altura crítica Cv
de aterro devido ao aumento de resistência não Onde: U é a porcentagem de adensamento
drenada. [0,9]; t90 é o tempo correspondente à ocorrência
de 90% do adensamento primário [anos]; hCa é a
2.2 Condições de estabilidade do solo altura da camada, definida em função de uma
ou mais camadas drenantes, para 90% de
Após as considerações iniciais, foram recalque [m]; Cv é o coeficiente de adensamento
analisadas as condições de estabilidade do encontrado no ensaio de adensamento[cm²/ano].
aterro com a identificação do fator de segurança A altura da camada (hCa) foi definida
pelo programa Slide 6.0. O intuito de utilizar o segundo composições das demais camadas

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inferiores, neste caso, como não há uma face comprimento do segmento [m]; A é a área que o
drenante acima, adotou-se o próprio valor da geodreno abrange; p é a profundidade do
profundidade da camada onde foram realizados geodreno [m], determinado pelo perfil
os ensaios, pois a água percorrerá um único estratigráfico.
caminho de saída. A Figura 3 representa o espaçamento do
Após a verificação do tempo de recalque do geodreno, em que foi adotada uma malha
solo, foram necessárias medidas de aceleração triangular e o diâmetro equivalente do
de recalque. A solução adotada foi a utilização geodreno.
de geodrenos, os quais tem a função de retirada
da água das camadas de solo. O cálculo do Geodreno
geodreno foi realizado com a teoria
desenvolvida por Carillo (1942), descrita por
Richard (1959), segundo DNER (1990).
A profundidade escolhida de análise foi de
10 metros e um trecho de rodovia de 350
metros. A quantidade de geodrenos calculada
para que acelere o processo de adensamento em
90%, foi estimada para este caso, em 10 meses.
A partir da equação 2, encontrou-se o valor
do adensamento horizontal (Uh), em que o grau S Dg
de adensamento total (U) corresponde à Figura 3. Distribuição triangular da malha dos geodrenos
porcentagem de tempo de recalque desejada
(90%), e o grau de adensamento vertical (Uv) é Vale ressaltar que o incremento de
encontrado através do ábaco da teoria resistência não drenada devido ao processo de
unidimensional de Terzaghi (1920). adensamento com a utilização do geodreno não
foi considerado no software, mas foi adicionado
1-U = (1- U v ) - (1- U h ) (2) o colchão drenante do programa.
Para obter o diâmetro do geodreno, foi 3 RESULTADOS
utilizada a teoria de Barron (1948), que chegou
ao diâmetro equivalente do geodreno (Dg), em Com o que foi descrito na metodologia,
metros, considerando um diâmetro equivalente chegou-se aos resultados desta pesquisa. A
(dequi) de 0,0656 m. O coeficiente de tabela 1 representa os parâmetros de resistência
adensamento horizontal (Ch) foi determinado definidos por profundidade e os respectivos
pelos dados de dissipação medidos em campo índices físicos.
com o ensaio de Pizocone. Tabela 1. Parâmetros de cálculo do fator de segurança
A partir do tempo estimado de 10 meses para Ȗnat Jsat Su I'
Camadas (kN·m-3)
acelerar o adensamento em obra, determinou-se (kN·m-3) (kPa) (q)
o espaçamento do geodreno (S), calculado na Pavimento 20 - 0 45
equação 3. Aterro 20 - 5 35
Colchão 18 - 0 30
Dg drenante
S= (3) Turfa - 12,9 10 0
1, 05 Argila
muito mole - 12,9 15 0
O comprimento dos geodrenos (Cgeo) foi dado (A)
pela equação 4. Argila - 13,1 20 0
muito mole
§ b ×l · (B)
Cgeo = ¨ a ¸ × p (4) Argila - 13,1 30 0
© A ¹ mole a
Onde: ba é a base da rodovia somada às média
distâncias de talude nas duas laterais [m]; l é o Fonte: MASSOCCO (2013)

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A Figura 4 apresenta o fator de segurança
calculado pelo programa Slide, bem como uma A norma estabelece que o Fs deva ser maior
parte do desenho das camadas de solo, colchão que 1,5, mas o valor considerado de 1,382 é
drenante, aterro e pavimento. aceitável, uma vez que a área em estudo não
seja em área urbana, e a via de tráfego não é
considerada elevada, assim este fator é
considerado seguro. Além disso, foram
realizadas investigações da composição e
resistência das camadas, originando precisão na
análise. Estudos de Almeida (2001) também
mostram que há incremento de resistência
depois da utilização de geodrenos, e neste
trabalho isto não foi avaliado, o que adiciona o
valor aceitável para este fator de segurança.
Os recalques e tempo para ocorrência neste
trecho de solo foram identificados e estão na
tabela 2.
Figura 4. Representação do aterro, do solo e do fator de
segurança Tabela 2. Parâmetros de cálculo do fator de segurança
Camadas Recalque (m) T90 (anos)
Analisando o fator de segurança obtido com Turfa 1,12 16,9
as dimensões estabelecidas é possível notar que
Argila muito 1 34,7
o aterro sofrerá rompimento com essas mole (A)
características, pois o fator de segurança obtido Argila muito 0,29 3
nessa primeira etapa foi de 0,705 menor que o mole (B)
estabelecido em norma. Argila mole, 1,16 53,3
Com a intenção de aumento do fator de cinza escuro
Fonte: O autor
segurança, foi utilizado a adição de bermas,
cujas dimensões foram: 12 metros de largura
A camada analisada de turfa apresentou
para cada lado do aterro e 1,5 metros de altura,
valor de recalque próximo ao das camadas de
considerando-se que na situação onde será
argila muito mole, cinza escuro, dos outros
introduzida a rodovia, haverá espaço para esta
trechos. Isto pode ser justificado por uma
aplicação técnica.
possível resistência errônea desta camada, que
Adicionado as Bermas de equilíbrio foram
pode ser causada por raízes e outros materiais
utilizada geogrelhas com capacidade de 400
constituintes.
kN/m. Assim, o fator de segurança foi majorado
Ocorreu o menor recalque para o menor
para 1,382, conforme mostra na Figura 5.
tempo calculado no segmento da profundidade
de 10 a 16 metros. Isto ocorre devido às
características da camada, estado do solo e
tensões aplicadas.
Na Tabela 3 estão os valores obtidos em
relação à quantidade de drenos, considerando-se
um trecho de rodovia de 350 metros, e
analisando-se a partir dos dados da
profundidade de 10 metros.

Figura 5. Representação do aterro e do solo e fator de


segurança de 1,382

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metro, o que é comum para solos moles. Além
Tabela 1 – Resultados de parâmetros e dados de geodrenos disso, os valores de coeficiente de compressão
Parâmetros de cálculo Sigla Resultado maiores que o de recompressão confirmaram
Coeficiente de consolidação vertical Cv 5,71E-3 [m²·s-1] que se estava trabalhando com este tipo de solo.
Coeficiente de consolidação horizontalCh 9,40E-8 [m²·s-1] Então, é válida a isenção do cálculo do recalque
Adensamento total U 90 [%] imediato nas camadas analisadas.
Grau de adensamento vertical Uv 30 [%] Devido ao tempo de recalque prolongado, a
Grau de adensamento horizontal Uh 85 [%] inserção de drenos fez-se necessária através de
Diâmetro equivalente do geodreno dequ 0,0656 [m] 155.028 metros para o trecho de 350 metros.
Diâmetro do geodreno Dg 1,5 [m] Este quantitativo para projetos é considerado
Espaçamento entre geodrenos S 1,4 [m] normal, considerando-se esta extensão, porém
Base da plataforma ba 49 [m] para fins econômicos o custo é elevado.
Comprimento do segmento do trechol 350 [m] Por fim, diante do exposto, acredita-se que
3
Área de 1 geodreno A 1,77 [m²] esta pesquisa é relevante para diversos projetos
Espessura da camada a consolidar p 16 [m] geotécnicos, pois apresenta soluções técnicas,
Comprimento total do geodreno Cgeo 155,028 [m] tais como colocação de bermas, geogrelhas e
Fonte: O autor drenos, que podem ser utilizadas para viabilizar
obras sobre solos moles.
Observando-se a tabela 3 percebe-se que
para 90% do adensamento ocorra no tempo de AGRADECIMENTOS
10 meses, são necessários 16 metros de drenos
por ponto, totalizando aproximadamente 9.700 Agradecer ao Professor Marciano Maccarini
pontos, distribuídos no trecho de 350 metros, pela orientação e a Universidade Federal de
gerando um total de 155.028 metros de drenos. Santa Catarina pela formação.
4 CONCLUSÕES REFERÊNCIAS
Utilizando-se os dados de um solo, com Almeida, M. S.; Santa Maria, P. E. L.; Martins, I. S. M.;
perfil predominantemente argiloso e de uma Spotti, A. P.; Coelho, L. B. M (2001). Consolidation
resistência não drenada ao longo da of a very soft clay with vertical drains. Géotecnique,
profundidade, foi possível analisá-lo em termos v. 50, n. 6, p. 633-643.
Barron, R. A. (1948). Consolidation of Fine-grained soils
de estabilidade e recalque. by drain wells, ASCE, p. 718-743.
O aterro em questão, apresentou um fator de Bishop, D. J. (1995). Practical Aspects of Geosynthetic
segurança abaixo do permitido em Norma, ou Clay Liners (GCLS), Geosynthetics World, Vol.5,
seja o solo necessitava de recursos que No. 5, November/December.
aumentassem a capacidade de resistência. Por Carrillo, N. (1942). Simple two and three dimensional
meio da solução adotada, a qual utilizou cases in the Theory of consolidation of soils, Journal
Of Math. and Phys., Vol. 21, 1-5.
geogrelhas e bermas de equilíbrio, foi suficiente
DNER. (1990). Manual de projeto e execução de aterros
para chegar a um fator de segurança de 1,4. sobre solos moles. Rio de Janeiro: Geomecânica s/a,
Porém, apesar da Norma estabelecer que o 227p.
fator de segurança deva ser maior que 1,5, o Jacobson, B. (1948) The Design of embankments soft
valor encontrado é aceitável se a implantação clays. Géotéchique, Vol. 1, n. 2, p. 80-89, December.
desta obra não for em área urbana, além disso Massocco, N. S. (2013). Determinação de parâmetros de
compressibilidade e de resistência não drenada de argila
uma investigação precisa da composição e mole – estudo de caso. Trabalho de conclusão de curso
resistência das camadas, é um fator que deu (Graduação), Universidade Federal de Santa Catarina.
uma precisão à análise. Adicionado a este fato SC, 2013. Disponível em:
temos a não consideração do incremento de <https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/115428>
resistência devido à utilização de geodrenos. Pinto, C. S. (1966). Capacidade de carga de argila com
coesão crescente com a profundidade. Jornal de
Ao analisar-se o recalque primário, Solos, v. 3, n. 1, p. 21-44.
percebeu-se que a maior parte das camadas Richard, F. E. (1957). Review of the theories of sand
possuía um recalque de aproximadamente 1 drains. Transaction ACES, Vol 124, p. 709-739.
Taylor, D. (1948). Fundaments of soils Mechanics. New

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



York: John Wiley&Sons.
Terzaghi, K. (1920). Old earth-pressure theories and test
results. Engineering News-Record, Vol. 85, p. 634-
637.

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Aplicabilidade de Geossintéticos em Obras de Engenharia

Gabriela Callegario Santolin


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, gabrielasantolin@gmail.com

Juliângelo Kayo Sangi de Oliveira


Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, juliangelosoliveira@gmail.com

Marcus Gabriel Souza Delfino


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, Brasil, ma.marc@hotmail.com

RESUMO: A utilização de materiais geossintéticos tem sido cada vez mais constante em obras de
geotecnia, tanto por sua versatilidade, quanto pelas vantagens estruturais e econômicas que trazem
consigo. Cada tipo de aplicação exige um geossintético específico que atenda aos requisitos
necessários para a execução segura das obras. Os geossintéticos são amplamente utilizados na
execução de obras de terra, sistemas de drenagem e filtragem e em obras de pavimentação. Ao
concluir-se o referencial bibliográfico, afirmou-se que esses materiais são extremamente úteis, e que
sua correta escolha acarreta em agilidade na obra e na construção de obras mais complexas.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintético, Solo Reforçado, Geotecnia.

1 INTRODUÇÃO Com o advento da indústria petroquímica e


o surgimento dos materiais sintéticos,
O conceito de solo reforçado vem sendo usado principalmente após a 2º Guerra Mundial, houve
desde os primórdios. Desde então, diversos uma notável evolução desses materiais, dos
materiais têm sido utilizados como forma de produtos dos quais são matéria-prima e de suas
melhorar o desempenho dos solos em obras de aplicações. Diversos estudos têm sido realizados
geotecnia. Construções como a Grande nas últimas décadas com o intuito de se conhecer
Muralha da China e diversas obras do Império as propriedades e comportamentos desses
Romano, que datam de milhares de anos atrás, materiais. Nesse contexto, o progresso dos
já apresentavam materiais vegetais e fibrosos geossintéticos afeta substancialmente os
em suas estruturas. Ingold (1994), relata que a aspectos de projeto e construção de obras de
Torre de Babel fora construída com um estilo de geotecnia.
solo reforçado. John (1987) data que a primeira As primeiras conferências internacionais
aplicação de geotêxtil nos EUA aconteceu por sobre o assunto aconteceram por volta de 1977
volta de 1926 ao reforçar um pavimento, porém, (ABINT, 2001), mas somente em 1983, durante
esse método de reforço só obteve força e o Congresso de Singapura, a Sociedade
reconhecimento em 1966 com a invenção do Internacional de Geotêxteis e Produtos Afins
sistema de terra armada pelo arquiteto francês (IGS), definiu os conceitos de geossintético.
Henry Vidal. O sistema consistia na aplicação No Brasil, a primeira grande obra onde foi
de tiras metálicas em um solo granular utilizado geotêxtil como reforço foi a rodovia
finalidade por uma face de painéis (JEWELL, que liga Taubaté à Campos do Jordão no início
1992). da década de 1980 (Carvalho et al., 1986). Além
disso, nessa mesma década, a Associação

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Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia geotêxtil (GT), geotira (GI) e geotubo (GP).
Geotécnica (ABMS) criou uma comissão com o Bueno (2003) salienta que cada tipo de
intuito de divulgar a aplicabilidade dos geossintético possui uma aplicação específica,
geossintéticos no país. Foi durante a década de porém há casos em que um produto desempenha
1990 que aconteceram os primeiros Simpósios várias funções. Na tabela 1 mostra-se os tipos de
sobre Aplicação de Geossintéticos em geossintéticos aliados com suas funções.
Geotecnia. Tanto os eventos, quanto o assunto A Associação Brasileira de Geossintéticos
ganharam um grande destaque pela sociedade ressalta que além das vantagens técnicas, os
científica e, em 1997, surgiu a ramificação geossintéticos se destacam pela sua fácil
brasileira do IGS. instalação, o que acaba diminuindo o tempo de
A primeira Norma Brasileira referente aos execução das obras e os custos, bem como um
geossintéticos data de 1992, e com a maior controle de qualidade desses materiais,
especificação NBR 12553/1992. A versão atual permitindo que obras com mais segurança sejam
contém 7 funções principais dos mais de 10 executadas, além de possuírem valores
tipos de geossintéticos. Sieira (2003) ressalta arquitetônicos.
que há gastos por volta de R$ 20 milhões
anualmente apenas em contenção de encostas. Tabela 1. Tipos de Geossintéticos e suas Principais
Com a utilização mais eficiente dos Aplicações (Vertematti, 2004)
geossintéticos, estando a par de suas funções,
esse montante total poderia ser diminuído. Ao
1 2 3 4 5 6 7
mostrar os avanços feitos com o uso dos
geossintéticos no Brasil, espera-se que haja mais GG x
interesse ao usá-lo em larga escala. G
x x
M
2 GEOSSINTÉTICOS GC x x
GB x
O uso de materiais geossintéticos têm sido
GS x
amplamente utilizados em obras de Engenharia
Geotécnica devido sua versatilidade. Esses GI x
materiais, produzidos a partir de matéria-prima GN x
de base polimérica, nas suas mais variadas GP x
formas, podem ter diversas funções, como: GA x x
drenagem, filtração, proteção, separação e GL x
reforço.
GT x x x x x x
De acordo com a Norma Brasileira
12553/2003, geossintéticos são produtos
Legenda da Tabela: 1. Reforço, 2. Filtração, 3.
poliméricos de origem sintética ou natural. Drenagem, 4. Proteção, 5. Separação, 6.
Koerner (1998) complementa dizendo que os Impermeabilização, 7. Controle de Erosão.
geossintéticos atuam em conjunto com solo,
rocha ou outro material para melhorar certas 2.1. Geossintéticos Utilizados em Obras de
propriedades do mesmo. Os geossintéticos Terra
podem ser fabricados com uma grande variedade
de materiais poliméricos, dentre os quais Geossintéticos que tem aplicação de reforço
destacam-se: poliester, polietileno e podem ser utilizados em muros de arrimo,
polipropileno como os polímeros mais utilizados estabilização de taludes, aterros sanitários e
(VERTEMATTI, 2004). Além disso, eles se outras grandes obras de terra (AGUIAR, 2003).
apresentam de diversas formas: geobarra (GB), Uma das grandes vantagens do solo é a grande
geocélula (GL), geocomposto (GC), resistência à compressão, porém, quando se trata
geoespaçador (GS), geoexpandido (GE), de resistência à tração. Segundo Dantas (2004),
geoforma (GF), geogrelha (GG), geomanta uma estrutura de solo reforçado é a junção
(GA), geomembrana (GM), georrede (GN), do solo, reforços e face. Como a resistência do
solo é quase nula, ao ser aplicada

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carga nesta estrutura, essa carga é redistribuída,
sendo aplicada no geossintético, que possui O mesmo modelo fora testado e validado
uma resistência à tração. Koerner (1998) através de um programa de ensaios, e obteve-se
mostrou através do gráfico, na figura 1, a a concordância com os dados do projeto.
mudança de comportamento de uma areia densa Segundo Dantas (2004), a coesão do solo exerce
ao aplicar de 2 à 4 camadas de reforço. uma grande influência sobre a mobilização do
reforço. Ehrlich e Mitchell (1994) citados por
Peralta (2008), mostraram que os muros com
elementos de reforços mais flexíveis reduzem
as solicitações de carga nos mesmos. Sieira
(2009) mostra o quão potente são os
geossintéticos ao permitir a construção de
elementos de solo mais íngremes, e um menor
volume de solo compactado. Sieira (2003)
mostra que quanto maior a densidade relativa do
solo, menor o deslocamento da geogrelha.
Franca e Pereira (2012), com um caso de obra
Figura 1. Mudança no comportamento do solo com no qual era necessário a recomposição de um
reforços (Koerner, 1998).
talude após a sua ruptura optaram pelo uso de
geossintéticos ao fazer o mesmo. Perto deste
A utilização de solos bem graduados e talude estava um reservatório de água e as costas
granulares são os mais utilizados quando se de uma escola municipal, logo, a recomposição
entra em questão o solo reforçado. Elias et al. da obra não poderia mobilizar um grande volume
(2001) mostra que solos com até 60% passante de solo retirado. A opção escolhida foi a
na peneira #40 e Índice de Plasticidade menor utilização de geotêxteis, geocomposto,
igual à 6 podem ser usados em paredes verticais geocélula e geotubo devido à complexidade da
de até 70º de inclinação. A estabilidade interna obra. Na figura 4 é mostrada uma seção
desta estrutura, segundo Presto (2008), transversal da solução adotada, com o uso de
acontece pela verificação do escorregamento, geocélulas e face de concreto projetado para sua
tombamento, o arrancamento dos reforços e a recomposição. Pela figura 3 é possível observar
ruptura das inclusões. Na figura 2, adaptada de o uso dos outros tipos de geossintéticos para
Presto (2008) citado por Avesani Neto (2009), drenagem, filtração e confinamento.
mostra a esquematização dessas verificações.
Falando sobre arrancamento, Sieira et al. (2009)
apresentou um modelo analítico para reproduzir
a transferência de carga ao longo do
comprimento do material submetido à essa ação.

Figura 3. Esquematização de recomposição do talude


(Franca e Pereira, 2012).

Hadlich et al. (2015) mostrou, na prática,


após a construção de muros de arrimo e taludes
Figura 2. Verificação da estabilidade interna de estrutura com o solo reforçado, que geogrelhas são mais
de solo (Presto, 2008). eficientes em solos arenosos do que em argilas.

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restauração do pavimento da rodovia MG-424,
2.2. Geossintéticos Utilizados em Obras de sendo sua constituição inicial de Cimento
Pavimentação Portland (pavimento rígido). Foi observado que
os deslocamentos encontrados pelo “Crack
De acordo com Keller e Berry (2017), o uso de Activity Meter” após a aplicação da geogrelha
geossintéticos em estradas do serviço florestal foram reduzidos. Segundo Kelsey (2017), em
nos Estados Unidos teve início na década de 2016, uma estrada na Índia, afetada por fortes
1920. Nos anos seguintes, estudos e avaliações chuvas, foi reconstruída através da utilização de
foram realizados com o objetivo de desenvolver geossintéticos em poucos dias e sem a
sua aplicação. Em 1966 foi feito o primeiro uso necessidade de utilização de equipamentos
de um geotêxtil não tecido para recapeamento pesados, o que contribuiu com a redução dos
asfáltico. Em 1977 foram publicadas diretrizes custos da obra. Gurara et al. (2017) compararam,
para a utilização de geossintéticos na construção através de ensaios, pavimentos em Adis Ababa,
e manutenção de estradas de baixo tráfego. Em na Índia, com e sem a presença de geossintéticos
1980 sua utilização em estradas começou a ser e obtiveram maiores valores de graus de
mais difundida e pesquisas e aplicações foram compactação, de estabilidade e de economia nos
documentadas no FHWA (Federal Highway testes que consideraram os geossintéticos como
Administration). No Brasil, segundo Bastos reforço.
(2010), os primeiros empregos de geossintéticos A aplicação de geossintéticos em pavimentos
aconteceram em 1971 e também foi realizada, apresenta como objetivo a diminuição de tensões
nesse ano, a aplicação em pavimentos da BR- e o controle de trincas formadas. Em obras de
101, em Angra dos Reis, e na Rodovia pavimentação, os tipos mais comuns de
Transamasônica. De acordo com Antunes geossintéticos utilizados são os geotêxteis, as
(2008), no Brasil, o uso dos produtos geogrelhas e o geocompostos. De acordo com
geossintéticos tem aumentado principalmente Fonseca (2015), os geossintéticos são utilizados
nos últimos 20 anos devido à necessidade de em obras de pavimentação a fim de atuarem
melhoria da infraestrutura rodoviária no país. como reforço da estrutura, de participarem da
Recentemente, tem-se utilizado impermeabilização e de protegerem e separarem
geossintéticos entre camadas do pavimento para camadas geotecnicamente diferentes. Os tipos
promover a impermeabilização e melhorar a mais utilizados em obras de pavimentação são os
absorção de tensões, assim como retardar o geotêxteis, em forma de manta, e as geogrelhas,
aparecimento de fissuras nos pavimentos. que apresentam estrutura de grelha e atuam,
Diversos estudos foram e estão sendo principalmente, como reforço. Segundo
desenvolvidos com o objetivo de avaliar essa Bernucci et al. (2006), os geossintéticos podem
influência provocada. Carmo e Huesker (2014) ser utilizados na restauração de pavimentos a fim
estudou o emprego da geogrelha de poliéster na de corrigir problemas de origem estrutural através
pista do aeroporto de Congonhas, onde foi do desvio de trincas ou da transformação das
observada a diminuição da necessidade de trincas em microfissuras. Na figura 4, é
manutenção e o obstáculo da propagação de observado o uso de geotêxteis e geogrelhas em
trincas. Hosseine et al. (2009) observou o pavimentos.
comportamento de pavimentos com e sem a
presença de geotêxteis e de geogrelhas e
constatou que a utilização desses materiais
elevaram a integridade e estabilidade e também
reduziram a taxa de propagação de trincas no
trecho analisado. Bastos (2010) analisou como a
utilização de geogrelhas afeta o comportamento
de misturas asfálticas em pavimentos flexíveis,
(a) (b)
obtendo parâmetros de resistência mais
elevados. Carmo e Montestruque (2015) Figura 4. Aplicação de geossintéticos em pavimentos: a)
analisaram o uso de geogrelha de poliéster na geotêxteis; b) geogrelhas (Bernucci et al., 2006).

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contenção, aterros, controle de erosão, área de
2.3. Geossintéticos Utilizados em Sistemas de colocação de resíduos, entre outros.
Drenagem e Filtração

No que se refere à utilização de geossintéticos em


sistemas drenantes e filtrantes, esses materiais
podem substituir eficientemente materiais
granulares em obras de geotecnia. Não somente
pela sua fácil instalação, mas também devido seu
custo competitivo e restrições que possam afetar
a utilização de alguns materiais granulares em
Figura 5. Geossintético utilizado na drenagem do Estádio
determinada obra. Arena Fonte Nova (Bidim, 2013)
Uma grande quantidade de estudos sobre a
utilização de geossintéticos em drenos e filtros 3 CONCLUSÃO
pode ser encontrada na literatura, principalmente
a partir da década de 1970. Todavia, Almeida Com o advento e desenvolvimento dos materiais
(2000) ressalta que ainda existem lacunas sobre sintéticos, em suas mais diversas composições e
esse assunto, sendo muitos trabalhos bastante formas, ao longo das últimas décadas, muito têm-
teóricos e superficiais. Segundo Vertematti se evoluído quanto à aplicação desses materiais
(2004), uma das primeiras especificações de em obras de Engenharia Geotécnica. Percebe-se,
geossintéticos como material drenante data de através das diversas estruturas construídas com
1987, na Grã-Bretanha. No Brasil, a utilização de geossintéticos, que o uso desses materiais é traz
geossintéticos para a drenagem de líquidos e consigo ganhos significativos às obras onde são
gases teve início na década de 1980. A primeira aplicados. Além da facilidade de instalação, o que
aplicação foi realizada na quadra de atletismo de influencia diretamente na velocidade da obra, há
um clube paulista, onde utilizou-se geossintético também uma diminuição na poluição ambiental,
como forma de diminuir o peso da estrutura os custos finais das obras são menores e, como os
drenante. geossintéticos são fabricados com maior controle
De acordo com a Associação Brasileira das de qualidade, as obras que possuem produtos
Indústrias de Não-tecidos e Tecidos Técnicos geossintéticos em sua estrutura apresentam
(ABINT) (2001), os geossintéticos atuando melhores desempenhos e segurança.
como material filtrante tem a função de prevenir Em relação à aplicação de materiais
erosão e a consequente fuga de partículas de solo geossintéticos em obras de terra, estes
através de sua estrutura física, retendo, dessa apresentam a função de reforço, melhorando a
forma, as partículas sólidas e permitindo a capacidade de carga dos terrenos, permitindo que
passagem dos fluidos. Sob esse aspecto, os as obras possam ter geometrias mais ousadas. No
geossintéticos, principalmente os geotêxteis, são que diz respeito à utilização desses materiais em
amplamente utilizados em obras nas margens de obras de pavimentação, eles contribuem com a
rios, proteções costeiras, barragens, em redução de tensões e atuam como um obstáculo
estruturas rodoferroviárias, etc. à propagação de trincas. Já em sistemas de
(VERTEMATTI, 2004). drenagem e filtração, esses materiais contribuem
No que se refere aos sistemas de drenagem, para a prevenção da erosão, conduzindo os
os geossintéticos coletam e conduzem fluidos, fluidos de forma mais eficaz pelas estruturas
facilitando a movimentação destes no interior dos consideradas, e também como material filtrante,
maciços, além de serem uma solução para o podendo substituir materiais granulares
rebaixamento de níveis de água em obras viárias alcançando padrões de desempenho tão bons ou
e como forma de acelerar o processo de até melhores.
consolidação de terrenos (GOMES, 2001). Por fim, o uso de materiais geossintéticos em
Diante dessa funcionalidade, os obras de Engenharia Geotécnica tem um grande
geossintéticos são utilizados em estruturas de campo a ser explorado e estudado. Ainda

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Dantas, B.T. (2004) -Análise do comportamento de
existem lacunas que limitam a utilização desses
estruturas de solo reforçado sob condições de
produtos. Todavia, a vasta bibliografia que trabalho. Tese de Doutorado. COPPE/UFRJ, 209p.
disserta acerca desse tema, nos mostra uma Fonseca, L. L. (2015) -Avaliação em laboratório do
grande potencialidade desses produtos, o que se comportamento de camadas asfáslticas reforçadas com
traduz em economia e segurança para as obras. geossintéticos. Dissertação de Mestrado, Escola de
Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais,
UFMG, MG, 2015.
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COBRAMSEG, 8, 1986, Porto Alegre, v.4, pp. 169-
178.

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Aspectos Gerais sobre Ensaios de Puncionamento em
Geomembrana
Andressa de Araujo Carneiro
Universidade de Brasília (UnB), Brasília, Brasil, andressa.deac@gmail.com

Chan Kou Wha


Universidade de Brasília (UnB), Brasília, Brasil, chankou@gmail.com

RESUMO: O presente artigo apresenta um estudo bibliográfico refente à aspectos gerais sobre
ensaios laboratoriais de puncionamento estático. Esses ensaios são importantes, pois definem
resistência à ruptura das geomembranas e simulam a ruptura dos geossintéticos em campo. O trabalho
trata ainda das condições que relacionam aspectos reais de obra, como por exemplo a forma do
material granular e a geometria das ponteiras utilizadas nos equipamentos de puncionamento.
Posteriormete, são apresentadas considerações sobre a obtenção das deformações sofridas pela
geomembrana puncionadas pelo material granular a partir de formulações matemáticas. Sugere-se
nesse artigo a proteção das geomembranas para minimizar a possibilidade de danos.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintético, Geomembrana, Deformação, Puncionamento.

1 INTRODUÇÃO

As primeiras aplicações de geossintéticos no Consequentemente o estudo de resistência a


Brasil tiveram início na década de 90 e, punção é uma propriedade mecânica importante
basicamente, tem-se notado um grande a ser observada nas geomembranas.
crescimento da indústria no contexto nacional.
Com isso, torna-se necessário que se
compreendam o comportamento e as diversas 2 APLICAÇÕES EM OBRAS
formas de interação desses materiais nas suas GEOTÉCNICAS
aplicações (LODI, 2003).
Geomembranas são materiais poliméricos
planos e flexíveis que são utilizados em obras A aplicação de geomembranas pode ocorrer na
geotécnicas sobretudo como elementos que área de ambiental, transporte, geotécnica e
desempenham papel de barreiras para evitar que outras, sempre levando em conta suas
gases e líquidos possam escapar ou contaminar o propriedades físicas, químicas e mecânicas.
solo, por exemplo. A utilização de uma camada Durante a instalação da geomembrana deve-
de proteção acima das geomembranas é se tomar cuidados preliminares com a área a qual
importante para evitar a punção ou rompimento será executada a obra. Antecedendo a
a longo prazo durante a construção ou operação implantação do geossintético deve-se fazer a
da obra. limpeza do terreno retirando possíveis
Durante a instalação a geomembrana pode ser pedregulhos, galhos de árvores ou qualquer
danificada por ferramentas, pedras ou material que poderia eventualmente danificar a
equipamentos que ocasionalmente caem sobre geomembrana.
elas, dentritos abaixo delas, por tráfegos de Uma das aplicações da geomembrana é a
veículos, animais, dentre outros. impermeabilização, devido a sua baixa

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permeabilidade conforme apresentado nas 13433, compreende a análise do dano através da
figuras 1 e 2. Esta característica viabiliza sua queda de um cone padrão sobre a amostra, presa
utilização em obras onde há necessidade de nas extremidades de um molde cilíndrico, sem
impermeabilização, como aterros sanitários. ser tracionada.

4 ENSAIOS DE PUNCIONAMENTO

Para analisar as propriedades dos geossintéticos


há os testes índices e os testes de desempenho.
Os testes índices, geralmente são realizados
Figura 1. Aplicação da geomembrana em reservatório. pelos fabricantes e geralmente são testes de
Fonte: Modificado de Rollin & Rigo (2005) pequena escala. Os testes de desempenho,
tentam simular no laboratório as condições em
que o geossintéticos serão submetidas em
campo, por este motivo a realização destes ensai-
os são expressamente necessários para prever o
desempenho destes materiais quando
implantados em obras.
A seguir são apresentados alguns dos ensaios
de puncionamento realizados em laboratório.
No ensaio apresentado na figura 3 a amostra
de geomembrana se encontra fixada entre dois
Figura 2. Aplicação da geomembrana em barragem. pratos. Os referidos pratos possuem um orifício
Fonte: Modificado de Rollin & Rigo (2005)
circular no centro, por onde passa a ponteira de
puncionamento. O ensaio é executado a uma
Em barragens de rejeitos a aplicação de
velocidade de 300 ± 10 mm/ min. A força
geomembranas tem crescido bastante devido à
máxima necessária para romper a amostra de
eficiência quanto a função de impermeabilização
geomembrana é o valor da resistência de
comprovada em diversas obras de engenharia e a
puncionamento.
dificuldade de obtenção de materiais naturais
(Oliveira 2016).

3 PROPRIEDADES

Para a fabricação das geomembranas utiliza-se


polímeros de diferentes espessuras, com
superfícies lisas ou rugosas. Em função destas
características, algumas de suas propriedades,
físicas, mecânicas, hidráulicas e de desempenho,
podem requerer diferentes formas de Figura 3. Esquema do equipamento para ensaio de
puncionamento (sem escala). Fonte: Modificado de
determinação, de acordo com as normas técnicas
Rollin & Rigo (2005)
(Vertemati 2015).
Dentre as propriedades citadas, este trabalho A figura 4 apresenta o ensaio de
irá destacar a propriedade mecânica a qual puncionamento em que a geomembrana possui a
fornece o parâmetro de resistência da forma retangular (100 mm x 150 mm). Para a
geomembrana através do ensaio de execução do ensaio a amostra é colocada em
puncionamento. torno da ponteira cuja a forma é tetraédrica, em
Este ensaio pode ser classificado como seguida é fixada na garra superior. A execução
estático ou dinâmico. O puncionamento estático do ensaio se dá com o puncionamento desta
é executado utilizando um pistão CBR, ponteira a uma velocidade de 300 ± 25 mm/min.
conforme a norma ABNT NBR ISSO 13359. O O ensaio é finalizado quando obtido a carga
tipo dinâmico, conforme a ABNT NBR ISSO

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máxima necessária para o rompimento da resistência.
amostra.

Fig. 6- Esquema do ensaio utilizando o cilindro CBR (sem


escala). Fonte: Modificado de de Rollin & Rigo (1991)

Fig. 4- Método do ponto tetraédrico (sem escala).


Fonte: Modificado de de Rollin & Rigo (2005) 5 COMPORTAMENTO MECÂNCIO DA
GEOMEMBRNANA
Na figura 5 é esquematizado o ensaio de
puncionamento cuja a amostra é fixada entre O comportamento da geomembrana difere de
dois pratos. O orifício circular localizado no acordo com o tipo de puncionamento em que é
centro dos pratos permite a passagem da ponteira submetida a amostra.
para o puncionamento da geomembrana. Este O contato que o material granular faz com a
ensaio também permite obter o elongamento da geomembrana pode reduzir a vida útil do
geomembrana. A realização do ensaio se dá a geossintético utilizado na obra, portanto é
uma velocidade de 500 mm/min. O valor da importante a realização de ensaios para simular
resistência de puncionamento é a medida da as condições deste material em campo. A
força máxima necessária para romper a amostra. resistência do geossintético pode ser
influenciada pela carga aplicada, pela velocidade
de puncionamento, superfície de contato entre os
materiais, elongamento do material, dentre
outros.
A figura 7 representa um comportamento do
contato entre o material granular e a
geomembrana.

Fig. 5- Esquema do equipamento para ensaio padrão de


puncionamento (sem escala). Fonte: Modificado de de
Rollin & Rigo (1991)

No ensaio exemplificado na figura 6 a Fig. 7- Esquema da pressão do material granular sobre a


geomembrana encontra-se inicialmente em uma geomembrana. (sem escala). Fonte: Modificado de
superfície plana e o puncionamento ocorre, por Brachman et al. (2013)
meio de uma ponteira plana que encontra-se
apoiada em um cilindro semelhante ao utilizado Para analisar as deformações nas
no ensaio CBR. O ensaio é executado a geomembranas alguns autores usam formulações
velocidade de 50 mm/min. A força máxima para matemáticas.
puncionar a amostra corresponde a sua

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



A figura 8 apresenta o comportamento da A escolha dos ensaios de puncionamento,
geomembrana após o puncionamento tendo para aumentar a vida útil da geomembrana, deve
como base uma dessas formulações. ser feita simulando a condição de aplicação da
geomembrana, para isso é adequado uma
caracterização física dos materiais granulares,
que se encontraram em contato com o
geossintético.
O dano no geossintético pode ser minimizado
quando reproduzido em laboratório a situação
mais fiel que o material é submetido em campo.
Fig. 8- Esquema do equipamento para ensaio padrão de As formulações matemáticas podem auxiliar
puncionamento. Fonte: Modificado de Brachman et al. na maior compreensão dos danos sofridos pelos
(2013) geossintéticos quando aplicados em campo.
Pode-se utilizar para execução do ensaio de
O comportamento da geomembrana puncionamento simulando um dano no
apresentado na figura acima, de acordo com o geossintético, ponteira do tipo: pontiaguda,
autor, considera uma forma parabólica, simétrica plana ou cônica simulando o material que estará
e com deslocamento cada vez menor a medida em contato com a geomembra A utilização de
que tende a se afastar para as extremidades tecnologias já disponíveis pode auxiliar na
distanciando assim, do ponto de puncionamento. interpretação dos danos observados nos ensaios
Logo, o deslocamento máximo para a situação executados em laboratório. Para isso podem ser
apresentada ocorrerá no centro da geo- utilizados: câmeras fotográficas, filmadoras,
membrana. lasers, microscópios, dentre outros.
Este puncionamento pode ser representado
por ponteiras utilizadas nos ensaios laboratoriais,
para isso pode-se utilizar ponteiras de diferentes REFERÊNCIAS
formas como: cônicas, pontiagudas ou planas,
conforme figura 9. A forma geométrica da ABNT NBR ISO 13359, 1995. Geotêxteis - Determinação
ponteira deverá ser adotada simulando a forma da resistência ao puncionamento estático - Ensaio com
pistão tipo CBR - Método de ensaio.
do material que estiver em contato com a
ABNT NBR ISO 13433, 2013. Geossintéticos — Ensaio
geomembrana durante obra. de perfuração dinâmica (ensaio de queda de cone).
Brachman, R.W.I. and Eastman, M.K., 2013. Calculating
local geomembrane indentation strains from measured
radial and vertical displacements. Geotextiles and
Geomembranes, 40: 58-68.
LODI, P.C (2003). Aspectos de degradação de geo-
membranas poliméricas de polietileno de alta den-
sidade (pead) e de poli (cloreto de vinila) (pvc). Tese
de doutorado, Escola de Engenharia de São Car-los da
Universidade de São Paulo, São Carlos, Bra-sil, 354p.
Oliveira, D.M.A., Souza, M.F., Xavier, A.F.G.; Gardoni,
M.G.A., 2016. Durabilidade de Geomembranas
Evelhecidas em Laboratório sob Condições Similares
às de Campo. Congresso Brasileiro de Mecânica dos
Fig. 9- Ponteiras para ensaio de puncionamento. Solos e Engenharia Geotécnica, 8.
Rollin, A. & Rigo, J.M., 2005. Geomembranes - Iden-
tification and performance testing. Chapman and Hall,
6 CONCLUSÕES pp 125-140.
Vertematti, J.C., 2015. Manual Brasileiro de Geossin-
Recomenda-se uma proteção da téticos. São Paulo, Editora Blücher.
geomembrana para minimização de um possível
dano na superfície da mesma, aumentando assim
a sua vida útil na obra.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Aumento da Resistência do Solo com Adição de Fibra Natural
Leilanny Costa Cardoso
Universidade Católica de Brasília, Brasília-DF, Brasil, leilannyccardoso@gmail.com

Renata Conciani Nunes


Universidade Católica de Brasília, Brasília-DF, Brasil, reconciani@gmail.com

RESUMO: Ao longo dos anos tem-se realizado pesquisas visando encontrar materiais que
melhorem as características mecânicas do solo e que contribuam no aumento da sua eficiência. Este
estudo tem o objetivo de pesquisar a viabilidade da reutilização do resíduo gerado por abatedouros
de aves, que é a pena de galinha (como fibra natural), misturado com solo laterítico de Brasília.
Durante a pesquisa, foram realizados ensaios geotécnicos para determinação das propriedades dos
materiais, os quais permitiram chegar numa porcentagem ótima da mistura do novo material. Além
disso, realizaram-se análises que quantificaram a modificação de características de resistência da
mistura obtida, avaliando a viabilidade técnica da sua utilização.

PALAVRAS-CHAVE: Fibra natural, Reforço de solo, ena de galinha.

1 INTRODUÇÃO galinha).
Outros estudos demonstram a resistência
Devido à dificuldade de se obter matéria da fibra natural para melhoria de solo como
prima da natureza, tem-se aumentado cada a pesquisa de “Melhoria de solos por
vez mais a reutilização de novos materiais inclusão de fibras naturais” (Sales, 2011),
na construção civil. Com o crescimento usando como fibra natural o cabelo humano
populacional e alta produção da indústria da que apresenta resistência a tração assim
granja, têm-se gerado cada vez mais resíduo como a pena de galinha, outro estudo é
de pena de galinha, pois, após o abate do “Melhoria de solos com fibras naturais –
animal as penas são descartadas como penas de frango” (AYALA; DE
resíduo e são incineradas. Com o CARVALHO; HERNÁNDEZ, 2016), que
reaproveitamento deste material, estaria se estuda a pena de frango para melhoria do
aplicando o fundamento dos 3R’s solo, igualmente a presente pesquisa.
(reutilizar, reciclar e reduzir).
A pena de galinha é uma fibra que tem
como uma das características a de imprimir 2 MATERIAIS E MÉTODOS
resistência mecânica, como demonstra a
publicação da redação do Site Inovação As características do solo foram
Tecnológica em 2005 que relatou uma determinadas pelos ensaios de: massa
notícia dos pesquisadores agrícolas norte específica dos grãos (NBR 6508), limite de
americanos Walter Schmidt e Justin liquidez (NBR 6459), limite de plasticidade
Barone, responsáveis pela descoberta das (NBR 7180), compactação para descobrir a
fibras das penas que reforçam o plástico, umidade ótima (NBR 7182) e a análise
dando-lhe maior resistência e diminuindo granulométrica (NBR 7181). O material
seu peso. Dessa forma, a finalidade deste misturado foi compactado na energia
estudo é verificar o desempenho do solo intermediária para avaliar o efeito da
com adição da fibra natural (pena de compactação no comportamento da mistura

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descobrindo a umidade ótima de acordo
com a NBR 7182. 2.3 Misturas

2.1 Fibra natural Foram determinadas duas porcentagens de


mistura para a realização dos ensaios
A fibra natural utilizada tem tamanhos geotécnicos com a finalidade de uma
variados de 60 a 100 mm (Figura 1). Como melhor comparação e verificação dos
a coleta das penas foi de um viveiro de resultados, foram definidas as seguintes
Sobradinho, cidade satélite de Brasília-DF, porcentagens do material, em massa: a
para a realização dos ensaios as penas primeira (mistura 1) foi de 99,5% de solo e
foram lavadas com água sanitária e sabão 0,5% de fibra natural, Figura 3, e a segunda
líquido para desinfecção, e posteriormente (mistura 2) foi de 99,3% de solo e 0,7% de
foram secas expostas ao sol. fibra natural, Figura 4.

Figura 1. Tamanho da pena utilizada

Figura 3. Proporção da mistura 1 para ensaio de ISC


2.2 Solo laterítico

O solo utilizado foi coletado na


Universidade Católica de Brasília. Para a
retirada do solo foram descartados os
primeiros 30 cm com o intuito de excluir a
camada orgânica. O material coletado é um
solo laterítico, vermelho-amarelo. Sua
constituição mineralógica é caracterizada
pela presença de quartzo e de outros
minerais resistentes mecânica e
quimicamente na fração areia. A fração
argila é constituída de argilo-minerais Figura 4. Proporção da mistura 2 para ensaio de ISC
(geralmente caulinita) e óxidos e hidróxidos
de ferro e alumínio (Nogami e Villibor, 2.4 Ensaio de Compactação
1983), demonstrado na Figura 2.
Para encontrar a umidade ótima e a massa
específica seca máxima das misturas
(pena+solo) realizou-se o ensaio de
compactação de acordo com a NBR
7182/86, que propõem traçar uma curva de
compactação com no mínimo de 5 pontos,
sendo 3 pontos no ramo seco e 2 pontos no
ramo úmido. Para o ensaio foi escolhida a
energia de compactação intermediária. De
Figura 2. Solo laterítico cada corpo de prova compactado retira-se

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uma amostra para determinação da umidade
e posteriormente, traçar a curva de
compactação. A compactação foi realizada
sem reuso da mistura.

2.5 Ensaio de ISC

O ensaio de Índice de Suporte Califórnia


(ISC) também chamado Califórnia Bearing
Ratio (CBR) determina o valor através da
penetração de um pistão de uma carga e
medição da expansão final depois de 4 dias
submerso em água. O ensaio foi realizado
Figura 5. Curva granulométrica do Solo laterítico
de acordo com NBR 9895 com uma
amostra compactada em cilindro grande 3.2 Compactação
com energia intermediária (5 camadas com
26 golpes), e confeccionada uma curva de Na Figura 6 se observa a curva de
ISC com 5 pontos do material 1, Figura 9, e compactação do solo natural, que aponta a
do material 2, Figura 10, e a do solo natural umidade ótima de 28,3% e massa específica
foi realizado tréplica. de 1,48 g/cm³.
MassaE.Seca(g/cm³) 1,50
1,48
3 RESULTADOS
1,46
1,44
3.1 Solo laterítico
1,42

A Tabela 1 apresenta as características do 1,40


26,00 28,00 30,00 32,00
solo coletado, obtidos de ensaios
geotécnicos normatizados em laboratório. Umidade(%)

Tabela 1. Características do solo laterítico de


Figura 6. Curva de compactação do solo natural
Brasília coletado
Parâmetrosanalisados Resultados
Massaespecíficadosgrãos(g/cm ) 3
2,61 Na figura 7 se observa a curva de
LimitedeLiquidez(%) 48 compactação da mistura 1 (0,5% de pena e
LimitedePlasticidade(%) 31 99,50% de solo), que aponta a umidade
ÍndicedePlasticidade(%) 17 ótima de 26,0% e massa específica seca de
UmidadeÓtima(%) 28,3 1,46 g/cm³.

Pela classificação do Sistema Unificado


de Classificação dos Solos (SUCS), o solo CurvadeCompactaçãodaMistura
foi classificado como um silte de baixa 1
compressibilidade (ML). A curva 1,5
MassaE.Seca(g/cm³)

granulométrica deste solo é demonstrada na 1,4


Figura 5, a qual se observa uma curva
distribuída que facilita a interação da 1,3
mistura. Por ser um solo fino de alta 1,2
plasticidade que tem capacidade de 20 25 30 35
expansão, contração e compressibilidade. Umidade(%)

Figura 7. Curva de compactação da Mistura 1

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Na figura 8 pode-se observar a curva de
CurvadeISCdaMistura1
compactação da mistura 2 (0,7% de pena e
99,30% de solo), que aponta a umidade 40,00
ótima de 27% e massa específica seca de 30,00

ISC(%)
1,39 g/cm³. 20,00
10,00
CurvadeCompactaçãodaMistura 0,00
2 20,00 25,00 30,00 35,00
Umidade(%)
1,45
MassaE.Seca(g/cm³)

1,40
1,35 Figura 9. Curva de ISC da Mistura 1
1,30
1,25
CurvadeISCdaMistura2
20,00 25,00 30,00 35,00
Umidade(%) 60,00

ISC(%)
40,00

Figura 8. Curva de compactação da Mistura 2 20,00


0,00
Comparando-se as curvas de 20,00 25,00 30,00
compactação de ambas as misturas percebe- Umidade(%)
se que a mistura 2 possui umidade ótima
maior (Tabela 2). Esse resultado já era
esperado, pois pelo fato da pena ser um Figura 10. Curva de ISC da Mistura 2
material orgânico tem maior absorção de
água e com o aumento de massa da pena na O gráfico de pressão x penetração do solo
mistura 2 a umidade ótima é maior em puro pode ser visto na Figura 11, o valor do
relação a mistura 1. ISC foi de 10,0%. Em todos os Ensaios de
ISC a compactação dos corpos de prova
Tabela 2. Comparação das misturas e o solo natural foram executadas com energia
em relação a Compactação intermediária. A expansão do solo puro foi
Mistura Umidade Massa Específica de 0,06%.
Ótima Seca (g/cm³)
(%)
Mistura 1 26,0 1,46
Mistura 2 27,0 1,39 Pressão Vs. Penetração
Solo Natural 28,3 1,48
15,00
3.2 Índice de Suporte Califórnia – ISC 10,00
mm

Para cada mistura de material executou-se 5,00


uma curva de ISC. A curva de ISC da 0,00
mistura 1 (solo+pena 0,5%) está 0,00 1,00 2,00 3,00
demonstrada na Figura 9 que aponta a MPa
umidade ótima em seu pico de 26,0% e ISC
de 31,6%. A curva de ISC da mistura 2 Figura 11. ISC do solo
(solo+pena 0,7%) está apresentada na
Figura 10 e aponta a umidade ótima de Com base na Tabela 3, infere-se que as
27,0% e ISC de 41,5%. A expansão da misturas com adição de pena obtiveram maior
mistura 1 foi de 0,0026% e da mistura 2 foi ISC do que a do solo natural, e a mistura que
de 0,0069%. atingiu maior ISC foram à mistura com adição

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



de 0,7% de pena com 41,5%. Na Figura 12 está diminuição na umidade ótima, comparando
demonstrado um gráfico comparativo dos as misturas com o solo natural.
ISC’s. Demonstra uma diminuição da umidade A expansão da mistura 1 foi de 0,0026%
ótima do solo em comparação as misturas e da mistura 2 foi de 0,0069%, e a do solo
puro foi de 0,06%. As expansões das
Tabela 3. Comparação dos resultados dos ensaios de
Índice de Suporte Califórnia (ISC)
misturas e do solo puro demonstrarem-se
Umidade quase nulas, portanto, podem ser utilizadas
Mistura ISC(%) para reforço: de taludes, para sub-base de
Ótima(%)
Mistura1 pavimentos e outros meios que necessitam
(solo+brita+0,5% 26,0 31,6 do melhoramento do solo.
depena) Um fator importante a ser considerado
Mistura2 para a utilização da pena de galinha é a sua
(solo+brita+0,7% 27,0 41,5 decomposição por ser um material
depena) orgânico, mas na presente pesquisa não foi
Solo 28,3 10,0 considerada a sua degradação.

ComparaçãodosISC's AGRADECIMENTOS
50,00% 0,4147
40,00%
Eu quero agradecer primeiramente a Deus,
0,3162 porque sem fé não se tem nada e aos meus
30,00%
pais Roberto e Jaqueline por sempre me
20,00% apoiar em minhas decisões. Ao meu amigo
0,1
10,00% e parceiro Zenildo pela a sua ajuda em
0,00% todos os momentos, aos meus amigos de
faculdade e a técnica do laboratório
Solo
Leidiane por te auxíliado na realizações de
Mistura1(0,5%depena+99,5%desolo) ensaios, a minha orientadora Renata pelas
Mistura2(0,7%depena+99,3%desolo) suas instruções e a FAPDF (Fundação de
Apaio a Pesquisa do Distrito Federal), pelo
Figura 12. Comparação dos ISC’s o apoio financeiro a pesquisa.

4 CONCLUSÕES REFERÊNCIAS

Com base no ensaio de compactação e de AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND


ISC com as duas porcentagens da mistura, MATERIALS. ASTM D3080 – Standard Test
observa-se que a mistura 2 (0,7% de pena e Method for Direct Shear Test of Soils
99,3% de solo) obteve umidade ótima mais Underconsolodated Drained. Estados Unidos,
alta e respectivo Índice de Suporte 1998.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
Califórnia também. TÉCNICAS. NBR 6459: solo – determinação do
As misturas com pena de galinha limite de liquidez. Rio de Janeiro, 1984.
obtiveram maior ISC do que a do solo ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
natural, um aumento de mais de 20 e 30 % TÉCNICAS. NBR 6502: Rochas e solos. Rio de
respectivamente da mistura 2 e 1 em Janeiro, 1995.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
relação ao solo puro, porque a pena é uma TÉCNICAS. NBR 6508: Grãos de solos que
fibra natural com resistência à tração que passam na peneira de 4,8mm – Determinação da
melhora nas misturas a resistência às massa específica. Rio de Janeiro, 1984.
deformações, ou seja, nesse caso a adição ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
da fibra natural foi favorável. Ainda pode TÉCNICAS. NBR 7180: Determinação do
Limite de Plasticidade. Rio de Janeiro, 1984.
se observar com a adição da fibra a uma

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 7181: solo – análise
granulométrica. Rio de Janeiro, 1984.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 7182: solo – ensaio de
compactação. Rio de Janeiro, 1986.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 9895: Solo – Índice de
Suporte Califórnia. Rio de Janeiro, 1987.
AYALA, RJ Llanque; DE CARVALHO, J.
Camapum; HERNÁNDEZ, Ana Laura Martínez.
Melhoria de Solos com Fibras Naturais–Penas
de Frango. 2016.
Inovação e Tecnológica. Dosponível em:
<http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticia
s/noticia.php?artigo=010160050418#.WAe-
TPkrLIU> Acesso em: 19 out. 2016.
NOGAMI, J. S.; VILLIBOR, D. F. Os Solos
Tropicais Lateríticos e Saprolíticos e a
Pavimentação. In: 18ª REUNIÃO ANUAL DE
PAVIMENTAÇÃO, 1983, Porto Alegre.
Sales, K. C. dos S. (2011). Melhoria de Solos Por
Inclusão de Fibras Naturais. Dissertação de
Mestrado em Geotecnia, Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
Brasília, Brasilia,DF, 97p.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Avaliação da Capacidade Drenante de um Geocomposto Aplicado
no Telhado Verde do Prédio da Procuradoria Geral da República
em Brasília, Após 14 Anos de Sua Aplicação.

Haroldo Paranhos
REFORSOLO ENGENHARIA E MEIO AMBIENTE, Brasília, Brasil, reforsolo@gmail.com

Rideci Farias
REFORSOLO ENGENHARIA E MEIO AMBIENTE, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

Joyce Maria Lucas Silva


CONCREMAT, Brasília, Brasil, joyce.civil@gmail.com

Leonardo Ramalho Sales


UNICEUB, Taguatinga, Brasil, Leonardoramalhosales@gmail.com

RESUMO: O intuito dessa pesquisa foi o de verificar tais ações do tempo em um geocomposto e de
verificar o funcionamento geral do sistema, possibilitando assim um conhecimento aprofundado
sobre a eficácia da utilização dessa solução tecnológica aplicada em obras de drenagem. A pesquisa
foi realizada utilizando-se de um geocomposto retirado do jardim suspenso de 22.000 m² (telhado
verde) do prédio da procuradoria geral da república, localizado em Brasília, após 14 anos de sua
aplicação. Após as análises, foi verificada boa estabilidade do sistema de drenagem, por meio da
avaliação das colmatações físicas e biológicas.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Geocomposto drenante, telhado verde, procuradoria geral da


república, capacidade drenante.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


1 INTRODUÇÃO
Solo vegetal

Em meados de 2002, foi solicitado pela Geocomposto drenante


procuradoria geral da republica a construção de
Impermeabilização
um telhado verde (jardim sobre laje) instalado
Laje de concreto
sobre a laje de 22.000m2 (Figura 01).
Figura 03 – Solução proposta com Geossintético.

Tal concepção possibilitou o incremento de


15 cm no solo vegetal, passando de 15 para 30
cm, melhorando o enraizamento vegetal, aliado
à retenção de água em períodos de seca.
Outros critérios foram avaliados para a
adoção da solução proposta com geocomposto
Jardim sobre Laje
drenante, a qual permitiu um prazo de execução
menor do que o método tradicional, visto que o
prazo de execução antecedia o periodo chuvoso
na região.
Durante 14 anos foi realizado o monitormento
constante por parte da equipe técnica de
Figura 01 - Jardim sobre a laje no Prédio da Procuradoria manutenção e em 2016 o projeto foi submetido a
Geral da República em Brasília uma nova avaliação técnica em parceria com o
corpo técnico responsável pela execução e
O projeto, na época desenvolvido pelo manutenção da obra em epígrafe.
escritório do famoso arquiteto Oscar Niemeyer, Foram avaliadas as capacidades de infiltração
previa a construção de um jardim suspenso da água e do tempo de resposta nas caixas e
(Figura 02). Entretanto, dificuldades PV`s.
relacionadas ao peso do jardim, ao uso de
equipamentos pesados sobre a laje recém-
impermeabilizada e à limitação da espessura da 2 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE
camada de solo necessária ao bom desempenho ESTUDO
vegetal levaram a uma solução de engenharia por
meio da utilização de materiais geossintéticos Localizado no Setor de Administração Federal
(Figura 03), sendo substituída uma camada Sul (SAF Sul), próximo à Praça dos Três Poderes
drenante de 15 cm de brita nº 02 por um e à Esplanada dos Ministérios, fica próximo às
geocomposto de apenas 10 mm de espessura. sedes do Supremo Tribunal Federal (STF), do
Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do Tribunal
de Contas da União (TCU). Projetado por Oscar
Niemeyer em 1995, ficou pronto apenas em
2002, quando foi inaugurada a obra.
Solo vegetal
Geotêxtil
A Figura 4, a seguir, retirada do Google Earth
Brita 02
em 2 de julho de 2016, mostra a visão micro,
Impermeabilização
aproximada, da área de execução dos estudos
Laje de concreto geotécnicos e dos pontos sondados.
Figura 02 – Projeto Padrão.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



pequena diferença na coloração da grama, mas
foi constatado que isso é um efeito causado pela
reflexão dos raios solares nos vidros do prédio, o
que causa esse efeito de “queimado” no
gramado.

Segundo os funcionários responsáveis pela


manutenção do jardim, em todos esses anos,
Figura 04 - Visão micro da área. desde que foi construído, não houve nenhum
problema significativo em relação ao sistema de
drenagem, sendo constatado que esse tem
3 DADOS DO PROJETO mantido um bom funcionamento desde sua
construção.
O projeto consiste na utilização de um
geocomposto drenante aplicado sobre a laje de 4.2 Avaliação das Infiltrações Sob Laje de
concreto impermeabilizada com manta asfáltica Concreto.
e protegida com uma camada de 3,0 cm de
argamassa 1:3 (Cimento : Areia). Foram realizadas avaliações logo abaixo da laje,
A laje tem caimento de 1% em forma de na garagem, e não foram detectados pontos de
“águas de telhado”, onde no encontro (talvegue) vazamento ou infiltração da água proveniente da
são posicionados os ralos de descida das águas drenagem do jardim.
drenadas (Figura 05),as quais são coletadas e
encaminhadas para a rede de águas pluviais por 4.3 Avaliação das Caixas de Passagens.
meio de tubos coletores posicionados sob a laje
(na garagem). Todas as caixas de passagem instaladas no local
foram verificadas e abertas para análise (Figura
06). De uma forma geral, verificou-se que 70%
Água de chuva ou de Irrigação das caixas apresentavam-se limpas e isentas de
solo ou mátéria orgânica no seu interior (Figura
07) e 30% apresentava-se com presença de solo
Solo Vegetal
e/ou materia orgânica no seu interior (Figura 08).
Laje de concreto

12 m

Figura 05 – Detalhe da descida de água do sistema de


drenagem.

4 AVALIAÇÕES TÉCNICAS
REALIZADAS NA ÁREA.

4.1 Avaliação da Vegetação

O principal indicativo de que o sistema de Figura 06 - Abertura das caixas de passagem para
verificação visual.
drenagem está deficiente é a saúde dos vegetais
ali colocados. De uma forma geral, o jardim
apresenta boa aparência, indicando um sistema
eficiente de drenagem.
Em alguns pontos, é possível notar uma

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Figura 07 - Abertura das caixas de passagem para
verificação visual.

Figura 10 – Vista do núcleo drenante isento de solo.

5.5 Avaliação da Capacidade de Infiltração


Sobre o Geotêxtil.
Figura 08 - Abertura das caixas de passagem para
verificação visual. Aproveitando a cava (janela – Figura 09), foi
realizado o teste de infiltração de acordo com a
norma ABNT NBR 1736.
4.4 Avaliação do Núcleo Drenante.
Foi encontrada uma taxa de infiltração média
Para avaliação do núcleo drenante foi realizada de 260 litros/m2 x dia, o que equivale a uma
uma “janela” com a remoção da grama e do solo permeabilidade k = 3,01 x 10-4 cm/s.
vegetal (Figura 09). Foi cortado o geotêxtil,
deixando exposto o núcleo drenante (Figura 10).
5.6 Avaliação da Capacidade de Infiltração
Sobre a Grama.

Para esta avaliação, foram aproveitadas as


vazões do sistema de irrigação implantado, e foi
avaliada a vazão qua chegava aos poços de
visitas, relacionados àquela área de contribuição
(Figura 10),

Figura 09 - Abertura de janelas no gramado.

Figura 10 – Avaliação da vazão que chega aos Poços de


visitas.
Nesta avaliação foi observado que o sistema

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drenante não apresenta uma vazão de saída FRBC = 1,15 (Colmatação Biológica).
instantânea, ou seja, para um volume de
irragação de 6 mm/h, o sistema necessitou de No entanto, como após 14 anos não foi
quase 24 hs para escoamento total das águas verificada colmatação química nem biológica,
infiltradas, sem levar em consideração a foram adotadas na análise FRCC = 1,00 e FRBC
quantidade de água retida do solo nem da = 1,00.
evapotranspiração.
Neste contexto, estima-se uma Sendo assim, temos:
permeabilidade do sistema de k = 1,67 x 10-4
cm/s. Qadm = Q / (FRIN x FRCR x FRCC x FRBC)

Qadm = 0,0501 / (1,20 x 1,20 x 1,00 x 1,00)


6. RETROANÁLISE DA CAPACIDADE
DRENANTE. Qadm = 0,0358 l/s.m (2)

Dadas as características da obra temos: Considerando uma chuva de q = 0,03 (l/s)/m2


(chuva crítica), podemos determinar a Vazão que
J = 16 kN/m3 (solo superficial); o drenodeverá suportar (QDren):
h = 0,30 m (espessura de solo sobre o
geocomposto); QDren = q x E (3)
i = 0,01(Gradiente hidráulico);
E = Comprimento do trecho drenante.
Para o cálculo da capacidade de vazão do
Geocomposto temos: Então temos:

Tensão vertical aplicada pelo solo sobre o QDren = 0,03 x 6


geocomposto:
 V=Jxh (1) QDren = 0,18 (l/s)/m
V = 16 x 0,30 = 4,8 kPa
Se associarmos que o Fator de Segurança
A vazão do Geocomposto para a pressão de podeser expresso por
trabalho é dada pela interpolação da tabela 01.
FS = Qadm / Qdren (4)
Tabela 01 – Capacidade de vazão do
geocomposto em função da pressão. então temos:

FS = 0,0358 / 0,18

FS = 0,20

7 ANÁLISE DOS RESULTADOS

Por interpolação da tabela 01 temos: Embora estejam os geotêxteis aparentemente


empregnados por camada de solo, não foram
QGeocoposto = 0,0501 l/s.m detectados sinais de colmatação física no
geotêxtil, a ponto de impedir a passagem do
Pela norma, aplica-se os seguintes fatores de fluxo de água.
redução: Não foram encontrados danos causados por
FRIN = 1,20 (Intrusão do solo); possíveis materiais solúveis na agua de chuva ou
FRCR = 1,20 (Fluência- CREEP); de irrigação, o que poderia ter causado danos aos
FRCC = 1,20 (colmatação Química); drenos, danificando assim sua capacidade de

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funcionamento. escarificação nas camadas superficiais
Alguns poços de visitas apresentavam-se endurecidas.
parcialmente entupidos de solo. Este fato se deu Observa-se que mesmo apresentando um
devido ao escoamento superficial, aumentado Fator de segurança abaixo do usual, o sistema
pelo endurescimento da camada de solo consegue infiltrar a água da chuva, acumular nos
superficial, normalmente encontrado nos solos vazios presentes na camada de solo e drenar
da região, utilizados como solos superficiais e gradativamente pelo sistema proposto, gerando
erroneamente chamados de solos vegetais ou um retardo no lançamento final das águas
orgânicos. São na verdade Latossolos que pluviais.
formam uma carapaça diante de ciclos de
umedecimento e secagem, juntamente com a
presença de produtos químicos proveniente da
irrigação (Figura 11).

Figura 11 – Camada superficial endurecida.

Devido ao fato de se ter encontrado um Fator


de Segurança (FS = 0,20), muito aquém dos
valores usuais em drenagem (FS entre 2 e 5), o
sistema permanece funcionando por todos esses
anos. Esse estrangulamento no sistema de
drenagem justifica o tempo necessário para
drenar a área (24 horas), observado na Avaliação
da Capacidade de Infiltração Sobre a Grama
Ítem 5.6.

8 CONCLUSÕES.

Após visitar e verificar as condições gerais foi


possível atestar o perfeito funcionamento do
sistema de drenagem, indicando que a escolha do
uso de geocomposto para a substituição dos
métodos convencionais com brita não só gerou
diminuição dos custos da obra, do tempo de
execução, menores gastos com manutenção, mas
também a eficácia que o uso de geossintéticos
nesse tipo de sistema traz. Constatou-se que os
materiais utilizados continuam funcionando em
sua plena capacidade, mesmo após os vários
anos que seguem após sua aplicação,
necessitando de melhorias, por meio de

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Avaliação da Influência do Teor de Fibras de Polietileno
Tereftalato (PET) nos Parâmetros Ótimos de um Solo Arenoso
Gabriela Bolini dos Santos
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, gabrielabolini@gmail.com

Willian de Brito Giacometti


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, wbg9811@hotmail.com

Naiara Pereira Pradela


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, na_pradela@hotmail.com

Maitê Rocha Silveira


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, maite81@hotmail.com

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, plodi@feb.unesp.br

Roger Augusto Rodrigues


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, roger_ar@feb.unesp.br

Caio Gorla Nogueira


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, cgnogueira@feb.unesp.br

RESUMO: Esse trabalho avaliou os efeitos provocados nos parâmetros ótimos de compactação de
um solo arenoso da região de Bauru (SP) pela inclusão de diferentes tamanhos e percentagens de
fibras de polietileno tereftalato (PET). As fibras possuem comprimentos de 10, 15, 20 e 30 mm e
largura de 1,5 mm. Estas foram adicionadas aleatoriamente ao solo em percentuais pré-
determinados de 0,25; 0,50; 0,75, 1,0; 1,5 e 2,0%, em relação à massa seca. Foram realizados
ensaios de compactação (Proctor Normal) para a obtenção dos parâmetros ótimos do solo com e
sem fibras. Os principais resultados mostram que a inclusão das fibras provocou um pequeno
aumento nos parâmetros ótimos de compactação deslocando também a curva para cima e para a
esquerda. Os resultados obtidos corroboram os resultados da literatura técnica.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio de compactação, Solo-fibra, Polietileno tereftalato (PET).

1 INTRODUÇÃO metálicos.
Para a escolha do tipo de fibra para reforço, é
As inclusões poliméricas do tipo fibras tem sido interessante que esta apresente resistência física
muito utilizadas para a melhoria das e mecânica e não seja passível de ataques
propriedades de resistência dos solos em geral. químicos e/ou biológicos. O conhecimento do
Sieira & Sayão (2010) enfatizam que as mecanismo de interação solo-fibra é
inclusões podem ser de diferentes tipos como de fundamental para que se compreenda o
fibras naturais ou sintéticas e materiais comportamento mecânico da mistura. Diversos

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fatores influem neste mecanismo, a saber: a) em mesmas energias de compactação. Constatou
relação ao solo (granulometria, índice de vazios ainda que este aumento é linear em relação à
e grau de cimentação) e b) em relação às fibras quantidade de fibra e independente do tipo de
(comprimento, espessura, rugosidade, módulo compactação empregada. Outros resultados com
de elasticidade, capacidade de alongamento, dois tipos de reforços diferentes sugeriram
entre outros fatores) (CASAGRANDE, 2005). ainda que a influência na compactação é
Bueno (1996), por exemplo, afirma que uma comandada pela interação entre solo e reforço,
constatação que surge de estudos experimentais atentando para aspectos como a granulometria
de laboratório é a de que a presença das fibras do solo, forma das partículas, textura e área
modifica o comportamento dos solos, gerando superficial do reforço.
um material mais dúctil, mais coesivo e Dentro desse contexto, esse trabalho buscou
levemente mais compressível. a avaliação da influência da inclusão de fibras
Nesse contexto, as fibras poliméricas tem poliméricas de PET nos parâmetros ótimos de
sido as mais utilizadas nas pesquisas nacionais e compactação de um solo arenoso a fim de se
internacionais. Os principais polímeros comparar os resultados com os da literatura
utilizados são o polipropileno (PP), polietileno corrente.
(PE), poliéster (PET) e poliamida (PA).
Casagrande (2005) apresenta um breve
resumo sobre as características das fibras de PP, 2 MATERIAIS E MÉTODOS
PE e PET: ressalta que as fibras de PP possuem
uma grande flexibilidade e tenacidade em Para o desenvolvimento da pesquisa, foi
função de sua constituição além de possuírem utilizado solo arenoso da região de Bauru (SP).
elevada resistência ao ataque de várias Para sua classificação foi realizado o ensaio de
substâncias químicas e aos álcalis. Tais granulometria conjunta. As fibras de PET
características conferem aos materiais a que empregadas foram retiradas de garrafas de
estas fibras são incorporadas uma substancial refrigerante. Tais fibras foram utilizadas nos
resistência ao impacto. As fibras de PE apesar comprimentos de 10, 15, 20 e 30 mm, todas
da alta durabilidade alta, apresentam maiores com 1,5 mm de largura, incluídas
deformações de fluência conduzindo a aleatoriamente ao solo em percentuais pré-
consideráveis elongações e deflexões ao longo determinados de 0,25%, 0,50%, 0,75%, 1,0%,
do tempo. As fibras de poliéster apresentam alta 1,25%, 1,50% e 2,0% em relação à massa seca.
densidade, rigidez e resistência e possuem um Os ensaios de compactação (Proctor Normal)
aspecto bastante similar às de polipropileno foram realizados conforme a NBR 7182. Para
podendo ser utilizadas para as mesmas cada comprimento e teor de fibra, foi realizado
aplicações. O poliéster atualmente mais um ensaio de compactação.
conhecido é o polietileno tereftalato, cuja sigla
é PET. É o material constituinte das garrafas
plásticas de refrigerantes, águas minerais e 3 RESULTADOS OBTIDOS E
óleos de cozinha, entre outros. ANÁLISES
Feuerharmel (2000) e Casagrande (2005)
citam diversos trabalhos relacionados a A curva granulométrica obtida está apresentada
alterações nas propriedades dos solos quando da na Figura 1. O solo foi classificado como areia
inclusão de fibras. No caso da compactação, média a fina com argila (tabela 1). Os
citam os trabalhos como os de Ulbrich, 1997, parâmetros ótimos obtidos foram: teor de
Consoli et al, 1999, Casagrande (2001) e umidade ótimo de 10,6% e massa específica
Heineck, 2002. seca máxima igual a 1,955 g/cm³.
Hoare (1979) verificou que a adição de A figura 2 apresenta duas curvas de
fibras de polipropileno na compactação de um compactação. A primeira refere-se ao solo
cascalho com areia conferem uma certa arenoso sem fibra e, a segunda, ao melhor
resistência à compactação, resultando em resultado obtido com as inclusões de fibra, ou
porosidades maiores da mistura, para as seja, fibras no tamanho de 30 mm e

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percentagem de 0,25%. Em termos simples, que proporcionaram os melhores valores de
esse tamanho e percentagem de fibras foram os parâmetros ótimos.

Figura 1. Valores médios das resistências não confinadas devido à inclusão de fibras do tipo PET em solo arenoso.

Tabela 1. Percentagem granulométrica referente ao ensaio de granulometria conjunta.


Fração (%)

Argila 14,0
Silte 5,8
Areia Fina 38,2
Areia Média 41,7
Areia Grossa 0,3

Figura 2. Curvas de compactação para o solo com e sem fibras.

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O solo sem fibra apresentou valores de proporcionou alteração nos parâmetros ótimos
massa específica aparente seca máxima e do solo e, neste caso, em particular, das diversas
umidade ótima de 1,955 g/cm3 e 10,6%, combinações testadas, as fibras com tamanho de
enquanto o solo com fibra apresentou valores de 30 mm e percentual de 0,25%. Apesar da
1,965 g/cm3 e 10,2%, respectivamente. Nota-se alteração dos valores não ter sido extremamente
que, além do valor da umidade ótima diminuir e acentuada, nota-se que a curva de compactação
a densidade do solo aumentar, a curva como um sofreu alterações deslocando-se para cima e
todo desloca-se para a esquerda e para cima, para a esquerda. Os resultados obtidos estão em
mostrando a influência da inclusão das fibras. acordo com a literatura técnica.
O que é interessante de se notar nos
resultados é o fato de que a fibra com o maior
comprimento (30 mm) foi a que ocasionou o AGRADECIMENTOS
maior aumento nos valores dos parâmetros
ótimos. Ainda assim, o percentual para que tal Os autores agradecem ao CNPq pelo apoio à
ocorresse foi de apenas 0,25%. Neste estudo, o pesquisa.
que foi determinante para o pequeno aumento
dos valores foi o comprimento da fibra e não o
teor utilizado. REFERÊNCIAS
Apesar dessa constatação, nota-se que o
aumento apresentado é praticamente Al Wahab, R.M.; Al-Qurna, H.H. (1995). Fiber
insignificante. Esses resultados obtidos estão de Reinforced cohesive soils for application in
compacted earth structures. In: Geossynthetics’95
acordo com os da literatura técnica onde se Conference. 1995, Nashville. Proceedings v.2, p.433-
pode constatar que a inclusão das fibras 466.
poliméricas causa pouco ou quase nenhum Bueno, B.S. (1996). Aspectos de estabilização de solos
efeito nos parâmetros de compactação dos com uso de aditivos químicos e de inclusões plásticas
solos. Veja-se, por exemplo, os trabalhos aleatórias. Texto Sistematizado (Livre Docência em
Geotecnia), Escola de Engenharia de São Carlos, São
descritos a seguir. Carlos, 99p.
Al Wahab & Al-Qurna (1995) estudando o Casagrande, M.D.T. (2001). Estudo do comportamento
efeito da inclusão de fibras na curva de uma de um solo reforçado com fibras de polipropileno
argila concluíram que ocorre um decréscimo da visando o uso como base de fundações superficiais.
densidade e um acréscimo na umidade ótima Dissertação de Mestrado, UFRGS, Porto Alegre, 94 p.
Casagrande, M.D.T. (2005). Comportamento de solos
para a adição de 2% de fibra. O mesmo reforçados com fibras submetidos a grandes
comportamento foi observado em relação à deformações. Tese de Doutorado, UFRGS, Porto
umidade para um solo arenoso em estudo Alegre, 219 p.
realizado por Bueno et al. (1996). No entanto, Consoli, N.C., Prietto, P.D.M., Ulbrich, L.A. (1999). The
nesse caso, não foi observada nenhuma behavior of a fiber-reinforced cemented soil. Ground
Improvement, ISSMGE, v.3 n.3, p. 21-30.
alteração na umidade ótima. Em ambos os Feuerharmel, M.R. (2000). Comportamento de solos
casos, a densidade máxima não sofreu reforçados com fibras de polipropileno. Dissertação
alterações com a inclusão de fibras. (Mestrado em Engenharia) – Programa de Pós-
Vários outros autores relataram também não Graduação em Engenharia Civil da UFRGS, Porto
ter encontrado nenhuma alteração significativa Alegre, 131p.
Heineck, K.S. (2002). Estudo do comportamento
com a inclusão de fibras (e.g. Maher e Ho, hidráulico e mecânico de materiais geotécnicos para
1994; Ulbrich, 1997; Consoli et al, 1999; barreiras horizontais. Porto Alegre, Tese (Doutorado
Casagrande, 2001; Heineck, 2002). em Engenharia) – Programa de Pós Graduação em
Engenharia Civil da UFRGS, 251 p.
Hoare, D.J. (1979). Laboratory study of granular soils
reinforced with randomly oriented discrete fibres. In:
4 CONCLUSÕES International Conference on Soil Reinforcement,
1979, Paris. Proceedings v.1, p.47-52.
As principais conclusões deste trabalho foram Sieira, A.C.C.F. Sayão, A.S.F.J. (2010). Ensaios triaxiais
de que a inclusão das fibras de PET em solo reforçado com geogrelhas. Revista

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Geotecnia, no. 118, p. 43-64.
Ulbrich, L.A. (1997). Aspectos do comportamento
mecânico de um solo reforçado com fibras. Porto
Alegre, Dissertação (Mestrado em Engenharia) –
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da
UFRGS, 122 p.

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Avaliação da Resistência Uniaxial de Solo Arenoso pela Inclusão
de Fibras de Polietileno Tereftalato (PET)
Naiara Pereira Pradela
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, na_pradela@hotmail.com

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, plodi@feb.unesp.br

Maitê Rocha Silveira


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, maite81@hotmail.com

Laís Maciel
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, laismaciels@hotmail.com

Roger Augusto Rodrigues


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, roger_ar@feb.unesp.br

Caio Gorla Nogueira


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, cgnogueira@feb.unesp.br

RESUMO: Esse trabalho avaliou os efeitos provocados na resistência mecânica de um solo arenoso
da região de Bauru (SP) pela inclusão de diferentes tamanhos e percentagens de fibras de
polietileno tereftalato (PET). As fibras possuem comprimentos de 10, 15, 20 e 30 mm e largura de
1,5 mm. Estas foram adicionadas aleatoriamente ao solo em percentuais pré-determinados de 0,25;
0,50; 0,75, 1,0; 1,5 e 2,0%, em relação à massa seca. Foram realizados ensaios de compactação
(Proctor Normal) para obtenção dos parâmetros ótimos do solo. Com esses valores, foram moldados
corpos de prova para a realização de ensaios de resistência não confinada (com e sem fibras). Os
principais resultados mostram que os valores máximos de resistência ocorreram para as fibras de
PET de 20 mm com teor de 1,5% representando um ganho de resistência de 93,0% em relação ao
solo sem fibras.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio de laboratório, Solo-fibra, Compressão simples.

1 INTRODUÇÃO mantas, grelhas) e à tradição da engenharia


geotécnica em executar correção
Diversos trabalhos abordam a utilização de granulométrica por misturas de dois ou mais
fibras poliméricas para a melhoria de solos.
pavimentos, solos de fundação, solos de Casagrande (2005) também afirma que
reaterro de estruturas de contenção e de avaliações de reforço de solos através de
estabilização de solos, principalmente. inclusões aleatoriamente distribuídas tem
Bueno (1996) cita o fato das fibras estarem ganhado um campo de pesquisa maior. Este
associadas à prática já consagrada de reforço de método tem demonstrado eficiência quando
solos com inclusões direcionais (fitas, barras, empregado tanto em solos cimentados como em

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solos não cimentados, devido à melhoria nas previamente definidas por 0,25; 0,50; 0,75;
propriedades mecânicas que é capaz de conferir 1,00; 1,50 e 2,00% em relação à massa de solo
a estes materiais, principalmente os aumentos seca, ou solo em sua umidade natural.
da resistência, da ductilidade e da tenacidade, e Para cada comprimento de teor de fibra
a diminuição da queda de resistência pós-pico. foram realizados 3 ensaios de compressão
Destacam-se no cenário nacional os simples. Assim, foram realizados 72 ensaios
trabalhos de Silva et al. (1995), Lima et al. para as fibras resultando em 24 valores médios
(1996), Bueno et al. (1996) e Teodoro (1999). de resistência não confinada. Dessa forma, foi
Casagrande (2005) cita ainda a experiência possível fazer-se a comparação dos valores
acumulada pelo PPGEC/UFRGS citando médios obtidos com as fibras e a posterior
trabalhos relevantes como Ulbrich, (1997), comparação com a resistência não confinada do
Consoli et al. (1997-b, 1998-a, 1999, 2002, solo sem fibras.
2003-a, 2003-b, 2003-c, 2004, 2005-a, 2005-b),
Homem (2002), Heineck (2002), Donato
(2003), Vendruscolo, (2003) e Santos (2004). 3 RESULTADOS OBTIDOS E
No Brasil, a utilização mais frequente é da ANÁLISES
fibra de PP. Poucas pesquisas tem utilizado o
polietileno nos estudos de reforço de solo. De O solo foi classificado como areia fina
acordo com Cristelo et al. (2015), o argilosa. Apresentou um limite de liquidez de
polipropileno tem sido o tipo mais usual com 15,5%, sendo classificado como não plástico,
percentuais de fibra variando de 0,05 a 3,0%. pois não foi possível realizar o ensaio de LP. O
Dessa forma, esse trabalho procura avaliar os valor de massa específica dos sólidos foi de
resultados referentes aos efeitos que a inclusão 2,65 g/cm3. Os parâmetros ótimos obtidos
de fibras de polietileno causa nos solos foram: teor de umidade ótimo de 10,6% e massa
utilizando diferentes comprimentos de fibra específica seca máxima igual a 1,95 g/cm³.
bem como de percentuais pré-determinados. A resistência não confinada média obtida
para o solo sem fibras foi de 56,72 kPa. Os
valores médios das resistências em função dos
2 MATERIAIS E MÉTODOS comprimentos e percentagens de fibra estão
ilustrados na Tabela 1 e Figura 1 seguintes.
O solo utilizado é do tipo arenoso retirado da
região de Bauru (SP). A caracterização das Tabela 1. Valores médios das resistências não confinadas
amostras de solos foi realizada por meio de devido a inclusão de fibras em solo arenoso.
ensaios de granulometria (NBR 7181/1984), Valores médios de Tensão Axial (kPa)
limites de consistência (NBR 6459/1984 e NBR Percentual utilizado
7180/1984), compactação (NBR 6457/2016 e L
(mm) 0,25 0,50 0,75 1,00 1,50 2,00
7182/2016) e massa específica dos sólidos
(NBR 6508/1984). As fibras poliméricas 10 73,7 79,8 86,4 90,5 98,0 91,9
utilizadas são de polietileno tereftalato (PET).
As fibras foram recortadas com largura de 1,5 15 78,9 86,3 87,8 96,0 100,7 95,3
mm e comprimentos de 10, 15, 20 e 30 mm. 20 81,1 93,3 99,1 105,8 109,3 103,5
Essas medidas foram adotadas para seguir-se o
mesmo padrão adotado por Trindade et al. 30 84,3 88,8 95,9 99,7 102,1 99,5
(2006). Após a caracterização do solo, estes
foram ensaiados uniaxialmente (ensaio de Analisando-se os resultados obtidos,
resistência não confinada ou compressão verifica-se que o aumento da percentagem de
simples). Para tanto, as moldagens dos corpos fibras PET acarretou aumentos dos valores da
de prova foram realizadas em um cilindro com resistência a compressão simples levando-se em
dimensões médias de 10,35 cm de altura e 5,10 conta todos os comprimentos e percentagens.
cm de diâmetro. As fibras foram adicionadas Nota-se que o maior valor de resistência a
aleatoriamente ao solo, em porcentagens compressão simples ocorreu para o

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comprimento de 20 mm (109,34 kPa com teor REFERÊNCIAS
de 1,5%). Esse valor representa ganho de
resistência de 93% em relação ao solo sem a Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). Grãos
inclusão das fibras. de Solo que passam na peneira de 4,8mm –
Determinação da massa específica: NBR 6508. 8p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). Solo –
Determinação do limite de liquidez: NBR 6459. 6p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). Solo –
Determinação do limite de plasticidade: NBR 7180.
4p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). Solo –
Análise granulométrica: NBR 7181. 13p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016).
Amostras de solo – Preparação para ensaios de
compactação e ensaios de caracterização: NBR
6457:2016 incorpora a Errata 1, de 12.07.2016. 9p.
Associação Brasileira de Normas Técnicas (2016). Solo -
Ensaio de Compactação: NBR 7182. Origem: Projeto
NBR 7182. 9p.
Bueno, B.S. (1996). Aspectos de estabilização de solos
com uso de aditivos químicos e de inclusões plásticas
Figura 1. Valores médios das resistências não confinadas aleatórias. Texto Sistematizado (Livre Docência em
devido à inclusão de fibras do tipo PET em solo arenoso. Geotecnia), Escola de Engenharia de São Carlos, São
Carlos, 99p.
Casagrande, M.D.T. (2005). Comportamento de solos
De forma geral, em todos os casos, a adição
reforçados com fibras submetidos a grandes
de fibras PET ao solo arenoso, resultou em deformações. Tese de Doutorado, UFRGS, Porto
melhoria da resistência bem como uma Alegre, 219 p.
tendência crescente conforme aumenta-se o Consoli, N.C., Casagrande, M.D.T., Coop, M.R. (2005a).
tamanho e percentual. Behavior of a Fiber-Reinforced Sand Under Large
Strains. In: 16th International Conference on Soil
Mechanics and Geotechnical Engineering, Osaka.
4 CONCLUSÕES Consoli, N.C, Casagrande, M.D.T., Coop, M.R. (2005b).
The Effect of Fiber Reinforcement on the Isotropic
Diante dos resultados obtidos, as principais Compression Behavior of a Sand. Journal of
conclusões podem ser elencadas: Geotechnical and Geoenvironmental Engineering,
New York, v.131.
Consoli, N.C., Casagrande, M.D.T., Heinieck, K.S.
• A inclusão das fibras de PET, em todos os (2003c). Large Strain Behavior of Polypropylene
tamanhos e percentagens, resultou em aumento Fiber-Reinforced Sandy Soil In:12th Panamerican
da resistência a compressão simples do solo Conference on Soil Mechanics and Geotechnical
arenoso e, Engineering, Boston, USA. Soil America Rock. v.2.
• Verificou-se uma tendência de 2206, p. 2201.
Consoli, N.C., Motardo, J.P., Donato, M., Prietto, P.D.M.
comportamento no sentido de aumento da (2004). Effect of material properties on the behaviour
resistência a compressão simples do solo com a of sand-cement-fibre composites. Ground
inclusão das fibras; Improvement, ISSMGE, v.8 n.2, p. 77-90.
Consoli, N.C., Motardo, J.P., Donato, M., Prietto,
P.D.M., Thomé, A. (2003b). Plate load test on fiber-
reinforced soil. Journal Of Geotechnical And
AGRADECIMENTOS Geoenvironmental Engineering, Reston - Virginia -
USA, v. 129, n. 10, p. 951-955.
Os autores agradecem à Fundação de amparo e Consoli, N.C., Montardo, J.P., Prietto, P.D.M., Pasa, G.
à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e (2002). Engineering behavior of a sand reinforced
ao PIBIC pelo auxílio financeiro para a with plastic waste. Journal of Geotechnical and
Geoenvironmental Engineering, New York, v.128,
realização da pesquisa. n.6, p. 462-472, p. 462-472.
Consoli, N.C., Prietto, P.D.M., Ulbrich, L.A. (1998a).
Influence of fiber and cement addition on behavior of
sandy soil. Journal of Geotechnical and
Geoenvironmental Engineering, New York, v.124,

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



n.12, p. 1211-1214.
Consoli, N.C., Prietto, P.D.M., Ulbrich, L.A. (1999). The
behavior of a fiber-reinforced cemented soil. Ground
Improvement, ISSMGE, v.3 n.3, p. 21-30.
Consoli, N.C., Ulbrich, L.A, Prietto, P.D.M. (1997).
Engineering behavior of randomly distributed fiber-
reinforced cement soil. In: International Symposiom
on recent Developments in Soil and Pavement
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Avaliação da Resistência Uniaxial do Poliestireno Expandido em
Diferentes Densidades
Mariana Basolli Borsatto
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, mbborsatto@gmail.com

Paulo César Lodi


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauru, Brasil, plodi@feb.unesp.br

Beatriz Garcia
Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauri, Brasil, bia.garcia0102@gmail.com

Beatriz Aliberti da Conceição


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauri, Brasil, beatriz_bac123@hotmail.com

Bruna Rafaela Malaghini


Faculdade de Engenharia de Bauru (UNESP), Bauri, Brasil, Bruna1997.bruh@gmail.com

José Orlando Avesani Neto


Escola Politécnica de Engenharia (USP), São Paulo, Brasil, avesani@usp.br

RESUMO: Esse trabalho avaliou a resistência uniaxial do poliestireno expandido (EPS) em cinco
densidades distintas (10, 15, 20, 25 e 30 kg/m3). Os ensaios foram realizados de acordo com a
ASTM 1621. Foram avaliados os parâmetros de resistência, deformabilidade e elasticidade no
escoamento e na ruptura considerando-se esta como uma valor fixo de 30%. Adicionalmente, os
resultados obtidos foram comparados com resultados da literatura. Os principais resultados
mostram a elevada resistência do EPS bem como que existe uma relação de resistência e
deformabilidade que é função da massa específica do material, ou seja, quanto mais denso este,
maiores suas propriedades de resistência.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio de laboratório, Poliestireno Expandido, Compressão uniaxial.

1 INTRODUÇÃO de viadutos e pontes) (NETO, 2008).


A utilização de geoexpandidos data de 1960
O poliestireno expandido (EPS) é um material quando o laboratório de Pesquisas de estradas
utilizado em diversas aplicações geotécnicas. da Noruega passou a utilizar o material para
Neste contexto, recebe a designação de construção em aterros sobre solos moles. Desde
geoxpandido (geofoam). Devido a sua baixa então, o EPS tornou-se uma opção interessante
massa específica (15 a 40 kg/m3), alta para diversas utilizações geotécnicas
resistência (70 a 250 kPa) e baixa (TRANDAFIR et al., 2010).
compressibilidade (módulo de elasticidade de 1 Sua escolha deve levar em conta o tipo de
a 11 MPa) é bastante utilizado em elemento de aterro e as cargas móveis atuantes. Por ser um
aterros leves (sobre solos moles ou em encontro plástico inerte, não-biodegradável, não

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dissolvível, não possui valores nutritivos para especificado pela norma supracitada. As
abrigar microorganismos e outros animais e não amostras utilizadas são cúbicas, com arestas de
é quimicamente afetado no contato com o solo e 100mm. Para cada massa específica, realizou-se
a água (BASF, 1990; 1991). Suas propriedades o ensaio com cinco corpos de prova. A figura 1
sugerem que, se corretamente aplicado, pode ilustra o ensaio em andamento com o corpo de
apresentar um desempenho adequado ao longo prova sendo solicitado.
da vida útil da obra.
Apesar de diversas pesquisas sobre o produto
e suas aplicações, nota-se que o manancial de
informações sobre o EPS está restrito ainda ao
contexto internacional, em particular, em
aplicações de aterros moles, encontros de
pontes e viadutos e bases de pavimentos
(vejam-se por exemplo os trabalhos de
HORVATH, 2008; STARK et al. 2012;
BARTLETT et al. 2015). No contexto do
Brasil, poucos trabalhos foram desenvolvidos
sobre o assunto (HORVARTH, 1994; NETO,
2008).
Na prática é comum encontrar-se valores de
massa específica variando de 5 em 5 kg/m³
(HORVATH, 1994). O rígido controle do valor
da massa específica do EPS se deve a grande
relevância que essa possui nas mais variadas Figura 1. Ensaio de compressão uniaxial e vista do corpo
propriedades do material, tanto mecânicas como de prova.
hidráulicas. Devido a esta característica, é
possível obter as mais diversas correlações De forma a se caracterizar a curva de
entre massa específica e propriedades deformação do material e visualizar-se o ponto
mecânicas e térmicas, importantes para a de escoamento, bem como o caminhamento de
utilização deste polímero não apenas na área tensões, o equipamento foi ajustado de modo
geotécnica (HORVATH, 2008; NETO 2008). que os ensaios de compressão uniaxial fossem
Dessa forma, esse trabalho apresenta conduzidos até um valor de deformação de
resultados de ensaios de compressão uniaxial do 30%. Esse valor foi adotado tendo-se em vista
EPS em diferentes massas específicas de modo que o comportamento da curva para
a fomentar resultados no contexto nacional deformações acima do ponto de escoamento
acerca desse material. passa a ser do tipo “work-hardening”. Eriksson
and Tränk (1991) afirmam que a inclinação
desse trecho linear pós escoamento é de cerca
2 MATERIAIS E MÉTODOS de 5% da inclinação do trecho elástico inicial da
curva. Para níveis de deformação maiores que o
O ensaio de compressão uniaxial, normatizado anterior, o comportamento passa a ser não
pela ASTM 1621 – 2000, consiste em linear conforme ilustra a Figura 2.
comprimir os corpos de prova, cujas dimensões
e massas são previamente conhecidas, e com
isso, obter os valores de tensão e deformação
referentes a cada massa específica utilizada,
através das curvas de tensão versus deformação.
O ensaio foi realizado em uma máquina
universal de ensaios da marca EMIC, com
capacidade de 30 kN. Foi utilizada velocidade
de execução do ensaio de 50 mm/min conforme

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Com base na análise das curvas tensão x
deformação, observa-se que o material
apresenta uma fase elástica até atingir
deformações em torno de 3,7%. Após esse
estágio nota-se um comportamento plástico
chegando a deformações de 32%. Fisicamente,
ficou evidente uma redução de
aproximadamente 3 cm na altura do corpo de
prova.
Como exposto anteriormente, a deformação
obtida ao final do ensaio de cada corpo de prova
foi limitada em 30%, pois se esse limite não
tivesse sido imposto, o corpo de prova
continuaria deformando-se até que a aplicação
de carga fosse interrompida, como foi mostrado
por Horvath (1994) em seu estudo, no qual
Figura 2. Ensaio de compressão uniaxial e vista do corpo foram aplicadas tensões até uma faixa de
de prova. deformação em torno de 90%.
Esse comportamento é mostrado na figura 1
anterior, na qual nota-se que a fase elástico
3 RESULTADOS OBTIDOS E linear chegou a valores de deformação entre 1 e
ANÁLISES 2% e o limite de elasticidade aumenta com o
aumento da densidade do EPS (HORVATH,
Os resultados do ensaio de compressão uniaxial 1994).
para as massas específicas utilizadas estão Outro parâmetro interessante e importante de
sumarizados na tabela 1. ser avaliado no ensaio de compressão uniaxial é
o módulo de elasticidade. Esse parâmetro
Tabela 1. Valores médios obtidos dos ensaios de proporciona uma medida da rigidez do material,
compressão uniaxial.
sendo esta uma propriedade relacionada à sua
U ıesc. ‫ܭ‬esc. Etang ıfinal ‫ܭ‬final
(kg/m³) (kPa) (%) (kPa) (kPa) (%) composição química e à sua microeestrutura.
10 38,62 3,76 1025,85 86,03 31,76 Assim, nota-se um melhoramento da estrutura
do material com o aumento da massa específica,
15 56,28 3,29 1710,49 106,60 33,41
o que resulta em um crescente valor de rigidez.
20 99,31 3,76 2637,93 161,10 31,06
Adicionalmente, os resultados obtidos para
25 151,72 4,00 3793,10 230,80 31,53
as tensões no ensaio de compressão simples
30 182,07 3,76 4836,21 269,90 31,81 foram comparados com a pesquisa de Neto
U = massa específica; ıesc = tensão obtida no escoamento;
‫ܭ‬esc = deformação específica no escoamento; Etang = módulo de
(2008). A tabela 2 apresenta os valores médios
elasticidade tangente ou inicial; ıfinal = tensão obtida ao final do obtidos em ensaio de compressão simples
ensaio; ‫ܭ‬esc = deformação específica ao final do ensaio. realizados por Neto (2008) e compara-os com
os valores obtidos nessa pesquisa (Tabela 1).
Observando-se os valores apresentados na
tabela 1, nota-se um aumento de tensão de Tabela 2. Valores médios obtidos dos ensaios de
escoamento (ıesc) com o aumento da massa compressão uniaxial.
específica das amostras, bem como da tensão ao U ımédia ımédia Diferença
final do ensaio (ıfinal). O mesmo é observado (kg/m³) (kPa)1 (kPa)2 (%)
para o módulo de elasticidade do material 10 55,25 86,03 55,71
(Etang). Já para as deformações de escoamento 15 79,46 106,60 34,15
(‫ܭ‬esc) e finais (‫ܭ‬final), não foi observado um 20 157,62 161,10 2,21
padrão relacionado diretamente às massas 25 - 230,8 -
30 264,05 269,9 2,21
específicas. 1 Valores obtidos por Neto (2008)
2
Pesquisa atual

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Os resultados obtidos mostram que existe Basf. (1990). Guidelines for use of EPS board products in
uma variação maior entre os resultados building construction. Technical Bulletin E-I,
Parsippany, N J, USA.
considerando-se as menores massas específicas: Basf. (1991). Styropor® - Construction; Highway
55,71% (10 kg/m3) e 34,15% (15 kg/m3). No Construction/Ground insulation. Technical
entanto, nota-se que um aumento de apenas 5 Information TI 1 – 800e, BASF, Ludwigshafen,
kg/m3 (15 para 20) na massa específica faz com Germany.
que essa diferença diminua significativamente Eriksson, L. e TränK, R. (1991). Properties of expanded
polystyrene – Laboratory experiments. Expanded
(cai para 2,21%). Essa mesma diferença Polystyrene as Light Fill Material; Technical 280 J.S.
percentual (2,21%) mantém-se para as massas Horvath Visit around Stockholm, June 19. Internal
específicas de 30 kg/m3. Isso mostra que os Publication of the Swedish Geotechnical Institute,
resultados obtidos nesta pesquisa encontram-se Linköping, Sweden.
dentro do esperado, de forma que estes poderão Horvath, J. S. (1994). Expanded Polystyrene (EPS)
Geofoam: An Introduction to Material Behavior.
complementar a literatura existente sobre as Geotextiles and Geomembranes. n. 13, p. 263 – 280.
propriedades do poliestireno expandido. Horvath, J.S. (2008). Extended Veletsos-Younan model
for geofoam compressible inclusions behind rigid,
non-yielding earth-retaining structures. In:
4 CONCLUSÕES Proceedings of the 4th Decennial Geotechnical
Earthquake Engineering and Soil Dynamics
Conference, Sacramento, California, May 18–22.
Diante dos resultados obtidos, as principais Neto, J.0.A. (2008). Caracterização do comportamento
conclusões podem ser elencadas: geotécnico do EPS através de ensaios mecânicos e
hidráulicos. Dissertação de Mestrado, São Carlos, SP.
x Os valores obtidos ilustram a elevada 227 p.
Stark, T.D., Bartlett, S.F., Arellano, D. (2012). Expanded
resistência do EPS; Polystyrene (EPS) Geofoam Applications and
x Existe uma relação de resistência e Technical Data. The EPS Industry Alliance, 1298
deformabilidade que é função da massa Cronson Blvd., Suite 201, Crofton, MD 21114, p. 36.
específica do material, ou seja, quanto mais Trandafir, A. C., Bartlett, S. F., Lingwall, B. N. (2010).
Behavior of EPS geofoam in stress-controlled cyclic
denso, maiores suas propriedades de uniaxial tests, Geotextiles and Geomembranes, 28,
resistência e, 514-524.
x As variações percentuais obtidas face
aos resultados de Neto (2008) e da pesquisa
atual apresentam discrepância nas menores
massas específicas chegando, no entanto, a
valores muito próximos para as amostras de
maior densidade.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação de amparo e


à pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e
ao PIBIT pelo auxílio financeiro para a
realização da pesquisa e à Empresa
Termotécnica pelo material fornecido.

REFERÊNCIAS
Bartlett, S.F., Bret N. Lingwall, B.N., Vaslestad, J.
(2015). Methods of protecting buried pipelines and
culverts in transportation infrastructure using EPS
geofoam. Geotextiles and Geomembranes, 43, p. 450-
461.

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Avaliação Experimental da Resistência ao Cisalhamento e ao
Arrancamento entre Geossintéticos e Tiras Metálicas Lisas em
Areias
Rodrigo César Pierozan
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, rodrigopierozan@hotmail.com

Nelson Padrón Sánchez


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, nelsonwerpnsn@gmail.com

Gregório Luís Silva Araújo


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, gregorio@unb.br

Ennio Marques Palmeira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, palmeira@unb.br

RESUMO: Neste trabalho são apresentadas duas pesquisas desenvolvidas pelo grupo de pesquisa
Geossintéticos em Geotecnia e Meio Ambiente referentes à resistência de interface entre diferentes
geossintéticos e elementos de reforço em contato com solos arenosos. Basicamente, foram realizados
dois tipos de ensaios: (i) estudo da resistência ao arrancamento de tiras metálicas lisas em areia média,
com o objetivo de determinar parâmetros de projeto e (ii) estudo da resistência da interface entre dois
geotêxteis não tecidos de polipropileno e areia média, mediante diferentes tipos de ensaios com
diferentes tamanhos de superfície de contato, com o objetivo de analisar e comparar resultados de
ângulos de atrito de interface. Com base nos resultados foi possível analisar e comparar a mobilização
de resistência, o comportamento das envoltórias de ruptura e os ângulos de atrito de interface
resultantes.

PALAVRAS-CHAVE: Geossintéticos, Resistência de Interface, Cisalhamento, Arrancamento.

1 INTRODUÇÃO geossintéticos ou reforços deve levar em conta o


movimento relativo entre o reforço e o maciço
O conhecimento dos mecanismos de interação adjacente ao mesmo (Collios et al., 1980), como
entre o solo e os geossintéticos, assim como entre descreve-se na sequência.
o solo e os elementos de reforço empregados em
Terra Armada, é de fundamental importância no 1.1 Ensaios de Arrancamento de Reforços
dimensionamento de estruturas geotécnicas
como obras de disposição de resíduos e muros Em situações de campo nas quais o elemento de
mecanicamente estabilizados, respectivamente. reforço encontra-se tracionado, com a tendência
Neste contexto, as características geotécnicas do de ser arrancado da massa de solo, o ensaio de
solo empregado como aterro são preponderantes arrancamento é o mais adequado para a
nos esforços mobilizados durante a vida útil das quantificação da interação entre o solo e o
estruturas, uma vez que os mesmos influnciam reforço. Esse tipo de esforço pode ocorrer, por
as resistências de interface. exemplo, em muros em solos mecanicamente
A escolha do ensaio mais adequado para se estabilizados.
avaliar a interação entre o solo e os Esse tipo de estrutura é formado pela

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associação do solo de aterro com propriedades quantificação da aderência entre o solo e os
adequadas, armaduras flexíveis colocadas elementos de reforço.
horizontalmente em seu interior e uma camada A utilização de baixos níveis de tensão, em
externa fixada às armaduras (ABNT, 2016a). No ensaios de cisalhamento direto convencionais,
caso de estruturas tipo Terra Armada, as pode gerar erros grosseiros e fornecer resultados
armaduras empregadas como reforço são peças desfavoráveis à segurança (Gourc et al. 1996).
lineares que trabalham por aderência com o solo No entanto, ensaios de rampa ou plano inclinado
do aterro, sendo responsáveis pela maior parte da possibilitam estudos sob tensões normais
resistência interna à tração (ABNT, 2016a), reduzidas de maneira mais confiável, segundo os
podendo ser lisas ou possuir ressaltos. estudos de Lopes (2000), Lima Júnior (2000),
A NBR 19286 (ABNT, 2016a) especifica Mello (2001), Viana (2007), Martinez (2010) e
requisitos mínimos para o projeto de muros em Monteiro (2012).
solos mecanicamente estabilizados, assim como Neste trabalho também estuda-se a resistência
equações para o cálculo do coeficiente de da interface entre dois geotêxteis não tecidos de
aderência aparente solo-reforço (f*). polipropileno e areia média (Solo 2), mediante
Com base nos ensaios de arrancamento ensaios de cisalhamento direto convencional, em
(norma D 6706-01, ASTM, 2013), os caixa de 100 mm x 100 mm, além de ensaios de
coeficientes de aderência aparente solo- cisalhamento direto médio, em caixa de 300 mm
armadura (f*) podem ser calculados por meio da x 300 mm. Informações adicionais podem ser
seguinte equação: consultadas em Sánchez et al. (2016).

Fmáx
f *= (1) 2 MATERIAIS
2.V n .b.La
Na Tabela 1 estão apresentadas as principais
Onde, Fmáx = força máxima de arrancamento
propriedades geotécnicas das areias ensaiadas e
(kN), ın = tensão normal total (kN/m2), b =
na Figura 1 apresentam-se as respectivas curvas
largura do reforço e La = comprimento ancorado
granulométricas.
do reforço (m).
Tabela 1. Propriedades geotécnicas das areias.
Conforme salienta Weldu et al. (2015), os Parâmetro Solo 1 Solo 2 Unidade
valores calculados analiticamente, conforme o Massa específica dos
procedimento estabelecido pela norma brasileira 2,64 2,71 g/cm3
sólidos
(ABNT, 2016a), têm se mostrado conservadores Índice de vazios mínimo
0,58 0,588 -
em relação à resistência ao arrancamento (emín)
observada em laboratório (ASTM, 2013), Índice de vazios
0,83 0,86 -
justificando a importância dos ensaios. máximo (emáx)
Nesta pesquisa foram realizados ensaios de Densidade relativa (Dr) 95 57 %
arrancamento de tiras metálicas lisas em areia
média (Solo 1), em equipamento de Massa específica do
1,66 1,59 g/cm3
arrancamento com dimensões internas iguais a ensaio
570 mm de altura, 900 mm de largura e 1450 mm Índice de vazios do
0,593 0,705 -
ensaio
de comprimento.
Ensaios de cisalhamento direto convencional
1.2 Ensaios de Cisalhamento de Interface
resultaram em ângulo de atrito igual a 44º para o
Solo 1 e 39º para o Solo 2.
Nas situações em que se deseja estudar o
As normas de referência foram as seguintes:
deslizamento de uma massa de solo ao longo de
NBR 6508 (ABNT, 2016b), NBR 7181 (ABNT,
uma superfície do reforço, os ensaios de
2016c), D 4253-16 (ASTM, 2016a), D 4254-16
cisalhamento são os mais representativos da
(ASTM, 2016b) e D 3080 (ASTM, 2011).
situação de campo, podendo serem usados para a

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Nesta seção os métodos são apresentados
conforme o tipo de ensaio realizado.

3.1 Ensaios de Arrancamento de Reforços

O equipamento de arrancamento encontra-se


instalado no Laboratório de Geotecnia da
Universidade de Brasília (Figura 2a). Constitui-
se de uma estrutura rígida de aço, de seção
Figura 1. Curva granulométrica da areia média.
transversal retangular, com dimensões internas
iguais a 570 mm de altura, 900 mm de largura e
As tiras metálicas lisas, utilizadas nos ensaios 1450 mm de comprimento. A aplicação de
de arrancamento, possuem seção transversal com tensões verticais no interior da caixa de
largura de 50 mm e espessura de 4 mm. As tiras arrancamento é feita por meio de uma bolsa de
foram fabricadas com aço zincado. borracha (Figura 2b). A bolsa de borracha
Na Tabela 2 estão apresentadas as permanece cheia de água durante os ensaios,
propriedades dos geotêxteis utilizados nos sendo a pressão proveniente de um sistema de ar
ensaios de cisalhamento direto. comprimido. O sistema de aplicação de cargas
A massa por unidade de área (gramatura) foi horizontais (arrancamento) é composto por uma
determinada conforme a norma NBR ISO 9864 garra metálica, um cilindro hidráulico e uma
(ABNT, 2013a), de acordo com a Tabela 3. bomba manual. A instrumentação do
equipamento é composta por uma célula de carga
Tabela 3. Ensaios de gramatura (g/cm²). e dois transdutores de deslocamento. O
Geotêxtil Valor Desvio Coeficiente comprimento da tira ancorado em areia
não tecido médio Padrão de Variação correspondeu a 1225 mm.
PP300 304 9 2,95 As paredes da caixa foram lubrificadas com
PP600 793 27 3,44 camadas de vaselina e PVC com a finalidade de
diminuir o efeito do atrito da areia com as faces
Uma vez que os valores de gramatura para o internas (Palmeira, 1987).
geotêxtil PP600 foram maiores que o esperado, A deposição da areia no interior da caixa de
o mesmo passou a ser nomeado PP800. arrancamento foi feita por meio da técnica da
“chuva de areia”, a qual envolve a queda livre de
grãos (Figura 2c). Um compactador mecânico
3 MÉTODOS DA PESQUISA foi utilizado para aumentar a compacidade do
material e atender aos requisitos da Tabela 1.

Tabela 2. Propriedades dos geotêxteis (PP300 e PP 600) fornecidas pelo fabricante (Especificação Técnica, 2015).
Valores
Propriedades Normas Unidades
PP300 PP600
Tração à ruptura -
kN/m 14 30
Sentido transversal
Elongação -
% >50 >50
Sentido transversal
Resistência
Propriedades Tração à ruptura -
a tração NBR 12824
mecânicas Sentido do kN/m 13 28
faixa larga.
comprimento
Elongação -
Sentido do % >50 >50
comprimento
Gramatura NBR 12568 g/m² 300 600
Matéria Prima 100% polipropileno aditivado anti-UV
Propriedades
Resistência ao raio ultravioleta (%
físicas
de resistência retida após 500 >70 >70
horas)

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Adotou-se a mesma velocidade e tensões
normais que foram adotados no cisalhamento
convencional, sendo seguidos os procedimentos
da norma NBR ISO 12957-1 (ABNT, 2013b). A
finalização do ensaio ocorreu para deslocamento
horizontal de 50 mm ou quando fosse observado
o cisalhamento da interface.
O geotêxtil permaneceu ancorado à caixa
inferior durante o cisalhamento. A lubrificação
das paredes da caixa foi feita de forma similar
aos ensaios de arrancamento.

Figura 2. Ensaios de arrancamento: (a) Equipamento de


arrancamento, (b) Bolsa de borracha para aplicação de 4 RESULTADOS OBTIDOS
cargas verticais e (c) Equipamento para chuva de areia.
4.1 Ensaios de Arrancamento de Reforços
3.2 Ensaios de Cisalhamento de Interface
Na Figura 4 estão apresentadas as curvas de
Foram realizados ensaios de cisalhamento com arrancamento das tiras, enquanto que na Figura
duas áreas de superfície de contato na interface: 5 é apresentada a envoltória de resistência.
100 mm x 100 mm (cisalhamento direto
convencional, Figura 3a) e 300 mm x 300 mm
(cisalhamento direto médio, Figura 3b). Para
realização dos ensaios, foram seguidas as
recomendações da norma D3080 (ASTM, 2011).

3.2.1 Cisalhamento Direto Convencional

A velocidade do ensaio foi igual a 0,5 mm/min e


as tensões normais aplicadas foram 25, 50 e 100
kPa. Os critérios de finalização dos ensaios
foram os seguintes: deslocamento horizontal de
10 mm ou cisalhamento da interface (o primeiro Figura 4. Resistência ao arrancamento das tiras metálicas.
a ocorrer). A fixação do geotêxtil à caixa inferior
foi garantida com resina epóxi. A aparelhagem
está apresentada na Figura 3.

Figura 3. Equipamentos de cisalhamento: (a) cisalhamento Figura 5. Envoltória das resistências máximas.
direto convencional e (b) cisalhamento direto médio.
Os coeficientes de aderência aparente solo-
3.2.2 Cisalhamento Direto Médio
armadura (f*), para os ensaios com tensões

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normais totais iguais a 12,5, 25 e 25 kPa foram, Baseando-se nos resultados obtidos, pode-se
respectivamente, 0,82, 0,66 e 0,51. Para as observar que as interfaces de areia média/GNT-
mesmas condições adotadas nos ensaios o valor PP300 e areia média/GNT-PP800 apresentaram
recomendado pela norma brasileira (ABNT, a mesma resistência ao cisalhamento de
2016a) para f* seria 0,4, uma vez que não se interface, com um ângulo de atrito aproximado
considera a dilatância do solo nas tiras lisas. de 34o. No caso dos ensaios com área de
Verifica-se que os valores adotados segundo a cisalhamento menor, os resultados de ângulo de
norma podem ser conservadores em relação ao atrito foram 3º a 4º superiores.
observado em laboratório, justificando-se, em Para todos os ensaios, ocorreram
alguns casos, a realização de ensaios de deslocamentos verticais durante o cisalhamento,
arrancamento com a finalidade de elaborar evidenciando dilatância. No caso do geotêxtil
projetos mais econômicos. PP800, de maior espessura, os deslocamentos
observados foram maiores.
3.2 Ensaios de Cisalhamento de Interface Para ambos os geotêxteis, a mobilização da
resistência nos ensaios de dimensões médias foi
Na Tabela 4 estão apresentados os resultados e a mesma (34º), atingindo o máximo valor de
na Figura 6 estão apresentadas as envoltórias de tensão cisalhante para o deslocamento horizontal
ruptura de interface. aproximado de 7 mm. Já nos ensaios de
dimensão convencional, o valor máximo da
Tabela 4. Resultados dos ensaios de cisalhamento direto. tensão cisalhante ocorreu para 15 mm de
Ensaio Geotêxtil ߪ ߬ ߜ
(kPa) (kPa) (o) deslocamento horizontal. As diferenças entre
25 21 ângulos de atrito obtidos pelos dois
Cisalhamento PP300 50 39 37 equipamentos podem ser atribuídas a dispersões
Direto 100 73
Convencional. 25 22
naturais de resultados, diferentes dimensões e
(CDC) PP800 50 39 38 condições diferentes de fixação dos espécimes
100 79 de geotêxtil.
30 18
Cisalhamento PP300 61 32 34
Direto Médio (300 120 67
cm x 300 cm) 30 17 5 CONCLUSÕES
(CDM) PP800 59 32 34
119 67 O presente trabalho apresentou resultados de
duas pesquisas referentes à resistência de
interface entre geossintéticos e elementos de
reforços em contato com solos arenosos, com
base em ensaios de arrancamento e em ensaios
de cisalhamento.
Com relação aos ensaios de arrancamento, os
coeficientes de aderência aparente solo-
armadura (f*) foram superiores aos valores
recomendados pela norma brasileira (ABNT,
2016a). Segundo a norma em questão, pode-se
Figura 6. Envoltórias de ruptura. considerar f* = 0,4 no caso de tiras metálicas sem
ressaltos. Os coeficientes em questão foram
De acordo com os resultados, foram obtidas iguais a 0,82, 0,66 e 0,51 para tensões normais
envoltórias com adesão nula. Foram obtidos totais iguais a 12,5, 25 e 50 kPa. Dessa forma,
menores ângulos de atrito no caso dos ensaios considera-se que os valores recomendados pela
com maior área de cisalhamento. A gramatura norma foram conservadores em relação ao
dos geotêxteis não influenciou observado em laboratório. Portanto, em alguns
significativamente os ângulos de atrito das casos, a realização de ensaios de arrancamento
interfaces, com resultados bem próximos para os pode viabilizar projetos mais econômicos. As
dois geotêxteis. resistências máximas ocorreram para pequenos

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deslocamentos (aproximadamente 5 mm), uma ASTM D 4254-16. (2016b) Standard Test Methods for
vez que os reforços utilizados são pouco inimum Index Density and Unit Weight of Soils and
Calculation of Relative Density, 9 p.
deformáveis, ao contrário do que se espera Collios, A., Delmas, P., Gourc, J.P. & Giroud, J.P. (1980)
observar com o uso de geossintéticos. Experiments on Soil Reinforcement with Geotextiles.
Com relação aos ensaios de cisalhamento The Use of Geotextiles for Soil Improvement, ASCE
observaram-se envoltórias de ruptura de National Convention, Portland, Oregon, UK, pp. 53-
interface próximas. Foram encontrados 73.
Especificação Técnica. (2015) Manta geotêxtil não tecido
diferentes ângulos de atrito para os ensaios de agulhado 100% polipropileno. Mexichem Brasil
cisalhamento em diferentes escalas. No caso dos Indústria de Transformação Plástica Ltda.
ensaios com maior área cisalhada, os ângulos de GEOTÊXTIL BIDIM® PP 300 e PP 600, 2 p.
atrito resultantes foram 3º a 4º superiores em Lopes, C.P.F. da. (2000) Estudo da interacção solo-
relação aos ensaios com menor área. geossintético através de ensaios de corte em plano
inclinado. Dissertação de Mestrado, Universidade do
Considerou-se mais razoável a resposta do Porto, 212 p.
ensaio de cisalhamento de dimensões médias, Gourc, J.P., Lalarakotoson, S., Müller-Rochholz, H. e
uma vez que o mesmo permitiu avaliar uma Bronstein, Z. (1996) Friction Measurement by Direct
superficie cisalhada maior e preparação dos Shearing or Tilting Process - Development of a
espécimes de solo com melhor qualidade (mais European Standard. First European Geosynthetics
Conference. EUROGEO 1, pp. 1039–46.
uniformes). Lima Júnior, N.R. (2000) Estudo Da Interação Solo-
Estudos adicionais estão sendo desenvolvidos Geossintético Em Obras de Proteção Ambiental Com
para melhorar o entendimento dos mecanismos o Uso Do Equipamento de Plano Inclinado.
de interação entre elementos de reforço e Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília,
diferentes tipos de solos. 165 p.
Martínez, A.B.B. (2010) Comportamiento resistente al
deslizamiento de geosintéticos. Tese de Doutorado,
Universidade de Cantabria, 472 p.
AGRADECIMENTOS Mello, L.G.R. de. (2001) Estudo Da Interação Solo-
Geossintético Em Taludes de Obras de Disposição de
Os autores agradecem à CAPES e ao CNPq pelo Resíduos. Dissertação de Mestrado, Universidade de
Brasília, 149 p.
financiamento da pesquisa. Monteiro, C.B. (2012) Estudo de interface solo-
geomenbrana como variações de níveis de saturação
do solo. Dissertação de Mestrado, Universidad de
REFERÊNCIAS Brasilia, 150 p.
Palmeira, E.M. (1987) The Study of Soil-Reinforcement
ABNT NBR ISO 9864. (2013a) Geossintéticos - Método Interaction by Means of Large Scale Laboratory Tests.
de Ensaio Para Determinação Da Massa Por Unidade Tese de doutorado. Universidade de Oxford, 237 p.
de Área de Geotêxteis E Produtos Correlatos, 2 p. Sánchez, N.P., Araújo, G.L.S. e Palmeira, E.M. (2016)
ABNT NBR ISO 12957-1. (2013b) Geossintéticos - Estudo Multi-Escala Da Resistência Ao Cisalhamento
Determinação Das Características de Atrito. Parte 1: Da Interface Entre Geotêxtil Não Tecido E Solo.
Ensaio de Cisalhamento Direto, 8 p. COBRAMSEG 2016, 8 p.
ABNT NBR 19286. (2016a) Muros em solos Viana, H.N.L. (2007) Estudos da estabilidade e
mecanicamente estabilizados – Especificação, 22 p. condutividade hidráulica de sistemas de revestimento
ABNT NBR 6458. (2016b) Grãos de pedregulho retidos convencionais e alternativos para obras de disposição
na peneira de abertura 4,8 mm - Determinação da de resíduos. Tese de Doutorado, Universidade de
massa específica e da massa específica aparente e da Brasília. 284 p.
absorção de água, 10 p. Weldu, M.T., Han, J.H., Rahmaninezhad, S.M., Parsons,
ABNT NBR 7181. (2016c) Solo - Análise granulométrica, R.L. & Kakrasul, J.I. (2015) Pullout Resistance of
12 p. Mechanically Stabilized Earth Wall Steel Strip
ASTM D 3080/D 3080M-11. (2011) Standard Test Reinforcement in Uniform Aggregate. Kansas
Method for Direct Shear Test of Soils Under Department of Transportation, The University of
Consolidated Drained Conditions, 9 p. Kansas, Kansas City, USA, 44 p.
ASTM D 6706-01. (2013) Standart Test Method for
Measuring Geosynthetic Pullout Resistance in Soil, 8
p.
ASTM D 4253-16. (2016a) Standard Test Methods for
Maximum Index Density and Unit Weight of Soils
Using a Vibratory Table, 14 p.

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Caracterização Geomecânica em Misturas de Solo Laterítico-Cal
Aérea para Utilização em Base de Vias no Distrito Federal
Thamara Silva Barbosa
Universidade Católica de Brasília, Brasília-DF, Brasil, sbthamara@gmail.com

Lucas Gabriel Lopes da Silva


Universidade Católica de Brasília, Brasília-DF, Brasil, lukkasgabriel0@gmail.com

Rideci de Jesus da Costa Farias


Universidade Católica de Brasília, Brasília-DF, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

RESUMO: O solo empregado nas obras de engenharia rodoviária nem sempre satisfaz às
especificações para as camadas de pavimento em que pode ser utilizado. Para o solo laterítico da
região do Distrito Federal, escolheu-se a estabilização do solo com cal e utilizaram-se três teores de
cal para dois tipos de cal. Realizaram-se os ensaios de caracterização do solo, Compactação e ISC
das misturas. Verificou-se pouca variação da umidade ótima e da massa específica seca e, um
aumento gradual do ISC. Com isso, concluiu-se que é mais vantajoso estabilizar o solo com a cal
hidratada CHI por oferecer maiores valores de ISC.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização, Cal, Solo laterítico, Pavimentação.

1 INTRODUÇÃO geral e oferecem risco para os usuários que


nelas trafegam, necessitando de intervenções
Balbo (2007) afirma que a construção de vias em maior ou menor escala.
de transporte é uma atividade realizada desde as Dentro desse cenário há necessidade de se
civilizações mais remotas, que teve o seu início buscar soluções que sejam tecnicamente
dado por razões de ordem econômica, de possíveis e economicamente viáveis. De acordo
integração regional e de cunho militar, razões com Cristelo (2001), entre as diversas formas
estas que prevalecem até os tempos atuais. A estudadas e utilizadas está a estabilização de
pavimentação das vias, desde a antiguidade, solos, pois em muitos casos, esses solos não
tornou-se uma atividade essencial para atendem aos requisitos para execução de um
adequação e preservação dos caminhos mais pavimento rodoviário, de forma que se costuma
estratégicos. utilizar uma ou a combinação das seguintes
Entretanto, uma pesquisa do Conselho soluções: aceitar o solo natural e adequar os
Nacional de Transporte (2015) mostra que, projetos às limitações por ele impostas, remover
apesar da destacada predominância do modal o material local e substituí-lo por outro de
rodoviário no deslocamento de bens e pessoas, melhor qualidade e adequar as propriedades do
verifica-se que, em relação à extensão total da solo existente de modo a criar um material
malha rodoviária no país (1.691.522 km), capaz de atender às exigências de projeto.
apenas 12% dela encontra-se pavimentada. A última solução apresentada se refere à
Sendo que 42,7% da malha total oferecem estabilização mecânica e/ou química. No
condições de trafegabilidade com segurança e presente trabalho, optou-se pelo estudo da
conforto para os usuários. E os outros 57,3% estabilização química com cal, que segundo
apresentam algum tipo de deficiência no estado Souza (1980), a ação desta se dá de três

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maneiras: modificando o solo quanto à 2.1 Preparação das Amostras
plasticidade e a sensibilidade à água,
cimentando o solo por carbonatação e/ou por Após a coleta da amostra deformada de solo,
pozolanização. Quando os dois últimos efeitos iniciou-se a preparação desta para a realização
predominam, tem-se uma mistura considerada dos ensaios de caracterização, para isto, tomou-
semi-rígida se como base a norma ABNT NBR 6457/1986.
Senço (2001) diz que esse tipo de
estabilização poderá representar uma solução 2.2 Análise Granulométrica
econômica e de melhor técnica, quando
comparada com os trabalhos de remoção de De acordo Senço (2007), a análise
camada de solo argiloso, para a substituição de granulométrica de um solo possibilita o
solo granular, a fim de estabilizar esse leito. conhecimento das porcentagens das partículas
Entre os benefícios da utilização deste método, que o constituem em função de suas dimensões.
destaca-se a melhoria das propriedades do solo, Sendo esse conhecimento de grande
principalmente no que diz respeito à capacidade importância para os estudos do comportamento
de suporte e redução da expansão deste. do solo tanto como elemento de fundação em
Portanto, tem-se como objetivo geral que o pavimento se apoia, quanto como
caracterizar o solo e as misturas solo-cal em camadas do pavimento.
porcentagens pré-estabelecidas. O ensaio de granulometria realizado seguiu
Para isto, tem-se como objetivos específicos as orientações da norma ABNT NBR 7181/82
analisar o comportamento das misturas das cais por combinação de peneiramento e
hidratadas, CHI e CHIII, ao solo laterítico e sedimentação em um intervalo de 24 horas.
definir qual ou quais das porcentagens
utilizadas podem ser viáveis para o uso como 2.3 Massa Específica
estabilização de base de pavimentos.
Segundo Senço (2007), a massa específica pode
ser real ou aparente de acordo o volume que se
2 METODOLOGIA considera. A massa específica real está
relacionada à natureza mineralógica e é a
Para o presente trabalho foram realizados relação entre a massa da parte sólida e o volume
ensaios de laboratório para a determinação das de sólidos; a massa específica aparente do solo
características físicas e mecânicas do solo e das úmido é a relação entre a massa de solo úmido e
misturas solo-cais. Para tanto, as amostras de o volume ocupado pela mesma e, a massa
solo foram coletadas no campus da especifica aparente do solo seco é a relação
Universidade Católica de Brasília em Águas entre a massa de sólidos e o volume total.
Claras e as cais CHI e CHIII que foram A determinação da massa específica dos
utilizadas, seguiram os padrões estabelecidos sólidos foi obtida de acordo o procedimento
pela NBR 7175/2002, conforme informação dos descrito na ABNT NBR 6508/84.
fabricantes.
Utilizaram-se três porcentagens pré- 2.4 Limites de Atterberg
estabelecidas (2%, 4% e 6%) para cada tipo de
cal utilizada. Segundo Balbo (2007), os critérios Caputo (1988) define Limite de Liquidez como
de dosagem de mistura solo-cal (SCA), variam sendo o limite entre o estado líquido, cuja
de acordo com o uso pretendido para a mistura. umidade do solo é muito elevada e este se
Quando utilizada como material de reforço de apresenta como um fluido denso, e o estado
subleito ou como sub-base, a dosagem pode ser plástico, onde o solo perde sua capacidade de
realizada como emprego do critério do CBR fluir, mas pode ser moldado facilmente e
(para CBR superior a 20%). A viabilidade conservar a sua forma; e Limite de Plasticidade
dessas misturas, portanto, foi analisada através como sendo o limite entre o estado plástico e o
dos resultados dos ensaios de CBR. semissólido, em que a perde de umidade

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continua e o solo se desmancha ao ser
trabalhado. 3 RESULTADOS
Caputo (1988) define também, o Índice de
Plasticidade, como sendo a diferença entre os 3.1 Análise Granulométrica
Limites de Liquidez (LL) e o Limite de
Plasticidade (LP) dado pela Equação 1. Após a realização do ensaio e elaboração do
gráfico da Figura 1, conforme a norma nota-se
IP=LL–LP (1) que com a adição de defloculante, a
porcentagem do material passante na
Na Tabela 1 abaixo é apresentada a classificação argila é maior quando comparada
classificação dos solos proposta por Jenkins a porcentagem de argila do material que foi
apud Caputo (1988) de acordo o valor do Índice adicionado somente água. O defloculante,
de Plasticidade (IP). portanto, é eficiente no que diz respeito à
separação dos grãos que permaneciam juntos
Tabela 1. Classificação do solo de acordo o IP após o destorroamento manual.
IP Classificação Da mesma forma, a porcentagem passante na
1< IP <7 Fracamente Plásticos classificação de areia (fina, média ou grossa) é
7< IP <15 Medianamente Plásticos
IP > 15 Altamente Plásticos menor quando se trata da adição de água em
relação à adição do hexametafosfato, uma vez
Os ensaios de Limite de Liquidez e que, parte do material se apresentava como
Plasticidade tiveram como base as normas pequenos torrões que ficaram retidos nas
ABNT NBR 6459/84 e ABNT NBR 7180/84, peneiras da classificação areia.
respectivamente.

2.5 Compactação

De acordo Senço (2007), a compactação do solo


é a operação que reduz os vazios deste,
comprimindo-o por meios mecânicos.
A compactação para a obtenção da umidade
ótima e massa específica do solo teve como
base a ABNT NBR 7182/86. Utilizou-se no
ensaio, a energia normal de compactação (cinco
camadas de doze golpes em cada camada).
Figura 1. Gráfico do Ensaio de Granulometria
2.6 Índice de Suporte Califórnia (ISC)

Segundo Bernucci et al (2006), a resistência no


ensaio ISC combina indiretamente a coesão e o 3.2 Massa Específica
ângulo de atrito do material. O ISC é definido
como a relação entre a pressão necessária para Após o ensaio para a determinação da massa
produzir uma penetração de um pistão em um específica dos grãos, o resultado obtido foi de
corpo-de-prova de solo ou material granular e a 2,61g/cm³
pressão necessária para produzir a mesma
penetração no material padrão referencial, o 3.3 Limites de Atterberg
resultado é expresso em porcentagem.
Os ensaios do ISC foram realizados de Realizado o ensaio de Limite de Liquidez,
acordo com a norma ABNT NBR 9895. conforme a norma já especificada têm-se
Utilizou-se a energia normal como no ensaio de valores de umidade. A média destes valores
compactação. corresponde ao valor de LL = 48,80%.

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Após a realização do ensaio de Limite de De acordo o Manual de Pavimentação do
Liquidez, de acordo a correspondente norma, DNIT (2006), os materiais do subleito devem
obteve-se valores de umidade. A média destes apresentar uma expansão, medida no ensaio
valores corresponde ao valor de LP = 34,38%. ISC, menor ou igual a 2% e um ISC • 2%; os
De acordo a Equação 1, calcula-se o Índice materiais para reforço do subleito, os que
de Plasticidade que é dado por IP = 14,42 %. apresentam ISC maior que o do subleito e
Analisando-se o ensaio de Granulometria do expansão ”1%; os materiais para sub-base, os
solo e o Índice de Plasticidade com os dados da que apresentam ISC • 20% e expansão ” 1% e
Tabela 1, pode-se classificar o solo utilizado na os materiais para base, os que apresentam:
pesquisa como sendo solo-silte argiloso de C.B.R. • 80% e expansão ” 0,5%, Limite de
mediana plasticidade (ML ou OL) de acordo a liquidez ” 25% e Índice de plasticidade ” 6%.
SUCS. Sendo assim, apenas o solo acrescido de 6% de
CHI CHI pode servir como material para sub-
base e as demais porcentagens atendem os
3.4 Compactação critérios para materiais de subleito e reforço de
subleito.
Após a realização da compactação do solo
natural e das misturas de solo-cais, obtiveram-
se as curvas de compactação, conforme 4 CONCLUSÃO
especificação da norma para este ensaio. A
partir das curvas, têm-se os dados de Umidade Segundo Balbo (2007), a massa específica
Ótima e Massa Específica Seca conforme aparente seca de uma mistura solo-cal é menor
mostra a Tabela 2. do que a do solo natural (acentuando-se com o
aumento do consumo de cal) e a umidade ótima
Tabela 2. Resultados do Ensaio de Compactação de compactação é acrescida após a mistura do
Material
Umidade Massa Específica solo com a cal. Pode-se observar essa tendência
Ótima (%) Seca (g/cm³)
nos resultados do ensaio de compactação da
Solo Natural 33,85 1,31
Solo + 2% de CHI 34,38 1,29 Tabela 2, entretanto, como a porcentagem de
Solo + 4% de CHI 34,24 1,27 cal acrescida foi pequena, observa-se também
Solo + 6% de CHI 33,01 1,26 pequena variação dos resultados, somado a
Solo + 2% de CHIII 33,33 1,31 fatores como o ensaio ter sido realizado em
Solo + 4% de CHIII 33,51 1,28
ambiente sem temperatura controlada e Brasília
Solo + 6% de CHIII 34,91 1,27
apresentar ampla variação térmica ao longo do
dia interferindo no resultado do ensaio de
3.5 Índice de Suporte Califórnia (ISC)
compactação.
Em relação ao ensaio de Índice de Suporte
Executou-se o ensaio de ISC conforme as
Califórnia (ISC), não se verificou um padrão
especificações da norma para este ensaio. Os
relacionado à expansão, porém para todas as
resultados obtidos de Expansão e ISC do solo
misturas, os resultados obtidos atendem os
natural e das misturas solo-cal encontram-se na
padrões estabelecidos pelo DNIT. Observou-se
Tabela 3 que se segue.
nesse ensaio que a Cal Hidratada I (CHI)
Tabela 3. Resultados do Ensaio de ISC apresenta resultados de ISC melhores se
Expansão ISC comparados às mesmas porcentagens utilizadas
Material
(%) (%) da Cal Hidratada II (CHII) e que de acordo
Solo Natural 0,44 7,63 aumenta-se a porcentagem de cal utilizada,
Solo + 2% de CHI 0,09 5,77 aumenta-se também o valor do ISC. No entanto,
Solo + 4% de CHI 0,01 18,65
Solo + 6% de CHI 0,01 27,48
nenhuma das porcentagens das misturas solo-
Solo + 2% de CHIII 0,01 3,41 cal atende ao critério de material de base
Solo + 4% de CHIII 0,01 5,71 estabelecido pelo DNIT.
Solo + 6% de CHIII 0,01 9,66 É possível que o tipo de cal utilizada exerça
certa influência nos resultados dos ensaios, haja

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



vista que a CHI é mais pura do que a CHIII, (Mestrado em Engenharia Civil) – Escola de
pois possui maior quantidade de hidróxido de Engenharia da Universidade do Minho, 2001.
DNIT – Departamento Nacional de Infrasestrutura de
cálcio, conforme especificado na NBR Transporte. Manual de pavimentação. 3. ed. Rio de
7175/2002, o que pode interferir na capacidade Janeiro: DNIT, 2006.
aglomerante da cal. Fiori, A. P.; Carmignani, L. Fundamentos de mecânica
Considerando-se as porcentagens de cal dos solos e das rochas: aplicações na estabilidade de
utilizadas, é possível que haja uma influência taludes. Paraná: Editora da UFPR, 2001. 550 p.
Senço, W. de. Manual de técnicas de pavimentação:
no custo final da mistura solo-cal, entretanto, a volume I. 2. ed. São Paulo: Pini, 2007. 1 v. 671 p.
pesquisa se deteve na possibilidade de não Senço, W. de. Manual de técnicas de pavimentação:
haver uma jazida disponível na região e com volume II. São Paulo: Pini, 2001. 2 v. 671 p.
isso ter que utilizar uma quantidade maior de Souza, M. L. de. Pavimentação Rodoviária. Rio de
cal na mistura visando à melhoria da Janeiro: Livros Técnicos e Científicos: DNER, 1980.
361 p.
estabilidade do solo.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq pelo apoio e incentivo a esta


pesquisa.

REFERÊNCIAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR


6457. Amostras de solo – Preparação para ensaios de
compactação e ensaios de caracterização. Rio de
Janeiro. 1986.
_______. NBR 6459. Solo – Determinação do limite de
liquidez. Rio de Janeiro. 1984.
_______. NBR 6508. Grãos de solo que passam na
peneira de 4,8mm – Determinação da massa
específica. Rio de Janeiro. 1984.
_______. NBR 7180. Solo – Determinaçaõ do limite de
plasticidade. Rio de Janeiro. 1984.
_______. NBR 7181. Solo – Análise granulométrica. Rio
de Janeiro. 1984.
_______. NBR 7182. Solo – Ensaio de compactação. Rio
de Janeiro. 1986.
_______. NBR 7175. Cal hidratada para argamassas –
Requisitos. Rio de Janeiro. 2002.
_______. NBR 9895. Solo – Índice de suporte Califórnia.
Rio de Janeiro. 1987.
Balbo, J. T. Pavimentação asfáltica: materiais, projetos e
restauração. São Paulo: Oficina de Textos, 2007. 558
p.
Bernucci, L. B. et al. Pavimentação asfáltica: formação
básica para engenheiros. Rio de Janeiro:
PETROBRAS: ABEDA, 2006. 504 p.
Caputo, H. P. Mecânica dos Solos e suas aplicações. Rio
de Janeiro: LTC, 1988. 234 p.
Confederação Nacional do Trasporte. Pesquisa CNT de
rodovias 2015. Disponível em:
<http://www.cnt.org.br/Imprensa/noticia/pesquisa-
cnt-de-rodovias-2015-maior-parte-dos-trechos-
apresenta-problemas>. Acesso em: 10 fev. 2017.
Cristelo, N. M. C. Estabilização de solos residuais
graníticos através da adição de cal. Dissertação

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Estudo da Aplicação de Técnicas de Melhoramento de Solo Mole
com Foco no Uso do Coproduto KR
Luísa Braz da Silva Ramos
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, luisab302@hotmail.com

Caroline Forestti Oliveira


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, carolineforestti@outlook.com

Douglas de Oliveira Joaquim


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, douglas.doj@gmail.com

Vinicius Rocha Poltronieri


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, vrpoltronieri@gmail.com

Patrício José Moreira Pires


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, patricio.pires@gmail.com

RESUMO
Este trabalho apresenta um estudo bibliográfico e experimental sobre diversas técnicas de
melhoramento de solos de moles, destacando-se no uso de coproduto de aciaria KR como
aglomerante hidráulico, em substituição aos aglomerantes comumente utilizados. Para tal, foram
realizados ensaios com misturas de solo argiloso puro e solo incorporado com coproduto KR no
teor de 30%. O solo utilizado não dispõe de resistência não drenada mínima para que possa haver
alguma bem feitoria sobre o mesmo. O coproduto KR utilizado é originário de uma indústria
siderúrgica da região da Grande Vitória e o solo foi coletado no município de São Mateus-ES. Este
material tem sido adotado como estabilizante químico com êxito em diversas pesquisas para fins de
melhorias em diversas características de solos, como a resistência, devido a suas propriedades
cimentantes e ao seu reduzido potencial expansivo (inferior a 3%). Foram realizados ensaios de
caracterização do coproduto e do solo e também ensaio de Vane Test e ensaio de Fall Cone Test. O
objetivo do estudo foi apresentar o ganho de resistência do solo com a aplicação do coproduto KR.

PALAVRAS-CHAVE: Resistência não drenada, Solo Argiloso, Coproduto de Aciaria KR.

1 INTRODUÇÃO cimento Portland) foram utilizados, para


alcançar níveis de qualidade de superfície
A estabilização do solo natural é um problema aceitável para obras. Entre as vantagens da
clássico na engenharia geotécnica, estabilização de solos segundo EuroSoilStab
principalmente quando é necessário preparar (2002) estão a elevação da capacidade de carga
uma sub-base ou alicerce com solos naturais do solo e a redução dos efeitos de recalques
para a construção de fundações leves ou absolutos.
Infraestrutura de transporte, tais como estradas, Na estabilização de solos, tanto o cimento
ferrovias ou aeroportos. Portland como a cal podem ser utilizados em
Segundo Bergado et al. (1996) durante muitas variedades de solo, e as reações de
décadas, vários produtos comerciais (cal, estabilização podem se estender por anos.

GEOCENTRO2017, Goiânia/GO, Brasil.


Entretanto, o processo de estabilização pode ser
100 100
obtido por outros materiais além da cal e do
cimento. Alguns coprodutos industriais podem 80 80

% PASSANTE
ser bons materiais estabilizante. Entre eles

% RETIDA
destacam-se os coprodutos siderúrgicos devido 60 60
à facilidade de serem encontrados e aos 40 40
resultados animadores obtidos em pesquisas
voltados para seu uso como estabilizantes 20 20
químicos. Segundo Tessari e Cobe (2015), o
0 0
potencial aglomerante das escórias pode ser 0,001 0,01 0,1 1 10 100
avaliado por meio de dois condicionantes: teor
de material vítreo presente na escória e S01 KR
composição química. DIÂMETRO DOS GRÃOS (mm)
Neste contexto, um novo coproduto ganha Figura 1- Curvas Granulométricas do solo puro
atenção: o coproduto KR. Resultado do (contínua) e da escória KR (tracejada) antes do
tratamento.
processo siderúrgico de dessulfuração no reator
Kambara, muito difundido no Japão devido a 2.1.2 Coproduto KR
sua alta eficiência e baixo custo de operação
(Sheng, 2014). Das et al. (2007 apud Tong et O coproduto KR foi fornecido pela
al., 2015) apontam que apesar da variedade de ArcelorMittal Tubarão, siderúrgica situada na
estudos para utilização das escórias de aciaria região da Grande Vitória-ES, coletado no dia
existem poucos estudos sobre o 03/01/2017, segundo a ABNT NBR
reaproveitamento das escórias de dessulfuração 10007:2004. O material possui granulometria
KR, material que possui elevada resistência entre 0 mm a 9 mm. O coproduto foi aplicado
mecânica e menor potencial expansivo que os no estado moído, após tratamento no moinho de
demais coprodutos siderúrgicos. argolas para que sua granulometria se
Portanto, este artigo pretende verificar o aproximasse à granulometria de aglomerantes
efeito da incorporação deste novo coproduto usualmente utilizados para reforço de solos de
siderúrgico no melhoramento do solo mole para baixa consistência, como o cimento Portland.
dar uma destinação ambientalmente correta para Nesse estudo os resultados apresentados na
o material e reduzir custos com o uso de Tabela 1, são de coproduto de natureza similar e
aglomerantes comerciais. coletado na mesma siderúrgica e no mesmo
canteiro, onde não apresentam grandes
variações em sua composição. Segundo mostra
2 MATERIAIS E MÉTODOS a Tabela 1, este material possui altos teores de
óxidos de cálcio (CaO). A presença deste
2.1 MATERIAIS componente indica o capacidade do coproduto
agir como estabilizante para solos.
2.1.1 Solo
Tabela 1 - Composição química da escória KR.
A amostra de solo utilizada, de coloração Tessari e Cobe (2015)
acinzentada e forte odor, foi coletada na cidade Solo Quantidade (%)
FeT 30,010
de São Mateus-ES. Material facilmente SiO2 10,380
encontrado em todo o Brasil, principalmente em Al2O3 3,150
áreas litorâneas é uma argila natural. CaO 39,040
Classificado como A-7-5 pelo sistema MgO 3,140
AASHTO. Mn 1,070
P 0,284
S 1,280
ZnO 0,004

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2.2 METODOLOGIA Orgânica (ABNT NBR 13600:1996). A Tabela
2 apresenta os valores de caracterização do solo
A metodologia utilizada para análise do solo puro.
focou nos parâmetros de resistência não
drenada que, conforme Shogaki (2006), é uma Tabela 1 - Parâmetros do Solo Puro
boa alternativa para análise de estabilidade a Parâmetro Valor
Limite de Liquidez 86%
curto prazo em solos de argilosos baixa
Limite de Plasticidade 48%
consistência. Umidade 84,89%
Foram utilizados os ensaios de Laboratory Índice de Plasticidade 38%
Vane Test (LVT), seguindo a norma europeia Índice de Consistência 0,029
CEN ISO/TS 17892-6:2004 e Fall Cone Test Massa específica 2,61 g/cm³
Teor de Matéria Orgânica 9,89%
(FCT), segundo a norma americana ASTM
D464, para determinação da resistência não
drenada nas amostras de solo puro e em A caracterização da escória KR consistiu em
amostras com incorporação de 30% de escória ensaio de Análise Granulométrica (ABNT NBR
KR em massa. 7181:1984), Massa Específica (ABNT
Os ensaios foram realizados no Laboratório NM52:2009), Expansão PTM (Norma-ME 113
de Geotecnia e Mecânica dos Solos da (DNIT, 2009). A Tabela 3 apresenta os valores
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) de caracterização da escória KR moída.
com o objetivo de avaliar essa estabilização
Tabela 3 - Parâmetros da escória KR
química do solo com escória KR. Parâmetro Valor
Massa Específica agregado seco 1,82 g/cm3
Massa Específica agregado saturado 2,24 g/cm3
3 PROGRAMA EXPERIMENTAL Expansão (PTM) 2,13%

O programa experimental executado baseou-se 3.2 Moldagem dos corpos de prova


em referências bibliográficas tradicionalmente
utilizadas e em ensaios que são aplicados a Segundo Pinto (2006), valores de LVT devem
melhorias de solos argilosos, realizados no passar por correção antes de utilização em
Laboratório de Geotecnia e Mecânica dos Solos projeto, pois este pode apresentar valores de
da UFES. resistência não drenada maiores comparados ao
O programa experimental realizado possui Vane Test de campo. Em contrapartida,
como objetivo caracterizar os materiais e amostras de argila remoldada apresentam
avaliar o aumento da resistência do solo com a menores valores de resistência quando
incorporação do coproduto KR, confirmando o comparadas ao estado natural. As amostras
que a bibliografia apresentou. ensaiadas foram moldadas em tubos de PVC,
Foram produzidos um corpo de prova de com altura aproximada de 10cm e diâmetro de
solo puro e de solo puro incorporado com 30% 10cm.
de escória moída e seus parâmetros de Su foram Após a separação das massas de solo e
determinados aos 7 dias de cura. escória, procedeu-se a produção das misturas
com adição de água 10% abaixo do limite de
3.1 Caracterização dos Materiais liquidez do solo até sua completa
homogeneização. Foram retiradas amostras para
Inicialmente, foram realizadas as determinação de umidade e a moldagem do
caracterizações do materiais: solo e coproduto tubo foi realizada com auxílio de espátula, em
KR. A caracterização do solo consistiu em finas camadas iniciadas nas paredes do tubo e
ensaio de Análise Granulométrica (ABNT NBR em formato cônico até nivelamento na
7181:1984), Limite de Liquidez (ABNT NBR superfície das amostras. A Figura 2 apresenta o
6459:1984), Limite de Plasticidade (ABNT procedimento de moldagem.
NBR 7180:1984), Massa Específica dos Grãos
(ABNT NBR 6508:1984), Teor de Matéria

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3.4 Laboratory Vane Test

O ensaio de Vane Test de laboratório foi


realizado conforme norma americana ASTM
D464. Uma palheta de seção em cruz e quatro
pás é inserida verticalmente na amostra.
Posteriormente, aplica-se uma velocidade de
rotação constante diretamente ligada a uma
mola que determina o torque necessário para
que haja a ruptura por cisalhamento da amostra.
A resistência não drenada (Su) é determinada
pelo produto do torque e de uma constante da
palheta que correlaciona a altura e o diâmetro
da palheta em milímetros. O procedimento foi
feito em dois furos por tubo a duas alturas
diferentes conforme Figura 3. Em cada altura
foram obtidos resultados com a amostra
indeformada e o resultado com amostra
amolgada.
O amolgamento foi considerado após o
Figura 2 – Procedimento de Moldagem. A)
rompimento inicial da amostra. Girou-se a
Homogeneização da mistura. B) Preenchimento do tubo. palheta até cinco giros completos e tornou-se a
C) Vedação das amostras. determinar os valores de torque obtendo assim o
resultado de mistura amolgada. Definida as
3.3 Fall Cone Test dimensões da palheta (D e H) e o torque ao qual
ela foi submetida, pode-se determinar a
O procedimento de ensaio de Cone seguiu a resistência ao cisalhamento não drenada do solo
norma europeia CEN ISO/TS 17892-6:2004 (kPa) a partir das equações:
para determinação da Resistência Não drenada
(Su) com o penetrômetro de cone ܵ‫ ݑ‬ൌ ܶ ‫ିͲͳ כ ܭ כ‬ସ (2)
comercializado pela empresa Solotest, com
precisão de 0,1mm. Foram determinadas గ‫כ‬஽మ ு ஽
‫ ܭ‬ൌ ‫כ‬ቀ ൅ ቁ (3)
leituras iniciantes da penetração do cone na ଵ଴వ ଶ ଺
amostra de solo e leituras após cinco segundos
de penetração do cone na amostra. De acordo Onde:
com a norma o cálculo de Su é dado pela T - é o torque máximo medido em kgf.cm;
seguinte equação: D - é o diâmetro da palheta em mm;
H - é a altura da palheta em mm;
௠ K - é a constante da palheta.
ܵ‫ ݑ‬ൌ ܿ ‫ כ ݃ כ‬ (1)
௜మ

Onde:
c - é uma constante empírica que depende do
ângulo e da rugosidade do cone;
g - é a aceleração do cone em queda em m/s²;
m - é a massa do cone em gramas;
i - a profundidade de penetração do cone no
solo em milímetros.

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VANE TEST 1 - AMOLGADO
4

RESISTÊNCIA
DRENADA Su
2,83

(kPa)
3

2
0,99

1
Solo Solo+30% Escória
A B
Figura 3 – A) Alturas de penetração da palheta no ensaio Figura 6 - Ensaio de Vane Test para amostra amolgada a
Vane Test em cm. B) Aparelho Vane Test. altura superior do solo puro e do solo com 30% de
escória KR.
4 RESULTADOS
VANE TEST 2 - NÃO AMOLGADO
4.1 Resistência não drenada (Su)

RESISTÊNCIA NÃO
10 8,49

DRENADA Su
8
A Figura 4 apresenta os resultados de Su para o
6

(kPa)
Cone Fall em cada mistura ensaiada.
4 2,86
2
CONE FALL
RESISTÊNCIA NÃO

0
DREANDA Su

23,21 Solo Solo+30% Escória


25
Figura 7 - Ensaio de Vane Test Para amostra não
(kPa)

20
amolgada a altura inferior do solo puro e solo com 30%
15
de escória KR.
10
4,21
5
VANE TEST 2 - AMOLGADO
0
Resistência Não

Solo Solo+30% Escória 3


drenada Su

Figura 4 - Su pelo método do Cone Fall a 7 dias.


1,76
(kPa)

2
1,36
As Figuras 5 e 6 apresentam Su para o Vane
Test nas alturas superior, inferior e após as 1
amostras estarem amolgadas.
0
Solo Solo+30% Escória
VANE TEST 1 - NÃO AMOLGADO Figura 8 - Ensaio de Vane Test Para amostra amolgada a
11,32 altura inferior do solo puro e do solo com 30% de escória
RESISTÊNCIA NÃO

12 KR.
DRENADA Su

10
8 É possível observar que os valores de Su
(kPa)

5,22
6 pelo método do Cone Fall são maiores que os
4 obtidos no Vane Test. Pode-se justificar pela
2
diferença dos métodos e a perda de umidade na
0
superfície do corpo de prova onde é feito o
Solo Solo+30% Escória
ensaio (MORATTI & SCOTÁ, 2016). Apesar
Figura 5 - Ensaio de Vane Test para amostra não da diferença quantitativa, em sua avaliação
amolgada a altura superior do solo puro e do solo com
30% de escória KR. ambos os ensaios apresentaram a mesma
tendência de ganho de resistência com o tempo.
Destaca-se aqui um acréscimo considerável
de resistência nas amostras submetidas ao Vane
Test com 30% de escória KR. Nota-se também

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a redução dos parâmetros de resistência Su em ensaios de compactação e ensaios de caracterização.
amostras amolgadas o que confirma as Rio de Janeiro, 1986.
_____ NBR 6459: solo - determinação do limite de
expectativas dos autores. liquidez. Rio de Janeiro, 1984.
_____ NBR 6508: grãos de solo que passam na peneira
de 4,8mm - determinação da massa específica. Rio de
5 CONCLUSÕES Janeiro, 1984.
_____ NBR 7180: solo - determinação do limite de
plasticidade. Rio de Janeiro, 1984.
Os resultados mostram que para solos argilosos _____ NBR 7181: solo – análise granulométrica. Rio de
com baixa capacidade de suporte o coproduto Janeiro, 1984.
pode funcionar como aglomerante promovendo ____NBR 13600: solo – Determinação do teor de matéria
melhorias significativas. orgânica. Rio de Janeiro, 1984.
Os resultados obtidos pelos ensaios de Vane Bergado D., Anderson L., Miura N., Balasubramaniam A.
Soft ground improvement: in lowland and other
Test e Fall Cone Test mostraram que o environment. New York: American Society of Civil
coproduto melhorou a resistência do solo Engineers, 1996.
analisado, sem deixar de atender os parâmetros Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes -
de expansão. DNIT. (2009) ME: 113. Pavimentação rodoviária –
Diante do que foi estudado e dos resultados Agregado artificial – Avaliação do potencial de
expansão de escória de aciaria – Método de ensaio,
obtidos pelos ensaios de laboratório realizados Rio de Janeiro, 12 p.
nesse trabalho, constatou-se que o coproduto European Committee For Standardization. ISO/TS
KR possui a capacidade promover melhorias 17892-6: Geotechnical investigation and testing -
significativas (da ordem de até 550%, para o Laboratory testing soil - Part 6: Fall cone test.
ensaio de Cone Fall). Portanto, sob ponto de Switzerland, 2004.
Eurosoilstab. Development of design and construction
vista técnico, mostra-se como uma alternativa methods to stabilise soft organic soils: design guide
viável, sendo mais sustentável e econômica que soft soil stabilization. London, 2002.
o tradicional uso do cimento e da cal em Moratti, D. G.; Scotá, N. M. D. Estabilização de solo
técnicas já utilizadas em melhoramento de argiloso com incorporação de escória de aciaria. 2016.
solos. Porém, faz-se necessário a realização de 90f. Projeto de Graduação. Engenharia Civil –
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória.
outros ensaios em laboratório, e também em Pinto, C.S. Curso Básico de Mecânica dos Solos. 3ª ed.
campo para obtenção de teor ideal de Oficina de Textos. 2006. São Paulo – SP.
incorporação do coproduto em outros tipos de Tessari, C L.; Cobe, R P. Melhoramento de solo com
solos, além de argilosos. incorporação de resíduos de siderurgia. Projeto de
Graduação. Vitória, 2015.
Tong, Zhibo; Ma, Guojunl; Cai, Xun; Xue, Zhengliang;
Wang, Wei; Zhangl, Xiang. Characterization and
AGRADECIMENTOS Valorization of Kanbara Reactor Desulfurization
Waste Slag of Hot Metal Pretreatment.WasteBiomass
Agradecemos empresa ArcelorMittal Tubarão Valor 7:1–8. 2016
pelo fornecimento do coproduto KR e aos SHOGAKI, T. An Improved Method for Estimating In-
Situ Undrained Shear Strength of Natural Deposits.
técnicos e auxiliares do Laboratório de Soils and Foundations, v. 46, n. 2, p. 109-121, 2006.
Geotecnia e Fundação da UFES pelo auxílio
durante a realização dos ensaios

REFERÊNCIAS

American Society For Testing And Materials.


D4648/D4648M-10: Standard test method for
laboratory miniature vane shear test for saturated
fine-grained clayey soil, 2010.
Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 13600:
solo - determinação do teor de matéria orgânica por
queima a 440°C - Método de ensaio. Rio de Janeiro,
1996.
_____ NBR 6457: Amostras de solo - Preparação para

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Influência da Adição de Cal Hidratada na Resistência de um Solo
Sedimentar
Jair Arrieta Baldovino
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, yaderbal@hotmail.com

Eclesielter Batista Moreira


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, eclesielter_ebm@hotmail.com

João Luiz Rissardi


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, rissardi@alunos.utfpr.edu.br

Ronaldo Luis dos Santos Izzo


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, izzo@utfpr.edu.br

Eduardo Vieira de Goes Rocha


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, rochae@alunos.utfpr.edu.br

RESUMO: O presente estudo avalia o desempenho de uma mistura de solo-cal visando à


estabilização de um solo siltoso da Formação Guabirotuba e sua aptidão para compor a base de um
pavimento rodoviário. O estudo apresenta a relação do crescimento da resistência da compressão
não confinada (qu) e tração por compressão diametral (qt) de um solo siltoso curado em 30 dias. Os
parâmetros de controle avaliados foram: teor de cal, tempo de cura e umidade. Os resultados
mostram um crescimento de qu e qt com o aumento de teor de cal e com o aumento do tempo de
cura.

PALAVRAS-CHAVE: Melhoramento de solos, Solo-cal, Resistência à compressão simples,


Resistência à tração.

1 INTRODUÇÃO estabilização permite o uso de solos locais,


melhorando as propriedades geotécnicas, de
O uso de materiais cimentantes como a cal vem modo a enquadrá-los dentro das especificações
sendo empregados com sucesso na engenharia construtivas vigentes; uso qual é antigo e está
geotécnica para a estabilização e melhoramento sempre em processo de atualização,
mecânico em solos, principalmente de tipo principalmente a partir de 1945 (GUIMARÃES,
argilosos e em siltes. Em período recente, com 2002; LIMA et al, 1993). Esta pesquisa visou
o salto econômico vivenciado pelo país há quantificar os benefícios alcançados com a
alguns anos atrás, nota-se a necessidade de estabilização de solos com cal, visando o uso
infraestruturas e têm-se por exigência rodoviário e em barragens. As pesquisas atuais
construções que sejam técnica e têm encontrado a influência das quantidades de
economicamente viáveis, com o menor impacto materiais cimentantes no comportamento
ambiental possível. Frente a isso, verifica-se a mecânico desses tipos de solo, como as
necessidade de estudos em materiais e técnicas realizadas por Consoli et al. (2007) e Consoli et
pouco utilizadas regionalmente, como é o caso al. (2001) onde aplicam-se teores de 3%, 5%,
da estabilização dos solos com cal. A 7% e 9% de cal para estabilização. Os tipos de

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cal comumente usados para estabilizar solos 2.1 Materiais
finos são a cal hidratada com conteúdo alto de
cálcio e cal calcítica, cal dolomítica 2.1.1 Solo
monohidratada e cal viva dolomítica. O teor de
cal para usar na estabilização na maioria dos O solo usado para o presente estudo foi
solos varia entre o intervalo de 5 até 10%. coletado na terceira camada da formação
Quando se coloca cal nos solos argilosos, Guabirotuba no município de Fazenda Rio
acontecem duas reações químicas pozolânicas: Grande (PR), em um local de construção de
a troca de cátions e floculação-aglomeração das habitações populares, com localização
partículas (DAS, 2000). Os solos da formação geográfica 25°41'03.9"S e 49°18'32.5"W. O
geológica de Guabirotuba, localizados na solo é composto por 35,5% de argila (< 0,002
cidade de Curitiba-PR e região metropolitana, mm), 39,5% de silte (0,002 a 0,075 mm) e 25%
têm por sua granulometria a maioria de finos. de areia fina (0,074 a 0,42 mm). A Figura 1
Os solos de Guabirotuba não podem em grande mostra a curva granulométrica do solo. A
parte serem empregados para camadas de sub- umidade natural encontrada do solo in-situ é
base e base de pavimentação, para o suporte de próxima a 40%.
fundações superficiais como as sapatas e para
proteção de encostas. A técnica de 100
90
melhoramento desse solo também pode ser
80
utilizada nas fundações de edificações de
Portentagem passante (%)
70
pequeno porte, em solos com baixa capacidade 60
de suporte ou que apresentam baixa estabilidade 50
volumétrica. 40
Tais condições são problemáticas na medida 30
em que podem causar severas patologias na 20
edificação (INGLÊS e METCALF, 1972). A 10
resistência à compressão simples qu de um solo 0
0,001 0,01 0,1 1 10 100
de grão fino compactado em um teor de Diâmetro dos grãos (mm)
umidade ótima pode variar de 170 kPa a 2100 Figura 1. Curva Granulométrica do Solo
kPa, dependendo da natureza do solo. Com uma
adição de entre 3 a 5% de cal e um período de Mostra-se também na Tabela 1 as
cura de 28 dias, a resistência à compressão propriedades físicas do solo; segundo o Sistema
simples pode aumentar em 700 kPa ou mais Unificado de Classificação de Solos – SUCS –
(DAS, 2000). o solo é classificado como uma argila grossa
É de interesse fundamental o estudo do arenosa. A partir da curva granulométrica e da
melhoramento de solos locais de Curitiba em composição presente na Tabela 1 nota-se que o
quanto se podem aproveitar solos que não estão solo apresenta um limite de liquidez alto
sendo empregados por más propriedades físico- (53,1%), portanto o índice de plasticidade
mecânicas. Além disso, fazer uma pesquisa para indica que a argila é altamente plástica com
a construção de um banco de dados de locais de 21,3% (IP>15).
tais solos é essencial, para encontrar soluções
técnicas que sejam de fácil execução e Tabela 1. Propriedades físicas do solo
economicamente viáveis. Assim, esta pesquisa Valores
Propriedades Físicas
busca determinar a influência de diferentes Médios
teores de cal na resistência à compressão não Massa especifica real dos grãos, Gs 2,71 g/cm³
confinada qu e na resistência à tração por Areia fina 25%
Silte 39,5%
compressão diametral qt de um solo da
Argila 35,5%
formação geológica de Guabirotuba. Limite de liquidez, LL 53,1%
Limite de plasticidade, LP 31,8%
Índice de plasticidade, IP 21,3%
2 MATERIAIS E MÉTODOS

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2.1.2 Cal 2.2.2 Dosagem das misturas

A cal usada para o estudo foi uma cal hidratada De acordo com os ensaios de pH das misturas
dolomítica CH-III composta principalmente por solo-cal e tendo em consideração diferentes
hidróxidos de cálcio -Ca(OH)2- e magnésio- pesquisas sobre esse tema, definiu-se para o
Mg(OH)2-, produzida no município de presente estudo 5 teores de cal a usar (0%,3%,
Almirante Tamandaré, região metropolitana de 5%, 7% e 9%); incluindo o teor de 0% para
Curitiba. O percentual retido acumulado no verificar a variação da resistência em suas
diâmetro 0,075 mm foi de 9% (”15%, como propriedades físicas. O teor mínimo de cal
especifica a norma NBR 7175 de 2003). A usado foi definido em função da porcentagem
massa específica da cal é igual a 2,39 g/cm3. de cal que atingiu o máximo valor constante do
pH que de acordo à Figura 2 é de 3%. O ensaio
2.1.3 Água de resistência não confinada das misturas
constituiu como a principal variável de estudo e
A água empregada tanto para a moldagem de de avaliação. Dessa forma, são definidas as
corpos de prova como para os ensaios de propriedades dos corpos de prova a partir dos
caracterização do solo foi destilada conforme as ensaios de compactação.
especificações das normas, enquanto está livre
de impurezas e evita as reações não desejadas. 2.2.3 Ensaios de Compactação

2.2 Métodos Foram realizados ensaios de compactação do


solo nas três energias (normal, intermediaria e
2.2.1 Ensaio de pH modificada). A Figura 3 mostra as curvas de
compactação da argila estudada. A partir de
Para a realização das misturas de solo com a esses dados e tendo em consideração a natureza
cal, definiu-se qual é o menor teor que se pode de que o presente trabalho é uma fração de uma
utilizar para a mistura. Portanto, empregou-se a pesquisa mais extensa, a argila foi estudada e
metodologia proposta por Rogers et al. (1997), apresentada com as propriedades na
também chamada de método do ICL (Initial compactação normal. Assim, também foram
Comsumption of Lime), se refere a uma realizados ensaios de compactação com cada
variação do pH onde o teor mínimo de cal a teor de cal utilizado sob condição de energia
usar é aquele onde o pH atinge um valor normal. A Tabela 2 apresenta a variação do
constante máximo. A Figura 2 mostra a peso específico seco máximo e a umidade ótima
variação do pH das misturas com o teor de cal para os teores 3%,5%,7% e 9% de cal.
usado. Nota-se que alcança um valor máximo Nota-se que a variação é bem pequena
constante de 12,5 depois de chegar ao 3% de cal devido aos baixos teores utilizados. As
(teor mínimo a usar nas misturas). pesquisas apresentadas por Consoli et al.
(2007), onde trata o solo com cimento, e
14
12,2
Consoli et al. (2001) - que usa a cal de
12 carbureto como material cimentante para o solo
12,4 12,5 12,5 12,51 12,51 - pode-se notar que os pontos de moldagem
10
11
nestas pesquisas são estratégicos. Assim,
Standard solution variam-se a porosidade, o peso específico
Valor de pH

8
aparente seco e a umidade dos corpos de prova.
6

4 3,8

2
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Teor de cal (%)
Figura 2. Variação do pH com o teor de cal.

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Peso Específico Máximo (kN/m3)
17
E. Normal
camadas em um molde de aço inox com
16 E. Intermediária diâmetro interno de 50 mm, altura de 100 mm e
E. Mofificada espessura de 5mm, para atingir o peso
15 S=100% específico máximo aparente. Depois de ser
14
compactada a amostra é retirada do molde com
a ajuda de um extrator hidráulico, pesando-a em
13 sequência em uma balança de precisão de
12
0,01g; tomando-se suas dimensões com o uso
de um paquímetro. Logo após, eram envoltas
11 com plástico transparente para assegurar a
0 10 20 30 40 50 60
Teor de umidade, Z(%)
conservação da umidade. Por último, levam-se
os corpos de prova até a câmara úmida para
Figura 3. Curvas de compactação da argila.
processo de cura durante 30 dias, com
temperatura média de 25°C. Além disso, as
Tabela 2. Propriedades de compactação da argila com amostras tinham que respeitar as seguintes
diferentes teores de cal. condições para serem consideradas no ensaio de
Peso compressão simples e tração:
especifico seco Umidade
Teor de
ótima, - Dimensões das amostras: variações de
cal (%) máximo, diâmetro em ±0,5 mm e altura em ±1mm;
Ȧ (%)
Ȗdmax (kN/m3)
- Massa específica aparente seca (Ȗd ): dentro
3 1,358 32,5
de ±1% do valor alvo;
5 1,350 32,0
- Teor de umidade (w): dentro de ±0,5% do
7 1,350 31,5 valor alvo.
9 1,350 30,0 Os procedimentos dos ensaios de
compressão simples seguiram a norma
De acordo aos resultados se tomaram americana ASTM D 5102/96 e os de tração a
como pontos de moldagem os pontos ótimos norma ASTM C 496/C 496M – 04. Adota-se a
das curvas de compactação nas três energias do resistência à compressão não confinada ou
solo: (Energia Normal: EN, Energia simples (qu) como o quociente entre a carga de
Intermediária: EI e Energia Modificada: EM). ruptura (PR) e a área transversal (AT) do corpo
de prova (qu= PR/AT) e adota-se a resistência à
2.2.4 Ensaios de Compressão Simples e Tração tração por compressão diametral (qt) como o
por compressão diametral quociente entre a duas vezes carga de ruptura
(PR) e o produto entre PI (ʌ), o diâmetro e a
Para os ensaios de compressão simples e tração altura do corpo de prova (qt= 2PR/ ʌDL).
por compressão diametral foram moldados
corpos de prova de 100mm de altura e 50mm de 2.2.5 Ensaios de Sucção matricial
diâmetro. O silte foi secado totalmente em
estufa a 100±5°C e logo colocado em porções A sucção é um dos parâmetros que interferem
uniformemente distribuídas para serem na resistência do solo, já que é definida como a
misturadas com os diferentes teores de cal. capacidade do solo para reter a água. Assim, no
Coloca-se a quantidade de cal seca com presente trabalho se estudou a influência da
referência ao peso seco da amostra do silte. Por sucção matricial na resistência das misturas
seguinte, realiza-se a mistura de maneira que a solo-cal com o uso da técnica do papel filtro
mescla final torna-se a mais homogênea usada por Marinho (1995). Foram usadas as
possível. Uma porcentagem de peso de água foi amostras de solo (de 5 cm de diâmetro e 2,5 cm
adicionada na amostra de solo com cal e de espessura) que foram submetidas a
misturada novamente para atingir a umidade compressão e tração.
ótima.
As amostras para a moldagem dos corpos de
prova eram compactadas estaticamente em duas 3 RESULTADOS EXPERIMENTAIS

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energia de compactação e com o aumento do
3.1 Influência do teor de cal na resistência teor de cal usado.

A Figura 4 mostra os resultados dos ensaios à 600


compressão simples das amostras com cal. EN
500
Nota-se um aumento da resistência qu com o EI

aumento do teor de cal e com o aumento da 400 EM


energia de compactação. A maior resistência foi

qt (kPa)
alcançada com 9% de adição de cal, seguido 300

pelo 7%, 5%, 3% e 0%. Com 9% se obteve uma 200


resistência de 3000 kPa na energia modificada,
1900 kPa na energia intermediária e 800 kPa na 100
energia normal. Sem o uso da cal o solo não
0
teve desenvolvimento da resistência, sendo o 0 2 4 6 8 10
maior qu de 750 kPa na EM, 400 kPa na EI e Teor de cal, L (%)
305 kPa na EM. Assim, fazendo um Figura 5. Influência do teor de cal na resistência à tração
comparativo dos resultados de 0% e 9% se teve por compressão diametral.
acréscimos de 4qu na EN, 4,8qu na EI e 2,6qu na
As equações 4-6 mostram o
EI. As equações 1-3 descrevem o crescimento
comportamento da tração para qualquer teor de
de qu dependendo do teor de cal em 30 dias de
cal usado para os 30 dias de cura:
cura.
EN‫׵‬qt =12,70L+33,01 (R2 =0ǡ90)  (4)
3500

3000 EN EI‫ ׵‬qt =28,75L+30,33 (R2 =0ǡ95)  (5)


EI
2500
EM EM‫׵‬qt =45,63L+50,93 (R2 =0,94) (6)
2000
qu (kPa)

1500 Se obtiveram bons ajustes para as


1000 equações 1-6 com o menor coeficiente de
determinação de 0,90 e o melhor de 0,98.
500

0
0 2 4 6 8 10
3.2 Relação da resistência à compressão simples
Teor de cal, L (%) e a resistência à tração indireta
Figura 4.Influência do teor de cal em na resistência à
compressão simples. Os valores de qt e qu das Figuras 4 e 5 foram
plotados num mesmo plano cartesiano para
EN‫׵‬qu =58,71L+272,77 (R2 =0ǡ95)  (1) obter uma relação de qt em função de qu, a qual
é mostrada na Figura 6. O resultado amostra
EI‫׵‬qu =175,82L+426,6 (R2 =0ǡ95)  (2) uma relação constante entre tração e
compressão igual a 0,15, quer dizer que o valor
EM‫׵‬qu =256L+666,99 (R2 =0,98) (3) da tração é 15% do valor da compressão.
A Figura 5 apresenta os resultados da
resistência à tração por compressão diametral
com as diferentes energias de compactação e
com os diferentes teores de cal. A maior
resistência à tração foi obtida com o uso de 9%
cal na EN, seguida pela EI e EN. Obteve-se um
qt de 500 kPa com 9% na EM, 300 kPa na EI e
150 kPa na EN. Os valores de tração
apresentaram um acréscimo com o aumento da

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600
aumento linear com o aumento do teor da cal e
500
qt=0,15qu (R2=0,95) com o aumento do tempo de cura.
Existe uma relação constante entre tração e
400
compressão simples para o solo estudado com
qt (kPa)

300 cal em 30 dias de cura igual a 0,15. Em


200 contrapartida, o teor de cal mínimo a ser usado
está limitado pelas reações imediatas da cal com
100
o solo e pelo pH.
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
qu (kPa)
AGRADECIMENTOS
Figura 6. Relação entre resistência à compressão e tração.

3.2 Influência da sucção matricial Os autores agradecem o apoio do Programa de


Pós-Graduação em Engenharia Civil (PPGEC)
Depois de realizados os ensaios de compressão da Universidade Tecnológica Federal do Paraná
simples e tração por compressão diametral, foi (UTFPR), Campus Curitiba. Também
medida a sucção matricial mediante a técnica do agradecem o apoio financeiro da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
papel filtro. Os corpos de prova apresentaram Superior (CAPES), do Conselho Nacional de
uma variação de ±0,5% do teor de umidade Desenvolvimento Científico e Tecnológico
inicial, estando a saturação compreendida entre (CNPq) e da Fundação Araucária do Paraná.
80% e 82,5%. A sucção calculada com o papel
filtro apresentou resultados de 1% até 5,5% dos
valores da resistência à compressão e tração. REFERÊNCIAS
Pode-se concluir que para estes valores a sucção American Society For Testing Materials. ASTM D 5102.
não se torna em uma variável relevante para as (1996). Standard Test Method for Unconfined
análises do presente estudo. Compressive Strength of Compacted Soil-Lime
Mixtures.
American Society For Testing Materials. C. 496/C
496M–04. (2004). Splitting Tensile Strength of
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Cylindrical Concrete Specimens. American Society
for Testing and Materials (ASTM) Committee C, v. 9.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 7175.
Observa-se que a mistura solo-cal é uma
(2003). Cal hidratada para argamassas.
solução bastante eficaz para estabilizar solos, Consoli, N. C., Prietto, P. D. M., Carraro, J. A. H.,
principalmente quando o solo encontrado nos Heineck, K. S. (2001). Behavior of compacted soil-fly
locais de obra não atende aos requisitos ash-carbide lime mixtures. Journal of Geotechnical
exigidos para realização de obras de barragens e and Geoenvironmental Engineering, v. 127, n. 9, 774-
782.
pavimentação. O uso de cal em solos com
Consoli, N. C., Foppa, D., Festugato, L., & Heineck, K.
baixas capacidades mecânicas é de importância S. (2007). Key parameters for strength control of
significativa, pois a adição de cal ao solo artificially cemented soils. Journal of geotechnical
acrescentou em mais de 4 vezes a resistência à and geoenvironmental engineering. v. 133, n. 2, 197-
compressão simples e de 6 vezes a resistência à 205.
Das, B.M. (2000). Fundamentals of Geotechnical
tração do solo usado para a pesquisa.
Engineering, Brooks/Cole, Pacific.
Existe uma relação direta e proporcional Grove, CaliforniaGuimarães, J. E. P. (2002). A cal –
entre o teor de cal usado, o tempo de cura Fundamentos e aplicações na engenharia civil. 2. ed.,
empregado e a resistência à compressão São Paulo: Pini. 341p.
simples, elevando a resistência gradualmente Ingles, O. G.; Metcalf, J. B. (1972). Soil Stabilization. In:
Principles and Practice. Sidney: Butterworths. 374p.
em curto período de análise; com resultados
Lima, D. C.; Röhm, S. A.; Barbosa, P. S. A. (1993).
satisfatórios à compressão simples. Assim, a Estabilização dos solos III – mistura solo-cal para fins
resistência à compressão simples qu tem um rodoviários. 1. ed., Viçosa: Universidade Federal de
Viçosa, 46p.

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Marinho, F. A. M. (1995). Suction measurement through
filter paper technique. Proc., Unsaturated Soils
Seminar. Porto Alegre, Brazil: UFRGS.
Rogers, C. D. F.; Glendinning, S.; Roff, T. E. J. Lime
modification of clay soils for construction
expediency. Proceedings of the Institution of Civil
Engineers-Geotechnical Engineering, v. 125, n. 4, p.
242-249, 1997.

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Influência do Efeito da Compactação do Solo e da Rigidez do
Reforço no Dimensionamento de Estrutura de Contenção em Solo
Reforçado com Geogrelha
Gabriella de Andrade Coni
Universidade Católica do Salvador, Salvador, Brasil, conigabriella@gmail.com

Catharine Brandão
Universidade Católica do Salvador, Salvador, Brasil, catharine.reis@ucsal.br

RESUMO: No dimensionamento de estrutura de contenção em solo reforçado, os métodos


aplicados, em geral, desconsideram o efeito da compactação do solo e a rigidez do reforço.
Entretanto, ambos os fatores podem alterar os esforços de tração atuantes nos reforços. O objetivo
desde trabalho é dimensionar uma estrutura de contenção em solo-reforçado com geogrelha pelo
método de Ehrlich e Mitchell (1994) comparando o resultado obtido pelo resultado obtido pelo
método de Bishop. Serão utilizados dados da duplicação da Avenida Pinto de Aguiar como estudo
de caso. Concluiu-se que a tensão absorvida pelos reforços e a deformação da camada compactada
variam com a rigidez do reforço e com a energia induzida pela compactação, sendo importante
selecionar adequadamente o método para o dimensionamento da estrutura, a fim de garantir
qualidade técnica e economicidade.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Reforçado, Geossintético, Estrutura de Contenção

1 INTRODUÇÃO relativa entre solo-reforço influenciam na


distribuição e na magnitude dos esforços de
As estruturas de contenção em solo- tração desenvolvidos nos reforços (EHRLICH E
reforçado consistem na combinação do solo BECKER, 2009).
com elementos resistentes à tração, resultando Com o intuito de reduzir o tráfego, houve a
numa massa de solo com comportamento necessidade de duplicação da Avenida Pinto de
mecânico melhorado (BARRANTES, 2016). Aguiar, via que faz a ligação da orla de
A aplicação de geossintéticos como reforço Salvador com a Avenida Paralela. Para esta via,
de solo tem desempenhando uma importante foi necessária a construção de estruturas de
função por aumentar a estabilidade, a contenção em solo-reforçado com geogrelha,
capacidade de carga e possibilitar a construção projetadas pelo método de Bishop.
em condição de alta inclinação, reduzindo e Neste trabalho, uma estrutura de contenção
controlando os recalques, além de não exigir reforçada com geossintético construída na
mão de obra especializada, possibilitar avenida em estudo será dimensionada pelo
execução rápida e bom acabamento estético, método de Ehrlich e Mitchell (1994 a fim de
segundo Barrantes (2016). analisar a influência da compactação e da
Os muros e taludes reforçados com rigidez do reforço e comparar os resultados
geossintéticos são construídos através de obtidos com os de projeto.
camadas sucessivas que envolvem a instalação
do reforço e o lançamento e compactação do
solo de aterro até atingirem a altura prevista em
projeto. A energia de compactação e a rigidez

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2 ESTABILIDADE DE MACIÇOS deformações. A análise é apenas estática,
REFORÇADOS (MSR) enquanto na realidade, o processo é dinâmico.
A estrutura é considerada em situação de
O dimensionamento das estruturas de colapso iminente (MASSAD, 2003).
contenção em solo reforçado consiste na Os métodos baseados no equilíbrio limite
avaliação da estabilidade externa e interna. Na fazem a análise da estabilidade interna através
primeira, a massa de solo reforçada é do equilíbrio das forças atuantes, onde a tensão
considerada com o comportamento similar ao máxima em cada camada de reforço é
muro de gravidade e são verificados os quatro determinada a partir da força necessária para
mecanismos básicos de instabilidade, que são: atingir o equilibro local.
deslizamento ao longo da base da estrutura
reforçada, tombamento em torno do pé da 2.1.2 Condições de trabalho
estrutura, ruptura do solo de fundação e ruptura
global. Segundo Abramento e Whittle (1993) apud
Na verificação da estabilidade interna, existe Ehrlich e Becker, (2009, p. 55), apesar dos
a possibilidade de ocorrência da ruptura do métodos baseados em equilíbrio limite serem
elemento de reforço, podendo acontecer quando os mais difundidos para o dimensionamento
as solicitações mobilizadas no mesmo são das estruturas de contenção em solo reforçado,
superiores à sua resistência e da ruptura do na prática, não são confiáveis para estimar as
maciço por arrancamento do reforço, por tensões sob condições de trabalho. Isso se
insuficiência do comprimento de ancoragem. deve ao fato de que para equilíbrio limite leva-
Para evitar a ruptura dos reforços, o valor do se em consideração a resistência ao
esforço de tração máximo (Tmáx) atuante não cisalhamento do solo e a resistência à tração
deve ser superior ao menor valor esperado para do reforço, desconsiderando a rigidez do
resistência de projeto do geossintético (Td) e, reforço e o efeito da compactação do solo.
também, à resistência ao arrancamento do Entretanto, os métodos intitulados como
geossintético (Pr), embutido na zona resistente. baseados nas condições de trabalho levam em
(VERTEMATTI, 2015). conta o comportamento tensão-deformação da
A conexão entre a face da estrutura de massa reforçada.
contenção e os reforços deve garantir a De acordo Vertematti (2015), para
transferência de esforços. Geralmente, as determinação das tensões máximas nos
conexões possuem resistências menores que os reforços, considera-se para cada camada, a
reforços, contudo, as solicitações próximas à tensão atuante vertical (ı'z), a tensão vertical
face da estrutura tendem a ser menores do que máxima após a compactação (ı'zc) e o
Tmáx. Para garantir a eficiência da conexão e parâmetro ȕ, que reflete a deformabilidade dos
evitar o desprendimento da face, a resistência reforços. O parâmetro ȕ pode ser definido
admissível da conexão deve ser superior a segundo a Equação 1.
máxima tensão junto à face (To).
(VERTEMATTI, 2015) ሺఙᇱ௭௖Ȁ௉௔ሻ೙
ߚൌ (1)
ௌ௜

2.1 Métodos para análise de estabilidade interna Onde:


de MSR ௃௥
ܵ݅ ൌ (2)
௄Ǥ௉௔Ǥௌ௩
2.1.1 Equilíbrio limite
Jr: modulo de rigidez do reforço à tração;
Os métodos baseados em equilíbrio limite Sv: espaçamento vertical do reforço [m];
partem dos pressupostos que o fator de K: módulo tangente inicial do solo do modelo
segurança ao longo da linha de ruptura é único; hiperbólico adimensional;
o comportamento do solo é rígido-plástico e N: o módulo expoente da curva tensão-
rompe-se bruscamente sem apresentar deformação do solo;

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Si: índice de rigidez relativa do solo-reforço; ao arrancamento (Equação 4) por unidade de
Pa: pressão atmosférica. comprimento transversal do reforço (Pr).

O índice de rigidez relativo do geossintético ܲ‫ ݎ‬ൌ ʹ‫כ ܨ‬Ǥ ߙǤ ߪ ᇱ ‫ݖ‬Ǥ ‫ ݁ܮ‬൒ ‫ܵܨ‬Ǥ ܶ݉ž‫ ݔ‬ሺͶሻ
está relacionado com a área da seção transversal
dos reforços. Para determinação de Tmáx no Le: comprimento do reforço na zona resistente
geossintético é realizado um processo iterativo. (além da superfície potencial de ruptura);
Para reforços mais rígidos, há maior absorção ߙ: fator de correção do efeito de escala;
de tensões e menor deformação, isto é menor o ߪ ᇱ ‫ݖ‬: tensão vertical efetiva na interface solo -
valor de ȕ. (VERTEMATTI, 2015). reforço.
Para calcular a força de tração máxima O fator de resistência ao arrancamento,
(Tmáx), utiliza-se o ábaco proposto por Dantas F*, é determinado conforme a Equação 5:
e Ehrlich (2000a), conforme Figura 1.
‫כ ܨ‬ൌ ݂ܽǤ ‫׎݊ܽݐ‬ሺͷሻ

݂ܽ : coeficiente de aderência;
Ø: ângulo de atrito do solo.

A compactação reduz o volume de vazios, a


compressibilidade e a permeabilidade,
entretanto aumenta a resistência mecânica.
A tensão gerada pela compactação é
denominada de máxima tensão vertical efetiva
(ߪ ᇱ ‫ܿݖ‬ǡ ݅), que é induzida durante a operação do
equipamento de compactação (VERTEMATTI,
2015). De acordo com Ehrlich e Mitchell
(1994) apud Vertematti (2015), o efeito da
compactação só deixa de prevalecer no solo se
for inferior à tensão ሺߪ ᇱ ‫ݖ‬ሻ atuante na camada. A
tensão gerada pela compactação com uso de
rolos compactadores é estimada com base na
teoria de capacidade de carga (Equação 6).
Figura 1: Ábaco para determinação de “Ȥ”, Dantas e
ଵ ொǤே௬
Ehrlich (2000a) apud Ehrlich e Becker (2009). ߪ ᇱ ‫ܿݖ‬ǡ ݅ ൌ ሺͳ െ ‫݋ݒ‬ሻǤ ሺͳ ൅ ݇ܽሻǤ ටሺ Ǥ ‫ ݕ‬ᇱ Ǥ
ଶ ௅
ሻ (6)

Com o ângulo de atrito, ȕ e ı'z/ı'zc para Ka: coeficiente de empuxo ativo (Rankine);
cada camada e determinando o “Ȥ”, pode-se Y’: peso específico do solo compactado;
calcular o Tmáx, conforme Equação 3. L: comprimento do tambor do rolo;
Ny: coeficiente de capacidade de carga do solo;

ܺൌ (3) Vo: coeficiente de Poisson no repouso;
ௌ௩Ǥௌ௛Ǥఙᇱ௭௖

Peralta (2007) comparou as forças de tração


Sv: espaçamento vertical entre reforços [m]; máxima obtidas por métodos baseados em
Sh: espaçamento horizontal entre reforços [m]; equilíbrio limite com as obtidas por método de
ߪԢ‫ܿݖ‬: tensão vertical máxima, incluindo a Ehrlich e Mitchell (1994), bem como com as
compactação [kN/m]; forças de tração medidas em ensaios de campo
T: força de tração máxima [kN/m]. realizados em três estruturas de contenção em
solo reforçado construídas no Brasil. Os
Christopher et.al., (1990) apud Vertematti, resultados demostraram que as forças de tração
(2015), propõem a determinação da resistência máxima previstas pelo método de Ehrlich e
Mitchell (1994) são superiores às medidas em

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campo, favorecendo a segurança da estrutura. como silte argiloso, com pedregulho e mica rija
No entanto, para os dez métodos baseados em e média, de coloração marrom.
equilíbrio limite utilizados, houve uma O solo de aterro foi classificado como areia-
distorção maior em relação aos esforços de siltosa e o ângulo de atrito e coesão estão
tração medidos em campo, subestimando - os apresentados no Quadro 1.
ou superestimando – os.
As limitações consideradas para os métodos
baseados no equilíbrio limite, são: o fator de ࣥ ह C
segurança é adotado como constante ao longo Solodefundação 19kPa 22° 20kPa
Aterro 19kPa 30° 0kPa
da superfície de ruptura, contudo, essa hipótese
só é verdadeira na ruptura quando o fator de Quadro 1: Dados do solo.
segurança é igual a 1; é um método estático,
não levando em consideração as deformações e No trecho 1, o projeto indica que houve a
as distribuições de tensões; as superfícies de construção de um muro de 6,0 m de altura
ruptura não são bem conhecidas; a estrutura não reforçado com geogrelha de poliéster. A face
está em situação de colapso iminente, na forma um ângulo de 70° com a horizontal
verdade, as estruturas em solo-reforçado (Figura 2).
trabalham distantes da condição de ruptura;
desconsidera o efeito da compactação do solo e
da rigidez do reforço (EHRLICH E BECKER,
2009)

3 ESTUDO DE CASO

Neste trabalho, será avaliada a duplicação da


Avenida Pinto de Aguiar, que está localizada no
bairro de Pituaçu, Salvador-Ba. Ao realizar o
levantamento topográfico da região, constatou-
se a necessidade de construção de um talude de
aterro, para vencer o desnível do terreno e Figura 2: Duplicação da Av. Pinto de Aguiar, arquivo da
empresa Maccaferri cedido à autora (2017)
possibilitar a construção da nova via. A solução
adotada pelo projetista, da empresa Maccaferri,
que forneceu os dados, foi executar uma A geogrelha selecionada foi a MacGrid WG
contenção em aterro reforçado com 90, aplicada com 5 m de comprimento para as
geossintético (MSR). camadas superiores e com 6 m de comprimento
O MRS foi dimensionado por método para as camadas inferiores, espaçadas a cada 50
baseado em equilíbrio limite, através do cm de altura em camadas de solo compactado
MacStars 2000, software desenvolvido pela de 34 m de extensão.
Maccaferri. O método utilizado foi o de Bishop, As camadas de aterramento foram
em que a resistência à tração do geossintético é compactadas com rolo compactador pé de
usada para atingir o equilíbrio local. Além carneiro vibratório até atingir o grau de
disso, admite - se a superfície de ruptura compactação mínimo de 98% em relação à
circular e as resultantes das forças de iteração energia de proctor normal. Junto a face, a
entre as fatias são consideradas horizontais. compactação ocorreu com o uso de placas
A via estudada é dividida em 12 trechos. vibratórias, para evitar danos pela proximidade
Para esse estudo, selecionou-se o Trecho 1 do rolo compactador. Para o acabamento da
identificado como EN2 – Orla Paralela. A face foram utilizados sacos preenchidos com
sondagem à percussão foi realizada em 6 m de solo-cimento e, em seguida, concreto projetado.
profundida e o solo de fundação foi classificado
3.1 Dimensionamento do Trecho 1 pelo Método
de Ehrlich e Mitchell

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A resistência do reforço do trecho 1 – EN2 Para calcular o fator de segurança na ruptura
foi determinada na estabilidade interna pelo divide-se a resistência de projeto do
método de Ehrlich e Mitchell (1994). geossintético pelo maior valor de tração
Considerou-se uma sobrecarga distribuída de 20 requerida em projeto. O valor calculado de 2,0
KPa referente a sobrecarga de utilização da atende, pois é superior ao valor mínimo
área, visando atender aos fatores de segurança estabelecido de 1,5. Neste trabalho, foram
(FS) mínimos para estabilidade interna de 1,5 necessárias somente duas iterações.
para ruptura e arrancamento do reforço. Para refinar os cálculos, deve ser realizado
Considerou-se o rolo compactador Dynapac mais uma iteração, com um novo índice de
CA250PD, com peso de 72,6 kN e largura de rigidez (Si), que, neste caso, foi equivalente a
2,13 m. Para evitar o arrancamento, o 0,07. Se o reforço escolhido para a primeira
comprimento total de reforço (Lr) foi calculado iteração também atender aos valores de Tmáx,
como 80% da altura do muro, resultando em um calculados na segunda iteração, encerram-se os
comprimento de 4,80 m. cálculos. Caso contrário, escolhe-se um novo
O índice de rigidez para geogrelha de reforço e realiza-se mais uma iteração, até que o
poliéster pode variar de 0,03 a 0,12. Neste reforço selecionado atenda a duas iterações
trabalho, foi adotado para a primeira iteração, Si consecutivas. O Quadro 3 apresenta os valores
= 0,03 (VERTEMATTI, 2015). Os parâmetros de Tmáx obtidos na segunda iteração para cada
k e n foram adotados conforme propostos por camada de reforço.
Duncan et al. (1980), como 150 e 0,25, Para determinar a resistência ao
respectivamente (EHRLICH; BECKER, 2009). arrancamento, foram adotados 0,8 e 0,7 para os
Através do Tmáx calculado, no Quadro 2, foi parâmetros de Fa e Į, respectivamente. Através
possível estabelecer as características do Quadro 3, é possível observar que o fator de
requeridas para a geogrelha. Foi selecionado o segurança mínimo contra o arrancamento de 1,5
reforço MacGrid WG 90, com resistência à foi atendido para todos os níveis de reforço.
tração de 90 kN/m e rigidez de 803 kN/m. Para
a determinação da resistência de projeto da
geogrelha foi adotado o fator de redução global
de 1,69 fornecido pela fabricante do
geossintético.

Quadro 2: Primeira iteração para determinação Tmáx.


Camadas Sv Profundidad ı'zc, i
de reforço (m) e (m)
Si Jr (m) Lr (m) ı'z (Kpa)
(Kpa) ı'zc (Kpa) ı'z/ı'zc ȕ X (Ábaco)Tmáx (KN)

12 0,5 0,5 0,03 227,97 4,8 29,97 65,04 65,04 0,46 29,85 0,25 8,13
11 0,5 1 0,03 227,97 4,8 40,10 65,04 65,04 0,62 29,85 0,25 8,13
10 0,5 1,5 0,03 227,97 4,8 50,64 65,04 65,04 0,78 29,85 0,25 8,13
9 0,5 2 0,03 227,97 4,8 61,74 65,04 65,04 0,95 29,85 0,25 8,13
8 0,5 2,5 0,03 227,97 4,8 73,53 65,04 73,53 1,00 30,78 0,24 8,82
7 0,5 3 0,03 227,97 4,8 86,20 65,04 86,20 1,00 32,02 0,23 9,91
6 0,5 3,5 0,03 227,97 4,8 99,97 65,04 99,97 1,00 33,23 0,23 11,50
5 0,5 4 0,03 227,97 4,8 115,10 65,04 115,10 1,00 34,42 0,23 13,24
4 0,5 4,5 0,03 227,97 4,8 131,94 65,04 131,94 1,00 35,62 0,22 14,51
3 0,5 5 0,03 227,97 4,8 150,94 65,04 150,94 1,00 36,84 0,22 16,60
2 0,5 5,5 0,03 227,97 4,8 172,70 65,04 172,70 1,00 38,10 0,21 18,13
1 (base) 0,5 6,0 0,03 227,97 4,8 198,02 65,04 198,02 1,00 39,43 0,21 20,79

Quadro 3: Segunda iteração para determinação Tmáx.


Camadas Sv Profundidad ı'zc, i
Si Jr (m) Lr (m) ı'z/ı'zc ȕ X (Ábaco) Tmáx (KN) Le Pr KN/m FS
de reforço (m) e (m) ı'z (Kpa) (Kpa) ı'zc (Kpa)
12 0,5 0,5 0,07 531,93 4,8 29,97 65,04 65,04 0,46 12,81 0,24 7,80 3,65 70,35 9,01
11 0,5 1 0,07 531,93 4,8 40,10 65,04 65,04 0,62 12,81 0,25 8,13 3,75 96,84 11,91
10 0,5 1,5 0,07 531,93 4,8 50,64 65,04 65,04 0,78 12,81 0,25 8,13 3,86 125,73 15,47
9 0,5 2 0,07 531,93 4,8 61,74 65,04 65,04 0,95 12,81 0,26 8,46 3,96 157,45 18,62
8 0,5 2,5 0,07 531,93 4,8 73,53 65,04 73,53 1,00 13,21 0,26 9,56 4,07 192,50 20,14
7 0,5 3 0,07 531,93 4,8 86,20 65,04 86,20 1,00 13,74 0,26 11,21 4,17 231,50 20,66
6 0,5 3,5 0,07 531,93 4,8 99,97 65,04 99,97 1,00 14,26 0,26 13,00 4,28 275,22 21,18
5 0,5 4 0,07 531,93 4,8 115,10 65,04 115,10 1,00 14,77 0,26 14,96 4,38 324,66 21,70
4 0,5 4,5 0,07 531,93 4,8 131,94 65,04 131,94 1,00 15,29 0,27 17,81 4,49 381,09 21,40
3 0,5
GEOCENTRO2017, 5Goiânia/GO,
0,07 531,93
Brasil. 4,8 150,94 65,04 150,94 1,00 15,81 0,27 20,38 4,59 446,18 21,90
2 0,5 5,5 0,07 531,93 4,8 172,70 65,04 172,70 1,00 16,35 0,27 23,31 4,70 522,17 
22,40
1 (base) 0,5 6,0 0,07 531,93 4,8 198,02 65,04 198,02 1,00 16,92 0,27 26,73 4,80 612,13 22,90

4 ANÁLISE E CONCLUSÕES Através do dimensionamento por um método
diferente do utilizado pelo software e com
Na primeira iteração para índice de rigidez análise comparativa dos resultados obtidos com
de 0,03, os valores de ȕ foram superiores ao da cada método, é possível afirmar que a
segunda iteração, onde foi empregado índice de compactação do solo e a rigidez do reforço
rigidez de 0,07. Foi observado, que quando geram variação nas tensões de tração
alterado o índice de rigidez de 0,03 para 0,07, desenvolvidas nos reforços e devem ser levados
as tensões horizontais aumentaram. em consideração no dimensionamento da
Assim, pode-se inferir que o índice de estrutura de contenção em solo-reforçado.
rigidez do geossintético influenciou diretamente
no parâmetro ȕ. Desse modo, quanto mais
rígido for o reforço, menores serão as AGRADECIMENTOS
deformações das camadas compactadas e
maiores os esforços de tração desenvolvidos Os autores agradecem à empresa Maccaferri
nos reforços. por contribuir com os dados do estudo de caso.
O esforço de tração máxima determinado
através do MacStars 2000 foi de 47,43 kN/m. O
mesmo esforço determinado pelo método de REFERÊNCIAS
Ehrlich e Mitchell (1994) resultou em 26,73
kN/m. A discrepância entre os resultados Barrantes, M. (2016) Comparações entre Métodos de
obtidos para tração, já era esperado, pois os Cálculo de Esforços de Tração Em Muros Reforçados
métodos têm pressupostos diferentes. Vale com Geossintéticos. Universidade de Brasília,
ressaltar que a Geogrelha MacGrid WG 90 Brasília.
Ehrlich, M.; Becker, L. (2009) Muros e taludes de solo
utilizada na estrutura de contenção da via Pinto
reforçado. São Paulo, Editora Oficina de Textos.
de Aguiar atendeu quanto à resistência para Massad, F. (2003) Obras de Terra. 2ed. São Paulo,
ambos os métodos de dimensionamento. Editora Oficina de Textos. 2003.
O efeito da compactação variou com a Peralta F.N.G. (2007) Comparação de Métodos de
profundidade do maciço, sendo mais atuante Projeto para Muros de Solo Reforçado com
Geossintéticos. 162 f. Dissertação (Mestrado) –
nas camadas superficiais do solo (camada 9 a
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
12). Isto se dá porque na superfície, as tensões Rio de Janeiro.
geradas pela compactação superam as tensões Vertematti, J. C. (2015) Manual Brasileiro de
geostáticas geradas pelo peso das camadas. Geossintéticos. 2. ed. São Paulo: Blucher.
A depender da energia de compactação
utilizada, as tensões horizontais desenvolvidas
podem ser superiores às tensões provenientes
do peso próprio do solo, acarretando esforços
de tração superiores nos reforços. Mas, como o
efeito da compactação do solo só foi
predominante em poucas camadas superficiais
deste estudo de caso, acredita-se que o
dimensionamento pelo método baseado em
equilíbrio limite superestimou os esforços de
tração, não comprometendo a segurança da
estrutura.
Na obra em que a estrutura de contenção
dimensionada foi construída, não foi realizado
ensaios de prova de carga para medir os
esforços de tração em campo, para fins de
comparações. Por isso, não é possível afirmar
qual dos métodos apresenta uma menor
discrepância com os esforços desenvolvidos em
campo.

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Melhoramento de Solos com Cal: Análise por meio de Árvores de
Decisão e Regras de Associação
Philippe Barbosa Silva
Instituto Federal Goiano, Rio Verde, Brasil, philippe.silva@ifgoiano.edu.br

Rosemary Janneth Llanque Ayala


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, jannethllanque@gmail.com

RESUMO: Dadas as potencialidades de emprego dos solos melhorados, o presente trabalho objetivou
analisar os dados de ensaios de solos melhorados com cal, por meio de Árvores de Decisão (AD) e
Regras de Associação, permitindo a classificação de quais variáveis (atributos) são mais
significativos no comportamento mecânico dos solos. Foram utilizados os dados obtidos em ensaios
laboratoriais de mistura de solo e cal dos tipos I e III. Como resultado, verificou-se a adequação das
técnicas ao problema em estudo, revelando ainda que a técnica de AD conduziu à melhores resultados.
De toda forma, o desempenho dos modelos pode ser melhorado mediante ajustes e incrementos de
dados de entrada.

PALAVRAS-CHAVE: Solo-cal, Solos melhorados, Árvores de Decisão, Regras de Associação.

1 INTRODUÇÃO corresponde a uma classe; ii) ou um nó de


decisão, que contém um teste sobre algum
Inúmeras técnicas de inteligência artificial atributo. Para cada resultado do teste, existe uma
podem ser utilizadas para a resolução de aresta para uma sub-árvore. Cada sub-árvore tem
problemas em diversas áreas. Neste trabalho, far- a mesma estrutura da árvore (PEREZ, 2012 ).
se-á a abordagem de Árvores de Decisão e A sua estrutura é fácil de entender e de
Regras de Associação. assimilar. Dividem-se os dados em subgrupos,
com base nos valores das variáveis. O resultado
1.1 Árvores de Decisão é uma hierarquia de declarações tipo “Se ... então
...” que são utilizadas, principalmente, para
Em se tratando do Aprendizado de Máquina classificar dados (BISPO, 1998).
(AM), um dos grandes desafios é desenvolver e O algoritmo básico de construção de uma
aplicar processos computacionais automáticos árvore de decisão é simples. Consiste em: utilizar
de extração de conhecimento a partir de grandes o conjunto de treinamento, escolher um atributo
volumes de dados e informações, criando de forma a particionar os exemplos em
modelos capazes de explicar fenômenos subconjuntos, de acordo com valores desse
estudados. A mineração de dados procura por atributo. Em cada subconjunto, outro atributo é
soluções, que podem ter diferentes objetivos e escolhido para particionar novamente cada um
complexidade e usualmente, valem-se de deles. Cada escolha de atributo representa um
algoritmos de AM. Nessa tarefa os teste realizado em um nó interno da árvore, ou
classificadores simbólicos dão importante seja, cada nó interno executa um teste em apenas
contribuição, destacando-se no presente trabalho um atributo e tem dois ou mais ramos, cada um
as Árvores de Decisão – AD – (PEREZ, 2012). representando um possível resultado do teste.
Uma Árvore de Decisão é uma estrutura de Este processo prossegue enquanto um dado
dados definida como: i) um nó folha que subconjunto criado contenha uma mistura de

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exemplos com relação aos rótulos de classe.
Uma vez obtido um subconjunto uniforme, em O objetivo do trabalho é analisar os dados
que todos os exemplos daquele subconjunto ensaios de solos melhorados com cal, por meio
pertençam à mesma classe, um nó folha é criado, do uso das técnicas de Árvores de Decisão e
sendo rotulado com o mesmo nome da respectiva Regras de Associação, permitindo a
classe. A rotulação de um novo exemplo segue o classificação de quais variáveis são mais
procedimento: partindo do nó raiz, testes são relevantes no comportamento mecânico dos
realizados e, de acordo com seus resultados, o solos.
exemplo caminha para baixo na árvore até
encontrar um nó folha, recebendo, então, seu
rótulo (QUILAN, 1986; PEREZ, 2012). 3 MATERIAL E MÉTODO

1.2 Regras de Associação O objeto de estudo são os dados de ensaios de


solos melhorados com cal. O estudo foi realizado
Regras de Associação representam combinações em laboratório utilizando-se equipamentos
de itens que ocorrem simultaneamente com convencionais como estufa e equipamento de
determinada frequência em uma base de dados, compactação miniatura. Os ensaios foram
sendo um dos padrões mais comuns descoberto realizados utilizando-se como material de
por meio do processo de mineração de dados mistura a cal tipo I e tipo III em diferentes teores
(GONÇALVES, 2005). e um solo argiloso, variando-se a umidade para
A identificação de regras de associação cada ponto. Utilizou-se nos ensaios a
faculta a análise de relações entre diferentes compactação do solo argiloso puro e da mistura
dados, possibilitando perceber padrões úteis para solo argiloso-cal em diferentes teores.
resolução de problemas. Desta forma, a O solo foi coletado a 3,0 m de profundidade
mineração de Regras de Associação pesquisa no Campo Experimental do Programa de Pós-
relacionamentos interessantes entre itens em um Graduação em Geotecnia da Universidade de
dado banco de dados, permitindo que as regras Brasília e é constituído por uma argila arenosa
geradas sejam indicadores valiosos no processo vermelha escura.
de tomada de decisão (HAN e KAMBER, 2000). Esse solo apresenta limite de liquidez igual a
O principal algoritmo utilizado para regra de 36%, limite de plasticidade igual a 26% e índice
associação é o Apriori. Este algoritmo se baseia de plasticidade igual a 10.
na anti-monotonicidade da medida do suporte, o A Figura 1 apresenta os resultados
que significa que se um conjunto de itens é granulométricos obtidos mediante ensaio de
frequente, então todos os seus subconjuntos granulometria. A densidade real dos grãos desse
também devem ser frequentes. O nome do solo foi de 2,65.
algoritmo foi definido por considerar que ele usa
o conhecimento prévio das propriedades
(itemset) frequentes para gerar novos (itemsets)
candidatos. Para tanto ele utiliza uma abordagem
iterativa que busca os (itemsets) candidatos,
onde (k-itemsets) são usados para explorar
(k+1)-itemsets. Dessa forma, o Apriori se divide
em duas etapas: i) encontrar todos os conjuntos
de itens (itemsets) que tenha suporte acima do
suporte mínimo; ii) a partir do conjunto de itens
frequentes gerados na etapa anterior, gerar regras
de associação que tenham confiança acima da Figura 1. Curva granulométrica do solo.
confiança mínima (HAN e KAMBER, 2000;
XAVIER, 2010). Para melhorar as características de resistência
mecânica do solo, pretende-se estabilizá-lo
2 OBJETIVO quimicamente com adição de cal em diferentes

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teores até alcançar uma densidade ótima. Para dos dados por meio da técnica de Árvores de
poder identificar o melhor teor de cal no solo Decisão e de Regras de Associação.
geralmente, são construídos gráficos de
compactação que permitem identificar a melhor
mistura. 4 RESULTADOS
Na Figura 2, pode-se apreciar os gráficos de
compactação de três ensaios de compactação A seguir são apresentados os procedimentos
(solo-cal) realizados em laboratório. executados para análise dos dados mediante as
duas técnicas.

4.1 Árvores de Decisão

Um total de 24 casos são utilizados para o


treinamento da árvore. São considerados 5
atributos (tipo, umidade, densidade, ponto, cal)
para serem avaliados e poder conhecer e
recomendar qual a melhor combinação solo-cal.
Na Figura 3 observam-se os 24 casos e os
atributos a serem analisados mediante o uso do
programa de mineração de dados.
Paralelamente, também foi realizado um
cálculo manual da raiz da árvore. Para conferir
Figura 2. Curvas de compactação da mistura solo-cal. os resultados do programa. Em seguida, foi
escolhido o algoritmo de árvore utilizado, neste
O problema se dá quando existem muitos estudo o J48, mais comum.
casos de curvas de compactação para diferentes Na Figura 4 está apresentada a representação
tipos e variação do teor da cal no solo. Para gráfica da árvore. Além disso, o sistema
facilitar esta análise de resultados, foi utilizada a forneceu as medidas de desempenho da árvore
ferramenta WEKA. gerada, a qual apresentou taxa de acerto ou
Para um conhecimento inicial do programa Recall (ou sensibilidade - indicador que mede a
foi realizado o treinamento prévio, com dados de capacidade de se predizer uma classe positiva
quatro ensaios. A Tabela 1 apresenta a descrição cuja predição está correta, ou seja, ela indica
da composição das quatro amostras ensaiadas e quantos exemplos positivos foram previstos do
a variação da umidade para obtenção de total de exemplos) de 79,2%, Precision (ou
diferentes densidades do solo em laboratório. precisão - calcula a probabilidade da predição
positiva estar correta em relação a todas as
Tabela 1. Amostras de solo ensaiadas.
Variação de amostras) de 84,5% e F-measure (combinação
Amostra Teor de cal balanceada das medidas de precisão e
umidade
de solo
4% 6% 10% N. pontos sensibilidade) de 76,7%.
1 - - - 5
2 8 5
3 12 5
4 20 5

Mediante a execução destes ensaios pretende-


se encontrar um conjunto de dados para cada
caso e mediante a elaboração de árvores de
decisão entender qual o melhor composto de
solo-cal.
Dessa forma, para atender ao objetivo do
trabalho, se procederá ao uso do software
WEKA versão 3.8 para análise e classificação

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# Tipo w (%) d (kN/m3) Ponto Cal Tabela 2. Melhores regras de associação geradas.
1 SEM_CAL u14.04 d14.00 curva 0.00% 1. Cal =0.00% 6 ==> Tipo=SEM_CAL 6 <conf:(1)>
2 SEM_CAL u14.04 d15.00 curva 0.00% lift:(4) lev:(0.19) [4] conv:(4.5)
3 SEM_CAL u16.04 d15.00 curva 0.00% 2. Tipo=SEM_CAL 6 ==> Cal =0.00% 6 <conf:(1)>
lift:(4) lev:(0.19) [4] conv:(4.5)
4 SEM_CAL u18.04 d15.00 ótimo 0.00%
3. w (%)=u24.04 6 ==> Tipo=COM_CAL 6
5 SEM_CAL u20.04 d15.00 curva 0.00%
<conf:(1)> lift:(1.33) lev:(0.06) [1] conv:(1.5)
6 COM_CAL u20.04 d14.00 curva 6.00% 4. Cal =6.00% 6 ==> Tipo=COM_CAL 6 <conf:(1)>
7 COM_CAL u20.04 d15.00 curva 4.00% lift:(1.33) lev:(0.06) [1] conv:(1.5)
8 COM_CAL u20.04 d13.00 curva 10.00% 5. Cal =4.00% 6 ==> Tipo=COM_CAL 6 <conf:(1)>
9 COM_CAL u20.04 d15.00 curva 6.00% lift:(1.33) lev:(0.06) [1] conv:(1.5)
10 SEM_CAL u20.04 d14.00 curva 0.00% 6. Cal =10.00% 6 ==> Tipo=COM_CAL 6 <conf:(1)>
11 COM_CAL u22.04 d15.00 curva 6.00% lift:(1.33) lev:(0.06) [1] conv:(1.5)
12 COM_CAL u22.04 d15.00 ótimo 6.00% 7. w (%)=u20.04 6 ==> Ponto=curva 6 <conf:(1)>
13 COM_CAL u24.04 d16.00 curva 4.00% lift:(1.2) lev:(0.04) [0] conv:(1)
14 COM_CAL u24.04 d16.00 ótimo 4.00% 8. Ponto=curva Cal =0.00% 5 ==> Tipo=SEM_CAL 5
<conf:(1)> lift:(4) lev:(0.16) [3] conv:(3.75)
15 COM_CAL u24.04 d14.00 curva 10.00%
9. Tipo=SEM_CAL Ponto=curva 5 ==> Cal =0.00% 5
16 COM_CAL u24.04 d15.00 curva 6.00%
<conf:(1)> lift:(4) lev:(0.16) [3] conv:(3.75)
17 COM_CAL u24.04 d15.00 curva 4.00% 10. w (%)=u24.04 Ponto=curva 5 ==>
18 COM_CAL u24.04 d14.00 curva 10.00% Tipo=COM_CAL 5 <conf:(1)> lift:(1.33) lev:(0.05)
19 COM_CAL u26.04 d15.00 curva 6.00% [1] conv:(1.25)
20 COM_CAL u26.04 d14.00 ótimo 10.00% 11. d (kN/m3) =d14.00 Cal =10.00% 5 ==>
21 COM_CAL u28.04 d14.00 curva 10.00% Tipo=COM_CAL 5 <conf:(1)> lift:(1.33) lev:(0.05)
22 COM_CAL u28.04 d14.00 curva 10.00% [1] conv:(1.25)
23 COM_CAL u28.04 d14.00 curva 4.00% 12. d (kN/m3) =d15.00 Cal =6.00% 5 ==>
24 COM_CAL u28.04 d14.00 curva 4.00% Tipo=COM_CAL 5 <conf:(1)> lift:(1.33) lev:(0.05)
[1] conv:(1.25)
13. Ponto=curva Cal =6.00% 5 ==> Tipo=COM_CAL
Figura 3. Dados de entrada para treinamento da árvore. 5 <conf:(1)> lift:(1.33) lev:(0.05) [1] conv:(1.25)
14. Ponto=curva Cal =4.00% 5 ==> Tipo=COM_CAL
5 <conf:(1)> lift:(1.33) lev:(0.05) [1] conv:(1.25)
15. Ponto=curva Cal =10.00% 5 ==> Tipo=COM_CAL
5 <conf:(1)> lift:(1.33) lev:(0.05) [1] conv:(1.25)

5 ANÁLISE DE RESULTADOS

Da análise dos resultados da árvore de decisão,


depreendeu-se que:
Figura 4. Representação da árvore gerada. x Um valor de 13 kN/m3 de densidade
específica na mistura é apresentada para
4.2 Regras de Associação um teor de cal de 10% (em um caso
identificado como curva);
Da mesma forma que as Árvores de Decisão, x Um valor de 14 kN/m3 de densidade
neste caso foram utilizadas as mesmas 24 específica na mistura é apresentada para
instâncias e os 5 atributos. Para as Regras de um teor de cal de 10% (em quatro pontos
Associação utilizou-se o algoritmo Apriori e fez- identificados como curva e um
se a seleção das 15 melhores regras geradas, identificado como ponto ótimo);
apresentadas na Tabela 2. x Um valor de 15 kN/m3 de densidade
específica na mistura é apresentada para
um teor de cal de 10% (em seis pontos
identificados como curva e dois
identificado como ponto ótimo);
x Um valor de 16 kN/m3 de densidade
específica na mistura é apresentada para

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um teor de cal de 4% (em um caso Estas duas últimas regras de associação
identificado como curva). seriam as que melhor explicariam a classificação
Sendo os pontos ótimos que interessam, é dos atributos e facilitariam a tomada de decisão.
possível identificar duas curvas com densidade Com base na análise dos dados em geral, é
média de 15 kN/m3 nos pontos ótimos. Aquela possível confirmar que as misturas de teor de cal
densidade máxima identificada no teor 4% de com 6% fornecem melhores resultados quando
cal, é um ponto de curva, o que poderia se definir comparados a misturas com outros teores de cal.
como um erro de ensaio, sendo que é um valor No entanto é necessário a implementação de
superior ao ponto ótimo. outros atributos que ajudem a confirmar melhor
Assim, os teores que apresentaram melhor estes resultados.
comportamento foras os de amostras de solo com Os resultados possibilitaram, portanto,
4% e 6% de cal. verificar o cumprimento do objetivo do estudo,
Esta apresentação de um resultado ótimo demonstrando o potencial de utilização das
duplo pode induzir à necessidade de coletar árvores de decisão e regras de associação para
outros dados que ajudem a melhorar a análise de análise de misturas solo-cal quanto à importância
classificação das instâncias. de cada atributo.
Para as regras de associação, pode-se
identificar o seguinte:
x Quando se tem 0% de teor de cal no solo REFERÊNCIAS
é evidente que se trata de um solo puro,
com confiabilidade de 100%; Bispo, C.A.F. (1998) Uma Análise da Nova Geração de
Sistemas de Apoio à Decisão, Dissertação de
x a mesma regra é interpretada para o caso Mestrado em Engenharia de Produção, Universidade
de São Paulo, São Paulo.
em que o solo se classifica como sem-cal; Gonçalves, E.C. (2005) Regras de Associação e suas
com uma confiabilidade de 100%; Medidas de Interesse Objetivas e Subjetivas,
INFOCOMP, v. 4, p. 26-35, 2005.
x Quando se acrescenta água ao solo em
Han, J. e Kamber, M. (2000) Data Mining: Concepts and
24,04% então, em seis casos se Techniques. USA: Morgan Kaufmann, 2000.
identificam como misturas de solo-cal; Perez, P.S. (2012) Uma Abordagem para a Indução de
x As regras 4, 5, e 6 definem 6 como Árvores de Decisão voltada para Dados de Expressão
número de pontos com teor de cal 4%, Gênica, Dissertação de Mestrado em Bioinformática,
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.
6% e 10% respectivamente; Quilan, J.R. (1986) Induction of Decision Trees, 1st ed.,
x Quando se acrescenta água ao solo em vol. 1. Machine Learning, 1986, pp.81-106.
20,04% então, em seis casos se Xavier, S.L.P. (2010) SAMiRA – UMA PROPOSTA DE
SISTEMA DE APOIO À MINERAÇÃO DE REGRAS
identificam como misturas de solo-cal DE ASSOCIAÇÃO, Dissertação em Computação
Aplicada, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.
em pontos de curva de compactação;
x Quando 5 pontos da curva em que a cal é
0% acontece que são classificados como
tipo sem_cal;
x Quando a umidade oscila para 24,04%
em 5 pontos de curva de compactação,
então estamos em curvas de misturas
solo-cal;
x Em 5 pontos para misturas com teor de
cal de 10% a densidade obtida foi
14kN/m3, então essas misturas são
classificadas como com cal com uma
confiabilidade de 100%;
x Em 5 pontos para misturas com teor de
cal de 6% a densidade obtida foi
15kN/m3 então essas misturas são
classificadas como com cal com uma
confiabilidade de 100%;

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Melhoramento de Solos com Uso de Canudos Plásticos
Reciclados
Lucas Gabriel Lopes Da Silva
Universidade católica de Brasília, Brasília, Brasil, lukkasgabriel0@gmail.com

Thamara Silva Barbosa


Universidade católica de Brasília, Brasília, Brasil, sbthamara@gmail.com

Ivonne Gutiérrez Gongora Alejandra


Universidade católica de Brasília, Brasília, Brasil, ivonne.gongora@ucb.br

RESUMO: A utilização de materiais reciclados para aplicar como alternativa de uso em


pavimentação é importante ser considerado porque pode trazer um benefício significativo para o
meio ambiente. Tendo em vista essa preocupação, o presente trabalho objetivou estudar as
características do solo adicionando material reciclável, como canudos plásticos para ser aplicado
como melhoria de solos para pavimentação. Do estudo foi possível concluir que os canudos
plásticos aumentam a capacidade de suporte do solo conforme indicaram ensaios de Índice de
Suporte de Califórnia (CBR). Destaca-se que existe uma porcentagem ótima de material reciclado a
ser empregada, considerando que superando esse valor, a mistura perde resistência.

PALAVRAS-CHAVE: Canudos plásticos, reciclados, pavimentação.

1 INTRODUÇÃO As técnicas dos materiais aplicados em


pavimentação passaram a lidar com tecnologias
Desde a antiguidade o ser humano tem mais avançadas, segundo Senço (2001) o que
promovido técnicas para o melhoramento dos pode gerar economia para a construção de um
caminhos que eram necessários para as ações empreendimento. Nesse viés, cabe a análise de
cotidianas. A invenção da roda e o uso de que a tecnologia pode fazer parte de um sistema
veículos, como lembra Senço (2008) foi um de desenvolvimento sustentável que garanta a
grande avanço na evolução rodoviária. Junto construção de empreendimentos sem
com a evolução dos caminhos, a degradação da comprometer de forma ostensiva os recursos
natureza gerou consequências, ao passo que naturais.
barreiras naturais começaram a ser confrontadas É importante mencionar que nos oceanos,
e destruídas para implementar caminhos 90% da poluição é causada por plásticos e
artificiais. segundo estimativas, até 2050 se o ritmo de
Considerando a real importância que a poluição for mantida o oceano terá mais
pavimentação tem, como um grande destaque plástico do que peixes, como relata a
nos transportes terrestres, é relevante que as ONU(Organização das Nações Unidas). Dessa
técnicas empregadas na pavimentação forma, o uso de canudos plásticos reciclados é
acompanhem e tentem resolver os problemas de um grande avanço para retardar o fluxo de
degradação ambiental que são gerados por ela, resíduos sólidos para o meio ambiente e ainda
como por exemplo, emprego de materiais pode causar melhorias na propriedade mecânica
reciclados para melhoria de solo aplicando em dos solos, usando-os como fibras
pavimentos asfálticos. geossintéticas, uma vez que os canudos

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possuem como matéria prima o PVC Assim, propondo conciliar desenvolvimento
(policloreto de vinila), polipropileno e sustentável com à melhoria das propriedades do
polietileno. solo, esse trabalho objetivou promover uma
A respeito dos agregados reciclados o nova alternativa tecnológica para analisar
CONAMA (Conselho Nacional do Meio melhoria nas propriedade mecânicas da mistura
Ambiente) informa na resolução nº 307, no art. com fins de pavimentação, usando o ensaio de
3º que os resíduos devem ser classificados como CBR como parâmetro para analisar o
classe A que são resíduos da construção, comportamento da aplicação de canudos
demolição e reformas de edificações e classe B plásticos, classificados como resíduos classe B
que dizem respeito a materiais como plásticos, pelo CONAMA, que são análogos a
papel, papelão, metais, vidros, madeiras e Geossintéticos, usado nas proporções de 0%,
outros. 0,5% e 0,75% no solo.
Existem pesquisas que estudam materiais
reciclados, como por exemplo, a realizada por
Abdou e Bernucci (2005), na qual foi 2 METODOLOGIA
implementado um projeto inovador chamado de
“Pavimento ecológico” utilizando RCD ( Os ensaios de caracterização foram realizados
Resíduos de Construção e Demolição) como previamente: Ensaio de limite de liquidez foi
agregado reciclado nas camadas de sub-base e regido pela norma Nbr 6459 e o limite de
base. plasticidade pela Nbr 7180.
O trabalho de Assis e Melo (2012) estuda a Foram analisadas 3 amostras distintas de
viabilidade técnica do solo com PET granulado materiais para fins de comparação. A amostra 1
“pellete” em camadas de pavimento, utilizando foi realizada com a adição de solo, como base
misturas de solo com essa mistura em para referência. A amostra 2 foi realizada com
porcentagens de 0.25% a 4%. Os resultados de adição de 0,5% e amostra 3 com 0,75% de
ISC (Índice de Suporte Califórnia) e expansão canudo plástico .
apontaram melhoria do solo. A amostra 1 utilizou 100% de solo laterítico.
Pinto et. al (2010) utilizou resíduo de plástico Já a amostra 2 utilizou 99,5% de solo e 0,5% de
Pet misturado ao solo que foi obtido em jazida canudo e a amostra 3, 99,25% de solo e 0,75%
próxima à BR-101 do estado da Paraíba, em de canudo. A Figura 1 mostra a mistura (Solo e
uma proporção de solo puro e em porcentagens Canudo plástico).
de 0,25% e 4% de Pet. Observou que as
porcentagens de 0,25% a 2% contribuiram para
o aumento do índice de suporte Califórnia.
Soncim (2004) utiliza “areia de pet” que é
um subproduto do processo de reciclagem
mecânica. Do processo de moagem extraiu esse
material residual com granulometria inferior a
4,8 mm. Os resultados obtidos com 30% de
areia de Pet, obtidas de garrafa Pet, em relação a
massa seca desse solo, apresentou
comportamento geral excelente a bom como
subleito e reforço de subleito e apresenta
Figura 1. Solo e Canudos plásticos
indícios de bom comportamento nesses tipos de
obra.
1.1. Ensaio de Compactação e Índice de
Visando o reaproveitamento de pneus, Alves
Suporte Califórnia
(2016) apresenta uma alternativa tecnológica
para avaliar a utilização de resíduos de pneus
O ensaio de compactação foi realizado segundo
combinado com o solo e brita para aplicação em
a norma NBR 7182/1986. O CBR, regulado pela
base de pavimento asfáltico, utilizando o solo
Norma NBR 9895/1987. Ambos utilizaram
laterítico de Brasília.

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energia modificada (55 golpes) para confecção plástico, uma vez que é o maior valor de ISC e a
dos corpos de prova. sua expansão é baixa, porém, é provável que
Foram realizados os ensaios descritos para as exista uma menor no intervalo de 0 a 0,5% de
três amostras citadas anteriormente. Foi canudos plásticos.
confeccionado um corpo de prova para cada Já em relação a resistência a penetração
amostra com CBR de 4 dias. Tem o intuito de, (ISC), o incremento de 0,5% de canudo em
ao final, analisar como variaram os resultados relação ao solo foi muito satisfatório,
do ensaio em função do incremento da observando que perde resistência quando a
porcentagem de canudos plásticos. A figura 2 quantidade de canudo em massa aumenta. As
mostra o processo de compactação. figuras 3 e 4 mostram a expansão e o ISC
graficamente.

Figura 3: Expansão das amostras

Figura 2. Processo de compactação

3 RESULTADOS

3.1 Ensaio de compactação e CBR


Figura 4: Gráfico de ISC
De acordo com o ensaio de compactação
observa-se que a umidade ótima do solo
aumenta e a massa específica seca diminui com 4 CONCLUSÃO
o incremento da porcentagem de canudos
plásticos reciclados, como mostra a Tabela 1. Segundo a literatura Assis e melo (2012)
Mesmo com a heterogeneidade da mistura, não perceberam uma redução da massa aparente
foi observada a segregação da mistura durante o seca máxima com adição de “pellet” e avaliaram
processo de compactação. uma faixa de valores que o ISC cresce
concomitantemente com o aumento da sua
Tabela 1. Resultados de expansão e ISC
quantidade, até um ponto que o ISC decresce,
Massa
Umidade Específica indicando que existe uma porcentagem ótima de
Ótima Expansão ISC “pellet”. A adição de canudos plásticos teve um
Amostra Seca
(%) (%) (%)
(g/cm³) comportamento parecido com os fragmentos de
1 25,40 1,50 0,44 43,62 plásticos citados anteriormente porque também
2 27,50 1,46 0,70 44,00 reduz a massa específica e tem uma
3 28,90 1,43 0,95 41,80
porcentagem ótima para melhoria do solo.
Os resultados obtidos informam que é viável
O incremento de canudos plásticos no solo
a aplicação de 0,5% de canudos plásticos
permite analisar que as propriedades mecânicas
reciclados no solo para sub-base, Senço (2008)
da mistura são relevantes e apresenta um valor
uma vez que o valor de ISC foi superior a 20%,
ótimo na porcentagem de 0,5% de canudo

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sendo possível empregar para tráfego leve de Gestão Ambiental, Bauru/Sp, 2010.
também. Os resultados estão de acordo com SONCIM, S. P et. al. O emprego de resíduo da
reciclagem de garrafas Pet (Polietileno Tereftalato)
Norma DNIT 108/2009- ES que fala que a como agregado em reforço de subleitos de rodovias.
expansão precisa ser menor que 2%. Annais do IV Simpósio Internacional de Qualidade
Assim, devido aos bons resultados que esse Ambiental. Porto Alegre, 2004.
trabalho fomentou para melhoria das
propriedades do solo com fins de pavimentação,
é perceptível que a disposição de canudos
plásticos para aplicação no solo é viável e
também ajuda a retardar o fluxo de resíduos
sólidos para o meio ambiente.

REFERÊNCIAS

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ecológico: Uma opção para a pavimentação de vias
das grandes cidades.
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plasticidade. Rio de Janeiro. 1984.
_______. NBR 7182. Solo – Ensaio de compactação. Rio
de Janeiro. 1986.
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Rio de Janeiro. 1987.
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Geotécnica O Futuro Sustentável do Brasil passa por
Minas. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, 2016.
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junho de 2012. BRASIL. Conselho nacional do meio
ambiente CONAMA. Resolução n° 307. Publicada no
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Resolução n. 307 de 5 julho de 2002. Estabelece
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resíduos da construção civil. Diário Oficial da União,
Brasília, 17 jul. 2002. Sec. 1, p. 95-96.
SENÇO, Wlastermiler de. Manual de técnicas de
pavimentação. São Paulo, SP: PINI ltda, 2008.p. 3-5.
SENÇO, Wlastermiler de. Manual de técnicas de
pavimentação. São Paulo, SP: PINI ltda, 2008.p. 437-
438.
ONU. Organização das Nações Unidas. ONU lança
campanha contra poluição dos oceanos provocada
por consumo de plástico. 2017. Disponível em:
<https://nacoesunidas.org/onu-lanca-campanha-
contra-poluicao-dos-oceanos-provocada-por-
consumo-de-plastico/>. Acesso em: 27 de maio 2017.
PINTO, L. E. M et al. Estudo de viabilidade do uso de
resíduo Pet em obra rodoviária. I congresso brasileiro

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Obtenção Simplificada de Parâmetros Geotécnicos de um Solo
Sedimentar Estabilizado com Cal

João Luiz Rissardi


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, rissardi@alunos.utfpr.edu.br

Eclesielter Batista Moreira


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, eclesielter_ebm@hotmail.com

Jair Arrieta Baldovino


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, yaderbal@hotmail.com

Amanda Dalla Rosa Johann


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, amandajohann@utfpr.edu.br

Ronaldo Luís dos Santos Izzo


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, izzo@utfpr.edu.br

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo analisar comportamento geotécnico de um solo
sedimentar estabilizado com a incorporação de 6% cal ao longo de 7, 14 e 28 dias de cura, por meio
de ensaios não confinados (ensaios de compressão simples e de compressão diametral) que
possibilitam a obtenção de outros parâmetros geotécnicos (coesão efetiva e ângulo de atrito interno
efetivo) de maneira simplificada. Aos 28 dias de cura, os resultados obtidos mostram aumentos de
de mais de 300% nas resistência à compressão, à tração e ao cisalhamento.

PALAVRAS-CHAVE: Solo-Cal, Ensaios Não Confinados, Comportamento Geotécnico.

1 INTRODUÇÃO adição de substâncias que melhoram as


propriedades do solo. As substâncias ligantes
São encontrados em várias regiões do país solos mais utilizadas na estabilização de solos podem
do tipo sedimentar, ou tipo transportados, os ser cimento portland, cal, pozolanas, materiais
quais algumas vezes não possuem betuminosos, resinas, cinzas volantes, dentre
características adequadas para sua utilização em outras (BUENO, 2011).
obras geotécnicas. Neste caso, é necessário a A técnica de melhoramento de solos também
remoção total ou parcial do material existente, pode ser utilizada nas fundações de edificações
instalando no local um material que forneça a de pequeno porte, em solos com baixa
resistência adequada descrita em projeto capacidade de suporte ou que apresentam baixa
(BORDIGNON et al., 2016). estabilidade volumétrica. Tais condições são
Visando solucionar este impasse, a problemáticas na medida em que podem causar
engenharia geotécnica atual desenvolve com severas patologias em edificações (INGLES e
sucesso tecnologias para a estabilização METCALF, 1972).
artificial de solos por meio de técnicas de

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A estabilização de solos com cal é uma Tabela 1. Resultados Obtidos de qu (kPa)
técnica muito interessante devido a sua Teor de Tempo de Cura
facilidade de aplicação, por sua versatilidade e, Cal 0 dias 7 dias 14 dias 28 dias
principalmente, pelos resultados apresentados 0% 140 - - -
em campo, como o aumento na resistência à 6% - 440 525 570
compressão simples, resistência à tração,
resistência ao cisalhamento, dentre outras
propriedades (BORDIGNON et al., 2016; 3 MATERIAIS E MÉTODOS
RISSARDI, BERTAZO, JOHANN, 2017;
GUÉRIOS, 2013). 3.1 Materiais
Para determinar a resistência e outros
parâmetros geotécnicos (coesão efetiva e ângulo Os materiais utilizados neste trabalho foram os
de atrito interno efetivo) de um solo, o ensaio mesmos utilizados por Bordignon et al. (2016).
triaxial é usualmente empregado. No entanto,
este ensaio demanda muito tempo e recursos 3.1.1 Solo
financeiros, além de ser de execução complexa.
Por outro lado, ensaios não confinados (ensaio O solo utilizado nesta pesquisa foi coletado
de compressão simples e de compressão dentro das dependências da Universidade
diametral) determinam, respectivamente, Tecnológica Federal do Paraná, campus
valores de resistência à compressão e Curitiba, sede Ecoville.
resistência à tração de materiais. Estes ensaios A viabilidade da utilização desta amostra de
são de execução rápida, fácil e barata, além de solo foi facilitada por sua grande
necessitarem de equipamentos disponíveis até disponibilidade e quantidade no local, ser um
nos mais simples laboratórios (AZEVEDO; material visivelmente sem contaminações e
FESTUGATO, 2017). possuir uniformidade em sua textura e cor. A
O objetivo deste trabalho é analisar o preparação do solo para sua utilização nos
comportamento geotécnico de um solo ensaios seguiu as recomendações da NBR 6457
sedimentar estabilizado artificialmente com cal, (ASSOCIAÇÃO..., 1986).
por meio de ensaios de caracterização e ensaios
mecânicos não confinados (compressão simples 3.1.2 Cal
e compressão diametral) que possibilitam a
obtenção de outros parâmetros geotécnicos A cal empregada neste trabalho é do tipo
(coesão efetiva e ângulo de atrito interno hidratada CH-III, da marca ITABRANCA,
efetivo) de maneira simplificada. fabricada em Almirante Tamandaré/PR. A
utilização desta cal estava em conformidade
com a NBR 6473 (ASSOCIAÇÃO..., 2003),
2 RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO além de ser o tipo de cal mais comercializada e
empregada na região metropolitana do
Bordignon et al. (2016) estudou a resistência à município de Curitiba/PR (BORDIGNON et
compressão simples (qu) de um solo sedimentar al., 2016).
representativo da região metropolitana de
Curitiba/PR, estabilizado com diferentes teores 3.1.3 Água
de cal em diferentes tempos de cura. O autor
realizou este ensaio de acordo com as Para o desenvolvimento dos ensaios e
recomendações da NBR 12025 moldagem dos corpos de prova foi utilizada
(ASSOCIAÇÃO..., 1990) obtendo os seguintes água potável fornecida pela SANEPAR,
resultados descrito na Tabela 1. empresa de abastecimento de água do estado do
Paraná.

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Nos ensaios de caracterização foi utilizada imediatamente extraída do molde, e seu peso,
água destilada conforme solicitada pelas suas diâmetro e altura medidos novamente para a
respectivas normas. verificação dos parâmetros (ȦÓT e Ȗd) desejados
para esta pesquisa.
3.2 Métodos As amostras moldadas foram envoltas em
filme plástico PVC e colocadas dentro de sacos
3.2.1 Caracterização dos Materiais plásticos, para evitar variações significativas do
teor de umidade. Por último, as amostras foram
Para a caracterização do solo estudado neste curadas em câmara úmida.
trabalho, foram realizados ensaios de Com o intuito de correlacionar os dados
granulometria por peneiramento e por deste trabalho com o estudo de Bordignon et al.
sedimentação conforme preconiza a NBR 7181 (2016), foram moldados corpos de prova para
(ASSOCIAÇÃO..., 1988). misturas solo-cal com teores de 0% e 6% de cal,
Os limites físicos de consistência do solo para o tempo de cura de 7, 14 e 28 dias.
(limites de Atterberg) foram determinados Foram moldados 4 corpos de prova para
conforme a NBR 7180 (ASSOCIAÇÃO..., cada tempo de cura. Além disso, foram
1988) e NBR 6459 (ASSOCIAÇÃO..., 1984). moldados 4 corpos de prova sem a incorporação
A determinação da massa específica real dos da cal, que posteriormente foram rompidos logo
grãos (Gs) do solo e da cal seguiram as após a sua moldagem, pois os mesmos não
recomendações da NBR 6508 passam pelo processo de cura. Ao todo foram
(ASSOCIAÇÃO..., 1984) e NBR NM 23 moldados 16 corpos de prova.
(ASSOCIAÇÃO..., 2001), respectivamente.
A obtenção do peso específico aparente seco 3.2.3 Resistência à Tração
máximo (Ȗd) e da umidade ótima (ȦÓT) do solo
foram obtidos pelo ensaio de Proctor na energia Foi realizado o ensaio de resistência à tração
de compactação normal, conforme descrito na por compressão diametral (qt) seguindo as
NBR 7182 (ASSOCIAÇÃO..., 1986). recomendações da NBR 7222
(ASSOCIAÇÃO..., 2011).
3.2.2 Moldagem e Cura dos Corpos de Prova
3.2.4 Método de Consoli
O método de dosagem e moldagem das misturas
solo-cal adotado nesta pesquisa seguiram a A teoria de Consoli (2014) consiste em utilizar
metodologia proposta pela NBR 12024 o estado de tensão principal na ruptura dos
(ASSOCIAÇÃO..., 1990), a mesma adotada e ensaios de compressão simples e de compressão
utilizada por Bordignon et al. (2016). diametral, plotando no gráfico de tensão
Após a pesagem dos materiais, o solo e a cal cisalhante (IJ) versus tensão normal efetiva (ı’),
foram misturados até o conjunto adquirir conforme apresentado na Figura 1.
consistência uniforme. Em seguida a água foi
adicionada, continuando o processo de mistura
até obter sua homogeneidade.
Após o processo de mistura, a composição
foi armazenada em recipiente fechado para
evitar perda de umidade para o ambiente antes
da compactação. Três amostras da mistura
foram retiradas para verificação da umidade da
amostra.
A amostra foi compactada em um molde
cilíndrico (100mm de altura e 50mm de
diâmetro), de modo que cada amostra atingisse
Figura 1. Envoltória de Resistência de Mohr-Coulomb de
o seu peso específico aparente seco desejado. Acordo com o Método de Consoli (2014) para Ensaios
Após o processo de moldagem, a amostra foi Não Confinados

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Para o ensaio de resistência à compressão De acordo com a escala utilizada pela NBR
simples, a tensão efetiva principal menor (ı3’) e 6502 (ASSOCIAÇÃO..., 1995), o solo utilizado
a tensão efetiva principal maior (ı1’) são ı3c’=0 neste estudo resultou em uma composição de
e ı1c’=qu, respectivamente. 35% de areia, 34% de silte, 31% de argila, e
Para o ensaio de resistência à compressão nenhuma presença de pedregulho.
diametral esses valores são: ı3t’=qt e ı1t’=-3qt, Os limites de Atterberg da amostra de solo
respectivamente. Tais relações foram baseadas natural ensaiada resultaram em limite de
na teoria clássica de Mohr-Coulomb. liquidez de 46%, limite de plasticidade de 38%
A reta tangente aos dois círculos corresponde e índice de plasticidade de 8%.
a coesão efetiva, que é dada pela altura do eixo De acordo com a classificação HRB
das abcissas até o ponto onde essa reta (AMERICAN ..., 1973), baseando nos dados
intercepta o eixo das ordenadas. obtidos no ensaio de granulometria e nos
O ângulo de atrito interno efetivo é a ensaios de Limites de Atterberg, a amostra
inclinação desta reta; entretanto, esse parâmetro estudada pode ser classificada como um solo
deve ser analisado com cuidado devido ao fato siltoso com comportamento sofrível a mau para
de que a envoltória real de ruptura ser curva. uso como subleito de pavimentações.
Os parâmetros de coesão efetiva (c’) e Os resultados de Gs do solo natural e da cal
ângulo de atrito interno efetivo (݊’) de acordo foram de 2,26 g/cm3 e 2,39 g/cm3,
com o método de Consoli (2014) são obtidos respectivamente. Os parâmetros obtidos pelo
pela Equação 1 e pela Equação 2, ensaio de compactação foram de Ȗd=1,575
respectivamente. g/cm3 e ȦÓT=27%.
భషర‫כ‬഍
୯୳‫כ‬ቂଵିቀభషమ‫כ‬഍ቁቃ 4.2 Parâmetros Geotécnicos
…ǯ ൌ భషర‫כ‬഍ (1)
ଶ‫כ‬ୡ୭ୱቂ௔௥௖௦௘௡ቀ భషమ‫כ‬഍ ቁቃ
Os resultados de qt obtidos neste trabalho estão
apresentados na Tabela 2.
ଵିସ‫כ‬క
ᢥǯ ൌ ƒ”…•‡ ቀ ቁ (2) Tabela 2. Resultados Obtidos de qt (kPa)
ଵିଶ‫כ‬క
Teor de Tempo de Cura
Cal
Onde ߦ corresponde a relação ‫ݐݍ‬ൗ‫ݑݍ‬. 0 dias 7 dias 14 dias 28 dias
0% 28 - - -
6% - 74 88 113
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com os dados de qu (Tabela 1) e qt (Tabela
4.1 Caracterização dos Materiais 2) foram determinados os valores de
ߦ demostrados na Tabela 3.
A curva granulométrica do solo natural esta
ilustrada na Figura 2. Tabela 3. Resultados Obtidos de ߦ
Teor de Tempo de Cura
Cal 0 dias 7 dias 14 dias 28 dias
0% 0,20 - - -
6% - 0,17 0,17 0,20

Para determinado material, tais relações


apresentadas na Tabela 3 podem ser de grande
valia, uma vez que realizando apenas um destes
ensaios, pode-se estimar o valor do outro.

Figura 2. Curva Granulométrica do Solo Natural

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Os parâmetros de coesão efetiva (c’) e 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
ângulo de atrito interno efetivo (݊’) estão
apresentados na Tabela 4 e Tabela 5, A estabilização química com cal do solo
respectivamente. sedimentar estudado mostrou-se uma alternativa
tecnicamente viável, uma vez que gerou ganhos
significativos nos parâmetros analisados. A
Tabela 4. Resultados Obtidos de c’ (kPa) incorporação da cal no solo proporcionou
Teor de Tempo de Cura aumentos de mais de 300% nas resistências à
Cal 0 dias 7 dias 14 dias 28 dias compressão, à tração e ao cisalhamento em
0% 49,50 - - - relação ao solo natural compactado.
6% - 128,18 152,42 199,33 Do ponto de vista ambiental, a possibilidade
de se utilizar este solo sedimentar “in situ” por
meio da técnica solo-cal representa reduções
Tabela 5. Resultados obtidos de ݊’ (°) significativas de custos e de impactos
Teor de Tempo de Cura ambientais, evitando a necessidade de troca do
Cal 0 dias 7 dias 14 dias 28 dias solo existente no local.
0% 19,47 - - -
O conhecimento de ߦ para determinada
mistura solo-cal, possibilita a execução de
6% - 29,55 29,72 20,06
apenas um dos ensaios não confinados (qu ou
qt), resultando consecutivamente na economia
de tempo, dinheiro e materiais.
Observa-se que os valores de qu, qt e c’ Para analise preliminar de parâmetros
apresentaram ganhos ao longo do tempo de geotécnicos, o método de Consoli (2014)
cura. Aos 28 dias de cura, estes parâmetros mostra-se eficaz.
apresentaram aumentos de resistência de 307%,
304%, 303%, respectivamente, em relação ao
valor da resistência do solo sem a incorporação AGRADECIMENTOS
da cal. Deste modo, comprova-se eficiência da
estabilização química com cal para este solo. O Os autores agradecem o apoio da Universidade
comportamento geotécnico do solo ao longo do Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR),
tempo de cura esta demostrada na Figura 3. Campus Curitiba. Também agradecem o apoio
financeiro da Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

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GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



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Guérios, E. M. (2013). Estudo do Melhoramento de Solo
com Adição de Cal Hidratada para Uso em Pavimento
Urbano. Trabalho de Conclusão de Curso – UTFPR,
Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Curitiba, PR. 70p.
Ingles, O. G.; Metcalf, J. B. (1972). Soil Stabilization. In:
Principles and Practice. Sidney: Butterworths. 374p.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Proposta de Estabilização Química do Solo Arenoso para
Pavimentação da TO-30 em São Felix do Tocantins
Mauro Alexandre Paula de Sousa
Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos, Porto Nacional, Brasil,
mauroapsousa@gmail.com

Sócrates Leite Pereira


Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos, Porto Nacional, Brasil,
socratesagrocampo@gmail.com

Ana Caroliny Vanderley Carvalho


Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos, Porto Nacional, Brasil,
anacarolinyvanderley@gmail.com

Marcus Vinicius Vieira Viana Souza


Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos, Porto Nacional, Brasil,
vieira.marvin@gmail.com

José Vicente Benevides Ribeiro


Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos, Porto Nacional, Brasil,
josevicente0225@gmail.com

Silas Nunes Costa


Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos, Porto Nacional, Brasil,
sillasnunnes@hotmail.com

RESUMO: Muitas regiões do Brasil ainda não possuem pavimentação, alguns dos fatores determinantes
incluem desde a falta de investimento á materiais de má qualidade. Diante desta circunstância, este artigo
apresenta resultados de uma pesquisa com intuito de averiguar o melhor teor de cimento para
estabilizar o solo da TO-030. Por se tratar de uma região que predomina existência de solo arenoso,
uma solução economicamente viável para realizar uma pavimentação seria modificar as propriedades
químicas a fim de aglutinar os grãos empregando a técnica solo-cimento, permitindo assim a
compactação do material de forma tradicional. Através das especificações determinadas pelas normas
vigentes, concluiu-se que é acessível estabilizar o solo residual com a adição do cimento Portland.

PALAVRAS-CHAVE: Solo-cimento, pavimento, estabilização, cimento Portland.

1 INTRODUÇÃO outras, formando assim o pavimento que tem por


fundação o subleito.
As camadas pertencentes a um pavimento são Para Bernucci et al. (2010), revestimentos
denominadas de revestimento, base, sub-base e asfálticos formam a camada superior destinada a
resistir diretamente às ações do tráfego e transmiti-
reforço. Todas as camadas se apoiam umas sobre as
las de forma eficiente às camadas subjacentes, além

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de impermeabilizar o pavimento e melhorar as à região aumentaria o fluxo do turismo,
condições de rolamento da pista. As tensões e proporcionado maior desenvolvimento
deformações induzidas na camada asfáltica pelas socioeconômico para a cidade, mas e também para o
cargas do tráfego estão associadas ao trincamento estado.
por fadiga dessa camada. Fatores climáticos e a A maior parte do solo da região é arenoso que
idade da capa asfáltica também podem influenciar dificulta a construção de uma estrada pavimentada
no aparecimento de trincas, visto que o ligante em razão deste tipo de solo quando não confinado
asfáltico perde parte de resistência mecânica com ou compacto apresentar pouca capacidade de carga,
passar do tempo. tornando a obra muito cara por falta de material de
Parte dos problemas relacionados à deformação boa qualidade.
permanente e outros defeitos podem ser atribuídos Este tipo de solos quando tratado com
ao revestimento asfáltico. Nesses pavimentos as aglomerantes tem demonstrado um aumento
camadas de base, sub-base e reforço do subleito são significativo na resistência e rigidez quando
de grande importância estrutural e caso essas comparado ao solo original. Essa mistura torna-o
camadas por alguma razão não desempenhem suas um material de construção com potencial elevado
funções de forma eficiente, várias patologias quando aplicado como base ou sub-base de
surgem e o comportamento funcional e estrutural pavimentos. O uso desta metodologia tornaria
do pavimento são afetados. vantajoso e viabilizaria a construção da TO-030
O IPR 720 (DNIT, 2006) define como que dar acesso a cidade de São Felix – TO.
desempenho funcional do pavimento a capacidade
dele satisfazer sua função principal, que é fornecer
uma superfície com serventia adequada em termos 3 ESTABILIZAÇÃO COM CIMENTO
de qualidade de rolamento. Define também o
desempenho estrutural como a capacidade de um O cimento mais empregado na estabilização de
pavimento em manter sua integridade estrutural, solos o Portland é o comum, embora qualquer tipo
sem apresentar falhas significativas. de cimento possa ser utilizado no referido
procedimento desde que haja efetivação de ensaios
de dosagem com o tipo de cimento a ser empregado
2 LOCAL DE ESTUDO na obra. Todo solo pode ser estabilizado com
cimento, porém os solos arenosos (granulares) são
Em contrapartida aos pré-requisitos que uma boa mais eficientes que os argilosos por exigirem baixos
estrada deve apresentar a TO-030 é pavimentada teores de cimento (MACÊDO, 2004).
até poucos quilômetros após o distrito de Coronel A água a ser usada no solo-cimento não deve
Goulart, a 70km da capital Palmas. conter teores nocivos de sais, ácidos, álcalis e
São Felix do Tocantins localizado ao leste do matéria orgânica, ou qualquer substancia
Estado do Tocantins, 262 km de Palmas, abriga prejudicial. Pois a qualidade da água tem grande
atrativos turísticos onde todos os anos milhares de influência na mistura (DNIT, 2009)
pessoas buscam descanso e lazer em suas Segundo Wang (2002) desde a última metade do
cachoeiras e fervedouros. século XX o motivo da utilização da estabilização
Apesar das maravilhas encontradas na região a de solo com cimento para base de rodovias
forma de acesso a esses locais se torna muito asfálticas ou sub-base de pavimento de concreto é
dispendiosa. A via de acesso ao município encontra- devido à significante melhoria nas propriedades do
se em precário estado de conservação, o solo local solo. Outros benefícios da estabilização com o
é inviável para a construção de pavimento de forma cimento incluem a possibilidade do uso de matérias
tradicional. A condição de rolamento da via de terra das margens rodovia para base, evitando
está ligada diretamente a sazonalidade das chuvas transportar grandes quantidades de matérias
nas regiões que facilitam a passagem de veículos granular.
sem tração. Bernucci et al. (2008) consideram que, para que
São Felix do Tocantins faz parte da região do uma estabilização de um solo com cimento seja
Jalapão que alguns anos tem se destacado como viável e econômica é necessário que se respeite um
grande potencial turístico do estado do Tocantins faixa de aproximadamente 5 a 9% de cimento em
sendo internacionalmente conhecido, o que relação a massa total. Em caso de solo com grande
desperta a curiosidade das pessoas de conhecerem percentual argiloso exige um teor de cimento muito
suas belezas hídricas e cênicas exuberantes. A elevado tornando está técnica bastante onerosa,
construção do pavimento da rodovia que dá acesso além de apresentar retração elevada na mistura.
Baldo (2002) relata que nos solos granulares a
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ação do cimento se restringe a causar ligações
pontuais entre os grãos devido às partículas do Como material aglutinante para esta pesquisa foi
cimento ser menores como ilustra na Figura 1. A usado o cimento Portland CP II-E-32 nas proporções
resistência dessa mistura passa então a depender de 5%, 7% e 10% de teor de cimento em massa
não exclusivamente dos grãos, mas também das conforme a NBR-12253 (ABNT, 2012), Solo-
ligações ocasionadas pela pasta de cimento que Cimento - Dosagem para emprego como camada de
causará uma coesão aparente como consequência pavimento.
da grande quantidade de pontos de contato entre Esta norma determina a quantidade de cimento
grãos e pasta de cimento após os processos de Portland capaz de estabilizar, sob a forma de solo-
compactação e cura. cimento, solos que atendem aos requisitos da NBR-
11798 (ABNT, 2012). Além das normas supracitadas
foram utilizadas normas que complementam a NBR-
12253:2012 conforme descrito na Tabela 1.
Ligações Pontuais
Tabela 1 – Normas Complementares para moldagem dos
corpos de prova de solo-cimento
Solo Granular Normas complementares
NBR 11798 (ABNT, 2012) - Materiais para
base de solo cimento - requisitos.
NBR 12023 (ABNT, 2012) - Solo-cimento -
Figura 1 - Ação do cimento na estabilização de solos
ensaio de compactação – método de ensaio.
NBR 12024 (ABNT, 2012) - Solo-cimento -
Quanto maior o teor de cimento, maior será a Moldagem e cura de corpos de prova
resistência da mistura solo-cimento para um mesmo
cilíndricos - método de ensaio.
tipo de solo. O teor de cimento depende do tipo de
NBR 12025 (ABNT, 2012) - Solo-cimento –
material e quanto maior a porcentagem de silte e
argila maior será o teor de cimento exigido
Ensaio de compressão simples de corpo de
prova cilíndricos - método de ensaio.
(MARQUES, 2002). Porém, como relata Cancian
(2013) teores elevados de cimento na estabilização
podem ocasionar fissuras por retração na base do O solo utilizado nesta pesquisa foi uma areia
pavimento, acarretando-se em possível ruína do fina não plástica, de característica homogênea,
pavimento rodoviário. coletada de acordo com os procedimentos da norma
De acordo com Cancian (2013) a quantidade de para coleta de solos NBR-9604 (ABNT, 1986) nas
água necessária na hidratação do cimento deve ser proximidades da TO-030, no km 34 localizado no
proveniente da umidade ótima obtida nos ensaios município de São Felix – TO, como pode ser visto
de compactação para proporcionar melhor na Figura 2.
desempenho no solo-cimento. No processo de
mistura deve-se garantir homogeneização do
material a fim de que todos os grãos do cimento
entrem em contato com água.
Consoante Macêdo (2004) para qualquer tipo de
solo um bom desenvolvimento do processo
cimentante é garantido quando a mistura de solo-
cimento-água está altamente compactada com teor
de umidade que garanta o menor índice de vazios e
a hidratação do cimento.
Como no concreto a mistura solo-cimento ganha
resistência por processo de cimentação das
partículas durante vários meses ou anos, sendo o
maior ganho de resistência até atingir a idade de 28
dias. Neste período deve ser garantido que a mistura
fique em um ambiente com umidade controlada.
Diferente do concreto a temperatura de cura deve
ser elevada para propiciar elevadas resistências
(MARQUES, 2002). Figura 2 - Local de coleta da amostra

4 METODOLOGIA
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A escolha deste material consistiu em dois de 1mm/min.
motivos: primeiro pela impossibilidade de ser
compactado de forma tradicional e segundo pela
região apresentar em sua maioria solo arenoso.
Conforme a NBR-11798 (ABNT, 2012) a
água utilizada para base de solo-cimento deve ser
isenta de impurezas nocivas à hidratação do
cimento, portando, utilizou-se água destilada
fornecida pelo laboratório de solos do Instituto
Tocantinense Presidente Antônio Carlos
(ITPAC).
Foi realizado ensaio de granulometria por
peneiramento e sedimentação na amostra de solo
coletada, de acordo com a NBR 7181 (ABNT,
2016)
Para realização do ensaio de compactação
foram utilizadas três misturas de solo-cimento
com teores de cimento Portland de 5%, 7% e 10%
em massa, misturadas manualmente até obter
homogeneização. A energia de compactação
empregada foi a Proctor normal como
Figura 3 – adaptação do Aparelho de CBR utilizado para o
recomendada pela NBR 12253 (ABNT, 2012). ensaio de compressão simples
Concluído o ensaio de compactação foram
moldados corpos de prova cilíndricos nas
dimensões de 100 mm de diâmetro por 127 mm 4 RESULTADOS
de altura como recomendam as especificações da
NBR 12024 (ABNT, 2012). O volume de água Após serem efetivados os experimentos para
adicionado a cada mistura foi determinado com o caracterização do solo, realizou-se a analise
auxílio da curva de compactação obtida pelo granulométrica e obtidos os resultados em forma
ensaio de compactação. As misturas foram gráfica de acordo com a Figura 4.
homogeneizadas o suficiente para atingir a
umidade ótima e curados em câmara úmida por
períodos de 7, 14 e 21 dias
Após curados os corpos de prova foram
imersos em água por 4 horas e imediatamente
antes do ensaio foram retirados do tanque, e
superficialmente secos com auxílio de uma
flanela tecido.
Para realização do ensaio da NBR 12025
(ABNT, 2012) Solo-cimento - Ensaio de Figura 4 - Analise granulométrica do solo
compressão simples de corpo de prova
cilíndricos, foi utilizado um aparelho de CBR O solo foi classificado como uma areia fina,
motorizado como representado na Figura 3, no visto que a porcentagem desta fração de solo é
qual foi adaptado um extensômetro para medir os superior a 50%, 26% corresponde a areia média e
deslocamentos afins de se obter um melhor pela classificação da Highway Research Board
controle de deformação, estabelecida pela norma, (HBR) o foi classificado como do tipo A3 ao qual
que foi aproximadamente 1mm/min. corresponde a areia fina não plástica.
A cada 10 segundos era realizado as leituras Também foi realizado o ensaio de massa
de deslocamento do anel em (mm) e o específica da NBR 6458 (ABNT, 2016) e foi
comprimento de deformação do corpo de prova obtido o valor de massa especifica real dos grãos
também em (mm). Pois os aparelhos de igual a 2,7 g/cm³.
compressão disponíveis na faculdade não são Para o uso do solo como camada de pavimento
capazes de medir deslocamento com a precisão foi realizado o ensaio de compactação com teor
de cimento de 7% sugerido pela NBR 12253
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(ABNT, 2012) de acordo com a classificação do Tabela 3 – resistência a Compressão simples (MPa) para mistura
com 5% de cimento
solo e posteriormente com 5% e 10%. Corpo de Prova 7 dias 14 dias 21 dias
Os três teores de cimento foram adicionados CP1 2,9 3,36 3,25
ao solo em forma de porcentagem em relação ao CP2 3,36 3,48 3,48
peso seco de solo, buscando dar maior CP3 3,13 3,13 3,71
trabalhabilidade as misturas e melhoria em suas Resistência Média 3,13 3,33 3,48
propriedades físicas e mecânicas. A partir dos
resultados de compactação foram obtidos os Tabela 4 – resistência a Compressão simples (MPa) para mistura
valores de massa especifica aparente seca com 7% de cimento
máxima (ȡdmax) e o teor de umidade (wot) de Corpo de Prova 7 dias 14 dias 21 dias
CP1 4,41 5,68 6,73
cada mistura, como mostrado na Figura 5.
CP2 5,1 6,84 6,03
CP3 5,57 5,45 5,68
Resistência Média 5,03 5,99 6,15

Tabela 5 – resistência a Compressão simples (MPa) para mistura


com 10% de cimento
Corpo de Prova 7 dias 14 dias 21 dias
CP1 6,61 9,98 9,16
CP2 7,42 8,93 10,79
CP3 5,8 8,47 11,48
Resistência Média 6,61 9,13 10,48

Os dados descritos nas Tabelas 3,4 e 5


Figura 5 – Curvas de compactação das misturas
podem ser observados e em escala na Figura 6.
Na Figura 5. é possível observar que os Nota-se que os valores de tensão resistente à
valores de umidade ótima (wot) são compressão simples apresentam tendência de
desproporcionais ao aumento do teor de cimento, crescimento com a idade, já os valores obtidos
entretanto os valores de ȡdmax pouco alteraram. para todos os teores de cimento das misturas
Esses valores de wot justificam em virtude do foram compatíveis com as exigências da NBR
cimento ser um aglomerante que reage na 12253 (ABNT, 2012) que exige uma resistência
presença de água, logo o teor de umidade não à compressão simples de no mínimo, 2,10 MPa.
variou muito, mas a trabalhabilidade da mistura Se comparados com valores de CBR em
aumentou. Os valores de wot e ȡdmax são mostrados termos de porcentagem o valor da resistência a
na Tabela 2. compressão aos 21 dias para a mistura de 7% de
cimento corresponde a um CBR superior a 60%
Tabela 2 – Umidade ótima e massa especifica máxima seca por que é o mínimo exigido para camadas de base.
teor de cimento.
Mistura Teor de Massa Teor de
cimento especifica umidade
(%) seca máxima ótima
ȡdmax (g/cm³) wot (%)
1 5 1,89 8,5
2 7 1,91 9
3 10 1,93 9,5

Os corpos de prova foram ensaiados para


compressão simples com 3 idades de cura e 3
teores de cimento como descrito nas Tabelas 3, 4 Figura 6 – resultados dos Ensaio de compressão simples
e 5.
5 CONCLUSÃO

Após a apresentação dos resultados é possível e


viável estabilizar o solo escolhido para a

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TÉCNICAS, NBR 12253: Solocimento-Dosagem para
pesquisa com a utilização de cimento Portland e
emprego como camada de pavimento. Rio de Janeiro
utiliza-lo usá-lo como camada de pavimento, (2012).
tomando como base as especificações NBR 7181: Solo - Análise granulométrica. Rio de Janeiro
determinadas pela NBR 12253 (ABNT, 2012) (2016).
que estabelece o critério de resistência à NBR 6458: Grãos de pedregulho retidos na peneira de
compressão simples de no mínimo 2,1 MPa. abertura 4,8 mm - Determinação da massa específica,
da massa específica aparente e da absorção de água.
Analisando as curvas de compactação
Rio de Janeiro (2016).
percebeu- se que o peso especifico seco máximo NBR 11798: Materiais para base de solo cimento -
e a umidade ótima poucos variaram com a especificações. Rio de Janeiro (2012).
porcentagem de cimento entre as três misturas. NBR 12023: Solo-cimento - ensaio de compactação -
Entretanto os três teores de cimento utilizados no método de ensaio. Rio de Janeiro (2012).
trabalho, de acordo com os resultados médios de NBR 12024: Solo-cimento - Moldagem e cura de corpos de
compressão simples, atingiram o critério de prova cilíndricos - método de ensaio. Rio de Janeiro
(2012).
resistência da NBR 12253 (ABNT, 2012). NBR 12025: Solo-cimento – Ensaio de compressão simples
Os corpos de prova com teores de 5%, 7% e de corpo de prova cilíndricos - método de ensaio. Rio
10% de cimento foram curados com as idades de de Janeiro (2012).
7, 14 e 21 dias, e todos tiveram aumento de NBR 9604: Abertura de poço e trincheira de inspeção em
resistência tanto com o aumento de cimento solo, com retirada de amostras deformadas e
quanto com a idade, isso se explica devido às insderformadas. Rio de Janeiro (1986).
NBR 120253: Solo-Cimento - Dosagem Para Emprego
partículas do cimento serem menores que a do (2012).
solo arenoso, criando assim ligações pontuais BALDO, J. T. Materiais Estabilizados com Aglomerantes
entre as partículas, dando ao solo um material Hidráulicos para Pavimentos de Concreto de Cimento
coesivo. Portland. Curso de especialização para pavimento de
Na pavimentação é comum utilizar grandes concreto, 2002.
volumes de solo para construção do pavimento, ERNUCCI, L; MOTTA, L. M. e CERATTI, J. A. et al.
Pavimentação asfáltica: Formação Básica para
sendo assim quanto maior o volume de solo engenheiros. Rio de Janeiro: Abeda, 2008.
maior será a quantidade de cimento para CANCIAN, M. A. Influência do teor de umidade,
estabilizar o solo. Visando o aspecto econômico a porosidade e do tempo de aplicação na mistura solo-
mistura mais viável para sub-base é a com teor de cimento para pavimento rodoviário de um solo da bacia
5% de cimento com o uso da energia Proctor do Paraná. 2013. 202f. Dissertação (Mestrado em
normal, sendo que esta energia de compactação Engenharia de Edificações e Saneamento) – Curso de
pós graduação da Universidade Estadual de Londrina,
na pratica a mais econômica, pois diminui a Universidade Estadual de Londrina, Londrina Paraná.
quantidade de passadas do rolo compactador. E 2013.
para camada de base recomenda-se o uso da Departamento de Transportes do setor de Tecnologia da
mistura com 7%. UFPR. Introdução à pavimentação. Disponível em:
A pavimentação desta via além de http://www.dtt.ufpr.br/. Acesso em 25 de abril de 2016.
proporcionar maior desenvolvimento à região DNIT - DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA -
ESTRUTURA. Manual de Pavimentação. DNIT. Rio de
tornará o acesso turístico a região mais
Janeiro, 2006.
intensificado, fácil e seguro uma vez que acesso DNIT- DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA -
terá uma via que proporciona acessibilidade de ESTRUTURA. Pavimentos flexíveis Bases de solo –
automóveis de sem e com tração. cimento – especificações. Norma DNIT – ES 305/2009.
Rio de Janeiro: Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transporte. IPR, 2009.
REFERÊNCIAS MACÊDO, M. M. Solos modificados com cimento efeito
no modulo de resiliência e no dimensionamento de
BERNUCCI, L. B.; CERATTI, J. A. P.; MOTTA, L. M. pavimentos. 2004. 309 f. Tese (Mestrado em ciências em
G.; SOARES, J, B. Pavimentação Asfáltica: Formação engenharia) – Curso de pós-graduação da universidade
Básica para Engenheiros, Rio de Janeiro: federal do Pernambuco, Recife PE. 2004. MARQUES, G.
PETROBRAS: ABEDA, 2006.3ª Reimpressão, 2010. L. de O., Terminologia e Classificação dos Pavimentos.
504 p. Curso Básico Intensivo de Pavimentação
DNIT: DEPARTAMENTO DE INFRA-ESTRUTURA DE Urbana – Módulo I. Juiz de Fora, 2002.
TRANSPORTES. IPR 720: Manual de Restauração de WANG, L. Cementitious Statilization of soils in the
Pavimentos Asfálticos, 2ª Edição. Rio de Janeiro, presence of sulfate. (Thesis). Wuhan University of
2006a, 310 p. Technology. Louisiana, 2002.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS

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Geotecnia Ambiental e
Aplicada à Mineração

TEMA 5


Análise de Sedimentos Depositados em Bacia de Infiltração
Rafael Salles Pereira
Universidade de Brasília, Brasília DF, Brasil, rafaelfisicas2@hotmail.com

José Camapum de Carvalho


Universidade de Brasília, Brasília DF, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

Andrea Cardona Pérez


Universidade de Brasília, Brasília DF, Brasil, andreita-29@hotmail.com

Rocio del Carmen Perez Collantes


Universidade de Brasília, Brasília DF, Brasil, pcrocio@yahoo.com

RESUMO: Se desenvolveu um estudo experimental com o objetivo de analisar sedimentos coletados


no fundo de uma bacia de infiltração junto à DF-250 localizada próximo ao Itapoã (DF), onde já se
encontra uma erosão de quase 6 metros de profundidade, e mostrar que os materiais depositados são
texturalmente pouco permeáveis. Para isto se determinou a distribuição granulométrica e a densidade
dos grãos de 11 amostras coletadas entre dois furos feitos na bacia de infiltração, obtendo-se que
efetivamente está gerando uma acumulação de sedimentos, os quais estão diminuindo a capacidade
de infiltração do solo e por tanto a funcionalidade da bacia o que finalmente vai potenciar seu
rompimento.

PALAVRAS-CHAVE: Estrutura, Mineralogia, Infiltração, Erosão.

1 INTRODUÇÃO temperatura, condições de drenagem,


precipitação, entre outros (Conciani et al., 2015).
Em regiões tropicais o regime de precipitação A camada superficial de solo é geralmente
geralmente se distribui em duas estações, uma porosa, bem drenada, com elevada capacidade de
caracterizada pela ausência quase que total de infiltração, mas também geralmente muito
chuva, estação seca, e outra marcada por regime erodível.
de precipitação intensa, estação chuvosa. Com o risco de erosão junto às cidades e obras
A cobertura de solo nessas regiões é de engenharia como as rodovias (Figura 1), e
geralmente constituída por um perfil de mesmo em áreas rurais, são implantadas bacias
intemperismo composto por solos de infiltração destinadas a captar e infiltrar a
profundamente intemperizados na parte mais água proveniente das chuvas que se avolumam
superficial, solo laterítico, seguida de um solo de em função da impermeabilização do solo na
transição para uma camada inferior de solo bacia e sub-bacia.
pouco intemperizado, solo saprolítico. Esse As bacias de infiltração terminam muitas
conjunto de camadas constitui o perfil de vezes, principalmente junto a centros urbanos,
intemperismo tropical sendo que a espessura atuando também como bacias de sedimentação.
dessas camadas depende em especial da rocha As bacias de sedimentação segundo Camapum
mãe e das condições de intemperização, de Carvalho e Lelis (2010) “São estruturas de
armazenamento temporário que retêm sólidos

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em suspensão ou absorvem poluentes vindos do no fundo de uma bacia de infiltração junto à DF-
escoamento de águas superficiais”. Constitui-se 250 localizada próximo ao Itapoã (DF), onde já
também em técnica muito usada para que se se encontra uma erosão de quase 6 metros de
impeça o desgaste da base de estradas e que se profundidade, mostrar que os materiais
atinja o próprio leito estradal por ação da erosão. depositados são texturalmente pouco
Essas bacias permitem o armazenamento rápido permeáveis.
de água nos picos de cheia e liberam essa água
lentamente para os sistemas de drenagem ou por
meio de infiltração. 2 MATERIAIS E MÉTODOS

Para realização do estudo foram feitos dois


furos para coleta de amostra (Figura 2), distantes
4 metros um do outro, em uma bacia de
infiltração com retenção gerada pelo aterro de
uma via não pavimentada ligando a DF-250 a
uma propriedade rural. As amostras foram
coletadas no mês de Julho. No primeiro furo,
retiraram-se 6 amostras de diferentes
profundidades e no segundo 5, totalizando 11
Figura 1. Erosão junto à DF 250, próximo ao Km 5. (Fonte:
arquivo pessoal – José Camapum de Carvalho).
amostras.

Junto às rodovias é comum o surgimento de


erosões deflagradas a partir de escavações de
empréstimos feitos na lateral da via para
utilização no terrapleno. Para combater o efeito
erosivo da água em trechos de declive,
geralmente se adota a construção de bacias de
retenção, as quais quase sempre se rompem por
falta de projeto adequado. Camapum de
Carvalho et al. (2012).
Figura 2. Furo de amostragem (Fonte: arquivo pessoal –
Infelizmente, no Brasil, no entanto, José Camapum de Carvalho).
normalmente essas bacias são feitas de forma
incorreta e sem uma prévia avaliação dos As amostras coletadas foram levadas para o
arredores de sua localização e do volume de água Laboratório de Geotecnia da Universidade de
efetivo a ser controlado. Junto às rodovias elas se Brasília (UnB), onde realizou-se ensaios de
constituem muitas vezes, em simples estruturas granulometria segundo a norma NBR 7181 de
de barramento criadas ao longo dos cortes dez/1984 da ABNT, e determinou-se a densidade
realizados para a retirada de solo usado na dos grãos das amostras com um pentapicnômetro
construção da estrada, mas sem o devido estudo cuja técnica ainda não se encontra normatizada
são geralmente fadadas ao insucesso. Sem uma no Brasil. Esse equipamento usa o princípio de
correta elaboração e manutenção, muitas destas Arquimedes (deslocamento de fluido) e a lei de
bacias acabam, com o tempo, perdendo sua Boyle (expansão de gás) para encontrar o
função devido muitas vezes ao próprio volume real do material sólido e com ele
rompimento das barragens e por consequência determinar a densidade real dos grãos. O uso do
favorecendo a ocorrência de erosão. gás garante uma maior acurácia, e embora
Um dos problemas que ocorrem nas bacias de possam ser usados vários tipos, é recomendável
infiltração e sedimentação é a perda da usar o Hélio devido a que este apresenta um
capacidade de infiltração ao longo do tempo em menor tamanho atómico podendo penetrar em
função da deposição de sedimentos, mas esse é fissuras e poros menores (“Quantachrome
um aspecto ainda não muito estudado. O objetivo Instruments”, [s.d.]).
deste artigo é, ao analisar sedimentos coletados

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



As análises granulométricas foram realizadas As variações e alternâncias de sentido da
com e sem o uso de defloculante (agente densidade dos grãos ao longo do perfil do solo
dispersor). em cada furo de amostragem apontam para
Cabe destacar que no trecho lateral da DF-250 sedimentos oriundos de difetentes localidades, o
em análise, várias tentativas de controle das que é natural, pois as precipitações em uma
águas pluviais já foram realizadas ao longo do mesma área de contribuição variam de local ao
tempo com importantes deposições de longo do tempo, e nos diferentes locais os solos
sedimentos, como mostra o testemunho de uma sujeitos a erosão não são necessariamente os
mangueira com mais de 1 m de sedimento mesmos.
depositado sobre ela e com erosão posterior bem
mais profunda (Figura 3). Com isso as amostras 3.2 Análises Granulométricas
coletadas correspondem a sedimentos mais
recentes certamente oriundos de erosões mais As Figuras 4, 5, 6, 7 e 8 apresentam a
profundas nas áreas de contribuição. distribuição granulométrica de cada uma das
amostras, com e sem o uso do defloculante. As
Figuras 4, 5, 7 e 8, com significativa
sobreposição, foram obtidas para amostras
coletadas até a profundidade média de 7 cm no
furo 1 e 8 cm no furo 2. Acredita-se, no entanto,
que essas diferenças de cota sejam devidas
sobretudo à profundidade de amostragem e ao
fato do furo 2 encontrar-se a montante do furo 1,
ou seja, com menor acúmulo de sedimentos em
cada evento chuvoso.
Figura 3. Mangueira sob camada de deposição, DF 250 O tipo de comportamento verificado na
(Fonte: arquivo pessoal – José Camapum de Carvalho). Figura 6 foi registrado para o restante dos perfis
amostrados e faz sobressair a presença de
agregados devido às diferenças registradas nos
3 RESULTADOS resultados obtidos com e sem o uso de
defloculante.
3.1 Densidade dos Grãos As Figuras 9 e 10 apresentam os perfis
granulométricos com e sem o uso de
Os resultados de densidade dos grãos obtidos defloculante para os furos 1 e 2, respectivamente.
pelo pentapicnômetro para cada amostra estão
apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Densidades dos grãos das amostras analisadas.


Amostra, Densidade dos
profundidade de grãos (g/cm³)
coleta
Furo 1 (0 – 2 cm) 2,733
Furo 1 (2 – 7 cm) 2,686
Furo 1 (7 – 11 cm) 2,649
Furo 1 (11 – 20 cm) 2,696
Furo 1 (20 – 26 cm) 2,713
Furo 1 (26 – 33 cm) 2,707 Figura 4. Granulometria, furo 1, profundidade de coleta 0
Furo 2 (0 – 2 cm) 2,797 a 2 cm.
Furo 2 (2 – 8 cm) 2,631
Furo 2 (8 – 15 cm) 2,784
Furo 2 (15 – 21 cm) 2,741
Furo 2 (21 – 25 cm) 2,685

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Figura 8. Granulometria, furo 2, profundidade de coleta 2
a 8 cm.

% de partículas
Figura 5. Granulometria, furo 1, profundidade de coleta 2 0 20 40 60 80 100
a 7 cm. 0

Profundidade média (cm)


5
10
15
20
25
30
35
Areia SD Areia CD Silte SD
Silte CD Argila SD Argila CD
Figura 9. Perfis granulométricos, Furo 1.

% de partículas
0 20 40 60 80
0
Profundidae média (cm)

5
Figura 6. Granulometria, furo 1, profundidade de coleta 26
a 33 cm.
10

15

20

25
Areia SD Areia CD Silte SD
Silte CD Argila SD Argila CD

Figura 10. Perfis granulométricos, Furo 2.

A inexistência de partículas agregadas na


parte mais superficial dos furos de amostragem,
e a existência destes em cotas mais profundas
indica para proveniência de locais distintos ou de
um mesmo local porém em cotas distintas do
Figura 7. Granulometria, furo 2, profundidade de coleta 0 perfil.
a 2 cm.
A sequência nesse sentido é bastante lógica,
pois os solos mais agregados são mais
superficiais no perfil de intemperismo, erodindo

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



primeiro, e os menos agregados mais profundos, pelo apoio dado as pesquisas que subsidiaram
erodindo em seguida. esse artigo.
Quanto a questão da infiltração, essa camada
mais superficial, possuindo significativa
porcentagem de argila e silte, tende a atuar REFERÊNCIAS
impermeabilizando o solo. Cabe destacar, no
entanto, que as trincas de retração que aparecem Conciani, W., Burgos, P.C. & Bezerra, R.L. (2015).
distribuídas na superfície do solo nos períodos de Origem e formação dos solos, perfis de
intemperismo. Livro: Solos não saturados no
estiagem (Figura 11), atuam até serem contexto geotécnico. Associação Brasileira de
preenchidas favorecendo a infiltração, pois Mecánica dos Solos e Engenharia Geoteécnica, São
chegam a atingir profundidade significativas Paulo.
como mostrado na Figura 2. Carvalho, J. C., LELIS, A. C. Cartilha Infiltração.
Brasília: Série Geotecnia UnB, 2010. p. 30.
ABNT, NBR. 7181. Análise granulométrica–Norma
brasileira, 1984.
Camapum de Carvalho, J., et al. Infiltração em pavimento:
problemas e soluções. In: Tópicos sobre infiltração:
teoria e prática aplicadas a solos tropicais. Brasília:
Editoração Eletrônica, 2012, p.613.
Quantachrome Instruments. ([s.d.]). Recuperado 26 de
julho de 2017, de
http://www.quantachrome.com/technologies/densit
y.html

Figura 11. Trincas na base da bacia de infiltração.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluiu-se com esse artigo a importância de


se realizar um estudo sobre os arredores da
localização de uma bacia de infiltração antes de
sua construção, a fim de identificar áreas
impermeabilizadas e possíveis áreas de futura
impermeabilização, adequando a bacia as
condições que lhe serão submetidas, para evitar
seu rompimento e consequentemente a erosão
próxima às estradas.
É igualmente relevante analisar o tipo
potencial de sedimento a ser carreado para as
bacias de infiltração, pois dependendo das
características dos mesmos, poderá com o tempo
ser comprometida a capacidade de infiltração da
bacia.
Melhores conclusões sobre o local estudado
serão obtidos com a continuidade da pesquisa e
estudos de permeabilidade.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao CNPq e à CAPES

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Análise Geoambiental e Normativa para Restrição Construtiva:
Caso Setor de Mansões Dom Bosco, Brasília, Distrito Federal
Anna Luiza Garção de Oliveira
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, annagarcao@gmail.com

Ana Beatriz Ulhoa Coblachini


Universidade Católica de Brasília, Valparaíso de Goiás, Brasil, ana.cobalchini@gmail.com

Ikaro Toshio Yokpy


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, ikaroyokpy@gmail.com

Ana Luisa Oliveira da Silva


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, aluisaosilva@gmail.com

RESUMO: Tem-se como objetivo central apresentar resultados técnicos para delimitação de área
passível de construção e caracterização da restrição ambiental à edificação em porção de terreno
localizada no Setor de Mansões Dom Bosco, Brasília, Distrito Federal. Tais resultados foram
obtidos por meio de avaliações quali-quantitativas, tais como: caracterização geotécnica,
ambiental e normativa aplicáveis na APA Gama e Cabeça de Veado. Para tanto, fez-se necessário
a verificação das características ambientais locais, de modo integrado, com o auxílio de
ferramentas de geoprocessamento, analises de campo, ensaios geotécnicos táteis-visuais e
sondagens, localizadas no terreno para verificação de características nebulosas no processo de
diagnóstico ambiental. Desta forma, foi possível elencar limitações e potencialidades do terreno
que, sobrepostas às indicações normativas, permitiu o fracionamento da área em “com restrição”
ou “sem restrição” à edificação.

PALAVRAS-CHAVE: Análise Geoambiental, Restrição Construtiva, Brasília

relacionadas a Área de Preservação Ambiental


(APA) do Gama e Cabeça de Veado na cidade
1 INTRODUÇÃO de Brasília, Distrito Federal.
O Setor de Mansões Dom Bosco e, mais
A necessidade de se compatibilizar a expansão especificamente a área delimitada para
dos espaços urbanos com os condicionantes investigação, constitui um terreno de
ambientais é uma imposição administrativa aproximadamente 2.047,97m² e está situada na
cada vez mais evidente nas cidades e tem como Região Administrativa RA XVI – Lago Sul. De
foco a proposição de um desenvolvimento acordo com o Plano Diretor de Ordenamento
urbano sustentável. Dessa forma, este trabalho Territorial do Distrito Federal, o
tem como objetivo realizar uma caracterização empreendimento está em região limítrofe entre
geoambiental e verificar a restrição ambiental a Macrozona Urbana IUUCI-2 e a Zona Urbana
imposta por Lei à edificação de baixa de Uso Controlado I (Lei Complementar n°
densidade segundo normativas técnicas 854/2012) (Figura 1).

GEOCENTRO2017, Goiânia/GO, Brasil.


Tendo em vista os objetivos propostos, foi
edificado um roteiro metodológico
compartimentado em etapas, sendo a
primeira delas uma discussão e definição
teórica/normativa e definição dos parâmetros
a serem avaliados perante as leis aplicáveis;
na segunda etapa foram realizadas atividades
de campo e por fim, foram realizadas as
análises em gabinete, tendo como produto os
mapas e relatório técnico.

2 RESULTADOS

2.1 Legislação Aplicável À Restrição


Figura 1 – Carta Imagem da Área em investigação,
Lago Sul, Distrito Federal.
Construtiva

De acordo com o referido documento a O processo de restrição ambiental à


não-permissão para fracionamento de solo é edificação em parte do território do Setor de
motivada pela presença de terrenos com Mansões Dom Bosco, em Brasília, tem como
características geotécnicas que conferem risco fonte as limitações normativas de acordo
ao ambiente e aos cidadãos, tais como: 1) com o Zoneamento de Proteção Ambiental
Terrenos alagadiços e/ou sujeitos à inundações; Gama e Cabeça de Veado (Figura 2).
2) Terrenos que tenham sido aterrados com
material nocivo à saúde pública; 3) Terrenos
com declividade igual ou superior a 30%; 4)
Limitações geológicas à edificação.
Para além das limitações
geológicas/geotécnicas, o referido
documento traz orientações precisas a serem
atendidas dentro do processo de restrição
territorial construtiva, tais como: 1) Manter
uso predominantemente habitacional; 2)
Respeitar o Plano de Manejo ou Zoneamento
referente às unidades de conservação
englobadas por essa zona e legislação
pertinente; 3) Adoção de medidas de controle Figura 2 – Detalhamento da Zona de Vida Silvestre da
ambiental voltadas para áreas limítrofes às APA Gama e Cabeça de Veado, em relação a área
Unidades de Conservação e Proteção Integral investigada, Lote 5, fração E.
e às Áreas de Relevante Interesse Ecológico
inseridas nessa zona, visando à manutenção A APA Gama e Cabeça de Veado
de sua integridade ecológica; 4) Preservação constitui uma Unidade de Conservação de
e valorização de atributos urbanísticos e Uso Sustentável, criada por meio do Decreto
paisagísticos que caracterizam essa área Distrital n° 9.417 de 1986 e tem como
como envoltório da paisagem do Conjunto principal objetivo compatibilizar a
Urbano Tombado, em limite compatível com conservação da natureza e o uso parcial dos
a visibilidade e a ambiência do bem recursos naturais disponíveis de forma
protegido. sustentável.

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A APA supracitada é composta, nos terrenos de cobertura Terciária-Quaternária
moldes da Lei, por duas zonas: Zona de Vida compostas por horizontes de argila arenosa
Silvestre e Zona Tampão, descritas no de cor marrom avermelhada, porosa, com
Quadro 1: fragmentos centimétricos a milimétricos de
Zonas da laterita e seixos rolados sem mineralogia
APA Gama e Objetivos Centrais
Cabeça de identificada e pequena quantidade de matéria
Veado orgânica.
Tem por objetivo a preservação dos
Zona de ecossistemas naturais da biota nativa
O trecho em investigação encontra-se
Vida inclusive das espécies raras ou completamente inserido da Unidade
ameaçadas de extinção na região, as Metarritimito Arenoso segundo dados do
Silvestre coleções hídricas e demais recursos
naturais existentes. Sistema Estadual de Geoinformação (2016),
Tem por objetivo o disciplinamento da porém não há feições de campo que
ocupação das áreas que contornam a
Zona de Vida Silvestre visando permitam caracterizar, adequadamente, esta
Zona
garantir que atividades nestas áreas unidade (Figura 3).
Tampão não venham a ameaçar ou
comprometer a preservação dos
ecossistemas e demais recursos da
Zona de Vida Silvestre.
Quadro 1 – Resumo com descrição dos objetivos
centrais das Zonas de Vida Silvestre e Zona Tampão
da Área de Preservação Ambiental Gama e Cabeça de
Veado.

A área em investigação está parcialmente


inserida na Zona de Vida Silvestre da referida
APA. Tendo em vista o não-prejuízo de
urbanização de baixa densidade na área do
entorno das zonas que constituem a APA,
tem-se como objetivo, em fase subsequente a
caracterização Geoambiental do terreno. Figura 3 – Mapa Geológico com identificação da área
investigada.
2.2 Caracterização Geoambiental
Geomorfologicamente, a área
Considerando a importância da definição dos investigada situa-se em feição de Rebordo,
parâmetros ambientais da localidade, caracterizada como feições controladas pela
realizou-se uma investigação prévia da área transição ou contato brusco entre litologias
de forma a identificar padrões agravantes com alto contrates de erodibilidade, sendo o
quando ao potencial de edificação da aspecto geológico o principal condicionante
localidade ou sua fragilidade ambiental. das variações de altitude, incisão de vales,
No que tange à caracterização geológica densidade e forma da rede de drenagem
regional, o Distrito Federal está localizado na (Figura 4).
porção central da Faixa de Dobramentos e
Cavalgamentos Brasília, que por sua vez
incluem conjuntos litológicos, sendo
destaques os Grupos Paranoá, Araxá,
Canastra e Bambuí (Campos et al, 2013).
Em se tratando de Geologia Local, em
escala de detalhe, predominam na área
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geoambiental. A associação dos dados de
declividade e os resultados de sondagem, foi
possível observar que a área, que tem uma
declividade suave orientada para o curso
d’água, também possui sulcos de pequeno
porte – ordem métrica – provocados por
motivo não identificado, uma vez que o
comportamento pedológico e a identificação
dos horizontes do terreno, se apresentaram de
maneira uniforme em toda a área. Da mesma
forma, o nível d’água manteve-se
praticamente o mesmo, em torno de 4,30
Figura 4 – Mapa de Geomorfologia metros a partir da superfície do furo.
Hidrologicamente, a área é servida pelo
Regionalmente, a área investigada está Ribeirão Cabeça de Veado, porém a distância
em uma porção limítrofe entre a Unidade de ao corpo d’água não é mensurável, tampouco
Cambissolo Háplico e Latossolo Vermelho, inferior a 30 metros.
porém apenas a unidade latossólica foi Tendo em vista o conjunto de elementos
identificada em campo. Trata-se de um tipo ambientais e normativos discutidos ao longo
de solo de evolução avançada, especialmente do presente trabalho, propõe-se como área
pela ação dos processos de ferralitização e ou passível de edificação todo o trecho
laterização, resultando em intemperização destacado em verde, excetuando-se a parcela
intensa dos constituintes minerais primários. rachurada, que compreende a Zona de Vida
São basicamente constituídos por material Silvestre. Tal parcela deve ser mantida sob
mineral, e apresenta-se de cor marrom condições naturais, livre de edificações ou
variável e de consistência intermediária. interferências antrópicas que possam afetar
O solo apresenta espessura variável, da sua dinâmica natural.
ordem de 10 metros, com consistência
variável entre os horizontes pedológicos, que
variam de argila siltosa, areia siltosa, argila
siltosa e silto argilosa. Em profundidades
superiores a 3 metros a granulometria, bem
como a consistência, se mantém uniforme,
porém a cor tende a marrom mais claro,
sendo que a níveis mais profundos que 4
metros o nível freático é alcançado.
Procurou-se levar em consideração, de
maneira bastante efetiva, os dados relativos à
declividade, tendo em vista a construção de
um modelo de hidrodinâmica de lençol
freático, que, na prática, constitui uma Figura 6 – Área investigada com restrição construtiva
característica muito importante para a do empreendimento na porção hachurada em vermelho
compreensão dos processos do meio físico em razão da Zona de Vida Silvestre.
presentes na área. Buscou-se também
localizar os pontos de sondagem de forma a 3 CONCLUSÕES
sanar quaisquer dúvidas para a caracterização
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Ao se considerar todos os elementos do meio CAMPOS, J. E. G.; DARDENNE, M. A.;
físico que demandam uma integração para a FREITAS-SILVA, F. H.; MARTINS-
caracterização geoambiental, foi possível FERREIRA, M. A. C. Geologia do Grupo
concluir que o ambiente se apresenta bem Paranoá na porção externa da Faixa-Brasília.
preservado frente à sua forma nativa, e Brazilian Journal of Geology. V. 43, n. 3,
mostra-se absolutamente estável e sem 2013.
indicações de sensibilidade que agreguem SISTEMA ESTADUAL DE
vulnerabilidade ao ambiente, tais como GEOINFORMAÇÃO. Acesso em 26 de
nascentes d’água, indicações de Novembro de 2016. Disponível em:
alagamento/inundação, processos erosivos http://www.sieg.go.gov.br/
implantados ou eminente, presença de solos
moles ou hidromorfizados, deslocamento de
blocos, movimentos de massa.
Adicionalmente não há interferências
antrópicas de alto impacto na área AGRADECIMENTOS
investigada.
A partir de observações geotécnicas de GeoLógica Consultoria Ambiental.
detalhe, tanto tátil-visuais como sondagens
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SPT, foi possível averiguar que o terreno não
apresenta restrições geotécnicas, geológicas,
geomorfológicas e hidrodinâmicas a
edificações de baixa densidade, porém
demanda uma melhor caracterização com
vistas à elaboração de projeto de edificação
que atenda ás especificidades do terreno e
impacte, o mínimo possível, o ambiente ao
redor.
Tendo em vista cada um dos pontos
levantados sob a égide do diagnóstico
geoambiental e sob a legislação ambiental
aplicável, constatou-se que não há óbice para
edificação de muito baixa densidade na área
do terreno identificada como “passível de
edificação” em mapa da Figura 6.

BIBLIOGRAFIA

BRASÍLIA. Lei Complementar n° 854/2012.


Diário Oficial do Distrito Federal. ANO
XLII Suplemento ao n°211 Brasília-DF. 17
de Outubro de 2012. Disponível em:
http://www.segeth.df.gov.br/arquivos/suplem
ento_ao_dodf_n_211.pdf
BRASÍLIA. Decreto Distrital n° 9.417 de 21
de abril de 1986. Disponível em:
http://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br;distri
to.federal:distrital:decreto:1986-04-21;9417
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Análise Probabilística do Transporte e Contaminantes em Meio
Saturado
Ana Luiza Rappel de Amorim
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, anarappel@gmailcom

André Luís Brasil Cavalcante


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, albrasilc@gmailcom

RESUMO: Uma grande questão discutida atualmente é a poluição das nossas águas subterrâneas. O
artigo tem como objetivo entender a influência de uma abordagem probabilística na determinação
da concentração de um contaminante em meio saturado. A metolodigia consiste em utilizar a
solução de Ogata & Banks e método do ponto estimado de Rosenblueth para realizar uma análise
probabilística teórica e uma análise de sensibilidade com base em um estudo real. As simulações
feitas destacam a importância de uma abordagem probabilística no modelo de transporte de solutos
para aproximá-lo da realidade.

PALAVRAS-CHAVE: Transporte de Solutos, Análise Probabilística, Coeficiente de Controle de


Poluição.

1 INTRODUÇÃO lixão.
O objetivo é entender como uma análise
Em 2010, o Governo Federal instituiu a probabilística pode contribuir para a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) determinação do nível de contaminação de um
e as questões ambientais relacionadas a solo e a sua importância para o controle da
destinação dos resíduos sólidos urbanos poluição de solos e águas subterrâneas, além de
começaram a receber uma atenção maior dos incentivar futuras pesquisas relacionadas ao
governos estaduais e municipais. Um dos assunto.
problemas ambientais diretamente ligados a
PNRS é a poluição do solo e das águas
subterrâneas devido a infiltração de 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
contaminantes provenientes dos resíduos
acumulados nos lixões. 2.1 Equação do Transporte
Esse artigo consiste numa análise
probabilística do transporte de solutos, baseado A equação de transporte é um modelo
na solução de Ogata & Banks. Pode-se justificar unidimensional que descreve o transporte de um
a necessidade desse tipo de análise pela determinado soluto num meio homogêneo,
incerteza associada aos parâmetros da equação saturado e em regime permanente de fluxo. O
de Ogata & Banks. A análise foi dividida em modelo inclui os fenômenos de advecção,
duas partes. Uma primeira análise teórica onde dispersão e sorção. A partir dessas condições,
definiu-se dois parâmetros do solo como sendo pode-se descrever o transporte de um
variáveis aleatórias. A segunda parte foi uma contaminante pela seguinte equação diferencial
análise de sensibilidade baseando-se numa parcial:
situação real, para avaliar uma possível
poluição das águas subterrâneas numa região de

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wc w w ² cw wc k ˜i
R Dh  vp w (1) Qp (5)
wt wx ² wx n
onde, cw = concentração, t = tempo, x = Ud ˜ K d
distância, Ddh = coeficiente de dispersão, vp = R 1 (6)
n
velocidade média e R = fator de retardamento.
Ud U s ˜ (1  n ) (7)
2.2 Solução de Ogata & Banks
onde, k = coeficiente de permeabilidade, i =
gradiente hidráulico, ȡd = massa específica seca,
Considerando o caso de uma fonte contínua
Kd = coeficiente de distribuição, n = porosidade
de contaminação com duração infinita e dadas
e Us = massa específica dos grãos.
as seguintes condições iniciais e de contorno:

cw(x,0) = 0 para x • 0,
2.3 Coeficiente de Controle de Poluição
cw(0,t) = c0 para t • 0,
(CCP)
cw(’,t) = 0 para t • 0,
Para facilitar as análises de nível de
onde, c0 = concentração inicial. Segundo Ogata
contaminação no solo, definiu-se um
& Banks (1961), a solução da equação do
coeficiente de controle de poluição (CCP). O
transporte para o fluxo advectivo-dispersivo
CCP é a razão entre a concentração do
pode ser representada da seguinte forma:
contaminante, em uma dada posição e um
§ ·
determinado tempo, e a concentração máxima
ª vp ˜ t º
¨ «x » ¸ permitida:
¨ erfc « R » ¸
¨ « Dh ˜ t » ¸ (2)
¨
c0 ¨ «¬ 2 R »¼ ¸ c ( x, t )
cw ( x , t ) ¸ CCP (8)
2¨ ª vp ˜ t º¸ cmax
¨ ˜ «x »¸
¨ exp ª v t º
«
p
» erfc «
R »¸
¨ ¬ R ¼ « Dh ˜t »¸
¨ «2 R »¸ Para CCP < 1, a concentração do
© ¬ ¼¹
contaminante é menor do que o limite máximo
estipulado, logo o solo não está poluído. Para
onde, erfc é a função erro complementar, dada CCP > 1, a concentração do contaminante é
por: maior que o limite estipulado e, nesse caso,
considera-se que o solo está poluído. Vale
erfc(T ) 1  erf (T ) (3) ressaltar que a concentração máxima permitida
de um determinado contaminante foi definida
2 E com base nos valores de prevenção
erf (T )
S ³0
e H ² d H (4) apresentados pelo CONAMA no 420/2009.

Expandindo os outros parâmetros da solução


2.4 Método do Ponto Estimado de
tem-se as seguintes relações:
Rosenblueth

A solução de Ogata & Banks resulta num


valor determinístico para a concentração de um
contaminante num determinado ponto do solo e
num determinado tempo. Usando o método do
ponto estimado de Rosenblueth, é possível
considerar a variabilidade dos parâmetros no
cálculo do valor da concentração.

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Normalmente, esse método é utilizado para 1 ª  z² º
fator de segurança e probabilidade de falha, mas P( z ) exp « » (13)
2S ¬ 2 ¼
nesse artigo, ele foi adaptado para a análise do
CCP.
O método de Rosenbueth consiste em definir fi  PCCP
z (14)
uma média (μ) e um desvio padrão (ı) para o V CCP
CCP. Esse método considera que cada variável
tem dois pontos estimados e, então, quando n Ao integrar a FDP da distribuição normal
variáveis são necessárias para definir o CCP, padrão é possível calcular a área entre dois
isso leva a 2n combinações de pontos estimados. limites e assim é calculada a probabilidade de
Logo, existem 2n valores para o CCP dados a CCP ocorrer entre esses dois valores. Dessa
partir dessas 2n combinações. A média e o forma, tem-se que a probabilidade de sucesso,
desvio padrão do CCP são determinados a partir ou seja, de CCP ser menor que 1, é a área obtida
das seguintes expressões matemáticas: pela integral entre os seguintes limites:

E
2n
1 ª z² º
PCCP ¦w ˜ f
i 1
i i (9) I (E ) ³ 2S
exp «
¬ 2 ¼
»dz (15)
f

§2
n
· 2 PCCP  CCPc
V ¨ ¦ wi ˜ fi ¸  PCCP z (16)
2
CCP (10) V CCP
©i1 ¹

2n 2n
ou ainda,
1  ¦¦ U jk ˜ A
wi j 1 k 1
, jzk (11) 1 § E ·
n I ( E ) 1  erfc ¨ ¸ (17)
2 2 © 2¹

Considerando que fi segue uma distribuição


onde, fi = CCP, wi = peso na i-ésima tentativa, normal, tem-se que a probabilidade de falha
ȡjk = correlação (-1 a 1) entre duas variáveis e A pode ser estimada por:
= determinante (-1 ou 1). Segundo o método de
Rosenblueth, a variável CCP deve seguir uma
distribuição normal, que é dada pela função de Pf 1  Pr CCP  FSCCP (18)
densidade de probabilidade (FDP):
§ CCPc  PCCP ·
Pf 1I ¨ ¸ (19)
1 ª  fi  PCCP ² º © V CCP ¹
P( f i ) exp « » (12)
V CCP 2S ¬ 2V CCP
2
¼
3 METODOLOGIA
A função de densidade de probabilidade
(FDP) da distribuição normal padrão (μCCP = 0 3.1 Análise probabilística teórica
e ıCCP = 1) é dada pela seguinte expressão:
Primeiramente, calculou-se a concentração
do contaminante utilizando a equação de Ogata
& Banks. Os parâmetros utilizados na equação
foram escolhidos baseado nos intervalos
característicos para cada parâmetro.
Dessa forma, para uma posição fixa no
espaço (x = 0,4 m), calculou-se a concentração
determinística em 3 tempos diferentes (38, 40 e

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42 dias). Os intervalos de tempo foram experimentais coletados por Carvalho (2001)
escolhidos de forma a permitir uma melhor para o solo da região do Lixão de Viçosa e do
análise da influência da probabilidade no contaminante chumbo.
resultado final. A análise de sensibilidade foi feita para 4
Para realizar a análise probabilística, definiu- parâmetros (gradiente hidráulico, fator de
se dois parâmetros para serem considerados retardamento, distância da fonte e concentração
como variáveis aleatórias, logo, associou-se a inicial). Buscando uma análise mais complexa,
cada um deles, uma média e um desvio padrão. no caso dos 3 primeiros parâmetros,
Considerando a influência que cada parâmetro considerou-se 4 cenários diferentes
da solução de Ogata & Banks tem na (concentrações iniciais de 50, 100, 500 e 1000
concentração final, os parâmetros escolhidos μg/L). No caso da concentração inicial,
foram o coeficiente de dispersão e o coeficiente considerou-se 2 cenários diferentes (5 e 10
de permeabilidade, que são mais significativos. anos). Como produto dessa etapa, foram
A média de cada parâmetro foi definida a plotados gráficos mostrando como a
partir do valor apresentado na Tabela 1 (Dh = probabilidade de falha (ou seja, a probabilidade
10-9 e k = 1,5 x 10-10 m/s). O desvio padrão foi de CCP > 1) se comporta com a variação de
obtido a partir de um coeficiente de variação cada parâmetro. Os gráficos assim como as
pré-determinado (7%, 15% e 30%). Vale análises referentes a eles foram apresentados na
ressaltar que o coeficiente de variação (CV) é a seção de resultados.
razão entre o desvio padrão e a média.
Cada combinação de tempo e coeficiente de Tabela 2. Valores adotados para os parâmetros da solução
variação resultou numa média e desvio padrão de Ogata & Banks na análise de sensibilidade.
Parâmetro Valor
para a variável CCP. Dadas as combinações, foi
x 40 m
possível definir 9 cenários diferentes, que foram t 5 anos
apresentados e analisados na seção de k 10-6 m/s
resultados. i 0,05
R 3,5
Tabela 1. Parâmetros utilizados para solução de Ogata & Dh 3 x 10-6 m²/s
Banks na análise probabilística teórica cmáx 10 μg/L
Parâmetro Valor CV 80%
c0 20 mg/L
k 1,5 x 10-10 m/s Nessa segunda etapa utilizou-se um
i 1 coeficiente de variação maior para destacar a
Kd 3,35 L/kg variabilidade dos valores utilizados nos
Us 2,6 kg/m3
n 0,4
parâmetros da solução Ogata & Bnaks.
Dh 10-9
cmáx 16 mg/L
4 RESULTADOS

3.2 Análise de sensibilidade 3.1 Análise probabilística teórica

Essa segunda etapa consiste numa análise de Primeiramente, calculou-se a concentração


sensibilidade de uma possível contaminação das determinística para cada tempo (Tabela 3).
águas subterrâneas devido a percolação de Percebe-se que em nenhum cenário, a
contaminantes provenientes dos resíduos concentração no meio poroso ultrapassa o valor
sólidos depositados no lixão. máximo de 16 ȝg/L. Dessa forma, numa visão
O contaminante analisado foi o chumbo e a apenas determinística, é de se esperar que o
concentração máxima considerada nesse estudo CCP seja sempre menor que 1, ou seja, que o
foi de 10 ȝg/L, definido com base nas meio poroso não esteja contaminado em
recomendações do CONAMA no 420/2009. Os nenhum cenário.
parâmetros utilizados na equação de Ogata &
Banks foram escolhidos com base em dados

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média e do desvio padrão. Dessa forma, pode-se
Tabela 3. Concentração determinística para cada tempo. dizer que mesmo que o modelo determinístico
Tempo (dias) Concentração (ȝg/L)
leve a um aumento da concentração do
38 4,66
40 6,54 contaminante devido aos fenômenos de
42 8,56 transporte, é importante ressaltar que se houver
incertezas associadas aos parâmetros utilizados
Utilizando o método do ponto estimado de nesses cálculos, a concentração final real pode
Rosenblueth, obteve-se a probabilidade de falha ser muito diferente daquela prevista.
para cada tempo e cada CV, resultando assim Em relação aos gráficos da função de
em 9 valores (Tabela 4). Percebe-se que a densidade de probabilidade, percebe-se que
probabilidade de falha, ou seja, da concentração para um tempo fixo, a curva sino tende a
calculada ser maior do que a concentração achatar com o aumento do coeficiente de
máxima estipulada (CCP > 1), aumenta com o variação, ilustrando o aumento do desvio
passar do tempo. Isso está de acordo com o padrão, ou seja, da variabilidade dos valores.
esperado para o modelo, pois, como foi Além disso, ela tende a se deslocar para a
apresentado na Tabela 3, a concentração direita, ilustrando o aumento da média
determinística aumenta com o passar do tempo, conforme aumenta-se o CV. As análises
dessa forma é de se esperar que a probabilidade apresentadas reforçam a relevância da
de falha também aumenta. abordagem probabilística na determinação da
Entretanto, o que mais chama a atenção é concentração de um contaminante.
quando se analisa a variação da probabilidade
de falha numa mesma coluna. Por exemplo para
t = 38 dias, a probabilidade de CCP > 1
aumenta de 0% para 15,7% conforme o CV
aumenta de 7% para 30%. Isso é explicado pelo
fato de que um maior CV representa um maior
desvio padrão, ou seja, maiores incertezas
associadas aos parâmetros e, consequentemente,
ao valor final da concentração.
Essa análise ressalta a influência de uma
abordagem probabilística nessa situação assim
como a necessidade de descrever a
concentração de um contaminante no meio
poroso como uma distribuição de probabilidade. Figura 1. Função de densidade de probabilidade do CCP
para t = 38 dias.
Tabela 4. Probabilidade de falha (%) para cada tempo e
coeficiente de variação.
CV 38 dias 40 dias 42 dias
7% 0,00 0,02 0,57
15 % 1,18 6,4 11,1
30 % 15,7 20,6 23,7

A última análise dessa etapa consiste nas


distribuições de densidade de probabilidade
para cada tempo e desvio padrão. Os resultados
obtidos estão apresentados na Tabela 5 e nas
Figuras 1 a 3. Percebe-se que com o passar dos
dias para um CV fixo, a média do CCP aumenta
significativamente, enquanto que o desvio
padrão não varia tanto assim. Mas quando se
analisa a variação de CV para um mesmo Figura 2. Função de densidade de probabilidade do CCP
tempo, percebe-se uma variação significativa da para t = 40 dias.

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Já o fator de retardamento (Figura 6)
apresenta um comportamento oposto, ou seja, a
probabilidade de falha diminui com o aumento
desse parâmetro. As curvas estão de acordo
com o modelo previsto, pois um fator de
retardamento maior significa que o
contaminante tem mais dificuldade para se
espalhar pelo meio, resultando assim numa
concentração final menor. Para valores menores
de concentração, essa variação é mais brusca.
Por exemplo, no caso da concentração inicial de
50 μg/L a probabilidade de falha atinge zero um
Figura 3. Função de densidade de probabilidade do CCP pouco depois do fator de retardamento igual a 2,
para t = 42 dias. enquanto que para a concentração inicial de 100
Tabela 5. Média e desvio padrão do CCP para cada
μg/L a probabilidade de falha atinge zero para
tempo e coeficiente de variação um fator de retardamento igual a 8.
A distância em relação à fonte possui
Tempo CV Média Desvio Padrão comportamento de sensibilidade análogo
38 dias 7 0,30 0,14 (Figura 7), ou seja, a probabilidade de falha
15 0,36 0,28
30 0,50 0,49
diminui com o aumento da distância. Além
40 dias 7 0,42 0,16 disso, para concentrações menores, a
15 0,46 0,33 probabilidade de falha atinge zero mais
30 0,56 0,53 rapidamente, ou seja, atinge zero para uma
42 dias 7 0,54 0,18 distância menor da fonte, o que está de acordo
15 0,54 0,36
30 0,60 0,56
com o esperado teoricamente.

3.2 Análise de sensibilidade

A análise de sensibilidade é essencial para


compreender a influência que a variação de
cada parâmetro tem no valor final da
concentração.
Em relação a concentração inicial (Figura 4),
percebe-se que para valores menores (até 500
μg/L), o aumento da probabilidade de falha é
significativo, enquanto que para valores
maiores, ela tende a ficar constante. Além disso,
a curva de probabilidade de falha do tempo Figura 4. Probabilidade de falha X Concentração inicial.
maior (t = 10 anos) está acima da curva t = 5
anos, o que está de acordo com o modelo
teórico previsto, pois um tempo maior significa
um maior espalhamento do contaminante e
assim, uma maior concentração no meio.
O gradiente hidráulico possui comportmento
análogo (Figura 5). Para valores menores (até
0,2), o aumento da probabilidade de falha é
significativo, mas depois ele fica quase
constante. Além disso, para concentrações
maiores, a probabilidade de falha é maior para
um mesmo gradiente hidráulico, o que condiz
com o modelo teórico. Figura 5. Probabilidade de falha X Gradiente hidráulico.

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É importante que se desenvolvam mais
pesquisas na área probabilística de análise de
contaminantes no solo, para conduzir a modelos
e resultados que retratem cada vez melhor a
realidade das águas subterrâneas.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o suporte dado pelo


Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), pela
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Figura 6. Probabilidade de falha X Fator de retardamento. Nível Superior (Capes) e pela Universidade de
Brasília, para financiar esta pesquisa.

REFERÊNCIAS

Araújo, F.R. (2013). Risco Geotécnico: Uma Abordagem


Estocástica para Análise da Estabilidade de Taludes
da Barragem Olho D’Água no Estado do Ceará,
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil, Departamento de
Engenharia Hidráulica e Ambiental, Universidade
Federal do Ceará, 128 p.
Boscov, M.E.G. (2008). Geotecnia ambiental. Oficina de
Textos, São Paulo, SP, Brasil. 248 p.
Figura 7. Probabilidade de falha X Distância da fonte. COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO
PAULO (CETESB). Anexo Único – Valores
Orientadores para Solo e Água Subterrânea no Estado
de São Paulo. Decisão de diretoria no 45/2014/E/C/I,
4 CONCLUSÕES de 20 de fevereiro de 2014. 2014.
Maia, J.A.C. (2003). Métodos Probabilísticos Aplicados à
A partir das análises apresentadas nas duas Estabilidade de Taludes e Cavidades em Rochas,
etapas foi possível destacar a influência de uma Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação em Geotecnia, Departamento de
abordagem probabilística no modelo de
Engenharia Civil, Universidade de Brasília, 196 p.
transporte de solutos. A literatura mostra que os Napa García et al. (2014). Probabilistic Analysis of
parâmetros da solução de Ogata & Banks são Contaminant Transport via Monte Carlo Simulation,
consideravelmente imprecisos e assim, quando The Eletronic Journal of Geotechnical Engineering,
se calcula apenas um valor determinístico pode- Vol. 19, p. 6847-6856.
Ogata, A. e Banks, R.B. A solution of the differential
se afirmar que essa concentração não representa
equation of longitudinal dispersion in porous media,
a realidade do nível de poluição das águas 1961, U. S. Geological Survey: Washington D.C,
subterrâneas. Utilizando o método do ponto EUA.
estimado de Rosenblueth fez-se uma análise Rosenblueth, E. (1975). Point estimates for probability
teórica e uma análise de sensibilidade para moments, Proceedings of the National Academy of
Sciences, Vol. 72 (10), p. 3812–3814.
ilustrar quão diferentes são os resultados
quando se utiliza uma abordagem
probabilística.
A principal dificuldade durante a pesquisa
foi encontrar, disponível na literatura, valores
de média, desvio padrão, assim como, modelos
de probabilidade referentes aos parâmetros do
solo, obtidos a partir de estudos experimentais.

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Comportamento de Resistência à Compressão não Confinada de
um Solo Laterítico Contaminado com Óleo Diesel
José Wilson Batista da Silva
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, josewilson-engenharia@hotmail.com

Leonardo Vinícius Paixão Daciolo


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, leonardodaciolo@hotmail.com

Natália de Souza Correia


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, ncorreia@ufscar.br

Fernando Henrique Martins Portelinha


Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, Brasil, fportelinha@ufscar.br

RESUMO: Inúmeros são os relatos de poluição do solo por hidrocarbonetos devido ao aumento da
exploração e vazamento de atividades petroleiras e industriais. Neste contexto, surgem políticas de
reaproveitamento de áreas de solos contaminados, as quais direcionam para o reuso deste material
em misturas betuminosas, sub-base de pavimentos, camadas de aterros sanitários, pátios de
estacionamento e áreas industriais. No entanto, o reuso torna-se uma solução condicionada ao
entedimento do comportamento geotécnico do solo após a contaminação. Este trabalho faz parte de
um programa experimental de avaliação das propriedades físicas e hidromecânicas de solos
contaminados com combustíveis e avalia, especificamente, o efeito da contaminação por óleo diesel
na resistência à compressão não confinada de um solo laterítico areno-argiloso. Os resultados
demonstram que a contaminação com óleo diesel promoveu alterações significativas nas propriedades
de resistência à compressão do solo, tanto com redução signicativa da capacidade de carga, quanto
com incrementos de resistência para baixos teores de contaminação.

PALAVRAS-CHAVE: Solo Laterítico; Solo Contaminado; Óleo Diesel; Resistência à compressão.

1 INTRODUÇÃO de 255 pontos de contaminação. Em 2016, o


número de áreas contaminadas já havia
O consumo elevado de combustíveis fosséis, os aumentado para 5662, sendo 73% dos casos
quais incluem o petróleo e seus derivados, teve devido a postos de combustíveis (CETESB,
significativo aumento nas últimas décadas, 2016).
aumentando a cadeia de transportes e estocagem Como solução a este problema, além de
destes produtos em todo o território nacional. alternativas de remediação, diversas políticas de
Em decorrência deste fato, aumentos reaproveitamento de solos contaminados surgem
signifcativos nos registros de áreas de solos atualmentente, tais como a Petroleum-
contaminados têm sido identificados, revelando- contaminated Soil Guidance Policy (NYSRE,
se verdadeiros problemas ambientais. Foi com 2010), as quais direcionam para o reuso deste
esta preocupação que, em 2002, a Companhia material em misturas betuminosas, sub-base de
Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) pavimentos, camadas de aterros sanitários,
divulgou pela primeira vez a lista de áreas pátios de estacionamento e áreas de depósitos de
contaminadas no estado, registrando a existência resíduos.

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No entanto, o reuso torna-se uma solução Tabela 1 – Estudos de comportamento mecânico do solo
condicionada ao entedimento do comportamento pós-contaminação
geotécnico do solo após a contaminação, o qual Resitência à
Referência Solo Contaminante
pode ser realizado mediante caracterização compressão
geotécnica e investigação de alterações nas Ijimdiya Arenoso Óleo de
propriedades hidromecânicas dos solos (Daka, (2013) laterítico motores
2015). Neste sentido, diversos estudos vem Argila de
Nasehi et al.
baixa Gasolina
sendo realizados atualmente com próposito de (2016)
plasticidade Aumento
avaliar o comportamento geotécnico dos solos Argila de em 2 a 4%
contaminados com derivados de petróleo para Khamehchiyan Petróleo
et al. (2007)
baixa
bruto
fins de reuso ou na busca por métodos de plasticidade
remediação destes solos (Kermani e Ebadi, Eissa et al.
Argila de
2012; Nazir, 2012; Ijimdiya, 2013; Ota, 2013; alta Querosene
(2017)
Daka, 2015, Estabragh et al., 2016; Nasehi et al., plasticidade
2016, Daciolo et al., 2017; Eissa et al., 2017; Kermani e Silte areno- Petróleo
Ebadi (2012) argiloso bruto
Karkush e Al-Taher, 2017; Oluremi et al., 2017;
Rahman et al. Arenoso Óleo de
Silva et. al., 2017, entre outros). (2011) residual motores
Estudos de propriedades de resistência de Silte de
solos contaminados com diferentes derivados do Nasehi et al.
baixa Gasolina
(2016)
petróleo demonstram que não existe uma plasticidade
uniformidade no comportamento dos solos pós- Silte Redução
contaminação. Verifica-se que, de forma geral, a Oluremi et al. laterítico de
Petróleo
lubrificação das partículas com óleo reduz (2017) baixa
plasticidade
drasticamente a resitência do solo, porém, alguns
Karkush e Silte
estudos apresentam incrementos de resistência à Al-Taher argiloso e
Óleo de
compressão para pequenos teores de refinaria
(2017) argila siltosa
contaminantes (Tabela 1). Nazir et al. Óleo de
Argiloso
De acordo com Kermani e Ebadi (2012), os (2012) motores
profissionais da área de geotecnia devem Fonte: Próprios autores.
considerar as alterações geotécnicas sofridas no
solo devido a contaminação em cada caso, uma
vez que a capacidade de carga, a resitência ao 2 MATERIAIS E MÉTODOS
cisalhamento e a compressibilidade são fatores
que merecem atenção, principalmente em 2.1 Solo
condições de reuso do solo. Ainda, na literatura,
existem muito poucos relatos sobre o O solo utilizado neste trabalho trata-se de um
comportamento geotécnico de solos lateríticos solo fino tropical laterítico sendo caracterizado
contaminados com combustíveis, os quais como uma areia argilosa (SC) de acordo com a
ocupam cerca de 8% da superfície dos classificação SUCS (ASTM D2487-11). O solo
continentes e encontram-se amplamente foi extraído do extremo norte do campus da
distribuídos em território brasileiro. Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Diante deste contexto e do potencial reuso em São Carlos-SP. Após coletado, este solo foi
dos solos contaminados na engenharia civil, o limpo de matéria orgânica residual, destorroado
presente trabalho consiste em avaliar o efeito da na peneira de abertura 4,8mm (#4), quarteado e
contaminação por óleo diesel na resistência à seco ao ar até atingir a umidade hicroscópica, tal
compressão uniaxial não confinada de um solo como prescrito na ABNT-NBR 6457 (2016). Os
laterítico areno-argiloso, em teores de ensaios de caracterização realizados e os
contaminação de 3, 4, 5, 8, 12 e 16%. resultado neles encontrados são apresentados na
Tabela 2.

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Tabela 2 – Propriedades do solo estudado (natural) Nesta pesquisa, as análises das alterações
Propriedades Valor Norma sofridas no solo após a contaminação com óleo
Fração areia (%) 70 diesel foram realizadas através do ensaio de
Fração silte (%) 2,7 ABNT-NBR resitência à compressão uniaxial não confinada,
7181/2016
Fração argila (%) 27,3 de acordo com a ABNT-NBR 12025 (2012).
Peso específico dos 28,4 ABNT-NBR Devido a resistência à compressão do solo estar
sólidos (kN/m³) 6508/1984 diretamente relacionado ao estado de
Limite de liquidez (%) 33,4 ABNT-NBR densificação da amostra, os corpos de prova
6459/2016
Limite de plasticidade 21,5
foram moldados nos parâmetros ótimos de
(%) ABNT-NBR compactação Proctor Normal (ABNT-NBR
Índice de plasticidade 11,9 7180/2016 7182/2016) para cada teor de óleo diesel
(%) investigado. As amostras foram moldadas para o
Peso específico seco 17,7 ensaio de resitência à compressão simples com
máximo (kN /m³) ABNT-NBR
7182/2016 grau de compactação estipulado em 97%.
Umidade ótima (%) 14,8
Fonte: Próprios autores.

3 RESULTADOS
2.2 Óleo Diesel
A Figura 1 apresenta as curvas de
Neste estudo, o contaminante a base de
compactação do solo natural e dos solos
hidrocarboneto empregado foi o óleo disel S500,
contaminados com o óleo diesel nos teores de 3,
coletado em posto de abastecimento no
4, 5, 8, 12 e 16%, de acordo com o ensaio de
município de São Carlos-SP. Este combustível
Proctor Normal.
tem densidade de 0,834 g/cm³, apresenta
coloração avermelhada e pH de 5,62. 1.90
Solo Natural
1.85 3%
Massa específica seca (g/cm³)

2.3 Contaminação solo-combustível 4%


5%
1.80 8%
12%
Primeiramente, misturou-se à mão o óleo diesel 1.75 16% 100%
com o solo natural em teores de 3, 4, 5, 8, 12 e 1.70
16% relativos a massa seca do solo, até que as 1.65 90%

amostras apresentassem aspecto homogêneo. As 1.60 80%


amostras foram então ensacadas, vedadas e Solo Laterítico
70%
1.55
deixadas em descanso durante 24 horas. Testes Diesel
iniciais com diferentes tempo de descando pós- 1.50
5 10 15 20 25
contaminação não demonstraram alterações Teor de umidade (%)
significativas no comportamento do solo. Além Figura 1 – Curvas de compactação do solo laterítico
disso, de acordo com os estudos de Khosravi et natural e com óleo diesel. Fonte: Próprios autores.
al. (2013), a perda de óleo por evaporação
durante o manuseio do solo é inferior a 3% da Oberva-se na Figura 1 que a contaminação
massa de óleo imposta no solo, sendo também, com óleo diesel alterou as propriedades de
portanto, não considerada significativa. compactação do solo em relação ao resultados do
solo natural. Um aumento nos resultados de
2.4 Ensaio de resistência à compressão uniaxial massa específica aparente seca e redução do teor
não confinada de umidade ótima pós-contaminação foi
verificado para até 5%, provavelmente devido a
Os parâmetros de resistência de um solo são aglutinação das partículas, levando o solo ao
fatores fundamental para os procedimentos de comportamento de um material mais granular. Já
cálculo e dimensionamento de obras de terra, para teores superiores, verificou-se aumento do
sendo este diretamente relacionado a teor de umidade ótima. Nas pesquisas de
estabilidade e segurança das estruturas Alsanad et al. (1995) e Kermani e Ebadi (2012)
geotécnicas. com petróleo bruto, e respectivamente solo

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arenoso e silte areno-argiloso, também verificou- plástico (embarrigamento) com maiores teores
se que houve aumento na massa específica de contaminante (8% a 16%).
aparente seca máxima para baixos teores de
contaminação.
As curvas tensão-deformação médias obtidas
nos ensaios de resistência à compressão são
apresentados na Figura 2. Nota-se que a
contaminação afetou a resistência e
deformabilidade do solo para todos os teores de
contaminação com óleo disel, sendo mais
expressiva para baixos teores.
250
Natural
Resistência à compressão (kPa)

Solo Laterítico - Diesel (a) (b)


3%
200 Figura 3. Ensaio de resistência à compressão simples: (a)
4%
Prensa de ensaio; (b) solo natural. Fonte: Próprios
5% autores.
150
8%
12%
100 16%

50

0
0% 1% 2% 3% 4% 5%
Deformação específica
Figura 2. Curvas tensão-deformação do solo laterítico
natural e com óleo diesel. Fonte: Próprios autores.

A Tabela 3 apresenta estes resultados com os


(a) (b)
coeficientes de variação entre os corpos de prova
ensaiados, sendo 15% o maior coeficiente de
variação obtido para o solo natural.
Tabela 3 – Dispersão dos Resultados de máxima
resistência à compressão simples
ߪത௠ž௫ Desvio Coeficiente de
Amostra
(kPa) Padrão Variação (%)
Natural 103,6 16,53 15.0%
3% 208,5 3,26 1.6%
4% 206,8 9,79 4.7%
5% 190,2 15,46 8.1% (c) (d)
8% 96,8 7,06 7.3%
12% 76,2 3,76 4.9%
16% 35,8 2,36 6.4%

A Figura 3 apresenta o ensaio de resistência à


compressão e o aspecto de ruptura do solo
natural, onde foram obsevados planos de ruptura
bem definidos. A Figura 4 apresenta o aspecto
dos corpos de prova contaminados com óleo
diesel nos teores de 3, 4, 5, 8, 12 e 16% após
(e) (f)
ruptura. Observou-se, de forma geral,
Figura 4. Corpos de prova após rompimento por
abaulamento e fissuras para os corpos de prova compressão simples: (a) 3%; (b) 4%; (c) 5%; (d) 8%; (e)
contaminados, com comportamento mais 12% e (f) 16%. Próprios autores.

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A Figura 5 apresenta os resultados de resistência máxima à compressão, confirmando
máxima resistência à compressão com o os resultados encontrados na literatura, os quais
aumento do teor de óleo diesel no solo. Observa- demonstram o efeito aglutinador do óleo nas
se que o aumento da resistência máxima à partículas de solo. A partir do teor de 5%, o óleo
compressão do solo contaminado foi obtido para diesel atuou como lubrificante neste solo,
os teores de 3, 4 e 5% de óleo diesel. causando diminuição expressiva na resistência à
compressão do solo. Este fato reforça a
250 necessidade de se aprofundar os estudos
Solo Laterítico
Máxima resistência à compressão

Diesel relacionados as propriedades geotécnicas de


200
solos contaminados com combustíveis.
150
(kPa)

100
AGRADECIMENTOS

50 Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa


do Estado de São Paulo – FAPESP pelo apoio
0 financeiro à pesquisa do aluno José Wilson
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Batista da Silva, sob processo 2016/18522-1.
Teor de contaminação (%)
Figura 5. Variação da máxima resistência à compressão
Agradecemos também ao Laboratório de
do solo com a porcentagem de contaminação com óleo Geotecnia da UFSCar (LabGEO/UFSCar) e ao
diesel. Fonte: Próprios autores. técnico Sidnei Muzetti pelo apoio durante a
realização dos ensaios.
Em geral, atribui-se esse comportamento ao
efeito aglutinador do contaminante para baixos
teores, o que também foi verificado nas REFERÊNCIAS
pesquisas de Khamehchiyan et al. (2007),
Ijimdiya (2013), Nasehi et al. (2016) e Eissa et ALSANAD, H. A.; EID, W. K.; ISMAEL, N. F. (1995).
al. (2017). Em todos os casos, tal como nesta Geotechnical Properties of Oil-Contaminated Kuwait
pesquisa, com o aumento dos teores, o óleo Sand. Journal of Geotechnical Engineering, issue 120,
p.407-412.
diesel atuou como lubrificante, causando ASTM D2487-11. Standard Practice for Classification of
diminuição expressiva na resistência à Soils for Engineering Purposes (Unified Soil
compressão do solo. Nazehi et al. (2016) aponta Classification System), ASTM International, West
em seu estudo, realizado com gasolina, que Conshohocken, PA, 2011
durante a contaminação ocorre uma floculação ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA de NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6457 - Amostras de solos -
das partículas do solo na reação água com o óleo, preparacao para ensaios de compactacao e
o que poderia explicar este aumento na caracterizacao, 2016.
resistência do solo. ____. NBR 6459 – Solo: Determinação do Limite de
Liquidez. Rio de Janeiro, 2016, corrigida: 2017. 6p.
p ____. NBR 6508 – Solo: Determinação da massa
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS específica dos solos. Rio de Janeiro, 1984. 8p.
____. NBR 7180 - Solo: Determinação do Limite de
Plasticidade. Rio de Janeiro, 2016. 3p.
Esta pesquisa analisou o efeito da ____. NBR 7181 - Solo: Análise Granulométrica por
contaminação de óleo diesel na resistência à Peneiramento. Rio de Janeiro, 2016. 13p.
compressão uniaxial de um latossolo areno- ____. NBR 7182 - Solo: Ensaio de compactação. Rio de
argiloso da cidade de São Carlos-SP. Dos Janeiro, 2016. 10p.
____. NBR 12025 - Solo: Ensaio de Compressão Não
resultados encontrados podemos verificar que Confinada. Rio de Janeiro, 2012. 15p.
alterações significativas na resistência à CETESB (2016). Texto explicativo. Relação de áreas
compressão uniaxial e na deformabilidade do contaminadas e reabilitadas do Estado de São Paulo,
solo foram verificadas após a contaminação com CETESB, 14p, 2016.
óleo diesel. Para baixos teores (3, 4 e 5%) DAKA, M. R. Geotechnical Properties of Oil
Contaminated Soil. Thesis (Master of Philosophy).
ocorreram aumentos expressivo nos valores de Universidade de Manchester, 2015.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



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GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.




Estudo Comparativo da Permeabilidade do Solo e a Legislação
do Plano Diretor da Cidade de Cuiabá - MT

Tailane Coimbra da Rosa


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil,
tailane_coimbra@hotmail.com

Marcos de Oliveira Valin Jr


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil,
marcos.valin@cba.ifmt.edu.br

Ilço Ribeiro Junior


Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso, Cuiabá, Brasil,
ilco.ribeiro@cba.ifmt.edu.br

RESUMO: Este trabalho busca trazer um estudo do solo de Cuiabá, correlacionando com a
Legislação Vigente, com o intuito de obter resultados atualizados do coeficiente de
permeabilidade. Para isso foi realizado um estudo da geologia, coleta de dados de precipitação,
ensaio de solo pelo Método Matsuo e explanação da Lei de Uso e Ocupação do Solo. Com os
resultados obtidos, conclui-se que o coeficiente de permeabilidade (k) destes solos apresenta-se
muito baixos. Com os dados obtidos de precipitação pelo INMET (Instituto Nacional de
Metrologia), observa –se, a existência de praticamente 1 semestre chuvoso (novembro a abril) e
1 semestre seco (maio a outubro). De uma forma geral, pode-se concluir que o solo residual
saprolítico de filito da Baixada Cuiabana, por suas propriedades físicas, tem pouca capacidade de
armazenamento de água pluvial e baixa velocidade de percolação e que há uma discrepância com
o que de fato a Legislação exige, referente ao coeficiente de permeabilidade do solo do Município.

PALAVRAS-CHAVE: Solos, Precipitação, Permeabilidade, Ocupação do solo.

1 INTRODUÇÃO

Cuiabá, capital de Mato Grosso, nas últimas mineralógica, possui característica de baixa
décadas, passou por grandes transformações, permeabilidade; foi realizado este estudo, com
devido sua explosão populacional, o objetivo de obter uma estimativa da
ocasionando profundas mudanças, capacidade que o solo consegue absorver,
principalmente nos seus aspectos relacionados diante da ocorrência de uma elevada
ao uso e ocupação do solo. Este elevado índice precipitação e correlacionar com o que a Lei de
habitacional, fez com que a capital aumentasse Uso e Ocupação do Solo do Município exige
suas construções, tanto residenciais, quanto de coeficiente de permeabilidade de
comerciais, fazendo com que áreas antes determinadas áreas da região.
permeáveis, se reduzissem a coberturas de
concreto e asfalto.
Na cidade de Cuiabá, predomina-se o solo 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
do tipo saprolítico de filito, sua composição



2.1 Características Geotécnicas de Cuiabá quantidade dessa permeabilidade expressa pelo
´´coeficiente de permeabilidade``.
A posição geográfica e geomorfológica de Através do movimento da água no solo,
Cuiabá, se encontram sobre litologias pode-se estabelecer seu coeficiente de
deformadas, pertencentes ao grupo Cuiabá, permeabilidade, que é a constante que indica a
constituídos por rochas de baixo grau de quantidade de água que passa em uma seção
metamorfismo, como os filitos, metarenitos e
em um determinado número de tempo.
metarcósos, possuindo xistosidades bem
desenvolvidas e intensamente dobrada e
fraturada durante os vários ciclos tectônicos de 2.2.1 Ensaio de Permeabilidade em Solos
idade pré-cambriana, RIBEIRO (2011).
Para identificação de um conceito preciso do
coeficiente de permeabilidade ``k``, utiliza-se
de ensaios de permeabilidade de campo ou
laboratório, o ensaio utilizado no presente
trabalho, foi o ensaio em cava prismática pelo
Método Matsuo.
De acordo com a Associação Brasileira de
Geologia de Engenharia (1996), o ensaio deve
ocorrer com as seguintes especificações: a área
deverá ser preparada devidamente, o local do
ensaio é escavado até o horizonte desejado, as
dimensões da cava devem ser drenadas
Figura 1 – Geologia do perímetro urbano da cidade de superficialmente, durante a execução do
Cuiabá. Fonte: IBGE (2010). ensaio, deve ser monitorado em paralelo a taxa
No perímetro urbano da capital, pode-se de água evaporada. A primeira etapa, consiste
encontrar, diversos tipos de solos, dentre eles, no enchimento da cava, utilizando uma
o solo do tipo saprolítico de filito, que são solos mangueira acoplada a um hidrômetro, até os
residuais, pertencentes ainda ao local de sua pontos demarcados, a água deverá atingir o
origem, porém já com fraturas relíquiares e nível do ensaio e ser mantido constante. No
xistosidades. decorrer do ensaio é acompanhado, utilizando-
se de um gráfico, a vazão ou volume
2.2 Ciclo Hidrológico acumulados X tempo, o término desta etapa, se
realiza quando a vazão for mantida
Freire e Farias (2005), relaciona o conceito de consideravelmente constante. A segunda etapa,
ciclo hidrológico, como uma equação realiza-se com a cava já seca, e deve-se ampliar
a mesma, seguindo os mesmos cuidados
hidrológica, onde o resultado desta equação é a
anteriores, a execução procede de acordo com
quantificação de água em cada ciclo, em um
a primeira etapa.
determinado tempo e, esse processo recebe o
nome de Balanço Hídrico.
A Precipitação é a maior responsável pela
alimentação do ciclo hidrológico, é causada
pelo vapor d`água presente na atmosfera, e
apresenta-se no seu estado líquido ou sólido,
nas formas de chuva, neve, granizo, entre
outros.
Caputo (2013), define permeabilidade,
como a capacidade que o solo tem de permitir
que a água escoa através dele, sendo a



Expansão Urbana – (ZEX) e Zonas Urbanas
Especiais. Estas zonas são divididas com o
intuito de determinar seus diferentes tipos de
uso.
O quadro de Índices Urbanísticos, presente
no Art. 146 da Lei Complementar N°389,
define os conceitos para cada zona de
Ocupação do solo, nele é estabelecido a
porcentagem de área permeável que se deve
deixar em cada respectiva zona. De acordo
com a Lei é computado como coeficiente de
permeabilidade, a relação da somatória entre o
coeficiente de cobertura vegetal arbórea e o
coeficiente de cobertura vegetal paisagística
com a área do próprio lote; sendo a cobertura
vegetal paisagística, a área que deverá ser
Figura 2 – Esquemas para ensaios em cavas. Fonte:
mantida permeável com trabalhos paisagísticos
ABGE (1996).
e a cobertura vegetal arbórea, a área que deverá
ser preservada com maciço de vegetação
arbórea e arbustiva.
2.3 Legislação Urbana de Cuiabá

A Legislação Urbana de Cuiabá é o conjunto


de documentos que rege a política de
desenvolvimento do Município. Possui caráter
funcional para organização de funções sociais,
como garantir qualidade de vida dos cidadãos.
Esta Legislação foi desenvolvida pelo Instituto
de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano de
Cuiabá (IPDU), que faz parte do Sistema
Municipal de Desenvolvimento Urbano de
Cuiabá, publicado no ano de 2004, CUIABÁ
(2004).
Dentro da Legislação Urbana, há o Plano
Diretor de Desenvolvimento Estratégico de Quadro 1 – Índices Urbanísticos – Lei de Uso e
Cuiabá, Lei Complementar n ° 150 de janeiro Ocupação do Solo de Cuiabá - MT.
de 2007, este documento contém diretrizes,
para o desenvolvimento socioeconômico e
planejamento da Capital, devendo ser revisado 3 RESULTADOS
a cada dez anos, conforme o capitulo III, Art.
40. § 3° do Estatuto da Cidade, Lei N° 10.257 3.1 Ensaio de Permeabilidade do Solo
de julho de 2001.
A Lei Complementar N° 389, que disciplina O local de realização do ensaio, está situado a
o Uso e Ocupação do Solo no Município, teve margem esquerda da MT – 251 Rodovia
sua última atualização em novembro de 2015, Emanoel Pinheiro, sentido Cuiabá – Chapada
ela dispõe o estabelecimento de normas e dos Guimarães, nas imediações do Km 2 em
diretrizes, sobre o zoneamento e urbanização frente ao bairro Jardim Florianópolis. O solo
do município de Cuiabá. A Lei de Uso e do local é constituído de saprólito duro e cinza
Ocupação do Solo é dividida por Macrozonas, esverdeado, o aterro constitui um leito de
tendo três principais zonas de uso: Zona material sobre o perfil saprólito, ora concorre
Urbana de Uso Múltiplo – (ZUM), Zona de



justaposto, no mesmo plano com o referido A absorção acumulada indica uma maior
perfil. capacidade na camada de aterro compactada,
que na camada de solo saprolítico, onde seu
índice de vazios é extremamente baixo, na
ordem de 0,35, proporcionando uma pequena
absorção acumulada no solo residual.
Deve-se observar que os dados mostram
uma retenção oferecida pela camada de filito, e
isso faz com que a justaposição, vertical ou
horizontal do aterro sobre essa camada, se
submetido a infiltração pode causar
carreamento do material, propiciando piping,
em camadas subjacentes ao nível assente das
construções, inclusive a de drenagens pluviais.
Mesmo com a absorção diferenciada entre os
Figura 3 - Perfil do solo ensaiado. solos, a vazão e sobretudo, o coeficiente de
permeabilidade são distantes na ordem de uma
Foram realizados 2 ensaios de infiltração “in dezena entre o ensaio realizado na camada do
situ” seguindo o método Matsuo (1953). leito de filito e o ensaiado no aterro
Tomou-se o cuidado, na escolha de dois compactado. Isso mostra que a permeabilidade
materiais, obtendo dados ao medir a infiltração no aterro compactado é cerca de 10 vezes
no saprólito e no aterro com concreção maior que o solo residual saprolítico de filito,
laterítica. Para garantir carga hidráulica predominante na Baixada Cuiabana.
constante foi utilizado um recipiente com Além disso, os resultados do coeficiente de
controlador de vazão com medida de volume permeabilidade (k) indicam resultados muito
inicial e final, sendo o nível d’água mantido baixos, podendo ser classificados como solos
constante, acrescentando água à medida do de baixíssima permeabilidade, ou seja, a
avanço da infiltração. capacidade da água passar pelos poros do solo
O primeiro ensaio realizado sobre o leito de é baixa, com isso, a velocidade de percolação
filito (cava 01) apresentou rápida estabilidade também é muito baixa.
e ao final de 17 minutos foi considerado
suficiente para a determinação do coeficiente
de percolação. Vale lembrar que esse leito
apresenta um mergulho de 19° no sentido
norte-sul; o segundo ensaio (cava 02), foi
realizado no aterro laterítico, e após uma hora
do início do ensaio a vazão mantinha-se com Quadro 3 - Valores obtidos no ensaio.
fluxo considerável. Para estimativa do
coeficiente de permeabilidade nesse local o 3.2 Análise Precipitação
ensaio demandou 60 minutos. O Quadro 2
apresenta as dimensões geométricas da cava Para analisar a demanda hídrica de Cuiabá,
prismática enquanto que o Quadro 3 para obtenção de informação climatológica da
apresentam os valores vazão e coeficiente de precipitação, capacidade de campo e
permeabilidade obtidos no ensaio. armazenamento de água no solo, foram
coletados dados do INMET (Instituto Nacional
de Metrologia), sendo a média dos anos de
2011 a 2015, como apresentado na Figura 4.
Observa-se que os valores de precipitação
acumulados para cada mês/ano em Cuiabá, no
decorrer de 5 anos (2011-2015), que o mês de
Quadro 2 – Dados geométricos da cava prismática. fevereiro do ano de 2011 apresentou maior



índice pluviométrico identificado, com
aproximadamente cerca de 360 mm de
precipitação mensal acumulada. Já nos meses
de julho de 2012 e agosto de 2013, não
houveram ocorrências de precipitação,
períodos estes bem típico na Cidade de Cuiabá,
onde o inverno é bem seco.

Figura 5 – Precipitação mensal durante o período de


janeiro de 2011 a dezembro de 2015. Fonte: INMET
(2016).

A Figura 6, apresenta os maiores valores de


precipitação diária obtidos em cada mês, ou
seja, o valor do dia com maior precipitação no
mês, observa-se cerca de 130 mm em março de
Figura 4 – Precipitação mensal durante o período de 2013. Nestas chuvas classificadas como
janeiro de 2011 a dezembro de 2015. Fonte: INMET torrenciais, onde a precipitação é muito intensa
(2016).
num intervalo curto de tempo, acontecem mais
Na Figura 5, tem-se os dados organizados de a corrida de água pela superfície do solo do que
maneira a propiciar a melhor observação da a infiltração, pois a velocidade de entrada de
distribuição da precipitação ao longo dos água, depende da demanda e do coeficiente de
meses no período analisado, onde observa-se a permeabilidade do solo. Observa-se ainda uma
ocorrência de duas estações bem definidas, média pluviométrica variando de 40 mm a 80
uma seca (entre maio a outubro) e outra mm, onde encontra-se o maior equilíbrio das
chuvosa (entre novembro a abril), sendo os precipitações diárias anuais, levando a um
maiores valores de precipitação obtidos entre maior equilíbrio entre a massa que entra e a
janeiro a março, e os menores entre maio a massa infiltrante.
setembro.
Observa-se ainda, de uma forma geral, nas
Figuras 4 e 5, a identificação clara do balanço
hídrico da região, mostrando a existência de 1
semestre chuvoso (novembro a abril) e 1
semestre seco (maio a outubro). Este fato leva
a observar que da metade para o final da
estação chuvosa, o solo está com sua
capacidade de campo e armazenamento cheios,
levando ao excedente hídrico. Na segunda
metade do semestre seco, acontece o inverso,
onde o solo se encontra com sua capacidade de
campo vazia e projeta uma deficiência hídrica.
Figura 6 – Maior precipitação diária em cada mês no
período de janeiro de 2011 a dezembro de 2015. Fonte:
INMET (2016).

4 CONCLUSÃO



A pouco mais de uma década, Cuiabá começou distantes na ordem de uma dezena, ou seja, a
a se preocupar um pouco mais com seu permeabilidade do aterro é 10 vezes maior que
crescimento, e assim, aprovou o atual Plano do solo residual saprolítico de filito,
Diretor do Município, onde é dividido por predominante na Depressão Cuiabana.
regiões de atuação sócio econômica e introduz Além disso, os resultados do coeficiente de
coeficientes de área permeável a cada uma permeabilidade (k) indicam resultados muito
delas. Estes coeficientes de permeabilidade são baixos, podendo ser classificados como solos
obrigatórios em obras construídas a partir de de baixíssima permeabilidade, ou seja, a
sua aprovação, e buscam em sua concepção, o capacidade do fluído de água passar pelos
retorno da água a natureza, proporcionando um poros do solo é baixa.
maior equilíbrio ambiental. A concepção do De uma forma geral, pode-se concluir que o
projeto para Cuiabá é muito boa, porém solo residual saprolítico de filito da Baixada
estabelecer coeficientes de permeabilidade por Cuiabana, por suas propriedades físicas, tem
região classificatória, é simplesmente ignorar o pouca capacidade de armazenamento de água
material absorvente, o solo e suas propriedades pluvial e uma baixa velocidade de percolação.
e capacidades de absorção desta água. Já em chuvas torrenciais, o solo atuará de
Com os dados obtidos pelo INMET, nota-se forma praticamente impermeável,
claramente do balanço hídrico da região, proporcionando um volume alto de
mostrando a existência de praticamente 1 escoamento superficial, fazendo com que mais
semestre chuvoso (novembro a abril) e 1 de 95% da água precipitada chegue ao Rio
semestre seco (maio a outubro). Este fato leva Cuiabá.
a observar que da metade para o final da Em suma, os resultados apontam uma total
estação chuvosa, o solo está com sua discrepância entre o que de fato acontece no
capacidade de campo e armazenamento cheios, solo e seu balanço hídrico, com a legislação
levando ao excedente hídrico. Na segunda atual do Plano Diretor do Município de Cuiabá
metade do semestre de estiagem, acontece o e seu uso e ocupação do solo, mostrando a
inverso, onde o solo se encontra com sua necessidade urgente de planejar o uso e
capacidade de campo vazia e projeta uma ocupação do solo não somente com a realidade
deficiência hídrica. socioeconômica de cada região do Município,
Os dados do INMET também mostram a mas sobretudo, com o elemento absorvente de
existência de chuvas torrenciais, onde a todo esse balanço hídrico na região, o solo.
precipitação é muito intensa num intervalo
curto de tempo. Neste caso, acontece mais a
corrida de água pela superfície do solo do que AGRADECIMENTOS
a infiltração, pois a velocidade de entrada de
água, depende da demanda e do coeficiente de A todos que contribuíram para a realização
permeabilidade do solo e da sua capacidade de deste trabalho.
armazenamento. A média pluviométrica varia
de 40 mm a 80 mm, onde encontra-se o maior
equilíbrio das precipitações diárias anuais, REFERÊNCIAS
levando a um maior equilíbrio entre a massa
que entra e a massa infiltrante. CAPUTO, Homero Pinto.1923-1990. Mecânica dos
Os ensaios de permeabilidade “in situ” solos e suas aplicações, volume 1: fundamentos. 6.
indicam uma maior capacidade na camada de ed.,rev. e ampl. – [reimpr]. Rio de Janeiro: LTC,2014.
aterro compactada, que na camada de solo
CUIABÁ, Prefeitura Municipal de Cuiabá/ Legislação
saprolítico, onde seu índice de vazios é Urbana de Cuiabá. / IPDU – Instituto de Pesquisa e
extremamente baixo, na ordem de 0,35, Desenvolvimento Urbano. -- . Cuiabá. Entrelinhas,
proporcionando uma pequena absorção 2004. 644p. Disponível em:
acumulada no solo residual. Mesmo com a http://www.cuiaba.mt.gov.br/. Acesso em: 17 out 2016.
absorção diferenciada entre os solos, a vazão e
ENSAIOS DE PERMEABILIDADE EM SOLOS –
sobretudo, o coeficiente de permeabilidade são Orientações para sua execução/ Boletim n.4.



Coordenação Antônio Manoel dos Santos Oliveira e
Diogo Corrêa Filho – Associação Brasileira de Geologia
de Engenharia, São Paulo, 1996.

ESTADO DE MATO GROSSO. Prefeitura de Cuiabá.


Câmara Municipal de Cuiabá – LEI
COMPLEMENTAR N° 389 de 03 de novembro de 2015
- Lei de Uso e Ocupação do solo do Município de
Cuiabá. Disponível em: http://www.cuiaba.mt.gov.br/.
Acesso em: 15 mar 2016.

FREIRE, Cleuda Custódio., FARIAS, Sylvia Paes.


Princípios de hidrologia ambiental. (2005). Disponível
em: http://capacitação.ana.gov. Acesso em: 16 fev 2017.

IBGE. Base Cartográfica 2010. Disponível em:


http://mapas.ibge.gov.br/bases-e-referenciais/bases-
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INMET – Instituto Nacional de Meteorologia. Base de


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http://www.inmet.gov.br/projetos/rede/pesquisa/mapas
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PINTO, Carlos de Souza. Curso Básico de Mecânica dos


Solos em 16 aulas. 3.ed. – São Paulo: Oficina de Textos,
2006.

RIBEIRO, Karyn Ferreira Antunes. Influência da


Expansão do solo na obtenção dos parâmetros
geotécnicos obtidos com ensaios de laboratório. -
Cuiabá – MT: Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia de Mato Grosso, 2011,58p.


Influência da Adição de Bentonita no Melhoramento de Solos
Tropicais na Utilização de Camadas de Base de Aterros Sanitários
Ligia Abreu Martins
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, ligiaabreumartins@gmail.com

Yago Guidini da Cunha


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, yagoguidinic@gmail.com

Karla Maria Wingler Rebelo


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, kmwingler@gmail.com

RESUMO: Barreiras impermeabilizantes de aterros sanitários são geralmente constituídas por


camada de argila compactada (CCL) e, para tal, o solo deve apresentar certas características, como
baixa permeabilidade (abaixo de 10-7 cm/s). Essa exigência pode restringir a utilização de certos
materiais, visto que solos com alto teor de argila podem não estarem disponíveis em todas as áreas.
Para esses casos, a adição de bentonita pode ser uma potencial alternativa para melhorar o
comportamento da CCL. Nesse contexto, este programa experimental consiste na caracterização e
estudo da condutividade hidráulica (k) de misturas Solo (S) – Bentonita (B) (S/B) compactados,
preparadas na proporção de bentonita de 0%, 3%, 5%,7% e 9% em peso seco. A adição de bentonita
reduziu consideravelmente a condutividade hidráulica do solo. Os resultados indicam que uma
pequena adição de 3% de bentonita já atinge um valor de 6,6 x 10-8 cm/s, abaixo do valor prescrito
em norma.

PALAVRAS-CHAVE: Aterro Sanitário, Camada de Argila Compactada, Bentonita, Barreira


Impermeabilizante, Condutividade Hidráulica.

1 INTRODUÇÃO portanto, deve ser contido de modo adequado nas


barragens de rejeito e nos aterros sanitários.
A crescente preocupação da sociedade com a Logo, o desempenho dos aterros sanitários e
degradação do meio ambiente e o que isso irá industriais se deve à eficiência das barreiras
acarretar às gerações futuras tem conduzido a impermeabilizantes de fundo e de cobertura,
utilização de técnicas de gerenciamento que também denominados de liners.
visam reduzir, reciclar e reaproveitar os Segundo a Norma Brasileira (NBR)
resíduos produzidos pelas diferentes atividades 13896/97 da Associação Brasileira de Normas
humanas, assim como de soluções técnicas que Técnicas (ABNT), Aterros de resíduos não
tornem a disposição desses resíduos segura e perigosos - Critérios para projeto, implantação e
adequada. operação, considera-se desejável a existência,
Nesse sentido, a alternativa mais no local, de um depósito natural extenso e
amplamente adotada para disposição e homogêneo de materiais com coeficiente de
tratamento de resíduos sólidos no Brasil e na permeabilidade inferior a 10-7 cm/s. No entanto,
maioria dos países é o aterro sanitário e as características da geologia brasileira com
industrial, que ainda corresponde à solução grande presença de solos tropicais faz-se
técnica e econômica mais viável. O chorume é o necessária a construção de barreiras
principal poluente do lençol freático e, impermeabilizantes com camadas de solos finos
compactados.
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


As configurações das barreiras Segundo Leite & Morandini (2015), a
impermeabilizantes são exigidas pelas normas bentonita pode reduzir a condutividade
técnicas e legislações de cada país e são função hidráulica e melhorar a capacidade de adsorção
da periculosidade dos resíduos. No Brasil, a de solos arenosos.
Companhia de Tecnologia de Saneamento A bentonita adequada para barreiras
Ambiental (CETESB 1993) prescreve as impermeáveis é a bentonita sódica, na qual o
condições hidrogeológicas e climáticas para cátion Na+ é responsável pela expansão do
implantação de aterros e dos sistemas material em presença de água. Devido sua
impermeabilização e cobertura. característica expansiva sob condições
Nesse contexto, os solos devem apresentar confinadas, assim como nas barreiras verticais,
classificação pelo sistema unificado como CL, as partículas expandidas da bentonita são
CH, SC ou OH, porcentagem de finos maior forçadas umas contra as outras, preenchendo os
que 30%, limite de liquidez igual ou superior a vazios entre as partículas de solo, formando
30% e índice de plasticidade igual ou superior a uma barreira contra a passagem do fluido
15%, pH igual ou superior a 7 e permeabilidade (HEINECK, 2002).
inferior a 10-7 cm/s. A qualidade da bentonita pode ser avaliada
Quando um determinado solo não apresenta por meio dos limites de Atterberg. Conforme
as características necessárias para sua Heineck (2002), uma bentonita sódica de média
utilização, como camada de solo compactada qualidade tem um Limite de Liquidez entre 300
(CCL), ou ainda quando a distância da área de e 500% e uma bentonita sódica de alta
empréstimo inviabiliza o uso desse solo, qualidade entre 500 e 700%.
recorre-se a utilização de aditivos para a Diante desse cenário, pretende-se investigar
melhoria hidráulica e mecânica dos solos. Em o comportamento hidráulico da mistura solo-
geral, os aditivos visam diminuir a bentonita, por meio de ensaios de condutividade
condutividade hidráulica dos solos hidráulica para utilização como barreiras
compactados. impermeabilizantes. Com isso, deseja-se
Dessa forma, a introdução dos argilominerais avaliar, consequentemente, o efeito da bentonita
tanto na impermeabilização quanto na como aditivo no que diz respeito à melhoria das
recuperação de áreas contaminadas tem se propriedades hidráulicas do solo estudado e
destacado. Os argilominerais fazem parte da analisar o percentual de aditivo ideal
composição mineralógica dos solos, designados relacionado à permeabilidade.
como minerais secundários, e ocorrem devido
às modificações das rochas provocadas pelo 2 MATERIAIS E MÉTODOS
intemperismo químico (LUNA &
SCHUCHARDT, 1999). 2.1 Materiais
Uma das argilas utilizadas na Geotecnia, em
especial na Geotecnia Ambiental, consiste na Para a realização desta pesquisa, foram
bentonita, uma argila de granulometria muito coletadas amostras deformadas na localidade de
fina, composta pelos minerais do grupo das Santa Maria de Jetibá (ES), município próximo
montmorilonitas ou também denominado grupo a capital do estado. O solo escolhido foi um
das esmectitas. Segundo Lemos et al. (2002), a solo tropical utilizado na região com finalidade
bentonita é uma argila de alta plasticidade, de aterro para base de rodovia, tal escolha
baixa permeabilidade e possui características deveu-se à grande presença de solos tropicais ao
tixotrópicas em presença de água. longo do país e do globo terrestre e sua
As características que apresenta em virtude característica arenosa, a qual não seria propícia
do alto teor de umidade quando hidratada para a utilização “in natura” em camada de base
colabora com a sua utilização em diversas obras de aterro sanitário.
de engenharia, como em obras de estabilização, As amostras foram coletadas, acondicionadas
em barreiras de contaminantes e em barreiras em sacos e transportadas até o laboratório de
horizontais de impermeabilização. mecânica dos solos da Universidade Federal do
Espírito Santo (UFES).

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O material foi previamente separado por Para a caracterização do aditivo utilizado,
quarteador mecânico e caracterizado antes da devido à sua característica expansiva, foram
adição dos percentuais de aditivo, a fim de realizadas algumas modificações nos
analisar sua viabilidade para estudo, visto que procedimentos da norma para a execução dos
deveria apresentar características divergentes às ensaios de granulometria, nos quais a amostra
prescritas em norma para aterro sanitário. foi reduzida de 70g para 25g e o material, para
O aditivo utilizado, bentonita, é sua completa hidratação, ficou 7 dias em
comercializado pela Bentonisa – Bentonita do solução de 125 ml de hexametafosfato de sódio
Nordeste S.A. e foi classificado como bentonita e água destilada, e o de massa específica, em
sódica, apresentando, dessa forma, o sódio que foi reduzida de 50g para 15g do material e,
como cátion interlamelar e, assim, apresenta para sua completa hidratação, foi deixada em
inchamento em água, benéfico à estrutura que repouso durante 7 dias em água destilada. Os
se pretende analisar. demais ensaios realizados seguiram as diretrizes
Inicialmente, para o estudo, foram das normas vigentes.
estipuladas misturas de solo – bentonita com A caracterização química do solo puro e da
teores de 0%, 3%, 5%, 7% e 9% de aditivo em bentonita foi realizada por meio da empresa
relação à massa de solo seco. Para realização Instituto Brasileiro de Análises (IBRA). Para
das misturas, o solo foi previamente tal, foram realizados os ensaios de macro
destorroado e separado em 5 parcelas distintas. nutrientes, micronutrientes, pH, CTC, saturação
Posteriormente, adicionou-se a quantidade de de bases e de H+ Al.
aditivo previamente calculado e realizou-se a
mistura em lona. Essa etapa foi repetida três 2.2.2 Condutividade hidráulica
vezes em dias distintos para uma melhor
homogeneização do conjunto. Após resultados Os ensaios de condutividade hidráulica foram
dos ensaios, foi descartado o percentual de 9%, realizados em permeâmetro de parede flexível e
visto que os outros parâmetros já atingiam o os corpos de prova foram compactados com
esperado. energia do Proctor Normal em compactador
mecânico e umidade próxima à umidade ótima
2.2 Métodos em cilindros com dimensões de 10 cm de
diâmetro e 12,73 cm de altura e, posteriormente,
Os ensaios realizados foram separados em duas moldados para dimensões de 10 cm de diâmetro
etapas distintas. A primeira etapa abrangeu os e 5 cm de altura.
ensaios de caracterização das misturas de solo e Os ensaios foram realizados conforme a
a segunda etapa engloba os ensaios de ASTM D-5084-10 pelo método da carga
condutividade hidráulica. constante. A montagem do ensaio foi conduzida
na seguinte sequência: sobre o pedestal do
2.1.1 Caracterização das amostras equipamento, foram centralizados uma pedra
porosa, papel filtro, o corpo de prova a ser
A caracterização geotécnica do solo puro e ensaiado, novamente papel filtro e outra pedra
das misturas solo-bentonita foi realizada porosa. Para envolver o corpo de prova e evitar
conforme os ensaios previstos na Associação fluxo lateral, utilizou-se uma membrana
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): flexível.
granulometria (NBR 7181/16), massa específica Após o enchimento da câmara por completo,
dos grãos pelo método do picnômetro (NBR foi aplicada uma contrapressão e percolado
6458/16), realizado apenas no solo puro, limite água longitudinalmente pelo corpo de prova
de liquidez (NBR 6459/16), limite de para a saturação completa. Vale ressaltar que,
plasticidade (NBR 7180/16) e ensaio de para a não ruptura do corpo de prova, a tensão
compactação com energia do Proctor Normal e de percolação em momento algum superou o
com reuso (NBR 7182/16). valor da contrapressão.

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Como o equipamento utilizado não era
dotado de medidor de poro pressão, a saturação
foi considerada atingida com a percolação de 5
vezes o volume de vazios do corpo de prova,
conforme a norma utilizada. Para a
comprovação do parâmetro, após a realização
do ensaio, foi medida a umidade e calculado
empiricamente o valor de saturação, sendo
considerada aceitável em valores acima de 95%. Figura 1. Ensaio de granulometria do solo puro e da
bentonita.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para uma melhor interpretação dos resultados,


adotaram-se as seguintes nomenclaturas: S00;
S03, mistura com adição de 3% de bentonita;
S05, mistura com adição de 5% de bentonita;
S07, mistura com adição de 7% de bentonita;
S09, mistura com adição de 9% de bentonita; e
B para designar solo puro
Figura 2. Ensaio de granulometria do solo puro e das
3.1 Caracterização física e química misturas

Dada a sua granulometria, o solo puro foi É perceptível, por meio da Tabela 2, que uma
classificado pelo Sistema Unificado de pequena adição em massa de bentonita ao solo
Classificação (SUCS) como uma areia siltosa puro alterou consideravelmente o limite de
(SM) apresentando um percentual em massa de plasticidade e o índice de plasticidade da
72,85 de areia. A bentonita foi classificada mistura. No entanto, entre as misturas, o
como uma argila de alta compressibilidade parâmetro do limite de plasticidade se manteve
(CH) com um percentual em massa de 77,98 de praticamente constante. Esse fato pode ser
argila, ao passo que as misturas foram todas justificado devido à composição mineralógica
classificadas como areia argilosa (SC). Os de essas misturas serem a mesma, variando
valores relativos à granulometria dos materiais apenas pelo percentual de aditivo.
encontram-se na Tabela 1 e os gráficos do solo
puro e bentonita e das misturas e do solo puro Tabela 2. Limites de consistência e classificação
estão apresentados na Figura 1 e 2, Síntese dos B S00 S03 S05 S07 S09
resultados
respectivamente.
LL (%) 378 NL 41 57 70 82
LP (%) 46 NP 21 22 21 21
Tabela 1. Análise granulométrica do solo puro e da
IP (%) 332 - 21 36 49 60
bentonita
Fração B S00 S03 S05 S07 S09 SUCS CH SM SC SC SC SC
Granulométrica
Argila (%) 78 6 13 14 15 17 É possível constatar que um acréscimo do
Silte (%) 20 13 23 23 22 23
Areia fina (%) 2 9 12 11 14 14
percentual de bentonita alterou
Areia média (%) 0 13 14 13 14 14 consideravelmente a caracterização do solo.
Areia grossa (%) 0 33 17 18 19 15 Enquanto o solo puro se apresenta como uma
areia siltosa (SM), com percentual de finos
menor que 30%, não líquido e não plástico,
valores esses não aceitos dentro dos parâmetros
CETESB. As misturas se apresentam com uma
argila siltosa (SC), com um percentual de finos
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maior que 30%, limite de liquidez superior a
30% e índice de plasticidade maior que 15%. Inicialmente, os ensaios seriam realizados para
todas as misturas, no entanto, foi visto que houve
Logo, passam a atender a todos os critérios uma estabilização na permeabilidade do material
de caracterização indicados pela CETESB para entre S05 e S07. Logo, a análise da mistura de S09
base de aterro sanitário. foi descartada. Para validação do resultado, os
Conforme esperado, a compactação do ensaios foram feitos em duplicata. Os dados de
material apresentou redução da massa moldagens dos ensaios se encontram na Tabela 4, e
específica máxima e aumento da umidade ótima os resultados na Tabela 5.
com o aumento do percentual de aditivo. Tal
fato pode ser justificado pelo aumento do teor Tabela 4. Moldagem do ensaio de condutividade
de finos com a adição de bentonita. Os hidráulica
resultados de umidade ótima e massa específica Amostra CP wmold(%) ¨* (%) ȡd (g/cm³) GC(%)
máxima estão expostos na Tabela 3, e as curvas
de compactação estão apresentadas na Figura 3. CPI 10,56 -0,19 1,91 96
S00
Esses parâmetros de umidade ótima e massa CPII 10,68 -0,07 1,92 96
específica máxima serão adotados para CPI 11,35 -0,35 1,85 95
S03
moldagem dos demais ensaios. CPII 11,36 -0,34 1,89 97
CPI 12,01 0,21 1,87 97
Tabela 3. Parâmetros de compactação com energia do S05
Proctor CPII 12,06 0,26 1,82 95
CPI 11,80 -0,35 1,88 99
Parâmetros S00 S03 S05 S07 S09
Udmáx 1,99 1,94 1,92 1,90 1,89 S07 CPII 11,88 -0,27 1,86 98
(g/cm³) *¨ Æ desvio de umidade = Wmold-Wot
wótima (%) 10,75 11,70 11,80 12,15 12,5
Tabela 5. Resultados do ensaio de condutividade
hidráulica
Amostra CP S (%) k (cm/s)
CPI 98,16 2,66 E-06
S00
CPII 98,95 2,29 E-06
CPI 99,02 6,54 E-08
S03
CPII 97,76 4,63 E-08
CPI 98,64 1,02 E-08
S05
CPII 98,87 1,81 E-08
CPI 97,80 8,47 E-09
S07 CPII 98,34 7,91 E-09

A permeabilidade do solo puro apresenta


Figura 3. Curva de compactação das misturas característica conforme uma areia siltosa bem
graduada, de forma que esse valor não atende a
Considerando os resultados apresentados pela norma de aterro sanitário e, portanto, o material
análise química do solo puro, este apresentou seria inviabilizado para tal fim. Foi atingida a
CTC de 1,86 meq/100g, o que resulta em baixo permeabilidade prescrita a partir do acréscimo
teor de cátions trocáveis, podendo, então, se de 3% do aditivo, o qual resultou em uma
tratar de um solo tropical laterítico, visto que, permeabilidade na ordem de 10-8 cm/s. Baseado
segundo Pejon 1992 apud Morandi e Leite nas indicações normativas, as misturas S03, S05
(2009), solos de comportamento laterítico e S07 apresentam adequação para utilização
apresentam uma CTC menor que 4,7 meq/100g como camada impermeabilizante de aterro
em 85% dos casos. A análise do pH apresentou sanitário.
resultado de 7,21, valor que atende ao A curva de variação de permeabilidade com
estabelecido pela CETESB. variação do percentual de aditivo se apresenta
na Figura 4.
3.2 Condutividade Hidráulica
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de finos, limite de liquidez e índice de plasticidade,
viabilizando tecnicamente a utilização de aditivos
em misturas alternativas em barreiras
impermeabilizantes.

REFERÊNCIAS

CAMARGO, K. R. (2012). Avaliação da condutividade


hidráulica e da resistência ao cisalhamento de
misturas solo-bentonita: estudo de caso de um aterro
sanitário localizado em Rio Grande (RS). Dissertação
Figura 4. Variação de permeabilidade com adição de de mestrado, EESC/USP. 85p.
bentonita CETESB – COMPANIA DE TECNOLOGIA DE
SANEAMENTO AMBIENTAL (1993). Resíduos
Analisando a influência do percentual de sólidos industriais. 2ª ed, São Paulo, SP.
aditivo na permeabilidade do material, pela DANIEL, D.E. & WU, Y.K. (1993). Compacted clay
liners and covers for arid sites. J. Geotechnical
curva acima, esta apresenta uma característica Engineering, ASCE, 119 (2), p. 223-937.
de exponencial logarítmica com R² =0,930, a HEINECK, K. S. (2002). Estudo do comportamento
qual também mostra aderência com resultados hidráulico e mecânico de materiais geotécnicos para
apresentados por Lukiantchuki (2007), barreiras horizontais impermeáveis. Tese de
Camargo (2012) e Morandi (2015). doutorado, UFRGS. 251 p.
LEMOS, R.G.; LAUTENSCHLÄGER, C.E.R;
Percebe-se, assim, a estabilidade da curva
CONSOLI, N.C.; HEINECK, K.S. (2002). O uso da
com o acréscimo de aproximadamente 4% do bentonita sódica na Geotecnia Ambiental – Contenção
aditivo e, com isso, a adição de bentonita, a de NaOH. In: Combranseg 2008 – XIV Congresso
partir deste percentual, passa a não alterar a Brasileiro de Mecânica dos Solos e Eng. Geotécnica,
permeabilidade. 2008, Búzios, Rio de Janeiro.
LUKIANTCHUKI, J.A. (2007). Influência do teor de
bentonita na condutividade hidráulica e na resistência
4 CONCLUSÃO ao cisalhamento de um solo arenoso utilizado como
barreira impermeabilizante. Dissertação de mestrado,
A condutividade hidráulica do solo puro EESC/USP. 124 p.
apresentou-se da ordem de 10-6 cm/s, valor LUNA, F.J.; SCHUCHARDT, U. (1999). Argilas
polarizadas - Uma Introdução. Química Nova, v.22,
elevado quando comparado com o permitido
n.1, p.104 – 109.
por norma para construção de base de aterro MORANDINI, T.L.C.; LEITE, A. L. (2015).
sanitário, sendo que os resultados apresentaram Characterization and hydraulic condutivity of tropical
redução da condutividade hidráulica com a soils and bentonite mixtures for CCL purposes.
adição de bentonita. Engeneering Geology, v.196, p.251 – 267.
Todas as misturas, S03, S05 e S07,
apresentaram permeabilidade menor do que 10-7
cm/s, ou seja, encontram-se dentro da faixa
utilizável para barreiras impermeáveis. A
determinação do valor mínimo adequado para
tal fim permite tornar viável a utilização da
mistura, evitando a utilização de quantidade
superior de aditivo, gerando economia na
construção da barreira.
A análise desse solo para utilização em
camadas de solo compactado (CCL) para base
de aterro sanitário mostrou que todas as
misturas, S03, S05 e S07, apresentaram
comportamento adequado em termos de
condutividade hidráulica. Ainda apresentam
valores satisfatórios em termos de porcentagem
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Proposta de Concepção de Ensaio em Coluna para Solos
Lateríticos e Saprolíticos
Raquel Martins da Silva
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, raquelmartins2008@hotmail.com

André Luís Brasil Cavalcante


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, abrasil@unb.br

RESUMO: A contaminação dos solos e, consequente, contaminação das águas subterrâneas é um


dos temas de crescente preocupação, pois está diretamente ligado com a salubridade do meio
ambiente e com a saúde pública. Dada à importância do assunto, o presente trabalho propõe um
ensaio padronizado para avaliar o transporte de contaminantes através do solo. Trata-se de um
estudo de caso com solos lateríticos e saprolíticos analisado em um ensaio em coluna de alturas
variáveis a fim de determinar parâmetros do transporte de contaminantes a partir do ajuste dos
dados ao modelo de Ogata e Banks.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio em coluna, Transporte de contaminantes, Solo Laterítico, Solo


Saprolítico.

1 INTRODUÇÃO inadequada.
O problema da má disposição dos RSU é a
A contaminação do solo é a principal causa da percolação de possíveis contaminantes através
deterioração das águas subterrâneas. Ele pode do solo, alcançando as águas subterrâneas. O
ser contaminado diretamente por aplicação de líquido que percola é chamado de lixiviado.
fertilizante, pesticidas, lodo de estação de Segundo Rojas (2013), os produtos tóxicos
tratamento de esgoto, esterco, etc., ou presentes no lixiviado são principalmente,
indiretamente, por aerossóis de automóveis e metais pesados, que podem ser definidos como
indústrias, pela combustão de carvão, por qualquer elemento químico metálico, que tenha
diposição de resíduos e por incineração de lixo. um alto nível de densidade específica superior a
(Boscov, 2008). 5 g/ml, e seja tóxico em baixas concentrações.
A contaminação por disposição de resíduos O estudo de como substâncias nocivas ao
ocorre quando o lixo é descartado em locais meio ambiente percolam através do solo é de
sem uma preparação prévia do solo, conhecidos grande importância, visto que, sabendo o
como lixões e aterros controlados. O lixão é a comportamento dos contaminantes é possível
pior maneira de dispor os resíduos, visto que simular a pluma de contaminação presente em
esse não tem nenhuma medida paliativa, já o lugares expostos a diposição final inadequada e,
aterro controlado é um intermediário entre o propor soluções de remediações.
lixão e o aterro sanitário, sendo o aterro Esses estudos do comportamento baseiam-se
sanitário a melhor condição para o descarte, em ensaios laboratoriais e ajuste a modelos
pois existe impermeabilização do solo evitando teóricos, como o de Ogata & Banks (1961). Até
ou retardando a contaminação do mesmo. o momento não existe padronizado um ensaio
Segundo Abrelpe (2015) 41,3% dos que simule as condições de percolação de
resíduos sólidos urbanos (RSU) coletados no contaminantes pelo solo. O presente trabalho
Brasil tem a disposição final de maneira propõe uma concepção de ensaio em coluna

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para solos saprolíticos e lateríticos de alturas gradiente hidráulico e carrega consigo
variáveis a fim de padronizar o ensaio. partículas de soluto (Boscov, 2008).

2.2.2 Dispersão mecânica


2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Dispersão mecânica é a mistura que ocorre
2.1 Solos lateríticos e saprolíticos durante a advecção e é causada inteiramente
pelo movimento do fluido (Boscov, 2008). Em
Os solos lateríticos são solos bem uma escala macroscópica, admite-se que a
intemperizados, caracteríticos de áreas bem dispersão possa ser causada por taxas de fluxos
drenadas, que ocupam as camadas mais diferentes, resultantes de heterogeneidade que
superficiais. Apresentam coloração em que são tipicamente encontradas quando o
predominam os matizes vermelho e amarelo, transporte de massa ocorre em áreas
com uma macroestrutura aparentemente relativamente extensas (Nascentes, 2003).
homogênea e isotrópica (Lovato, 2004). A heterogeneidade nas velocidades dos
O solo saprolítico é aquele material que, canais é causada pelo atrito imposto ao fluido
após sofrer a ação do intemperismo, ainda nas proximidades da partícula, sendo que a
possui características do material de origem velocidade é diminuída quanto mais próxima da
(rocha mãe). Também pode ser classificado superfície devido ao atrito, sendo nula na
como solo residual jovem (Conciani, 2016). superfície do grão (Conciani, 2016).

2.2 Mecanismos de transporte de 2.2.3 Difusão molecular


contaminates em solos
A difusão molecular caracteriza-se por ser um
O transporte de solutos na água do subsolo é processo microscópico, em escala molecular,
estudado como transporte de massa em meios resultante da movimentação aleatória das
porosos, em que a massa considerada é a de moléculas do soluto no qual o contaminante
algum soluto (contaminante) que se move com migra de um ponto de maior concentração para
o solvente (água) nos insterstícios de um meio um de menor concentração. Ocorre
poroso (solo), tanto na zona saturada como na independente da velocidade do fluido
insaturada ( Boscov, 2008). (Conciani, 2014). A difusão cessa apenas
Os principais mecanismos do transporte de quando os gradientes de concentração deixam
contaminantes e de relevância para o presente de existir (Boscov,2008).
trabalho são: advecção, dispersão mecânica,
difusão molecular, dispersão hidrodinâmica e 2.2.4 Dispersão hidrodinâmica
sorção.
Os mecanismos a seguir descritos tem como A dispersão hidrodinâmica é a ocorrência
parâmetros principais para suas soluções simultânea dos mecanismos de difusão
matemáticas a velocidade (v), tempo (t), fator molecular e dispersão mecânica (Conciani,
de retardo (R) e coeficiente de dispersão 2016).
hidrodinâmica (Dh). À medida que um soluto é espalhado ao
longo de um vazio capilar, como resultado da
2.2.1 Advecção dispersão mecânica, é criado um gradiente de
concentrações na direção longitudinal, e a
A advecção é o mecanismo primário difusão tenderá a equalizar as concentrações ao
responsável pelo transporte de contaminantes longo do vazio. Ao mesmo tempo, um gradiente
no solo. Caracteriza-se pelo movimento do de concentrações de soluto será produzido entre
fluido nos seus macroporos (Conciani, 2016) linhas de fluxo adjacentes em virtude da
Pode ser considerada um fluxo químico variação de velocidades na seção transversal
causado por um gradiente hidráulico: a água dos vazio, provocando a difusão molecular lateral
vazios contendo soluto escoa sob a ação de um entre linhas de fluxo (Boscov, 2008).

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É importante ressaltar que para altas onde, v’=v/R e Dh’= Dh/R.
velocidades de transporte, o fenômento
predominante é a dispersão mecânica enquanto
que para baixas velocidades de fluxo, a difusão 3 METODOLOGIA
molecular (Conciani, 2016).
A metodologia desse trabalho é principalmente
2.2.5 Sorção descrever o ensaio em coluna, propondo sua
padronização. A fim de ilustrar o ensaio
A sorção é um fenômeno no qual parte da também será realizado um estudo de caso e
massa de uma espécie química presente em posterior ajuste dos dados ao modelo
líquido (sorvato) se acumula nos vazios ou matemático.
sobre parte da matriz sólida do meio poroso.
Existem duas formas de sorção: a química e a 3.1 Ensaio em Coluna
física. A sorção física é um fenômeno reversível
onde se observa as interações irtermoleculares O ensaio consiste em percolar um contaminante
entre o sorvato e o sorvente, atingindo fluido através de uma amostra geralmente
rapidamente o equílibrio. A sorção química é indeformada de solo. Em intervalos de tempo
um processo raramente reversível, pois se trata pré-determinados, são coletadas amostras do
de uma ligação química (Conciani, 2016). líquido efluente que são analisadas para a
Os processos envolvidos na sorção química determinação da concentração (Conciani,
são a sorção e a dessorção qímica. A sorção é o 2016). A partir das concentrações obtidas para
caso em que o soluto adere a superfície sólida os respectivos tempos de amostragem, é
da partícula (Conciani, 2016). A dessorção é a possível obter a curva de chegada.
liberação de espécies químicas previamente A Figura 1 mostra um esquema geral do
sorvidas (Boscov, 2008) ensaio em coluna.

2.3 Modelo Matemático para descrever o


transporte de contaminante

A solução mais conhecida e utilizada na


literatura para simular a condição inicial do tipo
fonte contínua de contaminação, que representa
o cenário de ensaios laboratoriais em coluna, é a
apresentada por Ogata e Banks (1961).
Para resolucionar a equação advectiva- Figura 1. Esquema do ensaio em coluna (Moraes, 2016)
dispersiva ou ADE (Advection-Dispersion
3.1.1 Preparação da amostra
Equation), a qual considera os mecanismos de
dispersão e advecção simultaneamente, são
Antes do ensaio em coluna faz-se ensaios de
consideradas as seguintes condições de
caracterização a fim de determinar o tipo de
contorno e inicial:
solo a ser ensaiado, seja laterítico ou saprolítico.

ܿ௪ ሺ‫ݔ‬ǡ Ͳሻ ൌ Ͳǡ‫ ݔ‬൒ Ͳ
Os corpos de prova podem ser moldados a
ܿ௪ ሺͲǡ ‫ݐ‬ሻ ൌ ܿ଴ ǡ‫ ݐ‬൒ Ͳ (1) partir de uma amostra indeformada ou
ܿ௪ ሺλǡ ‫ݐ‬ሻ ൌ Ͳǡ‫ ݐ‬൒ Ͳ compactado nas condições que melhor simulem
as condições originais de campo de onde o solo
Com isso, a solução da ADE é expressa por foi retirado.
(Ogata & Banks, 1961): As alturas dos corpos de prova não precisam
ter tamanhos iguais, mas essa medida influencia
ೡᇲ ೣ diretamente na duração do ensaio. Entretanto,
௖ೢ ଵ ௫ି௩ ᇲ ௧ ವᇲ೓ ௫ା௩ ᇲ ௧
ൌ ቎erfc ቌ ቍ൅݁ erfc ቌ ቍ቏ (2) comparações devem ser feitas quando os corpos
௖బ ଶ
ଶට஽೓ᇲ ௧ ଶට஽೓ᇲ ௧
de prova ensaidos tiverem a mesma altura.

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3.1.2 Equipamento 3.1.3 Montagem do ensaio

O equipamento recomendado para a execução Após a preparação da amostra e a escolha do


do ensaio é uma câmara triaxial modificada equipamento, inicia-se a montagem do ensaio.
(Nascentes, 2003), onde as colunas são Na superíficie superior e inferior do solo são
revestidas por uma membrana flexível e colocadas pedras porosas, a fim de uniformizar
submetidas a uma tensão confinante, evitando o o fluxo. Entre o solo e a pedra porosa são
fluxo prefencial pela lateral do solo. A câmara é adicionados papel filtro, para evitar a
construída possibilitando o ensaio de 4 colunas colmatação, ou seja, evitar que partículas finas
simultâneas e suas dimensões limitam o de solo se acumulem nos poros da pedra porosa.
diâmetro da amostra de solo em 5 cm e sua Os corpos de prova, são então envoltos por uma
altura máxima em 17cm. A Figura 2 apresenta a membrana flexível e vedado com o-rings de
planta da câmara de ensaio. borracha, para que não haja qualquer contato
entre o solo em análise e o interior da câmara.
Os corpos de prova são colocados no
equipamento, com as mangueiras de entrada e
saída de fluidos. A câmara principal, feita de
material inerte (Figura 4a), que abriga as
amostras é preenchida com água. Com o auxílio
de uma câmara adicional, câmara de pressão
Figura 2. Planta, vista superior e frontal da câmara de (Figura 4b), é possível aplicar uma pressão de
ensaio (modificado de Conciani, 2016) água na câmara principal que simule as tensões
A câmara principal é conectada a uma nas condições naturais do solo in situ.
câmara de pressão, como o nome já diz, aplica A montagem completa do ensaio pode ser
pressão na câmara principal e também auxilia visualizada na Figura 5.
na detecção de possíveis vazamentos.

Figura 3. Esquema da câmara de pressão: vista frontal e Figura 4.- Montagem do ensaio: (a) Preparação do corpo
vista superior (modificado de Conciani, 2016) de prova e (b) amostras dentro do equipamento

3.1.4 Preparação da solução contaminante


O equipamento é ligado à frascos de
Mariotte, um frasco para cada corpo de prova, A solução contaminante pode ser composta
esses frascos armazenam as soluções que são apenas de uma espécie contaminante ou por
percoladas, deve se utilizar esse tipo de multi-espécies, dependendo do objetivo do
recipiente, pois garantem que a carga hidráulica ensaio e da concentração inicial desejada.
seja contastante ao longo do ensaio, mesmo
quando o nível de solução contaminante varie. 3.1.5 Execução do ensaio
Isso se dá por conta do tubo interno que é
interligado à atmosfera, que, mesmo com a Após a montagem completa do ensaio, é
vedação do frasco, garante que a carga iniciada a execução, de fato, do ensaio. Percola-
hidráulica seja mantida (Conciani, 2016). se água destilada pelo solo, a fim de saturar a
amostra. O fluxo deve ser ascendente para

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melhorar a saturação facilitando a expulsão de baixa permeabilidade do solo e, altura dos
bolhas de ar. Considera-se o solo saturado, corpos de prova de aproximadamente 5 cm para
quando o fluxo de saída se torna constante, ou as quatro amostras. O ensaio realizado com o
seja, fluxo permanente. solo laterítico teve um corpo de prova de
A segunda etapa do ensaio, é a percolação da aproximadamente de 6 cm (CP03) e os outros 3
solução contaminante, nessa etapa são retiradas de 12 cm, com um gradiente hidráulico de 10.
amostras da concentração dos frascos de Tanto para o ensaio com o solo saprolítico
Mariotte, concentração inicial, e amostras das quanto para o realizado com solo laterítico os
soluções após percolarem pelo solo. corpos de prova tinham 5 cm de diâmetro.
O tempo para cada coleta da solução A pressão aplicada pela câmara adicional
efluente depende da velocidade do fluxo, onde aplicada à câmara de acrílico principal, foi de
recomenda-se a coleta a cada 1 volume de poros 100 kPa para ambos os ensaios.
da amostra de solo para uma boa descrição da Para o solo laterítico, a coleta era feita a
curva de chegada resultante do ensaio. cada 30 minutos em média, já para o solo
saprolítico esse tempo era maior, devido a baixa
3.1.6 Finalização do ensaio permeabilidade do solo, demandando mais
tempo para percolar a mesma quantidade de
Recomenda-se a finalização do ensaio quando a solução.
concentração final, retirada após a percolação A Figura 5 mostra uma visualização geral
pelo solo, for igual a concentração inicial do ensaio.
(concentração dos frascos de Mariotte).
Entretanto, nem sempre é possível a medição da
concentração efluente durante a execução do
ensaio, assim, sugere-se como valor de
referência a percolação aproximada de 100
volumes de poro como suficientes para a
finalização do ensaio.
Após a finalização, as amostras de efluente
são enviadas para um laboratório para que
sejam feitas as devidas análises químicas das
concentrações de cada contaminante de acordo
com os tempos de coleta.

3.2 Estudo de caso

O estudo de caso é composto pela execução do


ensaio duas vezes, a primeira com solo Figura 5. Ensaio em andamento
saprolítico e a segunda com solo laterítico. O
3.3 Ajuste ao modelo matemático de Ogata &
solo saprolítico foi retirado do Setor Noroeste
Banks
em Brasília – DF, já o solo laterítico foi
coletado nas proximidades do laboratório de
Usando os resultados das concentrações de cada
Engenharia Civil da Universidade Federal de
amostragem e da concentração inicial dos
Viçosa, Campus Paranaíba – MG.
metais ensaiados, é possível plotar a curva de
Ambos os solos tiveram a mesma solução
chegada.
contaminante percolada, composta por nitratos
Usando os pontos da curva de chegada,
de cromo, cádmio, chumbo e cobre, todos com
calcula-se para os mesmos tempos, o valor
concentração do metal de 10 mg/L, diluídos em
esperado de ܿ௪ Ȁܿ଴ , de acordo com o modelo
água destilada. A solução foi preparada pouco
escolhido, nesse caso o modelo Ogata & Banks.
antes do início do ensaio.
Foi utilizado o Método dos Mínimos
O ensaio realizado com o solo saprolítico
Quadrados (MMQ) para análise de regressão e
teve um gradiente hidráulico de 23,2, devido a
calibração do modelo. O método consiste em

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minimizar o quadrado da diferença entre os contaminantes foi realizado seu devido ajuste
dados a serem ajustados com o modelo de ao modelo e determinado os parâmetros do
ajuste (Moraes, 2016). transporte de contaminantes através do solo.
Foi criado um algoritmo no software As Tabelas 1 e 2 exibem os valores dos
Wolfram Mathematica® para minimizar o parâmetros.
quadrado das diferenças entre os dados
experimentais e o modelo, variando os Tabela 1. Valores dos parâmetros de transporte para solo
parâmetros do transporte, coeficiente de laterítico.
dispersão hidrodinâmico e o fator de retardo.
Solo Laterítico
Dessa forma, os parâmetros encontrados são
CP01 CP02 CP03 CP04
aqueles de menor diferença entre o valor real e
o modelo. Chumbo 0,073 0,858 5,137 0,103
D
(m/dia) Cobre 0,070 0,135 0,037 0,020
Cádmio 0,032 0,103 0,039 0,007
4 RESULTADOS Chumbo 44,567 71,088 486,984 41,867
R Cobre 12,752 9,492 9,934 13,034
4.1 Estudo de caso Cádmio 7,691 6,898 7,047 9,136

A partir dos resultados recebidos, foi gerada a Tabela 2. Valores dos parâmetros de transporte para solo
curva de chegada de cada contaminante, para saprolítico.
cada corpo de prova, de ambos os ensaios. A
Figura 6 apresenta as curvas de chegada do Solo Saprolítico
CP02 CP03 CP04
corpo de prova 3 do ensaio com solo laterítico.
Chumbo 0,000435 0,003578 0,000918
D
1.2
Cobre 0,000238 0,000798 0,000481
(m/dia)
Cádmio 0,000096 0,000965 0,001006
1.0 Chumbo 604,182 26,367 20,673
R Cobre 11,335 8,303 10,667
Concentração, C Co

0.8 Cádmio 5,942 4,217 6,050

0.6
A Figura 7 apresenta a curva de chegada de
0.4 Dados CP03 Cd um corpo de prova do solo laterítico com seu
Dados CP03 Pb
respectivo ajuste, feito no Mathematica®.
0.2
Dados CP03 Cu 1.2
0.0
0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5
1.0
Tempo ,Dias
Concentração, C Co

Figura 6. Curvas de chegada: Cádmio, Chumbo e Cobre 0.8

A Figura 6 apresenta três curvas de chegada, 0.6


entretanto, como já explicitado o ensaio foi
0.4
realizado com quatro metais, isso ocorreu pois o Dados CP02 Cd
Cromo não apresentou bons resultados, pois 0.2 Ogata & Banks
necessitaria de maior tempo de duração de R² 0.980652
0.0
ensaio. Esse problema poderia ser evitado caso 0.0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7
fossem feitas análises químicas Tempo ,Dias

simultaneamente ao ensaio, para que a Figura 7. Curva de chegada do Cádmio (Cd) com ajuste
de Ogata & Banks
concentração final fosse semelhante a inicial.
Observa-se na Figura 7 que houve dessorção,
4.2 Ajuste ao modelo matemático de Ogata ou seja, houve liberação de Cádmio do solo
& Banks para o efluente. Esses dados experimentais se
ajustaram bem ao modelo proposto, de acordo
A partir das curvas de chegada dos com o R².

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5 CONCLUSÃO Rojas, O.T.C. (2013). Análise do Transporte
Multiespécie do Lixiviado de Moravia/Colômbia por
Meio de Ensaios em Coluna em Escala de Campo e
A padronização do ensaio em coluna tem como Laboratório, Dissertação de Mestrado, Programa de
objetivo facilitar a compreensão dos seus Pós-Graduação em Geotecnia, Departamento de
resultados por qualquer pesquisador, dessa Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
forma evitará ambiguidades de interpretações a Brasília, 102 p.
cerca dos resultados.
O estudo de caso realizado está intimamente
ligado com a má disposição de RSU, visto que,
os metais pesados são as substâncias mais
nocivas encontradas nos lixiviados dos lixões.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de expressar seus


agradecimentos, pelo suporte dado a esta
pesquisa, à Universidade de Brasília (UnB), ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq), à
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) e à Fundação de
Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-
DF).

REFERÊNCIAS

Abrelpe (2015). Panorama dos Resíduos Sólidos no


Brasil 2015, 89 p.
Boscov, M. E. G. (2008) Geotecnia Ambiental, Editora
Oficina de Textos, São Paulo, SP, Brasil, 248 p.
Conciani, R. (2016). Estudo Comparativo da Mobilidade
de Contaminantes Inorgânicos em Solos Lateríticos e
Não Lateríticos, Tese de Doutorado, Programa de
Pós-Graduação em Geotecnia, Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
Brasília, 83 p.
Lovato, R.S. (2004). Estudo do Comportamento
Mecânico de um Solo Laterítico estabilizado com Cal,
Aplicado a Pavimentação, Dissertação de Mestrado,
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 144 p.
Moraes, R.M (2016). Cálculo Fracionário e Tomografia
Computadorizada Aplicados à Modelagem de Ensaios
em Coluna em Diferentes Escalas, Qualificação de
Doutarado, Programa de Pós-Graduação em
Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Universidade de Brasília, 50 p.
Nascentes, C.R. (2003). Coeficiente de Dispersão
Hidrodinâmica e Fator de Retardamento de Metais
Pesados em Solo Residual Compactado, Dissertação
de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Universidade Federal de Viçosa,
117 p.
Ogata, A. e Banks, R. B. (1961). A solution of the
differential equation of longitudinal dispersion in
porous media. Rel. Téc.

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Reciclagem de Resíduos de Construção e Demolição (RCD) na
Região Metropolitana de Goiânia-GO
Mateus Porto Fleury
Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, Brasil, engcivilmateusfleury@gmail.com

Nelson Siqueira Neto


RENOVE, Aparecida de Goiânia-GO, Brasil, nelson@rnvresiduos.com.br

Eder Carlos Guedes dos Santos


Universidade Federal de Goiás, Goiânia-GO, Brasil, prof.santos.ecg@gmail.com

RESUMO: Pode-se afirmar que a geração de resíduos é inevitável na Industria da Construção, seja
durante as fases de construção, manutenção ou demolição das obras. No entanto, a problemática dos
resíduos de construção e demolição (RCD) ocorre quando há negligências em relação a sua geração
e destinação final. Diante disso, este estudo apresenta um panorama da reciclagem dos RCD na região
metropolitana de Goiânia-GO. Para isso, foram coletados e analisados dados de uma usina de
reciclagem referentes a um ano de operação. Concluiu-se que, embora a cidade ainda necessite de
investimentos e apoios do setor público para a gestão dos RCD, observou-se ações positivas de
empresas ligadas ao setor da construção civil e da usina de reciclagem.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão, Resíduo de Construção e Demolição, Reciclagem em Goiânia,


Agregados Reciclados.

1 INTRODUÇÃO 9% desse total (ABRELPE, 2015).


Na capital do estado de Goiás, em Goiânia-
Os resíduos da Indústria da Construção são GO, estima-se que 1,11 milhões de toneladas de
gerados durante todo o ciclo de vida das RCD são geradas anualmente (SECIMA, 2015).
construções, o que engloba a fase construtiva, No entanto, a estimativa do Plano Municipal de
possíveis manutenções e posterior demolição da Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do
mesma. Os chamados ‘resíduos de construção e Município de Goiânia (PMGIRS) informa que
demolição’ (RCD) têm se tornado um dos cerca de 319.309 toneladas de RCD são geradas
principais problemas das grandes cidades devido por ano na cidade (GOIÂNIA, 2016). Já um
ao elevado volume de material gerado e aos outro estudo mostra que tal valor é da ordem de
danos ambientais causados pela sua gestão 540.000 toneladas (SILVA; SOUZA; SILVA,
ineficiente. 2010).
Estudos realizados no Brasil com intuito de Neste contexto, a Secretaria Nacional de
estimar a geração de RCD revelaram que são Saneamento Ambiental (SNSA, 2016; 2017) não
gerados entre 50 e 150 kg/m² construído, uma obteve dados sobre a massa de RCD gerada pelo
variação que é atribuída às diferenças no município nos anos de 2014 e 2015, mas
controle de produção implementado em cada informou que 318.977 toneladas foram
canteiro de obra (Angulo et al., 2011). No destinadas ao aterro sanitário de Goiânia-GO em
cenário brasileiro, mais de 44 milhões de 2014 – mesmo sendo tal prática proibida pela
toneladas de RCD são geradas anualmente, Resolução 307 do Conselho Nacional do Meio
sendo o estado de Goiás responsável por cerca de Ambiente (CONAMA, 2002). Esse número pode

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ser um indicativo de que uma considerável foco na gestão, transporte, tratamento e
porção dos RCD gerados na cidade poderia estar reciclagem de resíduos inertes da construção
sendo depositada inadequadamente na cidade. civil.
Frente a esse quadro, vale ressaltar que a falta Uma das metas estabelecidas no PMGIRS
de uma gestão eficiente desses resíduos pode (GOIÂNIA, 2016) consiste no mapeamento pela
levar a uma série de impactos ambientais prefeitura de 75% do RCD gerado na cidade até
negativos na região, podendo-se destacar: i) o final de 2018. Entretanto, o governo municipal
degradação de áreas de manancial e de proteção tem conhecimento da destinação de apenas 36 %
ambiental, ii) proliferação de agentes destes resíduos, levando a necessidade de
transmissores de doenças, iii) obstrução dos maiores esforços para que esta meta seja
sistemas de drenagem, iv) ocupação de vias e atingida.
logradouros públicos, e v) degradação da Com base no exposto, este estudo tem como
paisagem urbana (SCHNEIDER, 2003). A objetivo apresentar um panorama da reciclagem
Figura 1 mostra a deposição inadequada de RCD dos RCD na cidade de Goiânia-GO, tomando
às margens da Alameda Imbé, localizada no como referência a atuação da usina de
Parque Amazônia, em Goiânia-GO. reciclagem.

2 METODOLOGIA

Para a realização deste trabalho, foram coletados


dados da usina de reciclagem de RCD, localizada
em Aparecida de Goiânia-GO. A empresa
forneceu dados relativos ao controle de materiais
(entrada e saída) entre os meses de julho de 2015
a junho de 2016. Os dados fornecidos englobam
i) os geradores, ii) as transportadoras, iii) os
quantitativos e tipos de RCD recebidos; iv)
compradores dos materiais beneficiados; e v) os
quantitativos e tipos de RCD-R retirados.
As empresas foram enquadradas em seis
categorias: i) construtoras; ii) concreteiras, pré-
fabricados e cimenteiras; iii) empresas não
ligadas à construção civil (NCC); iv) órgãos
públicos; v) pessoas físicas; e vi)
transportadoras. Dessa forma, tornou-se possível
quantificar os percentuais dos volumes de RCD
enviado e RCD-R solicitado por cada categoria.
Figura 1. RCD depositado as margens de uma avenida da Além dos dados mencionados, informações
cidade de Goiânia-GO. complementares sobre os tipos de materiais
produzidos e procedimentos adotados pela
Diante disso, verifica-se a necessidade de um empresa foram fornecidos pelo gerente de
aprimoramento da gestão desses resíduos no produção.
município. Apesar do PMGIRS (GOIÂNIA,
2016) realçar a importância da gestão dos RCD,
observa-se ainda a falta de efetividade das 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
políticas públicas para atingir os seus objetivos.
Em dezembro de 2011, a gestão dos RCD na A usina de reciclagem de RCD possui uma área
cidade contou com uma importante ação, quando de aproximadamente 19.000 m². Nesta área estão
entrou em operação uma usina de reciclagem situados o escritório da empresa, os
desses resíduos, localizada na cidade de equipamentos de britagem e de classificação, e
Aparecida de Goiânia-GO. A empresa possui

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os depósitos de materiais reciclados e não
reciclados, conforme apresentado na Figura 2. Orgãos Públicos; 0,75% Empresas (NCC); 4,43%
Pessoa Física; 0,86% Transportadoras;
17,85%

Concreteiras,
pré-
fabricados e
cimenteiras;
26,54%

Construtoras; 49,57%

Figura 3. Porcentagem de contribuição das categorias, em


volume, na entrada de material.

Considerando a estimativa da quantidade de


RCD gerada em Goiânia-GO de 1,11 milhões de
toneladas (SECIMA, 2015); e as quantidades de
RCD destinadas ao aterro sanitário
(aproximadamente 360 mil toneladas, segundo a
SNSA, 2016) e à usina de reciclagem de RCD
(aproximadamente 20 mil toneladas, segundo os
dados da empresa), pode-se assumir que cerca de
720 mil toneladas de RCD possuem destinação
incorreta, valor excessivamente alto, que
corresponde a cerca de 64% da quantidade total
gerada.
Os materiais recebidos pela usina são
classificados entre dois tipos: i) A e ii) A/B (lê-
se A barra B). A primeira classe de material, tipo
A, remete a resíduos sem a presença de
impurezas (plásticos, solo, ferragens, gesso,
Figura 2. Croqui da disposição da área da empresa. etc.); enquanto o tipo A/B pode possuir a
presença de impurezas em até 20% do volume
Do total dos resíduos recebidos pela empresa, total recebido.
99% são originados na região metropolitana de O RCD tipo A, comumente possui
Goiânia-GO. No ano de referência analisado, 66 predominância de concreto e argamassa, ou seja,
clientes, incluindo transportadoras, pessoas materiais acinzentados, mas há casos em que o
físicas e pessoas jurídicas, encaminharam resíduo é composto principalmente por
resíduos à empresa. A Figura 3 apresenta os cerâmica, cerâmica polida, rocha alterada e/ou
percentuais de contribuição de cada categoria de materiais asfálticos, resultado em um material
cliente no volume total recebido na usina de com coloração avermelhada. Apesar de
reciclagem. classificados em um mesmo tipo, os materiais
Percebe-se que as categorias diretamente acinzentados e avermelhados são depositados
relacionadas com a Industria da Construção Civil em locais distintos. A Figura 4 apresenta os
(construtoras e indústrias) são responsáveis por percentuais dos volumes dos tipos de RCD
aproximadamente 76 % do volume total recebidos pela usina.
direcionados para a usina de reciclagem. A predominância do recebimento do RCD
Analisando a quantidade de empresas que tipo A pode ser visto como um indicativo da
compõem tais categorias, verificou-se a preocupação dos clientes em realizar um
participação de dezoito construtoras e de cinco processo de triagem prévia do material in loco.
indústrias (concreterias e de pré-moldados).

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volumes dos materiais produzidos pela empresa.
A/B O material denominado BGS (brita graduada
17,10% simples), ou também chamado BGR (brita
graduada reciclada), é composto por: rachão
(25%), brita 1 (25%), brita 0 (25%) e areia
(25%).
A
82,90%
Rejeito; 0,09% Aterro; 0,83%
Rachão; 13,65%
Figura 4. Percentuais dos volumes de RCD recebidos pela
usina – tipo de RCD. BGS; Brita 1; 7,04%
43,78%
Brita 0; 2,47%
Nesse contexto, vale ressaltar que o preço
cobrado pela usina para o recebimento do m³ do
material do tipo A/B é três vezes superior ao do Areia; 17,07%
outro material. Isso se dá uma vez que o processo
de triagem prévia dos resíduos facilita os Pó de entulho; 15,07%
procedimentos de triagem da própria empresa
recicladora, permitindo acelerar a produção dos Figura 5. Percentuais dos volumes dos materiais
agregados reciclados. produzidos pela usina de reciclagem.
Como a empresa também atua na gestão dos
resíduos, após a triagem e a separação dos RCD Percebe-se, na Figura 5, que o BGS é o
que não serão reciclados, a empresa realiza a material mais requisitado da empresa, seguido da
destinação adequada desses resíduos. No caso de areia e do pó de entulho. A Figura 6 mostra os
madeira, plástico, isopor e papelão, a empresa percentuais dos volumes dos quatro produtos
destina esses materiais a outras empresas principais produzidos pelo britador da usina.
recicladoras. Porém, há situações em que alguns
materiais não são passíveis de reciclagem devido
ao alto grau de contaminação, sendo então Rachão
Areia 29,28%
destinados ao aterro de Goiânia-GO – a estes dá- 33,35%
se o nome de ‘rejeito’.
O equipamento de britagem da usina é do tipo
fixo (mandíbola) e a classificação do material
britado produz seis materiais diferentes: i)
rachão, com dimensões mínimas de 150 mm; ii)
Brita 0 Brita 1
brita 1, com dimensão mínima de 38 mm; iii) 15,97% 21,40%
brita 0, com 6,3 mm; iv) areia cinza (sem argila)
e v) areia marrom (argilosa), ambas com 4,8 mm Figura 6. Percentuais dos volumes dos materiais
de dimensão mínima; e vi) pó de entulho. produzidos pelo britador da usina.
Independente dos materiais que alimentam o
britador, são produzidos o rachão, a brita 1, a A análise da Figura 6 revela que o britador
brita 0 e a areia. Porém, quando o resíduo de produz predominantemente as britas (37%),
alimentação do britador é acinzentado, a areia seguido da areia (33%) e do rachão (29%). A
reciclada é denominada ‘areia cinza’ ou ‘sem demanda acentuada da areia, observada na
argila’. Quando ocorre a britagem de materiais Figura 5, justifica-se pela sua versatilidade, uma
mais terrosos, como o caso de materiais vez que esse produto pode ser utilizado como
cerâmicos, a ‘areia argilosa’ ou ‘areia marrom’ é matéria prima de concreto sem função estrutural,
produzida. Além desses, a empresa também bloco de concreto, assentamento de paver,
produz o ‘pó de entulho’– nome dado ao material produção de tijolos ecológicos, etc. Já o rachão é
de granulometria fina que passa pela abertura de empregado na construção de base, acessos para
uma calha que transporta o RCD ao britador. veículos, aterramento de áreas, drenagem de
A Figura 5 apresenta os percentuais dos obras rodoviárias, entre outros. As britas 0 e 1

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são materiais que possuem menor versatilidade,
utilizados para concreto sem função estrutural, 20,0
blocos e calçadas, por exemplo.

Volume (1000 m³)


17,5
De forma semelhante ao realizado com os 15,0
clientes que enviam os RCD para a usina, 12,5
10,0
buscou-se analisar as categorias dos clientes que 7,5
compram os materiais reciclados. As mesmas 5,0
categorias foram utilizadas, e o resultado das 2,5
suas participações está apresentado na Figura 7. 0,0
Material
Entrada Saída
Empresas (NCC); 9,81%
Orgãos Públicos; 0,38% Transportadoras; 2,84%
Pessoa Física; Figura 8. Comparativo entre os volumes de entrada e saída
7,92% de materiais na usina.
Concreteiras, pré-
fabricados e importância da destinação correta deste material
cimenteiras; e posterior utilização dos materiais reciclados.
5,42%

Construtoras;
4 CONCLUSÃO
73,63%
Este estudo objetivou apresentar o panorama da
Figura 7. Percentuais de contribuição das categorias, em reciclagem de RCD na região metropolitana de
volume, na compra de materiais reciclados. Goiânia-GO. De posse dos resultados obtidos,
pode-se concluir que:
Percebe-se que as construtoras compram a
maior parte dos materiais da empresa. A soma x A gestão dos RCD gerados na região se
dos percentuais de volumes comprados pelas mostra pouco eficaz, em decorrência da
construtoras e indústrias (concreteiras e deficiência de fiscalização dos agentes
fabricantes de pré-moldados) revela que tais públicos;
categorias juntas compram quase 80 % dos x Observou-se a preocupação das empresas
agregados reciclados da empresa. Esse resultado envolvidas na realização de uma triagem
mostra que as empresas da região já possuem a prévia dos resíduos antes do envio para a
preocupação de utilizar como matéria prima os usina de reciclagem;
materiais reciclados e que confiam na qualidade x A quantidade de material recebido pela
dos produtos. É interessante destacar que três empresa corresponde a uma parcela
empresas da categoria de construtoras, além de muito pequena em relação ao volume
encaminhar seus resíduos para a usina, compram total gerado na região;
os agregados reciclados. x Parte das construtoras e indústrias
De forma a obter uma estimativa do volume (fabricantes de pré-fabricados e
que a empresa possui em estoque, calculou-se os concreteiras) já estão utilizando de
volumes totais que entram e saem da usina agregados reciclados como matéria
(Figura 8). Verifica-se que houve uma diferença prima;
entre entrada e saída de cerca de 3,5 mil m³, no x A empresa de reciclagem consegue
ano referência analisado. satisfazer a demanda de agregados
Embora o volume que a usina de reciclagem reciclados na região metropolitana de
receba seja menos que 2 % do volume gerado na Goiânia-GO;
região – adotando o dado de SECIMA (2015) – , x Faz-se necessário uma melhoria nas
já se pode evidenciar a preocupações de ações governamentais para que sejam
empresas relacionadas à construção civil, e atingidos os objetivos propostos pelo
também de outras categorias, sobre a Plano Municipal de Gestão Integrada de

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Resíduos Sólidos no Município de
Goiânia-GO.

AGRADECIMENTOS

Os autores gostariam de agradecer ao CNPq pela


bolsa de mestrado concedida ao primeiro autor
do trabalho. Os autores também agradecem à
empresa Renove Gestão e Solução em Resíduos
Ltda (RNV Resíduos) pela disponibilização dos
dados empregados na realização deste estudo.

REFERÊNCIAS

Angulo, S.C; Teixeira, C.E; Castro, A.L e Nogueira, T.P..


(2011) Resíduos de construção e demolição: avaliação
de métodos de quantificação. Eng Sanit Ambient, v. 3,
n. 16, p.299-306, jul. – set 2011.
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Resíduos Especiais – ABRELPE. (2015) Panorama
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Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Saúde Pública
da Universidade de São Paulo. São Paulo, Brasil. 130
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Secretaria de Estado do Meio Ambiente, Recursos
Hídricos, Cidades, Infraestrutura e assuntos
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Sólidos do Estado de Goiás: Produto 10. Goiânia,
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Saneamento: Diagnóstico do manejo de resíduos
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Saneamento: Diagnóstico do manejo de resíduos
sólidos urbanos – 2015. Brasília, Brasil.
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Silva, W.M. Souza, L.O. e Silva, A.M.. (2010) Utilização
de resíduos da construção civil na cidade de Goiânia-
GO. Enciclopédia Biosfera: Centro Cientifico do
Saber. Goiânia, p. 1-12.

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Utilização de Rejeito de Bauxita na Geotecnia
Débora Louyse Alpes de Melo
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, louyse.alpes@gmail.com

Luisa Barbosa Pereira


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, luisabarbosapereira@gmail.com

RESUMO: O resíduo de bauxita é proveniente do processo produtivo do alumínio – do processo de


Bayer de bauxita – onde para cada tonelada de alumínio produzido são geradas mais de duas
toneladas de resíduos de bauxita. Devido a questões ambientais, é necessária a adoção de medidas
para minimizar os impactos da geração deste resíduo. Tem-se como alternativa a utilização do
resíduo de bauxita como uma possível fonte de mineração ou como novos materiais na indústria da
construção civil. Apesar de ser útil na geotecnia, por ser um resíduo muito variável, não é possível
realizar uma caracterização geral do mesmo, sendo necessárias investigações individuais.

PALAVRAS-CHAVE: Rejeito de Bauxita, Geotecnia, Reutilização

1 INTRODUÇÃO
2.1 Produção do Rejeito de Bauxita
O crescente avanço tecnológico mundial tem
A bauxita é formada por processo químico
exigido intensas explorações de recursos,
natural, proveniente da infiltração de água em
provocando diversos problemas ambientais. A
rochas alcalinas em decomposição. Pode ser
elevada demanda de matéria prima, tem
encontrada próximo à superfície com uma
acarretado em extrações minerais de áreas
espessura média de 4,5 metros e sua extração
anteriormente consideradas inviáveis, além das
geralmente é realizada a céu aberto.
áreas já exploradas. Desta forma, tem
Após a mineração, a bauxita é moída e
aumentado muito a geração de resíduos e
acrescida de uma solução de soda cáustica, que
subprodutos decorrentes da transformação da
a transforma em pasta. Posteriormente,
matéria prima.
aquecida sob pressão e recebendo novas
A implementação de legislações mais rígidas
quantidades de soda cáustica, esta massa se
em relação aos aspectos ambientais e a
dissolve e forma uma solução que passa por
diminuição de áreas para disposição desses
processos de sedimentação e filtragem. O
resíduos, tem aumentado a necessidade de
restante é colocado em precipitadores, para que
aproveitamento dos mesmos. De acordo com
a alumina contida na solução seja precipitada
Kehagia (2008), uma opção tecnicamente bem-
pelo processo de "cristalização por semente",
sucedida é a reciclagem de resíduos na indústria
sendo necessário lavar e secar o material
da construção. Materiais reciclados que têm
resultante. Na etapa seguinte, a alumina é
propriedades de engenharia adequadas
finalmente transformada em alumínio por meio
(ambientalmente corretos e econômicos),
de um processo de eletrólise. Todo esse
podem substituir agregados naturais ou
processo químico é denominado de Bayer.
materiais na construção de infraestrutura
No processo Bayer, a cada 2 e 2,5 toneladas
rodoviária.
de bauxita, tem-se aproximadamente 1 tonelada
de alumina, sendo o restante um resíduo
2 REJEITO DE BAUXITA
insolúvel chamado de lama vermelha.

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Segundo Chaves (1962), a lama vermelha plasticidade de 33, índice de plasticidade de 4 e
por muito tempo foi considerada um resíduo densidade aparente de 3,95. É importante
inaproveitável. Entretanto, devido aos riscos conhecer esses parâmetros, principalmente
ambientais associados à sua disposição e a quando pretende-se reutilizar o resíduo em
fatores econômicos, vem sendo estudada construção de estradas.
alternativas ambientalmente corretas e que A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos
possibilitem a redução do volume de resíduo com os ensaios citados acima, para as três
encaminhado para a disposição final, além das amostras analisadas. Além destes, outros
alternativas para reutilização desse rejeito. ensaios foram realizados e os resultados estão
apresentados na Tabela 3.
2.2 Caracterização Química, Física e Mecânica
do Rejeito Tabela 2. Propriedades físicas dos materiais (Kehagia,
2008)
O resíduo de bauxita é um material complexo Granulometria Atterberg Densidade
Material
Nº 40 Nº 200 Limites Aparente
cujas propriedades físicas e químicas variam Res. Bauxita 95 84 4 3,95
amplamente em todo o mundo, dependendo Solo A-1 22 13 6 2,7
principalmente da bauxita utilizada e, em menor Solo A-4 51 41 7 2,7
grau, da maneira como a bauxita é processada
pelo processo de Bayer. Normalmente, o rejeito Tabela 3. Propriedades mecânicas, módulo de
retém todo o ferro, titânio e sílica presentes na deformação e deformação vertical dos materiais
(Moddificado - Kehagia, 2008)
bauxita. Além disto, é possível encontrar
Teste de Proctor
alumínio que não foi extraído durante o refino, Material
Ȗm (t/m2) w (%)
CBR (%)
combinado com o sódio sob a forma de um Res. Bauxita 1,68 21,2 19
silicato hidratado de alumínio e sódio de Solo A-1 2,05 13,1 34
natureza zeolítica (McConchie et al., 2002). Solo A-4 2,01 9,3 27
Adicionalmente, óxidos de V, Ga, P, Mn, Mg, Módulo de Deformação E (t/m2)
Material
Zn, Th, Cr, Nb podem estar presentes como Teste Compressão TRL
elementos-traço (Pradhan et al., 1996). Res. Bauxita 3500 11500
Solo A-1 10400 16800
A composição química do resíduo de bauxita Solo A-4 9600 14500
é: 51% Fe2O3, 15% Al2O3, 13% CaO, 10% Material E (t/m2) ǻı1 (t/m2) ǻh (mm)
SiO2, 5% TiO2 e 0,2% Na2O. Res. Bauxita 3500 5 4,29
Solo A-1 10400 5 1,44
De acordo com Hind et al. (1999), a lama Solo A-4 9600 5 1,56
vermelha é constituída por partículas muito
finas, apresenta uma área superficial de 13 a 22 Analisando os resultados, Kehagia (2008)
m2 g-1 e tem como principal característica uma afirma que a utilização sustentável do material
elevada alcalinidade (pH 10-13). de resíduo de bauxita para a construção de
Kehagia (2008) realizou ensaios estradas como aterro é uma opção atrativa com
laboratoriais para avaliar e comparar as alto potencial de reutilização.
propriedades físicas dos resíduos de bauxita.
Utilizou um solo natural empregado como 3 APLICAÇÕES DO REJEITO DE
material de construção padrão (Solo A-4), uma BAUXITA
mistura com características de baixa gradação e
resíduo de bauxita com proporção de 60% a Na tentativa de alcançar o desenvolvimento
40% (Solo A-1) e um material de resíduo de sustentável, que atende as necessidades da
bauxita estabilizado com 4% de cinza volante geração presente de modo que não comprometa
(Res. Bauxita). a possibilidade de gerações futuras suprirem
De acordo com os ensaios de granulometria suas próprias necessidades, estudos vem
e limites de Atterberg realizado por Kehagia investigando o uso de resíduos como material
(2008), conclui-se que o resíduo de bauxita tem substituto de matérias primas convencionais.
tamanho médio de partícula menor que 10ȝm,
possui limite de liquidez igual a 37, limite de

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A utilização do resíduo da bauxita vem solos de áreas de congelamento e
sendo bastante investigado há décadas, sendo descongelamento, sendo focado para obras de
possível perceber seu elevado potencial de pavimentação. Assim como o estudo de Nithya
utilização, seja como: fonte de obtenção de e Ashok (2015), YarbaúÕ et al. (2007)
minerais (Ga, Sc, Nb, Li, V, Rb, Ti, Z), matéria investigou qual o percentual de adição
prima para matérias de construção, material apresenta o melhor desempenho em termos de
geotécnico, controle de poluição, coagulante, resistência a compressão, chegando ao valor
absorvente e catalisador, conforme destacado ideal de 15%. Esta adição de resíduo da bauxita
por Sutar et al. (2014). mais cimento diminui o peso especifico seco
O resíduo da bauxita tem sido investigado máximo e aumenta a umidade ótima. Quando
como material geotécnico, sendo seu uso comparado com o solo não estabilizado,
avaliado com e sem tratamento, considerando- proporciona uma melhora de aproximadamente
se a viabilidade técnica, construtiva e 50% do CBR. Devido a presença de matérias
econômica. O tratamento do resíduo pode com alta atividade pozolânica, a estabilização
ocorrer em diferentes níveis, desde a adição de do solo apresenta um desenvolvimento ao longo
substâncias à drenagem da água que o resíduo do tempo de cura, sendo possível assim
contém (Gore, 2015). observar reações cimentícias no solo
A variabilidade das características do resíduo estabilizado. A resistência a compressão do solo
está relacionada às características do processo estabilizado com a mistura supracitada também
de mineração e a estação do ano. Nikraz et al. apresenta um desenvolvimento progressivo ao
(2007) avaliou as características geotécnicas do longo do tempo de cura, quando comparada as
resíduo de bauxita com e sem tratamento, sendo resistências a compressão do tempo de cura 0 e
o tratamento deste resíduo por meio de 90 dias, respectivamente 1kPa e 10kPa. Deste
carbonatação. Além de avaliar a influência do modo, os autores constataram que a adição do
tratamento, Nikraz et al. (2007) observaram a resíduo da bauxita com cimento melhora a
variação das propriedades geotécnicas devido a durabilidade das construções rodoviárias que
estação do ano que o resíduo foi coletado. apresentam solos granulares e estão localizadas
Nikraz et al. (2007) destacam que para a em regiões de congelamento e
estação do inverno o tratamento do resíduo de descongelamento.
bauxita por carbonatação é benéfica, visto que Além de apresentar viabilidades técnica
reduzirá o elevado pH do resíduo de 13 para 9, como elemento de estabilização de solos
diminuindo assim seu potencial de poluição. granulares, a adição de resíduo da bauxita (15 a
Newson et al. (2006) apresentaram a 20%) ao cimento, melhora a resistência a
avaliação química e geotécnica do resíduo da compressão e condutividade hidráulica,
bauxita, mostrando que o mesmo apresenta um indicando a possibilidade do uso desta mistura
elevado valor de ângulo de atrito (42º) e como elemento de estabilização, o que
elevado valor de coesão (10~20kPa). Newson et implicaria na redução dos custos associado a
al. (2006) caracterizam o resíduo como um solo este tratamento (Kalkan,2006).
argiloso quando a característica analisada é o
comportamento de compressão. No entanto, 4 VARIABILIDADE DO RESÍDUO:
apresenta comportamento friccional similar a CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA
solos arenosos, apresentando um
comportamento mecânico de solos cimentícios, As características geotécnicas apresentadas pelo
cujas reações cimentícias são provocadas pelas resíduo dependem de alguns fatores, tais como:
partículas de hidróxido de sodalita (Newson et tipo de minério, processo de mineração, método
al., 2006). utilizado para secagem do material e período do
É possível empregar o resíduo da bauxita ano em que a amostra foi coletada (devido a
como elemento estabilizante de solos granulares questões climáticas). A principal consequência
de áreas submetidas a seções de congelamento e da dependência desses parâmetros com as
descongelamento. YarbaúÕ et al. (2007) características supracitadas é a dificuldade ou
demonstram a capacidade de estabilização de mesmo a impossibilidade de construção de um

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modelo que seja único para esse tipo de resíduo.

4.1 Investigação 1 - Villar (2002)

A pesquisa realizada por Villar (2002) teve


como objetivo comparar o efeito do
processamento do minério na formação dos
resíduos de bauxita. Para isso, foram analisados
quatro tipos de lamas vermelhas de diferentes
jazidas e um tipo de lama de lavagem.
A lama classificada como lama vermelha SL,
é resultado do processamento da bauxita de uma Figura 1. Comparação curvas granulométricas das lama
jazida localizada na região norte do Brasil, a de lavagem de bauxita e lama vermelha SL (Villar,
mesma que originou a lama de lavagem também 2002).
analisada. A lama vermelha PC é proveniente
do processamento de bauxitas extraídas de uma Os resíduos de bauxita, tanto de lavagem
jazida localizada na região de Poços de Caldas, quanto de processamento, apresentam índices
e a lama vermelha OP neutralizada e lama de plasticidade não muito elevados. No entanto,
vermelha OP não neutralizada são provenientes podem apresentar características de resíduo
de jazidas localizadas em Ouro Preto. argiloso, com baixas taxas de sedimentação se
A fim de analisar o efeito do processamento comparada com solos naturais (Li &
do minério na formação dos resíduos de Rutherford, 1996).
bauxita, serão apresentados somente os A Tabela 4 apresenta os valores de limites de
resultados obtidos por Villar (2002) para a lama consistência obtidos na pesquisa de Villar
de lavagem e a lama vermelha SL (resíduo de (2002), para cada uma das amostras analisadas
processamento da lama de lavagem), uma vez e para diferentes peneiras (#200 e #40).
que as diferenças podem mostrar o efeito dos Observa-se, para a lama vermelha SL, que o
processos impostos pelo sistema Bayer. processamento feito através do Sistema Bayer
Em resíduos de mineração, a granulometria é mudou sensivelmente o comportamento da
uma característica que está relacionada à fração que passa na peneira #200, uma vez que
mineralogia da rocha de origem, aos processos o valor de índice de plasticidade foi muito
de extração e processamento, e a forma de maior que o apresentado no caso do resíduo não
lançamento dos resíduos dentro dos beneficiado (lama de lavagem).
reservatórios (o lançamento pode favorecer a
segregação entre as partículas). Desta forma, é Tabela 4. Limites de Consistência dos Resíduos de
Mineração e Processamento de Bauxita Analisados
praticamente impossível determinar uma curva (Villar, 2002).
granulométrica padrão para um determinado <#200 <#40 <#40–secagem
Material
tipo de resíduo. Analisado LL LP IP
L
LP IP LL LP IP
L
A influência do processamento na Lama de
granulometria pode ser observada através do Lavagem 49 48 1
4
8
24 24 54 25 29
gráfico abaixo (Figura 1), que apresenta as (água)
Lama
curvas granulométricas da lama de lavagem de Vermelha 43 16 27
4
20 21 - - -
bauxita e da lama vermelha SL, ambas 1
SL (soro)
coletadas em lago já ressecado. Neste gráfico Lama
4
também pode ser observada a variação de Vermelha - - -
3
30 13 - - -
SL (água)
granulometria da lama vermelha SL,
apresentada ao longo da profundidade do Esta mudança de comportamento pode estar
reservatório onde foi depositada. relacionada à diferença na origem dos materiais
analisados, em função da variabilidade das
propriedades da bauxita. Entretanto, tudo indica
que esta alteração está relacionada à presença

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de soro cáustico, uma vez que esse fluido 2, proveniente de um minério de bauxita
também conferiu plasticidade à fração que laterítica do oeste da África, na República da
passa na peneira #40 da lama vermelha SL, Guiné. Para avaliar a influência da secagem do
alterando o seu limite de plasticidade (LP), material, o estudo realizou três tipos de
como pode ser visto pela análise dos valores secagem (secagem ao ar, secagem em estufa
obtidos usando soro e água, permanecendo com temperatura de 110ºC e secagem por
próximo o valor do limite de liquidez. compressão).
No caso da lama de lavagem, é possível A análise granulométrica do material foi
observar que existe uma grande diferença entre realizada por peneiramento, sendo o
a plasticidade das duas frações analisadas peneiramento seco e úmido. Conforme
(passante na #40 e passante na #200), sendo a apresentado na Figura 2, é possível perceber
fração fina não plástica. Isto pode ser uma que a organização dos grãos apresenta
indicação de que os minerais argilosos estariam variabilidade com a presença de água.
associados aos grãos maiores, conferindo uma Aproximadamente 85% dos grãos são passantes
plasticidade muito maior à fração que passa na na peneira nº 200 para o resíduo 1. Já o resíduo
peneira #40. Quanto aos valores medidos, 2 tem sua granulometria avaliada pelo processo
quando se seguiu uma trajetória de secagem de peneiramento e sedimentação, apresentando
percebeu-se pouca diferença nos limites, o que assim a curva granulométrica completa (Figura
mostraria uma boa capacidade de re-hidratação 3).
do material. A umidade higroscópica dos resíduos é de
A densidade dos grãos é um valor muito aproximadamente 3%, enquanto que a
dependente da mineralogia da rocha de origem, densidade real dos grãos é uma característica de
principalmente do teor de ferro existente, e da alta variabilidade, variando de 3,20 a 3,70. Essa
região do lago onde a amostra foi coletada, em variabilidade é dependente do tipo e localização
função dos efeitos de segregação das partículas. do resíduo dentro do reservatório de
Segundo Li & Rutherford (1996), a acumulação.
densidade relativa para bauxitas brasileiras Os limites de Atterberg apresentam uma
varia entre de 2,7 e 2,87, sendo os valores baixa variabilidade, considerando o mesmo
justificados pela presença elevada de gibbisita e processo de secagem – secagem ao ar. Quando
aos baixos teores de minério de ferro. Já para as avaliado os diferentes processos de secagem é
lamas vermelhas oriundas destas bauxitas, os possível perceber que o resíduo muda de
valores de densidade variam de 3,66 a 3,99, em característica, chegando a possuir características
função do teor de hematita e goetita, assim de solos não plásticos, para a secagem em
como dos outros produtos derivados do estufa.
processo Bayer. A variabilidade do pH apresentada é de
A Tabela 5 apresenta os valores de limites de aproximadamente 25% (alta variabilidade) e
consistência médios e densidade relativa dos encontra-se na faixa de 10,9 a 13,2.
grãos obtidos na pesquisa de Villar (2002). Para a compactação, ambos os resíduos
apresentaram uma umidade ótima de
Tabela 5. Valores de Limites de Consistência médio e aproximadamente 33% e um peso especifico
Densidade Relativa dos Grãos (Villar, 2002).
Densidade
seco máximo de 1,44g/cm³ a 1,78g/cm³.
Material Analisado LL LP IP Relativa dos
Grãos
Lama de Lavagem 54 25 29 2,96
Lama Vermelha SL 41 20 21 3,16

4.2 Investigação 2 - Gore (2015)

O estudo realizado por Gore (2015) apresenta a


avaliação de dois resíduos de bauxita: o resíduo
1, oriundo da mina Karst (Jamaica); e o resíduo Figura 2. Percentagem de grãos passantes nas peneiras
ASTM, para o peneiramento seco e úmido (Modificado -

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Gore, 2015). médios para esses parâmetros, necessitando
assim de investigações individuais a fim de
analisar as propriedades requeridas do rejeito
para a aplicação desejada.

REFERÊNCIAS

Chaves, A.G.F. (1962) A lama vermelha e sua eliminação


da fábrica de alumina, In: 2° semana de estudos.
Alumínio e Zinco. Sociedade de Intercâmbio Cultural
Figura 3. Curva característica da granulometria do e Estudos Geológicos dos Alunos da Escola de Minas
resíduo 2 (Gore, 2015). de Ouro Preto, n. 2, Ouro Preto, Minas Gerais.
Gore, M.S. (2015) Geotechnical Characterization of
Compacted Bauxite Residue for Use in Levees. Geo-
4.3 Comparação entre as Investigações 1 e 2 Chicago 2016, p. 299.
Hind, R.A., Bhargava, S.K., Grocott, S.C. (1999) The
Conforme esperado, o resíduo de bauxita surface chemistry of Bayer process solids: a
apresenta variações granulométricas que são review, Colloids and surfaces A: Physicochemical
and engineering aspects, n. 146, p. 359-374.
influenciadas pelo tipo de minério beneficiado e Kalkan, E. (2006) Utilization of red mud as a
pela localização da coleta de amostras no stabilization material for the preparation of clay
reservatório de armazenamento do resíduo, liners. Engineering geology, v. 87, n. 3, p. 220-229.
apresentando assim uma alta variabilidade das Kehagia, F. (2008) An Innovative Geotechnical
curvas. Application of Bauxite Residue, Eletronic Journal of
Geotechinical Enginnerind, vol. 13, p.1-10.
A variação dos limites de Atterberg Li, L.Y. e Rutherford, G.K. (1996) Effect of bauxite
observados entre as duas investigações mostram properties on settling of red mud – Intern. Journal of
que os fatores que mais influenciam são o tipo Mineral Processing, 48, Elsevier, p.p. 169 – 182.
de secagem do material e o processo de McConchie, D., Clark, M., Davies-McConchie, F.
beneficiamento do minério. (2002). New strategies for the management of bauxite
refinery residues (red mud), In: Proceedings of the
Dos parâmetros acima apresentados, apenas 6th international alumina quality workshop, Brisbane,
a densidade real dos grãos mostrou uma Australia, p. 327-332.
possível correlação entre os diferentes estudos, Newson, T., Dyer, T., Adam, C., Sharp, S. (2006) Effect
apesar desta característica ser altamente of structure on the geotechnical properties of bauxite
dependente da mineralogia da rocha, sendo os residue. Journal of geotechnical and
geoenvironmental engineering, v. 132, n. 2, p. 143-
materiais de áreas distintas. 151.
Nikraz, H. R., Bodley, A. J., Cooling, D. J. e Soomro, M.
5 CONCLUSÃO (2007) Comparison of physical properties between
treated and untreated bauxite residue mud. Journal of
Na tentativa de atender as demandas sociais e materials in civil engineering, v. 19, n. 1, p. 2-9.
Nithya, S. e Ashok, P. (2015) Experimental studies on
políticas que buscam o desenvolvimento concrete utilizing red mud as a partial replacement of
sustentável, a investigação do potencial de cement with hydrated lime. Growth, v. 5, p. 0, 2015.
utilização do resíduo de bauxita tem se tornado Pradhan, J., Das, S. N., Das, J., Rao, S. B. e Thakur, R.S.
cada vez mais comum. Desta forma, a fim de (1996). Characterization of Indian red muds and
garantir a viabilidade técnica e econômica das recovery of their metal values”, Light Metals, p.87-92.
Sutar, H., Mishra, S. C., Sahoo, S. K., Chakraverty, A. P.
possíveis utilizações, existe uma diversidade de e Maharana, H. S. (2014) Progress of red mud
pesquisas que buscam caracterizar o resíduo de utilization: An overview.
bauxita quanto às suas características físicas, Villar, L.F. de S. (2002) Estudo do adensamento e
químicas e mecânicas. ressecamento de resíduos de mineração e
Apesar de se mostrar muito útil em várias processamento de bauxita. Tese de Doutorado. Rio de
Janeiro: PUC, Departamento de Engenharia Civil.
aplicações na geotecnia, o resíduo de bauxita Yarbasil, N., Kalkan, E., Akbulut, S. (2007) Modification
apresenta parâmetros geotécnicos muito of the geotechnical properties, as influenced by
variáveis, em função da geologia da jazida freeze–thaw, of granular soils with waste additives.
minerada e do tipo de beneficiamento utilizado. Cold regions science and technology, v. 48, n. 1, p.
Desta forma, não é possível determinar valores 44-54.

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Erosão

TEMA 6


A Erosão e a Equação de Perda de Solo (USLE/ RUSLE): Uma
Revisão Bibliográfica
Jarleson Andrião
Faculdade do Centro Leste - UCL, Serra/ES, Brasil, jarleson.andriao@hotmail.com

Priscila Cristina Henke


Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI, Santo Ângelo/RS,
Brasil, priscilahenke@gmail.com

RESUMO: O presente artigo tem com objetivos demostrar através de uma revisão de literatura,
aspectos referentes a Erosão e a Equação de Perdas de Solo (USLE). Neste estudo é demonstrado a
utilização da USLE para cálculos de perda de solos resultando em taxas anuais de erosão O artigo
demonstra todas as váriaveis envolvidas no cálculo da perda de solo, bem como exemplifica de
maneira prática resultados de estudos já realizados, inclusive aplicando a Revisão da Equação de
Perda de Solos (RUSLE), levando em consideração modelos de banco de dados estatísticos para
aplicação nas variáveis envolvidas. A interação dos dados permite a estratificação da área a ser
estudada, identifica locais com propriedades específicas quanto a perda de solo e suas interações ao
logo da morfologia do terreno

PALAVRAS-CHAVE: Erosão, Erodibilidade, Perda de Solo, USLE, RUSLE.

1 INTRODUÇÃO Pimenta (1998) cita que dentre os principais


fatores que influenciam os processos erosivos,
A erosão dos solos é um dos mais sérios estão a erosividade da precipitação (medida
problemas ambientais que ocorrem em diversas pela sua intensidade) a erodibilidade (definida
partes do Brasil, tendo duas causas principais: a pelas características físicas e químicas do solo)
água e o vento. Considerada como um fator a cobertura vegetal (pela sua maior ou menor
geológico, a erosão provoca a mudança da proteção do solo), a declividade e comprimento
paisagem terrestre de maneira lenta. Com das encostas, e por fim as práticas de
interferência humana, o processo erosivo conservação e manejo dos solos.
natural é alterado, acelerando sua ação e Fatores de perda de solo por erosão,
aumentando a sua intensidade, gerando perdas conforme citado acima tem gerado diversos
de solo na região afetada. No Brasil, um dos problemas ambientais, como por exemplo, a
fatores de desgastes e perdas de solos que compactação do solo, diminuição da quantidade
seriamente tem contribuído para a de água pluvial infiltrada e o aumento do
improdutividade dos mesmos é a erosão hídrica. escoamento superficial. Esse conjunto de
Seja esta, facilitada e acelerada pelo homem fatores propicia a intensificação do processo de
com suas práticas inadequadas de uso do solo, erosão que pode evoluir na forma laminar, em
ocupação desordenada e sem critérios básicos sulco, ravina ou voçoroca (SILVA, 2001).
de planejamento ambiental, como também pela Desta forma, torna-se necessário a utilização de
existência de solos susceptíveis aos processos métodos que possibilitem a avaliação do
de erosão hídrica, somados a períodos de potencial erosivo de áreas para que se possa
elevada pluviosidade (Bertoni, 2008). Alvares e obter um planejamento e projeto de controle de

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erosões antes da ocupação e/ ou utilização do
solo para diversos fins. 2.2 Classificação da Erosão
Uma alternativa para estimava da
vulnerabilidade natural à perda de solo é o uso A classificação da erosão pode ser
da Equação Universal de Perda de Solos - resumidamente representada pelo esquema da
Universal Soil Loss Equation - USLE, Figura 02 abaixo:
(Wischmeier & Smith, 1978). O modelo da
USLE busca determinar a perda de solo de
forma quantitativa identificando áreas de maior ErosãoNormal
Quanto
ou menor vulnerabilidade à perda de solo.
aVelocidade
Partindo deste contexto, o presente artigo ErosãoAntrópica
objetiva apresentar através de uma revisão
Classificação
bibliográfica, conceitos e características da
perda de solo por erosão, apresentando a USLE ErosãoHídrica
como subsidio de cálculo de perda de solo Quantoao
agenteerosivo
como previsão da erosão.
ErosãoEólica

2 CONCEITOS E CLASSIFICAÇÕES DA Figura 2. Classificação da erosão. Fonte: Gerado pelo


autor.
EROSÃO
Gomes (2001) classifica a erosão em duas
2.1 Conceito
fases: Quanto a velocidade e quanto ao agente
erosivo. Em relação a velocidade, o processo
Dentre as várias definições encontradas na
erosivo normal remove os constituintes do solo,
literatura, uma definição mais abrangente
sobretudo pela ação da água de chuvas não
considera-se a erosão como um conjunto de
permitindo a regeneração do solo. Observa-se a
processos pelos quais os materiais da crosta
perda das diversas camadas ou horizontes do
terrestre são degradados, dissolvidos ou
solo sucessivamente até que aflorem as rochas
desgastados e transportados de um ponto para o
subjacentes. Já a erosão acelerada, provocada
outro pelos agentes erosivos, como: geleiras,
pelo homem pode ocorrer em poucos anos com
rios, mares, vento ou chuva. Para Tomaz
a perda total do solo, constituindo um alto
(2008), as causas principais da erosão são a
índice de degradação da superfície da terra,
água e o vento, em regiões úmidas, a água é o
impedindo a realização de importantes
fator mais importante da erosão.
atividades.
O fenômeno da erosão pode ser representado
Quanto ao agente erosivo, classifica-se a
pela Figura 01.
erosão em:
- Erosão Hídrica: Aquela em que os processos
de desagregação das rochas ou solos, e de
desnudação e transportes que são efetuados pela
chuva. A Figura 03 ilustra os tipos de erosão
hídrica, conforme classificado por Llopis Trillo
(1999).

Figura 1. Modelo conceitual de erosão. Fonte: Fonte:


Dane County (2003) apud Tomaz (2008).

A imagem ilustra como a energia da gota de


água desloca a partícula de solo, havendo o
transporte e a deposição.

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vieram de agrônomos norte-americanos, que
procuravam determiná-la através de ensaios
laboratoriais básicos (MIDDLETON, 1930). De
acordo com este mesmo autor, a erodibilidade
pode ser estimada através de dois índices: a
relação de dispersão e a capacidade de
infiltração do solo. Por esta concepção, a
erodibilidade seria controlada pela capacidade
de destacamento ou desprendimento das
partículas, dependente do volume de
escoamento superficial avaliado, indiretamente,
Figura 3. Processos de erosão hídrica. Fonte: Llopis
pela recíproca da capacidade de armazenamento
Trillo (1999).
de água pelos solos.
De uma forma mais compreensiva, a
Conforme ilustrado pela Figura 03, a erosão propriedade erodibilidade dos solos também
hídrica pode ser classificada como erosão em pode levar em consideração as particularidades
voçoroca, sulcos e laminar. dos solos determinantes da intensidade da ação
Já o processo referente à erosão eólica, ou de agentes erosivos (Como por exemplo, a
seja, pelo vento, pode ser classificado como infiltrabilidade), relacionado ao escoamento
responsável por transporte de material já superficial. Em contrapartida, relacionado a um
desagregado e tem grande importância nos sentido menos abrangente, a erodibilidade pode
terrenos planos, onde não se processa considerar apenas a resistência intrínseca do
escoamento, nas regiões áridas, semi-áridas e solo ao processo erosivo.
nas superfícies desérticas onde a vegetação não
protege o solo adequadamente (Tomaz, 2008). 3.1 O enfoque da erodibilidade na Engenharia
Outro tipo de classificação quanto ao
processo erosivo, é apresentada por Bastos Na literatura técnica, têm sido reunidos nas
(2004), conforme a Tabela 01. últimas pesquisas, modelos de erosão e
concepção de critérios de avaliação da
Tabela1. Classificação do Processo Erosivo erodibilidade segundo enfoque de diferentes
Tipo Subtipo áreas de conhecimento, como: Agronomia,
Pluvial; Hidráulica, Geologia de Engenharia e
Erosão Superficial Laminar Geotecnia.
Escoamento difuso Um dos principais temas abordados na geologia
Escoamento difuso interno de engenharia é a voçoroca, também conhecida
(piping); como Bossoroca (IPT), ilustrada na Figura 04.
Erosão Interna
Erosão por escoamento
concentrados (Voçorocas)

Fonte: Adaptado de Bastos (2004).

3 FATORES DE ERODIBILIDADE EM
SOLOS

A Erodibilidade é um dos principais fatores da


erosão dos solos. Pode ser definida como a
propriedade do solo que retrata a maior ou
menor facilidade com que suas partículas são
Figura 04. Voçoroca. Fonte: IPT (2015).
destacadas e transportadas pela ação de um
agente erosivo (BASTOS, 2004).
Os primeiros trabalhos de repercussão Na geologia de engenharia, os estudos de
mundial a tratar a questão da erodibilidade erosão de solos se caracterizam pela ênfase

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qualitativa, onde se destaca a descrição de estimativa de perda de solo, principalmente por
processos e mecanismos erosivos e de medidas ser prático e utilizar variáveis de fácil obtenção.
de prevenção, controle e correção da erosão. A Diversos estudos consideram a USLE e seus
voçoroca caracteriza-se como a remoção do fatores como uma ferramenta de boa
solo através do escoamento das águas, surgindo aplicabilidade e estimativa, que fornece
primeiramente sulcos erosivos que vão parâmetros para o planejamento do uso e
crescendo e formando ravinas e posteriormente ocupação do solo (GURGEL et al, 2011).
crateras provocando desmoronamentos e
escorregamentos de solos. O processo fica 4.1 Descrição da USLE
estagnado quando se encontra um nível de base,
ou seja, solo que apresente resistência à erosão A USLE é pode ser descrita pela seguinte
(GOMES, 2001). equação:
Na década de 60, surge estudos de erosão
com direcionamento voltados para modelos de A= R.K.L.S.C.P (1)
erosão, com objetivos de calcular a perda de
solo por erosão em terrenos agrícolas. No Onde:
entanto, a partir deste período outros estudos
foram surgindo, com objetivos de desenvolver A: Perda de Solo por erosão [ton/ha.ano];
metodologias para estimar a magnitude e as R: Erosividade das chuva [Mj.mm/ha.h.ano];
áreas mais propensas a erosão com propostas de K: Erodibilidade do solo [ton.h/Mj.mm];
modelos de suscestibilidade a perda de solo por L: Comprimento de Rampa [m];
erosão. Autores como Borges (2009), utilizaram S: Declividade [%];
dados espaciais juntamente com Sistemas de C: Uso e manejo do Solo [Adimensional];
Informações Geográficas (SIG) efetuando P: Práticas contra erosão [Adimensional].
operações matemáticas para o cálculo de
estimativas de perda de solo. Outra alternativa, As váriáveis serão detalhadas nos itens abaixo:
para a estimativa da perda de solo é o uso da
Equação Universal da Perda de Solo (USLE - 4.2 Erosividade da Chuva – Fator R
Universal Soil Loess Erosion), que será
detalhada nos próximos ítens. O Fator R corresponde ao poder erosivo da
precipitação média anual da região, em
t.m/ha.mm/ha. Lombardi Neto & Moldenhauer
4 A EQUAÇÃO UNIVERSAL DA PERDA (1992) propuseram a seguinte equação para
DE SOLO – USLE determinar a erosividade da chuva (R):

A USLE foi desenvolvida em 1954, pelo ଵଶ

National Runoffand Soil Loss Data Center e ܴ ൌ ෍ ‫ ݈݅ܧ‬ሺʹሻ


pela Agricultural Research Service em ௜ୀଵ
colaboração com a Universidade de Perdue
(USA) e revisada incorporando dados tais Sendo que:
como: (a) índice de erosão de chuva; (b) um
଴Ǥ଼ହ
método para avaliar os efeitos do manejo de ‫ݎ‬ଶ
uma cultura levando em consideração as ‫ ܫܧ‬ൌ ͸͹ǡ͵ͷͷ ቆ ቇ ሺ͵ሻ
‫݌‬
condições climáticas; (c) um fator quantitativo
Onde:
de erodibilidadedo solo; (d) um método que
leva em consideração os efeitos a associação de
EI: Média mensal do índice de erosividade
certas variáveis, tais como nível de
[MJ.mm/ha.h.ano];
produtividade, sequência de culturas e manejo
i: meses
dos resíduos (WISCHMEIER& SMITH, 1978).
r: É a média do total mensal [mm];
A equação universal da perda de solo (USLE)
P: Média do total anual de precipitação
é um modelo amplamente difundido para a
[mm];

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(WISCHMEIER& SMITH, 1978). Este fator é
4.3 Índice de erodibilidade do solo – Fator adimensional, adotando o comprimento de
K rampa medido em metros, sem a unidade.
A declividade (Fator S), é o ângulo ou o
O fator K está relacionado às propriedades índice da inclinação do terreno. Tanto o
físicas e químicas do solo, representando a sua comprimento de rampa quanto a declividade
suscetibilidade à erosão. Vários métodos são influem sobre a velocidade do deflúvio e sobre
propostos na literatura para efetuar o seu as perdas por erosão e conjuntamente formam o
cálculo. O procedimento mais utilizado para Fator LS que se caracteriza por não possuir
obter o fator K é o nomograma de erodibilidade unidade (CARVALHO, 1994). Utiliza-se a
do solo (Figura 05) desenvolvido por seguinte fórmula (Bertoni, 2008) para o cálculo
Wischmeier & Smith (1978) que utiliza os do Fator LS:
seguintes parâmetros do solo: granulometria,
matéria orgânica, estrutura e permeabilidade. LS = 0,00984C0,63D1,18 (4)
Os atributos utilizados referem-se ao horizonte
superficial, já que a USLE trabalha com erosão Onde:
laminar. Denardin (1990) desenvolveu uma
equação para o fator K no qual compilou os C: Comprimento da encosta [m];
valores de erodibilidade e propriedades físicas e D: Declividade média da encosta [%].
químicas, medidos em mais de trinta
localidades brasileiras. 4.5 Uso e Manejo do Solo - Fator C

O fator de uso e manejo do solo (Fator C)


consiste na relação à perda de solo de uma área
cultivada ou descoberta. Este fator expressa o
preparo do solo, cobertura vegetal e a sequência
das culturas (CARVALHO, 1994). O Fator C
(adimensional) é utilizado separadamente do
Fator P quando o objetivo for definir formas
mais adequadas de produção para minimizar os
impactos gerados pelo uso agrícola. Tomaz
(2008), cita na Tabela 2, como encontra o Fator
C, para ser utilizado na expressão da USLE.
Figura 5. Nomograma de erodibilidade do solo. Fonte:
Wischmeier & Smith (1978).
Tabela 2. Uso e Manejo do Solo.
Uso geral do solo Fator “C”
Como título de exemplo de utilização do
Plantações 0,080
normograma de eodibilidade, temos: Um solo
com 65% de silte e areia fina, 5% de areia e 3% Florestas Virgens 0,0001
de matéria orgânica, granulometria fina e Pastagens 0,010
permeabilidade baixa a moderada. Seguindo os Vegetação natural 0,100
dados exemplificados, de acordo com o Florestas 0,025
nrmograma, tem-se como Fator K= 0,04 Agricultura de café 0,200
ton.h/Mj.mm. Terras urbanas 0,010
Áreas desnudas 1,000
4.4 Fator Topográfico – Fator LS Áreas Urbanas 0,030
Gramados 0.001
O comprimento de rampa (Fator L) é
caracterizado como sendo à distância do ponto
de origem do caimento da água até o ponto em
que ela decresce, propiciando a sedimentação
em rupturas de uma vertente junto a vales 4.6 Práticas Conservacionistas – Fator P

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escoamento superficial, evapotranspiração e
Encontra-se na literatura diversos valores de percolação do solo.
fator de práticas conservacionista que reduzem O grande avanço do WEPP em relação a
o potencial erosivo de uma região em função da USLE, é a possibilidade de considerar as
cultura agrícola e da prática conservacionista porções erosional e deposicional do processo,
utilizada no cultivo. No entanto, esses valores padrões de fluxo, variação da erosão em
não se aplicam às áreas cuja destinação não é terrenos complexos, com variáveis topográficas
agrícola. Desta forma, Tomas (2008) utiliza a de solo e coberturas diferenciadas.
Tabela 03, para expressar o fator de prática
contra erosão para diversos tipos de áreas.
5 ESTUDOS REALIZADOS
Tabela 3. Fator de prática contra a erosão.
Uso geral do solo Fator “P” Alguns estudos realizados obtiveram sucesso
Plantações 0,5 nos resultados utilizando a USLE e
posteriormente, alguns casos com a utilização
Pastagens 1,0
da RUSLE. Wischmeier & Smith (1978) afirma
Florestas 1,0
que o modelo mostra grande sensibilidade aos
Terras urbanas 1,0 fatores topográfico e de erosividade da chuva,
Outros 1,3 principalmente em áreas de relevo mais
movimentado.
Quando o enfoque do trabalho é a perda de solo Mendonça et al. (2006) concluíram, por
por erosão, os Fatores C e P estão meio da USLE, que o uso e ocupação de cerca
correlacionados de tal forma que podem ser de 60% da microbacia estudada foram
analisados como um único fator (GURGEL, adequados.
2011). Farinasso et al. (2006) determinaram a perda
de solo pela USLE, verificarando sua
4.7 Revisão da Equação da perda de solo dependência espacial por análises
(RUSLE) geoestatísticas e observaram que as áreas
críticas estavam associadas a maiores
Uma proposta de revisão da USLE é indicada declividades, solos rasos e uso e manejo
por Renard el al (1991) nomeada como RUSLE inadequados.
(Revised Universal Soil Loss Equation). Para o Gurgel et al. (2011), realizou estudos em
modelo proposto são ampliados bancos de áreas vulneráveis, o resultado utilizando a
dados sobre erosividade e erodibilidade e USLE/ RUSLE se mostrou viável na avaliação
modificados os fatores de comprimento e da perda de solo. De acordo com os resultados
inclinação de rampa, com também fatores de do estudo concluiu-se que onde há falta de
cobertura do solo. informações, torna-se necessário considerar a
Dentre os modelos propostos, são metodologia dentro de uma abordagem
considerados os primeiros estudos relacionados qualitativa, que apesar de não fornecer
a modelagem, onde é proposto aplicações de informações absolutas permite uma análise
modelos de transportes de sedimentos ao relativa.
equacionamento da erosão por escoamento
superficial (BASTOS, 1999). Dentre os
modelos atuais, o que se destaca é o modelo 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
WEPP (Water Erosion Prediction Project), com
capacidade de estimar a distribuição espacial e Conforme a pesquisa realizada, A Equação de
temporal da perda de solo e deposição do Perda de Solo (USLE/ RUSLE) permite avaliar
sedimento. Através de um extenso banco de a perda de solo sob diversos cenários,
dados estatístico é realizado uma geração
fornecendo dados para um melhor planejamento
estocástica de dados como a precipitação,
e manejo do uso do solo.

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Outra questão a se considerar, são os fatores Luppi, S. M. (2002). Análise de Sensibilidade da
Estimativa de Perda de Solo em Função dos Métodos
da perda de solo, que se destacam pela atuação de Determinação dos Fatores K, LS e L Componentes
localizada, com influência dos fatores da da EUPS” Dissertação de Mestrado. Universidade
expressão da equação (erodibilidade) e LS Federal do Espírito Santo – Engenharia Ambiental,
157p.
(topográfico)nasáreas cultivadas principalmente
em formas pedológicas específicas do relevo, e Morgan, R. P. C.; Mirtskhoulava, T.S.; Nadirashvili, V.;
Hann, M. J.; Gasca, A. H. (2003). Spacing of berms
pela concentração dos fatores R (erosividade), P
for erosion control along pipeline rights-of-way.
(práticas conservacionistas) e C (uso e manejo) Biosystems Engineering 85 (2), pp. 249-259.
próximos a zonas urbanas. Entretanto, conclui-
Middleton, R. E. (1930). “Properties of soils wich
se que a aplicação USLE mostra como uma influence soil erosion”. V. S. Dept. Agric. Tech. Bull.
ferramenta muito satisfatória na avaliação do 178, pp.16.
potencial erosivo de perda de solo. Dessa
Mendonça, I.F.C.; Lombadri Neto, F.; Viégas, R.A
forma, a USLE/RUSLE constitui uma Classificação da capacidade de uso das terras da
orientação muito útil para os processos de Microbacia do Riacho Uma, Sapé, PB. Revista
Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.10,
manejo de solo, manutenção de terrenos e
p.888̻895, 2006.
implantação de novas obras.
Renard, K.G; Foster, G.R; Wessies, G.A, Porter, J.P;
Rusle – Revised Universal Soil Loss Equation.
Journal of soil and water cnservation, v.46, n.1, p.30-
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1997. erosion losses: a guide to conservation planning.
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IPT, Instituto de Pesquisas Tecnológicas. Processo de


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cia=916. IPT, 2015.

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Erodibilidade de Solos Situados nas Bordas Da UHE de Itumbiara
e Batalha

Pedro Parlandi Almeida


UFG, Goiânia, Brasil, pedro.parlandi@hotmail.com

Márcia Maria dos Anjos Mascarenha


UFG, Goiânia, Brasil, marciamascarenha@gmail.com

Marta Pereira da Luz

Furnas, Goiânia. Brasil, martaluz@furnas.com.br

Resumo: O processo de criação de reservatórios necessários ao funcionamento de usinas


hidrelétricas, assim como seu funcionamento, pode ser agressivo ao meio ambiente, gerando
impactos como processos erosivos. Tais processos levam ao assoreamento das bordas dos
reservatórios dessas UHE’s diminuindo a capacidade produtiva e vida útil. Nesse trabalho, foram
realizados ensaios para analisar os parâmetros de erodibilidade do solo quando submetidos ao
processo de inundação, com amostras retiradas das Barragens Batalha e Itumbiara. Foram
realizados ensaios de caracterização convencional e para solos tropicais e ensaios de desagregação
para verificar a erodibilidade desses solos. Verificou-se que solos que apresentam mesma
classificação possuem comportamento diferente quando submetidos ao processo de inundação.

PALAVRAS-CHAVE: Erodibilidade, Reservatórios de UHE’s, Desagregação, Solos Tropicais

1 INTRODUÇÃO

A matriz energética brasileira é volume útil na geração de energia elétrica.


predominantemente formada por usinas (Baleeiro et al., 2016).
hidrelétricas, sendo fundamental para o As erosões ocorridas em bordas de
desenvolvimento da economia do país. Para a reservatórios são decorrentes do impacto das
criação de uma UHE, é necessário a formação ondas originadas pela ação dos ventos,
de reservatórios, e a falha na implementação e causando instabilidade nas bordas. Decorrem
operação desses reservatórios pode gerar também da variação de nível dos
impactos ambientais, dentre eles o processo reservatórios, onde durante essa variação
erosivo. ocorrem também variações climáticas, como
Erosões em margens de reservatórios precipitações e mudanças de temperatura, que
consistem em um problema para UHE’s, visto alteram o perfil de sucção dos solos e mudam
que são responsáveis por problemas de as propriedades físicas da agua, interferindo,
assoreamentos, que é um dos fatores assim, de maneira relevante no processo de
predominantes na redução da capacidade infiltração (Mascarenha et al., 2017).
produtiva e consequente diminuição do De acordo com Mascarenha et al (2017), o

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efeito da variação do nível de água do base no formato adquirido após o tempo
reservatório, frente à ação do ciclo de padrão de teste. Os resultados alcançados
enchimento e esvaziamento, na estabilidade também são tidos como qualitativos. O
estrutural dos solos que compõem suas processo de desagregação relaciona-se com a
bordas, pode ser verificado a partir da erodibilidade de solos, pois simula a
execução de ensaios de desagregação. inundação do solo e a consequente
Por meio desse ensaio, verifica-se a desestabilização e transporte de suas
estabilidade de uma amostra indeformada partículas.
submetida à imersão em água destilada, com

2 METODOLOGIA

Para a realização desse trabalho foram Os ensaios de erodibilidade foram


utilizados cinco tipos de solos situados nas realizados por meio de ensaios de
margens dos reservatórios das usinas desagregação, em amostras deformadas, sob
hidrelétricas da Eletrobrás Furnas. A coleta de duas condições de imersão do corpo de prova.
amostras seguiu os procedimentos Na imersão total, o corpo de prova
estabelecidos pela NBR 9604 (ABNT, 2016a) encontrava-se submerso em água destilada
e foram coletados na superfície do terreno. desde o início do ensaio. Na imersão parcial,
Para a caracterização dos solos foram o corpo de prova encontrava-se sobre uma
realizados ensaios de análise granulométrica, pedra porosa com o nível de água sendo
limites de consistência, e massa específica dos mantida em sua base por 30 minutos, e em
grãos a partir dos procedimentos que constam seguida a inundação do corpo de prova
nas normas da ABNT. ocorreu gradualmente, onde a cada 15
Foram executados ensaios específicos para a minutos adicionava-se um volume de água
classificação dos solos tropicais: ensaio pelo equivalente a 1/3 da altura total do corpo de
método da pastilha de acordo com a prova, com submersão total acontecendo após
metodologia proposta pelo Dersa (2006) e 1h15 do início do ensaio. Em ambas as
ensaio de azul de metileno, de acordo com o condições de imersão, o ensaio teve duração
proposto por Fabri (1994), adotando-se de 24 horas.
modificações propostas por Romão (1995).

3 RESULTADOS

Os resultados apresentados estão divididos em defloculante (SD), obtidas para os solos


uma seção destinada à classificação dos solos analisados, onde as curvas referentes aos
e outra aos resultados de desagregação. Os solos da Barragem Batalha encontram-se com
solos Gaspareto e Rapaz Grande são linhas tracejadas, enquanto as curvas
pertencentes à Barragem Batalha, e os solos P referentes aos solos da Barragem Itumbiara
Angelim – Talude, P 01 – Erosão e P 01 – encontram-se com linhas contínuas.
Tupaciquara são pertencentes à Barragem Com base nas figuras 1, foi construída a
Itumbiara. Tabela 1, que mostra a porcentagem de cada
tipo de partícula (pedregulho, areia, silte e
3.1 Caracterização e classificação dos solos argila) presentes nas amostras analisadas, para
as duas condições de ensaio: com
A Figura 1 apresenta as curvas defloculante e sem defloculante.
granulométricas com defloculante (CD) e sem

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Segundo Camapum de Carvalho et al e/ou alumínio. Dessa forma, os resultados
(2001), as análises granulométricas com e apresentados na Tabela 1 evidenciam que as
sem o uso de defloculante permitem constatar amostras de Gaspareto, Rapaz Grande, P 01 –
as agregações das partículas de argilas nas Erosão e P 01 - Tupaciquara são solos
frações silte e areia fina, por devido à lateríticos.
presença de óxidos ou hidróxidos de ferro



Figura 1 - Curvas granulométricas com e sem defloculante

Tabela 1 - Características granulométricas das amostras

Amostras Pedregulho (%) Areia (%) Silte (%) Argila (%)


Gaspareto (c/ defloc.) 1,53 9,7 44 44,76
Gaspareto (s/ defloc.) 1,53 21 58,48 19
Rapaz Grande (c/ defloc.) 5,62 18,74 42,5 33,14
Rapaz Grande (s/ defloc.) 5,62 37.57 36,99 19,82
P Angelim - Talude (c/ defloc.) 2,32 60,31 36,42 0,94
P Angelim - Talude (s/ defloc.) 2,32 72,42 25,26 0
P 01 - Erosão (c/ defloc.) 0,16 26,87 15,21 57,77
P 01 - Erosão (s/ defloc.) 0,16 17,65 70,2 11,98
P01 - Tupaciquara (c/ defloc.) 0,88 35,17 20,22 43,73
P 01 - Tupaciquara (s/ defloc.) 0,88 24,81 74,3 0


Na tabela 2 são apresentadas as características ensaio de azul de metileno podem ser vistas
físicas das amostras, sendo: wnat, a umidade na tabela 3.
natural da amostra; wL, o limite de liquidez;
wP, o limite de plasticidade; IP, o Índice de 3.2 Ensaios de Desagregação
Plasticidade; Ȗs, o peso específico do solo; IA,
o índice de atividade das argilas e CA, o A Figura 2 mostra a condição das amostras no
coeficiente de agregação dos solos. início e final de ensaio de desagregação
realizado nas amostras de Gaspareto, Rapaz
As classificações do solo de acordo com a Grande, P Angelim – Talude, P 01 – Erosão,
metodologia SUCS, ensaio de pastilhas e P 01 – Tupaciquara, sendo que para a

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primeira amostra por imersão parcial e total,
respectivamente.

Tabela 2 - Características físicas das amostras

Amostras wnat(%) wL(%) wP(%) IP(%) Ȗs(g/cm³) IA CA


Gaspareto 3,88 65,6 33,9 31,8 2,63 0,71 57,6
Rapaz Grande 3,16 50,4 31,9 18,5 2,7 0,56 40,2
P Angelim - Talude 0,37 - NP NP 2,79 0,00 100,0
P 01 - Erosão 5,59 51,9 33,4 18,5 2,68 0,32 79,3
P 01 - Tupaciquara 2,1 48,4 30,9 17,6 2,73 0,40 100,0


Tabela 3 - Classificação dos solos

Azul de
Classifica Azul de Metileno
Classificação Classificação Pastilhas Metileno
Amostra ção (Tipo de argilo
SUCS HRB (Plasticidade) (Classificação
Pastilhas mineral
CA)
Gaspareto MH (silte de alta A-7-5 LG' Plástico Pouco Ativo Caulinita
compressibilidade)
Rapaz MH (silte de alta
A-7-5 LG' Plástico Pouco Ativo Caulinita
Grande compressibilidade)
P Angelim ML (silte de baixa
A-4 NA/NS' Não Plástico Muito Ativo Caulinita
- Talude compressibilidade)
P 01 - MH (silte de alta
A-7-5 LA' Plástico Pouco Ativo Caulinita
Erosão compressibilidade)
P 01-
Tupaciquar ML (silte de baixa A-7-5 LG' Plástico Pouco Ativo Caulinita
a compressibilidade)

  
Gaspareto Gaspareto P Angelim P 01 P 01
Rapaz Grande
Imersão Parcial Imersão Total Talude Erosão Tupaciquara
Figura 2 - Situação inicial e final das amostras no ensaio de desagregação

4 DISCUSSÃO

O ensaio de desagregação com imersão Villibor et al.(1986) reconhecem como


parcial ou imersão total é realizado de modo solos erodíveis aqueles classificados como
qualitativo, onde se observa o comportamento NS’, como potencialmente erodíveis os solos
quanto à desagregação do solo, se ocorreu LA e LA’ e como resistentes à erosão os solos
total ou em pedaços, ou se a amostra se LG’. De acordo com os autores, as demais
manteve intacta, possibilitando a classificação classes têm a erodibilidade condicionada por
das amostras em relação aos tipos de reação à outras propriedades, o que dificulta a previsão
inundação, conforme apresentado por do comportamento frente à erosão pela
Holmgren e Flanagran (1977). classificação MCT.

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A primeira amostra estudada refere-se ao ocorreu pelo processo de fraturamento, ou
ponto Gaspareto, e foi submetida à imersão seja, o solo foi desestruturado e isto pode ser
parcial. A ascensão capilar, na amostra ocorre explicado pela baixa coesão entre os grãos de
de forma lenta e heterogênea, devido aos solos não lateríticos. A desagregação
diferentes diâmetros que compõem o solo. aconteceu durante a primeira hora e após isso
Após as 24 horas de execução do ensaio, a estabilizou. O solo se classifica como NS’ e
amostra manteve sua forma original, segundo Villibor et al (1986), seria um solo
desagregando pequenos grãos do solo e em erodível. A amostra encontrava-se com baixa
baixas quantidades, sendo classificado como umidade, sendo um solo muito seco,
sem resposta. O resultado encontrado é apresentando maior índice de vazios
coerente com o apresentado por Villibor et al. preenchidos por ar, responsável por gerar um
(1986), uma vez que a amostra se classifica aumento na poropressão quando o solo é
como LG’ e apresenta resistência à erosão. submetido à inundação, levando a
Na imersão total, a amostra se desagrega desagregação da amostra.
totalmente nos primeiros minutos, formando A amostra P01 Erosão foi submetida à
uma pilha de material inconsolidado e imersão total. Durante a moldagem da
conferindo a presença de material em amostra, a mesma apresentava trincas e
suspensão na água (turbidez). Apresenta algumas partículas já desagregadas, o que
elevada taxa de desagregação, portanto pode ter influenciado no resultado do ensaio.
elevado índice de erodibilidade. Isso pode ser A desagregação aconteceu imediatamente
explicado porque o ar presente no solo está após se adicionar água, e apresentou-se
ocluso, gerando uma poropressão positiva, elevado teor de espuma e material em
resultando na desestruturação do solo, sendo suspensão na superfície do líquido, decorrente
classificado como abatimento. A amostra em da rápida liberação de bolhas de ar resultantes
questão refere-se a um solo laterítico e da inundação. A desagregação ocorrida na
argiloso, apresentando maior resistência à amostra ocorreu pelo processo de abatimento,
inundação total, logo a elevada desagregação decorrentes da hidratação e desaeração
do solo não era esperada, uma vez que a durante a inundação da amostra. O solo se
amostra apresentou elevada porcentagem de classifica como LA’ e segundo Villibor et al
argila em sua composição (44,76%), o que a (1986), seria um solo potencialmente
torna coesiva. Porém seu valor de índice de erodível. A presença de trincas no solo pode
plasticidade (32) pode indicar a presença de ser explicada pelo processo de ressecamento,
argilos minerais ativos, o que pode ser que é típico de solos finos e consiste na
confirmado somente com a execução de contração do solo devido à perda d’água por
ensaios DRX. meio da evaporação (superfície) e/ou
A amostra Rapaz Grande foi submetida à drenagem (base), sendo a morfologia dessas
imersão total. A desagregação ocorrida na descontinuidades dependente da mineralogia
amostra ocorreu pelo processo de abatimento, do solo e das condições climáticas. O
decorrentes da hidratação e desaeração surgimento dessas trincas é responsável por
durante a inundação da amostra. A amostra se desestabilizar o material, fazendo com que o
classifica como LG’ e segundo Villibor et al. mesmo se desagregue anteriormente à
(1986), é um solo que apresenta resistência à inundação.
erosão. Apesar de a amostra possuir muita A amostra P01 Tupaciquara foi submetida à
argila em sua composição granulométrica e imersão total. A desagregação aconteceu
ser classificada como laterítica, apresenta imediatamente após se adicionar água,
também elevado teor de silte e areia, que levando ao aumento da turbidez na água e
torna a amostra menos coesa e contribui para apresentou-se elevado teor de espuma e
sua desagregação. material em suspensão na superfície do
A amostra P Angelim Talude apresentava líquido, decorrente da rápida liberação de
umidade de 0,25% e foi submetida à imersão bolhas de ar resultantes da inundação. A
total. A desagregação ocorrida na amostra desagregação ocorrida na amostra se deu

GEOCENTRO2017, Goiânia/GO, Brasil.




pelo processo de abatimento, decorrentes da Os autores agradecem a Eletrobras Furnas,
hidratação e desaeração durante a inundação ANEEL e a Fundação de Apoio à Pesquisa –
da amostra. O solo se classifica como LG’ e UFG (FUNAPE), financiadoras do Projeto de
segundo Villibor et al (1986), seria um solo Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)
que apresenta resistência à erosão. Como Monitoramento e Estudo de Técnicas
ocorrido com o solo anterior, a amostra Alternativas na Estabilização de Processos
apresentava trincas, resultantes do processo de Erosivos em Reservatórios de UHE’s que
ressecamento, responsáveis por desestabilizar possibilitaram o desenvolvimento da
o solo e contribuir para que a desagregação pesquisa.
acontecesse anteriormente à inundação.

REFERÊNCIAS
5 CONCLUSÃO
ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas
(2016a). NBR 9604: Abertura de poço e trincheira
A maioria das amostras analisadas apresentou de inspeção em solo, com retirada de amostra
desagregação quando inundada, e merecem deformada e indeformada. Rio de Janeiro, 9 p.
atenção para a realização de estudos que Baleeiro, C. B. R.; Luz M. P.; Nascimento, R. O.;
impeçam o agravamento do processo erosivo. Mascarenha, M. M. A.; Sales, M.M. (2016)
No entanto, os ensaios foram realizados em Erodibilidade de solos situados em bordas de
reservatórios de UHEs. In: XVIII CONGRESSO
condições extremas: presença de trincas nas BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS SOLOS E
amostras, baixa umidade e imersão total das ENGENHARIA GEOTÉCNICA, 2016, Belo
amostras (representando uma inundação Horizonte.
instantânea da amostra). Essas condições não Camapum de Carvalho, J.; Lima, M. C.; Mortari, D.
são comuns em bordas de reservatórios, por Consideração sobre prevenção e controle de
voçorocas. In: VII SIMPÓSIO NACIONAL DE
isso recomenda-se a realização de novos CONTROLE DE EROSÃO. Goiânia, 2001.
ensaios simulados as condições de campo DERSA Desenvolvimento Rodoviário S/A (2006).
para melhor análise. Diretrizes para Identificação Expedita do Solo
A erodibilidade dos solos é influenciada por Laterítico – Método da pastilha. Método de
sua composição granulométrica e ensaio.
Fabbri, G.T.P (1994). Caracterização da fração fina de
características físicas, uma vez que solos com solos tropicais através da adsorção de azul de
mesma classificação laterítica possuem metileno. Tese de Doutorado, EESC, USP.
comportamentos diferentes em relação à Holmgren, G. G. S; Flanagran, C. P. Factors affecting
erodibilidade. Entre as características físicas, spontaneous dispersion of soil materialsas
a umidade exerce forte influência no processo evidenced by the crumb test. ASTM Special
Technical Publication, Philadelphia, n. 623, p
de desagregação por ressecamento, e na 218-240, 1977.
geração de poropressão, influenciando no Mascarenha, M. M. A.; Sales, M. M.; Camapum de
comportamento de erodibilidade dos solos ao Carvalho, J.; Luz, M. P.; Souza, N. M.; Angelim,
longo da execução dos ensaios. R. R. (2017). Ensaios aplicados ao estudo de
Os resultados obtidos nos ensaios de erosões nas bordas e áreas do entorno de
reservatórios. In: Erosão em borda de
caracterização podem ser utilizados para reservatório. 1a ed. Goiânia, v 1, 229-246p.
melhoramento de mapas de susceptibilidade Romão, P. de A (1995). Mapeamento geotécnico da
de erosões executas pela empresa Eletrobras região de águas claras (DF): Utilização de
Furnas, que irá auxiliá-los no planejamento de recursos de geoprocessamento e de novos
medidas corretivas em relação aos processos métodos de ensaio para caracterização de solos
tropicais. Dissertação (Mestrado). Departamento
erosivos. de Engenharia Civil, UnB, Brasília.
Villibor, D.F.; Nogami, J.; Fabbri, G. T. P. Proteção a
erosão em pavimentos de baixo custo. In:
AGRADECIMENTOS REUNIÃO ANUAL DE PAVIMENTAÇÃO, 21.,
1986, Salvador.

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Erodibilidade dos Solos Residuais do Complexo Juiz de Fora
Lucas Henrique Vieira
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, lucas.vieira@engenharia.ufjf.br

Mateus Lino Leite


COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil, mateuslleite.93@gmail.com

Tatiana Tavares Rodriguez


UFJF, Juiz de Fora, Brasil, tatiana.rodriguez.ttr@gmail.com

RESUMO: Esta pesquisa objetiva determinar a erodibilidade dos solos da região através de ensaios
diretos. Para tanto, foi realizada análise granulométrica e ensaios empíricos de dispersão e
desagregação em solos de origem residual denominados de SA e P3 (siltes arenosos), P4 (silte
arenoso a argiloso), SR (silte argiloso) e P5 (areia siltosa). No ensaio de dispersão, os solos P3, P4 e
P5 apresentaram comportamento não dispersivo e os solos SR e SA comportamento dispersivo. Já
no ensaio de desagregação, o principal comportamento ocorrido foi o fraturamento. Concluindo-se
que há diferença entre os potenciais erodíveis dos solos residuais da região.

PALAVRAS-CHAVE: Erodibilidade, Solos residuais, Juiz de Fora.

1 INTRODUÇÃO Esta pesquisa objetivou determinar a


erodibilidade dos solos desta região através de
Por se tratar de um país com clima ensaios empíricos, que segundo Leite (2016)
predominantemente tropical, caracterizado pela são os ensaios que melhor representam os
elevada incidência de chuvas, o Brasil tem efeitos ocorridos pelo fenômeno da erosão.
como principal meio de degradação do solo, a
erosão hídrica, perdendo por ano,
aproximadamente, 500 milhões de toneladas de 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
solo. Essa perda ocorre por meio da
desagregação das partículas, que é ocasionada 2.1 Erosão
pelo impacto direto das gotas de chuva, assim
como pelas águas dos rios e pelo escoamento O fenômeno erosão pode ser entendido, de uma
superficial. (LEPSCH, 2002; STEPHAN, forma geral, como sendo uma sequência de
2010). processos, que resultam na fragmentação da
A declividade acentuada do talude somada estrutura do solo através do carreamento de suas
ao comprimento da encosta propicia o aumento partículas, na maior parte das vezes, por meio
da velocidade de escoamento, a redução da da água (erosão hídrica) ou do vento (erosão
capacidade de infiltração e o consequente eólica) (BERTONI e LOMBARDI NETO,
aumento do volume escoado (KERTZMAN et 2005).
al., 1995). De acordo com Bertoni e Lombardi Neto
A cidade de Juiz de Fora – Minas Gerais, é (1990), a erosão não é a mesma em todos os
caracterizada por uma alta atuação antrópica e solos. Suas propriedades físicas, estrutura,
extrema vulnerabilidade do meio físico, permeabilidade, densidade, características
contribuindo assim para uma erosão acelerada químicas e biológicas exercem diferentes
(ROCHA et al., 2003). influências no fenômeno.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


Por se tratar de um fenômeno natural que
ocorre na faixa mais externa da superfície
terrestre, a erosão tem a atividade antrópica 3 ESTUDO DE CASO
como um dos fatores intensificadores de sua
evolução. Além deste, o potencial erosivo da O estudo desta pesquisa teve por base um local
chuva incidente no local, as condições de situado na região do bairro Salvaterra, Avenida
infiltração e escoamento superficial, declividade Deusdedith Salgado em Juiz de Fora – MG.
e extensão da encosta são exemplos de fatores A cidade é marcada pela formação geológica
que influenciam diretamente nesta evolução denominada Complexo de Juiz de Fora que é
(LIMA, 2003; CAMAPUM et al., 2006). petrograficamente formado por rochas de
origem magmática e metassedimentar,
2.1 Solo Residual estruturalmente se apresentando como
migmatitios, gnaisses e cataclasitos e
Os solos são classificados entre solos residuais secundariamente como quartzitos encaixados
e transportados. Nesta pesquisaforam em falhas, sendo abundante a ocorrência de
enfatizados os assuntos pertinentes aos solos anfibólios, quartzos e feldspato
residuais por serem comuns na região Centro- A região em estudo é predominantemente
Sul do Brasil, a qual compreende a região formada por latossolos amarelo (PJF, 2014a)
estudada. originados de rochas como charnockitos/
Os solos residuais são aqueles provenientes granulitos (PJF, 2014b).
da decomposição e alteração das rochas “in Os solos encontrados no local foram
situ”. Sua composição depende do tipo e da denominados de P3, P4 e P5 - Coletados na
composição mineralógica da rocha que lhe deu Região I (Feição erosiva) e Solo Rosa (SR) e
origem. Solo Amarelo (SA) - Coletados na Região II
Os solos residuais são subdivididos em (Talude de corte). Na Figura 2 são apresentadas
horizontes que se dispõem sequencialmente a essas duas regiões.
partir da superfície. A transição entre um
horizonte e o outro é gradativa de modo que a
separação entre eles pode ser aleatória. Não
existe um contato ou limite direto e brusco entre
o solo e a rocha que o originou. Segundo
Vargas (1979) apud DNER (2006), os
horizontes se classificam de acordo com a zona
de intensidade de intemperismo em que se
encontram: (I) solo residual maduro; (II) solo
residual jovem ou solo saprolítico; (III) blocos
em material alterado (Figura 1).

Figura 2– Regiões de coleta das amostras. (AUTORES,


2017).
Figura 1 - Perfil de decomposição das rochas
(Modificado de DNER, 2006).

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



4 METODOLOGIA quando as paredes da amostra se tornam difusas
com o surgimento de uma “nuvem” coloidal
4.1 Análise Granulométrica que cresce à medida que a amostra se dissolve.

Para a análise granulométrica com defloculante 4.4 Grau de Floculação


seguiram-se as orientações da norma ABNT
(1988). Já para a análise granulométrica sem A análise do grau de floculação foi realizada
defloculante foi utilado água destilada no lugar do com base na norma da ABNT (1996b), sendo o
defloculante, mantendo os demais procedimentos diamêtro adotado de 0,002 mm.
listados na ABNT (1988).
5 RESULTADOS
4.2 Dispersão
5.1 Análise Granulométrica
Para a análise de dispersibilidade do solo foram
utilizados os passos concernentes à norma da Ao fim dos ensaios de análise granulométrica
ABNT (1996a). Ao fim do ensaio são atribuídas foram plotados os gráficos apresentados da
às amostras as seguintes classificações: Figura 5 à Figura 7.
Grau 1 (Não-Dispersivo), o torrão pode Para o SR foi coletada uma amostra, na
absorver água, sofrer esboroamento e Figura 5 é apresentada a curva granulométrica
esparramar-se no fundo do béquer, mas não se obtida nos ensaios feitos com defloculante (CD)
observa turvação do líquido; e sem defloculante (SD). A partir da curva o
Grau 2 (Levemente Dispersivo), há indícios solo foi classificado como um silte argiloso.
de turvação da água próxima à superfície do
torrão;
Grau 3 (Moderadamente Dispersivo),
observa-se uma nuvem de colóides em
suspensão, geralmente finos veios espalhando-
se no fundo do béquer;
Grau 4 (Fortemente Dispersivo), observa-se
uma nuvem coloidal, uma película muito fina
cobrindo o fundo do béquer, toda a água se
torna turva.

4.3 Desagregação Figura 3 - Curva granulométrica para o SR


(RODRIGUEZ et al., 2015).
O ensaio de desagregação consiste na colocação
de amostra cúbica, de 6 cm de aresta, dentro de A curva granulométrica obtida para o SA é
uma bandeja com água, observando-se a sua apresentada na Figura 4. Sendo ele, classificado
reação ao fenômeno de submersão. O ensaio foi como silte arenoso (com e sem defloculante).
realizado com inundação controlada em quatro
estágios seguindo o procedimento descrito por
Santos e Camapum (1998) apud Rodriguez
(2005).
Ao fim do ensaio, as amostras são
classificadas em quatro grupos: Sem resposta,
quando a amostra mantém sua forma e tamanho
originais; Abatimento (Slumping), quando a
amostra se desintegra, formando uma pilha de
material desestruturado; Fraturamento, quando
a amostra se quebra em fragmentos, mantendo a
forma original das faces externas; Dispersão, Figura 4 - Curva granulométrica para o SA
(RODRIGUEZ et al., 2015)

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Para o P3 foram coletadas duas amostras
denominadas AM1.P3 e AM2.P3. A Figura 5
apresenta a curva granulométrica obtida nos
ensaios feitos com defloculante e sem
defloculante. Sendo este solo classificado como
silte arenoso.

Figura 7 - Curva granulométrica para o P5


(RODRIGUEZ et al., 2016).

Os solos SA, P3 e P4 apresentaram grau de


floculação de 100%, indicando que in situ as
partículas podem estar agregadas. O solo P5
apresentou grau de floculação de 0% e o solo
SR apresentou grau de floculação inferior a
100%.
Figura 5 - Curva granulométrica para o P3
(RODRIGUEZ et al., 2016). 5.2 Dispersão
No caso do solo P4 a curva granulométrica
O ensaio de dispersão classificou todos os solos
obtida é a apresentada na Figura 6. Para este
da Região I como não dispersíveis (1) quando
solos também foram coletadas duas amostras,
úmido e, somente o P4, como levemente
denominadas AM1.P4 e AM2.P4. Ambas foram
dispersivo (2) quando seco ao ar. A
ensaidas em meio dispersor com defloculante
classificação passa a ser moderadamente
emeio dispersor sem defloculante. Ao fim a
dispersiva (3) apenas quando o meio dispersor é
AM1.P4 foi classificada como um silte argiloso
mais agressivo (NaOH) e a amostra se encontra
e a AM2.P4 como silte arenoso.
seca ao ar.
Já os solos da Região II apresentaram
comportamento predominantemente dispersivo.
A Tabela 1 apresenta um resumo dos
resultados obtidos para cada amostra ensaiada
com a amostra úmida e seca ao ar.

Tabela 1 - Resultados do ensaio de Dispersão


(AUTORES, 2017).
Dispersão
Água NaOH
Amostra
P3 P4 P5 SR SA P3 P4 P5 SR SA
Seca ao Ar 1 2 1 2 3 3 3 3 3 3
Figura 6 - Curva granulométrica para o P4 Úmida 1 1 1 3 2 1 2 1 3 4
(RODRIGUEZ et al., 2016).
Com base nestes resultados, pode-se inferir
No P5 foi coletada apenas uma amostra para que os solos da Região I não são dispersíveis,
ensaio com e sem defloculante. A Figura 7 porém, quando ensaiados em hidróxido de sódio
apresenta a curva granulométrica obtida ao fim todas as amostras secas ao ar sao consideradas
dos ensaios, sendo o solo classificado como moderadamente dispersivas. Já os solos da
uma areia siltosa. Região II são dispersíveis, porém, o solo Rosa
quando seco ao ar e o solo Amarelo quando em
umidade natural, ambos em solução de água,
são considerados levemente dispersivos.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



5.3 Desagregação

As amostras utilizadas para o ensaio de


desagregação foram retiradas
perpendicularmente à encosta estudada.
De forma geral todos os solos ensaiados,
reagiram ao ensaio de desagregação
apresentando fraturamento e/ou abatimento.
Detalhes dos ensaios sao apresentados da
Figura 8 à Figura 12.

Figura 11 - Ensaio de desagregação para o P4 (VIEIRA,


2017).

Figura 8 - Ensaio de desagregação para o SR (LEITE,


2016).

Figura 12 - Ensaio de desagregação para o P5 (VIEIRA,


2017).
Figura 9 - Ensaio de desagregação para o SA (LEITE,
2016).
Na Tabela 2 são apresentados os resultados para
todas as condições de ensaio. À frente de cada
resultado o número entre paresentes representa
o estágio onde foi percebida tal ocorrência.

Tabela 2 - Desagregação (AUTORES, 2017).


Desagregação
Amostra
Úmida
P3 Fraturamento (1)
P4 Sem Resposta
Fraturamento (3)
P5
Abatimento (4)
Abatimento (2)
SR
Fraturamnto (2)
Abatimento (2)
SA
Figura 10 - Ensaio de desagregação para o P3 (VIEIRA, Fraturamnto (2)
2017).

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



6 CONCLUSÕES DNER - DEPARTAMENTO NACIONAL DE
ESTRADAS DE RODAGEM. Manual de
Pavimentação. 3 ed. 274 p. – Rio de Janeiro, 2006.
A partir das curvas granulométricas pode-se KERTZMAN, F. F.; OLIVEIRA, A. M. S.; SALOMÃO,
observar que a quantidade de argila presente F. X. T.; GOUVEIA, M. I. F. Mapa de Erosão no
nos solos da Região I e da Região II, quando Estado de São Paulo. In: 5º SIMPÓSIO NACIONAL
significativa em termos de quantidade, DE CONTROLE DE EROSÃO, Bauru. Anais. São
apresenta tendência à floculação (Grau de Paulo: ABGE, 1995.
LEITE, M. L. Estudo da erodibilidade de solos de Juiz de
floculação 100%), exceto para o SR. Fora por ensaios geotécnicos: Caso do Cultural –
O ensaio de dispersão mostrou que há uma Bairro Salvaterra. 94 p. Trabalho Final de Curso
diferença significativa entre os solos das duas (Graduação em Engenharia Civil) – Universidade
regiões estudadas, sendo os solos da Região I Federal de Juiz de Fora, Juiz d Fora, MG, 2016.
com tendência não dispersiva (Grau 1), LEPSCH, Igo F. Formação e Conservação do Solo. São
Paulo; Oficina de Textos, 178 p. 2002.
enquanto os da Região II com tendência LIMA, M. C. Degradação físico-química e mineralógica
dispersiva (Grau 3). Ao analisar os solos da de maciços junto às voçorocas. 336 p. Tese
Região II, em condições naturais e imersos em (Doutorado em Geotecnia) - Universidade de Brasília,
água (condições encontras in situ) o solo Brasília, 2003.
Amarelo apresentou tendência menor à PJF- PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Mapa de
classes de solos, 2014a. Disponível em:
dispersão do que o solo Rosa, coerente com o <http://www.planodiretorparticipativo.pjf.mg.gov.br/
menor grau de floculação deste. documentos/participativo/mapas_novos/meio_fisico/c
Os ensaios de desagregação indicaram que lasses_de_solos.pdf>. Acesso em: Abr. 2017.
os solos da Região I tendem a ser menos PJF- PREFEITURA DE JUIZ DE FORA. Mapa de
erodíveis que os da Região II. As ocorrências Geologia, 2014b. Disponível em:
<http://www.planodiretorparticipativo.pjf.mg.gov.br/
encontradas no ensaio de desagregação revelam documentos/participativo/mapas_novos/meio_fisico/g
que não foi observada dispersão e que o eologia.pdf>. Acesso em: Abr. 2017.
principal comportamento é o de fraturamento. ROCHA, G. C.; LATUF, M. de O.; CARMO, L. F. Z. do.
Por fim, conclui-se que o potencial erodível Mapeamento de riscos ambientais à escorregamentos
dos solos residuais do Complexo Juiz de Fora, na área urbana de Juiz de Fora, MG, Geografia, Vol.
12, p. 509-516, 2003
no bairro Salvaterra, apresentam tendências RODRIGUEZ, T. T. Proposta de classificação
diferentes. geotécnica para colúvios brasileiros. 370 p. Tese
(Doutorado em Engenharia Civil) – Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2005.
REFERÊNCIAS RODRIGUEZ, T. T.; LEITE, M. L.; SILVA, I. N. Estudo
da erodibilidade de solos por ensaios geotécnicos. 62
p. Relatório de pesquisa - Universidade Federal de
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, 2015.
TÉCNICAS. NBR 13601– Solo – Avaliação da RODRIGUEZ, T. T.; VIEIRA, L. H.; FERREIRA, L. L.
dispersibilidade de solos argilosos pelo ensaio do Estudo da erodibilidade de solos de Juiz de Fora por
torrão (crumbtest). Rio de Janeiro, RJ, BR. 2 p. ensaios geotécnicos. 34 p. Relatório de pesquisa -
1996a. Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora,
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS MG, 2016.
TÉCNICAS. NBR 13602– Solo – Avaliação da STEPHAN, A.M. Análise de processos erosivos
dispersibilidade de solos argilosos pelo ensaio superficiais por meio de ensaios de Inderbitzen. 165
sedimentométrico comparativo – Ensaio de p. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) -
dispersão SCS. Rio de Janeiro, RJ, BR. 5 p. 1996b. Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2010.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS VARGAS, M. Introdução à mecânica dos solos. São
TÉCNICAS. NBR 7181 - Solo - Análise Paulo: MCgraw-Hill, Universidade de São Paulo,
granulométrica. Rio de Janeiro, RJ, BR. 13 p. 1988. 1979.
BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do VIEIRA, L. H. Influência das estruturas reliquiares em
solo. 3ª ed., São Paulo: Ícone Editora, SP, 355 p. ensaios de erodibilidade. 58 p. Trabalho Final de
1990. Curso (Graduação em Engenharia Civil) –
BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz d Fora,
solo. 5. ed. São Paulo: Ícone, 2005. MG, 2016.
CAMAPUM DE CARVALHO, J; SALES, M.M.;
SOUZA, N.M.; MELO. M.T.S. (Org.). Processos
erosivos no centro-oeste brasileiro. Brasília:
Universidade de Brasília: FINATEC, 464 p., 2006.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Estudo de Caso da Instabilização e Ruptura de Encostas na Erosão
da Avenida Elmo Serejo, Taguatinga/Distrito Federal
Mariane Rodrigues da Vitória, B.Sc.
Universidade Católica de Brasília (UCB) / Brasília, Brasil, marianervm@gmail.com

Rideci Farias, D. Sc.


UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

Haroldo Paranhos, M. Sc.


UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, reforsolo@gmail.com

Ranieri Araújo Farias Dias.


Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém, Brasil, ranierileislie@yahoo.com.br

Itamar de Souza Bezerra.


Maccaferri, Goiânia, Brasil, itamar@maccaferri.com.br

RESUMO: Uma das problemáticas das cidades em processo de expansão está relacionada ao uso do
solo e aos impactos ambientais. Toma-se como exemplo o Distrito Federal com crescente aumento
da população, gerando vários problemas para a região, tanto pelo fato da ocupação quanto pela
capacidade de bens como energia, rede de água, esgoto, saúde pública e educação com impactos ao
meio ambiente e qualidade de vida. Em geral, a água e os ventos são os principais agentes dos
processos erosivos, sendo a erosão hídrica ocasionada, muitas das vezes, por precipitações intensas
que as potencializam. Isso pode ocorrer durante anos e se intensificar com a ação humana. Diante
disso, tenta-se identificar possíveis causas de um processo erosivo que ocorreu no Distrito Federal
com consequências negativas para a população que utiliza diariamente o trecho avariado.

PALAVRAS-CHAVE: Erosão; Avenida Elmo Serejo; Uso e Ocupação do Solo.

1 INTRODUÇÃO consegue acompanhar o crescimento gera várias


problemáticas como foi o caso da erosão
A capital federal foi vista como um lugar de ocorrida na Avenida Elmo Serejo, que está
esperanças, recebendo pessoas de diversas inserida na bacia hidrográfica do Córrego do
regiões do Brasil, que buscavam oportunidade de Cortado.
uma vida melhor na cidade planejada. Com a O solo e o sistema de drenagem não foram
vinda dessas pessoas, surgiram as primeiras capazes de suportar a carga d’água gerada. Com
cidades satélites e consequentemente a ocupação isso, as águas pluviais que eram direcionadas
desordenada do território. para o córrego pela adutora, sobrecarregaram o
De acordo com o Instituto Brasileiro de sistema fazendo com que o local não suportasse
Geografia e Estatística (IBGE), a população do a pressão, gerando transbordamentos e a
Distrito Federal em 2013 era de 2.789.761 consequente saturação do solo com a indução e
habitantes e hoje, em 2017, está com 2.977.216 potencialização do processo erosivo ocorrido no
habitantes. Esse aumento de densidade local.
demográfica com planejamento que não Nas áreas de bacias hidrográficas como a área

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


estudada, é importante manter a vegetação. Um
solo sem cobertura vegetal ou com cobertura
vegetal insuficiente, estará submetido à erosão.
A chuva ao cair iniciará um processo de erosão
laminar, formando ravinas o que aumenta em
muito a capacidade de transportar as partículas
do solo. Para evitar essa degradação ambiental, é
preciso acompanhar o desenvolvimento local e
indicar possíveis falhas no planejamento e gestão
de obras, ressaltando que o solo desempenha um Figura 2. Talude em processo de ruptura.
papel importante nas atividades da sociedade.

2 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE
ESTUDO

A área localiza-se na Avenida Elmo Serejo,


entre as cidades satélites de Ceilândia e
Taguatinga (Região Administrativa III), na
passagem do córrego Cortado. A Figura 1 mostra
Figura 3. Área após processo de ruptura.
a vista aérea da área, e nas Figuras 2 e 3
mostram-se vistas com o indicativo do processo
de ruptura dos taludes.
Com a ruptura dos taludes ocorrida em
novembro de 2013 houve a necessidade de se
interditar a via que é uma das principais ligações
entre as regiões das cidades de Ceilândia e
Taguatinga a Brasília (Plano Piloto), gerando
grandes engarrafamentos e transtornos a
milhares de pessoas que por ali transitam
diariamente. Em uma das ocasiões um ônibus
Figura 4. Congestinamento na via Elmo Serejo
transpôs o bloqueio e por pouco não caiu na
Taguatinga.
cratera existente. Os passageiros abandonaram o
veículo pela saída de emergência. A estimativa
de fluxo na avenida é próximo de 50 mil 3 BREVE HISTÓRICO SOBRE O
veículos/dia em cada sentido. A Figura 4 mostra PROCESSO EROSIVO
o constante congestionamento em função do
processo erosivo que se formou. Em um A seguir, apresenta-se um breve histórico do
determinado período de execução das obras de desenvolvimento do processo erosivo objeto
recuperação foi necessário que se interrompesse deste trabalho:
completamente a via em um dos sentidos. 25/11/2013 - A erosão ocasionada pela chuva
às margens da Avenida Elmo Serejo atingiu a
rede de esgoto local da Companhia de Água e
Esgoto de Brasília (Caesb) que se rompeu
potencializando o processo erosivo na área com
a consequente interdição do trânsito local;
26/11/2013 – Com o avanço do processo foi
necessária a interdição de duas vias da Elmo
Serejo.
Em 2014 a Avenida Elmo Serejo, foi
Figura 1. Visão micro da área do processo erosivo. Fonte
Google earth (Acesso em 10/02/2016). interditada por várias vezes devido às obras de

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reparo do local. Ainda em 2014, foi assinado o Para à execução dos ensaios de caracterização
contrato para inicio das obras de construção de e de resistência, seguiram-se os procedimentos
uma ponte sob a erosão na Avenida Elmo Serejo, recomendados pelas normas ABNT / NBR, além
bem como a recuperação da área; da adoção de procedimentos corriqueiros em
05/06/2014 – Conclusão da 1ª etapa das obras laboratório geotécnico da Universidade Católica
na avenida Elmo Serejo; de Brasília.
13/03/2015 - A Defesa Civil do Distrito A Tabela 1 apresenta um resumo dos
Federal fez um alerta sobre novo risco de resultados dos ensaios realizados, e na Figura 5
desmoronamento na avenida Elmo Serejo, em apresenta-se a granulometria do solo na condição
Taguatinga. com e sem defloculante. Verifica-se tratar de um
solo com características silte argilo arenoso,
quando realizado sem defloculante no ensaio
4 MATERIAIS E MÉTODOS sedimentométrico, e argila siltosa pouco arenosa
quando executado com defloculante.
Os estudos consistiram na execução de um Ressalte-se que são solos característicos do
programa de incursões a campo para verificação Distrito Federal e que, de uma forma geral, são
das condições geotécnicas na área estudada, mas suscetíveis a processo erosivos.
também a execução de ensaios em laboratório Tabela 1. Resumo dos resultados dos ensaios geotécnicos
para caracterização do material e determinação efetuados e parâmetros determinados.
de parâmetros de resistência (coesão e ângulo de Resumo de Resultados Para o Solo Coletado
atrito), e análises de estabilidades dos taludes. Peso Específico Natural Jnat 16,0
3
Ao se considerar o tema em questão, há várias Massa Específica dos grãos (kN/m3) 2,66
maneiras de se identificar as ocorrências de um Umidade natural (%) 36,87
processo erosivo e deslizamentos de massa de Umidade higroscópica (%) 12,29
solo em uma determinada área. Dentre elas: Limite de Liquidez (%) 57,4
a) Verificar a possível ocorrência de Limite de Plasticidade (%) 39,2
infiltrações - se o solo está úmido ou saturado; Índice de Plasticidade (%) 18,2
b) A drenagem das águas pluviais, danos em Fração argila (sem defloculante) (%) 19,2
tubulações de água ou esgoto além de outras Fração argila (com defloculante) (%) 46,5
estruturas subterrâneas; Fração silte (sem defloculante) (%) 65,4
c) A presença de inclinação ou trincas Fração silte (com defloculante) (%) 45,2
excessivas na crista e no talude; Fração areia (sem defloculante) (%) 15,4
d) Plantio de espécies arbóreas em Fração areia (com defloculante) (%) 8,2
declividades incompatíveis. (O manual de
20 (Condição
deslizamentos – um guia para a compreensão dos Coesão Efetiva C (kPa)
Inundada)
deslizamentos-1ª ed. 2008). 30 (Condição
Ângulo de atrito efetivo I' (graus)
Inundada)
Com vistas a avaliar o processo erosivo em Massa Específica dos Sólidos Js (g/cm3) 2,66
questão e verificar as possíveis causas,
procedeu-se às análises das condições
geotécnicas, estabilidade dos taludes, mas
também a verificação do cadastro de
interferências de rede de água e esgoto da área
em questão. Para essas análises foram
necessárias à coleta de amostras deformadas e
indeformadas com vistas à caracterização e
determinação dos parâmetros de resistência
(coesão e ângulo de atrito) do solo; análise de
mapas; reconhecimento de campo; sondagem; e,
análise computacional para verificação da
estabilidade dos taludes. Figura 5. Composição das curvas granulométrica (com e
sem defloculante).

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5 ANÁLISE DE ESTABILIDADE DA
SITUAÇÃO NATURAL ANTES DA
RUPTURA

Para as análises de estabilidade do sistema


existente antes da ruptura, procede-se à
verificação do levantamento topográfico
realizado na área. De posse desse levantamento,
escolheu-se a superfície crítica que foi a que veio
a romper inicialmente. Após isso procedeu-se a
estabilidade com o talude natural, ou seja, sem a
presença de água na massa de solo.
A Figura 6 apresenta a estabilidade para o
talude natural crítico sem a presença de água na
massa de solo. Verifica-se que a situação em
questão estava na iminência de ruptura com fator
Figura 7. Estabilidade do talude crítico com a presença do
de segurança próximo a 1,0. Em seguida nível d’água.
procedeu-se à saturação parcial do talude
buscando similaridade com uma condição do
comprometimento do sistema de águas pluviais. 6 SOLUÇÃO ADOTADA PARA
Com esse comprometimento e o consequente RECUPERAÇÃO DA ÁREA AFETADA
vazamento, a massa de solo sofreu a saturação
vindo a provocar o decréscimo do fator de A solução para recuperação do processo erosivo
segurança. A Figura 7 mostra a condição considerou a cravação de perfis metálicos
indicada em que o fator de segurança reduziu a (Figura 8) ao longo da lateral da via na região do
0,84. processo erosivo a fim de possibilitar o
confinamento lateral da pista.

Figura 8. Perfis metálicos cravados (Fonte: Jornal de


Brasília).

Objetivando também a proteção e


estabilização dos taludes, adotou-se a técnica em
solo grampeado, concreto projetado e em
complementação, inserção de gabião (Figuras 9
e 10), entre outras implementações necessárias
às obras.
Figura 6. Estabilidade do talude crítico sem a presença do
Além de todos esses aspectos, procedeu-se à
nível d’água.
implantação de um sistema de obras drenagem
com as devidas restituições do escoamento,
canalizações e dispositivo para quebra da energia
do fluxo d’água, entre outros (Figuras 11 a 14).
Em conformidade com as obras citadas

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partiu-se para a recomposição do sistema viário
e a consequente normalização do trânsito na
região (Figura 15).

Figura 13. Vista da obra. Observar a linha de perfil


metálico executada.
Figura 9. Projeto de recuperação do talude, em gabião, solo
grampeado e concreto projetado - Vista em corte. (Fonte:
Arp Engenharia).

Figura 14. Pista lateral executada após cravação da linha


de perfis metálicos.
Figura 10. Projeto de recuperação do talude, em gabião,
solo grampeado e concreto projetado (Vista frontal).

Figura 15. Pista com a obra finalizada.


Figura 11. Obra de recuperação do talude, em gabião, solo
grampeado e concreto projetado.
7 CONDIÇÕES ATUAIS DA ÁREA
RECUPERADA

A fim verificar as condições atuais do sistema


implantado, procedeu-se à visita ao local em que
ocorreu o processo erosivo.
A Figura 16 mostra a área antes do processo
de ruptura, e em seguida nas Figuras 17 a 21
apresenta-se o estágio atual de acordo com a
visita realizada em 8 de julho de 2017 na área
Figura 12. Obra de recuperação do talude. Aplicação de recuperada.
concreto projetado.

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Figura 16. Área antes do processo de ruptura total. Figura 20. Canal construído para escoamento das águas.

Figura 17. Pista com a obra finalizada. Figura 21. Pista com a obra finalizada.

8 CONCLUSÕES

Este artigo procurou identificar possíveis causas


do processo erosivo que ocorreu no Distrito
Federal, abordando a problemática do mau uso
do solo local, bem como as consequências desse
processo erosivo para a população que utiliza
diariamente o trecho de ligação das cidades
satélites de Ceilândia-Taguatinga a vários
Figura 18. Canal construído para escoamento das águas. pontos, mas também dados como: caracterização
do solo , estabilidade dos taludes, e a verificação
do cadastro de interferência de redes de água e
esgoto da área em questão gerando dados
importantes para estudos futuros sobre a
problemática do risco e consequências oriundo
de processos erosivos. Várias ações foram
realizadas na área com o intuito de diminuir os
danos à população e para conter a erosão local.
O trânsito no local foi desviado em vários
momentos com o intuíto de preservar a área em
recuperação. Em termos de obras, a concepção
Figura 19. Canal construído para escoamento das águas. com vistas à recuperação da área, adotou-se um
sistema composto de estacas metálicas cravadas
e ponte/laje para o trecho da via que rompeu. Já
para a reconstituição dos taludes adotou-se a
técnica do solo grampeado, concreto projetado e

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muro em gabião. Segundo a empresa g) Como consequência ao processo, verificou-se
responsável, as obras foram executadas com o diversos transtornos em função da interdição da
início da ponte em 26/03/2014 e finalizadas em via por diversos dias, tanto no período no
21/10/2014. Diante do acompanhamento do rompimento do talude quando no período de
processo erosivo, do andamento das obras para medidas de correção no pavimento;
recuperação, estudos e análises dos diversos h) Este trabalho mostra a importância de
materiais, execução de ensaios, verificação de medidas preventivas em vez das corretivas aos
documentos existentes, tem-se as seguintes processos erosivos a fim de evitar danos para a
conclusões principais: população e o meio ambiente. Ressalta-se
também sobre os cuidadados que deveriam ser
a) A Principal causa do incidente está tomados pelos órgãos públicos, uma vez que,
relacionada à ocorrência da infiltração da águas para o caso em questão, já havia sido observado
oriundas de uma tubulação da CAESB que já a presença do processo erosivo na região. O fato
apresentava certo grau de comprometimento na da ruptura elevou bastante os custos da obra,
integridade, conforme observado em uma das além do longo período de transtornos à
visitas ao local. Esse fato foi potencializado com população;
a incidência do período chuvoso; i) A fim verificar as condições atuais do sistema
b) Em consulta a base de cadastro técnico da implantado, procedeu-se à visita, em 8 de julho
CAESB, verificou-se a existência de redes de de 2017, ao local em que ocorreu o processo de
esgotamento sanitário nas proximidades o que ruptura e constatatou-se que o mesmo está
pode confirmar o incidente que potencializou o condizente com o funcionamento esperado.
processo erosivo;
c) Foi possível constatar a ocorrência também de
processo erosivo tipo "piping", em que tal AGRADECIMENTOS
fenômeno começa pela percolação da água
através dos poros do solo. Quando essa A Universidade Católica de Brasília (UCB)
percolação consegue um caminho preferencial, a com contribuições importantes que tornaram
velocidade do fluxo aumenta, vindo a erodir esse possível a realização deste trabalho, mas também
caminho preferencial, formando um "tubo" na ao Programa de Pós-Graduação em Geotecnia da
massa do solo; Universidade de Brasília com a disponibilização
d) Analisando-se mapas e a região é possível do Projeto PRONEX..
verificar grande influência da ocupação urbana
nas proximidades da erosão, bem como o mau
uso e ocupação do solo que podem gerar vários REFERÊNCIAS
problemas. Dentre eles o empobrecimento do
solo aumentando a incidência de processos CAMAPUM de CARVALHO, J.C., et al.. Processos
erosivos; Erosivos no Centro Oeste Brasileiro. Editora
FINATEC, 2006.
e) Em termos de estabilidade verifica-se que a https://www.google.com.br/search?q=avenida+elmo+sere
situação em questão estava na iminência de jo&source=lnms&tbm=isch&sa=X2Ferosao-na-elmo-
ruptura com fator de segurança próximo a 1,0. serejo-esta-completamente-
Em seguida com a saturação parcial da massa de contida%252F%3B1000%3B664.
solo vindo a provocar o decréscimo do fator de https://pt.wikipedia.org/wiki/Bras%C3%ADlia. Acesso
em: 30 julho de 2017.
segurança e a consequente ruptura do sistema; PROJETO PRONEX – CNPq/ENC. Prevenção e
f) As fissuras no solo geradas pelo avanço das recuperação de áreas potenciais de degradação por
rupturas influenciaram diretamente na evolução processo de erosão superficial, profunda interna no
dos processos erosivos. Isso foi observado Centro-Oeste no âmbito do Programa de Apoio a
principalmente antes do desencadeamento da Núcleos de Excelência – Pronex (2002). Responsável
Técnico: Geólogo Edson Souza Medeiros. Supervisão
ruptura total. Esse fato indicava para as devidas e Coordenação: Professores Newton Moreira de Souza
providências que deveriam ser tomadas com e José Camapum de Carvalho, 2002.
vistas a se evitar as proporções que o processo
tomou;

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Melhoria das Propriedades Físico-químicas dos Solos com
Aproveitamento de Vinhaça
Ataliba Cordeiro Ávila Júnior
IFG, Goiânia, Brasil, ataliba.jr@hotmail.com

Átala Rebeca da Silva Ávila


IFG, Goiânia, Brasil, atala_rebeka@hotmail.com

Taís Lara Pio Santos


IFG, Goiânia, Brasil, tais.lara@hotmail.com

Fernanda Posch Rios


IFG, Goiânia, Brasil, pesquisalodo@gmail.com

Giovane Batalione
IFG, Goiânia, Brasil, g-bat@hotmail.com

RESUMO: Concatenar ocupação urbana e ausência de políticas habitacionais efetivas suscita uma
situação alarmante quanto a erosão, enchentes e assoreamento. No Brasi há ampla produção de
etanol, progenitora de superlativa quantidade de vinhaça, rejeito demasiadamente contaminante. A
pesquisa coopera nos quesitos: reaproveitamento de resíduos, e preservação e conservação dos
solos. De posse do aparelho de Inderbitzen e dos conceitos de erodibilidade do solo, assente o qual,
por ensaios de laboratório comparou-se a sedimentação de solos que receberam: aspersão de
vinhaça e apenas água, atestou-se a eficácia da vinhaça na suavização do progresso de erosão
instaurado em solos distintos do Estado de Goiás.

PALAVRAS-CHAVE: Vinhaça, Erodibilidade, Inderbitizen.

1 INTRODUÇÃO de cana-de-açúcar, a aspersão de vinhaça ao


solo, evidentemente em quantidades e locais
O crescimento urbano desorganizado e consentidos pela legislação, promove uma
imprudente favorece ocorrências que alteram recuperação na estrutura das camadas de solo
diretamente a qualidade de vida da população bem como no seu potencial produtivo.
com geração de áreas degradadas por: Uma prática constatada é a aspersão da
inundações, processos erosivos e vinhaça em estradas vicinais das usinas
assoreamentos. Neste estudo expeimentou-se o sucroalcooleiras, evidenciando, de modo
uso de um material alternativo para a redução prático, uma melhora do desempenho em
da produção de sedimentos de modo a propor relação às condições de tráfego, inclusive com
um meio de se mitigar processos erosivos eliminação e contenção de processos erosivos
urbanos. (BATISTA, SANTOS e SILVA, 2015). Ao
Por meio de observações empiricas e estudos adicionar vinhaça em substituição parcial da
comprobatórios como o realizado por Paulino et água de compactação de solos com presença de
al (2011) em que foi investigado o uso da teores de argila e silte, percebe-se um aumento
vinhaça ao longo do tempo em áreas de cultivo significativo no valor do Índice Suporte

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Califórnia; apresenta também melhoria na taxa extraídas por escavação e armazenada em sacos
de erodibilidade, após a submissão à saturação plásticos para preservação de umidade, e
intensiva. (SILVA; BONO e PEREIRA, 2014). também amostras indeformadas, retirada por
A produção de etanol é significativa, cravação de moldes de chapa metalica, obtendo
representando uma parte importante na ao total 40 corpos de prova (CP) para cada área.
economia do país. Pondera-se que durante a Ambas extraidas dos sulcos das erosões a
produção de 1L de etanol são gerados entre 10 a profundidades que não ultrapassaram 10 cm em
18L de vinhaça, o que indica a relevância de relação à superfície.
pesquisas com foco na sua aplicabilidade Utlizou-se as amostras deformadas para
sustentável. Assim, pretende-se identificar realização dos ensaios de caracterização físico-
parâmetros de dosagem ótima de aplicação no química dos solos (ABNT, 1984). Dos 40 CPs,
solo para promover a melhoria da sua qualidade usados para posterior ensaio no Inderbitzen 20
estrutural e contribuir com a mitigação de receberam aplicação de água e outros 20 de
processos erosivos com a utilização deste vinhaça, em mesma quantidade, exibidos na
subproduto (FERRAZ et al., 2000). Figura 2.1, possibilitando assim um estudo
comparativos dos resultados (INDERBITZEN,
1961). Aplicou-se 50 mL.semana-1 sobre a
2 METODOLOGIA superfície de cada uma das 20 amostras de
modo a formar grupos com taxas de aplicação
2.1 Áreas de Estudos distintas, tanto de água quanto de vinhaça, de
1,0; 2,0 e 3,0 mL.cm-². A decisão das dosagens
Para o estudo selecionou-se duas áreas de vinhaça foram emabasadas na norma da
pertencentes ao Estado de Goiás - Brasil, com CETESB P4.231, que estabelece critérios e
processos erosivos avançados, apresentadas na procedimentos para aplicação de vinhaça em
Figura 1.1, uma no município de Goiânia, solo agrícola (CETESB, 2014).
localizado na GO-020, Km 08 e a outra no
município de Corumbá ao lado da GO-225.
A degradação da área no municipio de
Goiânia resulta principalmente da ineficácia do
sistema de drenagem urbana da rodovia, no qual
não consegue controlar o excesso de
escoamento superficial de águas pluviais. Já a
área no município de Corumbá, possui um
declive acentuado de aproximante 45º,
agravante para o processo erosivo, além de
constar um processo de degradação da Figura 2.1.Corpos de prova de amostras indeformadas
vegetação nativa. com e sem aplicação de vinhaça.
O ensaio de Inderbitzen foi aqui escolhido
por permitir simular de forma eficiente e direta
o efeito do escoamento provocado pelas águas
pluviais sobre a superfície dos solos, com
relativa simplicidade e rapidez. O aparelho de
Inderbitzen tem como princípio de
funcionamento a simulação do escoamento
superficial de uma lâmina d’água
Figura 1.1.Erosão próxima á GO-020(a). Erosão próxima uniformemente distribuída sobre uma rampa,
á GO-225(b). onde se encontra posicionada tangencialmente
ao seu plano e em sua extremidade inferior,
2.2 Coleta e ensaios físicos das amostras uma amostra de solo indeformada. A erosão
superficial e a consequente perda de sedimentos
Foram coletadas amostras deformadas, iniciam quando a lâmina d’água atinge o corpo

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de prova provocando uma tensão de arraste cujo 2.3 A análise química das amostras
valor é superior ao crítico. A vantagem de
utilização desse aparelho é a possibilidade de Os ensaios de caracterização química foram
variação de vazão e de inclinação da rampa, o realizados pelo Solocria Laboratório
que permite obter, em laboratório, a taxa de Agropecuário, onde foram analisados pH em
produção de sedimentos em intervalos de CaCl2, capacidade de troca catiônica (C.T.C),
tempos pré-determinados em uma situação de disponibilidade de Mg (magnésio), Ca (cálcio),
relativa semelhança ao campo. Al (alumínio), H+Al (acidez potencial), K
Para realização do ensaio no aparelho de (potássio), P (fósforo), assim como
Inderbitzen respeitou-se um período de cura de concentração de matéria orgânica.
21 dias após atingir cada taxa estabelecida, Realizou-se também a microscopia
proporcionando um tempo para melhorar as eletrônica de varredura (MEV), feita no Centro
condições de agregação. O aparelho foi ajustado Tecnológico de Engenharia Civil – Eletrobras
para uma vazão constante de 150 mL.s-1, lida e Furnas, localizado na cidade de Aparecida de
mantida através do uso de rotâmetro modelo Goiânia, no Estado de Goiás.
TRP 330-7-H-7 com escala de leitura Foram escolhidas duas amostras de cada tipo
estabelecida entre 30 e 300 mL.s-1 e para um de solo, respectivamente optou-se por uma
ângulo de inclinação da rampa constante de 10º, amostra de solo natural e uma de solo com
assegurando altura de lâmina de água de 4mm 300mL de vinhaça no CP. Os fragmentos
atuando contínua sobre a amostra durante todo selecionados já haviam passado pelo ensaio de
o ensaio. Cada CP foi ensaiado durante 20 Inderbitzen. A microscopia eletrônica de
minutos, os sedimentos gerados pelo varredura tem por finalidade identificar
escoamento superficial foram coletados por mudanças na estrutura microscópica do solo,
meio de peneira de malha 300 e recolhidos a capazes de explicarem as melhoras mecânicas
cada 5 minutos e posteriormente levados à obtidas.
estufa sob temperatura de 100°C, durante um
período de 24h e, em seguida, pesados em
balança de precisão de 0,01g. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A tensão hidráulica cisalhante aplicada nos
CPs durante o ensaio de Inderbitzen foi De acordo com a Tabela 1 e concernente às
calculada de acordo com a Equação 1 e fator de classificações geotécnicas convencionais, os
erodibilidade conforme a Equação 2, ensaios de caracterização denotaram que a
apresentadas a seguir primeira área é uma argila siltosa (CL), e a
S= J h cosD
Z
(1) segunda área é areia argilosa (SC)
(CASAGRANDE, 1948).
Onde:
S = tensão hidráulica cisalhante (Pa). Tabela 1. Resultado da análise granulométrica e
classificação geotécnica.
Ȗw = peso específico da água (N/m³).
Frações Granulométricas (%)
Į = ângulo de inclinação da calha (em relação à Solo Areia Areia Areia
horizontal). Silte Argila
Grossa Média Fina
h = altura da lâmina d’água sobre a amostra Argiloso 1,01 10,11 44,01 25,24 19,64
(m). Siltoso 14,08 21,37 25,93 27,55 11,08

K= m s
(2) A Tabela 2 apresenta os resultados referentes
AtS aos ensaios de Inderbitzen, que foram
Onde: realizados visando à quantificação da
K = fator de erodibilidade (g.cm-2.min-1.Pa-1). erodibilidade do solo e, também, a avaliação do
ms = massa de solo seco perdida no ensaio (g) efeito da vinhaça nas amostras sobre a
t = tempo de ensaio (minutos) susceptibilidade à erosão hídrica. De acordo
A = área da amostra (cm²) com os parâmetros que definem a tensão
S = tensão hidráulica cisalhante (Pa). hidráulica cisalhante, foi aplicada uma tensão

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de valor constante de 39,39 Pa em todos os CPs ser observado, que a maior perda de solo ocorre
ensaiados. nos primeiros 5 minutos de ensaio e após esse
período mantém-se praticamente constante até o
Tabela 2. Fator de erodibilidade (10-2 g.cm-2.min-1.Pa-1)
referentes a cada dosagem.
seu encerramento, aos 20 minutos.
Quantitativo no Solo Argiloso Solo Siltoso
solo. K K

Perda de solo acumulado (g/cm²)


4,0
100 mL de água 0,041 0,340
100 mL de vinhaça 0,003 0,008
200 mL de água 0,280 0,327
2,0
200 mL de vinhaça 0,005 0,010
300 mL de água 0,446 0,412
300 mL de vinhaça 0,097 0,004
0,0
0 5 10 15 20
Analisando as Figuras 3.1 e 3.2, é possível Tempo (min)
constatar que a vinhaça aplicada no solo 1mL/cm² de água 2mL/cm² de água
diminuiu drasticamente a perda de sedimentos 3mL/cm² de água 1mL/cm² de vinhaça
2mL/cm² de vinhaça 3mL/cm² de vinhaça
causada pelo escoamento superficial. O gráfico
demonstra o percentual de massa em gramas Figura 4.1. Curva típica da perda acumulada do solo
erodido em relação à massa total inicial do Argiloso por área de amostra versus tempo para o ensaio
corpo de prova. É importante enfatizar os Inderbitzen.
valores alusivos à perda de solo, pois a
diferença observada entre as amostras tratadas 4,0
Perda de solo acumulado (g/cm²)

com aplicações de água e com vinhaça são


evidentes. 3,0
63,7%
2,0
50%
36,2%
1,0
12,5%
5,4%
0,4% 0,7% 0,0
0% 0 5 10 15 20
Tempo (min)
1mL/cm² de água 1mL/cm² de vinhaça 1mL/cm² de água 2mL/cm² de água
2mL/cm² de água 2mL/cm² de vinhaça 3mL/cm² de água 1mL/cm² de vinhaça
2mL/cm² de vinhaça 3mL/cm² de vinhaça
Figura 3.1. Gráfico comparativo da perda percentual Figura 4.2. Curva típica da perda acumulada do solo
média de massa seca do solo Argiloso erodido. Siltoso por área de amostra versus tempo para o ensaio
Inderbitzen.
55,9%
46,3% Em relação às análises químicas realizadas
50% 43,3%
nos solos naturais e em suas misturas com
vinhaça, as Tabelas 3.1 e 3.2 apresentam
respectivamente, as composições solo argiloso e
2,3% 1,4% 0,8% adições, e solo siltoso e adições; as tabelas
0% dispõem os macronutrientes presentes, a
1mL/cm² de água 1mL/cm² de vinhaça
2mL/cm² de água 2mL/cm² de vinhaça Capacidade de Troca Catiônica (CTC), a
3mL/cm² de água 3mL/cm² de vinhaça Saturação por Base Total (%), o pH de cada
Figura 3.2. Gráfico comparativo da perda percentual composição e a matéria orgânica presente.
média em massa seca do solo Siltoso erodido. O aumento do quantitativo destes macro-
As Figuras 4.1 e 4.2 representam a perda de nutrientes ocorreu em todas as composições que
solo seco acumulado do material erodido por receberam adição de vinhaça a sua Capacidade
unidade de área da amostra (g.cm-2) e o tempo de Troca Catiônica (CTC), inclusive com
total de ensaio (minutos) no Inderbitzen. Pode acréscimo de percentual relativo aos elementos

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Ca, Mg e K, o que é considerado positivo para a distintas.
fertilização do solo. A CTC representa a Quantitativo Amostra de solo
capacidade de liberação de vários nutrientes e Dosagem de vinhaça
sua ampliação favorece a manutenção da mg.dm-³ Natural ml.cm-2
fertilidade do solo em virtude de se 1 2 3
disponibilizar maior quantidade de cátions Cálcio (Ca) 0,20 0,30 0,80 0,60
retidos na superfície das partículas do solo em Magnésio (Mg) 0,10 0,20 0,70 0,50
Potássio (P) 0,02 0,67 1,00 1,00
condições permutáveis sendo benéfica para a
Enxofre (S) 0,00 0,00 0,00 0,00
detenção de mais nutrientes. Alumínio (Al) 2,50 1,90 1,40 1,50
Hidrogênio +
Tabela 3.1. Caracterização química do solo Argiloso na 2,80 2,70 2,40 1,70
Alumínio (H-Al)
forma natural e tratado com vinhaça em dosagens Matéria orgânica 5,00 6,00 7,00 8,00
distintas.
Obs: Unidade da C.T.C (cmol.dm-3), Matéria Orgânica (g.dm-³). C.T.C 3,12 3,87 4,90 3,80
Saturação por
10,26 30,23 51,02 55,26
Quantitativo Amostra de solo base total (%)
Dosagem de vinhaça Ca/C.T.C (%) 6,41 7,75 16,33 15,79
mg.dm-³ Natural ml.cm-2 Mg/C.T.C (%) 3,21 5,17 14,29 13,16
1 2 3 K/C.T.C (%) 0,64 17,31 20,41 26,32
Cálcio (Ca) 0,20 0,20 0,60 1,20 H+Al/C.T.C (%) 89,74 69,77 48,98 44,74
Magnésio (Mg) 0,10 0,10 0,50 0,90 pH em CaCl 4,40 4,30 4,50 4,40
Potássio (P) 0,01 0,54 0,66 0,85
Enxofre (S) 0,00 0,00 0,00 0,00 Foi realizado o ensaio de pH da vinhaça,
Alumínio (Al) 0,00 0,00 0,00 0,00 cujo valor resultante foi de 5,2, comprovando
Hidrogênio + sua classificação como material ácido. Houve
1,60 1,50 1,60 1,90
Alumínio (H-Al)
pouca alteração de pH do solo natural e do
Matéria orgânica 8,00 8,00 9,00 12,00
mesmo com adição de vinhaça. (SILVA;
C.T.C 1,91 2,34 3,36 4,85
Saturação por base
GRIEBELER E BORGES, 2007).
16,23 35,90 52,38 60,82 Outro parâmetro relevante verificado pela
total (%)
Ca/C.T.C (%) 10,47 8,55 17,86 24,74 pesquisa refere-se ao conceito Saturação por
Mg/C.T.C (%) 5,24 4,27 14,88 18,56 Base (V), que se refere à somatória de cátions
K/C.T.C (%) 0,52 23,08 19,64 17,53 trocáveis de um solo a exceção do H+ e Al+.
H+Al/C.T.C (%) 83,77 64,10 47,62 39,18 Este índice percentual relativo à Capacidade de
pH em CaCl 5,80 5,90 5,60 5,80 Troca Catiônica (CTC) constitui-se num bom
indicativo de fertilização do solo. Os solos com
A vinhaça é constituída basicamente por
valores de Saturação por Base superior ou igual
macronutrientes: Nitrogênio, Cálcio, Magnésio,
a 50% são classificados como solos eutróficos,
Potássio (maior quantitativo) e Enxofre,
especificando boa fertilidade. Os solos que
confirmando seu potencial de adubo orgânico e
apresentam Saturação por Base inferior a 50%
justificando sua aspersão dentro das áreas de
são classificados como distróficos definindo
plantio Perante os ensaios comprovou-se que a
baixa fertilidade. Na atual pesquisa, verificou-se
perda de sedimentos do solo que teve aplicação
que adição de vinhaça elevou o valor percentual
de vinhaça diminui substancialmente quando
da Saturação por Base, chegando à condição
comparado com o solo natural. O ensaio com
eutrófico quando adicionado teores superiores a
aparelho de Inderbitzen atualmente é muito
200 mL de vinhaça aos CP.
utilizado nas áreas de estudo de ciências da
Quanto ao ensaio de MEV, ao comparar as
terra e ambientais, para estudar a desagregação
Figuras 5.1 com a 5.2 identifica-se a formação
de partículas do solo, quando submetidas a
de microestruturas no formato de “fios”, essa
escoamentos superficiais e ainda não possui
estrutura é formada pelos macronutrientes
normatização técnica perante a Associação
provenientes da vinhaça, exclusivamente
Brasileira de Normas Técnicas. (RIOS, 2015)
orgânica. A formação desta estrutura fornece
Tabela 3.2. Caracterização química do solo Siltoso na proteção superficial que possibilita a redução da
forma natural e tratado com vinhaça em dosagens perda de sedimentos causados pelo escoamento

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superficial.
AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Instituto Federal de


Goiás IFG pelo apoio e bolsas de iniciação
científica; ao Núcleo de Estudos e Pesquisas em
Engenharia Civil e Meio Ambiente (ENCIMA)
do Campus Goiânia do IFG; e à Eletrobras
Furnas pela realização das análises de MEV.

Figura 5.1. Silte natural. Ampliação 2.07 kx. REFERÊNCIAS

ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS. NBR 7181: Solo – Análise
granulométrica. Rio de Janeiro, 1984. 13p.
BATISTA, C.S.; SANTOS, K.T.; SILVA, S.G. Estudo
sobre a influência da adição da vinhaça no
comportamento do mini CBR de solos finos da região
de Goiania. Trabalho de conclusão de curso,
Tecnolgia em construção de vias terrestres. IFG, 2015
CASAGRANDE, A. Classification and Identification of
Soils. Transactions American Society of Civil
Engineers, Vol. 113, p. 901-991, 1948.
CETESB. Companhia Ambiental do Estado de São
Figura 5.2. Silte com vinhaça. Ampliação 2.02 Kx.
Paulo. Vinhaça – Critérios e procedimentos para
aplicação no solo agrícola: P4.231. São Paulo, 2015.
FERRAZ, J. M. G.; PRADA, L. DE S.; PAIXÃO,
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS M. Certificação socioambiental do setor
sucroalcooleiro. Jaguariuna: Embrapa Meio
É certo que a pesquisa apresenta tecnologias Ambiente, 2000. 195p.
inovadoras tanto ao fazer uso de conhecimentos INDERBITZEN A.L. An erosion test for soils. Mater
Research Stander 1(7):553–554. 1961.
e técnicas interdisciplinares quanto por ser uma PAULINO, J. ;ZOLIN C. A.; BERTONHA, A.;
proposta experimental a qual as empresas FREITAS, P. S. L., ;F. M. V.(2011). Estudo
sucroalcoleiras e entidades de pesquisas exploratório do uso da vinhaça ao longo do tempo: II.
correlatas podem fazer proveito. Características da cana-de-açúcar. Revista Brasileira
Mesmo levando em cosideração as de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.15, n.3, 244-
249,Março 2011.
restrições legais de aplicabilidade à vinhaça é RIOS, F. P. Capacidade de suporte de cursos d’água
um meio viável, alternativo e de baixo custo, urbanos sob a perspectiva técnica e epistemológica da
por ser uma rejeito, para a mitigação de Engenharia. Tese de Doutorado, Ciências Ambientais,
processos erosivos instaurados em áreas Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2015. 108p
admissíveis. SILVA, Aletéia P. M. da; BONO, José A. M.; PEREIRA,
Francisco de A. R.. Aplicação de vinhaça na cultura
Apesar de serem testadas três da cana-de-açúcar: Efeito no solo e na produtividade
concentrações distintas de aplicação de vinhaça de colmos. Rev. bras. eng. agríc. ambient., Campina
conlui-se a redução da taxa de erodibilidade do Grande , v. 18, n. 1, p. 38-43, Jan. 2014.
solo ao se aspergir qualquer uma das dosagens. SILVA, Mellissa A. S. da; GRIEBELER, Nori P. E
Valida-se a redução do desgaste superficial dos BORGES, Lino C. Uso de vinhaça e impactos nas
propriedades do solo e lençol freático. Revista
solos, advinda da utilização da vinhaça, assim Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental v.11,
como o lançamento deste líquido em estradas n.1, p.108–114, 2007.
vicinais, já havia demonstrado idem porém de
maneira empírica as vantagens para a melhoria
na conservação destas vias e redução de
processos erosivos.

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Sistema de Monitoramento e Análise de Riscos de Deslizamento de
Encostas para o Município de Ouro Preto
Ricardo Cabette Ramos
UFSJ, Ouro Branco-MG, Brasil, ricardo.cabette@outlook.com

Marconi Arruda Pereira


UFSJ, Ouro Branco-MG, Brasil, marconi@ufsj.edu.br

Tales Moreira de Oliveira


UFSJ, Ouro Branco-MG, Brasil, tales@ufsj.edu.br

Heraldo Nunes Pitanga


UFV, Viçosa-MG, Brasil, heraldo.pitanga@ufv.br

RESUMO: A intensidade com que os fenômenos naturais vêm ocorrendo e surpreendendo a


população impõe à Engenharia a busca por medidas preventivas que minimizem o contingente de
pessoas afetadas por essas tragédias. Nessa perspectiva, justifica-se, do ponto de vista tecnológico,
um programa experimental que vise a emissão de alertas, devido aos riscos iminentes propiciados
pelas chuvas que, aliadas às propriedades do solo, declividade e o tipo de uso e ocupação existente
na região, impulsionam a ocorrência de desastres. Assim sendo, o presente trabalho se presta a
promover a elaboração de um sistema de monitoramento, análise e alerta de riscos para a cidade de
Ouro Preto, estado de Minas Gerais, através do software TerraMA2, de tal forma a mitigar as
fatalidades. O projeto utilizou como estudo de caso 33 ocorrências de rompimento de encostas na
cidade de Ouro Preto, disponibilizados pela Defesa Civil do município. Os resultados obtidos
demonstram que o modelo gerado seria eficaz para identificar, previamente, situações de risco.

PALAVRAS-CHAVE: Sistema de monitoramento, análise e alerta de riscos, TerraMA2.

1 INTRODUÇÃO movimentação de massa, destaca-se o clima


como o precursor destes incidentes. Conforme
Dias et al. [1] afirma que, de acordo com a ONU, Wolle [8], o clima é caracterizado como agente
a movimentação de massa é uma catástrofe potencializador da causa das instabilidades dos
somente inferior aos terremotos e inundações taludes e também como causador imediato de
entre os fenômenos naturais que mais lesionam a rompimento de encostas, geralmente devido a
humanidade. chuvas intensas.
Lopes et al. [3] definem escorregamento Correlacionando estes acontecimentos com o
como sendo o processo de movimento Brasil, percebe-se que este é um dos países mais
gravitacional de massa que, de modo geral, afetados pelos desastres climáticos [4]. Segundo
ocorre quando uma vertente, já saturada pela o Escritório das Nações Unidas para Redução de
água, é atingida por uma precipitação horária, Desastres (UNISDR) e o Centro de Pesquisas e
provocando os deslizamentos. Ele salienta ainda Epidemiologia em Desastres (CRED), o Brasil é
que o processo é induzido por fatores climáticos, o único país das Américas que está na lista dos
hidrológicos, geológicos, geomorfológicos, pela 10 países com maior número de pessoas afetadas
vegetação e também pelo homem. por desastres entre os anos de 1995 e 2015 [4].
No que tange a esses processos de

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2 JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS

No mundo atual, a todo momento, a população é


bombardeada por informações, notícias e avisos.
Todo esse aparato, promovido pelos avanços
tecnológicos, contribui para a existência de
diversos dados geográficos, de fácil acesso em
diversas fontes públicas de dados. Contudo,
apesar da grande quantidade de dados
disponíveis, a população ainda é surpreendida
por fenômenos naturais intensos.
Assim, justifica-se a elaboração de um
sistema de monitoramento, análise e alertas de
risco através de modelos matemático-
computacionais. Para tanto, fez-se necessário,
construir um arcabouço computacional que fosse
capaz de reunir as diferentes fontes de dados já
existentes, aliadas a outras informações locais
que pudessem ser processadas, de tal forma a
proporcionar alertas graduais, ou seja, alertas
que vão aumentando seu nível à medida que a
situação vai se tornando cada vez mais grave.
Dentro desta perspectiva, este trabalho teve
como objetivo geral desenvolver um sistema de Figura 1: Mapa dos bairros do município de Ouro Preto.
monitoramento, análise e alerta de riscos reais de
deslizamentos. O sistema implementa um Este foi objeto de estudo do trabalho devido
modelo de análise para diferentes bairros do aos riscos geológicos referentes à movimentação
município, calibrado de acordo com as de massa e também pelo fato da Defesa Civil e a
características específicas da cidade a qual o Prefeitura Municipal de Ouro Preto
modelo se refere. Partindo desta premissa, tem- disponibilizarem o acervo de dados do
se como objetivos específicos, a elaboração e município. Nesta perspectiva, destaca-se o
calibração de um modelo de análise de riscos de aumento considerável dessas áreas, ao longo dos
queda de encostas e barreiras, o anos, principalmente com uma ocupação
desenvolvimento de mecanismos de desordenada. Diante desta prerrogativa foram
monitoramento de excesso de chuvas, como realizados levantamentos históricos de fortes
também a concepção de diferentes níveis de chuvas neste município referentes aos eventos
alertas, de acordo com a configuração da região ocorridos entre 2005 e 2012. Neste período, o
geográfica. Todo esse mecanismo visa gerar acumulado de chuva na microrregião em estudo
alertas em tempo hábil para que as autoridades atingiu valores acima de 128mm de chuva em
responsáveis, bem como as lideranças cinco dias consecutivos, o que de acordo com o
comunitárias, possam tomar as providências Sistema de Alerta Metereológico de Ouro Preto
cabíveis a fim de mitigar possíveis danos às (SAMOP) a probabilidade de ocorrência de
comunidades em questão. acidentes mais severos aumenta [5].

3 METODOLOGIA 3.2 Materiais

3.1 Área de Estudo Na execução desta pesquisa, utilizou-se o


software TerraMA2 para o desenvolvimento do
A área de estudo escolhida para o sistema de monitoramento, análise e alertas de
desenvolvimento da pesquisa foi o município de riscos. A proposta desta ferramenta é de
Ouro Preto, como mostra na Figura 1. conceber um sistema que sobreponha

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informações ambientais relacionadas aos pesquisa, devido sua resolução não ser
extremos climáticos e hidrometeorológicos aos compatível com a região estudada, mostrando
mapeamentos de áreas com grande potencial de ineficiência destes. Na Figura 2, pode-se
risco. Neste contexto, espera-se que a interseção observar tal problemática.
de todos os dados permita que situações de alto
risco sejam identificadas. Partindo desta
prerrogativa, há a necessidade de inserir os dados
hidrometeorológicos na plataforma. Tais dados
são fornecidos por institutos como CPTEC/INPE
[2]. Para esta pesquisa, a Prefeitura de Ouro
Preto forneceu dados pluviométricos referente a Figura 2: Resolução do Hidroestimador em relação a
região de estudo.
Pontos de Coleta de Dados (PCD’s) nas regiões
estudadas, no período entre novembro de 2005 e Os dados provenientes do objeto monitorado
janeiro de 2012 e o CPTEC/INPE forneceu se referem a litologia existente, mapa de uso e
dados de precipitação por satélite ocupação e declividade da cidade de Ouro Preto.
(Hidroestimador) também neste período. Através do TerraView esses mapas são
Aliados a esses dados ambientais, foram combinados a fim de gerar um banco de dados,
introduzidos dados estáticos da região de que será utilizado como objeto de interesse.
interesse, os quais consistem no mapa litológico, Posteriormente, o modelo de análise de risco
declividade, uso e ocupação de solo, bem como é desenvolvido na plataforma TerraMA2. O
o mapa de bairros, ambos fornecidos pela modelo foi calibrado a partir do estudo e análise
prefeitura de Ouro Preto. No que refere-se a de dez períodos entre os anos de 2005 a 2012,
calibração do sistema foram analisadas 33 sendo cinco destes períodos sem ocorrência de
ocorrências de deslizamento de encostas do eventos e cinco com ocorrências de
município de Ouro Preto, disponibilizados pela movimentação de massa. Estes respectivos
Defesa Civil do município. períodos analisados constam na Tabela 2, bem
3.3 Métodos como o número de ocorrências presentes em
cada período.
Segundo REIS [6], a plataforma TerraMA2 Tabela 1: Períodos de análise para calibragem do sistema.
basicamente tem a função de buscar dados em Nº
Análise Período
servidores distintos e associá-los a uma base de Ocorrências
dados a fim de executar os modelos de análise, 01/11/2005 até
1 6
sendo que, para cada novo dado coletado e 31/12/2005
13 01/12/2006 até
inserido no banco de dados é realizada uma nova 2
31/01/2007
análise a fim de avaliar a existência ou não de 5 01/01/2009 até
3
uma situação de risco. Partindo dessa premissa, 30/02/2009
caso uma ameaça seja identificada, é gerado um 4 01/01/2011 até
4
sinal de alerta. 30/02/2011
5 01/12/2011 até
Na execução deste trabalho foram 5
31/01/2012
empregados dois tipos de dados, os dados 01/07/2005 até
6 Não houve
ambientais dinâmicos e os dados estáticos, esses 30/08/2005
últimos relativos ao objeto geográfico Não houve 01/04/2006 até
7
monitorado, i.e. município de interesse. Em 30/05/2006
Não Houve 01/01/2008 até
relação aos dados ambientais dinâmicos foram 8
30/02/2008
utilizados valores de precipitação coletados por Não Houve 01/07/2010 até
9
PCD’s posicionados neste município, onde as 30/08/2010
obtenções das leituras ocorrem através de um Não Houve 01/06/2011 até
10
pluviômetro. 30/07/2011
As precipitações por satélite
(Hidroestimador) não puderam ser utilizadas na O intuito de todo este aparato é a realização
de vários testes, a fim de calibrar o sistema.

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Dependendo do tipo de risco presente, o quanto estes são favoráveis a processos erosivos,
TerraMA² irá apresentar diferentes níveis de classificando-as em 4 níveis. Dessa forma, após
alerta. Com base no SAMOP, na Tabela 2 feita um estudo criterioso dos 20 tipos de
encontra-se os níveis de alerta disponibilizados litologia presente, atribui-se um peso a cada uma
pelo TerraMA² que foram utilizados na pesquisa delas. Cabe ressaltar que esta sofreu diversos
[5], ressalta-se que para não serem emitidos ajustes para que estivesse calibrada e condizente
alertas irrelevantes, foi introduzido um nível, que com os eventos ocorridos. Na Tabela 3, está
é considerado como sem alerta. apresentado além da classificação e ponderação,
a porcentagem de litologias susceptíveis a cada
Tabela 2: Níveis de alerta utilizados e disponíveis pelo classe.
TerraMA².
Níveis de Alerta Tabela 3: Ponderação da Litologia.
1 Sem Alerta Susceptibilidade (%)
Classificação Ponderação
2 Observação de Erosão
3 Atenção Muito Baixa 35 1 0,125
4 Alerta Baixa 35 2 0,375
5 Alerta Máximo Média 5 3 0,625
Alta 25 4 0,875

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Em relação ao mapa de declividade foi feita


uma divisão em faixas de acordo com o nível de
Inicialmente, realizou-se um estudo literário de declividade existente e também foi inserido peso
diversos materiais, principalmente os a estes níveis. A Tabela 4 mostra os intervalos de
mencionados em [1][3][6] e [7], a fim de se obter declividade e os pesos atribuídos a estes.
um maior entendimento do funcionamento do
Tabela 4: Ponderação da declividade.
software TerraMA².
Declividade Classificação Ponderação
Nesse contexto, após ter conhecimento amplo
0 - 10 % 1 0,025
a respeito do projeto a ser confeccionado, foram
enfatizados os dados a serem utilizados na 10 - 20 % 2 0,125
pesquisa. De início, utilizou-se apenas um mapa 20 - 40 % 3 0,625
de solos devido à complexidade que o programa 40 - 60 % 4 0,875
estava apresentando e o insucesso que estávamos 60 - 100 % 5 1,000
tendo ao tentar introduzir outros parâmetros no >100 % 6 1,200
estudo. Contudo, após uma visita ao INPE, em
São José dos Campos-SP, em conversa com um No que tange ao mapa de uso e ocupação foi
dos criadores da plataforma TerraMA2, Eymar realizada uma análise da região e, de acordo com
Lopes, conseguiu-se ter um entendimento o tipo de ocupação, atribuiu-se também peso a
melhor a respeito do funcionamento do estes. Na Tabela 5, mostra-se como foi feita essa
programa e, assim, os demais parâmetros ponderação.
puderam ser introduzidos no trabalho a fim de
enriquecê-lo. Tabela 5: Ponderação dos tipos de uso e ocupação do solo.
Desse modo, foram adquiridos através do Uso e Ocupação do Solo Classificação Ponderação
acervo de dados da Prefeitura de Ouro Preto, Área comercial 1 0,875
todos os mapas utilizados nesta pesquisa, sendo Área de mata densa 2 1,000
estes, mapa litológico, de declividade e de uso e Área de vegetação
3 0,625
ocupação, além do mapa de bairros. Através do rasteira
software TerraView, foi realizado uma Área residencial alto
1 0,875
padrão
interseção entre a região de interesse e os mapas, Área residencial baixo
resultando assim nos mapas da região estudado. 1 0,875
padrão
Em relação a litologia presente nesta região, Área residencial padrão
1 0,875
foi feito uma análise com intuito de determinar o médio

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No intuito de se obter a melhor calibragem
para o sistema, vários testes foram realizados na
plataforma do TerraMA². Aliado a este processo,
foi definido os níveis de alertas existentes. Para
tanto foram utilizados 5 níveis de alerta estando
estes em conformidade com os níveis estipulados
pelo SAMOP [5], acrescentado de um Nível, que
seria sem alerta. Estes níveis são caracterizados
da seguinte forma:
x Nível 0: Sem Alerta - Neste nível não há
probabilidade de ocorrências de eventos;
x Nível 1: Observação - Neste nível é feito
o monitoramento meteorológico constante;
x Nível 2: Atenção - Neste estágio é
iniciado o Plano de Contingência Municipal com
acompanhamento dos índices pluviométricos e
dos boletins meteorológicos.
x Nível 3: Alerta - Este nível é
caracterizado por chuvas prolongadas e requer
um maior acompanhamento dos índices Figura 3: Modelo de Análise.
pluviométricos e dos boletins meteorológicos.
x Nível 4: Alerta Máximo - Este nível é
caracterizado por chuvas prolongadas e com
previsão de continuidade para os próximos dias.
Essa situação exige um criterioso
acompanhamento dos índices pluviométricos e
dos boletins meteorológicos.
Dentro desta perspectiva foi criado um
modelo de análise escrito em LUA, elaborada
com base nos dados acumulados em 24 horas de Figura 4: Mapa de Alerta para o dia 11/12/2005.
precipitação. A Figura 3 mostra dois modelos,
sendo o do lado esquerdo representativo do
modelo de análises em grades, a partir de planos
matriciais estáticos e o do lado direito, o modelo
de análise a partir do objeto monitorado. Sendo
que o modelo de grades é incorporado ao modelo
do objeto monitorado.
Após ter realizado toda a configuração do
sistema e estabelecido todos os parâmetros de Figura 5: Mapa de Alerta para o dia 18/01/2012.
entrada, foi executado o programa, de forma a
Ao analisar o mapa de alerta da Figura 4,
verificar seus sinais de alerta. Este estudo foi
verifica-se a concordância entre o alerta máximo
implementado para os dez períodos
gerado e os incidentes ocorridos no município de
mencionados na Tabela 1. A Figura 4 e 5
Ouro Preto, como apresentado na Tabela 1. Isso
mostram imagens geradas pelo sistema, sendo
ocorreu para todos os 33 eventos em que
que na primeira nota-se um risco iminente de
houveram deflagração de encostas. Isso mostra
deflagração de encosta, na qual ocorreu dois
que a calibragem do sistema apresentou um
eventos de movimentação de massa, e na
resultado satisfatório, tendo em vista os
segunda é apresentado um mapa de alerta, em
incidentes catastróficos ocorridos. Os outros
que não houve nenhum tipo de evento
bairros também receberam alertas máximos,
catastrófico registrado.
devido aos altos incidentes de chuva. Mesmo que

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a Defesa Civil não tenha registrado ocorrências, AGRADECIMENTOS
estes podem ter ocorrido na região. Caso a
população tivesse acesso a esse sinal, esta Agradeço ao Conselho Nacional de
poderia ter a chance de evacuar a área e assim, Desenvolvimento Científico e Tecnológico
evitar a existência de vítimas fatais. Nota-se que (CNPq), a Prefeitura de Ouro Preto, ao Instituto
toda região com coloração vermelha apresenta Nacional de Pesquisa Espaciais-INPE e a Defesa
riscos iminentes de deflagração de taludes, o que Civil de Ouro Preto.
se comprova ao analisar o tipo de litologia,
declividade e uso e ocupação presente na região,
que apresenta maior susceptibilidade de REFERÊNCIAS
ocorrência de processos erosivos, quando aliados
a valores de precipitação crescentes, passando do [1] DIAS, L. R. P. T.; FONSECA, A. V.; COUTINHO, R.
Q. “Identificação de áreas suscetíveis a deslizamento
limiar crítico de 128mm de chuva acumulada em de terra utilizando sistema de informações
5 dias consecutivos, como apresentado pelo geográficas”. Dissertação de Mestrado em Engenharia
SAMOP [5]. Ambiental Urbana - Salvador - Bahia, 2006.
[2] INPE. Centro de Previsão de Tempo e Estudos
5 CONCLUSÃO Climáticos (CPTEC). Disponível em:
<http://www.cptec.inpe.br/>. Acesso em: 09 de
setembro de 2015.
Atualmente devido à globalização, a sociedade [3] LOPES, E. S. S.; NAMIKAWA, L. M.; REIS, J. B. C.
moderna está cada vez mais adepta aos avanços “Risco de escorregamento: monitoramento e alerta de
tecnológicos, sendo inadmissível a ocorrência de áreas urbanas nos municípios no entorno de Angra dos
vítimas devido a acidentes geológicos. Reis - Rio de Janeiro”. In: 13° Congresso Brasileiro de
Geologia de Engenharia e Ambiental, 2011, São Paulo.
Certamente, outras variáveis envolvem este Anais. 2011.
problema, como a aceitação e confiança por [4] ONUBR. Nações Unidas no Brasil. ONU: Brasil está
parte da população nas entidades que emitem entre os 10 países com maior número de afetados por
esses sinais de alerta, mesmo assim é essencial desastres nos últimos 20 anos. Publicado em: 24 de
que ações do ponto de vista tecnológico, bem novembro de 2015. Disponível em:
<https://nacoesunidas.org/onu-brasil-esta-entre-os-10-
como políticas de conscientização sejam paises-com-maior-numero-de-afetados-por-desastres-
desenvolvidas, a fim de minimizar os efeitos de nos-ultimos-20-anos/>. Acesso em: 01 de junho de
catástrofes devido ao comportamento extremo 2016.
da natureza às diversas ações do ser humano. [5] Prefeitura de Ouro Preto. “Alerta Metereológico: Ouro
Ao realizar uma análise dos resultados Preto em estado de alerta”. Disponível em:
<http://www.ouropreto.mg.gov.br/alerta-
obtidos, pode-se constatar que a interpolação dos meteorologico/92/ouro-preto-em-estado-de-alerta>.
dados referentes a precipitação, com os mapas Acesso em: 10 de abril de 2016.
estáticos da região estudada apresentaram [6] REIS, J.B.C. “Monitoramento e alerta de inundação no
resultados satisfatórios ao comparar-se com os município de Itajubá (MG) através de modelos
eventos ocorridos no município. De fato, foi matemáticos”. Dissertação de Mestrado em Ciências
em Meio Ambiente e Recursos Hídricos – Itajubá -
utilizado um método empírico para calibragem MG, 2014.
do sistema, mas que apresentou resultados bem [7] SILVA, N. L. Correlação entre pluviosidade e
condizentes com a realidade. movimentos gravitacionais de massa no Alto Ribeirão
Para uma abordagem mais ampla do potencial do Carmo/MG. Mestrado em Geotecnia. Universidade
do sistema apresentado, outras variáveis podem Federal de Ouro Preto, UFOP, Brasil, 2014.
[8] WOLLE, C.M. “Análise dos escorregamentos
ser consideradas, como mapa de permeabilidade translacionais numa região da Serra do Mar no
e parâmetros hidrogeológicos, além da contexto de uma classificação de mecanismos de
continuidade na avalição das séries de dados instabilização de encostas”. 1988. 394f. Tese
temporais de precipitação, a fim de evitar-se (Doutorado em Engenharia) – Escola Politécnica da
falsos alertas. A emissão desses alertas pode USP, São Paulo.
gerar onerosos custos a população, portanto
devem ser os mais fidedignos a realidade.

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Vulnerabilidade de Materiais Inconsolidados Quanto à
Erodibilidade as Margens da To-455 no Distrito de Luzimangues
– Porto Nacional - To
Glacielle Fernandes Medeiros
ITPAC - Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos, Araguaina – TO, Brasil,
glacielle@itpac.br

Gustavo Henrique Vieira Ferreira


ITPAC - Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos, Porto Nacional – TO, Brasil,
gustavo_vieira51@hotmail.com

Wesney Ferreira da Silva


ITPAC - Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos, Porto Nacional – TO, Brasil,
wesneyfuel@hotmail.com

Jhonathan Morais Resplandes


ITPAC - Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos, Araguaína – TO, Brasil,
resplande9@hotmail.com

Rafael Resplandes Rodrigues Junior


ITPAC - Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos, Araguaína – TO, Brasil,
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Mauro Alexandre Paula de Sousa


ITPAC - Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos, Porto Nacional – TO, Brasil,
mauroapsousa@gmail.com

RESUMO: O volume de escoamento superficial de água em taludes depede basicamente de fatores


climáticos, geológicos, geomorfológicos, pedológicos e do uso e ocupação da terra, sendo
necessária sua análise principalmente quando a intensidade da água de precipitação é superior à sua
capacidade de infiltração, a qual ocorre, em geral, nos materiais inconsolidados existentes na
superfície do terreno. As margens da rodovia TO-455 que liga a cidade de Porto Nacional ao
Distrito de Luzimangues, entre os quilômetros 26 e 27, é possivel observar grandes problemas
quanto a ocorrencia de processos erosivos, assim pretende-se identificar e caracterizar as formas e
consequências de processos erosivos em taludes rodoviários, abordando os principais tipos de
erosões associados à precipitação das chuvas.

PALAVRAS-CHAVE: Ensaio. Erosões. Processos Erosivos. Taludes.

1 INTRODUÇÃO solo. Trata-se de um processo que ocorre


naturalmente e de maneira excepcional, sendo
A erosão é influenciada por vários fatores, tais prejudicial ao ecossistema e resultando nos
como: precipitação, solo, topografia, cobertura seguintes danos: perda de solos em encostas ou
vegetal, prática de manejo e conservação do taludes, sedimentação as margens de rodovias

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por meio de carreamento de partículas de solo. processos erosivos se dividem em: erosão
Quando em estágio avançado pode acarretar natural ou geológica, esse processo mantem
problemas como desprendimento ou equilíbrio entre o desenvolvimento da erosão
tombamento do maciço. com a formação do solo e erosão acelerada, esse
O desenvolvimento da infraestrutura viária segundo processo não permite a recuperação
tem por finalidade a locomoção de passageiros, natural do solo, pois a intensidade e superior a
transporte de alimentos, produtos industriais, sua formação.
bens comuns, opções de trabalho, lazer, Para Infanti e Fornasari Filho (1998), o
consumo, acesso à saúde e educação de processo erosivo pode ser basicamente
qualquer país. Sendo de utilidade indiscutível compreendido pelos impacto das chuvas que
para indivíduos, sociedades e economias de provocam desagregação das partículas do solo,
qualquer período da história, o deslocamento que por sua vez são removidas e transportadas
por via terrestre transformou-se no principal pelo escoamento superficial.
meio de transporte de médias e longas Dessa forma dependendo de como se
distâncias do mundo contemporâneo. processa o escoamento superficial ao longo de
Baseado na importância das rodovias para o uma vertente pode se desenvolver dois tipos de
desenvolvimento do país essa pesquisa visa erosões: Erosão laminar e erosão linear. Esta
identificar problemas com processos erosivos primeira é causada pelo escoamento das águas
em taludes localizados nas margens das das precipitações em várias direções,
estradas, tendo como foco o escoamento originando remoção progressiva das camadas
superficial em taludes, que acabam por remover superficiais do solo. A segunda é o resultado da
de forma gradativa as camadas superficiais de concentração de linhas de fluxo das águas do
solos, o que pode levar ao seu rompimento. escoamento superficial, dando origem as
incisões, ou seja: cortes e talhos no terreno, que
2 REFERENCIAL TEÓRICO pode evoluir por aprofundamento para as
ravinas.
2.1 Escoamento Superficial
2.3 Propriedades Geotécnicas dos Solos
O escoamento superficial é o principal processo Tropicais com Ênfase na Erodibilidade
ligado à erosão hídrica, o impacto no contato da
gota da chuva com o solo culmina a liberação Os solos laterícos ocorrem em camadas
de suas partículas, o escoamento exerce um superficiais do terreno, sendo formado por
papel importante, que é o transporte dessas processos de laterização, característico dos
partículas liberadas no contato água-solo. locais bem drenados das zonas tropicais úmidas.
(PRUSKI et. al., 2001). Além disso, também podemos ressaltar os solos
Conforme Pruski et. al.(2001) as depressões saprolíticos, originados da decomposição ou
no solo são preenchidas pela água das desfragmentação in situ da rocha, sem que a
precipitações, devido a intensidade da chuva se estrutura da rocha de procedência seja
sobrepor a velocidade de infiltração dessa água modificada (Commiteeon Tropical Soilsof –
no solo, por conseguinte da início ao ISSMFE, 1985, apud NOGAMI; VILLIBOR,
escoamento superficial. 2009).
A respeito das peculiaridades físico-químicas
2.2 Processos Erosivos antecedentes do processo de formação, na
presença de água os solos tropicais oferecem
Infanti E Fornasari Filho (1998) Definiram elevada porosidade e ampla sensibilidade nas
erosão como sendo um processo de uniões cimentícias, especialmente quando estas
desprendimento das partículas de solo e se tratam de pontes de argila (PAIXÃO, 1994).
fragmentos de rochas deslocados pela ação Desta forma, compete assegurar que a
conjunta da gravidade com a água, ventos, gelo, elevada porosidade dos solos intemperizados
organismos e plantas. De maneira geral estão proporciona um perfil propício a infiltração de
presentes em duas formas: ou seja, esses água nos solos. Sendo assim, a sensibilidade

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das junções cimentícias com relação ao uso de ao distrito de Luzimangues, tal trecho foi
sistemas de drenagem alternativos ofereceram selecionado devido à presença expressiva de
perspectivas negativas. processos erosivos.
Os solos tropicais têm atributos Com a finalidade de comparar à resistência
característicos que confere desempenho aos processos erosivos dos solos tropicais,
diferente dos solos pouco formado. Nogami e coletou-se amostras deformadas para os ensaios
Villibor (1995) sugerem a classificação dos de caracterização e índices físicos. Para analise
solos tropicais, com relação ao desempenho do potencial erosivo foram coletadas amostra
laterítico e não laterítico, considerando-os de indeformadas para os ensaios de desagregação
acordo com a metodologia de classificação na forma de torrões e para os ensaios de
geotécnica MCT. erodibilidade amostras indeformadas, utilizando
os moldes do ensaio Inderbitzen.
2.4 Taludes Naturais e Artificiais

Filho e Virgili (1998) definem taludes ou 3.2 Ensaios Laboratoriais


encostas naturais como sendo uma superfície
inclinada de maciços terrosos ou rochosos que Para analise do potencial de erodibilidade da
podem também ser encontrados na natureza de area escolhida, inicialmente foi necessario
forma mista (solo e rocha), na qual foi determinar a inclinação do talude, no qual foi
originado naturalmente pela ação geológica e possivel com uso de distânciometros. Na Figura
geomorfológica. 1 é observa-se a representação gráfica da
A erosão do solo se associa a inúmeros inclinação do talude em estudo.
fatores que afetam a estrutura de taludes, A inclinação foi determinada exatamente no
encostas e aterros ao longo de uma via. A ponto escolhido para coleta da amostra, para
erosão e o movimento de massa devido ao evitar possiveis divergencias de caracteristicas
clima tropical do nosso país, entre inúmeros dos materiais quanto a erodibilidade e
outros, são os problemas mais frequentes que caracterização.
favorecem a desestabilização dos maciços As amostras foram submetidas a ensaios de
(FILHO; VIRGILI, 1998). caracterização, no qual a análise granulométrica
Nesse sentido, os taludes são afetados por da área em estudo teve como referência as
escorregamentos e erosões de diferentes normas NBR 6457 (ABNT,1986) intitulada:
magnitudes. Tendo em vista sua superfície preparação para ensaios de compactação e
frágil devido à exposição do solo sem nenhuma ensaios de caracterização e NBR 7181 (ABNT,
camada de proteção. A erosão em taludes é um 1984a) intitulada: análise granulométrica. O
dos principais processos erosivos identificados ensaio de limite de liquidez foi realizado com
nas margens das estradas. base na NBR 6459 (ABNT, 1984b), o limite de
Aproximadamente 75% das erosões plasticidade teve como referência a NBR 7180
observadas em estradas são decorrentes dos (ABNT, 1984c), massa específica dos grãos de
taludes de aterro e corte. A aplicação de solos que passam na peneira de 4,8mm
coberturas atrapalha o deslocamento do solo, determinada a partir da NBR 6508 (ABNT,
sendo uma alternativa importante para o 1984d).
controle de erosões em superfícies de taludes
(SOUZA, 2000 apud SILVA, 2009, 13p).

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Atividades de campo

A área de estudo corresponde a um talude


localizado entre os quilômetros 26 e 27 da
rodovia TO-455 que liga Porto Nacional –TO

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Figura 1- Representação gráfica inclinação do terreno

O ensaio de pastilha foi executado segundo


procedimentos metodológicos propostos por Figura 3-Escoamento superficial concentrado (ravina)
Fortes, Zuppolini Neto e Marighi (2002) e
DERSA (2006), com propósito de classificar os 4.1 Análise Granulométrica
solos tropicais.
Para analise do potencial erosivos do solo Por meio da analise granulométrica,
em estudo foram realizados os ensaios de observou-se uma fração de 30% de argila, cerca
desagregação e Inderbitzen. No ensaio de de 64% corresponde a silte, somente 5,8% de
desagregação seguiu-se a metodologia proposta areia e 0,2% de pedregulho. Por meio da analise
por Santos (1997), em etapas de imersão total e granulométrica pode-se classificar o solo como
parcial, em amostras indeformadas de solo, silte argiloso.
semelhantes a cubos de aproximadamente 60 O resultado da análise granulométrica revela
mm de arestas. o predomínio de material argiloso e siltoso, com
O ensaios de Inderbitzen foi realizado para a baixo teor de areia e índice insignificativo de
rampa na inclinação do terreno 2014. A pedregulhos.
inclinação do terreno foi determinada no local Baseado no diagrama triangular de Feret
de amostragem, por meio do uso de (Figura 4) e os dados obtidos na granulometria
distânciometros. Especificou-se então a vazão com defloculante, pode-se classificar o solo de
do fluxo de água em 50 ml/s e as amostras acordo com as proporções entre areia +
foram moldadas com amostradores de pedregulho, silte e argila, onde após traçar as
dimensões prismáticas de aproximadamente 10 retas em direção de cada fração granulométrica,
cm de lado e 5 cm de altura. pode-se observar que o encontro das retas
localiza-se no limite de duas classificações,
sendo o solo classificando como uma Argila
4 RESULTADOS siltosa - Silte argiloso.

Foram realizadas vistorias em volta do talude,


as Figuras 2 e 3 destacam a ação dos processos
erosivos, onde foi observado erosões
decorrentes de escoamento superficial e
percolação interna provocados pelas chuvas.

Figura 4-Classificação Diagrama Triangular de Feret


Figura 2-Deslizamento da massa de solo

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Na identificação do indices fisicos, relação ao tamanho original formando uma
encontrou-se umidade natural (W) = 19,02%; pilha de solo sobre a pedra porosa, podendo ser
limite de liquidez (WL) = 48%; limite de classificado como abatimento. Figura 5(c).
plasticidade (WP) = 33%; índice de plasticidade
(IP) = 15%; massa específica dos grãos (ȡs) =
2,75%; e índice de atividade coloidal de argila
(IA) = 0,5%.

Para conhecer as características do solo foi


realizado ensaio específico para solos tropicais, (a) (b) (c)
no qual foi possível identificar e classificar o Figura 5- (a) Ensaio de desagregação por inundação total
tipo de solo submetido à análise. Pelo ensaio de e umidade natural; (b) Ensaio de desagregação por
pastilha a amostra pode ser classificada como imersão total após 24 horas com pré-saturação por 24h;
(c) Ensaio de desagregação por imersão parcial após 24h.
NG’ (solo argiloso não laterítico), conforme
mostra a Tabela 1.
Os ensaios de Inderbtizen foram executados
Tabela 1 - Resultados obtidos a partir do ensaio– em 2 amostras, divididas em duas inclinações
“Método da Pastilha”. diferentes, sendo uma na inclinação de 10° e
Contração outra na inclinação do terreno, sendo que as
Diametral Penetração
Amostra (mm) (mm) Coeficiente classificação duas amostras foram submetidas a saturação por
c’ gotejamento.
AM -1 2 5 2 NG’
O ensaio retratou a simulação do escoamento
superficial das águas das precipitações, com a
4.2 Ensaios de Erodibilidade vazão na proporção de 50 l/s, na qual erodiu a
amostra de solo carreando suas partículas que
O ensaio de desagregação foi realizado em ficaram retidas na peneira 0,075mm.
três CPs, um para cada tipo de imersão. O A amostra de solo ensaiada na inclinação de
primeiro CP por imersão total com umidade 10° apresenta conformidade com o que Fácio
natural, o segundo CP da mesma forma que o (1991) e Santos (1997) observaram,
primeiro, mas com a amostra saturada e o considerando a maior perda de solo nos 5
terceiro por imersão parcial. minutos iniciais de ensaios para a inclinação de
Na figura 5(a) observa-se o CP submetido ao 10°, porém a amostra ensaiada na inclinação de
ensaio de desagregação com a umidade natural 40° teve perdas consideradas altas nos instantes
de campo por imersão total por um período de 10 e 15 minutos, como pode ser observado na
24 horas. Após esse período foi observado o Figura 6. Isso foi justificado pela alta inclinação
abatimento do CP, visto que a amostra havia se do terreno, associado a característica do solo
desintegrado em forma de pilha. Sendo assim, a (Argila siltosa - Silte argiloso) e arranjo das
amostra conforme metodologia sofreu partículas similares a placas, que foram
influências dos fenômenos de fraturamento e carreadas pelo fluxo d’água nos instantes
abatimento. supracitados nesse parágrafo.
No ensaio realizado por inundação total com
pré-saturação notou-se maior resistência da
amostra diante do processo de inundação,
apresentando perca mínima de solo, ficando
praticamente intacto, mantendo sua forma e
tamanho original, podendo sem classificado
como “sem resposta”, como pode ser observado
na Figura 5(b)
No que se refere ao ensaio de desagregação Figura 6 - Massa erodida retida lavada acumulada, obtida
por imersão parcial, na quinta e última etapa, através do ensaio de Inderbitzen na inclinação de 10º e
após 24 horas, a amostra apresentou o 40° com amostra umedecida.
desmoronamento de grandes massas de solo em

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as erosões observadas são diretamente
5 CONCLUSÕES proporcionais a inclinação do terreno, pois está
diretamente ligada a aceleração dos fluxos de
Os processos erosivos no talude ocorrem água, auxiliando na ocorrência desses processos
naturalmente por condições climáticas, erosivos.
envolvendo outros aspectos abrangentes como
relevo e fatores intrínsecos como granulometria.
Os principais temas abordados e ensaiados REFERÊNCIAS
nessa pesquisa foram a erodibilidade e os
fatores de resistência do solo frente aos ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 6457 – Amostras de Solo –
processos erosivos, desta forma, este trabalho Preparação para Ensaios de Compactação e Ensaios
foi eficiente por possibilitar a estimativa das de Caracterização. Rio de Janeiro, 1986, 9p.
propriedades geológico-geotécnicas e a ________ NBR 6459 – Solo - Determinação do limite de
resistência à erosão da área estudada. Como se liquidez. São Paulo, 1984b, 6p.
pode notar, não podemos julgar a resistência do ________ NBR 6508 - Grãos de Solos que Passam na
Peneira de 4,8mm - Determinação da massa
solo aos processos erosivos por meio da análise específica. Rio de Janeiro, 1984d, 8p.
isolada dos índices físicos, por isso, é ________ NBR 7180 – Solo - Determinação do limite de
necessário a execução de ensaios específicos de plasticidade. São Paulo, 1984c, 3p.
erodibilidade onde resultarão em uma análise ________ NBR 7181 – Solo - Análise granulométrica.
mais concreta do solo referente aos processos Rio de Janeiro, 1984a, 13p.
DERSA. Diretrizes para identificação expedita do solo
erosivos. laterítico - “Método da Pastilha”. SãoPaulo, 2006.
Os ensaios de erodibilidade aparentam ser FÁCIO, J. A. Proposição de uma metodologia de estudo
coerentes naquilo que foi observado após da erodibilidade dos solos do Distrito Federal. 1991.
execução desses ensaios, mostrando correlação 122f. Dissertação (Mestrado em Geotecnia) –
entre os ensaios de desagregação e Inderbtizen, Departamento de Engenharia Civil. Universidade de
Brasília, Brasília, 1991.
quando realizados na condição natural o solo Augusto Filho, O. & V irgili, J.C. ( 1998). Estabilidade
tendeu a ser mais erosível, e na condição de taludes. In: Geologia de Engenharia . São Paulo,
saturado apresentou uma certa resistência. ABGE
Nesses dois ensaios esse fator é associado à FORTES, R. M.; ZUPPOLINI NET, A.; MERIGHI, J. V.
presença de ar nas amostras que no primeiro Proposta de normalização do métododas pastilhas
para identificação expedita de solos tropicais. In: 11ª
contato com a água tendem a desestabilizar o REUNIÃO DE PAVIMENTAÇÃO URBANA. Porto
solo mais rápido. Quando o ar é expulso das Alegre, 2002.
amostras por umedecimento para Inderbtizen e INFANTI, J. N.; FORNASARI, F. N. Geologia de
por ascensão capilar para desagregação, a Engenharia: Processos de dinâmica superficial. In:
amostra se comporta com mais resistência. OLIVEIRA, A. M. S.; BRITO, S. A. (Org.),
Associação Brasileira de Geologia de Engenharia –
Foi observado uma correlação entre os São Paulo, ABGE, 1998, 131-152p.
resultados de granulometria e os ensaios de MEDEIROS, F.; G. Susceptibilidade à erosão na alta
erodibilidade, visto que o solo apresentou pouca Bacia do Ribeirão barreiro – Alexânia-Go 2014. 172p.
resistência frente aos processos erosivos, Dissertação de Mestrado – Universidade federal de
confirmando o fato de sua maior proporção ser goiás Escola de engenharia civil, Programa de pós-
graduação em geotecnia, estruturas e Construção
de origem siltosa. Os ensaios de desagregação e civil. 172p.
Inderbtizen apresentaram uma boa correlação, NOGAMI, J. S.; VILLIBOR, D.F. Identificação expedita
pois o solo demonstrou maior resistência na dos grupos da classificação MCT para solos tropicais.
condição saturada em ambos ensaios. O ensaio X COBRAMSEF. Foz do Iguaçu – PR: ABMS, 1994.
de Inderbtizen provou que a inclinação do v.2.
NOGAMI, J. S.; VILLIBOR, D.F. PAVIMENTAÇÃO
talude também é propulsora para as erosões DE BAIXO CUSTO COM SOLOS LATERÍTICOS.
observadas in loco. 1ed. São Paulo, 1995. 213p.
As informações gráficas originadas dessa NOGAMI, J. S.; VILLIBOR, D.F. PAVIMENTOS
pesquisa possibilitaram a análise e o ECONÔMICOS: Tecnologia do uso dos Solos Finos
entendimento da forma em que o escoamento Lateríticos. 1 ed. São Paulo: Arte e Ciência. 2009.
292.
superficial influencia no processo erosivo, e que PAIXÃO, M. M. O. M.; CAMAPUM DE CARVALHO,

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J. Influência da microestrutura no colapso de um solo
de Brasília. II SIMPÓSIO SOBRE SOLOS NÃO
SATURADOS. Recife – PE: UFPe, 1994. v.1. p. 105
– 110.

PRUSKI, F. F.; RODRIGUES, L. N.; SILVA, D. D.


Modelo hidrológico para estimativa do escoamento
superficial em áreas agrícolas. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental. Campina Grande,
PB, v. 5, n. 2, p. 301-307, 2001.
SANTOS, R. M. M. Caracterização geotécnica e análise
do processo evolutivo das erosões no Município de
Goiânia. 1997. 138p. Dissertação (Mestrado em
Geotecnia) – Departamento de Engenharia Civil.
Universidade de Brasília, Brasília, 1997.
SILVA V. B J. D. Avaliação de Métodos de Baixo Custo
Para a Proteção de Taludes em Estradas Rurais Não-
Pavimentadas. 2009. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Civil). Universidade Estadual Paulista.
Ilha Solteira – SP, 2009. 13p.
v.35, n.4, p.825-833, 2011.
VILLIBOR, D. F.; NOGAMI, J.; FABBRI, G. T. P.
Proteção à erosão em pavimentos de baixo custo. In:
Reunião Anual de Pavimentação, 21. 1986,
Salvador/BA. Anais... Rio de Janeiro/RJ: ABPv,
1986. V. 2, p. 413-430.

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Solos Não Saturados,
Expansivos, Colapsíveis e
Moles

TEMA 7


A Influência da Sucção na Resistência ao Cisalhamento de um
Solo Residual de Diabásio Indeformado
Narayana Saniele Massocco, Msc
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, nsaniele@gmail.com
Orlando Martini de Oliveira, Dr
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, oliveiraorlando@hotmail.com
Gabriel Bellina Nunes, Msc
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, gabrielbnunes@gmail.com
Rafael A. dos Reis Higashi, Dr
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil, rrhigashi@gmail.com

RESUMO: Foram realizados ensaios de laboratório com o objetivo de investigar a influência da


sucção na resistência ao cisalhamento de um solo residual de diabásio indeformado. A Partir de um
bloco de solo, retirado de um talude de corte localizado no Município de Florianópolis/SC, foram
moldados 14 corpos de prova para realização de ensaios de cisalhamento direto. Foram realizados
ensaios na condição inundada e na condição não saturada, aplicando-se tensões normais de 50 e 100
kPa. Os valores de sucção inicial dos corpos de prova, ensaiados na condição não saturada, foram
determinados através da técnica do papel filtro. Dos ensaios realizados na condição inundada obte-
ve um ângulo de atrito efetivo de 31,5º e uma coesão efetiva de 7,2 kPa. Foi observado, nos ensaios
não saturados, que os corpos de prova apresentam, com o aumento da sucção inicial, um aumento
de rigidez, um aumento do valor da resistência ao cisalhamento e tendência a romper com aumento
de volume. Para os ensaios realizados com uma mesma tensão normal foi constatado que o aumento
da sucção faz com que ocorra o aumento da resistência ao cisalhamento, no entanto esta taxa de
aumento diminui e tende para zero para sucções da ordem de 500 kPa.

PALAVRAS-CHAVE: Solo não saturado, Sucção, cisalhamento direto, Papel filtro.

1 INTRODUÇÃO solo. A sucção matricial atua no sentido de


melhorar as propriedades geotécnicas do solo.
O estudo da tradicional Mecânica dos Solos, No entanto, a equação das tensões efetivas,
tendo como base a condição saturada, tem sido proposta por Terzaghi (1936), se aplica apenas
abordado recentemente de uma forma mais para os solos saturados. O sucesso desta
ampla; considerando também a sua condição equação fez com que surgissem diversas
não saturada. O solo situado acima do lençol tentativas no sentido de se obter uma equação
freático pode ser analisado de forma mais das tensões efetivas para solos não saturados.
realística ao se considerar a presença da sucção Os problemas em solos não saturados são
matricial. mais complexos, uma vez que os poros do solo
É corriqueiro não considerar o são preenchidos por dois fluidos, ar e água, que
comportamento do solo na condição não devido à tensão superficial entram em equilíbrio
saturada nos projetos. Esta atitude pode resultar a pressões diferentes. Para este sistema trifásico
em custos excedentes e em uma abordagem (ar, água e partículas do solo) se torna difícil
conservadora, principalmente em projetos de quantificar a parcela de tensão transmitida entre
obras de contenção de encostas ao os grãos (tensão efetiva) ao se aplicar um
desconsiderar a sua condição não saturada do carregamento externo. Em face das dificuldades

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em se equacionar as tensões efetivas em solos 2.1 Solo em estudo
não saturados, utilizando uma única variável de
estado de tensões, a contribuição das tensões O solo estudado se encontra em um talude na
totais e da sucção para a resistência ao região de Florianópolis/SC e está localizado nas
cisalhamento, passou a ser tratada como duas coordenadas UTM: 747236,62 E e 6946216,47
variáveis de estado de tensões independentes. S. A Figura 1 corresponde ao local de retirada
Fredlund et al. (1978) propõe uma equação para dos blocos, onde se observa que há um
a resistência ao cisalhamento em solos não afloramento da rocha matriz (diabásio) na base
saturados onde a sucção e a tensão total são do corte executado para a construção de uma
consideradas separadamente, sendo esta a edificação. Na imagem ampliada da Figura 1 se
abordagem mais utilizada. Os estudos observa a saída de água ao longo das fissuras do
realizados por Oliveira (2004), em solo residual diabásio indicando que o nível do lençol
de gnaisse compactado, e Pecapedra (2016), em freático está a uma profundidade superior a 5m.
solo residual de diabásio e de granito, ambos
compactados, utilizaram a equação proposta por
Fredlund et al. (1978). Estes dois estudos
demostraram que com o aumento da sucção do
corpo de prova ocorre um aumento no valor da
resistência ao cisalhamento. No entanto, a
relação entre a sucção e a resistência ao
cisalhamento define uma envoltória de ruptura
não linear, com tendência a estabilização dos
valores de resistência ao cisalhamento para
sucções superiores a 500 kPa.
Existe também a necessidade de analisar o
solo no seu estado indeformado, quando se
deseja, por exemplo, estudar os movimentos de
massa que ocorrem em encostas naturais.
Estudos atuais realizados por Massocco (2017) Figura 1. Imagem do dique de diabásio com indicação de
afloramento de água pelas fraturas da rocha.
e Campos (2015), utilizando solos
indeformados, demonstram que a sucção
Para o estudo foram moldados 14 corpos de
também contribui com uma parcela
prova do bloco de solo indeformado, coletado
considerável da resistência ao cisalhamento do
da face do talude a uma profundidade de
solo. Parte dos estudos realizados por Massocco
aproximadamente 2,1 metros. Com o solo deste
(2017) são apresentados neste artigo tendo
mesmo bloco foram realizados os ensaios de
como objetivo verificar a influência da sucção
caracterização. A Figura 2 corresponde aos
na resistência ao cisalhamento de um solo
blocos de solo sendo retirados do campo.
residual de diabásio em sua condição
indeformada.

2 MATERIAIS E MÉTODO

Para alcançar a análise da pesquisa foram


coletadas amostras indeformadas de solo, após
este processo foram induzidas sucções nas
amostras, e assim, realizaram-se ensaios de
cisalhamento direto neste solo, a partir deste
processo foi possível obter valores de sucção,
tensão normal e tensão cisalhante.
Figura 2. Imagem dos blocos de solo residual
indeformado sendo retirados na área de estudo

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



2.2 Obtenção da Sucção
2.3 Resistência ao cisalhamento
Das 14 amostras indeformadas, 3 foram
utilizadas no equipamento de cisalhamento A partir do momento em que a sucção
direto para a determinação da envoltória de desejada dos corpos de prova foi alcançada,
ruptura na condição inundada (0 kPa de seguiu para o ensaio de cisalhamento direto. O
sucção), fornecendo assim o ângulo atrito procedimento do ensaio de cisalhamento direto
efetivo (I’) e a coesão efetiva (c’). Os 11 corpos realizado nesta pesquisa, foi baseado na norma
de prova restantes foram utilizados para os ASTM D3080-04 com alguns ajustes definidos
ensaios na condição não saturada. pela metodologia de Massocco (2017) em que a
Foram obtidos valores de sucções na faixa de velocidade de cisalhamento utilizada foi de
0 kPa a 500 kPa, e, o procedimento utilizado 0,307 mm/min.
para encontrar esses valores foi através da O equipamento utilizado é automatizado por
técnica do Papel Filtro pela metodologia de um software, que através da aplicação de tensão
Massocco (2017). O princípio para obter a normal líquida na amostra, permite a obtenção
sucção tomou como base a curva de retenção de de dois gráficos: deslocamento horizontal (mm)
um solo, onde o corpo de prova de solo versus tensão cisalhante (kPa) e deslocamento
indeformado foi levado à saturação e através do horizontal (mm) versus deslocamento vertical
processo de secagem obteve-se as sucções, com (mm).
tempo determinado de equilíbrio do papel filtro Foram realizados ensaios com tensões
de 7 dias. Este método de tentativas, consiste normais aplicadas de 50, 100 e 150 kPa para o
nas seguintes etapas: solo na condição inundada; e tensões normais
i. Obter a umidade inicial do solo de 50 e 100 kPa para os ensaios na condição
indeformado e massa úmida inicial; não saturada.
ii. Borrifar água nos moldes de solo, até Através destes dados foi possível analisar o
ficar próximo a saturação; comportamento do solo com a variação da
iii. Colocar Papel Filtro neste molde; sucção para as tensões normais de 50kPa e 100
iv. Após 7 dias verificar a sucção; kPa.
v. Caso o solo indeformado obtenha a
sucção desejada ir para o item (vi), caso 3 RESULTADOS E ANÁLISES
contrário ir ao item (iii);
vi. Ensaiar o solo no equipamento desejado; 3.1 Caracterização do solo
vii. Após ensaio obter a umidade amolgada.
Considerando que o papel filtro absorve um Tomando como base os procedimentos
pouco de água do corpo de prova, este processo metodológicos descritos no item 2, chegou-se
pode ser feito ininterruptamente, porém caso aos resultados desta pesquisa. Na Tabela 1 estão
esteja longe da sucção ideal, é necessário apresentados os resultados dos ensaios de
colocar a amostra para secar nas condições caracterização.
ambientes e desse modo voltar ao item (iii). A Tabela 1 mostra que o solo residual de
Para ilustrar, a Figura 3 corresponde a um dos diabásio é composto predominantemente por
solos indeformados com a aplicação do papel silte e argila. De acordo com a classificação de
filtro. O modelo utilizado de papel foi o da Burmister (1949 apud Das e Sohan, 2014) este
marca Whatman n° 42. solo apresenta uma plasticidade média. O
Limite de liquidez obtido de 69% está em
conformidade com estudos de Pinto (2006),
onde é relatado que em solos residuais de
diabásio essa plasticidade varia de 45-70(%).

Figura 3. Amostra de solo indeformada e papel filtro


aplicado para obtenção da sucção no solo.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Tabela 1. Características Físicas do solo residual de

Tensão Cisalhante (kPa)


100
diabásio
Dados Quantidade 80
Pedregulho (%) 0,09 Sucções (kPa):
Areia Grossa (%) 0,14 0
60
Areia Média (%) 4,89 62
89
Areia Fina (%) 7,76 40
Silte (%) 45,66 115

Argila (%) 41,66 187


20
317
LL (%) 69
LP (%) 51,77 433
0
IP (%) 17,31
Densidade dos grãos 2,88 3 0 2 4 6 8 10 12 14 16
SUCS MH 2
LL – Limite de liquidez; LP – Limite de Plasticidade; IP

Deslocamento Vertical (mm)


– Índice de plasticidade. SUCS – Classificação Unificada 1
do Solo
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
3.1 Resistência ao cisalhamento -1 Deslocamento Horizontal ( mm )
-2
As Figuras 4 e 5 representam os gráficos de
tensão cisalhante em relação ao deslocamento -3
horizontal e deslocamento vertical dos ensaios
-4
de cisalhamento direto realizados com tensões
normais de 50 kPa (Figura 4) e 100kPa (Figura
5) com as respectivas sucções iniciais obtidas a Figura 4. Ensaio de cisalhamento direto: solo residual de
diabásio – 50 kPa de tensão normal aplicada
partir da técnica do papel filtro.
Os resultados mostram que há um 140
incremento de resistência com o aumento de
Tensão Cisalhante (kPa)

120
sucção inicial dos corpos de prova. Sucções
100 (kPa):
A tendência do comportamento para as duas
tensões aplicadas, é de definir um pico de 80 0
resistência ao cisalhamento, seguida de uma 60
127
diminuição deste valor e posterior 193
40 340
constancidade com o aumento do deslocamento
20 407
horizontal. No entanto, na medida em que 416
diminui a sucção inicial, as reduções da 0
resistência ao cisalhamento após ruptura são 3 0 2 4 6 8 10 12 14 16
menores. Se observa também nas Figuras 4 e 5
2
que, com o aumento da sucção inicial do corpo
de prova, a ruptura passa a ocorrer com
Deslocamento Vertical (mm)

1
aumento de volume.
Na Figura 4, que representa os ensaios 0
realizados com tensão normal de 50 kPa, este 0 2 4 6 8 10 12 14 16
-1 Deslocamento Horizontal ( mm )
aumento de volume ocorre a partir da sucção de
187 kPa. No entanto, este aumento de volume -2
também está relacionado ao aumento da tensão
normal, de forma que na Figura 5, que -3
representa os ensaios com tensão normal de 100
kPa, os corpos de prova apresentaram no -4
momento da ruptura uma redução de volume. Figura 5. Ensaio de cisalhamento direto: solo residual de
diabásio – 100 kPa de tensão normal aplicada

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



A Figura 6 corresponde aos valores da kPa. Na Figura 7 se observa também o aumento
resistência ao cisalhamento dos ensaios da resistência ao cisalhamento com o aumento
inundados submetidos a tensões normais de 50, da tensão normal.
100 e 150kPa. A reta que representa a
envoltória de ruptura possui o coeficiente 150
angular de 0,6341 que corresponde a um ângulo

Tensão cisalhante (kPa)


de atrito efetivo de aproximadamente 31,54°, 125
coesão de 7,24 kPa. 100

150 75
50 Tensão normal = 100 kPa
Tensão cisalhante (kPa)

25 Tensão normal = 50 kPa


100
0
0
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500
Sucção Matricial (kPa)
50 y = 0,6341x + 7,2405 Figura 7. Relação tensão cisalhante com o aumento de
R² = 0,9942 sucção no solo residual de diabásio

0 A diminuição da taxa de incremento da


0 50 100 150 200 resistência ao cisalhamento com o aumento da
Tensão Normal (kPa)
sucção inicial do corpo de prova está
Figura 6. Reta obtida na condição inundada (sucção 0
relacionada ao ínicio da entrada de ar nos
kPa) para o solo residual de diabásio
macroporos ou início da dessaturação conforme
Dos gráficos de resistência ao cisalhamento, é relatado em estudos de Rassam e Cook
apresentados nas Figuras 4 e 5, obteve-se os (2002).
dados relacionados as tensões cisalhantes de A Figura 8 ilustra o gráfico tridimensional
ruptura, com suas respectivas tensões normais e com os eixos representados pela tensão normal
sucção inicial de cada corpo de prova. Estes (abscissas), sucção (ordenadas) e a tensão
resultados estão descritos na Tabela 2. cisalhante (eixo z). Neste gráfico é possível
perceber com maior clareza que com o aumento
Tabela 2. Parâmetros de resistência do solo para tensões da tensão normal e dos valores da sucção incial
de 50kPa e 100kPa dos corpos de prova ocorre um aumento da
Tensão normal aplicada Tensão normal aplicada resistência ao cisalhamento.
de 50 kPa de 100 kPa
ı IJ Sucção ı IJ Sucção
(kPa) (kPa) (kPa) (kPa) (kPa) (kPa)
51,1 37,82 0 104,7 76,9 0
51,7 51,24 62 104,6 97,0 127
52,0 50,0 89 105,1 105,2 193
52,7 55,8 115 104,5 121,7 340
52,1 72,68 187 105,1 109,8 407
52,2 77,92 317 104,2 113,3 416
52,5 81,87 433 - - -

Com base nesses dados da Tabela 2, a Figura


7 apresenta os valores de tensão cisalhante em
relação a sucção dos corpos de prova
indeformados; onde é possivel verificar o
comportamento do solo com o aumento da Figura 8. Representação tridimensional dos dados em
análise para o solo residual de diabásio
sucção. Pode-se perceber que há um aumento
da resistência ao cisalhamento com a aumento
Massocco (2017) obteve a superfície de
da sucção. No entanto este aumento passa a
ruptura deste solo ao realizar ensaios com
ocorrer com uma taxa cada vez menor,
tensões normais 50, 100, 200 e 300 kPa. Esta
tendendo a zero para sucções da ordem de 500

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



superfície não define um plano, conforme a Catarina/UFSC, 239p.
proposta de Fredlund et al.(1978). Oliveira, O. M. (2004). Estudo Sobre a Resistência ao
Cisalhamento de um Solo Residual Compactado Não
Saturado. Tese de doutorado - Escola Politécnica da
5 CONCLUSÕES Universidade de São Paulo/EPUSP, 330p.
Pecapedra, L. L. (2016). Estudo de Resistência ao
A partir de amostras indeformadas de um Cisalhamento Não Saturado de Solos Residuais de
solo residual de diabásio foram ralizados 14 Granito e Diabásio de Florianópolis/SC. Dissertação
de mestrado - Universidade Federal de Santa
ensaios de cisalhamento direto na condição Catarina/UFSC, 182p.
inundada e não saturada que permitiram Pinto, Carlos de Sousa. (2006). Curso básico de
analisar a influência da sucção no valor da Mecânica dos solos em 16 aulas. 3ª Edição. São
resistência ao cisalhamento. Paulo: Oficina de Textos.
Apesar da limitação em termos de controle Rassam, D. W.; Cook, F (2002). Predicting the shear
strength envelope of unsaturated soils. Geotechnical
de sucção e da simplicidade do ensaio, foi Testing Journal, v. 25, p. 215-220.
possível perceber que há um aumento da Terzaghi, K (1936). The Shear Resistance of Saturated
resistência ao cisalhamento com o aumento da Soils. Proceeding International Conference Soils
sucção inicial do corpo de prova. Mechanics Foundation Engineering. Vol. 1, pp. 54-
Foi observado que este aumento de 56.
resistência define, no gráfico de resistência ao
cisalhamento em função da sucção, uma
envoltória de ruptura não linear. A taxa de
aumento da resistência ao cisalhamento passa a
diminuir com o aumento da sucção inicial dos
corpos de prova tendendo a se estabilizar para
sucções da ordem de 500 kPa. A partir deste
valor a sucção perde a sua eficácia no sentido
de aumentar a resistência ao cisalhamento.

AGRADECIMENTOS

Agradecer a Universidade Federal de Santa


Catarina pela formação e ao CNPQ pelo
investimento.

REFERÊNCIAS

ASTM - AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND


MATERIALS. D3080-04. (2004). Standard Test
Method for Direct Shear Test of Soils Under
Consolidated. United States, p. 30.
Campos, L.G. (2015). Variação Sazonal do Fator de
Segurança Global da Estabilidade de um Solo
Residual de Diabásio. Trabalho de Conclusão de
Curso apresentado à Universidade Federal de Santa
Catarina, p. 142.
Das, B. Sobhan, M.K. (2014). Principles of Geotechnical
Engineering. 8nd ed., Cengage Learning, Stamford,
CT, USA, 767p.
Fredlund, D. G.; Morgenstern, N. R.; Widner, R. A.
(1978). The shear strength of unsaturated soils.
Canadian Geotechnical journal, p. 313-321.
Massocco, N. S. (2017). Determinação dos parâmetros
geotécnicos de solos residuais com ênfase na
mecânica dos solos não saturados. Dissertação de
mestrado – Universidade Federal de Santa

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Análise da Ascensão Capilar de um Solo Arenoso
Jair Arrieta Baldovino
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, yaderbal@hotmail.com

Eclesielter Batista Moreira


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, eclesielter_ebm@hotmail.com

Alexandre Cardoso
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, alexandrecardosomj@gmail.com

Juliana Mazzarolo
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, julianar@alunos.utfpr.edu.br

Ronaldo Luis dos Santos Izzo


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, izzo@utfpr.edu.br

RESUMO: A ascensão capilar é um fenômeno que descreve o movimento da água dos poros do solo,
de uma cota inferior para uma cota superior, dirigida pelo gradiente da carga hidráulica e através da
interface entre ar e água. O presente artigo tem como objetivo avaliar o comportamento da ascensão
capilar de um solo arenoso e comparar os resultados com soluções analíticas existente. Parâmetros
como a porosidade, relação de vazios, umidade e tempo de ascenção capilar foram controlados
durante o ensaio. A areia teve uma altura máxima de ascensão capilar de 33,5 cm, e a permeabilidade
resultou como não saturada.

PALAVRAS-CHAVE: Ascensão capilar, porosidade, permeabilidade, areia.

1 INTRODUÇÃO e, quando contem trocas iônicas, a água capilar


pode resultar em danos ao concreto e aço das
O fenômeno de ascensão capilar é de grande fundações de edificações.
importância na engenharia geotécnica, sobretudo Duas soluções analiticas para estimar o tempo
nas fundações superficiais, visto que o mesmo de ascensão capilar da água pelos poros do solo
pode alterar algumas propriedades mecânicas foram propostas por Terzaghi (1943) e por Lu e
dos solos pelas mudanças de pressões e carga Likos (2004) as quais são descritas
hidraúlica. posteriormente.
A ascensão capilar também é de grande
1.1 Solução Analítica de Terzaghi
importância na agricultura, por que é um
potencial de água adicional que as plantas podem Terzaghi (1943) calcula o tempo de ascensão
dispor para sua nutrição. Além disso, pode capilar baseado na lei de Darcy e em função da
conduzir a seiva em plantas e trazer a lixiviação altura de uma coluna de solo e a condutividade
de aterro novamente à superfície (Liu et al., hidráulica saturada deste solo.
2014). Observa-se na Figura 1 o modelo conceitual
É um efeito que pode contribuir com o para a ascensão capilar em solos, definindo o
adensamento de solos que suportam edificacões, fenômeno como uma relação direta entre a

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


sucção e o grau de saturação, isto é, a ascensão Șhc hc z
capilar está diretamente relacionada à curva t= ൬ln - ൰ (3)
ks hc -z hc
característica de sucção do solo.
1.2 Solução analítica de Lu e Likos

Lu e Likos (2004) desenvolveram uma solução


do tempo de ascensão capilar baseada na
Altura de sucção equação de Terzaghi (1943). Os autores
consideraram o coeficiente de permeabilidade
como não linear a partir do ponto em que o solo
hc deixa de ser saturado e entra na zona de
umedecimento. O coeficiente de permeabilidade
não linear (k) foi descrito por Gardner (1958)
Z como uma função dependente do ks, da altura de
ha
WT
sucção (h) e da taxa de redução da condutividade
hidráulica com a diminuição da frente de sucção
Saturação
(Į) (Equação 4).

k=ks exp (-Įh) (4)


Figura 1. Modelo conceitual para ascensão capilar em
solos O parâmetro Į é proporcional à distribuição
de tamanho de poros, e é definido como o
Neste estudo, Terzaghi assumiu duas
inverso da altura de saturação (ha), ou altura de
hipóteses: que a lei de Darcy para solo saturado
entrada de ar (Į = 1/ha), e está entre 1 cm-1 até
também é aplicável para solo não-saturado, e que
0,001 cm-1. Considerando as Equações 3 e 4, a
o gradiente hidráulico (i), responsável pela
equação da ascensão capilar definida por Lu e
ascensão capilar, pode ser descrito da seguinte
Likos (2004) é (Equação 5).
forma (Equação 1):
dz ks hc
hc -z = expሺ-Įhሻ (5)
i=  (1) dt Ș hc -z
z

Onde hc é a altura máxima de ascensão A solução da Equação 5 é a proposta para a


capilar; z é a altura de água acima do nível da determinação do tempo de ascensão capilar
água. (Equação 6).
Aplicando-se a lei de Darcy na Equação 1 e
m=’ j
derivando-a em função da velocidade de Ș Įj hc hc S zj+1-S
saturação, tem-se (Equação 2): t= ෍ ቌhc j+1 ln -෍ ቍ (6)
ks j! hc -z j+1-S
j=0 S=0
dz (hc -z)
Ș = ks (2)
dt z Segundo Lu e Likos (2004), se na Equação 6
a não linearidade for considerada na
Onde Ș é a porosidade do material, dt e dz são condutividade hidraúlica e ajustando o indice de
as diferenças do tempo e da altura, série m=0, então a equação se reduz à Equação 3
respectivamente, e ks é o coeficiente de original de Terzaghi. Entretanto, Lu e Likos
permeabilidade do solo saturado. indicaram que a solução converge para uma
Considerando a condição de contorno z igual ampla gama de tipos de solo quando se ajusta m
a zero, quando t também é zero, a solução da igual a 10. Assim, o presente trabalho tem como
equação 2 resulta em: objetivo avaliar o comportamento da ascensão
capilar em um solo arenoso e comparar os
resultados experimentais com as soluções

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



analíticas de Terzaghi e de Lu e Likos. (vibração) em um tubo cilíndrico de acrílico
transparente, em 6 camadas contínuas de 10 cm
cada, até alcançar uma porosidade (Ș) uniforme,
2 MATERIAIS para a areia, de 40% (correspondente a uma
relação de vazios e=0,66) e, posteriormente, o
2.1 Solo tubo foi colocado sobre uma bandeja com água
destilada à altura e temperatura constante
O solo usado na presente pesquisa foi uma areia durante todo o ensaio (Figura 2). A massa
da região metropolitana da cidade de específica e a porosidade da areia compactada no
Curitiba/PR, Brasil. Foi usado a fração de areia tubo foram calculadas antes do início do ensaio.
passante na peneira nº 40 e retida na peneira nº
100, onde o peneiramento foi realizado com
5cm
lavagem e posteriormente foi realizada a
secagem da areia em estufa a 100 ± 5°C durante
24 horas.

2.1 Água

A água empregada tanto para os ensaios de


caracterização do solo, permeabilidade e Ar ei a
ascensão capilar, foi destilada, conforme as 6 0 cm
especificações das normas, sendo esta livre de
impurezas, evitando reações não desejadas.

3 METODOLOGIA Pedr a por osa


+pap el f i l t r o
3.1 Ensaio de caracterização

Foi realizado o ensaio da massa específica real


dos grãos (Gs) da areia, conforme a norma D854
(ASTM, 2014).
Figura 2. Ensaio de ascensão capilar da areia
3.2 Ensaio de permeabilidade

O ensaio de permeabilidade procedeu-se com Foram realizadas leituras da altura de


carga constante sobre a areia para obter o ascensão capilar de tempos em tempos, sendo
coeficiente de conductividade hidraúlica que no início com uma maior frequência e depois
saturado (ks). O procedimento foi realizado em tempos mais espaçados. O ensaio foi
conforme a norma D2434-68 (ASTM, 2015). Foi finalizado quando a água alcançou uma altura
moldado um corpo de prova dentro de um constante.
permeâmetro de 5 cm de diâmetro e 10 cm de Após o término das leituras de ascensão, a
altura, de modo que a areia ficasse o mais areia foi extraído do tubo e foram coletadas
homogênea possível e assegurando uma amostras a cada 3 a 10 cm, para a determinação
porosidade Ș=40%. da umidade ao longo do tubo.

3.2 Ensaio de ascensão capilar


4 RESULTADOS
Após sua coleta, a areia utilizada foi colocado
4.1 Massa específica real dos grãos
em uma estufa à temperatura constante por um
período de 24 h. O solo seco foi compactado
A massa específica real dos grãos da areia

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



estudada conforme a norma foi de 2,688 g/cm3. Os resultados dos ensaios de caracterização
foram, Gs=2,688 g/cm³, ks=1,53x10-2 cm/s e
4.3 Coeficiente de permeabilidade saturado Ș=40% os mesmos foram inseridos na Equação
3 para obter a curva de ascensão capilar teórica
O coeficiente de permeabilidade saturado obtido do solo, de acordo com a teoria de Terzaghi.
através de ensaios de laboratório para uma Depois de realizado o ensaio de ascensão no
porosidade de 40% da areia foi de ks=1,53x10-2 tubo, foi retirado o solo a cada 3-10 cm para
cm/s. determinar o teor de umidade, o grau de
saturação e traçar os gráficos de hc dependentes
4.3 Ascensão capilar destes. A Figura 5 e Figura 6 mostram a variação
da altura de ascensão capilar com o teor de
A Figura 3 mostra os resultados experimentais umidade e saturação, repectivamente.
obtidos no ensaio de ascensão capilar. Nota-se
que a areia alcançou uma altura máxima de 40
ascensão hc de 33,5 cm em 2,2 dias. Em 2,5 horas
a água capilar subiu até 30 cm e em 24 horas 33 35

cm. 30

Ascensão capilar (cm)


40 25
35
20
30
Ascensão capilar (cm)

25 15

20 10
15
5
10
EXPERIMENTAL 0
5
0 5 10 15 20 25 30 35
0
Teor de umidae (%)
0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10
Tempo (dias)
Figura 3. Resultados experimentais da ascensão capilar Figura 5. Variação da umidade com a altura de ascensão
da areia capilar

Nas Figuras se pode ver que a água satura


A Figura 4 apresenta a comparação entre a a areia até 17 cm (ha=17 cm).
curva de ascensão experimental e a curva teórica 40
de Terzahi, é possível ver que a curva teórica se 35
aproxima dos pontos experimentais (R2=0,76).
30
Ascensão capilar (cm)

40
25
35
20
Ascensão capilar (cm)

30
(R2=0,76)
25 15
20 10
15
5
10
EXPERIMENTAL
5 0
TERZAGHI (1943) 0 20 40 60 80 100
0 Saturação (%)
0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10
Tempo (dias)
Figura 6. Variação do grau de saturação com a altura de
Figura 4. Comparação dos resultados experimentais da
ascensão capilar
ascensão com a solução de Terzaghi

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Esse valor se converte na altura ha. Com x As soluções analíticas de ascensão capilar
a finalidade de calcular a curva de ascensão podem ser empregadas em areias e sua
teorica de Lu e Likos precisa-se calcular o utilização na engenharia geotécnica, bem
parâmetro Į=1/ha. Assim, Į=1/17=0,0588. como, em solos para agricultura.
Os valores de Į, ks, ha, hc, e Ș foram aplicados
na Equação 6 e calculado o tempo em dias para
diferentes alturas de ascensão (Z). A Figura 7 AGRADECIMENTOS
mostra a curva de ascensão teórica de Lu e Likos
para a areia estudada junto com a curva de Os autores demostram agradecimento ao
ascensão teórica de Terzaghi e os pontos Programa de Pós-graduação em Engenharia
experimentais. Civil da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná (PPGEC/UTFPR), ao suporte financeiro
40 da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
35 de Nível Superior (CAPES), Fundação
30 (R2=0,76) Araucária do Paraná e ao CNPq.
Capillary Rise (cm)

25 (R2=0,97)

20
REFERÊNCIAS
15
EXPERIMENTAL
10 ASTM, 2015. D 2434 – 68: standard test method for
TERZAGHI (1943)
5 permeability of granular soils (constant head).
LU E LIKOS (2004) ASTM Stand. Guid. 1–5.
0 ASTM, 2014. D854: standard test methods for specific
0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10 100
gravity of soil solids by water pycnometer. ASTM
Tempo (days) Stand. Guid. 1–8.
Gardner, W.R., (1958). Some steady-state solutions of the
unsaturated moisture flow equation with application
Figura 7. Comparação entre os dados experimetais, to evaporation from a water table. Soil Sci. 85, 228–
solução de Terzaghi e solução de Lu e Likos 232.
Liu, Q., Yasufuku, N., Miao, J., & Ren, J. (2014). An
approach for quick estimation of maximum height of
A solução de Lu e Likos considera o capillary rise.Soils and Foundations,54(6), 1241-
coeficiente de permeabilidade não saturado 1245.
depois da altura ha, visto que a curva proposta por Lu, N., Likos, W.J., (2004). Rate of capillary rise in soils.
eles teve um melhor ajuste em relação aos pontos J. Geotech. Geoenvironmental Eng. 130, 646–650.
Terzaghi, K., (1943). Theoretical soil mechanics. John
experimentais (R2=0,97). Wiley and Sons, New York.

5 CONCLUSÕES

Dos resultados obtidos na presente pesquisa se


pode concluir que:
x As soluções analíticas propostas por
Terzaghi e Lu e Likos tiveram um
comportamento quase semelhante ao
comportamento da ascensão capilar da
areia estudada.
x A curva teórica de Lu e Likos usada nesta
pesquisa teve melhor ajuste aos pontos
experimentais da ascensão da areia por que
considera um coeficiente de
permeabilidade não saturado quando água
capilar ultrapassa a altura de saturação.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Avaliação dos Critérios de Identificação de Solos Colapsíveis no
Centro-Oeste
Alexia Regine Costa Silva
Universidade Estadual de Goiás, Anápolis, Brasil, alexiaregine2@gmail.com

Sabrina Marques Rodrigues


Universidade Estadual de Goiás, Anápolis, Brasil, sabrinamarques02@hotmail.com

Renato Cabral Guimarães


Furnas e UEG, Goiânia, Brasil, renatocg@furnas.com.br e renato.guimaraes@ueg.br

José Camapum de Carvalho


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

Manuel Porfírio Cordão Neto


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, porfirio@unb.br

RESUMO: Os solos colapsíveis cobrem grande parte do território nacional, sobretudo nas regiões
Centro-Sul e Centro-Oeste do país, e são muitas vezes, a causa de sérios danos ocorridos em
edificações, barragens e diversos outros tipos de obras. O presente trabalho visa contribuir ao
estudo de identificação de solos colapsíveis, analisando critérios que empregam ensaios
oedométricos e critérios baseados em propostas que relacionam a colapsividade do solo com suas
características geotécnicas. A pesquisa envolveu a realização de ensaios de caracterização e
oedométricos em amostras de solo retiradas de um perfil de solo do Distrito Federal. Os resultados
obtidos mostram que os critérios baseados nos ensaios de caracterização devem ser utilizados com
cautela, visto que alguns destes não apresentam resultados coerentes quando comparados com as
medidas diretas de colapso, obtidas pelo ensaio oedométrico e com a análise da sucção.

PALAVRAS-CHAVE: Colapso, Ensaios de Laboratório, Solos Porosos.

1 INTRODUÇÃO Gutierrez (2005) salienta que os solos


colapsíveis são encontrados principalmente nas
Alguns solos não saturados, quando regiões de clima tropical onde os processos
umedecidos, apresentam significativa redução pedogenéticos atuam intensamente,
de volume, ocasionando uma espécie de transformando ao longo do tempo as
desmoronamento de sua estrutura, fenômeno propriedades químicas, físicas e mecânicas do
denominado de colapso. solo.
Solos colapsíveis apresentam, em condição Este trabalho é uma continuação dos estudos
natural, uma estrutura porosa caracterizada por realizados por Guimarães et al. (2002), e tem
elevado índice de vazio e baixo teor de por objetivo avaliar os resultados de ensaios
umidade, geralmente associada a um agente oedométricos e critérios baseados em ensaios de
cimentante (óxidos ou hidróxidos de ferro e de laboratório, usados na identificação de solos
alumínio e carbonatos). colapsíveis.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


2 CRITÉRIOS DE IDENTIFICAÇÃO DE porosos metaestaveis, tal como o encontrado no
SOLOS COLAPSÍVEIS Distrito Federal.
Assim sendo, o colapso estrutural pode ser
2.1 Critérios Baseados em Ensaios definido como a deformação ocorrida pelo solo
Oedométricos em um trecho inicial, no qual ocorre a quase
totalidade das deformações.
Apesar de apresentar algumas limitações quanto Segundo Vargas (1977), os solos que
à identificação de fatores que influenciam apresentam um potencial de colapso maior que
diretamente no comportamento do solo (tais 2%, podem ser identificados como colapsíveis.
como: a sucção do solo e sua variação, o
histórico de tensões), tal metodologia tem se 2.2 Critérios Baseados em Índices Físicos e
destacado por sua simplicidade e por permitir Ensaios de Caracterização
uma avaliação quantitativa do colapso, ao
contrário dos métodos expeditos (FUTAI e A grande maioria dos estudos sobre solos
ALMEIDA, 1998). colapsíveis são realizados utilizando-se ensaios
Jennings e Knight (1957 e 1975 apud oedométricos e ensaios de campo.
PEIXOTO, 1999), propõem, respectivamente, a Muitas vezes são necessárias ferramentas
utilização dos ensaios duplo ou simples mais expeditas de identificação da possível
oedométrico para identificação de solos ocorrência de colapsividade de um solo, como
colapsíveis. O ensaio oedométrico duplo no caso de mapeamento geotécnico de grandes
consiste na realização de dois ensaios áreas. Ao se utilizar esses métodos expeditos,
oedométricos com os mesmos estágios de há um aumento do potencial de previsão de
carregamento, sendo um executado na condição comportamento dos solos com menor custo para
de umidade natural e outro previamente realização dos ensaios.
saturado. Em contrapartida, a técnica de ensaio Devido à facilidade com que os ensaios de
oedométrico simples prevê a realização de caracterização podem ser executados, existem
apenas um ensaio convencional até um diversas propostas que correlacionam o
determinado valor de tensão, no qual, inunda-se potencial de colapso dos solos com suas
a amostra. características geotécnicas, tais como índices
Ao utilizar ensaios oedométricos duplos, físicos, granulometria e limites de consistência.
muitas vezes tem-se a necessidade de ajustar as Estes métodos oferecem apenas informações
curvas de índice de vazios vs logaritmo da qualitativas, não levando em conta o efeito das
tensão, de modo a coincidir o valor do índice de tensões aplicadas, a natureza do contato entre os
vazios inicial da amostra saturada e natural. grãos, tipo de cimentação, química do líquido
Dentre as diversas propostas descritas na inundante, dentro outros parâmetros. Eles não
literatura, destaca-se a utilização da curva de mensuram, nem quantificam o quanto de
deformação específica vs logaritmo da tensão colapso possa ocorrer em dada situação, apenas
de consolidação para se estimar a magnitude do indicam alguma característica colapsível que
colapso por inundação, conforme descrito por um solo possa apresentar.
Mendonça (1990). Com isto, este parâmetro, Esses critérios foram formulados a partir de
denominado potencial de colapso, pode ser dados e propriedades geotécnicas dos solos de
determinado pela diferença entre as ordenadas determinadas regiões, sendo que a extrapolação
das curvas de deformação dos ensaios inundado dos critérios para solos diferentes dos locais
e natural. analisados não é confiável.
Estudos de Camapum de Carvalho et al. Portanto, a aplicação destes métodos deve
(1994) mostram que estes ensaios possibilitam ser feita com cautela, sendo indicado para
ainda a determinação do colapso estrutural (ic), utilização em análises preliminares.
estabelecido como o colapso ocorrido com um A Tabela 1 apresenta alguns desses critérios,
simples aumento das tensão aplicadas. Tal citados por Araki, (1997), Benatti (2010), Aydat
fenômeno apresenta grande ocorrência em solos e Hanna (2011) e Vilar e Rodrigues (2015).

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Tabela 1. Critérios de Identificação de Colapso Baseados poros mais homogênea, constituindo o
em Índices Físicos e Ensaios de Compactação. horizonte de transição, pouco intemperizado, e
Método Expressão Limites posteriormente o solo saprolítico, que se inicia
Jw Jw aproximadamente a 10 m de profundidade.
Gibbs e Bara -
J Js R > 1, colapsível Para a coleta das amostras, realizou-se um
(1962) R= d
WL poço com 12 m de profundidade, retirando as
W Se S0 d 60% e
amostras (indeformadas e deformadas) nas
൬ S 0 ൰ - WP
Feda (1966) Kl= 0 Kl > 0,85, o solo é profundidades de 2, 4, 6, 8, 10 e 12 m.
IP
colapsível. O material coletado foi encaminhado para
Kd < 0, altamente análise nos Laboratórios de FURNAS,
Priklonskij WL - W0 colapsível; localizados em Aparecida de Goiânia - GO.
Kd=
(1952) WL - WP Kd > 0,5, colapsível; Foram realizados ensaios caracterização (massa
Kd > 1, expansivo. específica dos grãos, limites de consistência e
Jd < 12,8 KN/m3 (a) Sujeito a grandes granulometria) e ensaios de compactação.
Clevenguer (a) recalques Para identificação direta do colapso do solo,
(1958) Jd > 14,4 KN/m3 (b) Sujeito a menores foram realizados ensaios duplo oedométricos
(b) recalques
Vilar e
com carregamentos de 6,25, 12,5, 25, 50, 100,
GCN < 90 %, 200, 400, 800, 1600, 3200, 1600, 400, 100 e
Rodrigues GCN
colapsível 25 kPa, sendo um dos ensaios inundado na
(2007)
tensão de 6,25 kPa.
(a) Solos colapsíveis,
GC ” 90-0,6˜¨w com teor de umidade Foi adotado o critério proposto por Vargas
Vilar e (1977) para se identificar a ocorrência de
(a) abaixo da ótima;
Rodrigues
(2015) GC ” 90-1,8˜¨w (b) Solos colapsíveis, colapso por inundação e estrutural. Sendo o
(b) com teor de umidade colapso estrutural determinado para os 15
acima da ótima.
segundos decorridos imediatamente após o
Jd: peso específico aparente seco; Jw: peso específico da carregamento.
água; Js: peso específico dos grãos; wL: limite de liquidez;
w0: umidade natural; wP: limite de plasticidade; S0: grau
de saturação no estado natural; IP: índice de plasticidade;
GCN: grau de compactação natural do solo; ¨w: desvio de
4 RESULTADOS
umidade em relação à ótima.
Os resultados dos ensaios de caracterização e
compactação estão apresentados na Tabela 2.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Tabela 2. Caracterização do Solo do Campo
Experimental de Geotecnia da UnB.
As análises deste trabalho foram realizadas com
Profundidade (m)
solo residual coletado no Campo Experimental Índices
do Programa de Pós-Graduação em Geotecnia Físicos 2 4 6 8 10 12
da Universidade de Brasília que se situa no Js
26,80 26,59 26,72 26,56 27,31 27,25
Campus Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília-DF. (kN/m3)
O local do solo estudado constitui um típico Jd
9,88 10,78 11,31 12,48 14,34 13,97
perfil de intemperismo. Segundo Guimarães (kN/m3)
(2002) o subsolo do campo experimental da e 1,71 1,47 1,36 1,13 0,91 0,95
UnB pode ser dividido em uma camada de areia wL (%) 48 57 55 54 42 38
argilo-siltosa até 3,5 m com alto índice de wP (%) 31 32 33 31 19 19
vazios, macroporos e muitos agregados, seguida IP (%) 17 25 22 23 23 19
por uma camada de argila areno-siltosa até
8,5 m com índice de vazio decrescente e Sr (%) 34,6 52,0 58,2 60,0 80,6 81,5
macroporosidade menor em relação a camada w0 (%) 21,7 28,1 29,1 25,0 26,2 27,9
superior, essas duas camadas representam o Jdmáx
15,77 15,59 14,99 15,53 15,38 15,35
horizonte laterítico. A partir de 8,5 m o solo (kN/m3)
assume textura mais siltosa, com distribuição de wótima 20,6 22,0 23,0 24,5 24,2 24,0

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



A Figura 1 apresenta um dos resultados reflexo do grau de intemperismo, sendo a
obtidos pelos ensaios oedométricos duplos, para cimentação maior em solos mais
a profundidade de 2 metros. intemperizados.
Analisando a microestrutura desse perfil de
Tensão (kPa) solo, verificou-se de forma geral que o
1 10 100 1000 10000
0 intemperismo conduz a uma estrutura porosa,
de forma que a característica macroporosa da
10
microestrutura é tanto mais acentuada quanto
Deformação Específica (%)

20 mais superficial for o solo.


30
Essa estrutura porosa associada à
cimentação, atuando conjuntamente a sucção,
40
proporciona ao solo uma resistência temporária,
50 porém suscetível ao colapso ao ser inundado
60
sob aplicação de uma sobrecarga.
Na Tabela 3 são apresentadas as
70
Inundado Natural
deformações ocorridas nos 15 primeiros
Figura 1. Curva Oedométrica para Profundidade de 2 m.
segundos (ic) dos ensaios para os
carregamentos de 12,5 a 200 kPa
A Figura 2 apresenta a variação do potencial (representando carregamentos típicos de obras
de colapso (diferença entre o ensaio natural e no Centro-Oeste) para os ensaios realizados
inundado) devido à inundação em função da para esse trabalho (ano 2017) e os obtidos por
tensão de consolidação, onde observa-se que o Guimarães (2002) e os valores de sucção
solo estudado apresenta uma maior utilizando as equações propostas por Guimarães
suscetibilidade ao colapso nas camadas mais (2002) para o mesmo perfil de solo.
superficiais, isto é, até 4 metros de Observando os valores apresentados na
profundidade. Não foram apresentados os Figura 2 e Tabela 3, verifica-se que as amostras
resultados das profundidades de 10 e 12 metros, de 2 e 4 m apresentam potencial de colapso
por apresentarem um comportamento influenciado pela sucção e estrutura. Maiores
expansivo. sucções implicam em maiores carregamentos
para provocar a quebra. A partir de 200 kPa a
12 sucção começa a diminuir a influência e a
10 estrutura passa a ser o principal componente.
Para as demais profundidades (6 e 8 m),
Potencial de Colapso (%)

8
6 observa-se um crescente aumento na resistência
4 da estrutura, com a diminuição do índice de
2 vazios. Não foi possível verificar a influência
0 da sucção para a amostra de 6 m, visto que em
-2 todos os ensaios a sucção inicial estava baixa.
-4
Guimarães (2002) observou colapso para
-6
1 10 100 1000 10000
inundação de 200 kPa para amostra de 8 m, em
Tensão (kPa) função da alta sucção inicial da amostra.
2m 4m 6m 8m
Os resultados apresentados na Tabela 3,
demostram que o colapso do solo estudado é
Figura 2. Variação do Potencial de Colapso em Função influenciado por três principais fatores: a
da Tensão de Consolidação. estrutura, o estado de tensões e a sucção,
conforme já exposto por Guimarães et al.
Em análises mineralógicas desses solos, (2002).
observa-se a abundância de óxidos e hidróxidos A Tabela 4 apresenta os resultados da
de ferro e alumínio nos horizontes superficiais, aplicação dos métodos expeditos no perfil de
que atuam na agregação e cimentação. De solo estudado.
acordo com Cardoso (1995) a cimentação é

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Tabela 3. Variação da Sucção e Deformação em Função dos Carregamentos do Ensaio Oedométrico Durante os
Primeiros 15 Segundos.
Sucção Ic (%) nas Tensão de Consolidação (kPa)
Profundidade w0 Srinicial
Ano e0 Inicial
(m) (%) (%) 12,5 25 50 100 200
(kPa)
2 2002 1,69 29,2 47,1 10 0,2 0,3 4,1 6,8 7,8
Inundado 2017 1,52 21,7 38,9 91 0,6 1,0 2,2 3,7 5,4
2 2002 1,71 27,5 43,8 15 0,6 1,1 2,3 4,1 7,9
Natural 2017 1,71 21,7 34,6 145 0,1 0,1 0,2 2,0 5,4
4 2002 1,37 25,6 49,3 90 0,1 0,7 1,3 4,1 5,8
Inundado 2017 1,52 28,0 49,9 41 0,1 0,2 2,3 5,6 6,3
4 2002 1,38 25,2 48,4 112 0,8 1,4 2,4 5,3 6,7
Natural 2017 1,47 28,1 52,0 32 0,2 0,1 0,6 2,3 4,7
6 2002 1,20 26,8 58,8 46 0,0 0,3 0,7 1,4 3,1
Inundado 2017 1,26 29,0 62,6 20 0,1 0,2 0,6 1,5 3,0
6 2002 1,11 27,0 63,6 35 0,1 0,2 0,2 0,7 1,4
Natural 2017 1,36 29,1 58,2 24 0,1 0,4 0,8 1,2 2,3
8 2002 0,91 18,0 52,7 1260 0,0 0,2 0,3 0,5 0,9
Inundado 2017 1,00 24,1 64,9 78 0,1 0,1 0,2 0,6 1,4
8 2002 0,96 17,3 48,1 1990 0,3 0,2 0,3 0,4 0,8
Natural 2017 1,13 25,0 60,0 398 0,1 0,1 0,2 0,5 1,8

Tabela 4. Resultados Obtidos Utilizando os Critérios Baseados em Índices Físicos e Ensaios de Caracterização.
Vilar e Vilar e
Profundidade Gibbs e Bara Clevenguer
Priklonskij (1952) Feda (1966) Rodrigues Rodrigues
(m) (1962) (1958)
(2007) (2015)
Não Colapsível Grande
2 Colapsível Colapsível Colapsível Colapsível
Expansivo recalque
Não Colapsível Grande
4 Colapsível Colapsível Colapsível Colapsível
Expansivo recalque
Não Colapsível Não Não Grande
6 Colapsível Colapsível
Expansivo Colapsível Colapsível recalque
Não Colapsível Não Não Grande
8 Colapsível Colapsível
Expansivo Colapsível Colapsível recalque
Não Colapsível Não
10 - - Não Colapsível Não Colapsível
Expansivo Colapsível
Não Colapsível/ Não
12 - - Não Colapsível Não Colapsível
Expansivo Colapsível

Analisando a Tabela 4, verifica-se que o apresentaram resultados semelhantes entre si,


critério de Priklonskij (1952) se mostrou definindo o solo como colapsível até 8 metros.
completamente incongruente, ao indicar todo o Essa análise é válida para a profundidades de 6
perfil como solo não colapsível e ainda e 8 m dependendo do estado de tensões
expansivo. Araki (1997) e Guimarães et al. aplicado, não podendo ser aplicada em todos os
(2002) recomendam a não utilização deste casos.
critério para avaliação de solos da região
Centro-Oeste.
Os critérios de Gibbs e Bara (1962) e Feda 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
(1966) indicam que o solo pode ser identificado
como colapível até a profundidade de 4 metros. Com base nos resultados encontrados pode-se
Isto mostra certa compatibilidade com os concluir que o colapso do solo apresenta grande
resultados obtidos nos ensaios odométricos, influência da sucção para as camadas mais
sendo valido para tensões de até 100 kPa. superficiais (2 e 4 m) devido a sua
Os métodos propostos por Clevenguer macroestrutura porosa. No entanto, para
(1958), Vilar e Rodrigues (2007 e 2015) profundidades mais elevadas tal fenômeno está

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



associado à ocorrência de uma instabilização Aydat, T. e Hanna, A. M. (2011) Assessments of Soil
estrutural, ocasionada pelo acréscimo de Collapse Prediction Methods, International Journal of
Engineering, v. 25, n. 1, p. 19-26.
tensões. Benatti, J.C.B. (2010) Colapsibilidade com Sucção
Dependendo do carregamento aplicado e da Controlada de um Solo Coluvionar e Laterítico de
sucção do solo, mesmo para maiores Campinas/SP, Dissertação de Mestrado, Universidade
profundidades (6 a 8 m), a sucção pode Estadual de Campinas, Campinas, SP, 189 p.
influenciar. O colapso do solo analisado tem Camapum de Carvalho, J.; Mortari, D.; Araki, M.S.;
Palmeira, E. M. (1994) Aspectos Relativos a
influência da estrutura, do estado de tensões e Colasividade da Argila Porosa de Brasília, Distrito
da sucção. A partir de 10 m, em função do Federal, X Congresso Brasileiro de Mecânica dos
menor intemperismo e da composição Solos e Engenharia de Fundações, ABMS, Foz do
mineralógica, esse perfil não apresenta Iguaçu, 8 p.
potencial de colapso, apresentado expansão Cardoso, F.B.F. (1995) Análise Química, Mineralógica e
Micromorfológica de Solos Tropicais Colapsíveis e
para baixas tensões (até 25 kPa). Estudo da Dinâmica do Colapso, Dissertação de
O critério baseado nos limites de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em
consistência e umidade inicial (PRIKLONSKIJ, Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil e
1952) foi totalmente incoerente. Essa Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF,
incoerência está relacionada a microestrutura e 142 p
mineralogia dos solos tropicais que provocam Futai, M. M.; Almeida, M. S. S. (1998) Estimativas de
Colapso de Solos Através de Ensaios de Laboratório.
uma variação desses resultados quando XI Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
comparado aos solos temperados, onde o Engenharia Geotécnica, ABMS, Brasília, DF, 8 p.
método foi desenvolvido. Guimarães, R.C. (2002) Análise das Propriedades e
Os demais critérios, por representar uma Comportamento de um Perfil de Solo Laterítico
medida da densidade do solo in situ e Aplicada ao Estudo do Desempenho de Estacas
Escavadas, Dissertação de Mestrado, Publicação
estabelecer uma relação com as características G.DM – 091A/02, Departamento de Engenharia Civil
básicas que predispõem os solos ao colapso, tais e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF,
como a elevada a saturação/sucção, apresentam 183 p.
boas estimativas. No entanto, por não Guimarães, R.C.; Camapum de Carvalho, J.; Pereira, J.
considerarem o estado de tensões, podem H. F. (2002) Contribuição à Análise da Colapsividade
dos Solos Porosos do Distrito Federal, XII Congresso
falhar, principalmente para solos com Brasileiro de Mecênica dos Solos e Engenharia
porosidade abaixo de 55%. Geotécnica, São Paulo, SP, 8 p.
Gutierrez, N. H. M. (2005) Influências de Aspectos
Estruturais no Colapso de Solos do Norte do Pará,
AGRADECIMENTOS Tese de Doutorado, Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP,
311 p.
Os autores agradecem a Furnas Centrais Mendonça, M. B. D. (1990) Comportamento de Solos
Elétricas S.A. Este trabalho apresenta parte do Colapsíveis da Região de Bom Jesus da Lapa - Bahia,
estudo desenvolvido no Programa de P&D da Dissertação de Mestrado, COPPE/UFRJ, Rio de
ANEEL – projeto intitulado Metodologias e Janeiro, p. 286-289.
Peixoto, R. J. (1999) Aplicação de Modelos Construtivos
infraestrutura tecnológica para ampliação da na Avaliação do Comportamento Mecânico da Argila
confiabilidade e otimização de Porosa Colapsível do Distrito Federal. Dissertação de
empreendimentos de energia – código ANEEL Mestrado, Brasília, p. 22-29.
0394-1504/2015. Vargas, M. (1977) Introdução à Mecânica dos Solos. São
Paulo: MCgraw-Hill do Brasil, p. 286-289.
Vilar, O.M. e Rodrigues, R.A. (2007) Métodos Expeditos
para a Previsão da Resistência de Solos Não
REFERÊNCIAS Saturados e Identificação de Solos Colapsíveis, VI
Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados,
Araki, M.S. (1997) Aspectos Relativos às Propriedades Salvador, BH, v. II, p. 575-592.
dos Solos Porosos Colapsíveis do Distrito Federal, Vilar, O.M. e Rodrigues, R.A. (2015) Revisiting
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós- Classical Methods to Identify Collapsible Soils, Soils
Graduação em Geotecnia, Departamento de and Rocks, v. 38, p. 265-278.
Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
Brasília, Brasília, DF, 121 p.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Avaliação Geotécnica e Dimensionamento da Camada de Reforço
Sobre Solos Moles na Obra do Trevo de Triagem Norte, Em
Brasília/DF, Brasil
Rideci Farias, D. Sc.
UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

Haroldo Paranhos, M. Sc.


UCB / Reforsolo Engenharia / UniCEUB / IesPlan, Brasília, Brasil, reforsolo@gmail.com

Elson Oliveira de Almeida, Estudante em Engenharia Civil.


UniCEUB, Brasília, Brasil, elsu10@hotmail.com

Joyce Maria Lucas Silva


CONCREMAT, Brasília, Brasil, joyce.civil@gmail.com

Hellen Evenyn Fonseca da Silva, Estudante de Engenharia Civil


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, hevenyn1@gmail.com

Lucas Inácio da Silva, Estudante de Engenharia Civil


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, lucas.11.inacio@gmail.com

RESUMO: O aumento da frota de veículos faz com que a Engenharia seja dinâmica em soluções para
escoamento do tráfego. Em Brasília, Distrito Federal, não é diferente. A cidade foi projetada para 500
mil habitantes, e atualmente, na região metropolitana, circulam próximo de 3 milhões. O crescimento
da cidade para a região norte, fez com que se projetasse um complexo rodoviário denominado de
“Trevo de Triagem Norte” (TTN), composto por viadutos, acessos rodoviários, criação de novas
faixas de rolamento e a duplicação da ponte do Bragueto sobre o lago Paranoá, dando acesso à BR-
020, como solução aos constantes congestionamentos. No contexto geopedológico, na região, há
trechos com solos hidromórficos e nível d’água aflorante em algumas épocas do ano. Em termos
geotécnicos, esses solos costumam ser moles. Assim sendo, este trabalho apresenta a avaliação
geotécnica de uma região, mas também o dimensionamento da camada de reforço sobre os solos
moles a fim de evitar patologias futuras.

PALAVRAS-CHAVE: Dimensionamento, Reforço, Solos Moles, Trevo de Triagem Norte.

1 INTRODUÇÃO Palheta "in situ" (Vane Test), de acordo com a


NBR 10905 da ABNT (MB-3122 de outubro de
Este Artigo apresenta os resultados e análises de 1989), e do Penetrômetro Dinâmico Leve (DPL)
estudos geotécnicos realizados em vias de de acordo com recomendações da DIN 4094 e
acesso, em construção, na Obra do “Trevo de ISSMFE, de 1989.
Triagem Norte” (TTN), em Brasília/DF, com Os estudos consistiram na execução de um
vistas à determinação de resistências de solos por programa de “Investigações Geotécnicas de
meio de ensaios Standard Penetration Test (SPT) Campo” objetivando a avaliação das resistências
conforme ABNT NBR 6484: 2001, ensaios de dos solos, tendo em vista que fatores

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


geométricos como vias laterais existentes e a A Figura 4 mostra a área em que foram
falta de cota para o lançamento das águas de realizados os ensaios de sondagens SPT, Vane
drenagem profunda inibiram as técnicas Test, trado e DPL para determinação das
tradicionais de remoção total de solos moles, resistências dos solos. Área compreendida entre
evitando assim a utilização de rebaixamento as vias 2LW e 1WL.
provisório e escoramentos das escavações. Com
isso, foi dimensionada uma camada estruturante
para o reforço do subleito, por meio do
agulhamento do solo mole, sem a necessidade
dos drenos longitudinais.

2 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO E


DE EXECUÇÃO DOS ENSAIOS
Figura 4. Área em destaque onde foram realizados os
As Figuras 1 a 3, retiradas do Google Earth em ensaios de sondagens SPT, “Vane Test” e DPL para
30 de julho de 2017, mostram visões determinação das resistências dos solos.
aproximadas da área de execução dos estudos.
Os estudos foram realizados em uma região
com presença de solos moles na obra em
implantação (Tabela 1). Nos locais onde a obra
já tinha sido implantada, procurou-se avaliar o
terreno natural lindeiro, de forma a identificar
resquícios de horizontes típicos de solos de baixa
capacidade de suporte, adjacente aos aterros
implantados.

Tabela 1. Locais de estudo de solos moles.


Figura 1. Visão macro da área de estudo (Brasília / DF – Denominação Trechodesolomole
Fasedaobra
Obra do TTN). Trecho Ponto Estacasondada Lado
1 0+440,00 BORDODIREITO Emimplantação

2LW 2 0+520,00 BORDODIREITO Emimplantação

4 0+720,00 BORDODIREITO Emimplantação

3 0+680,00 BORDOESQUERDO Emimplantação

5 0+380,00 BORDOESQUERDO Emimplantação


1WL
6 0+220,00 BORDODIREITO Emimplantação

7 1+0,00 BORDODIREITO Emimplantação

Nos locais com dificuldades de penetração


Figura 2. Visão macro da área de estudo (Brasília / DF – dos equipamentos, por presença de camada
Obra do TTN). superficial endurecida, existência de aterro
compactado, presença de interferências, entre
outras, foram feitas as realocações dos furos
entre um raio de 2,0 metros dos pontos
georreferenciados. Os trabalhos de campo foram
realizados em janeiro de 2017.

3 ESCOPO DOS SERVIÇOS

Figura 3. Visão micro da área de estudo (Brasília / DF – Inicialmente, os trabalhos foram conduzidos
Obra do TTN).

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no escritório, com a avaliação dos resultados das resultados com os perfis de resistência dos
sondagens SPT realizadas na área em questão, pontos estudados pelo: “Vane-Test”, Trado, SPT
em dezembro de 2016. Subsidiado nessas e os resultados obtidos pelo DPL.
sondagens, realizou-se a incursão a campo, em
23/01/2017, para o reconhecimento da área e
posteriormente para a realização das sondagens 4 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE
Vane Test, DPL, Trado e coleta de amostras SOLOS MOLES
deformadas e indeformadas, estas por meio de
Shelby, para a avaliação do maciço terroso. As Em geral, são considerados Solos Moles, os
Figuras 4 a 6 mostram algumas das atividades materiais de alta plasticidade, em alguns casos
desenvolvidas em campo. ricos em matéria orgânica, com Nspt < 4. São os
depósitos de solos orgânicos, turfas, areias muito
fofas ou solos hidromórficos, em geral passíveis
de ocorrerem nos locais a seguir indicados:
a) zonas baixas alagadiças;
b) mangues e brejos;
c) várzeas de rios de baixo gradiente
hidráulico;
d) antigos leitos de cursos d’água;
e) planícies de sedimentação marinha ou
lacustre.
Figura 4. Execução de sondagem a trado.
De acordo com a Companhia Brasileira de
Trens Urbanos (CBTU), os solos moles são
aqueles compostos de materiais muito
compressíveis impróprios para suporte de
fundações de aterro, salvo nos casos em que se
adotarem soluções especiais tais como, berma de
equilíbrio, drenos verticais, construção lenta do
aterro, etc. Dentre os solos moles, destaca-se o
seguinte:
a) Argilas quase sempre, mas não
necessariamente orgânicas, apresentando
consistência mole a muito mole (SPT ” 2),
Figura 5. Execução de sondagem DPL. coesão aparente em geral menor do que 1,50
t/m², umidade natural caracteristicamente mais
elevada do que o limite de liquidez, ou muito
próximo deste, índice de plasticidade muito
elevado (em geral superior a 25%) e baixa
permeabilidade (k = 10-6 a k = 10-8 cm/s). De
modo geral, estas argilas estão saturadas ou
próximas da umidade de saturação e ocorrem,
quase sempre, inundadas ou com o nível do
lençol freático próximo da superfície.
b) Turfas de vários tipos, comumente
Figura 6. Retirada de amostra com Shelby.
construídas por matéria orgânica em estado não
coloidal apresentando maior ou menor
A seguir, são feitas breves considerações
quantidade de remanescentes de restos vegetais,
sobre solos moles (Item 4), a respeito de aterros
parcial ou completamente carbonizados. Em
(Item 5), mas também sobre consistência das
geral, as turfas são bastante permeáveis (k>10 -4
argilas (Item 6).
cm/s), de baixa densidade, sendo também muito
Após isso, apresenta-se a avaliação dos

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compressíveis. Um aspecto muito importante a Tabela 2. Consistência das argilas em função da resistência
ser considerado, é que as turfas podem não se à compressão.
Consistência Resistência, em kPa
apresentar moles, em seu estado atual de
Muito mole < 25
umidade, adquirindo essa característica, ao Mole 25 a 50
serem molhadas. Média 50 a 100
Rija 100 a 200
Muito rija 200 a 400
5 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE Dura > 400
ATERROS (DNER-PRO 381/98)

De uma forma geral os aterros rodoviários são 7 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS
classificados em três classes (Classe I, II e III), SONDAGENS EXECUTADAS
conforme as seguintes características:
• Classe I: enquadram-se nesta classe os Os solos moles foram classificados de acordo
aterros junto a estruturas rígidas, tal como os com a Tabela 3, que relaciona diversas
encontros de pontes e viadutos e demais consistências com às penetrações do SPT
interseções, bem como aterros próximos a (Sondagem a Percussão), às penetrações do PDL
estruturas sensíveis como oleodutos. A extensão (Penetrômetro Dinâmico Leve) e a resistência
do aterro classe I deve ser pelo menos 50 m para “Su” do ensaio de Vane Test.
cada lado da interseção;
Tabela 3. Variação da resistência dos solos.
• Classe II: são os aterros que não estão 
Vane Test DPL SPT SPT
próximos a estruturas sensíveis, porém são altos, Resistência (kPa) N10 N30 N30
Consistência

definindo-se como altos os que têm alturas Décourt 1989 DIN 4094 *
Lambe/Whitm
Godoy 1972 -
Terzhagi/Peck
maiores que 3,0 m; < 25 0–3 0–2 0–2 Muito mole
• Classe III: os aterros Classe III são 25 –50 3–6 2–4 3–5 Mole
50 – 100 6 – 12 4–8 6 – 10 Média
baixos, isto é, com alturas menores que 3,0 m e 100 – 200 12 – 22 8 – 15 11 – 15 Rija
afastados de estruturas sensíveis. 200 – 400
> 400
22 – 45
> 45
15 –30
> 30
15 –19
> 20
Muito Rija
Dura

Sendo assim, para efeito das avaliações aqui


6 ESTADO DAS ARGILAS – presentes, consideram-se solos moles, os solos
CONSISTÊNCIA com características de solos moles e solos muito
moles, concomitantemente. A Tabela 4
Quando se manuseia uma argila, percebe-se apresenta as características definidas para os
certa consistência, ao contrário das areias que se solos moles em questão.
desmancham facilmente. Por essa razão, o estado
em que se encontra uma argila costuma ser Tabela 4. Características dos solos moles.
indicado pela resistência que ela apresenta. Vane
N 10
A consistência das argilas pode ser CLASSIFICAÇÃO N30 ( SPT )
(PDL)
Test
quantificada por meio de um ensaio de (kPa)
compressão simples, que consiste na ruptura por Solos Moles <4 < 6,0 < 50
compressão de um corpo de prova de argila,
geralmente cilíndrico. A carga que leva o corpo
de prova à ruptura, dividida pela área deste corpo A Tabela 5 apresenta a profundidade dos
é denominada de resistência à compressão solos moles, conforme as sondagens realizadas
simples da argila (a expressão simples expressa na área.
que o corpo de prova não é confinado, Ressaltes-se que os pontos marcados com (*),
procedimento muito empregado em Mecânica na Tabela 5, não se aplica, pois nestes pontos, os
dos Solos). Em função da resistência à perfis de solos não apresentam características de
compressão simples, a consistência das argilas é solos moles. São solos siltosos que no estado
expressa pelos termos apresentados na Tabela 2. natural (confinados) apresentam boa resistência,
mas quando escavados ou manipulados, perdem
totalmente essa resistência, não demonstrando

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suas características de baixíssima resistência nas agilidade dos serviços de terraplenagem,
sondagens tradicionais. Ou seja, nas sondagens recomenda-se a remoção parcial desses solos, até
SPT são descritos como solos silto-argilosos a a profundidade adequada e preenchimento das
arenosos, variegado, rijo a duro, com SPT > 30. cavas com material pétreo granular compactado
Portanto nos ensaios de CBR, apresentam CBR (agulhamento). Devendo sempre observar os
< 2%. Por outro lado, os manuais de seguintes objetivos propostos imediatos e com o
pavimentação sugerem a substituição desses tempo:
solos. a) Estruturar a camada do subleito vindo a
estabilizar as camadas sobrejacentes;
Tabela 5. Profundidade do solo mole. b) Uniformizar a resistência da camada
Profundidade do solo mole (m) superficial;
Nível c) Servir como camada drenante em períodos
Pontos
da
Sondados
água Vane de elevada precipitação;
DPL SPT d) Reduzir a força capilar dos solos silto-
Test
SP argilosos que em alguns casos podem ascender
Ponto 01 1,2 3,2 3,4 5,0 alguns metros de altura, revelando diversas
0+440
Ponto 02
1,3
3,7 4,1 6,0
SP patologias nos pavimentos;
0+540 e) Evitar a perda da resistência dos solos com
2,1 SP 01 o tempo, causada pelo ganho ou retorno da
Ponto 03 4,0 4,4 6,0
e 02
1,9 SP
umidade deste por meio do “equilíbrio da
Ponto 04 2,8 3,8 4,8 umidade de campo”, visto que as umidades de
05 e 06
4,2 SP campo se encontram acima da umidade ótima de
Ponto 05 * * *
07 e 08 compactação, mesmo em meses considerados de
* SP estiagem;
Ponto 06 * * *
11 e 12 f) Otimizar o cronograma dos serviços de
3,1 SP
Ponto 07 3,8 4,7 4,5
0+640
terraplenagem, visto que, a boa técnica indica,
que estes serviços são racionalizados nos
períodos secos, que se encerra habitualmente em
9 DIMENSIONAMENTO DA CAMADA DE setembro.
REFORÇO DO SUBLEITO g) Adoção de uma técnica já consagrada em
obras similares da região e que de uma forma
9.1 Considerações Gerais geral tem caráter definitivo frente às intempéries.
Evitar os serviços de rebaixamento provisório do
De acordo com DNER-PRO 381/98 para trechos lençol, para a execução dos serviços de
de solos moles com menos de 3,0 metros de terraplenagem;
espessura é economicamente viável e remoção h) Evitar o escoramento provisório das
total da camada mole, eliminando-se totalmente escavações.
o problema. Entretanto, sempre que a espessura
exceder a 3,0 metros deverão ser estudadas 9.2 Determinação da Resistência Não-
alternativas mais econômicas de se conviver com Drenada de Projeto (SU)
o solo mole.
Sendo a sondagem Vane Test a mais adequada De acordo com os resultados das sondagens
para as análises em questão, fica evidente que as Vane Test, a determinação da resistência não-
camadas de solos moles têm espessuras drenada (SU) de projeto foi determinada por meio
“médias” variáveis de trecho para trecho, com estatístico, de acordo com o DNIT.
mínimas de ordem de 2,8 metros e espessuras O DNIT tem utilizado o seguinte plano de
máximas de 4,0 metros. amostragem para a análise estatística dos
Considerando as visitas à área de implantação resultados dos ensaios:
TTN e análises dos solos da região em que se tem ଵǡଶଽ஢ σ୶
baixa capacidade de suporte e umidade elevada ୫ž୶ ൌ  ൅ ൅ Ͳǡ͸ͺɐ ൌ
ξ୒ ୒
destes solos, bem como a necessidade de

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



ଵǡଶଽ஢ ஊ൫ଡ଼ିଡ଼൯
మ 9.3 Dimensionamento da Espessura da
ܺ௠௜௡ ൌ ܺ െ െ Ͳǡ͸ͻɐ ɐൌට Camada de Reforço do Subleito
ξே ୒ିଵ

Sendo: Para o dimensionamento da estrutura do


N = Número de amostras pavimento, foi utilizada a fórmula proposta por
X = Valor individual Giroud & Noyrai, para a determinação da altura
 = Média aritimética da estrada não reforçada.
ɐ ൌ ‡•˜‹‘ƒ†” ‘
ଵǡ଺ଵଽଷǤ୪୭୥ሺேሻା଺ǡଷଽ଺ସǤ୪୭୥ሺ௉ሻିଷǡ଻଼ଽଶǤ௥ିଵଵǡ଼଼଼଻
୫୧୬ = Valor mínimo provável estatisticamente h0 =
ሺ஼௨ሻబǡలయ
୫ž୶ = Valor máximo provável estatisticamente Sendo:
N > 9 (número de determinações feitas) h0= altrua da estrada de acesso não-reforçada
(m);
A Tabela 6 apresenta o resumo dos valores de P= carga por eixo simples de rodas duplas (kN);
resistência não-drenada (Su) dos solos moles r= afundamento admissível na superfície da
avaliados, e a Tabela 7 apresenta a análise estrada (metros);
estatística para a determinação do valor mínimo, N= número de passadas do veículo;
médio e máximo de acordo com DNIT. Cu= resistência não-drenada do solo de
fundação (kPa).
Tabela 6. Resumo dos valores de resistência não-drenada.

Sondagem
N (númeto
Su (kPa) Utilizando-se dos devidos parâmetros para
da amostra) determinação de h0, encontrou-se o valor de 1,73
1 44,96 metros. De acordo com o projeto de
2 27,07 pavimentação, tem-se a seguinte estrutura do
Furo 01
3 27,28 pavimento (Figura 7):
4 24,45
5 31,43
6 20,74
Furo 02 7 14,84
8 32,30
9 44,96
10 42,34
11 38,42
12 40,60
Furo 03
13 22,70
14 16,81
15 27,72
16 40,16
Furo 04 17 28,38
18 37,76
19 44,75
20 29,47 Figura 7. Estrutura do pavimento flexível.
Furo 07
21 29,68
22 20,74 Então, para a estrutura do pavimento em
questão, tem-se a somatória da espessura da
Tabela 7. Análise estatística dos valores de Resistência camada granular (sub-base + base) igual a 30 cm.
não-drenada (Su). Sendo assim a camada de reforço do subleito
ANÁLISE ESTATÍSTICA
será igual a:
Valores Su (kPa)
Média aritimética 31,25
hn = ho - (espessuras da Base + sub-base)
Desvio padrão 9,31 Sendo:
Mínimo provável 22,36 hn = Espessura do Reforço do subleito
Máximo provável 40,15 Então:
hn = 1,73m – (0,10m – 0,20m) = 1,43 metros.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



10 CONCLUSÕES AGRADECIMENTOS

Subsidiado nas informações e resultados obtidos, Ao Departamento de Estradas de Rodagem do


fica evidente a presença de solos saturados e de Distrito Federal (DER/DF), ao Consórcio Via
baixa capacidade de suporte (solos moles). Conterc, a Reforsolo Engenharia Ltda.,
Dentre outras técnicas, a solução de remoção Universidade Católica de Brasília (UCB), Centro
parcial dos solos moles, aliada ao agulhamento Universitário de Brasília (UniCEUB) e ao
com rachão (enrocamento de pedra lançada) é Instituto de Ensino Superior Planalto com
uma prática convencional que associa a contribuições importantes que tornaram possível
estabilidade pretendida aos cronogramas a realização deste trabalho.
executivos desta etapa da obra.
Nos trechos de terreno natural o material se
encontra de uma forma geral muito mole a mole REFERÊNCIAS
e em alguns casos com uma capa com resistência
mais elevada. Essa elevação da resistência é ABNT NBR 6484: 2001 – Solo – Sondagem de simples
coordenada pelo ressecamento do horizonte A do reconhecimento com SPT – Método de ensaio.
ABNT NBR 10905:1989 - Solo - Ensaios de palheta in situ
solo. - Método de ensaio.
De uma forma geral as soluções têm que ser Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) – IT –
exequíveis e trazerem a estabilidade desejada. 116 / CBTU: 2006 – Execução de remoção e
Portanto, o reforço das camadas mais profundas substituição de solo mole.
e o controle da umidade capilar, devem ser Deutsches Institut für Normung. DIN 4094 / International
Society for Soil Mechanics and Foundation
considerados nas soluções propostas. Engineering (ISSMFE): soil; exploration by
Frente aos resultados apresentados, fica penetration tests; aids to application, supplementary
evidente a solução de estabilização com camada informations. Alemanha, 1989.
estruturante com rachão, pois permite que haja DNER-PRO 381/98 – Projeto de aterros sobre solos moles
um agulhamento do solo inferior pela passagem para obras viárias.
das máquinas de terraplenagem e com isso o
aumento da resistência da camada reforçada. A
heterogeneidade da deformabilidade da camada
inferior é uniformizada pela “nega” apresentada
diante da pressão de serviço utilizada pelos
equipamentos de compactação. Pois de acordo
com a variação da resistência da camada, o
rachão pode penetrar mais ou menos, conforme
a Figura 8. Este tipo de serviço pode ser
realizado tanto nos períodos chuvosos (com ou
sem o nível de água aflorante), como nos
períodos de estiagem.

Figura 8. Variação da penetração (agulhamento) em


função da resistência da camada de solo.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Correlação entre ensaios SPT e PANDA 2 (Penetrômetro leve de
energia variável) em solos tropicais
Caio Sales Campos
Graduando em eng. civil. Universidade Federal de Goiás, Escola de Engenharia Civil e Ambiental,
Goiânia-GO, Brasil, sales.campos@gmail.com

Yanko Batista Llobet


Graduando em eng. civil. Universidade Federal de Goiás, Escola de Engenharia Civil e Ambiental,
Goiânia-GO, Brasil, yankobll@hotmail.com

Renato Resende Angelim


Professor PPG-GECON Doutor, Universidade Federal de Goiás, Escola de Engenharia Civil e
Ambiental, Goiânia-GO, Brasil, tecnoeng@gmail.com

RESUMO: Tradicionalmente as investigações geotécnicas no Brasil são feitas utilizando os dados


obtidos majoritariamente pelo ensaio Standard Penetration Test (SPT). A fim de agregar valor às
sondagens de reconhecimento do solo, surge como alternativa o penetrômetro leve de energia
variável, PANDA 2, que traz como principais vantagens a praticidade e rapidez do ensaio, bem como
a aquisição automática dos resultados. Este estudo teve como objetivo relacionar os resultados dos
ensaios realizados por Azevedo e Rodrigues (2014) com os referidos equipamentos, sendo que estes
ensaios ocorreram em um solo tropical caracterizado predominantemente como areia argilosa na
cidade de Goiânia. Para uma melhor comparação do valor de resistência a penetração ‫ ݀ݍ‬do ensaio
PANDA 2 com o valor de ܰܵܲܶ do ensaio SPT foram realizados ensaios PANDA 2 ao redor de cada
furo de sondagem SPT. Por fim determinou-se correlações satisfatórias entre os resultados que,
embora diferentes, tiveram comportamentos semelhantes para profundidades de até 5 metros. Os
resultados colaboram na formação de um banco de dados de ensaios PANDA 2 em solos tropicais,
além de transferir a experiência adquirida do ensaio SPT para o ensaio PANDA 2 mais recente.

PALAVRAS-CHAVE: Investigação geotécnica, SPT, Ensaio PANDA, Solos tropicais.

GEOCENTRO2017, Goiânia/GO, Brasil.



1 INTRODUÇÃO
Este estudo propõe a realização de uma
A engenharia civil tem como um dos seus comparação entre os ensaios SPT e PANDA 2
principais ramos a geotecnia. Dentro dessa área com base nos dados obtidos em ensaios
do conhecimento, as investigações geotécnicas realizados em solo laterítico por Azevedo e
de campo caracterizam-se como a base para Rodrigues (2014). Para tanto, faz-se necessário,
qualquer estudo que antecede a realização de uma a determinação de uma correlação entre ambos
obra de engenharia civil, uma vez que é por meio os métodos para cada tipo de solo, possibilitando
desses ensaios de campo que geralmente são ainda uma posterior comparação com outros
determinadas as características do solo. estudos.
Todos os comportamentos químicos e físicos, Buscou-se com a determinação desta correlação
como a carga comportada, as tensões e o a incorporação da experiência com o tradicional
recalque estimado, de um solo só podem ser ensaio SPT para o ensaio PANDA 2.
aferidos ou estimados com os ensaios
adequados. Essas características do terreno 3 METODOLOGIA
influenciam tanto no projeto quanto no processo
construtivo, sendo assim, um estudo criterioso Para este estudo foram realizados ensaios
do solo pode diminuir os custos de uma obra e PANDA 2 no local onde uma investigação
evitar posteriores patologias. geotécnica tipo SPT estava sendo feita para o
dimensionamento do projeto de fundações da
Nesse sentido, estudiosos criaram inúmeros
futura obra.
métodos para se obter as características do solo.
O SPT, CPT, DMT e PMT são alguns dos
3.1 Ensaios SPT
ensaios geotécnicos mais tradicionais. Dentre
esses destaca-se o ensaio SPT como o ensaio
Foram realizadas 9 sondagens tipo SPT, todavia 3
mais utilizado nas investigações geotécnicas no
dessas não puderam ser utilizadas neste estudo.
Brasil, por seu baixo custo e sua forte tradição
Isso devido ao fato de que havia uma camada de
no país. Ele consiste na cravação de um
aterro com resíduos de construção sobre uma
amostrador padrão em um maciço de solo pelo
camada de concreto de aproximadamente 10 cm
choque da queda de um martelo de 65 kg de uma
espessura, na região da localização das sondagens
altura de 75 cm. A quantidade de golpes dada
SP7, SP8 e SP9, não sendo possível atravessá-la
pelo martelo para cravar os últimos 30 cm, dos
com o ensaio PANDA 2 e por isso não foram
45 cm penetrados pelo amostrador é definida
realizados nessas localizações.
como o ܰ, e é um dos parâmetros de grande
Os ensaios SPT foram executados seguindo as
importância nos projetos geotécnicos diretrizes da NBR 6484: Execução de Sondagens
(SCHNAID, 2000).O PANDA 2, na sua de Simples Reconhecimento dos Solos (ABNT,
segunda versão, consiste na cravação de uma 2001), por uma empresa especializada da cidade
ponteira cônica no solo, pela ação de um martelo de Goiânia.
assim como no SPT. A grande diferença vem do Durante a execução do ensaio SPT foram
fato de a altura de queda do martelo não ser coletadas amostras de solo a cada metro, cujo
padronizada, o que torna essa energia teor de umidade natural do solo, foi determinada
transmitida para a ponteira variável. Outra visando a utilidade no auxilio das análises dos
diferença notável do PANDA 2, é a sua resultados.
aquisição automática de dados, fato que pode
diminuir o acúmulo de erros durante o ensaio 3.2 ENSAIOS PANDA 2
(CRUZ Jr. et al., 2014).
Por essas razões ele se mostra uma alternativa Visando obter resultados de ensaio PANDA 2,
prática, eficiente e de baixo custo de passíveis de serem comparados com os obtidos
substituição do ensaio SPT para pequenas obras nos ensaios SPT, os furos daquele tipo de ensaio
ou na sua complementação (FERREIRA, et al., foram realizados a uma distância de cerca de
2013). 50 cm dos furos de sondagem SPT.
O ensaio PANDA 2 consiste na cravação de
2 OBJETIVOS uma ponteira cônica de 4 cm2, ligada a um
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conjunto de hastes metálicas, no interior do solo presença de atrito lateral, entre o solo da lateral
por meio da energia de batidas de um martelo do furo e as hastes, pode alterar o seu resultado
anti-repique, específico do equipamento. Na acrescendo-se ao valor de qd (GOURVES, et al.,
superfície, sobre o topo do conjunto de hastes, 1995). No intuito de se evitar/minimizar a
fica a cabeça de bater que se trata de uma célula influencia do atrito lateral das hastes nos
de carga, que possui sensores que medem a resultados de qd, utilizou-se ponteiras de seção
energia e assim determinam a resistência à transversal de 4 cm², diâmetro de 22,5 mm,
penetração, de cada golpe. Os dados são maior que o da haste de diâmetro 14 mm.
automaticamente registrados no terminal de
comunicação do equipamento, eliminando 3.3 Caracterização do local
assim, o risco de falha humana nessa etapa da
operação. O próprio aparelho calcula, para cada Os ensaios foram realizados no Setor Aeroporto,
espessura de solo penetrada por um golpe, um na cidade de Goiânia, na Rua 9-A. A Locação
valor de ‫( ݀ݍ‬resistência dinâmica à penetração da dos ensaios é demonstrada na Figura 1.
ponteira cônica) em MPa.

Figura 2. Localização dos furos de sondagem SPT


(AZEVEDO e RODRIGUES, 2014).

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS


RESULTADOS

Figura 1. Ensaio PANDA 2 (Fonte: Renato Angelim). A comparação entre os dados obtidos pelos
ensaios SPT e PANDA 2 foi realizada visando a
obtenção de uma correlação entre os valores de
Para este trabalho os dados obtidos foram
expressos em gráficos de ‫ ݀ݍ‬versus ܰܵܲܶ e ‫݀ݍ‬.
profundidade (penetrograma) para cada furo de Na Figura 2, estão apresentados os valores de
sondagem PANDA 2. ‫ ݀ݍ‬dos ensaios PANDA P5A e P5B, feitos ao
No ensaio PANDA não é recomendável redor do furo de sondagem SP5 como exemplo.
penetração maior que 20 mm por golpe para O penetrograma representa os resultados médios
evitar surgimento de poro-pressão. Assim são de qd para cada camada de 10 cm de
profundidade do perfil posicionados no ponto no
gerados valores de qd quase contínuos no perfil
médio desses 10 cm. Para os demais ensaios
de solo, isso significa a geração de centenas de
correspondentes aos SP1, SP2, SP3, SP4 e SP6,
valores. Portanto, para uma melhor comparação não apresentados, foi seguida a mesma forma de
com os resultados dos ensaios SPT, que análise.
fornecem apenas um único valor de NSPT para
cada metro de profundidade, os valores de ‫݀ݍ‬
foram condensados primeiramente a cada 10 cm
(a partir da média aritmética dos valores de qd
desta espessura).
Como o equipamento determina apenas
valores referentes à resistência à penetração da
ponteira cônica, sendo que o surgimento ou
GEOCENTRO2017, Goiânia/GO, Brasil.

Figura 4. Comparação da média dos ensaios PANDA 2
realizados em torno do furo SP5 com o SPT (AZEVEDO
e RODRIGUES, 2014).

O método utilizado para correlacionar os


ensaios SPT e PANDA 2 consistiu em calcular
uma relação entre média das resistências qd
Figura 3. Resultados dos ensaios P5A e P5B, (AZEVEDO obtidas na mesma camada de 30 cm, denominada
e RODRIGUES, 2014). qd30, correspondente aos 2 últimos 15 cm
utilizados para determinar o NSPT do ensaio SPT,
O pico observado no início do primeiro metro conforme detalhado na Figura 5.
do penetrograma de P5A (Figura 3) se deve à
presença de detritos resultantes da camada de
entulho da superfície que não foram
completamente eliminados na realização do
pré-furo de 30 cm com a cavadeira de boca.

SP5 e P5médio

Prof. qd NSPT
qd30/NSPT Classificação solo
(m) (MPa) (Golpes)

Argila arenosa com


1,3 1,69 2 0,84 consistência muito
mole Figura 5. Proposta para correlação dos ensaios PANDA 2
e SPT pela relação ‫݀ݍ‬30/ NSPT (Ferreira et al., 2013).
2,3 1,44 3 0,48 Areia argilosa e fofa

3,3 1,94 4 0,48 Areia argilosa e fofa


A Tabela 1 apresenta a relação qd / NSPT para o
furo de sondagem SP5. É apresentada também a
4,3 2,75 8 0,34
Areia argilosa e pouco classificação táctil-visual de acordo com a NBR
compacta
7250 (ABNT, 1982) feita pela empresa de
5,3 1,11 9 0,12
Argila siltosa com sondagem nas amostras retiradas com nos
consistência média ensaios SPT.
Argila siltosa e
6,3 1,14 10 0,11 medianamente
compacta Tabela 1. Ensaios SP5 e P5 médio (AZEVEDO e
RODRIGUES, 2014)
Analisando a Figura 3, de uma forma geral os
resultados (P5A e P5B) do ensaio PANDA 2
foram muito semelhantes, o que possibilitou que Analisando a Tabela 1, os valores da relação
os mesmos fossem representados pela sua média qd30/NSPT variaram entre 0,84 e 0,11, reduzindo
na Figura 4 juntamente com os resultados de com a profundidade de maneira não linear, para
SPT5. uma areia argilosa.
Na Figura 6, está apresentado, todos os
resultados do PANDA 2 médios em torno de
cada furo SPT.

GEOCENTRO2017, Goiânia/GO, Brasil.



menor influência do atrito lateral nas hastes até a
profundidade de 5,5 m do que o SPT.
No trabalho realizado por Alves e Silva (2009)
em argila siltosa vermelha (classificação táctil-
visual) em terreno do setor Aeroporto, na cidade de
Goiânia, obteve-se 0,278 para relação qd30/NSPT
validada para profundidade de 3,8 m e coeficiente
de variação de 16,2%.
Angelim et al (2016) obtiveram o valor de 0,267
para a relação qd30/NSPT para uma argila arenosa
(táctil-visual) do aterro compactado de ombreira
esquerda da barragem do Ribeirão João Leite em
Goiânia, e validada para profundidade de 3,3 m e
coeficiente de variação de 10,8%.
De uma forma simplista, desconsiderando os
valores extremos que destoaram dos demais,
(menos representativos) obteve-se um valor
médio para a relação de ‫݀ݍ‬30/ܰܵPT de 0,283
Figura 6. Resultados de qd30 dos ensaios médios de
PANDA 2 em torno dos furos de sondagem a percussão.
considerando todos os ensaios apresentados neste
estudo. Entretanto, essa análise não conduz a
valores realistas embora dentro da ordem de
A partir dos resultados médios de todos os grandeza de valores apresentados por outros
ensaios PANDA 2, é possível perceber que a autores já mencionados, pois o comportamento
resistência de ponta qd30 varia pouco com a não é linear com a profundidade.
profundidade até 5,5 m numa média de 2 MPa. Azevedo e Rodrigues (2014) propuseram então
A Figura 7 apresenta os resultados de NSPT de para os resultados apresentados neste trabalho a
todos os 6 furos de Sondagem SPT. curva mostrada na Figura 8 que representa a
Analisando o comportamento até 5,5 m de distribuição dos valores obtidos para a relação
profundidade percebeu-se os valores de NSPT ‫݀ݍ‬30/ܰܵPT pela profundidade, excluindo-se os
aumentaram com a profundidade. Observou-se valores não representativos.
que a variação entre os resultados também
aumentou com o aumento da profundidade.

Figura 8. Valores da relação k (‫Ͳ͵݀ݍ‬Ȁܰܵܲܶ) com a


profundidade (AZEVEDO e RODRIGUES, 2014)

Figura 7. Resultados de NSPT dos ensaios SPT realizados.


A Equação 1 representa da linha de tendência
exponencial determinada na Figura 8.
De forma geral os resultados do ensaio SPT Corroborando com a ideia do comportamento não
variaram mais que os resultados PANDA 2. Tal linear dos resultados da relação entre os ensaios
fato reflete na relação entre os 2 ensaios. PANDA 2 e SPT. É possível afirmar também que
Pelo que se observou, a resistência de ponta os efeitos do atrito foram mais significativos no
medida pelo penetrômetro PANDA 2 sofreu SPT, uma vez que os valores de NSPT cresceram
GEOCENTRO2017, Goiânia/GO, Brasil.

com maior intensidade dentro do mesmo perfil, PANDA – Uma nova alternativa de investigação para
tornando a linha de tendência decrescente. Neste fundações rasas de Goiânia. 90 p. Trabalho de conclusão
de curso (Graduação em Engenharia Civil).
caso, o tipo de solo arenoso pode ter influenciado Universidade Federal de Goiás. Goiânia.
muito pelo maior atrito proporcionado no
contato com o amostrador. ANGELIM, R. R.; CAMPOS, C. S.; LLOBET, Y.
B.; SALES, M. M. (2016). Correlação entre
௤೏యబ Ensaios SPT e PANDA 2 (Penetrômetro Leve de
ൌ ͲǡͷͲͷͺ ή ݁ ି଴ǡଵ଼଻௣ (1) Energia Variável) em Aterro Compactado de
ேೄು೅
Barragem com Solo Tropical. In: 15 CNG -
Congresso Nacional de Geotecnia e 8 CLBG -
5 CONCLUSÃO Congresso Luso-Brasileiro de Geotecnia, Porto:
FEUP, ABMS e Sociedade Portuguesa de
Geotecnia, 12 p.
O uso do ensaio PANDA 2 para investigação
de solos para fins de fundações aliado ao ensaio AZEVEDO, F. H. B.; RODRIGUES, Í. R. DE S.
mais utilizado no Brasil (SPT) mostrou-se Estudo comparativo entre ensaios SPT e PANDA 2
bastante promissor. Além do fato de que o seu em solos tropicais. (2014) Trabalho de Conclusão
processo de ensaio ser mais rápido, exigir apenas de Curso (graduação em Engenharia Civil),
um operador e ser menos sujeito às falhas Universidade Federal de Goiás. Goiânia, 70 p.
humanas, ele pode muito bem ser usado como CRUZ Jr., A. J.; GITIRANA Jr., G. F. N.; SALES, M. M.;
um substituto do ensaio SPT em caso de VIANA, P. M. F. (2014). Determinação do Perfil de
pequenas obras, que corriqueiramente são Sucções a Partir de Amostras de SPT, e Verificação de
realizadas sem nenhum tipo de estudo Correlações entre Sucção, NSPT, e PANDA para Solos
geotécnico. Ainda pode ser utilizado como uma Argilosos Superficiais da Cidade de Goiânia. In:
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
forma de ensaio complementar, aumentando o Engenharia Geotécnica. Goiânia-GO, 9 a 13 de
numero de investigações e detalhando mais as setembro.
características do solo no perfil.
Os estudos realizados por Azevedo e FERREIRA, I. P.; QUIRINO, R.; SOARES, T. M. (2013).
Rodrigues (2014) indicaram a boa repetitividade Estudo Comparativo entre os Ensaios SPT e PANDA II
em Aterros Compactados de Barragens de Terra.2013.
do ensaio PANDA 2 e que para a profundidade 79p. Monografia – Universidade Federal de Goiás,
de até 5,5 m em areia argilosa foi possível a Goiânia.
execução do ensaio usando ponteira de 4 cm2
sem muita interferência do atrito nas hastes. GOURVES.R.; BARJOT.R. (1995) ThePANDA ultralight
Os resultados da relação ‫݀ݍ‬30/ܰܵPT encontrados dynamic penetrometer. Proc 11th Euro.Conf. on Soil
Mechanics and Foundation Engineering, Copenhagen.
mostram o comportamento não linar entre os
ensaios PANDA 2 e SPT com a profundidade SCHNAID, F. (2000). Ensaios de Campo e suas aplicações
para o solo em questão. Os resultados individuais à Engenharia de Fundações. São Paulo: Oficina de
para complementação de banco de dados foram Textos, 208 p.
disponibilizados em Azevedo e Rodrigues
(2014).

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS (ABNT), NBR 6484 – Solo – Sondagem
de simples reconhecimento com SPT – Método de
Ensaio. – Rio de Janeiro, RJ, 2001.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS


TÉCNICAS (ABNT), NBR 7250 – Solo –
Identificação e descrição de amostras de solos obtidas
em sondagens de simples reconhecimento dos solos –
Rio de Janeiro, 1982.

ALVES, D.H.C., SILVA, A.P. da (2009). Penetrômetro

GEOCENTRO2017, Goiânia/GO, Brasil.



Estudo Comparativo de Curvas de Retenção da Água no Solo
Obtidos com Métodos de Otimização
Aguero-Martinez, Domingo Stalin
Instituto Federal de Goiás, Luziânia, Goiás, Brasil, domingo.martinez@ifg.edu.br

RESUMO: Na literatura clássica relacionou-se as propriedades hidráulicas do solo em estado não


saturado através de Curva Característica de Água no Solo (CCAS). Essas CCAS foram utilizadas
como uns dos componentes principais tanto na calibração de fluxo de água em solo não saturado
como em estudos de fenômenos de transporte de contaminantes em meio poroso, entre outros.
Pesquisadores têm utilizado os métodos de otimização para a obtenção desses CCAS. Desse modo,
este trabalho visa realizar um estudo comparativo de CCAS utilizando os seguintes métodos de
otimização: análise tradicional de mínimos quadrados, modelo inverso com a técnica dos Algoritmos
Genéticos e método matemático de Levenberg-Marquardt. Para isso foram utilizados dados
observados de potencial matricial e umidade volumétrica gerados em escala menor em dois estudos
de caso da literatura. Nessa comparação das CCAS concluiu-se que as diferenças podem ser atribuídas
à formulação do modelo constitutivo utilizado.

PALAVRAS CHAVES: Método de Levenberg-Marquardt, Curvas Características, Algoritmos


Genéticos.

1 INTRODUÇÃO volumétrica e potencial matricial para um meio


de solo não saturado. Esses autores elencaram
A Curva Característica de Água no Solo (CCAS) que embora essa técnica seja muito utilizada
é de fundamental importância no estudo das existe incerteza na determinação de parâmetros
propriedades hidráulicas do solo em meio não (Aldaood et al., 2015, Rahimi et al., 2015). Essa
saturado (Rahimi et al., 2015). A complexidade incerteza deve-se em parte à complexidade da
de obtenção de CCAS aumenta quando equação do MVG (função não linear) que
considera-se faixas de aferição de potencial dificulta o cálculo dos valores dos parâmetros
matricial diferentes aos comumente utilizados. hidráulicos para o ajuste da CCAS. Diante dessas
Diante disso, Aldaood et al. (2015) incertezas de mensuração, esforços foram
determinaram a CCAS de um tipo de solo realizados para determinar os parâmetros
colapsível (gyseous soil do Inglés) com aferições hidráulicos utilizando experiências em estudo de
de potencial matricial na faixa de 10 para 106 solo em laboratório. Este trabalho considera dois
kPa. Esses autores concluiram que os dados estudos de caso efetuados em laboratório: de
experimentais foram razoavelmente ajustados recarga de aquíferos (Vauclin et al., 1979) e de
utilizando os modelos constitutivos de Fredlund infitração vertical de água em duas camadas de
e Xing (1994) e de van Genuchten (1980). solo (Elmaloglou, 1980). Ambos estudos de caso
Adicionalmente, Rahimi (2015) estimou a CCAS efetuaram um ajuste dos parâmetros hidráulicos
para dados observados com valores de potencial através da modelação de CCAS utilizando um
matricial maiores que das aferições comuns de modelo constitutivo próprio com base no método
potencial matricial de 100kPa. Os autores dos mínimos quadrados. Porém, outros
mencionados utilizaram em comum o modelo pesquisadores compreenderam que para se
constitutivo de van Genuchten - MVG (1980) adentrar na determinação desses parâmetros
que relaciona as variáveis de umidade hidráulicos mediante o CCAS, é necessário,


antes, resolver um problema de otimização geral estudos de caso realizados em laboratório: de
englobando os dados coletados de vazão e de recarga de aquíferos (Vauclin et al., 1979) e de
potenciais matriciais obtidos externamente aos infiltração de água em duas camadas de solo
experimentos efetuados em laboratório. Nesse (Emaloglou, 1980) através dos três métodos de
intuito, Aguero-Martinez (2013) realizou a otimização mencionados: método dos mínimos
otimização global utilizando como método de quadrados, algoritmos de otimização associado
otimização os Algoritmos Genéticos (Holland, ao modelo inverso e método de Levenberg-
1994). Esse autor apresentou o ajuste de CCAS Marquardt.
como resposta aos dados coletados de vazão e de
potencial matricial para o estudo de caso de 2 MATERIAL E MÉTODOS
recarga de aquíferos (Vauclin et al., 1979). Em
outro estudo de caso, Aguero-Martinez e Reis 2.1 Primeiro Estudo de Caso
(2014), utilizando também como método de
otimização os Algoritmos Genéticos, O primeiro estudo de caso, como mencionado,
apresentaram os resultados de ajustes de CCAS refere-se à recarga de aquíferos Vauclin et al.
para dois tipos de solo realizados no experimento (1979). Esses autores utilizaram o método dos
de infiltração em duas camadas de solo mínimos quadrados para ajustar os dados
(Elmaloglou, 1980). Dessa forma, os observados em laboratório entre a umidade
procedimentos de ajuste de CCAS efetuados por volumétrica e o potencial matricial. Desse modo,
esses autores englobaram: simulação de todo o esses autores determinaram a seguinte equação
fenômeno físico através da discretização espacial que define a curva característica da água no solo:
do domínio físico em elementos finitos,
discretização temporal em diferenças finitas, D ȥ”0 (1)
T T sat E*
método inverso associado aos algoritmos D \
genéticos e ajuste dos dados coletados de
laboratório através de uma otimização global. Onde: ș é a umidade volumétrica no tempo e
Destaca-se que esses autores utilizaram, em vez espaço; șsat (L³ L-3) é a umidade do solo saturado
de modelos constitutivos diferentes, um modelo com valor de 0,30; Į (L2,9) e ȕ* (adimensional)
constitutivo em comum a ambos experimentos são coeficientes determinados pelo autor do
físicos, o modelo de van Genuchten - MVG (van experimento com valores de 4000 cm2,9 e 2,9,
Genuchten, 1980). Seria elementar ajustar os respectivamente, e; ȥ é o potencial matricial (L).
pares ordenados de valores de potencial matricial A Figura 1 apresenta a curva característica de
e umidade volumétrica por meio de pacotes água no solo - CCAS obtido pelo autor do
comerciais, sem considerar os resultados experimento.
coletados da experiência em laboratório.
Entretanto, às técnicas supracitadas realizaram o
ajuste da CCAS englobando todo o fenômeno
físico, considerando, assim, os dados coletados
fora do experimento de vazão e de potenciais
matriciais. Torna-se relevante comparar os
resultados de CCAS dos métodos até agora
abordados com outros métodos, mas que não
sejam comerciais, para o ajuste dos pares
ordenados de potencial matricial e umidade
volumétrica. Para isso, foi desenvolvido neste Figura 1. Curva característica da água no solo (adaptado
de Vauclin et al., 1979).
trabalho o método de Levenberg-Marquardt
(Press et al., 1992). Esse método utiliza o método 2.2 Segundo Estudo de Caso
de Newton e uma gradiente descendente com
base no modelo constitutivo do MVG (van O segundo estudo de caso refere-se à infiltração
Genuchten, 1980). Por fim, visa-se comparar as em duas camadas de solo (Elmaloglou, 1980). A
CCAS obtidas em meio não saturado para os dois Equação 2 determina as curvas características de


água no solo baseadas no método dos mínimos utilizando o conceito de disputa pela
quadrados: sobrevivência. Desse modo, esse autor
estabeleceu mudanças arbitrárias de códigos
D
T \ T sat  T res ȥ”0 binários que se traduziam em valores. Esse
E
 T res (2)
D \ processo continuaria até atingir os valores de
Onde os valores dos parâmetros șsat (já parâmetros que melhor se adequaram ao modelo
definida), șres (umidade residual, L³ L-3), Į e ȕ quando submetidos à condição de satisfazer o
(coeficientes adimensionais determinados pelo ajuste de uma função que relaciona os dados
autor do experimento), para os dois tipos de solo, observados chamada de Função Objetivo (FO).
são apresentados na Tabela 1. As CCAS desses Esse ciclo continuo automático de determinação
dois tipos de solo, obtidos pelo autor do dos valores de parâmetros do modelo a partir dos
experimento com base na Equação 2, foram dados coletados em campo foi denominado na
representadas na Figura 2. literatura de método inverso ou retro análise. O
uso associado do poder computacional ao
Tabela 1. Parâmetros dos solos (adaptado de Elmaloglou, modelo inverso estabelece enfim uma calibração
1980). automática (Aguero-Martinez, 2013).
Parâmetro Areia Grossa Solo fino
șsat (cm³ cm-3) 0,270 0,312 2.4 Estimativas dos parâmetros do modelo
șres(cm³ cm-3) 0,060 0,208 constitutivo utilizando o método de Levenberg-
Į 5,6241 x 104 6,0359 x 106
Marquardt
ȕ 3,163 3,922

O modelo constitutivo estabelecido por van


Genuchten – MVG (1980) descreve a relação
entre a umidade volumétrica e o potencial
matricial como mostrado na Equação 3. Essa
equação determina a curva característica da água
no solo (CCAS).
m
T  T res ª 1 º
« n»
(3)
T sat  T res ¬1  (D \ ) ¼

Figura 2. Curvas características de água no solo para o Nessa Equação 3, ș (L³ L-3) é a umidade
solo de granulometria grossa e solo de granulometria fina volumétrica no tempo e espaço; șsat, șres (L³ L-3)
(adaptado de Elmaloglou, 1980).
já foram definidos; ȥ é o potencial matricial (L);
2.3 Estimativas de Curvas Características de Į = coeficiente do MVG (L-1); n = coeficiente
Água no Solo através dos Algoritmos Genéticos adimensional do MVG, e; m = (n-1)/(n).
utilizando método inverso
Os parâmetros da Equação 3 [șsat, șres, Į, n]
Como foi mencionado, Aguero-Martinez (2013) foram determinadas utilizando o método de
desenvolveu a CCAS de areia para o estudo de Levenberg-Marquardt - MLM (1992). As
caso de recarga de aquíferos e Aguero-Martinez derivadas de ș em relação a cada um dos
e Reis (2014) desenvolveram as CCAS para o parâmetros, necessários para o desenvolvimento
segundo estudo caso de infiltração em duas do MLM, são mostradas na Equação 4a, 4b, 4c e
camadas para o solo grosso e solo fino. Esses 4d.
autores utilizaram os Algoritmos Genéticos (AG) ­° T  T ½° ­ 1 § 1  n · (D \ ) n
wT ½
e a técnica do método inverso. Além disso, esses ®
s r
¾ ˜ ® 2  ¨ ¸˜
>
˜ ln(D \ )¾ ˜ ln 1  (D \ ) n @
wn >
°̄ 1  (D \ )
n
@
m
°¿ ¯ n © n ¹ 1  (D \ ) n
¿
autores utilizaram o modelo constitutivo da
literatura de van Genuchten (1980). Sobre os (4a)
wT ­° T  T ½° ­ (D \ ) ½
n
(4b)
¾ ˜ ® 1  n ˜
Algoritmos Genéticos salienta-se o trabalho de ®
s r
¾
Holland (1992) que desenvolveu essa técnica wD >
°̄ 1  (D \ )
n
@m1
°¿ ¯ D ¿


wT ­° 1 ½°
® ¾
(4c)
wT s >
°̄ 1  (D \ )
n
@
m
°¿

wT ­° 1 ½°
® ¾ 1
(4d)
wT r > m
°̄ 1  (D \ ) °¿
n
@
Em que: ș, șsat, șres, ȥ, Į, n, m já foram
definidos.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 3 - Apresenta a comparação das três curvas
3.1 Caso de estudo de recarga de aquíferos características de água no solo obtidas: pelo autor do
(Vauclin et al. 1979) experimento (Vauclin et al., 1979) denominada de “Curva
Vauclin”; utilizando o método de Levenberg-Marquardt
Os valores obtidos dos parâmetros do Modelo de aplicada ao modelo de van Genuchten denominada de
van Genuchten - MVG com a utilização do “Curva MLM-VG”, e; utilizando o modelo inverso e os
AG denominada de “Curva AG”.
método de otimização de Levenberg-Marquardt
– MLM são mostrados na Tabela 2.
3.2 Caso de infiltração em duas camadas de
Tabela 2. Valores dos parâmetros do modelo de van solo (Elmaloglou, 1980)
Genuchten - MVG (1980) utilizando o método de
Levenberg-Marquardt - MLM Os valores dos parâmetros do modelo
șsat șres Ȥ2 constitutivo estabelecido por van Genuchten
Į 3 3
n (cm (cm (1980) – MVG, utilizando o Método de
(cm-1)
cm-3) cm-3)
3,48 0,0304 0,34 0,0 3,068*10-5
otimização de Levenberg-Marquardt – MLM são
mostrados na Tabela 3.
Nessa tabela, Ȥ2 representa o valor do ajuste do
Tabela 3. Valores dos parâmetros de van Genuchten
método de Levenberg-Marquardt. Quando (1980) ajustados pelo MLM.
menor o valor de Ȥ2, melhor a calibração. șsat șres
Į 3 3
n (cm (cm Ȥ2
(cm-1) -3 -3
A Figura 3 apresenta a comparação das três cm ) cm )
curvas características de água no solo obtidas: Areia
4,09 0,0205 0,31 0,21 2,85*10-5
fina
pelo autor do experimento (Vauclin et al., 1979) Areia
denominada de “Curva Vauclin”; utilizando os 3,05 0,0363 0,31 0.0 5,084*10-5
grossa
parâmetros da Tabela 2 denominada de “Curva
MLM-VG”, e; utilizando o modelo inverso e os A Figura 4 apresenta a comparação de três
AG denominada de “Curva AG”. Destaca-se que curvas de retenção obtidas para a camada de solo
a Curva Característica de Água no Solo obtido arenoso fino e solo grosso obtidos: pelo autor do
pelo MLM-VG se ajusta bem ao obtido pelo experimento (Elmaloglou, 1980) denominada de
autor do experimento a partir de valores de “Curva Elmaloglou”; utilizando o método de
potencial matricial de 45 cm. Mas, para valores Levenberg-Marquardt aplicada ao modelo de van
menores de potencial matricial a CCAS obtido Genuchten denominada de “Curva MLM-VG”,
pelo MLM-VG se afasta para obter um patamar e; utilizando o modelo inverso e os AG
maior dos três ajustes de CCAS modelados. denominada de “Curva AG”. Elucida-se que para
Ressalta-se também que a curva AG obtém uma o solo fino a curva MLM-VG se ajusta bem ao
umidade volumétrica saturada menor ao obtido obtido pelo autor do experimento baseado no
pelo MLM-VG, no entanto, maior ao obtido método dos mínimos quadrados. Porém, para o
experimentalmente. A umidade residual obtido solo grosso não acontece o mesmo, pois o
pelos AG permanece como maior valor patamar da umidade saturada resultou maior dos
comparado aos outros ajustes de CCAS. outros ajustes de CCAS.


Aguero-Martinez, D.S. e Reis D.S. (2014). Assessment of
genetic algorithms in calibration of an unsaturated soil
water flow model applied to a vertical infiltration
experiment of two layers of soil, 6th International
Conference on Flood Management, ICFM6 2014, São
Paulo, Brazil, Setembro 16-18.
Aguero-Martinez (2013). Avaliação de algoritmos
genéticos na calibração de modelo de fluxo de água em
solo não saturado utilizando um estudo experimental,
XX Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Bento
Gonçalves, Rio Grande do Sul, Brasil, Novembro 17-
22, PAP013347, ISSN 2318-0358, Anais - Simpósio
Brasileiro de Recursos Hídricos.
Aldaood A., Bouasker M., Al-Mukhtar M. (2015). Soil-
Water Characteristic Curve of Gypseous Soil,
Geotechnical and Geological Engineering, Vol. 33(1),
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Elmaloglou, S. (1980). Effets des stratijications sur les
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Holland, J. H. (1992). Adaptation in Natural and Artificial
Systems, MIT Press Cambridge, MA, USA.
Press W., Teukolsky S., Vetterling W., Flannery B. (1992).
Numerical recipes in fortran 77: the art of scientific
Figura 4 - Comparação de três curvas de retenção obtidas computing, Cambridge University Press.Programs.
para a camada de solo arenoso fino e solo grosso obtidos: North America.
pelo autor do experimento (Elmaloglou, 1980) Rahimi, A. (2015). A new approach to improve soil-water
denominada de “Curva Elmaloglou”; utilizando o método characteristic curve to reduce variation in estimation of
de Levenberg-Marquardt aplicada ao modelo de van unsaturated permeability function, Canadian
Genuchten denominada de “Curva MLM-VG”, e; Geotechnical Journal.
utilizando o modelo inverso e os AG denominada de Rahimi A., Rahardjo H., Leong E. (2015). Effects of soil-
“Curva AG”. water characteristic curve and relative permeability
equations on estimation of unsaturated permeability
CONCLUSÕES function, Soil and Foundations, Vol. 55 (6), p. 1400-
1411, Copyright@2017 Elsevier B.V.
As diferentes CCAS atingidos pelos três métodos Van Genuchten (1980). A Closed-form Equation for
Predicting the Hydraulic Conductivity of Unsaturated
de otimização na aferição dos pares de dados Soils, Soil Science Society American Journal, Vol. 44,
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matricial, a saber: método dos mínimos Vauclin, M., Haverkamp, R., et Vachaud, G. (1979).
quadrados, técnica dos Algoritmos Genéticos Résolution numérique d’une équation de diffusion non
com modelo inverso e método de Levenberg- Einéaire. Application à l’infiltration dans les sols non
saturés, Presses Universitaires de Grenoble.
Marquardt, podem ser atribuídas à escolha do
modelo constitutivo em comum para os dois
estudos de caso.

A não unicidade de respostas de CCAS afeta


diretamente na calibragem de modelos de fluxo
de água em meio não saturado, pelo que os
resultados de modelação ainda continua sendo
particular para cada fenômeno físico abordado
em solos não saturados.

REFERÊNCIAS


Estudo Experimental do Comportamento de Solos Expansivos em
Amostras Compactadas
Vitor Hugo de Oliveira Barros
Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru, Brasil, vitor_barros1@outlook.com

Alison de Souza Norberto


Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru, Brasil, alison_norberto@hotmail.com

Analice França Lima Amorim


Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil, analicelima@hotmail.com

Tiago Barbosa da Silva


Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru, Brasil, tgbarbosa91@hotmail.com

RESUMO: Solos expansivos são grandes geradores de danos ao meio físico, podendo acarretar
amplas percas econômicas para a sociedade. O objetivo deste trabalho é analisar, através de ensaios
edométricos simples, o comportamento de deformação de um solo expansivo do munícipio de
Paulista, no estado de Pernambuco, através de amostras compactadas no ponto ótimo da curva de
compactação e comparar os resultados obtidos com os valores obtidos por outros trabalhos que
utilizaram amostras indeformadas retiradas do mesmo local. Verificou-se que as amostras
compactadas apresentam menor deformação de expansão do que as indeformadas, mas a tensão de
expansão do solo permanece inaltareda.

PALAVRAS-CHAVE: Solos Expansivos, Ensaios Edométricos, Amostras Compactadas.

1 INTRODUÇÃO situações de inundação, visto que muitos


problemas nas fundações das construções são
Segundo Ferreira (1995), definir com precisão o causados pela presença desse tipo de solo no
que é um solo expansivo é difícil, essa local.
dificuldade está ligada a fatores intrínsecos do Segundo Chen (1988) a principal causa de
próprio solo e a fatores condicionados ao meio argilas expansivas é a presença de mineral de
ambiente e às condições externas impostas. argila chamado montmorillonita. A presença de
Apesar dessa dificuldade e complexidade, há montmorillonita em argilas confere-lhes altas
definições para esse tipo de solo na literatura. ondulações potenciais. Essas partículas de
Por exemplo, Amorim (2004) define solo argila possuem tamanho colóide e uma grande
expansivo como sendo aquele solo não saturado área de superfície específica por unidade de
que sofre um processo de variação de volume volume.
de expansão ao ter seu vazio preenchido por Sendo assim, para compreender o
água. comportamento mecânico, geológico e
Entretanto, mais importante do que a hidráulico de solos não saturados é de grande
definição exata, é entender o comportamento importância para o projeto, construção e
dos solos não saturados quando submetidos a conservação de obras que estão constantemente
diferentes valores de carga e com diferentes

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expostas às variações de umidade durante sua 2.2 Ensaio de Compactação
construção e vida útil (MEDERO, 2005).
Amorim (2004) destaca que esses tipos de Através desse ensaio, se obtém a correlação
solos, quando não há previsão da ocorrência do entre o teor de umidade e o peso específico seco
mesmo na fase de projeto, provocam grandes do solo. O ensaio mais comum, que foi o
perdas econômicas, mas dificilmente são utilizado para a realização desse trabalho, é o de
responsáveis, direta ou indiretamente, por Proctor, que é realizado através de sucessivos
perdas de vidas humanas. Isso se dá pelo fato de impactos de um soquete padronizado na
os problemas ocasionados por esses solos amostra.
serem, principalmente, rachaduras, fissuras e O ensaio de compactação também é
trincas nas estruturas das edificações. normatizado pela ABNT. Essa norma é
A proposta desse trabalho foi analisar o denominada de NBR 7182/1988 – Solo –
comportamento de solos expansivos quando Ensaio de Compactação e o procedimento, para
solicitado por diferentes carregamentos e em o caso do soquete ser pequeno e a energia de
diferentes situações de inundação. Para isso, foi compactação ser normal, descrito nela é
realizado um estudo experimental através de apresentado resumidamente a seguir.
ensaios edométricos simples em amostras Como etapa inicial do ensaio, depois de
compactadas na umidade ótima da curva de separar a amostra a ser ensaiada, adiciona-se
compactação do solo. água até se obter consistência no material. Após
isso, já se deve partir para a compactação em si,
2 METODOLOGIA mas de forma ordenada. É preciso separar a
amostra em três camadas dentro do molde,
2.1 Preparação das Amostras fazendo com que a cada etapa um terço do
molde seja preenchido. Assim, compacta-se a
As amostras deformadas utilizadas neste estudo, primeira camada através de 25 golpes com o
foram utilizadas, anteriormente, por Paiva et al. soquete distribuídos uniformemente sobre a
(2016). Assim, os resultados para a superfície (a altura de queda do soquete também
caracterização física (granulometria e índices de é predeterminada em 0,305 m).
consistência), utilizados neste trabalho, foram O ensaio segue colocando camada sobre
os desse autor. Além disso, Santos (2008) camada e realizando os golpes. Quando esse
também realizou um estudo com o mesmo solo, processo for finalizado, é preciso retirar a
mas com retirada de amostra indepedente. amostra do molde e pesá-la. Por fim, parte-se a
A amostra foi retirada de uma área amostra ao meio e coleta-se uma pequena
pertencente à Companhia Pernambucana de quantidade para a determinação da umidade.
Saneamento (COMPESA), localizada no Para plotar o gráfico de peso específico seco
município de Paulista, litoral norte de por umidade é preciso realizar esse processo
Pernambuco, latitude de 7°55’35” e longitude mais algumas vezes. Assim, aproveita-se a
34°50’49”. mesma amostra já ensaiada, desmanchando-a
até que possa ser passada pela peneira n° 4 e
adicionando uma quantidade conhecida e
controlada de água.
Para a obtenção do resultado e interpretação
dos dados é de extrema importância realizar a
pesagem de todas as partes integrantes do
processo.
A curva de compactação é obtida marcando-
se, nas ordenadas, os valores dos pesos
específicos secos obtidos e, nas abcissas, os
teores de umidades correspondentes. O peso
Figura 1. Localização do ponto de coleta da amostra específico seco máximo será o ponto máximo,
(GOOGLE EARTH, 2016). em relação às ordenadas, dessa curva de

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compactação. A umidade ótima é o teor de A amostra moldada foi colocada na célula
umidade correspondente ao peso específico edométrica e sequencialemte acoplada ao
máximo. equipamento. Após a preparação e a colocação
da amostra no aparelho, é necessário instalar o
2.3 Ensaio Edométrico extensômetro e aplicar uma pressão de
assentamento na amostra (o valor da tensão
Neste estudo foi realizado o ensaio edométrico varia com o tipo de solo). Por fim, zera-se o
simples com o objetivo de obter os parâmetros extensômetro, em média, cinco minutos após a
de deformabilidade relacionados aos parâmetros aplicação da pressão.
de expansividade da amostra analisada com O próximo passo é carregar o solo ensaiado
diferentes condições de umidade. com determinados valores de tensão vertical,
Inicialmente, os corpos prova foram em estágios, com valores de aproximadamente
moldados através do equipamento de 10 kPa, 20 kPa, 40 kPa, 80 kPa, 160 kPa, 320
compactação, Ensaio Proctor Normal, no ponto kPa, 640 kPa, 1280 kPa. Ou seja, de forma que
ótimo da própria curva de compactação. Para o próximo valor seja o dobro do anterior.
manter a umidade, foi utilizado papel filme e Para cada um dos estágios de carregamentos
papel alumínio, além de acondicionar os corpos citados anteriormente, é preciso fazer leituras
em uma caixa térmica hermeticamente fechada, no extensômetro, de forma a obter a variação da
o que praticamente leva a troca de calor entre o altura do corpo-de-prova. As leituras são
corpo e o ambiente ao valor zero. realizadas imediatamente antes do
O processo seguiu a seguinte ordem: Depois carregamento, o que configura o tempo zero, e
de moldado, o corpo foi envolvido por papel em intervalos pré-estabelecidos (0,1; 0,25; 0,50;
filme. Após isso, foi novamente envolvido, mas 1,0; 2,0; 4,0; 8,0; 15,0; 30,0; 60,0 min.).
agora com papel alumínio. Por fim, os dois É preciso efetuar o descarregamento em
corpos foram colocados dentro da caixa estágios da pressão no corpo-de-prova pelo
térmica. menos três vezes. Durante o descarregamento é
As dimensões do corpo de prova a ser preciso realizar as leituras de variação da altura
utilizado no edômetro são menores (7 cm de no extensômetro, as mesmas terminam quando
diâmetro por 2 cm de altura) do que as do corpo não se observa mais variação da altura do
moldado através da compactação. Assim, foi corpo-de-prova.
necessário fazer a moldagem desse corpo. Essa Ao término de todo o procedimento do
moldagem é feita fixando-se o próprio anel de ensaio, é essencial proceder o enxugamento das
ensaio do equipamento, visto que ele tem uma superfícies expostas do corpo-de-prova com
superfície afiada que permite esse processo papel absorvente e determinar a massa.
(Figura 2).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Compactação

Para o ensaio de compactação foi preciso


destorroar a amostra até que não houvesse
torrões com dimensões superiores a 4,8 mm,
como recomendado pela norma. Com o auxílio
da peneira n°4 (4,8mm), peneirou-se o solo e se
garantiu essa exigência.
Após separar 3 kg da amostra destorroada,
adicionou-se 8% de água em relação à massa de
solo da forma mais homogênea possível. Em
Figura 2. Moldagem do corpo de prova. seguida, compactou-se a amostra no molde
cilíndrico em três camadas iguais, cobrindo

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aproximadamente um terço do volume do dimensões de 10 cm de diâmetro por 20 cm de
molde com o solo. altura.
O procedimento foi repetido por mais quatro Como o diâmetro do cilindro da
vezes, de forma que fosse possível montar a compactação é maior, procede-se com a retirada
curva de compactação do solo. A cada repetição do excedente lateral, de forma a facilitar a
uma determinada quantidade de água foi retirada do corpo a ser ensaiado.
adicionada, em incrementos de 4%, 8%, 4%,
4%, respectivamente, em relação à massa de 3.2.1 Índices de Compressibilidade
solo.
Com os dados obtidos, foi possível desenhar Os índices de compressibilidade do solo
a curva de compactação, que nada mais é do estudado foram obtidos utilizando a equação
que a representação da variação da massa que relaciona os índices de vazios e as pressões
específica aparente seca em função da umidade asssociadas aos mesmos. Para os índices de
da amostra. compressão e recompressão, obteve-se a média
O ponto máximo dessa curva representa a aritmética desses valores, chegando ao valor
massa específica aparente seca máxima, que final e característico de cada um. Os valores do
corresponde uma umidade denominada de índice de compressão são mostrados na Tabela
umidade ótima. O gráfico obtido é apresentado 1, bem como os de recompressão na Tabela 2.
na Figura 3.
Tabela 1. Valores para o índice de compressão.
1,60
Corpodeprova Índicedecompressão
Massa Específica aparente

1,55
01 0,232
1,50
02 0,212
Seca (g/cm³)

1,45
1,40
03 0,207
1,35 Média 0,217
1,30
Tabela 2. Valores para o índice de recompressão.
1,25
1,20
Corpodeprova Índicederecompressão
12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 01 0,029
Teor de Umidade (%) 02 0,018
03 0,051
Figura 3. Curva de compactação. Média 0,033

Ainda do gráfico apresentado na Figura 3, 3.2.2 Tensão de Pré-Adensamento


optou-se, depois de uma análise mais detalhada
do comportamento da curva, utilizar a umidade Exitem dois métodos mais conhecidos para
de 18% para a compactação dos corpos de encontrar esse parâmetro. Um é o de Pacheco
prova que seriam utilizados no ensaio Silva e o outro é de Casagrande, que é um
edométrico. processo empírico baseado em resultados de
3.2 Ensaio Edométrico inúmeros ensaios. O método escolhido para este
trabalho foi o de Pacheco Silva, devido,
Dois corpos de prova foram compactados no principalmente, à facilidade.
ponto ótimo apresentado no tópico anterior para Executando esse procedimento, encontrou-se
uso em ensaios edométricos simples. O corpo que a tensão média de pré-adensamento tem o
de prova utilizado nos ensaios apresentou massa valor de, aproximadamente, 112 Kpa.
específica aparente seca de 1,561 g/cm³, muito
próximo do valor obtido na curva de compactação 3.2.3 Deformação Sob Carregamento
para encontro da umidade ótima (Figura 3), e
possui índice de vazio inicial de 0,808. A Como forma de exemplificar o comportamento
moldagem é na forma cilíndrica e apresenta as do solo, neste item são apresentadas figuras que
mostram a variação da altura do corpo de prova

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durante o ensaio. Foram selecionadas cargas 7,6

Alturadaamostra(cm)
variadas, sem nenhum critério principal e 7,5
determinante. Todos os gráficos mostrados nas 7,4
figuras são referentes ao mesmo corpo de 7,3
prova. 7,2
7,1
9,45 7
Alturadaamostra(cm)

0 5 10 15 20 25
9,4
Raizdotempo(min)
9,35
Figura 6. Descarregamento para a carga de 160 kPa.
9,3
À medida que se retira a carga de
9,25
0 5 10 15 20 25
adensamento da amostra, como já era esperado,
o solo volta a recuperar sua altura expandindo
Raizdotempo(min)
novamente. Obviamente, a amostra não voltará
Figura 4. Adensamento para a carga de 160 kPa.
ao seu tamanho inicial mesmo que se retire toda
a carga, visto que parte do adensamento é
8
plástico. Esse fato pode ser explicado também
pela acomodação das partículas nas parcelas do
Alturadaamostra(cm)

7,8
7,6
adensamento secundário, que ocorre, mesmo
7,4
que em pouca intensidade, nesse tipo de ensaio.
7,2
3.3.4 Tensão de Expansão
7
6,8
O gráfico obtido nessa análise é mostrado a
0 5 10 15 20 25
seguir.
Raizdotempo(min)

Figura 5. Adensamento para a carga de 1280 kPa. 7


Deformaçãodeexpansão(%)

6
Analisando os gráficos mostrados nas
Figuras, percebe-se que o adensamento ocorre 5
em maior intensidade no início de cada
4
carregamento, devido à curva ser mais íngreme
nesse trecho. Segundo Das (2007), quando um 3
solo argiloso é submetido a uma tensão, o 2
recalque elástico ocorre imediatamente (esse
y=Ͳ0,0385x+6,9922
tipo de recalque é caracterizado pela não 1
R²=0,9672
alteração da umidade do solo), mas o excesso 0
de poropressão gerado pela carga se dissipa 1 10 100 1000
durante um longo período de tempo. Portanto, é
Pressão(kPa)
natural que o recalque na argila continue
ocorrendo mesmo depois que o recalque Figura 7. Gráfico Deformação de expansão x Log
elástico aconteça. Pressão.
Como forma de ilustrar mais ainda o
comportamento da amostra diante do Igualando a equação da reta de regressão
carregamento, a seguir é apresentado uma linear a zero, tem-se que o valor da tensão do
figura com o gráfico de descarregamento, solo é de, aproximadamente, 181,62 kPa.
também para o mesmo corpo de prova. Comparando com o resultado encontrado por
Paiva et al. (2016), que foi de 180 kPa, pelo
mesmo método, verifica-se que o valor é

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praticamente igual. Isso indica que a caracterização do comportamento de um solo,
compactação do solo não altera o valor da principalmente quando esse tem suas condições
tensão de expansão quando comparado com os naturais de campo alteradas (sobrecarga,
resultados de amostras indeformadas. mudança de umidade, etc.).

3.3.5 Expansão Livre


AGRADECIMENTOS
Para que seja máxima, a expansão livre de um
solo deve ser determinada com a menor tensão Os autores agradecem a todos aqueles que de
possível (FERREIRA, 1995). Para o caso desse alguma forma contribuiram para a realização
trabalho, a expansão livre foi determinada para desse trabalho.
o corpo de prova 3, em que a tensão aplicada
antes da inundação foi de 20 kPa. Outra forma
de fazer e confirmar o resultado é utilizando a REFERÊNCIAS
própria equação de regressão obtida no gráfico
mostrado na Figura 7. Amorim, S. F. (2004). Contribuição à cartografia
O valor da expansão livre foi de, geotécnica: sistema de informações geográficas dos
aproximadamente, 6,6%. solos expansivos e colapsíveis do Estado de
Pernambuco (SIGSEC-PE). Dissertação de Mestrado.
Novamente comparando com o resultado Universidade Federal de Pernambuco. CTG.
obtido por Paiva et al. (2016), percebe-se que o Caputo, H. P.(1988). Mecânica dos solos e suas
valor ficou um pouco distante, visto que o valor aplicações – Fundamentos. 6° Ed. Volume 1. Livros
era de 10,70%. Isso é explicado pelo fato de em Técnicos e Científicos. Rio de Janeiro.
um ensaio se utilizar amostras deformadas e Das, B. M. (2007). Fundamentos da engenharia
geotécnica. Tradução da 6° Ed. Norte Americana.
compactadas enquanto no outro se utiliza Thomson Learning.
amostras indeformadas. A primeira condição Chen, F. H. (1988). Foundations on Expansive Soils.
faz com que o solo se expanda menos. Elsevier Science Publishers B. V., London. 463 p.
Ferreira, S. R. M. (1995). Colapso e expansão de solos
4 CONCLUSÕES naturais não saturados devidos à inundação. Tese de
Doutorado. COPPE. Universidade Federal do Rio de
Janeiro. 400 p.
Pelos resultados apresentados, pode-se concluir Medero, G. M. (2005). Comportamento de um solo
que amostras compactadas, quando comparadas colapsível artificialmente cimentado. Tese de
com amostras indeformadas, apresentam Doutorado. Universidade Federal do Rio Grande do
comportamento semelhante para a tensão de Sul. Escola de Engenharia. Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil. Porto Alegre, 2005.
expansão, pois ambas apresentaram valores Paiva, S. C. Morais, J. J. O. Viana, R. B. Pinto M. G. V.
próximos a 180 kPa, mas comportamento P. Ferreira, S. R. M. (2016). Caracterização da
diferente para a expansão livre, onde houve expansividade de um solo natural e tratado com cal
uma diferença de aproximadamente 4% na do município de Paulista – PE. XVIII Congresso
deformação de expansão. Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia
Geotécnica (COBRAMSEG). Belo horizonte – MG,
Isso pode ser explicado pelo fato de o Brasil.
primeiro fator depender mais da natureza do Santos, G. M. Estudo do comportamento histerético de
solo, ou seja, das partículas que o formam, uma argila expansiva não-saturada. Dissertação de
enquanto o segundo parâmetro depende mais da Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco.
condição em que o solo se encontra e da CTG. Programa de Pós-Graduação em Engenharia
quantidade de índice de vazios. Civil, 2008.
A utilização de amostras compactadas
levou a pequenos valores de índice de
compressão, o que também reforça que
amostras nesse estado tendem a deformar
menos, como já é esperado.
Por fim, percebe-se o quanto os ensaios
edométricos são amplos e importantes para a

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Relação entre a Plasticidade do Solo e o Ponto de Entrada de Ar na
Curva Característica de Retenção de Água
José Camapum de Carvalho
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

Renato Cabral Guimarães


Furnas Centrais Elétricas S.A., Aparecida de Goiânia, Brasil, renatocg@furnas.com.br

Sumi Siddiqua
University of British Columbia, Kelowna, Canadá, sumi.siddiqua@ubc.ca

Amin Bigdeli
University of British Columbia, Kelowna, Canadá, b00023043@gmail.com

Priscila Nunes Muniz Barreto


University of British Columbia, Kelowna, Canadá, eng.priscila.barreto@gmail.com

RESUMO: O artigo mostra que o ponto de entrada de ar na curva característica de retenção de água
relaciona-se com os limites de liquidez e plasticidade do solo. São utilizados no artigo informações
contidas na literatura. É mostrado que no caso dos solos tropicais profundamente intemperizados e
dos solos expansivos faz-se necessárido considerar a umidade do solo que efetivamente contribui
para as propriedades e comportamento dos solos.

PALAVRAS-CHAVE: Limite de Liquidez, Limite de Plasticidade, Estrutura, Mineralogia.

1 INTRODUÇÃO A dificuldade de se relacionar o


comportamento dos solos tropicais com as
As propriedades físicas, químicas e classificações fundamentadas nas propriedades
mineralógicas dos solos geralmente são físicas dos solos, em especial com as
definidoras do comportamento hidráulico e classificações oriundas do Sistema Unificado de
mecânico dos mesmos, embora muitas vezes Classificação dos Solos (SUCS) e da
essa relação requeira análises mais acuradas não classificação HRB (Highway Research Board),
só das propriedades como do próprio deram origem no Brasil à classificação MCT
comportamento do solo. (Miniatura, Compactado, Tropical) proposta por
Oliveira (2007) mostra, por exemplo, usando Nogami e Villibor (1981). No entanto, se
agregados artificiais, que o comportamento consideradas as particularidades dos solos
mecânico dos solos tropicais exige uma análise tropicais é possível aplicar de modo satisfatório
mais detalhada das suas características os sistemas de classificação fundamentados nas
estruturais. Ele mostrou que o Índice de Suporte propriedades físicas o que não retira o mérito do
Califónia (ISC) não apresenta uma boa relação sistema de classificação MCT fundamentado no
com o índice de vazios e umidade global do solo, comportamento do solo.
mas se relaciona bem com o índice de vazios e O objetivo maior desse artigo é mostrar que
com a umidade interagregado. existe uma relação direta entre os limites de

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plasticidade e de liquidez e a pressão de entrada Figura 1 ilustra um agregado com microporos
de ar que caracteriza as curvas características de medindo um diâmetro equivalente de
retenção de água dos solos, mas aproveita-se a aproximadamente 32 Pm e que, portanto,
oportunidade para ampliar as discussões sobre as integraria o solo submetido aos ensaios de
propriedades dos solos tropicais e dos solos limites de Atterberg.
expansivos. As discussões se fundamentam nos
resultados apresentados por Guimarães (2002) e
(Khalili et al., 2004).

2 LIMITES DE ATTERBERG

Os limites de Atterberg, limite de liquidez e


limite de plasticidade, por se relacionarem
diretamente com a textura e com as
características químicas e mineralógicas dos
solos guardam uma relação direta com o
comportamento hidráulico e mecânico dos
Figura 1. Agregado presente em solo coletado a 1m de
mesmos. Já o limite de contração por sua vez está profundidade em um perfil de intemperismo tropical.
ligado não só às características texturais,
químicas e mineralógicas dos solos mas também A segunda observação diz respeito aos solos
às particularidades estruturais que apresentam. mineralogicamente expansivos, pois neles a água
Será mostrado que essas propriedades dos presente entre as camadas desses minerais,
solos também se relacionam com embora contribuam para a umidade do solo
particularidades das curvas características de determinada, não interferem na resistência
retenção de água dos solos como, por exemplo, interpartículas. Embora de difícil determinação,
com o ponto de estrada de ar. Embora se essa água presente intercamadas deveria ser
restringirá aqui a análises voltadas para a relação desconsiderada no cálculo da umidade do solo e,
existente entre o ponto de entrada de ar das portanto, na determinação dos limites de liquidez
curvas características de retenção de água e os e plasticidade.
limites de Atterberg as curvas características de Guimarães et al. (2017) mostram (Figura
retenção de água dos solos se também 2), que ao longo de um perfil de intemperismo
relacionam com outras propriedades físicas, tropical esses argilominerais expansivos podem
químicas e mineralógicas dos solos. estar presentes nas camadas de solo menos
Cabe aqui, no entanto, antes de iniciar as intemperizadas. Nos solos profundamente
discussões sobre cada ensaio duas observações intemperizados onde se fazem presentes os
distintivas. agregados predominam os argilominerais do
A primeira diz respeito aos solos tropicais grupo da caulinita e os óxi-hidróxidos de ferro e
profundamente intemperizados, pois neles alumínio. Minerais mais resistentes ao
grande parte das particulas ativas se encontram intemperismo, como é o caso do quartzo, quando
em estado agregado. Nos agregados apenas as presentes na rocha intemperizada geralmente
particulas que se encontram na superfície dos permanecem no perfil de intemperismo.
mesmos contribuem para as forças interativas
que conferem ao solo a resistência 2.1 Limite de Liquidez (LL)
correspondente aos limites de liquidez e de
plasticidade, ou seja, em condições de interagir O limite de liquidez é função das forças
contribuindo para a resistência do solo. Sendo adsorsivas de interação entre as partículas e está
assim, a água presente no interior dos agregados diretamente relacionado à capacidade de
não contribuem efetivamente para os limites de retenção de água do solo.
liquidez e plasticidade embora seja contabilizada O limite de liquidez pode ser
quando se determina a umidade do solo. A experimentalmente determinado por meio de

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duas técnicas de ensaio, o método do cone e o rolado sobre uma superfície de vidro
método de Casagrande. esmerilhado se fissure ao atingir 3 mm de
espessura. A maioria das normas prevê o uso da
palma da mão para a rolagem do cilindro de solo
sobre a superfície de vidro, no entanto, é possível
fazer a rolagem por meio de uma segunda placa
de vidro esmerilhado.
Embora sem interferir no conceito de limite
de plasticidade entende-se que os resultados
obtidos nesse ensaio também se relacionam ao
comportamento mecânico do solo, pois o
processo de fissuramento ocorre quando se
atinge a resistência a tração do solo mobilizada
na direção do eixo do cilindro.

2.3 Limite de Contração (LC)


Figura 2. Perfil de intemperismo tropical (Guimarães et al.
2017). Embora o limite de contração não seja objeto
maior desse trabalho cabe aqui situá-lo em
O método do cone consiste em se determinar
relação à curva característica de retenção de
a umidade correspondente à penetração estática
água, pois ele corresponde em um solo
na direção vertical de 20 mm de um cone padrão
mineralogicamente não expansivo submetido ao
em uma amostra de solo previamente preparada
aumento gradativo da sucção a partir do limite de
(norma britânica, BS 1377: Parte 2, 1990).
liquidez ou de plasticidade ao ponto de entrada
Determina-se, portanto, a umidade para a qual o
de ar na curva característica de retenção de água.
solo resiste à penetração de 20 mm do cone
Em um solo qualquer a pressão de entrada de ar
padrão.
na curva característica corresponde ao limite de
No método de Casagrande o limite de liquidez
contração física do solo, física porque o solo
corresponde à umidade necessária para que o
pode continuar a sofrer contração mineralógica
solo formando os taludes do corte realizado com
com o aumento da sucção ou perda da umidade
o auxílio de um cinzel no solo contido na concha
nos solos expansivos continuando assim a
de Casagrande se deforme em um processo de
intervir na porosidade.
ruptura gerado por 25 golpes de solicitação
Nos solos profundamente intemperizados,
dinâmica de percussão da concha sobre uma base
solos agregados, como após a entrada de ar nos
de ebonite fazendo a junção dos dois taludes em
macroporos os microporos presentes nos
uma extensão de 1,3 cm.
agregados contiuam saturados até valores
Portanto, nas duas técnicas de ensaio se
elevados de sucção, os agregados presentes no
determina a umidade do solo correspondente a
solo podem sofrer contração com o aumento da
uma determidada resistência, sendo que no
sucção gerando certa deformação no solo até que
ensaio do cone o limite de liquidez é definido
se dê a entrada de ar nos microporos como
pela resistência à penetração estática do mesmo
mostrou Lopera (2016) a partir de análises
no solo e no ensaio de Casagrande o limite de
microscópicas de solos integrantes de um perfil
liquidez é definido pela resistência não drenada
de intemperismo.
do solo. Destaca-se que essa análise dos
mecanismos desenvolvidos durante os enaios
não muda nem interfere no conceito de limite de
3 CORRELAÇÃO ENTRE OS LIMITES
liquidez.
DE ATTERBERG E O PONTO DE ENTRADA
DE AR DAS CURVAS CARACTERÍSTICAS
2.2 Limite de Plasticidade (LP)
DE RETENÇÃO DE ÁGUA
O limite de plasticidade corresponde a umidade
As curvas características de retenção de água
do solo necessária para que um cilindro de solo

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(CCRA) têm suas formas marcadas pela, montmorilonita estudada por Fleureau et al.
porosidade e distribuição de poros do solo e pela (1993) fez-se uma análise fundamentada na
natureza químico-mineralógica das partículas variação da distância interplanar basal que tem
que integram o solo. lugar nesse tipo de argilomineral quando de sua
Uma das características importantes das hidratação. Considerou-se nas análises que se
CCRA é o ponto de entrada de ar no solo. A seguem a água presente entre as camadas do
sucção que caracteriza esse ponto é função da argilomineral, água de expansão mineralógica,
textura, porosidade e distribuição de poros, da como água absorvida e a água externa ao mineral
contração que o solo sofre com a ampliação da a ele ligada em interação com a sua superfície
sucção e da natureza químico-mineralógica do como água adsorvida. Considerou-se ainda nas
solo. análises variações de distância interplanar basal
Os limites de Atterberg por sua vez estão situadas entre 10 Å, partículas com remoção total
diretamente relacionados à natureza químico da água intercamadas, e 40 Å, partículas com
mineralógica e à granulometria e distribuição hidratação máxima entre camadas a partir da
granulométrica do solo. Considerando essas qual ocorreria a separação das camadas que
particularidades há que se esperar que as compõem o argilomineral.
diferenças entre elas e aquelas que marcam o wl (Khalili et al. 2004) wp (Khalili et al. 2004)

solo para o qual se determina a curva wl, Fleureau et al. 1993 wp, Fleureau et al. 1993

característica irão dificultar o estabelecimento de 180

correlações entre o ponto de entrada de ar da 160

CCRA e os limites de Atterberg do solo. No 140

entanto, para os solos finos apresentando 120

plasticidade esse tipo de análise assume


wl, wp (%)

100

importância, até mesmo para fazer sobressair 80 y = 16,239x + 6,311


que o ponto de entrada de ar da CCRA é também 60
R² = 0,9118

função da natureza químico-mineralógica do 40


solo.
20 y = 5,9999x + 9,8676
Nesse artigo se analisará apenas as relações R² = 0,9275

entre os limites de Liquidez e Plasticidade e o 0


0 1 2 3 4 5

ponto de entrada de ar da CCRA. Embora deva e.pF

existir uma boa relação do ponto de entrada de ar Figura 3. Correlação entre os limites de liquidez e
da CCRA com o Limite de Contração, como a plasticidade e (e.pF) (Bigdeli et al. 2017).
determinação deste não é frequente e o mesmo
não consta das publicações que serviram de base Inicialmente considerou-se as partículas
para a elaboração desse artigo, não se analisará desidratadas apresentando uma distância
essa correlação. inteplanar basal de 10 Å e uma densidade real
A Figura 3 mostra os resultados apresentados dos grãos de 2,7 o que corresponde a máxima
por Bigdeli et al. (2017) em que se estabelece densidade real desse argilomineral.
correlações entre os limites de liquidez e de Considerando-se 100 g de montmorilonitas secas
plasticidade e o produto do índice de vazios do formadas por 10 camadas, com diâmetro médio
solo utilizado na determinação da CCRA pela das partículas igual a 1 Pm e distância interplanar
sucção em pF. Na construção dessa figura os basal de 10 Å, calculou-se o número de
autores utilizaram os dados apresentados por partículas presentes no solo. Em seguida fez-se
Khalili et al. (2004). Observa-se nessa figura que variar a distância interplanar basal em função da
os dados referentes à montmorilonita estudada hidratação do solo e calculou-se o volume de
por Fleureau et al. (1993) (triângulos vermelhos) água absorvido pelas 100 g de solo seco, e com
se encontram deslocados dos demais dados e não esse volume o teor de umidade absorvido (wab)
foram incluídos nas correlações apresentadas na correspondente (Figura 4).
figura. Considerando-se a equação que correlaciona
Para avaliar o deslocamento dos pontos o limite de liquidez com e.pF (Figura 3)
constantes da Figura 3 referentes à calculou-se o teor de umidade de adsorção (wl

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adsorvido = 71,3%) que satisfazeria a essa analisar a plasticidade e o comportamento
equação. O limite de liquidez obtido hidromecânico dos solos expansivos
experimentalmente (wl) menos o limite de considerando-se apenas a água adsorvida e não a
liquidez de adsorção (wl adsorvido) corresponde água presente no solo como um todo. Em termos
ao limite de liquidez de absorção (wl absorvido de índice de vazios os cálculos devem ser feitos
= 71,27%, distância interplanar basal = 36,6 Å, considerando-se apenas os vazios interpartículas
triângulo vermelho cheio, Figura 4). Seguindo o e as densidades de grãos dos argilominerais nas
mesmo raciocínio calculou-se a umidade de condições de hidratação estudadas. É evidente
adsorção correspondente ao limite de que tais análises são muito mais complexas que
plasticidade obtendo-se wp adsorvido = 33,87% as normalmente realizadas e requerem estudos
(triângulo vermelho vazio, distância interplanar complementares.
basal = 17,1 Å, Figura 4). Para o limite de Analisando-se agora o perfil de intemperismo
contração considerou-se umidade de absorsão estudado por Guimarães (2002) em relação à
nula com distância interplanar basal igual a 10 Å proposta de Bigdeli et al. (2017) mostrada na
(estrela vermelha, Figura 4). Figura 3, observa-se (Figura 5), que ao se
120 considerar o índice de vazios global e os
Teor de umidade absorvido (%)

y = 3,7037x - 37,037
100 R² = 1 resultados de limite de liquidez e plasticidade
80
obtidos experimentamente ocorre uma
importante discrepância em relação à proposta
60
original. Destaca-se que nessa figura manteve-se
40 a exclusão dos pontos correspondentes à
20 montmorilonita, pois os pontos experimentais
0 fugiram à tendência e os resultados obtidos a
0 10 20 30 40 50 partir da análise realizada tem carater estimativo.
Distância Interplanar Basal (Å)
wl (Khalili et al. 2004) wp (Khalili et al. 2004)
Figura 4. Relação teor de umidade absorvido x distância wl (Fleureau et al., 1993) wp (Fleureau et al., 1993)
interplanar basal. wl (Guimarães, 2002) wp (Guimarães, 2002)
80
70
Correlacionando-se as umidades absorvidos y = 16,239x + 6,311
60 R² = 0,9118
com as umidades adsorvidas para os limites de
50
liquidez e plasticidade definiu-se a equação
wl, wp (%)

40
utilizada para determinar a umidade adsorvida 30
correspondente ao limite de contração do solo 20
obtendo-se ws = 20,4 %. Esse procedimento foi 10
y = 5,9999x + 9,8676
R² = 0,9275
adotado considerando-se o fato de que até o 0
limite de contração o solo se mantem saturado. 0 1 2 3 4
e.pF
Como o teor de umidade absovido foi
Figura 5. Correlação entre os limites de liquidez e
considerado nulo e a distância interplanar basal plasticidade e (e.pF) (modificado, Bigdeli et al. 2017).
foi adotada como 10 Å, usando-se a densidade
real dos grãos adotada (2,7) calculou-se o índice Fazendo-se, no entanto, o tratamento dos
de vazios (e) correspondente ao limite de resultados considerando-se o índice de vazios
contração obtendo-se ews = 0,55. Se observada a interragregado e excluindo-se dos limites de
figura apresentada por Khalili et al. (2004) em liquidez e plasticidade a umidade
que é relacionado o índice de vazios com a correspondente aos microporos, observa-se um
sucção para essa montmorilonita (Fig. 15 dessa melhor ajuste dos resultados obtidos por
referência) se observa que esse índice de vazios Guimarães (2002) à proposta de Bigdeli et al.
corresponde aproximadamente ao menor índice (2017) (Figura 6). Cabe salientar que para os
de vazios encontrado para o solo o que aponta solos superficiais (profundidade igual a 1 m e 2
para o acerto das análises apresentadas nesse m) considerou-se integrando os limites a água de
artigo. agregados oriundos da ação de matéria orgânica
Essas análises mostram a necessidade de se que são desfeitos com a simples presença de

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água e manuseio do solo, pois os mesmos são análises diferenciadas quando se trabalha com
desfeitos durante a realização dos ensaios de solos expansivos e com solos tropicais
limite de liquidez e plasticidade. Camapum de profundamente intemperizados.
Carvalho et al. (2002) mostram que a presença
de materia orgânica interfere na agregação e
macroporosidade dessas camadas de solo. AGRADECIMENTOS
Destaca-se ainda que para o solo saprolítico
(profundidade igual a 10 m) considerou-se a Os autores agradecem ao CNPq e à CAPES pelo
umidade e a porosidade global dada a apoio dado as pesquisas que subsidiaram esse
inesistencia de agregados e simples presença de artigo.
pacotes de argila.
wl (Khalili et al. 2004) wp (Khalili et al. 2004)
wl (Fleureau et al., 1993) wp (Fleureau et al., 1993) REFERÊNCIAS
wl (Guimarães, 2002) wp (Guimarães, 2002)
70
y = 16,239x + 6,311
60 R² = 0,9118 Bigdeli, A.; Siddiqua, S.; Camapum de Carvalho, J.
(2017). Understanding the effect of pore-size
50
distribution and matric suction on the soil collapse.
wl, wp (%)

40 Submetido, ASCE Journal of Geotechnical and


30 Geoenvironmental Engineering.
y = 5,9999x + 9,8676 British Standards (1990). BS 1377: Parte 2. Methods of
20 R² = 0,9275
Test for Soil for Civil Engineering Purposes. British
10
Standard Institution (1975) Methods of Test for Soils
0
0 1 2 3 4
for Civil Engineering Purposes.
e.pF
Camapum de Carvalho, J. ; Pereira, J.H.F.; Guimarães,
R.C. Effondrement de sols tropicaux. In: Proceedings
Figura 6. Correlação entre os limites de liquidez e of the Third International Conference on Unsaturated
plasticidade e (e.pF) (modificado, Bigdeli et al. 2017). Soils, Recife. 2002. 2, pp. 851-856.
Fleureau, J. M., Kheirbek-Saoud, S., Soemitro, R., and
A análise realizada para o perfil de Taibi, S. 1993.‘‘Behaviour of clayey soils on drying-
wetting paths.’’ Can. Geotech. J., 30, 287–296.
intemperísmo tropical mostra, conforme Guimarães, R. C.. (2002). Análise das propriedades e
apontado por Camapum de Carvalho et al. comportamento de um perfil de solo laterítico aplicada
(2002), a necessidade de dispensar a esses solos ao estudo do desempenho de estacas escavadas.
uma abordagem distinta da clássica onde não se Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
considera a distribuição dos poros. Nos solos em Geotecnia í Universidade de Brasília, Brasília,
2002, G.DM-090/02, 183 p.
profundamente intemperizados, tanto os Guimarães, R.C.; Silva, H.H.A.B.; Oliveira, R.B.;
microporos presentes nos agregados como a Gonzáles, Y.V.; Farias, W.M.; Camapum de Carvalho,
água que os ocupa não influem ou influem pouco J. (2017). A micromorfologia no contexto das erosões
no comportamento hidromecânico dos mesmos e de borda de reservatórios. Livro Erosão em borda de
os resultados aqui analisados confirmam esse reservatótio, cap. 10, pp. 209-227.
Khalili, N., Geiser, F., & Blight, G. (2004). Effective stress
entendimento. in unsaturated soils: Review with new evidence.
International Journal of Geomechanics, 4(2), 115-126.
Lopera, J.F.B. (2016). Influencia da microestrutura no
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS comportamento mecanico dos solos tropicais naturais
e compactados. Dissertacao de Mestrado, Programa de
Pos-Graduacao em Geotecnia, Universidade de
As análises realisadas nesse artigo confirmam Brasilia. G.DM. – 272/16, 149 p.
que a pressão de entrada de ar que marca as Oliveira, J. C. (2007). Indicadores de potencialidades e
curvas características de retenção de água desempenho de agregados reciclados de resíduos
guardam nos solos argilosos relação com a sólidos da construção civil em pavimentos flexíveis.
porosidade e com as características químico- Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação em
Geotecnia, Universidade de Brasília. G.TD - 049/07,
mineralógicas dos solos uma vez que a 167 p.
plasticidade dos solos está diretamente Nogami, J. S.; Villibor, D. F. (1981). Uma nova
relacionada a essas características. classificação de solos para finalidades rodoviárias.
O artigo mostra ainda a necessidade de Simpósio Brasileiro de Solos Tropicais em
Engenharia. Rio de Janeiro - RJ. v.1, pp. 30-41.

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Terraplanagem e
Pavimentação

TEMA 8


Análise Numérica do Efeito do Sobrepeso Sobre o Pavimento
Rodoviário
Veronica Ferreira Soares
Unievangélica, Anápolis, Brasil, veronicafsoares@outlook.com

Isa Lorena da Silva Barbosa


DNIT, Anápolis, Brasil, isa_barbosa@hotmail.com

RESUMO: No presente trabalho foi desenvolvida uma análise empírico-matemática dos efeitos do
excesso de cargas no trecho Anápolis/Cocalzinho de Goiás da BR-414, objetivando demonstrar
através de cálculos, como o sobrepeso de veículos de carga pode diminuir a vida útil do pavimento.
Para tanto, foi feita uma previsão da vida útil do pavimento em função do número N, quando as cargas
previstas no dimensionamento são acrescidas em 10,15 e 20%. Com os resultados pode-se concluir
que, como consequência da falta de conscientização por parte das transportadoras, um aumento de
carga de 10%, por exemplo, pode diminuir a vida útil do pavimento em aproximadamente 5 anos.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimento flexível, Excesso de carga, Dimensionamento.

1 INTRODUÇÃO um eixo padrão de veículos, determinado pelo


parâmetro “N”.
Em uma entrevista no Enaex 2017, Tito Silva Este trabalho tem por finalidade,
gerente de regulação e transporte multimodal de demonstrar através do estudo de caso da BR 414,
cargas da Agência Nacional de Transportes como a excedência de cargas, acima do previsto
Terrestres (ANTT), disse que o transporte pelo cálculo do número “N” de um
rodoviário corresponde a 65% da matriz de dimensionamento, pode afetar a vida útil de um
transporte de carga em toneladas por quilômetro pavimento.
úteis do Brasil, contudo, a CNT (Confederação
Nacional de Transportes) apontou que 57,3% das
rodovias são deficientes no estado geral de 2 PAVIMENTOS
conservação. Essa deficiência pode estar
diretamente ligada aos efeitos do excesso de Estruturado sobre a superfície final de
cargas, já que o Brasil apresenta um grande terraplenagem e constituído de múltiplas
déficit no controle e fiscalização de sobrepeso camadas de espessuras finitas, o pavimento é
rodoviário. destinado a resistir e distribuir os esforços
Segundo Senço (2007), um dos fatores verticais provenientes do tráfego bem como os
que mais influenciam no dimensionamento do esforços horizontais que culminam em desgaste,
pavimento é o tráfego, que solicitará uma via, aumentando a durabilidade e melhorando a
durante toda sua vida útil de serviço. Tais superfície de rolamento, quanto ao quesito
solicitações ao longo de um período “P” para conforto, economia e segurança. (Bernucci, et al
qual o pavimento foi projetado, são e Senço, 2007).
representadas por um ciclo de esforços
dinâmicos em determinado ponto, repetições de 2.1 Pavimento Flexível

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil




O pavimento é dito flexível uma vez que sua 3.1 Tipos de Eixos
estrutura flete devido às cargas de tráfego, sendo
predominantemente utilizado nas vias urbanas e Os principais eixos que circulam nas rodovias
rodoviárias brasileiras, devido ao seu baixo custo brasileiras são: Eixo Simples de Roda Simples
e facilidade de aplicação. Usualmente há as (ESRS), Eixo Simples de Roda Dupla (ESRD),
camadas de revestimento asfáltico (camada de Eixo Tandem Duplo (ETD) e Eixo Tandem
rolamento) em conjunto com o blinder (camada Triplo (ETT). Cada um deles tem um limite de
de ligação) seguida pelas camadas de base, sub- carga específico regulamentado pela resolução
base, reforço de leito e subleito, conforme Nº 210/06 do CONTRAN, conforme
representado na Figura 01. Tais camadas são demonstrado na figura a seguir:
compostas basicamente de agregados e ligantes
asfálticos (Pluguiero,1999).
CAMADADEROLAMENTO

CAMADADELIGAÇÃO

BASE

SUBͲBASE

REFORÇO

DE SUBLEITO

 SUBLEITO

Fig.01. Camadas constituintes do pavimento flexível,


Manual de Pavimentação Asfáltica, Bernucci et al, 2007.
(Adaptada) Fig.02. Tipos de eixos e seus limites de carga, Autor,2017.
4 TRANSMISSÃO DE CARGA AO
PAVIMENTO
3 FATORES DE TRÁFEGO
Conforme foi visto, o pavimento é constituído
Devido a variabilidade de tipos de veículos e por camadas e cada uma delas desempenham um
cargas transportadas, o tráfego se torna um dos papel fundamental no recebimento de esforços
fatores mais difíceis de serem previstos e externos. As primeiras camadas são as
quantificados no processo de dimensionamento responsáveis pelo maior recebimento de cargas,
do pavimento. Além do volume do tráfego, sendo constituídas por materiais mais rígidos,
também é levado em consideração as cargas portanto mais resistentes. Doravante tais
distribuídas nos diferentes tipos de eixos esforços são distribuídos pelas camadas
veiculares, padronizados pelo Conselho subsequentes até atingir o subleito, onde a
Nacional de Trânsito (CONTRAN). dissipação final ocorre em uma área mais extensa
do que como ocorre nas camadas anteriores,
conforme mostrado na imagem a seguir:

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil




Tal parâmetro pode ser definido pela seguinte
equação:

ܰ ൌ ͵͸ͷ ‫ݎܨ כ ݒܨ כ ܯܸ כ ܲ כ‬ (1)

Onde:

365= Dias do ano.


P= Período de projeto (período para qual o
pavimento foi projetado).
Vm= Volume médio diário.
Fv= Fator de veículo.
Fr= Fator climático regional.

6.1 Volume Médio De Veículos

O volume médio diário de tráfego é definido


como a soma do volume total de veículos que
Fig.03. Transmissão de carga ao pavimento, Autor,2017. passam por uma determinada via em um sentido,
levando em consideração que esse número não é
constante, admitindo uma taxa de crescimento
5 EXCESSO DE PESO NAS RODOVIAS anual (DNIT). Seu cálculo é expresso pela
seguinte equação:
Ao dimensionar um pavimento, dois elementos
são levados em consideração: o peso por eixo e ሺʹ ൅ ܲ ‫ݐ כ‬ሻ
o número de vezes que o veículo vai passar pelo ܸ݉ ൌ ܸ‫݋‬ ሺʹሻ
ʹ
trecho a ser pavimentado. Se algumas dessas
variáveis fugirem do previsto, há um decréscimo Onde:
significativo na vida útil do pavimento,
consequentemente o aparecimento de patologias Vm= Volume médio diário.
que podem colocar em risco a segurança e Vo = Volume de tráfego inicial (num mesmo
conforto dos usuários. sentido de tráfego/ nº de faixas da via num
No intuito de evitar esse tipo de mesmo sentido).
problema, leis e resoluções são reguladas pelo P= Período de projeto.
CONTRAN e o DNIT, sendo aplicadas através t= Taxa de crescimento anual de tráfego.
da PRF (Polícia Rodoviária Federal) e pelo
próprio DNIT, por intermédio de balanças. 6.2 Fator de Veículo
Porém infelizmente na prática, a fiscalização
ainda não se faz suficiente, expondo o pavimento Objetivando a compensação da grande variedade
e os próprios usuários aos riscos eminentes de veículos e cargas, o Fator de Veículo
causados pelo peso excedido pelas transforma essa diversidade em operações de um
transportadoras de cargas nas rodovias. eixo padrão através do produto do Fator de Eixo
pelo Fator de Equivalência de Carga
(Senço,2007).
6 NÚMERO N
6.2.1 Fator de Eixo
O efeito devastador que o excesso de peso
provoca, pode ser constatado no Devido à grande variedade de eixos veiculares,
dimensionamento do pavimento que segundo o esse parâmetro foi criado para determinar o
DNER, através do Fator de Equivalência de número médio de eixos por veículos que
Carga utilizado na equação, determina o número
equivalente de solicitações do eixo padrão (N).

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil




trafegam numa rodovia (Senço,2007). Seu foi sugerida para o Brasil pelo DNER e mostra
cálculo é dado através da equação: os valores do Fator Climático Regional a serem
adotados segundo a altura média da chuva na
‫ ݁ܨ‬ൌ  σሺܰ݁ ‫ כ‬Ψܰ‫ܧ‬ሻ (3) região:

Onde: Tabela 03 – Fator Climático Regional em Função da


Precipitação Anual (DNER,1996).
Fe= Fator de eixo. Altura média de Fator Climático
Ne= Número eixos por veículo. Chuva (mm) Regional (FR)
%Ne= Porcentagem da quantidade de eixo por Até 800 mm 0,7
veículo em relação ao total. De 800 a 1500 mm 1,4
Mais de 1500 mm 1,8
6.2.2 Fator de Equivalência de Carga

Segundo o Manual da Pavimentação (DNIT), 7 METODOLOGIA


através dos métodos AASHTO e USACE, o
Fator de Equivalência de Carga (FEC) Esse trabalho foi desenvolvido mediante uma
transforma qualquer carga em um número revisão bibliográfica realizada através de uma
equivalente de solicitações de um eixo padrão pesquisa informatizada de literatura e estudos
em função do tipo de eixo. Para efeito de cálculo nacionais, utilizando como fundamento teórico
usa-se o método que tiver o maior valor. As as metodologias AASHTO e USACE para o
expressões para os cálculos dos FECs, são cálculo de Fator de Equivalência de Carga.
apresentadas nas Tabelas 01 e 02. Os dados para o estudo de caso, cedidos
pelo DNIT-GO, é do trecho da BR-414
Tabela 01 – Fator de Equivalência de Carga AASHTO localizado em Planalmira de Goiás. A partir
(DNIT,2006) Adaptada.
Tabela 02 – Fator de Equivalência de Carga USACE
(DNIT,2006) Adaptada. Eixo Simples de Roda ܲ ସǡଷଶ
Simples (ESRS – 6t) ‫ ܥܨ‬ൌ  ሺ ሻ
EIXOS E Equações ͹ǡ͹͹
CARGAS (P em tf) Eixo Simples de Roda ܲ ସǡଷଶ
ES> 0-8 ‫ ܥܨ‬ൌ ʹǡͲ͹ͺʹ‫ିͲͳݔ‬ସ ‫ܲݔ‬ସǡ଴ଵ଻ହ Dupla ‫ ܥܨ‬ൌ  ሺ ሻ
‫ ܥܨ‬ൌ ͳǡͺ͵ʹͲ‫଺ܲݔ ଺ିͲͳݔ‬ǡଶହସଶ (ESRD- 10t) ͺǡͳ͹
൒8
Eixo Tandem Duplo ܲ ସǡଵସ
TD> 0-11 ‫ ܥܨ‬ൌ ͳǡͷͻʹͲ‫ିͲͳݔ‬ସ ‫ܲݔ‬ଷǡସ଻ଶ ‫ ܥܨ‬ൌ  ሺ ሻ
(ETD- 17t) ͳͷǡͲͺ
൒11 ‫ ܥܨ‬ൌ ͳǡͷʹͺͲ‫ܲݔ ଺ିͲͳݔ‬ହǡସ଼ସ
TT> 0-18 ‫ ܥܨ‬ൌ ͺǡͲ͵ͷͻ‫ିͲͳݔ‬ହ ‫ܲݔ‬ଷǡଷହସଽ Eixo Tandem Triplo ܲ ସǡଶଶ
(ETT- 25,5t)
‫ ܥܨ‬ൌ  ሺ ሻ
൒18 ‫ ܥܨ‬ൌ ͳǡ͵ʹʹͻ‫ܲݔ ଻ିͲͳݔ‬ହǡହ଻଼ଽ ʹʹǡͻͷ
deles foi possível calcular o número N do trecho,
O fator de carga é dado pela equação: posteriormente usá-lo para a obtenção da
redução da vida útil em anos do pavimento.
σ௘௤௨௜௩௔௟²௡௖௜௔௦
‫ ܿܨ‬ൌ  (4)
ଵ଴଴

Onde: 8 RESULTADOS

Fc= Fator de Cargas. De acordo com os dados fornecidos pelo DNIT,


Equivalências= Produto de %NE pelo FEC. o volume médio diário (Vm) do trecho
Anápolis/Cocalzinho da BR-414 é de 317
6.3 Fator Climático Regional veículos/dia, com uma taxa de crescimento anual
de tráfego de 3%.
A estrutura do pavimento pode responder de A pesquisa de tráfego indicou a seguinte
diferentes formas, às mesmas cargas, sob distribuição dos veículos por eixos:
diferentes condições climáticas. A tabela a seguir

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• Veículos com 2 eixos: 85,42% Tabela 05 – Valores de Fatores de Equivalência de Carga
• Veículos com 3 eixos: 13,30% por tipo de veículo no método USACE (Autor,2017).
• Veículos com 4 eixos: 1,12% VEÍCULOS %NE FEC
• Veículos com 7 eixos: 0,16%
ONIBUS 11,38 3,57
Aplicando na equação de Fator de eixo tem-se: TRIBUS 2,26 8,83
2C 42,95 3,57
3C 28,53 8,83
‫ ݁ܨ‬ൌ  ෍ሺܰ݁ ‫ כ‬Ψܰ‫ܧ‬ሻ 2S2 0,64 12,12
‫ ݁ܨ‬ൌ  ሺʹ ‫Ͳ כ‬ǡͺͷͶʹሻ ൅ ሺ͵ ‫Ͳ כ‬ǡͳ͵͵Ͳሻ ൅ ሺͶ ‫כ‬ 2S3 6,09 12,87
ͲǡͲͳͳʹሻ ൅ ሺ͹ ‫Ͳ כ‬ǡͲͲͳ͸ሻ= 2,16 (5) 3S2 0,64 17,38
3S3 5,93 18,13
3D4 1,12 25,92
Segue abaixo a tabela com o nome,
3D6 0,16 30,53
silhueta e tipos de eixos por veículos presentes
TOTAL
na pesquisa de tráfego: 704,24
(™%NE*FEC)
Tabela 04 – Codificação de Classe veicular, suas
respectivas silhuetas e números de eixos (Autor,2017). Aplicando na equação do Fator de Cargas
tem-se:
VEÍCULOS ESRS ESRD ETD ETT

σ݁‫݈ܽݒ݅ݑݍ‬²݊ܿ݅ܽ‫ݏ‬ሺΨܰ‫ܥܧܨ כ ܧ‬ሻ
ONIBUS 1 1 ‫ ܿܨ‬ൌ  
ͳͲͲ
TRIBUS 1 1 ଻଴ସǡଶସ
‫ ܿܨ‬ൌ  ൌ ͹ǡͲͶ (6)
ଵ଴଴
2C 1 1
O fator de veículo é dado pelo produto do
3C 1 1 Fator de Eixo pelo Fator de Carga, portanto:
2S2 1 1 1
‫ ݒܨ‬ൌ ‫ܿܨ כ ݁ܨ‬
2S3 1 1 1
‫ ݒܨ‬ൌ ʹǡͳ͸ ‫ כ‬͹ǡͲͶ= 15,20 (7)
3S2 1 2
Para o cálculo do número N, foi adotado
3S3 1 1 1 um Período de projeto de 10 anos e Fator
Climático Regional de 1,0.
3D4 1 3
Dessa forma tem-se:
3D6 1 4 2
Para encontrar o valor total das ܰ ൌ ͵͸ͷ ‫ݎܨ כ ݒܨ כ ܯܸ כ ܲ כ‬
equivalências, foram utilizados os valores dos
FECs pelo método USACE, por ter sido o ܰ ൌ ͵͸ͷ ‫ͳ͵ כ Ͳͳ כ‬͹ ‫ͳ כ‬ͷǡʹͷ ‫ ͳ כ‬ൌ ૚ǡ ૠ૟࢞૚૙ૠ ሺͺሻ
método que apresentou maiores valores de
resultados. Em posse do número N, foi feita uma
variação da fórmula, onde isolou-se o período de
projeto em função do aumento de carga em 10%
15% e 20%:
ܰ
ܲ ൌ ሺͻሻ
͵͸ͷ ‫ݎܨ כ ݒܨ כ ܯܸ כ‬

O aumento de carga foi aplicado no limite


de carga de cada tipo de eixo e posteriormente
aplicados nas fórmulas de equivalência de carga.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil




Os resultados escolhidos foram do método
USACE, que foi o método que apresentou ܰ
ܲൌ
maiores valores de resultados. As novas ͵͸ͷ ‫ݎܨ כ ݒܨ כ ܯܸ כ‬
equivalências encontradas foram:
ͳǡ͹͸‫଻Ͳͳݔ‬
ܲൌ ሺͳͶሻ
Tabela 06 – Valores de Fator de Equivalência de Carga ͵͸ͷ ‫ͳ͵ כ‬͹ ‫ כ‬ሺʹǡ͵͹ ‫ͳ כ‬ͷǡ͸͵ʹሻ ‫ͳ כ‬
com aumento de carga em 10,15 e 20% (Autor,2017).
Equivalências (%NE * FEC) P= 4,10 anos
10% 15% 20%
1.213,96 1.563,20 1.899,99 Para acréscimo de 20% de carga:

ܰ
Aplicando as novas equivalências na ܲൌ
equação de FC, tem-se: ͵͸ͷ ‫ݎܨ כ ݒܨ כ ܯܸ כ‬

ͳǡ͹͸‫଻Ͳͳݔ‬
Para acréscimo de 10% de carga: ܲൌ ሺͳͷሻ
͵͸ͷ ‫ͳ͵ כ‬͹ ‫ כ‬ሺʹǡ͵͹ ‫ͳ כ‬ͺǡͻͻͻሻ ‫ͳ כ‬
σ݁‫݈ܽݒ݅ݑݍ‬²݊ܿ݅ܽ‫ݏ‬ሺΨܰ‫ܥܧܨ כ ܧ‬ሻ
‫ ܿܨ‬ൌ   P= 3,17 anos
ͳͲͲ
O gráfico a seguir demonstra de maneira
ͳǤʹͳ͵ǡͻ͸
‫ ܿܨ‬ൌ  ൌ ͳʹǡͳ͵ͻሺͳͲሻ sucinta como o excesso de peso não previsto pelo
ͳͲͲ dimensionamento pode reduzir drasticamente a
vida útil do pavimento:
Para acréscimo de 15% de carga:

σ݁‫݈ܽݒ݅ݑݍ‬²݊ܿ݅ܽ‫ݏ‬ሺΨܰ‫ܥܧܨ כ ܧ‬ሻ
‫ ܿܨ‬ൌ   10
ͳͲͲ 9
8
ͳǤͷ͸͵ǡʹͲ 7
‫ ܿܨ‬ൌ  ൌ ͳͷǡ͸͵ʹሺͳͳሻ 6
ͳͲͲ 5
4
Para acréscimo de 20% de carga: 3
2
σ݁‫݈ܽݒ݅ݑݍ‬²݊ܿ݅ܽ‫ݏ‬ሺΨܰ‫ܥܧܨ כ ܧ‬ሻ
Vidaútil(anos)

1
‫ ܿܨ‬ൌ   0
ͳͲͲ Carga Carga Carga Carga
Prevista Prevista+ Prevista+ Prevista+
ଵǤ଼ଽଽǡଽଽ
‫ ܿܨ‬ൌ ൌ ͳͺǡͻͻͻሺͳʹሻ 10% 15% 20%
ଵ଴଴

Para obter o decréscimo da vida útil, o Figura 02. Gráfico de redução de vida útil, Autor.
último passo é aplicar os valores até aqui
encontrados na fórmula do P isolado:
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para acréscimo de 10% de carga:
Conforme os resultados obtidos neste trabalho,
ܰ pôde-se concluir que quando há um acréscimo de
ܲൌ peso de carga em caminhões transportadores
͵͸ͷ ‫ݎܨ כ ݒܨ כ ܯܸ כ‬
10% acima do especificado por lei, há uma
ͳǡ͹͸‫଻Ͳͳݔ‬ diminuição de aproximadamente 5 anos na vida
ܲൌ ሺͳ͵ሻ útil do pavimento. Assim como no acréscimo de
͵͸ͷ ‫ͳ͵ כ‬͹ ‫ כ‬ሺʹǡ͵͹ ‫ʹͳ כ‬ǡͳ͵ͻሻ ‫ͳ כ‬
15% e 20% de peso, um decréscimo próximo de
P= 5,29 anos 6 e 7 anos respectivamente.
Segundo o DNIT (2017), em todo o
Para acréscimo de 15% de carga: Brasil, apenas cinco estados têm balanças para

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pesar os caminhões e verificar se eles levam
excesso de cargas. Pelos levantamentos feitos
nessas balanças, sabe-se que muitos veículos
transportadores ultrapassam os 20% do limite
permitido por lei. As consequências do
carregamento excessivo de peso afetam não só
os usuários das rodovias como também de todos
os brasileiros, já que com o aparecimento de
patologias no asfalto, há um aumento três vezes
maior em obras de restauração, acarretando em
custos que poderiam ser evitados,
congestionamentos de veículos e riscos de
contaminação do meio ambiente.
Assim, a analise realizada nesse trabalho
fornece uma noção do tamanho da influência que
o excesso de carga provoca na redução da vida
útil do pavimento e confirma a necessidade do
aumento da fiscalização com balanças nas
rodovias brasileiras.

REFERÊNCIAS

Bernucci, L. B. et al. (2007) Pavimentação Asfáltica:


Formação Básica para Engenheiros, Rio de Janeiro.

CNT (2017), Anuário CNT do transporte - Estatísticas


Consolidadas. Confederação Nacional do Transporte.
Brasília.

CONTRAN (2006), Resolução nº 210/06 de 13/11/2006.


Estabelece os limites de peso e dimensões para
veículos que transitem por vias terrestres e dá outras
providências, Brasília.

DNER (1981), Método de projetos de pavimentos


flexíveis. Instituto de Pesquisas Rodoviárias. Rio de
Janeiro.

DNIT. (2006). Manual do estudo de tráfego. Diretoria de


Planejamento e Pesquisa. Coordenação Geral de
Estudos de Pesquisa. 3. ed. Rio de Janeiro.

Fontenele, H. B.; Zanincio, C. E.; Junior, C. P.(2011) O


excesso de peso nos veículos rodoviários de carga e seu
efeito, Londrina.

Senço, W.(2007) Manual de técnicas de pavimentação,


Vol. 1, 2º ed., Pini, São Paulo.

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Avaliação das Tensões e Deformações nas Camadas de Pavimento
Flexível devido ao Aumento do Número de Eixos e da Variação
do Módulo de Elasticidade
Darym Júnior Ferrari de Campos
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, darymjunior@gmail.com

Luiza Nicolato
Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, lunicolato@hotmail.com

José Camapum de Carvalho


Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, camapumdecarvalho@gmail.com

RESUMO: O presente trabalho tem a finalidade de apresentar o estudo das tensões e deformações
oriundas do tráfego nas camadas de um pavimento flexível com o aumento do número de eixos e a
variação no módulo de elasticidade das camadas. Realizou-se o dimensionamento empírico
mecanístico baseado na teoria da elasticidade por meio do software Kenpave. A seção típica do
pavimento adotado consiste em uma camada de revestimento de 5cm e de base e sub-base de 20cm.
A partir das análises, verificou-se que com o aumento do número de eixos, tem-se consequentemente
um aumento das tensões que chegam no solo de fundação do pavimento, que pode ser significativo
devido a posição do eixo analisado e das características do perfil de solo. Além disso, leva-se a uma
maior variabilidade das respostas estruturais do pavimento quando este é submetido a mudanças do
módulo de elasticidade das camadas.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimento Flexível, Eixo Rodoviário, Módulo de elasticidade, Kenpave.

1 INTRODUÇÃO de 60cm a 150cm. Apresenta-se na Figura 1


uma estrutura de pavimento e as respectivas
O comportamento dos pavimentos relaciona-se solicitações advindas da passagem do tráfego.
estritamente com as características de sua
estrutura (revestimento, camada de base e sub-
base), das características do subleito (solo de
fundação), da magnitude das cargas de tráfego e
de outros fatores, como o clima, a vegetação, a
geologia, dentre diversos fatores.
Segundo Gonçalves (1999), as camadas de
base e sub-base apresentam-se como principal
função a redução de tensões advindas das
repetidas cargas do tráfego e a respectiva
transmissão para o subleito. O subleito Figura 1. Cargas no Pavimento (Marques, S.D apud
caracteriza-se como o terreno de fundação onde Santana, 1993).
será apoiado todo o pavimento, devendo-se
analisá-lo, principalmente, entre profundidades Conforme Franco (2007), existe uma

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complexidade quanto a modelagem do tráfego, se também a redução de 84,34% na vida útil do
uma vez que envolve diversos fatores, como a pavimento, quando o mesmo é solicitado por
contagem de veículos, a velocidade de uma carga acima de 20% da carga estabelecida
passagem, a distribuição do peso sobre os por eixo.
presentes eixos e a sua geometria, a pressão dos Os estudos citados reforçam a importância da
pneus, entre outros. caracterização do tráfego por eixo, bem como
Nesse trabalho analisou-se a variação das as necessidades de fiscalização nas rodovias
tensões e deformações em diferentes para que as cargas máximas permitidas sejam
profundidades de uma estrutura de pavimento respeitadas. No Brasil, o Conselho Nacional de
flexível, aumentando-se o número de eixos e Trânsito (CONTRAN), através das resoluções
variando-se o módulo de elasticidade das n°201/06 e 2011/06 e da portaria do
camadas. Assim, pretendeu-se verificar a DENATRAN n°63/2009, regulamentou os
magnitude das tensões que atingem o subleito e artigos 99 e 100 do Código de Trânsito
se há necessidade de estudos complementares Brasileiro (CTB), os quais estipulam os limites
nas profundidades abaixo de 1,5m. de dimensões, peso bruto total (PTB), peso
Para isso, utilizou-se o método empírico- bruto total combinado (PBTC) e peso por eixo
mecanístico com auxílio do software Kenpave, de veículos que circulam rodovias brasileiras.
desenvolvido pela University of Kentucky Para o presente trabalho, utilizaram-se as
(Huang, 2004). As análises baseiam-se na teoria cargas máximas por eixo e as respectivas
da elasticidade, sendo os materiais de cada distâncias foram as mínimas permitidas pelo
camada homogêneos, isotrópicos e linearmente CONTRAN, pois o objetivou-se analisar de
elásticos, sendo características normalmente acordo com o limite admissível da estrutura do
utilizadas no dimensionamento de pavimentos pavimento flexível.
flexíveis. O carregamento oriundo do tráfego é
ainda considerado como estático.
3 DIMENSIONAMENTO DE
PAVIMENTOS RODOVIÁRIOS
2 CARGA RODOVIÁRIA
Existem dois tipos de métodos de
Segundo Motta (1991), citado por Franco dimensionamento de pavimentos: o empírico e o
(2007), devido a grande variabilidade de eixos, empírico mecanístico. O primeiro baseia-se na
pneus e das pressões, os métodos consagrados experiência e observação, sendo seus fatores
de dimensionamento transformam as inúmeras variáveis de acordo com a região de implantação
cargas e tensões atuantes em um número da rodovia. O segundo, parte de uma estrutura
equivalente de passagens de um eixo padrão. pré-dimensionada empiricamente e utiliza
Entretanto, tal metodologia, muitas vezes não métodos de cálculo mais precisos e realistas, o
representa fielmente o tráfego. que permite determinar a tensão, deformação e
De forma a esboçar o tráfego de maneira o desempenho do pavimento (Vidotto e
mais real, o Guia de Projeto da American Fontinele, 2013).
Association of State Highway and Algumas hipóteses são comumente adotas em
Transportation Officials – AASHTO, modelos baseados na teoria da elasticidade, tais
caracteriza o tráfego por meio da distribuição de como o carregamento considerado estático.
cargas por eixo existente: simples, tandem duplo Nessa consideração, os efeitos dinâmicos
e tandem triplo (Vidotto e Fontinele, 2013). passam a ser embutidos nos módulos de
De acordo com Réus et al. (2014), a elasticidade dos materiais das camadas, o que
deterioração dos pavimentos deve-se pode ser considerado razoável, pois os efeitos
normalmente pela carga por eixo, sendo o Peso inerciais têm pouca influência para as
Bruto Total Combinado (PBTC) pouco velocidades usuais. Tal fato se deve a massa
relevante, desde que sua carga seja distribuída elevada do pavimento, tendo esses, frequência
em um número suficiente de eixos. Verificaram- de ressonância muito diferente das frequências

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das cargas móveis dos veículo e aeronaves
(Gonçalves, 1999).
4 METODOLOGIA

4.1 Carga máxima e dimensões estabelecidas


Analisaram-se os eixos simples com quatro
pneumáticos, o eixo tandem duplo e o eixo
tandem triplo. Nas Figuras 2 a 4, retiradas do
quadro de fabricantes de veículos do DNIT
(2012), tem-se a representação gráfica da
distribuição de peso por eixo.

Figura 5. Eixo Simples com 4 Pneumáticos.

Figura 2. Eixo Simples com 4 Pneumáticos (DNIT,


2012).

Figura 6. Eixo Tandem Duplo.

Figura 3. Eixo Tandem Duplo (DNIT, 2012).

Figura 7. Eixo Tandem Triplo.

As cargas atuantes no eixo simples, tandem


Figura 4. Eixo Tandem Triplo (DNIT, 2012). duplo e tandem triplo foram de 10t, 17t e 25,5t,
respectivamente. Tais cargas foram aplicadas
Utilizou-se o software Kenpave para as sobre a área de contato de 366 cm2 (raio de
condições acima, sendo representadas pelos 10,8cm), representada pelo pneu-pavimento. Já
modelos das Figuras 5 a 7. Tais configurações a distância considerada entre pneus por roda foi
tem o objetivo de facilitar a observação do de 33cm. Tais valores são estabelecidos pelo
critério da geometria, possibilitando-se a análise Manual do Tráfego do DNIT, 2006a.
das tensões e deformações em diferentes eixos e
diferentes pontos referentes aos mesmos. 4.2 Estrutura do pavimento
Adotou-se a distância mínima permitida entre
os eixos (120cm), uma vez que essa configura a Como proposta de análise da pesquisa,
pior situação de análise (limite admissível). apresentou-se na Tabela 1, três estruturas de

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pavimento (Caso 1, 2 e 3).
Os valores adotados de espessura, módulo de 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
elasticidade e coeficiente de Poisson, para o
Caso 1, são típicos dos pavimentos da região de 5.1 Tensões máximas principais
Brasília-DF. No Caso 2, reduziu-se pela metade
os módulos das camadas de revestimento, base e Como o objetivo foi identificar a existência de
sub-base considerados no Caso 1. Já no Caso 3 carga e a sua influência à uma profundidade de
reduziu-se pela metade apenas o módulo do 150cm, resumiu-se na Tabela 3 um comparativo
subleito. acoplando-se os resultados finais para cada eixo
estudado.
4.3 Critério de análise Comparando-se os três eixos nos três casos
em termos de módulo de elasticidade, o eixo
Primeiramente, verificou-se a influência das tandem triplo apresentou uma maior carga
tensões máximas aplicadas nas estruturas de crítica, com valor de 9,61 kPa através de uma
solo para cada camada (tensão máxima carga pontual no centro de sua geometria.
principal) até a profundidade de 150cm. Analisando-se os dados gerados por meio de
Posteriormente, evidenciou-se por meio de gráficos, os quais apresentam a dissipação das
gráficos a relação das deformações e recalques de tensão nas camadas dos pavimentos,
ao longo da profundidade, levando em verificou-se, para todos os casos, que embora
consideração o impacto dos módulos em cada haja grande dissipação de tensões nas camadas
estrutura e em cada um dos três tipos de eixos dos pavimentos, ainda existe, mesmo em
citados anteriormente (simples, tandem duplo e parcelas pequenas, cargas atuantes no subleito
triplo). na profundidade de 150cm.
Finalmente e de forma complementar a Ressalta-se que, com uma possível variação
avaliação acima, verificou-se as respostas de umidade ou quebra de grãos devido ao
estruturais do pavimento até a profundidade de acréscimo de tensões, um solo poroso,
300cm, quando esse é solicitado por um eixo colapsível e laterizado superficialmente, como é
tandem triplo com sua carga máxima (25,5t) e o solo típico de Brasília, poderá sofrer colapso
com uma possível carga adicional de 5t. ao receber a magnitude das tensões registradas
Como as análises são pontuais e cada eixo (carga crítica de 9,612 kPa) na profundidade
tem a sua geometria específica, os pontos foram evidenciada.
estrategicamente escolhidos a fim de se obter o
melhor resultado para os critérios presentes,
conforme observados na Tabela 2.

Tabela 1. Características da Estrutura do Pavimento Hipotético.


Estrutura Camadas utilizadas Espessura (cm) Módulo de Elasticidade (Mpa) Coeficiente Poisson (υ)
Revestimento 5 2500 0,2
CASO1 Base 20 1000 0,3
Sub-base 20 700 0,4
Subleito ꝏ 35 0,45
Revestimento 5 1250 0,2
CASO2 Base 20 500 0,23
Sub-base 20 350 0,4
Subleito ꝏ 35 0,45
Revestimento 5 2500 0,2
CASO3 Base 20 1000 0,3
Sub-base 20 700 0,4
Subleito ꝏ 17,5 0,45

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Tabela 2. Coordenadas de Análise para o Software Kenpave.
Eixo Ponto 1 (cm) Ponto 2 (cm) Ponto 3 (cm) Ponto 4 (cm)
Simples XW=0 ; YW=0 XW=0 ; YW=16,5
Tandem Duplo XW=0 ; YW=0 XW=0 ; YW=16,5 XW=60 ; YW=0 XW=60; YW=16,5
Tandem Triplo XW=0 ; YW=0 XW=0 ; YW=16,5 XW=120; YW=0 XW=120; YW=16,5

Tabela 3. Tensões Dissipadas no Subleito para 150cm de Profundidade.


EIXO SIMPLES - RODAS
EIXO TANDEM DUPLO EIXO TANDEM TRIPLO
POSIÇÃO (X;Y) DUPLAS
CASO1 CASO2 CASO3 CASO1 CASO2 CASO3 CASO1 CASO2 CASO3
0;0 4,36 5,43 3,36 6,28 7,48 5,05 7,14 8,26 5,94
0;16,5 4,41 5,47 3,43 6,33 7,53 5,12 7,19 8,32 6,01
60;0 - - - 6,65 7,93 5,35 - - -
60;16,5 - - - 6,69 7,98 5,38 - - -
120;0 - - - - - - 8,23 9,55 6,81
120;16,5 - - - - - - 8,30 9,61 6,88

Nas Figuras 8 e 9, apresenta-se a variação deformação obtidos nas análises do eixo simples
das tensões ao longo da profundidade para o nas Figuras 10 e 11. Os recalques diminuíram
eixo tandem triplo. Ressalta-se que, assim como pela dissipação de tensões, chegando cargas
evidenciado nesse tipo de eixo, os demais menores no decorrer da profundidade. O caso 3
também não sofreram influências significativas apresentou os maiores recalques, de
devido a variação dos módulos de elasticidade. aproximadamente 0,25mm a mais que no caso 1,
o qual apresentou os menores valores.
Quanto as deformações, tem-se o
comportamento variado nas camadas iniciais
devido a pequena espessura do revestimento,
base e sub-base. Já no subleito, o
comportamento apresenta-se linear, uma vez
que o módulo dessa camada foi considerado
constante, não havendo alterações com a
Figura 8. Tensões ao longo da Profundidade para profundidade. O caso 2 apresentou as maiores
(XW=0;YW=0) e (XW=0;YW=16,5), respectivamente.
deformações tanto nas camadas do pavimento,
quanto no início do subleito, devido aos
menores módulos nas camadas da estrutura de
pavimento. Na medida em que as tensões se
dissipam elas se aproximam dos valores
encontrados nos outros casos.

Figura 9. Tensões ao longo da Profundidade para (XW=


120; YW=0) e (XW= 120; YW=16,5), respectivamente.

5.2 Recalques e deformações

5.2.1 Eixo simples


Figura 10. Recalques ao longo da Profundidade para
Apresentam-se os gráficos de recalque e (XW=0; YW=0) e (XW=0; YW=16,5), respectivamente.

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Figura 11. Deformações ao longo da Profundidade para
(XW=0; YW=0) e (XW= 0; YW=16,5), respectivamente.

5.2.2 Eixo tandem duplo

Os gráficos das Figuras 12 e 13 apresentam os


recalques e as deformações obtidos nas análises
do eixo tandem duplo. Através desses, percebe- Figura 13. Deformações ao longo da Profundidade para
se comportamento semelhante ao eixo simples. (XW=0; YW=0), (XW=0; YW=16,5), (XW=60; YW=0)
Da mesma forma que o eixo simples, os e (XW=60; YW=16,5), respectivamente.
recalques diminuíram pela dissipação de tensões,
chegando cargas menores no decorrer da Assim, a mudança de comportamento para o
profundidade. Recalcou-se aproximadamente caso 2 em relação ao 3, mesmo com os módulos
0,5mm no caso 3 em relação ao 1, o qual menores, deu-se em virtude da melhor camada
apresentou os menores valores. de subleito.
Comparando-se com o eixo simples, as
deformações presentes mostraram que no centro 5.2.3 Eixo tandem triplo
do eixo (coordenadas XW=60; YW=0 e
XW=60; YW=16,5) ocorreu uma variação de Observam-se os recalques e as deformações
comportamento. Isso se deve ao fato do local obtidas nas análises do eixo tandem triplo nas
obter o maior bulbo de tensão final, mesmo que Figuras 14 e 15.
inicialmente receba menores cargas aplicadas,
fato que no centro nao tem contato direto com o
pneu-revestimento.

Figura 14. Recalques ao longo da Profundidade para


(XW=0 ; YW=0), (XW=0 ; YW=16,5), (XW=120;
YW=0) e (XW=120 ; YW=16,5), respectivamente.
Figura 12. Recalques ao longo da Profundidade para
(XW=0; YW=0), (XW=0; YW=16,5), (XW=60; YW=0)
e (XW=60; YW=16,5), respectivamente.

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De acordo com a Figura 16, perceberam-se que
as respostas do pavimento apresentam as
mesmas tendências das análises anteriores. A
variação de 20% na carga resultou em um
aumento de tensão de 1,3kPa a 150cm, de 0,61
kPa a 300cm, aumento de 1,6mm de recalque e
uma pequena variação nas deformações, na
ordem de 3x10-4.

Figura 15. Deformações ao longo da Profundidade para


(XW=0; YW=0), (XW=0; YW=16,5), (XW=120;
YW=0) e (XW=120; YW=16,5), respectivamente.

A variação do recalque foi igual ao eixo


tandem duplo, já as variações nas deformações
seguiram as mesmas tendências, porém
apresentando maiores variações no centro das
coordenadas do eixo. Dessa vez, a influência
manteve-se sem o contato pneu-revestimento, Figura 16. Comparativo Eixo Tandem Triplo com Carga
de 25,5t e com Carga de 30t (XW=120; YW=16,5).
mas com a peculiaridade de estar sobreposto
com as tensões dos outros dois eixos adjacentes,
motivo esse que gerou uma maior carga na
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
profundidade final estabelecida.
Considerando-se as análises expostas
5.3 Análise complementar
anteriormente, conclui-se que o aumento do
número de eixos e a variação no módulo de
Verificou-se na Tabela 3 que o eixo tandem
elasticidade das camadas leva a variações nas
triplo apresenta-se como o caso mais crítico,
respostas estruturais do pavimento. A ordem de
uma vez que, a 150cm de profundidade
grandeza de tais variações deverão ser
apresenta as maiores tensões.
analisadas para cada caso em específico.
Sendo assim, a fim de complementar as
Em relação as tensões, ocorrem as maiores
análises, verificou-se as respostas do pavimento
dissipações nas camadas de revestimento, base e
até maiores profundidades (300cm) para a carga
sub-base, chegando pouca carga no subleito.
máxima de 25,5t e para uma carga de 30t,
O eixo tandem triplo foi o eixo que
aproximadamente 20% de carga adicional, uma
apresentou as maiores tensões no solo de
vez que, devido a falta de fiscalização nas
fundação (ordem de 9,6kPa) na posição central
rodovias brasileiras, é comum a sobrecarga nos
das coordenadas (XW=120; YW=16,5). Deve-
eixos.
se atentar ao tipo de solo de fundação, pois para
Ressalta-se que utilizaram-se nas análises os
alguns solos, como o solo poroso, colapsível e
módulos de elasticidade do caso 1, por
laterizado superficialmente (solo típico de
representar valores típicos do solo da região, e
Brasília), essas tensões podem ser suficientes
na posição (XW=120; YW=16,5), uma vez que
para gerar um colapso, caso haja variação de
as maiores tensões encontram-se sempre nessa
umidade.
posição.
Em relação as deformações e recalques ao

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longo da profundidade, levando em
consideração o impacto dos módulos, tem-se e Ensaios de Cargas Repetidas”. Tese de doutorado,
que as variações foram semelhantes nos COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Réus, T.F; Silva, C.A.P.J; Fontenele, H.B (2014).
diferentes tipos de eixo, variando de acordo com
“Análise empírico-mecanística do efeito do excesso
a posição em relação ao contato pneu- de carga veículos comerciais”. Revista Eletrônica de
revestimento. No eixo tandem triplo as Engenharia Civil, Volume 9, n° 2, p.57-70.
variações apresentaram os maiores resultados. Vidotto, J.P; Fontenele, H.B (2013). “Efeito da variação
Na análise em maiores profundidades (300 da espessura do revestimento nas respostas
cm) e com cargas excedentes (20% maior que a estruturais do pavimento flexível”. Semana: Ciências
Exatas e Tecnológicas, Londrina, v.34, n.2, p. 155-
carga máxima estabelecida pelo CONTRAN), 166.
tiveram-se variações proporcionais ao caso
inicial, pois realizou-se o tipo de análise em um
mesmo solo característico. Porém, percebe-se
que estudos experimentais mostram grandes
deteriorações e diminuição da vida útil do
pavimento devido ao aumento de cargas por
eixo.
Finalmente, a definição da profundidade a
qual deverá ser estudado o subleito, deve levar
em consideração as características do solo de
fundação, a intensidade do tráfego, as variações
no meio físico decorrentes da própria execução
e utilização da rodovia.

7 REVISÃO BIBLOGRÁFICA

CONTRAN (2006a). “Limites de peso e dimensões para


veículos que transitem por vias terrestres e dá outras
providências”. Resolução 210/06, Legislação Federal
e marginália.
CONTRAN (2006b). “Requisitos necessários à
circulação de Combinações de Veículos de Carga –
CVC, a que se referem os arts. 97, 99 e 314 do
Código de Trânsito Brasileiro – CTB”. Resolução
211/06, Legislação Federal e marginália.
Departamento Nacional de Infraestutura e Transporte –
DNIT (2012). Diretoria de Infraestrutura Rodoviária.
Coordenação Geral de Operações Rodoviárias.
Quadro de Fabricantes de Veículos.
Departamento Nacional de Infraestutura e Transporte -
DNIT, 2006a, Manual de Pavimentação. 3ª ed. Rio de
Janeiro. 274 pp.
Franco, F.A.C.P (2007). “Método de dimensionamento
mecanístico-empírico de pavimentos asfálticos –
sispav”. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 318 p.
Gonçalves, F.P (1999). “O Desempenho dos Pavimentos
Flexíveis”. Universidade de Passo Fundo, 150p.
Huang, Y. H..Kenpave (2004). A Computer Package for
Pavement Analysis and Design.Professor Emeritus of
Civil Engineering university of Kentucky.
MOTTA, L.M.G. (1991). “Método de Dimensionamento
de Pavimentos Flexíveis; Critério de Confiabilidade

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DESENVOLVIMENTO DE UMA FERRAMENTA
COMPUTACIONAL PARA COMPARAÇÃO DOS MÉTODOS
DE DIMENSIONAMENTO DE PAVIMENTOS ASFÁLTICOS:
EMPÍRICO X MECANICÍSTICO
Felipe Aguiar Teixeira Sampaio de Barros
Centro Universitário CESMAC, Maceió, Brasil, felipeatsb94@gmail.com

Júlia Leite Schultz


Centro Universitário CESMAC, Maceió, Brasil, julialeites95@gmail.com

Danúbia Teixeira Silva


Centro Universitário CESMAC, Maceió, Brasil, danubiatsilva@gmail.com

RESUMO: As obras de infraestrutura têm relação direta com o desenvolvimento do Brasil, sendo de
suma importância que o dimensionamento de pavimentos seja cada vez mais preciso, interferindo de
maneira direta na durabilidade e qualidade do pavimento. O presente trabalho visa o desenvolvimento
de uma ferramenta computacional para dimensionamento de pavimentos asfálticos, através dos
métodos empírico e mecanicístico, priorizando a precisão dos resultados e agilidade. Para isto,
estudou-se detalhadamente os métodos citados, relacionando suas principais diferenças, a fim de
minimizar futuros erros de dimensionamento de maneira ágil. Os testes para validação da
ferramenta demonstraram funcionalidade e precisão.

PALAVRAS-CHAVE: Ferramenta Computacional, Dimensionamento de pavimentos alfáticos,


Método DNER – Engenheiro Murilo Lopes, Método mecanicístico.

1 INTRODUÇÃO projetos brasileiros, utilizam como base o


método empírico do DNER, desenvolvido a
O desenvolvimento econômico do país está partir de observações de danos de deformação no
diretamente atrelado a uma boa infraestrutura. subleito, ou seja, na concepção de projeto dos
Porém, o sistema rodoviário em sua maioria é pavimentos existentes não foram considerados
ineficaz, necessitando assim de constantes os efeitos de fadiga, trincas ligadas às cargas
intervenções, de modo a garantir condições repetidas do tráfego. A partir desta temática,
mínimas de tráfego sobre as rodovias. O segundo Motta (2003), muitos engenheiros
dimensionamento adequado de um pavimento rodoviários ao passar do tempo vêm discutindo a
asfáltico, deve garantir a repetição da passagem condição empírica, afim de um entendimento
dos eixos dos veículos, sem causar o trincamento mais analítico e completo. Assim, surgiu um
excessivo da camada de revestimento. A novo conceito, o método mecanicístico, cujo
degradação prematura dos pavimentos ocorre, pavimento é tratado como uma estrutura de
muitas vezes, pela imprecisão dos resultados engenharia e seu comportamento mecânico é
obtidos e má aplicação dos métodos de avaliado em função do carregamento e da
dimensionamentos utilizados, em sua maioria resistência dos materiais, assim como é feito com
dimensionados de forma manual e vagarosa. as estruturas de concreto ou de aço.
Segundo Motta (1991), grande parte dos Na modelagem mecanicística, busca-se uma

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constante melhora nos projetos de pavimentação estrutural (Kr, Kb, Ks e Kref) e suas espessuras
em termos de eficiência estrutural, que admite de proteção das camadas (R, H20, Hn e Hm).
também, os efeitos das condições ambientais e
de tráfego, diferentes daqueles pavimentos
projetados com Métodos Empíricos.
Buscando uma comparação efetiva dos
métodos empírico e mecanicístico, com maior
precisão e rapidez durante a rotina de cálculos,
foi desenvolvido no Microsoft® Office Excel,
uma ferramenta computacional de
Figura 1: Camadas do pavimento.
dimensionamento de pavimento asfáltico por Fonte: DNIT – Manual de Pavimentação 2006.
ambos os métodos, que garanta maior agilidade
nos processos, bem como, a redução de A espessura mínima do revestimento
possíveis erros, se realizados de maneira manual. betuminoso é determinada através dos valores de
Tornando-se uma grande ferramenta de auxílio “N”, ou seja, pelo número de repetições que
didático, que contribuirá com futuros estudos solicitam o pavimento, assim para cada valor de
acadêmicos, verificação de gabaritos de questões N, temos uma espessura mínima e tipo de
e identificação prática das diferenças de revestimento a ser usado, a seguir na Figura 2.
dimensionamento entre os resultados dos
métodos citados.

2 CONHECENDO OS MÉTODOS

2.1 Método Empírico – DNER

Elaborado pelo Eng. Murilo Lopes de Souza,


tem como base as características de suporte do Figura 2: Espessura de revestimento betuminoso.
subleito, os materiais que constituem a estrutura Fonte: DNIT – Manual de Pavimentação 2006.
do pavimento, e no número "N", que representa
a quantidade de repetições que solicitam o eixo Já as espessuras da base, sub-base e reforço
padrão de 8,2 tf, durante sua vida útil de projeto. de subleito, são encontradas pelas seguintes
Segundo o Manual do DNIT (2006), neste inequações:
método, a estrutura do pavimento é concebida
para proteger o subleito quanto à ruptura por R x KR + B x KB • H20 (1)
cisalhamento ou por acúmulo de deformações
permanentes. A capacidade de suporte do R x KR + B x KB + h20 x KS • Hn (2)
subleito e dos materiais constituintes dos
R x KR + B x KB + h20 x KS + hn x Kref • Hm (3)
pavimentos é medida pelo ensaio de Índice de
Suporte Califórnia (ISC) em corpos de prova
Vale ressaltar, que quando o CBR da sub-
indeformados ou moldados em laboratório para
base for de, pelo menos, 40% e N não for
as condições de massa especifica aparente seca e
superior a 106 repetições, permite-se substituir,
umidade ótima.
na Inequação 1, O H20 por 0,8H20, mas se N for
maior que 107, recomenda-se substituir na
2.1.1 Determinação das espessuras das camadas
primeira inequação H20 por 1,20H20 (SOUSA,
1981).
Para definição das espessuras de cada camada do
pavimento são adotadas as simbologias expostas 2.2 Método Mecanicístico
na Figura 1, com suas respectivas nomenclaturas
(revestimento, base, sub-base e reforço de Métodos analíticos para o dimensionamento de
subleito), seus coeficientes de equivalência pavimentos asfálticos vêm sendo desenvolvidos
ao longo dos anos. Segundo Franco (2007), o

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dimensionamento analítico basicamente deve Foi originado na Universidade de Berkeley, em
conter: Dados referentes aos materiais de 1968 e mais tarde aperfeiçoada por Franco em
pavimentação, ao tráfego e às condições 2004. (MOTTA, 1991; FRANCO, 2007).
ambientais. Estabelecendo uma relação entre O programa dispõe de uma saída de
dados de resistência dos materiais em função resultados de uma maneira mais simplificada,
do tipo de carregamento aplicado. Deve-se com posse de valores mais importantes para o
escolher as espessuras das camadas e calcular dimensionamento estrutural, como: deflexão
as tensões e deformações considerando as vertical da superfície (d), tensão normal vertical
diversas correlações obtidas, o que torna este no topo do subleito (V v), diferença de tensões
método mais completo. normais horizontal e vertical ( ' V ), e
Um dos pontos fortes é a verificação das deformação de tração( H t).
espessuras escolhidas, se satisfazem ou não as A figura 4 explana uma estrutura de
condições impostas no dimensionamento. pavimento, onde foram calculados os quatro
Franco (2007), fundador do programa SisPav, parâmetros principais (d, V v, ' V , U t) através
afirma que caso o dimensionamento não seja do programa FAPEVE 2.
adequado, novas espessuras são selecionadas e
o processo é repetido até que os danos fiquem
dentro dos limites aceitáveis de tolerância.
A figura 3 ilustra um fluxograma de
dimensionamento mecanicístico proposto por
Franco (2007):

Figura 4: a) Perfil do pavimento; b) Tensões e


deformações obtidas através do FAPEVE2.
Fonte: Adaptado de Franco (2007).

2.2.2 Análise mecanicística: Módulo de


resiliência e coeficiente de Poisson

Para este método analítico, a caracterização dos


materiais de pavimentação é feita de uma forma
diferente daquelas utilizadas nos métodos
tradicionais. Segundo Soares (2007), devido à
presença precoce da deterioração da malha
rodoviária, passou-se a compreender melhor o
comportamento mecânico dos materiais de
pavimentação. A partir deste ponto, foi possível
Figura 3: Fluxograma do método de dimensionamento analisar o comportamento estrutural até então
mecanicístico proposto pelo progama SivPav.
não explicável pelos métodos empíricos.
Fonte: Franco (2007).
De acordo com Medina e Motta (2005), o
trincamento dos pavimentos asfálticos é
2.2.1 Análise de deformações no pavimento consequência da repetição de pequenas deformações
elásticas, caracterizadas como fadiga. Este parâmetro
Esta análise é extremamente importante para vem sendo muito utilizado nas pesquisas, por
obter os dados necessários para dar representar melhor o comportamento da estrutura dos
continuidade ao dimensionamento analítico. pavimentos.
Uma ferramenta de cálculo de tensões, Os autores Medina e Motta, definiram um roteiro de
deformações e deslocamentos, muito usado em cálculo, que foi adotado neste trabalho. São eles:
pesquisas brasileiras é o programa FEPAVE2. 1º passo: Definir o N de projeto, com base no estudo
de tráfego (volume médio diário, taxa de crescimento,
etc.)
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2º passo: Ensaiar os materiais locais e de transportes - Norma DNIT 134/2010 – ME (2010), são
subleito, para a partir daí se obter os módulos de tiradas as amostras de solo, que são moldadas em
resiliência e as leis de deformação permanente, corpos de provas por compactação dinâmica ou
considerando as possível variações de umidade. impacto de um soquete. Posteriormente, ocorre a
3º passo: Definir um valor de módulo de aplicação das cargas repetidas de carregamentos
resiliência para a mistura betuminosa, em função dinâmicos, com a finalidade de eliminar as grandes
da temperatura média do local. Avaliar se a deformações permanentes que ocorrem nas primeiras
mistura betuminosa está de acordo com os aplicações de tensão desvio e de reduzir o efeito da
parâmetros. história de tensões no valor do módulo de resiliência.
4º passo: Adotar uma estrutura inicial, Após a fase de condicionamento deve ser iniciado o
adotando assim as espessuras de cada camada, procedimento para determinação do módulo de
chamadas de tentativa. resiliência, com aplicação de 18 pares das tensões em
5º passo: Calcular as tensões e sequência, para obtenção das leituras das deformações
deformações atuantes na estrutura carregada específicas após 10 repetições de carga. Assim, a partir
com o eixo padrão. Neste passo, foi adotado o dos valores obtidos, são calculados os módulos de
software “GeoStudio”, módulo “QUAKE/W” resiliência para cada par de tensões, por meio das
versão 2007, para formulação do pavimento e expressões:
cálculo de tensões-deformações, permitindo a
aplicação de carregamento externo na forma ‫ ܴܯ‬ൌ
ఙ೏
(3)
dinâmica e simulação dinâmica nas relações ఌೃ
tensões- deformações por meio deste.
ο௛
6º passo: Comparar os resultados obtidos de ߝோ ൌ (4)
ுబ
tensão e deformação, com os critérios de ruptura
encontrados através do número N de projeto. Onde:
Estas vão definir a vida útil do pavimento. MR: módulo de resiliência (kPa);
7º passo: Verificar o afundamento de trilho de ߪௗ : Tensão desvio aplicada repetidamente (kPa);
roda, previsto para o número N de projeto. Este ߝோ : Deformação específica resiliente;
é mais um parâmetro de vida útil.
ο݄ : Deformação resiliente registrada no
8º passo: Se o passo 6 e 7, forem atendidos, computador (cm);
então o pavimento está dimensionado. Caso
‫ܪ‬଴ : Distância entre alças (cm);
não, deve-se alterar as espessuras e recalcular as
tensões e deformações, comparando novamente
A seguir a figura 5, através de Medina e Motta
com os limites exigidos.
(2005), foi possível estabelecer relação entre
O primeiro estudo realizado para determinar
expressões de cálculo de módulo de resiliência e
a deformabilidade de pavimentos, relacionando
materiais de pavimentação em função do estado
o trincamento progressivo dos revestimentos
de tensões.
asfálticos à deformação resiliente (elástica) das
camadas subjacentes dos pavimentos, foi CLASSE MODELO MATERIAL
desenvolvido por Francis Hveem em 1951. O 0 ‫ ݎܯ‬ൌ ݂ሺܶ ൈ ‫ܥ‬ሻ Betuminoso

termo resiliente foi usado por Hveem em lugar 1 ‫ ݎܯ‬ൌ ݇ͳ ൈ ߪ ௞ଶ Arenoso

de deformação elástica, para diferenciar das ‫ ݎܯ‬ൌ ݇ʹ ൅ ݇ͳሺ݇ͳ െ ߪ݀ሻǡ


‫ ݀ߪ ܽݎܽ݌‬൏ ݇ͳ
deformações que ocorrem em outros sólidos 2 Argiloso
elásticos, afirmando que as deformações nos ‫ ݎܯ‬ൌ ݇ʹ ൅ ݇ͳሺߪ݀ െ ݇ͳሻǡ
‫ ݀ߪ ܽݎܽ݌‬൐ ݇ͳ
pavimentos são muito maiores do que as que Misturas
ocorrem com o concreto e o aço (MOTTA, asfálticas, solo
cimentado de
2003). O módulo de resiliência é um ensaio 3 ‫ ݎܯ‬ൌ ܿ‫݁ݐ݊ܽݐݏ݊݋‬
módulo elevador e
recomendado pelo AASHTO, através deste é solo siltoso de
módulo baixo.
possível avaliar a estrutura. ‫ݎܯ‬
ൌ ݇ʹ
É a relação entre a tensão-desvio aplicada ൅ ݇ܿሺ݇ͳ െ ߪ݀ሻߪ͵௞ଷ ǡ ‫݀ߪܽݎܽ݌‬
൏ ݇ͳ
repetidamente em uma amostra de solo e a 4
Solos lateríticos
finos
‫ݎܯ‬
correspondente deformação específica vertical ൌ ݇ʹ
recuperável ou resiliente. Segundo o manual do ൅ ݇ͳሺߪ݀ െ ݇ͳሻߪ͵௞ହ ǡ ‫݀ߪܽݎܽ݌‬
൐ ݇ͳ
departamento nacional de infraestruturas de
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Granular (depende
5 ‫ ݎܯ‬ൌ ݇ͳ ൈ ߠ ௞ଶ da soma das Figura 6: Relatório final: dimensionamento Empírico.
tensões principais) Fonte: Autores (2017).
Argiloso (depende
6 ‫ ݎܯ‬ൌ ݇ͳ ൈ ߪ݀ ௞ଶ
da tensão desvio)
7
‫ ݎܯ‬ൌ ݇ͳ ൈ ߪ͵௞ଶ ൈ ߪ݀ ௞ଷ
Todos os solos e
britas (geral)
Os resultados obtidos foram: 3 cm de
revestimento do tipo tratamento superficial, 17 cm de
Tabela 1: Relação: Resiliência x Material base do tipo solo-brita 30/70 e subleito arenoso. A
Fonte: Adaptado de Medina e Motta (2005). obtenção destes resultados serviram como dados de
entradas para o dimensionamento pelo método
Para o coeficiente de Poisson, de mecanicístico. Foi preciso utilizar o mesmo exemplo
acordo com Medina e Motta (2005), é numérico a fim de comparar os dois métodos em estudo.
mais viável adotar valores constantes de Assim, os dados para o método mecanicistíco.
μ, para cada tipo de material. São eles:

μ= 0,15 (concreto de cimento Portland); 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES


μ= 0,30 (misturas asfálticas a 25ºC);
μ= 0,35 (materiais granulares); Para validar a eficácia na obtenção dos
μ= 0,40 (solos argilosos); resultados escolheu-se os dados de entrada de um
trabalho realizado na disciplina de pavimentação,
para medir a eficácia da mesma. Os dados foram
3 METODOLOGIA DE ESTUDO utilizados para dimensionamento pelo método do
DNER e pelo método mecanicístico.
O presente trabalho buscou desenvolver Em relação a comparação de métodos de
uma ferramenta computacional para dimensionamento, nesta pesquisa os valores de
dimensionamento de pavimentos asfálticos, parâmetros calculados, deformação-tensão, são
principalmente para servir como auxílio didático. obtidos por meio do artifício dos geofones virtuais
Partindo do princípio de se obter uma interface presentes no software “Geostudio”, que geram os
amigável, de forma que a mesma fosse de fácil resultados das ações cíclicas dinâmicas na caixa de
assimilação por parte dos usuários e que a diálogo, conforme Figura 7.
introdução dos dados, bem como dos resultados
obtidos, fosse claro e preciso. Assim, foi possível
dimensionar tanto pelo Método Empírico, como
pelo Método Mecanicístico, de modo a analisar
na prática as principais diferenças entre os
métodos em estudo.
Através da ferramenta Paflex, a estrutura
do pavimento foi dimensionada primeiramente
pelo método Empírico. O numero N adotado foi
N=ͳͲହ , a partir do número de solicitações do
eixo padrão, o pavimento foi dimensionado. A
Figura 6 demonstrada a interface da ferramenta
Paflex, com o relatório final do Figura 7: Janelas Abertas no Software quando se
dimensionamento. clica na visualização de informações dos resultados.
Fonte: GeoStudio (2016).

Com o dimensionamento mecanicístico foi


possível observar a possibilidade de um melhor
aproveitamento dos materiais (solo) e de suas
características geomecânicas à luz da mecânica e
resistência dos materiais para o comportamento
estrutural e vida útil do pavimento sob a ação de
excitações dinâmicas das cargas na região em que está
implantada a rodovia.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Cesmac pelo apoio institucional. Agradecem ainda a
Professora Danúbia Teixeira, que leciona com muita
dedicação as matérias de Pavimentação, Estruturas de
contenção e Estabilização de taludes nesta mesma
instituição, por todo apoio e transmissão de
conhecimentos.

REFERÊNCIAS

Benevides, S. (2000). Análise comparativa dos métodos de


dimensionamento de pavimentos asfálticos: empíricos
do DNER e da resiliência da COPPE/UFRJ em
rodovias do estado do Ceará. Dissertação de Mestrado
em Engenharia de Transportes. Programa de Pós-
Figura 8: Relatório final: Dimensionamento Mecanicístico. Graduação de Engenharia da universidade federal do
Fonte: Autores (2017). Rio de Janeiro. RJ, Brasil.
DNIT – Manuais: Manual de Pavimentação de 2006.
Além disso, notou-se também que com o Disponível em:
novo método de estudo é possível realizar http://www1.dnit.gov.br/arquivos_internet/ipr/ipr_ne
adaptações no projeto, minimizando os custos w/manuais/Manual_de_Paviment
acao_Versao_Final.pdf. Acesso em maio de 2017.
finais. Como por exemplo, explorar o material Franco, F. (2007). Método de dimensionamento
de sub-base e diminuir a espessura do material mecanístico-empírico de pavimentos asfálticos -
de revestimento, resultando numa diminuição SisPav, Tese de Doutorado, Programa de Pós-
de custos, já que o revestimento é um material Graduação de Engenharia da universidade federal do
mais nobre em comparação com os materiais Rio de Janeiro. RJ, Brasil.
Medina, J. e Motta, L. (2005). Mecânica dos pavimentos.
granulares. in Engineering Practice, 2nd ed., Rio de Janeiro, RJ,
BR.
Motta, L. (1991). Método de Dimensionamento de
5 CONCLUSÕES Pavimentos Flexíveis; Critério de Confiabilidade e
Ensaios de Cargas Repetidas. Tese de Doutorado,
Programa de Pós-Graduação de Engenharia da
A adoção de ferramentas de dimensionamento universidade federal do Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
de pavimentos permite de forma didática um Motta, L. (2003). Noções de Mecânica dos Pavimentos.
melhor desempenho quanto ao aprendizado e Laboratório de Geotecnia - Programa de Engenharia
senso crítico na determinação das espessuras das Civil da universidade federal do Rio de Janeiro, RJ,
camadas. Brasil
Soares, J. (2007). Notas de aula do curso de graduação.
A partir desta pesquisa foi possível observar Disponível em: <http://www.det.ufc.br/jsoares>.
que a escolha de adotar o método mecanicístico Acesso em junho de 2017.
como método de dimensionamento, se faz pela Souza, M. (1981) Método de projeto de pavimentos
versatilidade do mesmo e por inúmeras flexíveis. IPR, Pbl. 667, 3. Ed. rev. e atual., Rio de
vantagens já citadas. Algumas delas: Janeiro, 33p. (a 1ª edição é de 1965).
Possibilidade de explorar os materiais locais,
buscando minimizar os custos, tanto para
construção de um pavimento novo, como para
recuperação de materiais existentes, já que neste
método são conhecidos os motivos reais da
ruptura dos pavimentos, estabelecendo assim,
um dimensionamento de projeto mais completo
e mais realista, já que envolve os fatores físicos
e mecânicos.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao Centro Universitário –


GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.

Empregabilidade de Materiais Secundários na Estabilização de
Base de Pavimentos Flexíveis
Nathália Araújo Boaventura de Souza e Silva
Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, boaventura.nathalia@gmail.com

Matheus Silva de Oliveira


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, matheus.s.o15@gmail.com

Guilherme R. F. Almeida de França


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, guilherme.franca@catolica.edu.br

Ivonne Alejandra Maria Gutiérrez Góngora


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, ivonne.gongora@ucb.br

RESUMO: Este trabalho visa a comparação entre materiais granulares alternativos como
estabilizantes de base asfáltica para pavimentação e materiais tradicionais e cascalho. Para a
comparação utilizou-se os seguintes materiais: Resíduo de corte de mármore; Resíduo de Construção
e Demolição – Reciclado; Resíduo de Construção e Demolição não tratado. Realizaram-se ensaios de
caracterização do solo, além do ensaio de granulometria dos materiais, Índice de Suporte Califórnia.
As misturas com materiais alternativos analisadas não possuíram grandes expansões e não observou
mudanças no comportamento mecânico da mistura. Por meio de testes de laboratório atestou-se a
viabilidade técnica de substituição dos materiais tradicionais pelos alternativos.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimento Rodoviário; Camadas de Base; Resíduo; Estabilização.

1 INTRODUÇÃO Os pavimentos flexíveis são constituídos por


diferentes camadas, além do revestimento
Para verificar se uma prática é tecnicamente e propriamente dito. Essas camadas seguem
economicamente viável, é necessária uma normas quer determina uma correta execução e
análise de diferentes variáveis. Dentre elas estão: dimensionamento. No Brasil, muitas dessas
os materiais, os processos de utilização e os normas são determinadas pelo Departamento
fatores econômicos envolvido, buscando Nacional de Infraestrutura e Transportes
verificar a aplicabilidade em cada região ou (DNIT). Quando o solo constituinte de alguma
atividades da indústria da construção civil dessas camadas não apresenta um
(ANDRADE et al., 2004). comportamento mecânico satisfatório, a
No dimensionamento de pavimentos utiliza- estabilização ou melhoria, é recomendada. Essa
se diferentes materiais. Durante muitos anos, estabilização pode ser química ou
foram especificados, em grande escala, materiais granulométrica. A granulométrica consiste em
granulares e nos dias atuais existe uma adicionar materiais de diferentes granulometrias
dificuldade para encontra-los. Com isso, mostra- para incremento das características desse solo.
se necessária estudos de aplicação de materiais Normalmente usa-se brita ou materiais com
alternativos para a substituição dos usuais. característica lateríticas. (LOVATO, 2004).
(REZENDE, 2003). Mediante o exposto, o referente estudo

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buscou comparar a umidade ótima, massa específica dos grãos (NBR 6508/1984); limite de
específica, índice de suporte Califórnia (ISC) e liquidez (NBR 6459/1984); limite de
expansão de misturas de três materiais plasticidade (NBR 7180/1984); compactação
alternativos com misturas de solo com brita (DNIT 164/2013) e ISC (DNIT 172/2016).
calcária e solo com cascalho laterítico (materiais
usuais). 2.2 Caracterização dos agregados
Os materiais alternativos utilizados como
estabilizantes granulométricos de camadas de O RCD-R (Figura 1) foi coletado da construção
pavimentos flexíveis foram: RCD-R (Resíduo de do Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Trata-
Construção e Demolição Reciclado); resíduo de se de um material não plástico.
corte de rochas ornamentais e resíduo de
construção não tratado. Examinou características
físicas do solo, dos materiais individuais e das
misturas definidas, tendo como objetivo a
verificação do emprego dos materiais
alternativos como estabilizantes granulométricos
de sub-base e base de pavimento flexível.

2 METODOLOGIA

A primeira parte da análise comparativa entre as


Figura 1. Resíduo RCD-R.
dosagens com materiais alternativos com
materiais convencionais se deu pela
caracterização do solo, seguindo pela analise dos O RCD (Figura 2) foi obtido na empresa
agregados em si e por fim das misturas dos Areia Bela Vista. Consiste em um resíduo de
agregados com o solo. diversas construções do Distrito Federal e
Os ensaios partiram das normas da entorno. Constituído de material proveniente de
Associação Brasileira de Normas Técnicas concreto, material fino e cerâmico.
(ABNT) e do DNIT.
As porcentagens definidas das misturas
seguiram requisitos para uma camada de base
estabilizada granulometricamente com solo
laterítico e bibliografia estudada.

2.1 Caracterização do solo

O solo foi coletado na Universidade Católica de


Brasília, localizada na região administrativa de
Taguatinga. Observou-se sendo um solo
laterítico, que é típico de locais com clima quente
e com regime de chuvas moderadas a intensas. Figura 2. Resíduo RCD.
Esse solo apresenta uma cor avermelhada aos
minerais que a constitui e pela presença de Obteve-se resíduo de corte de rochas
minérios de ferro em sua composição (NOGAMI ornamentais (Figura 3) em uma marmoraria da
e VILLIBOR, 1983; PINTO, 2006). região. Esse resíduo é constituído por um
As seguintes normas foram utilizadas para os calcário e dois tipos granito nas mesmas
ensaios laboratoriais de preparo e caracterização: proporções. O material necessitou-se de
coleta de material deformado (NBR 9604/1986); britagem até o diâmetro passante na peneira com
preparação das amostras (NBR 6457/1986); abertura 19,1 mm.
análise granulométrica (NBR 7181/1984); massa

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As misturas D, E e F são constituídas na parte
grossa da mistura de materiais normalmente
empregados como materiais estabilizantes. A
mistura D é formada por 70% de brita 0; as
misturas E e F, respectivamente, são formadas
por 80% de brita 0 e 80% de cascalho laterítico.
A caracterização das misturas se deu por
execução de ensaios laboratoriais e análise dos
resultados focados em três pontos: massa
específica aparente seca máxima, umidade ótima
pelo ensaio de compactação e ISC.
Figura 3. Resíduo de corte de rochas ornamentais. O ensaio de compactação é definido pela
norma 164/2013 e determina a correlação entre
O cascalho possui características lateríticas e teor de umidade e massa específica aparente
foi coletando na região administrativa Lago Sul, seca. Utilizou-se energia modificada, com 55
DF. Ele é formado por conglomerados, sendo golpes, pois a análise se deu em estudo de base
caracterizado como um agregado poroso. de pavimentação asfáltica para tráfego pesado.
A brita é produzida a partir de trituração de O ensaio de Índice de Suporte Califórnia é
rochas calcárias até atingir determinada definido a norma DNIT 172/2016 que tem por
granulometria. Utilizou-se brita 0 a qual foi objetivo a obtenção do ISC. Esse índice
adquirida na empresa Castelo Forte – DF e representa a resistência a penetração que o solo
origina-se da Fercal - DF. ou mistura possuem. Foi feito o ensaio com
imersão de 96 horas e 55 golpes por ser material
2.1 Dosagens das misturas estabilizantes de base.

A Tabela 1 mostra as misturas definidas para o


referente estudo comparativo, apresentando a 3 RESULTADOS
porcentagem entre material fino e grosso de cada
mistura. 3.1 Resultados da caracterização do solo

Tabela 1. Dosagens das misturas estabilizantes. A Tabela 2 representa os resultados da


Mistura Estabilizantes % Finos % Grosso caracterização do solo.
A Brita + RCD-R 30 70
B Brita + RCD 20 80 Tabela 2. Resultados caracterização do solo.
Resíduo de Parâmetros Resultados
C 20 80 Umidade Higroscópica 4,4 %
Marmoraria
D Brita 0 30 70 Massa específica dos grãos 2,5 g/cm³
E Brita 0 20 80 Limite de Liquidez 44,5 %
Cascalho Limite de Plasticidade 34,3 %
F 20 80
Laterítico Índice de Plasticidade 10,2 %
Umidade ótima 27,5 %
A mistura A consiste na parte fina 25% de Massa específica seca máxima 1,5 g/cm³
ISC 13,26 %
solo e 5% de RCD-R, e os 70% restante foi Expansão final 0,04%
definido como parte grossa e constituído de brita
0. Nessa mistura o resíduo foi utilizado como A Figura 4 mostra a curva granulométrica do
constituinte da parte fina. solo. O sistema de classificação Highway
A mistura B é formada somente de 20% de Research Board (HRB) é utilizado como
solo e os 80% restantes definidos como parte principal sistema de classificação na área de
grossa, sendo de 25% de RCD e 55% de brita 0. pavimentação. Ele se fundamenta na
A mistura C consiste na parte fina 20% de granulometria, limite de liquidez e índice de
solo e a parte grossa é constituída de 80% de plasticidade dos solos. O solo analisado possui
resíduo de corte de mármore.

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índice de grupo (IG) 11. Assim, classifica-o
como A7-6, cuja uma característica é a alta
variação de volume entre o estado úmido e seco,
como um solo plástico. Considera-o como
material de sub-base fraco a pobre.
Verifica-se, então, ser necessário
estabilização para a utilização desse solo como
material de base. Levando a uma para melhoria
das características físicas e mecânicas desse.

Figura 5. Umidade ótima (%) das misturas.

A Figura 5 apresenta o valor de umidade


ótima obtido pelo ensaio de compactação.
O teor de umidade é um fator de extrema
importância na pavimentação. Caso o solo esteja
compactado com uma umidade abaixo da ótima,
isso levará a não expulsão total do ar e, assim, a
Figura 4. Análise granulométrica do solo. não redução ideal de vazios. Já a compactação
com teor de umidade acima da ótima, gera uma
3.2 Resultados das misturas estabilizantes maior absorção da energia de compactação
devido a poro-pressão, levando a uma
A Tabela 3 representa os resultados da umidade compactação não ideal, além da redução massa
ótima (woti), massa específica aparente seca específica (MASSAD, 2003).
máxima (M.E máx), ISC e expansão (Exp). A mistura F possui a maior umidade ótima
Resultados obtidos pelos ensaios realizados com dos resultados. Isso explica-se, pelo cascalho ser
as misturas. constituído de conglomerados de solo laterítico.
Ele possui, então, maior fricção e porosidade
Tabela 3. Resultados dos ensaios com as misturas. quando comparado com outros materiais.
Mistura Wóti M. E máx ISC Exp A mistura C possui a maior umidade ótima
A 8,30 % 2,14 g/cm³ 64,95 % 0,01% das misturas com materiais alternativos.
B 8,32 % 2,10 g/cm³ 9,96 % -0,68% Associa-se isso pelo resíduo de rochas ter sido
C 10,71 % 1,90 g/cm³ 92,04 % 0,00%
britado, levando a uma fratura ainda maior das
D 8,10 % 2,04 g/cm³ 83,51 % 0,07%
E 8,03 % 2,89 g/cm³ 126 % -0,43% suas arestas. Além disso, pela própria a
F 13,50 % 1,94 g/cm³ 44,50 % 0,00% caracterização mineralógica do resíduo, como
um material cristalino, não reativo e com
potencial pozolânico (GONÇALVES, 2000).
4 DISCUÇÃO DOS RESULTADOS

As Figuras 5, 6, 7 e 8 comparam os valores de


umidade ótima, massa especifica, ISC e
expansão, respectivamente, das misturas e do
solo.

Figura 6. Massa Específica Aparente Seca Máxima


(g/cm³) das misturas.

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ele ser proveniente de diversas obras do Distrito
A Figura 6 representa o comparativo entre os Federal e Entorno, das quais não se pode afirmar
resultados de Massa Específica Aparente Seca a existência de devido controle técnico. Por meio
Máxima das misturas. Pinto (2006) afirma que a dessas características assume ao decréscimo
massa específica aparente seca de um material existente.
consiste na relação entre o peso dos sólidos e do Quando se compara com valores obtidos na
volume total. mistura A, constituída de RCD-R, verifica-se a
O solo analisado mostrou-se com massa importância da separação prévia dos materiais.
específica seca dentro dos valores comuns de Além disso, a utilização do RCD como material
solos constituintes de argila (variando de 1,5 a fino misturado com um material granular
1,4 g/cm³). Já massa específicas com valores mostrou-se tecnicamente viável e melhor.
compreendidos entre 2,0 a 2,1 g/cm³ são comuns A mistura C, com resíduo de corte de rochas
a solos com pedregulhos, como observa-se nas ornamentais, das misturas constituintes de
misturas. materiais alternativos possui o melhor valor de
Quando os solos possuem maiores quantidade incremento ao resultado do ISC do solo. Alia-se
de materiais grossos faz com que seja isso a constituição mineralógica do material,
necessárias menores quantidades de água, além suas faces fraturadas e baixa porosidade.
de aumento de massa quando comparado com As misturas D e E, 70% e 80% de brita 0,
solos predominantes finos. respectivamente, mostram-se aptas a utilização
como material de base para pavimentação. Esse
material já é usual e pelos resultados se confirma
isso.
A mistura F levou a um incremento do valor
do ISC do solo. Contudo, pelo material granular
ser formado por conglomerados, menor
resistência e maior absorção, fez com que a
resistência seja inferior quando comparado com
valores de ISC das outras misturas.

Figura 7. ISC (%) das misturas.

Os resultados de ISC são contemplados na


Figura 7. A definição de ISC, de acordo com
Carneiro et al (2001), é a expressão das
características de deformabilidade e de
resistência do material submetido a uma carga
estática, em condições saturadas. O solo possuía
um valor de ISC inferior ao requerido para
camada de base, o que indicava uma Figura 8. Expansão (%) após 96h das misturas.
metodologia de melhoria para a sua utilização.
As misturas levaram a um incremento da A Figura 8 reúne os resultados referentes a
resistência do solo, com exceção da mistura B a expansão das misturas após estarem submersas
qual levou a uma piora do ISC encontrado no por 96h, como determina o ensaio.
solo. Quando os valores são negativos significa que
A mistura B é constituída de agregado o solo retraiu ao invés de expandir. Os valores
estabilizante resíduo de construção não tratado. das misturas A, C e F foram nulas, o que
Esse agregado não passou por separação, confirma o observado nas pesquisas de Carneiro
existindo, então, no resíduo materiais finos e et al (2001), cuja as expansões de materiais
cerâmicos. Outra característica desse resíduo é recicláveis com solo laterítico foi praticamente

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nula. Isso atesta a possibilidade de fatores como o custo, impacto ambiental,
implementação da mistura A e C como segurança e funcionalidade, também devem ser
agregados alternativos para base de considerados. Para a implementação de materiais
pavimentação. Além da capacidade de utilização de origem residual deve ser sustentável como um
destes em locais com lençol freático mais todo.
elevado. A implementação de qualquer material,
O valor da expansão/retração da mistura B principalmente os reciclados, deve ser aliada a
não contempla o valor normativo inferior de condições técnicas, econômicas, segurança e
0,5% definido pelo DNIT na norma 098/2007 sustentáveis. Dessa maneira, a análise da
que estabelece parâmetros para base estabilizada aplicabilidade de um material na construção civil
granulometricamente com utilização de solo requer diversos estudos, não apenas análises
laterítico. laboratoriais.

5 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS

De maneira geral as misturas com agregados Andrade; Rocha; Cheriaf, 2004. Estudo da influência de
alternativos apresentaram bom comportamento agregados reciclados de concreto em substituição ao
agregado graúdo natural na produção de novos
nos ensaios laboratoriais realizados e concretos. In: I Conferência Latino-americana de
conformidade com a norma 098/2007 do DNIT. Construção Sustentável e X Encontro Nacional de
Contudo, verificou-se, pelo comportamento Tecnologia do Ambiente Construído. São Paulo, SP.
mecânico, que as misturas A, C, D e E podem ser 2004. 11 p. Disponível em:
utilizadas como materiais de base. Sendo que a <http://www.infohab.org.br>. Acesso em: 10 de junho
de 2017.
mistura A apenas para bases rodoviárias com Carneiro, A. P.; Burgos, P. C; Alberte, E. P. V. Uso do
para tráfego moderado. agregado reciclado em camadas de base e sub-base de
Os materiais estabilizantes da mistura C são pavimentos. Projeto Entulho Bom. Salvador:
resíduo de corte de rochas ornamentais. Eles EDUFBA / Caixa Econômica Federal, 2001
possuem características similares à rocha DNIT (2007). Norma 098/2007 – ES: Pavimentação –
Base Estabilizada Granulometricamente com
calcária, levando à possibilidade de substituição Utilização de Solo Laterítico – Especificação de
da brita calcária. Serviço. Departamento Nacional de Infraestrutura de
Aconselha-se a separação prévia dos Transportes. 7 p.
materiais de resíduo de construção civil para a Gonçalves, J. P. Utilização do resíduo de corte de granito
utilização como estabilizante de base de (RCG) para a produção de concretos. 2000. 134f.
Dissertação (Mestrado) – NORIE/UFRGS, Porto
pavimentação. Além disso, sugere-se o uso Alegre
apenas de resíduo de concreto. Lovato, Rodrigo Silveira. Estudo do comportamento
A utilização da mistura F como base mecânico de um solo laterítico estabilizado com cal,
rodoviária deve ser para tráfego leve, pelo aplicado à pavimentação. Dissertação (Mestrado).
resultado de ISC observado. Escola de Engenharia. Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2004.
Conclui-se que presença brita na mistura A Massad, F.. Obras de terra: Curso Básico de Geotecnia.
levou à melhores resultados, o que comprova a São Paulo: Oficina de Textos, 2003.
sua utilização como agregado estabilizante de Nogami, J.S. e Villibor, D.F. (1983). Os solos tropicais
pavimentos flexíveis. As misturas D e F lateríticos e saprolítico e a pavimentação. In: 18°
possuíram melhores resultados pela alta Reunião anual de Pavimentação, Porto Alegre, RS,
Brasil, 21 p.
porcentagem de brita nas misturas. Pinto, C. S.. Curso Básico de Mecânica dos solos 16
O resíduo de marmoraria pode ser um aulas/3º edição. (2006) Carlos Sousa Pinto. – São
substituto à altura para brita, para seu uso Paulo: Oficina de Textos.
sustentável deve observar a disponibilidade na Rezende, L.R. (2003). Estudo do Comportamento de
região e a distância da obra de pavimentação. Materiais Alternativos Utilizados em Estruturas de
Pavimentos Flexíveis. Tese de Doutorado, Publicação
Para a utilização de um material como G.TD-014A/03, Departamento de Engenharia Civil e
estabilizante de base rodoviária não se pode estar Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, DF,
baseada apenas as análises técnicas, mas também 372p.

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Emprego de Resíduo de Polietileno de Baixa Densidade em Mistura
Base para Pavimentação
Giancarlo Andrade Machado
Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, gam2304@gmail.com

Leidiane Moraes Garcia


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, leidiane.garcia@ucb.com

RESUMO: A construção civil vem a cada dia procurando mais materiais alternativos para
implementação em obras de engenharia, devido pouca viabilidade e limitações de alguns materiais
que já são utilizados atualmente, ou a necessidade do reuso de materiais nocivos ao meio ambiente.
O Polietileno de baixa densidade, comumente encontrado na composição de sacolas plásticas surge
então como uma alternativa para este problema. Diante disso, este trabalho tem como finalidade
realizar uma mistura de flocos de polietileno feito de sacolas plásticas recicladas, com solo laterítico
oriundo de Brasília e brita, para analisar sua possível utilização como material base de pavimentação
asfáltica.

PALAVRAS-CHAVE: Polietileno, Resíduo, Pavimentação.

1 INTRODUÇÃO principalmente no meio da construção civil, que


não tem por costume a utilização de resíduos em
Com a grande demanda de recursos naturais da geral. (BONELLI, 2001)
construção civil, há uma crescente preocupação Deste modo, o objetivo deste trabalho
com o meio ambiente, onde a substituição de consiste na avaliação do emprego de flocos de
materiais tradicionais por materiais alternativos polietileno reciclado de sacolas plásticas
vem como um assunto bastante recorrente. misturado ao solo laterítico encontrado na região
(ROCHA, 2017). O plástico, desde sua de Brasília-DF como material de base para
descoberta no início do século XX, vem sendo pavimentação de rodovias.
cada vez mais empregado no estilo de vida do Para isso, foram feitos ensaios de
homem, variando desde utencílios domésticos a caracterização do solo e do flocos de polietileno,
embalagens a materiais de construção. principalmente para melhor determinação dos
(CANDIAN, 2007) teores de cada material na mistura.
Dentre estes polímeros, o polietileno, O estudo embasou-se nos resultados do índice
representa mais de 35% do total de resíduos de suporte califórnia de diversas misturas com
plásticos gerados nas grandes cidades brasileiras diferentes teores de resíduo, comparando-os com
(AGNELLI, 1996). Com isso, surge um grande solo natural e solo + brita.
interesse no reaproveitamente desse resíduo,
levando ao desenvolvimento de várias técnicas
de reciclagem que dão origem a materiais com 2 MATERIAIS E MÉTODOS
diversas aplicações. (DINTCHEVA, 1997)
Em geral, o polietileno é reciclado com um 2.1 Polietileno de Baixa densidade
maior interesse na indústria de embalagens e
segmentos automotivos (RICK, 2002), não O polietileno reciclado utilizado foi obtido por
havendo um grande foco em outros ramos, meio de uma empresa de reciclados conveniada

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com catadores de lixo localizada em Brasília-
DF. Dentre os diversos produtos gerados pela
empresa, para este estudo foram utilizados flocos Tabela 1. Massa específica dos grãos de PEBD (g/cm³)
Picnômetro Chapman
de polietileno de baixa densidade (PEBD)
0,862752 0,873823
provenientes de sacolas plásticas brancas e
transparentes, bem como papel filme e sedas
sintéticas. 2.2 Solo Laterítico

O solo utilizado foi coletado nas


dependências do campus da Universidade
Católica de Brasília, no Distrito Federal. As
principais características do solo podem ser
encontradas na tabela 2 a seguir.

Tabela 2. Características do Solo Utilizado


Ensaio Resultado
Massa específica dos grãos
2,61
(g/cm³)
Limite de Liquidez (%) 48,0
Limite de Plasticidade (%) 31,0
Umidade Ótima (%) 26,9
Coesão (KPa) 45,6
Ângulo de Atrito (°) 26,0

Figura 1. Maquinário responsável pela fabricação dos


Na figura a seguir pode se observar o gráfico da
flocos de PEBD utilizando o resíduo. curva granulométrica do solo.

O produto do resíduo é composto de pequenos


flocos inertes achatados de diâmetro fixo de 4
mm, com uma superfície lisa e impermeável, e
interior poroso, bastante resistente a deformação.
Isso o deixa o material com um aspecto bastante
leve, pois não há a possibilidade de absorção de
água nem que estes vazios possam ser
preenchidos com outro material.

Figura 3. Curva granulométrica do solo utilizado.

2.3 A Mistura

Tendo os materiais devidamente caracterizados,


a mistura de solo e resíduo foi feita em
proporções de massa.
Devido a baixa densidade do resíduo,
misturas com grande teor do produto pode
resultar em um volume muito grande de material.
Por isso, adotou-se uma porcentagem inicial de
8% de resíduo no total de massa da mistura.

Figura 2. Floco de PEBD cortado ao meio (Foto ampliada


com uso de lente)

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Tabela 3. Proporções Estudadas.
Mistura Solo (%) PEBD Brita 0
(%) (%)
Solo 100 0 0
Solo PEBD 8 92 8 0
Solo PEBD 15 85 15 0
Solo PEBD 20 80 20 0
Solo Brita 30 0 70
Solo Brita PEBD 8 22 8 70

3 ANÁLISE DE RESULTADOS

Os resultados do índice de suporte califórnia do


solo e do solo com adição de brita podem ser
observados a na tabela 3 seguir.

Tabela 4. ISC de misturas sem adição de resíduo.


Mistura ISC (%) Expansão (%)
Figura 4. Mistura solo e resíduo. Solo 13,26 0,0090
Solo + Brita 79,66 0,0700
A mistura foi submetida a ensaios de índice
de suporte califórnia (ISC) e comparada com o Para a mistura de 8% de resíduo sem adição
mesmo índice de amostras compostas somente de brita, o ISC obtido foi de 28,52%, com uma
de solo. expansão de 0,00439%, havendo uma melhora
significativa em comparação ao solo sem adição
de polietileno.

Figura 5. Solo compactado com PEBD.

Realisou-se ainda uma outra comparação com


adição de brita, numa proporção de solo + brita
nº 0 de 30% e 70% em massa respectivamente.
Para o estudo envolvendo a brita 0, uma nova
mistura foi feita com esta mesma porcentagem
de resíduo adotada inicialmente (8% de resíduo),
e com a mesma proporção de brita estudada
(70% de brita 0). Figura 6. Curva Pressão x Penetração para o ISC da
Posteriormente, analisou-se o comportamento mistura de 8% de resíduo sem brita.
do ISC para diferentes proporções de resíduo,
Diferentemente da mistura sem brita, o ISC da
com novas misturas de 15% e 20% de resíduo e
mistura de 8% de resíduo com brita obteve uma
massa, sem adição de brita.

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baixa significativa em relação à mesma mistura 4 CONCLUSÃO
sem resíduo, com um ISC máximo de 32,07% e
expansão de 0,0166%. Com base nos resultados apresentados neste
estudo pôde-se observar um aumento
significativo nos valores de ISC de solo com
adição de resíduo de PEBD em comparação ao
solo natural, o que abre a possibilidade da
aplicação deste material na construção de
rodovias de baixo volume de tráfego.
Juntamente a isso, a utilização deste material
pode apresentar uma diminuição significativa no
impacto ambiental gerado pelo mesmo, onde,
empregando-se a mistura de solo + resíduo a um
teor de 8%, seriam reaproveitados
aproximadamente 134,23 kg de resíduo por
metro cúbico de mistura.
Houve uma maior eficácia do emprego do
resíduo a uma teor de 8% de massa da mistura,
mostrando uma tendência do material a melhorar
o ISC do solo nesta faixa de porcentagem.
Apesar do material melhorar o desemprenho
de estruturas de solo natural, ele não supera o
aperfeiçoamento gerado pelo uso de outros
materiais utilizados na indústria atualmente. Isso
Figura 7. Curva Pressão x Penetração para o ISC da pôde ser observado nos resultados das misturas
mistura de 8% de resíduo com brita.
com adição de brita, onde houve uma grande
queda no valor do ISC da mistura com resíduo.
Com o aumento na porcentagem de resíduo,
Portanto, observa-se que o resíduo de PEBD
obteve-se uma queda no valor do ISC, como
pode ser utilizado como alternativa em misturas
observado na tabela 5 que mostra os valores das
para base de pavimentação, favorecendo o meio
misturas de 15% e 20%.
ambiente na diminuição do impacto ambiental
Tabela 5. ISC de misturas com diferentes teores de gerado pela má disposição desse resíduo e por
resíduo. poupar o uso de matéria-prima utilizada em
Mistura ISC (%) Expansão (%) métodos convencionais.
15% de Resíduo 23,19 0,00692
20% de Resíduo 20,46 0,00683
REFERÊNCIAS
Por meio destes dados conseguiu-se montar
Agnelli, J. A. M. (1996). Polímeros: Ciência e Tecnologia.
um quadro ilustrando uma curva de
São Paulo, SP, Ed. 4, p.9.
comportamento do ISC de acordo com a Bonelli, C.M.C. & Mano, E.B. (2001). Revista
quantidade de resíduo na mistura. Gerenciamento Ambiental, São Paulo, SP, 3, p.48.
Candian, L. M. (2007). Estudo do polietileno de alta
densidade reciclado para uso em elementos estruturais.
Dissertação de Mestrado – Escola de Engenharia de
São Carlos, USP, São Carlos-SP, Brasil.
Rocha, J. G.; Mulinar, D. R.. (2017). Caracterização
mecânica dos compósitos de PEBD reforçados com
fibras da palmeira. Cadernos UniFOA, v. 9, n. 1 (Esp.),
p. 45-53.
Dintcheva, N.T.; Jilov, N. & Mantia, F.P. (1997). Polymer
Degradation and Stability. Volume 57, p.191
Figura 8. ISC para diferentes teores de resíduo Rick, U.; Jenny, T.; Ruster, U. (2002). Revista Plástico
Industrial, Ed 46, p. 26.

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Estabilização de solos com Incorporação de Escória de
Dessulfuração KR em Camadas para Pavimentação
Caroline Forestti Oliveira
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, carolineforestti@outlook.com

Luísa Braz da Silva Ramos


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, luisab302@hotmail.com

Carlos Magno Sossai Andrade


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, cmagno.sa@gmail.com

Hully Carvalho Picoli


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, hullycpicoli@hotmail.com

Patrício José Moreira Pires


Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, Brasil, patricio.pires@gmail.com

RESUMO
Este trabalho apresenta um estudo técnico experimental sobre a utilização de coproduto de aciaria
do Reator Kambara (KR) na estabilização de solos como aglomerante hidráulico, em substituição
ao uso do cimento Portland. Para tanto, foram ensaiadas misturas do solo com diferentes teores de
escória dessulfuração KR: 0%, 10%, 20% e 30%. O solo argiloso foi coletado no município Santa
Maria de Jetibá-ES e não atende à capacidade de suporte mínima para uso como base e sub-base de
pavimentos flexíveis (índice de suporte Califórnia (ISC) inferior a 80%). O coproduto KR utilizado
é proveniente de uma indústria siderúrgica da região da Grande Vitória. Este material tem sido
empregado como estabilizante químico com sucesso em diversas pesquisas para fins de
pavimentação devido às suas propriedades cimentantes e ao seu reduzido potencial expansivo
(inferior a 3%). Foram realizados ensaios de caracterização do coproduto (análise granulométrica,
expansão Pennsylvania Testing Method (PTM), massa específica dos grãos) e dos solos (análise
granulométrica, limites de consistência, massa específica dos grãos) e ensaio de ISC nas energias
modificada, intermediária e normal para todas as misturas com o coproduto, assim como para o solo
puro. O objetivo do estudo experimental foi analisar a capacidade de suporte dos solos com a
incorporação de diferentes teores do coproduto e avaliar seu potencial como estabilizante de solos
para pavimentação.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização de Solos, Coproduto de Aciaria, Base e Sub-base de


Pavimentos, Materiais Alternativos.

1 INTRODUÇÃO como teor de aglomerante, umidade ideal, entre


outros (CONSOLI et al., 2015; MARQUES et
O uso de aglomerantes como o cimento al., 2016). Atualmente é crescente o apelo pelo
Portland e a cal é antigo. O cimento é mais uso de resíduo e coprodutos industriais, seja por
difundido, possuindo normas técnicas e razões econômicas ou ambientais.
diversos estudos sobre a otimização de fatores O Brasil está entre os dez maiores produtores

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mundiais de aço (Global Steel Report, 2016). 2 MATERIAIS
Entretanto, ao longo do processo de produção é
gerada uma grande quantidade de resíduos. O solo usado trata-se de uma argila amarela
Segundo o Instituto do Aço Brasil - IAB coletada no município de Santa Maria de Jetibá-
(2016), no ano de 2015, foram gerados 19,8 ES. Este solo foi escolhido devido à sua
milhões de toneladas de subprodutos e resíduos. disponibilidade e também no estado natural não
Diversos artigos tratam da valorização dos atender à capacidade de suporte mínima exigida
variados tipos de escória de aciaria para fins de (ISC 80%).
pavimentação (incorporação em bases e sub- A Tabela 1 mostra os limites de
bases). Seu alto ângulo de atrito, resistência e consistência dos materiais usados e a Tabela 2,
densidade fazem com que este material seja por sua vez, mostra os teores correspondentes à
também usado em aterros e no melhoramento cada faixa granulométrica para os materiais.
de solos (Nippon Slag Association, 2016).
Em resposta às exigências cada vez mais Tabela 1. Classificação dos materiais
elevadas no controle dos teores de enxofre na Massa específica
LL LP IP
Material dos grãos
produção do aço, o processo de dessulfuração (%) (%) (%)
(g/cm3)
passou também a ser realizado antes da redução S01 55 27 28 2,67
no ferro-gusa. O processo de dessulfuração do KR NL NP NP 3,31
ferro-gusa antes da fase de redução na aciaria é
uma forma de reduzir a presença de enxofre no Tabela 2. Classificação dos materiais
convertedor, melhorando a qualidade e Faixas Granulométricas S01 (%) KR (%)
eficiência do processo (KIRMSE, 2006). Argila 43,6
6,6
A prática de dessulfuração em panela tem Silte 10,4
sido muito difundida por onde o reator Areia Fina 7,4 12,3
Kambara, chamado apenas KR, tem se Areia Média 16,1 11,1
destacado pela eficiência e baixo custo de Areia Grossa 22,6 23,5
operação. Este processo tem sido muito Pedregulho 0,0 46,5
difundido no Japão e também na China, maior
produtora mundial de aço. Como resultado O coproduto de KR foi fornecido por uma
disto, o volume de coproduto proveniente do indústria siderúrgica situada na região da
processo (coproduto KR) aumenta Grande Vitória-ES, coletado no dia 03/01/2017,
vertiginosamente e grande parte deste material segundo a NBR 10007 (ABNT, 2004). O
acaba descartado em aterros sanitários material possui granulometria entre 0 mm e 9
(SHENG, 2014). mm e foi utilizado em seu estado natural
Ainda pouco conhecido no Ocidente, o conforme disponibilizado pela empresa, sem
subproduto de siderurgia KR tem se mostrado passar por tratamento para redução da
promissor na estabilização química de solos expansão.
para fins de pavimentação, por apresentar Conforme mostra a Tabela 3, este
menor potencial expansivo que os demais material possui altos teores de óxidos de cálcio
subprodutos siderúrgicos (GONÇALVES, (CaO). A presença deste componente sugere
2016; KIRMSE, 2006). potencial do coproduto como agente
Esta pesquisa visa analisar o efeito da estabilizante para solos.
incorporação de diferentes teores do coproduto Um parâmetro que com frequência
em solo argiloso com baixa capacidade de impede o uso de resíduos e coprodutos
suporte em parâmetros tradicionalmente usados siderúrgicos em camada de pavimento é o
na pavimentação (granulometria, limites de potencial expansivo destes materiais. Segundo a
consistência, massa específica dos grãos, índice Norma-EM 262 (DNER, 1994) a escória de
de suporte Califórnia (ISC), expansão, massa aciaria deve apresentar expansão máxima de
específica aparente seca) a fim de dar 3% para uso em camadas de pavimentos.
destinação mais sustentável e econômica ao
coproduto KR.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Tabela 3. Componentes químicos do coproduto. Granulométrica completa com uso de
Gonçalves (2016) defloculante (ABNT NBR 7181:2016), Limite
Solo Quantidade (%)
de Liquidez (ABNT NBR 6459:2016), Limite
Al2O3 5,19
C 2,42 de Plasticidade (ABNT NBR 7180:2016),
CaO 54,6 Massa Específica dos Grãos (ABNT NBR
FeM 5,25 6508:1984).
FeO 10,5 Além disso, realizou-se previamente o
FeT 15,5
ensaio de expansão PTM (Norma-ME 113
MgO 3,2
MnO 0,77 (DNIT, 2009) que mostrou que o material pode
S 1,41 ser empregado em camadas para pavimentação.
SiO2 9,92 O ensaio de compactação permitiu traçar
ZnO 0,0001 a curva de compactação das misturas e assim
determinar a umidade ótima e massa específica
O resultado do ensaio de expansão conhecido aparente seca máxima para cada composição.
como Pennsylvania Testing Method (PTM) Verificou-se a expansão dos materiais após o
indicado para escória de aciaria e preconizado período de 96 horas em condição submersa, e
nacionalmente pela Norma-ME 113 (DNIT, então, com o auxílio da prensa automática,
2009) mostrou que o coproduto atendeu à determinou-se a resistência à penetração do
expansão mínima exigida, apresentando pistão padrão.
expansão inferior a 3% (Figura 1)
3.2 Índice de Suporte Califórnia (ISC)
3,0
Expansão (%)

2,5 Para se analisar o efeito da incorporação do


2,0 2,53%
coproduto KR no solo, foram realizadas
1,5 diferentes misturas do coproduto, além de
1,0 composições com solo puro (Tabela 4).
0,5
0,0 Tabela 4. Composição das misturas ensaiadas.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 Teor do material (%)
Siglas
Tempo de cura (dias) S01 Coproduto
S01 100 0
Figura 1. Expansão PTM do coproduto KR. S01KR10 90 10
S01KR20 80 20
S01KR30 70 30
3 PROGRAMA EXPERIMENTAL
No caso de estabilizantes tradicionais, como
O programa experimental executado baseou-se o cimento Portland, habitualmente são
em ensaios tradicionalmente aplicados à empregados teores de no máximo 10%. Nesta
pavimentação: ensaios de caracterização de pesquisa, por se tratar de um resíduo industrial,
solos e ensaio de ISC. Os ensaios foram optou-se por utilizar teores superiores aos
realizados no Laboratório de Geotecnia e usualmente empregados com cimento, devido à
Mecânica dos Solos da UFES. O programa grande disponibilidade do material e do
experimental teve como objetivo analisar o solo incipiente conhecimento sobre os teores ideais
puro e incorporado com diferentes teores do de substituição.
coproduto. A moldagem dos corpos de prova seguiu o
procedimento da ABNT NBR 9895 (ABNT,
3.1 Caracterização dos Materiais 2016), utilizando-se moldes cilíndricos
metálicos com compactação manual. Foram
Inicialmente, foram realizadas as moldados cinco corpos de prova (CP) de cada
caracterizações do materiais: solo e coproduto mistura, em cada energia (normal, intermediária
KR. A caracterização do solo e do coproduto e modificada) para os diferentes teores de
consistiu na realização de ensaios de Análise coproduto e para o solo puro.

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O procedimento de moldagem dos CPs 100 0
ocorreu conforme as etapas seguintes: (1) 90 10
Preparação dos materiais (destorroamento, 80 20
70 30

% Retido
peneiramento e secagem ao ar); (2) Pesagem

% Passante
60 40
dos materiais nas proporções exatas das
50 50
composições indicadas na Tabela 4; (3) Mistura 40 60
a seco dos materiais; (4) Adição gradual de 30 70
água à medida que a mistura era 20 80
homogeneizada manualmente; (5) Compactação 10 90
dos corpos de prova de forma manual com 0 100
soquete padrão grande (4,5kg); (6) Na camada 0,001 0,01 0,1 1 10 100
média retirada de três amostras para aferição da Diâmetro dos grãos (mm)
umidade de acordo com o procedimento
recomendado pela NBR 6457 (ABNT, 1986); KR S01
S01+10%KR S01+20%KR
(7) Os CPs foram levados para o tanque onde S01+30%KR
permaneceram na condição submersa por 96
horas com tripé e extensômetro; (8) Os CPs Figura 3. Efeito da incorporação do coproduto na
foram retirados do tanque e submetidos ao granulometria.
ensaio de penetração em prensa automática a
Na Figura 3 é possível ver que o aumento do
uma velocidade de 1,27mm/min, conforme
coproduto torna a curva original mais bem
indica a NBR 9895 (ABNT, 2016).
graduada, eliminando um patamar que ocorre
no D50 do solo puro. Esse efeito é desejável e
benéfico para fins de pavimentação.
4 RESULTADOS
3,50 3,31
As Figuras 2, 3 e 4 mostram o efeito dos
Massa específica dos grãos

3,00 2,72 2,77 2,81


diferentes teores de incorporação do coproduto 2,67
no índice de plasticidade (IP), granulometria e 2,50
(g/cm3)

massa específica dos grãos, respectivamente.


2,00
30 28,0 1,50
22,1 22,0 1,00
20 16,3
IP (%)

0,50

10
0,00
S01 1 S01+10%KR
S01+20%KR S01+30%KR
0 KR
S01 1 S01+10%KR
S01+20%KR S01+30%KR Figura 4. Efeito da incorporação do coproduto na massa
específica dos grãos.
Figura 2. Efeito da incorporação do coproduto no índice
de plasticidade. A Figura 4, da massa específica dos grãos,
mostra um comportamento que já era esperado:
Como mostra a Figura 2, há uma tendência massa específica dos grãos cresce de forma
de redução do índice de plasticidade do solo linear com o aumento do teor do KR. Isto é
com a incorporação, entretanto a relação não natural, pois o material possui massa específica
apresenta do comportamento direto. O aumento dos grãos maior que a do solo usado (Tabela 1).
do teor de coproduto não é proporcional à Na Tabela 5, é possível observar os
redução do IP, pois entre os teores de 10 e 20% resultados retirados da curva de compactação e
apesar do aumento da concentração do KR, o IP do ensaio de ISC para a energia modificada
do solo permanece praticamente constante. para as diferentes misturas. Observa-se que o
coproduto elevou os valores de massa

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específica aparente seca máxima assim como o Os resultados mostram que o solo, que antes
ISC. Sendo a expansão medida para teores de não atendia ao valor mínimo de 80% de ISC
20 e 30% nula. Todos os valores de expansão para uso em camadas de pavimentação em
foram inferiores a 1%, valor limite de expansão nenhuma energia, obteve aumento da ordem de
para camadas de base e sub-base. 700% de ISC (teor de 30%, na energia
modificada). Caso seja usado com teores de
Tabela 5. Resultados do ensaio de ISC para Energia 10% de coproduto, este solo pode ser usado nas
Modificada. energias intermediária e modificada passando a
Massa
aparente Umidade ISC
atender à capacidade de suporte mínima para
Expansão emprego como base e sub-base de pavimentos
Amostra seca ótima máx.
(%) flexíveis.
máxima (%) (%)
3
(g/cm )
S01 1,90 13,2 34 0,10 300
S01+10 239
250

ISC Máximo (%)


%KR 2,02 11,8 166 0,35
200 157 166
S01+20 131 142
150
%KR 1,98 12,3 142 0,00 99 97
100 57 69
S01+30
50 30 34
%KR 1,96 14,8 239 0,00 18
0

S01+10%KR (EM)
S01+20%KR (EM)
S01+30%KR (EM)
S01+10%KR (EN)
S01+20%KR (EN)
S01+30%KR (EN)

S01+10%KR (EI)
S01+20%KR (EI)
S01+30%KR (EI)
S01 (EI)
S01 (EN)

S01 (EM)
As curvas obtidas no ensaio de penetração
ISC, em diferentes energias: energia normal
(EN), energia intermediária (EI) e energia
modificada (EM), são mostradas na Figura 5.
Como esperado maiores energias assim
como maiores teores de coproduto produzem
acréscimos nos valores de ISC, entretanto como Figura 6. Capacidade das misturas para energia
mostra na Figura 6, a relação não apresentou modificada.
comportamento linear.
Os valores obtidos pelos ensaios de ISC
250 mostraram que o coproduto melhorou a
capacidade de suporte, sem deixar de atender
200 aos parâmetros de expansão.
ISC (%)

150
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
100
Os resultados mostram que mesmo para
50 solos argilosos com baixa capacidade de
suporte o coproduto pode funcionar como
0 estabilizante promovendo melhorias
7 9 11 13 15 17 19 21
significativas e atendendo aos requisitos
Umidade (%)
mínimos para emprego como base e sub-base de
0% KR EN 0% KR EI pavimentos flexíveis (ISC mínimo de 80%,
0% KR EM 10% KR EN expansão máxima de 1%).
10% KR EI 10% EM
20% KR EN 20% KR EI Diante do que foi estudado e dos resultados
20% EM 30% KR EN obtidos pelos ensaios de laboratório realizados
30% KR EI 30% EM nesse trabalho, percebeu-se que, sob o ponto de
vista dos parâmetros aqui analisados, o
Figura 5. Curvas da capacidade de suporte ISC de todas a
misturas, nas energias normal, intermediária, modificada. coproduto KR mostra-se como uma alternativa
viável sob ponto de vista técnico, além de mais

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sustentável e econômica que o uso tradicional Departamento Nacional de Estradas de Rodagem -
de cimento em camada de pavimentos, por se DNER. (1994) EM: 262. Escórias de aciaria para
pavimentos rodoviários, Rio de Janeiro, 12 p.
tratar de um resíduo industrial. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes -
No entanto, sugere-se a realização de mais DNIT. (2009) ME: 113. Pavimentação rodoviária –
ensaios desta natureza para obtenção de teores Agregado artificial – Avaliação do potencial de
mínimos de incorporação do coproduto para expansão de escória de aciaria – Método de ensaio,
cada tipo específico de solo. Sugere-se ainda Rio de Janeiro, 12 p.
Gonçalves, R. De. M. (2016) Incorporação de Coproduto
que sejam feitos também ensaios de ISC e de de Aciaria KR e Polímero PDC em Solos para Base
compressão simples para misturas de mesmos de Pavimentos. Dissertação de mestrado.
teores de solo-coproduto e de solo-cimento, a Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória.
fim de mostrar a competitividade deste resíduo Instituto Aço Brasil – IAB. (2016) Relatório de
em relação ao cimento Portland. Sustentabilidade Sectorial. Disponível em:
http://www.acobrasil.org.br/site/portugues/biblioteca/
Folder_Sustentabilidade_AcoBrasil_2016.pdf. Acesso
em: 10 dez 2016.
AGRADECIMENTOS International Trade Administration – ITA. (2016) US
Department of Commerce. Global Steel Report.
Agradecemos à equipe do Laboratório de Disponível em:
http://trade.gov/steel/pdfs/07192016global-monitor-
Geotecnia e Fundação da Universidade Federal report.pdf. Acesso em: 30/09/2016.
do Espírito Santo pelo auxílio durante a Kirmse, O. J. (2006) Estudo do Comportamento
realização dos ensaios e à empresa Metalúrgico do “Reator Kambara” através de
ArcelorMittal Tubarão por ter financiado esta Modelagem Física. Dissertação apresentada ao
pesquisa e fornecido o coproduto KR. Programa de Pós-Graduação da Rede Temática em
Engenharia de Materiais - REDEMAT. Ouro Preto.
Marques, S. F. V.; Consoli, N. C.; Festugato, L. (2016)
Comportamento e normalização de uma mistura
REFERÊNCIAS areia-cimento em função do tempo de cura. XVIII
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. Engenharia Geotécnica O Futuro Sustentável do
(2004) NBR 10007: Amostragem de resíduos sólidos Brasil passa por Minas COBRAMSEG 2016 –– 19-22
Outubro, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.
- Procedimento. Rio de Janeiro.
Nippon Slag Association. Characteristics and
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. applications of iron and steel slag. Disponível em:
(2016) NBR 6457: Amostras de solo – Preparação http://www.slg.jp/e/slag/usage.html. Acesso em: 02
para ensaios de compactação e ensaios nov. 2016.
caracterização. Rio de Janeiro. Sheng, G.; Huand, P.; Wang, S.; Chenn, G. (2014)
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. Potential Reuse of Slag from the Kambara Reactor
(2016) NBR 7181: Solo - Análise granulométrica. Rio Desulfurization Process of Iron in an Acidic Mine
Drainage Treatment. Journal of Environmental
de Janeiro.
Engineering. 140(7).
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.
(2016) NBR 6459: Solo - Determinação do limite de
liquidez. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.
(1984) NBR 6508: grãos de solo que passam na
peneira de 4,8mm - determinação da massa específica.
Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.
(2016) NBR 7180: Solo - Determinação do limite de
plasticidade. Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT.
(2016) NBR 9895: Solo – Índice de suporte
Califórnia (ISC) – Método de ensaio. Rio de Janeiro.
Consoli, N. C.; Winter, D.; Rilho, A. S.; Festugato, L.;
Teixeira, B. dos S. (2015) A testing procedure for
predicting strength in artificially cemented soft soils.
Engineering Geology, 195, p. 327–334.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Estudo Comparativo de Duas Técnicas de Avaliação de Pavimentos
Aplicado à Rodovia BA- 447 e Análise de sua Funcionalidade
Rafael Malheiro Santos
Engenheiro Civil, Barreiras, Bahia, Brasil, rafaelmalheirosantos@gmail.com

Vinícius de Oliveira Kühn


Universidade Federal do Oeste da Bahia, Barreiras, Brasil, vinicius.kuhn@ufob.edu.br

RESUMO: Este trabalho tem como objetivo principal avaliar as condição da rodovia BA – 447
através de dois métodos do DNIT, normas PRO 006 (2003a) para a Avaliação Objetiva e a Norma
PRO 008 (2003c) para o Levantamento Visual Contínuo. Foi possível então constatar que a BA – 447
possui 89% do pavimento classificado em Regular, Ruim e Péssimo para o LVC (Levantamento
Visual Contínuo), e para a avaliação objetiva esse valor sobe para 97%. Com a avaliação de outros
elementos como drenagem, acostamento, sinalização e geometria da rodovia, foi possível afirmar que
a rodovia possui inúmeros problemas, sendo estes capazes de afetar sua funcionalidade.

PALAVRAS-CHAVE: Gestão de Pavimentos, Levantamento Visual Contínuo, Avaliação Objetiva.

1 INTRODUÇÃO 40 se iniciou a normatização de processos


construtivos e, somente a partir de 1976, o
A região Oeste da Bahia, com sua malha DNER – Departamento Nacional de Estradas de
rodoviária pavimentada de 16.285 km (CNT, Rodagens, começou a introduzir no país novos
2016), enfrenta problemas constantes com a conceitos de gerência de pavimento, iniciando
condição de suas rodovias, principalmente as de assim estudos para que as atividades de
gerência estadual. As patologias dos pavimentos manutenção ocorressem de maneira planejada,
e demais problemas geram desconforto e economicamente viável e visando a garantir a
dificuldades logísticas para a região, que é funcionalidade do pavimento por um período
responsável por parcela considerável do PIB maior.
agropecuário da Bahia. No estado da Bahia, o órgão responsável pela
Devido a pouca cobertura de estradas manutenção e construção das rodovias até 2015
pavimentadas na região, as rodovias existentes era o DERBA – Departamento de Estradas e
são sobrecarregadas para atender ao Rodagens da Bahia, atualmente o órgão
agronegócio, principal atividade econômica responsável é a SIT – Superintendência de
local, a exemplo a BR – 242 que escoa Infraestrutura de Transporte da Bahia.
praticamente toda a produção regional que é Com relação aos levantamentos existentes
encaminhada para os portos do estado. sobre as condições das rodovias, muitos destes
Mesmo com a enorme dependência do possuem somente a determinação do tipo de
sistema rodoviário, o estado de conservação de revestimento, extensão e a responsabilidade de
algumas rodovias não auxilia o usuário a realizar gerência das rodovias, porém a CNT -
um transporte seguro e econômico. Confederação Nacional do Transito, realiza
O Brasil não possui um sistema rodoviário estudos para a determinação de alguns
com a eficiência desejada, o que não é parâmetros mais técnicos, avaliados conforme
condizente avaliando-se a dependência que o normas do DNIT - Departamento Nacional de
país possui deste modal. A partir da década de Infraestrutura de Trânsito.

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Sendo assim, o objetivo desse trabalho é obter Segundo a CNT (2016), com relação ao
um diagnóstico de uma das rodovias da região Estado Geral das rodovias, dos 103.259 km
(BA – 447) por meio de uma avaliação objetiva analisados, o que representa uma amostragem de
da superfície do pavimento e um levantamento cerca de 46,6% das rodovias pavimentadas, 12%
visual contínuo com análises normatizadas pelo estão em Ótimas condições, 30% em estado
DNIT, fazendo também um comparativo entre os Bom, 35% em estado Regular, 17% em estado
métodos, bem como avaliação de outros Ruim e somente 6% em Péssimo estado.
elementos como drenagem, acostamento,
sinalização e geometria da rodovia. 2.2 Condições das rodovias da região Oeste da
Bahia

2 REVISÃO DE LITERATURA A Bahia possui 16.285 km de rodovias


pavimentadas, o que representa uma parcela de
2.1 Infraestrutura rodoviária brasileira 27,4% do total presente no Nordeste (CNT
2016). De acordo com o Estado Geral, o
Segundo os dados da CNT (2016), o Brasil conta Nordeste possui 36,9 % das rodovias pavimentas
atualmente com um total de 1.720.756 km de nas condições Ótima e Boa, 33,6 % na condição
rodovias, sento destes, 221.468 km de rodovias Regular e 29,5 % na condição Ruim ou Péssima.
pavimentadas (12,3%), 1.351.979 km não Quando avaliado apenas o Pavimento as
pavimentadas (78,6 %) e 157.309 km de condições se alteram, quando cerca de 53,7% das
rodovias planejadas (9,1%). Entre as rodovias pavimentadas estão na condições
pavimentadas, 30,7% está sob responsabilidade Ótima e Boa, 34,1% na condição Regular e
do governo federal, 56,6% dos governos somente 12,2% na condições Ruim e Péssima
estaduais e 12,7% dos governos municipais (CNT, 2016). Fica claro que o Pavimento possui
(CNT, 2016). melhor classificação de acordo com a pesquisa
Em relação a qualidade da infraestrutura realizada pela CNT, evidenciando que são outros
rodoviária, o Brasil ocupa a 111ª posição entre parâmetros que afetam a classificação das
138 países. Um fator que não retrata a real rodovias, com a sinalização e a geometria das
dependência do modal, uma vez que o país tem vias.
como principal saída para o transporte de carga Basicamente, a classificação que se tem para
o modal rodoviário, com participação de 61,1%, a parcela de rodovias estudadas na Bahia, possui
seguido do ferroviário com 20,7%, aquaviário o conceito de classificação entre Regular e Bom.
com 13,6%, dutoviário com 4,2%, e aéreo com Demonstrando que não temos na região rodovias
0,4% (CNT, 2016). com a qualidade necessária.
O Brasil é dependente do sistema rodoviário,
e a curto prazo não se vê mudança no cenário
com grande crescimento do uso demais modais 3 MATERIAIS E MÉTODOS
de transporte, até mesmo pelo fator da cadeia
produtiva que tal dependência gerou. São 3.1 Escolha da via analisada
inúmeros os estabelecimentos, postos,
restaurantes, mecânicas, lojas dentre outros, que A via escolhida para análise é a BA-447, que liga
se consolidaram ao longo das principais rotas de a cidade de Barreiras-Ba à cidade de Angical-
transporte dando o suporte necessário à BA, com cerca de 36 km. Possui um trecho que
atividade, gerando assim uma atividade paralela coincide com o anel viário do município de
com grande importância econômica. Barreiras, com cerca de 2,5 km que estão sobre
A origem dessa dependência é oriunda de uso diferenciado em relação a extensão total da
investimentos pesados em rodovias federais nas rodovia. Isso porque, atualmente não é permitido
décadas de 1960 e 1970, fazendo com que a transitar com caminhões no centro da cidade de
malha rodoviária crescesse passando de 8.675 Barreiras nos principais horários do dia, tal
km em 1960 para 47.487, em 1980 (IPEA, 2010), trecho então sofre com o trânsito pesado, pois
atingindo o montante de 64.895 km em 2016.

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escoa e dá suporte a principal atividade conforme a norma PRO007 (DNIT, 2003c), que
desenvolvida na região, a produção agrícola. estabelece que a extensão máxima de cada
Após o entroncamento, km 3 até o km 12, a segmento deve ser de 20 km e o número de
rodovia sofre com outro tipo de influência, já subtrechos analisados pode variar de 1 a 9 dentro
relacionada as inúmeras propriedades que estão do subtrecho, ficando a cobertura do
ali por conta do sistema de irrigação da levantamento entre 1,5 e 13,5 % de toda extensão
Companhia de Desenvolvimento do Vale do São da rodovia.
Francisco - CODEVASF, e após o km 12 é Por se tratar de uma rodovia com pouco mais
possível perceber que os problemas estão mais de 36 km, com intuito de obter uma avaliação
vinculados a intempéries, falta de manutenção significativa dela como um todo, se estabeleceu
ou manutenção incorreta da rodovia. então 36 segmentos, com 1000 m cada, sendo
No primeiro trecho da BA – 447 o avaliados 100 m em cada segmento, atendendo
revestimento é do tipo Concreto Betuminoso uma cobertura de 10 % do pavimento.
Usino a Quente com uma espessura média de 8 Essa divisão também auxiliará na correlação
cm. Após o entroncamento a rodovia é do LVC com a avaliação objetiva, pois sendo
classificada pelo extinto DERBA em seu Manual dividida em segmentos iguais para as dois
Rodoviário Estadual de 2012 como de métodos de levantamento, será possível uma
revestimento do tipo TCP – Tratamento Contra análise de cada trecho comparando os resultados
Pó (revestimento esse que era comumente para as duas normas.
utilizado pelo DERBA na época em rodovias
com tráfego leve). Após análise foi determinado
que o revestimento TCP é executado através de 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
penetração invertida, seguida de uma camada de
agregado com a granulometria inferior ao 4.1 Levantamento Visual Contínuo da BA-447
praticado no do tipo TSS - Tratamento
Superficial Simples, pois apresenta as Em visita a rodovia escolhida foi possível
características básicas, como a imprimação, perceber que se tratava de uma rodovia com a sua
aplicação de emulsão seguida de uma camada de funcionalidade afetada devido aos problemas
brita, com espessura média de 1 cm. presentes. Com ocorrência da maioria das
patologias descritas pelo DNIT.
3.1 Metodologias para avaliação do pavimento Com a avaliação e os cálculos necessários
para a determinação do Índice de Estado da
Para avaliação do pavimento da BA-447 foram Superfície, foi possível obter os resultados de
empregadas as normas do DNIT: PRO006 - cada segmento em que a via foi dividida. O
Avaliação objetiva da superfície de pavimentos número de segmentos classificados como
flexíveis e semi-rígidos (DNIT, 2003a) e Regular, Ruim e Péssimo totalizam cerca de 90
PRO008 - Levantamento visual contínuo para % da rodovia.
avaliação da superfície de pavimentos flexíveis e A Figura 1 mostra as faixas de conceito de
semi-rígidos (DNIT, 2003b). degradação do pavimento em função do IGGE –
Para a realização das análises levou-se em Índice de Gravidade Global Expedido, por
conta o estabelecido na norma TER 005 (DNIT, segmento, evidenciando a avaliação feita por
2003d) acerca da classificação de patologias cada trecho da via. Os trechos 1, 2 e 3 coincidem
existentes em pavimentos. com o anel viário da cidade de Barreiras com
A avaliação por Levantamento Visual revestimento tipo CBUQ, que possui esse
Contínuo e Avaliação Objetiva foram realizados revestimento principalmente pela exposição que
em fevereiro de 2017, em dias com céu aberto, possui ao tráfego pesado. Os piores índices
possibilitando assim a execução do encontram-se entre o segmento 4 e 23, onde
levantamento sem nenhum problema observou-se também a maior ocorrência de
relacionado à visibilidade. panelas, remendos, deformações e trincas, trecho
A avaliação objetiva foi realizada obedecendo esse atendido pelo projeto de irrigação da
a divisão da rodovia em subtrechos homogênios CODEVASF. Tal trecho sofre influência

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principalmente devido a não existência de conceitos por segmento.
atividades de manutenção na rodovia, fator que
agrava as condições uma vez que se trata de um 3% 0%
6%
revestimento por Tratanento Superficial.
ÓTIMO
É possível constatar essa distribuição de
31% BOM
conceitos na Figura 2, mostrando que não se tem REGULAR
trecho em boas condições para o LVC, sendo RUIM
então basicamente classificado em Regular, PÉSSIMO
Ruim e Péssimo. 61%

0%
Figura 3. Conceitos dos segmentos da via obtidos pela
11% avaliação objetiva.
ÓTIMO
36% BOM
22% REGULAR 300
RUIM

Índice de Gravidade Global


PÉSSIMO 250

31% 200 Péssimo

Figura 1. Resultado levantamento visual contínuo. 150


Ruim
100
A distribuição apresentada na Figura 2 deixa
claro as faixas de conceito que o pavimento 50
possui, demostrando o seu grau de degradação. Ótimo/Bom/Regular
0
0 5 10 15 20 25 30 35
160 Segmentos
Índice de Gravidade Global Expedido

140 Figura 4. Faixas de conceito de degradação do pavimento


Péssimo em função do IGG para cada segmento.
120

100
Semelhante ao que é apresentado para o LVC,
80 Ruim a condição do pavimento para os trechos,
60 basicamente é classificado entre Péssimo e
40 Ruim.
Ótimo/Bom/Regular A correlação das Trilhas de Roda Externa e
20
Interna é importante de ser avaliada, uma vez que
0
0 5 10 15 20 25 30 35
para todos o segmentos o valor médio para a
Segmentos externa é sempre superior a da interna. Como
Figura 2. Faixas de conceito de degradação do pavimento
pode ser visto na Figura 5.
em função do IGGE por segmento. 40
Média Trilha de Roda (mm)

35
4.2 Avaliação Objetiva da BA-447 30 EXTERNA
25 INTERNA
Após o levantamento de campo e realização dos 20
cálculos, obteve-se o conceito de degradação do
15
pavimento em função do IGG – Índice de
10
Gravidade Global, para cada segmento, bem
5
como sua média das trilhas de roda e sua
variância. A Figura 3 apresenta o resultado da 0
1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34
avaliação, assim como também é possível Segmento
constatar na Figura 4, a distribuição dos Figura 5. Média da trilha de roda por segmento.

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Esse fator se dá basicamente pois a informações avaliadas é mais seguro e retrada
capacidade de carga que o aterro da plataforma com mais segurança fidelidade e segurança a
de rodagm possui nas bordas é inferior ao do situação da rodovia.
centro, uma vez que o material empregado no
aterro se encontra confinado na faixa interna do 4.4 Condições de demais elementos da
pavimento. rodovia

4.3 Comparação entre as técnicas de A BA – 447 possui problemas em seus principais


avaliação elementos, como em sua sinalização vertical e
horizontal, seu revestimento, sua geometria e
A correlação da Avaliação Objetiva e do LVC obras de arte existente na rodovia. São estes
demonstram que ambos tem validade quando problemas que afetam sua funcionalidade,
aplicados, e que se diferenciam em função do segurança e conforto proporcionadas ao usuário.
nível do levantamento, sendo maior para a A sinalização vertical é praticamente
Avaliação Objetiva. inexistente, não havendo nenhuma placa nos
Para a determinação do conceito no LVC são inúmeros pontos necessários, como antes de
necessários 3 parâmetros, que são o IGGE, ICPF curva, quebra-molas, entrada e saída de veículos.
– Índice de Condição do Pavimento Flexível e A sinalização horizontal ainda é presente em
IES – Índice de Estado da Superfície, sendo estes alguns trechos onde as intervenções ao longo dos
determinados segundo percepção do avaliador. anos não a apagaram completamente (Figura 7),
Já a Avaliação Objetiva possui um único devido a remendos profundos executados no
parâmetro para a obtenção do conceito que é o pavimento.
IGG. Uma vez que as considerações feitas para a Outro fator que pode ser observado na Figura
Avaliação Objetiva são criteriosa e por 7 e 8 é a falta de acostamento, o que se repete
amostragem da pista de rolamento, demonstra para toda a extensão da rodovia após o trecho do
ser superior também na confiabilidade do anel viário. Em alguns trechos, é possivel
resultado. verificar que a largura das faixas encontram-se
afetadas, devido a deterioração da sua lateral.

13,9%
30,6% 30,6% 36,1%

25,0% 61,1%
30,6%
61,1%
27,8%
22,2%
8,3% 25,0%
2,8% 5,6% 8,3% 11,1%
IGG IGGE ICPF IES

ÓTIMO BOM REGULAR RUIM PÉSSIMO Figura 7. Ocorrência de remendos no pavimento.


Figura 6. Comparação entre dois métodos de avaliação e
Observa-se ainda problemas como: Ausência
seus resultados.
de sistema de drenagem de águas pluviais, que
Quando se tem um quadro comparativo com afeta diretamente a qualidade do pavimento e
os índices utilizados fica claro que o LVC segurança; Vegetação que invade a pista de
necessita de vários parâmetros para rolamento, afetando diretamente a
determinação do conceito, o que demonstra sua trafegabilidade; Geometria da via inadequada,
dependência e variação dentre os parâmetros. Já com ponte com uma única faixa de rolamento
para a Avaliação Objetiva por de tratar de situada a cerca de 15 metros de uma curva
somente um parâmetro que faz uso de inúmeras sinuosa.

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Na Figura 8 é possivel perceber que a rodovia rodovia. Para o LVC a soma desses três
possui não só sua funcionalidade afetada, como conceitos foi de 89 %. Para a Avaliação Objetiva
também possui trechos em que a segurança um total de 97 %. Logo, devido um nível de
mínima exigida não é garantida, pois a faixa de levantamento no LVC ser menos rigoroso,
rolamento, devido a degradação do ocorre uma redução considerável na ocorrência
revestimento, possui largura de 6,50 m, sendo dos conceitos Regular, Ruim e Péssimo.
inferior ao que se tem nos techos mais Pode-se determinar então que rodovia BA –
conservados da rodovia que é de 7,50 m. 447 está com sua funcionalidade afetada e com
altos índices de degradação da superfície do
pavimento, através dos resultados para os
métodos utilizados.
Pesquisas futuras podem auxiliar na
determinação de qual seria o método construtivo
de recuperação, ou reconstrução, ideal para
intervenção na rodovia, avaliando-se também o
tráfego existente e futuro, o método
economicamente viável, isso com auxílio de
investigação das camadas inferiores. Para essa
avaliação é possivel determinar que a Avaliação
Objetiva é o método de avaliação mais confiante
Figura 8. Exemplo de desgaste lateral da superfície do por ser mais criterioso, sendo então o melhor
pavimento. para conhecer a real condição do revestimento da
rodovia.
Evidentemente é necessário atividades de
manutenção ou mesmo reconstrução em alguns
trechos da rodovia. Cabe decidir qual o melhor REFERÊNCIAS
método empregado, uma vez que a rodovia sofre
de forma diferente com o tráfego ao longo de sua CNT – Confederação Nacional do Transporte. (2016).
extensão. Outro problema grave é a falta de Pesquisa CNT de rodovias 2016: relatório gerencial.
CNT: SEST: SENAT, Brasília, 399 p.
atividades de manutenção, através de retirada de DNIT – Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
vegetação dos acostamentos, operações tapa Transporte. (2003a). PRO 006: Avaliação objetiva da
buracos, executados de maneira correta, e superfície de pavimentos flexíveis e semi-rígidos -
acompanhar a degradação do pavimento. Procedimento. Rio de Janeiro, 10 p.
DNIT – Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
Transporte. (2003b). PRO 007: Levantamento para
avaliação da condição de superfície de sub-trecho
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS homogêneo de rodovias de pavimentos flexíveis e semi-
rígidos para gerência de pavimentos e estudos e
A busca bibliográfica para unir as informações projetos- Procedimento. Rio de Janeiro, 11 p.
sobre o estado das rodovias da região Oeste da DNIT – Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
Transporte. (2003c). PRO 008: Levantamento visual
Bahia tornou perceptível a ausência de estudos contínuo para avaliação da superfície de pavimentos
nessa área para a região. flexíveis e semi-rígidos - Procedimento. Rio de Janeiro,
Com os resultados dos dois métodos de Rio de Janeiro, 11p.
avaliação para cada segmento, observa-se que a DNIT – Departamento Nacional de Infra-Estrutura de
rodovia BA-447 está em um grau de degradação Transporte. (2003d). TER 005: Defeitos nos
pavimentos flexíveis e semi-rígidos – Terminologia.
avançado, uma vez que os conceitos demonstram Rio de Janeiro, 12 p.
que a superfície, e os demais elementos do
pavimento estão deteriorados.
Os conceitos de Regular, Ruim e Péssimo
para a Avaliação Objetiva e para o LVC, que
avaliam a degradação da superfície do
pavimento, são os conceitos que se mais tem da

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Estudo de Mistura Asfáltica Densa Produzida com Agregado
Mineral Basáltico Obtido no Estado do Tocantins
Andira Nurrielli de Oliveira Costa
Universidade Federal do Tocantins, Palmas, Brasil, anurrielli@hotmail.com

Janaina Lima de Araújo


Universidade Federal do Tocantins, Palmas, Brasil, lima.jana@gmail.com

João Paulo Souza Silva


Universidade Federal de Goiás, Aparecida de Goiânia, Brasil, profjpss@gmail.com

RESUMO: Esta pesquisa objetiva o estudo da mistura asfáltica densa produzida com basalto obtido
no norte do Tocantins, pela caracterização do agregado, estudo de dosagem Marshall, compactação
das misturas e realização do ensaio de resistência à tração (RT). O basalto e o ligante apresentaram
valores aceitáveis. A mistura apresentou boa densidade, Volume de Vazios, Volume de Agregado
Mineral, Relação Betume-Vazio, Estabilidade e Fluência. O Teor de Projeto foi de 5,7%, e a RT de
0,95MPa, valor aceitável pelo DNIT para uso em rodovias. Conclui-se que, para a Faixa C, o uso da
mistura como revestimento asfáltico é satisfatório no quesito mecânico.

PALAVRAS-CHAVE: mistura asfáltica, basalto, dosagem Marshall.

1 INTRODUÇÃO estado, a grande extensão de rodovias a serem


pavimentadas e a importância desse modo para o
O elevado número de rodovias com defeitos e desenvolvimento socioeconômico fundamentam
irregularidades nas condições de trafegabilidade este trabalho com a necessidade da
impacta no custo de manutenção dos veículos, caracterização de misturas asfálticas, feita com
aumento do tempo de viagem, consumo de agregado extraído no Tocantins, que são
combustível e pneus, aumento de fretes de cargas aplicados no estado, por meio de ensaios
e eleva o número de acidentes. Para que o modo recomendados e padronizados por normas
rodoviário auxilie no desenvolvimento rodoviárias.
socioeconômico do país, faz-se necessário que o Dessa forma, o objetivo deste trabalho é
pavimento cumpra todas as demandas estruturais estudar, por meio de ensaios laboratoriais, as
e funcionais. propriedades volumétricas e as características
As principais rodovias federais do Tocantins mecânicas de misturas asfálticas do tipo
são a BR-226 e a BR- 153. Esta última é a quarta Concreto Betuminoso Usinado a Quente –
maior rodovia federal do Brasil e atravessa todo CBUQ, Faixa C da Especificação de Serviço
o estado, sendo de fundamental importância para DNIT-ES 031/2006, produzidas com agregados
seu desenvolvimento. De acordo com a pesquisa minerais extraídos no norte do estado do
de rodovias da CNT (2016), o pavimento Tocantins, verificando se suas propriedades
tocantinense analisado foi considerado, em sua atendem as características desejadas de
maior parte, com estado de conservação regular, resistência quando aplicada nas camadas de
sendo assim, é clara a necessidade de rolamento da região.
intervenção na reabilitação do pavimento. 2 METODOLOGIA
A má qualidade do pavimento das vias do

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Todos os ensaios foram realizados no 147°C e as temperaturas de mistura adotadas
Laboratório de Infraestrutura e Materiais de foram de 170°C para o agregado e 160°C para o
Construção Civil da Universidade Federal do ligante, respeitando a variação mínima de 10ºC
Tocantins e no Laboratório de Materiais e entre o ligante e o agregado.
Estruturas do Centro Universitário Luterano de Para se obter o teor de projeto de ligante
Palmas. asfáltico (TP) fez-se uso de somente dois
O basalto foi caracterizado em relação aos parâmetros volumétricos, Volume de Vazios
diversos ensaios básicos normatizados e (Vv) e Relação Betume-Vazios (RBV), portanto
largamente conhecidos. Já o ligante asfáltico foram moldados cinco grupos de corpos de prova
escolhido para este estudo foi o CAP 50-70 tendo (CP) de acordo com a norma DNER-ME 043/95,
sua caracterização fornecida pela empresa cada grupo contendo três CP. Para o primeiro
Nacional Asfaltos, atendendo a Especificação grupo foi utilizado um teor de asfalto (T, em %),
ANP – Resolução nº 19, de 11 de julho de 2005. os outros grupos possuem teores acima e abaixo
(T±0,5% e T±1%).
2.1 Dosagem de Misturas Asfálticas Após resfriamento e desmoldagem dos CP,
obteve-se para cada CP as dimensões (diâmetro-
O processo de dosagem das misturas asfálticas ɮ e altura-h), massa seca (Ms) e submersa em
na metodologia Marshall foi realizado água (Mssub). Com esses valores, é possível obter
basicamente em quatro etapas, após a escolha e a massa específica aparente (Gmb), que em
caracterização dos materiais empregados na comparação com a massa específica máxima
mistura (agregados e ligantes asfálticos), fez-se teórica (DMT), permite obter as relações
a determinação das percentagens com que o volumétricas típicas da dosagem.
agregado deve contribuir na mistura de modo a Após as medidas volumétricas, a estabilidade
atender as especificações com relação à e a fluência foram determinadas conforme
granulometria. especificado na norma DNER ME 043/95. Com
Para o presente estudo optou-se por adotar todos os valores dos parâmetros volumétricos e
apenas concreto betuminoso de misturas densas. mecânicos determinados, são plotadas seis
A faixa granulométrica selecionada está curvas em função do teor de asfalto que são
enquadrada na Faixa C de trabalho do normativo usadas para auxiliar na definição do teor de
DNIT-ES 031/2006, podendo variar entre o projeto.
mínimo e o máximo estabelecido. Com os cinco valores médios de Vv e RBV
A escolha das granulometrias a serem obtidos nos grupos de CP, onde a partir da
estudadas nesta pesquisa, é realizada com base análise dos resultados, foram então determinados
na metodologia de seleção Superpave. Portanto, quatro teores de CAP (X1, X2, X3 e X4). O teor
com base nesta metodologia, as curvas de projeto foi selecionado tomando a média dos
granulométricas utilizadas neste estudo foram dois teores centrais, ou seja, TP = (X2 + X3)/2.
determinadas passando abaixo da zona de
restrição (BZR), os limites da Faixa C para 2.4 Caracterização Mecânica das Misturas
camada de rolamento do DNIT, não obedece aos Asfálticas
conceitos empregados da metodologia
Superpave, ultrapassando alguns pontos de O comportamento mecânico das misturas foi
controle. avaliado por meio do ensaios de resistência à
A terceira etapa é a determinação do teor tração por compressão diametral (RT) em 3
ótimo de ligante, ou de uma faixa ótima. Por fim, corpos de prova cilíndricos a 25°C segundo a
a última etapa é a comparação dos parâmetros norma DNER-ME 136/2010.
físicos da mistura com os valores constantes nas
especificações. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
A escolha das temperaturas de mistura e de
compactação foi feita a partir da curva 3.1 Caracterização do Agegado Basáltico
viscosidade-compactação do CAP. A A Figura 1 apresenta as curvas granulométricas
temperatura de compactação utilizada foi de obtidas para o agregado basalto. Analisando o

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traçado da curva da brita 1 e brita 0, conclui-se pelas normas rodoviárias brasileiras, que
que os agregados possuem uma graduação determinam que o teor nessas frações seja menor
uniforme, ou seja, apresenta a maioria de suas que 1%. Para os agregados miúdos, as normas
partículas com tamanhos em uma faixa estreita, estabelecem um limite máximo de 5% para esta
resultando em curvas granulométricas íngremes. propriedade. Foi encontrado um percentual de
O resultado é esperado para esses materiais, pois 2,55% em peso do pó de pedra basáltico, ou seja,
durante o processo de britagem, ocorre a dentro do limite exigido.
separação de acordo com as dimensões dos Devido ao alto teor de material pulverulento
grãos. Já na curva do pó de pedra, observa-se que no material graúdo do basalto, há a necessidade
estes agregados possuem uma graduação densa, de realizar o ensaio de equivalente de areia
ou seja, apresentam distribuição granulométrica (DNER-ME 054/97), o que no entanto, não pôde
contínua e bem graduada. ser executado, devido à falta de reagentes. A
presença de material pulverulento auxilia no
preenchimento de vazios, sendo benéfico para a
mistura asfáltica. Porém, o excesso desse
material aumenta o consumo de ligante
betuminoso, sendo fundamental considerá-lo no
cálculo da composição granulométrica e da
dosagem.
De acordo com a norma utilizada para a
realização do ensaio de índice de forma, valores
próximos a 1 são considerados de ótima
Figura 11. Curva granulométrica. cubicidade e quanto maior este valor, mais
lamelares são estas partículas, sendo o limite
A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos nos para aceitação o índice igual a 3. Observando os
ensasios laboratoriais de caracterização do valores encontrados é possível analisar que o
agregado basáltico. Observa-se que os valores de agregado basáltico são considerados aceitáveis
absorção calculados são considerados aceitáveis para utilização em misturas asfálticas.
para utilização em misturas asfálticas, pois o Para a aceitação do uso de agregados em
agregado deve apresentar porosidade suficiente misturas de CBUQ, o DNIT limita o valor
para auxiliar a coesão do ligante com os grãos, máximo de abrasão Los Angeles em 50%, sendo
porém não devem ser muito porosos. que quanto menor este valor mais resistente são
os agregados ao degaste e ao impacto. Observa-
Tabela 1. Caracterização do agregado basaltico. se que os valores encontrados para os materiais
Material em questão estão dentro do limite estabelecido.
Ensaios Brita Brita Pó de Com relação a adesividade, o resultado
1 0 Pedra observado em laboratório, onde todos os grãos
Densidade Aparente 2,745 2,617 - estão quase que totalmente envolvidos por
2,04 2,36 2,70
material asfáltico era esperado para esse tipo de
Absorção (%)
material.
Abrasão Los Angeles (%) 19,8 19,7 -
Teor de materiais pulverulentos 1,36 1,75 2,55 3.2 Caracterização do Ligante Asfáltico
Índice de Forma 2,1 2,2 -
- - 2,735 O cimento asfáltico de petróleo fornecido por
Densidade Real
uma empresa distribuidora de asfalto da região
Massa específica (g/cm³) - - 2,863
possui as características expressas na Tabela 2,
Adesividade Satis. - - todos os valores dos ensaios estão dentro dos
padrões recomendados, porém é importante
Para os agregados graúdos de basalto, observar que o CAP utilizado possui valores de
obtiveram-se resultados de teor de materiais penetração e ponto de amolecimento bem
pulverulentos superiores aos limites exigidos próximos do mínimo recomendado, esses

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valores baixos indicam maior consistência e curvas ficassem abaixo da zona de restrição foi
menor trabalhabilidade, ou seja, foi necessário atendido, porém não foi possível mantê-las
aquecê-lo a temperaturas elevadas para atingir o dentro dos pontos de controle da peneira nº 200.
ponto de realização dos ensaios desta pesquisa. Para a determinação do TP, primeiro foram
realizados cálculos para determinar o teor
Tabela 2. Resultados do CAP 50-70, classificação por provável de CAP a partir do método da
penetração. superfície específica dos agregados, encontrando
Características
Valores CAP 50-70 como resultado o valor 4,7% e então foram
Especificação Resultado definidos os teores para produção dos 5 grupos
Penetração (100g, 5s, de corpos de prova (±0,5% e ±1,0%) e
50 – 70 50
25°C) (0,1 mm) determinados seus parâmetros volumétricos e
Ponto de amolecimento
mín. 46 50,2
mecânicos. Porém, com os resultados
(°C) encontrados não foi possível determinar o TP,
Viscosidade Brookfield a pois todas as misturas apresentaram Vv muito
mín. 274 480
135°C, SP 21, 20 rpm (cP)
alto e RBV muito baixos, não atingindo os
Índice de suscetibilidade
térmica
(-1,5) a (+0,7) -1,1 limites estabelecidos. Então, foram moldados
novos corpos de prova (+1,5%, +2,0% e +2,5%),
Ponto de fulgor (°C) mín. 235 332
e para cada mistura foram escolhidos os cinco
Solubilidade em
tricloroetileno (% massa)
mín. 99,5 100 teores que compunham a melhor curva, os
valores dos teores utilizados nesse estudo estão
Ductibilidade a 25°C (cm) mín. 60 >150
presentes na Tabela 3.
3.3 Dosagem de Misturas Asfálticas Tabela 3. Parâmetros volumétricos e mecânicos utilizados.
Teor 4,2% 4,7% 5,2% 5,7% 6,2%
Os percentuais de cada agregado utilizados na ɮ (cm) 10,2 10,2 10,2 10,2 10,1
composição da mistura foi de 24%, 32% e 44% h (cm) 6,4 6,4 6,3 6,2 6,0
para as britas 1, brita 0 e pó de pedra,
Gmb (g/cm³) 2,406 2,404 2,403 2,406 2,487
respectivamente, formando assim a curva
DMT (g/cm³) 2,566 2,546 2,526 2,506 2,486
granulométrica BZR utilizada (Figura 2).
Vv (%) 6 6 5 4 0
VCB (%) 10 11 12 14 15
VAM (%) 16 17 17 18 15
RBV (%) 62 67 72 77 100
E (N) 7876 8474 13188 13495 11888
F (0,25mm) 283 297 370 372 420

É possível observar os altos valores de Vv nas


misturas, cuja faixa limite especificada no
DNIT-ES 031/2006 para camada de rolamento é
de 3% a 5%. Também se observa que a
Figura 22. Curva granulométrica na Faixa C, com pontos Estabilidade Marshall (E) atingiu resultados
de controle, zona de restrição e limites de tolerância. acima do valor de referência, de 500 kgf (1 kgf
؆ 10 N), e teve valores acima e abaixo do
O gráfico de curva granulométrica foi intervalo ideal de RBV, que é de 75% a 82%. Já
construído com a relação entre as aberturas das com relação ao Volume de Vazios no Agregado
peneiras e a porcentagem passante para cada um Mineral (VAM), teve resultados igual ou acima
dos materiais. Nota-se que em alguns tamanhos de 15%, valor limite mínimo.
de peneiras, a curva ficou fora dos limites da Com todos os valores dos parâmetros
Faixa C, porém existe uma tolerância, que volumétricos e mecânicos determinados, são
quando levada em conta, todas as curvas ficam plotadas seis curvas em função do teor de asfalto
dentro dos limites, como mostram a Figura 2. que são usadas na definição do teor de projeto
Percebe-se também que o objetivo de que as

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(Figura 3). Observando-as, nota-se mais específica aparente e estabilidades e estão dentro
claramente que os resultados de VAM ficaram dos limites de Vv, VAM e RBV.
acima do mínimo recomendado, as curvas de Como parte das especificações Superpave de
Gmb e Estabilidade não apresentaram uma dosagem de misturas asfálticas, a razão em peso,
tendência de decrescimento ou crescimento à entre o fíler mineral e o ligante asfáltico,
medida que aumentava o teor de CAP e que foi denominada de “dust proportion”, devem ser
possível encontrar valor de Vv e RBV dentro dos valores de 0,6 a 1,2 para todo tipo de mistura.
limites recomendados. Posteriormente, outros estudos de desempenho
em pistas recomendaram ampliar a faixa para 0,8
a 1,4 em graduações fina, acima da linha de
densidade máxima, e para 0,8 a 1,6 em
graduações grossas, abaixo da linha de
densidade máxima (CERATTI; REIS, 2011).
Com base nisso, a relação f/a ficou bem abaixo
do mínimo recomendado, pois a porcentagem de
fíler não chegou a 1%, o que justifica o fato de
as curvas granulométricas ficarem abaixo dos
pontos de controle na fração fina e bem próximas
à tolerância do limite inferior da Faixa C do
DNIT. A união das duas metodologias mostra
que apesar de não atender ao requisito
Superpave, que recomenda que o material
passante na peneira nº 200 seja de 2 a 8%, a curva
Figura 3. Curvas dos parâmetros determinados na adotada para o estudo atende ao requisito da
dosagem Marshall. Faixa C de acordo com as tolerâncias.

Para auxiliar na determinação do teor de 3.4 Caracterização Mecânica das Misturas


projeto, com os cinco valores médios de Vv e Asfálticas
RBV obtidos nos grupos de CP traçou-se um
gráfico do teor de asfalto no eixo das abscissas Os ensaios de caracterização foram realizados
versus Vv e RBV no eixo das ordenadas (Figura em 3 corpos de prova moldados com o teor de
4). O teor de projeto foi selecionado tomando a projeto encontrado. O valor de RT obtido para a
média dos dois teores centrais, encontrando o mistura de basalto foi 0,95MPa, dentro dos
valor de 5,7%. limites recomendados pelo DNIT-ES 031/2006.
É interessante também verificar o
comportamento de ruptura através dos registros
de deslocamento durante a ruptura de cada corpo
de prova, para evidenciar o comportamento de
ruptura das amostras e a energia desprendida
durante o processo de ruptura como observado
na Figura 5.
De acordo com Kamaruddin (2000), a
tenacidade de um material é definida como a
quantidade de trabalho por unidade de volume
Figura 4. Teor de asfalto versus Vv e RBV. necessário para provocar a ruptura e serve para
comparar misturas asfálticas que contêm
Com os resultados do teor de projeto diferentes materiais, ela é determinada pela
encontrados e observando as 6 curvas plotadas integração da área sob a curva tensão-
da Figura 3, percebe-se que essa porcentagem é deformação (Figura 5). A energia desprendida
a que apresenta uma das maiores densidades durante a realização do ensaio de resistência à
tração foi obtida através do método dos

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trapézios. Observa-se um bom valor de energia densidade, %Vv, %VAM, %RBV, Estabilidade
durante o processo de ruptura, cerca de 0,96Mpa. e Fluência aceitáveis, próximos aos limites
especificados pelo DNIT. Por fim, apresentou
valores aceitáveis de resistência para uso em
rodovias estabelecido pelo DNIT.

REFERÊNCIAS

ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e


Biocombustíveis. Regulamento Técnico nº 03/2005.
Resolução nº 19, de 11 de julho de 2005. ANEXO I.
Brasília – DF. 2005.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. Agregado graúdo – Determinação do
índice de forma pelo método do paquímetro: NBR
7809. Rio de Janeiro, 1989.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRANSPORTES.
Pesquisa CNT de Rodovias 2016: relatório gerencial.
20 ed. Brasília: CNT : SEST: SENAT, 2016. 399 p.
CERATTI, J. A. P.; REIS, R. M. M. Manual de Dosagem
de Concreto Asfáltico. São Paulo: Oficina de Textos.
Rio de Janeiro: Instituto Pavimentar, 2011. 151 p.
DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem.
Materiais Rochosos Usados em Rodovias – Análise
Petrográfica: DNER-IE 006/94. Rio de Janeiro, 1994.
_____. Agregados – Determinação da Abrasão Los
Angeles: DNER-ME 035/98. Rio de Janeiro, 1998.
_____. Agregados – Determinação da Absorção e da
Densidade de Agregado Graúdo: DNER-ME 081/98.
Figura 5. Comportamento de ruptura das amostras e área Rio de Janeiro, 1998.
entre a resistência à tração média versus deslocamento. _____. Agregados – Análise Granulométrica: DNER-ME
083/98. Rio de Janeiro, 1998.
_____. Agregados – Determinação da Massa Específica de
4 CONCLUSÕES Agregados Miúdos por Meio do Frasco Chapman:
DNER-ME 194/98. Rio de Janeiro, 1998.
A faixa granulométrica escolhida neste trabalho, _____. Agregados – Determinação do Teor de Materiais
segundo a distribuição granulométrica proposta Pulverulentos: DNER-ME 266/97. Rio de Janeiro,
pelas metodologias Marshall e Superpave, de um 1997.
_____. Agregado – Adesividade ao Ligante Betuminoso:
modo geral conduz a um revestimento asfáltico DNER-ME 078/94. Rio de Janeiro, 1994.
satisfatório para as misturas basálticas em _____. Agregado Miúdo – Determinação da Densidade
relação às características desejadas no quesito Real: DNER-ME 084/95. Rio de Janeiro, 1995.
mecânico. _____. Misturas Betuminosas – Determinação da
O agregado basáltico apresentou valores Densidade Aparente: DNER-ME 117/94. Rio de
Janeiro, 1994.
padrões e dentro dos limites de aceitação para _____. Misturas Betuminosas a Quente – Ensaio Marshall:
todas as caracterizações realizadas. Com relação DNER-ME 043/95. Rio de Janeiro, 1995.
ao CAP 50-70 utilizado, este atendeu a todas as DNIT – Departamento Nacional de Infraestrutura de
restrições, segundo ensaios fornecidos pela Transportes. Pavimentos Flexíveis – Concreto
distribuidora. Todas as granulometrias estudadas Asfáltico – Especificação de Serviço: DNIT-ES
031/2006. Rio de Janeiro, 2006.
apresentaram suas curvas fora dos pontos de _____. Pavimentação Asfáltica – Misturas Asfálticas –
controle inferiores, porém dentro dos limites da Determinação da Resistência à Tração por Compressão
Faixa C do DNIT. Diametral: DNIT-ME 136/2010. Rio de Janeiro, 2010.
O procedimento de dosagem adotado para KAMARUDDIN, I. The Tensile Characteristics of Fibre
CBUQ, segundo a metodologia Marshall e Reinforced Bituminous Mixtures. Platform, Universiti
Teknologi Petronas, Volume 1, nº 2, p 17-24. 2000.
Superpave, e baseado nos parâmetros
volumétricos Vv e RBV, possibilitou encontrar o
valor de teor de projeto de 5,7% e resultados de

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Estudo de Mistura Solo Cal com Fragmentos de Borracha
Emanoel Raimundo da Silva Sá Júnior
Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Brasil, emanoelljr@hotmail.com

Joel Carlos Moizinho


Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Brasil, joel.moizinho@ufrr.br

Adriano Frutuoso da Silva


Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Brasil, adriano.silva@ufrr.br

RESUMO: Este trabalho apresenta um estudo de um solo, com objetivo de avaliar seu
comportamento no estado natural e quando misturado com fragmentos de borracha de pneus
descartados e cal, para fins de uso em pavimentação. Para tanto, foram pesquisadas três misturas de
solo, cal e fragmentos de borracha, as quais foram submetidas a ensaios de caracterização física,
Compactação, CBR e Resistência à compressão simples. Os resultados indicam que o solo analisado
atende as exigências das especificações do Manual de Pavimentação (DNIT, 2006) para uso em
camada de sub-base ou reforço do subleito quando estabilizado nas proporções estabelecidas na
pesquisa.

PALAVRAS-CHAVE: Estabilização de solos, Solo-cal, Borracha de pneu, Solo-borracha.

1 INTRODUÇÃO As pesquisas tornaram-se necessárias e


importantes nos últimos anos por desenvolverem
Com o país em desenvolvimento, a geração de métodos de estabilização dos solos, modificando
resíduos gerados são muitos e cada vez mais se suas características inicias por aquelas
torna necessário o estudo adequado para a necessárias para algum fim de serviço. Essa
reutilização destes materiais. Assim como a estabilização é adquirida através da adição de
indústria da engenharia civil, outros ramos materiais, que quando misturadas ao solo,
seguem esse mesmo crescimento, um deles é a melhoram suas características físicas e geram
indústria automobilística. O aumento repentino e resultado positivo.
de grande volume de automóveis traz consigo Um dos produtos que apresenta um baixo
não somente os aspectos positivos mas também custo e proporciona bons resultados, no processo
um grande problema ambiental do século atual, de estabilização de solos é a cal. A mistura
a correta destinação dos resíduos. produz ao solo ganhos na trabalhabilidade,
Com o desenvolvimento vem a necessidade plasticidade, capacidade de suporte e diminuição
da pavimentação das estradas e dessa forma, da expansão. A estabilização de solos com a cal
verifica-se o uso muito intenso do solo, que é um método eficaz, ecológico e econômico na
quando não apresentar as características medida em que permite o aproveitamento dos
necessárias para a implantação de um solos existentes no local onde a obra será
pavimento, prédio ou qualquer outra obra de implementada, ao invés de substituí-los por
engenharia civil deve-se, quando possível, outros, evitando despesas adicionais e impactos
modificar o projeto, removê-lo ou, o mais ambientais. Nesta pesquisa procurou-se avaliar o
utilizado, desenvolver um estudo para estabilizá- comportamento do solo natural e quando trtado
lo. com diferentes teores de cal e borracha. A opção

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por incorporar a borracha é dar finalidade útil a No trabalho realizado por Guérios (2013), foi
esse tipo de rejeito, que é descartado de forma estudado o melhoramento do solo com adição de
inapropriada na natureza, causando danos cal hidratada para uso em pavimento urbano. Foi
ambientais e contribuindo para proliferação de utilizado proporções de 2, 5 e 10% de cal em
insetos transmissores de doenças. relação ao solo. Utilizou-se da energia normal
para compactação. O autor observou um
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA aumento gradual do teor da umidade ótimo e
diminuição do peso específico aparente seco,
Chrusciak (2013) realizando ensaio de com o aumento do teor de cal, conforme Figura
compactação com mistura de borracha e solo 3.
argiloso, em proporções diversas, constatou uma
diminuição no peso específico seco máximo das
misturas, com o aumento do teor de borracha e
pouca variação da umidade ótima. A Figura 1
mostra os resultados obtidos pela autora:

Figura 3. Curvas de compactação do solo natural e


tratado com cal. (Fonte: Guérios, 2013).

De acordo com Araújo A. F. (2009)


Figura 1. Curvas de compactação do solo natural e com pesquisando a influência da mistura de solo com
acréscimos de borracha. (Fonte: Chrusciak, 2013). cal, compactados na energia intermediária, em
relação ao CBR e na resistência à compressão
Segundo Andrade e Pereira (2012), estudando simples, observou que, o acréscimo de de teores
o efeito do acréscimo de borracha na mistura de de cal maiores que 5% não provocaram
solo argiloso nas proporçõesde 5, 10, 20, 30 e acréscimos na capacidade de suporte do solo,
40% em relação ao solo argiloso puro e como verificado na Figura 4. Os resultados do
utilizando a energia de compactação Proctor ensaio de resistência à compressão simples com
Normal, concluíram que o peso específico seco e as amostras de solo tratadas com a cal
a umidade ótima das misturas decrescem para apresentaram ganhos de resistência com o
maiores teores de borracha. A Figura 2 mostra aumento dos períodos de cura. A Figura 5 mostra
curvas de compactação obtida pelos autores com a variação da RCS das amostras ensaiadas.
as misturas solo e borracha.

Figura 2. Curvas de compactação do solo natural e com Figura 4. Evolução do ISC com o teor da cal. ( Fonte:
borracha. (Fonte: Andrade e Pereira, 2012). Araújo A. F, 2009).

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Figura 7. Análise gráfica dos resultados relacionando
Figura 5. Evolução dos valores da RCS para as misturas de tempo x resistência. (Fonte: Bordignon V. R., 2015).
solo mais cal. (Fonte: Araújo A. F, 2009).

3 MATERIAIS E MÉTODOS
Bordignon V. R. (2015) analisou os efeitos da
adição da cal para a estabilização de um solo O solo utilizado foi coletado no interior do
sedimentar e concluiu que o solo com adição de Campus Paricarana da Universidade Federal de
3% de cal apresentou CBR 11% superior ao do Roraima – UFRR. O método para a retirada do
solo natural. Com a adição de 6%, 8% e 16% de material seguiu os critérios prescritos na NBR
cal os acréscimos de CBR foram, 9604 (ABNT, 2016).
respectivamente de, 226%, 908% e 1285%. A Na execução dos ensaios em laboratório
utilizou-se a cal hidratada, adquirida no
Figura 6 mostra a evolução do CBR do solo em
comércio local de Boa Vista – Roraima. A cal
função do teor de cal aplicado. apresentou na sua composição básica, hidróxido
de cálcio e teor de magnésio acima de 28%, que
a classifica como uma cal magnesiana.
Os resíduos de borracha de pneu, conforme
mostrado na Figura 8, foram obtidos junto a uma
empresa privada que atua na região no mercado
de reaproveitamento de pneus inservíveis.

Figura 6. Resultado do ensaio de CBR. Fonte: Bordignon


V. R., 2015).

Ainda, segundo Bordignon V. R. (2015) ao


analisar a resistência à compressão simples das
misturas de solo com cam, compactados na
energia Proctor normal, concluiu que somente a
adição de 16% da cal provocou um aumento Figura 8. Fragmentos de borracha. Fonte: autoria própria.
significativo na resistência. A Figura 7 mostra os
resultados obtidos pelo autor para a resitência à A borracha utilizada foi constituída de
compressão simples das misturas pesquisadas. partículas alongadas de aproximadamente 1 cm
de comprimento e 0,2 mm de largura.
Para realização da pesquisa, foram seguidas
metodologias constantes nas Normas: Limite de
Plasticidade (NBR 7180 - ABNT, 2016), Limite
de Liquidez (NBR 6459 - ABNT, 2016),
Granulometria (NBR 7181 - ABNT, 2016),
Massa Especifica (NBR 6508 - ABNT, 2008),

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Compactação do solo (NBR 7182 - ABNT,
2006), CBR (NBR 9895 - ABNT, 2016) e
Resistência à compressão simples (NBR 12025 -
ABNT, 2012). A Tabela 1 mostra, em resumo,
os traços pesquisados:

Tabela 1. Propoções solo, cal e borracha usada nos traços


pesquisados.
Umidade
Grupo Materiais Porcentagem (%)
(%)
Cal 5,0
A 11,0
Borracha 3,0
Figura 9. Mistura do solo com cal e borracha. Fonte
Cal 10,0
B 12,0 autoria própria.
Borracha 3,0
C Cal 10,0 13,0

Para cada grupo foi realizado o ensaio de


compactação, CBR e compressão simples (com
rompimento dos corpos de prova aos 7 e 14 dias),
de modo a avaliar se houve ou não alteração do
CBR e da RCS das amostras ensaiadas em
função do uso da borracha e da cal.
A energia de compactação utilizada neste
projeto foi a intermediária com adequações, uma
vez que este projeto estuda o uso desse material Figura 10. Corpo de prova após o ensaio CBR. Fonte
em camadas de base, consideradas camadas autoria própria.
intermediárias do pavimento. Assim sendo,
utilizou-se o cilindro pequeno, com cinco O ensaio de compressão simples foi realizado
camadas e 26 golpes em cada. aplicando-se energia intermediária, ou seja, 5
Após a execução das misturas de solo, cal e camadas com 26 golpes em cada, com a umidade
borracha em todas as porcentagens já citadas ótima pré definida. Como a resistência do solo-
nesta pesquisa, e após definida as umidades cal tem influência mais diretamente ligada ao
ótimas no ensaio de compactação, foram acréscimo de temperatura do que pela imersão
realizadas as misturas e compactação dos corpos em água, definiu-se que a cura dos corpos de
de provas para os ensaios de RCS e CBR. A prova fossem ao ar livre com tempos de cura de
Figura 9 mostra o procedimento da mistura solo, 7 e 14 dias. A Figura 11 mostra a cura das
borracha e cal, e a Figura 10 o corpo de prova misturas pesquisadas para realização do ensaio
após o ensaio CBR. de resistência à compressão simples.
O ensaio de CBR foi realizado para todas as
misturas. De posse da umidade ótima de cada
mistura foi possível confeccionar os corpos de
provas para os ensaios de CBR. As amostras
foram submersas por 4 dias, sendo verificada a
cada 12 horas a expansão do corpo de prova.

Figura 11. Cura dos corpos de prova ao ar livre, ensaio


RCS. Fonte autoria própria.

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4 RESULTADOS Pode-se perceber que quanto maior a
porcentagem de cal e borracha na mistura menor
Para os ensaios de caracterização física, os é o peso específico aparente seco com a umidade
resultados foram os seguintes: apresentando baixa variação. Estes resultados
O limite de liquidez (wL) do solo foi de 23%, foram semelhantes aos obtidos por Guérios
compatível com valores obtidos na literatura (2013) e Chrusciak (2013).
para esse tipo de solo. O limite de plasticidade A Figura 13 apresenta os resultados do ensaio
(wP) foi de 18%. Dessa forma, determinou-se o CBR. Observa-se o aumento na capacidade de
índice de plasticidade do solo (IP) de 5%. Esse suporte do solo com o incremento da cal e
resultado indica que o solo apresenta borracha. O maior ganho de capacidade de carga
plasticidade baixa (DAS, 2007). O DNIT ocorreu quando usou-se 10% de cal e 3% de
recomenda que solos utilizados para base de borracha, um ganho em torno de 360%.
pavimentos deverão apresentar, dentre outros
fatores, limite de liquidez menor que 25% e 40
índice de plasticidade menor ou igual a 5%, 30
portanto quanto a esses critérios o solo poderia

CBR(%)
ser usado para base e sub-base de pavimentos. 20
Com base na curva granulométrica o solo 10
estudado foi caracterizado como desuniforme e
bem graduado, com a seguinte composição: 0
Pedregulho (7,6 – 4,8 mm) - 0%; Areia (4,8 – solo 5%Cal3% 10%Cal3% 10%Cal5%
Borracha Borracha Borracha
0,05 mm) – 80%; Silte (0,05 – 0,005 mm) – 18%
e Argila (0,005 – 0 mm) – 2%.
Figura 13. Resultado obtido no ensaio de CBR.
Quanto a classificação do solo, pelo Sistema
Unificado, o solo foi classificado com SW (areia
Na Tabela 2 são apresentados os valores
bem graduada, com mais de 80% da fração
obtidos para resistência à compressão simples
areia), e pelo sistema HRB como A4, portanto,
(RCS) para todas as misturas.
siltoso e para uso em camada de pavimentos
precisaria de ser estabilizado. Tabela 2. Resultado do ensaio de RCS.
A classificação resiliente do solo com os Compressão Média
valores de 8% do CBR e percentacem de silte de Idade Teores
(MPa) (MPa)
41,7%, revelou um solo do tipo II. Esse tipo de 5% Cal 3%
1.46
solo tem comportamento regular como subleito e 1.47 1.52
Borracha
1.62
reforço do subleito. A Figura 12 apresenta o
2.02
resultado dos ensaios de compactação. 10% Cal 3%
1.77 1.86
Borracha
1.78
7
16,00 1.76
3%B 10% Cal 5%
Peso especifico aparente

15,50 1.82 1.74


5%C Borracha
1.63
sec0 (kN/m³)

15,00
3%B 1.20
14,50 10%C Solo 1.24 1.24
14,00 5%B 1.27
13,50 10%C 1.77
5% Cal 3%
13,00
1.89 1.82
Solo Borracha
8,00% 13,00% 18,00% 1.80
Umidade (%) 2.04
10% Cal 3%
2.20 2.13
Borracha
Figura 12. Resultados de compactação. 2.13
14
1.94
10% Cal 5%
A cal e a borracha têm peso específico menor 2.01 1.97
Borracha
que o solo, fato que justifica a diminuição do 1.98
1.58
peso específico seco da mistura solo-cal- Solo 1.51 1.48
borracha em relação ao solo no estado natural. 1.36

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A Figura 14 mostra a evolução da resistência ótima da mistura e diminuição do peso
à compressão simples dos corpos de provas específico aparente seco.
ensaiados em função do tempo de cura. Os valores de CBR apresentaram um aumento
2,20 de 401,9% para a mistura A, 460,5% para a
5% Cal e 3%
mistura B e 411,1% para a mistura C quando
Resistência a compressão

2,00 Borracha
comparados com o valor de CBR do solo natural.
1,80 10% Cal e 3%
Borracha A resistência à compressão simples aumenta,
em função do acréscimo do teor de cal e
(MPa)

1,60 10% Cal e 5%


borracha borracha. Entretanto, para teor de borracha de
1,40
Solo 5% a mistura apresentou resistência menor
1,20 quando comparado com a mistura com o uso de
1,00 3% deste resíduo.
7 14 A cal é responsável pelo aumento da
Idade (dias) resistência a compressão simples e a borracha
auxilia nesse processo. Entretanto, em altas
Figura 14. Evolução da resistência à compressão simples. quantidades de borracha, ela ocasiona um
decréscimo da quantidade de cal na mistura
Pode-se notar que em todas às misturas houve provocando uma redução da resistência.
um crescimento de resistência a compressão A mistura de 10% de cal e 3% de borracha se
quando comparado a obtida com solo natural. torna mais adequada para gerar resistências
Comparando as misturas confeccionada com maiores tornando esta mistura a ideal comparada
10% de cal e 5% de borracha, verificou-se que a com aquelas desenvolvidas nesta pesquisa.
resistência obtida é inferior à da mistura de 10% Pode-se dizer que a melhora das
de cal e 3% de borracha, ou seja, com o características do solo da Universidade Federal
acréscimo de borracha diminuiu a resistência à de Roraima foi satisfatória, uma vez que os
compressão simples do solo. Essa constatação resultados encontrados com CBR e compressão
pode ser explicada pelo fato de que, com o simples foram superiores ao do solo no estado
aumento da borracha, houve uma diminuição da natural.
quantidade de cal da amostra e sendo a cal a
maior responsável pelo aumento da resistência
fez com que tal resultado tenha ocorrido, além do AGRADECIMENTOS
mais a borracha não tem aderência com o solo,
diminuindo o atrito entre os grãos. Agradeço a Deus, a UFRR, a Empresa Rio
De um modo geral, a cal, quando misturada Limpo, aos meus pais Emanoel Sá e Sônia
ao solo, influência nos parâmetros de limite de Corrêa e ao meu orientador Prof. DSc. Joel
liquidez, limite de plasticidade, massa Carlos Moizinho pela dedicação e apoio que me
específica, CBR e RCS tendendo a melhorar suas forneceu nessa caminhada.
características para uso em obras geotécnicas,
principalmente, de pavimentação.
REFERÊNCIAS

5 CONCLUSÕES Andrade M. M. e Pereira V. P. Aplicabilidade de resíduos


para aproveitamento em geotecnia: comportamento
mecânico de solos reforçados com borracha moída de
Por meio da caracterização do solo natural foi pneus. Pontifícia Universidade Católica do Rio de
possível classificar o solo como de plasticidade Janeiro. Rio de Janeiro: 2012. 20 p.
baixa, desuniforme, bem graduado, Araújo A. F. Avaliação de misturas de solos estabilizados
apresentando massa específica aparente seca de com cal, em pó e em pasta, para aplicação em rodovias
15,6 kN/m³ para umidade ótima de 11,85%. do estado do Ceará. Universidade Federal do Ceará.
Fortaleza: 2009. 175 p.
No ensaio de compactação percebe-se que Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 6459:
quanto maior a quantidade de cal e borracha, Solo - Determinação do Limite de Liquidez. Rio de
ocorreu uma tendência de aumento na umidade Janeiro, 2016.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



______. NBR 6508: Grãos de solo que passam na
peneira de 4,8 mm – Determinação da Massa
Específica. Rio de Janeiro, 2008.
______. NBR 7180: Solo – Determinação do Limite de
Plasticidade. Rio de Janeiro, 2016.
______. NBR 7181: Solo – Análise Granulométrica.
Rio de Janeiro, 2016.
______. NBR 7182: Solo – Ensaio de Compactação.
Rio de Janeiro, 2006.
______. NBR 9604: Abertura de poço e trincheira de
inspeção em solo, com retirada de amostras
deformadas e indeformadas. Rio de Janeiro, 2016.
______. NBR 9895: Solo – Índice de Suporte
Califórnia. Rio de Janeiro, 2016.
______. NBR 12025: Solo-cimento – Ensaio de
compressão simples de corpos de prova cilíndricos.
Rio de Janeiro, 2012.
Bordignon, V. R. Efeitos da adição da cal hidratada na
estabilização de um solo sedimentar para
pavimentação urbana na região de Curitiba.
Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Curitiba: 2015. 126 p.
Chrusciak, M. R. Análise da melhoria de solos utilizando
fragmentos de borracha. Universidade de Brasília.
Distrito Federal: 2013. 109 p
Das, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. 6ª
edição. São Paulo: Thomson Learning, 2007. 610 p.
Departamento nacional de Infraestrutura de Transporte.
Especificação Técnica: Sub-base ou Base de Solo-cal.
ET-DE-P00/005. São Paulo: 2006. 20p.
Guérios, E. M. Estudo do melhoramento de solo com
adição de cal hidratada para uso em pavimento
urbano. Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Curitiba: 2013. 80 p.

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Estudo de Retroanálise para Caracterização das Camadas do
Pavimento da BR 040

Aline Ferreira Andalício


Via 040, Nova Lima, Brasil, aline.andalicio@via040.invepar.com.br

Ana Mara Araújo Torres


Via 040, Nova Lima, Brasil, ana.torres@via040.invepar.com.br

Mariana Alvarenga Ruas e Silva


Via 040, Nova Lima, Brasil, mariana.alvarenga@via040.invepar.com.br

Rodolfo César Costa Arantes


Via 040, Nova Lima, Brasil, rodolfo.arantes@via040.invepar.com.br

Mariana Maia Ribeiro Silva


Via 040, Nova Lima, Brasil, mariana.silva@via040.invepar.com.br

Celso Luiz dos Santos Romeiro Junior


Via 040, Nova Lima, Brasil, celsoluizjr@gmail.com

RESUMO: Diante da preocupação em se entender melhor a estrutura componente dos pavimentos da


BR040, este artigo tem o objetivo de obter os Módulos de Resiliência de sete trechos escolhidos nessa
rodovia, empregando uma metodologia de retroanálise, a partir de dados de bacias deflectométricas
medidas com deflectômetro de impacto do tipo FWD. Foi utilizado o programa de retroanálise
BAKFAA e o software AEMC para o cálculo das tensões, deformações e deslocamentos. O estudo
demonstrou que é possível conhecer as características do pavimento por meio de análises não
destrutivas e, assim, entender melhor a mecânica dos materiais no trecho analisado.

PALAVRAS-CHAVE: Bacias Deflectométricas, Módulo de Resiliência, Retroanálise, Pavimentos,

1 INTRODUÇÃO base de dados que devidamente interpretados


representem o nível de degradação estrutural do
Uma boa infraestrutura de transporte, sobretudo pavimento e possibilitam definir os serviços com
os pavimentos, é de grande serventia para a melhor custo/benefício que devem ser executados
sociedade, uma vez que proporciona ao usuário para reestabelecer as condições ideais de
conforto e segurança ao trafegar em uma rolamento.
superfície mais regular, aderente e menos ruidosa. A partir de um avanço tecnológico no meio
Para isso, é necessário que se mantenha uma boa rodoviário, a nível nacional e internacional, foi
conservação do seu estado funcional e estrutural. possível desenvolver diversas técnicas de
Para restaurar as condições do pavimento, manutenção e restauração das rodovias. Nesse
utilizando a melhor estratégia, é necessária uma sentido, a Teoria de Sistema de Camadas

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Elásticas (TSCE) é a mais utilizada para análise camadas estruturais do pavimento através de
estrutural, a fim de determinar os esforços dados de bacias de deformação. Este processo é
solicitantes que serão empregados em modelos uma excelente opção quando não é possível a
mecanísticos-empíricos de fadiga e de avaliação destrutiva e coleta de amostras no local
deformação permanente. (BERNUCCI, 2008). Segundo Pereira (2007) a
O método de dimensionamento da AASHTO retroanálise permite a avaliação estrutural do
(AASHTO, 2008) é um exemplo da metodologia pavimento, dimensionamento de reforço ou a
mecanística-empírica em que as respostas determinação da vida útil.
estruturais são calculadas por um programa de Tendo-se o conhecimento da carga externa
camadas elásticas (JULEA), onde os resultados aplicada para a qual foi obtida e, conhecendo-se
(tensões, deformações e deflexões) são utilizadas os tipos de materiais presentes em cada camada e
em modelos mecanicistas, calibrados suas espessuras, é possível inferir os módulos de
empiricamente, de degradação dos pavimentos elasticidade a partir das deflexões obtidas. Esta
para previsão da vida útil de projeto. especificação é feita considerando-se uma
,. Para tal, os principais parâmetros necessários determinada combinação de módulos das
são o Módulo de Resiliência (MR) e o camadas de modo a fazer coincidirem a bacia
Coeficiente de Poisson. teórica calculada e a bacia de campo determinada.
O MR, que define a relação entre as tensões e Esta última pode ser obtida a partir de ensaios
as deformações nas camadas do pavimento, pode não-destrutivos, utilizando-se equipamentos
ser obtido de duas maneiras: em laboratório, por como a viga Benkelman, universalmente usada,
meio de ensaios triaxiais cíclicos; e ou o FWD, instrumento capaz de obter
analiticamente, através da retroanálise. A determinações mais precisas (MACÊDO, 1996;
metodologia de retroanálise trata-se de um ALBERNAZ, 1997; VILLELA E MARCON,
procedimento de obtenção dos módulos elásticos 2001; NÓBREGA, 2003).
das camadas do pavimento e do subleito. No Os métodos utilizados atualmente para realizar
processo, é necessário obter as bacias a retroanálise são os métodos simplificados e
deflectométricas sob a superfície do pavimento, iterativos. Os métodos simplificados visam
através de um processo não-destrutivo, não determinar o módulo do pavimento e do subleito,
havendo necessidade deretirar material do enquanto os iterativos visam estabelecer os
pavimento. módulos das camadas do pavimento
Considerando a importância de conhecer os individualmente.
MR das camadas de um pavimento em uso, este De acordo com Nóbrega (2003), os métodos
trabalho tem como objetivo principal o estudo e iterativos têm por finalidade determinar as
caracterização das camadas do pavimento em características elásticas e geométricas de cada
segmentos da rodovia BR-040, visando a camada do pavimento, exercendo para esse fim
obtenção deste parâmetro a partir de bancos de uma comparação das bacias deflectométricas,
dados de bacias deflectométricas medidas com obtidas em campo, e a teórica definida pelo
deflectômetro de impacto do tipo Falling Weight programa, até o momento em que as deflexões
Deflectometer (FWD). teóricas sejam as mesmas ou próximas das
obtidas em campo, sendo sua aceitação realizada
por meio de um erro admissível, definido antes
2 REFERENCIAL TEÓRICO do início das iterações.
Dentre os métodos iterativos empregados na
atualidade tem-se o software BAKFAA,
2.1 Retroanálise
desenvolvido pela Federal Aviation
Administration, sua última versão disponível é a
A retroanálise é um método que permite a 2.0, atualizada em 2013. O programa permite
inferência dos módulos de elasticidade das automatização de retroanálise dos pavimentos,

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gerando valores de módulo de resiliência a partir
de iterações com dados inferidos de módulo de 3.2 Estudo de Retroanálise
resiliência que devem ser inseridos anteriormente
no programa. Este programa apresenta apenas Dentre os softwares de retroanálise utilizados
uma página gráfica em Windows que contém atualmente, adotou-se o programaFAA
todas as informações necessárias para Backcalculation (BAKFAA), versão 2.0, do
retroanálise. órgão aeronáutico dos Estados Unidos (EUA),
Federal Aviation Administration (FAA), devido à
3 METODOLOGIA interface amigável dos dados fornecidos. De
acordo com Bertão (2015) a interface do
3.1 Local de estudo programa BAKFAA necessita dos seguintes
dados:
O estudo foi realizado na BR-040 (Figura 1), • As espessuras das camadas;
especificamente no trecho de concessão da Via • Os coeficientes de Poisson adotados para cada
040, que compreende 936,8 km da rodovia, entre estrutura;
as cidades de Brasília/DF e Juiz de Fora/MG. • As distâncias adotadas para a leitura;
• A bacia obtida em campo (FWD);
• Carregamento;
• Aderência ou não entre as camadas.

Os Módulos de Resiliência retroanalisados


foram obtidos a partir de sete bacias levantadas
para cada uma das sete UA. Os dados do ensaio
de deflexão foram normatizados para uma carga
de 4100 kgf, através de uma relação linear. E, a
temperatura foi corrigida para 25°C, utilizando o
ábaco apresentado na norma do DNIT 006/2003 –
Figura 1. Trecho de concessão - BR040 PRO, com base na espessura da Camada Asfáltica
Fonte: Google, (2017). (CA).
Após essa correção, como critério estatístico,
Para entender melhor o comportamento do foram selecionadas as bacias que estavam no
pavimento e simplificar o estudo da rodovia, intervalo de três desvios padrões, que em seguida
foram selecionadas sete unidades de amostragem foram retroanalisadas pelo software BAKFAA.
(UA). Estas foram selecionadas de forma a Os valores dos Módulos de Resiliência finais
representar as características e condições de um de cada camada foram definidos pela média
conjunto de segmentos homogêneos definidos daqueles valores dos MR calculados, que se
segundo a metodologia das diferenças enquadraram abaixo de um limite de 5% de erro.
acumuladas (AASHTO, 1993). Posteriormente, como forma de validação dos
Uma vez que os dados referentes à estrutura resultados, este estudo realizou análises de
dos pavimentos, espessuras das camadas e tensão-deformação a partir do software AEMC,
materiais constituintes não era de conhecimento comparando as bacias de deflexão obtidas em
do antigo gestor da rodovia, foram necessários campo com as deflexões encontradas pelo
aberturas de poços de inspeção e coleta de AEMC. Este programa foi adotado em virtude da
amostras para ensaios de caracterização e de fácil inserção de dados, e por se tratar do software
análise visual. Por fim, as bacias de deflexão que será implantado na Nova Metodologia de
foram obtidas por levantamento deflectométrico Dimensionamento Nacional O AEMC é uma
realizado com FWD. ferramenta do pacote SisPav (Sistemas para
Análise e Dimensionamento Mecanístico -

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Empírico de Pavimentos Flexíveis), desenvolvido
por Felipe Franco em 2007. O programa é
específico para cálculo de tensões, deformações e
deslocamentos. Segundo Franco (2007) o
programa AEMC processa os cálculos
semelhante ao programa JULEA (Jacob Uzan
Layered Elastic Analysis) desenvolvida por Uzan
em 1978, que utiliza a solução de Burmister para
a obtenção dos resultados.
A Figura 2 ilustra o fluxograma das etapas
adotadas.

Figura 3. Características das camadas do pavimento.


Fonte: SILVA (2016), adaptado pelos autores.

Conforme detalhado na metodologia por meio


das bacias de deflexão e seus tratamentos
Figura 2. Fluxograma das etapas. estatísticos determinou-se os módulos de
Fonte: Elaborada pelos autores (2017). resiliência, a partir da retroanálise. Para cada
camada do pavimento, obteve-se a média entre os
valores dos MR selecionados por análise
4 RESULTADOS E ANÁLISES estatística, demonstrados conforme Tabelas 1 a 7,
sendo consideradas todas as estruturas
A partir das janelas de inspeção de cada unidade representativas do trecho em análise da Rodovia
de amostragem, foi possível definir o tipo de BR040.
material e a espessura das camadas, conforme
ilustrado na Figura 3. Tabela 1. Unidade de amostragem 1.
Através dessa representação, nota-se que os MR (MPa)
segmentos (UA) possuem estruturas bem UA 01 SUB-
CA BASE SUBLEITO
diversificadas. Sendo cada uma dessas BASE
compostas por materiais diferentes em cada B1 5733 257 154 398
B2 5791 260 155 402
camada, bem como com dimensões variadas. B3 5848 262 157 406
B4 5733 257 154 398
MÉDIA 5776 259 155 401

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Tabela 2. Unidade de amostragem 2. Tabela 7. Unidade de amostragem 7.
MR (MPa) MR (MPa)
UA 02 UA 07 SUB-
CA BASE SUBLEITO CA BASE REFORÇO SUBLEITO
BASE
B1 3219 493 572 B1 3250 1026 635 308 551
B2 2943 451 523 B2 3254 996 616 299 535
B3 3062 469 545 B3 3315 1046 648 315 562
MÉDIA 3075 471 547 B4 3343 1052 654 320 563
B5 3235 988 597 284 532
B6 3282 1033 645 308 558
Tabela 3. Unidade de amostragem 3. MÉDIA 3280 1024 633 306 550
MR (MPa)
UA 03 BAS SUB- SUBLEIT
CA
E BASE O Ao analisar os pavimentos das diferentes
B1 7477 566 226 247 unidades de amostragem, cerca de 60% dos
B2 7703 583 233 254 valores de MR das CA apresentaram valores
B3 7043 533 213 232 dentro da faixa usual, que varia de 3000 a 3500
B4 7627 577 231 252
MPa para misturas com o CAP 50/70, faixa C do
B5 7780 589 235 257
MÉDIA 7526 570 228 248
DNIT, conforme cita Soares et al., 2000. Sendo
que duas UA apresentaram valores elevados em
Tabela 4. Unidade de amostragem 4. relação ao usual e uma um valor inferior a essa
MR (MPa) faixa.
UA 04 SUBLEIT Ressalta-se o valor médio de MR encontrado
CA BASE
O para a camada de revestimento da UA6, que
B1 3899 411 229 apresenta um baixo valor em relação aos valores
B2 3601 380 211 das demais CA, 1530 Mpa., por outro lado,
B3 3637 384 213
B4 3325 351 195
apresenta a maior espessura de capa, 18
B5 3530 372 207 centímetros. A UA3, em seu revestimento, exibe
MÉDIA 3598 380 211 o maior valor de MR, 7526 MPa, com apenas 5
centímetros de espessura. Acredita-se que,
Tabela 5. Unidade de amostragem 5. portanto, a UA3 atende bem as solicitações de
MR (MPa) tráfego e apresenta sua estrutura em condições
UA 05 adequadas ao ponto em que está localizada, o que
CA BASE SUBLEITO
B1 3079 230 233 talvez não seja possível observar na UA6.
B2 3048 227 231 Para uma melhor explicação dos resultados de
B3 3048 227 231 MR alcançados, sugere-se uma análise visual
MÉDIA 3058 228 232 dessas UA para verificar o estado de trincamento
do pavimento analisado, que não é previsto no
Tabela 6. Unidade de amostragem 6. modelo de retroanálise. Uma vez que, este tende a
MR (MPa) diminuir o módulo do revestimento no ajuste das
UA 06 SUB-
CA BASE SUBLEITO bacias deflectométricas para os pontos em que
BASE
B1 1565 183 160 319
esta camada se encontra danificada.
B2 1581 185 161 322 No que diz respeito às camadas granulares,
B3 1322 155 135 269 percebe-se que três dos MR médio da base das
B4 1417 166 145 289 UA encontram-se acima da faixa de valores
B5 1550 181 158 316 esperados para camadas granulares, que varia
B6 1742 193 166 339 entre 100 e 400 MPa (Bernucci et al. 2008). Por
MÉDIA 1530 177 154 309 outro lado, apenas um dos módulos das camadas
de sub-base obtidos, apresenta valor bastante
superior ao esperado, caso da UA7.

GEOCENTRO/2017, Goiânia/GO, Brasil.


Verificou-se nessa pesquisa que, o subleito que elas podem exercer sobre a estrutura do
fornece valores de módulos de resiliência na faixa pavimento.
de 210 a 550 MPa, sendo que os valores mais
frequentes estão no intervalo de 100 a 200 MPa,
apresentando, assim, valores acima do esperado. REFERÊNCIAS
Uma discrepância observada foi em relação a
ASHTO. Guide for Design of Pavement Structures. .
UA1, UA2, UA6 e a UA7 que proporcionaram
Washington, D.C.: American Association of State
valores de módulos do subleito maiores que os Highway and Transportation Officials. , 1993
valores encontrados para a base e a sub-base, AASHTO. Mechanistic-Empirical Pavement Design Guide:
diferente do que se espera, uma vez que os MR A Manual of Practice. [S.l: s.n.], 2008. Disponível em:
tendem a se apresentarem de maneira decrescente <https://bookstore.transportation.org/item_details.aspx?ID=
1249>.
em relação às camadas da estrutura do pavimento.
Albernaz, C.A.V. (1997). COPPE/UFRJ Método
Uma possível explicação para essa ocorrência é Simplificado de Retroanálise de Módulos de Resiliência
em relação as bacias de deflexões obtidas nesses de Pavimentos Flexíveis a Partir da Bacia de Deflexão.
trechos, que se apresentaram mais elevadas Tese de Mestrado, Rio de Janeiro, RJ.
comparando as demais UA. Assim, acredita-se Bernucci, L. B. et al. Pavimentação Asfáltica: Formação
Básica para Engenheiros. 3. ed. Rio de Janeiro: Abeda,
que a rigidez do subleito, nessas unidades, esteja
2008.
acima da rigidez das camadas granulares do Bertão, N. B. (2015). Estudo comparativo entre o módulo
pavimento, o que traduz em um módulo mais de resiliência obtido em laboratório e o inferido através
elevado. da retroanálise. TCC (Graduação) - Curso de
Na etapa de validação dos resultados obtidos Engenharia Civil, Centro de Tecnologia, Universidade
Federal de Santa Maria, Santa Maria, 59 p.
comparando as bacias de deflexões obtidas em
Franco, F.A.C.P. (2007). Método de dimensionamento
retroanálise com as deflexões encontradas pelo mecanístico-empírico de pavimentos asfálticos –
AEMC, foi constatada que as deflexões obtidas SisPav. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro:
em campo eram semelhantes às do software, Coppe/UFRJ.
apresentando uma variação insignificante entre Macêdo, J.A.G. (1996). Interpretação de Ensaios
Deflectométricos para Avaliação Estrutural de
elas.
Pavimentos Flexíveis. Tese de Doutorado,
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro.
Nóbrega, E. S. (2003). Comparação entre métodos de
4 CONCLUSÕES retroanálise em pavimentos asfálticos, Rio de Janeiro.
Pereira, J. M. B. (2007). Um procedimento de retroanálise
para pavimentos flexíveis baseado na teoria do ponto
Por meio da metodologia e do software adotados
inerte e em modelagem matemática. 2007. 938 p.
para a obtenção dos módulos de resiliência, tem- Dissertação de Mestrado Curso de Engenharia de
se que os mesmos apresentaram erros e resultados Transportes, Universidade de São Paulo, São Carlos.
aceitáveis, com relação aos ajustes das bacias de Silva, R. C.; Júnior, J. G. S.; Costa, D. P. (2016).
deflexão, e aos valores de MR encontrados Desempenho funcional e estrutural de pavimentos
flexíveis. 45ª Reunião Anual de Pavimentação, Brasília.
Na interpretação dos valores dos MR Soares, J.B.; Motta, L.M.; Soares, R.F. (2000). Análise de
encontrados, a retroanálise, de maneira geral, bacias deflectométricas para o controle de construção
apresentou alguns resultados não coerentes com o de pavimentos asfálticos. In: Congresso de Pesquisa e
esperado, ou seja, valores de MR considerados Ensino em Transportes, 14., Gramado. Anais. Gramado:
padrões para o tipo de material empregado, ANPET.
Uzan, J. (1978). JULEA - Jacob Uzan Layered Elastic
embora a maioria tenha se enquadrado dentro do Analysis. U.S.A.
esperado para este parâmetro. Villela, A. R. A.; Marcon, A. F. (2001). Avaliação
Ao final desse artigo, pôde-se compreender estrutural de pavimentos utilizando um método
melhor a respeito da resistência que cada camada simplificado de retroanálise – Retran-2CL. In: Reunião
apresenta, e consequentemente entender sobre Anual de Pavimentação, 33., Florianópolis. Anais. 33p.
suas possíveis propriedades mecânicas, além de
fornecer melhor interpretação do comportamento

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Influência de Resíduos de Construção e Demolição em um Solo
Argiloso para Pavimentação
Eclesielter Batista Moreira
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, eclesielter_ebm@hotmail.com

Jair de Jesús Arrieta Baldovino


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, yaderbal@hotmail.com

João Luiz Rissardi


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, luizrissardi@gmail.com

Alexandre Cardoso
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, alexandrecardosomj@gmail.com

Ronaldo Luis dos Santos Izzo


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, izzo@utfpr.edu.br

RESUMO: A utilização de agregados de resíduos reciclados de construção e demolição (RCD)


como novos materiais de construção constitui um passo significativo, haja vista que se minimiza o
uso de materiais naturais. A presente pesquisa objetiva investigar os efeitos do RCD quando
incorporado a um solo argiloso. Esta pesquisa foi composta por ensaios de caracterização, índices
físicos, compactação e CBR, visando o aproveitamento do RCD em construção de camadas de
pavimentos. Os resultados mostram que a adição de RCD ao solo argiloso melhoram as
propriedades mecânicas e possibilita a utilização do RCD para camadas granulares de pavimento.

PALAVRAS-CHAVE: Solo, RCD, CBR.

1 INTRODUÇÃO do impacto ambiental.


Há vários anos, pesquisas sobre reciclagem
A utilização de Resíduos de Construção e de RCD são realizadas em outros países. A
Demolição (RCD) pode ser uma alternativa necessidade de reconstruir cidades destruídas
interessante aos materiais convencionalmente durante guerras e devido às catástrofes naturais
utilizados, para promover um aumento na oferta levou ao desenvolvimento de técnicas de
de vias pavimentadas nos grandes centros reciclagem do RCD e aplicação na produção de
urbanos ou mesmo nas cidades de médio porte artefatos, pavimentação e em serviços de
brasileiras, caracterizadas principalmente pelo construção nos Estados Unidos, Japão e Europa.
baixo volume de tráfego. O principal atrativo No Japão, dois terços do resíduo de concreto
dos agregados reciclados é o aspecto demolido já são utilizados para pavimentação
econômico, pois estes materiais normalmente de rodovias, e na Europa que é onde mais se usa
têm sido vendidos por preços inferiores aos dos reciclado em pavimentação, pois há uma
granulares tradicionalmente empregados em compreensão de que se deve reservar os
pavimentação, além de promover a diminuição agregados naturais para usos mais nobres, como

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concreto de alta resistência, concreto
protendido, etc. (LIMA, 1999; LEITE 2001).
O setor público é o grande consumidor de
agregados para pavimentação, com um
consumo de cerca de 50 milhões de toneladas
por ano. Nesse total se incluem os agregados
utilizados para infraestrutura urbana. Esse setor,
no entanto, não pode consumir toda a produção
potencial de agregados de RCD reciclados,
tanto no Brasil quanto na Europa, onde se
estima que a pavimentação seja capaz de Figura 1. Localização do local da coleta do solo. Fonte:
absorver em torno de 50% da massa total do Google Earth, 2014.
RCD (JOHN, et al., 2006). Destaca-se também
a utilização crescente de resíduo de construção Foi escolhido a terceira camada da formação
civil em locais onde são ausentes agregados de Guabirotuba, o qual é composto por 35,5% de
origem pétrea, como forma de reduzir os argila (< 0,002 mm), 39,5% de silte (0,002 a
problemas ambientais de disposição destes 0,075 mm) e 25% de areia fina (0,074 a 0,42
resíduos (FERNANDES, 2004). mm). A umidade higroscópica encontrada do
Em qualquer técnica de aproveitamento de solo in situ é próxima a 40%.
materiais oriundos de reciclagem é fundamental Mostra-se na Tabela 1 as propriedades
a realização de estudos preliminares, físicas do solo. Foram realizados ensaios para
contemplando principalmente aspectos da determinar os limites de liquidez e plasticidade,
geometria do pavimento, à natureza e modos o solo apresenta um limite de liquidez alto
em que se realizará a manutenção necessária (53,1%), tanto o índice de plasticidade índica
durante o período de vida útil do pavimento, a que a argila é altamente plástica com 21,3%
caracterização dos materiais reciclados, a (IP>15) como mostrado na Tabela 1. A partir da
espessura de intervenção utilizada como base e granulometria e do resultado dos índices físicos,
a delimitação de teores da mistura final dos foi realizado a classificação do solo, segundo o
materiais a aplicar para o tipo de pavimento. Sistema Unificado de Classificação de Solos -
(MOREIRA, 2005). Dessa forma, esse estudo SUCS- o solo é classificado como um silte
delimita tais aspectos para a utilização de RCC argiloso, e segundo o Sistema de Classificação
em solos argilosos em construção de bases e HRB o solo é A-7-6, um solo argiloso.
sub-bases para pavimentos.
Tabela 1. Propriedades físicas do solo.
Valores
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL Propriedades Físicas
Médios
Peso especifico real dos grãos, Gs 2,71
2.1 Materiais
Areia fina 25%
2.1.1 Solo Silte 39,5%
Argila 35,5%
O solo utilizado para o estudo foi coletado Limite de liquidez, LL 53,1%
em uma obra próximo à cidade de Curitiba, no 31,8%
Limite de plasticidade, LP
município de Fazenda Rio Grande-PR em um
Índice de plasticidade, IP 21,3%
local de construção de casas populares com
localização geográfica 25°41'03.9"S e
49°18'32.5"W, mostra-se na Figura 1 o local de 2.1.2 RCD
coleta do solo.
O resíduo de construção e demolição (RCD)
utilizado foi coletado na usina de reciclagem da
cidade de Almirante Tamandaré, Região
metropolitana de Curitiba, conforme é mostrado
na Figura 2. O tipo de resíduo escolhido foi

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misto, ou seja, composto por resíduos cinzas 2.1.3 Água
(concreto, argamassas, etc.), vermelhos
(cerâmicos) e brancos (cal, gesso, etc.). A água empregada tanto para os ensaios de
caracterização do solo, quanto de Proctor
normal, quanto de índice de suporte Califórnia -
ISC foi destilada conforme as especificações
das normas, enquanto está livre de impurezas e
evita as reações não desejadas.

2.2 Métodos

2.2.1 Ensaios de pH

Para a das misturas de solo com o RCD se


teve que definir qual é a influência da RCD no
Figura 2. Localização do local da coleta do RCD. Fonte: solo, e observar se o mesmo reagiria, Portanto,
Google Earth, 2014.
empregou-se a metodologia proposta por
Foram escolhidas duas granulometrias de Rogers et al. (1997), também chamada de
RCD, areia (material ” 4,8mm) e pedrisco método do ICL (Initial Comsumption of Lime),
(material ” 19,1mm). Na Figura 3 se mostra as conforme a Figura 4.
curvas granulometricas do RCD (areia e
pedrisco) e do solo. 11
10 pH
100 9
Solo
90 Areia
8
80 Pedrisco 7
pH

70
% Passante

6
60 5
50
40
4
30 3
20 0 1 2 3 4
10 Mistura
0 Figura 4. Variação do pH com as diferentes misturas de
0,00 0,01 0,10 1,00 10,00 100,00 RCD.
Diâmetro (mm)
Figura 3. Curva Granulométrica do RCD Observa-se que, com o aumento do teor de
RCD, o pH do solo aumenta se tornando neutro
A Tabela 2, mostra algumas propriedades do com M1 e básico a partir de M2.
RCD coletado.
2.2.2 Dosagem das misturas
Tabela 2. Propriedade do RCD.
Fonte: USIPAR, 2003. Foi realizado uma estabilização
Pedrisco Areia
Propriedade Valores Propriedade Valores granulométrica para determinar o teor ótimo da
Sulfatos < 1% Sulfatos < 1% mistura do solo com RCD e tendo em
Teor de fragmentos à base de > 90% Teor de combinantes > 3%
cimento e rocha consideração diferentes pesquisas sobre reforço
Cloretos < 1% Cloretos < 1% de solos com RCD, definiu-se para o presente
Materiais não minerais < 2% Materiais não minerais < 2%
Absorção de água < 8% Absorção de água < 13 % estudo 4 teores de RCD. Para facilitar o estudo
Torrões de argila < 2% Torrões de argila < 2% adotou-se as nomenclaturas solo, M1, M2, M3 e
Teor máximo de material < 10% Teor máximo de material < 13%
passante na malha 75ȝm passante na malha 75ȝm
M4 de acordo com a Tabela 3.
Densidade natural Kg/m
3 1.384 Densidade natural 1.323
3
Kg/m

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Tabela 3. Dosagem dos Insumos. 2.2.4 Ensaio Índice de Suporte Califórnia – ISC
Porcentagem de cada Insumo
Mistura
Solo Areia Pedrisco Para os ensaios de ISC foram moldados
Solo 100% 0% 0% corpos de prova conforme a norma DNIT –
M1 60% 30% 10% 172/2016 - ME. Foram moldados três corpos de
M2 60% 20% 20% prova por ISC a fim de ter um resultado
M3 50% 30% 20% estatístico. O ensaio foi realizado com a
M4 40% 30% 30% moldagem do corpo de prova na umidade ótima
encontrada no ensaio de compactação (Proctor
2.2.3 Ensaios de Compactação Normal), usando 12 golpes do soquete padrão
para o solo e para as quatro misturas. Na Tabela
Foram feitos ensaios de compactação do solo 5, é apresentado a média dos três corpos de
na energia normal, conforme a norma DNIT – prova por mistura.
164/2012 - ME. A Figura 6 mostra as curvas de
Tabela 5. Resultados do ISC
compactação do solo estudado bem como as
Mistura ISC 0,1' ISC 0,2'
curvas das misturas (M1, M2, M3 e M4).
Solo 2,06 2,90
16,5 M1 1,89 2,80
M2 3,86 4,89
16 M3 5,16 7,23
M4 8,40 11,57
Peso Específico Seco (kN/m3)

15,5

2.2.5 Ensaios de Expansão


15

14,5 O ensaio de expansão obedeceu a norma


DNIT – 172/2016 – ME e DNIT – 160/2012 –
14 ME. Este ensaio foi realizado enquanto os
corpos de prova do ISC estavam submersos,
13,5 durante 4 dias, nos quais foram realizadas
leituras para ver a expansão diária. Na Tabela 6,
13 são mostrados os resultados da expansão.
Saturação 80% Saturação 90%
Saturação 100% Solo
12,5 Tabela 6. Resultados da Expansão
Mistura 1 Mistura 2
Mistura 3 Mistura 4 Mistura Expansão
12
10 20 30 40 Solo 5,61
Teor de Umidade (%) M1 3,27
M2 2,60
A Tabela 4 apresenta a variação do peso M3 1,18
específico seco máximo e a umidade ótima para M4 1,00
diferentes misturas de RCD.
Tabela 4. Propriedades de compactação da argila com
diferentes misturas. 3 RESULTADOS EXPERIMENTAIS
Peso especifico seco Umidade
Mistura 3.1 Influência do RCD nos ensaios de
máximo, Ȗdmax (kN/m3) ótima (%)
0 1,358 32,5 Compactação, ISC e Expansão.
M1 1,521 25,2
M2 1,512 24,0 Foi observado que à medida que se aumenta
M3 1,581 21,3 o teor de RCD, tanto a massa específica seca,
M4 1,613 20,2 quanto o ISC aumentam da mistura aumentam,
com exceção de um ponto, como mostra a
Figura 7.

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Entre a mistura M1 e M2, observa-se um Observa-se também um decréscimo na
patamar, demonstrando que não houve expansão, tornando a mistura mais estável na
mudanças, no entanto, nos valores de ISC presença de água, obtendo decréscimo de até
houve um acréscimo de 168,62%. 82,17% da expansão inicial do solo. Tendo
como base as normas brasileiras para camadas
de pavimentos, observa-se que a partir da 1ª
mistura, torna-se viável a utilização da mistura
para pavimentos, pois com a diminuição da
expansão para 3,27%, e o ISC maior que 2% a
mistura M1 pode ser utilizada como subleito. A
mistura M2 e M3, com expansões abaixo de
4%, e ISC acima de 4%, podem ser usadas para
reforço de subleito, e a mistura M4, com ISC
maior que 20% e expansão de 1% para sub-
base.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso de RCD em solos finos melhoram a


capacidade de suporte, haja vista que a
granulometria do material muda, e por
conseguinte a porcentagem de finos diminui,
sendo uma opção para a estabilização
granulométrica de solos.
A utilização de RCD diminui a expansão do
solo, em função da diminuição de finos e da
reação entre os resíduos e o solo, aumentando o
pH, e deixando a mistura básica.
Quanto maior a incorporação de RCD ao
solo, maior será a massa específica, maior será
o ISC e menor será a expansão, e com os
resultados obtidos nesta pesquisa, pode-se
concluir que a M4 pode ser usada como camada
de sub-base, haja vista que a mesma alcançou
um valor de ISC maior que 20% como
preconizado pelo DNIT.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio do Programa


Figura 7. Valores de Massa Específica Seca, ISC e de Pós-Graduação em Engenharia Civil
Expansão em função das Misturas
(PPGEC) da Universidade Tecnológica Federal
do Paraná (UTFPR), Campus Ecoville.
No ensaio de ISC não houve mudanças Também agradecem o apoio financiero da
significativas entre o solo (0) e a mistura M1, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
havendo acréscimo de valor na massa específica Nível Superior (CAPES), do Conselho Nacional
seca. Observa-se um acréscimo de ISC de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
conforme se aumenta a granulometria do RCD (CNPq) e da Fundação Araucária do Paraná.
na mistura. Entre M3 e M1, houve um
acréscimo de 147,85%, e de 298,34% entre M4
e M3. O aumento de M4 em relação ao solo
sem mistura foi de 743,79%.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



4. REFERÊNCIAS

Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte.


DNIT 172/2016 – ME - Determinação do Índice de
Suporte Califórnia utilizando amostras não
trabalhadas. 2016.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte.
DNIT 164/2013 – ME - Compactação utilizando
amostras não trabalhadas. 2013.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte.
DNIT 160/2012 – ME - Determinação da
expansibilidade. 2012.
Fernades, C. G. Caracterização mecanística de agregados
reciclados de resíduos de construção e demolição dos
municípios do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte
para uso em pavimentação, Dissertação (Mestrado) –
Coordenação dos Programas de Pós-graduação de
Engenharia, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
2004.
Jonn, V. M.; Ângulo, S. C.; Zordan, S. E.
Desenvolvimento sustentável e a reciclagem de
resíduos na construção civil. São Paulo, 2006.
Leite, M. B. Avaliação de propriedades mecânicas de
concretos produzidos com agregados reciclados de
resíduos de construção e demolição. 2001. Tese
(Doutorado) – Curso de Pós-Graduação em
Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.
Lima, J. A. R. Proposição de diretrizes para produção e
normalização de resíduo de construção reciclado e de
suas aplicações em argamassas e concretos. 1999.
Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de
São Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos,
1999.
Moreira, J. P. Contribuição para a reutilização de material
fresado em camadas estruturais de pavimento.
Dissertação (mestrado) - Universidade do Minho.
Engenharia Rodoviária. Guimarães, 2005.
Rogers, C. D. F.; Glendinning, S.; Roff, T. E. J. Lime
modification of clay soils for construction
expediency. Proceedings of the Institution of Civil
Engineers-Geotechnical Engineering, v. 125, n. 4, p.
242-249, 1997.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Mistura Asfáltica Tipo AAUQ Fabricada com Areia do Rio
Branco, Boa Vista-Roraima
Ana Kelle Neves Mesquita
Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Brasil, kellenevesmesquita@gmail.com

Joaquim Araújo Costa Neto


Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Brasil, engcjoaquim@gmail.com

Joel Carlos Moizinho


Universidade Federal de Roraima, Boa Vista, Brasil, joel.moizinho@ufrr.br

RESUMO: Esta pesquisa apresenta as características Marshall de uma mistura asfáltica tipo AAUQ
fabricada com areia, CAP 50-70 e cimento. A caracterização física da areia mostrou, massa
específica de 25,6 kN/m3, equivalente de areia de 95,67% e ótima adesividade. O teor de ligante
asfaltico de projeto foi de 8% e a mistura ideal apresentou: estabilidade de 4,68 kN, fluência de
3,48mm, volume de vazios de 7,95%, relação betume/vazios de 67,60%. Todos os valores
satisfazendo a ES 032:2005 DNIT. Desgaste Cântabro de 0,20% mostra grande poder coesivo das
amostras. A mistura AAUQ é, portanto, viável para rodovias de baixo volume de tráfego.

PALAVRAS-CHAVE: Areia Asfáltica, Metodologia Marshall, Resistência Mecânica.

1 INTRODUÇÃO Deve-se levar em consideração, além da


qualidade do material, a viabilidade econômica
Desde 1995, a CNT (Confederação Nacional de e a escolha adequada dos materiais capazes de
Transportes) faz levantamentos das verdadeiras resistir às cargas e as intemperies as quais o
condições das rodovias brasileiras, analisando pavimento será submetido.
criteriosamente o estado de conservação e as Um tipo de mistura que é uma solução
condições de trafegabilidade de cada uma delas. econômica para rodovias de tráfego não muito
Em 2016, cerca de 70% dos pavimentos elevado é a areia-asfalto usinada à quente
avaliados pela Pesquisa CNT de rodovias (AAUQ). Esta mistura é composta de areia,
apresentavam alguma patologia ou estavam material de enchimento, se necessário, e
desgastados. cimento asfáltico. É principalmente utilizada
Atrelado à situação precária, em certas onde existe a escassez de agregado graúdo
regiões a construção de revestimentos asfálticos pétreo.
resistentes e econômicos, por vezes, esbarra na Desta forma, esta pesquisa visou caracterizar
dificuldade de obtenção de agregados pétreos a areia extraída de uma jazida situada às
nas proximidades, tornando-se necessário que margens do Rio Branco em Boa Vista-RR, e
sejam utilizados apenas os materiais disponíveis avaliar o uso desta em misturas asfálticas, como
no local. alternativa para o desenvolvimento de soluções
A variedade de agregados passíveis de economicas, que proporcionem o barateamento
utilização em revestimentos asfálticos é muito da construção de pavimentos de vias vicinais e
grande. Contudo, cada utilização em particular urbanas, com tráfego leve, do Estado de
requer agregados com características Roraima. O uso da areia, de forma racional,
específicas e isso inviabiliza muitas jazidas. evita exploração de pedreiras e contribui para a

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mitigação dos danos ambientais. metodologia Marshall, havendo tendência de
em breve, com o aparelhamento dos
laboratórios, que seja adotada a metodologia
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Superpave para dosar misturas asfálticas. Ela
introduz mudanças na confecção dos corpos de
2.1 Composição das misturas asfálticas prova, determinação da densidade máxima
teórica, dentre outras.
Montanari (2007) conceitua mistura asfáltica Segundo Moizinho (2007), para avaliar o
como sendo, uma combinação de agregados e comportamento mecânico das misturas
ligante betuminoso em proporções adequadas asfálticas são vários os ensaios que podem ser
definidas em laboratório. Os agregados usados, dando destaque aos convencionais
representam mais de 90% em peso da mistura. como: estabilidade, fluência, volume de vazios,
O restante é a contribuição do ligante relação betume vazios, densidade aparente,
betuminoso. Essas misturas podem ser resistência à tração, módulo de resiliência,
realizadas a frio ou a quente. fádiga, deformação permanente, dentre outros.
Marques (2001) acrescenta também que o
agregado representa entre 70% a 75% em 2.3 Mistura areia-asfalto
volume e 90% a 95% em peso, sendo
responsável pela capacidade de suporte de carga A areia asfalto é uma mistura betuminosa,
dos resvestimentos, influenciando assim o usada para construção de bases ou
desempenho dos pavimentos. revestimentos, produzida com uso de agregado
Uma dosagem de mistura asfáltica, visa, miúdo, com ou sem fíler, e asfalto. Como outros
entre outros objetivos, obter uma mistura revestimentos asfálticos, podem ser produzidas
adequadamente trabalhável, pouco suscetível à a quente, utilizando cimento asfáltico, ou a frio,
fissuração por fadiga, com baixa deformação com a utilização de emulsões asfálticas ou
permanente e estável a ação de cargas estáticas asfaltos diluídos.
ou móveis (Balbo, 2007).
2.3.1 Areia-asfalto usinada à quente (AAUQ)
2.2 Propriedades mecânicas das misturas
asfálticas Areia-asfalto usinada à quente é uma mistura
executada em usina apropriada, com
A caracterização das misturas requer um características específicas, composta de areia
balanço apropriado entre rigor e praticidade, (agregado miúdo), material de enchimento
uma vez que nem todas as variáveis podem ser (filer) se necessário, e cimento asfáltico
consideradas simultaneamente, pelo menos não espalhado e compactado à quente.
no estágio atual de conhecimento. Privilegiam- Em sua fabricação são empregados os CAPs
se então os aspectos considerados de maior 30-45, 50-70 e 85-100 (Balbo, 2007) e
relevância para previsão do comportamento das geralmente o teor de asfalto em misturas dessa
misturas asfálticas em campo. natureza encontra-se entre 6 a 12% (em peso).
Segundo Moizinho (2007), para as misturas No Brazil, o uso de misturas AAUQ tem
asfálticas, as dosagens Marshall, Hveem e registro por volta da década de 1950, só nos
Superpave são as mais aplicadas para últimos anos algumas pesquisas têm sido
determinação do teor de projeto, visando obter realizadas para incentivar seu emprego na
misturas resistentes principalmente a construção de revestimentos e bases de
deformação permanente e fadiga. No Brasil, a pavimentos, principalmente em regiões com
dosagem Marshall ainda é a mais aplicada, carência de agregados pétreos, como é o caso
principalmente no meio técnico. do Nordeste e Norte do país.
Ainda segundo Moizinho (2007), estudos Embora a AAUQ tenha durabilidade inferior
têm mostrado que a dosagem Superpave, à obtida em misturas de concreto betuminoso
produz misturas asfálticas com desempenho usinado à quente (CBUQ), apresenta
mecânico superior às fabricadas usando a comportamento satisfatório quando empregada

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como revestimento de pavimentos de baixo Para a determinação dos parâmetros Marshall
volume de tráfego, inferior a 100 veículos por foram confeccionado três corpos de prova, com
faixa por dia e apesar de não ser considerada massa de 1200g cada e teores de ligante
uma mistura resistente, o revestimento de areia- variando de 6 a 10% em massa. A Tabela 1
asfalto pode ser uma solução viável em algumas mostra as massas de areia, cimento e asfalto
regiões do Brasil. usado para fabricação das amostras.
Em Manaus, segundo Mello (1961), por falta
de agregados pétreos, a areia-asfalto usinada à Tabela1. Quantidade de materiais em função do teor de
quente era praticamente o único revestimento asfalto aplicado na mistura AAUQ.
utilizado por volta da década de 60. A matéria Dosagem Marshall
prima para obtenção de material pétreo, visando Teor de ligante (%) 6 7 8 9 10
à confecção do concreto asfáltico, dista mais de Asfalto (g) 72 84 96 108 120
200 km da capital, o que torna dispendiosa sua Areia (g) 1080 1068 1056 1044 1032
exploração. Filer (g) 4% 48 48 48 48 48
Fonte: Autoria própria (2017)

3 MATERIAIS E MÉTODOS Para a compactação dos corpos de prova foi


necessário aquecer o agregado e o fíler à
3.1 Materiais temperatura aproximadamente 10ºC a 15ºC
acima da temperatura do ligante, fazendo então
A mistura betuminosa AAUQ é basicamente a sua mistura em uma panela de ferro fundido.
composta de agregado miúdo, cimento asfáltico A mistura foi compactada aplicando-se 75
e material de enchimento se necessário. golpes em cada face do corpo de prova.
O agregado miúdo utilizado foi uma areia Em seguida, foi deixado o corpo de prova
proveniente da coleta efetivada na própria em repouso por um período de, no mínimo 12h,
jazida, localizada no leito do Rio Branco. à temperatura ambiente para poder ser extraído
O ligante asfáltico utilizado nesta pesquisa do molde. Após extração foi feita a pesagem ao
foi o CAP 50-70, produzido pela refinaria Isaac ar, pesagem hidrostática e medição da altura e
Sabbá (REMAN) em Manaus e doado pelo 6º diâmetro das amostras.
Batalhão de Engenharia de construção Após estes processos, os corpos de prova
“Batalhão Símon Bolívar” – 6º BEC. foram imersos em banho-maria (60±1)ºC por
O material de enchimento (fíler) foi o um período de 30 a 40 minutos, para poder ser
cimento Portland CP II-Z-32, usualmente levado a prensa e realizar a determinação da
comercializado em Boa Vista-RR. estabilidade e fluência.

3.2 Métodos 3.2.2 Vazios nas misturas asfálticas

A metodologia adotada visou à caracterização Além da análise da estabilidade e fluência é


física do agregado miúdo, seguindo normas do preciso também verificar os vazios nas misturas
DNIT, além da aplicação da metodologia de modo a avaliar o comportamento das
Marshall para avaliar o comportamento da misturas face às exigências de controle
mistura asfáltica pesquisada. estabelecidas nas especificações técnicas do
Os ensaios realizados foram: equivalente de DNIT. Os parâmetros analisados foram o
areia (DNER-ME 054:1967), massa específica volume de vazios (Vv), os vazios cheios com
(NM 52:2009), adesividade da areia (DNER- betume, os vazios nos agregados minerais e a
ME 079:1994), dosagem Marshall (DNER-ME relação betume/vazios (RBV).
043:1995) e ensaio Cântabro (DNER-ME O volume de vazios é a relação entre o
383:1999). volume preenchido por ar e o volume total da
mistura, os vazios cheios com betume se refere
3.2.1 Ensaio Marshall ao volume de betume que envolve e que são
absorvidos pelo agregado, os vazios nos

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agregados minerais corresponde ao que não é Volume de vazios (Vv) e Relação
agregado numa mistura e a relação Betume/Vazios (RBV) de acordo com a ES
betume/vazios corresponde à relação entre o 032:2005 DNIT.
volume de vazios do agregado com betume e o
volume de vazios no agregado. Tabela 3. Especificação do DNIT para misturas asfálticas
tipo AAUQ.

Discriminação DNIT 032:2005-ES


4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Vv (%) 3a8
4.1 Caracterização física do agregado miúdo RBV (%) 65 - 82
Estabilidade, mínima 3 kN (75 golpes)
A areia pesquisada apresentou massa específica Fluência (mm) 2,0 - 4,5
real de 25,6 kN/m3 compatível com este tipo de Fonte: ES 032:2005 DNIT
agregado e os valores encontrados na literatura.
A Figura 1 mostra a variação da estabilidade
4.1.1 Adesividade dos agregados em função do teor de asfalto usado na mistura
pesquisada.
A adesividade da areia foi considerada ótima de
acordo com a metodologia aplicada a qual
classifica o poder de adesividade do agregado
miúdo em insatisfatória, satisfatória, boa e
ótima.

4.1.2 Equivalente de areia

O equivalente de areia determinado foi de


95,67% valor bem superior ao mínimo exigido
pelo DNIT que é de 55%, para fins de misturas
asfalticas tipo AAUQ. Trata-se de uma areia
pura com poucos finos e isenta de matéria Figura 1. Variação da estabilidade da mistura AAUQ em
orgânica. função do teor de ligante.

4.2 Ensaio Marshall Verifica-se na Figura 1 que a estabilidade


cresce à medida que aumenta o teor de asfalto
A Tabela 2 apresenta os resultados do ensaio na mistura até um valor limite passando a
Marshall realizado com misturas asfálticas decrescer para teores elevados de ligante
fabricadas em laboratório com diferentes teores asfáltico. Pouco ligante torna a mistura sem
de ligante. resistência adequada, uma vez que a quantidade
de CAP usada não consegue envolver a massa
Tabela 2. Parâmetros Marshall obtidos com as misturas do agregado. Para teores elevados o CAP
pesquisadas. funciona como lubrificante das partículas e em
CAP Estabilidade Fluência Vv RBV excesso provoca diminuição da capacidade de
(%) (kN) (mm) (%) (%) carga, pois as partículas passam a perder atrito
6 3,58 2,78 12,16 50,2 entre si.
7 4,19 2,93 10,88 56,7 A Figura 2 mostra a variação da fluência em
8 4,68 3,48 7,95 67,6 função do teor de asfalto usado na mistura
9 4,45 3,65 6,19 75,3
pesquisada.
10 4,28 3,95 4,55 82,3

A Tabela 3 apresenta os valores mínimos


exigidos, com relação a Estabilidade, Fluência,

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A Figura 4 mostra a relação betume/vazios
em função do teor de asfalto usado na mistura
pesquisada.

Figura 2. Variação da fluência da mistura AAUQ em


função do teor de ligante.

Era de se esperar que com o aumento de


ligante na misutra esta se tornaria mais
deformável e, portanto, aumentando a fluência.
Misturas com fluência elevada caracterizam na Figura 4. Variação da relação betume/vazios da mistura
prática revestimento muito deformável. Com AAUQ em função do teor de ligante.
fluência muito baixa o revestimento asfáltico
perde capacidade elástica, surgindo daí Verifica-se na Figura 4 que aumentando-se o
possíveis causas de trincamento prematuro. teor de asfalto na mistura o volume de vazios
A Figura 3 mostra a variação do volume de diminue e a relação betume/vazios aumenta,
vazios em função do teor de asfalto usado na como era de se esperar. Para o teor de ligante de
mistura pesquisada. 8% a RBV apresentou resultado de 67,60%
satisfazendo ao limite especificado por norma.
Desta forma, nota-se que o teor de ligante
adequado para a mistura asfáltica do tipo
AAUQ fabricada com a areia usada nesta
pesquisa foi de 8%. Gerando a mistura asfáltica
com a seguinte distribuição percentual: 88% de
areia, 4% de fíler e 8% de CAP 50-70. A Tabela
4 apresenta a comparação, no teor ótimo de
asfalto determinado, e as especificações do
DNIT, para misturas tipo AAUQ.

Tabela 4. Resumo da dosagem Marshall para mistura


AAUQ pesquisada.
CAP (%)
Discriminação DNIT 032:2005-ES
Figura 3. Variação do volume de vazios da mistura 8
AAUQ em função do teor de ligante. Vv (%) 7,95 3a8
RBV (%) 67,6 65 - 82
A Figura 3 mostra que aumentando o teor de Estabilidade (kN) 4,68 3 kN (75 golpes)
asfalto na mistura o volume de vazios diminui, Fluência (mm) 3,48 2,0 - 4,5
pois o ligante fluído preenche possíveis vazios Fonte: Autoria propria (2017)
no interior da massa. Para 8% de ligante
asfáltico a mistura pesquisada apresentou índice 4.3 Ensaio Cântabro
de vazios de 7,95%, no limite tolerado pelas
especificações do DNIT para este tipo de A Tabela 5 apresenta o resultado obtido no
mistura asfáltica. ensaio Cântabro para as misturas pesquisadas
em função do teor de ligante.

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Tabela 5. Resultado do ensaio Cântabro das misturas REFERÊNCIAS
pesquisadas em função do teor de ligante.
Ensaio de Cântabro Aldigueri, D.R. (2001) Estudo de Misturas de Areia
CAP (%) 6 7 8 9 10 Asfalto Usinadas a Quente com Asfaltos de Diferentes
Consistências para Revestimentos de Pavimentos no
Desgaste (%) 0,60 0,29 0,22 0,18 0,11 Estado do Ceará, Dissertação de Mestrado, Escola
Fonte: Autoria própria (2017) Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo,
SP.
Os resultados apresentados na Tabela 5 Balbo, J.T. (2007) Pavimentação Asfáltica: Materiais,
mostram o excelente comportamento da mistura Projeto e Restauração, São Paulo: Oficina de Textos,
558 p.
pesquisada com relação ao desgaste Cântabro.
Bottin Filho, I.A. (1997) Estudos de Misturas de Areia-
Foram verificados desgastes menores que 1% Asfalto a Quente, Dissertação de Mestrado, Curso de
para todas as amostras ensaiadas. Como era de Pós-graduação em Engenharia Civil – CPGEC,
se esperar o desgaste Cântabro diminuiu com o Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
aumento do teor de asfalto. É bom frisar que Alegre, RS.
CNT. Pesquisa CNT de Rodovias 2016: Relatório
para misturas drenantes o valor de desgaste
Gerencial, 20.ed. Brasília : CNT : SEST : SENAT,
Cântabro admissível é de 25%. 2016. 399 p. Disponível em <www.cnt.gov.br>.
Apesar deste ensaio não ter sido Acesso em: 10 jan. 2017.
desenvolvido para avaliar mistura do tipo Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. DNER-
AAUQ, os resultados obtidos demonstram que ME 054: Equivalente de areia. Rio de Janeiro, 1997.
10p.
a mistura apresenta excelente coesão e
______. DNER-ME 043: Misturas Betuminosas a Quente
resistência à abrasão. – Ensaio Marshall. Rio de Janeiro, 1995. 11p.
______. DNER-ME ES 032: Pavimentos Flexíveis –
Areia-Asfalto a Quente – Especificação de Serviço.
5 CONCLUSÕES Rio de Janeiro, 2005. 12p.
______. DNER-ME 383: Desgaste por Abrasão de
Misturas Betuminosas com Asfalto Polímero – Ensaio
A areia do Rio Branco pesquisada apresentou Cântabro. Rio de Janeiro, 1999. 2p.
equivalente de areia que a classifica como de ______. DNER-ME 079: Agregado – Adesividade a
pureza elevada (95,67%), apresentou boa ligante betuminoso. Rio de Janeiro, 1994. 4p.
adesvidade ao ligante asfáltico usado na Marques, G.L. de O. (2001) Anotações de Aulas
Ministradas no Curso de Graduação em Engenharia
pesquisa e constitui-se em uma fonte potencial
Civil da Universidade Federal de Juiz de Fora,
para uso em misturas asfálticas no Estado de Disciplina Pavimentação.
Roraima, principalmente para vias de baixo Mello, A.L. (1961). Areia-Asfalto, sua Utilização em
volume de tráfego. Pernambuco, Anais da II Reunião de Pavimentação,
A mistura asfáltica composta por 88% de ABPv, Rio de Janeiro.
Moizinho, J.C. (2007) Caracterização e Uso de
areia, 4% de fíler e 8% de CAP 50-70,
Agregados Lateríticos do Distrito Federal e do
apresentou comportamento mecânico Estado de Roraima em CBUQ, Tese de Doutorado,
satisfatório quando comparado com os Departamento de Engenharia Civil, Universidade de
parâmetros limitadores do DNIT ES 32:2005, Brasília, Brasília, DF.
com relação a estabilidade, fluência, volume de Montanari, R.M. (2007) Estudo do Comportamento
Mecânico de Misturas Betuminosas a Frio e a Quente
vazios e relação betume/vazios. Além disto,
para fins de Pavimentação de Vias, Dissertação,
apresentou desgaste Cântabro baixo, mostrando Viçosa, MG, 116 p.
a excelente coesão da mistura ligante-agregado. NM-NORMA MERCOSUL, 2009. Agregado Miúdo –
O uso de AAUQ no Estado de Roraima Determinação de Massa Específica e Massa
diminuiriam os custos de revestimentos Específica Aparente. 10p.
Walker, F.K. e Hicks, R.G. (1976) The Use of Sand
asfálticos sejam novos ou recapeados uma vez
Asphalt in Highway Construction, Journal of The
que a abundância de areia na região a torna um Association of Asphalt Paving Technologists, AAPT.
produto de preço mais baixo que a brita. Além V. 45. PP. 429-452.
disto, mitigaria danos ao meio ambiente, pois
diminuiria a exploração de jazidas pétreas, já
tão escassas e de dificil acesso na Região
Amazônica.

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Parâmetros de Resistência de Misturas de Solo Laterítico de
Brasília com Resíduo de Vidro para Pavimentação
Douglas Quixabeira Freire
Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, douglasqfreire10@gmail.com

Lucas Gabriel Lopes da Silva


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, lukkasgabriel0@gmail.com

Thamara Silva Barbosa


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, sbthamara@gmail.com

Renata Conciani Nunes


Universidade Católica de Brasília, Brasília, Brasil, reconciani@gmail.com

RESUMO: O trabalho tem como função analisar o Índice de Suporte Califórnia (ISC) e a sua
expansão através dos ensaios de ISC da mistura do solo laterítico de Brasília, coletado no campus da
Universidade Católica de Brasília – DF, e vidro, coletado em obras, onde esses não aproveitavam
mais o restante desse resíduo. O objetivo é fazer um comparativo das misturas e analisar a melhora
em que elas tiveram em relação ao solo.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos. Sustentabilidade. Pavimentação

1 INTRODUÇÃO Segundo a Associação Brasileira das


Empresas Distribuidoras de Asfalto (Abeda),
As rodovias são o meio mais usado para o cerca de 90% das estradas do território brasileiro
transporte de cargas em território brasileiro. A é de revestimento asfáltico (NAKAMURA,
falta de manutenção e de outras modalidades de 2011)
transporte contribuem para o desgaste Para que possa se compreender melhor, o
demasiado das estradas brasileiras. sistema de pavimentação é composto por quatro
Consequentemente, o transporte de mercadorias camadas principais: revestimento de base
é bastante afetado pelo estado de conservação do asfáltica, base, sub-base e reforço do subleito. Os
pavimento das rodovias (GONÇALVES, 2016). principais asfaltos que são utilizados na
Com o asfalto deteriorado, vai apresentar pavimentação são: CAP (Cimento asfáltico de
sulcos e rachaduras, facilitando assim, o Petróleo), ADP (Asfalto Diluído de Petróleo) e a
acúmulo de água. Esse processo faz com que emulsão asfáltica (FÉLIX, 2009). Logo, devido
diminua o atrito entre o pavimento e o pneu do aos altos custos de obras de pavimentação que é
veículo, favorecendo a aquaplanagem, o que visto constantemente, foi necessário procurar
aumenta as chances de acidentes de carro novas alternativas que contribuam para a
(AIREY, 2004). redução de custos. Além disso, outro problema

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agravante se dá por conta da grande geração de solo laterítico quando misturado com resíduos de
resíduos e, consequentemente, a falta de lugar vidro.
para dispor esses resíduos contribuem para um
ambiente mais poluído e prejudicial à saúde.
Logo, torna-se necessário a reutilização de
2. METODOLOGIA
materiais que estejam em prol ao
desenvolvimento sustentável.
O vidro é uma mistura de matérias-primas O solo laterítico, que foi coletado, foi necessário
naturais e a civilização usa esse tipo de material passar pelo processo de destorroamento. Após
para diversas maneiras no dia a dia e, com o destorroado, o material trabalhado passante na
passar dos anos, esse tipo de resíduo vem peneira de número 10 passou por um processo de
aumentando sua gama de utilidades. Apesar de caracterização. Já para o vidro, o material foi
não ser um material tão usual como o PET levado para britadeira e, na mesma situação do
(Politereftalato de etileno), é um material que solo, que fosse passante na mesma peneira. Para
demora muito a se decompor, logo, esse tipo de a caracterização, foi necessário seguir as normas
resíduo tem uma difícil disposição. Portanto, NBR 7181/84 – Análise Granulométrica, NBR
para esta pesquisa estudou-se a adição do vidro, 6508/84 – Massa Específica dos grãos, NBR
material com alto tempo de decomposição no 7190/2016 – Limite de Plasticidade e NBR
meio ambiente e consequentemente de grande 6459/2016 Limite de Liquidez.
impacto. Utilizou-se o vidro que foi rejeitado por Para a caracterização do vidro, foi necessário
construtoras e que seria destinado ao descarte fazer a massa específica dos grãos pelo ensaio de
impróprio. Essa foi uma das razões pela qual se Chapman.
optou por esse material. Antes do início dos ensaios de
Há alguns anos atrás, determinados autores caracterização, foi usado uma pá de bico para a
buscaram explorar esse tipo de mistura, retirada do material, como está ilustrado na
procurando diversas proporções de solo e vidro figura 1 abaixo e, em seguida, esse material foi
para serem utilizadas na pavimentação coletado em sacolas plásticas, na figura 2 e
(ARULRAJAH; HORPIBULSUK; DISFANI, levado ao laboratório para fazer o seu
2013, p.3). destorroamento.
O território do Distrito Federal está numa
região de solos altamente intemperizados. Por
isso, utilizou-se o solo laterítico de Brasília. Esse
solo foi coletado de 0,30m a 1,50m, contado a
partir do nível do terreno. Este foi destorroado,
sendo passante pela peneira #10 e, a partir dele,
foi feita a sua caracterização. O resíduo de vidro
foi moído em britadeira afim de cominuí-lo para
a utilização na mistura. Foram adotadas duas
proporções de solo:vidro para ensaios de ISC, Figura 1 - Pá de bico no campo
fazendo um comparativo dos mesmos ensaios,
usando apenas esse mesmo solo.
Diante disso, o objetivo geral deste estudo foi
realizar uma avaliação do desempenho em
conjunto do vidro com o solo em comparativo
somente com o solo para que possam ser
reaproveitados em misturas de sub-bases ou
bases de solo. Além disto, este trabalho visa uma
análise a respeito da viabilidade da utilização do

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Figura 2 - Amostras coletadas e levadas ao laboratório

Realizada a caracterização dos materiais, foram


feitos os ensaios de compactação para
determinar a umidade ótima, a qual foi
necessário fazer para cada amostra, no mínimo
5 pontos, para maior precisão da umidade ótima
delas. A compactação foi feita com energia
(b)
modificada, utilizando um soquete de 4,536 kg (a)
devendo-se aplicar 55 golpes por camada. Com Figura 3 – (a) Picnômetros durante a realização do
as umidades encontradas, a próxima etapa foi a ensaio de massa específica real dos grãos. (b) Peneirados
durante o ensaio para determinação da curva
o ensaio do ISC, determinando também a sua granulométrica.
expansão. Para a realização desse ensaio, foi
compactado, para cada mistura, um corpo de
prova que foi imerso em água durante 72 horas. 3. RESULTADOS
Foram medidas as deformações a partir do
momento em que foi imerso em água e a cada Na tabela abaixo, (Tabela 2), encontra-se os
24 horas até completar as 72 horas. Para poder resultados da caracterização do solo.
realizar os ensaios, foram testadas duas misturas
de solo e vidro e, em sequência, foi feito um Tabela 2 - Resultado de caracterização do solo
comparativo dos mesmos ensaios, realizando só
Umidade (%) 4,38
com solo. Na tabela 1 foram demonstradas as
Massa específica dos grãos (g/cm³) 2,51
misturas que foram utilizadas e o solo.
Limite de Liquidez (%) 45
Limite de Plasticidade (%) 35
Tabela 1 – Proporções usadas para a realização dos ensaios
Índice de Plasticidade (%) 10
de compactação

Mistura I 70% solo e 30% vidro
Para a caracterização do solo, foi identificado,
através da tabela AASHTO, que o material em
Mistura II 50% solo e 50% vidro
trabalho se encontra no grupo A5, ou seja, é um
Apenas solo material siltoso, fraco a pobre para
comportamento geral para subleito.
A escolha dessas misturas se deve por a Para o vidro, foi determinada a massa
mistura I ter apresentado um melhor resultado específica de 2,48 g/cm³.
dos ISCs de um outro artigo analisado Na Figura 4, observa-se o gráfico da
(ARULRAJAH; HORPIBULSUK; DISFANI, granulometria do solo. Foi utilizado defloculante
2013, p.3-39) e a mistura II também, porém, a para a sedimentação. Já na figura 5, foi usado
medida que aumentava muito a proporção de com água e feito o seu comparativo.
vidro, já não tinha tanta melhora dos resultados,
além de se tornar uma mistura muito complicada
para realizar os ensaios de compactação. A
seguir, na figura 3 observa-se alguns
procedimentos dos ensaios de caracterização.

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Compactação
100,0 1,8
Solo

Peso específico apararente


80,0 1,7
passante (%)

seco (g/cm³)
60,0 1,6
Mist
40,0 1,5 uraI

20,0 1,4

1,3 Mist
0,0
10 13 16 19 22 25 28 31 34 ura
0,0 0,0 0,1 1,0 10,0 100,0
II
Diâmetro das partículas (mm) Umidade (%)
Figura 6 - Gráfico de compactação das amostras
Figura 4 - Análise Granulométrica do solo com
defloculante

7
6 Mist

Pressão (MPa)
ura
100 5
II
80 4
Passante (%)

3 Solo
60
2
40 1
Mist
20 0
uraI
0 5 10 15
0
0,0 0,0 0,1 1,0 10,0 100,0 Penetração (mm)
Diâmetro das partículas (mm) Figura 7 - Gráfico dos ISCs das amostras

Figura 5 - Análise Granulométrica do solo com água

Portanto, a partir desses gráficos


Com base na análise da curva granulométrica, (compactação e ISCs), a tabela 3 abaixo mostra
percebe-se que o solo estudado é bem graduado. o resultados da umidade ótima do ISC (mínimo
Trata-se de uma argila arenosa. Esse resultado e máximo) e da expansão.
infere que o solo encontra-se concressionado. No
entanto, para confirmar tal fato, seria necessário Tabela 3 - Resultados dos ensaios das compactações
realizar o ensaio também sem o defloculante.
Na Figura 6, se observa as curvas de
compactação com as quais determinou-se as Umidade ISC ISC Expansão
massas específicas secas máximas (umidade Ótima Mín Máx
ótima) que foram utilizadas para a realização do (%) (%) (%)
Mistura 20,50 25 28 0,017
ensaio do ISC. I
A figuras 7, a seguir, mostra os resultados dos Mistura 14,60 28 28 0,035
ensaios do ISC do solo, da mistura I e da mistura II
II. Solo 26 12 13 0,044

4. CONCLUSÕES

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


As conclusões foram baseadas nos resultados da AIREY, G. D., COLLOP, A.C e THOM, N. H.
compactação, fazendo uma análise das umidades Mechanial Perfomance Of Asphalt Mixtures
Incorporating Slag And Glass Secondary Aggregates.
ótimas, ISC e expansões encontrados das In: 8th CONFERENCE ON ASPHALT
misturas e do solo. PAVEMENTS FOT SOUTHERN AFRICA, 2004.
Para isso, foi necessário a determinação das Anais. África do SUL, volume 1, 2004. P. 1-113.
características do solo, que foi classificado, ARULRAJAH, A. Recycled-Glass Blends in Pavement
segundo a tabela AASHTO, como material Base/Subbase Applications: Laboratory and Field
Evaluation. Journal of Materials in Civil Engineering,
siltoso, fraco a pobre. Esse material não teria Miami, V.1, p. 3-39, 2013.
condições de se sustentar em uma base ou sub- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
base. Logo, a partir da mistura, gerou um TÉCNICAS. NBR 6457: Amostras de solo –
aumento na resistência, permitindo que esses preparação para ensaios de compactação e ensaios de
materiais fossem utilizados em sub-base caracterização. Rio de Janeiro: ABNT, 1986.
asfáltica, através das análises do ISC. NBR 6457 anexo: Determinação do teor de umidade dos
solos. Rio de Janeiro: ABNT, 1986.
O interessante do ensaio é que, apesar do
NBR 6459: Determinação do limite de liquidez. Rio de
vidro ser um material que não cria aderência com Janeiro: ABNT, 2016.
solo, o seu envolvimento foi fundamental para o NBR 6502: Solos e rochas. Rio de Janeiro: ABNT, 1995.
aumento da resistência. Ao misturar o vidro com NBR 6508: Determinação da massa específica de solos.
um solo muito fraco, obteve um aumento do ISC, Rio de Janeiro: ABNT, 1984.
isso aconteceu pelo fato do vidro ser um material NBR 7180: Determinação do limite de plasticidade. Rio
bem mais resistente e causou efeito positivo na de Janeiro: ABNT, 2016.
mistura. Acontece que, a partir do momento que NBR 7181: Análise granulométrica. Rio de Janeiro:
se aumentava muito a quantidade de vidro, por ABNT, 1984.
ser um material que apresenta aderência quase NBR 7182: Ensaio de compactação. Rio de Janeiro:
ABNT, 1986.
nula, passou a não influenciar tanto no ISC. O
NBR 9895: Índice de suporte califórnia. Rio de Janeiro:
vidro aderia muito pouco ao solo, logo, não havia ABNT, 1987.
mais a necessidade de aumentar a sua FÉLIX, G.B. Estudo da incorporação de resíduo
quantidade. Além disso, aumentando a sua polimérico no asfalto. – propriedades físicas. Rio
quantidade, aumentava a dificuldade de realizar Grande do Norte: 2009. 4 p.
os ensaios de compactação e ISC. NAKAMURA, J. Os tipos de revestimentos, o maquinário
Na análise da expansão, não foi verificado necessário e os cuidados na contratação, projeto e
execução. Disponível em:
uma grande mudança, mostrando ainda estar <http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-
dentro do solicitado para ser usado em sub-base tecnicas/16/pavimentacao-asfaltica os-tipos-de-
asfáltica. revestimentos-o-maquinario-necessario-260588-
Logo, as duas misturas mostraram ser 1.aspx>. Acesso em: 9 ago. 2016.
favoráveis para serem usadas em sub-base REIS, N. Impacto do estado das rodovias sobre o custo
operacional dos caminhões. Disponível em:
asfáltica. O que é recomendável para ainda se <http://www.guiadotrc.com.br/truckinfo/Artigos/impa
usar e obter ainda um melhor resultado é o cto_mauestado_rodovias.asp>. Acesso em: 26 out.
destorroamento dos materiais para que passe em 2016.
peneiras ainda com diâmetros menores para
ainda aumentar a precisão dos resultados e fazer
outras análises de estabilidade através das
tensões realizadas na vertical. Entre as misturas,
como não houve um aumento significativo das
resistências, é possível que aumentar a proporção
de vidro não faça tanta diferença na resistência.

REFERÊNCIAS

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


Patologias em Pavimentos Rígidos – Estudo de Caso na
Mesoregião do Sudoeste Amazonense
Luis Eduardo Correia André
Ministério da Defesa, Brasília, Brasil, luis.correia@defesa.gov.br

André Augusto da Nobrega Dantas


Instituto Federal de Goiás – Campus Formosa, Formosa, Brasil, eng.andreaugusto@yahoo.com.br

RESUMO: Amazônia Setentrional possui regiões de difícil acesso com áreas de floresta densa onde
a presença de brasileiros é um fator indispensável para assegurar a jurisdição do país naquela
região. A obra tratada neste artigo visa contribuir de forma positiva na qualidade de vida através da
melhoria da infraestrutura, beneficiando a população local. Este pesquisa aborda a identificação de
patologias encontradas em uma obra de pavimentação no município de Itamarati no estado do
Amazonas. A obra consiste em pavimento rígido de concreto de cimento Portland com armadura
distribuída descontínua e barras de transferência. Foram observadas patologias de ordem superficial
como desgaste do pavimento e problemas mais severos como fissuras e trincas. O isolamento e o
clima característicos da região são aspectos e interferem na qualidade do pavimento.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimentação, Patologia, Pavimento rígido, Amazônia.

1 INTRODUÇÃO como infinito – a infraestrutura ou terreno de


fundação, a qual é designada de subleito.
O município de Itamarati, localizado no interior Ainda, segundo Souza (1980), pavimento é
do estado do Amazonas, fica isolado em meio a uma estrutura construída após a terraplenagem
uma área de floresta densa, onde o acesso é por meio de camadas de vários materiais de
somente fluvial ou aéreo. Este, entre outros diferentes características de resistência e
fatores, levou à adoção do pavimento rígido de deformabilidade. Esta estrutura assim
concreto de cimento Portland como solução constituída apresenta um elevado grau de
para pavimentação de suas ruas. A produção e complexidade no que se refere ao cálculo das
manuseio do concreto é mais acessível do que tensões e deformações.
outros materias, além disso a camada de De forma geral, os pavimentos são classificados
rolamento se mantém íntegra por mais tempo em:
frente às intempéries como altas temperaturas e ¾ Flexível
chuvas abundadentes que assolam a região. ¾ Semirrígido
¾ Rígido
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
A obra em questão trata de pavimentos rígidos.
2.1 O PAVIMENTO Os pavimentos rígidos são aqueles em que o
revestimento tem uma elevada rigidez em
De acordo com o manual de pavimentação do relação às camadas inferiores e, portanto,
DNIT 2006, pavimento de uma rodovia é a absorve praticamente todas as tensões
superestrutura constituída por um sistema de provenientes do carregamento aplicado.
camadas de espessuras finitas, assentes sobre
um semi-espaço considerada teoricamente

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corte do leito implantado ou em sobreposição a
este, de camada com espessura variável. Poderá
ou não existir, dependendo das condições do
leito.

¾ Reforço do subleito: Serve para


melhorar as qualidade do subleito e regularizar
a espessura da sub-base. É uma camada de
espessura constante, posta por circunstâncias
Figura 1. Pavimento rígido (ABEDA ,2008)
técnico-econômicas, acima da regularização,
com características geotécnicas inferiores ao
2.2 AS CAMADAS QUE COMPÕEM O material usado na camada que lhe for superior,
PAVIMENTO porém melhores que o material do subleito.

O pavimento pode ser considerado ¾ Sub-base: Camada complementar à


composto de base e revestimento, sendo que a base e com as mesmas funções destas. Deve ser
base poderá ou não ser complementada pela usada quando não for aconselhável executar a
sub-base e por reforço do subleito. base diretamente sobre o leito regularizado ou
Cada camada deverá ser executada com sobre o reforço, por circunstâncias técnico-
solos escolhidos, que apresentem características econômicas. Pode ser usado para regularizar a
físicas para atender as especificações do espessura da base.
projeto.
A concepção da estrutura do pavimento Requisitos: Materiais que apresentem C.B. R •
e a seleção dos materiais a serem empregados 20%, IG =0 e expansão ” 1%.
dependem principalmente dos seguintes fatores: ¾ Base: Camada destinada a resistir e
¾ Do tráfego (volume e composição) e distribuir ao subleito os esforços oriundos do
vida ou período de projeto tráfego e sobre a qual se construirá o
¾ Da disponibilidade de materiais da revestimento. Pode ser confeccionada de solo-
região cimento, BGS, BGTC e macadame, dentre
¾ Do relevo e das condições climáticas da outras, conforme as características geológicas
região da região.
¾ Da geometria e das condições de Requisitos: Materiais que apresentem C.B. R •
drenagem da via 80% e expansão ” 0,5% (medida com
De acordo com a Norma DNIT sobrecarga de 10 lb), limite de liquidez (LL) ”
137/2010 - ES, as camadas do pavimento são 25% e Índice de plasticidade (IP) ” 6%.
definidas como:
¾ Subleito: É o terreno de fundação onde
será apoiado todo o pavimento. Os solos podem
ser classificados segundo suas propriedades e
seu comportamento. O método mais utilizado é
o Índice de Suporte Califórnia – CBR
(Califórnia Bearing Ratio).
Requisitos: Materiais que apresentem C.B. R •
2% e expansão ” 2%.
¾ Regularização do subleito: é a camada
posta sobre o leito, destinada a conforma-lo
transversal e longitudinalmente de acordo com
as especificações. A regularização não constitui Figura 2. Vista Aérea do Município de Itamarati/AM.
propriamente uma camada de pavimento, sendo,
a rigor, uma operação que pode ser reduzida em

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3 METODOLOGIA
Tabela 1. Especificação das Ruas Pavimentadas.
O levantamento das patologias seguiu
Rua Largura Comprimento Àrea (m²)
rigorasomante a Norma DNIT 060/2004 – PRO (m) (m)
– Pavimento Rígido – Inspeção Visual. Além Jaraqui 7,10 418,10 2.968,51
disso foi feita uma inspeção visual com auxílio Tambaqui 7,00 48,50 339,50
de trena manual, trena de roda analógica e um Desvio 7,10 257,00 1.824,70
levantamento fotográfico que foi Xeruã 7,10 24,20 171,82
posteriormente analisado e comporado com a Canamã 7,05 101,45 715,22
Mamori 7,10 191,00 1.356,10
literatura de pavimentação vigente e manuais do Tucunaré 7,10 203,45 1.444,50
DNIT para classificar e nomear as patologias TOTAL - 1.243,70 8.820,35
encontradas e apontar possíveis soluções.

4 DESCRIÇÃO DA OBRA 5 PATOLOGIAS

O pavimento é constituído de base de material As patologias que foram encontradas serão


compactado e a camada final de concreto, descritas abaixo:
caracterizando um pavimento rígido conforme a
literatura vigente. A camada de revestimento 5.1
tem 15,00 centímetros de espessura contendo
uma armadura distribuída descontínua de aço A rua Jaraqui apresenta as seguintes dimensões
CA-60 com 4,20 milimetros de diâmetro malha (418,10m x 7,10m). A qualidade e o aspecto
10,00 x 10,00 centímetros, localizada a 5,00 dos serviços executados podem ser classificados
centímetros da superfície. A base de concreto como regulares. Entretanto um trecho
foi executada com equipamentos de pequeno apresentou uma fissura aproximadamente no
porte. O concreto foi produzido em betoneira e meio da faixa com comprimento de 12,00
o material espalhado, adensado e acabado metros, passando de forma contínua entre as
manualmente. As placas que constituem a base placas, indicando defeito executivo em camadas
do pavimento foram executadas com dimensões sob a superfície.
de 7,00 metros (largura da pista) por 2,50
metros. Entre as placas foram instaladas barras
de transferência em aço com 20,00 milimetros
de diâmetro. Estas placas foram executadas de
maneira intercalada. Não foi executado o
tratamento das juntas de dilatação com material
selante.

Figura 4. Fissura Linear Longitudinal em Placa de


Concreto.

A fissura com aproximadamente 1,00


centímetro de largura se extende na direção do
comprimento da placa, paralelamente ao eixo
Figura 3. Rua Jaraqui pavimentada. longitudinal do pavimento, carecterizando uma

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Fissura Linear Longitudinal.
A idade relativamente jovem do
pavimento indica que este desgaste superficial
provavelmente é fruto de concretagens feitas
em dias chuvosos, proporcinados pelo clima
equatorial umido característico da região
amazônica.

5.3

O trecho Desvio apresenta uma trinca na


direção paralela ao eixo longitudinal do
pavimento que ao se aproximar da junta entre
placas da origem a varias trincas quebrando a
placa em pequenos pedaços em todas as
direções, caracterizando uma quebra localizada
do pavimento.

Figura 5. Fissura Linear Longitudinal em Placa de


Concreto.

5.2

A rua Tambaqui tem as seguintes dimensões:


48,50m x 7,00m. Praticamente toda a extensão
da rua apresentou descolamento da argamassa
Figura 7. Fissura Longitudinal seguida de quebra
superficial, fazendo com que os agregados localizada.
aflorassem na superfície do pavimento.

Figura 8. Quebra Localizada do Pavimento.


Figura 6. Desgaste Superficial acentuado.

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6 SOLUÇÕES PROPOSTAS AGRADECIMENTOS

A solução proposta para o desgates superficial Ao Ministério da Defesa, Às Forças Armadas,


foi feito através de um recapeamento e para as À Marinha do Brasil e ao Programa Calha
fissuras foi feita a demolição da placa de Norte.
concreto juntamente com a verificação da
camada de sub-base e posteriormente a REFERÊNCIAS
reconstrução da placa de concreto danificada.
Sugere- se, ainda, um estudo aprofundado BERNUCCI, L. B. et al. (2008). Pavimentação asfáltica:
formação básica para engenheiros.
acerca do solo de fundação dos pavimentos da PETROBRAS: ABEDA, Rio de Janeiro.
cidade, bem como dos materiais e métodos BRASIL. Departamento Nacional de Infraestrutura de
empregados na construção de tais estruturas. Transportes - DNIT. Diretoria de Planejamento e
Pesquisa. Coordenação Geral de Estudos e
7 CONCLUSÃO Pesquisa. Instituto de Pesquisas Rodoviárias.
Manual de pavimentação - 3. Ed. Rio de
Janeiro: 2006.
Os principais agentes causadores do surgimento BRASIL. Departamento Nacional de Infraestrutura de
de patologias nos pavimentos rígidos na região Transportes - DNIT. Diretoria de Planejamento e
estudada são as ações climáticas, tais como Pesquisa. Coordenação Geral de Estudos e
temperaturas elevadas e altos índices Pesquisa. Instituto de Pesquisas Rodoviárias.
Manual de Implantação Básica- 3. Ed. Rio de
pluviométricos, combinados com a falta ou a Janeiro: 2010.
ineficiência de drenagem superficial, além de BRASIL. Departamento Nacional de Infraestrutura de
outros erros e inadequações que podem levar à Transportes - DNIT. Diretoria de Planejamento e
redução da vida útil do pavimento. Entre tais Pesquisa. Coordenação Geral de Estudos e
erros e inadequações que podem levar à essa Pesquisa. Instituto de Pesquisas Rodoviárias.
Manual de Pavimentos Rígidos - 2. Ed. Rio de
redução estão: erros de projeto; erros ou Janeiro: 2004.
inadequações na seleção, na dosagem ou na CAIXÊTA, W. R. Estudo de Patologias de pavimentação
produção de materiais; erros ou inadequações na região central de Formosa/Goiás/Brasil.
construtivas; erros ou inadequações nas Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes -
alternativas de conservação e manutenção DNIT. DNIT 060/2004 – PRO – Pavimento
Rígido – Inspeção Visual - Procedimento
(CAVALCANTE et al., 2012; BERNUCCI et Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes -
al., 2008). DNIT. DNIT 138/2010 - ES – Reforço do
O recorrente surgimento, na maioria dos casos Subleito-Especificação de Serviço.
precoce, de patologias nos pavimentos da Departamento Nacional de Infraestrutura de
cidade de Itamarati/AM evidencia a falta ou a TransportesDNIT. DNIT 137/2010 - ES –
Regularização de Subleito- Especificação de
ineficiência de um sistema de gerência de serviço.
pavimentos, bem como os insatisfatórios SOUZA, M.L. Pavimentação rodoviária. Rio de
investimentos no setor, o que reflete a má Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Ed., 1980.
elaboração de projetos, a má execução dos
mesmos e a falta ou ineficiência de manutenção
dos pavimentos existentes(CAIXÊTA, 2016).
Os valores de serventia encontrados, para os
trechos estudadas, apresentam-se regulares,
demostrando uma situação nas ruas e avenidas
da cidade. O trabalho de mapeamento de
defeitos e a existência de um sistema de
gerência de pavimentos é de suma importância
para a identificação dos problemas e aplicação
da manutenção corretiva.

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Pavimento Econômico com Base Alternativa de Argila Laterítica
Reforçada com Lodo de Esgoto Calcinado
Eduardo Damin
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, eduardodamin@hotmail.com

Décio Lopes Cardoso


Universidade do Oeste do Paraná, Cascavel, Brasil, deciolc@gmail.com

Eclesielter Batista Moreira


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, eclesielter_ebm@hotmail.com

Heloise Sasso Teixeira


Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, heloisesassoteixeira@gmail.com

Alexandre Cardoso
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, alexandrecardosomj@gmail.com

Daniane Vicentini
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, vicentini@ufpr.br

RESUMO: O crescente interesse em alternativas visando o desenvolvimento sustentável tem


promovido a utilização de resíduos em diversos segmentos da engenharia. Nesta pesquisa aplicou-se
lodo de esgoto na estabilização e reforço de solos argilosos, visto que o rejeito possui características
favoráveis. Primeiramente o solo da região oeste do Paraná foi classificado, seguido de um tratamento
com lodo de esgoto calcinado (LEC) nas dosagens 0, 5, 10, 15 e 20%, em termos de massa seca de
solo. A compactação dos corpos-de-prova foi realizada com o mini-MCT e submetido ao ensaio de
mini-CBR. Como resultado, a presente pesquisa permitiu obter um aumento significativo no CBR
com a mistura e um potencial de crescimento pela cura do composto.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimento econômico, Solo-resíduo, Lodo de esgoto.

1 INTRODUÇÃO geralmente está inserido como resíduo de “classe


I”, ou seja, perigoso (CONAMA, 2002), pois
A busca por soluções econômicas e diversos estudos de lixiviação apresentam
ambientalmente vantajosas para os diversos características de patogenicidade devido à
tipos de resíduos sólidos gerados continua sendo presença de microrganismos contagiosos.
um desafio, e dentre estes, a disposição final do Alguns estudos, no entanto, apontam o uso do
lodo de esgoto (FEITOSA, 2009). O lodo de lodo de esgoto na construção civil para a
esgoto é o material sólido removido dos produção de blocos de concreto, ou da cinza de
efluentes através do processo de tratamento de lodo de esgoto como aditivo para o cimento. No
águas residuais urbanas, realizado nas estações Brasil, a maioria do lodo (cerca de 80%) é
de tratamento de esgoto. descartado em aterros sanitários sem que haja
Pereira (2012) indica que o lodo de esgoto um uso benéfico. Somente 5% pode ser utilizado

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na agricultura (PEREIRA, 2012). basalto e possui predominância de argila,
Madalozzo (2008), posteriormente, adicionou estrutura porosa e apresenta altos teores de
o lodo de esgoto caleado e calcinado ao solo da óxidos de ferro (20%) na forma de hematita
região oeste do Paraná, com o intuito de (Fe2O3), características do terceiro planalto
pesquisar o aumento da resistência ao paranaense, típico da região oeste do Paraná.
cisalhamento do solo aditivado. Classificado pedologicamente como latossolo
Conforme Damin et al. (2008), a resistência vermelho distroférrico (EMBRAPA, 1999) e
ao cisalhamento do solo argiloso apresentou um geotecnicamente como A-7 pela TRB e CH pela
acréscimo entre 180 e 500% nas pressões SUCS (CARDOSO et al. 2009).
confinantes sob esforço de 50 kPa e 200 kPa
respectivamente, e uma dosagem ótima em torno 2.1.2 Lodo de esgoto caleado e calcinado (LEC)
de 28,5% em relação ao solo. Além disso, sob a
mesma tensão de 200 kPa, o solo obteve um O material é proveniente da estação de
acréscimo de 75 a 185% de resistência ao tratamento Ouro Verde da cidade de Foz do
cisalhamento levando em conta o tempo de cura Iguaçu/PR. O lodo de esgoto calcinado utilizado
do solo com 17,5% de lodo de esgoto calcinado foi previamente hidratado e seco a uma
(LEC). temperatura de 100ºC.
Segundo Villibor e Nogami (2009), um O solo foi reforçado com LEC, Cal virgem e
pavimento econômico é aquele que utiliza bases Cal hidratada (ALL, ALCV e ALCH). A adição
constituídas de solos locais naturais ou ainda de LEC caleado e calcinado foi de 5%, 10%,
misturas desses solos com agregados e que 15% e 20%. As dosagens foram estabelecidas em
possuam custos menores quando comparadas às relação ao teor ótimo de LEC, em sintonia com
bases tradicionais como: brita-graduada, solo- Cancelier (2013), o qual realizou ensaios de
cimento, macadame hidráulico ou macadame compressão simples no solo da região e obteve
betuminoso. estes resultados de dosagem.
Conforme Wayhs (2004), com recursos .
financeiros escassos e a necessidade de melhorar Em síntese, os reforços utilizados nesse
a qualidade e condições das vias, a pavimentação estudo estão dispostos na Tabela 1.
de estradas com a utilização de materiais
alternativos, mais abundantes e econômicos, Tabela 1. Dosagens das misturas.
torna-se cada vez mais necessária. Nesse Compósito
Teor de Cal Teor de Cal Teor de
contexto, o desenvolvimento sustentável Virgem Hidratada LEC
incentiva a utilização de resíduos, sendo a AL - - -
utilização do lodo de esgoto como aditivo para a ALL-05 - - 5%
estabilização e reforço do solo para bases de
ALL-10 - - 10%
pavimentos de baixo custo uma importante
alternativa do ponto de vista ambiental e ALL-15 - - 15%
econômico. ALL-20 - - 20%
ALCV 4% - -
ALCH - 4% -
2 PROGRAMA EXPERIMENTAL

2.1 Materiais 2.2 Métodos

2.1.1 Solo 2.2.1 Classificação geotécnica

A Coleta do solo foi realizada de acordo com A classificação geotécnica do solo em estudo
a norma DNER PRO-003/94, no campus da foi realizada aplicando-se o método de
UNIOESTE, localizado na cidade de classificação de solos tropicais conforme norma
Cascavel/PR. O material utilizado neste estudo é DNER CLA-259/96.
um solo residual proveniente da alteração do
2.2.2 Metodologia MCT

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Tabela 2. Todos os corpos-de-prova foram
A metodologia de classificação de solos para moldados na energia normal e a umidade ótima
fins rodoviários, desenvolvida por Nogami e obtida através da curva de compactação.
Villibor (1981, apud DNER, 1996), nomeada Tabela 1. Ensaios realizados durante a pesquisa.
como MCT (Miniatura, Compactado, Tropical), Composto Método
Sem Cura de Cura de
indica a classificação dos solos tropicais através cura 7 dias 28 dias
de corpos de prova compactados com dimensões AL
CBR com
- 5 cp -
reduzidas, miniaturas, de aproximadamente 50 imersão
mm de diâmetro e altura. CBR com
ALL-05 - 5 cp -
imersão
2.2.2.1 Ensaio Mini-MCV CBR com
ALL-10 - 5 cp -
imersão
O ensaio de compactação Mini-MCV foi CBR com
ALL-15 - 5 cp -
realizado de acordo com a norma DNER ME- imersão
258/94. CBR com
ALL-20 - 5 cp -
imersão
2.2.2.2 Ensaio de perda de massa por imersão CBR com
ALCH - 5 cp -
imersão
O ensaio de perda de massa por imersão foi AL Mini-CBR 3 cp -
realizado de acordo com a norma DNER ME-
256/94. ALL-05 Mini-CBR 3 cp -
ALL-10 Mini-CBR 3 cp -
2.2.3 Ensaio de Compactação Método Mini- ALL-15 Mini-CBR 3 cp -
Proctor ALL-20 Mini-CBR 3 cp 3 cp
ALCV Mini-CBR 3 cp 3 cp
Os ensaios de compactação Mini-Proctor
foram realizdos conforme a norma DNER ME- ALCH Mini-CBR 3 cp 3 cp
228/94, com o intuito de obter a massa específica
aparente seca máxima, através da curva de 2.2.6 Método Mini-CBR
compactação na energia normal.
O ensaio de compactação foi realizado em O método de ensaio para o Mini-CBR foi
todas as amostras de solo “in natura” (AL), solo realizado de acordo com a normativa DNER-ME
reforçado com LEC (ALL-05, ALL-10, ALL-15 254/97.
e ALL-20), cal hidratada (ALCH) e cal virgem
(ALCV). 2.2.7 Dimensionamento do pavimento

2.2.4 Ensaio de expansão Para o dimensionamento do pavimento, foi


utilizado o método da Prefeitura de São Paulo IP-
Realizado de acordo com a normativa DNER 04/2004 (VILLIBOR et al. 2009).
ME-049/94, com cilindro de CBR. Para efeito do dimensionamento o tráfego foi
considerado como leve, com valor característico
2.2.5 California Bearing Ratio (CBR) N igual a 1x105 solicitações. A camada de
revestimento de PMQ adotada possui espessura
O ensaio de CBR ou Índice de Suporte mínima de 4 cm e o valor de CBR do reforço do
Califórnia (ISC, sigla em português) foi subleito é igual ao valor do solo “in natura” do
realizado sem sobrecarga, já que o material subleito (igual a 7%). Para a base do pavimento
selecionado é empregado na confecção da base foi utilizado ALL (5, 10, 15 e 20%) e assim a
do pavimento com camada de rolamento seção final do pavimento ficou constituída por
delgada, ou seja, não apresenta sobrecarga três camadas sobre o subleito.
vertical na sua aplicação.
Os ensaios realizados estão descritos na

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3 RESULTADOS EXPERIMENTAIS
1,8

3.1 Mini-MCV. 1,7

Massa específica aparente seca (g/cm³)


1,7
Através do ensaio de Mini-MCV, realizado na
amostra de solo “in natura”, foram obtidos os 1,6
valores da Figura 2.
1,6
24
14,0 23,42% 1,5
golpes
13,0 32
12,0
26,76% 1,5
golpes
Diferença de altura do CP [an] (mm)

11,0 29,06%
48
1,4
10,0 31,45% golpes
9,0 1,4 64
8,0 35,06%
golpes
7,0 1,3 96
6,0 golpes
5,0 1,3
4,0 22,0 24,0 26,0 28,0 30,0 32,0 34,0 36,0
3,0 Teor de umidade (%)
2,0
1,0 Figura 3. Curvas de compactação
0,0
1 10 100
Número de golpes [n]
A perda por imersão obtida em corpos-de-
prova compactados na umidade ótima foi nula,
ou seja, o solo não apresentou perda de material
Figura 2. Curvas mini-MCV
ao atingir o máximo de massa específica
Percebe-se na Figura 2 retas bem definidas aparente seca.
com inclinações coincidentes até a altura “an” de De acordo com a Figura 4, o solo objeto do
2,00 mm, com uma mudança de direção estudo é classificado pelo método MCT como
tendendo ao ponto de estabilização da uma argila laterítica, ou seja, classificada como
compactação. O coeficiente “c’”, utilizado na um solo LG. Apesar de a classificação indicar
classificação de solos lateríticos, é de uma argila laterítica, a localização revela-se
aproximadamente 2,0. próxima do limite de argila não laterítica.
A Figura 3 retrata as curvas de compactação
2,1
obtidas de acordo com a energia aplicada. O 2,0
coeficiente “d’ é obtido da inclinação da reta 1,9
assimilável da parte retilínea mais inclinada 1,8
1,7 NA NS' NG'
presente no ramo seco da curva de compactação. 1,6
O coeficiente angular obtido, “d” apresentou a 1,5
Índice e'

grandeza de aproximadamente 13,97. A massa 1,4


1,3 NA'
específica aparente obtida, apesar de exibir 1,2
vértice com umidade em torno de 29%, 1,1
1,0
demonstra uma grande variação dependente da 0,9
energia de compactação utilizada. A tendência 0,8 LA LA' LG'
de convergência da curva na umidade de 31,5% 0,7
0,6
retrata como cenário favorável à adoção desse 0,5
teor como umidade ótima, já que ostenta uma 0 0,5 1 1,5 2 2,5
pequena variação da massa específica aparente Coeficeiente c'
seca máxima entre 16,44 e 16,75 kN.m-3.
Figura 4. Classificação MCT do solo

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Foram realizados ensaios do tipo CBR normal relação à cal hidratada e virgem foram superiores
com imersão de 7 dias nas amostras de solo “in aos valores obtidos com o LEC, indicando que o
natura” (AL), solo reforçado com LEC (ALL- processo de armazenamento e transporte
xx) e na referência com solo reforçado com cal apresentaram uma grande influência no reforço
hidratada (ALCH), cujos resultados são do solo.
apresentados na Figura 5. As expansões obtidas A Figura 7 expõe os valores encontrados de
em todas as amostras estão muito próximas à ISC com o acréscimo obtido pela cura com
zero, e foram, portanto, consideradas nulas. O umidade constante por 28 dias. É notável o
valor de referência do CBR para o solo “in aumento na capacidade de suporte do solo com a
natura” apresentou a grandeza de 16,4 %, adição de 20% de LEC, sendo que
enquanto o solo reforçado com 4% de cal imediatamente após a adição já apresenta uma
hidratada exibiu um ISC de 7,3%. evolução de 12,4% para 16,9%, considerando a
cura por 4 semanas o valor de ISC alcança
23 23,4%, ou seja, um acréscimo de capacidade de
20
20
21 suporte de aproximadamente 90%.
18
16,4
15 45
AL
43 42
I.S.C. [%]

13 12
ALCH
10 40
10 ALCV
38
ALL-xx
8 7,3 35
5 33 33
I.S.C. [%]

AL
ALCH 30
3
ALL-xx 28
0
5% 10% 15% 20% 25
21 24
23
Dosagem do reforço com LEC
20 22
18 17
15
Figura 5. Mini-CBR com 7 dias de imersão 14 15
15
13 12,4
Os resultados obtidos apontam para o 10
crescimento do CBR com teores superiores a 5% 10% 15% 20% 20% LEC
4% Cal
12,5%, apontando o mesmo comportamento Dosagem do reforço com LEC 28 dias
citado na bibliografia. A tendência de redução do
ISC em solos argilosos reforçados com cal Figura 6. Mini-CBR sem imersão, com 28 dias de cura
somente ocorre quando o corpo-de-prova sofre
imersão, podendo explicar os valores de solo As espessuras das camadas de pavimento
reforçado inferiores à referência (AL). O dispostas na Figura 7, dimensionadas
acréscimo de aproximadamente 29% do ISC considerando uma base de AL, ALL-20 e
com a dosagem de 20% de LEC indica como Macadame Hidráulico, reforço do subleito com
promissor o uso de lodo de esgoto calcinado no AL e subleito com CBR de 7%, apresentaram
reforço de base, mesmo em casos submersos. espessuras distintas. O reforço do solo com LEC
Os resultados exibidos na Figura 5, obtidos promoveu a redução da camada de base em
através do mini-CBR, apontam uma tendência de aproximadamente 20%. Comparando o custo de
acréscimo do ISC em todos os teores de LEC pavimentação entre as bases alternativas e uma
estudados. O máximo do ISC foi obtido com a base de Macadame Hidráulico, o custo de
adição de 20% de LEC, o que resultou em 36% execução por unidade de área apresenta uma
com relação ao solo “in natura”. Os resultados redução de aproximadamente 45% do valor total
indicam o melhoramento das propriedades do da pavimentação.
solo da região, na substituição da base graduada
por base alternativa de solo laterítico.
Os valores de referência do tratamento em

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econômico, e contribuindo para reduzir
SUBLEITO REFORÇO DO SUBLEITO BASE PMQ
60
problemas ambientais de deposição final dos
resíduos.
Espessura [cm]

50
4
40
4 4 AGRADECIMENTOS
21 13
30 17
Os autores agradecem o apoio do Programa
20
16 de Pós-Graduação em Engenharia Civil
13 13
10
(PPGEC) da Universidade Tecnológica Federal
10 10 10 do Paraná (UTFPR), ao Programa de Pós-
0 Graduação em Engenharia de Construção Civil
ALL-20 AL Macadame
Cura 28 dias Hidráulico (PPGECC) da Universidade Federal do Paraná
Tipo de base
(UFPR) Campus Curitiba e à Universidade
Figura 7. Espessuras das camadas com base alternativa Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)
campus Cascavel. Também agradecem o apoio
financiero da Coordenação de Aperfeiçoamento
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

A utilização do LEC como reforço do solo


induz à alteração do material original, 5. REFERÊNCIAS
modificando o seu comportamento limítrofe para
Conselho Nacional do Meio Ambiente. Brasília. 2002.
um comportamento consolidado como laterítico. Resolução CONAMA nº 307, de 5 de julho de 2002.
A adição de 20% de LEC no reforço do solo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte.
típico da região promoveu um acréscimo DNIT 172/2016 – ME - Determinação do Índice de
considerável em suas propriedades mecânicas, Suporte Califórnia utilizando amostras não
atingindo um aumento de 90% da capacidade de trabalhadas. 2016.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte.
suporte para o tempo de cura considerado. DNIT 164/2013 – ME - Compactação utilizando
Em termos econômicos, os resultados amostras não trabalhadas. 2013.
alcançados consolidam o solo da região como Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte.
apto para ser utilizado como base alternativa em DNIT 160/2012 – ME - Determinação da
pavimentos urbanos com tráfego leve. O uso do expansibilidade. 2012.
Damin, E., Madalozzo, I. L., Cardoso, D. L. Increase of
LEC, além de promover um acréscimo na the soil shear resistance by roasted sewer mud. In:
capacidade de suporte, garante a utilização do International Conference of Agricultural Engineering
solo como base, já que apesar das variações do & Congresso Brasileiro de Engenharia Agrícola, 37,
solo o reforço com LEC garante um CBR 2008, Foz do Iguaçu. Anais CONBEA, 2008.
superior ao estipulado para o solo com função de Feitosa, M. C. A. Lodo de esgoto: Algumas aplicações em
engenharia. 2009. 120 f. Dissertação, Universidade
base. O custo da pavimentação com base Católica de Pernambuco, Recife, 2009.
alternativa apresentou uma redução de Madalozzo, I. L. Análise do desempenho mecânico do solo
aproximadamente 45% em relação a uma base já da região oeste do paraná estabilizado com lodo de
considerada de custo reduzido com macadame esgoto. 2008. 101 f. Dissertação, Universidade
hidráulico. Estadual do Oeste do Paraná, Cascavel, 2008.
Pereira, K. L. de A. Estabilização de um solo com cimento
A viabilidade econômica da utilização de e cinza de lodo para uso em pavimentos. 2012. 125 f.
LEC é indiscutível, uma vez que o processo de Dissertação, Universidade Federal do Rio Grande do
calcinação é parte integrante do processo de Norte, Natal, 2012.
tratamento do esgoto nas ETEs. Villibor, D. F. Nogami, J. S. Pavimentos econômicos:
Diante dos fatos apontados o pavimento tecnologia do uso de solos finos lateríticos. São Paulo:
Arte & Ciência, 2009. 291 p.
urbano de baixo custo, com o uso de base Wayhs, C. A. S. P. Estudo de materiais alternativos
alternativa de solo da região reforçado com lodo utilizados em pavimentação de baixo custo na região
de esgoto calcinado, torna-se uma alternativa noroeste do Rio Grande do Sul. 2004. 104 f.
convincente para solucionar o déficit de vias não Dissertação, Universidade Federal do Rio Grande do
pavimentadas, haja vista que se torna mais Sul, Porto Alegre, 2004.

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Possível Reutilização de Resíduos da Construção Civil em Sub-
Base e Base de Pavimentos
Laís de Almeida Dantas Vieira, Estudante de Engenharia Civil.
Universidade Católica de Brasília (UCB), Brasília, Brasil, lala_mgcv@hotmail.com

Aliryan Chaves de Sousa, Estudante de Engenharia Civil.


Universidade Católica de Brasília (UCB), Brasília, Brasil, alliryan@hotmail.com

Rideci Farias, D. Sc.


UCB / Reforsolo Engenharia, Brasília, Brasil, rideci.reforsolo@gmail.com

Haroldo Paranhos, M. Sc.


UCB / Reforsolo Engenharia, Brasília, Brasil, reforsolo@gmail.com

RESUMO: Na iminente escassez de recursos naturais, buscam-se soluções sustentáveis. A


pavimentação com resíduos da construção civil (RCC) é uma delas. Pretende-se aqui investigar a
utilidade, eficiência e viabilidade em sub-base e base de pavimentos, comparando dados com os de
um pavimento tradicional com os do RCC. Verificou-se a eficiência por meio de diversos ensaios,
tais como: composição granulométrica, índice de forma, granulometria, massa especifica, limite de
liquidez, compactação, CBR e equivalente de areia. Fora de parâmetros estabelecidos em normas, os
materiais mostraram-se inapropriados para uso em base, mas adequados para sub-base. Conclui-se
que, com o aprimoramento, o uso de resíduos pode ser considerado em algumas etapas da
pavimentação.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimentação, resíduos da construção civil, reutilização, sustentabilidade.

1 INTRODUÇÃO A Resolução do CONAMA nº 307, em seu


Art. 3º, classifica os resíduos da construção civil
Na escassez e(ou) limitação de recursos naturais em quatro grandes classes, sendo a primeira -
cada vez mais evidente, tem-se buscado, em Classe A, a de interesse deste, já que trata dos
todas as áreas, métodos sustentáveis que poupem resíduos reutilizáveis ou recicláveis como
o planeta de hoje e assegurem o de amanhã agregados. O Art. 10, sintetiza a destinação dos
(Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, resíduos da construção civil, os considerados de
2004). Na Engenharia Civil, uma das técnicas é Classe A, que devem ser reutilizados ou
a pavimentação com resíduos de obras. reciclados na forma de agregados ou
Bellia & Bidone (1993), considera a geração encaminhados para áreas de aterro que permitam
de impactos no meio ambiente uma característica o uso futuro.
intrínseca dos empreendimentos de engenharia, Morais (2006) afirma que a geração de RCD ,
nas mais diversas atividades. Tanto a própria tratado aqui como RCC, acontece antes mesmo
construção quanto a exploração de recursos do início de uma obra ou serviço, se for
naturais próximos gera impacto ambiental. São considerada a produção de insumos para a
considerados, segundo Correia (2014), entulhos construção civil. Embora de difícil quantificação
os materiais oriundos de restos de construção ou por conta dos geradores informais, Nunes (2004)
demolição. apresenta que a geração de RCC no Brasil está

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estimada em cerca de 0,49 kg/habitante/dia nas estudos similares, sendo esses ensaios de acordo
grandes cidades, o que corresponde a, com as normas ABNT / NBR e DNER (DNIT).
aproximadamente, 31% dos resíduos recolhidos A fim de comparar a eficiência do RCC e
em todo o país. solos utilizados nos dois tipos de pavimentação,
A legislação que regulamenta as atividades sustentável e tradicional, realizou-se, também,
inerentes aos resíduos sólidos no país é a Lei nº ensaios no solo como análise granulométrica,
12.305/10, que institui a Política Nacional de massa específica, limites de liquidez e de
Resíduos Sólidos (PNRS), com orientações a plasticidade, compactação, Índice de Suporte
respeito da prevenção e da redução na geração de Califórnia (CBR), e equivalente de areia. Além
resíduos, por meio do estimulo de hábitos de disso, os ensaios de análise granulométrica,
consumo sustentável e da reciclagem e massa específica, compactação e índice de
reutilização de materiais que possam ser suporte Califórnia (CBR) para a mistura com
reaproveitados e da destinação adequada 50% de cada material (RCC e solo). Nas Figuras
daqueles que não possam mais ser 1, 2 e 3 são mostrados procedimentos utilizados
reaproveitados. durante os estudos em laboratório.
Von Stein (2000) acredita que é uma
preocupação crescente das autoridades
brasileiras e internacionais a geração de grandes
volumes de RCC. Sabe-se que o custo da
disposição de tais resíduos é elevado e, por conta
disso, o setor público tem buscado alternativas
de uso destes materiais.
Bagatini (2011) argumenta que agregados
reciclados de resíduos de construção e demolição
têm sido utilizados com frequência, em maior ou
menor grau, em obras de pavimentação no Brasil
e no mundo, onde uma variedade de tecnologias Figura 1. Secagem do solo para a realização de ensaios.
de gerenciamento e experimentos de
desempenho e eficácia têm se mostrado
ferramentas importantes na discussão de
alternativas ambientalmente corretas aos
modelos tradicionais. No Brasil,
especificamente, o autor relata experiências nas
cidades de São Paulo e Belo Horizonte.
Dentro desse contexto, este trabalho objetiva
verificar se os materiais citados pela resolução
do CONAMA apresentam resultados
satisfatórios, mas também, a intenção de
investigar a viabilidade de uso de RCC, Figura 2. Preparação para os ensaios de equivalente de
individualmente e em misturas com solo, em areia.
sub-base e base de pavimentos, por meio de
ensaios laboratoriais.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Na escolha do solo, trabalhou-se com o latossolo


vermelho típico que cobre grande parte do
Distrito Federal, e para o resíduo, o material
utilizado é oriundo de RCC. Esses materiais
foram submetidos a ensaios usuais realizados em Figura 3. Pesagem do RCC compactado.

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3 APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS 3.2 Resultados para o RCC

Neste item, são apresentados os principais A Tabela 2 apresenta o resumo dos resultados
resultados obtidos neste estudo. Inicialmente, dos principais ensaios realizados somento com o
apresenta-se os resultados executados somente RCC, e as Figuras 6 e 7 apresentam o
com o solo, em seguida somente com o RCC e, comportamento granulométrico e a curva de
posteriormente, os resultados para a mistura compactação para o RCC em questão.
composta por 50% solo e 50% RCC.
Tabela 2. Resultados dos ensaios para o resíduo.
3.1 Resultados para o Solo
Equivalente de areia (%) 87,91
Umidade ótima de compactação (%) 8,70
A Tabela 1 apresenta o resumo dos resultados
Peso específico seco de (kN/m3) 16,31
principais ensaios realizados somento com o
Expansão do solo quando (%) 0,01
solo, e as Figuras 4 e 5 apresentam o
comportamento granulométrico e a curva de ISC (CBR) (%) 44,67
compactação para o solo em questão. Índice de forma - 1,75
.
Tabela 1. Resultados dos ensaios para o solo. 0,0

Massa específica (g/cm3) 2,67 20,0


Umidade natural w (%) 9,38
Limite de liquidez (%) 49,26 40,0
Limite de plasticidade (%) 33,44
60,0
Índice de plasticidade (%) 15,82
Equivalente de areia (%) 43,95 80,0
Umidade ótima de compactação (%) 34,80
Peso específico seco de (kN/m3) 12,58 100,0
0,1 1 10 100
Expansão do solo quando (%) 0,09 
ISC (CBR) (%) 10,51 Figura 6. Composição granulométrica do RCC.

100
90 16,5
80
70 16,0
60

gd(KN/m3)
50 15,5
40
30 15,0
20
0,0 0,0 1,0 100,0
14,5
Figura 4. Composição granulométrica do solo. 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 11,0 12,0
w(%)
Figura 7. Curva de compactação do RCC.
12,7
12,6 3.3 Resultados para a Mistura 50% RCC +
12,5
12,4 50% Solo
gd(KN/m3)

12,3
12,2
12,1 A Tabela 3 apresenta o resumo dos resultados
12,0
11,9 dos principais ensaios realizados para 50% RCC
11,8
11,7 + 50% solo, e as Figuras 8 e 9 apresentam o
11,6 comportamento granulométrico e a curva de
28,0 30,0 32,0 34,0 36,0 38,0 40,0
w(%) compactação para a mistura em questão.
Figura 5. Curva de compactação do solo.

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Tabela 3. Resultados dos ensaios para 50% RCC + 50% granulometricamente (nº 139), a fim de se saber
solo. se o material pode ser utilizado em sub-base e
Massa específica (g/cm3) 2,56
base rodoviária.
Limite de liquidez (%) 32,35
Limite de plasticidade (%) 20,06
4.1 Ánálise dos Ensaios Somente com Solo
Índice de plasticidade (%) 12
De acordo com a norma do DNIT nº 141, a partir
Equivalente de areia (%) 60,26
dos resultados obtidos com a granulometria do
Umidade ótima de compactação (%) 14,60
solo (Figura 4) e utilizando a norma é possível
Peso específico seco de (kN/m3) 16,70
determinar a qual faixa o material pertence, neste
Expansão do solo quando (%) 0,01
caso, o material se encontra na faixa E ou F,
ISC (CBR) (%) 43,87
sendo para o N < 5 x 106. É valido mencionar que
esta classificação foi realizada por aproximação,
100 visto que rigorosamente o material não se
80 encaixa em nenhuma das categorias.
A partir dos resultados da Tabela 1, o limite
60 de liquidez, limite de plasticidade e índice de
40 plasticidade, com as recomendações da norma
DNIT nº 141, e tendo em vista que o solo
20 apresentou índice de plasticidade maior que
0 15%, ele poderá ser usado em misturas com
0,0 0,0 1,0 100,0 outros materiais de IP ” 6%, satisfazendo a
mistura resultante aos seguintes requisitos: LL ”
40% e IP ” 15% ou deve apresentar equivalente
Figura 8. Composição granulométrica para 50% RCC +
50% solo. de areia maior que 30%, então de acordo com o
resultado de equivalência de areia de 43,95% é
possível a utilização deste material.
17,0
A quantidade de material que passou pela
16,5 peneira nº 200 (79,47%) superou 2/3 da
gd(KN/m3)

16,0 quantidade da peneira nº 40 (95,15%).


De acordo com os resultados do ISC de
15,5 10,51%, o material não atende ao requisito na
15,0 norma.
A partir dos resultados de limite de liquidez,
14,5
10,0 11,0 12,0 13,0 14,0 15,0 16,0 17,0 18,0
limite de plasticidade e índice de plasticidade e
w(%) utilizando as recomendações da norma DNIT nº
098, e tendo em vista que o solo apresentou IP ‫ޓ‬
Figura 9. Curva de compactação para 50% RCC + 50%
15%, ele poderá ser usado em misturas com
solo.
outros materiais de IP ” 6%, satisfazendo a
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS mistura resultante aos seguintes requisitos: LL ”
MATERIAIS EM RELAÇÃO AS NORMAS 40% e IP ” 15%. Se misturado ao resíduo, o
DO DNIT material passa a atender aos requisitos, em que o
índice de plasticidade é 12%.
Os resultados dos ensaios apresentados no item A quantidade de material que passou pela
3 são analisados de acordo com as normas de peneira nº 200 (79,47%) superou 2/3 da
pavimentação do Departamento Nacional de quantidade da peneira nº 40 (95,15%).
Infraestrutura de Transporte: Base estabilizada A partir dos resultados obtidos com a
granulometricamente (nº 141), base estabilizada granulometria do solo e utilizando a norma
granulometricamente com utilização de solo DNIT nº 098 é possível determinar a qual faixa
laterítico (nº 098) e Sub-base estabilizada o material pertence. Neste caso, o material não
apresenta resultados satisfatórios para que seja

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possível a análise. de 60,26%, estando de acordo.
O equivalente de areia maior que 30%, então O ensaio ISC do resíduo apresentou o valor de
de acordo com o resultado apresentado de 43,87%, neste caso, o material não atende o
43,95% é possível a utilização deste material. requisito da norma DNIT nº 141.
De acordo com a norma DNIT nº 139, os O valor encontrado no ensaio do ISC foi de
resultados do ISC de 10,51% e expansão de 43,87% (Tabela 3) e expansão de 0,01%, neste
0,09%, neste caso, o material não se encontra de caso, está de acordo com a norma DNIT nº 139.
acordo com o item da norma.

4.2 Ánálise dos Ensaios Somente com RCC 4 CONCLUSÕES

De acordo com a norma do DNIT nº 141, a partir É notória a crescente preocupação da


dos resultados obtidos com a granulometria do humanidade com alternativas sustentáveis em
resíduo (Tabela 2) e utilizando a norma é muitos aspectos. Assim, este trabalho procurou
possível determinar a qual faixa o material avaliar uma das formas de aproveitamento de
pertence. Neste caso, não foi possível determinar resíduos da construção civil em substituição
a que faixa o material analisado pertence. Até a e(ou) combinado com um material de origem
peneira nº 4, o material apresentou resultados tradicional, e diante dos estudos e análises, tem-
coerentes com os propostos pelo DNIT, a partir se como principais conclusões:
desta, não foi mais possível enquadrá-lo em
nenhuma das categorias disponíveis. a) Os ensaios monstraram que o resíduo
A quantidade de material que passou pela utilizado é inapropriado para base de
peneira nº 200 não superou 2/3 da quantidade da pavimentação, uma vez que os diversos índices
peneira nº 40. obtidos nesses ensaios se apresentaram em
No ensaio de ISC do resíduo, o valor discordância aos recomendados pelo
encontrado foi de 44,67% (Tabela 2), neste caso, departamento de infraestrutura de transportes.
o material não atende o requisito da norma DNIT Pode-se argumentar, entretanto, que muitas das
nº 141. deficiências encontradas nos resíduos também
Não foi possível analisar o ensaio de abrasão foram observadas no solo laterítico, bem como
Los Angeles, pois não obteve-se acesso aos na mistura 50 % resíduo /50 % solo;
equipamentos necessários para a realização do
ensaio. b) Em relação ao uso de RCC em sub-base, os
Já de acordo com a norma DNIT nº 139 , o resultados se mostraram mais promissores. Os
valor encontrado no ensaio ISC foi de 44,67% e ensaios realizados com a mistura de resíduos e
expansão de 0,01%, neste caso, está de acordo solo, apenas resíduos e apenas solo,
com o requerido pela norma. apresentaram valores, em geral, satisfatórios.
Ressalva feita apenas ao ISC/CBR. Embora
4.3 Ánálise dos Ensaios 50% RCC + 50% Solo digno de nota, este fato, de certa forma, não
representa obstáculo ao uso de resíduos para este
A partir dos resultados obtidos com a fim;
granulometria do resíduo com solo (Figura 8), e
utilizando a norma DNIT nº 141 é possível c) Os resultados deste estudo apontam que,
determinar a qual faixa o material pertence, neste embora se faça necessária uma série de ajustes, o
caso, o material se encontra na Faixa E ou F, uso de resíduos para algumas etapas da
sendo para o N < 5 x 106. É valido mencionar que pavimentação tem potencial para ser, no mínimo,
esta classificação foi realizada por aproximação, levado em consideração durante a elaboração de
o material não se encaixa, rigorosamente, em projetos deste tipo. Experiências bem sucedidas,
alguma das categorias. como as das metrópoles São Paulo e Belo
O material apresentou índice de plasticidade Horizonte, indicam que iniciativas como esta
de 12% (Tabela 3), o valor permitido foi podem ser aplicadas em obras de grande escala,
ultrapassado, porém, o equivalente de areia foi e não apenas experimentalmente.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



AGRADECIMENTOS Horizonte. Desenvolvimento Sustentável do Meio
Ambiente: Estudo no Instituto Souza Cruz. Belo
Horizonte: Ufmg, 2004. 7 p. Disponível em:
A Universidade Católica de Brasília (UCB) que <https://www.ufmg.br/congrext/Meio/Meio57.pdf>.
com contribuições importantes que tornaram Acesso em: 13 ago. 2015.
possível a realização deste trabalho. CORREIA, Rodrigo da Silva. ESTUDO DE
VIABILIDADE ECONÔMICA PARA O USO DE
RESIDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO
EM CAMADAS DE BASE E SUB-BASE DE
REFERÊNCIAS PAVIMENTOS. 2014. 53 f. TCC (Graduação) - Curso
de Engenharia Civil, Escola Politécnica, Universidade
ABNT / NBR 6459: Solo – Determinação do limite de Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.
liquidez. Rio de Janeiro, 1984. 6 p. Disponível em:
ABNT / NBR 6508: Massa específica. Rio de Janeiro, <http://monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopol
1984. 3 p. i10009433.pdf>. Acesso em: 12 ago. 2015.
ABNT / NBR 7180: Solo – Determinação do limite de DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE
Plasticidade. Rio de Janeiro, 1984. 3 p. RODAGEM. 054: Equivalente de areia. Rio de
ABNT / NBR 7181: Solo – Análise granulométrica. Rio Janeiro: Dner, 1997. 10 p.
de Janeiro, 1984. 13 p. DEPARTAMENTO NACIONAL DE
ABNT / NBR 7182: Solo - Ensaio de compactação. Rio de INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. 098:
Janeiro, 1986. 10 p. Pavimentação – base estabilizada
ABNT / NBR 7217: Agregados– Determinação da granulometricamente com utilização de solo laterítico
composição granulométrica. Rio de Janeiro, 1987. 3 p. – Especificação de serviço. Rio de Janeiro: Dnit, 2007.
ABNT / NBR 7251: Massa Unitária e massa específica 7 p.
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ABNT / NBR 7809: Agregado graúdo – Determinação do INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. 139:
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Janeiro, 2006. 3 p. granulometricamente - Especificação de serviço. Rio
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BAGATINI, Felipe. RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. 141:
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URBANAS. 2011. 72 f. TCC (Graduação) - Curso de de Janeiro: Dnit, 2010. 9 p.
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janeiro de 2010. Institui A Política Nacional de SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO DE
Resíduos Sólidos; Altera A Lei no 9.605, de 12 de ELABORAÇÃO DE EIA/RIMA. 2010. 57 f. TCC
Fevereiro de 1998; e Dá Outras Providências. Brasília, (Graduação) - Curso de Engenharia Civil,
Disponível Departamento de Engenharia Civil, Universidade
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2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 12 ago. 2015. Disponível em:
BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/28
(Org.). Política Nacional de Resíduos Sólidos. 2012. 531/000769150.pdf?...1>. Acesso em: 13 ago. 2015.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/cidades- VON STEIN, E. L. Chapter 20: Construction and
sustentaveis/residuos-solidos/politica-nacional-de- demolition debris. The McGrawHill Recycling
residuos-solidos>. Acesso em: 13 ago. 2015. Handbook. Herbert F. Lund, McGraw-Hill
CONGRESSO BRASILEIRO DE EXTENSÃO Professional, 2nd edition, New York, 2000, 976p.
UNIVERSITÁRIA, 2., 2004, Belo

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



Solos Arenosos Lateríticos Amazônicos do Norte do Amapá para
Uso em Pavimentação
Eclesielter Batista Moreira
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, eclesielter_ebm@hotmail.com

Jair de Jesús Arrieta Baldovino


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, yaderbal@hotmail.com

João Luiz Rissardi


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, luizrissardi@gmail.com

Alexandre Cardoso
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, alexandrecardosomj@gmail.com

Ronaldo Luis dos Santos Izzo


Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, izzo@utfpr.edu.br

RESUMO: Considerando as demandas por infraestrutura e a importância da utilização de material


local na construção e manutenção de rodovias. Este artigo tem por objetivo avaliar o comportamento
mecânico de um solo amazônico laterítico arenoso, visando a sua aplicabilidade em camadas de
pavimentos rodoviários. Este solo encontra-se no Estado do Amapá, próximo à fronteira com a
Guiana Francesa. Os parâmetros considerados nesta pesquisa foram os valores proposto pelo DNIT
e para alcançar o objetivo, realizou-se ensaios para avaliar o comportamento mecânico do solo, o qual
se apresentou apto para utilização em bases e sub-bases de pavimentos.

PALAVRAS-CHAVE: Comportamento mecânico, Compactação, CBR, Viabilidade.

1 INTRODUÇÃO do agregado britado, pois estes dependem de


recursos em escassez (ZWIRTES, 2016).
Devido a escasses de agregados pétreos, requer a De acordo com Villibor e Nogami (2009), em
viabilidade de utilizar materiais granulares diversos estados brasileiros utiliza-se como
disponíveis localmente ou nas margens das obras material de base o solo-agregado, devido à
de infraestrutura (BISWAL; SAHOO; DASH, existência de solos inadequados ou que não
2016). apresentem parâmetros satisfatórios para uso em
A necessidade de implementação e tal finalidade, dentre os quais encontra-se os
manutenção de estrada e vias urbanas nos solos arenosos lateríticos.
municípios, tornou-se uma urgência atualmente O Departamento de Estradas de Rodagem do
(ZWIRTES, 2016). Os dados do Sistema Estado do Paraná - DER/PR, traz especificações
Nacional de Viação indicam que 78,6% da malha técnicas específicas para a utilização de solos
rodoviária são compostas por rodovias não arenosos lateríticos, em bases e sub-bases de
pavimentadas (DNIT, 2015). pavimentos.
Dos principais empecilhos enfrentados pelos De acordo com o disposto, este artigo tem por
municípios, na execução de obras de objetivo avaliar o comportamento mecânico de
pavimentação, destaca-se o alto custo no valor um solo amazônico laterítico arenoso, visando

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


sua aplicabilidade em camadas de pavimentos Vertamatti (1988) apresenta valores de MR
rodoviários. para alguns solos amazônicos, no qual se obteve
As características dos solos lateríticos variam uma variação de 200 a 300MPa para solos
consideravelmente, de acordo com sua arenosos lateríticos com poucos finos. No
composição mineralógica, microestrutura das entanto, tal autor, obteve para alguns solos
partículas, clima da região, rocha-mãe e grau de arenosos finos bem distribuídos que
laterização. Tais características provocam um apresentaram um comportamento coesivo, e
comportamento não linear sob cargas cíclicas possuíam em sua 108 distribuição
deste tipo de material (BISWAL, SAHOO e granulometrica pedregulhos e finos da ordem de
DASH, 2016). 35%, valores de MR de até 800MPa.
A classificação dos solos lateríticos de acordo
com o método MCT agrupa o mesmo em: areia
laterítica quartzosa – LA; solo arenoso laterítico 2 PROGRAMA EXPERIMENTAL
LA’ e solo argiloso laterítico LG’ (FORTES et
al. 2002). Os materiais mais comuns que 2.1 Materiais
compõem os solos lateríticos são quartzo, mica e
feldspato (LYONS, 1971). 2.1.1 Solo
Maragon (2004), orienta sobre a definição de
solo laterítico, pelo Comitê de Solos Tropicais da O solo utilizado para o estudo foi coletado em
Associação Internacional de Mecânica dos Solos uma obra próximo à cidade de Calçoene/AP,
e Engenharia de Fundações (ISSMEF) como norte do Estado do Amapá, conforme ilustrado
aquele que pertence aos horizontes A (camada na Figura 1, a localização da coleta do solo.
mineral com matéria orgânica) e B (apresenta
expressão de cor, estrutura e/ou que possuem
materiais oriundos de transição), de perfis bem
drenados, provenientes da atuação de clima
úmido.
Além dos materiais citados por (LYONS,
1971), é frequente ocorrer em solos superficiais
lateríticos, principalmente em frações de
pedregulhos, a Laterita, constituída por óxidos
hidratados de ferro e de alumínio, tal substância
associa-se frequentemente a magnetita, a
ilmenita, a hematita e ao quartzo. Das
peculiaridades das Lateritas, destacam-se Massa
específica real, variando entre (3,0 a 5,0 g/cm³), Figura 1. Localização da coleta do solo. Fonte: Google
e a resistência mecânica, consideravelmente Earth, 2014.
maior que a do quartzo. A laterita é de difícil
distinção dos torrões de argila (MARAGON, Foi escolhida a camada da formação
2004). imediatamente inferior à camada vegetal, a qual
Diversas áreas do território brasileiro, assim é composta por 59% de pedregulho, 25% de areia
como em países tropicais, possuem um manto de e 16% de silte e argila (< a 0,075 mm). A
solo com características pedogenéticas, ou seja, umidade higroscópica encontrada do solo in situ
estruturados a patir da laterização, fenômeno foi próxima a 24%.
característico de regiões de clima tropical e
intropical (quente e úmido), condicionado pela 2.1.2 Água
lixiviação de bases e sílica produzidos por
hidrólise, acumulação de sesquióxidos de ferro e A água empregada na realização dos ensaios
alumínio e produção de argilo minerais do grupo foi destilada conforme as especificações das
caulinítico (EMBRAPA, 1999). normas, devido estar livre de impurezas e evitar
reações indesejadas.

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2.2 Métodos 3 RESULTADOS EXPERIMENTAIS

2.2.1 Ensaios de Caracterização 3.1 Granulometria e Limites de Atterberg

Foram realizados os ensaios de granulometria A Figura 2 mostra os resultados obtidos na


e limites de Atterberg, conforme legislação análise granulométrica.
vigente.
100
2.2.2 Metodologia MCT Solo
80

% Passante
A metodologia de classificação de solos para 60
fins rodoviários, desenvolvida por Nogami e
Villibor (1981, apud DNER, 1996), nomeada 40
como MCT (Miniatura, Compactado, Tropical),
20
indica a classificação dos solos tropicais através
de corpos de prova compactados com dimensões 0
reduzidas, miniaturas, de aproximadamente 50 0,00 0,01 0,10 1,00 10,00 100,00
mm de diâmetro e altura. Diâmetro (mm)

2.2.3 Ensaios de Compactação Figura 2. Curva Granulométrica do Solo.

O solo foi submetido a ensaios de O solo, coletado da camada de formação


compactação, conforme a norma DNIT – inferio a camada vegetal, apresentou-se
164/2012 – ME, nas três energias de composto por 59% de pedregulho, 25% de areia
compactação Proctor. e 16% de silte e argila (< a 0,075 mm), conforme
pode ser observado na curva granulométrica.
2.2.4 Ensaio Índice de Suporte Califórnia – ISC As propriedades físicas do solo são
apresentados na Tabela 1. Os limites de
Para os ensaios de ISC procedeu-se conforme Atterberg, resultaram que o solo não apresenta
a norma do DNIT – 172/2016 - ME. Foram plasticdade, ou seja, não é plástico (IP<6%).
moldados três corpos de prova por energia de Com os resultados da análise granulométrica,
compactação Proctor a fim de obter um resultado aliado aos limites de Atterber, foi possível
estatístico. O ensaio foi realizado com a realizar a classificação do solo.
moldagem dos corpos de prova na umidade
ótima resultante do ensaio de compactação, Tabela 1. Propriedades físicas do solo.
aplicando-se 12, 26 e 55 golpes, para as energias Valores
Propriedades Físicas
Médios
normal, intermediária e modificada
respectivamente. Peso especifico real dos grãos, . 2,97

Pedregulho 59%
2.2.5 Ensaios de Expansão 25%
Areia
Silte 10,5%
O ensaio de expansão foi realizado,
Argila 5,5%
imergindo em água os corpos de provas nos
cilindros Proctor após ensaio de ISC e realizado Limite de liquidez, LL NL
leituras diárias, em um extensômetro acoplado Limite de plasticidade, LP 0%
aos cilindros durante 96 horas, tais valores Índice de plasticidade, IP NP
correspondem a expansão, conforme norma do
DNIT – 172/2016 – ME e DNIT – 160/2012 – De acordo com as caracteristicas apresentada
ME. pelo solo e segundo o Sistema de Classificação
HRB o solo classifica-se como A-1-B,

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fragmentos de pedra, pedregulho fino e areia.
A Tabela 4 apresenta a ocorrencia de uma
3.2 Classificação MCT variação do peso específico seco máximo e da
umidade ótima do solo, resultante das diferentes
De acordo com a Figura 3, o solo objeto do energias de compactação ao qual foi submetido.
estudo é classificado pelo método MCT,.

2,1 Tabela 4. Resultados dos ensaios de compactação


2,0
Peso especifico seco
máximo, Umidade
Energia
1,9 3 ótima (%)
Ȗdmax (kN/m )
1,8
NA NS' NG' Normal 18,8 13,6
1,7
1,6 Intemediária 19,97 12,8
Coeficiente e'

1,5 Modificada 20,4 11,8


1,4 NA'
1,3 3.4 Indice de Suporte Califórnia
1,2
1,1
Na Tabela 5, é apresentado a média obtida dos
1,0
LA LA' LG' três corpos de prova moldados por energia de
0,9
0,8
compactação.
0,7
Tabela 5. Resultados do ISC
0,6
Energia ISC (%)
0,5
0 0,5 1 1,5 2 2,5 Normal 34
Coeficeiente c' Intemediária 69
Figura 3. Classificação MCT do solo. Modificada 94

Os resultados indicam como um arenoso Percebe-se com os resultados, ao compará-los


laterítico, ou seja, classificada como um solo com os obtidos por (BARBOSA, SILVA &
LA’,. o que condiz com a experiencia geotécnica FARIAS, 2017), que houve um aumento
local. significativo no ISC para a energia de
compactação Proctor normal, variando de 7,63
3.3 Compactação para 34%.
Os resultados dos ensaios de compactação 3.5 Expansão do solo
foram plotados e são apresentados na Figura 3,
os mesmos serão análisados posteriormente. O resultado obtido do ensaio de expansão,
após quatro dias de leituras. O solo apresentou
21,5 uma porcentagem de expansão somente nos
Peso Específico Seco Máximo

corpos-de-provas moldados na energia normal


de compactação Proctor, enquanto que na
20,5 intermediária e modificada, não apresentou
(KN/m³)

nenhuma variação. Na Tabela 6, são mostrados


os resultados do ensaio de expansão.
19,5
Solo Tabela 6. Resultados da Expansão
Energia Expansão
18,5 Normal 1,50
50 100 150 200 250 300 Intemediária 0,00
Energia (N.cm/cm³) Modificada 0,00

Figura 3. Curva Granulométrica do Solo.

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3.6 Influência da energia de Compactação nos aumento da carga, com isso, provoca uma
resultados de ISC e Expansão. melhor acomodação das partículas do solo,
melhorando seu arranjo e consequentemente
É notório o aumento do peso específico seco aumentando sua resistência.
e do ISC para cada energia de compactação Também por este motivo, que durante o
Proctor, conforme pode ser observado na Figura ensaio de expansão não mostrou alteração nestas
7. Dos quais destaca-se o aumento da resistência energias, e sim, somente na energia normal, a
do solo, quando compactado na energia qual possui uma carga menor, não
intermediária e modifica, visto que o peso proporcionando a acomodação das partículas do
específico seco variou 92,16% e 94,14%. solo em sua totalidade e com isso gerando um
O Indice de Sporte Califórnia (ISC) como no menor peso específico seco e uma variação na
peso específico apresentou um aumento expansão.
significativo de resistência com a variação da
energia de compactação Proctor. Alcançando 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
valores entre 36,79 e 49,70% de aumento.
Os resultados obtidos são muito satisfatórios,
pois, ao compararmos os mesmo com as
exigências do DNIT, em sua especificação de
serviço para bases estabilizadas com solos
lateríticos, observamos que os valores de LL e
LP atendem as específicações da norma, além
disso, os valores de Indice de Suporte Califórnia
(ISC) também se apresenta acima dos limites
apresentados pelo órgão, uma vez que o DNIT
exige valores • 60% e • 80%, diante disso os
resultados atendem as especificações de serviço
e o solo apresenta-se apto para ser aplicado em
base e sub-base de pavimentos.
A massa específica seca máxima aumentou
6% da energia intermediária para energia
modificada, e 8% da energia normal para energia
modificada. O ISC aumentou 100% da energia
normal para energia intermediária e 171% da
energia normal para a energia modificada o que
representa um ganho de resistência com o
simples aumento de energia de compactação. O
solo não apresentou expansão nas energias
intermediária e modificada, e a expansão
apresentada na energia normal está dentro dos
limites estabelecidos no DNIT.
Além de atender as exigências do DNIT, ao
compararmos os resultados obtidos com os de
(BARBOSA, SILVA & FARIAS, 2017),
observa-se um aumento significativo nos valores
de Peso Específico Seco, Índice de Suporte
Califórnia (ISC) e Expansão.
Figura 7. Valores de Massa Específica Seca, ISC e Da mesma foram, ao compará-los com os de
Expansão em função das Misturas. (PARENTE, PARREIRA & SOARES, 2002), é
nitida a pequena variação existente no peso
O aumento da resistência nas energias específico seco para uma mesma umidade ótima,
intemediária e modificada justifica-se pelo sendo uma diferença menor que 2%. Já os

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.



resultados de Limite de liquidez e plasticidade EMBRAPA. (199). Sistema Brasileiro de
obtidos são mais satisfatórios, uma vez que estes Classificação de Solo. Rio de Janeiro: Embrapa Solos,
412p.
atendem as exigências do DNIT para aplicação Fortes, R. M.; Merighi, J. V.; Zuppollini, N. A. (2002)
em bases de pavimentos. Método das pastilhas para identificação expedita de
Esta pesquisa conclui-se, de forma solos tropicais, In. Congresso Rodoviário Português,
satisfatória, pois o solo laterítico atendeu os 2., Lisboa, Portugal.
valores mínimos propostos pelo DNIT e obteve- Lyon Associates, Inc. and Building and Road Research
Institute. (1971). Laterite and lateritic soils and other
se valores próximos e acima dos existentes. problem soils of Africa. Lyon Associates, Baltimore.
Ressalta-se, ainda, que as propriedades USAID/csd./2164.
mecânicas de tal solo podem ser alteradas, Maragon, M., (2004). Proposição de estruturas típicas de
quando necessário, com acréscimo de resíduos, pavimentos para região de Minas Gerais utilizando
visando a correção da sua faixa granulométrica e Solos Lateríticos locais a partir da pedologia,
classificação MCT e Resiliência. Tese de Doutorado.
com isso obtendo-se um melhor desempenho do UFRJ. Rio de Janeiro/RJ.
material. Além disso, foi possível concluir que o Parente, E. B.; Parreira, A. B.; Soares, J. B.; Avaliação do
solo pode ser empregado em bases de comportamento mecânico de um solo laterítico e de
pavimentos rodoviários, valorizando o material e outro não laterítico estabilizados com cimento, 2002.
possiblitando uma redução de custos, no que Vertamatti, E., (1988). Contribuição ao conhecimento
geotécnico de solos da Amazônia com base na
concerne ao transporte de materiais para locais investigação de aeroportos e metodologias MCT e
de implantação de rodovias, onde este tipo de resiliente. Tese de Doutorado, Instituto Tecnológico da
solo seja predominante. Aeronáutica: São José dos Campos, São Paulo, Brasil.
Villabor, D. F.; Nogami, J. S. (2009). Pavimentos
econômicos: tecnologia do uso dos solos finos
lateríticos. São Paulo: Arte & Ciência, 292 p.
AGRADECIMENTOS Zwirtes, A. F. et al. (2016). Estudo de Misturas de Solo
Argiloso Laterítico do Noroeste do Estado do Rio
Os autores agradecem o apoio do Programa Grande do Sul e Material Britado para Uso em
de Pós-Graduação em Engenharia Civil Pavimentos Econômicos. Fundações e Obras
(PPGEC) da Universidade Tecnológica Federal Geotécnicas, v. 65, p. 68-75.
do Paraná (UTFPR), Campus Ecoville. Também
agradecem o apoio financiero da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e da Fundação Araucária do Paraná.

REFERÊNCIAS

Biswal, R. D.; Sahoo, C. U.; Dash R. S. (2016).


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material. School of Infrastructure, IIT Bhubaneswar,
Odisha, India. Transportation Geotechnics. v. 6, p.
108-122.
Barbosa, T. S.; Silva, L. G. L. DA.; Farias, R. J. C.;
Caracterização Geomecânica em Misturas de Solo
Laterítico-Cal Aérea para utilização em base de vias no
Distrito Federal: 20ª RPU – Reunião de Pavimentação
Urbana. Florianópolis/SC, 2017.
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte –
DNIT. (2015). Rede Rodoviária do PNV – Divisão em
Trechos.
DER/PR - Departamento de Estradas de Rodagem do
Estado do Paraná. Especificação de Serviços
Rodoviários – DER/PR ES-P 08/05, 2005.
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.




Uso de Resíduo da Produção do Aço em Camadas de
Pavimentação Rodoviária
Thamyres Cardoso de Carvalho
Universidade Católica de Brasília, Brasília-DF, Brasil, thamyres-2007@hotmail.com.

Ivonne Alejandra Maria Gutierrez Gongora


Universidade Católica de Brasília, Brasília-DF, Brasil, ivonne.gongora@ucb.br.

RESUMO

Este trabalho estudou a possibilidade de uso da escória de aciaria, resíduo gerado na


produção de aço, para a melhoria das características mecânicas do solo. Diante disso,
este estudo foi realizado por meio de ensaios laboratoriais, como granulometria,
compactação e CBR (Índice de Suporte Califórnia) para caracterização do material e da
mistura solo/escória em duas diferentes porcentagens e avaliada a influência que este
resíduo oferece quanto às alterações nas propriedades mecânicas do pavimento. Os
resultados mostraram que houve mudanças no comportamento do solo, quando
acrescidos diferentes porcentagens de resíduo.

Palavras chave: Escória, Solo,


Pavimento, Mistura.

1 INTRODUÇÃO
No processo de fabricação do aço,
as sobras além de trazerem ganhos
Cada tonelada de aço produzida gera ambientais e mudar o conceito de
594 quilos de resíduos. O Instituto Aço resíduos para o setor, também têm valor
Brasil calcula em 17,7 milhões de econômico. Como exemplos dessas
toneladas o total de resíduos gerados na sobras, tem-se escória de alto-forno,
produção siderúrgica apenas em 2013 carepa, pó de aciaria, lama de alto
(ZAPAROLLI, 2016). Se tudo o que forno, pó de balão, entre outros, que ao
fosse produzido recebesse descarte na invés de serem descartados em aterros,
natureza, geraria um enorme problema ganharam novas utilidades.
ambiental. Mas, diante os benefícios
que as empresas e as próprias utilidades Esses resíduos podem ser utilizados
que esses resíduos podem ter, as como matéria prima e substituir
empresas siderúrgicas desenvolveram materiais que estão escassos na
algumas estratégias para natureza. Segundo o Instituto Aço
reaproveitamento destes. Brasil (2013):

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Escória de alto forno, que já era betuminoso (Ramos, 2016). O


utilizada há mais de 20 anos na Departamento Nacional de Estradas e
produção de cimento, sofreu Rodagem (DNER-PRO 262/94)
valorização e hoje é uma das principais também inclui a empregabilidade desse
matérias-primas do cimento CP3. A resíduo em construção de pavimentos
escória de aciaria também sofreu rodoviários, como base e sub-base.
beneficiamento, passou por controle de
qualidade até surgir a açobrita, Diante do aqui exposto, este
substancia que pode ser utilizada no projeto de pesquisa destina-se ao estudo
lugar ou como complemento da brita, de novas alternativas tecnológicas como
extraída de morros e pedreiras, para agregados na construção civil,
construção de vias e estradas. utilizando de resíduos oriundos do
processo de produção do aço para a
A utilização da escória de aciaria construção de camadas de pavimentos,
substitui os agregados naturais pois a utilização deste recurso promove
resultante da mineração de britas de uma diminuição do uso de recursos
granito, gnaisses, basaltos, calcários, naturais e do volume armazenado em
dentre outros materiais extraídos da aterros, uma vez que em obras de
natureza. E os impactos que podem pavimentação há um consumo elevado
resultar no processamento desse de agregados. Sendo assim, a
agregado siderúrgico são menos reciclagem e reuso desses materiais
significativos, se levar em conta o cooperam para preservação ambiental,
processo de extração da brita, por pois sua utilização substitui agregados
exemplo. De acordo com Ramos naturais.
(2016):
Assim sendo, o objetivo geral é
O Agregado Siderúrgico apresenta custo analisar o comportamento do solo
atraente em relação à brita zero, com laterítico de Brasília quando misturado
economia de ordem de 50%, e com resíduo da produção do aço, para
excelentes propriedades técnicas uso em pavimentação.
requeridas para esse tipo de aplicação.
A aderência superficial da mistura Para tal, os objetivos específicos
asfáltica com agregado siderúrgico em incluem a caracterização dos materiais
relação ao agregado natural britado, na envolvidos na pesquisa, que são a
mesma faixa granulométrica, é escória de aciaria e o solo; avaliar a
sensivelmente superior, dando maior influência do resíduo no solo, através de
segurança ao usuário principalmente em ensaios laboratoriais, quando
dias de chuva. adicionado em diferentes porcentagens
e assim poder definir a porcentagem
Esse material tem sido ótima desse material a ser adicionado ao
regularmente empregado no Brasil em solo para melhorar suas propriedades
pavimentação há décadas. A norma mecânicas e encontrar um uso eficiente
ABNT 313/97 regulamenta o uso da a um resíduo que é potencialmente
escória de aciaria como agregado desperdiçado.
graúdo na produção de concreto

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2 MATERIAIS E MÉTODOS serem definidos de acordo com a


finalidade de projeto.
2.1 Análises Granulométricas Com este ensaio é possível obter
a maior massa específica aparente
Para os ensaios de laboratório com a
possível de um solo por meio da energia
finalidade de caracterizar e classificar o
de compactação e isso faz com que se
solo e o resíduo foi necessária a coleta
alcance uma maior quantidade de
de amostras representativas para assim,
partículas solidas por unidade de
minimizar a ocorrência de resultados
volume, aumentando sua resistência,
com pouca validade, e posteriormente
considerada fator de segurança e
secagem e destorroamento do solo e
estabilidade. E uma boa compactação
britagem do resíduo. Além da devida
garante a interferência de surgimento de
separação das quantidades de materiais
recalques que possam prejudicar a
para a realização dos diferentes tipos de
pavimentação.
ensaios.
Foi realizado o ensaio Proctor
Com base no Manual de Técnicas de
com energia modificada apenas com o
Pavimentação, Senço (2001), a curva
solo e, posteriormente, com as
granulométrica desse tipo de agregado,
diferentes porcentagens das misturas de
a escória, pode ser de granulometria
solo/escória.
grossa, com 90% passando na peneira
de ¾” e cerca de 10% passando na 2.3 CBR – Califórnia Bearing Ratio
peneira de numero 4. Sendo assim, o
material coletado passou por um O CBR ou Índice de Suporte Califórnia
processo de britagem, com o objetivo de (ISC) é uma das características mais
atender a curva granulométrica descrita importante para a avaliação do
pelo autor com grãos entre médio e fino comportamento de um solo quando
(entre 2mm e 20mm), conferindo as utilizado, quer como fundação de
exigências do Manual de Técnicas de pavimento ou como componente das
Pavimentação camadas do mesmo.

O ensaio consiste em compactar


2.2 Compactação uma amostra de solo em corpos de
provas com teores crescentes de
Entende-se por compactação de um solo umidade, cada camada recebendo uma
a operação de reduzir os vazios desse quantidade de golpes a depender da
solo comprimindo-o por meios finalidade de projeto, se é para subleito,
mecânicos (SENÇO, 2007). base ou sub-base. Esses corpos serão
O ensaio consiste em compactar submersos em agua por quatro dias, no
o solo com acréscimos de umidade em último dia é realizado a penetração dos
um cilindro, com altura e diâmetro corpos de prova numa prensa.
especificados. A compactação é feita Por se tratar de um agregado
em camadas, aplicando-se golpes a graúdo, os ensaios de compactação e
CBR das misturas foram realizados

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simultaneamente. As amostras foram situação é a que se obtém a menor


preparadas com 24h de antecedência, porcentagem de vazios, com o melhor
sendo 5 porções de 5.200g cada com entrosamento entre as partículas, com
uma porcentagem definida para o maior coesão ou atrito e,
resíduo do aço. Foram acrescentadas consequentemente, uma maior
diferentes porcentagens de umidade resistência, que é o fator fundamental
afim de encontrar a umidade ótima para em termos de projeto estrutural dos
a compactação e CBR. pavimentos.

Os corpos de provas foram E os resultados para as misturas


submersos em caixas com agua por em diferentes porcentagens de
quatro dias, sendo realizadas leituras solo/escória, estão atribuídos na Tabela
diárias no manômetro que estava sobre 1.
cada corpo de prova medindo sua
Tabela 1 Resultados do ensaio de compactação
expansão.
Umidad Peso Esp.
Findo os quatro dias, cada corpo de
Mistura e (%) Seco (g/cm³)
prova foi submetido a penetração de um
pistão numa prensa, e assim, calculou- 50% Solo +
se o ISC. 50% Escória 14,82 1,97

Os ensaios foram realizados com 30% Solo +


diferentes porcentagens de escória de 70% Escória 8,50 2,11
aciaria, com o objetivo de analisar as
características mecânicas da mistura
solo/escória, sendo definidas três 3.2 Índice de Suporte Califórnia (ISC)
diferentes porcentagens: 50%
escória/50%solo e O ensaio de ISC foi realizado seguindo
70%escória/30%solo. o método ME 172 (DNIT, 2016), sendo
realizado 5 corpos de prova para as três
3 RESULTADOS diferentes porcentagens. As amostras
3.1 Ensaio de compactação foram submersas em agua por quatro
 dias e posteriormente foi para a etapa de
penetração na prensa de CBR.
O ensaio de compactação foi realizado
com base na NBR 7182, sem reuso do Os resultados do ISC e suas
material, por se tratar de uma respectivas umidades estão retratados na
composição solo-agregado graúdo. A Tabela 3.
prática foi com energia de Proctor
modificado, ou seja, 55 golpes e 5
camadas para cada ponto que compôs a
curva de compactação.

Assim, para a energia de


compactação especificada, a melhor

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Tabela 2 Resultados do ensaio de CBR frequente presença de cal anidra, o que


faz recomendar sua imersão em agua
Umidade ISC
Mistura por longos períodos, a fim de torna-lo
(%) (%)
estável, ensejando seu uso na
30% Solo + 70% construção civil.
7,77 86,13
Escória

50% Solo + 50%


21,97 40,6 5 CONCLUSÃO
Escória
Segundo a NBR 16364/2015, o
4 DISCUSSÃO agregado siderúrgico deve apresentar o
Índice de Suporte Califórnia (ISC) igual
Para a determinação dos resultados dos ou superior a 80%, como energia de
ensaios de compactação - a umidade compactação proctor modificado, por
ótima e o peso específico aparente seco conseguinte, podemos concluir que a
máximo - de cada mistura, foi melhor porcentagem de resíduo a ser
necessária uma analise conjunta dos utilizada com a granulometria sugerida
resultados obtidos nas diversas por Senço (2001), é a de 70% escória e
tentativas do ensaio de desempenho da 30% solo, que como resultado obteve
mistura. ISC igual a 86,13%.

A partir dos resultados da tabela1, Porém, a porcentagem de 50% pode


entende-se que quanto maior a ser utilizada para sub-base de
quantidade de resíduo da escória menor pavimentos, já que a norma NBR
a umidade ótima, ou seja, a umidade 16364/2015 preconiza para tal, um ISC
que levará a máxima densidade após a igual ou superior a 20%.
compactação é maior em misturas onde
há maior quantidade de material fino.

A construção das curvas de 6 REFERÊNCIAS


BIBLIOGRÁFICAS
compactação para cada porcentagem de
material foi complexa, visto que a maior
dificuldade foi a de estimar um valor ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. NBR 7182: Ensaio de
presumível de teor de umidade ótima e
Compactação. Rio de Janeiro, 1986.
a discrepância encontrada nos teores de
umidade de cada ponto que formaria a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
curva. Dificuldades encontradas em TÉCNICAS. NBR 6457: Amostras de solo -
preparação para ensaios de compactação e
consequência da heterogeneidade do
ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 1986.
material estudado, desde sua
composição até sua granulometria, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
sendo fundamental a realização de TÉCNICAS. NBR 16364: Execução de sub-
base e base estabilizadas granulometricamente
maior quantidade de corpos de prova. com agregado siderúrgico para pavimentação
rodoviária - Procedimento. Rio de Janeiro,
Segundo Balbo (2007), um
2015.
inconveniente deste material é a

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil





BRASIL, Instituto Aço. INDÚSTRIA BALBO, Jose Tadeu. Pavimentacao


REAPROVEITA 85% DOS RESÍDUOS Aslfaltica: materiais, projecao e
DAS USINAS. 2013. Disponível em: restauracao. São Paulo: Oficina de Textos,
<http://www.acobrasil.org.br/congresso2013/im 2007.
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residuos-das-usinas>. Acesso em: 30 maio OLIVEIRA, Millena Damilde
2016. de. UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS EM
PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA. 2014.
Brasil. Departamento Nacional de Infraestrutura 116 f. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia
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Pesquisa. Coordenação Geral de Estudos e FlorianÓpolis, 2014.
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SENÇO, Wlastermiler de. Manual de técnicas
DELGADO, Anna Karina Chaves. ESTUDO de pavimentação: volume II. São Paulo: Pini,
DO COMPORTAMENTO MECÂNICO DE 2001. 671 p.
SOLOS TROPICAIS CARACTERÍSTICOS
SENÇO, Wlastermiler de. Manual de técnicas
DO DISTRITO FEDERAL PARA USO NA
de pavimentação: Volume I. 2. ed. São Paulo:
PAVIMENTAÇÃO RODOVIÁRIA. 2007.
Pini, 2007.
392 f. Tese (Doutorado) - Curso de Geotecnia,
Universidade Católica de Brasília, Brasília, SILVA, Mateus Justino; BEZERRA, Augusto
2007. Cesar da Silva; ALVES, Viviane de Jesus
Gomes. UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DA
DEPARTAMENTO NACIONAL DE
INDÚSTRIA SIDERÚRGICA NA
INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES.
FABRICAÇÃO DE BLOCOS DE CONCRETO
ME 172/2016: Solos – Determinação do Índice
PARA PAVIMENTAÇÃO. In: CONGRESSO
de Suporte Califórnia utilizando amostras não
BRASILEIRO DO CONCRETO, 53., 2011,
trabalhadas – Método de ensaio. Brasília, 2016.
Florianópolis. Anais do 53º congresso
DEPARTAMENTO NACIONAL DE brasileiro do concreto. Florianópolis: Ibracon,
ESTRADAS E RODAGEM. EM 262: Escória 2011. p. 1 - 13.
de Aciaria para pavimentos rodoviários. S.l.,
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recebem destino nobre. Disponível em:
ESTUDO. Da pavimentação asfaltica. 2007. <http://economia.ig.com.br/empresas/industria/a
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Civil, Unama, Amazonas, 2007. Disponível em: para-residuos-do-aco.html>. Acesso em: 30
<http://www.unama.br/graduacao/engenharia- maio 2016.
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df>. Acesso em: 02 jun. 2016.

GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil



Utilização de Misturas de Resíduo de Corte de Rochas
Ornamentais, Cascalho Laterítico e Asfalto Fresado na
Pavimentação
Guilherme Barbosa Teixeira
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, guilhermebarbosateixeira@gmail.com

Hiago de Bessa Bezerra


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, hiago.bessa@gmail.com

Pedro Augusto Barbosa Borges


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, pedroaugustobborges@gmail.com

Lilian Ribeiro de Rezende


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, lrezende@ufg.br

João Renato Prandina


Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, Vitória, Brasil,
renato.prandina@dnit.gov.br

RESUMO: Este trabalho teve como objetivo analisar a viabilidade técnica de utilizar dois resíduos
da engenharia civil como componentes de base e sub-base de pavimentos asfálticos. Os resíduos
analisados foram Ornamental Stone Residue (OSR) orginado do corte de corte de rochas ornamentais
e o Reclaimed Asphalt Pavement (RAP) ou asfalto fresado. Em um primeiro momento, foi avaliada
a possibilidade de utilizar misturas contendo apenas RAP e OSR. No entanto, essas misturas, quando
compactadas, não apresentaram curvas de compactação com forma e umidade ótima definidas. Sendo
assim, o cascalho laterítico foi incorporado nas misturas de RAP e OSR. Com essas, foram definidas
as condições ideais de compactação e moldados corpos de prova que foram submetidos ao ensaio
triaxial dinâmico. Para interpretação dos resultados em termos de módulo de resiliência, foram
realizadas análises numéricas com o programa Kenlayer. Por fim, concluiu-se que a camada de base
ou sub-base composta pelos três materiais nas dosagens estudadas é viável tecnicamente em virtude
dos valores de módulo de resiliência encontrados.

PALAVRAS-CHAVE: Pavimento asfáltico. Aproveitamento de resíduos. RAP. OSR.

1 INTRODUÇÃO requer sua remoção e recapeamento para


manutenção da qualidade do pavimento. Nesse
A construção civil é a atividade industrial que processo, a camada deteriorada é fresada e o
produz a maior quantidade de resíduos (GAEDE, resíduo dessa fresagem é conhecido como
2008). A necessidade de se dar uma destinação Reclaimed Asphalt Pavement (RAP). O RAP é
adequada a esses resíduos é preocupação um resíduo cuja classificação pode ensejar a
crescente a fim de se proteger o meio ambiente. destinação final para aterros sanitários.
No cenário da pavimentação, se observa Outro resíduo largamente produzido pela
grande produção de resíduo resultante da indústria da construção civil é o resíduo de corte
restauração de rodovias e vias urbanas. A capa de rochas ornamentais, resultante do
asfáltica em estado de degradação acentuado desdobramento de blocos produzidos em lavras
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


e denominado Ornamental Stone Residue foram necessárias para adequar esse objetivo à
(OSR). O Brasil é o sexto maior produtor de prática conssagrada em outros países que já usam
rochas ornamentais do mundo (MONTANI, o RAP com maior rotina.
2013). O beneficiamento da pedra passa
basicamente por três etapas e, ao final do 2 MATERIAIS E MÉTODOS
processo, até 30% da massa de um bloco extraído
é transformado em resíduo sólido com Inicialmente, tentou-se utilizar apenas os dois
granulometria fina (BACARJI et al., 2013). resíduos, RAP e OSR, na composição da camada
Atualmente, há iniciativas para o granular. No entanto, no decorrer da pesquisa,
reaproveitamento ou reciclagem de ambos os para melhorar o comportamento das misturas
resíduos, mas a gestão ainda não permite o uso estudadas, optou-se pela adição de cascalho
em larga escala, com reaproveitamento desses laterítico comumente encontrado na região
resíduos, gerando gsatos desnecessários e Centro-Oeste.
impactos ambientais em diferentes localidades O RAP utilizado nesta pesquisa foi doado
do território nacional. O RAP é, em alguns casos, pela SEMOB e, de acordo com informações
reciclado e aplicado como camada de concreto obtidas na coleta, o material foi proveniente da
asfáltico ou camada granular. Nos EUA, desde fresagem de diversas vias urbanas da cidade de
de 2015, mais de 99% do RAP obtido em Goiânia, sendo, portanto, um material
manutenções/restaurações de pavimentos tem heterogêneo. O OSR teve origem em uma
sido reutilizado em obras de pavimentação indústria Região Metropolitana da Grande
(NAPA, 2017), o que significa que estoques Vitória, no município de Serra, ES. Já a jazida do
remanescentes dos anos anteriores têm sido cascalho localiza-se no município de Ouro Verde
consumidos. Esse índice foi possível, pois no estado de Goiás. Esse material foi usado para
diversas normas técnicas e ambientais confecção da base do pavimento da GO-080 e
internacionais premiam o reuso de asfalto estudado por Rocha (2016).
reciclado (COOPELAND, 2011). Só o estado de Inicialmente, foram testadas duas dosagens
Nova Jersey reutiliza cerca de 140 mil toneladas compostas unicamente pelo RAP e OSR. Essas
de RAP por ano em pavimentação, incluindo uso dosagens foram denominadas de 1 e 2.
no revestimento. Também observa-se seu Posteriormente, acrescentou-se o cascalho
aproveitamento no meio urbano como insumo laterítico em dois teores diferentes. Essas
para tapar buracos de pavimentos em estágio dosagens foram denominas de 3 e 4. A Tabela 1
avançado de deterioração. Tal aproveitamento é apresenta os teores definidos para cada dosagem.
feito, atualmente, pela Secretaria Municipal de
Obras de Goiânia (SEMOB). Tabela 1. Dosagens estudadas
O reaproveitamento do OSR é ainda pouco OSR RAP Cascalho
Dosagem 1
visto no cenário brasileiro. O seu uso em 5% 95% 0%
pavimentação urbana e em rodovias é totalmente OSR RAP Cascalho
Dosagem 2
inexplorado. Sendo assim, a maior parte do 10% 90% 0%
resíduo gerado acaba sendo destinada a aterros OSR RAP Cascalho
Dosagem 3
sanitários, ou a áreas exclusivas licenciadas por 5% 50% 45%
cooperativas do setor para servirem ao descarte OSR RAP Cascalho
final, ou ainda, depositados de forma irregular Dosagem 4
5% 30% 65%
(BACARJI et al., 2013).
Diante da necessidade de prover destinação
Os três materiais utilizados foram
aos dois resíduos citados, este trabalhou buscou
caracterizados em laboratório por meio dos
realizar uma análise técnica da viabilidade da
ensaios mostrados na Tabela 2. Em seguida,
aplicação desses resíduos nas camadas de base
foram realizados ensaios de compactação na
ou sub-base de pavimentos asfálticos. A pesquisa
energia Proctor Intermediária conforme norma
tinha o objetivo original de estudar o RAP
ME 162 (DNER, 1994) e definidas as condições
adicionado com OSR, portanto, apenas resíduos
ótimas de compactação para cada mistura.
como componentes das camadas. Adapatações
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


De posse desses parâmetros, foram encontrados. Ressalta-se que o RAP utilizado
compactados corpos de prova para o ensaio neste estudo apresentou coloração acinzentada e
triaxial dinâmico, realizado segundo as não foi notado nenhum aspecto pegajoso. Tais
orientações da norma ME 134 (DNIT, 2010). características são típicas de RAP com betume
Após definição do modelo que melhor em estado de oxidação acentuado. Esse tipo de
representava os dados obtidos nos ensaios, foram material, denominado inativo na literatura,
determinados os valores das tensões atuantes garante melhor compactação se aplicado na
numa seção de pavimento por meio do programa camada granular. A Tabela 4 mostra algumas
Kenlayar (HUANG, 2004) e calculado os valores características do cascalho laterítico extraídas do
de módulo de resiliência. trabalho de Rocha (2016).
Tabela 2. Ensaios realizados Tabela 3. Caracterização do RAP e do OSR
Material Ensaio Norma Material Propriedade Valor
ME 083 Massa específica total (g/cm3 ) 2,56
Granulometria
(DNER, 1998)
Massa espec. dos agreg. graúdos
Massa Específica ME 195 2,39
(g/cm3)
Graúda (DNER, 1997) RAP
Massa espec. dos agreg. miúdos
Massa Específica ME 084 2,52
RAP (g/cm3)
Miúda (DNER, 1995) Teor de asfalto (%) 4,9
Massa Específica ND T 209 3)
Total (Rice Test) (AASHTO, 2015) OSR Massa específica (g/cm 2,64
ME 053
Teor de Asfalto Tabela 4. Caracterização do cascalho (ROCHA, 2016)
(DNER, 1994)
NBR 7181 Parâmetros Cascalho Natural
Granulometria
(ABNT, 1984) Limite de Liquidez (%) 40
OSR
NBR 6508 Limite de Plasticidade (%) 26
Massa Específica
(ABNT, 1984)
NBR 7181 Índice de Plasticidade (%) 14
Cascalho Granulometria Índice de Atividade (%) 1,61
(ABNT, 1984)
Classificação SUCS GM
3 RESULTADOS Classsificação TRB A-2-6
Massa Espec. Fração Passantes na
2,95
O resultado da caracterização granulométrica é Peneira 4,8mm (g/cm³)
mostrado na Figura 1. O RAP apresentou pouca Massa Espec. dos Grãos Retidos na
2,91
quantidade de finos (0,70%) em contraste ao Peneira 4,8mm (g/cm³)
cascalho laterítico (18,58%). O OSR, por sua Absorção de Água 6,26
vez, é um material bem fino com todos os grãos Obs.: SUCS = Sistema Unificado de Classificação de
passantes na peneira n. 200. Solos; TRB = Transportation Research Board; GM =
Pedregulho com silte.
100
OSR S/Defloc.
As dosagens 1 e 2 foram ensaiadas afim de
Percentual Passante (%)

80 OSR C/Defloc.
Cascalho testar o comportamento mecânico de misturas
60 RAP compostas apenas pelos resíduos. A confecção
40 de base ou sub-base nessa condição seria o ideal
20 do ponto de vista ecológico por evitar por
0
completo a extração de materiais de jazidas
0,001
0,1 0,01
1 10 100 naturais. No entanto, o ensaio de compactação
Diâmetro (mm) das duas dosagens apresentou comportamento
Figura 1. Distribuição granulométrica dos materiais anômalo, fato que impossibilitou a determinação
da umidade ótima de compactação dessas
A Tabela 3 apresenta os parâmetros obtidos dosagens. Conforme mostrado nas Figuras 2 e 3,
na caracterização do RAP e do OSR. Os valores não há presença dos ramos seco e úmido comuns
obtidos foram comparados ao da literatura e se em curvas de compactação. Não foi objetivo
enquadram dentro da faixa de valores desse estudo investigar a razão de tal
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comportamento, mas levanta-se a hipótese da Na Figura 5 estão apresentadas as curvas de
natureza hidrofóbica do RAP, em virtude da compactação obtidas para as dosagens 3 e 4,
presença do betume, ter sido responsável pelo considerando a energia Proctor Intermediária. A
resultado. dosagem 3 apresentou umidade ótima (wot) de
Em virtude dos resultados obtidos no ensaio 8,19% e peso específico aparente seco máximo
de compactação, optou-se por adicionar cascalho (Ȗdmax) de 20,34 kN/m3. Já a dosagem 4, wot de
às dosagens estudadas e não dar prosseguimento 10,25% e Ȗdmax de 20,01kN/m3.
ao trabalho laboratorial das dosagens 1 e 2. Com
a adição do cascalho laterítico, buscou-se uma 20,50

Peso Específico Aparente


melhoria do comportamento das misturas.
Os ensaios de granulometria das dosagens 3 e 20,00

Seco (kN/m³)
4 resultaram nas curvas apresentadas na Figura 19,50
4. De acordo com as faixas granulométricas do
Manual de Pavimentação do DNIT (DNIT, 19,00
2006), a dosagem 3 se enquadra na Faixa C e a
18,50 Dosagem 3
dosagem 4 nas Faixas D e E. Dosagem 4
18,00
4,0 6,0
8,0 10,0 12,0 14,0
Umidade (%)
Figura 5. Curva de compactação das dosagens 3 e 4

O ensaio triaxial dinâmico foi realizado com


3 corpos de prova (CP) de cada uma das
dosagens e dois CP’s do cascalho puro afim de
comparar os resultados. Os CP`s das dosagens
foram moldados com o objetivo de se atingir a
umidade ótima. Já o cascalho, foi moldado sob a
Figura 2. Ensaio de compactação da dosagem 1 umidade ótima presumível a partir da análise
tátil-visual e baaseando-se nos resultados
obtidos por Rocha (2016).
Após a preparação dos CP’s, os mesmos
foram submetidos ao ensaio triaxial dinâmico na
prensa UTM-30 disponível no Laboratório de
Asfalto da Universidade Federal de Goiás. A
partir dos ensaios realizados foram extraídos,
para cada par de tensão aplicado, os valores de
tensão desvio (ıd), tensão confinante (ı3) e
módulo de resiliência (MR).
A ideia inicial para a análise dos resultados
Figura 3. Ensaio de compactação da dosagem 2 era fazer a média aritmética dos resultados dos
corpos de prova de cada material e analisar a
variação do MR com o andamento do ensaio.
Porém, três CP’s não puderam ser considerados
na análise: dois CP’s da dosagem 3 tiveram
umidade muito abaixo da umidade ótima e
consequentemente, grau de compactação menor
que 99%; um CP da dosagem 4 apresentou
valores de MR bem acima do padrão apresentado
pelos outros dois CP’s dessa dosagem, com
valores até 40 vezes maiores. Assim sendo, os
Figura 4. Curva granulométrica das dosagens 3 e 4
três CP’s foram desconsiderados da análise final.
De posse dos valores médios obtidos para
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cada um dos três materiais analisados, foram ocorrem no ponto médio da camada de base.
plotados quatro gráficos para análisar o Esses valores foram então aplicados na equação
comportamento dos materiais sob ação da carga de cada mistura e o valor de MR foi determinado.
dinâmica: MR em função de ıd, MR em função A Tabela 6 apresenta os pares de tensão
de ı3, MR em função do somatório de tensões (ș) extraídos do software e o MR calculado pelas
e MR em função de ıd e ı3. Cada gráfico gerou equações.
uma equação e seu respectivo coeficiente de
determinação (R2). A Tabela 5 mostra os
resultados obtidos.

Tabela 5. Ajustes dos dados obtidos nos ensaios triaxiais


dinâmicos em função dos modelos existentes
Material Modelo R²
‫ ܴܯ‬ൌ ͳͻͶʹǡͺͷ ‫͵ߪ כ‬଴ǡଷଷଵ 0,90
Dosagem ‫ ܴܯ‬ൌ ͳʹ͵Ͷǡͻͳ ‫݀ߪ כ‬଴ǡଶଵ଼ 0,58
3 ‫ ܴܯ‬ൌ ͳʹͷͺ ‫ ߠ כ‬଴ǡଶ଼ସ 0,80
‫ ܴܯ‬ൌ ͳͻͷ͵ǡ͹ͺ ‫͵ߪ כ‬଴ǡଷସ ‫ି ݀ߪ כ‬଴ǡ଴଴ଽ଺଺ 0,91
଴ǡଶଶ଺
‫ ܴܯ‬ൌ ͳ͵ͶͺǡͲͺ ‫͵ߪ כ‬ 0,61
Dosagem ‫ ܴܯ‬ൌ ͺͺͻǡͷ ‫݀ߪ כ‬଴ǡଵ଴ଶ 0,19
4 ‫ ܴܯ‬ൌ ͳͲ͵ͻǡͶ ‫ ߠ כ‬଴ǡଶଵହ 0,66
‫ ܴܯ‬ൌ ͳͶ͹Ͳǡʹ ‫͵ߪ כ‬଴ǡଷ଺଼ ‫ି ݀ߪ כ‬଴ǡଵସଵଶ଻ 0,73
଴Ǥ଴ହଶ
‫ ܴܯ‬ൌ ͳʹ͹͸Ǥ͹ͳ ‫͵ߪ כ‬ 0,13 Figura 6. Configuração do pavimento adotado na
‫ ܴܯ‬ൌ ͳͲͷ͵Ǥͻͷ ‫݀ߪ כ‬଴Ǥ଴ଵ଼ 0,02 simulação
Cascalho
‫ ܴܯ‬ൌ ͳʹͶʹǤʹ ‫ ߠ כ‬଴Ǥ଴଺଻ 0,25
Tabela 6. MR obtido para cada material
‫ ܴܯ‬ൌ ͳͶͲͶǡͺ͹ ‫͵ߪ כ‬଴Ǥଶଵଷ ‫ି ݀ߪ כ‬଴ǡଵ଺ଵ଻ 0,72 Material ıd (MPa) ı3 (MPa) MR (MPa)
Cascalho 0,21847 0,00714 626
Para os materiais analisados no ensaio Dosagem 3 0,21105 0,01417 466
triaxial, o gráfico que apresentou valor de R2 Dosagem 4 0,20771 0,01719 411
mais próximo de 1 foi o do modelo composto
(MR em função de ıd e ı3). Dessa forma, as De acordo com revisão bibliográfica
equações obtidas por esse modelo foram usadas realizada, os valores de MR obtidos para as duas
para a próxima etapa da análise de resultados. dosagens e o cascalho puro permitem aplicação
A partir dos resultados da análise feita para o dos três materiais como base de pavimento
ensaio triaxial, foi analisada a viabilidade técnica asfáltico. Os valores estão dentro da faixa de
da utilização das dosagens como base de valores sugerida por Bernucci et al. (2008) para
pavimento da rodovia escolhida para o estudo: base de pavimento asfáltico, assim como para a
GO-080. A razão da escolha dessa rodovia se deu faixa sugerida pela prefeitura de São Paulo, em
em virtude do cascalho utilizado neste estudo ser sua Instrução de Projeto 08 (PREFEITURA DE
o mesmo utilizado como base da rodovia SÃO PAULO, 2004).
(ROCHA, 2016). Portanto, adotou-se a
configuração do pavimento existente naquela 6 CONCLUSÕES
rodovia para a simulação.
A Figura 6 mostra a configuração adotada. Os valores de MR obtidos respondem o objetivo
Para a análise foi utilizado o software Kenlayer, desse trabalho. Misturas dos insumos estudados
que possibilitou a determinação do módulo de nesse trabalho (RAP, OSR e cascalho laterítico),
resiliência da camada de base por meio de um nas dosagens analisadas, são tecnicamente
método analítico da teoria da elasticidade viáveis para aplicação como base ou sub-base de
considerando a carga do eixo padrão rodoviário pavimento asfáltico.
como dados de entrada. A simulação feita no Inicialmente, esperava-se que a dosagem 4
sofware calculou o par de tensões principais que tivesse valor de MR maior que a 3 em virtude do
GEOCENTRO 2017, Goiânia/GO, Brasil.


maior teor de cascalho, porém o resultado foi COPELAND, A. Reclaimed Asphalt Pavement in Asphalt
inverso. Todavia, de acordo com duas pesquisas Mixtures: State of the Practice. FHWA-HRT-11-021.
Federal Highway Administration Pike McLean, USA,
existentes na literatura, misturas com alto teor de 2011.
RAP podem resultar em valores elevados de MR. COSTA, J. M.; BRADSHAW, A. S.; Snyder, R. L.
Costa, Bradshaw e Snyder (2014) chegaram a Resilient moduli of a naturally aged RAP and
essa conclusão. Da mesma forma, no trabalho de aggregate blend. Geo-Congress 2014, Atlanta,
Cong Luo e B. Eng. (2014), no qual foram Geórgia, p.3026-3034, 2014.
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analisados diversos materiais comumente ME 083: Agregados - Análise Granulométrica. Rio de
aplicados com base de pavimento, os maiores Janeiro, 1998, 5p.
valores de MR ocorreram em dosagens de RAP ______. ME 195: Agregados – Determinação da absorção
da ordem de 75%. e da massa específica do agregado graúdo. Rio de
Janeiro, 1997, 5p.
______. ME 53: Misturas betuminosas: Percentagem de
AGRADECIMENTOS betume. Rio de Janeiro, 1994, 5p.
______. ME 84: Agregado miúdo – Determinação da
Os autores agradecem aos técnicos dos densidade real. Rio de Janeiro, 1995, 3p.
Laboratórios da UFG, João Júnior e Clayton. À ______. ME 162/94: Solos – compactação utilizando
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pdf. Acesso em 05 de novembro de 2016.
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2014.

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