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Das Pedras aos Homens
Tecnologia Lítica na Arqueologia Brasileira
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Das Pedras aos Homens
Tecnologia Lítica na Arqueologia Brasileira
Lucas Bueno
Andrei Isnardis
Organizadores
CAPES
FAPEMIG
A^VMENTVM
Belo Horizonte
2007
Todos os direitos reservados à
AR^VMENTVM Editora Ltda.
® Autores
Conselho Editorial:
Bernardo Jefferson de Oliveira | UFMG
Betânia Gonçalves Figueiredo | UFMG
Diana Gonçalves Vida] | USP
José Gonçalves Gondra | UERJ
Maurilane de Souza Biccas | USP
Mauro Lúcio Leitão Condé | UFMG
Olival Freire | UFBA
Prefácio 7
Introdução
Lucas Bueno e Andrei Isnardis 9
Da Tipologia à Tecnologia:
Reflexões sobre a variabilidade das indústrias líricas da Tradição Umbu
Adriana S. Dias........................................................................................ 33
Contexto e Tecnologia:
Parâmetros para uma interpretação das Indústrias Líticas do Sul do Brasil
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Prefácio
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Introdução
Tecnologia lítica no Brasil: fundamentos teóricos e temas de pesquisa
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Lucas Bueno c Andrci Isnardis
Quais são as informações e qual o cenário, ou melhor, qual história, qual tipo de
história queremos contar sobre o registro arqueológico no Brasil?
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Prefácio
Perspectivas e propostas
Como veremos nos capítulos que se seguem, o principal aspecto que permeou
todas as apresentações e discussões durante o simpósio foi a ênfase na necessida
de de inserir o material lítico em um contexto para que possamos compreendei
melhor seu significado. Nessa perspectiva, a variação das abordagens se encontra
em como construir contextos e qual deles selecionar para análise. Nos trabalhos
que compõem este livro, o contexto pode ser compreendido de maneiras um tante
diferentes e envolver níveis diferentes de análise: pode ser o discurso, sua cons
trução, conceitos e vocabulário (Hilbert e Rodei e Lima), pode envolver a articu
lação com demais vestígios (Isnardis), sua inserção espacial e temporal (Scliimitzj
e ainda as relações entre os sítios e a paisagem (Dias, Bueno e Hoeltz). Pode
também envolver uma evolução técnica dos instrumentos (Jobim) e demandai
conhecimentos oriundos da realização de trabalhos de experimentação (Prous)
Apesar dessas variações, em certa medida pode-se dizer que há um interesse
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Lucas Bueno c Andrei Isnardis
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Introdução
to, por outro, reconhece-se do mesmo modo que o conhecimento a respeito não si
das indústrias líticas, mas das ocupações de um modo geral, deve agora ser feito
e está de fato sendo feito, sobre novas bases. De um modo geral, em todos o
trabalhos fica clara a importância de se discutir a tecnologia lítica em suas dimen
sões amplas, que incluem estratégias de obtenção e gestão da matéria-prima, mé
todos de debitagem e retoque, razão e distribuição do descarte dos instrumentos
bem como a inserção e distribuição desses componentes na paisagem.
Conforme também já mencionamos a discussão produziu um consenso en
tomo de outra questão: a percepção de que o léxico, qualquer léxico, tem un
caráter histórico, teórico, regional e pessoal. Portanto, uma terminologia não dev
ser proposta, mas sim construída, e isso envolve um processo de discussão 1
amadurecimento de discussões, ainda por ser feito no Brasil. A terminologia dev
ser clara, criteriosa e coerentemente empregada por cada autor, mas a construçã'
de uma coerência ampla de termos se dará na medida em que houver coerênci
na compreensão dos processos constitutivos das indústrias líticas e não com,
proposta em si.
Nos textos que aqui se seguem fica também claro que diversos arqueólogo
brasileiros estão se propondo a tratai’ diferentes sítios numa paisagem como con
juntos articulados de elementos, expressivos de maneiras de percepção, explora
ção e gestão de territórios. A escala das discussões predominante é regional
Contudo, essa discussão inter-sítios não é simplificadora das especificidades do:
sítios, não se faz de forma precipitada, pelo contrário, ela está atenta justamente i
variabilidade e a possíveis formas de articulação das especificidades. A aborda
gem é na escala inter-sítios porque os problemas de pesquisa colocados se cons
troem nessa escala, fundamentados nas possibilidades interpretativas concreta
dos sítios conhecidos. 0 conceito de organização tecnológica tem servido de ferra
menta a alguns dos autores, enquanto outros tratam da variabilidade por meio df
propostas distintas.
Essa congruência entre problemas e escalas trabalhadas ao mesmo tempt
segundo perspectivas distintas indica, por sua vez, que é possível combinar refe
rências teóricas que permitam pensar em estr atégias de gestão e sistemas de sítio:
de funcionalidades distintas com referências que enfatizam a necessidade de s«
compreender em minúcia os aspectos tecnológicos das coleções, os problema:
estratigráficos e as estruturas internas aos sítios.
A chamada arqueologia de contrato, ou seja, os diagnósticos, prospecções e
resgates arqueológicos que se fazem para os processos de licenciamento ambienta:
de empreendimentos diversos, têm ocupado e preocupado os arqueólogos brasi
leiros de modo crescente. Embora não tenha havido neste Simpósio uma apresen
tação específica sobre o tema, ele figurou nas discussões, deixando clara sua
importância no presente cenário. Não podemos nos furtar a tecer comentários e
respeito, crendo que construir discussões sobre isso é de inegável urgência. A
questão fundamental em relação à arqueologia de contrato, numa perspective
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Lucas Bucno c Andrci Isnardis
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Introdução
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Lucas Bueno e Andrei Isnardis
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Introdução
tatada de sítios do Holoceno médio, hipóteses que precisam ser debatidas e co;
sideradas como perspectivas de pesquisas futuras.
Alguns temas ganham forma inicialmente em contextos regionais específico
mas sua pertinência a outras áreas do país não demora a se fazer perceber. E esJ
o caso da ampla continuidade observada nos sítios de caçadores-coletores do Si
do Brasil, por A. Dias. A tecnologia lítica é um dos pontos centrais dos indicad
res dessa continuidade, aliada ao exame das demais categorias de vestígios e d
papel dos sítios em abrigo. A questão de como tratar continuidade e mudança
pertinente a todos nós, não sendo poucos os casos de uma aparente indistinção rí
registro arqueológico com grande extensão cronológica.
A presença de caçadores-coletores recentes, mesmo nas regiões amplament
dominadas demograficamente por horticultores ceramistas, e o reconhecimenl
dessa modalidade de base econômica no registro arqueológico é outro tema quE
vem ganhando visibilidade e se aplica a qualquer região brasileira. Tradiciona-
mente, a Arqueologia no Brasil agiu como se tivesse havido um extermínio dramá
tico e geral do modo de vida caçador-coletor quando do desenvolvimento da
economias horticultoras, o que não tem qualquer fundamento. Diversos contexto;
têm colocado problemas e permitindo superar essa “tradição”. Reunir pesquisa
dores que têm se confrontado com a questão em contextos geográficos distinto-
nos permitiría construir juntos possibilidades metodológicas para abordá-la. Ou
tro pré-conceito arqueológico brasileiro que tem sido superado aos poucos nos
últimos anos é a crença na inapetência dos ceramistas para elaborai' indústria;
líticas. Coleções líticas sofisticadas em contextos ceramistas variados têm, no;
últimos anos, sido evidenciadas com cada vez mais frequência e isso pode abri,
caminho para que as discussões envolvendo tecnologia lítica e tecnologia cerâmi
ca convirjam, transformando-se em discussões sobre tecnologia e em discussõet
sobre as populações ceramistas a partir de uma gama mais ampla de vestígios.
A questão da variabilidade artefatual entre sítios de uma mesma área é outro
tema transversal às regiões que pode produzir debates efetivamente produtivos
Autores diversos têm tratado do assunto a partir de perspectivas distintas, algu
mas das quais discutidas aqui. Se há um interesse em discutir contextos nums
escala inter-sítios, discutir a variabilidade, os critérios para reconhecê-la e seu
significado é questão central para a compreensão de diversos contextos que hoje
são objeto de pesquisa no Brasil.
Outra questão que envolve diretamente um número expressivo de pesquisado
res e, do ponto de vista teórico e metodológico pode envolver um número bem
amplo, é a similaridade entre as indústrias líticas da transição Pleistoceno/Holocenc
e do Holoceno inicial em diferentes pontos do Brasil Central. As semelhanças há
muito vêm sendo apontadas e, no presente estágio de conhecimento, podemos
discutir de forma substantiva sua natureza, na medida em que as análises
tecnológicas em diversas áreas vêm se desenvolvendo É preciso que discutamos
as diferentes abordagens já desenvolvidas sobre essas indústrias e as bases do
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Lucas Bucno e Andrci Isnardis
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O estudo das Indústrias Líticas
O PRONAPA, seus seguidores e imitadores
0 estudo das indústrias líticas no Brasil pode ser enquadrado em duas grandes
vertentes: uma francesa, mais estruturada e com regular feed-back de sua origem
européia, mais representada pela USP, a UFMG e a FUNDHAM, e uma de
origem americana, menos estruturada e mais autônoma, desenvolvida a partir do
PRONAPA, seus seguidores e imitadores. Apesar de minha primeira iniciação ter
sido feita em escolas de origem européia, considero-me mais à vontade na segun
da, sobre a qual fui convidado a falar.
O PRONAPA (Programa Nacional de Pesquisa Arqueológica), desenvolvido
de 1965 a 1970, sob a coordenação de Clifford Evans e Betty J. Meggers, da
Smithsonian Institution, tinha como objetivo explícito estudar a origem e expansão
de populações, que tinham em comum uma cerâmica, denominada Tupiguarani.
A execução foi confiada a onze brasileiros, formados, com alguma prática e inte
resse em ar queologia, mas que não eram especialistas, ou técnicos, nem em sítios
cerâmicos, nem líticos, com exceção de Wilson Rauth, que trabalhava em
sambaquis. Pertenciam a diversas instituições de estados litorâneos, localizados
desde o Rio Grande do Sul até o Rio Grande do Norte.
Para o desenvolvimento do programa, este grupo recebeu um mês de treina
mento, no qual se estabeleceram os conceitos e os procedimentos a serem adotados
no trabalho (Meggers & Evans, 1965, 1970; Chmyz, 1966). Os conceitos básicos
pai a a organização do material apresentam semelhanças com os das classificações
biológicas: Tradição, para agrupar conjuntos de sítios ou de componentes que
partilham fenômenos culturais durante longo tempo e amplo espaço; Fase, para
conjuntos de sítios ou componentes, dentr o da tradição, que partilham fenômenos
culturais por tempo menor, em espaço mais restrito; Sitio ou componente, para
um espaço singular, ou camada arqueológica, em que se encontram associados
elementos culturais da fase e da tradição; Tipo, para um elemento discreto da
tradição, com tendência temporal definida dentro da fase. Este esquema procura
va organizar e hierarquizar o material no tempo e no espaço.
E importante deixar claro que estes conceitos se distinguem daqueles estabele
cidos em outros esquemas para organizar o material, como o que usa Cultura para
conceito básico e Sítio-tipo, Fácies e Tipo-guia (ou tipo-fóssil), como subdivisões da
mesma; às vezes também usa Horizonte com um sentido parecido, mas não igual
' Instituto Anchietano de Pesquisas/UNISINOS. E-niail: anchietano@unisinos.br
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0 estudo das Indústrias Liticas
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tes com a idéia de mostrar sua distribuição no tempo e no espaço. Fatores climá
ticos e ambientais e, em menor escala, difusão cidtural e contatos entre grupos
poderíam ajudar a entender as características e a distribuição. As grandes tradi
ções criadas com sítios do planalto brasileiro foram: Umbu, Humaitá e Itaparica,
nomes que se tornaram de uso comum. Também foi sugerida a tradição
Serranópolis, mas suas características não chegaram a ser definidas. No litoral
estavam os sambaquis, que não interessavam à maior parte destes pesquisadores.
Como nos sítios cerâmicos os artefatos de barro cozido e as tendências estatís
ticas de seus tipos eram usados para estabelecer tradições e fases, assim nos
assentamentos pré-cerâmicos ocupariam esta função os artefatos líticos, com seus
tipos e tendências. De maneira complementai' foram usadas as variações climáti
cas expressas nas camadas e no ambiente do entorno, os resíduos alimentares e
as formas e estruturas da instalação.
Quero mostrai' como estes procedimentos foram aplicados à chamada tradição
Umbu. Sob esta denominação foram reunidos sítios do Sul do Brasil em que
pontas de projétil líticas, geralmente numerosas, aparecem associadas a pequenos
e grandes artefatos bifaciais, a raspadores e raspadeiras de diversos tamanhos, a
lascas retocadas ou usadas diretamente, a percutores, junto com abundantes e
variados resíduos de lascamento, formando um contexto característico. Estes ele
mentos estão presentes tanto em sítios a céu aberto quanto em abrigos rochosos.
Muitas vezes estão acompanhados de restos de alimentos, que indicam origem na
caça e na coleta generalizadas. Os mesmos sítios podem ter sido reocupados
durante milênios, em ciclos climáticos diferentes, aparentemente por pequenos
grupos, em estadias mais, ou menos longas. Em alguns abrigos são encontradas
gravuras, geralmente atribuídas a seus moradores. A tradição persiste, com as
características indicadas, desde aproximadamente 10.000 anos atrás, até o se
gundo milênio de nossa era, mostrando considerável consistência e continuidade.
Ela foi dividida, pelos arqueólogos, num grande número de fases estratigráficas
ou locais, de cronologias não necessariamente diferentes. Os assentamentos são
encontrados em diversos ambientes atuais e passados da região subtropical, em
áreas abertas, em bordas de matas, na densa Floresta Atlântica da encosta leste
do planalto meridional, mas pouco nas florestas densas que acompanham o curso
médio e inferior dos rios Paraná, Paraguai, Uruguai e Jacuí, incluídos alguns de
seus afluentes maiores, onde ela é substituída pela denominada tradição Humaitá,
que é apresentada com contexto lítico, ambiental e, embora de modo parcial,
cronológico diferente. O limite setentrional da tradição Umbu é o cerrado do
Brasil Central, onde ela é substituída, no começo do Holoceno, por um contexto
Lítico diferente, denominado tradição Itaparica, na qual são comuns plano-conve-
xos alongados e, posteriormente, por conjuntos líticos de artefatos pouco defini
dos para os quais alguma vez foi sugerido o nome de tradição Serranópolis (Schmitz,
Rosa & Bitencourt, 2004). Em direção ao sul, a tradição Umbu parece continuar
pelo Uruguai e pela Argentina, em ambientes parecidos com os do Sul do Brasil.
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se deram em abrigos, quando estes estão disponíveis, mas são mais numerosos
em sítios a céu aberto. 0 caráter dos assentamentos conhecidos é, predominante
mente, de acampamentos de certa duração, nos quais se produzem e utilizam
artefatos variados, não só pontas de projétil, indicando atividades múltiplas de
seus ocupantes. Mesmo naqueles abrigos cujas camadas são espessas, a ocupação
não parece ter sido contínua, mas sucessiva, às vezes durante milhares de anos.
Do pequeno número e pouca densidade dos sítios pode-se inferir uma população
pouco numerosa. Os elementos constituintes básicos e seus contextos apresentam
caráter conservador, que leva a uma reprodução, sem maiores mudanças, duran
te dez milênios, o que distingue esta tradição pré-cerâmica de outras, como a
Humaitá e a Itaparica. Os sítios mais antigos parecem estar localizados na parte
meridional do território brasileiro, mas finalmente eles ocuparam o espaço
subtropical em diversos de seus ambientes.
O fato de classificarmos os sítios na mesma tradição lítica não significa que os
imaginemos pertencentes a um mesmo grupo, etnia, ou tronco linguístico. Pelo
contrário, supomos que, através do tempo e do espaço, tenha havido múltiplas
apropriações diferenciadas dos elementos básicos por populações diferentes, que
deles se apropriaram de maneiras diferentes e os incorporaram a sua cultura.
Ilustrarei isso com uma situação que estou estudando.
Na densa Floresta Atlântica do leste de Santa Catarina foram registrados, nas
últimas décadas, cerca de 300 sítios arqueológicos pré-cerâmicos, com pontas de
projétil e contextos da chamada tradição Umbu. Estes sítios coincidem com os
lugares em que, no século XIX, foram registrados conflitos entre os índios Xokleng,
da família linguística Jê, e os colonizadores europeus, principalmente alemães da
colônia de Blumenau (Farias, 2005). Buscando entender essa estranha coinci
dência, a equipe do Instituto Anchietano de Pesquisas iniciou um projeto, no
limite da Floresta Atlântica com a Mata com Araucária, na bacia do rio Itajaí do
Oeste, onde havia o conhecimento de numerosos sítios com pontas e de, ao me
nos, dois sítios com casas subterrâneas, um destes com um montículo funerário.
As pontas de projétil costumam ser associadas com populações caçadoras nôma
des, as casas subterrâneas e os montículos funerários com grupos Jê meridionais,
de certa estabilidade.
As escavações feitas em ambos os tipos de sítios mostraram que neles não
havia cerâmica, mas pontas de projétil e um fogão circular feito com seixos ou
pequenos blocos, característico dos sítios locais com pontas, mas que ainda não
era conhecido de casas subterrâneas. Estando excluída a re-ocupação destas, a
associação local parecia indicar que ambos tipos de assentamentos (sítios a céu
aberto e casas subterrâneas com montículos funerários) eram produzidos por uni
mesmo grupo ou sociedade indígena.
A datação de dois dos cinco fogões existentes num assentamento com pontas,
a céu aberto, proporcionou datas praticamente iguais: 4.110 anos A.P. e 4.140
anos A.P. No sítio, que compreende 13 casas subterrâneas e um montículo fune-
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Pedro Ignácio Schmitz
reino, foram realizadas escavações em oito das casas e foi limpo o montículo. Em
nenhum desses trabalhos apareceu cerâmica, mas uma indústria lítica parecida
com a dos sítios a céu aberto. Nas três estruturas datadas, conseguimos uma
cronologia relativamente recente: uma depressão, com a típica indústria lítica,
inclusive uma ponta de projétil inteira, foi datada em 1.220 anos A.P., a outra
estrutura, com material lítico parecido e um fogão característico, foi datada em
1.180 anos A.P.. Uma casa bastante profunda foi datada em 650 anos A.P.
A continuidade da mesma indústria lítica nos dois tipos de sítios e a falta de
cerâmica nas casas subterrâneas, com datas relativamente recentes, causou estra
nheza. Datas recentes para sítios pré-cerâmicos com pontas de projétil são confir
madas para outros assentamentos nos vales dos rios Itajaí e Tubarão, em que
Walter F. Piazza (1969 e 1974), João Alfredo Rohr (1978) e Deisi Farias (2005
e com. pes. 2007) obtiveram cronologias semelhantes. Piazza também fala de
casas subterrâneas sem cerâmica (fase Cotia) no planalto catarinense, não longe
de nossa área de pesquisa.
Por outro lado, para confirmar nossa cronologia antiga, poderiamos lembrar a
data de 4.810 anos A.P., de Marco Aurélio De Masi, para o rio Canoas, um dos
formadores do Rio Uruguai, que ele coloca na formação do grupo Xokleng.
Não lenho certeza se nossa pesquisa na Floresta Atlântica de Santa Catarina
realmente está ligada à trajetória do grupo Xokleng, mas é muito provável (Schmitz,
2007). Em 1917, quando se iniciou a colonização da área em que instalamos
nosso projeto, ainda índios Xokleng viviam nas matas do lugar. Se for confirmada
nossa liipótese, teremos a possibilidade de mostrar como um grupo indígena, cuja
origem é colocada nos cerrados do Brasil Central (Urban, 1992), e cujos descen
dentes ainda são numerosos no sul do Brasil, incorporou uma indústria lítica de
grande expansão e a fez sua, num complexo processo de formação étnica, junto
com casas subterrâneas e montículos funerários, agora característicos dos grupos
Jê meridionais. Já não será o estudo abstrato de uma tradição lítica, a chamada
Umbu, mas um estudo dinâmico, regional, encarnado.
Assim como este, muitos outros estudos poderão ser programados, tomando
como base o conhecimento que agora existe sobre as tradições pré-cerâmicas do
Brasil.
Com isso, termino. Mesmo faltos de treinamento mais sistemático, os pioneiros
da arqueologia forneceram um primeiro esboço das culturas pré-históricas do
território brasileiro, sua cronologia e distribuição espacial. O que Kern compendiou
para a tradição Umbu é um exemplo dos quadros que podem ser produzidos,
reunindo e pensando as informações disponíveis. Outros se tornam possíveis.
Estudos de formações regionais, como a que indiquei para a Floresta Atlântica de
Santa Catarina, darão ainda maior riqueza e dinamismo.
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ReJ
CH
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Da Tipologia à Tecnologia:
Reflexões sobre a variabilidade das indústrias
líticas da Tradição Umbu
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Da Tipologia à Tecnologia
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Adriana S. Dias
3 Para sínteses gerais sobre a Tradição Umbu ver Kern (1981, 1983), Ribeiro (1979, 1990,
1991) c Schmitz (1981, 1984, 1985, 1987).
4 Para sínteses sobre povoamento do território sul brasileiro ver Miller (1976, 1987) e Schmitz
(1987, 1990). Para uma revisão da cronologia apresentadas por estes trabalhos ver Dias e
Jacobus (2003:41-46) que sugerem a datação de 10.810 anos AP (SI 2622) para o sítio RS-1-
66: Milton Almeida como a mais antiga para ocupações da Tradição Umbu no sul do Brasil.
5 Ver Vilhena Vialou (1980), Caldarelli (1983) e Prous (1986/90).
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Da Tipologia à Tecnologia
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Adriana S. Dias
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Da Tipologia à Tecnologia
Os vales dos rios Maquiné, dos Sinos e Caí estão situados na encosta inferio.
do extremo sudeste da Serra Geral, delimitada ao sul pela Depressão Centra
Gaúcha e a leste pela baixada litorânea (figura 1). Atualmente, a pluviosidade
anual da região encontra-se entre 1500 e 1750 mm, distribuída regularmente ac
longo das estações, estando a umidade relativa em torno de 75 a 85%. 0 clima é
classificada como tropical temperado brando, com condições super-úmidas. A
classificado
média de temperaturas em janeiro encontra-se entre 22° e 24°C e, em julho,
entre 13° e 15°C. Esta área está associada à Floresta Estacionai que apresenta
uma composição de 20% a 50% de árvores caducidófilas no período desfavorá
vel (inverno). A vanação de sua composição dependente da altitude, dividindo-se
entre Floresta das Terras Baixas (até 30 m), Floresta Sub-montana (30 até 400
m), Floresta Montana (de 400 até 800 m) e Floresta Alto-montana (acima de 800
m) (IBGE, 1986: 574-576).
Em termos geológicos esta região é caracterizada pela Formação Botucatu,
constituída por arenitos eólicos, situada a baixo dos derrames basáldcos da For
mação Serra Geral, cuja zonas de fratura e irregularidades foram preenchidas,
total ou parcialmente, por cristais de quartzo, calcedônia, calcita ou zeolita. Em
algumas zonas, o arenito da Formação Botucatu fundiu-se em contato com as
lavas efusivas da Formação Serra Geral, dando origem ao arenito silicificado. Por
sua vez, a intensa ação erosiva na encosta da Serra Geral leva à desagregação da
rocha matriz, estando as matérias-primas dispersas na paisagem em função dc
arraste fluvial e pluvial (Leinz & Amaral, 1989).
38
Adriana S. Dias
75 150 km
Figura 1
As datações mais antigas para a ocupação desta região por caçadores coletores
da Tradição Umbu estão associadas ao abrigo sob rocha RS-TQ-58: Garivaldino,
situado no vale do rio Taquari, com 4 datações entre 94304^360 AP (Beta-
44739) e 7250+.350 (BA 44740) (Ribeiro et al, 1989; Ribeiro & Ribeiro, 1999).
A continuidade desta ocupação ao longo do Holoceno Médio é atestada no vale
do rio Caí por 4 datações radiocarbônicas, sendo as mais antigas relacionadas ao
sítio RS-C-61: Pilger, com datações de 8030 + 50 AP (2 sigma cal 9020-8730
AP) (Beta 229583) e 6180 _+ 50 AP (2 sigma cal 7240-6940) (Beta 227856)
(Dias, 2007). As demais estão associadas aos abrigos sob rocha RS-C-14: Bom
Jardim Velho, com o valor de 5655+.140 AP (SI-1199) e RS-C-12: Virador I,
com uma datação de 630^+205 AP (SI-1201) (Ribeiro, 1972, 1975). No vale do
rio Maquiné o abrigo sob rocha RS-LN-01: Cerrilo Dalpiaz apresenta três datações
relacionadas ao Holoceno Médio, entre 5950 + 190 (SI 234) e 4280 + 180 (SI
233) anos AP (Miller, 1969). Paia o vale do rio dos Sinos as 14 datações para os
sítios em abrigo sob rocha RS-S-327: Sangão, RS-S-337: Monjolo, RS-S-360:
Marimbondo e RS-S-359: Aterrado apontam para um período de ocupação con
tinua entre 8790 + 40 (2 sigma cal 9930-9680 AP) (Beta 160845) e 440 + 90
AP (2 sigma cal 640-590 AP) (Beta 165621) (Dias, 2003a).
Estudos palinológicos na planície costeira e nos vales dos rios Caí e Taquari
indicam que o processo de expansão da Floresta Estacionai nesta área começa a se
firmai- a partir de 9.800 anos AP, restringindo-se aos vales de rios sob a forma de
matas de galeria, entremeadas por extensas áreas de campo. Seu desenvolvimento
39
Da Tipologia à Tecnologia
7 Quadrículas 21A, 24A. 25A, 27A, 29A, 32A, 32C, 32E, 321. 32L, 32N, 32P, 32Q, 32R.
40
Adriana S. Dias
química dos sedimentos (De Masi, 1991). 0 acervo encontra-se sob guarda do
Instituto Anchietano de Pesquisas, sendo a coleção lítica formada por 146.994
peças, das quais 454 são pontas de projétil liticas (Dias, 1994).
Figura 2
41
Da Tipologia à Tecnologia
100%
50%
0%
RS-C-43 RS-S-358 RS-LN-01
Figura 3
RS-C-43: Capivara I
Aproveitamento das Matérias-Primas
100%
80%
I i 1 I I I II su
60%'’
-•
40%
20%
0% L-l>, UI, U», UI, ur
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Arenito □Basalto SCalcedônia ■Quartzo □Hematita
Figura 4
42
■
Adriana S. Dias
100%-fí
I
80%
60%-" b
B
40%
20% •z
0%
0 2 4 6 8 10 12 14
Níveis artificiais 10 cm
Figura 5
100%-r''''
80%
60%
40%
20%
0%
l— L— I—
Figura 6
43
Da Tipologia à Tecnologia
44
Adriana S. Dias
Figura 7
Sitio RS-C-43: lascas unipolares (1 e 2) e bipolares (3 a 5) retocadas
45
Da Tipologia à Tecnologia
Figura 8
3
et (I â1
RS-C-43: biface elaborado
1 cm
sobre lasca unipolar (1), pré-
forma de ponta de projétil (2),
micro-raspadores
pedunculados (3 a 5).
4
©0s
5
46
Adriana S. Dias
50% <1
45% <
40%
ra
n
•_
■( ■
15%-rWl
10%-
5%
0% IU RSC-43 RS&358 RSLN-01
Figura 10
A análise diacrônica dos conjuntos líticos aponta para uma alta regularidade
na associação e frequência das categorias ao longo do tempo. Os índices de vari
abilidade na coleção do vale do rio Caí estão relacionados a maior participação
relativa dos fragmentos naturais de basalto entre a superfície e os 60 cm de
profundidade, sendo esta tendência substituída em popularidade pelas microlascas
de arenito silicificado até a rocha matriz. As demais categorias mantêm-se em
frequência constante ao longo da ocupação. Quanto aos sítios do vale do rio dos
Sinos e Maquiné observa-se uma tendência à homogeneidade, com frequências
constantes de distribuição das categorias tecno-tipológicas ao longo da estratigrafia,
com exceções do predomínio de lascas bipolares e fragmentos naturais para o
sítio RS-LN-01 entre 130 e 150 cm de profundidade.
II
20%
0% i fflTJ11!111llll 12 13 14 15
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Figura 11
47
Da Tipologia à Tecnologia
1 4
S
B
100%<|
80% x
60% x
iWI S
40% ■ z
0%
0 2 3 4 5 6 7 88 9 10 10 ll
II 12
12 13
1 14
■ Micro lasca Lasca Bipolar Lasca Unipolar
Núcleos BFragmento de Lascamcnto □Fragmento Natural
E3 Instrumentos
Figura 12
100%<Jl
80%
60%
40% u
20% ■
0%-U^
100-110 110-120 120-130 130-140 140-150
48
Adriana S. Dias
1 cm 1 cm
1 cm
1 cm
6
1 i
1 cm 1 cm
Figura 14
RS-C-43: Pontas de projétil com corpo triangular e base de pedúnculo reto (1 e 2) ou
bifurcado (3 e 4) e bordas serrilhadas (5 e 6).
49
Da Tipologia à Tecnologia
A
1 2 3 A
io
I 1
1 cm 1 cm 1 cm
4 5
-
1 i
1 cm 1 cm 1 cm
7
1 cm
Figura 15
RS-C-43: Pontas de Projétil de corpo lanceolado e sem pedunculo (1 a 6)
e ponta de projétil estilo “rabo de peixe”
50
i
Adriana S. Dias
51
Da Tipologia à Tecnologia
45% I
40%
35% ■
30%
25% ___
10%/'1
5% -^\
0% K *-=
RS-C-43 RS-S-358 RS-LN-01
□ Preformas de Ponta de Projétil □ Pontas de Projétil
■ Fragmentos de artefatos □ Artefatos Bifaciais c LJnifaciais
E3 Artefatos brutos c polidos
Figura 16
52
Adriana S. Dias
53
Da Tipologia à Tecnologia
60% -S\
50% ■
40%/|
30% • '\
20% ■z|
10%/Z1
0%-!^—
RS-C-43 RS-S-358 RS-LN-01
□ Lanceoladas semPcdúnculo
□ Triangulares combase de Pcdúnculo Reto
■ Triangulares combase de Pedúnculo Bifurcado
□ Pedunculadas com Bordas Serrilhadas
□ Outras
Figura 17
54
Adriana S. Dias
antigas (5950 AP) e pedunculadas para as mais recentes (4280 AP), ambas
apresentam-se associadas, independente da origem tecnológica, podendo sinali
zar também uma variação de caráter funcional, relacionada à exploração mais
intensa de recursos de Floresta Estacionai no início do ótimo climático. Por sua
vez, as pontas lanceoloadas de calcedônia e basalto encontram-se associadas na
sequência em valores constantes, tanto na amostra aqui analisada como nos dados
apresentados por Miller (1969), indicando que a escolha pela sua produção a
partir de suportes derivados de estratégias tecnológicas unipolares representa um
marcador identitário de âmbito micro-regional.
III" IIIIIIIUI
RS-C-43: Capivara 1
Distribuição das Pontas de Projétil na Estratigrafia
100%
50%
Figura 18
100%-r
80% ■'
60% ■'
l THdTWWHLI
40% ■'
20% z
0%J-jS4-
0 1 2 3 4I 5 6 7 11 12 13 14
Figura 19
55
Da Tipologia à Tecnologia
100%-
80%-
60%-
40%-
20%-
0%-
100-110 110-120 120-130 130-140 140-150
Níveis artificiais
Figura 20
er Politis (1996a, 1996b, 1996c, 1998, 2001), Borrero& Yacobbacio (1989) e Jones(1993
56
Adriana S. Dias
carvões e cinzas, com espessuras que variaram entre 20 e 55 cm. Observa-se uma
recotTência na associação entre fogueiras, vestígios arqueofaunísticos e resíduos de
lascamento, indicando um padrão de descarte primário característico a áreas
domésticas ocupadas por curto espaço de tempo, de acordo com o modelo
etnoarqueológico adotado. Estes foram interpretados como residtado de um padrão
de alta mobilidade residencial, estando os vestígios arqueológicos associados a
atividades de preparação, distribuição e consumo de alimentos, bem como a produção
e manutenção de artefatos. As análises físico-químicas e granulométricas dos
sedimentos do sítio RS-S-327 indicam que a formação sedimentar está vinculada à
ação antrópica. As áreas de atividade periféricas às fogueiras estão caracterizadas
pela maior concentração de fosfatos (P2OS) e pela diminuição da fração cascalho
indicando áreas de descarte primário e pisoteio intensos (Bittencourt & Dias, 2005).
As escavações indicaram que não há variações temporais significativas na or
ganização da tecnologia e nas características funcionais dos sítios. Independente
das datações obtidas, a distribuição estratigráfica do material lítico nestes sítios é
caracterizada por padrões recorrentes de descarte primário, associados à perife
ria de estruturas de fogueiras. Por sua vez, a análise comparativa das coleções
líticas de sete sítios da região aponta para índices de variabilidade similar ao
observado em escala macro-regional10. As matérias-primas identificadas são de
origem local. A seleção do basalto está relacionada à coleta de seixos junto aos
cursos de água de fragmentos de basalto colunar, trazido por arraste fluvial das
encostas. Nos sítios próximos à várzea do rio dos Sinos observa-se a utilização
preferencial desta matéria-prima que corresponde entre 97% e 61% do conjunto
dos resíduos de lascamento, estando seus índices de utilização nos sítios do vale
do arroio Campestre, entre 36% e 27%. A utilização do arenito silicificado varia
entre 5% e 32%, estando sua procedência relacionada à exploração de
afloramentos. A calcedônia ocorre na área na forma de seixos (geodos) associados
ao arraste fluvial das encostas, e o quartzo está associado à exploração preferen
cial de afloramentos. A utilização da calcedônia é preferencial nos sítios RS-S-358
e RS-S-359 localizados no vale do ar roio Campestre, correspondendo a 50% das
matérias-primas empregadas. Quanto ao quartzo sua utilização situa-se entre 9%
e 1% para a amostragem analisada, sendo mais frequente nos sítios do vale do
arroio Campestre.
Quanto à organização da tecnologia, os sítios RS-S-358 e RS-S-359 são os que
apresentam vestígios de lascamento bipolar em termos elevados, corr espondendo
a 32% e 25,9% da composição geral do conjunto lítico. Nos demais sítios, os
resíduos de bipolaridade variam entre 4,3% e 0,4% da composição geral da
indústria e relacionam-se ao processamento da calcedônia e do quartzo. Uma
10 Foram analisadas as coleções dos sítios RS-S-358: Toca Grande 2 c RS-S-359: Aterrado,
associados ao vale do arroio Campestre, RS-S-337: Monjolo, RS-S-237: Sangão, RS-S-265: Cam-
pestre, RS-S-360: Marimbondo e RS-S-361: Mato da Toca, associados a várzea do rios dos
Sinos. As coleções totalizaram um conjunto de 21.491 peças (Dias, 2003a).
57
Da Tipologia à Tecnologia
59
Da Tipologia à Tecnologia
Considerações finais
60
Adriana S. Dias
61
Da Tipologia à Tecnologia
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Adriana S. Dias
65
Da Tipologia à Tecnologia
66
5
Organização Tecnológica
1
e Teoria do Design:
Entre estratégias e características de performance
Bi
i
Lucas Bueno*
Introdução
t
Neste capítulo pretendemos abordar um problema geral enfrentado por todos
1 nós — como formar conjuntos e conferir significado a eles? E isso que estamos
fazendo quando selecionamos atributos para descrever e caracterizar os vestígios
líticos, cerâmicos, rupestres ou qualquer outra categoria de vestígios do registro
arqueológico. Quais atributos vamos utilizar, porque vamos utilizá-los e quais de
les serão relevantes para definir mos conjuntos, para agrupar e separar vestígios a
fim de ordenar e organizar os dados e conferir significados a eles?
Vamos discutir- essa questão apresentando uma proposta orientada principal
mente pela seleção e articulação de dois conceitos oriundos de diferentes pers
pectivas teóricas — estratégias1 (Binford, 1979; e Nelson, 1991) e características
de performance (Schiffer & Skibo, 1997). Para exemplificar essa proposta utiliza
remos um estudo de caso arqueológico sobre a variabilidade tecnológica entre os
sítios líticos da região do Lajeado, médio rio Tocantins (Bueno, 2007).
A idéia é apresentar uma proposta que focalize a formação e comparação dos
conjuntos em uma outra esfera que não a tipológica; o objetivo é deslocar a aten
ção normalmente conferida aos tipos para a esfera das escolhas e das estratégias
implementadas para obtenção das performances almejadas (Hayden et al., 1996).
Com isso propomos uma perspectiva de análise que privilegia o aspecto dinâmico
da cadeia comportamental dos artefatos e que procura articulai- registro arqueoló
gico e comportamentos (Schiffer, 1987).
A primeira questão é sobre o que vamos comparar: presença/ausência de
tipos, composição de listas tipológicas, cadeia operatória, escolhas, atividades,
comportamentos, articulação dos comportamentos?
Podemos comparar qualquer um desses aspectos, mas o importante é conhe
cer a natureza e alcance de nossa amostra e que tipo de informações podemos
obter dessa comparação, que certamente não são as mesmas. Para exemplificar o
ponto em discussão podemos citar alguns exemplos:
* Museu de História Natural/ UFMG. lucasreisbueno@gmail.com
1 Há muitas definições possíveis para estratégias; a que nos referimos ao longo do texto se insere
na mesma perspectiva que a apresentada por Nelson (1991).
67
Organização Tecnológica e Teoria do Dcsign
69
Organização Tecnológica e Teoria do Design
70
Lucas Bucno
71
Organização Tecnológica e Teoria do Design
Amostra
72
i
Lucas Bueno
c
ÁREA DE ESTUDO
c
LOCALIZAÇÃO NO ESTADO DE TOCANTINS
!lí
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Jt 8 938
1<
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L
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5<
0 8 923
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L
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A, Lajeado
2 100 km
8 920
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N
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8 912
0 6km
ESCALA
LEGENDA
s
Fonto de ASF
%
Sítios datados 8 WM
Sítio lítico
Sítio cerâmico
Cursos cfágua
Barragem / Reservatório o°
Área urbanizada
8 8'».“' N _____
762»mE 788 790
Figura 1
Mapa com a localização dos sítios liticos da área de pesquisa, indicando quatro sítios para
os quais obtivemos datações absolutas e as principais fontes de arenito silicificado fino.
J
73
Organização Tecnológica e Teoria do Design
Matérias-primas
* Esses quatro sítios são Miracema do Tocantins 1 (MT1), Miracema do Tocantins 2 (MT
Mares 2 (MR2) e Lajeado 18 (LJ18)
Este sítio se chama Capivara 5 (CAP 5)
Lucas Bucno
75
Organização Tecnológica e Teoria do Design
76
Lucas Bueno
77
Organização Tecnológica e Teoria do Design
78
Lucas Bucno
79
Urganização Tecnológica e Teoria do Design
arenito silicifcado fino é escolhido, pois há uma preferência pela sua utiliza^^S
para produção dos artefatos característicos desse período, em especial os unifaci——
formais plano-convexos, o que é confirmado, inclusive, pela forma na qual apa----
ce no sítio Capivara 5 — lascas de preparo, retoque e artefatos formais. Com i=
identificamos a escolha, mas não chegamos a compreender suas razões. Por q
Há essa preferência, essa associação entre o ar enito silicificado fino e essa catc^S
ria de artefatos? O arenito silicificado fino apresenta alguma performance difere^>
ciada em relação às outras matérias-primas que influencia na obtenção do desrg==
desejado para esses artefatos?
A princípio, apenas por questões de composição e estrutura das matéria=
primas envolvidas, podemos dizer que o arenito silicificado fino corresponde
matéria-prima que responde de maneira mais positiva ao lascamento, sobre
qual é possível obter o maior controle da forma do produto gerado, justamente erw
razão da homogeneidade e grau de coesão dos grãos que compõem esse arenito—
Seria essa a performance que estaria sendo valorizada — responder de forms
positiva e permitir um maior controle no gerenciamento do volume disponível”
Essa é uma preocupação ou um aspecto valorizado no design dos artefatos a que
nos referimos?
Em função das características dos suportes, das lascas e dos artefatos formais
plano-convexos desse período podemos dizer que os núcleos utilizados para sua
produção podem ter tido como suporte seixos ou blocos de afloramento. Em geral
não há a necessidade de um lascamento padronizado desses núcleos uma vez que
os requisitos formais do suporte que será utilizado para produção desses artefatos
apresenta poucas restrições, e não há, nessa região, restrições com relação à
disponibilidade da matéria-prima — pelo menos não em termos de abundância,
mas sim em termos de acessibilidade.
Como suportes para produção dos artefatos formais plano-convexos identifica
mos a utilização de lascas de início de debitagem, com córtex total ou parcial (o
que fica exemplificado pelos artefatos que apresentam córtex às vezes em deter
minadas partes dos bordos — ver artefato do LJ 18 - e por artefatos que apresen
tam córtex na parte central — ver artefato do sítio Capivara 5 e do sítio LJ18) ou
lascas de debitagem plena, com diferentes combinações de retiradas, predomi
nando, no entanto, lascas cujas retiradas de debitagem anterior produziram uma
superfície plana na parte central da face externa ou lascas cuja parte central é
definida por uma aresta longitudinal (Fig.4.1 e 4.2).
80
1.
Lucas Bueno
9
J < \
L
Y<4
E ■ V
•
Í
Figura 4.1
Artefatos plano-convexos unifaciais formais com superfície cortical na face externa.
Provenientes dos sítios Lajeado 18 e Capivara 5.
\
*
?ÍS I
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Í> 'ri
W v
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h;o
Figura 4.2
Artefatos plano-convexos unifaciais formais com arestas-guia ou superfície plana na face
externa. Provenientes dos sítios Miracema do Tocantins 1 e lajeado 18.
81
Organização Tecnológica e Teoria do Dcsign
Os suportes utilizados para elaboração dessa categoria de artefatos adn
j certo espectio de vanações que permite um amplo leque de opções t -
relaçao as características formais dos núcleos a serem trabalhados, indicando
’ d 110 mencionamos anteriormente, a não necessidade de existência de nú=
os padronizados.
so pode ser dito de outra forma: as restrições de design impostas pela for^*
tnP nnXr0CeSS0 T*3 obtenÇao sao pequenas nessa etapa de produção e, porb=E
cias operatórias “ 3 partir de uma amPla êa,na de suportes, gestos e seque—
82
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Lucas Bueno
1
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83
I Organização Tecnológica e Teoria do Design
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I \
Figura 6
Lascas com a definição dc pequenos gumes que, ao sofrerem um processo contínuo de utilização,
retoque c reavivagcm, seriam transformadas em artefatos unifaciais plano-convexos formais.
84
z
Lucas Bueno
85
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86
Lucas Bueno
Discussão
87
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88
i »
r
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Conclusão
Com essa descrição conseguimos duas coisas: inserir esses artefatos em con
texto, articulando, estratégias, performances, escolhas e lüstória de vida, e definir
uma nova base comparativa com outros contextos nos quais artefatos com carac
terísticas formais bastante semelhantes também aparecem.
89
Organização Tecnológica e Teoria do Design
90
£
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91
Organização Tecnológica c Teoria do Design
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Organização Tecnológica e Teoria do Design
94
Indústrias Líticas como vetores
de organização social
Ou:
Um ensaio sobre pedras e pessoas
Klaus Hilbert*
Us and them
And after all tve’re only ordinary men
Black and blue
And who knows ivhich is uihich and who is who.
Up and down.
Bnt in the end it’s only round and round.
Haven ’t you heard il ’s a battle of words?
The pôster bearer cried.
Pink Floyd
95
Indústrias Líticas como vetores de organização social
96
I
Klaus Hilbcrl
Ou:
íl — ”
Cultura material e agency
Ou:
Uma história sobre e pessoas
pedras
97
Indústrias Líticas como vetores de organização social
98
Klaus Hilbert
sas, podemos colocai’ de lado tudo aquilo que não é o sentido. O filósofo da
fenomenologia Edmund Husserl diz que não interessa a existência dos fatos, mas
o sentido desse fato. Ele também argumentava que, em relação a algumas coisas,
temos a habilidade de entender seu significado e em relação a outras coisas temos
dificuldades. Intuímos o sentido das coisas, captamos sua essência, temos uma
idéia do sentido das coisas. De qualquer maneira, compreender o sentido das
coisas é uma potencialidade humana (Bello, 2006: 22).
Porém, em nosso cotidiano, às vezes enfrentamos realidades que não se en
quadram perfeitamente em nossas experiências vivenciadas. Para contornar essas
situações concretamente vividas, procuramos acomodá-las em algum lugar de
nosso psiquismo, no nosso universo interior, pressupondo dessa maneira, um
campo ou algo capaz de acolhê-las. Esse algo deve ser anterior às nossas experi
ências, diferente, impossível de ser experimentado, e a partir do qual as coisas
iniciam, se colocam em movimento. Husserl chama esse campo de “Lebensivelt”,
de “mundo vivido”. E para ser o lugar originário da experiência (Stein, 2004:
21). Esse “mundo vivido” está relacionado com a questão da experiência vivida.
Esse lugar que tem o caráter de princípio abre a possibilidade de recuperar
nossas próprias experiências. Husserl insistiu na idéia de que qualquer existência
real significa uma existência para, ou seja, para a consciência como fonte originá
ria do sentido, onde tudo que é se identifica como tal (Waldenfels, 1997: 17).
Agora estamos falando da busca da matriz da significância que estava na
ÍLLebenswelt”, no “mundo vivido” de Edmund Husserl e na idéia de Martin
Heidegger do “Dosem”, “ser-no-mundo”. Mas, nem Husserl, nem Heidegger pre
tendiam analisar as estruturas do mundo da cultura, articulada em instituições,
sociedades, etc. Eles queriam saber de onde surge originalmente o significado e o
significante, mas não de forma binária, numa disposição estruturalista. “Eles não
estavam procurando a estrutura do sentido, mas sim o sentido da estrutura” (Stein,
1997: 124). Eles estavam interessados em saber como as pessoas fazem o sentido
que posteriormente se concretizar ia nas estruturas econômicas, políticas, jurídicas,
sociais, etc. Assim, a pergunta pela gênesis do sentido gerava novidades na filoso
fia, que já não esperava mais por um sentido dado por Deus ou pela natureza;
entretanto, procurava localizar o ponto de partida, de onde essa questão surge.
Husserl indica uma metodologia para compreender esses fenômenos, dito o
sentido das coisas. O “hodós", ou caminho a ser percorrido sugerido por Husserl
envolve dois passos: o primeiro busca o sentido dos fenômenos, a redução eidética
e o segundo contempla sobre o sujeito que busca o sentido.
Com o primeiro passo sugerido por Husserl, regressamos ao início das nossas
indagações.
— “Posso compreender o sentido das coisas, das coisas da vida?”.
Como nos interessa o sentido das coisas, podemos, portanto, colocar entre
parênteses, podemos colocar de lado, tudo que não é sentido. Assim, não interes-
99
Indústrias Líticas como vetores de organização social
sa, por exemplo, a existência do fato, mas o sentido desse fato. Isso não quer dizer
que Husserl negasse e existência dos fatos ou negasse o vínculo que nos liga ao
mundo físico, social e cultural, eles não o interessam, nesse primeiro passo
metodológico. Consequentemente, ele exclui o fato de sua existência para com
preender sua essência.
Na segunda etapa do caminho fenomenológico a ser percorrido em Husserl, é
feita uma reflexão sobre o sujeito. “Quem é esse sujeito?”. Ao refletir, revelamos
quem nós somos. A novidade, e ponto de partida da filosofia fenomenológica de
Husserl, é essa reflexão sobre o sujeito (Bello, 2006: 27). Mas ele percebe a
subjetividade como um paradoxo. A subjetividade é simultaneamente ser sujeito
para o mundo e objeto no mundo. A subjetividade constitui o mundo e é também
constituída no mundo.
Com a finalidade de realizar essa análise do sujeito, e para facilitar essa com
preensão, sugiro um pequeno exercício prático tomando como exemplo uma pe
dra que está na minha frente. Ela está sobre esta mesa, desde que iniciei minha
apresentação, mas não tínhamos prestado atenção nela. Antes vimos essa pedra,
mas não pensávamos sobre ela. Agora estamos prestando atenção nela. Antes
estávamos cônscios, sabíamos ter visto a pedra, mas sem realizar reflexões sobre
ela. Nós já tínhamos uma experiência perceptiva da pedra, ela estava no nosso
interior, fazia parte do nosso "mundo vivido”, mas a pedra em si estava fora de
nós. Entretanto, no instante em que tivemos uma experiência perceptiva, quando
nos demos conta dela, a pedra também estava dentro de nós. Sabíamos que essa
pedra existe.
Trata-se de um ffenômeno interessante que apresenta dois níveis de percep-
ção: o ato perceptivo, o ato de1 ver a pedra, é formado pelo ver a pedra e pela
própria pedra em nossa frente. Enquanto objeto físico, ela obviamente está fora,
porém, enquanto vista, ela está dentro de nós.
Ao tocar a pedra, enquanto ato de tocar, estou vivenciando essa experiência.
Ao passo que ela existe, ela está fora, mas, como coisa tocada, ela está dentro de
mim. Existe uma diferença importante entre a coisa tocada e nós que, a estamos
tocando.
Estamos falando da consciência que uma pessoa pode ter das coisas. Através
do ato perceptivo, do ato vivido, temos acesso ao sujeito.
sujeito. Podemos
Podemos compreender
compreender
como o ser humano é feito. Viver experiências, saber o que está realizando, quer
dizer registrar. Essa percepção é algo consciente: nós tocamos, vemos, ouvimos,
cheiramos. No plano conceituai, na fenomenologia husseliana, a percepção e o
objeto são interdependentes, um dá sentido ao outro. Na expressão da percepção
sensível, há uma ampliação para a percepção interna, onde o sujeito se apresenta
na medida em que são incluídos os objetos internos, “o eu e suas vivências inter
nas” (Husserl, 1980a: 106). Essas sensações são vivências das quais temos plena
consciência ao tempo em que elas estão acontecendo. 0 momento reflexivo dessa
consciência, o pensar sobre ela, representa uma vivência completamente nova,
100
Klaus Hilbcrt
mas da qual também temos consciência. Então temos dois níveis de consciência:
o primeiro do ato perceptível e um segundo nível, do ato reflexivo. A reflexão e a
vivência. Ela é uma característica exclusivamente humana (Bello, 2006: 29).
Entretanto, cada pessoa, cada sujeito é produto de diversos fatores, históricos,
culturais, e também íisicos. E justamente desses fatores, com suas variabilidades,
que Husserl pretendia livrai' a natureza da experiência. Ele procurou reafirmar a
racionalidade no nível da experiência, mas sem ignorar as variedades que as
experiências podem sustentar. Husserl argumenta que uma experiência
inquestionável não pode ser a experiência de um indivíduo histórico, com todos
seus preconceitos e pressuposições. Nessa linha argumentativa, ele procura certe
zas no sentido de uma subjetividade pura e imutável (Husserl, 1980b). Quer
dizer que ele não só procura por considerações pessoais a partir das quais pode
mos construir conhecimentos, mas também por um caminho essencial e invariável
de perceber as coisas da experiência.
Metodologicamente, Husserl lutava contra uma contradição: por um lado, e
principalmente no início de sua carreira, ele mantinha um projeto de uma filosofia
absoluta de redução transcendental, quer dizer, da exclusão do mundo na sua
realidade e na sua essência. Por outro lado, ele criou o conceito de “ Lebenswelt”,
do “mundo vivido”, que significa um mundo completamente subjetivo.
0 problema do conceito da “ Lebenswelt" de Husserl está relacionado com a
questão da experiência. 0 “mundo vivido” é para ser o lugar de origem da expe
riência, porém um “não-lugar”, mas a experiência parte desse lugar, sem poder
fazer desse “mundo vivido” uma experiência (Stein, 1997: 113). Além disso, a
fenomenologia de Heidegger é hermenêutica. Seu método não exige lugar para se
realizar, não tem espaço. O mundo é o “como”, não é o “quê”, é o mundo onde
as coisas se dão (Stein, 1997: 129).
Martin Heidegger observa que a redução transcendental, da forma como era
pensada por Husserl, excluía o mais importante, o sujeito concreto, existente, que
sustentava o “eu” transcendental (Stein, 1997: 118). Heidegger (2000) sugere a
substituição do conceito da “Lebenswelt", do “mundo vivido”, por “in-der-Welt-
sein", “ser-no-mundo”. A ênfase “no” mundo marca uma das diferenças entre
Husserl e Heidegger. Através do processo de redução transcendental, Husserl
estabelece um “eu” transcendental que se converte no lugar de experiência do
conhecimento. Para Heidegger, entretanto, o lugar onde as coisas se dão é o
mundo. Por isto, o conceito central de Heidegger do “sein", do “ser” é o “Dasein",
“ser-aí”, ou “ser-no-mundo”. Ele se constitui porque o homem e as coisas se dão
no “Dasein", entendido por Heidegger como existência humana. O “Dasein" é a
entidade que na especificidade de seu ser, cada um de nós é, e onde cada um de
nós encontra na asserção fundamental seu “eu”. O “ser” do “Dasein" é simulta
neamente a compreensão de seres diversos e de seu próprio ser. “Ser-no-mundo”
é nossa existência, é a especificidade de nosso ser, onde nós mesmos somos, é o
lugar onde sujeito se encontra com as coisas (Heidegger, 2000: 68).
101
Ihdústrias Líticas como vetores de organização social
Então perguntamos:
— “Como o homem e as coisas se dão?”.
Com essa pergunta, retorno ao início, ao significado e ao “mundo vivido e
palavras, e volto ao assunto da primeira frase.
Procurei demonstrar, com ajuda de alguns filósofos da fenomenologia, que
coisas como nós as conhecemos não são assim como nós as encontramos,
coisas que reconhecemos e, portanto, conhecemos, são articuladas pelas pa
vras. Nós as nomeamos. Esta pedra na minha mesa, por exemplo, é uma estniti
articulada de expressões. Falar é falar sobre alguma coisa.
102
Klaus Hilbert
Pergunto:
— “Existem para as ciências humanas essas metodologias regradas?”.
i Existem esses tipos de manuais, como se fossem receitas de comidas instantâ
neas e universalmente válidas?
Metodologias nas ciências humanas não são como divisões ou multiplicações
1 matemáticas. Conhecimentos nas áreas humanas não são simples depoimentos
l verdadeiros ou falsos, são depoimentos personalizados e particulares, entrelaça
i dos pelas interpretações. Conhecimentos não são apenas verdadeiros ou falsos,
são, sobretudo, novidades, são novos e surpreendentes enfoques sobre determi
nados aspectos históricos ou culturais (Soentgen 1998: 71).
— “Mas como chegar a essas novidades sem usar metodologias regradas?”.
Para chegar às novidades, não precisamos obedecer às regras. Precisamos
saltar para frente, para trás, precisamos procurar diferentes pontos de vistas.
“Zwückzu den Sachenselbst", voltar “às coisas mesmas”, sugeria Edmund Husserl
como metodologia, e indicava um processo, um caminho sinuoso, com idas e
vindas (Waldenfels, 1997: 16). Faz parte desse processo o “colocar entre parên
teses” seus conhecimentos, duvidar e corrigir seus próprios depoimentos. Conhe
cimento adquirido dessa maneira torna-se um depoimento verdadeiro que permi
te ver as coisas de um ângulo diferente. Esses depoimentos não podem ser
constnudos usando regras lineares e estreitas. Conhecer, saber as coisas, não é
um acontecimento que se pode forçar. Conhecimentos acontecem.
— “Acendeu uma luz, caiu a ficha, saquei!”.
Idéias e conhecimentos surgem espontaneamente.
Para provocar esses ensaios, cada um de nós tem suas metodologias. São
metodologias particulares. Cada um percorre seu caminho e jura que se trata de
uma regra universal. Mas na verdade, trata-se de uma espécie de superstição, de
magia. Humphrey Bogart costumava esfregar o lóbulo da orelha esquerda en
quanto pensava. Alguns torcem o bigode, olham para o céu, brincam com o
“pirce" na língua, mordem a ponta do lápis, outros pensam em sistemas, listas de
atributos técno-funcionais, cadeias operatórias ou em tipologias. Mas nem para
todos funcionam esses métodos. A maioria apenas fica com a orelha vermelha,
com o bigode enroscado, com a ponta do lápis destruído ou com uma lista enorme
de números e códigos completamente inúteis.
Então perguntamos:
— “Se os métodos das ciências humanas são tão inúteis, por que usá-los?”.
Jens Soentgen (1998: 81) afirma que se trata de uma espécie de magia de
caça. Às vezes funciona, às vezes não. Mas, na verdade essas metodologias, esses
caminhos sinuosos, têm apenas um valor individual.
Entretanto, as metodologias regradas estão intimamente relacionadas com uma
atitude de seriedade. A seriedade é autoritária, afirmativa e relacionada com o
103
Industrias Líticas como vetores de organização social
104
Klaus Hilbert
que percebeu que o rei estava nu, e que suas roupas novas eram apenas ilusões.
Em sequência, quero praticar um exercício de “reductio ad absurdum". Atra
vés da linguagem, da caricatura gostaria de criar uma dissonância com a intenção
de transformar algumas verdades sagradas da arqueologia em verdades profanas.
Especialistas de qualquer profissão odeiam quando outros interferem em suas
esferas de conhecimento através de um discurso diferente. Miss Maple, Sherlock
Holmes, Colombo, Axel Foley, são figuras fora de suas jurisdições. Entretanto,
são elas que resolvem com brilhantismo os casos criminalísticos mais complica
dos. E na Arqueologia: Quem foram Heinrich Schliemann, Howard Carter, John
Lloyd Stevens, Raymond Dart, Erik von Dãniken e muitos outros? Esses arqueó
logos são rejeitados pela maioria dos profissionais, somente porque tiveram a
sorte de descobrir algo novo e importante, sem ter titulação e uma metodologia
aprovada pela academia. Eles seguiram o caminho da intuição, e chegaram a
conclusões até absurdas. Mas, os profissionais que apenas seguiram uma sistemá
tica, um método rígido, não descobriram nada além de cacos e estilhaços, porque
tinha de ser dessa maneira.
As próximas caricaturas não seguem uma ordem metodológica ou pedagógica.
São organizadas por critérios intuitivos.
Pedras fazem parte do dia-a-dia de todos nós, desde a infância. Pedras nos
acompanham até a morte, marcam temporariamente o local da nossa sepultura.
Meu pensar sobre pedras e pessoas inicia e passa por experiências pessoais.
Muitas das minhas experiências são compartilhadas, outras são particulares e até
inacessíveis.
A maneira como cada pessoa se relaciona com objetos nos diferentes momen
tos de suas vidas é eminentemente marcante, mas também mutante. As mesmas
pedras, por exemplo, que usavamos nas nossas infâncias para atirar nos cachor-
105
Industrias Líticas como vetores de organização social
ros brabos dos vizinhos, nos passannhos, as pedras que machucavam nossos pó- ==
esc, ços os seixos que fazíamos pular sobre a superfície do açude, aquelx —
pe n ias onitas, raras e mágicas que escondíamos em lugares secretos, ou coe
as quais nncáv amos no decorrer das nossas vidas, perderam suas forças, seu
ito, mu aram de sentido. E verdade, algumas pessoas continuam mimando,
consultando, espiritualizando, energizando pedras, outros até se tornaram profis-
n 1<U - ° SerV a^° e mampulação de pedras. Outras pessoas eliminam essas
<s c as suas ações, apagain-nas de suas memórias. Eles descartam simples-
j ° .^ eSSa e or’a- esse conhecimento adquirido em uma fase importante
35 aS’ am os esc°nderijos segredos e o sentido das pedras e esque-
eni seus encantos Pya estes, “pedras são apenas pedras”.
„i_„; 11 ,iessas re a?ões pessoais com as pedras, mudamos também as palavras
os "PnlTnÍ ” e ? OS “aerolitos”, a “Kryptonita”, “moonmcfc”,
fissiona' t’3 0 ra filosofal transformam-se no mundo científico dos pro-
nlano t™S,como “indústrias líticas”, “lascas”, “núcleos”, “raspadores
otudo dp exos ’ cioppers , etc.. Muitos arqueólogos fazem parte desse último
grupo de pessoas. Mas para outros, sempre haverá uma pedra no caminho.
Hoje, como arqueólogo experiente, estou cada vez mais convencido de que
nao posso desconsiderar uma sabedoria valiosa adquirida no “mundo vivido”. Sei
que devo tratar as pedras arqueológicas com o mesmo respeito e com a mesma
seriedade com que sempre tratei as pedras poderosas, bonitas, úteis e lúdicas da
minha infância e adolescência. As pedras arqueológicas foram feitas por pessoas,
e não por “indústrias líticas”. Classificar, avaliar e manipular pedras admiráveis e
valiosas, isso não aprendi a fazer na Universidade. Muito antes pelo contrário.
Tratar bem as pedras, isso eu já sabia antes. Estava preocupado com pedras
perdidas. Em um dos projetos de investigação da minha infância queria saber o
106
Klaus Hilbert
que aconteceu com aquela pedra com que o pastorzinho chamado David derru
bou o guerreiro gigante Golias. Onde está essa pedra?
Ou a pedra fundamental de Roma, de 753 a. C.. Onde está essa pedra? Por
que ninguém sabe? Por que ninguém procurou? E vejam, estamos falando de
Roma!
E as pedras fundamentais da democracia?
Mais tarde, na universidade, descobri que estão debaixo do maior mercado de
inutilidades de Atenas.
Na arqueologia acadêmica conheci apenas a pronúncia de palavras novas, ou
de como executar gestos que assinalassem a importância do objeto e meu domínio
sobre ele, falando baixo, e de voz grave e séria.
Posso confessar agora que classificar líticos aprendi a fazer com pedra muito
mais importante e perigosa, realmente super-poderosa: a Kryptonita!
Não sei se preciso explicar, mas esse termo é usado para designar qualquer
fragmento que sobrou da explosão do planeta Krypton, do mundo original de
Supennan. Todos nós que lemos as aventuras de Superman, muitas vezes sem o
conhecimento dos pais e escondidos pelos cantos perdidos da casa ou nas profun
didades da noite debaixo do cobertor, sabemos que existem cinco classes da
Kryptonita: a verde, vermelha, domada, azul e a branca, das quais as primeiras
três são tóxicas para o nosso herói.
A Kryptonita verde é a única variedade potencialmente fatal para Superman.
Ela provoca, inicialmente, inércia, seguida pela morte, se não for removida a
tempo da proximidade do Super-herói.
A Kryptonita vermelha provoca sintomas bizarros, imprescindíveis e não-mor-
tais. Em sua proximidade, Superman se transforma em seu próprio clone, em
uma criança ou em uma formiga gigante.
A Kryptonita dourada roubaria, de forma permanente, o Superman dos seus
supeipoderes, se fosse exposto às suas radiações.
Essas Kryptonitas, todos devem se lembrar, são igualmente danosas para
Supergirl, Krypto, o Superdog, e para todos os sobreviventes do planeta Krypton.
A Kryptonita azul é tóxica somente para as criaturas bizarras, enquanto a
Kryptonita branca apenas é danosa para as plantas.
Depois de saber diferenciai- todas essas Kryptonitas, classificar pedras arque
ológicas era fácil, pois existem sites na internet, manuais e livros de auto-ajuda. A
única informação que a maioria desses livros não revela é o significado das pedras
classificadas pelos arqueólogos.
Com muita seriedade e autoridade ensinei aos alunos nos últimos anos os segre
dos da classificação lítica e o uso correto das palavras tecno-tipológicas. Mas, nin
guém jamais me perguntou o que tudo isso significava. Os que realmente tinham
dúvidas ficaram em silêncio, outros nunca mais voltaram às atdas. Hoje desconfio
que estes últimos já sabiam classificar o material arqueológico e que já tinham
aprendido, como eu, esse ofício com as poderosas Kryptonitas do planeta Krypton.
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Klaus Hilbert
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Indústrias Líticas como vetores de organização social
no
Klaus Hilbert
Prefiro, e sempre preferi, as coisas discretas. Gosto das coisas usadas, dos
fragmentos, dos cacos, estilhaços e pedaços. Mas as perguntas que fazia e as
respostas que recebia sobre essas coisas, simples, discretas, aparentemente sem
valor, sempre me levaram a uma Arqueologia bombástica e pomposa. Percebo
hoje que minhas pequenas coisas apenas sustentavam enormes castelos no ar.
Algum tempo atrás, alguns arqueólogos propuseram uma troca dos paradigmas
também na arqueologia. Substituiu-se a palavra “comportamento” pela palavra
“ação”, que não mais buscava conceitos uniforinitarísticos do comportamento
humano baseado nas idéias dicotômicas entre o estímulo natural e a reação cultu
ral (Wobst, 2000: 40). Finalmente, também para os arqueólogos, o ser humano é
percebido como “agency” (Dobres & Robb, 2000). Por fim, novas metáforas e
metonímias foram criadas e outras relações paradigmáticas e sintagmáticas foram
estabelecidas.
111
Industrias Líticas como vetores de organização social
& RoX^HeXpre5siv0! e de
ciso entendí °S ^Pe jtos comunicativos e expressivos da cultura material, pre-
que se inter rei P°S’Ça° ' ° SUJeítO’ do seu P°der transformativo, bem como o “eu”
prefiro intuir .aCI°na Com os fenômenos das materialidades. Por esses motivos,
de Restos^ de 6 mÜltÍplaS ^tívas, a listar sequências anafiticas
ae gestos e de atnbutos tecno-tipológicos.
um obieto Um-a C.°'eta de critérios que possam ajudar a diferenciar
ções que esse ohi ?’ atraVes d® uma descrição dos seus fenômenos e das sensa-
entar-se atravéc ° pr°V0Ca’ ® método fenomenológico é caracterizado por ori-
potéticos, teóricos°e iwisiveí aCeSSÍVeiS’ CoIocando entre parênteses aspectos hi-
Cão com a filíJfí f ‘ ArqUe° °g°s’ com raras exceções, procuraram a comunica-
profZnl da fen°1men01ógÍca (W, 1994; Thomi. 1996). A maioria dos
do sZ Obiít de n UC°1Og,\Sente-Se mais confortável com a suposta objetividade
pedra mÍ do nòm r*1'86" (1"8: 175) lambém Pensa sobre 0 obÍet°
com ’sZÍP ?la fenomenológico. Ele percebe as pedras, em geral,
tam ÍendtnS Ar' parCeladas’ são materiais, ocorrem, e apresen-
vem como aroueólo 8u,n£LS dessas definições sobre substâncias me ser
vem como arqueologo, para pensar sobre a relação entre pessoas e pedras.
112
Klaus Hilbert
113
Ikdistnas Líticas como vetores de organização social
» a^°’a'e> pelo sujeito que impõe seu domínio sobre a substância. Subslâncú^=
tais >•> ° aPenas '° ,m,es neutros, elas têm características ativas e produtivas. Crê-----
cia CXCln|?. °’ 1 ag'”entam-se em seus fractais, gases e a umidade têm a tendên-----
v- - lar' •6 86 nl*stllrar’ poeira a inclinação, de voar e entrar nos olhes-
rnip ci.l i * ala 3TU' em a^s°lut0, de um antropomorfismo. Não estou sugerindo----
mos “ T Personalidades, vícios ou vontades próprias. Masnãopode-
tiveranAnb1116 S“bs,ancias’ eni forma de coisas, têm poderes sobre nós, e que
sociais mostr-6 °S 1On?e‘ls e 35 nl,dheres na pré-história. Antropólogos culturais e
meZdos ‘^a,n 3 U UênC‘a qUe °bjet0S exercem sol»e as pessoas, em super-
(McCrackèn,
tendências
Ks^Sí^rççsriss
\
3"035 T°S P°V°S f.’olÍnésÍOS’ naS e,c
° ’ SS° slonL^ca que substâncias têm inclinações,
arqueólogos Ulamicas’ nao sao passivas ou inertes como vistas por muitos
114
Klaus Hilbcrt
Referências Bibliográficas
115
IRdustrias Líticas como vetores de organização social
116
i
l Possibilidades de abordagens
em Indústrias Expedientes*
Introdução
‘ 0 tema tio presente trabalho foi-nos sugerido pelos organizadores do Simpósio “Tecnologia
Litica no Brasil: fundamentos teóricos, problemas e perspectivas de pesquisa”, ocorrido em
junho de 2007, no Museu de História Natural, UFMG.
" Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia, Universidade Católica de Goiás.
1 Resumidamente, temos o seguinte quadro crono-espacial para as culturas pré-históricas do
Planalto Central Brasileiro:
- o período mais antigo, denominado de paleoíndio, que se inicia por volta de 11.000 AP e se
estende até cerca de 8.500 AP, onde aparecem, como fósseis-guias, os artefatos plano-convexos;
- o arcaico, onde os instrumentos unifaciais bem acabados desaparecem, sendo substituídos por
instrumentos menos elaborados, com uma indústria mal definida;
- e o ceramista, surgindo por volta de 2.000 AP, primeiro, ao que parece, com uma horticultura
incipiente, caracterizado pela fase Jatai; depois por grupos agricultores, habitantes de grandes
aldeias (fases Aratu e Uru, principalmente).
117
Possibilidade de abordagens em Indústrias Expedientes
coerência í t em
Cm termos
,cnnos c‘e ngor científico pois às listas tipológicas faltam
a r. ~ enia (ou seja, os nomes dados aos instrumentos referem-se, às vezes,
à função presumida,
as vezes à forma do objeto, por exemplo);
- é uma abordagem reducionista: só considera o instrumento finalizado, por uma
parte, resumindo-os, por outra, a
do tipo. algumas características que fundam a definição
Só levando <—
em conta o instrumento, ou seja, a fase final das operações técni-
cas, a tipologia é incap:
_>az de dar conta dos conjuntos de conhecimentos postos em
prática para se c ieoar ao objeto; ou seja, é impossível perceber a variabilidade
existente.
Isso fica claro no exemplo
< # da rponta- levallois \n(fig. 1), em que é possível perce-
ber que existem vários caminhos para se fabricar
. --------- „■ o mesmo objeto.
118
Paulo Jobim Campos Mello
/ 1
tetòd Afias
o 1
001
volume t riq uc cx différe ntes «I ruclort
PALEOI.ITIIIQUE méthodcs volumétriquc
SUPERIEUR
levallois
W/ !
m\ UIt /Ml
différentes
mtth odes
4
Mructure voluméiriquc PYRA.MIDAl.E
Figura 1
Abordagem tecnológica
119
Possibilidade de abordagens em Indústrias Expedientes
Elaborando o <conceito de tendência técnica, Leroi-Gourhan formula a hipóte
se . de que. existem,’ na m°rfogenese dos objetos técnicos, tendências universais. <
co oca, ame a, o princípio de uma universalidade tendencial da evolução.
tendência tem uni caráter inevitável, previsível, rectilíneo; é cia que leva o sfla
gnro na mão a adquirir um cabo, o fardo arrastado sobre duas varas a munira
ue roda (...) A presença de pedras suscita a existência de um muro, e a erecçãotfc
muro unplica a alavanca ou a roldana (...). (Leroi-Gourhan, 1984: 24)
As técnicas tendem naturalmente a se desenvolver, sem que seja necessário
uma motivação social. Ou seja, a técnica tem capacidades evolutivas autô
nomas em relação aos seres vivos.
rpm 1 tcnd^nc‘a’ Portanto, constituiría uma espécie de porvir de evolução geral
entro ' rfUr~ ' ctcnn’n*srn° funcional. O ato de fabricação é, então, um diálogo
“ • r esao e o material trabalhado, um diálogo situado na junção entre o
meto externo e interno (Leroi-Gourhan, 1984: 255).
cnn m 6 P°SSÍV,el Perceber que o trabalho de Leroi-Gourhan envolve uma
servinrl<->C'la eSlrlltur‘ e funcional da técnica: quanto mais o órgão é estruturado,
o elem *\ecessi a es e operando de certa maneira, mais estruturado se toma
“meíns 1 ecruco’ ° gesto, o procedimento. Isso resultou na formalização dos
Há nmmentaLeS aÇã° S°bre a matéria” (Leroi-Gourhan, 1984: 35 e ss.).
norérn n- a-gran e PreocuPaÇã° com a descrição dos movimentos executados,
niento. ™ 6 ? qUe inleressa’ como não é só a descrição dos instru-
to com ,CIe,SSa’ ° importante é a relação desses movimentos com um obje
to, com um obstáculo”, ou seja, o contato entre eles.
descriçãorfSSan.,C nes®a abordagem é que ela vai mais além do que a simples
existe com °° Jet° na° P°C em°s estudar o instrumento isoladamente, pois ele só
existe com os gestos que o toma eficiente.
Les objets fabriqués par 1’homme peuvent êlre comparés dans une certaine mesure
musée n’ aVanlS Pro l*1,s Par 'a nature. Mais l’objet tel qu’il se présente dans un
E c°mparable qu’au squelette de 1’être vivant : pour le comprendre il
font Z7 3 rd° 1UÍ 1 enscmble des gestes humains qui le produisent et qui le
zoo oX r.er‘ Ce‘e_nscmble J°uc le rôle des partes molles de 1’animal que le
le squ^ette°1H3Xurt,O1987miP09"dre mOIphologÍe des bêtes dont Ü étudie
mesmo ort^>°’ °i °bjet0 e?dste apenas no seu ciclo operacional, sendo que o
rsTmrttaneT P°. Pr°duzido P°r diferentes atividades humanas. “A técnica
ra sintaxe niíp6?' ^t0 °U utens^io, organizados em cadeia para uma verdadei-
1985a-l 17) 3 35 Senes oPeratórias a sua fixidez e subtileza” (Leroi-Gourhan,
120
Paulo Jobim Campos Mello
2 Como pode ser visto cm Desrosiers (1991), o conceito de cadeia opcratória se formou somente
no início dos anos 50. No entanto, já em 1947 M. Mauss sublinhava a necessidade de uma
pesquisa aprofundada sobre as técnicas, de se estudar os diferentes momentos da fabricação,
desde a matéria pritna até o objeto acabado, mas ele parou por aí. Foi M. Magct (1953), que
começou a falar de “cadeia de operação” ou “de fabricação”, sendo que a introdução desse
conceito dentro da análise tecnológica foi finalmente realizada por Leroi-Gourhan.
121
l UHIUlUdade de abordagens em Indústrias Expedientes
P‘ua esse autor, é dada muito mais importância às atividades do homem qu
se re acionam à concepção do objeto, do que àquelas de uso do objeto, ou seja, s
a es os tornens quando mantém uma relação instrumental com o objete
n aurontphis qu’une interprétation totalment unilatérale de 1’objel technique don
(Rabar^rVçQS^ 59) enV'Sa^ clue sous Informe des anticipation des concepteun
E por esse motivo que Rabardel propõe a substituição do termo “objeto técni
C” ?.S‘"'la u'n °bjeto considerado pelo ponto de vista técnico, pelo de
.. , ° r ° senhdo antropológico, artefato significa “qualquer coisa que sofreu
«enrirl orlna<'ao tb' origem humana o referido autor, no entanto, amplia o
siKrph° o termo, sendo que o que vai interessar é, principalmente, o objeto
suscetível de um uso.
j ' 1 ar,cfr'ct o été conçu pour produire une classe d’effets, et sa mise en oeuire,
Autrpn^ <t°Jr '?°n.S Pr®vues Par les concepteurs, permet d’actualiser ces effets-
j nl ' T- í 'r 3 C lacJue ;5r,efact correspondem des possibilites de transformations
snsr-OT.dl i C ac,av’*é’JIU' °nt été anticipées, delibcrenient recherchées et qui sont
nonl rn ’ e-S.- e S ac,uabscr dans 1 usage. En ce sens 1’artefact (qu’il soit matériel ou
nosé« fR V j U>n^ r>° Ut’on a un Pr°blème ou à une classe de problèmes socialment
poses. (Rabardel, 1995: 60)
se excluem *°S e'n Uso P0<^em ser apreendidos de vários pontos de vista (que não
prónria ncr/'' ^a^ °i contrar’o, sao complementares), cada qual com sua
m7na deP‘ A^rntCla- AqUeleque vai interessar à Rabardel é o que ele deno ;
entre os hnm6 3 ° C°m° n3e*° aÇao 3, no qual aparece a relação instrumental
entre os homens e os artefatos. Ele é assim descrito:
1’utilisp ít P'ace dans une activité finalisée du point de vue de celui qui
nour on’p "* °rs un ®tatul de m°yen d’action pour le sujet, un tnoyen qu’il se donne
vue du "7 7 Un Jet <-)‘ ,ci le raPP°rt à rartefact'est appréhendé du point de
de 1’aeriX’ ,7 r 7 de SOn aclion- Dans cette perspective c’est la logique
”*—
122
Pauio Jobim Campos Mello
' Como podemos ver cm Rabardel (1995: 99 e ss.), para Piaget os esquemas constituem meios
do sujeito, que os ajuda a assimilar as situações e os objetos com os quais ele é confrontado; eles
são, também, a origem da formação dos conceitos. 0 esquema de uma ação é o conjunto estruturado
das características gencralizáveis da ação, quer dizer que permite repetir a mesma ação ou aplicá-
la a novos conteúdos.
Os esquemas de utilização concernem duas dimensões de atividade:
- as atividades relativas à tarefas secundárias, ou seja, relativas à gestão das características e
propriedades particulares do artefato (apesar de diferentes das principais, as tarefas secundárias
são funcionais e podem compreender fins próprios);
- atividades principais, orientadas para o objeto de atividade, c para os quais o artefato é um meio
de realização.
123
I ossibilidade de abordagens em Indústrias Expedientes
r>>7 j6* o',a do Jado do esquema ou do artefato, essa construção não se real
neln c S al0S S3°’ 6111 £eraP preexistentes, e são todos instrumentalizar!
"enor->r?l d S esquemas são, frequentemente, vindos do repertório do sujeite
nnvnc 1 **. °S’ °U aco,nodados, ao novo artefato; às vezes esquemas inteiram en
termn« ?VelU sel construídos. O conjunto desses processos é caracterizado> e
nos de processos de instrumentação e de instrumentalização:
~ Cl ~US d mstrumentalisation concernem remergemee et 1’évolution dt
insritnCSanIjS ^rte aCt de ' áistrument : sélection, regroupement, produetion i
. - e oncl]ons, détoumements et catachrèses , altribuition de propriêtá
transformation", de artefact, (strueture, fonctionnement, etc.), qui prolongent k
créations et rea tsations d artefacts dont les limites sont de ce fait diíliciles <
déterminer;
- le processus d’instrumentation som relatifs à 1’éntergence et à 1’evolution da
oarTè65 U^hsaÜOn et d’action instrumentée: constitution. fonctionnement, évolutíoe
at.1.°n’ coordination combinaison, inclusion et assimilation reciproque
1995- 137)11 C artC aClS nouveaux a des schèmes déjà constitues, etc.. (Rabardel
ao suieitn A aC?' C’° Coni ° lr*esmo autor, esses dois tipos de processo são relativos
de sua ativí I '"J8 nilnen,a^za9ao’ Por atribuição de uma função ao artefato, resulta
é a oriemÀc- 1 ’ C°m° 3 acomoda?ão de seus esquemas. 0 que os distingue
próprio suSr íT atn2dade- N° pr°CeSS0 de instrumentação ela é voltada para o
relativo dê h 1 “. ° e_.SqUerna de utlfeação), enquanto que no processo cor-
mento. Os dni - lmenlaiJ2a9ao ela é voltada para o componente artefatual do instm-
instrumentnc Processos contribuem solidariamente à emergência e evolução dos-
Só consiid7 qUe Um deleS possa ser mais desenvoMdo, dominante.
So considerando o instrumento como
uma entidade mista, que inclui dois
componentes (o objeto strictu sensu e
o(s) esquema(s) de utilização associados,
conforme proposto por Rabardel) é que
poderemos obter informações capazes de
dar conta do instrumento em ação.
instrurnentnliT° POC^eniOS ver em ^oeda et al. (no prelo), quanto ao processo de
instrumento mat°’-e P comPreender que, no quadrL da tríade homem /
tiv^enS o bom ’ ° U1StrUmen,° conserva todo um registro de relações restri
ções técnicas (i em 6 3 matéria de trabalho. Essas relações traduzem as restri-
üngulm se dulsere. “ e Culturais’ e vã° eí~ar o objeto. Dis-
E posslve? ne ?g°n" de reStriçÕeS: extrí"secas « -^ecas.
matéria de trabalb*2 ÜeS dp°S de restrÍ9°es extrínsecas, aquelas inerentes à
124
Paulo Jobim Campos Mello
5 Para Sigaut, (1997) existe uma confusão entre funcionamento e função: cortar, furar, raspar,
centrifugar, etc. não são funções, mas uma categoria do modo de funcionamento. Segundo o
exemplo dado por esse autor, o açougueiro que corta a carne que eu pedi não faz isso do mesmo
modo, e nem com o mesmo instrumento, com que eu cortarei a minha, no meu prato, algumas
horas mais tarde. Para "cortar” ser uma função, devemos saber exatamenle o que vai ser cortado,
em que contexto c com qual propósito, em outras palavras, precisamos saber de que operação
estamos falando.
É a localização dentro de uma operação específica, com todas as finalidades que isso implica, que
define a função de um artefato. Seu funcionamento — como ele trabalha — fica no modo como
ele intervém no efeito que é produzido.
125
Possibilidade de abordagens em Indústrias Expedientes
E ?e,rdade. que a analise do funcionamento do instrumento é difícil de ser
I ce k a, pois e a implica na consideração de duplas tais como: mão-instrumen-
freqü^ite1!!!316^3 ’ eSPaÇ°'£esto’ sendo que um dos componentes nos falta
Co hU_*o o lkjL-
c(uía 3 Co ,x?tcucZã
»wúf-ú. X cZ CLAXX
5" *> o ss i tu Ss. 1As* J~X*A
fZcoó ~ pZz>S , Ò.
WVlta.yit t dortni )
CR = CP
cr-cr # cp
CR^CP f CT
V
c n = a p = ct
(>»>oCCÍ£eAx~>
Figura 2
Combinação entre os diferentes contatos: ret-rJ.- Hic=usi»u \s
:cepüvo (cr), preensivo (cp) e transformatívo (ct)
(Lepot, 1993, apud Boeda, 1997: Figura 1).
126
Paulo Jobim Campos Mello
-... —.
S-....
plan de / ’
coupe
2 plan de bec
Figura 3
Esquema de plano de corte e de plano de bico (Boeda, 1997: Ggura 34).
127
Possibilidade de abordagei•ns em Indústrias Expedientes
se aspecto diacrôniiico da tecnologia para o período pré-histórico, será preciso Vz
mar emprestado essa visão daqueles que colocaram questões fundamentaissokt
a “longa duração”
q . . ’ ~ para o período industrial, e transportá-las para a pré-histórii
tecnolo*lnCI’>a C e^es.®' se,n dúvida, G. Simondon, que construiu umateoriada
objetos^ coni ° objetivo de entender a natureza e evolução do sistema e<fe
sendo eCIUCOS’ Racionados, principalmente, ao mundo industrial modero).
SimondSUa ab°rdagem deu origem a múltiplos trabalhos6.
“imdo ele °.n5Stava *nteressado nos princípios de funcionamento, osquais.se-
Se<nmd 6 Ulem e determinam linhas de evolução para os objetos técnicos.
gênese7 é ?.atO1’_^Pesar de °s objetos técnicos estarem submetidos a uma
modificam no ' ° de^n*’la em cada um deles, pois suas individualidades se
técnico por seu"150 ' ° SUH Pr°Pr*a gênese; também é muito difícil definir o objeto
fixa correspondé3eilenClment° uma esPÓcie técnica, pois nenhuma concepção
partir de fnnnlor. 3 Um Uso definido, e um mesmo resultado pode ser obtido a
Ou seja, um mê'6"10 6 í eSh l,turas muito diferentes (Simondon, 1985).
quais são feitos à cu'?0 V &U 'ad° P°de ser obtido por instrumentos diferentes, os
e estruturas diferentes1 C ° SUPOrtes diferentes, eles próprios obtidos por métodos
pecificidade, são carac?” '** Un*dade do objeto técnico, sua individualidade, suaes-
Simondon está intere 1StlSas c e c°nsistência e de convergência de sua gênese,
do ele, definem e determf.? ° PrincíPios de funcionamento, os quais, segun-
E possível perceberTuT t eV°1,1Çã° d°S obJelos‘
individuação, isto é na hkt' • ° T CSta ^lteressa^o, também, nos processos de
O indivíduo técnico (que é^^ ° ?°,no se torna algo. 0 que interessa não é
individuação, que aparece nV' mafiubla ou aquele objeto), mas o processo de
somente através de uma séri» mei°, a série dos objetos técnicos. É também
objetos técnicos ° C,Ue e Poss*vel entender a lógica evolutiva dos
gências funcionais, mas também dos °bjefÇs técnicos respondem não só à exi-
c evem ser levadas em conta 00™^° °’ a exigências estruturais, as quais
portanto, uma lógica do objeto mm C°'r 1CI°nam 0 P°rvir dos objetos. Existiría,
trato ao concreto (Boeda, 2004) a° 'm C ° Uma ev°fi*ção, conduziría do abs-
Para Simondon (19851 n.m
uma solução onde os elementos0^^ ° °bjel° à organismo- “abstrato” é
quanto o “concreto” é uma soluço embsT*108’ S°luÇâ° C0mP0S,a’ en'
uns nos outros em uma sinergia de fornE dZ?”1-8 integrados’ Cindidos
g °nnaS’ de fun«oes e de funcionamento, com
128
Paulo Jobim Campos Mello
129
Possibilidade de abordagens em Indústrias Expedientes
No plano diacrônico, o objeto está em relação com os objetos que lhe &
anteriores. A compreensão de um objeto, ou de um sistema de objetos ao qual tte
pertence, passa por uma apropriação da dimensão evolutiva do objeto e do pró
pno sistema (Boeda, 1997).
Isso pode ser visto e m eforge (1985: 71 e ss.) que, para integrar a evolução T
dessa reflexão sobre as
técnicas, desenvolve 3 instrumentos específicos, instm*
mentos rudimentares, mas operatórios, se desejamos distinguir dois níveis (te
exame: o macro e o micro.9
preferiu utilizar enn e'°JU<'ão técnica do material lítico lascado, Boeda (1997)
deu por duas razões- °S instrumentos,
dos U1strumentos’ os núcleos e as peças bifaciais. Isso se
(...) nous croyons les nucléus et les pièces bifaciales mieux à même de montrer des
évolutions et de démontrer leur sens. A notre avis, 1’outil, 1’objet final fonctionnel,
est moins porteur d’informaüons. (Boeda, 1997: 145)
130
I
- Paulo Jobini Campos Mello
Essas duas classes de material estão ligadas a duas grandes estruturas de las-
camento: nfaçonnage e a debitagem, sendo que as concepções técnicas subjacentes
a elas são radicalmente diferentes.
Uma vez que as indústrias líticas da região onde se desenvolve nossa pesquisa
(o Planalto Central) se Emitam à estrutura de debitagem, focalizaremos a evolução
dos objetos principalmente em relação a essa estrutura.
Boeda (Boeda et aZ., 2005) estabeleceu, para a debitagem, uma escala que
compreende cinco níveis evolutivos capazes de responder à uma demanda de
instnunentos cada vez mais estruturadas, sendo agrupadas em dois subconjuntos .
1) o primeiro subconjunto agrupa os sistemas técnicos de produção que só
necessitam de uma parte do bloco, denominada de núcleo, para realizar seus
objetivos, sendo que o restante do bloco não desempenha nenhum papel técnico.
Também as características tecno-funcionais procuradas são limitadas à uma parte
dos suportes retirados; o resto pode ter qualquer forma.
• Sistema A: trata-se da produção de um gume, não importando as outras caracte
rísticas das lascas.
• Sistema B: trata-se da adoção da noção de recorrência de retiradas sucessivas,
permitindo aumentar as características próprias ao gume: regularidade, e eaçao
específica.
- Sistema C : t
trata-se da exploração das características de convexidade presentes
sobrej uma parte do bloco e da noção de recorrência, permitindo
naturalmente ------
produzir um gume, mas também, pela primeira vez, uma pequena série de retira-
das com um controle sobre sua morfologia.
131
Possibilidade de abordagens em Indústrias Expedientes
Ou seja, de início apenas a parte transformativa, o gume, é que é buscado, a
obtenção do gume é a única intenção do lascador. Porém, vai ocorrendo uma
evolução: além do gume, começa-se a procurar a forma da lasca (gume + forma],
depois se procura também a espessura (gume + forma + espessura), e assim su
cessivamente até se ter um controle total, uma predeterminação total da lasca que
sai do núcleo, o que, consequentemente terá implicações na preparação do núcleo.
Para o controle da lasca que se quer retirar, o lascador utiliza três fatores,
nervura, convexidade distai e convexidade lateral, que serão, progressivamente,
_________ A__________ X
_________ B_________ X
_________ C_________ Y X X
_X
D (discóide - piramidal) x X
E (levallois - laminar) X X
X
Figura 4
10 0 termo algoritmo corresponde à menor operação técnica que necessita uma superfície de
plano de percussão e uma superfície de debitagem; essas superfícies podem, ou não, ser organi-
zadas (Boeda, 2001; 74).
132
Paulo Jobim Campos Mello
As restrições internas de tal organização de núcleo, em função das necessida-
es de determinados instrumentos do lascador e dos acasos da debitagem, fazem
com que, mesmo se o lascador o deseje, a produção de um algoritmo dado sobre
um mesmo bloco não seja sempre possível.
om efeito, a morfologia do bloco inicial tem uma importância sobre a sequência
das séries de retiradas.
Prcnonsl exemple du débitage clactonien du site High Lodge (Anglaterre). L analyse
< u materiel montre que différcntes moqrhologies de blocs de départ ont éte choisies.
Résuhat: une grande vanabilité niorphologiquc des nucléus , à l’origine d appellatíons
aussi diverses que chopper, nucléus discoide, nucléus informe, etc. Car, si vous
prenez un bloc qui vous permet de conduire le débitage en gardant les mêmes
surfaces mais en alternant leur rôle technique (surface de débitage qui devient
surface de plan de frappe et inversement), 1c nucléus final aura une morphologie
identique à celle d’un chopper. Si, sur un même bloc, les contraintes techniques
conduissent à reproduire cet algorithme en différents endroits, la moqrhologie finale
du nucléus sera alors celle de nucléus discoide, informe, ou protoprismatique.
Ainsi, à High Lodge, bien qu’il s’agisse toujours du même mode de débitage: le
débitage Clactonien, la diversité morphologique des blocs de départ explique la
diversité des nucléus retrouvés. A 1’inverse, quand des blocs de forme similaire ont
systématiquement été utiliés, au final les nucléus présent toujours la même
morphologie. (Boeda, 1997: 117)
Quando dizemos que lascas vindas da debitagem tipo C são lascas pré-deter-
minadas, isso induz que os blocos de matéria-prima foram configurados de modo
específico ou apresentam uma configuração natural para produzir objetos deseja
dos. Dito de outro modo, a debitagem C responde à organização de um certo
número de critérios técnicos específicos. Esses critérios são organizados à custa
do volume inicial do bloco bruto de matéria-prima sem o reestruturar inteiramen
te. Mas a inicialização dos núcleos C se dá somente sobre uma parte do bloco
inicial. Geralmente a superfície de debitagem é escolhida em função de seus
critérios de convexidade natural, a fim de que não seja necessário organizá-los. Só
a superfície de percussão é organizada em função da superfície de debitagem.
lascador introduz uma estrutura seguindo critérios técnicos precisos que agirão
em sinergia para obter o resultado previsto.
Ou seja, do bloco de matéria-prima (conjunto A) são construídos dois
subconjuntos: B, que é a parte que resta intacta, e B’ que é a parte estruturada a
partir dos critérios próprios a A, e à custa de A. Apesar de B e B estarem
estreitamente imbricados, pois pertencem todos dois à A, do ponto de vista
operacional eles são independentes. Ou seja, dependendo da morfologia do blo
co, pode-se continuar efetuando numerosas séries de retiradas, independentes
uma das outras (C, D, etc.) (Boeda, 1997:118).
133
Indústrias Expedientes
Possibilidade de abordagens cm
134
I
Paulo Jobim Campos Mello
l.EVALLOIS
DISCOIIIE
<riiilcrsc€líui»
lliêrarchisatiuii
A/B
feltrar ci*litc>
BZa
l
lü
l
ilélaclicmc"*
Figura 6
nes discóide e levallois: 1) duas
Propriedades técnicas que estruturam as concc|^” - 2) existência, ou não, de
superfícies secantes delimitando um plano c c convexidade lateral e distai;
hierarquia entre as superfícies; 3) convexidadei pe^enc ou } 65)
41 -nsição do plano de debitagem em relaçao ao plano
135
I Possibilidade de abordagens em Indústrias Expedientes
Considerações finais
UTFi
PcretSO*
Pt> ret 60*
Figura 7
136
I
Paulo Jobim Campos Mello
A-2913
B-1182
D-172 E-156
Figura 8
137
Possibilidade de abordagens em Indústrias Expedientes
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Projeto apresentado à CAPES S °nC’UeS des P'a*ealu< central et meridional du Bresil.
138
Paulo Jobim Campos Mello
139
i
Uma terminologia para
Indústria Lítica Brasileira
Terminologia ou Terminologias?
141
ma terminologia para Indústria Lítica Brasileira
existe realmente' co,nParável é preciso criar esta discussão, também para ver s
desvantagens <1 ? necessidade desta linguagem comum: quais as vantagense &'
Assim este Sban1VerSÍdade’ e ° que ela reflete?
mas criados pela ai ''1° leni COni° °bjetivo propor uma discussão sobre os proble-
a descrição dos el nC'a C e un’a terminologia comum entre os arqueólogos pare
gt>ns passos em diI e,n~C,1'OS daS ^dústrias líticas brasileiras, realizando assim al-
aÇões técnicas <-»>» <'3° 3 cornPosição de um léxico descritivo dos elementosedas
qUe compõe estas indústrias.
Estado da arte
lário ademi o^deS^e °S anos 1960 existe uma preocupação em criar um vocabu-
lário adequado
Calderon lOro.^ o3 ' anaEse das indústrias líticas (Laming-Emperaire, 1967:
por A. Lamin f r°US 1986/1990). Esta preocupação foi muito bem traduzida
da América rin ç.ni.pera^re (1967) em seu Guia para o Estudo das indústrias Líticas
lógicas). Neste tJ.7’ mdltardo peI° CEPA (Centro de Ensino de Pesquisas Arqueo
ológico sen ri n ° - orarn definidas 170 palavras do vocabulário lítico arque -
No entanto, apTsar ‘|”lp°rtantes acompanhadas por ilustrações.
estes foram emnreg 1 S |ermos terern sido estabelecidos de maneira rigorosa,
não tivessem sido -T' ar9ue°l°gos, de modo pouco sistemático, como se
seja proposto no mon" °S PC & comaradade científica nacional. Embora o livro
momento
Utieas, observam^Z^r^^- a base do estudo das indústrias
preocupação com r> < 811,15 ° ementos que anunciam já naquele momento uma
Mais tarde, no intàn «T"3 tarde chamad° de tecnologia.
. t,res apontam para a dificuldlde°? 198°’ C°m a tecnologla Ja em voga, çertosMo-
a imprecisão na terminoln • — ,lrna Vlsa° de conjunto das indústrias, haja vista
Kem(1981, 1989) manife^ CmpreSac^a na descrição das séries estudarias. A.
por termos diferentes, ou ai preocuPa9ao: ° mesmo objeto pode ser descrito
dificultando assim a precisão UI^ .mesmo termo se referir a objetos distintos,
que se ocupam de um mesm.?60^^!3113 P&ra tlUe arclueólogos de regiões diversas,
T. MiUer Jr. (1981) le™ > P0SSam comP^ seus resultados.
certos instrumentos encontrad Um °Utr° Pr°blema relacionado à questão de que
baseadas em funções presumiri, arqueoIogicamente têm classificações que são
clue ^ao são apropriadas. ' maS na° veiaficadas, ou em analogias gerais
142
Maria Jacqueline Rodet c Mareio Alonso
ond? °Ulr° ^°’ outros termos foram emprestados do vocabulário europeu,
ca) e forain°,TeS')On<'em 3 Urn °^Jeto específico (ou a uma ação técnica específi-
rnlafi ' H1 ^"'Ptegados no Brasil sem nenhum questionamento ou uma real
obieto ?ap3| a?,tat*va‘ P°r exemplo, o termo Biface, que faz referência a um
forma d ° ae°.lt’co brferior e médio na Europa — instrumento de pedra, em
cm A 6 ain< nC 03 faÇ°nad° sofore as duas faces. A dimensão varia entre 30 e 5
çegujjj Pessuya’ a regularidade de seu contorno e a técnica de fabricação variam
1997) L°e ',enoc os aos quais pertencem (Dicionário da Pré-história Leroi-Gourhan,
acI'u no Brasil, se refere a qualquer objeto que em realidade tenha um
Nota-se que a falta de precisão gerou e gera uma confusão que é refletida na
descrição dos objetos e na utilização dúbia de vocabulários. A leitura tecnológica |
deve ser seguida de uma expressão, de uma troca com o outro, para que
possamos falar uma mesma língua. A precisão do vocabulário permite-nos um
maior desempenho na analise do material arqueológico. Sem nenhuma dúvida
este vocabulário deve adotar voluntariamente os termos convencionais, usuais
e já consagrados pela arqueologia brasileira, mesmo se estes não são tão bem
adaptados ao objeto que designa. Mesmo se a maioria dos objetos não cum
prem as funções pelas quais são designados. A grande vantagem é que certos
termos estão aceitos pela comunidade científica e já totalmente integrados ao
vocabulário dos tecnólogos. No entanto, como foi levantado acima, alguns
termos necessitam de uma revisão, de uma adequação e principalmente de
143
Uma terminologia para Indústria Lítica Brasileira
efirtições gerais ou casos particulares?
ff '
r
(
LT » 4374-472
£
4374-354
U;-. -1
4374-378
4374^8
o_ '____ 2 3 A 5 cm
144
Maria Jacqueline Rodet c Mareio Alonso
Quais ,’1U*,as vezes nos depar amos com a utilização de termos regionais, os
ao são compreendidos pela comunidade científica como um todo.
0 que é uma lesma?
obiet^d üU|Slrai GSte com um outro exemplo, gostaríamos de tomar um
anti 6 C eslaclue na arqueologia brasileira, marca de períodos arqueológicos
con^°h T' ‘a^Umas regiões do país, a lesma (do francês limace).. Na literatura
~ a a so,uente uma autora (Laming-Emperaire, 1967) expôs com clareza as
díZíuT TenCÍaíS e esPecíHcas de uma lesma, de modo que possamos
igui a dos demais instrumentos. Caracterização esta que, em nosso entendi-
nto, pode ser aplicada a várias séries estudadas:
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I ’ \ ll I
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H;upMl.»r . m ferrnduni:“n3^“n«p£í« lAilor -JuciroriiiH nu ur-
---lor <üsc3:cui; 4 - Raupin
rvitsrme: ã e u — Ha*p. jador u.irln."' -
• fíinnc Itupador dc narbt: 0 —
r carcDBdo 7 — Ho
PinltM. f> _ Ratpaticr ccom oratro; 10 — F<rrAr.jcntac ileullt
•ICJlada»; II — Lw.ua.
Figura 2
Ilustração de lesma (de acordo com Laming-Emperaire, 1967)
145
■
Uma terminologia para Indústria Lítica Brasileira
Utensílio de bloco (ou de lasca) deJbnna alongada, lembrando uma lesma. Tipica
mente, comporta duas pontas e dois bordos ativos longitudinais, sendo que o retoque
afeta toda a periferia daferramenta. A face inferior é plana (Est. VIII, n° 11). Certas
lesmas apresentam um só bordofuncional, ou um bordo e uma ponta, ou um bordo
e duas pontas, ou dois bordos e uma ponta. O bordo ativo é obtido por lascamentoi
abruptos, executados a partir da face inferior plana. O bordo ativo (ou os borda
ativos), à medida que o utensílio é gasto e reavivado, recua progressivamente, tor
nando-se retilíneo e, a seguir, ligeiramente côncavo. O corpo da lesma se adelgaça.
Finalmente, nenhum retoque é mais exeqüível. A lesma se quebra em duas, seja ao j
serfeito o ultimo retoque seja durante o uso. A forma maisJreqüente de se encontrar I
uma lesma é gasta ou muito usada, ou então em fragmentos que representam a I
metade do utensílio.
Por suas dimensões, as lesmasformam um conjunto intermediário entre as plainas e ,
os raspadores (1967:76) — (fig. 2).
Certamente esta definição poderá hoje ser revista com base na análise tecnológica,
mas trata-se de um trabalho que pode ser aplicado a conjuntos líticos diferentes. No
entanto, como já dissemos acima, apesar de existir uma definição desde 1967, as
pu > cações sobre coleções líricas utilizaram e utilizam termos diferenciados e apre
sentam, por exemplo, sob a designação de lesma, objetos plano-convexos que não
correspondem às características já definidas
Mesmo que a autora tenha se inspira e apresentadas sob esta classificação.
do em instrumentos europeus, esta defi !
nição certamente se aproxima de uma clas
se de objetos existentes no Brasil (fig. 3).
A falta de estudos tecnológicos extensivos
e sistemáticos para estes instrumentos
impede uma real compreensão e classifi
cação destes unifacias. No entanto, é evi
dente que certos instrumentos brasileiros
apresentam estas características. Por ou
tro lado, nossa questão atual é a de saber
se estamos diante de um objeto procura
do (a intenção), ou se, ao contrário, trata-
se de um estado técnico de um instrumento
(cf. 4.1), que durante a sua vida útil vai se
tomando cada vez menos espesso, com
flancos cada vez mais abruptos e extremi
dades, que inicialmente eram em forma
ogival, evoluem para formas mais pontia
Figura 3
gudas (fig. 7, fotos 6 el).
Instrumento unifacial proveniente do sítio
arqueológico de Buritizciro, Minas Gerais.
146
Maria Jacqueline Rodet e Mareio Alonso
a indústria lítica
Questões sobre os limites da denominação de termos para
brasileira
Para algumas categorias de-utensílios os termos utilizados para designá-los
correspondem facilmente ao objeto denominado. Um exemplo são as pontas de
projétil, para as quais existe uma ligação direta entre o objeto e a função designa
da para o mesmo. Beltrão et al. (1981), admite que “ponta”, apesar de ser uma
categoria descritiva formal, já tem uma conotação de categoria funcional e é reco
nhecida como uma idéia, seja o instrumento uma ponta de projétil, de lança, etc..
147
Uma terminologia para Indústria Lílica Brasileira
148
Maria Jacqueline Rodei e Mareio Alonso
Figura 4 ~
Plano-convexo experimental sobre núcleo; o
objeto está colocado sobre o núcleo —face
inferior voltada para cima — de ondefoi
retirada a lasca suporte. Notar que não há
muitas transformações posteriores à retirada —
foto superior. Lê-se diretamente no objeto que ele
foi realizado sobre uma lasca suporte espessa,
realizada sobre percussão direta dura, etc.
(Clichê D. Duarte e A.C. Cunha)
149
Uma terminologia para Indústria Lítica Brasileira
Figura 5
Ponta de projétil proveniente do sitio de Buritízeiro, Minas Gerais: objeto bastante elabora
do. E possível observar pelo menos três técnicas diferentes — percussão direta dura, direta
macia, pressão (clichê MJ.Rodet).
Assim, é claro que nem todas as indústrias pré-históricas brasileiras são sim
ples, mas no geral, ao que parece, a. grande maioria dos conjuntos líticos são
pouco.elaborados, principal menteno “Brasã Central”, o que não significa_gue
.—estes não sejam extremamente funcionais e que não correspondam corretamente
ao objetivo almejado.
150
Maria Jacqueline Rodet c Mareio Alonso
151
I
Uma terminologia para Indústria Líüca Brasileira
muita facilidade, serem aceitos aqui; por exemplo, os termos utilizados para de-
pardclo^ t er^?te^Pos de retoque — escamoso, escalariforme, paralelo, setni-
152
Maria Jacqueline Rodet
e Mareio Alonso
Figura 7
Referências Bibliográficas
154
Experimentação na
Arqueologia Brasileira:
Entre gestos e Junções
André Prous
Homenagem a T. O. Millerjr.
Introdução
155
I
Experimentação na Arqueologia Brasileira
156
André Prous
Experiências e Experimentação
157
Experimentação na Arqueologia Brasileira
158
André Prous
159
Experimentação na Arqueologia Brasileira
ti abalho pai a cada técnica. A partir desta experiência e do cálculo das superfícies
giaxadas, avaliou o tempo total investido no sítio em 1.250 horas, com uma |
margem de erro entre 10 e 15%. Não se trata de um cálctdo ingênuo, mas do
tratamento de uma das diversas variáveis que o autor levou etn conta na análise
de investimento.
O primeiro lascador moderno de pedra no Brasil: Tom O. Miller Jr.
'1 ^a^,a}^anc’° isoladamente em Campinas, T. O. Miller Jr. começou a lascar o
s ex oc no fim dos anos de 1960; utilizou-o em tarefas simples, como cortar
carne para conseguir uma melhor compreensão dos instrumentos encontrados.
ais c o que analisar os processos tecnológicos, estava então preocupado com a
re ação entre os gumes produzidos e suas funções (gumes agudos seriam procura-
c os para cortar carne e gumes abruptos destinados a matérias duras como a
ma eua). reocupava-se menos com as peças como um todo, e mais com as
ume a es e trabalho formadas por cada gume existente. Tendendo a considerar
as as ascas como instrumentos, avaliava o tipo de matérias mais trabalhadas
em unção a porcentagem de gumes mais ou menos agudos encontrados em
ac a conjunto estratigi áfico (componente) dos sítios: muitos gumes abruptos indi-
anam um meio florestal; poucos, um meio aberto. Foi provavelmente o primeiro
nao indígena que se preocupou em lascar pedra no Brasil.
a,m i<a~ „°'J^one'ro no campo da etnoarqueologia, ao procurar, no final dos
anos c e / , informações sobre os processos de fabricação tradicional da cerâ-
entre os aingang (Miller, 1978). Por outro lado, procurou o último sobre-
en e c o gi upo etá contatado na Serra dos Dourados, pela expedição prepara-
I oureiro emandes. Este rapaz ainda tinha algumas lembranças das técnicas
ou um ; oco sobre bigorna. Esta debitagem, realizada com um bloco altera-
o pelo calor, fraturou-se segundo fendas de origem térmicas não aparentes em
[ icie e não em split, como seria de se esperar, levando o arqueólogo a inter-
pretar erradamente os estigmas de lascamento térmico como sendo típicos do
sendo típicos do
i,i,sobre
lascamento r bigi
gorna (Miller, 1979). Confiando mais no resultado do proces-
so .1 eX£JC.0 a le,Jle índio que nos resultados que ele mesmo obtinha ao lascar
e igoma, i illei deixou escapar a chance de desvendar as características
uma orma e c ebitagem muito representada no Brasil pré-histórico e que
íamos demorar a entender na região de Lagoa Santa.
> C C}U CfUCr ^Orma’ este í°i o primeiro arqueólogo a publicar um texto prático
sobre abordagem do material lítico a partir de experimentações, como conseqü-
cia do curso que ministrou em Florianópolis em 1974 (Miller, 1975), depois de
er pi oposto uma abordagem das indústrias líticas (Miller, 1968) diferente daque-
propoSla pelo guia de A. Laming-Emperaire (1967), até então o único docu
mento de referencia para os brasileiros.
sejando desenvolver o conhecimento da tecnologia lítica no Brasil, convi-
c ou o tecnólogo
tecnoloeo e experimentador J. Flenniken através da Fundação Fulbright.
160
André Prous
Este deveria ficar alguns meses em Natal, onde um centro de pesquisa arqueoló
gica vinha sendo criado na UFRN. Infelizmente, problemas diversos inviabilizaram
este projeto; como acompanhava nosso interesse em tecnologia litica, T. Miller
generosamente nós propôs receber o pesquisador norte-americano na Universida
de Federal de Minas Gerais. Infelizmente, T. Miller nunca conseguiu espaço para
firmar um centro de pesquisas, e permaneceu sem discípulos. Durante nossa
permanência em São Paulo (1971-1975), foi a única pessoa com a qual pudemos
dialogar sobre o trabalho da pedra.
161
I Experimentação na Arqueologia Brasileira
i
162
André Prous
a debitagem de lâminas
com percussão
g. plaina
Figura 1
163
Experimentação na Arqueologia Brasileira
164
André Prous
Figura 2
165
Experimentação na Arqueologia Brasileira
d. micropolido de uso
em gume de pedra
Figura 3
166
André Prous
167
Experimentação na Arqueologia Brasileira
FABRICAÇÃO DE CERÂMICA
Figura 4
168
L
André Prous
Obviamente, realizar tarefas “tradicionais”, tais como pescar e caçar com ar
madilhas; fabricar cordas ou cestos com fibras vegetais extraídas das plantas
locais; fabricar e queimar algumas vasilhas de cerâmica; fabricar e utilizar um
propulsor de dardos; cortar árvores com um machado de pedra, etc. não nos
tomam peritos nestas tarefas. No entanto, estas operações ajudam a entender
algumas das dificuldades técnicas; a perceber certos “jeitos” de fabricação, ou
avaliar mais acuradamente o investimento na fabricação dos objetos e na realiza
ção das tarefas. Fabricar um raspador ou uma lasca cortante é uma coisa, que
informa sobre a tecnologia de uma forma quase que abstrata; utilizá-los para
trabalhar madeira ou desarticular um animal e cortar sua carne, analisando de
pois o resultado dizem respeito à atuação na vida quotidiana e aos seres reais com
os quais tentamos estabelecer um contato por além dos milênios.
Conclusão
169
Experimentação na Arqueologia Brasileira
Referências Bibliográficas
Generalidades:
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André Prous
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171
Experimentação na Arqueologia Brasileira
Rupestre e diversos:
Ilustrações
172
Metodologia de análise para as Indústrias
Líticas do Pleistoceno no Brasil Central
I
Agueda Vilhena Vialou*
173
Metodologia de análise para as Indústrias Líticas do Plcisloccno no Brasil Central
174
Agueda Vilhena Vialou
Pontas
Algumas ocupações desse período estão intimamente ligadas à caça dos gran
des mamíferos, mamutes e bisões, na cultura Clóvis com as pontas do mesmo
nome. As pontas em rabo de peixe, Jlshtail, principalmente do cône sul em sítios
datados de mais de 11000 anos BP, Fell, Los Toldos, Piedra Milseo, mas também
dos pampas argentinos, Cerro el Sombrero e sítio uruguaio Urupez, parecem asso
ciadas à grande fauna, Mylodontinae (Cardich, 1978; Miotli, 1992; Flegenheimer,
1995; Politis, 1987; Menegliin, 2000). Essas pontas bifaciais bastante típicas
para o norte e a outra para o sid diferem muito na sua tecnologia, sendo uma, a
Clóvis, cuidadosamente canelada ifluted) e a Jishtail, como o nome indica, se
caracteriza pelo “esboço” de um pedúnculo (“taiZ”) onde apenas algumas peças
apresentam um canelamento parcial e irregular.
Essa distinção é importante porque vai reforçar a idéia de que houve na mes
ma época manifestações tecnológicas diferentes. Mas outros tipos de pontas ocor
rem na América do Sul, dentre os quais se destaca a ponta Paiján.
Os trabalhos recentes de Chauchat & Pellegrin (2004) demonstram a originali
dade da Ponta Paiján, como técnica pelo primor de preparo, com as pré-formas
identificadas em sítios apropriados, entre os de exploração da matéria-prima e os
habitais, e também como conotação econômica em local de subsistência de pesca
marítima. Ela se insere nessa época de grandes artesãos de pontas de projétil por
toda a América a 11000 anos BP. Mas Paiján é típica de uma região, o deserto de
Cupisnique, Peru. As pesquisas sistemáticas sobre uma centena de sítios mostra
ram que as jazidas ricas em fósseis de fauna extinta com datações do final do Pleis-
toceno, área conhecida como Pampa de los Fósiles, nunca foram contemporâneas
aos sítios de ocupações humanas pré-históricas. As instalações humanas da cultura
e do homem de paiján (esqueleto de 2 indivíduos datados de 11000 anos) que
ocuparam um grande espaço não longe de Pampa de los Fósiles, desconheceram a
megafauna local, sucedendo-a no tempo (Chauchat, 1982; Falguères et aL, 1994).
E interessante notar que essas pontas de elaborações complexas e variadas
não têm precedentes, ou seja, sem referências culturais anteriores. Elas se inse
rem nessa época de grandes ar tesãos de pontas de projétil por toda a América.
A inovação das pontas ocorre em uma mesma época em regiões diferentes e
em vários sítios. Ela traduz um novo comportamento para a caça relacionado às
necessidades econômicas visto sua freqüência e o grande número de peças nos
sítios. Significa também sua expansão para além dos territórios dos sítios “foyers”.
E enfim, as pontas revelam ora sua especificidade cultural com uma tecnologia e
tipologia conforme a região, ora sua standartização.
Outros sítios como Telarmachay e Pachamachay (Lavallée, 1985; Rick, 1980)
vieram contribuir no estudo de variações tecno-tipológicas das pontas de acordo
com os períodos cronológicos. As culturas das pontas e das peças bifaciais perdu
raram no tempo, mas também, em função das atividades econômicas, diversifica-
175
I Metodologia de análise para as Indústrias Líticas do Pleistoceno no Brasil Central
Utensílios e sítios
176
Agueda Vilhcna Vialou
Sítios do Pleistoceno
177
Metodologia de análise para as Indústrias Líticas do Pleistoccno no Brasil Central
1989; Dillehay & Collins, 1988). Entretanto, no que diz respeito a seqüênciade
ocupações posteriores, não houve nesse sítio e nas proximidades vestígios de
ocupações mais recentes que poderíam ser da passagem Pleistoceno-Holoceno. 0
material litico encontra-se sem outro contexto que o próprio sítio, não permitindo
hipóteses a uma continuidade tecnológica.
A fase Ayacucho (14150 + /-180 anos BP Uclal464) da gruta de Pikimachay
no vale de Ayacucho, Peru, escavada por MacNeish, apresenta uma posibilidade
de antiguidade de ocupação humana nesse sítio composto de uma indústria lítica
rudimentar 212 utensílios e mil produtos de lascamento, denticulados (em rocha
vulcânica local) associados a 517 ossos, dentre eles muitos de fauna extinta
megatério, scelidotério, equideo, camelideo e cervideo. Essa fase precede uma
outra fase, fria, de 13000 a 11000, fase Huanta com poucos vestígios: 7 utensí
lios sendo 1 ponta de projétil bifacial foliácea feita com retoque por pressão
(MacNeish 1980-83).
Nesse período não há vestígios característicos que possam identificar e reunir
os sítios. Até mesmo o material litico proveniente desses sítios mostram que não
há uma indústria litica muito elaborada (salvo Taima-Taima com a ponta El Jobo
no pélvis de um mastodonte e datado de 13860 anos BP) (Gruhn, 1974; Gruhn
& Bryan, 1989).
Os sítios da Patagônia, Los Toldos, 12600 +/-600 anos BP (FRA 98) e Piedra
Museo 12890 anos BP possuem uma seqüência de ocupações, apresentando na
base estratigráíica do abrigo, apenas uma camada de sedimento estéril e que é
seguida do nível mais antigo de ocupações na Patagônia, um nível pleistocênico
bem tardio precedendo o nível de pontas de projétil bifaciais, presentes na passa
gem Pleistoceno-Holoceno. Cardich mostra bem que as peças líticas do nível 11
de Los Toldos são objetos de grandes dimensões, com retoques unifaciais e estão
bem separadas estratigraficamente das peças bifaciais do nivel posterior (Cardich,
1987 ; Cardich e Flegenheimer, 1978).
Convém assinalar que todos sítios em abrigos ou cavernas da Patagônia e da
região de Magalhães não possuem sedimentações inferiores às datações de 13000
anos BP.O que lhes conferem um valor sui-generis aos vestígios arqueológicos
desse período de “antigüidade máxima” para a região.
Não há ruptura entre as ocupações dos sítios de Los Toldos e Piedra Museo,
tidas como pleistocênicas, e as ocupações da passagem Pleistoceno-Holoceno. A
proximidade de 1 a 2 milênios com os sitios bem reconhecidos do fim do Pleistoceno
e inicio do Holoceno é nítida, dando a essas culturas uma continuidade cultural
com um período anterior aos objetos bifaciais, no caso as pontas fishtail.
178
Agucda Vilhena Vialou
São bem poucos os sítios com datações pleistocênicas na América: Pedra Fu-
rada que apresenta uma sequência de ocupações desde 50000 anos, Monte
Verde, 33000 e 13000 anos, Santa Elina, 25000, 10000 e uma sequência
ininterrompida até 2000 anos BP e Abrigo do Sol, 14700 anos BP com seqüên-
cia até 5000 e uma isolada de 300 anos BP
0 sítio Monte Verde, Puerto Montt, Chile, é excepcional por ser um sítio a céu
aberto. Sua descoberta se deu pelas pesquisas em Monte Verde II. Há uma
decalagem no espaço, mas a correspondência estratigráfica se faz em boa correla
ção entre o Monte Verde I e o mais recente, Monte Verde II. O nível datado de
33370 +/- 530 anos BP (Beta 6754) contém carvões esparsos e apenas 26
pedras fraturadas, sendo que 11 delas apresentam marcas de uso ou de percus
são. 0 próprio pesquisador T. O. Dillehay emite reservas a respeito desses vestí
gios de MV I, não os justificando, nem insistindo para a comprovação de uma
ocupação humana tão antiga para a América.
0 Abrigo do Sol, Vila Bela, Mato Grosso, Brasil, pesquisado por E. Miller, tem
unia série de datações acompanhando uma seqüência de ocupações, desde 14700
anos BP. Os vestígios líticos em rocha local, basalto e arenito, são bastante rudi
mentares. Em seu artigo há apenas uma prancha com fotos de 18 objetos, e
segundo a legenda “percutores, talhadores e núcleos” e lascas diversas ‘"com e
sem evidência de uso e retoque” (Miller, 1987).
Esses objetos merecem um estudo preciso tanto nas lascas como nos blocos que
podem ser naturais. Não há retoques. Quanto à estratígrafia, não só é complexa por
causa da queda de grandes blocos e pelas camadas de blocos separando prováveis
níveis, como .is datações obtidas não correspondem ao seu posicionamento estra-
tigráfico. Os p roblemas estratigráficos a serem revistos nesse abrigo lembram os
que foram muitas vezes levantados para o sítio Alice Boer, Rio Claro, Estado de São
Paulo, com datações controvertidas de 14200 +/- 1150 (SI 1208) até 2200 +/-
200 anos (TL). Nesse sítio não é a indústria lítica que causa dúvidas, com lascamentos
e retoques claros e até ponta de projétil bifacial, mas por suas datações e inversões
estratigráficas, não se pode situar o material lítico (Moreira da Cunha, 1994).
0 abrigo rupestre, Pedra Furada, Toca do Boqueirão da Pedra Furada, Sao
Raimundo Nonato, Piauí, Brasil, pesquisado por N. Guidon e F. Parenti (Parenti,
2002) é um caso especial pela extensão anunciada de uma seqüência ininterrompida
de ocupações durante 50000 anos — desde o Pleistoceno até todo o Holoceno. È
preciso acompanhar e distniguir melhor as fases nessa seqüência e estabelecer os
grupos de líticos para cada período, referentes ao Pleistoceno anterior a 14000
anos como estabelecemos nesse trabalho. A fase mais antiga, PF 1, vai de 47000
anos BP (Gif TAN 89098) a 38000 anos BP (Gif 8124), 196 peças líticas , sendo
26 utensílios.
179
Metodologia de análise para as Indústrias Líricas do Pleistoceno no Brasil Central
A segunda fase, PF2 vai de 32160 +/-100 anos BP (Gif 6653) a 25000 anos
BP (Gif 5648), 273 objetos líricos, sendo 23 utensílios.
A terceira fase, PF 3, situa-se entre 21400 +/- 400 anos BP (Gif 6160) e
14300+/- 210 anos BP (Gif 6159) com 126 líricos e apenas 3 utensílios e é
seguida da fase Serra Talhada a partir de 10400 +/- 180 anos BP (Gif 5862) alê
8000 e assim por diante (Parenti, 2002) Há uma estabilidade técnica nas peças
595 pleistocênicas, caracterizada pelo talhe de seixos e de lascamento limitado a
rochas locais, quartzo e quartzito. São essencialmente lascas corticais
retocadas, ' raspadores”, denticulados e bicos. Das dezenas de fogueiras que acom
panham esses níveis, as datações por TL mostraram uma discordância de dalas
seja com a de 14 C seja entre as peças aquecidas pertencentes à mesma fogueira,
com idades variando de 80000 a 160000 anos BP.
0 abrigo rupestre de Santa Elina, Jangada, Mato Grosso, Brasil (Pesquisas
coordenadas por A Vilhena Vialou, D Vialou, Muséum National d’Histoire Naturelle
- Paris e L. Figuti, Museu de Arqueologia e Etnologia da USP), situa-se no setor
Aguas Limpas, da serra das Araras, de 500 km direção SW/NE. Santa Elina
encontra-se na primeira cadeia do dobramento calcário pré-cambriano com arenito.
Está a 30 metros de altura, em relação ao vale nesse relevo que pode atingir 600
metros de altitude. A escolha de Santa Elina como hábitat se deve à sua proteção,
por estar no interior da serra, na primeira linha de uma série de cadeias monta
nhosas que formam uma verdadeira barreira. O abrigo está de frente à grande
massa dessa potente serra, num vale estreito, com um vão de 80 metros, onde
correm riachos intermitentes provindos da serra mais alta. Mas Santa Elina se
encontra dando as costas à primeira “cortina” dessa serra, onde o acesso é ainda
fácil pela existência de alguns vãos a partir da grande planície, o pediplano cuiabano
(Vilhena Vialou, 2003 e 2005).
Com esse relevo inhabitual para a região, pois é mais comum a visão das
chapadas areníticas, uma vegetação apropriada de floresta vai estar agregada a
essa serra. Essa situação da localização do sítio num espaço fechado podería ter
conservado a megafauna de forma relictual.
Existe uma longa e ininterrupta sequência de ocupações holocênicas nos últi
mos LOOOO anos. A conservação de vegetais é excepcional, fibras trabalhadas,
frutos, carvões de fogueiras. A indústria lítica, com exceção de algumas peças, é
pouca e bem rudimentar, baseada em simples lascamentos efetuados nos cantos
dos blocos de calcário dolomítico local, mas as estruturas de pedras são numero
sas em todas habitações, no espaço e no tempo. Uma mudança no depósito do
abrigo ocorreu no período recente a partir de 6000 anos atrás, deixando o preen
chimento do abrigo em sedimento arenoso durante o Pleistoceno final e o Holoceno
antigo para uma sedimentação pulverulenta e que foi completamente antropizada.
Quanto à ocupaçãç pré-histórica da passagem Pleistoceno-Holoceno ela está
em posição estratigráfica em uma sedimentação arenosa bem distinta dos níveis
mais recentes de 6000 anos atrás. Várias datações de fogueiras entre 9400 e
180
Agueda Vilhena Vialou
10120 anos BP, definem esse nível sem pontas de projétil, nem utensílios bifaciais,
mas com uma produção importante de lascamentos de calcários bem finos e alguns
lascamentos em silex e em arenito, rochas encontradas nas redondezas. No espaço
habitacional (30 m2) há evidências da convivência do homem com a fauna fóssil
extinta, o glossotérío. E assim o primeiro e único sitio brasileiro que testemunha ao
mesmo tempo a coexistência da presença humana com a fauna fóssil extinta.
De forma bem distinta estratigraficamente, separada por 1 metro de sedimen
tos arenosos, intercalados por camadas de blocos de calcário, há um outro nível
estratigráfico e que constitui assim o mais antigo nível arqueológico do abrigo
rupestre de Santa Elina, chamado Conjunto 111 4. Aí, numa superfície de 30
metros quadrados, entre 2,80- 3 e 3,50 metros de profundidade do solo atual,
conforme o local da escavação, há uma película de sedimento, que se diferencia
do sedimento em geral, pela sua coloração ligeiramente mais cinza (pela cor e
pela dispersão das cinzas) e com pequenos pedaços de carvões.
Esse nível foi datado de 25000 anos BP por 3 métodos e laboratórios diferen
tes de datação, OSL, UTh, SMA, aplicados em vestígios diferentes, osso, micro
carvão e sedimento. Todos os vestígios datados provém de um mesmo nível, são
próximos espacialmente e, afinal, todas as datas obtidas são concordantes.
Um único indivíduo de glossotérío ocorre nesse solo e apresenta somente sua
parte dianteira. Não há outros restos faunísticos de grande e de médio porte. Os
vestígios de micro fauna são pouco presentes e não são representativos. A forma
alta e inclinada do paredão do abrigo de Santa Elina protegeu completamente o
hábitat das ocupações, sobretudo da umidade. A preservação dos ossos de
megafauna aí encontrados é boa, indicando um posicionamento estável dos vestí
gios no solo onde foi encontrado. Não há evidências de material carreado pelas
águas, diferentemente do que ocorre posteriormente, em períodos datados entre
23 e 19 mil anos BP com as madeiras fossilizadas (Vilhena Vialou, 2005).
Ossos, blocos de calcário, sedimento arenoso com uma película acinzentada e
com micro partículas de carvão e pedras lascadas formam o “chão da ocupação”.
Cerca de 200 ossos identificáveis costelas, vértebras, mandíbula, maxilar e mais
de 5000 osteodermos pertencem ao Glossotherium Letsomii. Nessa distribuição
dos restos faunísticos ocorrem nítidas intervenções humanas: agrupamento de
osteodermos com marcas de fratura por aquecimento e 2 osteodermos tiveram
suas faces abrasadas, dando-lhes uma simetria e apagando as características típi
cas e diferentes de cada face do osteodermo.
A indústria lítica, cerca de 200 peças, constituída essencialmente de lascas e
plaquetas retocadas, é contemporânea e está associada à preguiça terrícola. A
matéria-prima é principalmente o calcário detrítico (com introdução de grãos de
quartzo visíveis a olho nu) que ocorre nas formações calcário-arenito situadas a 30
metros abaixo das ocupações do sítio, e também em menor quantidade a silícia e
o quartzo. Essas rochas não estão presentes no próprio abrigo, tendo sido neces
sariamente trazidas ao sítio pelo homem.
181
Metodologia de análise para as Indústrias Liticas do 1’leistoccno no Brasil Central
Metodologia
182
Agueda Vilhena Vialou
Ficou demonstrado acima que a indústria lítica, nos dois casos, de Pedra
Furada e de Santa Elina, há um número razoável de peças, algumas centenas, com
evidências de lascamento, em seixos de quartzito e quartzo, para o sítio do Piauí e
em plaquetas de calcário, para o sítio do Mato Grosso. Ficou claro também que es
sas retiradas no suporte bruto, seixo e plaqueta, transformaram apenas os bordos.
Em Santa Elina, por exemplo, procedemos à coleta de todas as peças com
marcas de retiradas provenientes dos níveis arenosos a fim de reconhecer os
elementos discriminantes da intervenção humana.
0 método empregado para a transformação do lítico se fez em função da
escolha do suporte. As lascas provêm de blocos de calcário de textura fina. As
plaquetas foram selecionadas pela forma retangular, sendo algumas com as faces
planas e outras tendo na face superior uma nervura central que dá a um dos bordos
uma forma inclinada e a do outro bordo uma forma abrupta com duplo gume de
90°. Foram também selecionadas pelo tamanho, não ultrapassando para as maio
res, 10 cm por 8 cm de espessura. As plaquetas menores, reduzidas a menos de 2
cm, são achatadas e sem a nervura central superior. Convém assinalar que elas
foram trazidas ao sítio pelos pré-históricos. Resultando assim dois métodos:
Método de lascamento a partir de blocos ou plaquetas
Obtenção de Núcleos e Lascas
Os núcleos apresentam claramente os negativos de lascas (Fig. I)1
As lascas possuem retoques curtos e contínuos (Fig. 2)
Método de talhe/retoques em plaquetas
Para a obtenção dos utensílios sobre plaquetas e fragmentos de blocos foram
feitas retiradas de pequenas lascas e estílhas. (Fig. 3)
As retiradas / retoques — podem ser :
abruptas, formando um dorso (Fig. 4)
curtas, regulares e contínuas, formando um denticulamento em bordos
finos (Fig. 5)
oblíquas e contínuas sobre um mesmo bordo e face (Fig. 6)
reentrantes em bordos espessos (Fig. 7)
A análise por MEB deverá examinai' partícularmente:
Marcas de uso:
Microrretoques em lascas
Desgastes retirando o fio do gume do bordo, deixando-o irregular
Patinas diferenciais dos retoques nas plaquetas e nas lascas
Pátina e lustro naturais da plaqueta com córtex
183
T
Metodologia de análise para as Indústrias Lilicas do Pleistoceno no Brasil Central
Na lasca
• Lascas ou estilhas de aspecto fresco, sem pátina.
• Lascas mesmo patinadas que podem provir de uma pressão nos blocos da
camada, e provocam o destacamento da lasca por descamamento.
b - retoques em lascas
As plaquctas foram previamente selecionadas ao serem inseridas no hábitat:
são peças de dimensões variadas entre 2 e 12 cm, de forma retangular a
quadrangular para as menores. Desses suportes naturais são sua forma e tamanho
que prevalecem para sua seleção na escolha e na determinação de serem modifi
cados por retiradas/retoques As pequenas lascas e as estilhas (inferiores a 2 cm)
encontradas no mesmo solo de ocupação que a fauna extinta — Glossotério — e
que as plaquetas retocadas, fazem parte do preparo desses utensílios sobre
plaquctas. São as mesmas rochas. Esse lascamento é o testemunho de atividade
in loco, de um preparo expeditivo da massa a ser transformada por retiradas
obtidas por percurtor duro. As lascas de retoque nesse caso, são semelhantes às
184
Agueda Vilhena Vialou
lascas de preparo de um bloco: elas são em geral lascas iniciais corticais, com
talão cortical ou liso.
0 modelo a compreende 2 módulos de tamanho; as peças robustas e grandes
maiores que - 4 cm e as peças pequenas, inferiores a 2 cm.
i óc ulo a 1-grande: a técnica empregada é de retiradas diretas, dando prefe-
rencia a uma das faces como plano de percussão, escolhendo um só sentido a
partir de um único plano de percussão.
Módulo a 2-peqtieno: retiradas diretas em uma face da plaqueta. Nas peque
nas p aquetas, menos de 2 cm os retoques podem ser, seja reentrantes, no calcário,
onnando denticulamento, com bicos salientes, seja abrupto, na silícia. Nas peças
entre 2 e 3 cm os retoques são largos e longos, para atingir o topo da peça,
geiramente inclinados (semi-abruptos) conservando a forma de seu contorno.
modelo 6, está ligado à outra modalidade de confecção de utensílio tendo
como suporte uma lasca. As lascas retocadas são de tamanhos que variam entre 2
e cm. Podem ser lascas corticais, lascas com uma nervura central. O talão pode
ser cortical, liso ou diedro e os retoques são curtos, limitando-se ao bordo da peça.
lustro na peça em geral se deve à posição, localização dessa rocha calcária
susceptível das interferências do solo arenoso: fica assim claro que as plaquetas
em um córtex natural e que essa película superficial ficou submetida a uma
erosão de contato com o sedimento arenoso, dando-lhe um lustro diferencial
conforme as arestas e parles mais expostas do suporte.
U retoque/retirada efetuado(a) na plaqueta, evidencia o aspecto “fresco” da
rocha, diferenciando essa superfície rochosa da superfície do córtex e da super-
cie com lustro. Nesse sentido o lustro seria anterior à intervenção humana. Nota-
se assim, nas peças do nível de 25000 anos BP, que na parte retocada a rocha
tem um ligeiro lustro que a diferencia do lustro do córtex. De fato é o córtex que
tem uma reação mais acentuada em relação aos agentes geoquímicos e mecânicos
dos sedimentos.
Algumas peças, plaquetas naturais, que possuem quebras nos bordos, têm
esse aspecto fresco de uma intervenção mecânica natural, pois não ficaram sub
metidas às alterações de pátina e de lustro do sedimento arenoso. Esse choque e
essa quebra na plaqueta são mais recentes que o período de 25000 anos BP,
visto que todas as demais peças possuem uma leve pátina. O lustro ocorre natural
mente nas superfícies das peças enquanto o lustro do micro polido é feito pela
utilização. A traceologia, através do MEB, desses objetos é indispensável; ela
permite enumerar os efeitos de desgate pelo uso, com os micro polimentos,
batidas, os denteamentos, os aspectos “mordidos — embotados”, as estrias nas
faces que variam também de acordo com o tipo de gume — espesso ou em bisel
muito fino.
185
Metodologia de análise para as Indústrias Líticas do Pleistoceno no Brasil Central
186
Agueda Vilhcna Vialou
187
Metodologia de análise para as Indústrias Liticas do Pleisloceno no Brasil Central
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189
Metodologia de análise para as Indústrias Líticas do Pleistoceno no Brasil Central
Figuras
Figura 1
Núcleo, 12 cm
Figura 2
Lasca com retoques curtos e contínuos, 3cm.
190
Agueda Vilhena Vialou
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<0
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s cc G-i3Z
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3£C GJZo
Figura 3
Estilhas, peças de 1,5 cm
191
í
Metodologia de análise para as Indústrias Líticas do Pleistoceno no Brasil Central
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1
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Figura 4
Plaqueta com retoques abruptos. Peça de 8cm.
Figura 5
Plaqueta pequena com retoques curtos, formando um denticulado. Peça de 3cm
Figura 6
Plaqueta pequena com retoques oblíquos contínuos . Peça de 4cm
192
Agueda Vilhena Vialou
Figura 7
Plaqueta grande, 6cm, bordo superior com retiradas abruptas e bordo lateral esquerdo
com uma ampla reentrância clatoniana e com marcas de desgaste pelo uso.
193
Notas sobre a solidão
das Indústrias Líticas
Andrei Isnardis
Haverá quem diga que a solidão é uma condição básica das indústrias líticas,
uma vez que são muitos os casos em que nada além das rochas lascadas pode ser
recuperado nos sítios arqueológicos. Mas não é dessa solidão crônica, se é que e a
de fato existe, que tratarei acpii. São muitos os casos, no patrimônio arqueológico
brasileiro e na bibliografia arqueológica brasileira, em que o material lítico não se
encontra assim isolado, como único testemunho da ação humana pretérita, e po e
ser recuperado num registro arqueológico que é composto de numerosos outros
elementos. A solidão de que falo aqui é aquela que os arqueólogos promovem ao
tratar de forma pouco sistemática as relações entre as indústrias líticas e os demais
componentes do registro arqueológico.
Este artigo é uma reflexão autocrítica sobre como conduzimos as pesquisas e
sobre como apresentamos seus resultados, no que se refere à artic açã° en^e
distintas categorias de vestígios. Quando se olha para o conjunto a ogr a
arqueológica brasileira, os vestígios líticos lascados são ti atados, na maior parte
do tempo e na maior parte dos casos, estabelecendo-se poucas re ações com as
demais categorias de vestígios e com as estruturas arqueológicas, mpõe se c este
modo às indústrias líticas uma acentuada solidão, que muitas vezes esv< onza
seu potencial interpretativo do conjunto do registro arqueológico e mita sua con
tribuição para o conhecimento sobre as sociedades humanas pretéritas.
Não se trata de dizer que os arqueólogos brasileiros nunca estabelecem rela
ções entre as distintas categorias de vestígios. Na bibliografia arqueo ogica
leira se fazem relações entre as indústrias líticas e os demais vestígios, como se
pode ver em numerosas publicações dos diversos centros de pesquisa. Contudo,
creio que haja uma certa timidez ao se estabelecerem essas re ações, que mu
vezes não são exploradas de forma sistemática. Na condução as pesquisas,
decurso das análises e também no momento de apresentar seus resultados na
forma de publicações, promove-se um raciocínio que tende a isolar o matenal
lítico das estruturas em que fora encontrado e das demais estruturas dos siüos e
195
Notas sobre a solidão das Indústrias Líticas
1 0 que chamo aqui de “clássica” é a bibliografia que, embora contemporânea, já faz parte do
corpo básico de nossa disciplina e, como os clássicos, já foi lida por todos.
2 0 uso do termo é uma provocação proposital.
196
Andrei Isnardis
197
Notas sobre a solidão das Indústrias Líticas
sobre suas referências cronológicas — o que não raro gera dúvidas sérias no
leitor. Quando a apresentação de cada uma das classes é feita por períodos, não
é raro ver periodizações diferentes, em função das características do material.
Exemplificando, não é difícil encontrar publicações em que as indústrias líticas
são apresentadas com três horizontes distintos, em função da variação dos vestígi
os, sendo um mais antigo, até os primeiros milênios holocênicos, um segundo,
desde o holoceno médio até antes do sm-gimento da cerâmica no(s) sítio(s) ou na
região, e um terceiro, correspondente ao período de ocorrência de material
cerâmico; enquanto, por exemplo, os restos faunísticos não são apresentados de
acordo com os mesmos horizontes, o mesmo podendo ocorrer para as outras
classes de vestígios. Se a indústria lítica está organizada em três horizontes distin
tos, em função de sua variabilidade, por que então as demais categorias não são
tratadas com uma periodização coerente? Certamente porque não variam de for
ma coerente. Mas essa não-covariação não é problematizada. Tem-se uma mu
dança nítida na indústria lítica de um período A para um período B, e a fauna,
contudo, não varia; e isto sequer é discutido. E perfeitamente razoável que isso
aconteça, mas não me parece razoável que o pesquisador não tenha nada a dizer
diante dessa constatação. Se num mesmo sítio há uma mudança no material lítico,
é porque alguma mudança houve no modo como vivia a população humana que o
produziu, seja essa mudança resultado de inovações tecnológicas, seja ela resulta
do da chegada de novidades, seja uma mudança de população ou resultado de
uma mudança do papel do sítio no sistema de uso e exploração do território. Se o
material lítico mudou, é porque mudaram as atividades a ele associadas que se
realizavam no sítio, ou porque mudou o modo de se realizar essas atividades. Se
a fauna permanece a mesma enquanto a indústria lítica varia, há algo a ser discu
tido, pois podem estar se mantendo elementos do sistema econômico — as espé
cies utilizadas e o papel do sítio na exploração dessas espécies —, enquanto algu
mas mudanças têm lugar, mudanças que podem incluir um outro papel para os
artefatos líticos. Não valería por em questão essas variações diferenciadas?
Após os capítulos específicos sobre cada classe de vestígios, as publicações
geralmente apresentam um capítulo de síntese (ele também bastante sintético),
que se propõe a articular as informações e traçar um panorama geral. Nesse
capítulo de síntese, alguns aspectos de destaque de cada uma das categorias são
retomados e algumas relações são estabelecidas, visando re-articular as ocupa
ções, geralmente por períodos — definidos com base nos vestígios de maior des
taque na análise, em geral as indústrias líticas e/ou cerâmicas. Essas relações em
geral são realizadas de modo bastante ligeiro e aí se configura a timidez de que
falei. E muito raro observar-se nas publicações uma exploração sistemática das
possibilidades de correlação entre os vestígios. E mais frequente se encontrar
afirmações de que, durante o período em que o material lítico se caracterizava
pelos traços tais, a fauna apresentava freqüência dominante das espécies X e Y,
no mesmo momento em que os sepultamentos tais foram realizados em determi-
198
Andrei Isnardis
nada área do sítio. Mais do que relacionados, os vestígios são reunidos por perío
do, mais uma vez apresentados em classes. A caracterização das diferentes ocu
pações que se delineiam no capítulo de síntese não se vale de questionamentos
sistemáticos sobre possíveis correlações entre os vestígios, para daí tentar cons-
tniir interpretações para as estruturas e as maneiras como o sítio foi utilizado e
para seu papel no sistema de ocupação humana do período em foco. A conexão
entre as grandes categorias de vestígios se faz fundamentalmente através das
datações que lhes são atribuídas e só muito timidamente através das relações que
essas possam guardar- no registro arqueológico.
Será essa organização uma mera estratégia textual? Será que essa maneira nos
parece a maneira mais clara de se apresentar um conjunto de elementos de com
posição muito complexa e difícil de ser abordada em sua totalidade? Ou será que
essa forma de compartimentar a publicação é uma expressão de uma forma tam
bém compartimentada de perceber o registro arqueológico e, sobretudo, de lidar
com ele?
0 que merece ser notado é que a organização das publicações, sua divisão em
capítulos e itens, corresponde bastante bem à organização de nossos laboratórios.
Do sítio ao laboratório
Creio que nossas publicações assumem essa estrutura porque é assim que
estruturamos todo o nosso trato com o material arqueológico, uma vez que o
retiramos de campo. É conforme as grandes classes de vestígios que a divisão
social do trabalho arqueológico” está organizada. Nossos laboratórios, nossas equi
pes e, portanto, o conjunto de nossas pesquisas se estruturam conforme as gran
des categorias em que agrupamos os elementos do registro arqueológico. Como
nos apresentamos aos colegas, como identificamos os colegas? Como alguém que
trabalha com litico ou com cerâmica ou com arte rupestre ou com arqueo-fauna ...
Qual é a aventura vivida pelos vestígios materiais que analisamos a partir do
momento em que destruímos parcialmente um sítio arqueológico e dele retiramos
peças? Pensando nos vestígios liticos lascados, cada uma das peças que analisa
mos é retirada da micro-estrutura3 em que se encontrava, retirada do sítio em que
se encontrava e, por fim, retirada da paisagem, do conjunto de sítios em que se
encontrava. Após uma temporada dentro de um saco plástico, dentro de uma
caixa, em alguma estante, esse vestígio chega então ao ponto crítico de seu percur
so: nossa mesa, onde será analisado. É na mesa, desconectado dos demais ele
mentos do registro arqueológico que não sejam liticos, que esse vestígio vai ser
inquirido acerca de seus atributos, pretendendo-se dele extrair elementos que
sirvam a uma interpretação do nível arqueológico, da unidade de escavação, do
199
I.
Notas sobre a solidão das Indústrias Líticas
Um ponto que estimula sem dúvida a solidão das indústrias líticas e a timidez
no estabelecimento de relações é uma já referida solidão crônica do material
lí tico. Embora abundem no patrimônio brasileiro sítios em que numerosos e di
versificados vestígios nos chegam, com ricas e complexas estruturas, há casos em
que nada mais se conserva além das valentes peças líticas, resistentes às mais
intensas variações de umidade e temperatura, às ações químicas dos sedimentos,
ao interesse dos roedores e insetos. Evidentemente não há como cobrar de al
guém que só pode recolher peças líticas que trate de outras categorias de vestígi
os. Essa solidão crônica, porém, é por vezes supervalorizada. Estruturas discretas
poderíam ser mais sistematicamente buscadas, envolvendo a distribuição espacial
do material lítico — onde ele está presente e onde está ausente. Vale insistir na
idéia de que não devemos desistir a princípio de explorar o contexto mesmo nos
casos em que o que se vê de imediato é somente uma coleção de peças líticas.
A freqüência relativa elevada de material lítico, mesmo em sítios com outros
materiais, contribui sem dúvida para sua maior valorização como material a infor
mar sobre as sociedades pretéritas. Dispondo os sítios de uma maior fartura de
peças líticas do que de qualquer outro tipo de material, certamente qualquer
arqueólogo qualificado para isso investirá prioritariamente na análise de material
lítico.
Muito mais do que a abundância, uma noção básica é de fundamental impor
tância para que se compreenda o tamanho de nosso investimento em tecnologia
lítica: cremos que a tecnologia, em sua conceituação ampla, é dimensão importan
te para a compreensão das sociedades humanas e é concretamente abordável a
partir da cultura material.
Fatores de ordem prática são também fundamentais. Trata-se de se avaliar
qual o potencial informativo dos vestígios e direcionar os recursos disponíveis,
sempre restritos, para aqueles que avaliamos como contendo o melhor potencial
200
Andrei Isnardis
201
Notas sobre a solidão das Indústrias Lílicas
202
Andrei Isnardis
203
Notas sobre a solidão das Indústrias Líticas
204
Andrei Isnardis
muito abruptos -
, marcadas também peça presença de lascas de quartzo com
' retoques delicacLlos e regulares produzindo gumes semi-circulares, assim como
I presença de núcleos
I . , ------ e,n quartzo e núcleos em quartzito com pequeno número de
f aS’ aco,nPar>hados de lascas de debitagem em quartzito e retocados nada
I regulares, sobre! cassons e lascas fragmentadas, tanto em quartzo quanto em
Ii - ---------
uarlzito. Reconhecemos até o momento cinco abrigos cujo material lítico de
per icie e de níveis superiores das sondagens assumem essa feição. Outros
ngos, contudo, dentre os 54 já identificados como sítios na região, não apresen-
m coleções semelhantes, embora diversos apresentem também materiais de
superfície e materiais em seus níveis superiores. Estamos trabalhando com uma
upotese inteipretativa para os abrigos com a coleção descrita — que tenho cha-
ntado de abrigos de borda de campo — que seria a de áreas de atividade, asseme-
tadas a acampamentos temporários, nas quais os instrumentos mais formaliza
dos sobre plaquetas e lascas de quartzitos alóctones foram utilizados e descartados
após seu esgotamento, tendo sido também utilizados e descartados, sem contudo
apresentarem sinais de esgotamento, instrumentos retocados pouco padroniza
dos, núcleos e lascas brutas de debitagem, produzidas com a vanedade de quartzito
local aquela disponível no próprio abrigo em questão.
Se eu me detiver apenas sobre a indústria lítica, o que podería dizer a respeito
, dos demais abrigos? Apresentando eles coleções com características distintas e
não apresentando vestígios líticos semelhantes aos descritos nos abrigos de borda
de campo, podería correr o risco de tratá-los apenas pelo que não têm, dizendo
assim que eles não cumprem no sistema de uso e ocupação de território o mesmo
Papel que os abrigos de borda de campo. Detendo-me somente sobre a indústria
lítica, podería verificar que — e isto é apenas uma mera possibilidade, uma vez
que a análise das coleções de outros tipos de sítios ainda está se iniciando — em
outros sítios há mitras etapas da cadeia operatoria dos artefatos dos abrigos de
borda de campo ou que há vestígios que sugerem outras cadeias operatórias sem
conexão evidente com os artefatos retocados das bordas de campo. Eu correría o
risco de me limitar a dizer que os abrigos diferentes daqueles de borda de campo
não se integram à indústria dos plano-convexos e dos retocados em quartzo.
Entretanto, se eu me voltar para outras classes de vestígios posso me deparar
com estruturas e coleções que indicam outros usos dos abrigos. Num dos abrigos,
por exemplo, cuja morfologia e implantação na paisagem escapam àquelas dos
abrigos de borda de campo, esse horizonte de ocupações tardias apresenta estru
turas de depósitos de vegetais, além de sepultamentos secundários. A coleção de
material lítico ali reunida não contém peças em quartzito semelhantes àquelas dos
abrigos de borda de campo, enquanto a indústria em quartzo guarda algumas
semelhanças com a daquela categoria de sítios, apesar de estarem ausentes as
peças de gume semi-circular de retoques mais regulares. Considerar os outros
elementos do abrigo e não simplesmente recusá-lo pelo fato dele não se conectar
de forma evi ente ustna dos plano-convexos e dos retocados de quartzo me
205
Notas sobre a solidão das Indústrias Líticas
Arrematando a prosa
206
Andrei Isnardis
Referências Bibliográficas
207
Contexto e Tecnologia:
Parâmetros para uma interpretação das
indústrias líticas do sul do Brasil
209
Contexto c Tecnologia
Não é difícil julgar que as dificuldades que norteiam esses estudos são de
ordens diversas, parecendo ser o reflexo de aspectos ligados, por exemplo, à
enorme variabilidade artefatual verificada tanto intra quanto intersítio; à vasta
dispersão espacial dessas indústrias liticas; à recorrência com que os materiais
líricos indiscriminadamente se associam à cerâmica; à alta freqüência de sítios
superficiais e destituídos de dados cronológicos; à falta de um instrumental teóri-
co-metodológico compatível a comparações e à carência de pesquisas em escala
regional mais ampla (talvez, seja este o aspecto principal destas discussões).
Não há dúvidas de que estamos tratando de contextos bastante complexos e
que, consequentemente, não podem ser generalizados. Inicialmente é preciso
decifrar os sítios, oportunamente contextualizá-los e, por fim, agregá-los a estu
dos regionais, em um esforço para somar os dados disponíveis em todos os traba
lhos, à maneira de um mosaico em que todas as peças têm igual valor, a fim de
minimizar as divergências em voga.
Para que possamos ilustrar as razões desta discussão ampla, apresentamos um
estudo de duas pesquisas que desenvolvemos no planalto sul-brasileiro — ambas
fomentadas por trabalhos de arqueologia por contrato. Recorremos a esses traba
lhos visto que os resultados contestam as definições tradicionalmente aceitas para
a tradição Humaitá, pois os instrumentais teórico-metodológicos adotados se dis
tanciam das análises tipológicas tradicionais. Tais estudos objetivam recriar um
cenário regional a fim de demonstrar que há lacunas nessa definição e que
reinterpretá-la é pertinente.
Um desses estudos, efetuado em 2003, desenvolveu-se na área do canteiro de
obras da Usina Hidrelétrica de Barra Grande (SC), margem direita do rio Pelotas,
e resultou no Projeto de levantamento arqueológico na área de inundação e salva
mento arqueológico no canteiro de obras da UHE de Barra Grande, SC/RS".
Neste, ficou constatada a ocorrência de diferentes estratégias de organização
tecnológica para uso do espaço, levando-nos a sugerir que tínhamos duas popula
ções cultural e cronologicamente distintas: caçadores coletores (tradição Umbu) e
horticultores (tradição Taquara). O outro trabalho, efetuado em 2005, desenvol
veu-se na área de implantação da Linha de Transmissão Garabi-Itá (RS), nas pro
ximidades do rio Uruguai, e resultou na tese intitulada “Tecnologia lírica: uma
proposta de leitura para a compreensão das indústrias do Rio Grande do Sul,
Brasil, em tempos remotos”. Tal estudo permitiu-nos observar que a variabilidade
das indústrias líricas dos caçadores coletores do sul do Brasil encontra-se, princi
palmente, na complementaridade entre peças bifaciais e instrumentos sobre lascas
e, a partir disso, sugerimos que estávamos tratando de um ou mais grupos sociais
aptos a efetuar diferentes tarefas, mas portadores de uma herança técnica comum.
A partir dessas contextualizações, sugerimos que as duas tradições líricas acei
tas para o sul do Brasil são formulações prévias de uma realidade mais complexa
que podem ser compreendidas sob uma única tradição tecno ógica, e cuja varia
bilidade artefatual se explicaria por mudanças uncro . entais, regionais
210
Sirlei Elaine Hocltz
1111 ^torilicas. Acrescentamos, contudo, que é possível haver peças ^agas
Andep-
porte com datas antigas, considerando-se também possive q
^°es tenham tido
j uma continuidade ou um novo ciclo.
Js Wfoes arqueológicas do sul do Brasil
Figura 1
0 sítio SC-AG-24 (UTM 482.169 E/6.228.707 N), único sob gruta (com
17,4m de largura, 12,9m de profundidade e 4,25m de altura), localiza-se a
aproximadamente 600 m ao sul do sítio 97 — entre os dois extremos da área
pesquisada, onde um divisor de águas os separa. Os sítios SC-AG-40 (UTM 481.998
E/6.928.577 N) e SC-AG-47 (UTM 481.950 E/6.928.428 N) encontram-se igual-
212
Sirlei Elaine Hoeltz
mesnra colina — Um. ouLro-> em torno de 500 metros. Localizados sobre uma
97A e 97B ' ,neia encosta e topo, respectivamente — distanciam-se dos sítios
niente 1 02»°' ^ue km. ® s^° 40 ocupa uma área de aproximada-
no topo de m ' ° s!lic\SC’AG-g7 (UTM 482.607 E/6.929.346 N) localiza-se
divisão e á™ SUaV.e P'atô e compreende uma área de 26 250 m2. Todavia, a sua
unia cot m C Uas an’c'ac^es (A e deu-se ainda nos trabalhos de campo, visto que
prima en?entraÇã° objetos líticos diferenciava-se (quanto ao tipo de matéria-
1 £ as lmensões das peças) de todos os outros objetos dispersos na área.
concentração, denominada de SC-AG-97B, localiza-se a NW e restringe-se a
uma Pequena porção de 12 m2.
Teoria e método para a leitura dos objetos líticos5
I E* . avamos,
r nesse período, ainda procurando nos distanciar das análises ex-
usivamente típológicas que vinham, desde a década de 60, sendo empregadas
c°m exaustão. A metodologia empregada nessa pesquisa resultou, portanto, de
unia convergência de modelos que já vínhamos adotando ao longo de nossos
tru alhos e, assim, criamos uma lista de atributos técnicos e tipológicos adequada
ao material em análise. Essa lista compreende atributos propostos no modelo de
Hilbert (1994) e Dias & Hoeltz (1997) para a análise dos núcleos, resíduos de •
apeamento e artefatos brutos; e agrega ainda atributos propostos por Dias &
oeltz (2002) para a classificação dos artefatos bifaciais. Essa adequação é de
corrente da prática de nossos estudos que nos levou a perceber que as indústrias
líticas são singulares e, portanto, que os métodos de análise empregados deveríam
ser flexíveis a ponto de responder as suas particularidades.
Para criarmos tais modelos tínhamos como referência certos pressupostos teó
ricos, dentre eles: Andrefski (1998), Brezzilon (1977), Collins (1989/90), Laming-
Emperaire (1967), Tixier et al. (1980) e Vialou (1980). Baseando-nos em Collins
(op. cit.: 51-52) por exemplo, seguimos a concepção de que a manufatura dos
instrumentos, embora siga um procedimento linear, não invalida a possibilidade
de analisá-la em etapas (ou grupo de produtos), mesmo que estas etapas não
sejam suficientemente distintas, em termos de procedimento e rendimento, a pon
to de individualizá-las. Para o autor, cada grupo contém características próprias
com qualidades de rendimento diferentes entre si, mas de forma que o rendimen
to de dada etapa ou grupo dependa do rendimento anterior. Seu modelo de
análise compõe-se de cinco etapas: 1) obtenção da matéria-prima, 2) preparação
e redução inicial de núcleos (preparação inicial da matéria-prima para a extração
de córtex), 3) lascamento pnmário opcional (modificação primária ou pré-formatação
das bases de produção de artefatos, sejam estes produzidos sobre núcleos ou
sobre lascas através c tecno ogia unipolar ou bipolar), 4) lascamento secundário
Aspectos lcón^°:’a„l,1 (2003: 83-183*) análise detalhada das indústrias líticas encontram-se em
5 Aspectos
Hoeltz & BrilgB
Contexto e Tecnologia
214
Sirlei Elaine Hoeltz
216
I
Sirlei Elaine Hoeltz
>. Idêntica sugestão pode-
1 lamitos, matéria-prima de alta qualidade de lascamento.
ríamos atribuir ao sítio SC-AG-24 (sob gruta), pois seu conjunto
seu —v apresenta
lítico■«-ifin-riva
caracteres técnicos semelhantes a este do sítio 97B. A diferença mais si
resume-se apenas à quantidade total de peças e ao tipo de matena prima
da — embora, ambas, de alta qualidade.
lí B
■ .í
■
■; i
I v
- . -í
c
Figura 2
ytrea da Usina Hidrelétrica dc Barra Grande: peças bifaciais de grande port<te.
Ilustrações: Adélcio Briiggemann.
217
I
Contexto e Tecnologia
218
Sirlei Elaine Hoeltz
Portanto, para reavaliarmos estas interpretações, vejamos, inicialmente, as
conclusões obtidas nas análises dos materiais cerâmicos. Herberts (2003: 68-75)
ocalizou suas análises principalmente nos sítios SC-AG-40 e SC-AG-98, visto que
eram quantitativamente mais numerosos do que os sítios SC-AG-47, SC-AG-95,
- . e SC-AG-1007. A escassa quantidade e a forte fragmentação dos cacos
cerâmicos desses 4 íiltimos sítios inviabilizaram maiores interpretações. Contudo,
destaca-se que os sítios 95, 99 e 100 compreendem estruturas anelares e, confor
me observado pela autora, tais sítios não costumam fornecer cultura material
expressiva (Menghin: 1957; Ribeiro & Ribeiro: 1985 eRohr: 1971 apud Herberts:
op. cit.). Quanto ao sítio SC-AG-98, a autora relacionou-o a um sítio cemitério,
ligado a práticas cerimoniais. Associado ao que denominou de estrutura de com
bustão funerária, havia duas pequenas vasilhas (comer e beber) e um tortual de
fuso fragmentado. A análise da cerâmica do sítio SC-AG-40, passível de um estu
do mais criterioso, revelou uma alta porcentagem de vasilhames sem decoração
(93,8%), e, quando existente, esta ocorria somente em uma faixa zonal — na sua
metade inferior. Serviríam para cozer ou processar alimentos, armazenar líquidos
e também para o consumo (alimentos ou líquidos). Associados aos vasilhames,
foram também identificados tortuais de fuso. Este sítio pôde ser datado (C 14) e
apresentou uma cronologia, já calibrada, de 1 640 AD. Todos esses dados leva
ram a autora a caracterizá-lo como um sítio habitação (aldeia) e relacioná-lo aos
grupos portadores da tradição Taquara - Itararé.
Tais informações, acrescentadas às nossas análises, conduziram-nos a reavaliar
os tradicionais paradigmas de caracterização das populações pré-ceramicas sul-
brasileiras e a ratificar que a variabilidade constatada em suas indústrias líticas
compreende um espectro de parâmetros mais amplo do que estes que foram
utilizados para definí-las.
Inicialmente, o estudo dos objetos líticos permitiu-nos concluir que, no conjun
to das indústrias, há duas escolhas tecnológicas distintas: uma delas representada
nos sítios SC-AG-24 (sob gruta) e SC-AG-97B; e a outra, nos sítios SC-AG-40, SC-
AG-47 e SC-AG-97A. Tais diferenças são claras e persistem ao longo de todos os
estágios de produção, ou seja, desde a seleção e aquisição das matérias-primas,
passando pelas etapas de transporte e lascamentos iniciais, até a finalização e
abandono dos instrumentos.
Nos dois primeiros sítios, exclusivamente líticos (SC-AG-24 e 97B), o emprego
de rochas de alta qualidade de lascamento (basaltos quase vítreos e meta-lamitos,
respectivamente) resultou na produção de indústrias compostas por um alto
percentual de resíduos de lascamento. Dentre esses resíduos, têm-se apenas dois
instrumentos: uma ponta-de-projétil, no sítio sob gruta, e uma pequena peça bifacial,
no outro. A procedência deste tipo de basalto não foi determinada, mas os blocos
219
Contexto e Tecnologia
220
Sirlei Elaine Hoeltz
I instância, variações de áreas de atividades relacionadas ao conceito de tekoha^ .
gun o Dias (op. cit.), a organização tecnológica das indústrias líricas da tra ição
uarani reside na produção de distintos conjuntos de artefatos, a partir de técnicas
| como o lascamento bipolar e unipolar, o picoteamento e o polimento. E estes
conjuntos, relacionados a atividades específicas, concentram-se no espaço da área
i < e domínio (tekohá) segundo a distribuição diferencial das tarefas. Exemplifica,
argumentando que nas áreas domésticas, associados à cerâmica, os conjuntos líricos,
como os resíduos de lascamento unipolar e bipolar, os artefatos brutos e passivos e
OS artefatos polidos, relacionar-se-iam principalmente a atividades de preparo e
consumo de alimentos e à confecção de artefatos. Diferentemente, nas áreas para
além do perímetro da aldeia, o instrumental lírico, como os machados polidos e os
artefatos bifaciais de grande porte, estaria relacionado ao cultivo, ao manejo
agroílorestal e à extração de matérias-primas minerais e vegetais.
Observamos que incorporar o modelo sugerido para as populações Guarani
(Dias, 2003b) à área estudada enriquece as possibilidades interpretarivas quanto
à relação contextual entre os sítios que compõem o sistema de assentamento da
tradição Taquara aqui analisado. O sítio SC-AG-40 relacionar-se-ia ao âm ito c a
aldeia, com seus conjuntos liticos designados às atividades domesticas. Por sua
vez, os sítios SC-AG-47, SC-AG-97A e todos os outros sírios periféricos estanam
relacionados às áreas de atividades específicas, no caso, a produção das peças
unifaciais e bifaciais e os machados polidos (sítio 47 e penfencos) para serem
utilizados nas áreas de cultivo (sítio 97AT
Concluímos o estudo sugerindo que, no cai ^Iir4Q
Grande, ao menos duas populações cultural e cronologicamente d«stm as ocupa
ram a área. Num primeL momento, assentaram-se os caçadores coletores da
tradição Umbu, desempenhando atividades de produção de peças Wactaut entre
8 Tal pesquisa resultou na tese de doutoramento desta autora (Hoeltz 2005) Cnni-.rU „ .
........... -
(Capítulo 5).
’ Veja Montícelli & Brochado (2001), coordenadores do trabalho.
221
Contexto e Tecnologia
222
I
Sirlci Elaine Hoeltz
gundo refere-se ao esquema operatório, que traduz os aspectos cognitivos desta
«itleia operatória. Para o autor, a realização de um ato ou de uma sucessão lógica
e atos só é possível pela aplicação de conhecimentos técnicos e de saber-fazer; e
J ga que esles conhecimentos são aquisições obtidas desde muito cedo e quotidi-
ananiente pelos artesãos. Acrescenta que, dependendo da estrutura interna das
sociedades e da complexidade das técnicas em uso, a aquisição precoce faz com
íTUe os conhecimentos sejam aprendidos sem necessariamente serem pensados
ou discutidos (Simondom, 1958; Piaget, 1967 e Pelegrin, 1995 apud Boéda,
1997: 12 [grifo do autor]), e que estes conhecimentos e saber-fazer técnicos são
considerados rígidos e não serão renegociados na vida adulta (Simondom, op. cit.)
— porém, uma flexibilidade de adaptação sempre é possível . Para Boéda (op.
dt.) é desta rigidez, sinônimo de estabilidade, que se permite reconhecer, indivi
dualizar e diferenciar as sociedades.
Em nosso estudo, portanto, o instrumental teórico-metodológico aplicado para
operacionalizar a interpretação da dinâmica de vida do(s) grupo(s) pré-histónco(s)
Pesquisado(s), apóia-se na análise das etapas que compõem uma cadeia operato-
ria, a qual, na prática, compreende os seguintes estágios ou etapas. aqiusição e
matéria-prima, produção de instrumentos e agenciamento do conjunto de instru
mentos - estes estágios repousam sobre bases conceituais dtferentese ocorrem em
sucessão temporal (Perlès, 1992: 225-226). Assim, Boéda (1997), Boéda eZ
(1990), Fogaça (2003), Geneste (1991), Karlin et a . (1991). Pedes (op. cü.)
foram os prmcipais trabalhos selecionados e que, .mbncados, forneceram as pnn-
cipais diretrizes para compor a metodologia empregada nesta pesquisa.
Essa abordagem das atividades técnicas, diferentemente da empregada na pes
quisa anterior (UHE Barra Grande), levou-nos a compreender os objetos a partu
223
Contexto e Tecnologia
224
Sirlei Elaine Hoeltz
Ao término da leitura de produção dos objetos líricos deverá ser P°ss
Micar a operação de lascamento, o suporte, a construção volu métrica ou es
o modo de organização das UTFs transformativas e preensivas, as carac
!®es dessas UTFs, enfim, todos os elementos e caracteres técnicos que a
"a reconstituição de produção da peça. A partir dessas interpretações sera possi-
'fl definir como e por que os instrumentos foram produzidos e, ao comp
objetos, definir quem os produziu. > Sellet
Para concluir esta apresentação teórica, reproduzimos a o servaça , .
(s/d: 110), ao advertir que “...Ainda que o estudo de uma q
requeira uma taxonomia, esta taxonomia não tem valor explicativo a
tipo de classificação necessária em uma análise de cadeia, opera o
cada situação e necessita de respostas analíticas precisas .
A interpretação da cadeia operatória desenvolvida na produç ~
indústrias líticas dos sítios 66, 92 e 173
13 Veja Hoeltz (2005: 127-136), onde a autora apresenta um roteiro de leitura para instrumentos,
núcleos, lascas e detritos.
'* A nomenclatura .
utilizada representa as dimensões da matéria-pnma: , , .
seixo (0,2cm a 6,4cm),
bloco (6,4cm a 25,6cm) e matacão (maior de 25,6cm).
225
Contexto c Tecnologia
226
Sirlei Elaine Hoeltz
227
—
Contexto e Tecnologia
Figura 3
Área de implantação da linha de transmissão Garabi-Itá: peças bifaciais multifuncionais.
Ilustrações: Sirlei Elaine Hoeltz.
228
Sirlei Elaine Hoeltz
229
I
Contexto e Tecnologia
As análises das lascas residuais apontam, assim como paia o sítio 66, que os
blocos de meta-arenito sofreram um tr atamento inicial fora do assentamento. Cor
robora com essa sugestão, além das razões já indicadas, a ausência ou a baixa
ocorrência de lascas corticais oriundas daqueles instrumentos produzidos com
um mínimo de golpes, mas frequentes nessa indústria. Assim, o comportamento
de ambos os grupos (ou do grupo), quanto às estratégias adotadas no estágio
inicial do lascamento das matérias-primas, pode ser equiparado. 0 lascamento
inicial dos blocos foi efetuado provavelmente no próprio local da aquisição ou em
algum local próximo ao sítio.
Tem-se uma indústria quantitativamente menor do que a recuperada no sítio
66, mas composta igualmente por núcleos e instrumentos produzidos através das
operações de debitagem e/ou façonnage. Também a técnica utilizada para essas
operações corresponde à percussão direta com o emprego de um percutor duro.
Diferentemente do indicado no sítio 66, muitas lascas desse conjunto parecem
perfeitamente correlacionáveis aos negativos dos lascamentos presentes nos ins
trumentos, apesar de ambos os conjuntos apresentarem um número reduzido de
lascas, se comparado à quantidade de instrumentos. Tais lascas são compatíveis
tanto nas dimensões (em média, 3,3 X 3,0 X 1,2 cm) quanto na morfologia
(retangulares) e na forma do talão (não apenas irregulares). A esse contexto soma-
se a insignificante presença de núcleos que podem corroborar com a lüpótese de
que era a façonnage, antes da debitagem, a operação posta em prática no local
mesmo que nem todas as etapas do lascamento tenham sido ali executadas.
Os artesãos, na produção de seus instrumentos, seguiram um raciocínio seme
lhante ao identificado na produção das peças da indústria anterior. Há inicialmen
te a seleção de blocos, em geral espessos e de morfologia alongada, cujos estágios
iniciais de produção limitam-se a uma sequência que compreende poucas retira
das, para em seguida efetuar as sequências que levam à criação das UTFs
transformativas. Do mesmo modo, o ordenamento da produção dessas unidades
dá-se sempre primeiramente pela organização das superfícies planas, seguida da
organização dos planos de corte e bico.
Segundo o tipo de operação e a estrutura adquirida durante a produção, têm-
se igualmente núcleos e instrumentos divididos em categorias que se subdividem
em tecno-tipos. Para os núcleos, suas propriedades técnicas em nada se diferen
ciam das propriedades que resultaram na categoria A (estrutura piramidal) da
indústria anterior. Para os instrumentos, no entanto, há três categorias, das quais
duas podem ser identificadas na indústria anterior (peças bifaciais e lascas
retocadas), e a outra é exclusiva desta indústria (peças unifaciais). As peças bifaciais
subdividiram-se em cinco novos tecno-tipos (I, J, K, L e M), que representam,
contudo, não uma mudança no esquema operacional, se comparado às peças
bifaciais do sítio 66 - visto que suas produções igualmente ocorreram a partir da
façonnage de blocos elipsóides —, mas uma variação na construção volumétrica
final e na organização das UTFs(t) e (p). Ressalta-se que, não raro, há semelhan-
230
Sirlei Elaine Hoeltz
ças de caracteres técnicos entre esses tecno-tipos e também entre estes e os tecno-
tipos precedentes.
A categoria das peças trifaciais está ausente, e a categoria das peças unifaciais
(tecno-tipo N) encontra-se representada por apenas uma peça. Essa situação pode
ser decorrente de uma quantidade de peças relativamente pequena no conjunto,
conforme já observado, e/ou das condições ambientais precárias em que o sítio se
encontra. Mas há um outro fator que pode estar exercendo influência na compo
sição desta indústria em particular. Nas análises das peças bifaciais é evidente a
recorrência de peças cuja extremidade distai delineia-se num gume transversal
(caracterizadas pelas categorias I, J, K e M). Mesmo as peças multifuncionais com
formas curvas (tecno-tipo M) apresentam pelo menos uma UTF(t) com tais carac
terísticas: plano de seção (plano de bico) plano/côncavo, retoques bilaterais, uni
laterais ou alternantes e gume, em geral, agudo variando entre 40 e 70°. A
organização desse gume transversal parece de tal forma integrado à UTF preensiva
(seja ela cortical ou delineando um “estrangulamento ) que a peça toma uma
morfologia particular (Fig.4). Assim, nessa regularidade podem estar subentendi
dos os objetivos desta produção e consequentemente a representação funcional
deste sítio arqueológico.
Figura 4
Área de implantação da linha de transmissão Carabi-Itá: peças bifaciais multifuncionais,
ilustrações: Sirlei Elaine Hoeltz.
231
Contexto e Tecnologia
232
Sirlei Elaine Hocltz
233
Contexto e Tecnologia
234
Sirlci Elaine Hoeltz
a produção das pequenas peças bifaciais e/ou das pequenas lascas retocadas (pois
estas íillimas não parecem corresponder a lascas residuais da façonnage\ As evi
dências de modificações em certos gumes, tomando-os agudos, sugerem a hipóte
se do reaproveitamento de núcleos como instrumentos — principalmente da cate
goria discóide (semelhante observação foi constatada nas duas indústrias anteriores).
Os instrumentos, por sua vez, estão representados por categorias já identificadas
em um ou em ambos os sítios analisados: peças bifaciais, peças trifaciais e lascas
retocadas. A diferença entre os sítios, no entanto, reside na maior variabilidade
de tecno-tipos nesta indústria do que nas outras duas, que se verifica pela diferen
ça entre alguns caracteres técnicos que igualmente distinguem os tecno-tipos já
apresentados, como: a operação utilizada na produção do suporte, a organização
das UTFs transformativas e preensivas e a construção volumétrica final. Mas há
outros elementos que revelam instrumentos somente representados neste conjun
to, que são as pequenas peças bifaciais produzidas a partir de lascas ou blocos.
Nesse sentido, as pequenas dimensões parecem revelar a produção de peças com
o objetivo de atender a funções específicas e distintas das que têm sido apresen
tadas até o momento.
Mas nessa diversidade de instrumentos, há um elemento comum não somente
observado nas peças desta indústria, mas igualmente nas peças das outras duas
indústrias, que diz respeito ao número de UTFs(t) resultantes em uma única peça.
Não raro tem-se peças cujos suportes receberam mais de uma UTF(t) e julga-
se não se tratar de puro acaso, dadas as nítidas diferenças e a regularidade com
que foram confeccionadas — tratando-se, portanto, na sua maioria, de instrumen
tos multifuncionais.
As diferenças nos arranjos das UTFs transformativas e preensivas podem ser
constatadas entre as gr andes peças bifaciais (Fig.5). Em geral, a metade superior ■
235
Contexto e Tecnologia
S. 173
013
-cm
Figura 5
Area de implantação da linha de transmissão Garabi-Itá: peças bifaciais multifuncionais.
Ilustrações: Sirlei Elaine Hoeltz.
236
Sirlei Elaine Hoellz
237
Contexto e Tecnologia
Portanto, o estudo da cadeia operatória das indústrias líticas desses três sítios
localizados no vale do rio Ijuí fornece-nos subsídios para sugerir que as tradições
Umbu e Humaitá encontram-se arraigadas em diferenciações questionáveis. Pa-
rece-nos claro que a variabilidade das indústrias líticas dos caçadores coletores do
sul do Brasil encontra-se, principalmente, na complementaridade entre peças
bifaciais e instrumentos sobre lascas, possuindo, estes últimos, UTFs transformativas
mais agudas que não ocorrem nos instrumentosfaçonnados. Desse modo, depen
dendo da(s) atividade(s) desempenhada(s) em um dado sítio, teremos uma dife
renciação na popularidade das categorias de instrumentos produzidas. E, se essas
indústrias forem submetidas simplesmente a uma análise tipológica, ter-se-á a
falsa impressão de que se trata de instrumentos tão diferentes que, inevitavelmen
te, serão vistos como produções advindas de populações culturais distintas.
Considerações finais
238
Sirlei Elaine Hoeltz
Referências Bibliográficas
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242
Recent advances in
stone-tool reduction analysis:
A review for brazilian archaeologists
Michael J. Shott*
‘ Dept. of Classical Studies, Anthropology and Archaeology. 302 Buchtel Common. University of
Akron. Akron, OH 44325-1910 USA. shott@uakron.edu
243
Rccent advances in stone-tool reduction analysis
Before tuming to lhe reduction thesis itself, I first consider the premises that
underlie traditional lithic analysis of tool form. especially the classification of
specimens in types defined on morphological or other grounds. No one who has
attempted it wotdd doubt that classification of stone tools is difficult, but even
biological classification, vvliich seems straightforvvard, can be problematic. Consider
"species," a fundamental biological unit of observation and inference. “Species”,
however, is ambiguous in its conmion definition that involves reproductive
boundaries. Biologists work vvith living taxa, difficult enough to classiíy. It is not
alwavs easy to identify reproductive boundaries, so biologists sometimes rely upon
gross differences in size and anatomy to distinguish species.
But paleontologists cannot observe reproduetion; for them, classification is
even less straightforvvard. their dilenunas more akin to archaeology's. Unable to
observe living organisms, paleontologists must order the great diversity of fóssil
211
Michael J. Sholt
specimens into meaningful units like species but must not confuse them with other
sources of variation like individual difference, growth from birth to maturity and
taplionomic distortion. When contemplating two or more specimens that broadly
are similar but that differ in some respects, paleontologists must decide if the fóssil
individuais were conspecifics that document the taxon’s range of variation or
tnenibers of two or more taxa separated by time, selection, and evolutionary change.
Like paleontologists, archaeologists must define types from the great variation
expressed in stone tools. But they cannot observe in use the tools that they classify,
and must remember that some stone tools were only parts of larger wholes, not
wlioles themselves. Like paleontologists, archaeologists also must consider
systematic variation that occurs within, not just between, taxa. Types are Platonic
ideais that specimens only approximate, so there is ordinary variation within them.
Stone tools do not grow but, on the contrary, become smaller with use. Reduction
is an archaeological analogue of biological growth that works in the opposite direction.
Finally, tools can be broken after deposition, so suffer some taphonomic efiects.
As in paleontology, so in archaeology: classification can be complicated.
Bifaces and some other tools are so extensively modified by hafting and use to
be impossible to mistake for other types. North American fluted bifaces, for instance,
are a relatively homogeneous type that requires no sophisticated methods to
recognize, but the definition of speciíic íluted-biface types like Clovis and Gainey
is much disputed, and possible historical links between, say, Clovis and Fluted
Fishtail points remain unclear. Ancient people only hafted some stone tools and
used many, hafted or otherwise, that were not constrained in size or form by their
manner of use. Most lithic classification is by size and form, but these properties
are ill-suited to flake (and some core) tools that vary widely in those respects but
perhaps less in the characteristics of their use and retouch. For every biface,
archaeologists might encounter dozens of unmodified or slightly modified flake
tools.
Whatever its problematics in use, lithic classification traditionally started from
two related premises. First, their size and form was essential to the definition of
tool types. Any type defined differed from any other in these respects, and all
tools belong unambiguously to one or the other. There is no continuum of variation
between types. There is no continuity, metrically or moqrhologically, between
knives and forks, wrenches and hammers, Middle Paleolithic single, double and
convergent scrapers, or lesmas and raspadores. These beliefs are archaeological
variants of essentialism, the view that types are discrete Platonic essences and that
their boundaries are marked by gaps or discontinuities in size and form however
measured or categorized.
The second premise is that the size and form in which archaeologists find tools
are the size and form in which they were used, excepting of course the fracture
experienced by many specimens. It is equivalent to supposing that we find short
stubs of pencils in trash cans because that is the size at which people used pencils
245
Recent advanccs in stone-tool reduction analysis
or, for that matter, that cigarettes were sinoked only for Deeting moments because
usually they are found as short butts.
Unlike metal, pottery and other important materiais, stone is a reductive médium;
no one assembles stone tools. From original cobble to íinished tool and beyond,
size change occiu s only in one direction. However trite it may seem, this observation
has deceptively profound implications for both typological premises. Taking them
in reverse order, the undeniable fact of reduction means that many tools are found
at whatever their size and form not because they were designed for use that way
but because they were reduced dming use and then discarded. They were not
designed for use at that size and form, but thrown away precisely because that
diminished size and perhaps changed form rendered them useless. The second
premise therefore is compromised by reduction.
Reduction itself occurs retouch flake by retouch flake, so in a sense is a discrete
process. But it is better understood as a continuous process (Shott, 1996a), both
because the incrementai units—retouch flakes—ordinarily are very small relative
to die tool and because reduction is measured by continuous variables or dimensions
like length and width. If tools are reduced and reduction is continuous, then tools
vary in continuous terms (Hiscock & Attenbrow, 2005). Things that vary so cannot
approximate Platonic essences. Any types formed among the complex variation
in stone-tool size and form are empirical tendencies; they are populations, not
essential types.
This is not to deny the validity of typological concepts nor the reality of many
stone-tool types. Even empirical tendencies sometimes are discretely different
from one another. It is, however, to deny the necessity of essential types and to
acknowledge the possibility that much variation in stone-tool size and form owes to
continuous reduction combined with modes of use and retouch. In recent decades,
therefore, archaeologists around the world have reimagined the nature of lithic
types and the nature of variation within and between them.
Documenling reduction
246
Michael J. Shott
Perhaps the best and most well documented ethnographic case of reduction is
in hafted Ethiopian hidescrapers. Gallagher (e.g., 1977) was possibly the first to
note the transformations wrought in obsidian and chert hidescrapers of the Ethiopian
liiglilands between first use and discard. The basic parameters of his account
were repeated by Haaland (1987) and especially Weedman (2000, 2002) in her
detailed study. Shott and Weedman (2007) devised measures of reduction Erom
Weedtnan’s data, as discussed below.
Experimental data do not prove that ancient tools were reduced by retouch
during use. But they do demonstrate how easy it is to reduce the size and alter the
form of types like hafted hidescrapers (Morrow 1996) and Folsom bifaces (Shott
et al., nd).
There is no direct observation of reduction from archaeological data, because
we were not there to see how tools were used, retouched and reduced. But
archaeologists have documented reduction effects in detailed studies of lithic
industries from many areas. Reduction and its effects on tool size and form—and
therefore on typologies based on these properties—register clearly in Lower (Potts,
1991; Sahnouni et al., 1997) Middle (Dibble 1995) and Upper Paleolithic tools
(Hiscock, 1996). They occur in North American stemmed bifaces (Cresson,
1990; Hoffman, 1985; Truncer, 1990; Wheat, 1975), Paleoindian flakeshavers
(Crimes & Crimes, 1985)—”limaces” in Paleolithic parlance, perhaps comparable
to the common Brazilian type “lesma”—and hidescrapers (Ahler, 1975:Figs. N-
5, N-6; Shott, 1995). They clarify many apparent problems with Australian lithic
typology by demonstrating how what once were considered distinct types are
merely arbitrary subdivisions of reduction continua in flake tools (Hiscock &
Attenbrow, 2005). They obtain even in Neolithic Swedish shaft-hole axes (Lekberg,
2000:Fig. 2). Thus, reduction effects are recognized in many tool types of many
ages from many parts of the world.
The typological implications of the reduction thesis are difficult to exaggerate.
Traditionally, much variation observed in tool assemblages is attributed to cultural
affinity, activity variation or other factors. Indeed, Paleolithic archaeologists record
affinity or activity almost entirely in different type proportions. If the reduction
thesis is correct, these conclusions are questionable uriless we control for the
effects of retouch on tool size and form. There are no Developed Oldowan industries,
no distinct notched-tool types, no Quina Mousterian facies. There is instead complex
and fascinating assemblage variation to explain. More than any other recent
development, the reduction thesis shows that how we classify determines what we
perceive about the past. Reduction is a cultural practice that no lithic analyst can
ignore.
Typological implications of the reduction thesis have made lithic analysts stand
up and take notice. But some might consider its value to be purely negative, as
revealing our ignorance where we thought we knew. Some considerable variation
in tool size and form that we might attribute to typology owes instead to pattern
247
Reccnt advanccs in stonc-tool reduction analysis
and degree of reduction. So perhaps the reduction thesis is an empty shell that
provides no positive knowledge.
Perhaps not. True, the reduction thesis has largely negative implications for
typology. (In a larger sense, even in tiús respect it is quite positive or constructive,
because it improves typological practice and inference. This value alone commends
the reduction thesis to the attention of lithic analysts.) Typology aside, however,
the reduction thesis has undoubted positive value. To describe that value, however,
requires defining and distinguishing three concepts: use-life, utility, and curation.
Around the world, the reduction thesis explains some variation in tool size and
fonn as well as, perhaps better than, traditional approaches. But the reduction
thesis reveals more than just each tooPs path through one formal type to another.
Trivially, each tool entered the archaeological record by being discarded for some
reason. At the higher levei of assemblages as sets of tools, variation in degree of
reduction identifies both the amount of reduction that tools experienced and the
processes that led to discard.
To exploit the wider potential that the reduction thesis possesses, it is necessary
to distinguish between three entities: reduction, curation, and use life. The physical
necessity and reality of reduction was established above, if it ever needed proving.
Use life is simply the Service life of objects, measured in time or in units of work
(e.g., for hidescrapers, number of strokes drawn or amount of hide worked). Use
life can be expressed as an average for tools of a type or class, or as a distribution
of values akin to the distribution of age-at-death in human populations (Hildebrand
& Hagstrum, 1999; Shott & Sillitoe, 2005). It is vital not to confuse use life with
curation, on the false logic that things that last longer on average necessarily are
more or better curated than things that last shorter times. Given the careful definition
of curation below, very short-lived flake tools, for instance, can be curated more or
better than longer-lived tltings (Shott & Sillitoe, 2005).
That leaves curation. It is well known that Binford (1973) originated tiús
concept, which has proven higlily productive in the analysis of lithic assemblages.
With time, however, curation carne to mean different things to different
archaeologists, everything from hafting to retouched to transpor! to “production in
anticipation of future use”. It seems best to call hafting “hafting,” retouch “retouch,”
and transport “transport,” and it is inconceivable that any tool was made without
anticipation of future use even if that future was only moments away. At some
length, I argued that curation is the ratio or relationship between two Utilities,
maximum and realized (Shott, 1996b). “Utility” in the abstract is amount ofwork
or use. Meximum utility is the maximum amount of work that can be accomplished
with a tool, equivalent to Elston’s (1992:41) “use-life utility,” Schiffers (1976:54)
“number of uses”, and DeBoer’s (1983:26) “remnant uselife”. Realized utility is
248
Michael J. Shott
the amount that a tool actually is used. In this sense, maximum utility is a constant
property of a tool type, which can be imagined as one Idnd of use (e.g., hidescraper)
or several (e.g., hidescraper, planer, cutter); the utility concept accommodates
niultifunctionality of tools. Realized utility is that amount that a tool accomplishes
during its use life. Thus, realized utility is a variable property of individual tools
within types. Curation is the ratio of realized to maximum utility, and thus is a
ineasurement and property of individual tools. The range and relative frequency
of curation values of individual specimens within a type—a curation distribution—
is a property of types and assemblages.
Consider an example. If maximum utility is the maximum conceivable amount
ofwriting use, resharpening and reduction that a pencil can experience to the limit
of prehension, then realized utility is the amount that each pencil is used before
loss or discard. Maximum utility is a relatively fixed quantity, but a glance at trash
cans and other places where abandoned pencils accumulate makes it clear that
realized utility varies among pencils. The curation rate of a pencil is the ratio of its
realized to maximum utility. In the case of a pencil only half reduced, curation is
0.5. In the case of a pencil reduced to the shortest stub that can be used, curation
approaches 1.0. For a collection or assemblage of pencils, the range and relative
frequency of such individual curation values comprise its curation distributior
Elsewhere I argued that curation conceived and defined in this way rerm
the ambiguity traditionally associated with the concept (Shott, 1996b). Yet,
admit that some ambiguity or limitation resides as well in curation defined in this
way. For instance, maximum utility is clear enough in concept but may be elusive
in practice. The maximum utility of a pencil can be equated with its minimum
length to remain prehensible. That length is apt to differ between the furnble-
fingered and the adroit. But then, it is apt to differ within relatively narrow ranges,
and it seems reasonable to use population averages to stand for maximum utility.
Also, curation is defined as a ratio between Utilities, which themselves express
quantities of work performed. But in practice amount of work is defined by amount
of reduction, not work directly. Two tool users who have different standards or
preferences conceivably could reduce the satne original tool to the same reduced
size but perform different amounts of work in the process. Consider again the
pencil example. You might resharpen your pencil often, preferring to use one that
has a relatively acute lip and resharpening it every, say, 10 fines of text. On the
other hand, I might be content to wear the tip down to a stub before resharpening
it once every 50 lines of text. Ambiguities inust be resolved, but they do not
invalidate the curation concept nor are they obstacles to its use in practice.
Measuring reduction
Measuring utility requires knowing the amount of usable material that a tool
contained originally (Kulin, 1994; Shott, 1996b:270). This abstract quantity is
249
Recent advances in slonc-tool reduction analysis
Various methods have been used to estimate the original size and form offlake
blanks that were used and retouched. They fali into two general categories—
geometric and allometric—along with a third set of miscellaneous measures (e.g.,
distinctions between tool haft element and blade).
Geometry
Kuhn’s (1990) “Geometric Index of Unifacial Reduction” (GIUR) was the first
popular reduction measure in this category. It is based on the progressive alteration
to the cross-section form of flakes as they are retouched during use. Unretouched
flakes begin their period of use with unmodified, often tr iangular, sections. As
their edges grow dull with use and are resharpened, sections are modiíied. The
GIUR measures the degree of that modiíication in a rather complex geometric
way:
250
Michael J. Shott
GIUR= D sin(a)
T
where D is depth of retouch (clistance between original edge and edge as retouched),
a is retouch angle and t is height of the retouched edge. GIUR is approximated
more simply as the ratio of t—thickness of the retouched segment of the edge—to
T, the flake’s maximum thickness as viewed in cross-section (Fig. 1).
B
t T-.5
-.«tinlil
Figure 1
Two Examples of Calculation of GIUR Using the Approximation t/T. Views are flake cross-
sections, t = thickness of retouched edge, and T=maximum thickness. Shading indicates
segments of edge removed by retouch.
Hiscock & Clarkson (2005) report good results in the use of GIUR, in controlled
experimental studies where degree and pattern of retouch are known. Like all
methods, GIUR has limitations, some of which are inherent and others depending
on mode or pattern of tool use (Shott, 2005). Briefly, GIUR assumes that ílake
cross-section always is triangular (as opposed to plano-convex or trapezoidal) such
that the value of t does not approach T except at the latest stages of retouch. But
depending on cross-section form, t may approach T well before the flake tool is
exhausted. This is the “Hat flake” problem (Dibble, 1995:Fig. 12). Between the
extremes of perfectly triangular and trapezoidal sections are incurvate and excurvate
sections. In these cases, t/T rises slowly (incurvate sections) or rapidly (excurvate
sections) with unit increases in invasive resharpening. That is, the same amount of
use, resharpening, and reduction yield a range of t/T values depending on sectional
geometry.
Just among flakes of triangular section, acute angles on relatively thin flakes
require absolutely more reduction to reach the same t/T value than do steep
angles on tlúcker flakes. Geometric limitations are simultaneously limitations of
251
Recent advances in stone-tool reduction analysis
scale. As tool size and sectional area increase, absolutely more resharpening is
needed to reach any given t/T value. (GIUR shares this scale effect with reduction
measures like the allomeuic inethods discussed below.) Hiscock & Clarkson’s
(2005) experiment shows that GIUR increases as a nonlinear function of weight
loss in ílake-tool reduction. As they note, this means that “not all increments in lhe
Kuhn index are equivalem”. It is a rubber, not a rigid, yardstick.
GIUR’s limitations are just that, not fatal flaws. To control for them, for instance,
comparison of t/T values can be confined to specimens of similar sectional geometry.
And there is little doubt that the GIUR works well on ílake sidescrapers. To
judge from lüs illustration, for instance, the tula whose reduction Tindale (1965:Fig.
19) documented was used íirst on one lateral edge, then rehafted and used on the
other. GIUR should be a valid measure of its reduction.
ERP
Eren et al.'s (2005) Estimated Reduction Percentage (ERP) essentially is a
three-dimensional volumetric extension of Kuhn’s (1990) geometric reduction
index. Its calculation begins with a geometric estimate of volume of edge lost to
retouch, Eren eí al.'s “Estimated Volume Lost”. This quantity is found as:
EVL = L* D^_sin2(a)cot(b)-sin(a)cos(a)
2
where D and a are as above, b is dorsal plane angle and L is length of retouched
edge. After this quantity is measured, the actual remaining volume of the lool V
is measured (Eren et al. used water-filled graduated cylinders). Finally, ERP is:
ERP = V
V + EVL
In Eren and Predergasfs (2007) experiments, ERP emerges as the best general
reduction measure, a provisional conclusion that should be further examined in
future broader comparisons. And its conclusion is not surprising. If reduction is
measured by weight, a good proxy for which is volume, then of course a volume
measure like ERP will perform better than a fully geomeüic one like Kuhn’s
index.
Recent experimental results are somewhat equivocai on the comparative merits
of GIUR and ERP. Hiscock & Clarkson (2007) found a high correlation between
GIUR and mass loss, contra Eren & Prendergast (2007). Such conflicting results
call for further experimentation.
252
Michael J. Sholt
Retouch Invasiveness
II = S Sj/n
Flake “Allometry”
Allometry concerns how the proportions of components of things vary with the
sizes of those things. As reduetion progresses some dimensions are inuch reduced,
others little reduced. Their proportions change accordingly. In reduetion studies,
allometry (Blades, 2003) refers chiefly to the relationship between attributes of
flake blanks that change little with reduetion (e.g., flake thickness, and platform
area and thickness) and those that do, particularly surface area and mass. Hiscock
& Clarkson (2007) identified these as ratios of flake surface area to thickness or
platform area, but they also include the ratío of platform area to mass (Dibble &
Pelcin, 1995). In Dibble and Pelcins controlled experiments, platform area was
a good predictor of flake size, measured as mass or surface area. They used the
following expression to estimate original mass of flakes from platform dimensions:
253
Recent advances in stone-lool reduction analysis
where PT is platform tlúckness, EPA is exterior platform angle, and tan is the
geometric function tangent.
Later experimental data and analyses qualified this conclusion (Davis & Shea
1998; Shott et al., 1999) and yielded somewhat different allometric equations.
But Bradbury et al. (2007) showed that flake thickness remains a useful allometric
estimator of original size in most raw materiais, and Blades (2003) demonstrated
that measnre in use. Nevertheless, there is sufficient variation by material, hammer,
core size and industry to cast some doubt on platform size as an independent
measnre of original flake size. It should be used with care.
Quinn et al. (2007) devised an allometric measnre, what elsewhere (Shott &
Nelson, 2007) called the “Curation Index for Tip Resharpening” (CITR). Il bears
some similarity as well to haft-blade ratios described below. Quinn et al. subtracted
estimated original length found as an empirical allometric regression of length
upon thickness of the unretouched blades that occurred in their assemblages. In
retouched specimens, they then subtracted haft length (recognized from marginal
notching) from total length, calling the difference “bit” length. Finally, Quinn et
al. estimated reduction as:
254
Michacl J. Shott
Haft-Blade ralio
Many ílake tools were not hafted. But tools like bifaces are common outside
Australia, at least in North America, and they were modified as much for hafting
as for intended use. Even slightly retouched ílake tools like endscrapers can be
designed and partially modified for hafting (e.g., Morrow, 1996; Shott, 1995).
When hafts can be distinguished from blades, bits or other functional segments,
the relative size of haft and functional elements can be a reduction measure. In
tools designed for hafting, especially in lashed or socketed hafts, as opposed to the
niastic hafts common in Australia (e.g., Tindale, 1965), haft elements tend to be
relatively standardized in both size and form. Excluding broken or recycled
specimens, haft elements of little reduced and much reduced tools are similar.
T ools not reduced at all sometimes are found in caches or at quarries and workshops,
and little reduced ones can be found in some assemblages. Subject to these
qualifications, measures like the ratio of haft to blade (or other functional segment)
length, area or mass estimate amount of reduction experienced by tools. Grimes &
Crimes (1985) used this logic to calculate measures of reduction and, by extension,
euration and to plot their distribution among specimens in an assemblage of North
American Paleoindian ílakeshavers.
255
Recent advances in stone-tool reduction analysis
Applications
Experimental studies
256
Michael J. Shott
t rough measur e of surface area which, we reasoned, declined through use because
ength and to a lesser extent width were reduced at each stage. Following Blades
2003), we found that maximum thickness changed little, if at all, with retouch.
riius, as Folsom replicates were progressively retouched, the ratio of area to
hickness more or less constandy declined.
Ethnographic data
Archaeological studies
257
Recent advances in stone-tool reduction analysis
at occupation sites were depleted while still-useful points were place in burial
caches, Shott & Ballenger found significant differences in EU values and, therefore,
curation between the contexts.
Many reduction measures are inevitable, perhaps even desirable to some extent.
No doubt still more will be devised, then tested with experimental and archaeological
data. Besides new measures themselves, several urgent tasks confront reduction
analysis.
The first concerns our concepts of appropriate or relevant dimensions or
characteristics. Perhaps only weight is both a measure of size and a unitary character
that is measured in only one way. So siinple a dimension as length can be parsed
by component or orientation (e.g., total, axial, blade, stem). There is no universal
length measure suitable for all purposes, nor should there be. Instead, different
measures record different aspects of reduction (e.g., ERP measures weight loss,
GIUR the change in cross-section geometry, EU [Shott & Ballenger, 2007] changing
blade-stem allometry). Many reduction measures are calculated from orthogonal
dimensions (e.g., maximum length, maximum width) or ratios among them.
Orthogonal dimensions are perfectly legitimate and have the added virtue of wide
use. Yet they reduce complex wholes to (usually) a few linear dimensions. They
are no more afull description oftool size and design than are stick-figure caricatures
adequate depictions of the human form. Archaeologists should consider measuring
two-dimensional or, ideally, three-dimensional form and size using attribute schemes
like Buchanan’s (2006) that are more detailed and therefore better approximations
of actual size and form.
Second, as work advances in the development of new reduction measures, the
need for their comparative evaluation and integration grows acute. We need well
controlled experiments that apply different measures to the same specimens. Several
specimens of the same type can be fashioned, then repeatedly dulled and
resharpened. At each resharpening stage, variables like dimensions, mass, and
edge angles sufficient to calculate several reduction measures can be recorded
and compared for their validity and accuracy in estimating degree of reduction.
But other reduction measures may be devised in the future. Because specimens
continue to experience reduction in size and change in shape at each resharpening,
it is not always possible to make observations necessary for new reduction measures
from the same original specimens. Size and form at, say, second resharpening is
lost once specimens are resharpened a tliird time, and so on. To control comparisons
among the number of measures that is apt to grow, accurate casts of each specimen
should be made at each resharpening episode to serve as archival Controls for the
later testing of even further reduction measures.
258
Michael J. Shott
Reduction distributions
Reduction should be measured for its own sake, to avoid some pitfalls of traditional
typology, and to estimate curation. In this latter respect particularly, however,
archaeologists must do more than merely measure. We must exploit resulting data
by compiling and analyzing curation distributions. This section briefly explains the
value of the analysis of distributions and explores some recent approaches. l
Like use-life, curation can be measured by central tendency (e.g., mean,
median)(Schiffer, 1976:54). Unless allspecimens had identical histories, however,
the distribution of curation values is as important as central tendency (Shott, 1996b;
Shott & Sillitoe, 2005). Two artifact categories can be equal in mean curation but
very different in their distributions, one showing little variation around the mean,
the other a great deal. Consider yet another analogy to pencils. Two sets of
discarded pencils both average, say, 50% reduction of original length. In one, all
pencils ar e reduced to that figure. In the other, pencils are discarded in equal
proportions from slight reduction of 1 % to practically complete reduction to stubs
at 99%. The populations are identical in mean curation but very different in the
distribution of curation values.
At the assemblage levei, degree or amount of curation is distributed across
specimens to form curation distributions or curves. Curation distributions may seem
esoteric, but actually influence how the ar chaeological record forms. To appreciate
why, consider two different hypothetical distributions (in arbitrary units) for the
same artifact class. In one case, all specimens are curated to exactly tire saine
degree, like the first set of hypothetical pencils. There is no distribution, only a
single value. The other includes specimens that vary greatly in the degree of curation
experienced before discard, like the second set of pencils. Curation means are
identical, but curation distributions differ. In the first case, each specimen represents
about the same degree or amount of use, at least as this quantity is measured by
curation. Specimens from the second distribution represent more variable curation
rates, so are not equivalentin degree or amount of use experienced. Figure 2 shows
cumulative distributions of curation values in three hypothetical assemblage scenarios
259
Recent advances in stone-tool reduction analysis
that vary from high (1, equivalent to low rates of infant and juvenile mortality) to
intermediate (2, equivalent to constant, age-independent risk of death or failure) to
low (3, equivalent to lúgh rates of infant and juvenile mortality) curation.
1.0
1 (b=2 08)
8•
s
CZ
O
> *
.6 • 2 (b= 068)
*
>
.4 .
3D ♦3(b-0.01)
i .2.
0.0 _ * l
0 T T 10 7*2
AGE
Figure 2
Hypothetical cumulative survivorship distributions. Note the change in form and in
Gompertz-Makeham b parameter from Curve 1 to Curve 3.
260
Michael J. Shott
1.0
V
.8»
$ OKLAHOMA
i
CD
.6 •
4 \
4 \
> Xt
I2
4 .
t
t
8
.2.
SLOANMAWKINS **
oo._
o.o T To" 1.5 20 2.5 30 35
EU
Figure 3
Cumulaüve Survivorship Curves for Dalton Bifaces from Two Contexts. Oklahoma
assemblages are occupational, while SIoan/Hawkins are burial caches. “Age is expressed
as “expended utilty” (EU). Source: Shott and Ballenger (2007:Fig. 13).
Curation curves can be compared between assemblages, but they also can be
analyzed. Depending on their forms and the distribution of values that comprise
thern, curves fitted to the Weibull, Gompertz-Makeham and other theoretical models
may implicate the effects of chance versus attrition in tool failure (e.g., Shott &
Sillitoe, 2005), with far-reaching implications for assemblage formation. Weibull
ais a scale (i.e., use life) parameter, â a shape parameter that implicates diíferent
causes of failure or discard (Shott & Sillitoe, 2004). If â= 1, failure is by chance;
ifâ> 1, failure is by attrition. Significant departure from 1 was gauged by maximuin
likelihood estimation (Shott & Sillitoe, 2004:344). Gompertz-Makeham a also is a
scale parameter, b a shape parameter that measures failure rate as a function of
time. Gompertz-Makeham b can be interpreted as curation rate, higher values
indicating greater curation (Shott & Sillitoe, 2005). Weibull and Gompertz-Makeham
parameters do not scale identically; the sarne data can yield different estimates for
parameters of the two models.
261
Recent advances in stone-tool reduction analysis
Shott & Sillitoe (2005) analyzed used flakes from highland New Guinea. Because
flakes were not retouched before or during use, and because most were liand-
held, they were subject to little reduction. Across flake types, average time of use
compared to maximum time of use of specimens of the type was a measure of
curation, higher values indicating higher curation. The most relevant aspect of this
study is Shott & Sillitoe’s (2005:658-659) argument that distributions of flakes
used for different lengths of time for different ptuposes pattemed with the Gompertz-
Makehatn b parameter. They reasoned that tliis parameter was a measure of
curation, a point expanded upon below.
In North American Paleoindian assemblages, fluted bifaces and endscrapers
have different characteristic cumulative-survivorship curves and failure distributions
(Shott & Sillitoe, 2005). Biface discard is governed by chance, which is no surprise
considering that bifaces (“points”) are thin for their size and in use are subjected
to many physical stresses from slriking objects at high speeds. End-scraper discard
is governed by attrition, again no surprise considering that scrapers are thicker
and more robust for their size and in use are subjected to fewer and less variable
stresses. Perhaps discard of Brazilian lesmas, like endscrapers, is governed by
attrition wliile discard of, say, Paiján points is governed by chance.
Whatever reduction or curation measures imply about tool use, they more
directly suggest how assemblages formed. Attrited tools do not fail at unpredictable
times and places. Therefore, attrited tools should accumulate at places in numbers
sufficient for their assemblages to be identiffed as large “sites”. Attrited tools have
more predictable life histories and longevity. Their size and composition in
assemblages register the joint effects of rate of activity performance and difference
in use life. Therefore, their assemblages should show correlation between size and
composition. Tools that fail by chance do so without regard to time or place, so
might be more dispersed across the landscape. They should accumulate in more
but smaller assemblages and at rates independent of activity performance.
Are curation measurement and survivorship analysis difficult? The proper
response to such a question is to deny its legitimacy and to argue instead that
archaeologists should determine what they need to know and orily then determine
how they can learn it. Unlike the great philosopher Homer Simpson, to whom
something worth doing well may not be worth the trouble (Fig. 4), litliic analysts
know better than to plead inconvenience as an excuse not to do something that is
worth doing. And besides, curation measurement and survivorship analysis are
neither difficult nor time-consuming. Lithic analysts can conduct such analysis
while not entirely denying Homer’s urge for ease.
262
Michael J. Sholt
Figure 4
Homer Simpson’s Pliilosophical Approach to Work.
Besides its obvious implications for lithic typology and cnration, the reduction
thesis has a deceptively profound implication for the meaning to attach to tool
assemblages. The traditional archaeological view identiíies tool size and fonn with
templates and thereby constructs types. It associates types with activities, whether
broad (“scraper”) or narrow (“dry-hide scraper”). The traditional preinises are
that variation in tool size and form is essential (i.e., forming sets of discrete formal
types) and that types bear some relationship to activity or function. Traditional
lithic classiíication identifies kinds of activities or uses. The presence of a cleaver
in an assemblage indicates butchering, the presence of a scraper scraping.
The reduction thesis has different premises. It views variation in tool size and
form as continuous, i.e., forming complex patterns of variable association and
distribution but not discrete, essential types. It does not so much reject as moot
the traditional view’s form-function identities. However tools were used, much of
their size-form variation owes to amount of use and pattem of retouch. The reduction
thesis has more quantitative than qualitative, premises. In its view, the presence in
an assemblage of, say, a tula slug is not evidence of a kind of activity, unless that
activity is defined broadly as scraping-planing-cutting. Instead, its presence registers
an amount of reduction that attended some kind and amount of tool use. That is,
a type’s presence in an assemblage no longer means “Kind of Tool or Activity X”
but instead “Amount of Reduction Y”.
263
Recent advanccs in stone-tool reduction analysis
Conclitsion
Reduction analysis is integral to determining the form of used slone tools, just
as are stylistic and functional aspects of design. No one doubts that size and form
can be measured, nor that their measurement and analysis bear on rnany
archaeological questions. No less is true of reduction. Reduction is also a key
aspect of the organization of stone tool use. Access to suitable materiais, movement,
resource scheduling, work group composition, among other aspects of land use,
can be understood through analysis of stone artifacts, including the reduction
process.
When we do all of this, then archaeologists can measure ctuatíon in a range of
contexts. We can plot its variation against teclmological, environmental and cultural
factors and in the process better explain curation as a complex bul systematic
variable, not as a simplistic and apparently arbitrary qualilative State. Wherever
we work and whatever our intellectual tradition, stone-tool analysis makes no
sense without understanding the places that tools occupy in the reduction process.
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