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EXPANSÃO TRANSCONTINENTAL
Autores: José Iriarte, Richard J Smith, Jonas Gregório de Souza, Francis Edward Mayle,
Bronwen Whitney, Macarena Lucia Cárdenas, Joy Singarayer, John F Carson, Shovonlal Roy e
Paul Valdes
Resumo
A expansão do Holoceno tardio das línguas Tupi-Guarani do sul da Amazônia para o Sudeste da
América do Sul constitui uma das maiores expansões de qualquer família linguística no mundo,
abrangendo ~4000 km entre as latitudes 0°S e 35°S a cerca de 2,5k cal. ano BP. No entanto, as
razões subjacentes a esta expansão são uma questão de debate. Aqui, comparamos conjuntos
de dados paleoecológicos, paleoclimáticos e arqueológicos em escala continental, para
examinar o papel da mudança climática para facilitar a expansão dessa cultura florestal.
Porque essa expansão está dentro do caminho do Baixo Nível Sul-Americano Jet, o principal
mecanismo para o transporte de umidade nas terras baixas da América do Sul, fomos capazes
de explorar a relação entre mudança climática, florestas expansão e Tupi-Guarani. Nossa
síntese de dados mostra uma ampla sincronia entre o aumento da precipitação do Holoceno
tardio e a expansão ao sul de floresta tropical e sítios arqueológicos Guarani – o ramo mais
meridional dos Tupi-Guarani. Concluímos que a mudança climática provavelmente facilitou a
expansão agrícola da cultura agroflorestal Guarani, aumentando a área de paisagem florestal
que eles poderiam explorar, mostrando um exemplo de oportunismo ecológico.
Palavras-chave
A expansão dos agricultores e suas línguas é, sem dúvida, um dos processos mais
importantes que ocorreram durante a história humana no Holoceno (Ammerman e Cavalli-
Sforza, 2014; Anthony, 2009; Bellwood e Renfrew, 2002; Kirch, 2000). Este processo trouxe
mudanças significativas em tecnologias e estruturas sociais e políticas, bem como novas
práticas de gestão da paisagem para as novas regiões que foram colonizadas. Em todo o
mundo, várias expansões culturais têm sido associadas às mudanças climáticas, onde o clima
exerceu um controle sobre a extensão das paisagens favorecido por grupos culturais
particulares (por exemplo, Büntgen et al., 2016; Kuper e Kröpelin, 2006). Por exemplo, a seca
induzida, a redução da cobertura florestal e o surgimento de corredores de savana durante o
Holoceno Médio permitiu que os bantos colonizassem o que já foi floresta densa do Congo e
outras regiões da África (Grollemund et al., 2015; Oslisly et al., 2013). Na Ásia Central, o povo
horse-riding Scythian capitalizou a transformação do deserto hostil em floresta de estepe,
causado por chuvas mais altas no milênio aC (Van Geel et al., 2004). Da mesma forma, o início
das condições mais úmidas nas estepes da Eurásia central no AD. O século XIII parece ter
desencadeado a expansão do maior império terrestre contíguo da história mundial, o império
mongol (Pederson et al., 2014). Semelhante à expansão Arawak (Heckenberger, 2002), o Tupi-
Guarani é uma das maiores expansões de um povo antigo nas terras baixas da América do Sul,
estendendo-se por 4.000 km e se estendendo do sudoeste (SW) da Amazônia até o Atlântico
subtropical costa sudeste (SE) da América do Sul (Figura 1). A causa desta expansão humana
em massa continua a ser um tema debatido no Novo Mundo, arqueologia, bioarqueologia,
genética e linguística (Brochado, 1989; Eriksen e Galucio, 2014; Heckenberger et al., 1998;
Marrero et al., 2007; Miller, 2009; Neves, 2011; Neves et al., 2011; Noelli, 1998; Rodrigues e
Cabral, 2012; Walker et al., 2012). Semelhante a outros casos de linguagem difundida com os
agricultores de difusão demica (Diamond e Bellwood, 2003), a explicação para a dispersão
Tupi-Guarani para fora da Amazônia tem sido crescimento demográfico impulsionado pela
agricultura, aliado a uma forte territorialidade, redes políticas de longo alcance e uma
ideologia guerreira expansionista (Brochado, 1989; Noelli, 1998). No entanto, uma explicação
baseada apenas em fatores sócio-políticos e causas econômicas não levam em conta nem o
momento nem a rota de a expansão Tupi-Guarani (Scheel-Ybert et al., 2014). Tentativas de
vincular as mudanças climáticas com a expansão Tupi- Guarani baseiam-se em limitadas e
agora ultrapassadas reconstruções. Baseando-se na teoria do refúgio (Haffer, 1974; Prance,
1982) e os registros paleoecológicos disponíveis (por exemplo, Ab’Saber, 1977; Absy, 1979),
Meggers (1982) e Migliazza (1982) sugerem que a expansão tupi-guarani para fora do sudoeste
da Amazônia foi uma resposta ao aparecimento de episódios climáticos mais secos que
reduziram a floresta em torno de 2mil cal. anos AP forçando grupos Tupi-Guarani a migrar para
outras regiões. Este esquema foi seguido por vários Arqueólogos brasileiros (por exemplo,
Schmitz, 1991) em sua interpretação das migrações tupi-guarani. Em recente revisão de dados
paleoecológicos, Neves (2013) chamou a atenção para a correlação entre uma tendência de
aumento da umidade em torno de 3,5k cal. anos AP e a disseminação de estratégias
econômicas tradicionalmente denominadas “padrão de floresta tropical” em toda a Amazônia.
Neves (2013) sugere que as mudanças climáticas que ocorreram entre o médio e final do
Holoceno provavelmente "desencadearam uma dependência mais forte a esses diversos
sistemas agroflorestais e o estabelecimento de grandes assentamentos sedentários em toda a
área”. No entanto, este estudo restrito à Amazônia não vinculou o aumento das condições de
umidade climática com a migração de populações dentro ou fora da Amazônia. Mais
recentemente, Bonomo et al. (2015) realizou a mais recente síntese da natureza e ritmo do
Guarani expansão para o sudeste da América do Sul. Com base em alguns estudos
geomorfológicos (Iriondo e Garcia, 1993; Stevaux, 2000), esses autores minimizaram o papel
do clima na expansão do Guarani no sudeste da América do Sul afirmando que “as oscilações
climáticas durante este período não parecem ter uma forte influência nos pulsos identificados
de expansão Guarani, que transcende momentos secos, quentes e úmidos”. Além disso, não
vinculam a expansão dos Guarani na bacia do Rio da Prata à sua terra natal no sudoeste da
Amazônia.
Materiais e métodos
Resultados
O estoque linguístico tupi é um dos maiores da planície sul América. É composto por
cerca de 60 línguas agrupadas em 10 famílias linguísticas, das quais a família Tupi-Guarani é a
mais amplamente dispersa – sendo a única que se estende além da Amazônia (Rodrigues e
Cabral, 2012) (Figura 1 e Figura S2, disponíveis online). No momento da chegada dos
portugueses ao Brasil costa (1500 dC), falantes tupi-guarani estavam contados na casa dos
milhões (Viveiros de Castro, 1992). Na Bacia do Prata e na toda a costa atlântica brasileira,
ocuparam uma área ribeirinha e costeira com mais de 4.000 km, e línguas francas de base tupi-
guarani ainda eram amplamente utilizadas no Brasil tão recentemente quanto século XIX
(Noelli, 1998; Walker et al., 2012).
Os Tupi-Guarani viviam em grandes aldeias paliçadas (Figura 3), com quase todos os
sítios arqueológicos situados em florestas próximas rios navegáveis (Scheel-Ybert et al., 2014).
O manejo das florestas foi um componente-chave da economia tupi-guarani, incluindo a
introdução de plantas para preparar o ambiente, antes sua anexação definitiva de uma área
recém-assentada (Noelli, 1998). Eles praticavam a policultura agroflorestal, complementada
com pesca, caça e coleta (Noelli, 1998; Scheel-Ybert et al.,2014) e sua expansão marca a ampla
adoção da agricultura no sudeste da América do Sul, trazendo consigo 24 variedades de
mandioca (Manihot esculenta), 13 variedades de milho (Zea mays), 15 variedades de feijão
(Phaseolus vulgaris) e 21 variedades de batata (Ipomoea batatas), entre muitas outras plantas
cultivadas (Brochado, 2001; Noelli, 1993). A distribuição dos sítios indica que os Tupi-Guarani
não selecionaram um determinado tipo de floresta, mas se expandiram e em uma variedade
de tipos de floresta, incluindo floresta tropical de dossel fechado, floresta seca e floresta de
galeria. Parece que o fator determinante para a colonização Tupi-Guarani é a presença de uma
cobertura arbórea para a prática agroflorestal. Evidências linguísticas indicam a presença de
reflexos do mesmo nome para ‘pedaço de terra cultivado’, 9 das 10 famílias linguísticas do
estoque tupi sugere que os falantes da língua proto-tupi praticavam a ideia de que se pretende
reforçar uma expansão agrícola (Rodrigues, 2010). Este argumento é ainda forte pela presença
de nomes semelhantes para produtos agrícolas ferramentas como pau de cavar e machado,
bem como as principais culturas, incluindo mandioca, batata-doce e inhame em quase todas as
famílias linguísticas do estoque (Rodrigues, 2010).
Apesar da escassez de dados arqueológicos no sudoeste da Amazônia (Macario et al.,
2009), esta região é considerada o centro de origem do tronco tupi, com base na linguística
(Miller, 2009; Rodrigues e Cabral, 2012; Walker et al., 2012), dados morfológicos cranianos
(Hubbe et al., 2014; Neves et al., 2011) e dados genéticos (Marrero et al., 2007; Santos et al.,
2015). Cinco das 10 famílias do estoque tupi se restringem ao moderno estado de Rondônia,
Brasil (Eriksen e Galucio, 2014). Há muito tempo é reconhecido que tal profundidade de
diversidade etnolinguística aponta para o sudoeste da Amazônia como a pátria do estoque tupi
(Eriksen e Galucio, 2014; Rodrigues e Cabral, 2012; Walker et al., 2012). Linguistas estimam
que o estoque tupi inicialmente se dividiu entre 5mil e 3mil cal. anos AP, após o que a família
Tupi-Guarani se dividiu em torno de 3 mil–2 mil cal. ano BP (Migliazza, 1982; Rodrigues e
Cabral, 2012; Walker e outros, 2012). Da mesma forma, os dados genéticos apoiam o sudoeste
da Amazônia como o suposto local de origem dos grupos tupi (Marrero et al., 2007; Santos e
outros, 2015). Análise da variabilidade em doenças autossômicas e marcadores genéticos
uniparentais (cromossomo Y e mtDNA) mostram concordância com os modelos linguísticos,
evidenciando uma expansão precoce a partir da bacia Madeira-Guaporé e uma posterior
expansão continental dispersão populacional associada aos Tupi-Guarani (Santos et al., 2015)
ca. 2,8 mil cal. ano AP (Amorim et al., 2013). Dados morfológicos cranianos também
demonstram que indivíduos de Tupi-Guarani contextos arqueológicos no sudeste da América
do Sul são agrupados mais intimamente com as séries amazônicas do que com as populações
locais (Neves et al., 2011).
É claro que, apesar da falta de dados arqueológicos cruciais no alto rio Guaporé e no
Cerrado ligando SW Amazônia ao sudeste da América do Sul, correntes linguísticas, genéticas,
cranianas. Dados morfológicos e arqueológicos disponíveis sugerem que a família tupi-guarani
se separou e começou a se espalhar para o sul a partir da Amazônia para o sudeste da América
do Sul (Figuras 2 e 4) em cerca de 3 mil –2 mil cal. anos AP (Bonomo et al., 2015; Noelli, 1998;
Rodrigues e Cabral, 2012). Os dados arqueológicos (Figuras 2 e 6c) mostram que os Tupi-
Guarani se expandiram para além da “zona do mosaico” (Bell wood e Renfrew, 2002) do
sudoeste da Amazônia para alcançar a “zona de expansão” zona” (Figura 1) desta família
linguística no sudeste da América do Sul por cerca de 2,5k cal. ano AP, dando origem à
Tradição Guarani ao sul de o paralelo 17°S (Bonomo et al., 2015; Noelli, 1998)
Rotas de expansão
Outra rota potencial de expansão pode ter sido através do Cerrado. Pode-se esperar
que o extenso Cerrado (savana) bioma do centro-sul do Brasil (cobrindo cerca de 2.000.000
km2), que separa os biomas Amazônia e Mata Atlântica (Figuras 2 e 4), apresentaria uma
grande barreira ambiental para a cultura Guarani atingir o bioma Mata Atlântica do SE do
Brasil. No entanto, quando considerado em escalas espaciais mais finas, o bioma Cerrado não
é uma extensão uniforme de savana, mas sim uma área altamente heterogênea mosaico
floresta-savana. A savana está confinada a áreas de solos altamente inférteis e é intercalada
com ilhas de espécies tropicais semidecíduas floresta em solos mesotróficos e extensas faixas
de mata de galeria ribeirinha que se conectam com a Mata Amazônica e a Mata Atlântica
biomas. Mais recentemente, Almeida e Neves (2015) levantaram a hipótese de uma origem
amazônica oriental para os Tupi-Guarani; Contudo, as datas Tupi-Guarani no leste da
Amazônia são contemporâneas às datas Guarani no Alto Paraná, portanto, refutando esta
hipótese até que mais pesquisas sejam realizadas. Por último mas não menos importante, não
devemos descartar a possibilidade de que algumas populações fundadoras ‘leapfrog’ (sensu
Fiedel e Anthony, 2003) do sudoeste da Amazônia a Mata Atlântica, onde encontraram o nicho
perfeito e começaram sua expansão a partir daí.
Essa hipótese é apoiada pela cronologia relativamente precoce do sítio Morro Grande
no estado do Rio de Janeiro, que pertence à Tradição Tupinambá e data de volta para cerca de
2,9 mil cal. anod AP (Macario et al., 2009; Scheel-Ybert et al., 2008). A probabilidade de que
esse salto inicial de longa distância também foram seguidos por episódios posteriores de
expansão subsequentes desta região à medida que a floresta se expandia pelo sudeste da
América do Sul também deve ser tomado como uma hipótese testável para estudos futuros.
No entanto, no momento, esse argumento deixa sem explicação como os primeiros sítios
Guarani aparecem no Alto Rio Paraná e não na Mata Atlântica como este cenário poderia
prever.
Conclusão
Financiamento