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ISSN 0100-4417

Boletim
Técnico
202

APICULTURA
Governador do Estado
José Serra

Secretário de Agricultura e Abastecimento


João Sampaio

Secretário-Adjunto
Antônio Junqueira

Chefe de Gabinete
Antônio Vagner Pereira

Coordenador/Assistência Técnica Integral


Francisco Eduardo Bernal Simões

Diretor/Departamento de Comunicação e Treinamento


Ypujucan Caramuru Pinto

Diretor/Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes


Armando Azevedo Portas

Diretor/Divisão de Extensão Rural


Abelardo Gonçalves Pinto
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO
COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA INTEGRAL - CATI

APICULTURA

Parte 1
Clélia Maria Mardegan
Robson Raad
Ricardo de Oliveira Orsi
Alcides dos Santos Moreira

Parte 2
Osmar Cavassan
Clélia Maria Mardegan

ISSN 0100-4417
Boletim Técnico CATI Campinas (SP) n. 202
o
julho 2009
EDIÇÃO E PUBLICAÇÃO

Departamento de Comunicação e Treinamento - DCT


Diretor: Ypujucan Caramuru Pinto

Centro de Comunicação Rural - CECOR


Diretora: Maria Rita Pizol G. Godoy

Editora-chefe: Maria Rita Pizol G. Godoy


Editora Responsável: Graça D’Áuria
Revisora: Marlene M. Almeida Rabello
Revisão Bibliográfica: Nadir Umbelina da Silva

Designer gráfico: Paulo Santiago


Ilustração: Antônio José Ribeiro
Fotografias: Banco de Imagens CATI, Alexandre Bianchini
Rodrigues, Clara Camargo, Osmar Cavassan, Robson Raad,
Clara Camargo

Distribuição: Carmen Ivani Garcez

Esta publicação é dirigida aos


técnicos da CATI e/ou interessados.

É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte.


A reprodução total depende de autorização expressa da CATI

MARDEGAN, Clélia Maria et al.


Apicultura. 3.a ed. Revisada e atualizada. Campinas,
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral - CATI, 2009.
121 p. il. 21,5cm (Boletim Técnico 202).

CDD 638.1
APRESENTAÇÃO
Desde os mais remotos tempos, a abelha está presente na
história da humanidade, seja pelos preciosos produtos oferecidos,
seja pela disciplina e trabalho organizado, exemplos tomados de
empréstimo pelo homem. A Apicultura, ou a “Arte de Criar Abelhas”,
é uma das atividades mais antigas do mundo e tema abordado na
literatura brasileira por renomados autores, apaixonando todos os
que se interessam e se aprofundam em seu conhecimento.

O meio ambiente bem cuidado oferece às abelhas tudo o que é


necessário para que possam nos brindar com seus produtos. Flores
provenientes de espécies cultivadas comercialmente, como também
de reflorestamentos heterogêneos com espécies nativas que recom-
põem as áreas de preservação ambiental (APPs) ou de reserva legal,
retornam na forma de mel, geleia real, cera, pólen, apitoxina (veneno
utilizado para cura). Além disso, as abelhas prestam ao homem e à
natureza o imprescindível serviço de polinização.

Outro importante exemplo a ser observado na natureza das


abelhas é o do associativismo. Como elas, é com a colaboração
entre todos e a união que os apicultores podem aperfeiçoar seus
conhecimentos, trocar experiências e se ajudarem mutuamente na
produção e comercialização dos produtos.

No Estado de São Paulo, a Apicultura é vista como excelente


atividade complementar de renda, principalmente para aqueles que
se enquadram na Agricultura Familiar, sendo também exercida e re-
comendada por apicultores que a encaram como atividade principal.
Este Boletim Técnico, longe de pretender esgotar todos os conheci-
mentos disponíveis sobre Apicultura, tem como objetivo auxiliar os
iniciantes na atividade em suas primeiras colmeias, como também
ampliar as informações àqueles que já estão na atividade.

i
Para oferecer o melhor aos apicultores paulistas, contamos
com a valiosa colaboração e coautoria de Ricardo Orsi (Noções de
controle de qualidade na casa do mel), Robson Raad (Formação do
apiário e Manejo das colmeias) e Osmar Cavassan (Flora apícola
no Estado de São Paulo).

Além disso, tomamos por base para esta edição o Boletim Téc-
nico 202 - Apicultura, de autoria do engenheiro agrônomo Alcides
Moreira, da Casa da Agricultura de Ibitinga, o primeiro a abordar o
tema no âmbito da CATI, ao qual agradecemos pela oportunidade de
revisão e atualização. Todos esses profissionais deixaram registra-
dos valiosos conhecimentos que, com esta nova edição, passamos
a dividir com o leitor.

Os autores

ii
SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO............................................................................ i
1. INTRODUÇÃO............................................................................ 1
2. PRODUTOS E SERVIÇOS DAS ABELHAS............................... 2
2.1. Mel............................................................................................ 2
2.2. Própolis.................................................................................... 4
2.3. Geleia real................................................................................ 4
2.4. Cera.......................................................................................... 5
2.5. Pólen........................................................................................ 6
2.6. Veneno ou apitoxina................................................................. 6
2.7 Polinização............................................................................... 7
3. ESPÉCIES DE ABELHAS........................................................... 8
4. NOÇÕES DE MORFOLOGIA E ANATOMIA DAS ABELHAS..... 9
4.1. Cabeça................................................................................... 11
4.2. Tórax...................................................................................... 13
4.3. Abdômen................................................................................ 13
5. FUNCIONAMENTO DAS COLMEIAS....................................... 15
5.1. A rainha.................................................................................. 16
5.2. Os zangões............................................................................ 19
5.3. As operárias........................................................................... 19
6. AMBIENTE PARA A CRIAÇÃO DE ABELHAS.......................... 24
6.1. Flora apícola........................................................................... 25
6.2. Local de instalação do apiário ............................................... 28
7. SISTEMAS DE CRIAÇÃO − APICULTURA FIXA E
MIGRATÓRIA................................................................................ 29
8. FORMAÇÃO DO APIÁRIO ....................................................... 31
8.1. Coleta de enxames alojados em abrigos naturais................. 32
8.2.Captura de enxames de difícil acesso.................................... 34
8.3. Coleta de enxames viajantes................................................. 35
8.4. Coleta com caixas-armadilhas............................................... 36

iii
8.5. Divisão de enxames com introdução de rainhas
fecundadas.................................................................................... 38
8.5.1. Soltura do enxame ............................................................. 40
8.5.2. Vantagens desse método.................................................... 40
9. MANEJO DAS COLMEIAS....................................................... 41
9.1. Vistorias.................................................................................. 44
9.2. Aumento de melgueiras.......................................................... 48
9.3. Colheita de mel...................................................................... 49
9.4. Reforma de colmeias............................................................. 50
9.5. Alimentações artificiais........................................................... 50
9.5.1. Subsistência........................................................................ 51
9.5.2. Estimulante.......................................................................... 52
10. MORADA DAS ABELHAS....................................................... 53
10.1. Material para construção de uma colmeia Langstroth......... 54
10.2. Suporte e cobertura das colmeias........................................ 56
11. VESTIMENTA DO APICULTOR............................................... 57
12. EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS DO APICULTOR......... 59
12.1. Equipamentos...................................................................... 59
12.2. Ferramentas......................................................................... 65
13. INIMIGOS E DOENÇAS.......................................................... 66
14. APICULTURA E AGROTÓXICOS........................................... 71
14.1. Algumas regras para o apicultor........................................... 72
14.2. Algumas regras para o agricultor......................................... 72
15. NOÇÕES DE CONTROLE DE QUALIDADE NA
CASA DO MEL.............................................................................. 73
LITERATURA CONSULTADA........................................................ 76

ANEXO - A FLORA APÍCOLA DO ESTADO DE SÃO PAULO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................... 79
2. FLORA....................................................................................... 79
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA................................................... 120

iv
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Mel embalado e mel em favo........................................ 3
Figura 2 – Cera bruta..................................................................... 5
Figura 3 – Partes físicas da flor...................................................... 7
Figura 4 – Polinização e fecundação............................................. 8
Figura 5 – Parte física da abelha.................................................. 10
Figura 6 – Cabeça........................................................................ 12
Figura 7 – Indivíduos.................................................................... 23
Figura 8 – Ciclo evolutivo de abelhas........................................... 24
Figura 9 – Ciclo evolutivo de abelhas operárias........................... 24
Figura 10 – Pasto sujo: oferta de flores em abundância para
as abelhas..................................................................................... 27
Figura 11 – Mata nativa: aproveitamento das flores pelas
abelhas.......................................................................................... 28
Figura 12 – Local para instalação de apiário................................ 29
Figura 13 – Localização de um apiário......................................... 31
Figura 14 – Caixa-isca ou armadilha............................................ 37
Figura 15 – O primeiro passo para iniciar a revisão em um
apiário é fumigar............................................................................ 42
Figura 16 – Apicultores em início de manejo em apiário.
(Revisão da colmeia)..................................................................... 45
Figura 17 – Uso de fumaça para iniciar a revisão no apiário....... 46
Figura 18 – Retirada de quadro para observação de
postura da rainha.......................................................................... 46
Figura 19 – Distribuição uniforme de postura, indicando
rainha nova e boa florada. Notar, no canto à esquerda, ovos
que originam zangões; no restante do quadro, à direita, ovos
que dão origem às operárias......................................................... 47
Figura 20 – Postura em diferentes estágios de
desenvolvimento, de larvas a células operculadas até
próximo ao nascimento de abelhas operárias............................... 48

v
Figura 21 – Quadros ninho e melgueira....................................... 55
Figura 22 – Caixa padrão, medidas externas............................... 56
Figura 23 – Vestimenta completa do apicultor (macacão,
máscara, luvas e botas) e fumigador............................................ 58
Figura 24 – Fumigador................................................................. 61
Figura 25 – Mesa desoperculadora.............................................. 62
Figura 26 – Incrustador elétrico.................................................... 62
Figura 27 – Centrífuga......................................................................
63......................................................................................................
Figura 28 – Decantadores de mel................................................ 63
Figura 29 – Tela de transporte...................................................... 63
Figura 30 – Tela excluidora........................................................... 64
Figura 31 – Tipos de alimentadores artificiais.............................. 64
Figura 32 – Formão ou espátula.................................................. 65
Figura 33 – Garfo desoperculador................................................ 66

ANEXO

Figura 1 – Anadenanthera falcata.............................................. 114


Figura 2 – Caryocar brasiliense.................................................. 114
Figura 3 – Ceiba speciosa.......................................................... 115
Figura 4 – Crotalaria juncea....................................................... 115
Figura 5 – Ouratea spectabilis.................................................... 116
Figura 6 – Serjania sp................................................................ 116
Figura 7 – Pera glabrata............................................................. 117
Figura 8 – Schefflera vinosa....................................................... 117
Figura 9 – Pyrostegia venusta.................................................... 118
Figura 10 – Vernonia sp............................................................. 119

vi
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Ciclo de desenvolvimento (em dias) das crias de


rainha, operária e zangão de Apis mellifera, africanizada............ 23
Tabela 2 – Calendário apícola...................................................... 43
Tabela 3 – Postura em diferentes estágios de desenvolvimento,
de larvas a células operculadas até próximo ao nascimento de
abelhas operárias. Medidas para a construção das colmeias
americanas ou Langstroth............................................................. 54
Tabela 4 – Pragas que atacam as abelhas................................... 67
Tabela 4A – Pragas que atacam as abelhas................................ 68
Tabela 5 – Doenças que atacam as colmeias.............................. 69

vii
APICULTURA

Clélia Maria Mardegan1


Robson Raad2
Ricardo de Oliveira Orsi3
Alcides dos Santos Moreira4

1. INTRODUÇÃO

Apicultura é a arte de criar abelhas (Apis mellifera) com objetivos


de proporcionar ao homem produtos como mel, cera, geleia real,
própolis, veneno, pólen e prestar serviços de polinização às culturas
econômicas. Além de todos esses benefícios, pode tornar-se uma
fonte rentável para produtores rurais ou outras pessoas que vivem
na cidade, mas podem criar abelhas em propriedades arrendadas
para essa finalidade.

Qualquer pessoa pode ser apicultor, desde que não seja alérgica
ao veneno das abelhas, tenha capacidade física e habilidade.

1
Engenheira Agrônoma MSc – CATI Regional Lins/SAA
2
Consultor em apicultura e produtor de rainhas – robsonraad@yahoo.com.br
3
Prof. Dr. Docente do Departamento de Produção Animal/Núcleo de Ensino, Pesqui-
sa e Extensão em Apicultura Racional (Néctar)/Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia (FMVZ) – Unesp/Botucatu (SP)
4
Engenheiro Agrônomo – Casa da Agricultura de Ibitinga/CATI Regional Jabo-
ticabal/SAA

1
2. PRODUTOS E SERVIÇOS DAS ABELHAS

As abelhas são responsáveis por vários produtos: mel, própolis,


geleia real, cera e pólen, dependendo da forma de tratamento que
dão ao néctar retirado das flores.

2.1. Mel

O mel, consumido e apreciado desde a antiguidade, sendo o


único adoçante conhecido pelo homem durante muito tempo, é um
alimento excelente, resultante da transformação do néctar das flores
realizada pelas abelhas. O néctar é um líquido açucarado existente
na maioria das flores e que serve para atrair abelhas e outros insetos
polinizadores. É rico em sais minerais, vitaminas e açúcares, sendo
coletado, modificado e armazenado para alimentação da colmeia em
períodos desfavoráveis de ausência de flores.

Para fazer um quilograma de mel, as abelhas retiram néctar de


aproximadamente um milhão e meio de flores. Como as flores podem
ser diversificadas, disponíveis em épocas do ano e regiões diferentes,
o néctar varia muito em sabor, cor e perfume, resultando em tipos
de mel diferenciados em relação a sabor e cor, dependendo tanto
da época do ano como de região para região. Independentemente
de tais fatores, o mel sempre é alimento de alta qualidade.

O mel é composto por grande quantidade de açúcares simples


(em média 32% de glicose e 38% de frutose), rapidamente assimila-
dos pelo aparelho digestivo. Possui, ainda, pequenas quantidades de
outros açúcares (sacarose, maltose), sais minerais (potássio, sódio,
cloro, enxofre, cálcio, fósforo, ferro e magnésio), aminoácidos e en-
zimas. Sua densidade varia de 1,40 a 1,44 a 20º C. Um quilograma
de mel corresponde, em média, a 700 mililitros (ml). A coloração é
alterada de acordo com a origem das flores visitadas, podendo va-
riar de incolor até bem escura. De maneira geral, os méis escuros
possuem maiores teores de sais minerais, como ferro, potássio,
manganês e sódio.

2
A umidade não deve ser superior a 18%, índice indicado pela
legislação. Acima desse valor, o mel pode sofrer processo de fermen-
tação, sendo contraindicado para o consumo. O mel também pode
cristalizar, pois, de acordo com sua composição floral ou quando
exposto a baixas temperaturas, a glicose une-se, formando peque-
nos cristais, alterando seu estado de viscoso para pastoso ou para
granulado fino, conferindo ao produto consistência diferenciada, mas
mantendo inalteradas suas qualidades.

Figura 1 – Mel embalado e mel em favo.

3
2.2. Própolis

É uma substância elaborada pelas abelhas proveniente de re-


sinas de plantas (casca de árvores, gemas apicais, brotos, flores,
exsudados de plantas) e cera. A origem da resina pode determinar
a qualidade da própolis que é, basicamente, composta por 55% de
resinas e bálsamos, 30% de cera, 10% de óleos voláteis e 5% de
pólen.

Para a colmeia, a própolis (“pró” = a favor , “polis” = cidade)


tem a função de recobrir as paredes da colmeia, tampar buracos e
frestas e unir partes. Auxilia a regulação da temperatura interna e
recobre animais mortos que não podem ser removidos pelas abelhas,
mumificando-os.

Para o homem, a própolis é utilizada na confecção de vernizes,


além de ter efeito cicatrizante e anti-inflamatório, sendo usada tam-
bém em queimaduras, aftas, acnes e outros. No entanto, é necessário
cautela com a sua utilização já que algumas pessoas são alérgicas
à própolis.

2.3. Geleia real

A geleia real é composta pela mistura das secreções das glân-


dulas hipofaringeanas e mandibulares, localizadas na cabeça das
operárias de Apis mellifera. Quem produz a geleia real são as abelhas
operárias adultas, de cinco a dez dias de idade. Na colmeia, a geleia
é utilizada para alimentar a rainha e as larvas de até três dias.

A composição da geleia tem, em média, 66% de água e 34% de


matéria seca (13% de carboidratos, 12% de proteínas, 5% de lipí-
deos, 3% de vitaminas e 1% de sais minerais). Por ser um alimento
completo, rico em todos os nutrientes e conter diversos elementos
essenciais, é usado duplamente pelo homem, como alimento e
medicamento no tratamento de anemias, esgotamento nervoso e,
ainda, para aumentar a resistência orgânica entre outros.

4
Para sua produção, podem-se aproveitar os períodos entre
floradas e as regiões canavieiras.

2.4. Cera

A cera é produzida pelas operárias com idade entre 12 e 18 dias.


É utilizada na colmeia para a construção da estrutura de armaze-
namento de alimentos (alvéolos) e de reprodução (alvéolos de cria).
Sua produção depende de um suprimento de açúcares na colmeia,
sendo necessários de seis a sete quilogramas de mel para a pro-
dução de um quilograma de cera. Pode ser obtida por intermédio
de opérculos, pedaços de favos, favos velhos e raspas de cera que
ficam aderidas na tampa da caixa, nos quadros ou, ainda, de favos
que sobram das capturas realizadas em abrigos naturais.

Figura 2 – Cera bruta.

5
2.5. Pólen

Pólen é o gameta masculino de plantas que possuem flores. É


depositado nos alvéolos próximo aos locais de cria, onde passa por
processo de fermentação recebendo o nome de “pão das abelhas”.
Dependendo de sua origem floral, pode ter de 8 a 40% de proteína
bruta, 1 a 18% de carboidratos, 0,7 a 17% de minerais, algumas
vitaminas, enzimas e lipídeos e sua umidade pode variar de 4 a
35%. Na colmeia, tem a função de alimentar as abelhas, sendo sua
principal fonte de proteína. A presença de crias na colmeia estimula
a coleta de pólen pelas abelhas.

O apicultor pode coletar o pólen por meio de coletores colocados


no alvado do ninho e que “roubam” a carga trazida pelas operárias.
É preciso utilizar o coletor com cautela, pois trabalhos científicos
mostraram que, em 40 dias de uso, houve redução de 5 a 25% das
áreas de cria e mel, respectivamente.

2.6. Veneno ou apitoxina

O veneno de abelhas é produzido a partir de uma glândula


específica localizada na base do ferrão das abelhas fêmeas, uma
espécie de saco de veneno. As fêmeas são as únicas a produzirem
veneno, o qual é transparente, solúvel em água e apresenta 12%
de matéria seca. A matéria seca é formada por proteínas, açúcares,
aminoácidos livres, enzimas e feromônio de alarme, que é liberado na
ferroada, alertando outras abelhas ao ataque. No veneno, destaca-
se, especialmente, a melitina, responsável pela quebra das células
sanguíneas, liberação de histamina e redução da pressão sanguínea.
Para pessoas alérgicas e hipersensíveis, o veneno de uma única
picada pode ser fatal.

O processo de extração do veneno para comercialização deve


somente ser realizado por apicultores experientes, por se tratar
de atividade mais elaborada no manuseio e ter mercado bastante
restrito.

6
2.7. Polinização

Um trabalho muito importante realizado pelas abelhas é a poli-


nização, que é a transferência do grão de pólen produzido na antera
(órgão masculino da flor) para o estigma (órgão feminino da flor).
Quando a transferência ocorre na mesma flor, denomina-se autopo-
linização, e de uma flor para outra, polinização cruzada. A maioria
das plantas nativas e cultivadas precisa dos insetos para transportar
o pólen das flores masculinas para as flores femininas.

Nenhum inseto é tão laborioso e eficaz como as abelhas melí-


feras, para o aumento da produção de várias culturas. A produção
de laranjas e limões pode ter um acréscimo de até 35%, a de café
39% a mais e a de soja até 80% a mais com o uso de colmeias
migratórias durante o florescimento dessas culturas. Em São Paulo
e Santa Catarina existem produtores de frutas (citros e maçãs) que
contratam a colocação de colmeias em seus pomares e obtêm bons
resultados. Além dessas, as lavouras de girassol, milho, algodão,
entre outras, são beneficiadas pela presença das abelhas.

Figura 3 – Partes físicas da flor. Fonte: Informe Agropecuário, 1983.

7
Figura 4 – Polinização e fecundação. Fonte: Informe Agropecuário, 1983.

3. ESPÉCIES DE ABELHAS

No Brasil existem muitas abelhas nativas ou indígenas que


produzem mel e cera, como a Jataí, a Borá e a Mandaçaia, mas
nenhuma delas produz cera e mel em grande quantidade como as
abelhas trazidas ao Brasil há muitos anos e conhecidas pelo nome
de abelha-europa, como é o caso das abelhas alemã e italiana.

Outra abelha melífera bastante produtiva é a Apis mellifera


scutellata, conhecida como abelha-africana. As abelhas-africanas
são mais produtivas e mais resistentes às doenças e aos inimigos
naturais que as abelhas-europeias, em condições tropicais. Elas
foram introduzidas no Brasil em 1956 por iniciativa do Ministério da
Agricultura para estudos científicos de aprimoramento na produção
dos produtos apícolas, mas escaparam da criação experimental e,

8
sendo mais fortes e vigorosas do que as abelhas-europeias, em
pouco tempo aconteceu a africanização (hibridação) total das
abelhas até então existentes no Brasil.

As primeiras colônias que escaparam eram puras e muito


agressivas, causaram muito medo com seus ataques e receberam
muito destaque no noticiário dos jornais. Chegaram a assustar cria-
dores tradicionais de abelhas-europeias e a criar a impressão de
perigo quando se falava de abelhas no Brasil. Mas o processo de
hibridação, ocorrido naturalmente entre as abelhas-africanas e
europeias, produziu uma nova abelha, conhecida como africaniza-
da. Atualmente, as abelhas africanizadas são menos agressivas,
mais produtivas e mais resistentes às doenças e aos inimigos
naturais do que as europeias que aqui existiam.

As abelhas africanizadas tornaram-se um bem e estão incenti-


vando os antigos e novos criadores para a retomada da produção de
mel no Brasil. Com indumentária, manejo e equipamentos corretos,
os apicultores aprenderam rápido a trabalhar com as abelhas africa-
nizadas, que só atacam quando trabalhadas sem habilidade e sem
conhecimento, ou quando os meleiros ou saqueadores de mel as
importunam em suas colônias.

4. NOÇÕES DE MORFOLOGIA E ANATOMIA DAS ABELHAS

As abelhas pertencem ao reino animal, classe dos insetos e


à ordem Hymenoptera. Têm o corpo protegido por uma substância
quitinosa, de boa resistência, semelhante a uma armadura ou à nossa
unha, denominada exoesqueleto. O corpo da abelha é dividido em
três partes: cabeça, tórax e abdômen. Entre cada uma dessas partes
existe uma articulação que permite seu movimento.

9
Figura 5 – Parte física da abelha. Fonte: Wiese, H. (1995)

Cabeça:
A1 – Antenas A2 – Olhos compostos
A3 – Olhos simples (ocelos) A4 – Boca e língua

Tórax:
B1 – Protórax B2 – Metatórax
B3 – Mesotórax B4 – Perna anterior
B5 – Perna mediana B6 – Corbícula
B7 – Asa anterior B8 – Asa posterior
B9 – Pernas posteriores (patas)

Abdômen:
C1 – Segmentos abdominais C2 – Glândulas cerígenas
C3 – Ferrão C4 – Glândula de cheiro

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4.1. Cabeça

A cabeça da abelha é considerada o centro dos órgãos senso-


riais, representado por antenas e olhos, assim como órgãos do
aparelho bucal, glândulas, faringe e sacos aéreos. Tem formato
periforme (forma de pera) nas operárias, levemente arredondada
na rainha e quase circular no zangão.

Quanto à visão, as abelhas possuem dois grandes olhos nas


laterais da cabeça, compostos de milhares de omatídios (pequenos
olhos) que, em decorrência de sua forma hexagonal e sem solução
de continuidade, possuem inervações próprias. Essa característica
proporciona à abelha excelente visão a longas distâncias, possibili-
tando a gravação precisa dos mínimos detalhes da área de domínio
de voo.

O número de facetas oculares (omatídios) varia em função dos


indivíduos de uma colmeia: no zangão são 13 mil unidades, na rai-
nha três mil e nas operárias seis mil e quinhentas. As abelhas têm
percepção das cores amarela, verde-azulada, azul e ultravioleta,
colorações utilizadas pelos apicultores ao pintarem suas colmeias.
Na porção frontal da cabeça, entre os olhos compostos, existem três
pequenos olhos (ocelos) de posicionamento triangular, que servem
para ver de perto os afazeres na parte interna da colmeia e dentro
das flores. À semelhança dos olhos compostos, esses também são
fixos, não apresentando movimento como os olhos do homem, o
que de certa forma contribui para detectarem o mínimo movimento
do apicultor.

Nas antenas, em número de duas e articuladas na parte anterior


das laterais da cabeça, concentram-se os sentidos do olfato e tato.
As abelhas irritam-se com odores de suor, perfumes e desodorantes.
Já a audição é feita por órgãos sensoriais localizados nas patas.

O aparelho bucal é constituído de mandíbula, palpo maxilar,


palpo labial e língua. As mandíbulas servem para mastigar, preparar
e moldar a cera em favos. Como não são dentadas ou serrilhadas,

11
não prejudicam frutos maduros. A língua ou prosbócide assemelha-se
a um canal cujas bordas se reúnem para formar um tubo de sucção
e lambedor, e, dependendo do seu comprimento, pode apresen-
tar maior desempenho em determinadas floradas. Portanto, com
melhoramento genético, podem-se conseguir linhagens altamente
adaptáveis para determinadas culturas.

Na cabeça encontram-se, ainda, as glândulas hipofaringeanas,


salivares e maxilares. As glândulas hipofaringeanas ocupam a parte
anterior da cabeça e são atrofiadas na rainha, inexistentes no zan-
gão e expressivas nas operárias, as quais produzem a geleia real
que serve de alimento às larvas e à rainha. As glândulas salivares
são produtoras de enzimas, principalmente as invertases, que são
capazes de transformar néctar em mel, depois de desidratado. Nas
operárias, as glândulas mandibulares servem para dissolver a cera,
marcar inimigos em ataques e desinteressar suas irmãs de flores
com pouca reserva alimentar. São responsáveis, também, pela se-
creção da substância da rainha, uma espécie de entorpecente que
é passado entre as operárias de boca em boca, capaz de manter a
união da família e a inapetência sexual das operárias.

No cérebro, o sistema nervoso ramifica-se em partes nervosas


para todo o corpo. Os sacos aéreos também existem por todo o
corpo e fazem parte do sistema respiratório.

Figura 6 – Cabeça.
Fonte: Wiese, H. (1995)

1 – Ocelos
2 – Olhos compostos
3 – Antenas

12
4.2. Tórax

É a porção mediana do corpo da abelha onde se localizam os


três pares de patas e dois pares de asas, tendo, portanto, função
locomotora. Cada par de patas está ligado a um segmento do tórax,
que são três: protórax, mesotórax e metatórax. Em cada par de
patas há uma diferenciação em decorrência das variadas funções.
As patas anteriores são forradas de pelos microscópicos e servem
para limpar as antenas, os olhos, a língua e a mandíbula. As patas
medianas são dotadas de esporão, apêndice de fixação das abelhas
em superfície lisa, e são excelentes auxiliadoras da limpeza das
asas e da retirada de pólen das corbículas. Nas patas posteriores,
no segmento da tíbia, existe uma deformação semelhante a uma
cesta com espinhos, cujo objetivo é transportar o pólen das flores
até a colmeia.

Os dois pares de asas são membranosos e de nervuras longitu-


dinais e transversais. Dada a sua constituição frágil, recomenda-se o
uso de fumaça fria, pois fumaças quentes, geralmente acompanha-
das de fagulhas, podem danificar as asas das abelhas, acarretando
prejuízos e gerando agressividade. No tórax, encontram-se glândulas
salivares, sacos aéreos, traqueias e esôfago.

4.3. Abdômen

Representado pela porção posterior, caracteriza-se por alojar os


aparelhos respiratório, reprodutor e digestivo, o sistema circulatório,
como também algumas glândulas e o ferrão.

• Aparelho respiratório – composto de pequenos orifícios (espirá-


culos) que ligam o exterior às traqueias e aos sacos aéreos. Com
os movimentos constantes do abdômen, as abelhas garantem a
troca gasosa.

• Aparelho digestivo – está representado pelo estômago ou papo,


pró-ventrículo, ventrículo e intestino delgado (intestino grosso ou

13
reto e ânus). Podem-se considerar os tubos de Malpighi como os
rins dos mamíferos e os papilos retais como complementos.

• Aparelho reprodutor – nas fêmeas, a diferença básica entre a


rainha e as operárias é que nestas, a espermateca, um acessório
armazenador de espermatozóide, é atrofiada, enquanto que na
rainha é responsável pela postura de até dois mil ovos por dia em
período ativo (ocasião coincidente com a entrada de alimento na
colmeia). No macho, o aparelho reprodutor constitui praticamente
toda sua razão de existir. Tão logo perceba uma rainha virgem e
execute a copulação, o zangão morre, pois seus órgãos genitais
ficam presos à rainha, o que acontece em pleno voo.

• Sistema circulatório – os principais órgãos são um coração


pulsátil, alojado no teto do abdômen, e os diafragmas dorsais e
ventrais. O que seria considerado sangue caracteriza-se por um
líquido incolor conhecido como hemolinfa, que tem como função
transportar nutrientes e detritos resultantes dos metabolismos para
os órgãos excretores. Importantes, também, são os hemócitos
(glóbulos brancos nos animais), que têm a função de fagocitose,
destruindo as bactérias.

• Sistema glandular – importantes nesse sistema são a glândula de


cheiro ou Nasanof, as glândulas cerígenas, a glândula de veneno
e as glândulas de Dufor.
a) Glândula de cheiro ou Nasanof – alojada no sétimo segmento
abdominal, exala odores característicos da família como forma de
orientação para o regresso das abelhas à morada. Os zangões
não possuem esta glândula.
b) Glândulas cerígenas – constituídas por quatro pares de glândulas
na parte ventral do abdômen, produzem pequenas plaquinhas
de gordura e cenócitos que, em contato com o ar, solidificam.
As abelhas, com o auxílio das patas e da posterior mastigação,
constroem e reformam seus favos.
c) Glândula de veneno – composta de substância ácida e consti-
tuinte do sistema de defesa da abelha (ferrão), tem como função
repelir os intrusos pelo ardor e posterior inchaço que ocasionam

14
ao ferroar seus inimigos. O odor exalado funciona como alarme,
instigando as demais abelhas ao ataque.
d) Glândulas de Dufor – são acopladas ao ferrão e, acionadas
pela rainha, produzem substância básica que serve para aderir
os ovos no fundo dos alvéolos, protegendo-os quanto a possíveis
prejuízos ao seu desenvolvimento.

• Ferrão – órgão defensivo das abelhas, é composto por muscula-


tura de movimento alternador, um estilete de perfuração e duas
lâminas farpadas. Uma vez introduzido no inimigo, há dificuldade
em retirá-lo do intruso em decorrência das farpas (tipo anzol). A
abelha, ao se debater para se livrar do inimigo, acaba perdendo
o aparelho de defesa e parte do intestino, causando-lhe a morte
após algumas horas por infecção. Os zangões não apresentam
órgão de defesa e, tampouco, glândulas de veneno.

5. FUNCIONAMENTO DAS COLMEIAS

As abelhas da espécie Apis mellifera vivem em colônias de 50


a 60 mil indivíduos, em média, e têm uma vida organizada. Cada
indivíduo tem suas tarefas próprias e as executa com perfeição e
cuidado. Todo o trabalho é feito para o progresso da família ou para
a sobrevivência nas épocas difíceis, não importando os indivíduos
e sim as colônias.

Examinando com atenção uma colônia, nota-se que são dife-


rentes das de outros animais de criação, nas quais existem apenas
machos e fêmeas. Na colônia de abelhas, há três categorias de
indivíduos: a rainha, os machos ou zangões e as operárias.

A rainha, uma por colmeia, é a fêmea fértil. Tem a tarefa principal


de pôr ovos e ser a mãe de todas as abelhas de uma colmeia. Os
zangões, em pequeno número, têm como única tarefa fecundar a
rainha. As operárias são as fêmeas inférteis. São muito numerosas
e executam a maioria das tarefas necessárias à vida da colônia.

15
5.1. A rainha

É a abelha mais importante de uma colônia, por ser a mãe de


todas as abelhas da colmeia. Produz ovos em grande quantidade
por um período de um ano ou mais e decide a quantidade de novas
abelhas que serão produzidas, em razão do maior ou menor fluxo de
alimento que entra na colmeia. É a rainha que lidera a vida da colô-
nia, disciplina a vida na colmeia, e é tratada, alimentada e protegida
constantemente pelas operárias.

As boas qualidades da abelha rainha, como maior capacidade


de produção de mel, mansidão, resistência às doenças e pragas, são
transmitidas a todas as abelhas da colmeia, incluindo os zangões e as
rainhas jovens. Do mesmo modo, as qualidades indesejáveis, como
agressividade exagerada, tendência à enxameação e baixa capaci-
dade de produção, são também transmitidas a toda a colônia.

Uma abelha rainha vive, em média, de um a um ano e meio, du-


rante o qual faz a principal tarefa, que é botar ovos, dos quais nascem
operárias e zangões e, quando necessário, rainhas jovens.

Toda colmeia inicia-se após a divisão de uma outra colmeia mais


antiga. Isso ocorre depois que as operárias da colmeia-mãe produ-
zem uma nova rainha. Um ou dois dias antes do nascimento de uma
nova rainha a colônia se divide e, com a rainha velha, muda-se para
outro local previamente escolhido pelas abelhas “batedoras”. Quando
chegam a esse novo local, as abelhas operárias se concentram em
limpá-lo muito bem e a construir os primeiros favos, que logo serão
utilizados para a postura da rainha.

Nas épocas de florada abundante, ela chega a botar dois mil


ovos por dia, fortalecendo a família. Havendo falta de flores para uma
alimentação abundante e produção de mel, a rainha diminui a postura
ou deixa de botar completamente, até que a abundância de flores (ou
outro alimento artificial, por exemplo) volte novamente, fazendo com
que as colônias permaneçam o mais forte possível.

As abelhas operárias estão sempre limpando o corpo da rainha,


lambendo-a. Com essa tarefa, engolem uma substância produzida

16
pela rainha, que tem o nome de “substância de rainha”, a qual man-
tém as operárias tranquilas para a execução das tarefas normais da
colmeia. As operárias que fazem a limpeza da rainha têm por hábito
dar e receber pela “boca” alimentos de outras operárias. Com isso,
transferem a todas as abelhas da colmeia a substância de rainha.
Essa substância inibe uma possível tendência de postura das ope-
rárias e, ao mesmo tempo, dá notícia a todas as abelhas de que na
colmeia existe uma rainha fértil, sadia e capaz de liderar e ordenar
toda a vida da colônia.

Quando a rainha envelhece, diminui a capacidade de postura


e de produção da substância. A ausência dessa substância modifi-
cará o comportamento das operárias, que passam a fabricar mais
geleia real e a construir células especiais, chamadas realeiras, para
a produção de novas rainhas. As larvas que nascerem nas realei-
ras são alimentadas com geleia real, e essa simples diferença de
alimentação, aliada a um berçário espaçoso, as transformará em
novas rainhas.

As operárias também criarão novas rainhas quando o espaço


existente na colônia, para o trabalho e guarda de mel, ficar muito
reduzido para o número de abelhas existentes. As operárias que
chegam carregadas de néctar, pólen ou água têm dificuldade de
transferir suas cargas para as outras operárias e também de trocar
com as demais abelhas a alimentação. Com isso, deixam de receber
a substância de rainha e não ficam sabendo da existência de uma
rainha forte e produtiva na família. Nesse caso, elas começam logo
a construir novas realeiras e a fabricar geleia real para o nascimento
de rainhas jovens.

Uma rainha nasce após 16 dias de incubação, e tão logo as asas


sequem, destrói todas as outras realeiras existentes na colmeia ou,
então, entra em luta com outras rainhas recém-nascidas, restando
uma rainha jovem e mais forte. Ela é alimentada e limpa com um
certo grau de desprezo pelas operárias, e, depois de quatro ou cinco
dias de vida como abelha adulta, sai da colmeia para o voo nupcial
ou de fecundação. Se ela relutar em sair, as operárias obrigam-na
a sair.

17
A rainha jovem é fecundada durante o voo, numa distância de
mais ou menos 500 metros da colmeia. Ela acasala-se habitualmente
com diversos zangões, conhecendo-se casos em que uma rainha
foi fecundada por 17 zangões. Os espermatozoides são recolhidos
em uma espécie de bolsa, chamada espermateca, onde ficarão
guardados durante toda a vida da rainha e serão usados à medida
da necessidade. Poderá ainda realizar outros voos nupciais, se julgar
que não está fecundada suficientemente.

Uma vez fecundada, a rainha jovem volta à colônia, com entu-


siasmo. Quatro ou cinco dias após a sua volta à colmeia, a jovem
rainha inicia a postura. Dos ovos fecundados por ela com os esper-
matozoides guardados na espermateca nascerão as operá-rias; e de
ovos não fecundados surgirão os zangões. As células de zangões
são maiores do que as células de operárias.

A decisão de fecundar ou não os ovos é de competência da


rainha. Quando ela se sente ameaçada, produz uma substância,
com cheiro típico, que induz as operárias a se reunirem em torno
dela, protegendo-a e mesmo ocultando-a de um possível perigo.
Essa ocorrência pode ser vista durante as enxameações, quando
as operárias fazem um verdadeiro cacho de abelhas em torno da
rainha. Esse fato é aproveitado pelos apicultores para a captura de
enxames viajantes.

A substância produzida pelas rainhas e que induz as operárias


a agruparem em torno delas tem um cheiro muito parecido com o da
erva-cidreira. Por esse motivo, quando se esfrega a erva-cidreira em
uma caixa qualquer, colocando-a próxima ao enxame, o cheiro da
erva confunde as abelhas, as quais entram na caixa, levando com
elas a abelha rainha. Se as condições da caixa e o espaço oferecidos
agradarem as abelhas, elas adotarão essa caixa como morada.

No caso de a rainha velha morrer por doença ou acidente, a


rainha jovem simplesmente assume as suas tarefas de rainha e

18
passa a controlar a vida da família. Se a rainha velha estiver fraca,
sem boa capacidade de postura, as operárias matam-na e a nova
abelha mestra torna-se a nova rainha.

Por ocasião de grande entrada de alimento na colmeia e falta de


espaço, a rainha velha mas ainda forte e produtiva, pode abandoná-
-la, acompanhada de operárias e zangões e seguir para um novo
local, onde constituirá uma nova colônia. Nesse caso, a rainha velha
terá deixado “ovinhos de 3 dias” para que as operárias puxem nova
realeira e, dessa forma, a vida continue na colônia.

5.2. Os zangões

Os zangões são os machos da colônia e nascem de um ovo


não fecundado pela rainha. A sua vida na colônia está condicionada
à existência de boas floradas, que significam alimento abundante
e possibilidade de enxameação. Dificilmente os zangões excedem
10% da população da colônia, sendo a sua única função fecundar as
rainhas jovens. Logo após a cópula, eles morrem.

Na escassez de alimento, as operárias expulsam os zangões


das colônias e podem comer as larvas de futuros machos, pois não
trabalham, não defendem a colmeia e representam, nesse período,
bocas inúteis a serem alimentadas.

Os zangões são maiores do que as operárias e menores do que


a rainha. Não têm ferrão nem a glândula produtora de cheiro que
identifica os indivíduos de uma colônia. Possuem órgãos de olfato
muito desenvolvidos que lhes permitem sentir a presença de uma
rainha jovem até a distância de 10 quilômetros.

5.3. As operárias

As abelhas operárias ou obreiras são fêmeas inférteis, ou seja,


incapazes de botar ovos férteis e, logicamente, de reproduzir. Elas

19
nascem de ovos fertilizados, idênticos aos ovos que dão nascimento
às rainhas, mas, em razão da alimentação diferenciada que rece-
bem durante a fase de larva, não se desenvolvem completamente.
As operárias são a casta mais numerosa de uma colônia, cerca de
40 mil a 50 mil indivíduos em uma colmeia forte e vigorosa. Exe-
cutam todas as tarefas pesadas da colônia, internas ou externas,
necessárias à vida e à sobrevivência da família. Vivem entre 32 e 45
dias e seu comportamento típico é o trabalho constante. As tarefas
que executam variam com a idade e com o funcionamento de suas
glândulas.

Quando a rainha morre e não existem condições de produção


de novas rainhas, algumas operárias desenvolvem o ovário, mas
nunca a espermateca, e passam a botar ovos não fecundados,
dando origem a zangões pequenos, porque são gerados em células
de operárias. As colméias, nessas condições, são chamadas de
zanganeiras e entram em rápido declínio.

Dos ovos colocados nas células de operárias, nascem larvas


que são continuamente alimentadas por elas. Ao nascerem são mais
claras do que as mais velhas, cheias de pelo, lembrando um inseto
manso, e iniciam imediatamente o seu primeiro trabalho, que é fazer
a própria limpeza, retirando todos os restos de mel e cera. Já nos
primeiros dias de vida, seu instinto determina que façam a limpeza
das células de cria, desinfetem e preparem as células desocupadas
para nova postura ou para o depósito de mel ou pólen. A operária
retira da colmeia todo o tipo de detrito ou sujeira que encontra. Essa
tarefa é muito importante, pois a retirada de abelhas ou larvas mortas
diminui o risco de epidemias e doenças.

Decorridos três ou quatro dias de vida adulta, uma glândula


localizada na cabeça, chamada hipofaringeana, começa a produzir
uma substância que modifica o comportamento das operárias. Elas

20
se tornam, então, capazes de produzir geleia real, usando como
matéria-prima uma alimentação normal de mel, pólen e água, e co-
meçam a alimentar as larvas continuamente. Elas trabalham como
nutrizes durante uns dez dias.

Entre o 14.o e o 20.o dia de vida, a glândula hipofaringeana di-


minui a produção de hormônio, estimulando o desenvolvimento das
glândulas que produzem cera. Nesse período de vida, as operárias
tornam-se construtoras, encarregando-se dos reparos ou da constru-
ção de novas células para cria ou armazenamento de alimentos. As
glândulas de cera, localizadas no abdômen, secretam uma substân-
cia gordurosa que, em contato com o ar, endurece, formando placas
muito pequenas. Com as patas traseiras, as abelhas retiram essas
plaquinhas de cera e, com a ajuda do aparelho bucal, moldam os
favos com suas células. Nessa idade, elas ainda fazem os voos de
reconhecimento, recebem água, pólen e néctar trazidos por outras
operárias, produzem mel e mantêm a temperatura interna da colmeia
agitando as asas.

Depois de 21 dias de vida, uma abelha operária torna-se adulta, de


tamanho definitivo, menor do que os zangões. Nas operárias adultas,
as glândulas de cheiro localizadas no abdômen, o ferrão e a glândula
de veneno estão plenamente desenvolvidos e a operária torna-se uma
guerreira. Sua função é a de guardiã da colmeia, pronta a defender
sua família e seu patrimônio, assim como a identificar outras abelhas
que pretendam entrar na colônia e a atacar possíveis inimigos.

O ferrão existe nas operárias e nas rainhas, que somente o utilizam


na disputa do reinado com outras rainhas jovens e como instrumento
de orientação na postura. As operárias guerreiras usam o ferrão para a
defesa da colmeia e, ao ferrarem qualquer inimigo, perdem-no, como
também a glândula de veneno e parte do aparelho digestivo, o que
significa a morte da operária após algumas horas.

Após 21 dias de idade, não ocorrem mais modificações significa-


tivas na vida de uma abelha operária. Com essa idade as glândulas
que produzem saliva estão prontas, permitindo o início da digestão

21
do néctar, para transformá-lo em mel. Os órgãos do tato e do olfato
permitem que as operárias localizem as flores a grandes distâncias e
identifiquem as espécies mais ricas em pólen e néctar, possibilitando-
-lhes a execução de um trabalho eficiente como campeiras. São tarefas
que as operárias executarão, incessantemente, até o seu último dia
de vida. Elas morrem trabalhando e quase sempre longe da colmeia,
evitando, com isso, que as demais operárias tenham o trabalho de
remover cadáveres para fora de sua morada.

Uma das maiores capacidades das operárias mais velhas está no


seu poder de comunicação, que mantém a união de toda a família,
dando-lhe condições especiais de sobrevivência. Elas se comuni-
cam por meio de sons, dança e pelo cheiro de certas substâncias
produzidas por suas glândulas. Quando uma abelha descobre uma
planta com flores ricas em alimentos, carrega seus depósitos nas
pernas (corbículas) com pólen e o papo com néctar retornando
imediatamente à colônia. Reúne, então, um pequeno grupo de seis
a oito abelhas e começam uma estranha dança. Pelo tempo, tipo de
dança e pelo toque que as outras fazem com as antenas é passada
a informação do local, da distância, direção e abundância da flora-
da encontrada. As outras abelhas partem imediatamente em busca
dessa florada, carregam-se de pólen e néctar e voltam para informar
as outras sobre o achado.

Quando o néctar e o pólen de uma planta se esgotam, as


operárias depositam gotinhas de uma substância nas folhas ou
flores e, também pelo cheiro, as novas abelhas são informadas
que não devem mais perder tempo com a mesma planta e, no
voo de volta à colmeia, já iniciam a transformação dos açúcares
do néctar em mel.

Chegando à colmeia, transferem para outras operárias mais


jovens o néctar que já está sendo transformado para que continuem
a fabricação do mel. O mel “verde” é colocado nas células dos favos
ainda com muita água, devendo ser ventilado com as asas, para
desidratar, até que fique “maduro”. As operárias, então, cobrem os
favos com uma fina camada de cera (opérculos), para que fiquem
armazenados até o seu uso pelas abelhas ou retirada pelo apicultor.

22
O

Figura 7 – Indivíduos das três castas de abelhas. Fonte: Wiese, H. (1974)

Tabela 1 – Ciclo de desenvolvimento (em dias) das crias de rainha,


operária e zangão de Apis mellifera, africanizada.

Total
Ovo Larva P upa
(dias)

Rainha 3 6 7 16

Operária 3 6 12 21

Zangão 3 6,5 14,5 24

23
Figura 8 – Ciclo evolutivo de abelhas. Fonte: Wiese, H. (1974)

Figura 9 – Postura em diferentes estágios de desenvolvimento, de larvas a células


operculadas até próximo ao nascimento de abelhas operárias. Fonte: Wiese, H.
(1974)

6. AMBIENTE PARA A CRIAÇÃO DE ABELHAS

A escolha do local para ser instalado um apiário e a riqueza de


flores da região são fatores que podem oferecer condições para o
sucesso ou fracasso de uma criação. Como ambiente ideal, são ci-
tados a seguir os aspectos da flora apícola e do local da instalação
das colônias de abelhas.

24
6.1. Flora apícola

A flora apícola ou pasto apícola é o conjunto de plantas de uma


área ou região que produz flores e fornece às abelhas néctar, pólen
ou resina. As plantas que precisam dos insetos para ser polinizadas
oferecem a eles néctar e pólen de suas flores. As flores de algumas
plantas fornecem apenas néctar, outras apenas pólen, porém a maio-
ria das plantas fornece pólen e néctar. Sem as flores, provavelmente,
não existiriam as abelhas e sem abelhas o número e a diversidade
de plantas seriam bem menores.

A qualidade da flora apícola depende das espécies de plantas


que são naturais ou plantadas na região, da distribuição de chuvas
e da fertilidade do solo. O reflorestamento heterogêneo, que vem
sendo aplicado atualmente, com espécies da flora nativa brasileira
para a recomposição de áreas de preservação permanente, incluindo
as matas ciliares, torna-se excelente oportunidade para o aumento
do potencial apícola .

Um bom apicultor deve ser conhecedor profundo das plantas de


sua região e estar sempre observando os períodos de florada de cada
espécie e o interesse que as abelhas demonstram por cada tipo de
planta. Esse conhecimento e essa observação é que irão mostrar
ao apicultor: a capacidade de sustentação de colmeias na região;
as épocas em que estas podem ficar em determinados locais; se
as floradas estão concentradas ou dispersas, permitindo colmeias
mais ou menos populosas; se haverá necessidade de fornecer ou
não alimentação artificial às abelhas; qual a melhor ocasião de fazer
a mudança de local na apicultura migratória; além disso, permitirão
o planejamento do plantio de plantas melíferas para melhorar a flora
apícola da região.

Alguns aspectos devem ser levados em consideração para


avaliar a capacidade de produção de uma região:
• concentração de muitas plantas floríferas no raio de trabalho das
abelhas, em média 2 quilômetros, sendo considerado o raio de

25
ação econômico de 1,5km; flores dispersas dificultam o trabalho
das campeiras e não dão muito rendimento;
• predominância de flores das espécies mais ricas em néctar; nem
todas as plantas produzem flores ricas e as abelhas detectam isso;
observando atentamente, o apicultor notará a preferência por certas
plantas mais ricas em néctar;
• quantidade de néctar produzida pelas flores; algumas plantas só
secretam néctar de manhã, outras à tarde, e outras, como o eu-
calipto, o dia todo;
• ocorrência de ventos frios e neblina, que diminuem o tempo de
trabalho das abelhas que não saem da colmeia quando a tempe-
ratura está abaixo de 5ºC;
• existência de lavouras de cana-de-açúcar, que não favorecem a
produção de mel (o mel produzido a partir da cana é qualificado
como “melato”, logo não pode ser misturado ao mel floral ou rotu-
lado como mel de origem floral), no entanto, tal lavoura propicia
fartura de alimento aos enxames, podendo reverter aos apicultores
no fortalecimento de enxames, na produção de geleia real, entre
outros.
• pulverizações frequentes nas lavouras de algodão, laranja e outras,
durante a florada, o que ocasiona a morte de muitas abelhas;
• roçadas ou queimadas de pastagens na época da floração;
• existência de plantas prejudiciais, cujas flores são tóxicas para as
abelhas, como espatódea (Spathodea campanulata P. Beauv.) e
barbatimão (Stryphnodendron adstringens Mart).

Além de todos esses fatores, é importante reconhecer que 70%


dos alimentos recolhidos pelas abelhas são consumidos pela po-
pulação interna da colmeia; portanto, floradas dispersas motivam o
crescimento familiar e não o armazenamento de alimentos, que fica
em torno de 30%.

Os apicultores devem estar atentos às plantas e flores de sua


propriedade e da região, porque muitas plantas, aparentemente
simples, produzem flores de grande valor para a apicultura e podem
ser cultivadas. Regiões diferentes apresentam flora apícola forma-

26
da por vegetação diversa, algumas são espécies nativas, exóticas,
mas também pode ser formada por plantas cultivadas e infestantes
presentes em determinada região. Informações adicionais sobre a
flora apícola do Estado de São Paulo podem ser encontradas no
Anexo desta publicação.

Figura 10 – Pasto sujo: oferta de flores em abundância para as abelhas.

27
Figura 11 – Mata nativa: aproveitamento das flores pelas abelhas.

6.2. Local de instalação do apiário

O conhecimento da flora apícola oferece as primeiras informa-


ções sobre o local onde deverá ser instalado o apiário. Além desses
conhecimentos, algumas regras simples devem ser obedecidas:
• o apiário deve estar, pelo menos, a 500 metros de residências,
currais ou estábulos, para tranquilidade das pessoas, dos animais
e das abelhas;
• deve ter bons caminhos para acesso, estar protegido de ventos,
não ser muito batido pelo sol e nem muito sombreado; essas ca-
racterísticas evitam o excesso de calor ou de frio nas colmeias;
• oferecer uma fonte de água limpa a pelo menos 500 metros;
• estar em terreno bem drenado, pois terrenos encharcados e
úmidos criam um ambiente desfavorável para a sanidade das
abelhas.

28
Os terrenos gramados, com algumas árvores esparsas, próximos
de um capão de mato ou capoeira servindo de quebra-vento, são os
mais indicados. Pode, também, ser feita cerca-viva, de boa altura,
para agir como quebra-vento, proteger o apiário e dar tranquilidade
às abelhas.

Figura 12 – Local para instalação de apiário.

7. SISTEMAS DE CRIAÇÃO – APICULTURA FIXA E MIGRATÓRIA

A apicultura fixa é aquela em que o apiário fica sempre no mesmo


local e é indicada para criações pequenas, sem grande interesse
comercial. Ocupa menos o tempo do apicultor, mas não permite
grandes produções de mel. As floradas de uma região não aparecem
durante o ano todo e, por esse motivo, há períodos de falta de flores
durante os quais as abelhas não terão disponibilidade de alimentos

29
para seu crescimento, produção de mel e cera, estocagem de mel
e pólen, podendo até abandonar a área e ir para outro local com
melhores condições de sobrevivência. Nesse tipo de apicultura há
a necessidade de fornecimento de alimento artificial durante as
épocas de floradas fracas. Se não for providenciada essa medida,
as colmeias ficam fracas e com população pequena.

Na apicultura migratória, as colmeias são mudadas de lugar


três ou mais vezes por ano e levadas para regiões onde existam
floradas fortes. Dessa forma, as abelhas não precisam buscar as
flores em longas distâncias e, com o tempo de busca sendo menor,
o rendimento (produtividade) é bem maior. Uma colmeia mudada
de local três vezes em um ano produz de três a quatro vezes mais
mel do que uma colmeia fixa. Além disso, colmeias bem alimentadas
são mais resistentes a doenças e mais fortes para combater seus
inimigos naturais. Nas áreas que recebem as abelhas, a fecundação
das flores é maior e melhor, dando produções maiores em pomares,
lavouras e pastos. Todos os apicultores que observam com cuidado
a flora apícola de suas regiões sabem que, em virtude das pequenas
variações de clima, as plantas cultivadas e silvestres adiantam ou
atrasam o lançamento de suas flores, resultando em floradas em
dias diferentes, mesmo em áreas situadas a pequenas distâncias. A
apicultura migratória aproveita esse fato, transportando as colmeias
para junto das floradas e aumentando o período de produção.

Para a migração das colmeias, o apicultor deve conhecer bem


o tipo de pasto apícola e a época de florescimento das plantas que
existem em maior quantidade em sua região. Além disso, precisa
percorrer com frequência a região para onde costuma levar suas
abelhas a fim de verificar as épocas e condições das floradas e obter
o consentimento dos proprietários onde se pretende colocá-las.

O transporte é feito em caminhões, durante a noite ou de ma-


drugada, antes que o sol esquente. O sol forte do dia aquece muito
as colmeias, causando o derretimento dos favos e soltando-os dos
quadros. Durante a viagem, as tampas das colmeias são retiradas e
trocadas por uma tela para melhorar a ventilação. Deve-se borrifar

30
água para refrescar e manter a temperatura adequada ao enxame.
O caminhão deve viajar em baixa velocidade, com cuidados nas cur-
vas, nos buracos e nas lombadas, como se estivesse transportando
louça. A apicultura migratória está se tornando o sistema preferido
pelos apicultores comerciais do Estado de São Paulo, pois com ela
se obtêm maiores produções e sanidade das colmeias.

8. FORMAÇÃO DO APIÁRIO

Para a formação do apiário, pode-se optar pela compra ou pela


captura de colmeias. Existem quatro maneiras de se povoar uma
colmeia: a simples coleta de enxames viajantes, a captura de colônias
em abrigos naturais, o uso de caixas-armadilhas e a subdivisão de
colmeias.

Figura 13 – Localização de um apiário.

31
8.1. Coleta de enxames alojados em abrigos naturais

Os enxames podem estar alojados em mourões, árvores mortas


e ocas, cupinzeiros ou qualquer outro tipo de abrigo de fácil captura
pelo apicultor. Uma vez localizado um enxame nessas condições,
prepara-se o material para captura:
• ninho que poderá ser feito de tábuas finas (para ficar bem leve);
• tela de transporte para o ninho;
• caixilhos aramados;
• pequena tábua, que poderá ser de compensado, de corte um pouco
menor que o espaço interno dos caixilhos, que irá balizar o corte
dos favos para facilitar o encaixe nos caixilhos;
• barbante fino para amarração dos favos nos caixilhos;
• faca afiada;
• balde ou outro recipiente com tampa para possível remoção de
mel e cera excedente;
• pedaço de espuma para vedar a boca da caixa;
• fita adesiva larga para vedar frestas;
• tiras largas de câmara de pneu para amarrar a caixa facilitando o
transporte.

O melhor período para realizar a captura, com o desalojamento


e a transferência da família, é de manhã, pois o enxame terá até o
final da tarde para arrumar a desordem que certamente será feita. Se
a captura for ocorrer em perímetro urbano, será necessário o auxílio
de um apicultor mais experiente, assim como a notificação ao Corpo
de Bombeiros para isolar a área, optando, nesse caso, pelo horário
da tarde.

Para que a operação tenha sucesso devem-se considerar al-


guns passos: preparar o fumigador, vestir a roupa e ter às mãos as
ferramentas necessárias, como machado ou enxadão, faca, bacia,
formão, arame, alicate e outros apetrechos.

A seguir, jogam-se algumas baforadas de fumaça no abrigo e,


após alguns minutos, corta-se o tronco ou o material que abriga o

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enxame, expondo-se os favos com crias e alimento. Quando o acesso
aos favos estiver aberto, inicia-se a operação de remoção cortando
os favos e inspecionando-os. Os de alimento, como mel, devem ser
colocados em recipiente fechado, os de cria devem ser recortados
com o uso de uma faca ou tábua de corte utilizada como gabarito a
fim de se moldarem ao formato do caixilho. É preciso ficar atento à
posição dos favos no local de origem, pois eles devem ser amarrados
na mesma posição. Nunca inverter ou girar para outra posição, ou
seja, o lado de cima deve ficar para cima. Como a tábua de corte é
um pouco menor que o caixilho, o espaço de trabalho terá melhores
condições e o favo não irá ficar torto.

Depois de montados os pedaços de favos que irão formar o


futuro favo dentro do caixilho, colocar o caixilho em cima, com o
cepo superior encostado na parte superior do favo, forçar um pouco
para baixo, em seguida passar a faca sobre as crias, de modo que
o corte atinja o meio dos favos, onde o arame deverá ser embutido.
Em seguida, pegar o caixilho, os favos e a tábua de corte e virar,
devendo o favo ficar por cima, preso aos arames e amarrado pre-
enchendo ao máximo, em área total, os quadros com cria e, então,
completar o ninho com quadros com cera nessa posição. Transferir
para o ninho todos os caixilhos com quadros de cria em alvéolos.

É preciso ficar atento à rainha e, caso consiga enxergá-la, ter


cuidado ao tentar pegá-la. É mais fácil fazer com que ela suba em
um pedaço de favo que será transferido para o ninho que, nesse
momento, deverá estar com os favos de cria já amarrados. Colocar
a rainha no canto, não se preocupando em encontrá-la, é melhor
concentrar a atenção nas crias que são mais sensíveis. Transferir
para o ninho (que foi levado para a captura) todos os caixilhos com
quadros de cria.

No final da captura, o ninho deverá ficar com o quadro com cera


alveolada na lateral e, a partir dele, favos com crias amarrados e,
se necessário, mais quadros com cera alveolada na outra lateral,
de forma que o ninho fique completo e os favos não se desloquem
durante o transporte.

33
Após a captura, para o transporte do enxame, colocar sobre o
ninho a tela de transporte, que deve ser amarrada sobre o mesmo. O
alvado deve ser vedado com espuma, que não deixa frestas por onde
as abelhas possam escapar. O melhor horário para essa operação
de transporte é à noite, quando as abelhas já estão recolhidas.

8.2. Captura de enxames de difícil acesso

Identificado o enxame, o apicultor deve se certificar de que existe


uma única saída das abelhas. Caso haja duas ou mais, vedar as
menos convenientes para a adaptação do sistema a ser usado. À
saída escolhida, acondicionar uma tela de arame (tipo de máscara),
com um cone, tipo funil, perfurado na ponta. Lateralmente, aproxima-
se uma caixa com quatro quadros, sendo um de cria aberta, dois
de crias fechadas e um de cera, na seguinte ordem: cria aberta no
canto, seguido pelos de crias fechadas e, por último, o de cera. É
necessário ter uma rainha, fecundada ou não, à disposição para ser
introduzida 24 horas após o início da captura das abelhas.

Essa caixa deve ser colocada com o alvado encostado no funil


da tela para que as campeiras achem rapidamente a entrada, logo
que não consigam entrar na antiga morada. A caixa colocada deve
estar com a tela de transporte pronta para remoção. O funil deve ser
longo (20cm aproximadamente) e, para maior eficiência, colocá-lo
no período da manhã para assegurar que as abelhas que saíram
logo no primeiro dia estarão em grande número para cuidar das crias
abertas colocadas na caixa.

Logo após a fixação do funil, as abelhas provenientes do porão


começam a caminhar pela tela, ganhando a liberdade pelo orifício
do funil (cone). Ao retornar, estão incapacitadas de entrar na antiga
morada, abrigando-se na colmeia ao lado. Durante vários dias as
abelhas operárias saem do porão, engrossando cada vez mais a
nova família em formação. Decorridos 12 dias, as operárias ainda

34
jovens saem do porão e se lançam à tarefa de campo, na tentativa
de suprir de alimentos sua família.

Se o apicultor pretender eliminar totalmente a antiga família,


deve manter o processo por mais de 35 dias. Assim, dará tempo de
todas as abelhas nascerem e esgotarem todo estoque de suprimento.
Caso queira usufruir dessa fonte para futuras formações de enxames
ou fortalecimento de núcleos fracos, passados de três a cinco dias,
retirar esse novo núcleo e a tela-tampão do porão e levar o núcleo
para bem longe.

8.3. Coleta de enxames viajantes

Na ocasião de grandes floradas, o número de operárias de uma


colmeia cresce muito. Nos apiários comerciais, o apicultor aumenta
o número de melgueiras e amplia, dessa forma, o espaço para as
abelhas prosseguirem a sua vida normal. Nos abrigos naturais,
onde o espaço não pode ser ampliado, o aumento da população da
colmeia provoca enxameações.

Enxameação é um fenômeno no qual a rainha e metade da po-


pulação da colmeia saem para morar em outro lugar. Esse fato pode
ser aproveitado para a coleta de enxames. É talvez o método mais
simples, mas sempre casual, porque não se pode prever o roteiro
dos enxames viajantes.

Alguns dias antes da enxameação, algumas abelhas operárias


saem em busca de um abrigo para a formação de nova família. E,
quando a enxameação inicia, as abelhas já tem o local do novo
abrigo definido. Às vezes, elas param para descanso, penduram-
se em galhos de árvores ou beirais de construções, sendo esse o
momento ideal para capturá-las.

Podem-se capturar enxames por dois processos: com a utilização


de um ninho contendo quadros com tiras (fitas) de cera alveolada e,
se possível, um quadro com cria aberta ou com a utilização de um

35
saco de tela. No primeiro caso, basta levar o material até o enxame
que está pousado e simplesmente derrubar o enxame dentro do
ninho. As abelhas adotam rapidamente o quadro com crias, existin-
do grande chance de acerto para o enxame permanecer na nova
morada.

O outro método consiste na utilização de um saco de tela. Nesse


processo, sacode-se o enxame dentro do saco que é levado para o
local desejado, onde o ninho já deverá estar preparado para receber
o enxame. O ideal para que a rainha não voe e o enxame não se
perca é pulverizar água com um pouco de açúcar no enxame pelo
lado de fora do saco, dificultando o voo e obrigando as abelhas a se
limparem e, enquanto isso, achar o quadro com crias e o adotar.

Pode-se, também, aguardar a chegada da noite, colocar a caixa


no chão e sacudir o enxame no alvado. As abelhas irão entrar de
imediato e, pela manhã, já terão adotado a nova morada. Não se
pode esquecer de borrifar água de vez em quando no enxame.

Geralmente, as abelhas que fazem parte de um enxame viajante


são mansas e não ferroam porque estão com o papo cheio de mel,
tendo dificuldade para atacar. Mas, por medida de segurança, deve-
se sempre usar roupa apropriada para o trabalho com abelhas.

8.4. Coleta com caixas-armadilhas

O uso de caixas-armadilhas, conhecidas como caixas-iscas,


é recomendado durante os períodos de grandes floradas, quando
as colônias nativas costumam enxamear. Elas podem ser feitas de
caixas de tomate devidamente redimensionadas para o tamanho
padrão dos quadros; geralmente, cabem de cinco a seis quadros
em cada caixa. Caixas de papelão também podem ser utilizadas,
mas devem ser protegidas da chuva. O alvado deve ser pequeno,
em torno de 1,5cm de altura por, no máximo, 10cm de comprimento.
Em seu interior, devem-se colocar quadros de ninho aramados com
tiras de cera alveolada de, no máximo, 2cm de largura.

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Figura 14 – Caixa-isca ou armadilha.

As caixas-armadilhas devem ser penduradas ou fixadas na


vegetação da região a uma altura média de 1,80m, em local protegido
de sol intenso, com sombreamento médio e boa ventilação. Pode-se
utilizar ninho padrão, porém é caro e deve ser colocado em local
seguro, sendo necessário reduzir o alvado à metade.

Para atrair as abelhas batedoras às armadilhas, deve-se pre-


parar uma “tinta” feita com capim-limão em infusão no álcool. Após
dois dias, adicionar 30ml de própolis para cada litro. Para fazer o
preparado, o capim-limão deve ser colhido antes do nascer do sol,
horário em que os óleos aromáticos estão mais ativos. Pincelar a
caixa por dentro e o alvado e, quando colocar a caixa no campo,
passar um pouco da mistura na tampa, pelo lado de fora. É muito
importante tomar cuidado quanto à posição das caixas-iscas, procu-
rando posicioná-las no sentido norte-sul, obedecendo sua inclinação
lateral e mantendo-as no prumo.

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Se a região dispuser de enxameações durante todo o ano, é inte-
ressante fazer as caixas-iscas com caixotes de tomate e preservá-las,
pois essa prática poderá ajudar a repovoar as caixas vazias, como
também reforçar seus enxames, além de reduzir muito a competição
no local.

Alguns dias após o enxame ter entrado nas caixas-iscas, é ne-


cessário transferi-lo para uma caixa padrão e completar os quadros
vazios com quadros de cera alveolada.

8.5. Divisão de enxames com introdução de rainhas fecundadas

Tradicionalmente, as crias e as operárias são divididas de forma


grotesca, desconsiderando as faixas etárias envolvidas. Observando-
se a impossibilidade de conseguir uma divisão de classes etárias
entre as operárias, visto que elas não apresentam diferenças exter-
nas com a idade, foi desenvolvido um sistema de autodivisão, em
que as operárias se dividem sozinhas. Com esse método, pode-se
dividir uma quantidade enorme de enxames por dia, tendo certeza de
um sequenciamento perfeito, ou o mais próximo dele. Esse método
acarreta um excelente crescimento dos enxames divididos, visto que
sua mecânica interna não é quebrada.

Para dividir dez colmeias adultas é necessário agendar dez rai-


nhas com um fornecedor e providenciar os seguintes acessórios: dez
fundos, dez tampas, dez ninhos, dez telas excluidoras e dez telas de
transporte. Após essas providências, montar, aramar, incrustar cera
em 100 quadros de ninho e armazenar os quadros prontos nos dez
ninhos sem fundo e sem tampa. Feito isso, preparar o apiário para
onde serão levadas as colmeias novas e onde serão introduzidas
as rainhas novas. Atenção: este apiário deverá estar a mais de
um quilômetro do apiário dividido. No novo apiário, colocar os
cavaletes com o fundo das futuras colmeias, lembrando que, ainda,
não há abelhas no apiário, o que facilita a limpeza geral do local
(tocos, galhos etc.).

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Na véspera da chegada das novas rainhas, de preferência no
período da tarde, quando o trabalho se torna mais fácil, devem-se
levar ao apiário a ser dividido os dez ninhos, as dez telas excluidoras,
dez telas de transporte e dez tampas. Esse material será utilizado,
um para cada uma das dez novas colmeias a serem formadas. No
apiário deve ser colocado um de cada: um ninho, uma tela excluido-
ra, uma tela de transporte e uma tampa, à frente de cada uma das
dez colmeias para, então, dar início ao processo de divisão. Voltar
à primeira e recomeçar o trabalho.

1 – Retirar do ninho levado cinco placas de cera alveolada e colocar


em local seguro, fora do alcance dos pés e do sol.
2 – Fazer fumaça na colmeia (fumigar).
3 – Retirar os quadros, de um a cinco.
4 – Varrer com uma vassoura ou um ramo de folhas, não sacudir os
quadros, pois pode ocorrer o deslocamento das crias.
5 – Colocar os quadros no ninho levado, na mesma ordem de retirada.
6 – Concluída a retirada, colocar no local de onde foram retirados os
quadros de cria, os cinco quadros de cera alveolada (retirados
anteriormente do sobreninho).
7 – Sobre a caixa, já completa, colocar a tela excluidora (a rainha
estará sempre na parte de baixo).
8 – Sobre a tela, colocar o ninho completo com os cinco quadros de
cera e cinco de cria retirados. No final da operação, deverão estar
cria em cima de cria e cera em cima de cera.
9 – Tampar com a tela de transporte e sobre esta a tampa da colmeia;
colocar ao lado a tampa extra. Repetir a operação em cada uma
das dez colmeias.
10 – Quando escurecer, o apicultor já vestido com o equipamento
de segurança (macacão, máscara, luvas, botas) e, com auxílio
de outra pessoa, deverá dar baforadas leves de fumaça na
colmeia-mãe.
11 – Colocar a tampa extra no chão, retirar o sobreninho colocado
sobre a colmeia-mãe, juntamente com a tela de transporte
e a tampa, deixando a tela excluidora sobre a colmeia-mãe,
colocando-a sobre a tampa que deverá estar no chão, ao lado
da colmeia a ser dividida.

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12 – Com a tampa que acompanhou a nova colmeia, tampar a
colmeia que ficou, sendo constituída de uma tampa na parte
inferior, o sobreninho e sobre este a tela de transporte.
13 – Amarrar o conjunto que deverá estar assim constituído: uma
tampa no fundo, uma tela de transporte em cima com o ninho
no meio com dez quadros (cinco de cera alveolada e cinco que
foram retirados da colmeia anterior).
14 – Repetir a operação em todas as dez colmeias.

Colocar no carro, fazer o transporte das colmeias e não mexer


até o dia seguinte. Quando estiver amanhecendo, levar até o apiário
preparado e colocar cada ninho em cima de seu fundo, já deixado
anteriormente. Esperar as abelhas se acalmarem, para só depois
começar o processo de soltura dos enxames.

8.5.1. Soltura do enxame

Essa operação também necessita da ajuda de outra pessoa,


devendo ser feita em parceria:
1 – Desamarrar todas as colmeias transportadas e deixar preparado
(aceso) o fumigador, pronto para uso, caso seja necessário.
2 – Levantar o ninho, a segunda pessoa irá retirar a tampa que está
por baixo e o apicultor colocará o ninho com a tela de transporte
sobre o fundo, em seguida cobrirá, imediatamente, com a tampa,
deixando o alvado livre.
3 – Usar a fumaça só em caso extremo, ou seja, se ocorrer algum
incidente na operação, pois o processo deve ser muito rápido.

Nesse mesmo dia, à tarde, as novas rainhas já podem ser intro-


duzidas nessas colmeias nos quadros de crias abertos.

8.5.2. Vantagens desse método

1 – Ao fazer a divisão dessa forma, as abelhas se dividem sozinhas,


porque o enxame passa da posição horizontal para vertical,

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obrigando as operárias a tomarem essa posição para acobertar
as crias que foram colocadas umas sobre as outras. Não será
preciso se preocupar com o número necessário de abelhas de
cada idade em uma divisão. Caso esse número não esteja cor-
retamente distribuído, a nova rainha poderá ficar com limitações
para alavancar sua postura, pois, faltando uma classe, todas
as tarefas da colmeia ficarão parcialmente comprometidas. A
rainha terá de esperar a reposição dessa classe para só depois
deslanchar a postura.
2 – Ao fazer a divisão, aguardar no próprio apiário o escurecer para
fazer a remoção. Assegurar que a divisão levará muitas nutrizes,
desoperculando parte do mel superior, ou seja, desarrumando o
mel que está na parte superior dos quadros transferidos para o
ninho novo. As nutrizes irão subir para organizar o mel e ficarão
lá com as crias novas.
3 – Atenção: é aconselhável alimentar os enxames que irão ser
divididos para se obter um enxame mais populoso, ou dividir en-
xames que já são grandes para garantir um retorno seguro. Uma
colmeia dividida ao meio, com alimentação artificial pós-divisão
ou florada constante, dobrará de tamanho em torno de 30 dias.

9. MANEJO DAS COLMEIAS

Entende-se por manejo todos os trabalhos feitos com as col-


meias, assim como a escolha do melhor local para a colocação do
apiário, com a finalidade de garantir boas produções, melhorar a
sanidade e, ainda, diminuir a agressividade das abelhas. As visto-
rias, o aumento de melgueiras, a reforma de colmeias, a divisão de
enxames, a colheita de mel e a alimentação artificial também fazem
parte do manejo.

Qualquer manuseio, mesmo que não vise à retirada de mel,


pode ser entendido pelas abelhas como ato de agressão. Por esse
motivo, a lida com as abelhas só deve ser feita por pessoas treina-

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das, trajando vestimentas próprias para a função e que oferecem
proteção suficiente.

Recomenda-se que qualquer manejo seja feito durante o período


mais quente do dia, das 10 horas até as 16 horas, pois é quando a
maioria das abelhas campeiras está fazendo a coleta de néctar e
pólen e, portanto, estão ausentes da colmeia.

Os diversos manejos exigidos pela apicultura são realizados de


acordo com a época do ano e, para orientação, sugere-se o calen-
dário apícola. A aplicação do calendário está sujeita, de qualquer
forma, a variações conforme o clima, a flora melífera e o tempo do
apicultor. As épocas indicadas no calendário (Tabela 2) foram de-
terminadas para a região central do Estado de São Paulo e devem
ser corrigidas para as outras regiões.

Figura 15 – O primeiro passo para iniciar a revisão em um apiário é utilizar fumaça


por meio do fumigador.

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Tabela 2 – Calendário apícola.
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dez embro
Vistorias Dependendo da atividade, deverão ser realiz adas semanal, quinz enal ou mensalmente.
Colheita de mel X X X X X X X
Aumento de
X X X X X
melgueiras
Reforma de
X X X X
colmeias
Alimentação
X X X X X
artificial
Captura de
X X X X X X
enxames
Divisão de
X X X X
colmeias
Substituição de
X X X X
rainhas

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9.1. Vistorias

Todas as vezes que o apicultor abrir uma colmeia, para qualquer


finalidade, está fazendo uma vistoria. A maioria das tarefas de ma-
nejo será decidida durante ou depois das vistorias normais, as quais
não devem ser feitas em dias frios, chuvosos ou de vento, porque,
nesses dias, as campeiras não estão trabalhando, a abertura da
colmeia facilitará a entrada de ar frio e, consequentemente, tornará
as abelhas mais agressivas.

Em todas as vistorias, o apicultor deve se vestir com roupas pró-


prias e levar as suas ferramentas, uma caderneta de campo (onde
anotará as tarefas realizadas, a situação de cada colmeia vistoriada
e quais providências futuras para a próxima vistoria), os quadros
com favos vazios ou com cera alveolada, entre outros.

Ao iniciar o trabalho, dirigir alguns jatos de fumaça fria no alvado


da colmeia para que as abelhas-vigia se retirem para o interior da
caixa. Com o formão, abre-se a tampa, injeta-se um pouco de fumaça
no interior, aguardam-se alguns segundos e coloca-se a tampa de
lado. Em seguida, retirar os quadros um a um, deslocando-os com o
formão. À medida que vai vistoriando, o apicultor coloca os quadros
na melgueira vazia que trouxe de reserva, facilitando a observação
da situação da colmeia.

Cada quadro é vistoriado dos dois lados para verificar se estão


cheios de mel, já operculados ou não, ou se as abelhas estão enchen-
do os favos. O apicultor verificará também se não existem sinais de
doenças ou inimigos naturais, se a colônia está numerosa e forte, se
há bastante reserva de alimento e se existe espaço suficiente para o
número de operárias. Continuamente, são dirigidos jatos de fumaça
ao redor da melgueira que está sendo trabalhada.

Terminado o trabalho na melgueira, eventualmente pode-se


passar a trabalhar, da mesma forma, com o ninho, observando a
existência de crias de várias idades, as células com ovos e, prin-

44
cipalmente, se a rainha está viva, forte e ágil. Imediatamente após
essas verificações, coloca-se tudo no lugar e fecha-se a colmeia.

As vistorias devem ser feitas de forma rápida, para não deixar


as colmeias abertas por muito tempo, porque sempre que se abre
uma colmeia, a temperatura de seu interior cai um pouco, irritando
as abelhas e favorecendo o saque por outras famílias.

Figura 16 – Apicultores
em início de manejo em
apiário.
(Revisão da colmeia).

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Figura 17 – Uso de fumaça para iniciar a revisão no apiário.

Figura 18 – Retirada de quadro para observação de postura da rainha.

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Figura 19 – Distribuição uniforme de postura, indicando rainha nova e boa florada.
Notar, no canto à esquerda, ovos que originam zangões; no restante do quadro, à
direita, ovos que dão origem às operárias.

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Figura 20 – Diferentes estágios de desenvolvimento, de larvas a células operculadas
até próximo ao nascimento de abelhas operárias.

9.2. Aumento de melgueiras

Se o apicultor verificar, durante uma vistoria, que a colmeia está


populosa e forte, com os favos cheios ou quase cheios de mel e
pólen, com muitas células com crias e ovos, e se está em período
de florada boa, deverá aumentar o número de melgueiras de sua
colmeia. Para isso, basta colocar sobre a melgueira existente uma
outra, com quadros incrustados com cera alveolada e, dessa forma,
aumentará o espaço para as operárias existentes ou as que esti-
verem nascendo. Adicionando melgueiras às colmeias, evitam-se
as enxameações, mantendo as colmeias fortes e preparadas para
altas produções.

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9.3. Colheita de mel

No Estado de São Paulo, existem duas temporadas de colheita


de mel: uma no outono (março a maio) e outra na primavera (setem-
bro a novembro), sendo esses os períodos de melhores floradas. Por
esse motivo, apicultores que fazem apicultura migratória levam as
colmeias para os pomares de laranja na primavera e para plantações
de eucalipto ou para cerrados, no outono.

O apicultor, ao fazer suas vistorias de rotina e tendo anotado


em sua caderneta de campo a situação de cada colmeia, poderá
planejar a colheita de mel. Os preparativos começam um dia antes
com a limpeza do ambiente, no qual irá manusear as colmeias, e
dos equipamentos que serão utilizados.

Além dos equipamentos de rotina, da vestimenta completa, do


fumigador e do formão, o apicultor deverá ter à disposição melguei-
ras vazias e um cavalete de apoio. À medida que for colhendo o
mel “operculado” (maduro), colocam-se outros quadros com cera
alveolada no lugar, ou, após a colheita e centrifugação dos quadros,
devolvem-se os mesmos quadros para as colmeias. Os quadros
com mel são levados para a casa de mel, onde serão desopercu-
lados com o garfo desoperculador, sobre a mesa desoperculadora.

A cera e o mel que foram retirados são colocados em uma


peneira para escorrer e os quadros desoperculados na centrífuga
para a retirada do mel, o qual é colocado em tambores de aço
inoxidável ou plástico atóxico para assentar ou decantar (decan-
tadores). A cera mais fina boiará sobre o mel, sendo retirada por
qualquer processo.

Nos quadros vazios, espirra-se água e, em seguida, são devolvi-


dos ao apiário, podendo ser colocados no mesmo local de onde foram
retirados, mas, de preferência, devem ser colocados em colmeias
mais fracas ou coletivamente para fortalecer o apiário todo.
As colheitas de mel prosseguem, em geral, até 15 dias antes
do fim das floradas regionais. Os apicultores que adotam o sistema

49
de migração colhem mais mel por ano, pois mantêm suas colmeias
mais populosas. A diferença de produção entre o apicultor que faz
migração e o que adota a apicultura fixa é resultado do conhecimento
perfeito das floradas regionais e da técnica de manejo empregada.
À medida que o apicultor vai melhorando suas técnicas de trabalho e
seu manejo, a produtividade do apiário tende a aumentar. Podem-se
aceitar como boas produções de 30 a 50 quilogramas de mel por ano
e rendimentos de até 70% das colmeias de um apiário em produção.
Entretanto, essa produtividade pode ser ainda aumentada com
melhores técnicas e maior conhecimento da vida das abelhas.

A apicultura brasileira tem grande possibilidade de expansão e


produção por colmeia, porque a abelha africanizada é de alta po-
tencialidade e as floradas ocorrem em muitos meses do ano.

9.4. Reforma de colmeias

Como as colmeias não são totalmente protegidas do sol e das


chuvas, elas acabam se estragando depois de alguns anos, devendo
ser consertadas, pintadas ou substituídas. Os quadros com favos
também saem da centrífuga com pequenos estragos, mas são
consertados pelas operárias e duram muitos anos. Porém, com o
tempo, vão ficando escuros e sem transparência, necessitando de
substituição. Os quadros de ninho também devem ser substituídos
por cera alveolada, progressivamente. A cera velha é derretida e
aproveitada para ser trocada por cera alveolada. Essas tarefas de-
vem ser feitas durante o período sem florada ou de floradas fracas.

9.5. Alimentações artificiais

Nos períodos de poucas floradas, principalmente na apicultura


fixa, pode faltar alimento para as abelhas. Como consequência, as
colônias tornam-se fracas, em razão da diminuição de postura de
ovos pela rainha e morte de muitas abelhas. Quando as floradas
retornam, as colônias gastam muito tempo para se recompor e não

50
começam logo a produção de mel. Para minimizar os prejuízos cau-
sados às abelhas pela ausência de alimentos, há opção de alimentá-
-las nos períodos menos favorecidos. A alimentação artificial pode
ser administrada em alimentadores individuais ou coletivos. Cada
modelo tem uma série de vantagens e desvantagens e cabe ao api-
cultor analisar e escolher qual o mais adaptado para sua realidade.

O alimentador coletivo é uma espécie de cocho colocado em


cada apiário, disponibilizando o alimento a todos os enxames de uma
única vez. Apesar de mais prático, o alimentador coletivo apresenta
como desvantagens o fornecimento de alimento e o incentivo ao
saque por parte de outros enxames naturais, de apiários vizinhos,
formigas e pequenos mamíferos entre outros.

Os alimentadores individuais mais usuais são dos tipos:


• Boardman – que consiste em um vidro emborcado sobre um
suporte de madeira, que é parcialmente introduzido no alvado da
colmeia;
• cobertura ou bandeja – consiste em uma bandeja com abertura
central colocada logo abaixo da tampa, permitindo o acesso das
abelhas ao alimento;
• Doolitle ou cocho interno – possui as mesmas dimensões de um
quadro de ninho ou melgueira, sendo usado dentro da colmeia em
substituição a um dos quadros.

9.5.1. Subsistência

Para evitar o enfraquecimento das colônias, devem-se alimen-


tar as colmeias sempre que for necessário. A alimentação artificial
poderá ser feita com xarope de água e açúcar ou água e mel.

• Água e açúcar: misturar uma parte de água mais uma parte de


açúcar (1kg de açúcar + 1 litro de água). Fornecer ao enxame um
litro dessa mistura uma vez por semana.

51
Para o fornecimento do xarope, pode-se fazer um bom alimen-
tador com vidros de tampa metálica rosqueada, na qual são feitos
três furos pequenos, usando-se, para isso, prego 12x12. Esses
vidros são encaixados de boca para baixo, em suporte apropriado,
no alvado das colmeias, de modo que somente as abelhas dentro
da caixa tenham acesso ao alimento. Esse alimentador individual é
chamado alimentador Boardman e, ao usá-lo, é preciso estar atento
às formigas, que podem, também, se alimentar do xarope. Nesse
caso, deve-se usar qualquer proteção contra formigas.

Outro alimentador prático (cobertura ou bandeja) pode ser con-


seguido pregando-se tábuas de compensado nos lados de um quadro
comum, sem cera, e vedando todas as frestas com cera derretida. O
quadro transforma-se, assim, em um cocho fundo, que é cheio com
xarope e colocado na melgueira e no ninho. Um pequeno sarrafo
deve ser colocado internamente para que boie sobre o xarope, isso
evitará o afogamento das abelhas. Esse tipo de alimentador é mais
utilizado para alimento sólido (açúcar, ração).

Atualmente, o alimentador individual mais eficiente é o de alvado


em ABS (Doolitle ou cocho interno). Trata-se de um recipiente que
fica pendurado no alvado da caixa com uma tampa que se encaixa
sobre o suporte metálico, criando um “túnel” ou cocho do alimento
até o interior da colmeia. Esse alimentador pode ser utilizado tanto
para alimentação líquida como sólida.

De qualquer forma, existe uma ressalva quanto à eficiência dos


alimentadores internos que é muito baixa, pelo fato de as abelhas
compreenderem que o alimento ali depositado é um estoque e não
um fluxo.

9.5.2. Estimulante

A alimentação estimulante deverá começar de 90 a 60 dias antes


das floradas principais. Caso não seja possível 90 dias antes, ali-

52
mentar no mínimo 60 dias, tomando como precaução a substituição
da rainha no início da alimentação.

Deve-se oferecer ao enxame xarope ralo na proporção de 40%


(1 litro de água + 400 gramas de açúcar). Esse xarope é fornecido
na proporção de 100ml por quadro de cria completo até atingir um
volume de 500ml, com regularidade, de dois em dois dias, ou, no
máximo, de três em três dias.

Iniciando-se 90 dias antes, alimenta-se o enxame por 30 dias,


já tendo a rainha fecundada pré-agendada com o fornecedor. Após
esse período, sacrifica-se a rainha velha, substituindo-a pela jovem,
e continua-se a alimentação por mais 60 dias. Esse procedimento
fornecerá à rainha jovem um suporte de abelhas também jovens,
possibilitando a postura em larga escala e fazendo com que o en-
xame se desenvolva antes da florada.

10. MORADA DAS ABELHAS

Na natureza, as abelhas vivem em fendas de rochas, árvores


ocas, buracos no solo ou qualquer local que pareça seguro e ofereça
abrigo contra ventos frios, chuvas e inimigos naturais. Para facilitar o
trabalho do homem e das abelhas e para obtenção de boa produção
e sanidade, foram desenvolvidos novos tipos de moradas para as
abelhas.

A mais moderna é a colmeia Langstroth, também conhecida


como colmeia-padrão ou americana. Essa colmeia tem como ca-
racterística principal permitir a circulação de ar interna, ocasionada
pela disposição dos quadros na longitudinal, o que evita superaque-
cimentos internos e facilita a aeração pelas operárias. Outros fatores
de destaque são a composição simples, a facilidade na construção
e na montagem, assim como no transporte. Todos esses fatores
concorreram para que as colmeias Langstroth acabassem sendo
adotadas pelos apicultores de todo o mundo. E, hoje, são aceitas

53
como modelo oficial em mais de cem países, incluindo o Brasil, por
recomendação da Confederação Brasileira de Apicultura.

As colmeias Langstroth também oferecem ótimas condições de


manejo. Elas minimizam o problema das enxameações frequentes,
desde que o apicultor vá fornecendo ao enxame os espaços sufi-
cientes para seu desenvolvimento, pois oferecem a possibilidade de
o apicultor utilizar o número de seções que for necessário. Propor-
cionam ótimas condições para a defesa contra os inimigos naturais
e mostram boa condição para sanidade da colônia e boa produção.
Como são mais fáceis de manejar, são as mais indicadas para a
apicultura migratória, superando qualquer outro modelo nas nossas
condições de clima.

10.1. Material para construção de uma colmeia Langstroth

Qualquer material leve e resistente às condições de sol, chuva


e calor pode ser usado para a construção das caixas americanas.
Geralmente é utilizada madeira, como eucalipto e pinus. Do material
escolhido, são feitas as caixas móveis, com tampa, fundo e quadros
também móveis, que permitem um trabalho mais fácil e racional. As
dimensões das caixas são padronizadas em medidas que a experi-
ência tem mostrado que são as mais indicadas para o trabalho com
as abelhas africanizadas.

Tabela 3 – Medidas internas para a construção das colmeias ame-


ricanas ou Langstroth.

Medidas Ninho Melgueira


Comprimento (cm) 48,50 48,50
Largura (cm) 37,00 37,00
Altura (cm) 24,00 14,20

54
• Ninho ou incubadora da colmeia – é a parte reservada à postura
de ovos pela rainha e o crescimento das larvas.
• Melgueira(s) ou sobrecaixa(s) – são caixas de madeira, sem
tampa e fundo, colocadas sobre o ninho e servem para armaze-
nar mel e pólen. Observação: a espessura das tábuas do ninho
e melgueiras deve ser de 2,5cm, servindo como isolante de calor
ou frio do ambiente.
• Tampa – colocada na parte superior da colmeia, devendo ser de
material resistente e com boa vedação e não deixar frestas que
possam ser utilizadas pelos inimigos e pelas abelhas como pas-
sagem; suas medidas externas são de 51cm de comprimento e
44cm de largura.
• Fundo – parte inferior da colmeia, evitando frestas que sirvam
como passagem pelas abelhas ou inimigos naturais; suas medidas
externas são de 60cm de comprimento e 41cm de largura.
• Quadros ou caixilhos – são guarnições de madeira, que servem
de suporte aos favos de cera para deposição de mel, cera e crias.

As caixas devem ser pintadas por fora com tinta plástica, reco-
mendando-se cores claras, como azul, bege ou amarelo.

Figura 21 – Quadros de ninho e melgueira.

55
10.2. Suporte e cobertura das colmeias

As colmeias não devem ser colocadas diretamente no chão para


evitar a umidade do solo, que estraga as caixas, e para dificultar a
ação dos inimigos naturais das abelhas. Devem ser colocadas sobre
cavaletes ou suportes que tenham de 30cm a 50cm de altura. Es-
ses suportes podem ser feitos de tijolo, madeira, cimento ou aço. O
ideal é que cada colmeia tenha seu suporte individual para facilitar
o manejo e, também, para evitar choques ou pancadas fortes nas
colmeias vizinhas. No caso de serem usados cavaletes para duas
colmeias, eles precisam ser grandes para permitir uma distância de
70cm entre as duas caixas. Na apicultura migratória, os suportes
mais usados são os de ferro desmontáveis ou de madeira, que são
facilmente transportados de um local para outro.

A cobertura é usada para evitar que chuva e sol estraguem


rapidamente as tampas da caixa. O gosto do apicultor varia muito
na escolha das coberturas, sendo as mais utilizadas as de telha de
barro, fibra de cimento, folhas de flandres, entre outras.

Figura 22 – Caixa padrão,


medidas externas.

56
11. VESTIMENTA DO APICULTOR

O mel e o pólen são guardados pelas abelhas como reservas de


alimento para os períodos em que as flores rareiam. Por esse motivo,
todas as vezes que alguém tenta retirar mel de uma colmeia, do ponto
de vista das abelhas, estará saqueando o seu alimento. Até mesmo
os trabalhos que não visam à retirada do mel, como observações da
colônia, limpezas, coloração de quadros, podem e são entendidos
pelas abelhas como atos agressivos à colônia. Por isso, mesmo uma
visita de simples exame às colmeias não deve ser feita sem o uso do
equipamento completo de segurança.

As roupas do apicultor podem ser feitas em casa, sendo os


tecidos grossos (brim) e de cor clara os mais adequados, pois as
cores escuras irritam as abelhas.

Outra recomendação é a de nunca trabalhar com anéis e alian-


ças, pois as mãos são as partes do corpo que estão em maior con-
tato com as abelhas, sendo atingidas por picadas com frequência,
provocando inchaço e exigindo, muitas vezes, o corte de anéis e
alianças.

As peças da roupa do apicultor são as seguintes:


• chapéu de palha – comum, de aba larga; no caso de ser com-
prado véu ou máscara prontos, as medidas do chapéu devem ser
adequadas às da máscara;
• máscara ou véu – de tela de náilon verde-escura ou preta, para
facilitar a visão do apicultor; deve cobrir todo o rosto e a nuca, na
qual o chapéu é encaixado; a máscara deve ser amarrada, com
tiras de pano, ao peito do apicultor de maneira a permanecer firme
ao corpo;
• luva de couro flexível ou borracha – de cor clara, branca ou azul;
• macacão comum – pode ser confeccionado em brim amaciado ou
em náilon; no caso do náilon, deverão ser feitas telas de ventilação
no peito e nas costas do jaleco. Atualmente, existem no mercado

57
empresas especializadas na fabricação de EPIs (equipamentos de
proteção individual) para apicultores, que compõem-se de calça
e jaleco com máscara. As pernas do macacão devem ter elástico
na barra;
• botas claras – devem ser de meio cano pelo menos, de cor branca
ou bem clara; as pernas do macacão (com elástico) são apertadas
por cima do cano da bota.

Figura 23 – Vestimenta completa do apicultor (macacão, máscara, luvas e botas)


e fumigador.

58
12. EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS DO APICULTOR

Os equipamentos e as ferramentas necessários ao trabalho com


abelhas não são muito numerosos; são materiais simples, criados e
melhorados pelos próprios apicultores em razão da experiência e,
por isso, muito funcionais.

Apesar de simples, não se deve trabalhar em colmeias com


materiais improvisados, que não fazem um trabalho correto e podem
danificar as caixas. Entre os equipamentos estão o fumigador, a
mesa desoperculadora, a centrífuga, o incrustador elétrico, as telas
de transporte e excluidora, o decantador de mel e os alimentadores
artificiais. E entre as ferramentas, o formão ou espátula e o garfo ou
faca desoperculadora.

12.1. Equipamentos

• Fumigador – É um equipamento produtor de fumaça, que tem a


propriedade de acalmar as abelhas e diminuir a sua agressividade
quando bem manejado. O fumigador é formado por uma fornalha, na
qual se queima o material produtor de fumaça, um fole para injetar
o ar, facilitando a queima e empurrando a fumaça, e uma alça para
o apicultor poder segurá-lo. A tampa da fornalha termina em bico
afunilado pelo qual a fumaça sai e que também ajuda a dirigir o jato
de fumaça para o ponto desejado.

O material para a produção de fumaça pode ser aparas de ma-


deiras de serraria, madeira podre, folhas secas de eucalipto, cascas
de árvores, palha de café e outros semelhantes. Não é recomendável
usar folhas verdes, esterco, estopa de algodão, porque a fumaça
produzida irrita as abelhas. Também não é aconselhável fazer a
fumigação com fumaça quente; a temperatura da fumaça pode ser
avaliada dirigindo-se jatos das fumaças nas mãos ou nos braços
do operador. Fumaças quentes geralmente são acompanhadas de
fagulhas que queimam, e, além de irritar as abelhas, comprometem
a durabilidade do fumigador por excesso de caloria.

59
• Mesa desoperculadora – Utilizada para receber e apoiar os qua-
dros a serem desoperculados e recolher as aparas de cera.

• Incrustador elétrico – Aparelho elétrico que transforma a voltagem


de 110V em 12V e tem a função de aquecer os arames do caixilho,
incrustando a cera alveolada. Existem carretilhas de incrustadores
que dispensam a energia elétrica.

• Centrífuga – É um aparelho para a extração do mel que utiliza a


força de rotação (força centrífuga) de um eixo vertical, colocado no
centro de um tambor de aço inoxidável. Nesse eixo, são soldados
suportes para prender os quadros com favos, dos quais já foram
retiradas as camadas finas. O eixo é girado por meio de uma ma-
nivela ou por um motor elétrico, e o mel escorre pelas paredes se
alojando no fundo do tambor, de onde é retirado por uma torneira.
A centrífuga não estraga os favos e permite que eles sejam usados
durante muitos anos.

• Decantador de mel – É o recipiente (tanque) destinado a receber


o mel recém-centrifugado para “descansar” e, dessa forma, propor-
cionar a separação das impurezas por suspensão ou sedimentação
por gravidade. O mel deve permanecer no decantador de 24 a 48
horas antes de ser envasado.

• Tela de transporte e tela excluidora – A tela de transporte é utili-


zada para a transferência de enxames recém-capturados em locais
distantes do apiário e, também, quando se realiza apicultura migra-
tória. Já a tela excluidora é uma armação com borda de madeira e
área interna de malha de metal, colocada entre o ninho e a melgueira,
tendo, como finalidade, evitar o acesso da rainha à melgueira.

• Alimentador artificial – Recipiente destinado à colocação de ali-


mentos para as abelhas nos períodos desfavoráveis (falta de néctar
e pólen. Existem modelos individuais ou coletivos para alimentos
sólidos ou líquidos (Figura 31).

60
Figura 24 – Fumigador.

61
Figura 25 – Mesa desoperculadora.

Figura 26 – Incrustador elétrico.

62
Figura 27 – Centrífuga. Figura 28 – Decantador.

Figura 29 – Tela de transporte.

63
Figura 30 – Tela excluidora.

Figura 31 – Tipos de alimentadores artificiais.

64
12.2. Ferramentas

• Formão ou espátula – O formão é uma lâmina grossa e reta, feita


de aço, com uma ponta recurvada e a outra chata em formato de “L”.
Serve para abrir a tampa das caixas, soltar os quadros e auxiliar a
limpeza das colmeias.

• Incrustador – Utilizado para fixar os arames dos quadros na cera


alveolada.

• Garfo desoperculador ou faca – Os garfos desoperculadores são


longos e largos, com dentes finos, que servem para retirar a camada
fina de cera que as abelhas fazem para cobrir os favos. Para extrair
o mel, é necessário retirar essa camada. Pode ser utilizada também,
com a mesma finalidade, uma faca com as mesmas características.

Figura 32 – Formão ou espátula.

65
Figura 33 – Garfo desoperculador.

13. INIMIGOS E DOENÇAS


As formigas são as principais inimigas das abelhas. São terríveis
e, doceiras ou carnívoras, dizimam famílias inteiras de abelhas. Em
seus ataques noturnos, mobilizam verdadeiro batalhão contra as
abelhas, que se tornam presas, facilmente, pela força das aguçadas
mandíbulas das formigas. As espécies mais prejudiciais são: saras-
sará, correição, lava-pés e quenquém.

As precauções mais comuns contra as formigas são: destruir


seus ninhos, manter limpo o apiário e construir cavaletes próprios, à
prova de formigas, e que, geralmente, também protegem as colmeias
contra cupins.

As famílias fortes geralmente se defendem dessas inimigas,


estreitando o alvado com própolis, portanto, uma das medidas é
colocar sarrafos no alvado, diminuindo o fluxo de inimigo na colmeia.

Nos quadros 4 e 5 a seguir, estão relacionadas as pragas e


doenças que, mais frequentemente, atacam as colmeias.

66
Tabela 4 – Pragas que atacam as abelhas.

Praga Habitat Ciclo de vida Controle

Nas reuniões quinzenais,


observar se não está
Ataca favos, cavando
havendo ataque de
galerias. Tece fios
traças.Evitar frestas ou
sedosos, prejudicando a
Larvas que nascem após rachaduras nas colmeias.
circulação das abelhas.
10 a 12 dias de incubação
Galleria mellonella do ovo. Trocar a cera,
Coloca ovos sobre favos,
(traça dos favos) periodicamente, das
frestas e buracos na
Adulto, uma mariposa de colmeias e todos os favos
colmeia.
cor cinzento-metálica. velhos.
Prefere favos velhos, com
Retirar o excesso de favos
resíduo de mel e pólen.
das colmeias que
enfraqueceram.
Costuma atacar favos com
crias, asfixiando a colmeia.
Achroia grisella
(traça da cera) Deixa cheiro forte
característico (catinga) que
expulsa a família.

67
Tabela 4A – Pragas que atacam as abelhas.

68
Praga Patologia Agente Característica Efeito Contágio Controle
Pequeno ácaro
parasita das
traqueias; elimina
Acarapis toxinas e impede o Evitar
Contaminação
Woodi e fluxo normal pilhagem.
direta por outras
Tyrophagos de ar. Diminuição drástica
Acariose abelhas ou
dim idiatus da população. Evitar uso de
material
(não existe Causa dificuldade material
contaminado.
no Brasil) para respirar e para contaminado.
movimentar as asas.

Morte das abelhas.


Redução da
Ácaro longevidade das
abelhas em 30%.
Exoparasita Evitar uso de
Redução no peso das Contaminação
material
operárias. direta entre as
Alimenta-se da contaminado.
abelhas,
Varroa hemolinfa das
Varroase Deformação das asas material
j a co b so n i i abelhas. Comprar
em, aproximadamente, contaminado e
rainhas de
6% das abelhas rainhas
Nascimento de fornecedores
infestadas. importadas.
abelhas defeituosas. confiáveis.
Queda da resistência
da colmeia a outras
doenças.
Tabela 5 – Doenças que atacam as colmeias.
Agente
D o en ça Sintoma Transmissão Consequência Controle
Patogênico
Abelhas mortas em frente ao Evitar instalar
alvado. apiários em locais
muito úmidos, bem
Abelhas rastejam, impedidas como a pilhagem.
A Nosem a invade a
de voar na frente da colmeia.
hemolinfa e pode
Destruição das células do Selecionar famílias
atingir a glândula
ventrículo (estômago Contato direto mais resistentes.
hipofaringeana e
Nosemose N o se m a a p i s verdadeiro), causando com material
ovários, diminuindo o
diarreia. fecal. Derreter os favos
ritmo de alimentação
provenientes de
das crias e a
Em períodos chuvosos, os colmeias afetadas.
postura.
voos higiênicos são
impedidos, ocorrendo a Procurar eliminar
defecação na própria fontes de água
colmeia. contaminadas.
Inchaço abdominal, asas
trêmulas e dificuldade no Trocar de rainha
Destruição da
Paralisia Vírus voo. Material fecal. por linhagens mais
colmeia.
resistentes.
Fezes amareladas.
Morte de abelhas em
Hipótese:
períodos após floradas da Migrar apiários
Mal-de-outono Desconhecido suspeita de planta
primavera em regiões de dessas regiões.
tóxica às abelhas.
cerrados.

continua...

69
...continuação.

70
Agente
D o en ça Sintoma Transmissão Consequência Controle
Patogênico
A infecção ocorre nos
primeiros dias larvais,
matando-as antes da
operculação.
Substituir rainhas
Steptococcus
Cria pútrida Alimento pelas Declínio da fracas por
pluton ou Bacilus Larva afetada adquire
europeia nutrizes. população. linhagens mais
sp. (bactérias) coloração de amarelo-parda
resistentes.
para marrom-escuro.

Cheiro forte de "peixe


podre".
Morte de larvas nas fases de
pré-pupa e pupa.
Substituir rainhas
Larvas com coloração fracas por
M orater aetatulas branco-pérola a marrom- Diminuição linhagens mais
Cria ensacada Por meio do mel.
(vírus) claro. da população. resistentes.

Quando morta e pega por Evitar saques.


uma pinça, adquire o formato
de um saco.
Morte da larva na fase pupal.
Cria pútrida
Bacilus larval
americana
Não ocorre no Brasil.
14. APICULTURA E AGROTÓXICOS

Com o advento do cultivo de extensas áreas agrícolas, os agri-


cultores redobraram suas atenções na produtividade e diminuição
dos custos de produção. Sementes melhoradas geneticamente e
que possuem um maior rendimento agrícola, muitas vezes, nos pro-
cessos de seleção, tornam-se mais vulneráveis a pragas, doenças
e à concorrência de ervas daninhas, exigindo maior controle quími-
co. Dessa forma, se por um lado o homem avança na melhoria da
produtividade de suas culturas e na minimização dos prejuízos, há
também grande aumento na utilização de defensivos agrícolas, que
contribuem para a eliminação de organismos benéficos que atuam
no controle biológico de certas pragas, na decomposição de matéria
orgânica e na própria polinização.

As abelhas, como insetos sociais e de fácil manuseio, prestam


relevantes serviços de polinização cruzada às culturas, atuando como
eficiente agente polinizador. Segundo Crane e Walker (1983), as
abelhas contribuem com 30% de aumento em alimento nos países
desenvolvidos.

Para que haja eficiência das abelhas sobre as floradas, há certos


critérios que devem ser seguidos pelos apicultores e agricultores
quanto ao uso de agrotóxicos. Em 1967, por exemplo, o uso de car-
baryl na cultura do algodoeiro dizimou 70 mil colmeias na Califórnia.

Os sinais de envenenamento podem ser detectados pela pre-


sença de várias abelhas mortas defronte das colmeias ou mesmo
em estado agonizante. O envenenamento pode ser por contato com
as partes florais das plantas, ingestão de néctar contaminado ou por
ocasião das pulverizações. Como a grande maioria dos agrotóxicos
tem ação neurotóxica, há uma verdadeira paralisação das asas,
pernas e do trato digestivo das abelhas contaminadas. Atualmente,
as culturas comerciais de citros, soja e cana-de-açúcar são as que
mais utilizam defensivos agrícolas em seu manejo.

71
14.1. Algumas regras para o apicultor

• Os apiários fixos devem estar localizados em regiões com agricultura


que utilize baixo índice de tratamento fitossanitário. A vizinhança
deve ser notificada quanto à existência de apiários regionais.
• Conhecer e difundir junto aos produtores rurais os agrotóxicos mais
seletivos às abelhas.
• Utilizar colmeias padronizadas, pois, além de um eficiente manejo,
favorece uma rápida transferência das colmeias de campos pul-
verizados com agrotóxicos.
• Caso haja aplicação de produto tóxico em culturas ao alcance das
abelhas, é necessário afastar a colmeia do local e remover os fa-
vos com suprimento. Isso porque as operárias podem ter colhido
e armazenado pólen ou néctar contaminado pelo veneno e, em
consequência, intoxicar a ninhada e as nutrizes.

14.2. Algumas regras para o agricultor

• Não executar nenhum tratamento fitossanitário que seja residual


sobre as floradas das culturas comerciais.
• Se for imprescindível utilizar agrotóxicos, escolher produtos inócuos
às abelhas, de menor toxicidade ou, ainda, de efeito residual de
curta duração. Evitar produtos que tenham efeito residual maior
do que 8 horas, principalmente nos períodos de intensa visita das
abelhas às flores.
• O melhor horário para pulverizações é aquele que coincide com
o menor trânsito de abelhas, ou seja, poucas horas antes do pôr
do sol.
• As pulverizações devem ser, preferencialmente, veiculadas às
culturas por via líquida. Evitar aplicações aéreas, que podem
causar deriva.
• Caso o produto seja tóxico às abelhas, recomenda-se notificar o
apicultor quanto aos riscos de sua aplicação.

72
15. NOÇÕES DE CONTROLE DE QUALIDADE NA CASA DO MEL

O apicultor deve estar atento ao manejo adequado de suas


colmeias, visando sempre obter o máximo de produção. Entretanto,
a preocupação com a extração do mel, bem como as condições de
higiene do local e do manipulador, devem ser monitoradas para se
fornecer ao consumidor um produto de excelente qualidade. Neste
capítulo serão comentados alguns pontos importantes para o enten-
dimento desta parte da cadeia apícola.

O apicultor precisa compreender completamente todas as ativi-


dades que desenvolve para a extração do mel. Será a partir disso
que terá consciência da importância de preservar um produto tão
nobre que as abelhas nos oferecem: o mel.

• Casa do mel: deve-se entender como Casa do Mel o local destinado


exclusivamente a todas as etapas de extração do mel. É nessa
área que o apicultor vai manter os equipamentos adequados: mesa
desoperculadora, centrífuga, peneiras e decantadores, todos de
material de aço inoxidável.
• Manipulação de alimentos: são as operações que se efetuam
desde a chegada do mel até o seu envase e a expedição.
• Manipulador de alimentos: é o responsável pela extração do mel.
O manipulador deve tomar todas as precauções com a saúde e
higiene pessoal. Esse trabalho é realizado pelo próprio apicultor,
o qual deve sempre manter a higiene corporal antes de manipular
o mel.
• Boas práticas de elaboração: são todos os cuidados necessários
para a obtenção de um produto isento de contaminantes e, portanto,
que não oferece riscos à saúde dos consumidores.
• Limpeza: é a eliminação de toda sujeira que possa representar
risco para a contaminação do mel.
• Contaminação: é a presença de substâncias ou agentes estranhos
de origem biológica, química ou física, que possam oferecer riscos
para a saúde humana. O apicultor deve se preocupar em oferecer
um produto de qualidade para o consumidor.

73
• Desinfecção: é a eliminação de qualquer contaminante no pro-
cesso de extração de mel. Isso se consegue por meio de limpeza
do ambiente e dos equipamentos e da higiene do manipulador.

A Casa do Mel deve estar em área isenta de qualquer tipo de


agentes contaminantes que possam prejudicar a qualidade do mel,
como odores indesejáveis, poeira, animais, lixo, dentre outros.

O apicultor deve estar atento ao fluxograma de trabalho dentro


da Casa do Mel, ou seja, realizar as diferentes etapas de extração
do mel de forma organizada e em um único sentido. Falta de orga-
nização pode ser um risco de contaminação.

Uma preocupação constante do apicultor deve ser evitar a


entrada de insetos, roedores e outras pragas. Para isso, o uso
de telas plásticas nas janelas e proteção nas portas são medidas
imprescindíveis.

O piso precisa ser de material resistente ao impacto, imper-


meáveis, laváveis e antiderrapantes. A conservação deve ser boa,
não devendo apresentar rachaduras e outros defeitos. Deve-se dar
preferência à cor branca, para facilitar a limpeza e o piso ter queda
suficiente para que a água escorra para o ralo que deverá ser sifo-
nado e com proteção contra entrada de invasores indesejáveis.

As paredes devem estar em boas condições, pintadas com tinta


lavável e de cor clara. Os cantos devem ser arredondados, para
evitar o acúmulo de sujeira e facilitar a limpeza. Da mesma forma, o
teto ou forro devem ser de material que não permita o acúmulo de
sujeiras e ser de fácil limpeza. As lâmpadas devem possuir proteção
e não devem estar localizadas diretamente sobre os equipamentos
utilizados.

A Casa do Mel deve possuir portas em boas condições de ma-


nutenção e em condições de isolar o ambiente interno de outras
construções, como banheiros e depósitos, dentre outros.

74
Outra preocupação é quanto à qualidade da água. Nesse caso, o
serviço de abastecimento de água do município deve fornecer laudo
da qualidade.

Ainda, outros cuidados devem ser tomados pelo apicultor, como:


• Limpeza dos equipamentos e do ambiente antes e depois do
uso – isso é imprescindível para garantir a higiene do ambiente.
Lembrar que o mel atrai insetos, como baratas e formigas.
• Lavagem adequada das mãos – deve ser uma prática antes e
durante a manipulação do mel. Essa lavagem deve ser feita de
forma criteriosa, com calma, lavando com cuidado entre os dedos
e as unhas. O enxágue também deve ser feito de forma adequada
para remoção de resíduos. Além das mãos, o antebraço deve ser
lavado.
• Uso de toalhas de papel descartáveis para a secagem das
mãos – toalhas de pano podem ser focos de bactérias e fungos
se não forem limpas constantemente.
• Evitar o uso de relógios, anéis e outros objetos – podem ser
fonte de contaminação durante a manipulação do mel.
• Cuidados com a higiene pessoal – jamais trabalhar com o mel se
o apicultor estiver com algum ferimento e evitar unhas compridas,
mais fáceis de sujar, e barbas longas.
• Uso de luvas, toucas, máscaras e aventais descartáveis – es-
ses equipamentos devem ser de rotina para o apicultor. Embora
possam, em um primeiro momento, atrapalhar a manipulação do
mel, são fundamentais para a garantia de um produto de qualidade
para o consumidor.
• Não fazer uso de práticas anti-higiênicas – comer, fumar entre
outras atividades similares são proibidas no ambiente da Casa do
Mel.
• Não permitir a entrada de animais domésticos ou de estimação
– eles podem ser focos de contaminação.
• Proibir a entrada de curiosos ou qualquer pessoa estranha
no local de beneficiamento do mel – para evitar contaminação,
devem permanecer na Casa do Mel apenas as pessoas que vão
trabalhar diretamente no beneficiamento do produto.

75
Além desses cuidados, as áreas no entorno da Casa do Mel têm
de estar sempre limpas, pois de nada adianta manter o ambiente
interno limpo, se o externo é depósito de sujeira ou possui mato
alto. Para o apicultor, todas essas recomendações podem parecer
um grande problema no início, entretanto, ele deve se preocupar
constantemente com o produto que vende e estar atento a todos
os detalhes durante a extração do mel. O apicultor jamais deve se
sentir confiante o suficiente durante a extração do mel, pois é a partir
disso que se poderá oferecer um produto de qualidade e evitar a
possibilidade de erros. E é sempre bom lembrar que para conquistar
a confiança do consumidor são necessários muitos anos, mas para
perder essa confiança, bastam alguns poucos minutos.

LITERATURA CONSULTADA
COUTO, R.H.N. e COUTO, L.A. Apicultura: Manejo e Produto.
2.ed. Jaboticabal: Funesp, 2002. 191p.
WIESE, H. Nova apicultura. Associação Catarinense de Apicultores,
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SILVA, E.C.A. da e SILVA, R.M.B. Manejo apícola tropical. Pinda-
monhangaba: Associação Modelo de Apicultura. 1994.
ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE APICULTORES, CRIADORES DE
ABELHAS MELÍFICAS EUROPEIAS ( Apacame). Revista Mensa-
gem Doce, n.os 42 e 44, 1997. São Paulo (SP).
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Revista Apicultura e Polinização, n.o 31, abril/maio, e n.o 34, setembro/
outubro, 1989. Padilla Editora S.A. São Paulo (SP).

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GOVERNO DE
COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA
TÉCNICA INTEGRAL
SECRETARIA DE
AGRICULTURA E ABASTECIMENTO SÃO PAULO
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