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Editoração e arte final eletrônica Pela importância intrínseca do tema, a diversidade em Coffea é tratada de
Intermídia Serviços de Propaganda Ltda. modo claro, aliado a questões como o plantio do café robusta em São Paulo,
reginatesta@uol.com.br permitindo, no final, formação de opinião sobre a sustentabilidade da produção
Web Designer de café sugerida como pauta da cafeicultura no século XXI. É nessa pauta que
Elaine Abramides se assenta o Programa de Pesquisa com o Café no Instituto Agronômico, abrindo
Impressão
caminhos seguros para a Cafeicultura paulista e brasileira.
Mundo Digital Gráfica e Editora Ltda.
Comercial
Frederico Olivi O AGRONÔMICO
www.olivideo.com.br Boletim Técnico-Informativo do Instituto Agronômico
(19) 3276-0430 Volume 59 - Número 1 - 2007
Série Técnica Apta
ISSN 0365-2726
Editores Co-editores
Assinaturas Sonia Carmela Falci Dechen Terezinha J. G. Salva
Anual: R$10,00 Celso Valdevino Pommer Luiz Carlos Fazuoli
Números avulsos: R$5,00
João Paulo Feijão Teixeira
Enviar cheque nominal ou comprovante de
depósito, em nome do Instituto Agronômico, SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO
na Nossa Caixa-Nosso Banco, agência 00558-4, AGÊNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONEGÓCIOS
conta corrente 13.000004-6, para:
IAC-Núcleo de Informação e Documentação
INSTITUTO AGRONÔMICO
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13020-902 Campinas, SP Fone (19) 3231-5422
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Páginas Azuis
Agronegócio café: principais contribuições
de pesquisas realizadas no IAC....................................... 5
Cultivares de café arábica do IAC:
Um patrimônio da cafeicultura brasileira..................... 12
O programa café do Instituto Agronômico................... 16
19 Aquecimento global
Aquecimento global, mudanças climáticas
e a cafeicultura paulista................................................. 19
Informações Técnicas
Diversidade em Coffea sp............................................. 22 Mudanças climáticas e a
Arborização de cafezais................................................ 25 cafeicultura paulista
Arborização de cafezais................................................ 28
Condições ambientais e o manejo da irrigação
influenciando a qualidade do café................................. 30
Panorama da cafeicultura orgânica e perspectivas
para o setor.................................................................... 33
Comportamento de cultivares de café arábica em
solos ácidos e corrigidos............................................... 37
Cultivares resistentes ou tolerantes a fatores bióticos
e abióticos desfavoráveis: ponto-chave para
a cafeicultura sustentável.............................................. 39 25 Arborização de cafezais
Os estudos sobre a fisiologia do cafeeiro
no Instituto Agronômico............................................... 41 Técnica agrícola muito usada
Armazenamento de sementes de café........................... 44 em outros países para proteção
Cafeeiros resistentes ao bicho-mineiro......................... 46 contra adversidades climáticas
A ferrugem alaranjada do cafeeiro e a obtenção
e promover a sustentação da
de cultivares resistentes................................................. 48 cafeicultura
A luta contra a doença causada pelos nematóides
parasitas do cafeeiro...................................................... 54
A composição quimica do café e as características
da bebida e do grão....................................................... 57
A obtenção de um café naturalmente descafeinado...... 60
Da folha à obtenção de embriões
48 Ferrugem alaranjada
somáticos de Coffea ..................................................... 63
O cafeeiro e a obtenção de
Caracteristicas dos cromossomos mitóticos
de espécies diplóides de café por técnicas
cultivares resistentes
convencionais e de bandamento-C e-NOR................... 65
Mapeamento cromossômico em espécies
de café através da técnica de hibridacão in situ
fluorescente (FISH)....................................................... 66
Genoma café: perspectiva para o melhoramento
genético da cultura ....................................................... 68
Café robusta: uma nova opção para
a cafeicultura paulista................................................... 71
Sustentabilidade: pauta da cafeicultura
68 Genoma café
no Século XXI............................................................... 75
Agronegócio café:
Principais contribuições de
pesquisas realizadas no IAC
O cafeeiro arábica foi introduzido no Brasil em 1727 tendo chegado a São
Agroclimatologia
Paulo pelo Vale do Paraíba e atingido a região de Campinas em 1810, sempre
No início dos anos
como uma cultura nômade à procura de novas terras, ricas em matéria
50, o IAC realizou os
orgânica e produtivas que se tornavam logo esgotadas nos primeiros anos, primeiros estudos
devido ao desconhecimento da necessidade da reposição de nutrientes e de sobre a adequação dos
métodos de conservação de solo. A produção, entretanto, aumentava de modo cafeeiros às diversas
surpreendente, principalmente pela adaptação das plantas às condições de solo regiões climáticas,
abrangendo, inclusive,
e clima e também pelo constante aumento da área plantada. O Estado de São
a microclimatologia,
Paulo tornou-se o centro da economia do país. relacionada a
conceitos e métodos
E
m 1887, foi criada por solicitação geral dos ta pelos próprios agricultores, que consistia na de defesa contra
produtores do Estado, a ‘Imperial Estação escolha dos talhões mais produtivos da proprie- geadas. Atualmente,
Agronômica de Campinas’ que mais tar- dade, para daí se retirarem as sementes das me- o IAC conta com um
de viria ser chamada de Instituto Agronômico lhores plantas. A semeação direta, que então se acervo de informações
(IAC). Quando foi criado em 27 de junho, há 120 fazia, de 30 a 40 sementes por cova, naturalmen- meteorológicas para
anos, o atual Instituto Agronômico de Campinas te permitia a seleção das mudas mais vigorosas, o monitoramento da
era uma Instituição Federal, ligada ao Ministério mais sadias e de mais rápido desenvolvimento. cafeicultura e de métodos
da Agricultura do então Império Brasileiro. Para Nessa época, objetivando melhor conhecimen- para a irrigação dos
sua direção o Governo Imperial Brasileiro con- to biológico do cafeeiro em aspectos básicos, cafezais. Desenvolve
tratou na Áustria o professor F. W. Dafert, que iniciaram-se os estudos sobre a taxonomia das projetos relacionados
o dirigiu até 1897. A administração de Dafert cultivares e espécies de Coffea, estrutura das in-
ao clima, à qualidade
foi muito produtiva, como provam os trabalhos florescências, das flores e biologia floral, análi-
da bebida, a regiões
publicados naquela época, vários dos quais se ses citológicas e genéticas, mutações somáticas
tornaram clássicos da literatura agronômica bra- e evolução no gênero Coffea. Os conhecimentos agroecológicas à
sileira, especialmente aqueles relacionados com adquiridos nessas áreas foram e têm sido aplica- regionalização da cultura
o cultivo do café. dos na obtenção das principais cultivares de C. e a novos métodos para
Até a década de 1920 haviam sido desen- arabica, na síntese de novas estruturas genéti- análise das relações
volvidos processos de produção que envolviam cas e no aproveitamento de espécies silvestres clima-produtividade.
cuidados com a adubação com esterco de curral de Coffea, para fins de melhoramento, tendo em Na década de 70,
complementada com farinha de peixe, escórias vista a obtenção de progênies ou linhagens com foi elaborado pelos
de alto forno e pequenas quantidades de salitre boas características agronômicas, elevadas pro- pesquisadores do
do Chile. Havia recomendações para o preparo duções e com produto de boa qualidade. IAC para todo o
do solo, controle de pragas e doenças e também A contribuição do IAC para a cafeicultura Brasil, o zoneamento
processamento da produção até secagem em ter- brasileira tem sido altamente relevante. A seguir climático para os cafés
reiros e armazenamento em tulhas de madeira, são relatadas algumas dessas contribuições nas arábica e robusta, que
além do beneficiamento, preparando o café be- diferentes áreas. determinou áreas com
neficiado para a exportação, livre de impurezas, melhores condições
com uniformidade e sabor. Na década de 1930, Fisiologia
de temperatura e
iniciou-se a experimentação com delineamentos Em relação aos estudos de fisiologia, devem
disponibilidade de água,
estatísticos, com aplicação de maiores quanti- ser ressaltados os resultados obtidos em relação
dades de fertilizantes, afastando a adubação do a níveis de luz na fisiologia e produtividade do restringindo áreas mais
empirismo. cafeeiro. Na verdade, os estudos sobre a fisiolo- sujeitas a geadas, ou
Projetos de pesquisas biológicas foram in- gia do cafeeiro tiveram início no Brasil no sécu- com deficiências hídricas
tensificados a partir da década de 30. Até então, lo XIX, com a criação do Instituto Agronômico que no final da década
os cafezais de São Paulo eram formados com se- de Campinas. Entre os trabalhos publicados por de 1980 passaram a ser
mentes derivadas de cultivares importadas, sem F. W. Dafert alguns foram sobre as exigências cultivadas mediante a
nenhuma seleção específica, a não ser aquela fei- minerais do cafeeiro e a distribuição dos ele- irrigação.
preços mais baixos que os do Arábica. No grãos para determinados mercados, uma sa ser uma ferramenta importante para
mercado interno de torrado e moído par- vez que já se constituem em um “blend” o conhecimento do cafeeiro em todos os
ticipam em porcentagens variáveis, con- natural entre cafés arábica e robusta. seus aspectos e principalmente no pré
forme a marca. – melhoramento e no melhoramento ge-
Em se viabilizando o seu cultivo, o Cultura de tecidos nético dessa importante cultura.
café Arabusta poderia se constituir numa Em 1972, sob coordenação do Pes-
alternativa para regiões quentes e margi- quisador Dr. Maro R. Söndahl, criou-se Fertilidade do solo e
nais ao cultivo de C. arabica, mais aptas no IAC o primeiro laboratório de cultura nutrição mineral
ao cultivo de Robusta irrigado, como o de tecidos de café do Brasil empregando a Na década de 1960 iniciou-se a utili-
Oeste de São Paulo, onde se concentram técnica de cultivar folhas de café para ob- zação maior de análises químicas do solo
as indústrias de café solúvel cuja maté- tenção de novos cafeeiros. A clonagem de e de folhas dos cafeeiros, permitindo me-
ria-prima vem, em grande parte, do Es- cafeeiros especiais, via cultura de tecidos, lhor entendimento da produção, aumen-
tado do Espírito Santo. Um programa ou micropropagação, teve grande avanço tando-se consideravelmente as quantida-
com este enfoque está sendo coordenado inicial graças ás pesquisas desenvolvidas des de fertilizantes então recomendadas e
pelo Centro de Café e espera-se, no futu- pelo IAC a partir da década de 70. Dessa o IAC passou a dar maior ênfase também
ro, disponibilizar para essa região e ou- maneira, no IAC foram criadas as bases à correção da acidez do solo pela aplica-
tras com aptidões semelhantes, materiais para que a técnica de clonagem seja hoje ção do calcário. Em 1958 um experimento
genéticos que representem novas opções importante em várias partes do mundo. em “solo de cerrado” em Batatais, cujos
econômicas para os cafeicultores e alter- Uma contribuição atual do IAC é a resultados foram publicados em 1976,
nativas mais atraentes para a indústria. identificação de híbridos F1 altamente mostrou a possibilidade do cultivo do
produtivos com elevada heterose que po- café em solos pobres através da aplicação
Arabustas derão ser multiplicados, vegetativamen- do calcário e fertilizantes químicos, sen-
Um estudo atual que poderá dar te via cultura de tecidos ou até mesmo do alvo de incontáveis excursões de inte-
nova opção à cafeicultura brasileira é a por estaquia. Além disso, estes cafeeiros ressados, de todas as regiões do país, que
identificação de plantas matrizes de hí- possuem resistência múltipla à ferrugem, nos anos seguintes iniciaram o plantio de
bridos F1 entre o café arábica e o robusta, bicho mineiro e nematóides. No que se café nos “solos de cerrado” da região de
denominados de Arabustas. Na verdade, refere à propagação vegetativa foram Franca, e posteriormente, ocupando com
os primeiros híbridos foram efetuados também desenvolvidas e aprimoradas as sucesso outras áreas tidas como improdu-
na década de 50, que foram utilizados técnicas de estaquia e alporquia, técnicas tivas das regiões de Minas Gerais e outros
no desenvolvimento da cultivar Icatu. simples que poderão ser utilizadas para Estados vizinhos.
Posteriormente na década de 90 foram clonar cafeeiros especiais e híbridos. Na área de nutrição mineral, além
efetuados novos híbridos de Arabusta de dos trabalhos relacionados anteriormente,
porte mais baixo que os primeiros. Biotecnologia foram desenvolvidos estudos em soluções
Embora ainda devam ser realizados Projeto Genoma hidropônicas que permitiram estabelecer
estudos adicionais para avaliar a viabi- Na área de pesquisas biológicas um os sintomas de deficiência dos principais
lidade técnica e econômica do plantio fato marcante atual é a participação efe- nutrientes minerais. Esse quadro de sinto-
comercial de cafeeiros arabustas em re- tiva de pesquisadores do IAC no projeto matologia permitiu identificar e controlar
giões marginais ao arábica, por meio da Genoma – Café que foi proposto pelo IAC a deficiência de zinco que era freqüente-
propagação vegetativa por estaquia, os dentro do Programa AEG da FAPESP, mente observada nos cafezais paulistas.
resultados obtidos até o presente, prin- em parceria com o Consórcio Brasileiro Outro aspecto estudado foi a absorção de
cipalmente quanto à produção, ao vigor de Pesquisa e Desenvolvimento do Café uréia pelas folhas do cafeeiro, identifican-
vegetativo, ao tamanho das sementes e à e a EMBRAPA. Foram identificados em do o aparecimento de sintomas de fitoto-
qualidade da bebida, indicam que varie- 2004 cerca de 30.000 genes, que deve- xidade ocasionada pelo biureto, impure-
dades clonais de arabusta provavelmente rão ser utilizados em análises molecula- za freqüentemente presente em uréia de
poderão ser uma opção de produto de res para verificar suas funções (Genoma qualidade inferior.
utilização direta na indústria do café so- Funcional). Presume-se que futuramente Estudo utilizando técnica apropriada
lúvel, ou ainda para comercialização de a técnica do uso do Genoma – Café pos- para monitoramento nutricional dos ca-
O Agronômico, Campinas, 59(1), 2007
fezais (DRIS – Café) estabeleceu valores estudar mecanização décadas antes da
das relações entre nutrientes para uma po- industrialização do País, realizando pes-
pulação de referência utilizando cafeeiros quisas com ferramentas e máquinas por
arábica nos Estados de São Paulo, Paraná tração animal.
e Minas Gerais. Dessa maneira, utilizan- O desenvolvimento da cultura do
do esta técnica é possível o monitoramen- café em áreas de cerrado, por sua vez,
to nutricional de um talhão de café com a que apresentam topografia plana, incen-
retirada de folhas, durante alguns anos. tivou o desenvolvimento da mecanização
A tentativa de aproveitamento de da colheita, reduzindo muito o custo de
lodo de esgoto na cultura de café foi es- produção. Os primeiros estudos foram
tudada e verificou-se que este biossólido realizados pelo IAC que importou uma
quando aplicado no sulco de plantio, de- colhedeira mecânica de cerejas na década
pendendo da dose utilizada, pode ocasio- de 1970, para adaptação às condições do Posto Meteorológico Padrão
nar até a morte de plantas. Além disso, o cafeeiro, passando posteriormente o pro-
lodo de esgoto deve ser muito bem mis- jeto à iniciativa privada.
turado com o solo do sulco e com bastan- O IAC traçou as diretrizes para
te antecedência do plantio. Neste estudo, construção, testes e avaliação de diver-
a taxa de mineralização do N ficou entre sos modelos de pulverizadores de pro-
20 a 30% e, portanto, dentro das normas dutos químicos. Com o lançamento da
da CETESB que é de 30%, as concentra- primeira colhedora de café no Brasil, em
ções do nitrogênio absorvido nas folhas 1979, o IAC contribuiu significativamen-
dos cafeeiros ficaram em 30 g/kg, o que te para o expressivo avanço tecnológico
mostra a eficiência do produto e a lixi- da indústria produtora de máquinas agrí-
viação no solo foi muito baixa (4%) não colas para a cafeicultura.
indicando risco para o lençol freático.
Atributos químicos
Arborização Os teores de ácidos clorogênicos,
As razões do insucesso do cultivo compostos fenólicos presentes em quanti-
do cafeeiro sob arborização no Estado dades altas em plantas de café, foram estu-
de São Paulo foram intensivamente es- dados por suas relações com a resistência
tudadas no Instituto Agronômico. Após a doenças e com a qualidade de bebida Estação Meteorológica Automática
vários anos de pesquisa concluiu-se que do café. Este estudo forneceu importantes (medindo microclima do cafezal)
as árvores de sombra competiam forte- dados sobre os teores de ácidos clorogêni-
mente com o cafeeiro pela água disponí- cos em inúmeras espécies de Coffea, evi-
vel no solo durante a época seca, sendo denciando que as espécies mais resisten- Qualidade do produto
este o principal fator do pouco êxito do tes à ferrugem apresentavam também os A preocupação do IAC com a qua-
sombreamento. Essas informações con- mais altos teores de ácidos clorogênicos. lidade do café, desde a produção de
tribuíram, em grande parte, para que Em adição, foi constatada relação entre variedades, procedimentos ao longo do
no Brasil o cafeeiro fosse cultivado a a qualidade de bebida e a quantidade de sistema de produtivo, colheita, pós-co-
pleno sol. Mais recentemente foram ob- ácidos clorogênicos nos grãos, sendo que lheita e armazenamento, é constante.
tidos conhecimentos fundamentais que os mais altos teores foram obtidos em C. Os trabalhos desenvolvidos no Instituto
forneceram as bases fisiológicas para o canephora, que apresenta qualidade de têm levado muitos produtores paulistas à
comportamento de plantas de café em bebida inferior à de C. arabica. importantes ganhos de qualidade. Cabe
diversos níveis de sombreamento de di- Atualmente têm-se caracterizado ca- destacar que o primeiro trabalho com o
ferentes árvores. feeiros do banco de germoplasma e de no- café cereja despolpado sem lavar, atual-
vas seleções em relação à cafeína, trigone- mente chamado cereja descascado, foi
Tratos culturais lina, ácidos clorogênicos, açúcares totais realizado no IAC no início da década de
As pesquisas realizadas pelo IAC na e redutores, sólidos solúveis, óleo e outros 50 e publicado em 1960, pelos pesquisa-
área de tratos culturais oferecem infor- componentes químicos que poderão agre- dores Manuel de Barros Ferraz e Ary de
mações sobre a melhor distância entre as gar ao produto café outras peculiaridades Arruda Veiga. Hoje, esse tipo de preparo
plantas, sistemas de colheita, preparo de importantes para o agronegócio. do café tem levado produtores de regi-
mudas normais e enxertadas, controle de
plantas invasoras, melhor maneira de adu-
bação, poda e recuperação de plantações
depauperadas. Ao melhorar o sistema de
produção, o IAC viabiliza pequenas pro-
priedades e sistemas consorciados, por
oferecer tecnologia de baixo custo.
Mecanização
Historicamente, o desenvolvimento
da mecanização de lavouras cafeeiras
está muito ligado ao IAC, que aprimora
desde ferramentas manuais até as derri-
çadoras pneumáticas. O IAC começou a Icatu Amarelo Catuaí Vermelho IAC-99 Catuaí Amarelo IAC 62
Retorno econômico
Estudos sobre o retorno econômico e
social dos investimentos em pesquisa na
cultura do café, em São Paulo, mostraram
que, após um período de 18 anos, a socie-
dade passou a receber um benefício anual
líquido de tendência crescente, com taxa
interna de retorno estimada, que variou
de 17 a 27%. Não fossem as pesquisas
Tupi Icatu IAC 4045 enxertado sobre sobre o desenvolvimento de novas culti-
IAC 1669-33 Apoatã e testemunha sem enxertia vares, esse retorno teria sido muito menor
ou inexistente.
A cultivar Acaiá, dentre as de porte alto, é a mais Adequada para sistemas de cultivo mecanizado ou
apropriada para o plantio adensado, pois, além de ter que necessitem de poda. Encontra-se adaptada em
sementes maiores, possui diâmetro da copa menor e todas as regiões cafeeiras do Brasil.
maturação mais uniforme. Acaiá - Corresponde a um cruzamento natu-
Nas áreas infestadas pelos nematóides Meloido- ral entre Sumatra e Bourbon Vermelho, com sele-
gyne incognita e M. paranaensis, o mais indicado no ção no IAC para sementes graúdas, com peneira
momento é o plantio de cafeeiros enxertados. O por- média ao redor de 18. Selecionada e liberada pelo
ta-enxerto Apoatã IAC 2258 de Coffea canephora é o IAC a partir de 1977. Tem em sua formação 50%
que tem dado os melhores resultados nos vários locais de Bourbon e 50% de Típica (Sumatra). É indica-
estudados. Nessas áreas há a necessidade de adotar al- da para espaçamento largo ou adensado e para re-
gumas medidas agronômicas, antes de iniciar o plan- giões de altitude média ou alta. Adapta-se bem a
tio. Atualmente existem seleções de Icatu IAC 925, sistemas de cultivo mecanizado com adensamen- Icatu Precoce 3282
que têm resistência de campo a M. paranaensis, que to na linha. Possui elevada capacidade de rebrota
poderão ser plantados através de mudas obtidas por qualificando-a para sistemas de cultivo com podas
sementes. Em áreas infestadas por M. exigua pode-se freqüentes. É uma excelente cultivar para colheita
utilizar cultivares arábica enxertadas no porta enxerto mecânica e apresenta ótima qualidade de bebida.
Apoatã IAC 2258 ou a cultivar Tupi RN 1669-13, via A cultivar encontra-se bem adaptada no Sul
sementes. de Minas, Cerrado Mineiro e Alto Paranaíba em
Para mercados especiais, são indicadas preferen- Minas Gerais.
cialmente as cultivares: Bourbon Vermelho, Bourbon Bourbon Vermelho - Proveniente da Ilha de
Amarelo e Icatu Precoce. As cultivares Ibairi IAC Reunião (antiga Bourbon) sendo introduzida pelo
4761 e Laurina IAC 870 poderiam ser experimentadas governo brasileiro em 1859. Foi selecionada e libe-
também para mercados especiais exigentes quanto à rada pelo IAC a partir de 1939. Tem em sua forma-
qualidade da bebida, mas produzem muito pouco. ção 100% de Bourbon.
A cultivar Icatu Precoce IAC 3282 é excelente É indicada para espaçamento largo ou adensa- Icatu Amarelo
para café ‘espresso’. do e para regiões altas (altitude acima de 1000m).
A qualidade da bebida das cultivares resistentes É recomendada para produção de cafés especiais,
ou moderadamente resistentes ao agente da ferrugem devido às suas excelentes qualidades organolépti-
derivadas do cruzamento C. arabica x C. canephora cas. A maturação precoce possibilita o escalona-
é semelhante à das cultivares Mundo Novo, Acaiá e mento da colheita. A sua produtividade é menor
Catuaí Vermelho de C. arabica. que a da cultivar Mundo Novo. Encontra-se bem
A participação do café Bourbon na formação das adaptada, principalmente, no Estado de Minas
cultivares de café que são 100% arábica ou tipo arábica Gerais e da Alta e Média Mogiana do Estado de
do Instituto Agronômico de Campinas é muito alta, o São Paulo.
que explica a excelente qualidade da bebida dessas cul- Bourbon Amarelo - Corresponde a uma mu-
tivares desenvolvidas nessa instituição de pesquisa. tação natural de Bourbon Vermelho ou cruzamen-
Todas as variedades 100% arábicas podem pro- to natural entre Bourbon Vermelho e Amarelo de
duzir cafés especiais (tipo gourmet), desde que colhi- Botucatu (Típica Amarelo). Selecionada e liberada
das, processadas e armazenadas adequadamente. pelo IAC a partir de 1945. Tem em sua formação
100% de Bourbon ou 50% de Bourbon e 50% de Icatu Vermelho -
A seguir são apresentadas a origem, algumas frutos
Típica. É indicada para espaçamento largo ou
características agronômicas e recomendações para o
plantio das cultivares do IAC, que são um verdadeiro
patrimônio da cafeicultura brasileira.
de 1996. Tem em sua formação 75% de Tupi IAC 1669-33 - Corresponde ao especiais e tem mercado restrito. En-
Bourbon, 18,75% de Típica e 6,25% de cruzamento Híbrido de Timor CIFC 832/2 contra-se melhor adaptada em pequenas
Robusta. É indicada para espaçamento X Villa Sarchi (H 361-4) realizado pelo áreas cafeeiras experimentais de Minas
largo, regiões de altitudes média e alta. CIFC, tendo sido selecionada e liberada Gerais e São Paulo.
É pouco adaptada a colheita mecanizada, pelo IAC a partir de 2000. Tem em sua
5.2) Ibairi IAC 4061 - Corresponde
não é recomendada para regiões quentes, formação 50% de Bourbon, mais 43,7% de
ao cruzamento de Mokka com Bourbon
com déficit hídrico acentuado e solos are- Típica e 6,3% de Robusta. Os frutos são
Vermelho e tem em sua formação 100% de
nosos. É indicada para a produção de ca- vermelhos e grandes. A peneira média das
fés especiais, principalmente para o café sementes é em torno de 17 e 18. É indicada Bourbon. É uma cultivar pouco produtiva.
espresso. A maturação um pouco mais para espaçamento adensado, em regiões É indicada para produção de cafés super
precoce possibilita o escalonamento da de altitude média e alta, em solos férteis e especiais, pois tem excelente qualidade
colheita. Encontra-se melhor adaptada clima ameno. Encontra-se melhor adapta- organoléptica da bebida. Recomenda-se
em regiões altas do Sul de Minas, Jequi- da no Estado do Paraná e algumas regiões espaçamentos de 3,0 a 3,5m x 0,5 a 0,7m
tinhonha e Cerrado Mineiro no Estado de de São Paulo (Altinópolis, Piraju) e Minas e tem mercado super restrito. Encontra-se
Minas Gerais e regiões altas do Estado de Gerais, principalmente Patrocínio. melhor adaptada em pequenas áreas cafe-
São Paulo (São Sebastião da Grama, Ca- Tupi RN IAC 1669-13 - Corresponde eiras experimentais.
conde, etc). ao Híbrido de Timor CIFC 832/2 x Villa
Sarchi realizada no CIFC (H 361-4) e sele- Porta-enxerto resistente
Cultivares de porte baixo ção pelo IAC e Eng° Agr° Saulo Roque de aos nematóides
e resistentes à ferrugem Almeida, do ex IBC onde recebeu inicial- Meloidogyne exigua,
Obatã IAC 1669-20 - Corresponde mente o nome Uva. Selecionada e libera- M. incognita e M.
ao cruzamento feito entre Villa Sarchi e da pelo IAC a partir de 2006. Tem em sua paranaensis
Híbrido de Timor CIFC 832/2, com retro- formação 50% de Bourbon, mais 43,7% de Apoatã IAC 2258 - Corresponde a
cruzamento natural para Catuaí Verme- Típica e 6,3% de Robusta. É indicada para introdução de sementes da planta matriz
lho, foi selecionada e liberada pelo IAC espaçamento adensado em regiões de alti- 2258 do CATIE em Turrialba (Costa Rica)
a partir de 2000. Tem em sua formação tude média e alta, em solos férteis e clima em 1974 e seleções de cafeeiros resistentes
62,5% de Bourbon, mais 34,4% de Típica ameno. Pode-se plantar em áreas infesta- a vários nematóides por técnicos do IAC
e 3,1% de Robusta. Os frutos são verme- das com o nematóide Meloidogyne exigua. em áreas de nematóides. Em 1987 o IAC
lhos e grandes. A peneira média das se- Encontra-se melhor adaptada em regiões lançou e liberou o porta enxerto Apoatã
mentes é em torno de 17 e 18. É indicada altas de Minas Gerais (Patrocínio), de São IAC 2258. É recomendada como porta en-
para espaçamento adensado ou médio e Paulo e do Espírito Santo. xerto de cultivares arábica principalmente
altitude média. Adapta-se bem ao renque Tupi Amarelo IAC 5162 - Correspon- em regiões com infestação de M. exigua,
mecanizado com adensamento na linha de ao provável cruzamento natural de Tupi M. incognita e M. paranaensis. A copa de
e responde bem a irrigação. Encontra-se IAC 1669-33 com Catuaí Amarelo. Foi
melhor adaptada no Estado de São Paulo café arábica utilizada irá determinar a me-
selecionada pelo IAC e Eng° Agr° Carlos lhor região, conforme consta na descrição
em Garça, Piraju, região de Franca e no Piccin. Tem em sua formação 62,5% de
Sul de Minas Gerais e em plantios aden- de cada cultivar.
Bourbon mais 34,4% de Típica e 3,1% de
sados no Estado do Paraná. É uma cultivar Robusta. É indicada para espaçamento
exigente em nutrição. adensado em regiões de altitude média e Luiz Carlos Fazuoli, Maria Bernadete
Obatã Amarelo IAC 4739 - Corres- alta, em solos férteis e clima ameno. Está Silvarolla, Terezinha de Jesus Garcia
ponde ao cruzamento natural entre Obatã em fase experimental em regiões altas de Salva, Oliveiro Guerreiro Filho, Her-
IAC 1669-20 e Catuaí Amarelo. Tem em Minas Gerais (Patrocínio) e São Paulo culano Penna Medina Filho e Wallace
sua formação 68,7% de Bourbon, mais (Altinópolis). Gonçalves
29,7% de Típica e 1,6% de Robusta. É Instituto Agronômico, Centro de Café
indicada para espaçamento adensado ou Cultivares que produzem “Alcides Carvalho”
médio e altitude média, adapta-se bem cafés especiais ( (19) 3241-5188 ramal 370; 3212-0458
ao renque mecanizado com adensamento * fazuoli@iac.sp.gov.br;
5.1) Laurina IAC 870 - Correspon-
na linha e responde bem à irrigação. En- * bernadet@iac.sp.gov.br;
de a uma provável mutação natural de
contra-se melhor adaptada no Estado de * tsalva@iac.sp.gov.br;
Bourbon e tem em sua formação 100%
São Paulo em Altinópolis e Mococa. No * oliveiro@iac.sp.gov.br;
de Bourbon. É uma cultivar pouco pro-
Estado do Paraná em Londrina e no Sul
dutiva. É indicada para plantios aden- * medina@iac.sp.gov.br;
de Minas Gerais. Está em fase de experi-
sados e para a produção de cafés super * wallace@iac.sp.gov.br
mentação e é exigente em nutrição.
A
cultura do cafeeiro arábica foi in- Conta ainda com 15 pesquisadores de ou- atender a demandas do cafeicultor no que
troduzida em Campinas em 1807, tras áreas específicas, com dedicação par- se refere ao desenvolvimento de materiais
por ser essa uma região que favo- cial ao programa, enquadrados nas áreas produtivos e portadores de resistência aos
recia consideravelmente a concentração de Climatologia, Agrometeorologia, Irri- diversos fatores bióticos limitantes para a
de cafeicultores. Em 1887, por decreto gação, Fitotecnia, Fitopatologia, Nemato- cultura, tais como ferrugem do cafeeiro,
do Imperador D. Pedro II, foi criada a logia, Citologia, Biotecnologia, Cultura nematóides e bicho mineiro. Outros focam
Imperial Estação Agronômica de Campi- de Tecidos, Botânica, Fisiologia Vegetal resistência a fatores abióticos, como seca
nas, posteriormente denominada Instituto e Máquinas Agrícolas. As atividades do e altas temperaturas, alumínio e acidez do
Agronômico - IAC. Essa Estação tinha a Programa contam com a colaboração efe- solo. Alguns projetos buscam novas op-
incumbência de estabelecer critérios téc- tiva também de estudantes de graduação ções de cultivo para áreas impróprias ao
nicos e científicos para o cultivo do café e de pós-graduação em praticamente to- café arábica, seja por meio do desenvolvi-
na região e com a sua criação deu-se o das as áreas. Além de desenvolver pes- mento de híbridos entre espécies diferen-
início dos estudos com o cafeeiro no Ins- quisas, o Centro de Café tem participado tes, como o Arabusta, seja pelo estudo de
tituto Agronômico. ativamente da elaboração de Normas e novas alternativas em porta-enxertos. De
Os estudos em cafeicultura tiveram discussões sobre o Agronegócio do café resultados de pesquisa nesta área já foram
grande impulso em 1932, quando se es- em instâncias federais e estaduais. lançadas pelo programa de melhoramento
tabeleceu amplo programa de pesquisas O Programa atual de pesquisas em do IAC muitas cultivares adaptadas para
envolvendo diversas áreas do conheci- café desenvolvido no IAC é composto plantio nas mais diversas regiões cafeeiras
mento. As linhas mestras desse programa de 78 subprojetos agrupados em 16 pro- do Estado de São Paulo e do Brasil, per-
mantêm-se em execução até hoje por uma jetos e abrange 10 linhas de pesquisa fazendo cerca de 90% dos cafeeiros tipo
equipe multidisciplinar de pesquisadores (Quadro 1), que contam com importante arábica que alicerçam esse pujante agrone-
científicos envolvidos em inúmeras ativi- apoio financeiro do Consórcio Brasileiro gócio do Brasil.
dades de Pesquisa e Desenvolvimento e de Pesquisa e Desenvolvimento do Café - Tanto o desenvolvimento de novas
de transferência de tecnologia. Atualmen- CBP&D-Café, FAPESP, FINEP e CNPq, cultivares quanto o acompanhamento
te, o programa conta com 18 pesquisado- contando, também, com o apoio logístico da transferência de genes entre elas têm
res dedicados exclusivamente a estudos de empresas privadas, cooperativas e pro- sido assistidos por trabalhos desenvolvi-
com café, sendo oito na área de Genética dutores rurais. dos na linha de biotecnologia do Centro
e Melhoramento, três em Biotecnologia e O Centro de Café Alcides Carvalho do de Café. Esta linha engloba ações estra-
Citogenética, dois em Fitotecnia, um em IAC possui valioso banco de germoplasma tégicas de pesquisa que lançam mão das
Química e Qualidade do Produto, um em de café, cuja instalação no campo foi ini- numerosas técnicas disponíveis para fa-
Colheita e Pós-Colheita, dois em Fitos- ciada em 1932, e que se constitui no supor- cilitar a seleção de genótipos desejáveis
sanidade e um em Economia Aplicada. te, não só para todos os trabalhos de me- do ponto de vista do melhoramento. Elas
Quadro 1. Distribuição das pesquisas com café em anda- lhoramento como também para são empregadas especialmente nos casos
mento no IAC
os estudos de genética, citologia de estudos envolvendo material genético
e citogenética do café em curso de herança complexa, na caracterização
LINHAS DE PROJETOS SUBPROJETOS no Instituto. A linha de pesqui- molecular das cultivares já liberadas e tan-
PESQUISA (no) (no) sa Genética, Citologia, Citoge- to na clonagem de cafeeiros de alto valor
Genética, Citologia, nética e Melhoramento abrange agronômico quanto de acessos do Banco
5 28
Citogenética e Melhoramento grande diversidade de estudos de Germoplasma. Outros objetivos ainda
Biotecnologia 1 14 científicos. Os estudos contem- contemplados nesta linha são: 1-caracteri-
plam a caracterização do ponto zação de espécies, variedades e cultivares
Ecofisiologia e Climatologia 2 11
de vista morfológico, genético, do Banco de Germoplasma de café do IAC
Nutrição e adubação 1 2 bioquímico, citológico, quími- por bandamento e técnicas de citogenética
Fitossanidade 2 3 co e molecular dos cafeeiros molecular, 2-estudo da regulação do de-
Sistemas de Produção mantidos em coleção e também senvolvimento floral e da maturação dos
1 4 dos descendentes das numero- frutos de C. arabica, 3-isolamento e carac-
e Manejo (Fitotecnia)
Irrigação 1 4 sas hibridações controladas já terização de regiões promotoras de genes
Mecanização e Tecnologia
realizadas. Os resultados des- com expressão tecido-específica das espé-
Pós-Colheita
1 2 sas pesquisas facilitam e orien- cies C. arabica e C. canephora, 4-estudo
tam a seleção de germoplasma da via biossintética da cafeína em café ará-
Qualidade do Produto 1 8
nas diversas fases do desenvol- bica do ponto de vista genético-molecular,
Sócio-Economia 1 2 vimento de novas cultivares. 5-mapeamento cromossômico de genes
Total 16 78 Alguns desses projetos visam análogos de resistência (RGA) e seqüên-
cafeicultura paulista
Fazuoli Thomaziello Camargo
Diversidade em
Coffea sp.
Baião Mirian
O número exato de espécies de café existente no mundo é controverso entre os pesquisadores, mas há relatos na
literatura da existência de mais de 100 espécies. Apesar dessa grande variabilidade, apenas duas espécies de café,
Coffea arabica L. e C. canephora Pierre ex Froehner, comumente denominadas por “café arábica” e “café robusta”,
respectivamente, têm apresentado interesse comercial. As demais espécies constituem-se em reservatórios de
genes, que controlam características de interesse carentes nas duas espécies cultivadas, para serem utilizadas nos
programas de melhoramento genético do cafeeiro. Entretanto, os caracteres de importância agronômica e econômica,
como resistência a pragas e doenças, tolerância a estresses abióticos como seca, calor, geada, solos ácidos e de
baixa fertilidade demandam ainda mais estudos para se obter maiores informações a respeito do real potencial e
possível aproveitamento nos programas de melhoramento.
Introdução do café arabica Campinas e região. Portanto, os primeiros de cruzamentos naturais entre os cultivares
no Brasil e diversidade do cafezais brasileiros foram constituídos de existentes. Apesar de C. arabica ser uma
parque cafeeiro nacional descendentes de um único cafeeiro da espé- espécie autógama, ou seja, que se reproduz
O café arábica é originário das terras cie C. arabica, cultivar denominada Arábi- sexuadamente por autofecundação, ocorre
altas (1.000 a 2.000 metros de altitude) e de ca, Típica, Nacional ou Crioulo. A pequena em média cerca de 10% de fecundação cru-
temperaturas amenas (média de 18 a 21ºC) diversidade genética observada que existia zada nesta espécie, justificando o apareci-
da região da Abissínia (atual Etiópia, no era devida à constituição genética da planta mento de híbridos naturais em lavouras de
continente Africano). Desde sua descober- original ou às raras mutações que surgiram cultivares dessa espécie.
ta, o café demorou cerca de nove séculos com o decorrer do tempo. Em 1871, foi encontrado, em Botucatu
para chegar ao Brasil. O café entrou em Os cafezais de São Paulo e de outras (SP), pela primeira vez, em uma plantação
nosso país pelo Estado do Pará, em 1727, regiões brasileiras foram gradativamente de ‘Típica’, um cafeeiro mutante com fru-
trazido pelo sargento-mor Francisco de diversificando-se. Dessa forma, no início tos amarelos, em vez de vermelhos. Esse
Melo Palheta, que, enviado à Guiana Fran- dos anos 50 foram introduzidas no Brasil cafeeiro, denominado Amarelo de Botuca-
cesa em missão oficial, trouxe de lá cinco sementes do café Bourbon Vermelho (C. tu, mostrou-se pouco produtivo, em razão
mudas e um punhado de sementes da apre- arabica cv. Bourbon Vermelho), oriundas de ser originado de ‘Arábica’. Nessa mes-
ciada bebida. A tarefa do sargento-mor não da ilha de Reunião, situada no continente ma época, surgiu na Bahia, no município de
foi das mais fáceis, visto que, naquele país africano, pois havia informações de que Maragogipe, um cafeeiro de frutos grandes,
era proibida a cessão de exemplares de café essa cultivar era produtiva e de boa quali- denominado ‘Maragogipe Vermelho’, mas
a qualquer estrangeiro. dade. Dafert, primeiro diretor do Instituto de baixa produtividade, pois a exemplo
Cultivado inicialmente na Região Agronômico, relatou a superioridade pro- do ‘Amarelo de Botucatu’, fora originado
Norte, nos arredores de Belém do Pará, dutiva de ‘Bourbon Vermelho’ em relação também de uma mutação ‘Arábica’. Esses
à cultivar Típica, e por isso, ela era muito cafeeiros chamaram a atenção dos lavrado-
o café foi descendo para o Nordeste, pas-
mais exigente em tratos culturais e aduba- res e muitos os plantavam por curiosidade
sando pelo Maranhão, Ceará, Pernambuco
ções mais apropriadas. e para testá-los.
e Bahia, até chegar ao Rio de Janeiro, em
Em 1986, foram introduzidas sementes Vários mutantes surgiram naturalmente
1773. Daí expandiu-se pela Serra do Mar
ao longo dos anos, nos cafezais brasileiros.
e chegou ao Vale do Paraíba em 1825, al- de café da ilha de Sumatra. Era tido como
Muitos deles despertaram interesse dos pes-
cançando os Estados de São Paulo e Minas bem produtivo, vigoroso e de sementes
quisadores e muito contribuíram nos estudos
Gerais, onde encontrou condições favorá- maiores que as do ‘Bourbon Vermelho’.
básicos para o esclarecimento sobre o tipo
veis ao seu desenvolvimento. O café Sumatra revelou-se bastante rústi-
de herança de vários caracteres e seu poten-
O histórico do café no Brasil mostra co, com bebida de boa qualidade, semen- cial para os programas de melhoramento
fatos interessantes relativos à variabilidade tes pouco maiores do que as do Bourbon, genético. Assim, em 1937, o IAC recebeu
genética dos primeiros cafezais plantados porém, as suas produções não foram muito amostras de sementes de dois materiais ge-
em nossas terras. Um cafeeiro de Amsterdã, encorajadoras. néticos originados na divisa dos Estados de
Holanda, deu origem aos cafezais de Suri- A grande expansão do cultivo de café Minas Gerais e Espírito Santo, na Serra do
name, da Guiana e do Brasil. Novamente, no Brasil propiciou o surgimento de al- Caparaó. Tratava-se das cultivares Caturra
de um único cafeeiro do Rio de Janeiro ori- gumas variedades, originadas a partir das Vermelho e Caturra Amarelo. A principal
ginaram as primeiras plantações dos Esta- raras mutações que ocorrem naturalmen- característica desses cafeeiros era o porte re-
dos do Rio, Minas Gerais e São Paulo. Da te (da ordem de um evento de mutação a duzido. As análises genéticas realizadas no
mesma forma, uma única planta do municí- cada um milhão de células gaméticas), ou IAC revelaram que o ‘Caturra’ derivou-se
pio de Jundiaí deu origem aos cafezais de devido a recombinações genéticas, a partir por mutação do ‘Bourbon Vermelho’.
Arborização de
Cafezais
A cafeicultura brasileira iniciou-se no sé- e Triângulo Mineiro, tornando o Estado de Minas
culo 19, no Estado do Rio de Janeiro e no Vale Gerais o maior produtor de café do Brasil.
do Paraíba, em São Paulo. Com o desgaste das Agora, a cafeicultura não arborizada do Su-
terras, após dezenas de anos de cultura explo- deste brasileiro está sentindo os efeitos da longa
ratória, entrou em decadência e tornou-se an- duração do cultivo em solo desprotegido que vai
tieconômica. Passou no século seguinte para o se degradando. A arborização bem feita é prática
Planalto Paulista e Norte do Paraná, com ter- agronômica que tem se mostrado muito eficiente
ras mais férteis e melhor técnica agrícola, teve na proteção dos cafezais contra as adversidades
grande sucesso. climáticas e sobre a degradação dos solos, visando
Ângelo Na década de 1950 sofreu muito com gea- tornar o cafezal uma cultura sustentável.
das severas, especialmente no Norte do Paraná, Este trabalho trata da questão da arborização
onde a cafeicultura reduziu-se consideravelmen- em cafeicultura em seus vários aspectos. Conside-
te. Nas décadas de 1970 e 1980, com o patrocínio ra suas possibilidades, seus problemas, suas vanta-
do IBC, estendeu-se para o sul de Minas Gerais gens, desvantagens e formas de execução
Arborização de
Cafezais
José Ricardo Marcelo
A proposta de arborização em cafe- anão, a pupunha e bananeira, podem ser 62) foi plantado num espaçamento de 2,5
zais visa, por meio do sombreamento mo- boas opções. x 0,8 metros e a bananeira na forma de
derado, atenuar as ocorrências climáticas No ano de 1999 foi implantado, com cultura intercalar a cada três ruas de café.
extremas e proporcionar maior sustentabi- apoio do Consórcio Nacional de Pesqui-
lidade ao sistema de produção. Acrescen- sa e Desenvolvimento do Café, o projeto Experimentos implementados - Nos
ta-se ainda a agregação de uma fonte de denominado “Agrossistemas consorcia- municípios de Mococa e Pindorama foram
renda extra para os cafeicultores e melhor dos para produção de café no Estado de implementados, em 1999, experimentos
aproveitamento da mão-de-obra durante o São Paulo”. O objetivo do projeto foi de consorciação de café. Em Mococa, o
ano, benefício de grande importância para identificar alguns exemplos de cultivos experimento é composto de um sistema
a agricultura familiar. Diante dessa análi- arborizados ou consorciados existentes e
combinado de café com grevílea, serin-
se, é possível verificar o grande potencial implantar experimentos para estudos em
para a utilização da técnica da arborização arborização. A seguir serão apresentados gueira e coqueiro-anão e banana Prata
em cafezais, principalmente em áreas de alguns arranjos de plantios de café no sis- Anã, na seguinte configuração: café ará-
pequenos e médios cafeicultores, visando tema arborizados e algumas considerações bica Icatu Vermelho IAC-4045 enxertado
auxiliar na melhoria da produtividade e sobre a técnica. sobre Robusta IAC-Apoatã e instalado
sustentabilidade da produção. com espaçamento de 4 metros entre linhas
No Brasil, ao se considerar a práti- Sistema consorciado de café e co- e 1 metro entre plantas, consorciado com
ca da arborização de cafezais, há que se queiro anão, em Garça-SP - Nesse ar- grevílea no espaçamento de 16 x 16 metros
analisar separadamente a cafeicultura ranjo de plantio, os cafeeiros (cv. IAC (39 arvores/ha), com seringueira no espa-
praticada na Região Nordeste e aquela Obatã) foram plantados no espaçamento çamento de 16 x 16 metros, com bananei-
no Centro-Sul do País. No Nordeste, em de 2,0 metros entre ruas e 0,5 metro entre ra no espaçamento de 8 x 8 metros (156
cultivos tradicionais, até a década de 80, a plantas. As plantas de coqueiro-anão ver-
arvores/ha) e com coqueiro-anão no espa-
arborização foi prática tradicional e muito de possuíam espaçamento de 8,0 metros
utilizada, favorecendo o desenvolvimen- entre ruas e 6,0 metros entre plantas totali- çamento de 8 x 8 metros. O experimento
to vegetativo e a produtividade em longo zando 208 planta/ha. de Pindorama é composto de um sistema
prazo. Na região de cultivo do Centro-Sul combinado de café com seringueira e co-
do Brasil, os estudos iniciais de sombrea- Sistema consorciado de café e bana- queiro-anão, na mesma configuração do
mento de cafezais realizados com consór- na Prata Anã, em Botelhos, MG - Nesse experimento de Mococa (Figura 3).
cios de produção de café com ingazeiros sistema de cultivo, o café (cv. IAC Catuaí
desestimularam o uso desta técnica, sen-
do o insucesso atribuído a fatores como
a concorrência em água pelas plantas, a
baixa retenção da água dos solos onde se
estudou a técnica e a utilização de árvo-
res frondosas nos consórcios, agravando o
problema em períodos com seca.
Posteriormente, nas décadas de 70 e
80, a utilização de outras espécies e níveis
de sombreamento proporcionou a reuti-
lização dessa técnica, agora denominada
arborização em algumas regiões do Brasil.
Na Região Centro-sul, embora haja predo-
mínio do cultivo de café a pleno sol, a uti-
lização do cultivo arborizado tem aumen-
tado. Dentre as plantas que estão sendo
utilizadas em pesquisas no Brasil para ar-
borização de cafeeiros, podem ser citadas
a grevílea, a seringueira e o cajueiro. En- Figura 1. Representação esquemática Figura 2. Representação esquemática
tre essas espécies, o uso de frutíferas com do plantio de café consorciado do plantio de café consorciado
alto valor de mercado e boas característi- com coqueiro-anão verde, com banana Prata Anã,
cas para a arborização, como o coqueiro no município de Garça, SP. no município de Botelhos, MG.
Considerações
Sob o aspecto microclimático, as avaliações em lavouras
comerciais e nos experimentos indicaram alterações proporcio-
nadas pelas espécies sombreadoras na cultura do café. Com
relação a radiação solar, as observações quantificam importan-
tes alterações ocorridas em cultivos arborizados, na ordem de
20 a 40 % aproximadamente nos diferentes cultivos, concor-
Sistema consorciado de café e coqueiro anão, em Garça-SP dando com a literatura que apresenta a arborização como im-
portante prática de manejo em regiões consideradas restritas
ao cultivo do café.
Para temperatura e umidade do ar, os valores médios e
extremos diários tiveram um comportamento bastante distinto
em função do sistema utilizado e posição de leitura dentro do
sistema arborizado. Com relação às temperaturas mínimas as
maiores diferenças entre o cultivo a pleno sol e o sistema arbo-
rizado foram obtidas na lavoura comercial de café e coqueiro-
anão, em Garça e, para as temperaturas máximas, no sistema
Sistema consorciado de café e banana Prata Anã, em Botelhos, MG arborizado com grevílea em Mococa. Em todos os sistemas
arborizados estudados foi verificada significativa redução na
incidência dos ventos em comparação ao monocultivo.
Nos aspectos relacionados à produtividade, os experi-
mentos, ainda em fase inicial, mostraram, até a safra de 2006,
produções semelhantes entre os sistemas arborizados e o mo-
nocultivo de café, com produtividade ligeiramente superior nos
cultivos arborizados com grevílea e seringueira no município
de Mococa. A continuidade de avaliações relativas aos parâ-
metros de produtividade deverá trazer avaliações mais signifi-
cativas para a recomendação desses cultivos.
Experimentos implementados
Qualidade do Café
Pesquisadores do IAC buscam melhoria da qualidade do café brasileiro Emerson Regina
O
Brasil é atualmente o maior produtor e composition and beverage quality of coffee corpo, acidez, e amargo. Todas as amostras da
exportador mundial de café. Entretanto cherries”(Silva et al., 2005). bebida foram preparadas com 10g de café e 100
o preço da saca do café brasileiro tem Os parâmetros climáticos de temperatura mL de água fervente, sendo para a língua ele-
diminuído em relação ao preço do produto dis- do ar e precipitação foram monitorados conti- trônica utilizada água deionizada.
tribuído por América Central, Colômbia, Qu- nuamente por meio de estações meteorológicas
ênia e México, devido à suavidade da bebida automáticas instaladas a menos de 500m das Temperaturas do ar e chuvas
proveniente do café desses países. Para con- áreas de estudos. Uma síntese das caracterís- (junho de 2001 a maio de 2002)
quistar os mercados mais exigentes e refinados, ticas edafoclimáticas de cada região durante os A temperatura média do ar em Adaman-
pesquisas estão sendo conduzidas com intuito experimentos são apresentadas na Tabela 1. tina (24,7°C) foi cerca de 1,8 a 2,4ºC mais alta
de conhecer e melhorar a qualidade do café as- Em cada um dos experimentos, as plantas que em Mococa (22,9°C) e Campinas (22,3°C),
sociando a obtenção de altas produtividades da de café foram submetidas aos seguintes ma- e cerca de 2,7ºC acima do limite máximo da fai-
cultura. Inúmeros desses estudos procuraram nejos de irrigação: não irrigado (NI), irrigado xa de temperatura do ar considerada ótima para
estabelecer uma relação entre a composição continuamente (IC), irrigado com suspensão a cultura do café, que é de 18 a 22ºC (Alegre,
química do café verde e a qualidade da bebida. de 30 dias (I30) no mês de julho e irrigado 1959). Com relação ao volume de chuvas, este
Mas já se sabe que fatores como irrigação, al- com suspensão de 60 dias nos meses de julho foi maior em Mococa (1602 mm) e Campinas
titude, clima, e tratamentos pré e pós-colheita e agosto (I60). O sistema de irrigação por gote- (1273 mm) do que em Adamantina (1128 mm).
também são de grande influência sobre o pro- jamento de superfície foi utilizado para aplicar De fato, as altas temperaturas médias observa-
duto final. uma lâmina de 4 mm nos cafezais, a qual foi das em Adamantina e o menor volume de chu-
No Brasil, a grande variedade de tipos de determinada a partir da evapotranspiração mé- vas colocam essa região como marginal para a
café (do Rio ao Gourmet) se deve ao cultivo ser dia diária destas regiões (tabela 1). O solo foi cultura do café, conforme já apontado por Ca-
realizado em diversas regiões do país, sob as analisado durante o período do experimento e margo et al. (1992). A falta de chuvas nos me-
características climáticas de cada local (Ca- as adubações foram realizadas conforme reco- ses de janeiro a março pode resultar em quedas
margo et al., 1992). mendado para a cultura do café no Boletim 200 dos frutos, segundo modelo fenológico-climá-
Assim, para investigar como as condições do IAC. A colheita, seleção e secagem do café tico proposto por Camargo e Camargo (2001).
ambientais associadas ao manejo de irrigação foram realizadas de forma tradicional. Cada Sabendo-se disto e observando a Figura 1B,
influenciam na composição química e por ex- uma das plantas teve o peso da sua produção percebe-se que, nesse período crítico, as chu-
tensão na qualidade da bebida do café, pesquisa- registrada e a mesma foi armazenada a 10% de vas em Adamantina foram mais escassas que
dores do Instituto Agronômico Campinas (IAC) umidade, para a realização das análises quími- em outras localidades. Portanto, em relação às
e da Universidade Estadual de Campinas (Uni- cas e sensoriais. Nas análises químicas foram chuvas e temperatura do ar durante a formação
camp) desenvolveram um trabalho em três loca- quantificadas as concentrações, dos açúcares dos frutos, Adamantina teve, de modo geral, as
lidades produtoras de café (Coffea arábica L. cv. solúveis totais, açúcares redutores, sacarose, mais severas condições climáticas.
Obatã IAC 1669-20) do Estado de São Paulo. compostos fenólicos totais, ácido clorogêni-
Durante o período de julho de 2001 a maio co, cafeína, proteínas e aminoácidos solúveis Composição química e
de 2002, três experimentos foram conduzidos totais, lipídios, e nitrogênio total. De modo a qualidade da bebida do café
nos Pólos Regionais da Alta Paulista em Ada- relacionar a composição química dos grãos de De modo geral, a irrigação não foi fator
mantina, do Nordeste Paulista em Mococa e no café com a qualidade da bebida, amostras dos condicionante de diferenças significativas na
Centro Experimental do IAC, Fazenda Santa cafés nos diferentes tratamentos de irrigação composição química dos grãos de café verde,
Elisa em Campinas, estado de São Paulo, para das três localidades foram submetidas à aná- quando comparados com cafés não irrigados
avaliar a influência de variáveis edafoclimáti- lise sensorial realizada por três classificadores (Tabela 2). No entanto, a atividade de enzimas
cas e do manejo de irrigação na sincronização profissionais, bem como, pelo sensor eletrônico que digerem proteínas de reserva, conhecidas
do florescimento, produção, composição quí- conhecido como “língua eletrônica” (Embrapa como proteases, foi menor nos tratamentos
mica e qualidade de bebida do cafeeiro arábica. instrumentação), que é capaz de medir baixos sem irrigação. Embora a irrigação não tenha
O resumo dos resultados apresentados aqui se níveis de salinidade, doçura, amargor e acidez influenciado diferenças significativas entre
refere somente às variações na composição quí- presentes a partir da condutividade elétrica do tratamentos da mesma localidade, observa-
mica e qualidade da bebida e estão publicados produto. Na análise sensorial a classificação da ram-se diferenças entre localidades, sugerin-
no artigo “The influence of water management bebida variou em uma escala de 0 (abstenção do influência do local de cultivo, isto é, da
and environmental conditions on the chemical de critério) a 5 (presença) nos critérios: aroma, variável edafoclimática. Compostos químicos
como o ácido clorogênico e lipídeos, dois dos
Tabela 1. Características edafoclimáticas nos locais dos experimentos. possíveis responsáveis pela acidez e, conse-
Temperatura Precipitação qüentemente, por efeitos sobre o sabor e aroma
Localidade Tipo de Solo ET médio da bebida, não tiveram diferenças entre trata-
Média Anual Média Anual
mentos e entre locais de estudo. Em Mococa,
Adamantina Latossolo Vermelho Eutroférrico 24.7 oC 1128 mm 3.8 mm
porém, houve tendência de maior quantidade
Campinas Latossolo Roxo Eutrófico 22.3 oC 1273 mm 3.4 mm
de lipídeos. Fato interessante com os lipídeos
é que durante a torrefação, eles são expeli-
Mococa Argissolo Vermelho-Amarelo 22.9 Co
1602 mm 3.2 mm dos dos grãos de café, formando uma cama-
Distrófico Típico da que dificulta a volatilização do aroma. Tal
Fonte: Ciiagro – IAC fenômeno pode contribuir com diminuição de
perdas de compostos químicos importantes na Tabela 3. Composição química dos grãos verdes do café, cultivado sem irrigação
qualidade da bebida. (NI), irrigação contínua (CI) e irrigação suspensa por 30 dias (I30) e 60 dias (I60) em
O diagrama gerado pela Análise dos Com- Adamantina (AD), Mococa (MC) e Campinas (CP).
ponentes Principais - PCA (Figura 2), mostrou
que proteínas, aminoácidos, nitrogênio total e
protease e atividade PPO (polyfenoloxidase)
diferiram entre as localidades, mas sempre em
concentrações maiores em Adamantina, onde
houve variação de 30,5%. Aminoácidos e pep-
tídeos são ingredientes importantes do aroma
do café, mas não se sabe a proporção ideal que
devem ocorrer entre eles, dentro no produto.
Em Adamantina ocorreram as maiores ativida-
des proteolíticas, e as maiores concentrações de
açúcares solúveis totais, aminoácidos e protea-
ses Tabela 3. Também foi maior a quantidade da
enzima polifenoloxidase (PPO), que tem sido re-
latada como responsável pela qualidade do café.
Na análise sensorial realizada pelos três
classificadores não foi possível diferenciar as
amostras de café nos diferentes tratamentos e
entre localidades (Tabela 3), cujos resultados podem ser fatores importantes e responsáveis
foram bastante subjetivos, centrando na classi- pelas diferenças na qualidade e composição
ficação da bebida dura. Entretanto, pelos valores química do café das três localidades envolvidas
de qualidade global, o café de Mococa obteve no projeto. As enzimas, como as proteases, de-
classificação melhor que dos dois outros locais. sempenham um importante papel no controle
Em virtude da dificuldade dos classificadores do nível de aminoácidos, peptídeos e polipeptí-
em distinguir os cafés, utilizou-se a “língua ele- dios que juntos com os carboidratos implicam
trônica”. Em oposição a esses dados, análises em componentes chaves na determinação da
da bebida utilizando-se a “língua eletrônica”, qualidade da bebida do café. Além disso, estu-
permitiram diferenciar os cafés das três loca- dos com temperaturas controladas, envolvendo
lidades (Figura 3) de forma semelhante àquela análises da composição de compostos de nitro-
obtida pela composição química (Figura 2), com gênio e qualidades do café deveriam ser condu-
os cafés de Adamantina diferenciando-se signi- zidas para confirmar as informações de campo
ficativamente daqueles de Campinas e Mococa, obtidas neste experimento.
demonstrando ser o método da língua eletrônica
bastante útil na distinção de cafés, e que pode Referências Bibliográficas
completar análises sensoriais. Os dados da lín- ALÈGRE, C. Climats et caféiers d’Arabie. Agron. Trop.
14: 23-58, 1959.
gua eletrônica também demonstram que as di- CAMARGO A.P.; CAMARGO M.B.P. ������������������
Definição e esque-
ferenças entre cafés ficaram restritas ao local matização das fases fenológicas do cafeeiro Arábica
de cultivo, sugerindo o efeito da variável edafo- nas condições do Brasil. Bragantia 60: 65-68, 2001.
climática. Assim, uma vez que a irrigação não CAMARGO, A.P.; SANTINATO, R.; CORTEZ, J.G. Ap-
tidão climática para qualidade da bebida nas principais
afetou significativamente a composição química regiões cafeeiras de Arábica no Brasil. In: Anais do 19º
dos grãos de café, com resultados confirmados Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras. 1992, p.
pela análise da língua eletrônica, a hipótese mais 70-74.
plausível é de que tais diferenças tenham sido in- SILVA, E A. da; MAZZAFERA, P.; BRUNINI, O. SAKAI,
E.; et al. �����������������������������������������
The influence of water management and en-
fluenciadas pela temperatura do ar. vironmental conditions on the chemical composition
Os resultados deste estudo mostraram que and beverage quality of coffee beans. Braz. J. Plant
a temperatura e a indisponibilidade de água Physiol.,june 2005, vol. 17, no. 2 , pp. 229-238.
Emilio S. Kobayashi
Mestre em Agricultura Tropical e Subtropical do Curso
de Pós-Graduação do Instituto Agronômico
Emilio Sakai, Emerson A. da Silva e Regina Célia M. Pires
Instituto Agronômico, Centro de Ecofisiologia e Biofísica
Figura 2. A Análise do Componente principal usando dados da composição química, peso do grão,
tamanho médio do grão e qualidade global de grãos de café. O diagrama (A e B) mostra cinco repetições
( (19) 3241-5188 ramal
dos tratamentos sem irrigação (NI – símbolos abertos), irrigação contínua (CI – símbolos pontilhados), e * emilio@iac.sp.gov.br;
irrigação suspensa por 30 dias (I30 – símbolos cinzas), e 60 dias (I60 – símbolos pretos) em Adamantina * rcmpires@iac.sp.gov.br
(®), Campinas (r) e Mococa (r). O diagrama ( C e D) mostra dados da composição química, peso do Instituto de Botânica, Seção de Fisiologia
grão, tamanho médio do grão e qualidade dos grãos de café (°). O tracejado mostra grupos formados. * easilva@ibot.sp.gov.br
Panorama da cafeicultura orgânica e
perspectivas para o setor
A
agricultura orgânica cresce a passos largos – 20% ao ano
– motivada, principalmente, pela preocupação dos con-
sumidores e produtores com as questões da qualidade
dos alimentos, saúde humana e sistemas de produção sustentá-
veis. A cafeicultura orgânica segue essa mesma tendência, tendo
apresentado crescimento da ordem de 5% ao ano, no período de
2000 a 2006. Atualmente a comercialização de café orgânico
representa cerca de 1,5% do mercado mundial de café.
No Brasil, a partir da década de 90, cafeicultores dos Esta-
dos de Minas Gerais, Paraná e São Paulo aderiram ao cultivo
orgânico, tendo em vista a sustentabilidade socioeconômica e
ambiental da cafeicultura e motivados pelo reconhecimento dos
consumidores quanto à necessidade de colocar em prática os
conceitos preconizados por movimentos em prol da agricultura Sérgio, Flávia e Gerson
sustentável em diversos países. A cafeicultura orgânica brasilei-
ra representa 0,3% da área total de café do país. Comercialização
Produção O volume de exportação mundial de café orgânico, regis-
O Brasil, de acordo com dados de 2003, possui área cultiva- trado com base em certificados de origem, foi de 758.300 sa-
da com café orgânico de 6.300 hectares (BARAIBAR, 2006), o cas de 60 kg na safra 2004/2005 (OIC, 2005). Nessa safra, os
que representa 0,3% da área total de café do país. Embora seja cinco maiores exportadores desse café foram Peru (400.000
o maior produtor de café do mundo, o Brasil é apenas o oita- sacas), Etiópia (153.000 sacas), México (67.000 sacas), Colôm-
vo produtor mundial de café orgânico, ficando atrás da Bolívia, bia (53.000 sacas) e Nicarágua (23.000 sacas), e os dez maiores
Honduras e Papua Nova Guiné (OIC, 2005). compradores foram Estados Unidos, Alemanha, Japão, Bélgica,
Segundo a Associação de Cafeicultores Orgânicos do Brasil Países Baixos, França, Suécia, Reino Unido, Canadá e Espanha
(ACOB) existiam cerca de 200 cafeicultores orgânicos no País, (OIC, 2006).
com produção de 180 mil sacas de café beneficiado, representan- A exportação brasileira de café orgânico, entre outubro de
do 0,5% da produção nacional que havia sido prevista em 32,5 2005 e junho de 2006, foi de 6.874 sacas, o que proporcionou ao
milhões de sacas na safra 2005/2006. País uma receita de US$ 1.432.000,00. O preço médio do café
Considerando-se a diversidade das características edafocli- orgânico foi US$ 208,32/saca, representando diferencial de US$
máticas nas regiões brasileiras produtoras de café e também que 89 acima do preço médio do convencional, comercializado a
o país tem a maior área plantada de café do mundo, acredita-se US$ 119,18/saca (OIC, 2006 e ABIC, 2007).
que o Brasil tenha enorme potencial para aumento da produção Cerca de 80% da produção brasileira é exportada principal-
de café orgânico. mente para o Japão, Estados Unidos e Europa. Ressalte-se que,
devido à ausência de estatísticas oficiais sobre área, produção e
Preços
Alguns estudos revelaram que os consumidores de
países desenvolvidos estão dispostos a pagar entre 15% e
25% a mais pelo café orgânico, o que resultaria em preços
mais elevados para esse tipo de café, quando comparados
aos preços pagos ao café convencional.
Considerado um produto diferenciado, o café orgânico
tornou-se uma alternativa atraente para os cafeicultores
brasileiros, principalmente nos momentos de crise desse
setor. De maneira geral, os preços pagos pelo café orgâni-
co sempre estiveram acima do preço do convencional, com
diferenciais (prêmios) variando entre US$ 60 e US$ 100 por
saca de café beneficiado. Contudo, os custos de produção
do orgânico podem ser 20% a 30% superiores ao do con-
vencional, incluindo os custos com certificação.
Em sistemas orgânicos de produção, em fase de con-
versão ou não totalmente estabelecidos, quando há melho-
ria de preço do café convencional ocorre um menor diferen-
cial entre o preço do orgânico e do convencional, levando
produtores menos comprometidos com a “filosofia” de culti- Lavoura de café orgânico,
vo orgânico a migrar para o convencional. cultivar Obatã IAC-1669-20, município de Garça-SP.
Perspectivas orgânico tem maior autonomia sobre seu negócio e não fica à
mercê de especuladores e da oscilação de preços no mercado de
Hoje, considera-se o café orgânico como um nicho de mer- commodities: o café orgânico deixa de ser nicho para se estabe-
cado bem estabelecido e com clara tendência de crescimento. lecer como segmento de mercado.
Não se questiona mais a sua viabilidade técnica ou econômica: A comercialização do café orgânico pode constituir-se numa
se não fosse viável não estaria sendo produzido. No entanto, a barreira para os cafeicultores, principalmente devido à estrutura
cafeicultura orgânica não deve ser vista como solução milagrosa de comercialização do café brasileiro, associada à falta de co-
para resolver os problemas dos cafeicultores nos momentos de nhecimento e acesso aos mercados diferenciados. Alguns exem-
crises do agronegócio café, porém pode ser considerada uma plos têm mostrado que essas dificuldades podem ser superadas,
alternativa interessante para aqueles que simpatizam com o cul- especialmente quando as iniciativas contemplam negociações
tivo orgânico ou que não concordam com a forma como é prati- por meio de associações de produtores, como é o caso da Co-
cada a cafeicultura convencional. operativa dos Agricultores Familiares de Poço Fundo e Região
Segundo alguns produtores e técnicos do setor, não há recei- (COOPFAM), no sul de Minas Gerais. Para essa cooperativa o
tas prontas para a adoção da cafeicultura orgânica. Ela não deve comércio justo ( fair trade) é uma opção interessante de comer-
ser vista como volta à cafeicultura do passado, mas sim como cialização, a partir de critérios que prevêem não apenas preço e
atividade agrícola diferenciada, com base em critérios técnicos qualidade do café orgânico, sendo considerado um dos pilares
e agronômicos bem estabelecidos e que considera o solo como da sustentabilidade econômica e ecológica.
um elemento vivo fundamental para o sistema de produção e
não como mero suporte de plantas. O ingresso na cafeicultura
orgânica deve ser bem planejado e com embasamento técnico.
Pesquisa científica e tecnológica
O fator econômico precisa, certamente, ser levado em conta, Embora a cafeicultura orgânica no Brasil tenha se desen-
porém não deve ser considerado o principal. Antes de se envere- volvido significativamente nos aspectos relacionados à produ-
dar pelos caminhos da cafeicultura orgânica é preciso conhecê-la ção, comercialização e certificação, há escassez de pesquisas
melhor e ter como referência os casos de sucesso de produtores já técnico-científicas sobre o assunto e a maioria dos produtores
bem estabelecidos no mercado, pois como em qualquer ativida- baseia-se em procedimentos empíricos de produção, geralmente
de, existem os bons e os maus exemplos. Também é preciso estar adaptados da cafeicultura convencional.
ciente que pode haver menor produtividade e que um crescimento Há algum tempo o assunto era debatido apenas em Organi-
acelerado da produção de café orgânico poderá reduzir o prêmio zações Não Governamentais (ONG’s), porém devido ao grande
obtido no preço, principalmente se o consumo desse tipo de café crescimento do mercado de produtos orgânicos, pesquisadores
não crescer na mesma proporção da oferta. de várias instituições públicas de São Paulo, Minas Gerais, Pa-
Na cafeicultura orgânica, visualiza-se maior chance de raná e Espírito Santo se engajaram no estudo de diversos temas
sucesso para os produtores que incorporam o cultivo orgânico relacionados ao café orgânico. Afinal, se há mercado para o café
como uma “filosofia de vida”. Com isso, o produtor torna-se orgânico, ele deve ser produzido. Para que isso ocorra adequa-
mais independente e diferencia-se dos demais. Há possibilida- damente é preciso que sejam pesquisadas e desenvolvidas técni-
de de se estabelecer um relacionamento mais estreito com com- cas apropriadas ao fortalecimento dessa cadeia produtiva.
pradores e consumidores, permitindo-lhe maior participação na Atendendo às demandas de diferentes segmentos da cadeia
negociação de preços de seu produto. Em síntese, o cafeicultor produtiva do café, o Centro de Café ‘Alcides Carvalho’, do Insti-
café arábica
em solos ácidos e corrigidos
Júlio
De modo geral, as
A
plantas estão sujeitas
a diferentes tipos de calagem é uma das práticas mais impor- cação de calcário para elevar V a 30% e C2 = solo
estresses bióticos e/ou tantes para melhorar as condições quími- com aplicação de calcário para elevar V a 60%.
abióticos na natureza, cas do solo e suas vantagens são inúmeras, As adubações foram realizadas de acordo com o
tais como doenças, podendo-se citar: melhoria do pH do solo, forne- Boletim Técnico 100, do IAC, na mesma quanti-
pragas, acidez de solo, cimento de cálcio e magnésio, diminuição do teor dade para cada cultivar em cada nível de acidez
seca, calor, frio, etc. de alumínio, diminuição da lixiviação do potás- do solo.
Esses estresses são os sio e da adsorção do fósforo, além do aumento da As produtividades alcançadas pelas cultivares
principais responsáveis capacidade de troca de cátions. Por outro lado, a Tupi IAC 1669-33 e Obatã IAC 1669-20 em solo
pela redução no calagem condiciona o sistema radicular a concen- corrigido (maior saturação de bases) foram melho-
potencial produtivo trar-se na camada superficial do solo, principal- res do que em solos com saturação de bases me-
das culturas agrícolas, mente nos vinte centímetros iniciais. Isto impli- nor (Tabela 1). Neste caso, estas cultivares seriam
entre elas o café. ca em exploração de menor volume de solo, re- mais sensíveis à acidez do solo, necessitando de
sultando em prejuízos na absorção de nutrientes doses maiores de calcário para alcançarem me-
e do aproveitamento da água das camadas mais lhores produtividades. Também estariam sujeitas
profundas, o subsolo. As plantas cultivadas nes- a sofrer danos em períodos de veranico ou seca, e,
sas condições são mais sensíveis à seca/veranico, portanto, com maiores quebras na produtividade.
principalmente se isso ocorrer em fases críticas do A altura de plantas e o diâmetro de copas também
desenvolvimento do café, como no florescimento, foram afetados.
enchimento e maturação dos frutos. As cultivares Ouro Verde IAC 5010-5, Catu-
O estudo do sistema radicular vem se mos- aí Vermelho IAC 144, Icatu Vermelho IAC-4045,
trando de interesse não apenas pelos efeitos que Mundo Novo IAC 376-4 e Acaiá IAC 474-16 foram
Fazuoli certas práticas econômicas exercem sobre o seu tolerantes à acidez do solo.
desenvolvimento, como também para explicar a Este estudo indicou que as cultivares toleran-
Algumas resistência à seca e a tolerância a níveis altos de tes poderiam ser recomendadas para cultivos sob
condições ocorrem alguns elementos do solo, particularmente do alu- alta e baixa tecnologia, enquanto as sensíveis para
simultaneamente, mínio e do manganês. cafeicultores mais capitalizados.
como seca, excesso Neste contexto, torna-se importante conhecer Além disso, o trabalho evidenciou também que, ao
de luminosidade o comportamento das cultivares de café arábica recomendar a calagem, deve-se levar em conta não
e calor, causando em solos ácidos e corrigidos. Buscando esse co- apenas a acidez do solo, mas também a cultivar a
danos ainda nhecimento, o Centro de Café ‘Alcides Carvalho’ ser utilizada.
maiores. A expansão vem desenvolvendo linhas de pesquisas neste
agrícola brasileira tema, focando principalmente cultivares lançadas Condição de Laboratório
vem se fazendo em recentemente. Foram realizados estudos, utilizando soluções
áreas de cerrado, Foram realizados dois experimentos, ao lon- nutritivas, visando conhecer melhor o sistema ra-
caracterizadas por go de seis anos, visando identificar cultivares tole- dicular do café na presença do alumínio.
elevada acidez e rantes e sensíveis à acidez do solo. O primeiro foi O experimento foi conduzido no laboratório
baixa fertilidade, em condição de campo e o segundo em condição do Centro de Café ‘Alcides Carvalho’ do Instituto
obrigando o produtor, de laboratório, empregando-se solução nutritiva. Agronômico (IAC), em Campinas.
principalmente aquele Foram avaliadas as cultivares Mundo Novo
não tão capitalizado, Condição de Campo IAC 376-4, Catuaí Amarelo IAC 62, Obatã IAC
a aumentar o seu Em experimento desenvolvido pelo Centro de 1669-20, Ouro Verde IAC 5010, Tupi IAC 1669-33,
custo de produção, na Café do Instituto Agronômico, juntamente com o Icatu IAC 4045, Caturra e Bourbon Vermelho, nas
aquisição de calcário, Pólo Regional do Nordeste Paulista (APTA Re- seguintes soluções: normal, contendo todos os nu-
gesso e adubos. gional), em Mococa (SP), entre os anos de 2000 trientes, e outras três tratamentos, contendo 25%
e 2006, avaliou-se o comportamento de sete cul- da concentração de nutrientes da solução normal
tivares de café arábica em três diferentes níveis e variando na concentração de alumínio: 0,000,
de acidez do solo. Avaliaram-se as seguintes cul- 0,074 mmol.L-1 e 0,370 mmol.L-1 de alumínio. A
tivares: Ouro Verde IAC 5010-5, Catuaí Vermelho concentração de nutrientes da solução tratamento
IAC-144, Tupi IAC 1669-33 e Obatã IAC 1669-20, foi baixa, pois pretendeu-se simular uma condição
de porte baixo, e Icatu Vermelho IAC-4045, Mun- de solo ácido.
do Novo IAC 376-4 e Acaiá IAC 474-16, de porte Determinou-se o índice de tolerância relati-
alto. Os níveis de acidez do solo (C0, C1 e C2), me- va (ITR), obtido pela razão entre o comprimento
didos pela saturação de bases (V%), foram: C0 = total da raiz principal e comprimento da emissão
Paulo solo sem aplicação de calcário, C1 = solo com apli- da última ramificação lateral na raiz principal. É
cafeicultura sustentável
A cafeicultura está sempre evoluindo e proporcionando grandes desafios a todos os
envolvidos em sua cadeia produtiva. No Brasil, o plantio de café estende-se desde o Paraná
até o Pará, passando por São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Espírito Santo, Bahia
e Rondônia. Em cada estado existem regiões aptas para o cultivo do café com distintas
condições edafoclimáticas e diversos sistemas de cultivo e que possuem cafeicultores com
diferentes níveis tecnológicos. A diversidade de clima, de solo e de nível tecnológico na
Petek
cafeicultura leva a necessidade, constante, de desenvolvimento tecnológico.
Paralelamente ao desenvolvimento tecnológico, a busca por uma cafeicultura mais
sustentável intensificou-se nos últimos anos. Atendendo aos anseios dos consumidores e às
exigências da produção sustentável, a cafeicultura sustentável procura contemplar requisitos
econômicos, direcionados à utilização racional de recursos naturais e tecnológicos, sociais,
baseados no respeito às pessoas envolvidas na cadeia produtiva, além de ambientais, que
preconizam o emprego de tecnologias que não agridam o ambiente. Flávia
O
desenvolvimento de uma cafei- cultivares resistentes a pragas e doenças, o Centro de Café “Alcides Carvalho”, vi-
cultura sustentável no Brasil pas- evitam o uso excessivo de defensivos. sando a sustentabilidade da cafeicultura,
sa pelo aumento da rentabilidade Como conseqüência, entre os principais passou também a trabalhar com o obje-
do produtor, como forma de garantir sua impactos do uso de cultivares melhora- tivo de identificar no seu banco de ger-
permanência na atividade. Isso depende das estão o aumento da rentabilidade e da moplasma, fontes de resistência genética
de sistemas de cultivo estáveis, que pro- estabilidade do produtor, e a redução no a outras doenças e pragas de importância
porcionem maior longevidade para as emprego de defensivos com a conseqüen- econômica e/ou com potenciais riscos
lavouras e rentabilidade freqüente. Culti- te diminuição no custo de produção e no para a cafeicultura, além de adversidades
vares produtivas, adaptadas a cada con- impacto ao meio ambiente. climáticas. A cercosporiose (Cercospora
dição edafoclimática e sistema de cultivo Quando compararam a cultivar ‘Mun- coffeicola), também conhecida por man-
e resistentes a pragas e doenças, são dos do Novo’ com a primeira cultivar plan- cha-de-olho-pardo (Foto 1), até há pouco
principais componentes da sustentabili- tada no Brasil, denominada ‘Típica’ ou tempo era considerada doença secundária,
dade da cafeicultura. ‘Arábica’, e visualizaram mais de 200% mas encontra-se entre as principais doen-
A definição da sustentabilidade da de ganho em produtividade, já foi pos- ças da cultura no cerrado e, em outras re-
cafeicultura está em constante evolução, sível verificar a valiosa contribuição dos giões cafeicultoras. Sua importância tem
pois muitas das tecnologias consideradas pesquisadores do IAC para a sustentabili- aumentado, prejudicando a produção de
sustentáveis nas décadas de 50 e 60, hoje dade da cafeicultura brasileira. Posterior- grãos e a qualidade da bebida. O IAC tem
não o são mais. Entre os exemplos destas mente, a obtenção de cultivares de porte realizado estudos para a determinação da
tecnologias podem ser citados: plantios baixo como a ‘Catuaí Vermelho IAC 99’, relação entre nutrientes, principalmente
em espaçamentos largos (4 metros entre que possibilitaram maior adensamento, nitrogênio e potássio, e a incidência desta
linhas e 4 ou 3 metros entre plantas), der- além de facilitar a colheita e o recente de- doença (Foto 2). Em trabalho preliminar,
rubada de matas para o plantio do café senvolvimento de cultivares resistentes à realizado em progênies de café com resis-
e uso de cultivares pouco produtivas, ferrugem como a ‘Obatã IAC 1669-20’ e tência à ferrugem, foi possível confirmar
como ‘Típica’ e ‘Sumatra’. Hoje, devido a ‘Tupi IAC 1669-33’, deram continuidade a influência das concentrações de nitro-
à escassez de recursos e novas áreas para às relevantes contribuições do Centro de gênio e potássio na incidência da cercos-
plantio, é preciso adotar uma cafeicultu- Café “Alcides Carvalho” para a sustenta- poriose e ainda verificar a existência de
ra mais racional. bilidade da cultura do café no Brasil. É variabilidade genética quanto ao vigor ve-
Os programas de melhoramento ge- importante ressaltar que mais de 80% do getativo e à resistência a esta doença. As
nético de café do Centro de Café “Alci- parque cafeeiro do tipo arábica, do Brasil, pesquisas terão continuidade em busca
des Carvalho” do Instituto Agronômico é formado por cultivares desenvolvidas de cultivares mais resistentes à cercospo-
(IAC) já são, em sua essência, parceiros pelo IAC. riose e mais adaptadas para cada região e
da sustentabilidade da cafeicultura, pois Os esforços da pesquisa em genética sistema de cultivo.
têm como objetivo o desenvolvimento de e melhoramento de café para resistência Também como parte do apoio a sus-
cultivares com características de arquite- a doenças, até o momento, concentraram- tentabilidade da cafeicultura brasileira, o
tura e sistema radicular que maximizam se no desenvolvimento de cultivares re- IAC pretende contemplar em seus progra-
a eficiência no aproveitamento de fertili- sistentes à ferrugem (Hemileia vastatrix), mas de melhoramento, outras doenças,
zantes e de água, proporcionando aumen- pois esta é a mais importante doença da de ocorrência mais localizada, como a
to de produtividade e melhor qualidade cultura no Brasil, reduzindo, em média, mancha aureolada (Foto 3) (Pseudomo-
da bebida e, com o desenvolvimento de 35% da produção. Recentemente, porém, nas syringae pv. garcae) e a mancha de
Flávia R. A. Patrício
Instituto Biológico, Centro Experimental
Central
Foto 5. Queda de frutos mumificados: Foto 6. Broca atacando ( (19) 3251-8714
fatores bióticos ou abióticos? fruto de cafeeiro. * flavia@biologico.sp.gov.br
Masako
sementes de café Fazuoli
A
s sementes de café, em condições de café por períodos mais longos. Assim, níveis de umidade das sementes: alta (35
normais de armazenamento (saco vários trabalhos têm sido conduzidos pe- - 37%) e média (20 – 25%). As sementes
de papel, temperatura ambiente e los pesquisadores buscando estabelecer foram acondicionadas em dois tipos de
umidade de 15% das sementes), perdem tecnologias capazes de melhorar as con- embalagens: saco plástico transparente
a sua viabilidade rapidamente. Sementes dições para prolongar a manutenção da de polietileno com parede simples de 0,16
das duas espécies economicamente mais viabilidade das sementes. Porém, esses mm de espessura e saco plástico trança-
importantes, Coffea arabica e C. cane- estudos não foram congruentes, sendo do. As sementes foram tratadas com fun-
phora, geralmente perdem a capacidade muitas vezes conflitantes quanto a alguns gicida Tecto 600 na proporção de 1g/kg
de germinação após três a seis meses da aspectos como o teor de umidade inicial de sementes.
colheita. Por esta razão, as práticas nor- das sementes, embalagem a ser utilizada e
mais de semeadura são realizadas logo condições ambientais de armazenamento.
após a colheita ou no máximo dentro do Desta forma, no IAC, foram realiza- Após o tratamento, as
prazo de seis meses. dos vários estudos objetivando informar sementes foram armazenadas
Em decorrência desse fato, os pro- as melhores condições para o armazena- em três locais diferentes,
dutores de sementes têm dificuldades em mento de sementes de café arábica e ro- relacionados a seguir:
manter os seus estoques reguladores, con- busta, de modo a preservar, pelo maior 1. Laboratório de sementes,
seqüentemente, os viveiristas são obriga- período de tempo possível, o mínimo de sem controle de temperatura
dos a realizar a semeação logo após a co- 70% de germinação para café arábica e e umidade relativa do ar,
lheita que nessa ocasião nem sempre pode 60% para robusta, segundo as Normas e tendo sido registrados os
ser a melhor opção. Ainda, para produção Padrões de Produção de Sementes Fis- valores de 22 a 29°C e 70 a
de mudas enxertadas com a tecnologia calizadas de Café para o Estado de São 95%U.R., respectivamente,
de enxertia hipocotiledonar para plantio Paulo. ao longo do experimento;
em áreas infestadas de nematóides, seria Sementes de C. arabica cv. Mun- 2. Baú frigorífico, com
de grande valia se mantivesse reserva de do Novo, IAC 388-6 e C. canephora cv. temperatura controlada 13° ±
sementes de café arábica e robusta apro- Apoatã IAC 2258 foram obtidas de café 3°C e 60% a 90%U.R.;
ximadamente por um ano, uma vez que cereja, na safra de 1999. Logo após a co- 3. Câmara fria, com temperatura
a produção de mudas enxertadas pode lheita, os frutos foram despolpados meca- e umidade relativa do ar,
ocorrer durante todo o ano. nicamente, degomados por fermentação 9° ± 1ºC e 57% ± 1%U.R.,
Muitas razões evidenciam a neces- natural durante 24 horas e as sementes respectivamente.
sidade de estabelecer uma metodologia foram lavadas em água corrente. Em se-
adequada para a conservação de sementes guida, secadas à sombra para obter dois
Tabela 1. Porcentagem de germinação de sementes de Coffea arábica cv. Mundo Novo IAC 388-6 e sua umidade (%), utilizando
sementes em duas embalagens e armazenadas em três ambientes.
Umidade (%) Germinação (%)
Ambiente Embalagem
Inicial 6 meses 12 meses Inicial 6 meses 10 meses 12 meses
20 21 19 95 15 0 0
Sala
Polietileno 37 29 30 95 76 7 0
20 13 12 95 16 0 0
Trançado 37 13 11 95 28 0 0
20 19 20 95 84 40 5
Baú Polietileno 37 35 33 95 94 87 87
20 13 16 95 92 74 55
Trançado 37 13 16 95 82 72 53
20 18 19 95 93 91 77
Câmara Polietileno 37 34 33 95 95 92 58
20 10 10 95 94 83 83
Trançado 37 10 9 95 92 89 82
O
parque cafeeiro nacional é for- Maior flexibilidade em relação à ado- cho-mineiro, mediante transferência de
mado por cerca de seis bilhões de ção dessas estratégias de manejo e maior genes de resistência ao inseto presentes
cafeeiros, sendo um terço repre- segurança na redução de custos pode ser na espécie C. racemosa. A genealogia de
sentado por cultivares da espécie Coffea conseguida com o plantio de cultivares um material bastante promissor é apre-
canephora e o restante formado por culti- resistentes (Figura 2), nas quais as lesões sentada na figura 3.
vares de C. arabica, todas suscetíveis ao provocadas nas folhas, são irregulares e Embora C. arabica, espécie a ser me-
bicho-mineiro, principal praga da cultura de tamanho bastante reduzido. lhorada, e C. racemosa, espécie doadora
(Figura 1). A magnitude do dano causado Por esses motivos, o Instituto Agro- dos genes de resistência sejam genetica-
varia em função de práticas de manejo e, nômico de Campinas vem, há anos, se- mente distantes, a obtenção de híbridos é
especialmente, pelas condições climáti- lecionando populações resistentes ao bi- obtida com relativa facilidade. No entanto,
cas das regiões de cultivo. De modo ge-
ral, a praga é de ocorrência generalizada,
sendo necessário o controle químico que
contribui para o aumento importante do
custo total de produção.
Mesmo em regiões de alta incidência
populacional, o manejo adequado das la-
vouras feito mediante preservação de ini-
migos naturais e redução da população de
adultos feita com inseticidas de baixa to-
xicidade, permite que o nível de dano nas
lavouras seja reduzido. A prática exige,
porém, bastante atenção relacionada ao
desenvolvimento biológico do inseto e às Figura 1. Lagartas e lesão formada nas Figura 2. Lesões filiformes causadas
condições climáticas predominantes, es- folhas pelo bicho-mineiro-do-cafeeiro, por lagartas em folhas de cafeeiros
pecialmente com a incidência de chuvas. Leucoptera coffeella. resistentes ao bicho-mineiro.
Figura 3. Genealogia da progênie H20049 pertencente à geração RC6 e cultivada no ensaio de progênies EP 509, em Campinas (SP).
1 = Produção de frutos maduros 2005-2006; 2 = escala de 1 a 10, sendo 1 para menos vigorosas e 10, para mais vigorosas; 3 = escala de 1 a 4, sendo 1, resistentes, 2,
moderadamente resistentes, 3, moderadamente suscetíveis e 4, suscetíveis; 4 = escala de 1 a 10, sendo 1 as mais resistente e 10 as mais suscetíveis
Masako
A moléstia conhecida como ferrugem alaranjada do
cafeeiro é provocada pelo fungo Hemileia vastatrix
e foi constatada pela primeira vez, no Brasil, em 17 Bernadete
I
maginava-se na época que um mons- plantio no Brasil, apesar de suscetíveis a lentas, chegando a atingir 2 a 3 cm de di-
tro avassalador iria acabar com a nos- H. vastatrix. Existem atualmente muitos âmetro. Quando coalescem podem cobrir
sa cafeicultura, como ocorreu em al- produtos químicos que controlam eficien- grande extensão do limbo foliar. A pulve-
guns países asiáticos. Apesar dos nossos temente a ferrugem, desde que aplicados rulência amarelo-alaranjada é constituída
cafezais serem constituídos de cultivares corretamente. No entanto, o seu custo é pelos esporos do patógeno e consiste no
suscetíveis à moléstia, isso felizmente não relativamente alto, na maioria dos casos. único sinal externo da moléstia. As folhas
ocorreu. As condições agrometereológicas Dessa maneira, o desenvolvimento de atacadas em geral caem prematuramente,
de cultivo do café no Brasil e a possibi- cultivares rústicas com alta capacidade prejudicando o desenvolvimento das plan-
lidade econômica e tecnicamente viável produtiva e com resistência à ferrugem, é tas jovens e comprometendo a produção
do controle químico do fungo causador da de suma importância para a nossa cafei- das adultas. A ocorrência de desfolhas re-
moléstia foram fatores que colaboraram cultura. petidas irá exaurir a planta e o cafezal tor-
para alterar a idéia pessimista dos nossos nar-se-á antieconômico. Nos anos de alta
cafeicultores daquela época. No entanto, Sintomas da doença produção dos cafeeiros, tem-se verificado
apesar das perdas estimadas pela ação da A ferrugem ataca principalmente as maior índice de ataque.
ferrugem nos cafezais serem grandes e folhas do cafeeiro e raramente os frutos e
variarem de região para região, uma con- extremidades de brotação novas. Os pri- Raças Fisiológicas
siderável parte dos cafeicultores não tem meiros sintomas da moléstia correspon- Os trabalhos pioneiros sobre a espe-
utilizado o controle químico e quando o dem ao aparecimento, na face inferior das cialização fisiológica de H. vastatrix e o
usa, quase sempre o faz de modo inade- folhas, de pequenas manchas de coloração comportamento do complexo Coffea/He-
quado. Os cafeicultores que controlam a amarelo-pálida, de 1 a 3 mm de diâmetro mileia vastatrix foram realizados, primei-
ferrugem eficientemente usam também e aspecto ligeiramente oleoso, quando são ramente, na Índia e mais tarde prossegui-
outras práticas culturais necessárias, ex- observadas por transparência. Estas man- dos e ampliados em Portugal. Em 29 de
plorando de maneira adequada o potencial chas desenvolvem-se em poucos dias, tor- abril de 1955, foi inaugurado o Centro de
produtivo das cultivares indicadas para o nando-se amarelo-alaranjadas e pulveru- Investigação das Ferrugens do Cafeeiro
(CIFC), em Oeiras, Portugal, tendo como
seu criador o Dr. Branquinho D’Oliveira.
Com a criação do CIFC, as pesquisas
relacionadas com a especialização fisioló-
gica de H. vastatrix tomaram um impul-
so extraordinário. A partir de amostras de
esporos de H. vastatrix provenientes das
mais diversas regiões cafeeiras do mundo,
foi possível, até o presente, a identificação
de 45 raças fisiológicas:
No que se refere à distribuição geográ-
fica das raças verificou-se que a raça II é
Folha com ferrugem Obatã IAC-1669-20 a que tem a mais ampla distribuição pelos
do cafeeiro
Wallace Bernadete
A
produtividade média da cafeicultura brasileira vem e paranaense. Nessas regiões, M. incognita e M. paranaensis
apresentando avanços, estando hoje na faixa de 16 sacas associadas ou não a nematóides do gênero Pratylenchus são as
de café beneficiado por hectare, porém, muito abaixo espécies que vêm causando maiores danos. A ampla dissemina-
da sua real potencialidade e dos valores alcançados por muitos ção, a notável capacidade de destruir o sistema radicular, a alta
cafeicultores. Sabe-se que o custo de produção apresenta es- persistência no solo, o grande número de plantas hospedeiras,
treita correlação com o nível de produtividade das lavouras. As a existência de raças fisiológicas (M. incognita), além da into-
despesas fixas, que são muitas, oneram mais os plantios menos lerância das cultivares de Coffea arabica a esses parasitos fa-
produtivos e reduzem a competitividade da cafeicultura de um zem com que esses nematóides constituam fator limitante tanto
modo geral. Desta forma, é importante produzir café com efici- para a implantação de cafezais em áreas onde ocorrem (Figura
ência e para isso, os principais fatores relacionados à produção 1) quanto para a manutenção daqueles já contaminados (Figura
devem ser bem conhecidos, de forma a permitir que se obtenha 2). Outra importante espécie de nematóides é M. exigua, que
o máximo proveito dos parâmetros favoráveis ou se contorne, da forma galhas típicas nas raízes sem, contudo, destruir o sistema
melhor maneira, aqueles que se apresentam como limitantes à radicular, o que torna seus danos menos graves, podendo mui-
sustentabilidade da cultura. tas vezes até passar despercebida, principalmente em cafezais
É fundamental, portanto, o conhecimento dos fatores de pro- instalados em solos férteis, onde as perdas locais são menores
dução que se apresentam como limitantes ou “gargalos” no pro- (Figura 3). Entretanto, embora não seja tão patogênica quanto as
cesso produtivo do café, sendo que estes podem variar de acordo outras espécies de Meloidogyne, provavelmente, M. exigua seja
com a região ou propriedade rural. Dentre esses fatores pode-se o fitonematóide que causa as maiores perdas totais à cafeicultura
citar a ocorrência de fitonematóides, antiga ameaça aos cafezais brassileira em função de encontrar-se amplamente disseminado
descrita por Goeldi em 1887, associando Meloidogyne exigua ao nas lavouras das principais regiões produtoras de café, mesmo
deperecimento de cafezais da então Província do Rio de Janeiro naquelas emergentes e promissoras.
e provocando a substituição da cultura cafeeira pela da cana-de- O controle dos fitonematóides é, de maneira geral, difícil de
açúcar. Mesmo considerando o ser realizado. Deve-se ter em
valor histórico desse trabalho mente que estando a área já
e seu pioneirismo no Brasil, contaminada, sua erradicação
relatando os danos da doença é praticamente impossível.
causada por um fitonematóide Entretanto, esses parasitos po-
para uma cultura de interesse dem, muitas vezes, ter suas po-
econômico, ainda hoje os ne- pulações reduzidas e mantidas
matóides têm sua importância em níveis baixos através da in-
subestimada como parasitos tegração de medidas de contro-
do cafeeiro. le. Para tanto, dois elementos
Diversas espécies repre- são essenciais: a observação
sentando vários gêneros de fi- e utilização dos fatores que
tonematóides têm sido encon- limitam o desenvolvimento e
tradas associadas às raízes de reprodução dos fitonematóides
cafeeiros no Brasil, sendo que e a tolerância das plantas a cer-
as espécies dos gêneros Meloi- tos níveis populacionais. Como
dogyne e Pratylenchus são as alimento, a planta é um dos
mais prejudiciais à cafeicultura fatores mais importantes no
do Brasil. Atualmente, as áre- desenvolvimento da população
as mais afetadas pela presen- de um fitonematóide, condi-
ça desses parasitos são as de cionando a ocorrência dessa
solos arenosos e degradados Figura 1. Sintomas da parte aérea em lavoura doença em caráter epidêmico
física, química e biologica- de Icatu Vermelho IAC 4045 instalada em solo infestado por Meloidogyne ou não, em função do nível de
paranaensis. Fazenda Santo Antônio - Herculândia, SP.
mente da cafeicultura paulista resistência apresentado.
Figura 3. Cafeeiros da cultivar Mundo Novo IAC 376-4 Figura 4. Clones de C. canephora resistentes
implantados em solo infestado por Meloidogyne exigua, sob manejo (A) e a Meloidogyne paranaensis, selecionados em condições de campo.
testemunha (B). Fazenda Santo Amaro - São Sebastião do Paraíso, MG. Fazenda Delícia - Cássia dos Coqueiros, SP.
Figura 6. Cafezal
Essa tecnologia vem se mostrando eficiente, adequada e
formado pela cultivar com boa relação custo/benefício, visto que o rendimento propor-
Mundo Novo IAC cionado pelo aumento de produtividade propicia aos cafeiculto-
388-17-1 enxertado res condições financeiras para cobrir o custo envolvido com a
no porta-enxerto
Apoatã IAC 2258 (A) sua adoção (Figuras 5, 6, 7). Desta forma, sendo pouco onerosa,
e de pé-franco (B), segura, não poluente e que pode ser utilizada aliada a diversas
em solo infestado técnicas de manejo de nematóides (Figura 8), essa tecnologia
por Meloidogyne contribui para a sustentabilidade da cultura cafeeira em áreas
incognita, após 21 anos
de campo. Fazenda infestadas por nematóides, ou seja, permite a obtenção de maior
Boaventura - Gália, SP. produtividade a custos menores, tanto do ponto de vista econô-
mico e social como ambiental.
A médio e longo prazos também deverá ser aumentada a
utilização das fontes de resistência detectadas em outras espé-
cies de café, lançando-se mão de hibridações interespecíficas,
seguidas de várias gerações de retrocruzamentos para C. arabi-
ca, acompanhadas de seleções para resistência aos nematóides e
demais caracteres agronômicos de interesse.
As populações derivadas de cruzamentos entre C. arabica
e C. canephora, como Icatu, Sarchimor e outras, vêm sendo in-
tensivamente estudadas em relação à reação ao agente causador
da ferrugem Hemileia vastatrix, tendo sido identificadas muitas
plantas resistentes ao fungo. Paralelamente, tem-se verificado
que essas populações apresentam também plantas resistentes e/
Figura 7. Cafeeiros Icatu Vermelho IAC 4045 enxertados em porta- ou tolerantes a M. exigua, M. incognita e M. paranaensis (Figu-
enxerto selecionado pelo IAC (A) e de pé-franco (B), em solo infestado por ra 9), porém, ainda segregando para a característica. Além disso,
Meloidogyne paranaensis. Fazenda Santo Antônio - Herculândia, SP. foram encontradas algumas seleções de Icatu e Sarchimor com
boas características agronômicas e já homozigotas para resistên-
cia a M. exigua, e apresentando bom potencial para se tornarem
opções de cultivares resistentes para plantio de pé-franco.
Finalmente, deve ser ressaltado que todos os valiosos re-
sultados até o momento alcançados nesta área só foram possí-
veis em decorrência da tradicional e proveitosa parceria entre
a pesquisa e a assistência técnica, tanto oficial como particular,
todas apoiadas pelos cafeicultores. Estes últimos são parceiros
fundamentais, uma vez que colocam à disposição toda a infra-
estrutura que possibilita o desenvolvimento de um trabalho re-
gionalizado e de longo prazo.
Figura 8. Lavoura formada pela cultivar Mundo Novo IAC 388-17-1 Wallace Gonçalves e Maria Bernadete Silvarolla
enxertada em porta-enxertos selecionados pelo IAC e conduzida de forma Instituto Agronômico, Centro de Café “Alcides Carvalho”
integrada a estratégias de manejo tais como rotação e cultura intercalar
com mucuna-preta e matéria orgânica, em área infestada com ( (19) 3241-5188 ramal 366
Meloidogyne paranaensis. Fazenda Santo Antônio - Herculândia, SP. * wallace@iac.sp.gov.br; bernadet@iac.sp.gov.br
Coffea
Julieta
A
Fisiologia e a Genética Vegetal período, ele estabeleceu um centro didá- sistema, o explante poderá apresentar a
contribuem amplamente com a tico de pesquisa em cultura de tecido de regeneração de uma planta semelhante à
Biotecnologia Vegetal, ambas Coffea, o qual vem contribuindo com a planta mãe doadora do explante. O tem-
embasadas em princípios do Desenvolvi- formação e treinamento de pesquisadores po de formação da nova planta depende-
mento Vegetal que se refere às mudanças tanto brasileiros, quanto de outras nacio- rá da espécie, porém, em geral, este será
ocorridas ao longo do ciclo de vida das nalidades. Ressalta-se ainda que, dentre menor que o seu ciclo de vida na nature-
plantas, envolvendo os eventos de divi- as inúmeras contribuições do Dr. Sondhal, za. Nota-se ainda que um único explante
são, expansão e diferenciação celular. está o estabelecimento de um protocolo de de Coffea poderá gerar até dezenas de
Dentre os diferentes métodos aplicados regeneração in vitro de embriões de Coffea embriões. Desta forma, a regeneração de
pela Biotecnologia Vegetal está a Cultura a partir de explante foliar, em meados de uma nova planta a partir de qualquer tipo
de Tecidos Vegetais a qual é amplamente 1970. Esse protocolo é utilizado ampla- de explante deve-se à capacidade de to-
utilizado para a multiplicação de plantas. mente para a multiplicação das diferentes tipotência, isto é, qualquer célula vegetal
No Instituto Agronômico (IAC), o variedades de Coffea, em diversas partes contém toda a informação genética ne-
programa de melhoramento de Coffea do mundo, o qual também tem sido adap- cessária para gerar uma nova planta.
conta com contribuições da Cultura de tado para outras espécies de plantas. Na natureza, o café é propagado via
Tecido desde 1970, as quais, notoriamen- A Cultura de Tecidos ou o cultivo in sementes ou estacas. Quando por semen-
te, devem-se aos estudos e ao dinamismo vitro visa à obtenção de uma nova planta tes, pode ser influenciada pela variação
do pesquisador Dr. Maro Sondhal. Nesse a partir de fragmentos de tecido, ope- genética, taxa lenta de multiplicação e
ração que também é chamada de clona- curto período de viabilidade devido à re-
gem. O princípio básico deste processo é calcitrância das sementes. Por outro lado,
A Cultura de Tecidos ou o isolamento de qualquer parte da planta, a propagação do cafeeiro via estaca garan-
a qual é chamada explante, podendo ser te uniformidade genética, porém este mé-
o cultivo in vitro visa à desde uma célula individual até órgãos todo apresenta taxas baixas de multipli-
como anteras, nucelo, gemas axilares cação e também alguma dificuldade para
obtenção de uma nova planta e ou apicais, fragmentos de hipocótilo, o enraizamento. Portanto, multiplicação
caule, folhas, raízes, órgãos de armaze- via Cultura de Tecido é uma alternativa
a partir de fragmentos de namento e até segmentos de frutos. O ex- viável para estes métodos tradicionais de
tecido, operação que também plante será cultivado sobre um substrato propagação do cafeeiro, permitindo a pro-
gelatinoso contendo nutrientes, deno- dução de plantas geneticamente unifor-
é chamada de clonagem. mindo meio de cultura, e mantido num mes numa escala massiva e num período
frasco fechado de vidro (Figura 1). Nesse de tempo mais curto.
O
emprego de técnicas de esmagamento e corantes con- diplóides de café mantiveram, além do mesmo número cromos-
vencionais em café tem possibilitado a identificação e a sômico, o mesmo padrão de ocorrência e de distribuição da he-
caracterização dos cromossomos mitóticos por meio dos terocromatina visualizada pelas bandas-C. Sabe-se que uma das
dados cario-morfométricos. São eles: valores médios obtidos funções destes segmentos de DNA tão compactados é a proteção
para o comprimento absoluto e relativo de cada cromossomo, ín- da região do centrômero e que genes ou bloco de genes coloca-
dice centromérico, presença, número e extensão de constrições dos perto da heterocromatina por rearranjos estruturais podem
secundárias e satélites, grau de assimetria do cariótipo, compri- tornar-se compactados e não mais transcreverem. Além disso,
mento total do conjunto haplóide de cromossomos do genoma e plantas oriundas de cultura de tecido podem apresentar amplifi-
fórmula cariotípica, que permitem a elaboração de ideogramas cação da heterocromatina em diferentes gradientes, que podem
médios. Com a compilação desses dados, tem-se observado, por ou não afetar a expressão de certos genes, mormente aqueles de
meio de estudos comparativos, que algumas das espécies diplói- interesse em programas de melhoramento.
des de café diferenciam-se entre si (Figura 1), enquanto que ou- Outra região que também se comporta como um interessante
tras não se distinguem, requerendo a aplicação de metodologias marcador natural do cromossomo é a região do organizador nu-
mais acuradas. cleolar (NOR) e seu satélite que podem ser evidenciados primei-
Um detalhamento melhor dos genomas tem sido obtido com ramente por esmagamento e corantes convencionais e também
o emprego de técnicas mais específicas, como a de bandamento- pela impregnação pela prata, um método relativamente simples
C, que permite a diferenciação longitudinal dos cromossomos e pouco oneroso que mostra as regiões onde estão ancorados os
por meio da localização e da visualização seletiva de segmen- genes de rDNA que estiveram ativos na última intérfase. Em
tos heterocromáticos de DNA. Esses segmentos, presentes em café, o que se tem visto nas espécies diplóides é a prevalência de
ambos os homólogos do par de cromossomos, caracterizam-se apenas um par de NOR ativas (Figura 3A), mas espécies como
por se manterem condensados durante todo o ciclo de divisão C. racemosa (Figura 3B) e C. stenophylla, nativas de ambientes
celular, em contraposição aos segmentos eucromáticos que mais secos, apresentam dois pares. Pode ser que este aumento
apresentam um ciclo de condensação-descondensação. Durante no número de NOR esteja relacionado a adaptações das espécies
a metáfase mitótica, esses marcadores cromossômicos naturais, ao ambiente mais seco em que crescem
isto é, os segmentos heterocromáticos, ficam mascarados pelo A aplicação destas metodologias em conjunto pode ser útil
grau máximo de compactação que os cromossomos assumem não apenas na caracterização de espécies, mas também de plan-
nessa fase, tornando-se visíveis apenas após o bandamento-C. tas híbridas obtidas em programas de melhoramento.
Nas espécies diplóides de café tem-se observado a ocorrência
de heterocromatina banda-C exclusivamente na posição peri-
centromérica, isto é, ao redor do centrômero (Figuras 1 e 2). Neiva Isabel Pierozzi
A quantidade expressa em porcentagem em relação ao genoma Instituto Agronômico, Centro de Recursos Genéticos Vegetais,
total pode variar em algumas das espécies, mas a posição tem Laboratório de Citogenética.
sido sempre a mesma. As análises comparativas, ainda que pre- ( (19) 3241-5188 ramal 450
liminares, sugerem que durante o processo evolutivo as espécies * pierozzi@iac.sp.gov.br
hibridação
Cecília in situ fluorescente (FISH)
M
apeamento genômico é termo sítios de corte de enzimas de restrição. deste DNA particular é feita com anticor-
comum usado para determinar Cada cromossomo é isolado e cortado po marcado com um corante fluorescente,
a localização e a ordem de cer- com enzimas de restrição em grandes sendo observável ao microscópio de fluo-
tos genes nos cromossomos ou ainda para segmentos os quais são posteriormente rescência como um sinal fluorescente. Ou
determinar um conjunto de fragmentos subdivididos em segmentos menores. O seja, a técnica de hibridação in situ fluo-
ou seqüências ordenadas de um genoma mapa de cDNA fornece a localização de rescente permite a localização física pre-
particular. genes nos cromossomos através da loca- cisa de genes ou seqüências de DNA di-
Os mapas genômicos são construídos lização das seqüências expressas em re- retamente nos cromossomos presentes nas
em diversas escalas e níveis de resolução lação a um determinado cromossomo ou preparações citológicas. Esta técnica, que
e usualmente são divididos em dois ti- bandas cromossômicas. As seqüências tem como base a propriedade recombinan-
pos gerais, os mapas de ligação genética de cDNA são sintetizadas em laborató- te das cadeias complementares de DNA,
e os mapas físicos. Os mapas de ligação rio usando-se uma molécula de mRNA foi desenvolvida no final da década de 60
genética são representações estatísticas como molde (template). Os mapas contí- e tem propiciado enorme progresso nos es-
dos arranjos das seqüências nos cromos- guos (contig maps) envolvem a segmen- tudos da organização dos genomas. Espe-
somos, enquanto que os mapas físicos tação de um cromossomo em pequenos cialmente a partir dos anos 80 esta técnica
representam a localização física de uma segmentos que são clonados e ordenados de FISH, associada aos rápidos avanços
seqüência em um cromossomo. formando blocos contíguos de DNA. tecnológicos, passou a ser cada vez mais
Os mapas de ligação referem-se às Em um mapa cromossômico, genes, adaptada para a localização e caracteri-
localizações relativas, ao longo dos cro- seqüências ou outros fragmentos de DNA zação de várias classes de seqüências de
mossomos, de marcadores de DNA, ge- identificáveis são visualizados nos seus DNA nos genomas de plantas. Esta técnica
nes ou seqüências conhecidas, baseado respectivos cromossomos. vem sendo intensivamente usada para de-
nos seus padrões de herança. Qualquer Para explorar de maneira comple- terminação rápida da localização de clones
característica fenotípica ou molecular que ta os dados de seqüenciamento de um genômicos ou da distância física entre clo-
difira entre indivíduos e possa ser detec- genoma há necessidade de se efetuar a nes mapeados geneticamente.
tada no laboratório é um marcador gené- integração entre mapas genéticos e ma- Característica dos cromossomos de
tico potencial. Esses marcadores podem pas físicos. Efetuando-se a relação entre plantas, a cromatina condensada torna di-
ser a expressão de segmentos ou regiões o mapa de ligação com o mapa cromos- fícil a localização confiável de seqüências
de DNA (genes) com função codificadora sômico físico e estes com os dados de de cópia única ou pouco repetitivas meno-
desconhecida, porém com um padrão de seqüenciamento, é possível a localização res que 10kb em cromossomos metafási-
herança que pode ser acompanhado. As precisa de genes que condicionam uma cos de plantas. Assim, adicionalmente, à
diferenças entre seqüências de DNA, por característica observável. técnica de FISH, um dos pontos essenciais
exemplo, são marcadores extremamente Genes, seqüências e fragmentos de para o sucesso de mapas baseados em clo-
úteis, pois são abundantes e fáceis de se- DNA podem ser fisicamente associados a nagem de grandes regiões cromossômicas
rem caracterizadas. sinais particulares e identificados através é a disponibilidade de bibliotecas conten-
Os mapas físicos são baseados nas de diversas técnicas. do grandes insertos de DNA genômico os
características químicas da própria mo- As principais técnicas atualmente YACs (yeast artificial chromosomes) e os
lécula de DNA, e incluem os mapas cro- usadas para a integração destes mapas BACs (bacterial artificial chromosomes).
mossômicos ou citogenéticos, mapas de para a clonagem de genes e caracterização O desenvolvimento de bibliotecas
cDNA, mapa de seqüências, mapa de de genomas de plantas são a técnica de- de YACs e BACs forneceu um meio de
“contig” e mapa de macrorestrição; os nominada hibridação in situ fluorescente superar a limitação imposta pela croma-
quais diferem entre si no grau de reso- de ácidos nucléicos (FISH – fluorescente tina condensada, ou seja, cópias pouco
lução. O mapa físico de maior resolução in situ hybridization) e as bibliotecas de repetitivas podem atualmente ser locali-
mostra a seqüência dos pares de bases do BACs (bacterial artificial chromosomes). zadas mais facilmente e diretamente em
DNA de cada cromossomo no genoma A técnica de FISH envolve a marca- cromossomos metafásicos (grau máximo
(mapa de seqüências). Neste mapa é feita ção de nucleotídeos, fragmentos, ou se- de condensação) ou núcleos interfásicos
a determinação completa de uma seqü- qüências, de DNA específico, que é de- (cromatina descondensada). Este fato
ência de DNA, e de todos os seus pares nominado de sonda. Posteriormente, este tem trazido contribuições importantes
de base, para cada cromossomo de um DNA-sonda liga-se à sua cadeia de DNA para a integração de mapas de ligação de
complemento. O mapa de macrorestri- complementar (o DNA denominado alvo) marcadores moleculares com informa-
ção mostra a ordem e a distância entre os em um cromossomo intacto; a localização ções físicas.
D
iante desse panorama, a moderna mento de ESTs de diversos órgãos e teci-
biologia, representada pelas me- dos, tais como folhas, raiz, flores, frutos,
todologias da Biologia Molecular não só em diferentes estádios do desenvol-
e Engenharia Genética, representa a mais vimento, mas também a partir de plantas
promissora arma para o melhoramento, submetidas a diferentes situações de es-
uma vez que barreiras naturais como im- tresses bióticos e abióticos. A escolha dos
Miriam Baião possibilidade de cruzamentos intra-espe- tecidos e tratamentos para análise baseou-
cíficos e baixa variabilidade genética, po- se na identificação dos problemas bioló-
O melhoramento de plantas derão ser superadas através destas técni- gicos limitantes para o desenvolvimento
cas. No entanto, uma das limitações para o cafeicultura, tais como susceptibilidade a
tem como objetivo essencial uso de biotecnologia como ferramenta no pragas e doenças; sensibilidade ao frio e
o desenvolvimento de novas melhoramento genético do café é o quase à seca; maturação não-uniforme dos fru-
total desconhecimento molecular dos ge- tos; composição química de sementes. Um
variedades, cada vez mais nes do cafeeiro. total de 200.000 ESTs foi seqüenciado, e
adaptadas às diversas O crescente desenvolvimento da bio- após análises de bioinformática estas se-
tecnologia permitiu o estabelecimento dos qüências foram agrupadas em aproxima-
demandas do setor agrário. programas Genomas. Estes têm como ob- damente 35.000 genes distintos (Vieira et
Para tal, pesquisadores jetivo essencial decifrar o código genético al., 2006). A expectativa principal era que
dos diferentes organismos vivos. Iniciados genes relacionados com o estabelecimento
buscam constantemente novas pelo Genoma Humano, rapidamente os de características agronômicas desejáveis
ferramentas para obtenção e projetos genomas foram sendo estabeleci- fossem identificados, isto é, tivessem sua
dos, principalmente para espécies de inte- sequência determinada. Uma outra expec-
seleção de novos genótipos. resse agronômico. Dentro deste quadro, o tativa era que fossem identificadas sequ-
Entre as espécies de interesse Genoma Café foi proposto pelo IAC dentro ências diversas destes genes, resultado da
econômico, o café, espécie do Programa AEG (Agriculture and Envi- expressão de diferentes alelos, o que pos-
romment Genomes) da Fapesp, em parceria sibilitará a avaliação da variabilidade ge-
perene e de ciclo de vida com o Consórcio Brasileiro de Pesquisa e notípica disponível. Além disso, espera-se
longo, tem a sua sustentação Desenvolvimento do Café e o Cenargen / que os ESTs sejam mapeados, ou seja, sua
Embrapa. Como vem sendo realizado para posição nos cromossomos e sua ligação
agrícola alicerçada na outras espécies vegetais, foram sequencia- com outros genes em mapas genéticos de-
disponibilidade para plantio dos apenas genes transcritos, os chamados terminadas, visando aumentar a densida-
ESTs (Expressed Sequence Tag) em teci- de de marcadores moleculares acessíveis
de dezenas de variedades dos e órgãos do cafeeiro. Esta estratégia, para seleção. Finalmente, outro ganho ad-
ou cultivares, quase todas apesar de não abranger todo o genoma da vindo do Projeto Genoma Café foi o for-
espécie, permitiu a identificação dos genes talecimento de laboratórios de pesquisa e
resultado do pioneirismo das relacionados com processos biológicos de formação de recursos humanos com com-
pesquisas em genética e interesse, de maneira mais rápida e eficien- petência em biologia molecular, genômi-
te. Assim, por exemplo, genes diretamente ca estrutural e funcional e bioinformática
melhoramento nesta espécie, relacionados com mecanismos de resis- atuantes nas pesquisas com o cafeeiro.
desenvolvidas pelo Instituto tência a pragas poderão ser isolados a par-
Agronômico. Entretanto, tir das seqüências específicas obtidas em Genômica Funcional
plantas resistentes infectadas. A importân- Apesar do enorme salto que o sequen-
avanços atuais nos programas cia da identificação dos genes envolvidos ciamento do genoma café representa para
de melhoramento são com o desenvolvimento de características o desenvolvimento da genética molecular
de interesse agronômico está na possibi- do café, a incorporação destas informa-
limitados especialmente pela lidade da sua utilização como ferramenta ções em programas de melhoramento e se-
variabilidade genética restrita em Programas de Melhoramento. Dessa leção não deverá ocorrer de maneira ime-
forma, estes genes poderão ser utilizados diata. Uma das etapas fundamentais para
e autogamia da espécie tanto como marcadores moleculares du- esta absorção envolve a caracterização da
C. arabica, o que contribui rante o processo de seleção, quanto como variabilidade gênica, modo de expressão,
candidatos para transformação de plantas, função e interação dos genes em mecanis-
para um crescente déficit sempre visando o desenvolvimento de cul- mos biológicos relacionados com o esta-
de produção da cafeicultura tivares com características diferenciadas. belecimento de características agronômi-
O Projeto Genoma-Café, concluído cas. Este conjunto de análises moleculares
frente às demandas atuais. em 2004, teve como objetivo o sequencia- é chamado de Genômica Funcional, uma
68 O Agronômico, Campinas, 59(1), 2007
onde centenas ou milhares de com mecanismos de defesa da plantas em
sequências podem ser avalia- resposta ao ataque de patógenos, e tam-
das de maneira simultânea e bém com genes determinantes do floresci-
quantitativa. Este último méto- mento, desenvolvimento de frutos e com-
A do, apesar de ter custo eleva- posição química de sementes. É impor-
do, representa uma alternativa tante ressaltar que os sucessos alcançados
mais eficiente de análise, pois até o momento se devem principalmente
permite uma avaliação quanti- a uma estreita interação entre a equipe
tativa precisa da expressão de encarregada do melhoramento genético
B genes. Dessa maneira é possí- e a equipe responsável pelos estudos de
vel determinar o padrão de ex- genômica funcional. A seguir é apresen-
pressão temporal e espacial de tado um resumo dos principais resultados
um loco qualquer, e como este de pesquisas obtidos até o momento:
interage com a expressão de
outros locos envolvidos em um Resistência ao bicho-mineiro
mesmo processo metabólico. A fim de caracterizar e identificar
Para uma compreensão genes que levam à resistência ao bicho-
C das possibilidades que podem mineiro em café duas abordagens distin-
Figura 1. Exemplo de amplificação de alelos de ser exploradas a partir das in-
microsatélites SSR 4 (A) e SSR 18
tas estão em andamento. Uma tem como
(B, C) a partir de plantas resistentes (1-11) e suscetíveis
formações geradas pelas aná- objetivo analisar a expressão de genes re-
(12-21; 90-97) ao bicho-mineiro (Pinto et al., 2007) lises funcionais, imaginemos conhecidamente relacionados com meca-
uma situação simplificada a nismos de defesa em plantas. A segunda
partir da análise da expressão busca identificar uma classe específica de
vez que envolve o estabelecimento da fun- de genes durante a maturação do fruto marcadores moleculares, os microssaté-
ção de cada um dos genes identificados. do café. Poderá ser identificado o gene A lites expressos (EST-SSR), associados à
Em um Programa de Genômica Fun- como regulador da expressão do gene B, característica de resistência. Em ambos os
cional, a expressão dos genes de interesse que em conjunto com os genes C e D são casos pretende-se desenvolver ferramen-
é comparada em genótipos que apresentem responsáveis pela síntese de proteínas de tas que auxiliem o processo de seleção.
diferenças fenotípicas para uma determi- reserva. Neste caso, o pesquisador inte- Para análise da expressão de genes,
nada característica. Assim, o papel de um ressado em alterar o teor de proteínas de plantas suscetíveis e resistentes, oriundas
gene no processo de maturação do fruto reservas na semente do café poderá deli- do Programa de Melhoramento, foram
pode, por exemplo, ser determinado através near cruzamentos que possibilitem novas inoculadas com o bicho-mineiro. O RNA
da comparação de sua expressão em frutos combinações entre os genes envolvidos, mensageiro de folhas infestadas e coleta-
em diferentes estádios de desenvolvimento, resultando em alterações nos teores da das ao longo da infestação foi purificado.
ou em frutos de genótipos que apresentam proteína desejada; ou poderá identificar A partir das análises in silico feitas no
alteração no tempo de maturação. polimorfismos destes genes em espécies Banco de Dados do Genoma-Café foram
Os métodos utilizados para avaliar com variação natural nos teores protéicos, identificados sequências similares a genes
essa expressão diferencial são bastante que eventualmente poderão ser transferi- de defesa, permitindo a construção de oli-
sofisticados. De maneira geral, o ponto de dos para outros genótipos. gonucleotídeos genes-específicos para as
partida é sempre o mesmo, isto é, RNA- diferentes famílias gênicas. Assim, estes
mensageiro extraído dos tecidos em es- Pesquisas em andamento oligos foram utilizados para amplificação
tudo. Os genes a serem testados, e cuja O Centro de Café “Alcides Carvalho”
dos genes através de RT-PCR Até o mo-
seqüência foi obtida através do seqüencia- do IAC, em parceria com a Embrapa Café, mento foi avaliada a expressão de mais
mento, são então utilizados como sondas instalou o laboratório de Biologia Molec-
de 30 genes envolvidos na resposta de
em experimentos simples, como RT-PCR ular do Café para o desenvolvimento de
resistência ao bicho-mineiro. Os resulta-
e Northern Blot, onde os genes são ava- pesquisas na área de Genômica Funcional.
dos analisados mostram que alguns deles,
liados individualmente; ou através de aná- Inicialmente, as pesquisas se concentram
como é o caso de genes que codificam
lises de microarrays (“micro arranjos”), na caracterização de genes relacionados
Figura 2. Padrão floral de variedades mutantes de C. arabica - (A) Calycanthema, (B) Maragogipe, (C) Sem perflorens, (D) Fasciata
Estima-se que o café robusta participe com 35% das operações envolvendo
café beneficiado (verde) em âmbito mundial. Calcula-se que a produção nas
diversas regiões cafeicultoras do mundo alcance cerca de 42 milhões de sacas
de café robusta. Os preços do café robusta no mercado internacional apresentam Júlio
pequeno diferencial em relação ao preço composto da OIC (inclusive robusta).
Tomando-se o período 1985 a 1995, o preço do robusta foi inferior em apenas
US$ 14,35 por saca de café beneficiado. Um fato relevante a considerar é que
os mercados da União Européia e asiático apresentam crescimento na demanda
pelo robusta tanto na forma de café verde como também de solúvel. Bernadete
No Brasil, o café robusta é cultivado em maior escala nos da cultura do café e pela existência de infra-estrutura ociosa
Estados do Espírito Santo, Rondônia e Bahia. A produção global para atividade nas cooperativas de produtores dessas regiões.
do país atualmente oscila em torno de 9 a 10 milhões de sacas, No entanto, atualmente a cultura da cana está sendo plantada em
tendo por destinação primordial a indústria do solúvel, a torrefa- várias regiões do Estado de São Paulo e pode ser um obstáculo à
ção e moagem para exportação. É importante ressaltar também implantação da cultura do café robusta em algumas dessas regi-
que a cafeicultura do robusta no Brasil responde por geração de ões. O IAC desenvolve desde 1970 um projeto de genética e me-
renda da ordem de um bilhão de reais, quando contabilizados lhoramento do café robusta, onde foram identificadas cultivares
todos os negócios envolvendo o produto. e plantas matrizes que poderão dar subsídios para a implantação
No Estado de São Paulo, plantios de robusta existem apenas gradual do café robusta no Estado de São Paulo. No entanto,
em condições experimentais. Parcelas com diversas cultivares há necessidade de experimentação regional em vários níveis de
de café robusta foram estabelecidas principalmente nas regiões tecnologia, inclusive com irrigação, uma vez que determinados
da Alta Paulista e Araraquarense há mais de dez anos, com a genótipos de café robusta são tolerantes a temperaturas mais al-
finalidade de avaliar o comportamento e o potencial produtivo tas, porém mais exigentes em água.
desses materiais genéticos. Os resultados obtidos até o presente O café robusta corresponde a denominação genérica da es-
são animadores, e evidenciam a grande rusticidade e produti- pécie Coffea canephora. Esta espécie é originária de regiões
vidade da espécie. Essa constatação mobiliza, crescentemente, tropicais, quentes, úmidas e de baixa altitude da África com
técnicos e produtores para o estabelecimento comercial do ro- temperaturas médias superiores a 23ºC. Representa cerca de 35
busta em São Paulo. Assim, com base nas informações dispo- % do volume mundial produzido, sendo o Vietnã, a Indonésia,
níveis, poder-se-á iniciar o plantio de áreas pilotos no Estado. o Brasil, a Costa do Marfim e Uganda os principais produtores.
Evidentemente, a expansão da atividade No Brasil, o café robusta é cultivado
deverá contar com novas informações principalmente, em regiões aptas para
tecnológicas a serem obtidas com a in- este tipo de cultura, compreendendo os
tensificação das pesquisas cafeeiras diri- Estados do Espírito Santo, Rondônia
gidas para a atividade. e em menor escala no Mato Grosso,
No Estado de São Paulo existem re- Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais
giões que ainda não encontraram alterna- e Acre. Embora não cultivado em São
tivas econômicas em substituição ao café Paulo, existe neste Estado extensa área
arábica, apesar das tentativas realizadas geográfica com aptidão climática para
com algumas culturas. Estima-se, porém, a implantação da cultura.
que caso a cafeicultura seja novamente Diversos são os fatores favoráveis
recomendada para essas regiões, poderá à implantação do café robusta no Es-
ter produtores interessados no cultivo, a tado de São Paulo. Existem condições
julgar pela tradição, ou seja, pela exis- climáticas apropriadas, há tradição e
tência de produtores com conhecimento infra-estrutura para a produção de café
Planta de café Robusta
Thomaziello
cafeicultura brasileira
T
A cafeicultura oda essa gama de conhecimentos foi amplamente
divulgada para os cafeicultores através dos Enge- A seguir algumas das principais ati-
brasileira passou por nheiros agrônomos extensionistas do antigo De- vidades desenvolvidas:
um longo processo partamento da Produção Vegetal, hoje CATI, além de • Seis Cursos de Atualização em Café para técnicos.
de aprimoramento técnicos de Cooperativas e outras entidades ligadas ao • Três Seminários Internacionais de Café.
• Sete Workshops Regionais com técnicos locais,
desde a introdução setor cafeeiro, como as EMATERs nos diversos estados
para capacitação e levantamento de demandas
do café no Estado do cafeeiros e técnicos consultores.
de pesquisa: Votuporanga; Adamantina; Garça;
Pará em 1727. Com isto, consolidou-se no Brasil uma cafeicultura Lins; Mococa; Franca; São João da Boa Vista.
moderna e competitiva. • Quatro Boletins técnicos sobre diversos aspectos
A sua real
Com a constituição do Consórcio Brasileiro de Pes- da cafeicultura.
tecnificação teve os quisas Cafeeiras (CBP&D/Café) a partir de 1998 coorde- • Instalação e condução de campos de cultivares
primeiros passos a nado pela EMBRAPA/Café, todas as instituições do setor de café IAC em diversas regiões cafeeiras como:
partir da criação do passaram a trabalhar dentro do novo sistema, estabele- Franca; Piraju; Garça; São Sebastião da Grama,
Instituto Agronômico cendo projetos prioritários dentro de focos temáticos de entre outras, como base para dias de campo e ou-
de Campinas em relevância. Estabeleceu-se também um amplo Programa tras atividades de Transferência de Tecnologia.
de Difusão e Transferência de Tecnologia encarregado de • Participação nas Campanhas de Qualidade do
1887, com trabalhos
adaptar os novos conhecimentos e difundi-los aos técni- Café de São Paulo promovida pela Câmara Seto-
pioneiros de seu cos e produtores. rial de Café.
primeiro Diretor O IAC através do Centro de Café ‘Alcides Carvalho’ • Agrishow: participação de pesquisadores do Cen-
Franz W. Dafert procurando sempre se modernizar e estar à frente de no- tro de Café no atendimento a técnicos do setor e
sobre adubação do vas iniciativas, num trabalho pioneiro dentro da Institui- cafeicultores
cafeeiro. ção, estabeleceu um Projeto de Difusão e Transferência
• Gessagem em altíssimas dosagens na formação de
de Tecnologia para o Estado de São Paulo buscando in-
A história da lavouras: Que dosagem? Tipos de solos? Vantagens?
clusive uma parceria com a CATI, órgão responsável pela Problemas / Cuidados?
grande contribuição assistência técnica e extensão rural no Estado.
do IAC para o • Fosfitos: Quais? Quando? Para quê? Dosagens? Mis-
Ao longo desses oito anos de existência do projeto, turas com fertilizantes foliares e defensivos?
desenvolvimento uma série de atividades próprias ou em conjunto com a • Aminoácidos: Qual a finalidade? Quando aplicar?
da cafeicultura CATI e outras entidades do setor foram desenvolvidas, Quais as dosagens? Quais aminoácidos?
paulista e brasileira com o IAC buscando sempre o objetivo de capacitar os • Hormônios: semelhantes as indagações sobre amino-
está descrita com técnicos extensionistas a fim de dar suporte as suas ativi- ácidos.
dades junto aos cafeicultores. • Silício: Como corretivo do solo? Controle de doen-
detalhes no final da Vivemos um momento em que a velocidade de in- ças? Quais as dosagens?
revista. formação é alucinante, o mesmo ocorrendo com a busca • Ca e B em pré e pós-florada: já são usados em grande
A Seção de Café por novos conhecimentos. A todo o momento surgem no escala. No entanto, os resultados até então publicados
da Secretaria da mercado produtos “milagrosos”. O número de trabalhos mostram mais evidências de que não funcionam para
Agricultura de publicados em Congressos, Simpósios, Fóruns e outros café. São necessários estudos mais consistentes.
São Paulo, criada eventos, muitos sem base científica correta, na avidez de • Fertirrigação: é uma realidade com o crescimento
se produzir “papers”, é muito grande. das áreas irrigadas. Mas existem ainda muitas dúvi-
em 1927 pelo Dr.
Com isto o técnico extensionista e o produtor ficam das: Número de fertirrigações? Comparação com sis-
Fernando Costa, no meio dessa verdadeira guerra de interesses e informa- tema tradicional de adubação? Tipos de solo onde está
então Secretário da ções contraditórias. em uso? Acidificação do bulbo? Limitação do sistema
Agricultura, também Qual o caminho a seguir? Adotar as “novas tecno- radicular?
prestou relevantes logias” sem base científica sólida e estar na “crista da • Melaço / Acúcar em pulverização: Qual é a finalida-
onda”, ou manter-se fiel aos conceitos estabelecidos e de real? Aumento de produção? Quais as vantagens de
serviços ao longo
oriundos de pesquisas sérias e de longa duração, como é seu uso?
da sua existência Com certeza novos desafios sempre irão surgir.
necessário e esperado para uma cultura permanente como
para a cafeicultura, a do cafeeiro, e que tem proporcionado ótimos níveis de Cabe aos pesquisadores dar a resposta.
com destaques produtividade? O importante para o produtor é fazer a “lição de
para os trabalhos Qual é o custo dessas “novidades”? Quanto efetiva- casa”, usando tecnologias consolidadas e consagradas, o
mente acrescentarão na produtividade? que é suficiente para se obter ótima produtividade.
sobre Qualidade
É evidente que a ciência é dinâmica e deve evoluir A área de Difusão e Transferência de Tecnologia
de Café e as está ávida para saber as respostas.
sempre agregando novos conhecimentos e quebrando pa-
inúmeras campanhas
radigmas.
para Melhoria Algumas dessas “tecnologias” estão presentes e até Roberto Antonio Thomaziello
da Qualidade em uso em larga escala, mas devem ser melhor pesquisa- Instituto Agronômico, Centro de Café “Alcides
desenvolvidas no das, a fim de que técnicos e produtores tenham segurança Carvalho”
final dos anos 20 e ao recomendá-las e/ou adotá-las. Entre essas seguem as ( (19) 3241-5188 ramal 370; 3212-0458
no decorrer de 1930. mais em evidências: * rthom@iac.sp.gov.br