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SOLOS RESIDUAIS –

Prof. WILLY LACERDA – 1995 – MEXICO


PANAMERICANO
e
RESISTÊNCIA AO CISAHAMENTO DE SOLOS
ORIGINADOS DE GRANITOS E GNAISS
Prof. WILLY LACERDA

COC 731 - Resistência ao Cisalhamento dos Solos


PROF. CLAUDIO MAHLER

1
SINOPSE
Solos residuais são aqueles que permanecem no local de decomposição da rocha
que lhes deu origem. Sua ocorrência está relacionada com a velocidade de remoção
do solo que deve ser mais lenta que a decomposição da rocha.
A pesquisa das propriedades de solos residuais iniciou-se no Brasil com o Professor
Milton Vargas em 1953, o que permitiu entre outras obras, a construção de grande
numero de barragens de terra.
As principais propriedades de solos residuais tropicais são obtidas por ensaios de
classificação, compressibilidade e resistência ao cisalhamento e foram tratadas
extensamente em passado recente por Lacerda, Sandroni, , Vargas, Futai, Nogami,
Carvalho dentre outros.
A microestrutura destes solos foi estudada num certo grau por Sandroni, 1977,
Collins, 1985 dentre outros
E taludes coluviais saturados em regiões tropicais foram extensamente estudados
por Lacerda (2004), (2006)...

2
PERFIS DO INTEMPERISMO
Grande parte do território brasileiro é composta de rochas originadas no período
pré-cambriano, em especial granitos e gnaiss. Este escudo de rochas
compreende a parte sul e sudeste, com montanhas até 2000 m de altura onde
boa parte das grandes cidades do país estão situadas. Um fluxo de lava
basáltica ocupa uma parte grande das regiões do Centro Oeste e Sul.
O intemperismo destas rochas é de grande importância, em particular por causa
dos problemas de estabilidade de taludes, considerando que estas rochas estão
sujeitas ao clima tropical, com chuvas atingindo mais de 2000mm por ano.
No slide seguinte apresentamos o mapa geológico do Brasil.

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MAPA GEOLÓGICO DO BRASIL (IBGE)

4
Mapa geológico simplificado (Pires, F.R.M., 1998)

5
COLÚVIO
Solo composto por sedimentos de rochas e minerais, principalmente de quartzo.
Geralmente recobre enormes rochas ou formações argilosas. Conjunto de
sedimentos (popularmente chamado de terra), composto de argila, sílica e grãos de
quartzo que geralmente estão depositados em cima de grandes rochas.
Pode apresentar coloração variada, porém bastante comum a de cor vermelha
(terra vermelha), pouco fértil pela ausência ou pequena quantidade de matéria
orgânica misturada.
Portal GeoRio
"Material transportado de um lugar para outro, principalmente por efeito da
gravidade. O material coluvial só aparece no sopé de vertentes.

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Conceituação dos Solos Encontrados em
Regiões Tropicais (do Portal de Tecnologia)

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8
Corte de 40 m de altura expondo solos lateríticos (vermelhos) e saprolíticos
(amarelo claro) de gnaiss, no Estado do Rio de Janeiro. A rocha intemperizada está
sob o grupo no meio da foto (apud Lacerda). Saprolito corresponde à parte do perfil
de intemperismo que o solo preserva em grande quantidade o ”microfabric” e
volume da rocha mãe (Aydin, 2006, Apud Lacerda).

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Saprólito de Gnaiss, mostrando estruturas planares antigas das
superfícies deslizantes ricas em mica à direita, sombreadas

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Lados franzidos na camada planar de solo
saprolítico rico em mica

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Perfil de solo residual de gnaiss em Ouro
Preto, Minas Gerais, (apud Futai et al, 2004)

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Laterita de Goiás, Brasil (apud Lacerda)
O nome do solo "laterite" foi cunhado por Buchanan (1807) na
India, a partir de uma palavra latina "mais tarde" que significa
tijolo. Os solos sob esta classificação caracterizam-se pela
formação de panelas duras, impenetráveis e muitas vezes
irreversíveis quando secas. Eles são encontrados em
profundidades superficiais, em declive de grau baixo, e são tão
resistentes, que são usados no Brasil como agregado de concreto,
pedra de construção para pavimentos e rip-rap para a proteção de
represas (encostas da ação de ondas de reservatórios). Na foto ao
lado, observe as formas arredondadas dos óxidos envolvendo a
estrutura do grão.
Indice Kr relação sílica para sesquióxidos
Kr<1,33 lateritas verdadeiras
1,33< Kr <2.0 solos lateríiicos
Kr>2.0 solos não lateríticos

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Na maioria dos problemas envolvendo solos residuais o nível freático está a
alguma profundidade e o estudo de solos não saturados é necessário para
compreender o comportamento destes solos. Abaixo uma bibliografia sobre
solos não saturados que usamos no Curso Solos Não Saturados.

• Solos não saturados no contexto geotecnico, Organizadores J.Camapum de


Carvalho e outros, ABMS, 2015.
• Soil Mechanics for Unsaturated Soils, D.G. Fredlund & H. Rahardjo, John Wily and
SOns, 1993
• Environmental Soil Physics, Daniel Hillel, 2003
• Unsaturated Soil Mechanics, Lu, N. & Likos, W.J., 2004
• Modelação das Deformações por colapso devido à ascenção de lençol freático,
Tese doutorado, Roger Augusto Rodrigues, 2007.
• DIENE, A. A.; MAHLER, C. F. . Um instrumento para medida de potencial matricial
nos solos sem ocorrência de cavitação. Revista Brasileira de Ciência do Solo
(Impresso) , v. 31, p. 792, 2007.
• NACINOVIC, M. G. G.; MAHLER, C. F. ; AVELAR, A. DE S. . Soil erosion as a function
of different agricultural land use in Rio de Janeiro. Soil & Tillage Research , v. 144,
p. 164-173, 2014.
• Dinâmica da Água no Solo, Paulo Leonel Libardi, EPUSP. (2005)
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2. CLASSIFICAÇAO E CARACTERIZAÇAO
DE SOLOS RESIDUAIS
2.1. CLASSIFICAÇÃO
NOGAMI ET AL(1985) chamaram a atenção que o termo “solo residual” pode ser
enganoso, desde que é possível ter um perfil de solo “residual” incluindo solos lateriticos
e saprolíticos, que podem ser incluídos nos solos transportados. Por esta razão, Brand
(1985) inclue colúvio e solo residual maduro sob a mesma classificação para finalidades de
engenharia geotécnica. Nogami também chama atenção que o termo “solo residual
jovem” pode envolver dificuldades conceituais, e prefere o uso do termo “solo
saprolítico”. A mais recente proposta de classificação de solos tropicais em termos de
perfil de intemperismo é a de Pastore (1992, 1995) que analisa 17 classificações existentes.
Sua classificação é mostrada na Tabela I (Pastore, 1992), e concorda largamente com de
Mello (1971), Deere & Patton (1971), Vargas (1985) e Wolle (1985).

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Tabela 1. Perfil de intemperismo de acordo com Pastore (1992)
Solos Residuais ou I – Horizonte orgânico
transportados
II – Horizonte solo laterítico

Solo Residual III - Horizonte solo saprolítico

Transição entre Solo e Rocha IV – Horizonte saprolítico

Massa rochosa V – Horizonte rochoso


fortemente intemperizado

VI – Horizonte rochoso
intemperizado
VII - Rocha 16
• O perfil intemperizado em uma região tropical muito
frequentemente mostra uma camada fina ou inexistente do
horizonte V, enquanto em clima temperado esta zona pode
ter uma espessura bastante significativa. Menezes (1993)
estudou um perfil de alteração de gnaiss no Rio de Janeiro.
Ela realizou ensaios de classificação e estudos mineralógicos
de todo o perfil, e mostrou que a porosidade e ensaios de
“slaking” indicam muito bem a transição entre rocha
mediana/altamente intemperizada (V e VI), para rocha
completamente intemperizada (V) e solo residual.

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Figura 1. Típico perfil residual de rocha
metamórfica (apud Sandroni, 1977)

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• Cruz (1993) apresenta um perfil “possível” de
solos residuais que cobre a maioria das situações
encontradas na prática, que podem ser vistas na
figura 2. Do lado direito da figura as
características geotécnicas mais relevantes de
cada camada são descritas, que resumem as
informações existentes de perfis de solos
tropicais.

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Figura 2. Perfil de solo residual típico (apud Cruz, 1993)
Permeabilidade decresce com a
profundidade
Transição gradual laterítica residual Mineralogia variável e grãos
resistentes
Porosidade altamente variável
Componentes de Resistencia ao
Camada Vegetal cisalhamento e rigidez devidas aos
Solo poroso (colúvio) Presença de “pacotes” “conectores” associados com a
do solo e partículas de história de tensões in situ
quartzo com alta
porosidade
História de tensões devida a
Presença de óxidos de intempéries
ferro e alumínio
Estruturas colapsíveis
(quase sempre) Solo saprolítico com pouca Laterização em relação à estrutura
Alta permeabilidade presente
Baixo grau de saturação Transição gradual Partículas de rocha resistente ao
intemperismo na matriz do solo

Linha de pedras (faltando por vezes) Mais finos Permeabilidade crescente com
redução dos finos
Material
Saprolito
Menos finos 20
Rocha intemperizada
2.2. CARACTERIZAÇÃO

• Com a finalidade de caracterizar solos tropicais, os ensaios comuns


de classificação não servem, pois destroem a estrutura do solo.
Vargas (1992) reconhece que embora os ensaios de classificação
comum destroem a estrutura de um solo residual, eles devem ser
realizados , mas deve-se incluir ensaios relativos à estrutura e
outros ensaios adequados com a finalidade que o solo venha a ser
usado. Por exemplo, solos residuais são frequentemente usados em
aterros compactados e, no caso, sua estrutura não é preservada.
• Carvalho et al. (1985) descrevem diversas tentativas de
classificação de solos tropicais. Após listar mais de uma dúzia de
propostas de classificação, eles concluem que “... uma técnica
adequada de medir as propriedades do solo precisa ser definida”.

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• Na opinião do Prof. Willy cada aplicação geotécnica (estabilidade de
taludes naturais, solos compactados, pavimentos, fundações, etc)
deveria recorrer à descrição mais apropriada do solo com a finalidade
em vista, incluindo sua gênese, clima, etc, e ensaios mecânicos, para
ter dados comparáveis com outros solos.
• Algumas tentativas têm sido feitas nos últimos anos com a finalidade
de encontrar métodos simples de caracterizar solos residuais,
empregando ensaios de campo e de laboratório.

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2.2.1. Métodos de Laboratório
• Nogami e Villibor (1981) fizeram uma proposta
interessante para a classificação de solos residuais,
usando ensaios de compactação mecânica (mini-
MCV – moisture condition value) para distinguir
solos com um comportamento laterítico e não
laterítico. Esta proposta começou como uma
resposta aos problemas encontrados em projetos de
pavimentos em regiões tropicais, onde alguns solos
lateríticos, pelo sistema de classificação usual usado
em projeto de rodovias, foram rejeitados como
inaceitáveis, principalmente em terrenos com
características de expansão indesejáveis. 23
• No entanto, eles se comportam extremamente bem em
estradas que não foram “projetadas” de acordo com as
normas então prevalecentes. Figure 3 mostra a classificação
proposta (Nogami et al, 1993) . O coeficiente c’ é obtido do
ensaio de compactação mini MCV, e’ da inclinação da curva
de compactação no lado seco e a perda por imersão da
amostra de solo.
• Também no campo de pesquisa de pavimentos, Medina
(1989) sugeriu o uso do módulo resiliente para diferenciar o
comportamento do solo laterítico de solos saprolíticos.
• O índice vazio natural varia de acordo com o tipo da rocha
mãe e grau de intemperismo. A Tabela II mostra o domínio
dos índices de vazios encontrados por diversos
pesquisadores.
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• Pode ser visto que há um acréscimo no índice de
vazios do solo saprolitico para o colúvio. Entretanto
há instantes onde a camada de colúvio pode exibir
um índice de vazios in situ da mesma ordem que a
camada de solo residual abaixo. Tudo depende da
gênese da camada coluvial. Se o colúvio foi formado
por uma camada de escorregamento transacional ou
rotacional de solo residual, pode preservar as
características do solo residual. Se o colúvio foi
“sedimentado” após completa desestruturação do
solo residual, exibirá certamente grandes índices de
vazios. Poderá então ser colapsível ou não, sob
tensões verticais baixas, dependendo do grau de
laterização.
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Tabela II. Índices de vazios de Solos saproliticos/residuais
não perturbados
Autor/localidade Solo/Tipo de Rocha Índice de Vazios eo

Pinto (1003) Residual, migmatita 0,79 – 1,32


Estado de São Paulo, BR Residual, basalto 1,3 – 1,6
Colúvio 1,0 – 1,76

Clementino e Lacerda,1992 Solo saprolítico, granito 0,35 – 0,65


(Rio de Janeiro, RJ) Sólo Residual, granito 0,75 – 1,0
Colúvio, granito 1,1 – 1,6

Lacerda & Silveira (1992) Residual, granito 1,1 – 1,2


(Rio de Janeiro, RJ) Colúvio, granito 2,1 – 2,5

Futai et al. (2004) Gnaiss lateritico 1,1 – 1,5


Gnaiss saprolítico 0,7 – 1,0

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Figura 3. MCT Classificação segundo Nogami et al (1993)

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• Vaugham et al (1988) sugeriu um método de classificação que utiliza
um aparelho de queda de um cone, ou penetrômetro, (para incluir
partículas de solo grandes) de forma a medir o índice de vazios de um
solo residual quando seu limite de liquidez “modificado” e compara-
lo com o índice de vazios natural e o índice de vazios do ensaio
standard Proctor no teor de umidade ótimo, desde que o limite
plástico é um ensaio impraticável para alguns solos residuais. Isto
envolve então a comparação do índice de vazios não perturbado com
dois índices de vazios standards em uma condição desestruturada. O
método envolve também um ensaio com oedômetro no solo
desestruturado de forma a estabelecer a fronteira entre zonas
estáveis e meta-estáveis, uma ideia também aplicável a argilas
sedimentárias por Burland (1980). Os autores reconhecem que a
desestruturação de um solo residual pode render diversos produtos
dependendo da quantidade de energia usada no processo de
demolição, um ponto que merece pesquisas futuras (Prof. Willy).

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2.2.2. Ensaios de campo
• O Standard Penetration Test (SPT) é o ensaio de campo mais empregado
com solos residuais, que foi objeto de muitos estudos e normalização por
engenheiros brasileiros e americanos. Concorda-se que tem muitas
limitações, mas sua simplicidade, mais o enorme numero de informações
acumuladas desde 1940 sugerem que não deve ser abandonado.
• Para obter mais informação do SPT, Ranzini (1988) propôs que uma medida
adicional seja feita, chamando o modificado de SPTF. Após 30 cm de
penetração da amostra standard, um torque, um giro, deve ser aplicado à
amostra, e seu máximo valor registrado. Isto é uma medida da resistência
cisalhante do solo contra o tubo de ferro cilíndrico, similar a um ensaio
vane. Décourt et al. (1994) fez centenas de determinações deste máximo
torque, T, e chamou o ensaio de SPTT. Baseado nestas observações
encontraram uma correlação razoável entre o parâmetro T/N, onde T é
medido em kgf.m e N é um numero de golpes por 30 cm de penetração, e
tipo de solo. A tabela abaixo dá uma ideia da relação T/N e o tipo de solo.
Solos residuais do estado de São Paulo, Brasil, caem em um domínio muito
estreito, como pode ser visto na Tabela III.
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Tabela III – T/N e tipo de solo (Décourt et al,
1994) TIPO DE SOLO T/N

Solos sedimentares, sedimentos 1.2


cenozoicos da bacia de São Paulo

Solos saprolíticos de São Paulo 2

Argila porosa colapsível e areias 2a5

Argilas marinhas fofas (Santos, 3,5 a 4


São Paulo)

30
2.2.3. Índices mineralógicos
• Muitos autores propuseram índices mineralógicos de forma a classificar
solos residuais. Rocha Filho et al. (1985) reviu muitos índices
mineralógicos tais como Xd, Nq e Nqo (Lumb, 1962), e concluiu que os
índices de intemprerismo mineralógicos, baseados no conteúdo de
minerais referenciais instáveis, podem ser de uso limitado,
principalmente em razão da dificuldade em sua determinação. Os
autores encontraram minerais referencia que devem ser escolhidos
como uma função do tipo de rocha e clima e devem ser usados para
avaliar o grau de decomposição ao longo do mesmo perfil. Eles mostram
que algumas propriedades de engenharia se correlacionam bem com o
“grau de lixiviação”, b, definido como:
• b = ba1 (rocha meteorizada ou alterada)/ba1 (rocha virgem)
• ba1 = (K2O) + Na2O)/Al2O3
• Bernardes et al (1992) mostraram que em um solo residual de gnaiss
leptinito b cresce com a profundidade, de 0,1 a 1, o que reflete uma
gradual degradação da rocha mãe, como pode ser visto na figura 4. Eles
também encontraram que o único parâmetro afetado por b era o
intercepto de coesão efetiva para amostras de cisalhamento direto
inundadas. 31
• Sandroni (1977) estudou solos residuais
gnáissicos e encontrou que a mineralogia da
fração de areia, incluindo as proporções de mica
e feldspato, correlacionam bem com a
resistência do solo, que tende a ser maior na
medida em que o teor de feldspato cresce e a
teor de mica decresce. A Figura 5 mostra como a
mineralogia da fração grossa afeta a resistência
ao cisalhamento do solo gnaíssico saprolítico.

32
Figura 4. Perfil de gnaiss leptinito residual com
variação do índice b com a profundidade (apud
Bernardes et al, 1993)

33
Figura 5. Relação entre a mineralogia e a resistência ao
cisalhamento do solo residual de gnaiss (Apud Sandroni,
1977)

34
PROPRIEDADES DE ENGENHARIA DE SOLOS
RESIDUAIS E SAPROÍTICOS
• 3.1. Procedimentos de amostragem e ensaios
• Perfis de solos residuais mostram um lençol freático profundo sendo portanto não saturados.
• A partir de 1993 a medida da sucção em laboratório e no campo ganhou renovada atenção, em função da
melhoria de medição da sucção em campo e no laboratório e também, considerando que um
crescimento na sucção corresponde a um acréscimo na resistência ao cisalhamento do solo. Técnicas
para a medição de sucção a partir do trabalho de Ridley (1993) desenvolveram-se de forma intensa em
todo o mundo.
• A ligação de grãos minerais em uma estrutura de solo residual sob certas condições é fraca, e pode ser
rompida facilmente. Assim, o processo de amostragem é de máxima importância. Outra dificuldade na
determinação em laboratório dos parâmetros geotécnicos em solos residuais e saprolíticos fica no seu
alto grau de heterogeneidade. Tipicamente em um amostra de bloco variações na textura são
perceptíveis a distâncias de uns pouco centímetros, com uma grande variação no tamanho dos grãos e
índice de vazios. Também a presença de pequenos núcleos de pedras pode mascarar a resposta tensão-
deformação em uma amostra de pequenas dimensões, fazendo necessário recorrer a amostras de
grandes dimensões. Além disso, operações de amostragem podem alterar significativamente a estrutura
de um solo residual, especialmente solos saprolíticos, como observado por Sandroni (1985, 1991) e
Massey et al (1989). Razões para isso parecem ser expansão e reacomodação durante a amostragem e
preparação de amostras das partículas de feldspato e mica. De acordo com Sandroni (1985) esta
expansão não é comparável com o que acontece com uma argila mole durante a amostragem, para a qual
“... interrompe e desloca o arranjo espacial complexo dos grãos causando um amolecimento irreversível
da estrutura do solo”.
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• Bressani e Vaughan (1989) também encontraram
que a resistência de solos resíduais com fracas
ligações é fortemente influenciada por processos de
ensaio, especialmente em técnicas de saturação,
caminhos de tensão e não uniformidade de
carregamento. Por exemplo, em um estudo feito
pelo Geotechnical Control Office of Hong Kong
(1982) ensaios triaxiais não drenados consolidados
saturados deram resistências mais baixas, com o
máximo valor de c’=9kPa e um ângulo de atrito
efetivo de 42o. Ensaios drenados consolidados
isotropicamente deram c’=16kPa, e ensaios nos
quais a ruptura foi alcançada pelo acréscimo na
poropressão, com a tensão deviatórica mantida
constante, deram c’=33 kPa.
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Solos colapsíveis
• Solos que sofrem significativa redução de volume quando
umedecidos, com ou sem aplicação de carga adicional.
• Apresentam:
• Estrutura macroporosa: fofa;
• Baixo grau de saturação: não saturados;
• Partículas maiores mantidas por cimentação ou por tensão capilar;
• Dependendo da época de análise podiam enganar o especialista
(casos de acidentes em torres de linha de transmissão)

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Solos transportados e sedimentares/solos
residuais
• Têm uma estrutura onde os diferentes tamanhos de grãos são
classificados durante o processo de deposição, o que é suficiente para
sua caracterização.
• Nos solos residuais as informações de mineralogia e tamanho dos
grãos não é suficiente. O solo residual tem uma estrutura herdada da
rocha mãe, e também uma estrutura construída por processos
pedogenéticos.

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• Os solos saprolíticos são derivados de saprolites, um estado avançado
de rochas meteorizadas. Como sofre mais intemperismo seu
conteúdo de argila aumenta, ea exposição a lixiviação mais oxidação
de íons de ferro e alumínio é transformada em solos lateríticos. Um
estado avançado de solos lateríticos é laterite. Os solos lateríticos são
resistentes à erosão, enquanto que os solos saprolíticos não o são.
Em suma: os solos saprolíticos estão na transição de rochas
meteorizadas para rochas completamente degradadas, e sua fração
de argila é pequena, normalmente, menor que 10%. Os solos
lateríticos têm uma fração de argila maior, até 60%, mas esta fração
de argila é agregada com óxidos, formando ligações com os maiores
tamanhos de grãos.
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• Os solos lateríticos e saprolíticos mostram a presença de macro e
microporos cujo tamanho e distribuição podem ser investigados por
meio da técnica de intrusão de mercúrio. Futai et al (2004) realizaram
esses testes em dois solos tropicais, cujo perfil e caracterização
podem ser vistos na figura anterior. A distribuição do tamanho do
poro foi investigada por microscopia eletrônica de varredura (SEM) e
porosimetria por intrusão de mercúrio (MIP). Estes estudos foram
realizados em amostras secas ao forno. Estudos SEM para os solos de
1 m de profundidade e 5 m de profundidade são mostrados na figura
a seguir. As partículas do solo de 1 m de profundidade parecem estar
agregadas e grandes poros podem ser observados, embora os
minerais de argila não sejam claramente observados. O SEM para o
solo de 5 m de profundidade apresentou vazios e grandes placas
paralelas de caulim.

40
Microscopia eletrônica de varredura do solo laterítico (1 m de
profundidade) e saprolítico (5m de profundidade) em Ouro
Preto (Futai et al, 2004)

41
PORE SIZE DISTRIBUTION

42
CURVA CARACTERISTICA

43
IDENTIFICAÇÃO DE SOLOS LATERITICOS
• Para se ter uma avaliação rápida se um solo é laterítico ou não a
técnica de imersão (teste de escorrimento ou demoronamento) pode
ser usado. Os solos lateríticos permanecem intactos até 24 horas
após a imersão, devido à sua verdadeira coesão efetiva, enquanto os
solos saprolíticos desmoronam rapidamente. Naturalmente, os solos
no estado inicial de laterização podem também desmoronar, mas não
tão completamente e tão rapidamente um solo saprolítico. Portanto,
este teste não é à prova de falhas, e a determinação do índice kr é
necessária.

44
• Outra maneira de distinguir estes solos é por meio do texto SCS duplo
hidrômetro (Decker & Dunningan, 1976). O Teste de Conservação do
Solo foi inicialmente destinado a identificar solos dispersivos, mas
pode ser utilizado para distinguir solos com comportamento laterítico
e não laterítico. O teor de argila de um solo laterítico determinado
por uma análise granulométrica sem qualquer agente dispersante e
baixa ação mecânica é praticamente zero, porque os agregados não
são destruídos. Se a análise é feita com agitação mecânica e agente
dispersante, as partículas de argila são afrouxadas dos agregados e os
conteúdos de argila tão elevados como 60 por cento (ou mais) são
medidos.

45
Distribuição Granulométrica

46
Figura 6. Estados de relação tensão índice de
vazios de solo residual intacto e desestruturado

47
3.2. Compressibilidade
3.2.1. Laboratório
• Embora solos residuais exibam uma “virtual pressão de préconsolidação” (Vargas, 1953)
este valor não é relacionado com a pressão de sobrecarga ou de pré adensamento. O
intemperismo da rocha original altera quimicamente os grãos originais e a lixiviação
remove alguns dos produtos da alteração, deixando um solo poroso (índices de vazios
maiores do que 1.6) em lugar de uma rocha com uma porosidade de menos de 2%. As
pontes de grãos mais fortes em contato carregam a maioria de pressão de sobrecarga
(de Mello, 1972).

• A forma da curva de consolidação depende da estrutura do solo residual. Se o solo é
completamente de-sestruturado (por remoldagem severa) e re-consolidação de um
maior teor de umidade (mais do que 1.2 vezes o limite de liquidez) e consolidação do
solo não perturbado ficará acima da curva de re-sedimentação. Figura 6 mostra o estado
de tensão x índice de vazios de um solo residual relacionado com os possíveis estados
para um solo desestruturado. Este fato é enfatizado por Vaughan (1988, 1992) e Lerouiel
(1992) e é uma medida da estrutura do solo. Figura 7 mostra duas curvas obtidas por
Avelar (1995) para um solo residual granítico e seu sobreposto colúvio no Rio de Janeiro.

48
Figura 7. Compressão oedométrica de solo
residual de granito estruturado e desestruturado e
colúvio

49
• Sowers (1963) chamou atenção para o fato que o
coeficiente de compressão Ccs correlaciona bem com o
índice de vazios inicial. Figura 8 ilustra correlações com
solos residuais típicos. A faixa proposta por Sowers
praticamente engloba a maioria dos dados. A largura da
faixa precisa estar ligada com a variabilidade da
composição do solo e grau de perturbação das amostras.

• Deve se notar que Cc (realmente, Ccs mostrado na Figura 7)
depende da perturbação da amostra e portanto pode não
representar a compressibilidade verdadeira, embora possa
se relacionar bem com o índice de vazios inicial.
50
Figura 8. Índice de Vazios in situ e Coeficiente de
Compressão Oedométrico Ccs (Lacerda, 1985)

51
3.2.2. Ensaios de Campo
3.2.2.1. Ensaios de carga em placas
• O ensaio de campo mais comum é o ensaio de carga em placas na superfície ou na parte inferior de
poços, ensaios de carga grandes, e placas helicoidais e placas sem furo na parte inferior de
perfurações de pequeno diâmetro. Também é comum obter módulos “elásticos” de observações de
recalques em retro-análises. Lacerda et al (1985) revisou muitas destas contribuições. Em geral os
módulos do campo são duas ou três vezes maiores do que os valores do laboratório (Sandroni,
1991), o que significa que o recalque previsto usando parâmetros de compressão determinados em
laboratório são muito maiores do que aqueles efetivamente observado em campo. Assim, ensaios in
situ com a menor perturbação da estrutura do solo é melhor para a finalidade de obter módulos de
compressão do solo. Isto implica em usar avanço “seco” para perfurações de SPT quando acima do
nível do lençol freático. A figura 9 (Sandroni, 1991) mostra correlações de SPT e modulo de Young
calculado por retro análise de observações de campo do comportamento de fundações rasas. A
curva média relacionando ambos os parâmetros é
• E= (0,6+/-0,2)N1.4 (Mpa) (Sandroni, 1991)
• Estudos recentes reportados por Schnaid et al (1995) mostram resultados de um modulo E inicial de
ensaios de carga de placa de até um metro de diâmetro em solo laterítico (N=5) que concordam
bem com a curva média acima.
• Broms et al (1988) apresentam a seguinte relação, para o granito decomposto de Hong Kong:
• E=1.2 N (Mpa) (Broms et al, 1988) 52
Figura 9. Correlações de N (SPT) com modulo de Young de
retroanalises de observações de recalques de campo com
carregamento vertical superficial

53
3.2.2.2. Ensaios com Pressiômetro
• Ensaios de carga em placas sofrem pelas limitações de profundidade
influenciadas pelo diâmetro da placa. Ensaios com pressiometro tem a
vantagem de ter interpretação teórica razoavelmente simples e, acima de
tudo, de testar um perfil do solo a qualquer desejada profundidade.
Estudos por Brandt (1978), Sandroni e Brandt (1983), e Mántaras et al
(1995 em trabalho apresentado nesta conferencia) indicam que isto é um
ensaio muito poderoso para o estudo de solos saprolíticos e residuais, e
que seu uso deve ser encorajado. Figura 10 mostra modulo pressiométrico
como uma função do índice de vazios in situ para um solo de gnaiss jovem
do Rio de Janeiro (Sandroni & Brandt, 1983).
• A escavação necessária para a introdução do corpo do pressiômetro
perturba o estado de tensão do solo e há expansão do solo na direção do
espaço vazio do buraco. Para evitar este problema pressiômetros com
autoescavação (CAMKOMETER por exemplo) foram desenvolvidos, mas
exigem tanto conhecimento, especialização o que tem inibido seu uso.
54
Figura 10. Modulo Pressiométrico E vs índice de
vazios em um solo residual de gnaiss jovem
(Sandroni e Brandt, 1983)

55
3.2.2.3. Ensaios dinâmicos

• A redução do módulo do campo para os ensaios de laboratório foram


confirmados em ensaios dinâmicos. Giacheti (1995) realizou o
método sísmico de cross hole para determinar o modulo cisalhante
Go em três diferentes locais no Estado de São Paulo, e comparou estes
resultados com aqueles obtidos no laboratório por meio de ensaios
com coluna ressonante em amostras cortadas de blocos de
amostragem nas mesmas profundidades dos ensaios de campo.
Módulos do campo foram de 18 a 100 % maiores do que aqueles
medidos no laboratório.

56
3.2.2.4. Ensaios de penetração do cone (CPT)

• O CPT é um bom teste para identificação em um


perfil de solo residual. Schnaid et al. (1995)
reportou boa repetitibilidade em um perfil de
solo residual. Entretanto, seu uso não é comum
no Brasil, embora correlações entre
propriedades do solo e CPT tenham sido usadas
em projetos de fundações no Brasil (Danziger e
Velloso, 1986).
57
3.2.3.5. Ensaios de Dilatometro (DMT)

• Bogossian et al. (1989) usou o dilatometro plano


de Marchetti em dois locais de solos residuais no
Brasil, e relatou que embora este é
potencialmente um bom método para
investigação de solos residuais, mais experiência
será necessária antes de alcançar correlações
aceitáveis com parâmetros convencionais de
solos residuais
58
3.3. Resistência ao Cisalhamento
3.3.1. Resistência ao Cisalhamento de Solos Residuais
• Figura 11, de Vaughan (1992) mostra como a envoltória de resistência de Mohr Coulomb de um
solos residual se desenvolve gradualmente da rocha original devido ao intemperismo. Os
processos de intemperismo são irreversíveis, e solos transportados podem ser litificados (por
exemplo no processo de laterização). Ligação em solos residuais desaparecem lentamente com
crescimento da deformação e é afetada pela amostragem.
• Solos residuais in situ permanecem a maioria do tempo em condições não saturadas, e seu
comportamento é afetado pelas poro pressão do ar (ua) e da água (uw) . Como é bem conhecido,
Bishop (1959) escreveu a seguinte equação para a resistência ao cisalhamento em termos de
tensões efetivas:

• t = c’+ [(s-ua)+c(ua-uw)]tanf’ (4)

• O parâmetro c da equação de Bishop varia com o grau de saturação e é praticamente igual a 1
para graus de saturação (S) acima de 95% e 0 para um solo perfeitamente seco. Esta equação
requer a medição de ua e de uw e o conhecimento da variação de c com S. Isto não é prático em
muitas situações , uma vez que a função de c com S não é única.
59
Figura 11. Efeitos do intemperismo na resistência ao
cisalhamento de rochas e solos (apud Vaughan, 1992)

60
• Fredlund et al (1979) expressou a resistência ao cisalhamento de solos não saturados como:
• t = c’+ (ua-uw) tanfb + (s-ua) tanf’ (5)
• A sucção matricial do solo pode ser medida por diversos procedimentos, e fb foi pensado como primeiro ser
uma constante para um dado solo. Ensaios realizados por Escario & Jucá (1989) para pressões confinantes
mais altas do que o usual mostraram claramente que isto não seria assim e que como a sucção cresce
devido à redução no grau de saturação fb, o mesmo também decresce se aproxima de zero. Gan e
Fredlund (1995) encontraram uma curva mais pronunciada ainda para um solo saprolítico (tufo de cinza fina
decomposta). De Campos e Carrillo (1995) e Rohm e Villar (1995) relataram comportamento similar para um
solos residual gnaiss biotita e solo coluvial do Rio de Janeiro e um solo arenoso laterizado não perturbado de
São Paulo. As figuras 12 e 13 ilustram a curvatura da relação entre resistência ao cisalhamento e sucção. Jucá
e Escario (op. Cit.) sugerem o uso de um elipse que intercepta o eixo vertical da resistência ao cisalhamento
com uma inclinação fb para representar a relação t vs (ua-uw) relação a uma dada tensão normal “liquida”
total (s-ua) .
• Pode-se mostrar (ver Fredlund e Rahardjo, 1993) que
• fb = c tanf’ (6)
• que concorda com a proposta de Jucá e Escario para c , e é igual a 1 quando a sucção matricial é igual a
zero.

61
Figura 12. Variação da resistência ao cisalhamento com
a sucção em ensaios de cisalhamento direto (Escario e
Jucá, 1989).

62
Figura 13. Ensaios de cisalhamento direto multi estágio
orientado em solo de gnais (Costa Filho e de Campos,
1991)

63
• Uma equação mais simples foi apresentada por Oberg e Sallfors
(1995) para a condição de ar à pressão atmosférica ( ua=0) e Sr (grau
de saturação) maior do que 50%:

• t = c’+ (s-Sruw) tanf’ (7)

• A poropressão de água deve ser medida diretamente no campo. Os
autores fixam que esta equação é mais aplicável para propostas de
engenharia, por sua simplicidade. Entretanto, mais pesquisa é
necessária visando checar sua validade para um extensão maior de
solos.
• A Tabela IV mostra os dados de resistência de ensaios de
cisalhamento de solos saprolíticos de rochas metamórficas do Brasil.

64
Tabela IV. Parâmetros de Resistencia ao
Cisalhamento de solos saprolíticos de rochas
metamórficas (Costa Filho e De Campos, 1991)
Rocha mãe Macro Resistência de ensaios Condição de Referencia
estrutura De cisalhamento umidade (água)
direto

Paralelo Perpendicular

Quartzo Laminado c’=20kPa c’=50kPa Parcialmente Sandroni


Ferrítico (areia siltosa) f’=37o f’=44o saturado (1985)

Quartzo Xistose(areia c’=40kPa c’=45kPa Parcialmente Sandroni


Micáceo silte) f’=22o f’=27o saturado (1985)

Gnaiss Faixas (bandas c’=40kPa c’=52kPa Parcialmente De Campos


Migmatito ricas em mica) f’=20o f’=23o saturado (1974)
c’=30kPa c’=49kPa Submerso
f’=21o f’=22o

65
Tabela V. Resistência e dados de classificação de solos residuais do Estado de São Paulo (Pinto, 1993)

Tipo e wL IP % argila c’(kPa) f’(o) f’(o)(c’=0


)
Arenito 0.56 23 8 15 5 31 31,3
Bauru
Arenito 0.47 23 5 13 8 36 37,1
Caiuá
Argilito- 0.80 41 16 31 43 30 33
Siltito
Basalto 1.54 68 31 48 19 29 30.4

Colúvio 1.46 43 16 51 7 30 30.5

Filita 0.94 69 35 60 46 27 30.4

Gnaiss 1.05 36 11 19 14 30.5 31.5

Granito 1.18 53 20 31 10 31 31.7

Metabasi 1.49 67 32 50 22 26 27.5


ta
Micaxisto 0.98 51 24 15 20 30.5 31.9

Migmatit 1.00 42 16 19 26 29 30.9


a
Migmatit 1.20 48 18 23 18 28.5 29.8
a
Migmatit 0.77 34 12 15 32 30 32.2
a
Pegmatit 1.05 NP NP 14 5 33 33.3 66
a
• A tabela 6 mostra resultados de ensaios de cisalhamento direto e
triaxiais em solo granítico.

• Pode ser visto que o ângulo de atrito efetivo tem uma faixa
relativamente estreita (27 a 31 graus) tanto para o colúvio como para
o solo residual. O intercepto de coesão a baixas tensões é maior para
o solo residual. Apesar do índice vazios elevado do colúvio e uma alta
compressibilidade nos ensaios oedométricos não mostra qualquer
colapso no senso usual. Esses solos têm uma leve cimentação , e
pontos de cedência bem definidos, como será visto mais adiante.

67
Tabela VI. Resistencia do solo granítico (Lacerda e Silveira, 1992)
Tipo de Solo e wL Ip % de argila c’(kPa) f’(o) Teor de
mica (%)
Solo residual, 1.15+/- 38 8 5 23
granito, ensaios de 0.05
cisalhamento
direto com sn até
600 kPa
a) Teor de umidade natural 35 26,7

a) Condição residual 27 27.5

Ensaios triaxiais
CIU com s’c até
600 kPa
a) Saturado 9 30

a) Condição residual 0 14

Solo coluvio, 2.3+/-0.2 9 5


granito ensaios de
cisalhamento
direto com sn até
600 kPa
a) Teor de umidade 9 31
natural
b) saturado 12 31.5

Ensaios triaxiais 10 30.8


CIU com s’c até
600 kPa
68
• A resistência ao cisalhamento de solos tropicais é
influenciada pela mineralogia no caso de solos saprolíticos
de gnaiss conforme estudado por Sandroni (1977, 19910,
Maccarini (1988) e Masey et al. (1989). A envoltória de Mohr
da resistência ao cisalhamento é em geral curva, conforme
figura do slide a seguir, sendo a curvatura devida aos efeitos
estruturais. Gan e Fredlund (1995) no slide seguinte também
encontraram ima parte curva inicial na envoltória de Mohr
para dois solos saprolíticos de Hong Kong.
• Vale lembrar, que a sucção tem grande influencia na
envoltória de Mohr, subindo a envoltória. Ou seja, seu efeito
é no intercepto de coesão, tendo pouca influência no ângulo
de atrito efetivo.
69
Envoltória de Mohr de um solo residual de gnaiss em ensaios
de cisalhamento direto saturado (Rodriguez, 2005)

70
Envoltoria de ruptura de Mohr Coulomb bi-segmentoe
envoltoria de resistência remodelado para ensaios traixiais
saturados em tufo de cinza fino (Gan & Fredlund, 1996)

71
A EXISTENCIA DE COESÃO VERDADEIRA
• A coesão existe nas rochas e se perde durante o intemperismo.
Coesão efetiva nos solos é usualmente igual a zero. Entretanto solos
ditos coesivos e cimentados saturados podem apresentar uma coesão
efetiva. Os óxidos de solos lateríticos constituem uma cimentação
fraca, e verdadeira coesão, embora pequena, existe. A coesão não é
perdida em um estado saturado. Solos saprolíticos saturados não
mostram esta coesão efetiva , enquanto solos lateríticos saturados
sim. Entretanto, a determinação desta verdadeira coesão se coloca
como um desafio nos ensaios de laboratório. Ensaios triaxiais usuais
exigem que a tensão principal mínima seja maior do que zero, ou
igual a zero, no caso de compressão confinada. Mas a determinação
desta coesão é difícil, mesmo usando ensaios de cisalhamento direto,
devido à baixa pressão confinante envolvida. 72
• Bishop e Garga (1969) usaram um ensaio triaxial com uma area
reduzida no centro da amostra, mas os procedimentos para este
ensaio são difíceis. Usando esta técnica, Meyer et al (1999)
determinou a coesão verdadeira de argila Waitemata, um solo
residual não perturbado de Auckland, Nova Zelânia. Foi medido um
intercepto de coesão de 13,7 kPa.
• Um caminho simples de superar estas dificuldades é através do
”ensaio Brasileiro” como proposto por Lacerda e Rodriguez.
• O ensaio é muito usado na mecânica das rochas para a determinação
da resistência à tração das rochas. O ensaio brasileiro foi
desenvolvido para medir resistência à tração de cilindros de concreto.
• Foi adaptado para ensaiar discos de amostras cilíndricas cortados de
amostras de solos lateríticos (Rodriguez, 2005).
• A figura do slide seguinte mostra a montagem experimental,
adaptada do laboratório de mecânica das rochas e a próxima as
plataformas de carregamento.
73
Equipamento experimental para os ensaios
Brasileiros (à esquerda, sem submersão e à direita
submerso)

74
Plataformas de Carrregamento

75
• As amostras de solo foram discos cortados de amostras de bloco com
diâmetro (D) de 54 mm., espessura (t) de 27 mm (D/2). Cargas e
deslocamentos verticais foram medidos por meio de uma célula de
carga e um transdutor de deslocamento. A velocidade do movimento
axial da estrutura do carregamento foi 0,054 mm/min, a mesma
usada em ensaios de cisalhamento direto no mesmo tipo de solo. O
lençol freático estava bem profundo, e não pode ser amostrado;
portanto as amostras foram imersas em água destilada por 24 horas,
e ensaiadas sob água. Este processo visou permitir que todas as
tensões capilares se dissipassem. Naturalmente, haveria uma
diferença na coesão obtida se a água subterrânea natural fosse usada,
devido aos íons dissolvidos. Contudo o objetivo foi verificar a
existência de coesão verdadeira. A carga na qual a primeira fissura
ocorreu foi identificada como um pico na curva carga versus
deformação.
76
• A resistência à tração foi calculada por meio da equação:
• st = 2P/(pDt) onde P (força máxima), D diâmetro e t espessura (em
cms).
• Envoltória curva para solos que não apresentam coesão são da forma
• y=axn.

• Para solos com coesão verdadeira a equação proposta por Baker


(2004) é
• t = 100 A[(s+t)/100]n
• onde t é o intercepto de tensão no eixo t, em kPa, s tensão normal
em kPa, t tensão cisalhante em kPa e A, n – parâmetros
adimensionais.
• Esta equação obedece às condições de Mohr se A>0,1 e 0,5<=n<=1,0

77
Envoltória de Mohr para um solo lateritico
com coesão verdadeira (Rodriguez, 2005)

78
Envoltória de Mohr de um solo saprolitico sem
coesão verdadeira (ensaios de cisalhamento
direto, saturado) (Rodriguez, 2005)

79
• As envoltórias com coesão mostram uma
similaridade com as envoltórias de Mohr
Coulomb para rochas, mas a similaridade cessa
aí. Das rochas para solos saproliticos, a coesão
cai para zero. Num estagio posterior, devido a
processos pedogenéticos, solos saprolíticos
tornam-se em solos lateríticos, e ganha-se
coesão através da cimentação.

80
INFLUENCIA DAS ENVOLTÓRIAS DE MOHR CURVAS
NA ESTABILIDADE DE TALUDES LATERÍTICOS RASOS
• Em regiões graníticas-gnáissicas do sul do Brasil, são comuns os
taludes íngremes (ângulos maiores que 30 graus). A rocha é coberta
por um manto raso de solo residual. (1 a 4m de espessura). Durante
chuvas intensas o nível freático pode atingir profundidades próximas
à superfície, e como o ângulo de atrito usual desses solos é
tipicamente na faixa de 30 a 40 graus, o talude pode romper. Assim, a
existência de uma verdadeira coesão é crucial no desenvolvimento
destes escorregamentos, que são do tipo chamado ”talude infinito",
que aparecem como cicatrizes nos lados da montanha vista de longe.
Vide figura no slide seguinte.

81
Escorregamento na Rua Capuri, São Conrado, 1996

82

103
• Devido às envoltórias curvas de Mohr, a envoltória linear usualmente
usada no programa de análise de estabilidade padrão varia
dependendo da profundidade do perfil do solo (claro que isso não
acontece se o programa de computador permitir uma envoltória de
resistência curva). O próximo slide mostra três envoltórias de Mohr.
Uma curva, passando pela origem (linha de coesão efetiva zero A,
uma curva, com tensão de tração considerada, linha B) e uma linear,
com base nos resultados do teste de cisalhamento direto em
amostras submersas carregadas com tensões normais acima de 10
kPa, Linha C).

83
• Se extrapolarmos linearmente o ponto de dados obtido na faixa de
tensão acima de 20 kPa, o intercepto de coesão efetiva será de 28 kPa
e o ângulo de atrito efetivo de 29 graus. Se uma análise é feita usando
o método do talude infinito com esta envoltória para taludes muito
rasos, com o nível freático na superfície e fluxo paralelo à inclinação,
atingindo tipicamente menos de 3 metros de profundidade, o
resultado poderia render um Fator de Segurança da ordem de 1,50
para um ângulo de inclinação natural de 40o. No entanto, a envoltória
curva cai drasticamente abaixo de 20 kPa, e se a espessura do solo é
pequena, uma envoltória para a faixa até 30 kPa em tensão vertical
daria, neste caso, um intercepto de coesão de 10 e um ângulo de
atrito efetivo de 53º e um Fator de Segurança da ordem de 1,10 seria
obtido. Por isso, recomenda-se a utilização de uma envoltória de
Mohr curva na análise de escorregamentos superficiais ou rasos.

84
Envoltorias de Mohr, A,B,C – talude infinito

85
Ângulo de atrito residual
• O movimento ao longo de uma superfície de cisalhamento de um
deslizamento de terra geralmente é capaz de reduzir a resistência ao
cisalhamento do solo para sua condição residual. Lerouiel et al.
(1996) chamaram a atenção de que após uma primeira ruptura,
quando a força máxima (ou pico de resistência) é atingida, a
reativação de um deslizamento de terra pode ocorrer, se a força
residual for mobilizada. Fonseca (2006) analisou dois desses
deslizamentos em um solo tropical residual no sul do Brasil e mostrou
que isso explica o mecanismo de ruptura observado no campo.

86
• Muitos autores têm contribuído de forma importante para o estudo da
resistência residual nas últimas décadas (Vaughan, 1988, Lupini et al, 1981,
Fonseca e Lacerda, 2003, Rigo et al., 2008). Inicialmente foram estudadas argilas
sedimentares, e Lupini et al., (1981) sugeriram uma faixa que as argilas seguiriam
quando se traça um gráfico com o ângulo de atrito residual contra o teor de argila
do solo. Quanto maior o teor de argila, menor o ângulo de atrito. No entanto,
uma quantidade significativa de dados foi coletada e Fonseca & Lacerda (2006) e
Rigo et al., (2006) mostraram conclusivamente que os solos lateríticos se
comportam como um solo granular e seu ângulo de atrito residual é
independente do teor de argila (determinado nos ensaios habituais de
granulometria usando agente dispersante). Os solos saprolíticos têm uma
tendência semelhante à observada por Lupini et al. (1981), mas quando o
conteúdo de mica da fração de silte é relevante, o conteúdo residual de atrito cai
bem abaixo da faixa da proposta de Lupini et al - Skempton. Isso pode ser visto na
próxima figura (Fonseca e Lacerda, 2003).

87
Angulos de atrito residual de laterítica e saprolítico
(micáceo) de solo de gnaiss (Fonseca e Lacerda,
2003)

88
3.3.2. Anisotropia
• Rochas metamórficas são usualmente, laminadas, com faixas de diferentes
concentrações de minerais. É natural esperar comportamento anisotrópico
de solos residuais originado de tais rochas, mas isto não é sempre o caso.
Costa Filho e De Campos (1991) apresentam dados de diversos solos, e
mostram que alguns solos não exibem uma marcante anisotropia. A Tabela
VII lista alguns valores típicos de solos saprolíticos de rochas metamórficas,
e a Figura 13 mostra envoltórias Mohr-Coulomb para o solo que eles
estudaram.
• Bernardes et al. (1992) encontraram que o solo residual para um gnaiss de
leptinite não mostrou anisotropia com respeito a f’ , que foi igual a 35o+/-
1o ao longo de toda profundidade de 15 m enquanto c’ foi zero para
amostras de cisalhamento direto inundadas, cortadas paralelas à foliação ,
e até 15kPa para amostras cortadas perpendicularmente à foliação. O
parâmetro c (coesão total para solos não saturados para o teor de umidade
in situ (grau de saturação entre 20 e 30 %) cresceu levemente, de
aproximadamente 20 a 25 kPa para as direções paralela e perpendicular à
xistosidade.

89
• Onitsuka et al. (1983) encontrou resistências maiores para amostras
encharcadas cortadas verticalmente (V) do que horizontalmente (H)
no granito decomposto de Kyushu, Japão, com as seguintes
características: wL = 48%, IP=17%, eo = 0.75, 6% de argila. Ensaios de
cisalhamento direto drenados mostraram que amostras verticais têm
1.1 a 1.5 vezes a resistência de amostras horizontais, com ângulos de
atrito interno efetivos da mesma ordem, 33 a 34o , a diferença ficando
no intercepto coesivo.

• Estes resultados mostram que a anisotropia em solos residuais de
gnaiss e granito pode ser uma questão importante.

90
3.3.4. Superfícies Limite ou de Cedência (Yield
surfaces)
• O conceito que solos estruturados se comportam aproximadamente
elasticamente abaixo de certo limite é ilustrado na figura 15 de
Leroueil (1992). A curva do estado limite ou de cedência tem uma
forma aproximada de elipse no diagrama p-q.
• Vaughan (1985) e Maccarini (1987) obtiveram superfícies de cedência
para solo comentado fracamente articialmente. Sandroni (1991)
obteve uma superfície similar para solo residual de gnaiss, e Santos Jr.
(1995) para um solo granítico, Figura 17.

91
Figura 13. Ensaios de cisalhamento direto multi
estágio orientado em solo de gnais (Costa Filho e
de Campos, 1991)

92
Figura 14. Ângulo de atrito residual vs teor de
argila e limite de liquidez (Pinto et al., 1993)

93
3.3.5. Perda de resistência devido à variação
cíclica de poro-pressão
• Eigenbrod et al. (1987) estudaram a ruptura de um solo argiloso
compactado devido a ciclos repetidos de variação de poro-pressão. Esta
situação se aplica a rupturas de taludes nos quais a poro-pressão devido às
flutuações do lençol freátio variam ciclicamente ao longo de diversos anos.
Lacerda (1989) chamou atenção para o fato que muitos taludes residuais
rompem uma certa chuva de intensidade menor do que chuvas de
períodos anteriores, que sofreu sem que tivesse rompido. Is significa que o
ciclo de poro-pressão até uma máxima poro-pressão que é menor do que o
necessário para romper a amostra em um caminho de tensão tal como
sugerido por Brand (1985) que induz deformações acumuladas cisalhantes
que ajudam a quebrar a ligação responsável pela “verdadeira” coesão
efetiva saturada, baixando assim, a envoltória de resistência de Mohr-
Cloulomb, até que o solo rompa com uma poro pressão menor. A hipótese
que f’é constante durante o processo é razoável.

94
Figura 15. Comportamento esquemático de solos
ideais e estruturado (Lerouiel, 1992)

95
• A Figura 16 mostra o esquema desta hipótese. Figura 16a mostra o domínio do
campo de poro-pressões; Figura 16b) a ruptura pelo crescimento monotônico da
poro-pressão, com a tensão cisalhante mantida constante; Figura 16c) define a
poro pressão uo, umax, e uf. A poro pressão uo é aquela correspondente a um
ângulo de atrito de equilíbrio, como como o valor residual ou desestruturado.
Poro pressão uf é aquela necessária para romper o solo por um acréscimo
monotônico na poro-pressão, e umax é o valor máximo da poro pressão cíclica,
mostrada na figura 16d. A razão Uc = (umax-uo)/uf-uo) dá uma ideia do grau de poro
pressão do carregamento cíclico. Uc= 1 significa ruptura em apenas um ciclo.
Ensaios realizados por Santos Jr. (1995) indicam que esta hipótese para ser
verdadeira para um solo residual de granito envolvido em um grande
deslizamento de terras histórico. Santos Jr. Obteve superfícies de cedência para
um solo residual de granito saturado de ensaios de compressão isotrópico
drenado e de ensaios com ruptura induzida por aumento da poro-pressão
enquanto a tensão cisalhante é mantida constante. Figuras 17, 18, 19 e 20
mostram esses resultados. A mesma superfície de cedência foi definida em
ambos os testes no caso da figura 17. Para uma razão cíclica de poro-pressão Uc
de 67% a ruptura é alcançada após 400 ciclos (Para Uc=1 o solo rompe no
primeiro ciclo), como mostrado na figura 20. Este é um mecanismo possível que
ajuda a explicar algumas rupturas de taludes sob baixa chuva acumulada.
96
• Intemperismo é lógico é um caminho mais efetivo para diminuir a
resistência de uma rocha (cf Figura 11) para a de um solo residual.
Mas neste estágio, a resistência decresce muito lentamente,
aproximando-se de certo limite. É neste ponto, na história do solo
residual, e a tensões baixas, tal que a superfície limite não foi
excedida, que os efeitos cíclicos têm um papel importante em
quebrar as estruturas remanescentes do solo. A tensões maiores,
acima do ponto de cedência ou limite, o solo pode mostrar pouca ou
nenhum decréscimo na resistência com ciclos repetidos de variação
de poro-pressão, uma hipótese que precisa testes adicionais.

97
Figura 16. Hipótese de ruptura de solos residuais
devido a variação de poro-pressão cíclica (Lacerda,
1989)

98
Figura 17. Superfícies de cedência de solo residual
de granito (Santos Jr., 1995)

99
Figura 18. Caminho de tensões dos ensaios
triaxiais de poro pressão cíclico.

100
FIGURA 19. DEFORMAÇÃO AXIAL VS NUMERO DE
CICLOS DE PORO-PRESSÕES (SANTOS JR., 1995)

101
Figura 20. – Uc vs numero de ciclos de ruptura
(Santos Jr., 1995)

102
Escorregamento na Rua Capuri, São Conrado,
1996

103
3.4. Permeabilidade
3.4.1. Ensaios de permeabilidade
• Pinto (1993) mediu permeabilidade de laboratório de diversos solos
residuais intactos do Estado de São Paulo. Figura 21 mostra as
permeabilidade de solos residuais oriundos de basalto e migmatita, nas
direções horizontais e verticais. O solo residual de basalto é mais
permeável do que o solo residual de migmatita, e parece haver um
acréscimo na permeabilidade quando o índice de vazios cresce. Parece não
haver anisotropia no solo basáltico, originado por uma rocha homogênea,
e parece existir uma anisotropia muito leve do solo migmatito, apesar da
dispersão encontrada, devido provavelmente à natureza orientada da
rocha. Costa Filho e de Campos (1991) mostram que um solo gnáissico
unidofortemente intemperizado mostrou anisotropia não marcante, como
indicado na figura 25. O solo tem um alto teor de finos (52% passando na
peneira #200)

104
• BERNARDES ET AL. (1992) encontrou também que a permeabilidade
de um solo residual de gnaiss não mostrou dependência na direção
do fluxo. Amostras testadas nas direções paralelas e perpendiculares
da xistosidade da rocha mãe não mostraram diferenças nos valores
medidos, o que foi da ordem de 1 a 6x10-4 cm/s para um domínio de
pressões confinantes efetivas entre 25 e 200 kPa.

105
3.4.2. Ensaios de campo
• O permeâmetro Guelph (Philip, 1969) tem sido usado para determinação in situ da
permeabilidade de solos residuais não saturados até uma profundidade de 3 metros.
Campos et al. (1992) determinou valores de Kf(permeabilidade saturada) para um solo
residual de gnaiss variando de 5x10-2 a 5x10-4 cm/s. Este é o teste mais rápido (menos do
que uma hora) e o consumo de água é baixo (30 litros para 6 determinações).
• Para profundidades maiores é usado o fluxo através de um piezômetro de área
conhecida (ABGE, 1990). Usando este método, Lacerda e Lopes (1992) determinaram a
permeabilidade de um perfil de gnaiss biotita residual/coluvial em torno de 30 m no Rio
de Janeiro. Valores para o material do colúvio foram da ordem de 2x10-2 a 10-3 cm/s, para
o solo residual 6x10-4 a 2x10-5 cm/s; o gnaiss biotita intemperizado foi mais permeável,
8x10-5 cm/s. A rocha fraturada exatamente abaixo desta zona absorveu 10 litros
/min/metro sob uma pressão de calibração de 240 kPa, e o rocha mãe foi praticamente
impermeável. Estes resultados apontam para um fluxo preferencial na zona superficial do
colúvio devido à infiltração da água da chuva, que ajuda a explicar por que lâminas
superficiais são comuns em taludes deste material.

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Figura 21. Permeabilidade de laboratório de
alguns solos residuais em São Paulo (Pinto, 1993)

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Conclusões e Recomendações

• Como os países tropicais começam a se desenvolver, mais e mais construções e


obras publicas são executadas sobre solos residuais. Estes solos exibem
peculiaridades que praticamente somente desde 1980 receberam larga atenção
da comunidade geotécnica. As diferentes rochas mãe e diferentes ambientes de
intemperismo conduzem a produtos finais muito diferentes. Entretanto, olhos
residuais dividem muitas características comuns, como visto nesta apresentação.
Não é surpresa, pois eles são solos, isto é, um agregado de partículas minerais. Os
seguintes pontos valem a pena mencionar novamente:
• A cimentação entre as partículas
• A mineralogia das próprias partículas
• Residual, e mais especificamente, solos saproliticos exibem efeitos de escala
• Eles podem ou não mostrar anisotropia com respeito à resistência, deformações
e permeabilidade.

108
• O contexto geológico não pode ser ignorado, e deve ser a primeira
questão a ser feita em um dado problema. Assim, estudos mineralógicos
devem ser rotineiramente feitos de forma a ganhar mais experiência com
solos residuais. A tecnologia de campo e medidas em laboratório de sucção
está avançando rapidamente e este é uma das direções de pesquisa para a
qual se deve dar muita atenção, desde que a sucção governa o
comportamento do solo residual. O aperfeiçoamento dos métodos de
campo para obter parâmetros confiáveis é uma importante linha de ação,
para amostra não “perturbada” trazer tanta perturbação nos contatos
fracos dos solos residuais. No entanto, ensaios de laboratório devem
continuar a receber atenção, para somente em um conjunto controlado de
laboratório, com caminhos de tensão apropriados, que podem aperfeiçoar
nosso conhecimento do solo residual “real”.

109
• Por fim, o estudo das propriedades dos solos tropicais é relevante em
particular em relação aos mecanismos de escorregamento de encostas.
Regiões com intensas chuvas e sujeitas a severas e frequentes tempestades
desenvolvem escorregamento de encostas e ”debris flows”, afetando uma
grande população. O início destes escorregamentos é explicado quando as
características da resistência ao cisalhamento destes solos são mais bem
compreendidas. Encostas coluviais em regiões tropicais têm características
especiais, como mostrado por Lacerda (2004). Muitos escorregamentos em
solos residuais são diretamente relacionados com a estrutura antiga
herdada da rocha mãe, e a resistência residual é relevante nestes casos. A
existência da coesão verdadeira em solos lateríticos é particularmente
importante no início de escorregamentos rasos.

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• FIM

• FAZER RESUMO DO MATERIAL E ENTREGAR DIA 27/04/2017

• BOM FERIADO A TODOS

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