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SOLOS LATERÍTICOS

1. DEFINIÇÃO – SOLOS TROPICAIS

Durante o uso da Mecânica dos Solos na solução de problemas ligados à construção de


pavimentos e rodoviários e em obras de terra, foram encontradas várias discrepâncias
entre as previsões efetuadas com a aplicação dos princípios desenvolvidos por essa
especialidade e o real comportamento dos solos nas obras. Essas discrepâncias têm
sido atribuídas, em grande parte, às peculiaridades dos solos e do ambiente tropical.
Para que elas possam ser devidamente consideradas, há necessidade de caracterizá-
las apropriadamente, as peculiaridades dos solos tropicais são divididas nos itens.

Já em 1996, Nogami ressalta que os solos precisam apresentar duas condições para
que sejam considerados tropicais: possuir propriedades e comportamentos distintos
dos solos tradicionais (solos tropicais apresentam resultados não condizentes com o
desempenho real quando classificados através das classificações tradicionais de solos
SUCS e HBR) e ocorrer em clima úmido e quente.

Em 1995, Nogami e Villibor classificaram solos tropicais de acordo com a conceituação


geotécnica: Aqueles que apresentam peculiaridades de propriedades e de
comportamento, relativamente aos solos não tropicais, em decorrência da atuação no
mesmo de processos geológicos e /ou pedológicos, típicos das regiões tropicais
úmidas.

Grande parte das peculiaridades dos solos tropicais é atribuída às condições climáticas
vigentes nas áreas em que eles se situam ou na ocasião de sua evolução. Alguns solos
tropicais ocorrem, atualmente, em áreas de clima não tipicamente tropicais, estando,
portanto, em fase de transformação para se adaptar às novas condições climáticas

Grande parte das peculiaridades dos solos tropicais é atribuída às condições climáticas
vigentes nas áreas em que eles se situam ou na ocasião de sua evolução. Alguns solos
tropicais ocorrem, atualmente, em áreas de clima não tipicamente tropicais, estando,
portanto, em fase de transformação para se adaptar às novas condições climáticas

2. ORIGEM E FORMAÇÃO

. Possuem sua fração argila constituída essencialmente de argilominerais do grupo das


caulinitas e de óxido e hidróxido de ferro e/ou alumínio o que confere a estrutura
poros e agregações altamente estáveis. Estes solos têm tendência a possuírem uma
grande parcela da sua granulometria menor que 2 mm de diâmetro e em alguns locais
podem apresentar, inseridos em sua constituição, pedregulhos lateríticos
denominados de lateria, que são massas consolidadas, maciças ou porosas, de mesma
mineralogia dos solos lateríticos e que tem sido muito aproveitadas como materiais de
construção rodoviária

Os métodos usados para dimensionamento de pavimentos rodoviários normalmente


foram desenvolvidos em países onde as condições ambientais são diferentes das
existentes em países de clima tropical como o Brasil. Os solos das regiões tropicais
sofrem processos pedogenéticos diferentes dos solos das regiões de climas temperado
e frio. Existem diferenças importantes entre os solos tropicais, em função do seu grau
de evolução pedológico. Essas diferenças ocorrem desde a microestrutura típica, que
reflete o seu grau de evolução, até a natureza e quantidades das frações fina e grossa
que os compõem.

3. COMPOSIÇÃO

Os solos lateríticos são geralmente resultantes da atuação de processos pedológicos


em condições bem drenadas, clima úmido e tropical. Seguem algumas características
citadas por Nogami e Villibor, 1981: (a) Posição no perfil: ocupam a parte mais
superficial do perfil de solo das áreas bem drenadas (acima do lençol freático), como
os demais solos de origem pedológica; (b) Espessura: frequentemente constituem
camadas com mais de 2 metros mas raramente ultrapassam 10 metros de espessura;
(c) Estrutura da ocorrência: constituem camadas que acompanham aproximadamente
a superfície do terreno. Essas camadas podem ser compostas por outras, pouco
diferenciadas, que também acompanham aproximadamente a superfície do terreno.
Essas camadas são originadas sobretudo pela atuação de processos pedológicos. Os
limites destas camadas são geralmente graduais; (d) Condições hidrológicas: as
condições de drenagem dos solos lateríticos são muito boas, de maneira que só
excepcionalmente, tais solos podem conter temporariamente nível d’água suspenso,
após chuva muito intensa; (e) Cor: predominam os matizes vermelho e amarelo; (f)
Macroestrutura: apresentam-se como que aparentemente homogênea e isotrópica,
sendo que as variedades argilosas exibem aglomeração, formando torrões que podem
ser bastante resistentes à ação hídrica e grande quantidade de vazios preenchidos de
ar. Nas variedades arenosas percebem-se frequentemente vazios intergranulares.
Devido a essas peculiaridades os solos lateríticos tem sido considerados como
“porosos” pela sua aparência macroscópica, o que justifica a sua baixa massa
específica aparente e elevada permeabilidade; (g) Constituição mineralógica e
microestrutura: mineralogicamente, caracterizam-se pela presença de grãos muito
resistentes mecânica e quimicamente, na fração areia e pedregulho, e elevada
porcentagem de partículas constituídas de hidróxidos e óxidos de Fe e Al, na fração
argila (partículas de diâmetro menor que 2 µm); o argilo mineral geralmente presente
na nessa fração é a caulinita. Os grãos mais finos estão 9 agregados, formando uma
massa de aspecto esponjoso cujos elementos constituintes lembram pipocas. Nessas
condições distingue-se grande volume de vazios, mas não os grãos individuais. A
principal peculiaridade dos solos lateríticos, que os diferencia dos solos de clima
temperado, é a presença de uma cimentação natural causada pelos óxidos e
hidróxidos de ferro e alumínio. A Figura 03 exemplifica, a partir de imagem em escala
microscópica, um solo laterítico por Takeda (2006). Observa-se que os grãos mais finos
encontram-se agregados e o solo apresenta um aspecto cimentado

4. UTILIZAÇÃO NA ENGENHARIA

(SUELY 2002) Nos últimos anos, o uso de solos lateríticos como material de construção de
bases e subbases de pavimentos deu origem aos chamados pavimentos econômicos. O estudo
para utilização desses materiais ainda se encontra restrito a algumas regiões do Brasil,
principalmente, à região sudeste. Nessa região, os solos arenosos finos lateríticos (SAFL) vêm
sendo utilizados com sucesso, possibilitando uma opção a mais como material natural de
construção. Essa realidade tem motivado vários pesquisadores a aplicarem o método MCT
para caracterizar os solos de outras regiões do Brasil. Para tanto, é necessário conhecer
primeiramente as particularidades desse método, testar a sua aplicação aos solos locais, e se
identificado o potencial de uso, adaptar à realidade de cada regiã. Os solos de comportamento
laterítico, mesmo não se enquadrando nos critérios tradicionais, apresentam potencial para
serem usados em camadas mais nobres do pavimento

Os solos residuais lateríticos já são amplamente utilizados como materiais de construção


na condição compactada, principalmente em barragens de terra e como camadas
selecionadas de estradas e aeroportos

5. ENSAIOS DE IDENTIFICAÇÃO

6. CLASSIFICAÇÃO MCT

Limitações dos métodos classificatórios A primeira limitação destes dois sistemas


classificatórios é que, por serem desenvolvidos em regiões de climas temperados, não trazem
considerações a respeito de particularidades fundamentais para a classificação e utilização dos
solos ditos tropicais. A segunda limitação diz respeito a própria concepção dos ensaios
classificatórios. Os solos tropicais, conforme já amplamente discutido na literatura, sofreram
processos genéticos que lhe conferem uma estruturação muito peculiar e uma composição
química diferenciada, promovendo alterações no seu comportamento sob esforço ou ação da
água. Pode-se dizer que nestes solos a natureza da partícula influencia mais o comportamento
da massa de solo que o seu diâmetro

(Suelly, 2002)

As classificações geotécnicas de solos HRB (Highway Research Board) e USCS (Unified Soil
Classification System) não se adeqüam bem aos solos tropicais, visto que podem classificar
solos pedogeneticamente diferentes como sendo pertencentes à mesma classe, embora
possuam propriedades geotécnicas bem diferentes, principalmente quando compactados.
Dessa forma, pode ser conferido aos solos de comportamento laterítico um desempenho
inferior aquele verificado na prática

Uma classificação de solos é usada com a finalidade principal de prever o comportamento dos
materiais, permitindo selecionar os solos a serem utilizados como material de construção e/ou
descartar outros sem potencial de uso

(VENTURINI)

Com a finalidade de melhorar a identificação e caracterização dos solos tropicais, na década de


80, Nogami e Villibor propuseram uma nova sistemática de classificação denominada M
(Miniatura), C (Compacta), T (Tropical) na qual se utiliza corpos de prova compactados de
dimensões reduzidas permitindo a avaliação das propriedades e comportamento dos mesmos.
Nesta classificação, Nogami e Villibor (1981) propuseram dois grupos de solos que podem
apresentar comportamento laterítico (L) ou comportamento não laterítico (N) subdivididos em
7 grupos, conforme relacionado em Nogami e Villibor (1995):  Areias lateríticas (LA): neste
grupo estão inclusas as areias com poucos finos de comportamento laterítico, típicas do
horizonte B dos solos conhecidos pedologicamente como areias quartzosas e regosolos; 
Solos arenosos lateríticos (LA’): solos tipicamente arenosos, e constituintes do horizonte B dos
solos conhecidos pedologicamente no Brasil por latossolos arenosos e solos podzolizados
arenosos (textura média). Estes solos, além da presença dos matizes vermelho e amarelo, dão
cortes firmes (pouco ou não erodíveis), nitidamente trincados, quando expostos as
intempéries; 7  Solos argilosos lateríticos (LG’): este grupo é formado por argilas e argilas
arenosas que constituem o horizonte B dos solos conhecidos pedologicamente por latossolos,
solos podzólicos e terras roxas estruturadas. Quando apresentam percentagem de areia
elevada, tem um comportamento semelhante aos solos do grupo LA’;  Areias não lateríticas
(NA): Os solos pertencentes a este grupo são as areias, siltes e misturas de areias e siltes, nos
quais os grãos são constituídos essencialmente de quartzo e/ou mica. Praticamente não
possuem finos argilosos coesivos siltes caoliníticos;  Solos arenosos não lateríticos (NA’):
compostos granulometricamente por misturas de areias quartzosas (ou de minerais de
propriedades similares) com finos passando na peneira 0,075mm, de comportamento não
laterítico. Geneticamente os tipos mais representativos são solos saprolíticos originados de
rochas ricas em quartzo tais como os granitos, gnaisses, arenitos e quartzitos impuros;  Solos
siltosos não lateríticos (NS’): este grupo compreende os solos saprolíticos silto-arenosos
peculiares, resultantes do intemperismo tropical nas rochas eruptivas e metamórficas, de
constituição predominantemente feldspática-micácea-quartzosa. As variedades mais ricas em
areia quartzosa podem ter características mecânicas e hidráulicas que se aproximam do solos
do grupo NA’;  Solos argilosos não lateríticos (NG’): este grupo compreende os solos
saprolíticos argilosos, provenientes de rochas sedimentares argilosas (folhelhos, argilitos,
siltitos), ou cristalinas pobres em quartzo e ricas em anfibólios, piroxênios e feldspatos
cálcicos. Classificam-se neste grupo os solos superficiais pedogênicos não lateríticos, como os
vertissolos bem como muitos solos transportados. Através de um ábaco de classificação
proposto por Nogami e Villibor (1981), é possível distribuir os solos conforme os valores do
coeficiente c’ e índice e’ que devem ser obtidos pelos ensaios de Mini-MCV (DNER-ME 258/94)
e Perda de Massa por Imersão (DNER-ME 256/94)

O coeficiente c’ é representado na abcissa do ábaco e está associado à argilosidade do solo ,


enquanto que o índice e’ corresponde às ordenadas e reflete o caráter laterítico do solo.

(SANTOS E MARTÍNEZ, 2003)

Os solos residuais tropicais, abundantes no norte e nordeste do país, existem onde o clima
induziu à dessecação profunda do perfil de solo ou onde ocorre umidade sazonal seca e
severa. Deste modo, a tensão efetiva do solo varia de acordo com a época do ano. Estes
solos, também denominados lateríticos pelos engenheiros, têm sua fração argila
constituída principalmente pelo argilomineral caulinítico e apresentam elevados teores de
óxido de ferro e alumínio. Estas características, aliadas a fatores mineralógicos, de
estrutura de grãos, índice de vazios outros, influenciarão diretamente nos parâmetros de
resistência, de compressibilidade e de condutividade hidráulica da massa de solo. Na
condição indeformada, estes solos apresentam elevada compressibilidade devido aos altos
índices de vazios, porém na condição compactada têm melhorada esta propriedade, sendo
bastante utilizados em pavimentação, aterros e barragens de terra. Determinar
NOGAMI, J. S., VILLIBOR, D. F., Beligni, M. e Cincerre, J. R., 2000. “Pavimentos com Solos
Lateríticos e gestão de manutenção de Vias Urbanas”. Editora Vilibor, São Paulo/SP.

NOGAMI, J.S.; VILLIBOR, D.F. Pavimentação de baixo custo com solos lateríticos. São Paulo: Ed.
Villibor, 1995. p. 169-196.

NOGAMI, J.S.; VILLIBOR, D.F. Uma nova classificação de solos para finalidades rodoviárias.
1981. In Simpósio Brasileiro de Solos Tropicais em Engenharia, Rio de Janeiro – Rio de Janeiro.

NOGAMI, J. S; VILLIBOR, D. F. (1994) Identificação expedita dos grupos da classificação MCT


para solos tropicais. Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações,
10. Anais. p. 1293-1323, v. 4. Foz do Iguaçu, Paraná

NOGAMI, J. S. et al. (1993) Pavimentação com solos lateríticos. In: Solos do Interior de São
Paulo,. Anais. p.315-335. São Carlos, São Paulo.

PASSOS, M.C.F. Metodologia MCT aplicada aos solos arenosos finos lateríticos do rio grande do
sul visando pavimentação. 2000. Dissertação (Mestre em Engenharia) – Universidade Federal
do Rio Grande do sul – RS, 2000.

BARROSO, A.H.A. Estudo dos solos da região metropolitana de fortaleza para aplicação na
engenharia rodoviária. 2002. Tese (Doutora em Engenharia) – Universidade de São Paulo – SP,
2002.

VENTURINI, Jessica Anversa. Aplicação da metodologia MCT para classificação de alguns solos
e rochas da região de santa maria. 2015. Trabalho de Conclusão de curso (Engenharia Civil) –
Universidade Federal de Santa Maria – RS, 2015.

VILLIBOR, Douglas Fadul [et al]. Pavimentos de Baixo Custo para vias urbanas. 2ª edição. São
Paulo: Arte & Ciência, 2009. 196p.

VILLIBOR, D.F.;NOGAMI, J.S. Pavimentos Econômicos: tecnologia do uso de solos finos


laterítico. São Paulo: Arte & Ciência, 2009. 291p.

ZORZI, Clayton. Caracterização dos solos tropicais lateríticos para reforço de pavimentos. 2008.
Trabalho de Conclusão de curso (Engenharia Civil) – Universidade São Francisco – SP, 2008.

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