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6. CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS.

Por serem constituídos de um material de origem natural, os depósitos de solo nunca


são estritamente homogêneos. Grandes variações nas suas propriedades e em seu
comportamento são comumente observadas. Pode-se dizer contudo, que depósitos de solo que
exibem propriedades básicas similares podem ser agrupados como classes, mediante o uso de
critérios ou índices apropriados. Um sistema de classificação dos solos deve agrupar os solos
de acordo com suas propriedades intrínsecas básicas. Do ponto de vista da engenharia, um
sistema de classificação pode ser baseado no potencial de um determinado solo para uso em
bases de pavimentos, fundações, ou como material de construção, por exemplo. Devido a
natureza extremamente variável do solo, contudo, é inevitável que em qualquer classificação
ocorram casos onde é difícil se enquadrar o solo em uma determinada e única categoria, em
outras palavras, sempre vão existir casos em que um determinado solo poderá ser classificado
como pertencente a dois ou mais grupos. Do mesmo modo, o mesmo solo pode mesmo ser
colocado em grupos que pareçam radicalmente diferentes, em diferentes sistemas de
classificação.

Em vista disto, um sistema de classificação deve ser tomado como um guia preliminar
para a previsão do comportamento de engenharia do solo, a qual não pode ser realizada
utilizando-se somente sistemas de classificação. Testes para avaliação de importantes
características do solo devem sempre ser realizados, levando-se sempre em consideração o
uso do solo na obra, já que diferentes propriedades governam o comportamento do solo a
depender de sua finalidade. Assim, deve-se usar um sistema de classificação do solo, dentre
outras coisas, para se obter os dados necessários ao direcionamento de uma investigação mais
minuciosa, quer seja na engenharia, geoquímica, geologia ou outros ramos da ciência.

Implicitamente, nos capítulos anteriores, utilizaram-se alguns sistemas de classificação


dos solos. Estes sistemas de classificação, por serem bastante simplificados, não são capazes
de fornecer, na maioria dos casos, uma resposta satisfatória do ponto de vista da engenharia,
devendo ser usados como informações adicionais aos sistemas de classificação mais
elaborados. São eles: a) - Classificação genética dos solos (classificação do solo segundo a
sua origem) - Classifica os solos em residuais e sedimentares, podendo apresentar subdivisões
(ex. solo residual jovem, solo sedimentar eólico, etc.); b) - Classificação pela NBR 6502 -
Conforme apresentado anteriormente, esta classificação designa os solos de acordo com as
suas frações granulométricas preponderantes, utilizando a curva granulométrica; c) -
Classificação pela estrutura - Essa classificação consta de dois tipos fundamentais de
estruturas (agregada e isolada), que por sua vez, são subdivididas em vários outros subtipos
(floculada, dispersa, orientada, aleatória), conforme foi visto no capítulo referente a estrutura
dos solos. A estrutura do solo está interligada com propriedades como coesão, peso
específico, sensibilidade, expansividade, resistência, anisotropia, permeabilidade,
compressibilidade e outras mais.

Neste capítulo serão apresentados os dois sistemas de classificação dos solos mais
difundidos no meio geotécnico, a saber, o Sistema Unificado de Classificação do Solos,
SUCS (ou “Unified Soil Classification System”, USCS) e o sistema de classificação dos solos
proposto pela AASHTO (“American Association of State Highway and Transportation
Officials”). Deve-se salientar, contudo, que estes dois sistemas de classificação foram
desenvolvidos para classificar solos de países de clima temperado, não apresentando
resultados satisfatórios quando utilizados na classificação de solos tropicais (principalmente
aqueles de natureza laterítica), cuja gênese é bastante diferenciada daquela dos solos para os
quais estas classificações foram elaboradas. Por conta disto, e devido a grande ocorrência de
solos lateríticos nas regiões Sul e Sudeste do país, recentemente foi elaborada uma
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classificação especialmente destinada a classificação de solos tropicais. Esta classificação,


brasileira, denominada de Classificação MCT, começou a se desenvolver na década de 70,
sendo apresentada oficialmente em 1980 (Nogami & Vilibor, 1980).
   
  !"# $% &')(*  
+,-       ! .
 

Este sistema de classificação foi originalmente desenvolvido pelo professor A.


Casagrande (Casagrande, 1948) para uso na construção de aterros em aeroportos durante a
Segunda Guerra Mundial, sendo modificada posteriormente para uso em barragens, fundações
e outras construções. A idéia básica do Sistema Unificado de Classificação dos solos é que os
solos grossos podem ser classificados de acordo com a sua curva granulométrica, ao passo
que o comportamento de engenharia dos solos finos está intimamente relacionado com a sua
plasticidade. Em outras palavras, os solos nos quais a fração fina não existe em quantidade
suficiente para afetar o seu comportamento são classificados de acordo com a sua curva
granulométrica, enquanto que os solos nos quais o comportamento de engenharia é controlado
pelas suas frações finas (silte e argila), são classificados de acordo com as suas características
de plasticidade.

As quatro maiores divisões do Sistema Unificado de Classificação dos Solos são as


seguintes: (1) - Solos grossos (pedregulho e areia), (2) - Solos finos (silte e argila), (3) - Solos
orgânicos e (4) - Turfa. A classificação é realizada na fração de solo que passa na peneira
75mm, devendo-se anotar a quantidade de material eventualmente retida nesta peneira. São
denominados solos grossos aqueles que possuem mais do que 50% de material retido na
peneira 200 e solos finos aqueles que possuem mais do 50% de material passando na peneira
200. Os solos orgânicos e as turfas são geralmente identificados visualmente. Cada grupo é
classificado por um símbolo, derivado dos nomes em inglês correspondentes: Pedregulho (G),
do inglês "gravel"; Argila (C), do inglês "Clay"; Areia (S), do inglês "Sand"; Solos orgânicos
(O), de "Organic soils" e Turfa (Pt), do inglês "peat". A única exceção para esta regra advém
do grupo do silte, cuja letra representante, M, advém do Sueco "mjäla".
/+0 1  32345 

Os solos grossos são classificados como pedregulho ou areia. São classificados como
pedregulhos aqueles solos possuindo mais do que 50% de sua fração grossa retida na peneira
4 (4,75mm) e como areias aqueles solos possuindo mais do que 50% de sua fração grossa
passando na peneira 4. Cada grupo por sua vez é dividido em quatro subgrupos a depender de
sua curva granulométrica ou da natureza da fração fina eventualmente existente. São eles:

1) Material praticamente limpo de finos, bem graduado W, (SW e GW)


2) Material praticamente limpo de finos, mal graduado P, (SP e GP)
3) Material com quantidades apreciáveis de finos não plásticos, M, (GM e SM)
4) Material com quantidades apreciáveis de finos plásticos C, (GC ou SC)
/ 68792:4; <= 32">?3>

Formados por um solo bem graduado com poucos finos. Em um solo bem graduado,
os grãos menores podem ficar nos espaços vazios deixados pelos grãos maiores, de modo que
os solos bem graduados tendem a apresentar altos valores de peso específico (ou menor
quantidade de vazios) e boas características de resistência e deformabilidade. A presença de
finos nestes grupos não deve produzir efeitos apreciáveis nas propriedades da fração grossa,
nem interferir na sua capacidade de drenagem, sendo fixada como no máximo 5% do solo, em
relação ao seu peso seco. O exame da curva granulométrica dos solos grossos se faz por meio
dos coeficientes de uniformidade (Cu) e curvatura (Cc), já apresentados anteriormente. Para
que o solo seja considerado bem graduado é necessário que seu coeficiente de uniformidade
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seja maior que 4, no caso de pedregulhos, ou maior que 6, no caso de areias, e que o seu
coeficiente de curvatura esteja entre 1 e 3.
  
 

Formados por solos mal graduados (curvas granulométricas uniformes ou abertas).


Como os subgrupos SW e GW, possuem no máximo 5% de partículas finas, mas suas curvas
granulométricas não completam os requisitos de graduação indicados para serem
considerados como bem graduados. Dentro destes grupos estão compreendidos as areias
uniformes das dunas e os solos possuindo duas frações granulométricas predominantes,
provenientes da deposição pela água de rios em períodos alternados de cheia/seca.
 
  

São classificados como pertencentes aos subgrupos GM e SM os solos grossos nos


quais existe uma quantidade de finos suficiente para afetar as suas propriedades de
engenharia: resistência ao cisalhamento, deformabilidade e permeabilidade. Convenciona-se a
quantidade de finos necessária para que isto ocorra em 12%, embora sabendo-se que a
influência dos finos no comportamento de um solo depende não somente da sua quantidade
mas também da atividade do argilo-mineral preponderante. Para os solos grossos possuindo
mais do que 12% de finos, deve-se realizar ensaios com vistas a determinação de seus limites
de consistência wL e wP, utilizando-se para isto a fração de solo que passa na peneira #40. Para
que o solo seja classificado como GM ou SM, a sua fração fina deve se situar abaixo da linha
A da carta de plasticidade de Casagrande (vide fig. 6.2).
  
  !

São classificados como GC e SC os solos grossos que atendem aos critérios


especificados no item A.3, mas cuja fração fina possui representação na carta de plasticidade
acima da linha A. Em outras palavras, são classificados como GC e SC os solos grossos
possuindo mais que 12% de finos com comportamento predominante de argila.

OBS: Os solos grossos possuindo percentagens de finos entre 5 e 12% devem possuir
nomenclaturas duplas, como GW-GM, SP-SC, etc., atribuídas de acordo com o especificado
anteriormente. De uma forma geral, sempre que um material não se encontra claramente
dentro de um grupo, devemos utilizar símbolos duplos, correspondentes a casos de fronteira.
Ex: GW-SW (material bem graduado com menos de 5% de finos e formado com fração de
grossos com iguais proporções de pedregulho e areia) ou GM-GC (solos grossos com mais do
que 12% de finos cuja representação na carta de plasticidade de Casagrande se situa muito
próxima da linha A).

A fig. 6.1 apresenta um fluxograma exibindo os passos básicos a serem seguidos na


classificação de solos grossos pelo Sistema Unificado.
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SOLOS GROSSOS

Pedregulho (G). Mais que 50% da Areia (S). Menos que 50% da fração
fração grossa retido na # 4 (4.75mm) grossa retido na # 4 (4.75mm)

Menos que 5% Entre 5 e 12% Mais que Menos que 5% Entre 5 e 12% Mais que 12%
passam na # passam na # 12% passam passam na # passam na # passam na #
200 200 na # 200 200 200 200

Se Cu > 4 e Senão Finos Finos Se Cu > 6 Senão Finos Finos


e 1<Cc<3
1<Cc<3 ML ou MH CL ou CH ML ou MH CL ou CH

GW GP GM GC SW SP SM SC
Nomes Nomes
duplos: duplos:
GW-GM SW-SM

Figura 6.1 - Classificação dos solos grossos pelo SUCS.


40

 
 


Os solos finos são classificados como argila e silte. A classificação dos solos finos é
realizada tomando-se como base apenas os limites de plasticidade e liquidez do solo, plotados
na forma da carta de plasticidade de Casagrande. Em outras palavras, o conhecimento da
curva granulométrica de solos possuindo mais do que 50% de material passando na peneira
200 pouco ou muito pouco acrescenta acerca das expectativas sobre suas propriedades de
engenharia.

A Carta de plasticidade dos solos foi desenvolvida por A. Casagrande de modo a


agrupar os solos finos em diversos subgrupos, a depender de suas características de
plasticidade. Conforme é apresentado na fig. 6.2, a carta de plasticidade possui três divisores
principais: A linha A (de eq. IP = 0,73(wL - 20)), a linha B (wL = 50%) e a linha U (de eq. IP =
0,9(wL - 8). Deste modo, os solos finos, que são divididos em quatro subgrupos (CL, CH, ML
e MH), são classificados de acordo com a sua posição em relação às linhas A e B, conforme
apresentado a seguir:
    "!

Os solos classificados como CL (argilas inorgânicas de baixa plasticidade) são aqueles


os quais têm a sua representação na carta de plasticidade acima da linha A e à esquerda da
linha B (conforme pode-se observar na fig. 6.2, deve-se ter também um IP > 7%). O grupo
CH (argilas inorgânicas de alta plasticidade), possuem a sua representação na carta de
plasticidade acima da linha A e à direita da linha B (wL > 50%). São exemplos deste grupo as
argilas formadas por decomposição química de cinzas vulcânicas, tais como a argila do vale
do México, com wL de até 500%.
 #  $%&$'!

Os solos classificados como ML (siltes inorgânicos de baixa plasticidade) são aqueles


os quais têm a sua representação na carta de plasticidade abaixo da linha A e à esquerda da
linha B (conforme pode-se observar na fig. 6.2, deve-se ter também um IP < 4%). O grupo
MH (siltes inorgânicos de alta plasticidade), possuem a sua representação na carta de
plasticidade abaixo da linha A e à direita da linha B (wL > 50%).
 ()  +*,- *.!

São classificados utilizando-se os mesmos critérios definidos para os subgrupos ML e


MH. A presença de matéria orgânica é geralmente identificada visualmente e pelo seu odor
característico. Em caso de dúvida a escolha entre os símbolos OL/ML ou OH/MH pode ser
feita utilizando-se o seguinte critério: Se wLs/wLn < 0,75 então o solo é orgânico senão é
inorgânico. Os símbolos wLs e wLn correspondem a limites de liquidez determinados em
amostras que foram secas em estufa e ao ar livre, respectivamente. Neste caso, a diferença
entre os valores de wL se deve ao fato de que a amostra seca em estufa a 105oC terá a sua
matéria orgânica queimada, tendo em consequência o seu valor de wL reduzido.
41

60

Índice de Plasticidade (%)


50

40
Linha U
Linha A
IP = 0,90·(W L - 8) CH
IP = 0,73·(W L - 20)
30

20
CL MH
OH
10
ML OL
CL- ML
ML
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Limite de Liquidez (%)

Figura 6.2 - Carta de plasticidade de Casagrande.

OBS: Solos cuja representação na carta de plasticidade se situe dentro da zona CL-ML devem ter nomenclatura dupla.
Solos cuja representação na carta de plasticidade se situe próximo à linha LL = 50 % devem ter nomenclatura dupla: (MH-ML ou CH-
CL).
Solos cuja representação na carta de plasticidade se situe próximo à linha A devem ter nomenclatura dupla: (MH-CH ou CL-ML).
As argilas inorgânicas de média plasticidade possuem wL entre 30 e 50%.
42

 
  
  

São solos altamente orgânicos, geralmente fibrilares e extremamente compressíveis.


As turfas são solos que incorporam florestas soterradas em estágio avançado de
decomposição. Estes solos formam um grupo independente de símbolo (Pt).

Na maioria dos solos turfosos os limites de consistência podem ser determinados após
completo amolgamento do solo. O limite de liquidez destes solos varia entre 300 e 500%
permanecendo a sua posição na carta de plasticidade notavelmente acima da linha A. O Índice
de plasticidade destes solos normalmente se situa entre 100 e 200.

A linha U apresentada na carta de plasticidade representa o limite superior das


coordenadas (wL;IP) encontrado para a grande maioria dos solos (mesmo solos possuindo
argilo-mineriais de alta atividade). Deste modo, sempre que em um processo de classificação
o ponto representante do solo se situar acima da linha U, os dados de laboratório devem ser
checados e os ensaios refeitos.

A carta de plasticidade de Casagrande pode ainda nos dar uma idéia acerca do tipo de
argilo-mineral predominante na fração fina do solo. Solos possuindo argilo-minerais do tipo
1:1 (como a caulinita) tem seus pontos de representação na carta de plasticidade próximo à
linha A (parte superior à linha A), enquanto que solos possuindo argilo-minerais de alta
atividade (como a montmorilonita) tendem a ter seus pontos de representação na carta de
plasticidade próximos à linha U (parte imediatamente inferior à linha U).

Apesar dos símbolos utilizados no SUCS serem de grande valia, eles não descrevem
completamente um depósito de solo. Em todos os solos deve-se acrescentar informações
como odor, cor e homogeneidade do material à classificação. Para o caso de solos grossos,
informações como a forma dos grãos, tipo de mineral predominante, graus de intemperismo
ou compacidade, presença ou não de finos são pertinentes. Para o caso dos solos finos,
informações como a umidade natural e consistência (natural e amolgada) devem ser sempre
que possível ser fornecidas.
  ! "  # $# % &'()*+
,-( (./.001)2 

A sistema de classificação da AASHTO foi desenvolvido em 1920 pelo "Bureau of


Public Roads", que realizou um extenso programa de pesquisa sobre o uso de solos na
construção de vias secundárias ("farm to market roads"). O sistema original foi baseado nas
características de estabilidade dos solos quando usados como a própria superfície da pista ou
em conjunto com uma fina capa asfáltica. Diversas aplicações foram realizadas desde a sua
concepção e a sua aplicabilidade foi estendida consideravelmente. Segundo a AASHTO (vide
AASHTO, 1978), esta classificação pode ser utilizada para os casos de aterros, subleitos,
bases e subbases de pavimentos flexíveis, mas deve-se ter sempre em mente o propósito
original da classificação quando da sua utilização.

O sistema da AASHTO classifica o solo em oito diferentes grupos: de A1 a A8 e


inclui diversos subgrupos. Os solos dentro de cada grupo ou subgrupo são ainda avaliados de
acordo com o seu índice de grupo, o qual é calculado por intermédio de uma fórmula
empírica.
43

 
     
  "!#%$&

Os solos pertencentes ao grupo A1 são bem graduados, ao passo que os solos


pertencente ao grupo A3 são areias mal graduadas, sem presença de finos. Os materiais
pertencentes ao grupo A2 apesar de granulares (35% ou menos passando na peneira 200),
possuem uma quantia significativa de finos.
' %(  )  * 
    )+
#
)-,  #./&

Os solos pertencentes aos grupos A4 ao A7 são solos finos, materiais silto-argilosos. A


diferenciação entre os diversos grupos é realizada com base nos limites de Atterberg. Solos
altamente orgânicos (incluindo-se aí a turfa) devem ser colocados no grupo A8. Como no
caso do SUCS, a classificação dos solos A8 é feita visualmente.

O índice de grupo é utilizado para auxiliar na classificação do solo. Ele é baseado na


performance de diversos solos, especialmente quando utilizados como subleitos. O índice de
grupo é determinado utilizando-se a eq. 6.1, apresentada adiante:

IG = (F − 35 )[0,20 + 0,005(w L − 40 )]+ 0,01(F − 15 )(IP − 10 ) (6.1)

Onde F é a percentagem de solo passando na peneira 200

Quando trabalhando com os grupos A-2-6 e A-2-7 o índice de grupo deve ser
determinado utilizando-se somente o índice de plasticidade.
No caso da obtenção de índices de grupo negativos, deve-se adotar um índice
de grupo nulo.

Usar o sistema de classificação da AASHTO não é difícil. Uma vez obtidos os dados
necessários, deve-se seguir os passos indicados na fig. 6.3, da esquerda para a direita, e
encontrar o grupo correto por um processo de eliminação. O primeiro grupo à esquerda que
atenda as exigências especificadas é a classificação correta da AASHTO. A classificação
completa inclui o valor do índice de grupo (arredondado para o inteiro mais próximo),
apresentado em parênteses, à direita do símbolo da AASHTO. Ex: A-2-6(3), A-6(12),
A-7-5(17), etc.
Devido a sua ligação histórica com a classificação de solos para uso rodoviário, a
classificação da AASHTO é bastante utilizada na seleção de solos para uso como base, sub-
bases e sub-leitos de pavimentos.
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SOLOS GROSSOS
35% ou menos passando na # 200

Menos que 25% Menos que 35%


passando na # 200 passando na # 200

menos que mais que 50% Silte Argila


50% passam passam na #
IP ≤ 10% IP ≥ 11%
na # 40 40

Menos que 15% Menos que 25% Menos que 10% LL ≤ 40% LL ≥ 41% LL ≤ 40% LL ≥ 41%
passa na # 200. passa na # 200. passa na # 200.
Menos que 30% Menos que 50% Não plástico
passa na # 40. passa na # 40.
Menos que 50% IP < 6%
passa na # 10
IP < 6%

A-1-a A-1-b A-3 A-2-4 A-2-5 A-2-6 A-2-7

Figura 6.3 - Classificação pela AASHTO. Solos grossos.


45

SOLOS SILTO-ARGILOSOS
35% ou mais passando na # 200

Silte Argila
IP ≤ 10% IP ≥ 11%

LL ≤ 40% LL ≥ 41% LL ≤ 40% LL ≥ 41%

IP<= (LL-30) IP>= (LL-30)


LP >= 30% LP <= 30%

A-4 A-5 A-6 A-7-5 A-7-6

Figura 6.3 - Classificação pela AASHTO. Solos finos.


46

7. ÍNDICES FÍSICOS.
   
 

O comportamento de um solo depende da quantidade relativa de cada uma de suas três


fases (sólidos, água e ar). Diversas relações são empregadas para expressar as proporções
entre elas. Na fig. 7.1 mostrada a seguir estão representadas, de modo esquemático, as três
fases que normalmente ocorrem nos solos, ainda que, em alguns casos, todos os vazios
possam estar ocupados pela água e a água possa conter substâncias dissolvidas.

Pesos Volumes

Zero Pa Ar Va

Vv
Pt Pw Água Vw Vt

Ps Sólido Vs

Massas Volumes

Zero Ma Ar Va

Vv
Mt Mw Água Vw Vt

Ms Sólido Vs

  
 "!#$%
#&#' '(' )#&*#'+-,  . /
 &)0&#& .  &     1#&)2 3& 54

Onde: Va, Vw, Vs, Vv e Vt representam os volumes de ar, água, sólidos, de vazios e
total do solo, respectivamente. Ps, Pw, Pa e Pt São os pesos de sólidos, água, ar e total e Ms,
Mw, Ma e Mt são as respectivas massas de sólidos, água, ar e total.
 6' !2#'4 '(7#&8#'99
1#8: 54 +;#&
 6'  2< 5
(&  5#>=?A@

A porosidade é definida como a relação entre o volume de vazios e o volume total. O


intervalo de variação da porosidade está compreendido entre 0 e 1.

Vv
n=
Vt (7.1)
 6' 6' BC
'#/DE5
'  F=GDH
?@

Os vazios do solo podem estar apenas parcialmente ocupados por água. A relação
entre o volume de água e o volume dos vazios é definida como o grau de saturação, expresso
em percentagem e com variação de 0 a 100% (solo saturado).
47

Vw
Sr =
Vv (7.2)
  
    

O índice de vazios é definido como a relação entre o volume de vazios e o volume das
partículas sólidas, expresso em termos absolutos, podendo ser maior do que a unidade. Sua
variação é de 0 a ∞.
Vv
e (7.3)
Vs

 "!# %$ &''( )*+(,'-(# .'/0'213,'546'789 : 2'.; )*+=<>-(# .'/0'21;<>


46'789 : 

 @? A,'B''7A89 :  C


 D/ED''7A89 :
F C 6GH# 
γ ρ

O peso específico de um solo é a relação entre o seu peso total e o seu volume total,
incluindo-se aí o peso da água existente em seus vazios e o volume de vazios do solo. A
massa específica do solo possui definição semelhente ao peso específico, considerando-se
agora a sua massa.

Pt Mt
γ = , ρ= onde γ = ρ ⋅ g
Vt Vt (7.4)
  8A,'D46'7A89 :
" 68B,*I)
9 .# BJ# A

O peso específico das partículas sólidas é obtido dividindo-se o peso das partículas
sólidas (não considerando-se o peso da água) pelo volume ocupado pelas partículas sólidas
(sem a consideração do volume ocupado pelos vazios do solo). É o maior valor de peso
específico que um solo pode ter, já que as outras duas fases que compõe o solo são menos
densas que as partículas sólidas.

Ps
γs =
Vs (7.5)
  6,'D46'789 : " ABGH# BGK8

Corresponde a um caso particular do peso específico do solo, obtido para Sr = 0.

Ps
γd =
Vt (7.6)
  L'A,'D46'7A89 :
" 6GH# BGH)+.8*+ 6

É o peso específico do solo quando todos os seus vazios estão ocupados pela água. É
numericamente dado pelo peso das partículas sólidas dividido pelo volume total do solo.

Pt
γ sat = , quando, Sr = 1
Vt (7.7)
48

  
         !"
#$ &%' 

Neste caso, considera-se a existência do empuxo de água no solo. Logo, o peso


específico do solo submerso será equivalente ao o peso específico do solo menos o peso
específico da água.

γ sub = γ sat − γ w (7.8)

OBSERVAÇÃO: As distinções entre os pesos específicos de solo saturado e submerso


serão melhor compreendidas quando do estudo do capítulo tensões geostáticas, onde
se apresenta o princípio das tensões efetivas, proposto por Terzaghi para representar o
comportamento dos solos em termos de resistência ao cisalhamento e deformação.
 (
)* +,%+&#-+. /+ 

As relações entre pesos ou entre volumes, por serem admensionais, não serão
modificadas caso no lado direito da fig. 7.1, os volumes de água, ar e sólidos sejam divididos
por um determinado fator, conservado constante para todas as fases. Este fator pode ser
escolhido, por exemplo, para que o volume de sólidos se torne unitário. Deste modo,
utilizando-se as relações entre volumes e entre pesos e volumes, definidas anteriormente,
temos:

Pesos Volumes

0
e
γw⋅Sr⋅e Sr⋅e
1+e
γs
1

Figura 7.2 - Relações entre volumes e entre pesos e volumes adotando-se um


volume de sólidos unitário.

Uma outra forma de organizar as relações entre volumes e entre pesos e volumes em
um diagrama de fases seria adotando um volume total igual a 1. Neste caso teríamos:

Pesos Volumes

0
n
γw⋅Sr⋅n Sr⋅n
1
γs⋅(1-n)
1-n

Figura 7.3 - Relações entre volumes e entre pesos e volumes adotando-se um


volume total de solo unitário.
49

Das figs. 7.2 e 7.3 e utilizando-se as definições dadas para o índice de vazios e a
porosidade tem-se:

e n
n= ou e =
1+ e 1− n (7.9)
  
     "!# $%%$"&' # ( )%* + ,- " .$(*
/-%$0,11*$" 21*$.$3 , 41%$
!3 $ 4$

Com o uso das figs. 7.2 e 7.3, diversas relações podem ser facilmente definidas entre
os índices físicos. As eqs. 7.10 a 7.12 expressam algumas destas relações:
γ
γD =
1+ w (7.10)

γ S .w = γ w ⋅ Sr.e (7.11)

γ S + Sr.e ⋅ γ w
γ =
1+ e (7.12)
A umidade é definida como a relação entre o peso da água e o peso dos sólidos em
uma porção do solo, sendo expressa em percentagem. Pela análise da fig. 7.2 temos que:

Pw γ w ⋅ Sr ⋅ e
w= =
Ps γs (7.13)

Em agronomia e em alguns ramos da mecânica do solo utiliza-se a umidade


volumétrica (θ), definida como a relação entre o volume de água e o volume total de solo e
dada pela eq. 7.14

Vw Sr ⋅ e
θ= = = Sr ⋅ n
Vt 1 + e (7.14)

OBS: Apesar de alguns índices físicos serem apresentados em percentagem, o cálculo


das relações entre eles deve ser feito utilizando-os na forma decimal. Todos os outros índices
devem estar em unidades compatíveis.
 5 67, $   (#
.  2 68

Conforme será discutido no transcorrer deste curso, por possuírem arranjos estruturais
bastante simplificados, os solos grossos (areias e pedregulhos com nenhuma ou pouca
presença de finos) podem ter o seu comportamento avaliado conforme a sua curva
característica e a sua densidade relativa Dr, definida conforme a eq. 7.15.
Há uma variedade grande de ensaios para a determinação de emin e γdmáx; todos eles
envolvem alguma forma de vibração. Para emax e γdmin, geralmente se adota a colocação do solo
secado previamente, em um recipiente, tomando-se todo cuidado para evitar qualquer tipo de
vibração. Os procedimentos para a execução de tais ensaios são padronizados em nosso País
pelas normas NBR 12004 e 12051, variando muito em diferentes partes do Globo, não
havendo ainda um consenso internacional sobre os mesmos. A densidade relativa é um índice
50

adotado apenas na caracterização dos SOLOS NÃO COESIVOS. A tabela 7.1 apresenta a
classificação da compacidade dos solos grossos em função de sua densidade relativa.

emax − e γd γ d − γ d min
DR (%) = x100 = max x100 (7.12)
e max − emin γ d γ dmax − γ dmin
onde;
emax → é o índice de vazios do solo no estado mais solto (fofo).
e min → é o índice de vazios do solo no estado mais denso ou compacto.
e → é o índice de vazios do solo no seu estado natural.
γ dmin e γ d max → são definidos analogamen te a emin e emax .
γ d → peso específico aparente do solo seco no seu estado natural.
(7.15)

Tabela 7.1 - Classificação da compacidade dos solos grossos utilizando-se o


conceito de densidade relativa.
DR (%) Designação
0 a 30 Fofa
30 a 70 Medianamente compacta
60 a 100 compacta

Notas importantes:

a) A densidade relativa é o fator preponderante, tanto na deformabilidade quanto na


resistência ao cisalhamento de solos grossos, influindo até na sua permeabilidade.
b) A densidade relativa pode ser utilizada na estimativa preliminar de regiões sujeitas à
liquefação e no controle de compactação de solos não coesivos.
 

    !"#$%&  $')($ +* ,-* ) .$/ 0  

Para estimativa de todos os índices físicos de um determinado solo normalmente


efetuam-se as seguintes determinações:
1
Umidade
2 Peso específico do solo (γ)
2 Peso específico das partículas sólidas (γs)
  3 !"#$%4  0'(0 5* 768%& * *

A umidade do solo é geralmente determinada em estufa, em laboratório. Para tanto,


uma amostra de solo com determinado teor de umidade é pesada e posteriormente levada a
uma estufa, com temperatura entre 105 e 110o, onde permanece por um determinado período
(geralmente um dia), até que a sua constância de peso seja assegurada. As variações no peso
da amostra de solo se devem a evaporação da água existente no seu interior. Após o período
de secagem em estufa, o peso da amostra é novamente determinado. Deste modo, o peso da
água existente no solo é igual a diferença entre os pesos da amostra antes e após esta ser
levada à estufa, sendo a umidade do solo a razão entre esta diferença e o peso da amostra
determinado após secagem. A seguir são listados alguns métodos utilizados na determinação
da umidade do solo em campo e em laboratório.
51

Estufa a 105 - 110°C (laboratório)


Speedy (campo)
Fogareiro à Álcool (campo)
Estufa a 60°C. (laboratório, no caso da suspeita de existência de matéria orgânica)
Sonda de nêutrons (campo)
TDR (campo)
  
  
!
"$#% &' #)(*+ 

São listados a seguir os principais métodos utilizados em laboratório e em campo para


determinação do peso específico do solo.
  -, ./10 2$  3 ' 

Cravação de cilindro biselado em amostras indeformadas


Cilindro de compactação
Imersão em mercúrio (amostra indeformada, pequena)
Balança hidrostática, solo parafinado (NBR 10838)
   $./54. 6/

Cravação do cilindro de Hilf


Método do cone de areia
Método do balão de borracha
Sonda de nêutrons.
  78
9 ': "
!
"$#% &' #";/< 9 % #>=+ $

Esta determinação é efetuada exclusivamente em laboratório, utilizando-se o


picnômetro e os detalhes de sua execução são apresentados na NBR 6508.
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A.% . #

ÍNDICES FÍSICOS
n (%) e γd γ γsat
SOLOS kN / m3
Areia c / pedregulho 18 - 42 0.22 - 0.72 14 - 21 18 - 23 19 - 24
Areia Média a Grossa 25 - 45 0.33 - 0.82 13 - 18 16 - 21 18 - 21
Areia Fina e Uniforme 33 - 48 0.49 - 0.82 14 - 18 15 - 21 18 - 21
Silte 30 - 50 0.48 - 1.22 13 - 19 15 - 21 18 - 22
Argila 30 - 55 0.48 - 1.22 13 - 20 15 - 22 14 - 23

Sobre o peso específico das partículas, algumas observações necessitam ser


mencionadas:
Segundo dados de Lambe e Whitman (1969), γs geralmente se encontra no intervalo de
22 a 29 kN/m3 é em função dos minerais constituintes do solo.
Solos orgânicos tendem a apresentar valores de γs menores que o convencional,
enquanto que solos ricos em minerais ferrosos tendem a apresentar γs > 30 kN/m3.

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