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O objetivo da classificação dos solos, sob o ponto de vista de engenharia, é poder estimar o
provável comportamento do solo ou, pelo menos, orientar o programa de investigação
necessário para permitir a adequada análise de um problema.
Existem várias formas de classificar os solos, como pela sua origem, pela sua evolução, pela
presença ou não de matéria orgânica, pela estrutura, pelo preenchimento dos vazios. Os
sistemas baseados no tipo e no comportamento das partículas que constituem os solo são os
mais conhecidos na engenharia de solos.
Os sistemas de classificação que se baseiam nas características dos grãos que constituem os
solos, têm como objetivo a definição de grupos que apresentam comportamentos
semelhantes sob os aspectos de interesses da Engenharia Civil. Nestes sistemas, os índices
empregados são geralmente a composição granulométrica e os Índices de Atterberg.
CLASSIFICAÇÃO UNIFICADA
Este sistema de classificação foi elaborado originalmente pelo Prof. Casagrande para obras
de aeroportos, e seu emprego foi generalizado. Atualmente bastante utilizado em barragens
de terra.
Neste sistema, todos os solos são identificados pelo conjunto de letras como mostrado na
tabela abaixo.
As 5 letras superiores indicam o tipo principal do solo e as 4 seguintes correspondem a dados
complementares.
Exemplo: SW = areia bem graduada.
CH = argila de alta compressibilidade.
Com granulação grosseira, o solo será classificado como pedregulho ou areia, dependendo de
qual dessas duas frações granulométricas predominar.
Por exemplo, se o solo tiver 30 % de pedregulho, 40 % de areia e 30 % de finos, ele será
classificado como areia (S).
Identificado um solo como areia ou pedregulho, importa conhecer sua característica
secundária. Se o material tiver poucos finos, menos que 5 % passando na peneira n° 200,
deve-se verificar como é a sua composição granulométrica.
Os solos granulares podem ser “bem-graduados” ou “malgraduados”, conforme mostrado no
gráfico a seguir, em duas areias distintas.
O CNU indica a amplitude dos tamanhos de grãos, e o CC detecta melhor o formato da curva
granulométrica e permite identificar eventuais descontinuidades ou concentração muito
elevada de grãos mais grossos no conjunto.
Quando a fração fina do solo é predominante, ele será classificado como silte (M), argila (C)
ou solo orgânico (O), não em função das porcentagens das frações granulométricas silte ou
argila, mas em função dos índices de consistência que, melhor indicam o comportamento
argiloso.
Ao analisar os índices e o comportamento de solos, Casagrande observou que, ao colocar o IP
do solo em função do LL num gráfico, como apresentado na Figura abaixo, os solos de
comportamento argiloso se faziam representar por um ponto acima de uma reta inclinada,
denominada Linha A. Solos orgânicos, ainda que argilosos, e solos siltosos são representados
por pontos localizados abaixo da Linha A. A Linha A tem como equação a reta:
que, no seu trecho inicial, é substituída por uma faixa horizontal correspondente a IP de 4 a 7.
Carta de Plasticidade
Este Sistema (Tabela abaixo), muito empregado na engenharia rodoviária em todo o mundo,
foi originalmente proposto nos Estados Unidos. É também baseado na granulometria e nos
Limites de Atterberg.
de classificação foi elaborado originalmente pelo Prof. Casagrande para obras de aeroportos,
e seu emprego foi generalizado. Atualmente bastante utilizado em barragens de terra.
Neste sistema, também se inicia a classificação pela constatação da porcentagem de material
que passa na peneira n° 200, só que são considerados solos de granulação grosseira os que
têm menos de 35 % passando nesta peneira, e não 50 % como na Classificação Unificada.
Esses solos são dos grupos A-1, A-2 e A-3. Os solos com mais de 35 % que passam na peneira
n° 200 formam os grupos A-4, A-5, A-6 e A-7.
Esquema para a classificação pelo Sistema Rodoviário
Os solos finos, a exemplo do Sistema Unificado, são subdivididos só em função dos índices, de
acordo com o gráfico acima. O que distingue um solo A4 de um solo A-2-4 é só a porcentagem
de finos.
CLASSIFICAÇÕES REGIONAIS
A pouca utilização dos sistemas de classificação decorre do fato de eles nem sempre
confirmarem a experiência local. Por exemplo, a “argila porosa vermelha”, que é um solo
característico da Cidade de São Paulo, ocorre no espigão da Avenida Paulista, e seria
classificada pelo Sistema Unificado como “silte de alta compressibilidade”, pois seus índices
de consistência indicam um ponto abaixo da Linha A. Entretanto, esse solo apresenta
comportamento típico de argila, tanto que recebeu a denominação que o caracteriza.
As discrepâncias entre as classificações clássicas e o comportamento observado de alguns
solos nacionais, se deve, certamente ao fato de serem frequentemente solos residuais ou
solos lateríticos, para os quais os índices de consistência não podem ser interpretados da
mesma maneira como para os solos transportados, de ocorrência nos países de clima
temperado, onde os sistemas vistos foram elaborados.
Uma proposta de sistema de classificação dos solos tropicais vendo sendo desenvolvida pelo
Prof. Nogami, da Escola Politécnica da USP. Neste sistema, os solos são classificados
primeiramente em areias, siltes e argilas, e secundariamente em lateríticos e saprolíticos.
Essa classificação não emprega índices de consistência, mas parâmetros obtidos em ensaios
de compactação com energias diferentes. O sistema é voltado para a prática rodoviária e se
baseia em solos do Estado de São Paulo.
São reconhecidos também os “solos variegados”, “argilas cinzas duras”, “areias basais” e as
“argilas orgânicas quaternárias”, nas várzeas dos Rios Tietê e Pinheiros.
Os solos podem ser classificados em dois grandes grupos: solos residuais e solos
transportados.
Solos residuais são aqueles de decomposição das rochas que se encontram no próprio local
em que se formaram. Para que eles ocorram, é necessário que a velocidade de decomposição
da rocha seja maior do que a velocidade de remoção por agentes externos. A velocidade de
decomposição depende de vários fatores, entre os quais a temperatura, o regime de chuvas e
a vegetação. As condições existentes nas regiões tropicais são favoráveis a degradações mais
rápidas da rocha, razão pela qual as maiores ocorrências de solos residuais situam-se nessas
regiões, entre elas o Brasil.
Solo residual maduro: superficial ou abaixo de um horizonte “poroso” ou “húmico”, e que
perdeu toda a estrutura original da rocha-mãe e tornou-se relativamente homogêneo.
Saprolito ou solo saprolítico: solo que mantém a estrutura original da rocha-mãe, mas perdeu
a consistência da rocha. Visualmente pode se confundir com uma rocha alterada, mas
apresenta pequena resistência ao manuseio. É também chamado de solo residual jovem ou
solo de alteração de rocha.
Rocha alterada: horizonte em que a alteração progrediu ao longo de fraturas, deixando
intactos grandes blocos da rocha original.
Em se tratando de solos residuais, é de grande interesse a indicação da rocha-mãe, pois ela
condiciona, a própria composição física. Solos residuais de basalto são predominante
argilosos, os de gnaisse são siltosos e os de granito apresentam teores aproximadamente
iguais de areia média, silte e argila.
Solos transportados são aqueles que foram levados ao seu local atual por alguma agente de
transporte. As características dos solos são função do agente transportador.
Solos formados por ação da gravidade dão origem a solos coluvionares, como os
escorregamentos da Serra do Mar.
Solos resultantes do carreamento pela água são os aluviões, ou solos aluvionares. Sua
constituição depende da velocidade das águas no momento da deposição. Existem aluviões
essencialmente arenosos, bem como aluviões muito argilosos, comuns nas várzeas
quaternárias dos córregos e rios.
O transporte pelo vento dá origem aos depósitos. O transporte eólico provoca o
arredondamento das partículas, em virtude do seu atrito constante. As areias constituintes do
arenito Botucatu, no Brasil, são arredondadas, por ser esta uma rocha sedimentar com
partículas previamente transportadas pelo vento.
O transporte por geleiras dá origem aos drifts, muito frequentes na Europa e nos Estados
Unidos, mas com pequena ocorrência no Brasil.
SOLOS ORGÂNICOS
São chamados solos orgânicos aqueles que contêm uma quantidade apreciável de matéria
decorrente de decomposição de origem vegetal ou animal, em vários estágios de
decomposição. Geralmente argilas ou areias finas, os solos orgânicos são de fácil
identificação pela cor escura e pelo odor característico.
Solos orgânicos geralmente são problemáticos por serem muito compressíveis. Eles são
encontrados no Brasil, principalmente, principalmente nos depósitos litorâneos, em
espessuras de dezenas de metros, e nas várzeas de rios e córregos, em camadas com 3 a 10 m
de espessura. O teor de matéria orgânica em peso varia de 4 a 20 %. Por sua característica
orgânica, apresentam elevados índices de vazios, e por serem de sedimentação recente,
normalmente adensados, possuem baixa capacidade de suporte e considerável
compressibilidade.
Em algumas formações, ocorre uma importante concentração de folhas e caules em processo
incipiente de decomposição, formando as turfas. São materiais extremamente deformáveis,
mas muito permeáveis, permitindo que os recalques, devidos aos carregamentos externos,
ocorram rapidamente.
SOLOS LATERÍTICOS
De particular interesse para o Brasil é a identificação dos solos lateríticos, típicos da evolução
de solos em clima quente, com regime de chuvas moderadas a intensas. Os solos lateríticos
têm sua fração argila constituída predominantemente de minerais cauliníticos e apresentam
elevada concentração de ferro e alumínio de forma de óxidos e hidróxidos, donde sua peculiar
coloração avermelhada.
Na natureza, os solos lateríticos apresentam-se, geralmente não saturados, com índice de
vazios elevado, daí sua pequena capacidade de suporte. Quando compactados, sua
capacidade de suporte é elevada, e por isto são muito empregados em pavimentação e em
aterros. Após compactado, um solo laterítico apresenta contração se o teor de umidade
diminuir, mas não apresenta expansão na presença de água.
EXEMPLO
Na figura abaixo estão as curvas granulométricas de diversos solos brasileiros, cujos índices
de consistência são indicados na Tabela a seguir. Determine a classificação destes solos, tanto
pelo método Unificado, como pelo Rodoviário. Para os solos argilosos, determine o índice de
atividade da argila, e para os solos arenosos, o CNU e o CC.
Quando a atividade do solo varia de 0,75 a 1,25 a argila é considerada normal. Para valores
menores que 0,75 a argila é considerada inativa e para maiores que 1,25 ela é considerada
ativa, ou seja, alto potencial de expansão.