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1ª Edição
Belo Horizonte
Poisson
2019
Editor Chefe: Dr. Darly Fernando Andrade
Conselho Editorial
Dr. Antônio Artur de Souza – Universidade Federal de Minas Gerais
Msc. Davilson Eduardo Andrade
Dra. Elizângela de Jesus Oliveira – Universidade Federal do Amazonas
Msc. Fabiane dos Santos Toledo
Dr. José Eduardo Ferreira Lopes – Universidade Federal de Uberlândia
Dr. Otaviano Francisco Neves – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Dr. Luiz Cláudio de Lima – Universidade FUMEC
Dr. Nelson Ferreira Filho – Faculdades Kennedy
Msc. Valdiney Alves de Oliveira – Universidade Federal de Uberlândia
Formato: PDF
ISBN: 978-85-7042-161-6
DOI: 10.36229/978-85-7042-161-6
CDD-620
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de
responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores.
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contato@poisson.com.br
SUMÁRIO
Capítulo 1: Resíduos sólidos perigosos: Ferramentas para implantação da coleta seletiva
e procedimentos de reciclagem ........................................................................................................... 08
Ana Paula Jambers Scandelai, Danielly Cruz Campos Martins, Paula Polastri, Edson Sales Júnior, Cláudia
Telles Benatti, Célia Regina Granhen Tavares
DOI: 10.36229/978-85-7042-161-6.CAP.01
Capítulo 6: Efeito da adição de resíduo de poliéster reforçado com fibra de vidro nos
parâmetros de resistência ao cisalhamento ................................................................................... 48
André Sales Mendes, Rodrigo de Moura Fernandes, Matheus Pena da Silva e Silva, Raimundo Humberto
Cavalcante Lima, Consuelo Alves da Frota
DOI: 10.36229/978-85-7042-161-6.CAP.06
Fernanda Monique da Silva, Pedro Henrique Xavier de Mesquita, Rodrigo Nogueira de Codes, Zoroastro
Torres Vilar
DOI: 10.36229/978-85-7042-161-6.CAP.10
Capítulo 11: Plástico reciclado adotado como elemento estrutural na construção civil:
Porosidade versus resistência (estudo de caso) .......................................................................... 95
Marina Muriel Feitosa Pinto, Conceição de Maria Pinheiro Correia
DOI: 10.36229/978-85-7042-161-6.CAP.11
Capítulo 13: Análise de textura da LIGA 600 após processamento por ECAP e
tratamentos térmicos ............................................................................................................................... 112
Renan Augusto Francisco Dias, Waldemar Alfredo Monteiro
DOI: 10.36229/978-85-7042-161-6.CAP.13
SUMÁRIO
Capítulo 14: Síntese de catalisadores de níquel suportado em alumina por via úmida
............................................................................................................................................................................ 120
Normanda Lino de Freitas, Joelda Dantas, Ana Cristina F. de Melo Costa, Talita Kênya O. Costa, Ana Carla da
F. Ferreira, Jéssica Renaly F. Morais
DOI: 10.36229/978-85-7042-161-6.CAP.14
Capítulo 16: Influência do tratamento alcalino nas propriedades da fibra de sisal e nos
seus compósitos de matriz epóxi avaliada pela técnica da correlação digital de imagens.
............................................................................................................................................................................ 135
Pedro Henrique Xavier de Mesquita, Fernanda Monique da Silva, Rodrigo Nogueira de Codes, Zoroastro
Torres Vilar
DOI: 10.36229/978-85-7042-161-6.CAP.16
Capítulo 17: Análise de ensaios de tração em amostras de latão, aço SAE 1020 e aço SAE
1010 ................................................................................................................................................................. 143
Matheus Ben-Hur Ramirez Sapucaia, Francisco Mikael Alves da Silva
DOI: 10.36229/978-85-7042-161-6.CAP.17
Capítulo 22: Phosphorus removal from metallurgical grade silicon by acid leaching for
solar application ......................................................................................................................................... 186
Cátia Fredericci, João Guilherme Rocha Poço, João Batista Ferreira Neto, John Bernardo Vilca Neira,
DOI: 10.36229/978-85-7042-161-6.CAP.22
Capítulo 1
Resíduos sólidos perigosos: Ferramentas para
implantação da coleta seletiva e procedimentos de
reciclagem
1 INTRODUÇÃO
Os resíduos sólidos perigosos (RSP) são aqueles que, em razão de suas características de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e
mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade ambiental. Assim, de
acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) - Lei nº 12.305/2010 são considerados
resíduos sólidos perigosos (RSP) lâmpadas com vapor de mercúrio e fluorescentes, lodos de tratamentos
de esgotos e efluentes, óleos (lubrificantes, hidráulicos, de corte e usinagem, de isolamento térmico ou de
refrigeração), pneus, pilhas e baterias (BRASIL, 2010). Além destes, diversos outros resíduos (ou produtos
pós-consumo) são considerados perigosos, que mesmo não sendo prioritários pela PNRS, também
necessitam de atenção, devido aos seus possíveis danos à saúde pública e ao ambiente.
Quando os RSP são manejados de forma incorreta, podem contaminar o solo, águas superficiais e
subterrâneas, atingindo a cadeia alimentar. O manejo dos resíduos envolve a segregação, o
armazenamento, a coleta seletiva, o transporte, o tratamento e a destinação ou disposição final. Assim, a
coleta seletiva é definida pela PNRS como sendo a coleta de resíduos sólidos previamente segregados
conforme sua constituição e composição (BRASIL, 2010). Após a coleta seletiva, os RSP necessitam de
destinação final de acordo com suas características e, como alternativa, tem-se a reutilização ou a
reciclagem. Sendo que estes processos dependem diretamente da coleta seletiva, uma vez que esta
permite o fracionamento dos resíduos e redução de contaminações ambientais. A coleta seletiva, por sua
vez, depende da educação ambiental, responsável pela conscientização dos geradores de resíduos.
Frente ao exposto, o presente trabalho tem como objetivo, realizar uma abordagem sobre as ferramentas
para implantação de uma eficiente coleta seletiva de resíduos sólidos perigosos e as formas de reciclagem
destes resíduos, visando o seu tratamento e reaproveitamento.
2 MATERIAL E MÉTODOS
Com base em dados da literatura, foi realizada uma abordagem sobre os conceitos e aplicação da coleta
seletiva e da reciclagem de resíduos sólidos perigosos (RSP), bem como da situação atual no país.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 COLETA SELETIVA E RECICLAGEM DE RSP
A partir da PNRS, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de RSP como agrotóxicos,
seus resíduos e embalagens; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; produtos eletroeletrônicos e seus
componentes ficaram obrigados a estruturar e implantar sistemas de logística reversa (LR). Bem como a
obrigação pela estruturação e implantação da coleta seletiva de forma independente do serviço público de
manejo dos resíduos sólidos (BRASIL, 2010).
A sensibilização e mobilização de todos os envolvidos no processo de coleta seletiva e reciclagem dos RSP,
via educação ambiental, é parte fundamental para o sucesso do processo de LR e, consequentemente, da
destinação adequada destes resíduos. Os responsáveis pela inserção dos RSP no mercado (fabricantes,
importadores e comerciantes), em possível parceria com o município, deverão sensibilizar e incentivar a
população para a entrega voluntária dos RSP nos pontos de coleta do município. Os consumidores ficam
obrigados a realizar a segregação na fonte de geração, acondicionamento adequado e diferenciado dos
demais resíduos (BRASIL, 2010).
A norma NBR 12235:1992 (ABNT, 1992) estabelece condições para o armazenamento de todos e
quaisquer RSP - Classe I, conforme classificação pela NBR 10004:2004 (ABNT, 2004). Contudo, alguns
resíduos apresentam normas específicas para sua segregação, armazenamento, coleta e transporte, como
os pneus inservíveis (Resolução CONAMA n° 416/2009), óleo lubrificante usado ou contaminado
(Resolução CONAMA n° 362/2005), embalagens de defensivos agrícolas (ABNT NBR 13968:1997;
Resolução CONAMA n° 465/2014) e resíduos de serviços de saúde (Resolução ANVISA RDC n° 306/2004 e 9
nas normas ABNT NBR 12810:2016, 13853:1997 e 9191:2008).
A reciclagem possibilita a “transformação dos resíduos sólidos por meio da alteração de suas propriedades
físicas, químicas ou biológicas [...]” (BRASIL, 2010). Na qual promove a reinserção de materiais na cadeia
produtiva, proporcionando ganhos econômicos, sociais e ambientais, uma vez que essa ação reduz a
extração de matérias-primas naturais. Assim, dentre os RSP que são passíveis de reciclagem destacam-se
Engenharia no Século XXI – Volume 7
3.1.3 PNEUS
Dentre as diversas tecnologias utilizadas para a reutilização e reciclagem dos pneus, se destacam a
recauchutagem (reconstrução do pneu, aumentando sua vida útil), a remoldagem (recomposição da
borracha das carcaças), coprocessamento em fornos de cimenteiras (aproveitamento térmico), aplicação
na construção civil como em materiais e asfalto (LANGARINHOS; TENÓRIO, 2008; FREITAS, 2010; IBAMA,
2013).
lavagem, ou, caso contrário, aos incineradores licenciados (IAP, 2017). Nas empresas recicladoras, as
embalagens são transformadas, retornando ao setor produtivo para reaproveitamento como embalagens
de agrotóxicos, ou transformadas em tubos para a construção civil, embalagem para óleo lubrificante,
entre outros (INPEV, 2017).
4 CONCLUSÃO
A coleta seletiva e a reciclagem, instrumentos da PNRS, devem ser aplicadas de forma concomitante com a
educação ambiental. Assim, fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de RSP devem
promover programas de educação ambiental, distribuir pontos de coleta, orientar os consumidores
quanto à sua participação na coleta seletiva, por meio da segregação na fonte e transporte até os pontos de
coletas. Bem como devem coletar e destinar adequadamente seus resíduos, além disto, os consumidores
devem ter a iniciativa de entregar os RSP gerados aos pontos de coleta distribuídos no município.
Desde a implantação da PNRS, em 2010, estes instrumentos deveriam estar sendo aplicados em todos os
municípios brasileiros, para todos os RSP, porém, há pouco incentivo à população, bem como pouca
divulgação quanto às formas de segregação adequada e destinação aos pontos de coletas, impossibilitando
que a coleta seletiva e reciclagem tenham maior abrangência e sucesso.
REFERÊNCIAS
[1] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 12235: Armazenamento de resíduos sólidos perigosos -
Procedimento. Rio de Janeiro, 1992.
[2] ______. NBR 10004: Resíduos sólidos – Classificação. Rio de Janeiro, 2004.
[3] Bernardes, A. M., Tenório, J. A. S., Espinosa, D. C. Collection and recycling of portable batteries: a worldwide
overwiew compared to the brazilian situation. Journal of Power Sources, v. 124, p. 586-592, 2003.
[4] Brandão, A. C., Gomes, L. M., Afonso, J. C. Educação Ambiental: O caso das lâmpadas usadas. Artigo Técnico.
Instituto de Química – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2011.
[5] Brasil. Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF,
03 ago. 2010.
[6] Brasil Recicle. Acondicionamento das lâmpadas. Disponível em:
<http://www.brasilrecicle.com.br/hp/index.asp>. Acesso em 8 jun. 2017.
[7] Bueno, P. A., Haumann, F. C., Schmidt, C. A. P. Levantamento de dados sobre a reciclagem do lixo eletrônico no
município de Medianeira – PR. Tecnológica, v. 17, n. 1, p. 53-59, 2013.
[8] Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo. Resíduos sólidos – logística
reversa: o que o empresário do comércio e serviços precisa saber e fazer. São Paulo: Tutu, 2014.
[9] Freitas, S. S. Benefícios sociais e ambientais do coprocessamento de pneus inservíveis: Estudo de caso na
cidade de João Pessoa-PB. João Pessoa, 2010. Dissertação de mestrado, Centro de Tecnologia, Universidade Federal da
Paraíba, 2010.
[10] Gerbase, A .E., Oliveira, C. R. Reciclagem do lixo de informática: uma oportunidade para a química. Química
Nova, v. 35, n. 7, p. 1486-1492, 2012.
[11] Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Instrução Normativa nº 1, de 25
de janeiro de 2013. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 21, sessão 1, 30 jan. 2013.
[12] ______. Instrução Normativa nº 13, de 18 de dezembro de 2012. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, n. 245, sessão 1, 20 dez. 2012.
[13] Instituto de Águas do Paraná . Programa de embalagens de agrotóxicos. Disponível em:
<http://www.aguasparana.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php? conteudo=32>. Acesso em 3 jun. 2017.
[14] Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias. Logística reversa. Disponível em:
<http://www.inpev.org.br/logistica-reversa/logistica-reversa-das-embalagens>. Acesso em: 10 jun. 2017.
11
[15] Kang, H., Shoenung, J.M. Eletronic waste recycling: A review of U.S. infrastructure and technology options.
Resources, Conservation and Recycling, v. 45, p. 368-400, 2005.
[16] Langarinhos, C. A. F., Tenório, J. A. S. Tecnologias utilizadas para a reutilização, reciclagem e valorização
energética de pneus no Brasil. Polímeros: Ciência e Tecnologia, v. 18, n. 2, p. 106-118, 2008.
[17] Lwart. Processo de rerrefino. Disponível em: <www.lwart.com.br>. Acesso em: 3 jul. 2017.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
[18] Mattioli, L. M. L., Monteiro, M. A., Ferreira, R. H., Penido, R. C. S. Plano de gerenciamento integrado de resíduos
pneumáticos - Pgirpn. Belo Horizonte: Fundação Estadual do Meio Ambiente: Fundação Israel Pinheiro, 2009.
[19] Monteiro, J. H. Manual Integrado de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. Rio de Janeiro: IBAM, 2001.
[20] Provazi, K., Espinosa, D. C. R., Tenório, J.A.S. Estudo eletroquímico da recuperação de metais de pilhas e de
baterias descartadas após o uso. Revista Escola de Minas, v. 65, n. 3, p. 335-342, 2012.
[21] Silva, F. M. D. Análise do descarte de lâmpadas fluorescentes na cidade do Recife. Recife, 2010. Dissertação de
mestrado, Departamento de Engenharia de Produção, Universidade Federal de Pernambuco, 2010.
[22] Zanicheli, C., Peruchi, I. B., Monteiro, L. A., João, S. A. S., Cunha, V. F. Reciclagem de lâmpadas: aspectos
ambientais e tecnológicos. 2004.
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Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 2
Elaboração de painéis produzidos com os resíduos da
madeira, soja, milho e aveia
Tamara da Silva
Fernanda Santos Silveira
Celia Kimie Matsuda
Rubya Vieira de Mello Campos
13
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2004), pode ser considerado resíduos os que
se encontram nos estados sólidos e semi-sólidos, que resultam de atividades de origem industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.
O setor madeireiro cresce a cada dia e isso gera uma grande quantidade de resíduos, juntamente com
alguns problemas, pois a maioria dos resíduos não são aproveitados adequadamente (TUOTO, 2009).
O Brasil é um grande produtor e consumidor de madeira, sendo assim gera uma grande quantidade de
resíduos, aproximadamente 60 milhões de toneladas de resíduos por ano. As indústrias madeireiras tem
um alto desperdício e quase 2/3 de todas ás árvores exploradas acabam virando “sobras” ou serragem, e
esses resíduos acabam por não terem destino correto. Todo esse resíduo que não serve para o comércio
regular vai para o lixo ou é queimado, contribuindo para uma maior poluição, (MONTEIRO; SANTO, 2012).
As indústrias madeireiras agem de forma ineficiente com a coleta da matéria prima, na produção e no
descarte dos resíduos e isso faz com que o meio ambiente seja danificado (TEIXEIRA; CÉSAR, 2006).
A serragem, um dos principais resíduos da madeira é gerada através da operação de serrar, formando
assim partículas menores que 1mm de diâmetro, podendo chegar aproximadamente a 12% do volume
total da matéria prima (CASSILHA, 2003).
O pó de serra produzido pela serragem de aglomerados e MDF, são usados muitas vezes em granjas, como
adubos, e incinerados em controle para produção de energia. Essas técnicas para esse tipo de material são
incorretas, pois são resíduos que deveriam ter outros destinos, para não serem descartados no meio
ambiente (MONTEIRO; SANTO, 2012).
A quantidade de resíduos atualmente provém de diversos setores, outro setor são os resíduos agrícolas
que provém da atividade de colheita dos produtos produzidos no campo, um desses resíduos é o resíduo
de soja (palha de soja). A preocupação com a geração desse tipo de resíduo se justifica, pois, o Brasil é o
segundo maior produtor mundial de soja e sempre com perspectivas de aumento, com isso a quantidade
de resíduos tende a aumentar.
“A maior parte das palhas produzidas após a colheita de grãos ou sementes são desperdiçadas, sendo
pequeno o seu uso na alimentação dos animais”. (RESTLE et al.,2000).
Atualmente os produtores estão utilizando as palhas como adubo para a próxima cultura, o que acaba por
dar um destino certo às mesmas. Pelo fato dos resíduos da soja conterem, nutrientes as mesmas não
podem ser descartadas inadequadamente.
Outro resíduo que provém das atividades agrícolas são os resíduos da aveia, uma cultura desenvolvida nos
meses de frio. Existem atualmente grandes espécies de aveia, como a aveia branca, aveia preta entre
outras, (MACHADO, 2000).
Segundo Machado (2000), a aveia tem grande utilidade sendo cultivada para a produção de forragem,
feno, silagem e grãos, e também é utilizada na alimentação de bovinos de corte e leite. Os resíduos da aveia
são muito utilizados para cobertura do solo, preparando o solo e protegendo contra pragas e insetos em
plantas invasoras.
Ainda no ramo das atividades agrícolas temos os resíduos provenientes da cultura do milho, a
produtividade média de milho no Brasil está em crescimento e com isso os resíduos gerados por essa
cultura também aumentam.
O milho gera diversos resíduos aos quais quando são reutilizados de forma correta geram alimentos para
ruminantes e insumos de relevância industrial, por outro lado quando inadequadamente manuseados
constituem como fonte de contaminação e agressão ao meio ambiente (LOSS, 2009).
Apesar do constante desenvolvimento do país ao analisar todas as informações apresentadas percebe-se
que os resíduos produzidos a partir de atividades industriais e agrícolas ainda trazem alguns problemas
sociais e principalmente ambientais.
14
Contudo, o objetivo desse trabalho é elaborar painéis a partir do reaproveitamento de resíduos da
madeira (serragem), milho, soja e aveia, para que estes painéis possam contribuir para a sociedade e meio
ambiente por ser sustentável, e pela possível aplicação do mesmo na construção civil como material para
revestimentos.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
2 MATERIAL E MÉTODOS
Para confeccionar os painéis utilizou-se o Laboratório de Química Aplicada (LQA) da Universidade
Estadual do Paraná – Campus de Campo Mourão, onde foram produzidos dois tipo de painéis:
Painel (A): constituído de 50g de resíduo da madeira (serragem), 50g de resíduo da soja e 50g de
resíduo da aveia;
Painel (B): constituído de 50g de resíduo da madeira (serragem), 50g de resíduo do milho e 50g
de resíduo da aveia.
Após a coleta da matéria prima no campo e na indústria madeireira, deu-se início ao processo de preparo
dos resíduos, onde o resíduo da aveia e o resíduo da soja tiveram o mesmo preparo. Primeiramente os
resíduos da aveia e da soja foram triturados em um triturador para que se obtivessem as partículas
menores, após foram cozidos em uma panela de pressão juntamente com água e hidróxido de sódio por
aproximadamente 20 min. Na sequência os resíduos foram lavados em água corrente, triturados
novamente em um liquidificador e levados à estufa até que houvesse a secagem total.
O resíduo de madeira (serragem) foi apenas peneirado para retirada do pó grosso, utilizando somente o
pó de serra fino para a elaboração dos painéis.
Com relação ao resíduo do milho primeiramente, a palha foi cortada manualmente, posteriormente foi
colocada em uma solução com água, até a cobertura total da mesma, acrescentando na solução o hidróxido
de sódio, deixando nesse processo de maceração por 24 h na solução. Após esse período, o resíduo foi
lavado em água corrente, triturado novamente em um liquidificador e levado à estufa até que houvesse a
secagem total.
Utilizou-se uma cola, como material aglomerante para as fibras, onde os materiais utilizados estão listados
na tabela (1):
Materiais Quantidade(g)
Resina 90
Trigo 100
Água 240
Catalisador 19
Fonte: Autor (2017).
Para preparar essa cola, misturaram-se todos os ingredientes com o auxílio de um liquidificador, onde esta
cola foi misturada manualmente junto com os resíduos que correspondia a cada painel, de acordo com a
Figura (1).
Figura 1: Mistura da cola com os resíduos.
15
Com a mistura pronta e homogênea moldou-se a mesma em uma forma de 20cm x 20cm, conforme Figura
(2).
Em seguida levou-se a forma para a prensa por aproximadamente 10 min e posteriormente a estufa a
120ºC por aproximadamente 24h, após este período os painéis foram retirados dos moldes.
16
O ensaio sensorial olfativo destina-se a analisar o comportamento olfativo dos painéis sob a influência de
temperatura e clima, desta forma para a realização do mesmo inicialmente foram retirados corpos de
prova medindo (50 ± 5)cmᵌ do centro dos painéis (A) e (B), onde estes ficaram condicionados por 24 h em
uma estufa a uma temperatura de (23 ± 2)ºC. Após, os corpos de prova foram então armazenados nos
recipientes de vidro para realização do ensaio, de modo que os mesmos permanecessem em posição
oblíqua afim de que o ar não escapasse, vedaram-se as tampas antes de fechar os recipientes com papel
filtro e os mesmos foram colocados com as tampas para baixo. Os corpos de prova permaneceram nessa
situação por 24h a 70ºC, em estado seco e em seguida avaliados por voluntários, de acordo com a Figura
(4).
Figura 4: Corpos de prova em vidros vedados.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Por meio de uma avaliação visual pode-se verificar que os painéis (A) e (B) apresentaram bons resultados,
onde as características referentes à cor e odor foram provenientes dos resíduos e materiais utilizados. Os
painéis também apresentaram-se resistentes à tração manual, duro e rígidos ao manuseio. Os painéis (A)
e(B) podem ser analisados nas Figuras (5) e (6).
17
4 CONCLUSÃO
Os resíduos são gerados por diversas atividades e, portanto reaproveitar estes resíduos que são
descartados por muitas vezes inadequadamente é um fator de extrema importância para a sociedade e
principalmente para o meio ambiente.
Os painéis que foram realizados a partir do reaproveitamento de resíduos foram submetidos a diversas
situações com intuito de avaliar o comportamento dos mesmos perante a diversas condições climáticas, e
mesmo depois dessas situações os painéis permaneceram com suas características iniciais pouca
alteradas.
Após a confecção e avaliação do painel (A) constituído do resíduo da madeira (serragem), soja e aveia; e
do painel (B) constituído do resíduo da madeira, milho e aveia, pode-se concluir que os painéis
apresentaram bons resultados preliminares.
Sendo assim, almeja-se que estes painéis possam contribuir para o meio ambiente e para a sociedade, pois
além de ser um produto que visa à sustentabilidade o mesmo possui baixo custo, sugere-se ainda que
sejam realizadas outras avaliações complementares para obter um produto de ótima qualidade e
segurança.
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Engenharia no Século XXI – Volume 7
REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7217:1987: Agregados - Determinação da
composição granulométrica. Rio de Janeiro: ABNT.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12127:1991a (MB-3468): Gesso para construção -
Determinação das propriedades físicas do pó - Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 10005 (2004): Procedimento para obtenção
de extrato lixiviado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro: ABNT.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12775:1992: Placas lisas de gesso para forro -
Determinação das dimensões e propriedades físicas - Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 10004 (2004): Resíduos sólidos –
Classificação Rio de Janeiro: ABNT.
[6] CAMPOS, R. V. M. Painéis pata tratamento acústico utilizando fibras naturais. Dissertação de Mestrado.
Departamento de Engenharia Civil. Universidade Estadual de Maringá. Paraná, 2012.
[7] CASSILHA, A. C. et al. Indústria moveleira e resíduos sólidos: considerações para o equilíbrio ambiental.
Minas Gerais: CEFET, 2003.
[8] LOSS, E. M. S. Aproveitamento de resíduos da cadeia produtiva do milho para cultivo de cogumelos
comestíveis. Dissertação de Mestrado Universidade Estadual de Ponta Grossa, 2009.
[9] MONTEIRO, J. Caracterização e resíduos agroindustriais e florestais visando a briquetagem. Universidade
Federal do Espírito Santo, Espírito Santo, 2012.
[10] RESTLE, J.; FILHO, D. C. A.; BRONDANI, L. I.; FLORES, J. L. C. Palha de soja (glycine max) como substituto
parcial da silagem de sorgo forrageiro (sorghum bicolor ( l.) moench) na alimentação de terneiros de corte confinados.
Artigo Scielo. Ciência Rural, Santa Maria (2000).
[11] MACHADO, L. A. Z. Aveia: forragem e cobertura do solo. Embrapa Agropecuária Oeste Dourados- MS (2000).
[12] OLIVA, E. F.; FREIRE, R. S. Os impactos ambientais decorrentes da produção de resíduos sólidos urbanos e
seus riscos a saúde humana. Revista Eletrônica da Faculdade José Augusto Vieira, setembro de 2008.
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Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 3
Efeito da incorporação dos resíduos grits na qualidade
tecnológica de tijolos solo-cimento
Júlia Fonseca Colombo Andrade
André Geraldo Cornélio Ribeiro
Rafael Farinassi Mendes
Lucas Cardoso Lima
20
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
O Brasil é o quarto maior produtor de celulose do mundo, produzindo 18,733 milhões de toneladas de
celulose por ano, segundo dados de 2016 do Instituto Brasileiro de Árvores (IBÁ). O principal processo de
obtenção da celulose é o kraft (MAITAM, COSTA JR e COSTA, 2012) que consiste no cozimento de cavacos
de madeira em uma solução de sulfeto de sódio (Na2S) e hidróxido de sódio (NaOH), com a finalidade de
dissolver a lignina e liberar as fibras com o mínimo de degradação da celulose. A recuperação de
compostos químicos é parte essencial, viabilizando economicamente e ambientalmente a planta industrial
(PASSINI, 2017).
Segundo o IBÁ (2015), 66% dos resíduos gerados no processo Kraft são destinados para geração de
energia elétrica para própria indústria, por meio de caldeiras que geram vapor. Na fase de recuperação
dos compostos químicos são gerados os dregs, grits, a lama de cal e cinzas.
Os grits são materiais insolúveis originados do processo de caustificação do licor verde, sendo composto
basicamente de calcita (CaCO3), portlandita (CaOH2) e pirssonite (Na2Ca(CO3)2. 2(H2O)), possuem pH
superior a 12 e não apresentam atividade pozolânica (RIBEIRO, 2010; SIQUEIRA e HOLANDA, 2015;
RODRIGUES et al., 2016 ; MYMRIN et al., 2016). Os grits são classificados como Classe II-A, resíduos não
perigosos, não inertes (ABNT, 2004).
Diferentes alternativas para a disposição final dos grits foram testadas, incluindo agricultura,
pavimentação de estradas florestais, produção de clínquer de cimento e incorporação em tijolos de solo-
cimento (MACHADO, PEREIRA e PIRES, 2003; ZAMBRANO, et al.,2007; SIQUEIRA e HOLANDA, 2015;
TORRES, 2017).
O resíduo grits pode ser incorporado à tijolos solo-cimento como aditivos desde que alcancem a
resistência à compressão e tenham absorção de água inferior ao limite normatizado. O tijolo de solo-
cimento é classificado pela NBR 8491 (ABNT,2012 a) como uma mistura homogênea, compactada e
endurecida de solo, cimento Portland e água, podendo conter aditivos, caso o tijolo atenda as normas. A
quantidade de cimento se relaciona estreitamente com as características do solo, variando de 5 a 13% em
massa, sendo o suficiente para estabilizar o solo e conferir as propriedades de resistência desejadas para o
composto.
Dentro deste contexto, o presente trabalho tem como objetivo avaliar o efeito da substituição parcial do
cimento por grits, em estado natural e tratado termicamente em tijolos solo-cimento.
2 MATERIAL E MÉTODO
O solo utilizado no presente trabalho foi coletado no município de Itumirim-MG, coordenadas UTM, SAD
69, zona 23 K, 0521.209, 7646.209, sendo posteriormente passado na peneira de 4,8 mm e então
submetido a secagem ao ar até atingir umidade higroscópia. O cimento utilizado foi CP-II-F-32. O grits foi
coletado em uma indústria de papel e celulose e dividido igualmente em quatro partes, sendo uma parte
depositada em recipientes para secagem em estufa por 24h e as outras partes depositadas em cadinhos
para calcinação em mufla por 1h, em temperaturas de 700°C, 800 °C e 900°C. Posteriormente os grits
foram conimuidos em um moinho de bolas tipo Bond MA 701/21 e depois desagregados em graal e pistilo
até passarem na peneira de 75µm.
O solo foi caracterizado por meio de análise granulométrica, limites de consistência e compactação e
classificado por meio da norma HRB/AASHTO. De acordo com a classificação do solo foi determinado o
traço de cimento, segundo recomendações da ABCP (2004).
O ensaio de compactação Proctor Normal foi realizado conforme a NBR 7182 (ABNT,1986) para o solo e
para cada tratamento.
Os tijolos foram confeccionados em uma prensa hidráulica, nas proporções demostradas na Tabela 1,
sendo o cimento substituído em até 30% pelo grits.
21
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Os tratamentos foram ainda subdivididos de acordo com a temperatura de calcinação dos grits, sendo
confeccionados tijolos com os grits tratados a 700, 800 e 900 °C. Foram confeccionados seis tijolos de cada
tratamento, as massas dos tijolos foram estabelecidas por meio da Equação 1.
Os tijolos foram curados por aspersão em local coberto por sete dias, o ciclo de molhagem ocorreu uma
vez ao dia, após a cura os tijolos permaneceram estocados por 28 dias.
As seguintes propriedades tecnológicas dos tijolos solo-cimento foram determinadas de acordo com os
procedimentos padronizados: absorção de água, grau de compactação resistência à compressão simples.
Determinaram-se as composições químicas do solo, do cimento e do grits, expressas em termos de óxidos,
pelo método de fluorescência de raio-X, utilizando equipamento da marca Bruker, modelo S1 LE Titan. O
software utilizado foi o GeoChem, na configuração Trace, por 60 segundos, incluindo dois feixes de raios-
X. As três amostras foram submetidas a análise em Triplicara por pXRF e a precisão do equipamento foi
avaliada por meio da verificação de materiais de referência padrão 2710a e 2711a ,certificados pelo
Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST), bem como a verificação de uma amostra padrão do
equipamento (check sample - CS). A partir das amostras certificadas pelo NIST e CS, a recuperação do
conteúdo do elemento obtido pelo pXRF (% de recuperação = 100 x Conteúdo obtido / Conteúdo
certificado total) foi calculada. As porcentagens de recuperação das amostras são apresentadas na
Tabela 2 apenas para os elementos que foram identificados em todas as amostras do presente trabalho.
3. RESULTADO E DISCUSSÃO
3.1 CARACTERIZAÇÃO DO SOLO
A Figura 1 apresenta a curva granulométrica do solo. Observa-se que o solo apresenta um percentual de
19,8 % das partículas inferiores a 2 µm, que corresponde à fração argila, o teor de silte é de
aproximadamente 10,2 % e a fração de areia, com partículas superiores a 60 µm, representa 70 % do
tamanho dos grãos. Desta forma o solo atende as recomendações da NBR 10833 (ABNT, 2012b) para
fabricação de tijolos solo-cimento que estabelece 100% do solo passando na peneira de 4,8 mm e de 10 a
50% na peneira de 0,075mm.
Figura1. Curva gravimétrica do solo
100
90
80
70
Passante (%)
60
50
40
30
20
10
0
0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10
Diâmetro dos grãos (mm)
O índice de plasticidade ficou entre 1 e 7% sendo considerado pouco plástico pela classificação de Jenkins
(CAPUTO, 2015). A NBR 10833 (ABNT, 2012b) estabelece que o limite de liquidez seja inferior ou igual a
45% e o índice de plasticidade não deve ser superior a 18%, estando os valores encontrados de acordo
com a norma.
O solo foi classificado como A-4, solo siltoso, sendo recomendado pela ABCP (2004) 10% em massa de 23
cimento. Solos arenosos requerem menores quantidades de cimento, entretanto a presença de argila na
composição do solo é necessária para dar à mistura solo- cimento, quando umedecida e compactada,
coesão para o manuseio. Segundo Segantini (2000) os solos arenosos são considerados os mais
adequados, pois a areia é um material inerte e tem apenas a função de enchimento favorecendo a liberação
de quantidades maiores de cimento para aglomerar os grãos menores.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
O solo é constituído principalmente por SiO2 e Al2O3, estes elementos são associados com estruturas de
argilominerais, quartzo e feldspatos.
O cimento apresentou como principais componentes o CaO, SiO2, MgO e Al2O3, que são provenientes do
clínquer e das adições. Os resultados mostraram que existem diferenças entre as composições químicas
dos resíduos grits e o cimento Portland, assim a adição dos grits na matéria prima de tijolos de solo-
cimento modifica sua composição química e mineralógica. Todavia segundo Torres (2017) as
características físico-químicas do grits demostram potencial para utiliza-lo na incorporação ao clínquer na
produção de cimento Portland.
As características dos grits dependem das condições de processo e atividades aplicadas em cada fábrica
específica, bem como sobre as espécies de madeira e produtos químicos utilizados (PÖYKIÖ et al., 2015),
desta forma, foram encontradas composições diferentes do grits por diversos autores. Siqueira e Holanda
(2015) encontraram 68,66% de CaO, 1,04% de K2O e não encontraram presença de MnO na amostra de
grits, Mymrin et al. (2016) encontraram 0,3 % de MgO e 3,5 % de SiO2. Ribeiro (2010) obteve 2,28% de
Al2O3, enquanto Wolff et al. (2016) encontraram 55,4% de CaO e 0,5% de SiO2.
24
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1,9
1,85
1,8
γd max (g cm³)
1,75
1,7
1,65
1,6
1,55
0 5 10 15 20 25
w ot (%)
Polinômio (T0) Polinômio (T1)
Polinômio (T2) Polinômio (T3)
1,9
1,85
1,8
γd max (g cm³)
1,75
1,7
1,65
1,6
1,55
0 5 10 15 20
w ot (%)
17
Tratamentos
A NBR 8492 (ABNT,2012 c) estabelece 20% como valor médio limite para a absorção de água, verifica-se
pela Figura 4 que todos os tratamentos se enquadram no requisito normativo. A absorção de água em
tijolos solo- cimento está relacionada com o volume de poros, com a densificação e com as microestruturas
da matriz cimentícia. Tanto a porcentagem de grits em substituição ao cimento quanto o tratamento
térmico foram significativos para a absorção de água dos tijolos, apresentando os maiores valores os
tijolos com adição do grits calcinado a 900°C.
Siqueira e Holanda (2013) verificaram uma absorção de água nos tijolos de solo-cimento com 30% de grits
acima do estabelecido pela norma, indicando que em até 20% o resíduo atuou como um filer, ou seja,
reduzindo a porosidade aberta, e ainda, o cimento continuou existindo em quantidade favorável para a
união dos agregados.
A Figura 5 apresenta os valores médios de resistência à compressão. Pelo teste de Scott Knott a 5% de
probabilidade, não houve diferenciação estatística com o aumento da proporção de grits. Em relação ao
tratamento térmico, os tijolos confeccionados com grits calcinado a 900°C se diferenciaram, apresentando
uma resistência à compressão menor.
3
Resistência à compressão (MPa)
2,5
2
1,5
1
0,5
0
26
Tratamentos
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Machado et al. (2007) também obtiveram valores de resistência a compressão em mistura solo-grits, bem
inferiores com o grits calcinado à 900°C em solos arenosos, decaindo de 0,828 MPa a 800°C para 0,216 a
900°C em misturas de solo com 24% de grits compactadas na energia intermediária e curadas a sete dias.
Todavia neste mesmo estudo, os autores verificaram um aumento na resistência à compressão com o
tratamento térmico dos grits tanto em solos arenosos quanto argilosos, fato esse não observado no
presente trabalho.
Os tijolos de todos os tratamentos obtiveram um valor média de resistência à compressão inferior a 2
MPa , demonstrando que fatores, além da incorporação do resíduo interferiram no ganho de resistência
dos tijolos. Siqueira e Holanda (2013) avaliaram a substituição do cimento por grits em até 30% e
obtiveram em sete dias resultados satisfatórios para resistência à compressão em todos os tratamentos,
aos 28 dias os valores eram superiores a 5 MPa. Miranda et al. (2011) verificaram uma resistência à
compressão de 2,5 MPa em tijolos com 25 e 50% de substituição do solo por grits aos 13 dias de cura.
Algumas hipóteses podem ser levantadas, para explicar os baixos valores encontrados como: compactação
inadequada (confecção) de alguns tijolos, processo de cura com apenas um ciclo diário de molhagem e tipo
de cimento empregado. A Figura 6 apresenta o grau de compactação médio dos tijolos de cada
tratamento.
Figura 6. Grau de compactação dos tijolos de solo- cimento
105
Grau de compactaçãao (%)
103
101
99
97
95
93
91
89
87
Tratamentos
O grau de compactação ideal situa-se entre 95% e 105% (BUENO e VILAR, 1999), os tratamentos T0 e
todos os tijolos com 30% de grits obtiveram um grau de compactação inferior a 95%, indicando que a
massa especifica aparente seca foi significativamente menor que a obtida no ensaio de compactação,
sendo maior a presença de vazios no material e ocasionando menores valores de resistência.
A presença de vazios, também pode ser ocasionada por um processo de cura inadequado. Quando há
perda da água para o meio e esta não é reposta, ocorrerá o comprometimento da formação do silicato de
cálcio hidratado (C-S-H), influenciando na maioria das propriedades físicas e mecânicas dos materiais
cimentícios (PELISSER,GLEIZE e MIKOWSKI, 2009; STARK, 2011). No presente trabalho, o ciclo de
molhagem dos tijolos foi realizado uma vez ao dia, sendo recomendado pelo menos três vezes ao dia, o que
provavelmente ajudou na formação de poros comprometendo o ganho de resistência.
Siqueira e Holanda (2015) observaram que o resíduo grits atuou como um fíler, preenchendo poros.
Segundo Torres (2017) os grits mostram- se viáveis para produção de cimento Portland composto com
fíler (CP-II-F), sendo aceitável uma substituição de 10%. Na produção dos tijolos utilizou-se o CP-II-F-32,
27
para averiguar a atuação do grits como fíler, seria mais adequado a utilização de outro tipo de cimento,
que tivesse mais compostos com ação cimentante.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
4. CONCLUSÃO
A substituição parcial do cimento por grits, nos percentuais estabelecidos nesta pesquisa, não apresentou
resultados satisfatórios, não atendendo à NBR 8492 (ABNT,2012c) em relação a resistência à compressão.
Entretanto fatores externos podem ter influenciado no ganho de resistência, sendo que o tratamento
controle também não obteve resultados satisfatórios e outros autores obtiveram tijolos com substituição
de até 20% do cimento por grits, com resultados que atendem à norma. A principal hipótese é uma cura
inadequada, interferindo no processo de hidratação do cimento.
A substituição parcial do cimento por resíduos grits na fabricação de tijolos solo- cimento teve impactos
significativos na absorção de água, sendo maior com 30% de grits. O tratamento térmico do grits foi
significante tanto na absorção de água, quanto na resistência à compressão, onde o tratamento a 900°C
obteve os menores valores de resistência à compressão e os maiores de absorção de água. O tratamento
térmico não se mostrou eficiente, já que não interferiu positivamente no ganho de resistência, diminui a
massa de grits e libera dióxido de carbono.
AGRADECIMENTOS
À FAPEMIG pelo financiamento parcial do projeto de pesquisa ao qual se resultou nesse trabalho.
À Universidade Federal de Lavras (UFLA), por toda a infraestrutura, em especial aos Departamentos de
Recursos Hídricos e Saneamento e Ciência do Solo.
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utilização de prensa manual ou hidráulica: procedimento. Rio de Janeiro, 2012 b. 3 p.
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determinação da resistência à compressão e da absorção da água: método de Ensaio, Rio de Janeiro, 2012 c. 4 p.
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29
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 4
Estudo do solo-cimento com incorporação de resíduo
de construção e demolição – RCD
Jennef Carlos Tavares
Karine Bianca de Freitas
José Daniel Jales Silva
Larissa Martins de Oliveira
Alisson Gadelha de Medeiros
Daniel de Oliveira Santos
Resumo: A presente pesquisa tem como objetivo analisar o comportamento dos resíduos
de construção e demolição (RCD) na composição solo-cimento, discutindo suas
propriedades e características para ser aplicado na construção civil. Este trabalho
desenvolveu-se por meio de pesquisa bibliográfica acerca do RCD e através dos ensaios
realizados em laboratório, de granulometria, compactação e de resistência à
compressão, para analisar o comportamento às dosagens de 0%, 20% e 30% de RCD no
solo-cimento. Como resutado, observou-se que sua incorporação proporciona ao solo-
cimento o aumento na resistência à compressão das amostras, sendo que na dosagem de
30% de RCD, a resistência apresentou valor médio de 2,164 MPa, evidenciando uma
elevação em torno de 54,39% quando comparado à amostra com 0% de incorporação.
Esta resistência à compressão satisfaz a NBR 8492/2012, que exije valor mínimo de 2,0
MPa. Logo, o RCD proporciona melhor desempenho mecânico aos elementos oriundos
da composição solo-cimento.
30
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento e crescimento da construção civil nas últimas décadas estão causando preocupação
quando se trata de impacto ambiental e possível escassez dos recursos naturais. Neste setor são
consumidos diariamente inúmeros materiais não renováveis – areia, cal, água potável; para substituir
essas fontes, além do entulho e rejeitos de materiais usados, buscam-se constantemente tecnologias em
pró de reaproveitar esses materiais (MOTTA et al., 2014).
Rosário e Torrescasana (2011) afirmam que o reaproveitamento de resíduos e a redução no desperdício
de materiais são de extrema importância nesse setor, pois este gera grande quantidade de entulhos, além
de apresentar alto percentual de consumo de recursos naturais.
Dessa forma, surge a necessidade da busca de técnicas e materiais sustentáveis para amenizar os impactos
ambientais advindos das atividades relacionadas a esse mercado. Vários pesquisadores apresentam
resultados favoráveis relacionados à reutilização destes materiais, onde o aproveitamento pode ser
realizado em grande parte no setor da construção.
Segundo a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA – n°. 307, de 05 de julho de 2002,
os Resíduos de Construção e Demolição (RCD) são oriundos de construções, reformas, reparos e
demolições de obras de construção civil, e rejeitos provindos da preparação e da escavação de terrenos.
Rosário e Torrescasana (2011) afirmam que alguns tipos de resíduos gerados na construção civil, como o
concreto e argamassa, quando triturados podem chegar a uma granulometria semelhante a uma areia
grossa. De acordo com Silva (2016), esses materiais podem ser adicionados na composição solo-cimento
para confecção de tijolos prensados, melhorando significativamente algumas características destes.
O processo de produção de tijolo solo-cimento baseia-se em uma mistura de solo, cimento e água,
compactada e curada à sombra, o que difere dos tijolos maciços que necessitam ser queimados. Logo essa
produção propicia redução de custos, do consumo de água, da energia, além de ser um material ecológico
por ocasionar diminuição da poluição (MOTTA et al., 2014).
Segundo a Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição - ABRECON
(2015), o Brasil produz anualmente 84 milhões de metros cúbicos de resíduos de construção, sendo que
entre os anos 2014 e 2015 foram reciclados pelas usinas 17 milhões, o que corresponde apenas a 20% dos
resíduos gerado, o restante seguiu para aterros sanitários ou teve outra destinação.
Contudo, em virtude da escassez de recursos naturais, da preocupação com a preservação do meio
ambiente e da necessidade de destinar corretamente os resíduos gerados na construção civil, justifica-se o
aproveitamento do RCD na composição solo-cimento como material alternativo, uma técnica sustentável e
satisfatória para obtenção dos objetivos desejados.
Este trabalho teve por objetivo estudar a influência do RCD na composição solo-cimento para confecção de
corpos-de-prova, discutindo as principais propriedades e características necessárias para seu uso e
aplicação na construção civil.
2 METODOLOGIA
Para a concretização deste trabalho realizou-se inicialmente uma pesquisa bibliográfica no que se refere à
composição solo-cimento, aos impactos ambientais ocasionados pelo mau gerenciamento do RCD e as
técnicas sustentáveis no que tange seu reuso e reciclagem como agregado.
Para a análise do comportamento da composição do solo-cimento com adição de RCD, foram recolhidas
amostras de solo e de RCD, definindo as dosagens em 0%, 20% e 30% de RCD em relação à massa do solo,
e fixando o teor de cimento em 8%. Essas dosagens foram escolhidas partindo dos resultados obtidos por
Segantini e Wada (2011). Em seu estudo, o teor de cimento foi 4%, com adição de no mínimo 20% de RCD,
obtendo-se melhores resultados na medida em que se aumenta a quantidade de RCD na mistura, até 100%
em relação à massa do solo.
O fluxograma da Figura 1 ilustra de modo sucinto a metodologia da pesquisa estabelecida para a 31
realização deste trabalho.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
SOLO
RCD
Solo-cimento
0% RCD
Solo-cimento
20% RCD
Solo-cimento
30% RCD
Solo-cimento
0% RCD
Solo-cimento
20% RCD
Solo-cimento
30% RCD
Tendo em vista a realização desta análise, a metodologia de trabalho de pesquisa consistiu-se de ensaios
realizados em laboratório. A princípio os materiais constituintes da mistura, foram preparados para os
ensaios de acordo com os parâmetros estabelecidos na NBR 6457/2016.
De acordo com a ABCP (2002) para a estabilização dos solos pode ser utilizado qualquer tipo cimento,
porém o cimento Portland comum (CP II) tem sido o mais utilizado, por apresentar propriedades
satisfatórias. Sendo assim, usou-se o CP II Z-32, por ser bastante utilizado e comercializado na região em
que foi realizado o estudo, sendo facilmente encontrado no mercado.
Na caracterização do solo e do RCD, efetuou-se a análise granulométrica por peneiramento, a fim de obter
a distribuição granulométrica destes, e, em seguida, apresentar suas características fisicas, como o módulo
de finura, dimensão máxima característica e as classificações do solo e do RCD, de acordo com os
diâmetros dos grãos determinados.
Para a obtenção da umidade ótima das composições em análise, desenvolveu-se em laboratório, o ensaio
de compactação para solo-cimento, em concordância com a NBR 12023/2012, de modo que, utilizou-se o
cilindro pequeno para compactação, possuindo o diâmetro de 10 cm e através de energia de compactação
normal. A Figura 2 ilustra exemplos dos CP’s produzidos.
32
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Após as determinações das umidades ótima das misturas, foram moldados 2 corpos-de-prova em
laboratório, para as respectivas dosagens de RCD no solo-cimento. Em seguida, foi realizada a cura úmida
das amostras durante 7 dias, segundo a NBR 12024/2012.
Posteriormente, realizou-se, com base na NBR 12025/2012, o ensaio de compressão simples para corpos-
de-prova cilindricos de solo-cimento, a fim de obter a resistência caracteristica das amostras.
Os dados obtidos foram analisados conforme a NBR 8492/2012, que estabelece a resistencia mínina a
compressão para tijolos maciços de solo-cimento, para uso em alvenaria de vedação e de acordo com a
norma do DNER-ME 201/94, para analisar a possibilidade de utilizar a mistura como base de
pavimentação.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1 ANÁLISE GRANULOMÉTRICA DO SOLO E RCD
Baseado nos ensaios granulométricos, realizados conforme a NBR NM 248/2003, com o solo utilizado na
mistura para a confecção dos corpos-de-prova de solo-cimento, chegou-se aos resultados apresentados na
Figura 3.
O agregado é classificado como miúdo quando os grãos passam na peneira de malha 4,75 mm e ficam
retidos na de 0,075 mm (NBR 7211, 2009). Através do gráfico da Figura 3 é possível observar que 100%
das amostras do solo em estudo passam na peneira de malha 4,75 mm, logo, este se classifica como
agregado miúdo. Para o solo em análise, o módulo de finura apresenta-se com valor de 2,67. Conforme a
NBR 7211/2009, o intervalo do módulo de finura da zona ótima é entre os valores de 2,20 a 2,90, sendo
assim, o solo em estudo apresenta-se como utilizável para a fabricação de concretos, indicado também
para argamassas de revestimento, em especial, para camadas de emboço.
A Figura 4 apresenta os resultados obtidos na análise granulométrica para o RCD. Observa-se na Figura 4,
que toda a amostra de RCD é passante na peneira de malha 4,75 mm, classificando-se assim como
agregado miúdo.
Para o RCD, o módulo de finura obtido foi igual a 3,69 e a dimensão máxima característica foi
correspondente a 4,75 mm. De acordo com a NBR 7211/2009, o intervalo do módulo de finura da zona
utilizável superior é entre os valores de 2,90 a 3,50, sendo assim, o RCD ficou um pouco fora desta zona.
Portanto, após a análise granulométrica, foi possível identificar que o solo e o RCD, apresentam diâmetros
máximos característicos iguais a 4,75 mm. E relação ao módulo de finura, o valor obtido para o solo é
inferior ao do RCD. 33
Engenharia no Século XXI – Volume 7
34
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Com isso, para a dosagem de 0% de RCD a massa específica máxima corresponde a 1,91 g/cm³,
apresentando umidade ótima igual a 7,2%.
Para o solo-cimento com dosagem de 20% de RCD, foi obtida a curva de compactação como é ilustrado na
Figura 6.
Verifica-se ainda que que com o aumento da umidade na mistura, a massa específica aparente seca se
eleva até um ponto máximo, correspondente a 1,89 g/cm³, e apresenta umidade ótima igual a 9,5%. Ao
iniciar desse ponto, a massa específica aparente seca decai com o acréscimo da umidade.
Com a dosagem de 30% de RCD na mistura de solo-cimento, foi obtida a curva de compactação, disposta
na Figura 7.
No gráfico de compactação obtido após o ensaio (Figura 7), observa-se que de acordo com o aumento da
umidade na mistura, a massa específica aparente seca se eleva até um ponto máximo correspondente a
1,88 g/cm³, sendo nesse ponto a umidade ótima, com um valor de 17,4%. A partir deste valor, o acréscimo 35
da umidade tende a reduzir o valor da massa específica aparente seca.
Portanto, após a realização dos ensaios de compactação para as três dosagens de RCD, notou-se Que o
aumento do teor de substituição na composição solo-cimento, é inversamente proporcional a massa
específica aparente máxima e diretamente proporcional ao teor de umidade ótima.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Sousa Pinto (2006) afirma que se é esperado uma redução do parâmetro de massa especifica aparente
seca máxima e um incremento umidade ótima para materiais mais finos, estes necessitam de uma maior
quantidade de água para lubrificar as partículas em decorrência de sua maior superfície específicas totais.
Algo semelhante ocorre com o resíduo em estudo, uma vez que devido sua característica também
conduzem a uma maior umidade ótima.
Os valores individuais de resistência à compressão, expressos em MPa, foram obtidos dividindo-se a carga
de ruptura (em kN), observada durante o ensaio, pela área da seção transversal dos corpos-de-prova, os
quais tinham diâmentro de 10 cm, obtendo-se os valores indicados na Tabela 2.
Fazendo a média aritmética das resistências das amostras, obtem-se os valores médios de resistências,
expressos na Tabela 3, para as diferentes dosagens de RCD.
Para o solo com 0% de RCD, obteve-se uma resistência média de 0,987 MPa, para a de 20% de RCD o valor
da resistência elevou-se cerca de 43,79% apresentando-se com 1,756 MPa. Para a dosagem de 30% de
RCD a resistência aumentou 54,39% em relação ao solo sem incorporação de RCD, que corresponde a
2,164 MPa. 36
Logo, observa-se que quanto maior a quantidade de RCD presente na mistura, maior é a resposta em
termos de resistência à compressão.
A análise dos resultados obtidos identificou uma tendência ao atendimento das exigências da NBR
8492/2012, para a dosagem de 30% de RCD. A norma afirma que a resistência à compressão para tijolos
Engenharia no Século XXI – Volume 7
maciços de solo-cimento não deve ser inferior a 2,0 MPa aos sete dias de cura para valores médios e 1,7
MPa para valores individuais.
Sendo assim, considerando-se que para as alvenarias de vedação são ideais tijolos com resistência
superior a 2,0 MPa, aos sete dias de cura, a dosagem de 30% de RCD na mistura, apresenta-se como uma
alternativa para melhorar as condições do solo em estudo, dando-lhe as características necessárias para
aplicá-lo na fabricação de tijolos de solo-cimento.
Para base de pavimentação (DNER-ME 201/94), a mistura de solo-cimento deve apresentar valor mínimo
de resistência de 2,1 MPa aos 7 (sete) dias de cura. Logo, a mistura de solo-cimento com dosagem de 30%
de RCD, apresenta condições satisfatórias para ser aplicado como base de pavimentação.
Outra vantagem do uso do RCD como parte substituinte do solo, é que essa substituição configura-se numa
técnica sustentável, pois nela aproveita-se o material reciclado. Além disso, o reaproveitamento desse
material propicia menor extração de solo nas jazidas, de modo que os recursos naturais são bem
preservados.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A possível escassez de recursos naturais aliado ao desenvolvimento e crescimento da construção civil nas
últimas décadas, traz sérias preocupações quando se trata de impactos ambientais. Nesse sentido, o
conhecimento de técnicas sustentáveis, como a aplicação do RCD na composição solo-cimento surge como
uma alternativa para a minimização da poluição e de despejos desses resíduos em locais inapropriados,
além de propiciar menor extração de solo nas jazidas.
Utilizando a NBR NM 248/2003 foram obtidas as curvas granulométricas do solo e do RCD, verificando
que estes apresentam características de um solo arenoso, ambos com diâmetro máximo de 4,75 mm e
módulos de finura corresponde a 2,67 para o solo e 3,60 para o RCD.
Comparando as curvas de compactação das três amostras estudadas, pode-se observar que a
incorporação do RCD na composição do solo-cimento, é inversamente proporcional a massa específica
aparente máxima e diretamente proporcional ao teor de umidade ótima.
Outro fator que se destaca com o aumento do RCD, é o aumento da resistência à compressão das amostras.
A análise dos resultados obtidos identificou uma tendência ao atendimento das exigências da NBR
8492/2012, para a dosagem de 30% de RCD. Segundo a norma, a resistência à compressão para tijolos
maciços de solo-cimento não deve ser inferior a 2,0 MPa aos sete dias de cura para valores médios e 1,7
MPa para valores individuais.
A dosagem de 30% de RCD na mistura, apresenta-se como uma alternativa para melhorar as condições do
solo em estudo, dando-lhe as características necessárias para aplicá-lo na fabricação de tijolos de solo-
cimento, bem como condições satisfatórias para ser aplicado como base de pavimentação.
Desta forma, a incorporação de RCD proporciona melhor desempenho a elementos oriundos da
composição solo-cimento. Além disso, o uso do RCD como parte substituinte do solo configura-se numa
técnica sustentável, pois sua reutilização propicia redução na extração de solo nas jazidas, de modo que os
recursos naturais serão menos explorados.
Portanto, essa temática é bastante pertinente, visto que proporciona benefícios para a sociedade.
REFERÊNCIAS
[1] Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR NM 248: Agregados - Determinação da composição
granulométrica. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.
[2] ______. NBR 6457: Amostras de solo – Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização.
Rio de Janeiro: ABNT, 2016.
37
[3] ______. NBR 7211: Agregados para concreto – Especificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2009.
[4] ______. NBR 8492: Tijolo maciço de solo-cimento – Determinação da resistência à compressão e da absorção
d’água. Rio de Janeiro, 2012.
[5] ______. NBR 12023: Solo-cimento – Ensaio de compactação. Rio de Janeiro: ABNT, 2012.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
[6] ______. NBR 12024: Solo-cimento – Moldagem e cura de corpos de prova cilíndricos – Procedimento. Rio de
Janeiro: ABNT, 2012.
[7] ______. NBR 12025: Solo-cimento – Ensaio de compressão simples de corpos de prova cilíndricos – Método de
ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2012.
[8] ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland. Guia Básico de Utilização do Cimento Portland. 7.ed. São
Paulo: ABCP, 2002.
[9] Associação Brasileira Para Reciclagem De Resíduos Da Construção Civil E Demolição - ABRECON. Panorama
Das Usinas De Reciclagem De Rcd No Brasil: A Pesquisa Setorial ABRECON 2015. Disponível em:
<https://www.abrecon.org.br/o-que-e-entulho/>. Acesso em: 01 jul. 2017.
[10] Conselho Nacional Do Meio Ambiente - CONAMA. Resolução nº. 307. Ministério do Meio Ambiente, 2002.
[11] Departamento Nacional de Estradas de Rodagem - DNER-ME 201: Solo-cimento – Compressão axial de
corpos-de-prova cilíndricos – Método de ensaio. Rio de Janeiro: IPR. 1994.
[12] MOTTA, J. C. S. S. et al. Tijolo De Solo-Cimento: Análise Das Características Físicas E Viabilidade Econômica De
Técnicas Construtivas Sustentáveis. E-xacta, [s.l.], v. 7, n. 1, p.13-26, 31 maio 2014. Revista
Exacta.http://dx.doi.org/10.18674/exacta.v7i1.1038.
[13] Rosário, T. Do; Torrescasana, C. E. N. Tijolos De Solo-Cimento Produzidos Com Resíduos De Concreto.
2011.Disponível em:<https://www.unochapeco.edu.br/busca/conteudo/?q=tijolos de solo-cimento produzidos com
resíduos de concreto>. Acesso em: 01 jul. 2017.
[14] SEGANTINI, A. A da S.; WADA, P. H. Estudo de dosagem de tijolos de solo-cimento com adição de resíduos de
construção e demolição. Acta Scientiarum. Technology, [s.l.], v. 33, n. 2, p.179-183, 20 abr. 2011. Universidade
Estadual de Maringa. http://dx.doi.org/10.4025/actascitechnol.v33i2.9377.
[15] SILVA, L. A. S; LAFAYETTE, K. P. V. Avaliação das propriedades do Resíduo da Construção Civil RCC como
subsídio para confecção de tijolos de solo-cimento. Revista de Engenharia e Pesquisa Aplicada, v.2, n.1, p.278-281,
2016. Universidade de Pernambuco. http://dx.doi.org/10.25286/repa.v2i1.346
[16] SOUSA PINTO, C. Curso Básico de Mecânica dos Solos. 3ª edição. São Paulo: Oficina de Textos, 2006.
38
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 5
Utilização de Resíduos de Quartzito na Construção
Rodoviária
Hemilly Cristine Lobo Fernandes
39
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
Atualmente, o desenvolvimento econômico tem motivado um aumento da demanda por agregados
naturais, como as pedras decorativas, que são insumos minerais vitais empregados na construção civil,
principalmente na construção de estradas.
A preocupação com a escassez de recursos naturais e com os impactos que a extração de matérias-primas
naturais pode provocar ao meio ambiente tem mobilizado a indústria da construção civil a buscar
alternativas que atenuem os danos ambientais, através da melhor aplicação dos materiais, a redução e o
reaproveitamento dos resíduos gerados e sua devida disposição.
A exploração de jazidas minerais para a produção de agregados naturais é responsável por grandes
impactos ambientais, verificando-se entre eles poeira, poluição visual e sonora, tráfego ou ainda poluição
de recursos hídricos e assoreamento dos mesmos. Portanto, o estudo de materiais alternativos, como
resíduos de quartzito, em substituição aos agregados naturais empregados na construção de infra-
estrutura rodoviária torna-se necessário, uma vez que a utilização desses materiais poderá contribuir para
a redução do passivo ambiental.
Dentro desse contexto, SARAIVA (2006) destaca que uma das alternativas ao uso de agregados em
estrutura de pavimentos consiste na adoção de materiais alternativos de inserção regional que, mesmo
não se enquadrando totalmente às condicionantes normativas, assegurem um desempenho estrutural tão
satisfatório quanto aos sistemas convencionalmente adotados. Neste contexto, além dos resíduos de
mineração, incluem-se os solos residuais, escórias e materiais sintéticos.
A exploração de quartzito desenvolvida no Brasil tem proporcionado uma grande geração de resíduos,
sendo que, em determinadas regiões, não há uma prática de disposição e aproveitamento adequados do
resíduo. No estado de Minas Gerais, por exemplo, houve um aumento de 37,6% na produção de quartzito
entre os anos 2003 e 2004. Alguns profissionais da área ambiental qualificam esse tipo de atividade como
predatória, pois o aproveitamento deste minério, utilizado na construção civil como revestimento e
ornamentação de ambientes internos e externos, está entre 8 a 10% (ALECRIM et al., 2009).
De modo geral, a extração e o beneficiamento de rochas ornamentais produzem significativa geração de
resíduos grosseiros, vindos da quebra das peças durante o corte, e rejeitos finos que aparecem na forma
de lama e que são lançados sem nenhum tipo de tratamento no meio ambiente. O pó, resultante da
evaporação da água, pode-se espalhar pelo ambiente contaminando o ar e os recursos hídricos.
Segundo AIREY et al. (2004), uma das formas de diminuir o desperdício gerado com o uso indiscriminado
dos agregados convencionais seria incorporar resíduos na pavimentação visando o desenvolvimento
sustentável e trazendo benefícios à sociedade.
FILHO et al. (2006) realizaram estudos com misturas asfálticas contendo resíduos da exploração de
calcário laminado em pavimentos de baixo volume de tráfego e os resultados apontaram à potencialidade
da utilização desses rejeitos como agregado em pavimentação.
Demais pesquisas sobre a utilização de resíduos na pavimentação rodoviária podem ser vistos em
CASTELO BRANCO (2004) e ROHDE (2002).
1.2 OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo geral analisar laboratorialmente aspectos físicos e de comportamento
mecânico de misturas de solo contento resíduos de quartzito em variadas proporções, como agregado
alternativo, para avaliar a potencialidade técnica do emprego ou não do material em camadas de sub-base
de pavimentação rodoviária, conforme indicado na Figura 1.
Neste contexto, o presente trabalho tem como finalidade contribuir para uma melhor compreensão do
comportamento mecânico de misturas de solos contendo resíduos de quartzito e estimular o uso de
tecnologias limpas.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 REJEITO DE QUARTZITO
O estudo foi realizado com amostras de quartzito coletadas em uma fábrica, localizada no município de
Ouro Preto/MG, que faz o processamento de corte do material para obtenção de pedras decorativas
utilizadas na construção civil. Durante o processo de corte das pedras gera-se um rejeito fino, que é
inutilizado e descartado com resíduo de quartzito.
O material foi transportado, estocado e após a homogeneização, o rejeito foi reduzido em quantidade
suficiente para os ensaios laboratoriais segundo os procedimentos da norma do DNER-PRO 199/96 pelo
método de quarteamento.
O resíduo é composto praticamente de partículas de granulação fina, com mais de 90% do material
passante na peneira de abertura 0,075 mm, conforme mostrado na Tabela 1.
41
Tabela 1. Análise granulométrica do rejeito de quartzito.
Peneira (mm) 4,75 2,00 0,425 0,20 0,075
Porcentagem
100,0 99,9 99,7 97,8 93,2
que passa (%)
Engenharia no Século XXI – Volume 7
42
2.3.2 ÍNDICES DE CONSISTÊNCIA E MASSA UNITÁRIA NO ESTADO SOLTO
O comportamento de solos finos ou coesivos irá depender de sua composição mineralógica, de sua
umidade, de sua estrutura e do seu grau de saturação. Em particular, a umidade dos solos finos tem sido
considerada como uma importante indicação do seu comportamento, visto que, é possível encontrar solos
finos com a mesma granulometria, mas com comportamento distintos. O efeito da umidade em solos
Engenharia no Século XXI – Volume 7
grossos tem caráter secundário, pois a água presente nos mesmos possui um efeito desprezível em relação
ao seu comportamento, que é comandado principalmente pela sua granulometria e forma das partículas
(DAS, 2014).
Um solo argiloso pode se apresentar em um estado líquido, plástico, semi-sólido ou sólido, a depender da
sua umidade. A este estado físico do solo dá-se o nome de consistência.
Os limites de consistência, também conhecidos como limites de Atterberg, possibilitam de forma mais
prática, identificar a influência das partículas argilosas no solo e fazer uma análise baseada no
comportamento do solo na presença de água.
Os ensaios de índice de consistência são necessários para a classificação dos solos pelo sistema unificado e
Highway Research Bord (HRB) e foram realizados em conformidade com as normas NBR 6459 e DNER-
ME 082/94. Os ensaios para a determinação da massa unitária do agregado no estado solto foram feitos
pela metodologia DNER-ME 152/95.
45
Engenharia no Século XXI – Volume 7
4 CONCLUSÕES
A adição do resíduo a massa de solo conferiu ganho de plasticidade ao mesmo, visto que a incorporação do
rejeito aumentou a fração de particulado fino (silte e argila) nas misturas.
Analisando somente as misturas contendo resíduo de quartzito (M1, M2 e M3), observa-se pelos
resultados dos ensaios de ISC, que o aumento da porcentagem do rejeito nas misturas provoca um
aumento de resistência nas mesmas. Somente a mistura M3 apresentou um valor de ISC acima do valor
determinado para o solo convencional. A adição de 30% do rejeito ao solo apresentou um aumento de
aproximadamente 22% no valor no ISC.
Em relação ao comportamento expansivo, as misturas M2 e S1 apresentaram o maior e o menor valor,
respectivamente. As misturas M1 e M3 obtiveram os mesmos valores de expansão. Todas as misturas
estudadas apresentaram valores de expansão dentro dos limites estabelecidos pela norma DNER-ES
301/97 (Sub-base estabilizada granulometricamente).
Verificou-se, através dos resultados, a potencialidade e qualidade do resíduo de quartzito como agregado
alternativo, em substituição aos agregados pétreos normalmente utilizados na construção da camada de
sub-base de pavimentos rodoviários.
O aproveitamento do rejeito de quartzito é vantajoso para a indústria que faz o processamento de corte do
material para obtenção de pedras decorativas e para a indústria de contrução civil. Para a primeira pode
agregar-se valor ao rejeito e diminuir gastos com a ocupação de área de deposição. Para a construção civil,
diminuria gastos com área de empréstimos, além do agregado alternativo ser tecnicamente competitivo.
REFERÊNCIAS
[1] ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984). NBR 6459. Solo – Determinação do Limite de
Liquidez.
[2] ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas (1986). NBR 6457. Amostras de solo – Preparação para
ensaios de compactação e ensaios de caracterização.
[3] AIREY, G. D,; COLLOP, A. C,; THOM, N. H. (2004). Mechanical Performance of Asphalt Mixtures Incorporating
Slag and Glass Secondary Aggregates. In: 8th Conference on Asphalt Pavements for Southern Africa, v.1, p. 1-13.
[4] ALECRIM, A. V,; FABBRI, G. T. P,; BERNUCCI, L. B,, MOURA, E. (2009). Estudo do Resíduo de Quartzito para
emprego em sub-base e base de pavimentos. In: 16a Reunião de Pavimentação Urbana, Belo Horizonte, MG.
[5] CASTELO BRANCO, V. T . F. (2004). Caracterização de Misturas Asfálticas com o uso de Escória de Aciaria
como Agregado. Tese de M. Sc., Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ. 153p.
[6] DAS, B. M. (2014) Fundamentos de Engenharia Geotécnica, 8ª ed., Cengage Learning, São Paulo, SP, 612 p.
[7] DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1997). ES 301, Pavimentação - sub-base
estabilizada granulometricamente.
[8] DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1994). ME 049, Solos – determinação do Índice de
Suporte Califórnia utilizando amostras não trabalhadas.
[9] DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1994). ME 080, Solo – análise granulométrica por
peneiramento.
[10] DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1994). ME 082, Solos – determinação do limite de
plasticidade.
[11] DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1994). ME 129, Solos – compactação utilizando
amostras não trabalhadas.
[12] DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1995). ME 152, Agregado em estado solto –
Determinação da massa unitária.
[13] DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (1996). PRO 199, Redução de amostra de campo de
agregados para ensaio de laboratório. 46
[14] FILHO, A. C. B,; ARAÚJO, R. M,; SOARES, J. B. (2006) Estudos do comportamento mecânico de misturas
asfálticas com a utilização do rejeito da exploração de calcário laminado como agregado. In: 18º Encontro de Asfalto,
IBP, Rio de Janeiro, RJ.
[15] KLINSKY, L. M. G,; FABBRI, G. T. P. (2009) Reaproveitamento da areia de fundição como material de base e
sub-base de pavimentos flexíveis. Transportes, v. XVII, n. 2, p. 36-45.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
[16] ROHDE, L. (2002) Escória de Aciaria Elétricas em Camadas Granulares de Pavimentos. Tese de M. Sc.,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS. 118p.
[17] SARAIVA, S. L. C. (2006) Metodologia e Análise Experimental do Comportamento Geotécnico da Estrutura de
Pavimentos Rodoviários. Tese de M. Sc., Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG. 123p.
[18] SOARES, J. B,; BOAVISTA, A. H,; PARENTE, E. B. (2003) Estudo do comportamento mecânico de misturas de
solo e escória de aciaria para aplicação na construção rodoviária na região metropolitana de Fortaleza. In: XVII
Congresso de Pesquisa e Ensiono em Transportes, ANPET, Rio de Janeiro, RJ.
47
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 6
Efeito da adição de resíduo de poliéster reforçado com
fibra de vidro nos parâmetros de resistência ao
cisalhamento
André Sales Mendes
Rodrigo de Moura Fernandes
Matheus Pena da Silva e Silva
Raimundo Humberto Cavalcante Lima
Consuelo Alves da Frota
Palavras-chave: Solo, Poliéster Reforçado com Fibra de Vidro, Cisalhamento Direto, Coesão,
Ângulo de Atrito.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
RISSON et al (1998) destacam que os materiais poliméricos sintéticos são utilizados para a produção de
diversos itens, suprindo os mais diversos requisitos funcionais de forma econômica e eficaz. Afirmam
ainda que, após a segunda guerra mundial, intensificou-se a criação e a utilização de novos tipos de
polímeros. Surgia, assim, de maneira lenta e gradual, o uso de termofixos e fibras de vidro como reforço de
peças moldadas em resina poliéster insaturadas, resultando, portanto, em um compósito.
Em particular a composição denominada Plástico Reforçado com Fibra de Vidro (PRFV) consiste na
mistura de um reforço (fibra de vidro) à resina poliéster (matriz polimérica), com a inserção de uma
substância catalizadora de polimeração (ORTH et al, 2012, apud KEMERICH et al, 2013). Basicamente, um
compósito é considerado como sendo um material multifase, quando demonstra uma significativa
proporcionalidade de ambas as fases constituintes, gerando, por conseguinte, outra fase de melhor
qualidade (PINTO, 2002, apud KEMERICH et al, 2013).
Entretanto, de acordo com ORTH et al (2012), devido à não degradabilidade natural da maioria dos
PRFV’s, tal material tem sido responsável por sérios problemas ambientais, porquanto o petróleo é o
principal constituinte em sua fabricação. É importante salientar, ainda, que a indústria de compósitos gera
cerca de 13 mil toneladas de resíduo por ano, entre aparas e rebarbas de processos, além de peças com
defeitos. LIMA (2010, apud ORTH et al, 2012) destaca que a maior parte desses subprodutos tem como
destino final os aterros industriais.
Em Manaus, o PRFV, partícipe deste trabalho, tem sido utilizado na fabricação de postes, cruzetas e
pontaletas, com a finalidade de atender as obras do projeto “Luz para Todos” do Governo Federal. No
entanto, até o presente momento, não há uma disposição econômica e ambientalmente adequada para os
resíduos oriundos desse material.
Por outro lado, observa-se na região amazônica grande deficiência em jazidas de material pétreo
superficial, característica a encarecer os custos das obras civis regionais. Tal realidade gera elevadas
despesas com a extração e transporte dessa matéria-prima, muitas vezes localizada em afloramentos a
grandes distâncias da capital (SILVA et al, 2014).
Neste contexto, visou-se o aproveitamento do resíduo de PRFV, proveniente da indústria produtora desses
postes de fibra, em adição ao solo argiloso, predominante na região de Manaus. Este material natural é
usualmente utilizado como material de base dos pavimentos asfálticos, a despeito de sua baixa qualidade
técnica.
2 OBJETIVOS
Analisou-se comportamento mecânico, a partir da resistência ao cisalhamento direto, das seguintes
composições: 90% de solo natural + 10% de PRFV e 70% de solo natural + 30% de PRFV. Buscou-se
identificar o efeito da adição desse material alternativo ao solo natural, verificando as proporções mais
benéficas, bem como propor uma disposição ambientalmente adequada aos citados resíduos.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 MATERIAIS
Coletou-se o solo argiloso natural (Figura 1) na camada superficial onde se localiza a Universidade Federal
do Amazonas (UFAM), no bairro do Coroado, zona leste da cidade de Manaus. Foi analisado pelos
seguintes ensaios: limites de liquidez (NBR 6459/84) e plasticidade (NBR 7180/84), massa específica dos
grãos (NBR 6508/84), granulometria (NBR 7181/84) e compactação (NBR 7182/86). Caracterizou-se o
resíduo de RPFV (Figura 2), pela granulometria, sendo considerada apenas a textura inferior à peneira de
1,18 mm de abertura.
As composições participantes, 90% de solo natural + 10% de resíduo (Figura 3) e 70% de solo natural +
30% de resíduo, também foram caracterizadas de forma similar ao solo natural. 49
Engenharia no Século XXI – Volume 7
50
3.2 MOLDAGEM E ENSAIO DE CISALHAMENTO DIRETO
Moldaram-se os corpos de prova a serem submetidos ao ensaio de cisalhamento direto, baseado nos
parâmetros do ensaio de compactação na energia Proctor Intermediário, (massa específica aparente seca
máxima e umidade ótima), com controle do grau de compactação. Calculou-se a massa de cada corpo de
prova por meio da Equação 1. A Figura 4 expõe o molde usado para compactação das amostras.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
51
Engenharia no Século XXI – Volume 7
4 RESULTADOS
O solo natural e o resíduo de PRFV, bem como as composições estudadas, apresentaram as distribuições
granulométricas mostradas na Figuras 7 e 8 respectivamente, e na Tabela 1. Tais resultados mostraram
valores iguais a 72,89% e 55%, ou seja, predominância da argila no solo e no subproduto,
respectivamente. Destaca-se a elevada porcentagem da fração areia (44%) no PRFV. Relativo às
composições, os resultados motraram aumento da fração de areia como consequência da adição do
resíduo ao solo. A adição do resíduo ao solo influenciou, também, o coeficiente de curvatura (aumento) e o
coeficiente de uniformidade (redução), conforme mostra a Tabela 2.
Concernente ao peso específico dos grãos, o material natural indicou valor igual a 26,7 kN/m³. Os índices
de consistência das composições indicaram o decréscimo do índice de plasticidade com o aumento da
participação do resíduo (Tabela 3).
100%
90%
80%
70%
Material Passante (%)
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0% 52
0,001 0,01 0,1 1 10 100
Diâmetro (mm)
Solo Natural Resíduo PRFV
Engenharia no Século XXI – Volume 7
90%
80%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
0,00 0,01 0,10 1,00 10,00 100,00
Diâmetro (mm)
53
Engenharia no Século XXI – Volume 7
A partir dos resultados da textura e limites de Atteberg enquadraram-se o material natural e o conjunto
das composições como MH e A-7-5, conforme o Sistema Unificado de Classificação de Solos (SUCS) e as
orientações da AASHTO, respectivamente (DAS, 2012). Portanto, permiti-se concluir que a adição do
material alternativo não causou variação, segundo tais classificações.
Os ensaios de compactação forneceram os valores expostos na Figura 9. Nota-se o decréscimo da umidade
ótima e do peso específico aparente seco máximo com o aumento da porcentagem do subproduto.
Confeccionaram-se os corpos de prova fundamentados nesses parâmetros, com vista ao teste de
cisalhamento direto, que indicaram graus de compactação entre 99 e 100%.
14,5
14
Peso Específico Aparente Seco (kN/m³)
13,5
13
12,5
12
11,5
15% 20% 25% 30% 35% 40%
Umidade
Solo natural
Solo Natural + 10% de PRFV
Solo Natural + 30%PRFV
Os ensaios de cisalhamento direto forneceram as curvas deformação x tensão cisalhante, bem como os
pares tensão normal x tensão cisalhante (Figuras 10, 11, 12) e (Tabelas 4, 5, 6).
54
Engenharia no Século XXI – Volume 7
200
Tensão Cisalhante (kPa)
150
100
50
0
0 2 4 6 8
Deformação (mm)
σ= 50 kpa σ= 100 kpa
σ= 150 kpa σ= 200 kpa
55
Engenharia no Século XXI – Volume 7
250
200
100
50
0
0 2 4 6 8
Deformação (mm)
σ= 50 kPa σ = 100 kPa
σ = 150 kPa σ = 200 kPa
para a mistura solo-10% resíduo, e 45% alusivo à composição solo-30% resíduo. Atinente ao ângulo de
atrito, os acréscimos foram em torno de 26% (solo-10% resíduo) e 51% (solo-30% resíduo).
Figura 13. Critério de Mohr-Coulumb
250
200
Tensão Cisalhante (kPa)
150
100
50
0
0 50 100 150 200 250
Solo Natural +
y = 0,74x + 55,5 (R² = 0,9793)
10%PRFV
Solo Natural + y = 0,96x + 42 (R² = 0,9791)
30%PRFV
5 CONCLUSÃO
A adição do resíduo de PRFV ao solo argiloso superficial, característico e predominante na cidade de
Manaus, acarretou mudanças significativas nos parâmetros físicos deste. Com a maior inserção do
material alternativo, observou-se alteração na distribuição granulométrica das composições, as quais
tiveram um aumento na proporção areia, resultando num material menos uniforme e mais granular; e nos
parâmetros mecânicos, com a perda de coesão no material das composições em relação ao solo natural,
bem como, em contrapartida, um aumento significativo do ângulo de atrito. Entretanto, é importante
destacar que este é um trabalho inicial com a participação desse subproduto. Ressalta-se a necessidade de
estudos mais aprofundados, considerando outras texturas e proporções, para verificar a viabilidade
técnica de sua utilização na estabilização granulométrica dos solos regionais, bem como estudos de cunho
econômico vizando verificar a viabilidade econoômica de sua utilização em larga escala.
REFERÊNCIAS
[1] ABNT – Associação Brasileira De Normas Técnicas. NBR 6459-84, Solo: Determinação do Limite de
Liquidez, (1984).
[2] ABNT. NBR 6508-84, Solo: Massa Específica Real dos Grãos, (1984).
[3] ABNT. NBR 7180-84, Solo: Determinação do limite de Plasticidade, (1984).
[4] ABNT. NBR 7181-84, Solo: Análise Granulométrica, (1984).
[5] ABNT. NBR 7182-86, Solo: Ensaio de Compactação, (1986).
[6] ASTM – American Society for Testing and Materials. D 3080-11: Standard Test Method for Direct Shear Test
of Soils under Consolidated Drained Conditions. USA, 2011.
[7] Das, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 6ª Edição. Tradução All Tasks – São Paulo: Thomson
Learning. 2007.
[8] Feuerharmel, Marcos Roberto. Comportamento de Solos Reforçados com Fibras de Polipropileno. 2000, Tese
(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio grande do Sul, Porto
Alegre, 2000.
[9] Kemerich, P. D. C., Piovesan, M., Bertoletti, L. L., Altmeyer, S., HohmVorpagel, T. Fibras de Vidro:
Caracterização, Disposição Final e Impactos Ambientais Gerados. v(10), nº 10, p. 2112-2121, Jan/Abr, 2013.
[10] Lima, Gilmar. Compósitos vislumbram oportunidades nas áreas de transporte e infra-estrutura.
Revista Plástico Moderno, ed. 423, jan. 2010.
[11] Orth, C. M.; Baldin, N.; Zanotelli, C. T. Implicações do Processo de Fabricação do Compósito Plástico Reforçado
com Fibra de Vidro sobre o Meio Ambiente e a Saúde do Trabalhador: o Caso da Indústria Automobilística. Revista
Produção Online, Florianópolis, Sc, V.12, N. 2, p. 537-556, 2012
[12] Pinto, N. C. K.; Reciclagem de resíduos de materiais compósitos de matriz polimérica: poliéster insaturado
reforçado com fibras de vidro. Dissertação (Mestrado em Ciências na Área de Tecnologia Nuclear – Materiais) –
Universidade de São Paulo, SP, 2002.
[13] Risson, P., Carvalho, G. A., Viera, S. L., Zeni, M., Zatera, A. J., Reaproveitamento de Resíduos de Laminados de
Fibra de Vidro na Confecção de Placas Reforçadas de Resina Poliéster. Polímeros: Ciência e Tecnologia, p. 89-98,
Jul/Set, 1998
[14] Silva, C. L., da Silva, A. C. L,. da Frota, C. A, Módulo dinâmico de compósitos asfálticos com agregados
sinterizados de argila calcinada, Cerâmica 60, p. 10-21, 2014.
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Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 7
Efeito da adição de resíduo de alumínio nos
parâmetros de resistência ao cisalhamento de solo
típico de Manaus/AM
Bruno Barbosa Frota
Paulo Sérgio da Silva
Matheus Pena da Silva e Silva
Consuelo Alves da Frota
1 INTRODUÇÃO
Superficialmente o solo que compõe a área urbana de Manaus é constituído, em sua predominância por
solos argilosos. Sabe-se que na Engenharia Civil esse tipo de solo possui baixa estabilidade e difícil
trabalhabilidade na construção de pavimentos, em decorrência da sua elevada plasticidade, tornando-os
inadequados para uso rodoviário (FROTA, 2000).
A capital amazonense bem como outros municípios da região caracteriza-se pela escassez de material
pétreo. Tal característica aumenta os custos das obras de engenharia, especialmente para a pavimentação,
uma vez que o afloramento de material rochoso encontra-se a longas distâncias encarecendo a aquisição
de material de melhor qualidade (FROTA et al., 2006). Em decorrência da problemática exposta,
comumente se utiliza na engenharia geotécnica estratégias para adequar as propriedades do solo ao
exigido pelas normas técnicas, processo este denominado de estabilização dos solos.
Em face da crescente preocupação mundial alusivo ao aproveitamento de resíduos e diminuição da
extração de recursos naturais, nesta pesquisa abordou-se a adição de limalha de alumínio (resíduo) ao
solo argiloso típico da cidade de Manaus/AM, a fim de melhorar suas propriedades geotécnicas, bem como
propor uma alternativa de destinação a este passivo ambiental.
2 OBJETIVOS
O objetivo geral é analisar o comportamento geotécnico do solo argiloso típico de Manaus, quando
misturado com resíduo de alumínio, nas seguintes composições 95% de solo e 5% de resíduo de alumínio
e 90% de solo e 10% de resíduo de alumínio.
Os objetivos específicos são caracterizar fisicamente os participantes das misturas; determinar os
parâmetros de compactação das composições indicadas; analisar o efeito do resíduo de alumínio no
comportamento mecânico, segundo o ensaio de cisalhamento direto; e propor uma alternativa a
destinação do resíduo de alumínio.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 SOLO
O solo argiloso natural (Figura 1) utilizado nas composições das misturas, foi retirado da camada
superficial, fruto de escavação para reparo de tubulação de abastecimento de água, na Faculade de
Tecnologia (FT) localizada no setor norte do Campus Senador Arthur Virgílio Filho da Universidade
Federal do Amazonas (UFAM), no bairro do Coroado, Zona Leste da cidade de Manaus com coordenadas
de latitude 3°5'17.47" S e longitude 59°57'50.42" W. Ressalta-se que antes da coleta o solo foi verificado
quanto à análise visual e táctil, a fim de checar a predominância de fração de argila.
60
Engenharia no Século XXI – Volume 7
A fim de reduzir a graulometria do material de modo que resultasse em uma textura de areia, uma vez que
se trata do material usualmente utilizado para estabilização dos solos regionais, realizou-se a seguinte
metodologia: o material foi moído no moinho do Abrasão Los Angeles (Figura 3), da marca Pavitest, sendo
submetido a 1000 revoluções, a uma taxa de 30 a 33 rpm, o processo de moagem foi feito com 2,5 kg de
resíduo de alumínio, juntamente com 12 esferas de aço de 50 mm de diâmetro. A fim de garantir a textura
desejada, utilizou-se apenas o material moído que passasse na peneira de 4,8 mm. A Figura 4 ilustra o
resíduo moído e peneirado.
61
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Realizou-se então a granulometria, do resíduo selecionado, por meio do ensaio de peneiramento conforme
a NBR 7181/2017. O resíduo de alumínio também foi avaliado segundo a massa específica dos grãos (NBR
6508/1988).
3.3 COMPOSIÇÕES
As composições (95% de solo natural + 5% de resíduo e 90% de solo natural + 10% de resíduo), também
foram caracterizadas fisicamente segundo os ensaios de limite de Atterberg e compactação, conforme
normas descritas anteriormente.
Onde:
M é a massa a ser compactada [g];
GC é o grau de compactação adotado, neste caso, 100%;
𝜌𝑑𝑚á𝑥 é a massa específica aparente seca máxima [g/cm³];
𝑊𝑜𝑡 é a umidade ótima, de acordo com a composição;
𝑉𝑚𝑜𝑙𝑑𝑒 é volume para o qual o corpo deve ser compactado [cm³].
62
Engenharia no Século XXI – Volume 7
63
Engenharia no Século XXI – Volume 7
4 RESULTADOS
Referente à massa específica dos grãos, o solo natural apresentou um valor de 2,67 g/cm³ e o resíduo de
alumíno 2,73 g/cm³. Na Figura 8 e na Tabela 1 encontram-se os resultados referentes à textura tanto do
solo natural quanto do resíduo de alumínio utilizado nas composições. Estes resultados apontam a
predominância da argila no solo (84%), e de fração granular, correspondente ao de uma areia, no resíduo
de alumínio (100%). Os limites de consistência, apresentados na Tabela 2 indicam a diminuição do limite
de liquidez e do limite de plasticidade, como consequência a redução do índice de plasticidade, frente ao
aumento da proporção do resíduo no solo in natura.
A classificação do solo natural e das composições foi realizada conforme o Sistema Unificado de
Classificação de Solos (SUCS) e as orientações da AASHTO, e resultaram em: a) MH e A-7-5 para o solo
natural, b) MH e A-7-5 para solo + 5% de resíduo de alumínio e c) MH e A-7-5 para solo-10% de resíduo de
alumínio (DAS, 2012). Nota-e que a adição do resíduo não modifica a classificação do solo em ambas as
composições. A partir desta análise, percebe-se uma discordância entre o resultado obtido na
granulometria (solo argiloso) e o classificado de conforme o SUCS (MH – silte de alta plasticidade), tal
aspecto também foi notado em pesquisas anteriores realizadas por Silva et al. (2014) e Mendes et al.
(2016), essa incongruência por ser justificada pela forma como foram preconizados inicialmente os 64
ensaios de LL e LP, ou seja, para solos de zona temperada cuja formação diverge dos solos tropicais. Ao
analisar a curva granulométrica do resíduo de alumínio, obtem-se um coeficiente de uniformidade (Cu)
igual a 2,14 e o coeficiente de curvatura (Cc) igual a 0,95, resultando de acordo com o SUCS um material do
tipo SP (Areia mal graduada), corroborando com a análise das frações de areia, a qual aponta 68% de areia
grossa, 31% areia média e 1% de areia fina, conforme escala da ASTM para análise de frações.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
O ensaio de compactação resultou nas curvas apresentadas na Figura 9. Nota-se que com a adição do
material alternativo há um aumento da massa específica aparente seca máxima e diminuição da umidade
ótima, gerando um efeito benéfico para a prática no campo.
Os parâmetros obtidos na Figura 9 nortearam a confecção dos corpos de provas para o ensaio de
cisalhamento direto, os quais apresentaram grau de compactação variando em torno de 99%. Os ensaios
na prensa de cisalhamento direto forneceram as curvas tensão cisalhante x deformação, bem como os
valores de tensão normal e tensão cisalhante na ruptura. Tais dados permitiram a aplicação do critério
Mohr-Coulomb (Figura 10), por meio do qual se obteve a coesão e o ângulo de atrito (Tabela 3) para cada
composição. A análise dos resultados mostra que a adição do resíduo aumenta o ângulo de atrito e diminui
a coesão, conforme a maior participação do resíduo na mistura. Em termos percentuais, a diminuição da
coesão em relação ao solo natural foi de 5,17%, para a proporção solo-5% resíduo, e de 9,77% para
composição com 10% de resíduo. Atinente ao ângulo de atrito, as variações foram em torno de 24,41%
(solo-5% resíduo), e 44,85% (solo-10% resíduo). Apesar da diminuição da coesão com a adição de
material alternativo, o aumento do ângulo de atrito proporcionou o aumento da resistência ao
cisalhamento, conforme ilustrado na Figura 10.
65
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Silva et al. (2014) estudaram o efeito da adição de resíduo cerâmico (10% e 50%) ao solo argiloso da
cidade de Manaus, também retirado do campus da UFAM. Os resultados do ensaio de cisalhamento direto
apontaram para o solo natural e as composições de 10% e 50%, os respectivos valores de coesão, 89 kPa,
147 kPa e 89,5 kPa, e para o ângulo de atrito, 34,4°, 32,9° e 36,2°. Nota-se que a coesão do solo natural
estudado por Silva et al. (2014) é semelhante a do material in natura analisado nesta pesquisa, relativo ao
ângulo de atrito há uma diferença de 7,59%. Alusivo à porcentagem de 10% de material alternativo,
observa-se que há um grande aumento na coesão com a utilização do resíduo cerâmico e um pequeno
aumento do ângulo de atrito, diferentemente do obtido na pesquisa em pauta, no qual se obteve uma
pequena redução da coesão e um grande aumento do ângulo de atrito. Porém, ao analisar de forma mais
minuciosa os resultados, nota-se que a partir da tensão de 150 kPa, a resistência ao cisalhamento
apresenta-se maior ao utilizar-se o resíduo de alumínio para estabilização do solo de Manaus.
5 CONCLUSÃO
Por meio da análise granulométrica o solo utilizado nesta pesquisa mostrou-se com a predominância
característica dos solos superficiais do município de Manaus, ou seja, argiloso. A adição de resíduo de
alumínio reduziu o ínidice de plasticidade, proporcionou o aumento da massa específica aparente seca
máxima e redução da umidade ótima, constatando-se um efeito positivo para prática no campo. Alusivo ao
comportamento mecânico segundo o ensaio de cisalhamento direto, obsevou-se uma pequena redução da
coesão e um grande aumento ângulo de atrito, principalmente para a composição com 10% de resíduo de
alumínio, o que por consequência mostrou-se com melhores resultados de resistência ao cisalhamento,
independente da tensão normal aplicada. Indica-se, portanto, que o material estudado é uma alternativa
para melhorar as propriedades do solo.
AGRADECIMENTOS
À empresa COMETAIS Indústria e Comércio de Metais LTDA por ter doado o resíduo de alumínio para
realização desta pesquisa.
REFERÊNCIAS
[1] ABNT – Associação brasileira de normas técnicas. NBR 6459-17, Solo: Determinação do limite de liquidez,
(2017).
[2] _____. NBR 6508-88, Solo: Massa específica real dos grãos, (1988).
[3] _____. NBR 7180-16, Solo: Determinação do limite de Plasticidade, (2016).
[4] _____. NBR 7181-17, Solo: Análise granulométrica, (2017).
[5] _____. NBR 7182-16, Solo: ensaio de compactação, (2016).
[6] _____. NBR 6457-16, Amostras de solo: preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização,
(2016).
[7] ASTM – American Society for Testing and Materials. D 3080-11: Standard test method for direct shear test of 66
soils under consolidated drained conditions. USA, 2011.
[8] Das, B. M. (2012). Fundamentos de Engenharia Geotécnica. 7ª Edição. Tradução All Tasks – São Paulo:
Thomson Learning.
[9] Frota, C. A. (2000). Lime stabilization of Manaus soils. In: 5th International Symposium on Environmental
Geotechnology and Global Development, Belo Horizonte : UFMG, v. 1.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
[10] Frota, C. A.; Melo, D. M.; Nunes, F. R. G. (2006). Análise do Comportamento Mecânico de Misturas Asfálticas
com Resíduo Processado da Construção Civil. In: V Jornadas Luso-Brasileiras de Pavimentos: Políticas e Tecnologias,
Recife, v. 048.
[11] Mendes, A. S.; Fernandes, R. M.; Silva, M. P. S.; Lima, R. H.C; Frota, C. A. (2016). Efeito da adição de resíduo de
poliéster reforçado com fibra de vidro nos parâmetros de resistência ao cisalhamento. In: XVIII Congresso Brasileiro
de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica. Belo Horizonte, p. 19-22.
[12] Silva, M. P. S.; SILVA, A. C. L.; FROTA, C. A. (2014). Efeito nos parâmetros de resistência ao cisalhamento pela
adição de resíduo cerâmico em solo típico de Manaus/AM. In: 43a RAPv Reunião Anual de Pavimentação e 17°
ENACOR Encontro Nacional de Conservação Rodoviária, Maceió.
67
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 8
Efeito do tratamento alcalino do resíduo industrial da
fibra de piaçava nas propriedades térmicas de
compósitos com PHB
Camila Gomes Moreno
Eduardo Braga Costa Santos
Janetty Jany Pereira Barros
Danusa Araújo de Moura
Lucineide Balbino da Silva
Resumo: No presente estudo foi realizado o tratamento alcalino da fibra de piaçava com
tamanho inferior a 270 MESH para a remoção de impurezas. Os tratamentos foram
realizados sob agitação magnética com soluções de 2% de Hidróxido de Sódio (NaOH),
em um intervalo de tempo de 225 minutos, com intervalos de 25 minutos, com intuito de
se obter o tratamento superficial ideal para o resíduo da fibra. Foram realizadas as
caracterizações por microscopia eletrônica de varredura (MEV), teor de umidade e por
Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC). A concentração 2% de NaOH foi suficiente
para remover de forma eficiente as impurezas sem agredir de forma excessiva a fibra, no
entanto a tornou ainda mais higroscópica com absorção de mais de 30% de umidade. O
tratamento superficial do resíduo da fibra nas condições avaliadas nesse estudo
impossibilitou seu uso como carga para a matriz de Polihidroxibutirato (PHB), uma vez
que esse álcali causou completa destruição da estrutura cristalina polimérica,
principalmente quando a concentração do resíduo foi de 30% em massa.
68
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
Com o aumento crescente da população e da utilização de recursos não renováveis pelas gerações atuais e
futuras, cresce também a preocupação com os impactos ambientais causados pelo homem e suas criações.
Dessa forma, essa preocupação com o meio ambiente tem colaborado com o desenvolvimento de
tecnologias e materiais ambientalmente corretos, ou mais sustentáveis, portanto pesquisas relacionadas a
materiais mais naturais estão sendo realizados nos mais diferentes centros de estudo mundo a fora, com
intuito de descobrir como reduzir ao máximo os impactos ambientais causados pelo homem e suas
tecnologias [1-3].
Com o aumento da exigência na forma de fabricação dos materiais e com a busca por alternativas mais
sustentáveis, isto tem gerado um estimulo para que materiais não tóxicos à natureza sejam criados e com
isso uma classe de materiais vem ganhando destaque, sendo eles os materiais compósitos utilizando
reforços renováveis. Sendo assim esses materiais estão sendo estudados com objetivo de desenvolver
materiais mais naturais, que não causem danos a natureza e possam ser absorvidos de forma mais rápida
e eficaz pelo meio ambiente [1-4].
O desenvolvimento de materiais compósitos com características biodegradáveis, recicláveis e que causem
o mínimo de impacto possível no meio ambiente tem sido alvo dos mais diversos estudos. O uso de fibras
lignocelulósicas como reforços, exemplo: as fibras de coco, piaçava, bambu, entre outras, juntamente com
matrizes poliméricas biodegradáveis, como exemplo uma matriz de Polihidroxibutirato (PHB), se tornou
uma alternativa sustentável e que pode substituir uma diversa gama de materiais [5].
Além do menor impacto ambiental gerado, outras vantagens de utilizar as fibras lignocelulósicas são:
baixa densidade e abrasividade, elevado ganho de resistência, durabilidade e também aumento das
propriedades mecânicas gerais dos compósitos, em comparação as da matriz pura, além do baixo custo.
Em muitas situações os resíduos provenientes do setor produtivo, que neste caso poderiam ser
descartados, são reutilizados como reforços das matrizes nos materiais compósitos. Estudos envolvendo
fibras lignocelulósicas e polímeros biodegradáveis têm sido realizados, tendo em vista gerar o menor
impacto possível na natureza [6].
O Polihidroxibutirato (PHB) é um polímero alifático, obtido pela fermentação bacteriana, com capacidade
elevada de degradação no meio ambiente sem a liberação de componentes tóxicos. Sua natureza
biodegradável confere importância para a redução do descarte de plásticos. No Brasil a Empresa Biocycle
tem produzido o PHB utilizando bactérias da espécie Ralstonia eutropha geneticamente modificada para o
consumo de sacarose, já que as linhagens normais não conseguem metabolizá-la. Apesar do PHB ser
considerado um material frágil e com nicho de mercado restrito, possui vantagens significativas como a
biodegradabilidade, a atoxicidade e obtenção a partir de fontes renováveis. Sua taxa de biodegradação foi
observada aumentar ainda mais com a adição de 30% em massa de fibra de juta [7-10]
A palmeira Attalea funifera martius, conhecida por piaçaveira, produz a piaçava ou piaçaba, que é espécie
nativa e endêmica do sul do Estado da Bahia, enquanto a espécie Leopoldinia piassaba é oriunda da
Amazônia Brasileira. O nome vulgar piaçava é de origem tupi, traduzido como “planta fibrosa”, destacada
pela sua superfície rugosa. Durante o período colonial, as fibras eram procuradas por navegadores de
várias nacionalidades para fabricação de cordas utilizadas como amarras de navios, por oferecerem mais
segurança às embarcações [11]. Seu uso atual é reportado na fabricação de escovas para maquinários de
varrer ruas e vassouras de uso doméstico. Consequentemente, diversas comunidades do norte e nordeste
brasileiro têm como atividade de sobrevivência a extração da fibra de piaçava. Além dessas aplicações, a
fibra também está sendo utilizada como reforço em matrizes de polietileno de alta densidade [12], para
aplicação experimental como substituinte aos materiais convencionais usados em carcaças de
computadores portáteis.
Os tratamentos superficiais das fibras vegetais com soluções alcalinas de hidróxido de sódio (NaOH) têm
sido realizados visando modificar as propriedades da fibra, a partir da remoção de compostos, tais como
lignina, hemicelulose, pectina [13,14]. Alguns benefícios são obtidos quando as fibras são submetidas a
esse tipo de tratamento superficial, como maior uniformidade, modificações topográficas pelo aumento da
rugosidade superficial, redução do diâmetro e aumento da área superficial como resultado da ruptura dos
69
feixes da macrofibra [15,16]. Também tem sido sugerido que o tratamento alcalino da fibra de juta com
20% de NaOH resultou na remoção da lignina e no aumento do número de grupos hidroxilas na superfície
da fibra, causando melhoria na sua interação interfacial com a matriz de um biopolímero baseado em
amido(poli(ácido lácto), com consequente melhoria na resistência a tração [17].
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Este trabalho tem como objetivo principal o desenvolvimento de materiais compósitos com matriz de
Polihidróxibutirato (PHB) e resíduo industrial de fibras de Piaçava (10 e 30% em massa) tratado com
hidróxido de sódio a 2% m/v. As fibras foram caracterizadas por microscopia eletrônica de varredura
(MEV) e absorção de umidade e os compósitos foram caracterizados por calorimetria exploratória
diferencial (DSC).
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1. COMPÓSITOS
Os compósitos são materiais formados por uma matriz e um reforço e em se tratando de compósitos
poliméricos, na maioria dos casos, uma excelente afinidade química entre si deve existir, podendo ser
adquirida sinteticamente para atingir excelentes propriedades mecânicas com a menor massa possível – o
que é impossível de ser alcançado com materiais convencionais. A matriz é a responsável por transferir os
esforços mecânicos para o reforço e por garantir maior tenacidade, resistência à fadiga e resistência à
corrosão ao material compósito. O reforço, por sua vez, tem a tarefa de suportar os esforços mecânicos
que lhe são transferidos pela matriz, e isso só pode acontecer se houver garantia de boa afinidade química
entre ambos, do contrário, a transferência de carga é ineficiente. Aliás, essa boa afinidade química gera
outra região, chamada de interface, que tem fundamental importância para os compósitos, pois é por meio
dela que os esforços são transferidos da matriz para o reforço [15-17].
em algumas propriedades finais, tais como tenacidade, baixa abrasividade, baixa densidade, diminuindo
suas boas propriedades mecânicas [24-27].
As fibras vegetais são estruturas alongadas, de secção transversal arredondada, que podem ser
classificadas, de acordo com a sua origem, em: fibras da semente, fibras do caule, fibras das folhas e fibras
dos frutos. Cada tipo de planta possui características distintas a depender da sua idade, em que lugar a
planta foi obtida e da forma de cultivo, estes fatores podem influenciar nas propriedades da fibra. Além
disso, a dimensão e disposição das células unitárias da fibra são fatores determinantes e que influenciam
diretamente nas propriedades finais da fibra. Outro fator é a quantidade de cada elemento, como celulose,
lignina, hemicelulose, dentre outros presentes. Essas variáveis representam uma das barreiras
importantes para a grande escala de fabricação de compósitos à base de lignocelulósicos. Estas fibras
possuem uma estrutura altamente ordenada, que é a parte cristalina, e uma região desordenada ou amorfa
interconectada através de fragmentos de lignina e hemicelulose. Estas regiões não possuem fronteiras
bem definidas e apresentam uma transição a partir de um arranjo ordenado das cadeias de celulose para
amorfo. A estrutura da fibra vegetal é formada por um canal central conhecido como lúmen, que é
responsável pelo transporte de água e nutrientes pela parede celular. A parede celular da fibra é composta
por várias camadas (figura 1), são elas: lamela do meio, parede principal fina e paredes secundárias, que
são subdivididas por: parede secundária externa (S1), parede intermediária ou (S2) e parede secundária
interna ou (S3), onde estas camadas são constituídas por microfibrilas.
A parede primária é inicialmente depositada durante o crescimento das células, e possuem um arranjo
desordenado de fibrilas de celulose que estão imersas em uma matriz de pectina, hemicelulose, lignina e
proteína. Nas paredes secundárias o principal constituinte são as microfibrilas de celulose, cristalinas, e
estão organizados em uma disposição em espiral. A parede intermédia (S2) determina as propriedades
mecânicas da fibra. Sendo composta por uma quantidade de microfibrilas, que estão organizadas em
forma helicoidal de longas cadeias de celulose. A lamela central, que é a camada exterior da célula, é
composta predominantemente por pectina, que atua como cimento entre microfibrilas. As microfibrilas
têm um diâmetro de 10 a 30 nm e são dispostas em uma região amorfa formada de lignina e hemicelulose.
A resistência da fibra pode ser um fator importante na seleção de uma fibra natural para uma aplicação
específica. Uma razão de aspecto elevada (comprimento/diâmetro) é muito importante em fibras à base
de celulose nos materiais compósitos, pois dá uma indicação de possível resistência [24,25].
71
2.4. FIBRA DE PIAÇAVA
A palmeira Attalea funifera Martius, conhecida por piaçava ou piaçaba são obtidas como fibras longas,
resistentes, rígidas, lisas, de textura impermeável e de alta flexibilidade. A importância econômica da
piaçaveira está na extração das suas fibras industriais, destacando-se a fabricação de vassouras,
Engenharia no Século XXI – Volume 7
enchimento nos assentos de carros, cordoaria e escovões. O resíduo obtido de sua limpeza, o qual é
conhecido como bagaço, fita ou borra, serve para cobertura de casas nos meios rural e urbano [26].
A piaçaveira do gênero Attalea é cultivada em área litorânea em solos arenosos associados à vegetação
secundária na área litorânea. Fora da zona litorânea, pôde ser observada em solos areno-argilosos, como
as da espécie Leopoldinensis encontradas na Amazônia. A amplitude da incidência das palmeiras, família
que contempla a piaçaveira, que conta com 207 gêneros e 2675 espécies, se estende até 60 quilômetros ao
interior do continente a partir do litoral, concentrando-se os focos de localização no Brasil, nas latitudes
13ºS até 17ºS, com temperatura média de 24ºC e umidade superior a 80%. Em áreas cultivadas e
manejadas, encontra-se uma concentração de 1000 plantas/ha. Contudo, os dados de produção das
piaçaveiras indicados pelas literaturas são desencontrados. A colheita da fibra deve ser realizada uma vez
por ano, permitindo à planta formar fibras mais longas e de maior valor comercial [27].
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Materiais: O Polihidroxibutirato (PHB) foi gentilmente doado pela empresa PHB Industrial AS (Brasil),
tendo ponto de fusão de aproximadamente 170 ºC.
As fibras de piaçava da espécie attalea funifera martius foi gentilmente doado pela empresa Bruxaxá, na
forma de sobras de produção de vassouras no estado do Pernambuco. O hidróxido de sódio P.A foi 72
adquirido junto com a Synth.
Para a pesagem da fibra foi utilizada a balança digital de precisão marca SHIMADZU, modelo AX200.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Para a moagem da fibra foi utilizado o moinho de facas tipo Willys e moinho de bolas com jarra
trituradora, marca CHIAROTTI, modelo 16-300 com jogo de esferas de porcelana de diâmetros 6, 10 e 16
mm.
Para a analise granulométrica da fibra foi utilizado o agitador de peneiras marca BERTEL, com um jogo de
peneiras com as seguintes malhas na ordem: 50, 60, 80, 100, 200 e 270 MESH
Preparação, lavagem e secagem inicial das fibras: Inicialmente as fibras foram cortadas em tamanhos
entre 1 e 7 centímetros de comprimento, separadas em um recipiente aberto, armazenadas em local fresco
e seco para a devida preparação mostrada no fluxograma da figura 2.
Em seguida as fibras foram pesadas em estado bruto em balança digital de precisão antes do início do
tratamento das mesmas.
As fibras in natura passam por um processo de limpeza em agitação magnética através de barras
magnéticas em lotes de 10±2% gramas imersas em solução de detergente neutro comercial na
concentração de 2% de volume durante 24±1 horas. Após as 24 horas a solução foi descartada e as fibras
foram filtradas e enxaguadas com água destilada em quantidade aproximada de 2 litros para cada amostra
de 10 gramas, com o objetivo de retirar por completo a solução de sabão. Então as fibras lavadas foram
novamente pesadas e destinadas a secagem em estufa com circulação de ar à temperatura de 70 graus
durante 120±3 minutos, novamente foram pesadas e armazenadas em dissecador.
Figura 2: fluxograma de processamento para obtenção da fibra de piaçava tratada em solução de NaOH.
Moagem e análise granulométrica da fibra: As fibras foram moídas em moinho de facas, o resíduo desta
primeira moagem foi novamente moído no moinho de bolas por 2 horas em jarra trituradora de bolas,
para minimizar as perdas do material durante a moagem da mesma.
As fibras, após moagem, foram peneiradas em um agitador de peneiras, utilizando um jogo de peneiras
com as seguintes malhas na ordem: 50, 60, 80, 100, 200 e 270 MESH, a taxa de 5 Hz durante 15 minutos e
em seguida separadas, pesadas, catalogadas e armazenadas em dissecadores com sílica gel, para
minimizar o contato das amostras com umidade.
Tratamento Alcalino da fibra: Soluções alcalinas de NaOH foram preparadas nas proporções de 2% de
concentração. As fibras lavadas com tamanho inferiores a 270 MESH foram pesadas em quantidades de 1,5
73
gramas e submetidas a agitação magnética para a lavagem durante 225 minutos, com intervalos de 25
minutos, na proporção 1,5 gramas de fibra para 7ml de solução alcalina.
As amostras, após imersão e agitação, foram filtradas, pesadas e secas ao ar livre durante 48 horas, em
seguida foram novamente pesadas e armazenadas em eppendorfs ou em embalagens com fechamento
hermético, sendo ambos guardados em dissecadores com sílica gel.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV): A morfologia da fibra tratada alcalinamente com NaOH foi
avaliada pela técnica de Microscopia eletrônica de Varredura. A amostra foi metalizada com ouro e
analisada no equipamento modelo Leo 1430 Zeiss, por meio do sinal gerado pelos elétrons secundários.
Ensaio de umidade da fibra: O percentual de umidade da fibra de piaçava tratada com hidróxido de sódio
foi determinado através do ensaio descrito pela norma ASTM D1348-94 (2008), pelo método de teste B. A
taxa de umidade da fibra foi calculada através da equação (1) mostrada abaixo.
𝑀−𝐷
𝑇𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑢𝑚𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 (%) = [ ] × 100(1)
𝑀−𝑇
onde:
M = massa original da amostra com o peso do recipiente;
D = massa seca final da amostra com o recipiente;
T = massa do recipiente puro.
Preparação dos compósitos biodegradáveis: Para obtenção dos compósitos, as fibras e o PHB foram
submetidos à secagem a 80oC durante 6 horas em estufa com circulação de ar e posteriormente
armazenadas em dissecador. Os materiais foram pesados a uma proporção de 10% e 30% em peso (m/m)
de fibras. Foi realizada uma batelada de cada composição, em câmara de mistura – Haake Rheomix OS, a
temperatura de 180°C, por 10 minutos com rotação de 60 rpm. Os materiais foram misturados
previamente em um recipiente e depois introduzidos na câmara de mistura, com massa de 50 gramas de
cada material.
Caracterização Térmica dos compósitos biodegradáveis: Para a análise exploratória diferencial (DSC)
foram utilizados em média 5 mg de amostras com composições de PHB/ fibra tratada com NaOH contendo
10% e 30% em peso de fibra tratada. Foram feitas duplicatas para aumentar a confiabilidade do ensaio. O
ensaio foi realizado em atmosfera de Nitrogênio com vazão de 50 mL/min a uma taxa de aquecimento de
10 oC/min. As amostras foram submetidas a um primeiro aquecimento com temperatura até 200°C,
durante 3 minutos permaneceu nessa temperatura, com objetivo de apagar a história térmica do material,
em seguida foram resfriadas até 25°C e aquecidas novamente até 200°C a uma taxa de 10°C/min.
Com os dados obtidos no ensaio na segunda varredura de aquecimento foi possível realizar os cálculos do
grau de cristalinidade do material através da equação (2), mostrada abaixo.
∆𝐻𝑚
𝑋𝑐(%) = × 100(2)
(1 − 𝑊𝑓 )∆𝐻100%
onde:
Xc = Grau de cristalinidade (%);
∆𝐻𝑚 = Entalpia de fusão da amostra (J/g);
∆𝐻100% = Entalpia teórica de fusão do polímero 100% cristalino (J/g);
𝑊𝑓 = fração em massa da fibra na mistura;
Para o PHB o valor de ΔHm100% utilizado foi de 146 J.g–1.[32].
74
Engenharia no Século XXI – Volume 7
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 CARACTERIZAÇÃO MORFOLÓGICA DA FIBRA DE PIAÇAVA TRATADA COM NAOH
Ao analisar a microscopia eletrônica de varredura (MEV) se observa que o tratamento alcalino removeu os
constituintes e impurezas presentes na fibra (Figura 3a), deixando sua superfície mais lisa e com os feixes
de fibrilas mais bem definidos ao compará-los com a morfologia da fibra de piaçava apenas lavada. O
tratamento superficial da fibra de piaçava com NaOH causou modificações em sua superfície e em sua
macroestrutura. De acordo com a investigação de Santos, E.B.C. et al [33] o tratamento da fibra de piaçava
com NaOH levou ao aumento da sua área superficial 173,71 ± 1,94 m²/g) enquanto de acordo com Santos,
E.B.C. et al [34] o valor para a fibra apenas lavada foi igual a 50,82 ± 0,46 m²/g. Também observaram o
desmonte da macrofibra de piaçava, em que a fibra tratada com NaOH resultou em feixes menores,
constituídos por fibrilas, com diâmetro médio, considerando a distribuição em número, igual a 0,681 μm
[33]; já a fibra apenas lavada apresentou valor igual a 1,90 μm [34]. Miranda et al. [35] e Tita et al. [36]
também observaram mudanças superficiais da fibra de piaçava e do bagaço de cana, respectivamente, com
o tratamento alcalino em concentrações mais elevadas (4% a 10%).
Figura 3: MEV da fibra de piaçava lavada (a) [33] , fibra de piaçava tratada com NaOH (b)
(a) (b)
Figura 4: Teores de umidade e reabsorção para a fibra lavada e tratada com NaOH [33]
Ensaio de umidade
60,00% 53,17%
Taxa Calculada
40,00% 34,71%
20,00% NaOH 75
7,56% 8,17%
Lavada
0,00%
% umidade % reabsorção
Amostra analisada
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Figura 5: Curvas DSC de fusão referentes ao segundo aquecimento do PHB puro e dos compósitos
biodegradáveis de PHB com 10 e 30% de fibra tratada com NaOH.
76
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Tabela 1- Dados de DSC do PHB puro e do compósito biodegradável com 10% de fibra tratada com NaOH.
Amostra Tm1 (ºC) Tm2 (ºC) Hm (J/g) c (%)
PHB puro 160,33 171,65 63,15 43,25
90/10 129,74 ---- 29,67 22,57
70/30 ---- ---- ---- ----
5 CONCLUSÕES
A partir dos estudos realizados neste trabalho foi possível concluir que o tratamento alcalino a 2% é
realmente eficaz na remoção de impurezas e elementos indesejáveis como as pectinas, hemicelulose e
graxas, mostrando a presença de sulcos profundos na superfície que pode significar que seja um
tratamento superficial potencial para o resíduo da fibra de piaçava ser aplicada como carga em
compósitos poliméricos. O tratamento tornou a fibra menos resistente a absorção de umidade. Mesmo as
fibras sendo tratadas nessa baixa concentração de NaOH, a matriz polimérica de PHB ainda sim foi muito
sensível e se degradou completamente quando em contato com 30% em massa da fibra tratada com essa
solução alcalina.
Conclui-se então que o tratamento superficial do resíduo da fibra de piaçava com concentração de 2% de
NaOH não é sugerido para a produção de compósitos biodegradáveis com o Polihidroxibutirato, o qual
teve sério comprometimento de sua estrutura cristalina em presença desse álcali.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Capes e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) pelas bolsas de estudo. Ao
Laboratório de Solidificação Rápida pelas caracterizações. A professora Renate Maria Ramos Wellen
(UFPB) por gentilmente doar o Polihidroxibutirato (PHB) para essa pesquisa. E também agradecer a
professora Fabiana Carvalho Fim (UFPB) pela ajuda no tratamento alcalino da fibra de piaçava.
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79
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 9
Conhecimento tradicional da utilização de argila e
cinzas de carvão vegetal na produção de compósito
cimento por moradores do interior do Pará
Adriane Pimentel Oliveira
Willam Rayplham Pereira Coelho
Jackeline Meireles Hipolito de Souza
80
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1.INTRODUÇÃO
O cimento produzido pelas indústrias causa impactos ambientais, devido ao calcário e a argila que são
bases extraídas da natureza. O processo de extração do calcário ocasiona desmoronamentos e erosões por
causa das vibrações provocadas no terreno ou pelo abandono de pedreiras que foram exploradas, além do
mais emitem gases poluentes. A poluição atmosférica resulta da emissão de gases poluentes ou de
partículas sólidas na atmosfera, e pode provocar degradação de ambientais naturais e graves problemas a
saúde de seres vivos, como doenças respiratórias (MAURY; BLUMENSCHEIN, 2012)(1).
O cimento alternativo não ocasiona grandes impactos ambientais pois não há maneiras agressivas de
retirar o material para produzi-lo e a quantidade utilizada nas construções de residências na região rural
é considerada de pequena escala. A argila ou barro amarelo que está presente na constituição do
compósito cimento é encontrada debaixo d aterra, necessitando apenas escavar e logo poderá ser
encontrado. As cinzas são oriundas do carvão vegetal utilizado no fogão a lenha, uma prática comum nas
localidades distantes da cidade para necessidades básicas como cozinhar.
A descoberta desse compósito foi encontrada na vila de Bacuriteua, localizada no munícipio de Santarém
Novo no Estado do Pará. Uma moradora da vila, senhora Maria Feliciana dos Santos teve a ideia de
desenvolver um produto semelhante ao cimento comum logo após sua residência desabar devido a uma
forte chuva na localidade em 2002, sendo assim construiu sua casa utilizando o material. As pesquisas
também foram baseadas em uma entrevista realizada com esta moradora, que por ventura, a mesma
pretende passar esta ideia adiante.
2.MATERIAIS E MÉTODOS
Os materiais utilizados para a produção desse compósito foram: 500ml de água, estufa, potes plásticos e
peneira de 200 mesh.
Inicialmente, a argila e as cinzas foram pesadas, e logo foi utilizado 487g de cinzas do carvão vegetal,
conforme as figuras 1 e 2, respectivamente, este foi seco na estufa a uma temperatura de 105ºC, a
quantidade de cinzas após a secagem foi 242, 5g de material passante e 244, 5g de material retido numa
peneira de 200 mesh.
81
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Conforme a figura 3 o material passante foi misturado com 300g de argila, com auxilio uma colher de
pedreiro. Por fim adicionou-se 500 ml de água e a mistura final obteve a consistência esperada,
semelhante a consistência do cimento industrial, observado na figura 4.
Figura 4- Cinzas do carvão vegetal e argila misturadas com água já na fase de consistência.
3.RESULTADOS E DICUSSÃO
As cinzas foram levadas até a estufa por 24hs em temperatura de 105ºC, nesse período foi observado que
o tempo e a temperatura foram essenciais para manter as cinzas em equilíbrio térmico. Logo após a
peneiração, houve somente o uso das cinzas passantes, o material retido não foi utilizado para que não
ocorresse a formação de pequenas boletas na mistura, pois o esperado é um material homogêneo, com a
consistência de uma pasta semelhante ao cimento comum. Devido a essas observações, assim que se
misturou com água o cimento alternativo apresentou uma mistura consistente como o esperado e logo
endureceu comparado ao cimento industrial.
Conforme a figura 5, mostra elevados teores de SiO2, Al2O3 e CaO de acordo com Mendes et al (1982) (2) e
Assis et al (1982)(3) os quais analisaram as cinzas do carvão vegetal bruto produzido em 27 fornadas e do
carvão vegetal bruto consumido pelo Alto-Forno #2 da Acesita.
Figura 5 – Análise química do carvão vegetal bruto de 27 fornadas (a) e do carvão vegetal do
Alto-Forno #2 da Acesita
Estão em destaque alguns elementos como a sílica que é o principal constituinte do precursor
geopolimérico e, portanto, em maior quantidade tem-se melhor resistência mecânica, desde que esteja
disponível na forma de sílica reativa (FERNÁNDEZ-JIMÉNEZ; PALOMO, 2003)(4).
Outro óxido que merece ser ressaltado é a cal e CaO, o cálcio presente na mistura pode reagir com os
silicatos e aluminatos, paralelamente à formação do gel, formando silicatos de cálcio hidratados e
aluminatos de cálcio, parecidos aos encontrados na pasta hidratada de cimento Portland, e podem
contribuir no desenvolvimento de maiores resistências. Porém, ainda não existe concordância sobre sua
ação na resistência do geopolímero, pois o excesso de cálcio interfere negativamente na polimerização
(HARDJITO; RANGAN, 2005)(5). Compostos com capacidade de presa, isto é que atuam como cimento em
agregados.
Toda via o alto teor destes componentes, é notável o geopolímero, obtido da policondensação, ou
polimerização inorgânica, de minerais aluminossilicatos em ambiente altamente alcalino. Tal processo
83
permite transformar estruturas vítreas em compósitos compactos com propriedades cimentantes
(PALOMO; GRUTZECK; BLANCO, 1999)(6).
Engenharia no Século XXI – Volume 7
5.RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
Não podemos deixar de abordar nossa responsabilidade ambiental em um projeto de cunho técnico
cientifico, estamos acompanhando os estudos desenvolvido com o intuito de reduzir os danos causados à
natureza.
Com a criação e desenvolvimento deste projeto, estamos contribuindo de forma responsável com um
produto não agressivo ao meio ambiente e que se for investido possa gerar lucro para a população da vila
de Bacuriteua, Santarém Novo/PA pelo fato de ser um produto de uso sustentável e por apresentar seus
componentes que podem ser encontrados abundantemente e de forma responsável na natureza.
6.CONCLUSÃO
A escolha desse tema foi para expandir as poucas pesquisas envolvendo dois ingredientes ricos na
natureza; a argila e as cinzas do carvão vegetal, que normalmente sobra de guseiras, e uso rotineiro de
fogão a lenha. O que se deu em um projeto que não agrida o ambiente e seja favorável a algumas
aplicabilidades, entre elas o uso do produto como adubo em hortas, ou seja, inova-lo, e que a partir dessas
inovações colocou todos os envolvidos no projeto um desafio para abordar de forma cientifica. Além do
mais, incentivar a prática sustentável e ampliar o conhecimento de pessoas que moram em nossa região,
gerando com isso formas sustentáveis de produtos não poluentes e vantajosos.
Dessa forma estamos cumprindo a proposta do projeto, a criação deste compósito e a responsabilidade
ambiental para tal comunidade, foi um projeto que nos trouxe enriquecimento de conhecimento pessoal e
coletivo e podemos contribuir de forma positiva através de nossos estudos.
AGRADECIMENTOS
À senhora Maria Feliciana pelo apoio e confiança, em especial, pois ela é avó de Adriane Pimentel uma das
autoras e então não poderão faltar agradecimentos e carinho a ela. Aos colegas, pois nesta jornada ficamos
unidos aos “nãos” recebidos durante o projeto.
REFERÊNCIAS
[1] Maury. M.B; Blumenschein. R.N. Produção de cimento: Impactos a saúde e ao meio ambiente.
Sustentabilidade em Debate, Brasília, v.3, n.1, p. 75-96, 2012.
[2] Mendes, M. G.; Gomes, P. A.; Oliveira, J. B. 1982. Propriedades e Controle de Qualidade do Carvão Vegetal.
84
Produção e Utilização de Carvão Vegetal. Série Publicações Técnicas. Belo Horizonte, Fundação Centro Tecnológico de
Minas Gerais – CETEC, volume 2, p. 77-89.
[3] Assis, P. S.; Marinho, L. Z. A.; Porto, F. M. 1982. Utilização do Carvão Vegetal na Siderurgia. Produção e
Utilização de Carvão Vegetal. Série Publicações Técnicas. Belo Horizonte, Fundação Centro Tecnológico de Minas
Gerais – CETEC, volume 2, p. 281-318.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
[4] Fernández-Jiménez, A.; Palomo, A. Characterisation of Fly Ashes: potential reactivity as alkaline cements.
Fuel, v. 82, n. 18, p. 2259-2265, 2003.
[5] Hardjito, B.; Rangan, B. V. Development and Properties of Low-Calcium Fly Ash-Based Geopolymer Concrete.
Research Report GC1. Faculty of Engineering, Curtin University of Technology. Perth, Australia, 2005.
[6] Palomo, A.; Grutzeck, M. W.; Blanco, M. T. Alkali-activated fly ashes: A cement for the future. Cement and
Concrete Research, v. 29, p. 1323-1329, 1999.
[7] Lima, André Barbosa de. O processo produtivo do cimento portland. 2011. 38 f. Monografia (Especialização)
– Curso de Especialização em Engenharia de Recursos Minerais, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2011.
[8] Bragança. S.R; Zimmer. A; Santos. L.A; Bergmann. C.P. Utilização da argila e da cinza de candiota em
refratários densos. In: 49º Congresso Brasileiro de Cerâmica, 2005, São Pedro. Anais. São Paulo, 2005.
85
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 10
Influência do tratamento alcalino nas propriedades do
sisal e dos compósitos com matriz poliéster insaturado
auxiliado pela correlação digital de imagens
Fernanda Monique da Silva
Pedro Henrique Xavier de Mesquita
Rodrigo Nogueira de Codes
Zoroastro Torres Vilar
86
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
Com a crescente preocupação dos possíveis impactos ambientais gerados no mundo, a busca por novas
alternativas de materiais visando amenizar esses problemas, intensificou a pesquisa e o desenvolvimento
de materiais compósitos de matrizes poliméricas reforçadas com fibras naturais (1).
O sisal, dentre estas, é uma das fibras vegetais mais utilizadas no mundo, sendo o Brasil o maior produtor,
através da região do semi-árido (2). Compósitos com melhores propriedades mecânicas são obtidos pela
transferência eficiente de tensões entre a matriz e o reforço. Para isso é necessário que haja uma boa
adesão na interface polímero-fibra, uma vez que essa transferência ocorre na região de contato entre as
fases (3).
Um dos principais desafios que envolve a utilização do sisal é a busca por sua melhor aderência na matriz,
visto que este possui baixa compatibilidade com a matriz hidrofóbica, pois ele é hidrofílico, reduzindo
assim o seu potencial (4). Diversos estudos são realizados para solucionar esse problema, sendo um dos
métodos a realização de tratamentos químicos das fibras com o uso de agentes de acoplamento (5).
Neste contexto, a proposta geral do presente trabalho foi de desenvolver um compósito de matriz
poliéster insaturado reforçado com fibras de sisal alinhas na direção longitudinal, através do método por
laminação manual, e estudar a influência tratamento alcalino nas propriedades das fibras de sisal e de
compósitos unidirecionais.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 MATERIAIS
Para a matriz do compósito foi utilizada uma resina poliéster ortoftálica insaturado, com Butanox em
proporção de 1% em massa-peso. Como reforço para o compósito foram utilizadas fibras cruas de sisal
sem tratamentos prévios. Para a realização do tratamento alcalino nas fibras foi utilizado como reagentes
hidróxido de sódio P.A – ACS (Microperolas) e ácido acético glacial P.A – ACS.
Figura 1 - (a) Molde utilizado para confecção dos corpos de prova dos compósitos; (b) Placa do compósito
obtido após a cura da resina.
Foram confeccionados compósitos unidirecionais utilizando fibras tratadas e não tratadas. Os corpos de
prova foram cortados no sentido das fibras para realização dos ensaios de tração. A concentração
volumétrica utilizada foi de 20% de peso em fibra.
88
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Os ensaios de tração nos compósitos foram auxiliados pela técnica de Correlação Digital de Imagens, como
forma de obter as propriedades mecânicas de tração.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Propriedades da matriz poliéster insaturado
Na Tabela I são mostrados os valores das propriedades de densidade e tração da resina poliéster
insaturado. Os pesquisadores Sanchez et al. (2010) (10) e Neto (2016) (11) obtiveram resultados
semelhantes.
Tabela I – Propriedades da matriz poliéster insaturado
Ensaio Resultado Desvio padrão
Densidade (g/cm3) 1,23 0,002
Tensão máxima (MPa) 25,37 1,41
Tração Deformação máxima 0,013 0,001
Módulo de elasticidade (MPa) 1882,24 87,55
89
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Figura 3 - Gráfico da variação da perda de massa das fibras de sisal em função da variação de concentração
do tratamento alcalino
A Tabela II apresenta os dados obtidos das densidades das fibras com os diferentes níveis do tratamento
alcalino.
Tabela II – Densidade das fibras de sisal para cada nível de tratamento alcalino
Concentração de NaOH (%) Densidade (g∕cm³)
0 1,11
2 1,26
5 1,29
Figura 4 - Curvas tensão-deformação das fibras de sisal com e sem tratamento alcalino
350
300 Sisal sem
tratamento
Tensão (MPa)
250
200
150 Sisal com
100 tratamento de 2%
50 de NaOH
0 Sisal com
0 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 tratamento de 5%
Deformação (mm/mm) de NaOH
90
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Os gráficos das Figuras 5 referem-se aos resultados estatísticos da variação do diâmetro, tensão máxima e
módulo de elasticidade em função da concentração do tratamento químico das amostras de sisal não
tratadas e tratadas com concentrações de tratamento químico de 2% e 5%.
Observa-se que o diâmetro médio diminuiu com o tratamento alcalino, sendo cada vez menor conforme se
aumentava a concentração de NaOH. Houve um aumento da tensão máxima e do módulo de elasticidade
das fibras tratadas a 5% de NaOH, sendo para o tratamento de 2% estatisticamente igual o resultado em
relação as fibras não tratadas. Esses resultados concordam com os encontrados na literatura por Zhang et
al (2017) (13).
Figura 8 - Correlação digital de imagens para o compósito unidirecional com 20% de fibra: (a)
deslocamento na direção 1; (b) deslocamento na direção 2; (c) deformação na direção 1; (d) gauge
utilizado.
Com os resultados da correlação digital de imagens e os dados colhidos da máquina, foram traçadas as
curvas de tensão-deformação, que estão mostradas na Figura 9.
Figura 9 - Curvas de tensão-deformação para os compósitos unidirecionais com e sem tratamento químico
O comportamento das curvas para os compósitos tratados e não tratados é semelhante. Possuem
comportamento elástico até a ruptura e se rompem com pouca deformação. Os aspectos descontínuos das
curvas estão relacionados às rupturas localizadas de uma ou mais fibras dos compósitos e a redistribuição
dos esforços nas fibras ainda sem romper. 92
influência no aumento das propriedades analisadas. Esses resultados são semelhantes aos obtidos por
Sreekumar et al (2011) (14).
Figura 10 - Gráfico de variação da tensão máxima de tração e Módulo de elasticidade dos compósitos
unidirecionais em função da concentração do tratamento químico.
4 CONCLUSÕES
Conclui-se que o tratamento alcalino influencia as propriedades de tração das fibras de sisal e dos
compósitos. O aumento da concentração (2% e 5%) de NaOH no tratamento alcalino aumenta a perda de
massa e a densidade, e diminui o diâmetro médio das fibras de sisal, em virtude da possível retirada de
constituintes da fibra. Além de aumentar a resistência à tração e o módulo de elasticidade das fibras de
sisal, sendo o tratamento mais eficiente de 5% de NaOH. Os ensaios de tração nos compósitos com fibras
tratadas e sem tratamento, mostram que o tratamento alcalino com 5% de NaOH influencia no aumento da
resistência e rigidez do compósito.
REFERÊNCIAS
[1] ISHIZAKI, M. H.; VISCONTE, L. L. Y.; FURTADO, C. R. G.; LEITE, M. C. A. M.; LEBLANC, J. L. Caracterização
mecânica e morfológica de compósitos de polipropileno e fibras de coco verde: influência do teor de fibra e das
condições de mistura. Polímeros, v. 16, n. 3, p. 182–186, 2006.
[2] CERCHIARO, J. R. Comportamento mecânico de compósitos com poliéster e tecidos de sisal por moldagem
manual. 2010. 87f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana) - Escola Politécnica, Universidade
Federal da Bahia, Salvador, 2010.
[3] SEGATELLI, M. G.; SILVA, C. A.; YOSHIDA, I. V. P.; GONÇALVES, M. C. Compósitos de polipropileno e fibras
curtas de sílica. Semina: Ciências Exatas e Tecnológicas, v. 33, n. 1, p. 95-102, 2012.
[4] MEGIATTO, J. D.; SILVA, C. G.; RAMIRES, E. C.; FROLLINI, E. Thermoset matrix reinforced with sisal fibers:
Effect of the cure cycle on the properties of the biobased composite. Polymer Testing, v. 28, n. 8, p. 793–800, 2009.
[5] ISMAIL, H.; SHUHELMY, S.; EDYHAM, M. R. The e effects of a silane coupling agent on curing characteristics
and mechanical properties of bamboo fibre filled natural rubber composites. European Polymer Journal, v. 38, n. 1, p.
39-47, 2002.
[6] ASTM D3800, Standard Test Method for Density of High-Modulus Fibers, ASTM International, West
Conshohocken, PA, 1999.
93
[7] ASTM D790/10, Standard Test Methods for Flexural Properties of Unreinforced and Reinforced Plastics and
Electrical Insulating Materials, ASTM International, West Conshohocken, PA, 2010.
[8] ASTM D3379/75, Standard Test Method for Tensile Strength and Young’s Modulus for High-Modulus Single-
Filament Materials, ASTM International, West Conshohocken, PA, 1975.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
[9] ASTM D3039 / D3039M-14, Standard Test Method for Tensile Properties of Polymer Matrix Composite
Materials, ASTM International, West Conshohocken, PA, 2014.
[10] FERNANDES, M. E.; MANO, J. F.; REIS, R.L. Hybrid cork–polymer composites containing sisal fibre:
Morphology, effect of the fibre treatment on the mechanical properties and tensile failure prediction. Composite
Structures, v.105, p. 153-162, 2013.
[11] ZHANG, Zhongsen; LI, Yan; CHEN, Chaozhong. Synergic effects of cellulose nanocrystals and alkali on the
mechanical properties of sisal fibers and their bonding properties with epoxy. Composites Part A: Applied Science and
Manufacturing, v. 101, p. 480–489, 2017.
[12] SREEKUMAR, P. A.; THOMAS, S, P.; THOMAS, B.; SAITER, J. M.; JOSEPH, K.; UNNIKRISHNAN, G.; Thomas, S.
Effect of fiber surface modification on the mechanical nad water absorption characteristics of sisal/polyester
composites fabricated by resin transfer molding. Composites: Part Applied Science and Manufacturing, v. 40, p. 1777–
1784, 2011.
94
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 11
Plástico reciclado adotado como elemento estrutural
na construção civil: Porosidade versus resistência
(estudo de caso)
Marina Muriel Feitosa Pinto
Conceição de Maria Pinheiro Correia
95
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
Imaginar o funcionamento da sociedade atual sem a existência do plástico é sem dúvida, uma tarefa difícil.
Isso acontece por que os polímeros de maneira geral, se fazem presentes e importantes em praticamente
todos os setores do funcionamento da mesma, por serem materiais de fácil manuseio, manutenção,
processamento e modelagem, se comparado com outros materiais como a madeira e o aço por exemplo.
Além disso são resistentes a deterioração, decomposição e corrosão. [DE PAULA; COSTA. 2008].
A outra face desse panorama, se configura em uma problemática de consideráveis dimensões: a poluição.
Cerca de 20% do lixo doméstico do Brasil é composto de plástico e, somente no ano de 2010, 5,9 milhões
de toneladas de resinas plásticas foram consumidas pelos brasileiros [VEJA, 2012].
Frente a essa problemática, a reciclagem apresenta-se como uma solução econômica e eficaz: o acúmulo
de material no meio ambiente é diminuído e o plástico (considerando sua clara importância) continua
circulando e sendo comercializado com um preço muito mais acessível.
3 MATERIAIS E MÉTODO
Foi utilizada uma placa de madeira plástica de 2 metros de comprimento, por 10,08 cm de largura e 2,5 cm
de espessura; fabricadas por meio do processo de extrusão, ou seja, o material reciclado foi prensado em
altas temperaturas para tomar o formato desejado e ter os fragmentos devidamente aglutinados. Sua
coloração é artificial.
A placa foi seccionada em quatro partes de 45 cm de comprimento cada, concluindo-se que todos os testes
mecânicos foram feitos na mesma peça, porém em etapas diferentes, e em sequência longitudinal. Em
seguida, as secções foram posicionadas na máquina de ensaios mecânicos de modo que tivéssemos dois
apoios nas extremidades da peça, espaçados entre si em 36,5 cm e o peso responsável pela flexão
posicionou-se no meio da peça. A máquina foi programada para exercer sobre a peça uma deformação de
20 mm por minuto. As quatro partes foram então rompidas, seguindo o mesmo procedimento. Abaixo,
tem-se a máquina utilizada para o rompimento das amostras.
96
Engenharia no Século XXI – Volume 7
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 ANÁLISE DOS MECANISMOS DE RUPTURA
A primeira característica relevante sobre o material é seu caráter compósito que é mostrado pelo tipo de
ruptura que todas as amostras apresentaram: depois de uma significativa deformação, o material rompeu
de forma catastrófica, sem evidencias oculares de tração e compressão de fibras. O material sofreu
deformação elástica, até o momento da ruptura, ou seja, as partes resultantes do processo de ruptura não
apresentaram sinais permanentes de deformação, permaneceram em sua forma plana, mesmo após o
rompimento.
Foi também graças a analise ocular de ruptura das amostras que se constatou uma considerável presença
de poros na parte central das mesmas, e em níveis percentuais diferentes em cada uma das quatro seções,
o que nos chama bastante atenção se considerarmos o fato de que todas as seções advêm da mesma placa.
A presença de poros em materiais em suma, significa uma deficiência no processo de fabricação, neste
caso especificamente, levantamos a hipótese de que, sendo a peça fabricada através do processo de
extrusão, a transmissão de calor não foi o suficiente para alcançar tal região da peça o que inviabilizou a
aglutinação dos fragmentos presentes nessas imediações.
Quanto ao fato de tais poros aparecerem desigualmente distribuídos ao longo da peça, a hipótese é de que
além de o calor ser insuficiente para aglutinar o material no sentido transversal, esse fenômeno pode
também ter ocorrido no sentido longitudinal, tendo ocorrido uma variação desta temperatura ao longo do
processo de extrusão.
Observou-se ainda o aparecimento de regiões esbranquiçadas nas seções transversais, de procedência não
identificada (uma análise de natureza química traria mais esclarecimentos sobre o fato).
As figuras abaixo são das amostras numeradas por ordem de análise, sendo a número 1, a primeira a ter
sido rompida.
Amostra 1: primeira amostra a ser rompida: dentre as 4 a que apresentou maior área de poros na sessão
transversal.
97
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Amostra 2: segunda a ser rompida, com uma porcentagem perceptivelmente menor que a primeira.
(Análise visual)
Amostra 3: terceira amostra da sequência a ser rompida: com porcentagem de poros menos que a da
segunda.
Amostra 4: quarta amostra analisada da amostra. Das quatro a com a menor porcentagem de poros.
Observa-se nessa amostra um fragmento flutuante, aparentemente um fragmento mal processado,
responsável pela oscilação no gráfico tensão x deformação.
98
Engenharia no Século XXI – Volume 7
99
Engenharia no Século XXI – Volume 7
100
Engenharia no Século XXI – Volume 7
60
50
40
30
20
10
0
1 2 3 4
5 CONCLUSÃO PARCIAIS
A resistência mecânica do material não é suficiente para que o mesmo seja utilizado para fins estruturais.
Neste caso em especial, a presença de uma deficiência no processo de fabricação evidenciado pelos poros,
inviabilizaria definitivamente esta utilização.
Podemos concluir ainda que a presença de poros no material estudado, influenciou decisivamente em seu
comportamento mecânico: quanto menor a quantidade de poros mais frágil o material se mostrou, ou seja
o mesmo deforma pouco até o momento da ruptura (pelo menos quando comparado á amostra com
muitos poros), mas tal fato não implica na sua diminuição de resistência, o que é evidenciado pelo fato de
que mesmo deformando menos, a quantidade de tensão necessária à ruptura é bem maior.
E em especial em um material compósito, a presença de fragmentos mal processados também se
apresenta como um fator de grande importância. O que se evidenciou pela oscilação do gráfico justamente
na seção transversal onde existe um fragmento mal processado.
Depois de todos o processos e análises já apresentados, repetimos as mesmas etapas, como uma outra
placa, com o intuito de ter dados para comparação de uma possível peça sem poros, peça essa do mesmo
lote; os resultados foram semelhantes e detectou-se uma distribuição de poros que, para nossa surpresa
(ou por coincidência), seguiu a mesma disposição da primeira análise. Logo, não temos conhecimento
sobre peças de outros lotes, ou sobre peças do mesmo lote que apresentem características diferentes das
amostras analisadas.
Entramos em contato com a empresa para informá-los sobre o aparecimento das falhas, e não obtivemos
resposta. Buscamos então fazer essa comparação com outras pesquisas, com analises semelhantes às
propostas neste trabalho, porém os resultados foram muito dispares, por não terem sido, evidentemente,
realizados nas mesmas condições.
REFERÊNCIAS
[1] ROLIM, Silvia Piedrahita. Reciclagem e Valorização de Resíduos Sólidos. Meio Ambiente. Sustentabilidade.
Plastivida (Instituto Sócio-Ambiental dos Plásticos, São Paulo, 24 de maio de 2013).
[2] PLASTICS-THE FACTS 2013. An Analysis of European latest plastics production, demand and waste data.
Plastics Europe (Association of plastics Manufacturers).
[3] PARENTE, Ricardo Alves (2006). Elementos Estruturais de Plásticos Reciclado. Escola de Engenharia de São
Carlos da Universidade de São Paulo.
[4] DE PAULA, Roberta Makron; COSTA, Daiane Leal (2008). Madeira Plástica: aliando tecnologia e
sustentabilidade.
[5] OLIVEIRA, S.M.M. Meio ambiente, Reciclagem e Tratamento de Resíduos. Tecpar (2005).
102
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 12
Compatibilidade entre polietileno e amido
termoplástico modificado com ácido cítrico e
polietilenoglicol
Kaique Acácio Nuernberg
Juliana Massae Andreatta
Márcia Silva de Araújo
José Alberto Cerri
103
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
O Amido Termoplástico (TPS) é um material amigável ecologicamente, já que é de fonte renovável e
biodegradável. Além disso, pode ser utilizado em diferentes processos de termoplastificação com
equipamentos padrão utilizados na manufatura de polímeros sintéticos, tais como injeção e extrusão (1).
Apesar do TPS se apresentar como um material muito promissor, a aplicação ainda é limitada devido a
elevada fragilidade. Essas características, associadas à recristalização após o processamento e elevada
viscosidade do material fundido, têm impedido uma utilização extensiva. Uma das formas encontradas
para melhorar as propriedades do amido e que tem sido empregada com sucesso na produção de produtos
industriais é a composição do amido com outros polímeros para dar origem a blendas poliméricas (2).
A obtenção de TPS passa pelo processo de gelatinização do amido, que exige uma combinação de
disponibilidade de água e/ou glicerol e temperatura adequada. O aumento de temperatura ocasiona o
rompimento da estrutura, extravasando os constituintes (amilose e amilopectina), os quais transformam-
se em substâncias gelatinosas denominadas gel de amido. A temperatura que se dá a gelatinização varia de
acordo com o tipo de amido (3).
Após gelatinizado e resfriado, o amido pode sofrer um fenômeno denominado retrodegradação. Segundo
Denardin e Silva (4), ao longo do tempo, as moléculas do amido perdem energia e as ligações de
hidrogênio tornam-se mais fortes. Assim, as cadeias começam a se reassociar em um estado mais
ordenado. A reassociação permite que a formação se torne simples e de duplas hélices, resultando no
aparecimento de áreas cristalinas. Esta cristalização localizada altera o índice de refração, tornando o gel
mais opaco à medida que a retrodegradação se processa. Com isso, a viscosidade do material aumenta,
tornando-o um sistema viscoelástico turvo ou em concentrações de amido suficientemente altas, em gel
elástico opaco. Um estudo comparativo entre as quantidades de glicerol utilizadas na literatura pode ser
visto na Tabela 1.
Seligra et al. (8) misturaram ácido cítrico com água, glicerol e amido antes do processo de gelatinização e,
demonstraram que a adição de AC a compostos à base de amido, melhora as suas propriedades de barreira
e que, a eficácia da reticulação do amido pelo AC depende fortemente das condições de fabricação. O uso
do AC em misturas de amido, glicerol e água pode ser visto na Tabela 2.
No estudo de compatibilidade de blendas de PEBD/Amido, Huang et al. (9) concluíram que a presença de
amido aumentou a taxa de biodegradação da blenda em 65% de perda de massa após um período de 2
semanas.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Para o presente trabalho foi utilizado o amido de milho híbrido regular em pó da marca Cargill (30% de
amilose e 70% de amilopectina); glicerol P.A. bidestilado; ácido cítrico P.A. anidro e, polietilenoglicol
Carbowax 4000 de massa molecular entre 3600 e 4000 e com temperatura de fusão de 59 °C. Os dois
últimos fornecidos pelo laboratório de reagentes analíticos Biotec. Os reagentes foram utilizados sem
purificação. O polímero comercial utilizado para obtenção da blenda foi o Polietileno Linear de Média
Densidade (PELMD) micronizado, da marca RubberOn, na cor preta, com índice de fluidez 5 g / 10min e
temperatura de fusão de 127 °C.
Foi realizada uma série de etapas para a obtenção de amostras de TPS modificado e de Blendas de PELMD
e TPS.
Primeiramente, o TPS foi obtido por extrusão reativa com o auxílio da extrusora monorosca BGM EL-25. A
composição do TPS foi constituída basicamente por Amido de Milho e Glicerol em uma relação mássica
70% / 30%. Na extrusora, os compostos pré-misturados foram processados da zona de alimentação até o
cabeçote de extrusão nas temperaturas de 70°C, 85°C, 100°C e 115°C, sendo a velocidade da rosca mantida
em uma média de 50 RPM, com resfriamento ao ar forçado por um ventilador. O TPS modificado foi obtido
ao adicionar diferentes quantidades de Polietilenoglicol e Ácido Cítrico variando de 0 a 3%, conforme a
Tabela 3.
As blendas com relação mássica 50% / 50% foram obtidas por meio de uma segunda extrusão com o
mesmo equipamento, nas temperaturas de 110 °C, 130 °C, 130 °C e 110 °C, sendo a velocidade da rosca a
mínima permitida (40 RPM), com resfriamento.
Para obtenção dos corpos de prova foi utilizada a prensa hidráulica marca Carver, modelo 4122, a 115 °C,
com uma carga aproximada de 4 toneladas, por um período de 5 minutos à quente e 10 minutos
resfriando.
A análise microestrutural foi realizada com aumento de 5x em microscópio óptico reflexivo da marca
Olympus, modelo BX41. 105
O ensaio de dureza tipo Shore A foi realizado conforme a norma de ensaio de dureza ASTM D2240-15 (15),
a carga utilizada foi de 1 kg e o tempo de aplicação de carga foi de 15 segundos.
O ensaio de tração foi realizado conforme a norma ASTM D638-14 (16), com o auxílio da máquina
universal de ensaios EMIC DL10000, na velocidade de 10 mm / min.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Todas as composições de TPS eram homogêneas, translúcidas e não apresentavam amido não plastificado,
tal como mostrado na foto à esquerda da Figura 1. Amostras que continham polietilenoglicol na
composição apresentaram dificuldade em ser transportadas pela rosca, pois esta substância tem função de
lubrificante externo, ou seja, lubrifica a parede do cilindro da extrusoras fazendo com que o material na
rosca patinasse. Não foi possível ultrapassar a concentração de 5% de PEG.
Figura 1 - Exemplo de grânulos de TPS (AM01), foto à esquerda, e grânulos da composição AM03-PE, foto
à direita
Entretanto, o polietilenoglicol não atuou como agente plastificante, nem como agente compatibilizador
entre TPS e PELMD, da forma que era esperado. Por isso, a homogeneidade da composição não foi obtida
com sucesso. Foi constatada uma grande heterogeneidade no material obtido após a mistura com o
PELMD. Era possível observar, sem a ajuda de microscópio, que o TPS havia formado uma segunda fase. O
PELMD apresentou durante a extrusão uma alta vazão, maior do que a do TPS, dando a impressão de que o
TPS foi arrastado e não misturado ao PELMD. O resultado dessa extrusão pode ser observado na foto à
direita da Figura 1.
106
Engenharia no Século XXI – Volume 7
A AM01-PE possui uma aparência muito semelhante à AM05-PE. Aparentemente, ambas as amostras
apresentam uma dispersão maior da fase TPS, quando comparadas com as composições que contêm PEG.
Entretanto, o estudo de Miranda e Carvalho (14), afirma que os materiais preparados com concentração
de ácido cítrico entre 0 a 5% apresentam baixa adesão interfacial TPS/PEBD. Baseando-se nas as amostras
AM01-PE e AM05-PE não é possível confirmar ou contrapor essa conclusão. Porém essas duas amostras
podem indicar que houve maior homogeneização entre as fases sem a presença de PEG.
Essas observações permitem concluir sobre o efeito positivo do ácido cítrico para a homogeneização dos
componentes, porém não de forma expressiva. Com relação ao PEG, não apresentou compatibilidade
alguma com a composição estudada, contribuindo de maneira oposta à prevista.
107
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Dureza Shore A
80
70
60
50
40
30
20
10
0
AM01-PE AM02-PE AM03-PE AM04-PE AM05-PE PE
Dureza 75,2 47,9 52,8 61 66,2 75,1
A partir dos dados obtidos, fica evidente que a amostra AM01-PE possui uma dureza muito semelhante
aos corpos de prova somente com polietileno. Além dessa, a AM05-PE também apresenta dureza próxima
ao valor obtido pelo polietileno. Considerando-se o desvio padrão calculado para cada amostra, os valores
obtidos com a AM05-PE estão dentro da média estatística dos valores de PELMD. Esses resultados
suportam uma base quantitativa para as afirmações que as amostras AM01-PE e AM05-PE são as que mais
se assemelham com polietileno puro.
O Módulo de Elasticidade (MOE) indica o quanto um material é rígido. Nos ensaios de tração realizados,
em termos de valor médio, o maior módulo de elasticidade obtido foi de somente 19,36 MPa, com a
amostra AM03-PE (1,5 % PEG + 1,5 % AC). Entretanto, não houve diferença estatística significativa entre
as amostras AM01-PE (sem aditivo), AM02-PE (3 % PEG), AM03-PE (1,5% PEG + 1,5% AC) e AM04-PE
(3% PEG + 3% AC). A média está dentro de ±1 (um) desvio padrão do valor encontrado para a outra
blenda, conforme pode ser visto na Figura 5.
É possível observar na Figura 6 os valores de Módulo de Ruptura (MOR) obtidos com o ensaio de tração. A
amostra que apresentou o maior valor médio de MOR foi a AM05-PE (3 % AC), com 3,71 MPa. Porém, não
há diferença estatística significativa entre as médias das blendas AM01-PE (sem aditivo), AM03-PE (1,5%
PEG + 1,5% AC), AM05-PE (3% AC) e a amostra composta por PE puro.
Por fim, é possível realizar a comparação dos parâmetros de deformação máxima obtidos no presente
trabalho (Figura 7).
Deformação (%)
1600,00
1400,00
1200,00
1000,00
800,00
600,00
400,00
200,00
0,00
AM01-PE AM02-PE AM03-PE AM04-PE AM05-PE PE
Deformação (%) 80,04 33,29 70,78 141,60 66,33 1140,13
Como é de conhecimento a fragilidade do TPS, buscou-se como estratégia obter uma blenda com PE para
aumentar a tenacidade e a ductilidade. As amostras AM01-PE (sem aditivo), AM03-PE (1,5% PEG + 1,5%
AC), AM04-PE (3% PEG + 3% AC) e a AM05-PE (3% AC) apresentam médias de deformação iguais,
segundo o teste t de Student. A amostra AM02-PE foi a que teve o menor alongamento, com valor médio de
33,29%. A amostra AM04-PE apresentou um valor de 141,6% de deformação na ruptura, sendo esta média
maior que 1 desvio padrão das outras blendas. Assim, ao menos neste quesito, a estratégia foi positiva.
Infelizmente, os desvios-padrão do ensaio de tração foram muito elevados, podendo ter relação com a
temperatura inadequada de conformação e ao acabamento do corpo de prova para o ensaio.
Os resultados apresentados corroboram com a afirmativa de que não houve compatibilidade entre a
composição de TPS modificado e o Polietileno. O ácido cítrico e o polietilenoglicol não agiram tão
efetivamente para promover a melhora da adesão entre as fases da blenda. Porém, a blenda apresentou
resistência suficiente para ser ensaiada e apresentou deformação plástica a temperatura ambiente.
4 CONCLUSÕES
Com a avaliação dos resultados encontrados neste trabalho, nas condições analisadas, pôde-se concluir
que:
O polietilenoglicol Carbowax 4000 não é um agente compatibilizante para o TPS e o PELMD, por
esse motivo a formação de 2 fases no qual o TPS se apresentava mal distribuído.
Em relação ao ensaio de dureza, pode-se afirmar que as amostras AM01-PE e AM05-PE estão
compatíveis com os resultados obtidos somente com polietileno, que pode ser devido ao menor volume da
fase TPS mais homogeneamente distribuída no PE.
A partir dos resultados de ensaio de tração, concluiu-se que o uso de aditivos na composição não
surtiu os efeitos esperados, como o aumento do módulo e da resistência à tração do PELMD, apenas a
deformação máxima da amostra AM04-PE foi maior do que a blenda sem aditivo.
110
Engenharia no Século XXI – Volume 7
REFERÊNCIAS
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[16] ASTM D638-14. Standard Test Method for Tensile Properties of Plastics. United States, 2014.
[17] COMPATIBILITY BETWEEN POLYETHYLENE AND THERMOPLASTIC STARCH MODIFIED WITH CITRIC ACID
AND POLYETHYLENE GLYCOL
111
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 13
Análise de textura da LIGA 600 após processamento
por ECAP e tratamentos térmicos
Renan Augusto Francisco Dias
Waldemar Alfredo Monteiro
112
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
Uma variedade significativa de propriedades apresentadas pelos materiais é fortemente dependente da
microestrutura, dentre elas pode-se citar limites de resistência e escoamento, alongamento, tenacidade,
resistência ao impacto entre outras. O tamanho médio de grão é um parâmetro determinante dessas
propriedades e a equação de Hall-Petch estabelece a relação entre tamanho de grão e tensão de
escoamento:
1
σ = σ0 + k. d−2 (A)
Sendo σ a tensão de escoamento, σ0 a tensão de atrito que se opõe ao movimento das discordâncias, k a
constante que representa uma medida da extensão do empilhamento de discordâncias nos contornos e d o
diâmetro médio do grão(1).
Analisando a equação de Hall-Petch matematicamente conclui-se que quanto menor o tamanho de grão
(d), maior será o valor da tensão de escoamento (σ) deste material. Na prática, as ligas comercializadas
tem seu tamanho de grão controlado de acordo com a aplicação, através de tratamentos termomecânicos
convencionais, como forjamento, laminação e extrusão, onde o tamanho de grão alcançado pode chegar à
ordem dos micrometros.
O Equal-Channel Angular Pressing (ECAP), ou Prensagem Angular em Canais Iguais, é uma técnica de
processamento não convencional, desenvolvida por Vladimir Segal durante a década de 70, que permite a
obtenção de metais com tamanhos de grão abaixo de 1µm.
Na Figura 1, pode-se observar o desenho esquemático de um conjunto matriz, punção e corpo e prova
sendo processado utilizando o ECAP(2).
Durante a prensagem o tarugo metálico é deformado por cisalhamento simples na intersecção dos canais,
podendo-se trabalhar com diferentes sistemas de escorregamento, dependendo da rota e do tipo de matriz
escolhida para o ECAP. A Figura 2, traz as diferentes rotas onde, admitindo um tarugo de secção quadrada,
é possível estabelecer uma referência para as rotações necessárias(3).
113
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Na rota A, após o primeiro passe, o tarugo retorna à matriz com a mesma orientação. Na rota BA, após o
primeiro passe, o tarugo retorna à matriz rotacionado de 90° e no passe subsequente este deve ser
rotacionado -90°. Na rota BC, após o primeiro passe, o tarugo retorna à matriz sempre rotacionado de 90°.
Pela rota C, após o primeiro passe, o tarugo retorna à matriz sempre rotacionado de 180°.
A difração de raios X é uma importante técnica de caracterização de materiais metálicos, ela pode ser
utilizada para análise qualitativa, revelando as fases e a estrutura cristalina, ou quantitativa, podendo
revelar composição, tamanho de grão (cristalito) e orientação preferencial (textura).
A lei de Bragg relaciona o comprimento de onda dos raios X, o espaçamento interatômico e o ângulo de
difração de uma interferência construtiva e é representada pela seguinte equação:
Sendo 𝑛 a ordem da reflexão, que admite qualquer número inteiro, 𝜆 o comprimento de onda do raio X
utilizado, 𝑑ℎ𝑘𝑙 a distância de dois planos de átomos adjacentes e paralelos e 𝜃 o ângulo incidente sobre os
planos.
Os metais e ligas utilizadas nas mais diversas aplicações conhecidas pela humanidade, na sua maioria, são
policristalinos, ou seja, sua microestrutura é composta por uma grande quantidade de grãos e, como visto
anteriormente, cada grão do material possui uma orientação cristalográfica diferente da de seu vizinho. Os
grãos desses metais e ligas podem estar arranjados de maneira aleatória ou podem desenvolver uma
orientação preferencial, a chamada textura.
Na realidade, é muito comum que os materiais possuam alguma textura, pois, durante os processos de
fabricação como laminação, extrusão, trefilação e forjamento os grãos dos materiais se deformam e
acabam sofrendo diversas rotações complexas, que tendem a deixar muitos deles agregados em uma
orientação preferencial, é a chamada textura de deformação. Um material, com esse tipo de textura, que é
tratado termicamente, desenvolve a chamada textura de recristalização ou textura de recozimento, pois a
orientação introduzida pela deformação tem influência sobre os fenômenos de nucleação e crescimento
dos grãos recristalizados.
Quando os materiais possuem texturas específicas, propriedades físicas específicas são melhoradas, como
é o caso dos núcleos de motores elétricos, que seus grãos são orientados com os planos {100} paralelos à
superfície da chapa, conferindo ao aço melhores propriedades magnéticas, o que não é interessante para
chapas que precisam passar por estampagem profunda, para fabricação de embalagens cilíndricas, que
tem seus grãos orientados com os planos {111} paralelos à superfície da chapa, para que durante a 114
deformação não ocorram trincas no produto final(4).
Através da técnica de difração de raios X é possível analisar uma grande quantidade de grãos, de modo a
quantificar a textura em uma dada orientação cristalina que é representada pela Função Distribuição de
Orientações Cristalinas (FDOC), segundo as coordenadas de Bunge.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
As FDOC dão a informação sobre a distribuição das orientações dos cristais, por meio de um plano e uma
direção cristalográfica, {hkl}<uvw>, a fração volumétrica de cada orientação presente e a frequência de
ocorrência (ou probabilidade de encontrar) as determinadas orientações. Na FDOC a orientação é definida
por 3 ângulos de Euler(5) (Figura 3), os quais constituem 3 rotações consecutivas que, aplicadas aos eixos
[100], [010] e [001] da célula cristalina do cristal tornam os mesmos coincidentes com os eixos da direção
de laminação, da direção transversal e da direção normal, respectivamente, DL, DT e DN(6).
Figura 3 – Definição dos ângulos de Euler (𝜑1, Φ, 𝜑2) conforme a notação de Bunge
2 MATERIAIS E MÉTODOS
O material objeto deste estudo é uma superliga à base de níquel, liga 600 (72%Ni, 14–17%Cr e 6–10%Fe),
recebida na forma de barras cilíndricas com comprimento de 0,15 m (150 mm) e diâmetro 8 mm,
fornecidas pela Multialloy.
As barras cilíndricas foram seccionadas no comprimento de 150 mm e então, usinadas a fim de adequar as
dimensões do material para o processamento por ECAP (6x6 mm de secção transversal), em fresadora
universal KFF 30 da Kone do Laboratório de Processamento de Pós do Instituto de Pesquisas Energéticas e
Nucleares (IPEN). Em seguida foram submetidas à um tratamento térmico de solubilização e novamente
realizadas análises por MO e microdureza Vickers.
Foram obtidas amostras com comprimento final de 25 mm (Figura 3) através do corte das barras
solubilizadas utilizando-se da cortadeira de precisão ISOMET 2000, Buehler, do Laboratório de Ensaios
Mecânicos do IPEN.
115
O processamento por ECAP foi realizado em uma matriz bipartida, fabricada em aço ferramenta D2, com 2
canais retangulares, de 6x6 mm, cujos ângulos, Φ e Ψ, são de 120° e 0° respectivamente, e para que o
atrito entre o corpo de prova e os canais fosse minimizado durante as prensagens, foi utilizada uma graxa
a base de cobre. O punção utilizado na prensagem também foi fabricado em aço ferramenta D2, de
Engenharia no Século XXI – Volume 7
maneira que o encaixe na matriz tivesse uma pequena folga. Durante o processamento das amostras, os
punções de aço ferramenta D2 foram substituídos após diversas falhas por punções de aço ferramenta D6.
As partes da matriz são unidas por parafusos de aço capazes de suportar os esforços desenvolvidos no
processo e a dureza final da matriz é de 62 HRC. A matriz, o punção e um corpo de prova posicionado para
a realização da prensagem podem ser observados na Figura 4.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As secções da FDOC mais importantes de serem analisadas para metais de estrutura cristalina CFC são as
de 𝜑2 = 0° e 𝜑2 = 45° e, além disso, as regiões delimitadas em vermelho são as mais importantes, pois
mostram a maior frequência de ocorrência. Utilizando o software PAT, quando o cursor do mouse é
colocado na região que se deseja analisar, ele retorna os valores dos ângulos de Euler, e assim, com o
auxílio de ábacos específicos, é possível dizer qual a posição espacial dos cristais da amostra.
Para o estudo de textura do material deste trabalho foram utilizadas a amostra solubilizada, a de 3 passes
sem tratamento térmico e as de 3 passes tratadas termicamente à 200 ºC, 450 ºC e 600 ºC.
Para amostra solubilizada foi realizada análise de textura, no entanto, devido a sua microestrutura ser
composta por grãos grosseiros, a difração de raios X não pôde identificar textura.
Para a amostra de 3 passes sem tratamento térmico as regiões vermelhas apareceram em φ1 = 55°, Φ =
45°, φ2 = 0° e φ1 = 30°~35°, Φ = 90°, φ2 = 45°, a primeira com frequência 11 vezes maior que a aleatória e
a segunda com frequência 5 vezes maior que a aleatória, em ambas a textura corresponde aos planos e
116
direções {111}<110>. As figuras de polo e a FDOC para essa amostra podem ser observadas na Figura 5,
onde RD significa Rolling Direction, direção de laminação e TD, Transversal Direction, direção transversal.
Para a amostra de 3 passes recozida a 250 °C a região vermelha apareceu em φ1 = 10°, Φ = 20°, φ2 = 5°
com frequência 7 vezes maior que a aleatória, porém, não foi encontrado na literatura um ábaco para
essas coordenadas, impossibilitando a identificação da textura em questão. As figuras de polo e a FDOC
para essa amostra podem ser observadas na Figura 6.
Para a amostra de 3 passes recozida a 450 °C a região vermelha apareceu em φ1 = 0°, Φ = 10°~25°, φ2 =
45° com frequência variando de 7 a 9 vezes maior que a aleatória, porém, ângulos menores que 25° em Φ
não são comtemplados nos ábacos consultados e necessitariam um estudo mais aprofundado para
identificação dos planos e direções, já para Φ = 25° a textura corresponde aos planos e direções
{113}<110> . As figuras de polo e a FDOC para essa amostra podem ser observadas na Figura 8.
Para a amostra de 3 passes recozida a 600 °C a região vermelha apareceu em φ1 = 0°, Φ = 10°~20°, φ2 =
45° com frequência variando de 8 a 9 vezes maior que a aleatória, porém, ângulos menores que 25° em Φ
não são comtemplados nos ábacos consultados e necessitariam um estudo mais aprofundado para
identificação dos planos e direções. As figuras de polo e a FDOC para essa amostra podem ser observadas
na Figura 8.
117
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Pode-se comparar a evolução da frequência de ocorrência das amostras recozidas ao analisar as fibras
correspondentes a 𝜑1 = 0°, 𝜑2 = 0° variando Φ e 𝜑1 = 0°, 𝜑2 = 45° também variando Φ, como se vê no
Gráfico 1 e no Gráfico 2.
Observa-se a cada tratamento térmico essa fibra sofreu uma evolução, ou seja, os planos e direções
{113}<110>, {101}<110> e {332}<110> (Φ = 25°, Φ = 45°, Φ = 65°) aumentaram sua frequência de
ocorrência a medida que a temperatura do tratamento aumentou.
118
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Observa-se a cada tratamento térmico essa fibra sofreu uma alteração, ou seja, se a base for a amostra de
250 °C nota-se que os planos e direções {223}<110> e {332}<110> (Φ = 40°, Φ = 65°) tiveram uma ligeira
queda ao serem comparados com as amostras de 400 °C e 600 °C, enquanto os planos e direções
referentes a Φ = 15° tiveram um grande aumento de frequência de ocorrência.
4 CONCLUSÃO
As amostras deste trabalho foram processadas pela técnica ECAP, tratadas termicamente e tiveram sua
textura analisada.
A análise da amostra de 3 passes sem tratamento térmico retornou uma textura associada aos planos e
direções {111}<110>.
Para as amostras de 3 passes recozidas em 3 temperaturas diferentes, foi identificada uma evolução na
textura ligada aos planos e direções {113}<110>, {101}<110> e {332}<110> e uma variação da textura
ligada aos planos e direções {223}<110> e {332}<110>. As variações de texturas associadas à planos {111}
e direções <110> são justificadas pelo tipo de deformação imposta pelo processamento, o cisalhamento
simples. Uma pesquisa mais aprofundada se faz necessária para entender o real impacto da formação
dessas texturas nas propriedades da liga 600.
REFERÊNCIAS
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WILEY & SONS, INC., 2007.
[2] CULLITY, B D; STOCK, S. R. ELEMENTS OF RAY X-RAY DIFFRACTION. Upper Saddle River, NJ: Prentice Hall.,
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relações de orientação: deformação plástica, recristalização, crescimento de grão. São Paulo: IPEN, 2003. p. 36-54.
119
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 14
Síntese de catalisadores de níquel suportado em
alumina por via úmida
Normanda Lino de Freitas
Joelda Dantas
Ana Cristina F. de Melo Costa
Talita Kênya O. Costa
Ana Carla da F. Ferreira
Jéssica Renaly F. Morais
sustentabilidade ambiental.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
Os catalisadores são utilizados na maioria dos processos industriais de transformação química. Por isso,
existem vários grupos que desenvolvem pesquisas na área, no aprimoramento e desenvolvimento de
novos materiais catalíticos. O principal benefício é a economia de energia, pois seu uso possibilita a
realização de reações químicas em condições operacionais mais brandas.
A catálise heterogênea acontece quando o catalisador sólido e os reagentes estão em fases diferentes. Em
alguns casos o catalisador consiste em um material ativo com partículas pequenas que está disperso sobre
uma substância menos ativa, a qual chamamos de suporte. Como material ativo frequentemente é
utilizado um metal puro ou uma liga metálica. Quando acontece a impregnação do ativo no suporte, esses
catalisadores são particularmente chamados de catalisadores suportados (Fogler, 2014). Devido ao
sinergismo, eficiência e eficácia dos catalisadores suportados, inúmeras pesquisas com aplicação em
variadas áreas são desenvolvidas com foco nesse tipo de sistema catalítico (Huang et al., 2020; Zhang et al.,
2020; Yu et al, 2020; Zhao et al., 2020; Wang et al., 2020; Xiao et al., 2019; Liu et al., 2019).
O estudo da forma da superfície do suporte tem grande influência na dispersão da fase ativa e este grau de
dispersão tem consequências diretas na atividade e seletividade dos catalisadores. Além disso,
frequentemente são adicionados promotores aos catalisadores metálicos que modificam sua atividade,
seletividade e/ou estabilidade. Desta forma, procura-se conhecer a natureza e a intensidade das interações
entre metal ativo/promotor e metal ativo/suporte (Yu et al., 2020; Liu et al., 2019; Passos, 2005).
A alumina é considerada um óxido de extrema importância em inúmeras reações catalíticas como
craqueamento e desidratação de álcoois, podendo atuar como catalisador ou como suporte catalítico para
metais. Possui alta área superficial, proferindo boa dispersão do metal impregnado, além de ser um
suporte relativamente barato e estável a temperaturas elevadas e por isso é muito utilizada na catálise. É
um suporte amorfo e apresentando-se sob diferentes graus de hidratação, as aluminas podem ser obtidas
com diferentes propriedades morfológicas e texturais (Bugrova et al., 2019; Xu et al., 2019; Mezalira,
2011).
Com base nisso, este capítulo oferece uma abordagem direcionada para a síntese da alumina (Al2O3) pelo
método químico da reação de combustão, o qual propicia simplicidade operacional, pouco tempo para
obtenção do produto final, e este, com a importante característica de nanoestrutura devido as
temperaturas praticadas. Além de apresentar os resultados de caracterizações estruturais, texturais,
morfológicas e químicas, do material como sintetizado e impregnado com o metal ativo níquel (Ni/Al2O3).
A pretensão com este estudo é respaldar a futura aplicação como catalisador suportado para produção de
biocombustível, e com isto contribuir na soma das diversas pesquisas no âmbito do desenvolvimento
tecnológico sustentável.
2 EXPERIMENTAL
A síntese e os ensaios de caracterização das amostras dos pós de Al2O3 e Ni/Al2O3 foram realizados no
Laboratório de Síntese de Materiais Cerâmicos (LabSMaC) e no Laboratório de Caracterização de
Materiais, ambos pertencentes a Unidade Acadêmica de Engenharia Materiais (UAEMa) da Universidade
Federal de Campina Grande (UFCG).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 DIFRAÇÃO DE RAIOS X (DRX)
Na Figura 1 estão ilustrados os difratogramas de raios X dos pós de Al2O3, obtida por meio da reação de
combustão, e Ni/Al2O3, resultante da impregnação do metal no suporte por rota úmida, utilizando como
fonte metálica o nitrato de níquel hexahidratado.
Ao fazer a análise da Figura 1, foi possível identificar a presença da fase cristalina estável Al2O3 (ficha
padrão JCPDS 89-7717). Observou-se ainda, o advento de duas novas fases após a impregnação, sendo
estas interpretadas como sendo óxido de níquel (NiO) (ficha padrão JCPDS 89-3080) e aluminato de níquel
(NiAl2O4) (ficha padrão JCPDS 78-1601). Comparando os difratogramas dos catalisadores Al2O3 e
Ni/Al2O3, verificou-se uma redução na intensidade dos picos, o que se justifica devido a alterações na
estrutura da alumina durante a impregnação.
Suppino et al. (2014) ao estudar a impregnação de metais em alumina por via úmida, reportaram a
presença das mesmas fases (NiO e NiAl2O4). Observações semelhantes sobre a presença dessas duas fases
foram também reportadas no trabalho de Boukha et al. (2014).
Logo, isto comprova o sucesso da síntese por reação de combustão para a obtenção desses materiais.
123
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Conforme os resultados da distribuição granulométrica alcançados, pode-se inferir que a aplicação desses
materiais como catalisadores nas reações químicas de produção de biocombustível, sinaliza promissora
viabilidade, isto devido as características de nanoestruturas, que favorecem boa atividade catalítica.
A análise das isotermas para as amostras estudadas sugerem que são do tipo V, de acordo com a
classificação proposta por Aranovih e Donohue, 1998. Este tipo de histerese sugestiona a presença de
poros com tamanhos entre 2 e 50 nm, os quais possuem boa uniformidade quanto a sua distribuição
granulométrica. Os valores de diâmetro de poro encontrados estão dentro da faixa indicada pela literatura,
conforme descritos na Tabela 1. Os catalisadores estudados apresentam histereses do tipo H3, onde os
poros apresentam formatos de cunhas, cones e/ou placas paralelas.
Na Tabela 1 também estão apresentados os resultados de área superficial especifica (SBET), diâmetro da
partícula (DBET), volume de poro (VP) e diâmetro de poro (DP) para os catalisadores estudados.
124
Engenharia no Século XXI – Volume 7
SBET DBET VP DP
Amostra
(m²/g) (nm) (cm³/g) (nm)
Esses resultados revelam que a maior área superficial específica foi obtida pela amostra de alumina pura
(Al2O3), sendo esta 56,29% maior que a área obtida na amostra de alumina impregnada com o metal
(Ni/Al2O3), não impregnada. Logo, espera-se sucesso na aplicação como catalisadores, uma vez que em
conformidade com os estudos de Dantas et al. (2018) os materiais que exibem porosidade e consideradas
áreas superficiais são bem cotados para essa finalidade.
Em função da análise química, confirma-se a eficácia da reação de combustão para obtenção desses
catalisadores dentro da estequiometria estabelecida.
125
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Figura 4 – Micrografias obtidas por microscopia eletrônica de varredura do catalisador Al2O3: (a)
aumento de 0,5 k e (b) aumento de 10,0 k.
(a) (b)
Figura 5 – Micrografias obtidas por microscopia eletrônica de varredura do catalisador Ni/Al2O3: (a)
aumento de 0,5 k e (b) aumento de 10,0 k.
(a) (b)
Por meio da micrografia, observou-se uma diferenciação na estrutura quando comparada à Figura 4,
tornando-se notória a presença do metal após a impregnação. A estrutura exibiu aglomerados de
partículas menos irregulares devido a uma elevada dispersão sobre a superfície do suporte. Foi possível
verificar ainda, que o processo de impregnação utilizado resultou numa maior porosidade aparente e na
diminuição dos aglomerados de partículas das amostras.
Conforme as morfologias obtidas, espera-se bons resultados na utilização dos catalisadores em estudo na
catálise heterogênea da produção de biocombustível, principalmente em relação ao catalisador suportado,
uma vez que o processo de impregnação do metal Ni promoveu visivelmente uma maior presença de 126
porosidade, o que pode ser indício da ocorrência de sítios ácidos ativos que promovem a catálise. Dantas
et al. (2017) reportaram a importância desses sítios ativos presentes em nanocatalisadores sólidos
porosos para produção de biodiesel.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
4 CONCLUSÕES
Nos resultados foram apresentados o advento de duas novas fases após a impregnação, sendo estas
interpretadas como sendo óxido de níquel (NiO) e aluminato de níquel (NiAl2O4). O diâmetro mediano
dos aglomerados diminuiu 32,8% após a incorporação do metal. Foi possível verificar ainda que os
catalisadores sintetizados são constituídos de poros com diâmetro entre 2,5 e 100 nm, por isso,
denominados mesoporos, e que a maior área superficial específica foi obtida pela amostra de alumina pura
(Al2O3). Assim, diante dos resultados alcançados, pode-se concluir que a síntese por reação de combustão
empregada é um excelente método para obter materiais nanométricos cotados como bons catalisadores.
Logo, espera-se que na aplicação para catálise heterogênea de produção de biocombustível, esses
materiais contribuam com uma eficiente atividade e seletividade, principalmente devido a boa interação
entre o suporte e o metal, como também a sua porosidade e considerada área superficial, os quais
evidenciam potenciais requisitos catalíticos. Portanto, espera-se também que os resultados apresentados
neste capítulo contribuam como mais um direcionamento relevante às pesquisas com foco no
desenvolvimento de catalisadores cujas características diferenciadas contribuam eficazmente na produção
de biocombustível.
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128
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 15
Características das superfícies de itabirito compacto e
seus componentes minerais principais com e sem
adsorção de amido gelatinizado
Marta Duarte da Fonseca de Albuquerque
Renata Antoun Simão
Laurindo de Salles Leal Filho
Marisa Bezerra de Mello Monte
129
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
O itabirito é uma rocha metamórfica, cujos principais componentes minerais são o quartzo e os óxidos de
ferro. Na prática industrial, a separação dos minerais de ferro da ganga quartzosa, que estão contidos no
itabirito compacto, é realizada por meio da técnica de flotação. Nesse processo alguns reagentes são
adicionados na polpa do minério com o intuito de modificar as superfícies tanto dos minerais de ferro
quanto do quartzo. Para isso, um depressor adsorve-se na superfície dos minerais de ferro e, em seguida,
ocorre a adsorção de um coletor na superfície do quartzo.
A flotação de silicatos tem sido conduzida invariavelmente com aminas de cadeia longa, mais
particularmente com sais produzidos a partir da neutralização de aminas primárias com ácidos fracos.
Tais produtos apresentam relativamente alta solubilidade em meio aquoso, facilitando sua ação como
agente coletor(1).
O amido, que é um polissacarídeo de reserva dos vegetais, é composto basicamente por dois tipos de
polímeros de glicose: a amilose e a amilopectina, que possuem estruturas e funcionalidades distintas. A
amilose é um polímero linear formado por unidades de D-glicose ligadas por ligações -(1 4), que,
dependendo da fonte do amido, pode possuir grau de polimerização de 200 a 3000. A amilopectina é
composta por unidades de D-glicose ligadas por meio de ligações -(1 4) e possui ramificações em -
(1 6), sendo um polímero altamente ramificado(2,3).
Os minerais contendo ferro são deprimidos por amido de milho gelatinizado, sendo este amido constituído
de 25% de amilopectina e 75% de amilose, aproximadamente(4). Esse reagente adsorve-se seletivamente
na superfície dos minerais de ferro, mantendo-os hidrofílicos mesmo após a adição do coletor, que torna a
superfície do quartzo hidrofóbica. O quartzo é, então, flotado a partir de éter-aminas e, eventualmente, por
uma mistura éter-diamidas e éter-monoaminas(5,6,7).
Essa técnica é conhecida como flotação catiônica reversa, que ocorre quando os minerais de interesse
ficam na polpa mineral, enquanto os minerais de ganga são recuperados por flotação por meio de um
coletor catiônico, sendo o quartzo o mineral principal de ganga.
Uma das causas da perda de eficiência no processo de flotação catiônica reversa do minério de ferro pode
estar relacionada à presença do quartzo no material afundado. As partículas não são recuperadas por
flotação, em particular, por questões hidrodinâmicas, e podem ainda serem arrastadas para o fundo da
célula de flotação, por não se apresentarem eficientemente hidrofóbicas.
O amido também pode interagir com as partículas de quartzo e inibir em parte a adsorção do coletor,
eteramina, diminuindo a cobertura hidrofóbica das partículas e, consequentemente, a seletividade do
processo(7).
A técnica de microscopia de força atômica (AFM) propicia captar imagens topográficas e de contraste de
fase para a caracterização morfológica e físico-química da superfície de um material, sendo possível
também avaliar as propriedades elásticas, a adesão e outras, como a rugosidade do material.
As características de superfície do itabirito e de seus componentes minerais principais, na presença e na
ausência de amido de milho gelatinizado, por microscopia de força atômica, podem fornecer informações
úteis sobre a adsorção competitiva deste depressor entre quartzo e hematita, um tema pouco investigado.
O objetivo desse trabalho foi identificar as características principais da superfície de hematita e de
quartzo, na presença e ausência de amido de milho gelatinizado, ex-situ, por microscopia de força atômica.
A microscopia óptica de luz refletida foi ainda utilizada para se obter imagens da superfície do itabirito
compacto, as quais foram comparadas com as obtidas por AFM.
130
Engenharia no Século XXI – Volume 7
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Para realizar o estudo foram utilizadas amostras de quartzo, hematita e itabirito compacto, de alta pureza,
oriundas do estado de Minas Gerais.
As seções de quartzo (101), hematita (001) e itabirito compacto foram cortadas, embutidas em resina
foram limpas ultrassonicamente em etanol e água deionizada, separadamente, por um período de 10 min
e, depois, essas amostras foram secas com um jato suave de gás nitrogênio ultra puro.
Após o polimento, as seções de quartzo (101) e hematita (001) foram condicionadas com o amido milho
gelatinizado, em pH 10,5, na concentração de 1000 mg/L durante 10 min. Posteriormente, o excesso de
amido das amostras foi retirado e as suas superfícies foram secas suavemente com gás nitrogênio. Para
realizar o condicionamento, o amido de milho (Vetec) foi gelatinizado com hidróxido de sódio (10% p/p)
na proporção de 5:1 em agitação magnética.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
As imagens topográficas obtidas por AFM para o monocristal de quartzo (101) e hematita (001) após
preparação da superfície estão apresentadas nas Figuras 1(a) e 1(c). A rugosidade média quadrática
(RMS) obtida para as superfícies de quartzo e hematita foram 0,96 nm e 2,42 nm, respectivamente.
Valores similares de rugosidade para essas superfícies foram encontrados na literatura, corroborando
com o método de preparação da superfície das amostras que foi utilizado nesse estudo(6,8).
As Figuras 1(b) e 1(d) mostram as imagens de topografia do monocristal de quartzo e de hematita,
respectivamente, após condicionamento com amido de milho gelatinizado. De acordo com as imagens
topográficas foram observadas áreas não adsorvidas ou com uma fina camada de amido na superfície do
quartzo. Por outro lado, observou-se que o condicionamento feito com amido gelatinizado na superfície da
hematita proporcionou uma cobertura homogênea em toda a sua superfície.
131
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Figura 1: Imagens topográficas de AFM: (a) após preparação da superfície de quartzo; (b) após
condicionamento com amido de milho gelatinizado na superfície de quartzo; (c) após preparação da
superfície de hematita; (d) após condicionamento com amido de milho gelatinizado na superfície de
hematita.
(a) (b)
(c) (d)
No estudo realizado com a superfície do itabirito compacto pode-se observar, a partir da fotomicrografia
apresentada na Figura 2, os seus minerais constituintes, como o quartzo e a hematita. É possível notar
nesta imagem os poros existentes na hematita, além das inclusões de hematita no quartzo.
132
Engenharia no Século XXI – Volume 7
A Figura 3 mostra a topografia e o contraste de fase da parte referente à hematita no itabirito compacto.
As estruturas mais escuras existentes na imagem de topografia são os poros contidos na hematita.
Figura 3: AFM da parte referente à hematita no itabirito compacto: (a) topografia; (b): contraste de fase.
(a) (b)
A imagem do itabirito compacto obtida por meio do microscópio óptico que está acoplado ao AFM pode
ser observada na Figura 4. A região marcada em azul, que contém a inclusão da hematita no quartzo,
mostra o local aonde foi feita a imagem de AFM. Pode-se observar por meio dessa figura que a imagem
obtida por microscopia óptica distingue melhor os minerais constituintes do itabirito compacto do que a
imagem topográfica feita por AFM.
133
A Figura 5 mostra a imagem de topografia e contraste de fase da inclusão da hematita no quartzo. Nesse
caso, observa-se que a imagem de contraste de fase também não diferencia a hematita do quartzo.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Figura 5: AFM da inclusão de hematita no quartzo: (a) topografia; (b) contraste de fase.
(a) (b)
4 CONCLUSÃO
A partir das imagens obtidas por meio do AFM notou-se que a preparação da superfície das amostras de
quartzo (101) e hematita (001) foi eficiente, quando comparada com a literatura. Além disso, as imagens
de AFM mostraram áreas não adsorvidas ou com uma fina camada de amido de milho na superfície do
quartzo que certamente não interfere na adsorção posterior do coletor (eteramina).
No caso das imagens obtidas por meio do microscópio óptico e do AFM para o itabirito compacto
observou-se que a caracterização morfológica utilizando o microscópio óptico oferece mais informações
do que a caracterização realizada por AFM, uma vez que a técnica de microscopia óptica conseguiu
distinguir melhor os componentes minerais do itabirito compacto, que são a hematita e o quartzo. Em
adição, a imagem de contraste de fase também não diferenciou a hematita do quartzo.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Capes/ITV pela bolsa concedida e ao CETEM pela infraestrutura.
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Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 16
Influência do tratamento alcalino nas propriedades da
fibra de sisal e nos seus compósitos de matriz epóxi
avaliada pela técnica da correlação digital de
imagens.
Pedro Henrique Xavier de Mesquita
Fernanda Monique da Silva
Rodrigo Nogueira de Codes
Zoroastro Torres Vilar
135
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
Materiais compósitos são obtidos pela combinação de dois ou mais componentes, onde um deles forma a
matriz, que é contínua e envolve o outro elemento, chamado de reforço. Os compósitos são produzidos
visando obter um material com características específicas e propriedades intermediárias àquelas
apresentadas pelos elementos individualmente(1). Compósitos de matriz polimérica, destinados a
aplicações estruturais, utilizam como elemento de reforço a fibra de carbono, a fibra de vidro e a fibra
aramida(2).
A substituição de fibras sintéticas por fibras vegetais, como reforço em compósitos poliméricos é algo que
vem sendo amplamente estudado nos últimos anos por diversos autores. A motivação para essa
substituição encontra-se nas características das fibras sintéticas, que, apesar de possuírem excelentes
propriedades mecânicas e térmicas, possuem um custo elevado, são abrasivas aos equipamentos de
processamento, têm alta densidade, não são biodegradáveis e apresentam difícil reciclagem(3).
Entre as fibras vegetais empregadas como reforço em compósitos de matriz polimérica, uma das mais
citadas na literatura nas últimas décadas é o sisal(1). O Brasil produz mais de 50% da produção mundial
de sisal, sendo um dos principais países produtores do mundo. No Rio Grande do Norte, mais de 60% das
áreas cultivadas com sisal concentram-se na região de João Câmara(4).
A principal desvantagem na utilização de fibras vegetais como reforço reside na falta de adesão fibra-
matriz. Esse problema ocorre devido à natureza das fibras lignocelulósicas que são altamente hidrofílicas
enquanto que as matrizes poliméricas são hidrofóbicas. Essa combinação de propriedades resulta no
surgimento de um compósito com uma péssima adesão fibra-matriz, prejudicando assim o
comportamento mecânico do compósito. Felizmente esse problema pode ser resolvido através de
diferentes tratamentos químicos (5,6).
O tratamento alcalino, também chamado de mercerização, é um tratamento simples e eficiente para
melhorar a adesão da matriz polimérica com os reforços lignocelulósicos (7). O tratamento alcalino extrai
a lignina e a hemicelulose, resultando em mudanças na estrutura, na morfologia, nas dimensões e nas
propriedades mecânicas das fibras(8).
Nesse sentido, o objetivo desse trabalho é avaliar a capacidade que o tratamento alcalino possui para
modificar as propriedades da fibra de sisal e dos seus compósitos de matriz epóxi, melhorando a adesão
entre os componentes.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 MATERIAIS
As fibras de sisal, utilizada como reforço, foram obtidas em seu formato bruto, estas passaram por um
processo de paralelização (cardagem manual) e posteriormente foram cortadas em um comprimento pré-
determinado de 30 cm. A resina epóxi foi utilizada como matriz nos compósitos confeccionados. A resina
epóxi é um polímero termofixo, portanto durante o processo de cura ela se torna permanentemente dura e
não se torna fluida quando exposta ao calor. O conjunto utilizado foi a resina SQ 2001 e o endurecedor SQ
3154. No tratamento das fibras de sisal foram utilizados dois reagentes diferentes. O Hidróxido de sódio,
NaOH, P.A – ACS (Microperolas) e o Ácido acético glacial P.A – ACS.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA RESINA
A Tabela 01 mostra os resultados para a medição de densidade e para o ensaio de tração da resina. Os
resultados encontrados estão de acordo com o estabelecido pelo fabricante e semelhantes à resultados
encontrados por outros pesquisadores.
138
Engenharia no Século XXI – Volume 7
A Figura 01 mostra os resultados da análise de variância para esses mesmos resultados. A análise de
variância mostrou que os tratamento químicos com 5% e 8% provocaram alteração em todas as
propriedades avaliadas, sendo observada uma diminuição do diâmetro e aumento na densidade, tensão
máxima e módulo de elasticidade quando comparadas com a fibra não tratada, sendo que quanto maior a
concentração do tratamento maior foi o efeito do tratamento alcalino. É importante observar que o
tratamento alcalino não teve influência na deformação máxima sofrida pela fibra. As deformações em
todos os níveis de tratamento químico foram estatisticamente iguais, apresentando uma valor médio de
0,05.
A Figura 02 mostra o diagrama tensão x deformação para as fibras tratadas e não tratadas. Nessa imagem
é possível observar graficamente a influência do tratamento químico nas propriedades da fibra. Também é
possível perceber que independente do tratamento o desempenho da fibra foi o mesmo, apresentando um
comportamento praticamente elástico até a ruptura.
139
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Como pode ser observado na Figura 03 a análise de variância mostrou que os tratamento químicos com
5% e 8% também provocaram alteração nas propriedades do compósito unidirecional, sendo observado
um aumento na tensão máxima e no módulo de elasticidades dos compósitos confeccionados com fibras
tratadas quando comparados com o compósito fabricado com as fibras não tratadas. Novamente, quanto
maior a concentração do tratamento maior foi o efeito do tratamento alcalino.
Como pode ser observado, o tratamento químico não apresentou influência na deformação máxima do
compósito. Isso já era esperado, visto que a deformação da fibra também não foi influenciada pelos
tratamentos
A Figura 04 mostra o diagrama tensão x deformação para os compósitos tratados e não tratados. Nessa
imagem é possível observar graficamente a influência do tratamento químico nas propriedades dos
compósitos. Também é possível perceber que independente do tratamento o comportamento do
compósito foi o mesmo, apresentado um comportamento elástico até a ruptura. É importante frisar que
em todos os compósitos não ocorreu a formação de estricções e a falha ocorreu de forma brusca.
Figura 04– Diagrama tensão x deformação para os compósitos unidirecionais tratados e não tratados.
140
Engenharia no Século XXI – Volume 7
A Figura 05 mostra os resultados obtidos através da correlação digital de imagens para o ensaio 1 do
compósito unidirecional sem tratamento, todos os outros compósitos apresentaram resultados
semelhantes.
Na Figura 05 (a) podemos ver o deslocamento vertical sofrido por cada região. É possível notar que não
existe variação brusca nas faixas de deslocamento, todas apresentam um tamanho semelhante, como
consequência a deformação sofrida nessa direção é praticamente uniforme em todo o corpo de prova,
como observado na Figura 05 (c). Em outras palavras, não houve concentração da deformação em
nenhuma região e nem a formação de uma zona de estricção antes da ruptura. De fato, durante o ensaio
não foi observado a formação do empescoçamento e a ruptura do corpo de prova ocorreu de forma brusca.
Na Figura 05 (b) temos uma representação do deslocamento na horizontal. Pode-se notar claramente que
existe uma região do corpo de prova que sofre um deslocamento positivo enquanto outra região sofre um
deslocamento negativo, logo as duas partes do corpo se dirigem ao centro. Isso é uma característica
comum para corpos de prova submetidos ao ensaio de tração. Novamente não temos variação brusca
nesse deslocamento nem concentração de deformação.
4 CONCLUSÃO
Neste trabalho foi possível identificar a influência que o tratamento químico com hidróxido de sódio
(NaOH) possui nas propriedades mecânicas da fibra de sisal. Os ensaios mecânicos das fibras mostraram
que os tratamentos alcalinos de 2%, 5% e 8% de NaOH podem promover, aumento da densidade,
diminuição no diâmetro das fibras e melhorias nas propriedades mecânicas das mesmas, sendo o
tratamento químico com 8% o mais eficiente na mudança dessas grandezas, para esse tratamento a fibra
apresentou, uma densidade de 1,334 ± 0,0056 g/cm3, um diâmetro de 0,15 ± 0,03 mm, uma tensão
máxima de 374,66 ± 49,47 MPa e um módulo de elasticidade de 13267,85 ± 4471,34 MPa.
Os ensaios também mostraram que o tratamento alcalino pode ser utilizado para aumentar as
propriedades mecânicas do compósito, visto que os compósitos unidirecionais confeccionados com sisal
tratados com 5% e 8% de NaOH apresentaram limite de resistência a tração e módulo de elasticidade
maiores que o compósito com fibras sem tratamento, novamente o tratamento químico com 8% foi o mais 141
eficiente na mudança dessas grandezas, apresentando uma tensão máxima de 73,41 ± 4,89 MPa e um
módulo de elasticidade de 4823,63 ± 168,84 MPa. Provavelmente essa mudança de propriedades ocorreu
devido a melhoria das propriedades do sisal e da adesão entre fibra e matriz provocada pelo tratamento
alcalino.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
REFERÊNCIAS
[1] LEVY NETO, Flamínio; PARDINI, Luiz Cláudio. Compósitos estruturais: ciência e tecnologia. 1.ed. São Paulo:
Editora Edgard Blucher. 2006. 313 p.
[2] MARINUCCI, Gerson. Materiais Compósitos Poliméricos:Fundamentos e Tecnologia. 1. ed. São Paulo: Arliber
Editora, 2011. 333p .
[3] MOTHÉ, C. G.; ARAUJO, C. R. DE. Caracterização térmica e mecânica de compósitos de poliuretano com fibras
de Curauá. Polímeros, v. 14, p. 274–278, 2004.
[4] MONTEIRO, S. N.; CALADO, V.; RODRIGUEZ, R. J. S.; MARGEM, F. M. Thermogravimetric behavior of natural
fibers reinforced polymer composites-An overview. Materials Science and Engineering A, v. 557, p. 17–28, 2012.
[5] KALIA, S.; KAITH, B.S; KAUR, I. Pretreatments of Natural Fibers and their Application as Reinforcing Material
in Polymer Composites—A Review Susheel. Polym Eng Sci, v. 47, p. 21–25, 2009.
[6] JOSEPH, K.; THOMAS, S.; PAVITHRAN, C. Effect of chemical treatment on the tensile properties of short sisal
fibre-reinforced polyethylene composites. Polymer, v. 37, n. 23, p. 5139–5149, 1996.
[7] ORUE, A.; JAUREGI, A.; UNSUAIN, U.; et al. The effect of alkaline and silane treatments on mechanical
properties and breakage of sisal fibers and poly(lactic acid)/sisal fiber composites. Composites Part A: Applied Science
and Manufacturing, v. 84, p. 186–195, 2016. Elsevier Ltd.
[8] PIRES, E. N.; MERLINI, C.; AL-QURESHI, H. A.; SALMÓRIA, G. V.; BARRA, G. M. O. Efeito do tratamento alcalino
de fibras de juta no comportamento mecânico de compósitos de matriz epóxi. Polímeros, v. 22, n. ahead, p. 00–00,
2012.
[9] ASTM D3800-99, Standard Test Method for Density of High-Modulus Fibers, ASTM International, West
Conshohocken, PA, 1999.
[10] ASTM D792-13, Standard Test Methods for Density and Specific Gravity (Relative Density) of Plastics by
Displacement, ASTM International, West Conshohocken, PA, 2013.
[11] ASTM D3822 / D3822M-14, Standard Test Method for Tensile Properties of Single Textile Fibers, ASTM
International, West Conshohocken, PA, 2014.
[12] ASTM D3039 / D3039M-14, Standard Test Method for Tensile Properties of Polymer Matrix Composite
Materials, ASTM International, West Conshohocken, PA, 2014.
142
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 17
Análise de ensaios de tração em amostras de latão,
aço SAE 1020 e aço SAE 1010
Matheus Ben-Hur Ramirez Sapucaia
Francisco Mikael Alves da Silva
Resumo: Esse texto rasa nas frações de aulas-relatório acerca do ensaio de tração com
amostras diversas, é visto que, pode-se ressaltar outras características no material, à luz
de ductilidade, tenacidade e resistência mecânica em ambiente elástico, ainda o
desempenho plotado via gráfico “tensão x deformação” muito debatido. Logo, são
apresentados os resultados extraídos do software da máquina EQTB-100 durante teste
de tração, além disso, o processo tolera comparação analítica entre gráficos “σ x ε" dos
ensaios, relaciona-se usinagem nas amostras conforme NBR ISO 6892-1 terem análises
achadas ao longo dos ensaios, a saber, têm fins de compreender nos ensaios de tração,
nas propriedades observadas agendam ilações, avanços e emprego de artefatos do setor
produtivo, embora avaliar materiais metálicos contra não metálicos de natureza elástica
bem análogas faz importância balanço dentre efeitos no aço carbono ABNT 1010L e
1020L versus liga Cu-Zn (Latão), o grosso modo foca na estrutura e composição
macroscópica.
143
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1. INTRODUÇÃO
Com frequência os ensaios de tração são utilizados para determinar a curva “σ/tensão x ε/deformação”
obtendo as medições das propriedades de resistência à tração, módulo de elasticidade, tensão do
escoamento, tensão na ruptura, deformação no escoamento, deformação na ruptura, etc. Essas
propriedades são importantes no controle e especificação de materiais elásticos nas pesquisas do
desenvolvimento de um produto. O ensaio é realizado nos corpos de prova, filmes, peças de produtos. E
certamente, algumas normas técnicas utilizadas sobressaem-se: ASTM D638; ASTM D412; ISO 527(1-4)
para materiais plásticos. Em vista dos diversos tipos de materiais com atributos que os mesmos oferecem,
há várias formas de se conhecer propriedades, composições, estruturas e as resistências envoltas que
avultam nos materiais, assim um dos aspectos é pelo ensaio de tração (4). Visto que, o ensaio de tração
bem como o ensaio mecânico, são considerado muito frequentes dentre bons ensaios visando uma relação
do “custo x benefício”, uma vez que seu custo efetivo tomadas nas devidas condições de exigências, pode
ser bem mais baixo que outros ensaios de mesmo cunho.(1) Além disso, um ensaio de tração traz usual
utilização em artes de engenharias, nos fins de obterem as informações básicas sobre propriedades nos
materiais.(2) No ensaio o corpo de prova é usinado (5-7), aparente traz desiguais geometrias, sendo
submetido à aplicação de uma carga uniaxial crescente, donde são obtidas informações simultâneas sobre
seu desempenho durante o tempo de ensaio, do qual o produto de ensaio gera uma curva “tensão versus
deformação” com auxílio de um software é mostrado analogia na Figura (1).
Nesta linha de raciocínio, são retirados as porções de regiões sadias nas barras circulares, quadradas ou
mesmo prismáticas retangulares, é diretamente da peça que se deseja ensaiar, mesmo que o ensaio possa
ser realizado absolutamente na fração do próprio material tido homogêneo, larga na sua classificação,
qualidades e designe da amostra ser ancorado nas especificações diversas normas técnicas nacionais e
internacionais, ABNT, ASTM, SAE, DIN e ISO, por exemplo, uma panorâmica do modelo de amostra para
ruptura no ensaio de tração faz instrução na Figura (2).
144
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Um estudo bem delineado sobre ensaios mecânicos aborda os maquinários e acessórios da metodologia
conforme uma sequência de testes é apresentada na figura (3), aonde fazem-se as devidas análises para
evitar falhas (3), os ensaios de tração podem ser atingidos numa parte ou em toda massa do próprio
material.
Figura (3). Maquinas e acessórios agregados em laboratório de ensaios disponíveis na execução do ensaio
de tração.
Contudo, alusões de ensaios em materiais desiguais têm-se o alvo de verificar propriedades intrínsecas
nesses materiais, bem como, os diferentes procedimentos entre metais e ligas (monolíticos, ferrosas, não-
ferrosas, termoplásticos e ou cerâmicos) respectivamente, podem conter dados análogos aos materiais de
marcas já consolidados no segmento metalomecânico, isto quando eles toleram uma determinada tensão
limite na aptidão das amostras suportarem os esforços, no teste excede a compreender o momento da
estricção indo até a fratura da ruptura numa amostra ensaiada. Contudo, o contexto dos efeitos de testes
se cruzam, a saber, resume nos termos da energia de impactada na ocasião em artes com trabalhos
severos, vê-se bastante interesse em conhecer se um material atende performance dúctil e ou frágil numa
transição concorrente, na qual insere três modos de gradiente (Δt), em ambiente gelado a -10 °C,
mediador a 23°C e, no quente a 100°C, é o ideal testar, bem como, força máxima e as tensões máxima que
uma amostra pode suportar (4; 8). Dessa forma, mira o método em ajudar os acadêmicos entenderem
melhor o conteúdo de resistência ministrado na sala e, ainda há aplicação de forma prática no laboratório
de ensaios DPI/CMC-IFAM, no grosso modo açoda em decorrências com energia, zonas, forças, limites,
estricção e resistências que são plotados em gráficos dão margem na opção em prol do uso de boa fatia
dos materiais na manufatura (9-10).
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Todavia, vários materiais acatam efeitos de tabelas nas condições elásticas da Lei de Hooke é ajeitada na
Equação (A), usa-se input de dados teóricos na checagem Excel.
145
𝜎 = 𝛦𝜀 Eq. (A)
Este estudo, trata-se de análises obtidas nos ensaios de tração, nesse fim emprega os maquinários atuais e
amostras de materiais desiguais traz design (11) na Figura (4).
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Figura (4). Concepção do designe padrão para amostras nos ensaios de tração.
O modo nos materiais selecionados para avaliações plota-se gráfico de tensão versus deformação, nos
quais vão sofrer interpretações conforme traz exemplo bem frequente na figura (5), é indicado nas críticas
de ligas metálicas dúcteis ferrosa e não ferrosa.
Figura (5). Sistemática para interpretar variáveis no gráfico “𝜎 𝑥 𝜀” dos ensaios com amostras de aço e
ligas de alumínio (fonte: adaptação aula USP, 2018).
É dentre quais tolera o mesmo rigor da transformação de artes do setor metalomecânico, é aplicado nas
amostras metálicas e na de Cu-Zn (latão), sobrepõem também liga de aço ABNT 1010L e 1020L em fração
percentual de carbono, mostram-se o rol de propriedades básicas na Tabela (1).
A modelação das amostras é por usinagem e aplica-se norma ABNT NBR ISSO 6892-1/2013 (11). A
sistemática de fabricação do corpo de prova é por torneamento. De derradeiro descreve que configura
146
haver operações manuais e o corte da barra numa serra elétrica, e na preparação da peça bruta a
usinagem usa torno ROMI junta-se ao ferramental de corte de metal duro WC-Co. Agrega o maquinário e
acessórios para ensaio de tração, considera os alvos nas múltiplas comparações com dados de tabela dos
fabricantes já bem sólidos no mercado é o que justifica alinhar hipóteses esperadas contra decorrências de
ensaios de tração traz execuções de tarefas práticas do projeto.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
De início os dados foram efetuados e as medidas com instrumentos metrológicos, isto antecede ao ensaio
de tração estão apresentados um rol na Tabela (2).
Aços com baixo teor de carbono e as ligas de latão e bronze sofre grande deformações antes da ruptura,
em alguns metais como alumínio não têm região de escoamento constantes e nem tensão “σe” bem
definida. Consiste na aplicação de uma força, cuja deformação segue mediante a direção que o esforço está
sendo aplicado, gerando assim uma pressão na peça conforme adaptação na sequência na sistemática do
método de ensaio de tração visita a Figura (6).
Quando a força tende ao alongamento, pode-se estabelecer relações de tensão e deformação resultantes,
bem como a formação do diagrama “σ x ε”. Insere uso de extensômetro modelo EQTB-100 no ensaio de
tração dos materiais. Definição das variáveis: 𝐿𝑖/comprimento inicial; ∅𝑖/diâmetro inicial; 𝐴𝑡/área
transversal. Os resultados dos ensaios de tração são fornecidos pelo computador acoplado à máquina de
tração, que disponibiliza amplitude das cargas, forças e tensões que irão ser aplicadas no material a ser
testado. Depende do material, logo exige que se use uma determinada garra ou castanha, para prender o
material e submetê-lo aos esforços. De acordo com os dados obtidos, entender-se-á se o tipo de fratura é
frágil ou dúctil ao limite de deformação e o módulo de elasticidade. Segundo Ensaios Mecânicos e Análises
de Falhas (3), é importante observar a excentricidade da aplicação das cargas nos ensaios de tração, pois,
ao colocar o corpo de prova nas garras, ele pode ficar desalinhado, causando uma não uniformidade das
tensões. Outro cuidado é a velocidade da aplicação da carga: uma maior rapidez produz aumento da
resistência e diminuição da ductilidade. Segundo Ensaios Mecânicos e Análises de Falhas (2011), o módulo
de elasticidade dependente das forças interatômicas e, embora variando com o tipo de ligação atômica,
não é sensível a modificações estruturais. Assim, por exemplo, ele pode ser achado na figura (7) ao 147
analisar a tensão aplicada e a deformação elástica que é mostrada no gráfico, se num determinado tipo de
aço, a resistência mecânica pode aumentar apreciavelmente por fatores que afetem sua estrutura, como
tratamentos térmicos ou pequenas adições de elementos de liga, fatores praticamente não influem no
módulo de elasticidade do material. Sendo: = ΔL/Li; = Deformação linear específica ou deformação
permanente; Li = comprimento inicial/original (antes da aplicação da carga); ΔL = variação do
Engenharia no Século XXI – Volume 7
comprimento, (ou seja, 𝐿𝑓 - 𝐿𝑖 ). Pelo gráfico de tensão-deformação mostrado na figura (8) podemos
calcular o módulo de elasticidade ou módulo de Young, que nos proporciona o intervalo de elasticidade do
material, garantindo que até o ponto máximo do limite de elasticidade, a peça ainda poderá voltar ao
comprimento inicial. Sendo: E = /; E/módulo de elasticidade; /tensão aplicada; /deformação linear
específica ou deformação permanente. Após ultrapassar o limite de elasticidade do gráfico, toda a
deformação que o material sofrer se tornará permanente, o material irá começar a escoar de forma
irreversível a seu comprimento e área transversal. Segundo Ensaios Mecânicos e Análises de Falhas (2)
materiais com maior ductilidade, aços carbonos de baixo teor de carbono, nos ensaios de tração,
apresentam o fenômeno chamado: escoamento, que serve para definir bem o início da fase plástica.
Figura (7). (a) Plotagem de gráfico “tensão x deformação” do aço carbono 1010L, (b) Ruptura no aço
carbono 1010L após o limite de ruptura e a sua fratura.
(a) (b)
Na Figura (9), observa-se que no momento que o material sofre a fratura ou quebra de sua estrutura,
significa que o limite de tensão do material foi ultrapassado, dessa forma podemos conhecer o quanto de
esforço o material suporta e qual a força necessária para parti-lo. No momento que ocorre a fratura, pode-
se perceber no gráfico de tensão-deformação os pontos onde há tensão de ruptura, o limite de resistência
e a variação dos pontos de estricção. O ensaio de tração do qual as peças foram submetidas, baseou-se em
aplicar uma força na qual deformaria a peça até consequentemente causar sua ruptura ou quebra. todo o
processo gera dados pelo computador, que acoplado à máquina, fornece diversas informações a respeito 148
do material. Dessa forma, foi aplicada uma força de 2039,5 kgf a uma velocidade de 5mm por minuto.
Geraram os respectivos resultados no rol da Tabela (3). Partindo da comparação das tabelas e dos gráficos
apresentados, podem-se perceber as mudanças que as amostras sofreram em seu diâmetro, área e
comprimento. Ou seja, com a aplicação da força, tivemos o aumento da tensão, do comprimento e da
deformação. Além de tabelar quais são a força máxima e tensão máxima o material pode suportar,
analisando seus respectivos gráficos de tensão-deformação.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Figura (9). a) gráfico de força-deformação do Latão em relação à força b) gráfico de tensão deformação do
Latão em relação à tensão.
(a) (b)
Tabela (3). Rol das medidas obtidas das amostras após os ensaios de tração.
𝜟𝑳 𝑨𝒕 𝑭𝒎á𝒙 𝝉𝒎á𝒙
Material ∅𝒇
(mm) (mm2) (kgf) (kgf/mm2) (mm)
Aço Carbono 1020L 2 86,59 2,75 2941,8813 58.5317 0,0012
Aço Carbono 1010L 26 13,16 ------- 1402,1098 43.8478 0,1656
Latão 9,7 141, 026 6,70 2251,5334 44.7655 0,0554
149
Engenharia no Século XXI – Volume 7
4. CONSIDERAÇÕES
O ensaio de tração proporciona o entendimento de diversos conceitos das estruturas contra composição
dentro de um contexto da resistência dos materiais, possibilitando assim a compreensão das propriedades
mecânicas nas distintas amostras utilizadas em ensaios de tração, ou mesmo como ferramenta de crítica
no comportamento dos materiais, no que diz respeito às forças e tensões das quais são aplicadas numa
rede interna das artes. Além disso, foram alcançados por cálculos imputando dados de resistências em
fórmulas e softwares que norteiam bom argumento aos ensaios de tração, poís enfoca achar o módulo de
elasticidade, as tensões e a deformação, a saber, devam-se compreender nas relações matemáticas as
unidades medidas ou trabalhadas, sendo dados importantes são achadas nos ensaios de estudos
impregnados numa sala de aula. Faltava esse entendimento teórico com observação prática executadas no
laboratório RM-I/CMC-IFAM a decorrência no teste proporciona o acordo máximo acerca dos estudos de
resistência nos materiais, estrutura e seu comportamento severo. À luz das análises, o ensaio de tração
resulta em apresentar um balanço dentre díspares materiais nosso caso consolida em aprendizagem na
fase acadêmica.
AGRADECIMENTOS
Aos Srs. Serique e André ambos laboratoristas na área de usinagem e de ensaios ao Prof. Msc. Cristóvão A.
F. de Castro, todos residentes no curso de engenharia mecânica do DPI/CMC-IFAM.
REFERÊNCIAS
[1] Nery, F. V., 2012, “Avaliação de Danos via Ensaio de Tração do Aço Inoxidável Ferrítico AISI 444”. Trabalho
de Conclusão de Curso em Engenharia Metalúrgica, Escola de Minas-Departamento de Engenharia Metalúrgica e de
Materiais, Universidade Federal de Ouro Preto.
[2] Neto, R. M. L., 2013, “Ensaio de Tração”. IEM-Instituto de Engenharia Mecânica, LEN-Laboratório de Ensaios
Destrutivos e Não-Destrutivos, Universidade Federal de Itajubá.
[3] Zolin, I., 2011, “Ensaios Mecânicos e Análises de Falhas”. Colégio Técnico Industrial, Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul.
[4] W.D.J. Callister (2002) “Ciências e Engenharia de Materiais”: Uma Introdução, 5a ed., Rio de Janeiro-RJ,
Editora LTC.
[5] Ferraresi, Dino. Fundamentos da Usinagem dos Metais. São Paulo: Edgard Blücher. São Paulo 1995, p. 151.
[6] Stemmer, C. E., Ferramentas de Corte II: brocas, alargadores, ferramentas de roscar, fresas, brochas, rebolos e
abrasives. 2ª ed. Florianópolis. Ed. da UFSC, 1995.
[7] Oliveira, C. A. M., Apostila plano RM-I – “Ensaios em Materiais uma Panorâmica”. CMC-IFAM. Manaus-AM.
Edição 2017.
[8] Labmor <http://labmor.com.br/pt-br/labmor.php> site de empresa especialista em testes diversos
divulgado em vias de internet com acesso de 23.08.2018.
[9] Castro, Filipe Ribeiro de,. Avaliação do Comportamento Mecânico e Tenacidade a Fratura do Aço. SAE/AISI
4140 Submetido a Tratamento Térmico Criogênico. Dissertação de Mestrado. UENF-Campos dos Goytacazes, 2013.
[10] Lima, Toni Roger Schifelbain de,. Desenvolvimento de Metodologia para Determinação de Curvas de
Resistência à Fratura de Materiais Elasto-Plásticos pela Análise do Campo Deformacional à Frente da Ponta da Trinca.
Tese de Doutorado. PPGE3M-UFRS. Porto Alegre 2011.
[11] ABNT NBR ISO 6892-1. 2013. Norma da Amostra no Ensaio de Tração.
150
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 18
Comparação no comportamento a tração obtidos
pelas normas ASTM D3039 e D638 para poliéster
reforçada por fibras de juta de 5,0 mm e de 15,0 mm
Heider Christian M. Monteiro
Gleidson Silva Figueiredo
Rubens Ferreira Vieira Junior
Herivaldo Pascoal da Silva Filho
Kamila da Silva Pompeu
Gabriel Melo Nascimento
Domingos Sávio Tavares Mendes Júnior
151
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
Os materiais compósitos vêm sendo usados há muito tempo, se sabe que os egípcios o utilizavam na
fabricação de casas onde eram misturadas argila e raízes de arvores como reforço para construção.
Atualmente, são utilizados na construção civil como é caso do concreto que é um material compósito
formado por cimento e seixo. Neste simples exemplo se pode perceber a evolução dos materiais e a
importância que tem para a sociedade, a partir disso se faz necessário o estudo de novos materiais.
(SHACKELFORD, J. F., 2008) (1)
Materiais compósitos são materiais que agregam propriedades desejáveis em um único material, sendo
que estas encontram-se isoladas em materiais distintos. Esta junção de materiais ou propriedades
acontece através da união dos materiais, que possuem a característica desejada. Eles se dividem
basicamente em dois componentes: a matriz e o reforço. A matriz pode ser cerâmica, metálica ou
polimérica, ela é responsável por proteger o reforço e distribuir igualmente a carga aplicada ao compósito.
O reforço é responsável por conferir ao material, propriedades mecânicas como tenacidade e rigidez. A
matriz poliéster que será usada como matriz neste trabalho, por ser versátil, de baixo custo, durável e leve
consegue uma boa interação com as fibras naturais, que será usada como reforço, ela é largamente
utilizada como matriz em compósitos ecológicos, o que justifica a sua utilização.
A fabricação de compósitos naturais é composta de vários passos, que determinam o método a ser
utilizado e os tipos de materiais escolhidos de acordo com o resultado final que se deseja alcançar. A fibra
de juta, também de baixo custo, confere ao compósito boas propriedades como flexibilidade e resistência,
além do que, é uma fonte de renda para pequenos produtores da planta. Posteriormente, faz- se necessário
testar o produto final, isto é, determinar as propriedades mecânicas do compósito. A norma ASTM D638 e
ASTM D3039, são normas comumente utilizadas nos ensaios de tração mecânica, ela rege a espessura,
comprimento e largura dos corpos de prova e determina a maneira com que serão tracionados, tudo isso
para simular possíveis esforços que o compósito irá sofrer na sua utilização.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 FIBRAS DE JUTAS E SUAS PROPRIEDADES:
Dentre as fibras naturais com potencial de aplicação, destaca-se a juta (Corchorus capsularis), cultivada
em climas úmidos e tropicais na região norte do país, que produz uma fibra de alta resistência, que quando
misturada a polímeros, pode dar origem a produtos com menor densidade, podendo apresentar grandes
aplicações (Neto et al, 2007)(2)., e sendo composta de 58%-63% de celulose, 21%-24% de hemicelulose,
12%-14% de lignina.
Figura 1: Catalisador peróxido de MEK (butanox m 50), e resina de poliéster tereftálica sem pré-
aceleração.
152
Engenharia no Século XXI – Volume 7
2.3 FABRICAÇÃO DO COMPÓSITO FIBRA DE JUTA DE 5,0 MM E 15,0 MM NA NORMA ASTM D638:
Para a fabricação do material compósito utilizou-se resina poliéster, fibra de juta de 5 mm e 15 mm,
desmoldante sólido e moldes de silicone pré-fabricados na dimensão da norma. Na fabricação dos corpos
de prova na norma ASTM D638 utilizou-se os seguintes métodos: Pesagem da quantidade de fibra de juta
adequada ao molde de silicone; os moldes de silicones da Norma ASTM D638 são capazes de produzir
quatro corpos de prova.
Foram produzidos dois moldes, no caso quatro corpos de prova para cada fibra. Para a fabricação do
material, utilizou-se o total de fibra de juta de 5,0 mm e 15,0 mm adicionado a 61,5 g de resina poliéster
tereftálica sem pré-aceleração com adição de 0,15 g de catalisador peróxido de MEK (butanox m 50). O
catalisador foi utilizado como agente de cura.
As fibras foram dispostas de forma aleatória dentro do molde, facilitando assim sua dispersão dentro da
resina. A fração mássica apresentada para as fibras de 5 mm foram de 6,7% e para jutas de 15,0 mm de
7,95%. Após a coleta dos dados e pesagem da quantidade de resina e fibra, foi realizada a mistura dos
componentes para a fabricação do compósito, logo em seguida dispersou-se nos moldes de silicone o
compósito já misturado que posteriormente se tornará o corpo de prova na norma ASTM D638.
Figura 4: Mistura dos componentes do compósito fibra de juta 5,0 mm.
153
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Figura 6: Moldes de silicone preenchido com compósito fibra de juta 5,0 mm.
Figura 7: Moldes de silicone preenchido com compósito fibra de juta 15,0 mm.
Os corpos de prova após desmoldados têm dimensões e superfícies irregulares, para solução desse
problema é necessário o processo de lixamento para posteriormente serem marcados e submetidos ao
ensaio mecânico.
154
Engenharia no Século XXI – Volume 7
2.4 FABRICAÇÃO DE COMPÓSITO DE FIBRA DE JUTA DE 5,0 MM E 15,0 MM NA NORMA ASTM D3039:
A fabricação dos corpos de prova na norma ASTM D3039, foi realizada através do vazamento da mistura
de resina e fibra de juta 5,0 mm e 15,0 mm, com a mesma fração mássica utilizada para a norma ASTM
D638, no caso Fm = 6,7% para Jutas 5,0 mm e Fm = 7,95% para Jutas 15,0 mm em moldes retangulares de
250x200 mm, e espessura de 2,5 mm, garantida por uma prensa hidráulica. Para a mistura utilizou- se os
seguintes valores de matriz e reforço, matriz (resina poliéster): 240,5 g; reforço: (fibras de juta de 5 mm):
16,5 g; (fibra de juta de 15 mm): 20,85 g.
155
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Figura 13: Molde preenchido pelo compósito de fibra de juta de 5,0 mm e 15,0 mm.
Após o tempo de cura que leva em média 24 horas, retiraram-se dos moldes as placas, as mesmas
apresentando as seguintes formas:
Após sete dias de cura, depois de desmoldadas, as placas foram lixadas e posteriormente cortadas para se
enquadrarem nas recomendações da norma ASTM D3039, para posterior ensaio mecânico.
156
Engenharia no Século XXI – Volume 7
3 RESULTADOS
A caracterização das propriedades dos materiais compósitos não é uma tarefa simples. A primeira questão
que surge é como aplicar os métodos padrões, desenvolvidos para materiais homogêneos, aos materiais
compósitos. Este é especialmente o caso das propriedades locais, como os parâmetros de resistência ao
impacto e tenacidade à fratura (SILVA, 2003)(3). Os corpos de prova foram ensaiados e apresentaram os
seguintes resultados:
O ensaio de tração foi realizado seguindo os procedimentos recomendados pela norma ASTM D3822, em
uma Máquina Universal de Ensaio (MUE) da marca Emic.
Avaliação do comportamento mecânico em tração dos materiais compósitos com fibras de juta de 5,0 mm
e 15,0 mm de acordo com a norma ASTM D638:
Resultados apresentados para Poliéster + Juta (5,0 mm):
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Engenharia no Século XXI – Volume 7
Avaliação do comportamento mecânico em tração dos materiais compósitos com fibras de juta de 5,0 mm
e 15,0 mm de acordo com a norma ASTM D3039:
Resultados apresentados para Poliéster + Juta (5,00 mm):
Tabela 4: Tabela com as propriedades mecânicas do compósito fibras de juta 15,0 mm e matriz poliéster.
Tensão Deslocame. Mod.
Força (N)
(Mpa) (mm0 Elast.
Média 1300,00 18,24 4,71 631,12
Desvio Padrão 100,00 2,28 0,70 140,07 158
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Comparação entre o comportamento mecânico em tração dos materiais compósitos em relação às Normas
ASTM D3039 e D638:
Os corpos de prova foram ensaiados até sua fratura, os dados de saída e as seguintes propriedades
mecânicas foram analisadas: força, tensão, deslocamento e módulo de elasticidade. Após comparação
desses resultados, podemos observar que a fibra de juta de 15,0 mm apresentou desempenho melhor para
resistência mecânica em ambas as normas ensaiadas. Com o aumento do comprimento das fibras, o efeito
de reforço foi mais efetivo e a resistência do compósito aumentou. Os dados indicam quem a resistência do
compósito produzido aumentou com o aumento do comprimento da fibra, confirmando o que tem sido
reportado por outros pesquisadores.
Nos compósitos com fibras curtas, a maior concentração de tensão ao longo da interface fibra/matriz
ocorre nas extremidades das fibras e quanto menor o comprimento das fibras, maior o número destas
extremidades, o que acarreta depreciação das propriedades mecânicas de tração do compósito (SILVA,
2003)(3).
De modo geral a resistência mecânica na norma ASTM D3039 apresentou resultados melhores, devido ao
fato da mesma ser referência para compósitos de alta precisão, enquanto que a ASTM D638 é voltada para
análise de pequenos resultados.
4 CONCLUSÃO
A utilização de fibras naturais em materiais compósitos representa uma nova forma de reutilização de
matéria prima que outrora estaria sendo desperdiçada. A fibra de juta, utilizada como reforço neste
projeto, em especial, apresentou bons desempenhos no processo de fabricação, utilizada em natura, sem
tratamentos, mostrou ser possível sua fabricação em processo de laminação manual sem prejuízos para
seu desempenho mecânico. Os ensaios de tração demonstraram que ocorre variação entre os valores
obtidos em cada propriedade mecânica de acordo com o tamanho de fibras e norma utilizada. De modo
geral os compósitos de fibra de juta e matriz poliéster apresentaram bons desempenhos mecânicos
comparados aos valores de matriz pura, comprovando que a sua utilização é viável na fabricação de
compósitos.
REFERÊNCIAS
[1] SHACKELFORD, J. F. - Ciência dos materiais. 6ª ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo, 2008.
[2] NETO, J. R. A., CARVALHO, L. H., ARAÚJO, E. M. (2007) “Influência da Adição de uma Carga Nanoparticulada
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[3] SILVA, R. V. Compósito de Resina Poliuretano Derivada de Óleo de Mamona e Fibras Vegetais. 2003. 157 f.
Tese (Doutorado em Ciência e Engenharia dos Materiais) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
[4] RODRIGUES, J.S., Comportamento mecânico de material compósito de matriz poliéster reforçado por sistema
híbrido fibras naturais e resíduos da indústria madeireira. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica).
Universidade Federal do Pará, Belém, 2008. 159
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 19
Estudo do potencial adsortivo de argila natural na
remoção de Cátions divalentes (Cd2+ e Ni2+) em solução
aquosa
Joseane Damasceno Mota
Rochelia Silva Souza Cunha
Luana Araújo de Oliveira
Patrícia Noemia Mota de Vasconcelos
Meiry Glaucia Freire Rodrigues
1.INTRODUÇÃO
O rápido crescimento da sociedade levou a um aumento significativo na demanda por água. No entanto,
existem efluentes industriais tremendamente impactantes sobre o ambiente. Por exemplo, a disposição de
águas poluídas tratadas inadequadamente pode causar contaminação do solo e de águas superficiais,
especialmente aquelas contendo metais pesados, o que provoca graves danos ambientais. Galvanoplastia,
bateria, placa de circuito impresso e metais de tratamento de revestimento de superfícies são as principais
fontes de águas contaminadas com metais pesados (CHENG et al., 2012).
É cada vez maior a preocupação da população e dos órgãos ambientais com a contaminação da água por
metais pesados provenientes de efluentes industriais. Em virtude dessa problemática, busca-se estudar e
desenvolver processos de remoção de metais pesados mais eficientes. Conhecidos por sua toxicidade, seu
vasto emprego e sua importância, alguns desses metais pesados são: níquel, cromo, cobre, chumbo,
manganês, mercúrio, cádmio, zinco, antimônio (MOTA et al., 2016).
O grupo das argilas esmectíticas (quando comercializáveis são também denominadas bentonitas) é
amplamente utilizado em vários setores como nas indústrias de perfuração de poços de petróleo,
produção de minérios de ferro e manganês, fundições, construção civil, papel, bebidas, farmacêutica,
tintas, vernizes e muitas outras (CIMINELLI, 2002).
A carga negativa sobre a estrutura de argilominerais é responsável pela argila capacidade de atrair íons de
metal (KURNIAVAN et al., 2006). É comprovado que a argila é um adsorvente eficaz para alguns metais
pesados, especialmente para o chumbo (NASEEM; TAHIR, 2001), cobre (EREN, 2008), cádmio (BARBIER
et al., 2000), zinco (KAYA; ÖREN, 2005) e níquel (BHATTACHARYYA; GUPTA, 2007).
Dessa maneira, o processo de adsorção vem se tornando o melhor método para remoção de metais
tóxicos, uma vez que atende efluentes com concentrações reduzidas de metais, tornando-se um processo
eficaz e satisfatório. Além das diversas opções de utilização e reutilização de adsorventes, podendo este
adsorvente possuir baixo custo, fator que pode aumentar ainda mais vantagem competitiva deste
processo.
No tratamento de sistemas aquosos para a remoção de contaminantes, vários tipos de carvão ativado têm
sido amplamente utilizados. Porém, os processos de remoção utilizando este adsorvente se tornam
onerosos, viabilizando a busca por processos alternativos e mais econômicos, tais como adsorção
utilizando argilas (VASCONCELOS, 2013). Assim, as argilas vêm surgindo como adsorventes de baixo
custo, isso pelo fato de possuir características físico-químicas favoráveis na remoção de poluentes
orgânicos e inorgânicos, além da ótima seletividade e regenerabilidade, motivos que vêm despertado
interesse no seu uso como adsorvente.
Portanto, este estudo, assim como outros trabalhos que vêm sendo desenvolvidos no Laboratório de
Desenvolvimento de Novos Materiais (LABNOV) (Lima, 2011; Lima et al., 2011; Mota et al., 2011;
Rodrigues, 2003; VASCONCELOS et al., 2013), visa estudar o potencial das principais propriedades da
argila natural Brasgel, no intuito de utilizá-la na remoção de cátions divalentes de cádmio e níquel
provenientes de efluentes sintéticos.
2.MATERIAIS E MÉTODOS
Neste trabalho foi utilizado a argila do tipo Brasgel, fornecida pela Empresa BENTONISA – Bentonita do
Nordeste S.A., situada no município de Boa Vista/PB. A mesma foi caracterizada por meio da técnica de
difração de raios X.
Planejamento Experimental
Na realização deste trabalho foi usado o planejamento experimental fatorial, pois possibilita analisar os
efeitos de dois tipos de fatores no experimento. O objetivo foi verificar se existe efeito significativo entre a
Engenharia no Século XXI – Volume 7
concentração inicial e o pH, além das interações entre estes fatores, através da análise de variância –
ANOVA utilizando o Software Minitab 15.0 (Minitab, 2006). Foi adotado o planejamento fatorial 22 com
triplicata no ponto central. Os efeitos adotados foram concentração (10, 30 e 50 ppm) e pH (3, 4 e 5). A
matriz de entrada de dados e os sinais para os efeitos fatoriais estão apresentados na Tabela 1, totalizando
7 experimentos. A partir do planejamento, foi possível identificar as melhores respostas dos fatores.
A triplicata do ponto central (0) permite obter uma estimativa independente do erro a ser obtido, ou seja,
não repercutem nas estimativas usuais dos efeitos em um planejamento fatorial 22 (Montgomery, 1996).
162
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Os ensaios de banho finito, constaram da dispersão de 0,5 g de argila Brasgel (Figura 2) em 50 mL dos
efluentes sintéticos com as concentrações de 10, 30 e 50 mg.L-1 e pH de 3, 4 e 5. O pH da solução foi
controlado a cada hora e com agitação constante de 200 rpm durante 5 horas utilizando o equipamento
shaker (Figura 3). Ao final deste período, foi realizada uma filtração e o filtrado seguiu para análise.
C C
% Re m i * 100
(01)
Ci
em que:
%Rem é a percentagem de metal removido;
Ci é a concentração inicial (mg.L-1);
C é a concentração final (mg.L-1).
qeq
V
m
Ci Ceq (02)
em que:
qeq é a capacidade de remoção no equilíbrio (mg de metal/g de adsorvente);
V é o volume do adsorbato (mL);
m é a massa de adsorvente (g); 163
3.RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Figura 4 está apresentado o difratograma de raios X da argila Brasgel natural utilizada neste estudo.
De acordo com as análises dos teores de cádmio e níquel (Tabela 2), verificou-se que os maiores
percentuais de remoção de cádmio e níquel foram nos ensaios 3, com percentuais de 89,29 % e 90 %, para
uma concentração inicial de 50 mg.L-1 e pH de 5. Enquanto que as melhores capacidades de remoção
foram alcançadas nos ensaios 4 com valores de 2,63 mg e 2,67 de metal/g de argila para os menores
valores de concentração de 10 (mg.L-1) e pH 5.
Neste estudo, observa-se os melhores resultados de percentagem de remoção (%Rem) e capacidade de
remoção (qeq) foram com os experimentos com valor de pH igual a 5. Nessa faixa de pH (3 – 5) os efeitos
164
de precipitação dos metais (Cd2+, Ni2+) em forma de hidróxidos são reduzidos, ou seja, a remoção se dá
potencialmente por adsorção (KAYA; ÖREN, 2005).
O pH, muitas vezes, tem uma forte influência sobre o grau de adsorção porque afeta a natureza do cátion
do metal pesado. Geralmente, o pH elevado favorece a adsorção através da produção de cátions hidroxilas
(JACKSON, 1998). Com o pH elevado também pode resultar em maior especificidade dos argilominerais
Engenharia no Século XXI – Volume 7
dos íons de metais pesados em relação aos íons de metais alcalino-terrosos, provavelmente por causa da
tendência muito maior dos íons de metais pesados para hidrolisar (McBRIDE, 1991).
Em resumo, pode-se dizer que as leis que regem a adsorção seletiva e liberação de íons de metais pesados
por argilas e argilominerais são tão numerosas e diversas que provavelmente, não pode ser reduzida a
uma fórmula preditiva universalmente aplicável (SWIFT; McLAREN, 1991). Além disso, o funcionamento
de tais fatores como a variabilidade inerente dos argilominerais, a influência da superfície, a variedade de
sítios de ligação superficiais, bem como a variabilidade das condições ambientais significa que existem
controvérsias entre os resultados experimentais de diversos investigadores (JACKSON, 1998).
4.CONCLUSÕES
Sendo assim, conclui-se de acordo com o resultado caracterização de difração de raios X que a argila
Brasgel é pertencente ao grupo das argilas esmectitas, possuindo a esmectita como argilomineral
predominante com distância interplanar basal característico do grupo e ainda misturas de minerais de
quartzo.
Os resultados relacionados a percentual de remoção e capacidade de remoção de cádmio e níquel para a
argila Brasgel foram satisfatórios, tendo em vista que a mesma removeu cerca de 90% desses metais. As
condições que apresentaram melhores percentuais de remoção foram os maiores níveis estudados de
concentração inicial e pH (50 mg.L-1 e 5).
Sendo assim, infere-se que a argila Brasgel natural é promissora no processo de adsorção de metais
pesados (cádmio e níquel) de efluentes sintéticos em sistema de banho finito, possuindo caráter que lhes
conferem propriedades específicas e favoráveis frente aos processos adsortivos.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Petrobras pelo apoio financeiro e a CAPES pelas bolsas concedidas e a Bentonisa
pelo fornecimento da argila.
REFERÊNCIAS
[1] Barbier, F.; DUC, G.; Petit-Ramel, M. “Adsorption of Lead and Cadmium Ions from Aqueous Solution to the
Montmorillonite: Water Interface,” Colloids and Surfaces A: Physicochemical and Engineering Aspects, Vol. 166, No. 1-
3, 2000, pp. 153-159.
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[3] Bhattacharyya, K. G.; Gupta, S. S. “Adsorptive Ac- cumulation of Cd (II), Co (II), Cu (II), Pb (II), and Ni (II) from
Water on Montmorillonite: Influence of Acid Acti- vation,” Journal of Colloid and Interface Science, Vol. 310, No. 2,
2007, pp. 411-424.
[4] Ciminelli, R. “Estudo Aposta no Aumento da Produção - Estudo do Mercado dos Minerais Industriais”. Brasil
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trace elements. In: Parker, A.; RAE, J. E. (Eds.). Environmental Interactions of Clays. Berlin: Springer-Verlag, 1998. p.
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Materials, Vol. 125, No. 1-3, 2005, pp. 183-189.
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Wastewaters Laden with Heavy Metals,” Science of the Total Environment, Vol. 366, No. 2-3, 2006, pp. 409-426.
[10] Lima, W. S. Estudo da aplicação de argilas para atenuação de metais pesados destinadas à aplicação em
aterro de resíduo industrial. Dissertação de Mestrado em Engenharia Química, Universidade Federal de Campina
Grande – UFCG; Campina Grande – PB, 2011.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
[11] Lima, W. S.; Rodrigues, M. G. F.; Brito, A. L. F.; Patrício, A. C. L.; Mota, M. F. 26º Congresso Brasileiro de
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[25] Vasconcelos, P. N. M.; Lima, W. S.; Silva, M. L. P.; Brito, A. L F.; Laborde, H. M.; Rodrigues, M. G F. "Adsorption
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Campina Grande – UFCG; Campina Grande – PB, 2013.
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caracterização da argila chocolate visando sua aplicação como adsorvente na remoção de níquel. Revista Eletrônica de
Materiais e Processos, v. 4, n.3, p. 39-47, 2009.
166
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 20
Interferência na cristalização da flor de sal em água
salina acima de 1,20 g/cm³
Kristy Emanuel Silva Fontes
Francisco Leonardo Gomes de Menezes
Liliane Ferreira Araújo de Almada
Jussier de Oliveira Vitoriano
Clodomiro Alves Junior
Resumo: A flor de sal é um tipo de sal com alto valor culinário, produzido
artesanalmente em salinas. Em condições climáticas particulares, durante a evaporação
da água do mar, cristais são produzidos na superfície da água. Até o momento pouco se
investigou sobre o mecanismo e cinética de sua formação. No presente capítulo
pretende-se introduzir o leitor na cadeia produtiva do sal, incluindo a produção da flor
de sal, além de apresentar os resultados da investigação, obtidos nos últimos anos pelos
autores, quando controlados os parâmetros de densidade da solução salina, gradiente
térmico e material do recipiente de precipitação. Em condições controladas foi possível
obter flor de sal em laboratório, evaporando a água proveniente da salina, em um
recipiente em contato com uma chapa aquecedora. A flor de sal foi caracterizada quanto
a sua cinética de formação, microestrutura cristalina e morfologia. No experimento,
observou-se que a flor de sal surgiu quando a solução atingiu densidades superiores a
1,20 g/cm³, antes mesmo de haver núcleos ou cristais de sal sedimentados no fundo do
recipiente ou dispersos na solução. A solução em contato com material condutor, como a
lâmina de alumínio, fez surgir cristais maiores e de maior cristalinidade (menos
defeitos), o que reforça a importância da temperatura na salinicultura.
1 INTRODUÇÃO
1.1 SALINICULTURA NO RIO GRANDE DO NORTE
O Rio Grande do Norte (RN) é o estado brasileiro que reúne as melhores condições climáticas para
extração do sal por evaporação da água do mar. Por isso ele é responsável por mais de 95% da produção
nacional de sal. O processo de extração consiste na obtenção de precipitados de NaCl, a partir da
evaporação da água do mar em reservatórios rasos e intercomunicantes por canais. Devido à evaporação
da água, a concentração salina aumenta, precipitando os compostos que atingem o limite de solubilidade.
Assim, controlando a densidade da água pode-se obter sais com diferentes composições nos diferentes
reservatórios. Da densidade de 3,5°Bé (1,03g/cm3) até atingir 26°Bé (1,21 g/cm3), são precipitados
CaCO3 + CaSO4. A água então é transferida para tanques cristalizadores, onde inicia a precipitação do NaCl
até atingir 29°Bé, estágio em que a salmoura residual (águas-mães) é descartada [1].
Essa cadeia de produção do sal no RN existe há mais de 4 séculos, documentado através de cartas do
desbravador Jerômimo D’Albuquerque, em 1605, sobre a região salineira de Macau – RN e seu potencial de
salinicultura. Pequenas mudanças aconteceram nas últimas décadas, como na década de 50, onde foram
desenvolvidos processos de modernização das salinas de grande e médio porte, integrando a economia e
agregando valor aos produtos, com ações desde a produção, transporte, comercialização e
industrialização. Salinas maiores dominaram o mercado, absorvendo as pequenas salinas artesanais e
assim detendo entre 85 a 90% da produção. Em 1970 ocorre a chegada do capital estrangeiro e geração de
muitos empregos na salinicultura. Em 1974 ocorre a inauguração do Porto-Ilha em Areia Branca,
facilitando o escoamento para exportação do sal marinho. E em 1977 o Presidente Ernesto Geisel autoriza
o estudo para implantação do Complexo Químico-Metalúrgico do Rio Grande do Norte, mas até hoje há
impeditivos para a total implantação e operação deste complexo. Este projeto objetivava principalmente a
produção da barrilha (carbonato de sódio) e derivados da Álcalis do Rio Grande do Norte - ALCANORTE e
aproveitamento de águas-mães residuais das salinas para extração de magnésio e outros derivados [2,3], o
que seria um grande passo no desenvolvimento tecnológico e econômico da cadeia produtiva do sal. Nos
últimos anos vem crescendo a procura, pelo mercado gastronômico, por um tipo de sal denominado flor
de sal. Ele é produzido em condições particulares de temperatura, umidade e ventos, durante a
evaporação nas salinas. Nessas condições ocorre a cristalização de sais na superfície das águas presentes
nos diferentes tanques. Esses cristais, de brancura extrema, possuem uma estrutura porosa e são
facilmente desfeitos entre os dedos [2,3]. Além disso, seu custo no mercado é cerca de 500 vezes o do sal
refinado tradicional, em função das exclusivas condições de obtenção do mesmo, pureza e textura
crocante, que agrega qualidade no mundo gourmet [4,5].
A existência de trabalhos científicos que expliquem a atuação dos fatores termodinâmicos envolvidos no
processo de formação desses cristais, como também relacionados a morfologia e composição química
deles é escassa. Nesse quesito, este trabalho parte do pressuposto de que o fenômeno depende
principalmente de um gradiente térmico gerado entre a fase líquida e o ambiente externo para, a partir
disso, obter informações associadas à cinética de formação desses cristais e às características morfológicas
e químicas dos mesmos.
A produção do sal no Rio Grande do Norte é baseada na evaporação da água. Nas salinas, a densidade vai
aumentando conforme ocorre a evaporação. Com o aumento da densidade, diferentes sais e minerais vão
sendo sedimentados no fundo dos evaporadores (principalmente compostos de cálcio, sódio, cloro,
enxofre, magnésio e potássio). Acompanhando a densidade da água salina, normalmente por meio de
aerômetro (instrumento comumente utilizado nas salinas para medições rápidas de densidade), os
produtores percebem o momento em que o NaCl começa a cristalizar e sedimentar, que é por volta de 27 e
29° Be [4].
O início da produção ocorre com a captação da água do mar, com densidade inicial em torno de 3,5 °Be,
por bombeamento ou comportas. Em seguida, deságua em reservatórios menores, chamados tanques
evaporadores, onde evapora grande parte de seu volume de água, aumentando a densidade até chegar
entre 25 e 26 °Be, se tornando “salmoura”. A partir daí a salmoura é transferida para tanques de
cristalização do cloreto de sódio (NaCl) até atingir a densidade em torno de 29 °Be, faixa de densidade
onde ocorre o pico de cristalização e produção de NaCl. Depois da extração de NaCl a salmoura se torna 168
“água mãe”, que é descartada para o mar ou corpos d’água, causando impactos ambientais [5]. Atualmente,
no Rio Grande do Norte, poucos produtores da região praticam a recirculação de água mãe, bombeando
novamente para os evaporadores para que refaça todo o ciclo de produção, evitando descartá-la em
primeiro momento. Como existe pouca regulamentação, esta técnica quase não é praticada, pois constitui-
Engenharia no Século XXI – Volume 7
se do reuso de uma água pobre em NaCl (mas rica em outros minerais, principalmente o magnésio), assim
a maioria dos produtores continuam a descartar água mãe inadequadamente.
Após o período de precipitação, ocorre a drenagem dos tanques cristalizadores e o sal é colhido por
máquinas e transportado para o sistema de lavagem. O sal colhido do cristalizador é submetido ao sistema
de lavagem (lavado com água salgada da própria salina, pois a água doce diluiria o sal), e depois é
empilhado, com auxílio de esteiras e máquinas, na área de estocagem, para posterior beneficiamento. Nos
períodos de chuva a produção de sal cai consideravelmente, pois dificulta a evaporação e produtividade
das salinas, que gera emprego e renda muito maior em época de estiagem. Desta forma o fenômeno
natural das secas periódicas beneficia o desenvolvimento desta atividade econômica tão importante para
o estado [5].
Mais de 90 % do sal consumido no Brasil (seja para os fins humanos, animais e industriais) vem do Rio
Grande do Norte e isto se deve a alguns fatos. No estado, a salinidade da água do mar é considerada ideal
(35 g de NaCl/m³ de água do mar) e a qualidade do sal é superior aos demais concorrentes, pois consta de
97 % de NaCl e menos de 0,5 % de sais de magnésio [2]. Além disso, o favorecimento geográfico (Figura 1)
permite que as águas do oceano penetrem no território do estado de modo a viabilizar o grande potencial
e produção salineira [6].
Figura 1 – Ilustra os principais pontos da zona salineira do estado do Rio Grande do Norte.
Sua composição consiste de cristais porosos, pequenos e muito unidos, formando placas que flutuam na
superfície da água. Ela surge como nucleação primária, um tipo de nucleação que ocorre em sistemas que
não contêm impurezas ou matéria cristalina pré-existentes que possam induzir a nucleação e cristalização.
Por sua vez nucleação secundária é quando os núcleos surgem induzidos por impurezas ou cristais pré-
existentes num sistema supersaturado [10]. Algumas vezes estes cristais ou impurezas pré-existentes são
chamados de “sementes” (seeds), que funcionam como núcleos já formados, induzindo a cristalização
secundária [11].
Os cristais sempre buscam o formato de menor energia livre de superfície possível, e para isso buscam
sempre crescer, aumentando suas dimensões, ou unir-se a outros cristais. No caso da flor de sal os cristais
tendem principalmente a unir-se e formar placas, diminuindo sua energia livre de superfície. As placas
crescem tanto com a união entre cristais como com o aumento das dimensões destes.
A flor de sal se forma quando há alta taxa de evaporação na superfície, devido os ventos leves e frios, clima
seco e calor intenso, assim a camada superficial da água fica supersaturada [10]. Ao mesmo tempo que a
radiação solar e o clima seco ajuda na evaporação, a superfície do cristalizador é resfriada pelo vento leve
do clima frio, exercendo uma troca de calor com a superfície da água, reduzindo a capacidade de
dissolução dos íons e promovendo uma supersaturação superficial. A nucleação e o crescimento ocorrem
em meios supersaturados, seja pelo aumento na concentração (evaporação do solvente, por exemplo) ou
por redução da temperatura [12]. Com a supersaturação, os íons diluídos na água salina, principalmente
“Na+” e “Cl-“ que são os componentes mais abundantes na flor de sal, se combinam, já que não estão mais
solvatados, formando estruturas cristalinas de sal, que aos poucos vão se unindo e formando aglomerados
maiores e placas, como pequenas ilhas salinas flutuantes.
2 PESQUISA
Visando explorar os potenciais do nosso estado e agregar valor aos produtos da indústria salineira, o
LabPlasma (Laboratório de Plasma aplicado na agricultura, saúde e meio ambiente) da UFERSA
(Universidade Federal Rural do Semi-Árido), campus Mossoró-RN, junto ao PPGCEM (Programa de Pós-
Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais), vem estudando a cadeia produtiva do sal, buscando
elevar a eficiência, o controle e a qualidade dos produtos que dela podem ser extraídos. Observando a
cinética de formação e caracterizando com relação a morfologia, microestrutura e a composição química
dos sais derivados da salinicultura regional. E sabendo do potencial valor da flor de sal, e que o estado do
Rio Grande do Norte domina a técnica de produção, as pesquisas do LabPlasma, PPGCEM e UFERSA vêm
buscando conhecer a ciência por trás dos fenômenos na salinicultura, para propor melhorias na qualidade
e controle da produção.
Tendo em vista as condições necessárias para a produção de flor de sal acima citadas, procurou-se montar
um ambiente e aparato experimental favorável a produção de flor de sal em laboratório (Figura 2). Com
recipientes contendo água retirada diretamente da salina, submetida a evaporação sobre placa
aquecedora a temperatura de 40 °C, em um ambiente de clima seco e temperatura em torno de 23 °C com
auxílio do ar condicionado, pois as temperaturas altas e baixas de uma salina variam em torno de 40 e
20 °C, respectivamente [13,14]. Desta forma conseguiu-se produzir a flor de sal em condições controladas,
tornando mais confiável e viável a produção, coleta, análise e caracterização em laboratório.
Algumas das principais técnicas para caracterização de sais são: difração de raio-x (DRX) para análise
microestrutural [15] e análise de imagens com lupa, microscopia óptica e microscopia eletrônica de
varredura (MEV) para caracterização de fases e morfologia dos cristais [16].
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Com relação ao experimento, foram tomados dois béqueres de vidro, cada um contendo 250 ml de água
salina (coletada na salina da cidade de Grossos-RN) de densidade inicial 1,16 g/cm³ (20 °Be). Ambos
foram isolados lateralmente com isopor e colocados, simultaneamente, em uma chapa aquecedora
Biomixer-DB-IVAC-Hotplate a 40 °C (Figura 2) e o experimento ocorreu em uma sala climatizada a 23 °C, 170
temperaturas aproximadas de uma salina. Os béqueres foram isolados lateralmente para estimular que a
troca de calor ocorresse apenas pela superfície (aberto à atmosfera fria do ambiente) e pelo fundo dos
recipientes (contato direto com a chapa a 40 °C). O acompanhamento foi feito durante 6 dias de
experimento, sendo as medições iniciadas no instante 0 e repetidas a cada 48 horas.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Para interferir na taxa e sítios de nucleação e crescimento dos cristais, em um dos béqueres foi inserida
uma lâmina de alumínio retangular, como material condutor, que foi cuidadosamente encurvada (em
formato de casca, ver Figura 2), de modo a ficar bem fixada e aderida à superfície interna do béquer.
Assim, parte da lâmina de alumínio ficava em contato com a solução salina e parte ficava exposta ao
ambiente, em contato com o ar frio que circulava sobre a solução.
Figura 2 - Ilustração do aparato: béqueres, posição da lâmina de alumínio, nível da água, camada isolante
de isopor e chapa aquecedora.
Fonte: Autor.
Após o período de observação, as amostras contendo os cristais de flor de sal, bem como os cristais de sal
sedimentados no fundo do recipiente, foram retirados da água e destes cristais foram obtidas imagens
com auxílio de uma lupa estereoscópica Nikon-SMZ18, acoplado com uma câmera Nikon-DS-Fi2. As
imagens obtidas foram tratadas para determinação da área dos cristais usando o aplicativo ImageJ. As
amostras foram geradas e coletadas em 2 (duas) condições diferentes (béqueres com e sem a lâmina de
alumínio) em 4 (quatro) grupos (Tabela 1): flor de sal do béquer com a lâmina de alumínio (FS_Al);
sedimentado no fundo do béquer com a lâmina de alumínio (SED_Al); flor de sal do béquer sem a lâmina
de alumínio (FS) e sedimentado no fundo do béquer sem a lâmina de alumínio (SED). De cada grupo
utilizou-se 5 (cinco) cristais para determinação do tamanho médio.
Para análise das fases microestruturais das amostras dos respectivos grupos e condições, utilizou-se
difração de raios-x com o difratômetro Shimadzu-XRD 6000.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 DENSIDADES 171
Os dados expostos na Figura 3 foram observados nas duas condições, portanto é possível representar os
dados em apenas 1 (um) gráfico. A densidade da solução foi acompanhada a partir do instante 0 e medida
a cada 48 horas. Observa-se o surgimento de flor de sal em densidades a partir de 1,20 g/cm ³. A partir da
densidade de 1,27 g/cm³ percebe-se cristais de sal sedimentados no fundo do recipiente. Estes são pontos
Engenharia no Século XXI – Volume 7
importantes que indicam a alteração da composição e concentração da solução, pois os íons diluídos na
solução se unem para formar os cristais (tanto na flor de sal como no sal sedimentado).
Fonte: Autor.
Figura 4 - Áreas médias dos cristais, onde: FS_Al (Flor de sal no béquer com a lâmina de alumínio), SED_Al
(Sedimentado no béquer com a lâmina de alumínio), FS (Flor de sal no béquer sem a lâmina de alumínio),
SED (Sedimentado no béquer sem a lâmina de alumínio).
Fonte: Autor.
Figura 5 – Fotos de alguns cristais de flor de sal com o Microscópio Nikon-SMZ18 conjugado com câmera
Nikon-DS-Fi2: a) FS_Al, aumento: 0,75 X, área: 58,8 mm²; b) FS, aumento: 1 X, área: 19,05 mm².
Fonte: Autor.
174
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Figura 8 - Difração de raio x das amostras FS, FS_Al, SED e SED_Al, 2θ: de 10 a 80.
Fonte: Autor.
Figura 9 – Difração de raio x das amostras FS, FS_Al, SED e SED_Al, 2θ: de 10 a 40.
175
Fonte: Autor.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
A Figura 10 foi obtida com as médias de intensidades de todos os picos de cada componente das Figuras 8
e 9. Os cristais do béquer com alumínio (FS_Al e SED_Al) demonstraram maior intensidades média de
picos que os do béquer sem alumínio (FS e SED), isso para todos os sais acima citados. Então, o béquer
com alumínio produziu cristais, de flor de sal e sedimentado, de maior cristalinidade (menos defeitos) que
o béquer sem alumínio.
Fonte: Autor.
5 CONCLUSÃO
Foi possível obter flor de sal nas condições controladas de laboratório, estimulando a evaporação e
submetendo a solução a um ambiente de clima frio e seco. Desta forma observou-se que que a flor de sal
surge a partir da densidade de 1,20 g/cm³ e antes que sais sedimentem no fundo do recipiente.
Os cristais de flor de sal são menores que os cristais sedimentados, com e sem a lâmina de alumínio, pelo
fato de cristais sedimentados estarem mergulhados na água salina facilita a cristalização, a adesão de mais
sais e aumento de suas dimensões. A presença do alumínio permitiu serem gerados cristais de flor de sal, e
sedimentado, com áreas maiores, possivelmente por ser um corpo frio e fixo em contato com a solução
aquecida, estimulando uma maior cristalização [12].
Quanto a microestrutura, a flor de sal (bem como o sedimentado SED_Al) produzida no béquer com
alumínio (FS_Al) mostra picos mais intensos em todas as fases. Interessante também observar que
(conforme Figuras 6, 7) quanto mais próximo da lâmina de alumínio, mais os sais apresentam compostos
cada vez mais cristalinos de cálcio, potássio e NaCl. A presença do alumínio tanto favoreceu o surgimento
de cristais de NaCl com maior cristalinidade, como de fases contendo potássio e sulfato de cálcio.
Percebeu-se também que alguns picos foram deslocados para ângulos maiores de 2θ, indicando que a rede
cristalina do NaCl nas FS_Al e SED_Al modificou-se de forma a aumentar as distâncias entre as moléculas.
REFERÊNCIAS
[1] COSTA D. F. S. et al. Breve Revisão Sobre a Evolução Histórica da Atividade Salineira no Estado do Rio Grande
do Norte (Brasil). Soc. & Nat., Uberlândia-MG, 2013.
[2] CARVALHO G. O. O. et al. Avaliação e Diagnóstico do Setor Mineral do Estado do Rio Grande do Norte. 176
Secretaria de Desenvolvimento Econômico–SEDEC, Estudos Geológicos e Ambientais-CURIOSO, 2005.
[3] CORTÊS I. R. Desenvolvimento Industrial da Barrilha no Rio Grande do Norte. Editora Baraúna, São Paulo-SP,
1ª edição, janeiro de 2015.
[4] GEERTMAN, R. M. Sodium Chloride: Crystallization. Akzo Nobel Chemicals Research, Arnhem, The
Netherlands, 2000.
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[5] BEZERRA J. M. et al. Aspectos Econômicos e Ambientais da Exploração Salineira no Estado do Rio Grande do
Norte. Espirito Santo do Pinhal-SP, 2012.
[6] COSTA D. F. S. et al. Caracterização Ecológica e Serviços Ambientais Prestados Por Salinas Tropicais.
Universidade de Aveiro, Departamento de Biologia, Aveiro, 2013.
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Crystallization Method. Petroleum & Coal, 2017. Available online at www.vurup.sk/petroleum-coal.
[8] DONADIO C.; BIALECKI A.; VALLA A.; DUFOSSÉ L. Carotenoid-derived aroma compounds detected and
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of Food Composition and Analysis, 2010.
[9] RODRIGUES C. M., BIO A., AMAT F. e VIEIRA N. Artisanal Salt Production in Aveiro/Portugal - An Ecofriendly
Process. SALINE SYSTEMS, 2011.
[10] VIEIRA, A. S. S. Caracterização da Cinética de Formação da Flor de Sal. Dissertação (Mestre em Engenharia
Química) – Universidade de Aveiro, Aveiro, 2015.
[11] ALAMDARI A. et al. Kinetics of Magnesium Hydroxide Precipitation from Sea Bittern. Chemical Engineering
and Processing, 2008.
[12] BORDUI P. Growth of Large Single Crystals From Aqueous Solution: A Review. Journal of Crystal Growth 85,
North-Holland, Amsterdam, 1987.
[13] MENDES A. M. S.; FONTES R. L. F.; OLIVEIRA M. Variabilidade Espacial da Textura de Dois Solos do Deserto
Salino No Estado Do Rio Grande Do Norte. Rev. Ciên. Agron. 2008.
[14] PACHECO G. H. S. Determinação de Recomendações Bioclimáticas para Habitação de Interesse Social de
Quatro Climas do Rio Grande do Norte. Dissertação de Mestrado Acadêmico, Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo, UFRN, 2016.
[15] YALÇIN S. and MUTLU I. H. Structural Characterization of Some Table Salt Samples by XRD, ICP, FTIR and
XRF Techniques. Acta physica polonica a no. 1, Vol. 121 (2012). Proceedings of the International Congress on
Advances in Applied Physics and Materials Science, Antalya, 2011.
[16] KHATUA D. and DEY J. Fluorescence, Circular Dichroism, Light Scattering, and Microscopic Characterization
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Kharagpur -721 302, India. J. Phys. Chem, 2007.
[17] SEHNEM A. L.; NIETHER D.; WIEGAND S. and NETO, A. M. F. Thermodiffusion of Monovalent Organic Salts in
Water. The Journal of Physical Chemistry, 2018.
[18] QIN Y.; YU D. and ZHOU J. DNA Action on the Growth and Habit Modification of NaCl Crystals. Royal Society of
Chemestry, 2017. Cite this: CrystEngComm, 2017.
177
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 21
A aprendizagem baseada em projetos aplicada na
construção de um balão de alta altitude – HAB-IMT
Gilberto Murakami
Denise Marques Pinheiro
178
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUÇÃO
A aprendizagem baseada em projetos – PBL é uma aprendizagem centrada no aluno, na qual os alunos
aprendem sobre um conteúdo tentando encontrar uma solução para um problema em aberto. Conforme
encontrado pela pesquisa conduzida por Hmelo-Silver (HMELO-SILVER, 2004), os estudantes praticam
estratégias de pensamento e conhecimento de domínio.
O PBL também é uma modalidade ativa de aprendizagem onde os alunos aprendem habilidades básicas
de solução de problemas e adquirirem conhecimento através da interação com os outros, uma habilidade
fundamental exigida por quase todos os ambientes de trabalho. Os alunos aprendem dentro de pequenos
grupos auto dirigidos a definir e realizar tarefas específicas, tanto na vida real quanto no
estudo (LOYENS et al., 2010).
Segundo Crockett (CROCKETT, 2015), quanto mais o foco estiver no desenvolvimento de alunos que
possam conceber soluções eficazes para problemas do mundo real, mais sucesso esses estudantes vão
obter.
Neste século, o comércio, a ciência e a defesa das nações dependerão cada vez mais do domínio do espaço
e das possibilidades criadas pelas telecomunicações e pelos satélites posicionados na órbita terrestre. O
que até pouco tempo pertencia ao mundo da ficção científica tornou-se realidade que não pode ser
ignorada pela geopolítica internacional.
O Brasil produz satélites, foguetes de sondagem e veículos lançadores. A ampliação de pesquisas nessa
área agrega não apenas melhorias para o Brasil como impõe vantagens estratégicas. Por isso, o programa
espacial brasileiro investe em bases fortes de engenharia, tecnologia e infraestrutura de apoio às
atividades espaciais. Apesar de todo desenvolvimento, há uma lacuna no que diz respeito a recursos
humanos (DOS SANTOS, 2010).
O objetivo deste trabalho é descrever o desenvolvimento de um Balão de Alta Altitude, o HAB-IMT, para
lançar na atmosfera experimentos científicos na área aeroespacial e astrobiologia (BRYAN et al., 2014).
São projetos que incentivam a experimentação e desenvolvimento de conhecimentos relacionados às
ciências espaciais e são fundamentais para a capacitação de recursos humanos no país.
Os alunos e professores do Instituto Mauá de Tecnologia – IMT, desenvolveram um balão de alta altitude, o
HAB-IMT com o objetivo de lançar na atmosfera experimentos científicos. São projetos que incentivam a
experimentação e desenvolvimento de conhecimentos relacionados às ciências espaciais são fundamentais
para a capacitação de recursos humanos no país.
A aplicação de novos modelos beneficia particularmente a educação em engenharia, porque o treinamento
em engenharia tem um componente prático essencial. Em particular, a disciplina Projeto e Atividades
Especiais – PAE do Instituto Mauá de Tecnologia – IMT, que tem um caráter muito tecnológico e
sistemático, são mais adequadas para implementar métodos de aprendizagem ativa, como o Aprendizado
Baseado em Projetos.
Esse projeto desafia os alunos a obterem uma experiência hands-on durante aproximadamente um ano,
desde a concepção, por meio da integração e teste até a operação real do sistema; capacita
professores e alunos do IMT utilizando metodologias ativas de aprendizagem.
Essa experiência pode permitir aos alunos melhorar a compreensão e desenvolver as habilidades teóricas
e práticas, em especial as relacionadas à pesquisa científica, como: desenho técnico; análise de dados e sua
representação; trabalho em equipe; gestão de projetos; projeto e construção de circuitos eletrônicos;
projeto e desenvolvimento de programas de computador e rotinas de testes.
2 CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS
As características técnicas do HAB-IMT estão mostradas na Figura 1.
179
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Fonte: Autores.
2.1 O BALÃO
O balão meteorológico é produzido em látex resistente ao ozônio e possui diâmetro de 1,8 a 2,4 metros
projetado para estourar entre 28 e 34 km de altitude. A Figura 2 mostra o balão de 2000 g utilizado.
Fonte: Autores.
A missão foi essencialmente desenhada tendo em vista o uso de um balão de tamanho máximo de 2000 g,
visto que balões acima dessa massa requerem procedimentos mais elaborados e burocráticos de
lançamento.
Foram feitas análises para verificar a viabilidade de voo com balões de 1200 g, 1500 g e 1600 g. A 180
metodologia de cálculo desenvolvida mostrou que, para a massa da parte eletrônica (683 g), acrescida da
massa do BLAST (500 g), seria necessário a utilização do balão de 2000 g para atingir a altitude
desejada (ZHANG et al., 2015).
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Fonte: Autores.
Fonte: Autores.
2.3 A ESTRUTURA
A estrutura é constituída por Isopor® - EPS por ser um material leve e compacto, além de não soltar
resíduos como pó e não ter proliferação de fungos e bactérias.
EPS é a sigla internacional do poliestireno expandido, de acordo com a Norma DIN ISSO-1043/78.
Descoberto em 1949, pelos químicos Fritz Stastny e Karl Buchholz na Alemanha.
181
O EPS é um plástico celular rígido, resultante da polimerização do estireno em água. Em seu processo
produtivo não se utiliza o gás CFC. Como agente expansor para a transformação do EPS, emprega-se o
pentano que se deteriora rapidamente pela reação fotoquímica gerada pelos raios solares, sem
comprometer o meio ambiente.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
O produto final é composto de pérolas de até 3 milímetros de diâmetro, que se destinam à expansão. No
processo de transformação, essas pérolas são submetidas à expansão em até 50 vezes o seu tamanho
original, através de vapor, fundindo-se e moldando-se em formas diversas.
Expandidas, as pérolas consistem em até 98% de ar e apenas 2% de poliestireno. Em 1m³ de EPS
expandido, por exemplo, existem de 3 a 6 bilhões de células fechadas e cheias de ar.
Os produtos finais de EPS são inodoros, não contaminam o solo, água e ar, são 100% reaproveitáveis e
recicláveis e podem voltar à condição de matéria-prima.
A Figura 5 mostra a caixa de EPS utilizada no lançamento do HAB-IMT.
Fonte: Autores.
3 METODOLOGIA
O objetivo da missão do HAB-IMT é desenvolver um veículo lançador de experimentos científicos na área
da Astrobiologia. Os alunos então foram divididos em áreas da Eletrônica, Estrutura e Paraquedas.
Aos alunos da Eletrônica foi proposto a eles desenvolverem o sistema de
telemetria, rastreamento, medição de pressão, temperatura, medição de UVA, UVB, UVC e o sistema de
coleta de bactérias.
É importante ressaltar é que a transmissão dos dados depende de frequências radioamadoras, logo o
contato ou ajuda de um Rádio Amador certificado é obrigatória.
A placa de HABduino é um receptor de GPS e um shield de rádio transmissor desenvolvido para balões de
alta altitude. A Figura 6 mostra a placa de HABduino utilizada para rastreamento.
Fonte: Autores.
Para rastrear a localização do voo, é necessário um receptor de rádio, antena e Notebook no solo. A 182
comunicação é feita por meio da comunicação RTTY com softwares de computador e o ganho de antenas,
consegue-se o sinal desejado para rastrear a carga.
Para validar a telemetria utilizada, precisamos de antes sofisticadas o suficiente para realizar a missão
desejada. Logo a antena utilizada no Payload para a transmissão de informações foi uma Plano de Terra de
¼ de onda confeccionada a partir de um RF174 (cabo coaxial com 50 Ω de impedância).
Engenharia no Século XXI – Volume 7
O comprimento L, em metros, de uma antena 1/4 de onda pode ser calculado utilizando a Equação 1:
1𝑐
𝐿 = 0,95 (1)
4𝑓
onde:
c: velocidade da luz (m/s).
f: frequência de transmissão (Hz).
Fonte: Autores.
A Figura 8 mostra o hardware desenvolvido por alunos e professores. É possível verificar uma chave
liga/desliga, os sensores de pressão e temperatura, a placa do Arduino e o cartão de memória SSD.
Fonte: Autores.
Onde:
(1) Chave Liga/Desliga;
(2) Sensor de Temperatura;
(3) Sensor de Pressão;
183
(4) Arduino Uno;
(5) Cartão de memória SSD.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
O estudo do paraquedas foi realizado e apresentado por outro grupo de alunos de Engenharia Civil e
Mecânica, realizando PAE, descrito no relatório do experimento (KOGA et al., 2017) que visou determinar
um coeficiente de arrasto característico e também a estabilidade de um exemplar testado.
A geometria do paraquedas não é caracterizada apenas pelo seu diâmetro, mas pela relação H/D mostrada
na Figura 9. Em repouso e completamente aberto, o diâmetro do paraquedas testado era da ordem de 0,8
m.
Figura 9 – Parâmetros importantes que definem a geometria e o arrasto de um paraquedas (KOGA et al.,
2017).
O experimento permitiu concluir que o coeficiente de arrasto do paraquedas é da ordem unitária para
números de Reynolds, baseado no diâmetro do paraquedas, compatíveis com as condições que serão
encontradas em algumas etapas representativas do voo.
O material e forma da cesta do balão foram pesquisados pelos alunos do IMT que realizam o PAE
intitulada Balão Estratosférico. Os testes foram conduzidos no IMT e os resultados dos experimentos estão
descritos em relatório específico (SAAB-JR, 2017). A forma que apresentou a melhor estabilidade dinâmica
em teste está mostrada na figura abaixo. O cubo foi manufaturado a partir de EPS de alta densidade
(aproximadamente 14 kg/m3) e tinha diagonal de 14 cm, escala aproximada de 1:5 da cesta final
pretendida. As velocidades empregadas foram de 5,0 e 7,0 m/s, resultando em número de Reynolds
menores que aqueles representativos para a cesta em escala natural no começo do voo, porém
representativos dos números Reynolds para a cesta em maiores altitudes.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos uma proposta de aprendizagem baseada em projetos aplicada no projeto de balão de alta
altitude – HAB-IMT. O projeto do balão foi apresentado aos alunos que foram divididos em equipes da
Eletrônica, estrutura e paraquedas. Os alunos da eletrônica foram responsáveis pelo desenvolvimento do
sistema de telemetria, rastreamento, medição de pressão, temperatura, medição de UVA, UVB, UVC e o
sistema de coleta de bactérias. O estudo do paraquedas foi realizado e apresentado por outro grupo de
alunos realizando o PAE, que visou determinar um coeficiente de arrasto característico e também a
estabilidade de um exemplar testado. O material e forma da cesta do balão foram pesquisados pelos
alunos do IMT responsáveis pela estrutura e que realizam o PAE.
Os alunos e professores do Instituto Mauá de Tecnologia – IMT, desenvolveram um balão de alta altitude, o
HAB-IMT com o objetivo de lançar na atmosfera experimentos científicos. São projetos que incentivam a
experimentação e desenvolvimento de conhecimentos relacionados às ciências espaciais são fundamentais
para a capacitação de recursos humanos no país.
A aplicação de novos modelos beneficia particularmente a educação em engenharia, porque o treinamento 184
em engenharia tem um componente prático essencial. Em particular, a disciplina Projeto e Atividades
Especiais – PAE do Instituto Mauá de Tecnologia – IMT, que têm um caráter muito tecnológico e
sistemático, são mais adequadas para implementar metodologias ativas de aprendizagem, como o
Aprendizado Baseado em Projetos.
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Esse projeto desafia os alunos a obterem uma experiência hands-on durante aproximadamente um ano,
desde a concepção, por meio da integração e teste até a operação real do sistema; capacita
professores e alunos do IMT utilizando metodologias ativas de aprendizagem.
Essa experiência pode permitir aos alunos melhorar a compreensão e desenvolver as habilidades teóricas
e práticas, em especial as relacionadas à pesquisa científica, como: desenho técnico; análise de dados e sua
representação; trabalho em equipe; gestão de projetos; projeto e construção de circuitos eletrônicos;
projeto e desenvolvimento de programas de computador e rotinas de testes.
REFERÊNCIAS
[1] BRYAN, N. C. et al. A method for sampling microbial aerosols using high altitude balloons. Journal of
Microbiological Methods, v. 107, n. Supplement C, p. 161-168, 2014/12/01/ 2014. ISSN 0167-7012. Disponível em:
< http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0167701214002978 >.
[2] CROCKETT, R. The critical 21st century skills every student needs and why: Retrieved from: https 2015.
[3] DOS SANTOS, R. Estratégia de Formação, Capacitação, Treinamento Operacional e retenção de Recursos
Humanos. p.253. 2010
[4] HMELO-SILVER, C. E. Problem-based learning: What and how do students learn? Educational psychology
review, v. 16, n. 3, p. 235-266, 2004. ISSN 1040-726X.
[5] KOGA, L.; SANTOS, M. D.; FOGANHOLO, C. Experimento de Determinação do Coeficiente de Arrasto e
Estabilidade do Paraquedas. Instituto Mauá de Tecnologia. São Caetano do Sul. 2017
[6] LOYENS, S.; KIRSCHNER, P. A.; PAAS, F. Problem-based learning. In: (Ed.), 2010.
[7] SAAB-JR, J. Y. Relatório Parcial de Progresso do High Altitude Balloon (HAB-IMT)
[8] Dinâmica de Voo e Sistema de Coleta de Amostras Atmosféricas. Instituto Mauá de Tecnologia. São Caetano
do Sul. 2017
[9] SATKUNAS, H.; SANTANA, J. L. Relatório de Ensaio DEA-RE-0403/17. São Caetano do Sul, 2017.
[10] ZHANG, Y.; LIU, D. Influences of initial launch conditions on flight performance of high altitude balloon
ascending process. Advances in Space Research, v. 56, n. 4, p. 605-618, 2015/08/15/ 2015. ISSN 0273-1177.
Disponível em: < http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0273117715003245 >.
185
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Capítulo 22
Phosphorus removal from metallurgical grade silicon
by acid leaching for solar application
Cátia Fredericci
João Guilherme Rocha Poço
João Batista Ferreira Neto
John Bernardo Vilca Neira
Abstract: Metallurgical grade silicon (MG-Si) contains a series of metal (Fe, Al, Mn, Cu,
Ni) and non-metal (P, B) impurities which make it unsuitable for use in solar cells. It is
known that various metallic impurities are rejected by the silicon during its
solidification process, and those crystallize at grain boundaries as intermetallic
compounds. However, P is difficult to segregate in silicon, unlike most other impurities,
since their partition coefficient (kp) is high (about 0.35). There are reports in the
literature indicating the possibility of phosphorus removal by the introduction of
elements that decrease the kp of P in silicon, such as calcium and barium. In this work, it
was used barium, which was introduced in MG-Si as a synthesized slag with BaO/SiO2
ratio of 6 and 5 wt% of CaF2 using a treatment of 1550 oC for 2 h. After melting, the
ingot prepared with barium slag was milled obtaining particle in the range -35+400
mesh. The particles were leached in one, two and three steps by using water, HCl, and
HF. The results showed that about 80 wt% of phosphorus was removed from the silicon
after leaching treatment, using the three step process.
186
Engenharia no Século XXI – Volume 7
1 INTRODUCTION
Commercial silicon is obtained from high purity silica in electric arc furnaces by reducing the silicon oxide
with a carbonaceous reductant comprising charcoal or mineral coal at a temperature of about 1900 °C.
The silicon produced by this process is called metallurgical grade (MG-Si), having a degree of purity in the
order of 99 wt% [ISTRATOV et al., 2006]. Higher purity silicon is required for the construction of
semiconductor devices. Solar-grade silicon (SG-Si - purity 99.9999%) is used for the production of
photovoltaic cells, while silicon above 99.999999 wt% (EG-Si) is necessary for electronic industry [LAI et
al., 2016]. Until approximately the end of the 1990s, SG-S was obtained as a by-product generated during
the production of electronic grade silicon. With the strong growth in demand for SG-Si, due to the
expansion of the photovoltaic solar energy market as an alternative and renewable source of energy, there
is a need to develop silicon dedicated to the photovoltaic solar independent of the EG-Si manufacturing
industry. There are two possible routes to obtain this silicon: the chemical and the metallurgical
(METELEVA, 2012). This second one allows SG-Si to be obtained at a lower cost, directly from
metallurgical grade silicon, which contains a high level of impurities (Fe, Al, Mn, Cu, Ni, P and B)
(FERREIRA NETO et al., 2015). SHIMPO et al. (2004) studied the introduction of a calcium source in MG-Si
and observed the formation of CaSi2 with P in the grain boundary between silicon and the silicide phase,
which can be leached in acidic solution.
One source of calcium, to phosphorus removal in silicon, is calcium carbonate (CaCO3). However, all
brands of Brazilian calcium carbonate, analyzed by the authors of this research, so far showed high
phosphorus content, making them not suitable for this purpose since the objective is exactly removing this
element from MG-Si. PELOSINI et al. (1990) have reported the possible removal of P, to below 1 ppm,
when MG-Si is fused with barium carbonate in proportions of 5 wt% to 30 wt% relative to the weight of
silicon. The same authors indicated that leaching, for this material, can be carried out in the temperature
range of 25 °C to 80 °C with solutions of HF, HCl, H2SO4, HNO3, or mixture of them, in concentrations of
5 % to 20 % by weight. The objective of this work was to study the effect of water, HCl, and HF on the
leaching process for P removal on a MG-Si reacted with and barium slag, since barium carbonate do not
present phosphorus contamination.
2.2.4 CHARACTERIZATION
The amount of P was determined by ICP-OES (Varian) and was measured in triplicate.
Samples of ingots and leached powders were analyzed by scanning electron microscopy (JEOL JSM 6300),
and energy dispersive spectroscopy (EDS, Noran System). The crystalline phases were determined by X-
ray diffraction (Shimadzu XRD 6000) using Co K.
Figure 1 – SEM micrograph, mapping of elements of Si and Ba and EDS spectra of points 1 and 2 shown in
the micrograph of the sample of MG-Si with barium slag.
188
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Figure 2 – X-ray diffractogram of the sample MG-Si treated with barium slag.
Table 1 shows the results of chemical analysis of the leached MG-Si before and after leaching. The removal
of phosphorus was only 63 %, and the high content of barium after leaching (4.8 wt %) corroborate the
results of MEV/EDS and X-ray diffraction. It can be concluded that this process was not satisfactory for
removal of P from MG-Si doped with barium slag.
Figure 3 – (a) and (b) SEM micrographs and (c) EDS spectra of points 1 and 2 shown in the micrograph (a)
of the sample of MG-Si with barium slag, after leaching in one step (mixture of HCl+HF).
(a) (b)
189
(c) (c)
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Figure 4 – X-ray diffractogram of the sample MG-Si treated with barium slag after leaching in one step.
BaCl2 is relatively soluble in water (34 g/l at 80 oC) (Haynes, 2010-2011) indicating that most barium
chloride was filtered. The second step, with HF, does not modify the result, as can be seen in Table 2.
Figure 5 – (a) SEM micrograph and (b) EDS spectra of area 1 shown in the micrograph (a) of the sample of
MG-Si with barium slag, after leaching in HCl.
(a) (b)
190
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Figure 6 – X-ray diffractogram of the sample MG-S treated with barium slag after leaching in two steps
(first in HCl and second in HF).
Figure 7 shows micrograph, by MEV, of the powder after water leaching. Peaks related to O, Si and Ba can
be observed by EDS, indicating the presence of Ba(OH)2 as indicated in reaction (3).
The first step using water is important to remove the major quantity of BaSi2. The reactions using HCl and
HF are represented as following:
191
Engenharia no Século XXI – Volume 7
Figure 7– (a) SEM micrograph and (b) EDS spectra of area 1 shown in the micrograph (a) of the sample of
MG-Si with barium slag, after leaching in H2O.
The Ba(OH)2 and SiO2 that are formed in the first step are scarcely soluble in water, but the first one is
relatively soluble in HCl solution forming BaCl2. The SiO2 forms SiF4 gaseous in HF solution, removing the
precipitate in the silicon, showing that three steps are important to purify the metallurgical grade silicon.
In Table 3 the results of the chemical composition of the leached silicon powder after the three steps are
presented. The leaching process used in this study resulted in a decrease from 14.3 ppm to about 3.3 ppm
of P. Although for solar energy application the amount of P in the silicon should be below 1 ppm
(FONTANETO, 1980 and LAI, 2016) the treatment with barium slag and further leaching show a potential
successful route for MG-Si purification.
Table 3 – Content of P in the Si samples before and after leaching in three steps
Sample P (ppm)
Before leaching 14.3 ± 1.0
After leaching in H2O, HC and HF 3.3 ± 0.5
4. CONCLUSIONS
The leaching with the mixture of HCl + HF resulted in BaSiF6 that are scarcely soluble in water resulting in
a phosphorus removal of only 63 %. About 80 wt% of P was removed from the MG-Si using the route by
introducing in it BaO slag, which promotes the P segregation to the grain boundary, forming BaSi2 that is
leached by three steps using water, HCl, and HF. However, it is necessary to study the effect of reducing
particle size, since coarse particle (about 500 µm) could contain grain boundaries that are not exposed to
the contact with water and acid. This effect should be explored.
192
Engenharia no Século XXI – Volume 7
REFERENCES
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metalúrgica. Revista Brasileira de Energia Solar, 6, 1, p. 37-46, 2015.
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[3] HAYNES, W.M. – Handbook of Chemistry and Physics, 91th edition, CRC, 2010-2011.
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multi-crystalline silicon for solar cells. Mater. Sci. Eng. B, 134, p. 282–286, 2006.
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hydrofluoric acid containing hydrogen peroxide as oxidizing agent, Hydrometallurgy, 164, p. 103–110, 2016.
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phosphorus from silicon by acid leaching treatment, Metallurg. Mater Trans B, p. 277-284, 2004.
[11] ACKNOWLEDGMENTS
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AUTORES
ADRIANE PIMENTEL OLIVEIRA
Graduanda em Interdisciplinar em Ciência e Tecnologia, com formação em Dezembro de 2019.
Com trabalhos publicados na área de materiais, compósitos e mineração.
CÁTIA FREDERICCI
Graduação em Química pela Universidade Federal de São Carlos, mestrado e doutorado em Ciência
e Engenharia de Materiais pela Universidade Federal e São Carlos. Atuação na área de P&D&I em
Engenharia de Materiais e Metalúrgica, com ênfase em cerâmica e vidro. Pesquisadora e Professora
do Mestrado Profissional do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT.
Atualmente, bolsista de Produtividade em Desenvolvimento Tecnológico e Extensão Inovadora 2
no CNPq.
JOELDA DANTAS
Doutora em Ciência e Engenharia de Materiais pela Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG), Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Master Educacional, Pós-
AUTORES
PAULA POLASTRI
Possui graduação em Engenharia Ambiental pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho - UNESP (2007), pós-graduação em Ciências Ambientais pelo Instituto Federal do Triângulo
Mineiro - IFTM (2014), mestrado em Engenharia Urbana e pós-graduação em Engenharia de
Segurança do Trabalho pela Universidade Estadual de Maringá - UEM (2017). Tem experiência em
implantação e certificação de Sistema de Gestão Ambiental com base na norma ABNT NBR ISO
14001, auditorias ambientais, licenciamento ambiental, gerenciamento de resíduos sólidos e
elaboração/execução de projetos ambientais. Atualmente, doutoranda em Engenharia Química
pela UEM e Professora Mediadora e Formadora na modalidade EAD na UniCesumar.
PAULO SÉRGIO DA SILVA
Graduando em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Amazonas. Participou do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica da UFAM (2018/2019), cujo tema da pesquisa foi
"Avaliação do comportamento mecânico de solo típico de Manaus/AM estabilizado
granulometricamente com resíduo cerâmico". É membro do grupo de pesquisa em Geotecnia da
UFAM (GEOTEC).
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