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Drenagem como Instrumento de Dessalinização e

Prevenção da Salinização de Solos

13. COEFICIENTE DE DRENAGEM


SUBTERRÂNEA OU RECARGA

1. Introdução

Coeficiente de drenagem subterrânea é a taxa de rânea do Projeto Mandacaru, Juazeiro - Ba, pelo
remoção do excesso de água do solo, expressa em fato desse solo possuir baixíssimo valor de
altura de lamina de água por dia - m/dia. É utilizado condutividade hidráulica saturada.
para o cálculo do espaçamento entre drenos
quando são empregadas fórmulas de fluxo De acordo com Luthin (1) , a recarga em regiões
contínuo. úmidas varia de 0,003 a 0,025 m/dia, dependendo
da altura das precipitações, em função do tempo
O cálculo estimativo do coeficiente de drenagem e das características de solo e topografia.
subterrânea depende de informações de solo, clima
e condições de irrigação ou chuvas.
2. Cálculo da recarga
Em regiões áridas o cálculo da recarga é feito em
função da irrigação que, por necessidade, é Não sendo conhecido um coeficiente de drenagem
aplicada em excesso, para que seja feita uma subterrânea usado e apropriado para a região e
lavagem da zona das raízes, a fim de evitar a quando se depara com condições específicas de
salinização do solo. Em nossas condições acredita- solo, este pode ser determinado conforme o
se que essa prática não é necessária porque as exemplo abaixo:
precipitações naturais são suficientes para lavar o
solo, desde que o mesmo possua boa drenabilidade
ou sistema de drenagem subterrânea. 2.1. Infiltração potencial.

O cálculo da recarga é então feito tomando como • Chuva máxima de 3 dias consecutivos e
base dados de chuvas da região do projeto, recorrência de 5 anos = ll8,6mm, conforme Quadro
informações sobre o perfil do solo a ser drenado e 1, anexo.
tipo ou tipos de cultivos existentes ou previstos. • Retenção pela cobertura vegetal, incluindo
plantas e cobertura morta: assumidos 5%
Na região de Petrolina/Juazeiro existiam cerca de • Escoamento Superficial - assumidos 30%.
2.000 ha com drenagem subterrânea (dez/96), onde
era normalmente utilizada recarga de 0,006 m/ I = 118,5mm - ( 118,5 x 0, 05) - ( 118,5 x 0,3)
dia, para solos dos tipos latossolo e solos podzó- I = 77,0 mm
licos, de textura média a arenosa. Atualmente os
drenos para esses solos estão sendo projetados com
recarga de 0,004 m/dia, tendo em vista a redução 2.2. Retenção de umidade pelo solo
dos custos da drenagem subterrânea, o que resulta
em sistemas menos eficientes mas que poderão É a lâmina de água necessária para elevar o teor
apresentar uma melhor relação custos/benefícios. de umidade atual do solo até capacidade de
campo, ou lâmina retida.
Para vertissolo o coeficiente é da ordem de 0,0005 No cáluclo da lâmina de chuva a ser retida pelo
m/dia, obtido com base em trabalho experimental solo assume-se:
conduzido em área piloto de drenagem subter-

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Coeficiente de drenagem subterrânea
ou recarga

QUADRO1 - Chuvas Máximas de 3 e 4 dias consecutivos -


Estação meteorológica de Cabrobó-PE. Lat. 8o 30’; Long. 39o 19’ W (*)

Número Ano Ocorr. Ano Ocorr. Chuvas Máx. 3 dias Chuvas Máx. 4 dias Seleção da Chuva de Projeto
Ordem 3 dias 4 dias Decrescente Decrescente
1 1963 1963 248,9 286,6 N = fn
2 1941 1941 209,3 228,8 N = num. de anos de registro
3 1916 1940 196,6 227,6 f = frequência desejada
4 1940 1916 192,1 220,9 n = número ordem na coluna
5 1969 1924 146,8 162,6
6 1955 1969 137,8 158,9 Para:
7 1912 1937 137,2 156,5 f = 5 anos
8 1914 1955 126,7 146,3 N = 54
9 1966 1914 126,0 142,0 n = N/f
10 1937 1960 119,0 141,7 n = 54/5 = 11
11 1947 1921 118,6 140,0
12 1924 1912 118,5 137,2 Para chuvas de 3 dias = 118,6 mm
13 1964 1929 118,2 127,6 Para chuvas de 4 dias = 140,0 mm
14 1954 1966 116,2 126,0
15 1967 1913 115,7 119,0 Para:
16 1921 1947 112,0 118,6 N = 10
17 1913 1964 111,5 118,2 n = 54/10 = 5,4 = 6
18 1960 1915 109,2 117,5
19 1970 1954 106,4 116,2 Para chuvas de 3 dias = 137,8 mm
20 1915 1967 103,7 115,7 Para chuvas de 4 dias = 158,9 mm
21 1952 1952 102,8 113,1
22 1926 1918 99,8 110,0
23 1922 1970 99,0 106,4
24 1965 1926 98,7 103,3
25 1929 1922 93,0 99,0
26 1918 1965 93,0 98,7
27 1920 1965 91,8 97,0
28 1945 1945 87,9 96,1
29 1917 1920 85,5 91,8
30 1938 1950 79,0 87,9
31 1927 1917 77,3 85,5
32 1944 1944 74,8 84,6
33 1951 1953 72,4 80,6
34 1953 1929 70,3 79,7
.35 1928 1927 69,7 77,3
36 1959 1951 68,4 76,4
37 1968 1968 67,1 76,1
38 1958 1936 67,0 68,4
39 1936 1959 66,9 68,4
40 1949 1930 65,2 68,1
41 1925 1949 64,0 67,8
42 1961 1958 58,4 67,0
43 1946 1948 57,4 65,4
44 1930 1925 57,2 64,0
45 1939 1946 56,6 62,0
46 1956 1961 56,5 58,4
47 1943 1939 48,0 56,6
48 1950 1956 46,5 56,5
49 1919 1943 35,0 48,0
50 1942 1919 33,7 35,0
51 1948 1942 32,9 33,7
52 1923 1923 25,5 25,5
53 1962 1962 14,7 20,9
54 1911 1911 12,8 12,8
(*) Fonte: Dados básicos - Instituto Nacional de Meteorologia do MA.

Área com sistema de drenagem subterrânea e O espaçamento estimado entre drenos, usando a
drenos situados a 1,30m de profundidade e com fórmula de Hooghoudt simplificada onde:
altura do lençol freático em relação aos drenos -
h= 0,l0m. Nesse caso, a profundidade do lençol e
freático seria 1,20m.

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Drenagem como Instrumento de Dessalinização e
Prevenção da Salinização de Solos

recarga proveniente da irrigação, que é a recarga mesmo tempo em que contribui para a elevação
que antecede às chuvas, seria de 15,54m, tendo do lençol freático é utilizada pelas plantas. Ocorre
como base os seguintes parâmetros: comumente que as precipitações, no caso a soma
• Camada de solo homogêneo até a barreira; de três dias consecutivos de chuvas são, na maioria
• Drenos instalados a 1,30m de profundidade; das vezes fracionadas, com evapotranspiração
• Profundidade da barreira em relação ao fundo concomitante durante e nos intervalos das
dos drenos - D = 1,70m; precipitações.
• Condutividade hidráulica de campo - K = 0,30m/
dia; Lâmina a drenar = 57,6 mm - 12,0 mm = 45,6 mm
• Recarga assumida - R = 0,001 m/dia.
• Altura assumida para o lençol no ponto médio
entre os drenos - h = 0, l0 m; 2.6 Ascensão do lençol freático
• Área de fluxo para o dreno - p = 0, l03m, para
tubo corrugado DN 65, com envoltório sintético e É obtida tomando como base o valor da porosidade
trabalhando a meia seção. drenável, considerando-se a camada de solo
Considerando-se que a água disponível é de 5,4 % uniforme até 1,30 m de profundidade.
e assumindo-se um teor de unidade atual de 70%
da água disponível, obtem-se:

Lâmina de chuva a ser retida pelo solo = 1,20 m x lâmina de saturação


Ascensão do lençol =
porosidade drenável
0,054 x 0,30 = 19,4 mm.

Ascensão do lençol =
2.3. Lâmina potencialmente drenável
2.7 Cálculo estimativo do coeficiente de
77,0 mm - 19,4 mm = 57,6 mm drenagem subterrânea ou recarga

Assumindo-se que o lençol freático deva ser


2.4. Evapotranspiração rebaixado, em 3 dias, de 37cm para 80 cm em
relação à superfície do solo, a recarga será de:
Da infiltração potencial subtrai-se a evapotrans-
piração assumida para as plantas cultivadas; essa Profundidade do lençol = 1,30 m - (0,10 m + 0,83m)
água contribue para o rebaixamento do lençol = 0,37 m;
freático, sem no entanto ser escoada pelo sistema Rebaixamento do lençol = 0,80 m - 0,37 m = 0,43m
de drenagem subterrânea.
Recarga=
Para evapotranspiração de 4 mm/dia tem-se:

ETC= 4,0 mm/dia x 3 dias = 12,0 mm Bibliografia

1- CODEVASF/GEEPI/CHESF. Drenagem Subterrâ-


2.5 Lâmina a ser escoada nea do Projeto Caraibas: Setor 01 - agrovilas
pelo sistema de drenagem 01 e 02. Brasília: 1994. 1v. il.

Da lâmina de saturação deduz-se a evapotrans- 2- LUTHIN, james, N. Drainage Engineering. New


piração, pelo fato de que esta lâmina de água, ao York: robert e. Engin., 1973. 250 p. il.

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