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CARTILHA DA

BACIA
córrego do
gregório
Editora IAU/USP, 2021

Coordenação e texto final: Luciana Bongiovanni Martins Schenk

Pesquisa e produção de textos: João Batista Cavaroli Stivanin, João Gabriel Osti
Rosa, João Vitor de Aquino Ferreira, Laura Vitoria Trudes Gato, Juliana Yumi
Takara, Julia Martins Pereira, Nely Vitoria Santana da Frota, Guilherme Garcia,
Juliana da Mata Santos, Beatriz Sousa Borges, Gabriela Rahal.

Textos do subtítulo e capítulo: A bacia do Simeão; A bacia do Gregório: um proje-


to pedagógico - Luciana Bongiovanni Martins Schenk

Texto GTPU: O Grupo de Trabalho de Planejamento dos Parques Urbanos de São


Carlos – Renata Bovo Peres

Produção e Revisão: João Batista Cavaroli Stivanin e João Vitor de Aquino Ferreira

Diagramação, artes e projeto gráfico: João Gabriel Osti Rosa e Laura Vitória
Trudes Gato.

Catalogação na Publicação
Biblioteca do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

C327
Cartilha da Bacia Córrego do Gregório / [coordenação e texto
final: Luciana Bongiovanni Martins Schenk]. -- São Carlos:
IAU/USP, 2021.
82 p, [9] p.

ISBN 978-65-86810-29-5

1. Planejamento territorial urbano. 2. Bacias hidrográficas.


3. Córrego do Gregório. 4. Espaços livres. 5. São Carlos.
I. Schenk, Luciana Bongiovanni Martins, coord.

CDD 711.421

Bibliotecária responsável pela estrutura de catalogação da publicação de acordo


com a AACR2: Brianda de Oliveira Ordonho Sígolo - CRB - 8/8229

Instituto de Arquitetura e Urbanismo


Universidade de São Paulo
Av. Trabalhador São-Carlense, 400, Centro
CEP 13566-590, São Carlos –SP
www.iau.usp.br
agradecimentos
A Cartilha da Bacia do Córrego do Gregório nasceu do desejo dos
integrantes de uma pesquisa emxx dialogar com a população da
cidade de São Carlos, em especial, gestores e moradores da bacia
do córrego do Gregório. Os resultados da pesquisa, intitulada
“Infraestrutura e Cidade: apoio à formulação de políticas
públicas preventivas às mudanças climáticas associadas ao
espaço público e às águas”, permitiu-nos visualizar a construção
desta cartilha: os contatos e desdobramentos que a pesquisa
proporcionou estão de algum modo presentes nessa publicação.
A oportunidade de tornar isso realidade se deve a muitas
colaborações - foi um trabalho de equipe que envolveu muita
generosidade, competência, empenho e amizade.
Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer à Pró-Reitoria de
Graduação da Universidade de São Paulo por nos auxiliar no
desenvolvimento da pesquisa mencionada, formulada com base
no edital 01/2020-2021 do Programa Santander de Políticas
Públicas. Um agradecimento especial se faz à professora Janina
Onuki que esteve à frente das comunicações e sempre com
gentileza e seriedade acolheu nossas solicitações, permitindo que
a pesquisa e esse produto materializassem-se.
Ao Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo, IAU-USP, que permitiu a execução da pesquisa, em
particular, ao diretor professor Joubert Lancha, à professora
Simone Vizioli pelo apoio, aos funcionários Cleverci A. Malaman,
Brianda de Oliveira Ordonho Sígolo e François Gila, que com
profissionalismo e simpatia nos orientaram em relação a
questões administrativas.
Ao Grupo de Trabalho de Planejamento dos Parques Urbanos de
São Carlos (GTPU), um coletivo interdisciplinar voluntário, que
sempre nos apoiou e, em especial, à professora Renata Bovo
Peres, que nos incentivou e auxiliou na formulação da pesquisa
USP Municípios/Santander e que escreve sobre o GTPU aqui.
A cada uma das pessoas que vocês verão mencionadas neste
volume, temos gratidão por compartilharem seu tempo, material,
dúvidas, conhecimento, aprendizados e conquistas. Um
agradecimento especial aos envolvidos na pesquisa, na redação e
finalização dela: João Batista C. Stivanin, João Gabriel O. Rosa, João
Vitor de A. Ferreira, Laura Gato, Juliana Yumi Takara, Nely Vitoria S.
da Frota, Julia M. Pereira, Marilene Garcia, Guilherme P. Garcia,
Juliana da M. Santos, Maria Cecília P. B. de Lima, Cauê M. Silva,
Beatriz S. Borges, Gabriela Rahal e Lucas Beco. E aos que
colaboraram através da cessão de imagens, a Fundação
Pró-Memória de São Carlos, ao coletivo Mulheres do GAU, Gabriela
Rahal, Natália Carli, Luciano B. da Costa, Paulo Vaz, Alexey C. Souza,
Valéria Bonfim e Gabriel Francisqueti.
Que essa cartilha possa participar de um movimento em busca
de cidades preparadas para os efeitos das mudanças climáticas,
mais resilientes, mas – acima de tudo – que esse encontro
frutifique na direção da construção de cidades mais justas e
equilibradas.
sumário
agradecimentos

introdução

o território brasileiro................................................................................................................................................1
os impactos da urbanização............................................................................................................................5
o ciclo da água: bacias hidrográficas...........................................................................................................9
o cerrado brasileiro..............................................................................................................................................11
mudanças climáticas..........................................................................................................................................13
saneamento............................................................................................................................................................15
introdução................................................................................................................................................15
água, esgoto............................................................................................................................................16
resíduos sólidos.....................................................................................................................................17
drenagem urbana.................................................................................................................................21
espaços livres potencialidades urbanas................................................................................................ 25
espaços livres que alimentam.......................................................................................................................29
participação popular.........................................................................................................................................31
grupo de trabalho de planejamento dos parques urbanos de são carlos...............................33

são carlos: a cidade, as águas....................................................................................................................35


são carlos, sp........................................................................................................................................................37
urbanização de são carlos.............................................................................................................................39
as águas e o conflito.........................................................................................................................................47
sistema de espaços livres e infraverde.....................................................................................................51
a bacia do simeão..............................................................................................................................................57

bacia do gregório: um projeto pedagógico................................................................................65


a bacia hidrográfica: unidade de planejamento e paisagem.........................................................69
parques para a bacia.........................................................................................................................................71
área_02....................................................................................................................................................75
área_05....................................................................................................................................................77
área_07....................................................................................................................................................79
área_08.....................................................................................................................................................81

conclusão........................................................................................................................................................................83

participações...............................................................................................................................................................87

bibliografia....................................................................................................................................................................89
introdução
Esta cartilha é resultado de uma pesquisa realizada sob os Essas ações tomam forma na paisagem, que materializa nossas
auspícios da Pró-Reitoria de Graduação da Universidade de São escolhas: quando vemos um córrego canalizado ou
Paulo, por meio do edital 01/2020-2021 do Programa Santander de tamponado, por exemplo, isso representa o pensamento e as
Políticas Públicas, que teve como objetivo estimular a solução de soluções de uma época para problemas urbanos daquele
problemas voltados para a melhoria de políticas públicas nos período: a paisagem manifesta a relação entre Humanidade e a
municípios do estado de São Paulo. Natureza ao longo do tempo. Esta Cartilha pretende contribuir
A pesquisa foi originalmente desenhada para ocorrer em etapas para que essa relação se estabeleça sobre bases
que seriam desenvolvidas por intermédio de atividades de campo contemporâneas: o ideário de congruência social e ambiental
e workshops presenciais; entretanto, teve seu escopo reformulado referenciado pode e deve construir paisagens memoráveis,
em virtude da pandemia da Covid-19 e de toda a situação de enfim, lugares propícios e significativos para a vida.
afastamento social que vivemos neste período. A cartilha se divide em três partes. Uma primeira, na qual se
Parte da pesquisa foi transformada nesta cartilha por apresentam conceitos e categorias que fundamentam os
acreditarmos que as informações e os resultados colecionados princípios e a reflexão realizada ao longo do percurso de
durante o processo possam auxiliar na visualização de pesquisa. Uma segunda parte, na qual a cidade de São Carlos é
problemáticas urbanas de modo transversal, construindo, apresentada à luz de certos recortes e aproximações teóricas,
portanto, uma ponte entre o que a universidade é capaz de que nos auxiliam a esclarecer os caminhos tomados para
produzir e a população. promover o processo de planejamento e propostas de projeto
As informações compartilhadas podem participar da construção relacionados a um workshop realizado remotamente e que
de políticas públicas que fomentem o desenvolvimento de tomou a bacia do córrego do Simeão, que tributa suas águas no
estratégias mais adequadas à realidade das pessoas, ao mesmo córrego do Gregório, no centro de São Carlos, como objeto de
tempo em que informam acerca do enfrentamento dos estudo e proposição.
problemas. As complexidades urbanas se ampliaram Na terceira e última parte da cartilha, apresentamos leituras e
contemporaneamente, em especial, aquelas que relacionam o propostas construídas por alunos do Instituto de Arquitetura e
fenômeno das mudanças climáticas à sociedade e aos modelos Urbanismo da Universidade de São Paulo na disciplina
de desenvolvimento e ocupação. “Paisagismo”. Ambas as apresentações buscam unir questões
O recorte de pesquisa se realiza na bacia hidrográfica do córrego que vão do plano ao projeto de cenários, um grande arco que
do Gregório, que atravessa a cidade de São Carlos, SP, de Leste a atravessará escalas e formas de abordagem, revelando, dessa
Oeste. Nesse percurso, o córrego cruza diferentes territórios, forma, paisagens possíveis para a bacia hidrográfica do córrego
bairros e o próprio centro urbano, estabelecendo interações e do Gregório. O intuito é apresentar ao leitor a ideia de que para
construindo distintas paisagens. Essas paisagens se transformam se pensar alternativas para a cidade, para que possamos ter
ao longo do ano, em especial no verão, quando as chuvas alteram novas e inspiradoras paisagens, é fundamental que se instale
a fisionomia do córrego que, ampliado em seu volume de águas, um olhar sistêmico em relação a nossa realidade.
historicamente alaga o centro. O córrego no centro não está
apenas canalizado, mas também tamponado.
Com as mudanças climáticas, a possibilidade de que as enchentes
ocorram de modo mais violento é um problema que exige
reflexão e planejamento. Essa possibilidade se tornou realidade
em 26 de novembro de 2020 e o desastre causado mobilizou
autoridades, universidades e gestão, provocando debates e
colocando em primeiro plano questões que alicerçaram a
pesquisa e terminaram por gerar esta cartilha.
Processos de urbanização e ocupação, modelos de
desenvolvimento e meio ambiente, direito à cidade e à paisagem,
direito à vida e o desafiador debate acerca do bem comum para a
população como totalidade e para as futuras gerações como
compromisso ético: todas essas questões estabelecem relações na
produção deste trabalho que não pretende esgotar o assunto, mas
antes participar desse movimento maior já instalado globalmente
de pensar, planejar e projetar as cidades e regiões diminuindo
conflitos e construindo congruências sociais e ambientais.
o território
brasileiro
O Brasil é um país de dimensões continentais: são mais de 8,5
milhões de quilômetros quadrados em área, indo de Norte a Sul
do continente Sul-americano. Essa situação gera uma grande
diversidade climática e ambiental. Ao todo, o país apresenta,
segundo o geógrafo Aziz Ab’Sáber, seis fisionomias que 1
2
reconhecemos em nossas paisagens. Os domínios
morfoclimáticos formam, junto às áreas de transição, a rica
paisagem nacional: a Amazônia, na maior parte do Noroeste do
país, com florestas equatoriais; a Caatinga, que ocorre no
interior da região Nordeste e tem uma fisionomia semiárida; o
Cerrado, que ocupa grande extensão da porção central; os
domínios de mares de morros cobertos pela Mata Atlântica,

4
que acompanham a costa do Oceano Atlântico; os planaltos
subtropicais com a presença das Araucárias, o pinheiro do
Paraná, e as pradarias conhecidas como Pampas, no extremo
sul do país.
Habitando esse território extenso e diverso, vivem mais de 213
milhões de brasileiros. Uma grande porção ainda se concentra
ao longo da faixa litorânea em cidades inauguradas no período
da colonização portuguesa e da produção de açúcar.
Posteriormente, alinhada a outros ciclos econômicos, como o
do ouro, da borracha e do café, a ocupação na direção do 3
interior do país ganhou força.
para saber mais:

5
https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18313-populacao-r
ural-e-urbana.html

6 Domínios morfoclimáticos do Brasil.


Fonte: Ab'Saber (1969).
Arte por João Gabriel Osti Rosa.

Domínio morfoclimático Amazônico Domínio morfoclimático da Caatinga Domínio morfoclimático da Mata Atlântica Domínio morfoclimático do Cerrado Domínio morfoclimático Domínio morfoclimático dos Pampas
Fonte: “TI Vale do Javari - Kanamari” por Amazônia Real Fonte: “Biome transition - brazilian savanna - semiarid / Fonte: Banco de imagens gratuitas Pixabay Fonte: “Cerrado Parque Estadual dos Pirineus” por da Mata de Araucárias Fonte: “De ovelhas e horizontes” por Eduardo Amorim
Transição de biomas - Cerrado - Caatinga” por A. Duarte Jonathan Wilkins Fonte: “Araucárias2” por Ana Taemi

1 2 3 4 5 6

02
ODS: OBJETIVOS DE DESENVOLVIMEN-
TO SUSTENTÁVEL taxa de urbanização brasileira
Os dezessete objetivos são uma chamada
para ação global promovida pela ONU,
que visa promover o fim da pobreza, a
proteção do planeta e do meio ambiente
e assegurar a felicidade e prosperidade
para todas as pessoas do mundo. Desse
modo, busca-se enfrentar de maneira
conjunta os principais desafios da atuali-
dade.
(%) 31 36 45 56 66 74 81 84

para saber mais: https://www.undp.org/-


1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010
sustainable-development-goals
Gráfico de crecimento da população urbana brasileira nas últimas décadas.
Fonte dos dados: IBGE 2010. Arte por João Gabriel Osti Rosa

Com o processo de industrialização, especialmente a partir de


meados do século XX, ocorreu uma mudança progressiva nas
características da distribuição populacional no território: a população
brasileira passou a se concentrar cada vez mais em cidades.
Estatisticamente, nos anos 50, cerca de 36% das pessoas viviam em
cidades; nos anos 70, esse número já tinha ultrapassado a metade da
população, na casa dos 56%; atualmente mais de 85% dos brasileiros
vivem no ambiente urbano.
Essa concentração populacional resultou em inúmeros problemas.
A despeito dos processos de planejamento realizados ou, até
mesmo, de sua aparente ausência, o que se pode observar em
relação ao fenômeno urbano de nosso país é a construção cotidiana
de um confronto entre o meio físico e os processos de ocupação.
A relação entre natureza e cidade é o principal assunto aqui tratado. Poços de Caldas. Fonte: Luciano B. Costa, ano 2020.
As cidades nascem a partir da característica humana de estabelecer
contato e construir comunidades. A isso se articula a chave
econômica: as cidades são também o lugar do sustento e da
produção de bens e serviços. Uma cidade, na sua origem, tem
profunda relação com seu sítio: a presença da água, o clima favorável,
as terras produtivas, e ainda, a localização estratégica, o cruzamento “A crença de que a cidade é uma entidade separada da natureza, e
até contrária a ela, dominou a maneira como a cidade é percebida e
de caminhos, a presença de portos, estradas ou ferrovias. As
continua a afetar o modo como é construída”
questões naturais e de localização no território se associam
ao desenvolvimento e à prosperidade urbana. SPIRN, Anne Whiston. O Jardim de Granito

Fotografias aéreas de São Paulo - SP, Marginal Pinheiros e Vale do Anhangabaú.


Fonte: QUAPA SP, 2012.
Contudo, o que se pode perceber quando observamos a história da maior parte das cidades
brasileiras é o estabelecimento de conflitos com o meio ambiente físico: a relação entre
natureza e cidade foi sendo progressivamente deteriorada, seja porque a forma de planejar
optou por técnicas e tecnologias que desconsideravam os ciclos naturais, seja porque esse
mesmo planejamento deixou de incluir as complexidades sociais e ambientais do território.
Em ambos os casos, o que se revela é uma postura em relação ao mundo que precisa ser
revista: o discurso do progresso como dominação do ambiente natural pela técnica é uma fala
ultrapassada e se provou destruidora dos lugares e suas paisagens. Construir e alterar
territórios para instalar a ocupação humana e urbana são ações que podem e devem ser
realizadas com base em posturas atentas a essa mudança de paradigma.
O período contemporâneo revelou, por meio de autores e exemplos, que a cidade é natureza
(SPIRN 1995) - não há separação. A atenção às lógicas da natureza, a seus fluxos e
manifestações gera processos de planejamento e projetos com outras qualidades, como
veremos aqui. Logo, a chave parece ser construir congruências entre formas de ocupação
e lógicas da natureza. Essa mudança traz benefícios não apenas à economia, mas
fundamentalmente traz benefícios à vida de uma forma ampla e inclusiva.

04
os impactos da
urbanização
Os ciclos e os tempos da natureza, desde a chuva até o A ocupação edificada das áreas de várzea – locais originalmente
crescimento da vegetação, da irregularidade do relevo e da ocupados pelos rios e córregos em seus momentos de maior
qualidade do solo às cheias e vazantes dos rios, todas essas vazão – gera conflitos, na medida em que eles são retificados,
manifestações trazem em si lógicas de funcionamento que nos margeados por grandes avenidas, canalizados e, até mesmo,
passam muitas vezes despercebidas. Muito mais visíveis são as tamponados. Os rios e córregos não têm outra válvula de
produções humanas, como as infraestruturas relacionadas à escape para o volume de água que recebem nas cheias senão
mobilidade, como estradas e ruas, ou à produção de energia, retomar seu leito original, alagando sua várzea.
como as hidrelétricas e redes de linhões que cortam o país. Essa é uma das importantes questões que tratamos aqui: o
Desse modo, torna-se difícil perceber, e mesmo compreender, desenvolvimento das técnicas e tecnologias são conquistas
a complexidade dos sistemas naturais e o quanto as ações humanas de grande significado, mas a cada período histórico
humanas, em especial as infraestruturas, interferem, novas questões se tornam visíveis. Desse modo, hoje se sabe
impactam e comprometem esses sistemas e seus fluxos. que precisamos promover um novo modelo de
Quando refletimos acerca do planejamento de cidades, infraestrutura, a chamada infraestrutura verde, para
elementos essenciais para o não comprometimento desses compartilhar o território urbano de forma a promover
ciclos naturais são vistos como “obstáculos” para a implantação alternativas para que os ciclos naturais se realizem.
do que seria uma ocupação “organizada” do espaço. A
instalação das ruas, por exemplo, sendo uma infraestrutura de
mobilidade, costuma ser associada em termos urbanos à
infraestrutura de saneamento, água e esgoto. Todo o processo
de instalação dessas infraestruturas altera e impermeabiliza o
território.
Fotografias aéreas, de São Paulo - SP: infraestrutura de mobilidade e a dinâmica dos rios urbanos. Fonte: QUAPA SP, 2012.
Essa postura de domínio técnico, causadora de grandes
impactos nos ciclos naturais, foi aplicada na produção de
cidades na forma de supressão ou profunda alteração de vários
elementos naturais, tais como o relevo, a vegetação e,
principalmente, os corpos d’água, canalizando e tamponando
nascentes, córregos e rios.
O processo histórico de construção das cidades aconteceu e
ainda acontece sob a justificativa do progresso. Tomando por
exemplo a situação da água das chuvas, enxergam-se nas
soluções funcionais e técnicas realizadas nas ruas, que incluem
bocas de lobo, sarjetas e canalizações em concreto, a única
resposta para a questão da drenagem pluvial.
A chuva, a infiltração da água e sua presença no subsolo são
partes integrantes dos ciclos da natureza, sendo, portanto,
processos necessários à vida no planeta. As respostas técnicas
da chamada engenharia cinza - assim chamada porque é
baseada no concreto - "solucionam" o problema da drenagem,
levando a água da chuva rapidamente ao córrego; ao realizar
esse movimento, porém, interrompem outro, o de infiltração,

06
As verdadeiras causas das cheias e alagamentos ainda não são PISCINÕES
claras para muitos: a pavimentação nega à água das chuvas a
possibilidade de se infiltrar no solo, e junto com a rede de As soluções dos chamados piscinões
vêm sendo apresentadas como técnicas
drenagem, faz com que a velocidade das águas pluviais em capazes de resolver o problema das
direção aos pontos mais baixos aumente. Nesse sentido, cheias, mas essas ações interferem na
pode-se dizer que nossas escolhas, nossos planos e projetos paisagem profundamente, alterando sua
construíram os problemas que temos atualmente em nossas fisionomia, e criando impactos ambien-
tais e culturais negativos. A imagem do
cidades. piscinão é a de um grande buraco no
A responsabilidade pelos impactos ambientais das enchentes chão para reter a água, cercado de
não é consequência exclusiva da chuva, mas da intervenção alambrados, ou muros, e sem árvores. O
humana nos ciclos naturais em um território. O que antes era que se argumenta aqui é pela solução
técnica que perceba a oportunidade de
um movimento do ciclo d’água - a chuva que cai e as águas que termos nesses lugares espaço livres
infiltram no solo permeável e correm para os rios, nos pontos verdes: parques e praças. Isso é uma
mais baixos do relevo, torna-se um evento de impacto negativo, decisão não apenas técnica, mas
danoso, provocado pela ocupação inadequada das várzeas e também social e cultural - é uma decisão
de política pública, que agrega princípios
impermeabilização excessiva do solo. e valores ao processo.
Para solucionar esses problemas, nosso esforço deve se
concentrar em produzir planos e projetos que respeitem e
tornem possíveis os ciclos da natureza, pois são eles que
sustentam a vida – a ação humana e o planejamento devem
conciliar as necessidades postas pela urbanização às lógicas INFRAESTRUTURA VERDE E SbN
da natureza.
A infraestrutura verde tem uma dimensão
Um princípio contemporâneo de drenagem urbana é fazer de planejamento que pensa alternativas
com que as gotas de água da chuva infiltrem no solo próximas de drenagem associadas à vegetação,
ao lugar em que caíram. Para que isso aconteça, é preciso criar bem como os benefícios que essa
associação pode trazer. Quando se pensa
essa oportunidade, retendo a água da chuva em lugares
na forma como essa infra-estrutura se
permeáveis. materializa, aproximamo-nos de
Todo esse processo relacionado à drenagem urbana é pensado alternativas que vem sendo chamadas de
Resultados das enchentes no centro da cidade de São Carlos em novembro de 2020: um dos impactos do modelo urbano atual a partir do relevo, que tem grande significado quando Soluções Baseadas na Natureza, ou SbN:
são tipologias contemporâneas que
e das mudanças climáticas no cotidiano da população. Fonte: Paulo Vaz, 2020. pensamos sobre nossas cidades. Plano ou acidentado, com
compreendem jardins, canteiros, lagoas e
subidas e descidas, o relevo não só participa da construção da valetas drenantes, criações que, como a
imagem da paisagem urbana, ele determina para onde correm denominação testemunha, procuram
1 2 as águas pluviais e conforma as bacias hidrográficas. As bacias inspirar-se na natureza e suas lógicas
para chegar ao projeto.
hidrográficas são essa unidade de paisagem e análise
estratégica para se pensar e planejar as cidades e regiões.

Piscinões: medidas de retenção de água e prevenção de Técnicas contemporâneas de mitigação de enchentes:


enchentes que não aproveitam a oportunidade das novas criação e implantação de infraestrutura verde.
técnicas que associam valores sociais e ambientais. Fonte: Workshop do Córrego do Monjolinho, GTPU, 2019.
Fonte: QUAPA SP, 2012.

08
o ciclo da água
bacias hidrográficas

O conceito de bacia hidrográfica é uma peça-chave para se


entender a dinâmica do ciclo da água no território,
possibilitando seu planejamento e conservação com base nas
particularidades regionais e locais de suas paisagens - por
exemplo, a vegetação, o relevo, o tipo de solo e as qualidades de
impermeabilização ligadas ao grau de urbanização.
Em nosso planeta, todos os ciclos naturais encontram-se
interligados e com a água não é diferente – da mesma forma
que o trajeto dos rios e córregos não é limitado pelas divisões
político-territoriais, as bacias hidrográficas são determinadas
pelo relevo e, por vezes, participam de vários municípios,
regiões e mesmo estados, países e continentes.
Dentro de uma bacia hidrográfica, é possível observar que há
um curso d'água principal, ou seja, aquele que receberá os
cursos d'água secundários e também convergirá para o ponto
mais baixo, desaguando em outro córrego ou rio, lago ou mar.
Esse sistema une cursos d’água em uma rede associada ao
relevo e solo, à fauna e flora, aos processos de ocupação, enfim,
Representação esquemática do ciclo da água. Arte por Laura Gato.
à sua paisagem. Todas essas questões são importantes para
compreendermos o funcionamento da bacia.
A precipitação que alimenta os cursos d’água tem origem na
evapotranspiração, que significa a associação entre a
evaporação da água - que ocorre a partir dos corpos d’água e do
solo - e a transpiração das plantas, que liberam parte da água
que absorvem do solo ao realizarem suas funções vitais. Sendo
assim, podemos inferir que as áreas com maior cobertura
vegetal e maior permeabilidade de solo – as florestas – são
também aquelas capazes de contribuir com um volume maior
de vapor d’água para a formação de nuvens.
No caso da América do Sul, essa grande “fábrica de nuvens'' é
justamente a floresta amazônica. Segundo Antônio Nobre,
pesquisador do INPE, uma árvore frondosa da floresta, com
cerca de 20 metros de diâmetro de copa, é capaz de transpirar
mais de 1.000 litros de água num único dia.
Os pesquisadores revelam questões particulares tanto em
relação aos indivíduos arbóreos - que capturam a água por suas
raízes, transformando-as em vapor e gerando nuvens - quanto
acerca do conjunto das florestas: as árvores enquanto conjunto
florestal são responsáveis por gerar as chuvas que ocorrem não
PLANEJAMENTO E BACIAS só na própria Amazônia, mas também em outras partes do
continente americano, a partir da influência dos ventos sobre as
Importante para entender: da mesma
forma que os processos naturais são nuvens. Essas grandes massas de nuvens, denominadas “rios
interligados e integrados, o planejamento voadores”, viajam rapidamente sobre a Amazônia até colidir
também deve ser - por isso a bacia com os Andes, indo em seguida para o Sudeste, causando,
hidrográfica é um recurso estratégico no assim, chuvas no continente.
planejamento de territórios e suas
paisagens: ela pode funcionar como 1: A floresta amazônica, por meio da evapotranspiração de suas árvores, rios e solo, gera grandes massas de vapor de ar
unidade de planejamento. conhecidas como "rios voadores". 2: Conduzidos pelas correntes de ar, esses rios descem para a região central e sul do país,
onde se transformam em chuva. 3: Toda essa água trazida pelos rios voadores penetra o solo, principalmente na região do
para saber mais: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-41118902 cerrado, que funciona como uma grande esponja, e fica reservada nos aquíferos, de onde sairá para abastecer as nascentes dos
rios. Para que o funcionamento correto do ciclo se mantenha, é necessária a preservação de todo o ecossistema que o sustenta.
Esquemas ilustrativos do ciclo d'água na unidade da bacia e nos biomas brasileiros como um todo. Arte por Laura Gato.

10
o cerrado
brasileiro
Na grande porção central do Brasil, encontra-se o Cerrado e os
seus 2 milhões de km² de extensão. Uma vez mais pensando
nas grandes lógicas da natureza responsáveis pelo regime das
chuvas e pelas temperaturas: o Cerrado e as suas qualidades de
paisagem são essenciais no processo hidrológico de
distribuição da água dessas precipitações ao nível do solo e
abaixo dele.
O Cerrado é o segundo maior bioma brasileiro; porém, apesar
de sua grande dimensão, as inúmeras paisagens que o
constituem podem criar uma visão fragmentada de seu
território.
Não apenas por suas características naturais, mas por conta de
um longo projeto político de ocupação e cultivo das terras do
centro do Brasil, gerou-se na população brasileira a percepção
de um bioma quase sem vida. Como em outros ambientes
similares ao redor do mundo, as características de relevo, solo e
vegetação do bioma Cerrado, também chamado Savana
brasileira, apresentam um aspecto pobre.
Na lógica de ocupação e desenvolvimento históricas, o Cerrado
foi visto como uma barreira a se superar. Essa compreensão
seria a justificativa de um trabalho intensivo de melhoria do
AQUÍFEROS solo e de incentivo às atividades agrárias, mas como mostram
muitas pesquisas, isso é um equívoco. O Cerrado tem um papel
Um aquífero é uma formação geológica
composta por rochas porosas que ambiental e cultural: é uma potência a ser revelada e um
permitem o armazenamento de água desafio a investigar sobre como adequar o processo de
subterrânea. Sua proteção e preservação desenvolvimento brasileiro às suas qualidades. Os avanços da
é de grande importância tanto para a
agricultura nacional, especialmente ligados à exportação,
absorção e purificação da água da chuva,
que penetra no solo, quanto para a transformaram grandes porções do bioma em um dos maiores
manutenção de nossos rios e córregos, celeiros de commodities globais; entretanto, precisamos estar
cujas nascentes surgem a partir de águas conscientes que essa atividade é a causa de impactos com
subterrâneas que chegam à superfície.
dimensões na vida presente e futura dos brasileiros.
No Brasil temos a presença de 27
aquíferos, sendo que o maior em O Cerrado ainda é um dos biomas mais diversos do planeta,
extensão e em volume de água é o concentrando cerca de 5% de toda a diversidade global e
Aquífero Guarani. abrigando quase um terço dos seres vivos do país. Com uma Principais Bacias Hidrográficas Brasileiras e sua interação com o Cerrado. Em destaque, contornado em
(fonte:https://brasilescola.uol.com.br/brasil/a taxa de 40% de endemismo, ou seja, espécies que só são branco, o domínio morfoclimático do Cerrado e na figura ampliada, o município de São Carlos.
quifero-guarani.htm)
encontradas nesse bioma, o Cerrado é um ponto estratégico de Arte por João Gabriel Osti Rosa.

preservação - na prática, esse dado significa que mais de um


terço dessa biodiversidade, se extinta, desapareceria do
mundo em sua condição natural. Atualmente já contamos com
O QUE É BIODIVERSIDADE o desaparecimento de metade da cobertura vegetal do bioma, Essas bacias hidrográficas são responsáveis pela irrigação de pelo menos 40% do território brasileiro,
o que coloca toda a vida selvagem diretamente sob risco. sem contar suas porções que se estendem para países vizinhos. A morfologia do Cerrado não é
Biodiversidade é o termo que enquadra a Na realidade, a participação de sua paisagem promove um responsável por grandes massas de evapotranspiração, como no caso amazônico, porém, sua
variedade de espécies e formas de vida cenário muito maior: o Cerrado é um grande reservatório do vegetação aberta, retorcida, pouco frondosa, mas de longas raízes, e a qualidade de seu solo arenoso
presentes em nosso planeta. Quando
falamos de um ecossistema ou bioma continente Sul-americano. Esse domínio natural configura uma colaboram para que a infiltração da chuva abasteça os aquíferos e nascentes das principais bacias
biodiversos nos referimos a um ambiente paisagem que comparece sobre dois grandes planaltos hidrográficas do país.
que abriga grande diversidade de brasileiros: o Planalto Central em sua maior parte e ao Sul no A preservação do Cerrado é essencial não apenas para a manutenção do bioma em si, mas também
espécies. Planalto Meridional. Lá, o relevo se alterna entre grandes para a proteção de todos os outros ecossistemas presentes no nosso país. As lógicas da natureza são
planícies elevadas e depressões, que conduzem a água das sistêmicas: sem o Cerrado, e com os avanços na desertificação da floresta Amazônica, ameaçamos
chuvas na formação de importantes rios e bacias hidrográficas. secar o Pantanal e impactar a água potável de mais de 60 milhões de brasileiros ao redor do país, que
dependem das oito bacias sustentadas pelos processos hidrológicos naturais do Cerrado.

12
mudanças
climáticas
As mudanças climáticas ao longo das últimas décadas são fatos No âmbito regional, existem iniciativas como a Plataforma Mitigação é a ação movida pelo princípio
investigados e documentados por pesquisadores de todo o Subnacional para o Clima, que visa apoiar ações em rede que de reduzir ao máximo os efeitos danosos
mundo. Essas alterações no clima e temperatura vêm sendo levem a uma maior mobilização pela pauta climática por parte de um evento. No caso dos eventos
climáticos, isso pode ser atingido de
experimentadas pelos extremos e pela periodicidade com que das cidades e dos estados brasileiros. Uma questão estratégica várias formas, porém um conjunto de
vêm acontecendo, significando tanto seca ou chuvas intensas é conectar atores nacionais governamentais às organizações estratégias bastante importante é o
quanto recordes de temperaturas altas e baixas. Por que elas com expertise técnica e atuação local, a fim de promover o aumento da resiliência ambiental, ou seja,
ocorrem? desenvolvimento de políticas e compromissos, dando a incorporação de medidas que reduzam
impactos e que permitam uma recupera-
O efeito estufa é um fenômeno natural, que garante a visibilidade aos resultados da ação climática local. ção mais rápida dos espaços em casos de
manutenção da temperatura terrestre adequada para a vida. A forma e o volume como o consumo de produtos eventos extremos.
Graças a esse efeito, o planeta Terra se torna um ambiente industrializados vêm ocorrendo, o regime do crescimento
habitável com condições climáticas favoráveis imprescindíveis econômico, seus valores e princípios, bem como o campo
para o desenvolvimento dos seres vivos. Esse fenômeno ocorre hegemônico cultural estabelecido na maior parte das
devido à presença de gases na atmosfera tais como o dióxido de sociedades ditas desenvolvidas, têm agravado os problemas
carbono e metano - contudo, os processos econômicos têm ambientais, aumentando, portanto, a emissão desses gases e Carbono zero é o conceito definido por
ocasionado uma maior presença desses gases. provocando impactos ao planeta. qualquer prática que provoque baixa ou
A maior consequência da emissão em alta concentração dos O consumo em larga escala promove uma maior produção nenhuma emissão de gás carbônico, seja
pela adesão de matrizes energéticas de
gases do efeito estufa é o aquecimento global, que significa o industrial, esgotando os recursos naturais. Na cadeia de outra origem que não os combustíveis
aumento da temperatura média na superfície da Terra. As responsabilidades, o consumo individual tem impacto em fósseis, seja pelo alto nível de eficiência
consequências desse aquecimento impactam diretamente os relação à emissão de carbono, mas é coletivamente que isso energética, reduzindo ou zerando as
ecossistemas do planeta, certas espécies se desenvolvem terá maior significado, implicando numa mudança cultural emissões.
apenas em determinado lugar e temperatura. necessária e urgente. Precisamos entender a força maior das
Pensando que tudo é sistêmico, é possível perceber que o nossas ações enquanto indivíduos e povo brasileiro,
aquecimento causa impactos ambientais sociais, culturais e demandando processos de planejamento nos quais as
econômicos. As mudanças climáticas são objeto de estudo de questões ambientais, sociais e culturais estejam relacionadas e
diversas organizações há décadas, para discutir as causas e em primeiro plano. Por isso a importância de planejar com a
impactos gerados e, principalmente, propor alternativas de paisagem do lugar e procurar construir congruência com a
mitigação. natureza, mitigando os conflitos já presentes e recuperando o
Em 1988, foi criado pela Organização Meteorológica Mundial o devastado. Essa é a chave para a construção de uma resiliência
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), ambiental urbana, a fim de procurar adaptação ao período das
em conjunto com o Programa das Nações Unidas para o Meio mudanças climáticas.
Ambiente. O IPCC divulga relatórios que preveem limites para Na escala do município de São Carlos, os eventos de maior
emissão de gases do efeito estufa no âmbito internacional, os presença são as enchentes de grande proporção no período
quais servem de referência para a elaboração de políticas final da primavera e no verão e as estiagens prolongadas nos
públicas mundo afora, além de proporcionar um histórico dos meses de outono e inverno, as quais serão cada vez mais
eventos climáticos. acentuadas. É fundamental pensar estratégias para que esses
Também como resposta ao Aquecimento Global aconteceu o eventos não causem desastres, e para isso, precisamos planejar
evento das Nações Unidas, a ECO 92, a Convenção do Clima que a partir da unidade de paisagem - a bacia hidrográfica -
estabeleceu compromissos e obrigações dos países construindo um território urbano resiliente, capaz de resistir e
participantes. Desde então, o evento desencadeou outras se adaptar. Os impactos da seca prolongada e das queimadas
na paisagem da cidade de São Carlos. Fonte:
convenções para tratar das questões relacionadas ao clima e Alexey Souza, 2021.
discutir alternativas para conciliar o desenvolvimento
socioeconômico e mitigar os impactos ambientais associados,
como a elevação do nível relativo do mar - atribuídas ao degelo
das calotas polares - e as mudança no padrão climático em
âmbito regional, ocasionando variações nos padrões de chuvas
e secas, por exemplo.

14
saneamento
saneamento
“Saneamento” é uma palavra que veio do latim, que se liga à saúde. Para o desenvolvimento social e econômico, a necessidade de
Originalmente, a infraestrutura de saneamento como um sistema água de boa qualidade para manter a vida e a saúde da
integrado surgiu nas cidades após o processo histórico de população deve ser garantida a todos. Isto é um desafio das
industrialização, que se iniciou em meados do século XIX , tornando as gestões urbanas: tratar e transportar a água de forma segura

água, esgoto
cidades muito maiores, mais densas e bastante insalubres. Como o até as pessoas e fornecê-la em quantidade compatível com
oferecimento de água encanada, esgoto, coleta de lixo ou drenagem seus usos é dever das gestões públicas. Os sistemas de
introdução

de águas da chuva não eram serviços presentes e comuns a todas as abastecimento de água devem ser projetados de forma a
cidades, ocorreu grande proliferação de doenças e as epidemias eram atender de pequenos povoados a grandes cidades, variando,
constantes. assim, nas características e no porte de suas instalações. Esse
O planejamento do chamado “Urbanismo Sanitarista” reuniu o sistema se caracteriza por captar a água da natureza e
desenvolvimento técnico e tecnológico do período ao esforço de adequá-la a um padrão próprio para o consumo da população,
diversos profissionais, tornando possível o que temos ainda hoje em retirando impurezas e incorporando estratégias de saúde
dia: um pensamento sistêmico e infraestrutural, em uma série de pública - como, por exemplo, a incorporação do flúor à água.
ações ligadas às águas e aos resíduos, que visam garantir uma cidade A água de qualidade impacta em aspectos sanitários, sociais,
saudável para sua população. prevenção de doenças, conforto e bem-estar, com o
No Brasil, o saneamento básico é um direito assegurado pela aumento da vida média dos indivíduos. A presença de água
Constituição e definido pela Lei nº 11.445/2007 como um conjunto de permite ainda a instalação de indústrias, comércios e serviços e,
serviços, infraestrutura e instalações operacionais de abastecimento consequentemente, o maior progresso das comunidades. Para
de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana, drenagem urbana, que todas essas coisas ocorram, no entanto, é necessário
coleta e manejo de resíduos sólidos e de águas pluviais. planejar o presente e prever o futuro protegendo os mananciais
e águas subterrâneas, tanto no ambiente rural como no urbano.
Outra parte estratégica do saneamento é o tratamento das
águas após o uso. Essa água com características naturais
alteradas é o esgoto e, conforme seu uso (comercial, industrial
ou doméstico), apresentará características diferentes e deverá
ser tratada adequadamente antes de retornar aos rios e
córregos. O esgoto, também chamado “águas residuais”, deve
Canal 1 de Santos, obra de Saturnino de Brito. Através das obras de infraestrutura e drenagem das águas contaminadas, os planos desenvolvidos ser levado a estações de tratamento de forma segura, evitando
por Saturnino de Brito representaram grande melhoria das cidades no início do século XX.
Fonte: Revista Nove, https://revistanove.com.br/nossa-historia/os-canais-de-santos/Acesso em 20 nov de 2021. contaminações de diversos tipos, pois os dejetos humanos
O acesso ao abastecimento de água no podem ser veículos de várias doenças.
Brasil atinge patamares altos, com índices O esgoto industrial, por sua vez, pode gerar resíduos
de atendimento da população atingindo contaminantes que comprometem a vida. Ao providenciar um
83,7% em 2019, demonstrando que
muitos municípios já têm este serviço.
sistema de tratamento de esgoto eficiente evita-se a poluição
Porém, em termos quantitativos, os do solo e dos mananciais de abastecimento de água, sendo
outros 16,7% significam quase 35 milhões uma forma estratégica e esperada de redução de despesas com
de brasileiros sem acesso a água. o tratamento de doenças evitáveis.
Por falta de medidas infraestruturais dos
municípios, falta de investimento e de Estação de Tratamento de Esgoto. Fonte: Ivan Bandura via Unsplash, 2018.
educação sanitária, grande parte da
população rural e mais pobre tende a
lançar os dejetos diretamente sobre o
solo, criando, desse modo, situações
favoráveis à transmissão de doenças. No
Brasil os números estão bem longe dos
adequados. Apenas 54,1% dos brasileiros
têm acesso à coleta de esgoto, sendo que
nas regiões norte, nordeste e sul não
chegam a 50% da população com atendi-
mento (respectivamente 12,3%, 28,5% e
46,4% segundo o SNIS, 2019).

16
saneamento
resíduos sólidos

Uma dimensão que passa por grande transformação em Em a São Carlos, a situação atual dos resíduos sólidos, que
relação ao saneamento nas cidades é a dos resíduos sólidos. A contempla o período desta pesquisa e elaboração da cartilha
geração de resíduos sólidos é consequência da atividade (2020/2021), é de responsabilidade da Prefeitura Municipal, que
humana na Terra; considerada parte intrínseca do ciclo de vida contratou três diferentes atores sob sua responsabilidade de
de um produto, é o descarte após o uso. gestão. São eles:
Existem três caminhos que um resíduo pode tomar: i) o reúso, -A empresa São Carlos Ambiental, responsável pela coleta
que consiste na inserção do produto em nova produção como regular, transporte e tratamento de resíduos domiciliares e de
matéria-prima, algo que se relaciona ao ciclo de vida do resíduos sólidos de saúde. Além disso, a empresa também é
material e à economia circular; ii) a reciclagem ou responsável pela operação do aterro de São Carlos;
remanufatura, quando ocorre a transformação física do - A Cooperativa de Trabalho dos Catadores de Materiais
material em produtos novos; iii) o tratamento e a disposição Recicláveis de São Carlos-SP (Coopervida), responsável pela
final, em que o material passa por algum processo que diminua coleta seletiva dos materiais passíveis de reciclagem;
o seu volume, ou a sua periculosidade, por exemplo, para então - A empresa Terra Plana, responsável desde 2019 pela limpeza
ser disposto em um espaço em que possa ficar, tal como um urbana e por gerir localmente os Ecopontos (PEVs) da cidade.
aterro sanitário. Atualmente, 100% da área urbana é coberta pela coleta regular;
A reciclagem e a remanufatura são processos comumente na área rural, a coleta é feita por meio de contêineres. Segundo
realizados em indústrias. O meio mais popular de conectar pesquisa publicada pela Cetesb, em 2019, a produção atual de
quem produz o resíduo e a indústria recicladora é a coleta Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) de São Carlos foi de 215,48
seletiva que, segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos toneladas por dia. A estimativa da Coopervida, entretanto, é de
(PNRS), pode acontecer de duas formas: que sejam coletadas 100 t/mês de resíduos passíveis de
Porta-a-porta: os materiais são previamente separados por reciclagem. A respeito da geração de entulho, os Resíduos Da
quem consumiu e gerou o resíduo e são coletados diretamente Construção Civil (RCC,) a estimativa chega a um valor de 1,93
nas residências, em dias estipulados pelo prestador de serviço. kg/hab x dia, o que, segundo os autores do estudo, é um valor
Ponto de Entrega Voluntária (PEV): os geradores, ou seja, elevado se comparado à média dos municípios.
quem consumiu e gerou o resíduo a ser descartado, devem
levar os resíduos para lugares específicos para a coleta. A
implantação de PEV varia de município para município. Os
PEVs podem ser instalados de diversas formas: em espaços
livres e públicos com grande movimentação e de fácil acesso
(inclusive, para carros), como ruas, avenidas e praças, bem
como em pontos estratégicos da cidade, geralmente ligados
a instituições, como escolas, empresas privadas ou públicas.
É possível, ainda, adotar uma abordagem mista, utilizando
ambas as formas.
A questão do saneamento é ampla e impacta nossa vida. Sua
infraestrutura pode se articular em relação a outras, ligadas aos
espaços livres urbanos, parques, praças, ruas e avenidas.
Os lugares de coleta - os PEVs - podem ser pensados como
lugares que participam ativamente da educação ambiental.

Caçamba de entulho com a presença de descarte de resíduos: uma questão ligada à educação
ambiental. Fonte: Imagem por Valéria Bomfim, 2017.

18
Destaca-se, ainda, a presença de áreas de descarte irregular de Um dos principais problemas apontados pelo Plano Municipal
RCC no gerenciamento dos resíduos em São Carlos. Essas áreas de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) de São
costumam ser predominantemente espaços livres públicos Carlos foi justamente a qualidade da gestão pública: a
com pouca manutenção, muitas vezes próximos a corpos desarticulação entre as secretarias da prefeitura, a complexa
d'água, gerando um problema ambiental que necessita de fiscalização dos contratos públicos, a falta de sistematização
atenção e solução. dos custos para o gerenciamento de resíduos e a ausência de
A Política Nacional de Resíduos Sólidos desde 2010 obriga os canais de comunicação com a população.
municípios a realizarem seus planos municipais: São Carlos Aqui, duas questões se articulam e podem significar a
aprovou seu Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos entrada da cidade e do município no rol de cidades que
Sólidos (PMGIRS) em 05 de novembro de 2020. Esse foi um pensam e planejam seu futuro sobre bases contemporâneas:
passo essencial para a gestão dos resíduos do município. sustentabilidade e resiliência urbana se ligam
O PMGIRS, além de elaborar um diagnóstico da questão dos fundamentalmente a uma visão sistêmica, na gestão e em
resíduos de maneira ampla, elaborou dois cenários e alguns seu território. Os resíduos sólidos são uma pauta estratégica de
objetivos a serem alcançados para se obter uma gestão mais geração de economia, emprego e diminuição de
efetiva e eficiente. vulnerabilidade social. Seu tratamento e sua disposição se
Sobre os cenários, um é denominado tendencial e mostra o que associam ainda a uma mudança de cultura necessária.
pode acontecer se nada for feito em relação à coleta e O que se propõe aqui é que o lugar no qual essas ações se
destinação dos resíduos do município. O outro cenário é articulam seja a paisagem em suas múltiplas dimensões,
denominado desejável e apresenta o que seria ideal de se com especial foco nos espaços livres: concretamente, o
desenvolver para adequar a cidade em particular e o município sistema de ruas, praças e parques, que associados às
como totalidade a uma gestão comprometida com um futuro instituições e aos lugares estratégicos da cidade, possam
sustentável. constituir um sistema capaz de abarcar políticas públicas
Especificamente sobre o aterro, o Plano destaca como grande transversais que contemplem preservação, lazer, saúde e
fraqueza a presença elevada de materiais passíveis de educação ambiental.
reciclagem e de orgânicos, que poderiam ser incorporados na
coleta seletiva e em sistemas de compostagem, sendo que
sistemas poderiam tanto receber mais atenção da prefeitura
quanto ser expandidos. O plano destaca ainda a necessidade de
se implementar e efetivar os sistemas de reutilização do
material em novo ciclo produtivo para determinados tipos de
resíduos.
Em outras palavras, a questão do resíduo pode e deve ser
compreendida a partir de perspectivas contemporâneas: as
pesquisas e experiências mostram que o resíduo pode ser
Descarte irregular de resíduos sólidos em áreas públicas em São Carlos. Separação de resíduos sólidos para reciclagem.
tanto transformado, quanto inserido em um novo ciclo de Fonte: Maria Cecília Lima, 2019. Fonte: Jasmin Sessler via Unsplash, 2020.
vida produtiva.

20
saneamento
drenagem urbana

Em um primeiro momento, a drenagem urbana considerou a É importante que haja um conjunto de ações legais e práticas articulado à participação da
água em excesso algo inconveniente, indesejável, prejudicial e comunidade para pensar e decidir de forma integrada as ações do município, a fim de proteger
danoso. Originárias desse momento, as medidas de drenagem o meio ambiente em sua totalidade como sistema, e suas águas como patrimônio natural, de
mais tradicionais e convencionais - comumemente chamadas preservação e uso da população.
de engenharia cinza - limitavam-se à coleta e ao afastamento o A dimensão do uso, compreendida em seus aspectos funcionais e sociais, tem na cultura um aspecto
mais rápido possível dessas águas. Tradicionalmente, que vem sendo negligenciado pelas gestões.
subdivide-se a drenagem urbana entre microdrenagem e As dimensões cultural, simbólica e imaterial dos corpos hídricos que atravessam as cidades são aqui
macrodrenagem. mencionadas como uma vital estratégia na criação de lugares e paisagens. A realidade de São Carlos
A microdrenagem é projetada para coleta e transporte de água não é muito diferente da maior parte das cidades brasileiras: a canalização e, por vezes, o
- galerias, sarjetas, bueiros, pequenos canais, por exemplo. Toda tamponamento, nos fazem esquecer ou nunca perceber que naquele lugar passa um córrego, a não
a água das chuvas corre em direção ao ponto mais baixo do ser quando os pontos mais baixos do relevo alagam. Dessa forma, os meios de comunicação e a
relevo, que de modo geral termina a ser um corpo d'água, população terminam por noticiar e atentar para suas águas apenas quando elas são motivo de
córrego ou rio. A macrodrenagem diz respeito ao caminho das desastres, especialmente nos períodos de chuva intensa.
águas no território de modo abrangente, compreendido a partir É necessário, portanto, aproximar e conectar a população e as águas, revelando tanto dimensões
das bacias hidrográficas, pela ação do relevo e da gravidade. Ela objetivas, ligadas ao consumo e à sobrevivência, quanto subjetivas, ligadas à vida em suas formas
pode ser projetada como a infraestrutura cinza da sutis, mas que alimentam o descanso, o lazer, a experiência estética, a capacidade de perceber,
microdrenagem, com galerias e canais de maior calibre, ou ser valorar e preservar. Ações que estabelecem princípios de intervenção atentos às suas dinâmicas
simplesmente o escoamento das águas pelas ruas e calçadas e aos seus ciclos têm impacto educacional e formativo. Por meio disso, pode-se perceber a
impermeabilizadas, o que em momentos de chuva severa gera importância de pensar o saneamento como infraestrutura que associa técnica e cultura.
grandes enxurradas. O tratamento do esgoto no município de São Carlos e a concepção e projeto da estação de
Entretanto, essa maneira de se pensar e construir o processo de tratamento de esgoto da ETE Monjolinho passaram por muitas análises e formulações para melhor se
drenagem é problemática e gera conflitos sociais e ambientais, adequarem às necessidades do município. Em Santa Eudóxia e Água Vermelha, existem mais duas
visto que promove tensões com o regime hidrológico em estações de tratamento que se encarregam de tratar o esgoto desses distritos.
ambientes urbanos. Embora busque resolver completamente a O Plano Municipal de Saneamento de São Carlos (PMSSanCa) prevê diretrizes para o esgotamento
questão da drenagem das águas pluviais, a engenharia cinza sanitário do município; algumas áreas da cidade, porém, permaneceram à margem do plano,
acaba gerando outros problemas. principalmente as áreas das propriedades agrícolas e de recentes assentamentos. Essa realidade
A mudança nesse modelo começou a ser pensada ainda na causa conflitos com o meio ambiente e impacta diretamente na qualidade da água de uso para todo
década de 1970, buscando compensar as consequências o município. As estratégias para o desenvolvimento de ações de saneamento devem ser
negativas do processo de urbanização, em crescente conflito integradoras e sistêmicas, contemplando não apenas as dimensões técnicas relacionadas ao
com os processos naturais. O LID (do inglês, Low Impact abastecimento e tratamento, mas também dimensões sociais e culturais, que necessitam ser a
Development), também conhecido, dentre vários outros base de uma atualização desse importante plano.
termos, por “Urbanização de Baixo Impacto Hidrológico”, foi
ganhando relevância e aplicação nas últimas décadas. Em
Canalização e encontro dos córregos Mineirinho, Gregório e Processo de erosão e ausência de vegetação no córrego do Tijuco
sua maioria, essas alternativas visam diminuir a vazão à jusante Monjolinho e as infraestruturas técnicas de drenagem urbana: Preto, colocando em risco a população da região.
- ou seja, o fluxo de águas na direção do ponto mais baixo - exemplo da chamada engenharia cinza. Fonte: Maria Cecília Lima, 2019.
Fonte: Maria Cecília Lima, 2019.
baseando-se em processos de armazenamento, detenção,
retenção, interceptação, diminuição da velocidade das águas,
aumento da evapotranspiração e infiltração das águas pluviais
através do plantio de árvores.
Para o gerenciamento e definição das regras de abastecimento
das águas da cidade, o município de São Carlos possui o Plano
Municipal de Saneamento de São Carlos (PMSSanCa), feito em
2012. O plano é de grande importância estratégica, mas não
consegue resolver sozinho todos os problemas trazidos pela
qualidade de urbanização que ocorreu.

22
Urbanizar é construir as condições de ocupação humana sobre Todos esses processos de planejamento e projeto, que devem
um território de modo que a população possa se desenvolver e ser construídos em diálogo com a população, materializando-se
prosperar. O processo de urbanização realiza profundas e transformando a paisagem da cidade. Aqui, formula-se a
alterações no meio físico, interferindo, desse modo, nos ciclos da hipótese de que é possível criar espaços articulados em um
natureza e na paisagem original. sistema e preparados para suportar os impactos das
Atualmente, sabemos ser possível estabelecer esse processo de mudanças climáticas com base em um planejamento
ocupação estando atento aos ciclos naturais, de modo a pautado pela infraestrutura verde.
produzir menor impacto. Essa postura contemporânea, que tem O foco deste trabalho é propor que o lugar-chave para que essas
matrizes técnica, sociocultural e ética é transformadora: ações ocorram sejam os espaços livres de edificação na cidade -
podemos criar sistemas de saneamento que operem outros as ruas e avenidas, as praças e os parques existentes e criados.
benefícios - drenar e verdejar é uma associação estratégica e Esse esforço só ganha significado maior se as ações tiverem os
pouco explorada em nossas cidades de forma sistêmica e cidadãos e a vida de modo geral como horizonte e princípio.
planejada. O que se pretende fomentar são lugares que, ao mesmo
A drenagem é tópico no Plano Municipal de Saneamento tempo em que funcionam como infraestrutura que
(PMSSanCa) de 2012. O município conta ainda com um Plano salvaguarda e promove águas, vegetação, sustentabilidade e
Diretor de Drenagem Urbana Ambientalmente Sustentável de resiliência, potencializam as relações entre a comunidade e a
2011. Contudo, apesar do que o nome sugere, trata-se de um natureza, melhorando, dessa forma, a qualidade do lazer, do
documento técnico cujas soluções apresentadas ainda se encontro e da saúde da população.
baseiam na drenagem tradicional, com com muitas sugestões O que poderia ser feito para melhorar a cidade para as pessoas?
de projetos que seguem a lógica de coletar e afastar a água. As principais questões das cidades resilientes são a preservação
O plano não aprofunda nenhuma estratégia de consulta à da vegetação e dos mananciais. A presença de infraestrutura
comunidade e formas de articulação com políticas de educação verde aumenta as possibilidades de infiltração de água, bem
ambiental. O que se pode observar em ambos os documentos é como a diminuição da temperatura ao longo de toda a extensão
a pouca presença do pensamento sistêmico contemporâneo urbana. A existência de espaços livres articulados em um
baseado na infraestrutura verde, no Low Impact Development sistema pode vir ainda a revelar uma paisagem significativa e
(LID) e nas Soluções Baseadas na Natureza (SbN), que podem memorável para seus cidadãos.
instalar novo paradigma, revelando e construindo paisagens O sistema de espaços livres é composto de vias arborizadas com
significativas para a vida do cidadão são-carlense. dispositivos drenantes - como jardins e valetas - qualificadas
São Carlos possui aporte legal para planejar e implementar para o caminhar e pedalar em conforto e segurança. Essas ruas
estratégias e planos de drenagem urbana dentro da lógica e avenidas ligam praças e parques, urbanos e periurbanos,
contemporânea. Os planos precisam ser refeitos dentro dessa formando, junto aos corpos d’água protegidos, um sistema
perspectiva que, ao incluir a população, informa, debate e verde e azul que conecta toda a cidade. O sistema promove,
constrói o vínculo da parceria: o fundamento da governança. ainda, lugares estratégicos para a presença de instituições ativas
Na cidade de São Carlos, a água para abastecimento do e frequentadas, materializando parte daquilo que se quer dizer
Você sabia? Quando as águas da chuva município é proveniente superficialmente do córrego do quando se afirma o direito à cidade e à paisagem.
passam pelas ruas e avenidas e vão pelo Monjolinho e do Ribeirão do Feijão. Há também a captação
sistema de drenagem cinza dos bueiros e
galerias diretamente para os rios, elas
subterrânea que é feita do aquífero Guarani por meio de 28 Vista aérea de parte da cidade de São Carlos. Fonte: QUAPA São Carlos, 2014.
carregam impurezas presentes nas calça- poços profundos geridos pelo Serviço Autônomo de Água e
das e asfalto. Constituir um sistema misto, Esgoto (SAAE), o responsável por realizar os serviços relativos ao
que una a drenagem cinza à infraestrutu- abastecimento de água e coleta de esgotos.
ra verde, é um começo promissor. Implan-
tar jardins e valetas drenantes é iniciar um
A responsabilidade de tratar os esgotos é igualmente
processo importante de limpeza das importante - o retorno das águas livres de resíduos aos córregos
águas antes que elas cheguem aos córre- é um dever compartilhado por todos os cidadãos de uma bacia
gos. Esses jardins ainda podem embele- hidrográfica.
zar a cidade, promover sombra, melhorar
a temperatura, produzir oxigênio e captu-
A água de São Carlos não vem de rios e córregos que passaram
rar carbono, ajudando, portanto, a melho- por outras cidades e que precisam receber maior tratamento,
rar o ar de nossa cidade. pois a passagem por cidades em geral significa poluição. É um
privilégio ambiental estar em uma região rica em mananciais, e
por isso é importante proteger e cuidar das águas tanto em suas
nascentes como no seu percurso no interior da cidade.

24
espaços livres
potencialidades urbanas

Como parte integrante do processo de desenvolvimento de uma


cidade no território, organizando e surgindo simultaneamente
ao construído, os espaços livres são todos aqueles que se
apresentam sem edificações - são as ruas e avenidas, praças e
parques, e também os terrenos que ainda não foram ocupados
ou que devem permanecer livres por força da lei, como as Áreas
de Preservação Permanente (APPs) ao longo dos rios e
córregos.
Visualmente, muitos dos espaços livres são perceptíveis pela
presença de vegetação, no caso de parques, áreas protegidas e
ruas arborizadas, mas podem ser também espaços livres sem
vegetação, como estacionamentos, ruas e praças não
arborizadas.
Os espaços livres de uma cidade estão vinculados a uma
dinâmica fundiária: são públicos ou privados, conferindo
diferentes possibilidades de apropriação. De maneira geral, no
caso dos espaços livres privados, as principais formas são lotes
vazios e glebas, que variam em tamanho e extensão. As glebas
são maiores e ainda não receberam processo de loteamento,
causando, por conta da sua extensão, descontinuidade no tecido Vista do Parque do Kartódromo em São Carlos, SP. Fonte: Imagem por Gabriel Francisqueti, 2018.
urbano. No caso dos espaços livres públicos, eles recebem
denominações de parques, praças, canteiros, ruas e áreas
protegidas com vegetação nativa remanescente. Muitas vezes,
porém, tais espaços não são qualificados pela implantação de
projetos e seu aspecto é próximo do que geralmente
denominamos “terrenos baldios”.
Os espaços livres de uma cidade têm relação com o seu contexto
de desenvolvimento e história. Levando em conta o papel que
desempenham para a vida urbana, as praças e os parques
consolidados e em uso ao longo dos anos participam da
memória e imaginário da população. Por outro lado, há lugares
que, mesmo qualificados com projetos, podem ser pouco
ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
utilizados. Isso ocorre por diversos motivos, como a pouca ou
As APPs e reservas legais, como as Áreas nenhuma manutenção, a ausência de sensação de segurança e
Vista do Parque do Kartódromo em São Carlos, SP. Marquise e lagoa de retenção do Parque do Bicão, São Carlos - SP.
de Proteção Ambiental (APAs urbanas), o abandono de hábitos de vida ao ar livre em espaços públicos. Fonte: Imagem por Gabriel Francisqueti, 2018. Fonte: João Gabriel Osti Rosa, 2021.
que podem estar presentes no perímetro O importante de se ressaltar é que os espaços livres públicos
urbano, são espaços estratégicos para a
têm um papel fundamental na vida urbana, constituindo O maior impacto positivo das potencialidades dos espaços livres se dá na possibilidade de
preservação da vida nos territórios, pois
eles garantem a qualidade da água pela lugares de encontro e lazer, de práticas esportivas e descanso, planejar um sistema de infraestrutura que, em associação com as águas urbanas (dos córregos e
presença da vegetação ao longo dos de preservação e criação de resiliência urbana. Os espaços dos rios), conecte todos esses espaços, formando, assim, uma rede. Além de ter papel destacado
córregos e nascentes. No caso da APA, livres são também estratégicos para as cidades, porque no lazer, saúde, encontro e cidadania, essa rede contribui de modo decisivo com o meio
tratam-se de áreas onde a vegetação se ambiente. Parques, praças e ruas arborizadas associados a áreas livres legalmente
quando pensados sistemicamente e qualificados como
manteve desde o surgimento da cidade e
sua salvaguarda tem importância em infraestrutura verde, desempenham funções mitigadoras, protegidas, como as APPs, formam uma rede - corredores ecológicos que sustentam a vida e
termos de proteção ambiental e patrimô- drenando, desse modo, as águas da chuva. mitigam os efeitos adversos do processo de ocupação e o conflito gerado pelo excesso de
nio cultural, podendo ser reservas flores- Com o plantio de árvores, esses espaços livres melhoram a áreas impermeabilizadas.
tais, espaços historicamente reconheci- Uma informação estratégica: esse modelo de planejamento deve realizar um necessário trânsito
qualidade do ar, sombreiam e diminuem o calor. Há ainda outra
dos, ou que podem vir a se constituir uma
referência para os cidadãos. dimensão vital: o aumento da biodiversidade de fauna e flora. A entre escalas, do plano ao projeto, do geral ao local. Em outras palavras, não basta que a rede seja
resiliência urbana - ou seja, a capacidade que as cidades têm proposta - é fundamental olhar os lugares nas suas particularidades, percebendo suas
de reduzir os efeitos danosos dos eventos climáticos extremos qualidades e propondo lugares que respondam às suas demandas. Trata-se de um processo
- se liga a essa proposição de formação de uma rede verde e que pode ser rico e formador, pois inscreve a ação no estabelecimento de diálogo entre os
azul, a qual se desenha sobre o sistema de espaços livres. cidadãos e tem em seu horizonte produzir lugares memoráveis para a população.

26
Ainda em relação ao sistema de espaços livres e ao REDE VERDE E AZUL
planejamento de infraestrutura verde, ressalta-se a importância
do reconhecimento de espaços significativos da paisagem: as A proposta de planejar sistemicamente as
cidades ganhou contemporaneamente
instituições, desde as de saúde, tais como postos e hospitais; os um modo de distinguir e pensar relações
equipamentos culturais, como museus e locais de exposições; e a partir da ideia de rede que se elabora
equipamentos de educação, como por exemplo escolas e tendo por base os espaços livres de
parque do kartódromo creches. Essas instituições são capazes de trazer mais vida aos edificação. A rede azul seria formada
pelos corpos de água da cidade e a rede
sistemas de espaços livres, assegurando a presença de pessoas e verde pelos espaços com vegetação.
promovendo a sociabilidade e segurança no uso e fruição. A hipótese aqui é a de que os processos
Essa rede impacta positivamente a cidade das mais diversas de planejamento privilegiem esses
formas, possibilitando que ocorra um incremento no uso sistemas, pois eles são capazes de
construir ambientes urbanos mais saudá-
através de políticas públicas ligadas ao ensino, cultura, saúde veis e resilientes.
preventiva e mobilidade. É nesse cenário que as esferas
ambiental, sanitária e didática se encontram, sendo papel
fundamental das instituições a melhoria da qualidade de vida
urbana por intermédio da educação ambiental: a construção do
entendimento coletivo da importância desses espaços para as
pessoas e para o ambiente.
Uma das principais bases para essa recuperação do verde no
espaço se dá por meio da arborização urbana. Ela acontece nos
parques, nas praças e nos jardins, isto é, em espaços que
permitem uma maior presença de indivíduos e espécies. Porém,
sua compreensão enquanto sistema soma os terrenos e
Trecho do território urbano da cidade de São Carlos onde se localiza o Parque do Kartódromo. Ponto de tributação de bacias glebas particulares aos espaços livres verdes e públicos. A
do córrego Santa Maria do Leme e do córrego do Tijuco Preto no córrego do Monjolinho. Um potencial sistema de espaços
livres é visualizado a partir da rede verde e azul que é informada pelos dados do território - ver cartografias abaixo. ligação entre elas se dá através de corredores verdes
Fonte: Natália Vieira de Castro Carli, 2018. formados pelas ruas e avenidas, que garantem uma
associação entre infraestruturas de mobilidade e a
arborização. Essa associação constrói caminhos mais amigáveis
ao pedestre e ciclista, além de transformar os eixos de transporte
público em belos lugares. Por meio disso, o impacto é notável:
são eixos de mobilidade de menor emissão de carbono;
constituem uma maior força promotora de biodiversidade;
capturam o gás carbônico e produzem oxigênio de forma
expressiva através das áreas arborizadas. Tornam-se artérias que
oxigenam o urbano, fazendo, desse modo, a ligação entre
espaços: são elementos que marcam a vista, referenciam
lugares e permanecem ativos na memória.

Mapa de densidade demográfica da região de estudo. Mapa de usos da região de estudo.


Fonte: Natália Vieira de Castro Carli, 2018. Fonte: Natália Vieira de Castro Carli, 2018.

28
espaços livres
Os espaços livres nas cidades podem desempenhar diversas alimentos utilizando menos produtos industrializados, adubos
funções, mas uma dimensão que vem sendo explorada em químicos e agrotóxicos. Todo esse movimento se liga ao
muitas cidades do mundo e que ainda não é muito comum no princípio que nutre esta cartilha: cidade e natureza devem estar
Brasil é a de espaço livre que se torna produtor de alimentos: em congruência e as formas de produção não devem gerar
a chamada agricultura urbana. conflitos com o meio ambiente.
Essa iniciativa nasceu da constatação por parte de Os exemplos de práticas relacionadas à permacultura e aos
que alimentam

pesquisadores, governos e organismos internacionais de que, modelos de agrofloresta, somados às ações de investigação e
com o crescimento urbano e a concentração da população nas desenvolvimento agrícola contemporâneos, consolidam uma
cidades, as pessoas passam a ter uma relação menos próxima mudança de cultura em relação à produção de alimentos:
com a alimentação, não sendo capazes de reconhecer de onde essas ações são o resultado do encontro de práticas ancestrais
vem o alimento que está sobre a mesa. Parece natural que e tecnologia atual.
encontremos nossos alimentos nas lojas, nas feiras e nos A agricultura urbana é também uma questão fundamental de
supermercados e que isso não seja um problema, a não ser que educação. Semear, regar, ver crescer, colher e comer, compõem
os alimentos faltem. Contudo, esse desconhecimento tem sido um ciclo que, se acompanhado, é capaz de transformar uma
apontado como um problema global de saúde pública e cultura: atenção ao que se come, suas qualidades e as condições
economia, impactando, assim, a vida em particular e de produção desse alimento. Porém, a gradual perda de contato
coletivamente. com a produção dos alimentos pode não ser uma questão para
Ao mesmo tempo, é importante perceber a presença de muitos cidadãos. E mais: a forma de produção do alimento ou
iniciativas em diferentes partes do mundo. Elas mantêm acesa como ele chegou às prateleiras dos fornecedores pode não ser
essa ligação entre a produção de alimentos e o consumo, um assunto de interesse para todos, mas a saúde certamente
materializada sob diferentes formas: são os pequenos será. Alimentos produzidos em condições antes chamadas
produtores que têm suas propriedades ao redor da cidade e alternativas, com adubos orgânicos e combate às pragas
abastecem os lugares de venda, são as pessoas que plantam utilizando métodos naturais podem ser objeto de políticas
em pequenos lotes urbanos e até mesmo nas ilhas que públicas, que possuem como pauta a chamada segurança
separam vias de avenidas, ou ainda em espaços livres embaixo alimentar.
de linhas de transmissão. Imaginando agora essa ideia em relação a São Carlos: esse
Tudo isso se liga a um movimento mundial de valorização cinturão verde que poderia contornar a cidade já acontece de
dessa agricultura, que pode ter um papel estratégico na forma descontínua em seu lado Leste, com a presença de poucas
construção de uma cidade mais sustentável e saudável. Os propriedades que se dedicam ao cultivo e venda de produtos. As
alimentos produzidos nas proximidades da cidade, ou até nascentes e o curso d’água, como vimos, são protegidos por lei,
mesmo dentro dela, não têm de viajar para chegar à sua mesa. pois precisam ser preservados para assegurar a presença e
O transporte encarece o produto, gera poluição por CO² e qualidade da água que abastece a cidade.
significa que a produção não participa da economia local. Propõe-se, então, a associação entre a segurança alimentar e
INICIATIVAS INTERNACIONAIS Assim, a produção de alimentos nas imediações da cidade é segurança hídrica: se nos lugares em que as águas nascem, o
algo que gera empregos e renda. Formando um cinturão verde cultivo de alimentos for aquele que não se utiliza de adubos
A Organização para a Alimentação e produtivo ao redor da cidade, garantimos que nossos alimentos químicos e pesticidas industrializados, teremos um celeiro de
Agricultura (FAO) é uma agência das
Nações Unidas fundada em 1954 que
possam ser plantados em nossa região e isso tem outros alimentos saudáveis produzidos. Ao mesmo tempo em que se
lidera os esforços internacionais para impactos positivos. assegura que as terras que devem continuar vegetadas para
erradicar a fome no mundo. Seus objetivos Naturalmente, a produção se conecta às estações do ano, à proteger as águas assim permaneçam.
principais são: erradicar a fome, a insegu- qualidade do solo e à disponibilidade de água. Todos esses
rança alimentar e a desnutrição; erradicar
a pobreza e fomentar o progresso econó-
fatores naturais são inerentes à produção de alimentos e estão
mico e social para todos; gerir e utilizar de relacionados ainda à oferta de terra disponibilizada para o Projeto Mulheres do GAU (Grupo de Agricultura Urbana): Coletivo de mulheres,
forma sustentável os recursos naturais em plantio, bem como à distribuição que faz chegar a diferentes agricultoras urbanas, atuantes no Viveiro Educador, no bairro União de Vila Nova
(antigo Jardim Pantanal) localizado na várzea do Rio Tietê, Sub Prefeitura São
benefício das gerações presentes e pontos da cidade aquilo que foi produzido e colhido. Observa-se Miguel Paulista. O projeto foi criado e incubado pela CDHU e tem como objetivo
futuras. Com 194 Estados Membros, a FAO
trabalha em mais de 130 países em todo o
na cidade de São Carlos a existência dessas iniciativas, que já principal gerar segurança alimentar e renda, através da agroecologia e do
mundo.(fonte: https://www.fao.org/portu- ocorrem a partir de alguns produtores e que podem ser resgate da cultura do plantar e do cozinhar junto.
gal). ampliadas. Fonte: Gabriela Rahal e Mulheres do GAU, 2010/2020
Quando se fala sobre qualidade do alimento, o que está em
pauta é o modo como ele foi plantado: o que deve ser levado ao
conhecimento de toda a população é que é possível produzir

30
participação
A cidade é uma forma de organização humana muito antiga -
sua existência milenar surgiu para prover as nossas necessidades
popular
mais básicas e nos proteger das ameaças. Sua existência moldou
novas tecnologias, culturas e novos modos de organização no
território ao redor do mundo. Das diversas formas de cidade, suas
origens e funções, um vínculo comum na história é sua qualidade
de condensador social, a convivência e articulação das pessoas na
cidade sempre foi potencial fonte de conflitos, mas também de
encontros e trocas essenciais para o desenvolvimento. No tempo
em que vivemos, além de facilitar a acumulação material e de
recursos, como alimentos, ferramentas, produtos, a cidade
também é essencial na formulação de alternativas para outras
necessidades humanas, imateriais, como a cultura, a arte, o lazer
e a informação.
Hoje, no Brasil, já somos um país urbano e contamos com uma
Constituição que assegurou que essa dominância recebesse
atenção especial: o Estatuto da Cidade surge como
instrumento que pode garantir aos cidadãos o direito a
cidades mais justas e democráticas. Infelizmente, na prática, as
cidades brasileiras ainda apresentam realidades desiguais e
desequilibradas. A segregação socioespacial e os conflitos com o
meio ambiente são desafios que devem ser enfrentados com
base em princípios como equidade, preservação, recuperação e
bem comum.
Documentos, relatos e experiências testemunham que, para que
as mudanças alcancem efetividade, devem ser construídas com
a população. Sem que ela seja envolvida e esclarecida, não há a
compreensão, o compromisso e o engajamento necessários para Atividade de campo do Grupo de Trabalho de Parques Urbanos - São Carlos. Fonte: GTPU, 2018.
A Constituição Brasileira de 1988, que a gestão cotidiana seja compartilhada como
também conhecida como “constituição
cidadã”, representa várias conquistas
responsabilidade de todos. Trata-se de uma construção coletiva, representação se torna mais efetivo, pois se forma uma rede
sociais e ambientais. Nela constam leis informada por corpo técnico interessado, empenhado e que tem entre cidadãos e representação na gestão. É, portanto, parte da
fundamentais que salvaguardam e como horizonte estabelecer um diálogo contínuo e sistemático, construção daquilo que se denomina “governança”.
regulam questões importantes como leis formador de uma cidadania consciente e ativa. Para a formação de uma associação de bairro, é necessário o
ambientais de demarcação de áreas
protegidas, e leis sociais que garantem
Vivemos em uma sociedade que se baseia na representação. engajamento dos moradores e a ciência dos direitos e deveres Outra maneira de participação ativa e
direitos básicos de educação, saúde e Elegemos nossos representantes e a gestão da cidade é feita para a promoção de melhorias locais. Bairros que possuem cidadã são as manifestações sociais que
cidadania. Somado à Constituição, temos com base nesse modelo. Contudo, essa representação não pode associações cuja atuação é participativa tendem a ter maior buscam evidenciar insatisfações popula-
res com o objetivo de reverter a situação
o Estatuto da Cidade, documento que ser uma carta em branco que entregamos ao gestor. Deve haver visibilidade e benfeitorias em seus equipamentos públicos. Em atual do governo. A liberdade de manifes-
regula questões urbanas complexas, de
ordem fundiária, ambiental, fiscal e até
um plano e um comprometimento com assuntos e questões, São Carlos, na bacia hidrográfica do Gregório, existem, por tação é um direito constitucional, reflexo
mesmo social, sendo um corpo de que devem ser assistidos e cobrados. Essa cobrança pode ser exemplo, a Associação de Moradores Jardim Cardinalli e da democracia, e possibilita a expressão
referência para políticas públicas e reser- pessoal, mas ela é muito mais efetiva quando realizada Associação de Moradores e Proprietários da Lagoa Serena, que de anseios coletivos comuns. Existem
também as audiências públicas e os
va de áreas de intervenção e projeto, coletivamente. têm se posicionado em relação a ações estratégicas para a comitês municipais, que são abertos
definindo porcentagens de áreas para
parques, unidades de conservação,
Uma das formas de organização social mais efetiva que melhoria da qualidade de vida dos moradores e também do para a população. Nesses lugares, pode-
praças e arborização. E graças a esses podemos recorrer municipalmente é a da Associação de meio ambiente e da paisagem urbana. mos ficar a par dos acontecimentos e
documentos, podemos exigir que as Moradores. As Associações de Moradores são administradas por É natural que essas organizações demandem tempo e energia decisões do município. Participar de
organizações e eventos é um exercício de
administrações públicas cumpram com os uma diretoria que segue os regimentos estabelecidos pelo seu para a concretização das melhorias locais, e, por vezes, não são cidadania extremamente importante e
parâmetros estabelecidos por eles, a fim
de atingir cidades mais justas, saudáveis,
estatuto e pode oferecer diversas atividades: esportivas, artísticas atrativas a todos os moradores. Compor um grupo não é apenas enriquecedor para aprender mais sobre o
verdejadas e resilientes. e comemorativas da comunidade. A associação pode ainda ter compor necessidades e interesses, mas também é município e manter-se sempre atualizado.
maior ação política, fiscalizando serviços públicos e a compartilhar sonhos. O que se pode ter clareza é que a cada
infraestrutura do bairro; é a representação dos moradores diante conquista coletiva fortalecem-se os laços da Associação, o que
da prefeitura e câmara dos vereadores da cidade, que garante favorece a participação comunitária.

32
dos parques urbanos de são carlos
grupo de trabalho de planejamento

O Grupo de Trabalho de Planejamento dos Parques Urbanos


de São Carlos (GTPU) foi oficialmente criado em 2017, por meio
de uma Resolução do Conselho Municipal de Defesa do Meio
Ambiente – COMDEMA (Resolução 01/17, de 29 de novembro de
2017).
Atualmente, o GTPU é um coletivo multidisciplinar composto
por mais de 30 pessoas, representantes de universidades,
movimentos sociais e gestão pública. Esse coletivo vem sendo
cada vez mais reconhecido na cidade, como um espaço
legítimo de produção do conhecimento e suporte à tomada de
decisão.
Inicialmente responsável por elaborar diretrizes para gestão
dos novos Parques Urbanos criados pelo Decreto nº170 de 2017,
o grupo foi ao longo do tempo, ampliando seu escopo.
Sua missão é produzir e disseminar o conhecimento a partir
da integração entre gestão pública, universidade, agentes
sociais e população em geral, fortalecendo a inovação na
contribuição dos problemas locais, embasando a formação
de políticas públicas e fazendo parte de uma nova cultura de
planejamento.
Seus principais objetivos são: propor cenários e construir
referências para Sistema de Espaços Livres (SEL), parques e
infraestruturas verdes, com projetos exemplares e
instrumentos urbanísticos inovadores, que possam contribuir
na redução de situações de inundações e deslizamentos, assim
como na redução de riscos de eventos extremos, identificados
como crescentes ameaças nessa tipologia de cidade.
A abordagem teórico-metodológica do GTPU tem na
Paisagem e no Sistema de Espaços Livres um ponto de Evento Veredas: caminho das águas no SESC São Carlos.
fundamental convergência. Atrelada a princípios e condutas Apresentação do Parque Linear Kartódromo-Monjolinho . Fonte: GTPU, 2019
participativas, preventivas e sistêmicas que visem incentivar
uma gestão urbana atrelada aos riscos, e que indiquem ações e
instrumentos relacionados aos problemas específicos de cada
situação, o GTPU vem colaborando com diversas associações
locais, movimentos sociais, comitês de bacia, secretarias e
conselhos municipais, grupos de pesquisas, escolas, legislativo 2. Formulação de instrumentos de planejamento de políticas públicas em nível municipal e regional;
e judiciário, órgãos técnicos, entre outros. 3. Integração entre atividades de ensino, pesquisa e extensão de forma multidisciplinar e aplicada, por
Os trabalhos do GTPU são articulados em quatro eixos de Ação: meio da realização de trabalhos práticos em disciplinas de graduação e pós-graduação, pesquisas de
Eixo 1. Planejamento da paisagem e desenho de SEL; Eixo 2. mestrado e doutorado, estágios nas secretarias municipais e projetos de extensão.
Criação de instrumentos e políticas públicas; Eixo 3. Todos os resultados técnicos e científicos contribuem para a formação de alunos, pesquisadores,
Disseminação e difusão do conhecimento e Eixo 4. Promoção técnicos municipais, educadores e população em geral, que desenvolvem competências e
de ações educativas e eventos temáticos. habilidades necessárias para refletir e dar suporte ao enfrentamento das questões regionais e locais.
A partir do desenvolvimento e da articulação dos Eixos de Ação, Contribuem, também, para ampliar a produção do conhecimento, estendendo à comunidade o
os principais resultados alcançados do GTPU, situam-se em três conhecimento gerado nas práticas pedagógicas e de pesquisa.
frentes principais: 1. Desenho do território e elaboração de O GTPU, portanto, é um grupo que busca trabalhar com diálogo e transparência. Que promove os
proposta de Sistema de Parques e Espaços Livres de São Carlos, parques como espaços múltiplos, relacionados à prevenção de inundações, lazer, trabalho, saúde,
considerando a formação de uma rede de espaços livres produção de alimentos, etc. Que promove a integração daquilo que chamamos de infraestruturas
dividida em três categorias: Parques Lineares, Parques Urbanos verde-azul-cinza. Que articula diferentes campos e agentes. Que busca politizar a ação social. Que
e Parques Potenciais, associada a outros sistemas urbanos acredita que um bom planejamento se faz com uma gestão compromissada. E que procura inspirar
(mobilidade, saúde, instituições, etc); e motivar toda uma cidade a agir coletivamente.

34
são carlos
a cidade, as águas

Onde se encontra São Carlos em meio a essas questões?


A cidade de São Carlos (SP) encontra-se numa região de
transição e apresenta fisionomias do bioma do Cerrado,
associadas à presença das Araucárias, o pinheiro do Paraná,
símbolo do município e presente em sua bandeira. A cidade foi
fundada como núcleo produtor de café, e hoje tem suas zonas
rurais ocupadas principalmente por plantações de cana,
eucalipto e pasto. Com algumas exceções, como os trechos de
serra e as reservas do Broa, esse cultivo histórico extinguiu boa
parte da mata de cerrado e Araucárias do município. A
presença visível na paisagem de Eucaliptos e Pinus, que não
pertencem ao bioma, impedem a proliferação de
biodiversidade; além disso, tratam-se de espécies que
consomem grande quantidade de água do subsolo, causando
prejuízos em termos de balanço hídrico, em relação ao volume
de água presente nas nascentes, bem como no recarregamento
de aquíferos.
O clima local se assemelha ao resto do Cerrado, com a presença
natural de períodos secos no inverno e os períodos de chuva na
primavera e no verão, quando ocorrem as cheias nos córregos
e rios. Com as mudanças climáticas, porém, ambos os
fenômenos, de seca e precipitação de chuvas, tornam-se cada
vez mais extremos. As históricas enchentes da cidade têm se
tornado cada vez mais frequentes e intensas e isso não se dá
somente pelo aumento no volume de chuvas, mas também pela
escassez de áreas permeáveis - a pavimentação aumenta a
velocidade da água em direção às áreas mais baixas e aos
córregos. Estes, com as margens impermeabilizadas e
sobrecarregadas pelo volume d’água das vertentes, igualmente
impermeabilizadas, repetem o movimento de avançar sobre
sua original várzea, que ocupada, resulta em enchentes.
Dessa forma, as enchentes na cidade são fenômenos que
expressam o conflito resultante do processo de ocupação
humana ao longo dos anos. Como uma forma de recuperar essa
lógica inerente aos processos naturais, combinando
necessidades postas pela drenagem urbana e qualidade das
águas, surgem iniciativas para se pensar sobre e propor a
infraestrutura urbana sobre novas bases.
são carlos, sp
A chamada infraestrutura verde não diz respeito apenas à
vegetação urbana, mas à ideia de que seja possível planejar o
processo de ocupação a partir de paradigmas
contemporâneos, reduzindo ao máximo a sobrecarga causada
pelo processo de urbanização sobre os corpos d'água. Esse
modelo de infraestrutura busca reter, propiciar a infiltração e
reduzir a velocidade das águas pluviais antes que atinjam os
rios e córregos, criando, assim, diferentes modalidades de áreas
combinadas à vegetação e aos solos permeáveis. que mantém
o ciclo d'água.
Além dessa importante função ambiental, existe, com base em
autores recentes, a defesa de que essas estruturas tenham
dimensões sociais e culturais. Pensar o planejamento sobre
essas bases é também constituir um processo de contato da
população urbana com processos naturais, e, principalmente,
com as águas, muitas vezes tornadas invisíveis pelas ações da
engenharia cinza. A estratégica contribuição dessa linha de
planejamento é melhorar a qualidade de vida de modo
abrangente - da população, fauna e flora. Avenida São Carlos no sentido do fundo de vale do córrego do Gregório: área conhecida pelos alagamentos.
Fonte: João Gabriel Osti Rosa, 2021.
O município de São Carlos ainda não desenvolve efetivamente
ações inseridas nessa chave contemporânea de planejamento.
Contudo, ações realizadas ao longo dos últimos anos em
relação às Leis Municipais constituem uma importante reserva
de áreas e espaços que podem se tornar um sistema de
infraestrutura verde para a cidade.
Na última década, conquistou-se a salvaguarda de áreas
estratégicas em termos ambientais através da Lei Municipal nº
13.944, de 12 de dezembro de 2006, mais conhecida como Lei
da APREM, sigla para Áreas de Proteção e Recuperação dos
LEI DA APREM Mananciais do Município.
Essa ação exemplar cria um banco de terras públicas, que
Com o objetivo de preservar os dois
permite à gestão propor um sistema de parques urbanos e
principais mananciais que alimentam o
município, o Ribeirão Feijão e o Córrego lineares, abarcando estruturas mitigadoras de enchentes,
do Monjolinho, a Lei da APREM dispõe lugares de captura de carbono e geração de oxigênio, bem
sobre o uso e ocupação do solo nas áreas como estruturas verdes em rede, que tornam a cidade mais
pelas quais passam essas águas, para que
sombreada, fresca e permeável, tornando-se, assim, resiliente
elas não sejam poluídas e sua qualidade
permaneça boa para ser consumida pela às mudanças climáticas.
cidade de São Carlos. No caso de São Carlos, é fundamental uma nova mentalidade
A Lei regula atividades compatíveis com colaborativa entre ambiente e sociedade na construção de
a preservação e recuperação dos
novas paisagens, por meio de soluções pensadas a partir das
mananciais - ela descreve usos que não
impactarão na qualidade das águas que lógicas da natureza.
servem a cidade. A Lei da APREM Um Plano Local de Ação Climática e Mobilidade de Baixo
também amplia as faixas de proteção em Impacto Ambiental seriam alternativas de abordagens
torno desses corpos d’água para além
sistêmicas que poderiam propor ações transversais e
dos 30 metros previstos por lei federal.
políticas públicas, relacionando boas práticas, educação
ambiental, saúde e lazer, manejo d’água, produção de
alimentos e de energia.

Alternativas de infraestrutura verde atestam mudança de cultura e investimento público em novos paradigmas.
Fonte: Gentileza Urbana, Sub Prefeitura da Sé, PMSP, 2020.

38
urbanização de
A região de São Carlos foi ocupada no final do século XVIII por
estar localizada na rota das minas de ouro do Mato Grosso e de
Goiás. A cidade foi fundada em 04 de novembro de 1857 e sua
são carlos
região passou a se destacar pela cafeicultura ainda durante o
período imperial; o excedente da crescente pujança econômica
foi investido em infraestrutura urbana, como hospitais,
produção de energia elétrica, telefonia e bondes.
Com a crise da exportação do café, a partir de 1929, a presença
dessa infraestrutura foi fundamental para transformar a
economia da cidade entre as décadas de 1930 e 1950. O
crescimento populacional municipal a partir da década de 1950
levou a números significativos, que denotam fôlego econômico
e desenvolvimento técnico e tecnológico associados à vinda
das universidades públicas USP e UFSCar, quando São Carlos
passa a se consolidar como centro industrial.
Atualmente, a mancha urbana de São Carlos reflete o processo
de espraiamento urbano associado à produção de lotes em
condomínios fechados e loteamentos, bem como
parcelamentos ligados ao Programa Minha Casa Minha Vida
(PMCMV).
Três aspectos são aqui destacados, e que se ligam a esse
processo de espraiamento urbano: o esvaziamento do centro
como moradia da população - o que existe é a predominância
de comércio e serviços; a moradia é oferecida em lugares
distantes, enquanto o centro fica vazio ao anoitecer. O segundo
aspecto diz respeito à forte presença de espaços livres não
edificados públicos e privados na cidade, terrenos e glebas - a
maior parte desses espaços não é qualificado, ou seja, não
recebeu projetos que pudessem programar atividades e usos
que os preparassem para desempenhos ambientais mais
elaborados, como uma rede que ampliasse a resiliência urbana.
Finalmente, como terceiro aspecto, aponta-se o fato desse
espraiamento criar dois territórios - a segregação socioespacial
materializada na paisagem e associada à fragilidade ambiental,
que apresenta o maior poder aquisitivo ao Norte e menor poder
aquisitivo ao Sul da cidade, justamente o lugar em que os solos
arenosos e frágeis promovem a recarga do Aquífero Guarani
(SCHENK, PERES, FANTIN, 2018).
O município de São Carlos está em um divisor de águas entre o
rio Tietê, que atravessa o estado, e o rio Grande, na divisa com
Minas Gerais, e suas condições geográficas e geológicas
garantem rica hidrografia. A mancha urbana se concentra na
bacia do córrego do Monjolinho onde tributam a maior parte
das bacias urbanas.

Cartografia das bacias hidrográficas no município de São Carlos. Fonte: GTPU, 2020.

40
CARTOGRAFIA GEOLOGIA

A hachura demarca a bacia do córrego do Gregório na mancha urbana


representada em laranja na cartografia ao lado. A cartografia nos mostra O mapa apresenta a cidade de São Carlos no período em que se
que a cidade está sobre duas formações geológicas. Conhecer as realizou o Plano Diretor do município, aprovado em 2005. Ele
qualidades do território urbano significa sobrepor muitas camadas de
informação: aqui ilustramos essa camada, responsável por mostra um núcleo original que se manteve até a década de
características ligadas à presença do Aquífero Guarani. As áreas que 1940, separado em duas partes pela estrada de ferro,
recarregam o Aquífero, em geral, têm solo arenoso, o que permite a infraestrutura estratégica para o escoamento da economia do
infiltração da água. Porém, isso as torna mais frágeis, podendo café, responsável por sua consolidação como cidade. Entre as
apresentar condições de solo que desmoronam facilmente. A qualidade
da infraestrutura deve ser pensada levando isso em conta. Isso deve décadas de 1950 e 1970 do século passado, é possível observar
informar nossas ações de planejamento para usos e ocupações. um processo de grande crescimento - o início da
industrialização precoce do município e a chegada das
universidades públicas coincidem com esse período.
Nas décadas seguintes, é possível perceber descontinuidades
no tecido urbano, isso constitui um desafio para a gestão
pública, pois onera os serviços de infraestrutura prestados:
quanto mais distantes os bairros, mais longas têm de ser as
redes de saneamento, água, esgoto, coleta de resíduos, luz e
Cartografia de densidade populacional
telefonia. Do mesmo modo, o oferecimento de serviços, como
do município de São Carlos. escolas, postos de saúde e segurança, também padecem com o
Fonte: USP Municípios, 2020. espraiamento da cidade. A proximidade e o
compartilhamento de serviços otimizam recursos e unem
Cartografia de geologia do município de bairros e comunidades.
São Carlos, em destaque hachurada a Bacia
do Gregório. Fonte: USP Municípios, 2021.

Mapa de Expansão Urbana de São Carlos, SP. Fonte: PDMSC, 2005.

CARTOGRAFIA DENSIDADE

As possibilidades de estudo da popula-


ção de um município, seu perfil e seus
dados, auxiliam-nos a pensar acerca de
muitas questões: quando pensamos
sobre a distribuição da população
urbana, por exemplo, é possível avaliar a
presença ou ausência, bem como a
qualidade da infraestrutura no território
urbano. Contudo, não podemos realizar
nossos processos de planejamento
apenas alicerçados sobre dados - eles são
importantes, mas não suficientes. É
justamente quando esses dados se mate-
rializam e as pessoas ganham dimensão e
voz que se pode avaliar as demandas,
construindo, assim, um processo de
comunicação, informação e governança.

42
Sesmaria do Pinhal

1831
Capela de São Carlos

1856
Fundação de São Carlos

1857
Status de cidade

1880
52,30% da população é urbana

1940
Fundação da USP

1953
Fundação da UFSCar

1968
Plano de Desenvolvimento Integrado

1968
Lei de Zoneamento

1971
Parque da UFSCar

Parque do Bicão 1976


1982
1993

Sistema de Sesmaria do Pinhal


arborização urbana
1993

Criação do “CONDEMA”
2000

APA Corumbataí
2005

Plano Diretor do Município de São Carlos


2006

Lei da APREM
2006

Política de educação ambiental


2013

Plano de drenagem urbana


2013

Água e esgotamento sanitário


2016

Revisão do Plano Diretor


2020

Plano de drenagem urbana


2020

Gestão integrada de resíduos


A seguir, apresentamos duas ações que reúnem pesquisa,
planejamento e projeto, realizadas no primeiro semestre de
2021 e que tiveram como objeto de estudo a bacia hidrográfica
do córrego do Gregório.
Inicia-se, assim, esse movimento de aproximação da bacia,
procurando conhecer suas qualidades, sua história, população
e seus processos para, então, pensar e propor um sistema de
espaços livres que, qualificados, possam participar da
construção de uma cidade mais sustentável, resiliente e justa.
Na representação abaixo, em que a bacia aparece em detalhe, é
possível observar as bacias e os seus córregos, que colaboram
com as águas do córrego do Gregório.
Os processos apresentados são elaborados como ação local
na unidade de paisagem de uma bacia hidrográfica, mas o
alcance da ação mira o todo da cidade - a metodologia
utilizada pode ser replicada e foi construída unindo o campo
teórico e o fenômeno.

Cartografia das sub-bacias da Bacia Hidrográfica do Gregório com adição das curvas de nível. Fonte:USP Municípios, 2021. Cartografia do perímetro urbano de São Carlos com destaque na hidrografia e na Bacia do Gregório.
Fonte:GTPU-USP Municípios,2021.

46
as águas e o conflito
Os alagamentos no centro de São Carlos não são raros e a imprensa
os repercute desde a década de 30 do século passado.
Contudo, com a crescente impermeabilização das várzeas e encostas
realizada ao longo dos anos, somada às mudanças climáticas, esses
eventos se tornaram mais comuns e dramáticos.
O córrego do Gregório que cruza o centro da cidade foi sendo
canalizado ao longo dos anos e esse processo foi acompanhado pela
supressão de árvores presentes nas ruas.
O que se pode perceber, em reflexão alicerçada pela literatura,
(SPIRN, 1985; HOUGH, 1995) é que os conflitos presentes foram
construídos pelas escolhas do passado.
A bacia do Córrego do Simeão, que tributa suas águas no Córrego do
Gregório, na área central da cidade, foi referenciada por várias fontes
da imprensa como a “grande causadora da tragédia" - a enchente
ocorrida em novembro de 2020.

Imagens testemunhando as enchentes em diferentes anos no centro de São Carlos.


Fonte: Fundação Pro Memória São Carlos

Imagens do processo de canalização do córrego do Gregório no centro da cidade de O córrego do Gregório atualmente. Fonte: João Gabriel Osti Rosa, 2021.
São Carlos. Fonte: Fundação Pro Memória São Carlos

48
Buscando oferecer alternativas para essa situação, professores e alunos de graduação e pós
graduação das Universidades de São Paulo e Universidade Federal de São Carlos se
reuniram em Janeiro de 2021 num workshop que também contou com a participação de
professores e especialistas voluntários.
A partir de uma perspectiva contemporânea, o grupo procurou planejar e projetar um
cenário de ocupação e resiliência para a bacia hidrográfica do Simeão de modo a
contribuir na construção de uma cidade capaz de se adaptar a esses eventos. Os princípios
destacados nessa Cartilha nortearam o workshop - pretendeu-se mitigar os conflitos
causados por um processo de construção de cidade baseado impermeabilização das
encostas e várzeas e, em especial, buscou-se visualizar nesse processo de planejamento a
oportunidade de contribuir na proposição de uma nova paisagem urbana através da
qualificação dos espaços livres.

Imagens a seguir: resultados das enchentes na cidade de São Carlos em novembro de 2020: um dos impactos do modelo urbano
atual e das mudanças climáticas no cotidiano da população. Fonte: Paulo Vaz, 2020.

50
sistema de espaços
livres e infraverde
A paisagem tem definição polissêmica, pois é utilizada em A experiência do workshop se liga a uma pesquisa maior proposta
diferentes campos disciplinares e, de acordo com a abordagem, em resposta ao edital USP Municípios, lançado pela Pró-Reitoria de
ganha dimensões objetivas e subjetivas. Geógrafos, biólogos, Graduação da Universidade de São Paulo, intitulada “Infraestrutura
ecólogos, arquitetos urbanistas, artistas e literatos utilizam a e Cidade: apoio à formulação de políticas públicas preventivas às
paisagem como pauta para suas reflexões e pesquisas, mudanças climáticas associadas ao espaço público e às águas”. O
propostas e criações. workshop mirava a oportunidade de apresentar soluções e lugares
No caso desse workshop, muitas dessas dimensões foram exemplares, contribuindo nesse esforço de alteração de uma cultura;
acionadas: relacionaram-se dados e informações, atuais e essa ação se liga transversalmente, como pesquisa de extensão ao
históricas, bem como trabalho de campo, fotografias e Grupo de Trabalho de Planejamento dos Parques Urbanos de São
desenhos. Conseguiu-se, ainda, apesar do afastamento social e Carlos (GTPU).
graças às modalidades remotas, estabelecer diálogo e O objetivo do GTPU é, através de pesquisa teórica e prática, propor
entrevistas com líderes de comunidades locais. alternativas para o processo de desenvolvimento da cidade e seu
Como vimos na primeira parte desta cartilha, a cultura brasileira município. Surgiu então a ideia de compor um grupo que pudesse
em relação à drenagem urbana ainda se apoia sobre articular os parques à cidade existente, auxiliando na elaboração dos
pressupostos da engenharia cinza: canalizar, tamponar e levar a programas e desenvolvimento de seus projetos. O grupo visualizou
água rapidamente de um lugar ao outro, até os córregos e, de nessa demanda a oportunidade de inscrever os espaços livres da
preferência, para fora da cidade. cidade em uma agenda contemporânea ligada a novas paisagens.
Contudo, planejar e projetar em um contexto como o das
cidades brasileiras é, antes de tudo, compreender a
necessidade de construir esse caminho de convivência entre
técnicas e romper com o preconceito em relação às soluções
que foram, no passado, chamadas “alternativas”, mas que hoje Processo de erosão nas margens do córrego em São Carlos. Fonte: Maria Cecília Lima, 2019.
são a chave da construção de um futuro menos conflituoso
com o meio ambiente.
Nesse panorama, a pesquisa buscou realizar um processo de
leitura do território de forma abrangente e partir de princípios
que pretendem construir paisagens resilientes e significativas,
propondo uma rede de espaços qualificados na bacia
hidrográfica, que permitissem mitigar os conflitos causados ao
meio ambiente pelo processo de ocupação urbana.
Entre as metas do workshop estavam, com base em um
sistema de espaços livres: a proposição de infraestruturas
verdes, a drenagem a partir de bases mais naturalizadas, por
meio da presença de lugares permeáveis, com tipologias
baseadas nas SbNs, bem como a arborização urbana pensada
sistemicamente. Tais dimensões, técnica e tecnológica,
associadas à criação de lugares para o lazer, o esporte, a cultura
e o encontro, materializam as novas paisagens mencionadas
anteriormente.

52
Produto final - imagem síntese dos parâmetros cartográficos anteriores - produção de uma cartografia complexa.
Fonte: GTPU, 2018.

Os princípios que nutrem o GTPU se pautam em valores inaugurados pelo campo disciplinar da
Arquitetura da Paisagem e, inspirados nos estudos de Ian McHarg, desenvolve-se a construção de
cartografias, o que permite o cruzamento de dados e geração de informações. Essa atualização da
metodologia, inaugurada na década de 1960, já vem ocorrendo em outros campos do saber, como o
da Ecologia da Paisagem. Aqui, porém, realizamos também o cruzamento de dados demográficos e
relacionamos as cartografias obtidas com a realidade.
A imagem-síntese desta página reúne as cartografias aqui apresentadas: perímetro urbano,
hidrografia, áreas de proteção ambiental, APP, lei municipal da APREM as áreas públicas, espaços
Cartografias do Perímetro Urbano, Hidrografia, Áreas de Especial Interesse Ambiental (AEIAs) e parques decretados livres que formam o sistema de lazer e recreio e as áreas livres ainda não qualificadas, destinadas a
por lei em São Carlos em 2017. Fonte: GTPU, 2018. futuros parques pelo Decreto Municipal de 2017.

54
Cartografia das tipologias de parque no município de São Carlos.
Fonte: USP GTPU-SIPAM, 2020.

A imagem acima mostra o urbano no município de São Carlos.


Ao lado, uma imagem ampliada revela esse processo que une
cartografias e contribui com a construção de uma
representação-síntese, denominada “Cartografia Complexa”,
que reúne um sistema de espaços livres significativo para o
estabelecimento de infraestrutura verde, articulando redes
verde e azul na cidade.
Essa ação torna visíveis potenciais áreas que podem ser
incluídas nesse processo de planejamento: estrategicamente,
nesse momento, procura-se unir os espaços públicos ou
mesmo privados que devem permanecer livres, sem ocupação
de edificações, por serem protegidos por lei, como é o caso de
algumas APPs, por exemplo. Essa carta-chave já apresenta uma
primeira reflexão sobre as categorias de parque que serão
desenvolvidos e nos ajuda a planejar e projetar com base no Cartografia das tipologias de parque no perímetro urbano de São Carlos.
encontro com a realidade, suas demandas e urgências. Fonte:USP GTPU-SIPAM, 2020.

56
a bacia do simeão
O workshop ocorreu durante duas semanas entre janeiro e
fevereiro de 2021, com uma terceira semana de pós-produção
de imagens. Contou com a participação de 15 pessoas e se
desenvolveu em três movimentos.
O primeiro movimento iniciou-se por meio de leituras do
território que reuniram aportes objetivos, como coleta de dados
censitários e geoprocessamento para caracterização da área. A
bacia contempla, além do uso comercial à jusante, usos
residenciais e mistos em sua porção média, e residências e
industriais à montante. Há marcadores de vulnerabilidade
social e ambiental por toda a bacia, com a presença de um
perfil de baixa escolaridade e renda. A passagem da linha férrea,
atualmente, é destinada apenas ao transporte de cargas, sendo
uma presença marcante e que divide a bacia em duas porções
de terra desiguais. A estrutura de ruas segue o padrão das
cidades brasileiras, no qual o aspecto final é um mosaico de
peças justapostas, uma vez que o processo de parcelamento se
realiza por intermédio da iniciativa privada, muitas vezes Imagem das áreas livres de interesse projetual na sub-bacia Imagem com cheios e vazios na sub-bacia do Simeão.
do Simeão em destaque. Fonte: Workshop da Sub-bacia do Simeão,
comprometendo a continuidade das ruas e fragmentando o Fonte: Workshop da Sub-bacia do Simeão, USP MUNICÍPIOS, 2021.
tecido urbano. USP MUNICÍPIOS, 2021.
A Bacia do Córrego do Simeão tributa as águas na Bacia do
Gregório. O pequeno córrego atravessa canalizado e
tamponado os quarteirões da área central da cidade de São
Carlos. As cartografias aqui apresentadas são estratégicas para
avaliarmos a presença de espaços livres e edificados, com
especial destaque para os verdejados, bem como para o
caminho das águas através do relevo e a permeabilidade de
solo, que está representada na cartografia de “cheios e vazios”.

Cartografia com o traçado das ruas e das curvas de nível Cartografia com marcações de densidade de mulheres
na sub-bacia do Simeão. provedoras do lar na sub-bacia do Simeão.
imagem de vista de satélite da sub-bacia do Simeão, recorte em cores. Fonte:Workshop da Sub-bacia do Simeão, Fonte: Workshop da Sub-bacia do Simeão,
Fonte: Workshop da Sub-bacia do Simeão, USP MUNICÍPIOS, 2021. USP MUNICÍPIOS, 2021. USP MUNICÍPIOS, 2021.

58
O segundo movimento da pesquisa se concentrou em
conhecer a bacia com maior grau de proximidade. Em
condições normais, esse momento de pesquisa se denomina
“palmilhar o território”, e parte da ideia de que a frequentação
do lugar é condição necessária para a apreensão de suas
qualidades.
Para contornar a questão da impossibilidade de realização
desse caminhar pelas condições de afastamento social
(Covid-19), distinguiram-se duas alternativas: a primeira
utilizando o recurso remoto, Google Street View, realizada pela
maior parte do grupo que não estava na cidade de São Carlos
por ocasião do workshop; e uma segunda alternativa,
preenchendo lacunas e fazendo com que o grupo pudesse
acompanhar esse movimento de conhecer o território urbano e
as paisagens da bacia hidrográfica do Simeão. Nesse momento,
guardadas as devidas precauções, os integrantes que foram a
campo puderam ter contato com o lugar e os bairros que
compõem a bacia hidrográfica.
As imagens fotográficas agrupadas mostram essas duas
alternativas de contato e comentam características observadas,
informando as propostas.

Montagem com indicações dos locais fotografados pelas atividades de campo remoto Imagens da atividade de campo na Sub-bacia do Simeão em São Carlos, SP.
(Street View). Fonte: Workshop da Sub-bacia do Simeão, USP MUNICÍPIOS, 2021. Fonte: Workshop da Sub-bacia do Simeão, USP MUNICÍPIOS, 2021.

60
As imagens a seguir mostram os resultados alcançados ao
longo das intensas semanas de trabalho. Um sistema de
espaços livres, que reúne ruas arborizadas, praças e parques, é
proposto para o território da bacia. A elaboração desse sistema
se faz a partir das prerrogativas da infraestrutura verde, e é
norteado pelo ideário das Florestas Urbanas e SbN, soluções
baseadas na natureza, além de ser inspirado em chaves
culturais e estéticas que garantam qualidades singulares à
experiência desses lugares da cidade de São Carlos. O horizonte
é a constituição de novas paisagens para os bairros e moradores
da bacia do Simeão.
Vários sistemas de retenção são pensados como peças técnicas
que diminuem a velocidade e aumentam a possibilidade de
infiltração das águas pluviais, ao mesmo tempo em que
articulam espaços livres de lazer, encontro e fruição para a
população da cidade. As formas propostas materializam os
lugares da brincadeira, do jogo, da vida ao ar livre. Uma
memória em desenho proposto resgata os meandros dos rios e
trapiches de madeira, onde são realizados a pesca e o nado, o
lugar de encontro com a natureza, fauna e flora, bastante
ausente das cidades brasileiras. A tradução desse imaginário
para os desenhos foi um rico processo cujo detonador foi
justamente a paisagem de ausência e pouco significado
encontrada.

A imagem abaixo e ao lado apresentam projetos pensados para a bacia. O Sistema de Espaços Livres projetado para a Bacia do Simeão: parques e praças ligados por ruas e avenidas arborizadas.
Fonte: Workshop da Sub-bacia do Simeão, USP MUNICÍPIOS, 2021. Fonte: Workshop da Sub-bacia do Simeão, USP MUNICÍPIOS, 2021.

62
O resultado final é uma alternativa que pretende funcionar
como contraponto ao modelo de cidade existente. O desenho
apresenta um sistema de espaços livres verdejados numa
proposta de geração de territórios mais resilientes e capazes,
que busca, por meio de suas paisagens, compor o imaginário e
participar da vida de sua população. A expectativa é que esses
desenhos possam participar dos debates acerca das soluções
para o problema das enchentes e do futuro do centro da cidade
de São Carlos.

Imagem com detalhe da maior retenção desse sistema, realizado para participar de uma proposta de Parque Urbano com
programação de lazer contemplativo e de recuperação do cerrado. Esse espaço livre se articula à proposta de praças do
bairro vizinho, programada durante o workshop para a prática da agricultura urbana, devido à sua proximidade com escolas
e creche, bem como ao alto índice de vulnerabilidade social da área.
Fonte: Workshop da Sub-bacia do Simeão, USP MUNICÍPIOS, 2021.

Imagem do ponto de convergência verde que é a praça Itália, atualmente, uma grande rotatória para a cidade. Essa proposta
apresenta a possibilidade de retenção verdejada para esse lugar e a proposição de uma arborização urbana ao longo da via
férrea, com pretensões futuras de incorporá-la à cidade não mais para o transporte de cargas, mas como parte do sistema Imagem do Sistema de Espaços Livres em sua totalidade implantado na bacia, à esquerda, no ponto mais baixo da bacia do
de mobilidade urbana. As diretrizes do workshop distinguiram mobilidade ativa com o uso de ciclovia e Veículo Leve sobre Simeão, a previsão de um parque com retenção de águas no bairro Lagoa Serena, à direita do desenho a maior retenção
Trilhos (VLT), com estações ligando a área do CDHU ao Shopping São Carlos, bem como possíveis conexões por intermédio prevista, na área do CDHU e Expo.
de um plano de mobilidade realizado sobre bases contemporâneas e empenhado em soluções a longo prazo que O workshop funcionou como um laboratório para afinar as estratégias para que pudéssemos pensar sobre a bacia do
transformem a paisagem e a vida da cidade. Fonte: Workshop da Sub-bacia do Simeão, USP MUNICÍPIOS, 2021. córrego do Gregório como um todo. Fonte: Workshop da Sub-bacia do Simeão, USP MUNICÍPIOS, 2021.

64
bacia do gregório
A seguir, apresentam-se informações e alguns dos resultados e
propostas formuladas por alunos do 4º ano do curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo,
um projeto pedagógico

IAU-USP, no primeiro semestre de 2021. Essa disciplina


instrumentaliza seus alunos acerca dessas matrizes
contemporâneas de plano e projeto da paisagem, ao mesmo
tempo em que procura colaborar com o processo de
construção de governança. A bacia do Gregório foi o objeto de
estudo na sua quase totalidade, uma vez que a bacia do Simeão
já havia sido objeto da experiência do workshop anteriormente
apresentado. Os princípios e valores, o campo teórico e a ideia
de reter a água e qualificar os espaços livres foram
apresentados aos alunos e serviram de exemplo no trabalho da
disciplina.
A metodologia utilizada no workshop tem sido desenvolvida e
aperfeiçoada pela disciplina de Arquitetura da Paisagem do
IAU-USP, sob a coordenação da professora Luciana Schenk,
com diversas colaborações ao longo dos últimos sete anos,
cabendo, desse modo destacar a participação em diferentes
momentos dos professores Givaldo Luiz Medeiros, Camila
Moreno de Camargo, Mariana Fontes Pérez Rial e Marcel Fantin.
Como primeira abordagem, os alunos trabalham uma leitura
urbana que relaciona questões acerca do território urbano e da
sua paisagem. Neste ano de 2021, destacaram-se informações
que associaram o território à rede de infraestrutura de saúde;
ao processo de canalização, sociabilidade e memória
relacionados aos córregos da cidade; à qualidade de percepção
desses córregos e de suas águas; à questão da produção e do
consumo de alimentos; a questões de cultura e educação; à
mobilidade ativa por meio da bicicleta.
O esforço aqui foi dinamizar um repertório contemporâneo
acerca das problemáticas urbanas, revelando conflitos e
fomentando o debate entre a classe. Existe nesse momento
uma intensa troca de informações - o que estava em
andamento era a caracterização do território urbano da cidade
de São Carlos como um lugar complexo, que exige soluções
transversais e articuladas.
Grupo 3 - Alice Damianovic, Andressa Couto, Beatriz Souza, Denise Yamaguchi, Juliana Santos, Liz Macedo, Milena Acuio

Cartogra fi a Síntese
Expansão urbana e democratização de cultura e educação
na cidade de São Carlos

CARTOGRAFIA ESCOLAS

CARTOGRAFIA DO INVENTÁRIO DE BENS


PATRIMONIAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO
CARLOS DE 2018
CATEGORIA 1: EDIFÍCIOS TOMBADOS
CATEGORIA 2: EDIFÍCIOS EM PROCESSO
DE TOMBAMENTO
CATEGORIA 3: EDIFÍCIOS DECLARADOS
DE INTERESSE HISTÓRICO E CULTURAL
CATEGORIA 4: CONJUNTOS
CATEGORIA 5: IMÓVEIS DE INTERESSE
HISTÓRICO BEM PRESERVADOS

CARTOGRAFIA PATRIMÔNIO

CARTOGRAFIA DENSIDADE

VAZIOS URBANOS

Cartografias complexas produzidas na disciplina de Paisagismo II. Fonte: alunos da disciplina de Paisagismo II do IAU-USP, 2021.
68
Cartografia da Bacia do Gregório: demarcação, corpo d'água e Cartografia da Bacia do Gregório: densidades demográfica
instituições educacionais. Fonte: USP Municípios e GTPU, 2021. no interior da bacia. Fonte: USP Municípios e GTPU, 2021.

a bacia hidrográfica
unidade de planejamento e paisagem

7566000.000
200000.000 202000.000 204000.000 206000.000

7564000.000
Normalmente, quando pensamos sobre as partes de uma

7562000.000
cidade, pensamos sobre as ruas e avenidas que a estruturam,
sendo estas nosso caminho de casa para outros lugares -
trabalho, escola, comércio ou serviços. Quando já conhecemos
melhor uma cidade, ela passa a ter partes que reconhecemos

7560000.000
pontualmente - em São Carlos, por exemplo, a Catedral, a Santa
Casa, a escola Álvaro Guião - ou como conjunto - os bairros e as
centralidades. Esse modo de reconhecer o espaço, dividindo a
cidade em partes, é possível justamente porque os lugares têm
uma fisionomia característica que faz com que sejamos

7558000.000
capazes de pensá-los em partes e como conjunto.
Geógrafos, engenheiros hidráulicos e ambientais e arquitetos
urbanistas tomam as bacias hidrográficas de uma cidade como
unidade para trabalhar, justamente porque estão pensando no
percurso das águas. Na realidade, o que normalmente se passa L egenda: Dados cartográfic os : Ins tituiç ões de ens ino na bacia
hidrográfica do G regório.
é que os bairros não são conformados tendo em conta o relevo, I nstituições de ensino
o caminho das águas, o vale, os córregos e as bacias. Às vezes os Córrego Gregório
E laboração: US P Munícipios - G T P U
Data: Abril/2021

bairros estão dentro de uma bacia hidrográfica, mas na maior Bacia do Gregório
F olha única

parte dos casos essas divisões seguem caminhos próprios


E s cala: 1:45.000
P rojeção UT M Datum S irgas
2000 F us o 23S
ligados à propriedade da terra e ao processo de parcelamento,
quando da transformação da gleba em lotes e arruamento.
A bacia hidrográfica do córrego do Gregório, composta de
outras bacias menores, apresenta diferentes características ao Bacia do Gregório – morfologias de bairros e seus quarteirões, os pontos vermelhos indicam a presença de
instituições de ensino. Nesse recorte realizado, é possível ver a contribuição dos Córregos Primeiras Águas, Sorre-
longo da passagem de seu principal corpo hídrico pela cidade, gotti e Lazzarini na margem direita; e a do córrego do Simeão na margem esquerda, embora seja completamente
indo de Leste, onde estão suas nascentes (montante), para canalizado e tamponado.
Oeste, onde está sua foz (jusante).
O córrego atravessa diferentes bairros - suas águas e sua
fisionomia apresentam diferentes graus de qualidade e
paisagens, desde a presença de mata ciliar na entrada do
perímetro urbano até o completo desaparecimento das águas,
quando o córrego é canalizado e tamponado no centro.
A disposição de conhecer uma unidade de paisagem como
uma bacia hidrográfica, sua realidade atual, seus processos
naturais e o seu histórico de ocupação, passa por um
necessário trânsito de escalas. A cada abordagem, diferentes
informações são agenciadas na construção dessa
compreensão, que não é única, nem completa, pois as coisas
parecem estar sempre em movimento. As análises, com base
em dados geoprocessados, tornaram-se uma poderosa
ferramenta para planejar territórios, visto que revelam questões
estratégicas acerca dos lugares para pensarmos sobre ações e
políticas de desenvolvimento. Se quisermos planejar o futuro da
cidade com base nos pontos que a cartilha levantou, em
especial, os princípios e valores, teremos de elaborar propostas
que se materializam sob a forma de representações e
apresentá-las aos cidadãos, justificando as escolhas e
construindo um diálogo que informa e os faz participar do
processo de decisão.
Cartografia com demarcação da Bacia do Gregório, corpo d'água, traçado das ruas e lotes.
Fonte: USP Municípios e GTPU, 2021.

70
parques para a bacia
Para efetivar a ação de planejamento e projeto, foi escolhida
uma bacia hidrográfica - a do córrego do Gregório - unidade de
paisagem que permitiria elaborar um trânsito entre escalas,
indo desde abordagens relacionadas à esfera do planejamento,
por meio de cartografias que representaram toda a bacia, até o
desenho de lugares em particular.
O horizonte era a construção de um sistema de espaços livres
que pudesse participar desse rol de questões levantadas no
primeiro exercício - participar de respostas que contemplassem
drenagem, qualidade e presença das águas no urbano, a
mobilidade, a produção de alimentos, saúde, educação,
sociabilidade e cultura. As propostas formuladas constituem
uma nova paisagem para a bacia hidrográfica do córrego do Imagem da bacia do córrego do Gregório, levantamento dos espaços livres públicos e privados;
Gregório. em negro, a projeção das edificações e potencial impermeabilização dos terrenos.
Fonte: IAU-USP, 2021. Disciplina do 4° ano.
A seguir, apresenta-se o processo de leitura das informações
realizado por cada grupo de trabalho em um trecho
determinado. Os alunos receberam a tarefa de, ao fazê-lo,
distinguir uma atividade de uso ou questão presente nos
processos de leitura contemplados em relação à cidade no
exercício anterior. Enquanto reconheciam a parte que lhes
coube, cada grupo procedeu ao levantamento da projeção
horizontal das edificações e do grau de impermeabilização dos
lotes da bacia.
Na sequência, o conjunto de trabalhos contemplou um
processo de reconhecimento das características do trecho de
território urbano e a escolha de uma ou mais temáticas a ele
relacionadas. Essa ação coloca em contato questões trazidas
pelo campo teórico da disciplina e a leitura do território num
ensaio que faz entrever questões, potencialidades e presenças
no território.
É importante ressaltar que esse processo de leitura se tornou
possível graças ao empenho dos alunos em realizar percursos Mapa de sub-bacias da região central de São Carlos e marcação da Bacia do Gregório
virtuais pelo seu trecho de trabalho, colocando-os em relação às (excluída a bacia do Simeão já trabalhada no workshop). Fonte: IAU-USP, 2021. Disciplina do 4° ano.
questões contemporâneas que a disciplina traz em suas aulas
teóricas.
A recuperação da totalidade da bacia é um processo que coteja
uma pesquisa de repertório, no qual os grupos estudam
projetos de referência e planejam a bacia. Desse modo, o
seminário realizado nesse momento procura programar os
espaços livres da bacia hidrográfica, agregando lazer, descanso,
preservação e benefícios ambientais. As cartografias são
cruzadas e, por meio do debate, o sistema é formado e as
aptidões dos lugares são reveladas, até a consolidação de uma
cartografia-síntese para a bacia.

Imagem da divisão das áreas específicas da Bacia do Gregório para a análise de cada grupo.
Fonte: IAU-USP, 2021. Disciplina do 4° ano.

72
Leituras do território da bacia produzidas na disciplina de Paisagismo II. Fonte: alunos da disciplina de Paisagismo II do IAU-USP, 2021.

74
parques para a bacia

ÁREA 02: integrantes:


GABRIEL DIERINGS MONTECHESE
ISABELLA S. FERNANDES DOS SANTOS
JOÃO VICTOR GARCIA MARIOTTI
MATEUS DA SILVA BARUFI
RENAN MONTICO DA COSTA
WELBER OLIVEIRA RIBEIRO

Praça antônio prado, estação percurso de ruínas


ferroviária e centro cultural

SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES:

perspectiva geral:
área_02

AUDITÓRIO ALAGÁVEL
MUSEU PISTA DE
SKATE
EDIFÍCIO DE APOIO

RUÍNAS

IMPLANTAÇÃO GERAL
r. gen. osório
lopes
av. josé pereira

TERMINAL
DE ÔNIBUS
AV.
dr.
AV.

teix

ANTIGA
HEN

eira
R

RODOVIÁRIA
IQU

de b
E GR

arro
EGO

s
RI

PRAÇA ANTONIO PRADO


ESTAÇÃO CULTURAL
COMPLEXO CULTURAL

76
parques para a bacia

integrantes:
DIEGO ZUMPANO
INGRIDTH HOPP
JACQUELINE LOPES
JÚLIA MEDICI
LEOZEL NETO
NATÁLIA JACOMINO
perfil do rio

COLINAS DAS BANANEIRAS

3
1 | Centro agroflorestal

PARQUE DA JUVENTUDE
sistema de circulação

2
1

5
parque lazzarini

parque lazzarini
sistema verde

6
1| Pista de skate
2| Sprinklers
3| Parquinho infantil
4| Arquibancada
sistema azul 5| Chuveiros
6| Quadras esportivas
20 60 100m
20 60 100m 20 60 100m 0 40 80
0 40 80 0 40 80

perspectivas:
área_05

parque lazzarini
PARTIDO

PARQUE DA COMUNIDADE
PARQUE LAGOA CAÍDA

parque lazzarini
parque lazzarini
PARQUE LAZZARINI

PARQUE DA JUVENTUDE

PARQUE PÔR DO SOL


parque lazzarini
parque lazzarini

50 150 250m
0 100 200

78
parques para a bacia

integrantes:
ANDRÉ MASCARENHAS
HEITOR TESSAROLLI
JOÃO GABRIEL OSTI ROSA
LARA BRISANTE
LAURA GATO
MARIA ALICE MESSIAS

perspectivas:
área_07

80
parques para a bacia

integrantes:
ALEXEY CARNIZELLO
FERNANDA SANTOS
JOAO BATISTA STIVANIN
LARA ROSSI
MILENA ACUIO
NICOLAS ALVES

área B - implantação área B - cortes

agricultura de orgânicos APP agrofloresta


área verde área verde
complementar complementar

implantação e arborização

perspectivas:
área_08

ciclovia, passeio e via pavimentada


via de manutenção rural áreas pré-existentes agrofloresta agricultura
familiar
caminhos lúdicos para pedestres APPs produção de orgânicos área verde
N urbana

área de projeto - subdivisões AREA 4 - PERSPECTIVAS

D
C
F

E
B

82
conclusão
Conhecer o território brasileiro, perceber suas especificidades e O processo de urbanização da cidade de São Carlos
as qualidades sistêmicas de sua natureza, reconhecer em suas historicamente construiu o conflito com as suas águas e sua
paisagens o imenso patrimônio que esse país guarda, sermos vegetação: enchentes e secas, corte sistemático de árvores e
capazes de planejar processos de desenvolvimento que ausência de processos de planejamento e políticas públicas
preservem,valorizem e produzam sem destruir são desafios do transversais e abrangentes potencializam os impactos desses
presente para termos um futuro como nação. eventos periódicos, que se tornam desastres de grande
Esta cartilha se inicia apresentando dimensões geográficas que magnitude e perdas, em tempos de mudanças climáticas.
testemunham essa riqueza e, ao mesmo tempo, instala a ideia de O percurso se inicia por leituras alicerçadas nas bacias
que a natureza tem seus processos interrelacionados. Se a hidrográficas e transita entre planos até os projetos, num
natureza se apresenta como modelo e aprendemos por meio de encadeamento que revela pertinências nas escolhas das
seus ciclos, outra figura se revela como peça fundamental na soluções apresentadas, o que está em jogo quando produzimos
compreensão e no planejamento dos territórios: a paisagem. esse ou aquele cenário de ocupação. Revelar esse percurso
Suas diferentes fisionomias revelam questões que ultrapassam a parece ser algo significativo e capaz de incluir as pessoas,
natureza física, adentrando o campo da cultura: todos os lugares instalando o processo de governança.
– naturais, construídos e imaginados – são paisagens. Quando
planejamos a partir da paisagem reunimos questões objetivas e
subjetivas, e essa complexidade nos impele a pensar sobre
soluções abrangentes e transversais, as quais nos colocam em
contato com diferentes campos de conhecimento e a sociedade,
unindo, portanto, capacidade técnica, necessidades e anseios
de uma população.
A disposição de planejamento da paisagem urbana brasileira
fundamentada em pressupostos contemporâneos aqui
explorados, procura propor alternativas ao modo como
pensamos o desenvolvimento, argumentando em favor da
criação de políticas públicas e leis que garantam a sua
efetividade. Para que isso se torne realidade acordada e vivida,
é necessário envolver a população: informar, debater e
apresentar alternativas para serem discutidas, seus custos e
benefícios.
Sendo a paisagem a materialização da nossa relação com a
natureza, uma alternativa consistente a ser explorada é aquela
que planeja e projeta processos de desenvolvimento que
diminuam o conflito e nos garantam cidades mais resilientes,
sustentáveis e justas. Metodologicamente, esse planejamento
tem de ser traduzido em cenários, desenhos e representações
que as pessoas possam visualizar, debater e escolher.
Esta cartilha tem um recorte: a bacia do córrego do Gregório, na
cidade de São Carlos (SP). Nesse sentido, a expectativa do
grupo que a elaborou foi mostrar que essa parte do território
estava inserida em um contexto maior e que as ações locais se
relacionavam não apenas com a cidade e sua região, por meio
de sua geografia, mas com modelos de desenvolvimento
urbanos que ocorrem em todo o país, especialmente no que diz
respeito à construção cotidiana de conflitos entre processos de
ocupação e natureza. O horizonte foi também, tomando como
base esse particular recorte, ser capaz de revelar questões,
conflitos e situações, que dizem respeito a uma boa parte das
cidades brasileiras.
Esta cartilha investiga, apresenta exemplos e argumenta acerca
da possibilidade de transformar os desastres ocorridos em PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
oportunidades. Compreendendo sistemicamente os fluxos da UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
natureza em relação às cidades, planejam-se e projetam-se
espaços livres, tornando-os lugares capazes de participar da EDITAL 01/2020-2021
resolução dos problemas das grandes enchentes e, além disso, PROGRAMA SANTANDER DE POLÍTICAS PÚBLICAS
criando lugares de vida, com diferentes desempenhos para a unidade executora: Instituto de Arquitetura e Urbanismo
população e natureza. IAU - USP, São Carlos
A cartilha apresenta campos do conhecimento e formas de
abordagem diferenciadas. Ao final, procuramos revelar A CIDADE, AS ÁGUAS, O ESPAÇO PÚBLICO E AS PESSOAS:
paisagens possíveis, apresentando ao leitor propostas apoio à formulação de políticas públicas preventivas às
formuladas a partir dos princípios destacados na cartilha. mudanças climáticas
Enquanto estratégia, a ideia é de que esse exemplo possa ser
replicado; logo, o método que se relaciona ao trânsito de COORDENAÇÃO:
escalas e ao olhar sistêmico se reinventa a cada realidade. Profa. Dra. Luciana Bongiovanni Martins Schenk
O que se tem como princípio é a ideia de que, nas cidades, os
espaços livres verdejados se apresentam como grandes MEMBROS DA EQUIPE:
aliados na construção da resiliência urbana. Os espaços livres Doutoranda USP - Maria Cecília Pedro Bom de Lima
pensados em rede são o lugar onde se pode planejar estruturas Mestrandos - Guilherme Garcia (UFSCar) e Cauê Martins Silva
mitigadoras, ao mesmo tempo em que podem agregar à (IAU-USP)
infraestrutura verde qualidade de vida: lazer, cultura, saúde e Arquiteta Urbanista - Juliana da Mata Santos
educação ambiental. Estudantes de graduação USP:
Uma questão fundamental é conectar atores nacionais – Arquitetura e Urbanismo - João Batista Cavaroli Stivanin, João
governamentais às organizações com expertise técnica e Gabriel Osti Rosa, João Vitor de Aquino Ferreira, Laura Vitória
atuação local, a fim de promover o desenvolvimento de Trudes Gato, Beatriz Sousa Borges e Janaína Carbone
políticas e compromissos, dando visibilidade aos resultados da Bianconcini
ação climática local. – Engenharia Ambiental - Juliana Yumi Takara, Julia Martins
O melhor impacto nacional e global que podemos causar Pereira e Nely Vitoria Santana da Frota
ocorre por meio da reivindicação aos representantes políticos – Engenharia de Computação - Marilene Andrade Garcia
para que formulem leis que conservem, preservem e recuperem
os meios naturais e as paisagens brasileiras. Localmente, temos PARCERIA UNIVERSIDADES:
a responsabilidade de atuar na melhoria da qualidade de vida Profa. Dra. Renata Bovo Peres (UFSCar)
das nossas cidades, participando e demandando processos de Prof. Dr. Sérgio Henrique Vannucchi Leme de Mattos (UFSCar)
planejamento transparentes, nos quais as questões ambientais,
sociais e culturais estejam associadas e em primeiro plano. Essa PARCERIA PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO CARLOS/ GTPU:
parece ser a chave para a construção de uma resiliência Secretário Municipal de Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e
ambiental urbana, na procura pela adaptação à era das Inovação – Sr. José Galizia Tundisi
mudanças climáticas. Técnico da Secretaria Munic. De Meio Ambiente, Ciência,
Finalmente, algo de vital importância: não se trata de uma Tecnologia e Inovação – Eng. Daniel Caiche
questão apenas técnica, mas que possui uma dimensão Técnico da Secretaria Munic. De Habitação e Desenvolvimento
cultural significativa. Esses lugares deverão ser paisagens Urbano – Arq. Urb. Paulo Tauyr
memoráveis, porque é por meio dessa compreensão que os Técnico da Secretaria Munic. De Trânsito e Transporte Público –
lugares se tornam reconhecidos. Assim, participando da vida Eng. Gustavo Rennó Rocha
de sua população, tais espaços se tornam valorizados, seus
benefícios reconhecidos e, nesse sentido, sua preservação e
manutenção são mais do que um custo, tornam-se necessidade
ao bem comum.
partipações

WORKSHOP USP MUNICÍPIOS IAU USP DISCIPLINA DE PAISAGISMO II –2021

Professores - Luciana Schenk, Leandro Schenk, Camila Moreno Professoras responsáveis: Luciana Bongiovanni Martins Schenk e Mariana Fontes Pérez Rial
e Marcel Fantin Bolsista PAE: Ana Luiza Rodrigues Gambardella
Professora apoiadora – Renata Bovo Peres Monitora PEEG: Janaina Carbone Bianconcini
Doutoranda USP – Maria Cecília Pedro Bom de Lima Alunos:
Mestrando USP – Cauê Martins Silva
Mestrando UFSCAR – Guilherme Augusto Palmeira Garcia Alexey Carnizello Souza Juliana Martins Santos
Arquiteta Urbanista – Juliana da Mata Santos Alice Zamariolli Damianovic Lara Brisante Fernandes
Engenheiros Ambientais – Gabriela Rahal e Lucas Becco Andre Luis Ferreira Mascarenhas Lara Rossi Ambrozin
Estudante de graduação USP – Arquitetura e Urbanismo - Andressa Couto Nora Laura Hiilesmaa
João Batista Cavaroli Stivanin Beatriz Aparecida Correa Souza Laura Vitória Trudes Gato
João Gabriel Osti Rosa Bianca Travaini Xavier Vieira Leozel Negrão Neto
João Vitor de Aquino Ferreira Cynthia Daiane Diniz Lidia Mayumi Sogawa
Laura Vitória Trudes Gato Denise Ayumi Yamaguchi Liz Santo Macedo
Beatriz Sousa Borges Diego Zumpano Antonio Luis Minoro Maessaka Junior
Janaína Carbone Bianconcini Felipe Galimberti dos Santos Marcela Martins de Oliveira
Estudante de graduação USP – Engenharia Ambiental - Fernanda Cristina Norato dos Santos Maria Alice Messias
Julia Martins Pereira Gabriel Dierings Montechese Marina Spadoti Dantas
Juliana Yumi Takara Heitor Ferrari Tessarolli Mateus da Silva Barufi
Nely Vitoria Santana da Frota Ingridth Sarah Hopp Mateus de Godoy Vasconcellos
Estudante de graduação USP – Ciências da Computação – Isaac Murillo Sierra Mayara Ellena Rocha Sentalin
Marilene Garcia Isabella Sabrina Fernandes dos Santos Milena Acuio de Arruda
Italo Bertho Zanoti Natália Jacomino
Ivan Machado Galdiano Nícolas Pereira Alves
Jacqueline Elza Rugai Lopes Renan Montico Costa
Joao Batista Cavaroli Stivanin Ricardo Santhiago Costa Pinto
João Gabriel Osti Rosa Sarah Helena Caetano Rolindo
João Victor Garcia Mariotti Sofia Fortunato Ribeiro da Costa
João Vitor de Aquino Ferreira Thiago Fernandes Magri
Júlia Medici Tardelli Welber Oliveira Ribeiro
William Paulo Goncalves Braz
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