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Estruturas

SCHOLA DIGITAL
2018

Material Didático de Leitura


Obrigatória utilizado na
Disciplina de Estruturas –
Revisão 00 de Janeiro de
2018
ÍNDICE

UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Aula 1: Introdução e Observações..............................................................................................1

Aula 2: Aços Estruturais............................................................................................................15

Aula 3: Características Geométricas.........................................................................................25

Aula 4: Sistemas Estruturais.....................................................................................................37

Estruturas
Aula 5: Flexão Simples e Cisalhamento....................................................................................52

Aula 6: Tração e Compressão...................................................................................................69

UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Aula 7: Introdução às Madeiras................................................................................................81

Aula 8: Propriedades da Madeira.............................................................................................86

Aula 9: Solicitações Normais...................................................................................................101

Aula 10: Flexão e Cisalhamento..............................................................................................115

Aula 11: Ligações....................................................................................................................123

Aula 12: Cobertura..................................................................................................................133


Aula 1 – Introdução e Observações
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Unidade 1 – Estruturas Metálicas

Aula 1: Introdução e Observações

Utilizadas tanto em edificações urbanas tacanhas quanto nas de grande porte, as estruturas
metálicas imprimem maior produtividade e velocidade construtiva aos projetos. Em
comparação com processos convencionais, como a alvenaria, podem reduzir em até 40% o
tempo de execução da obra. Por dialogar com outros materiais, o aço — material das
estruturas metálicas — não deve ser visto como antagônico ao concreto, mas, em muito dos
casos, complementares.

1. Introdução

Desde a mais remota antiguidade, tem-se notícia do homem a utilizar-se de artefatos


de ferro. Iniciando-se pela descoberta do cobre, que se mostrava demasiadamente dúctil
(capaz de deformar-se sob a ação de cargas), o homem aprimorando as suas próprias
realizações, através do empreendimento de sua capacidade de pensar e de realizar,
estabeleceu os princípios da metalurgia, que na definição de alguns autores, é uma síntese;
pressupõe o uso coerente de um conjunto de processos, e não a prática de um instrumento
único. E esses processos foram-se somando ao longo das necessidades humanas, pois para a
síntese da metalurgia ou da forja, juntam-se as percussões (martelo), o fogo (fornalha), a
água (têmpera), o ar (fole) e os princípios da alavanca.

Imagina-se que, provavelmente, o cobre foi descoberto por acaso, quando alguma
fogueira de acampamento tenha sido feita sobre pedras que continham minério cúprico. É
presumível que algum observador mais arguto tenha notado algo “derretido” pelo calor do
fogo, reproduzindo, mais tarde, o processo propositadamente. Mas, como já se observou, o
cobre é por demais mole para que com ele se fabriquem instrumentos úteis, em especial
nos primórdios das descobertas humanas, bastante caracterizadas pelas necessidades de
coisas brutas. As técnicas de modelagem e de fusão vão se sofisticando quando surge a
primeira liga, o cobre arsênico, composto tão venenoso que logo teria que ser substituído.

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Aula 1 – Introdução e Observações
ESTRUTURAS

O passo seguinte foi a descoberta de que a adição ao cobre de apenas pequena proporção
de estanho, formava uma liga muito mais dura e muito mais útil do que o cobre puro. Era a
descoberta do bronze, que possibilitou ao homem modelar uma multidão de novos e
melhores utensílios: vasos, serras, escudos, machados, trombetas, sinos e outros. Mais ou
menos pelo mesmo período, o homem teria aprendido a fundir o ouro, a prata e o chumbo.

Como estabelecem alguns historiadores, uma brilhante descoberta conduz a outra e,


dessa maneira, logo depois da descoberta do cobre e do bronze, também o ferro passou a
ser utilizado. Esse novo metal já era conhecido há dois mil anos antes da era cristã, mas por
longo tempo permaneceu raro e dispendioso, e seu uso somente foi amplamente
estabelecido na Europa, por volta do ano 500 a.C.

Todo o ferro primitivo seria hoje em dia classificado como ferro forjado. O método
para obtê-lo consistia em abrir um buraco em uma encosta, forrá-lo com pedras, enchê-lo
com minério de ferro e madeira ou carvão vegetal e atear fogo ao combustível. Uma vez
queimado todo o combustível, era encontrada uma massa porosa, pedregosa e brilhante
entre as cinzas. Essa massa era colhida e batida a martelo, o que tornava o ferro compacto e
expulsava as impurezas em uma chuva de fagulhas. O tarugo acabado, chamado ‘lupa’,
tinha aproximadamente o tamanho de uma batata doce, das grandes.

Com o tempo, o homem aprendeu como tornar o fogo mais quente soprando-o com
um fole e a construir fornos permanente de tijolos, em vez de meramente escavar um
buraco no chão. Dessa maneira, o aço daí resultante, era feito pela fusão do minério de
ferro com um grande excesso de carvão vegetal ou juntando ferro maleável com carvão
vegetal e cozinhando o conjunto durante vários dias, até que o ferro absorvesse carvão
suficiente para se transformar em aço. Como esse processo era dispendioso e incerto e os
fundidores nada sabiam da química do metal com que trabalhavam, o aço permaneceu por
muitos anos um metal escasso e dispendioso, e somente tinha emprego em coisas de
importância vital, como as lâminas das espadas.

Do ponto de vista histórico, narram alguns especialistas, que, por volta do século IV
d.C., os fundidores hindus foram capazes de fundir alguns pilares de ferro que se tornaram
famosos. Um deles, ainda existente em Dheli, tem uma altura de mais de sete metros, com
outro meio metro abaixo do solo e um diâmetro que varia de quarenta centímetros na base
a pouco mais de trinta centímetros no topo. Pesa mais de seis toneladas, é feito de ferro
forjado e sua fundição teria sido impossível, naquele tamanho, na Europa, até época
relativamente recente. Mas, a coisa mais notável nesse e em outros pilares de sua espécie,
é a ausência de deterioração ou de qualquer sinal de ferrugem.

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Aula 1 – Introdução e Observações
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Após a queda do império romano, desenvolveu-se na Espanha a Forja Catalã, que veio
a dominar todo o processo de obtenção de ferro e aço durante a Idade Média, espalhando-
se notadamente pela Alemanha, Inglaterra e França. Nesse período, o ferro era obtido como
uma massa pastosa que podia ser moldada pelo uso do martelo e não como um líquido que
corresse para um molde, como ocorre atualmente. O fim da Idade Média que prepara a
Europa moderna pela extensão do maquinismo, é também testemunha das primeiras
intervenções do capitalismo no esforço para a produção industrial.

Essa evolução é acompanhada por grandes progressos técnicos, especialmente no que


se refere aos transportes marítimos e, um impulso semelhante se observa no progresso da
metalurgia. A força hidráulica foi aplicada aos foles das forjas, assim obtendo uma
temperatura mais elevada e regular, e com a carburação mais ativa deu-se a fundição,
correndo na base do forno o ferro fundido susceptível de fornecer peças moldadas. O forno,
que a partir de então se pôde ampliar, transformou-se em forno de fole e, em seguida, em
alto-forno.

O alto-forno a carvão vegetal, segundo os historiadores, apareceu por volta de 1630; o


primeiro laminador remonta aproximadamente ao ano de 1700. Entretanto, o grande
impulso ao desenvolvimento da siderurgia ocorreu com o advento da tração a vapor e o
surgimento das ferrovias, a primeira das quais inaugurada em 1827. Até o fim do século
XVIII, a maior parte das máquinas industriais eram feitas de madeira. O rápido
desenvolvimento dos métodos de refinação e de trabalho do ferro abriu caminho a novas
utilizações do metal e à construção de máquinas industriais e, por consequência, à
produção, em quantidade, de objetos metálicos de uso geral.

Entre as descobertas científicas, que gradativamente iam melhorando o processo de


produção industrial, merece destaque a utilização do carvão de pedra para a redução do
minério de ferro, que resultou na localização dos complexos siderúrgicos e que veio
determinar, por privilégios geológicos, o pioneirismo de uma nação na siderurgia. A Grã-
Bretanha foi, realmente, a maior beneficiária dessa conquista científica, em razão de
possuir, em territórios economicamente próximos, jazidas de minério de ferro e de carvão
de pedra.

Junta-se a isto toda uma estrutura comercial voltada para o exterior e já se pode
vislumbrar o perfil de um país que, praticamente sozinho, foi capaz de deter o privilégio de
domínio do mercado internacional de ferro, a ponto de ter sido considerada a oficina
mecânica do mundo. Apesar de não ser o único país a produzir ferro, foi o primeiro a
produzi-lo em escala comercial.

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Aula 1 – Introdução e Observações
ESTRUTURAS

A expansão da Revolução Industrial modificou totalmente a metalurgia e o mundo. O


uso de máquinas a vapor para injeção de ar no alto-forno, laminares, tornos mecânicos e o
aumento da produção, transformaram o ferro e o aço no mais importante material de
construção. Em 1779, construiu-se a primeira ponte de ferro, em Coalbrookdale, na
Inglaterra; em 1787, o primeiro barco de chapas de ferro e outras inovações.

As ferrovias, como já mencionado anteriormente, certamente foram o maior


contributo à expansão das atividades da metalurgia e, no ano de 1830, entra em operação a
ferrovia Liverpool-Manchester. No auge da atividade da construção ferroviária, por volta de
1847, estava em andamento a execução de cerca de dez mil quilômetros de ferrovias.
Quando a rede ferroviária britânica tinha sido completada, a indústria siderúrgica ampliada
foi capaz de suprir matéria-prima para a construção de ferrovias em outros países, onde se
destacam os Estados Unidos que, na década de 1870, construiu cinquenta e uma mil milhas
de estradas de ferro, o que representava, na época, tanto quanto se havia construído no
restante do mundo.

Na década de 1880-1890 a produção dos altos-fornos nos Estados Unidos tornou-se a


maior do mundo e, antes de 1900, a produção de aço norte-americana ultrapassou a todas
as demais no mundo. Para que se tenha uma idéia do nível de crescimento da produção de
aço, pode se perceber nela, um aumento vertiginoso, tanto que por volta de 1876, essa
produção era de um milhão de toneladas/ano, passando em 1926, cinquenta anos depois,
para a ordem de cem milhões de toneladas ano, atingindo, atualmente, algo em torno de
setecentos milhões de toneladas de aços das mais diversas qualidades e propriedades
mecânicas, sob a forma de perfis, chapas, barras, tubos, trilhos, etc.

Algumas obras notáveis em estruturas metálicas e que merecem ser citadas,


demonstram, de maneira insofismável, essa grande conquista do homem moderno.
Partindo-se da já mencionada ponte inglesa de Coalbrookdale em 1779, em ferro fundido
com vão de 31 metros, passamos, logo depois ainda na Inglaterra, à Britannia Brigde, com
dois vãos centrais de 140 metros cada; também pela Brooklyn Bridge em Nova Iorque, nos
Estados Unidos, a primeira das grandes pontes pênseis, com 486 metros de vão livre e
construída em 1883; a Torre Eiffel, em Paris, datada de 1889, com 312 metros de altura; o
Empire State Building, também em Nova Iorque, com seus 380 metros de altura e datado de
1933; a Golden Gate Bridge, na cidade de São Francisco, com 1280 metros de vão livre,
construída em 1937 até o World Trade Center, em Nova Iorque, com seus 410 metros de
altura e seus 110 andares, construído em 1972, e isso para citarmos algumas.

No Brasil, a atividade metalúrgica, no início da colonização era exercida pelos artífices


ferreiros, caldeireiros, funileiros, sempre presentes nos grupos de portugueses que

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Aula 1 – Introdução e Observações
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

desembarcavam nas recém-fundadas capitanias. A matéria-prima sempre foi importada e


cara. As primeiras obras em estruturas metálicas no Brasil, têm sua origem, assim como nos
demais países do mundo, a partir das estradas de ferro.

Narra-se que em outubro de 1888, chegou a Bananal, no Estado do Rio de Janeiro, a


estação ferroviária que ali seria montada. A mais sensacional estação ferroviária é a Estação
da Luz, no centro da cidade de São Paulo, pois com algumas modificações, feitas após um
incêndio, a estação é, fundamentalmente, a mesma que se terminou de construir em 1901 e
que, imponentemente, marcava e marca até hoje, a paisagem da capital paulista. De data
anterior, provavelmente de 1875, encontra-se o Mercado de São José, no Recife; mas,
também, o Mercado do Peixe, em Belém, por muito tempo conhecido como o Mercado de
Ferro, que foi inaugurado em 1901.

Acredita-se que a primeira obra a se utilizar de ferro pudlado – processo de refinação


do ferro datado de 1781, na Inglaterra, patenteado por Henry Cort, descrita como a mais
pesada forma de trabalho jamais empreendida pelo homem – fabricado no Brasil, deu-se
por volta de 1857, que foi a Ponte de Paraíba do Sul, no Estado do Rio de Janeiro, com cinco
vãos de trinta metros, estando em uso até a atualidade.

Mas, como marco de construção, não se poderia deixar de citar, em São Paulo, o
Viaduto Santa Efigênia, que de acordo com o Eng.º Paulo Alcides Andrade, constituiu-se
num marco de São Paulo. A história desse viaduto, segundo o engenheiro, se inicia por volta
do ano de 1890, quando se obteve a licença do Conselho de Intendentes para a sua
construção. A obra, porém, não foi iniciada e o contrato para sua construção foi cancelado.
Para se resumir a história de uma obra repleta de vai-e-vem, de ordem burocrática, ela
somente teve início no ano de 1911 e terminou em 1913. A estrutura, totalmente fabricada
na Bélgica, foi apenas montada no local, pela união por rebitagem das peças numeradas –
processo de ligações estruturais adota na época – e com as furações prontas, sendo
inaugurada em 26 de setembro de 1913.

As características estruturais da obra nos chamam a atenção, em especial, por


determinadas peculiaridades. A ponte é formada por um tabuleiro superior com 255 metros
de extensão, apoiado sobre cinco tramos, sendo três centrais com 53,50 metros cada e mais
dois vãos com 30,00 metros de vão nas extremidades. Os três vãos centrais, por sua vez, são
formados por arcos com flecha de 7,50 metros, o que equivale a uma relação flecha/vão de
7 a 8, valores esses, até hoje utilizados em dimensionamento de estruturas em arco.

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Aula 1 – Introdução e Observações
ESTRUTURAS

A primeira corrida de aço em uma usina siderúrgica integrada de grande porte, no


Brasil, deu-se em 22 de junho de 1946, na Usina Presidente Vargas, da CSN – Companhia
Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, no Estado do Rio de Janeiro.

O país importava praticamente todo o aço de que necessitava, tanto que as instalações
industriais da própria CSN foram construídas por empresas estrangeiras. Por aquele
período, à exceção dos produtos planos (chapas) que tinham a demanda garantida, os
demais produtos, tais como trilhos e perfis laminados, encontravam dificuldades na sua
comercialização, quando foi proposta pela USX – United States Steeel, empresa norte-
americana fabricante de aço e fornecedora de estruturas metálicas, após pesquisa de
mercado, que a CSN instalasse uma fábrica de estruturas com o objetivo de consumir a
produção de laminados e de incentivar o seu uso4.

Nascia, dessa maneira, a partir de 1953, a FEM – Fábrica de Estruturas Metálicas,


criando uma tecnologia brasileira da construção metálica. 4Roosevelt de Carvalho, na
ocasião funcionário da CSN, foi uma pessoa de fundamental importância neste processo.
Após breve estágio nos EUA voltou para organizar na fábrica recém-criada, um curso para
detalhamento de estruturas metálicas. O trabalho desenvolvido possibilitou a formação de
uma equipe de primeira linha e transformou-se em verdadeira escola. Com Paulo Fragoso a
construção metálica conheceu um de seus momentos mais estimulantes. Com a
implantação da CSN, ele começou a se preparar para colaborar no desenvolvimento da nova
tecnologia que, acreditava, haveria de ganhar grande impulso no país. O vanguardismo do
escritório Paulo Fragoso não se limitou apenas ao arrojo, que propiciou a construção das
primeiras grandes edificações de aço no Brasil.

Introduziu e aperfeiçoou nos seus projetos os conceitos de vigas mistas, trazido da


Alemanha, um dos fatores mais importantes para a viabilização econômica da solução
metálica para edifícios altos. Estava deflagrado o processo que daria início às edificações de
aço no Brasil.

Dignos de nota, muito embora sejam muitas as edificações, mencionaremos apenas


algumas dessas obras:

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Aula 1 – Introdução e Observações
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

2. Vantagens e Desvantagens na utilização do Aço Estrutural

Como todo material de utilização em construção, o aço estrutural é possuidor de


características que trazem benefícios de toda ordem o que, certamente, proporciona
vantagens em sua utilização. Muito embora não seja causador de malefícios quando
utilizado em construções, é também necessário estabelecer algumas desvantagens com
relação à sua utilização.

2.1. Vantagens

Como principais vantagens da utilização do aço estrutural, podemos citar:

• Alta resistência do material nos diversos estados de solicitação: tração,


compressão, flexão, etc., o que permite aos elementos estruturais
suportarem grandes esforços apesar das dimensões relativamente pequenas
dos perfis que os compõem;
• Apesar da alta massa específica do aço, na ordem de 78,50 KN/m³, as
estruturas metálicas são mais leves do que, por exemplo, as estruturas de
concreto armado, proporcionado, assim, fundações menos onerosas;
• As propriedades dos materiais oferecem grande margem de segurança, em
vista do seu processo de fabricação que proporciona material único e
homogêneo, com limites de escoamento, ruptura e módulo de elasticidade
bem definidos;
• As dimensões dos elementos estruturais oferecem grande margem de
segurança, pois por terem sido fabricados em oficinas, são seriados e sua

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Aula 1 – Introdução e Observações
ESTRUTURAS

montagem é mecanizada, permitindo prazos mais curtos de execução de


obras;
• Apresenta possibilidade de desmontagem da estrutura e seu posterior
reaproveitamento em outro local;
• Apresenta possibilidade de substituição de perfis componentes da estrutura
com facilidade, o que permite a realização de eventuais reforços de ordem
estrutural, caso se necessite estruturas com maior capacidade de suporte de
cargas;
• Apresenta possibilidade de maior reaproveitamento de material em estoque,
ou mesmo, sobras de obra, permitindo emendas devidamente
dimensionadas, que diminuem as perdas de materiais, em geral corrente em
obras.

2.2. Desvantagens

Como principais desvantagens da utilização do aço estrutural, podemos citar:

• Limitação de fabricação em função do transporte até o local da montagem


final, assim como custo desse mesmo transporte, em geral bastante oneroso;
• Necessidade de tratamento superficial das peças estruturais contra oxidação
devido ao contato com o ar, sendo que esse ponto tem sido minorado através
da utilização de perfis de alta resistência à corrosão atmosférica, cuja
capacidade está na ordem de quatro vezes superior aos perfis de aço carbono
convencionais;
• Necessidade de mão-de-obra e equipamentos especializados para a
fabricação e montagem;
• Limitação, em algumas ocasiões, na disponibilidade de perfis estruturais,
sendo sempre aconselhável antes do início de projetos estruturais, verificar
junto ao mercado fornecedor, os perfis que possam estar em falta nesse
mercado.

3. Fatores que Influenciam o Custo de Estruturas Metálicas

Tradicionalmente o aço tem sido vendido por tonelada e, consequentemente,


discutindo-se o custo de uma estrutura de aço impõe-se que se formulem seus custos por
tonelada de estrutura acabada. Na realidade, existe uma gama considerável de outros
fatores que se somam na constituição desses valores e que têm influência no custo final
dessa estrutura, que não somente o seu peso.

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Aula 1 – Introdução e Observações
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Como principais fatores que influenciam o custo de Estruturas Metálicas, podemos


citar:

• Seleção do sistema estrutural: ao se considerar qual o sistema estrutural que


se propõe dimensionar, é necessário levar em conta os fatores de fabricação e
posterior montagem, bem como sua utilização futura, no que diz respeito, por
exemplo, à iluminação, ventilação e mesmo outros fatores que venham a ser
causadores de problemas futuros e que possam demandar arranjos
posteriores;
• Projeto dos elementos estruturais: é sempre necessário um cuidado especial
nesse requisito, em vista a imensa repetitividade dos elementos
dimensionados. Uma vez que se dimensiona um componente estrutural, ele
se repete por um número grande de vezes, e caso esse elemento tenha sido
dimensionado aquém de suas necessidades, os reflexos de ordem estrutural
se farão notar em toda a obra; assim como, em caso contrário, de
dimensionamento dos elementos estruturais além de suas necessidades reais,
acarreta custo adicional, sem dúvida nenhuma, desnecessário;
• Projeto e Detalhe das conexões: da mesma maneira que nos itens anteriores,
as conexões, ou as ligações estruturais deverão levar em conta aspectos de
fabricação. Por exemplo, as ligações de fábrica poderão ser soldadas, pois
esse tipo de trabalho ao ser realizado em fábrica é feito de maneira
relativamente simples, ao passo que, quando essas ligações são realizadas na
obra, as condições locais já não são tão favoráveis a um bom processo de
montagem, em vista de que, na fábrica, trabalha-se ao nível do chão ou
mesmo em bancadas apropriadas, enquanto que no local da obra, as
condições de trabalho são, em geral, executadas sobre andaimes ou outros
elementos; o que nos leva a considerarmos para as ligações de obra a
utilização de parafusos;
• Processo de fabricação, especificações para fabricação e montagem: estão
dentre os fatores que mais influenciam os custos da obra, pois processos de
especificações mal delineadas causam atrasos ou mesmo necessidade de
retrabalho de certas etapas de execução, assim como a montagem da
estrutura deverá ser levada em conta mesmo antes de sua contratação, para
que se verifiquem elementos limitadores dessa etapa da construção, tais
como proximidade de vizinhos, linhas de energia, tubulações enterradas,
movimentação dos equipamentos de montagem, etc.;
• Sistemas de proteção contra corrosão e incêndio: no primeiro caso, da
corrosão, já se citou a existência, no mercado, de determinados produtos que

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Aula 1 – Introdução e Observações
ESTRUTURAS

minoram essa dificuldade, mas que se deve levar em conta, também, se as


ofertas destes produtos podem ou não onerar a obra, avaliando e
comparando o custo de pinturas especiais em relação ao material aço. De
uma maneira geral, principalmente em zonas litorâneas, de grande
agressividade, a utilização desses perfis especiais é menos onerosa do que
pinturas especiais. No caso de combate a incêndio, esse aspecto deve levar
em consideração normas específicas delineadas pelo Corpo de Bombeiros,
mas que de uma maneira geral, acrescentam, de forma significativa, ônus
sobre o custo da obra.

4. Fases de Obras

As obras de construção, de maneira geral, estabelecem determinadas premissas para


sua boa execução e que podem ser definidas assim:

a) Projeto Arquitetônico: nessa etapa são delineadas a finalidades da obra, o seu


estudo, a sua composição, assim como os materiais que serão utilizados,
características de ventilação, iluminação. Bem se vê tratar-se de etapa das mais
importantes, em vista de que todos os demais projetos complementares
(fundações, estrutura, instalações, etc.) serão desenvolvidos a partir das premissas
definidas nessa etapa, necessitando, portanto, de tempo adequado para sua boa
confecção.
b) Projeto Estrutural: na sequência natural dos projetos, surge a etapa onde se dá
vestimenta ao corpo da obra, ou seja, a estrutura, quando todos os componentes
desse corpo devem ser devidamente trabalhados, de forma a estabelecer
consonância com o projeto arquitetônico. É não menos importante do que o
anterior, pois se o primeiro delineia as linhas básicas de uma obra, a estrutura
vem dar conformação àquelas linhas.

“Um bom projetista estrutural pensa de fato em sua estrutura tanto ou mais do que pensa no
modelo matemático que usa para verificar os esforços internos, baseado nos quais ele deverá
determinar o material necessário, tipo, dimensão e localização dos membros que conduzem as cargas.
A ‘mentalidade da engenharia estrutural’ é aquela capaz de visualizar a estrutura real, as cargas sobre
ela, enfim ‘sentir’ como estas cargas são transmitidas através dos vários elementos até as fundações.
Os grandes projetistas são dotados daquilo que às vezes se tem chamado ‘intuição estrutural’. Para
desenvolver a ‘intuição e sentir’, o engenheiro torna-se um observador arguto de outras estruturas.
Pode até mesmo deter-se para contemplar o comportamento de uma árvore projetada pela natureza
para suportar as tempestades violentas; sua flexibilidade é frágil nas folhas e nos galhos diminuídos,
mas crescente em resiet6encia e nunca abandonando a continuidade, na medida em que os galhos se
confundem com o tronco, que por sua vez se espalha sob sua base no sistema de raízes, que prevê
sua fundação e conexão com o solo”. (Johnstom)

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Aula 1 – Introdução e Observações
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

c) Sondagens do Solo: é de fundamental importância para o bom delineamento, em


especial, do sistema estrutural a ser adotado que, como já vimos, é um dos fatores
preponderantes na análise de custos de uma obra em estrutura metálica. A partir
da boa ou má qualidade do solo, o sistema estrutural proposto irá considerar as
condições mais propícias para o apoio dessa estrutura sobre os elementos
estruturais que compõe as fundações, podendo ou não, por exemplo, serem
engastados nesses elementos.
d) Detalhamento, Fabricação, Transporte e Montagem: nessas etapas os fatores que
compõem a boa execução da obra devem ser bem delineados, a começar pelo
detalhamento dos elementos estruturais, peça por peça, visando atender
necessidades de cronogramas tanto de fabricação quanto de montagem. No caso
da fabricação, devem ser observadas as premissas de projeto e detalhamento,
assim como prever para as etapas de transporte e montagem, a confecção de
estruturas que não exijam, em demasia, a contratação de equipamentos ainda
mais especiais, tais como veículos especiais ou guindastes também especiais.

5. Produtos Siderúrgicos e Produtos Metalúrgicos

Os produtos siderúrgicos, via de regra, podem ser classificados de forma geral em


perfis; chapas e barras. As indústrias siderúrgicas produzem cantoneiras de abas iguais ou
desiguais, perfis H, I ou Tê, perfis tipo U, barras redondas, barras chatas, tubos circulares,
quadrados ou retangulares, chapas em bobinas, finas ou grossas; enquanto os produtos
metalúrgicos são os compostos por chapas dobradas tais como perfis tipo U enrijecido ou
não, cantoneiras em geral de abas iguais, perfil cartola, perfil Z ou trapezoidais, ou ainda,
compostos por chapas soldadas para perfis tipo Tê soldado ou I soldado.

5.1. Designação dos Perfis

5.1.1. Perfis Laminados ou Conformados a Quente

A designação de perfis metálicos laminados segue determinada ordem:

Código, altura (mm), peso (Kg/m)

Como exemplo de códigos tem-se:

• L – Cantoneiras de abas iguais ou desiguais;


• I – Perfil de seção transversal na forma da letra ‘ I ‘;
• H – Perfil de seção transversal na forma da letra ‘H’;

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Aula 1 – Introdução e Observações
ESTRUTURAS

• U – Perfil de seção transversal na forma da letra ‘U’;


• T – Perfil de seção transversal na forma da letra ‘Tê’;

Como exemplo de designação de perfis tem-se:

• L 50 x 2,46 – Perfil L de abas iguais de 50 mm e peso de 2,46 kg/m;


• L 100 x 75 x 10,71 – Perfil L de abas desiguais de 100 mm de altura por 75 mm
de largura e peso de 10,71 kg/m;
• I 200 x 27 – Perfil ‘ I ‘ com altura de 200 mm e peso de 27 Kg/m;
• H 200 x 27 – Perfil ‘ H ‘ com altura de 200 mm e peso de 27 Kg/m;
• U 200 x 27 – Perfil ‘ U ‘ com altura de 200 mm com peso de 27 Kg/m.

5.1.2. Perfis de Chapa Dobrada ou Perfis Formados a Frio (PFF)

A designação de perfis metálicos de chapa dobrada segue determinada ordem:

Tipo, Altura, Aba, Dobra, Espessura (todas as medidas em mm)

Sendo:

• L – Cantoneiras de abas iguais ou desiguais;


• U – Perfil de seção transversal na forma da letra ‘ U ‘ enrijecidos ou não.

Como exemplo de designação de perfis tem-se:

• L 50 x 3 – Perfil L de abas iguais de 50 mm e espessura de 3 mm;


• L 50 x 30 x 3 – Perfil L de abas desiguais de 50 mm por 30 mm e espessura de
3 mm;
• U 150 x 60 x 3 – Perfil U não enrijecido com altura de 150 mm, aba de 60 mm
e espessura de 3 mm;
• U 150 x 60 x 20 x 3 – Perfil U enrijecido com altura de 150 mm, aba de 60 mm,
dobra de 20 mm e espessura de 3 mm.

A designação de perfis soldados seguem especificações dos fabricantes sempre na


forma de perfil tipo ‘ I ‘:

• CS – Perfil coluna soldada (altura e abas com a mesma dimensão);


• VS – Perfil viga soldada;
• CVS – Perfil coluna-viga soldada.

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UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Como exemplo de designação de perfis tem-se:

• CS 250 x 52 – Perfil CS com altura de 250 mm e peso de 52 Kg/m;


• VS 600 x 95 – Perfil VS com altura de 600 mm e peso de 95 kg/m;
• CVS 450 x 116 – Perfil CVS com altura de 450 mm e peso de 116 Kg/m.

5.1.3. Outros Produtos

5.1.3.1. CHAPAS FINAS A FRIO

Possuem espessuras padrão de 0,30 mm a 2,65 mm e fornecidas em larguras


padronizadas de 1.000 mm, 1.200 mm e 1.500 mm e nos comprimentos de 2.000 mm e
3.000mm, e também sob a forma de bobinas.

5.1.3.2. CHAPAS FINAS A QUENTE

Possuem espessuras padrão de 1,20 mm a 5,00 mm e fornecidas em larguras


padronizadas de 1.000 mm, 1.100 mm, 1.200mm, 1.500 mm e 1.800 mm e nos
comprimentos de 2.000mm, 3.000mm e 6.000mm, e também sob a forma de bobinas.

5.1.3.3. CHAPAS GROSSAS

Possuem espessuras padrão de 6,3 mm a 102 mm e fornecidas em diversas larguras


padronizadas de 1.000mm a 3.800mm e em comprimentos de 6.000 mm e 12.000 mm.

5.1.3.4. BARRAS REDONDAS

Apresentadas em amplo número de bitolas que são utilizadas em chumbadores,


parafusos e tirantes.

5.1.3.5. BARRAS CHATAS

Apresentadas nas dimensões de 38 x 4,8 a 304 x 50 (mm).

5.1.3.6. BARRAS QUADRADAS

Apresentadas nas dimensões de 50 mm a 152 mm.

5.1.3.7. TUBOS ESTRUTURAIS

Apresentados em amplo número de dimensões e fornecidos em comprimento padrão


de 6.000 mm.

13
Aula 1 – Introdução e Observações
ESTRUTURAS

5.1.4. Nomenclatura SAE

Para os aços utilizados na indústria mecânica e por vezes também em construções


civis, emprega-se com frequência a nomenclatura S.A.E. Exemplo: SAE 1020 – aço-carbono
com 0,20 % de carbono.

Baseado e adaptado de
AUGUSTO CANTUSIO NETO.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

14
Aula 2 – Aços Estruturais
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Aula 2: Aços Estruturais

O aço é a mais versátil e a mais importante das ligas metálicas. O aço é produzido em uma
grande variedade de tipos e formas, cada qual atendendo eficientemente a uma ou mais
aplicações. Esta variedade decorre da necessidade de contínua adequação do produto às
exigências de aplicações específicas que vão surgindo no mercado, seja pelo controle da
composição química, seja pela garantia de propriedades específicas ou, ainda, na forma final
(chapas, perfis, tubos, barras, etc.).

1. Processo de Fabricação

Os processos de obtenção do aço passaram ao longo dos tempos por algumas


diversificações, desde os primeiros fornos “cavados” nas encostas, pelos primeiros fornos
de alvenaria até alcançarem mediante profundas conquistas tecnológicas os denominados
altos-fornos. Na atualidade, os metais ferrosos são obtidos por redução dos minérios de
ferro nos altos-fornos. O método de fabricação consiste em se carregar, pela parte superior
dos altos-fornos, o minério, o calcário e o carvão coque, materiais necessários no processo
de fabricação.

Pela parte inferior desses mesmos altos-fornos, insufla-se ar quente; o carvão coque
queima produzindo calor e monóxido de carbono, que reduzem o óxido de ferro a ferro
liquefeito, com excesso de carbono. O calcário converte o pó de coque e a ganga – minerais
ferrosos do minério – em escória fundida.

Na sequência, pela parte inferior do forno, são drenados periodicamente a liga ferro-
carbono e a escória. O forno funciona continuamente e o produto do alto-forno chama-se
ferro gusa, uma liga de ferro ainda com alto teor de carbono e com diversas impurezas, cuja
maior parte é transformada em aço. O refinamento do ferro fundido em aço consiste em
reduzir-se a quantidade de impurezas a limites prefixados, quando, por exemplo, o excesso
de carbono é eliminado com a aplicação de gás carbônico; os óxidos e outras impurezas se
transformam em gases ou em escória que sobrenada o aço liquefeito.

Até há alguns anos atrás, basicamente existiam três processos de fabricação do aço:
Conversor Besemer, Forno Siemens-Martin e Forno Elétrico. No primeiro caso, o processo

15
Aula 2 – Aços Estruturais
ESTRUTURAS

era mais rápido, quando se coloca no Conversor – um recipiente forrado com tijolos com
perfurações no fundo – o gusa derretido e injeta-se ar pelas perfurações ao fundo; o ar
injetado queima o carbono e algumas impurezas, produzindo calor necessário para a
operação que dura de dez a quinze minutos. O metal assim purificado pela injeção de ar é
lançado em uma panela e em seguida transferido para os moldes de lingotes, as
denominadas lingoteiras e, em seguida, enviado para a laminação.

No segundo caso, do Forno Siemens-Martin, o processo é mais demorado,


demandando cerca de dez horas. No forno se coloca gusa e sucata de ferro, que são
fundidos por chamas provocadas por injeções laterais de ar quente e óleo combustível.
Adiciona-se minério de ferro e calcário, processando-se uma série de reações entre o óxido
de ferro e as impurezas do metal e estas são queimadas ou se transformam em escória. O
aço líquido é analisado, podendo modificar-se a mistura até se obter a composição
desejadas e quando as reações estão encerradas, o produto é lançado em uma panela, onde
a escória transborda, quando o aço fundido é lançado em lingoteiras e encaminhado para a
laminação.

No caso do Forno Elétrico, ainda hoje utilizado, a energia térmica é fornecida por arcos
voltaicos entre eletrodos e o aço fundido e esse processo é utilizado para refinar aços
provenientes do Conversor Bessemer ou do Forno Siemens-Martin. O aço líquido
superaquecido absorve gases da atmosfera e oxigênio da escória. O gás é expelido
lentamente pelo resfriamento da massa líquida, porém, ao se aproximar a temperatura de
solidificação, o aço ferve e os gases escapam rapidamente, que tem como consequência a

16
Aula 2 – Aços Estruturais
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

formação de diversos vazios no aço, que deve ser solucionada através da adição de ferro-
manganês na panela.

Na atualidade, nas fabricações mais modernas, é utilizado em larga escala o Conversor


de Oxigênio, denominado Conversor BOF (Sopro de Oxigênio), que como o próprio nome
indica, baseia-se na injeção de oxigênio dentro da massa liquida do ferro fundido (gusa). O
ar injetado queima o carbono, em um processo de 15 a 20 minutos, ou seja, de alta
eficiência.

O aço líquido, como percebemos, absorve e perde gases no processo de fabricação.


Devido a essa desgaseificação, os aços são classificados em: efervescentes, capeados, semi-
acalmados e acalmados. Os aços efervescentes, assim chamados por provocarem certa
efervescência nas lingoteiras, são utilizados em chapas finas; os aços capeados, por sua vez,
são análogos aos efervescentes.

Os aços semi-acalmados, parcialmente desoxidados, são os mais utilizados nos


produtos siderúrgicos correntes – perfis, barras, chapas grossas; enquanto que os aços
acalmados, que têm todos os gases eliminados, apresentam melhor uniformidade de
estrutura e destinados aos aços-ligas, aos aços de alto-carbono, ou mesmo de baixo-
carbono destinados à estampagem.

A laminação, como processo seguinte, promove o aquecimento dos lingotes obtidos


nos processos descritos acima, e são sucessivamente prensados em rolos – laminadores –
até adquirirem as formas desejadas: barras, perfis, trilhos, chapas, etc.

Importante, também, é se conhecer os tratamentos térmicos, cuja finalidade é a de


melhorar as propriedades dos aços e que se dividem em dois tipos principais:

• Tratamentos destinados a reduzir tensões internas provocadas por laminação,


solda, etc.;
• Tratamentos destinados a modificar a estrutura cristalina com alterações da
resistência e outras propriedades.

As principais metodologias adotadas são:

• Normalização: o aço é aquecido a uma temperatura da ordem de 800 oC e


mantido nessa temperatura por quinze minutos e depois deixado resfriar
lentamente no ar e através desse processo refina-se a granulometria,
removendo-se as tensões internas de laminação, fundição ou forja;

17
Aula 2 – Aços Estruturais
ESTRUTURAS

• Recozimento: o aço é aquecido a uma temperatura apropriada, dependendo


do efeito desejado, mantido nessa temperatura por algumas horas ou dias e
depois, deixado para resfriar lentamente, em geral no forno e, através desse
processo, se obtém a remoção das tensões internas e redução da dureza;
• Têmpera: o aço é aquecido a uma temperatura de cerca de 900 oC e resfriado
rapidamente em óleo ou água para cerca de 200 oC, cuja finalidade é
aumentar a dureza e a resistência diminuindo a ductibilidade e a tenacidade.

2. Classificação

Após processo de fabricação e segundo sua composição química, os aços sofrem


determinadas classificações a partir dessas composições, pois percebemos que 1 o aço é um
composto que consiste quase totalmente de ferro (98 %), com pequenas quantidades de
carbono, silício, enxofre, fósforo, manganês, etc., sendo que o carbono é o material que
exerce o maior efeito nas propriedades do aço, resultando, daí, as classificações
mencionadas. Os aços utilizados em estruturas metálicas são divididos em dois grupos: aço-
carbono e aço de baixa-liga.

2.1. Aço-Carbono

O aço-carbono é o tipo mais usual, quando o acréscimo de resistência em relação ao


ferro é produzido pelo carbono. Em estruturas correntes, os aços utilizados possuem um
teor de carbono que não deve ultrapassar determinados valores, pois caso esses valores
sejam superiores aos limites estabelecidos, haverá um decréscimo na soldabilidade –
capacidade de se utilizar processo de soldas – criando algumas dificuldades de fabricação e
montagem das estruturas, mesmo embora o resultado dessa maior adição de carbono
resulte em um aço de maior resistência e de maior dureza.

Nesse tipo de aço as máximas porcentagens de elementos adicionais são:

Carbono (1,7%) – Manganês (1,65%) – Silício (0,60%) e Cobre (0,60%)

A recomendação básica é que não se ultrapasse o percentual de 0,40 a 0,45 %, pois até
esses valores, existe um patamar definido de escoamento.

Dentre os perfis mais usuais de aço-carbono podemos citar:

18
Aula 2 – Aços Estruturais
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

• ASTM A-36: É considerado o tipo mais comum de aço-carbono e que contém


de 0,25 a 0,29% de carbono, sendo utilizado em perfis, barras e chapas para
os mais diversos tipos de construção, desde pontes, edifícios, etc.;
• ASTM A570: É empregado principalmente para perfis de chapas dobradas,
devido à sua maleabilidade;
• ASTM A307: Aço de baixo carbono utilizado em parafusos comuns;
• ASTM A325: Aço de médio carbono utilizado em parafusos de alta resistência.

2.2. Aço de Baixa-Liga

Esse tipo de aço é obtido pelo mesmo aço-carbono acrescido de elementos de liga em
proporções diminutas – cobre, manganês, silício, etc. A adição desses elementos promovem
alterações na microestrutura original, ampliando a resistência desse tipo de aço.

Na pequena variação de ordem química somada à adição de outros componentes,


também pode ser aumentada a resistência à oxidação, fator que como vimos
anteriormente, impõe acréscimo de custos nas estruturas.

Dessa maneira, os aços de baixa-liga podem ser subdivididos em:

• Aços de Alta Resistência Mecânica:


✓ ASTM A441: Utilizado em estruturas que necessitem de alta
resistência mecânica;
✓ ASTM A572: Utilizado em estruturas que necessitem de alta
resistência mecânica têm, atualmente, aumentado
consideravelmente seu uso no mercado de perfis, em especial, vigas
tipo ‘ I ‘ ou ‘ U ’.
• Aços de Alta Resistência Mecânica e Corrosão Atmosférica:
✓ ASTM A242: Possuem o dobro da resistência à corrosão do aço-
carbono, o que permite sua utilização plena em situações de
exposições às intempéries, cujos produtos mais conhecidos
respondem pelos nomes comerciais de:
▪ NIOCOR, produzido pela CSN; SAC, produzido pela Usiminas
e COS-AR-COR, produzido pela Cosipa.

2.3. Elementos de Composição Química do Aço

Uma vez verificada a classificação dos aços estruturais, é relevante se conhecer um


pouco mais sobre a influência da composição química nas propriedades do aço. A

19
Aula 2 – Aços Estruturais
ESTRUTURAS

composição química determina muitas das características dos aços, sendo que alguns
elementos químicos presentes nos aços comerciais são consequência dos métodos de
obtenção, outros são adicionados a fim de se atingir determinados objetivos. A influência de
alguns desses elementos, como visto na disciplina Materiais de Construção II, pode ser
descrita resumidamente:

• Carbono: é o principal elemento para aumento da resistência;


• Cobre: aumenta de forma muito eficaz a resistência à corrosão atmosférica e
a resistência à fadiga;
• Cromo: aumenta a resistência mecânica à abrasão e à corrosão atmosférica
reduzindo, porém, a soldabilidade;
• Enxofre: entra no processo de obtenção, mas pode causar retração à quente
ou mesmo ruptura frágil, assim como, teores elevados podem causar
porosidade e fissuração na soldagem;
• Silício: aumenta a resistência e a tenacidade e reduz a soldabilidade;
• Titânio: aumenta o limite de resistência, a resistência à abrasão e a resistência
à deformação lenta, sendo muito importante a fim de se evitar o
envelhecimento;
• Vanádio: aumenta o limite da resistência, a resistência à abrasão e a
resistência à deformação lenta sem prejudicar a soldabilidade e a tenacidade.

3. Propriedades dos Aços Estruturais

Para melhor se compreender o comportamento das estruturas de aço, se faz


necessário conhecer, de forma satisfatória, as principais propriedades dos aços estruturais.
Alguns destes conceitos são abordados mais detalhadamente na disciplina de Estabilidade,
porém, serão revistos novamente de forma sucinta.

O primeiro ponto a ser analisado deve ser o diagrama de tensão-deformação, para se


analisar e entender o comportamento estrutural. Quando solicitamos um corpo de prova ao
esforço normal de tração, podemos obter valores importantes para a determinação das
propriedades mecânicas dos aços. As primeiras propriedades mecânicas que devem ser
salientadas são:

• Fy: Tensão limite de resistência à tração (variável para os tipos de aço);


• Fu: Tensão última de resistência à tração (variável para os tipos de aço);
• E: Módulo de Elasticidade = 205 GPa.

3.1. Elasticidade

20
Aula 2 – Aços Estruturais
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Vem a ser a capacidade que certos elementos estruturais têm de voltar à sua forma
original após sucessivos ciclos de carregamento e descarregamento. Se recorrermos à
Resistência dos Materiais – o ramo da Mecânica Aplicada que, utilizando os conhecimentos
da Teoria Matemática da Elasticidade, bem como da Mecânica Racional, estabelece
fórmulas onde são considerados os efeitos internos nos corpos, produzidos pela ação de
forças externas – é necessário recordar-se da Lei de Hook.

Essa lei muito antiga, segundo alguns autores, data de 1676 e enunciada por Hook,
estabelece que através de numerosas observações do comportamento dos sólidos,
demonstra-se que, na imensa maioria dos casos, os deslocamentos, dentro de certos
limites, são proporcionais às cargas que atuam, ou seja, segundo seja a força, assim será a
deformação.

Partindo da condição de que as tensões são produzidas pelos esforços atuantes, elas
aumentarão com o aumento das forças aplicadas. Daí, os aumentos das tensões serão
acompanhados por aumentos das deformações, passando por uma série de estados em que
sejam de efeito desde desprezível até a condição de desagregação das moléculas no ponto
de ruptura. Para a avaliação desses estados se realizam provas do material (ensaios), por
meio de “corpos de prova”, devidamente proporcionados, submetidos à experiência de
laboratório com máquinas especiais.

No caso dos aços estruturais, os ensaios de laboratório são realizados para esforços de
tração. Como vimos acima, a elasticidade é a propriedade que certos corpos têm de
retornarem, depois de deformados – sujeitos à ação de uma carga – à sua forma inicial,
quando desaparecem as causas que motivaram a deformação. Assim, no ensaio de tração
simples, sob a ação de uma carga P, o corpo de comprimento L, é aumentado da grandeza
δ. À medida que se aumenta P, δ também aumenta, e se não for ultrapassado o “limite de
elasticidade” do material, quando se retira a carga P, o corpo volta às condições primitivas.
Por isso, devido à elasticidade, a energia potencial interna, armazenada durante o
desenvolvimento da deformação δ, é capaz de devolver ao corpo, em forma de trabalho
mecânico, o necessário para restaurar as condições primitivas.

3.2. Coeficiente de Poisson

Coeficiente de Poisson (ν = 0,30 para o aço) é o coeficiente de proporcionalidade entre


as deformações longitudinal e transversal de uma peça. Quando se realiza estudos das
deformações ao longo do eixo longitudinal de uma peça, observa-se uma propriedade em
todos os sólidos relativas às deformações consequentes transversais. Por exemplo, uma
tração, que conduz ao aumento do comprimento, corresponderá a uma contração

21
Aula 2 – Aços Estruturais
ESTRUTURAS

transversal; enquanto que uma compressão, que conduz à redução do comprimento,


corresponderá a uma expansão transversal. Portanto, o coeficiente de Poisson equivale o
mesmo que coeficiente de deformação transversal.

3.3. Coeficiente de Dilatação Térmica

De valor β = 12 x 10-6 C para o aço. Quando se eleva ou se abaixa a temperatura de um


corpo, o material se dilata ou se contrai, a não ser que seja impedido por circunstâncias
locais e, havendo a mudança de temperatura de uma barra livre, o Coeficiente de Dilatação
Térmica do material é a variação por unidade de comprimento e por grau de temperatura.

3.4. Módulo de Elasticidade Transversal

Módulo de Elasticidade Transversal (G = = 0,385 E para o aço) ou simplesmente


Módulo de Elasticidade de Cisalhamento, é utilizado quando ocorre a extensão ou
encurtamento motivada por cisalhamento, ou seja, por corte no plano perpendicular. Essas
deformações por corte, ocorrem com as de tração-compressão na flexão e torção.

3.5. Peso Específico

Para o aço, seu valor é γ = 78,50 KN/m³.

Uma vez conhecidas as principais propriedades mecânicas dos aços estruturais, já se


pode analisar o Diagrama de Tensão-Deformação, representado a seguir.

22
Aula 2 – Aços Estruturais
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Em O-A há proporcionalidade entre a tensão e a deformação, cujo ponto A define o


Limite de Proporcionalidade (Lei de Hook – Força e Deformação). Além do ponto A, a linha
descreve um raio curto até o ponto B. Se até esse ponto a carga atuante fosse retirada
lentamente, haveria o desaparecimento da deformação. Nesse período chamado Período
Elástico, o material se comportou elasticamente e o ponto B será o Limite de Elasticidade do
Material. Esse ponto B separa duas condições importantes do material, pois após esse
limite, o material, como que cansado, perde bruscamente grande poder de resistência.

Chegado ao ponto B, ocorre um fenômeno interessante no material, pois o corpo


apresenta uma deformação apreciável, sem ter aumento apreciável de tensão e sem que se
note qualquer lesão no material, mas se verifica uma queda brusca no caminho do ponto B
ao ponto C, onde se observa um desarranjo molecular do material e, por isso mesmo, esse
ponto denomina-se Limite de Escoamento (Fy).

Prosseguindo-se com a análise do diagrama prossegue-se pelo caminho do ponto C ao


ponto D, onde as deformações são cada vez maiores, onde no último ponto (D) ocorre o
Limite de Tensão Máxima (Fu), também chamado tensão de ruptura. Esse período onde as
deformações são permanentes, denomina-se Período Plástico, pois ao ser retirada a carga
lentamente, o material não mais retorna ao estado primitivo e permanece em estado de
deformação permanente.

Ao atingir o ponto D, a seção do material começa a se estrangular, significando uma


alteração molecular e, neste período denominado de estricção, a área da seção transversal
do material vai diminuindo e começam a aparecer fissuras, de fora para dentro, até que a
ruptura se complete. Para efeito de classificação, diz-se que o material está no Regime
Elástico quando obedece ao período entre os pontos O e B e no Regime Plástico quando
ultrapassa o ponto B.

Outras propriedades que devem ser estudadas são:

• Dureza: É a resistência ao risco ou abrasão e pode ser medida pela resistência


com que a superfície do material se opõe à introdução de uma peça de maior

23
Aula 2 – Aços Estruturais
ESTRUTURAS

dureza. Os ensaios de dureza são bastante utilizados para verificar a


homogeneidade do material;
• Ductilidade: É a capacidade do material de se deformar sob a ação de cargas e
as estruturas dotadas de maior ductilidade sofrem grandes deformações
antes de se romperem, o que na prática constitui um aviso da existência de
tensões elevadas, ou seja, o aço vai além do seu limite elástico;
• Tenacidade: É a energia mecânica total que o material pode absorver em
deformações elásticas e plásticas até a sua ruptura;
• Resiliência: É a energia mecânica total que o material pode absorver em
deformações elásticas até sua ruptura;
• Efeito de Alta e Baixa Temperaturas: As altas temperaturas modificam as
propriedades mecânicas dos aços estruturais, pois acima de 100ºC, a uma
tendência a se eliminar a definição linear do limite de escoamento, surgindo
reduções acentuadas das resistências de escoamento bem como do módulo
de elasticidade. As baixas temperaturas, por sua vez, estabelecem a perda de
ductibilidade e de tenacidade, o que constitui um fato indesejável, podendo
conduzir à ruptura frágil;
• Ruptura Frágil: São muito perigosas, pois são bruscas e não apresentam avisos
pelas deformações exageradas das peças estruturais. O comportamento da
fragilidade pode ser abordado sob dois aspectos: iniciação da fratura e
propagação. A iniciação ocorre quando uma tensão ou deformação elevada se
desenvolve num ponto onde o material perdeu ductibilidade e uma vez
iniciada a ruptura, ela se propaga pelo material mesmo sob tensões
moderadas;
• Fadiga: É a ruptura de uma peça sob esforços repetidos em geral
determinantes em peças de máquinas e estruturas sob efeito de cargas
móveis.

Baseado e adaptado de
AUGUSTO CANTUSIO NETO.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

24
Aula 3 – Características Geométricas
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Aula 3: Características Geométricas

Para o dimensionamento de peças estruturais, é imprescindível a determinação das


“características geométricas” das seções transversais das mesmas. Sem esse mecanismo
determinante da capacidade portante das estruturas, não se consegue dimensionar os
componentes da estrutura, tão pouco se verificar a estabilidade individual e global das
estruturas analisadas.

1. Figuras Planas

Tem-se como “características geométricas” principais os seguintes tópicos:

• Área;
• Centro de Gravidade;
• Momento de Inércia;
• Raio de Giração;
• Momento Resistente Elástico;
• Momento Resistente Plástico.

Alguns destes conceitos podem ser revisitados na disciplina de Estabilidade, na aula de


Introdução à Resistência dos Materiais. Aqui, serão abordados de forma resumida para que
sejam apenas rememorados pelo aluno.

Convencionalmente, a primeira etapa para determinação das características


geométricas de Figuras Planas, é a cálculo do Momento Estático ou Momento de 1ª Ordem
– sempre a análise da seção transversal de um determinado componente estrutural será
efetuado através da figura plana equivalente a essa seção, seja um perfil tipo ‘I’, ‘U’, ‘L’, etc.
A definição da Resistência dos Materiais para esse Momento Estático de uma figura em
relação a um eixo de seu plano, é uma grandeza definida como a somatória dos produtos de
cada elemento de área da figura pela respectiva distância ao eixo. A utilidade do Momento
Estático é determinar o Centro de Gravidade das figuras planas e, se a figura for constituída
de várias outras, o Momento Estático total é a soma dos Momentos Estáticos das várias
figuras.

25
Aula 3 – Características Geométricas
ESTRUTURAS

Entretanto, para chegar-se ao cálculo desse Momento Estático, é necessário antes,


determinar-se outras características geométricas, pois a equação matemática desse
Momento é:

Msx = A . Yg ou Msy = A . Xg

Onde:

A é a Área da Seção Transversal;


Yg é a distância do Centro de Gravidade da seção em relação ao eixo X e
Xg é a distância do Centro de Gravidade da seção em relação ao eixo Y.

1.1. Área

As equações determinantes para o cálculo de áreas pertencem à Resistência dos


Materiais, cabendo na disciplina, apenas as suas deduções principais. Assim, para facilitar o
cálculo de área de figuras planas, o melhor meio é o de se desmembrar a figura plana em
estudo em figuras geométricas cujas áreas são conhecidas. Como exemplo, tem-se o Cálculo
de Área de um perfil ‘ I ‘ Soldado (medidas em mm):

Área Total = AI + AII + AIII


AT = (18 . 150) + (270 . 5) + (12 . 150)
AT = 5,850 mm² ou 58,50 cm²

1.2. Centro de Gravidade

Uma vez determinada a área de uma certa seção transversal, tal qual a que vimos
acima, a próxima etapa deverá ser a determinação do Centro de Gravidade dessa seção ou
figura plana. Considerando que todo corpo é atraído pela “gravidade” para o centro da
Terra, e que o peso de um corpo é uma força cuja intensidade é a medida do produto da
massa pela aceleração provocada pela gravidade, os pesos de todas as moléculas de um
corpo formam um sistema de foças verticais, cuja resultante é o peso do corpo e cujo centro
de forças é o centro de gravidade. No caso de figuras planas, para se determinar o centro de
gravidade da seção, assim como se trabalhou com o cálculo de área, divide-se a mesma
figura em outras tantas figuras conhecidas para que se possa determinar o centro de
gravidade de cada figura inicialmente e, posteriormente, o cálculo do centro de gravidade
da figura integral.

26
Aula 3 – Características Geométricas
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Se tomarmos a figura acima, um trapézio ABCD, a fim de se obter, pelo método mais
simples o centro de gravidade da seção, prolonga-se na direção da base menor (AB) o
comprimento maior (CD) até E, e na direção da base maior (CB) o comprimento menor (AB)
até F. Unindo-se EF, esta intercepta a linha mediana traçada entre AB e CD exatamente no
ponto do C.G. (Centro de Gravidade). A medida Yg, equivale à formulação matemática:

d (2b + B)
Yg = .
3 (b + B)

Quando, por exemplo, nos detivermos diante de uma figura plana de forma quadrada,
supondo seus lados iguais com medida de 90 cm, ao aplicarmos a equação acima,
obteremos o resultado de:

90 (2 . 90 + 90)
Yg = . = 45 cm
3 (90 + 90)

O que equivale exatamente ao ponto desejado do Centro de Gravidade.

Entretanto, quando se trata de figura plana composta, como no caso do exemplo do


cálculo de área, a determinação do Centro de Gravidade torna-se um pouco mais complexa,
sem com isso tornar-se difícil. Uma vez compreendido o caminhamento lógico do cálculo,
podemos determinar o C.G. da figura em questão, em relação aos seus dois eixos de figura
plana, ou seja, nas direções X e Y.

Vamos voltar à figura original, agora em desenho de maiores proporções, e com o


traçado dos eixos de referência ou eixos de auxilio (Xa e Ya) e, com isso, as medidas
auxiliares iniciais, y1 a y3 e x1 a x3. Devemos, quando possível, tomarmos o canto inferior
esquerdo das peças compostas como referencial 0,0.

27
Aula 3 – Características Geométricas
ESTRUTURAS

Onde Ygi e Xgi, são as distâncias entre os centros de gravidade das figuras individuais
conhecidas (1 a 3) até os eixos auxiliares Ya e Xa.

Uma vez calculados os valores auxiliares, já nos é possível determinarmos os valores


finais relativos ao centro de gravidade da seção transversal, a partir das equações
determinadas anteriormente, onde:

∑ Msxi ∑ Msyi
Yg = e Xg =
∑A ∑A

Portanto:

994,95 438,75
Yg = = 17,00 cm e Xg = = 7,50 cm
58,5 58,5

O que equivale, em nossa figura, ao seguinte resultado:

28
Aula 3 – Características Geométricas
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

1.3. Momento de Inércia

Momento de Inércia ou de 2ª Ordem de uma figura plana em relação a um eixo do seu


plano, é a somatória dos produtos da área de cada elemento da superfície, pelo quadrado
de sua distância, somado ao momento de inércia da peça isolada (Teorema de Steiner). O
momento de inércia tem sempre valores positivos, pelo fato de termos o efeito, na
equação, do valor da distância elevado ao quadrado, e sua representação pode ser feita
através de duas letras, sem que se altere seu significado: J ou I. (Atentar que na aula de
Estática III, da disciplina de Estabilidade, o Momento de Inércia apresentado é o de massa, o
que tecnicamente é diferente apenas pelo fato do centro geométrico da figura não ser
obrigatoriamente o centro de massa/gravidade, porém, o conceito é análogo).

De acordo com o enunciado acima, os valores de J ou I serão:

Jx ou Ix = Ixi + A . Yg2 e Jy ou Iy = Iyi + A . Yg2

Onde:

I é o Momento de Inércia da figura;


Ii é o Momento de Inércia em relação ao um eixo i, que passa pelo C.G.;
Yi é a Distância entre o centro de gravidade da figura em relação ao eixo i;
i = eixos X ou Y.

Retomando figura tradicional, determina-se os valores do Momento de Inércia ou de


2ª Ordem, agora com os eixos X e Y posicionados em sua situação real, ou seja, passando
pelo C.G. da peça.

29
Aula 3 – Características Geométricas
ESTRUTURAS

Mantendo a proposta inicial de se desmembrar a figura plana em figuras geométricas


conhecidas, teremos os mesmos retângulos 1, 2 e 3. Dessa maneira podemos, nos utilizando
de tabelas auxiliares (Iretângulo = bh³/12 → ver Estabilidade, Aula 08), calcularmos inicialmente
os momentos de inércia de cada um desses retângulos, em relação aos eixos X e Y, agora os
eixos tradicionais, traçados a partir do C.G. da seção transversal.

Onde Ygi e Xgi, são as distancias entre os centros de gravidade das seções individuais (1
a 3) em relação aos eixos reais Y e X.

A partir dos valores enumerados na tabela acima, já podemos definir os valores dos
Momentos de Inércia.

Ix = (7,29 + 27 . 12,102) + (820,12 + 13,5 . 2,302) + (2,16 + 18 . 16,402) = 9695 cm4

Iy = (506,3 + 27 . 02) + (0,28 + 13,5 . 02) + (337,5 + 18 . 02) = 844 cm4

30
Aula 3 – Características Geométricas
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

1.4. Raio de Giração

Uma vez determinados os Momentos de Inércia, a próxima etapa é a determinação


dos raios de giração, também em relação aos eixos X e Y. Essa característica geométrica das
figuras planas é definida por operações matemáticas bastante simples, pois o raio de
giração, denominado pela letra r adicionada do seu eixo de direção X ou Y, ou seja r x = raio
de giração no sentido X e r y = raio de giração no sentido Y, será igual à raiz quadrada do
momento de inércia do eixo correspondente, dividido pela área da seção transversal. Assim
sendo:

Ii
ri = √
A

Onde:

Ii é o Momento de Inércia;
A é a Área da figura plana.

Portanto, na figura de estudos, tem-se como resultados:

9695 844
rx = √ = 12,87 cm e ry = √ = 3,80 cm
58,5 58,5

1.5. Momento Resistente

Finalizando o cálculo das características geométricas de figuras planas, resta o


Momento Resistente, uma característica geométrica importante nos elementos estruturais.
Para efeito de nossos estudos, somente consideraremos o Momento Resistente Elástico,
muito embora como vimos no enunciado, existe, também, o Momento Resistente Plástico.

Para o cálculo desse Momento Resistente, basta aplicarmos, assim como para o cálculo
do raio de giração, simples equação matemática, pois:

Ix Ix Iy Iy
Wxs = e Wxi = e Wye = e Wyd =
ygs ygi yge ygd

Onde:

Wxs = Momento Resistente Superior em torno do eixo x;


Wxi = Momento Resistente Inferior em torno do eixo x;

31
Aula 3 – Características Geométricas
ESTRUTURAS

Wye = Momento Resistente Esquerdo em torno do eixo y;


Wyd = Momento Resistente Direito em torno do eixo y.

Para o caso em questão:

9695
Wxs = = 745,76 cm3
13

9695
Wxi = = 570,29 cm3
17

844
Wye = = 112,53 cm3
7,50

844
Wyd = = 112,53 cm³
7,50

1.6. Características Geométricas de Seções Conhecidas

2. Exercício Resolvido

Exemplo: Determinar as características geométricas da figura plana abaixo (medidas em


cm):

32
Aula 3 – Características Geométricas
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Resolução:

Resolveremos o exercício pelo ponto O (origem). Considerando-se o retângulo (1) à


esquerda com medidas h = 40, b = 12, y1 = 20 e x1 = 6, e o retângulo (2) o da direita inferior
com medidas h = 12, b = 28, y2 = 6 e x2 = 26, tem-se:

1º Passo: Cálculo do Momento Estático

Para encontrar o Momento Estático Total, deve-se somar os Momentos Estáticos das
seções. As fórmulas são Msx = A . Yg ou Msy = A . Xg (o “ou” está utilizado aí pois a figura é
simétrica e o ponto referência é a origem, o que implica do Centro de Massa em X ficar
equidistante ao Centro de Massa em Y, portanto, será calculado apenas em um eixo e
duplicado). Utilizaremos a primeira, em função do eixo X.

Para as seções 1 e 2:

Msx1 = A1 . Yg1 → Msx1 = (40 . 12) . 20 → Msx1 = 9600 cm³

Msx2 = A2 . Yg2 → Msx2 = (12 . 28) . 6 → Msx2 = 2016 cm³

Portanto:

33
Aula 3 – Características Geométricas
ESTRUTURAS

Msx = Msx1 + Msx2 → Msx = 9600 + 2016 → Msx = 11616 cm³

2º Passo: Cálculo da Área

É o somatório das áreas das seções, portanto:

AT = A1 + A2 → AT = (40 . 12) + (12 . 28) → A = 816 cm²

3º Passo: Encontrar o Centro de Gravidade da Figura:

∑ Msxi 11616
Yg = = = 14,23 cm
∑A 816

Como a figura é simétrica, sabe-se que Yg é igual a Xg, portanto Xg = 14,23 cm.

OBS: Esta simetria não se dá em todos os perfis, atente-se.

Para o futuro cálculo do Momento de Inércia, ainda necessitamos as parcelas Ygi e Xgi,
que são as distâncias entre o centro de gravidade da figura em relação ao eixo i (que são x e
y).

Portanto:

Yg1 = Y1 – Yg → Yg1 = 20 – 14,23 → Yg1 = 5,77 cm

Yg2 = Yg – Y2 → Yg1 = 14,23 – 6 → Yg1 = 8,23 cm

Não será calculado em relação a Xgi pois conforme dito acima, a figura é simétrica em
relação à origem determinada.

Entenda melhor o que foi feito:

34
Aula 3 – Características Geométricas
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

4º Passo: Cálculo do Momento de Inércia:

Ix = Ixi + A . Yg2

Sabemos que em relação a “X”, o Momento de Inércia em do eixo de retângulos é


dado por Ixi = bh³/12 e Iportanto, aplicando-se o teorema dos eixos paralelos para encontrar
o momento de Inércia no Centro de Massa:

Ix1 = Ixi1 + A . Yg12


Ix1 = bh³/12 + A . Yg12
Ix1 = (12 . 40³)/12 + (40 . 12) . 5,77²
Ix1 = 80147,20 cm4

Analogamente, para a peça 2:

Ix2 = Ixi2 + A . Yg22


Ix2 = bh³/12 + A . Yg22
Ix2 = (28 . 12³)/12 + (28 . 12) . 8,23²
Ix2 = 26790,25 cm4

Portanto:

Ix = Ix1 + Ix2
Ix = 80147,20 + 26790,25
Ix = 106937,45 cm4

Como a peça é simétrica, temos também que Iy = 106937,45 cm4.

5º Passo: Cálculo do Raio de Giração:

Ii 106937,45
rx = ry = √ → rx = ry = √ → rx = ry = 11,44 cm
A 816

6º Passo: Cálculo dos Momentos Resistentes:

Façamos a seguinte análise:

Sob o ponto de vista do Centro de Massa (CM), a parcela que fica à sua direita em
relação a Y, é simétrica a que fica acima, em relação a X. Portanto, pode-se dizer que Wxs =
Wyd Compreenda pela figura:

35
Aula 3 – Características Geométricas
ESTRUTURAS

O mesmo acontece quando tomamos a parte da esquerda do CM em relação a Y, que é


análoga à parte inferior, em relação a X, portanto, W xi = Wye.

Portanto:

Ix 106772
Wxs = Wyd = = = 4143 cm³
ygd (40 − 14,23)

Iy 106772
Wxi = Wye = = = 7503,30 cm³
yge 14,23

E o exercício está finalizado.

Baseado e adaptado de
AUGUSTO CANTUSIO NETO.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

36
Aula 4 – Sistemas Estruturais
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Aula 4: Sistemas Estruturais

Uma vez especificados os tipos de aço comumente utilizados em estruturas metálicas e


determinadas as características geométricas de figuras planas que correspondem às seções
transversais das peças estruturais, é preciso estudar-se os efeitos das forças atuantes nessas
peças estruturais que compõem um sistema estrutural. Nesta aula será apresentado um
resumo do que foi visto em outros momentos deste curso e um aprofundamento específico no
assunto inerente às estruturas metálicas.

1. Elementos Estruturais

De uma maneira geral, essas peças estruturais têm classificação (como visto em outras
disciplinas) de:

• Hastes ou Barras são peças cujas dimensões transversais são pequenas em


relação ao seu comprimento. Dependendo da solicitação predominante, essas
hastes ou barras podem ser denominadas:

✓ Tirantes - sujeitos à tração axial;


✓ Colunas ou Pilares – sujeitos à compressão axial;
✓ Vigas – sujeitas às cargas transversais que produzem momentos
fletores e esforços cortantes;
✓ Componentes de Treliças ou Tesouras –sujeitas à tração e
compressão axiais.

• Placas ou Chapas são peças cujas dimensões de superfície são grandes em


relação à sua espessura.

As peças estruturais denominadas hastes ou barras quando sujeitas às solicitações de


tração ou compressão aplicadas segundo o eixo de si mesma apresentam tensões internas
de tração ou compressão uniformes na seção transversal (σt e σc) enquanto que nas hastes
ou barras sujeitas às solicitações de cargas transversais os esforços predominantes são de
momentos fletores e cisalhamento.

37
Aula 4 – Sistemas Estruturais
ESTRUTURAS

1.1. Sistemas Lineares

Os sistemas lineares são formados por combinações dos principais elementos lineares
constituindo estruturas portantes em geral. Na treliça, por exemplo, as barras trabalham
predominantemente à tração ou compressão simples; as grelhas planas são formadas por
feixes de barras que trabalham predominantemente à flexão; enquanto pórticos são
sistemas formados por associações de barras retilíneas ou curvilíneas com ligações rígidas
entre si que trabalham à tração e compressão simples ou mesmo à flexão.

2. Classificação dos Esforços

São divididos em:

• Cargas são as forças externas que atuam sobre um determinado sistema


estrutural;
• Esforços são as forças desenvolvidas internamente no corpo e que tendem a
resistir às cargas;
• Deformações são as mudanças das dimensões geométricas e da forma do
corpo solicitado pelos esforços.

2.1. Cargas Atuantes

Os sistemas lineares são formados por combinações dos principais elementos que
compõem a estrutura. A estrutura, por sua vez, para que possa ser analisada e
dimensionada, necessita da determinação das cargas ou ações atuantes sobre essa mesma
estrutura, para que uma vez determinadas essas cargas ou ações, se possa verificar os
esforços resultantes das aplicações das cargas, assim como as deformações provocadas por

38
Aula 4 – Sistemas Estruturais
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

elas. A estrutura deverá ter resistência suficiente para suportar essas cargas e suas
combinações e manter as deformações plásticas dentro de padrões determinados.

Essas cargas ou ações atuantes sobre as estruturas, definidas por Normas específicas e,
de maneira geral, são classificadas como apresentado a seguir.

2.1.1. Cargas Permanentes (CP ou G)

São, basicamente:

• Peso próprio dos elementos constituintes da estrutura;


• Peso próprio de todos os elementos de construção permanentemente
suportados pela estrutura – pisos, paredes fixas, coberturas, forros,
revestimentos e acabamentos;
• Peso próprio de instalações, acessórios e equipamentos permanentes.

Para determinação das cargas permanentes apresentadas no último tópico, estas


dependem de informações fornecidas por fabricantes. Entretanto, nos dois primeiros
tópicos, as cargas permanentes podem ser determinadas a partir dos pesos reais dos
materiais mais usuais e indicados abaixo:

2.1.2. Cargas Acidentais ou Variáveis (CA ou Q)

São segmentadas em:

• Sobrecargas de utilização devidas ao peso das pessoas;


• Sobrecargas de utilização devidas ao peso de objetos e materiais estocados.

39
Aula 4 – Sistemas Estruturais
ESTRUTURAS

• Sobrecargas provenientes de cargas de equipamentos específicos – ar


condicionado, elevadores;
• Sobrecargas provenientes de empuxos de terra e de água e de variação de
temperatura.

As cargas acidentais são definidas em função de valores estatísticos estabelecidos


pelas normas pertinentes, seus valores são geralmente considerados como uniformemente
distribuídos, e podem ser adotadas conforme se segue, nos casos especificados:

2.1.3. Cargas do Vento (CV)

As cargas provenientes da ação dos ventos nas estruturas são das mais importantes e,
suas considerações e aplicações, estão contidas em norma específica – NBR 6123 - Forças
Devidas ao Vento em Edificações.

Para se determinar as componentes das cargas de vento, é necessário o conhecimento


de três parâmetros iniciais. Em primeiro lugar, determina-se a denominada pressão
dinâmica, que depende da velocidade do vento, estipulada através de gráfico especifico,
chamado isopletas, que determina a velocidade básica do vento medida sob condições
analisadas.

Outros fatores determinantes no cálculo da pressão dinâmica são os fatores


topográficos, que considera como o próprio nome define, a rugosidade do terreno, assim

40
Aula 4 – Sistemas Estruturais
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

como a variação da velocidade do vento com a altura do terreno e das dimensões da


edificação e fator estatístico – leva em conta o grau de segurança requerido e a vida útil da
edificação.

O segundo parâmetro a ser considerado é o dos coeficientes de pressão (Cpe) e de


forma (Ce) externos, para edificações das mais variadas formas e como terceiro parâmetro,
considera-se o coeficiente de pressão interna (Cpi), que considera as condições de atuação
do vento nas partes internas de uma edificação, sob as mais variadas condições.

2.1.4. Outras Cargas ou Excepcionais (CE)

As edificações costumam sofrer, além das cargas já delineadas, outras tantas cargas ou
ações, provenientes de outros tantos fatores. Dentre essas, poderíamos considerar as
cargas provenientes de pontes rolantes, que além das cargas verticais provenientes dos
pesos que transportam, também provocam cargas horizontais, decorrentes de frenagens ou
acelerações da ponte ou mesmo choque com os anteparos (para-choque) ou ainda esforços
provenientes de impacto vertical.

Não menos importantes são as considerações sobre as vibrações, em especial, nos


pisos. A resposta humana a vibrações é um fenômeno muito complexo e envolve a
magnitude do movimento, as características do ambiente e da sensibilidade do próprio ser
humano. Os principais tipos de vibrações são: ressonância ou vibração senoidal contínua e
transientes ou vibração passageira.

O parâmetro mais importante para prevenir vibrações em pisos é o amortecimento e o


seu cálculo dependente de fatores dos mais interessantes, que não serão abordados na
aula.

2.2. Esforços Atuantes

Esforços, como já definidos e aprofundados na disciplina Estabilidade e outras, são as


forças desenvolvidas internamente no corpo e que tendem a resistir às cargas. Entretanto,
cargas também são forças, porém, desenvolvidas externamente. Assim sendo, os esforços
estruturais podem ser caracterizados como esforços externos atuantes ativos e reativos –
ativos são produzidos por forças atuantes, ou seja, cargas aplicadas à estrutura, enquanto
que reativo são produzidos pelas reações, ou seja, são as equilibrantes do sistema de
cargas; ou esforços internos solicitantes e resistentes – solicitantes são os esforços normais
de tração ou compressão, cortantes, flexão e torção, enquanto que os resistentes são as
tensões normais e tensões de cisalhamento.

41
Aula 4 – Sistemas Estruturais
ESTRUTURAS

Os esforços solicitantes internos (serão superficialmente rememorados aqui) podem,


portanto, ser classificados da seguinte forma:

• Força Normal (N): é a componente perpendicular à seção transversal das


peças, que podem ser de tração (+) se é dirigida para fora da peça ou de
compressão (-) se é dirigida para dentro da peça. Essa força será
equilibrada por esforços internos (esforços resistentes) e se manifestam
sob a forma de tensões normais, que serão de tração ou compressão
segundo a força N seja de tração ou de compressão;
• Força Cortante (Q): é a componente que tende a fazer deslizar uma
porção da peça em relação à outra e por isso mesmo provocar corte.
Essa força será equilibrada por esforços internos e é denominada tensão
de cisalhamento;
• Momento Fletor (Mf ou M): é a componente que tende a curvar o eixo
longitudinal da peça e será equilibrada por esforços internos que são
tensões normais;
• Momento Torsor (Mt): é a componente que tende a fazer girar a seção
da peça em torno do seu eixo longitudinal e será equilibrada por
esforços internos denominadas tensões de cisalhamento.

Na clássica figura abaixo, ficam representados:

2.3. Deslocamentos (Deformações)

Uma vez sujeita às cargas atuantes, as peças estruturais respondem, como vimos,
através de esforços resistentes. Mas, também sobre o influxo das cargas ou esforços
atuantes, surge deslocamentos em torno dos eixos transversais da seção da peça. Como

42
Aula 4 – Sistemas Estruturais
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

também já se estabeleceu, as peças estruturais devem ter capacidade de se manter em


condições estáveis plásticas em relação a estas deformações e, por conseguinte, existem
valores pré-determinados que estipulam limitações para essas deformações.

De uma maneira geral, os valores máximos recomendados para as deformações ou


deslocamentos das estruturas são:

Peças sujeitas a cargas uniformemente distribuídas ou mesmo pontuais sofrem como


consequência dessas cargas, deformações em torno do eixo solicitado. Dessa maneira, é
sempre necessário verificar-se as deformações ocasionadas nessas peças estruturais, de
forma que elas não ultrapassem valores anteriormente anotados (ver tabela de
deformações permissíveis).

Nas peças tradicionais sujeitas a esses tipos de carregamentos, podemos adotar os


modelos abaixo (já estudados em Estabilidade as cargas, esforços e flechas):

43
Aula 4 – Sistemas Estruturais
ESTRUTURAS

Onde:

Mmax é o Momento Fletor máximo aplicado;


Vmax é a reação de Apoio ou Esforço Cortante;
fmax é a flecha máxima;
E é o Módulo de Elasticidade ou Deformação Longitudinal;
I é o Momento de Inércia da peça no sentido da aplicação da carga.

Exemplo: Dado o perfil VS 750 x 108 em aço ASTM A36, simplesmente apoiado sob a
forma de viga com vão livre de 11,00 m, verificar a deformação máxima desse perfil sujeito
a:

a) Carga uniformemente distribuída de 16,5 kN/m


b) Carga pontual P = 125 kN

Dados: Ix = 134197 cm4, Eaço = 205 GPa.

Resolução:

Em primeiro lugar, não esquecer de trabalhar com as unidades em cm, que será a
unidade de medição da flecha máxima. Para as cargas, basta dividir por 10², e para o
Módulo de Deformação, dividir por 104. Exemplo:

E = 205 GPa = 205 . 109 Pa = 205 . 109 N/m² = 205 . 109 N/10000 cm² = 205 . 109 . 10-4
N/cm² = 205 . 105 N/cm² = 20500 kN/cm². Portanto:

44
Aula 4 – Sistemas Estruturais
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

a) Para a carga distribuída:

5 . q . L4 5 . 0,165 . 11004
fmax = → fmax = → fmax = 1,14 cm
384 . E . I 384 . 20500 . 134197

De acordo com as características da Viga e de acordo com a tabela da página 43,


temos:

L 11000
fadm ≤ → fadm = → fadm = 3,15 cm
350 350

Portanto, a deformação está dentro dos limites recomendados.

b) Para a carga pontual:

P . L3 125 . 11003
fmax = → fmax = → fmax = 1,26 cm
48 . E . I 48 . 20500 . 134197

Portanto, também está dentro dos limites recomendados.

3. Método de Dimensionamento

O método a ser adotado neste trabalho será o Método das Tensões Admissíveis.
Quando o dimensionamento se efetua com base no Método das Tensões Admissíveis,
considera-se que a estrutura, submetida às cargas previstas em normas, funcione nas
condições normais de projeto. Uma estrutura tem a resistência necessária se as tensões
causadas em seus elementos pelas cargas estabelecidas (por normas) não ultrapassam as
tensões admissíveis estabelecidas, que são iguais a uma determinada parte da tensão limite
do material, que é considerada como sendo igual ao limite de escoamento, no caso do aço
(Fu). A relação entre a tensão de escoamento e a tensão admissível chama-se fator de
segurança ou coeficiente de ponderação.

Esse fator de segurança tem por objetivo absorver:

• Aproximação e incertezas no método das análises;


• Qualidade de fabricação;
• Presença de tensões residuais e concentração de tensões;
• Alteração do para menor nas propriedades do material;
• Alteração para menor na seção transversal das peças estruturais;
• Incerteza dos carregamentos.

45
Aula 4 – Sistemas Estruturais
ESTRUTURAS

O fator de segurança ou coeficiente de ponderação não implica maior segurança para


cargas maiores e sim para fatores diversos envolvidos e, em geral, o fator de segurança FS é
definido por:

PL
FS =
PA

Onde:

FS é o Fator de Segurança;
PL é a Carga Limite;
PA é a carga Admissível de Trabalho.

As limitações desse método estão em se utilizar um único coeficiente de segurança


para todas as incertezas de obra, conforme enumeradas acima, e as combinações de cargas
podem ser efetuadas da seguinte maneira, para obras em geral:

1ª Combinação – CP + CA
2ª Combinação – (CP + CV) x 0,80
3ª Combinação – (CP + CA + CE)
4ª Combinação – (CP + CA + CE + CV) x 0,80

46
Aula 4 – Sistemas Estruturais
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Onde:

CP é a Carga permanente;
CA é a Carga Acidental;
CV é a Carga do Vento;
CE é a Carga Excepcional.

4. Concepção Estrutural

Os sistemas estruturais principais, assim como os secundários, devem ter disposição


ou concepção estrutural tal que se possa garantir que essas barras – em geral vigas e pilares
– absorvam os esforços a que forem dimensionados sustentando a estrutura que se
pretenda projetar.

Nos sistemas estruturais comuns que dão sustentação a edifícios de uma maneira
geral, deve-se observar os fatores que venham a proporcionar uma estabilidade adequada
entre os diversos elementos componentes da estrutura, tais como a prevenção contra
flambagem das peças, tanto local quanto global.

As cargas verticais dos edifícios metálicos, à semelhança dos edifícios em concreto


armado, devem ser absorvidas pelas lajes, que por sua vez transmitem esses esforços às
vigas que, por sua vez, as transmitem a outras vigas ou a pilares, finalizando a transmissão
dessas cargas nas bases dos pilares e às fundações do edifício.

No caso das cargas horizontais, provenientes da ação do vento nas estruturas, essas
também devem ser transferidas ao sistema principal de contraventamento da estrutura ou
aos núcleos ou paredes de cisalhamento dos edifícios, através das lajes, que nesses casos
trabalham à exemplo de um diafragma horizontal.

A fim de suportar os efeitos horizontais das ações do vento, as estruturas metálicas


podem ser concebidas de variadas maneiras a fim de se estabelecer o sistema de
contraventamento vertical: sistema contraventado, sistema rígido, sistema misto e sistema
com núcleo rígido.

O primeiro caso, de sistema contraventado, considera-se nas duas direções do edifício,


quadros que possam absorver as cargas horizontais tendo como modelo, treliças verticais,
formadas pelos pilares e vigas do sistema principal associados a peças diagonais dispostas
de maneira tal que possam vir a absorver os efeitos das cargas horizontais.

47
Aula 4 – Sistemas Estruturais
ESTRUTURAS

O segundo caso, de sistema rígido, considera-se nas duas direções do edifício,


estruturas que absorvam os esforços horizontais através da concepção aporticada, ou seja,
as peças estruturais absorvem os esforços aplicados através da rigidez de um pórtico. Esse
segundo sistema, em função da complexidade das ligações entre as diversas peças
estruturais, tende a te um custo superior ao sistema contraventado.

O terceiro caso, de sistema misto, considera-se que as estruturas podem ter em uma
direção um sistema contraventado e na outra direção um sistema rígido.

Finalizando, temos o sistema de núcleo rígido, quando se adota a execução de uma


área central ao prédio, em geral em concreto armado nas áreas correspondentes às caixas
de escada e elevadores, capaz de absorver os esforços horizontal, à exemplo de uma haste
engastada em sua base e livre no topo, cuja rigidez ou inércia, seja capaz de absorver todos
os esforços, e cuja deformação esteja dentro de padrões adequados ao bom
comportamento estrutural.

48
Aula 4 – Sistemas Estruturais
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

49
Aula 4 – Sistemas Estruturais
ESTRUTURAS

Uma vez determinado o sistema estrutural vertical que se pretenda adotar, é


importante estabelecer-se, também, os princípios do sistema horizontal de
contraventamento que se pretenda utilizar.

Como vimos anteriormente, as lajes são os componentes estruturais que exercerem


função estrutural de diafragma horizontal rígido, a fim de transmitir as cargas horizontais
aos demais elementos estruturais. Assim sendo, torna-se importante definir-se o tipo de
laje a ser utilizado.

Os sistemas mais comuns de lajes são as lajes maciças de concreto armado, as lajes
pré-moldadas de concreto (treliçadas e protendidas), as lajes alveolares protendidas, as pré-
lajes (maciças ou treliçadas) e as lajes tipo steel deck.

As lajes maciças de concreto moldadas no local são o tipo mais comum de execução de
lajes, sendo, inclusive, o sistema de laje mais eficiente do ponto de vista de rigidez
estrutural, uma vez que suas armaduras são definidas nos dois sentidos de apoio das
mesmas, ou seja, são consideradas bidirecionais, mesmo quando armadas em uma única
direção.

50
Aula 4 – Sistemas Estruturais
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

As lajes pré-moldadas, caracterizam-se pela utilização de vigotas de concreto armado


ou protendido que, associadas à colocação de lajotas de concreto, cerâmicas ou mesmo
EPS, transmitem as cargas às estruturas subjacentes, sendo a sua eficácia diminuída em
relação às lajes maciças, uma vez que são unidirecionais, ou seja, transmitem a carga
somente em uma direção, dificultando a rigidez da estrutura no sentido perpendicular às
vigotas.

As lajes alveolares protendidas, embora tratar-se de sistema excelente para execução


rápida de obras, necessita de equipamentos específicos para sua colocação, assim como, a
exemplo das lajes pré-moldadas, são unidirecionais.

Finalizando, temos as lajes steel deck, ou seja, são lajes com forma metálica que já
serve como armadura servindo também como plataforma de trabalho para a obra sendo, no
entanto, a exemplo das pré-moldadas e alveolares, unidirecional.

A fim de se obter o correto contraventamento ou rigidez horizontal da estrutura,


independente do sistema de lajes adotado, é preciso adotar-se alguns parâmetros. Um
deles é através da disposição, a exemplo dos contraventamentos verticais, de sistemas
treliçados, cuja finalidade será a de transmitir os esforços horizontais. O segundo parâmetro
que se pode considerar, sem que haja necessidade de treliçamento horizontal, é adotar-se a
colocação de conectores de cisalhamento, que são peças dispostas sobre a zona de
compressão das vigas fletidas, a fim de proporcionar a adequada ligação entre o diafragma
horizontal e o sistema metálico.

Baseado e adaptado de
AUGUSTO CANTUSIO NETO.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

51
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
ESTRUTURAS

Aula 5: Flexão Simples e Cisalhamento

Esta Aula irá abordar dois tipos de sujeições das peças estruturais: quanto à Flexão Simples e
quanto ao Cisalhamento. Os conceitos envolvidos foram superficialmente visitados nas aulas
anteriores e também na disciplina de Estabilidade, porém, nesta parte, serão aprofundados os
estudos de acordo com a capacidade de desenvolvimento numérico compreendido no ensino
técnico, excluindo demonstrações que demandem cálculo integral.

1. Elementos Sujeitos à Flexão Simples

Conforme já mencionado anteriormente, peças sujeitas à flexão simples, são aquelas


em que as cargas atuantes tendem a curvar o eixo longitudinal dessas peças, e que serão
equilibrados mediante tensões de flexão admissíveis, desenvolvidas pelas mesmas.

Na maioria dos casos de flexão simples, elas ocorrem em vigas cujas cargas são
aplicadas no plano da alma do perfil, produzindo, assim, uma flexão em relação ao eixo de
maior momento de inércia do perfil. Nesses casos ocorrem uma combinação de esforços de
tração e de compressão, pois nas vigas quando a mesa superior é comprimida, a inferior é
tracionada e vice-versa. Por conseguinte, por se tratar de elemento sujeito a esforços de
compressão, a flambagem local assim como a flambagem lateral desses elementos
estruturais deverão ser levados em conta como os dois fatores que comandam a resistência
dessas peças estruturais.

1.1. Flambagem Lateral das Peças

As seções das peças estruturais quanto a sua condição de resistência à flambagem


lateral, podem ser classificadas como compacta, não-compacta e esbelta. A Flambagem de
Alma e Mesa são respectivamente dadas por (dependem dos seguintes Índices de Esbeltez):

h b
λ= (alma) e λ= (mesa)
tw tf

A seção é dita compacta quando pode atingir a plastificação total antes de qualquer
outra instabilidade e os limites das relações entre as dimensões e as larguras das peças que
definem a sua classificação, são determinadas pela tabela abaixo.

52
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Onde:

Fy é o Limite de Escoamento;
tf é a espessura da mesa;
tw é a espessura da alma;
b é a largura da mesa;
h é a altura da alma.

As seções que não atenderem a esses limites são denominadas esbeltas.

1.1.1. Apoio Lateral das Vigas

Os elementos flexionados estão sujeitos a sofrer flambagem lateral por compressão


oriunda da flexão, conforme já vimos e, a fim de evitar essa ocorrência, torna-se necessária
a criação de apoios laterais nessas peças a fim de evitar ou diminuir essa influência.

Uma viga pode ser considerada totalmente contida quando, por exemplo, a sua mesa
de compressão estiver embutida numa laje de concreto armado. Além disso, podemos
determinar essa contenção lateral verificando se a viga pode ser considerada com apoio
lateral completo e, a fim de atender essa especificação, devemos considerar Lb, a distância
entre apoios laterais e cujos valores não deverão exceder os seguintes limites:

63 . bf
Lb1 ≤ Eq. 1
√Fy

14060
Lb2 ≤ Eq. 2
d
( ) . Fy
Af

E:

Af = bf . tf Eq. 3

53
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
ESTRUTURAS

Onde:

Lb é a a distância entre apoios laterais;


Fy é o limite de Escoamento;
d é a altura do perfil;
Af é a Área da mesa comprimida;
bf é a Largura da mesa;
tf é a espessura da mesa;

Não atendendo essas condições, a peça será admitida sem apoio lateral completo.

1.2. Tensão Admissível à Flexão (Fbx)

Dependendo do tipo de seção a se dimensionar (compacta, não-compacta ou esbelta)


e da existência ou não de apoio lateral completo, os valores para as tensões admissíveis à
flexão serão variáveis. Assim sendo:

a) Elementos com seção compacta e apoio lateral completo:

Fbx = 0,66 Fy Eq. 4

b) Elementos com seção não-compacta e apoio lateral completo:

𝑏
𝐹𝑏𝑥 = 𝐹𝑦 . [0,79 − 0,0024 . ( ) . √𝐹𝑦 ] ≤ 0,60 . 𝐹𝑦 Eq. 5
𝑡𝑓

c) Elementos com seção compacta ou não-compacta e sem apoio lateral (3 casos):

Lb 71710 . Cb

rt
< √
Fy
→ Fb′x = 0,60 . Fy Eq. 6

Lb
71710 . Cb Lb 358580 . Cb Fy . ( ) ²
rt Eq. 7
② √ ≤ ≤ √ → Fb′x = [0,67 − ] . Fy ≤ 0,60 . Fy
Fy rt Fy 1075670 . Cb

Lb 358580 . Cb 119520 . Cb Eq. 8


③ > √ → Fb′x = ≤ 0,60 . Fy
rt Fy Lb
( )²
rt

Para qualquer valor de Lb/rt:

54
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

8430 . Cb
Fb′′x = ≤ 0,60 . Fy Eq. 9
Lb . d
( )
Af

O valor a ser utilizado como tensão admissível à flexão será o maior entre Fb’ x e Fb”x.

Sendo rt o Raio de Giração da seção T compreendida pela flange comprimida mais 1/3
da área comprimida da alma. Assim:

Iy
rt = √ Eq. 10
Aw
2 (Af + )
6

Onde:

Af é a área de mesa comprimida (Af = bf . tf);


Aw é a área da alma da peça (Aw = h . tw);
Cb é o Coeficiente de flexão a ser considerado de acordo com o resultado do diagrama
de momentos fletores da peça em questão.

M1 M1 2
Cb = 1,75 + 1,05 . ( ) + 0,3 . ( ) ≤ 2,30 Eq. 11
M2 M2

Onde M1 é o menor momento fletor e M 2 é o maior momento fletor nas extremidades


do intervalo sem contenção (Lb), e onde M1/M2 é positivo quando M1 e M2 têm o mesmo
sinal e negativo quando tem sinais opostos. Quando o momento fletor em qualquer ponto
dentro do intervalo sem contenção é maior do que nas extremidades, ou seja, no caso de
vigas biapoiadas, o valor de Cb = 1,00. Esse valor tomado é a favor da segurança.

Para Cb = 1,00:

71710 . Cb 54 para ASTM A − 36


√ = { Eq. 12
Fy 46 para ASTM A − 572

358580 . Cb 120 para ASTM A − 36 Eq. 13


√ = {
Fy 102 para ASTM A − 572

Adiante, estes conceitos serão demonstrados em um exercício resolvido.

1.3. Flambagem Local (Q)

55
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
ESTRUTURAS

Além da flambagem global, as peças estruturais sujeitas à flexão, assim como as


comprimidas podem sofrer efeitos da flambagem local. Para assegurar que a flambagem
local não ocorra antes da flambagem global da peça estrutural, existem limitações que
devem ser obedecidas, ou então, os valores de Fb (tensão de flexão admissível) deverão
sofrer coeficientes de minoração, representados por Qa ou Qs.

As limitações que devem ser observadas para os casos de flambagem local são:

a) Para elementos enrijecidos: são os elementos que têm as duas bordas, paralelas
às tensões de compressão, apoiadas em toda a sua extensão.

Alma de perfis I, H ou U, teremos Qa:

h 540 ASTM A36 → 108


① ≤ { → Q a = 1,00 Eq. 14
tw √Fy ASTM A572 → 92

h 540 Wef
② > → Qa = Eq. 15
tw √Fy Wx

Sendo:

(h − hef )2 . t w
Wef = Wx − [ ] Eq. 16
6

210 . t w 37
hef = . [1 −
h
] Eq. 17
√f ( ) . √f
tw

f = Fy para Q = 1,00

Com Wx sendo o Momento Resistente da peça em relação ao eixo x.

b) Elementos não enrijecidos: são os elementos que têm uma borda livre, paralela às
tensões de compressão.

Mesas de perfis I, H ou U e abas de perfis L, teremos:

b 80 ASTM A36 → 16 (K c = 1,00)


≤ {
Eq. 18 tf ASTM A572 → 14 (K c = 1,00)
Fy

Kc

56
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Onde:

h = altura da alma da peça;


tw = espessura da alma da peça;
Fy = Tensão Limite de Resistência à Tração do Aço;
b = largura da mesa para perfis L e U e 1 / 2 bf para perfis I;
tf = espessura da mesa.

Para o cálculo da influência da flambagem local nas peças estruturais, dependemos do


cálculo de valores auxiliares. O primeiro desses valores é o índice Kc.

h
≤ 70 → K c = 1,00 Eq. 19
tw

h 4,05
≥ 70 → K c = Eq. 20
tw h 0,46
( )
tw

Uma vez determinados os valores de Kc, é possível determinarmos os fatores de


minoração Qs, devido à flambagem local.

Quando:

b 80
① ≤ → Qs = 1,00 Eq. 21
tf
F
√ y
Kc

b 80 b 168 b Fy
② > e ≤ → Qs = 1,293 − [0,0036 . .√ ] Eq. 22
tf tf tf Kc
F F
√ y √ y
Kc Kc

b 168 Kc
③ > → Qs = 1,842 . Eq. 23
tf
F b 2
Fy . ( )
√ y tf
Kc

O coeficiente Q = Qa . Qs será sempre de minoração, portanto, sempre Q ≤ 1,00.

1.4. Peças Esbeltas (Qe)

Nas peças estruturais sujeitas aos efeitos de flexão, quando os valores dos limites
impostos de seção não-compacta não forem atendidos, ou seja, quando:

57
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
ESTRUTURAS

h 632
> Eq. 24
tw √Fbx

É necessário verificar um outro coeficiente de minoração das tensões admissíveis à


compressão, cuja denominação será dada pelas iniciais Qe. Para:

h 632
≤ → Q e = 1,00 Eq. 25
tw √Fbx

h 632 Aw h 632
≥ → Q e = [1 − 0,0005 . ( ) . ( − )] ≤ 1,00 Eq. 26
tw √Fbx A f t w Fbx

Onde:

Aw = área da alma da peça;


Af = área da mesa da peça;
Fbx = Tensão á flexão calculada em torno do eixo x.

1.5. Tensão de Cálculo (fbx)

PS: Atentar que este “f” é minúsculo, não confundir com Fb x.

Mx
fbx = ≤ Fbx . Q . Q e Eq. 27
Wx

Onde:

Mx é o Momento Fletor em relação ao eixo x;


Wx é o Momento Resistente em relação ao eixo x.

Assim, conclui-se com as relações de equações a serem utilizadas nos exercícios. À


primeira vista, parece complicado. Ao se deparar com as situações, será visto, de acordo
com o explanado, que apenas algumas delas serão utilizadas, pois os modelos sempre se
enquadrarão em algum dos tipos demonstrados nesta aula. Obviamente deve-se ser levado
em conta também o que o exercício está pedindo antes de se sair fazendo todas as
verificações.

58
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Exemplo: Dado o perfil VS 750 x 108 em aço ASTM A36, verificar o máximo momento
fletor suportado pela viga em torno do eixo x, sabendo-se que é biapoiada e tem vão
máximo Lb = 11,00 m.

Dados:

Ix = 134197 cm4
Iy = 6830 cm4
Fy = 25 kN/cm2
Af = 32 x 1,25 = 40 cm2
Aw = 72,5 x 0,8 = 58 cm2

Resolução:

1º Passo: Flambagem Local

Para este passo, estamos procurando o valor Q = Qa . Qs. Para isso, obviamente,
necessitaremos os valores de Qa e Qs.

Em primeiro lugar, deveremos utilizar as relações do tópico 1.3 para as primeiras


análises.

h/tw = 750/8 → h/tw = 90,63

Analisemos:

Pelo tópico, sabe-se que caso esta razão apresentada seja menor que a relação
540/√Fy encontraremos diretamente Qa, caso contrário, deveremos utilizar outras relações.

540/√Fy = 540/√25 → 108

Portanto, 90,63 < 108

Então, com estes valores, temos algumas outras relações que necessitaremos:

1 – Da Eq. 14, temos que Qa = 1,00

2 – Necessitamos encontrar a influência da flambagem local. Para isso, devemos


encontrar o índice Kc. Temos que h/tw ≥ 70, portanto, utilizaremos a Eq. 20:

59
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
ESTRUTURAS

4,05 4,05
Kc = 0,46 → 𝐾𝑐 = → 𝐾𝑐 = 0,51
h 90,630,46
( )
tw

Agora vamos encontrar os valores inerentes às bases. Começamos com:

b/tf = 160/12,5 → b/tf = 12,80

Analisemos:

Para encontrarmos o Qs, temos três alternativas de equações que dependem do valor
supra encontrado (12,80). Neste caso, deveremos resolver:

80 168
e
F F
√ y √ y
Kc Kc

Para saber a relação a ser utilizada.

80 80
→ → 11,43
F 25
√ y √
Kc 0,51
𝑏
= 12,80
𝑡𝑓 168 168
→ → 24
Fy 25
√ √
Kc 0,51
{

Portanto, 11,43 < 12,80 < 24 → deverá ser utilizada a Eq. 22 para o cálculo de Q s.

Seguindo-se então:

b Fy 25
Qs = 1,293 − [0,0036 . . √ ] → Qs = 1,293 − [0,0036 . 12,80. √ ] → 𝑄𝑠 = 0,97
tf Kc 0,51

Então, para concluir a flambagem local:

Q = Qa . Qs → Q = 1,00 . 0,97 → Q = 0,97

2º Passo: Flambagem Lateral

Sendo Lb = 1100 cm a distância entre os apoios, devemos sujeitá-lo às Eq. 1 e Eq. 2


para analisarmos as condições de apoios laterais, conforme item 1.1.1 desta aula.

60
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

63 . bf 63 . 32
Lb1 ≤ → Lb1 = → Lb1 = 403 cm < 1100 cm → sem apoio
√Fy √25

14060 14060
Lb2 ≤ → Lb2 = → Lb2 = 300 cm < 1100 cm → sem apoio
d 75
( ) . Fy ( ) . 25
Af 40

Observe que Lb não atende aos requisitos das equações, portanto, não possui apoio
lateral algum.

Outro passo para a Flambagem Lateral é a análise da tabela da página 53, onde
encontraremos se a seção é compacta, não compacta ou esbelta.

Segue-se, com o tipo de seção, que deve satisfazer as relações inerentes à alma e
mesa:

Temos, primeiro:

h/tw = 90,63 é menor que 540/√Fy = 108, compacta.

Porém, na análise da mesa:

b/tf = 12,80

Este valor está compreendido entre:

54/√Fy = 10,80 e 80/√Fy = 16,00

Portanto, não-compacta. Para ser compacta, ela deveria obedecer às relações da


tabela tanto quanto na mesa quanto na alma.

A seção fica classificada então como Elemento de seção não-compacta e sem apoio
lateral.

3º Passo: Tensão Admissível à Flexão

Com estes dados, poderemos seguir à próxima etapa que é calcular a Tensão
Admissível à Flexão. Para Elemento de seção não-compacta e sem apoio lateral (ver página
54) deveremos utilizar o caso “c”. Para isto, precisamos encontrar o Raio de Giração para
sabermos qual situação entre os casos das Equações Eq. 6, 7 e 8 este modelo se enquadra.
Utilizando-se a Eq. 10, tem-se:

61
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
ESTRUTURAS

Iy 6830
rt = √ → rt = √ → rt = 8,29 cm
A 58
2 (Af + w ) 2 (40 + )
6 6

Podendo-se então proceder com o cálculo da relação Lb/rt para futura utilização:

Lb 1100 Lb
= → = 132,69
rt 8,29 rt

Outro fator que necessitaremos para comparar os casos das Eq. 6, 7 e 8 é o Coeficiente
de Flexão. Conforme visto na aula e descrito no exercício (biapoiada), o Cb é 1,00. Procede-
se:

71710 . Cb 71710 . 1
√ → √ → 54
Fy 25

358580 . Cb 358580 . 1
√ → √ → 120
Fy 25

Ambos os valores são menores que Lb/rt = 132,69, portanto, a relação a ser utilizada
para Fb’x é o caso ③, ou seja, Eq. 8:

119520 . Cb 119520 . 1,00


Fb′x = → Fb′x = → Fb′x = 6,79 kN/cm²
Lb 1100
( )² ( )²
rt 8,29

E obedece a condição de ser menor que 0,60 . Fy = 15 kN/cm²

Como a Eq. 8 remete à Eq. 9 (o caso “c” deve contemplar 2 tensões admissíveis à
flexão), teremos que calcular Fb’’x e adotar o maior valor entre elas. Segue-se:

8430 . Cb 8430 . 1,00


Fb′′x = → Fb′′x = → Fb′′x = 4,09 kN/cm²
Lb . d 1100 . 75
( ) ( )
Af 40

E também obedece a condição de ser menor que 0,60 . Fy = 15 kN/cm², porém, como
dito acima, utilizaremos Fb’x por ser a maior entre elas.

4º Passo: Verificação da Esbeltez

A relação de verificação é a Eq. 24, podendo implicar na Eq. 25 ou Eq. 26, dependendo
do resultado:

Temos:

62
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

h/tw = 90,63. Para comparar com este valor, utilizamos o resultado da expressão:

632 632
= = 242
√Fbx √6,79

Portanto, segundo a Eq. 25, 90,63 < 242 → Qe = 1,00

5º Passo: Tensão de Cálculo

Assim, Podemos encaminhar ao fim do exercício utilizando a Eq. 27:

fbx = Fbx . Q . Q e → fbx = 6,79 . 0,97 . 1 → fbx = 6,59 kN/cm²

Na mesma Eq. 27, também temos que:

Mx
fbx = → Mx = fbx . Wx → Mx = 6,59 Wx
Wx

Da aula 3 trazemos que:

Ix 134197
Wx = → Wx = → Wx = 3579 cm³
d 75
2 2

Portanto:

Mx = 6,59 Wx → Mx = 6,59 . 3579 → Mx = 23586 kN. cm

Finalizado. Não cai na prova.

2. Elementos Sujeitos ao Cisalhamento

Peças sujeitas ao cisalhamento, são aquelas em que as cargas atuantes tendem a fazer
deslizar uma porção da peça em relação à outra porção da mesma peça e, por isso mesmo,
causar corte e que serão equilibrados mediante tensões de cisalhamento admissíveis,
desenvolvidas pelas mesmas.

2.1. Resistência ao Cisalhamento (fv)

A relação se dá da seguinte maneira:

V
fv = ≤ Fv Eq. 28
Aw

63
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
ESTRUTURAS

Onde:

V é a força cortante na seção considerada;


Aw é a área da alma da seção analisada;
Fv é a Tensão Admissível ao Cisalhamento.

2.2. Tensão Admissível ao Cisalhamento (Fv)

Tem-se as seguintes relações que dependem também do Índice de Esbeltez. Para:

h 316
① λ= ≤ → Fv = 0,40 . Fy Eq. 29
tw √Fy

h 316 Fy
② λ= > → Fv = ( ) . Cv ≤ 0,40 . Fy (∗) Eq. 30
tw √Fy 2,89

Onde Cv é um coeficiente de variação da força cortante.

(*) – Leia-se “utilizar a expressão primeira quando Fv for menor que 0,40 . Fy, na
situação 2”.

O Cv a ser adotado para a situação ② será dentre as duas opções abaixo, as que se
enquadrarem em:

31640 . K v
Cv = quando este resultado der Cv ≤ 0,80 Eq. 31
h 2
Fy . ( )
tw

158 Kv Eq. 32
Cv = .√ quando este resultado der Cv > 0,80
h Fy
( )
tw

Onde Kv é o coeficiente de flambagem local por cisalhamento e possui valor Kv = 5,34


quando não houverem enrijecedores transversais. Quando houverem:

5,34 a
K v = 4,00 + quando ≤ 1,00 Eq. 33
a 2 h
( )
h

4,00 a
K v = 5,34 + quando > 1,00 Eq. 24
a 2 h
( )
h

Onde a é distância entre enrijecedores transversais.

64
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

2.3. Enrijecedores

Os enrijecedores, também denominados de nervuras, têm a finalidade de, em vigas


com altas solicitações à flexão e/ou cisalhamento, impedir a flambagem da alma das vigas,
por essas serem em geral, fabricadas com pequena espessura. A fim de se garantir a não
ocorrência dessa flambagem local da alma desses perfis, colocam-se nervuras ou
enrijecedores, também chapas de pequena espessura, nas posições verticais, horizontais ou
ambas.

Os enrijecedores verticais são empregados em situação de grandes esforços de


cisalhamento, enquanto que os enrijecedores horizontais são empregados em vigas de
grande altura.

Nos apoios de vigas com alta solicitação de cargas, em especial as vigas de rolamento –
de suporte de pontes rolantes – aconselha-se a colocação de enrijecedores verticais nas
regiões dos apoios, assim como em vigas em que não haja qualquer conexão entre a alma
dessas e os seus apoios.

Recomendações básicas para inserção de enrijecedores de apoio deverão seguir as


especificações mínimas:

te > t w
h 805 ASTM A36 → 161
be 25 → tw
> →
ASTM A572 → 137
≤ √Fy
t √Fy
{ e

Quanto à colocação de enrijecedores intermediários, esses devem ser aplicados nas


mesmas vigas de rolamento, sob altas solicitações estruturais, a fim de combater possíveis
excentricidades dos trilhos, que geram empenos da alma e da mesa dessas vigas. De
qualquer maneira, é sempre necessária a sua adoção quando:

65
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
ESTRUTURAS

h
> 260 → para qualquer aço
tw

Recomendações básicas para a determinação do espaçamento a entre enrijecedores:

Quanto ao dimensionamento dos enrijecedores, esse deve ser efetuado como se


tratasse de uma peça sujeita a um esforço de compressão, cuja carga atuante deve ser o
esforço cortante nesse local, com o coeficiente de flambagem K = 1,00 e os comprimentos
de flambagem KLx = KLy = h (serão vistos na próxima aula).

Exemplo: Verificar o máximo esforço cortante absorvido em um perfil VS 750 x 108


utilizando-se aço ASTM A36. Utilizar as medidas do exercício anterior.

Resolução:

Temos as seguintes informações, do exercício anterior:

Ix = 134197 cm4
Iy = 6830 cm4

66
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Fy = 25 kN/cm2
Af = 32 x 1,25 = 40 cm2
Aw = 72,5 x 0,8 = 58 cm2

1º Passo: Análise do Índice de Esbeltez (IE):

316
Neste primeiro passo, deveremos encontrar IE e compará-la ao valor de para saber
√𝐹𝑦

se utilizaremos a situação ① ou ② (Eq. 29 ou 30). Procede-se:

λ = h/tw → λ = 752/8 → λ = 90,63

316 316
= = 63,2
√𝐹𝑦 √25

Portanto, 90,63 > 63,2 → tem-se o caso ② e utilizaremos a Eq. 30. Para isto,
deveremos encontrar o Coeficiente de Variação da Força Cortante, já que a Eq. 30 é Fv =
Fy
( ) . Cv .
2,89

Do valor do IE, também temos que não existirão enrijecedores de apoio, pois 90,63 é
menor que 161 (ASTM A36) e também não utilizará enrijecedores intermediários, pois 90,63
é menor que 260 (qualquer aço). Portanto, para situações sem enrijecedores, adota-se Kv =
5,34.

2º Passo: Coeficiente de Variação da Força Cortante

Para saber qual valor de Cv utilizar, deve-se resolver as Equações 31 e 32 e analisar os


resultados:

31640 . K v 31640 . 5,34


Cv = 2 → Cv = → Cv = 0,82 > 0,80
h 25 . 90,632
Fy . ( )
tw

158 Kv 158 5,34


Cv = .√ → Cv = .√ → Cv = 0,806 > 0,80
h Fy (90,63) 25
( )
tw

Portanto, adotamos Cv = 0,806 pois satisfaz a Eq. 32.

3º Passo: Tensão Admissível ao Cisalhamento

67
Aula 5 – Flexão Simples e Cisalhamento
ESTRUTURAS

Como visto no 1º Passo, agora temos os valores para se calcular Fv:

Fy 25
Fv = ( ) . Cv → F v = ( ) . 0,806 → Fv = 6,97 kN/cm²
2,89 2,89

Devemos comparar este valor com 0,40 . Fy para ver se satisfaz a condição da Eq. 30:

0,40 . Fy = 0,40 . 25 = 10 kN/cm²

Como 10 é maior que 6,97, a equação está satisfeita.

Portanto, a Resistência ao Cisalhamento Máximo será a aplicação da Eq. 28 na Tensão


Admissível, ou seja, quando o valor de f v é Fv, o que nos dará o cortante máximo permitido:

V
fv = → Vmax = FV . Aw → Vmax = 6,97 . 58 → Vmax = 404,30 kN
Aw

Baseado e adaptado de
AUGUSTO CANTUSIO NETO.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

68
Aula 6 – Tração e Compressão
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Aula 6: Tração e Compressão

Esta Aula irá abordar outros dois tipos de sujeições das peças estruturais: quanto à Tração e
quanto à Compressão. Diferentemente da aula anterior, estes esforços se dão de maneira
perpendicular ao plano transversal da seção, e, portanto, possuem características próprias
que serão daqui para frente estudadas.

1. Elementos Tracionados

Os elementos tracionados são aqueles onde atua força normal perpendicular ao plano
da seção transversal. No caso de aplicação dessa força no centro de gravidade da peça
(C.G.) denominamos Tração Simples. Tendo em mente a clássica equação de Tensão, já
estudada em outras disciplinas:

F
σ =
A

O método de dimensionamento será o Método das Tensões Admissíveis. A única


maneira de ruína das peças sujeitas à tração simples pode ocorrer pelo escoamento da
seção bruta da peça (área bruta) ou pela ruptura da seção liquida (área líquida).

1.1. Tensão Admissível de Tração (Ft)

As condições de resistência de uma peça estrutural aos esforços de tração serão


determinadas pela tensão máxima admissível de tração, obtida da seguinte maneira:

• Para o escoamento da seção bruta ↔ Ftg = 0,60 . Fy


• Para a ruptura na seção liquida efetiva ↔ Fte = 0,50 . Fu

1.2. Área Bruta (Ag)

A área bruta será denominada por Ag, que é o somatório da seção transversal da peça
em dimensionamento ou analise, ou seja, é o produto da espessura da peça pela sua
largura. Portanto: Ag = d . t

69
Aula 6 – Tração e Compressão
ESTRUTURAS

1.3. Área Líquida (An)

Numa barra com furos causados pela existência de conectores ou parafusos, surge a
necessidade de se descontar a área desses furos, passando-se a considerar a existência da
área líquida. A área liquida será, portanto, obtida através da subtração da área bruta (A g) as
áreas dos furos contidos nessa seção. An = (d . t) – Aøf

Entretanto, existem algumas considerações que devem ser levadas em conta a fim de
se determinar a área líquida (An). Ao diâmetro nominal do parafuso (фp - diâmetro do
parafuso) devemos somar 2 mm a mais e, no caso de furos padrão, acrescenta-se mais 1,5
mm ao diâmetro nominal, ou seja, o diâmetro do furo (фf) será 3,5 mm maior do que o
diâmetro do parafuso.

No caso da existência de furos distribuídos transversalmente ao eixo da peça (diagonal


ou ziguezague), obtemos a largura da seção para o menor valor de seção líquida.

A área líquida An de barras com furos pode ser representada pela equação:

s2
An = [d − ∑(фp + 3,5) + ∑ ] .t
4g

70
Aula 6 – Tração e Compressão
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

Onde d é a altura e t a espessura.

1.4. Área Líquida Efetiva (Ane)

Nas ligações de barras tracionadas, em que a solicitação for transmitida apenas em um


ou algum dos elementos da seção, utiliza-se uma seção liquida efetiva (Ane), para levar em
conta que, na região da ligação, as tensões se concentram no elemento ligado e não mais se
distribuem uniformemente em toda a seção. No caso, Ane = Ct . An

Onde o valor de Ct (coeficiente de tração) é determinado pelos seguintes critérios:

Quando a força de tração é transmitida a todos os elementos da seção, por ligações


parafusadas – Ct = 1,00

Quando a força de tração não é transmitida a todos os elementos da seção:

• Ct = 0,90 em perfis I ou H, cujas mesas tenham uma largura não inferior a 2/3
da altura, e em perfis T cortados desses perfis, com ligações nas mesas, tendo
no mínimo três conectores por linha de furação na direção do esforço;
• Ct = 0,85 em todos os demais perfis, tendo no mínimo três conectores por
linha de furação na direção do esforço;
• Ct = 0,75 em todas as barras cujas ligações tenham no mínimo dois conectores
por linha de furação na direção do esforço.

Para chapas ligadas nas extremidades por soldas longitudinais, o valor de C t será
obtido de acordo com a relação entre l e d (comprimento de solda e largura da chapa
respectivamente):

71
Aula 6 – Tração e Compressão
ESTRUTURAS

1.5. Índice de Esbeltez

Nas peças tracionadas o índice de esbeltez (λ) não possui fundamental importância,
uma vez que o esforço de tração tende a corrigir excentricidades construtivas. Entretanto, a
fim de se evitar deformações excessivas, efeitos danosos de impactos ou vibrações
indesejáveis, fixaram-se valores máximos para esse índice. Assim sendo o índice de esbeltez
λ = Lfl/r, ou seja, a relação entre o comprimento da haste ou barra em relação ao seu raio de
giração, deve permanecer dentro dos seguintes valores:

• Peças de vigamentos principais: λ ≤ 240;


• Peças de vigamentos secundários e contraventamentos: λ ≤ 300.

Exemplo: Duas chapas com espessura de 10 mm e altura de 300 mm, estão emendadas
com seis parafusos de 25 mm. Verificar se as dimensões da chapa são suficientes para
atender um esforço de 270 kN, sendo o aço utilizado o ASTM A36. Dados: Tensão limite de
resistência à tração Fy = 25 kN/cm² e Tensão última de resistência à tração Fu = 40 kN/cm².

Resolução pelo Método das Tensões Admissíveis:

1º Passo: Tensão Admissível de Tração

Deve-se encontrar os limites suportados para o escoamento da seção bruta (Ftg) e para
a ruptura na seção liquida efetiva (Fte):

Ftg = 0,60 . Fy → Ftg = 0,60 . 25 → Ftg = 15 kN/cm²

Fte = 0,50 . Fu → Fte = 0,50 . 40 → Fte = 20 kN/cm²

72
Aula 6 – Tração e Compressão
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

2º Cálculo da Área Bruta

Ag = d . t → Ag = 30 . 1,0 → Ag = 30 cm²

3º Passo: Cálculo dos Diâmetros das Furações

De acordo com o item 1.3, temos:

фp = ep + 3,5 → фp = 25 + 3,5 → фp = 28,5 mm = 2,85 cm

4º Passo: Área Líquida

A Área líquida será a altura da chapa subtraída dos parafusos da seção multiplicada
pela espessura:

An = [d – (3 . фp)] . t → An = [30 – (3 . 2,85)] . 1,0 → An = 21,45 cm²

Neste caso (chapa), temos que a força de tração é transmitida a todos os elementos da
seção, por ligações parafusadas, portanto Ct = 1,00.

5º Passo: Esforço Máximo na Seção Bruta

Ng max = Ftg . Ag → Ng max = 15 . 30 → Ng max = 450 kN

Como visto, o resultado é maior que os 270 kN que estão sendo aplicados. Portanto,
pela seção bruta, o esforço é suportável.

6º Passo: Seção Líquida Efetiva

Ne max = Ct . Fte . An → Ne max = 1,00 . 20 . 21,45 → Ne max = 429 kN > 270

Portanto, suporta.

Observação: note que este tipo de exercício é similar aos do ensino médio quando se
analisavam pêndulos, onde a Força Peso era sempre igualada à Tração no Fio. Devido a isto
é que os esforços N desta seção são sempre opostos, de mesma intensidade. A diferença
agora é que estudamos as propriedades do “Fio”, no caso, as barras/chapas e suas
especificidades (se são constantes, se possuem ligações, etc.). Na disciplina Estabilidade,
perceba, foi estudado se esta barra/chapa se alonga, se deforma, de acordo com os limites
de esforços suportados pelas propriedades do material qual é constituída.

73
Aula 6 – Tração e Compressão
ESTRUTURAS

2. Elementos Comprimidos

Assim como nos elementos tracionados, nos elementos comprimidos há a atuação de


uma força normal perpendicular ao plano da seção transversal. No caso de aplicação dessa
força no centro de gravidade da peça (C.G.) denominamos Compressão Simples. Entretanto,
ao contrário do esforço de tração que tende a retificar a peça, diminuindo os efeitos de
curvatura nas peças estruturais, o esforço de compressão tende a acentuar essas
curvaturas.

Somente peças muito curtas podem sofrer cargas de compressão até o escoamento do
aço, porquanto a situação mais comum é a ocorrência dos efeitos de flambagem ou flexão
súbita, antes mesmo que o material atinja sua resistência última. Nas peças comprimidas,
além da flambagem global, também deve-se considerar a flambagem local.

Os primeiros estudos sobre instabilidade foram realizados por Leonhard Euler, em


meados do século XVIII, cuja formula comanda a carga crítica de flambagem para peças
estruturais esbeltas.

2.1. Coeficientes de Flambagem (k)

A determinação do coeficiente de flambagem k pode ser feito através do


conhecimento das fixações da peça estrutural que se analisa ou se dimensiona, assim como
a deslocabilidade dessa mesma peça estrutural. As condições de fixação de extremidade de
peças estruturais são determinadas por:

74
Aula 6 – Tração e Compressão
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

2.2. Comprimento da Flambagem (kL)

Uma vez determinados os coeficientes de flambagem (k) de uma peça estrutural,


pode-se determinar o seu comprimento de flambagem, que será determinado
multiplicando-se o valor k pelo comprimento da peça estrutural (L). Portanto, o
comprimento de flambagem será kL.

2.3. Tensão Admissível de Compressão (Fa)

As condições de resistência de uma peça estrutural aos esforços de compressão serão


determinadas pela tensão máxima admissível de compressão, e deve ser calculada nos 2
sentidos (x e y), dependendo do que é solicitado de acordo com a condição de fixação de
extremidades. É obtida da seguinte maneira, nas seguintes situações:

a) Para Índice de Esbeltez kL/r ≤ Cc:

2 . π2 . E
Cc = √
Fy

kL 2
) (Fy
Fa = [1 − r 2 ] .
2Cc FS

kL kL 3
0,375 . ( ) 0,125 . ( )
FS = 1,667 + r − r
Cc Cc 3

Onde:

r é o raio de giração da peça estrutural (em x e y);


E é o Módulo de Elasticidade do aço (20500 kN);
Fy é a Tensão Limite de Resistência à Tração do Aço;
Para o aço ASTM A36, Cc = 128;
Para o aço ASTM A572, Cc = 108.

b) Para Índice de Esbeltez kL/r > Cc:

12 . π2 . E 105563
𝐹𝑎 = 2 =
kL kL 2
23 . ( ) ( )
r r

75
Aula 6 – Tração e Compressão
ESTRUTURAS

2.4. Índices de Esbeltez (λ)

Nas peças comprimidas, o índice de esbeltez (λ) é, ao contrário das peças tracionadas,
de fundamental importância, uma vez que o esforço de compressão tende a ampliar
excentricidades construtivas. E, a fim de se evitar deformações excessivas, efeitos danosos
de impactos ou vibrações indesejáveis, fixaram-se valores máximos para esse índice. Assim,
sendo o índice de esbeltez λ = Lfl/r, ou seja, a relação entre o comprimento da haste ou
barra em relação ao seu raio de giração, não deve ultrapassar λ ≤ 200.

2.5. Flambagem Local (Q)

Além da flambagem global, as peças estruturais comprimidas podem sofrer efeitos da


flambagem local. Para assegurar que a flambagem local não ocorra antes da flambagem
global da peça estrutural, existem limitações que devem ser obedecidas, ou então, os
valores de Fa deverão sofrer coeficientes de minoração, representados por Q.

As limitações que devem ser observadas para os casos de flambagem local são:

a) Para elementos enrijecidos – são os elementos que têm as duas bordas, paralelas
às tensões de compressão, apoiadas em toda a sua extensão.

Alma de perfis I, H ou U:

h 215 ASTM A36 → 43


① ≤ { → Q a = 1,00
tw √Fy ASTM A572 → 37

h 215 210 . t w 37 Aef


② > → hef = . [1 − ] → Qa =
tw √Fy √f h Ag
( ) . √f
tw

Onde:

Aef = Ag − [(h − hef ) . t w ]

f = Fa

b) Para elementos não enrijecidos – são os elementos que têm uma borda livre,
paralela às tensões de compressão.

Mesas de perfis I, H ou U e abas de perfis L

76
Aula 6 – Tração e Compressão
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

b 80 ASTM A36 → 16 (K c = 1,00)


≤ {
tf ASTM A572 → 14 (K c = 1,00)
Fy

Kc

Onde:

h = altura da alma da peça;


tw = espessura da alma da peça;
Fy = Tensão Limite de Resistência à Tração do Aço;
b = largura da mesa para perfis L e U e (0,5 x bf) para perfis I;
tf = espessura da mesa.

Para o cálculo da influência da flambagem local nas peças estruturais, dependemos do


cálculo de valores auxiliares. O primeiro desses valores é o índice Kc. Para:

h
≤ 70 → K c = 1,00
tw

h 4,05
> 70 → Kc =
tw h 0,46
( )
tw

Uma vez calculados os valores de Kc, nos é possível determinarmos os fatores de


minoração Qs, devido à flambagem local.

b 80
① ≤ → Q s = 1,00
tf
F
√ y
Kc

b 80 b 168 b Fy
② > e ≤ → Q s = 1,293 − [0,0036 . . √ ]
tf tf tf Kc
F F
√ y √ y
Kc Kc

b 168 Kc
③ > → Q s = 1,842 .
tf b 2
F Fy . ( )
√ y tf
Kc

O coeficiente Q = Qa . Qs será sempre de minoração, portanto, sempre Q ≤ 1,00.

77
Aula 6 – Tração e Compressão
ESTRUTURAS

2.6. Tensão de Cálculo (fa)

Sabendo-se que fa = Fa . Q, também é dada pela expressão:

N
fa = ≤ Fa . Q s . Q a
Ag

Exemplo: Admitindo-se um perfil H 152 x 37,1 de aço ASTM A572, com comprimento
de 4,00 m, sabendo-se que suas extremidades são rotuladas (rotação livre e translação fixa),
verificar:

a) Carga axial máxima de compressão admitindo-se que há contenção lateral


impedindo a flambagem em torno do eixo y;
b) Comparar o resultado com uma peça sem contenção lateral.

Dados:

Ag = 47,3 cm2
rx = 6,43 cm
ry = 3,63 cm
Fy = 34,5 kN/cm2

Resolução:

a) Carga axial máxima de compressão admitindo-se que há contenção lateral


impedindo a flambagem em torno do eixo y:

1º Passo: Índice de Esbeltez

Temos que kLx = 4,00 m = 400 cm (sentido y com contenção). Verifica-se então a
Flambagem no sentido x, e, para isso, calculemos o IE neste sentido:

λx = kLx/rx → λx = 400/6,43 → λx = 62,20

2º Passo: Tensão Admissível de Compressão

Tem-se da página 75 que o Cc do aço ASTM A572 é 108. Portanto, λ < Cc < 200 →
situação “a” para o cálculo da Tensão Admissível de Compressão. Portanto:

kL kL 3
0,375 . ( ) 0,125 . ( ) 0,375 . 62,20 0,125 . 62,203
FS = 1,667 + r − r → FS = 1,667 + − → FS = 1,85
3
Cc Cc 108 1083

78
Aula 6 – Tração e Compressão
UNIDADE 1 – ESTRUTURAS METÁLICAS

kL 2
) (
Fy 62,20² 34,50
Fa = [1 − r 2 ] . → Fa = [1 − ]. → Fa = 15,55 kN/cm²
2Cc FS 2 . 108² 1,85

3º Passo: Flambagem Local

Temos que:

h = 152,4 – (2 . 12) → h = 128,4 mm


b = 0,5 . 150,8 → b = 75,4 mm

Análise da Alma:

λA = h/tw = 128,8/8 → h/tw = 16,05

215 ℎ
Como = 36,60 e < 70, então temos que (situação ①):
√𝐹𝑦 𝑡𝑤

Qa = 1,00
Kc = 1,00

Análise da Mesa:

λM = b/tf = 75,4/12 → b/tf = 6,28

80
Como Fy
= 14, então Qs = 1,00 (situação ①).

Kc

Portanto:

Q = Qa . Qs → Q = 1,00 . 1,00 → Q = 1,00

4º Passo: Força Normal Admissível

Finalizando, com os valores encontrados podemos calcular a força normal que é a


carga axial máxima de compressão:

N
fa = ≤ Fa . Qs . Qa → N = Ag . Fa . Q → N = 10,38 . 152,4 . 1,00 → N = 735,52 kN
Ag

b) Comparar o resultado com uma peça sem contenção lateral.

KLx = KLy = 4,00 m = 400 cm (sentidos x e y sem contenção).

79
Aula 6 – Tração e Compressão
ESTRUTURAS

Como já fizemos os cálculos em função de x, faremos agora em relação a y para


verificar como seria o resultado se não existisse a contenção neste sentido. Rapidamente:

400
λy = = 110,19 > Cc (108) < 200
6,63

105563
Fa = = 8,69 kN/cm²
110,192

N = 8,69 . 47,30 . 1,00 = 411 kN

Portanto, o perfil nessas condições suporta 45% menos carga de compressão axial do
que na referência anterior.

Baseado e adaptado de
AUGUSTO CANTUSIO NETO.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

80
Aula 7 – Introdução às Madeiras
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Unidade 2 – Estruturas de Madeira

Aula 7: Introdução às Madeiras

No Brasil a madeira é empregada para diversos fins, tais como, em construções de igrejas,
residências, depósitos em geral, cimbramentos, pontes (grande utilização do Eucalipto),
passarelas, linhas de transmissão de energia elétrica, na indústria moveleira, construções
rurais e, especialmente, em edificações em ambientes altamente corrosivos, como à beira-
mar, nas indústrias químicas, curtumes, etc.

1. Introdução

Atualmente, ainda existe no Brasil um grande preconceito em relação ao emprego da


madeira. Isto se deve ao desconhecimento do material e à falta de projetos específicos e
bem elaborados. As construções em madeira geralmente são idealizadas por carpinteiros
que não são preparados para projetar, mas apenas para executar. Consequentemente, as
construções de madeira são vulneráveis aos mais diversos tipos de problemas, o que gera
uma mentalidade equivocada sobre o material madeira. É comum se ouvir a frase absurda
arraigada na sociedade: "a madeira é um material fraco". Isto revela um alto grau de
desconhecimento, gerado pela própria sociedade. Em função disto, não se pode tomar
como exemplo a maioria das estruturas de madeira já construídas sem projeto, pois podem
fazer parte do rol de estruturas "contaminadas" pelo menosprezo à madeira ou
procedentes de maus projetos.

Em geral, as universidades brasileiras não oferecem um preparo adequado ao


engenheiro civil na área da madeira. Este despreparo do engenheiro causa uma fuga à
elaboração de projetos de estruturas de madeira. Vãos significativos não recebem o
dimensionamento apropriado, ficando comprometido o funcionamento da estrutura. Assim,
é muito comum ver estruturas de madeira apresentando flechas excessivas, com
empenamentos, torções, instabilidades etc.

81
Aula 7 – Introdução às Madeiras
ESTRUTURAS

A madeira é um material extremamente flexível quanto à sua nobreza ou à sua


vulgaridade. Às vezes diz-se que construir em madeira é caro, outras vezes diz-se que é
barato, sempre dependendo dos objetivos do interessado. Especialmente em relação aos
custos, sempre será necessário fazer uma avaliação criteriosa, comparando-se orçamentos
provenientes de projetos bem feitos e racionais.

Outro aspecto importante e desconhecido pela sociedade refere-se à questão


ecológica, ou seja, quando se pensa no uso da madeira é automático para o leigo imaginar
grande devastação de florestas. Consequentemente, o uso da madeira parece representar
um imenso desastre ecológico. No entanto, é esquecido que, em primeiro lugar, a madeira é
um material renovável e que durante a sua produção (crescimento) a árvore consome
impurezas da natureza, transformando-as em madeira. A não utilização da árvore depois de
vencida sua vida útil devolverá à natureza todas as impurezas nela armazenada. Em
segundo lugar, não se deve esquecer jamais que a extração da árvore e o seu desdobro são
um processo que envolve baixíssimo consumo de energia, além de ser praticamente não
poluente.

Em contrapartida, o uso de materiais tais como concreto e aço – sem qualquer


desmerecimento a estes, especialmente por serem insubstituíveis em alguns casos – exigem
um processo altamente poluente de produção, assim como também exige uma devastação
ambiental para retirada da matéria-prima. Deve ser observado que para se produzir aço e
concreto demanda-se um intenso processo industrial, que envolve um alto consumo de
energia e gera grande poluição ambiental. Estes processos industriais exigem fontes de
energia, que em geral é o carvão vegetal, que ardem voluptuosamente dentro de altos-
fornos. A matéria prima retirada da natureza jamais poderá ser reposta. É um processo
irreversível, ao contrário da madeira que pode ser plantada novamente. Além de todos
estes aspectos, também deve-se observar uma obra, especialmente em concreto, que
utiliza grande quantidade de madeira para fôrmas e cimbramentos. Observe uma obra
destas em fase final, e constate o grande desperdício de madeira usada como auxiliar na
construção, é um volume significativo.

Podem ser citadas algumas vantagens em relação ao uso da madeira. A madeira é um


material renovável e abundante no país. Mesmo com um grande desmatamento o material
pode ser reposto à natureza na forma de reflorestamento. É um material de fácil manuseio,
definição de formas e dimensões. A obtenção do material na forma de tora e o seu
desdobro é um processo relativamente simples, não requer tecnologia requintada, não
exige processamento industrial, pois o material já está pronto para uso. Demanda apenas
acabamento.

82
Aula 7 – Introdução às Madeiras
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Em termos de manuseio, a madeira apresenta uma importante característica que é a


baixa densidade. Esta equivale a aproximadamente um oitavo da densidade do aço.

Um fato quase desconhecido pelos leigos refere-se a alta resistência mecânica da


madeira. As madeiras de uma forma geral são mais resistentes que o concreto
convencional, basta comparar os valores da resistência característica destes materiais.
Concretos convencionais de resistência significativa pertencem à classe de concretos CA18,
enquanto a classe de resistência de madeira começa com C20 e chega a C60.

Um dos fatores mais importantes refere-se à energia gasta para a produção de


madeira em comparação com a exigida na produção de outros materiais. Adiante será
demonstrado uma comparação entre as energias gastas na produção de uma tonelada de
madeira, de aço e de concreto, conforme estudo realizado na área.

Além de todos os aspectos anteriormente citados, existe um bastante importante que


é a beleza arquitetônica. Talvez por ser um material natural, a madeira gera um visual
atraente e aconchegante, que agrada a maioria das pessoas.

Em termos de obtenção, a madeira pode ser proveniente de florestas naturais ou


induzidas. As florestas naturais, apesar da provável melhor qualidade da madeira, seu custo
pode ser elevado, pois estas florestas encontram-se em regiões distantes dos centros mais
povoados. Contudo, existe a possibilidade das florestas induzidas, os chamados
reflorestamentos. Isto permite o reaproveitamento de áreas desmatadas e garante o
atendimento de interesses pré-estabelecidos, geralmente vinculados a uma indústria, tais
como a de móveis, lápis, aglomerados, compensados, estruturas pré-fabricadas, etc. Neste
caso, a madeira passa a ser uma espécie de lavoura, tal como é o café, a laranja, a borracha,
etc., com a vantagem de ter um custo de manutenção extremamente baixo, além de
recompor parcialmente o meio ambiente. Não se pode afirmar que um reflorestamento
recompõe a fauna e a flora, pois diversas espécies animais não se adaptam ao habitat
gerado pelas espécies normalmente usadas no reflorestamento. De qualquer forma, é um
ganho da qualidade do ar.

Apesar dos aspectos positivos, podem ser citadas algumas desvantagens para a
utilização da madeira. Dentre elas podem ser citadas sua susceptibilidade ao ataque de
fungos e insetos, assim como também sua inflamabilidade. No entanto, estas desvantagens

83
Aula 7 – Introdução às Madeiras
ESTRUTURAS

podem ser facilmente contornadas através da utilização de preservativos, que representa


uma exigência indispensável para os projetos de estruturas de madeira expostas às
condições favoráveis à proliferação dos citados efeitos daninhos. O tratamento da madeira
é especialmente indispensável para peças em posições sujeitas a variações de umidade e de
temperatura propícias aos agentes citados.

Vale lembrar que a madeira tem a desvantagem da sua inflamabilidade. Contudo, ela
resiste a altas temperaturas e não perde resistência sob altas temperaturas como acontece
especialmente com o aço. Em algumas situações a madeira acaba comportando-se melhor
que o aço, pois apesar dela ser lentamente queimada e provocar chamas, a sua seção não
queimada continua resistente e suficiente para absorver os esforços atuantes. Ao contrário
da madeira, o aço não é inflamável, mas em compensação não resiste a altas temperaturas.

1.1. Fisiologia da Árvore e a Formação da Madeira

A madeira tem um processo de formação que se inicia nas raízes. A partir delas é
recolhida a seiva bruta (água + sais minerais) que em movimento ascendente pelo alburno
atinge as folhas. Na presença de luz, calor e absorção de gás carbônico ocorre a fotossíntese
havendo a formação da seiva elaborada. Esta em movimento descendente (pela periferia) e
horizontal para o centro vai se depositando no lenho, tornando-o consistente como madeira
(Figura).

Como é sabido, a morte de uma árvore ocorrerá caso seja feita a extração da casca
envolvendo todo o perímetro a qualquer altura do tronco. Basta interromper o fluxo
ascendente ou descendente da seiva bruta ou elaborada. É como interromper o fluxo de
sangue para o coração em um ser humano.

84
Aula 7 – Introdução às Madeiras
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

2. Anatomia da Madeira e Classificação das Árvores

As árvores para aplicações estruturais são classificadas em dois tipos quanto à sua
anatomia: coníferas e dicotiledôneas.

As coníferas são chamadas de madeiras moles, pela sua menor resistência, menor
densidade em comparação com as dicotiledôneas. Têm folhas perenes com formato de
escamas ou agulhas; são típicas de regiões de clima frio. Os dois exemplos mais importantes
desta categoria de madeira são o Pinho do Paraná e os Pinus. Os elementos anatômicos são
os traqueídes e os raios medulares.

As dicotiledôneas são chamadas de madeiras duras pela sua maior resistência; têm
maior densidade e aclimatam-se melhor em regiões de clima quente. Como exemplo temos
praticamente todas as espécies de madeira da região amazônica. Podemos citar mais
explicitamente as seguintes espécies: Peroba Rosa, Aroeira, os Eucaliptos (Citriodora,
Tereticornis, Robusta, Saligna, Puntacta, etc.), Garapa, Canafístula, Ipê, Maçaranduba,
Mogno, Pau Marfim, Faveiro, Angico, Jatobá, Maracatiara, Angelim Vermelho, etc. Os
elementos anatômicos que compõem este tipo de madeira são os vasos, fibras e raios
medulares.

A madeira é um material anisotrópico, ou seja, possui diferentes propriedades em


relação aos diversos planos ou direções perpendiculares entre si. Não há simetria de
propriedades em torno de qualquer eixo.

2.1. Terminologia

Existem alguns termos que são normalmente utilizados para caracterizar propriedades
da madeira. Especialmente em relação ao teor de umidade são usados dois termos bastante
comuns:

85
Aula 7 – Introdução às Madeiras
ESTRUTURAS

• Madeira verde: caracterizada por uma umidade igual ou superior ao ponto de


saturação, ou seja, umidade em torno de 25%;
• Madeira seca ao ar: caracterizada por uma umidade adquirida nas condições
atmosféricas local, ou seja, é a madeira que atingiu um ponto de equilíbrio
com o meio ambiente. A NBR 7190/97 considera o valor de 12% como
referência.

2.2. Características Gerais de Peças de Madeira Empregadas em Estruturas

As madeiras mais comuns (e isto depende da região brasileira e época em que se está)
são as seguintes espécies: Peroba Rosa, Ipê, Jatobá, Sucupira, Maçaranduba, Garapa,
Angico, Maracatiara, Cedril, Cumaru, Amestão, Cupiúba, e outras não muito convencionais.

Para estas espécies de madeira serrada existem algumas bitolas comerciais, comuns de
serem encontradas prontas no mercado. São elas:

São também encontrados postes de Eucalipto com seção transversal circular com
diversos diâmetros. Os diâmetros destes postes podem variar entre 15 cm a 28 cm. Quando
se trabalha com madeira roliça a norma brasileira permite que se faça um cálculo
simplificado. Em outras palavras NBR 7190/97 permite que peças com seção transversal
circular variável seja considerada como uniforme, tomando-se um diâmetro correspondente
àquele existente na seção localizada a 1/3 da extremidade de menor diâmetro. Se φ 1 e φ2
são, respectivamente, o menor e o maior diâmetro das extremidades do poste, então o
diâmetro para cálculo pode ser usado como sendo:

(ф2 − ф1 )
ф = ф1 +
3

Não é admitido φ > 1,5 φ1. As características geométricas da seção transversal do


poste deve ser tomada em função de uma seção quadrada equivalente à circular, ou seja,
considera-se uma seção transversal de base e altura igual a "b":

Baseado e adaptado de
π . ф²
b= √ = 0,886 . ф Francisco A. Romero Gesualdo.
4 Edições sem prejuízo de
conteúdo.

86
Aula 8 – Propriedades da Madeira
ESTRUTURAS

Aula 8: Propriedades da Madeira

A madeira é um material não homogêneo com muitas variações. Além disto, existem diversas
espécies com diferentes propriedades. Sendo assim, é necessário o conhecimento de todas
estas características para um melhor aproveitamento do material. Os procedimentos para
caracterização destas espécies de madeira e a definição destes parâmetros são apresentados
nos anexos da Norma Brasileira para Projeto de Estruturas de Madeira, NBR 7190/97.

1. Introdução

A Tabela abaixo apresenta as seções e dimensões mínimas exigidas pela norma para
peças usadas em estruturas.

Basicamente, do ponto de vista estrutural, deve-se conhecer propriedades da madeira


relativas às seguintes características:

• Propriedades físicas da madeira: umidade, densidade, retratibilidade e


resistência ao fogo;
• Compressão paralela às fibras;
• Compressão normal às fibras;
• Tração paralela às fibras;
• Cisalhamento;
• Módulo de elasticidade;
• Solicitação inclinada;
• Embutimento.

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Aula 8 – Propriedades da Madeira
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

A seguir são feitos comentários sucintos sobre os procedimentos recomendados para


cada caso. Maiores detalhes devem ser vistos na norma citada.

2. Propriedades Físicas

2.1. Umidade

É determinada pela expressão (medida em %):

m1 − m2
w= . 100
m2

Onde:

m1 é a massa úmida;
m2 é a massa seca;
w é a umidade, dada em percentual.

2.2. Densidade

São caracterizadas duas densidades: a básica e a aparente. A densidade básica é


definida pelo quociente da massa seca pelo volume saturado, dado pela expressão:

ms
ρ=
Vm

Onde:

ms é a massa em quilogramas (ou gramas) do corpo-de-prova seco;


Vm é o volume em metros cúbicos (ou centímetros cúbicos).

A densidade aparente é umidade padrão de referência calculada para umidade a 12%.

2.3. Retratibilidade

Redução das dimensões pela perda da água de impregnação da madeira. Como pode
ser observado pelo diagrama da Figura, a madeira tem maior retratibilidade na direção
tangencial, seguida pela radial e axial.

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Aula 8 – Propriedades da Madeira
ESTRUTURAS

2.4. Resistência ao Fogo

A madeira tem um aspecto interessante em relação ao comportamento diante do


fogo. Seu problema é a inflamabilidade. No entanto, diante de altas temperaturas
provavelmente terá maior resistência que o aço, pois sua resistência não se altera sob altas
temperaturas. Assim, em um incêndio ela pode ser responsável pela propagação do fogo,
mas em contrapartida suportará a ação do fogo em alta temperatura durante um período
de tempo maior.

2.5. Módulo de Elasticidade (E)

São definidos diversos módulos de elasticidade em função do tipo e da direção da


solicitação em relação às fibras. O valor básico refere-se ao módulo de elasticidade
longitudinal na compressão paralela às fibras. A seguir são definidos sucintamente os
diversos valores dos módulos de elasticidade da madeira. Observar que estes valores são
definidos em função do tipo de solicitação: compressão paralela e normal, flexão e torção. A
NBR 7190/97 considera que o valor de E é igual para solicitações de compressão e tração,
ou seja, Et = Ec.

2.5.1. Módulo de elasticidade longitudinal na compressão, e na tração paralela às


fibras (E0)

Deve ser obtido através do ensaio de compressão paralela às fibras de madeira, cujos
procedimentos estão indicados na norma brasileira.

2.5.2. Módulo de elasticidade longitudinal normal às fibras (E90)

Pode ser obtido através de ensaios específicos ou como parte do valor de E 0, dado pela
relação:

E0
E90 =
20

2.5.3. Módulo de elasticidade longitudinal na flexão (EM)

Pode ser obtido através de ensaios específicos ou como parte do valor de E0, dado
pela relação:

• EM = 0,85 E0 para as coníferas;


• EM = 0,90 E0 para as dicotiledôneas.

88
Aula 8 – Propriedades da Madeira
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

2.6. Módulo de elasticidade transversal (G)

Pode ser calculado a partir do valor de E0 através da expressão:

E0
G =
20

2.7. Variação da Resistência e Elasticidade

A umidade de referência, usada no dimensionamento, sempre será referida ao valor


de umidade igual a 12%. Valores de resistência obtidos para peças em umidade diferentes
de 12%, deverão ser corrigidos pela expressão:

3(w%−12)
• Resistência: f12 = fw% . [1 + ]
100
2(w%−12)
• Elasticidade: E12 = Ew% . [1 + ]
100

Serão consideradas desprezíveis as variações de resistência e rigidez para umidades


superiores a 20% e variações de temperaturas entre 10°C e 60°C.

2.8. Caracterização Simplificada

Na falta de experimentação específica para obtenção de valores de resistência mais


precisos, podem ser usadas as relações entre resistência indicadas abaixo, definindo-se
assim uma caracterização simplificada, conforme indicado na Tabela abaixo.

2.9. Classes de Resistência

A madeira passa a ser considerada por classes de resistência, onde cada classe
representa um conjunto de espécies cujas características podem ser consideradas iguais
dentro de cada classe. São definidos dois grupos básicos: o das Coníferas e o das
Dicotiledôneas, cujos valores representativos são mostrados nas duas Tabelas seguintes.

89
Aula 8 – Propriedades da Madeira
ESTRUTURAS

2.10. Valores Representativos

2.10.1. Valores Médios (Xm)

São obtidos a partir da média aritmética. Ver também informações apresentadas no


item “Resistência Característica”, a ser estudado mais a seguir.

2.10.2. Valores Característicos (Xk)

Para fins estruturais é tomado o menor valor característico representado por X k,inf,
dentre os dois valores com 5% de probabilidade de não ser atingido ou de ser ultrapassado.
O item “Resistência Característica” também apresenta informações complementares.

• Xk,inf: 5% de probabilidade de não ser atingido;


• Xk,sup: 5% de probabilidade de ser ultrapassado.

2.10.3. Valores de Cálculo (Xd)

Xk
Xd = K mod .
γw

2.10.4. Coeficiente de Modificação (Kmod)

É o resultado do produto dos três valores de Kmod,i, ou seja:

Kmod = Kmod,1 · Kmod,2 · Kmod,3

90
Aula 8 – Propriedades da Madeira
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Onde:

Kmod,1: classe de carregamento e tipo de material;


Kmod,2: classe de umidade e tipo de material;
Kmod,3: tipo de madeira - 1a e 2a categoria.

Para o cálculo do módulo de elasticidade (rigidez), utiliza-se um valor resultante


calculado por: Eco,ef = Kmod,1 · Kmod,2 · Kmod,3 ·Eco,m

As próximas três Tabelas fornecem os diferentes valores de Kmod.

2.10.5. Coeficientes de Ponderação (γw)

• Da Resistência para Estados Limites Últimos (ELU):


✓ γwc = 1,4 para tensões de compressão paralelas às fibras;
✓ γwt = 1,8 para tensões de tração paralelas às fibras;
✓ γwv = 1,8 para tensões de cisalhamento paralelas às fibras.
• Para Estados Limites Utilização: γw = 1,0

91
Aula 8 – Propriedades da Madeira
ESTRUTURAS

2.10.6. Classe de Umidade

A Tabela fornece a classificação em classes de umidade definidas pela NBR:

2.10.7. Resistência Característica

A resistência característica de uma madeira pode ser calculada a partir de valores


médios obtidos experimentalmente. Neste caso, considera-se que a resistência
característica corresponde a 70 % do valor médio, ou seja:

fwk,12 = 0,70 · fwm,12

O valor da resistência característica pode ser estimado diretamente a partir de ensaios


em corpos de prova de acordo com as especificações da norma brasileira. Neste caso, o
valor característico da resistência é dado pela expressão a seguir, onde os valores de fi são
colocados em ordem crescente, desprezando-se o valor mais alto se o número de corpos de
prova for ímpar. O valor fwk não poderá ser menor que f1, nem menor que 0,70 do valor
médio do conjunto de valores das resistências obtidas experimentalmente.

2.11. Valores de Cálculo

O valor de cálculo da resistência é então dado pela expressão, conforme definido


anteriormente:

fwk
fwd = K mod .
γw

Para facilitar ao projetista, apresenta-se a seguir um resumo dos parâmetros usuais


aplicados ao cálculo de estruturas de madeira. Neste caso, está sendo admitido que o
carregamento é de longa duração, Kmod,1 = 0,7 e Kmod,3 = 0,8 (madeira serrada de 2a
categoria).

Assim, os valores de Kmod assumem os seguintes valores:

92
Aula 8 – Propriedades da Madeira
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

• Classe de umidade (1) e (2): Kmod = 0,7 . 1,0 . 0,8 → Kmod = 0,56
• Classe de umidade (3) e (4): Kmod = 0,7 . 0,8 . 0,8 → Kmod = 0,45

Valores dos coeficientes de ponderação da resistência para estado limite último:

• γwc = 1,4;
• γwt = 1,8;
• γwv = 1,8.

Exemplo: Considere-se o Jatobá (Hymenaea spp), uma espécie de madeira muito


empregada na construção de pontes. Os resultados experimentais mostram que a
resistência média à compressão paralela para madeira verde é:

fcom,mv = 70 MPa

Transformando esta resistência para a condição padrão, tem-se:

3(w% − 12)
f12 = fw% . [1 + ]
100

3(20 − 12)
fcom,12 = fcom,20 . [1 + ]
100

fcom,12 = 70 . [1,24] → fcom,12 = 86,8 MPa

Deste modo, a resistência característica resulta:

fwk,12 = 0,70 · fwm,12 → fcok,12 = 0,70 . fcom,12 → fcok,12 = 0,70 . 86,8 → fcok,12 = 60,8 MPa

O cálculo do coeficiente de modificação, sendo kmod1 = 0,7 madeira serrada, para


cargas de longa duração; kmod2 = 1,0 madeira serrada, para classe de umidade (1) ou (2);
kmod3 = 0,8 madeira de 2a categoria. nos dá que:

Kmod = Kmod,1 · Kmod,2 · Kmod,3 → Kmod = 0,7 . 1,0 . 0,8 → Kmod = 0,56

Portanto, utilizando γwc = 1,4 (paralela às fibras), tem-se:

fwk 60,8
fwd = K mod . → fwd = 0,56 . → fwd = 24,32 MPa
γw 1,4

Uma tensão com este valor poderá levar à estrutura à ruptura.

93
Aula 8 – Propriedades da Madeira
ESTRUTURAS

2.12. Estados Limites

A norma brasileira faz as seguintes caracterizações quanto aos estados limites:


"estados a partir dos quais a estrutura apresenta desempenhos inadequados às finalidades
da construção". Duas situações são consideradas: estados limites últimos e estados limites
de utilização. O estado limite último determina a paralisação parcial ou total da estrutura,
em função de deficiências relativas a:

• Perda de equilíbrio;
• Ruptura ou deformação plástica;
• Transformação da estrutura em sistema hipostático;
• Instabilidade por deformação;
• Instabilidade dinâmica (ressonância).

O estado limite de utilização representa situações de comprometimento da


durabilidade da construção ou o não respeito da condição de uso desejada, devido a:

• Deformações excessivas;
• Vibrações.

3. Ações

As ações são classificadas pela norma como as causas que produzem esforços e
deformações nas estruturas, de acordo com a seguinte definição:

• Permanentes: pequenas variações;


• Variáveis: variação significativa;
• Excepcionais: duração extremamente curta e baixa probabilidade de
ocorrência.

3.1. Classes de Carregamento

A NBR 7190/97 considera as classes de carregamentos indicadas na Tabela abaixo.


Referem-se ao tempo acumulado da ação sobre a estrutura, definido na terceira coluna da
citada tabela.

94
Aula 8 – Propriedades da Madeira
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Para os valores representativos das ações, São estabelecidas as seguintes


considerações:

• Valores característicos das ações variáveis (Fk): definidos pelas diversas


normas brasileiras específicas;
• Valores característicos dos pesos próprios (Gk): calculados pelas dimensões
nominais das peças considerando o valor médio do peso específico do
material para umidade de 12%;
• Valores característicos de outras ações permanentes (Gm): ações
permanentes que não o peso próprio (Gk,inf e Gk,sup): normalmente adota-se
Gk,sup;
• Valores reduzidos de combinação (ψo Fk): usados nas condições de segurança
relativas a estados limites últimos, quando existem ações variáveis de
diferentes naturezas. Uma das ações é considerada integralmente, as demais
são reduzidas;
• Valores reduzidos de utilização (ψ1 Fk e ψ2 Fk):

✓ ψ1 Fk: para valores de ações variáveis de média duração;


✓ ψ2 Fk: para valores de ações variáveis de longa duração.

3.1.1. Fatores de Combinação e Utilização

A Tabela abaixo apresenta os valores estabelecidos para os fatores de combinação (ψ i)


a serem usados no cálculo das ações.

95
Aula 8 – Propriedades da Madeira
ESTRUTURAS

3.1.2. Coeficientes de Ponderação Usados para Cálculo das Ações

Os coeficientes de ponderação são dados nas próximas quatro Tabelas a partir da


Tabela a seguir. Particularmente deve-se observar as seguintes situações:

• Estados limites de utilização: considerar igual a 1.0;


• Estados limites últimos: considerar os valores dados das próximas quatro
Tabelas.

96
Aula 8 – Propriedades da Madeira
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

3.1.3. Equações

As combinações de ações empregam coeficientes diferentes, conforme a


probabilidade de ocorrência durante a vida da estrutura. São diferentes os carregamentos a
serem empregados na verificação dos estados limites último e de utilização.

As equações a serem utilizadas, serão, dependendo das características e combinações:

a) Estados Limites Últimos: em Estados Limites Últimos, os formatos de combinações


correspondem às ações combinadas segundo sua natureza. Têm-se combinações
para ações normais, especiais e de construção.

• Combinações últimas normais:

𝑚 𝑛

𝐹𝑑 = ∑ 𝛾𝐺𝑖 . 𝐹𝐺𝑖,𝑘 + 𝛾𝑄 [𝐹𝑄1,𝑘 + ∑ 𝜓𝑜𝑗 . 𝐹𝑄𝑗,𝑘 ]


𝑖=1 𝑗=2

Onde FGi,k é o valor característico das ações permanentes, FQ1,k é o valor


característico da ação variável considerada principal em um determinado caso de
carregamento, ψ0jFQj,k é o valor reduzido de combinação de cada uma das ações
variáveis e ψ0j é o fator de combinação correspondente a cada uma das ações
variáveis.

Tendo em vista que a condição de segurança é para uma situação


duradoura, portanto classe de carregamentos de longa duração e que a

97
Aula 8 – Propriedades da Madeira
ESTRUTURAS

resistência de projeto leva em conta um tempo grande de atuação da solicitação,


as ações variáveis de curta duração FQ1,k deverão ser reduzidas pelo fator de 0,75.

• Combinações últimas especiais e combinações últimas de construção:

𝑚 𝑛

𝐹𝑑 = ∑ 𝛾𝐺𝑖 . 𝐹𝐺𝑖,𝑘 + 𝛾𝑄 [𝐹𝑄1,𝑘 + ∑ 𝜓𝑜𝑗,𝑒𝑓 . 𝐹𝑄𝑗,𝑘 ]


𝑖=1 𝑗=2

Onde FGi,k é o valor característico das ações permanentes, FQ1,k é o valor


característico da ação variável considerada principal em um determinado caso de
carregamento, ψ0j,efFQj,k é igual ao fator ψ0j adotado nas combinações normais,
salvo quando a ação principal FQ1,k tiver um tempo de atuação muito pequeno,
caso em que ψ0j,ef pode ser tomado como correspondente a ψ2.

b) Combinação para Estados Limites de Utilização: as combinações em estados


limites de utilização são determinadas a partir do grau de deformação que a
estrutura considerada deva suportar, permitindo sua utilização prevista. Estando
as deformações relacionadas à duração do carregamento existirão formatos
diferentes para combinações de longa, média e curta duração e de duração
instantânea.

• Combinação de longa duração:

As combinações de longa duração são as utilizadas quando o uso previsto


para a estrutura permite deformações máximas normativas. Para estas
combinações, todas as ações variáveis atuam com seus valores correspondentes
à classe de longa duração.

𝑚 𝑛

𝐹𝑑,𝑢𝑡𝑖 = ∑ 𝐹𝐺𝑖,𝑘 + ∑ 𝜓2𝑗 . 𝐹𝑄𝑗,𝑘


𝑖=1 𝑗=2

Onde Fd,uti é o valor de cálculo das ações para estados limites de utilização,
FGi,k é o valor característico das ações permanentes, FQj,k é o valor característico
das demais ações variáveis, ψ2j é o fator de combinação correspondente a cada
uma das demais ações variáveis, ψ2j . FQj,k é o valor reduzido de combinação de
cada uma das ações variáveis.

• Combinação de média duração:

98
Aula 8 – Propriedades da Madeira
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

As combinações de média duração são utilizadas quando o uso previsto para


a estrutura requer limites de deformações menores que os máximos normativos.
Nestas combinações, a ação variável principal atua com seu valor correspondente
a classe de média duração e as demais ações variáveis atuam com seus valores
correspondentes à classe de longa duração.

𝑚 𝑛

𝐹𝑑,𝑢𝑡𝑖 = ∑ 𝐹𝐺𝑖,𝑘 + 𝜓1 . 𝐹𝑄1,𝑘 + ∑ 𝜓2𝑗 . 𝐹𝑄𝑗,𝑘


𝑖=1 𝑗=2

onde FGi,K é o valor característico das ações permanentes; FQj,K é o valor


característico das demais ações variáveis; ψ2j é o fator de combinação
correspondente a cada uma das demais ações variáveis; , ψ2j . FQj,k é o valor
reduzido de combinação de cada uma das ações variáveis; FQ1,K é o valor
característico da ação variável considerada principal; ψ1 é fator de combinação
correspondente a ação variável principal.

• Combinações de curta duração:

As combinações de curta duração são utilizadas quando o uso previsto para


a estrutura requer valores desprezíveis de deformação. Nestas combinações, a
ação variável principal atua com seu valor característico e as demais ações
variáveis atuam com seus valores correspondentes à classe de média duração.

𝑚 𝑛

𝐹𝑑,𝑢𝑡𝑖 = ∑ 𝐹𝐺𝑖,𝑘 + 𝐹𝑄1,𝑘 + ∑ 𝜓1𝑗 . 𝐹𝑄𝑗,𝑘


𝑖=1 𝑗=2

Onde FGi,k é o valor característico das ações permanentes; FQj,K é o valor


característico das demais ações variáveis; FQ1,K é o valor característico da ação
variável considerada principal; ψ1j é o fator de combinação correspondente a
cada uma das demais ações variáveis; é o valor reduzido de combinação de cada
e ψ1j . FQj,k é o valor reduzido de combinação de cada uma das ações variáveis.

• Combinações de duração instantânea:

As combinações de duração instantânea são utilizadas quando se considera


a existência de uma ação variável especial pertinente à classe de duração
imediata. As demais ações variáveis são consideradas com seus prováveis valores
atuando simultaneamente à ação variável especial, valores estes de longa

99
Aula 8 – Propriedades da Madeira
ESTRUTURAS

duração salvo a existência de outro critério que os determine. Tais combinações


são expressas por:

𝑚 𝑛

𝐹𝑑,𝑢𝑡𝑖 = ∑ 𝐹𝐺𝑖,𝑘 + 𝐹𝑄,𝑒𝑠𝑝 + ∑ 𝜓2𝑗 . 𝐹𝑄𝑗,𝑘


𝑖=1 𝑗=2

Onde FGi,k é o valor característico das ações permanentes; FQj,K é o valor


característico das demais ações variáveis; FQ,esp é o valor característico da ação
variável especial; ψ2j é o fator de combinação correspondente a cada uma das
demais ações variáveis, ψ2j . FQj,k é o valor reduzido de combinação de cada uma
das ações variáveis.

A Tabela abaixo identifica as verificações de segurança para os estados limites e as


combinações de carregamento para cada situação de projeto a ser considerada.

Na próxima aula veremos um exercício que contempla estas formulações.

Baseado e adaptado de
Francisco A. Romero Gesualdo.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

100
Aula 9 – Solicitações Normais
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Aula 9: Solicitações Normais

As peças solicitadas por esforços normais apresentam tensões de naturezas diferentes, ou


seja, podem estar tracionadas ou comprimidas. A condição de segurança é analisada pela
comparação da tensão atuante com a resistência de cálculo correspondente ao tipo de
solicitação.

1. Peças Tracionadas

As peças de madeira submetidas a um esforço axial de tração apresentam


comportamento elastofrágil até à ruptura, sem a ocorrência de valores significativos de
deformações antes do rompimento. Nas estruturas, a tração paralela às fibras ocorre
principalmente nas treliças e nos tirantes de madeira. Quando a verificação corresponde ao
caso de peças tracionadas, a segurança estará garantida quando a tensão atuante de tração
for menor ou igual ao valor de cálculo da resistência à tração. Da clássica equação da
tensão:

Nsd
σt0,d = ≤ ft0,d
Awn

Onde:

σt,d é a tensão solicitante de cálculo decorrente do esforço de tração;


ft,d a resistência de cálculo à tração;
Awn é a área líquida da seção;
Nsd é o esforço normal solicitante de cálculo.

Para ft,d, tem-se:

ft,k
ft,d = K mod .
𝛾𝑤𝑡

Sendo ftd = ft0,d para fibras com inclinação em relação ao eixo da barra. Existe um
modificador para ft,d com relação às inclinações das fibras da madeira em relação ao ângulo
de esforço. No caso deste esforço não ser paralelo (0o), considera-se ft,d = ftα,d com α sendo

101
Aula 9 – Solicitações Normais
ESTRUTURAS

o ângulo de inclinação do esforço em relação às fibras. Esta fórmula não será estudada
(Fórmula de Hankinson).

O item 10.3 da NBR 7190:1997 limita a esbeltez máxima de peças tracionadas em λ =


173.

1.1. Determinação da Área Líquida em Peças com Ligações

Analogamente às peças metálicas já estudadas em aulas passadas, a área útil deve


considerar a redução por furos ou entalhes na seção quando a redução da área resistente
for superior a 10% da peça íntegra. Considera-se neste item somente as barras de seção
retangular h . t.

Para a seção transversal reta:

Awn = Aw – n . Af

Onde:

Aw = área bruta da seção (h . t);


n = número de furos da seção;
Af = área de um furo.

Tem-se, também:

d + 0,5 mm, para parafusos com folga


Af = t . df → df {
d, para pregos

Exemplo: A linha de uma tesoura está submetida ao esforço solicitante de tração de


Nsd = 50 kN, considerando uma situação duradoura de projeto, verifique se a seção 7,5 cm x
10 cm atende a este esforço, considerando: conífera classe C-30; carregamento de longa
duração; classe 4 de umidade; peças de 2ª categoria; parafusos de diâmetro 12,5 mm.

102
Aula 9 – Solicitações Normais
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Resolução:

Vamos resolver este exercício de uma forma diferente. Note, aluno, que estes modelos
de exercício, seja para estrutura de aço, madeira, concreto, etc., sempre nos apresentam
uma carga ou esforço, nos dá as características do material, e pede para ver se é suportável
ou não. Desde as primeiras aulas de Estruturas Metálicas, onde exercícios foram resolvidos
passo-a-passo, é assim. Aqui, não é diferente. Deveremos pegar as características do
material, obter os coeficientes modificadores, de segurança, etc. em tabelas ou na norma, e
aplicar uma fórmula pronta para a situação descrita. É pura repetição.

Para este caso:

Necessitamos encontrar a resistência de cálculo à tração e a área líquida a que está


submetida, para, após isso, podermos encontrar a tensão e concluir o exercício.
Obviamente, deveremos encontrar os coeficientes todos que estas fórmulas envolvem.
Resumo do exercício:

O que queremos: Tensão (σ);


Como encontrá-la: com a relação de um esforço em determinada área (N/A);
Do que precisaremos: do esforço e da área;
Como encontrar o esforço: encontrando a tensão de cálculo máxima de acordo com as
propriedades no material ft,d (o que ele suporta);
Como encontrar a área: subtraindo-se a área dos furos da área da seção.

Portanto, rapidamente (em caso de dúvidas de aplicações de fórmulas, consulte aulas


anteriores):

1º: Passo: Com as propriedades do enunciado, determinamos Kmod:

Kmod = Kmod1 . Kmod2 . Kmod3 → Kmod = 0,7 . 0,8 . 0,8 → Kmod = 0,45

2º Passo: Com o Kmod, encontramos a tensão de cálculo para comparar com o esforço
que está atuando (50 MPa/Área):

ft,k 30
ft,d = K mod . → ft,d = 0,45 . → ft,d = 7,5 MPa
γwt 1,8

3º Passo: Determinação da Área Líquida:

df = d + 0,5 mm → df = 12,5 + 0,5 → df = 13 mm

103
Aula 9 – Solicitações Normais
ESTRUTURAS

Af = t . df → Af = 7,5 . 1,3 → Af = 9,75 cm²

Awn = Aw – (n . Af) → Awn = (7,5 . 10) – (2 . 9,75) → Awn = 55,5 cm² Ruptura!

4º Passo: Comparar a tensão aplicada à tensão de cálculo:

Nsd 50
σt,d = → σt,d = → σt,d = 9,0 MPa
Awn 55,5

Portanto, 9,0 > 7,5 → não suportará. Algumas outras variáveis deverão ser
consideradas e aprendidas para este tipo de cálculo, a partir de agora.

2. Peças Comprimidas

As barras comprimidas apresentam uma condição adicional correspondente à


estabilidade, que é a Flambagem. Axialmente, os estados limites últimos se configuram pelo
esmagamento das fibras, como nas barras denominadas de curtas, ou por instabilidades
associadas a efeitos de segunda ordem provocados por flambagem típica de Euler, também
conhecida como flambagem por flexão, no caso das peças esbeltas e semiesbeltas.
Portanto, existirão mais verificações na compressão do que na tração.

O índice de esbeltez de barra de barra comprimida, como sabido, é definido por:

L0 I
λ= , sendo r = √
rmin A

onde λ é o índice de esbeltez; L0 é o comprimento de flambagem e rmin é o raio de


giração mínimo.

O comprimento de flambagem L0 é igual ao comprimento efetivo da barra, não se


permitindo reduções em peças com extremidades indeslocáveis, no caso de peças
engastadas em uma extremidade e livres na outra à L0 = 2L.

104
Aula 9 – Solicitações Normais
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

2.1. Peças Curtas (λ ≤ 40)

Uma peça é denominada de curta quando apresenta índice de esbeltez menor ou igual
a 40. A forma de ruptura caracteriza-se por esmagamento da madeira e a condição de
segurança da NBR 7190:1997 é expressa por:

Nsd
σc0,d = ≤ ft0,d
Awn

Onde σc0,d é a tensão de cálculo devida à solicitação dos esforços de compressão; Aw é


a área bruta da seção transversal; Nsd o esforço normal solicitante de cálculo (Fd); fc0,d é a
resistência de cálculo aos esforços de compressão paralela às fibras.

2.2. Peças Semiesbeltas (40 < λ ≤ 80)

A forma de ruptura das peças medianamente esbeltas pode ocorrer por esmagamento
da madeira ou por flexão decorrente da perda de estabilidade.

A NBR 7190:1997 não considera, para peças medianamente esbeltas, a verificação de


compressão simples, sendo exigida a verificação de flexocompressão no elemento mesmo
para carga de projeto centrada. É um critério que estabelece a consideração de possíveis
excentricidades na estrutura, não previstas no projeto. A verificação deve ser feita
isoladamente nos planos de rigidez mínima e de rigidez máxima do elemento estrutural.

A condição de segurança relativa ao estado limite último de instabilidade impõe a


relação para o ponto mais comprimido da seção transversal, aplicada isoladamente nos
planos de rigidez mínima e máxima do elemento estrutural.

σNd σMd
+ ≤1
fc0,d fc0,d

Onde:

σNd é o valor de cálculo da tensão de compressão devida à força normal de compressão


e σMd é o valor de cálculo da tensão de compressão devida ao momento fletor M d, calculado
pela excentricidade ed prescrita pela norma.

σnd é definido como sendo o valor de cálculo da tensão devido ao esforço normal de
compressão:

Nsd
σNd =
Aw

105
Aula 9 – Solicitações Normais
ESTRUTURAS

σMd é definido como sendo o valor de cálculo da tensão de compressão devido ao


Md
momento fletor , expresso por:
W

M𝑑 . 𝑋𝐶𝑀
Md = N d . e d sendo σMd =
I𝑦

Note que σMd depende do eixo de cálculo, podendo variar X CM e YCM, Iy e Ix,
dependendo do eixo.

Onde ed, por sua vez, é definida como sendo a excentricidade de cálculo expressa por:

NE
ed = e1 ( )
NE − Nd

Onde e1 é a excentricidade de primeira ordem, expressa por:

e1 = ei + ea

Sendo ea uma excentricidade acidental em virtude das imperfeições geométricas da


barra, com valor máximo dado por:

L0 h
ea = ≥
300 30

E ei uma excentricidade decorrente dos valores de cálculo Mld e Nd;

Mld h
ei = ≥
Nd 30

Com M1d sendo ação efetiva atuante sobre a barra que provoque flexão. Se não existir,
ei = 0. “h” é a altura seção transversal na direção referente ao plano de verificação.

106
Aula 9 – Solicitações Normais
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

NE é a Força Crítica de Euler expressa por:

π2 . Ec0,ef . I
NE =
L20

Sendo I o momento de inércia da seção transversal da peça relativo ao plano de flexão


em que se está verificando a condição de segurança.

Como podemos ver, em situações de semiesbeltez fica mais difícil de se checar as


restrições pelo montante de variáveis a se encontrar para proceder com as verificações.
Porém, tal qual uma receita de bolo, o roteiro é tal qual descrito anteriormente:
identificadas as condições e características das peças, seguir encontrando os valores para o
caso dela, como era feito para peças metálicas e de concreto, em Estabilidade.

2.3. Peças Esbeltas (λ > 80)

A forma de ruptura das peças esbeltas ocorre por flexão causada pela perda de
estabilidade lateral. Neste caso, a condição de segurança relativa ao estado limite último de
instabilidade impõe a relação:

σNd σMd
+ ≤1
fc0,d fc0,d

Definindo-se:

NE
Md = Nd . e1,ef ( )
NE − Nd

Onde e1,ef é a excentricidade efetiva de 1a ordem, expressa por:

e1,ef = e1 + ec → e1,ef = ei + ea + ec

ea é a excentricidade acidental mínima com valor ≥ h/30 ou L 0/300; ec é a


excentricidade suplementar de primeira ordem que representa a fluência da madeira,
expressa por (recomenda-se utilizar uma calculadora para se calcular esta expressão,
quando necessário):

ec = (ei + ea ) . {exp(∆) − 1}

Iremos abrir um parêntese matemático aqui.

107
Aula 9 – Solicitações Normais
ESTRUTURAS

A função exponencial ex foi expressa como “exp” para que não se confunda com o “e”
da excentricidade, onde Δ vale:

ф . [Ngk + (ψ1 + ψ2 ) . Nqk ]


∆=
NE − [Ngk + (ψ1 + ψ2 ) . Nqk ]

Onde:

(ψ1 + ψ2) ≤ 1, encontrados na Aula 08, página 96;

M1g,d
eig ≤
Ngd

Ngk e Nqk são valores característicos da força normal devidos às cargas permanentes e
variáveis, respectivamente; M1g,d é o valor de cálculo do momento fletor devido apenas às
ações permanentes; ф é o coeficiente de fluência relacionado às classes de carregamento e
de umidade, exposto na Tabela:

Esta análise é relativamente complicada, porém, com o auxílio de tabelas e de material


de apoio é perfeitamente solucionável. Vamos para um exercício completo de Solicitações
Normais em peças de madeira envolvendo todos os conceitos envolvidos até aqui. É
extenso, mas será feito passo a passo para assimilação do aprendizado. Concentre-se.

Exemplo: Verificar, para a combinação última normal, se a barra do banzo da treliça de


comprimento de flambagem L0 = 169 cm e com secção transversal de 6 cm x 16 cm (Figura),
construída em local de classe de umidade 1, é suficiente para resistir a uma solicitação
devida à carga permanente de grande variabilidade de -2400 daN (decaNewton → 10 N), à
carga de vento de pressão de -564 daN. A madeira usada é uma folhosa de classe C60 e sem
classificação visual.

108
Aula 9 – Solicitações Normais
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Resolução:

1º Passo:

Em primeiro lugar, faça-se uma análise da classe de carregamento para que se possa
saber qual equação utilizar. O enunciado diz “Verificar, para a combinação última
normal...”, portanto, da Aula 08, tópico “a” (pg. 97), temos que:

𝑚 𝑛

𝐹𝑑 = ∑ 𝛾𝐺𝑖 . 𝐹𝐺𝑖,𝑘 + 𝛾𝑄 [𝐹𝑄1,𝑘 + ∑ 𝜓𝑜𝑗 . 𝐹𝑄𝑗,𝑘 ]


𝑖=1 𝑗=2

Parcela Ações
Variáveis

Parcela Ações
Permanentes

Para as ações apresentadas, temos que o exercício nos fornece o seguinte dado: “à
carga permanente de grande variabilidade de -2400 daN”, ou seja, fazendo uso da última
tabela da página 96, temos que o coeficiente de majoração para o modelo é γG = 1,4 na
primeira parcela.

Para γQ, temos o mesmo se enquadrando como de ação variável permanente, ou seja:
1,4. Porém, deveremos mitigar a 75% de seu valor, pois, conforme tópico “Combinações
últimas normais” da página 97 da Aula 08, ações variáveis permanentes que acontecem por
curta duração deverão ser reduzidas pelo fator de 0,75 (vento). Analisando: são
permanentes pois acontecerão durante a vida toda do projeto, porém, variáveis pois não
acontecerão todo o tempo desta vida útil.

Ademais, para as ações apresentadas, existe somente uma ação variável (vento), a
qual será considerada principal. Não existe ação variável secundária, portanto, não será
necessário utilizar a parcela ∑nj=2 ψoj . FQj,k , pois não existirão comparativos a se fazer para
encontrar o maior esforço considerando, entre as variáveis, uma ou outra maior (PS: caso
existisse outra ação variável, teríamos que encontrar F d1 e Fd2, considerando, dentre as
variáveis, o vento e uma suposta outra ação como primária e secundária, achar qual dentre
elas produziria o maior valor de Fd para poder utilizar sempre a maior, como segurança, na
resolução do exercício).

Temos, portanto:

109
Aula 9 – Solicitações Normais
ESTRUTURAS

Fd = (1,4 . −2400) + 1,4 . 0,75 [−564]


Fd = −3360 + 1,05[−564]
Fd = −3952 daN

2º Passo

É necessário calcular as propriedades mecânicas da madeira. Para isso, sabe-se que a


madeira é maciça e de classe C60. A resistência de cálculo à compressão paralela às fibras é
dada por (w → c0):

fc0,k
fc0,d = K mod .
γc

Para resolver a expressão, encontraremos o Kmod. O Kmod,1 é função da ação variável


principal e classe de carregamento, Kmod,2 é função da classe de umidade e tipo de material
e Kmod,3 é devido à categoria da madeira. A classe de carregamento para a combinação
última normal é sempre considerada de longa duração, portanto k mod,1 = 0,70. Para obras
em madeira serrada e inseridas em locais com classe de umidade 1, k mod,2 = 1,0. Madeira
sem classificação visual é considerada de 2ª categoria, portanto kmod,3 = 0,8.

Kmod = Kmod,1 · Kmod,2 · Kmod,3 → Kmod = 0,7 . 1,0 . 0,8 → Kmod = 0,56

De acordo com a Aula 08 (tabela pág. 90), a madeira classe C 60 apresenta fc0,k = 600
daN/cm² e γc = 1,4. Assim sendo:

fc0,k 600
fc0,d = K mod . → fc0,d = 0,56 . → fc0,d = 240 daN/cm²
γc 1,4

3º Passo:

Necessitaremos também do Módulo de Elasticidade Efetivo, para que se possa calcular


futuramente no cálculo da Carga Crítica de Euler. Segundo consta na página 91:

Eco,ef = Kmod · Eco,m → Eco,ef = 0,56 · 245000 → Eco,ef = 137200 daN/cm²

Note que o valor de Eco,m difere da tabela da página 90 por aquela estar em MPa e aqui
em daN.

4º Passo

Passaremos agora para uma segunda fase da resolução do exercício, que é a análise
dos critérios de segurança aprendidos aqui nesta aula. A fim de se determinar este critério a

110
Aula 9 – Solicitações Normais
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

ser empregado para a verificação da segurança da peça comprimida, deve ser calculado o
índice de esbeltez da mesma nas duas direções, visto que, segundo a NBR 7190:1997, a
verificação deve ser feita nas duas direções independentemente, e então, poderemos
conhecer em qual situação a peça se encaixará, pois depende de λ.

L0 I
λ= , sendo r = √
rmin A

Para encontrarmos λ, deveremos encontrar o raio de giração, e, para isto, deveremos


encontrar o Momento de Inércia da peça em ambos os sentidos. Temos, para retângulos,
que I = bh³/12 no sentido de x e I = b³h/12, no sentido de y. Portanto:

Ix = bh³/12 → Ix = 6 . 16³/12 → Ix = 2048 cm4

Iy = b³h/12 → Iy = 6³ . 16/12 → Iy = 288 cm4

Os raios de giração em torno das direções x e y são então dados por:

𝐼𝑥 2048
𝑟𝑥 = √ → 𝑟𝑥 = √ → 𝑟𝑥 = 4,62 𝑐m
𝐴 6 . 16

Iy 288
ry = √ → ry = √ → ry = 1,73 cm
A 6 . 16

Portanto, os Índices de Esbeltez são:

L0 169
λx = → λx = → λx = 36,6
rx 4,62

L0 169
λy = → λy = → λy = 97,7
ry 1,73

Assim sendo, em torno do eixo x, o banzo é considerado uma peça curta (λ ≤ 40) e em
torno do eixo y é considerado esbelto (λ > 80). Portanto, analisaremos a peça com as
equações do tópico 2.1 para o eixo x e 2.3 para o eixo y.

5º Passo:

Para a análise em torno de x, tem-se que σc0,d ≤ ft0,d :

111
Aula 9 – Solicitações Normais
ESTRUTURAS

Fd 3952
σc0,d = → σc0,d = → σc0,d = 41,17 daN ≤ 240 daN
A 6 . 16

A segurança é atendida em torno do eixo x.

6º Passo: Para a análise em torno de y, tem-se que analisar as seguintes expressões,


devido a Esbeltez:

σNd σMd
+ ≤1
fc0,d fc0,d

As equações são:

Fd
σc0,d = (esforço normal de compressão, axial);
A
Md . 𝑋𝐶𝑀
σc0,d = (tensão de compressão devido ao momento fletor);
I𝑦

NE
Md = Nd . e1,ef ( ) (momento em função da excentricidade);
NE − Nd

e1,ef = ei + ea + ec (excentricidade de 1ª ordem).

Calculemos:

1) A tensão normal devida ao esforço axial já foi calculada anteriormente e é σc0,d =


41,17 daN;
2) É necessário calcular as tensões normais devidas à flexão oriunda da
excentricidade. A carga crítica de Euler é dada por:

π2 . Ec0,ef . I π2 . 137200 . 288


NE = → N E = → NE = 13654,4 daN
L20 169²

Os valores das excentricidades a serem consideradas são:

ei = 0, pois M1d = 0 (lembrar que o índice numérico 1, associado a um momento


corresponde a ação efetiva atuante sobre a barra – neste caso não existe ação que
provoque flexão). Porém, a existe uma restrição mínima de excentricidade a ser atendida:

h 6
ei ≥ → ei = → ei = 0,20 cm
30 30

PS: não confunda este h com altura da peça. Este “h” é a altura seção transversal na
direção referente ao plano de verificação. Portanto, como estamos verificando no sentido
“y”, este h será x.

112
Aula 9 – Solicitações Normais
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Tem-se também outra restrição de excentricidade:

L0 h 169
ea = ≥ → ea = → ea = 0,56 cm
300 30 300

L0 h
Como ≥ , utilizaremos o maior valor que é 0,56 cm.
300 30

Portanto:

ec = (ei + ea ) . {exp(∆) − 1}

Com:

ф . [Ngk + (ψ1 + ψ2 ) . Nqk ]


∆=
NE − [Ngk + (ψ1 + ψ2 ) . Nqk ]

Como Ngk é a carga permanente e Nqk a carga variável, (ф é dado pela classe de
carregamento em função da umidade, tabela da página 108) tem-se:

ф . [Ngk + (ψ1 + ψ2 ) . Nqk ]


∆=
NE − [Ngk + (ψ1 + ψ2 ) . Nqk ]

0,8 . [2400 + (0 + 0,2) . 564]


𝛥=
13654,4 − [2400 + (0 + 0,2) . 564 ]

𝛥 = 0,18

Retomando a Equação:

ec = (ei + ea ) . {exp(∆) − 1} → ec = (0,2 + 0,56) . {e0,18 − 1} → ec = 0,15 cm

Portanto, finalizando a excentricidade:

e1,ef = e1 + ec → e1,ef = ei + ea + ec → e1,ef = 0,20 + 0,56 + 0,15 → e1,ef = 0,91 cm

7º Passo

Cálculo do Momento (Fd = Nd = 3952 daN):

NE 13654,4
Md = Nd . e1,ef ( ) → Md = 3952 . 0,91 ( ) → Md = 5061,1 daN. cm
NE − Nd 13654,4 − 3952

Como:

113
Aula 9 – Solicitações Normais
ESTRUTURAS

Md . 𝑋𝐶𝑀
σMd =
I𝑦

Então temos:

Md . XCM 5061,1 . 3
σc0,d = → σMd = → σMd = 52,71 daN/cm²
Iy 288

A verificação da segurança em torno do eixo y, dada pela relação abaixo, mostra que o
banzo está seguro.

σNd σMd 41,17 52,71


+ ≤1 → + = 0,39 ≤ 1
fc0,d fc0,d 240 240

114
Aula 10 – Flexão e Cisalhamento
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Aula 10: Flexão e Cisalhamento

Peças fletidas são peças solicitadas por momento fletor. Acontecem na maioria das peças
estruturais disponíveis, tais como, em terças, ripas e caibros de telhados, tabuleiros de pontes,
etc. Mesmo em barras das chamadas treliças existe o efeito de flexão, que usualmente é
desconsiderado.

1. Introdução

É comum acontecer numa mesma seção transversal efeitos de flexão em duas direções
perpendiculares entre si. É o caso da chamada flexão oblíqua. Também pode acontecer
efeitos de flexão combinados com solicitações axiais de compressão ou tração, tendo-se
então o caso de flexocompressão ou flexotração.

A verificação de peças submetidas a estas situações é feita de acordo com as


recomendações da NBR 7190/97, a seguir descritas. Contudo, é também importante
lembrar que peças fletidas com seção transversal do tipo I, T, H existem, porém, devido à
complexidade, não serão estudadas neste curso.

Para esta aula, seguiremos as “receitas” das aulas anteriores. A teoria será exposta, os
exercícios serão resolvidos de maneira que consigamos enquadrá-los em algum modelo
“pré-pronto”, onde apenas aplicaremos as equações recomendadas. A dificuldade
provavelmente seja mais matemática do que técnica, já que os roteiros são previamente
determinados.

2. Solicitações de Flexão

2.1. Flexão Simples Reta

Inicialmente será analisado o caso de peças solicitadas exclusivamente por flexão


simples. Neste caso, para uma seção transversal solicitada por um momento fletor M
existirá uma tensão normal linearmente distribuída ao longo da altura da seção transversal,
gerando compressão na parte superior e tração na parte inferior, conforme ilustra a Figura.

115
Aula 10 – Flexão e Cisalhamento
ESTRUTURAS

As peças fletidas serão verificadas considerando-se um vão teórico igual ao menor dos
dois valores abaixo:

• Distância entre eixos dos apoios;


• Vão livre acrescido da altura da seção transversal da peça no meio do vão,
não se considerando acréscimo maior que 10 cm.

A norma define que a distância da linha neutra - neste caso coincide com a linha que
passa pelo centro de gravidade - até a fibra mais comprimida vale yc1 e até a fibra mais
tracionada vale yt2. Assim, as expressões para cálculo das respectivas tensões e suas
verificações são dadas pelas expressões a seguir:

Borda Comprimida:

Md
σc1,d = . yc1 ≤ fc0d
I

Borda Tracionada:

Md
σt2,d = . yt2 ≤ ft0d
I

O valor de I corresponde ao momento de inércia da seção transversal resistente em


relação ao eixo central de inércia em torno do qual atua o momento fletor M.

2.2. Flexão Simples Oblíqua

Este é caso comum, especialmente em terças usadas em coberturas de telhados,


conforme ilustrado na Figura. Neste caso, existem dois eixos em torno dos quais existem
efeitos de flexão. A verificação da segurança deverá ser feita para a situação mais crítica,
tanto para o ponto mais comprimido como para o mais tracionado. Esta verificação é feita
através das duas expressões abaixo, considerando-se o caso mais crítico.

116
Aula 10 – Flexão e Cisalhamento
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

σMx,d σMy,d σMx,d σMy,d


+ kM . ≤1 ou kM . +
fwd fwd fwd fwd

Onde:

fwd = fc0,d (borda comprimida) ou fwd = ft0,d (borda tracionada).

As tensões σMx,d e σMy,d são as tensões máximas atuantes em relação aos respectivos
eixos de atuação e, fwd é a respectiva resistência de cálculo de tração ou compressão de
acordo com a natureza da correspondente tensão atuante. O valor de k M é chamado de
coeficiente de correção tomado como sendo:

• kM = 0,5: para seção retangular;


• kM = 1,0: para outras seções transversais.

2.3. Flexotração

As barras submetidas a esforços de flexotração serão verificadas pela mais rigorosa das
duas expressões seguintes:

σNt,d σMx,d σMy,d σNt,d σMx,d σMy,d


+ kM . + ≤1 ou + + kM . ≤1
fto,d fto,d fto,d fto,d fto,d fto,d

2.4. Flexocompressão

Peças submetidas à flexocompressão são verificadas de forma semelhante ao caso de


flexotração, adotando-se o caso mais crítico dentre as duas expressões. Observar que a
influência das tensões devidas à força normal de compressão aparece na forma quadrática.

2 2
σNt,d σMx,d σMy,d σNt,d σMx,d σMy,d
( ) + kM . + ≤1 ou ( ) + + kM . ≤1
fto,d fto,d fto,d fto,d fto,d fto,d

117
Aula 10 – Flexão e Cisalhamento
ESTRUTURAS

3. Solicitações Tangenciais – Cisalhamento

O cisalhamento de peças fletidas de madeira pode ser entendido como um esforço


existente entre as fibras, na direção longitudinal da viga, causado pela força cortante
atuante. Este efeito é mais significativo em vigas com alta relação vão/altura, acima de 21.

O cálculo da tensão de cisalhamento é feito convencionalmente de acordo com a


expressão seguinte:

𝑉. 𝑆
𝜏𝑑 =
𝑏. 𝐼

Onde:

V é a força cortante atuante;


S é o momento estático para o ponto considerado;
b é a espessura da seção transversal no ponto considerado;
I é o momento de inércia.

Esta expressão é aplicada à seções transversais em posições centrais em relação ao


comprimento da viga.

Para trechos localizados a menos de duas vezes a altura total da peça (2h) dos apoios
(Figura Acima), considera-se que o efeito de cisalhamento se transforma em uma solicitação
perpendicular ao eixo da viga. De acordo com a NBR 7190/97, a redução de força cortante é
permitida somente para cargas concentradas e aplicadas dentro do trecho considerado.
Neste caso pode-se utilizar um valor de força cortante reduzido (Vred) igual a:

𝑎
𝑉𝑟𝑒𝑑 = 𝑉 .
2ℎ

118
Aula 10 – Flexão e Cisalhamento
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

A condição de segurança para a tensão de cisalhamento é verificada pela expressão


seguinte, comparando a tensão de cisalhamento atuante com a resistência ao cisalhamento:

τd ≤ fv0,d

O valor de fv0,d deve ser obtido experimentalmente. Porém conforme permite a norma
brasileira pode-se tomar valores aproximados em função do valor da resistência na
compressão paralela, sugeridos conforme:

• fv0,d = 0,12 fc0,d para coníferas;


• fv0,d = 0,10 fc0,d para dicotiledôneas;

Vigas com reduções bruscas da altura da seção transversal, como indicado na Figura
abaixo, recebem um tratamento especial através do aumento da tensão de cisalhamento
(ou da força cortante), multiplicando-se o valor convencional pela relação h/h1. Neste caso,
a relação entre a altura total e a reduzida deve respeitar a condição: h 1 > 0,75 h.

Caso a condição anterior não seja respeitada, a norma recomenda o "uso de parafusos
verticais dimensionados à tração axial para a totalidade da força cortante a ser transmitida".

Outra possibilidade é a utilização de mísulas para uma variação gradativa da altura da


seção transversal, Figura a seguir, respeitando-se a duas condições: h1 ≥ 0,5 h e a ≥ 3 (h -
h1).

119
Aula 10 – Flexão e Cisalhamento
ESTRUTURAS

4. Estabilidade Lateral de Vigas

4.1. Com Seção Retangular

Quando uma peça fletida tem seção transversal tipo I, T, caixão, etc., diferente da
seção retangular, a NBR 7190/97, item 6.7.2, recomenda o uso de enrijecedores
perpendiculares ao eixo da viga, com espaçamento máximo de duas vezes a altura total da
viga. É importante lembrar que peças estruturais de seção transversal dos tipos citados,
devem ser calculadas com momento de inércia modificado, de acordo com as indicações
apresentadas no item 4.2, a seguir.

4.1.1. Condições de Apoio

A condição mínima para que a viga tenha estabilidade refere-se a existência de


elementos nas extremidades (apoios) da viga que impeçam sua rotação ao longo do eixo
longitudinal, evitando-se assim o seu tombamento.

4.1.2. Distância entre Pontos de Contraventamento - 1a Situação

A norma brasileira define o comprimento L1 como a distância entre os pontos de


contraventamento ao longo da borda comprimida. Estes contraventamentos devem ser
capazes de impedir a rotação da seção transversal em torno do eixo longitudinal da viga.
Neste caso, deve-se verificar a seguinte condição:

𝐿1 𝐸𝑐𝑜,𝑒𝑓

𝑏 𝛽𝑀 . 𝑓𝑐0,𝑑

Para βM:

ℎ 3/2
1 𝛽𝐸 ( )
𝛽𝑀 = . . 𝑏
0,26 . 𝜋 𝛾𝑓 ℎ 1/2
( − 0,63)
𝑏

O valor de βM pode ser também obtido pela Tabela abaixo, dado em função da relação
h/b, considerando-se γf = 1,4 e coeficiente de correção βE = 4.

4.1.3. Distância entre Pontos de Contraventamento - 2a Situação

120
Aula 10 – Flexão e Cisalhamento
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Quando a peça não se enquadra na situação anterior em termos da relação L 1/b, a


segurança é aceitável quando a condição a seguir for respeitada.

Para Peças com:

𝐿1 𝐸𝑐𝑜,𝑒𝑓
>
𝑏 𝛽𝑀 . 𝑓𝑐0,𝑑

Deve ser satisfeita a condição:

𝐸𝑐𝑜,𝑒𝑓
𝜎𝑐1,𝑑 ≤
𝐿
( 1 ) . 𝛽𝑀
𝑏

4.2. Com Seção Diferente de Retangular

4.2.1. Peças Compostas

Quando uma seção transversal é formada por elementos justapostos continuamente


solidarizados por pregos considerados como ligações rígidas, conforme definição da NBR
7190/97, serão admitidas como peças maciças, desde que seja usado um valor do momento
de inércia reduzido, conforme se apresenta a seguir.

4.2.1.1. PEÇAS COMPOSTAS FORMADAS POR T, I OU CAIXÃO LIGADAS POR


PREGOS

Peças formadas por seções transversais dos tipos indicados na Figura ABAIXO sofrerão
uma redução do momento de inércia dada pelo coeficiente αr, onde:

• αr = 0,95 para seções do tipo T;


• αr = 0,85 para seções do tipo I ou caixão.

No caso de seções do tipo duplo T, Figura (d), não incluída nas recomendações da
norma, sugere-se utilizar o coeficiente αr = 0,85.

121
Aula 10 – Flexão e Cisalhamento
ESTRUTURAS

Assim, o momento de inércia (Ief) usado para verificação da viga será dado por:

Ief = αr . Ith

Sendo Ith o valor da inércia teórica resultante da composição da seção.

4.2.1.2. PEÇAS COMPOSTAS FORMADAS POR SEÇÃO RETANGULAR


INTERLIGADAS POR CONECTORES METÁLICOS

Vigas formadas por mais de uma peça individual retangular interligada por conectores
metálicos para compor uma seção transversal de rigidez maior, A Figura abaixo poderá ser
dimensionada como se fosse uma seção retangular maciça, desde que seja utilizado um
valor para o momento de inércia reduzido, tal como feito para os casos anteriores onde α r
vale:

• αr = 0,85 para dois elementos superpostos (a);


• αr = 0,70 para três elementos superpostos (b).

Baseado e adaptado de
Francisco A. Romero Gesualdo.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

122
Aula 11 – Ligações
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Aula 11: Ligações

As ligações representam um importante ponto no dimensionamento das estruturas de


madeira, pois praticamente toda estrutura de madeira apresenta partes a serem interligadas.
Basicamente a norma brasileira considera três tipos de ligações entre peças de madeira: pinos
metálicos, cavilhas de madeira e conectores.

1. Generalidades

Os pinos metálicos correspondem aos pregos e parafusos. As cavilhas são pinos de


madeira torneados, porém a norma não é clara quanto ao possível tipo de cavilha chamada
de partida, ou seja, pino de madeira com corte longitudinal em diagonal. Os conectores
podem ser os anéis metálicos ou as chapas metálicas com dentes estampados.

As ligações coladas devem obedecer a recomendações específicas e, logicamente, as


peças coladas devem ter umidade correspondente à madeira seca ao ar livre. A cola deve
garantir uma rigidez igual ou superior ao cisalhamento longitudinal da madeira.

O cálculo da capacidade das ligações por pinos ou cavilhas é baseado na resistência de


embutimento da madeira (fe0,d). Conforme já dito anteriormente é permitido usar um valor
aproximado na falta de determinação experimental específica. Neste caso podem ser
adotados os seguintes valores:

fe0,d = fc0,d

fe90,d = 0,25 αe . fc0,d

Os valores de αe são dados na Tabela:

123
Aula 11 - Ligações
ESTRUTURAS

1.1. Pré-Furação

Um aspecto importante citado pela norma corresponde à pré-furação. Isto significa


que ligações feitas por pinos e cavilhas devem obedecer às indicações dadas na seguinte
Tabela, onde d0 é o diâmetro de pré-furação e def é o diâmetro efetivo do elemento de
ligação.

1.2. Critério de Dimensionamento

O estado limite último da ligação pode ser atingido por insuficiência de resistência da
madeira interligada ou por insuficiência dos elementos de ligação.

A verificação de uma ligação é feita pela comparação da capacidade de carga,


(resistência - Rd) da ligação com o valor de cálculo da solicitação (Sd), ou seja:

Sd ≤ Rd

2. Ligações por Pinos ou Cavilhas

2.1. Recomendações Gerais

A norma recomenda que não seja usado apenas um pino ou cavilha, como garantia de
uma melhor distribuição de esforços e segurança.

Por observação experimental conclui-se que também é importante dispor os pinos em


linha, distanciando-os ao longo da direção longitudinal, aumentando assim a rigidez da
ligação em relação a distribuição do momento interno, gerado pelo braço de alavanca
correspondente à distância entre os pinos.

A Tabela abaixo fornece as especificações mínimas relativas a resistência característica


do material e os diâmetros mínimos dos elementos de ligação considerados.

124
Aula 11 – Ligações
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

2.2. Rigidez das Ligações

A Norma faz considerações diferenciadas em relação à quantidade de elementos de


ligação quanto à rigidez. Considera que a existência de apenas dois ou três elementos leva a
uma ligação deformável, e, portanto, sua aplicação somente poderá acontecer em
estruturas isostáticas. No cálculo de esforços considera-se que as ligações sejam rígidas,
porém admite-se uma contra-flecha compensatória igual a um valor mínimo 1/100 do vão
teórico da estrutura analisada.

De outro lado, ligações com 4 ou mais elementos serão consideradas rígidas, desde
que sejam respeitados os diâmetros de pré-furação especificados na Tabela da página
anterior. Em caso contrário, a ligação passa a ser considerada deformável.

Esta consideração de deformabilidade da ligação passa então a estar relacionada com


a deformação inicial da ligação e não com o seu comportamento mecânico ao longo do
carregamento. Assim, este conceito parece estar parcialmente confuso e inadequado.
Acredita-se que a recomendação mais apropriada exigiria o conhecimento da relação força
× deformação da ligação, independentemente do número de elementos usados. Neste caso
é indispensável o uso de programa computacional adequado, que considere este efeito e
estime os deslocamentos dos nós de forma mais precisa.

2.3. Resistência dos Pinos de Aço

O cálculo da resistência de um pino é fornecido em função de uma seção de corte.


Assim a resistência total de um pino corresponde à soma da capacidade das várias seções
de corte.

Em ligações com até 8 pinos em linha, dispostos paralelamente ao esforço transmitido,


a resistência total é dada pela soma da resistência de cada pino isoladamente.

Para ligações com número superior a 8 pinos, deve-se considerar uma redução da
capacidade dos pinos, isto é, considera-se que somente 8 pinos trabalhem com sua

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Aula 11 - Ligações
ESTRUTURAS

resistência plena e os demais têm apenas 2/3 de eficiência. Assim, nestes casos a resistência
da ligação será dada pela multiplicação do valor n o pela resistência de um pino. Sendo n o
número efetivo de pinos, no vale:

2
no = 8 + . (n − 8)
3

O aço correspondente aos pregos deve ter resistência característica (fyk) mínima de
600 MPa, assim como devem ter um diâmetro de no mínimo 3 mm, conforme especificado
na Tabela acima. Para os parafusos recomenda-se um valor mínimo de fyk = 240 MPa e
diâmetro mínimo de 10 mm.

A Figura abaixo mostra os parâmetros geométricos usados no cálculo da resistência de


uma seção de corte de um pino.

No cálculo da capacidade de carga de pinos em corte simples como mostrado na


Figura, considera-se t como sendo o menor valor entre t1 e t2. No caso de parafusos deve
ser observada a condição que relaciona o diâmetro do parafuso com o valor da espessura
de cálculo, ou seja, t ≥ 2d. No caso de ligações pregadas esta relação corresponde a t ≥ 5d,
embora seja admitido que t ≥ 4d, desde que d 0 = def.

Para o caso de ligações pregadas também deve ser garantido que o comprimento de
penetração na peça final (que recebe a ponta do prego) seja maior que 12 vezes o diâmetro
do prego, ou seja, t4 ≥ 12d. Outra condição necessária é que este comprimento de
penetração também seja maior que a espessura (t) da peça mais delgada envolvida na
ligação, ou seja, t4 ≥ t.

126
Aula 11 – Ligações
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

No caso de ligações por pinos em corte duplo como ilustrado na próxima Figura, o
valor de t é obtido em função das espessuras das peças laterais (t 1 e t3) e da peça central
(t2), ou seja, t é igual ao menor dos valores entre t 1, t2/2 e t3.

O valor de cálculo da resistência para uma única seção de corte de um pino metálico
será fornecido de acordo com a formulação a seguir. Neste cálculo são usados os
parâmetros adicionais β e βlim, dados por:

t fyd
β= e βlim = 1,25√
d fed

Onde t e d são espessura e diâmetro, respectivamente, já definidos anteriormente. O


valor fyd corresponde à resistência de cálculo ao escoamento do pino metálico e pode ser
admitido como sendo igual à resistência nominal característica de escoamento f yk. O valor
fed é a resistência de cálculo de embutimento do pino.

A capacidade de carga de um pino metálico dada pela sua resistência de cálculo


chamada de Rvd,1 será tomada pelo menor dos valores entre a situação de embutimento na
madeira ou pela flexão do pino, de acordo com as expressões a seguir:

a) Embutimento na madeira, quando β ≤ βlim:


R vd,1 = 0,40 . .f
β ed

b) Flexão do pino, quando β > βlim:


R vd,1 = 0,625 . .f com β = βlim
βlim yd

Considerando-se:

127
Aula 11 - Ligações
ESTRUTURAS

fyk
fyd = com γs = 1,1
γs

Quando ocorrer uma ligação envolvendo peças de madeira e chapas de aço, deve-se
fazer duas verificações, considerando o efeito do pino com a madeira e do pino com a chapa
metálica. O efeito do pino com a madeira segue as mesmas considerações anteriores. O
cálculo da resistência do pino considerando o efeito pino-peça metálica será feito de acordo
com as recomendações da norma brasileira NBR 8800 - Projeto e execução de estruturas de
aço de edifícios.

2.4. Resistência de uma Cavilha

A resistência de uma cavilha e os parâmetros correspondentes ao seu


dimensionamento (espessuras) são semelhantes aos apresentados anteriormente para os
pinos metálicos. As ligações cavilhadas em corte simples poderão ser usadas somente em
ligações secundárias. A capacidade de carga de uma ligação cavilhada depende da rigidez da
madeira das peças interligadas e da resistência e rigidez da madeira da cavilha.

O cálculo da resistência é feito da seguinte forma:

Neste caso, fc0d,cav é o valor de cálculo da resistência à compressão paralela e, fc90d,cav é


o valor de cálculo da resistência normal da madeira da cavilha. A resistência de uma seção
de corte é dada por:

a) Embutimento na Madeira, quando β ≤ βlim:


R vd,1 = 0,40 . .f
β c90d,cav

b) Flexão do pino, quando β > βlim:


R vd,1 = 0,40 . .f com β = βlim
βlim c0d,cav

3. Ligações através de Conectores Metálicos

A norma brasileira considera que os conectores metálicos correspondem a elementos


circulares também chamados de anéis metálicos. Estes são elementos cilíndricos ocos
semelhantes a um pedaço de tubo (cano). Assim, os parâmetros que caracterizam estes
conectores são o seu comprimento, diâmetro e espessura da parede do anel.

128
Aula 11 – Ligações
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Os diâmetros dos anéis referem-se à parte interna. São permitidos pela norma apenas
anéis com diâmetros iguais a 64 mm e 102 mm. Estes devem ser sempre utilizados com
parafusos de 12 e 19 milímetros, respectivamente, inseridos no furo central que serve para
execução da ranhura onde o anel é embutido. Estes anéis devem ter espessuras mínimas de
4 mm e 5 mm, respectivamente. O parafuso usado no furo central não é considerado como
elemento resistente para a ligação.

3.1. Resistência de um Anel Metálico

A resistência de um anel metálico é dada em função de dois parâmetros. Um deles


corresponde à resistência ao cisalhamento da parte interna do anel. O outro refere-se à
resistência produzida pelo contato das paredes do anel com a madeira. Em outras palavras,
considera-se que o anel metálico possui resistência suficiente para as solicitações atuantes,
e assim, a madeira torna-se a responsável pela resistência da ligação. Desta forma o valor de
cálculo da resistência de um anel metálico é dado pelo menor dos dois valores a seguir:

πd²
R anel,1 = . fv0,d e R anel,2 = t . d . fcα,d
4

Onde t é a profundidade de penetração do anel em cada peça da madeira, ou seja, é a


metade do comprimento do anel. O diâmetro interno está representado pela letra d. Os
valores fv0,d e fc,d são os valores de resistência da madeira ao cisalhamento e à compressão,
anteriormente definidos.

4. Espaçamentos

Para que uma ligação trabalhe com a resistência definida pela norma brasileira é
necessário que os elementos da ligação sejam distribuídos adequadamente, respeitando-se
os espaçamentos entre os elementos e entre elementos e bordas ou extremidades. Estes
espaçamentos mínimos estão mostrados na Figura abaixo, para pinos metálicos e cavilhas, e
na Figura posterior, para conectores metálicos.

129
Aula 11 - Ligações
ESTRUTURAS

5. Estados Limites de Utilização

As estruturas de madeira também devem ser verificadas quanto à segurança para o


Estado Limite de Utilização (na flexão). De acordo com a norma brasileira podem ocorrer
três diferentes situações, conforme descrito a seguir:

• Deformações excessivas, que afetam a utilização normal da construção ou seu


aspecto estético;
• Danos em materiais não estruturais da construção em decorrência de
deformações da estrutura;
• Vibrações excessivas.

5.1. Verificação de Segurança

A verificação da segurança em relação aos estados limites de utilização deve ser feita
pela condição em que o valor do efeito causado pela ação, chamado de S d,uti, seja menor ou
igual ao valor estabelecido como estado limite de utilização, chamado de S lim. Assim:

Sd,uti ≤ Slim

O cálculo das ações é feito de acordo com as expressões fornecidas na Aula 08, página
100. Observa-se que neste caso os coeficientes γf tomados como iguais a 1,0 e os
coeficientes de combinação ψ1 e ψ2 são dados pela Tabela da Aula 08, página 96, já
apresentada.

130
Aula 11 – Ligações
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

5.2. Valores Limites de Deformações (Flechas)

Os valores limites das deformações podem ser estabelecidos por normas especiais ou
por condições especiais impostas pelo proprietário da construção.

A Tabela abaixo indica os valores sugeridos pela norma como limites de deformações
para construções correntes, associados ao valor da flecha máxima provocada pelas cargas
permanentes e acidentais.

Quando a flecha for gerada por ações correspondentes ao peso próprio, estas poderão
ser compensadas por contra-flecha, desde que esta contra-flecha não seja superior à
relação L/300 (peças biapoiadas) ou L/150, para o caso de balanços. Estas contra-flechas
devem ser distribuídas de forma parabólica ao longo do vão.

131
Aula 11 - Ligações
ESTRUTURAS

No caso de flexão oblíqua, estas verificações deverão ser feitas isoladamente para
cada um dos planos principais de flexão, sem qualquer composição para a resultante.

O cálculo das flechas pode ser feito por qualquer processo da Mecânica das Estruturas.
Normalmente, emprega-se o Princípio dos Trabalhos Virtuais, também chamado de
Processo da Carga Unitária. Algumas vezes torna-se necessário pesquisar o ponto onde
ocorre a máxima flecha. Neste caso valerá a habilidade do calculista ou a aplicação de
processo adequado para tal.

A Tabela acima forneceu algumas expressões de cálculo de flecha para casos de vigas e
carregamentos usuais, como ferramenta auxiliar para determinação de deslocamentos para
os casos usuais de estruturas. Vale lembrar que a superposição de efeitos é válida para as
situações convencionais de cálculo. Consulte a disciplina Estabilidade para rememorar estes
conceitos.

Baseado e adaptado de
Francisco A. Romero Gesualdo.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

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Aula 12 – Cobertura
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Aula 12: Cobertura

A elaboração de um projeto estrutural demanda um tempo inicial importante para criação do


sistema estrutural. Esta é uma etapa importante que deve ser tratada com bastante cuidado.
Vale lembrar que o raciocínio aqui apresentado refere-se às estruturas planas, onde estas são
responsáveis pelas ações atuantes numa determinada faixa de influência.

1. Projeto de Estrutura de Madeira para Cobertura

Ainda hoje, a definição estrutural em termos de planos é a mais comum, porém


sempre as estruturas trabalharão de forma espacial, nas três dimensões. Esta concepção
exige a caracterização de estruturas secundárias que fazem o travamento no plano
perpendicular à estrutura, garantindo a estabilidade do conjunto.

A princípio, uma estrutura espacial deve ter um melhor aproveitamento dos seus
elementos, uma vez que todos os componentes da estrutura têm função estrutural e de
travamento, e sempre funcionam como elementos principais (não existe o elemento
secundário). Além disto, haverá uma distribuição mais uniforme dos elementos estruturais
ao longo da área coberta, sem concentração de forças nos planos das estruturas.

1.1. Geometria da Estrutura

A primeira etapa de um projeto de uma estrutura de cobertura corresponde à


definição dos eixos das barras que compõem os elementos estruturais. Um arranjo de
barras eficientemente elaborado influenciará significativamente no desempenho, na
segurança, enfim no comportamento global da estrutura.

Inicialmente, é necessário o conhecimento das características gerais da edificação,


especialmente suas dimensões em planta e as suas condições de utilização. Por exemplo, se
a estrutura corresponde à cobertura de uma residência, ou de uma igreja, ou de um galpão
industrial, etc., esta terá conformação diferenciada, em geral associada à questão
arquitetônica. No entanto, é também comum, especialmente no caso de coberturas
industriais ou de armazenamento, ter-se liberdade de escolha, ficando, a cargo do
engenheiro projetista a definição do contorno e da distribuição de barras. Quando isto

133
Aula 12 - Cobertura
ESTRUTURAS

ocorre, obviamente, o engenheiro deverá desenvolver um projeto que busque uma


concepção estrutural otimizada, isto é, mais econômica, segura e eficiente.

A definição destas formas nem sempre é uma tarefa fácil, pois dependerá da
experiência do projetista e não serão abordados neste curso, mas, a título de informação,
representam as estruturas de madeira do tipo treliçado, como auxílio para definição do
contorno da estrutura, bem como, de prováveis seções transversais necessárias para
absorver os esforços atuantes. Logicamente, não existe uma regra única, pois cada projeto
tem sua própria característica. De qualquer forma, é necessário ter-se um ponto de partida
(anteprojeto), que pode estar embasado nestas informações.

Em função destas características define-se o tipo de estrutura a ser usada: tesoura tipo
duas águas, com ou sem balanço, tipo shed, arco, ou outro tipo.

Feita a escolha do tipo de estrutura deve-se iniciar a definição das posições das barras.
Inicialmente define-se o contorno da estrutura, adotando-se uma relação entre altura e vão.

O desenvolvimento de um projeto deve ser algo iterativo, ou seja, a partir de uma


configuração adotada, esta deve ser verificada e depois todos os cálculos repetidos para
uma nova configuração melhorada. Nem sempre isto é seguido, ou seja, se a variação de
peso da estrutura, já verificada, não exceder 10% em relação ao peso inicial adotado, então
a estrutura será admitida como válida e adotada como final.

Sempre será necessário ter à disposição manuais dos fabricantes de telhas, para o
conhecimento real das dimensões, pesos, resistência, recobrimentos, etc., das peças usadas
na cobertura: telhas, cumeeiras, pregos e ganchos de fixação. Outro problema existente
refere-se à exata posição das barras que compõem a estrutura. Isto porque, todo o cálculo é
feito através da estrutura representada pelos seus eixos, esquecendo-se das dimensões
reais das peças (altura e largura), uma vez que o cálculo é feito para estruturas do tipo
reticulado. Sendo assim, é indispensável conhecer exatamente qual é a posição real de
todos os elementos que compõem a estrutura, jamais se esquecendo da existência das
terças e telhas. Estes parâmetros são importantes, pois deles dependem a posição real dos
eixos das barras que serão utilizados nos cálculos.

134
Aula 12 – Cobertura
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Tomando-se como referência uma estrutura de contorno triangular, Figura (a), deve-se
saber exatamente qual é a variação do comprimento da hipotenusa (banzo superior) do
triângulo retângulo ABC. Observe os detalhes das Figura (b) e (c) onde são mostrados os
detalhes dos nós da ligação entre banzo superior e inferior, e entre os banzos superiores.

O comprimento efetivo a ser coberto corresponde ao comprimento da hipotenusa do


triângulo ABC, menos "x" e menos "a". Lembrar que a telha mais central (da cumeeira) deve
passar, no mínimo, 5 cm além do eixo da terça e a telha da extremidade da ligação banzo
inferior e superior (beiral) deve passar, além do eixo da terça, um comprimento
correspondente ao balanço, entre 25 cm a 40 cm.

Caso seja utilizado o gancho chato para fixação das telhas é importante lembrar o
detalhe da efetiva posição da extremidade da telha em relação à face superior da terça,
conforme ilustra a Figura acima.

135
Aula 12 - Cobertura
ESTRUTURAS

Outro detalhe importante é a concordância entre a posição da terça e o efetivo nó da


treliça, para um nó do banzo superior de uma tesoura convencional, Figura acima. Observe
que o montante serve de apoio para a terça, provocando um ligeiro deslocamento do
centro da terça em relação ao encontro dos eixos das barras que convergem para o nó
citado. Assim, quando se estiver definindo os eixos das barras, esta diferença de posição
tem de ser considerada.

Neste caso deve-se considerar um deslocamento designado por "r" na Figura acima. O
valor de "r" pode ser encontrado da seguinte forma:

𝑑𝑠 2 𝑏
𝑟= 𝑡𝑔 𝜃 + −
2 2 cos 𝜃 2

Caso seja desejado considerar um deslocamento maior para a terça, ou seja, deslocá-la
para baixo em direção ao eixo central do montante, bastará subtrair o valor deste
deslocamento ao valor de r anteriormente calculado.

136
Aula 12 – Cobertura
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

Também merece destaque a ligação entre o banzo inferior e o superior, pois de forma
semelhante ao caso da primeira figura da página anterior, também existe um deslocamento
da posição da terça em relação ao ponto de encontro dos eixos dos banzos convergentes
para o nó. Esta situação está ilustrada na Figura anterior.

Também desta figura, o valor de "a" deve ser determinado e considerado para efeito
de definição da posição dos eixos das barras. A seguir é mostrada a função para se chegar a
este valor.

𝑏 1
𝑎= + . (𝑑𝑖 − cos 𝜃 𝑑𝑠 )
2 2 𝑠𝑒𝑛 𝜃

Assim como existem variações de posições dos eixos na ligação do banzo inferior com
o superior, também ocorre situação semelhante no caso da ligação de cumeeira. Neste
caso, a variação é maior, pois existe um deslocamento de terça necessário para apoiar a
peça de cumeeira, conforme é recomendado pelo fabricante. A Figura abaixo ilustra este nó
e indica os parâmetros envolvidos no caso.

O valor do deslocamento "x" é calculado de acordo com o desenvolvimento


apresentado a seguir.

O cálculo do valor de x é necessário para a determinação exata da posição da terça


mais próxima da cumeeira. A partir deste ponto define-se as demais terças em função dos
comprimentos das telhas.

1
𝑥= . [𝐷 − 𝑠𝑒𝑛 𝜃 (2 . ℎ . 𝑑𝑠 )]
2 cos 𝜃

137
Aula 12 - Cobertura
ESTRUTURAS

2. Cálculo de Cargas

As cargas sobre uma treliça são consideradas como atuantes sobre os nós superiores
da estrutura. Usa-se o critério da faixa de influência, conforme ilustrado na Figura, para se
obter a carga atuante sobre cada nó.

A faixa de influência é tomada como sendo a soma das duas metades das distâncias
entre os dois nós vizinhos. Sobre cada um destes nós atuam todas as cargas provenientes
do material existente na faixa de influência: madeira (barras + terças), telhas, vento,
contraventamentos, ferragens, peças especiais e sobrecargas. Basta conhecer com exatidão
todos os elementos envolvidos em cada faixa considerada.

As forças devidas ao vento são calculadas de acordo com a norma específica (NBR
7123). Obviamente que as ações de vento não dependem do tipo de material, mas
dependem principalmente do tipo de contorno da estrutura.

Portanto, as cargas serão consideradas como concentradas sobre os nós do banzo


superior, conforme ilustra a Figura:

138
Aula 12 – Cobertura
UNIDADE 2 – ESTRUTURAS DE MADEIRA

As forças devidas aos contraventamentos mais ferragens podem ser consideradas


iguais a 0,07 kN/m2, distribuídas sobre a cobertura (área projetada). Estas sugestões não
representam restrições, lembrando que a NBR 7190/97 diz que o peso próprio das peças
metálicas de união pode ser estimado em 3% do peso próprio da madeira. De outro lado, a
mesma norma não faz menção a outras cargas permanentes ou variáveis. Assim, cada
projetista terá seus critérios a serem adotados. Vale lembrar que a NBR 6120 define como
sobrecarga em coberturas o valor de 0,50 kN/m2. Apesar disto, é comum ser adotado o
valor de 0,25 kN/m2, como acontece no caso de estruturas metálicas.

Para o dimensionamento das terças pode-se considerar a existência de uma carga


concentrada aplicada no meio do vão igual a 1 kN, carga equivalente a um homem
trabalhando mais ferramentas. Contudo, caso seja adotada a sobrecarga anteriormente
sugerida, esta força concentrada não será usada.

Para toda estrutura deverá ser calculada a flecha no ponto onde é máxima. Permite-se
considerar que a linha elástica seja uma parábola, ao longo do vão. O cálculo das flechas
pode ser feito através do Princípio dos Trabalhos Virtuais. No caso de treliças as
contribuições dos deslocamentos provêm apenas das forças normais em cada barra.

Baseado e adaptado de
Francisco A. Romero Gesualdo.
Edições sem prejuízo de
conteúdo.

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