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Nas últimas três décadas do século XX e nos primeiros anos do século XXI, as pesquisas
sobre fertilização natural de solos ganhou destaque, com a rochagem sendo reconhecida como
uma eficiente técnica de remineralização. No Brasil, importantes marcos incluem a publicação
“Rochagem: O método de aumento da fertilidade em solos lixiviados e arenosos”
(LEONARDOS; FYFE; KRONBERG, 1976), e diversos estudos subsequentes que têm
demonstrado que a utilização de rochagem constitui um eficiente agente remineralizador
(LOUREIRO; MELAMED; FIGUEIREDO-NETO, 2009; MARTINS et al., 2010; SOUZA,
2014; BERGMANN, 2016; MACHADO et al., 2016; PILLON, 2016; STRAATEN, 2016;
THEODORO, 2016; SANTOS, 2020; CASTRO; RIBEIRO; GOMES, 2021).
No entanto, apesar dos avanços técnicos quanto aos aspectos legais existem ainda
controvérsias e mesmo indefinições na qualificação e avaliação da eficiência agronômica de
remineralizadores de solo (SILVEIRA et al., 2016; THEODORO, 2016). No ano de 2012
diferentes instituições governamentais formaram o “Grupo de Trabalho de Normatização do Uso
de Pó de Rocha para a Agricultura”, tendo como resultado a redação e aprovação da Lei N°12.890,
de dezembro de 2013, que alterou a Lei dos Fertilizantes (Lei N°6.894, de 16 de dezembro de
1980) por meio da inserção dos mineralizadores como categoria de insumos para uso na
agricultura. Conforme a Lei N°12.980/2013, remineralizador constitui o material de origem
mineral que tenha apenas redução e classificação de tamanho por processos mecânicos e que
altere os índices de fertilidade do solo por meio da adição de macro e micronutrientes para as
plantas, bem como promova a melhoria das propriedades físicas ou físico-químicas ou da
atividade biológica do solo (CASTRO; RIBEIRO; GOMES, 2021). Contudo, somente em 2016
o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou as instruções normativas IN 05 e
IN 06, de 10 de março de 2016, sobre o registro de uso e comercialização dos remineralizadores.
Diversos tipos de rochas apresentam possibilidades de serem aplicadas na rochagem, com
base em sua composição química e mineralógica específica, por exemplo, as rochas graníticas são
adequadas para fornecer potássio, enquanto rochas basálticas são fontes de cálcio, magnésio,
silício e vários micronutrientes. (ASSUNÇÃO; TREVISANUTO, 2018; CAMARA et al., 2021;
CASTRO; RIBEIRO; GOMES, 2021; DETTMER et al., 2020; DUARTE et al., 2013;
IMAIZUMI; ROSSI; FORTE, 2018; MACHADO et al., 2016; MARTINS et al., 2006;
PEROZINI et al., 2019; SILVA et al., 2012). A eficiência das rochas na remineralização do solo
depende ainda de suas propriedades físicas, como granulometria, dureza e da lenta liberação de
nutrientes durante a intemperização, sendo que a cinética das reações está diretamente relacionada
à “Série de Dissolução de Goldich”, “Cristalização de Bowen” e seu entendimento é essencial
para efetividade dos programas de remineralização de solos (GOLDICH, 1938; SILVEIRA et al.,
2016).
O Complexo Alcalino Carbonatítico de Serra Negra, situado no oeste do Estado de Minas
Gerais, é composto principalmente por dunitos e engloba várias intrusões alcalinas do Cretáceo
Superior. Há áreas onde predominam veios e diques de carbonatito, nas quais foram identificados
apatita calciocarbonatitos, que gradam localmente para cumulados foscoríticos bandados e
flogopita picritos (GRASSO, 2010). Essa pesquisa explora o potencial de uso das rochas
foscoríticas do Complexo de Serra Negra, assim como suas variedades serpentinizadas, mais ou
menos injetados por veios carbonatíticos, como remineralizadores de solos.
2 Contexto Geológico
3 Materiais e Metódos
4 Resultados e Discussão
Elementos IN05/2016 Teor Mínimo (%) Teor Máximo (%) Teor Médio (%)
CaO + MgO + K2O > 9% 11 42 30
Sílica Livre < 25% 0* << 25* << 25*
Si > 0,05% 9,49 34,78 18,31
P 2O5 >1% 1 10 3,5
Mn > 0,1% 0,06 0,66 0,14
Ni > 0,005% 0,01 0,46 0,07
Al N.A 0,13 5,50 1,39
Os resultados obtidos nas análises por DRX na fração total para as rochas frescas indicam
uma composição mineralógica dominada por forsterita e diopsídio, com proporções variáveis de
perovskita, flogopita, carbonato e óxidos de Fe e Ti, em função da maior ou menor intensidade
do metassomatismo (Figura 2).
As características geoquímicas e mineralógicas das rochas ultrabásicas foscoríticas,
confrontadas com os dados da literatura, indicam que estes recursos minerais podem ser
empregados como insumos para remineralização/rochagem de solos. As rochas ultrabásicas
presentes na área do alvará apresentam características que indicam que devem apresentar
performance para rochagem até superiores àquelas comumente descritas na literatura como
corretoras de pH e no suprimento dos macronutrientes Mg, Ca, Si e (K) e pelo menos dos micro
nutrientes Mn e Ni. Quando intemperizadas os argilominerais neoformados apresentam
predominantemente estruturas 2:1, alguns com propriedades expansivas como a vermiculitas
(Figura 3), bastante apropriadas para a retenção de água e álcalis no solo, contribuindo para a
manutenção de elevadas capacidades de troca de cátions dos solos.
Os silicatos presentes nas rochas ultrabásicas (olivina/forsterita, piroxênio/diopsídio)
contribuem para a correção da acidez, promovendo no solo a elevação do pH, por meio da ação
neutralizante da base SiO3-2, de acordo com as seguintes reações:
Fração argila
Amostra
total
Figura 3 . Empilhamento dos difratogramas da amostra total, fração argila, fração argila
solvatada com etilenoglicol e fração argila aquecida.
Trabalhos experimentais com aplicação do pó de dunito em diversas culturas, mostraram
uma grande eficiência para suprir os macroelementos Mg, Ca, Si; na elevação da capacidade de
troca de cátions e do pH dos diferentes tipos de solos ensaiados, resultando em melhoria das
características bioquímicas das diferentes plantas consideradas, bem como de significativo ganho
de produção (IMAIZUMI; ROSSI; FORTE, 2018; ASSUNÇÃO; TREVISANUTO, 2018;
CRUSCIOL et al., 2019; DETTMER et al., 2020; MORETTI et al., 2021).
De acordo com Imaizumi, Rossi e Forte (2018, p.7), a elevação do pH do solo, em
decorrência do efeito corretivo dos silicatos do dunito, proporciona aumento da solubilidade dos
fosfatos de ferro e alumínio, além de reduzir a adsorção do ânion fosfato à fase sólida do solo,
contribuindo para a diminuição dos processos de fixação de fósforo. Além do efeito corretivo e
do fornecimento de magnésio, o produto disponibiliza o ânion silicato (H3SiO4-), que se adsorve
aos óxidos de ferro e alumínio da fração argila, impedindo ou dificultando a adsorção de fosfato
(H2PO4-) que, desta maneira, torna-se mais disponível na solução do solo.
Além disso, o silício solúvel desprovido de carga elétrica (H4SiO4) pode ser absorvido pelas
raízes e proporcionar consequências benéficas no comportamento dos vegetais, tais como: maior
resistência ao acamamento; maior resistência à infecção de fitopatógenos e pragas; melhoria na
arquitetura foliar e na taxa fotossintética, bem como o aumento da tolerância ao déficit hídrico.
As rochas ultrabásicas consistem em uma fonte de liberação natural e controlada de Mg e
Si, o mecanismo de liberação do Mg e Si do produto é regulado pela demanda da planta, sendo
dependente da remoção dos produtos dos equilíbrios de dissolução e hidrólise dos minerais que
compõem a rocha tendo como principal desdobramento da liberação o aumento da eficiência da
adubação magnesiana, com menores perdas por lixiviação de Mg em decorrência da cinética de
dissolução ser mais lenta que fontes solúveis convencionais (IMAIZUMI; ROSSI; FORTE,
2018).
4 Conclusões
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à A&M Mineração Ltda e Galapágos Capital Ltda, por fornecerem
amostras de testemunhos de perfuração e suporte de campo. Nós gostaríamos também de
agradecer ao Laboratório de Difratometria de Raios-X, do Instituto de Geociências da
Universidade de Brasília, pelo acesso as instalações analíticas e à CAPES pelo apoio financeiro
a esta pesquisa.
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