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1. INTRODUÇÃO
A questão se expressa, especificamente, na parte final do artigo 449, quando em comparação ao caput
do artigo 457. Pois, afinal, há contradição entre eles?
1.2 Objetivos
1.3 Justificativa
É mister, tendo em vista o Direito sendo, também, um conjunto de normas coordenadas entre si, a
ausência de contradições. Por isso, impõe-se, inexoravelmente, ser a hermenêutica dos seus
enunciados coerente e unívoca em toda jurisdição do sistema.
2. METODOLOGIA
3. REFERÊNCIAS
1. Introdução
Imprescindível, a título de introito, definir-se o que é evicção. Nesse ponto, não existem, seja no
Código, seja na Jurisprudência, contradições. É evidente, porém, que cada autor utiliza de suas
preferências terminológicas para se conceituar o mesmo objeto- variabilidade permitida pelas ciências
sociais.
Desse modo, seja embora o tratamento uniforme, preferir-se-ão, aqui, elementos da doutrina de
Pontes de Miranda. Por isso, evicção é perda de vantagem, em razão de motivo jurídico pretérito,
proveniente de contrato bilateral, oneroso e comutativo, que foi decretada por sentença do Poder
Judiciário. Certamente, haverá alguma redução de vantagem, a qual poderá, entretanto, ser somente
parcial, não se perdendo todo o objeto que causou o passado afrontamento, eficaz, entre o evicto e o
evincente, isto é, da prestação daquela relação jurídica.
A presença da possibilidade de evicção assenta-se na reciprocidade das prestações. Fará, com efeito,
jus a contratos bilaterais, onerosos e comutativos. Perdido o caráter comutativo, então, não se cogitará
nela, tampouco na responsabilização do alienante.
Todo negócio, em verdade, possui seu efeito próprio, oriundo de pactuação das partes, e
complementar, advindo de norma do ordenamento civil. Logo, a evicção é uma garantia, estabelecida
na legislação por regra- dispositiva, visto que é dado aos integrantes do contrato por cláusula
expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade-, como seu efeito próprio ou
complementar.
Exsurge, reitere-se, a evicção pelo fato de ser o contrato, de que provém, comutativo. A sua previsão,
então, tem como consequência a plena operabilidade, prescindindo-se de determinação contratual.
Dessarte, não se lhe cogita quando o negócio for aleatório- cerne, de fato, da confusão gerada nos
enunciados normativos desse instituto.
Posto que se refira, usualmente, ao instituto da venda e compra, qualquer negócio comutativo- e,
necessariamente, bilateral- enseja tal responsabilidade. Com efeito, o objeto da relação entre evicto e
evincente não é, precisamente, a transferência da propriedade, podendo ser, verbi gratia, a posse.
Interessa, ademais, afirmar que existe contrato unilateral e gratuito passível de evicção, eis o caso da
doação modal; o fato de o contrato ser comutativo ou aleatório não é aferido nos negócios unilaterais,
porquanto se trate de uma definição restrita aos negócios bilaterais, na qual se verifica a equivalência
das prestações.
Isso permite que a evicção derive do jus possessionis, por meio de ação possessória. O título entre o
evictor e o evincente, nesse ínterim, pode originar-se de relação em cujo direito do evictor se expresse
por direito real ou contratual. Há, ao demais, outras ações que a fundamentam. Nesse ponto, ensina
Pontes de Miranda:
''A ação em que se profere a sentença evincente pode ser ação de domínio, de direito real limitado, ou ação pessoal
admissível contra terceiro, ou possuidor [....], ou qualquer ação real, ou pessoal, inclusive a declaratória, que se refira
à inexistência do direito, de pretensão, da ação ou da exceção, ou ação constitutiva que decrete nulidade, ou anulação,
que cancele o direito, a pretensão, a ação, ou a exceção, ou resolva, ou resila, ou rescinda negócio jurídico de que o
direito, a pretensão, a ação ou a exceção derivou, ou a própria ação rescisória de sentença ou outra decisão judicial,
que tenha tal eficácia negativa.”
É de mister asseverar-se, posto isso, que a responsabilidade do outorgante é, por óbvio, objetiva; não
se perquirirá, com isso, sua eventual culpa, bastando à sua concretização a ocorrência fática da
evicção.
Em última análise, nota-se ser a evicção causa de rescisão do negócio, porque proveniente de causa
de invalidade.
A boa-fé objetiva é conceito que funda a ordenação civil, precipuamente no instituto das obrigações.
Esse princípio enseja, na prática, deveres anexos a ambas as partes, cujo cumprimento perfaz o
adimplemento da prestação. Tais deveres de conduta consistem na cooperação, na informação, na
lealdade, no cuidado, na proteção, na moralidade, para que se possibilite toda fruição do respectivo
bem. Cerceia-o, entrementes, a probidade, a qual possui núcleo semelhante.
Deveras. Trata-se de certa postura ético-moral no decorrer da relação jurídica entre os sujeitos. É,
portanto, uma cláusula geral que compreende todo ordenamento, sendo-lhe essencial e indispensável,
compondo toda sua estrutura normativa.
Esse imperativo fundamenta, também, a existência da garantia legal contra a evicção, como forma de
resguardar, eficazmente, o adquirente.
A redação do presente Código repete, de fato, os problemas da escrita do último, novamente criando
embaraços.
Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito
o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele
informado, não o assumiu.
Art. 457. Não pode o adquirente demandar pela evicção, se sabia que a coisa era alheia ou litigiosa.
A contradição entre tais enunciados encontra-se na parte final do artigo 449. Poder-se-ia afirmar, com
efeito, que o artigo 457 tornaria letra morta o disposto em negrito, uma vez que seria dispensável o
adquirente ter assumido o risco, bastando que soubesse do respectivo direito de terceiro.
Ante isso, dar-se-ia antinomia entre essas regras. Não é, porém, o caso.
3. Evicção de fato
A fim de que haja plena compreensão desse instituto, deve-se diferenciar a demanda pela evicção da
restituição do preço pago pela coisa. O evicto tem direito, além da devolução da quantia, a tudo que
lhe concede o artigo 450.
Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do preço
ou das quantias que pagou:
I - à indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
II - à indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que diretamente resultarem da
evicção;
III - às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído.
Para tanto, precisa desconhecer que a coisa, objeto da prestação, era alvo de litigiosidade ou
pertencente a outrem. Somente dessa forma cabe-lhe requerer a evicção.
Por outro lado, embora soubesse do conflito que a circundava, apenas a assunção do risco lhe retiraria
o direito de receber o que prestou.
É imperativo asseverar-se, perante isso, a existência de fato da ciência, o que faz de disposições
genéricas ou que tenham sido ignoradas, em algum instrumento, inúteis, privilegiando-se, com isso,
a boa-fé.
Destarte, seu conhecimento sobre o fato lhe dirime a ampla indenização garantida pela evicção, mas
permite a devolução do preço. Entretanto, assumido o risco, o contrato torna-se aleatório, o que retira
do adquirente quaisquer garantias ou restituição.
Não há, posto isso, antinomia no instituto da evicção, conquanto sejam suas disposições, em verdade,
confusas.