Você está na página 1de 11

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

CONDOMÍNIO SHOPPING CENTER D, inscrito no CNPJ sob o nº.


00.087.900/0001-18, com sede na Av. Cruzeiro do Sul, nº. 1.100, Canindé, na cidade de
São Paulo/SP, CEP 03033-020 (“AGRAVANTE”), por seu advogado, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 1.015, IV, do
Código de Processo Civil, interpor

AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE TUTELA RECURSAL

contra a r. decisão de fls. 251/252, proferida pelo D. Juízo da 16ª Vara Cível do Foro
Central da Comarca de São Paulo/SP, nos autos do incidente de desconsideração da
personalidade jurídica proposto contra GABRIEL CURY CARDOSO MIRANDA, brasileiro,
divorciado, empresário, portador da cédula de identidade RG nº. 29.789.687-8 SSP-SP,
inscrito no CPF sob o nº. 291.592.978-59, residente e domiciliado na Rua São Tomé, nº.
102, apto 12, Vila Scarpelli, na cidade de Santo André/SP, CEP 09050-320
(“AGRAVADO”), pelos motivos a seguir aduzidos.

Termos em que,
Pede deferimento.
São Paulo, 23 de novembro de 2023.

MATHEUS GARRIDO DE O. KABBACH


OAB/SP Nº. 274.361

1
I. TEMPESTIVIDADE

Inicialmente, é necessário salientar a tempestividade do presente


recurso.

A r. decisão agravada foi disponibilizada no DJE do dia 10/01/2023 e


publicada no dia útil subsequente, isto é, 11/01/2023, uma quarta-feira.

Considerando a suspensão dos prazos processuais no âmbito destse E.


Tribunal durante o período entre 20/12/2022 e 20/01/2023 (cf. art. 220 do CPC)
(documento 1), em 23/01/2023, teve início a contagem do prazo de 15 (quinze) dias
úteis para a interposição deste recurso, conforme preconiza o art. 1.003, §5º, do Código
de Processo Civil.

Desse modo, o prazo para a interposição do recurso se encerrará em


10/02/2023, sendo o presente recurso, portanto, tempestivo, na forma dos artigos 216,
219 e 224, caput, todos do diploma processual civil.

II. PREPARO

A taxa judiciária referente à interposição do presente recurso foi paga,


conforme fazem prova a guia de custas e o comprovante de recolhimento anexos.

Fica dispensado o recolhimento do porte de remessa e retorno, uma vez


que os autos tramitam eletronicamente (art. 1.007, §3º, do CPC).

III. PEÇAS QUE COMPÕEM O INSTRUMENTO

O instrumento do presente agravo é composto pela íntegra dos autos do


incidente de desconsideração da personalidade jurídica (documento 12) e pelas peças
obrigatórias previstas no art. 1.017, I, do Código de Processo Civil, abaixo discriminadas:

 Petição inicial (fls. 1/8 do documento 12);

2
 Decisão agravada (fls. 251/252 do documento 12);

 Certidão de intimação (fl. 254 do documento 12); e

 Procuração outorgada ao patrono do(a) AGRAVANTE (fl. 9 do documento 12); e.

As cópias juntadas ao presente recurso são autênticas e correspondem


aos originais, nos termos do art. 425, IV, do Código de Processo Civil.

IV. ROL DE ADVOGADOS

Pelo AGRAVANTE: MATHEUS GARRIDO DE O. KABBACH, inscrito na OAB/SP sob o nº.


274.361, com escritório na Av. das Nações Unidas, nº. 14.401, Torre C2, 29º andar, na
cidade de São Paulo/SP, CEP 04794-000.

Pelo AGRAVADO: não há advogado constituído.

3
RAZÕES RECURSAIS

AGRAVANTE
CONDOMÍNIO SHOPPING CENTER D
:
AGRAVADO: GABRIEL CURY CARDOSO MIRANDA
AUTOS Nº.: 0054293-42.2022.8.26.0100
ORIGEM: 16ª Vara Cível do Foro Central da Comarca de São Paulo/SP

Egrégio Tribunal,
D. Desembargadores

V. SÍNTESE DA DEMANDA

Trata-se de agravo de instrumento tirado dos autos do incidente de


desconsideração da personalidade jurídica (“IDPJ”) da sociedade BRUANA COMÉRCIO
DE ALIMENTOS LTDA. (“SOCIEDADE”), cujo objeto consiste na responsabilização
patrimonial do AGRAVADO, único sócio da SOCIEDADE, o AGRAVADO (fls. 156/171 do
documento 21), pelo pagamento do débito no valor histórico de R$ 142.884,07 (cento e
quarenta e dois mil, oitocentos e oitenta e quatro reais e sete centavos), referente a
despesas locatícias vencidas e não pagas, cobradas mediante a na ação de execução nº.
1033335-86.2020.8.26.0100 (“Ação de Execução”) (fls. 90/155 do documento 12).

A r. decisão agravada indeferiu a instauração do IDPJ, porque “a simples


não-localização de bens da empresa requerida não é elemento hábil a autorizar a
desconsideração da personalidade jurídica” (sic).

No entanto, como será exposto a seguir, a r. decisão agravada merece ser


reformada, pois o AGRAVADO vem se valendo de abuso da personalidade jurídica da
SOCIEDADE com o nítido propósito de frustrar a satisfação do crédito do AGRAVANTE.

4
VI. ABUSO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Ao contrário da fundamentação lançada na r. decisão agravada, o IDPJ foi


instaurado em razão de o AGRAVADO fazer uso da personalidade jurídica da SOCIEDADE
com o claro objetivo de lesar os interesses creditícios do AGRAVANTE.

A bem da verdade, a não localização de bens da SOCIEDADE, citada na r.


decisão agravada, consiste em mero exaurimento do abuso de personalidade jurídica
levado a efeito pelo AGRAVADO, o qual passa a ser exposto a seguir. Explica-se.

Tanto na Ação de Execução, quanto na ação de execução nº. 1092698-


38.2019.8.26.0100 (“Ação de Execução 2”), também proposta pelo AGRAVANTE contra
a SOCIEDADE pelo inadimplemento de obrigação de pagar, por diversas vezes, o
AGRAVANTE tentou localizar bens pertencentes à SOCIEDADE, para fins de satisfação do
seu crédito. Veja-se:

[(i)] Penhora online de ativos financeiros (fls. 172/176 do documento 21): não foram
encontrados valores suficientes nem sequer para a amortização dos juros de mora
incidentes sobre o principal da dívida, até mesmo com a utilização da ferramenta
“teimosinha”;

[(ii)] Bloqueio de veículos (fls. 177/178 do documento 12): infrutífero;

[(iii)] Bens imóveis (fls. 179/180 do documento 12): não foi localizado um imóvel sequer,
mesmo com a ordem de indisponibilidade transmitida aos cartórios de registro de
imóveis de todo o Brasil, via CNIB;

[(iv)] Penhora de numerários recebíveis de administradoras de cartões (fls. 181/208 do


documento 12) e intermediadoras de pagamento (fls. 209/224 do documento 12): todas
as instituições oficiadas atestaram a ausência de valores; e

[(v)] Nomeação de bens à penhora: não foi realizada, a despeito da intimação específica
da SOCIEDADE para esse fim (fls. 225/228 do documento 12).

5
Até mesmo a penhora de equipamentos alocados na sede da SOCIEDADE
foi frustrada, pois ela não se encontra mais no endereço declarado à JUCESP e Receita
Federal do Brasil: aos órgãos públicos: espaço comercial nº. 1045, localizado no
Shopping Center D (JUCESP e Receita Federal do Brasil: cf. fl. 161 do documento 12,
cláusula 1ª, e fls. 229/230 do documento 12).

A despeito da insuficiência de bens e do encerramento irregular de sua


operação, até o presente momento, a SOCIEDADE não realizou a sua liquidação ou
ajuizou pedido de autofalência/recuperação judicial ou extrajudicial (fl. 231 do
documento 12).

Excelências, nesse contexto, infere-se que a SOCIEDADE:

(i) encerrou irregularmente as suas atividades , uma vez que, sem comunicar os
órgãos competentes (JUCESP e Receita Federal do Brasil), deixou de operar no endereço
da sua sede (Súmula nº. 435 do C. Superior Tribunal de Justiça);

(ii) não possui recursos para satisfazer o crédito do AGRAVANTE , o que foi
evidenciado pelo resultado negativo de todos os atos expropriatórios promovidos
contra ela; e

(iii) não tem interesse em regularizar a sua situação , pois, acaso o tivesse, teria (1)
promovido a sua dissolução, com a realização do ativo e o pagamento do passivo, ou (2)
requerido autofalência ou recuperação judicial ou extrajudicial.

Ante as circunstâncias descritas acima, é notório que o AGRAVADO se


mantém em situação cômoda de verdadeiramente “abandonar” a sua pessoa jurídica
e, assim, frustrar o pagamento dos credores da SOCIEDADE, enquanto a sua pessoa
física (e o seu patrimônio correspondente) permanecem ilesos e desonerados da
obrigação de pagar o débito exequendo.

A SOCIEDADE abusa e se vale do manto da personalidade jurídica para


frustrar a Ação de Execução.

6
A existência da personalidade jurídica é conveniente ao AGRAVADO, pois,
enquanto ela existir, ele utiliza desse artifício para verdadeiramente cometer o “calote”
generalizado em seus credores. ainda queA despeito de a SOCIEDADE, na prática, estar
inativa e hajaexistirem dívidas de grande montacontraídas pela SOCIEDADE, ele o
AGRAVADO se vale da personalidade jurídica bem sabe para que o seu patrimônio, em
regra, não poderá ser seja alcançado por nenhum atos expropriatórios.

Logo, ao invés de ser utilizada como instrumento para a promoção da


livre iniciativa, a personalidade jurídica da SOCIEDADE é usada pelo AGRAVADO para
nítido desvio de finalidade: assumir obrigações com terceiros, sem intenção de quitá-las,
mantendo-se o patrimônio do seu único sócio incólume de qualquer responsabilidade.

Em outras palavras, em vez de atender os seus fins sociais, a


personalidade jurídica da SOCIEDADE é instrumentalizada pelo AGRAVADO como forma
de se eximir da sua responsabilidade patrimonial pelas dívidas contraídas pela pessoa
jurídica.

Daí o abuso e o desvio de finalidade que legitima a desconsideração da


personalidade jurídica da SOCIEDADE, nos termos do art. 50, §1º, do Código Civil.

VII. NECESSIDADE DE INTIMAÇÃO POR HORA CERTA

Nos autos da Ação de Execução, o AGRAVANTE pretendeu a intimação do


AGRAVADO, na qualidade de sócio administrador da SOCIEDADE (cf. fl. 161 do
documento 12, cláusula 4ª), para que nomeasse bens à penhora, bem como prestasse
informações a respeito da pessoa jurídica (fls. 232/237 do documento 12).

No entanto, num primeiro momento, a intimação pretendida não se


realizou, porque o AGRAVADO vinha se ocultando para evitá-la, afora as obstruções
causadas pelo próprio edifício em que ele reside (Ação de Execução: fls. 238/239 do
documento 12 | Ação de Execução 2: fls. 240/245 do documento 12).

7
Confiram-se os seguintes trechos das certidões lavradas pelos oficiais de
justiça responsáveis pelo cumprimento dos mandados de intimação do AGRAVADO:

(“1ª Tentativa de Intimação” – Ação de Execução – cf. fls. 238/239 do


documento 12)

(“2ª Tentativa de Intimação” – Ação de Execução 2 – cf. fls. 240/245 do


documento 12)

Na 1ª Tentativa de Intimação, o zelador confirmou que o AGRAVADO, de


fato, reside no edifício diligenciado pelo oficial de justiça, localizado no endereço que
consta do preâmbulo da presente: Rua São Tomé, nº. 102, apto 12, Vila Scarpelli, na
cidade de Santo André/SP, CEP 09050-320.

Recentemente, na Ação de Execução, o AGRAVADO foi localizado e


devidamente intimado nesse mesmo endereço (fls. 246/248 do documento 12).

8
Na 2ª Tentativa de Intimação, o oficial de justiça atestou a sua suspeita de
que o AGRAVADO está se ocultando para evitar a intimação.

Nesse momento, após a confirmação definitiva do endereço do


AGRAVADO, a suspeita de ocultação deu lugar à certeza de que ele vem efetivamente
se ocultando com o nítido propósito de evitar a intimação.

Desse modo, requer que a intimação do AGRAVADO, para fins de


resposta ao presente recurso, ocorra por hora certa, nos termos dos artigos 252 e 275,
§2, do diploma processual civil.

[VIII.] PEDIDO DE TUTELA CAUTELAR

Excelências, a prática forense revela que, de forma costumeira, após a


citação/intimação para apresentar defesa no incidente de desconsideração da
personalidade jurídica/resposta a recurso, o(s) sócio(s) da(s) sociedade(s) executada(s)
procede(m) ao esvaziamento do seu patrimônio, mediante a alienação/oneração de
seus bens.

Com esse esvaziamento patrimonial, o(s) sócio(s) citado(s) garante(m)


que, ainda que o pedido de desconsideração seja acolhido, os seus bens não serão
atingidos por medidas executivas requeridas pelo credor.

9
Desse modo, para assegurar a efetividade da Ação de Execução, bem
como para que o AGRAVANTE não arque com mais prejuízos, além dos suportados ao
longo dos mais de dois anos de tramitação do feito executivo, requer, com fundamento
no art. 301 do Código de Processo Civil, que esse E. Tribunal determine a adoção das
medidas acautelatórias pleiteadas no tópico a seguir.

Vale destacar que nenhum dos pleitos apontados nos subitens (i) e (ii) do
item IX, infra, importam expropriação, mas tão somente conservação da titularidade,
mediante a concessão de tutelas cautelares que visam a impedir a transferência dos
bens pelo AGRAVADO a terceiros.

[IX.] CONCLUSÃO

Diante do exposto, requer, inaudita altera pars, seja concedida a tutela


de urgência de natureza cautelar pretendida e, consequentemente, deferida as
seguintes medidas assecuratórias:

o bloqueio de veículos do AGRAVADO, por meio do sistema RENAJUD, na


modalidade “transferência”; e

a emissão da certidão de indisponibilidade de bens, para que o


AGRAVANTE possa averbá-la na(s) matrícula(s) do(s) imóvel(eis) eventualmente
pertencente(s) ao AGRAVADO, conforme permissivo constante no art. 828 do Código de
Processo Civil.

Requer, no mérito, que o presente recurso seja admitido e provido, para


reformar a r. decisão agravada, de modo que o IDPJ instaurado contra o AGRAVADO seja
devidamente recebido processado pelo D. Juízo a quo..

Outrossim, requer seja expedido mandado de intimação do AGRAVADO


por hora certa, a ser cumprido por oficial de justiça, no endereço constante no
preâmbulo desta peça, sem a necessidade de expedição de carta precatória
(Comunicado CG 1.422/2020).

10
Por fim, requer que todas as intimações referentes ao presente feito
sejam realizadas exclusivamente em nome do advogado MATHEUS GARRIDO DE O.
KABBACH, inscrito na OAB/SP sob o nº. 274.361, sob pena de nulidade.

Termos em que,
Pede deferimento.
São Paulo, 23 de novembro de 2023.

MATHEUS GARRIDO DE O. KABBACH


OAB/SP Nº. 274.361

11

Você também pode gostar