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Licenciatura em Direito

Direito Processual Civil II

António Pedro Pinto Monteiro


Professor Associado do Departamento de Direito
da Universidade Autónoma de Lisboa
Investigador do Ratio Legis e do JusGov
Doutor em Direito Processual
Advogado e Árbitro
Conteúdo da aula:

Articulados (continuação da aula anterior)

A contestação:
• a defesa por impugnação e por excepção
• as excepções dilatórias e peremptórias
• o princípio da concentração da defesa
• o ónus de impugnação

Exemplos práticos

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A contestação
(ver, em particular, artigos 569.º a 583.º do CPC)

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Fase dos articulados
Contestação

CONTESTAÇÃO: é o segundo articulado.

Na contestação, o réu tem a oportunidade de se defender da pretensão formulada


pelo autor na petição inicial. É, portanto, a resposta do réu à petição inicial
apresentada pelo autor.
Formalmente, a contestação tem um conteúdo algo semelhante ao da petição
inicial, podendo aqui também distinguir-se 3 partes: intróito, narração e conclusão.
Elementos da contestação (artigo 572.º):
“Na contestação deve o réu:
a) Individualizar a ação;
b) Expor as razões de facto e de direito por que se opõe à pretensão do autor;
c) Expor os factos essenciais em que se baseiam as exceções deduzidas,
especificando-as separadamente, sob pena de os respetivos factos não se
considerarem admitidos por acordo por falta de impugnação; e
d) Apresentar o rol de testemunhas e requerer outros meios de prova; tendo havido
reconvenção, caso o autor replique, o réu é admitido a alterar o requerimento
probatório inicialmente apresentado, no prazo de 10 dias a contar da notificação da
réplica”. 4
Fase dos articulados
Contestação

Na contestação pode verificar-se tanto a defesa por impugnação, como a defesa


por excepção (artigo 571.º, n.º 1).

A defesa por impugnação (ou defesa directa) é aquela em que o réu nega
frontalmente os factos alegados pelo autor ou, sem negar a realidade desses
factos, contradiz o efeito jurídico que o autor deles pretende tirar (art. 571.º, n.º 2,
1.ª parte).

O réu ataca de frente, contradizendo os factos aduzidos pelo autor ou, sem
atacar esses factos, contradiz a aplicação que o autor faz do direito aos factos.

No primeiro caso, o réu apresenta uma versão dos factos diferente da do autor.

No segundo caso, a posição do réu não difere da do autor quanto à versão dos
factos, mas difere quanto ao regime jurídico.

Num caso a divergência entre o autor e o réu situa-se no âmbito dos factos, no
outro caso a divergência diz respeito ao tratamento jurídico que o autor pretende
para os factos narrados. 5
Fase dos articulados
Contestação

Defesa por excepção: nos termos do artigo 571.º, n.º 2, 2.ª parte, o réu defende-se
por excepção quando alega factos que obstam à apreciação do mérito da acção ou
que, servindo de causa impeditiva, modificativa ou extintiva do direito invocado pelo
autor, determinam a improcedência total ou parcial do pedido.
O réu não nega a realidade dos factos articulados pelo autor, nem contradiz o efeito
jurídico que este procura extrair desses factos; este modo de defesa supõe a
alegação de factos novos. O réu sai para fora do terreno em que o autor se colocou
e socorre-se de factos diferentes daqueles que servem de fundamento à petição.
Neste sentido, o réu pode: (i) alegar factos que obstam à apreciação do mérito da
causa; (ii) alegar factos que determinam a improcedência total ou parcial do pedido.
Nos termos do artigo 576.º, as excepções são dilatórias ou peremptórias (n.º 1).
As excepções dilatórias obstam a que o tribunal conheça do mérito da causa e
dão lugar à absolvição da instância ou à remessa do processo para outro tribunal
(n.º 2). As excepções peremptórias importam a absolvição total ou parcial do
pedido e consistem na invocação de factos que impedem, modificam ou extinguem
o efeito jurídico dos factos articulados pelo autor (n.º 3). 6
Fase dos articulados
Contestação

Excepções dilatórias
Como o próprio nome parece indicar, as excepções dilatórias obstam a que se entre na
apreciação da relação jurídica material, por faltar alguma coisa a essa pronúncia final. Não
afectam o direito de acção: elas dilatam, protelam, adiam a decisão do litígio. Em vez de
extinguirem a acção, apenas retardam ou adiam o respetivo conhecimento do mérito.
Embora afastem a possibilidade do conhecimento do mérito da causa naquele momento, não
o afastam definitivamente (nos termos do artigo 279.º, n.º 1, a absolvição da instância não
obsta a que se possa propor outra acção sobre o mesmo objecto).
Nos termos do artigo 577.º, “são dilatórias, entre outras, as exceções seguintes:
a) A incompetência, quer absoluta, quer relativa, do tribunal;
b) A nulidade de todo o processo;
c) A falta de personalidade ou de capacidade judiciária de alguma das partes;
d) A falta de autorização ou deliberação que o autor devesse obter;
e) A ilegitimidade de alguma das partes;
f) A coligação de autores ou réus, quando entre os pedidos não exista a conexão exigida no artigo 36.º;
g) A pluralidade subjetiva subsidiária, fora dos casos previstos no artigo 39.º;
h) A falta de constituição de advogado por parte do autor, nos processos a que se refere o n.º 1 do artigo
40.º, e a falta, insuficiência ou irregularidade de mandato judicial por parte do mandatário que propôs a ação;
i) A litispendência ou o caso julgado”. 7
Fase dos articulados
Contestação

A excepção (dilatória) de litispendência e caso julgado


Nos termos do artigo 580.º, n.º 1, “as exceções da litispendência e do caso julgado
pressupõem a repetição de uma causa; se a causa se repete estando a anterior ainda
em curso, há lugar à litispendência; se a repetição se verifica depois de a primeira
causa ter sido decidida por sentença que já não admite recurso ordinário, há lugar à
exceção do caso julgado”.
Tanto uma como outra “têm por fim evitar que o tribunal seja colocado na alternativa de
contradizer ou de reproduzir uma decisão anterior” (art. 580.º, n.º 2).
Quando é que a causa se repete?
A causa repete-se “quando se propõe uma ação idêntica a outra quanto aos sujeitos, ao
pedido e à causa de pedir” (artigo 581.º, n.º 1).
Neste sentido:
• há identidade de sujeitos quando as partes são as mesmas sob o ponto de vista da
sua qualidade jurídica;
• há identidade de pedido quando numa e noutra causa se pretende obter o mesmo
efeito jurídico;
• há identidade de causa de pedir quando a pretensão deduzida nas duas ações
procede do mesmo facto jurídico. 8
Fase dos articulados
Contestação

Verifica-se a excepção de caso julgado sempre que já tenha sido proferida


decisão de mérito em processo anterior ou quando tenha sido proferida uma
decisão anterior sobre a relação processual.

Na primeira hipótese temos o caso julgado material (a decisão recaiu sobre a


relação material ou substantiva).

Na segunda hipótese, tendo a decisão recaído sobre questões de carácter


processual, diz-se que apenas faz caso julgado formal.

Nos termos dos artigos 619.º e 620.º, o caso julgado material tem força
obrigatória não só dentro do processo em que a decisão foi proferida, mas
também fora dele.

O caso julgado formal só tem força obrigatória dentro do processo em que os


despachos ou as decisões foram proferidos.

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Fase dos articulados
Contestação

Excepções peremptórias

Nos termos do artigo 576.º, n.º 3, “as exceções perentórias importam a


absolvição total ou parcial do pedido e consistem na invocação de factos que
impedem, modificam ou extinguem o efeito jurídico dos factos articulados pelo
autor”.

Factos impeditivos são os que obstam a que o direito do autor se tenha


validamente constituído. Consideram-se como tais os factos que constituem
motivos legais da invalidade do negócio jurídico: o erro, dolo ou a coacção.

Factos extintivos são os que tenham produzido a extinção do direito do autor,


depois de validamente formado: o pagamento, o perdão, a renúncia, a
caducidade e a prescrição.

Factos modificativos são os que alteraram os termos do direito do autor.


Reconduzem-se aos factos extintivos.
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Fase dos articulados
Contestação

Princípio da concentração da defesa

Nos termos do artigo 573.º, n.º 1, “toda a defesa deve ser deduzida na contestação,
excetuados os incidentes que a lei mande deduzir em separado”. “Depois da
contestação só podem ser deduzidas as exceções, incidentes e meios de defesa que
sejam supervenientes, ou que a lei expressamente admita passado esse momento, ou
de que se deva conhecer oficiosamente” (artigo 573.º, n.º 2).

Para não correr o risco de preclusão dos meios de defesa, o réu não poderá limitar-se
a invocar certa excepção dilatória, mas terá ainda de alegar todos os outros meios de
defesa (directa ou indirecta) ao seu alcance. NOTA: se a excepção viesse a ser
julgada improcedente, o réu teria deixado escapar a única oportunidade que a lei lhe
concede para se defender.

O princípio da concentração da defesa comporta alguns desvios:


• consideram-se excluídos desta regra os incidentes que a lei mande deduzir em
separado (artigo 573.º, n.º 1);
• outro desvio ao princípio da concentração é o que se traduz na defesa diferida. Depois
da contestação só podem ser deduzidas as excepções, incidentes e meios de defesa
que sejam supervenientes, ou que a lei expressamente admita passado esse
momento, ou de que se deva conhecer oficiosamente (artigo 573.º, n.º 2). 11
Fase dos articulados
Contestação

Ónus de impugnação
Nos termos do artigo 574.º, n.º 1, “ao contestar, deve o réu tomar posição definida perante
os factos que constituem a causa de pedir invocada pelo autor”.
NOTA: “consideram-se admitidos por acordo os factos que não forem impugnados” (artigo
574.º, n.º 2, 1.ª parte)!! – importância do ónus de impugnação.
Desvios ao ónus de impugnação (artigo 574.º, n.º 2, 2.ª parte): “consideram-se admitidos
por acordo os factos que não forem impugnados, salvo se”:
• estiverem em oposição com a defesa considerada no seu conjunto;
• se não for admissível confissão sobre eles;
• se só puderem ser provados por documento escrito.
Factos essenciais ≠ factos instrumentais
A não impugnação dos factos essenciais articulados pelo autor equivale a uma confissão
tácita. MAS: em relação aos factos instrumentais, a admissão por acordo é suscetível de
ser afastada por prova posterior (artigo 574.º, n.º 2, parte final).
Impugnação por negação: “se o réu declarar que não sabe se determinado facto é real, a
declaração equivale a confissão quando se trate de facto pessoal ou de que o réu deva ter
conhecimento e equivale a impugnação no caso contrário” (artigo 574.º, n.º 3). 12
Muito obrigado pela Vossa atenção

António Pedro Pinto Monteiro


apmonteiro@autonoma.pt

Bibliografia essencial utilizada na apresentação PPT:


JORGE AUGUSTO PAIS DE AMARAL, Direito Processual Civil, 15.ª ed., Almedina, Coimbra, 2019, pp. 227 a 245
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