Você está na página 1de 70

UNIDADE 2

DIREITO PÚBLICO

Objetivos de aprendizagem

A partir desta unidade o(a) acadêmico(a) estará apto a:

 compreender o conceito de Direito Público;

 compreender os diversos ramos que o compõem;

 conhecer os institutos regulados pelo Direito Público.

PLANO DE ESTUDOS

O conteúdo desta unidade está dividido em seis tópicos. Após


estudá-los, você deverá fazer os exercícios propostos ao final.

TÓPICO 1 – DIREITO CONSTITUCIONAL

TÓPICO 2 – DIREITO ADMINISTRATIVO E DIREITO


PROCESSUAL N
O
TÓPICO 3 – DIREITO PENAL – DIREITO TRIBUTÁRIO Ç
Õ
TÓPICO 4 – DIREITO ELEITORAL E DIREITO E
MILITAR S

TÓPICO 5 – RAMOS ESPECIAIS DO DIREITO: D


E
DIREITO DO TRABALHO E DIREITO DO
CONSUMIDOR
D
I
TÓPICO 6 – DIREITO PÚBLICO EXTERNO: DIREITO R
INTERNACIONAL PÚBLICO E
I
T
O
N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2

TÓPICO 1

DIREITO CONSTITUCIONAL

1 INTRODUÇÃO

Este tópico 1 foi reservado para o estudo do Direito Constitucional que estuda as normas
constitucionais. Iniciaremos pelo seu conceito, para então estudarmos especificamente a
Constituição da República de 1988, principal objeto do estudo do Direito Constitucional.

Nos itens seguintes, estudaremos matérias constitucionais de grande importância e


conheceremos os principais direitos e garantias fundamentais, quais são os direitos sociais e
ainda como funcionam e quais são as obrigações que os partidos políticos terão que cumprir.

2 CONCEITO DE DIREITO
CONSTITUCIONAL E CONSTITUIÇÃO

O Direito Constitucional, como o próprio nome diz, é aquele que “engloba as normas
jurídicas constitucionais, isto é, aquelas pertencentes à Constituição, em toda a sua amplitude
[...]” (NUNES, 2003, p. 125). N
O
Ç
Segundo Alexandre Moraes (2003, p. 35), o Direito Constitucional “é um ramo do Direito Õ
Público, destacado por ser fundamental (sic) à organização e funcionamento do Estado, à E
S
articulação dos elementos primários do mesmo e ao estabelecimento das bases da estrutura
política”. D
E

A Constituição, conforme Canotilho apud Moraes (2003, p. 36), “pode ser entendida D
I
como a lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes à estruturação R
do Estado, a formação dos poderes públicos, forma de governo e aquisição do poder de E
I
governar, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos.” Ou seja,
T
O
46 TÓPICO 1 UNIDADE 2

IMPO
RTAN
TE!

Por isso é que nenhuma lei poderá ser contrária à Constituição, sob
pena de ser considerada inconstitucional e retirada do ordenamento
jurídico. Em razão da supremacia da Constituição, é comum a utilização
da expressão “Carta Magna” para nos referirmos à Constituição.

É importante entendermos que o princípio que rege o Direito Constitucional Brasileiro é o


do “Estado de Direito”, “isto é, do Estado que tem como princípio inspirador a subordinação de
todo poder ao Direito.” Como o Estado é o responsável pela criação e aplicação da Constituição,
ficando ao mesmo tempo submetido a ela, esta relação é também objeto de estudo pela Teoria
Geral do Estado.

Entendido o conceito de Constituição e sua supremacia, vamos estudar especificamente


a Constituição Federal de 1988.

2.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

No Estado Brasileiro, a atual Constituição foi promulgada em 1988 e já foi modificada


por algumas Emendas.

A Carta Magna em vigor traz em seu preâmbulo o seguinte:

N FIGURA 10 - CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL


O PREÂMBULO
Ç
Õ
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia
E Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a
S
assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança,
D o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos
E de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia
D social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução
I pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte
R
E CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
I FONTE: Disponível em: <www.sbef.org.br>. Acesso em: 11 jun. 2008.
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 1 47

NOT
A!

O preâmbulo da Constituição, segundo Alexandre Moraes (2003,
p.48), “é o documento de intenções do diploma, e uma certidão de
origem e legitimidade do novo texto e uma proclamação de princípios,
demonstrando a ruptura com o ordenamento constitucional anterior
e o surgimento jurídico de um novo Estado. E continua: “[...] por
não ser norma constitucional não poderá prevalecer contra texto
expresso da Constituição Federal [...]”, mas deverá ser usado como
instrumento de interpretação da Constituição (MORAES, 2003 p.49).

Também segundo Moraes (2003), extraímos como pode ser classificada a Constituição
Federal de 1988:

l formal: porque “consubstanciada de forma escrita, por meio de um documento solene


estabelecido pelo poder constituinte originário” (MORAES, 2003, p. 37);

l escrita: porque é um “conjunto de regras codificado e sistematizado em um único documento

[...]”(MORAES, 2003, p. 38);

l dogmática: por ser “um produto escrito e sistematizado por um órgão constituinte, a partir de

princípios e ideias fundamentais da teoria política e do direito dominante (MORAES, 2003,


p. 38);

l promulgada (democrática, popular): porque derivou “do trabalho de uma Assembleia


Nacional Constituinte composta de representantes do povo, eleitos com a finalidade de sua
elaboração [...]”(MORAES, 2003, p. 39);

l rígida: porque para sua modificação é necessário “um processo mais solene e mais dificultoso

do que o existente para a edição das demais espécies normativas” (MORAES, 2003, p. 39).
“A Constituição Federal de 1988 pode ser considerada como super-rígida, uma vez que em
regra poderá ser alterada por um processo legislativo diferenciado, mas, excepcionalmente,
em alguns pontos é imutável (CF, art. 60 § 4º - cláusulas pétreas)” (MORAES, 2003, p. 39); N
O
Ç
l analítica: porque “examina todos os assuntos que entende relevantes à formação, destinação Õ
E
e funcionamento do Estado” (MORAES, 2003, p. 40). S

D
E

2.2 DIREITOS E GARANTIAS D


FUNDAMENTAIS NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 I
R
E
Os direitos e garantias fundamentais são previstos na Constituição Federal em seu artigo I
T
5º. Este artigo traz, em seus setenta e seis incisos, vários direitos e garantias, dentre eles: a O
48 TÓPICO 1 UNIDADE 2

inviolabilidade da casa das pessoas (inciso XI), a liberdade da manifestação do pensamento,


a liberdade de consciência e de crença (inciso VI), o direito de propriedade (art. XXII), entre
muitos outros.

Conforme Moraes (2003, p. 59), podemos dividir os direitos e garantias em cinco


espécies. Para visualizarmos melhor esta divisão, atende à figura a seguir:

FIGURA 11 – CLASSIFICAÇÃO DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

fundamentais

FONTE: A autora

UNI
É importante que você tenha em mãos um exemplar da Constituição
Federal, que vai ajudá-lo(a) bastante... Se você não tiver uma
Constituição Federal, acesse o site “www.planalto.gov.br” e no
link “legislação”, copie o teor do art. 5º, da Carta Magna, que será
nosso objeto de estudo neste tópico.

Agora que conhecemos as espécies de direitos e garantias fundamentais, partiremos


para o estudo de seus conceitos em separado. Após, de forma resumida, abordaremos cada
um dos direitos e garantias fundamentais.

Os direitos fundamentais “representam só por si certos bens, as garantias destinam-


se a assegurar a fruição desses bens” (MIRANDA apud MORAES, 2003, p. 62).

N As garantias traduzem-se “quer no direito dos cidadãos a exigir dos poderes públicos a
O proteção dos seus direitos quer no reconhecimento de meios processuais adequados a essa
Ç
Õ finalidade (exemplo: direito de acesso aos tribunais para a defesa de direitos [...]” (CANOTILHO
E apud MORAES, 2003, p. 62).
S

D Podemos entender esta diferença no exemplo seguinte: A Constituição Federal garante


E
o direito à liberdade. Violado este direito, nasce para a vítima a garantia constitucional que é
D o de impetrar um habeas corpus e ver cessada esta ilegalidade. Não só as pessoas físicas,
I
R mas também as jurídicas são protegidas pela Constituição Federal.
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 1 49

2.2.1 Direitos e Garantias Individuais e Coletivos

Observando a imagem a seguir, iniciaremos pelo conceito dos direitos e garantias


individuais e coletivos. Para estudá-los, vamos conhecer o art. 5º. da Constituição Federal:

(grifo nosso)

Da leitura do artigo 5º. e de seus vários incisos, concluímos que a Constituição Federal
adotou diversos princípios, dos quais passaremos a estudar os principais:

Iniciamos com o princípio da igualdade. Já no começo do artigo, lemos que “todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza [...]” , ou seja, todos os cidadãos
têm o direito de tratamento idêntico pela lei [...]” (MORAES, 2003, p. 64). Também no inciso
I, a Constituição garante que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
termos desta Constituição.”

Pelo princípio da igualdade, a Constituição Federal garante a todos o direito à vida, à


liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. O direito à vida é o principal direito, “já
que se constitui em prerrequisito à existência e exercício de todos os demais direitos.” O direito
à vida, compreende, além da própria existência, o direito a uma subsistência digna (MORAES,
2003, p. 63).


N
TE! O
RTAN Ç
IMPO
Õ
E
Saiba que por proteção constitucional estende-se também a vida S
intrauterina (MORAES, 2003, p. 64).
D
E
A liberdade também é tutelada pela Constituição Federal, sendo que é o próprio texto
constitucional que prevê as garantias a esta liberdade, ou seja, os meios de que disporá a D
I
vítima para ver seu direito respeitado. Assim, poderá impetrar: R
E
I
l Habeas Corpus: (art. 5º. LXVIII): a vítima de ilegalidade ou abuso de poder poderá impetrar T
O
50 TÓPICO 1 UNIDADE 2

habeas corpus. “Portanto, o habeas corpus é uma garantia individual ao direito de locomoção,
consubstanciada em uma ordem dada pelo Juiz ou Tribunal ao coator, fazendo cessar a
ameaça ou coação à liberdade de locomoção em sentido amplo – o direito do indivíduo de
ir, vir e ficar” (MORAES, 2003, p. 138). Interessante é o fato de que não é necessário ser
advogado para impetrar habeas corpus, podendo até ser impetrado pelo próprio paciente
(vítima). O habeas corpus pode ser preventivo ou repressivo.

l Habeas Data (art. 5º. LXXII): objetiva “fazer com que todos tenham acesso às informações
que o Poder Público ou entidades de caráter público (ex.: serviços de proteção ao crédito)
possuam a seu respeito” (MORAES, 2003, p. 153). O habeas data cabe quando houver
negativa de fornecimento destas informações, que também poderão ser retificadas. É a lei
n. 9.507/97 que estabelece as regras referentes ao habeas data.

l Mandado de Segurança (art. 5º., LXIV) : caberá mandado de segurança quando houver um

ato ilegal e coator de uma autoridade contra direito líquido e certo e contra este ato não for
cabível habeas corpus e habeas data. Além do art. 5º., LXIV da Constituição da República,
temos disposições sobre o Mandado de Segurança na Lei n. 1.533/51.

NOT
A!

Conforme MORAES (2003, p. 138), “Habeas Corpus eram as
palavras iniciais da fórmula do mandado que o Tribunal concedia
e era endereçado a quantos tivessem em seu poder ou guarda o
corpo do detido, da seguinte maneira: “Tomai o corpo desse detido
e vinde submeter ao Tribunal o homem e o caso.”

O direito líquido e certo é aquele que pode ser comprovado já no ajuizamento do


mandado de segurança por documentos, sem a possibilidade de produção de provas.

Para você entender bem quando cabe o mandado de segurança, podemos citar como
exemplo a exigência de prévio pagamento de multas para o licenciamento de veículos, sem
N que tenha sido oportunizada a defesa ou também o corte de energia elétrica sem a prévia
O notificação, dentre outros.
Ç
Õ
E O mandado de segurança pode ser impetrado (ajuizado) por pessoa física ou jurídica,
S
que é chamado “impetrante”. Pode ser individual (quando uma só pessoa impetra) ou
D coletivo, quando é impetrado em nome de uma coletividade (ex.: sindicato representando os
E
sindicalizados).
D
I
R Quanto à finalidade do mandado de segurança, podemos, pois, dizer que:
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 1 51

O mandado de segurança é conferido aos


indivíduos para que eles se defendam de atos
ilegais ou praticados com abuso de poder,
constituindo-se verdadeiro instrumento de
liberdade civil e liberdade política (GUIMARÃES
apud MORAES, 2003. p. 163).

O mandado de segurança pode ser impetrado de duas formas: preventiva e repressiva.


Vejamos:

l Preventiva: para tentar evitar a ofensa ao direito líquido e certo;

l Repressiva: quando há ofensa ao direito líquido e certo, devendo o impetrante “demonstrar


justo receio de sofrer uma violação de direito líquido e certo por parte da autoridade impetrada
(MORAES, 2003, p. 163).

NOT
A!

Caro(a) acadêmico(a), para aprofundar os seus conhecimentos
sobre as ações constitucionais estudadas anteriormente, sugiro a
leitura completa da Lei n. 1.533/51.

l Mandado de Injunção: O Mandado de Injunção está previsto no art 5º, LXXI da Constituição

Federal “sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício de direitos
e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania” (MORAES, 2003, p. 179). Assim:

O mandado de injunção [...] visa suprir uma omissão do


Poder Público, no intuito de viabilizar o exercício de um
direito, uma liberdade ou uma prerrogativa prevista na
Constituição Federal.
N
O
Ç
Existem algumas normas constitucionais que são “incompletas”. Por exemplo, Moraes Õ
(2003, p. 180) cita o artigo 7º, XI que prevê a participação dos empregados nos lucros ou E
S
resultados da empresa, conforme previsto em lei (grifamos). Por isso, como não existe a lei
que regulamenta esta matéria, poderá ser impetrado Mandado de Injunção para este fim, a D
fim de possibilitar o exercício desta garantia. E

D
O mandado de injunção também poderá ser impetrado por pessoas físicas ou jurídicas, I
mas sempre será impetrado contra o Estado. R
E
I
l Ação Popular: Esta ação constitucional é prevista no art. 5º., LXXIII. Pode ser definida como: T
O
52 TÓPICO 1 UNIDADE 2

É o meio constitucional posto à disposição de qualquer


cidadão para obter a invalidação de atos ou contratos
administrativos – ou a estes equiparados – lesivos do
patrimônio federal, estadual e municipal, ou de suas
autarquias, entidades paraestatais e pessoas jurídicas
subvencionadas com dinheiro público (MEIRELLES apud
MORAES, 2003, p. 191-192).

Resumidamente, podemos dizer que só poderá ajuizar ação popular o cidadão, ou seja,
quem estiver “no gozo de seus direitos políticos” (MORAES, 2003, p. 193). Por isso, somente
a pessoa física, desde que no gozo de seus direitos políticos, é que poderá propor esta ação.
Quanto à natureza do “ato ou a omissão do Poder Público a ser impugnado, que dever ser
obrigatoriamente lesivo ao patrimônio público, seja por ilegalidade, seja por imoralidade”
(MORAES, 2003, p. 192).

De forma esquematizada e bem simplificada, podemos resumir as principais ações


constitucionais e o direito que protegem no seguinte:

FIGURA 12 - AÇÕES CONSTITUCIONAIS E OS DIREITOS QUE PROTEGEM

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T FONTE: A autora
O
UNIDADE 2 TÓPICO 1 53

NOT
A!

Quer conhecer mais sobre as ações constitucionais? Sugiro que
leia a obra Mandado de Segurança, ação popular, ação civil
pública, mandado de injunção, habeas data. São Paulo: Revista
dos Tribunais.

Além do princípio da liberdade que estudamos anteriormente, outro importante princípio


constitucional é o princípio da legalidade. Por este princípio, previsto no inciso II do art. 5º
da Constituição Federal, “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei.” Segundo Moraes (2003, p. 69), “Tal princípio visa combater o poder
arbitrário do Estado. Só por meio das espécies normativas devidamente elaboradas conforme
as regras do processo legislativo constitucional, podem-se criar obrigações para o indivíduo.”

Também o artigo 5º, em seu inciso VI e VIII, garantem a liberdade de consciência e


de crença (VI), impedindo expressamente, que alguém seja privado de direitos por motivo de
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, a não ser se alegar esta situação para
tentar descumprir uma obrigação legal (por exemplo alguém que diga que não paga impostos
porque sua religião não permite), ou se recusar a cumprir prestação alternativa fixada em lei.

Outro importante princípio é o que garante a indenização por dano material, moral
ou à imagem. O dano material é aquele que se traduz em perda material, enquanto o direito
moral é aquele que atinge o indivíduo de forma pessoal, quando, por exemplo, a situação
expõe a vítima a um constrangimento ou sofrimento desnecessário. Interessante ressaltar que
as pessoas jurídicas também podem sofrer danos morais, estando, porém ligado ao abalo de
crédito que a ofensa poderá gerar. Além da indenização, é garantido o direito de resposta.

A liberdade do pensamento também é garantida pela Constituição Federal, (inciso


IX), garantida a inexistência de censura prévia. Porém, como adverte Moraes (2003, p. 78-79),
esta liberdade não é absoluta, quando afirma que:
N
A inviolabilidade prevista no inciso X do art. 5º., porém, traça os limites tanto O
para a liberdade de expressão do pensamento, como para o direito à infor- Ç
mação, vedando-se o atingimento à intimidade, à vida privada, à honra e à Õ
imagem das pessoas (MORAES, 2003, p. 78). E
S

Ao se manifestar sobre a liberdade de imprensa, adverte: D


E

Essa previsão, porém, não significa que a liberdade de imprensa é absoluta, D


não encontrando restrições nos demais direitos fundamentais, pois a respon- I
sabilização posterior e/ou responsável pelas notícias injuriosas, difamantes, R
mentirosas sempre será cabível, em relação a eventuais danos materiais e E
morais. (Moraes, 2003, p. 79). I
T
O
54 TÓPICO 1 UNIDADE 2

O inciso X do art. 5º garante proteção constitucional à vida privada, “salvaguardando


um espaço íntimo intransponível por intromissões ilícitas externas” (MORAES, 2003, p. 79). A
utilização indevida ou não autorizada de imagem, por exemplo, ou a ofensa da honra de uma
pessoa sujeitarão o infrator a responder civil e criminalmente por esta ofensa.

Como dissemos anteriormente, também a pessoa jurídica pode ser afetada em sua
honra, quando, por exemplo, vê encaminhado a protesto um título “frio”, mostrando-se assim
ser indevido.

Outro princípio que merece destaque é o da inviolabilidade do domicílio, previsto


no art. 5º, XI da CF. Domicílio é “todo local, delimitado e separado, que alguém ocupa com
exclusividade, a qualquer título, inclusive profissionalmente, pois nessa relação entre pessoa e
espaço, preserva-se, mediatamente, a vida privada do sujeito” (MORAES, 2003, p. 81). Assim
como no direito à liberdade do pensamento, esta inviolabilidade não é absoluta. As exceções
estão previstas no próprio texto constitucional: casos de flagrante delito ou desastre, para
prestar socorro, e também durante o dia, por determinação judicial.

Também são garantidos constitucionalmente (art. 5º, XII) o sigilo da correspondência,


de dados e das comunicações. Ainda nesta categoria, podemos incluir a garantia do sigilo
bancário e fiscal. Porém, estas garantias também sofrem exceções quando o interesse público
for o motivo determinante para sua quebra, como ocorre, por exemplo, na instrução criminal.
Conforme a Constituição, a interceptação telefônica somente será possível mediante autorização
judicial nos termos que a lei estabelecer, e para fins de investigação. Com relação ao sigilo dos
dados, estes também poderão ser quebrados pelo Ministério Público ou pela CPI (Comissão
Parlamentar de Inquérito), entre outros casos previstos na Lei e na própria Constituição Federal.

NOT
A!

A Lei que regulamenta este artigo é a Lei n. 9.296/96, estabelecendo
disposições para que seja possível a interceptação telefônica que
N
vulgarmente se conhece por “grampo”.
O
Ç
Õ
E
S

D
IMPO
RTAN
T E!

“O sigilo bancário individual coloca-o na condição de “cláusula
E
pétrea” (CF, art. 60, §4º,IV), impedindo, dessa forma, a aprovação
de emenda constitucional tendente a aboli-lo ou mesmo modificá-lo
D
estruturalmente” (MORAES, 2003, p. 97).
I
R
E
I Também o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada são protegidos
T pela Constituição Federal, que garante que a lei não os prejudicará (art. 5º. XXXVI).
O
UNIDADE 2 TÓPICO 1 55

Bastos apud Moraes (2003, p. 105), ao definir o direito adquirido e o ato jurídico, observa
que este:
constitui-se num dos recursos de que se vale a Constituição para limitar a
retroatividade da lei. Com efeito, esta está em constante mutação; o Estado
cumpre seu papel exatamente na medida em que atualiza suas leis. No en-
tretanto, a utilização da lei em caráter retroativo, em muitos casos, repugna
porque fere situações jurídicas que já tinham por consolidadas no tempo, e
esta é uma das fontes principais do homem na terra.

O ato jurídico perfeito:

Isto não quer dizer, por si só, que ele encerre em seu bojo um direito adquirido.
Do que está o seu beneficiário imunizado é de oscilações de forma aportadas
pela lei nova.

De uma forma resumida, podemos dizer, então, que por este princípio a lei não poderá
retroagir para modificar uma situação já concretizada.

O princípio do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório são


expressos nos incisos LIV e LV do art. 5º e também o princípio da presunção da inocência
(art. 5º., LVII). Vejamos cada um deles:

O devido processo legal configura dupla proteção ao indivíduo, atuando tanto


no âmbito material de proteção ao direito da liberdade, quanto no âmbito for-
mal, ao assegurar-lhe paridade total de condições com o Estado-persecutor
e plenitude de defesa [...]

Este princípio garante, assim, tanto nos processos judiciais quanto nos administrativos,
que serão respeitadas todas as fases do processo e garantida a defesa em toda a sua amplitude
(meios e provas). Como consequência da ampla defesa, é assegurado ainda o contraditório,
que garante que aquele que for acusado terá o direito de se defender.

Já o princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII), estabelece que “ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.” Ou seja, por
este princípio, presume-se que todo mundo é inocente, sendo função do Estado provar a culpa
do sujeito. Passemos à segunda espécie de direitos e garantias fundamentais: direitos sociais.

N
O
Ç
2.2.2 Direitos Sociais Õ
E
S
Os direitos sociais são os direitos fundamentais do trabalhador, que é o “empregado
que mantiver algum vínculo de emprego” (MORAES, 2003, p. 202). D
E

Estes direitos são previstos no art. 7º da Constituição Federal e têm por objetivo D
principal a proteção dos direitos do trabalhador. Além disso, os direitos sociais têm que ser I
R
obrigatoriamente respeitados.
E
I
T
O
56 TÓPICO 1 UNIDADE 2

UNI
É importante que você leia no inteiro teor o art. 7º Da Constituição
Federal. Caso não tenha um exemplar, baixe-o no site <www.
planalto.gov.br>.

Estas regras “formam a base do contrato de trabalho, uma linha divisória entre a vontade
do Estado, manifestada pelos poderes competentes, e as dos contratantes” (SUSSEKIND
apud MORAES, 2003, p. 203). De uma forma resumida, são os seguintes os principais direitos
fundamentais do trabalhador:

l proteção da relação de emprego contra a despedida arbitrária ou sem justa causa;


l seguro-desemprego em caso de desemprego involuntário;
l Fundo de Garantia por Tempo de Serviço;
l salário-mínimo;

l piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;


l irredutibilidade do salário, salvo previsto em convenção ou acordo coletivo de trabalho;
l décimo terceiro salário;
l férias;

l licença à gestante e licença paternidade;


l aviso prévio;
l aposentadoria;

l seguro contra acidentes de trabalho, entre outros.


!
ROS
OS FUTU
E STUD

Você conhecerá estes direitos mais profundamente em uma disciplina


específica.

N
O
Ç
Õ
E 2.2.3 Direitos da Nacionalidade
S

D Pode-se conceituar a nacionalidade como sendo “o vínculo jurídico político que liga um
E indivíduo a um certo e determinado Estado, fazendo deste indivíduo um componente do povo,
D da dimensão pessoal deste Estado” (CARVALHO apud MORAES, 2003, p. 213). Segundo
I Moraes (2003, p. 213), este vínculo “capacita o indivíduo a exigir sua proteção, mas, ao mesmo
R
E tempo, o sujeita ao cumprimento dos deveres impostos”.
I
T
O Como salienta Moraes (2003), o conceito de nacionalidade está ligado aos conceitos
UNIDADE 2 TÓPICO 1 57

de povo, população e nação, os quais também extraímos das ideias do referido autor:

conjunto de pessoas que fazem parte de um Estado


(MORAES, 2003, p. 213).

conjunto de habitantes de um território, de um país, de


uma região ou de uma cidade. Abrange os nacionais e os
estrangeiros (MORAES, 2003, p. 213).

agrupamento humano, em geral numeroso, cujos membros


fixados num território, são ligados por laços históricos, culturais,
econômicos e linguísticos (MORAES, 2003 p. 214).

A nacionalidade pode ser adquirida com o nascimento (ex.: brasileiro nato), chamada
“originária” ou posteriormente, através de um pedido de naturalização (ex.: o estrangeiro que
pede naturalização e se torna brasileiro naturalizado), que se chama nacionalidade “adquirida”.


OS!
FU TUR
DOS
ESTU

A Constituição proíbe que a lei faça diferenciação entre brasileiros


natos e naturalizados a não ser em casos previstos na própria Carta
Magna. Assim, apesar de se tornar brasileiro pela naturalização, o
estrangeiro naturalizado não adquire os mesmos direitos que os
brasileiros natos. Por exemplo, existem cargos públicos privativos de N
brasileiros natos, tais como o de Presidente da República e Ministro O
do Supremo Tribunal Federal, como veremos a seguir. Ç
Õ
E
S
Quanto aos critérios utilizados para o reconhecimento da nacionalidade originária,
segundo Moraes (2003, p. 215) são basicamente dois: D
E

l a origem sanguínea – todo descendente de nacionais será nacional, independente de onde D


I
nasceu. R
E
I
l a origem territorial – quem nasce em determinado território terá a respectiva nacionalidade, T
independente de sua ascendência. O
58 TÓPICO 1 UNIDADE 2

E qual o critério adotado pela atual Constituição Brasileira? O critério adotado pela
nossa Carta Magna foi, como regra geral, o da origem territorial. Ou seja, em princípio, quem
nascer em território nacional, será considerado brasileiro. Porém, há exceções a esta regra,
previstas no próprio ordenamento constitucional, qual seja, no artigo 12, I da CF:

Art. 12: São brasileiros:


 
I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estran-
geiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país; (exceção à
origem territorial - Nota da autora)

b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que


qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;

c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que


sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir
na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de
atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;

II – naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos
originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano
ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Fede-
rativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação
penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reci-
procidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao
brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.
§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e natura-
lizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.

No parágrafo terceiro deste mesmo artigo, encontramos os cargos que só poderão ser
ocupados por brasileiros natos:

§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:


I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
N V - da carreira diplomática;
O VI - de oficial das Forças Armadas;
Ç VII - de Ministro de Estado da Defesa.
Õ
E
S Segundo o art. 12, §4º da Constituição da República, o brasileiro perderá sua
nacionalidade, quando:
D
E
[...]
D I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de
I atividade nociva ao interesse nacional;
R II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos:
E a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
I b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro resi-
T dente em estado estrangeiro, como condição para permanência em seu
O território ou para o exercício de direitos civis.
UNIDADE 2 TÓPICO 1 59

2.2.4 Direitos Políticos

No capítulo V da CF (arts. 14 ao 16), estão expressos os direitos políticos e as condições


de elegibilidade, alistamento e voto etc. Segundo Moraes (2003, p. 232), os direitos políticos
formam “o conjunto de regras que disciplina a forma de atuação da soberania popular [...]”.
Dos ensinamentos do referido autor, podemos apontar, de forma resumida, como direitos
políticos os seguintes:

l direito ao sufrágio  direito de votar e ser votado;


l direito de votar em eleições, plebiscitos e referendos;
l elegibilidade  possibilidade de concorrer a cargos políticos. Para ser elegível, é necessário

que o candidato cumpra as seguintes condições, as previstas no art. 14, §3º da CF: a
nacionalidade brasileira, o alistamento eleitoral, o domicílio eleitoral na circunscrição; a filiação
partidária; a idade mínima para cada cargo. Os analfabetos e os inalistáveis (art. 14 §4º);
l iniciativa Popular de lei;
l ação Popular;
l organização e participação de partidos políticos.

Poderá haver a perda ou a suspensão dos direitos políticos. A perda é definitiva,


enquanto a suspensão é temporária.

O art. 15 da CF estabelece os casos de perda e suspensão, sendo que em razão da


Constituição não estabelecer o critério diferenciador, colhemos da doutrina de Moraes (2003,
p. 258-263):

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão


só se dará nos casos de:
I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado;
(perda)
II - incapacidade civil absoluta; (suspensão)
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efei- N
tos; (suspensão) O
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, Ç
nos termos do art. 5º, VIII; (suspensão) Õ
V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º (suspensão). E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
60 TÓPICO 1 UNIDADE 2

2.2.5 Direitos Relacionados à Organização,


Participação e Funcionamento dos Partidos Políticos

Segundo a Constituição Federal (art. 17), os partidos podem ser livremente criados,
fundidos, incorporados e extintos, devendo ser observados: a soberania nacional, o regime
democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana . Ainda segundo o
mesmo artigo, deverão ser seguidos os seguintes preceitos: I - caráter nacional; II - proibição de
recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação
a estes; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo
com a lei.

Os partidos políticos, após se constituírem em conformidade com a lei civil, deverão


registrar seus estatutos no Tribunal Regional Eleitoral, conforme exige a Constituição Federal.
Nos demais parágrafos do art. 17, lemos que os partidos políticos são autônomos para definir sua
estrutura interna, organização e funcionamento, entre outros direitos previstos na Constituição,
tais como participação em fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e televisão, que serão
disciplinados por leis específicas.

UNI
Agora que você já conhece alguns aspectos do Direito Constitucional,
após resolver nossos exercícios de fixação, vamos, no próximo
tópico, passar ao estudo do Direito Administrativo.

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 1 61

RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico você estudou que:

l O Direito Público é o Direito em que o Estado participa como parte na relação jurídica.

l O Direito Público é dividido em Direito Público interno e externo.

l O Direito Público Interno é dividido em diversos ramos, dentre eles o Direito Constitucional.

l O Direito Constitucional tem como objeto de estudo a Constituição Federal, que é a Lei Magna

de um país.

l A Constituição Federal de 1988 traz vários direitos e garantias fundamentais previstos no


art. 5º.

l Há várias ações constitucionais que tutelam a liberdade, tais como habeas corpus, habeas
data, entre outros.

l Os direitos sociais protegem o trabalhador.

l Há duas espécies de nacionalidade: a que se adquire com o nascimento (originária),


reconhecida pelos critérios da origem sanguínea ou territorial e a que decorre da naturalização
também chamada “adquirida”.

l Os direitos políticos e os relativos à organização e funcionamento dos partidos políticos.

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
62 TÓPICO 1 UNIDADE 2


IDADE
ATIV
AUTO

1 Assinale a alternativa que não contém uma característica da Constituição Federal de


1988:
a) ( ) Formal.
b) ( ) Rígida.
c) ( ) Sintética.
d) ( ) Dogmática.

2 Com relação aos direitos políticos, pode-se afirmar que o cancelamento da naturalização
por sentença transitada em julgado resultará:
a) ( ) Na perda dos direitos políticos.
b) ( ) Não é caso de perda nem suspensão dos direitos políticos.
c) ( ) Suspensão dos direitos políticos.
d) ( ) Pagamento de multa à Justiça Eleitoral.

3 Sobre as formas de interposição do mandado de segurança, é correto afirmar:


a) ( ) Admite-se sua impetração de forma individual, mas apenas repressivamente.
b) ( ) Pode ser impetrado de forma individual ou coletiva, mas apenas preventivamente.
c) ( ) Apenas se admite sua impetração de forma coletiva e de forma preventiva.
d) ( ) Admite-se sua impetração de forma coletiva ou individual, preventiva ou repressivamente.

4 O artigo 7º, XI prevê a participação dos empregados nos lucros ou resultados da


empresa, conforme previsto em lei. Como não existe a lei que regulamenta esta matéria,
aponte o remédio constitucional cabível:
a) ( ) Mandado de Injunção.
N b) ( ) Ação Popular.
O
Ç c) ( ) Ação Civil Pública.
Õ d) ( ) Habeas Data.
E
S
5 Ao propor uma Ação Popular, podemos afirmar que o objetivo do autor é proteger:
D
a) ( ) A liberdade de ir e vir.
E
b) ( ) Direito líquido e certo.
D c) ( ) Patrimônio público.
I
R d) ( ) Liberdade de pensamento.
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 1 63

6 Segundo a Constituição Federal, não existirá no Brasil censura prévia. Podemos dizer
que esta afirmação decorre do princípio:
a) ( ) Da presunção de inocência.
b) ( ) Da liberdade de pensamento.
c) ( ) Da inviolabilidade do domicílio.
d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.

7 “É aquele que se aperfeiçoou, que reuniu todos os elementos necessários à sua


formação, debaixo da lei velha”. Este é um conceito de:
a) ( ) Ato jurídico perfeito.
b) ( ) Ato jurídico julgado.
c) ( ) Direito líquido e certo.
d) ( ) Nenhuma das alternativas anteriores.

8 Este princípio garante tanto nos processos judiciais quanto nos administrativos, que
serão respeitadas todas as fases do processo e garantida a defesa em toda a sua
amplitude (meios e provas):
a) ( ) Presunção de inocência.
b) ( ) Inviolabilidade do domicílio.
c) ( ) Devido processo legal.
d) ( ) Direito líquido e certo.

9 Qual dos seguintes cargos não é privativo de “brasileiro nato”?


a) ( ) Presidente e Vice-Presidente da República.
b) ( ) Vereador.
c) ( ) Presidente da Câmara dos Deputados.
d) ( ) Presidente do Senado Federal.

10 Enquanto durarem os efeitos da condenação criminal transitada em julgado, os direitos


políticos do réu:
N
a) ( ) Ficarão suspensos. O
b) ( ) Serão extintos. Ç
Õ
c) ( ) Não serão nem extintos nem suspensos. E
d) ( ) Serão transferidos para outro membro do partido. S

D
11 Leia as afirmações a seguir e classifique V para as sentenças verdadeiras e F para E
as falsas: D
( ) Na ação popular, há a necessidade de haver ato lesivo do patrimônio público. I
R
( ) O mandado de segurança só pode ser impetrado por cidadãos.
E
( ) O mandado de segurança pode ser impetrado preventivamente. I
T
O
64 TÓPICO 1 UNIDADE 2

( ) O habeas data serve para se ter acesso a informações constantes nos registros
públicos.
( ) O mandado de injunção e mandado de segurança têm o mesmo objetivo.
( ) A ação popular pode ser proposta por uma pessoa jurídica.
( ) O habeas corpus é impetrado para garantir o direito de ir e vir.
( ) Os princípios constitucionais são sempre absolutos.
( ) O direito à vida abrange não somente o direito de existir, mas também de ter uma
vida digna.
( ) O direito à liberdade de pensamento não é absoluto.
( ) Direito Moral e Material são expressões sinônimas.

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2

TÓPICO 2

DIREITO ADMINISTRATIVO
E DIREITO PROCESSUAL

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico, vamos estudar o Direito Administrativo que traz as regras que disciplinam
a atividade da Administração Pública. Iniciaremos pelo estudo do conceito deste importante
ramo do Direito, para então estudarmos os atos administrativos. Por fim, estudaremos os
princípios que regem a Administração Pública e conheceremos os princípios e características
dos contratos administrativos.

Apenas em razão da necessária divisão do conteúdo neste tópico, estudaremos também


o Direito Processual.

Preparado? Então, mãos à obra!

2 DIREITO ADMINISTRATIVO

N
O
Ç
2.1 CONCEITO DE DIREITO ADMINISTRATIVO Õ
E
S
Segundo Führer e Milaré (2005, p. 128), o Direito Administrativo “é o conjunto de normas
D
que regem a Administração Pública”, ou seja, traz as regras que “organizam administrativamente
E
o Estado, fixando os modos, os meios e a forma de ação para a consecução de seus objetivos
D
(NUNES, 2003, p. 125).
I
R
É, pois, no Direito Administrativo que encontraremos as regras que determinam, por E
I
exemplo, porque será realizada a desapropriação de um bem de um particular, como deverá T
O
66 TÓPICO 2 UNIDADE 2

ser realizado um contrato com um particular etc.

Importante salientar que estas normas são de cumprimento obrigatório e nem por acordo
entre a Administração e o particular podem ser modificadas.

2.2 ATOS ADMINISTRATIVOS

A Administração Pública realiza sua função através dos atos administrativos. O ato
administrativo, segundo Führer e Milaré (2005, p. 128), pode ser:

l unilateral: quando a Administração, “cria, modifica ou extingue direitos em relação aos


administrados, aos seus servidores ou a ela própria”. Ou seja, neste tipo de ato a administração
age “sozinha”.

l bilateral: no ato administrativo bilateral, existem duas partes envolvidas na relação jurídica.
“Refere-se aos contratos realizados pela Administração, tendo por fim a satisfação de algum
interesse público”.

O ato administrativo será ainda vinculado, “quando o modo de praticar o ato já vem
descrito na lei (FÜHRER; MILARÉ 2003, p. 128-129) ou discricionário, quando o administrador
tem certa liberdade de escolher a oportunidade ou a forma de realizar o ato”.

Dentre os poderes da Administração regulamentados pelo Direito Administrativo há ainda


o poder de polícia, que “consiste na faculdade de a Administração Pública coibir atos individuais
que contrariem a lei e os interesses públicos” (FÜHRER; MILARÉ, 2003, p. 128). Advertem os
mesmos autores que este poder também é limitado, sendo que, em caso de abuso, o particular
poderá recorrer ao Judiciário, para fazer cessar o abuso, impetrando geralmente habeas corpus
ou mandado de segurança. Veja que interessante este caso extraído da jurisprudência:

N Poder de polícia. Estabelecimento comercial. Drive-in. Fechamento por ordem


O de autoridade municipal, sob alegação de desvirtuamento das respectivas
Ç finalidades. Inexistência, contudo, de prova nesse sentido, ao menos de ins-
Õ tauração de sindicância. Ato ilegal. Segurança concedida (RT 445/186).
E
S
Entenderemos, a partir de agora, quais são e como funcionam as entidades estatais e as
D
autarquias.
E
“As entidades estatais são a União, os Estados e os Municípios e as suas
autarquias. As autarquias são entes públicos autônomos, com personalidade
D
jurídica e patrimônio próprios, detentoras de uma parcela do poder estatal,
I
destacadas da administração indireta, com a finalidade de descentralizar
R
os serviços públicos. Exemplos de autarquias: INSS, Caixas Econômicas
E
etc.”(FÜHRER; MILARÉ, 2003, p. 131).
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 2 67

Além das atividades estatais, existem as entidades paraestatais, que “assumem forma civil,
embora sejam públicas na essência” (FÜHRER; MILARÉ, 2003, p. 131). Com base nos ensinamentos
dos referidos autores (p. 131-132), podemos afirmar que são entidades paraestatais, resumidamente,
as seguintes:
“empresas públicas (pessoas jurídicas de direito privado com capital in-
teiramente público (ex.: BNDES, Embratel etc.), sociedades de economia
mista (pessoas jurídicas de direito privado, formadas com capital público e
particular, com predominância de direção estatal, exemplo: Petrobrás), funda-
ções públicas, constituem uma universalidade de bens, com personalidade
jurídica própria, destacada do patrimônio da entidade estatal instituidora, com
finalidades predeterminadas [...] Ex.: FUNAI.

2.3 PRINCÍPIOS QUE REGEM


A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A Administração Pública não poder agir indistintamente. Os limites a esta atuação são
delineados por princípios que estão previstos no art. 37 da Constituição Federal:

Art. 37: A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes


da União dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e efi-
ciência. (grifo nossos)

Para fixar bem este conhecimento, visualize a figura a seguir (DICA: caso necessite
“decorar” estes princípios, veja que, na ordem em que aparecem na figura, formam a palavra
“LIMPE”):

N
O
Ç
Õ
E
S
FIGURA 13 - DIREITO ADMINISTRATIVO E SEUS PRINCÍPIOS
FONTE: A autora D
E

Apesar dos princípios se destinarem à Administração Pública, também os outros poderes D


I
(Legislativo e Judiciário) ficam obrigados a cumpri-los quando praticam atos administrativos. R
E
I
Assim, os atos da Administração Pública, devem, necessariamente, cumprir alguns T
princípios, previstos no art. 37 da Constituição da República: O
68 TÓPICO 2 UNIDADE 2

2.3.1 Princípio da Legalidade

Já estudamos este princípio no tópico anterior. Ele garante que: "ninguém será obrigado
a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei". Também já afirmamos que
o princípio da legalidade é considerado uma das bases do Estado Democrático de Direito.

Este princípio, quando aplicado ao Direito Administrativo, impõe certos limites à atuação
da Administração Pública, que assim não poderá agir em desconformidade com a lei, sob pena
de configuração de ato abusivo.

Vejamos os ensinamentos de Mello (2004 , p. 57):

Para avaliar corretamente o princípio da legalidade e captar-lhe o sentido


profundo, cumpre atentar para o fato de que ele é a tradução jurídica de um
propósito político: o de submeter os exercentes do poder em concreto – admi-
nistrativo – a um quadro normativo que embargue favoritismos, perseguições
ou desmandos. Pretende-se através da norma geral, abstrata e impessoal, a
lei, editada pelo Poder Legislativo – que é o colégio representativo de todas
as tendências (inclusive minoritárias) do corpo social – garantir que a atuação
do Executivo nada mais seja senão a concretização da vontade geral.

2.3.2 Princípio da Impessoalidade

Por este princípio, impõe-se uma igualdade de tratamento entre os particulares


(administrados), focando-se os atos administrativos no interesse público, não sendo assim
possível o favorecimento de uns em detrimento dos outros, conforme ensina Mello (2004, p. 57):

No princípio da impessoalidade se traduz a ideia de que a Administração


tem que tratar a todos os administrados sem discriminações, benéficas ou
detrimentosas. Nem favoritismo nem perseguições são toleráveis. Simpatias
ou animosidades pessoais, políticas ou ideológicas não podem interferir na
N atuação administrativa e muito menos interesses sectários, de facções ou
O grupos de qualquer espécie. O princípio em causa é senão o próprio princípio
Ç da igualdade ou isonomia.
Õ
E
S Segundo Meirelles (2005, p. 91):

D
O princípio da impessoalidade, referido na Constituição de 1988 (art. 37,
E
caput), nada mais é que o clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao
administrador público que só pratique o ato para o seu fim legal. E o fim legal é
D
unicamente aquele que a norma de direito indica expressa ou virtualmente como
I
objetivo do ato, de forma impessoal.[...] Desde que o princípio da finalidade
R
exige que o ato seja praticado sempre com finalidade pública, o administrador
E
fica impedido de buscar outro objetivo ou de praticá-lo no interesse próprio
I
ou de terceiros. Pode, entretanto, o interesse público coincidir com o de par-
T
ticulares, como ocorre normalmente nos atos administrativos negociais e nos
O
UNIDADE 2 TÓPICO 2 69

contratos públicos, casos em que é lícito conjugar a pretensão do particular


com o interesse coletivo. O que o princípio da finalidade veda é a prática de
ato administrativo sem interesse público ou conveniência para a Administra-
ção, visando unicamente satisfazer interesses privados, por favoritismo ou
perseguição dos agentes governamentais, sob a forma de desvio de finalidade.

2.3.3 Princípio da Moralidade

Por este princípio, os atos administrativos devem ser realizados com base na moral,
o que pode ser traduzido na necessidade de os atos administrativos serem praticados com
base na probidade.

Sua importância é tal, que a inobservância deste princípio gera a invalidade do ato
administrativo (você se lembra da ação popular que estudamos anteriormente, que tem por
objetivo justamente anular o ato administrativo lesivo ao patrimônio público?) e ainda a
suspensão dos direitos políticos do agente ímprobo (art. 37, §4º da CF).

É necessária, pois, além da observância dos ditames legais (princípio da legalidade)


que a prática dos atos administrativos ocorra de acordo com a moralidade administrativa que
traz as regras de conduta ética que devem permear sua realização.

UNI
Você se lembra do conceito de moral que estudamos na Unidade
1? Se não lembra, volte um pouquinho em seus estudos e confira
este conceito.

Sobre este princípio, colhemos dos ensinamentos de Meirelles (2005, p. 89):


N
O
A moralidade administrativa constitui, hoje em dia, pressuposto da validade Ç
de todo ato da Administração Pública (Const. Rep., art. 37, caput). Não se Õ
trata – diz Hauriou, o sistematizador de tal conceito – da moral comum, mas E
sim de uma moral jurídica, entendida como "o conjunto de regras de conduta S
tiradas da disciplina interior da Administração". Desenvolvendo a sua doutrina,
explica o mesmo autor que o agente administrativo, como ser humano dotado D
da capacidade de atuar, deve, necessariamente, distinguir o Bem do Mal, o E
honesto do desonesto. E, ao atuar, não poderá desprezar o elemento ético de
sua conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o D
justo e o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, I
mas também entre o honesto e o desonesto. Por considerações de direito e R
de moral, o ato administrativo não terá que obedecer somente à lei jurídica, E
mas também à lei ética da própria instituição, porque nem tudo que é legal I
é honesto, conforme já proclamavam os romanos – non omne quod licet ho- T
nestum est. A moral comum, remata Hauriou, é imposta ao homem para sua O
70 TÓPICO 2 UNIDADE 2

conduta externa; a moral administrativa é imposta ao agente público para a


sua conduta interna, segundo as exigências da instituição a que serve, e a
finalidade de sua ação: o bem comum.
[...] O certo é que a moralidade do ato administrativo, juntamente com a sua
legalidade e finalidade, constituem pressupostos de validade, sem os quais
toda atividade pública será ilegítima.

2.3.4 Princípio da Publicidade

Por este princípio, torna-se necessário que os atos administrativos sejam praticados com
transparência, permitindo o conhecimento por todos (pela publicação, por exemplo, no Diário
Oficial, ou comunicação) dos atos que estão sendo praticados pela Administração Pública.

Medauar (2005, p. 147) ressalta a relevância do princípio quando aduz que “O tema
da transparência e visibilidade, também tratado como publicidade da atuação administrativa,
encontra-se associado à reivindicação geral da democracia administrativa”.

Proíbe, pois, este princípio, como regra geral, uma atuação da administração pública
que não permita o conhecimento pela coletividade de seus atos. Ao contrário, exige, assim, que
seja possível o acompanhamento e a fiscalização dos atos dos entes públicos pela sociedade.

2.3.5 Princípio da Eficiência

Conforme Medauar (2005, p. 149), o vocábulo eficiência está ligado “à ideia de ação
para produzir resultado, de modo rápido e preciso para satisfazer a população”.

Este princípio estabelece que não basta o administrador praticar o ato de acordo com os
princípios antes estudados, mas deve praticá-lo com eficiência, o que significa dizer economia

N
do dinheiro público e resultados mais efetivos.
O
Ç
Exige-se não apenas cumprimento da lei, mas atos capazes de realizar as necessidades
Õ
E dos administrados.
S

D
E

D
2.3.6 Contratos Administrativos
I
R
O contrato é um negócio jurídico realizado por duas ou mais pessoas e nasce da junção
E
I destas “vontades”, chamado consentimento.
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 2 71

Para a validade deste negócio jurídico, são necessários: agente capaz, forma prescrita
ou não defesa em lei e objeto lícito, conforme exige o art. 104 do Código Civil.


!
ROS
OS FUTU
ESTUD

Você estudará cada um destes requisitos na Unidade 3.

O contrato administrativo se diferencia do contrato comum em razão de possuir a


característica de publicidade e da participação do Poder Público. Este poder aparece “como
parte predominante, e pela finalidade de atender a interesse público” (FÜHRER; MILARÉ,
2003, p. 135). Além disso, possui características próprias, apontada por Führer e Milaré (2003,
p. 135), as quais resumimos no mapa conceitual a seguir:

FIGURA 14 - CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO ADMINISTRATIVO

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
FONTE: Adaptado de Führer e Milaré (2003, p. 135) O
72 TÓPICO 2 UNIDADE 2


!
ROS
OS FUTU
ESTUD

Você estudará a licitação, suas formas e características em disciplina


futura.

3 DIREITO PROCESSUAL

O Direito Processual é o ramo do Direito Público que regulamenta a forma que as ações
judiciais se desenvolverão no Judiciário. Traz as regras que chamamos de “direito formal”,
enquanto o Direito Civil, por exemplo, traz as regras de “direito material”. Para entendermos
este sistema, podemos visualizar o direito material como sendo “o jogo”, enquanto o direito
processual traz “as regras do jogo”.

Assim, tomemos como exemplo o direito de propriedade. Enquanto o direito civil


estabelece como se origina e se extingue este direito, o direito processual civil determinará
como se deve proceder para retomá-lo.

O Direito Processual é dividido em três grandes ramos: Direito Processual Civil, Direito
Processual Penal e Direito Processual do Trabalho, correspondentes a cada uma das áreas
do direito material.

O Código de Processo Civil, Lei n. 5.869/73, é a lei que serve de instrumento para o
Direito Processual Civil.

O Código de Processo Penal (decreto-lei n. 3.689 - de 03 de outubro de 1941) é o


instrumento que traz as disposições relativas ao processo penal.

N
O Já as regras de direito processual do trabalho estão na Consolidação das Leis do
Ç
Trabalho, (Decreto-lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943) conhecida como “CLT”, e subsidiariamente
Õ
E utiliza-se o CPC.
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 2 73

RESUMO DO TÓPICO 2

Prezado(a) acadêmico(a), este tópico permitiu a você:

l Compreender que o Direito Administrativo é o ramo do Direito Público que traz as regras que
se aplicam ao Estado como administrador público.

l Conhecer os princípios que devem ser obrigatoriamente obedecidos pelo administrador


público: Legalidade, Moralidade, Publicidade, Impessoalidade e Eficiência.

l Entender o conceito de ato administrativo e compreender suas espécies.

l Conhecer o conceito de contrato administrativo e suas características.

l Compreender o conceito de direito processual e suas subdivisões.

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
74 TÓPICO 2 UNIDADE 2


IDADE
ATIV
AUTO

Para verificar seu aprendizado sobre os conteúdos deste tópico, responda às


questões a seguir:

1 Cite duas diferenças entre o contrato comum e o contrato administrativo.

2 Explique a característica execução inafastável que é própria do contrato administrativo.

3 O que são autarquias?

4 Quais são as características das entidades paraestatais?

5 Como se explica a característica “alteridade” dos contratos administrativos?

6 O que ocorrerá com o contrato administrativo, caso não seja respeitado o princípio
da moralidade?

7 O que estabelece o princípio da impessoalidade?

8 Cite os princípios previstos na Constituição Federal e que devem ser respeitados


obrigatoriamente pela administração pública.

9 Quais os ramos do Direito Processual?

10 Quais os principais diplomas legais que trazem as normas de Direito Processual?


N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2

TÓPICO 3

DIREITO PENAL – DIREITO


TRIBUTÁRIO

1 INTRODUÇÃO

Partiremos agora para o estudo do Direito Penal e do Direito Tributário. Inicialmente,


vamos estudar o Direito Penal, analisando o fato típico, seu principal objeto e as ações ou
omissões culposas e dolosas que os configuram. Estudaremos também a questão da culpa,
para definirmos o que vem a ser um crime doloso ou culposo. Ainda neste tópico, conheceremos
as causas que excluem a antijuridicidade do crime, tais como a legítima defesa e os crimes
que têm por objeto a defesa do patrimônio.

Também neste tópico, teremos uma breve noção do Direito Tributário, uma vez que o
seu estudo será objeto de disciplina própria de seu curso.

2 DIREITO PENAL

N
O
2.1 CONCEITO E FUNÇÃO
Ç
Õ
O Direito Penal “corresponde ao conjunto de normas jurídicas que regulam os crimes E
S
e as contravenções penais” (condutas ilícitas penais de menor potencial ofensivo), com as
correspondentes penas aplicáveis (NUNES, 2003, p. 127). D
E

Sua função é a “proteção de bens jurídico-penais – bens do Direito – essenciais ao D


I
indivíduo e à comunidade” (PRADO, 2005, p. 23). Estes bens são a vida, o patrimônio, os R
costumes, a paz social etc. Uma vez atingidos estes bens jurídicos, o infrator ficará sujeito às E
I
sanções previstas na própria legislação penal (penas ou medidas de segurança). T
O
76 TÓPICO 3 UNIDADE 2

2.2 DIVISÃO DO DIREITO PENAL

O Direito Penal é regulamentado pelo Código Penal, que é o Decreto-Lei nº 2.848/1940,


que é composto de uma parte geral (art. 1º. a 121) e de uma parte especial (art. 121 ao 361).
A parte especial traz os crimes divididos de acordo com o bem jurídico tutelado (ex.: crimes
contra a vida, crimes contra o patrimônio etc.). Ainda é parte do Direito Penal a legislação
extravagante, tais como a Lei de Entorpecentes, a Lei Maria da Penha, a Lei de Execução
Penal, entre outras.

2.3 FATO TÍPICO - CRIME E CONTRAVENÇÃO

Segundo Damásio de Jesus (2006, p. 33), “Para que haja crime, é preciso, em primeiro
lugar, uma conduta humana positiva ou negativa (ação ou omissão)”.

Porém, para que esta ação ou omissão seja relevante para o Direito Penal, é necessário
que esta ação ou omissão esteja tipificada. Ou seja, é necessário que a lei preveja que esta
ação ou omissão seja enquadrada como crime ou contravenção, chamados “tipos penais”.
Caso contrário, esta ação será irrelevante para o Direito Penal. O homicídio, o furto, o estupro
e todos os crimes previstos na Parte Especial do Código Penal são exemplos de tipos legais.
Damásio de Jesus (2006, p. 33) fornece um exemplo, ao citar o furto de uso, em que a pessoa
pega um bem de outrem para usar e após devolver, sem a intenção de subtraí-lo para si, como
ocorre no furto previsto no art. 155. Podemos dizer assim que se trata de um ato atípico, ou
seja, que não se enquadra no tipo legal, sendo assim irrelevante para o Direito.

Além de típico, o fato precisa ser antijurídico, ou seja, contrário à lei. O fato antijurídico
pode ser considerado como o “fato que, além de típico, não tem a seu favor nenhuma justificativa
como a legítima defesa ou o estado de necessidade” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 141). Assim,
N
O um homicídio praticado em legítima defesa será típico, mas não será antijurídico, porque haverá
Ç uma excludente de antijuridicidade que é a legítima defesa, que estudaremos mais adiante.
Õ
E
S Podemos dizer, assim, conforme assentado na doutrina, que crime é “fato típico e
antijurídico”.
D
E
Já na contravenção, há uma conduta menos grave e que causa menos prejuízo, sendo
D
I que, por isso, se cominam penas mais brandas. As contravenções penais são regulamentadas
R pelo Decreto-Lei n. 3.688, de 3 de Outubro de 1941, conhecido como “Lei das Contravenções
E
I Penais”, à qual se aplicam as disposições do Código Penal, naquilo que for aplicável. Exemplos
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 3 77

de contravenção são: o jogo do bicho, uso indevido de uniforme, entre outras.

2.4 DOLO E CULPA

Nos crimes e contravenções, há de se distinguir a conduta dolosa da conduta culposa.

Assim, “são dolosos os crimes intencionais. Diz-se o crime doloso, quando o agente
quis o resultado (dolo direto) ou assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual)” (FÜHRER;
MILARÉ, 2005, p. 144).

Então: DOLO = INTENÇÃO DE PRODUZIR O RESULTADO OU ASSUMIR O RISCO


DE PRODUZI-LO.

Na culpa, ao contrário, não há intenção na prática do fato delituoso, “faltando também


o agente a um dever de atenção e cuidado” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 144).

A ação culposa ocorre em três tipos de conduta: negligência, imprudência e imperícia.


Veja a seguir o conceito de cada uma das modalidades:

l NEGLIGÊNCIA: “displicência, relaxamento, falta de atenção devida, como não observar a


rua ao dirigir” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 144).

l IMPRUDÊNCIA: “Conduta precipitada ou afoita, a criação desnecessária de um perigo, como

dirigir veículo em excesso de velocidade” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 144). N


O
Ç
l IMPERÍCIA: “É a falta de habilidade técnica para certas habilidades, como não saber manobrar Õ
direito um veículo” (FÜHRER; MILARÉ, 2005, p. 144). E
S

Por isso, podemos dizer que há crime culposo quando o agente deu causa ao resultado D
E
por negligência, imprudência ou imperícia.
D
I
Do que estudamos até agora, podemos visualizar o seguinte: R
E
I
T
O
78 TÓPICO 3 UNIDADE 2

FIGURA 15 - DIFERENÇAS ENTRE CRIMES CULPOSOS E DOLOSOS


FONTE: A autora

2.5 CAUSAS EXCLUDENTES DA ANTIJURIDICIDADE

Como vimos anteriormente, a antijuridicidade é a prática de um ato contrário à lei, sem


que haja uma justificativa para tanto. O ato pode ser assim antijurídico (ex.: matar alguém),
mas haver uma justificativa (ex.: legítima defesa). Neste item, vamos conhecer cada uma das
causas que excluem a antijuridicidade, também chamada ilicitude de um ato típico. São causas
excludentes de antijuridicidade: estado de necessidade, legítima defesa, estrito cumprimento
do dever legal e exercício regular de direito. Vamos conhecer cada uma delas?

Age em estado de necessidade, segundo o art. 24 do Código Penal, quem “pratica o


fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo
evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.”
“Exemplo de estado de necessidade é a disputa de náufragos pela posse de uma tábua de
salvação” (Führer; Milaré, 2005, p. 149).

Em legítima defesa, segundo o art. 25 do Código Penal, age quem “usando


moderadamente dos meios necessários, impele injusta agressão, atual ou iminente a direito seu
N ou de outrem.” Dos ensinamentos de Führer e Milaré (2005, p. 149), podemos, resumidamente,
O
Ç apontar que “são critérios para a configuração da legítima defesa: a defesa deve ser contra
Õ ser humano, deve ser injusta, atual ou iminente (acontecendo ou em vias de acontecer)”. Deve
E
S ainda ser moderada, ou seja, ser proporcional à agressão sofrida. Ex.: não será considerada
legítima defesa a reação de quem atira em uma pessoa que ataca com as mãos vazias.
D
E
A configuração do estrito cumprimento do dever legal ocorre quando o agente “cumpre
D
exatamente o determinado pelo ordenamento jurídico, realizando, assim, uma conduta lícita
I
R [...]. Há de ser dever legal, proveniente de disposição jurídico-normativa (lei, decreto, portaria,
E regulamento,etc.) v.g., oficial de justiça que cumpre o mandado de prisão, e não simplesmente
I
T moral, religioso ou social” (PRADO, 2005, p. 114).
O
UNIDADE 2 TÓPICO 3 79

Por fim, conforme Prado (2005, p. 115, grifos nossos)

“aquele que age no exercício regular de direito, quer dizer, que exercita
uma faculdade de acordo com o direito, está atuando licitamente, de forma
autorizada – art. 5º., II, CF [...] (v.g., [...] defesa no esbulho possessório - Art.
1.210 do CC; [...]. Não se pode considerar ilícita a prática de ato justificado ou
permitido pela lei, que se consubstancie em exercício de direito dentro do marco
legal, isto é, conforme os limites nele inseridos,de modo regular e não abusivo.

2.6 CULPABILIDADE

Havendo a conduta típica e antijurídica, para que tenha lugar a aplicação da pena, há
necessidade de haver a culpabilidade. Assim, diante de um fato típico e antijurídico, verificar-
se-á a conduta do agente, sendo a culpabilidade, segundo Prado (2005, p. 115), “um juízo de
censura ou reprovação pessoal, ou seja, que recai sobre a pessoa do agente, já que podia ter
agido conforme a norma e não o fez [...]”. A seguir, estudaremos os elementos da culpabilidade.

2.7 IMPUTABILIDADE PENAL

A imputabilidade penal “é a capacidade de culpabilidade, entendida como capacidade


de entender e de querer” (PRADO, 2005, p. 115). Em nosso ordenamento penal, entende-se,
como regra geral, como imputável penalmente o maior de 18 anos, sendo que os menores
ficam sujeitos à legislação específica.

Pode se considerar imputável, pois, “o sujeito mentalmente são e desenvolvido, capaz


de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com este entendimento”
(JESUS, 2006, p. 124).


O
TE! Ç
RTAN
IMPO Õ
E
Como regra geral, apenas as pessoas físicas (seres humanos)
S
podem ser sujeitos ativos dos crimes. Como exceção a esta regra,
temos a legislação ambiental, que prevê a responsabilização penal
D
da pessoa jurídica (Lei n. 9.605/98).
E

D
I
O artigo 26 do CP traz as causas de inimputabilidade, que, uma vez presentes, afastam R
a imputabilidade do agente: doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado, E
I
menoridade e embriaguez acidental completa. T
O
80 TÓPICO 3 UNIDADE 2

2.8 PENAS E MEDIDAS DE SEGURANÇA

Presentes os requisitos que configuram o crime (fato típico e antijurídico) e ainda a


culpabilidade, terá lugar a aplicação da penalidade respectiva. De uma forma bem didática,
podemos dizer que são três as espécies de penas: privativas de liberdade, restritivas de direitos
e multa, que serão aplicadas conforme a gravidade do crime.

As restritivas de liberdade classificam-se em reclusão e detenção.

Dos ensinamentos de Führer e Milaré (2003, p. 156-157) extraímos os regimes de


cumprimento de cada uma das espécies de penas:

l Regime fechado (cumprimento na penitenciária)  reclusão.

l Regime semiaberto (cumprimento em colônia agrícola ou similar)  reclusão e detenção.

l Regime aberto (cumprido em casa do albergado)  reclusão e detenção.

As restritivas de direitos serão cumpridas através de prestação de serviços à


comunidade (tarefas gratuitas junto a hospitais, escolas ou orfanatos), interdição temporária de
direitos (com a proibição do exercício de profissão ou atividade ou suspensão da licença para
dirigir veículo) e limitação de fim de semana (com a obrigação de permanecer o condenado,
aos sábados e domingos, por 5 horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento
adequado).

Por fim, as penas de multa que variam de 10 a 360 dias-multa (1 dia multa = 1/30 do
salário-mínimo (mínimo) a 5 salários-mínimos (máximo), conforme a situação econômica do réu.

N
Por fim, as medidas de segurança, segundo Führer e Milaré (2003, p. 156-157):
O
Ç As medidas de segurança não são penas, mas tão somente meios defensi-
Õ vos da sociedade. A pena refere-se mais à gravidade do delito, ao passo que
E a medida de segurança preocupa-se com a periculosidade do agente. [...].
S As medidas de segurança são aplicáveis aos loucos. E também, em caráter
substitutivo da pena, aos semiloucos. As medidas de segurança consistem na
D internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou na sujeição a
E tratamento ambulatorial, por tempo indeterminado, no mínimo de 1 a 3 anos,
até a cessação da periculosidade verificada em perícia médica.
D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 3 81

2.9 AÇÕES PENAIS

As ações penais são os meios através dos quais o Estado realizará a persecução penal.
De uma forma geral, as ações penais são de duas espécies: públicas ou privadas.

Na maioria dos crimes, as ações penais são públicas, ou seja, quem inicia a ação
penal é o Ministério Público, representado pelo Promotor de Justiça, que oferece a denúncia,
independentemente da vontade do ofendido. A este tipo de ação damos o nome de ação
penal pública incondicionada. Há casos, porém, em que a ação penal é pública, mas depende
de iniciativa do ofendido para que possa ser iniciada. A esta iniciativa, dá-se o nome de
“representação”.

Já as ações privadas são aquelas em que o início da ação penal somente ocorre
mediante a iniciativa do ofendido, que ocorre através da “queixa-crime”. São exemplos de
crimes que somente terão a ação penal iniciada mediante queixa-crime: a calúnia, a injúria e
a difamação.

2.10 CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

Na parte especial do Código Penal, existem crimes que protegem os principais bens
jurídicos, a vida, o patrimônio, a paz social etc.

Para nossa disciplina, será suficiente conhecermos os crimes contra o patrimônio,


previstos do art. 155 ao art. 183 do CP, conhecendo os tipos legais, com suas características
principais e as penas a ele cominadas, os quais constam do quadro abaixo (os arts. 181 a 183
do CP não constam do quadro por trazerem disposições relativas à ação penal):
N
O
Ç
QUADRO 1 - CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO
Õ
Tipo Legal Características
E
Furto Intenção de permanecer com o bem (furto de uso não é crime).
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: S
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Existem as formas qualificadas, que aumentam a pena, tais como a
Furto de coisa comum
Art. 156 - Subtrair o condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para D
utilização de chave falsa ou se o crime é praticado durante o repouso
outrem, a quem legitimamente a detém, a coisa comum: E
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.
noturno.

Roubo Semelhante ao furto, o roubo dele se diferencia em razão do emprego D


Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, I
mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la,
por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência:
de violência. Também existe a forma qualificada, a exemplo do R
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. emprego de arma ou a violência ser cometida por mais de uma
E
I
pessoa. T
O
82 TÓPICO 3 UNIDADE 2

Extorsão
Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, Na extorsão, pretende especificamente a obtenção de indevida
e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem vantagem econômica (JESUS, 2006, p. 605).
econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa: Na extorsão mediante sequestro, não há apenas a violência ou grave
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa. ameaça como no artigo anterior, mas há também um crime contra a
Extorsão mediante sequestro liberdade de locomoção. Trata-se de crime hediondo (Lei n. 8.072/90).
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para
outrem, qualquer vantagem,como condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
Extorsão indireta Não há necessidade de recebimento efetivo do documento, apenas a
Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da
situação de alguém, documento que pode dar causa a procedimento exigência é suficiente para configurar o crime.
criminal contra a vítima ou contra terceiro:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Alteração de limites Este delito tem como objeto jurídico a posse e a propriedade. Só
Art. 161 - Suprimir ou deslocar tapume, marco, ou qualquer outro pratica este crime o proprietário do prédio vizinho àquele em que se
sinal indicativo de linha divisória, para apropriar-se, no todo ou em alteram os limites (JESUS, 2006, p. 614). Além do tipo previsto no
parte, de coisa imóvel alheia: caput (cabeça) do artigo, os parágrafos preveem outras hipóteses
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, e multa. que também se consideram como alteração dos limites.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem:
Usurpação de águas
I - desvia ou represa, em proveito próprio ou de outrem, águas
alheias;
Esbulho possessório
II - invade, com violência a pessoa ou grave ameaça, ou mediante
concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio, para o
fim de esbulho possessório.
§ 2º - Se o agente usa de violência, incorre também na pena a esta
cominada.
§ 3º - Se a propriedade é particular, e não há emprego de violência,
somente se procede mediante queixa.
Supressão ou alteração de marca em animais
Art. 162 - Suprimir ou alterar, indevidamente, em gado ou rebanho
alheio, marca ou sinal indicativo de propriedade:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, e multa.
Dano Este artigo trata do crime de dano, inclusive o proprietário de coisa
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: comum. Existe também a forma qualificada, quando o dano, por
Pena - detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses, ou multa. exemplo, for praticado contra bem de propriedade da União.
Introdução ou abandono de animais em propriedade alheia
Art. 164 - Introduzir ou deixar animais em propriedade alheia, sem
consentimento de quem de direito, desde que o fato resulte prejuízo:
Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 6 (seis) meses, ou multa.
Dano em coisa de valor artístico, arqueológico ou histórico Interessante que até mesmo o proprietário poderá ser sujeito ativo
Art. 165 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa tombada pela
autoridade competente em virtude de valor artístico, arqueológico ou neste crime, uma vez que o objeto jurídico é o patrimônio histórico
histórico:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. protegido.
Alteração de local especialmente protegido
Art. 166 - Alterar, sem licença da autoridade competente, o aspecto
de local especialmente protegido por lei:
Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa.
Apropriação indébita Neste crime, o agente apropria-se de bem móvel de que tem a
Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou
a detenção: posse ou detenção. Ex.: Caixa que se apropria de dinheiro do banco.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Apropriação indébita previdenciária Também existe a forma qualificada.
Art. 168-A. Deixar de repassar à previdência social as contribuições
recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma legal ou convencional:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 3 83

Apropriação de coisa havida por erro, caso fortuito ou força da No estelionato, o agente busca obter indevidamente vantagem,
natureza induzindo uma pessoa ao erro. Também são formas de estelionato,
Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por a ele equiparados: a disposição de coisa alheia como própria; a
erro, caso fortuito ou força da natureza: alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria, a defraudação de
Pena - detenção, de 1 (um) mês a 1 (um) ano, ou multa. penhor, a fraude na entrega de coisa, a fraude para recebimento de
Parágrafo único - Na mesma pena incorre: indenização ou valor de seguro; a fraude no pagamento por meio de
Apropriação de tesouro cheque. O Crime também pode ser qualificado, nos casos previstos
I - quem acha tesouro em prédio alheio e se apropria, no todo ou em no 3º.
parte, da quota a que tem direito o proprietário do prédio;
Apropriação de coisa achada Este crime é o que conhecemos como “duplicata fria”. Toda duplicata,
II - quem acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou necessária e obrigatoriamente, deverá ser emitida a partir de uma
parcialmente, deixando de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor nota fiscal ou fatura, motivo pelo qual se chama este título de crédito
ou de entregá-la à autoridade competente, dentro no prazo de 15 de título causal.
(quinze) dias.
Estelionato e outras fraudes
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo
alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício,
ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Duplicata simulada
Art. 172 - Emitir fatura, duplicata ou nota de venda que não
corresponda à mercadoria vendida, em quantidade ou qualidade, ou
ao serviço prestado.
Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único - Nas mesmas penas incorrerá aquele que falsificar
ou adulterar a escrituração do Livro de Registro de Duplicatas.
Abuso de incapazes
Art. 173 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, de necessidade,
paixão ou inexperiência de menor, ou da alienação ou debilidade
mental de outrem, induzindo qualquer deles à prática de ato suscetível
de produzir efeito jurídico, em prejuízo próprio ou de terceiro:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Induzimento à especulação
Art. 174 - Abusar, em proveito próprio ou alheio, da inexperiência
ou da simplicidade ou inferioridade mental de outrem, induzindo-o
à prática de jogo ou aposta, ou à especulação com títulos ou
mercadorias, sabendo ou devendo saber que a operação é ruinosa:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Fraude no comércio
Art. 175 - Enganar, no exercício de atividade comercial, o adquirente
ou consumidor:
I - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou
deteriorada;
II - entregando uma mercadoria por outra:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.
§ 1º - Alterar em obra que lhe é encomendada a qualidade ou o peso
de metal ou substituir, no mesmo caso, pedra verdadeira por falsa ou
por outra de menor valor; vender pedra falsa por verdadeira; vender,
como precioso, metal de outra qualidade:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 2º - É aplicável o disposto no art. 155, § 2º.
Outras fraudes
Art. 176 - Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou
utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar
o pagamento:
Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 2 (dois) meses, ou multa.
Parágrafo único - Somente se procede mediante representação, e o
juiz pode, conforme as circunstâncias, deixar de aplicar a pena.
Fraudes e abusos na fundação ou administração de sociedade
por ações
Art. 177 - Promover a fundação de sociedade por ações, fazendo,
em prospecto ou em comunicação ao público ou à assembleia,
afirmação falsa sobre a constituição da sociedade, ou ocultando
fraudulentamente fato a ela relativo: N
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não
constitui crime contra a economia popular. O
Emissão irregular de conhecimento de depósito ou "warrant" Ç
Art. 178 - Emitir conhecimento de depósito ou warrant, em desacordo
com disposição legal:
Õ
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. E
Fraude à execução S
Art. 179 - Fraudar execução, alienando, desviando, destruindo ou
danificando bens, ou simulando dívidas:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa. D
Receptação Para que se configure a receptação, não é necessário que o crime E
Art. 180- Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em
proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou seja contra o patrimônio. Damásio de Jesus (2006, p. 691) dá o
influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: D
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. exemplo de um funcionário público que pratica o crime de peculato. I
FONTE: A autora R
E
I
T
O
84 TÓPICO 3 UNIDADE 2

3 DIREITO TRIBUTÁRIO

O Direito Tributário estuda todas as normas que dizem respeito à arrecadação de tributos.
Existem várias formas de tributo, especialmente: impostos, contribuições de melhoria e taxas.

É a ocorrência do fato gerador que determinará a incidência do tributo. Assim, por


exemplo, auferindo renda, o contribuinte pagará imposto de renda, adquirindo um carro, terá
que pagar o IPVA e assim por diante.

O Direito Tributário estudará, pois, tudo que se refere aos tributos, desde sua origem,
fato gerador, o responsável pelo seu pagamento, qual a alíquota correspondente, a base de
incidência e como se faz o recolhimento. Este ramo do Direito também especifica quem ficará
isento do pagamento, o que é elisão fiscal etc.

As regras do Direito Tributário estão especialmente previstos na Constituição da


República e no Código Tributário Nacional. Também encontramos suas regras em diversas leis
esparsas, como, por exemplo, a lei n. 6.830/80, que trata da Execução Fiscal.


OS!
FU TUR
DOS
ESTU

ESTUDOS FUTUROS: Prezado(a) acadêmico(a)! Como dissemos


anteriormente, você estudará o Direito Tributário mais a fundo em
disciplina específica.

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 3 85

RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você estudou o Direito Penal e aprendeu que:

l O Direito Penal “corresponde ao conjunto de normas jurídicas que regulam os crimes e as


contravenções penais”.

l O crime é ato típico e antijurídico.

l O crime pode ser doloso (intencional) ou culposo (não intencional).

l Para que seja aplicada a sanção prevista em lei, será necessário que também esteja presente

a culpabilidade.

l As espécies de pena (privativa de liberdade, restritiva de direitos e multa), penas de detenção

e reclusão e ainda medidas de segurança.

l Os tipos de ação penal (pública condicionada e incondicionada e privada).

l Os crimes contra o patrimônio são previstos na legislação penal.

l O Direito Tributário é o ramo do Direito Público que tem por objeto o estudo das obrigações
entre o contribuinte e o Fisco.

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
86 TÓPICO 3 UNIDADE 2


IDADE
ATIV
AUTO

1 Relacione os grupos 1 e 2, a fim de fixar os conhecimentos deste tópico:


Grupo 1
(1) Requisitos para a configuração do crime.
(2) Fato antijurídico.
(3) Dolo.
(4) Modalidades de culpa.
(5) Imprudência.
(6) Imperícia.
(7) Modo de agir no crime de roubo.
(8) Excludentes de ilicitude.
(9) Modo de agir no crime de furto.
(10) Imputabilidade penal.
(11) Prestação de serviços à comunidade.
(12) Representação.

Grupo 2
( ) É a falta de habilidade técnica para certas habilidades.
( ) Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel.
( ) Adquire-se, como regra geral, aos 18 anos completos, salvo exceções previstas em
lei.
( ) Tipicidade e antijuridicidade.
( ) Defesa ou o estado de necessidade.
( ) Exemplo de pena restritiva de direitos.
( ) Estado de necessidade, legítima defesa e estrito cumprimento do dever legal e

N
exercício regular de direito.
O ( ) Negligência, imprudência e imperícia.
Ç
( ) Propósito de praticar o fato descrito na lei penal.
Õ
E ( ) Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
S violência à pessoa, ou depois de havê-la por qualquer meio, reduzido à impossibilidade
D de resistência.
E ( ) Documento que representa o início da ação penal pública condicionada.
D ( ) Fato que, além de típico, não tem a seu favor uma justificativa como a legítima.
I ( ) Conduta precipitada ou afoita, a criação desnecessária de um perigo.
R
E
I
T
O
UNIDADE 2

TÓPICO 4

DIREITO ELEITORAL E DIREITO MILITAR

1 INTRODUÇÃO

Neste penúltimo tópico de nossa unidade, vamos conhecer o Direito Eleitoral e o Direito
Militar.

2 DIREITO ELEITORAL

O Direito Eleitoral disciplina o processo eleitoral.

Segundo Rizatto Nunes (2003, p. 127), o Direito Eleitoral:

compõe-se do conjunto das normas jurídicas que disciplinam a escolha dos


membros do Poder Executivo e do Poder Legislativo. Essas normas estabe-
lecem os critérios e condições para o eleitor votar, para alguém se candidatar,
bem como as datas das eleições, as formas das apurações, o número de
candidatos a serem eleitos, fixando as bases para a criação e funcionamento
dos partidos políticos etc.

N
O principal instrumento do Direito Eleitoral é o Código Eleitoral (Lei n. 4.737, de 15 de
O
julho de 1965). Também são parte do Direito Eleitoral, a lei dos partidos políticos, a lei das Ç
inelegibilidades, entre outros. Õ
E
S

D
E
3 DIREITO MILITAR
D
I
Para Martins, (2008 p. 42) , “o direito militar pode ser definido como o conjunto harmônico R
de princípios e normas jurídicas que regulam matéria de natureza militar, podendo ser de E
I
caráter constitucional, penal ou administrativo.” É, pois, o direito que regulamenta a atividade T
dos militares. O
88 TÓPICO 4 UNIDADE 2

São instrumentos do Direito Militar, primeiramente a Constituição Federal, que regulamenta


a matéria no art. 42. Também dele são instrumentos o Código Penal Militar (Decreto-lei 1001/69)
e o Código Processual Penal Militar (Dec-lei 1002/69), conforme Martins (2008).

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 4 89

RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico você estudou que:

l O Direito Eleitoral é o que regulamenta as eleições.

l O Direito Militar traz as regras aplicáveis aos militares.

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
90 TÓPICO 4 UNIDADE 2


IDADE
ATIV
AUTO

1 Complemente a coluna 2 de acordo com o que você aprendeu neste tópico:

Principal objetivo do Direito Eleitoral.


Principal instrumento legal do Direito Militar.
Espécies de relações militares que o Direito
Penal regulamenta.
Enumere 7 matérias que são disciplinadas
pelo Direito Eleitoral.

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2

TÓPICO 5

RAMOS ESPECIAIS DO DIREITO:


DIREITO DO TRABALHO E DIREITO
DO CONSUMIDOR

1 INTRODUÇÃO

Serão objetivos deste tópico 5 o Direito do Trabalho e o Direito do Consumidor, que


trarão conhecimentos que, certamente, serão úteis no seu dia a dia.

Em que pese esta unidade 2 tratar dos ramos do Direito Público (apenas para fins
de divisão do nosso conteúdo) o Direito do Trabalho e o Direito do Consumidor têm sido
enquadrados pela doutrina como ramos especiais, que não pertencem nem ao Direito Público,
nem ao Direito Privado.

Estes ramos, segundo Rizatto Nunes (2003, p. 122), são:

[...] caracterizados basicamente por serem difusos, ao contrário das outras


duas espécies que se distinguem, basicamente, por estarem relacionados ao
interesse público ou privado. [...] os direitos difusos são aqueles cujos titulares
não podem ser especificados. São fatos que determinam a ligação entre essas
pessoas, cujos direitos não podem ser partidos: são indivisíveis. Por exemplo,
todos – indeterminadamente – estão sujeitos à publicidade enganosa; o direito
de respirar ar puro é de todos etc.

Neste tópico, traremos uma breve noção sobre o Direito do Trabalho, tendo em vista que N
O
este será objeto de uma disciplina mais adiante. Em seguida, traremos os principais institutos Ç
do Direito do Consumidor e do Direito Ambiental. Õ
E
S

D
E
2 DIREITO DO TRABALHO
D
I
Regulamenta as relações trabalhistas, ou seja, “entre empregado e empregador (patrão)” R
(NUNES, 2003, p. 131). E
I
T
O
92 TÓPICO 5 UNIDADE 2

O Direito do Trabalho tem a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) como sua principal
norma, mas também a Constituição da República e a legislação esparsa.

São objeto do Direito do Trabalho as relações trabalhistas, sejam elas individuais (entre
empregado e empregador) ou coletivas, “[...] que contemplam as relações entre grupos ou
associações de trabalhadores e de patrões, seus contratos e suas lutas” (FÜHRER; MILARÉ,
2005, p. 160).

Dentre os institutos regulados pelo Direito do Trabalho estão: contrato individual do


trabalho, jornada de trabalho, descanso semanal remunerado, férias, remuneração, FGTS etc.


OS!
TUR
DOS FU
ESTU

Como mencionamos anteriormente, você estudará estes institutos


a fundo, futuramente, em disciplina específica.

3 DIREITO DO CONSUMIDOR

3.1 OBJETO DO DIREITO DO CONSUMIDOR

As relações entre fornecedor e consumidor são estudadas por este importante ramo do
Direito que está concentrado no Código de Defesa do Consumidor (CDC, Lei n. 8.078/90). É
este diploma legal que prevê a responsabilidade objetiva (independente de culpa) do fornecedor
N
O e as consequências do descumprimento desta responsabilidade. Prevê também os crimes nas
Ç relações de consumo e suas penas.
Õ
E
S Veja o artigo 1º do CDC:
D
E

D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 5 93

3.2 CONCEITOS DE CONSUMIDOR E FORNECEDOR

Para o estudo do Direito do Consumidor, é necessário conhecermos os conceitos de


consumidor e fornecedor, trazidos pelo próprio Código:

Também são considerados consumidores: “a coletividade de pessoas, ainda que


indetermináveis que haja intervindo nas relações de consumo”. Ainda segundo o CDC, são
consumidores todas as vítimas de evento danoso, bem como todas as pessoas determináveis
ou não, expostas às práticas comerciais, conforme art. 29 do Código Consumerista (art. 29).

O conceito de fornecedor também é trazido pelo CDC, conforme Silva (2005), em seu
art. 3º.:

Neste conceito, certamente se enquadra o conceito de empresário.

Dos parágrafos 1º e 2º do citado artigo, extraímos os conceitos de produto e serviço


(SILVA):

§ 1º - Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.


N
§2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, median-
O
te remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito
Ç
e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Õ
E
O Código do Consumidor reconhece, na relação de consumo, o consumidor como a parte S

mais fraca, mais vulnerável, tanto no aspecto econômico como no técnico. Esta vulnerabilidade D
é expressamente reconhecida pela lei art. 4º, I do CDC. Assim, E

D
I
R
E
I
T
O
94 TÓPICO 5 UNIDADE 2

Ao tratar da hipossuficiência do consumidor, Silva (2005 p. 35) ensina:

A partir desse reconhecimento de vulnerabilidade, o Código disponibiliza


vários outros instrumentos que possibilitam a busca da igualdade, dentre os
quais cita-se:
a) possibilidade de inversão do ônus da prova em benefício do consumidor
quando verossímil a alegação ou diante de sua hipossuficiência percebida
segundo as regras de experiências(art. 6°, VIII);
b) a interpretação de cláusulas contratuais de maneira mais favorável ao con-
sumidor em todo e qualquer contrato de consumo (art. 47);
c) manutenção de assistência jurídica integral e gratuita ao consumidor carente
e instituição de Promotorias, Varas e Delegacias especializadas em matéria
de consumo (art.5º, I, II, III e IV);
d) concessão de estímulos à criação e desenvolvimento das Associações de
Defesa do Consumidor (art. 5º, V);
e) proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais
coercitivos ou desleais, bem como contra práticas abusivas ou impostas no
fornecimento de produtos e serviços (art. 6°, IV).

NOT
A!

A igualdade a que nos referimos é aquela entre consumidor e
fornecedor.

3.3 DIREITOS E DEVERES DO CONSUMIDOR

3.3.1 Direitos do consumidor

Segundo o CDC , são direitos básicos do consumidor (SILVA, 2005 p. 36):

ART. 6º – São direitos básicos do consumidor:


I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práti-
N cas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;
O II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e ser-
Ç viços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
Õ III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços,
E com especificação correta de quantidade, características, composição, quali-
S dade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais
D coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou
E impostas no fornecimento de produtos e serviços;
V– a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações des-
D proporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem
I excessivamente onerosas;
R VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e Morais, indivi-
E duais, coletivos e difusos;
I VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com vistas à prevenção
T ou reparação de danos patrimoniais e MORAIS, individuais, coletivos ou difu-
O sos, assegurada a proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;
UNIDADE 2 TÓPICO 5 95

VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do


ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for
verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências;
IX – (VETADO).
X – a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral.

3.3.2 Deveres do consumidor

Além de direitos, o consumidor também tem deveres. São deveres do consumidor:

l exigir sempre as notas fiscais;

l exigir um contrato ao solicitar prestação de serviço;

l solicitar os termos de garantia de serviços e produtos por escrito e definidos em contrato;

l pedir o manual ou o rótulo de qualquer produto em língua portuguesa;

l guardar os recibos para comprovar os pagamentos efetuados;

l colocar no verso do cheque a data combinada para a compensação (caso seja pré-datado)
e a que ele se destina;

l não se esquecer que as lojas de roupas são obrigadas apenas a trocar peças com defeitos.

FONTE: Disponível em: <http://cidadania.terra.com.br>. Acesso em: 15 maio 2008.

3.4 RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR


N
O
A responsabilidade do fornecedor no CDC está prevista no art. 14 do CDC (SILVA, Ç
Õ
2005, p. 40):
E
S
ART. 14 - O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência
de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos D
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes E
ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1º - O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor D
dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, I
entre as quais: R
I - o modo de seu fornecimento; E
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; I
III - a época em que foi fornecido. T
O
96 TÓPICO 5 UNIDADE 2

§ 2º - O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.


§ 3º - O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4º - A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada me-
diante a verificação de culpa.

Afirma-se que a responsabilidade do fornecedor é objetiva, ou seja, existe independente


da existência de culpa, porque decorre da própria atividade comercial.

Com o advento do CDC, a atividade empresarial passou por uma transformação,


deixando de visar apenas ao lucro e passando a preocupar-se também com a qualidade dos
produtos e serviços em razão da responsabilidade prevista na lei consumerista.

A responsabilidade do fornecedor, no CDC, engloba assim, a responsabilidade pelo


fato do produto e pelo fato do serviço.

3.5 DECADÊNCIA E PRESCRIÇÃO

Apesar de ser garantido ao consumidor o direito de reclamar, este direito não é eterno.
O art. 26 do CDC, (SILVA, 2005), traz os prazos de decadência e prescrição do direito de
reclamar. Em ambos os casos, há perda do direito pelo decurso do prazo, ou seja, por não ter
reclamado no tempo máximo previsto na lei. A diferença é que na decadência a perda é do
direito, não cabendo ao consumidor nenhum meio para materializar seu descontentamento.

Visando a uma abordagem bem didática, podemos afirmar que, segundo o art. 26 do
CDC:

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 5 97

FIGURA 16 - PRAZO DE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

FONTE: Silva (2005) D


I
R
E
I
T
O
98 TÓPICO 5 UNIDADE 2

3.6 DESCONSIDERAÇÃO
DA PERSONALIDADE JURÍDICA

É regra no Direito Societário a existência da sociedade de forma distinta de seus


membros. Ou seja, o patrimônio da sociedade não se mistura com o patrimônio de seus sócios,
respondendo cada qual por suas dívidas.

Porém, o CDC permite ao juiz “desconsiderar a personalidade jurídica” da sociedade,


quando em prejuízo do consumidor”, segundo Silva (2005), nos casos em que:

l houver abuso de direito;


l excesso de poder;
l infração da lei;
l fato ou ato ilícito ou violação de estatuto ou contrato social;
l falência;

l estado de insolvência;
l encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração;
l quando a personalidade jurídica for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos

causados aos consumidores, ou seja, quando a personalidade jurídica for utilizada para
frustrar a concretização dos direitos do consumidor.

3.7 PROTEÇÃO DOS CONTRATOS DE CONSUMO

Em razão do princípio de que o consumidor é hipossuficiente, o CDC traz princípios e


normas que deverão ser obrigatoriamente observados nas relações contratuais que envolvem
o consumo. Estas normas são de ordem pública, ou seja, as partes não poderão modificá-las
por sua vontade.

N
O A exemplo, veja o que estabelece o art. 47 do CDC (SILVA, 2005, p. 42): As cláusulas
Ç contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.
Õ
E
S

D
E S!
DICA

D
I Entre no site do IDEC (www.idec.org.br) e veja a versão atualizada
R do CDC. Leia o Capítulo VI, que trata da Proteção Contratual.
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 5 99

Neste capítulo, você encontrará disposições legais que se aplicam à relação contratual e
que envolve a relação contratual de consumo. Dentre estes artigos, destacamos a possibilidade
de o consumidor desistir do contrato, a proibição de haver cláusulas abusivas, o tratamento
diferenciado do contrato de adesão, a nulidade de cláusulas que importem na perda de parcelas
pagas etc.

3.8 PUBLICIDADE E PROPAGANDA

O CDC regulamenta também a publicidade, especialmente no que se refere à oferta


de produtos e serviços, também como reflexo do reconhecimento da hipossuficiência do
consumidor.

Sobre a publicidade, exige o CDC, de acordo com Silva (2005):

l sua fácil identificação pelo consumidor (art. 36);


l proibição de publicidade enganosa ou abusiva (art. 37).

O próprio CDC traz os conceitos de publicidade enganosa no §1º e de publicidade


abusiva no §2º (SILVA, 2005, p. 43):

§1º - É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de


caráter publicitário inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo,
mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da
natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço
e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. (grifamos)

§2º - É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer na-


tureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite
da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores
ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de
forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança (grifo nosso).

Também é enganosa a publicidade, segundo o §3º do art. 37, “por omissão quando
N
deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço”. O
Ç
Õ
A utilização da publicidade enganosa ou abusiva gerará para o fornecedor responsabilidade E
civil, penal e administrativa, previstas no próprio Código de Defesa do Consumidor. S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
100 TÓPICO 5 UNIDADE 2

S!
DICA

Indicamos os seguintes sites, que cuidam dos direitos do


consumidor que constam no portal Terra: <http://cidadania.terra.
com.br/interna/0,,OI89570-EI1239,00.html>: sites das agências
reguladoras: <www.aneel.gov.br> (agência nacional de energia
elétrica; <www.anp.gov.br> (agência nacional de petróleo); <ans.
gov.br> (agência nacional de saúde suplementar); <Anatel.gov.br>
(agência nacional de telecomunicações); <www.anvisa.gov.br>
(agência nacional de vigilância sanitária). Também é importante
que você conheça os órgãos de proteção do consumidor: IDEC
– INSTITUTO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. (www.idec.org.br) –
PROTESTE – Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (www.
proteste.org.br) e também o PROCON de cada Estado.

4 DIREITO AMBIENTAL

O Direito Ambiental “é composto das normas jurídicas que cuidam do meio ambiente
em geral, tais como a proteção de matas, florestas e animais a serem preservados, o controle
de poluição e do lixo urbano” (NUNES, 2003, p. 132).

Na legislação ambiental, encontramos não só disposições de proteção ao meio ambiente,


mas também penalidades e outras sanções para quem descumprir suas regras. Sobre esta
“multidisciplinaridade”, extraímos do site do Instituto Brasileiro de Produção Sustentável, o
conceito de Direito Ambiental:

É um dos mais modernos ramos do direito. É multidisciplinar, pois se utiliza de institutos


N de direito penal, civil e administrativo para tornar efetivas suas normas, visando regular a relação
O do homem e seus meios de produção com a natureza, como forma de permitir o equilíbrio dessa
Ç
Õ
relação, dando sustentabilidade ao desenvolvimento e minimizando os efeitos degradantes
E sobre o meio ambiente. Pode-se dizer que é um direito indutor de um novo paradigma de
S
relação entre o homem e o meio ambiente.
D
E Além da Constituição Federal, há outras normas de direito ambiental na legislação
D esparsa.
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 5 101

RESUMO DO TÓPICO 5

Neste tópico você aprendeu que:

l O Direito do Trabalho “regulamenta as relações trabalhistas, ou seja, entre empregado e


empregador (patrão)”.

l As relações trabalhistas, são objeto do Direito do Trabalho sejam elas individuais (entre
empregado e empregador) ou coletivas.

l As relações entre fornecedor e consumidor são objeto do Direito do Consumidor.

l O CDC traz diversas disposições sobre proteção contratual, publicidade e ainda as hipóteses

em que se permite a desconsideração da pessoa jurídica.

l O Direito Ambiental traz as regras que regem a proteção do meio ambiente, sendo um direito

multidisciplinar.

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
102 TÓPICO 5 UNIDADE 2


IDADE
ATIV
AUTO

Para verificar seu aprendizado, responda ao questionário a seguir:

1 Cite três institutos que são regulados pelo Direito do Trabalho.

2 Por que se diz que a responsabilidade do fornecedor é objetiva?

3 Qual é o prazo de prescrição para reclamar por vício aparente ou de fácil constatação
em um produto ou serviço?

4 Cite uma hipótese prevista no CDC que é prazo de decadência.

5 Cite três hipóteses em que o juiz desconsidera a “personalidade jurídica da sociedade,


quando em prejuízo do consumidor”.

6 Havendo dúvida na interpretação de um contrato referente à relação de consumo,


como se deve resolver o impasse?

7 O que caracteriza a publicidade enganosa?

8 O que caracteriza a publicidade abusiva?

9 Quando a publicidade por omissão deixar de informar sobre dado essencial do


produto ou serviço será tratada pelo CDC como qual tipo de publicidade?

10 Por que se diz que o Direito Ambiental é multidisciplinar?


N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2

TÓPICO 6

DIREITO PÚBLICO EXTERNO:


DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

1 INTRODUÇÃO

Como último tópico desta unidade, trazemos noções gerais de direito internacional
público.

Accioly e Silva (2005, p. 1) conceituam o Direito Internacional Público como sendo: “O


conjunto de regras e princípios destinados a reger os direitos e deveres internacionais tanto
dos Estados, de certos organismos interestatais, quanto dos indivíduos”.

O Direito Internacional cuida, assim, das relações entre os Estados entre si e entre
seus integrantes, que são instrumentalizadas em acordos (tratados e convenções) que são
respeitados por aqueles que o firmaram.
         
São, assim, fontes do direito internacional público: convenções internacionais; o costume
internacional; os princípios gerais de direito, decisões judiciárias, doutrina dos publicistas,
tratados e convenções internacionais.


OS!
FU TUR
DOS N
ESTU
O
Ç
Prezado(a) acadêmico(a): A Globalização é um fenômeno que também
Õ
atinge a atividade empresarial e interfere na questão da segurança
E
jurídica. É um tema interessante e atual. Caso queira saber um pouco
S
mais sobre este assunto, sugerimos a leitura do texto “GLOBALIZAÇÃO,
ATIVIDADE EMPRESARIAL E A SEGURANÇA JURÍDICA, de Adyr Garcia
D
Ferreira Neto, disponível no site <http://www2.uel.br/revistas/direitopub/
E
pdfs/volume_2/num_1/adyr%20garcia.pdf>.
D
I
R
E
I
T
O
104 TÓPICO 6 UNIDADE 2

LEITURA COMPLEMENTAR

A RESPONSABILIDADE SOCIAL DA EMPRESA COMO ATITUDE POSITIVA ORIENTADA


PELA LEI

SANDRA APARECIDA LOPES BARBON LEWIS, doutora e mestre em Direito do


Estado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), advogada especialista
em Direito Tributário, Direito do Terceiro Setor e consultora em Responsabilidade Social para
Organizações.

SUMÁRIO: I – Uma breve definição de responsabilidade social; II – Responsabilidade


Social não é Filantropia; III – Responsabilidade Social como Orientação Legal; IV - A proposição
de uma Lei Social; V – Conclusões.

Almeja-se demonstrar com o presente artigo que aquilo que as empresas realizam sob
o rótulo da “responsabilidade social” nada mais é do que decorrência da lei ou orientação legal.
Em razão das modernas legislações que preconizam um tratamento adequado à relação da
empresa com o consumidor, com o meio ambiente, com o trabalhador, com o público externo,
dentre outros, seja em razão de incentivos, em especial tributários, em alguns casos obriga-
se, em outros, motiva-se a empresa a exercer sua atividade de modo a obter um desempenho
consentâneo com a melhoria das condições socioeconômicas e ambientais.

Dado o intuito, conceituar-se-á filantropia, para se afirmar que a mesma não se confunde
com responsabilidade social, cotejar-se-á a legislação que autoriza compreendê-la como uma
orientação ou decorrência legal e, por fim, invocar-se-á proposição de uma Lei Social, como
forte argumento a embasar a tese ora defendida, em especial para desmistificar a ideia segundo
a qual a responsabilidade social é ato voluntário das empresas. A pergunta que se faz neste
contexto é: quais são os motivos que ensejam uma atuação socioeconômica e ambientalmente
orientada por parte da empresa? Será que a principal motivação advém de uma preocupação
das empresas com o social, com o ambiental e o econômico? Ou será que a lei constitui
N instrumento motivador de uma conduta responsável, na maioria das vezes?
O
Ç
Õ I – Uma breve definição de responsabilidade social. A utilização da expressão
E Responsabilidade Social virou “moda” nos últimos tempos. Várias são as empresas que se dizem
S
responsáveis sob o ângulo social ou, num espectro mais amplo, socioeconômico e ambiental.
D Para se ter um parâmetro ao desenvolvimento do presente artigo, adota-se a definição conferida
E
pelo Instituto Ethos, na seguinte linha: “Empresa socialmente responsável é aquela que possui
D capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas,funcionários, prestadores
I
R
de serviços, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio ambiente) e conseguir
E incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos
I
e não apenas dos acionistas ou proprietários, além de pressupor o bom relacionamento da
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 6 105

empresa com seus públicos”.

A definição acima traz implícita a ideia do que seja um comportamento socialmente


orientado por parte da empresa. Estabelecida esta ideia, precisa-se saber se a empresa atua de
modo responsável socialmente por mera liberalidade ou voluntariedade (porque simplesmente
quer, em razão de sentimentos humanitários), em razão de uma obrigação legal ou estimulada
pelos incentivos especialmente fiscais em razão daquela atuação vislumbrados.

II – Responsabilidade Social não é Filantropia. Responsabilidade social não se


confunde com filantropia. Fabiane BESSA defende que a filantropia foge ao objeto da empresa,
para se inserir na ideia de humanitarismo e de voluntariedade, sendo perfeito retrato da seguinte
conjuntura: “abro meu bolso, minha carteira, se eu quiser”. Ao contrário, a atuação empresarial
socialmente orientada dá-se na execução das atividades inerentes ao negócio, ao objeto
social da empresa, de forma a obter o melhor desempenho, implicando necessariamente a
observância da legislação, de forma a se institucionalizar a ação voltada à observância estrita
dos direitos dos consumidores, dos trabalhadores, dos fornecedores, dentre outros stakeholders
(partes interessadas) que com a empresa se relacionam. Ademais, além de fugir à atividade
empresarial, a filantropia vai além da lei. Melhor dizendo: a empresa faz algo a que não está
obrigada. Assim, a criação de uma fundação cultural não se enquadra no objeto social descrito
no contrato social de uma indústria metalúrgica, não representando esta atitude da empresa,
em que pese seus reflexos sociais, responsabilidade social, mas em mera filantropia.

Recentemente, a propósito, este ponto de vista foi reforçado em importante artigo escrito
por Michael PORTER, no qual critica o equívoco em se entender a responsabilidade social
como sinônimo de filantropia, em especial porque ações meramente filantrópicas são incapazes
de patrocinar melhorias estratégicas para a empresa. Ricardo VOLTOLINI, no artigo “Porter e
a responsabilidade social empresarial”, descreve, brevemente, a tese de Porter: “O resultado
é a fragmentação de ações, uma mistura de iniciativas filantrópicas e medidas paliativas que
até produzem algum dividendo de relações públicas, mas, isoladas, não geram resultados
transformadores nem para as comunidades nem para o êxito empresarial”. Percebe-se, portanto,
que responsabilidade social não é o mesmo que filantropia, consistindo a responsabilidade social
N
no privilégio de ações relacionadas ao objeto social da empresa, que tenham a capacidade de O
fazer o melhor em termos estratégicos para a empresa e para a sociedade, diante dos reflexos Ç
Õ
ambientais, culturais, sociais, econômicos e trabalhistas. E
S

III – Responsabilidade Social como Orientação Legal D


Como decorrência da função social da propriedade e dos valores que devem ser E

realizados pela ordem econômica, tais como defesa do consumidor, defesa do meio ambiente, D
redução das desigualdades sociais e regionais, entre outros, como preconizado pela I
R
Constituição Federal de 1988 (CF/88), e, por conseguinte, pelas inúmeras legislações que E
vêm sendo editadas, as empresas passam a ser motivadas e em alguns casos obrigadas a I
T
adotarem determinadas atitudes consideradas socioeconômica e ambientalmente responsáveis.
O
106 TÓPICO 6 UNIDADE 2

Diante disso, autoriza-se dizer que a Responsabilidade Social é, sobretudo, uma


orientação legal. Conclusão que se coaduna, a propósito, com o espírito dirigente da Constituição
Federal de 1988 de concretizar uma sociedade livre, justa e solidária.

Vale dizer, é como se as empresas fulcrassem seus planejamentos estratégicos a partir


de ações preconizadas pela legislação, relativas ao envolvimento da empresa com todos os
segmentos interessados, quais sejam: consumidores, trabalhadores, fornecedores, governo,
ambientalistas, entre outros stakeholders. Como assevera Fabiane BESSA, “quando a empresa
potencializa os vetores legais atinentes à sua atividade, quando suas opções estratégicas
dirigem-se a produzir ou prestar serviço de maneira a trazer melhor desempenho social,
ambiental ou adotando práticas econômicas que promovam a concorrência saudável e leal,
está-se diante de uma atuação imbuída de responsabilidade social: a lei brasileira não obriga
a que a empresa se responsabilize por todo o ciclo de vida do seu produto. Mas, se a própria
empresa assume esta responsabilidade, trata-se de uma expressão de responsabilidade social”.

Embora a responsabilidade social não componha o objeto social da empresa, é


indubitável que é a partir das ações empreendidas para a execução do seu objeto social que
a empresa revelar-se-á responsável socioeconômica e ambientalmente ou não. Quer-se com
isso dizer, por exemplo, que é responsável a empresa que no trato com o consumidor, figura
integrante das atividades praticadas para a concretização do objeto social, obedecederá às
normas ditadas para sua proteção, responsabilizando, como no exemplo acima dado, por todo
o ciclo de vida do produto.

Diante disso, adotar uma postura socialmente responsável não é exercício de filantropia,
beneficência, mas estrita observância à lei naquilo que se refere à atividade desempenhada
pela empresa, com o intuito de obter o melhor desempenho possível em termos estratégicos
empresariais e reflexos sociais, econômicos e ambientais para os públicos e segmentos com
os quais a empresa se relaciona.

No âmbito do ordenamento jurídico brasileiro, verifica-se a existência de normas voltadas


a estatuir que é dever das empresas atuar de modo responsável. Em decorrência das diretrizes
N
O constitucionais, há toda uma disciplina infraconstitucional, no sentido de orientar a atuação da
Ç
empresa no contexto da defesa do consumidor, da promoção, defesa e preservação do meio
Õ
E ambiente, da promoção da cultura, entre outros. Em breve remissão, as principais disposições
S da Constituição Federal e da legislação infraconstitucional que orientam socioeconômica e
D ambientalmente a conduta empresarial: Constituição Federal de 1988: art. 1º da CF/88 -
E princípios fundamentais da República Federativa do Brasil, dentre os quais se destacam a
D cidadania, a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
I art. 3º da CF/88 –objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, dentre os quais se
R
E destacam a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a garantia do desenvolvimento
I nacional, a erradicação da pobreza e a redução das desigualdades sociais e regionais, a
T
O
promoção do bem de todos; art. 5º, XXIII – a propriedade atenderá à sua função social; art.
UNIDADE 2 TÓPICO 6 107

170 – dos princípios gerais da atividade econômica; art. 185, parágrafo único, 186 e 219 –
critérios. Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios: I - soberania nacional; II - propriedade privada; III
- função social da propriedade; IV - livre concorrência; V - defesa do consumidor; VI - defesa
do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental
dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; VII - redução das
desigualdades regionais e sociais; VIII - busca do pleno emprego; IX – tratamento favorecido
para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede
e administração no País. Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer
atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos
previstos em lei, para o atendimento da função social da propriedade e desapropriação ante
o não atendimento daquela.

Legislação infraconstitucional: Código Civil; Legislação Ambiental; Norma Brasileira


Contábil n. 15 de 01/01/2006; Resolução do Conselho Federal de Contabilidade n. 1003 de
19/08/2004; Legislação de Deficientes Físicos; Código de Defesa do Consumidor; Consolidação
das Leis Trabalhistas. No âmbito das políticas públicas, exemplos de condutas socioeconômica
e ambientalmente orientadas pela Lei: Lei Rouanet; Programa Nacional de Apoio à Cultura;
Programa de Atividade Audiovisual; Fundos de Direitos da Criança e do Adolescente; Benefícios
para o Trabalhador; Doações às Entidades Sem Fins Lucrativos; Imunidade Tributária das
Instituições sem Fins Lucrativos; Programas Governamentais de Responsabilidade Social com
participação do Setor Privado – Parcerias; Programas Governamentais de Responsabilidade
Social com participação do Setor Privado – Parcerias; Projetos Sociais; Incentivos à Pesquisa;
Incentivos aos Programas de Educação; Incentivos aos Programas de Meio Ambiente; Incentivos
aos Programas de Assistência Social; Incentivos à Pesquisa Tecnológica; Programas de Inclusão
Digital. A propósito, é em forma de obrigações que a UNCTAD, no documento denominado Social
Responsability (2001), contempla a responsabilidade social. Assim, este documento menciona
obrigações para com o desenvolvimento, obrigações sociopolíticas, obrigações para com o
consumidor, obrigações corporativas, obrigações para com a promoção dos direitos humanos.

N
IV – A proposição de uma Lei Social O
A procedência das assertivas acima se revela a partir da existência das legislações e Ç
Õ
políticas públicas acima mencionadas, em especial relativamente àquela que orienta a adoção E
do balanço social. Lívio GIOSA, convicto da importância da lei como instrumento motivador da S

responsabilidade social, propõe a confecção de uma lei social, capaz de permitir incentivos D
fiscais ou isenções em parte de tributos federais, estaduais ou municipais, de ensejar a prestação E

de contas das empresas, sob a forma do balanço social com o aval de uma auditoria externa, D
comprovando a aplicação destes recursos e os resultados obtidos. Para Lívio GIOSA, “Esta I
R
seria a verdadeira revolução social do Brasil. Um chamamento coletivo para uma performance E
inédita no país carente até de boas ações. Milhões de organizações e pessoas interessadas, I
T
voluntárias ou obrigadas. Não importa. O que importa é a causa, é o combate à miséria e à
O
108 TÓPICO 6 UNIDADE 2

pobreza de uma forma ampla, completa e irrestrita”. Essa Lei Social, não obstante já se tenha
inúmeras leis no Brasil fundamentando a atuação socioeconômica e ambientalmente orientada
das empresas, talvez contribuiria para fomentar ainda mais esta atuação e para firmar o
entendimento de que a responsabilidade social decorre da lei.

V – Conclusões
Diante das breves considerações acima lançadas, têm-se as seguintes conclusões:

1. Responsabilidade Social não se confunde com Filantropia, consistindo esta em ações diversas
do objeto da empresa e realizadas além daquilo preconizado pela lei e a responsabilidade
social, ao contrário, de atitudes ligadas ao objeto social da empresa e orientadas pela lei.
2. Responsabilidade Social é uma conduta orientada pela lei, resultando numa opção
estratégica da empresa, por motivos relacionados a um desempenho empresarial ótimo e com
reflexos sociais, seja ainda em razão dos incentivos fiscais decorrentes desta atuação.
3. A proposta de criação de uma Lei Social reafirmaria o ora defendido, de que a Responsabilidade
Social decorre da Lei, bem como contribuiria para fomentar condutas socioeconômicas e
ambientalmente orientadas por parte da empresa.

Fonte: BESSA, Fabiane Lopes Bueno Netto. Responsabilidade Social das Empresas – Práticas
Sociais e Regulação Jurídica. Rio de Janeiro: Editora Lumen Júris, 2006, p. 140-141.
VOLTOLINI, Ricardo. Porter e a responsabilidade social empresarial. Gazeta Mercantil,
sexta-feira, 23 de Fevereiro de 2007. Disponível em: <www.gazeta.com.br/integraNoticia.aspx?>. Acesso
em: 23 fev. 2007.
GIOSA, Lívio. Responsabilidade Social forma um novo retrato das organizações brasileiras. Revista
Brasil Responsável, São Paulo. Disponível em: <www.liviogiosa.com.br>. Acesso em: 7 mar. 2007.

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 6 109

RESUMO DO TÓPICO 6

Neste tópico, resumidamente, você estudou:

l O Direito Internacional Público como ramo do Direito Público externo.

l O Direito Internacional Público cuida das relações entre os Estados entre si e entre seus
integrantes.

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
110 TÓPICO 6 UNIDADE 2


IDADE
ATIV
AUTO

1 A qual ramo do Direito pertence o Direito Internacional Público?

2 Qual o principal objetivo do Direito Internacional Público?

3 Cite as principais fontes do Direito Internacional Público.

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
UNIDADE 2 TÓPICO 6 111

IAÇÃO
AVAL

Prezado(a) acadêmico(a), agora que chegamos ao final da


Unidade 2, você deverá fazer a Avaliação referente a esta unidade.

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O
112 TÓPICO 6 UNIDADE 2

N
O
Ç
Õ
E
S

D
E

D
I
R
E
I
T
O

Você também pode gostar