O documento descreve o sistema político do coronelismo no Brasil durante o período da República Velha. Os coronéis eram líderes políticos e econômicos que controlavam as eleições locais e garantiam o apoio político dos governadores. As eleições eram fraudulentas e apenas uma pequena porcentagem da população participava do processo eleitoral. O coronelismo se baseava em laços de compadrio e clientelismo que consolidavam o poder dos coronéis nas regiões.
Descrição original:
Resumo sobre o sistema coronelista, parte 3 do capitulo XIV do livro Os donos do Poder, de Raymundo Faoro
O documento descreve o sistema político do coronelismo no Brasil durante o período da República Velha. Os coronéis eram líderes políticos e econômicos que controlavam as eleições locais e garantiam o apoio político dos governadores. As eleições eram fraudulentas e apenas uma pequena porcentagem da população participava do processo eleitoral. O coronelismo se baseava em laços de compadrio e clientelismo que consolidavam o poder dos coronéis nas regiões.
O documento descreve o sistema político do coronelismo no Brasil durante o período da República Velha. Os coronéis eram líderes políticos e econômicos que controlavam as eleições locais e garantiam o apoio político dos governadores. As eleições eram fraudulentas e apenas uma pequena porcentagem da população participava do processo eleitoral. O coronelismo se baseava em laços de compadrio e clientelismo que consolidavam o poder dos coronéis nas regiões.
Desde as reas urbanas, nas elites, ao campo, seja no distrito, no
municpio, o povo que votava e decidia, calava e obedecia, permaneciam mudos as ordens do senhor da soberania. No campo, o coronel preguioso, pomposo e autoritrio, com seus ditos conhecimentos, municipalizava as expresses eruditas, convertendo o freio jurdico ao seu prprio sentido e contedo para o vocabulrio sertanejo. Durante o regime republicano, o qual extinguiu o regime censitrio (requisitado durante o regime imperial), porm mantendo o capacitrio, em 1898, a primeira eleio presidencial com comparecimento de todos os estados, obteve um incremento de 300% sob as eleies de 1886, ainda assim, apenas 2,7% da populao participaram. Da em diante s a eleio de 1930 conseguiu levar as urnas mais de 1 milho de eleitores, entre 1898 e 1926, os nmeros oscilavam de 3,4% e 2,3%. A tendncia impressiona se levar em conta que a populao alfabetizada se projetou de 14,8% em 1890 para 24,5% em 1920. A repblica velha continuou, sem quebra, o movimento restritivo de participao popular. A transio no setor de comando se fez gradativamente, durante o sistema imperial com os nomeados e no eleitos presidentes da provncia, e, apoio da corte com a guarda nacional. Nos primeiros anos de republica, com o exercito na chefia - nomeao que ainda seria regra com Floriano -, a estrutura no sofreu alteraes. Dentro desse seguimento, surge o coronelismo. O fenmeno coronelista no novo. Novo ser sua colorao estadualista e sua emancipao no agrarismo republicano, mais liberto das peias e das dependncias econmicas do patrimonialismo central do Imprio. O coronel recebe seu nome da Guarda Nacional, cujo chefe, do regime municipal, investia-se daquele posto, devendo nomeao recair sobre pessoal socialmente qualificada, em regra detentora de riqueza, medida que se acentua o teor da classe da sociedade. Ao lado do coronel legalmente sagrado prosperou o coronel tradicional, tambm chefe poltico e tambm senhor dos meios capazes de sustentar o estilo de vida de sua posio. Homens ricos, ostentando vaidosamente os seus bens de fortuna, gastando os rendimentos em diverses licitas e ilcitas. Foram tais coronis os
que deram ensejo ao significado especial que to elevado posto
militar assumiu, designando demopsicologicamente o individuo que paga as despesas. E, assim, foi introduzido o vocbulo coronelismo na evoluo poltico-social do pas, particularmente na atividade partidria dos municpios. O coronel antes de ser um lder poltico, era lder econmico, no necessariamente, como se diz sempre, o fazendeiro que manda nos seus agregados, empregados ou dependentes. Ocorre que o coronel no manda porque tem riqueza, mas manda porque se lhe reconhece esse poder, num pacto no escrito. Ele recebe ou conquista, uma delegao fluida de origem no imprio, de fonte estadual na Republica, qual graas a ela ficar sua autoridade era superior aos vizinhos. O vinculo lhe outorgava poderes polticos. A passagem do regime imperial ao republicano acentuou a funo eleitoral do coronel. Aps um debate de cpula, envolvendo interesses de adesistas, os homens do fato consumado, e dos pretendentes ao comando absoluto do novo regime, dentre dois atos bsicos, existia o Regulamento Alvim, qual atrelou os chefes polticos municipais ao governo estadual, com a atrofia dos ncleos locais. Mesmo aps mudanas, as eleies continuavam como as demais de outros tempos, sem que a Repblica trouxesse, como prometera antes, a soberania popular. As eleies, confiada aos governadores continuaria tudo na trilha costumeira, tornando eletivos os velhos presidentes de provncia. O coronelismo se manifestava num compromisso, uma troca de proveitos entre o chefe poltico e o governo estadual. Entre os coronis, havia um vinculo afetivo, um lao de amizade, que atenuava e amenizava a subordinao. Em regra o compadrio unia os aderentes ao chefe, enquanto o chefe gozava da confiana do grupo qual dirigia, enquanto prestava favores. Do compadrio, depurava-se o compadre-mor, resultados obtidos eram diferentes quando se tinha um compadre ou um padrinho para interceder; Quem tem padrinho no morre pago, agora o bom atendimento tornava-se questo de prestigio. O benfeitor tinha ao seu lado, tinha a medida que a sociedade se tornava mais complexa, um corpo de assessores: mdico, advogado, padre, coletor. O antes fazendeiro vai cedendo posio, gradativamente, ao comerciante
urbano, ao profissional liberal, que passa, depois de associado, a
dominar o sistema. O coronel era, acima de tudo, um compadre, comprometido a velar pelos afilhados, obrigados estes a acatar e respeitar os padrinhos. O eleitor votava nos coronis no porque temia a presso, mas por uma espcie de dever sagrado, que a tradio amoldava. O coronelismo, o compadrazgo latino-americano, a clientela italiana e siciliana, participavam da estrutura patrimonial. O patrimonialismo fragmentava-se num local isolado, de modo a converter o agente publico em um cliente, dentro de uma extensa rede clientelista. O coronel utilizava-se de seus poderes pblicos para fins particulares. O governo estadual contava com a fora policial, para garantir os congressistas. Durante esse momento, entretanto, invertem-se as posies: os motins populares, cuja represso seria sangrenta, levaram o comandante da regio militar a recolher a policia nos quartis e policiar a cidade com o exercito. O quartel principal rendeuse ao povo. A ento agora chamada Poltica dos Governadores, se afirma ainda mais uma vez, uma vez que o estado no podia armar contra suas origens para demolir as oligarquias estaduais. O candidato oposicionista, Rui Barbosa, muito andou para encontrar uma mesa, onde depositar seu voto. As sees que no se reuniram forjaram, fabricadinhas com todas as circunstancias do estilo, as atas legais. Aqui, denuncia o candidato j no alistamento se fabrica o eleitorado. Depois, ou lhe simulam a presena, ou lha obstam, na eleio. Quem vota e elege, so as atas, onde se figuram, umas vezes com o requintado apuro dos estelionatos hbeis, outras com a negligencia desasada e bezuntona das rapinagens vulgares, os comcios eleitorais, de que nem noticia houve nos stios indicados pelos falsrios, pelo teatro de cada uma dessas operaes eletivas. As reaes dos vencidos, por trs vezes, sacodem a nao: em 1910, com menos intensidade, em 1922, abalando as instituies, em 1930, destruindo a ordem. No poderia emergir o povo, sua opinio contra a farsa eleitoral, porque, sob o pas oficial, o mundo se encontrava informe.
CARVALHO, José Murilo De. Mandonismo, Coronelismo e Clientelismo - Uma Discussão Conceitual. In-CARVALHO, José Murilo De. Pontos e Bordados. Belo Horizonte. Ed. UFMG, 1998