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Karen Guimarães Bonfim

Texto resenhado: “Coronelismo, Enxada e Voto”. Leal (1997), Victor Nunes. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira. Capítulo I.

Victor Nunes Leal foi um jurista brasileiro, mas também exerceu o jornalismo, foi
professor de política, chefe da casa civil no governo JK e também foi ministro do
Supremo Tribunal Federal. Como professor, teve foco o estudo sobre o regime
representativo no Brasil e os municípios.

O objetivo da presente resenha é analisar a obra e a contribuição de Victor Nunes Leal


com sua dissertação sobre o coronelismo no Brasil e suas questões, para um melhor
entendimento do que foi e quais eram as estruturas envoltas nele, segundo Leal.

A ideia central da obra é explicar e discorrer sobre a estruturação e também a interação


que o cabresto conduzia sobre os trabalhadores rurais durante as eleições e todo o
contexto da república velha, a falta de organização nessa conjuntura politica e social,
como também as relações entre candidatos para o governo e os ditos coronéis e suas trocas
de favores.

É interessante pensar que o cabresto não estava envolto somente na época de eleições,
pois durante toda a vida desses moradores de zonas rurais, os coronéis estavam ali como
senhores que os ajudavam ao longo dos anos, das épocas de safra, lhes emprestando
ferramentas ou dinheiro em momentos de dificuldade financeira. Por essas razões essa
população era fiel a figura do coronel e aceitavam o que lhes era imposto no período
eleitoral, já que o coronel podia ser visto como a figura do Estado naquela região dada
sua influência e seu poder. Dessa forma, os coronéis conseguiam condicionar o voto
daquela população.

Em conseguinte, Leal afirma que na realidade estes coronéis não eram tão possuidores
de dinheiro como se viam, mas pensando na realidade da população rural ao redor, que a
eles faltava conforto e mínimas condições de vida, um coronel com uma boa residência,
uma boa plantação e animais, vivia de uma forma muito “rica” por assim dizer e possuíam
credibilidade com aquela população. Contudo, esses coronéis possuíam dividas, hipotecas
e tentativas de buscar credito financeiro.

Dessa forma, partindo dessas dividas e tentativas de credito que o autor consegue
também relacionar o coronelismo com o poder público, porque sendo essa figura de poder
os coronéis conseguiam fazer negociações com o poder público e em troca conseguir
votos para determinado candidato do governo e fazer com que tivesse “credibilidade”
naquela região, torna-lo seu afilhado politico de certa forma e conseguirem notoriedade
talvez, pois ali o coronel era o Estado por razão da ausência de Estado verdadeiro.

Ademais, não deixa de ser complexa a afirmação de Leal, pintando o coronel como a
figura que se importa com o bem estar social daquele meio, quase como pai daquela
população, se pode discordar um pouco dessa “preocupação” e talvez afeto dos ditos
coronéis com esses moradores, tendo o entendimento que possivelmente era a forma
utilizada para se colocarem como figura de poder e preocupação com o bem geral, mas
apenas por razões importantes para manterem-se em uma boa posição hierárquica. Se o
coronel estivesse em um bom alinhamento com o governo e o governo com o coronel,
essa posição estava plenamente consolidada, o governo garantia seus votos necessários e
os coronéis seguiam como mandatários de suas regiões livremente com essa via de mão
dupla.

Em suma, se compreende como Victor Nunes Leal traz muito ricamente a relação e
organização desse Estado durante a república velha e as relações com as figuras do
interior, dita a do coronel e essa nova esfera do privado x público nessa conjuntura de
poder e de certa forma também o receio das figuras do coronelismo de perderem sua força
nesse meio.

A obra é clássica e muito bem organizada, trazendo dados e estatísticas bem estruturadas
sobre essa situação política brasileira da época e é uma leitura muito interessante para
quem possui desejo em compreender o coronelismo e essa correlação com o poder público
e também o pensamento social brasileiro com um viés mais forte na esfera política, sendo
das áreas de sociologia, ciência política e as ciências sociais no geral e também
interessados em história do Brasil.

Referencias:

https://portal.stf.jus.br/ostf/ministros/verMinistro.asp?periodo=STF&id=108

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