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Karen Guimarães Bonfim

Texto resenhado: Moura, Clóvis. “ Rebeliões da Senzala: quilombos,


insurreições, guerrilhas .5º ed. São Paulo: Anita Garibaldi/ Fundação
Maurício Grabois,2014. Quilombos e Guerrilhas. Pág.87 a 127.

Clóvis Moura ( 1925 -2003) foi um sociólogo, historiador e jornalista brasileiro, nascido
no estado do Piauí e teve como base de pesquisa sociológica e histórica o estudo do negro
no Brasil e as rebeliões e organizações de quilombos no período escravagista.

Em “Rebeliões da Senzala, Clóvis Moura discorre sobre a luta dos escravizados em


manter os quilombos e as formas de organização social e sobrevivência dos mesmos para
resistirem, e também como as autoridades da época lidavam e tentavam frear as ações dos
negros em busca da sua liberdade, com a formação de pelotões pelos governantes e
financiamento pelos senhores para destruição dos quilombos.

O autor cita manuscritos para desenvolver a obra como um todo, sempre citando
situações, ocasiões e nomes dos envolvidos históricos, o que por algumas vezes, pelo
excesso, dificulta o fluxo da leitura e da compreensão. Ele busca trazer a historicidade
dos fatos baseando-se nessas fontes e trechos que em determinados momentos se põem
como presumidos pela falta de possibilidade de serem confirmados.

A obra traz informações muito interessantes sobre como os escravos realizavam suas
fugas e métodos para conseguirem se manter a salvo nos quilombos, explicando casos de
assaltos, fossem para conseguir mantimentos ou armamentos para a fortificação e
proteção do quilombo, sendo o quilombo de Campo Grande o mais citado. Traz também
os vários momentos de confronto com as autoridades senhoris e capitães do mato, mas
também o alinhamento de quilombolas com contrabandistas de diamantes ( em Minas
Gerais).

Contudo, mesmo com as autoridades fazendo inúmeras batidas, os quilombolas seguiam


a traçar formas de se manter, fosse por comércios ilegais ou então assaltando sítios e
fazendas, incentivando os escravizados a se revoltarem contra os senhores e incendiando
suas fazendas e plantações. Porém, mesmo com grande resistência quando as autoridades
faziam batidas e buscas mais duras era difícil não sucumbir com a falta de aparatos e
armamentos.
Outra análise com base na historiografia que o autor traz é a que os quilombos que melhor
se sucederam foram os que tinham comunicação direta com as senzalas, o que facilitava
o adquirimento de alimentos e não limitava os quilombos a se estabelecerem em um local
específico para plantações. Dessa forma, a fuga era mais fácil e também o recebimento
de informações sobre batidas.

Moura discorre e traz a tona muito ricamente os detalhes desse lado da história e como
os próprios escravos tiveram papel central na luta e resistência contra a escravidão e não
eram pacíficos e submissos como costumam argumentar. A maior problematicidade é
que, buscando trazer e citando falas, manuscritos e histórias, não seja possível captar uma
maior dissertação nas próprias palavras do autor, o que algumas vezes gera a sensação de
apenas estar lendo a narração dos acontecimentos. Em conclusão, o texto apesar das
ressalvas tem um peso muito grande para uma melhor compreensão das ações dos
quilombos e do protagonismo dos negros na busca do fim da escravidão, com detalhes
muito ricos.

Com base na estruturação do texto e na grande tomada historiográfica que Clóvis Moura
coloca em “Rebeliões da Senzala: quilombos, insurreições, guerrilhas”, se pode dizer que
seria uma leitura muito instigante para discentes de história ( com ênfase em história do
Brasil) e interessados em estudar o Brasil colônia e a luta abolicionista pelo viés dos
escravizados, como também a formação social brasileira dos negros a partir desses
acontecimentos e do processo de marginalização .

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