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Estudante: Liriel Alves Barbosa – 21.1.

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Pergunta: "Com base nos textos referidos, aponte e análise algumas das formas de
afirmação e contestação da ordem colonial na sociedade mineira setecentista".

Ao decorrer deste texto, irei destacar ideias, suposições e teses, sobre a vida
colonial em Minas Gerais. Incluindo, a vida dos povos indígenas, dos negros – livres e
alforriados – e daqueles que junto a coroa Portuguesa controlavam a colônia.
O primeiro texto é o do autor Rodrigo Bastos, “O urbanismo conveniente luso-
brasileiro” (2012). A tese que proponho trabalhar primeiro, seria sobre a necessidade de
uma organização social/estrutural do território mineiro, para que houvesse um melhor
controle da Coroa (2012, pág. 23).
O autor descreve, usando outros escritores como Carla Anastasia e Flávio da
Silva, como era necessário primordialmente que a capitania de Minas Gerais, houvesse
uma implementação dura de controle com as formações sociais urbanas. Visto que, a
busca pelo minério foi o elemento fundador desta capitania, diferente das outras
capitanias, que se baseavam no cuidado com o gado ou na agricultura. Havia, pois, a
necessidade de regulamentação e observância de perto das vilas mineradoras e seu
entorno, para que houvesse um controle efetivo de eventuais contrabandos (BASTOS,
2012, pág.23).
Logo, destacando essa uma forma de afirmação do Estado Colonial Português
sobre sua colônia, a organização social e o ‘decoro’ para com as vontades da Coroa é
explicito. Outra forma importante para exemplificar, o autor descreve a presença das
irmandades, e em como a Igreja Católica tinha orientações exigentes para a construção
de igrejas, e, na organização das festas dos Santos. É importante falar desse controle da
igreja, pois ele está totalmente ligado a Coroa, e em como seguir determinados patrões
era importante para manter uma boa coesão dentro da colônia (BASTOS, 2012, pág.19).
Entretanto, houve também ‘manifestações’1 contrarias a ordem colonial, citando
o texto de Moacir Maia “Reforçar a identidade e a autoridade: As casas de Courás
libertos em Vila Rica e Mariana no século XVIII” (2013), entendemos a partir do estudo
de um grupo étnico, os couranos advindo de África, para o Brasil, para serem
escravizados, mas que, como o artigo trabalha, passou por movimentos de libertação
peculiares.

1
Não no sentido contemporâneo de manifestar, mas sim, no sentido de movimentações/ações, que
eventualmente contrariavam a ordem.
O trabalho trás um grande exemplo de resistência do povo escravizado na
América Portuguesa, já que, muito se fala sobre o processo formativo de quilombos,
que são evidentemente importantes, mas aqui ele trás algo além do aquilombamento,
isto é, dentro do sistema escravocrata, ex-escravos, passariam a ser senhores de
escravos, porém, mais que isso, neste processo eles aliciavam outros indivíduos do
mesmo grupo étnico, ou muito próximo (MAIA,2013, pág.10)
Neste artigo, é evidenciado casos muito interessantes de couranos que
adquiriram liberdade. A exemplo de muitas mulheres negras que conseguiam trabalhar
fora, e juntaram dinheiro para sua alforria. Tal como, o caso da Rosa da Silva Torres,
que conseguiu sua alforria, e depois de livre, trabalhou até conseguir comprar a alforria
de seu marido, e que juntos conseguiram prosperar (MAIA,2013, pág.17).
Fica evidente que havia um processo de contestação da ordem social colonial
naquele momento. Rompendo com a ideia de que o negro escravizado não poderia
conseguir alforria, e que além disso, não poderia prosperar dentro daquele sistema
escravagista. Outro ponto importante que o artigo discute, é em como essas casas de
couranos eram espaços de bailes e de vida social entre os libertos e escravizados,
novamente demonstrado subversão ao ideal colonial (MAIA, 2013, pág.18).
Prosseguindo na ideia de maneiras com que a população mineira se viu para
sobreviver na sociedade colonial, podemos entender as lutas territoriais e de
sobrevivência dos indígenas na capitania de Minas Gerais, no texto: “Minas Gerais
indígena: a resistência dos índios nos sertões e nas Vilas de EL-Rei” (2007). Assim
como dito acima sobre o couranos, algumas etnias indígenas de Minas Gerais, se viram
a na necessidade de buscarem formas de sobreviver aos avanços coloniais.
Sendo assim, podemos encontrar no artigo, momentos em que os indígenas das
etnias, Puri, Botocudo, Kamakã, Pataxó, Panhame e Maxakali, se viram em confronto
direto com bandeirante e tropeiros. Pois, diante dos avanços para controle de mais
terras, esses tropeiros e bandeirantes iam expulsando diversas populações indígenas de
seus territórios. O que se revela nesse artigo é que esses indígenas, mesmo em minoria
de homens e de armas, não se deixavam abater pelas investidas desses invasores
(RESENDE; LANGFUR, 2007, pág.9.
O artigo tenta trabalhar para além de uma dualidade extrema, de irracionais, ou
violentos, ou de ambas as afirmações. O texto relata que muitas vezes os embates
iniciados pelos posseiros, tropeiros ou bandeirantes, não eram levados a coroa, ou uma
pequena porcentagem eram relatados. Logo, ficava o entendimento que os indígenas
daquela região eram somente os percussores dessas guerras, mas é o que o artigo
desmistifica (RESENDE; LANGFUR, 2007, pág.11).
Podemos entender aqui duas perspectivas, a resistência indígena como forma de
contravenção ao poder colonial, mas também a presença de expedições militares a
mando da coroa – podemos citar a guerra declarada contra os Botocudos 1760-1808 –
como forma explicita de controle da coroa, e a mando dessa mesma coroa, posseiros,
tropeiros e bandeirantes tentavam manter o controle e a exploração da colônia,
demostrando uma afirmação.
Enquanto isso, temos outra perspectiva descrita no artigo “Livros científicos,
Saberes ilustrados e condutas ‘sediciosas’ de leituras na livraria do cônego Luís Vieira
da Silva (Minas Gerais, Brasil, 1789” do autor, André Figueiredo Rodrigues, onde a tese
ao qual trago seria em que medida os livros foram material decisivo para a subversão
dos inconfidentes em Minas Gerais.
O artigo trás informações de cunho muito explicativo, falando diretamente das
obras contidas na livraria pessoal do cônego, e em como elas influenciavam em sua
vida. Essa biblioteca pessoal foi descoberta quando Luís Vieira foi preso pela Devassa,
quando era suspeito de participar da Inconfidência Mineira.
Em que, dentro dos muitos textos havia um exemplar de “Elementos da Arte
Militar”. De acordo com Domingos Vidal Barbosa Lage, o cônego ficou responsável
pela elaboração de estratégia de segurança dos inconfidentes, e que esse livro contido
em seu acervo poderia o tê-lo orientado (RODRIGUES,2020, pág.14).
A tese fundamental seria que, os livros são formas de se questionar sobre a
realidade ao qual você está submetido. Logo, não necessariamente seria preciso que
houvesse esse exemplar sobre arte militar, mas outros livros dessa biblioteca traziam
questionamentos fundamentais para uma virada de ares na colônia portuguesa, e foi o
que a Inconfidência Mineira queria, a partir das ideias de liberdade, igualdade e
fraternidade, ou na ideia de se livrar das cobranças sobre o ouro, queriam sua
independência, e isso, foi fundamentado nos estudos desses livros, e que poderia sim ser
consideração uma forma de subversão ao ideal colonial, que previa uma crença cega na
Coroa.
Entende-se a partir dos estudos desses textos, que houve diversas manifestações
contrarias e afirmativas na capitania de Minas Gerais. As minorias daquele momento –
indígenas, negros livres e escravizados – tinham suas formas de sobreviver e de
combater os avanços coloniais. Além claro, entender como a coroa tentou de todas as
formas manter essa capitania sobre seu poder controlador. Construindo vilas
estrategicamente formadas para facilitar seu controle, além da presença de bandeirantes,
tropeiros, capitães do mato etc., para ajudar nesse domínio efetivo.

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