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RESENHA CRÍTICA

UPE – Universidade de Pernambuco (Campus Mata Norte)


História do Brasil I – Licenciatura em História (2º Período)
Prof. Me. Eduardo Augusto de Santana
08/04/2023
A PRESENÇA OLIGÁRQUICA NA IDENTIDADE COLONIAL ESCRAVISTA DA
AMÉRICA PORTUGUESA
B. SCHWARTZ, Stuart. Segredos Internos: Engenhos e escravos na sociedade colonial.
Tradução: Laura Teixeira Motta. São Paulo: Editora Schwarcz Ltda., 1988, p. 77-177.
FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: Formação do Patronato Político Brasileiro.
Brasil: Editora Globo, 1958, p. 199-285.

Discente: Maria Poliana Paula Pereira de Freitas

Em primeiro plano, será apresentada uma abordagem mais ampla das duas obras
trabalhadas em debate pedagógico, posteriormente a relação entre as duas obras e como trazer
isso para a sala de aula como material complementar das aulas de Brasil Colônia também será
pautada. A priori, a obra "Os donos do poder" de Raymundo Faoro é um clássico da literatura
brasileira que examina as raízes históricas da oligarquia política no país. Assim, é trazida para
o debate em sala, a obra de Faoro a argumentação de que a tradição patrimonialista brasileira
é uma herança do período colonial, quando o poder político e econômico estava concentrado
nas mãos de uma Elite que dominava o sistema de Engenhos de Açúcar. Ademais, o outro
texto trabalhado em debate, "Segredos internos. Engenhos e Escravos na Sociedade Colonial"
de Laura Teixeira no qual explora a dinâmica social e econômica da sociedade colonial
brasileira através do estudo de engenhos de açúcar. A autora examina a vida e as relações
entre proprietários de engenhos, escravos africanos e trabalhadores livres e mestiços. Ela
também analisa o papel dos engenhos de açúcar na economia brasileira e na história da
escravidão.

Em primeiro plano, o texto de Faoro é uma obra fundamental da literatura


brasileira que examina a formação e a natureza do poder político no país. Publicado
originalmente em 1958, o livro foi um marco na historiografia brasileira e continua a ser uma

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leitura obrigatória para aqueles interessados em compreender a história política e social do
Brasil. Faoro argumenta que a Revolução de 1930 foi um movimento liderado pelas camadas
médias urbanas e pelos militares contra a Oligarquia Política do país. Ele descreve como
Getúlio Vargas, um político gaúcho, se aproveitou da instabilidade política e liderou um
movimento para tomar o poder no país. Em seguida, o autor destaca a importância da figura
de Vargas como um líder forte e carismático que conseguiu mobilizar o apoio popular para
sua causa. Ele também enfatiza a natureza autoritária do regime de Vargas, que limitou a
liberdade política e suprimiu a oposição. Além disso, Faoro discute as mudanças
institucionais que ocorreram durante o período de Vargas, incluindo a criação do Estado Novo
e da legislação trabalhista. Ele argumenta que essas mudanças refletiram uma transição do
poder oligárquico para uma forma mais centralizada de governo.

O livro está organizado em quatro partes principais. Primeiro, "O Brasil


Patrimonial", examinando o poder político no país durante a época colonial, além de
argumentar quanto a tradição patrimonialista brasileira com raízes fincadas no solo do país.
Logo em diante, "A República das Oligarquias", fala do surgimento da oligarquia política no
Brasil após a independência, ressaltando o fato dos arranjos políticos serem formados não
pela competência do indivíduo, mas sim pelas relações que o mesmo tinha com os postos da
Elite. Já no capítulo, "A Revolução de 1930", o autor examina o fim do poder oligárquico no
país e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder, descrevendo as mudanças institucionais que
ocorreram durante seu governo, incluindo a criação do Estado Novo e da legislação
trabalhista. Apresenta essa transição de coronéis para um principio de democracia, com o fim
do voto de cabresto que só fazia intercalar grandes casas de coronéis no poder, para uma
construção de leis que posteriormente iniciariam a primeira Constituição Federal Brasileira.
Na última parte do livro, "A Época do PSD", é apontado o funcionamento de um determinado
partido político e como ocorreu sua glória após o fim de um governo que findou durante
muito tempo e, como esse fato foi eixo para outros partidos políticos nascerem.

Ademais, a obra “Segredos Internos: Engenhos e Escravos na Sociedade Colonial"


traduzida por Laura Teixeira Motta trata da história da sociedade escravista no Brasil durante
o período colonial. A obra se concentra em analisar a vida dos escravos e seus senhores nos
engenhos de açúcar, que eram a base da economia colonial brasileira. A autora usa uma
abordagem interdisciplinar que combina história social, antropologia e arqueologia para
entender as relações entre senhores e escravos nas fazendas de açúcar. Motta discute como os
escravos eram submetidos a diversas formas de violência, opressão e exploração pelos seus
senhores, e como essas relações eram complexas e permeadas de ambiguidades. Além disso, a
autora aborda a importância da religião na vida dos escravos, mostrando como a fé católica se

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misturava com tradições africanas e como isso ajudava a criar uma comunidade escrava coesa
e resistente. Também destaca o papel das mulheres escravas na produção de açúcar,
mostrando como elas eram responsáveis por grande parte do trabalho nos engenhos. Ela
oferece uma visão profunda e crítica da sociedade escravista colonial brasileira, mostrando
como os engenhos de açúcar eram locais de opressão e exploração, mas também de resistência
e resiliência por parte dos escravos.
Enquanto "Os Donos do Poder" foca na formação do Estado brasileiro e na construção
de uma elite política e econômica dominante, "Segredos Internos, Engenhos Escravos na
Sociedade Colonial" aborda a sociedade escravista do período colonial e a resistência dos
escravos. Uma relação segura entre essas obras seria a compreensão de que a formação da
elite política e econômica do Brasil, analisada em "Os Donos do Poder", está diretamente
ligada à exploração dos escravos e ao sistema de Plantation que permeou a sociedade
colonial, descrita em "Segredos Internos, Engenhos Escravos na Sociedade Colonial". Ambas
as obras se debruçam sobre diferentes períodos históricos, mas compartilham uma análise
crítica da estrutura social e política do Brasil, examinando suas raízes históricas e suas
implicações para o presente. Enquanto "Os Donos do Poder" trata da formação da elite
política e econômica brasileira, "Segredos Internos, Engenhos Escravos na Sociedade
Colonial" se concentra na escravidão e na sociedade colonial do Brasil. A escravidão foi a
base econômica e social que permitiu a acumulação de riqueza e poder por parte da elite
brasileira, e essa relação de poder e opressão continua a influenciar a sociedade brasileira até
os dias atuais. Ambas as obras oferecem uma perspectiva crítica sobre as raízes da
desigualdade social e política no Brasil, destacando a necessidade de mudança e
transformação social.

Portanto, os livros podem ser utilizados em uma sala de aula das ciências humanas
para explorar a história da oligarquia política brasileira e da escravidão. Os alunos podem
discutir a relação entre o sistema de engenhos de açúcar e a formação da elite política e
econômica do país. E também dialogar as consequências da escravidão na economia e na
sociedade brasileiras e discutir como a história do país ainda afeta a sociedade atual. Deste
modo, colaborando para que essa memória seja alertada, mas não esquecida e que o olhar do
passado não possa ser repetido no presente.

REFERÊNCIAS

B. SCHWARTZ, Stuart. Segredos Internos: Engenhos e escravos na sociedade colonial.


Tradução: Laura Teixeira Motta. São Paulo: Editora Schwarcz Ltda., 1988, p. 77-177.
FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: Formação do Patronato Político Brasileiro.
Brasil: Editora Globo, 1958, p. 199-285.

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