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UNIRIO - Universidade Federal Do Estado Do Rio De Janeiro

Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH


Escola de Historia - EH

Discentes: Arthur Heckert Palha, Lucas Gonçalves da Silva, Michell Luiz Ribeiro dos Santos
Docente: Susana Cesco
Disciplina: História do Brasil III

Racismo e aporofobia na República Brasileira: como o Governo Brasileiro utilizou de


artifícios científicos para reprimir a população pobre do país

Resumo

No presente artigo analisado, a psicóloga e professora Maria Helena Souza Patto trata
sobre a questão das classes no Brasil republicano e da participação científica no processo de
marginalização e repressão às massas populares do nosso país, que vivia à época que serve
como objeto de estudo em pleno processo de formação e consolidação de sua elite política e
de seus novos e velhos atores sociais.

Análise crítica

A princípio se estabelece no texto as condições sociais existentes na primeira


república, esta que pouco se separou das estruturas da sociedade brasileira pré-existentes.
Mais do que isso, ela contribuiu para a expansão do poder das oligarquias e para a diminuição
da parcela votante da população. Destaca-se a separação entre a classe trabalhadora e a classe
militar que tomava o poder, militares positivistas que acreditavam estar salvando a população
eram apoiados por uma nascente classe média, que os dava o respaldo popular necessário
para seu governo. As condições de exploração assim se mantinham e, apesar da mudança na
ordem vigente, a população ficou amplamente alheia a tais mudanças. Nessa introdução, é
fortemente destacado as condições precárias dos ex-escravizados e dos trabalhadores
industriais urbanos, mas pouco foi citado pela autora sobre a situação dos imigrantes, que
recebem apenas um curto parágrafo. Estes entravam em uma sociedade completamente
desconhecida e eram frequentemente coagidos a trabalhar em condições tão ruins quanto as
classes trabalhadoras previamente citadas.
O subtítulo “A presença do aparato repressivo”, busca desenvolver qual era a noção
de ordem pública engendrada durante a Primeira República, os meios utilizados para sua
garantia e, também, busca definir os aspectos e os indivíduos que simbolizavam a desordem
para o governo durante esse período. Entretanto, a autora acaba articulando alguns pontos que
ficam meio perdidos ao longo do seu raciocínio. Destaques dado ao Império, quando
evoca-se a fala do Regente Feijó, ao movimento abolicionista e, principalmente, a resistência
da classe trabalhadora inglesa, tratam-se de pontos que não se desenvolveu muito, ou então
pouco diferença fazem na constituição do pensamento da autora. Tal fato fica mais claro na
análise do autor sobre a questão operária na Inglaterra, em que ele simplesmente a utiliza para
falar que no Brasil da Primeira República era algo completamente diferente. O subtítulo é
bastante objetivo, diferentemente do que foi desenvolvido. É perceptível que o historiador
empenha-se em estabelecer um panorama geral para sua análise, buscando raízes da
problemática em outros locais e períodos, porém faltou relacionar melhor tais pontos com o
cerne proposto, sem deixá-los vagos. Além disso, apesar da autora tratar o país como
essencialmente agrícola, seu estudo foca apenas em questões de cunho urbano. Os problemas
sociais do campo não são apresentados ou discutidos. Acaba deixando de lado as relações
abusivas de trabalho também existentes no campo, bem como a utilização do aparato de
repressão no âmbito rural.
No subtítulo “Realidade e mito do movimento higienista”, é feita uma análise clara
sobre as questões em torno do movimento higienista e suas nuances. Formando a parte mais
completa do texto, que é mais detalhado sobre a situação das cidades, onde a autora expõe
com precisão ambos os lados do embate entre higienistas e as classes trabalhadoras pobres,
destacando a verdadeira realidade insalubre que se encontravam as grandes cidades
brasileiras, ao que se opunha a utilização das reformas propostas como forma de controle
social. Fica claro que as condições das cidades causavam espanto real na burguesia, que
tinham um desejo paternalista de ajudar a ralé, as gentalhas, a se tornarem parte de uma
sociedade “civilizada”, mas também se adiciona o medo que as classes dominantes tinham
das revoltas populares contra ela, se utilizando todas as vezes do aparato repressivo da polícia
para assegurar o cumprimento das novas regras. É destacado como a classe trabalhadora se
viu de frente com um higienismo que no melhor dos casos era falho, se bem intencionado,
certamente não eram todos os médicos que estavam agindo como peões do estado, a
obrigação vacinal e o saneamento básico são medidas legítimas para o controle de doenças.
Era no ato repressivo onde a autora vê a insatisfação popular, a força policial era central para
o despejo, prisões e multas impostas às classes populares, logo era nessa força opressiva onde
o principal alvo das revoltas estava. A autora também destaca como as medidas da burguesia
eram um agente perpetuante do problema, construindo amplas avenidas no meio de bairros
operários, que impediam o posicionamento de barricadas e despejando as classes indesejadas
do centro da cidade sem fornecer muita alternativa viável ao restabelecimento dessas pessoas,
que logo voltaram a se assentar nos centros das cidades. Gerando um sentimento de revolta
legítimo descrito pela autora, mas faltou destacar exemplos específicos dessas revoltas além
da revolta da vacina.
Ao tratar especificamente sobre os aparatos científicos utilizados pela elite política
brasileira, no subtítulo "A desqualificação dos pobres”, Patto é bem assertiva em sua crítica:
todas as referências teóricas utilizadas são importadas de cientistas europeus do século XIX,
logo, são pautadas no eurocentrismo e no arianismo europeu. Porém, tentando não “se
rebaixarem” em suas próprias referências, os teóricos brasileiros adicionam características
referentes à realidade local, para que não se relegue o Brasil à “ruína moral”. Por exemplo:
eugenistas europeus afirmavam que apenas a raça branca era membro da elite intelectual
mundial e que a miscigenação era um dos maiores males para a evolução da raça humana.
Este último aspecto decretaria quase toda a nação brasileira à subserviência, porém, entra em
cena a hipocrisia dos teóricos locais: medidas higienistas radicais passaram a incentivar,
segundo a autora, “o branqueamento por meio de casamentos inter-raciais(...) não porque
acreditassem na igualdade entre os homens, mas porque o viam como “condição de vitória
do branco no país”, o que significava nada mais nada menos do que a exclusão dos negros
do projeto de Nação.” (PATTO, 1999, p. 186)
Apesar do esforço realizada pela autora em citar teóricos contrários aos ideais
racistas, xenófobos e classistas, é notória a profusão de nomes a serem apontados como
referências nas estratégias de opressão aos pobres, tais como Oliveira Vianna, Nina
Rodrigues, Franco da Rocha, Silvio Romero, Renato Kehl e vários outros. Por intermédio
destes nomes, instituições foram fundadas para governar e disciplinar o povo através das
doutrinas higienistas e eugenistas, de modo com que todos os pobres, mas, em especial, a
parcela negra da população, fossem estigmatizados de modo sistemático e categorizados com
termos como “simiescos, medíocres, sujos, libertinos, trapaceiros, parasitas, vadios,
viciados, ladrões, criminosos.” (PATTO, 1999, p. 184)
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
PATTO, Maria Helena Souza. Estado, ciência e política na Primeira República: a
desqualificação dos pobres. Estudos Avançados, São Paulo, v. 13, n. 35, p. 167-198, Apr.
1999.

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