Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

HISTÓRIA DO BRASIL 3 – PROFESSORA MARIA TERESA

GRUPO: PABLO NATAN SOUZA MACHADO - 211024552 | ESTER DEISE COSTA SANTOS-
190106000 | PAULA LUIZA FERREIRA BRANDÃO - 190094214| ALEXANDRA PEREIRA DA
SILVA

LEITURA CRÍTICA DE VICTOR NUNES LEAL - CORONELISMO ENXADA E VOTO

__________________________________________________________________________________

Introdução e contextualização:

Victor Nunes Leal nascido em 1914, foi um importante cientista político brasileiro,
que contribuiu de forma significativa para o estudo da política e da sociedade brasileira.
Formado em Direito e Ciências Sociais, desenvolveu suas pesquisas e produziu sua obra mais
conhecida: "Coronelismo, Enxada e Voto" que foi publicado em 1848, num contexto
contemporâneo e atual importantíssimo para hoje compreendermos o processo político e
denso que se arrastou desde o golpe dos militares contra o Império em 1889. Sua obra sobre o
período ferrenho das oligarquias municipais se tornou uma referência para o estudo da
política e da sociedade brasileira, e é considerado um dos clássicos da literatura política do
país marcado pela modernidade de sua escrita.

CORONELISMO

Nunes, faz uma análise de todo o período da primeira república, e detalhadamente


descreve as dinâmicas ocorridas durante a primeira grande parte do governo dos oligarcas.
Nesse estudo ele faz uma diagramação das relações entre o governo federal e os governos
municipais regidos naquele momento pelos coronéis, estudiosos ricos ou grandes fazendeiros.
O destaque das análises são as relações delituosas de favoritismo e mandonismo. Aborda
também o fortalecimento do municipalismo pela ação local dos chefes políticos e pelo
patrocínio do governo federal e estadual em diversos momentos do primeiro período
republicano.

No capítulo "Atribuições Municipais", o autor reconhece as dificuldades que a tarefa


possui, e como o aspecto vago que a atribuição de "caber ao município as tarefas de natureza
local, ou do seu peculiar interesse" traz. Nunes frisa a dificuldade trazida pela subjetividade e
a ausência de referência nesse aspecto - por exemplo em um assunto de referência volátil, que
em um momento pode se dizer respeito ao município e com o decorrer dos fatos, diz respeito
ao Estado posteriormente. Assim, o autor foca a sua análise em compreender a ampliação ou
restrição da esfera do município e como o enfraquecimento da esfera municipal ampliou a
concentração de poder no país e ascendeu o coronelismo regional.

ENXADA

O objeto de poder apontado por Nunes Leal é a propriedade de terra chamada de


“estrutura agrária”, quem era proprietário de terra concomitantemente teria algum poder, ou
até mesmo o poder centralizado, desde que se mobilizasse para crescer. Tinha também o
crédito junto aos bancos locais e o respeito da população, já que a fonte de renda e o produto
da mesa para alimentar as famílias também dependiam da posse da terra e da produção
agrária, então toda a vida municipal estava amarrada ao processo político e social nas mãos
do poderoso dono das terras. Esses donos de terras, muitas vezes ausentes das realidades do
município, trabalhavam pelo próprio enriquecimento, dinamizando favores em nome do
governo, em troca da sua influência e ascensão política.

Victor Nunes também dedica um tópico sobre a distribuição de terras e a concentração


da propriedade fundiária rural, utilizando estudos de Caio Prado Jr que tinha uma visão
identificada com o marxismo, para demonstrar como a terra era utilizada como chave de
negócios dentro dos municípios. A desigualdade na distribuição de propriedades fundiárias é
uma realidade no Brasil até os dias de hoje, mas Leal não aborda uma questão sobre a
desigualdade que aquela sociedade estava inserida. Victor Nunes aborda ainda os estudos do
professor sociólogo Costa Pinto, que estabeleceu a “pirâmide censitária” demonstrando a
estrutura social dos municípios brasileiros, mas utiliza esses estudos apenas para demonstrar
números censitários referente à população, utiliza a linguagem de classes, mas não se
aprofunda nas desigualdades e nas posições dessas classes, se referindo apenas às tarefas
econômicas de cada grupo.

VOTO

O grande modus operandi dos coronéis era a manipulação das eleições, através do
controle dos alistamentos, do estabelecimento de regras e do patrocínio das campanhas, os
mandantes organizavam e manipulavam todo o processo eleitoral, desde a campanha até a
apuração. Toda essa organização era manipulada e patrocinada pelos Governos Estadual e
Federal, assim uma cadeia de vantagens era funcional para os interesses dessas elites
políticas. Estabeleciam o que Vitor Nunes chamou de “despesas eleitorais”: compra de votos,
ofertavam dinheiro, comida, roupas; coação e intimidação, os eleitores eram coagidos a votar
em determinados candidatos sob pena de represálias, já que dentro do território municipal a
guarnição e a força policial obedeciam ao grande proprietário líder; fraude eleitoral, votos de
falecidos, duplicidades de títulos eleitorais e a lista de convocação eram utilizados para
manipularem os números e também o desvio dos recursos públicos, verbas da educação e
saúde eram direcionadas para as campanhas eleitorais.

Nunes deixa claro também, e pela lucidez dos fatos podemos interpretar que essas
formas de manipulação não eram feitas às claras, pois com o desenvolvimento das formas
rápidas de comunicação tudo poderia se tornar o estopim de uma revolta, assim os mandantes
estabeleceram programas de melhorias, como construção de rodovias, escolas e farmácias
para que a população se contentasse diante do duradouro regime de poder de um mesmo líder.
Assim se entendia a descrição do “Curral eleitoral”, já que o grande proprietário fazia o que
bem entendesse para manter-se hegemônico, mas também mantinha uma relação de
protetorado com o povo do seu município, tais ações vão ser abordadas por June Hahner, por
exemplo, pelo nome de “sabedoria política” como um lenitivo psíquico.

Uma das ideias que Victor Nunes Leal deixa transparecer é sua crença acerca da
inferioridade intelectual da população eleitora dos municípios: "A razão já foi dada no
capítulo primeiro: a maior parte do eleitorado rural - que compõe a maioria do eleitorado total
- é completamente ignorante, e depende dos fazendeiros, a cuja orientação política obedece"
(Leal, 1978). Essa ideia José Murilo de Carvalho vai colocar como estereotipada, ou seja,
uma forma de leitura que não foi carregada de estudo minucioso das relações sociais
municipais. Aquela população não se entendia totalmente ignorante, apesar do analfabetismo
com uma taxa decadente de 70% a 40%, ela negociava com os mandantes e tinha a
inteligência de estabelecerem aquilo que achassem necessário, participando assim da política
(Telarolli, 1977). É claro que a análise de Victor Nunes é política, e politicamente a
população não tinha em sua cultura a importância da posse o direito do voto, mas não por
ignorância, talvez por necessidade e escolha, neste quesito seria uma questão antropológica,
que não existe dentro do estudo de Leal.
O PROCESSO POLÍTICO

Victor Nunes como um jurista extremamente técnico, trabalhou os últimos capítulos


de sua obra analisando o cenário político através das movimentações legislativas. Aborda o
surgimento das constituições e demonstra como a identidade política foi sendo construída
gradualmente como o desenvolvimento político da nação.

A obra de Nunes Leal ainda dá um amplo conhecimento sobre o processo do


coronelismo e suas alterações no momento em que a república brasileira se renova e parecia
passar por um processo de redemocratização. Sua análise foi bem pontual e necessária para o
momento, e a obra alcançou uma influência na política brasileira, ademais que o autor
alcançou a cadeira do Supremo em 1961, exercendo papel impecável na defesa da
democracia e da igualdade social.

Autores como Celso Furtado (1958) e Sérgio Buarque de Holanda (1936) contrapoem
o autor pois a análise de Leal em relação a de Furtado e Holanda é muito resumida, não leva
em consideração alguns fatores como as mudanças rápidas que ocorriam com a
industrialização e a urbanização, e também a falta de estudo detalhado das demais regiões
com a generalização do fenômeno coronelismo no nordeste, como afirma Raymundo Faoro
(1958).

CONCLUSÃO

Após trabalhadores rurais serem qualificados enquanto eleitores, o poder privado


passa a se sentir ameaçado. Nunes destaca que o primeiro momento de ascensão de um
espaço efetivamente público passa a representar uma ameaça para as elites econômicas
justamente em decorrência da universalização do sufrágio. Tal feito acaba por explicitar o
definhamento dos senhores de terras, que ao serem obrigados a sacrificar suas autonomias
municipais e concentrações de riquezas para se sustentarem no poder, enfrentam uma
decadência estadual.
Para além dos tópicos supracitados, Nunes Leal pormenoriza o mandonismo e
clientelismo, de modo implícito ao longo do texto, de modo que a concepção de ambos os
termos não fossem confundidas com coronelismo, que representa um sistemático conceito de
poder político. Outrossim, faz-se jus à menção de que uma série de fatores condicionaram
este fenômeno do período específico da Primeira República. O coronelismo se mantinha
fortalecido devido a Constituição de 1891 que previa o voto aberto, permitindo que os
coronéis exercessem o controle dos votos. A ausência de fiscalizações federais em virtude da
enorme autonomia política local dificultava ações contra esta política. O autor destaca que
com o aumento da população urbana, o coronelismo foi perdendo sua força, mas que no
entanto, o seu fim se daria com uma alteração na estrutura agrária.
A obra de Victor Nunes Leal, apesar de ter sido elaborada há mais de sete décadas,
apresenta elementos específicos descritos pelo autor que se mostram persistentes e
atemporais. A obra analisa as formas de entrosamento da circunstância do poder local diante
das articulações realizadas na República Velha, sobretudo em relação ao contexto da análise
estadual e da necessidade dos governadores serem eleitos através da “comercialização” dos
votos de trabalhadores rurais. Por fim, as exposições realizadas pelo autor são fundamentais
para a compreensão da construção das estruturas políticas posteriores, assim como refletem a
democracia brasileira contemporânea.
BIBLIOGRAFIA

LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no


Brasil. 4. Ed. São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1978. [1948]

DOCUMENTOS DE APOIO

HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. 26. Ed. São Paulo: Companhia das Letras.
1995 [1936]

CARVALHO, José Murilo de. A construção da ordem: a elite política imperial. Teatro de
sombras: a política imperial. 4. Ed. Editora Civilização Brasileira. 2008 [1939]

FAORO, Raymundo. Os Donos do Poder: formação do patronato brasileiro. 5. Ed. Rio de


Janeiro. Editora Globo. 2012 [1958]

HAHNER, June. Pobreza e política. Os pobres urbanos no Brasil – 1870-1920. Brasília:


EdUNB, 1993. (p. 133-163 e notas)

Você também pode gostar