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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO (UFRJ) INSTITUTO DE

HISTÓRIA (IH)

CECI SANTOS (121133429)

No livro “O Brasil republicano: o tempo do nacional-estatismo”, organizado por


Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves, é discutido o período a partir de 1930,
particularmente marcado pela ascensão de Getúlio Vargas. No presente texto será
desenvolvida uma breve análise sobre o diferencial do Estado Novo no país e como se deu a
política cultural desse novo governo, tópicos que são tratados nos capítulos 4 e 5 do livro,
respectivamente.
No campo da história, é necessário que se faça uma reflexão sobre o Estado Novo.
Sendo um período recente no contexto brasileiro, segundo Maria Helena Capelato, é
necessário um estudo dessa experiência política a partir de outras perspectivas para entender
melhor o Brasil de hoje. Como os trabalhos de pesquisa antes realizados não exploravam a
questão do autoritarismo, mas tratavam os anos de Vargas com certa “tranquilidade”, seria um
ponto a ser debatido com mais profundidade. O papel da propaganda é importante na criação
do imaginário social da política de Getúlio Vargas como a melhor para o país, esse mesmo
imaginário que sobrevive hoje, recuperado como oposição ao neoliberalismo.
Nesse sentido, a verdadeira face desse governo era de repressão e tortura. Os fatos
eram manipulados para que assim tais condutas fossem tidas como necessárias. Um exemplo
foi a suposta ascensão do “perigo vermelho” e o forjamento do Plano Cohen, atribuído
injustamente aos comunistas, esse que justificou o decreto de estado de sítio e por fim
concretizou o golpe de Estado. Capelato descreve esse cenário:

Os liberais apoiaram as medidas de exceção adotadas pelo


governo sob alegação de que o combate ao comunismo era a
prioridade do momento; tais medidas acabaram por fortalecer o
poder do governante, que, em 1937, liderou o golpe promotor do
Estado Novo, que dissolveu o Congresso e outorgou nova
Constituição à nação (CAPELATO, 2003, p. 121).

Vargas também se utilizou dos interesses da classe operária para manter o controle
social. As diversas leis que deram origem à Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) visava
diminuir os confrontos entre patrão e empregado, de modo que esses confrontos não
chegassem à esfera pública. Os sindicatos, que eram independentes, passam a ser controlados
pela legislação. A partir disso, apesar de regulamentação ser de um lado benéfica para os
trabalhadores, houve uma perda de autonomia destes:

Essa política acabou por dividir o movimento sindical. Uma


parcela significativa mostrou-se satisfeita com as “benesses
generosamente” concedidas pelo chefe do governo, como alardeava a
propaganda governamental, e outra parcela tentou reagir ao controle
do Estado e à perda da liberdade política. Mas essa corrente foi
sufocada porque o regime autoritário impedia as manifestações de
oposição em todos os níveis. Com o pretexto de manter a ordem e
acabar com a subversão, muitos sindicalistas que se opuseram à nova
política foram perseguidos, presos, torturados ou exilados durante o
Estado Novo (CAPELATO, 2003, p. 126).

Outro ponto a ser discutido é a construção da nacionalidade e a política cultural do


governo. A ideia de construir uma brasilidade – que tentou vingar ainda no Brasil império,
mas falhou – foi abraçada por Vargas e também pelos intelectuais de classe alta. O país
carecia de algo para afirmar sua identidade. Assim, tanto a elite intelectual quanto a política se
unem para alcançar o objetivo de formar uma identidade nacional. Esse trecho explica como
ocorre essa junção:

O melhor exemplo que temos para ilustrar essa nova concepção


de intelectual é a entrada de Getúlio Vargas para a Academia
Brasileira de Letras, em dezembro de 1943. No discurso de posse,
Vargas criticaria o antigo papel da Academia, condenando a “torre
de marfim” que isolava o intelectual do conjunto da sociedade.
Argumentava que, por ocasião de sua fundação, a Academia se
constituiria num remanso, alheio às transformações sociais. Assim,
políticos e administradores caminhavam de um lado, e intelectuais de
outro, “ocupando margens opostas na torrente da vida social”.
Segundo Vargas, o poeta seria o “lunático, pessoa ausente, habitando
um mundo de fantasias e imagens”, enquanto o literato era o
“teórico, pés fora do solo, cabeça nas nuvens, alheio às realidades
cotidianas”. Predominava, portanto, o “desdém do espírito da
matéria, gerando a dispersão das energias sociais”. Vargas
argumentava que somente a partir da década de 1930 é que teria sido
operada a “simbiose necessária entre homens de pensamento e de
ação” (VELLOSO, 2003, p. 161).
Com isso, a classe intelectual torna-se braço direito do governo e tem agora como
papel difundir a ideologia deste. Como antes essa classe protagonizava a oposição no campo
político, agora feita essa aliança, o controle social foi facilitado. A participação na vida social
estava garantida e o pensamento do povo era moldado muitas vezes de forma sutil, com a
propaganda implícita até mesmo nas músicas.
Essa confiança nos intelectuais para guiar o pensamento das massas mostra um certo
paternalismo, característica do autoritarismo. O povo era visto como uma representação de
crianças, ainda sem pensamentos próprios sobre si mesmo. Assim, só esses abastados
poderiam resgatar a brasilidade que o governo tanto queria construir.
Portanto, podemos concluir que o Estado Novo de Vargas foi muito pautado no
autoritarismo e controle social, diferente da imagem romantizada criada pela propaganda.
Desse modo, um estudo aprofundado sobre esses aspectos do governo são necessários para
desmistificar essa imagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERREIRA, Jorge e DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (org). O Brasil Republicano.


Vol. 2. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

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