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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA POLÍTICA

THULIO CÍCERO GUIMARÃES PEREIRA

BANCOS E BANQUEIROS, SOCIEDADE E POLÍTICA:

O BAMERINDUS E JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA

(1981 a 1994).

VOLUME 1-3

TESE DE DOUTORADO

Florianópolis - SC

2006
THULIO CÍCERO GUIMARÃES PEREIRA

BANCOS E BANQUEIROS, SOCIEDADE E POLÍTICA:

O BAMERINDUS E JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA

(1981 a 1994).

VOLUME 1-3

Tese na Linha de Pesquisa: Estado, mercado,


empresariado e sistema financeiro, apresentado ao
Programa de Pós-graduação em Sociologia Política,
do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, da
Universidade Federal de Santa Catarina, como
requisito parcial para obtenção do título de Doutor
em Sociologia Política.

Orientador: Prof. Dr. Ary César Minella.

Florianópolis

2006
P436b Pereira, Thulio Cícero Guimarães
Bancos e banqueiros, sociedade e política : o Bamerindus e José
Eduardo de Andrade Vieira (1981 a 1994) / Thulio Cícero Guimarães
Pereira ; orientador Ary César Minella. – Florianópolis, 2006.
3 v. (721 f.)

Tese – (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina,


Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política, 2006.

Inclui bibliografia

1. Sociologia Política. 2. Finanças – Brasil – 1981-1994 – História.


3. Banqueiros. 4. Hegemonia financeira. 5. Política econômica – Brasil.
6. Corporativismo. I. Minella, Ary César. II. Universidade Federal de
Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política.
III. Título.
CDU: 32:301

E-Mail:
thuliocicero@yahoo.com
thuliocp@cefetpr.br
thulio.pereira@copel.com
Luthio, gratia um orum per tuti la eternita

Em memória de meus pais Egydio Pereira e Aurora

Guimarães Pereira cujos exemplos me serviram nas

horas mais difíceis. Também dedico este trabalho

para Zita e Bebelinha; e em especial para minha

querida Nenza.
AGRADECIMENTOS

A complexidade e o tamanho deste trabalho envolveram a colaboração de muitas pessoas,

às quais devo meus sinceros agradecimentos.

Inicialmente agradeço ao professor Ary Minella pelas horas inestimáveis de orientação ao

longo de todo o trabalho. Seu conhecimento, experiência e paciência foram fundamentais para o

desenvolvimento e conclusão desta tese. Também agradeço ao professor Dennison de Oliveira

pelas orientações na construção da primeira proposta do projeto de pesquisa.

Para o desenvolvimento do trabalho foi de grande importância o apoio recebido da

Companhia Paranaense de Energia – Copel, através de Edílson Antonio Catapan, Jones de Castro

Julim Júnior, Ruth Helena Riboski e Vera Lúcia Baron.

Com relação às fontes de pesquisa, agradeço a Sérgio Prates, Ranoel de Souza Ribeiro e

Luiz Francisco Zanotto, pelo acesso aos arquivos do Banco Bamerindus do Brasil S.A.; à Maria

Christina de Andrade Vieira, pelas cópias do importante material sobre a história do grupo; e ao

professor Sérgio Soares Braga que espontaneamente forneceu seu arquivo e anotações sobre o

Bamerindus e José Eduardo de Andrade Vieira.

Finalmente agradeço às dezenas de pessoas que contribuíram com relatos e histórias que de

alguma forma fazem parte deste trabalho, aos meus alunos, amigos e familiares pela paciência que

tiveram para ouvir as muitas histórias do Bamerindus nestes últimos sete anos.
Epigramma XLII

Que la Naturaleza te guíe, y tú


síguela en tu arte, porque errarás
si no es la compañera de tu
camino. Que la Razón te sirva de
cayado, y la Experiencia te
asegure las luces para que con
ella puedas ver las cosas lejanas.
Sea la Lectura la lámpara que
despeje las tinieblas para que te
guardes, prudente, del
amontonamiento de cosas y
palabras. (MAIER, 1618)1

“(…) O vecchio está certo”.2

1
Fonte: MAIER, Michaele. Atalanta fugiens, hoc est, Emblemata nova de secretis naturae chymica. OPPENHEIM, Ex
typographia Hieronymi Galleri, for Johann Theodor de Bry, 1618. Disponível em: <http://hdelboy.club.fr/
atalanta_fugiens.html>. Acesso em 6 jan. 2006.
2
Fonte: CONRAD, Joseph. (1904). Nostromo. São Paulo: Cia Letras, 1991, p. 343.
RESUMO

Este trabalho analisa o fenômeno das articulações formais e informais que ocorrem entre bancos,
Estado, banqueiros e política, através de um amplo estudo do Grupo Bamerindus durante a gestão
do banqueiro / político José Eduardo de Andrade Vieira, no período 1981-1994. O caso foi
escolhido por ser emblemático dos vínculos estabelecidos entre bancos e política tanto na esfera
local como nacional, pois o Bamerindus foi o quinto maior grupo privado nacional e o terceiro
maior banco privado brasileiro em ativos e, entre seus principais sócio-controladores, executivos e
diretores, estiveram Governadores e Secretários de Estado, Ministros e líderes partidários, como
por exemplo, José Eduardo, que foi presidente nacional do PTB, Senador, Ministro, candidato a
Presidente da República e um dos principais coordenadores e tesoureiro da campanha presidencial
de Fernando Henrique Cardoso em 1994.
Utilizando o conceito e metodologia de redes sociais, este trabalho analisa como essa “elite
Bamerindus” articulou o capital financeiro, o grupo econômico e associações de classe na luta
política pela hegemonia. Demonstra a tese que o Bamerindus formava uma complexa equação
social integrando interesses e atividades que ultrapassavam o campo econômico e financeiro,
incorporando amplos setores da sociedade civil, política e partes do aparelho do Estado,
influenciando de forma significativa a história do Paraná e a brasileira. Também conclui que,
naquele contexto histórico, o fenômeno das conexões do sistema financeiro com a política era parte
integrante e inseparável de um organismo social complexo, e sua centralidade no Bamerindus
estava vinculada à posição estratégica que as instituições bancárias ocupavam na estrutura de
produção capitalista. Esta tese também demonstra que não é possível entender o jogo político sem
conhecer suas conexões com o mundo econômico, bem como não é possível entender o
desempenho econômico dos grupos sem conhecer suas conexões com a sociedade civil, política e o
aparelho do Estado.
Este estudo utiliza (capítulo I) os conceitos gramscianos de Estado, Sociedade, Política e
Hegemonia; e as proposições de alguns autores para capital financeiro, hegemonia financeira,
grupos econômicos, elites orgânicas e associações corporativas. Inicialmente (capítulo II)
contextualiza o estudo no âmbito das transformações ocorridas no sistema financeiro nacional e
internacional e, (capítulo III) a história da formação do Bamerindus e da família Vieira até o ano de
1981. Na seqüência (capítulo IV) identifica e analisa a rede corporativa Bamerindus, sua estrutura
institucional, econômica e de poder no período 1981-1994; (capítulo V) a rede política Bamerindus,
seus principais personagens e sua influência na história política paranaense e brasileira recente. Este
trabalho termina apresentando a análise da trajetória política de José Eduardo (capítulo VI), e um
breve resumo dos principais acontecimentos ocorridos de 1995 até a intervenção do Banco Central
do Brasil no grupo, em março de 1997.

Palavras-chave: Banqueiros. Redes Sociais. Hegemonia Financeira. Grupo Econômico. Capital


Financeiro. Sistema Financeiro. Rede Corporativa. Rede Política. Elite Orgânica.
ABSTRACT

This thesis analyze the phenomenon of formal and informal connections among banks, state,
bankers and politics through a broad study on “Bamerindus group” during José Eduardo de
Andrade Vieira period – from 1981 to 1994. This case was chosen due to its emblematic links
among banks and politics in the local and national helms, as Bamerindus was the 5th greatest
private group and the 3rd biggest Brazilian private bank and amongst its main partners, CEO’s and
managers there were governors, state secretaries, ministers and party leaders, as José Eduardo who
was PTB party president, senator, minister, presidential candidate and one of the coordinators and
treasurer of FHC presidential campaign in 1994.
Using social networks concept and methodology, this paper analyze how “Bamerindus elite”
articulated the financial capital, economic group and work unions in its political struggle for
hegemony; demonstrate the thesis in which “Bamerindus” formed a complex social equation
bringing together interests and activities which overcame financial and economical levels,
involving wide sectors from the civil society, politics and state apparatus, influencing meaningfully
Paraná and Brazilian histories. Also conclude that in that historical context the connection between
financial and political systems were inseparable part of a complex social organism, and its
centralization in Bamerindus was linked to the strategic position which this bank had in the capital
production structure. This thesis also shows that it is not possible to understand the political game
without knowing its connections with the economic world as well as understanding the groups
economical performance without knowing its connections with the civil society, politics and state
apparatus.
This study use (chapter I) gramscians concepts of state, society, politics and hegemony; and some
authors propositions of financial capital, financial hegemony, economical groups, organic elites and
corporative associations. In the beginning (chapter II), contextualize the study in the scope of the
transformations occurred in the national and international financial systems and, (chapter III) the
Bamerindus story and Vieira family until 1981. Then (chapter IV), identify and analyze
Bamerindus corporative network, its economic, institutional and power structure from 1981 to
1994; (chapter V) Bamerindus political network, its main characters and its influence in Brazil and
Paraná recent history. Finally, analyze José Eduardo political path (chapter VI), and a brief
summary of the main events from 1995 until Banco Central do Brasil intervention in March 1997.
Key words: Bankers. Social Networks. Financial Hegemony. Economic Group. Financial Capital.
Financial System. Corporative Network. Political Network. Organic Elite.
RESUMEN

En este trabajo analizamos el tema de las relaciones formales e informales que ocurren entre los
bancos, el Estado los banqueros y la política, a través de un amplio estudio del Grupo Bamerindus,
durante la gerencia del banquero/político José Eduardo de Andrade Vieira, en el período 1981 –
1994. El caso fue elegido por ser emblemático de los vínculos establecidos entre los bancos y la
política, tanto en el ámbito local como nacional, ya que el Bamerindus fue el quinto mayor grupo
nacional y el tercer mayor banco privado brasileño en activos. En sus principales socios-
controladores, ejecutivos y directores estuvieron gobernadores, secretarios de estado, ministros y
líderes partidarios, como por ejemplo José Eduardo que fue presidente nacional del PTB, senador,
ministro, candidato a presidente de la república y uno de los principales coordinadores y tesorero da
la campaña presidencial en 1994 de Fernando Henrique Cardoso.
Utilizando el concepto y metodología de redes sociales, analizamos cómo esa “élite Bamerindus”
condujo el capital financiero, el grupo económico y asociaciones de clase en la lucha política por la
hegemonía; demostramos la tesis de cómo el Bamerindus formaba una compleja ecuación social,
integrando intereses y actividades que ultrapasaban el campo económico y financiero, incorporando
amplios sectores de la sociedad civil, política y partes del organismo estadual, contribuyendo de
forma significativa en la historia paranaense y brasileña. También concluimos que en aquel
contexto histórico el tema de las conexiones del sistema financiero con la política era parte
integrante e inseparable de un organismo social complejo y su centralidad en el Bamerindus estaba
vinculada a la posición estratégica que las instituciones bancarias ocupaban en la estructura de la
producción capitalista. Esta tesis también demuestra que no es posible entender el juego político sin
conocer sus conexiones con el mundo económico, así como no es posible entender el desempeño
económico de los grupos sin conocer sus conexiones con la sociedad civil, política y el órgano
estadual.
En este estudio utilizamos (capitulo I) los conceptos gramscianos de estado, sociedad,
política y hegemonía; y las proposiciones de algunos autores para capital financiero, hegemonía
financiera, grupos económicos, élites orgánicas y asociaciones corporativas. Inicialmente (capítulo
II) contextualizamos el estudio en el ámbito de las transformaciones ocurridas en el sistema
financiero nacional e internacional y (capítulo III) la historia de la formación del Bamerindus y de
la familia Vieira hasta el año 1981. En la secuencia (capítulo IV) identificamos y analizamos la red
corporativa Bamerindus, su estructura institucional, económica y de poder en el período 1981-1994;
(capítulo V) la red política Bamerindus, sus principales personajes y su influencia en la historia
política paranaense y brasileña reciente. Encerramos este trabajo con el análisis de la trayectoria
política de José Eduardo (capítulo VI), y un breve resumen de los principales hechos ocurridos
desde 1995 hasta la intervención del Banco Central do Brasil en marzo de 1997.

Palabras-claves Banqueros. Redes Sociales. Hegemonía Financiera. Grupo Económico. Capital


Financiero. Sistema Financiero. Red Corporativa. Red Política. Élite Orgánica..
RÉSUMÉ

D’abord, nous analysons dans ce travail, le phénomène des articulations formelles et informelles
réalisées entre les banques, l´État, les banquiers et la politique, en étudiant de façon approfondie,
l´expérience du Groupe Bamerindus pendant la gestion du banquier et politique de José Eduardo
Andrade Vieira, entre 1981-1994. Le cas a été choisi puisqu´il est emblématique dans les liens
établis entre les banques et la politique à la sphère locale et nationale. Alors, le groupe Bamerindus
a été le cinquième des plus grands des groupes privés nationaux et la troisième plus grande banque
Brésilienne en actifs et, parmi ses principaux associés-fondateurs, des cadres et employés bien
placés, on trouvait des personnalités comme des Gouverneurs, des Secrétaires d´État, Ministres et
leaders de partis, comme par exemple José Eduardo, qui a été le président national du PTB (Parti
des Travailleurs Brésiliens), Sénateur, Ministre, canditat à la Présidence de la République et l´un
des principaux coordinateurs et trésorier de la campagne présidentielle de Fernando Henrique
Cardoso, en 1994.
Et, à partir d’un approche théorique et méthodologique des réseaux sociaux, nous analysons la
manière dont cette “élite Bamerindus” a réussi à faire mouvementer le capital financier du groupe
économique et des associations de classes dans la lutte politique pour une hégémonie ; nous
démontrons aussi, la thèse selon laquelle le Bamerindus formait une équation sociale complexe qui
rassemblait des intérêts et des activités qui dépassaient les domaines économique et financier, tout
en englobant les secteurs représentatifs de la société civile, politique et une partie de l´appareil
d´État, et encore qui influenciait de manière importante, l´histoire Paranaense et Brésilienne.
Ensuite, nous trouvons que, dans ce contexte historique, le phénomène des connexions du système
financier avec la politique intégraient, de façon très étroite, un système social complexe, et que son
centralisme chez Bamerindus était très lié à la la position stratégique où les institutions bancaires se
plaçaient dans la structure de production capitaliste. Ce travail démontre, encore, qu´il n´est pas
possible de comprendre le jeu politique sans connaître ses connexions avec le monde économique,
aussi comme n´est pas possible de comprendre la performance économique des groupes sans
connaître leurs connexions avec la société civile, politique et l´appareil d´État.
Nous avons utilisé dans cet étude, dans le Chapitre I de ce travail, les apports théoriques
Gramsciens d´État, de Société, de Politique et d’Hégémonie; et aussi les propositions d´autres
auteurs sur le capital financier, l´hégémonie financière, les groupes économiques, les élites
organiques et les associations corporatives. Dans le Chapitre II, nous avons encadré notre étude
dans les transformations apparues dans le système financier national et international. Dans le
Chapitre III, nous présentons l´histoire de la famille Vieira et le processus de création et formation
du groupe Bamerindus jusqu´en 1981. Ensuite, dans le Chapitre IV, nous avons identifié et analysé
le réseau de la corporation Bamerindus, sa structure institutionnelle, économique et de pouvoir
entre 1981-1994. L´objet du Chapitre V a été le réseau politique du Bamerindus avec ses principaux
personnages et son influence dans l´histoire politique Paranaense et Brésilienne. Finalement, nous
concluons ce travail (Chapitre VI) par l´analyse du parcours politique de José Eduardo, et nous
présentons auusi, un résumé des principaux événements de 1995 à mars 1997, date à laquelle la
Banque Centrale Brésilienne a declenché les procédures d´intervention chez Bamerindus.

Mots clés: Banquiers, réseaux sociaux, hégémonie financière, groupe économique, capital
financier, système financier, réseaux corporatifs, réseau politique, élite organique.
LISTA DE GRÁFICOS, ILUSTRAÇÕES, QUADROS E TABELAS

LISTA DE GRÁFICOS

Volume I
Gráfico 1-1 Sociograma da rede de conexões do Citigroup. ........................................................... 14
Gráfico 1-2 Artigos com palavra-chave: “Network”...................................................................... 15
Gráfico 1-3 Rede Social Bamerindus .............................................................................................. 16
Gráfico 1-4 Representação gráfica do efeito de um corpo na geometria do espaço / tempo........... 19
Gráfico 1-5 Representação gráfica de uma função de onda. ........................................................... 19
Gráfico 1-6 Fontes jornalísticas utilizadas na pesquisa. .................................................................. 21
Gráfico 2-1 Esfera de influência em Levine (1972) ........................................................................ 33
Gráfico 2-2 Rede de relações intercorporativas em Scott (1988).................................................... 34
Gráfico 2-3 Relação Patrimônio Líquido e o Total dos Ativos dos bancos brasileiros (média
dos percentuais de 1976 a 1994 – base em US$ milhões) ........................................... 41
Gráfico 3-1 Evolução dos ativos financeiros no mercado internacional por tipo de investidor
de 1980-1994 (em US$ bilhões) .................................................................................. 83
Gráfico 3-2 Ativos dos investidores institucionais dos principais países da OCDE (em US$
bilhões)......................................................................................................................... 83
Gráfico 3-3 Ativos dos investidores institucionais dos principais países da OCDE. (em US$
bilhões acumulados)..................................................................................................... 84
Gráfico 3-4 Crescimento do estoque de ativos financeiros de 1980 a 1992 (em US$ bilhões
US$) ............................................................................................................................. 85
Gráfico 3-5 O crescimento do estoque de ativos financeiros de 1980 a 1992 (em %) .................... 85
Gráfico 3-6 Formação bruta de capital fixo do setor privado e o crescimento do estoque de
ativos financeiros (1980-1992). (taxas médias de crescimento anuais) ....................... 85
Gráfico 3-7 Participação no mercado internacional (em %)............................................................ 87
Gráfico 3-8 Evolução de Financiamentos e Empréstimos líquidos no mercado internacional
(1982 - 1997)................................................................................................................ 87
Gráfico 3-9 O crescimento do estoque de ativos financeiros de 1980 a 1992 (em US$
bilhões)......................................................................................................................... 88
Gráfico 3-10 Nº de agências por bancos em 1950........................................................................... 100
Gráfico 3-11 Variação do IGP (DI) entre 1976 a 1985 (em %) ...................................................... 108
Gráfico 3-12 Variação do IGP (DI) entre 1970 e 1997 (em %) ...................................................... 120
Gráfico 3-13 Participação das Instituições Financeiras no PIB (em %).......................................... 122
Gráfico 3-14 Receita inflacionária / PIB (em %) ............................................................................ 122
Gráfico 3-15 Receita Inflacionária 1993-1994. (Médias Mensais em R$ milhões) ........................ 123
Gráfico 3-16 Receita Inflacionária x Valor da Produção das Instituições Bancárias (em %) ......... 124
Gráfico 3-17 Empréstimos em atraso e em liquidação no sistema financeiro (jan. 1994 - fev.
1997) .......................................................................................................................... 133
Gráfico 3-18 Intervenções do Bacen (1970 a 1997) ........................................................................ 134
Gráfico 4-1 Rede política dos avós de José Eduardo .................................................................... 144
Gráfico 4-2 Conexões entre os sócios do BPANP e a política (1926 a 1942)............................... 147
Gráfico 4-3 Conexões políticas do Grupo Atalaia (1938-1940).................................................... 148
Gráfico 4-4 Rede Política do Bancial (1944 – 1950) .................................................................... 156
Gráfico 4-5 Número de agências por banco. (1950)...................................................................... 157
Gráfico 4-6 Conexões políticas do grupos de sócios do BMIP (1951 – 1955).............................. 167
Gráfico 4-7 Produção de Café por Estado (em %) ........................................................................ 169
Gráfico 4-8 Conexões políticas do Bamerindus no período Othon Mäder (1952 a 1967) ............ 180
Gráfico 4-9 Conexões políticas do Grupo Bancial (1952 - 1960) ................................................. 181
Gráfico 4-10 Intervenções do Bacen (1970 - 1981) ........................................................................ 190
Gráfico 4-11 Conexões políticas do Bamerindus após a fusão com o grupo Bancial (1974 -
1980) .......................................................................................................................... 197
Gráfico 4-12 Evolução do Total dos Ativos (em US$ milhões)...................................................... 198
Gráfico 4-13 Participação dos bancos no Total dos Ativos dos bancos brasileiros (em %)............ 199
Gráfico 4-14 Evolução do número de agências no período 1972 a 1981. (em %) .......................... 200
Volume II
Gráfico 5-1 Bamerindus distribuição do PL por área de negócio entre 31 dez. 1981 e 30 jun.
1992 (em %)............................................................................................................... 213
Gráfico 5-2 Maiores empresas do Grupo Bamerindus em 31 dez. 1981 e 30 jun. 1992. .............. 213
Gráfico 5-3 Rede de participações do Grupo Bamerindus em 31 dez. 1993................................. 220
Gráfico 5-4 Classificação do Grupo Bamerindus pelo valor do Patrimônio Líquido (1981 a
1992) .......................................................................................................................... 221
Gráfico 5-5 Número de funcionários das empresas do Grupo Bamerindus – 1986 a 1994
(sem considerar o BBB) ............................................................................................. 222
Gráfico 5-6 Bamerindus Cia de Seguros - Retorno sobre o Patrimônio Líquido - 1990 / 1994
(em US$ mil).............................................................................................................. 227
Gráfico 5-7 Rentabilidade da Inpacel (1988 a 1994)..................................................................... 232
Gráfico 5-8 Rentabilidade da Inpacel em 1993 e 1994 (em R$ milhões)...................................... 233
Gráfico 5-9 Composição da amostra de bancos - valores médios do Total dos Ativos dos
bancos brasileiros no período 1976 a 1994 (em US$ milhões e %)........................... 262
Gráfico 5-10 Rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido e evolução do Total dos Ativos da
amostra de bancos no período 1977 a 1994 (em %) .................................................. 268
Gráfico 5-11 Rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido da amostra de bancos e evolução do
IGP (DI) no período 1977 a 1994 (em %).................................................................. 268
Gráfico 5-12 Participação dos bancos no Total dos Ativos da amostra de bancos brasileiros
(1981 a 19994) ........................................................................................................... 269
Gráfico 5-13 Correlação entre a participação dos bancos no Total dos Ativos da amostra e a
taxa de inflação (1982 a 1994) ................................................................................... 269
Gráfico 5-14 Crescimento da participação dos bancos (1994 x 1981) - em %................................ 269
Gráfico 5-15 Crescimento do Total dos Ativos em relação ao PIB de 1980 a 1994 (em US$
bilhões)....................................................................................................................... 270
Gráfico 5-16 Diferença entre o crescimento do Total dos Ativos em relação ao PIB de 1980 a
1994 (em %)............................................................................................................... 270
Gráfico 5-17 Planos Econômicos e variações do IGP (DI) e PIB – 1981 a 1994. (em %).............. 271
Gráfico 5-18 Bamerindus: valor do Total dos Ativos (em US$ milhões) ....................................... 275
Gráfico 5-19 Bamerindus: variação anual no Total dos Ativos (em %).......................................... 275
Gráfico 5-20 Participação sobre o Total dos Ativos da amostra (em %). ....................................... 275
Gráfico 5-21 Evolução do Total dos Ativos em 1989 (em %) ........................................................ 276
Gráfico 5-22 Evolução do Total dos Ativos em 1990. (em %) ....................................................... 276
Gráfico 5-23 Evolução do Total dos Ativos em 1987 (em %) ........................................................ 276
Gráfico 5-24 Evolução do Total dos Ativos dos bancos de 1981 a 1994. (em %) .......................... 277
Gráfico 5-25 Evolução da participação do Bamerindus no Total dos Ativos da amostra e a
variação do IGP (DI) ( 1981 a 1994) ......................................................................... 277
Gráfico 5-26 Correlação entre a participação do Bamerindus no Total dos Ativos da amostra e
a variação do IGP (DI) ............................................................................................... 277
Gráfico 5-27 Títulos da dívida pública federal em dezembro de 1989 (em Cr$ milhões) .............. 278
Gráfico 5-28 Operações de crédito dos bancos comerciais privados. Principais tomadores (em
%). .............................................................................................................................. 278
Gráfico 5-29 Bamerindus: Empréstimos e Financiamentos - 1981 a 1994. (em US$ milhões) ...... 281
Gráfico 5-30 Participação dos Empréstimos e Financiamentos no Total dos Ativos do BBB
no período 1981 a 1994. (em %) ................................................................................ 281
Gráfico 5-31 Participação dos bancos no total de Empréstimos e Financiamentos da amostra -
1981 a 1994 (em %) ................................................................................................... 281
Gráfico 5-32 Relação dos depósitos sobre empréstimos e financiamentos - 1981 a 1994. (em
%) ............................................................................................................................... 282
Gráfico 5-33 Número de intervenções do Bacen (1979 a 1987) ..................................................... 282
Gráfico 5-34 Estrutura de Capital do Banco Bamerindus - 1981 a 1994 (em US$ milhões) .......... 290
Gráfico 5-35 Estrutura de Capital do Banco Bamerindus - 1981 a 1997 (em %) ........................... 290
Gráfico 5-36 Depósitos do Banco Bamerindus - 1981 a 1994 – (em US$ milhões) ....................... 291
Gráfico 5-37 Participação do Depósitos na estrutura de Capital (em %) ........................................ 291
Gráfico 5-38 Participação dos Depósitos por banco no total da amostra (em %) ........................... 292
Gráfico 5-39 Capital de Terceiros (K3) do Banco Bamerindus (1981 a 1994) ............................... 297
Gráfico 5-40 Participação do K3 na estrutura de capital do Bamerindus no período 1981 a
1994. (em %).............................................................................................................. 297
Gráfico 5-41 Participação do Capital de Terceiros no total da amostra no período 1981 a 1994
(em %)........................................................................................................................ 297
Gráfico 5-42 Capital Próprio (Kp) ou Patrimônio Líquido do Bamerindus (1981 a 1994)............. 297
Gráfico 5-43 Participação do Capital Próprio (Kp) na estrutura de capital do Bamerindus no
período 1981 a 1994 (em %)...................................................................................... 298
Gráfico 5-44 Percentual do Patrimônio Líquido por banco (1981 a 1994) (em %). ....................... 299
Gráfico 5-45 Lucro Líquido do BBB no período 1981 a 1994 (em US$ milhões). ........................ 301
Gráfico 5-46 Rentabilidade do Patrimônio Líquido no período 1976 a 1994 (em %) .................... 302
Gráfico 5-47 Correlação da rentabilidade do Bamerindus com a taxa de inflação no período
1977 a 1994 (em %). .................................................................................................. 302
Gráfico 5-48 Rentabilidade do Patrimônio Líquido no período 1976 a 1994 (em %) .................... 303
Gráfico 5-49 Participação do BBB no Lucro Líquido da amostra no período 1981 a 1994 (em
%) ............................................................................................................................... 303
Gráfico 5-50 Número de agências do Banco Bamerindus. (1981 a 1994) ...................................... 303
Gráfico 5-51 Evolução no número de agências do Banco Bamerindus no período de 1972 a
1994. (em %).............................................................................................................. 304
Gráfico 5-52 Número médio de agências por Região - 1983 a 1994 (em %).................................. 305
Gráfico 5-53 Participação média das agências por Estado (1983 a 1988)....................................... 305
Gráfico 5-54 Evolução e participação médias das agências do Bamerindus por Região (em %) ... 306
Gráfico 5-55 Total dos Ativos e Lucro Líquido por agência - 1981 a 1994. (em US$ mil)............ 307
Gráfico 5-56 Número de funcionários do Grupo Bamerindus (1981 a 1994) ................................. 308
Gráfico 5-57 Variação percentual no número de funcionários do Banco Bamerindus. .................. 309
Gráfico 5-58 Relação entre o número de funcionários e a quantidade de agências do
Bamerindus - 1981 a 1994. (base agências)............................................................... 309
Gráfico 5-59 Relação entre o número de funcionários e a quantidade de agências do
Bamerindus - 1981 a 1994 (base empregados) .......................................................... 309
Gráfico 5-60 Investimentos e Lucro Líquido por empregado - 1981 a 1994. (em US$ mil) .......... 310
Gráfico 5-61 Desempenho do Banco Bamerindus - 1991 A 1993 (em US$ mil). .......................... 312
Gráfico 5-62 AEAT - Relação entre o Total dos Ativos no exterior e o Total dos Ativos do
Bamerindus (US$ milhões). ....................................................................................... 323
Gráfico 5-63 Desvio médio total dos indicadores em relação à amostra - 1981 a 1994 (em %)..... 335
Gráfico 5-64 Classificação dos Bancos por indicadores de desempenho (1981 a 1994). ............... 335
Gráfico 5-65 Desempenho do Bradesco, Itaú e Bamerindus (1981 a 1994) ................................... 336
Gráfico 5-66 Distribuição do poder no Grupo Bamerindus, classificado por sobrenome. (1981
a 1997)........................................................................................................................ 351
Gráfico 5-67 Distribuição do poder no Bamerindus por pessoa (1991 a 1997) .............................. 352
Gráfico 6-1 Partidos que atuaram na Assembléia Nacional Constituinte em 1987. (em %) ......... 372
Gráfico 6-2 Resultado do primeiro turno das eleições presidenciais de 1989 no Paraná (em
%). .............................................................................................................................. 375
Gráfico 6-3 Resultado das eleições presidenciais no primeiro turno em 1989 no Paraná (em
%) ............................................................................................................................... 375
Gráfico 6-4 Inflação mensal entre mar. 1989 e abr. 1990 (em %) ................................................ 376
Gráfico 6-5 Inflação mensal no período abr. 1990 a out. 1992 (em %) ........................................ 377
Gráfico 6-6 Variação mensal do IGP (DI) em 1994 (em %) ......................................................... 383
Gráfico 6-7 Rede Política Bamerindus .......................................................................................... 384
Gráfico 6-8 Rede Política Bamerindus (1981 a 1987)................................................................... 388
Gráfico 6-9 Rede Política e Corporativa Bamerindus (1988 a 1994)............................................ 389
Gráfico 6-10 Rede Política Bamerindus: Instituições ..................................................................... 390
Gráfico 6-11 Rede Política Bamerindus: Partidos........................................................................... 390
Gráfico 6-12 Rede Política Bamerindus: PTB (1987-1994)............................................................ 394
Gráfico 6-13 Bancadas por partidos e Ano na Assembléia Legislativa do Paraná (1987-1997)
(em %)........................................................................................................................ 397
Gráfico 6-14 Rede Política Bamerindus: IL-PR (1987-1994) ......................................................... 399
Gráfico 6-15 Rede Política Bamerindus: ACP GEC (1987-1994) .................................................. 401
Gráfico 6-16 Rede Política Bamerindus: Mario Andreazza (1980-1985) ....................................... 408
Gráfico 6-17 Rede Política Bamerindus: Affonso Camargo (1981 a 1994).................................... 410
Gráfico 6-18 Rede Política Bamerindus: José Eduardo de Andrade Vieira (1990-1994) ............... 413
Gráfico 6-19 Rede Política Bamerindus: Jayme Canet Jr (1981 a 1995) ........................................ 421
Gráfico 6-20 Rede Política Bamerindus: Ney Braga (1988) ........................................................... 424
Gráfico 6-21 Rede Política Bamerindus: José Richa (1981 a 1989) ............................................... 425
Gráfico 6-22 Rede Política Bamerindus: João Elísio Ferraz de Campos (1981 a 1989)................. 428
Gráfico 6-23 Rede Política Bamerindus: Belmiro Valverde (1981 a 1994).................................... 430
Gráfico 6-24 Rede Política Bamerindus: Roberto Requião (1981-1989)........................................ 431
Gráfico 6-25 Rede Política Bamerindus: Álvaro Dias (1981 a 1989) ............................................. 433
Gráfico 6-26 Rede Política Bamerindus: Ary Queiroz (1981 a 1989) ............................................ 436
Gráfico 6-27 Rede Política Bamerindus: José Carlos Gomes de Carvalho (1990 a 1997).............. 436
Gráfico 6-28 Rede Política Bamerindus: Jaime Lerner (1988 a 1993)............................................ 440
Gráfico 6-29 Rede Política Bamerindus: José Carlos Martinez (1985 a 1995)............................... 442
Gráfico 6-30 Rede Política Bamerindus: Basílio Villani (1981 a 1994) ......................................... 443
Volume III
Gráfico 7-1 Variação mensal do IGP (DI) em 1994...................................................................... 537
Gráfico 7-2 Percentual de cadeiras ocupadas pelo PTB na Assembléia Legislativa do Paraná.
(1990-1994)................................................................................................................ 540
Gráfico 7-3 Intervenções de JE no Senado no período 1991 - 1994. (em %)................................ 551

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Volume I
Ilustração 2-1 Elite do Poder............................................................................................................... 31
Ilustração 3-1 Planos Econômicos e Moedas brasileiras................................................................... 121
Ilustração 4-1 Família de Avelino Vieira.......................................................................................... 141
Ilustração 4-2 A família de Maria José de Andrade Vieira............................................................... 142
Ilustração 4-3 Família de José Eduardo ............................................................................................ 143
Ilustração 4-4 Mapa do Paraná com as principais cidades em 2000 ................................................. 150
Ilustração 4-5 Carta de Amador Aguiar em 7 jan. 1951 ................................................................... 161
Ilustração 4-6 Carta de Amador Aguiar em 4 set. 1951.................................................................... 164
Ilustração 4-7 Ata da 1º reunião do Banco Mercantil Industrial do Paraná ...................................... 165
Ilustração 4-8 Balancete do BMIP em 30 de novembro de 1952...................................................... 165
Ilustração 4-9 Carta Patente do Bamerindus ..................................................................................... 166
Ilustração 4-10 Bamerindus – Paraná ................................................................................................. 182
Ilustração 4-11 Bamerindus – São Paulo ............................................................................................ 183
Ilustração 4-12 Bamerindus – Rio de Janeiro ..................................................................................... 183
Ilustração 4-13 Bamerindus – Nordeste .............................................................................................. 184
Ilustração 4-14 Bamerindus – Investimento e Financeira ................................................................... 184
Ilustração 4-15 Bamerindus – Crédito Imobiliário ............................................................................. 185
Ilustração 4-16 Bamerindus – Seguradora .......................................................................................... 185
Ilustração 4-17 Bamerindus – Outros ................................................................................................. 186
Ilustração 4-18 Incorporação do Bancial ............................................................................................ 193
Ilustração 4-19 Mapa de localização do acidente aéreo. ..................................................................... 203
Ilustração 4-20 Seqüência da queda do avião. .................................................................................... 204
Volume II
Ilustração 5-1 Composição do Grupo Bamerindus em 1981 ............................................................ 218
Ilustração 5-2 Composição do Grupo Bamerindus em 31 dez. 1993................................................ 219
Ilustração 5-3 Instituições incorporadas pelo BBB (1981 a 1994) ................................................... 258
Ilustração 5-4 Midland Bank no Brasil (1991).................................................................................. 327
Ilustração 5-5 Organograma organizacional do Grupo Bamerindus em 1982. ................................. 341
Volume III
Ilustração 7-1 José Eduardo como candidato “Zé do Chapéu” ......................................................... 463
Ilustração 7-2 Caricatura “Zé Dinheirindus” .................................................................................... 476
Ilustração 7-3 Fotografias de JE publicadas pelo jornais. ................................................................. 512
Ilustração 7-4 Gazeta Mercantil anuncia a intervenção do Bacen no Bamerindus. .......................... 557
Ilustração 7-5 José Eduardo de Andrade Vieira................................................................................ 566
Ilustração Anexo 1: Genealogia do Grupo Bamerindus - I ................................................................... 675
Ilustração Anexo 2: Genealogia do Grupo Bamerindus - II.................................................................. 676

LISTA DE QUADROS

Volume I
Quadro 2-1 Rede de relações intercorporativas - “Network of intercorporate relations”
(SCOTT, 1988). ........................................................................................................... 34
Quadro 2-2 Linha da história (síntese). ........................................................................................... 73
Quadro 3-1 Formato institucional de bancos e instituições financeiras não bancárias (1989-
1992) ............................................................................................................................ 90
Quadro 3-2 Empresas privatizadas entre 1991 e 1997. ................................................................. 116
Quadro 4-1 Presidentes, Vice-Presidentes, Governadores e Vice-Governadores do Estado do
Paraná– 1912 a 1945. ................................................................................................. 151
Quadro 4-2 Inventário dos bens do Grupo Lupion (1947) ............................................................ 154
Quadro 4-3 Relação parcial de pessoas que ocuparam cargos públicos eletivos e que tiveram
ligações diretas com o Grupo Bamerindus (1933 a 1981). ........................................ 208
Volume II
Quadro 5-1 Composição do Grupo Bamerindus (1981 a 1994).................................................... 211
Quadro 5-2 Principais empresas do Grupo Bamerindus (controladas e minoritárias) e seus
sócios (30 jun. 1981 e 30 dez. 1993).......................................................................... 214
Quadro 5-3 Empresas nas quais o Bamerindus detinha participação acionário inferior a 50%
em 1983...................................................................................................................... 217
Quadro 5-4 Relação de empresas sob investigação nos EUA em 2002. ....................................... 265
Quadro 5-5 Composição do Grupo CCN em 1981. ...................................................................... 284
Quadro 5-6 Sócios estrangeiros do Grupo Bamerindus em diversos empreendimentos (1981
a 1994)........................................................................................................................ 324
Quadro 5-7 Líderes Empresariais brasileiros - 1989 A 1992. ....................................................... 345
Quadro 6-1 Candidatos aos cargos de governadores pelo PP (1981)............................................ 366
Quadro 6-2 Relação parcial de pessoas que ocuparam cargos públicos e integravam a Rede
Política Bamerindus. .................................................................................................. 385
Quadro 6-3 Relação parcial dos principais integrantes da Rede Política Bamerindus no
Paraná (1933-1997).................................................................................................... 386
Quadro 6-4 Empresários e empresas participantes do Instituto Liberal do Paraná (1987-
2000) .......................................................................................................................... 400
Quadro 6-5 Empresários integrantes do GEC - Grupo de empresários de Curitiba. (1990 a
1994) .......................................................................................................................... 402
Quadro 6-6 Empresas do Grupo José Carlos Gomes de Carvalho em 1984 e Grupo Corujão
em 1990...................................................................................................................... 437
Quadro 6-7 Cargos ocupados por José Carlos Gomes de Carvalho. ............................................. 439
Volume III
Quadro 7-1 Candidatos a governador do Paraná em 1990 ............................................................ 470
Quadro 7-2 Candidatos ao Senado pelo Paraná em 1990.............................................................. 470
Quadro 7-3 Ministros da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária do Brasil do
governo Itamar Franco (1993 e 1994)........................................................................ 503
Quadro 7-4 Candidatos a governador e senador no Paraná em 1994. ........................................... 533
Quadro 7-5 Novos banqueiros brasileiros ..................................................................................... 562
Quadro Apêndice 1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos................................................... 636
Quadro Apêndice 2: Relação parcial das atividades do Senador José Eduardo no Senado (1991-
1994). ......................................................................................................................... 658
Quadro Apêndice 3: Código de empresas. ............................................................................................ 662
Quadro Apêndice 4: Expansão do Grupo HSBC - 1865 a 1999. .......................................................... 665
Quadro Anexo 1: As três etapas da emergência das finanças de mercado mundializadas.................... 674
Quadro Anexo 2: Relação dos partidos políticos brasileiros – (1945-2003)......................................... 677

LISTA DE TABELAS

Volume I
Tabela 1-1 Relação de fontes jornalísticas utilizadas na pesquisa. ................................................ 21
Tabela 3-1 Número de bancos por país (1883 a 1932)................................................................... 80
Tabela 3-2 Centros Financeiros Globais (em US$ bilhões) ........................................................... 86
Tabela 4-1 Relatório financeiro do BPANP em 1940 e 1942 (em Cr$)....................................... 146
Tabela 4-2 Relação parcial dos acionistas do Bancial ................................................................. 162
Tabela 4-3 Valor do Total dos Ativos dos bancos (em US$ milhões) ......................................... 198
Tabela 4-4 Participação dos bancos no Total dos Ativos dos bancos brasileiros (em %)............ 199
Tabela 4-5 Empresas do Grupo Bamerindus em 1981................................................................. 200
Volume II
Tabela 5-1 Maiores grupos empresariais privados do Brasil - classificação pelo valor do
Patrimônio Líquido em dezembro de cada ano.......................................................... 221
Tabela 5-2 Maiores grupos privados brasileiros por Patrimônio Líquido em 1989 e
1992.(US$ milhões) ................................................................................................... 221
Tabela 5-3 Posição dos maiores grupos nacionais por Receita Operacional Líquida. Brasil -
1992............................................................................................................................ 222
Tabela 5-4 Produção de Papéis Revestidos no Brasil em 1996 (em mil t)................................... 232
Tabela 5-5 Participações do Bamerindus em empresas privatizadas em 1993. ........................... 244
Tabela 5-6 Média do Total dos Ativos da amostra de bancos brasileiros de 1976 a 1994.
(em US$ milhões) ...................................................................................................... 262
Tabela 5-7 Acionista do BBB e do Grupo Bamerindus (1982 a 1994)........................................ 301
Tabela 5-8 Localização das agências do Bamerindus por Estados e Regiões.............................. 304
Tabela 5-9 Imóveis utilizados pelo Bamerindus (1990 a 1992)................................................... 306
Tabela 5-10 Retorno sobre o Capital Próprio. Lucro Líquido sobre o Patrimônio Líquido -
1991 e 1992 (em %) ................................................................................................... 324
Tabela 5-11 Classificação do BBB por tamanho (1981 a 1994). ................................................... 333
Tabela 5-12 Classificação do BBB por indicadores (1981 a 1994) ............................................... 334
Tabela 5-13 Cargos ocupados por José Eduardo no Grupo Bamerindus (1981 a 1994)................ 345
Tabela 5-14 Participações acionárias da Fundação Bamerindus de Assistência Social (FBAS)
em 31 dez. 1993. ........................................................................................................ 347
Tabela 5-15 Principais membros da Diretoria e Conselho de Curadores da FBAS (1989 a
1996). ......................................................................................................................... 348
Tabela 5-16 Relação dos principais Diretores, Acionistas e Controladores do Grupo
Bamerindus (1981 a 1997) ......................................................................................... 349
Tabela 5-17 Cargos ocupados por José Márcio Peixoto no Grupo Bamerindus (1981 a 1994)..... 353
Tabela 5-18 Cargos ocupados por Jair Jacob Mocelin no Grupo Bamerindus (1981 a 1994) ....... 354
Tabela 5-19 Cargos ocupados por Ottorino Marini no Grupo Bamerindus (1981 a 1994)............ 354
Tabela 5-20 Cargos ocupados por Hamílcar Pizzatto no Grupo Bamerindus (1981 a 1994)......... 356
Tabela 5-21 Cargos ocupados por Maurício Schulman no Grupo Bamerindus (1981 a 1994)...... 358
Tabela 5-22 Cargos ocupados por João Elísio Ferraz de Campos no Grupo Bamerindus
(1981 a 1994) ............................................................................................................. 359
Tabela 5-23 Cargos ocupados por Maria Christina de Andrade Vieira no Grupo Bamerindus
(1981 a 1994) ............................................................................................................. 360
Tabela 6-1 Número de vezes que cada Deputado mudou de partido na Assembléia
Legislativa do Paraná (1987-1997). ........................................................................... 391
Tabela 6-2 Resultados eleitorais do Paraná – 1982...................................................................... 393
Tabela 6-3 Deputados eleitos pelo PTB em 03 out. 1990 ............................................................ 397
Tabela 6-4 Número de deputados federais e estaduais por partido, eleitos em 03 out. 1990....... 398
Volume III
Tabela 7-1 Cargos ocupados por Sérgio Sibel Soares no Grupo Bamerindus (1981 a 1994)...... 468
Tabela 7-2 Resultado da eleição para o Senado em 03 out. 1990 ................................................ 481
Tabela 7-3 Temas explorados na campanha eleitoral “Zé do Chapéu”........................................ 482
Tabela 7-4 Investimento publicitário por grupo em 1993. (em US$ milhões)............................. 525
Tabela 7-5 Resultado das eleições para o Senado no Paraná em 1994. ....................................... 538
Tabela 7-6 Resultado da votação para governador do Paraná em 1994....................................... 539
Tabela 7-7 Candidatos do PTB para os cargos de deputado federal e estadual, eleitos em
1994............................................................................................................................ 539
Tabela 7-8 Resultado das eleições para deputado federal e estadual em 1994 (em %)................ 540
Tabela 7-9 Intervenções de JE no Senado (1991 – 1994) ............................................................ 550
Tabela Apêndice 1: Banco de dados econômico-financeiros da amostra de bancos brasileiros -
1976 a 1994 (em US$ milhões).................................................................................. 656
Tabela Apêndice 2: Cargos de comando no Bamerindus...................................................................... 661
Tabela Apêndice 3: Intervenções do Bacen ( 1974-1980) .................................................................... 663
Tabela Apêndice 4: Quantidade de intervenções do Bacen (1950 a 1999)........................................... 664
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Sigla Descrição

Abcip Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança


Aberje Associação Brasileira de Comunicação Empresarial
ACP Associação Comercial do Paraná
ACSP Associação Comercial de São Paulo
AE Agência Estado
AGNA Applied Graph & Network Analysis
APPC Associação dos Países Produtores de Café
Arena Aliança Renovadora Nacional
Atalaia Atalaia Companhia de Seguros
Bacen Banco Central do Brasil (ver BC e BCB)
Badep Banco de Desenvolvimento do Estado do Paraná
Bancial Banco Comercial do Paraná S.A.
Banespa Banco do Estado de São Paulo S.A.
Banestado Banco do Estado do Paraná S.A.
BB Banco do Brasil S.A.
BBB Banco Bamerindus do Brasil S.A.
BC Banco Central do Brasil (ver Bacen e BCB)
BCB Banco Central do Brasil (ver Bacen e BC)
BCS Bamerindus Cia de Seguros
BIS Bank for International Settlements
BMIP Banco Mercantil e Industrial do Paraná
BMP Banco Meridional da Produção
BNDE Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BNDESPAR BNDES Participações S.A.
BNH Banco Nacional da Habitação.
Bovespa Bolsa de Valores de São Paulo
BPANP Banco Popular e Agrícola do Norte do Paraná
Bradesco Banco Brasileiro de Desconto S.A.
BRDE Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul
BVRJ Bolsa de Valores do Rio de Janeiro
CCN Companhia de Comércio e Navegação
CDE Conselho de Desenvolvimento Econômico
Cedes Câmara de Estudos e Debates Sócio-Econômicos
CEF Caixa Econômica Federal
Cefet Pr Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
Cemig Companhia Mineradora de Minas Gerais
Cendi Centro de Desenvolvimento Industrial do Paraná
Chesf Companhia Hidro Elétrica do São Francisco
Cia. Companhia
CIC Cidade Industrial de Curitiba
CMN Conselho Monetário Nacional
CNF Confederação Nacional das Instituições Financeiras
CNI Confederação Nacional das Indústrias
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
“National Counsel of Technological and Scientific Development”
CNT Central Nacional de Televisão
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Sigla Descrição

CNTP Companhia de Terras Norte do Paraná


Codepar Companhia de Desenvolvimento do Paraná.
Copel Companhia Paranaense de Energia
Copesul Companhia Petroquímica do Sul
CP Certificados de Privatização
CPDOC O Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil
CPI Comissão Parlamentar de Inquérito
CPMI Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
CRB Conta Remunerada Bamerindus
CSN Companhia Siderúrgica Nacional
CUT Central Única dos Trabalhadores
CVM Comissão de Valores Mobiliários
CVRD Companhia Vale do Rio Doce
DHBB Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro pós 1930
DIAP Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar
DCN2 Diário do Congresso Nacional. Seção II.
DSF Diário do Senado Federal
Dinor Diretoria da Área de Normas e Organização do Sistema Financeiro do Bacen
Dirad Diretoria da Área de Administração do Bacen
Docenave Navegação Vale do Rio Doce S.A.
ECONÔMICO Banco Econômico S.A.
EUA Estados Unidos da América
Famepar Fundação de Assistência dos Municípios de Estado do Paraná
FCESP Federação do Comércio do Estado de São Paulo
FCVS Fundo de Compensação de Variações Salariais.
Febraban Federação Brasileira de Bancos e Federação Brasileira das Associações de
Bancos.
Fenaban Federação Nacional dos Bancos
FGC Fundo Garantidor de Crédito
FGDLI Fundo de Garantia dos Depósitos e Letras Imobiliárias
FGV Fundação Getúlio Vargas
FHC Fernando Henrique Cardoso
FIEP Federação das Indústrias do Estado do Paraná
FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
Finame Administração da Agência Especial de Financiamento
Firjan Federação das Indústrias do Rio de Janeiro
FMI Fundo Monetário Internacional (ver IMF)
Fosfértil Fertilizantes Fosfatados S.A.
FSE Fundo Social de Emergência
FSP Jornal Folha de São Paulo
GEC Grupo de Empresários de Curitiba
GM Gazeta Mercantil
HSBC The Hongkong and Shanghai Banking Corporation Limited
Iapas Instituto de Administração da Previdência Social
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
IEMP Rede: Ideológica, Econômica, Militar e Política.
IGP (DI) Índice Geral de Preços (Disponibilidade Interna)
II PND Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Sigla Descrição

IL-PR Instituto Liberal do Paraná


IL Instituto Liberal
IMF International Monetary Fund (ver FMI)
Inpacel Indústria de Papel e Celulose Arapoti S.A.
INPS Instituto Nacional de Previdência Social
INSNA International Network for Social Network Analysis
INSS Instituto Nacional de Seguridade Social
IPMF Imposto sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos
de Natureza Financeira
Ippuc Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano de Curitiba
Itaú Banco Itaú S.A.
ITF Imposto sobre Transações Financeiras
JB Jornal do Brasil
JE José Eduardo de Andrade Vieira
Jucepar Junta Comercial do Paraná
MDB Movimento Democrático Brasileiro
MDS Multidimensional Scale
MICT Ministério da Indústria, Comércio e Turismo
MP Medida Provisória
NACIONAL Banco Nacional S.A.
Nesfi Núcleo de Estudos Sociopolíticos do Sistema Financeiro
NPEFT Núcleo de Pesquisa em Energia: Finanças e Tecnologia
OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (ver OECD)
OECD Organization for Economic Co-operation and Development (ver OCDE)
OESP Jornal O Estado de São Paulo
OM Organizações Martinez
PDC Partido Democrático Cristão (Fusão com PDS e Criação do PPR)
PDS Partido Democrático Social (Fusão com PDS e Criação do PPR)
PDT Partido Democrático Trabalhista
Petrofértil Petrobrás Fertilizantes S.A.
PFL Partido da Frente Liberal
PL Partido Liberal
PLC Public Limited Company
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PND Programa Nacional de Desestatização
PP Partido Popular
PP Partido Progressista (Antigo PPB)
PPB Partido Progressista Brasileiro
PPGSP Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política
PPR Partido Progressista Reformador (Fusão com PP e formação do PPB)
PR Estado do Paraná
PR Partido Republicano
PRN Partido da Reconstrução Nacional
Proer Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema
Financeiro Nacional
PS Partido Social Democrático
PSB Partido Socialista Brasileiro
PSC Partido Social Cristão
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Sigla Descrição

PSD Partido Social Democrático


PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
PT Partido dos Trabalhadores
PTB Partido Trabalhista Brasileiro
RAET Regime de Administração Especial Temporária
RCB Rede Corporativa Bamerindus
RGA Relação Geral de Acionistas
RPB Rede Política Bamerindus
RSFN Rede do Sistema Financeiro Nacional
S. A. Sociedade Anônima
Sanepar Companhia de Saneamento do Paraná
SCFI Sociedade de Crédito, Financiamento e Investimento.
SCICP Sociedade de Crédito Imobiliário e Caderneta de Poupança
SFI Sistema Financeiro Internacional
SFN Sistema Financeiro Nacional
Sindiseg-Pr Sindicato das Empresas de Seguros Privados e Capitalização no Estado do Paraná
Sudam Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia.
Sudene Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste.
Sunamam Superintendência da Marinha Mercante
TP Jornal Tribuna do Paraná
TR Taxa Referencial de Juros
TRD Taxa de Referencia Diária
UDN União Democrática Nacional
UFPR Universidade Federal do Paraná
UFSC Universidade Federal de Santa Catarina
Unibanco União de Bancos Brasileiros S.A.
Unicamp Universidade Estadual de Campinas
URBS URBS - Urbanização de Curitiba S.A.
URV Unidade Real de Valor
Usiminas Usina Siderúrgica de Minas Gerais
USP Universidade de São Paulo
UTFPR Universidade Tecnológica Federal do Paraná (antigo Cefet Pr)
SUMÁRIO

VOLUME I

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................1

1.1 A TESE ................................................................................................................................ 4


1.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................................ 11
1.2.1 Redes sociais, políticas e corporativas.................................................................... 12
1.2.2 Aplicando a metodologia de redes sociais .............................................................. 16
1.2.3 Fontes de pesquisa .................................................................................................. 20

2 CAPÍTULO I: INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS E O PODER NO


CAPITALISMO FUNDAMENTOS TEÓRICOS .....................................................23

2.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 23


2.2 GRAMSCI E AS REDES SOCIAIS .......................................................................................... 23
2.2.1 Redes Políticas ........................................................................................................ 24
2.2.2 Rede corporativa, intercorporativas ou transcorporativas....................................... 32
2.3 CAPITAL FINANCEIRO....................................................................................................... 36
2.4 HEGEMONIA FINANCEIRA ................................................................................................. 45
2.4.1 O mundo político e a hegemonia financeira ........................................................... 51
2.4.2 Discurso ideológico e a hegemonia financeira ....................................................... 52
2.5 GRUPOS ECONÔMICOS ...................................................................................................... 54
2.5.1 O Grupo Bamerindus .............................................................................................. 60
2.6 ELITES ORGÂNICAS .......................................................................................................... 62
2.7 ORGANIZAÇÃO CORPORATIVA ......................................................................................... 68
2.8 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES.................................................................................... 72

3 CAPÍTULO II: O SISTEMA FINANCEIRO ................................................................75

3.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 75


3.2 O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL ....................................................................... 75
3.2.1 A hegemonia inglesa (1816-1914).......................................................................... 76
3.2.2 O interguerras (1918 – 1943).................................................................................. 80
3.2.3 Bretton Woods (1944-1970) ................................................................................... 81
3.2.4 A mundialização financeira (1971 – 1994)............................................................. 82
3.2.5 Dívida pública......................................................................................................... 88
3.2.6 Bancos..................................................................................................................... 89
3.3 ANÁLISES E INTERPRETAÇÕES ......................................................................................... 91
3.4 PARTE II: O SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO .............................................................. 95
3.4.1 Período: 1808 a 1979 .............................................................................................. 95
3.4.2 Período 1980 - 1994.............................................................................................. 104
3.4.3 Uma breve revisão dos anos 1995 a 1997............................................................. 132
3.5 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES .................................................................................. 135

4 CAPÍTULO III: A FAMÍLIA VIEIRA E O BAMERINDUS ....................................137


4.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 137
4.2 A FAMÍLIA VIEIRA E AS CONEXÕES POLÍTICAS DO BAMERINDUS (DAS ORIGENS
ATÉ 1981)........................................................................................................................ 138
4.2.1 Os avós de José Eduardo de Andrade vieira ......................................................... 138
4.2.2 Avelino Antônio Vieira e sua Família .................................................................. 140
4.3 O BANCO POPULAR E AGRÍCOLA DO NORTE DO PARANÁ (BPANP)............................ 145
4.3.1 Atalaia Cia de Seguros.......................................................................................... 148
4.3.2 O processo político paranaense............................................................................. 149
4.4 O BANCO COMERCIAL DO PARANÁ ............................................................................... 152
4.4.1 O Lupionismo – Parte I......................................................................................... 154
4.4.2 A saída do grupo de Avelino Vieira do Bancial ................................................... 160
4.5 O BANCO MERCANTIL E INDUSTRIAL DO PARANÁ ........................................................ 164
4.5.1 O café do Paraná ................................................................................................... 168
4.5.2 A formação do Grupo Bamerindus (1952-1981) .................................................. 170
4.6 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES .................................................................................. 206

VOLUME II

5 Capítulo IV - O GRUPO BAMERINDUS (1981 – 1994) ............................................210

5.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 210


5.2 O GRUPO BAMERINDUS (1981 – 1994)........................................................................... 210
5.2.1 A Composição do Grupo Bamerindus .................................................................. 211
5.2.2 As Seguradoras do Bamerindus (1981 a 1994)..................................................... 222
5.2.3 Indústria de Papel e Celulose Arapoti S.A. (Inpacel) ........................................... 227
5.2.4 Empresas de comunicação .................................................................................... 238
5.2.5 O Bamerindus e as privatizações .......................................................................... 243
5.2.6 Agronegócios e o Bamerindus .............................................................................. 252
5.3 O BANCO BAMERINDUS (1981 – 1994)........................................................................... 258
5.3.1 Introdução ............................................................................................................. 258
5.3.2 Incorporações de bancos ....................................................................................... 258
5.3.3 Análise econômico-financeira .............................................................................. 261
5.3.4 A Internacionalização do Bamerindus .................................................................. 317
5.3.5 Síntese do desempenho geral do Banco Bamerindus............................................ 332
5.4 O PODER NO GRUPO BAMERINDUS (1981 - 1994).......................................................... 338
5.4.1 Introdução ............................................................................................................. 338
5.4.2 A estrutura de poder.............................................................................................. 339
5.5 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES.................................................................................. 360

6 Capítulo V: A REDE POLÍTICA BAMERINDUS (1981 – 1994) .............................364

6.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 364


6.2 A HISTÓRIA POLÍTICA BRASILEIRA DO PERÍODO 1981 A 1994...................................... 364
6.2.1 O Partido Popular (PP).......................................................................................... 365
6.2.2 A sucessão de João Figueiredo ............................................................................. 368
6.2.3 A Nova República................................................................................................. 370
6.2.4 A Assembléia Nacional Constituinte .................................................................... 372
6.2.5 A campanha presidencial de 1989 ........................................................................ 373
6.2.6 A sucessão de Fernando Collor de Mello ............................................................. 376
6.2.7 A campanha presidencial de 1994 ........................................................................ 380
6.3 A REDE POLÍTICA BAMERINDUS (RPB) (1981 A 1994) ................................................ 384
6.3.1 Instituições que integraram a Rede Política Bamerindus...................................... 390
6.3.2 Pessoas que integraram a Rede Política Bamerindus............................................ 407
6.4 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES. ............................................................................... 452

VOLUME III

7 Capítulo VI: O BANQUEIRO E POLÍTICO JOSÉ EDUARDO DE


ANDRADE VIEIRA. (1990 A 1994) .........................................................................457

7.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 457


7.2 A AÇÃO POLÍTICA DO BANQUEIRO JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA .................... 458
7.2.1 Campanha Eleitoral para o Senado de 1990 ......................................................... 458
7.2.2 Senador e Ministro (1991-1993)........................................................................... 485
7.2.3 Sucessão Presidencial de 1994.............................................................................. 515
7.3 OS ÚLTIMOS ANOS DO BAMERINDUS (1995 A 1997) ...................................................... 551
7.3.1 O HSBC ................................................................................................................ 562
7.4 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES.................................................................................. 563

8 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES FINAIS .......................................................567

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................584

FONTES: PERIÓDICOS .............................................................................................................. 610


FONTE: DOCUMENTOS ITERNOS DO BAMERINDUS ................................................................... 633

GLOSSÁRIO .......................................................................................................................635

APÊNDICES ........................................................................................................................636

APÊNDICE A - LINHA DO TEMPO ............................................................................................. 636


APÊNDICE B - BANCO DE DADOS ECONÔMICO-FINANCEIROS DA AMOSTRA DE BANCOS
BRASILEIROS ................................................................................................. 656
APÊNDICE C - RELAÇÃO DAS ATIVIDADES NO SENADO FEDERAL............................................ 658
APÊNDICE D - TABELA DE CARGOS ......................................................................................... 661
APÊNDICE E - CÓDIGOS DE EMPRESAS .................................................................................... 662
APÊNDICE F - INTERVENÇÕES DO BACEN ................................................................................ 663
APÊNDICE G - QUANTIDADE DE INTERVENÇÕES DO BACEN .................................................... 664
APÊNDICE H - HISTÓRIA DO HSBC - THE HONGKONG AND SHANGHAI BANKING
CORPORATION LIMITED ................................................................................ 665
Principais membros do Grupo HSBC ...................................................... 665
Os interesses do grupo na Ásia ................................................................ 666
O HSBC na Europa.................................................................................. 667
Os interesses no Oriente Médio ............................................................... 668
O Grupo HSBC nas Américas ................................................................. 669
APÊNDICE I - CAPA DO PROJETO DE PESQUISA EM 2002.......................................................... 672
APÊNDICE J - CAPA DO PROJETO DE PESQUISA EM 2003 ......................................................... 673
ANEXOS ..............................................................................................................................674

ANEXO A - ETAPAS DA EMERGÊNCIA DAS FINANÇAS DE MERCADO MUNDIALIZADAS .............. 674


ANEXO B - FORMAÇÃO DO GRUPO BAMERINDUS ................................................................... 675
ANEXO C - GENEALOGIA DO GRUPO BAMERINDUS ................................................................. 676
ANEXO D - RELAÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS – (1945-2003) ......................... 677

ÍNDICE ANALÍTICO.........................................................................................................678
1 INTRODUÇÃO

“Solve et Coagula”
Altus, Mutus Líber1.

1
Logo após o Banco Central do Brasil decretar a intervenção no Grupo Bamerindus em
março de 1997, Maria Christina de Andrade Vieira2, em entrevista à revista Carta Capital, expôs a
sua opinião sobre as causas da segunda grande tragédia que atingia sua família:
1
[...] política e banco, instituição financeira, não se misturam. Meu pai já dizia isso,
meu pai foi deputado e se afastou, abriu mão da vida política e sempre nos alertou
para essa coisa. Banco trabalha com uma palavra que é credibilidade. Na política essa
palavra não é a mais relevante, fica incompatível. [...] o Olavo Setúbal teve a sua
experiência e retroagiu, abriu mão.3 [...] Sempre fui contra [a entrada de José Eduardo
na política] e ele sabe disso. (LETAIF, 1997, p. 41)4.

2
Mas, logo em seguida ponderou dizendo:
2
Eu entendo como questões de poder, de lideranças de poder. Em muitos momentos, no
meu entendimento da crise do banco, não poderia acontecer a solução porque não era
o momento político adequado para a Presidência da República. [...] o político sempre
predominando sobre o financeiro. (LETAIF, 1997, p. 41. Grifo nosso).

3
Nas diversas conversas que tivemos com profissionais do setor financeiro, foi possível
constatar que esta opinião é mais ou menos senso comum na área e que aparece sintetizada numa
das inúmeras frases colhidas nos depoimentos: – “Bancos e política não deveriam misturar-se, mas
os banqueiros e os políticos sempre foram casados de aliança e papel passado” 5. Segundo a
opinião de um auditor que trabalhou no Bamerindus antes e depois da intervenção, “o problema do
banco foi essencialmente político”, e explicou que:
3
[...] enquanto o Bamerindus negociava as diferenças diárias de caixa com o Banco do
Brasil, ainda eram observados alguns critérios técnicos, mas quando teve que recorrer
à Caixa Econômica Federal, acabou caindo nas mãos dos políticos de Brasília.
(Depoimento verbal).

1
Fonte: ALTUS. Mutus Liber. Rochelle, França, 1677. Disponível em: <http://www.lescheminsdhermes.org/
rubrique36.html>. Acesso em: 6 jan. 2006.
2
Maria Christina de Andrade Vieira é irmã de José Eduardo de Andrade Vieira. Como uma das herdeiras da família Vieira,
era sócia do Grupo Bamerindus e ocupou cargos na administração do grupo.
3
As análises dos acontecimentos que levaram Olavo Egydio Setúbal a desistir de concorrer a cargos eletivos, apontam muito
mais para diagnósticos objetivos de suas chances de derrotar concorrentes mais populares, do que propriamente por algum
tipo de restrição ao exercício da atividade política na condição de banqueiro. Vale observar que seu amigo e também sócio
do Banco Itaú, Herbert Victor Levy, além de banqueiro, jornalista e proprietário do jornal Gazeta Mercantil, atuou na
política desde 1945 tendo sido um dos fundadores da UDN.
4
Fonte: LETAIF, Nelson. Entrevista: Maria Christina de Andrade Vieira. O rugido da leoa ferida. Para irmã do senador
Andrade Vieira, o Bamerindus quebrou por ele não comandar nem delegar poderes. Carta Capital, São Paulo, 16 abr. 1997,
nº 46, p. 36-42.
5
Fonte: Depoimento verbal prestado sob a condição de não ser identificado.
2

4
Nesse sentido, a história do capitalismo demonstra que os bancos e o Estado, banqueiros e
políticos, há muito tempo têm coexistido de forma entrelaçada, sendo difícil, em muitos momentos,
distinguir diferenças entre eles. Ao que parece, pelo menos no setor bancário, a margem que separa
o público do privado tem sido tênue e confusa, e em permanente movimento. Se no Brasil, casos
recentes como os de Ângelo Calmon de Sá, do Banco Econômico, e José Eduardo de Andrade
Vieira (JE), do Bamerindus, são normalmente citados como exemplos do “fracasso” da fusão
bancos / política, não podemos deixar de notar alguns exemplos de “sucesso” tais como: Laudo
Natel / Bradesco; Herbert Levy e Olavo Setúbal / Banco Itaú; Walther Moreira Salles / Unibanco;
José de Magalhães Pinto enquanto esteve no comando do Banco Nacional; ou mesmo as casas
Baring Brothers e Rothschild na Europa durante os séculos XIX e XX; ou os Rockefellers e o
Chase Manhattan Bank dos EUA e outras dezenas ou centenas de casos. Tanto no Brasil como nos
grandes centros capitalistas, a história demonstra que os banqueiros e seus bancos, atuando nos
bastidores ou no centro do palco, participaram ativamente das grandes transformações econômicas,
políticas e sociais. Decididamente, os casos brasileiros apenas reproduzem um modelo tão velho
quanto a prática de emitir e negociar títulos da dívida pública6. Neste contexto, a quantidade de
exemplos parece demonstrar que, em muitas situações, o fenômeno da combinação e sobreposição
do mundo político com o financeiro seria mais do que uma simples coincidência, uma prática
comum nas sociedades capitalistas.
5
Tal fenômeno teria origem no fato de os bancos terem ocupado um lugar estratégico na
estrutura capitalista que permitia aos banqueiros concentrarem uma grande capacidade
discricionária sobre o fluxo de recursos financeiros nas principais operações econômicas; essa
capacidade lhes possibilitava, em boa medida, promover ou constranger transformações no sistema
econômico com reflexos condicionantes sobre o Estado e a sociedade. O sistema bancário estaria
entre as mais importantes instituições de mediação dos conflitos alocativos e distributivos do
capitalismo, exigindo que, se quisermos estudar as instituições bancárias, temos que ampliar o
horizonte de análise para além das fronteiras do mundo financeiro, abrindo espaço de observação
para uma lógica muito mais ampla e complexa, incorporando variáveis políticas e sociais.
6
Neste trabalho apresentamos o resultado deste esforço de análise através do estudo de um
grupo econômico e financeiro que chegou a ser o quinto maior grupo privado brasileiro nos anos
1980. Entre suas empresas estava o Banco Bamerindus do Brasil S.A., que durante vários anos foi o
terceiro maior banco privado brasileiro em ativos e, em determinado momento, o segundo maior em
depósitos. Vários de seus sócios e diretores ocuparam cargos públicos importantes, inclusive o
governo do Estado do Paraná. Seu personagem mais notório e popular, José Eduardo de Andrade
Vieira (JE), foi senador da República, Ministro de Estado, presidente nacional do Partido
Trabalhista Brasileiro (PTB) e tesoureiro da campanha presidencial vitoriosa de Fernando Henrique

6
Para mais detalhes sobre a ação política de banqueiros e políticos na Inglaterra, EUA e Brasil, ver PEREIRA, T. C. G.
Histórias de bancos e banqueiros: uma breve análise sociológica e política do sistema bancário. Ciências Sociais Unisinos:
Centro de Ciências Humanas, São Leopoldo, vol. 39, nº 163, p. 109-135, jul. / dez. 2003.
3

Cardoso (FHC), em 1994. Ao longo desta tese vamos identificar e analisar as principais conexões
do Grupo Bamerindus com o mundo político, o Estado e a sociedade, buscamos focalizar e
relacionar fatos e ações diretas e indiretas, promovidas pelos seus banqueiros e que foram
importantes, senão decisivas, em muitos momentos da história do Paraná e do Brasil.
7
Este tipo de análise sociopolítica do sistema financeiro não é novo na sociologia e, apesar
de não haver uma produção teórica muito grande, Richard Swedberg (1989)7 observou haver uma
retomada de “interesse na área específica da sociologia econômica”, resgatando uma tradição
iniciada com Marx, Weber, Pareto e Schumpeter, e que mais tarde, nos anos 1950, teve
continuidade com autores como Smelser, Parsons e Polanyi. Na área da sociologia política os
bancos são especialmente relevantes em razão do lugar estratégico que ocupam no topo do sistema
econômico – “haute finance” – que em muitos momentos da história confundiu com o mundo
político. Financiando Estados, grupos econômicos, políticos, partidos, projetos de desenvolvimento,
guerras, revoluções, controlando ou gerando crises financeiras, historicamente os bancos estiveram
na linha de frente dos grandes acontecimentos sociais, sendo um dos principais instrumentos das
transformações capitalistas. Muitos autores clássicos da sociologia abordaram esta questão, como
por exemplo, Simmel, em Philosophy of Money, que identificou as conexões entre banqueiros e o
nacionalismo com sendo fundamentais para algumas correntes do pensamento político. Também
Pareto em seu livro Tratado de sociologia geral abordou as relações entre banqueiros, políticos e
jornalistas, ou Schumpeter que destacou o papel dos bancos no processo de inovação capitalista.
8
Swedberg também observou que, entre os clássicos, os textos que trazem as abordagens
mais significativas sobre o tema na Sociologia seriam as obras: O capital (1867-1894) de Marx,
História geral da economia (1919-1920)8 e Economia e Sociedade (1920)9, de Weber e Der
moderne Kapitalismus und Gesellschaft (1902-1916) e Hochkapitalismus (1927) de Sombart. Nos
trabalhos de Max Weber a atividade bancária aparece classificada como um tipo especial de
comércio e, os bancos identificados com modos de dominação a partir da sua posição monopolista
diante do mercado. Para Weber tais atributos capacitam os banqueiros ao exercício do poder por
meio da autoridade conferida pelos cargos que ocupam nos Conselhos de Administração10 e
Diretorias das grandes empresas-cliente ou associadas. Estes autores basicamente identificaram a
posição estratégica dos banqueiros e seus bancos com o poder nas sociedades capitalistas, e
buscaram conhecer as bases sociais desse tipo de instituição considerando que, para entender as
relações econômicas, também era necessário levar em conta a estrutura social do ambiente em que

7
Fonte: SWEDBERG, Richard. Banks from a Sociological Perspective. In: AHRNE, G. (ed.) Sociology in the World:
Essays in Honor of Ulf Himmelstrand on his 65th Birthday. Uppsala: Uppsala University, 1989. p. 157-188.
8
Fonte: WEBER, M. História Geral da Economia. São Paulo: Ed. Mestre Jou, 1968.
9
Fonte: WEBER, M. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Vol 1 e 2. Brasília: Ed. UNB, 1991.
10
O termo Conselho de Administração será bastante utilizado nesta tese, e se refere à instância máxima de poder das
organizações empresariais, sendo normalmente integrado pelos maiores acionistas ou por seus representantes. Na literatura
vamos encontrar várias denominações diferentes para esta instância, como por exemplo, Conselho Administrativo, Conselho
de Acionistas, Conselho Diretor ou Diretivo, “Board of Directors”, “Council of Directors”, “Council or Board of
Shareholders or Stockholder”. (Nota do autor).
4

se realizavam. É neste contexto da teoria sociológica que nossa pesquisa se insere, buscando
contribuir para a compreensão do papel político e social dos banqueiros e seus bancos na sociedade
brasileira.

1.1 A TESE

9
Neste trabalho apresentamos os resultados dessa pesquisa que, iniciada em junho de 1999,
teve como objetivo principal, identificar e analisar de forma sistemática o fenômeno das conexões
entre o capital financeiro, a política e a sociedade, através do estudo dos vínculos diretos e indiretos
do Grupo Bamerindus com a sociedade civil e a política, e da ação empresarial e política de José
Eduardo de Andrade Vieira e do grupo de capitalistas reunido em torno da instituição; buscamos
comprovar a tese que, durante o período 1981-1994 o Grupo Bamerindus manteve uma rede
econômica, financeira, política e empresarial que atuou de forma sistemática e contínua sobre
mercados, governos, Estado e sociedade, caracterizando-se como um complexo conglomerado de
interesses econômicos, financeiros, políticos e empresariais, controlado por uma elite específica
formada por banqueiros, empresários, burocratas, intelectuais e políticos.
10
Durante nossa pesquisa, analisamos a história da instituição e de suas interações nos
campos empresarial, político e estatal, identificando seus vínculos de natureza econômica, política,
familiares e sociais com empresas, associações de classe, órgãos públicos, cargos no governo,
partidos políticos, instituições sociais, familiares, sócios, conselheiros, diretores, funcionários,
clientes, fornecedores e demais pessoas e organizações que de alguma forma mantiveram conexões
significativas e consistentes com a instituição, e que davam forma e complexidade à equação social
Bamerindus.
11
A imagem empresarial dos banqueiros é bastante conhecida e estudada, e muito já se falou
e escreveu sobre as conexões dos bancos com a política e a sociedade, mas são poucos os trabalhos
que se propuseram a estudar de forma sistemática este fenômeno. A imprensa e a literatura estão
cheias de referências parciais e dispersas sobre esses vínculos e a proposta básica desta pesquisa foi
identificar e reunir esses fragmentos espalhados e desconexos, para formar uma espécie de mosaico
que revelasse ou chegasse mais próximo do que seria a face inteira dos banqueiros11 e de seus
bancos, como protagonistas de importantes processos econômicos, políticos e sociais. Nesta tese
buscamos identificar os principais momentos nos quais os interesses econômicos do grupo
condicionaram processos sociopolíticos e as situações em que os interesses políticos e sociais
influíram nas operações econômicas. Seguindo a sugestão de Dreifuss (1986)12, identificamos e

11
É interessante observar que a assessoria de propaganda de José Eduardo definiu que a face esquerda do seu rosto era a que
apresentava as melhores qualidades fotogênicas, e determinou este ângulo como padrão para todo o material publicitário.
Sabendo desta decisão, os jornais de seus adversários procuravam publicar apenas fotografias da face direita do banqueiro.
(Nota do Autor).
12
Fonte: DREIFUSS, René. A. A internacional Capitalista: estratégias e táticas do empresariado transnacional 1918 – 1988.
2º ed. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1986.
5

analisamos a ação do Bamerindus na atividade diária da política, no cotidiano do exercício dos


cargos públicos, nas campanhas eleitorais e nos acordos e alianças voltadas para o exercício do
poder político, buscando identificar as conexões com as atividades e interesses econômicos,
financeiros e empresariais do grupo; entendendo a ação política como:
4
[...] o esforço de intervenção abrangente ao nível de campanha, através do qual se
deflagram um número de operações e manobras táticas projetadas para apoiar-se e
complementar-se umas às outras, obtendo um efeito cumulativamente significativo,
espelhando e constituindo o poder de uma classe. A ação política é realizada por meio
de mecanismos repressivos, coercitivos e recursos ideológico-propagandísticos de
pressão política e coação econômica além de mobilização ou do uso de força.
(DREIFUSS, 1967, p. 260, 281, apud DREIFUSS, 1986, p. 29).

12
No plano geral procuramos respostas para algumas questões básicas da sociologia política,
como, por exemplo, saber como as elites articulavam a associação do capital financeiro, grupos
econômicos, associações de classe e demais instituições sociais na luta pela hegemonia e o
exercício do poder, num ambiente marcado pela crescente socialização da política; qual foi o papel
das organizações empresariais e grupos econômicos e financeiros no processo político; como
indivíduos da classe dominante se organizavam para travar a luta pelo poder político e econômico;
como o poder econômico se transforma em poder político e / ou como o poder político se converte
em poder econômico; como uma classe, segmentos de classe ou grupos sociais mobilizavam
recursos materiais, humanos, culturais para o exercício do poder e a luta política.
13
No caso específico do Bamerindus, buscamos saber como a instituição participou do
processo de concentração do poder econômico e político verificado na história recente, e qual foi o
seu papel no processo de construção e consolidação da hegemonia do capital financeiro sobre as
demais instituições no Brasil. Também procuramos respostas para questões relacionadas ao papel
da instituição nas relações de poder, buscando inicialmente identificar a rede de conexões
econômicas, para em seguida rastrear e mapear a rede de relações políticas e sociais, sua
constituição, a forma como se inseria no processo político e o seu papel na história do Paraná e do
Brasil, no período 1981-1994. Em seguida, verificamos a intensidade do envolvimento e
comprometimento das relações dessas redes com a sociedade civil e a política e buscamos
identificar se esses vínculos tinham densidade, consistência e perenidade ou se eram superficiais e
esporádicos, limitando-se à defesa de interesses pontuais e apoios a algumas campanhas eleitorais;
ou ainda, a forma como estas conexões influenciavam os resultados econômicos do Grupo
Bamerindus. Para tanto, buscamos identificar quem eram os banqueiros e diretores que exerciam
atividades políticas, e a real extensão desses poderes nessa área. O passo seguinte foi verificar:
quais motivos e razões os levaram a se envolver diretamente nesta atividade e a forma como
utilizaram a instituição no processo político e nas disputas pelo poder e hegemonia?
14
Como objetivos específicos definimos as seguintes proposições:
1. Identificar a história e a composição do Grupo Bamerindus, suas principais
conexões com redes corporativas, políticas, sociais e o aparelho do Estado.
2. Identificar os principais capitalistas reunidos em torno do Bamerindus e suas
6

conexões com outras redes econômicas, políticas e sociais.


3. Verificar se o grupo organizado a partir e em torno do Bamerindus, se constituiu
como uma “elite orgânica” capaz de alavancar um projeto de poder político
regional e ser influente na vida nacional.
4. Identificar os principais interesses econômicos e políticos dessas elites e a
natureza das suas conexões com o Bamerindus.
5. Verificar os principais tipos de intervenções que o Grupo Bamerindus realizou
no conjunto da sociedade local e brasileira, com o objetivo de promover o projeto
social da classe ou segmentos de classe que o controlava.
6. Identificar quais eram as ambições políticas pessoais de José Eduardo de
Andrade Vieira.
7. Verificar como José Eduardo utilizou o Grupo Bamerindus para promover o seu
projeto político.
8. Identificar os grupos da elite local e nacional que se opunham às pretensões de
José Eduardo no campo empresarial e político.
15
Escolhemos estudar o Bamerindus por ser emblemático dos vínculos estabelecidos entre a
política e os bancos, pois além do tamanho do Bamerindus, entre seus principais sócios e diretores
estiveram Governadores, Secretários de Estado, Ministros e líderes partidários; e José Eduardo, era
um político bastante popular e importante no Paraná e no mundo político brasileiro em razão da sua
atuação no Senado e no Governo em Brasília a partir de 1991. Também consideramos que a
intervenção do Banco Central do Brasil (Bacen) no Bamerindus em 1997, tornou pública uma
grande quantidade de informações sobre o banco e suas transações, cuja divulgação normalmente é
impedida por lei – enquanto a instituição estiver operando. Assim o caso Bamerindus é uma das
raras janelas aberta para estudar uma parte significativa do fechado mundo das organizações
bancárias. Também foi determinante para a escolha desta instituição como objeto de pesquisa o fato
que, até 1997, muitos alunos que lotavam os cursos superiores de Administração, Contabilidade e
Economia em Curitiba eram funcionários ou dependiam de forma direta ou indireta, do
Bamerindus, e muitos “causos” do “seo Avelino” e do “Zé Eduarrrdo” ainda hoje fazem parte do
repertório de estórias de empresários e políticos paranaenses. A intervenção no Bamerindus e sua
transferência para o controle estrangeiro é uma forte evidência que naquele momento, houve uma
ruptura histórica na estrutura de dominação da região.
16
O tamanho do Grupo Bamerindus e a amplitude e complexidade de sua rede corporativa e
política exigiram estabelecer limites precisos para a pesquisa. Portanto, nosso trabalho restringiu-se
a estudar a ação política e empresarial de alguns dos principais empresários que tinham ligações
diretas com o grupo e com a política, procurando centralizar o estudo em torno de José Eduardo e a
família Vieira. Com relação ao tempo, buscamos concentrar a pesquisa na gestão de José Eduardo,
que teve início em 31 de julho de 1981, quando ele assumiu a Presidência do grupo, e encerramos o
estudo em 31 de dezembro de 1994, último exercício em que a “elite Bamerindus” manteve ainda
um considerável controle sobre os destinos da organização. Assumimos essa divisão com um certo
grau de arbitrariedade, visto que a história do Bamerindus começou em 1943, quando o Grupo
7

Lupion criou o Banco Meridional da Produção, e seria muito difícil precisar o momento em que
Grupo Bamerindus entrou na mais grave crise financeira de sua história, mas podemos afirmar com
segurança que foi na administração de José Eduardo que o Bamerindus tornou-se o terceiro maior
banco privado brasileiro; e a partir de janeiro de 1995, quando ele assumiu o cargo de Ministro da
Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária, do Governo FHC, teve início um período de
grande instabilidade e conflitos na sua vida pública com reflexos significativos sobre o Grupo
Bamerindus e sua rede política, culminando na intervenção do Bacen, no dia 26 de março de 1997,
e na transferência de parte do patrimônio do banco e da seguradora para o Grupo HSBC. Sendo
assim, concentramos nossa pesquisa no período (1981-1994) mais importante e próspero da história
do Bamerindus, visto ser nosso interesse estudar um período em que fosse possível observar e
analisar as ações políticas “[...] no decorrer da ‘normalidade’, no dia a dia da intervenção ‘fria’ e
persistente no conflito de classes, na ação diária, constante, sistemática, nos campos ‘frios’ da
política”. (DREIFUSS, 1986, p. 22), tanto no plano regional como nacional.
17
Entendemos que os dramáticos dois últimos anos do Grupo Bamerindus (1995-1997), pela
sua complexidade e importância, exigem uma pesquisa específica e exclusiva. Neste trabalho
limitamo-nos a apresentar apenas um sumário dos principais acontecimentos desse período,
procurando manter as referências mais importantes que encontramos e que poderiam servir de
subsídios para futuros estudos que pretendam abordar os anos finais da organização.
18
O Bamerindus não foi o único banco na história brasileira a constituir e manter uma
complexa rede de conexões econômicas e políticas; outros também o fizeram ou ainda mantêm
redes com igual ou maior tamanho e importância essas redes, sendo assim, este trabalho é mais uma
contribuição para o estudo dos processos de concentração de poder econômico e político no Brasil.
Através da história da rede corporativa e política Bamerindus é possível identificar como as
instituições bancárias podem ser utilizadas em projetos de dominação, ou mais precisamente, como
organizações empresariais podem ser transformadas em poderosos instrumentos do jogo político.
Também esperamos com este trabalho contribuir para ampliar o atual acervo de estudos sobre
empresários brasileiros; contribuir com análises sobre a história política do Paraná dos anos 1980 e
1990, principalmente aquelas voltadas para o estudo da ação política de empresários, e histórias de
bancos e de banqueiros brasileiros13.
19
Parte integrante do projeto América Latina: análise sociopolítica das transformações e
das perspectivas do sistema financeiro (III etapa) promovido pelo Núcleo de Estudos
Sociopolíticos do Sistema Financeiro (NESFI) – com apoio do CNPq, esta tese foi desenvolvida

13
Vale observar que, apesar da importância que Amador Aguiar teve para a história brasileira desde os anos 1950, não
conseguimos encontrar nem mesmo no Bradesco, uma biografia sua cujo conteúdo relevante fosse maior do que alguns
parágrafos. Lacuna esta que começou a ser preenchida com os trabalhos de COSTA, Fernando N. O caso RUBI: origem do
capital bancário no Brasil. Texto para Discussão. IE / UNICAMP nº 106, mar. 2002b. Disponível em:
<http://www.eco.unicamp.br/publicacoes/textos/download/texto106.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2005, e MARKOWITZ, M.
A. Bancos e Banqueiros, empresas e famílias no Brasil. Rio de Janeiro, 2004. Dissertação (Mestrado). Antropologia
Social. Rio de Janeiro: Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 14 dez. 2004.
8

sob a Linha de Pesquisa: Estado, mercado, empresariado e sistema financeiro do Programa de


Pós-Graduação em Sociologia Política (PPGSP)14 da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC). Apesar de todas as limitações, esperamos que este trabalho possa contribuir para o debate
de questões relacionadas a temas relacionados à busca e construção de mecanismos financeiros
alternativos, que sirvam de contrapeso para processos de concentração econômica e política; e a
criação e transformação de mecanismos de controle social sobre o capital financeiro nas suas
diversas manifestações.
20
Esta tese está organizada em seis capítulos e, além desta introdução, finaliza com uma
síntese das análises e conclusões apresentadas ao longo do texto. No capítulo I, o leitor encontrará
uma revisão dos elementos teóricos e conceituais que elegemos como ferramentas básicas de
análise e interpretação, e estão reunidos sob os seguintes títulos: Capital Financeiro, Hegemonia
Financeira, Grupos Econômicos, Elites Orgânicas e Organização Corporativa. Inicialmente
procuramos caracterizar o capital financeiro, para em seguida verificar suas conexões com o poder
dos banqueiros, o processo de hegemonia financeira e a formação dos grupos econômicos. Na
seqüência examinamos o conceito de elites orgânicas e suas conexões com os grupos econômicos,
as organizações corporativas de representação dos interesses de classe, e o poder econômico e
político.
21
No capítulo II, apresentamos um resumo da história do sistema financeiro internacional e
brasileiro, buscando subsídios para analisar as principais transformações que influenciaram a
história do Bamerindus. Para tanto dividimos o texto em duas partes: na primeira fazemos um
histórico do sistema e analisamos o processo de mundialização do capital financeiro e suas
conseqüências para o sistema financeiro brasileiro e o Bamerindus; na segunda parte realizamos
uma revisão da história do sistema financeiro brasileiro, abordando questões como: (1) a crise da
dívida externa brasileira, o estrangulamento financeiro do Estado e seus reflexos sobre a estrutura
econômica, política e social do país; (2) reforma do sistema financeiro e as várias crises que
ocorreram no período, os planos de estabilização econômica e seus efeitos no sistema bancário; (3)
as várias tentativas de reforma da dívida pública e controle do orçamento público; (4) as
negociações da dívida externa brasileira e seus efeitos sobre a integração do sistema financeiro
brasileiro ao internacional, o processo de privatização e a transferência de grandes instituições para
o controle estrangeiro; e (5) a constituição e ampliação de grandes grupos financeiros no Brasil.
22
Com estes subsídios básicos entramos de fato no caso Bamerindus no capítulo III, quando
examinamos a história da família Vieira e da formação do Grupo Bamerindus até 1981, buscando
identificar as conexões econômicas e políticas do grupo e suas relações com os eventos históricos
mais importantes do período, no plano local e nacional. Iniciamos assim a jornada pela intrincada
rede de relações econômicas, sociais e políticas, pela qual a instituição bancária assumiu boa parte

14
Para mais detalhes ver Linhas de Pesquisa em Sociologia Política. Sociologia Política On Line. Florianópolis: UFSC, dez.
2006. Disponível em: <http://www.sociologia.ufsc.br/>. Acesso em: 5 jan. 2006.
9

do papel de coordenadora do fluxo de recursos, catalisadora de conflitos e instância de


constrangimento, ou facilitadora da ação dos diversos grupos econômicos e sociais. Vamos
acompanhar o processo de expansão do Bamerindus através das associações e incorporações de
grupos influentes locais e nacionais, ocupando assim a posição de um dos principais atores do
processo de integração e expansão econômica da sociedade brasileira. Se imaginarmos estas
conexões como uma grande rede de pesca, como sugeriu Barnes (1987, p. 161)15, teremos uma
malha cobrindo boa parte do território nacional, cujo tamanho torna impossível a tarefa de
descrevê-la no seu todo. Neste estudo buscamos pelas regiões de maior densidade de conexões e
que concentraram a maior parte do poder de decisão. Nessas constelações encontramos ligações
com grandes grupos econômicos, partidos políticos, instituições públicas, políticos importantes,
famílias tradicionais, grupos de interesses e sindicatos patronais e de trabalhadores. No centro desse
agrupamento de interesses encontramos um grupo de empresários e políticos importantes, como por
exemplo, Moysés Lupion de Troya, Bento Munhoz da Rocha Netto, Ney Aminthas de Barros
Braga, Othon Mäder e a família Vieira. Neste capítulo ainda procuramos identificar suas biografias,
e principais contribuições para a formação do Bamerindus, suas participações na história
econômica e política do Paraná e suas conexões com a história brasileira.
23
No capítulo IV examinamos o Grupo Bamerindus, no período 1981 a 1994, cujo tamanho e
complexidade nos levaram a dividir o texto em três partes. Na primeira, identificamos e analisamos
as principais instituições que formavam o grupo, com destaque para as empresas como a
Bamerindus Cia de Seguros (BCS), a Indústria de Papel e Celulose Arapoti S.A. (Inpacel) e as
participações adquiridas nos leilões de privatização. Também analisamos os investimentos do grupo
no setor agropecuário, reflorestamento e em empresas de comunicação, algumas delas envolvendo
políticos importantes tanto na esfera regional como nacional. Na segunda parte, identificamos as
principais aquisições e incorporações de outros bancos neste período, para em seguida analisar a
instituição sob o prisma econômico-financeiro e operacional. Nessa análise procuramos extrair
indicadores da qualidade e da gestão dos investimentos, sua rentabilidade e estrutura de capital.
Também examinamos a crise de liquidez que o banco enfrentou em 1985, suas conexões com o
Estado, bem como os motivos que o levaram a ocupar logo em seguida a terceira posição entre os
maiores bancos privados brasileiros. Avaliamos sua rede de agências, os investimentos em
automação bancária, seu quadro de funcionários e ações voltadas para a reestruturação da
instituição nos anos 1990. Nessa parte analisamos as estratégias e ações para a expansão das
atividades em direção ao mercado internacional, suas principais parcerias com grupos estrangeiros
no Brasil, entre elas a sociedade com o Midland Bank, que no início dos anos 1990 foi incorporado
pelo The Hongkong and Shanghai Banking Corporation Limited (HSBC). Neste capítulo vamos
conhecer um pouco da história do Midland e do HSBC, e suas políticas de expansão no mercado

15
Fonte: BARNES, J. A. Redes sociais e processo político. In: FELDMAN-BIANCO, Bela (Org.) A Antropologia das
sociedades contemporâneas. São Paulo: Global, 1987, p. 159-193.
10

internacional. Finalmente, na terceira parte, examinamos a estrutura de poder do Grupo


Bamerindus, estudando inicialmente a trajetória de José Eduardo no comando da instituição para,
em seguida, analisar a composição do alto comando estratégico e suas conexões com grandes
empresários, famílias tradicionais, políticos e órgãos de representação de classe. Certamente que o
retrato traçado é parcial, pois não pretendemos esgotar neste trabalho toda a complexidade da
estrutura de poder da instituição, mas identificar os elementos mais importantes que oferecem
subsídios para o próximo capítulo (V), quando analisamos as conexões do grupo com o mundo
político, formando o que denominamos de rede política Bamerindus (RPB).
24
O capítulo V está dividido em duas partes; na primeira, apresentamos uma síntese da
história política brasileira e paranaense do período; na segunda parte examinamos a composição da
RPB no plano federal e no Paraná, e os papéis desempenhados pelos seus principais membros nas
casas legislativas e nos Executivos. Também analisamos a participação da rede nos processos
políticos das sucessões presidenciais e de governadores, suas múltiplas conexões cruzadas com
outras redes políticas formadas por inúmeras empresas públicas e grupos privados, associações de
classe, empresas de comunicação como rádios, televisões e jornais, e com redes familiares, sociais e
religiosas. Neste capítulo da tese vamos verificar a extensão, complexidade e poder da rede política
do Bamerindus e sua importância como instrumento de agregação, planejamento e coordenação das
ações das elites locais no plano político, estatal, econômico e social. A análise focaliza
principalmente Jayme Canet Júnior16, Affonso Alves de Camargo Netto17, João Elísio Ferraz de
Campos e José Eduardo de Andrade Vieira, buscando identificar suas participações nos principais
eventos da história brasileira e paranaense, tais como o regime militar, a Nova República, os
trabalhos da Constituinte, o pluripartidarismo e as eleições para governadores e presidentes da
República e, seus conflitos com outras redes políticas.
25
Para consolidar a análise das conexões do mundo político com o financeiro, no VI e último
capítulo abordamos alguns dos principais episódios da história política de José Eduardo de Andrade
Vieira ocorridos no período 1990-1994. Vamos acompanhar e analisar o crescimento do seu poder
sobre a rede política Bamerindus, a sua campanha eleitoral para o Senado em 1990, quando entrou
em cena o seu personagem “Zé do Chapéu” 18; sua atuação no Senado, mais tarde, como Ministro
da Indústria, Comércio e Turismo, e sua rápida passagem pelo Ministério da Agricultura, do
Abastecimento e da Reforma Agrária no governo Itamar Franco. O objetivo básico desse capítulo é
verificar como um banqueiro / político articulava seus interesses e da sua classe no Congresso
Nacional, no Executivo, em Brasília, buscando transformar o poder econômico em poder político,

16
A grafia do nome de Jayme Canet Júnior aparece em muitas publicações como Jaime Canet ou Jayme Cannet. Optamos pela
grafia utilizada na página da Internet: CASA CIVIL do Governo do Estado do Paraná. Governantes do Paraná. Período
Republicano. Curitiba, [2002]. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/casacivil/republicano.shtml>. Acesso em: 26 abr.
2004. Nas citações mantivemos a grafia utilizada pelos autores.
17
A grafia do nome de Affonso Alves de Camargo Netto aparece em muitas publicações como Afonso Camargo ou Afonso
Camargo Neto. Optamos pela grafia utilizada em Casa Civil (2002). Nas citações mantivemos a grafia utilizada pelos
autores.
18
Personagem desenvolvido pela assessoria de comunicação para a campanha de José Eduardo para o Senado em 1990.
11

ou poder político em poder econômico. Também vamos analisar as dificuldades que JE e a rede
política Bamerindus enfrentaram no ambiente pluripartidário, suas reações diante da crescente
pulverização da representação partidária e a elevação do custo de manutenção da rede política;
vamos acompanhar a participação de José Eduardo no processo de sucessão do presidente Itamar
Franco em 1994, buscando analisar suas ações na definição dos candidatos e sua participação nas
campanhas eleitorais para presidente da República e governadores estaduais. Nesse capítulo, ainda,
JE chegou a ser candidato a presidente, e mais tarde apoiou e integrou o Comando de Campanha do
“amigo” e candidato Fernando Henrique Cardoso. Finalmente na terceira e última parte do capítulo
VI, apresentamos os principais acontecimentos que se seguiram a partir de janeiro de 1995 e que
formaram a história da agonia da instituição que durou até 26 de março de 1997, quando o Bacen
decretou a intervenção no grupo.
26
Encerramos a tese com uma síntese da história do Grupo Bamerindus e das análises e
conclusões que apresentamos ao longo dos capítulos.

1.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

27
Para a pesquisa escolhemos a metodologia de estudo de casos por ser uma técnica que
permite uma boa aproximação da complexidade e subjetividade inerentes ao cenário político e
empresarial, realidade marcada pela transitoriedade dos conflitos e carregada de ambigüidades e
subjetividade. Lugar comum dos jogos de aparências, esse é o cenário das posições dissimuladas, o
que exige do método a possibilidade de trabalhar com a complexidade e a subjetividade, concentrar
o foco de observação e aprofundar a pesquisa, buscando apreender múltiplas perspectivas do objeto
estudado.
28
Também utilizamos parte da técnica de história de vida19 cujo suporte teórico encontramos
no mestre Florestan Fernandes (1976)20, para quem esta técnica encontra larga aplicação no campo
da investigação sociológica. Através da história de personagens como José Eduardo, temos a
oportunidade de conhecer os limites e os elementos condicionantes do sistema social, precisamente
porque JE ocupou uma posição que oferecia perspectivas suficientemente amplas e plásticas para
uma investigação sociológica de boa parte do universo das relações sociais em que eles estavam
inseridos. Um aspecto importante revelado pela pesquisa foi que sua personalidade se afastava, em
boa medida, dos padrões esperados e reconhecidos culturalmente pelo seu meio. Dessa forma, foi
possível verificar como um determinado grupo social definia uma personalidade como divergente e
como esses grupos trabalharam com as dificuldades geradas pelo conflito com aquele que é ao
mesmo tempo igual (do seu meio), mas muito diferente (no seu comportamento). Também permitiu

19
Referência inspirada nas observações de Martins (1998) comentando a obra de Florestan Fernandes. Fonte: MARTINS, José
de S. Vida e história na sociologia de Florestan Fernandes. Reflexões sobre o método da história de vida. In: MARTINS
José de Souza. Florestan: Sociologia e Consciência Social no Brasil. São Paulo: Editora da USP, 1998, p. 87-96.
20
Fonte: FERNANDES, Florestan. Ensaios de sociologia geral e aplicada. 3º ed. São Paulo: Pioneira, 1976, c. 7, p. 251-269.
12

verificar como essa personalidade interagia com os grupos predispostos a defenderem determinados
padrões de comportamento e valores sociais consagrados.
29
Durante nossa pesquisa, pudemos constatar que, para alguns sócios e ex-funcionários do
Bamerindus e do Bacen, José Eduardo era uma pessoa estranha ao banco, pois o consideravam
como um “político” ou simplesmente como “não” sendo um “banqueiro”. Para algumas pessoas
do mundo político, JE era um “banqueiro metido na política” ou simplesmente “não era do
ramo”. Alguns dos seus colaboradores mais próximos, bem como antigos sócios e funcionários que
participaram da gestão do grupo ainda no tempo do “seo Avelino e do Edison” 21, consideravam
“Zé Eduardo” muito diferente, pois seus irmãos “jamais se meteram na política”; algumas matérias
de jornais classificavam JE como um “Banqueiro Rebelde”, outros o destacavam como um
“Banqueiro Caipira” e era visto “com uma certa reserva” pelos seus pares. Também foi possível
identificar que normalmente tais divergências emergiam publicamente quando as disputas pelo
poder tornavam-se mais acirradas, e que estas características eram utilizadas como argumentos para
interditar as pretensões de José Eduardo. Ao longo deste estudo vamos ter a oportunidade de
verificar que, em muitos momentos, JE soube explorar tais características divergentes como
vantagens competitivas, tanto no mundo empresarial como na política.

1.2.1 REDES SOCIAIS, POLÍTICAS E CORPORATIVAS.

30
O estudo do caso Bamerindus exigiu ampliar o foco de análise do banco para o Grupo
Bamerindus, o que nos obrigou a buscar o conceito de grupos econômicos e financeiros, ampliando
a perspectiva da firma como lócus econômico para algo mais complexo, que incorporasse diversas
empresas e atividades a uma unidade de comando. Mas tal conceito não foi suficiente, pois tinha
que incorporar também as conexões do Bamerindus com outros grupos econômicos, bem como os
vínculos com vários outros setores da sociedade, como as associações de classe, sindicatos,
institutos, fundações, partidos políticos, o Estado e o governo.
31
Diante desse quadro, tivemos que buscar conceitos e metodologia que nos permitissem
trabalhar com o espectro ampliado das atividades e conexões da instituição, já que o objetivo
principal de nosso estudo foi analisar as conexões do sistema financeiro com a política. Nesse
sentido Gramsci nos ajudou bastante com o conceito de “Estado Ampliado” que serviu de
ferramenta teórica básica para analisar a equação social formada em torno da instituição. Para este
quadro foi necessário buscar um referencial metodológico que permitisse articular a análise do
particular com o geral e que tivesse flexibilidade suficiente para incorporar, no mesmo modelo,
conexões econômicas, políticas e sociais. Escolhemos então as redes sociais, tanto como conceito

21
Avelino Antônio Vieira era o patriarca da família Vieira e durante muito tempo foi o principal executivo da instituição e um
dos maiores acionistas. Muitos o consideram como o principal artífice do Grupo Bamerindus. Tomaz Edison de Andrade
Vieira – filho de Avelino e irmão de José Eduardo, assumiu a Presidência do Bamerindus após a morte do seu pai em 1974.
José Eduardo substituiu Tomaz Edison após a morte deste em acidente aéreo em 1981. (Nota do autor)
13

como método, pela sua capacidade de atender tais requisitos, buscando suporte teórico e
metodológico na obra The power structure of American business de Mintz & Schwartz (1985)22 e
nos estudos de outros autores como, por exemplo, Scott (198823 e 200024), Domhoff (200225 e
2005b26), Knoke (199027 e 200428). Além do que, o conceito de redes sociais mostrou-se flexível o
bastante para, no caso Bamerindus, abordar três questões específicas que envolvem (1) o capital
financeiro, (2) as redes financeiras e (3) a linguagem simbólica do setor.
32
Com relação ao (1) capital financeiro, nosso estudo envolveu considerações sobre os
fundamentos do capital produtor de juros. Para esta questão específica, Marx (1991, p. 450-453)29
definiu o campo financeiro como o lugar onde “[...] a relação capitalista atinge a forma mais
reificada, mais fetichista”, na qual o “Capital aparece como fonte misteriosa, autogeradora do
juro, aumentando a si mesmo [...] – o fetiche autônomo perfeito”. Empiricamente observamos que
tais argumentos formam um poderoso discurso, uma espécie de “discurso financeiro” 30, no qual o
dinheiro gera juros da mesma forma que o trabalho gera produto – assim como “dar pêras é
propriedade de uma pereira”, encobrindo uma realidade na qual o lucro é produto das relações
sociais e não de relações entre coisas. Marx chama a atenção para o fato que esta lógica dissimula o
juro como parte da mais-valia, descarta as relações sociais e apresenta o dinheiro como capaz de se
auto-reproduzir – “a perversão no mais alto grau, das relações de produção – de aumentar o valor
sem depender da produção – a mistificação do capital na sua forma mais contundente”. Como
estamos estudando um grupo financeiro e num contexto econômico, político e social marcado pela
hegemonia dessa “pecunia perpetuum mobile”, o conceito e o método de redes sociais oferecem
um caminho consideravelmente mais seguro para o trabalho de pesquisa e análise, já que as redes
sociais têm por principal fundamento as relações sociais, identificando-as e analisando-as como
linhas que conectam os indivíduos e instituições formando uma intrincada malha – uma estrutura
entrelaçada de um longo tecido (SCOTT, 2000 e 1988, p. 53). Nessa rede é possível representar os
diversos tipos de relações sociais, como as familiares, econômicas e políticas, permitindo
identificar e analisar as disputas de poder entre classes e seus diversos segmentos, as constelações

22
Fonte: MINTZ, Beth & SCHWARTZ, Michael. The Power structure of American Business. Chicago: University of
Chicago Press, 1985.
23
Fonte: SCOTT, J. Social Network Analysis and Intercorporate Relations. Hitotsubashi Journal of Business and
Commerce, 23, 1, 1988, p. 53-68.
24
Fonte: SCOTT, J. Social Network Analysis: A Handbook. 2. ed. Thousand Oaks, California: Sage Publications, 2000.
Disponível em: <http://www.analytictech.com/mb119/tableof.htm>. Acesso em: 08 abr. 2005.
25
Fonte: DOMHOFF, G. W.. Who Rules America? Power: Politics, & Social Change, 4 Ed. New York: McGraw-Hill., 2002.
26
Fonte: DOMHOFF, G. W. Theories of Power. The Four Networks Theory of Power: A Theoretical Home for Power
Structure Research. Department of Sociology. University of California. Santa Cruz: Univ. California, Apr. 2005b.
Disponível em: <http://sociology.ucsc.edu/whorulesamerica/theory/four_networks. html>. Acesso em: 24 nov. 2005.
27
Fonte: KNOKE, David. Political network. The structural perspective. Cambridge: Cambridge University Press, 1990.
28
Fonte: KNOKE, David. Introduction to network analysis. David Knoke's Home Page. Dep. of Sociology. Minneapolis:
University of Minnesota, Aug. 2004. Disponível em: <http://www.soc.umn.edu/~knoke/>. Acesso em: 20 nov. 2005.
29
Fonte: MARX, Karl. (1894). O capital: crítica da economia política. Livro 3. O processo global da produção capitalista.
Vol. V. 5ª ed. Tradução Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro: Bertrand, 1991.
30
Na seqüência da tese vamos analisar mais de perto este “discurso financeiro” e sua função no processo de dominação e
acumulação capitalista.
14

formadas pelas diferentes elites e as conexões com o Estado e o governo. Nesse contexto, o próprio
poder passa a ser resultado de interações entre extensas e complexas conexões, arranjos e
constelações de interesses.
33
Na questão (2) rede financeira, nós temos que considerar que o mundo financeiro é
caracterizado por extensas ramificações de relações de investimento, financiamento, distribuição de
risco etc, construídas ao longo do tempo e que tendem a manterem-se relativamente estáveis. A
estrutura em rede possui, entre suas principais características, plasticidade e flexibilidade
suficientes para enfrentar as contradições e transformações típicas do capitalismo31. A história
demonstra que tais redes têm a capacidade de se manterem por longos períodos, apesar de
enfrentarem mudanças significativas nos seus arranjos internos e externos. Vamos ver ao longo
deste trabalho que o Bamerindus foi formado pela incorporação e integração de várias redes
financeiras locais e nacionais e, certamente, a transferência do banco e da seguradora para o HSBC
fez parte de um longo e complexo processo de adaptação das redes financeiras às transformações
capitalistas. O próprio HSBC simboliza a história de como redes financeiras criadas ainda nos
primórdios da Revolução Industrial continuam atuando sob diferentes configuração e aparências.
34
Quanto à (3) linguagem simbólica, é importante Gráfico 1-1: Sociograma da rede de conexões
do Citigroup.
considerar que a idéia de “rede” faz parte do mundo
financeiro como metáfora habitual para representar grande
parte de suas estruturas, como por exemplo, “rede
bancária”, “rede de agências”, “Rede do Sistema
Financeiro Nacional (RSFN)”, “rede financeira”, “rede de
caixas eletrônicos” etc. Dessa forma, entendemos que ao
utilizarmos o conceito e o método de redes, estamos
incorporando um tipo de representação que faz parte do
universo simbólico dos indivíduos e organizações que
integram o sistema financeiro, o que facilitou a
aproximação e leitura do nosso objeto de estudo.
35
O conceito de redes sociais está baseado na imagem
de indivíduos e instituições vinculados uns aos outros
através de relações sociais formais e informais, constituindo
uma malha de conexões (ver Gráfico 1-1) – uma sofisticada
metáfora do tecido social baseada no fato que “[...] a
natureza humana é o conjunto das relações sociais Fonte: Gráfico gerado em tempo real pelo
programa interativo de processamento e dados
historicamente determinadas, isto é, um fato histórico 32
disponível em: Josh On (2004) , com base em
premissas escolhidas pelo autor da tese.

31
Para mais detalhes sobre redes financeiras ver SWEDBERG (1990).
32
Fonte: JOSH ON. They rule: <http://www.theyrule.net> USA, Futurefarmers, 2004. Disponível em:
<http://www.theyrule.net/2004/tr2.php>. Acesso em: 26 nov. 2005.
15

comprovável, dentro de certos limites através da filologia e da crítica [...]”. (GRAMSCI, 1984, p.
9)33. Uma grande quantidade de análises no campo das ciências sociais tem abordado
sistematicamente esta metáfora e desenvolvido suas bases teóricas e técnicas alcançando níveis
bastante sofisticados tanto no uso da matemática como na computação gráfica, (ver Gráfico 1-2). A
análise de redes sociais oferece uma nova forma para analisar velhos problemas34.
36
O conjunto formado pelos pontos e suas Gráfico 1-2: Artigos com palavra-chave: “Network”.
linhas de conexões permitem o uso do conceito 8.000

7.000

EconLit
matemático de gráfico – formando os
6.000

sociogramas, e possibilita o uso de um conjunto 5.000

4.000
de procedimentos para analisar a presença,

SocAbs
3.000
direção e força das linhas que conectam os 2.000

1.000
pontos, permitindo representar algumas das suas
-
principais características, (SCOTT, 2000 e 1988, 1965-70 1970-75 1975-80 1980-84 1985-89 1990-94 1995-99 2000-04

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados


p. 54-59). O método oferece uma perspectiva extraídos de Sociological Abstracts, EconLit, apud KNOKE
interdisciplinar com enfoque nos (2004).

relacionamentos estruturais como chave explanatória para conceitos e princípios. As propriedades


estruturais das formações sociais são o contexto que dá forma às percepções, opinião, atitudes e às
ações dos indivíduos e da coletividade. Neste cenário, a influência social e a ação coletiva podem
ser facilitadas ou constrangidas pelas transações diretas e indiretas entre atores sociais; e o método
permite analisar as posições dentro do contexto como um processo dinâmico. (KNOKE, 2004).
37
As redes podem ser utilizadas como uma metáfora da estruturação das entidades na
sociedade, como também, com base na sociologia relacional, pode servir como método35 para a
descrição e análise dos padrões das relações nela presentes. A análise de redes sociais permite
construir estudos precisos sem impor estruturas à priori; e abre para a investigação vários níveis da
estrutura social, permitindo focalizar o particular sem perder a visão do geral. Vale destacar que o
método se apresenta como uma importante ferramenta para o estudo das regiões onde ocorrem as
interações entre Estado e sociedade, pois permite analisar, sem a necessidade de se considerar um
padrão de relações, abrindo espaço para observar como estes dois campos interagem, aproximando
o observador de maneira mais precisa da realidade social (MARQUES, 2000)36.
38
O método tem sido aplicado nos mais variados tipos de estudos nas ciências sociais,
abordando desde questões étnicas e culturais até estudos de relações econômicas, elites, poder e

33
Fonte: GRAMSCI, Antonio. Maquiavel, a Política e o Estado Moderno. 5ª ed. Tradução de Luiz Mário Gazzaneo. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira, 1984.
34
Para detalhes sobre a história do uso das redes sociais ver SCOTT (1988 e 2000), KNOKE (1990) e MARQUES (2000).
35
Fonte: LAZEGA (1996). Apresenta uma interessante e detalhada discussão sobre a utilização das redes como método.
LAZEGA, Emmanuel. Arrangements contractuels et structures relationnelles. Revue Française de Sociologie, Paris, v. 37,
nº 3, p. 439-456, 1996.
36
Fonte: MARQUES, Eduardo C. Estado e redes sociais: permeabilidade e coesão nas políticas urbanas no Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro: Ed. Revan; São Paulo: FAPESP, 2000.
16

política, desenvolvendo assim múltiplas variações do conceito para ajustá-lo ao objeto de estudo,
(KNOKE, 1990). Atualmente, tanto o conceito como o método estão bastante desenvolvidos e
contam com suporte da International Network for Social Network Analysis (INSNA)37, existindo um
acervo considerável de trabalhos (ver Gráfico 1-2), programas de computador38 e bancos de dados
voltados para esse tipo de pesquisa; alguns disponíveis para uso em tempo real, como por exemplo
a página da Internet “They Rule” de Josh On (2004), disponível no endereço
<http://www.theyrule.net/2004/tr2.php>39. Internacionalmente considerado como um dos maiores
especialistas nessa área, Knoke (2004) disponibiliza, em sua página na Internet, um total
aproximado de 2.600 referências bibliográficas para redes sociais e Jun Park & Richard Feiock
mantêm 600 referências na página Network Analysis40 publicada com suporte do Florida State
Institute for Science and Public Affairs da Universidade Estadual da Califórnia.

1.2.2 APLICANDO A METODOLOGIA DE REDES SOCIAIS

39
A aplicação do método neste nosso estudo Gráfico 1-3: Rede Social Bamerindus
nos levou a denominar de rede social Bamerindus
o conjunto formado pelas conexões de natureza
econômica, política e social reunidas em torno da
instituição que para facilitar as análises, foram
agrupadas em duas grandes redes que
denominamos de Rede Política Bamerindus e
Rede Corporativa Bamerindus (ver Gráfico
1-3). Na rede política estão concentradas as
conexões entre pessoas e instituições privadas e
públicas que atuam no campo da sociedade civil e
na sociedade política. Na rede corporativa
agrupamos as conexões de natureza econômica
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.
estabelecida entre grupos econômicos e financeiros
privados e públicos. Na seqüência buscamos identificar as áreas em que ocorriam conexões entre as
duas redes, ou seja, nas regiões onde o poder econômico buscava transformar-se em poder político,

37
Fonte: INSNA - International Network for Social Network Analysis. Página oficial. Disponível em:
<http://www.insna.org>. Acesso em: 23 nov. 2005.
38
Na página da INSNA: (2005) são indicados 53 programas de processamento específicos para redes sociais.
39
Uma interessante avaliação dos programas disponíveis para redes sociais pode ser encontrada em HUISMAN, Mark & VAN
DUIJN, Marijtje A. J. Software for Social Network Analysis. Heymans Institute/DPMG and ICS/Statistics & Measurement
Theory. University of Groningen. October 2003. Disponível em: <http://stat.gamma.rug.nl/Software%20for%20Social%
20Network%20Analysis%20CUP_ch13_Oct2003.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2006. O texto também foi publicado em
CARRINGTON, P. J.; SCOTT, J. & WASSERMAN, S. (Eds.) Models and methods in social network analysis. New
York, NY: Cambridge University Press, 2005, p. 270-316.
40
Fonte: PARK, Jun; FEIOCK, Richard. Network Analysis. Florida State Institute for Science and Public Affairs.
Universidade Estadual da Califórnia. Disponível em: <http://www.fsu.edu/%7Espap/water/network/bibliography.htm>.
Acesso em: 23 nov. 2005..
17

ou onde o poder político procurava transformar-se em poder econômico. No capítulo I –


Fundamentos Teóricos, nós apresentamos uma breve revisão dos principais conceitos que
utilizamos para caracterizar as redes políticas e corporativas, bem como uma descrição do método
que utilizamos neste trabalho.
40
Vários problemas surgem na aplicação do método, o primeiro deles está na construção dos
sociogramas, pois não se pode simplesmente transpor a teoria dos gráficos desenvolvida no campo
da matemática para as ciências sociais e nem todas as conexões são passíveis de serem
identificadas. Outro problema é o elevado grau de arbitrariedade implícito na quantificação das
variáveis utilizadas. Tais valores devem ser considerados apenas como indicadores mais ou menos
relevantes, ou suportes temporários para a construção da equação geométrica. Porém tal
arbitrariedade não desqualifica o resultado, desde que seja considerado como mais um instrumento
que fornece, ao pesquisador, indicadores ou pistas de possíveis agrupamentos relevantes e conexões
estratégicas; servindo de ponto de partida para aprofundar a investigação ou como mais uma
evidência, entre outras, para uma proposição, principalmente num contexto em que é necessário
lidar com uma massa muito grande de dados. Também é um grande facilitador para a representação
e comunicação, através de gráficos, do prisma do contexto subjetivo das relações sociais que, em
última análise, não importando a técnica utilizada, tais representações jamais estarão isentas ou
desvinculadas do conjunto de valores subjetivos do pesquisador. Para minimizar o problema do
arbítrio na questão dos valores atribuídos às conexões, no caso Bamerindus, construímos a matriz
de dados utilizando uma variação da teoria dos gráficos, atribuindo o valor um (1) quando houvesse
indicadores objetivos da presença de uma conexão, e o valor Zero (0) para a sua ausência. O
resultado final deve ser ponderado pelo fato que nem todas as conexões foram passíveis de
identificação, principalmente as de parentesco e, em muitos casos, tais ligações tinham enorme peso
na distribuição das funções e do poder econômico e político. Em razão da complexidade, buscamos
concentrar a pesquisa das conexões de parentesco em torno da família Vieira. Para rastrear os
vínculos, utilizamos vários tipos de fontes, tendo como referência metodológica C. Wright Mills
(1975)41 que fornece um importante exemplo de trabalho sistemático de mapeamento das conexões
utilizando inclusive referências de colunas sociais de jornais e tablóides, nos quais “firulas e
fofocas” das notas diárias tornam-se importantes para rastrear principalmente as conexões
informais.
41
Desta forma, apresentamos o resultado do mapeamento das conexões que foram passíveis
de rastreamento através de referências objetivas das relações do Grupo Bamerindus com outros
grupos econômicos, empresários, famílias, e a política, envolvendo de forma direta ou indireta José
Eduardo de Andrade Vieira, a família Vieira e alguns dos mais importantes sócios e políticos
ligados ao Bamerindus; buscamos identificar as regiões que apresentavam maior densidade ou
conexões entre blocos distintos, através de participações cruzadas em diretorias, conselhos de

41
Fonte: MILLS, C. Wright. (1956). A elite do poder. 3 ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
18

administração, partidos políticos, Congresso, governos e diferentes instituições públicas e privadas.


Para processar os dados e gerar os gráficos, utilizamos o programa AGNA - Applied Graph &
Network Analysis42, versão 2.1.1. atualizada em 3 dez. 2003, concebido e elaborado por Marius I.
Benta (2003) do Departamento de Sociologia da University College Cork – Irlanda.
42
Com relação às limitações do método, Scott (1988, p. 65-67) observou que a teoria dos
gráficos ignora noções convencionais de distância e ordem espacial, e está restrita apenas a
representações bidimensionais de redes sociais multidimensionais. Levine tentou superar estas
dificuldades usando escala multidimensional – “Multidimensional Scale” (MDS), que deriva da
trigonometria e projeções técnicas usadas na produção de mapas. Nessa técnica, o número e o tipo
de relações sociais podem ser convertidas em medidas de distância reais, permitindo assim
identificar significados para os posicionamentos relativos dos atores e conexões. Porém Scott
considera que a MDS sofre as mesmas limitações da teoria dos gráficos, pois a imagem é impressa
em apenas duas dimensões e no máximo três dimensões podem ser representadas. Atualmente estão
disponíveis programas de computador bastante sofisticados que permitem a representação
tridimensional dos sociogramas, sendo possível ao pesquisador mover o objeto virtual para
observação em diferentes perspectivas.
5
O problema fundamental na aplicação da teoria gráfica nas ciências sociais,
entretanto, parece estar na raiz (origem) de seus conceitos em imagem de pessoas
como “ponto”. [...] pessoas e empresas são elas próprias estruturas complexas e são
intrinsecamente multidimensionais. Por esta razão, um número de analistas de rede
social tem se voltado para um ramo da matemática, a topologia algébrica (“algebraic
topology”) que parece oferecer uma solução para este problema (SCOTT, 1988, p. 67,
tradução MINELLA, 1999)43.

43
Ainda assim, entendemos que persistem duas outras grandes limitações no uso dos gráficos.
A primeira tem haver com a quarta dimensão dos sociogramas – a influência do tempo nas
transformações que ocorrem na estrutura das relações sociais, e que não são representadas de forma
eficiente nos gráficos impressos. Tais transformações são fundamentais para o estudo e não podem
ser desprezadas, pois o conjunto das relações sociais comporta-se “como um organismo em
desenvolvimento”. (GRAMSCI, 1984, p. 9). Atualmente, vários trabalhos abordando esse problema
estão sendo realizados e envolvem o uso de gráficos dinâmicos, como por exemplo, o projeto
“StOCNET”44 que pesquisa e desenvolve programas avançados de processamento para análise
estatística de redes sociais; apoiado pela Netherlands Organization for Scientific Research (NWO),
publicou uma primeira versão de um programa em abril de 200345.

42
Fonte: BENTA, I. Marius. AGNA - Applied Graph & Network Analysis, versão 2.1.1. atualizada em 3 dez. 2003.
Department of Sociology, University College Cork - Ireland. Disponível em: <http://www.geocities.com/imbenta/agna/>.
Acesso em: 13 set. 2004.
43
Fonte: MINELLA, Ary C. Fundamentos teóricos e metodológicos para análise do empresariado financeiro no atual
contexto de globalização financeira. (Versão Preliminar). Anexo 1 do Relatório Técnico de Pós-Doutorado apresentado ao
Departamento de Ciências Sociais, UFSC, nov. 1999.
44
StOCNET. Página oficial. Disponível em: <http://stat.gamma.rug.nl/stocnet/>. Acesso em: 23 dez. 2005.
45
Para mais detalhes ver BOER, P.; HUISMAN, M.; SNIJDERS, T & ZEGGELINK, E.: StOCNET: An open software
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
19

Gráfico 1-4:Representação gráfica do efeito de um corpo Gráfico 1-5: Representação gráfica de uma função de
na geometria do espaço / tempo onda.

Fonte: STROBEL (2001)46. Fonte IMPB RAS (2003)47.


Nota: Low mass star. Nota: Fig. 1ª. Non-spherical wave functions of “2p” (a)
and “3p” (b) polaron types.

44
A segunda limitação está relacionada à representação das distorções que o peso específico
do poder de algumas instituições e constelações de interesses provocam no tecido social, e que
poderiam ser demonstradas como no Gráfico 1-4, que representa a distorção provocada por um
corpo na geometria do espaço / tempo e foi obtido utilizando a Teoria dos Campos Gravitacionais
(“Gravitational Gravity”); ou a noção de movimento demonstrada no Gráfico 1-5, que representa
uma função de onda na Teoria de Campo (“Field Theory”), mas não encontramos estudos neste
sentido aplicado nas ciências sociais.
45
Inicialmente pode parecer que, ao utilizarmos a teoria dos gráficos, corremos o risco de
reduzir a complexidade das relações sociais a números, mas vamos ter a oportunidade de verificar,
ao longo deste trabalho, que toda essa lógica matemática também presente nos fundamentos da
atividade financeira, na contabilidade dos bancos e nos resultados das urnas – usando um sentido
figurado – podemos dizer que ela não resiste à primeira campanha eleitoral ou à dinâmica dos
acordos e alianças políticas. Certamente que uma das conclusões que extraímos desta tese, foi a
constatação simples e objetiva que no mundo político toda essa lógica matemática é processada e
transformada pelos imperativos das relações sociais.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
system for the advanced statistical analysis of social networks. Department of Sociology, University of Groningen, April 22,
2003. Disponível em: <http://stat.gamma.rug.nl/stocnet/>. Acesso em: 23 dez. 2005.
46
Fonte: STROBEL, Nick. Einstein's Relativity: Curved Spacetime. Bakersfield: Nick Strobel's Astronomy Notes web site.
28 May 2001. Disponível em: <http://www.astronomynotes.com/relativity/s3.htm>. Acesso em: 27 dez. 2005..
47
Fonte: IMPB RAS - The Institute of Mathematical Problems of Biology RAS. Investigations on the nonrelativistic
quantum field theory. 2001 – 2003. Sector of Quantum-Mechanical Systems. Pushchino - Moscow – Russia, [2003].
Disponível em: <http://skms.impb.psn.ru/index_e.php>. Acesso em: 24 nov. 2005..
20

1.2.3 FONTES DE PESQUISA

46
Nos trabalhos de pesquisa utilizamos várias fontes de informações, como jornais, revistas,
relatórios financeiros, livros, fitas de vídeo, programas de televisão, propagandas, entrevistas,
gravações, processos judiciais, publicações na Internet etc. Dentre as mais importantes, destacamos
os Relatórios dos Encontros Semestrais dos Conselhos e Diretorias e os Relatórios Anuais dos
Acionistas do Grupo Bamerindus emitidos no período 1975 a 1994, contendo, além das peças
contábeis e financeiras, várias análises de cada exercício fiscal. Também utilizamos peças
publicitárias, livros, publicações diversas e a propaganda eleitoral da campanha de José Eduardo
para o Senado, disponíveis no acervo do grupo. É importante registrar o apoio que recebemos do
Banco Bamerindus do Brasil S.A. através do atual liquidante, Sérgio Rodrigues Prates que forneceu
todos os elementos solicitados. Outra fonte de importância fundamental foi o relatório “Projeto
Memória Bamerindus” fornecido por Maria Christina de Andrade Vieira. O relatório havia sido
produzido durante sua gestão à frente da Fundação Avelino Vieira, e tinha por objetivo elaborar e
publicar a história do Bamerindus.
47
Também foi de grande utilidade o Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro pós-1930, da
Fundação Getúlio Vargas – CPDOC (DHBB, 2002), que serviu de fonte básica para a biografia de
vários personagens da rede política Bamerindus. Cabe destacar também a importante contribuição
espontânea de Sérgio Soares Braga, professor da área de Ciência Política do Departamento de
Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que forneceu uma grande quantidade
de fontes de informações que havia utilizado para redigir o verbete: VIEIRA, José Eduardo de
Andrade, para o DHBB (2002)48.
48
Outra importante fonte de pesquisa foi a imprensa que, segundo Dreifuss (1989), ganhou
mais importância no período inaugurado com a Nova República, quando as elites trocaram

6
[...] os bastidores pelo centro do palco, alguns até como estrelas do jogo político. Ao
leitor [...] cabia [...] persistência e observação [...] aprender a ler o jornal, cruzar as
informações e desenrolar o novelo. Lá estava a trajetória completa da elite brasileira
[...] são eles os [jornalistas] verdadeiros analistas do dia-a-dia, que fuçam, questionam
e servem, de bandeja - como verdadeiros assistentes de pesquisa - a matéria-prima aos
pensadores. [...] [A] imprensa diversificada e competitiva fornecia uma larga colcha
de notícias, suficientemente conflitivas para aguçar a nossa capacidade de tirar
conclusões. (DREIFUSS, 1989, p. 7).

49
Durante a pesquisa, chegamos a consultar aproximadamente 2.500 notícias, reportagens,
análises e peças publicitárias de diferentes jornais e revistas (ver Tabela 1-1 e Gráfico 1-6), para
não só extrair dados, como também cruzar ou confirmar as informações.

48
Fonte: BRAGA, S. S.; ARAGÃO, M de. Verbete: VIEIRA, José Eduardo de Andrade. In: Dicionário Histórico-Biográfico
Brasileiro: pós-1930 (DHBB). 1ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, CPDOC, 2002. CD-Rom.
21

Tabela 1-1: Relação de fontes jornalísticas utilizadas na pesquisa.

Denominação Sigla Qtd. Denominação Sigla Qtd.


Agência Estado - Diário do Passado AE DP 208 Informativo Bamerindus IB 50
Agência Estado - O Estado de São AE
610 Jornal de Londrina JL 3
Paulo OESP
Agência Estado - Jornal da Tarde AE JT 52
Jornal do Brasil JB 109
Agricultura de Hoje AH 1
Jornal do Estado JET 16
Balanço Financeiro BL 17
Jornal do Senado JS 3
Carta Capital CC 4
Jornal Indústria & Comércio JIC 20
Comunicação - UFPR CUFPR 2
Líderes / Leaders AUTO LLA 10
Correio de Notícias CN 15
O Estado do Paraná OEP 52
Curitiba Hoje CH O Globo 1 OG 118
Diário do Paraná DPR 2
Revista Exame RE 2
Diário Popular DP 10
Revista Istoé RIE 32
Revista Paranaense dos
Folha da Tarde FT 4 RPM 1
Municípios
Folha de Londrina FL 13 Revista Veja RV 48
Folha de São Paulo FSP 673 Tendência Paranaense TPR 1
Folha do Paraná FPR 2 Tribuna do Paraná TP 70
Gazeta do Povo GP 97 Valor Econômico JV 1
Gazeta Mercantil GM 222 Outros OT 1
Gazeta Mercantil - Balanço Anual GM BA 20 Total geral 2.490
Fonte: Tabela elaborada pelo autor, com base no banco de dados de notícias compiladas durante a
pesquisa.
Notas: Qtd. = quantidade. As abreviações foram utilizadas como base para o sistema de referências.
Gráfico 1-6: Fontes jornalísticas utilizadas na pesquisa (em %).

Agência Estado Folha de São Paulo


35% 28%

Correio de Notícias
1%

Jornal do Estado
1%
Balanço Financeiro
Gazeta Mercantil
1%
10%
Jornal Indústria &
Comércio
1% O Globo
Revista Istoé Revista Veja 5%
1% 2% Gazeta do Povo
4%
Informativo Bamerindus O Estado do Paraná Tribuna do Paraná Jornal do Brasil
2% 2% 3% 4%

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.


22

50
Grande parte das fontes foi consultada através da Internet, cabendo destacar os bancos de
dados da Agência Estado na página “Diário do Passado” com notícias dos anos 1991 a 1994,
disponível em: <http://www.estadao.com.br/ext/diariodopassado/>, acesso em 2003-2005;
FOLHAONLINE - Arquivos Folha dos anos 1994 a 2006, em CD-ROM e disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/arquivos/>, acesso no período 1999 a 2006; e Exame:
Melhores e Maiores: As 500 maiores empresas do Brasil, da Editora Abril, informações financeiros
dos bancos, disponível em: <http://portalexame.abril.uol.com.br>, acesso em 2002.
51
Também foram importantes para a pesquisa e o desenvolvimento desta tese, as
participações nos debates promovidos pelo Núcleo de Estudos Sociopolíticos do Sistema
Financeiro (NESFI / UFSC) e o cesso às fontes do acervo do laboratório de pesquisa Estado,
Empresariado e Políticas Públicas do PPGSP / UFSC, todos coordenados pelo professor Minella.
Outro suporte importante para os trabalhos, particularmente no campo da teoria das elites e a
política paranaense, nós obtivemos participando dos encontros, debates e trabalhos promovidos
pelo Núcleo de Pesquisa em Sociologia Política da UFPR / CNPq, coordenado pelos professores
Dr. Renato Monseff Perissinotto, Adriano Nervo Codato e Dr. Paulo Roberto Neves Costa.
Finalmente cabe destacar o apoio institucional que recebemos do Núcleo de Pesquisa em Energia:
Finanças e Tecnologia (NPEFT / CNPq) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR)
e da COPEL - Companhia Paranaense de Energia.
52
Cabe destacar que a apresentação final deste trabalho segue o formato previsto pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), norma NBR 14724: Apresentação de trabalhos
acadêmicos, 2º ed., 30 dez. 2005, com validade a partir de 30 jan. 2006. Também segue os formatos
previstos pelas normas: NBR 6023: 2002, 6024: 1989, 6027: 1989, 6028: 1990, 6034: 1989, 10520:
2002, 12225: 1992; o Código de Catalogação Anglo-Americano. 2. ed. São Paulo: FEBAP, 1983-
1985 e Normas de apresentação tabular. 3. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1993
53
Após essas considerações, convidamos o leitor a nos acompanhar na jornada de exploração
da rede corporativa e política do Grupo Bamerindus.
2 CAPÍTULO I: INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS E O PODER NO CAPITALISMO

FUNDAMENTOS TEÓRICOS

“Ledge, ledge, ledge, reledge, ora,


proba et invenies”.
Altus, Mutus Liber.

2.1 INTRODUÇÃO

54
A tradição de pesquisar o poder das instituições financeiras sob o prisma sociológico vem
de longa data, com destaque para os trabalhos de Marx (1894), Hobson (1905), Hilferding (1910),
Lenin (1917); Menshikov (1969), Fich & Oppenheimer (1970), Kotz (1978), Mintz & Schwartz
(1985 e 1990), Glasberg (1989) e, no Brasil, entre outros, Minella (1988, 1994, 1996, 1999 e 2005).
Neste capítulo vamos fazer uma breve revisão dos conceitos propostos por alguns desses autores, e
que serviram de base teórica para esta tese. Inicialmente abordamos a teoria gramsciana de Estado,
Sociedade, Política e Hegemonia; suas conexões com a teoria e o método de redes sociais, e o
suporte teórico que utilizamos para as definições de redes políticas e redes corporativas. Na
seqüência revisarmos alguns outros conceitos que utilizamos nesta tese, e que reunimos sob os
seguintes títulos: Capital Financeiro, Hegemonia Financeira, Grupos Econômicos, Elites
Orgânicas e Organização Corporativa.

2.2 GRAMSCI E AS REDES SOCIAIS

55
O conceito de redes sociais está baseado na imagem formada por indivíduos e instituições
vinculados uns aos outros através de relações sociais formais e informais, constituindo uma malha
de conexões, compondo uma sofisticada metáfora do tecido social baseada na proposição
gramsciana na qual “[...] a natureza humana é o conjunto das relações sociais historicamente
determinadas [...]” (GRAMSCI, 1984, p. 9). Para o estudo da grande rede social Bamerindus, nós
agrupamos suas conexões em duas redes menores que denominamos de Rede Política Bamerindus
(RPB) e Rede Corporativa Bamerindus (RCB). Na rede política concentramos as conexões entre
pessoas e instituições privadas e públicas que atuavam no campo da sociedade civil e na sociedade
política. Na rede corporativa agrupamos as conexões de natureza econômica estabelecida entre
grupos econômicos e financeiros privados e públicos, através de diretorias cruzadas e relações
contratuais. Na seqüência, apresentamos uma breve revisão dos principais conceitos e o método que
utilizamos para caracterizar as redes políticas e corporativas.
24

2.2.1 REDES POLÍTICAS

56
Para identificar e analisar as redes políticas, é necessário considerar que o mundo político
tem por característica a complexidade e multiplicidade de arranjos das conexões sociais,
incorporando múltiplos setores e interesses econômicos, religiosos, culturais e étnicos, entre outros.
Neste contexto, segundo Thompson (2003)1, a teoria tradicional de organização política para as
sociedades democráticas liberais tem por fundamento a junção dos conceitos de representação com
a soberania, e considera a representação política como um jogo de hierarquias disputado num
ambiente estruturado pela superposição de instituições públicas e privadas numa forma mais ou
menos parecida com uma pirâmide. No topo, encontra-se um comando soberano, por exemplo, o
parlamento, e na base as estruturas de governos locais e o povo. O poder é descrito como tendo dois
fluxos, um que flui do topo para a base através da complexa estrutura burocrática do Estado, e
outro, em sentido contrário e paralelo, flui da base para o alto conferindo a legitimidade necessária
para o exercício do poder pelos representantes eleitos. Nesse contexto, a população é dividida em
células eleitorais que elegem, através dos partidos políticos, seus representantes que deveriam fazer
a mediação entre os interesses dos eleitores e as instâncias legislativas e executivas.
57
O que está faltando nessa estrutura descritiva são os mecanismos sociais “paralelos” que
se organizam para interferir na estrutura do Estado, influenciar o governo e participar do processo
decisório. Tais mecanismos se expressam através de uma série de organizações formais e informais,
estruturadas em complexos arranjos de interesses que envolvem conceitos como elites,
corporativismo, associativismo e ONGS. As políticas freqüentemente são produzidas através de
intrincadas negociações e acordos, envolvendo comissões parlamentares, agências públicas, estatais
ou não, muitas delas burocratizadas e integradas por especialistas em políticas públicas específicas.
Grande parte destas negociações envolve o poder público, as associações de representantes de
empresários e trabalhadores, e uma infinidade de outras organizações de interesses específicos.
(THOMPSON, 2003, p. 151-153)
58
O quadro final aponta para uma organização social, pela qual o Estado ganha novas
dimensões e torna-se parte integrante de uma complexa equação social cuja imagem ganha
contornos de uma grande rede. Nessa equação, o Estado continua sendo um dos mais importantes
atores, principalmente porque mantém a capacidade formal de coerção, mas seu poder passa a ser
relativizado por um complexo jogo político que determina a correlação de forças que terão
hegemonia sobre os demais atores por um certo período. Tal complexidade é resultante de
transformações econômicas e sociais que promovem a crescente socialização da política nas
sociedades contemporâneas. Para entender essa realidade, Gramsci propôs a ampliação do conceito
até então tradicional de Estado, ao considerá-lo como formado pelo “conjunto de atividades

1
Fonte: THOMPSON, Grahame F. Between markets and hierarchy. The Logic and Limits of Network Forms of
Organization. New York: Oxford University Press, 2003, p. 149-152. Disponível em: <http://www.open.ac.uk/
socialsciences/staff/gthompson/Thom-06.pdf>. Acesso em: 14 nov. 2005.
25

teóricas e práticas com as quais a classe dirigente justifica e mantém não somente a sua
dominação, mas também consegue obter o consenso ativo dos governados” (GRAMSCI, 1984, p.
89). Com isso, o Estado adquiriu novas formações que ampliaram seus limites para incorporar uma
nova esfera do ser social – a sociedade civil; dessa forma deixou de ser apenas o “poder de
opressão” de uma classe sobre outra, sendo necessário incorporar outros recursos de poder como,
por exemplo, a construção do consenso, legitimidade e a direção intelectual e moral – recursos que
Gramsci chamou de hegemonia. Mas, observa Coutinho (2003), o Estado nacional “ampliado”
busca obter hegemonia e não renuncia ao poder da coerção – quando necessário “não hesita em
recorrer à força”; nesse momento histórico, ele pode ser representado pela fórmula: “Estado =
sociedade política (núcleo governamental) + sociedade civil (aparelhos privados de hegemonia),
isto é, hegemonia revestida de coerção” (GRAMSCI, 1984, p. 149). Com esta proposição, Gramsci
resgatou o conceito de sociedade civil e forneceu instrumentos que permitissem entender como se
formam os mecanismos paralelos à estrutura burocrática do Estado, e sua importância social,
política e econômica:
7
[...] a sociedade civil é um espaço da luta política, da luta de classes [...]. Se o Estado
for conquistado pelas forças progressistas, ele se torna progressista. E, mesmo que
ainda sob controle da classe dominante, é possível introduzir mudanças importantes
no Estado, que não é instrumento direto de uma classe, mas resultado da correlação de
forças, ainda que com predomínio de uma classe. Sociedade civil é Estado, é política.
Em Gramsci, a sociedade civil é o espaço mais importante da luta de classe.
(COUTINHO apud JOSÉ & LEITE, 2002).

59
Ao ampliar a teoria de Estado para além da noção de comitê executivo da burguesia,
podemos interpretar o período analisado neste trabalho (1981 a 1994) como um momento de
ampliação da sociedade civil brasileira. Neste período acelerou-se o processo de socialização da
política através do desmonte de grande parte das estruturas de controle e coerção da ditadura
militar, como por exemplo, a implantação do pluripartidarismo, extinção dos cargos de senadores
“biônicos”, eleições diretas para governadores, prefeitos das capitais e o Presidente da República, a
implantação da nova Constituição e a ampliação da liberdade sindical. Nesse ambiente tanto o
Grupo Bamerindus, como outros grupos econômicos e financeiros, investiram pesadamente na
ocupação do espaço ampliado da sociedade civil, pois com o fim do regime, este espaço público
tornou-se estratégico para manter o poder ou, pelo menos, para continuar controlando posições
estratégicas do Estado e do Governo.
60
O conceito de sociedade civil é bastante antigo, remontando à polis grega, tendo sido
resgatado e inovado na segunda metade do século XVIII, quando foi rompida a equação histórica
com a qual o termo Sociedade Civil era empregado muitas vezes como sinônimo de Estado. Nos
trabalhos de John Locke e Tom Paine, Adam Smith e Adam Ferguson, nós encontramos a idéia de
uma esfera da sociedade distinta do Estado e dotada de formas e princípios próprios.
8
A maioria desses autores continuou usando a expressão ‘sociedade civil’ em seu
sentido clássico, como no Essay on the History of Civil Society (1767) de Adam
Ferguson; mas o que eles estavam efetivamente fazendo era estabelecer a distinção
analítica que não tardaria a transformar o significado do conceito. (KUMAR, 2002).
26

61
Mas foi em Hegel que o conceito de sociedade civil adquiriu seu significado moderno,
como esfera da vida ética interposta entre a família e o Estado e determinada pelo livre jogo de
forças econômicas e indivíduos.
9
Mas a sociedade civil também inclui instituições sociais e cívicas que inibem e
regulam a vida econômica, levando por um processo inevitável de educação à vida
racional do estado. Assim, a particularidade da sociedade civil transfere-se para a
universalidade do estado. (KUMAR, 2002).

62
Mais tarde, Marx estreitou o conceito para torná-lo equivalente ao domínio autônomo da
propriedade privada e das relações de mercado: “A anatomia da sociedade civil [...] deve ser
procurada na economia política”. Essa restrição ameaçou sua utilidade, pois “Que necessidade
havia do conceito de sociedade civil quando a economia ou, simplesmente, a ‘sociedade’ — vista
como o conteúdo efetivo do estado e da vida política em geral — fornecia os seus principais
termos?” (KUMAR, 2002). Na segunda metade do século XIX, o conceito acabou caindo em
desuso e só foi resgatado quando Gramsci revitalizou o conceito numa dimensão que ultrapassou
Hegel, desligando a sociedade civil do econômico e enquadrando-a no Estado.
10
A sociedade civil é a parte do estado que se preocupa com a elaboração do
consentimento, não com a coerção ou o domínio formal. É a esfera da “política
cultural”. As instituições da sociedade civil são igreja, escolas, sindicatos e outras
organizações através das quais a classe dominante exerce sua “hegemonia” sobre a
sociedade. Também é, pela mesma ordem de idéias, a arena onde essa hegemonia é
passível de contestação. (KUMAR, 2002).

63
Mas é importante destacar que, para evitar o “economicismo” e o “estatismo”, Gramsci
defendeu uma relação dialética de “identidade-distinção entre sociedade civil e sociedade política”
(GRAMSCI, 1975, Q. 8, 1028, apud SEMERARO, 1997), formando assim duas esferas distintas e
relativamente autônomas, mas inseparáveis na prática. A primeira, composta de organismos
privados e voluntários, indicando a “direção”, e a segunda, estruturada sobre aparelhos públicos, se
caracteriza mais pelo exercício do “domínio”. A sociedade civil é a esfera “[...] onde se manifesta
a livre iniciativa dos cidadãos, seus interesses, suas organizações, sua cultura e valores, e onde,
praticamente, se estabelecem as bases do consenso e da hegemonia”. (SEMERARO, 1997). Nesse
contexto, o mais importante não é tanto a consistência do aparelho do Estado ou o vigor econômico
de grupos privados, mas a ação criativa e a articulação entre as diversas associações da sociedade
civil buscando influir na política e no desenho do Estado. Esta concepção não foi pensada como
queria Hegel, em função do Estado, em direção ao qual tudo deve ser orientado, e também não se
reduz ao mundo exclusivo das relações econômico-burguesas. A sociedade civil gramsciana é “[...]
o extenso e complexo espaço público não-estatal onde se estabelecem as iniciativas dos sujeitos
modernos que, com sua cultura, com seus valores éticos-políticos e suas dinâmicas associativas,
chegam a formar as variáveis das identidades coletivas” (SEMERARO, 1997). Ela é o território da
subjetividade e das múltiplas expressões e carrega o potencial para transformar-se na arena
privilegiada onde as classes se organizam, articulam alianças, confrontam os seus projetos éticos-
políticos e disputam a hegemonia. “Gramsci desloca o eixo principal da ação política do âmbito
27

das instituições burocrático-administrativas para o terreno criativo das diversas organizações


sociais dos setores populares e rompe o horizonte que se quer apresentar como ‘fim da história”.
(SEMERARO, 1997).
64
Também é importante ressaltar que essa concepção não se contrapõe2 ao Estado, como
acontece com algumas outras estruturas teóricas, mas é parte integrante deste. É nesse contexto que
a ação do Grupo Bamerindus estendeu-se para além da esfera econômica e do aparelho burocrático
do Estado, incorporando amplos setores da sociedade civil, buscando garantir e promover seus
interesses na arena da sociedade civil, tendo sido um dos principais atores no processo de
manutenção da hegemonia burguesa na Nova República.
65
Para analisar este contexto, a metodologia de redes sociais mostra-se com uma poderosa
ferramenta, pois permite trabalhar com a complexidade e multiplicidade de organizações que
integram a sociedade civil, bem como suas conexões com o aparato do Estado e o sistema
econômico, pois é no campo da sociedade civil que é travada a batalha pela hegemonia de uma
classe, ou segmentos ou grupos, sobre as demais classes sociais.
66
Segundo Moraes (2002), o termo hegemonia tem origem na palavra grega “eghestai”, que
significa “conduzir”, “ser guia”, “ser chefe”, bem como o verbo “eghemoneuo”, quer dizer
“conduzir”, “chefiar”, “comandar”, “dominar”. No grego antigo, a palavra utilizada para
designar o comando supremo das Forças Armadas era “Eghemonia”. O comandante do exército, o
guia ou “condottiere” era designado como “eghemon”. Em Gramsci o conceito de hegemonia teria
sido...
11
[...] construído a partir de Marx, [e] possui uma relação dialética com o conceito de
dominação, na medida em que a função de liderança econômica, social, intelectual e
moral da(s) classe(s) (ou frações de classe) hegemônicas (dominantes) forma ou
constitui um consenso (a partir dos valores dessas classes), que é, na visão de
Gramsci, um modo de dominação mais eficaz que a coerção [...] (CASTRO, 2005).

67
Nesse sentido, o termo refere-se à direção cultural e política exercida por uma determinada
classe social e sendo a hegemonia “[...] ético-política também é econômica; não pode deixar de se
fundamentar na função decisiva que o grupo dirigente exerce no núcleo decisivo da atividade
econômica [...]” (GRAMSCI, 1984, p. 33). Tal conceito se contrapõe à idéia de “dominação”, pois
a hegemonia se estabelece através de um complexo sistema de relações e de mediações, exigindo
uma completa capacidade de direção, pois somente o uso da força não garante o poder em
sociedades capitalistas complexas (TORTORELLA, 2005)3. Segundo Gramsci, o mérito de Lenin
foi ter ultrapassado as interpretações economicistas e deterministas e compreendido o valor da
cultura e da ideologia como instrumentos da luta de classe. A idéia da hegemonia em Lenin não

2
Fonte: Eventos. Seminário Internacional “Gramsci, 60 anos depois”. Núcleo de Estudos Sociais do Conhecimento e da
Educação. Faculdade de Educação da Universidade Federal. Juiz de Fora: UFJF, nov. 1997. Disponível em:
<http://www.artnet.com.br/gramsci/arquiv1.htm>. Acesso em: 21 nov. 2005..
3
Fonte: TORTORELLA, Aldo. Verbete: Hegemonia. Vocabulário gramsciano. Texto especial para Gramsci e o Brasil.
[2005]. Disponível em: <http://www.artnet.com.br/gramsci/arquiv52.htm#hegemonia>. Acesso em: 31 out. 2005.
28

deve ser entendida como afirmação de uma dominação, mas como afirmação de uma superior
capacidade de interpretação da história e de solução dos problemas que ela coloca. Coutinho (JOSÉ
& LEITE, 2002) enfatiza que em Gramsci o conceito está ligado à cultura, pois uma classe obtém
hegemonia na medida em que promove um tipo de cultura e valores específicos para um conjunto
de pessoas, e é aceita como a cultura nacional-popular pelo conjunto da Nação. Nesse sentido a
cultura torna-se o momento constitutivo da hegemonia, e busca o consentimento espontâneo da
população para a direção imposta à sociedade pelo grupo dominante de uma classe, fração de classe
ou conjunto de classes no poder. Os setores dominantes da sociedade buscam incessantemente
construir e manter a hegemonia que garanta e justifique o seu domínio. “Desta forma, os valores e
crenças hegemônicos – que se manifestam na Cultura Política – são simultaneamente uma
apreensão e uma construção dinâmica da realidade, a partir de determinada concepção de
mundo” (CASTRO, 2005).
68
Por outro lado, a socialização crescente da política desafia a manutenção e ampliação do
processo de acumulação capitalista que passa a ter que enfrentar a crescente organização política
dos trabalhadores que disputam o controle sobre amplos e importantes setores do aparelho do
Estado. Como uma das reações possíveis, a burguesia passa a reivindicar o esvaziamento
estratégico do aparelho do Estado e novos instrumentos de coerção emergem da estrutura
capitalista. Um desses instrumentos se materializa na financeirização do capital que, através de
múltiplos mecanismos financeiros, passa a constranger e condicionar o Estado, as demais classes e
a sociedade como um todo. Nesse sentido, podemos observar que, durante o período analisado
(1981 a 1994), à medida que o regime militar era desmontado, cresciam os problemas com a dívida
pública que acabou lançando o Estado e a sociedade brasileira numa grave crise financeira. Ao
longo deste trabalho vamos poder verificar que o Bamerindus desempenhou um importante papel
nesse processo, tendo atuado em várias frentes. Como um dos maiores bancos privados do Brasil,
operou maciçamente com títulos públicos, promoveu e participou de várias ações objetivas no
campo da privatização das empresas estatais e no processo de redução do poder e da estrutura do
Estado brasileiro.
69
Vale destacar que na estrutura de poder, Gramsci identifica as áreas cinzentas existentes
entre o consentimento e a coerção como a região da “corrupção” e da “fraude” – “que é
característica de certas situações em que é difícil exercer a função hegemônica e em que o uso da
força é arriscado demais” (GRAMSCI, 1971, p. 80. Apud ARRIGHI, 1996).
70
Nas disputas pela hegemonia, os partidos políticos desempenham um papel fundamental e,
Gramsci considerava-os como o “moderno príncipe, o mito-príncipe” que não era “uma pessoa
real, um indivíduo concreto”, mas “um organismo muito complexo de sociedade no qual já tenha
se iniciado a concretização de uma vontade coletiva reconhecida e fundamentada parcialmente na
ação”. Tal organismo era “determinado pelo desenvolvimento histórico [...] a primeira célula na
qual se aglomeram germes de vontade coletiva que tendem a se tornar universais e totais”
(GRAMSCI, 1984, p. 6). O autor reconhecia o partido como uma função necessária da luta social –
29

a instância que transfere o particular para o universal; na sua ausência, impedimento ou


ineficiência, ele acaba sendo substituído pelo movimento social. Observou que outros atores sociais
poderiam assumir a função de partido, como por exemplo, os intelectuais, um jornal, um grupo
guerrilheiro. “Num momento em que há uma crise da forma partido é não só possível como, às
vezes, é necessário que movimentos sociais que tinham uma dimensão particular funcionem como
partido” (COUTINHO apud JOSÉ & LEITE, 2002).
71
Vamos ver ao longo deste trabalho que a equação social Bamerindus chegou a incorporar
complexas conexões com partidos políticos e, em muitos momentos, parte do grupo atuou como
uma verdadeira agremiação política, reunindo não só uma grande quantidade de importantes
personagens políticos, como sua estrutura organizacional foi colocada a serviço de campanhas
eleitorais, incluindo funcionários destacados para trabalharem como cabos eleitorais.
72
Neste contexto de crescente complexidade, a atividade política exige um tipo de trabalho
cada vez mais especializado a ser desempenhado por atores também especializados. Neste campo o
“político em ação é um criador, um suscitador; mas não cria do nada, nem se move no vazio
túrbido dos seus desejos e sonhos. Baseia-se na realidade factual” (GRAMSCI, 1984, p. 9). Ele
tem que lidar com uma realidade na qual as relações de forças estão em contínuo movimento em
busca de um equilíbrio relativamente precário. Neste contexto cabe ao político a tarefa de “[...]
Aplicar a vontade à criação de um novo equilíbrio das forças realmente existentes e atuantes,
baseando-se numa determinada força que se considera progressista, fortalecendo-a para levá-la
ao triunfo [...]” (GRAMSCI, 1984, p. 9).
73
Os conceitos de Estado Ampliado, Sociedade Civil, Hegemonia e Partido Político de
Gramsci permitem compreender porque em muitos momentos o Bamerindus, ou parte dele,
comportou-se como partido político; em outros, como agência pública de fomento obtendo
resultados econômicos incompatíveis com as atividades privadas e muito similares aos do Banco do
Brasil; em outras situações, vamos encontrar a organização atuando como uma autêntica empresa
privada, buscando lucro e rentabilidade; em outros momentos, como um conjunto impreciso de
interesses públicos e privados, em muitos casos contraditórios. Ao longo deste trabalho vamos
constatar que, em muitas ocasiões, o Bamerindus chegou a reunir na mesma instituição, funções
típicas da empresa privada, do Estado, e da sociedade civil, promovendo uma fusão totalizante do
público com o privado Certamente que esse quadro tem relação com o problema dos limites
imprecisos entre essas esferas da sociedade e que, no caso brasileiro foi potencializado pela grande
presença do Estado na vida da sociedade. Seguramente o Bamerindus foi um exemplo de adaptação
a essa realidade, sendo ele uma espécie de híbrido, ou utilizando um termo muito popular durante o
regime militar, uma espécie de anfíbio que reunia a capacidade de se mover com facilidade tanto na
esfera pública como na privada.
74
Para analisar tal complexidade, Thompson (2003, p. 150) observa que o campo político
muitas vezes é caracterizado como uma rede e está relacionado com a idéia na qual parcelas
importantes do poder político estão sob o controle de elites e atores especializados, e que são eles
30

quem de fato determinam as políticas públicas. Também considera que a noção de rede corresponde
geralmente aos meios utilizados para mobilizar os interesses sociais, ou os “parceiros sociais”, nas
estruturas que de fato administram as questões públicas, de tal forma que conseguem agir
independente, ou paralelamente, controlando assim as instâncias políticas mais importantes. O autor
também considera que o campo da política é povoado por várias associações públicas e privadas
que nitidamente assumem a forma de rede no modo como são conectadas entre si. Além dessas
associações cujas estruturas internas normalmente são hierarquizadas, existem também a
organizações não-governamentais (ONGS) cuja principal característica é serem organizadas
essencialmente (“quintessentially”) na forma de rede.
75
Entre os trabalhos que analisam as redes políticas, destacam-se aqueles voltados para o
estudo da intermediação dos interesses na formação das políticas públicas. Segundo Paez (2004),
tais trabalhos normalmente são chamados de “policy networks”, mas assim também são chamados
outros tipos de estudos que analisam questões mais amplas e relacionadas a conexões entre
organizações públicas e privadas. Segundo Marques (2000), a “policy network” é uma linha de
investigação bastante desenvolvida que analisa a produção das políticas públicas de um
determinado setor, envolvendo a interação entre entidades públicas, privadas, indivíduos e grupos.
Em muitos casos, tais pesquisas são denominadas como redes políticas; muitos trabalhos
denominados como “policy network” se referem a estudos que ultrapassam o campo específico das
políticas públicas. Sendo assim, é importante destacarmos que neste nosso estudo, quando nos
referimos a redes políticas, estamos utilizando o termo “política” no seu sentido amplo e geral, em
que as redes de políticas públicas (“policy networks”) são apenas uma parte de um todo maior.
76
Os estudos das redes políticas formam uma linha de pesquisa muito importante e
tradicional nos EUA, que procuram identificar as conexões existentes entre o mundo político,
econômico e o Estado. Tais pesquisas ganharam relevância após serem publicados os trabalho
Community Power Structure de Floyd Hunter, em 1953, e Elites do Poder (The Power Elite) de C.
Wright Mills em 1956. Desde então se produziu uma grande quantidade de pesquisas voltadas para
o estudo da concentração de poder nos EUA, e uma linha específica se desenvolveu utilizando o
conceito e o método de redes sociais. Entre essas pesquisas, ganharam destaque os trabalhos
publicados por Domhoff (1967, 1975, 1978, 1979, 1983, 2002 e 2005a); Useem (1983) e Zeitlin
(1978), Dye (1976 e 1986). Tais estudos buscaram rastrear as conexões existentes entre vários
setores econômicos, políticos, e sociais, através das organizações mais importantes e seus principais
dirigentes. Em seguida, aplicaram análises de rede às matrizes formadas pelas relações entre
pessoas e organizações, buscando caracterizar as posições centrais e periféricas, agrupamentos,
subgrupos e constelações de interesses. Após terem identificado as relações estruturais mais
relevantes, os autores concluíram que as pessoas e organizações que ocupavam os núcleos dessas
redes possuíam maior poder de domínio e influência sobre as políticas do Estado do que os atores
que ocupam posições periféricas, ou aqueles que não participavam das redes. (KNOKE, 1990)
31

77
Nos seus trinta anos de pesquisa, G. William Domhoff (2002) identificou nos EUA o que
ele chamou de “elite do poder”, que governa em razão de seu papel dominante nas redes que
controlam a economia e o governo. Esse domínio não significa controle total, mas a possibilidade
de determinar, condicionar ou constranger as regras sob as quais os demais grupos e classes irão
operar. No seu estudo, o autor identificou e denominou três grandes redes sociais como fontes
básicas do poder desta elite (ver Ilustração 2-1): (1) a classe social superior (“The upper social
class”), formada pela metade superior do conjunto de pessoas mais ricas dos EUA e que, como
instituição social real, mantêm uma consciência de classe e coesão através do uso e manutenção de
escolas, universidades, clubes sociais e outras organizações sociais específicas; (2) a comunidade
corporativa (“The corporate community”), integrada pelos principais acionistas e executivos das
maiores corporações e instituições financeiras e que formam uma complexa rede de diretorias
cruzadas; (3) a rede de planejamento de políticas públicas (“The policy-planning network”)
constituída pelas organizações não-partidárias, fundações, institutos de pesquisa, acadêmicos,
especialistas, líderes empresariais e políticos que, juntos, discutem problemas gerais e propõem
soluções. Domhoff identificou as conexões pessoais e institucionais entre as três redes, e as relações
estruturais descobertas indicaram a existência dos pré-requisitos necessários para atingir o consenso
na política e a ação concentrada de uma elite do poder. Em outro texto, Domhoff (2005b) aborda a
teoria do poder utilizando como referência o trabalho de Michel Mann (1986); nessa análise, o
poder tem suas raízes nas
Ilustração 2-1: Elite do Poder
organizações cuja diversidade
pode ser agrupada em quatro
redes básicas de poder:
ideológica, econômica, militar e
política (IEMP). Tais redes
controlam recursos e informações
estratégicas e estabelecem
conexões múltiplas entre elas e a
sociedade. A importância e o
poder de cada uma variam ao
longo do tempo, sobrepondo-se
ou diferenciando-se conforme as
Representação de Domhoff (2002, p. 96) para as três redes sociais
necessidades sociais de cada especializadas, cuja intersecção forma a Elite do Poder.
momento histórico.
78
Além de Domhoff, vários outros pesquisadores têm estudado essa área utilizando redes
sociais e valendo-se de vários tipos de fontes de dados, tais como o Registro Civil, anuários,
registros de cargos públicos, relatórios anuais das corporações, listas de membros de clubes sociais,
jornais; buscam identificar e analisar o que seria a elite do poder nos EUA. O retrato que emerge
dessas análises empíricas é o de recursos enormes controlados por um número relativamente
32

pequeno de atores que, por sua vez, estão conectados a várias redes. Por exemplo, em 1980 e em
1981, Thomas Dye encontrou 5.778 pessoas ocupando 7.314 posições de comando em algumas das
400 organizações que controlavam coletivamente a maior parte dos ativos financeiros públicos e
privados dos EUA. Menos que um terço destas posições estava interligado com uma ou mais de
uma, através de uma única pessoa; ao passo que 15 por cento de todas as pessoas mantinham mais
de uma posição (DYE, 1986, p. 12-13. Apud KNOKE, 1990, p. 157). O autor constatou que
pessoas com origens nas classes superiores ocupavam os principais cargos de liderança das
corporações. Tais conexões estão bem documentadas em vários outros trabalhos como, por
exemplo, em Zeitlin (1978), e muitos estudos rastrearam as conexões de tais lideranças com setores
políticos institucionais importantes, tendo alguns pesquisadores buscado examinar as conexões
entre secretários dos gabinetes presidenciais dos EUA e suas origens no mundo econômico, em
períodos históricos e contemporâneos. (FREITAG, 1975; MINTZ, 1975; PREWITT &
MCALLISTER, 1976; USEEM, HOOPS, & MOORE, 1976; BURCH, 1980 – Apud KNOKE,
1990)
79
No caso do Bamerindus, a rede política era parte da grande rede política brasileira, sendo
ela o resultado histórico de um conjunto de relações sociais e políticas estabelecidas em torno da
instituição e promovidas por ela. No auge de sua história, envolveram complexos e importantes
vínculos políticos, sociais e familiares; pelo tamanho da organização, a esfera de abrangência
ultrapassou o âmbito local, chegando a agregar conexões nacionais e, em alguns casos,
internacionais. É este conjunto de relações sociais que denominamos de rede política Bamerindus
(RPB), deixando as relações de caráter econômico concentradas no que chamamos de rede
corporativa Bamerindus (RCB).

2.2.2 REDE CORPORATIVA, INTERCORPORATIVAS OU TRANSCORPORATIVAS

80
As redes corporativas são formadas pelas conexões entre empresas através das diretorias,
conselhos de administração, acionistas, clientes, fornecedores e associações, todas subordinadas a
um comando estratégico unificado, formando assim uma corporação ou grupo econômico-
financeiro específico. A rede transcorporativa ou intercorporativa é formada pela ampliação dessas
conexões para um conjunto de corporações ou grupos econômicos financeiros.
81
Segundo Scott (1988), as pesquisas nessa área foram estimuladas pelo debate marxistas
sobre a concentração do poder econômico centrado no conceito de “capital financeiro”, e pela
preocupação dos liberais norte-americanos com a ameaça dos cartéis do dinheiro (“Money Trust”).
A questão dos entrelaçamentos de diretorias e grupos econômicos já estava presente em pesquisas
no inicio do século XX, mas é somente no começo dos anos 1970 que o conceito de rede social se
tornou uma ferramenta sistemática de pesquisa nessa área. Considerado como pioneiro, Joel H
Levine publicou, em 1972, um estudo sobre diretorias cruzadas; ele focalizou uma rede formada
por 84 nós e 150 conexões entre as diretorias de grandes bancos norte-americanos, como o Chase
33

82
Manhattan Bank, o Morgan Guarantee Gráfico 2-1: Esfera de influência em Levine (1972)
Trust, e as diretorias de grandes indústrias como a
General Motors e a Ford Co. (ver Gráfico 2-1).
Scott (1988, p. 61) observa que nesse trabalho, o
autor não utilizou a teoria dos gráficos, mas uma
abordagem que se aproxima da escala
multidimensional (“Multidimensional scaling”).
83
Nos anos seguintes, vários estudos
publicados buscaram revelar as redes formadas
pelas conexões entre corporações e bancos. Ainda
segundo Scott, o estudo mais influente nesse
período foi realizado pelo grupo de Stony Brook4
que examinou as maiores empresas americanas no
período de 1962-1973 e que apontou para a
existência de entrelaçamentos centrados em
bancos. Entre os trabalhos que analisaram as redes
corporativas nos EUA, Marques (2000) destaca os
seguintes estudos: Mintz & Schwartz (1981),
Schwartz (1987), Galaskiewicz & Burt (1991),
Burt (1992); Mizruchi & Galaskiewicz (1993) e
Mizruchi (1992 e 1996), e os trabalhos que
focalizaram as redes do Canadá – Berkowitz &
Fitzgerald, (1995) e do Japão – Taira & Wada
(1987). Fonte: LEVINE (1972, p. 15).

84
Para estudar o caso Bamerindus utilizamos como referencial o livro The Power structure of
American Business de Mintz & Schwartz (1985), que apresentam um extenso estudo sobre as redes
econômicas e financeiras nos EUA. Partindo do conceito gramsciano de hegemonia com ênfase no
seu sentido estrutural, os autores rastrearam uma grande quantidade de conexões entre bancos e
empresas, buscando identificar evidências para o conceito de hegemonia financeira. Para tanto,
partiram para a busca de referências concretas de conexões intercorporativas, coletando dados de
diversas fontes para, em seguida, realizarem uma cuidadosa revisão desses dados na imprensa
especializada ou através de outras obras científicas. Na seqüência deste capítulo vamos analisar
com mais detalhes este trabalho e o conceito de hegemonia financeira.

4
Fonte: BEARDEN, James; ATWOOD, William; FREITAG, Peter; HENDRICKS, Carol; MINTZ, Beth & SCHWARTZ,
Michael. The Nature and Extent of Bank Centrality in Corporate Networks. Annual Meeting of the American
Sociological Association, San Francisco, CA, ago. l975.
34

85
Buscando sistematizar a aplicação do método Quadro 2-1: Rede de relações
intercorporativas - “Network of
de redes sociais, Scott (1988 e 2000) propôs dividi-las intercorporate relations” (SCOTT, 1988).
em três menores, buscando agregar os tipos diferentes 1.1) Diretorias
cruzadas –
de relações sociais nos seguintes grupos: (1) as 1) Rede de relações “Interlocking
pessoais directorship”
pessoais, (2) de capital e (3) comerciais, (ver Quadro “Network of personal 1.2) Relações de
2-1 e Gráfico 2-2). As redes de relações pessoais relations” parentesco
“Interconnections
concentram as conexões entre empresas estabelecidas through kinship”
através de pessoas, sendo a mais importante delas 2) Rede de relações 2.1) Relações
de capital acionárias
denominada de (1.1) diretorias cruzadas, formada “Network of capital 2.2) Relações de
relations” crédito
através de indivíduos que ocupam cargos de diretores
3) Rede de relações comerciais – “Network
e / ou membros de Conselhos de Administração e of commercial relations”
Fonte: Quadro e gráfico elaborado pelo autor
Consultivos de duas ou mais empresas. Referências às com base em SCOTT (1988, p. 59-61).
diretorias cruzadas vamos encontrar nos trabalhos de Marx (1991) e Hilferding (1985), eles
identificaram pessoas que participavam de dois ou mais conselhos diretores nas grandes sociedades
anônimas, o que lhes conferiam posições privilegiadas no cenário econômico e político. A segunda
seria formada pelas interconexões através das (1.2) relações de parentesco. Os vínculos resultam
da presença de membros de uma mesma família em diferentes Diretorias e Conselhos de
Administração que, diferentemente das diretorias cruzadas, que normalmente possuem indicação
formal, as conexões de parentesco são difíceis de serem identificadas, e alguns autores as
classificam como relações pessoais de negócios e as consideram como indicadores para as
conexões comerciais e de capital.
86 Gráfico 2-2: Rede de relações intercorporativas
No caso Bamerindus, nós utilizamos como
em Scott (1988)
referencial para este tipo de conexão, a obra de Pinçon
& Pinçon-Charlot (1998)5 que apresenta um estudo
detalhado da família Rothschild, abordando a
importância econômica e política das conexões
familiares e étnicas no mundo financeiro. Também
constatamos que mesmo as Diretorias e Conselhos de
Administração também eram compostos por membros
informais que muitas vezes acumularam grande poder de
decisão e, em alguns casos, a informalidade fazia parte
da estratégia para o exercício do poder, ou servia para
contornar restrições legais, como foi o caso de Peter Fonte: Quadro e gráfico elaborado pelo autor com
Negols que, segundo depoimento de José Eduardo, na base em SCOTT (1988, p. 59-61).

CPI dos Bancos6, havia sido indicado pelo HSBC para o Conselho de Administração do

5
Fonte: PINÇON, M.; PINÇON-CHARLOT, M. Les Rothschild: une famille bien ordonnée. Paris: La Dispute, 1998.
6
Fonte: VIEIRA, José Eduardo de A. Depoimento na CPI dos Bancos. Notas da Comissão Parlamentar de Inquérito
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
35

Bamerindus, mas que jamais assumiu formalmente o cargo, apesar de ter amplo acesso às
informações estratégicas da organização7.
87
As (2) redes de relações de capital são formadas pelas conexões entre empresas através de
ações ou crédito – quando uma empresa participa no capital acionário de outra ou atua como sua
credora. Nesse tipo de conexão vamos encontrar empresas e pessoas participando de uma ou mais
instituições ou, no caso dos bancos e investidores institucionais, atuando em amplos setores
econômicos. Rastrear esse tipo de conexão apresenta uma série de dificuldades, entre elas, as
participações cruzadas dentro do mesmo grupo ou os cruzamentos de ações com outras empresas,
que normalmente são extremamente complexas. O caso Bamerindus apresentou situações de grande
complexidade quando estudamos a composição das participações cruzadas entre empresas do grupo
e a Fundação Bamerindus, que por sua vez era controlada por um grupo de empresários, cujos
poderes eram determinados pelo estatuto social. Também foi difícil rastrear as conexões de crédito,
já que são protegidas pelo sigilo bancário, mesmo assim foi possível identificar algumas das
conexões mais importantes. As (3) redes de conexões comerciais reúnem as relações comerciais
entre fornecedores e clientes, e também apresentam uma série de dificuldades para serem
identificadas, pois o sigilo normalmente faz parte da estratégia comercial e logística das empresas.
88
A classificação por tipo de conexão tem que considerar sobreposições complexas que
ocorrem segundo a conjuntura econômica, política e institucional, como por exemplo, ao longo do
trabalho vamos analisar o caso da companhia Siderúrgica Nacional (CSN) que, durante sua história,
constituiu e manteve participações acionárias cruzadas com fornecedores, como a Cia Vale do Rio
Doce (CVRD), prestadores de serviços e grandes clientes. Seus investimentos nestas empresas eram
considerados estratégicos para a formação do mercado de suprimentos e consumidor. Com a
privatização, essa estrutura foi em grande parte desmontada ou transformada, e o processo legal de
separação das participações cruzadas entre a CSN e a CVRD, consumiram mais de um ano de
trabalho de especialistas.
89
O peso relativo do Estado e das empresas estatais na economia brasileira recomenda uma
atenção especial para um grupo de conexões de caráter econômico e financeiro estabelecidas entre
as organizações privadas e a administração pública direta e indireta. Tais vínculos têm
características diferenciadas, normalmente submetidas a uma complexa legislação que disciplina o
ritual das licitações públicas e sofrem grande influência da conjuntura político-partidária. Grande
parte dessas conexões é pública e forma uma ampla e importante rede de relações econômicas. No

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
referente a 22 a Reunião Ordinária de 09 jun. 1999 da CPI dos Bancos (1999). Brasília: Senado Federal. Secretaria-Geral da
Mesa Subsecretaria de Taquigrafia, Serviço de Comissões. Brasília: 09 jun. 1999. Disponível. em
<http://webthes.senado.gov.br/sil/Comissoes/CPI/Comissoes/BANCOS/Notas/19990609RO022.rtf >. Acesso em: 05 abr.
2003. Publicado no Diário do Senado FederaL (DSF). Brasília: 23 jun. 1999, p. 16065-16119. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/web/cegraf/diario/>. Acesso em: 22 ago. 2005.
7
Em seu depoimento na mesma CPI, o presidente do HSBC no Brasil, Michael Francis Geoghegan negou que Negols tivesse
exercido tal função. Assumir publicamente sua participação no Conselho significaria a possibilidade de ser incluído na
relação de dirigentes legalmente responsabilizados no processo de falência do Bamerindus, ou reconhecer a presença de
representantes estrangeiros na direção do banco sem a autorização legal. (VIEIRA, 1999 e GEOGHEGAN, 1999)
36

caso do Bamerindus, as conexões do banco com a administração pública direta e empresas estatais
em vários níveis da federação, envolveram uma grande variedade de operações, desde a
intermediação e o financiamento da dívida pública até operações de caixa bancário do Estado, sem
contar as múltiplas operações que envolviam as demais empresas do grupo no fornecimento de
produtos e serviços ao setor público. Também encontramos conexões de diretores e acionistas do
Bamerindus em Conselhos e Diretorias de empresas estatais, bancos públicos, órgãos da
administração pública direta, e cargos de governo.
90
No contexto econômico e social contemporâneo, a dinâmica da formação e atuação das
redes políticas e corporativas está relacionada com a capacidade da classe dominante de constituir
elites específicas para articular o capital financeiro, grupos econômicos e organizações
corporativas, buscando estabelecer e manter a hegemonia sobre o mundo econômico, o aparelho do
Estado, a sociedade civil e a política.

2.3 CAPITAL FINANCEIRO

91
A questão do capital financeiro recebia já em 1776 um capítulo especial no livro A Riqueza
das Nações de Adam Smith e, em 1894, Marx (1991) dedicou um volume inteiro ao assunto, no
qual definiu o capital financeiro como uma parte do capital industrial e comercial que se destaca na
forma de dinheiro e “[...] efetua movimentos puramente técnicos no processo de circulação do
capital [...] Esses movimentos transformam este capital em capital financeiro” (MARX, 1991, p.
363). Esta parte do capital torna-se autônoma em seu movimento especializado e, pela sua
importância e especificidade, sua gestão destaca-se dos processos industriais e comerciais e passa a
ser executada por especialistas, que atuam para toda a classe capitalista. Cria-se assim um tipo
específico de atividade que segrega as operações financeiras em uma categoria própria e diferente,
cujas
12
[...] funções tornam-se negócio especializado, e porque se efetuam como negócio
especializado concernente ao mecanismo financeiro de toda a classe, concentram-se,
são exercidas em grande escala; ocorre então nova divisão do trabalho Nesse negócio
especializado, por se repartir em diversos ramos independentes entre si e por se
aperfeiçoarem as condições de trabalho desses ramos [...] (Marx, 1991, p. 365).

92
Essas operações dão origem a um tipo de comércio, a mercadoria passa a ser o dinheiro e
os títulos em operações de crédito e câmbio. Tal atividade é gerenciada por um tipo especial de
capitalista – os empresários financeiros cuja principal função é intermediar as operações
financeiras, gerindo o fluxo de recursos e as operações financeiras com o objetivo de maximizar o
processo de acumulação capitalista; a remuneração desses empresários seria parte da mais-valia
extraída no processo de produção.
93
A importância dessa atividade está no fato que o dinheiro, para tornar-se capital e dessa
formar crescer e se expandir produzindo lucro, isto é, extraindo mais-valia, necessita ser aplicado
no sistema de produção, “[...] para exercerem essa função de capital, é indispensável que sejam
37

desembolsadas como capital, empregando-se o dinheiro na compra de meios de produção [...] ou


na de mercadoria [...]” (MARX, 1991, p. 393). É necessário que o proprietário ceda o dinheiro
para terceiros, lançando-o na circulação e assim se tornando uma mercadoria, ou seja, “capital
produtor de juros”. Seu valor agora é o valor-de-uso para obter mais-valia, valor que se conserva e
volta para seu antigo proprietário, adicionado com parte da mais-valia extraída no processo de
produção.
94
Refinando essa análise, Marx propõe que ao assumir essa forma, de “produtor de juros”,
faz com que as relações capitalistas se tornem fetichistas, D - D’, dinheiro gerando dinheiro,
encobrindo a realidade do lucro como “produto de uma relação social e não como produto de uma
simples coisa” (MARX, 1991, p. 450). O capital produtor de juros transforma-se em “fetiche
autônomo perfeito”, valorizando a si mesmo e apagando as marcas de sua origem. Nesse contexto
mistificado, o dinheiro torna-se um corpo vivo que cresce e se reproduz, dinheiro gerando mais
dinheiro:
13
[...] torna-se assim propriedade do dinheiro gerar valor, proporcionar juros [...] [o que]
levou Dr. Price a fabulosas idéias que deixam para trás as fantasias dos alquimistas
[...] [em que] “Um xelim desembolsado no dia do nascimento de Jesus Cristo
(provavelmente no templo de Jerusalém) ‘a juros compostos de 6% teria se tornado
uma massa de ouro maior que a que se poderia conter em todo o sistema solar [...]”
(MARX, 1991, p. 451-455)8.

95
Desenvolvendo o conceito de capital financeiro, Hilferding (1985) publicou, em 1910, um
livro específico sobre o assunto, no qual apresenta a análise das diferentes formas que esse tipo de
capital assumia na época, propondo que:
14
Os traços mais característicos do capitalismo “moderno” são constituídos pelos
processos de concentração que aparecem, por um lado, na “abolição da livre
concorrência”, mediante a formação de cartéis e trustes, e, por outro lado, numa
relação cada vez mais intrínseca entre o capital bancário e o capital industrial. É
através dessa relação que o capital vai assumir a forma de capital financeiro, sua
forma mais elevada e abstrata [...] (HILFERDING, 1985, p. 27, grifo nosso).

96
O autor propôs o termo “capital financeiro” para designar a forma de capital que se
constituiu quando os grandes bancos entraram no capital da indústria alemã; ele analisou os efeitos
da concentração de poder9 sobre a estrutura econômica social e política, aspecto este que foi um dos
fundamentos da teoria do imperialismo.
97
Atualmente não podemos falar apenas em capital bancário, sendo necessário expandir esse
conceito incluindo as diversas instituições que operam no mercado financeiro e de capitais, mas o

8
Fonte: Richard Price. Observations on reversionary payments etc. London, 1772, p. XIII, XIV. Apud: Marx (1991, p.
455).
9
“Poder significa, [...] a capacidade de exercer [...] ação política de forma ininterrupta ou com descontinuidades menores,
num movimento de pinças, envolvente, político-ideológico, sempre reproduzindo e ampliando as bases de atuação para
conquistar, salvaguardar e consolidar posições. Isto, obviamente, implica em desarticular, conter e esvaziar o adversário,
utilizando para tais mecanismos de autoridade e de força, por meios legais e legítimos ou mesmo pela ruptura institucional,
isto é, dentro das regras do jogo, ou até quebrando todas as normas, se for indispensável e possível”. (DREIFUSS, 1986, p.
22).
38

essencial é que o capital financeiro será aquela parte do capital que se expressa na forma monetária
e que, para manter-se como capital e desta forma ter valor de uso, ele necessita manter-se conectado
ao processo de produção capitalista. Nesse sentido, Arrighi (1996, p. 5) reafirma a atualidade da
questão, buscando a fórmula geral de Marx para o capital: DMD’. Nessa equação, o capital-
dinheiro (D) representa intrinsecamente liquidez (flexibilidade e liberdade de escolha), e o capital-
mercadoria (M) uma combinação de insumos e produto, imobilizado na espera da realização de
lucros. Como (D’) novamente o capital recuperar sua liquidez, agora acrescido de um bônus
extraído do processo da produção, como prêmio pela imobilização. Arrighi observa que a fórmula
de Marx implica no entendimento que os agentes capitalistas investem o dinheiro esperando lucro
futuro e mais flexibilidade e liberdade. Também é possível deduzir que a ausência de expectativa de
lucro e aumento na liberdade de escolha ou, quando estes fatores forem sistematicamente
frustrados, o capital tende a retornar à forma de dinheiro para manter a liquidez. Arrighi interpreta
essa fórmula como retratando não apenas a lógica dos investimentos capitalistas individuais, mas
também como um padrão para o sistema capitalista, identificado com fases de expansão material
(DM) seguidas de expansão financeira (MD’).
15
Nas fases de expansão material, o capital monetário ‘coloca em movimento’ uma
massa crescente de produtos (que inclui a força de trabalho e dádivas da natureza,
tudo transformado em mercadoria); nas fases de expansão financeira, uma massa
crescente de capital monetário ‘liberta-se’ de sua forma mercadoria, e a acumulação
prossegue através de acordos financeiros [...]. Juntas, essas duas épocas, ou fases,
constituem um completo ciclo sistêmico de acumulação (DMD’). (ARRIGHI, 1996, p.
6).

98
Segundo Jameson (2001, p. 150-151), ao encerrar o ciclo produtivo, o capital inicia um
processo de flutuação livre na forma financeira, separando-se do “‘contexto concreto’ de sua
geografia produtiva”, tornando-se abstrato e “[...] como a borboleta se mexendo no interior da
crisálida, ele se separa de seu criadeiro concreto e se prepara para alçar vôo. Sabemos muito bem
[...] que este vôo é literal” – na forma de fuga de capitais e desinvestimento, em brusca de “[...]
prados mais verdes e para taxas maiores de retorno de investimentos, e para uma força de
trabalho mais barata”. Nessa busca por rentabilidade, o capital troca de contexto abandonando o
chão das fábricas, fazendas e lojas e se instalando nas bolsas de valores – instituição esta que
atualmente também trocou o piso dos pregões pelo espaço virtual das redes financeiras digitais.
Nessa arena, vai buscar manter seu valor original e, se possível, rentabilidade, na espera por um
novo ciclo de acumulação capitalista. Avança assim na esfera da especulação como “[...] espectros
de valor, como poderia dizer Derrida, competindo entre si em uma fantasmagoria mundial
desencarnada”, sendo este estágio o mais avançado e “tardio” do capital.
99
Funcionando como “uma economia monetária de produção” (SERFATI, 1998, p. 144), a
valorização do capital assume uma forma universal expressa no dinheiro e direitos de propriedade e
de crédito, desliga-se dos ativos reais e assume a forma jurídico-burocrática que garante direitos aos
seus proprietários. O capital financeiro adquire o caráter do “capital fictício” dos processos
especulativos e da criação contábil, tornando necessário um enorme e complexo aparato financeiro.
39

(BELLUZZO, 2005, p. 8). Como capital portador de juros, sua função passa a ser a de “fazer
dinheiro” através de juros sobre empréstimos, ágio em operações de câmbio, dividendos,
bonificações, taxas de intermediação, ou simplesmente lucros na especulação com títulos nos
mercados financeiros:
16
Solidárias no mister de comandar a força de trabalho “livre”, as formas particulares do
capital — capital produtivo, capital mercadorias e capital monetário — se
“autonomizam” umas em relação às outras, no metabolismo da acumulação e da
reprodução capitalistas. A autonomização do capital-dinheiro sob a forma de capital a
juros e a correspondente expansão do sistema de crédito são os elementos que
impulsionam a centralização do capital e promovem a fusão de interesses entre a alta
finança e a indústria. A modalidade de organização capitalista que concretiza essa
fusão de interesses é a sociedade anônima cujo caráter “coletivista” se sobrepõe aos
capitais dispersos e, ao mesmo tempo, reforça sua rivalidade. (BELLUZZO, 2005, p.
7-8).

100
Chesnais (2005, p. 35)10 observa que, no mundo contemporâneo, o capital portador de
juros, “[...] também designado ‘capital financeiro’ ou simplesmente ‘finança”, assumiu o centro das
relações econômicas e sociais, apesar do poder das grandes corporações capitalistas que atuam em
múltiplos países, encarregadas de “organizar a produção de bens e serviços, captar o valor e
organizar de maneira direta a dominação política e social do capital em face dos assalariados”.
Junto com elas estão as instituições financeiras bancárias e não bancárias que operam em amplos
mercados, negociando com múltiplos tipos de produtos financeiros baseados em complexas cadeias
de créditos e de dívidas, especialmente nas operações interbancárias e com a dívida pública. Tais
instituições têm, por função, atuar na acumulação financeira, aqui entendida como “a centralização
em instituições especializadas de lucros industriais não reinvestidos e de rendas não consumidas”,
buscando valorizar o capital através das operações com ativos financeiros.
101
Marx (1991) observava que, na época, uma das principais instituições criadas para gerir
esse processo seria o banco a instituição para a qual fluiria todo o dinheiro circulante na economia,
assumindo assim a função de caixas não só dos capitalistas, mas de toda a sociedade. Nos bancos
seriam armazenados os fundos de reserva e a poupança de todas as classes, desde pequenas somas a
grandes volumes – todo o dinheiro é reunido em uma grande massa, formando assim o poder
financeiro, e sua dinâmica confere aos bancos o “privilégio de fabricar dinheiro”. (Marx, 1991, p.
466).
102
Ao negociarem com a moeda e o crédito, os bancos, além de fornecerem os meios de
pagamento necessários para as atividades econômicas, também financiavam as atividades do
Estado. Operando com os recursos do orçamento, os bancos, na prática, acabavam assumindo a
privilegiada função de caixas do governo, o que permitia alavancar consideravelmente o poder e a
influência dessas organizações e seus controladores. Marx entendia o sistema bancário como, pela
sua forma de organização e pela centralização, o resultado mais engenhoso e refinado a que chegou

10
Fonte: CHESNAIS, François. (Org.) A finança mundializada: raízes sociais e políticas, configuração, conseqüências.
Tradução de Rosa Maria Marques e Paulo Nakatani. - São Paulo: Boitempo, 2005.
40

o modo capitalista de produção.


103
Também na obra desse autor, encontramos análises sobre as funções do Banco da
Inglaterra11 e do efeito da legislação disciplinadora sobre os bancos e o mercado financeiro;
abordou a importância de instituições reguladoras que, em última análise, avalizavam as operações
para evitar ou contornar crises. Chamou a atenção para a complexidade de tais intervenções, pois,
apesar das intenções, nem sempre os resultados seriam aqueles esperados pelo poder normativo.
Excesso de controles poderia levar à fuga de capitais e crises de liquidez, assim como a ausência de
princípios normativos poderia gerar crises de confianças e caos ao sistema como um todo. Cada
nova lei ou norma deveria gerar novas formas de ação buscando neutralizar a ação do poder
disciplinador. A ausência de regras formais promoveria o surgimento de práticas informais, não
menos rígidas, que em momento de crise seriam de difícil gestão e, normalmente enveredariam para
soluções radicais de eliminação das distorções a qualquer custo, correndo o risco dos efeitos
extravasassem os muros do sistema financeiro, atingindo todo o sistema econômico cujas
conseqüências normalmente são imprevisíveis.
104
Esse caráter ambíguo e delicado da intervenção reguladora encontra-se presente em boa
parte da literatura científica na área, sendo um dos pontos mais delicados e polêmicos que expõe a
fragilidade do poder normativo e do sistema diante das crises financeiras que, não raramente,
acabavam flexionando os limites legais e institucionais, colocando em cheque o poder do Estado.
Com o desenvolvimento capitalista, essa função tornou-se mais sofisticada e poderosa, chegando a
situações em que o poder regulador passou a interferir e direcionar os investimentos dos bancos. Ao
longo deste trabalho vamos ter a oportunidade de conferir que, boa parte do “liberalismo” que
encontramos nos discursos de José Eduardo Andrade, tinha entre outros objetivos, conter a
“excessiva” intervenção do Bacen na definição e direcionamento dos investimentos dos bancos
brasileiros.
105
Marx considerava o banqueiro como um tipo de comerciante especializado na manipulação
de todo capital-dinheiro em circulação e, sendo os juros uma parte da mais-valia extraída pelo
capitalista industrial ou comerciante, era função do banqueiro direcionar o fluxo de capitais para as
atividades nas quais a taxa de extração da mais-valia fosse superior à taxa de juros. Dessa forma, o
banqueiro desempenhava um papel particularmente importante no sistema capitalista, pois além da
capacidade de administrar o fluxo do capital financeiro, facilitando ou constrangendo processos
produtivos, era ele o guardião final da lógica capitalista. Seria dele a controvertida e não muito
agradável tarefa de lembrar aos demais capitalistas que seus negócios estão a serviço do processo
de acumulação capitalista, ou seja – devem eles gerar mais-valia suficiente para, no mínimo, pagar
os juros sobre os empréstimos devidos. Nesse contexto, o banqueiro é destacado do conjunto dos
capitalistas, tornando-se aparentemente externo à produção. Mesmo quando todas as atividades

11
Na época o Banco da Inglaterra também acumulava a responsabilidade de atuar como banco dos bancos, o que mais tarde
serviu de modelo para a criação de Bancos Centrais em diversos países.
41

estiverem reunidas num mesmo grupo, sob uma única administração, o setor financeiro tende a
mover-se de forma autônoma e destacada das demais atividades, assumindo geralmente a função de
controlador “inquestionável” e “implacável” da performance dos demais.
106
Sendo assim, é possível ao empresário Gráfico 2-3: Relação Patrimônio Líquido e o Total dos Ativos
dos bancos brasileiros (média dos percentuais de 1976 a 1994
não-financeiro assumir as feições de – base em US$ milhões)
“trabalhador” visto que sua função agora se
Kp100%
contrapõe aos juros cobrados pelos capitalistas 90% 15,3 14,9 10,5 10,1 10,0 10,0 7,8 7,4 6,4 10,4
financeiros, “não mais a extração de mais- 80%

B A M E R IN D U S
70%
valia”. O lucro do empresário seria, na

B anco E C O N Ô M IC O
60%

Total dos B ancos


B anco do B R A S IL
consciência do capitalista industrial ou

B anco N A C IO N A L
50%

BRADESCO

B anco ITA Ú

B anco R E A L
U N IB A N C O
comerciante, salário pela direção do trabalho e 40%

BANESPA
30%

gestão do negócio, que “[...] confrontado com 20%

o capitalista financeiro, o capitalista 10%

0%

industrial é trabalhador, mas um trabalhador K3


12
capitalista”, (MARX, 1991, p. 445) , o que o Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, com base nas informações
torna socialmente mais aceitável. Como extraídas de Melhores e Maiores (2002).
Nota: Kp (Capital Próprio) = PL (Patrimônio Líquido) / AT
veremos nos próximos capítulos, na campanha (Ativo Total) x 100, K3 = 100 - Kp.

eleitoral de José Eduardo para o Senado em 1990, seus assessores tinham o cuidado de apresentá-lo
como empresário trabalhador, e seus adversários faziam questão de chamá-lo de banqueiro13.
107
Com o desenvolvimento do capitalismo e o crescimento das sociedades anônimas, a
separação entre o capitalista financeiro e o administrador da empresa ficou radicalizada:
17
[...] o próprio capital-dinheiro assume o caráter social, concentra-se nos bancos que
emprestam, substituindo os proprietários imediatos dele; além disso, o simples
dirigente que não possui o capital a título algum, nem por empréstimo nem por
qualquer outro motivo, exerce todas as funções que cabem ao capitalista ativo como
tal. Nessas condições, fica existindo apenas o funcionário e o capitalista desaparece do
processo de produção como figura supérflua. (MARX, 1991, p. 446).

108
O desenvolvimento da sociedade anônima permitiu “alavancar” a capacidade do acionista-
controlador que, dependendo da estrutura do patrimônio líquido, pode ele, com uma participação
relativamente pequena em relação ao total das ações, controlar um patrimônio muitas vezes
superior ao seu capital investido. No Gráfico 2-3, podemos ver que o Patrimônio Líquido médio do
Banco Bamerindus representava 7,8% (US$ 417 milhões) do total dos ativos do banco. Estimando
que a família Vieira deteve, ao longo do período, uma média aproximada de 30% das ações14,

12
No século XX o capitalista trabalhador acabou sendo substituído por executivos especializados contratados para a gestão das
grandes corporações, constituindo oligarquias burocráticas bastante organizadas e poderosas, a ponto de muitos
pesquisadores como Miliband (1982) e Galbraith (1983), questionarem se eles não formam uma nova classe social, distinta e
específica. Para mais detalhes sobre esse tema ver Poulantzas & Miliband (1975).
13
É interessante observar que, no currículo de José Eduardo, disponível na página do Senado na Internet, consta “bancário”
como a sua profissão. Disponível em: <http://www.senado.gov.br>. Acesso em: 18 mar. 2005.
14
Por falta de informações confiáveis e a intrincada equação de participações cruzadas entre as diversas empresas do Grupo
Bamerindus, tornou-se muito difícil identificar o valor total da participação acionária da família Vieira e de José Eduardo.
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
42

significa que, com apenas US$ 125 milhões ou 2,3% do total dos investimentos, a família
controlava um patrimônio total médio 43 vezes maior, ou US$ 5.364 milhões. Tal quadro, apesar de
juridicamente perfeito, aproxima-se em demasia do conceito de privilégio e traduz claramente a
assimetria das relações do capital financeiro com o restante da sociedade. Também vamos ver nos
próximos capítulos que o Bamerindus adquiriu 9,11% do capital da Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN) e, através de acordos com outros acionistas, elegeu Maurício Schulman presidente
da empresa. Entre a CSN e a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) havia na época um
cruzamento de ações, que colocava os controladores da CSN em uma posição estratégica no leilão
de privatização da CVRD.
109
Ao analisar as relações entre a concentração econômica e o capital financeiro, Hilferding,
(1985) chamou a atenção para esse tipo de organização do capital (S. A.), observando que essas
relações criam um tipo especial de relação de propriedade através das ações, que permite constituir
conexões cruzadas entre diferentes empresas, bancos e grupos de capitalistas, formando assim:
18
[...] um círculo de pessoas que, em virtude do poder do capital próprio ou na condição
de representantes do poder reunido do capital alheio (como diretores de banco), fazem
parte dos conselhos [...] de um grande número de sociedades anônimas. Surge assim
um tipo de união pessoal, de um lado, entre diversas sociedades anônimas e, a seguir,
entre estas e os bancos, circunstância que deve ser da maior influência para a política
da sociedade, por formar-se entre as diversas sociedades um interesse comum de
proprietários. (HILFERDING, 1985, p. 123-124).

110
Assim forma-se o processo de concentração de poder não só no setor financeiro, como nos
demais setores econômicos. No setor financeiro, essa concentração não ocorre apenas de maneira
formal, tanto Chernow (1999) como Cassis (1994)15 entre outros, observam que há uma certa
tendência “natural” dos banqueiros para a formação de “Trustes” informais, que agem de maneira
pontual mais ou menos coordenada, sob um conjunto de normas e regras também informais. Como
exemplo, podemos citar o chamado “Money Trust” que, segundo Cassis, comandou a praça de
Londres no final do século XIX e início do século XX, ou o truste de banqueiros que, segundo
Chernow, teria existido em Nova York, mais ou menos na mesma época. Enquanto as demais
empresas precisam transformar seu estoque de capital em dinheiro, os bancos trabalham com
capital líquido e, em geral, é a superioridade da força do capital disponível, especialmente o
monetário, que determina a dependência econômica no âmbito das relações de débito.
111
Para Hilferding (1985), a expansão econômica exige a concentração progressiva do capital
bancário, possibilitando aos maiores bancos acesso aos melhores e maiores negócios. Também
possuem maior capacidade para impulsionar seus clientes, oferecendo, assim, vantagens
competitivas e possibilidades de crescimento. O grande banco pode, em muitos casos, escolher o

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Observamos também que uma boa parte das ações estava sob controle da Fundação Bamerindus de Assistência Social
(FBAS), na qual JE tinha a função de presidente “nato”. Atualmente as empresas de capital aberto são obrigadas a
identificar os acionistas controladores bem como o desdobramento das participações cruzadas. Para mais detalhes ver
declarações de Maria Christina de Andrade Vieira em Letaif (1997, p. 41).
15
Fonte: CASSIS, Y. City Bankers, 1890-1914. Cambridge: Cambridge University Press, 1994.
43

momento de entrar ou sair de um negócio, bem como favorecer um ou outro cliente em detrimento
dos demais, gerando uma tendência que resulta na concentração tanto bancária como das atividades
econômicas. A influência dessas instituições não estaria restrita apenas às operações financeiras,
mas na participação em conselhos de administração de seus clientes e associados, influindo na
administração, ou tirando vantagem de informações sobre as políticas das empresas, o que lhes
concede vantagem competitiva para lucrar em outras transações comerciais. Com isso acentua-se a
tendência de, por um lado, suprimir-se cada vez mais a concorrência entre os bancos e, por outro
lado, concentrar o capital na forma monetária e colocá-lo à disposição dos produtores através da
mediação bancária. Essa tendência pode levar bancos ou grupos de bancos a deter poder suficiente
para rivalizar, neutralizar, constranger ou condicionar a ação do poder público. Tal poder abriria
portas para o controle sobre toda a cadeia produtiva de um determinado setor, impondo restrições,
acelerando ou constrangendo as inovações tecnológicas, novos produtos, processos e matérias-
primas, através da distribuição dos custos na cadeia produtiva bem como, a administração de
mercados produtores e consumidores; podem competir com o Estado na capacidade de coordenação
do sistema de produção, com a vantagem de decidir, no âmbito privado, questões do poder público.
Essa concentração tem conseqüências para todo o sistema produtivo, principalmente porque
promove a dissociação entre a função social da produção e a remuneração do capital financeiro.
Marx já observava que:
19
O sistema de crédito, que tem seu fulcro nos bancos [...] em torno dos quais giram
grandes prestamistas e usurários, constitui centralização enorme e dá a essa classe [...]
imenso poder para dizimar periodicamente os capitalistas industriais e ainda intervir
de maneira perigosa na produção real - e [o capitalista financeiro] [...] nada entende de
produção e nada tem que ver com ela. (MARX, 1991, p. 626).

112
A dependência crescente do sistema produtivo em relação ao capital financeiro desencadeia
uma tendência que, em última análise, pode induzir os atores econômicos a trocarem os
investimentos na produção real e socialmente necessária, por títulos negociados no mercado
financeiro. O capitalista financeiro, pela sua posição destacada e alienada da produção real, teria
uma tendência para buscar substituir a fonte de sua remuneração, deslocando-se da complexa e
“incompreensível” atividade produtiva do chão de fábrica ou do barro das fazendas, pela
sofisticação “inteligível” dos mercados financeiros e de capitais.
113
No caso Bamerindus podemos comparar os tempos em que Avelino Antônio Vieira abria o
seu pequeno primeiro banco no interior do Paraná nos anos 1930, e a atuação de seu filho José
Eduardo nos anos 1990, como segue:
20
Naqueles tempos, os prazos para empréstimos eram [...] em 30, 60 ou 90 dias. Eram
feitos por safra. [...] Avelino, conhecedor de tudo o que se passava a sua volta,
orientava [...] “Faça negócio com fulano, cuidado com beltrano”. Sabia onde havia
porcos, ele mesmo ia buscá-los, era intermediário na compra e venda. “Miguel,
Avelino e um filho de João Batista Nascimento iam ao campo e tocavam a porcada até
a cidade. Atrás dos porcos, com uma vara, Avelino e o filho João Batista; na frente, o
44

Miguel debulhando espigas de milho para chamar os bichos. Era preciso saber
conduzir, para que a porcada não estourasse”. (BRANDÃO, 1993, p. 82)16.

114
Esse contato com a realidade da produção e sua importância para a atividade bancária, pode
ser observado também em outra passagem bastante emblemática:
21
Certo dia, uma mulher muito simples entrou na agência, pediu dinheiro para plantar
milho. [...] não sabia o que era empréstimo, prazos, juros, nada. Precisava de dinheiro
e tinham dito a ela que o banco dava. Avelino procurou explicar a operação, ela tiraria
tanto, mas teria que pagar tanto, na hora que o milho produzisse. Em seguida,
entregou o dinheiro. – Como, Avelino? Que garantia ela deu? – Nenhuma. Vai
trabalhar. – E como sabe que pode pagar? – Vi nos olhos dela. Miguel observou o
documento de empréstimo, Avelino tinha assinado por ele e pela mulher.
(BRANDÃO, 1993, p. 82-83).

115
Se no século XIX, liberais norte-americanos mais radicais queriam trocar o lastro da moeda
– do ouro para porcos17 e, nos anos 1930, Avelino Vieira emprestava dinheiro para pequenos
colonos tendo como aval “os olhos dos clientes”; em 3 de junho de 1992 seu filho18 foi buscar no
outro lado do mundo um exemplo de micro-crédito. Nesse dia ocupou a tribuna do Senado Federal
para destacar uma reportagem publicada no jornal Le Figaro que, para ele, descrevia uma:
22
[...] experiência original adotada por um banqueiro num país do terceiro Mundo,
Bangladesh. A reportagem, intitulada “o capitalismo socorre a miséria”, descreve a
experiência do professor de economia Mohammed Yunus [...] dono do Banco
Grameen, segunda instituição financeira do Bangladesh, com 350 milhões de dólares
em negócios. Essa quantia não impressiona, em termos brasileiros, mas isso não
invalida a experiência [...] o Grameen oferece empréstimos a mais de um milhão de
camponeses sem terra, espalhados em 25 mil aldeias. Essa não é uma obra de
caridade, pois os camponeses pagam 16 a 20 por cento de juros reais por ano e a
operação dá lucro ao banco e aos tomadores dos empréstimos, sendo, portanto, um
bom negócio para os dois lados e, também, para o país. (VIEIRA, 04 jun. 1992, p.
4301).

116
No Brasil, o distanciamento entre bancos e a realidade da produção aumentou muito nos
anos 1980 e 1990, quando não só o Bamerindus, como grande parte dos bancos brasileiros, investiu
milhões de dólares na automação bancária buscando eliminar custos através da redução das
operações que envolviam o contato pessoal com os clientes. O resultado foi o crescimento
sistemático do que Arrighi (1996) chama de “financeirização do capital”, definindo como o
crescimento desproporcional da especulação financeira provocada pela migração do capital alocado
no sistema de produção para o mercado financeiro, buscando a manutenção das taxas de lucros
necessárias para a reprodução capitalista. Talvez a baixa lucratividade seja o preço a ser pago pela

16
Fonte: BRANDÃO, I. de L. Olhos de banco: Avelino Vieira. DBA Artes Gráficas. 1993.
17
“Basing the currency on gold was too restrictive; it might better be based on pork. Better still; let it be based on everything.
Let money be cheap and abundant. That was what the factory-owner wanted, the railway-builder the inventor, the merchant,
and last of all the farmer himself...” (HAMMOND, 1991, p. viii). Basear a moeda em ouro era muito restritivo, seria melhor
que ela estivesse baseada em porcos. Melhor ainda se tivesse como base todas as coisas. Tornando assim o dinheiro barato e
abundante. Era o que queriam os industriais, construtores de ferrovias, os inventores, comerciantes, e por último, os próprios
fazendeiros [...]. (Nossa tradução)
18
Fonte: VIEIRA, José Eduardo de A. Discursos. Diário do Congresso Nacional. Seção II. Anais do Senado. Subsecretaria de
Anais. Brasília: 4 jun. 1992, p. 4301-4302. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/publicacoes/anais>. Acesso em: 18
jan. 2005.
45

elevada concentração da atividade financeira em grandes instituições bancárias – estruturadas em


gigantescas e complexas burocracias.
117
No próximo capítulo vamos abordar com mais detalhes a história e estrutura do sistema
financeiro, bem como dedicaremos uma especial atenção para o problema da especulação
financeira e suas conseqüências para o processo de acumulação capitalista. Neste momento do
trabalho, vamos direcionar a análise para o processo de concentração do poder econômico nas
instituições financeiras, e suas ramificações no processo político.

2.4 HEGEMONIA FINANCEIRA

118
Alguns estudos sobre a influência do capital financeiro na concentração do poder
econômico tratam a questão como de hegemonia financeira, e os trabalhos de Mintz & Schwartz
(1985 e 1990), Glasberg (1989), e Minella (1999) abordam essa questão.
119
Inicialmente é importante ressaltar que, apesar do estudo de Mintz & Schwartz (1985) se
referir ao “American Business”, o ambiente econômico estudado limitou-se apenas aos Estados
Unidos da América do Norte (EUA)19 onde, tradicionalmente, predomina o setor privado, muito
diferente do ambiente brasileiro, marcado pela presença acentuada do Estado na economia. Se nos
EUA os financiamentos de longo prazo são quase que exclusividade dos grandes bancos privados,
no Brasil esse papel é dominado pelo setor público através do BNDES, BB e CEF entre outros, que
conferem ao Estado um papel importante no processo de hegemonia financeira.
120
Os autores partiram da premissa que, na época, as relações de poder no universo
corporativo dos EUA estavam relacionadas às conexões intercorporativas20, formadas por ligações
entrelaçadas ou cruzadas entre diferentes empresas e corporações. Nesse universo, a análise dos
autores apontava que os bancos e companhias financeiras ocupavam um papel importante na
coordenação das corporações e que não encontraram evidências que comprovassem a efetividade da
versão moderna da teoria do controle bancário21.
121
Com base nos resultados obtidos com as redes cruzadas (“interlock network”), os autores
entenderam que era necessário formular uma nova concepção para o poder intercorporativo, que
centrasse o enfoque nas instituições financeiras e incluísse conceitos de dominação hierárquica e
influência, mas observando que essas relações não eram absolutas nem deterministas. A pesquisa

19
Vale observar o interessante trabalho “They Rule” criado e publicado por Josh On na Internet, que permite verificar as redes
corporativas formadas pelos membros dos Conselhos de Administração e Diretorias de grandes bancos, corporações,
universidades e o governo dos EUA, Disponível em: <http://www.theyrule.net/2004/tr2.php>.
20
“[...] the untangling of power relations in the modem industrial world rests on an understanding of intercorporate relations
and intercorporate power wielding” (MINTZ & SCHWARTZ, 1985, p. viii) – (Nossa tradução).
21
“Nevertheless, the evidence also indicated that modern version of bank control theory, which assert ongoing intervention by
financial corporations into the daily working of non-financial firms, were both misleading and inaccurate (see especially
Fich and Oppenheimer, 1970a-c; Menshikov, 1969, Pelton, 1970). A teoria do controle bancário afirma existir uma
intervenção contínua das corporações financeiras no cotidiano das empresas não financeiras. (MINTZ & SCHWARTZ,
1985, p. xi). – (Nossa tradução)
46

demonstrou que nos EUA as instituições financeiras tinham um papel ativo de coordenadoras das
atividades empresariais, configurando uma espécie de hegemonia – a hegemonia financeira. Mintz
& Schwartz (1985) partiram do conceito gramsciano de hegemonia, mas explorando uma variante
que chamaram de “hegemonia estrutural”:
23
A hegemonia estrutural opera-se quando as ações de uma instituição social (ou grupo
coordenado de instituições) determinam as opções viáveis disponíveis a outras
instituições e indivíduos. Se tal constrangimento ocorrer regularmente em um sistema
social, a liderança da estrutura dominante exercita uma liderança não intervencionista
que permite a coordenação das várias formações sociais contidas sem coerção
explícita ou manipulação ideológica sistemática.22 (MINTZ & SCHWARTZ, 1985, p.
12).

122
É importante destacar que Glasberg (1989) alertava em seu texto que o termo hegemonia
não pode ser utilizado com conotação de
24
[…] poder monolítico ou absoluto. Certamente, porque os estudos de caso [...]
[mostram que os] bancos às vezes falham ao tentarem alcançar seus objetivos [...] ou
perdem grandes somas de dinheiro [...] Às vezes as circunstâncias ou o processo de
crise podem forçar os bancos a aceitarem acordos não desejados [...] enfrentar
ameaças reais aos seus investimentos [...] [e] há épocas em que os grandes bancos
quebram acordos e traem uns aos outros. [...] Mas quando a crise termina, as
instituições financeiras tendem a emergir com mais objetivos alcançados do que
qualquer outro tipo de organização, porque agem coletivamente sobre o controle dos
fluxos de capitais e têm mais poder sobre os recursos que as corporações e o Estado
necessitam. (GLASBERG, 1989, p. 23-24)23.

123
Mintz & Schwartz (1985) partem da proposição empírica que a centralização do setor
financeiro (bancos, companhias de seguro, e companhias de investimento) permite a tomada de
decisão coordenada sobre a disposição dos investimentos de capital. Devido à importância dos
fundos externos para financiar a expansão econômica e enfrentar crises econômico-financeiras, tal
centralização confere às lideranças financeiras, a capacidade intermitente para coordenar uma larga
escala de atores econômicos. O fenômeno entendido como hegemonia financeira surge quando as
lideranças do setor financeiro adquirem a capacidade de planejar e de executar políticas econômicas
e sociais que dependem, sobretudo, da aceitação de outras corporações, instituições e dos governos,
mesmo quando tais ações não beneficiam diretamente todos os participantes institucionais24. Ao

22
“Structural hegemony operates when the actions of one social institution (or coordinated group of institutions) determine the
viable options available to other institutions and individuals. If such constraint regularly occurs in a social system, the
leadership of the dominant structure exercises a noninterventionist leadership that allows for coordination of the various
contained social formations without either overt coercion or systematic ideological manipulation”. (MINTZ &
SCHWARTZ, 1985, p. 12). – (Nossa tradução)
23
“[…] do not use the term hegemony to denote monolithic, absolute power. [...] Indeed, as the case studies here will show,
banks sometimes fail to attain their ultimate goals [...] or lose large sums of money [...]. Sometimes circumstances or the
process of struggle may force banks to accept unwanted compromises [...] In other instances banks face real threats to their
investments, [...] And there are times when the large banks break ranks and betray one another [...] But when the struggle is
over, financial institutions tend to merge with more of their goals met than any other because they act collectively control
capital flows and wield more of the resources needed by both corporations and the state.” (GLASBERG, 1989, p. 23-24).
(Nossa tradução)
24
“Crucial to this view is the empirical proposition that the centralization of the financial sector (banks, insurance companies,
and investment companies) allows for coordinated decision-making over the disposition of investment capital. Because of
the importance of outside funding in fueling economic expansion and weathering ongoing economic crisis, such centralized
decision-making over capital flows confers upon financial leadership the intermittent capacity to coordinate activity among a
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
47

combinarem informações encontradas na imprensa especializada com o dados quantitativos das


redes corporativas e suas conexões cruzadas, os autores encontraram evidências consistentes de
uma realidade na qual as instituições financeiras ocupavam uma posição hegemônica sobre o
universo empresarial do EUA25 mas observam que essa relação de hegemonia variava ao longo do
tempo, existindo períodos de coordenação e autonomia:
25
O padrão encontrado indica que as instituições financeiras exercem uma forma de
liderança estrutural de ampla extensão sobre as corporações não financeiras.
Liderança esta episódica e problemática, mas, no entanto contínua e altamente
significativa em termos globais do processo de decisão corporativo.26 (MINTZ &
SCHWARTZ, 1985, p. xviii).

124
A pesquisa desses autores indicou que todas as ações corporativas se desenvolviam a partir
de processos entrelaçados de decisões discricionárias e de constrangimentos institucionais. As
relações intercorporativas estariam submetidas a quatro tipos de influências: (1) gerenciamento
operacional: quando o controlador coordenava as atividades intercorporativas através do controle
administrativo sobre duas ou mais companhias; (2) controle estratégico: quando os controladores
externos desenvolviam o planejamento estratégico e implantavam através de diretrizes ou pela
indicação de executivos (diretorias cruzadas) para execução e monitoramento dos seus planos; (3)
dissuasão mútua: quando cada empresa respeitava a habilidade das outras em afetarem de forma
adversa o ambiente corporativo, havendo um conjunto de normas tacitamente respeitadas,
especialmente aquelas que restringiam a competição destrutiva e; finalmente, (4) hegemonia:
quando a coordenação ocorria em relações de dependência assimétricas.
125
Nesse trabalho, os autores elaboraram um diálogo entre o seu conceito de hegemonia
financeira e a “teoria do controle bancário” (“theory of bank control”) citando textos nos quais
Fitch & Oppenheimer (1970)27 postulavam que o ponto central da teoria era que as relações de
empréstimos são em geral assimétricas e criam mais dependência sobre os devedores do que sobre
os credores e, portanto, os banqueiros desenvolvem uma influência estrutural sobre as demais
empresas não-financeiras28. Na época, os críticos alegaram que a assimetria era clara nos casos

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
wide range of economic actors. They, thus, achieve the capability of planning and executing economic and social policies
that depend upon the compliance of other corporations (and even governments), even when such actions do not directly
benefit all institutional participants. We have argued elsewhere that this phenomenon is properly understood as financial
hegemony, using hegemony in the structural sense developed by Gramsci.” (MINTZ & SCHWARTZ, 1990, p. 205). (Nossa
tradução e versão)
25
“In our view the combination of evidence from the business press and the quantitative analysis of interlock patterns produce
a viable case for the existence of financial hegemony in the American business world.” (MINTZ & SCHWARTZ., 1985, p.
xix). (Nossa tradução)
26
“The patterns found in the interlock network indicate that financial institutions exercise a form of structural leadership over a
wide range of non-financial corporations. This form of leadership is, in our opinion, episodic and problematic; but it is
nevertheless ongoing and highly significant in terms of the overall shape of corporate decision making”. (MINTZ &
SCHWARTZ, 1985, p. xviii). (Nossa tradução).
27
Fonte: FITCH, Robert & OPPENHEIMER, Mary. Who Rules the Corporations? Part 1, Socialist Revolution, vol. 1, nº 4:
p. 73-108, Jul. – Ago. 1970, Part 2, Socialist Revolution, vol. 1, nº 5: p. 61-114, Sep. - Oct. 1970, Part 3, Socialist
Revolution, vol. 1, nº 6: p. 33-94., Nov. – Dec. 1970. Apud MINTZ & SCHWARTZ (1985).
28
“The crucial point of contention in this debate was bank control theory’s assumption that lending relationships are in general
asymmetrical; that, [...] they create more dependence among borrowers than among lenders; and therefore that bankers
develop structural leverage over industrial firms.” (MINTZ & SCHWARTZ, 985, p. 30)
48

estudados, mas que isso poderia não ser verdadeiro como regra geral e que a relação devedor /
credor era de dependência recíproca. A necessidade contínua de capital das corporações nos
momentos de crise ou de expansão criava a dependência de fundos externos, e esse poder seria
usado pelos bancos para: (a) desenvolver controle estratégico sobre as empresas tomadoras de
empréstimo – Lenin e Hilferding; (b) ditar políticas que, no longo prazo, são consistentes com as
necessidades das instituições financeiras – Fitch & Oppenheimer. Sendo assim, para os teóricos do
controle bancário, os bancos intervêm regularmente nos negócios dos clientes na tentativa de
manter a dependência constante de capital, produzindo assim o controle de longo prazo. Nessa
lógica, haveria a segregação econômica dentro de grupos financeiros e as empresas atuariam para
maximizar o lucro de longo prazo do grupo, deslocando assim a unidade básica de decisão da
empresa individual ou firma, para o grupo. A teoria também acentuava o papel dos bancos como
acionista na criação de relações de controle, observando que uma instituição financeira ao possuir
uma quantidade significativa de ações — mesmo que não seja ela proprietária — poderia usá-las
como fonte de poder29. No caso Bamerindus, por exemplo, o anúncio feito pelo HSBC no início de
1997, que estava lançando como perdas suas ações do banco (aproximadamente 6,7% do capital do
BBB no valor de US$ 60 milhões), contribuiu para precipitar a crise e a intervenção do Bacen.
126
Mintz & Schwartz (1985) observaram que a interdependência devedor / credor não
eliminava a possibilidade de assimetria, pois as situações de escassez de capital ou crise de liquidez
colocavam os credores na posição mais forte. Para eles, a assimetria presente no relacionamento
entre as organizações financeiras e não financeiras, teriam origem em quatro fontes: (1) o capital
financeiro tem natureza fluida e está presente em todos os negócios, podendo ser usado para
constranger qualquer setor econômico; (2) o capital financeiro é uma mercadoria universal; (3) nas
operações de crédito envolvendo grandes valores, numa ponta estará a empresa e, na outra, um
pequeno número de grandes bancos, agindo de forma mais ou menos coordenada em suas
atividades; (4) as crises de liquidez colocam as empresas em regime de urgência para tomar
empréstimo. As combinações desses fatores produzem relações assimétricas, contribuindo para que
ocorra a intervenção financeira no processo de decisão das demais organizações, mas, observam
que a maioria dos exemplos encontrados foi de intervenções no curto prazo, sendo relativamente
raros os casos de controle estratégico ou de longo prazo.
127
Os autores verificaram que: (a) a intervenção dos bancos no processo de decisão dos
clientes acontecia com freqüência; (b) a participação dos acionistas institucionais era uma fonte de
poder; e que, (c) a intervenção bancária e a participação acionária institucional faziam parte de um
amplo contexto de hegemonia financeira; (c) raramente a intervenção e a participação acionária

29
“When a financial institution is the holder of record of a large block of corporations stock-even if the financial institution is
not the beneficial owner of the stock-this may be a source of power for two reasons. First . . . it can vote against management
proposal and it can initiate or join a proxy fight to replace the existing hoard. Second [...] an institution can sell its holding
suddenly, which would depress the price of the stock and hence harm the interests of management and other stockholders: or
it could sell its holdings to a group attempting a takeover”. (MINTZ & SCHWARTZ (1985, p. 19)
49

institucional transferiam o controle estratégico de longo prazo, mas contribuíam para a formatação
de um modelo global menos rígido de hegemonia financeira (apesar de não serem freqüentes, após
a intervenção a empresa não retomava a autonomia, mas se tornava parte de um amplo sistema de
relações hegemônicas); (d) As relações intercorporativas não se processavam a partir de situações
claramente definidas e estáticas de constrangimento e de autonomia relativa, mas através de
situações entrelaçadas que faziam parte de um processo maior de longo prazo. Concluíram, então
que o processo de hegemonia financeira procurava garantir que mudanças estruturais não
reduzissem, mas reforçassem a lógica da dependência assimétrica, impondo um conjunto de regras
de conduta para as corporações. Tais regras conformavam uma estrutura voltada para a
maximização do lucro e restrições à competição destrutiva e que, apesar das relações assimétricas,
as corporações gozavam de uma considerável autonomia em seus negócios.
128
Segundo os autores, ao serem combinadas as análises dos grupos de capitalistas que
ocupavam posições em diretorias cruzadas com a teoria do capital financeiro, eles concluíram que
essas lideranças, além de ocuparem posições importantes nos conselhos e diretorias dos bancos,
formavam também um tipo de grupo social especial, unido pela herança social, redes de amizades e
interesses econômicos comuns30. Para autores,
26
[...] os bancos são os mecanismos primários para a tomada de decisão coletiva no
mundo dos negócios (…), entretanto, (…) devemos perguntar se a classe capitalista
expressa os interesses dos bancos ou, (…) os bancos são controlados pelas redes de
classe daqueles indivíduos que os conduzem. (MINTZ & SCHWARTZ, 1985, p.
254)31.

129
Pesquisas anteriores realizadas por Ratcliff e Gallagher sugerem que as decisões de
alocação de capital são afetadas pelas necessidades desses grupos de capitalistas financeiros, e
Mintz & Schwartz (1985) alegam ter encontrado evidências dessa proposição, mas observam que
esse poder discricionário é apenas mais um componente do processo, pois a decisão depende das
opiniões dos demais capitalistas financeiros e está condicionada pelas redes de classe formadas por
eles32. Também observam que os “(…) constrangimentos estruturais sob os quais os bancos operam,
determinam as opções disponíveis para aqueles que são responsáveis pelas decisões” 33 e concluem
que:

30
“By combining the conclusions of inner-group analysis with the theory of finance capital, we conclude that business
leadership accrues to a special social type: a cohesive group of multiple directors tied together by shared background,
friendship networks, and economic interests, who sit on bank boards as representatives of capital in general.” (MINTZ &
SCHWARTZ, 1985, p. 254). (Nossa tradução).
31
“We have argued throughout this book that banks are the primary mechanisms for collective decision making within the
business sector. In the final analysis, however, we must ask whether the capitalist class expresses the interest of banks or, as
Zeitlin (1974, 1976), Zeitlin, Newman, and Ratcliff (1976) and Ratcliff (1980 a, b) suggest, banks are controlled by the class
networks of those individuals who lead them.” (MINTZ & SCHWARTZ, 1985, p. 254). (Nossa tradução)
32
“Findings by Ratcliff (1979—80, 1980 a, b) and Ratcliff, Gallagher, and Ratcliff (1979) suggest that decisions on capital
allocation are affected by the needs of this inner group of finance capitalists. We find this evidence compelling.” (MINTZ &
SCHWARTZ, 1985, p. 254). (Nossa tradução).
33
“The structural constraints under which banks operate determine the options available to those decision makers.” (MINTZ &
SCHWARTZ, 1985, p. 254). (Nossa tradução).
50

27
Neste contexto, os bancos ocupam um lugar de importância estrutural no setor
econômico; sua posição os coloca no centro das decisões de alocação do capital, sendo
que estas, em boa parte, estão condicionadas aos imperativos do processo da
acumulação. Sendo assim, os interesses dos bancos como organizações, em boa parte,
determinam e constrangem os interesses do capital em geral, pois são eles os veículos
para o controle de classe sobre a economia. Como segmento de classe, os capitalistas
financeiros assumem o papel de agentes desta compulsão estrutural, mas também
devem fazer escolhas reais sobre que opções de investimento devem perseguir. A
importância da sua participação não pode ser subestimada, pois sem ela o capital seria
alocado em diferentes maneiras e em resposta às diferentes pressões. Como todo
mundo, a classe capitalista toma decisões, mas tem que observar os constrangimentos
do processo de acumulação capitalista. (MINTZ & SCHWARTZ, 1985, p. 254)34.

130
Com relação às diretorias cruzadas e relações intercorporativas, Minella (1999) observa
que, apesar de existir nos Estados Unidos e na Europa uma grande quantidade de pesquisas, no
Brasil ainda faltam trabalhos sistemáticos nessa área. Entre as pesquisas mais recentes, destaca um
trabalho preliminar de Cruz (1994)35 que poderia evoluir para uma análise mais ampla das diretorias
entrelaçadas no mundo corporativo brasileiro.
131
Nessa pesquisa, Cruz compilou dados de um conjunto de duzentas empresas de capital
privado e misto, com cerca de três mil registros de membros de diretorias e conselhos
administrativos. O resultado aponta para um cenário brasileiro (diretorias cruzadas) muito diferente
dos EUA, “devido a características do mercado acionário (fragilidade e estreiteza), a forte
presença da empresa familiar e o peso das empresas multinacionais”. (CRUZ, 1994). Na opinião
de Minella (1999), esta estrutura de diretorias cruzadas estaria sendo transformada pelas mudanças
no mundo empresarial brasileiro, impulsionada pelos seguintes fatores:
28
[...] (a) [o] processo de privatização das empresas estatais, que tem levado a uma
reestruturação patrimonial que envolve a participação conjunta de capitais de diversas
origens; (b) crescimento da importância e presença dos investidores institucionais,
especialmente fundos de pensão no capital acionário de empresas em diversos setores;
(c) expansão do processo de profissionalização das diretorias executivas das empresas
familiares; (d) crescente necessidade de realizar articulações e alianças estratégicas
para sobreviver no mercado com maior abertura econômica: (e) crescente participação
direta de algumas instituições financeiras no capital acionário das empresas não
financeiras. (MINELLA, 1999, p. 62).

132
Nas relações entre o Estado e a hegemonia financeira, Minella (1999) chama a atenção para
a necessidade de considerarmos as seguintes questões:
133
(1) O Estado participa ativamente na oferta de crédito, através de suas instituições

34
“We argue, then, that banks occupy a position of structural importance in the economic sector; that their location places
them in the center of capital allocation; and that allocation decisions are, in good part, constrained by the imperatives of the
accumulation process. The interests of banks as organizations, therefore, in good part determine and constrain the interests
of capital in general. They are, in this sense, vehicles for the class control of the economy. Finance capitalists — as a class
— become agents of this structural compulsion, but they also must make real choices about which investment options to
pursue. Their participation is in no way trivial. Without their input, capital would be allocated in different ways and in
response to different pressures. Like everyone else, the capitalist class makes decisions but not under conditions of its own
choosing.” (MINTZ & SCHWARTZ, 1985, p. 254). (Nossa tradução e versão).
35
Fonte: CRUZ, Sebastião V. e. Relatório Parcial de Atividades. Projeto Reestruturação Econômica e Empresariado. O caso
brasileiro. Campinas. 1994. mimeo. Apud MINELLA, A. C. Fundamentos teóricos e metodológicos para análise do
empresariado financeiro no atual contexto de globalização financeira. (Versão Preliminar). Anexo 1 do Relatório Técnico de
Pós-Doutorado apresentado ao Departamento de Ciências Sociais. UFSC: nov. 1999, p. 62-63.
51

financeiras, podendo assim estabelecer níveis e esferas diferenciadas de hegemonia financeira. As


privatizações de bancos estatais podem significar um contexto mais favorável para a hegemonia
financeira de grupos privados.
134
(2) As decisões das autoridades monetárias interferem no processo de hegemonia
financeira, e, no caso brasileiro, “constata-se que tais decisões tendem a criar um ambiente mais
favorável à hegemonia financeira, na medida que tendem a restringir a oferta de crédito e manter
taxas de juros elevadas”. (MINELLA, 1999, p. 63).
135
(3) O processo de hegemonia financeira é afetado pelo grau de intervenção reguladora no
sistema financeiro definido no âmbito político pelos poderes executivo e legislativo, influenciando
tanto na direção como no volume dos fluxos financeiros.
136
(4) Finalmente, o estudo da hegemonia financeira tem que incluir a questão do fluxo de
capitais para financiamento da dívida pública, e sua influência condicionante no processo de
decisões políticas tanto no âmbito econômico como para reforçar ou manter o ambiente social sob a
hegemonia financeira.
137
Nesse contexto, para o estudo do caso Bamerindus, nós necessitamos ampliar o conceito de
hegemonia financeira com algumas considerações adicionais sobre a política e o discurso
ideológico, que abordamos a seguir.

2.4.1 O MUNDO POLÍTICO E A HEGEMONIA FINANCEIRA

138
No caso Bamerindus foi possível constatar que o processo de hegemonia financeira incluiu
conexões entrelaçadas entre o mundo político, o aparelho do Estado e grupos econômicos,
formando uma ampla e sofisticada rede de vínculos com organizações de representação de classe,
clubes sociais, empresas estatais, casas legislativas, executivos e o judiciário, em vários níveis do
aparelho de Estado e da estrutura federativa. Nesse contexto, as conexões entre as organizações
financeiras e a política adquirem uma especial relevância pelos seguintes fatores:
139
1) Campanhas eleitorais: o financiamento direto de campanhas36, o uso da rede de agências
espalhadas pelo território, bem como a disponibilidade da estrutura organizacional (funcionários,
telefones, telex, fax, computadores, imóveis, gráfica, etc.) e a quantidade de potenciais eleitores /
funcionários.37
140
2) Quadro de lideranças: as instituições financeiras forneceram quadros qualificados para o
exercício da política, sendo historicamente notória a habilidade política de banqueiros como José de
Magalhães Pinto, Laudo Natel, Herbert Levy, Walther Moreira Salles, Othon Mäder, entre outros.

36
Ao sugerir que “o melhor cabo eleitoral é a agência bancária”, o velho ditado popular mineiro citado por COSTA (2002a)
parece sintetizar de forma precisa a constelação de interesses que une o mundo político e financeiro. Fonte: COSTA,
Fernando N. Bancarrota da banca nacional. FSP, 1º fev. 2002a. In: Campinas: IE Instituto de Economia. Disponível em:
<http://www.eco.unicamp.br/artigos/artigo234.htm>. Acesso em: 27 ago. 2004.
37
Para mais detalhes sobre o uso de recursos de suas empresas pelos empresários, ver Lindblom (1980)
52

141
3) Capacidade de ação dos partidos, como foi o caso da UDN, que durante muitos anos
concentrou em seus quadros boa parte dos representantes do empresariado financeiro38. Vamos ver
ao longo deste trabalho que, durante um bom tempo, o PTB do Paraná foi controlado por um grupo
de políticos vinculados ao Bamerindus, o que teria sido fundamental para a estruturação do partido
em mais de 300 municípios paranaenses entre 1990 e 1994.
142
4) Importância política e influência dos gerentes das agências bancárias nas pequenas
comunidades do interior.
143
5) Financiamento direto de lideranças políticas durante o exercício de seus mandatos.39

2.4.2 DISCURSO IDEOLÓGICO E A HEGEMONIA FINANCEIRA

144
Se Mintz & Schwartz (1985, p. 12) excluem a questão ideológica da formação da
hegemonia financeira, no caso Bamerindus o fenômeno do discurso ideológico como um
importante recurso desse processo adquire um lugar de destaque, como parte do processo para
legitimar, constranger e transformar os interesses específicos de uma classe ou segmento, em
prioridade para toda a sociedade. É necessário considerar o conceito de hegemonia no seu sentido
mais amplo, como proposto por Gramsci. Neste sentido, foi possível identificar um discurso
específico que se propõe a divulgar uma espécie de “lógica financeira” – um discurso financeiro
– e que opera em vários níveis e segmentos da sociedade, tais como:
145
1) No segmento econômico-empresarial: o uso generalizado e pouco criterioso de (a)
análises econômico-financeiras para investimentos, cuja proposta básica busca reduzir a complexa
realidade produtiva a fluxos de caixas financeiros, e que pretende vincular as decisões a uma “taxa
de corte” atrelada às taxas de juros praticadas no mercado; (b) a avaliação da performance
gerencial através de indicadores extraídos de relatórios financeiros de qualidade duvidosa, tais
como: taxa de retorno sobre o Patrimônio Líquido, retorno sobre os Ativos etc; (c) uso da cotação
das ações da bolsa de valores como indicador da qualidade da gestão das organizações e seus
administradores e, (d) agências de avaliação de risco etc. Tais “análises financeiras” normalmente
estão sujeitas a inúmeros fatores, manipulações, e critérios muitos deles arbitrários, cujas variações
nem sempre estão relacionadas com a atividade econômica da empresa ou do mercado. Forma-se
assim um discurso que é amplificado através da “imprensa especializada” retratando mistificações,
opiniões e manipulações grosseiras. Esse discurso financeiro normalmente é utilizado para
justificar o deslocamento do lócus de poder das demais áreas para o setor financeiro, tanto no
âmbito interno como externo das empresas. Ao longo deste nosso estudo vamos ter a oportunidade
de analisar com mais detalhes a qualidade dos relatórios financeiros que sevem de base para a
construção desse discurso.

38
Para mais detalhes, ver Minella (1988).
39
Para mais detalhes, ver Heller; Novaes & Lala. (2000).
53

146
2) No segmento social, a popularização do discurso financeiro promove sua lógica para
todas as classes sociais através de diversas formas, tais como: (a) a popularização das cadernetas de
poupança para pequenos valores; (b) as poupanças compulsórias, como por exemplo, o Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço (FGTS); (c) a disseminação do crédito ao consumidor através de
carnês de prestação e cartões de crédito; (d) programas de televisão promovendo títulos de
capitalização e compras programadas do tipo “Baú da Felicidade”; (e) as agências bancárias
transformadas em postos de arrecadação do Estado; (f) o pagamento de aposentadorias e benefícios
da seguridade social através das agências e cartões bancários etc; (g) a transformação das agências
bancárias em casas de jogos, ou vice-versa; (h) a propaganda diária intensiva promovendo produtos
e instituições financeiras, como por exemplos as propagandas da Poupança Bamerindus40 e do Natal
do Banco Nacional; finalmente, (f) a freqüente e raramente criteriosa vinculação dos fatos políticos
com acontecimentos no mercado financeiro e de capitais, através de análises grosseiras nos meios
de comunicação. Ainda estão por serem realizados estudos sobre o tempo de televisão dedicado à
divulgação do discurso financeiro e sua influência sobre a cultura popular.
147
No período focalizado neste trabalho (1981 a 1994), o discurso financeiro tornou-se
onipresente em boa parte das atividades sociais através de instrumentos como as aplicações
financeiras, fundos de investimentos, cheques especiais, cartões de crédito, etc, mas a inflação
seguramente foi o principal instrumento de promoção do processo de hegemonia financeira no
campo ideológico, pois envolveu vários setores importantes da sociedade. Nesse período o país
viveu uma espécie de “febre” das aplicações financeiras, quando era comum encontrar sindicatos
patronais e de trabalhadores, igrejas, escolas, indivíduos e os próprios Estados, aplicando recursos
na “poupança”, “open”, “over” ou na “Conta Remunerada do Bamerindus”, entre outros. Nessa
época muitos trabalhadores recebiam, em determinados momentos, mais crédito de correção
monetária na conta do FGTS ou da poupança, do que em salário; e corriam muitas histórias de
pessoas que vendiam seus bens de uso para aplicar o dinheiro no mercado financeiro. Um bom
indicador da mistificação promovida pela inflação eram as freqüentes análises veiculadas nos meios
de comunicação que classificavam tais ganhos como “ilusórios” – sendo acompanhadas de
complexas explicações e justificativas. Como veremos na seqüência deste trabalho, a chamada
“receita inflacionária” ocupava uma importante posição na estrutura “real” das receitas dos
bancos.
148
Também nessa época fazia muito sucesso no jornal Folha de S.Paulo e mais tarde em O
Estado de São Paulo e na Rede Globo, a coluna diária do sociólogo e ex-comentarista de futebol,
Joelmir Beting, transformado em analista econômico-financeiro pela sua habilidade em traduzir
para a linguagem popular as regras do mundo econômico-financeiro. Essa lógica também
contaminou o discurso político, crescendo a importância política de economistas, empresários e

40
“Poupança Bamerindus: O tempo passa. O tempo voa. E a Poupança Bamerindus continua numa boa. É a Poupança
Bamerindus”. Fonte: ALZER, Luiz A. B. F. & CLAUDINO, Mariana C. Almanaque anos 80. Rio de Janeiro: Ediouro,
2004, p. 39.
54

operadores do setor financeiro.


149
Como a realidade do processo de produção costuma não acompanhar o discurso, o retorno
inferior ao esperado pela “lógica financeira”, em muitos casos acabou sendo identificado como
prejuízo a ser coberto pela sociedade. Em vários momentos, o Estado foi induzido a assumir o papel
de última instância garantidora da remuneração do capital financeiro, através de intervenções,
subsídios, aportes do orçamento – sob a justificativa de evitar uma crise financeira maior. Nosso
trabalho vai mostrar que, ao longo dos anos, o Bamerindus acumulou investimentos cujo retorno
nem sempre satisfizeram os parâmetros do discurso financeiro, sendo obrigado, em vários
momentos, a buscar soluções junto ao Estado; observando não ser o Bamerindus uma exceção.
Concluímos, então, que, pelo menos para este nosso estudo de caso, a teoria da hegemonia
financeira deve abranger não só os aspectos estruturais do campo econômico e empresarial, mas
também o campo político e ideológico. Também consideramos que as questões que envolvem o
processo de hegemonia financeira e o poder das instituições financeiras necessitam incorporar uma
análise mais precisa do fenômeno dos grupos econômicos, que muitos estudos indicam ser o
modelo básico da estrutura empresarial capitalista contemporânea. Para estudar o Bamerindus não é
possível focalizar apenas o banco, mas todo o conjunto de empresas que formava o grupo. Ao
dirigirmos a atenção para esse fenômeno, surgem várias questões, como por exemplo, qual
parâmetro poderia ser utilizado para definir a composição, os limites e as áreas de influência de um
grupo econômico?

2.5 GRUPOS ECONÔMICOS

150
Como estrutura econômica complexa, o “Grupo Econômico” (“Business Group”),
segundo Gonçalves (1991), Granovetter (1994) e Portugal Jr. (1994), não tem sido objeto de muita
atenção, apesar da sua importância para compreender a dinâmica capitalista contemporânea, e ainda
espera por uma conceituação mais precisa e consolidada.
151
Em sua forma e conteúdo, o grupo econômico (GE) deve ser identificado como uma
organização empresarial distinta da empresa individual ou firma41, pois tem sua origem na ruptura
institucional e organizacional da empresa, causada pelo seu crescimento e cujas mudanças
qualitativas impedem que sejam eles, os grupos, caracterizados apenas como um prolongamento
natural da firma.
152
Segundo Portugal (1994), existiriam três grandes eixos de análise para essa questão. O
primeiro eixo, denominado por ele como convencional, é formado por estudos que têm por base a
Teoria dos Custos de Transação (TCT), que parte do pressuposto neoclássico que a eficiência

41
Os termos “empresa individual” e “firma”, são aqui utilizados para designar uma entidade empresarial independente, uma
unidade institucional indivisível e não subordinada ao controle externo direto. Os termos não se confundem com as
diferentes definições legais normalmente utilizadas. (Nota do autor)
55

econômica é a principal determinante das mudanças organizacionais. O problema é que tais


trabalhos investem pouca ou nenhuma atenção às questões relacionados com a estrutura
institucional da sociedade, as relações de poder e a política. O segundo eixo seria formado por
estudos e análises que partem de algumas das idéias de Marx e Hilferding, que identificam o
movimento de concentração da propriedade e a dinâmica do capital financeiro como fator
determinante das mudanças na estruturação empresarial:
29
O grupo econômico [...] é uma categoria econômica que expressa relações sociais
específicas, segundo as quais cada agente individual define seu comportamento
levando em conta o comportamento dos outros indivíduos, as relações que com eles
mantém e seu posto na hierarquia social, ao contrário do que ocorre naquele mundo
dominado pelo individualismo metodológico. Assim, o grupo econômico expressa
relações de força e de poder, em torno das quais se movimentam indivíduos, classes,
grupos sociais de um modo geral, formando redes de solidariedade e campos de
conflito. Em seu interior, está expressa uma diversidade de interesses — de acionistas,
gerentes e trabalhadores — frente aos recursos que precisam ser organizados e
hierarquizados. (PORTUGAL, 1994, p. 16-17).

153
Finalmente, o terceiro eixo de análise seria formado por trabalhos que buscam uma
compreensão mais sofisticada e complexa para o fenômeno dos grupos econômicos, utilizando
inclusive os dois enfoques acima mencionados; e avança na medida que relacionam o fenômeno
com o contexto das transformações capitalistas contemporâneas. Tais trabalhos “[...] consideram
que o crescimento contratual entre empresas de diversos países, setores e tamanhos, define uma
nova dimensão, a estruturação empresarial”. (PORTUGAL, 1994, p. 7).
154
Este nosso estudo parte do conceito proposto por Gonçalves (1994), fazendo algumas
adaptações e concessões para que possamos utilizá-lo como ferramenta de análise do caso
Bamerindus:
30
O grupo econômico é definido como o conjunto de empresas que, ainda que
juridicamente independentes entre si, estão interligadas, seja por relações contratuais,
seja pelo capital, e cuja propriedade (de ativos específicos e, principalmente, do
capital) pertence a indivíduos ou instituições, que exercem o controle efetivo sobre
este conjunto de empresas. (GONÇALVES, 1991, p. 494).

155
Para esse conceito a condição básica que define um grupo é a existência de um núcleo que
controla um conjunto de empresas, e alguns autores defendem que apenas o controle do capital
não é suficiente, admitindo que as associações e parcerias – de importância crescente na economia
mundial, tais como acordos, alianças, “joint-ventures”, franquias etc., determinam relações de
domínio (controle e dependência) bem como conferem uma certa coesão comercial e tecnológica.
Nesse caso, a ampliação do conceito de grupo econômico permite abranger a multiplicidade de
formas e arranjos institucionais e tecnológicos impostos pelas transformações capitalistas cujas
diferentes relações patrimoniais, jurídicas ou financeiras, fazem com que um conjunto de empresas
tenha sua ação voltada para um projeto comum. Alguns trabalhos consideram que, para muitos
grupos econômicos, a propriedade deixou de ser o elemento principal para determinar a sua coesão
interna e de subordinação do conjunto. Também admitem que outros tipos de conexões como
tecnológicos, pessoais e familiares, também fazem parte do conjunto de instrumentos de controle.
56

156
Apesar de a crítica considerar que desse modo rompe-se com a idéia que a subordinação se
estabelece somente em hierarquias institucionalmente constituídas, admitimos neste trabalho que o
núcleo de poder do grupo econômico dispõe de vários outros instrumentos de coerção e cooptação
do conjunto de empresas sob sua esfera de domínio. A dimensão patrimonial e financeira continua
tendo um papel importante na organização da hierarquia e estrutura empresarial, mas temos que
levar em consideração outras questões como, por exemplo, as restrições ou incentivos legais, que
em muitos casos irão determinar a natureza das conexões internas do grupo.
157
A principal crítica a essa ampliação do conceito considera que esse prisma dilui os limites
visíveis dos grupos econômicos e dificulta o mapeamento das fronteiras e áreas de influência, bem
como das zonas de intersecção e aproximação com outros grupos. Para lidar com essa questão,
consideramos que os grupos ou partes dos grupos se constituem formal e informalmente,
dependendo do conjunto de normas legais de um determinado ambiente institucional. Também é
necessário considerar que o controle se realiza através de dois modos institucionais básicos: direto
ou “literal” e indireto ou “limitativo”, como segue:
31
[...] “literal” quando ele envolve o poder de tomar as decisões estratégicas e
fundamentais ao grupo; ou pode ser “limitativo” quando se refere à capacidade de
restringir as decisões daqueles (administradores profissionais) que detêm posições
estratégicas dentro do grupo. (GONÇALVES, 1994, p. 494).

158
Sendo assim, independentemente do modo como se organiza, a identidade do grupo se
estabelece pela capacidade de o núcleo de poder controlar as decisões estratégicas, ou seja,
definindo ou vetando decisões de investimento e financiamento de longo prazo, para um conjunto
de entidades, condicionando as principais relações de autoridade, fluxo de informações, ativos reais
e financeiros, recursos humanos e capacitação tecnológica.
159
Também consideramos que normalmente as empresas individualmente se estruturam em
dois níveis básicos: nível (1) operacional ou executivo e nível (2) deliberativo ou estratégico. O
nível (1) operacional tem por função controlar os processos diários na execução dos objetivos de
curto prazo, previamente estabelecidos pelo nível (2). Este, o nível deliberativo, tem por função o
controle geral da organização, tomar as decisões estratégicas e determinar os rumos de longo prazo
dos empreendimentos. Quando a empresa individual ou firma passa a integrar um grupo, o nível (2)
deliberativo ou estratégico é deslocado de sua estrutura para o núcleo de poder do grupo
econômico, mantendo mais ou menos intacto o nível (1) operacional, que dessa forma, como
unidade mantém seu valor potencial de mercadoria em futuras negociações com outros grupos.
Nesse contexto, são vários os instrumentos de coerção explícitos e implícitos utilizados para
controle do nível (1) operacional, como por exemplo, o controle do caixa e do crédito, suprimento
de matérias-primas e insumos básicos, a legislação, ou a condição de cliente único.
160
No caso do Bamerindus, podemos dizer que o centro de poder do grupo também era
dividido em dois níveis, o primeiro era formado pela diretoria do grupo e das demais empresas, e
estava nitidamente subordinado a um segundo nível (2), formado pelos grandes acionistas. Em
57

vários momentos de sua história, foi possível constatar que eram os integrantes desse nível (2) que
detinham o poder real sobre a organização. O nível (1), subordinado, era constituído por pessoas de
confiança dos principais acionistas, tendo alguns integrado a chamada “turma do Ney Braga” 42,
como, por exemplo, Maurício Schulman, ou eram oriundos de famílias tradicionais da região.
161
Em síntese, o grupo econômico é dominado por um centro de poder que controla tanto
internamente os recursos materiais e financeiros e a força de trabalho que emprega, como
externamente, por sua capacidade de interferir nos mercados de produtos, serviços, financeiros e de
capitais, bem como nas relações políticas e no Estado.
162
Para um melhor entendimento da estrutura do núcleo de poder instalado no topo dos grupos
econômicos, utilizamos por analogia e com algumas restrições, as seguintes noções propostas por
Dreifuss (1986)43:
32
[...] córtex político, um órgão capaz de visualizar objetivos estratégicos e táticos em
cenários modificáveis [...] estado-maior [...] um órgão capaz de operacionalizá-los,
modificando com sua ação as relações de forças. Trata-se, por conseguinte, de um
núcleo de vanguarda político-intelectual e de um braço operacional,
organicamente vinculado a uma classe, bloco ou fração. (DREIFUSS, 1986, p. 24,
grifo nosso).

163
Os grupos econômicos, como resultado da concentração de poder, desenvolvem-se
basicamente através de dois mecanismos: (1) o crédito financeiro e (2) as sociedades anônimas, que
permitem à organização captar e centralizar em grande escala o capital financeiro de terceiros, para
aplicar nos seus negócios. Tal concentração e centralização do capital passaram a ser determinante
no capitalismo, pois alteraram a natureza da concorrência pelos mercados, colocando os grupos no
topo da hierarquia do capital, sendo eles, em boa medida, os principais veículos de reprodução e
concentração capitalista, o que determina um conjunto de relações privilegiadas com o mercado, o
Estado, os trabalhadores e a sociedade como um todo:
33
Os grupos econômicos são lócus de controle e de acumulação de capital com
possibilidades de alavancagem financeira, por mecanismos acionários e / ou
creditícios muitos superiores aos das demais unidades empresariais. Por isso,
incorporam um cálculo empresarial específico, dominado, desde o alto e em seu
conjunto, por uma lógica financeira de acumulação. (PORTUGAL, 1994, p. 43).

164
Nesse contexto, a acumulação financeira tornou-se o objetivo estratégico central dos grupos
econômicos, conferindo à função financeira uma importância superior aos demais processos de
acumulação, condicionando assim grande parte da estrutura capitalista de produção. Nesse
ambiente, as decisões estratégicas de crescimento e investimento ganharam nova dimensão,
exigindo a coordenação e a centralização do planejamento estratégico para atuar com processos em
vários mercados. Nesse contexto, diminuíram as diferenças entre os grupos industriais, comerciais e

42
Nome atribuído à equipe formada pelos assessores de confiança de Ney Braga, e que controlaram posições importantes em
empresas privadas e no aparelho do Estado – tanto no Paraná como no país, entre os anos 1960 e 1980.
43
Fizemos questão de incluir essas noções que Dreifuss utiliza na conceituação de “elites orgânicas”, para que o leitor
pudesse observar a proximidade conceitual entre grupos econômicos e elites.
58

os financeiros, formando complexos conjuntos de empresas das mais variadas atividades,


comandados pela lógica do capital financeiro. O resultado criou tensões entre as lógicas da
produção e a financeira, com forte tendência para o deslocamento dos recursos para a especulação
financeira, dissociando-os ainda mais da realidade da produção.
165
Também temos que considerar que as características dos grupos serão diferentes conforme
o país observado, e alguns trabalhos identificam que, nos países latino-americanos, asiáticos ou
africanos onde o capitalismo tende a assumir características “oligárquicas”, as relações pessoais
têm grande importância e reforçam a estrutura de poder. Nessas regiões, os grupos econômicos
teriam duas características básicas:
34
Primeiro, o grupo capta seu capital e seus gestores de alto escalão de fontes que
transcendem uma simples família. O capital e os gestores podem vir de um número de
famílias ricas, mas se mantém dentro do grupo como uma unidade econômica simples.
Os gestores-dono do grupo, tipicamente, incluem (não todos) membros da família
dentro da qual a atividade do grupo origina-se. Contudo, o que distingue essa
instituição de uma firma familiar, e o que lhe dá recursos de maior abrangência, é o
fato de gestores-dono de outras famílias também participarem. Os participantes são
pessoas ligadas por relações de confiança interpessoal, nas bases de pessoas similares,
étnica, ou com um background comum. (LEFF, 1978, p. 663, apud PORTUGAL,
1994, p. 25).

166
Gonçalves (1994) destaca que no “capitalismo institucional”, cuja estrutura é composta
por diferentes organizações sociais, existiria uma específica e muito importante, a rede
transcorporativa, que reúne diretores e altos executivos de grandes corporações, e que participam
das diferentes diretorias e dos conselhos de administração dos diferentes grupos econômicos. Essa
rede teria coesão social e convergência ideológica suficientes para defender e promover os diversos
interesses de diferentes grupos. Sendo assim, a ação organizada dessa rede ultrapassa os interesses
de famílias ou de empresas individuais, entrando na esfera dos interesses de toda uma classe social.
167
A rede transcorporativa atua sobre os interesses de longo prazo dos grupos econômicos e se
organiza para dispor de todos os recursos necessários para influenciar as políticas do Estado e a
opinião pública:
35
Os seus membros fazem parte da “elite do poder” e caracterizam-se por ocupar cargos
importantes dentro dos grupos econômicos e ter algum tipo de liderança junto à classe
empresarial, inclusive os controles das associações patronais. Ademais, os membros
deste “inner circle” têm uma coesão social importante e estão próximos (ou são
membros natos) das classes sociais mais poderosas e ricas da sociedade, os que lhes
garante uma capacidade significativa de mobilização de recursos para promover os
interesses sistêmicos do “grand capital”. (GONÇALVES, 1994, p. 513).

168
Nas relações dos grupos econômicos com o Estado, temos que destacar que o poder desses
agentes depende tanto da origem dos controladores, se locais ou externos, e do tipo de
conformação, se familiar, societário, estatal etc, bem como das formas de governo, das sociedades
nas quais estão instalados:
36
Não há dúvida de que os grupos estrangeiros possuem fontes externas de poder, que
está fora do controle das autoridades do país hospedeiro. Por outro lado, o poder de
grupos econômicos do tipo familiar tende, ceteris paribus, a ser maior num regime
59

oligárquico (ou numa plutocracia) do que num Governo democrático. (GONÇALVES,


1994, p. 512).

169
Também é visível a posição privilegiada dos grupos econômicos na imposição dos seus
interesses ao Estado ou através do Estado, quando seus objetivos são transformados em prioridades
públicas, de interesse de toda a sociedade. Seu poder muitas vezes se confunde com o poder
político, pois além de influenciarem pelo seu peso econômico específico, também atuam direta ou
indiretamente, tanto na representação política como nos órgão do Estado. Vale destacar que, entre
os instrumentos mais importantes para influenciar o Estado, está a geração e intermediação na
arrecadação dos impostos e a de operador financeiro do Estado. Normalmente, esses grupos estão
posicionados estrategicamente para influir tanto na estrutura e qualidade da arrecadação e gasto,
como no fluxo dos recursos do orçamento públicos. Também o tamanho e escala das operações
dessas organizações podem concentrar poder suficiente para vetar ou promover decisões de
governo e relativizar o poder do Estado. Portugal (1994) observa que o aumento da complexidade
das conexões patrimoniais e dos fluxos cambiais e financeiros internacionais conferiram aos
grandes grupos econômicos poder suficiente para influírem sobre os fluxos de capitais e as políticas
econômicas das grandes economias capitalistas.
170
Nesse contexto, os estados nacionais cresceram em importância para as estratégias do
grande capital, pois a ampliação do raio de ação do Estado influencia diretamente as atividades dos
grupos econômicos, bem como as decisões estratégicas desses grupos passaram a ter enorme
importância para a realidade econômica dos países. Como expressões do capital financeiro, para os
grupos econômicos, os bancos centrais adquiriram maior importância para sua dinâmica
econômica, pois decisões sobre taxa de juros, inflação e câmbio tornam-se cruciais para suas
decisões estratégicas, bem como as questões que envolvem a fiscalização e regulação do sistema
financeiro. Em última análise, Nesse cenário financeirizado cresceu a importância dos mecanismos
de proteção dos bancos centrais para situações de crise financeira.
171
Outro aspecto importante que devemos destacar é uma certa tendência para uma dinâmica
econômica e institucional totalizante, que seria um dos motores propulsores da constituição dos
grupos econômicos. No caso Bamerindus, verificamos que em determinados momentos, o banco
não só concentrava o caixa de suas diversas empresas, como também de seus fornecedores, clientes,
funcionários e do próprio Estado do Paraná e do Mato Grosso do Sul. Nesse cenário, por exemplo,
o pagamento dos impostos gerados pelas suas empresas, fornecedores, clientes e funcionários, bem
como boa parte dos gastos do setor público, resumiam-se apenas a operações contábeis entre contas
correntes do próprio banco. Com isso, a estrutura do grupo tinha poder suficiente para comprimir o
tempo operacional do fluxo de caixa e eliminar várias etapas do processo de extração da mais-valia.
Era possível o controle direto e instantâneo de boa parte dos atores envolvidos nas transações, bem
como transformar a grande maioria dessas transações em ativos financeiros sob seu controle e
passíveis de comercialização no mercado.
172
O conjunto de leis e regulamentos, aqui incluindo aqueles que regulam relações societárias,
60

trabalhistas, tributárias, representações de classes (patronal e trabalhadores), ambientais, sanitárias,


a legislação que regula o sistema financeiro etc., formam o ambiente institucional no qual surgem
ou se instalam os grupos econômicos. E a conformação desse ambiente desempenha um papel
fundamental na determinação da face e estrutura de poder do grupo econômico. Esse conjunto de
regulamentos forma um importante elemento de poder nas disputas intracapitalistas, servindo, entre
outras coisas, como instrumento de concorrência, delimitador de mercados e manutenção das
estruturas de poder. Os grupos existirão independente da regulação, mas é esta que irá determinar
as áreas ou porções do grupo que estarão sob o controle formal ou informal. Também a regulação
estatal irá definir os incentivos e os limites de acesso aos grandes fundos públicos ou privados de
capitalização e financiamento. Os grupos econômicos são uma das expressões da luta de classes,
configurando-se num dos mais poderosos instrumentos à disposição de uma classe ou segmento de
classe, para influir na divisão da produção social.
173
O poder dos grupos econômicos na sociedade necessita de estudos sobre a forma e os meios
de exercício desse poder, sendo este uma de suas atividades mais importantes que interage com as
forças políticas da sociedade, principalmente com relação à integração dos grupos com as estruturas
gerais de poder, como o Estado e o Governo. Sua ação não se limita apenas a garantir decisões
favoráveis aos seus interesses econômicos junto a governos e instituições públicas, também abrange
uma grande variedade de questões sociais que pertencem ao jogo amplo da política, sem que a
teoria dos grupos alcance a dimensão de teoria política.
174
O sucesso ou não de um grupo está diretamente relacionado à sua representatividade e
pelos recursos à sua disposição. A representatividade depende dos objetivos do grupo, do seu grau
de conflito com os valores sociais dominantes, bem como da sua “legitimidade” perante os poderes
constituídos. O poder econômico e a capacidade de mobilizar de forma eficaz os recursos são
importantes, mas “[...] parece que as probabilidades de sucesso dos grupos são maiores quando os
associados e os líderes da organização provêm de estratos sociais superiores” (PORTUGAL,
1994, p. 57). O poder e a atividade dos grupos estão antes de tudo, condicionados pelo processo
decisório do sistema político, e em estruturas federativas os grupos tenderiam a se organizar de
forma descentralizada; nos sistemas autoritários buscariam controlar diretamente os centros
decisórios do Estado, como por exemplo, os Ministérios; e nos regimes democráticos concentrariam
mais suas atividades políticas no Parlamento. (PORTUGAL, 1994, p. 58).

2.5.1 O GRUPO BAMERINDUS

175
No caso do Grupo Bamerindus, encontramos basicamente três modelos de organização
institucional, todos condicionados pelo conjunto de leis e regulamentos do sistema financeiro. O
primeiro deles ocorreu no período 1952–1971, quando era formado pelo conjunto de diversos
bancos regionais e as demais atividades não-financeiras eram conectadas através de relação direta
entre sócios. Todas essas empresas estavam formalmente desvinculadas do grupo, mas certamente
61

conectadas ao banco através de operações financeiras, em muitos casos privilegiadas, sob a


proteção da instituição do sigilo bancário. Como a subordinação ao grupo era informal ou sigilosa,
conseguimos identificar apenas algumas das empresas através de referências indiretas. Em 1971,
como conseqüência das mudanças na legislação, ocorreu a unificação de todos os bancos regionais
formando o Banco Bamerindus do Brasil S.A. (BBB), mas mantendo ainda várias atividades não-
financeiras fora do conjunto formal. Os mecanismos de incentivos fiscais permitiram incorporar
formalmente as atividades como o reflorestamento e a agricultura. Continuaram conectadas
informalmente outras atividades como rádios, jornais, televisões, indústrias, fazendas produtoras de
soja e álcool, gado, transporte, revenda de veículos novos, hotéis etc.
176
Finalmente, a criação da figura jurídica do banco múltiplo em 1988 permitiu incorporar
formalmente grande parte das atividades do grupo, inclusive as participações adquiridas nos leilões
de privatização. Essa ampliação e integração formal de atividades reduziram as fronteiras entre o
banco e as demais empresas, criando uma situação pela qual o Bacen perdeu parte do poder de
controle sobre as operações bancárias. Na seqüência deste trabalho, vamos analisar com mais
detalhes essa situação e suas conseqüências para o sistema financeiro. Nesse contexto, tornou-se
difícil estabelecer os limites reais do que seria o Grupo Bamerindus. Um dos maiores problemas
surgiu quando nos deparamos com alguns grandes clientes do banco, cujo volume de recursos eram
significativos o suficiente para terem peso nas decisões estratégicas da organização. Como, por
exemplo, a General Motors (GM) que, além de ter sido sócia do Bamerindus e do Midland Bank44
no Bamerindus Midland Arrendamento Mercantil S. A, nos anos de 1995 e 1996 decidiu transferir
suas operações para outro banco. Tal decisão contribuiu muito para aumentar os boatos de
problemas no Bamerindus e inviabilizar soluções que estavam sendo negociadas na época. Assim
como a GM, o Bamerindus tinha outros grandes clientes importantes para a configuração do grupo,
mas de difícil identificação por estarem protegidos pelo sigilo bancário. A solução que encontramos
foi considerar muitas dessas conexões como partes de uma rede transcorporativa que integrava
vários grupos econômicos. Dessa forma, preservamos os limites que conferiam identidade ao
grupo, ao mesmo tempo em que consideramos as conexões mais amplas existente no mundo
econômico.
177
A complexidade e o tamanho real do Grupo Bamerindus tornaram difícil a tarefa de
identificar todas as suas partes e componentes. Temos consciência que o nosso esforço de
catalogação não foi suficiente para conhecê-lo no seu todo, e, segundo declarações de ex-
funcionários do grupo, nem mesmo a administração conhecia toda a extensão da organização. Para
entendermos o Grupo Bamerindus “real”, temos que considerá-lo como um conjunto de
organizações sob diferentes níveis de influência de um núcleo de poder mais ou menos coeso, visto
que, mesmo o centro de poder era composto por vários grupos de sócios, com interesses mais ou

44
Em 1992 o Midland Bank possuía 41% das ações do Bamerindus Midland Arrendamento Mercantil S.A. em sociedade com
o Bamerindus (51%) e a General Motors (GM) com 8%. Nessa época, a GM controlava as empresas Hughes que atuavam
em diversas áreas, entre elas a de telecomunicações e satélites. Em 1992, o Midland Bank foi incorporado pelo HSBC.
62

menos coerentes. Uma boa imagem do grupo seria a de uma rede de pessoas e organizações
consteladas em torno do Banco Bamerindus, em constante transformação ao longo do tempo, e que
teve, sob sua influência, em determinados momentos, unidades empresariais privadas, fundações,
órgãos de representação de classes e partes do próprio aparelho do Estado, como por exemplo, o
BADEP, o Banestado e a Secretaria de Finanças do Estado do Paraná durante alguns governos e o
próprio cargo de governador do Estado. A identidade do grupo era determinada pela subordinação
(direta e / ou indireta, formal e / ou informal) dessas partes a um núcleo de comando estratégico
cujas ações planejadas eram direcionadas para a manutenção e ampliação do poder e influência
sobre partes da estrutura econômica, social e política brasileira. Tal grupo econômico tinha
conexões cruzadas com outras grandes organizações nacionais e estrangeiras, integrando assim
amplas redes transcorporativas45. Sendo assim, o conceito de grupo econômico utilizado no caso
Bamerindus deve ser entendido num sentido ampliado que incorpora instituições econômicas,
políticas e partes da estrutura do Estado e do Governo.
178
A intervenção do Bacen, em março de 1997, dissolveu o grupo Bamerindus “real”,
algumas partes desapareceram, outras foram incorporadas ao Estado ou por grupos diferentes, e os
pedaços mais importantes e visíveis, o banco e a seguradora, ficaram com o HSBC.
179
Finalmente, acreditamos que a dinâmica da formação, estruturação e manutenção de grupos
econômicos e das redes corporativas estão diretamente relacionadas aos arranjos de poder das
“elites”, cuja configuração é determinada pelos problemas objetivos encontrados no exercício do
poder pela classe dominante.

2.6 ELITES ORGÂNICAS

180
A questão das elites ocupa um lugar tradicional de destaque entre as grandes linhas de
pesquisas da área das ciências humanas. Apesar de perder-se no tempo a percepção que na
organização social em geral existe uma certa tendência para concentrar o poder nas mãos de alguns
grupos de indivíduos, formando “elites”, ao que parece a tradição de eleger esse fenômeno como
objeto de estudos sistemáticos nas ciências sociais teve início com os trabalhos Elementi di scienza
politica (1896) de Gaetano Mosca e Système sociales (1902) de Vilfredo Pareto, seguidos pelos
trabalhos de Robert Michels. Com o tempo, outros estudos de diversos autores acabaram formando
diferentes correntes analíticas, que se agrupam basicamente em duas grandes vertentes. A primeira,
conhecida como “teoria elitista”, parte da contraposição entre elites e massa como elemento

45
Como sugestão a ser desenvolvida em futuros trabalhos, também poderíamos utilizar a “teoria de campos” (ver Introdução),
onde diversas organizações teriam diferentes órbitas em torno de Banco Bamerindus, aumentando não só o potencial
econômico de cada uma delas, mas também do banco e do conjunto em relação a outros sistemas concorrentes. Cada uma
dessas organizações ocuparia órbitas diferentes, mais ou menos próximas do centro gravitacional, e essas órbitas seriam
definidas pelas conjunturas econômicas, sociais e políticas do momento observado. Nesse contexto, o ordenamento legal
daria maior ou menor visibilidade para a composição do grupo, facilitando ou dificultando a percepção de suas conexões
pelo observador externo.
63

passivo da sociedade e limita o conflito a disputas entre diferentes grupos. A segunda, de tradição
marxista, relaciona o fenômeno das elites com a dinâmica social da luta de classes, sendo elas, as
elites, identificadas como vanguarda na luta pelos interesses da sua classe de origem.
181
Para este nosso estudo, partimos da noção que o conflito de classes promove no interior
destas, o surgimento e consolidação de grupos mais ou menos coesos, as elites, cujas ações estarão
voltadas para a promoção dos seus interesses específicos, que acabam abrangendo a defesa dos
interesses da classe como um todo, mesmo quando em conflito com alguns dos seus segmentos. A
configuração e composição dessas elites passam pela organização do aparelho do Estado,
entendendo ser ele um conjunto complexo de instituições com uma considerável tendência para agir
de forma integrada, na defesa dos interesses das classes que compõem o bloco no poder. Nesse
contexto, os grupos formados pelas elites se organizam e disputam o controle direto ou indireto do
aparelho do Estado e das instituições da sociedade política e civil, consideradas estratégicas para o
exercício do poder como, por exemplo, o banco central, forças armadas, tribunais, partidos políticos
e instituições privadas, desde que elas controlem determinados fluxos de recursos ou informações
estratégicas, e aí incluímos meios de comunicação de massa, institutos, associações de classe,
clubes sociais etc. No mundo econômico, tais elites se organizam para controlar instituições
também estratégicas como as financeiras, notadamente as bancárias e grandes grupos econômicos
que de alguma forma monopolizam ou concentram recursos que, de forma direta ou indireta,
possam promover ou constranger a ação das autoridades, de partes do aparelho do Estado ou
demais classes ou segmentos de classe.
182
Como não é objetivo desta tese entrar na discussão sobre elites, nos contentamos em buscar
entre os diferentes trabalhos na área, contribuições que nos auxiliassem na pesquisa e análise do
caso Bamerindus. Nesse sentido, encontramos um poderoso instrumento de análise no conceito de
46
“Elites Orgânicas” de Dreifuss (1986)47, sendo necessário fazer algumas adaptações para
adequá-lo ao estudo de caso, já que a proposta original do autor é para análises da grande estrutura
social. Esse conceito mostrou-se útil para nossa pesquisa porque articula a teoria das elites com o
conceito de Estado ampliado de Gramsci, permitindo analisar a ação de grupos organizados num
contexto marcado pelos avanços no processo de socialização da política e ampliação da sociedade
civil. Segundo Dreifuss, o conceito de elites orgânicas utiliza as noções de córtex político e estado
maior, que formariam um “[...] núcleo de vanguarda político-intelectual e de um braço
operacional, organicamente vinculado a uma classe, bloco ou fração”. (DREIFUSS, 1986, p. 24)
Esse núcleo seria formado por um conjunto de lideranças recrutadas entre “[...] empresários, tecno-

46
A palavra “orgânica” é empregada para caracterizar a íntima conexão dessa elite com a classe social de origem.
47
Segundo o autor, o conceito apareceu inicialmente em 1974 na sua dissertação de Mestrado Notes on the State and a
Brazilian Case Study, sendo mais tarde desenvolvido e utilizado na sua tese de doutorado, State, Class and the Organic
Elites: The Formation of an Entrepreneurial Order in Brazil — 1961/65, de 1980; e que deu origem ao livro 1964: A
conquista do Estado — Ação Política, Poder e Golpe de Classe. Em 1982 o conceito foi consolidado no trabalho “Notas
sobre o Conceito de Elite Orgânica”, em co-autoria com William C. Smith e apresentado na reunião da Anpocs daquele
ano.
64

empresários, intelectuais, burocratas e militares [...]” capacitados para “[...] articular e organizar
os seus interesses num projeto de Estado para si e para a sociedade [...]”. A luta política dessas
elites será pautada pelos interesses gerais da classe e transcendem os limites puramente
econômicos; bem como, fará parte da sua ação, transformar seus interesses em objetivos do
conjunto social:
37
Estas elites são as que denominamos de elites orgânicas: agentes coletivos políticos-
ideológicos especializados no planejamento estratégico e na implementação da ação
política de classe, através de cuja ação se exerce o poder de classe. (DREIFUSS, 1986,
p. 24).

183
Este nosso trabalho é um esforço de pesquisa sistemática para saber como o grupo de
capitalistas reunido em torno do Bamerindus, “a elite Bamerindus”, exercia o poder, suas alianças
e conflitos com outras elites e os interesses gerais da classe bem como suas relações com as demais
classes e a sociedade, e identificar em que medida a elite Bamerindus integrava o conjunto das
elites orgânicas locais e brasileiras. Nosso interesse é conhecer como essa elite agia para defender
seus interesses - “Enfim, a velha questão de uma classe em ação contra outras”.
184
O que caracteriza a elite orgânica é uma diferenciação em relação ao “conjunto das classes
dominantes e mesmo dos interesses representados no bloco de poder do qual faz parte, lidera e
viabiliza”; é sua função operar como “fator de poder” na promoção de seus interesses e de seus
aliados, no campo político. Essa diferenciação é estratégica para a ação política, visto que:
38
[...] a classe dominante é una na sua diversidade de unidades de acumulação
competitivas — seja no nível da composição de capital, no plano da produção setorial
ou no universo dos grupos econômicos —, às quais correspondem essencialmente
percepções e atitudes corporativas ou de solidariedade (e não atitudes ‘políticas’),
expressas em associações, sindicatos ou federações de classe. (DREIFUSS, 1986, p.
24).

185
Sendo assim, a principal função das elites orgânicas é mediar a “formação de blocos de
poder ou de frentes móveis de ação” promovendo e organizando a classe dominante para a ação
política coordenada tornando-se assim no agente que irá conferir “unidade real da classe (em si) —
na imagem gramsciana”, dando expressão política aos interesses de classe diante do Estado na
busca pela sua intervenção no conflito social traduzindo assim as necessidades econômicas em ação
política:
39
Essa mediação não se dá segundo uma tal de “lógica do capital”, já que o capital não é
nem lógico nem ilógico, muito menos um sujeito da ação política. A “articulação”
entre produção e instituição, entre economia e estado (ou no linguajar abstracionista,
entre estrutura e superestrutura) se dá pela luta política dos interessados. (DREIFUSS,
1986, p. 24-25).

186
Assim não podemos considerar o fenômeno da elite orgânica como apenas um reflexo
político da estrutura econômica, pois a política é uma ação permanente e produz organizações que
tendem a existir por longo tempo por estarem atreladas às questões econômicas, mas elas “se
distinguem entre si, o que permite falar separadamente de Economia e Política”.
187
Vamos ter a oportunidade de verificar essa separação acontecendo na prática diária da
65

política, durante a trajetória de José Eduardo no Senado e nos Ministérios, ou mesmo durante a sua
campanha para o Senado, quando a sua vida é transformada pela dinâmica do mundo político e seus
valores, sendo possível acompanhar sua trajetória de adaptação a esse novo universo. Nesse novo
contexto, sua identidade de poderoso banqueiro passou a ser não só relativizada pelos aliados, como
muitas vezes tornou-se um fardo explorado pelos adversários nas disputas pelos votos e o apoio da
opinião pública. No Ministério, a rígida e relativamente previsível hierarquia do banco privado é
substituída pelo relativismo da hierarquia estatal, subordinada à realidade transitória e movediça do
mundo político.
188
Dreifuss observa que essa arena é diferente, pois muitas vezes é dominada pela “paixão
política” que, apesar de nascer no “terreno orgânico e permanente da vida econômica”, acaba
despertando e incorporando “emoções e aspirações em cuja atmosfera incandescente, mesmo as
maquinações que envolvem a vida humana individual obedecem a leis diferentes daquelas de
ganância individual”. Nesse terreno, o banqueiro que queria tornar-se político vai enfrentar
articulações habilidosas de “velhas raposas do baixo clero do PMDB gaúcho”, contra sua
nomeação para o Ministério da Agricultura, ou ver suas pretensões pessoais na política serem
confrontadas dentro do próprio partido, por personagens como Hélio Garcia48, que nunca foi
banqueiro.
189
Como “córtex político”, a elite orgânica tem por função promover intervenções no interior
das classes dominantes, buscando articular a coesão através da regulação de conflitos e alianças,
para produzir uma organização mínima adequada para a luta pelos seus interesses. Nesse caso, o
grupo econômico e o banco tornam-se instrumentos fundamentais para promover ou constranger
conflitos e alianças entre capitalistas. Como estratégia, a elite promove a construção e divulgação
do discurso hegemônico, articulados e coerentes com seus interesses e divulgados através de todos
os meios disponíveis e necessários. Ela “[...] se responsabiliza pela formulação e desenvolvimento
de um discurso político-ideológico para o conjunto das classes dominantes, apresentado não só
como de interesse coletivo do capital, mas até da própria Nação”, (DREIFUSS, 1986, p. 26).
Nesse sentido conseguimos rastrear conexões do Grupo Bamerindus com a imprensa local e
nacional que, em determinados momentos, incluía os jornais Gazeta Mercantil e Folha de São
Paulo:
40
Funciona assim, como central de informações, como laboratório de idéias e como foro
para os grandes conglomerados empresariais, em questões relacionadas à propaganda
ideológica e política; desenvolvimentos de mobilização popular e assegurar a
consecução da hegemonia ideológica da estrutura de poder capitalista, através da
legitimação da ordem empresarial, definindo os parâmetros do permissível e do

48
“Último de uma linhagem em extinção, que já teve Benedito Valadares, Magalhães Pinto, Milton Campos, José Maria
Alkmim e Tancredo Neves, [...] na sala de sua casa, [...] Hélio Garcia, de paletó de uma cor (azul marinho) e calça de outra
(creme), conversa com o repórter do Correio Braziliense. - Doutor Hélio, o senhor é a última raposa mineira? - Isso é ocê
que tá falando [...] - Mas o senhor concorda? - Com o quê? - Que o senhor é a última raposa? - Uai, depende. O quê que
ocê chama de raposa? - Aquele político que tem a sabedoria, a esperteza [...] - Eu nunca gostei de esperteza. - E a
sabedoria? - Olha, ocê sabe: tem o sabido e tem o sábio [...] (E a prosa vai por aí afora)”. Fonte: REZENDE JR, J. Hélio
Garcia. 20 ago. 1998. Disponível em: <http://www.joserezendejr.jor.br/reportag/heliogarcia.htm>. Acesso em: 19 fev. 2005.
66

rejeitável e os pontos de referência do debate público, carimbando e separando


“realismo” de “utopia”. (DREIFUSS, 1986, p. 26).

190
O grupo Bamerindus foi um dos grandes promotores do Instituto Liberal do Paraná (IL-
PR), aparecendo José Eduardo entre os diversos empresários fundadores da instituição, tendo o
Bamerindus patrocinado encontros, seminários, palestras e publicações promovidas pelo IL-PR.
José Eduardo e Maria Christina também aparecem liderando articulações promovidas pela
Associação Comercial do Paraná que produziu encontros, cartas e manifestações públicas de
empresários, trabalhadores e políticos:
41
A elite orgânica é a pensadora de uma classe — a “parcela esclarecida da burguesia”
— funcionando como “autoconsciência cultural e política” e núcleo de autocrítica da
classe dominante. Através desta função ideológica, “a elite orgânica contribui para a
homogeneidade requerida, procurando transformar as contradições e antagonismos em
simples diferenças”, passíveis de (re) conciliação, assim como estabelecer a unicidade
organizacional e política na diversidade ideológica classista interna, incorporada e
interiorizada em seu programa de ação e em seu projeto de Estado. (DREIFUSS,
1986, p. 26).

191
Como “estado-maior” da classe dominante, a elite orgânica tem por função preparar o
planejamento estratégico de classe e formular as principais linhas de ação e dirigir a ação da classe
no enfrentamento político:
42
Cabe ao estado-maior estabelecer a estratégia, à luz da razão fria, organizando a
paixão social e classista em forma de reflexão deliberada e de racionalidade política.
[...] A tarefa política da elite orgânica no conflito de classes, frente às classes
subalternas, inclui o combate ideológico em nome do “interesse geral nacional” ou da
manutenção dos parâmetros “naturais” da sociedade, através dos mais diversos canais
e mecanismos, dos vários recursos e áreas táticas (da pressão à coerção, do cooptação
ao aliciamento, do confronto de idéias ao exercício da autoridade). (DREIFUSS, 1986,
p. 27).

192
Nesse contexto, os grupos econômicos, como o Bamerindus, são expressões econômicas
das elites orgânicas, pois além de reunirem grandes capitalistas como sócios, constituem centros de
comando estratégico com recursos e pessoal especializado. Cada grupo tem seu “estado maior” na
empresa controladora “holding”, cuja função é planejar e promover as ações estratégicas que
entendem como necessárias para a manutenção ou expansão do poder da organização. Nesse núcleo
estarão os grandes capitalistas cuja liderança necessita do reconhecimento dos demais capitalistas e
da sociedade para conseguir manter o fluxo necessário de recursos captados tanto no mercado
financeiro como no de capitais. Em boa parte, a cotação nas bolsas de valores dos títulos emitidos
pelo grupo, representará o maior ou menor grau de confiança dos demais capitalistas na capacidade
e compromisso dessa elite de promover os interesses da classe. Essa capacidade inclui o acesso aos
fundos públicos e aos processos decisórios do Estado. Os anos 1990 foram marcados pela
valorização de indicadores da capacidade de liderança e comprometimento dessas elites, entre elas
as agências de avaliação de risco, cujas opiniões passaram a ter grande influência sobre o mercado
financeiro e de capitais no Brasil. O Bamerindus, por exemplo, teve seus problemas agravados com
67

a notícia, em outubro de 1995, que a Agência Moody’s49 estava revendo a classificação do banco.
193
Normalmente o capitalista prefere delegar o poder para representantes de confiança e
capacitados para as complexas atividades gerenciais e políticas inerentes às funções de comando
dos grupos econômicos. Ele somente assume diretamente a função, e temporariamente, quando
objetivamente percebe que o engajamento é fundamental para manter ou ampliar seus negócios, o
que talvez explique a atuação política direta de José Eduardo. Miliband, por exemplo, constatou
que:
43
De qualquer modo, a idéia de que os homens de negócios estão afastados dos
problemas políticos de maneira direta e pessoal, exagera enormemente a sua relutância
em buscar o poder político, ao mesmo tempo subestima o fato de que tal busca foi
muitas vezes bem sucedida. Nos Estados Unidos, eram os empresários que
constituíam o maior grupo ocupacional singular dos gabinetes, entre 1889 e 1949; e do
número total de membros do gabinete entre tais datas, mais de 60% eram empresários
de um tipo ou outro. Nem mesmo durante o governo de Eisenhower (1953 a 1961)50
foi a presença dos empresários nos gabinetes dos Estados Unidos menos marcante.
Quanto aos membros dos gabinetes britânicos, entre 1886 e 1950, cerca de um terço
correspondia a empresários, inclusive três primeiros-ministros - Bonar Law, Baldwin
e Chamberlain51. Os empresários também não estiveram mal representados nos
gabinetes conservadores que estiveram no poder entre 1951 e 1964. E mesmo se os
empresários tiveram menos êxito Nesse sentido, em alguns outros países capitalistas
avançados sua representação jamais foi insignificante. (MILIBAND, 1982, p. 76).

194
Nessa discussão temos também que incorporar a questão da burocracia que, estatal ou
privada, assume um papel importante no exercício do poder. Mills (1975), Miliband (1982) e
Galbraith (1983)52, entre outros, abordaram a importância dos cargos de comando das burocracias
pelos quais, sem serem proprietários, grupos de elite da burocracia acabavam acumulando um
poder muitas vezes superior ao dos proprietários; esses estudos mostram que o recrutamento para
tais cargos normalmente era realizado dentro da classe dominante ou mesmo entre os próprios
empresários.
195
No caso Bamerindus vamos poder constatar que o poder real estava concentrado nas mãos
dos principais sócios-proprietários e que, apesar da notoriedade de alguns personagens que
integraram a diretoria do grupo, como por exemplo, Maurício Schulman ou Belmiro Castor
Valverde, esse “escalão” de administradores profissionais, os “tecnocratas”, estavam nitidamente
subordinados ao poder dos grandes sócios do grupo. Em nossa pesquisa não encontramos
53
evidências no caso Bamerindus que corroborassem as idéias do “gerencialismo”

49
Em 1900 John Moody criou a empresa John Moody & Companhia que passou a publicar o Moody's Manual of Industrial
and Miscellaneous Securities nos EUA, e em 1909 passou a publicar avaliações de empresas para o público formado por
analistas e investidores do mercado financeiro e de capitais daquela cidade. Nos anos 1980 passou a expandir suas atividade
para a Europa e Japão, bem como a publicar avaliações de empresas estrangeiras com ações na Bolsa de Nova York. Fonte:
MOODY´S Investors Service. Quem somos? São Paulo, [2002]. Disponível em: <http://www.moodys.com.br/brasil/quem_
somos.htm>. Acesso em: 02 dez. 2005..
50
Cf., p. ex., Mills, Elite do Poder, ps. 232 e seg, apud Miliband (1982).
51
Fonte: LASSWELL et al. The Comparative Study of Elites, p. 30. Cf. e Guttsman, The British Political Elite, p. 92 e seg.
Apud MILIBAND, R. O Estado na sociedade capitalista. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
52
Fonte: GALBRAITH, J. K. A era da incerteza. 5º ed. São Paulo: Pioneira, 1983.
53
Fonte: H. D. Lasswell et al. The Comparative Study of Elites. 1952, p. 30. Apud Miliband (1982).
68

(“managerialism”)54.
196
O recrutamento para esses postos de comando está relacionado ao domínio de
competências específicas para o exercício do poder, o que nem sempre é possível encontrar dentro
da própria classe ou segmento de classe. Daí a importância da criação e manutenção de escolas
especiais com o objetivo de formar mão-de-obra para os postos de comando da burocracia. Boa
parte das elites ligadas ao Bamerindus, além de terem origem social nas famílias mais ricas da
região e relações de parentesco, também estudaram nas mesmas escolas e freqüentavam os mesmos
clubes. Nesse contexto, a ação de controle se processa na forma de delegação de poder para tarefas
que exigem competências específicas. Marx já observava que, para esse recrutamento, serão
escolhidos os mais capacitados não importando a origem social. Mas, como as escolas
especializadas exigem alto investimento, normalmente as classes com maior poder aquisitivo é que
terão acesso ao treinamento necessário, sendo assim os principais fornecedores de quadros. Em
determinado momento, o Bamerindus iniciou investimentos consideráveis para formação de
quadros mais preparados para o exercício do poder nos postos do grupo, chegando a criar cursos
internos regulares e, durante muito tempo, seus funcionários lotavam os cursos superiores de
Administração, Ciências Contábeis e Economia em Curitiba.

2.7 ORGANIZAÇÃO CORPORATIVA

197
Um dos instrumentos mais importantes para o exercício do poder pelas elites orgânicas são
as organizações de representação corporativa, que agregam empresários do setor na luta por seus
interesses. Alguns importantes estudos sobre estas organizações nos EUA encontramos em Moran
(1984), Lindblom (1980), Coleman (1994a e 1994b) e, no Brasil, entre outros, Minella (1988 e
1996) – que concentram seus estudos sobre o empresariado financeiro, com destaque para os
banqueiros.
198
Moran (1984) observa que poder econômico não necessariamente se traduz em poder
político e, apesar de todo o poder discricionário dos bancos, estes estão submetidos ao poder
público através de leis, regulamentos e intervenções. O exemplo norte-americano deixa claro que o
conjunto de regulamentos contribui muito para a formatação do sistema financeiro e limitação do
poder das suas instituições. Partindo da proposição de Lindblom (1980), que aponta para a posição
privilegiada dos empresários na estrutura de poder, por disporem de vantagens comparativas em
relação às outras classes sociais, tais como, organização, capital e influência política Moran

54
Segundo Poulantzas, para os autores gerencialistas, “[...] a atual separação entre propriedade privada e o controle, transferiu
o poder econômico dos empresários para os 'managers'. Estes últimos não obtêm benefícios como proprietários em sentido
estrito e, conseqüentemente, a prossecução do lucro não é seu objetivo [...] o lucro não constitui motivação para o seu
comportamento, mas sim o crescimento ou o desenvolvimento. Já que a classe dominante se define aqui pela prossecução do
lucro e esta prossecução já não é característica dos gestores da economia, então a própria classe dominante já não existe:
estamos atualmente confrontados com uma ‘pluralidade de elites’ uma das quais é a dos managers”. (POULANTZAS &
MILIBAND, 1975, p. 15).
69

relativiza esse poder, diante da capacidade de regulação pública imposta pelas outras classes sociais
através do Estado e a necessidade do próprio sistema financeiro de estabelecer regras e controles
para minimizar os riscos de crises de confiança. Observa, porém, que o poder público também é
condicionado pela realidade do mercado, quando são comuns resultados inesperados emergirem da
estrutura de regulamentos e normas. A regulação pública faz mais do que ratificar as decisões dos
banqueiros, elas permeiam o mercado, direcionam a estrutura, permitindo tanto desenvolvê-la como
constranger o seu desenvolvimento.
199
Nesse contexto, as organizações políticas e corporativas dos empresários financeiros
assumem uma dimensão que extrapola a função exclusiva de defesa dos seus interesses. O seu
poder não estaria somente na capacidade de mudar leis e normas, mas também no que podem fazer
para impedir sua aprovação ou contorná-las. Para o autor, o poder dos banqueiros estaria na
capacidade de coalizão do poder público com os interesses privados para enfrentar a oposição de
outros setores bem como na capacidade de ultrapassar o controle público utilizando a estrutura do
sistema, inovações e a organização interna dos bancos. Esse poder manifesta-se em determinados
momentos e geram transformações na estrutura de controle público, como exemplo, a criação e
implantação dos caixas eletrônicos que, no caso brasileiro, formaram um poderoso instrumento para
ultrapassar o controle público sobre as horas de funcionamento dos bancos, permitindo estender
suas atividades de 8 para 24 horas de atendimento. Também permitiram neutralizar boa parte do
poder de pressão dos sindicatos dos bancários.
200
Coleman (1994a)55 também aborda a questão do poder dos banqueiros, iniciando com uma
análise sobre o conceito de poder weberiano, quando identifica duas categorias: a primeira, como o
poder relacionado com a capacidade do exercício de comando e a probabilidade de ser obedecido, a
chave para o exercício desse poder estaria na capacidade de os atores sociais definirem e realizarem
seus interesses específicos, o que torna crucial a construção de associações para a realização dessa
tarefa. A segunda categoria seria o poder de constrangimento, ou a capacidade de inibir a ação de
outros grupos, sem a necessidade de comandar a ação destes. Como já vimos, essa segunda
categoria assume uma importância muito grande no processo de hegemonia financeira. Tais
conceitos nos remetem para a importância das associações de classe como fonte de poder político, e
para a aferição da capacidade dessas associações transformarem poder econômico em político. Para
tanto Coleman (1994a) sugere quatro passos, a saber:
201
(1) Grau de competição dos seus membros: a densidade da representação dependerá da
concorrência entre as diversas associações. Quanto maior for a concentração, maior será a
capacidade de articulação para definir e realizar os interesses da classe.
202
(2) Recursos internos das associações: esses recursos irão determinar a capacidade de
mobilização da classe na defesa de seus interesses, constituindo quadros de intelectuais orgânicos e

55
Fonte: COLEMAN, William Donald. Policy convergence in banking: a comparative study. Political Studies, vol. 42, nº 2,
1994a, p. 274-292.
70

estruturas burocráticas permanentemente mobilizados. Para análise Coleman identifica três fatores
básicos: (a) Tamanho do quadro de pessoal: a densidade de representação, quando os integrantes
representam os interesses das maiores organizações; (b) Status político: quando o Estado define
recursos, domínio, representação e regulamentos.
203
(3) Conexões com outras organizações: a competição pela atenção das autoridades políticas
irá estabelecer um quadro competitivo entre as associações, mas como o autor observa, o poder
político irá depender da ação coordenada. O estabelecimento de conexões entre as diversas
representações irá determinar a possibilidade de ações conjuntas, acordos pontuais, ou estabelecer
regras de convivência. Em sua análise, o autor classifica as conexões como altamente
institucionalizadas, institucionalizadas, institucionalizadas informalmente e não institucionalizadas.
Dos países analisados, Coleman observa que os EUA possuem o sistema mais competitivo e com
menor número de conexões horizontais.
204
(4) Nível de integração vertical: a existência ou não de associações de cúpula do sistema,
abrangendo o domínio sobre grande número de outras associações especializadas, buscando a
integração vertical através de uma estrutura hierárquica corporativa. Quanto mais vertical for esta
estrutura maior será o poder das organizações para definir e realizar seus interesses sobre o Estado e
o restante da sociedade.
205
O autor observa que, tanto o Canadá quanto os Estados Unidos, não contam com
organizações de cúpula para o setor financeiro, o que já não acontece com a Alemanha e França
onde o sistema encontra status público; ou na Inglaterra onde, apesar de ser limitado, busca
coalizões pontuais diante de interesses comuns.
206
No livro Banqueiros: organização e poder político no Brasil, Minella (1988) apresenta
uma extensa análise sobre a organização corporativa dos banqueiros brasileiros entre 1960 e 1980,
comparando o avanço da organização com o processo de concentração bancária, bem como a
atuação dos representantes junto ao Estado, tanto no legislativo como no executivo, buscando
promover ou constranger as ações do poder público sobre a atividade financeira. Nesse período, as
grandes batalhas que mobilizaram o setor foram a criação de entidades de representação de classe, a
regulação do Sistema Financeiro Nacional, que acabou acontecendo em 1964, e a crescente
mobilização e organização da categoria dos bancários. Nesse cenário, o autor identifica o então
presidente do Banco Mercantil Industrial do Paraná (Bamerindus), Othon Mäder, na época
deputado federal pela UDN, como uma das principais lideranças a atuar tanto na organização
corporativa como na defesa do projeto de reforma bancária elaborada pelos banqueiros e
apresentada por ele em agosto de 1962, no Congresso Nacional.
207
Em Empresariado financeiro no Brasil: grupos financeiros e o novo contexto sócio-
econômico, Minella (1996) analisa a relação entre os grupos financeiros e a direção dos principais
órgãos de representação no período de 1989 a 1995. O autor identifica uma mudança importante no
quadro da representação dos interesses do empresariado financeiro na última década, com
71

tendências para a diversificação ao lado da expansão e consolidação dos grupos financeiros. Sugere
que devemos considerar a hipótese que esses órgãos estão vinculados a uma extensa e complexa
rede de relações nacional e internacional, de caráter político-ideológico, o que lhes garante um
enorme potencial de influência sobre as políticas que afetam o setor. Como pano de fundo,
apresenta um conjunto de tendências e acontecimentos relevantes para o sistema financeiro: (a)
expansão dos grandes grupos financeiros para outros setores; (b) informatização e terceirização
com impacto sobre a estrutura de empregos; (c) manutenção da rentabilidade apesar dos planos
econômicos, através de ajustes estruturais tanto na receita como nos custos; (d) reforma do sistema
com apoio do Estado através do PROER; (e) batalhas políticas em torno da CPI dos Bancos; (f)
batalha política em torno do art. 192 que trata do sistema financeiro; (g) exposição pública na
campanha política para o Congresso e Presidência da República em 1994 e, (h) a manutenção de
um conjunto de órgãos de representação de classe. Em seguida, Minella aponta para a necessidade
de considerarmos o conceito de grupos financeiros pela sua importância tanto como agentes
privilegiados na esfera global – pela sua influência ou potencial de influência nas políticas públicas,
como pela sua atuação no campo cultural, constituindo-se, os grupos, em grandes artífices no final
do século XX. Nesse ponto, observa que, em 1994, mais da metade dos 40 maiores grupos privados
nacionais integravam empresas financeiras, incluindo os 10 maiores bancos. Também sugere que,
diante da possibilidade de redes trans-associativas, seria necessário identificarmos as conexões
desses grupos com os demais, para verificar a possibilidade de ações de coordenação informal.
Aponta também que a expansão do sistema financeiro, inovações tecnológicas quanto aos produtos
e a participação relativa no mercado que, além de se constituírem como novas oportunidades,
também apresentam novos problemas que sobrecarregam a agenda reguladora do sistema.
Basicamente, Minella considera que o estudo do poder do empresariado financeiro na sociedade
contemporânea passa pelas questões relativas ao processo de hegemonia financeira, formação e
atuação dos grupos econômicos, participação no processo político e atuação das associações de
classe.
208
Na seqüência deste nosso trabalho, vamos ter a oportunidade de verificar que o Bamerindus
desenvolveu uma forte atuação em várias associações de classe, tendo participado da criação, em
1953, do Sindicato das Empresas de Seguros Privados e Capitalização no Estado do Paraná
(Sindiseg-Pr)56 e atuado em todas as suas diretorias até os anos 1990. Também participava da
Federação das Indústrias do Paraná (FIEP), da Associação Comercial do Paraná (ACP) e, entre
outros, da Febraban, conseguindo indicar Maurício Schulman para a Presidência da instituição, em
1994.

56
Fonte: SINDISEG PR - Sindicato das Empresas de Seguros Privados e Capitalização no Estado do Paraná. História.
Curitiba, [2003]. Disponível em: <http://www.sindisegpr.com.br/hist.htm>. Acesso em: 23 abr. 2005.
72

2.8 SÍNTESE ANÁLISE E CONCLUSÕES.

209
Neste capítulo apresentamos uma breve revisão de alguns dos principais conceitos que
utilizamos como ferramentas básicas para análise e interpretação da tese. Inicialmente analisamos o
conceito de capital financeiro proposto por Marx e mais tarde desenvolvido por Hilferding, cuja
atualidade constatamos nos trabalhos de Arrighi (1996), Jameson (2001) e Chesnais (2005). O
conceito identifica e separa o fenômeno financeiro do conjunto maior formado pelo capital. Com o
tempo, esse tipo de capital se desloca da estrutura de produção e adquire dinâmica própria,
movendo-se de forma bastante independente do restante das atividades econômicas. Esse processo
tende a concentrar o poder econômico na área financeira, que passa a ter relações assimétricas com
os demais setores da economia, configurando o que muitos autores caracterizaram como de
hegemonia financeira sobre a produção. Tal processo ganhou importância no sistema capitalista e
constituiu-se num dos principais mecanismos de reação burguesa ao avanço da socialização da
política, tornando-se um poderoso instrumento de constrangimento do Estado e da sociedade, no
sentido de preservar o modo de produção capitalista. Outra característica importante desse tipo de
capital é a formação de grandes mercados financeiros com uma forte tendência para descolar-se do
processo de produção socialmente necessário, e concentrar-se em movimentos de espirais
especulativas.
210
O capital financeiro também desloca o centro decisório da firma, aqui entendida como
unidade empresarial, para os grupos econômicos, formando núcleos de poder econômico que
controlam várias empresas de setores diferentes. Com o tempo, tais grupos podem condicionar,
constranger ou neutralizar o poder do Estado. No caso Bamerindus, tivemos que ampliar o conceito
de hegemonia financeira e de grupos econômicos para incorporar aspectos políticos, ideológicos e
as conexões com partes do Estado, governo e sociedade civil. O núcleo de poder do grupo
econômico é dominado por uma elite cuja principal característica é ser organicamente vinculada
aos interesses de sua classe ou segmento de classe. Tais “elites orgânicas” controlam o
planejamento estratégico da organização, e suas ações ultrapassam as fronteiras do mundo
econômico e empresarial, abrangendo também a sociedade política e a civil, participando e
controlando cargos e instituições públicas ou privadas, consideradas estratégicas para o exercício
do poder de classe. Além dos partidos e cargos de governo e de Estado, as “elites orgânicas”
controlam e influenciam organizações corporativas de representação de classe, criadas para
fortalecer o seu poder político. Nessas organizações se reúnem as demais elites concorrentes,
buscando criar mecanismos de intermediação dos conflitos internos e desenvolver ações
coordenadas de defesa de interesses comuns. Tais ações têm como objetivo influenciar o mercado,
o Estado, a política e a sociedade em geral, buscando transformar os interesses corporativos em
objetivos da sociedade como um todo – processo este que Gramsci chamou de hegemonia.
211
Munidos com esses conceitos, convidamos o leitor a nos acompanhar agora na jornada de
estudo e análise da complexa rede econômica, social e política que durante muito tempo esteve
73

reunida em torno do Bamerindus, começando pelo Quadro 2-2 no qual relacionamos


cronologicamente os principais eventos de sua história.

Quadro 2-2: Linha da história (síntese).


Ano Descrição
1865 Capitalistas ingleses e chineses criam o HSBC em Hong-Kong – China.
1926 A família Vieira abre uma seção bancária na sua casa comercial em Tomazina (PR).
1929 A família Vieira e um grupo de capitalistas criam o Banco Popular e Agrícola do Norte do
Paraná (BPANP) em Tomazina.
1938 Moysés Lupion de Troya compra ações do Banco Alemão Transatlântico (Deutsche
Überseeische Bank)
1942 Grupo de empresários paranaenses funda o Banco Comercial do Paraná (Bancial)
1943 Lupion cria o Banco Meridional da Produção (BMP) na antiga sede do Banco Alemão
Transatlântico em Curitiba, que havia sido fechado pelo governo Federal em 1942, pelas
suas ligações com o Partido Nazista.
1944 O Bancial incorpora o BPANP e Avelino A. Vieira assume uma Diretoria do banco.
1951 Um grupo de empresários liderado por Avelino Vieira sai do Bancial e adquire o controle do
Banco Meridional de Lupion (PSD) e mudam o seu nome para Banco Mercantil e Industrial
e
do Paraná (Bamerindus). O senador Othon Mäder (UDN) é mantido na Presidência e
1952 Avelino Vieira assume o cargo de Diretor Superintendente.
1969 Avelino Vieira substitui Othon Mäder que deixou a Presidência do banco em 1968.
1971 José Eduardo coordena os trabalhos de criação do Banco Bamerindus do Brasil S.A. através
da incorporação das diversas filiais regionais do grupo.
1974 Morre Avelino Vieira; Tomaz Edison de A. Vieira assume a Presidência e José Eduardo a
Vice-Presidência. O Bamerindus era o 5º maior banco privado do Brasil e incorpora o
Bancial. Jayme Canet Júnior, então sócio do Bamerindus, foi indicado para o cargo de
Governador do Paraná.
Morre em janeiro Luís Antônio de Andrade Vieira, diretor de várias empresas do Grupo
Bamerindus e presidente da Caixa Econômica do Estado de São Paulo – irmão de José
Eduardo.
1981 Morrem em acidente aéreo no mês de julho, Tomas Edison e Cláudio Enoch de Andrade
Vieira, presidente e vice-presidente do Grupo Bamerindus – irmãos de José Eduardo.
José Eduardo de Andrade Vieira assume a Presidência do grupo Bamerindus no final
de julho de 1981.
1983 Início do governo José Richa no Paraná, tendo como vice-governador João Elísio Ferraz de
Campos, na época, sócio e diretor do Bamerindus.
1985 Bamerindus enfrenta boatos e forte crise de liquidez após a intervenção do Bacen nos
bancos Sul Brasileiro, Habitasul, Brasilinvest, Maisonnave, Auxiliar e Comind.
1986 Início do governo João Elísio no Paraná.
1987 O Bamerindus lança a Conta Remunerada (CRB) e conquista a posição de 3º maior banco
privado em volume de ativos.
1989 José Eduardo apoiou a candidatura presidencial vitoriosa de Fernando Collor de Mello.
74

Quadro 2-2: Linha da história (síntese).


Ano Descrição
1989 Bamerindus inaugura a 1.001ª agência em São Paulo – 2º maior rede bancária privada
1990 José Eduardo é eleito senador e Maurício Schulman assume a Presidência do Bamerindus
1992 JE assume o MICT e entra em conflito com a equipe econômica do governo Itamar Franco
1993 O Bamerindus adquire ações da CSN e M. Schulman é eleito presidente da empresa
1994 JE e o PTB apóiam FHC, que é eleito Presidente da República ainda no 1º turno.
1994 Bamerindus vende ao HSBC 6,7% de participação no banco.
1995 JE assume o Ministério da Agricultura no governo FHC.
1997 Bacen intervém no Bamerindus e transfere parte do grupo para o HSBC.
Observações: Uma versão ampliada deste quadro encontra-se disponível como Apêndice no final da
tese. Nela buscamos correlacionar os principais eventos históricos que marcaram a política, a
economia, o sistema financeiro, o sistema bancário e o Bamerindus, bem como a produção do
referencial teórico utilizado neste trabalho.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base nas informações disponíveis na tese.
3 CAPÍTULO II: O SISTEMA FINANCEIRO

– É por puro milagre que estas pedras


se mantém juntas...
(SCHUITEN &PEETERS, 1987)1

3.1 INTRODUÇÃO

212
Neste capítulo, apresentamos uma breve revisão da história do Sistema Financeiro
internacional e brasileiro, concentrando a análise no período entre 1980 e 1994, com o objetivo de
contextualizar a pesquisa nas grandes transformações que aconteceram no sistema e seus efeitos
sobre o Bamerindus. Para tanto, inicialmente analisamos o Sistema Financeiro Internacional (SFI)
para, na seqüência, focalizar o Sistema Financeiro Nacional (SFN).

3.2 O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL

213
Desde o início dos anos 1970, o Sistema Financeiro Internacional (SFI) vem passando por
transformações profundas que resultaram, nos anos 1990, na consolidação da hegemonia financeira
sobre a economia e a sociedade internacional, com poder suficiente para constranger Estados e
políticas públicas de diversos países, mesmo aqueles situados nos grandes centros do capitalismo,
como os EUA, Alemanha e Japão. A história de José Eduardo e do Bamerindus está intimamente
relacionada com esse processo, visto que, no período que estudamos (1981-1994), o sistema
financeiro brasileiro (SFB) esteve sob forte pressão para modificar suas conexões com o SFI, para
aumentar a interpenetração e a conseqüente subordinação aos grupos de capitalistas que
predominavam no sistema financeiro internacional. Para um melhor entendimento desse processo
histórico, dividimo-lo em quatro grandes períodos: 1) hegemonia inglesa (1816-1914), 2)
Interguerras (1918-1943), 3) Bretton Woods (1944-1971) e 4) mundialização financeira (1972-
1994).
214
O primeiro período, entre 1816 e 1914, foi marcado pela hegemonia financeira inglesa
sobre o SFI e o mundo econômico internacional. Suas principais características eram a arquitetura
liberal, o padrão-ouro que lastreava a libra esterlina e a casa bancária como principal instituição
financeira. O conflito básico nesse período era entre o comércio internacional livre de barreiras e a
independência das nações, pois o poderio econômico e militar britânico mantinha o mapa

1
Fonte: SCHUITEN & PEETERS. A torre. Tradução de Manuela Barreto. Lisboa: Edições 70, 1987.
76

geopolítico favorável ao liberalismo inglês.


215
No segundo período, entre 1918 e 1943, o padrão-ouro havia sido abandonado durante a I
Guerra Mundial em razão do esforço para financiar a guerra. Desse conflito, a Inglaterra emergiu
enfraquecida e, apesar das tentativas de recuperar sua hegemonia durante os anos 1920, suas
pretensões foram abandonadas de vez na crise de 1929.
216
No terceiro período, entre 1944 e 1971, o SFI esteve estruturado sob o acordo de Bretton
Woods, ratificado no final da II Guerra Mundial, que basicamente estabeleceu o dólar como moeda
padrão para as transações internacionais, criou organismos como o FMI e o Banco Mundial, e
institucionalizou um sistema fracionado e confinado às fronteiras nacionais que, além de servir de
barreira de contensão para crises financeiras, também possibilitava financiar projetos nacional-
desenvolvimentistas locais.
217
O quarto período, 1971 a 1994, tem suas raízes lançadas durante os anos 1960, quando a
arquitetura do sistema começou a enfrentar pressões geradas dos excedentes produzidos na Europa,
pelo lucro das corporações norte-americanas obtido nos empreendimentos multinacionais e o
crescimento dos chamados investidores institucionais. Essa massa de recursos encontrou, no setor
2
“off-shore” de Londres, abrigo para operar livre do intrincado emaranhado legal do continente
europeu, do americano e do Japão, além de servir de proteção contra o dólar comprometido com o
déficit dos EUA.
218
A ameaça de deslocamento do centro financeiro para Londres provocou reações dos EUA,
que abandonaram o padrão-ouro para o dólar e iniciando assim o processo de desmonte da estrutura
de Bretton Woods e transição do regime de finanças administradas para o de finanças de mercado.

3.2.1 A HEGEMONIA INGLESA (1816-1914)

219
Entre 1816 e 1914, o SFI tinha a moeda inglesa como parâmetro para o câmbio
internacional, com base no padrão-ouro oficialmente adotado pela Grã-Bretanha em 1816. Na
época, tinha por paridade a razão de 123,27 grãos3 de ouro por libra esterlina, possibilitando que ela
servisse para o câmbio e reserva dos países que operavam no SFI até o início da I Guerra Mundial.
Esse papel não poderia ser desempenhado sem se considerar a estabilidade política e econômica da
Grã-Bretanha, bem como o poder e prestígio internacional da Marinha Real e do Banco da
Inglaterra.
220
No final do século XIX, os excedentes gerados, tanto na Europa como no restante do

2
Zonas privilegiadas existentes em várias partes do globo, também conhecidas como “tax havens” ou “paraísos fiscais” ou
“zonas livres” convencionou-se dar o nome inglês de “off-shore”. Assim, uma “off-shore” é região situada no exterior,
sujeita a um regime legal diferente, “extraterritorial” em relação ao país de domicílio dos investidores. A expressão é
aplicada mais especificamente para os “paraísos fiscais”, onde os investidores gozam de privilégios tributários (impostos
reduzidos ou até mesmo isenção de impostos). E isso só se tornou possível quando alguns países adotaram a política da
isenção fiscal, para atrair investimentos e capitais estrangeiros.
3
Grão: unidade de medida equivalente a 49,8 miligramas, ou 1/4 do quilate.
77

mundo, encontravam, no setor financeiro de Londres, um abrigo seguro para o conturbado ambiente
continental de guerras, revoluções e transformações capitalistas. As constantes crises financeiras
levaram à concentração da atividade bancária, bem como, nesse período, ocorreu grande
desenvolvimento do sistema, quando surgiram novos tipos de sofisticadas operações que buscavam
atender à demanda por mecanismos que financiassem o comércio internacional e os novos Estados
que se constituíam nas regiões de fronteira capitalista – na América e Ásia.
221
Nesse período, os bancos ingleses estruturavam-se em cinco grandes grupos: 1) sociedades
anônimas (“joint-stock banks”)4; 2) bancos privados (“private banks”)5; 3) bancos coloniais6; 4)
bancos de investimento (“Merchant bank”)7 e os 5) bancos de descontos (“discount houses”).
Também ocorreu um grande movimento de fusões e incorporações, quando pequenos e médios
bancos privados foram absorvidos pelas grandes instituições organizadas na forma de sociedades
anônimas. As organizações bancárias resultantes distinguiam-se dos demais bancos europeus, pois,
segundo (CASSIS, 1994, p. 313), essas instituições não podiam ser consideradas no sentido usual
dado às corporações, mas sim como conglomerados de banqueiros em um empreendimento com
objetivos e interesses mais ou menos comuns.
222
Organizados em uma ampla e complexa rede de relações sociais e econômicas, esses
banqueiros participavam dos conselhos diretores de outras instituições bancárias, empresas, órgãos
reguladores, agências governamentais, associações de classe, entre outros, garantindo seus
interesses ou de seus bancos na condução dos negócios. Formando uma elite específica dentro do
tecido social inglês, esses senhores tinham sua origem nas antigas famílias de banqueiros ou na
aristocracia, cursavam as mesmas escolas e clubes e na maioria das vezes os casamentos
realizavam-se entre pares para garantir a continuidade do grupo. Eles formavam o embrião do que
viria a ser o “establishment” britânico no interguerras. Neste contexto, o mundo das finanças e da
política, bem como o Estado, se confundiam com freqüência. Outra característica desse período era
o modo informal como o sistema era estruturado e controlado, havendo uma grande aversão pela
interferência externa e legislativa. Segundo Cassis (1994), a maioria das regras não eram escritas e
funcionava na base do “acordo de cavalheiros”.

4
Joint-stock banks: A form of business organization, probably originating in England in the 16th Century, characterized by
the division of capital into shares. The shares became readily transferable only in the 17th Century. Fonte: GASTINEAU,
Gary L.; KRITZMAN, Mark P. Verbete: Joint-stock banks. Dictionary of Financial Risk Management. 1º ed. Swiss Bank
Corporation, 1992 & American Stock Exchange, 2002. Probus, 1996. Disponível em: <http://www.amex.com/>. Acesso em:
10 mar. 2004..
5
“Private banking: The providing of banking services to very wealthy individuals and families. Many financial services firms
require a person or family to have a certain minimum net worth to qualify for private banking services”. Fonte:
(GASTINEAU &KRITZMAN,1996).
6
O autor identifica que, na época, era classificado como banco colonial o HSBC – The Hongkong and Shanghai Banking
Corporation Limited, sucessor do Banco Bamerindus S.A. (CASSIS, 1994:9).
7
“Merchant Bank: In the UK denotes one of a group of institutions that carry on a varied range of financial or finance-related
activities. These activities include financing trade, financing foreign governments and foreign enterprises, arranging
securities issuance, mergers and acquisitions, money management and dealing in currencies”. (GASTINEAU &
KRITZMAN, 1992).
78

223 8
Se no século dezenove a “City” era considerada liberal, no final do período, o Partido
Conservador tornou-se a expressão do mundo dos negócios, apesar de encontrarmos banqueiros
também filiados a outros partidos. Mas devemos observar que as diferenças partidárias na
comunidade dos banqueiros eram secundárias pelo prisma da defesa dos seus interesses no campo
da política. Essa ação realizava-se por meio de diversos canais, como o Parlamento e instituições
como o Committee of the London Clearing Bankers, a Central Association of Bankers, o Institute of
Bankers ou, ainda, por meio de consultas que políticos ou o governo faziam aos banqueiros mais
influentes.
224
Não podemos considerar o Parlamento como o principal cenário de intervenção dos
banqueiros, ou mesmo que o número de banqueiros / parlamentares tenha sido significativo para a
ação corporativa, mas sim, como uma importante fonte de prestígio social em razão da disputada
condição de membro do Parlamento, que significava mais poder e influência no jogo político e
econômico. Como exemplo de banqueiros / políticos temos a família Smith, que chegou a ter quatro
membros no Parlamento entre 1863 e 1868, todos sócios do banco Smith, Payne of Lombard Street,
tendo computado uma participação total de 11 parlamentares entre 1832 e 1918 – sendo seguida por
outras famílias: Baring, 12 parlamentares; Rothschild, 6; Praed, 5; Hoare, 5; Glyn, 4; Grenfell, 4;
Mills, 4, etc.
225
A ação desses banqueiros no Parlamento era mais que discreta, como por exemplo, a de
Eric Hambro, de quem não foram encontrados registro de qualquer tipo de intervenção durante seu
mandato, no período entre 1900 e 1906 (CASSIS, 1994, p. 267-272), o que é bastante diferente da
atuação de José Eduardo que, como veremos na seqüência deste trabalho, chegou a realizar uma
média de 2,2 intervenções mensais no Senado durante os anos de 1991, 1992 e 1994. Como grupo
de interesse organizado, os banqueiros também contavam com as instituições: English Country
Bankers’ Association – fundado em 1865 e que congregava os chamados bancos provinciais, o
British Bankers’ Association, e a mais importante de todas, a Central Association of Bankers.
226
Basicamente as relações entre o mundo político e o financeiro realizavam-se por meio de
diversos canais, em que a localização geográfica da City garantia a facilidade de contato com
governo: o cargo de Chancellors of the Exchequer normalmente era ocupado por alguém escolhido
entre os mais importantes dos banqueiros.

3.2.1.1 ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA DO NORTE (EUA)

227
Nesse período crescia, no outro lado do Atlântico, o sistema financeiro que viria a substituir
a Inglaterra no domínio sobre a comunidade internacional a partir da segunda metade do século

8
“From 1890 to 1914, the City of London was the financial centre of the world. The banks at the heat of the City were the
cornerstones of whole edifice and at their head were the bankers, agents and beneficiaries of the system”. (CASSIS, 1994, p.
5) A cidade de Londres era considerada o centro financeiro internacional entre os anos de 1890 e 1914, sendo chamada nos
meios especializados de “The City”. (Nota do autor).
79

XX.
228
A história da formação do sistema financeiro dos EUA é caracterizada pela grande
preocupação da sociedade em estabelecer limites para o poder dos banqueiros e seus bancos,
inquietação refletida nos discursos políticos da época, quando a preservação da liberdade passava
pelo controle social do sistema financeiro.
229
De maneira bastante peculiar, o projeto de construção dos EUA foi marcado pelo
federalismo, implicando na manutenção de um poder central relativamente fraco diante do poder
das unidades da federação. Nesse contexto, Hammond (1991) observa que o século dezenove foi
palco de intensas batalhas pela autonomia dos Estados diante da União, conflito potencializado
pelas lutas entre capitalistas emergentes (“business entrepreneurs”) e os tradicionais, normalmente
ligados à atividade agrícola (“agrarians”). Em vários momentos os combates foram travados em
torno dos bancos, considerados pelos primeiros como fonte estratégica do crédito indispensável
para a expansão dos negócios. Com relação aos bancos, o debate tinha como referências Hamilton,
Jefferson, Biddle e Jackson. Se para Hamilton os bancos eram indispensáveis para tornar os Estados
Unidos uma nação poderosa, seus opositores – como Thomas Jefferson, Emerson, Hawthorne e
Thoreau – consideravam “os bancos um instrumento indesejável da industrialização, do
materialismo e por si só uma grande imoralidade”. (HAMMOND, 1991). Partindo de uma
economia essencialmente agrária no período da Guerra de Independência, os Estados Unidos
chegaram à Guerra Civil com uma estrutura econômica comandada pelo mundo dos negócios
baseada no comércio, indústria e, em uma grande população urbana, todos reivindicando crédito
barato e fácil. Esse mundo não foi construído pelos descendentes da estrutura agrária, mas pelos
novos atores sociais chamados de empreendedores (“self-made men”) que, nascidos nas fazendas e
criados no espírito liberal, conquistaram espaço político e impuseram o “laisser-faire” como
ideologia dominante. A chamada revolução jacksoniana combateu a centralização do poder e tinha
entre seus alvos o Bank of The United States que, segundo os rebeldes liberais, impunha restrições à
ação do sistema bancário, dificultava o crédito e travava a expansão dos negócios. Aproveitando a
tradicional aversão do mundo agrário aos bancos, os rebeldes atacaram o que chamavam de
“monopólio e tirania do banco federal”, conseguindo não só fechar o banco como também
neutralizar a responsabilidade constitucional da União sobre a moeda.
230
Livre dos controles, o sistema se expandiu por grande parte do país, financiando o projeto
liberal e gerando uma estrutura fragmentada e pulverizada pela qual cada Estado tinha liberdade de
promover a regulação independente de seu sistema financeiro. O resultado foi um caleidoscópio
rico de experiências estaduais que variavam entre a liberdade total, como em Nova York, e a
proibição constitucional em estados como Texas, entre 1845 e 1904; Arkansas, entre 1846 e 1864 e
a Califórnia, entre 1849 e 1879 (HAMMOND, 1991, p. 617)9. Tal cenário começou a alterar-se no

9
Até 1964, a arquitetura do sistema financeiro brasileiro inspirava-se no federalismo do modelo dos EUA.
80

final da Guerra Civil, quando a administração Lincoln, buscando financiar a dívida pública
resultante do esforço de guerra, iniciou o processo de restauração do poder disciplinador da União
sobre o sistema financeiro e o controle federal da moeda, reforma que em 1879 instituiu o padrão-
ouro para o dólar.
231
Mesmo assim, a configuração institucional permaneceu marcada pelo modelo liberal e
federalista, com um sistema financeiro regionalizado. De 1.000 bancos em 1850, encontramos
12.000 em 1900, chegando a computar 30.000 instituições nos anos 1920. Estabilizou-se em mais
ou menos 14.000 bancos entre 1930 e 1960 – “[...] literalmente qualquer um podia abrir um banco”
(MORAN, 1984, p. 175). Na Tabela 3-1, podemos verificar as diferenças entre o sistema bancário
dos EUA, Inglaterra e Alemanha, e que o sistema bancário dos EUA era bastante diferente quanto
ao número de instituições atuantes.

Tabela 3-1: Número de bancos por país (1883 a 1932)

País /
1850 1883 1890 1895 1900 1910 1912 1913 1921 1928 1932
Ano
Inglaterra - - 123 - - - 62 - - - 24
Alemanha - 71 - 94 - - - 160 - - 72
EUA 1.000 - - - 12.000 23.000 - - 31.600 26.000 18.007
Fonte: Sobrinho (1966, p. 26), apud KRETZER (1996)10 e Moran (1984, p. 175).

232
Os principais estimuladores de tal sistema seriam de ordem cultural e política, conformando
uma estrutura jurídica extremamente complexa e restritiva, impedindo a formação de bancos com
abrangência nacional.

3.2.2 O INTERGUERRAS (1918 – 1943)

233
No período 1918 – 1939 houve tentativas de retorno ao padrão ouro para as principais
moedas européias entre elas, a libra esterlina em 1925, que acabou ficando sobre-valorizada. Esse
esforço continuou até a grande depressão dos anos 30, quando a Inglaterra e a Alemanha
abandonaram o padrão ouro em 1931 e os EUA em 1933. Apesar da Suíça e França o manterem,
parece que havia chegado ao fim a era das taxas de câmbio fixas. Nos anos 30 ocorre o colapso do
comércio internacional e dos fluxos financeiros internacionais à medida que os países levantavam
barreiras tarifárias e determinavam restrições aos fluxos de capital. O início da II Guerra Mundial,
em 1939, exacerbou o colapso da economia internacional.

10
Fonte: SOBRINHO, J. M. Fusão de bancos: suas vantagens e inconvenientes. Revista Bancária Brasileira, São Paulo, p. 25-
28, 30 jun. 1966. Apud: KRETZER, Jucélio. Os efeitos das fusões e incorporações na estrutura do mercado bancário
brasileiro: 1964-1984. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis:
UFSC, 1996. Disponível em: <http://www.eps.ufsc.br/disserta96/kretzer/index/index.htm#sum>. Acesso em: 24 mar.
2004.Sobrinho (1966).
81

3.2.3 BRETTON WOODS (1944-1970)

234
O final da II Guerra Mundial marca o início do período sob hegemonia norte-americana,
promovendo o tratado de Bretton Woods11 pelo qual, sob a influência de Harry Dexter White,
secretário-adjunto para Assuntos Internacionais do Tesouro dos EUA, e de John Maynard Keynes
representando a Inglaterra, os países signatários adotavam o sistema de N-1 taxas de câmbio12,
baseado no dólar como moeda padrão:
44
[...] os Estados Unidos eram, incontestavelmente, a economia predominante no
mundo, detendo 70% das reservas mundiais de ouro. O dólar americano tinha papel de
pivô nos novos arranjos — o dólar foi ancorado ao ouro e as autoridades dos EUA
incumbiram-se de sustentar a conversibilidade do dólar [...] [ao] preço [...] fixado em
US$ 35 por onça de ouro. (ROBERTS, 2000, p. 16)13

235
O tratado delegava aos descendentes dos revolucionários do Sr. Andrew Jackson, a
importante missão de garantir o padrão monetário e a estabilidade financeira internacional.
236
Nesse momento também foram criados organismos internacionais para monitorar o sistema
financeiro, tais como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial, entre outros. O objetivo
era evitar a ocorrência de outra depressão como a dos anos 30 e promover o crescimento
econômico. O SFI resultante do acordo foi uma intrincada estrutura, bastante fragmentada e
confinada às fronteiras dos países e sob forte regulação estatal; esse período ficou marcado pelo
regime de finanças administradas. O Estado foi municiado com diversos instrumentos de controle,
entre eles o banco central que, de certa forma, disciplinaram o sistema. A necessidade de regular e
controlar o sistema financeiro, e com ele a moeda e o crédito, surgiu no bojo de um projeto mais
amplo de intervenção do Estado na economia, que contava com o apoio da Teoria geral do
emprego, do juro e do dinheiro, de John M. Keynes (1936), e o Esboço de uma teoria do ciclo
econômico e comércio internacional e “exportações internas”, de Michael Kalecki (1933).
237
O sistema Bretton Woods passou a enfrentar grande pressão a partir nos anos 1960, quando
o setor “off-shore” do sistema financeiro inglês tornou-se uma praça atrativa para investir os
excedentes produzidos na Europa, bem como para os lucros auferidos pelas corporações norte-
americanas e japonesas nos empreendimentos internacionais.

11
O sistema de Bretton Woods é assim chamado em decorrência do local de uma conferência realizada entre os dias 1º e 22 de
Julho de 1944, no Hotel Mount Washington, em Bretton Woods, New Hampshire, nos EUA, na qual participaram 730
delegados de 44 países, e que resultou num acordo sobre o arranjo financeiro internacional para o pós-guerra. Fonte:
(ROBERTS, 2000)
12
“Sistema com (N-1) taxas de câmbio: um país — o enésimo membro de um sistema com N países — fixa seu câmbio em
termos de uma mercadoria — ouro, por exemplo — ao passo que os demais países fixam seu câmbio em termos da moeda
do enésimo país. Nesse sistema, há N-1 taxas de câmbio..., variante do sistema de mercadoria-padrão, [onde]... não há
conexão automática entre a oferta de moeda... e a mercadoria que lastreia a enésima moeda”. (ROBERTS, 2000, p. 13)
13
Fonte: ROBERTS, R. Por dentro das finanças internacionais: guia prático dos mercados e instituições financeiras. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2000.
82

3.2.4 A MUNDIALIZAÇÃO FINANCEIRA (1971 – 1994)

238
Além da expansão do euromercado, o déficit norte-americano fragilizou o dólar que,
submetido a ataques especulativos, levou a administração Richard Nixon a abandonar a
239
conversibilidade em ouro, em agosto de 1971. Apesar da tentativa do Grupo dos Dez (G-
10),14 em dezembro de 1971, de tentar salvar o sistema aumentando de US$ 35 para US$ 38 o preço
da onça de ouro e alargar as bandas de flutuação de 1% para 2,5%, o sistema não conseguiu
sustentar-se. Em junho de 1972, o Reino Unido permitiu a flutuação da libra esterlina, e em
fevereiro de 1973 uma nova onda especulativa contra o dólar forçou a desvalorização de 11%,
sendo seguido pelo iene e o franco suíço. Com a flutuação das demais moedas da Comunidade
Econômica Européia, o sistema de câmbio fixo de “Bretton Woods” foi sendo substituído pelo
câmbio variável.
240
Atraídos pelo “paraíso fiscal” londrino, grandes bancos norte-americanos abriram agências
naquela praça, passando a operar com vantagens em relação aos bancos ingleses controlados pelo
“Money Truste”.15 A liberdade e o crescimento da concorrência forçaram os ingleses ao
rompimento histórico com a política de auto-regulação, e a buscarem novas formas de controle
público das atividades no setor. O poder público, por um lado, era limitado pela possibilidade real
dos bancos estrangeiros abandonarem a Inglaterra – em diante dos excessos de controles – e, por
outro lado, era encorajado pela própria dinâmica do setor para prevenir crises de confiança.
241
Os EUA passaram a enfrentar a pressão do euromercado que, além de operar com os
excedentes europeus, passou a receber também os petrodólares oriundos do aumento do preço do
petróleo imposto pela Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP). Diante da
possibilidade de perder a hegemonia financeira, a reação dos EUA foi a de iniciar um amplo
processo de liberalização do setor, quebrando parte do monopólio dos bancos, flexibilizando a
legislação para novos produtos e tecnologia bancária, admitindo também empresas não-financeiras,
o que ampliou o número de instituições atuando no mercado. Um dos marcos nesse processo foi o
dia 1º de maio de 1975, quando aconteceu o chamado “Mayday”, momento em que a Bolsa de
Valores de Nova York aboliu a cobrança de comissões mínimas fixas e removeu diversas restrições
às atividades financeiras.
242
As ações liberalizantes dos EUA e Inglaterra geraram uma reação em cadeia em toda a
comunidade internacional, colocando sob pressão grande parte dos setores financeiros até então
protegidos pelas fronteiras nacionais. A sobrevivência econômica passou a depender de políticas

14
O Grupo dos Dez (G10) foi criado em 1962 numa reunião convocada pelos EUA para aumentar os recursos disponíveis do
FMI por meio do Acordo Geral sobre Empréstimos (General Arrangements to Borrow - GAB). Formado pelos principais
países industrializados, inicialmente reunia a Alemanha, Bélgica, Canadá, EUA, França, Holanda, Itália, Reino Unido e
Suécia. Em 1964 o grupo passou a incluir o Japão e, em 1983, a Suíça tornou-se o último país a entrar no G10, mas o nome
continuou inalterado. Em 1974 o G10 criou o Comitê de Basiléia para Supervisão Bancária. Fonte: Roberts (2000) e MFI /
IMF (2005).
15
O termo “Money Truste” é utilizado normalmente pela literatura especializada para referir-se a grupos informais de agentes
financeiros, que agem de forma pontual mais ou menos conjunta, sob normas e regras informas e aceitas por todos.
83

liberais, bem como da integração acelerada a um sistema internacional relativamente livre do


controle centralizado. A este quadro temos que acrescentar também o crescimento dos chamados
investidores institucionais, formados pelos fundos de pensão e de investimentos, que passaram a
concorrer com os grandes bancos de investimento como fornecedores atacadistas de capital,
243
conforme pode ser constatado nos Gráfico 3-1, Gráfico 3-1, Gráfico 3-1:
45
Com isso, muda a natureza econômica dos fundos, e já não se pode escamotear o
alcance e as conseqüências dessa mudança. Os fundos deixam de ser a expressão de
uma poupança modesta [...] passam a ser instituições centrais do capital financeiro, e
encabeçam as “finanças especulativas”. (CHESNAIS, 1998, p. 29).

Gráfico 3-1: Evolução dos ativos financeiros no mercado Gráfico 3-2: Ativos dos investidores institucionais dos
16
internacional por tipo de investidor de 1980-1994 (em US$ principais países da OCDE (em US$ bilhões)
bilhões)
5.000 Companhias de seguro Fundos Mútuos
4.570 Companhias de seguro de vida Fundos de pensão
4.500
1980 1990 3 trim 1994 5.000 Total em % do PIB 100

4.000 89 88 89
4.500 90

3.500 4.000 80
3.116
72

4.451
3.000 3.500 70

4.143
3.227
2.500 3.000 60

3.887
2'.710
1.800 1.750 2.500 50

3.580
2.000
46

3.168
2.000 40
1.500 1.328
1.180

2.258
2.525

1.986
859 967 1.500 30

1.679
1.000 759
519 1.000
1.438 20
342
397
294

1.131
500
200

1.047
118 48 143

958
904
860

793

500 10
-

- -
Fundos de Fundos Seguros Bancos Fundações
Pensão Mútuos 1980 1988 1990 1991 1992

Fonte: Mérieux et Marchand (1996, p. 269). Apud Chesnais Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados
18
(1998, p. 29)17. extraídos de FMI (1995, p. 166), apud Farnetti (1998, p. 189) .

244
Após o choque do petróleo em fins de 1973, o acúmulo dos petrodólares contribuiu para
aumentar a liquidez do mercado internacional, que foi direcionada para financiar os déficits e
investimentos nos países da periferia capitalista. Com novas fronteiras, tais investimentos abriram
espaço para a modernização e ampliação da produção principalmente de matérias-primas. A
expectativa dos investidores era de obter retorno dos investimentos com a ampliação da produção,
principalmente de matérias-primas para os centros capitalistas. O aumento da oferta encontrou um
mercado em recessão provocada pelos programas de ajustamento econômico dos países
consumidores, o que derrubou os preços das matérias-primas no mercado internacional,
estrangulando a capacidade de geração de excedentes para remunerar os investidores.

16
OCDE: Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico / OECD: Organization for Economic Co-operation
and Development: Criada em dezembro de 1960 por 20 países, atualmente é formada por um grupo de 30 países membros.
17
Fonte: MÉRIEUX, A.; MARCHAND, C. Les marchés financiers américains. Revue d´Économie Financière. Coleção La
Bibliothéque. Paris, 1996. Apud CHESNAIS, François. (Coord.) A mundialização financeira: gênese, Custos e riscos. São
Paulo: Xamã, 1998..
18
Fonte: FARNETTI, Richard. O papel dos fundos de pensão e de investimentos coletivos anglo-saxônicos no
desenvolvimento das finanças globalizadas. In: CHESNAIS, François. (Org.). A mundialização financeira: gênese, custos
e riscos. São Paulo: Xamã, 1998, p. 183-210.
84

245 Gráfico 3-3: Ativos dos investidores institucionais dos


Na falta de estruturas institucionais
principais países da OCDE. (em US$ bilhões acumulados)
preparadas para enfrentar o problema da dívida
12.000

dos países periféricos, ocorreu a grande crise Canadá


Alemanha
Canadá
Reino Unido
internacional da dívida externa, que levou 10.000 Alemanha
1.432
Reino Unido
Canadá 1.354
praticamente dez anos para ser equacionada, e, Alemanha Japão
8.000
Reino Unido Japão 1.972
1.208
em muitos casos, continua sem solução até hoje. Alemanha
Reino Unido
1.835
Japão
6.000 992
O problema só começa a ser resolvido quando a Japão 1.650
1.459
crise passou a ameaçar contaminar o SFI. Nesse 4.000
EUA EUA
EUA 6.516 7.183
momento, o problema migrou da esfera 2.000
EUA
5.221
4.316
econômica para a política, obrigando os EUA
-
1.607
governos dos EUA, Inglaterra, França, 1980 1988 1990 1991 1992

Alemanha e Japão a se engajarem na construção Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados
extraídos de FMI (1995, p. 166), apud Farnetti (1998, p. 189).
de meios institucionais como, entre outros, o
Plano Baker19 e depois o Plano Brady20. A relutância dos governos era proporcional ao montante de
21
recursos necessários para “securitizar” as operações. Os EUA, por exemplo, somente
embarcaram na solução da crise do México em 1982, após sentirem que Essa poderia contaminar o
seu próprio sistema financeiro. Diante do quadro de crescimento acelerado do SFI e a ameaça de
instabilidade, os governos das grandes economias capitalistas passaram gradativamente a fortalecer
o papel institucional de organizações públicas internacionais como o FMI, Banco Mundial e o
BIS22. O FMI passou a assumir um papel cada vez mais importante de instância coordenadora para
evitar que crises financeiras localizadas contaminassem o SFI bem como teve início o processo de
fortalecimento do papel do BIS como organismo internacional aglutinador dos bancos centrais.
Nesse contexto, o BIS já havia promovido um passo importante em 1975, ao constituir o Comitê da
Basiléia para a Supervisão da Atividade Bancária, determinado pelos chefes dos bancos centrais do
Grupo dos Dez (G-10), e que elaborou os “Princípios Fundamentais para a Supervisão Eficaz da
Atividade Bancária”, além de um compêndio de recomendações, diretrizes e padrões.

19
Plano Baker: plano de reestruturação da dívida dos países periféricos promovido pelo secretário do Tesouro dos EUA, James
Baker. A proposta básica do plano previa renovações coordenadas de empréstimos com base em negociações envolvendo
instituições multilaterais, comitês representantes dos bancos privados e governos credores.
20
Plano Brady: plano de iniciativa do sucessor de Baker, Nicholas Brady, substituía a proposta do plano anterior por um
conjunto de opções que basicamente, permitiam tanto a oportunidade para a retirada com deságio dos credores que assim o
desejassem, como incentivos a novos empréstimos, todos com títulos securitizados, bem como a adesão compulsória dos
países devedores a uma agenda de reformas econômicas e institucionais.
21
Securitizar: A palavra securitização provém do termo “securities”, que em inglês se refere a valores mobiliários e títulos de
crédito. Dessa forma, securitizar tem o significado de converter determinados créditos em lastro para títulos ou valores
mobiliários a serem emitidos posteriormente. A securitização serve, portanto, como suporte para a emissão de títulos ou
valores mobiliários. “A securitização é, em sentido amplo, o processo pelo qual empresas produtivas, bancos, demais
empresas financeiras, e governos emitem títulos de dívida, com inúmeras finalidades, envolvendo e interligando, dessa
forma, os chamados mercados creditícios, de capitais, de derivativos (swaps, opções e futuros). Ela é uma modalidade
financeira que torna os títulos negociáveis, flexibiliza prazos e taxas de rendimento, adaptável a múltiplos agentes,
funcional à administração de riscos, substituta dos empréstimos bancários e, ao mesmo tempo, propícia aos bancos na
captação de fundos”.(BRAGA, 1997, p. 198, nota nº 3).
22
Bank for International Settlements (BIS) foi criado em 20 de out. 1930, durante a Conferência de Haia, Holanda, quando se
encontrava em debate o denominado Young Plan, concebido com o propósito de favorecer a liquidação dos ônus de guerra
imputados à Alemanha em decorrência de seu envolvimento na Primeira Guerra Mundial.
85

246 Gráfico 3-4: Crescimento do estoque de ativos financeiros


Nos anos 1980, o processo de
de 1980 a 1992 (em US$ bilhões US$)
liberalização dos sistemas financeiros avança 1,856
Títulos
1,465
internacionais

nos grandes centros capitalistas, passando a 30,000


1,844
Títulos
bancários

pressionar toda a comunidade internacional com 25,000


8,707
Títulos não
bancários

uma agenda de reformas liberais. Tais reformas 20,000 Títulos


públicos
10,323
haviam sido iniciadas na Inglaterra pelo 15,000
Ações

Gabinete de Margaret Thatcher, e nos EUA por 10,000


1,934 Divisas
2,750 11,288
Paul A. Volcker ao assumir a liderança do 5,000

4,839
-

Federal Reserve em 1979. Essas reformas faziam 1980* 1991/1992

parte de um plano mais abrangente que ficou Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados
23
extraídos de Mckinsey (1994) apud Chesnais (1998, p. 27) .
conhecido como agenda neoliberal e foram Nota: Montantes nominais atualizados pelas taxas de câmbio
de 1992.
implementadas por Thatcher, na Inglaterra, e
pela administração Ronald Reagan, nos EUA. Gráfico 3-5: O crescimento do estoque de ativos
financeiros de 1980 a 1992 (em %)
Na seqüência, essas reformas chegaram ao
600%
continente europeu e ao Japão e, como pode ser
verificado no Gráfico 3-4 e no Gráfico 3-4, 500%

internacionais; 608%
resultaram no crescimento acelerado do mercado 400%

Títulos
Divisas: 133%

financeiro internacional, que mudou grande

Títulos públicos
300%

Títulos bancários
bancários: 277%
Ações: 275%

350%
parte do arranjo das correlações econômicas
Títulos não
Total: 231%

200%

281%
entre os países no cenário capitalista 100%

internacional. O crescimento das transações


0%

financeiras superou o crescimento dos Fonte: T = Títulos. Gráfico elaborado pelo autor com base nos
dados extraídos de Mckinsey (1994), apud Chesnais (1998, p.
investimentos, do PIB e do comércio exterior. A 27).
taxa média de crescimento anual do estoque de
Gráfico 3-6: Formação bruta de capital fixo do setor
ativos financeiros entre 1980 e 1992, superou em privado e o crescimento do estoque de ativos financeiros
(1980-1992). (taxas médias de crescimento anuais)
2,6 vezes a da formação bruta de capital fixo do
setor privado dos países da OCDE, conforme 6,0%

pode ser visto no Gráfico 3-4. Segundo Chesnais 5,0%

4,0%

(1998, p. 14), o crescimento do mercado 6,0%


3,0%

financeiro acontece junto com o processo de 2,0%

transição do regime de finanças administradas 2,3%


1,0%

para o regime de finanças de mercado, resultado 0,0%

Formação bruta de Estoque de ativos


da liberalização e desregulamentação dos capital fixo nos países da financeiros
OCDE
sistemas financeiros nacionais. Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nas
informações: OCDE, contas nacionais diversos anos, apud
Chesnais (1998, p. 14).

23
Fonte: MCKINSEY Financial Institution Group. The global capital market: supply, demand, pricing and allocation.
Washington DC, 1994. Apud CHESNAIS (1998).
86

247
Em 1986 a Inglaterra promoveu o que ficou conhecido como o “Big Bang na City”,
quando removeu várias restrições às atividades financeiras, repetindo o processo realizado pela
Bolsa de Nova York (1975). Aboliu a cobrança de comissões mínimas fixas, bem como reviu as
regras quanto à propriedade de empresas de corretagem de forma a permitir a combinação de
negócios de corretagem, de títulos e ações. Ao ampliar a liberalização do sistema financeiro, forçou
todas as outras praças a acelerarem seus processos de desregulamentação e integração ao mercado
internacional. Na Tabela 3-2 e no Tabela 3-2 podemos constatar que, no final do século XX, Londres
reconquista a condição de maior centro financeiro internacional, seguido de perto por Nova York
que lidera o maior mercado de ações, todos diariamente ameaçados pelos mercados de Tóquio,
Frankfurt, Paris, Hong-Kong e Cingapura.

Tabela 3-2: Centros Financeiros Globais (em US$ bilhões)

Nova Hong-
Descrição Ano Londres Tóquio Frankfurt Paris Cingapura
York Kong
Negócios bancários internacionais
Empréstimos externos (a) 1996 1.459 821 1.123 606 683 608 439
Bancos estrangeiros presentes,
nº sucursais, subsidiárias,
1995 536 326 153 277 114 357 185
escritórios de representação etc.
(b)
Mercado de capitais
Capitalização do mercado de
1998 1.996 11.308 2.216 *825 674 413 106
ações (c)
Giro de ações estrangeiras (d) 1997 1.191 680 2.000 46 **10 0,2 **Desp.
Gestão de ativos
Ações de propriedade de
1997 1.807 1.553 1.105 252 338 Desp. Desp.
investimentos institucionais (d)
Mercado monetário
Transações cambiais,
1998 637 350 *148 94 71 79 139
movimento. Líquido Diário (e)
Pessoal ocupado em serviços financeiros (em milhares)
Número de empregados (f) – em ñ
310 443 512 ñ disp. ñ disp. ñ disp.
milhares disp.
Nota: (*) 1997 (**) 1996. (Desp.) = Desprezível (ñ disp.) = Não disponível.
Fontes: Dados coletados em ROBERTS (2000). (a) FMI, International Financial Statistics (Washington DC, ago. 1997).
(b) Jao, Y. C., Hong Kong International Financial Center (Hong Kong: City University of Hong Kong Press, 1997). (c)
Emerging Stock Markets Factook 1998 (Washington DC, International Finance Corporation, 1998). (d) British invisible,
International Financial Markets in the UK (London, Dec. 1998). (e) Banco para Compensações Internacionais. Central
Bank Survey of Foreign Exchange (Basiléia: BIS, 1999). (f), apud Roberts (2000, p. 128).

248
Como podemos ver no Gráfico 3-8, o resultado dessas transformações foi o crescimento
acelerado do mercado financeiro, que acabou atraindo capitais alocados na produção, que buscavam
manter a liquidez até encontrarem aplicações com rendimentos compatíveis com a taxa de
reprodução capitalista. Esse processo foi chamado por ARRIGHI (1996) de “financeirização do
capital”. Esse fenômeno seria um tipo de reação do capitalismo para uma tendência de queda na
taxa de acumulação, que já havia sido observada por Marx:
46
[...] em determinadas circunstâncias, a taxa de lucro diminui na proporção em que
aumenta a acumulação de capital e cresce a correspondente produtividade do trabalho
87

social, a qual se expressa no decréscimo relativo cada vez mais acentuado da parte
variável do capital, comparada com a constante. Para produzir a mesma taxa de lucro,
se o trabalhador passa a movimentar um capital constante dez vezes maior, é mister
que decuplique também o tempo de trabalho excedente, e logo nem o tempo todo de
trabalho daria para isso, mesmo que o capital se apoderasse das 24 horas do dia.
(MARX, 1991, p. 458).

Gráfico 3-7: Participação no mercado internacional (em %)


Reino Unido EUA Japão França Alemanha

Movimento de derivativos
36 19 9 10 7
em balcão

Títulos internacionais,
75
mercado secundário.

Títulos internacionais,
60
mercado primário.

Renda de prêmios de
27 27 4 17 3
seguros de aviação

Renda de prêmios de
22 11 13 6 10
seguros marítimos

Movimento de derivativos
11 42 5 4 17
em bolsa

Transações cambiais 32 18 8 4 5

Movimento de ações
59 33 11 2
estrangeiras

Empréstimos externos 19 9 12 8 7

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, com base nos dados obtidos em: British Invisible, International Financial Markets in the
UK (1998), apud Roberts (2000, p. 131).
249
Diante dessa limitação, o capital
Gráfico 3-8: Evolução de Financiamentos e Empréstimos
buscaria, na forma financeira, manter sua líquidos no mercado internacional (1982 - 1997)
600%
integridade até encontrar novos processos de 30%
30%
% Var. Acumul. % Var. Anual
produção que garantissem taxas de lucro 24%
500%

25%
22%
compatíveis com a reprodução do capital. O 21%
400%
20%

problema é que os lugares que oferecem o 17% 17%


300%
15%
retorno necessário estão nas fronteiras do 12% 12% 12%
9% 9% 200%
capitalismo. É na África, América Latina e Ásia 10% 8% 8%
5%
que o capital encontra demanda reprimida, 5% 100%

2%
matérias-primas e mão-de-obra barata, mas junto 0% 0%

1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997
com esse pacote de benefícios estão agregados
Nota: Dados demonstrados em eixos e escalas diferenciadas.
altas taxas de riscos, característica e resultado Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, com base dos dados
obtidos em: BIS: Annual Report, (1983-98), apud Roberts
social das condições institucionais tão favoráveis (2000, p. 35).
ao capital. Para o investidor, tem sido preferível
88

manter a liquidez até que condições mais favoráveis24 possam garantir taxas de risco compatíveis
com suas expectativas, ou encontrar avalistas confiáveis, como foi, por exemplo, J. P. Morgan no
final do século XIX, que garantia os investimentos de capitalistas ingleses nos EUA. Também a
crise da dívida externa mostrou aos investidores que os Estados periféricos estavam organizados
suficientemente para reagirem aos interesses dos capitalistas financeiros, se não conseguiam anular
as dívidas, pelo menos conseguiam impor moratórias ou responder às pressões políticas, com mais
pressões indesejáveis.

3.2.5 DÍVIDA PÚBLICA

250
Além dos capitais privados, o crescimento do mercado financeiro internacional foi
acelerado pelo processo de “securitização” da dívida pública dos países que buscaram no mercado
formas alternativas de financiamento. Nesse processo certamente foram os EUA que mais
contribuíram com a explosão da dívida federal que, nos anos 1980, cresceu de forma ainda mais
rápida que nas décadas anteriores, mesmo sob o discurso monetarista e fiscalista da administração
Reagan. Segundo Chesnais (1998, p. 27), a corrida armamentista e o programa “Guerra nas
Estrelas” foram financiados às custas do crescimento da dívida pública, que passou de US$ 322
bilhões em 1970, para US$ 906 bilhões em 1980 e US$ 4.061 bilhões em 1992. Nesse cenário, o
serviço da dívida saltou de 12,7% do orçamento de 1980, para 20,1% em 1990. A grande maioria
dos países tomou igual rumo em direção aos mercados de bônus públicos que se tornou, segundo o
FMI, a “espinha dorsal” dos mercados de bônus internacionais. No Gráfico 3-9 podemos verificar
esse movimento com mais detalhes.

Gráfico 3-9: O crescimento do estoque de ativos financeiros de 1980 a 1992 (em US$ bilhões)
Divisas: 4,839

Divisas: 11,288
Ações: 10,323
T. internacionais: 1,465

T. ñ bancários: 1,844
T. públicos: 1,934

T. bancários: 1,856
Ações: 2,750
T. internacionais: 0,207

T. públicos: 8,707
T. ñ bancários: 0,489
T. bancários: 0,487

1980* 1991/1992

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados da obtidos em: Mckinsey (1994), apud Chesnais (1998, p. 27).
Nota: T. = Títulos. Montantes nominais atualizados pelas taxas de câmbio de 1992.

24
No século XIX, tais condições eram oferecidas pela “Royal Navy of United Kingdom”.
89

3.2.6 BANCOS

251
No Gráfico 3-1, podemos avaliar o impacto sofrido pelos bancos, com a entrada de novos
investidores no mercado financeiro. Para sobreviverem, os bancos tiveram que buscar um novo
desenho institucional bem como passaram a enfrentar um acelerado processo de fusões e
incorporações ditado pela nova dinâmica internacional que passou a exigir instituições com
capacidade para operar de forma integrada em escala global. Nesse período, teve início o
desenvolvimento e incorporação de novos tipos de operações financeiras, bem como de novas
tecnologias de comunicação e processamento de dados. Operações com cartões de crédito,
informatização de bancos, transmissão de dados em tempo real, caixas eletrônicos; nos EUA o
número de 5.000 caixas existentes em 1976, aumentou para 36.000 em 1984, o que na prática vinha
demolindo as fronteiras estaduais do sistema financeiro (MORAN, 1984), aumentando a pressão
sobre o poder público na direção de aprofundar a liberalização do sistema.
252
Como grandes operadores, os bancos passaram a atuar também como administradores das
carteiras dos fundos de pensão e de investimentos, buscando minimizar os riscos do mercado
financeiro internacional. Tais riscos estão relacionados à fragilidade dos controles e supervisão
institucional desse mercado que sofreu diversos abalos durante o período estudado. A própria
instituição bancária – o Banco – está longe de possuir uma estrutura padrão nos diversos países da
comunidade internacional, antes disso, seu arranjo institucional é resultado de condicionamentos
econômicos, sociais e culturais históricos de cada comunidade. Desde 1975, o BIS tem
desenvolvido esforços para estabelecer alguns padrões básicos para o setor, mas a homogeneidade
ainda está longe de ser alcançada, como podemos constatar no estudo de Ferreira, Freitas &
Schwartz (1998).
253
Esses autores desenvolveram uma extensa pesquisa entre 1989 e 1992, (ver Gráfico 3-1)
procurando analisar comparativamente a evolução do sistema financeiro internacional, com a
proposta de subsidiar o debate sobre o reordenamento institucional do sistema financeiro brasileiro.
Os autores constataram que, em 1989, a média de transações diárias com moedas estrangeiras nos
mercados do Japão, Inglaterra e EUA, era aproximadamente seis vezes maior que o volume de
1979, e cinqüenta vezes maior que a média de transações diárias de bens e “commodities” nos
mercados internacionais. Nesse cenário, constataram que, na amostra formada pelos onze países
estudados (EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, Reino Unido, Coréia do Sul, Formosa, México,
Chile e Argentina), a atividade bancária era altamente controlada e regulada e que, apesar de haver
controles específicos resultantes de particularidades históricas, havia alguns aspectos que
apontavam para uma racionalidade comum no conjunto de regulamentos desses países. Um dos
aspectos que os distinguiam era o grau de autonomia das instituições para influenciar o nível de
liquidez da economia e da regulamentação preventiva para crises de confiança.
90

Quadro 3-1: Formato institucional de bancos e instituições financeiras não bancárias (1989-1992)

Descrição EUA Alemanha França Itália Reino Unido Japão Argentina Chile México Coréia Taiwan
BANCO CENTRAL
Data de
1913 1875 1800 1893 1694 1882 1935 1925 1925 1950 ND
Criação
Propriedade do
privada pública pública pública pública mista pública pública pública pública pública
Capital
Grau de autonomia do Banco Central
Administrativa forte forte fraca moderada moderada moderada fraca forte fraca fraca ND
Técnica forte forte fraca fraca fraca fraca fraca forte fraca fraca ND
Financeira forte forte fraca forte forte forte fraca forte forte fraca ND
INSTITUIÇÕES BANCÁRIAS
Importância
dos bancos
comerciais no grande predominante predominante predominante grande predominante predominante predominante predominante predominante predominante
sistema
financeiro
Forma jurídica Pública, mas Pública, mas
predominante Exclusivamente Exclusivamente Exclusivamente em processo em processo
privada (a) pública privada Privada (*) privada (b) pública
(público x privada privada (*) privada de de
privado) privatização. privatização.
Presença de
bancos
não sim sim não não (c) não sim sim sim sim sim
“universais”
ou múltiplos
Existência de não sim sim sim sim sim não não não sim não
outras
Instituições de Bancos de
instituições Bancos
Instituições Cooperativas poupança; longo prazo,
que compõem Discount house públicos
especializadas de crédito cooperativas de cooperativas
o sistema especializados
crédito. de crédito.
bancário

Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base nas informações extraídas do Quadro 1 e 5 de Ferreira, Freitas & Schwartz (1998, p. 90-91 e 103-104).
Notas: (a) Embora inferiores em termos numéricos, os bancos públicos dominam o mercado bancário francês; (b) no Chile, há apenas um banco público: o Banco Del Estado; (c) embora não exista uma
segmentação legal da atividade financeira, os bancos britânicos não estão organizados sob a forma de banco universal ou múltiplo, atuando através de subsidiárias. (*) Informações não confirmadas.
91

254
Segundo os autores, foi possível constatar que, acompanhando a integração internacional
dos mercados financeiros, houve uma tendência para uma maior concentração nos sistemas
financeiros domésticos que produziram conglomerados financeiros para aproveitar as vantagens da
economia de escala e ampliar a participação nos mercados. Tais conglomerados seguiram diferentes
tendências, tais como: no Japão e EUA ocorreu a fusão de bancos de um mesmo país, e Alemanha,
Itália, França e Reino Unido houve fusões de bancos de diferentes países. Mas os autores também
destacam em suas conclusões que, para compreender esses diferentes sistemas, é necessário
conhecer em detalhes importantes, como por exemplo:
47
[...] as práticas e costumes negociais, tradições contratuais e institucionais, assim
como traços mais amplos que caracterizam as histórias particulares das várias nações,
geralmente sem paralelo mesmo dentro de sistemas aparentados (como os do Reino
Unido e Estados Unidos, por exemplo.) (FERREIRA, FREITAS & SCHWARTZ,
1998, p. 85).

255
No Quadro 3-1 podemos constatar algumas dessas diferenças, lembrando que o sistema
continua em transformação, e, nos anos 1990, passou a caminhar na direção dos ajustes
preconizados pelo Acordo da Basiléia, que teve impacto significativo no caso Bamerindus.

3.3 ANÁLISES E INTERPRETAÇÕES

256
Segundo Arrighi (1996), o crescimento desproporcional das operações financeiras seria
parte do ciclo econômico sob hegemonia norte-americana cujos sinais de esgotamento apareceram
na crise econômica da década de 1970 e assumiram definitivamente, nos anos 1980, as
características típicas da “financeirização” do capital. Essa massa de recursos buscaria a liquidez
por cauda do esgotamento das possibilidades de se manter taxas históricas de acumulação
necessária à reprodução capitalista. Comparado com outros momentos históricos, esse processo
terminaria no esgotamento da hegemonia norte-americana cujas conseqüências estender-se-iam
para todo o sistema capitalista internacional, provocando transformações nas estruturas econômicas
e sociais nas regiões sob sua influência.
257
Chesnais (2003) e Duménil & Lévy (2003)1 consideram que desde, meados dos anos 1980,
o capital continuou obtendo altas taxas de produtividade2, insistindo que houve elevação da taxa de
lucro principalmente em razão do desempenho da economia estadunidense. Para Chesnais, as
transformações desse período indicariam que a sociedade entrou numa nova fase do capitalismo,
que ele denomina de “regime de acumulação com dominância financeira”, resultado do processo
de liberalização do sistema financeiro, promovido pelos EUA e Inglaterra. Estaríamos vivendo uma
nova forma de dominação social das finanças, fruto de um verdadeiro “golpe de Estado” que teria
acontecido quando a taxa de juros subiu nos EUA em 1979 – o “golpe de 1979” segundo Chesnais

1
Nos Anexos apresentamos uma síntese das três etapas da mundialização financeira segundo CHESNAIS (1998).
2
Relação entre a produção e o estoque de capital fixo.
92

– teria sido o ato fundador da dominação financeira. Para o autor, estaria ocorrendo um novo
regime de acumulação, capaz de assegurar a acumulação real num longo período, como teria sido o
fordismo. Esse regime seria resultado de um conjunto de mudanças técnicas e da demanda, que
colocaram em jogo a determinação das rendas. Esse novo regime de acumulação, ao menos nos
Estados Unidos, significa que deve permanecer por algum tempo, mas ele teria relações intrínsecas
com a formação de uma “bolha financeira” criada pela especulação predatória presente nos
grandes mercados financeiros e de capitais, que teria surgido pela ausência ou fragilidade das
instituições reguladoras. Nesse contexto, o autor chama a atenção para o caráter potencialmente
explosivo dessa situação e se interroga sobre o tempo de duração de tal regime sujeito a crises
recorrentes.
258
Duménil & Lévy (2003) chamam a atenção para o que denominam como “processo de
socialização da produção”, quando a dialética das forças produtivas e as relações de produção
geraram metamorfoses na propriedade capitalista, transformando suas diversas formas jurídicas e
promovendo a delegação da gestão e da organização aos administradores profissionais assalariados.
Para os autores, o neoliberalismo seria uma forma de prosseguir com essas transformações, ao
promover a transferência da propriedade para grandes instituições financeiras administradas por
especialistas. Sob esse prisma, a luta de classes e suas relações com o Estado produziriam grandes
conjunturas históricas, determinadas pelos arranjos de poder das classes ou segmentos de classe no
poder – a hegemonia financeira liberal do início do século XX teria sido sucedida pelo modelo
keynesiano, que resistiu até os anos 1970, sendo progressivamente substituído por um novo período
sob a hegemonia financeira neoliberal. Para Duménil & Lévy tais transformações estariam
relacionadas tanto com as grandes crises estruturais como com a dinâmica da mudança técnica e da
distribuição, que produziram flutuações na taxa geral de lucro. Segundo ele, desde o início dos anos
1980 estaria havendo uma recuperação da taxa de lucro que seria expressão de tendências e
contratendências inerentes ao capitalismo.
259
Mas diferente de Chesnais, Duménil & Lévy reconhecem que ainda sobrevivem
instituições keynesianas no plano nacional e que, em caso de crise financeira, podem produzir
respostas políticas diferentes daquela dos anos 1930, e, no plano internacional, a hegemonia
financeira é a parte mais frágil se confrontada com o poder nacional em momentos de crise.
260
Já Wallerstein (2003) entende que a economia dos principais países capitalistas estaria
passando pela fase descendente de um ciclo de Kondratiev3 iniciado no pós-Segunda Guerra
Mundial, e relaciona esse processo financeiro como a contrapartida da queda da rentabilidade do
capital real. O declínio das oportunidades de lucro na esfera produtiva induziria os capitalistas a

3
“Os ciclos de Kondratiev são ciclos relativamente longos que reúnem uma fase de expansão e uma fase de contração da
economia (fases A e B). A duração aproximada de cada fase é de 25-30 anos. [...] As fases distinguem-se principalmente
pela prevalência do pleno emprego ou do desemprego, pela preponderância da produção ou de investimentos financeiros
como fonte principal de lucro, pela prioridade dada à minimização dos custos de transação ou à minimização do custo da
força de trabalho, pelo aperfeiçoamento das técnicas existentes ou pela inovação na produção”. (WALLERSTEIN, 2003, p.
72)
93

transferirem seus capitais para investimentos financeiros especulativos; sendo esta uma
característica geral da fase descendente de um ciclo de Kondratiev. O autor identifica que a
“revolução mundial de 1968” e a crise do dólar no início dos anos 1970 seriam indícios de uma
crise estrutural que indicariam uma diminuição da hegemonia militar e política dos EUA — cujo
poder estaria relacionado com a prosperidade econômica no pós-guerra.
261
O autor enfoca esse período dentro de tendências seculares e ondas longas, quando o
capitalismo enfrentaria três grandes tendências: (1) a desruralização / urbanização, (2) o
esgotamento ecológico e (3) a democratização. Essas tendências aumentariam o custo do trabalho,
dos fatores de produção e dos impostos. Para enfrentar os custos salariais crescentes, os capitalistas
tenderiam a deslocar a produção para zonas rurais com menores salários. Esse movimento
encontraria limites, na medida em que essas populações se urbanizam e aprendem a desenvolver
mecanismos de proteção e ação política na defesa de seus interesses. A atividade capitalista
também provoca o esgotamento e poluição do meio ambiente cujos limites são atingidos com o
tempo, pelo crescimento dos movimentos de oposição. Tais lutas produzem uma democratização
das relações sociais que geram custos crescentes para suportar investimentos sociais. Nesse cenário,
tais tendências pressionam os lucros em direção aos limites do processo de acumulação capitalista.
Esses movimentos fariam parte de uma dinâmica histórica, que poderia ser dividida em períodos de
grandes flutuações – os ciclos de Kondratiev – caracterizados por sucessivas fases ascendentes e
descendentes, em busca do equilíbrio. Para o autor, o período em estudo poderia ser identificado
como final de uma fase descendente de uma etapa muito avançada de tendências seculares.
262
Tanto Chesnais como Duménil & Lévy reconhecem uma certa similaridade entre o período
da hegemonia inglesa e o atual, principalmente com relação ao processo financeiro que parece ter
invadido todas as instâncias sociais. No capítulo anterior, havíamos identificado esse processo de
hegemonia financeira no âmbito dos grupos econômicos, e podemos verificar agora que esse
fenômeno está relacionado com um movimento maior, na esfera macroeconômica e das relações
internacionais. O processo de acumulação capitalista estaria passando por uma transformação no
seu arranjo institucional, como resposta para os desafios impostos pelas lutas entre as classes e
intraclasse.
263
Não podemos deixar de notar que, apesar do discurso monetarista e neoliberal, as ações do
governo dos EUA, nesse período, lembram muito os velhos rebeldes dos Sr. Andrew Jackson – que
clamavam por dinheiro fácil e barato bem como liberdade financeira. A fragilização das instituições
reguladoras, o déficit orçamentário dos EUA, a abundância da oferta de dólares e a facilidade do
crédito parece invocar outros momentos históricos similares como, guardadas as devidas
proporções, o “encilhamento” do Sr. Ruy Barbosa em 1889, analisado por Furtado (1999) e que
veremos na seqüência deste trabalho; ou as idéias de John Law, observada por Adam Smith em
94

1776 (SMITH, 1985, p. 275)4 e suas experiências na Paris de 1719, descrita em Galbraith (1983, p.
166-172).
264
Ao que parece, a arena financeira estaria sendo desobstruída nos moldes do que fizeram os
rebeldes norte-americanos no século XIX, buscando, através do liberalismo, abrir espaço para um
novo ciclo revolucionário capitalista. O regime financeiro administrado junto com o modo de
produção fordista, entre outros, formavam a base da estrutura keynesiana, que teria se esgotado
como modo de acumulação capitalista. De certa forma, a rigidez dessa estrutura e seus mecanismos
de proteção estariam bloqueando ou atrapalhando a expansão capitalista na direção de novas
fronteiras de acumulação e, nesse processo, a liberdade financeira seria um dos principais
instrumentos para romper barreiras e resistências organizadas.
265
Outro aspecto que consideramos importante é o peso específico que os fundos de pensão
assumiram no sistema financeiro. Como massa de recursos é propriedade dos trabalhadores; esse
tipo de instituição internaliza a contradição capital / trabalho e compete com a burguesia capitalista
pela propriedade dos meios de produção. Em tese, esse arranjo institucional privado deveria
transferir para os próprios trabalhadores a responsabilidade pela extração da mais-valia, assumindo
assim o papel do capitalista. Resta saber por quanto tempo a instituição conseguiria conviver com
tal paradoxo interno, e desempenhar um papel tão esquizofrênico.
266
Empiricamente, o que se observa é que a transferência dos fundos de pensão para a esfera
privada, além de ter retirado do Estado o controle direto de uma importante fonte histórica de
recursos, delegou grande parte da gestão para organizações financeiras especializadas que, em
última análise estão sob o controle da burguesia capitalista. Se antes o trabalhador podia reivindicar
seu direito de aposentadoria ao Estado, hoje esse direito estaria sujeito às regras do sistema
financeiro e à “competência técnica” das organizações que fazem a gestão das carteiras de
investimentos. Ao que parece, a futura aposentadoria estaria assegurada pela lógica matemática do
Doutor Price, mencionada por Marx (1991, p. 451-455).
267
Vamos ver na seqüência deste trabalho, que José Eduardo atuou no Senado engajado na
reforma da previdência, propondo a criação de um novo desenho institucional privado para os
fundos de pensão, tendo também apresentado um projeto de lei sobre o assunto. Também veremos
que os fundos “privados” brasileiros tiveram um papel fundamental no processo de privatização das
empresas estatais, no qual o Bamerindus foi um ativo e importante ator; ou então no socorro de
empresas privadas. Apesar da grande importância dos fundos, o reduzido espaço desta tese nos
impede de aprofundar a análise sociológica desse tipo de instituição, mas deixamos algumas
questões que acreditamos serem fundamentais para futuras pesquisas sobre o seu papel histórico
nas transformações sociais contemporâneas, tais como:
268
1) Verificar se existem relações entre a privatização desses fundos nos grandes centros

4
Fonte: SMITH, Adam. (1776) A riqueza das nações. Sobre sua natureza e suas causas. Vol. 1, 2 ed. São Paulo: Nova
Cultural, 1985.
95

capitalistas e o aumento da dívida pública, e seus efeitos multiplicadores e indutores da especulação


financeira.
269
2) Verificar a hipótese que, a privatização desses fundos possa ter transformado a
contribuição para aposentadoria em mais um mecanismo disfarçado de extração da mais-valia.
270
3) Identificar quais são as organizações especializadas contratadas para gerir os principais
fundos de pensão, bem como conhecer a rede de conexões intercorporativa dos dirigentes dessas
empresas e seus acionistas controladores.
271
Finalmente, não poderíamos deixar de observar que, num contexto mais amplo, a
financeirização das relações sociais, em contraposição ao determinismo do planejamento estatal,
coloca na base da organização social a realidade probabilística dos mercados financeiros. O futuro
não depende mais de equações compostas por variáveis de natureza determinada, mas aleatórias.
272
Acreditamos que neste reduzido espaço conseguimos apenas esboçar o cenário das
transformações do sistema financeiro internacional, tendo sido possível identificar algumas das
principais questões que irão auxiliar nossa jornada rumo ao caso José Eduardo e o Bamerindus.
Seguimos agora para conhecer com mais detalhes as transformações que ocorreram no sistema
financeiro brasileiro e suas conexões com o cenário internacional. Neste momento é importante
destacar que, no Brasil, as características mais marcantes desse período foram: o crescimento
desmedido da especulação financeira e da inflação, descontrole monetário, planos de estabilização
e, nos últimos anos, a histórica transferência do controle de grandes grupos econômicos e
financeiros estatais e privados para o controle de outros grupos tanto nacionais como estrangeiros.

3.4 PARTE II: O SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO

3.4.1 PERÍODO: 1808 A 1979

273
Oficialmente o sistema financeiro começou no Brasil com a criação do Banco do Brasil
(BB) em 12 de outubro de 1808 por determinação de D. João VI. O banco tinha como objetivo
facilitar “[...] os meios e os recursos de que as rendas reais e as públicas necessitarem para ocorrer
às despesas do Estado”. Quando iniciou suas atividades, em 11 de novembro de 1809, tinha como
principais operações: desconto de letras de câmbio, depositário de prata, ouro, diamante, ou
dinheiro; emissão de letras ou bilhetes pagáveis ao portador à vista e, o monopólio na comissão da
venda de diamantes, pau-brasil, marfim e urzela5. Quando Dom João VI voltou para Portugal em
1821, levou consigo as reservas metálicas do banco, deixando um déficit maior que seu capital e
um lastro metálico que cobria apenas 20% do valor nominal de suas notas; além do que, o BB teve
que financiar a Guerra da Independência. Mais tarde, em 1829, sob forte pressão da oposição

5
Fonte: SENADO FEDERAL. História do Banco do Brasil. Brasília: Congresso Nacional, [1999]. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/web/historia/bb.htm>. Acesso em: 11 mar. 2004..
96

política, o banco foi fechado e seu déficit coberto pelo Tesouro.


274
Em 1831, foi criada a primeira caixa econômica, no Rio de Janeiro, que acabou não tendo
sucesso e, em 1833 ocorreu uma tentativa para recriar o segundo Banco do Brasil que também
fracassou, pois não conseguiu integralizar o capital necessário6. No ano seguinte, comerciantes da
Bahia, liderados por Miguel Calmon Du Pin e Almeida – bisavô de Ângelo Calmon de Sá, criaram
a Caixa Econômica da Cidade da Bahia, que funcionou irregularmente por 25 anos. Em 1838, foi
criado o Banco Comercial do Rio de Janeiro e, mais tarde, em 1851, Irineu Evangelista de Souza –
Visconde de Mauá, fundou no Rio de Janeiro um banco privado de depósitos e descontos com o
nome de Banco do Brasil (considerado como o terceiro BB), cujo valor do capital era o maior entre
as instituições bancárias da América Latina7. A sua fusão em 18538 com o Banco Comercial do Rio
de Janeiro consolidou o empreendimento e possibilitou sua expansão para vários Estados. Em 1863
os primeiros bancos estrangeiros chegaram ao Brasil, o London & Brazilian Bank e o The Brazilian
and Portuguese Bank, que se instalaram no Rio de Janeiro.
275
Segundo Furtado (1999), em 1890 aconteceu uma das mais interessantes experiências
financeiras da história brasileira, quando Marechal Deodoro da Fonseca assumiu o governo
provisório e nomeou Rui Barbosa para o primeiro Ministério da Fazenda, cargo que ocupou durante
14 meses. Ao assumir, Rui decretou o que seria o “primeiro pacote econômico” da República. Seu
objetivo era promover a industrialização e incentivar o crescimento econômico através da liberação
do crédito e emissão da moeda. Pretendia superar a escassez de moeda, que havia sido agravada
pelo crescimento do trabalho assalariado, resultante do fim da escravidão e da maciça chegada de
imigrantes. O debate político girava entre os “metalistas” que defendiam o padrão ouro e os
“papelistas” que reclamavam pela liberdade na emissão da moeda.
276
No dia 17 de janeiro de 1890 foi decretada a reforma bancária que estabelecia as emissões
de moeda por três instituições bancárias regionais, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul,
lastreadas em títulos da dívida pública. Também se criou o Banco dos Estados Unidos do Brasil
(BEUB), e determinou-se que cada região bancária deveria expandir o crédito e estimular a criação
de novas empresas. A oposição logo tratou de chamar a política pelo nome de “Encilhamento”,
vinculando sua imagem às apostas que aconteciam no hipódromo. O resultado foi uma grande
euforia industrial-financeira e inflação, que levou o Brasil a passar por uma das
48
[...] maiores transformações sócio-econômicas que conheceu a história de nosso país.
Tivemos o rápido avanço do sistema de trabalho assalariado que, combinado com o
declínio do regime escravista, modificou, profundamente, o perfil social do Brasil.
(FURTADO, 1999).

277
Com a República teve início o processo de descentralização do poder estatal, abrindo

6
Lei nº 59, de 08 out. 1833.
7
Fonte: BANCO DO BRASIL S.A. Relações com Investidores. Retrato da Empresa. História do BB. Linha do tempo, 1851.
Brasília, [2002]. Disponível em: <http://www.bb.com.br/appbb/portal/ri/ret/HistoriaBB.jsp#1851>. Acesso em: 18 mar.
2005..
8
Lei nº 683, de 05 jul. 1853.
97

espaço para aumentar a influência política das novas regiões incorporadas ao capitalismo brasileiro
como São Paulo, rompendo o domínio das classes que governavam as regiões mais antigas,
particularmente do Nordeste. Apesar de, no seu tempo de oposição, Rui defender o padrão-ouro, no
Governo fez exatamente o contrário, abrindo espaço para o processo de “modernização” do país.
Rui dizia, em 15 de novembro de 1889, no dia da proclamação da República que:
49
Em vez de organizar solidamente o crédito agrícola, proporcionando nele, à indústria
do solo, os meios naturais de sua reconstituição, a monarquia, incuravelmente
corruptora, preferiu constituir um mecanismo passageiro, de fins notoriamente
eleitorais, destinado a estimular os apetites da indigência, explorando a situação
aflitiva da classe empobrecida, mediante um regime de empréstimos, que vinham
dessangrar, inutilmente, o crédito público, satisfazendo, quando muito, os credores da
lavoura, sem fomentar o desenvolvimento da produção. (FURTADO 1999).

278
Dois meses após assumir o ministério, Rui decretou exatamente o que o gabinete Ouro
Preto pretendia fazer, só que de forma um pouco mais radical, pois o Decreto de reforma bancária
permitiu também que os bancos pudessem ter oficinas próprias para a impressão de seus bilhetes,
regionalizando e privatizando o controle da emissão do papel moeda. No mesmo ano o Governo
aprovou a Lei do Similar Nacional, dando início à política de substituição de importações, que,
quarenta anos depois, levou o Brasil a engajar-se na industrialização, “[...] concebendo assim um
novo projeto para o Brasil”. (FURTADO 1999).
279
Diante da hegemonia financeira inglesa baseada no padrão-ouro, já que a Inglaterra
dispunha de reservas em ouro que correspondiam a quase 100% do papel-moeda emitido, o Brasil
tomou a mesma direção que os liberais norte-americanos haviam trilhado no início do século, ao
combaterem o controle bancário centralizado e restrições à emissão de moeda:
50
O modelo que era o gold Standard implicava um custo considerável para as
Economias que dependiam da exportação de alguns poucos produtos primários. Isso
aqui merece explicação. Quando você tinha um controle tão completo da liquidez, isto
é, da emissão de papel moeda ou de uma política monetária ortodoxa do gold
Standard, por exemplo, você precisava ter lastro. Todavia, decorre de você ter
flexibilidade na sua Economia, nas suas exportações. Ora, uma Economia, que exporta
um produto só, tem uma grande rigidez, como era o caso do Brasil. Portanto, você não
poderia ter o comportamento exigido pelo gold Standard. Você teria que adotar uma
política de flexibilidade, e não ter tanto medo da emissão de papel moeda, como
tinham aqueles que estavam ligados ao gold Standard. (FURTADO 1999)

280
Com a expansão do crédito, a República promoveu o surgimento de novos
empreendimentos em todo o país. Segundo Furtado:
51
[...] o que fez Rui foi certo, embora este não soubesse o que estava fazendo [...] A
brusca expansão da renda monetária pressionou a balança de pagamentos, provocando
depreciação cambial. O preço médio das exportações em moeda local dobrou,
incentivando os investimentos nas novas áreas de colonização e estimulando a
produção de borracha na Amazônia, entre outras coisas. Essa ampla redistribuição de
renda rompeu as amarras do imobilismo da época e permitiu superar a obsessão com a
conversibilidade cambial. (FURTADO 1999)9.

9
Em Botelho (2002) encontramos uma análise crítica da interpretação de Celso Furtado para a crise cambial do encilhamento.
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
98

281
Mas a inflação que se seguiu levou o governo a determinar o bloqueio de emissões de
moeda, o que gerou uma grave crise econômica e a demissão de Rui, em 20 de janeiro de 1891.
Deodoro teve que renunciar em 23 de novembro ameaçado de deposição pelo vice-presidente
Marechal Floriano Peixoto que, assumindo a presidência, iniciou a contra-reforma em 1892,
tentando estabilizar a moeda, mas acabou provocando uma grande recessão.
282
O quinto Banco do Brasil foi criado em 1906, produto de nova fusão: o Banco do Brasil de
1853 com o Banco da República do Brasil10, constituindo o que seria o atual Banco do Brasil. Três
anos depois, em 1909, foi criado o Banco de Crédito Hipotecário e Agrícola de São Paulo, voltado
para o financiamento da atividade cafeeira no Estado. Controlado pela casa bancária francesa
Joseph Loste & Cie, sua criação decorreu da iniciativa do então secretário da Fazenda do Estado,
Olavo Egydio de Souza Aranha – que mais tarde criaria o Banco Itaú – o novo banco tinha como
segundo maior acionista o Banco do Comércio e Indústria de São Paulo e o terceiro, o governo
estadual.
283
O crescimento do sistema bancário, durante a República Velha, levou o Governo Federal a
criar, em 1920, a Inspetoria Geral dos Bancos11 e, em 1921, o regulamento para a fiscalização dos
bancos e das casas bancárias. Também nesse ano começou a funcionar o sistema de compensação
de cheques, quando foi criada a Câmara de Compensação do Rio de Janeiro. No ano de 1924,
surgiu a Seção Bancária Moreira Salles e Cia., em Poços de Caldas (MG), que mais tarde viria a
tornar-se o Unibanco e, no ano seguinte, Clemente Soares Faria criou uma Cooperativa de Crédito,
instituição que daria origem ao poderoso Banco da Lavoura de Minas Gerais (BLMG)12. Nessa
época, o Banco de Crédito Hipotecário e Agrícola de São Paulo teve sua denominação alterada para
Banco do Estado de São Paulo (Banespa), bem como passou a financiar também a indústria e o
comércio e, em 1926, foi nacionalizado quando o governo do Estado de São Paulo comprou o
controle acionário da instituição. Enquanto isso, no Paraná, em 1926, Miguel Vieira e seu filho
Avelino Antônio Vieira abriam uma seção bancária na casa comercial da família em Tomazina
(PR). Tal experiência possibilitou que três anos depois, em 1929, o empreendimento reunisse um
grupo local de capitalistas e criassem o Banco Popular e Agrícola do Norte do Paraná (BPANP).
284
O crescimento do sistema financeiro no período pode ser avaliado pela criação da Câmara
de Compensação de São Paulo, em 1932, as Caixas Econômicas Federais, em 1934, o Banco de
Crédito da Borracha – que em 1966 recebeu o nome de Banco da Amazônia S.A. (Basa) – o Banco
Mineiro da Produção, em 1937, cuja fusão com o Banco Hipotecário e Agrícola, em 1967, resultou
no Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge).

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Segundo o autor, a interpretação de Furtado é equivocada e conclui ser o comportamento adverso da conta capital o
responsável pela deterioração do balanço de pagamentos, com impactos diretos sobre o câmbio.
10
Decreto nº 1.455, de 30 dez. 1905.
11
Artigo 5º do Decreto nº 4.182, de 13 nov. 1920, artigo 2º da Lei nº 4.230, de 31 dez. 1920, e o Decreto nº 14.728, de 16 mar.
1921.
12
Em 1971 os herdeiros de Clemente Faria transformaram o BLMG em dois bancos: Banco Real e o Banco Bandeirante.
99

285
Em 1942, o governo federal fechava o Banco Alemão Transatlântico por seu envolvimento
com o partido nazista e, no ano seguinte, a família Lupion fundava na sede do Transatlântico em
Curitiba, o Banco Meridional da Produção (BMP) – futuro Bamerindus. Nesse mesmo ano, em
Marília (SP), um grupo de capitalistas transformava a Casa Bancária Almeida no Banco Brasileiro
de Descontos (Bradesco). Convidado para liderar a empreitada, Amador Aguiar logo no início
estabeleceu como estratégia atrair pequenos comerciantes, funcionários públicos, pequenos
poupadores, que não recebiam a atenção dos grandes bancos da época. Também nesse ano, Herbert
Victor Levy fundou e assumiu o cargo de diretor-superintendente do Banco da América e, o então
jovem José de Magalhães Pinto, que ocupava o cargo de diretor do Banco da Lavoura de Minas
Gerais e presidente da Associação Comercial, foi demitido por ter assinado o Manifesto dos
Mineiros contra a ditadura Vargas. Em resposta, no ano seguinte, ele e um grupo de amigos criaram
o Banco Nacional, reunindo como sócios importantes empresários e políticos dissidentes. Também
em 1944, o Banco Comercial do Paraná (BANCIAL) incorporava o BPANP e a família Vieira e seu
grupo assumiam algumas Diretorias do banco.
286
Apesar de ser considerada como data oficial de sua criação o ano de 1945, o Banco Itaú
teve sua origem na Itaú Seguros, fundada em 1921, por um grupo de empresários italianos, com o
nome de Companhia Brasileira de Seguros Geraes. Em 1936 o controle acionário da Seguradora foi
transferido para um grupo de empresários brasileiros, coordenado por Alfredo Egydio de Souza
Aranha, e o nome da instituição foi alterado para Seguradora Brasileira. Alfredo Egydio fundou, em
1945, o Banco Central de Crédito com capital social de US$ 513 mil (10 milhões de Cruzeiros, na
época), com uma agência, seis caixas, 12 funcionários e dois telefones. Mais tarde, Alfredo Egydio
convidou seu sobrinho, Olavo Egydio Setúbal, para reestruturar o então Banco Federal de Crédito,
sucessor do Central de Crédito.13
287
Também em 1945 foi criada a Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc)14, com a
função de exercer o “controle do mercado monetário”, recebendo do Banco do Brasil as atribuições
da Carteira de Redesconto15 e da Carteira de Mobilização e Fiscalização Bancária.16 Dirigida por
um Conselho presidido pelo Ministro da Fazenda, a Sumoc ficou responsável pela política
monetária, mas na prática não tinha controle sobre sua execução. Vários órgãos executavam a
política de forma descentralizada e, entre eles, o BB que concentrava a maior parcela de
responsabilidade através da Carteira de Redesconto (Cared) e Câmbio e Comércio Exterior
(Cacex). Já a Caixa de Mobilização Bancária (Camob) era uma instituição administrada pelo diretor
da Cared; e a Caixa de Amortização era subordinada ao Ministério da Fazenda. A Caixa de
Amortização emitia moeda quando solicitada pela CARED ou pela CAMOB, após autorização da

13
Fonte: BANCO ITAÚ S.A. Conheça o Itaú. História do Banco Itaú Holding Financeira S.A. São Paulo, [2004]. Disponível
em: <http://ww2.itau.com.br/carreira/geral/conheca.asp>. Acesso em: 04 abr. 2004..
14
Decreto-Lei nº 7.293, de fevereiro de 1945.
15
Criada pela Lei nº 4.182, de 15 nov. 1920, alterada pela Lei nº 4.230, de 31 dez. 1920, e pelo Decreto nº 19.525, de 24 dez.
1930.
16
Criada pelo Decreto nº 21.499, de 09 jun. 1932, alterado pelo Decreto-lei nº 6.419, de 13 abr. 1944.
100

Sumoc.
288
Em 1946, a matriz do Bradesco era Gráfico 3-10: Nº de agências por bancos em 1950.
transferida para o centro da capital paulista e, 300 277
suas agências passaram a receber pagamento
250

de contas de luz, o que na época foi


considerada como inovação.17 Segundo Costa 200

138
(2002b), após a Segunda Guerra, o número 150

de bancos foi reduzido de 663 em 1944 para 75


100 66 62 60
328 em 1964. Nesse mesmo período, cresceu
o número de filiais e agências que passaram 50

de 1.796 para 6.389. Também observa o 0

Banco do Lavoura Mercantil Bradesco Banespa Agrícola


autor que, em 1950, somente 13 bancos Brasil SP Mercantil
brasileiros contavam com mais de 50 Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, com base nos dados obtidos
em COSTA (2002b, p. 5).
agências e filiais (ver Gráfico 3-10).
289
No ano de 1952, era criado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE)18,
com o objetivo de suprir a demanda por financiamentos de longo prazo para empreendimentos
voltados para o desenvolvimento do país. Também nesse ano, Avelino A. Vieira e um grupo de
capitalistas que haviam saído do Bancial no ano anterior, adquiriram, da família Lupion, o controle
do Banco Meridional da Produção S.A. e mudaram o seu nome para Banco Mercantil e Industrial
do Paraná (Bamerindus).
290
O grande marco da história bancária brasileira ocorreu logo após o golpe militar, com
novas leis que reformaram o sistema financeiro. A Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 196419
regulamentou o Sistema Financeiro Nacional (SFN), criou o Conselho Monetário Nacional (CMN),
o Banco Central da República do Brasil (BCRB) e estabeleceu novas atribuições para outras
instituições financeiras. Nesse mesmo ano, também foi criado o Sistema Financeiro da Habitação
(SFH) que passou a contar com uma estrutura formada pelo Banco Nacional da Habitação (BNH)20,
o Instituto da Correção Monetária para Contratos Imobiliários, as Sociedades de Crédito
Imobiliário, as Letras Imobiliárias e o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo. Para financiar o
SFH, a Lei nº 5.107, de 13 de setembro de 1966, criou o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS), substituindo a instituição da estabilidade no emprego – promovendo assim a flexibilização
e financeirização de uma parte importante das relações de trabalho.
291
O BCRB começou a operar em abril de 1965, sucedendo a Sumoc e tirando muitas das

17
Fonte: BANCO BRADESCO S.A. Relações com Investidores. História. Osasco, São Paulo, [2002]. Disponível em:
<http://www.bradesco.com.br>. Acesso em: 04 abr. 2005.
18
Lei nº 1.628, de 20 jun. 1952.
19
Grande parte da legislação que disciplina o Sistema Financeiro Nacional foi extraída de: BACEN - Banco Central do Brasil.
Legislação e normas. Brasília, [2003]. Disponível em: <http://www5.bcb.gov.br/?LEGISLACAO>. Acesso no período
2000-2006.
20
Lei nº 4.380, de 21 ago. 1964.
101

funções que estavam concentradas no Banco do Brasil. A reforma, além de extinguir a Caixa de
Amortização, a CARED e a CAMOB, transferiu do BB para o BCRB a fiscalização bancária, a
política cambial e a administração das reservas internacionais. Em 14 de julho desse mesmo ano,
foi promulgada a Lei nº 4.728 que regulamentava o mercado de capitais. Na esteira das reformas do
sistema financeiro, em 1966, foi criada a figura do banco de investimento21 e, em 1967, o CMN,
através da Resolução nº 63, de 23 de agosto, autorizou os bancos a captarem empréstimos no
exterior para serem repassados às empresas no país. Também nesse ano, o Decreto-Lei nº 278
alterou a denominação do BCRB para Banco Central do Brasil (Bacen) que, ao longo do tempo,
acabou agregando diferentes funções, como as de fomento, subsídio a setores da economia ou
regiões do país e, fiscalização de consórcios de automóveis. Mas entre suas atribuições mais
importantes estavam, as competências para conceder autorização para a abertura de novas
instituições financeiras, fiscalizar estas instituições e aplicar penalidades. Originalmente a criação
do Bacen visava conferir autonomia às Autoridades Monetárias em relação ao Governo Federal,
sendo sua diretoria composta por quatro membros escolhidos entre os seis membros do Conselho
Monetário Nacional que tinham mandatos fixos de seis anos. Mais tarde, o AI 522 suspendeu as
garantias legais dos membros com mandato fixo.
292
Em 1969, o Banco da América, de Herbert Levy se fundia ao Banco Federal Itaú Sul
Americano, surgindo assim o Banco Itaú América, que mais tarde foi transformado no Banco Itaú.
No ano seguinte, foi criada a Caixa Econômica Federal (CEF) como empresa pública e ocorreu a
cisão do Banco da Lavoura de Minas Gerais cujo patrimônio foi dividido entre os dois filhos de
Clemente de Faria, surgindo assim o Banco Real e o Banco Bandeirante. O Banco da Lavoura de
Minas Gerais era, até 1964, o maior banco privado em funcionamento no Brasil e na América
Latina. Em 1957 tinha 376 agências distribuídas por todo o país, do Amapá ao Rio Grande do Sul.
Tendo sido o primeiro banco privado brasileiro a abrir, em 1958, escritórios em Nova York e Paris.
293
Quanto ao Bacen, no mês de maio de 1974, era promulgada a Lei nº 6045 que permitia ao
Presidente da República demitir seus diretores, e na época o banco dividia as funções de autoridade
monetária com o BB. Com essa lei, o governo federal reduzia consideravelmente a autonomia do
Bacen. Sobre esse tema Eduardo Lundberg23 observou que:
52
[...] o desenho original do Banco, na Lei 4.595, de 31/12/1964, previa a independência
do BC. O regime militar, porém, atropelou a separação das instâncias fiscal e
monetária. O resultado foi a transformação do BC num instrumento para gastos e
subsídios creditícios “à margem do que era aprovado nas leis orçamentárias anuais
aprovadas pelo Congresso Nacional”, nos termos de Lundberg. O Banco do Brasil foi
mantido como autoridade monetária, com mando automático sobre os recursos do BC
através da “conta movimento”. O orçamento do BC, por sua vez, passou a acolher
subsídios à agricultura, a exportações, a importações de trigo e petróleo etc. Tendo a

21
Resolução nº 18, de 18 fev. 1966, do CMN, à luz do artigo 29 da Lei nº 4.728, de 14 jul. 1965.
22
Ato Institucional nº 5 de 13 dez. 1968.
23
Palestra proferida em agosto de 2001 durante um fórum organizado pelo Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco
Central (SINAL). Eduardo Lundberg era funcionário do banco. Fonte: CANUTO, O. A dialética da dependência do BC:
autonomia operacional do banco central culminaria separação fiscal-monetária. IE - UNICAMP. In: OESP, 21 ago. 2001..
102

faculdade de emitir títulos públicos e adiantar recursos ao Tesouro, dissolveu-se no


lado fiscal do governo. (CANUTO, 2001).

294
Ao longo de sua existência, o Bacen realizou centenas de intervenções24 e, segundo a
revista Veja (21 fev. 1996)25, das aproximadamente 600 empresas financeiras que até 1996
sofreram intervenção do banco, 129 permaneciam num departamento especial do Banco Central
conhecido internamente como “cemitério”:
53
[...] faz parte do anedotário do BC a decisão do ex-presidente Emílio Garrastazu
Médici, que pagava para não ver banco quebrar. “No meu governo não quero
nenhuma liquidação de banco”, teria dito Médici, numa reunião com seu ministro da
Fazenda Delfim Netto [...] e o então presidente do BC, Ernane Galvêas. Naquela
reunião discutia-se a necessidade de uma intervenção no (grupo) Halles [...] VEJA (21
fev. 1996).

295
Segundo a reportagem, a família de Médici e alguns amigos haviam perdido dinheiro nos
anos 1960, com a Cooperativa de Crédito Mauá, de Bagé. O Bacen somente decretou a intervenção
no grupo Halles no início do governo Geisel. Também segundo VEJA, o Banco União Comercial
(BUC)26, criado por Roberto Campos, teria sido protegido por Médici durante algum tempo do seu
governo, tendo o Bacen dado suporte à instituição enquanto ela continuava operando e pagando
empréstimos que tinha com bancos internacionais. Em 1974, o novo governo decidiu intervir,
transferindo para o Itaú a parte “boa” do BUC, ficando o Bacen com a outra parte e que, segundo
consta, ainda em “[...] 1991 pagava a faxineira que uma vez por semana limpava a casa que serviu
para recreio dos diretores do União Comercial em Campos do Jordão [...]” (VEJA, 21 fev. 1996).
Em março do ano seguinte, o Bacen teve que intervir no Banco Ipiranga de Investimentos S.A. e na
Coenge S.A. Engenharia e Construções. Tais intervenções abalaram o mercado financeiro e ficaram
na história como grandes escândalos, com profundas conseqüências para todos o sistema. Nos
próximos capítulos veremos que, nessa época, o Bamerindus incorporou o Bancial.
296
Nesse quadro temos que incluir a questão da dívida externa; os déficits em conta corrente
acumulados com a primeira crise do petróleo em 1973 foram os principais fatores que contribuíram
para o crescimento da dívida externa brasileira nos anos 70. A oferta de crédito internacional,
abundante e de baixo custo, levou o governo Ernesto Geisel, a partir de 1975, a aproveitar o
momento para financiar o ajuste econômico ao novo cenário internacional. Denominado como o
segundo Programa Nacional de Desenvolvimento (II PND), o plano era voltado para o
financiamento de projetos para substituição de importações, buscando produzir o que fosse possível
para aliviar a pressão sobre as importações.
297
Também durante os anos 1970 ocorreu o apogeu do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA),

24
As informações sobre intervenções do Bacen estão disponíveis em: BACEN - Banco Central do Brasil. Relação de
intervenções do Banco Central do Brasil (1945-2000). Brasília, [2004]. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br>. Acesso
em: 15 mar. 2005.
25
Fonte: A fraude passou por baixo das pernas destes nove cavalheiros. VEJA , ed. 1433 de 21 fev. 1996, p. 82-8; A
quebradeira, desde dom João VI. O BC já interveio ou fechou quase 600 instituições. VEJA, ed. 1433, 21 fev. 1996, p. 82-8.
Disponível em: <http://veja.abril.com.br/idade/em_dia/nacional_capa1.html>. Acesso em: 04 abr. 2005.
26
Para conhecer mais detalhes sobre os casos: Banco Halles e o BUC, ver Assis (1983).
103

quando recursos do Fundo de Exportação e a política de crédito rural financiaram, com


empréstimos subsidiados, o parque industrial e a lavoura, beneficiando principalmente os grandes
produtores. O Fundo de Exportação tinha como origem de recursos o confisco cambial sobre as
exportações do produto, formado pela diferença entre o preço interno pago pelo IAA aos
produtores, e o preço que recebia do mercado internacional pelas exportações. O ciclo de grande
alta no mercado internacional do açúcar, em 1974/75, foi seguido por um período de declínio dos
preços levando ao esgotamento das linhas de crédito do IAA e lançando todo o setor numa grave
crise de liquidez e redução dos investimentos.
298
Entre as empresas do setor estava o Grupo Atalla, controlador da Copersucar que, na época,
produzia aproximadamente 40% do açúcar brasileiro e 58% do álcool. Segundo ASSIS (1983),
quando os preços começaram a declinar no mercado internacional, o Grupo estava engajado no
projeto da Usina Central do Paraná, uma das maiores do mundo, financiado com um empréstimo no
valor de Cr$ 500 milhões – aproximadamente US$ 80 milhões ao câmbio da época. Diante da crise,
o grupo decidiu reter os pagamentos dos empréstimos. Quando o novo ministro Mário H. Simonsen
assumiu e teve que enfrentar a grave crise de liquidez que atingia o setor bancário, decidiu não
facilitar novos créditos ao Grupo, o que levou Jorge Atalla (amigo de Delfin Neto) a perder o
controle da Copersucar27. A crise financeira atingiu vários bancos que operavam com o Grupo,
entre eles o Bamerindus que, como veremos na seqüência deste trabalho, em 1996 ainda tinha
títulos dessas operações em seu balanço patrimonial.
299
Buscando modernizar o sistema financeiro, o governo promoveu uma nova regulamentação
para o mercado de valores mobiliários, criando, em 1976, a Comissão de Valores Mobiliários
28
(CVM) e, em 1979, o Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) para facilitar a
negociação com títulos públicos como as Letras do Tesouro Nacional (LTN) e as Obrigações
Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN).
300
Entre os anos 1960 e 1970, aconteceu um grande processo de concentração de instituições
bancárias, revertendo parte da estrutura federalista do sistema financeiro. Das 323 instituições
privadas existentes no início de 1960, sobraram apenas 67 em 1980 (MINELLA, 1988, p. 135),
favorecendo nitidamente as elites de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em 1964, São
Paulo tinha 106 instituições e controlava 38,44% dos depósitos nacionais; em 1976, com 40 bancos,
controlava 56,86%. (MINELLA, 1988, p. 157).
301
Com a ajuda do Bacen, muitos Estados perderam seus bancos ou tiveram sua participação
reduzida drasticamente, e grandes grupos passaram a atuar em todos os segmentos do mercado
financeiro. Tal processo de centralização era resultado de políticas públicas que nitidamente
beneficiaram parte das elites que passaram a controlar posições-chave do sistema político e
econômico após o golpe de Estado de 1964. Minella (1988) observa que a política econômica de

27
Para mais detalhes sobre o caso Atalla / Copersucar, ver Assis (1983).
28
Lei nº 6.385, de 07 dez. 1976.
104

Castelo Branco acelerou a concentração de capitais, através da restrição radical ao crédito e o


controle salarial. Durante todo o período militar, diversos instrumentos legais, fiscais e econômicos
específicos para o setor bancário, induziam a concentração do sistema, oficialmente justificados
pelas supostas vantagens competitivas da economia de escala, quando tais conglomerados poderiam
maximizar a eficiência das operações bancárias, com menores custos para a sociedade. Pelo prisma
estratégico, as fusões possibilitariam o fortalecimento da empresa nacional para contrabalançar o
poder dos grandes bancos internacionais. Tal concentração facilitava o controle do Estado sobre a
economia, e servia aos interesses das elites que apoiavam o regime militar.
302
Como observa Minella (1988), a crescente organização da categoria dos bancários induziu
o empresariado financeiro a buscar o fortalecimento de sua própria representação. Se extrapolarmos
a análise para o conjunto da sociedade, vamos verificar que, perante a crescente organização e
fortalecimento das classes trabalhadoras, as elites foram induzidas a construírem novas formas de
organização e controle do capital que garantissem seu poder, e esse processo se insere no
movimento maior de consolidação da hegemonia do capital financeiro.
303
Análises mais detalhadas sobre a história do sistema financeiro e bancário brasileiro desse
período podem ser encontradas em Minella (1988), Bouzan (1972), Lévy (1972), Pontes, (1973),
Fontenla (1977), Ribeiro & Guimarães (1967). Como referência comentada das fontes primárias e
secundárias para pesquisa, indicamos o trabalho de Saes (1995).

3.4.2 PERÍODO 1980 - 1994

304
A economia brasileira enfrentou grandes dificuldades no campo externo durante os anos
1980. A liquidez do mercado financeiro internacional sofreu grande retração após o aumento das
taxas de juros nos EUA que, ao chegar ao mercado internacional, não só aumentou o serviço da
dívida, como também deu início à grande recessão mundial em 1981. Para agravar ainda mais a
situação brasileira, em 1982 o México decretou moratória, assustando os investidores que acabaram
transferindo seus recursos para mercados mais seguros, provocando o estrangulamento do crédito
internacional que financiava os déficits externos de países periféricos.
305
Essas crises agravaram ainda mais os problemas internos do sistema financeiro brasileiro,
acumulados durante os anos de ditadura militar. Durante a década de 1980, o país teve que realizar
um enorme esforço político, econômico e institucional para sanear e reestruturar todo o sistema
financeiro. Como parte importante desse esforço, o Bacen decretou intervenção ou liquidação
extrajudicial em 14 instituições financeiras em 1980, em mais 17 em 1981, 7 em 1982 e 41
empresas financeiras em 1983, entre elas, no grupo Delfin em janeiro e, em 27 de junho nas
empresas do grupo Coroa.
306
Em 21 janeiro de 1983, a Folha de São Paulo (FSP) publicava denúncia sobre a
renegociação da dívida do Grupo Delfin com o BNH, que tinha sido agravada em razão dos juros e
da correção monetária. A então maior empresa privada que operava com cadernetas de poupança,
105

vinha rolando uma dívida, de cerca de 70 bilhões de cruzeiros, há mais de nove anos. A
intervenção, cogitada desde a gestão de Maurício Schulman (1974-1979), foi decretada em 21 de
janeiro e atingia as empresas dirigidas na época por Ronald Guimarães Levinsohn. Segundo a FSP,
a dívida havia sido quitada em troca de alguns empreendimentos habitacionais da Delfin, avaliados
em cerca de nove bilhões de cruzeiros. Na época, o ministro do Interior e candidato à Presidência
da República, Mário Andreazza, teve que depor na Câmara dos Deputados para explicar essas
operações.
307
A intervenção no Grupo Coroa29, de Assis Paim Cunha, caso que ficou conhecido como
Coroa-Brastel, envolveu acusações contra o ministro do Planejamento, Antonio Delfim Netto, o
ministro da Fazenda, Ernane Galvêas e o presidente do Bacen, Carlos Geraldo Langoni, todos do
governo João Baptista Figueiredo (1979-1985). “O caso Coroa-Brastel é emblemático dos acordos
a portas fechadas, típicos dos governos militares, e da omissão em relação ao desvio de dinheiro
público.” (VASCONCELOS, 1º out. 1998, p. 2-12). No início dos anos 80, a Coroa S.A. Crédito,
Financiamento e Investimentos, financeira da qual Paim era um dos sócios, emitiu letras de câmbio
sem o necessário lastro em crédito ao consumidor da rede de varejo lojas Brastel, também de
propriedade de Paim. Além de ter emitido muito além do que era legalmente permitido, também
oferecia uma remuneração muito acima da média do mercado. Quando a financeira quebrou, os
proprietários desses títulos não puderam resgatá-los. “Paim esperava que todos acreditassem que
essa emissão sem cobertura era feita com aprovação implícita das autoridades, em reciprocidade a
favores prestados ao governo”. (VASCONCELOS, 1º out. 1998, p. 2-12).
308
Segundo a versão de Paim, os problemas surgiram quando Delfim, Galvêas e Langoni
solicitaram que a empresa absorvesse a corretora Laureano, para evitar a intervenção naquela
instituição, na qual na época trabalhava um filho do chefe do Gabinete Civil, o general Golbery do
Couto e Silva. Já a versão oficial dizia que a financeira de Paim era a principal credora da corretora
Laureano, mas Paim alegava que essa dívida tinha origem em empréstimo feito pela Coroa a
Laureano por solicitação das três autoridades:
54
Na noite de 9 de fevereiro, Paim foi chamado por Delfim a Brasília, quando foi
decidida a compra da corretora Laureano. Paim emitiu cheque em valor
correspondente, hoje, a R$ 1,5 milhão, para compra do título patrimonial da corretora,
e recebeu empréstimo em valor igual do BC para cobrir os compromissos vencidos da
Laureano. Quatro dias depois, o BC concedeu nova assistência financeira de Cr$ 30
milhões (R$ 884 mil) para a Coroa, que transferiu os recursos à corretora Laureano
(contrariando a legislação). Paim diz que não tinha idéia dos rombos que encontraria.
E emitiu letras de câmbio sem lastro, no total de Cr$ 600 milhões (ou R$ 13,9 milhões
em moeda atual). Ele diz que Delfim determinou que procurasse a CEF, para tentar
um empréstimo de Cr$ 2,5 bilhões (R$ 58 milhões, hoje), para reforço de capital de
giro. A CEF exigiu apresentação de um projeto para liberar o empréstimo e aprovou
em apenas 24 horas a operação milionária com Paim, como “projeto de interesse
governamental”. Os recursos foram liberados em oito dias. (VASCONCELOS, 1º out.
1998, p. 2-12 10/263).

29
Fonte: VASCONCELOS, F. Processo envolvia cúpula econômica. FSP, São Paulo, 1º out. 1998, p. 2-12 10/263.
106

309
Segundo a reportagem, parte do empréstimo serviu para quitar débitos da Laureano com o
Banco do Brasil e o Banespa; outra parte (R$ 17,9 milhões em valores de 1998) foi utilizada para
pagamentos imediatos pela Coroa.
310
Outro problema grave que atingiu o setor financeiro foi o caso da Superintendência da
Marinha Mercante (Sunamam). Criado em 1974 pelo governo Geisel, foi o maior programa de
financiamento à construção de navios da história do país. Tinha por objetivo fortalecer a indústria
naval, e previa a destinação de US$ 3,3 bilhões, do Fundo da Marinha Mercante, subordinado ao
Ministério dos Transportes. Os estaleiros foram autorizados pelo governo a buscarem
financiamento no exterior, com aval da Sunamam, para concluir a produção dos navios. Segundo
Aith (27 out. 1997, p. 1-11), na época, o Brasil chegou a ser um dos cinco maiores produtores de
navios do mundo e, em 1980 empregava aproximadamente 40 mil trabalhadores30. Quando o limite
de financiamento foi ultrapassado, o setor entrou em crise, e o programa acabou no chamado
“escândalo Sunamam” ainda no governo Figueiredo (1979-1985). Investigações na CPI do Senado,
em 1985, demonstraram que o setor estava endividado por conta do gigantismo das operações e de
gestões financeiras “temerárias”, bem como a Sunamam havia avalizado estaleiros em operações
de desconto de duplicatas na rede bancária para que continuassem construindo os navios
encomendados. Com a crise, em 1983 a Sunamam foi extinta e, em 1984 o governo decidiu não
reconhecer os avais da Sunamam e determinou a apuração das irregularidades. Uma das suspeitas
era que as empresas descontavam, com aval da Sunamam, duplicatas de obras não realizadas,
gerando a expressão “navios de papel”. Ainda segundo Aith, as perdas da Cacex somavam US$
554 milhões (valores de 1987). Na época, a maior empresa que operava no setor era a Companhia
Comércio e Navegação, do grupo CCN, controlado pela família de Paulo Ferraz, do Estaleiro
Mauá. A família possuía vários empreendimentos em sociedade com diversos grandes grupos, entre
eles o Bozano Simonsen e o Bamerindus. Vamos ver na seqüência deste trabalho que Mario
Andreazza tinha ligações com o Grupo CCN, e o Bamerindus esteve engajado na sua candidatura à
Presidência da República.
311
Em 1984 o Bacen voltou a decretar a intervenção em mais 34 empresas financeiras, entre
elas figuraram a APESP – Associação de Poupança e Empreendimentos de São Paulo, as empresas
do grupo Haspa, e do grupo Brascred. Nessa época, eram grandes as dificuldades do BNH, uma vez
que se tornava evidente que, grande parte dos mutuários dos contratos habitacionais do banco não
tinha recursos para pagar suas prestações. A caderneta de poupança, o FGTS e o retorno dos
empréstimos, o chamado tripé de sustentação do BNH, não mais conseguiam manter o sistema.
Além do caso Delfin, as dificuldades do BNH estavam relacionadas aos saques crescentes do FGTS
e, à maciça evasão dos depósitos nas cadernetas de poupança. Para o então ministro Mário
Andreazza, em declaração na Câmara dos Deputados, o problema era o estado crítico da economia,
com uma inflação crescente que havia se tornado não só o maior inimigo do SFH, como também o

30
Fonte: AITH, M. Setor naval leva R$ 577 mi. FSP, 27 out. 1997, p. 1-11.
107

maior problema social. Apontou alguns caminhos para tentar manter em funcionamento pelo menos
duas das pernas do sistema: tornar mais atrativa a caderneta de poupança e bloquear, na medida do
possível, as retiradas do FGTS. Os problemas do BNH se arrastaram até hoje e grande parte dos
bancos ainda carrega operações do SFH em sua estrutura de ativos.
312
Em 1985, pressionado pela rigidez do oligopólio financeiro, o governo, através do CMN,
liberou para o regime de mercado, as taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras31,
buscando induzir a redução da taxa de juros. Mas o ano foi particularmente difícil para o sistema
financeiro, pois diante do cenário de crise financeira, o Bacen promoveu novas intervenções que
desta vez atingiram 56 instituições financeiras, entre elas estavam as empresas dos grupos Sul
Brasileiro, no dia 8 de fevereiro; Habitasul, em 11 de fevereiro; Brasilinvest, em 19 de março;
Jofran Distribuidora de Títulos e Valores. Mobiliários Ltda, em 5 de julho. As conexões entre essas
empresas e os demais integrantes do sistema financeiro abalaram grande parte do mercado
financeiro, obrigando o Bacen a intervir novamente, no dia 19 de novembro, nas empresas dos
grupos Auxiliar, Comind e Maisonnave.
313
Esses grupos tinham conexões com o caso da Coroa-Brastel e com o Montepio da Família
Militar (MFM) – controlador do Banco Sul Brasileiro – e que estava sob intervenção da
Superintendência de Seguros Privados (Susep) desde 13 de fevereiro de 1985. Também existiam
conexões com o Banco Nacional de Crédito Cooperativo (BNCC) que, segundo Oliveira (jan. 1985,
p. 47)32 na época estava envolvido em diversas fraudes, entre elas, nas operações de Adiantamentos
de Contratos de Câmbio (ACC) para empresas e cooperativas como a Centralsul33.
314
Tanto o BNCC como as instituições envolvidas tinham negócios com grande parte do
sistema financeiro e o montante dessas operações foi suficiente para abalar a liquidez do mercado,
bem como atingiu a credibilidade do sistema. Essas intervenções tornaram públicas as operações
que ocorriam entre essas empresas, resultando em vários escândalos financeiros e processos
judiciais34. Na época das intervenções no Auxiliar e Comind, correram fortes boatos que o
Bamerindus também seria atingido, e, na época, o banco enfrentava uma forte crise de liquidez.
Ao cenário de intervenções, temos que acrescentar a inflação crescente, com visível descontrole
por parte do governo (ver Gráfico 3-11). A inflação havia ultrapassado a marca dos 200% no
primeiro ano da Nova República, implicando em enorme desgaste político que levou o governo
a decretar, no dia 1º de março de 1986, um conjunto de medidas que ficou conhecido como
“Plano Cruzado I”. Sob o comando do ministro da Fazenda Dílson Funaro, o plano promoveu a

31
Resolução nº 1.064, de 05 dez . 1985, baseado no artigo 4º, inciso IX, da Lei nº 4.595/64.
32
Fonte: OLIVEIRA, F. O roubo é livre. Porto Alegre: Tchê! Editora Ltda., dez. 1985.
33
Segundo Oliveira (dez. 1985, p. 47) também estavam envolvidas com este tipo de fraude as seguintes empresas: André &
Cie., Ceval Agro-Industrial (maior complexo industrial brasileiro de processamento da soja e derivados), Victória Int’l,
Nidera Handelscompagnie, Intercontinental de Café (a maior exportadora brasileira de café), Acli Soya Company, Louis
Dreyfus, Continental Grain C. Itoh e Co., Coproban, Panchaud Freres, A.C. Toepfer, Tradax Export, Cie. Noga, Phibro
Grain, Richco, Bunge e Born (que opera no Brasil como Sanbra e Samrig), ADM Decatur, Cargill Agrícola, Sumitomo
Corp. of America, C.P. International, Finagrain, Socef, Mitsubishi Int’l, Agri Industries, Henry W. Peabody, Interice
London, Far-mar-co Export, Sesostrade e Continental Commodities.
34
Para mais detalhes sobre esses casos, ver Oliveira (jan. 1985) e OLIVEIRA, F. Viva a corrupção: o escândalo BNCC /
CENTRALSUL. 4 ed. Porto Alegre: Mercado Aberto Editora e Propaganda, jan. 1985.
108

reforma monetária cortando três zeros e substituindo o “Cruzeiro” pelo “Cruzado”, seguido de
congelamento dos preços e salários por um ano.

Gráfico 3-11: Variação do IGP (DI)35 entre 1976 a 1985 (em %)

450
416
400

350

300
235
211 224 250

200

100
110 95 150
77
100
46 39 41
50
65
-

1984 1985 1986 1987


1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983

36
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados extraídos de FGV (2005) .

315
Também foi criado o “gatilho salarial” de 20%, mais as diferenças negociadas nos dissídios
coletivos por categoria. A correção monetária foi extinta e em seu lugar foi criado o Índice de
Preços ao Consumidor (IPC), para correção da poupança e das aplicações financeiras superiores há
um ano. Contida a inflação, o poder aquisitivo cresceu com o aumento dos salários e o
congelamento dos preços, com isso também cresceu o consumo, provocando o desabastecimento.
Em quatro meses, o plano já mostrava a sua fragilidade. As mercadorias desapareceram dos
supermercados, os fornecedores cobravam ágio e a inflação voltou a subir. Sem saída política, o
governo manteve o congelamento até as eleições do final do ano. Nesse período, pressionados pela
queda da inflação, os bancos buscaram compensar a perda de receita com o aumento da carteira de
crédito. O mercado foi inundado pelo crédito fácil e barato para todo o tipo de empresas,
expandindo consideravelmente o número de novos empreendimentos. A mudança brusca no
sistema financeiro exigiu um esforço enorme das instituições bancárias para acompanhar as novas
regras, ditadas diariamente pelo Bacen e pelo Ministério da Fazenda. A complexidade de tais
mudanças envolvia desde a adequação operacional das agências, sistemas de processamento,
treinamento de funcionários, até aspectos legais cujo equacionamento necessitava muitas vezes de
mudanças na legislação.

35
IGP (DI): Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna, apurado pelo Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) da
Fundação Getúlio Vargas (FGV).
36
Fonte: FGV - Fundação Getúlio Vargas. Informação econômica online. Fgvdados. Rio de Janeiro, 2005. Disponível em:
<http://www.fgvdados.com.br/dsp_frs_pai_ferramentas.asp>. Acesso em: 13 jun. 2005.
109

316
Em 1986, o mercado de títulos privados recebeu regulação especial através da criação da
Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos (Cetip) que permitia a introdução dos
Depósitos Interfinanceiros (DI ou CDI), eliminando o uso do cheque para a liquidação de operações
com títulos privados. Em janeiro desse ano, o Bacen assumiu integralmente as funções de
autoridade monetária quando foi extinta a chamada conta movimento do BB, e a administração da
dívida pública interna foi transferida para o Tesouro Nacional. Em 30 de janeiro, o CMN congelou
a conta-movimento que o Banco Central mantinha no BB e definiu que as novas operações teriam
então que ocorrer dentro da sistemática de prévio suprimento de recursos. O BB também perdeu os
recursos originários do fluxo de caixa do orçamento do Tesouro e, em contrapartida, foi autorizado
a praticar todas as operações permitidas às instituições financeiras, passando a competir no
mercado. Nesse ano, não foi possível ao Tesouro fornecer ao BB os recursos necessários para as
operações de crédito agrícola, sendo obrigado a cobrir cerca de 25% com recursos próprios, sob
promessa de receber o montante correspondente à equalização de juros, o que só veio a ocorrer no
ano seguinte.
317
Também nessa época, segundo Hoffmann & Valadares (2002)37, ao quadro de dificuldades
do BNH, vieram se somar os débitos oriundos das liquidações extrajudiciais no SFH, que chegaram
a cerca de 13 trilhões de cruzeiros. Diante de todos os problemas do banco, e do déficit estimado
para os 15 anos seguintes – aproximadamente 20 bilhões de cruzados – o governo concluiu que os
problemas não tinham solução. Administrando contratos com cerca de 3,5 milhões de mutuários,
foram oferecidos incentivos para quitação dos antigos contratos, e o Decreto-Lei nº 2.291, de 21 de
dezembro de 1986, extinguiu o BNH, e distribuiu suas atividades para a CEF, BNDES e para a
Secretaria de Habitação do Ministério de Desenvolvimento Urbano (MDU). Segundo o jornal
OESP (10 dez. 1986)38, a decisão final pela extinção do banco teria sido tomada em reunião
realizada no gabinete do presidente José Sarney, às vésperas do Plano Cruzado II, pegando a todos
de surpresa. Nem mesmo o presidente do BNH, José Maria Aragão, soube antecipadamente da
medida e, entre as hipóteses sobre os verdadeiros motivos da extinção do BNH, estavam a vontade
do governo em acabar com a conta individualizada do trabalhador e o conseqüente controle sobre
as aplicações dos recursos do FGTS que passariam a englobar um “fundão” único juntamente com
os recursos do PIS-Pasep, sob a gestão única da CEF.
318
Para Lucas Pirajá de Oliveira Rosa, na ocasião subchefe do departamento de Inspeção do
Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo do BNH e ex-liquidante da Sul-Brasileiro-SP
Crédito Imobiliário, o controlador do grupo Delfin, Ronald Levinsohn, teria sido “[...] um dos
mentores da extinção do BNH e certamente um dos maiores beneficiados pela medida... a pressão
dessas empresas (as 23 empresas liquidadas pelo governo), especialmente dos controladores dos

37
Fonte: HOFFMANN, Andréa R.; VALADARES, Lechia do P. Verbete: BANCO NACIONAL DA HABITAÇÃO (BNH).
In: Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós-1930 (DHBB). 1ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas,
CPDOC, 2002. CD-Rom.
38
Fonte: OESP, 10 dez. 1986, apud Hoffmann & Valadares (2002).
110

grupos Edel e Delfin, foi fundamental para a extinção do banco” (OESP, 2 dez. 1986). Josualdo
Medeiros, na ocasião superintendente de Controle e Fiscalização do BNH, entrevistado na mesma
matéria, declarou que “[...] não restam dúvidas de que o fim do banco interessa aos liquidados [já
que] o total de Cz$ 80 bilhões decorrente das 23 empresas liquidadas fica agora com o seu
recebimento indefinido” (OESP, 2 dez. 1986). Como não havia correção monetária dos passivos
das empresas liquidadas, a inflação no período em que se processava a liquidação extrajudicial
trazia vantagens aos devedores.
319
Grande parte dos problemas do SFH foi acumulada no Fundo de Compensação de
Variações Salariais (FCVS). Criado por intermédio da Resolução nº 25, de 16 jun. 1967, do
Conselho de Administração do BNH, o FCVS39 tinha por finalidade garantir a quitação, junto aos
agentes financeiros, dos saldos devedores remanescentes de contrato de financiamento habitacional.
A estagnação econômica, os altos índices inflacionários e as elevadas taxas de juros levaram o
Governo Federal a conceder sucessivos e cumulativos subsídios aos mutuários do SFH, ao permitir
que as prestações previstas nos contratos habitacionais não fossem majoradas com base nas
condições contratualmente pactuadas. O Decreto Lei nº 2.065, de 26 out. 1983, produziu impacto
direto nos saldos devedores dos financiamentos, na medida em que proporcionou a redução das
obrigações dos adquirentes de moradia própria e, conseqüentemente, imputou ao FCVS a
responsabilidade pelo pagamento desses benefícios. Essa conta cresceu ao longo do tempo sem a
cobertura de recursos orçamentários, gerando sucessivos adiamentos do pagamento das obrigações
do Fundo. Assim o FCVS passou a assumir responsabilidades crescentes incompatíveis com o seu
patrimônio e fluxo de caixa. A grande maioria dos bancos brasileiros operava com empréstimos
imobiliários do BNH, e administrava grandes carteiras de contratos de financiamento. A crise do
setor e a indefinição do governo quanto ao FCVS, formou, dentro do sistema bancário, um enorme
montante de ativos a receber, cuja perspectiva de liquidez passou a depender da capacidade
financeira do Estado.
320
Outro problema grave que atingiu o SFN e o Bamerindus foi o caso Siderbrás. Criada pela
Lei nº 5.919, de 17 de setembro de 1973, a Siderbrás – Siderurgia Brasileira S.A., tinha por função
controlar e coordenar a produção siderúrgica estatal, e foi constituída ao receber do BNDES a
transferência do controle acionário das empresas do setor. Segundo ABREU (2002), nos anos 1980,
a crise da dívida externa provocou o declínio da demanda interna por aço, resultando em excesso de
capacidade e exportações com menor retorno. Nesses anos, o cenário foi de queda nos lucros e
investimento, devido à menor disponibilidade de crédito externo e aos baixos preços, tanto externos
como internos – estes causados pelo controle de preços, fruto da política governamental de combate
à inflação. Essa situação lançou o setor siderúrgico numa profunda crise financeira, principalmente
a Siderbrás que chegou à situação de insolvência, bem como a maior parte de suas empresas.

39
Fonte: MINISTÉRIO DA FAZENDA. Dívida Pública: FCVS. Brasília: Governo Federal Disponível em:
<http://www.tesouro.fazenda.gov.br/divida_publica/downloads/fcvs.htm>. Acesso em: 1º jul. 2004.
111

321
Negociações para equalizar o problema da dívida crescente da Siderbrás com os bancos,
envolveram a Febraban e o governo federal, e resultou na emissão de debêntures em 1988, que
substituiriam os títulos vencidos, extinção da empresa, e aportes de recursos do Banco do Brasil.
Com a Resolução 1469 do Bacen, a Siderbrás, como empresa pública, ficou impedida de obter
financiamentos do BNDES, bem como também, nesse ano, foi iniciado o processo de privatização
das siderurgias brasileiras, através do Plano de Saneamento do Sistema Siderbrás, que começou
com as empresas de menor porte. Segundo Andrade & Cunha (2004)40, o BNDES teve créditos
securitizados por conta da sua exposição com o setor siderúrgico, no total aproximado de US$ 1,7
bilhão. Desse total, cerca de US$ 400 milhões decorreram de créditos contra a própria Siderbrás e o
restante, US$ 1,3 bilhão, por conta de recebíveis contra as empresas siderúrgicas. Mais tarde, esses
títulos seriam utilizados no programa de privatização, quando o Bamerindus teve uma importante
atuação, tanto no leilão da Usiminas, Usina Siderúrgica de Minas Gerais, como da CSN,
Companhia Siderúrgica Nacional.

3.4.2.1 PLANOS ECONÔMICOS

322
Terminadas as eleições, em 21 de novembro de 1986, o governo Sarney lançou o “Plano
Cruzado II” que liberava os preços de produtos, serviços e aluguéis, bem como alterou o cálculo da
inflação, que passou a ter como base os gastos das famílias com renda de até cinco salários
mínimos. Como resultado dessas medidas, as exportações caíram ao passo que as importações
aumentaram, esgotando as reservas cambiais e, persistente, a inflação voltou a subir. As empresas
que buscaram crédito durante o ano, se viram numa situação difícil com a retração brusca do
consumo e o aumento da taxa de juros, não conseguindo honrar os contratos. A inadimplência
cresceu tanto no segmento das pessoas físicas como das jurídicas, colocando os bancos em sérias
dificuldades de liquidez. Veremos na seqüência deste trabalho que, parte destes contratos, foram
arrastados pelos bancos durante muito tempo, sendo o Banco Nacional o caso mais notório, e só foi
tornado público quando houve a intervenção do Bacen, em 1995.
323
O ano de 1987 iniciou com o fracasso do “Plano Cruzado II” e a declaração de moratória
pelo governo, suspendendo o pagamento da dívida externa em 20 de janeiro desse ano. O ministro
da Fazenda, Dílson Funaro, foi substituído por Luiz Carlos Bresser Pereira e, em fevereiro, o
governo instituiu uma terceira instância de intervenção estatal, o Regime de Administração
Especial Temporária (RAET) 41., criando instrumentos para intervir nos bancos estaduais que
acumulavam graves problemas resultantes da grave crise econômica e financeira dos Estados. O
RAET era de caráter transitório e, tinha prazo previamente estabelecido para a intervenção nas
instituições financeiras privadas e públicas não federais. Nesse ano, o Bacen promove intervenções

40
Fonte: ANDRADE, M. L. A. de. CUNHA, L. M. da S. O setor siderúrgico. – BNDES, [2004]. Disponível em:
<http://www.bndes.gov.br/conhecimento/livro_setorial/setorial03.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2004
41
Decreto Lei nº 2.321, 25 fev. 1987.
112

em 56 instituições financeiras, e em 36 empresas utilizou o RAET; entre elas estavam instituições


públicas financeiras dos seguintes estados: BA, CE, MA, MG, MT, PA, RJ e SC. Em junho de
1987, o ministro da Fazenda anunciou o chamado “Plano Bresser”, decretando novo congelamento
de preços, de aluguéis e de salários por 60 dias. Também aumentou impostos e tributos, eliminou o
subsídio ao trigo e adiou a execução de obras, além de extinguir o gatilho salarial e retomar as
negociações com o FMI suspendendo a moratória. Apesar dessas medidas, o IGP (DI) ultrapassou a
marca de 400% em dezembro de 1987, o que levou Bresser a deixar o ministério em 6 de janeiro de
1988.
324
Maílson da Nóbrega assumiu a Fazenda propondo uma política econômica sem medidas
drásticas; o objetivo era reduzir a inflação fazendo ajustes localizados e graduais, o que a imprensa
logo denominou como a política do “Feijão com Arroz”. Mesmo assim, no final de 1988, o IGP
(DI) ultrapassou a marca de 1.000%. Também nesse ano as negociações entre o Brasil e o FMI
foram retomadas, resultando num acordo de US$ 1,4 bilhão, dos quais o país conseguiu sacar
apenas US$ 477 milhões. Ainda em 1988, mais 17 instituições financeiras sofreram intervenção do
Bacen, entre elas, no dia 16 de novembro, estava o Banco do Estado de Alagoas S.A.
325
Mas a grande transformação no SFN aconteceu com a promulgação da nova Constituição
cujo artigo 192 determinou que o “[...] sistema financeiro nacional, estruturado de forma a
promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, será
regulado em lei complementar”. O artigo também estabeleceu que as autorizações de
funcionamento para as instituições financeiras seriam inegociáveis e intransferíveis, mas permitia a
transmissão do controle de pessoa jurídica. Com isso extinguia a carta patente e removia a principal
barreira para a entrada de novas empresas no sistema financeiro. Logo em seguida, o CMN
regulamentou os bancos múltiplos42, permitindo agregar várias funções financeiras numa mesma
instituição. Assim, apesar do Bacen ganhar mais poderes, foi aberta uma importante brecha no
sistema financeiro, que ilustramos com o depoimento de Cláudio Ness Mauch43, na CPI do Proer,
em 02 de outubro de 2001:
55
[...] em 88, nós tivemos o advento da criação do Banco Múltiplo, e aquela
segmentação [do sistema bancário] que nós tínhamos no passado, ela modificou, ou
seja, aquilo que era separado, o banco comercial do banco de investimento de uma
financeira, pôde passar a serem feitas todas as operações dentro de uma única
instituição financeira. O que [...] de um lado [...] Melhorou extremamente [...] a
administração de caixa de um grupo financeiro. De outro lado colocou, dentro dessa
mesma instituição, a possibilidade de algumas participações acionárias fora do

42
Resolução nº 1.524, de 21 set. 1988, do CMN.
43
Cláudio Ness Mauch. Diretor do Banco Central do Brasil na Área de Fiscalização (DIFIS) no período 09 set. 1993 03 dez.
1993, e da DINOR - Área de Normas e Organização do Sistema Financeiro entre 06 abr. 1993 e 22 mar. 1996. Fonte:
BACEN - Banco Central do Brasil. Sobre a Instituição História. Galeria dos Presidentes. Presidentes do Banco Central do
Brasil: Relatório Circunstanciado - 1991 a 1996. Brasília, [2002]. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/pre/Quemequem/port/presidentes/default-a.asp?idpai=historiapresi&id=historiapresi>. Acesso em:
15 dez. 2005.
113

Sistema Financeiro que não estavam cobertas, inclusive, pela supervisão do Banco
Central do Brasil. (MAUCH / CPI DO PROER, 2002, p. 14-15)44.

326
Outra mudança importante promovida pela Constituição foi a proibição para o
financiamento direto e indireto do Tesouro pelo Bacen.
327
Em 15 de janeiro de 1989, Maílson da Nóbrega decretava o “Plano Verão” que novamente
suprimia três zeros e trocava o nome da moeda para “Cruzado Novo”. Também os preços foram
congelados e extinguiu-se a correção monetária. O plano trouxe novas propostas de cortes no gasto
público, privatização de algumas empresas e exoneração de funcionários contratados nos últimos
cinco anos. A maioria das medidas ficou no papel e, em dezembro do mesmo ano, o IGPM (DI)
chegou a 1.782,85%. Também temos que observar que todas as tentativas de equacionar o
problema da dívida externa haviam fracassado, nem mesmo o chamado Plano Baker conseguiu
obter resultados satisfatórios. A solução começou a aparecer a partir de março de 1989 quando, sob
a égide do Plano Brady, foram iniciadas novas negociações. Nesse ano, o Bacen decretou a
intervenção em 24 instituições financeiras, e, sob o RAET ficaram os bancos dos Estados do Acre,
Piauí e Alagoas. Em 14 de março de 1990, um dia antes da posse do novo Presidente, o Bacen
decretava intervenção para liquidação extrajudicial no Banco Regional de Desenvolvimento do
Extremo Sul (BRDE).
328
Em 15 de março de 1990, Fernando Collor de Mello assumiu a Presidência da República e
anunciou o Plano Brasil Novo, também conhecido como “Plano Collor I”. Com o objetivo de
estancar a hiperinflação e ajustar a economia, determinou que o Cruzado Novo fosse substituído
pelo “Cruzeiro” e bloqueou por 18 meses os saldos das contas correntes, cadernetas de poupança e
demais investimentos superiores a Cr$ 50.000,00. Os preços foram tabelados e depois liberados
gradualmente. Os salários foram pré-fixados e depois também liberados, além de aumentar
impostos e tarifas, criou novos tributos e suspendeu incentivos fiscais. O plano incluiu o anúncio de
cortes nos gastos públicos, redução da máquina do Estado, demissão de funcionários e privatização
de empresas estatais. Também determinou a abertura do mercado interno com a redução gradativa
das alíquotas de importação.
329
As medidas provocaram um brutal estrangulamento financeiro e tumulto no mercado.
Depoimentos de ex-funcionários do Bamerindus descrevem os dias seguintes ao anúncio das
medidas, como os piores dias na vida dos bancários. As normas chegavam de Brasília
desencontradas, clientes desesperados chegaram a ameaçar gerentes e caixas dos bancos. As
agências mantinham televisores ligados para poderem acompanhar as sucessivas edições de normas
e procedimentos, pois as linhas telefônicas estavam congestionadas. A então ministra da Economia,
Zélia Cardoso de Mello, fazia liberações gradativas do dinheiro retido - “operação torneirinha” -

44
Fonte: MAUCH, Cláudio Ness. Depoimento na CPI – PROER. Câmara dos Deputados - Departamento de Taquigrafia,
Revisão e Redação, Núcleo de Revisão de Comissões. Texto com redação final. Número: 001035/01. Transcrição Ipsis
Verbis. Brasília: 02 out. 2001. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/cpi/proer_nt021001.
doc>. Acesso em: 29 jun. 2005.
114

para pagamento de taxas, impostos municipais e estaduais, folhas de pagamento e contribuições


previdenciárias. Com o tempo, o governo liberou os recursos das grandes empresas e deixou retido
o dinheiro dos poupadores individuais.
330
Instalou-se uma corrida ao mercado bancário para ajustar as operações às novas regras;
novamente os programas de processamento de dados e normas internas foram alterados;
treinamento de funcionários, além da necessidade de novos investimentos para recuperar a imagem
institucional depois do desgaste sofrido com o congelamento das contas correntes. Nos meses
subseqüentes, o Brasil entrou numa grande recessão econômica, com aumento no desemprego,
fechamento de empresas e redução da produção. Os bancos se viram numa situação extremamente
difícil, pois, além de perderem a receita inflacionária, tiveram seus custos operacionais elevados por
conta do ajuste da estrutura para atender às novas regras, bem como a recessão limitava a
possibilidade de compensar as perdas com o aumento nas operações de crédito:
56
A análise do ocorrido nos primeiros 60 dias do Plano Collor mostra uma clara
preponderância de fatores inerentes ao próprio bloqueio da liquidez, e não de
equívocos ou liberalidades na sua condução. O descontrole do ritmo de expansão da
liquidez era inevitável, devido à própria concepção do bloqueio, à natureza mesma das
medidas e às condições da economia brasileira. O descontrole da monetização
localizou-se basicamente no sistema bancário. Era inevitável a ocorrência de grande
tumulto na atividade dos bancos após o bloqueio, pela impossibilidade de
detalhamento das regras operacionais de um plano elaborado em sigilo máximo. Os
bancos passaram a operar às cegas, sem conhecer sua posição de caixa. Dado o receio
de pânico no caso de algum banco deixar de atender os saques do público, o BCB
optou por financiar os bancos na medida de sua demanda. [...] Um dos fundamentos
do Plano Collor era a convicção de que, com o bloqueio da liquidez, o BCB
recuperaria o controle da oferta de moeda e poderia ordenar a monetização, de forma a
separar a moeda demandada para transações e a moeda demandada para especulação.
A experiência do bloqueio demonstrou a impossibilidade de separar a demanda por
moeda para fins especulativos e para giro dos negócios, dentro do conjunto formado
pela moeda indexada e pela moeda convencional. O objetivo de controlar a
monetização falhou, no essencial, por este motivo. (CARVALHO, 2003b, p. 328-
329)45

331
Os problemas se acumularam e levaram o Bacen a decretar a Liquidação Extrajudicial de
14 instituições financeiras, entre elas estavam as empresas dos grupos: Banco do Estado da Paraíba,
Banco do Estado do Rio Grande do Norte, Caixa Econômica do Estado Goiás (Caixego). No ano
seguinte, mais 29 empresas são colocadas sob intervenção pelo Bacen, entre elas estavam: o Banco
de Desenvolvimento do Paraná S.A. (BADEP), a Caixa Econômica do Estado de Minas Gerais, as
empresas do grupo Banco do Estado do Piauí e do Banco do Estado de Pernambuco.
332
Foi na administração Collor que teve início a implantação de políticas neoliberais no Brasil.
Com a justificativa de enfrentar o problema da dívida pública, foi criado, em 16 de agosto de 1990,
o Programa Nacional de Desestatização46, tendo sido a Usina Siderúrgica de Minas Gerais

45
Fonte: CARVALHO, C. E. O fracasso do Plano Collor: erros de execução ou de concepção? Economia. Vol. 4 n.2. Niterói:
ANPEC, jul. / dez. 2003b, p. 283-331. Disponível em: <http://www.anpec.org.br/revista/vol4/v4n2p283_331.pdf>. Acesso
em: 25 mar. 2005.
46
O programa estava baseado no seguinte raciocínio: “Como o capital da União investido nas empresas estatais rende 1,08%
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
115

(Usiminas) a primeira estatal a ser privatizada através de leilão, em 24 de outubro de 1991. Na


época, o Grupo Bamerindus adquiriu 2,3%47. do capital, e a Caixa de Previdência dos Funcionários
do Banco do Brasil (PREVI) arrematou 14,94% e a CVRD, 14,62%. O controle acionário ficou
com um grupo de investidores formado pelo Banco Bozzano Simonsen, Nippon Usiminas,
Associação dos Funcionários e quatro empresas distribuidoras de aço48. Depois disso, mais 25
estatais foram privatizadas até o final de 1993.
333
Para viabilizar o programa, foram criados os Certificados de Privatização (CP), que eram
títulos de emissão do Tesouro Nacional; eles conferiam aos seus detentores o direito de utilizá-los
como meio de pagamento na compra de ações de empresas do setor público que seriam
privatizadas. A emissão dos CP foi determinada pela Lei nº 8.018, de 11 de abril de 1990, e as
condições de aquisição desses títulos foram fixadas pelo CMN49. Como adquirentes, foram
definidos os seguintes participantes do SFN: a) instituições financeiras com o valor mínimo
equivalente a 3% do ativo circulante e realizável a longo prazo ou 18% do patrimônio líquido
ajustado, o que fosse menor; b) entidades fechadas de previdência privada, no valor mínimo de
25% em se tratando de entidades públicas, e 10%, no caso das demais entidades (privadas);
incidentes sobre os recursos garantidores de suas reservas; c) sociedades seguradoras, sociedades de
capitalização e as entidades abertas de previdência privada, no valor mínimo de 10% dos recursos
garantidores de suas reservas técnicas não comprometidas. Todos os cálculos seriam realizados
com base nas informações publicadas pelas instituições em 31 de dezembro de 1989.
Posteriormente, foi permitida a negociação dos CPs no mercado financeiro, bem como a aquisição
mediante cessão dos créditos oriundos da renegociação da dívida da Sunamam e das obrigações
financeiras do BNCC. A medida colocou os bancos entre os principais interessados na compra das
empresas estatais, bem como reduziu a disponibilidade de recursos para o crédito.
334
Com a inflação voltando ao centro dos problemas econômicos, pois o índice IGP (DI)
chegou a 1.476,71% acumulado no ano, o governo tomou novas medidas, decretando o “Plano
Collor II” em 31 de janeiro de 1991. O plano extinguiu as operações de overnight, criou o Fundo de
Aplicações Financeiras (FAF), eliminou o Bônus do Tesouro Nacional fiscal (BTNF), utilizado
como indexador, e criou a Taxa Referencial Diária (TRD) com juros prefixados. Também
aumentou o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e instalou uma política de juros altos;
promoveu a desindexação da economia, decretou mais um congelamento de salários e preços, e
adotou um deflator para os contratos com vencimento após 1º de fevereiro. Para aumentar a
concorrência no setor industrial e conter a inflação, foi criado um cronograma de redução das

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
a.a., a privatização pode ter um significativo impacto fiscal se esse patrimônio for vendido e usado para abater dívida
pública, sobre a qual o governo paga juros anuais na faixa de 20% a 25%. A cada R$ 10 bilhões de patrimônio alienado seria
possível obter uma economia líquida de R$ 1,9 bilhão a R$ 2,4 bilhões por ano”.(CAMPOS, 1995).
47
Fonte: Bamerindus: Relatório da Diretoria apresentado no Encontro Semestral dos Conselhos & Diretorias realizado em 31
jan. 1992.
48
Fonte: GALAZI J.; GUILHERMINO L. [Venda da Usiminas]. OESP, São Paulo 25 out. 1991.
49
Resolução CMN nº 1.721, de 27 jun. 1990. Fonte: Bacen (2003).
116

tarifas de importação. O resultado foi a redução da inflação, com o IGP (DI) acumulando a variação
de 480,23% em 1991.
335
A economia começou a se recuperar no final de 1992, após um grande processo de
reestruturação interna de boa parte dos setores produtivos. A inovação desse plano foi o início do
processo de abertura do mercado interno para produtos importados, obrigando as empresas a
modernizarem seus processos através de novos investimentos, programas de qualidade e novos
produtos. Nesse processo, os bancos foram induzidos a investirem pesado na automação,
modificarem suas estruturas internas e aumentarem a produtividade. Mas o sistema financeiro ainda
continuava carregando títulos públicos e privados de baixa liquidez, bem como agora estavam
envolvidos no processo de privatização.
336
A perspectiva das instituições financeiras era a de se transformarem em grandes
conglomerados financeiros, incorporando outras empresas principalmente participando das
privatizações, ou serem absorvidas pelos grupos que foram mais agressivos no processo. Sendo
assim, boa parte do setor se engajou na disputa pelo controle das grandes empresas estatais,
participando dos leilões de várias instituições. No Quadro 3-2, apresentamos a relação de empresas
privatizadas no período 1991 a 1997, destacando aquelas que o Bamerindus adquiriu participação
acionária.
Quadro 3-2: Empresas privatizadas entre 1991 e 1997.
Data da
Nº Sigla Nome da empresa
venda
1 Usiminas Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A. 24/10/1991
2 Usimec Usiminas Mecânica S.A. 24/10/1991
3 Celma Cia. Eletromecânica 01/11/1991
4 Mafersa Mafersa S.A. 11/11/1991
5 Cosinor Cia. Siderúrgica do Nordeste 14/11/1991
Cosinor
6 Cosinor Distribuidora S.A. 14/11/1991
Distribuidora
7 SNBP Serviço de Navegação da Bacia do Prata 14/01/1992
8 AFP Aços Finos Piratini S.A. 14/02/1992
9 Petroflex Petroflex Indústria e Comércio S.A. 10/04/1992
10 Copesul Cia. Petroquímica do Sul 15/05/1992
11 CNA Cia. Nacional de Álcalis 15/07/1992
12 Alcanorte Álcalis do Rio Grande do Norte 15/07/1992
13 CST Cia. Siderúrgica de Tubarão 23/07/1992
14 Fosfértil Fertilizantes Fosfatados S.A. 12/08/1992
15 Goiasfértil Goiás Fertilizantes S.A. 08/10/1992
16 Acesita Cia. Aços Especiais Itabira 23/10/1992
17 Energética Acesita Energética S.A. 23/10/1992
18 Fasa Forjas Acesita S.A. 23/10/1992
19 CSN Cia. Siderúrgica Nacional 02/04/1993
20 FEM Fábrica de Estruturas Metálicas S.A. 02/04/1993
21 Ultrafértil Ultrafértil S.A. Ind. e Com. de Fertilizantes 24/06/1993
22 Cosipa Cia. Siderúrgica Paulista 20/08/1993
23 Açominas Aço Minas Gerais S.A. 10/09/1993
24 PQU Petroquímica União S.A. 25/01/1994
25 Caraíba Mineração Caraíba Ltda. 28/07/1994
117

Quadro 3-2: Empresas privatizadas entre 1991 e 1997.


Data da
Nº Sigla Nome da empresa
venda
26 Embraer Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. 07/12/1994
27 EAC Embraer Aircraft Corporation 07/12/1994
28 EAI Embraer Aviation International 07/12/1994
29 Neiva Indústria Aeronáutica Neiva S.A. 07/12/1994
30 Escelsa Espírito Santo Centrais Elétricas S.A. 11/07/1995
31 RFFSA Rede Ferroviária Federal S.A. - Malha oeste. 05/03/1996
32 Light Light Serviços de Eletricidade S.A. 21/05/1996
33 RFFSA Rede Ferroviária Federal S.A. - Malha centro-leste. 14/06/1996
34 RFFSA Rede Ferroviária Federal S.A. - Malha sudeste. 20/09/1996
35 RFFSA Rede Ferroviária Federal S.A. - Tereza Cristina. 22/11/1996
36 RFFSA Rede Ferroviária Federal S.A. - Malha sul. 13/12/1996
37 CVRD Cia. Vale do Rio Doce (e 13 subsidiárias) 06/05/1997
38 RFFSA Rede Ferroviária Federal S.A. - Malha nordeste. 18/07/1997
39 Meridional Banco Meridional do Brasil S.A. (e cinco subsidiárias). 04/12/1997
50
Fonte: Quadro elaborado pelo autor, com base nos dados extraídos de BNDES (2002 ) e MINISTÉRIO
DO PLANEJAMENTO (2006)51

337
O que estava em disputa era a hegemonia sobre o sistema capitalista brasileiro, pois as
empresas estatais concentravam a maior parte das atividades econômicas estratégicas. Em última
análise, o processo de privatização significava o desenho de uma nova partilha da produção social
brasileira. A estrutura existente até então havia sido construída durante o regime militar, e os
mecanismos de mediação dos conflitos inter e intraclasses não tinham mais a mesma eficácia na
Nova República que, na falta de outros dispositivos, resolvia as disputas através da inflação ou do
endividamento público. Diante da hiperinflação e do esgotamento da capacidade financeira do
Estado, ameaçados pelo avanço da classe dos trabalhadores, representada na quase vitória do
Partido dos Trabalhadores nas eleições para presidente da República em 1989, a solução encontrada
pelas classes dominantes foi decidir as disputas internas na arena da Bolsa de Valores; nos leilões
venceriam os grupos economicamente mais fortes e politicamente mais organizados. Na seqüência
desse trabalho vamos analisar com detalhes a participação do Bamerindus na formação dos grupos
de investidores, a participação nos leilões e posteriormente nas disputas pelo poder sobre as
empresas nas quais tinha participação.
338
Em 1992 foi feito novo acordo de US$ 2 bilhões com o FMI, promovido pelo ministro
Marcílio Marques Moreira, tendo como negociador Pedro Malan. O acordo só não foi consumado
por causa do impedimento do presidente Fernando Collor. Pedro Sampaio Malan foi o principal
negociador com os banqueiros no Governo Collor52, tendo sido, no período de 09 set. 1993 a 31

50
Fonte: BNDES. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Área de Desestatização e Reestruturação (AD).
Privatizações no Brasil. 1990-1994. 1995-2002. Rio de Janeiro, julho de 2002. Última atualização em 26 ago. 2002.
Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/conhecimento/publicacoes/catalogo/Priv_Gov.pdf>. Acesso em: 15 mar. 2004..
51
Fonte: MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, Orçamento e Gestão. Empresas Privatizadas. Brasília, 03 abr. 2006
Disponível em: <http://www.planejamento.gov.br/controle_estatais/conteudo/perfil/empresas_privatizadas.htm >. Acesso
em: 15 fev. 2006.
52
Fonte: AE. Aedata, [São Paulo], 16 jul. 1992.
118

dez. 1994, o 19º presidente do Bacen. Nasceu em 19 de fevereiro de 1943, em Petrópolis (RJ), filho
de Elysio Souto Malan e Maria Regina Sampaio Malan53, neto do general Sampaio, que havia sido
uma figura de destaque nas guerras do Império, e sobrinho do general Alfredo Malan, que teve
muito poder durante o regime militar54. Economista, Pedro Malan acumulou as funções de diretor-
executivo no BID e de negociador da dívida externa. Indicado pelo ministro Marcílio Moreira, o
presidente Fernando Collor aceitou nomeá-lo depois que surgiram resistências ao nome do ex-
ministro da Infra-Estrutura João Santana. Segundo a AE (22 set. 1992)55, Fernando Collor aceitou a
recomendação de Marcílio Marques Moreira pelo nome de Pedro Malan, depois que notícias de
jornais diziam ser João Santana um dos alvos das investigações que a CPI e a Polícia Federal
realizavam sobre o Esquema PC Farias. Mais tarde, Pedro Malan tornou-se um dos principais
nomes da equipe de governo de FHC, tendo sido também cotado para sucedê-lo no cargo de
Presidente da República. Como ministro da Fazenda, teve vários atritos com José Eduardo, e sua
participação na transferência do Bamerindus para o HSBC até hoje não foi totalmente esclarecida.
A negociação da dívida externa brasileira continuou no governo Itamar Franco, e ganhou novo
impulso em 1993, quando Fernando Henrique Cardoso (FHC) assumiu o Ministério da Fazenda.
Sob seu comando, as negociações avançaram e trouxeram consigo um amplo projeto de reformas
do Estado buscando atrair capitais estrangeiros:
57
Sob a égide do Plano Brady, o Brasil só veio a efetivar a troca de títulos no valor de
US$ 46 bilhões de sua dívida externa em 15 de abril de 1994, e sem o apoio de um
acordo formal com o FMI. [...] À época do acordo, os pagamentos de juros já tinham
sido reduzidos a 8,8% das receitas de exportações e a dívida bruta de US$ 136 bilhões
(US$ 119 bilhões descontadas as reservas) era de apenas 3,8 vezes as exportações e já
não representava uma limitação ao crescimento econômico brasileiro. [...] Com as
perspectivas favoráveis da estabilização econômica, o País entrou, em 1994, em um
novo ciclo de acumulação de dívida externa, na esteira do notável crescimento dos
fluxos de capitais para o terceiro mundo. (CARNEIRO, 1996)56

339
Nesse cenário, o capital privado se tornou a maior fonte de financiamento para os déficits
em conta corrente e, nos anos seguintes, financiaria o projeto de reestruturação institucional e
econômica do Brasil, sob a égide do neoliberalismo. Tal projeto incluía a reestruturação da dívida
pública, tanto interna como externa, controle da inflação (Plano Real) e a continuidade do processo
de privatização; esperava-se com isso abrir espaço para novos investimentos no país.
340
Basicamente as reformas do sistema financeiro desde 1985 vinham caminhando na direção
de desmontar os mecanismos criados pelos governos militares, que permitiam ao Executivo dispor
dos recursos públicos sem o controle do Congresso, o que acabou comprometendo o controle social

53
Fonte: Bacen (2004).
54
Fonte: PATATIVA de Itararé. Excelência? Fatos & Rumores. São Paulo: Brasilnews, Comunicação e Editora Ltda. 24 abr.
2000. Disponível em: <http://belo464.digiweb.psi.br/brasilnews/fatosrumores/noticias/fatos2404.htm>. Acesso em: 17 mar.
2003.
55
Fonte: AE. Aedata, [São Paulo], 22 set. 1992.
56
Fonte: CARNEIRO, Dionísio Dias. Dívida Externa: A Experiência Brasileira. CD-Rom. Brasil Em Foco. Projeto: É Tempo
de Brasil. Ministério das Relações Exteriores. Brasília: Ed. Terceiro Nome, Julho 1996. Disponível em:
<http://www.mre.gov.br/cdbrasil/itamaraty/web/port/economia/divext/apresent/apresent.htm>. Acesso em: 26 out. 2005.
119

sobre o orçamento público. Mas o desmonte do sistema significava reconhecer todo estoque da
dívida pública, mesmo aqueles relativos aos vários escândalos financeiros, estender o controle
público federal sobre os bancos estaduais e aprovar a Lei de Responsabilidade Fiscal, ou seja,
promover a transparência e fiscalização sobre o gasto público. O resultado esperado era uma nova
estrutura regulatória não só do sistema financeiro, mas de grande parte das atividades econômicas
brasileiras.
341
As reformas contavam com três grandes patrocinadores: o primeiro, era a Constituição de
1988, já que boa parte das reformas institucionais necessárias estava prevista na Carta, refletindo a
vontade dos constituintes, e esperando apenas a regulamentação pelo Congresso; o segundo
patrocinador importante era a insatisfação popular com a inflação e os planos econômicos; o
terceiro patrocinador era a necessidade de captar recursos externos para investimento, pois os
grandes investidores reclamavam da redução da taxa de risco através de reformas institucionais em
vários setores, entre eles o sistema financeiro e a dívida pública. No âmbito do sistema financeiro,
exigia-se a implementação do Acordo da Basiléia que estabelecia padrões mínimos de risco na
administração bancária. Na questão da dívida pública exigiam limites e controles legais para o
orçamento público da União, Estados e Municípios (previsto no artigo 163 da Constituição), bem
como a continuidade do programa de privatizações. O plano de reformas deveria enfrentar o grave
problema da reestruturação do sistema bancário, visto ser ele dependente da receita derivada da
inflação e estar com os cofres cheios de títulos públicos com baixa liquidez que esperavam pelo
processo de securitização, principalmente aqueles resultantes de casos como do Grupo Delfin,
Coroa-Brastel, BNCC, Sunamam, Siderbrás, BNH, etc.
342
Em 28 de fevereiro de 1994, entrou em vigor a URV – Unidade Real a dando início à
primeira etapa do “Plano Real”; visava preparar o país para o dia 1º de junho, quando seria adotada
uma série de medidas previamente determinadas e conhecidas, como a mudança da moeda e a
desindexação da economia. Sob o comando do ministro FHC, a partir de 28 de fevereiro, todos os
preços foram indexados à URV que corresponderia a US$ 1. O Cruzeiro Real, moeda então vigente,
era desvalorizado em relação a URV e o dólar, sendo gradativamente substituído pela URV, que
passou a ser referência para preços e contratos firmados desde o dia de sua criação. O Real, como
nova moeda, nascia sobre-valorizado em relação ao dólar, barateando as importações e
pressionando para baixo toda a estrutura interna de preços. Como podemos ver no Gráfico 3-12,
nos anos seguintes o plano conseguiu conter a inflação abaixo dos níveis registrados nos anos 1970.
Nesse mesmo ano de 1994, como parte das reformas estruturais, foi transferida a responsabilidade
da dívida externa (todos os passivos cambiais) do Bacen para o Tesouro Nacional, bem como, em
17 de agosto de 1994, o Bacen divulgava a Resolução 2.099 que tratava, dentre outras
determinações, da necessidade de adequação dos bancos às bases do Acordo da Basiléia.
120

Gráfico 3-12: Variação do IGP (DI) entre 1970 e 1997 (em %)


2.800 2.708

2.300

1.783
1.800

1.477

1.300
1.158
1.094
1.038

800

480
416
235
224
300 211
77 110 95 100 65
19 19 16 16 35 29 46 39 41 15 9 7
1970

1971

1972

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997
(200)

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados extraídos de FGV (2005).

343
Os problemas gerados pela baixa inflação não tardam a aparecer no sistema financeiro. Se
em 1993 o Bacen teve que intervir em 13 empresas financeiras, em 1994 foram 49 instituições,
entre elas estavam dois grandes grupos do Paraná, o Garavelo e o Consórcio Garibalddi, bem como
dois pesos-pesados do sistema financeiro, o Banespa e o Banerj, cujo anúncio foi realizado no dia
30 de dezembro de 1994 – dois dias antes da posse de FHC na Presidência da República e Mário
Covas no governo de São Paulo. A diferença agora era que, após o saneamento das instituições sob
intervenção, o Bacen admitia que o controle delas poderia ser transferido para investidores
privados, tanto nacionais como estrangeiros.
344
Na Ilustração 3-1 apresentamos um breve roteiro dos diversos planos econômicos e
mudanças de moeda no Brasil, como segue:
121

Ilustração 3-1: Planos Econômicos e Moedas brasileiras


Moeda: Mil-réis
Vigência: 1500- 30 out. 1942
Moeda do Brasil Colônia, do Império, foi mantida
vigente por 53 anos na República. Ela foi abandonada
devido à adoção do sistema centesimal, padrão no
mundo inteiro.
Moeda: Cruzeiro
Vigência: 1º nov. 1942 — 12 fev. 1967
Um mil-réis (escrevia-se 1$000) foi transformado em
um cruzeiro (Cr$ 1,00). A mudança ocorreu em meio à
Segunda Guerra Mundial, mas não sobreviveu à
instabilidade política e econômica dos anos 1960.
Moeda: Cruzeiro Novo
Vigência: 13 fev. 1967 e 14 maio 1970
Um cruzeiro novo equivalia a mil cruzeiros. Foi
definido como uma “unidade monetária transitória”, que
deixaria de existir quando a inflação fosse controlada.
Moeda: Cruzeiro
Vigência: 15 de maio 1970 — 27 fev. 1986
O governo militar achou que havia vencido a inflação e
restituiu o antigo nome da moeda, valendo um cruzeiro
novo.
Moeda: Cruzado
Vigência: 28 fev. 1986 — 15 jan. 1989
Plano Cruzado I: 28 fev. 1986
O governo civil de José Sarney registrou inflação de
225% em seu primeiro ano. O dinheiro desvalorizou-se
e houve corte de zeros e congelamento de preços.
Plano Cruzado II: 21 nov. 1986
Plano Bresser: 12 jun. 1987
Moeda: Cruzado Novo
Vigência: 16 jan. 1989 — 15 mar. 1990
Plano Verão: 15 jan. 1989
O plano previa ainda cortes de gastos e privatizações.
De prático mesmo, só um novo corte de zeros.
Moeda: Cruzeiro
Vigência: 16 mar. 1990 — 31 jul. 1993
Plano Collor I: 16 mar. 1990
Fernando Collor tomou posse com a promessa de
normalizar a economia. Seu plano econômico
ressuscitou pela segunda vez o cruzeiro.
Plano Collor II: 31 jan. 1991.
Plano Real: 1º ago. 1993
Moeda: Cruzeiro Real: 1º ago. 1993 — 30 jun. 1994
Com 11 meses de circulação, foi a moeda de vigência
mais efêmera no país. Sua função foi preparar o terreno
para o real. Implantada a URV: 28 fev. 1994 a 30 jun.
1994
Moeda: Real: 1º jul. 1994.

Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base nos dados


de diversas referências. A imagem e alguns textos foram
extraídos de Gazeta do Povo (27 jun. 2004)57 e Bacen
(2001).

57
Fonte: Da hiperinflação ao hiperjuro. Em dez anos, o governo pagou 999,9% de juros contra uma inflação de 167%. Gazeta
do Povo, Curitiba, 27 jun. 2004. Caderno de Economia, 10 anos de Plano Real, p. 1. Ilustração.
122

3.4.2.2 O PLANO REAL E A REFORMA DO SISTEMA BANCÁRIO

3.4.2.2.1 RECEITAS INFLACIONÁRIAS

345 Gráfico 3-13: Participação das Instituições Financeiras no


O Plano Real teve grande efeito sobre os
PIB (em %)
bancos, como podemos observar no Gráfico 30
26,4

3-13; a participação das instituições financeiras 25

no PIB caiu de 15,6% em 1993 para 6,9% em 20 16,7


16,2 15,6
13,8 13,2
1995, o menor patamar desde 1980. Entre as 15
13,2 12,8 12,1 12,4
11,1

diversas causas dessa redução estaria a perda de 10 8,3 11,2


10,5 6,9
8,4
parte da chamada receita inflacionária (“float”), 5

aqui definida como o resultado da correção -

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995
monetária obtido pelos bancos na aplicação do Fonte: 1980-1989, IBGE (1994); 1990-1995 IBGE (1997)
58
saldo dos passivos sem encargos, deduzido dos apud Tabela 5 (CARVALHO, 2003a, p. 13) e Andima /
IBGE. (1997), apud Tabela IV (BARROS & ALMEIDA
ativos financeiros não-remunerados. Essa receita JÚNIOR, 1997)59.
seria apropriada pelos bancos na intermediação de recursos em ambientes inflacionários, quando na
ponta da captação remunerava o investidor abaixo da taxa de correção monetária cobrada na ponta
da aplicação. Também conhecida como “transferência inflacionária” e “ganho inflacionário” tais
denominações “[...] para estes rendimentos se generalizou no Brasil [...] apesar de ser dúbia do
ponto de vista gramatical”. (CARVALHO,
Gráfico 3-14: Receita inflacionária / PIB (em %)
2003a, p. 5).
Projeto Aries (1980 - 1992) ANDIMA/IBGE (1990-1994)
346
Reconhecida como tendo sido muito
5
importante para os bancos durante o período 4 4,0 3,9 4,0
4,2
4
analisado, o cálculo dessa receita apresentava um 3,8
3 3,4 2,0
2,9 3,1
grau considerável de complexidade no momento 3
2,6 2,5
2,5 2,0
2
2,2 2,4
de estabelecer as variáveis que iriam compor a 2 1,9 1,9 1,9 2,1 1,9
1

equação, pois não seriam apenas os depósitos à 1

0
M édia
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989

1990
1991
1992
1993
1994

vista que estariam expostos à inflação, mas


também inúmeras operações bancárias de
arrecadação e transferências não remuneradas. A Observações: Média = 1947 a 1990. Fonte: Gráficos
rigor, pelo prisma contábil, os ganhos elaborados pelo autor, com base nos dados de Andima / IBGE
(1997), apud Tabela I (BARROS & ALMEIDA JÚNIOR,
60
inflacionários seriam o resultado positivo obtido 1997) e FGV, Projeto Áries apud Cysne (1994) e Tabela 2
(CARVALHO, 2003a, p. 9).

58
Fonte: CARVALHO, C. E. Bancos e inflação no Brasil: da crise dos anos 1980 ao Plano Real. Anais do V Congresso
Brasileiro de História Econômica e 6ª Conferência Internacional de História de Empresas. Caxambu: ABPHE, set. 2003a.
59
Fonte: ANDIMA / IBGE. Sistema Financeiro - Uma análise a partir das Contas Nacionais 1990-1995. Elaboração: SPE /
Coord. de Pol. Monetária. [1997]. Apud BARROS, J. R. M. de; ALMEIDA JÚNIOR, M. F. de. Análise do Ajuste do
Sistema Financeiro no Brasil. Brasília: Secretaria de Política Econômica. Ministério da Fazenda, maio 1997.
60
Fonte: CYSNE, Rubens P. Imposto inflacionário e transferências inflacionárias no Brasil. Revista de Economia Política,
v.14, n.3(55), jul. / set. – 1994, p. 121-128. São Paulo: FGV, 1994.
123

pelo método da correção integral do balanço, deduzido o saldo da correção monetária apropriada
nas operações remuneradas. O problema é que tal cálculo exigiria segregar todas as operações
remuneradas das não remuneradas, bem como separar a receita obtida com a correção monetária da
receita com juros, o que nos remete a uma complexidade operacional inconcebível. Estudos como o
Projeto Áries apud Cysne (1994) e Dieese (1995)61 que serviram de base para Carvalho (2003a), ou
da Andima / IBGE (1997) analisados em Barros & Almeida Júnior (1997) e utilizado como
referência no RELATÓRIO FINAL - CPI DO PROER (2002)62, bem como Cysne (2004),
apresentam estimativas do montante dessa receita, com metodologias e resultados bastante
diferentes63; mas como pode ser visto no Gráfico 3-14, os dois trabalhos demonstram a relevância
dos montantes envolvidos. Cabe destacar que Andima / IBGE (1997) demonstra a acentuada queda
na participação da receita inflacionária dos bancos no total do PIB, tendo sido reduzida de 4,2% em
1993 para 2% em 1994, patamar este bastante próximo da média histórica:
58
Estima-se que dos anos 40 até o início dos anos 90, as transferências do setor não
bancário para o setor bancário tenham representado, em termos anuais médio, quase
2% do PIB. Nos anos 90 [...] a receita inflacionária dos bancos cresceu para cerca de
4% do PIB (média de 1990 a 1993), voltando a se reduzir para 2% do PIB, em 1994,
para então ser reduzida a valores inexpressivos em 1995. Tomando como base a média
de 1990 a 1993, isto representa, a valores de 1994, algo próximo a R$ 19 bilhões de
perda para os bancos decorrente da estabilização de preços na economia. (BARROS &
ALMEIDA JÚNIOR, 1997).

347 Gráfico 3-15: Receita Inflacionária 1993-1994. (Médias


O impacto da perda dessa receita
Mensais em R$ milhões)
durante o ano de 1994 pode ser verificado no
500
Gráfico 3-15, principalmente no comparativo do 450
484
1º semestre com o 3º trimestre, quando a receita 400

350
409
média mensal caiu de R$ 484 milhões para R$ 300

299
100 milhões. Se agregarmos a esses dados o fato 250

200

que essa receita tinha uma participação 150

100

expressiva na formação do valor da produção 50 100


126

das instituições bancárias64, vamos verificar no 0

1993 1º sem. 3º trim. 4º trim. 1994

Gráfico 3-16 que o impacto foi bastante Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados
extraídos de Dieese (1995) apud Tabela 1 (CARVALHO,
significativo para todo o sistema bancário 2003a, p. 9).

61
Fonte: DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos. Desempenho dos Bancos Privados
em 1994. Estudos Setoriais, nº 6, set. 1995. Rio de Janeiro: DIEESE, 1995, apud CARVALHO, C. E. Bancos e inflação no
Brasil: da crise dos anos 1980 ao Plano Real. Anais do V Congresso Brasileiro de História Econômica e 6ª Conferência
Internacional de História de Empresas. Caxambu: ABPHE, set. 2003a.
62
Fonte: RELATÓRIO FINAL - CPI DO PROER. Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a investigar as relações do
Banco Central do Brasil com o sistema financeiro privado – CPI – PROER. Alberto Goldman. Brasília: Congresso Nacional,
Câmara dos Deputados, 16 abr. 2002. Disponível em: <http://www.camara.gov.br >. Acesso em: 16 mar. 2004.
63
Para o cálculo da receita inflacionária, o Projeto Áries considerou apenas os depósitos à vista e a Andima / IBGE (1997)
computou (i) pela perda do valor real dos depósitos a vista e / ou (ii) pela correção dos depósitos bancários em valores
abaixo da inflação. (Projeto Áries apud CYSNE, 1994).
64
Valor da produção dos bancos: receita da intermediação financeira (diferença entre os juros recebidos e pagos) e receita de
serviços. (BARROS & ALMEIDA JÚNIOR, 1997).
124

brasileiro. Sobre esse assunto, Gustavo Loyola65, em depoimento na CPI do Proer, declarou:
59
Para os senhores terem uma idéia, a receita inflacionária dos bancos correspondia a
cerca de 4,2% do PIB [...] isso em 93 [...] esse percentual, praticamente, caiu a zero, já
em 1995. Em 1993, as receitas inflacionárias corresponderam a um terço da receita
total do sistema bancário. Vejam bem, um terço de tudo que os bancos auferiam de
receita era devido à inflação e perderam isso da noite para o dia. Perdendo essa receita
da noite para o dia, a reação do sistema bancário foi buscar compensar essa perda
através de tarifação de serviços, em primeiro lugar, e também pela expansão do
crédito [...] (RELATÓRIO FINAL - CPI DO PROER, 2002, p. 4-5).

348
Em agosto de 1994,
Gráfico 3-16: Receita Inflacionária x Valor da Produção das
Sardenberg (28 ago. 1994, p. A-9)66 Instituições Bancárias (em %)
divulgou um estudo de Carlos Daniel 45

Coradi, da EFC - Engenheiros


40
41,3 41,9
Financeiros & Consultores, apontando
35
35,7 35,3
que, em 1993, os 40 maiores bancos
30

brasileiros tiveram uma receita de


25

US$ 35 bilhões e que o ganhos


20

inflacionários representaram 26% 20,4


15
desse total – algo em torno de US$ 9 1990 1991 1992 1993 1994
bilhões. Também indicava que as Fonte: Gráficos elaborados pelo autor, com base nos dados de Andima /
IBGE (1997), apud BARROS & ALMEIDA JÚNIOR (1997).
receitas com operações de crédito
contribuíram com 30% do total, ou US$ 10,5 bilhões. Se os ganhos com atividades próprias do
setor bancário permanecessem em ambiente de baixa inflação, ainda assim a perda da receita
auferida com a inflação teria impacto no resultado do setor, pois, segundo o autor, se não tivesse
ocorrido inflação em 1993, os 40 maiores bancos em vez de registrarem o lucro de US$ 2,1 bilhões,
teriam um provável prejuízo de US$ 1,7 bilhão.
349
O estudo também apontou que o segmento bancário que mais perderia seria o de varejo,
que possuía muitas agências, pois, parte dos ganhos inflacionários seria obtido com a capilaridade
das agências na captação de pagamentos de contas e carnês, que permaneciam nos bancos por
alguns dias antes de serem repassados. Também os bancos de varejo mantinham um grande número
de pequenas contas-correntes cujos titulares deixavam o dinheiro parado. Segundo a pesquisa, em
1993 o ganho inflacionário do Itaú representou 57% das receitas de intermediação financeira; do
Bradesco, 51% e do Bamerindus, 34%. Nos bancos estatais de varejo, a participação dos ganhos
inflacionários teria sido menor, no BB teria representado 32% das receitas e no Banespa, 33%.

65
Gustavo Jorge Laboissière Loyola foi o 17º e 21º presidente do Bacen nos períodos de 13 nov. 1992 a 29 mar. 1993 no
Governo Itamar Franco e de 13 jun. 1995 a 20 ago. 1997 no governo FHC. Também foi diretor do Bacen na DIRAD - Área
de Administração de 16 mar. 1990 a 23 abr. 1990 e do DINOR - Área de Normas e Organização do Sistema Financeiro de
16 mar. 1990 a 16 nov. 1992. Nasceu em 19 de dezembro de 1952, em Goiânia (GO), filho de Cleomar de Barros Loyola e
Maria Antonieta Laboissière Loyola. Em 2002 era Membro Efetivo do Conselho Fiscal do Banco Itaú S.A. Economista,
Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Fonte: BACEN (2002).
66
Fonte: SARDENBERG, C. A. Os bancos ganham US$ 9 bi. com inflação. FSP, 28 ago. 1994, Caderno Especial, p. Especial
A-9; SARDENBERG, C. A. Ganhos vieram da ciranda financeira. FSP, 28 ago. 1994, p. Especial A-9.
125

Mas, segundo o relatório, não se podia concluir que a situação dos bancos estatais fosse mais
confortável, mas que, provavelmente, os bancos de varejo privados foram mais eficientes em buscar
o lucro inflacionário, bem como estariam sendo eficientes também na preparação para o fim da
inflação. Desde o Plano Cruzado, quando sentiram o choque da inflação baixa, os bancos privados
vinham enxugando suas estruturas e melhorando sua produtividade, especialmente com a
automação.
350
Coradi apontava também que, em 1993, os 40 maiores bancos tiveram uma despesa global
de US$ 32,9 bilhões; as despesas com pessoal representaram 38% desse total, ou US$ 12,5 bilhões.
Também observava que os seis maiores bancos de varejo gastavam US$ 15.331 por funcionário e,
nos seis maiores estatais, esse gasto subia para US$ 28.403. O autor concluía que, para enfrentar a
perda do ganho inflacionário, os bancos precisariam aumentar as outras receitas como as de
operações de crédito e de prestação de serviços, e as operações de crédito dependeriam da retomada
do crescimento econômico e da existência de demanda pelos empréstimos. Já a prestação de
serviços certamente ficaria mais cara, como apontavam estudos sobre países que passaram pelo
processo de estabilização econômica, e os ganhos nessa área certamente seriam limitados. O
caminho mais provável a ser seguido pelo setor, seria a redução de despesas, com corte na despesa
de pessoal67 e redução no número de agências. Para o autor, os bancos estatais, por razões políticas
e legais, não conseguiriam demitir nem fechar agências, bem como seriam obrigados a fazer
empréstimos sem possibilidade de retorno. No final de 1993, tais bancos tinham créditos em atraso
ou de recebimento duvidoso que representavam 37,6% do patrimônio líquido, e no caso dos bancos
privados, essa participação era de apenas 3,3%.
351
Também Horita (9 jan. 1994)68 informava que os bancos estavam tentando promover
ajustes internos para mudar o quadro de sua dependência das receitas inflacionárias. Segundo ele,
os bancos de varejo chegaram a ter, em 1989, 60% dos seus ganhos vinculados à receita
inflacionária, quadro este que havia sido reduzido para 25%. Também destacava que os bancos
atacadistas ou de menor porte, também dependiam da inflação em pelo menos 10% de suas receitas.
Na época, Belmiro Castor Valverde, então presidente do Banco Bamerindus, declarou que os
bancos de varejo iriam sofrer mais que outros setores, com o processo de adaptação a um ambiente
de baixa inflação. Segundo ele, “Temos um custo fixo muito alto na comparação com um banco de
atacado [...] É por esta razão que investimos tanto em tecnologia. Queremos ficar menos
vulneráveis”. (HORITA, 9 jan. 1994).
352
A reportagem destacava que o sistema bancário chegou a empregar 900 mil funcionários,
quadro que em 1994 havia sido reduzido para aproximadamente 670 mil, baixando
consideravelmente os custos operacionais dos bancos. Observava também que a inflação elevada
criava efeitos curiosos, por exemplo: a sociedade para se defender da desvalorização constante,

67
Para mais detalhes consultar: SARDENBERG, C. A Demissão ameaça bancários. Folha de São Paulo, 26 ago. 1994, p. 1-6.
68
Fonte: HORITA, N. Bancos se preparam para a estabilidade. FSP, 9 jan. 1994, p. 2-3.
126

acabava deixando menos recursos parados nos bancos, o que reduzia a margem de manobra da
instituição com recursos não remunerados. Segundo ele, “[...] o volume de depósitos à vista caiu de
US$ 6 bilhões em 89 para US$ 4 bilhões em 93”. Como o governo extinguiu o “overnight”, as
empresas passaram negociar com o banco os ganhos inflacionários, tornando tal prática um
instrumento poderoso de barganha69. Segundo Álvaro de Souza, presidente do Citibank, no Brasil, a
redução da inflação poderia trazer vários impactos, como por exemplo, promoveria novos contratos
de longo prazo; quanto à receita, o efeito na época seria de apenas 10% do total.
60
[...] um número baixo e que não trará maiores problemas de adaptação [...] Aliás,
quero trabalhar num ambiente equilibrado, pois nosso objetivo é o de ampliar as
atividades no Brasil. ‘Acho que uma economia estável traz a perspectiva de negócios
de fusões e aquisições no setor bancário. (HORITA, 9 jan. 1994, p. 2-3).

353
Para Henrique Meirelles, então presidente do Banco de Boston, em uma situação de
estabilidade “[...] Vamos ganhar dinheiro com crédito pessoal [...] Foi assim na Argentina e se
repetirá no Brasil”. Segundo a reportagem, na época, o Boston também tinha apenas 10% de suas
receitas totais vinculadas à inflação, o que era muito diferente do Banco Nacional que, por operar
no varejo, 20% de suas receitas tinham origem na inflação, tendo chegado a 50% em 1989. Walter
Kuroda, então diretor financeiro do Banco Nacional, declarava na época que era “[...] uma falácia
afirmar que o banco quebra sem inflação. (e explicava) Não podemos negar que ganhamos com ela,
mas numa situação diferente vamos ganhar também, através das operações de crédito e mais
prestação de serviços”. (HORITA, 9 jan. 1994, p. 2-3.).
354
Tal estratégia acabou sendo aplicada com resultados relevantes para os grandes bancos,
como podemos constatar a seguir:
61
O fim da inflação elevada, com o Plano Real, 1994, reduziu substancialmente os
ganhos inflacionários apropriados pelos bancos [...] A perda destes recursos, contudo,
não impediu que bancos mantivessem lucros expressivos nos anos seguintes. Além do
forte aumento das receitas de serviços e dos ganhos com operações de câmbio na
passagem para a nova moeda, a surpreendente manutenção da lucratividade média dos
bancos já no segundo semestre de 1994 deveu-se no essencial ao rápido crescimento
das operações de crédito, com spreads muitos elevados, o que lhes permitiu
compensar com folga aqueles recursos perdidos. (CARVALHO, 2003a, p. 21)

355
Mas os ajustes necessários envolveriam transformações profundas nas instituições, bem
como ajustes nas estruturas de investimento e financiamento, que nem sempre foram possíveis no
curto prazo. Muitos desses ajustes envolveriam também a reestruturação da dívida pública em todas
as esferas do Estado, o que necessariamente teria que passar pelo campo político institucional. Esse
cenário colocou o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, no centro do poder e
transformava o apoio à sua candidatura em uma questão estratégica para a sobrevivência de muitas
organizações empresariais, principalmente os bancos, pois, segundo Belmiro Valverde, eram eles
que mais sofreriam para se adaptarem ao novo contexto econômico e institucional.

69
Ver na seqüência deste trabalho a Conta Remunerada Bamerindus.
127

356
As reformas promovidas pelo Plano Real nos levam a algumas reflexões sobre certas
questões básicas, como por exemplo, o fato que taxas de inflação elevadas como de 30%, 100% ou
de 1.000% ao ano, experimentadas no período 1981 a 1994, inviabilizaram a moeda oficial como
referencial de valor. Nesse cenário, os agentes econômicos acabam elegendo outros ativos como
moeda e, no caso brasileiro, a longa convivência com tais taxas levou à criação de inúmeras
“moedas” diferentes, havendo índices de preços para cada necessidade, quando também os Estados
e a União acabaram criando indexadores específicos para os impostos70. Nesse contexto de moedas
diferentes e inflação elevada, pelo prisma estatístico, o próprio cálculo do que seria o “índice de
inflação” torna-se bastante discutível, senão precário, e revela em boa medida um quadro
econômico-financeiro cujo controle federal sobre a moeda era bastante limitado. Guardadas as
devidas proporções e diferenças históricas, se excluirmos a aparência de unidade monetária,
teremos um cenário que nos parece remeter aos anos em que os rebeldes do Sr. Jackson
conseguiram eliminar o controle da União sobre o dólar nos EUA, ou mesmo, o “encilhamento” de
Ruy Barbosa. Sob este prisma, as reformas promovidas sob a égide do Plano Real sugerem um
processo de retomada do poder da União em detrimento das diversas forças políticas e econômicas
regionais, principalmente se considerarmos que, na seqüência das reformas, os bancos estaduais e
grandes grupos econômicos como o Bamerindus, o Nacional e o Econômico, todos com forte
sotaque regional, sofreram intervenção do Bacen; sem contar que no saldo final houve um nítido
fortalecimento dos grandes grupos paulistas.

3.4.2.2.2 ESTRUTURA DE AGÊNCIAS

357
A estrutura de agências, que até então era fundamental para os bancos de varejo, agora se
tornava um grande problema diante da queda da inflação. Segundo Blecher (2 maio 1994, p. 2-1)71,
na época o Itaú possuía uma rede com 981 agências instaladas em 450 cidades brasileiras, e
pretendia inaugurar mais 24 em 1994. Conforme Antonio Jacinto Matias, então diretor de
marketing do Itaú, o banco estava concentrando os investimentos no auto-atendimento, e no ano
anterior havia processado 95,6 milhões de documentos por dia, em comparação com as 140,6
milhões de transações informatizadas. O Bamerindus, que na época possuía 1.360 agências, das
quais 300 haviam sido abertas em 1990, estava limitando a expansão para casos específicos, pois
segundo Belmiro Castor, a “[...] introdução da nova moeda, o real, deverá frear a expansão das
redes”. O banco estimava que era necessário US$ 100 mil em média para abrir uma nova agência e
esperava que a estabilização econômica aliviasse a sobrecarga operacional e direcionasse as

70
A União, por exemplo, através da Lei 7.799 de 10 set. 1989 instituiu a BTNF – Bônus do Tesouro Nacional Fiscal como
referencial de indexação para tributos e contribuições de competência da União, tendo seu valor fixado diariamente pela
Secretaria da Receita Federal que projetava a evolução da taxa mensal de inflação. Foi substituída pela UFIR – Unidade
Fiscal de Referência através Lei 8.383 de 30 dez. 1991, que também era atualizada diariamente. Sua aplicação foi
interrompida entre jul. e dez. de 1994, passando a ser trimestral a partir de jan. de 1995, semestral em 1996, anual em 1997 e
finalmente extinta em outubro de 2000.
71
Fonte: BLECHER, N. Grandes redes armam estratégias. FSP, São Paulo, 2 maio 1994, p. 2-1.
128

instituições bancárias para reorganizar as atividades de crédito. A estratégia do banco estava sendo
montada com a perspectiva que não haveria expansão no número de agências, mas que também não
haveria o encolhimento da rede, pois a instituição considerava a rede como um “ativo estratégico”.
Belmiro também entendia que a expansão de serviços eletrônicos não resultaria no desaparecimento
das agências convencionais, mas que elas teriam menor porte, processos automatizados e menos
funcionários.
358
Segundo o diretor de patrimônio do Bradesco, Armando Trivellato, a instituição estava
investindo na desconcentração das redes regionais e instalação de novas agências em regiões pouco
assistidas no interior do país. O banco já tinha aberto 24 agências em 1994 e se preparava para
inaugurar outras 51 em Estados como Goiás e Pernambuco, que representavam apenas 6% das
redes. Em 1993, o Bradesco chegou a inaugurar mais de uma nova agência a cada semana. O
“redimensionamento” esperado nada tinha a ver com os serviços eletrônicos que registravam então
um forte crescimento, pois, segundo Blecher, só em 1993, a rede de quiosques do “Banco 24 horas”
havia crescido 20%, e o Bradesco, que investia US$ 150 milhões anuais em informática, pretendia
instalar mil novas máquinas na sua rede de auto-atendimento “Dia e Noite”. Mas, segundo Tadeu
Masano72, em declarações para a reportagem, “[...] o número de agências está superestimado, por
exemplo, na capital paulista [...]”, pois o centro da cidade concentrava 18,3% das 1.538 agências
paulistanas, e somente no triângulo formado pelas ruas Direita, Líbero Badaró e Boa Vista,
funcionavam 106 agências bancárias, o que superava em número as 95 distribuídas ao longo da
avenida Paulista. Nos Jardins estava a segunda maior concentração de agências, com 10,8% do
total, e na região residia apenas 1,5% dos paulistanos, muito diferente da zona leste onde ficavam
aproximadamente 9,9% das agências, e 29,4% da população.
359
Blecher (2 maio 1994, p. 2-1)73 também apontava para o fato que, conforme pesquisa
conduzida pela consultoria Estudos Empresariais, havia “[...] menos de duas padarias para cada
agência em operação na cidade de São Paulo [...]”. Na época, operavam em São Paulo 1.538
agências bancárias e 2.861 padarias. Ele também observava que 31% do faturamento total do
comércio varejista brasileiro e, 37% da receita gerada por empresas prestadoras de serviço,
ocorriam no Estado de São Paulo. Mas quando o setor era o bancário, a participação relativa do
Estado nos depósitos bancários saltava para 60,4%. E se São Paulo concentrava aproximadamente
50% da produção industrial brasileira, o volume de empréstimos bancários no Estado chegava a
61,2% do total. A região Sudoeste concentrava também a metade das 17.262 agências bancárias.
Blecher observava então que, seja “[...] qual for o indicador que se considere, nenhum setor do
mapa dos negócios exibe concentração geoeconômica tão elevada quanto o financeiro”.

72
Na época Tadeu Masano era presidente do portal Geografia de Mercado e diretor de consultoria e professor da FGV.
73
Fonte: BLECHER, N. Mapa revela concentração bancária. FSP, São Paulo, 2 maio 1994, p. 2-1.
129

3.4.2.2.3 TARIFAS

360
Em junho de 1994, o Bamerindus sinalizava que a concorrência não seria amenizada com o
Plano Real divulgando que, entre as medidas de adaptação, o banco74 analisava a possibilidade de
baixar as tarifas de serviços, como resposta para um possível movimento de reajuste pelos
concorrentes. A idéia era utilizar a tarifa como um dos ingredientes da estratégia de marketing que
orientaria o relacionamento do banco com seus clientes após a chegada do real. A meta era ampliar
o número de correntista de 2,5 milhões para 4 milhões. Belmiro Valverde também declarava que
era
62
[...] um grande equívoco achar que bancos precisam de inflação para sobreviver [...]
As instituições internacionais mais lucrativas operam em ambiente não inflacionário.
Estamos prontos a reassumir a função tradicional de um grande banco de varejo:
prestar serviços e estender o crédito. (BLECHER, 2 jun. 1994, p. 2-3).

361
A aposta do banco era que com a implantação do real, a partir de 1º de julho, uma boa parte
do mercado informal seria incorporada à rede bancária, em busca de crédito. O Bamerindus
pretendia cooptar clientes de pequenos bancos que voltariam a operar em mercados especializados,
tendo aumentado sua carteira de crédito de US$ 2,2 bilhões para US$ 4,8 bilhões em apenas um
ano e meio e, segundo Belmiro, a perspectiva de estabilidade econômica não pretendia provocar
novos cortes de pessoal, pois na época o banco tinha “[...] um quadro enxuto de 31 mil funcionários
em comparação ao contingente de 42 mil em 1985 e de 35 mil ao início desta década”. A instituição
esperava que a redução das atividades ligadas aos ganhos financeiros gerados pela inflação, fosse
compensada pelo aumento nas operações de crédito.

3.4.2.2.4 BANCÁRIOS

362
Nesse cenário, a categoria dos bancários estava enfrentando grandes transformações que,
segundo Bernardo (23 out. 1994, p. 7-1)75 passavam pela mudança no perfil profissional que estaria
incorporando novas habilidades como as de profissionais de vendas, marketing e engenharia
financeira. Mais do que qualquer outro setor, os bancos estariam em rota de colisão com o eventual
sucesso do Plano Real, pois a inflação baixa por longo período quebrava a ciranda do lucro
especulativo e diminuiria o afluxo de clientes e de dinheiro. Também o avanço tecnológico e a
“globalização” dos mercados estariam obrigando os bancos a reverem seus processos de trabalho e
a criarem novos produtos, devendo diminuir a quantidade de trabalhos ligados a controle e
processamento interno, conhecido como “retaguarda”, que estaria passando por um processo de
automação, assim como boa parte das funções exercidas hoje pelos caixas. Segundo ele, o
diferencial entre as instituições seria determinado pelo atendimento.

74
Fonte: BLECHER, N. Bamerindus estuda baixar as tarifas para atrair clientes. FSP, 2 jun. 1994, p. 2-3.
75
Fonte: BERNARDO, J. V. Perfil do bancário muda com Real. FSP, São Paulo, 23 out. 1994, 7-1.
130

363
Para Nelson Luiz Fanaya, então diretor de planejamento corporativo do grupo Bamerindus,
o “[...] número de pessoas na administração central – compensação de cheques, cobrança – deve
diminuir. O de profissionais ligados a empréstimos e aplicações vai aumentar”. Na época, Sílvio
Genesini, sócio-diretor da Andersen Consulting, que prestava serviços de consultoria em
planejamento estratégico aos bancos, declarava que, antes, “[...] os bancos tinham três pessoas na
retaguarda para uma em atendimento. A tendência é ficar um para um”. (BERNARDO, 23 out.
1994, p. 7-1) Segundo a reportagem, o atendimento diferenciado começava com a criação de
atrativos financeiros, elaborada por economistas e administradores especializados em engenharia
financeira; em seguida, levar os novos produtos ao conhecimento do público geral, o que exigia
profissionais especializados na área mercadológica; na seqüência, seria necessário personalizar as
relações cliente / banco. Nesse quadro, gerentes e caixas com perfil negociador seriam valorizados
e caberia a eles captarem as necessidades de cada cliente e apresentar soluções. Segundo Ricardo
Berzoini, então presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, a “[...] base
da pirâmide está ficando estreita. Uma grande rede que já teve 30 mil caixas hoje tem 14 mil”.
(BERNARDO, 23 out. 1994, p. 7-1).

3.4.2.2.5 FEBRABAN

364
No final do ano de 1994, a situação dos bancos estava se tornando bastante delicada, como
podemos constatar nas declarações de Maurício Schulman76, no dia 8 de dezembro77 daquele ano,
quando assumia a Presidência da Febraban.
365
Na ocasião ele declarava que as reformas fiscal e previdenciária seriam os dois assuntos
prioritários na sua agenda de trabalho para 1995, pois a reforma fiscal permitiria ao governo
equilibrar suas contas e aliviar o sistema financeiro da pressão da cunha fiscal representada pelos
tributos e compulsórios sobre depósitos a prazo e empréstimos. Entendia ele que a carga fiscal
reduzia o rendimento das aplicações feitas pelos investidores e aumentava o custo dos tomadores de
empréstimos, estimulando a desintermediação financeira, como indicava o crescimento dos cheques
pré-datados e outras operações que passam por fora do sistema bancário.
366
Ainda na entrevista a Miya & Vergill (12 dez. 1994)78, Schulman observou que o aumento
nos depósitos compulsórios determinados pelo Bacen, e que teriam resultado na liquidação de sete
bancos pequenos desde a implantação do Plano Real, tinham por objetivo inibir um surto de
consumo que, apesar de ser desejado por todos, estava sobrecarregando alguns setores e gerando
pressões inflacionárias. As medidas tomadas com relação ao compulsório sobre depósitos a prazo e
sobre as aplicações financeiras, conseguiram bloquear os efeitos indesejáveis de aumento da

76
Na época Maurício Schulman era presidente do Grupo Bamerindus, na seqüência deste trabalho vamos analisar com mais
detalhes a sua biografia e atuação no Bamerindus.
77
Reforma fiscal será prioridade da Febraban. FSP, 9 dez. 1994, p. 2-5.
78
Fonte: MIYA, Fideo. & VERGILI, Rodney. Compulsório gera efeitos danosos, diz Schulman. FSP, 12 dez. 1994, p. 1-4.
131

inflação.
63
O remédio efetivamente produziu efeito, só que, como qualquer remédio, tem efeitos
colaterais que são extremamente danosos para aqueles que não tinham os anticorpos
para se defender. Alguns até sucumbiram por causa desses efeitos colaterais.
Instituições financeiras que estavam descasadas, ou no tipo de moeda ou nos prazos
em que estavam aplicadas, com taxas de juros às vezes muito convenientes, dando
créditos a seis, oito, dez meses e tomando dinheiro no dia-a-dia. Com o estreitamento
da liquidez, ficaram sem o dinheiro do dia-a-dia e acabaram sucumbindo. Claro que
aqueles que estavam mais casados e que já faziam empréstimos a seus clientes em
prazos semelhantes aos créditos que tomavam de outros bancos ou do mercado não
têm problemas. (MIYA & VERGILL, 12 dez. 1994).

367
Sobre a situação dos bancos liquidados, Schulman entendia que:
64
[...] eles já tinham algum germe de desequilíbrio, que muitas vezes foi a razão deles
terem ganho muito dinheiro. Eles apostaram, por exemplo, em aplicar longo e captar
curto, enquanto muitos, ao contrário, aplicaram rios de dinheiro aplicando curto e
captando longo. O modo de atuação e a tendência dos juros acabam dando diferenças
muito grandes nessa alavancagem. O problema é quando se é pego no contrapé. [...]
Por exemplo, muitas instituições boas e idôneas perderam dinheiro no câmbio nesses
últimos meses. Não acreditaram que a política de câmbio fosse para manter um
diferencial grande entre a paridade original do plano, de um por um. O preço do
mercado livre situou-se na casa dos 85, 83 centavos de real por dólar. Muitos
apostaram que isso era muito passageiro e que em dois ou três meses iríamos voltar à
paridade de um por um. Estão perdendo a diferença. (MIYA & VERGILL, 12 dez.
1994).

368
Com relação à crise dos bancos estaduais, Maurício Schulman achava que o problema não
era generalizado, havendo alguns em boa situação e outros com problemas estruturais pela perda da
receita inflacionária. Para ele, os bancos estaduais tinham os mesmos problemas pelos quais
passavam os bancos pequenos, “estavam descasados”. Suas operações de crédito tinham prazos
maiores do que as operações de captação de recursos, bem como alguns estavam contaminados
pelas dificuldades dos caixas dos Tesouros estaduais. Outros, porém, passavam por dificuldade em
razão de as operações de crédito com devedor que já no início da operação pretendia refinanciar a
dívida no vencimento, fato este de interesses e conhecimento dos controladores do banco.
369
Quando questionado sobre sua opinião a respeito da autonomia do Bacen, Schulman não
respondeu a questão diretamente, preferindo avaliar a utilidade e o papel do Banco Central nos
momentos de crise. Ele era da opinião que cada banco, público ou privado, tinha que analisar sua
situação, e que era obrigação do Bacen, “[...] em entendimento com os acionistas controladores”,
buscar saídas para os problemas das instituições financeiras, evitando situações que pudessem
provocar traumas no mercado.
65
Agora, se um banco, tanto privado quanto público, tem dificuldades estruturais e o
acionista que o controla não tem condições de socorrê-lo e quer deixar do jeito que
está, o Banco Central fica sem alternativa, a não ser cumprir a sua obrigação. (MIYA
& VERGILL, 12 dez. 1994).

370
Com relação aos preparativos dos bancos para enfrentar o plano de estabilização
econômica, Maurício respondeu que os bancos vinham se preparando desde o primeiro plano
econômico em 1986, e citou que o Bamerindus vinha fazendo grandes investimentos na
132

informatização de suas agências, buscando reduzir custos através do auto-atendimento, ações


mercadológicas, e investimentos em direção ao mercado externo, e o Bamerindus era o principal
agente financeiro brasileiro na área das importações, bem como o primeiro banco latino-americano
a ter escritórios em Hong-Kong.
371
Alguns dias após a posse de Schulman na Febraban, José Eduardo era confirmado para o
cargo de ministro da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária do governo FHC que tomaria
posse no início de janeiro de 1995. As perspectivas na época indicavam que Fernando Henrique
dispunha de várias alternativas com relação ao Plano Real, como por exemplo, poderia aprofundar
as reformas necessárias para manter o controle da inflação, enfrentando o custo político que
certamente envolveria aliados importantes dentro da base de sustentação do governo; ou
simplesmente seguiria o caminho trilhado pelos governos Sarney e Collor nos seis planos
anteriores, hipótese esta que provavelmente, faria a participação dos bancos no PIB voltar ao seu
patamar histórico. Ao tomar posse na 50º Legislatura da Câmara dos Deputados, em 16 de fevereiro
de 1995, o deputado José Mendonça Bezerra Filho (PFL-PE) apresentou a Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) número 001/1995 que dava nova redação ao § 5º do artigo 14 da Constituição
Federal, permitindo a reeleição de presidente da República, governadores de Estado e do Distrito
Federal, prefeitos e quem os houverem sucedido ou substituído nos seis meses anteriores ao pleito.

3.4.3 UMA BREVE REVISÃO DOS ANOS 1995 A 1997

372
Encerramos este capítulo com uma breve revisão dos acontecimentos ocorridos no período
1995-1997, lembrando que a importância das transformações ocorridas no sistema financeiro na
segunda metade da década de 1990 exige uma análise específica e aprofundada que ficará para uma
próxima oportunidade.
373
Nos anos seguintes, entre 1995 a 1997, a economia brasileira entrou num período de
grandes dificuldades, as políticas recessivas geradas pelas altas taxas de juros e o câmbio
sobrevalorizado, incentivaram as importações e aumentaram o desemprego. Com o crédito
estrangulado pelas taxas de juros e retração no consumo, todo o sistema financeiro entrou num
profundo processo de reestruturação. Nesse contexto, para compensar a perda da receita
inflacionária, os bancos buscaram expandir as operações de crédito, antes de partirem para ajustes
mais significativos em suas estruturas operacionais. O Plano Real havia provocado o crescimento
dos depósitos à vista em 165,4 % e os depósitos a prazo em aproximadamente 40% nos seis
primeiros meses após o anúncio do Plano Real. Tais recursos foram canalizados para as operações
de crédito, o que aumentou a vulnerabilidade das instituições, pois a expansão do crédito durante o
processo de ajuste econômico resultou no crescimento dos empréstimos de liquidação duvidosa,
como podemos ver no Gráfico 3-17.
133

Gráfico 3-17: Empréstimos em atraso e em liquidação no sistema financeiro (jan. 1994 - fev. 1997)

Nota: Foram excluídos os dados do Banespa, CEF e Banerj. Fonte: Bacen / SPE / Coord. de Política Monetária, apud Barros
& Almeida Júnior (1997)

374
Em 1995, o Bacen promoveu intervenções em 55 instituições financeiras e, entre elas
estavam os bancos dos Estados de Alagoas, Rondônia e do Mato Grosso. Em 11 de agosto decretou
intervenção no Banco Comercial de São Paulo, no Banco Mercantil e nas empresas do Grupo
Econômico, que na época era o sétimo maior banco do país e apresentava problemas financeiros
que somavam algo em torno de R$ 3 bilhões. O cenário instalado após a “quebra” do Banco
Econômico e as notícias que indicavam o Banco Nacional como o próximo da lista, era de
desequilíbrio e mais falências de grandes grupos. Os operadores e analistas financeiros sabiam que
a capacidade do Estado de socorrer o sistema estava limitada pelos problemas que o governo
enfrentava dentro de casa com a reestruturação do Banco do Brasil e Caixa Econômica.
375
No dia 31 de agosto, através da Resolução nº 2.197, o Conselho Monetário Nacional
autorizava a “[...] constituição de entidade privada, sem fins lucrativos, destinada a administrar
mecanismos de proteção a titulares de créditos contra instituições financeiras”, criava-se portanto, o
Fundo Garantidor de Créditos – FGC, que seria regulamentado através da Resolução n.o 2.211, em
16 de novembro de 1995. Dias antes, a Medida Provisória número 1.179, publicada no Diário
Oficial da União (DO), com data de 03 de novembro de 1995 instituiu o Programa de Estímulo à
Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro (PROER). Os principais objetivos do
Proer eram assegurar a liquidez e solvência do sistema financeiro nacional e resguardar os
interesses dos depositantes e investidores, cobrindo a aquisição ou a transferência de controle
acionário e, a assunção de direitos e / ou obrigações das instituições financeiras. Duas semanas
depois, em 17 de novembro, nova Medida Provisória - MP 1182 – aumentava os poderes do Bacen
que, entre outros, neutralizava a Lei das Sociedades Anônimas, com relação aos direitos dos
134

acionistas das instituições financeiras, bem como criava o conceito de responsabilidade solidária
dos controladores para as instituições financeiras submetidas aos regimes de intervenção ou
liquidação extrajudicial, e estendia a indisponibilidade aos acionistas controladores. Preservava,
porém, os bens considerados inalienáveis ou impenhoráveis, como as ações de governos estaduais,
dívidas trabalhistas ou saldos no FGTS.
376
No dia 18 de novembro, o Bacen tornava pública a informação que havia assumido a
administração do Banco Nacional para viabilizar a absorção da instituição pelo Unibanco. Pelo
acordo firmado, o Unibanco assumiria a parte “saudável” do Nacional, e o BC ficaria com a parte
“comprometida”. Procurando evitar a intervenção formal e a liquidação extrajudicial, o Bacen
colocou as agências do Nacional sob o regime do RAET. A intervenção foi cercada de intensos
boatos no mercado financeiro que identificavam o Bamerindus como o próximo banco a sofrer
intervenção do Bacen.
377
Em 1996, as intervenções do Bacen atingiram 23 instituições financeiras, entre elas as
empresas do grupo Banorte. Nesse ano, foi criado o Comitê de Política Monetária (Copom) 79 com o
objetivo de estabelecer diretrizes da política monetária, definir a meta da Taxa SELIC e seu
eventual viés e analisar o Relatório de Inflação, introduzindo a sistemática de “metas para a
inflação” como diretriz para a fixação do regime de política monetária de Inflação.

Gráfico 3-18: Intervenções do Bacen (1970 a 1997)


60 56

56 55
50
51 45
49

40 42
41

34
30

29
27
20 17 24 23

17 17 17
14 15
10 13

7
5 5
0
3 2 2 2
1970

1971

1972

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1979

1980

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, com base nos dados obtidos em Bacen (2004).

378
No ano seguinte, foi criada a Central de Risco de Crédito80 e, buscando atender cláusulas do
Acordo da Basiléia, o Bacen emitiu a Resolução 2.399 que modificou para 10% o percentual

79
Circular nº 2.698, de 20 jun. 1996 do Bacen.
80
Resolução nº 2.390, de 22 de maio de 1997. (BACEN, 2003).
135

exigido dos bancos para o patrimônio líquido. Em novembro, uma nova Circular 2.784 aumentou
esse percentual para 11% e estabeleceu o dia 31 de dezembro de 1998 como data limite para a
adequação das instituições. O Gráfico 3-18 demonstra que a quantidade de intervenções realizadas
pelo Bacen no período 1994 – 1997, indica que ocorreram profundas mudanças no sistema
financeiro, e que só no ano de 1997 foram realizadas intervenções em 45 instituições financeiras.
379
No gráfico também destacamos três momentos importantes para a histórica do Bamerindus:
o primeiro em 1974 quando, em meio à crise financeira do início do governo Geisel e as
intervenções do Bacen, o grupo incorpora o Bancial; o segundo momento, em 1985, quando o
banco enfrentou uma forte crise de liquidez e boatos de intervenção iminente; finalmente no dia 26
de março de 1997, quando o Bacen determinou a intervenção no Grupo Bamerindus do Brasil e
transferiu parte de seu patrimônio para o grupo inglês The Hongkong and Shanghai Banking
Corporation Limited. Esse momento deu início ao processo de transferência de vários grandes
bancos brasileiros para o controle estrangeiro, sendo importante observar que:
66
A quebra dos três grandes bancos [Econômico, Nacional e Bamerindus] está ligada ao
quadro econômico da primeira metade da década, e não apenas ao que ocorreu a partir
da queda da inflação. Os problemas de cada um deles devem ser analisados a partir de
sua situação específica e das estratégias que adotaram para enfrentar a concorrência,
tentar ganhar mercado e crescer. O esclarecimento sobre o que de fato ocorreu
depende do aprofundamento da pesquisa sobre a trajetória de cada um deles, a partir
de dados mais detalhados e confiáveis que os dos balanços e que permitam avaliar os
efeitos das estratégias adotadas, desde antes do Real, sobre sua situação patrimonial e
sobre os resultados. (CARVALHO & OLIVEIRA, 2002, p. 83)81

380
Como veremos na seqüência deste trabalho, além dessas questões observadas por Carvalho,
pelo menos no caso Bamerindus temos que, necessariamente, incluir variáveis do campo político na
complexa equação que resultou na intervenção do Bacen.
381
Nos anos seguintes, o sistema financeiro nacional enfrentou uma profunda reforma, que
reduziu o número de bancos, aumentou a participação estrangeira e privatizou a maior parte dos
bancos estaduais. Para mais detalhes sobre o período pós-1994 sugerimos consultar os trabalhos de
Vidotto (2002)82, Minella (2004)83 e Minella & Ferreira (2005)84.

3.5 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES

382
Neste capítulo apresentamos uma breve revisão da história do sistema financeiro
internacional e brasileiro no período 1981 a 1994; verificamos que as profundas mudanças que

81
Fonte: CARVALHO, C. E.; OLIVEIRA, G. C. Fragilização de grandes bancos no início do Plano Real. Nova Economia.
Vol. 12 nº 1, p. 69-84. Belo Horizonte: UFMG, jan. Jun. 2002.
82
Fonte: VIDOTTO, Carlos A. O sistema financeiro brasileiro nos anos noventa. Um balanço das mudanças estruturais.
Tese de doutorado apresentado ao Instituto de Economia. São Paulo, UNICAMP, 2002.
83
Fonte: MINELLA, Ary C. Transformações do Sistema Financeiro e representação de classe no Brasil (1994-2004). In: IV
Workshop: Empresa, Empresários e Sociedade, nov. 2004, Anais. Juiz de Fora: UFJF, 2004.
84
Fonte: MINELLA, Ary C.; FERREIRA, Alceu C. Bancos no Brasil: muito mais que operações de crédito (poucas) no final
do Século XX. In: VI Congresso Brasileiro de Pesquisadores em História Econômica e 7ª. Conferência Internacional
de História de Empresas, set. 2005. Anais. Cidade de Conservatória: ABPHE, 2005.
136

ocorreram no sistema financeiro brasileiro estão intimamente relacionadas com o processo de


hegemonia financeira e mundialização do capital financeiro. Nesse período também ocorreram
profundas mudanças no sistema financeiro brasileiro, promovendo a aceleração e consolidação do
processo de hegemonia do capital financeiro e maior integração ao sistema financeiro internacional
(SFI). Tal processo, apesar de ter começado na Europa e EUA nos anos 1960 com a entrada e o
crescimento de novas operações e atores, entre eles os chamados investidores institucionais, ganhou
contornos significativos nos grandes centros capitalistas durante os anos 1970, por causa do
progressivo crescimento do mercado financeiro internacional e desmonte do acordo de Bretton
Woods; e foi acelerado nos anos 1980 quando vários países adotaram políticas mais liberais para os
seus sistemas financeiros, buscando facilitar sua integração ao mercado internacional. No Brasil, o
processo de liberação e maior integração ao SFI, teve início quando o país passou a enfrentar a
grave crise da dívida externa nos primórdios dos anos 1980. Essa crise interrompeu o fluxo de
capitais e estrangulou a capacidade financeira do Estado, com reflexos sobre a estrutura social,
política e econômica do país, dando início a um processo de reformas do sistema financeiro
nacional. Inicialmente, estas reformas tinham em vista enfrentar os graves problemas acumulados
no patrimônio das instituições financeiras durante os anos de regime militar, e promover alterações
na estrutura de subsídios e do gasto público em todas as esferas do Estado.
383
Na seqüência foram implantados vários planos de estabilização econômica, os quais
envolveram sucessivas alterações na moeda e na estrutura institucional do sistema econômico e
financeiro. Esse processo culminou com a implantação do Plano Real em 1994, que aprofundou a
reforma da dívida pública e o controle do orçamento da União, Estados, Municípios e empresas
estatais. Tais transformações foram condicionadas, em muitos momentos, pela agenda de
organismos financeiros internacionais através da pauta das negociações da dívida externa, tendo
resultado no aumento do grau de integração do sistema financeiro brasileiro ao mercado
internacional, bem como na privatização de grande parte de sua estrutura, transferência de
importantes instituições para o controle estrangeiro e a ampliação de grandes grupos econômicos e
financeiros com a participação dos bancos no programa de privatização. Esse redesenho da
estrutura econômica brasileira aumentou a concentração do poder econômico e produziu
significativas mudanças na correlação de forças políticas. Essas transformações fizeram parte de
um processo maior, que segundo Chesnais, constituiu-se numa nova fase do capitalismo,
caracterizada pela hegemonia do capital financeiro sobre o sistema econômico internacional.
384
Com este capítulo reunimos as informações básicas necessárias para prosseguir com este
estudo, e convidamos o leitor a nos acompanhar agora no esforço para identificar e analisar as
conexões entre o sistema financeiro e o mundo político através da história do Bamerindus.
4 CAPÍTULO III: A FAMÍLIA VIEIRA E O BAMERINDUS

– Lá vai o Coronel Ponciano Azevedo


Furtado em sua mulinha de desencantar
lobisomem. Vai a guerra do Demônio, que o
coronel não tem medo de nada..
(CARVALHO, 2000, p. 305).

4.1 INTRODUÇÃO

385
Neste capítulo apresentamos uma breve história da família Vieira e da formação do Grupo
Bamerindus até 1981. Buscamos focalizar os diversos aspectos sociais, políticos, econômicos e
financeiros deste período, procurando subsídios históricos para compreender a gestão de José
Eduardo à frente do Bamerindus na década de 1980 e parte dos anos 1990.
386
Inicialmente abordamos a formação da família Vieira, para em seguida entrarmos na
criação da sua primeira instituição financeira, o Banco Popular e Agrícola do Norte do Paraná
(BPANP) que, mais tarde, é incorporado pelo Banco Comercial do Paraná (Bancial). Na seqüência,
vamos investigar a aquisição do Banco Meridional da Produção e sua transformação em Banco
Bamerindus do Brasil (BBB), bem como o seu desenvolvimento até os anos 1981. Neste capítulo
vamos verificar as diversas conexões políticas desses bancos, bem como as relações com os eventos
históricos mais importantes no período. Assim iniciamos a jornada pela intrincada rede de relações
econômicas, sociais e políticas, na qual as instituições bancárias assumem boa parte do papel de
coordenadoras do fluxo de recursos, catalisadora de conflitos, e instância de constrangimento ou
facilitadora da ação dos diversos grupos econômicos e sociais. Vamos acompanhar o processo de
expansão do Bamerindus que aconteceu através da associação com grupos influentes tanto locais
como nacionais, pela da incorporação desses grupos aos quadros de acionistas, conselheiros,
diretorias ou como parceiros de negócios, possibilitando assim integrar grupos locais aos grandes
centros, servindo de ponte para o fortalecimento de ambos os lados.
387
Neste capítulo, acompanhamos a formação do Grupo Bamerindus cuja rede de relações
sociais, políticas e econômicas formava uma malha que cobria boa parte do território nacional e
cujo tamanho torna impossível a tarefa de descrevê-la no seu todo, exigindo a busca pelas regiões
de maior densidade de conexões nas quais se concentrou a maior parte do poder de decisão. Nessas
regiões, vamos encontrar ligações com grandes grupos econômicos, partidos políticos1, instituições

1
Nos anexos apresentamos um quadro com os principais partidos brasileiros no período 1945-2003.
138

públicas, políticos importantes, famílias tradicionais, grupos de interesses e sindicatos patronais e


de trabalhadores. No centro dessa constelação de interesses sociais, também vamos encontrar um
grupo de capitalistas organicamente reunidos em torno da família Vieira e, neste capítulo,
procuramos identificar esses personagens, suas biografias e principais contribuições para a
formação da rede Bamerindus.

4.2 A FAMÍLIA VIEIRA E AS CONEXÕES POLÍTICAS DO BAMERINDUS (DAS


ORIGENS ATÉ 1981)

4.2.1 OS AVÓS DE JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA

4.2.1.1 MIGUEL ANTUN OU MIGUEL ANTÔNIO VIEIRA

388
Miguel Antun2 nasceu numa família humilde em Baabda3, Líbano em 1869 segundo
Andrada (1982, p. 11)4 e provavelmente em 2 de fevereiro de 1877 segundo Brandão (1993), teria
imigrado para o Brasil aos 17 anos, chegando em Santos provavelmente em 1894. Mas, observa o
autor, essas informações não são definitivas, visto que os registros na época não eram muito
precisos, normalmente baseados em declarações, havendo inconsistências entre os dados
registrados nos diversos documentos de Miguel, como certidões de óbito, casamento, naturalização
etc.
389
Após ter passado por Rio Preto em São Paulo; Guarapuava e São José da Boa Vista, no
Paraná; Araraquara e Campinas e ter trabalhado como mascate, acabou se fixando em Tomazina no
Norte do Paraná por volta do ano de 1897.
67
Tomazina foi fundada, em 1865, pelo mineiro de São João Del-Rei, Major Thomaz
Pereira da Silva, que adquirira duas posses de terras na margem direita do Rio das
Cinzas. Depois, em fins de 1867, o Major preparou e liderou grande comitiva,
composta da família, escravos e agregados, que partindo do Sul de Minas [...] Em
1878 [...] “o Major Thomaz e sua mulher fizeram doação de uma certa área de terras
para o patrimônio, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, cuja
povoação teve início com as primeiras casas construídas e arruadas em 1879”. A
freguesia foi criada em 1882, pela Lei n° 681, com a denominação de “Thomazina”
[...] em homenagem ao pioneiro [...] Foi elevada a Vila em 1888. Comarca em 1913.
Tomazina marca um símbolo na evolução sócio-econômica do Paraná, pois, “foi a
primeira grande tentativa da implantação do cafeeiro do Paraná, quando a liderança
do produto pertencia à província fluminense e imensas florestas cobriam as áreas
paulistas que viriam, depois, se transformar em cafezais” [...] (Informativo
Bamerindus, 13 out. 72, apud ANDRADA, 1982, p. 13).

2
Andrada (1982) e Nogueira (1986) grafam o nome como Antum e, Brandão (1993) grafa como Antun, provavelmente o uso
do “m” seja uma tradução do nome original.
3
A grafia do nome pode ser Bahabda ou Ba’abda. Segundo a Câmara de Comércio Brasil-Líbano, Baabda é capital da
província Monte Líbano. Fonte: Câmara de Comércio Brasil-Líbano. Baabda. São Paulo, [2004]. Disponível em:
<http://www.ccbl.com.br/index.htm >. Acesso em: 13 out. 2004.
4
Fonte: ANDRADA, F. C. de. Um comandante de bancos: vida e obra de Avelino Vieira. Curitiba: Banco Bamerindus do
Brasil S.A., 1982.
139

390
Nessa época, Miguel Antun aportuguesou seu nome para Miguel Antônio, seguindo uma
prática, comum na época, de adotar um nome em português para evitar ser identificado como
“turco”, termo que segundo Brandão (1993, p. 22) tinha conotação pejorativa na região. Em
Tomazina, ele abriu uma casa comercial de secos e molhados, atacado e armarinho, conhecida na
época como Armazém do “seu Miguel, o sírio” bem como, mais tarde, adquiriu a fazenda de café
Bela Vista com 300 alqueires de terra roxa e 100 mil pés de café. Miguel também teve um engenho
com 968 mil pés de cana produzindo rapadura e açúcar mascavo, “além de ter sido vereador
(camarista) em duas legislaturas, participava ativamente de todas as iniciativas que promovessem a
cidade. Era, de conseguinte, figura obrigatória na sociedade de Tomazina”. (ANDRADA, 1982, p.
14). Mais tarde, Miguel adotou o sobrenome Vieira, cuja origem, segundo Andrada (1982, p. 14),
seria da família de sua esposa, Cecília Bernardina – natural de Brazópolis (MG), o que é contestado
por Brandão (1993, p. 23), visto que o sobrenome de Cecília era Silva. O casal teve cinco filhos:
Faride, Ernesto, Avelino Antônio, Abílio, João e Ernestina. Após a morte de Cecília em 1914,
Miguel casou-se novamente com Maria Gertrudes em 1915, com quem teve mais filhos. Na
Ilustração 4-1 podemos visualizar a composição da família pelo lado paterno de José Eduardo,
destacando os personagens que tiveram conexões diretas com o Bamerindus.

4.2.1.2 JOAQUIM MARTINS DE ANDRADE

391
Joaquim Martins de Andrade era natural de Campanha da Princesa, Sul de Minas Gerais,
filho de Manoel Eustáquio Martins de Andrade e de Clara Xavier de Araújo Andrade. Manoel,
além de ter sido advogado formado na mesma turma de Ruy Barbosa, foi senador, deputado federal
duas vezes pelo Estado de Minas Gerais e constituinte da primeira Constituição estadual de 1891. A
sua família tinha laços de amizade com as famílias dos ex-presidentes da República Wenceslau
Brás e Afonso Pena. Joaquim casou-se com Maria Vilhena de Andrade que, segundo Andrada
(1982, p. 25), era filha do médico Mathias Antônio Moinhos de Vilhena, também de Minas Gerais,
e de Maria Carolina de Gouvêa Vilhena, filha de João Alves de Gouveia5, o Barão de Lavras6 –
abastado fazendeiro e chefe do partido conservador local durante a monarquia. O Barão exerceu
vários cargos de eleição popular e de nomeação do governo, tendo sido vereador da Câmara
Municipal de Lavras (MG), delegado de instrução, suplente de subdelegado de polícia e juiz de paz.
392
Joaquim Martins formou-se em Farmácia em 1907 e, após algumas mudanças de cidades,
fixou-se com a família em Cambuquira onde foi eleito vereador, cargo que ocupou por pouco
tempo. Mais tarde, mudou para São Paulo onde montou, com os irmãos, uma indústria de cerâmica.

5
Segundo Brandão (1993) Mathias e Maria Carolina eram os pais de Clara Xavier e não de Maria. Optamos pela versão de
Andrada (1982) por ter mais coerência com relação às datas dos eventos.
6
Fonte: CASCÃO, Regina. Barão de Lavras. In: BARATA, C. E.; BUENO, A. H C. Dicionário das Famílias Brasileiras.
Verbete: Lavras, Barão com grandeza de. Apud FREITAS, Sérgio de. A Nobreza Brasileira de A a Z. “Página transcrita do
Archivo Nobiliarchico Brasileiro dos barões Smith de Vasconcellos, com adendas e correções”. Itapira, nov. 1999.
Disponível em: <http://geocities.yahoo.com.br/Kajafreitas/Nobl.htm>. Acesso em: 21 set. 2004..
140

Com a falência da indústria em 1922, mudou com a família para Mogi das Cruzes onde ficou por
pouco tempo, voltando para São Paulo. Em 1924, aceitou a proposta da família do ex-presidente
Wenceslau Brás, para tomar conta de uma fazenda de dois mil alqueires que ela possuía em
Tomazina, para onde mudou com toda a família. É importante observar que na região de Tomazina
surgiu a cidade de Brazópolis, atual Wenceslau Brás. Na Ilustração 4-2 pode-se verificar a
constituição da família de Maria José Vilhena de Andrade – mãe de José Eduardo – e no Gráfico
4-1, uma síntese das conexões políticas da família Andrade Vieira, destacando que, pelo lado
materno, havia uma forte tradição de atuação política.

4.2.2 AVELINO ANTÔNIO VIEIRA E SUA FAMÍLIA

393
Avelino Antônio Vieira nasceu em 19057, em Tomazina, nesta mesma época também
nasceram Amador Aguiar, em 1904, José de Magalhães Pinto, em 1909, e Walther Moreira Salles
em 1912.
394
Avelino mais tarde foi estudar em Curitiba e, ao voltar, em 1919, foi trabalhar como
vendedor e escriturário numa casa comercial em “Patrimônio do Café”. Tempos depois foi para
Brazópolis, para atuar na seção bancária da casa comercial do Coronel Felippe M. de Carvalho, um
rico fazendeiro e importante político na região, que chegou a comandar o executivo municipal de
Tomazina. Na seção bancária do seu armazém, chegou a representar o “Banco Francês e Italiano,
Banco do Brasil, Banco de Curitiba e Noroeste do Estado de São Paulo” (ANDRADA, 1982, p.
19). Na época, os bancos constituíam correspondentes em pequenas cidades8 do interior,
normalmente escolhendo casas de comércio conhecidas na região, que passavam então a
intermediar operações de cobrança e pequenos financiamentos.
395
Em 1923, aos 18 anos, Avelino voltou a Curitiba para prestar o serviço militar e, ao mesmo
tempo, freqüentar o curso de contabilidade na Escola de Comércio Dr. Raul Gomes – escola onde
Moysés Lupion estudou em 19249 – onde recebeu a formação necessária para mais tarde
desenvolver atividades na área financeira. Ao voltar a Tomazina, seu pai abriu uma seção bancária
no armazém, aproveitando a experiência que Avelino adquiriu em Brazópolis, passando a ser
correspondente de diversos bancos, entre eles o Banco do Brasil. (ANDRADA, 1982, p. 20-21).
396
A Ilustração 4-3 apresenta a composição detalhada da família formada pelo casamento de
Avelino Vieira com Maria José Vilhena de Andrade, em 1926. O casal gerou oito filhos: Norma,
Cláudio Enoch, Tomaz Edison, Maria Lúcia, José Eduardo, Maria da Glória, Luiz Antônio e
Maria Christina. Também a ilustração destaca todos os nomes que, de alguma forma, tiveram
conexões diretas com o Bamerindus.

7
Brandão (1993, p. 29) observa que no registro de nascimento de Avelino Antônio Vieira consta o nome ERVELINO,
provavelmente o cartório teria feito a transcrição literal da forma como era pronunciada a palavra “Avelino” naquela região.
8
Para mais detalhes ver a história do Bradesco e Unibanco em Markowitz (2004).
9
Fonte: FUNDAÇÃO MOYSÉS LUPION (2005)
141

Ilustração 4-1: Família de Avelino Vieira

Miguel Antun ou
Cecília Bernardina Miled Antônio
Maria Gertrudes Miguel Antônio Vieira
(1877 – 1973) Vieira

Erotides
Faride Vieira Ernestina Vieira
Abílio Vieira
Adel

Brasílio
Ernesto Vieira
Joaquim Martins Maria Vilhena de
Natália de Andrade Andrade

Jayme

Maria Vitorina

Avelino Antônio Vieira Maria José de Andrade Vieira Clara Vilhena João Antônio
(1905 - 1974) (1908 - 1972) de Andrade Vieira
Maria José Santos
Buquera Vieira

João Antônio
José Eduardo de Andrade Vieira Vieira Filho

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados encontrados em ANDRADA (1982) e BRANDÃO (1993).
142

Ilustração 4-2: A família de Maria José de Andrade Vieira


João Alves de Gouveia
Barão de Lavras

Manoel Eustáquio Clara Xavier de Mathias Antônio Maria Carolina de


Martins de Andrade Araújo Andrade Moinhos de Vilhena Gouvêa Vilhena

Miguel Antun ou Cecília Bernardina


Miguel Antônio Vieira Vieira Joaquim Martins Maria Vilhena de
de Andrade Andrade

Yolanda José Diva Germano Mathias Vilhena Lia


João Jubery Leontina
Tamoyo de Andrade

Avelino Antônio Maria José de Andrade Clara Vilhena João Antônio


Vieira Vieira de Andrade Vieira
(1905 - 1974) (1908 - 1972)

João Antônio Vieira Filho


José Eduardo de Andrade Vieira

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados encontrados em ANDRADA (1982), e BRANDÃO (1993).
143

Ilustração 4-3: Família de José Eduardo

Miguel Antun ou
Miled Antônio Cecília Bernardina Vieira Joaquim Martins de Maria Vilhena de
Miguel Antônio Vieira
(... +1914) Andrade Andrade
(1877 – 1973)

Abílio Vieira
Mathias Vilhena de Andrade
Ernesto Vieira
Avelino Antônio Maria José de Clara Vilhena de João Antônio
Maria José Santos
Vieira Andrade Vieira Andrade Vieira
Buquera Vieira (1905 - 1974) (1908 - 1972)

Cláudio Maria Lúcia Maria da Glória João Antônio


Norma Vieira
Vieira Simões
Tomaz Édison Vieira Peixoto
Luiz Antonio Vieira Filho
Fritzsche Enoch (1944 – 1981)
(1937) (1931 – 1981) (1941)
(1930 – 1981)

José Richa Dinorá (Didi) Maria Christina Vieira (Dias)


Bernardi Vieira (1952)

Carlos Alberto Fernanda José Eduardo de Andrade Vieira Tânia Maria Vieira
(Beto) Richa Bernardi Vieira (1938)

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados encontrados em ANDRADA (1982) e BRANDÃO (1993).
144

Gráfico 4-1: Rede política dos avós de José Eduardo

Fontes: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados extraídos de em Andrada (1982), Brandão (1993) e DHBB (2002).
145

4.3 O BANCO POPULAR E AGRÍCOLA DO NORTE DO PARANÁ (BPANP)

397
Em 1928, começaram os preparativos para transformar a seção bancária dos Vieiras em um
banco, culminando na fundação do Banco Popular e Agrícola do Norte Paraná (BPANP) no dia 17
de janeiro de 1929, sob a forma de Sociedade Cooperativa...
68
[...] segundo o sistema Luzzatti1, de Responsabilidade Limitada e forma anônima, de
acordo com o Decreto nº 1637, de 8 de janeiro de 1907 [...] onde a minuta de criação
da empresa definia que o banco [...] tem por fim geral combater a usura voraz,
mediante uma taxa módica de juros e de lucros em suas operações, aproximando,
numa colaboração direta, os que dispõem de economias e os que delas careçam para o
desenvolvimento, em modo particular, do pequeno trabalho [...] a Sociedade
empregará esforços para fomentar o crédito e propagar o cooperativismo, sob seus
diversos modos, entre as classes em geral. (ANDRADA, 1982, p. 21).

398
Entre os sócios fundadores estavam: o médico Djalma Ferreira Lopes, João Baptista do
Nascimento, Fedele de Franco, João Theotônio de Sampaio e João Baptista de Camargo. Também
estavam correligionários políticos liderados pelo Deputado governista Joaquim Thomaz Ribeiro da
Silva, filho do Major Thomaz Pereira da Silva – fundador da cidade – bem como por políticos da
oposição liderados por Moraes e Silva. Além deles, também faziam parte da sociedade pequenos
industriais, comerciantes, fazendeiros, profissionais liberais e funcionários públicos. Andrada
(1982, p. 22-23) conta que na primeira assembléia, realizada na platéia do cinema Nossa Senhora
do Carmo, foram aprovados os termos do estatuto da sociedade, bem como a ata que constituiu a
primeira diretoria formada por Miguel Antônio Vieira como presidente e Avelino Antônio Vieira
como gerente. A ata também estabelecia: Djalma Ferreira Lopes, como diretor-secretário e João
Batista Nascimento, como diretor tesoureiro (segundo maior acionista com 200 ações). Para o
Conselho Fiscal foram eleitos como membros efetivos: José Sebastião Ribeiro, agricultor (100
ações); Fidelis Franco, comerciante (100 ações); João Theotônio Sampaio, farmacêutico (100
ações). Como membros suplentes do Conselho Fiscal foram eleitos: Pedro Werner Filho, industrial
(50 ações); Hermínio Augusto de Oliveira, agricultor (50 ações); Alcides Moraes e Silva, agricultor
(20 ações). Para o Conselho Deliberativo foram escolhidos quatro diretores, três membros do
Conselho Fiscal e os vogais: Ozório Ferreira Gonçalves, agricultor (100 ações); Joaquim Thomaz
Ribeiro da Silva2, agricultor (50 ações) e Miled Antonio – irmão de Miguel Antun e tio de Avelino.
(BRANDÃO, 1993, p. 78).
399
A ata de instalação da sociedade registra ainda que:

1
“Inspirado nos pioneiros alemães [Friedrich Wilhelm Raiffeisen e Herman Schulze], o italiano Luigi Luzzatti organiza a
constituição, em 1865, na cidade de Milão, do primeiro banco cooperativo na Itália. As cooperativas do tipo luzzatti,
bastante populares no Brasil nas décadas de 40 a 60, tinham como características a não-exigência de vínculo para a
associação, exceto algum limite geográfico [...] quotas de capital de pequeno valor, concessão de crédito de pequeno valor
sem garantias reais, não remuneração dos dirigentes e responsabilidade limitada ao valor do capital subscrito [...] Em 1º de
março de 1906, no município de Lajeado (RS), foi constituída a primeira cooperativa de crédito do tipo luzzatti no Brasil,
denominada Caixa Econômica de Empréstimo de Lajeado [...]” (PINHEIRO, 2004, p. 8-10).
2
Joaquim Thomaz, além de filho do fundador de Tomazina, era sogro de Djalma Ferreira Lopes e presidente da Câmara, em
1928.
146

69
[...] passando-se à realização do capital, foi recolhida entre os presentes à importância
de noventa e quatro contos e quatrocentos mil réis (Rs 94:400$000) correspondente a
oitenta e uma ações integralizadas e a mil e setecentas e vinte e seis ações com 50%
do seu valor realizado [...] O total do capital subscrito foi de 233 contos e trezentos
mil réis, reunindo 155 subscritores. (ANDRADA, p. 23-24).
70
Entre os 155 primeiros acionistas, temos 25 com 5 ações, 1 com 4, 39 com 2 e 38 com
1. Os outros todos com mais de 20, sendo 8 com 100, 6 com 50 e o restante entre 10 e
20 ações. Entre estes acionistas 72 eram agricultores e 48, comerciantes. O restante se
dividia entre proprietários, 7; industriais, 5; e médicos, engenheiros, advogados,
lavradores, tabeliães, dentistas, funcionários públicos. Dos irmãos, Ernesto Antonio
Vieira possuía 110 ações, João e Abílio, 10 cada um e o tio Miled, 20. Somando as
100 de Avelino e as 280 do pai, os Vieira detinham 530 ações do total de 2.333 da
lista nominativa divulgada em 31 de dezembro de 1929. (BRANDÃO, 1993, p. 79).

400
O BPANP foi registrado em 9 de fevereiro de 1929 na Junta Comercial do Estado e, nesse
período, Tomazina tinha 1.200 habitantes3, 2 milhões e 200 mil pés de cafés em 106 fazendas e 31
milhões de pés de cana, bem como se produziam também milho e feijão, criavam-se cavalos, gado
e porcos. Integravam a jurisdição de Tomazina as localidades de Brazópolis, Pinhalão, Jabuti, Barra
Bonita, Cerradinho e Japira. (BRANDÃO, 1993, p. 79). Em setembro, o Banco enfrentou
dificuldades para sobreviver à quebra da bolsa de Nova York, cujas conseqüências atingiram de
forma considerável a economia do café. Sobrevivente, o BPANP conseguiu abrir agências nas
cidades vizinhas a Tomazina.
401
Brandão (1993, p. 86) comenta que, em 1932, Avelino era secretário da Câmara de
Tomazina tendo assumido em seguida o cargo de tesoureiro. Logo após Manoel4 Ribas ter sido
empossado interventor no Paraná, o ministro da Fazenda Osvaldo Aranha assinou a carta-patente
que transformava o banco agrícola em banco comercial. Nesse mesmo ano, Ribas também nomeou
Avelino prefeito de Tomazina, cargo no qual permaneceu por dez anos (1933-1942). No Gráfico 4-2
podemos verificar as relações políticas que envolviam a família Vieira e o BPANP.
402 Tabela 4-1 Relatório financeiro do BPANP em 1940 e 1942 (em
Em 1942, já como sociedade
Cr$).
anônima, tinha entre os maiores Descrição 1940 1942
Capital do banco 300.000,00 1.000.000,00
acionistas Miguel Antônio Vieira, João Depósitos 3.637.128,40 9.593.619,30
Baptista do Nascimento, Djalma Empréstimos concedidos pelo 15.270.000,00 34.046.860,00
Banco
Ferreira Lopes, Ozório Ferreira Lucro bruto, 407.783,30 773.504,30
Lucro bruto / Capital do Banco 136% 77%
Gonçalves, João Baptista de Camargo,
Dividendos 30.000,00 60.000,00
Ernesto Antônio Vieira, Avelino Vieira, Dividendos / Capital do Banco 10% 6%
Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados obtidos em
João Theotônio de Sampaio, Josué ANDRADA (1982, p. 34).
Minotto e Valdomiro Proença.
(ANDRADA, 1982, p. 33-34).

3
É interessante observar que o número de acionistas representava aproximadamente 13% da população de Tomazina.
4
Apesar de Moreira, R. (2002) grafar o nome como Manuel, optamos pela grafia Manoel utilizada pela Casa Civil do
Governo do Estado do Paraná.
147
Gráfico 4-2: Conexões entre os sócios do BPANP e a política (1926 a 1942)

Fontes: Gráfico elaborado pelo autor, com base nos dados extraídos de Andrada (1982) e Brandão (1993).
148

403
No relatório de janeiro de 1943 (ver Tabela 4-1), a diretoria apresentou a seguinte situação
do banco:
71
Foi efetivado com pleno êxito, no fim do ano, o aumento do capital de seiscentos mil
cruzeiros para um milhão de cruzeiros, e conquanto ainda pequeno, já é suficiente
para o volume das nossas operações atuais [...] Este aumento de capital corre os
trâmites ordinários para sua aprovação na Diretoria Geral da Fazenda Nacional.
Igualmente está pendente de solução naquela Diretoria, o nosso pedido para abertura
de uma agência na cidade de Bandeirantes e uma sucursal na capital do Estado. Estes
novos empreendimentos já aprovados pelos srs. (sic) acionistas, visam atender às
necessidades do nosso próprio movimento. (ANDRADA, 1982, p. 33-34).

4.3.1 ATALAIA CIA DE SEGUROS

404 Gráfico 4-3: Conexões políticas do Grupo Atalaia (1938-


Além do grupo de empresários do
1940)
BPANP, também foi importante para a história
do Bamerindus o grupo que se formou em torno
da Atalaia Cia. de Seguros, fundada em 24 de
outubro de 1938, em Curitiba. Segundo Sindiseg-
Pr (2003), a seguradora reunia, sob a liderança de
Othon Mäder, um grupo formado pelos
empresários: Altamirano Pereira, Paulo Lídio
Bettega, Asdrúbal Bellegard, Pedro N. Pizzatto e
Anacleto Theógenes Carli, tendo sido a primeira
empresa de seguros do Paraná. Inicialmente foi
denominada Atalaia Companhia de Seguros
contra Acidentes de Trabalho e, a primeira
apólice foi emitida em 1º de dezembro de 1938, Fonte: gráfico elaborado pelo autor com base nos dados
para Ivo Leão, na época um dos maiores disponível de Sindiseg-Pr (2003) e DHBB (2002).

empresários do Paraná. O grupo também criou a Atalaia Companhia de Seguros Gerais, em 1939,
para operar com seguros de incêndio, transportes e outros e, em 1940, o grupo abriu sua primeira
sucursal em São Paulo.
405
Segundo DHBB (2002g)5 e Codato (2002)6, Othon Mäder nasceu em Paranaguá em janeiro
de 1895, filho de Nicolau Mäder e de Francisca da Costa Mäder. Seu pai era industrial e
comerciante de erva-mate e foi deputado estadual entre 1908 e 1909. Othon formou-se engenheiro
civil e geógrafo em 1919 pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, e iniciou sua carreira de
funcionário público como Delegado de Terras da Região Oeste (1920-24). Em 1926, tornou-se
agrimensor de terras, no Departamento de Terras e Colonização e, mais tarde, Delegado de Terras

5
Fonte: DHBB. Verbete: MADER, Othon. In: Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós-1930 (DHBB). 1ª edição.
Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, CPDOC, 2002g. CD-Rom.
6
Fonte: CODATO, E. Personalismo político nos anos cinqüenta. Revista de História Regional, vol. 7 – nº 1, p. :9-45, Verão
2002. Ponta Grossa: Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (DEHIS), 2004.
149

no Sudoeste. Nos anos 1930, foi prefeito de Foz do Iguaçu7 e de Ponta Grossa8 e, entre 1934-36 foi
Secretário de Estado da Agricultura no governo Manoel Ribas.

4.3.2 O PROCESSO POLÍTICO PARANAENSE.

406
Neste momento precisamos fazer uma breve pausa para conhecer um pouco da história do
Paraná. Segundo Oliveira (1998, p. 35-39)9, o Estado até 1930 era dominado por oligarquias de
comerciantes e produtores de mate, bem como sua população estava concentrada em áreas
próximas a Curitiba e Paranaguá. A estrutura de dominação somente começou a ser modificada a
partir dos anos 1930, quando ocorreu a aceleração do processo de colonização da região Norte do
Estado, impulsionada pela expansão das culturas de café e algodão que, vindo de São Paulo, entrou
no Paraná pela região de Ourinhos já no início do século XX (ver Ilustração 4-4). O crescimento
demográfico e econômico da região passou a exigir investimentos crescentes em estradas e
transportes para o escoamento da produção, bem como para a estrutura urbana.
407
Nos anos 1920 teve início uma grande experiência de colonização ordenada da região,
quando a Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP)10, subsidiária da empresa inglesa Brazil
Plantations Limited, comprou quinhentos e quinze mil alqueires de terras para mais tarde dividi-las
em lotes pequenos e médios, e vendê-los com financiamento e concessão do título de propriedade.
O projeto incluiu também a criação de centros urbanos e a ampliação da malha ferroviária.
Explorava uma região de terra roxa e fértil que vinha sendo colonizada de forma espontânea por
imigrantes de Minas Gerais e São Paulo.
408
A história da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP) começou em 30 de dezembro
de 1923, quando chegou ao Brasil a chamada Missão Montagu. Desde o final da Primeira Guerra
Mundial, o Brasil enfrentava grave crise econômica e financeira e a necessidade de novos
financiamentos levou o então presidente Artur Bernardes a aceitar a vinda da missão que tinha
como objetivo verificar in loco a capacidade brasileira de honrar os compromissos financeiros com
a City. A comitiva era formada por diversos técnicos e empresários financeiros de Londres, entre os
quais destacavam-se os seguintes personagens:
72
Lorde Edwin S. Montagu, ex-secretário financeiro do Tesouro da Inglaterra; Charles
Addis, diretor do Banco da Inglaterra e presidente do Hong-Kong and Shanghai
Bank (sic); Hartley Withers, comentarista de assuntos financeiros e ex-diretor do The
Economist, de Londres; e Simon Joseph Fraser - Lorde Lovat - agrônomo e diretor da

7
Segundo Codato (2002, p. 12), Mäder foi prefeito de Foz do Iguaçu em 1932 e, segundo o DHBB (2002g) em 1931, e seu
nome não aprece na relação de ex-prefeitos de Foz do Iguaçu. Fonte: FOZ DO IGUAÇU (Cidade). Relação de ex-prefeitos
de Foz do Iguaçu. Prefeitura Municipal de Foz do Iguaçu, [2005]. Disponível em: <http://www.fozdoiguacu.pr.gov.br/
br/cidade/gov/exprefeitos.htm>. Acesso em: 23 abr. 2005.
8
Segundo Codato (2002, p. 12) Othon Mäder foi prefeito de Ponta Grossa em 1936 e, segundo o DHBB (2002g) em 1931.
9
Fonte: OLIVEIRA, L. H. H. de. Democratização e institucionalização partidária: o processo político-partidário no
Paraná, 1979-1990. Londrina: Ed. UEL, 1998.
10
Fonte: Borba (2000), Garcia (2000), Lopes (1989) e Londrina (2002) Disponível em: <http://www.londrina.pr.gov.br/cidade/
historia3.php3>. Acesso em: 22 abr. 2004.
150

Sudan Cotton Plantations Syndicate, assessor para assuntos de agricultura e


florestamento. (BORBA, 2000, p. s.n. e GARCIA, 2000, p. 33. Grifo nosso).

409
Além de integrar a missão, Lorde Lovat veio procurar oportunidades de investimentos na
produção de algodão no Brasil para a Sudan Plantations. Lovat visitou São Paulo, Ribeirão Preto,
Rio Claro e Americana, passando depois pelo Norte do Paraná (ver Ilustração 4-4), onde interessou-
se pela fertilidade das terras roxas e pelos resultados obtidos nas lavouras de algodão.
Acompanhado por Gastão de Mesquita Filho, engenheiro responsável pela construção da estrada de
ferro que ligaria Ourinhos a Cambará, Lovat foi convencido por Mesquita a investir na compra de
terras do Estado para aproveitar a rápida valorização com a construção da ferrovia. Voltando a
Londres, Lovat convenceu os sócios da Sudan a investirem no Brasil, sendo então organizada a
Brazil Plantations Syndicate Ltd, com um capital de 200 mil libras e cuja presidência coube a
Lovat. A empresa enviou para São Paulo Arthur Hugh Miller Thomas que, juntamente com João
Sampaio e Antonio de Moraes Barros, organizaram a CNTP como subsidiária da companhia
inglesa. A empresa com sede em São Paulo foi registrada em 24 de setembro de 1925, com um
capital inicial de 1.000 contos de réis, tendo como primeiro presidente Antônio Barros. Logo em
seguida foram compradas glebas de terras na região Norte do Paraná para instalar fazendas e
máquinas de beneficiamento de algodão, mas os preços baixos e a falta de sementes sadias no
mercado levaram o empreendimento ao fracasso.
Ilustração 4-4: Mapa do Paraná com as principais cidades em 2000

Observações: As linhas em destaque indicam a estradas mais importantes do Paraná em 2000. Fonte: Mapa elaborado pelo autor,
com base nas informações obtidas em Ipardes (2003).
151

410
Após entendimentos mantidos com o Governo do Estado do Paraná, em Londres foi
tomada a decisão de ampliar a atuação da CTNP, partindo para a colonização e venda de terras,
quando então foi decidida a liquidação da Brazil Plantation e a criação, em seu lugar, da Paraná
Plantations Syndicate11, que também passou a cuidar da construção de estradas de ferro e de
rodagem (LOPES, 1989). Os representantes do grupo inglês no Brasil, Arthur Thomas e João
Sampaio, negociaram diretamente com o então Presidente do Estado, Caetano Munhoz da Rocha, a
compra de áreas de terras no Norte do Estado. Após a aquisição, teve início o loteamento e venda; a
ocupação do território acabou ocorrendo de forma ordenada, estrategicamente não permitindo o
aparecimento de núcleos distantes e isolados entre si. Com o projeto apoiado por um eficiente
trabalho de divulgação, ocorreu um rápido crescimento das vendas, e a preocupação da CTNP foi
concentrada inicialmente na colonização da área rural, ficando os núcleos urbanos em segundo
plano, destinados a servirem de apoio ao campo.
411
O projeto resultou no crescimento da produção cafeeira, aumento da densidade
demográfica, formação de uma classe média rural e na expansão dos núcleos urbanos. A primeira
expedição instalou-se na localidade conhecida como Patrimônio Três Bocas, em agosto de 1929,
onde foi erguido o primeiro posto avançado da companhia. Nesse local, foi fundada a cidade de
Londrina, que cinco anos mais tarde, em dezembro de 1934, o interventor Manoel Ribas
reconheceu como Município. Este e outros projetos trouxeram imigrantes de todo o país, bem como
do exterior, principalmente paulistas, mineiros, nordestinos, japoneses e alemães, o que promoveu
um período de grande crescimento econômico que durou até o final dos anos 1960.
412 Quadro 4-1:Presidentes, Vice-Presidentes, Governadores e Vice-
Mas a colonização não
Governadores do Estado do Paraná– 1912 a 1945.
permaneceu sempre ordenada, DADOS Condição no Período de Governo
BIOGRÁFICOS Estado Início Término
aparecendo inúmeros conflitos de terras Affonso Alves de Vice- 25/02/1912 25/02/1916
que, em muitos casos, foram agravados Camargo Presidente
Affonso Alves de Presidente 25/02/1916 25/02/1920
pela política do governo do Estado. Camargo
Caetano Munhoz da Vice- 25/02/1916 25/02/1920
Este promovia alianças com grupos Rocha Presidente
Caetano Munhoz da Presidente 25/02/1920 25/02/1924
locais, colocando o poder do Estado à Rocha
disposição dos projetos desses grupos. Caetano Munhoz da Presidente 25/02/1924 25/02/1928
Rocha
No Oeste do Estado, desde os anos Marins Alves de Vice- 25/02/1924 25/02/1928
Camargo Presidente
1930, o governo vinha promovendo Affonso Alves de Presidente 25/02/1928 05/10/1930
Camargo
concessões às empresas interessadas na Mario Alves Monteiro Interventor 05/10/1930 29/12/1931
colonização. Mas esses projetos não Tourinho
Manoel Ribas Interventor 30/01/1932 03/11/1945
receberam apoio do Estado para Fonte: Casa Civil (2002).
integrá-los aos centros de consumo, resultando em graves conflitos sociais. Ao longo deste
trabalho, vamos poder verificar que as regiões Norte Pioneiro e Norte Central formaram lideranças
políticas e empresariais fortes, como a família Vieira e sócios, que disputaram o poder com as elites

11
Não podemos descartar a hipótese de que o HSBC fazia parte do grupo de sócio do empreendimento.
152

tradicionais de Curitiba e Paranaguá.


413
No Paraná, a Revolução de 1930 reduziu o poder das oligarquias tradicionais que
governaram o Estado durante a República Velha na qual, por exemplo, entre 1912 e 1930, as
famílias Munhoz da Rocha e Alves de Camargo alternaram-se na Presidência e Vice-Presidência do
Estado (ver Quadro 4-1). A revolução destituiu Affonso Camargo e colocou como interventor o
general Mário Alves Tourinho que, ao não conseguir resistir à oposição dos grupos políticos locais,
acabou sendo substituído em 1932 por Manoel Ribas. Manoel assumiu o Estado com graves
problemas econômicos e financeiros; as dívidas interna e externa estrangulavam o caixa do governo
que, segundo Moreira, R. (2002)12, chegou a ponto de atrasar o pagamento do funcionalismo
público por um ano. Preocupado em integrar as novas regiões ao mercado de consumo, seu governo
inicialmente procurou restaurar estradas para, em seguida, iniciar a construção de novas, bem como
ampliou o porto de Paranaguá. Na sua gestão foi construída a estrada do Cerne, ligando Curitiba ao
norte do estado, integrada com a Piraí do Sul-Londrina e a Piraí do Sul-Ribeirão Claro. Também
houve o fomento à produção de café, algodão e trigo, distribuição de sementes selecionadas,
melhoria do rebanho através da importação de reprodutores e feiras de animais. Com relação à
questão fundiária, Ribas recuperou para o Estado boa parte das terras devolutas que haviam sido
doadas a particulares antes da revolução, bem como organizou o cadastro territorial. Também nesse
período, a administração estadual reiniciou e estatizou vários projetos de colonização, e os únicos
empreendimentos privados que ficaram fora desse processo foram os projetos da Francisco
Gutierrez Beltrão e da Companhia de Terras Norte do Paraná. A economia do Estado se recuperou
rapidamente permitindo equilibrar o orçamento e implantar uma política de construção de escolas; é
na sua administração que teve início o projeto do Colégio Estadual do Paraná13, em Curitiba. A
partir de 1943, a oposição ao seu governo cresce, produzindo vários protestos junto ao ministro da
Justiça Osvaldo Aranha, denunciando violência e abusos de autoridade do governo nas questões
que envolviam terras no interior do Estado. Durante seu governo, Ribas teve vários negócios com o
Grupo Lupion. Com a deposição de Getúlio Vargas, Manoel Ribas é destituído no dia 29 de
outubro de 1945 (MOREIRA, R. 2002).

4.4 O BANCO COMERCIAL DO PARANÁ

414
Em 14 de setembro de 1942, um grupo de capitalistas da região de Ponta Grossa criou o
Banco Comercial do Paraná S.A. (Bancial) que, dois anos depois, na condição de maior banco
privado paranaense e sob a liderança de Rafael Papa, incorporou o Banco Popular e Agrícola do
Norte do Paraná (BPANP). No dia 5 de março de 194414, a Assembléia Geral Extraordinária dos

12
Fonte: MOREIRA, R. da L. Verbete: RIBAS, Manuel. In: Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós-1930 (DHBB).
1ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, CPDOC, 2002. CD-Rom.
13
Grande parte das elites paranaenses estudou nessa instituição.
14
Ao longo deste trabalho vamos enfrentar a questão das datas das operações, que apresentam uma dificuldade especial, visto
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
153

Acionistas do Bancial aprovou a incorporação do BPANP com suas 6 agências: Tomazina, Siqueira
Campos, Santo Antônio da Platina, Ribeirão Claro, Bandeirantes e Cornélio Procópio e duas cartas-
patentes: Curitiba e Joaquim Távora. Miguel Antun, que na época era presidente do BPANP,
aprovou formalmente a incorporação em 29 de abril de 1944, em reunião com os acionistas do
Bancial e diretores do BPANP. Em 17 de janeiro de 1945, o acordo recebeu o parecer favorável da
Caixa de Mobilização e Fiscalização Bancária, quando o Ministro da Fazenda aprovou a operação e
o aumento de capital do Bancial que passou de 5 milhões de cruzeiros para 6 milhões, ao agregar o
capital social de 1 milhão de cruzeiros do BPANP. Com a incorporação, Avelino Vieira passou a
residir em Ponta Grossa (1944 a 1951) onde assumiu a função de diretor comercial do banco.
415
Uma outra versão sobre a incorporação do BPANP pelo Bancial aparece no livro de Raul
Vaz (1986)15 que, na época, era advogado e procurador de Moysés Lupion. O autor apresenta
declarações do irmão de Moysés, David Lupion, que, apesar da imprecisão vale a pena reproduzir,
pois sinaliza conexões do Bancial com o então poderoso Grupo Lupion e Othon Mäder:
73
[...] Avelino Vieira e Rafael Papa, em sociedade, abriram em Ponta Grossa a agência
Bancária “Vieira & Papa”. Amigos de coração, Avelino, Papa, (e os irmão) Moysés e
João Lupion viam seus empreendimentos crescerem. A firma “Vieira & Papa”
entendeu então de abrir uma filial em Curitiba, e para este novo investimento
necessitava de mais sete acionistas. Os amigos foram os primeiros convidados —
entraram como sócios da “Vieira & Papa”, além de Moysés e João Lupion, também
Othon Mäder — este, amigo de infância de João e que mais tarde se tornou o maior
inimigo político de Moysés [...] (VAZ, 1986, p. 89).

416
Na época, o presidente do Bancial era Albary Guimarães, cuja história política remontava o
ano de 1930, quando foi presidente da Câmara dos Vereadores de Ponta Grossa. Em 18 de agosto
de 1934, foi nomeado por Manoel Ribas, prefeito do Município, cargo que ocupou durante 12 anos,
renunciando em janeiro de 1945. Com a incorporação, o grupo de Avelino Vieira passou a ter
conexões com grandes grupos empresariais do Paraná. O Bancial cresceu nesse período e, em 1944,
contava com 15 agências, em 1945, abriu mais uma em Sertanópolis, em 1948 em Assaí e Santa
Mariana e em 1949, Rolândia, Ibiporã, Prudentópolis e Rebouças, computando um total de 22
agências.
417
Na campanha eleitoral de 1946, Moysés Lupion foi eleito governador do Paraná e Avelino
Vieira deputado estadual com a quarta maior votação do PSD – 1.912 votos. O partido fez 17
deputados, contra 6 da UDN, 6 do PTB, 4 do PR e 1 do Partido Comunista do Brasil. Segundo
Brandão (1993, p. 117), Avelino recebeu, em Tomazina, 601 votos; em Siqueira Campos, 404;
Joaquim Távora, 299; Wenceslau Braz, 203; Santo Antonio da Platina, 156; Congoinhas e Assaí,
131; Castro, 15; 1 em Londrina e em Curitiba 24. Em 12 de março de 1947, foram empossados os
deputados, João Chede – que na época também era diretor do Bancial e o principal aliado de

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
que muitas das negociações além de serem sigilosas durante um determinado período, também só terão o registro público
após cumprirem os prazos previstos em lei que, normalmente, demoravam alguns meses.
15
Fonte: VAZ, Raul. Moysés Lupion — a verdade. Curitiba: Paratodos, 1986.
154

Lupion no Legislativo, Alcides Pereira Júnior16 e Accioly Filho – que mais tarde se tornou amigo de
Avelino. Chede foi eleito presidente da Assembléia e, em julho, Avelino foi eleito para a Comissão
de Finanças e Orçamento.
418
A atuação de Avelino Vieira na Assembléia foi muito discreta, tendo quase abandonado o
cargo, e “[...] a partir de março de 1950 sua ausência da Assembléia é total. Não há um pedido
formal de renúncia, apenas faltas justificadas. A amigos, ele confidenciou: ‘Política e banco não
combinam”. (BRANDÃO, 1993, p. 120). No Gráfico 4-4 apresentamos as diversas conexões
políticas do grupo reunido em torno do Bancial, no período 1944 a 1950.

4.4.1 O LUPIONISMO – PARTE I

419
Outro personagem importante para a história do Bamerindus foi Moysés Wille Lupion de
Tróia. Empresário, entrou na vida pública com a deposição de Getúlio Vargas, tendo sido o
herdeiro político do interventor Manoel Ribas. O PSD foi criado por eles dois, e Lupion assumiu o
controle do partido quando o ex-Interventor morreu em janeiro de 1946. Moysés foi então lançando
candidato ao governo do Estado, sendo eleito em janeiro de 1947 com o apoio da UDN. Capitalista
de prestígio ligado à indústria madeireira, nasceu em 1908 em Jaguariaíva (PR); foi casado com
Hermínia Rolim Lupion, neta do sertanista Telêmaco Borba. Seus interesses estavam relacionados
ao processo de ocupação econômica do Estado. Ele e seus irmãos João, José, Pedro e David,
construíram um império econômico cujo faturamento, em 1945, representava aproximadamente um
quarto do orçamento do Estado do Paraná17. Segundo um Laudo de Avaliação do grupo realizado
para o Banco do Brasil pelo engenheiro civil Benjamin Mourão em 1947, e publicado pela
Fundação Moysés Lupion, a empresa havia sido fundada em 24 de julho de 1936 com o nome de
Possatto, Lupion & Cia., passando a denominar-se M. Lupion & Cia em 3 de novembro de 1941.
No Quadro 4-2, apresentamos o inventário dos bens do grupo em janeiro de 1947.
Quadro 4-2: Inventário dos bens do Grupo Lupion (1947)
Nº Descrição
1 Fábrica de Caixa Sant’Ana, em Ponta Grossa (PR).
2 Terreno em Ponta Grossa, junto à ferrovia, com 11.168 m².
3 Indústria de ferro em Castro (PR).
4 Terrenos em Castro, com 74.000 m².
5 Fábrica de papel e celulose de Arapoti (PR) – Futura Inpacel do Grupo Bamerindus.
6 Instalações em Arapoti: terrenos, oficinas, depósitos, residências, etc.
7 Fábrica de fósforos em Piraí do Sul (PR)
8 Serraria no Rio do Peixe, incluindo exploração de pastagens e área agrícola.
9 Entreposto de Morungava para fornecimento de madeira à indústria de papel e celulose de Arapoti,
Cachoeirinha.
10 Terreno em Paranaguá, junto à ferrovia.
11 Propriedade da Fazenda Morungava, com 38 mil alqueires.
12 Entreposto em Itararé (SP) com desvio ferroviário particular e instalações para beneficiamento de madeira,

16
Alcides Pereira mais tarde foi advogado do Banco Bamerindus e, em 1982, membro do Conselho Consultivo do grupo.
17
Fonte: TRIBUNAL DE CONTAS do Estado do Paraná. Memória. Arquivos. Moysés Lupion. Curitiba, [2001]. Disponível
em: <http://www.memoria.mc/archiv/lupionm.htm>. Acesso em: 27 ago. 2002..
155

Quadro 4-2: Inventário dos bens do Grupo Lupion (1947)


Nº Descrição
fábrica, oficinas, residências, garagens e 173 mil m² de terrenos.
13 Fazenda Andrada no oeste do Paraná, com 134 milhões de m².
14 Fazenda Piquiri, idem, com 150 milhões de m².
15 Fazenda La Paz, idem, com 25 mil m².
16 Fazenda São Domingos, no oeste do Paraná, com 320 milhões de m².
17 Fazendas Santa Helena e Barro Preto, todas no Extremo Oeste do Paraná com mais de um milhão e trezentos
mil pinheiros, adquiridas da empresa Argentina Barthe, além de ervais e um porto particular em Foz do
Iguaçu.
18 Fazendas São Francisco, Barro Preto, Diamante e Dois de Maio, idem, cada uma com 200 ha, na estrada
Catanduva - Porto Santa Helena.
19 Fazenda Santa Helena, idem, 2.174 milhões de m².
20 Fazenda Barro Preto, idem, com 7.182 milhões de m².
21 Serraria a 120 km de Foz do Iguaçu
22 Porto Lupion, no rio Paraná, Foz do Iguaçu.
23 200 mil pinheiros nas seguintes fazendas: Alecrim, em Araiporanga, 707 alqueires; Ribeirão do Café,
Jaguariaíva, 309 alqueires; Miguel José, Jaguariaíva, 1.729 alqueires; Jaboticabal e Marimbondo, 1.000
alqueires; Cuiabá, em Jaguariaíva, com 220 alqueires.
24 Pinhais em cinco fazendas, com um total de três mil alqueires.
25 Rebocadores Parapiti, 18 m; Dom Roberto, 21 m; chata Santa Maria, 35 m; Triunfo III, 28 m; lancha Emília,
para 6 t., chata Itália, todas no rio Paraná.
26 Navios Antonio Carlos - 398 t e Capixaba - 150 t., embarcações no Atlântico que faziam a rota Paranaguá -
Rio de Janeiro.
27 70 caminhões, 20 caminhonetes e 11 vagões próprios operados pela então Rede Viação Paraná - Santa
Catarina.
28 Áreas de terras e pinhais em diferentes regiões do Paraná, inclusive 4.000 alqueires no município de
Sertanópolis.
29 18 serrarias espalhadas no Paraná
30 Destilaria Corumbá, no Rio de Janeiro, para fabricar Guaraná Mauá.
31 Depósito de madeiras em Jaguaré, (SP).
32 Fábrica de compensados Mabraz, de grande porte, em Curitiba;
33 Agências Chevrolet, em Piraí do Sul (PR).
34 Banco Meridional da Produção - Futuro Bamerindus.
35 Banco Figueira Rocha.
36 Banco Nacional Paulista, com 32 agências.
37 Banco América do Sul, com 19 agências.
38 Mineração e industrialização de grafite, no Rio de Janeiro.
39 Metalúrgica Cacique, de porte nacional, Rio de Janeiro.
40 Fábrica de papelão, em Mogi das Cruzes (SP).
41 Duas barcaças de porte na linha Rio de Janeiro – Belém – Iquitos.
42 Indústria Vitamate (refrigerante) com filiais no Rio Grande do Sul e Santa Catarina;
43 Destilaria de xisto-betuminoso.
44 Jornal “O Dia”, de Curitiba.
45 Ações da “Gazeta do Povo”, representando 49% do capital social;
46 Sete emissoras de rádio lideradas pela Guairacá.
47 Rede de farmácias em Curitiba com oito estabelecimentos.
48 Casa de material elétrico, em Curitiba, em sociedade com Tércio Rolim de Moura e Miguel Baduy.
49 Frota de automóveis e caminhões da ordem de 1.200 veículos.
50 Organização Aérea BOA, com 12 aeronaves.
51 Postos de gasolina por todo o interior do Paraná, como representantes da Gulf Oil Company,
52 Exploração de petróleo em Rio Claro, SP, juntamente com a PAN, subsidiária da Standard Oil, que chegou a
abrir diversos poços.
53 Fábrica de escovas de dente Pentescova Ltda, com Vasco Taborda Ribas.
54 Exploração de urânio, em Figueira (PR).
Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base nos dados extraídos de Vaz (1986, P. 71-80) e Fundação Moysés
Lupion (2005).
156

Gráfico 4-4: Rede Política do Bancial (1944 – 1950)

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, com base nos dados extraídos de ANDRADA (1982) e BRANDÃO (1993) e DHBB
(2002).
157

420
Segundo Vaz (1986, p. 68-77) em 1945 os bens do Grupo Lupion foram avaliados em Cr$
67.332.652,18 e, Segundo a Fundação Moysés Lupion, em 200 milhões de cruzeiros – “Em dez
anos, o Grupo Lupion se tornou o maior do sul e o terceiro do Brasil”. Como empresário, Lupion
pode ser considerado bastante avançado para sua época, pois entre seus empreendimentos estava a
exploração de petróleo e urânio em Figueira (PR) já em 1947; quanto ao setor financeiro do grupo,
cabem algumas observações importantes.
421
Considerando as ligações do Bancial com Lupion, no Gráfico 4-5 é possível constatar que,
em 1947, os bancos ligados ao Grupo Lupion reuniam um número de agências superior ao
Bradesco em 1950.
Gráfico 4-5: Número de agências por banco. (1950)
35

300 32
Grupo Lupion (1947)
30

277
25
250
19
20

16
15
200

10

5
150
1 1

136 0

Nacional Paulista América do Sul Bancial Figueira Rocha Meridional da


Produção
100

67
75
50
66 62
60

0
Banco do Brasil Lavoura MG Mercantil São Paulo Grupo Lupion Bradesco Banespa Agrícola Mercantil
(1947)

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Costa (2002b, p. 5), Brandão (1993, p. 122) e
FUNDAÇÃO MOYSÉS LUPION (2005).
Nota: Os dados do Grupo Lupion são de 1947 e dos demais bancos são de 1950. Por falta de informações, atribuímos uma
agência ao Banco Figueira Rocha e uma para o Banco Meridional da Produção.

422
Também é interessante considerar as histórias desses bancos, como segue:
74
[...] chama atenção também o negócio envolvendo o Banco Nacional Paulista, com
suas 21 agências e com sede em Pederneiras, São Paulo. Este Banco Moysés Lupion
comprou e “pagou na ficha”, “a dinheiro”, lembra David. No entanto, logo depois
viriam as perseguições políticas, e a Carta Patente do Nacional Paulista, bem como de
todos os outros empreendimentos bancários ligados a Moysés Lupion foram
abruptamente cassadas, “sem levantamento, sem nada”. Agentes do Banco do Brasil,
“por ordem superior militar”, um dia qualquer, apareceram nas agências e levaram
todos os livros de contabilidade e demais documentos, deixando a informação de que
158

as Cartas Patentes estavam todas cassadas. “Foi um ato arbitrário. Não trouxeram
nem ao menos um ofício. Mostravam a Carteira de autoridade, tomavam os livros e
lacravam as portas”, conta David Lupion. (VAZ, 1986, p. 92)18.

423
Quanto ao Banco América do Sul, as circunstâncias de sua aquisição são no mínimo
inusitadas, conforme conta Raul Vaz:
75
[...] o japonês Miazaka, detentor de todo o controle do Banco América do Sul, que
tinha a matriz na Praça da Sé em São Paulo, junto ao prédio do então Cine Santa
Helena, quando os japoneses bombardearam Pearl Harbour, pressentindo o pior,
procurou Moysés e entregou a ele todas as ações do Banco. Lembra David Lupion da
surpresa de Moysés que insistia junto ao Sr. Miazaka: “Então, por favor, faz um
preço: O senhor me paga como puder”, respondia Miazaka sem aceitar fechar o
negócio com valor estipulado. O Banco América do Sul ficou com Moysés Lupion
que nomeou para sua Presidência Raul Vaz, e como auxiliares, os diretores José
Ricardo de Oliveira Ratto e Sr. Junqueira. Logo que terminou a Guerra Mundial,
procurou novamente Miazaka e a ele devolveu o que lhe pertencia. Foi um negócio na
base da “honra” e da “confiança” envolvendo milhões. Em lugar de Raul Vaz, na
Presidência do Banco América do Sul, entrou Apolônio Sales, conhecida
personalidade nacional. (VAZ, 1986, p. 90-91).

424
Segundo declarações de um dos irmãos de Moysés Lupion, a história do Bamerindus
começou em 1º de setembro de 1938 quando:
76
É possível que a memória traia alguma informação, pede desculpas David Lupion
antes de começar a contar como tudo aconteceu. Relembra ele num dos aniversários
de Gil — uma das filhas mais queridas de Moysés, no dia primeiro de setembro de
1938, os donos do Banco Transatlântico19, que eram alemães e temiam perder a Carta
Patente, venderam grande lote de ações para Moysés, João e José Lupion. Os três
resolveram então criar o Banco Meridional da Produção S.A., em 06 de abril de 1943,
que logo depois ficou conhecido por Bamerindus. Bamerindus é a junção de sílabas e
letras do nome original, a saber — “BA” nco “MERI” dio “N” al da Pro “DU” ção
“S” A. (VAZ, 1986, p. 89) (Grifo nosso)20.

425
O Banco Meridional foi aberto em Curitiba “nas instalações do antigo Banco Alemão
Transatlântico, que havia sido fechado em face à guerra” (VAZ, 1986, p. 67)21.
426
Neste ponto podemos comparar dois momentos históricos da estrutura de acumulação
capitalista. Observando o Grupo Lupion de 1947, podemos constatar que suas principais atividades
eram a exploração da madeira, colonização, produção de café e empresas de comunicação. Os
bancos apareciam classificados como outros negócios. Quarenta anos depois, o Grupo Bamerindus

18
Vaz não especifica quando ocorreram os fatos, mas provavelmente tenha sido logo após o golpe militar de 1964, quando
Lupion foi cassado por acusações de corrupção.
19
O Banco Alemão Transatlântico (Deutsche Überseeische Bank) operava no Brasil, desde agosto de 1911. O banco fornecia
suporte financeiro à, também alemã, Companhia Internacional de Seguros (CIS). Com a entrada do Brasil na Segunda
Guerra Mundial, suspeitas de ligações com atividades nazistas levaram o banco a ser liquidado por força do Decreto-Lei nº
4.612, de 24 de agosto de 1942. Fonte: RIO DE JANEIRO (Estado) Secretaria de Estado de Finanças. Instituição.
Patrimônio arquitetônico. Edifício Sede - Seu histórico. Rio de Janeiro, [2002]. Disponível em:
<http://www.financas.rj.gov.br/instituicao/historia/index.shtml>. Acesso em: 14 abr. 2005. Segundo Cruz (2004) e Dietrich
(2001) várias evidências apontam conexões entre o partido nazista alemão, o Banco Alemão Transatlântico, o Banco
Germânico da América do Sul, e financiamentos ao movimento integralista no Brasil.
20
Não encontramos outras referências confirmando esta versão para o nome “Bamerindus”.
21
Nos chamou a atenção coincidências entre o rápido crescimento do Grupo Lupion, as conexões tanto com o Estado Novo
como com o Banco Alemão Transatlântico e o banco japonês América do Sul, nos anos que antecederam e no decorrer da II
Guerra Mundial.
159

ocupava uma posição na região que, guardadas as devidas proporções, era relativamente similar ao
Grupo Lupion, mas a atividade financeira ocupava o centro da organização, sendo as demais
consideradas periféricas. Tal diferença parece demonstrar a transformação do sistema capitalista de
um regime de acumulação centrado na produção para outro modelo ou tipo cujo centro seria a
atividade financeira.
427
Lupion entrou no cenário político em 1946, com uma grande campanha publicitária que o
apresentava como empresário progressista, senhor de múltiplas empresas, que traria o
desenvolvimento e empregos para a região22. Para sua candidatura, articulou a aliança com os três
maiores partidos – PSD, PTB e UDN, sendo também apoiado pelos comunistas e integralistas, além
do presidente Dutra. A vitória eleitoral de Lupion significava, nas palavras do então senador Flávio
Guimarães, o início da era PSD, projeto que repetiria a façanha do PR na República Velha,
governando o Paraná por no mínimo cinqüenta anos. Também conhecido como lupionismo, a
hegemonia do grupo sobre a região durou aproximadamente vinte anos (1946-1964), e Moysés
Lupion foi duas vezes governador (1947-1950 e 1956-1960), além de senador, deputado federal e
presidente do PSD regional.
428
No governo, Lupion deu seqüência aos projetos iniciados por Manoel Ribas,
principalmente consolidando a Rodovia do Cerne, ligando o Norte do Estado ao Porto de
Paranaguá; mas seu maior projeto foi a Estrada de Ferro Central do Paraná, continuada no governo
de seu sucessor Bento Munhoz da Rocha Netto. Na condição de governo, Lupion teve que enfrentar
a oposição política dentro do PSD:
77
[...] conduzidas pela bancada estadual do PSD (Partido Social Democrático). O
movimento que mais chamou atenção foi o dos quatro granadeiros. A “ala florista”,
comandada por Fernando Flores, era formada pelos deputados estaduais Lopes
Munhoz, Pedro Firman Neto (Secretário da Indústria e Agricultura), Pinheiro Júnior e
Accioly Filho. Eles defendiam, na discussão do projeto da Constituição do Estado, a
criação do cargo de vice-governador, a ser ocupado pelo próprio Fernando Flores, e a
eleição direta de Prefeito da Capital, então grande degrau para a governança do
Estado. O projeto não foi aprovado na Assembléia, e como retaliação Accioly Filho
apresentou um projeto de lei que definiria os crimes de responsabilidade do
governador do Estado, no qual previa os casos em que o chefe do Poder Executivo,
Moysés Lupion, incorreria nas sanções legais. O projeto de lei também não passou.
(FUNDAÇÃO MOYSÉS LUPION, 2005).

429
A instabilidade política brasileira no período mantinha Dutra ocupado com a coligação
PSD-UDN, construída para evitar o retorno de Getúlio Vargas ao poder. No Paraná, a coligação
tornou-se insustentável, a UDN, fora do poder há aproximadamente quinze anos, estava impaciente.
Perto do final do mandato de Lupion, a UDN, sob a liderança de Othon Mäder, no Paraná, foi para
a oposição e iniciou uma ruidosa campanha nacional para desmoralizar o governador e lança a
candidatura de Bento Munhoz da Rocha à sucessão estadual, com o apoio da UDN, PST, PPR e
parte do PTB.

22
Este mesmo arquétipo fora utilizado na campanha de Paulo Pimentel em 1965 e de José Eduardo em 1990.
160

430
Bento Munhoz era o herdeiro das oligarquias que dominaram o Paraná durante a República
Velha, pois além de ser filho de Caetano Munhoz da Rocha, era casado com Flora Camargo, filha
de Affonso Alves de Camargo; essas oligarquias tinham sido alijadas do poder durante o governo
Manoel Ribas – padrinho político e sócio de Lupion. Apesar de engenheiro civil, Bento foi
professor de psicologia e lógica no Curso Pré-Engenharia, mais tarde lecionou economia política,
estatística, finanças, geologia e mineralogia, tendo sido um dos fundadores, em 1938, da Faculdade
de Filosofia, Ciências e Letras do Paraná, na qual foi catedrático de história da América e professor
substituto da cadeira de sociologia. Segundo Pantoja (2002), Bento iniciou sua vida política ao ser
eleito em dezembro de 1945, como deputado da Assembléia Nacional Constituinte. O seu principal
projeto foi a emenda que suprimiu o território do Iguaçu, criado em 1943, que ao ser aprovada
reintegrou o território ao estado do Paraná em 1946. Nas eleições de outubro de 1950, ganhou do
candidato apoiado por Lupion, Ângelo Lopes, ao passo que os próprios pessedistas
“cristianizavam” seu candidato à presidência da República possibilitando, assim, a volta de Vargas
ao poder sob a legenda do PTB. Nessa eleição, as forças que apoiaram Bento também conseguiram
eleger Othon Mäder para o Senado pelo Paraná.

4.4.2 A SAÍDA DO GRUPO DE AVELINO VIEIRA DO BANCIAL

431
A convivência interna no Bancial dos grupos de Rafael Papa e Avelino Vieira foi marcada
por diversos problemas que culminaram com a saída de Avelino em 1951. A tensão dentro do
banco chegou ao máximo em 1950, quando então se iniciou o processo de separação. Esse
momento coincide com o final do governo Lupion, o término da aliança PSD / UDN e a campanha
comandada por Othon Mäder para desmoralizar Lupion. Algumas evidências apontam que na
época, Othon era presidente do Banco Meridional da Produção e sócio da família Lupion.
432
Segundo NOGUEIRA (1986)23, na disputa interna pelo poder no Bancial, o grupo de
acionistas liderado por Avelino, entre eles Terézio de Paula Xavier, Augusto Justus24 e Oscar
Diedrichs, dera sua opção de compra; porém, os acontecimentos não se desenrolaram da forma
prevista, pois, segundo o autor, eles não esperavam que o banqueiro Amador Aguiar, do Bradesco,
entrasse na negociação. Em 7 de janeiro de 1951, Aguiar supostamente escreveu de próprio punho
uma carta, em papel timbrado do Grande Hotel Moderno, onde estava hospedado em Curitiba, que
reproduzimos na Ilustração 4-5 a seguir:

23
Fonte: NOGUEIRA, M. R. Avelino Vieira: biografia dinâmica. 1ª ed. Curitiba: Ed. Biblioteca do Desenvolvimento
Econômico do Brasil. EDUCA — Editora Universitária Champagnat da Pontifícia. Universidade Católica do Paraná Tomo 1
— Livro 1, 1986.
24
Augusto Justus foi presidente da Associação Comercial e Industrial de Ponta Grossa (ACIPG) no período 1932 a 1934.
Fonte: ACIPG - Associação Comercial e Industrial de Ponta Grossa. Galeria de Ex-Presidentes da ACIPG. Ponta Grossa,
[2002] . Disponível em: <http://www.acipg.org.br/pg_historico_galeriadeexpresidentes.htm>. Acesso em: 17 maio 2004.
161

Ilustração 4-5: Carta de Amador Aguiar em 7 jan. 1951

Curitiba, 7 de janeiro de 1951.

Ilmos Srs.
Diretores do Banco Comercial do Paraná
Ponta Grossa

Venho declarar a VV. SS. que interessa-me a compra de 5.000 ações do Banco Comercial do Paraná,
ou até metade do capital e mais uma, nas seguintes condições:
Preço — Cr$ 3.000,00 (três mil cruzeiros) cada uma;
Prazo de pagamento: Cr$ 1.000,00 à vista e o restante em depósito no Banco Brasileiro de Descontos
ou no próprio Banco Comercial, aos prazos de seis e doze meses.
Garanto, dentro do prazo de 60 dias, manter a cotação de Cr$ 2.000,00 (dois mil cruzeiros) pelas
ações restantes que eventualmente forem oferecidas à venda.
Realizada a operação de compra das ações, a atual diretoria do Banco renunciará para que outra seja
composta com elementos de nossa indicação.
Serve de base a esta proposta o balanço encerrado no dia 20 do mês de dezembro último,
comprometendo-se VV. SS., até que a presente operação seja decidida, a não realizar transações de
vulto, ou de importância considerável, que venha afetar o ativo do Banco.
Esta proposta tem validade até o dia 20 do corrente.

Saudações.

Amador Aguiar
Fonte: Nogueira (1986, p. 176).

433
Nogueira reproduz e contesta a autenticidade do documento e a disposição de Aguiar de
realmente querer concretizar o negócio.
78
[O] exame da farta documentação existente e relacionada com a transação, não me
pareceu que Amador Aguiar tivesse interesse real no Banco Comercial do Paraná.
Acredito que ele nem sequer estivesse em Curitiba no dia em que fez a primeira
proposta. O Grande Hotel Moderno tem hoje, em seu lugar, o Grande Hotel Candeias
— este sem dados sobre o registro de hóspedes daquele. (NOGUEIRA, 1986, p. 177).
Também observa que o negócio acabou não se realizando. Uma outra versão para os
acontecimentos:
79
[...] confirmada por Ottorino Marini25, de que Avelino, por muitos anos, guardou
profunda mágoa, ferido por Amador Aguiar. Porque ele teria procurado, antes,
Amador, buscando apoio e financiamento para ficar com a parte de Rafael Papa.
Todavia, quando Amador preferiu Papa, o trauma foi grande e Avelino se abateu.
Marini foi categórico: Amador veio aqui, conversou com os dois e preferiu dar apoio
ao Papa. Mais tarde, acabei me relacionando com Amador, a quem sempre chamei de
Seu Aguiar, e este me confessou: “Errei. Errei em dar apoio ao Papa. Ele nem me
levou ao aeroporto, nem me agradeceu”. Ele sugeriu que eu levasse Avelino até ele,
para que tivessem uma conversa. A princípio, Avelino não queria, dizia: “Não, ele já
me aprontou uma, chega”. É curioso, porque Avelino tinha um sentimento no fundo
dele, algo como culpa, pois imaginava que quando do primeiro contato com Amador,
não tinha se apresentado tão bem quando deveria, de modo a influir na decisão do
outro. (BRANDÃO, 1993, p. 123).

25
Ottorino Marini foi diretor e presidente do Bamerindus durante muitos anos.
162

434
As negociações foram tensas e,
80
[na] saída do Bancial, Albary Guimarães que havia dado seu apoio ao grupo, numa
[...] das últimas reuniões, quando a fusão Avelino-Papa estava sendo desfeita, Albary
teria ficado em cima do muro [...] o que desagradou Avelino, provocando um bate-
boca exacerbado [...] Mais tarde se reconciliaram. (BRANDÃO, 1993, p. 130).

435
O negócio somente veio a concretizar-se em agosto, quando o grupo de Avelino Vieira
entregou a Adolpho de Oliveira Franco a opção para a compra das ações em caráter irrevogável,
assinada pelo bloco de acionista que somavam 11.537 ações e que representavam 57,7% do capital
social do Bancial, como demonstrado na Tabela 4-2, a seguir.
Tabela 4-2 Relação parcial dos acionistas do Bancial

Nome Ações %
Abílio A. Vieira 40 0,2%
Albary Guimarães 1.300 6,5%
Amália Justus Gomes 1.250 6,3%
Antônio Sad 558 2,8%
Augusto Justus 1.500 7,5%
Avelino Vieira 1.204 6,0%
Cristiano Justus Junior 190 1,0%
Djalma Ferreira Lopes 285 1,4%
Ernesto A. Vieira 800 4,0%
João Antônio Vieira 35 0,2%
João B. de Camargo 200 1,0%
João B. Nascimento. 200 1,0%
Miguel Antônio Vieira 1.225 6,1%
Miguel de Paula Xavier 560 2,8%
Olavo A. Carvalho. 150 0,8%
Olímpio de Paula Xavier 50 0,3%
Oscar Diedrichs 300 1,5%
Outros 435 2,2%
Terézio de Paula Xavier 1.155 5,8%
Waldomiro Proença 100 0,5%
Subtotal dos acionistas liderados por Avelino Vieira 11.537 57,7%
Outros acionistas 6.463 32,3%
Total das ações 18.000 90,0%
A integralizar 2.000 10,0%
Total das ações 20.000 100,0%
Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base nos dados disponíveis em NOGUEIRA (1986, p. 178).

436
Após concretizado o negócio, Amador Aguiar enviou aos ex-acionistas, uma carta em papel
timbrado do Bancial (ver Ilustração 4-6), no qual assumia a responsabilidade por todo e qualquer
encargo (impostos e taxas) que viesse a incidir sobre os valores pagos pelas ações do Bancial.
Interessante observar que o Bradesco nunca incorporou o Bancial.
437
Mas uma outra versão também publicada na página da Fundação Moysés Lupion, e no livro
de Raul Vaz (1986), conta que:
81
Os negócios iam bem, a agência em Curitiba prosperava, mas Avelino Vieira e Rafael
Papa se desentenderam seriamente — e como se dizia na época — o atrito era tão
163

sério que até falavam “em se matarem”. João Lupion e Moysés lamentavam a
situação, vendo seus dois grandes amigos seriamente rompidos. Surgiu então de parte
de João Lupion, para resolver o caso, a idéia de vender para Avelino Vieira o Banco
Meridional da Produção, que então já começava a ser conhecido por “Bamerindus”.
82
A venda do Meridional, ou “Bamerindus” não era um bom negócio para os Lupion
que, afinal, estavam com um banco só seu e numa fase boa, abrindo agências inclusive
em outros Estados e com um plano de ação para se tornar em médio prazo o
empreendimento maior das organizações Lupion. Mesmo assim, Moysés não teve
dúvidas — se era para ajudar aos velhos amigos, venderia mesmo o seu banco.
83
Assim, a família Lupion vendeu a Avelino Vieira o Banco Bamerindus, e Avelino
pagou a aquisição com as ações do Banco que tinha em sociedade com seu, agora
inimigo, Rafael Papa. Os Lupion passaram, portanto, a ser sócios do Banco que a esta
época levava o nome de Comercial do Paraná e Avelino ficou sozinho com o
Bamerindus, resolvendo a questão. (VAZ, 1986, p. 90).

438
A intervenção aparentemente “externa” de Amador Aguiar na disputa pelo controle do
Bancial, ganha sentido com sua aparição em outros negócios que envolviam o Grupo Lupion e Raul
Vaz. Segundo Jamur Júnior (2001)26 e Costa (2004)27, em 1953 alguns empresários e políticos
paranaenses, entre eles Raul Vaz, Gastão Chaves, Alexandre Guttierez, Mário Hipólito César e
Nagib Chede, associaram-se e registram a Rádio e Televisão do Paraná S.A., tendo como sócio
majoritário o banqueiro Amador Aguiar. Raul Vaz participou de vários negócios com a família
Lupion, entre eles, a compra, em 1946, do Jornal “O Dia” 28 e também outra operação como segue:
84
A Fazenda Água do Bugre foi comprada por Raul Vaz junto a Companhia Agrícola
Barbosa Ferraz, de Aristides Barbosa Ferraz, em Cambará. Também um negócio
inquestionável, que reuniu seis sócios: Raul Vaz, Amador Aguiar, Rafael Papa,
Vicente Felício Andrez Castilho e Cesário Castilho. Raul Vaz relembra da Fazenda
Água do Bugre sempre como uma homenagem aos seus companheiros de negócio.
“Me sinto feliz em ter conhecido Amador Aguiar. Uma figura humana
impressionante. Um homem cuja amizade me orgulho em manter”, afirma Raul Vaz.
Água do Bugre, com cerca de 800 alqueires e 500 mil pés de café, foi depois
repassada a Moysés Lupion, em 1950. (VAZ, 1986, p. 92).

439
Essas versões bastante contraditórias demonstram que havia conexões entre o Grupo
Lupion e Amador Aguiar e acreditamos que as disputas entre o PSD e UDN contribuíram em boa
medida para a cisão do Bancial. A falta de estudos sistemáticos sobre o período indica ser
necessária pesquisa mais detalhada sobre a história política desse período, principalmente no que se
refere à família Lupion, sua ação política e os grupos que se reuniam em torno das empresas da
família.

26
Fonte: JAMUR JÚNIOR. Pequenas histórias de grandes talentos: os primeiros passos da televisão no Paraná. Curitiba,
2001.
27
Fonte: COSTA, R. M. C. D. A História da Televisão no Paraná: um jeito próprio de fazer parte da televisão brasileira.
Texto apresentado no II Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho. GT História das Mídia Audiovisual. Florianópolis,
abril de 2004. Disponível em: <http://www.jornalismo.ufsc.br/redealcar/GT/historia%20da%20midia%20audiovisual/
trabalhos_selecionados/rosa_maria_costa.doc>. Acesso em: 06 set. 2004.
28
O jornal O Dia foi dirigido em 1951 pelo deputado Accioly Filho.
164

Ilustração 4-6: Carta de Amador Aguiar em 4 set. 1951

Fonte: Nogueira, 1986, p. 178.

4.5 O BANCO MERCANTIL E INDUSTRIAL DO PARANÁ

440
Em 1952, o grupo de Avelino Vieira, juntamente com o grupo Atalaia, assumiram o
controle acionário do Banco Meridional da Produção S.A., que contava com um capital de cinco
milhões de cruzeiros e com apenas quatro agências, das quais, duas – Caçador (SC) e Piraí do Sul
(PR), foram fechadas. (ANDRADA, 1982, p. 37).
441
Com a entrada do grupo de Avelino, segundo Brandão (1993), Othon Mäder foi mantido
como presidente do banco, Terézio de Paula Xavier assumiu a vice-presidência, e Avelino foi
escolhido como diretor-superintendente – cargo que ocupara até 1968, e, para as outras diretorias
foram empossados: Augusto Justus, Anacleto Theógenes Carli (Atalaia) e João Lupion Filho,
Dorcel Pizzatto (Atalaia), e Altamirano Pereira (Atalaia). A Assembléia Extraordinária dos
acionistas, realizada em 8 de março de 1952, deliberou a elevação do capital social para 25 milhões
de cruzeiros, reformou os estatutos sociais e mudou a razão social da instituição para BANCO
MERCANTIL E INDUSTRIAL DO PARANÁ S.A., cuja justificativa encontramos na cópia da ata
(ver Ilustração 4-7) na qual Avelino A. Viera escreveu:
85
[...] ou por meio de carta registrada aos senhores subscritores atendendo também ao
desejo manifestado por inúmeros acionistas e a conveniência de ser dada nova
denominação ao Banco capaz de melhor expressar sua finalidade em seu novo surto
de crescimento propomos a mudança do nome atual, para Banco Mercantil e Industrial
do Paraná S.A. nome esse melhor o define e que associa ainda o nome do Estado
brasileiro onde tem sua sede social [...] (ANDRADA, 1982, p. 40).
165

Ilustração 4-7: Ata da 1º reunião do Banco Mercantil Industrial do Paraná

Nota: O texto foi ampliado para facilitar a leitura. Fonte: Andrada (1982, p. 40).
442
Para João Gilberto Possiede29, na época funcionário da Atalaia, a
86
[...] palavra Bamerindus é uma sigla tirada de Banco Mercantil Industrial. Como,
naquela época, não tinha telex, nem fax, o endereço telegráfico adotado foi
“Bamerindus.” “Aonde você vai?” “Vou ao Bamerindus.” Foi o povo que patenteou
o nome Bamerindus, para não dizer “vou ao Banco Mercantil”, ou “vou ao
Industrial”. Até porque tivemos outros tantos Mercantil, como o Mercantil de São
Paulo, o Mercantil do Brasil, por aí afora. (POSSIEDE, 1997, p. 38).

443
Na Ilustração 4-8 apresentamos o primeiro balancete financeiro sob a nova administração,
no qual podemos verificar que em 1952 o banco possuía 1 matriz, 5 agências e 1 escritório; bem
como é possível identificar a composição da diretoria. A Ilustração 4-8 apresenta a Carta Patente na
qual se pode verificar a data de criação do banco, bem como a data da mudança do nome para
Banco Mercantil Industrial. No Ilustração 4-8 são apresentadas as conexões políticas do grupo de
empresários reunido em torno do agora Banco Mercantil Industrial S.A.
Ilustração 4-8: Balancete do BMIP em 30 de novembro de 1952.

Fonte: Andrada (1982, p. 39).

29
Fonte: POSSIEDE, João Gilberto. Depoimento, 1997. Rio de Janeiro, CPDOC, 1997, 34 p. dat. Disponível em:
<http://www.cpdoc.fgv.br/historal/htm/ho_download.htm>. Acesso em: 14 out. 2005..
166

Ilustração 4-9: Carta Patente do Bamerindus

Fonte: Andrada (1982, p. 41).


167

Gráfico 4-6: Conexões políticas do grupos de sócios do BMIP (1951 – 1955)

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, com base nos dados extraídos de Andrada (1982), Brandão (1993) e DHBB (2002).
168

4.5.1 O CAFÉ DO PARANÁ

444
Neste momento precisamos de uma pausa para uma breve revisão da história da cultura do
café na região, pela importância que teve para o processo de acumulação capitalista no Paraná e a
formação do Bamerindus.
445
Segundo o Iapar (2005)30, no início do século XX, a cultura do café chegou ao Estado e
cresceu lentamente até 1945 por cauda duas guerras mundiais e à quebra da bolsa de Nova York em
1929 – quando a crise econômica mundial e a forte baixa nos preços do produto levaram à queima
de milhões de sacas de café. Nos anos 1950 e no início dos anos 1960, a cafeicultura passou por
uma fase de grande expansão no Paraná.
87
[...] a área chegou a quintuplicar, passando dos quase 300 mil hectares, em 1951, para
1,6 milhão de hectares em 1962. Devido à redução dos estoques mundiais, os preços
internacionais naquele período foram muito favoráveis, incentivando o aumento do
plantio de café no Estado. (IAPAR, 2005).

446
O apogeu da produção no Paraná aconteceu na safra 1961/62, quando foram colhidos
aproximadamente 21,3 milhões de sacas de 60 kg, ou 28% da safra mundial, que na época tinha
atingido 76 milhões de sacas. A expansão foi estimulada pela fertilidade das terras da região, apesar
das geadas ocasionais, e pela alta nos preços – em 1954 a saca chegou a ser cotada a US$ 600/60 kg
na Bolsa de Nova York:
88
Por um longo período, o café foi o principal gerador de riquezas para o Estado,
propiciando a fixação do trabalhador no meio rural, além de contribuir para coroar
com êxito o modelo de colonização, tornando as pequenas e médias propriedades
economicamente viáveis, numa época de poucas alternativas agrícolas. (IAPAR,
2005).

447
As três grandes safras no Paraná e no Brasil, ocorridas entre 1959 e 1962, levaram ao
excesso de oferta e elevação dos estoques motivando a queda dos preços. O governo brasileiro
então promoveu intervenções no mercado através de programas de erradicações de plantações
buscando reduzir a produção e manter os preços no mercado internacional. A geada que dizimou os
cafezais do Paraná, em 1975, fez com que a agricultura da região buscasse substituir a cultura do
café pelas culturas de soja e trigo. No Gráfico 4-7 podemos observar que nos anos de 1970, Minas
Gerais passou a se destacar na produção de café, sendo seguida pelos estados do Espírito Santo,
Bahia e Rondônia, enquanto isso o Paraná e São Paulo reduziram suas participações.
448
A densidade social promovida pela cultura do café produziu transformações profundas na
estrutura social do Paraná, incentivando a ocupação do interior do Estado e a formando de regiões
economicamente prósperas, constituindo grupos de políticos e capitalistas que passaram a disputar
o poder com as oligarquias tradicionais de Curitiba e de Paranaguá. A história do Bamerindus é

30
Fonte: IAPAR - Instituto Agronômico do Paraná. O café no Paraná: um pouco de história. Curitiba, Secretaria de Estado da
Agricultura e do Abastecimento. Estado do Paraná, [2005]. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/iapar/cafe/p&m-
para.html>. Acesso em: 22 abril. 2005.
169

marcada pelas disputas entre os grupos emergentes e os interesses estabelecidos, sendo o próprio
banco, em boa medida, resultado direto da cultura do café.

Gráfico 4-7: Produção de Café por Estado (em %)

100

12 11
16 15 14 15
18 SP
90 19
22 22
24
29 27 28 27
30 30 32 32 30 30 31
33 35 35 35
80 40 40 38 42
39 40
44
49 47

Outr
70
os
9
6
60 10 8
8 9
11 5

50 14 17 ES
15
15
7
34
40
31
14 32
22 33 46 50
62 25 43 40 47
30 60 32 MG
55 27 37 20 29 55
54 53 52 53 30 40
49
43 25
20 41 41 40 41 38

29
23 25 23
10 19 18 PR
17 17 15
15 13 13
11 11
9 10 9 8 11 8
- - 1
2

4
4

6
/6

/6

/7

/7

/7

/9

/9
/6

/6

/7

/7

/8

/8

/8

/8

/8

/9

/9
61

67

71

75

81

83

87

91

93
63

65

69

73

77

79

85

89

95

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados extraídos de Boletim do Café - Anuário 96 (até 1990:
IBC; 1991/95: Cecafé; a partir de 96: Embrapa/CONAB) In: Ministério da Agricultura (2004)31.

31
Fonte: MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, Pecuária e Abastecimento. Estatística. Histórico de Produção de Café nos
Estados. Produção Brasileira de Café. Boletim. Elaboração: Coordenação Geral de Apoio a Comercialização – Decaf /
SPC / Mapa. Brasília, [2004]. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br/pls/portal/docs/PAGE/MAPA/
ESTATISTICAS/PRODUCAO/PRODUCAO_ESTADO_US.PDF/>. Acesso em: 11 jun. 2004.
170

4.5.2 A FORMAÇÃO DO GRUPO BAMERINDUS (1952-1981)

4.5.2.1 O PERÍODO OTHON MÄDER (1952-1968)

449
Othon Mäder ficou na Presidência do banco de 1952 até 1967, tendo sido senador entre
1951 e 1959 e deputado federal no período 1959-1963. Como já vimos, ele foi um dos fundadores e
líder do grupo segurador Atalaia que, já em 1952, criava junto com o Banco Mercantil Industrial a
Companhia Mercantil de Armazéns Gerais (para estocar café), num terreno de 10 mil metros
quadrados que Altamirano Pereira, sócio da Atalaia e do banco, tinha no porto de Paranaguá. Em
1954, o banco enfrentou o seu primeiro grande problema com a crise cambial que atingiu
diretamente a lavoura do café. Superada a crise, em 1955 foi criada a Ouro Verde Companhia de
Seguros, e em 1957 Augusto Justus assumiu o cargo de vice-presidente do banco.
450
A expansão do banco para fora do Estado do Paraná iniciou no ano de 1958, quando
assumiu o controle do Banco Tietê – antiga Casa Bancária Abelardo Queiróz S.A., de São Paulo,
continuando em 1959 quando adquiriu o controle do Banco Costa Monteiro no Rio de Janeiro. No
ano de 1960 foi criado o Banco Mercantil Industrial de Santa Catarina com alteração do nome do
Banco Excelsior Ltda., como também houve a alteração do nome do Banco Tietê para Banco
Mercantil Industrial de São Paulo e a inauguração do edifício sede em Curitiba. A informatização
das operações do banco começou em 1961, quando foi contratada a assessoria Remington / Univac,
que resultou na instalação de um equipamento Univac 100432 em 1963.
451
O grupo assim como grande parte do sistema financeiro recebeu grande impulso a partir da
reforma do SFN promovidas pelo governo militar em 1964, bem como pela criação nos anos
seguintes dos fundos compulsórios como o FGTS e o Fundo 15733. Neste ano foi adquirido o
controle Acionário do Banco Mercantil e Industrial do Mato Grosso e em 1965 a palavra
BAMERINDUS foi utilizada pela primeira como razão social, quando foi criada a Fundação
Bamerindus. No ano seguinte o banco incorporou o Banco de Crédito da Bahia S.A. e o Banco da
Administração S.A. Quando Othon Mäder deixou a Presidência do banco em 1968, a instituição já
era uma organização nacional, estando presente nas principais praças dos Estados mais importantes.

32
“O UNIVAC 1004 utilizava cartões perfurados, impressora, leitora de cartões, leitora de fita de papel perfurado, perfuradora
de cartões e fita magnética. Não existiam discos magnéticos, e a memória tinha 1024 bytes (1K) [ou 4k]. O programa era
montado em painéis com fios de ligação entre circuitos. Os painéis eram tabuleiros perfurados onde se ‘plugavam’ os fios,
especificando a operação e as coordenadas de memória de cada um dos operandos envolvidos no processo. Como estes
painéis eram muito caros não era raro um mesmo painel ter 8 a 10 programas montados uns sobre os outros.” (MULLER,
2003)
33
O Fundo 157 foi criado pelo Decreto-Lei nº 157, de 10 de fevereiro de 1967 e dava opção aos contribuintes para que
utilizassem parte do imposto de renda devido em aquisição de quotas de fundos administrados por instituições financeiras de
livre escolha do aplicador. Fonte: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Federativa do Brasil. Legislação. Brasília, [2002] <
https://www.planalto.gov.br/>. Acesso em: 11 jan. 2006.
171

4.5.2.1.1 O BANCIAL

452
Ao mesmo tempo, o Bancial também cresceu, mas não no mesmo ritmo do Bamerindus,
provavelmente porque o Grupo Lupion direcionou os esforços para os outros bancos da
organização, bem como os problemas políticos que Lupion enfrentou devem ter contribuído para o
desempenho do banco. Também temos que considerar que as conexões com o Bradesco podem ter
inibido investimentos maiores no Bancial.
453
Um evento importante foi a criação, em 1958, da Companhia Comercial de Seguros, que
reunia entre os principais acionistas: Adolpho de Oliveira Franco Júnior, Rafael Papa, Raul Vianna
de Azevedo, Aguinaldo Sampaio Ribas, Eugênio Rosário Leone, Edmundo Lemanski, Jayme Canet
e Jayme Canet Jr, Evilásio Augusto Bley, João Ferraz de Campos, Giácomo Clausi, Roberto Mário
Clausi e Olavo Rispoli34. Esse grupo de sócios reunia importantes conexões políticas, como pode
ser conferido no Gráfico 4-9. A seguradora operava em diversos ramos junto com o Bancial e, em
pouco tempo, expandiu suas atividade do Paraná para São Paulo, e em 1960 para o Rio de Janeiro e
Brasília. Mais tarde foi constituído o Grupo Segurador Comercial, com a participação das empresas
Nova América Cia de Seguros Gerais, fundada em 1854 por decreto do Imperador D. Pedro II, e a
União do Comércio e Indústria Cia de Seguros Gerais.

4.5.2.1.2 O BANCO E A POLÍTICA NO PERÍODO OTHON MÄDER (1952 A 1968)

OTHON MÄDER

454
No senado, pela UDN desde 1951, Mäder teve uma atuação importante no cenário político
local e nacional, e, em torno dele e do então governador Munhoz da Rocha se reuniram as forças
locais contrárias ao lupionismo, e no plano nacional fez parte do núcleo de oposição ao getulismo.
No Paraná, compunha as forças de sustentação política do governador e, no senado, com o apoio de
diversas associações comerciais do país, foi contra a instituição do monopólio estatal do petróleo
defendendo a participação dos grupos privados. A partir de maio de 1953, apresentou várias
emendas ao projeto de criação da Petrobrás buscando reduzir o poder do Executivo. Entre os
projetos estavam a ampliação da capacidade das refinarias privadas e a participação do Senado na
escolha dos presidentes do conselho administrativo e da diretoria executiva da empresa.
455
Na crise política de 1954, Mäder, junto com outros parlamentares da UDN, pediu a
renúncia do presidente e, após o suicídio de Vargas, em agosto de 1954, tomou posse o vice-
presidente João Café Filho, que tinha apoio dos udenistas e também fortes ligações com Munhoz da
Rocha. Othon também foi membro das comissões de Trabalho e Legislação Social e de Finanças do
Senado, quando combateu a criação da Eletrobrás e o monopólio dos transportes ferroviários e de

34
Fonte: Sindiseg-Pr (2003)
172

cabotagem marítima.35 “Revelou-se também favorável à reforma da Constituição ‘para expurgá-la


de certos incisos de cunho socialista’ e defendeu ‘alterações substanciais na Lei Eleitoral, para
fortalecer os partidos nacionais e proscrever as ideologias extremistas”. (DHBB, 2002g).
456
Em 1958, foi eleito deputado federal e, em janeiro de 1959, deixou o Senado para assumir o
mandato na Câmara, onde participou de trabalhos dos órgãos técnicos e se opôs às reformas de base
pedidas pelo então presidente João Goulart. Também participou do bloco interpartidário criado em
1961 – composto pela UDN (majoritária) e PSD, a Ação Democrática Parlamentar (ADP), que
tinha como objetivo principal “combater a penetração comunista na sociedade brasileira” (DHBB,
2002g). A ADP articulava a oposição ao governo de Goulart, tendo deixado de existir logo após o
golpe militar.
89
Mäder pronunciou-se na Câmara contra a penetração comunista no Brasil, o
reatamento das relações diplomáticas com a União Soviética – rompidas em 1947 e
reatadas em novembro de 1961 – e em defesa da fidelidade do Brasil aos
compromissos assumidos na esfera continental e do alinhamento com o bloco
ocidental. (DHBB, 2002g).

457
Segundo Minella (1988), em 1961 Mäder também era diretor das seguintes empresas: Ouro
Verde Cia de Seguros, Paraná Cia de Seguros, Atalaia Cia de Seguros, Aurora S.A. – Investimento,
Crédito e Financiamento36. Também destaca o autor que Othon teve importante atuação na defesa
dos interesses dos banqueiros, no Congresso, principalmente com relação aos trabalhos em torno da
Reforma Bancária. Mäder havia participado do I Congresso de Bancos em 1960 e apresentou no
parlamento, em agosto de 1962, um substitutivo para a Reforma Bancária que tramitava no
Congresso Nacional, buscando transformar em lei as resoluções aprovadas no Congresso dos
Bancos. Othon também estava entre os políticos que receberam apoio financeiro e assistência
técnica e administrativa do IPES / IBAD durante as eleições de 1962:
90
O banqueiro-deputado declarou que seu projeto tinha como base a “Declaração de
Belo Horizonte” cujas conclusões considerava “ajustadas à realidade brasileira” e
que, por “uma feliz coincidência”, eram quase totalmente iguais às conclusões do
Conselho Nacional de Economia, órgão que se considerava “dos mais capacitados e
mais conceituados em matéria financeira e de ordenamento bancário” [também] [...]
propôs uma composição do Conselho Monetário Nacional que seguia exatamente as
recomendações do Terceiro Congresso, ou seja, paritária entre os representantes do
governo e os representantes diretos da burguesia, porém favorável a esta. (MINELLA,
1988, p. 114-115).

458
Em janeiro de 1963 terminou o seu mandato na Câmara dos Deputados, quando então
passou a dedicar-se mais ao banco, e desde então não retornou mais à vida pública. Ao longo de sua
vida, Othon Mäder também foi presidente do diretório da UDN do Paraná, do Sindicato dos

35
Em 1995, no governo FHC, o Senado aprovou em 2º turno as emendas que acabavam com o monopólio da Petrobrás, das
telecomunicações, e com a reserva de mercado na navegação de cabotagem. Também mudou o conceito de empresa
nacional.
36
Fonte: RICHARD NETO, Gustavo. Bancos e banqueiros do Brasil. Rio de Janeiro, 1961; BANAS, Editora. Bancos e
companhias de investimento. São Paulo, 1961, p. 148, 151, 343, 509. e BANAS, Editora. Bancos, bolsas e investimentos.
São Paulo, 1964, p. 82. Apud MINELLA (1988, p. 124).
173

Engenheiros do Paraná, da Associação dos Funcionários Públicos e do Instituto de Engenharia.


Acionista do Bamerindus, após deixar a Presidência do banco em 1968, continuou na Diretoria e no
Conselho de Administração, vindo a falecer em 1974.

BENTO MUNHOZ DA ROCHA NETTO

459
Outro personagem político importante para o Bamerindus foi Bento Munhoz da Rocha que,
ao lado de Othon Mäder, liderou a oposição ao lupionismo no Paraná. Eleito em outubro de 1950,
no seu governo iniciou as obras de construção da sede do governo, criou a Companhia Paranaense
de Energia Elétrica (Copel), construiu parte da Rodovia do Café (Ponta Grossa – Paranavaí),
concluiu as obras do porto de Paranaguá. Também iniciou a construção da usina termelétrica de
Figueira, bem como promoveu o programa de asfaltamento das rodovias do Estado. Na questão
fundiária, desapropriou terras em diversos municípios e promoveu a regularização dos títulos de
propriedade. Para cuidar da explosiva questão fundiária, em 1952, Munhoz da Rocha nomeou seu
ex-cunhado Ney Braga para o cargo de chefe de polícia do Estado. Braga era viúvo de Maria José
Munhoz da Rocha, também filha do ex-presidente do Paraná, Caetano Munhoz da Rocha.37 Na
época, Ney era militar e servia no 3º Regimento de Artilharia Montada, em Curitiba.
460
Em 1955, Munhoz da Rocha renunciou ao cargo de governador para candidatar-se à vice-
presidência da República, compondo a chapa de Juarez Távora apoiada pela UDN, PDC, PL e parte
do PSD. No governo do Paraná foi substituído provisoriamente por Antonio Annibelli que, em
maio de 1955 transmitiu o cargo ao novo governador eleito pela Assembléia Legislativa, Adolpho
de Oliveira Franco. Adolpho era notoriamente ligado ao setor financeiro, advogado, foi consultor
jurídico da Caixa Econômica Federal do Paraná por 30 anos, desde 1938, e, em 1954, diretor da
Carteira de Crédito Rural e Industrial do Banco do Brasil. Também foi presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil, Seção do Paraná, diretor da Associação Paranaense dos Cafeicultores e
senador da República em 1962. Oliveira Franco, então diretor presidente do Bancial, foi eleito pela
Assembléia Legislativa do Estado para o período de 10 meses, completando assim o mandato de
Munhoz da Rocha. 38.
461
Na disputa pela Vice-Presidência da República, Bento acabou sendo preterido, mas foi
nomeado ministro da Agricultura pelo presidente Café Filho, tomando posse no cargo em maio de
1955. Segundo Pantoja (2002), em 1958, elegeu-se deputado federal pela Frente Democrática do
Paraná que congregava a UDN, o PR e o PSP. Candidato ao governo do Paraná nas eleições de
outubro de 1965, na legenda da coligação PR - PSP - PTB - PRP, perdeu para o candidato Paulo
Pimentel, apoiado pelo então governador Ney Braga. Derrotado, abandonou a militância partidária.
Segundo Andrada (1982), em 1974, Munhoz da Rocha era membro do Conselho de Administração

37
Segundo Kunhavalik (1999, p. 9), Ney Braga também era primo de Bento Munhoz da Rocha Netto.
38
Fonte: História biográfica da república no Paraná, de David Carneiro e Túlio Vargas, 1994. Disponível em:
<http://www.pr.gov.br/casacivil/gov_adolpho.shtml>. Acesso em: 10 abr. 2004.
174

do Grupo Bamerindus.

O LUPIONISMO – PARTE II

462
Após sua saída do governo em 1951, Lupion continuou controlando o PSD, sendo eleito
senador em 1954. Assumiu o cargo no Senado em fevereiro de 1955, onde permaneceu até 1956,
quando voltou ao governo do Estado no seu segundo mandato. Na época, o PSD havia conquistado
também a presidência da República, com Juscelino Kubitschek.
463
A segunda gestão de Lupion foi marcada pelo recrudescimento da questão da terra no
interior do Estado, envolvendo títulos de propriedades irregulares e conflitos entre colonos e
empresas concessionárias de áreas de domínio público. Lupion também era proprietário da
empresas de colonização e exploração de madeira – Companhia Imobiliária Clevelândia Industrial e
Territorial Ltda (Citla), e foi acusado pela imprensa e parlamentares de usar a Força Pública para
auxiliar várias empresas, inclusive a Citla, contra os posseiros. Os conflitos serviram para mobilizar
os colonos e formar novas lideranças que, na seqüência, levou uma boa parte deles a buscarem
abrigo da legenda do PTB. Moysés governou sob forte oposição da UDN liderada por Othon
Mäder.
464
Na sua sucessão, o PSD teve que enfrentar o populismo janista, que capitalizava o
saudosismo getulista e a antipatia popular pelos políticos tradicionais. Dessa vez, o candidato de
Lupion, Plínio Franco Ferreira da Costa foi derrotado por Ney Braga que era apoiado pela UDN e
Jânio Quadros. Segundo Lemos (2002b), Braga, logo após assumir o governo, iniciou o processo de
desmonte do lupionismo, articulando uma forte campanha contra sua administração, instaurando
investigações por corrupção que acabaram levando Lupion a buscar o exílio na Argentina. Eleito
em 1962 para uma cadeira na Câmara Federal pelo PDS – utilizando a estratégia da primeira
suplência, Lupion partiu para sua defesa na tribuna do Congresso Nacional. Com o golpe militar em
1964, que contou com o apoio de Ney Braga, Lupion foi cassado com base no Ato Institucional nº
1, e teve boa parte dos seus bens confiscada. Nos anos seguintes, enfrentou grandes batalhas
judiciais por conta dos inquéritos por corrupção39. Lupion não mais conseguiu retornar à política,
perdeu seu império econômico e, quando houve a anistia política,
91
[...] veio a público para protestar contra a inclusão de seu nome entre os beneficiados,
fazendo questão de esclarecer que seus direitos foram restaurados parcialmente em
1974 e, integralmente, com a revogação do art. 185 da Constituição de 1969,
lembrando ainda que as várias ações penais que lhe foram movidas na década de 60, o
inocentaram inteiramente ‘por falta de justa causa. (TRIBUNAL DE CONTAS, 2001
e VAZ, 1986, p. 463-465).

465
A história de Lupion e o que aconteceu com seu império parece terem sido, em boa parte,
eliminados da memória da comunidade paranaense. Tivemos muita dificuldade para encontrar
referencial biográfico a esse respeito, ao que parece sua terra foi salgada pelos inimigos políticos e

39
Fontes: Oliveira (1998), Lepre (2000) e Lemos (2002b).
175

seus antigos correligionários trataram de apagar da memória coletiva as ligações com o lupionismo.
No nosso entender, esse assunto ainda espera, da comunidade científica paranaense, estudos à altura
da sua importância histórica.
466
A fábrica de papel Arapoti foi confiscada pela União e, nos anos 1980, o Bamerindus a
adquiriu em leilão e, mais tarde, ampliou as instalações e mudou sua denominação para Inpacel
Indústria de Papel e Celulose Arapoti S.A.

O NEÍSMO - PARTE I (1952 – 1967)

467
Outro personagem importante para a história do Bamerindus foi Ney Braga, cuja
hegemonia política, conhecida como neísmo, teve grande influência sobre o Paraná por
aproximadamente vinte anos, tendo Ney Braga participado do golpe militar de 1964.
468
Filho de família tradicional do Paraná, seu avô materno, José Aminthas da Costa Barros,
combateu ao lado dos Legalistas (Pica-paus) em 1894, durante o cerco da Lapa realizado pelos
federalistas gaúchos. Segundo Kunhavalik (1999, p. 9)40, Ney era sobrinho de Caetano Munhoz da
Rocha, que era casado com uma irmã de seu pai Antônio de Lacerda Braga. Mais tarde, foi para o
Rio de Janeiro estudar na Escola Militar do Realengo, e depois na Escola do Estado-Maior, onde
fez amizade com vários militares que se tornariam importantes na vida política brasileira, dentre
eles, o então coronel Castelo Branco. Em 1950 foi promovido a major e assumiu, dois anos mais
tarde, o cargo de chefe de polícia do Estado, nomeado pelo então governador Munhoz da Rocha.
Durante sua gestão enfrentou vários conflitos no campo, conseguindo angariar muita popularidade.
Em 1954, o governador promoveu mudança na Constituição estadual, determinando que o prefeito
da capital fosse eleito. Lançado candidato pelo PSP / PR, com apoio do governo do Estado e
também da prefeitura (KUNHAVALIK, 1999, p. 26), e sendo Curitiba o reduto eleitoral de
Munhoz da Rocha, Ney acabou vencendo os sete concorrentes e assumiu o cargo de prefeito da
Capital.
469
Ao terminar seu mandato em 1958, concorreu à Câmara dos Deputados contra a vontade de
Munhoz da Rocha, com quem acabou rompendo relações políticas. Braga desenvolveu sua
campanha combatendo Lupion, conseguindo eleger-se deputado federal em outubro. No ano
seguinte, articulou sua candidatura ao governo do Estado conseguindo apoio de vários empresários,
como por exemplo, o então grande usineiro João Lunardelli. Eleito governador pela coligação PDC
/ PL, recebeu também o apoio de parte da UDN e de Jânio Quadros que, nesse pleito, também se
elegeu presidente da República.
470
Ney Braga assumiu o cargo em janeiro de 1961 com dois grandes problemas, as finanças
públicas e o conflito no campo e, logo após a posse, iniciou uma grande campanha para

40
Fonte: KUNHAVALIK, J. P. Ney Braga: trajetória política e bases do poder. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-
Graduação em Sociologia Política. Florianópolis: UFSC, dezembro, 1999.
176

desmantelar o poder político e econômico de Lupion:


92
Em 31 de janeiro de 1961, quando Ney Braga assumiu o governo, a campanha contra
os amigos, parentes e sócios de Lupion estava no auge nos meios de comunicação e
abalou a vida particular de Lupion. O governo de Ney Braga não se limitou a ataques
pessoais. A vida pública foi atingida por uma onda de apagamento de todos os
vestígios das realizações do seu governo, de 1956-61. [...] placas comemorativas de
obras da administração foram retiradas, e posteriormente, reinaugurados como obras
da gestão Ney Braga. (FUNDAÇÃO MOYSÉS LUPION, 2005).

471
Durante seu governo criou vários órgãos, entre eles, em 1962, a Companhia de
Desenvolvimento Econômico do Paraná (Codepar) que mais tarde seria transformada no Banco de
Desenvolvimento do Estado do Paraná (BADEP). Segundo Kunhavalik (1999, p. 73), integravam a
primeira Diretoria da Codepar as seguintes pessoas: presidente, Affonso Camargo Netto; diretor
Técnico, Maurício Schulman; e diretor financeiro, Francisco Clausi que, na época, era ligado ao
Bancial. Ney também concluiu a rodovia do Café (Ponta Grossa - Paranavaí), criou, em 1961, a
Companhia Agropecuária de Fomento Econômico do Paraná (Café do Paraná); em 1962, a
Fundação Educacional do Paraná (Fundepar); em 1963, a Companhia de Saneamento do Paraná
(Sanepar) e a Companhia de Telecomunicações do Paraná (Telepar); em 1964 o Centro Eletrônico
de Processamento de Dados (Celepar); em 1965 a Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar) e
a Crédito, Financiamento e Investimentos, subsidiária da Codepar.41
472
Também no seu governo iniciou a constituição de uma equipe de assessores que ficou
conhecida como a “turma do Ney Braga”, cujo poder e influência sobre a estrutura política e
econômica – tanto pública como privada na região, durou até o final dos anos 1990. Entre eles
vamos encontrar, Saul Raiz, Karlos Rischbieter, Jayme Canet Júnior, Maurício Schulman, Norton
Macedo, Véspero Mendes, José Richa e Jaime Lerner. Além de Castelo Branco, Braga também
estabeleceu laços de amizade com o então coronel Ernesto Geisel que, em janeiro de 1962, havia
assumido o comando da Artilharia Divisionária da 5ª Divisão de Infantaria em Curitiba e o
comando interino da 5ª Região Militar. Ao completar mais de oito anos afastado do serviço ativo,
em 1963 Braga foi transferido para a reserva do Exército, no posto de general-de-brigada, o que lhe
seria muito útil durante o regime militar, pois assumiu assim a posição conhecida na época como
“anfíbio” – oficiais reformados com atuação política.
473
Em 30 de março de 1964, Ney aderiu ao movimento dos governadores contra Goulart,
liderado por Magalhães Pinto, Carlos Lacerda e Ademar de Barros, que também contou com o
apoio de políticos / banqueiros como Herbert Victor Levy (Banco da América / Itaú) e Laudo Natel
(Bradesco). Após o golpe, Braga participou do processo que levou Castelo Branco ao cargo de
presidente, compondo, junto com Ernesto Geisel, o grupo que mais tarde viria a ser conhecido
como castelista. Segundo Braga (2002a)42, na sucessão de Ney, seu secretário da Agricultura, Paulo

41
Dados extraídos de Augusto (1978, p. 29-30), apud Kunhavalik (1999, p. 75).
42
Fonte: BRAGA, S. S. Verbete: BRAGA, Nei. In: Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós-1930 (DHBB). 1ª
edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, CPDOC, 2002a. CD-Rom.
177

Pimentel com a ajuda de Aníbal Khury conseguiram impor sua candidatura pelo PTN ao PDC
obrigando assim Ney Braga a apoiar Pimentel, apesar de seu candidato preferido ser o vice-
governador e presidente do partido, Affonso Camargo Netto. Após sua derrota na convenção,
Camargo afastou-se politicamente de Ney Braga e renunciou ao cargo de vice-governador,
apoiando Munhoz da Rocha, que acabou sendo derrotado por Paulo Pimentel em outubro de 1965.
Pimentel, além do apoio da família de sua esposa, filha de João Lunardelli, contou com
financiamento de vários empresários, entre eles Jayme Canet Júnior, cuja família tinha negócios
com café e era ligada ao grupo financeiro Bancial.
474
Paulo Pimentel assumiu o governo do Paraná em janeiro de 1966 e Ney, o Ministério da
Agricultura de Castelo Branco, tendo sido várias vezes cogitado para suceder Castelo na
presidência. Nas eleições de 1966, Ney consegue vencer, com o apoio de Paulo Pimentel, os
candidatos ao Senado do MDB – Nélson Maculan e Affonso Camargo. Na época, Pimentel aspirava
independência do neísmo, para tanto se aproximou de Costa e Silva que disputava o poder com o
grupo castelista. Jayme Canet, que estava na presidência do Banco do Estado do Paraná
(Banestado), demitiu-se, rompendo relações com Paulo Pimentel e estreitando laços políticos com
Ney Braga; seus aliados foram demitidos sistematicamente pelo governador, reproduzindo no plano
local a luta política que marcou o regime militar.

JAYME CANET JÚNIOR

475
Grande empresário e político hábil, Jayme Canet Júnior vai influenciar de forma decisiva a
política paranaense e o Bamerindus entre os anos 1970 e 1990.
476
Natural de Ourinhos, fronteira de São Paulo com o Norte do Paraná, nasceu em janeiro de
1925, filho de Jayme Canet e de Anita Lopes Canet. Criado em Curitiba, em 1943 iniciou-se no
mundo dos negócios aos 18 anos de idade, vindo a se tornar mais, tarde, segundo DHBB (2002d)43,
num dos homens mais ricos do Paraná. Foi um dos fundadores de uma das mais modernas fazendas
de café do Norte do Estado, a Fazenda do Horizonte, em Bela Vista do Paraíso. Além disso,
estudou Engenharia na UFPR, junto com a “turma do Ney Braga”, mas não chegou a concluir o
curso. Ligado a Ney desde os anos 1950, que na época era prefeito da Capital, Jayme foi mais tarde
um dos principais coordenadores da campanha eleitoral que levou Ney ao governo do Estado em
1961. Canet Jr. foi nomeado para a Presidência da Café do Paraná, sendo também representante
oficial do Estado na junta administrativa do Instituto Brasileiro do Café (IBC).
477
Segundo Couto (1998, p. 110), em maio de 1960, Jayme criou, junto com outros sócios, a
empresa Horizonte Ltda - Administração e Participações, dedicada à compra, venda e
administração de bens móveis e imóveis. Ligado ao grupo Bancial, como já vimos, ele e seu pai
aparecem entre os fundadores da companhia de seguros do grupo, em 1958. Em 1965, foi um dos

43
Fonte: DHBB. Verbete: CANET JÚNIOR, Jaime. Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós-1930 (DHBB). 1ª edição.
Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, CPDOC, 2002d. CD-Rom.
178

principais coordenadores da campanha de Paulo Pimentel para o governo do Paraná e em 1966


filiou-se à Arena, e assumiu a Presidência da comissão de instalação do diretório municipal em
Curitiba.
478
Após romper com Pimentel e deixar a Presidência do Banestado, voltou às atividades
privadas e assumiu cargo de diretor da Exportadora Canet e da Bley Canet de Comercialização de
Café, bem como, em 1968, a Presidência da construtora e incorporadora Habitação, na qual tinha
como sócio Affonso Camargo. Segundo DHBB (2002d) já em 1966 Canet integrava o Conselho de
Administração do Banco Mercantil Industrial.

AFFONSO ALVES DE CAMARGO NETTO

479
Outro personagem importante para a história do Bamerindus foi Affonso Alves de
Camargo Netto. Nascido em Curitiba em abril de 1929, era filho de Pedro Alípio Alves de Camargo
e de Ismênia Marçal de Camargo. Neto do ex-presidente do Paraná, Affonso Alves de Camargo é
sobrinho de Bento Munhoz da Rocha; sua família paterna era formada por pecuaristas e donos de
frigoríficos. Affonso também estudou no Ginásio Paranaense e, em 1952 formou-se engenheiro
civil pela Faculdade de Engenharia da atual UFPR, tendo integrado a “turma do Ney Braga”.
480
Exerceu a profissão de engenheiro por pouco tempo, tendo sido sócio-fundador da Empresa
Construtora, Imobiliária e Financiadora S.A. Em 1956 ingressou no PDC comandado por Ney
Braga, sendo eleito, logo após, presidente do diretório regional. Em 1960, coordenou as campanhas
locais de Jânio Quadros para a presidência da República e, junto com Canet Jr., a campanha de Ney
Braga para o governo estadual. Ao tomar posse em março de 1961, Ney Braga nomeou Affonso
Camargo – então vice-governador44, para o cargo de diretor do Departamento de Águas e Energia
Elétrica do Paraná, e um ano depois assumiu a primeira Presidência da Codepar. Em 1963, deixou o
cargo para ocupar a Secretaria do Interior e da Justiça do Paraná. Mais tarde, segundo a AE (30 set.
1992), Affonso renunciou ao cargo de vice-governador para não substituir Ney Braga, que estava
de mudança para o Ministério da Agricultura do governo Castelo Branco. Os militares não
aceitaram que Affonso assumisse o governo do Estado.
481
Quando em 1965 começaram as disputas dentro do PDC para a escolha do candidato à
sucessão de Ney, Affonso perdeu para Paulo Pimentel. Mesmo contando com o apoio da ala jovem
e progressista do partido, o apoio de Braga foi para Pimentel, considerado mais forte para enfrentar
Bento Munhoz da Rocha, apoiado pelo PTB. Camargo afastou-se de Ney Braga e apoiou Munhoz
da Rocha, que acabou sendo derrotado em outubro de 1965. Em outubro de 1965, Affonso
Camargo era secretário-geral do diretório nacional do PDC, então presidido por Franco Montoro e
optou por filiar-se ao MDB, ao passo que a “turma do Ney Braga” e Paulo Pimentel optaram pela
Arena. Em 1966 concorreu pelo MDB e perdeu a vaga no Senado para Ney Braga. Camargo

44
Segundo Braga (2002b) Affonso somente torna-se vice-governador em 1964, mas segundo a CASA CIVIL (2002), seu
mandato de vice-governador teve início em 31 jan. 1961.
179

retornou então às atividades empresariais e, em 1968, em sociedade com Jayme Canet Júnior, criou
a empresa Habitação S.A. que chegou a ser a maior construtora de prédios do Estado. Segundo
Andrada (1982), em 1974 Affonso Camargo fazia parte do Conselho de Administração do
Bamerindus.

ANÍBAL KHURY

482
Filho do ex-vereador Salomão Khury45, um comerciante e líder da colônia sírio-libanesa de
União da Vitória, Aníbal iniciou sua vida política também no cargo de vereador. Filiado à UDN por
influência de Algacir Guimarães, político que mais tarde viria compor a “turma do Ney Braga”,
Aníbal militou na oposição ao lupionismo. Em 1954, foi eleito para a Assembléia Legislativa do
Estado, onde permaneceu durante sucessivos mandatos. Segundo (ALMEIDA, 1999, p. 145)46
citando o jornalista Samuel Guimarães da Costa, nos anos seguintes Khury acumulou duas
presidências da Assembléia, e doze vezes a condição de primeiro secretário.
483
Aníbal sempre esteve envolvido nas grandes decisões políticas no Paraná, tendo sido o
principal articulador da candidatura de Paulo Pimentel ao governo do Estado em 1965.
Oficialmente sua influência política foi interrompida em 11 de março de 1969, ainda durante o
governo Paulo Pimentel, quando, enquanto jantava em sua residência com os empresários Cecílio
Rego Almeida e César Lacerda, a casa foi cercada pela Polícia Federal e homens do Exército que
lhe deram voz de prisão. Acusado por corrupção, teve seus direitos políticos cassados em 13 de
março. Considerado como “Guru” por muitos políticos, e apelidado de “Buda” pelos amigos,
segundo depoimentos, muitas decisões políticas importantes da Assembléia Legislativa foram
tomadas em reuniões promovidas na sua residência, mesmo durante o período em que esteve
cassado.
484
No Gráfico 4-8: Conexões políticas do Bamerindus no período Othon Mäder (1952 a
1967)Gráfico 4-8 apresentamos a rede de conexões políticas no período em que Othon Mäder esteve
na Presidência do Bamerindus e, no Gráfico 4-9, as principais conexões políticas do Grupo Bancial.

45
É interessante observar que, diferente de Miguel Antun, Salomão Khury não aportuguesou o nome de sua família.
46
Fonte: ALMEIDA, Pedro Washington de. Paraná político de cabo a rabo. Curitiba: Ed. Noé. 1999.
180

Gráfico 4-8: Conexões políticas do Bamerindus no período Othon Mäder (1952 a 1967)

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, com base nos dados extraídos de Andrada (1982) e Brandão (1993) e DHBB (2002).
181

Gráfico 4-9: Conexões políticas do Grupo Bancial (1952 - 1960)

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, com base nos dados extraídos de Andrada (1982) e Brandão (1993) e DHBB (2002).
182

4.5.2.2 O PERÍODO AVELINO ANTÔNIO VIEIRA (1969 – 1974)

485
Segundo os registros consultados, Avelino Vieira aparece como diretor presidente do
Bamerindus em 1969, e até então ocupara o cargo de diretor superintendente. Na sua gestão, o
Bamerindus consolidou sua estrutura nacional promovendo, a partir de 1970, o processo de fusão
das filiais estaduais buscando criar um único banco. Para tanto, Avelino Vieira designou José
Eduardo como encarregado da operação. Em 19 de fevereiro de 1971 foi alterada a razão social do
Banco Mercantil e Industrial do Paraná S.A. para BANCO BAMERINDUS DO BRASIL S. A
(BBB) que, em 15 de abril de 1971, incorporou o Banco Mercantil e Industrial de São Paulo e
Banco Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro. Todo o processo levou alguns anos para se
completar, podendo ser acompanhado nas ilustrações a seguir47:
Ilustração 4-10: Bamerindus - Paraná
Alt. Den. Alt. Den. Incorp.
CASA BANCÁRIA BANCO MERCANTIL E
26.05.43 BANCO EXCELSIOR 27.12.60 11.12.70 CASA BANCÁRIA
EXCELSIOR LTDA. INDUSTRIAL DE SANTA
LTDA. LLOYD PORTUGUÊS
(26.05.43) CATARINA S.A. LTDA.
(01.01.43)

Alt. Den.
Alt. Den. BANCO MERCANTIL E Incorp.
CASA BANCÁRIA BANCO INDÚSTRIA E 20.06.62
COMÉRCIO DA 31.10.68 INDUSTRIAL DO RIO 11.12.70
GERMANO
GUANABARA S.A. GRANDE DO SUL S.A
(22.03.43)

BANCO BRASILEIRO DA
Alt. Den. Incorp.
BANCO NACIONAL DE INDÚSTRIA E COMÉRCIO
15.06.62 BANCO NACIONAL DE 26.08.65
CRÉDITO LTDA. S.A.
CRÉDITO S. A.
(22.03.43)
Incorp.
29.09.72

Alt. Den. Incorp.


CASA BANCÁRIA 18.01.52 BANCO FRANCISCO 14.10.69
FRANCISCO TELLES TELLES S.A.
(01.01.12)

CASA BANCÁRIA LOTHAR Alt. Den. Incorp.


BANCO MERIDIONAL DA
PRODUÇÃO S.A. STHENTHAL LTDA. 10.03.62 BANCO TIBAGI S.A. 31.08.70
06.04.43 (13.04.55)

Alt. Den.
23.09.52
BANCO MERCANTIL E
INDUSTRIAL DO
PARANÁ S.A.

Alt. Den.
BANCO BAMERINDUS DO BRASIL 19.02.71
Sociedade Anônima

Fonte: Posição Acionária em 19.01.98 - BPE - Administração Societária Nível de Qualidade 04/05 Atualizado: 24/10/94

47
Dados extraídos de BAMERINDUS / HSBC. Posição Acionária em 19 jan. 1998 - BPE - Administração Societária. Nível
de Qualidade 04/05. Atualizado em 24 out. 1994. Curitiba: Bamerindus, 1998. Nos Anexos reproduzimos duas sínteses
originais da genealogia do Banco Bamerindus extraídas de suas publicações.
183

Ilustração 4-11: Bamerindus - São Paulo

ROCHA MIRANDA, FILHOS Alt. Den. CASA BANCÁRIA ROCHA Alt. Den. Incorp. Incorp.
BANCO MERCANTIL E INDL.
04.04.55 27.09.61 BANCO DO POVO DE MATO 01.08.67 28.05.70
& CIA. LTDA. CASA MIRANDA, FILHOS & CIA. GROSSO S.A. DO MATO GROSSO S.A.
BANCÁRIA (16.09.43) LTDA. (02.01.68)

ABELARDO QUEIROZ & Alt. Den. Alt. Den. Alt. Den.


CIA. 08.09.52 CASA BANCÁRIA 12.02.54 CASA BANCÁRIA 09.06.54
BANCO TIETÊ S.A
(04.09.35) ABELARDO QUEIROZ S.A. DA LAPA S.A. (1958).
Alt. Den.
07.11.60

CASA BANCÁRIA Alt. Den.


15.09.54 BANCO REAL DO
CIRCULADORA DE CRÉDITO
PROGRESSO S.A.
(28.07.52)

Incorp.
19.12.68

Alt. Den. Incorp. Alt. Den.


BANCO AGRÍCOLA 11.06.64 BANCO AGRÍCOLA 13.10.67 BANCO MERCANTIL E
20.06.70 BANCO BAMERINDUS DE
NACIONAL COOPERATIVA NACIONAL S.A. INDUSTRIAL DE SÃO SÃO PAULO S.A.
(01.01.61) PAULO S.A. Incorp.
15.04.71

BANCO BAMERINDUS DO BRASIL


Sociedade Anônima

Fonte: Posição Acionária em 19.01.98 - BPE - Administração Societária Nível de Qualidade 04/05 Atualizado: 24/10/94

Ilustração 4-12: Bamerindus - Rio de Janeiro

COOPERATIVA BANCO Incorp. BANCO COMÉRCIO E


HIPOTECÁRIO DO INDUSTRIA DO BRASIL
BARRETO LTDA. S.A. (05.08.37)

Alt. Den. Alt. Den. Incorp.


BANCO COSTA BANCO MERCANTIL E 13.10.67 BANCO MERCANTIL E
BANCO COSTA MONTEIRO E 23.10.50 01.07.61
CIA. LTDA. MONTEIRO S.A. INDUSTRIAL DO RIO DE INDUSTRIAL DO
(15.04.32)3 (1959) JANEIRO S.A. BRASIL S.A.
Alt. Den.
09.03.67

BANCO COMERCIAL E Incorp.


HIPOTECÁRIO DE 24.08.70
CAMPOS S.A.
(09.10.1872)

Alt. Den. Alt. Den. Incorp.


CASA BANCÁRIA 30.04.59 BANCO NACIONAL DA 29.05.67 BANCO MERCANTIL E BANCO MERCANTIL E
27.02.70
LIBERAL S.A. INDÚSTRIA E INDUSTRIAL DO INDUSTRIAL DO RIO DE
(12.06.56) COMÉRCIO S.A. NORDESTE S. A. JANEIRO S.A.

Incorp.
Alt. Den. 15.04.71
Incorp.
CASA BANCÁRIA 17.08.66 22.11.69
BANCO VAZ S.A.
MARINHO (01.01.55)

BANCO BAMERINDUS DO BRASIL


Sociedade Anônima

Fonte: Posição Acionária em 19.01.98 - BPE - Administração Societária Nível de Qualidade 04/05 Atualizado: 24/10/94
184

Ilustração 4-13: Bamerindus – Nordeste

CIA. DE Alt. Den. Alt. Den.


08.01.38 BANCO DE 01.01.45 BANCO DA
ADMINISTRAÇÃO
ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO S.A.
GARANTIDA BAHIANA
GARANTIDA - BAHIANA (1966)
(29.06.15)

CASA BANCÁRIA Fusão


Incorp.
THEMISTOCLES DA BANCO DO PAÍS 14.12.70 BANCO BAMERINDUS DO
04.12.67
ROCHA COSTA (01.01.43) NORDESTE S.A.

Incorp.
01.06.72
Alt. Den. Incorp.
BANCO DE CRÉDITO
URBÂNIA BANCÁRIA CASA BANCÁRIA 22.06.53 11.06.66 BANCO DE CRÉDITO DA
POPULAR DA BAHIA
LTDA. POPULAR LTDA. BAHIA S.A.
S.A. (01.01.56)
(1966)

Incorp.
CASA BANCÁRIA BANCO CIDADE DE BANCO COMÉRCIO E 08.08.66
CIDADE DE SALVADOR SALVADOR S.A. INDÚSTRIA DA BAHIA
S.A

Incorp.
01.01.69

CAIXA ECONÔMICA DA BANCO AGRO- BANCO AGRO-


CIDADE DE MACEIÓ CAIXA COMERCIAL S.A. MERCANTIL S.A. MERCANTIL DE
ALAGOAS S.A.

BANCO BAMERINDUS DO BRASIL


Sociedade Anônima

Fonte: Posição Acionária em 19.01.98 - BPE - Administração Societária Nível de Qualidade 04/05 Atualizado: 24/10/94

Ilustração 4-14: Bamerindus - Investimento e Financeira

Alt. Den. CAMPOS GERAIS S.A.


BAMERINDUS S.A.
25.10.69 FINANCIAMENTO, CRÉDITO
FINANCIAMENTO,
CRÉDITO E E INVESTIMENTOS
INVESTIMENTOS (24.03.65)

Incorp.
Incorp. Alt. Den.
28.04.89
01.04.75 BANCIAL S.A. CRÉDITO, 12.02.71 CREFIPAR S.A. CRÉDITO
FINANCIAMENTO E FINANCIAMENTO E
INVESTIMENTOS INVESTIMENTO (10.03.65)

Incorp.
FIPAR S.A. FINANCIADORA
09.02.74
DO PARANÁ - CRÉD. FINANC. CIA. FINANCEIRA DE
E INVESTIMENTOS INVESTIMENTOS-
(27.11.64) CONFINANCE -CREDITO E
Incorp. FINANC.(04.10.52)
28.04.89 Alt. Den. AURORA S.A.
BANCO BAMERINDUS DE 30.06.69 INVESTIMENTO, CRÉDITO
INVESTIMENTO S.A. E FINANCIAMENTO
(27.05.60) FINASA-PR-SC -
FINANCIAMENTO, CRÉDITO E
INVESTIMENTO (21.03.61)

Incorp. Fusão
03.04.75 BANCO BANCIAL DE 26.08.71
INVESTIMENTOS S.A. PARFISA S.A. CRÉDITO,
FINANCIAMENTO E
INVESTIMENTO
(19.05.65)

PARANACREDITO S.A.
FINANCIAMENTO, CRÉDITO E
BANCO BAMERINDUS DO BRASIL INVESTIMENTOS (02.08.65)
Sociedade Anônima

Fonte: Posição Acionária em 19.01.98 - BPE - Administração Societária Nível de Qualidade 04/05 Atualizado: 24/10/94
185

Ilustração 4-15: Bamerindus - Crédito Imobiliário

Incorp. Alt. Den. CREFISUL RIO S.A.


29.02.88 BAMERINDUS RIO CIA. DE 30.09.77 CRÉDITO IMOBILIÁRIO
CRÉDITO IMOBILIÁRIO
(22.08.67)

Incorp. Alt. Den.


BAMERINDUS S. PAULO CREFISUL SP S.A.
29.02.88 30.09.77
CIA. DE CRÉDITO CRÉDITO IMOBILIÁRIO
IMOBILIÁRIO (28.06.67)

Incorp. Alt. Den.


BAMERINDUS CENTRO- 30.04.79 SOMA CRÉDITO
BAMERINDUS S.A. 29.02.88 IMOBILIÁRIO S.A.
OESTE S.A. CRÉDITO
CRÉDITO IMOBILIÁRIO (16.01.78)
IMOBILIÁRIO
(29.01.69)

Incorp. Incorp. APEPAR-ASSOCIAÇÃO DE


28.04.89 19.06.86 POUPANÇA E
EMPRÉSTIMO
PARANAENSE (20.05.68)

BANCO BAMERINDUS DO BRASIL


Sociedade Anônima

Fonte: Posição Acionária em 19.01.98 - BPE - Administração Societária Nível de Qualidade 04/05 Atualizado: 24/10/94

Ilustração 4-16: Bamerindus – Seguradora

Incorp. Alt. Den. ATALAIA


1972 ATALAIA 29.03.52 CIA DE SEGUROS CONTRA
CIA DE SEGUROS
ACIDENTES DE TRABALHO
(24.10.38)

Incorp. Alt. Den.


1972 08.12.52 ATALAIA
PARANÁ
CIA DE SEGUROS GERAIS
CIA DE SEGUROS
(1939)

Incorp. OURO VERDE


BAMERINDUS 1972 CIA DE SEGUROS
CIA DE SEGUROS (Criado em 1955
Carta Patente 07.03.1956) CIA COMERCIAL DE SEGUROS
(07.04.1958)

Incorp.
1975 NOVA AMÉRICA CIA DE
GRUPO SEGURADOR
SEGUROS GERAIS
COMERCIAL
(1854)

UNIÃO DO COMÉRCIO E
INDÚSTRIA CIA DE SEGUROS
GERAIS.

Fonte: Posição Acionária em 19.01.98 - BPE - Administração Societária Nível de Qualidade 04/05 Atualizado: 24/10/94
186

Ilustração 4-17: Bamerindus – Outros


Alt. Den. Alt. Den. Alt. Den.
CASA BANCÁRIA
06.10.74 BANCO FINANCIAL DE 30.03.51 CASA BANCÁRIA 19.06.41
BANCO FINANCIAL S.A. ALFREDO ZANLUTTI
MATO GROSSO S.A. FINANCIAL LTDA.
(31.01.38)

Incorp.
30.09.83
Incorp. Alt. Den.
BANCO NACIONAL DO CASA BANCÁRIA
31.10.74 10.09.36 CONDE E ALMEIDA
COMÉRCIO DE SÃO
PAULO S.A. (10.09.36)

Cisão Parcial Incorp.


30.11.88 BANCO F. BARRETTO OLIMAR S.A.
31.10.74 MERCANTIL E
S.A. (04.02.49)
AGRÍCOLA (22.04.60)

Incorp.
17.04.75 TABAJARA S.A.
ADMINISTRAÇÃO E
EMPREENDIMENTOS

Alt. Den.
Incorp. Incorp.
09.08.54 CASA BANCÁRIA
07.08.84 PABREU UNIÃO 07.08.84
BANCO DAS NAÇÕES S.A. TOCANTINS S.A.
EMPRESARIAL S.A.
(05.02.47)

Incorp.
28.02.74 BANCO DE CRÉDITO
ARIJU S.A. COMÉRCIO E
TERRITORIAL S.A
INDÚSTRIA
(08.11.28)

Incorp.
28.02.74

BANCO BAMERINDUS DO BRASIL


Sociedade Anônima

Fonte: Posição Acionária em 19.01.98 - BPE - Administração Societária Nível de Qualidade 04/05 Atualizado: 24/10/94

Nota: Não foi possível verificar se a empresa Tabajara é a mesma empresa Tabajara S.A. Crédito Imobiliário que em 20 de
junho de 1975 sofreu intervenção do Bacen.
486
Muitas destas operações aconteceram com a incorporação dos grupos de acionistas
controladores ao Bamerindus, formando alianças estratégicas importantes em cada uma dessas
regiões. Na seqüência deste trabalho, vamos verificar que algumas dessas alianças trouxeram
problemas para o Bamerindus, outras foram desfeitas e algumas simplesmente deixaram de existir
no momento da aquisição ou na medida que em os novos acionistas não conseguiram acompanhar
as transformações do capital social do Bamerindus.
487
Em 1971, o banco foi classificado pela revista Visão como o 10º maior banco e 6º maior
em número de agências no Brasil48. Também nesse ano foram criadas as empresas: Agropecuária
Lagoa da Serra Ltda, Bamerindus Administração de Imóveis Ltda., Bamerindus S.A.
Administração e Serviços. No campo social, o Bamerindus criou diversas fundações de assistência
social, como a Fundação São José e a Fundação Bamerindus em 1965; a Fundação João XXIII, o
Instituto Maria José e a Fundação Bamerindus de Assistência Social em 1970. Esta Fundação teve
como instituidores os membros dos Conselhos Consultivos e diretores do Grupo Bamerindus que,
com o tempo, passaram a deter grande quantidade das ações do grupo, e os conselhos e órgãos da
fundação passaram a serem compostos pelos maiores acionistas – tornando-se assim o núcleo de
controle real da organização. A propriedade das ações era da Fundação que, por sua vez era

48
Fonte: Informativo Bamerindus, nº 9, apud Nogueira (1986, p. 216).
187

controlada pelos conselheiros, escolhidos conforme o Estatuto Social.


488
O Grupo Bamerindus também mantinha conexões com importantes instituições sociais,
entre elas cabe destacar que, Avelino Vieira era sócio honorário e presidente do Rotary Club de
Curitiba – Oeste, bem como participou ativamente da organização da Fundação da Amizade
Rotária. Também foi um dos principais promotores dos Rotary Clubs do interior dos Estados do
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, tendo recebido o título de “Associado Paul Harris”
pelas suas contribuições à Fundação Rotária. O banco cedera por 10 anos, para uso dos Rotary
Clubs da capital paranaense, as instalações do 2º pavimento do prédio da Agência Centro Cívico, na
Avenida Cândido de Abreu, em Curitiba, onde foi criada a Fundação da Unidade Rotária de
Curitiba. Segundo Kornis (2002), em janeiro de 1974, o Banco Nacional do Comércio de São
Paulo, de Sebastião Pais de Almeida foi incorporado pelo Banco Bamerindus do Brasil.
489
O ano de 1974 é de grande significado para a história do Bamerindus visto que alguns
acontecimentos transformam de maneira significativa a instituição. O primeiro deles foi a morte de
Avelino em 1º de setembro de 1974, com 68 anos, deixando o projeto Bamerindus consolidado. Em
seu lugar assumiu a Presidência do Grupo, Tomaz Edison de Andrade Vieira e a Vice-Presidência,
José Eduardo. O segundo evento importante foi a incorporação do Grupo Bancial formado entre
outros, pelo banco comercial, banco de investimento e seguradora. O Bamerindus absorveu não só
o patrimônio como também o importante grupo de acionistas e diretores que controlava a
organização. Também nesse ano, o Bamerindus adquiriu o edifício Palácio Avenida, tradicional
prédio localizado no centro de Curitiba, bem em frente à Boca Maldita49, onde mais tarde foi
instalada a sede da organização.
490
Nessa época, segundo Andrada (1983, p. 77), faziam parte do Conselho de Administração
do BBB as seguintes pessoas: o senador Accioly Filho e o então Secretário da Fazenda do Estado
do Paraná, Affonso Camargo; o ex-governador Bento Munhoz Rocha Netto; Francisco Cunha
Pereira (dirigente da Gazeta do Povo); Matias Vilhena de Andrade (tio de JE); João Scheffer; Nilo
Brasil; Mano Nascimento de Paula Xavier; Miguel de Paula Xavier; Augusto Justus; Fernandino
Caldeira de Andrada; Flávio Prestes; Olavo Alberto de Carvalho; Albary Guimarães; Antônio Sad e
Egon Armando Krueger.

4.5.2.2.1 O BANCO E A POLÍTICA NO PERÍODO AVELINO VIEIRA (1969 A 1974)

491
Segundo Brandão (1993), Avelino Vieira não gostava da vida política, preferia concentrar
suas atividades no banco e delegar a tarefa para outras pessoas. Avelino, segundo o autor:

49
A chamada “Boca Maldita” é um tradicional ponto de encontro de políticos, intelectuais e jornalistas da Capital paranaense,
que se reúnem na Avenida Luis Xavier (continuação da Rua XV de Novembro) perto da Praça Osório, região onde se
concentram várias casas que servem café, bem em frente ao edifício Palácio Avenida e o edifício Garcez, antiga Lojas HM.
Em torno da idéia, foi criada a Confraria dos Cavalheiros da Boca Maldita, fundada por Anfrísio Fonseca de Siqueira. Em
momentos importantes, o local é tradicionalmente tomado pelas manifestações políticas.
188

93
[...] sempre manteve políticos ligados ao banco, como os senadores paranaenses
Othon Mäder e Accioly Filho. A carreira política destes dois deve muito a Avelino
que jamais lhes negou apoio, sempre os orientou, influenciou, ensinou a trabalhar nos
bastidores, no atendimento, e lhes abriu caminho em regiões eleitorais, “transferindo”
votos que poderiam ser dele, Avelino, se quisesse se candidatar outra vez.
(BRANDÃO, 1993, p. 120).

492
Provavelmente Brandão tenha exagerado um pouco ao dizer que Avelino havia ensinado
Mäder e Accioly a trabalharem nos bastidores mas, ao que parece, houve fortes ligações entre eles e
Avelino. É muito provável que Accioly Filho tenha assumido o lugar de representante político
ocupado por Othon, quando este saiu da política em 1963. Mais tarde esse lugar será ocupado por
Ney Braga, cujo poder aumentará consideravelmente com a escolha do general Geisel para a
Presidência da República.

ACCIOLY FILHO

493
Francisco Accioly Rodrigues da Costa Filho50 foi deputado estadual no período entre 1947
e 1959, quando então assumiu o cargo de deputado federal pelo Paraná, onde permaneceu até 1971.
Nesse ano passou a exercer o mandato de senador (1971-1979).
494
Accioly Filho nasceu em Paranaguá, em 1920, filho de Francisco Accioly Rodrigues da
Costa e de Teresa Sílvia Rodrigues da Costa, formado em ciências jurídicas e sociais em 1942; aos
22 anos assumiu a direção da Penitenciária Central do Estado do Paraná (1943 a 1945). Em 1947
foi eleito deputado para a Assembléia Constituinte estadual na legenda PSD junto com Avelino
Vieira. Accioly foi reeleito por diversas vezes, tendo também exercido a presidência da Assembléia
Legislativa no período 1956 a 1957. Eleito em 1958 para a Câmara Federal, assumiu o mandato em
1959, e nessa época foi expulso do PSD depois de ter criticado e rompido relações com o
governador Moysés Lupion. Em 1962, foi reeleito deputado federal pelo PDC, partido na época
comandado por Ney Braga, retornando no ano seguinte ao PSD no cargo de presidente regional do
partido. Após o golpe militar, filiou-se à Arena, sendo novamente conduzido à Câmara Federal nas
eleições de 1966, tendo chegado a assumir interinamente a presidência da casa.
495
Em 1970 foi eleito senador para o período de 1971 a 1979 e, segundo o DHBB (2002a),
Accioly estava certo que seria indicado para o cargo de governador do Paraná, mas foi preterido por
Haroldo Leon Peres. Em 1973, foi novamente cogitado para o cargo, mas apesar de ser o preferido
da Arena estadual, seu nome foi vetado por Ney Braga. Em 1974, apesar de ser o presidente
estadual da Arena e contar com o apoio da maioria da bancada do partido, foi preterido novamente
para o cargo de governador, tendo sido escolhido Jayme Canet Júnior, preferido de Ney Braga.
Com isso rompeu com Braga e renunciou à presidência estadual do partido, que passou a ser
ocupada por Affonso Camargo Netto.

50
Fonte: DHBB. Verbete: ACIOLI FILHO. In: Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós-1930 (DHBB). 1ª edição.
Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, CPDOC, 2002a. CD-Rom.
189

496
Em setembro de Braga 1978, apresentou uma emenda que propunha a extinção do senador
indireto, sendo apoiado pelo senador Magalhães Pinto e, no Colégio Eleitoral reunido em outubro
de 1978, Ney não votou no candidato oficial à presidência, o general João Batista Figueiredo. Ao
terminar seu mandato, não conseguiu legenda no Paraná para se candidatar à reeleição,
responsabilizando por isto Jayme Canet, Affonso Camargo e Ney Braga. Faleceu em Curitiba em
novembro de 1979.

O NEÍSMO - PARTE II (1968 – 1973)

497
As relações de Ney com o governo do general Costa e Silva ficaram bastante complicadas
quando este assinou um telegrama de protesto contra o AI-5, editado em dezembro de 1968, e Paulo
Pimentel aproveitou o momento para apoiar Costa e Silva. (KUNHAVALIK , 1999, p. 132). É
interessante observar que no período de recesso (1968-1969) forçado do Congresso, Ney Braga
assumiu o cargo de vice-presidente da empresa Atlântica Boa Vista de Seguros51, retornando ao
Parlamento em 1969. Nos anos 1971 e 1972, Ney Braga ocupou o cargo de Primeiro-Secretário do
Senado e, no ano seguinte, assumiu a vice-liderança da Arena trabalhando ativamente pelo nome do
general Ernesto Geisel para suceder Médici.
498
No Paraná, intensificou a luta contra Paulo Pimentel que se tornara proprietário do maior
complexo de comunicação social do Sul do país, com três emissoras de televisão, dois jornais e
uma estação de rádio. Para suceder Paulo Pimentel, Médici indicou o deputado federal Haroldo
Leon Peres passando por cima da vontade de Ney Braga, de Pimentel e de Accioly Filho. Leon
Peres não durou muito no cargo, acusado de corrupção num rumoroso caso que envolveu o
empresário Cecílio Rego de Almeida52, teve que renunciar em novembro de 1971, sendo substituído
pelo vice-governador Pedro Parigot de Sousa, que por sua vez faleceu em julho de 1973. Ney Braga
conseguiu articular a eleição pela Assembléia Legislativa do deputado federal Emílio Gomes para o
mandato-tampão de um ano e nove meses, tendo como vice-governador Jayme Canet Jr. Também
vale destacar que, em agosto de 1973, Avelino Vieira foi nomeado para o cargo de membro do
CMN.
499
Quando o general Ernesto Geisel chegou na Presidência da República, em março de 1974,
nomeou Braga para o Ministério da Educação e Cultura. Agora fortalecido, Ney conseguiu impor o

51
A Atlântica Cia Nacional de Seguros foi criada em 29 de setembro de 1934 pela família de Antônio Carlos de Almeida
Braga (atual Grupo Icatu). No ano seguinte, a empresa recebeu a Carta Patente. Com o tempo ingressou no ramo de
acidentes de trabalho ao assumir o controle acionário de outras empresas, tornando-se Atlântica Cia de Seguros de Acidentes
de Trabalho. Mais de três décadas depois, em 1970, passou a chamar-se Grupo Atlântica-Boavista. Em 1972 associou-se ao
Banco Brasileiro de Descontos S.A., por meio de mútua tomada de posição acionária. Fonte: BRADESCO SEGUROS S.A.
Institucional. O grupo Bradesco de Seguros e Previdência. O início. Rio de Janeiro, [2002]. Disponível em:
<http://www.bradescoseguros.com.br/grupo/apresentacao_inicio.asp>. Acesso em: 11 abr. 2004.
52
Cecílio do Rego Almeida: Principal acionista da empresa CR Almeida. “Encrenqueiro, Cecílio é daquelas pessoas que
gostam de uma boa confusão. Apareceu nas páginas dos jornais em 1971 quando gravou com ajuda de um coronel do SNI
uma conversa com o então governador do Paraná, Haroldo Leon Peres, que pedira uma comissão para liberar verbas devidas
à sua construtora. O empreiteiro enviou a gravação ao presidente Médici, que obrigou o governador a renunciar.” (VIEIRA,
ISTOÉ: 20 maio 1998).
190

nome de Jayme Canet para o governo do Estado, contrariando a vontade de Pimentel, dos senadores
Accioly Filho e João de Matos Leão53, bem como da maioria dos convencionais da Arena.

4.5.2.3 O PERÍODO TOMAZ EDISON DE ANDRADE VIEIRA (1974 - 1981)

500
Tomaz Edison assumiu o comando do Bamerindus num momento particularmente difícil
para o sistema financeiro. Quando Geisel tomou posse na Presidência da República, em 1974,
decidiu enfrentar os graves problemas que estavam acumulados no sistema financeiro e determinou
que seu ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, tomasse as providências que fossem
necessárias. O Bacen então promoveu intervenções em diversas instituições, num processo que
durou até 1977, e muitos casos receberam a chamada solução de mercado, ou seja, as instituições
com problemas foram absorvidas por outras maiores, sobrando para o Bacen os casos mais difíceis.
Para tanto foi aprovada a Lei 6024 que provia o poder público de instrumentos mais eficazes para
agir nas intervenções e liquidações das empresas.
501 Gráfico 4-10: Intervenções do Bacen (1970 - 1981)
No Gráfico 4-10 podemos
verificar que o Bacen, em 1974, 50

51 42
promoveu intervenções em 17 40

empresas – entre elas estavam o


30 27
Banco Halles e o BUC; em 1975,
17 17
em 51 empresas; em 1976, 27 e, 20
14
finalmente, em 1977, 42 instituições 10
5
3 2 2 2
financeiras, e entre elas estava a 0
1970

1971

1973

1974

1975

1976

1977

1978

1980

1981
1972

1979
empresa Ferraz de Campos
Sociedade Corretora C. V. M. Ltda.,
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, com base nos dados disponíveis em
que no dia 19 de abril de 1977 foi Bacen (2004).

colocada em Liquidação Extrajudicial. Não conseguimos informações mais detalhadas sobre o


episódio, mas lembramos que a família Ferraz de Campos era sócia da seguradora do Grupo
Bancial e, na época, João Elísio Ferraz de Campos era sócio e diretor do Bamerindus, bem como
secretário de Administração do governo Jayme Canet Jr., que também era sócio do Grupo
Bamerindus.
502
A gestão de Tomas Edison também foi marcada pela crise do café de 1975, quando o
Estado iniciou uma ampla reforma da estrutura agrícola da região, trocando a cultura do café pelas
da soja, trigo, cana e algodão. Também nesse período o Grupo Bamerindus, buscando aproveitar os
incentivos fiscais da Sudam e Sudene, criou várias empresas agro-pastoris, iniciou a implantação de
projetos agrícola em Rondônia, Pará e na Bahia, além de promover vários projetos de
reflorestamentos. É interessante observar que o governo privilegiou mecanismos financeiros para

53
Segundo DHBB (2002j) em 1976, Matos Leão integrava o Conselho de Administração do Banco Bamerindus.
191

estruturar os incentivos fiscais, exigindo, na maioria dos casos, a constituição de sociedades


anônimas, emissão de títulos e bônus, formação de fundos institucionais de investimento e criação
de regras para negociação desses títulos no mercado financeiro e de capitais. Em 1978, o Grupo
Bamerindus iniciou o movimento em busca de parceiros estrangeiros no Brasil. Criou a empresa
Paraná Companhia de Seguros Germano Brasileira, uma associação entre o Banestado, com 25%, o
Bamerindus, com 26%, a empresa alemã Colonia Nordstern, com 25% e o restante dividido em
participações minoritárias. Também foi criada, em associação com Midland Bank Group54 e a
General Motors (GM), a empresa Bamerindus Midland Arrendamento Mercantil e, em 1980, o
banco associou-se ao American Express para lançar um cartão de crédito.
503
Um ano antes, em 1979, José Eduardo havia deixado a vice-presidência do Grupo,
permanecendo apenas no Conselho de Administração. Segundo diversos depoimentos, sua saída
ocorreu em razão das divergências com os irmãos e sócios. No ano seguinte, José Eduardo partiu
para os Estados Unidos e Europa, oficialmente com a missão de preparar o lançamento das
operações internacionais do banco.

A INCORPORAÇÃO DO GRUPO BANCIAL

504
Com a morte do pai, Tomas Edison é quem vai concluir as negociações para a incorporação
do Grupo Bancial; esse grupo era resultado do antigo Banco Comercial do Paraná (Bancial) que
não cresceu da mesma forma que o Bamerindus. O negócio havia sido iniciado por Avelino, e sua
morte em setembro impediu de realizar uma operação que, segundo depoimentos, era cheia de
significados pessoais:
94
[...] o velho Avelino Vieira poderia ter suas justificativas sentimentais, já que nos anos
40, na qualidade de sócio minoritário, participou da diretoria do Bancial num posto
secundário, espécie de exílio desconfortável e involuntário que elegantemente
conservou trancado na memória por mais de duas décadas. (VEJA, 13 nov. 1974, p.
110)55.

505
Segundo Veja, o preço acertado para a transferência de 25% das ações ordinárias do
Bancial que pertenciam ao então diretor-presidente, o ex-senador Adolpho de Oliveira Franco, e
que compunha a maioria do capital numa aliança com pequenos investidores, foi de 75 milhões de
cruzeiros:
95
[...] única surpresa da compra é a de envolver instituições com elevada rentabilidade.
De fato, com lucros de 57 milhões de cruzeiros no primeiro semestre de 1974, mais de
43 centavos por ação, o Bancial não apresenta sintomas de anemia nas receitas ou
qualquer outro motivo financeiro capaz de apressar seu fim. [...] Certamente, o
negócio foi estimulado por Oliveira Franco, atirado a uma irreconciliável divergência
com Edmundo Lemanski, casado com a herdeira da segunda cota de ações do Bancial.

54
Em 1987 teve início o processo de aproximação do Midland Bank com o HSBC, que culminou na sua incorporação em
1992. O HSBC havia retomado em 1980 o processo de expansão internacional de suas atividades, quando incorporou o
Marine Midland Bank, N. A. de Buffalo – EUA, com o objetivo se estabelecer no maior mercado financeiro mundial.
(HSBC, 2000)
55
Fonte: Acerto doméstico. Veja, 13 nov. 1974, p. 110.
192

“Fomos forçados a desmanchar a sociedade por desentendimentos pessoais”, diz um


representante do grupo vendedor. (VEJA, 13 nov. 1974, p. 110).

506
Nos dias seguintes houve muita disputa pelo controle do banco, e um grupo formado por
Hermes Faria de Macedo, Euclides Nascimento Ribas, Agostinho Brenner, Jacob Lafer e
Guglielme Francesco Mistrorigo publicaram um manifesto nos jornais mais importantes do Centro-
Sul, prometendo lutar contra o desaparecimento do Bancial. Logo em seguida, José Eduardo, então
vice-presidente do grupo Bamerindus, anunciava que um acordo com acionistas comuns aos dois
bancos e algumas compras de ações realizadas discretamente em Curitiba, garantiam ao
Bamerindus 42% do capital votante. O grupo ainda queria outros 15% das ações e as negociações
estavam sendo realizadas nas dependências do Bacen no Rio de Janeiro, com Edmundo Lemanski56,
que representava a família que controlava um segundo lote de ações. O desfecho do caso aconteceu
nas seguintes conduções:
96
Inimigo de Oliveira Franco, com quem [Lemanski] compartilhava a direção do grupo
agora retalhado, personagem central da crise — fora denunciado formalmente por
irregularidades pelo sócio —, e abandonado perigosamente na manobra de resistência
ensaiada entre outros participantes do Bancial, Lemanski surgiu afinal como a única
possibilidade de uma solução rápida para o episódio. E, também, uma rara
oportunidade para que ele pudesse fazer um acerto definitivo de sua posição diante
das autoridades federais. (VEJA, 20 nov. 1974, p. 118).

507
Segundo Brandão (1993), antes de falecer em setembro de 1974, Avelino Vieira já havia
comprado as ações da família de Rafael Papa. A maioria das informações da época aponta para uma
operação normal entre dois grupos, mas segundo O Globo, o Bamerindus teria sido convocado pelo
Bacen para incorporar o Bancial numa típica solução de mercado para um banco com problemas –
“chamado para resolver um problema para o BC [Banco Central], o Bamerindus incorporou o
Banco Comercial do Paraná”. (FADUL, 17 Jul. 1996, p. 22)57.
508
A incorporação do Bancial significou a união de diversos grupos de capitalistas
paranaenses que disputavam o poder na região, tendo como resultado o aumento da densidade
política do Bamerindus. As conexões políticas do período 1974 a 1980 demonstram que o
Bamerindus incorporou nomes que mais tarde iriam fazer parte da Diretoria do grupo, tais como
Belmiro Valverde e Maurício Schulman. Através da fusão, o grupo passou a ter maior densidade
nas conexões com o grupo político de Ney Braga / Jayme Canet Jr e, conseqüentemente, com o
Banestado através de Affonso Camargo e Badep através de Luis A. Fayet, bem como conexões com
o importante jornal Gazeta do Povo e a TV Paranaense. Na Ilustração 4-18 apresentamos a
composição do Grupo Bancial e o processo de sua incorporação pelo Bamerindus.

56
Em 3 de fevereiro de 1920 circulou o primeiro exemplar do jornal Gazeta do Povo, e nos anos 1950 Moysés Lupion aparece
como proprietário de 49% das ações da empresa que o publicava. Em 1962 Francisco Cunha Pereira Filho e Edmundo
Lemanski assumiram o controle do jornal, e em 1973 compraram a TV Paranaense, Canal 12, de Curitiba, contando também
com a participação acionária do empresário Roberto Marinho. Mais tarde eles criaram a Rede Paranaense de Comunicação,
que passou a ser proprietária de rádios e emissoras de televisão. Fonte: Oliveira Filha (2005), Jamur Júnior (2001), Costa
(2004), Vaz (1986).
57
Fonte: FADUL, S. A longa e tumultuada história de expansão do Bamerindus. O Globo, 17 jul. 1996, Economia, p. 22.
193

Ilustração 4-18: Incorporação do Bancial

B A N C O C O M E R C IA L D O Incorp. BANCO POPULAR E


P A R A N Á S .A . 17.01.45 A G R ÍC O L A D O N O R T E
(14.09.42) D O P A R A N Á S .A .
(10.03.29)
Incorp.
17 .0 4.75
Incorp. BANCO
1 1.06.55 M E T R O P O L IT A N O D E
S Ã O P A U L O S .A .
(27.11.52)

Incorp. A lt. D en. A lt. D en. C A S A B A N C Á R IA S Ã O


2 1.12.73 B ANCO DE SÃ O 30 .0 8.51 C A S A B A N C Á R IA D E 0 6.10.47 CAETANO LTDA.
C A E T A N O D O S U L S .A . S Ã O C A E T A N O S .A . (26.08.43)

Incorp. A lt. D en. C A SA B A N C Á R IA


03 .0 1.70 B A N C O V IC E N T E
01.01.63 V IC E N T E F IO R IL L O
F IO R IL L O S .A .
(01 .0 1.46 )

Incorp. A lt. D en.


B A N C O N A C IO N A L D O C A S A B A N C Á R IA
3 1.05.67 2 5.08.59
R IO D E JA N E IR O S .A . N A C IO N A L S .A . 2 3.11.36)

B A N C O B A M E R IN D U S D O B R A S IL
So cied a d e A n ô nim a

F o nte: P o sição A cio nária em 1 9 .01 .9 8 - B P E - A d m inistração S o cietária N ív el d e Q ualid ad e 0 4 /05 A tualizad o: 2 4 /1 0 /9 4

Incorp. Alt. Den. Alt. Den. Alt. Den.


CASA BANCÁRIA
30.09.83 06.10.74 BANCO FINANCIAL DE 30.03.51 CASA BANCÁRIA 19.06.41
BANCO FINANCIAL S.A. ALFREDO ZANLUTTI
MATO GROSSO S.A. FINANCIAL LTDA.
(31.01.38)

Incorp. Incorp. Alt. Den. CREFIPAR S.A.


28.04.89 BAMERINDUS S.A. 01.04.75 BANCIAL S.A. CRÉDITO, 12.02.71 CRÉDITO
FINANCIAMENTO, FINANCIAMENTO E FINANCIAMENTO E
CRÉDITO E INVESTIMENTOS INVESTIMENTO
INVESTIMENTOS
(10.03.65)

CIA. FINANCEIRA DE
INVESTIMENTOS-
CONFINANCE -CREDITO E
FINANC.(04.10.52)

Incorp. Fusão
BANCO BANCIAL DE FINASA-PR-SC -
BANCO BAMERINDUS DE 03.04.75 26.08.71 FINANCIAMENTO,
INVESTIMENTOS S.A.
INVESTIMENTO S.A. CRÉDITO E
INVESTIMENTO (21.03.61)

Incorp. PARFISA S.A. CRÉDITO,


28.04.89 FINANCIAMENTO E
INVESTIMENTO
(19.05.65)

BANCO BAMERINDUS DO BRASIL PARANACREDITO S.A.


Sociedade Anônima FINANCIAMENTO,
CRÉDITO E
INVESTIMENTOS (02.08.65)

Fonte: Posição Acionária em 19.01.98 - BPE - Administração Societária Nível de Qualidade 04/05 Atualizado: 24/10/94

Incorp.
B AM ERINDUS 1975 GRUPO SEGURADOR CIA COM ERCIAL DE SEGUROS
CIA DE SEGUROS COM ERCIAL (07.04.1958)

NO VA AM ÉRICA CIA DE
SEGUROS GERAIS
(1854)

UNIÃO DO COM ÉRCIO E


INDÚSTRIA CIA DE SEGUR OS
GERAIS.

Fonte: Posição Acionária em 19.01.98 - BPE - Administração Societária Nível de Q ualidade 04/05 Atualizado: 24/10/94
194

4.5.2.3.1 O BANCO E A POLÍTICA NO PERÍODO TOMAZ EDISON (1974 A 1981)

O NEÍSMO - PARTE III (1974-1981)

509
No Ministério da Educação, em 1974, além de indicar Jayme Canet ao governo do Estado,
Ney Braga também colocou o seu grupo em postos importantes da República, trazendo para
Brasília boa parte da sua equipe, entre outros, Karlos Rischbieter, que assumiu primeiro a CEF e
depois o BB; Reinold Stephanes, o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e Maurício
Schulman, na presidência do BNH.
510
Nos agitados dias de abril e maio de 1977, quando o Congresso foi fechado por conta do
58
“pacote de abril” e estudantes e trabalhadores eram presos em São Paulo, Ney apoiou
ostensivamente o governo Geisel nas ações repressivas que se seguiram como também, entre
outras, a histórica operação militar promovida pela PM, em setembro, que invadiu a Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) sob o comando do secretário de Segurança Pública
de São Paulo, o coronel Antônio Erasmo Dias. A vinculação pública do seu nome com a repressão
contribuiu muito para que fosse preterido na substituição de Geisel. Em dezembro, o general João
Batista Figueiredo, procedente do Serviço Nacional de Informação (SNI), foi confirmado para o
cargo. Ney foi cogitado para a vice-presidência, mas o cargo acabou ficando com Aureliano
Chaves. Braga acabou ficando com o governo do Paraná, cargo que assumiu em março de 1979.
511
Diante da perspectiva de reforma partidária, em maio começou a falar no ressurgimento do
PDC, mas acabou ingressando no PDS junto com o seu adversário Paulo Pimentel, levando consigo
boa parte dos políticos da Arena. Um grupo importante preferiu seguir Jayme Canet e o então
senador “biônico” Affonso Camargo que, junto com Aníbal Khury, criaram o PP no Paraná.
512
Sobre o neísmo, Kunhavalik (1999) destaca o editorial do jornal do grupo Paulo Pimentel,
O Estado do Paraná, que descrevia o estilo de Ney Braga da seguinte forma:
97
“[...] o comando, eram personalíssimos, impedindo a manutenção de qualquer traço
próprio de estilo ou até de personalidade aos componentes do grupo [...] foi duro
imaginar um Paraná sem Ney, e doloroso para aquele que foi um dos últimos caciques
políticos deste País ficar sem o Paraná”. (O ESTADO DO PARANÁ, 1982, Nov., Dia
18, p. 4); [e Kunhavalik completa] [...] como que o poder exercido por Ney Braga no
Paraná, e as suas relações com o seu grupo político, eram marcados pelo personalismo
político. Ney Braga era o chefe político. Ele próprio afirmava: “No meu exército, o
único general sou eu” (VEJA, 1978, Abr., Dia 5, nº 500, p. 32). Ou seja, no decorrer
de sua influência política no Estado, sempre trabalhou para evitar o surgimento de
lideranças que pudessem ameaçar o seu comando político. (KUNHAVALIK, 1999,
cap 3 p. 195).

JAYME CANET JÚNIOR

513
Vice-governador desde 1973, Jayme tomou posse como governador do Paraná em março de

58
A Emenda Constitucional n.° 8, mais conhecida como Pacote de Abril, trouxe como principais alterações a eleição indireta
para um terço do Senado (senadores biônicos) e mudanças no número de representantes por estado na Câmara Federal.
(OLIVEIRA, 1998, p. 50-51)
195

1975, enfrentando pesadas críticas por parte da imprensa controlada por Paulo Pimentel. Como
resposta, em maio de 1976, cortou todas as verbas de propaganda oficial para os órgãos de
comunicação de seu adversário, que passou então a enfrentar sérios problemas financeiros. Na
seqüência dos eventos, a Rede Globo não renovou o contrato e a programação passou a ser
transmitida pela TV Paranaense de Edmundo Lemanski e Francisco Cunha Pereira – membro do
Conselho de Administração do Bamerindus. Declarações de Pimentel identificam Canet como
executor do plano, mas sob a proteção de Ney Braga.
514
No seu governo, Jayme recebeu amplo apoio de Brasília para empreender a reestruturação
econômica do Paraná, com grandes investimentos em eletrificação rural, pavimentação de estradas
no interior e também para a área educacional, o que segundo DHBB (2002d), o notabilizou por ter
inaugurado “mil escolas de primeiro e segundo graus em apenas um dia”. Ao terminar seu mandato,
passou o cargo para Ney Braga, candidato da Arena indicado pelo general Geisel.
515
Após sair do governo, Canet criou, junto com sócios, o Hotel Deville Guaíra Ltda, sendo
também um dos maiores acionistas da Deville Hotéis e Turismo, representado por Jayme Canet
Neto, e tendo entre seus sócios o Banestado S.A. Crédito Imobiliário e o Instituto de Tecnologia do
Paraná (Tecpar), todos os dois controlados pelo Estado.
516
Quando o general Figueiredo extinguiu o bipartidarismo, em novembro de 1979, Jayme
preferiu liderar a fundação do PP no Paraná, apesar de ter reiterado pouco antes o seu apoio a
Braga. No PP, rompeu com Ney e lançou sua candidatura ao governo do Estado, recusando em
agosto de 1981 um convite do agora ex-presidente Geisel para ser o candidato do PDS e uma
reconciliação com Ney Braga. Na seqüência deste trabalho, vamos conhecer com mais detalhes as
atividades políticas e empresariais de Jayme Canet nas décadas de 1980 e 1990 e suas conexões
com o Bamerindus.

AFFONSO CAMARGO NETTO

517
Seu retorno à vida política aconteceu no início dos anos 1970, quando saiu do PMDB para
entrar na Arena, e, em 1973, foi nomeado pelo governador de Emílio Gomes para a Presidência do
Banestado. No ano seguinte, substituiu Maurício Schulman como secretário de Finanças, que havia
deixado o cargo para assumir a Presidência do BNH, indicado por Ney Braga. Com a posse do
novo governador e seu sócio Jayme Canet em 1975, Affonso continuou ocupando por um ano a
presidência do Banestado, bem como foi eleito presidente do diretório regional da Arena. Mais
tarde, na qualidade de presidente do partido lançou, em dezembro de 1976, Ney Braga para a
sucessão de Geisel. Em setembro de 1978, por indicação de Ney, Affonso foi escolhido senador
“biônico” pela Arena, assumindo o cargo no Senado em fevereiro de 1979. A partir desse ano,
Camargo foi um dos principais articuladores do PP no plano nacional, tendo sido escolhido vice-
presidente da Comissão Executiva Nacional do novo partido, mais tarde assumindo a Vice-
Presidência e a Vice-Liderança do partido no Senado.
196

JOÃO ELÍSIO FERRAZ DE CAMPOS

518
Oriundo do Bancial, nos anos 1970 aparece um novo personagem que gradativamente
assumirá posições importantes para o Grupo Bamerindus, principalmente nos anos 1980 e 1990.
Segundo Castro (2002)59, João nasceu, em Paranaguá, em dezembro de 1942, filho de João Ferraz
de Campos e Edi Pereira Ferraz de Campos. Também estudou no Colégio Estadual do Paraná e, em
1962, começou a trabalhar como diretor acionista da Corretores de Seguros do Paraná (Cosepa).
Formado em direito pela PUC-PR, em 1966 foi diretor da União do Comércio e Indústria de
Seguros Gerais, de Joinville (SC); diretor da Nova América Companhia de Seguros Gerais, do Rio
de Janeiro, e procurador da Companhia Comercial de Seguros Gerais, empresa ligada ao Bancial na
qual ele, seu pai e Jayme Canet aparecem como sócio-fundadores em 1958; foi escolhido como
secretário do Sindiseg-Pr e presidiu o Clube das Seguradoras do Paraná. Também tinha fortes
ligações com a Igreja Católica no Paraná, tendo sido membro da Comissão Arquidiocesana
Pastoral, vice-coordenador da Comissão Arquidiocesana do Apostolado Leigo e coordenador da
Campanha da Fraternidade (1970-1971).
519
Em 1973, no governo Emílio Gomes / Jayme Canet, João foi nomeado superintendente da
Fundação Educacional do Paraná (Fundepar) e, mais tarde, no governo Canet, foi nomeado
secretário de Administração. Quando o Grupo Bancial foi incorporada pelo Bamerindus, Elísio
assumiu o cargo de diretor da empresa de seguros do grupo. Segundo Couto (1998, p. 111), em
1978, João foi eleito deputado estadual pela Arena com a larga margem de mais de 36.000 votos,
assumindo o mandato em março de 1979 e, em novembro seguinte, ingressou no PP junto com
Aníbal Khury, Jayme Canet e Affonso Camargo. Aníbal Khury havia retornado ao cenário político
com a anistia promovida pelo governo Figueiredo, além de ter participado ativamente da criação do
PP no Paraná; mais tarde foi um dos principais articuladores da fusão do partido com o PMDB.
Desde então, Aníbal tem sido figura obrigatória nas decisões governamentais, especialmente nas
que dependiam de votações na Assembléia. (ALMEIDA, 1999, p. 145-151). Segundo consta,
Aníbal dizia que só teve dois amigos na vida, e um deles era Cecílio do Rego Almeida, um dos
poucos que teve coragem de visitá-lo enquanto esteve na prisão da ditadura militar.
520
No Gráfico 4-11, apresentamos uma síntese da rede política do Bamerindus após a
incorporação do Bancial. Nela podemos verificar o crescimento da densidade das conexões
políticas do grupo após incorporar o seu maior concorrente local, reunindo, assim, grupos de
capitalistas que, historicamente, disputavam espaço político e econômico. De certa forma, a
incorporação do Bancial representou a vitória final de Ney Braga sobre um dos últimos redutos do
lupionismo. Junto com Braga, a rede política do Bamerindus chegava agora ao governo Federal,
estabelecendo importantes conexões com Ministérios, o BNH, a Caixa Econômica Federal (CEF), o
Banco do Brasil (BB) e o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS).

59
Fonte: CASTRO, G. Verbete: CAMPOS, João Elísio Ferraz de. In: Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós-1930
(DHBB). 1ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, CPDOC, 2002. CD-Rom.
197

Gráfico 4-11: Conexões políticas do Bamerindus após a fusão com o grupo Bancial (1974 - 1980)

Observações: Alguns nomes foram conservados no gráfico, para demonstrar as origens do grupo, e na maioria dos casos, os
herdeiros permaneceram como acionistas com assento no Conselho de Administração. Gráfico elaborado pelo autor com base
nas diversas referências utilizadas nesta tese.
198

4.5.2.4 EVOLUÇÃO DO GRUPO BAMERINDUS (1976 - 1981)

521
Na gestão de Tomas Edison o total dos Ativos do BBB evoluíram de US$ 1.865 milhões
em 1976 para US$ 2.444 milhões em 198160, o que representou um incremento de 31% no período,
resultado muito acima do crescimento de 17% obtido pela amostra de bancos utilizada na Tabela 4-3,
e dos 19% alcançados pelo total dos bancos brasileiros. Quando comparado com os outros bancos,
podemos verificar que o BBB teve o 5º maior crescimento no período.

Tabela 4-3 Valor do Total dos Ativos dos bancos (em US$ milhões)
1981 Clas
Ano 1976 1977 1978 1979 1980 1981
1976 sif.
Banco Brasil 48.087 52.653 50.265 59.646 51.146 52.474 9% 9º
Banespa 5.778 7.341 9.231 9.302 7.881 8.361 45% 2º
Bradesco 4.998 5.400 6.792 6.251 5.214 6.286 26% 7º
Itaú 3.124 3.301 3.843 3.822 3.587 4.379 40% 3º
Real 2.216 2.463 3.137 2.872 2.641 3.022 36% 4º
Unibanco 1.951 2.140 2.604 2.768 2.315 2.882 48% 1º
Nacional 2.166 2.656 2.203 2.207 2.068 2.615 21% 8º
BBB 1.865 2.566 2.834 2.589 2.023 2.444 31% 5º
Econômico 1.458 1.765 1.891 1.823 1.501 1.861 28% 6º
Banestado 1.272 1.082 1.231 1.173 980 1.064 -16% 10º
Total da Amostra 72.915 81.367 84.031 92.453 79.356 85.388 17%
Total dos Bancos 101.571 110.243 130.565 128.156 109.077 120.412 19%
% Amostra / Total dos Bancos 72% 74% 64% 72% 73% 71%
Fonte: Melhores e Maiores (2002)

522
No Tabela 4-3, podemos Gráfico 4-12: Evolução do Total dos Ativos (em US$ milhões)
verificar que em 1978 o BBB
2.900
chegou a alcançar um total de US$
2.700 2.834
2.834 milhões ou 52% maior que 2.500
2.566 2.589
1976, tendo perdido posição em 2.300
2.444
2.100
1979 e 1980, voltando a recuperar- 1.900
2.023
se em 1981. A Tabela 4-3 permite 1.700 1.865
1.500
comparar o crescimento da 1976 1977 1978 1979 1980 1981
participação do BBB no total dos
Fonte: Melhores e Maiores (2002)
ativos dos bancos brasileiros,
demonstrando que, no período, o Bamerindus partiu de uma posição que representava 1,8% em
1976, atingiu o pico de 2,3% no ano seguinte, chegando a 2% em 1981, mantendo o 6º lugar entre
os maiores bancos privados. Nesse mesmo período, o Bradesco chegou a alcançar 5,2% em 1978 e
1981 e o Itaú, 3,6% em 1981 (ver Gráfico 4-13).

60
No próximo capítulo analisamos com mais detalhes a composição dos dados de Melhores e Maiores (2002).
199

Tabela 4-4 Participação dos bancos no Total dos Ativos dos bancos brasileiros (em %)

Ano 1976 1977 1978 1979 1980 1981 Média 1976 1981
BB 47,3 47,8 38,5 46,5 46,9 43,6 45,1
Banespa 5,7 6,7 7,1 7,3 7,2 6,9 6,8
Bradesco 4,9 4,9 5,2 4,9 4,8 5,2 5,0 1º 1º
Itaú 3,1 3,0 2,9 3,0 3,3 3,6 3,2 2º 2º
Real 2,2 2,2 2,4 2,2 2,4 2,5 2,3 3º 3º
Unibanco 1,9 1,9 2,0 2,2 2,1 2,4 2,1 4º 4º
Nacional 2,1 2,4 1,7 1,7 1,9 2,2 2,0 5º 5º
BBB 1,8 2,3 2,2 2,0 1,9 2,0 2,0 6º 6º
Econômico 1,4 1,6 1,4 1,4 1,4 1,5 1,5 7º 7º
Banestado 1,3 1,0 0,9 0,9 0,9 0,9 1,0 8º 8º
Fonte: Melhores e Maiores (2002)

Gráfico 4-13: Participação dos bancos no Total dos Ativos dos bancos brasileiros (em %)

5,5 BBB Itaú Bradesco

5,0

5,2 5,2
4,5 4,9 4,9 4,9 4,8
4,0

3,5
3,6
3,0
3,1 3,3
3,0 2,9 3,0
2,5

2,0 2,3 2,2


1,8 2,0 2,0
1,5 1,9
1976 1977 1978 1979 1980 1981

Fonte: Melhores e Maiores (2002)

523
Também é importante considerar que o número de agências do BBB evoluiu de 276 em
1971 para um total de 634 em 1981, o que equivale a um aumento de 130%, estando presente em
dez Estados brasileiros, sendo considerado, na época, o 3º maior banco brasileiro em número de
agências. No Gráfico 4-14 podemos verificar que, em 1975, ocorreu um aumento de 34% com a
incorporação do Bancial.
200

Gráfico 4-14: Evolução do número de agências no período 1972 a 1981. (em %)


35%
650 625 634 34%
Total de Agências 608
30%
600

550 530 25%


501
500
466
449 20%
450
15%
15%
400

350 334 10%


304
10%
7% 8%
300 276 285 6%
5% 3% 4% 3%
250 1%
200 0%

1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981

Fontes: Bamerindus: Relatórios dos Conselhos e Diretorias, Annual Report e Balanço Anual (1981-1994).

524
A Tabela 4-5 apresenta a relação das 33 empresas que formalmente integravam o Grupo
Bamerindus em 1981, indicando o tipo de relação patrimonial: se de controle ou de participação
minoritária.
Tabela 4-5 Empresas do Grupo Bamerindus em 1981.
nº Denominação Tipo
1 Apepar - Associação de Poupança e Empréstimo Paranaense. Controle
2 Bamerindus Agro-Pastoril e Industrial S.A. Controle
3 Bamerindus Centro-Oeste S.A. Crédito Imobiliário. Controle
4 Bamerindus Companhia de Seguros Controle
5 Bamerindus Companhia Exportadora e Comércio Controle
6 Bamerindus Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda. Controle
7 Bamerindus Midland Arrendamento Mercantil S.A. Controle
8 Bamerindus Nordeste S.A. Indústria e Reflorestamento. Controle
9 Bamerindus Rio Companhia de Crédito Imobiliário Controle
10 Bamerindus S.A. Empreendimentos Florestais. Controle
11 Bamerindus S.A. Administração e Serviços. Controle
12 Bamerindus S.A. Corretora de Câmbio e Valores Mobiliários. Controle
13 Bamerindus S.A. Corretora de Seguros. Controle
14 Bamerindus S.A. Crédito Imobiliário; Controle
15 Bamerindus S.A. Empreendimentos Florestais. Controle
16 Bamerindus S.A. Financiamento, Crédito e Investimentos. Controle
17 Bamerindus S.A. Sementes e Agricultura. Controle
18 Bamerindus São Paulo Companhia de Crédito Imobiliário Controle
19 Banco Bamerindus de Investimento S.A. Controle
20 Banco Bamerindus do Brasil S.A. Controle
21 Fundação Avelino Vieira Controle
22 Fundação Bamerindus de Assistência Social Controle
23 Paraná Companhia de Seguros Germano-Brasileira Controle
24 Sociedade Mercantil de Administração e Empreendimentos S.A. Controle
25 Umuarama Publicidade Ltda. Controle
26 Umuarama S.A. Administração de Imóveis. Controle
27 Umuarama S.A. Comércio e Indústria. Controle
28 Umuarama S.A. Planejamento e Empreitadas. Controle
29 Vilhena Agro-Pastoril S.A. Controle
30 Bamerinclub Controle
31 Brasilinvest S.A. Investimentos, Participações e Negócios. Participação
32 Companhia de Seguros Rio Branco. Participação
33 Pérola Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários. Participação
Fonte: Elaborado pelo autor com base nas informações obtidas em ANDRADE (1982), Projeto Memória Bamerindus (1995) e
Bamerindus: Encontro Semestral dos Conselhos e Diretorias jan. 1982.
201

4.5.2.5 AS SUCESSÕES NO BAMERINDUS

525
Avelino Vieira (1905 – 1974) morreu relativamente novo, aos 68 anos, se compararmos
com Amador Aguiar (1904 – 1991), que viveu até os 87 anos, Magalhães Pinto (1909 – 1996) que
também faleceu aos 87 anos, e Moreira Salles (1912 – 2001) que chegou aos 89 anos. Para sua
sucessão, não conseguiu convencer o filho mais velho, Cláudio Enoch, a trabalhar no banco,
preferindo ele as atividades com a agricultura. Avelino preparou então Tomaz Edison, José
Eduardo e Luiz Antônio. O que também parece não ter sido muito fácil, pois José Eduardo,
segundo depoimentos, tinha posições muito divergentes com as do pai e Tomaz Edison.

4.5.2.5.1 LUIZ ANTÔNIO DE ANDRADE VIEIRA

526
O último filho homem de Avelino Vieira, Luiz, nasceu em 1944 e iniciou sua vida
profissional em 1963, aos dezoito anos de idade, como funcionário da agência do Banco Mercantil
e Industrial de Santa Catarina, em Florianópolis, onde trabalhou até 1966, quando retornou a
Curitiba para gerenciar as agências do banco no Paraná. Entre 1968 e 1969 foi diretor do Banco
Francisco Telles, adquirido pelo Bamerindus e que mantinha sua sede em Castro (PR). Em março
de 1969, foi eleito diretor vice-presidente do Banco Mercantil e Industrial do Rio Grande do Sul,
com sede em Porto Alegre. Exerceu a função até a incorporação do banco ao Mercantil e Industrial
do Paraná, em março de 1970, quando então assumiu o cargo de diretor do Banco Mercantil e
Industrial de Santa Catarina, permanecendo no cargo até a sua incorporação ao Mercantil e
Industrial do Paraná.
527
Faleceu em São Paulo, no dia 26 de janeiro de 1981, aos 36 anos, vítima de colapso
cardíaco. Na época, ocupava a Presidência da Caixa Econômica do Estado de São Paulo durante o
governo Paulo Salim Maluf. (ANDRADA, 1982, p. 90-91).

4.5.2.5.2 CLÁUDIO ENOCH DE ANDRADE VIEIRA

528
Primeiro filho homem de Avelino, Cláudio nasceu em março de 1930, em Tomazina. Não
quis atuar na área financeira, preferindo cuidar dos negócios da família na área agropecuária. Atuou
no grupo como coordenador na implantação dos muitos projetos na área do reflorestamento e
agropecuária desenvolvidos pelo Bamerindus:
98
Cláudio parou de estudar, decidido, jovem ainda, a ficar na fazenda - que era do que
gostava - ao lado da mãe que, para ele, sofria muito na solidão da [fazenda] Capela.
Período lembrado como de brincadeiras, pela criançada, mas que foi de muita dureza,
dinheiro curto e dificuldades. Cláudio pagou caro sua decisão. Inconformado pelo
filho ter deixado os estudos, Avelino colocou-o na berlinda. A atmosfera de frieza
entre os dois durou anos. Houve uma aproximação, tênue. Cláudio era tratado “como
incompetente”. Em 1972, quando se percebeu que as fazendas pertencentes ao banco
eram mal administradas, José Eduardo conseguiu convencer o pai a colocar Cláudio à
frente de tudo. “Se ele faz errado é porque o senhor não orienta, não aconselha”. O
curioso é que Cláudio não abria a boca, não reclamava. Mesmo nos períodos de
202

“gelo”, continuou a freqüentar o café da manhã, ligado que era à família.


(BRANDÃO, 1993, p. 156).

529
Cláudio assumiu a Vice-Presidência do Bamerindus quando ocorreu o afastamento de José
Eduardo da 1979, tendo permanecido no cargo até a sua morte em 1981, vítima de um acidente
aéreo. Segundo Andrada (1982, p. 95), Cláudio era vice-presidente do Conselho de Administração
do Banco Bamerindus e membro dos Conselhos de Administração de diversas empresas do Grupo,
quando morreu.

4.5.2.5.3 TOMAZ EDISON DE ANDRADE VIEIRA

530
Nasceu em Tomazina em 1931, começou a trabalhar no então Banco Mercantil e Industrial
em 1953, sendo considerado como o principal sucessor de Avelino Vieira. Bacharel em
Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, passou por diversos postos na estrutura
do banco, tendo sido eleito diretor em março de 1963. Após a morte de seu pai, assumiu a
Presidência do Conselho de Administração do Grupo Bamerindus.
531
Ao falecer no acidente aéreo em 1981 junto com seu irmão, Tomaz Edison ocupava os
seguintes cargos:
99
[...] nas empresas do grupo Bamerindus: Presidente do Conselho de Administração e
Diretor Presidente do Banco Bamerindus do Brasil Sociedade Anônima; do Banco
Bamerindus de Investimento S. A; da Bamerindus S.A. Financiamento, Crédito e
Investimentos; da Bamerindus S.A. Crédito Imobiliário; da Bamerindus Companhia
de Seguros; da Bamerindus S.A. Administração e Serviços; da Bamerindus Agro-
Pastoril e Industrial Sociedade Anônima; da Bamerindus S.A. Empreendimentos
Florestais; da Vilhena Agro-Pastoril Sociedade Anônima e da Companhia de Seguros
Rio Branco. Presidente do Conselho de Administração da Bamerindus Midland
Arrendamento Mercantil S.A. e da Apepar - Associação de Poupança e Empréstimo
Paranaense. Diretor-presidente da Paraná Companhia de seguros Germano-Brasileira;
da Bamerindus Rio Cia. de Crédito Imobiliário; da Bamerindus São Paulo Cia. de
Crédito Imobiliário; da Bamerindus Centro-Oeste S.A. Crédito Imobiliário; do
Bamerinclub; da Bamerindus Cia. Exportadora e Comércio. Sócio-Gerente da Pérola
Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários. Presidente da Fundação Avelino
Vieira e da Fundação Bamerindus de Assistência Social. Era ainda Membro da
Junta de Governadores do Brasilinvest S.A. Investimentos, Participações e
Negócios e do Conselho Consultivo do Paraná da Fundação Projeto Rondon. Sócio
representativo do Lions Club de Curitiba - Centro. (ANDRADA, 1982, p. 92-93.
Grifo nosso).

532
Tomaz era casado com Dinorá (Didi) Bernardi Vieira e, entre seus filhos, está Fernanda
Bernardi Vieira que se casou em 1985, com Carlos Alberto (Beto) Richa, filho do então governador
do Paraná, José Richa. Em 2004, Beto Richa foi eleito prefeito de Curitiba pelo PSDB.

O ACIDENTE AÉREO

533
Tomaz Edison e Cláudio Enoch morreram num acidente que gerou grande comoção na
comunidade local, principalmente porque levou algum tempo para serem localizados os destroços
do avião em que viajavam. Segundo nota oficial do Bamerindus, publicada no jornal Tribuna do
203

Paraná (TP) (27 jul. 1981, p. 12)61, a direção do Grupo Bamerindus informava que ainda não havia
sido localizado o avião que transportava os dois diretores e seus filhos Avelino, Fábio e Marco. O
avião bimotor Sêneca da empresa Agropecuária Bamerindus, de prefixo PT-EQV, pilotado pelo
comandante Dalton Nicoletti, decolou do Aeroporto Afonso Pena às 8 horas e 32 min. da manhã de
sexta-feira, 24 jul. 1981, com destino a uma fazenda do Bamerindus em Serrinha, município de
Joaquim Távora – Paraná.
534
Meia hora depois, quando o avião estava na região de Jaguariaíva, o piloto informava que
“o tempo estava muito ruim e que o ‘Sêneca’ estava com camadas de gelo. [...] O avião, que devia
descer em Quatiguá, às 9:30h, não fez mais contato” (TP, 27 jul. 1981, p. 12)62. No dia seguinte, em
28 jul., o jornal informava que ainda não havia sido localizado o avião, e que mais aeronaves da
Força Aérea Brasileira (FAB) e de particulares entraram nas buscas, chegando a envolver 30 aviões
e helicópteros63. Na época várias versões começaram a circular, e ainda segundo o jornal:
100
[...] insistentes comentários, principalmente na região do sinistro, de que o avião trazia
a bordo a quantia aproximada de quinze milhões de cruzeiros, para efetuação de
negócios. Por isso é que estavam viajando dois diretores importantes do
conglomerado, ao mesmo tempo. Esta hipótese tomou corpo a partir do intenso
aparato mobilizado para a tentativa de se encontrar o avião, “antes de qualquer
pessoa”. Aliás, estes mesmos comentários dão conta de que há razões de sobra para
tal assertiva: além das forças policiais, grande contingente de colaboradores foi
acionada com a polpuda recompensa de um milhão de cruzeiros para quem achasse os
corpos. (TP, 30 jul. p. 3)64.

Ilustração 4-19: Mapa de localização do acidente aéreo.

Fonte: Tribuna do Paraná (28 jul. 1981, p. 1).

61
Fonte: Nota oficial do Bamerindus. Tribuna do Paraná (TP), Curitiba, 27 jul 1981, p. 12; 2 helicópteros estão na busca.
TP, Curitiba, 27 jul 1981, p. 12.
62
Fonte: Ainda nenhum sinal do avião que sumiu. TP, Curitiba, 27 jul 1981, p. 12; 622 Muitas esperanças e confiança no
piloto. TP, Curitiba, 27 jul 1981, p. 12.
63
Fonte: Avião do Bamerindus em Venceslau Brás? TP, Curitiba, 28 jul 1981, p. 1.
64
Fonte: Morador ouviu barulho. TP, Curitiba, 30 abr 1981, p. 3; 6 mortos! TP, Curitiba, 30 jul 1981, p. 1.
204

535
As buscas terminaram na quarta-feira, dia 29 jul. às 14 h 30 min, quando o helicóptero
pilotado por Marcos Valle localizou os destroços do avião, na Fazenda do Mascate, na Serra do
Murtinho, em Piraí do Sul65. Segundo o jornal, um outro piloto do Grupo Bamerindus chamado
Max, cunhado do piloto Dalton Nicoletti, disse que o acidente deve ter sido causado pela excessiva
formação de gelo na fuselagem. Como a temperatura chegou a 17 graus negativos, foi necessário
baixar o avião buscando aumentar a temperatura para haver descongelamento. Nesses casos, o
avião tem que baixar de altitude para evitar a queda provocada pelo peso do gelo. Como explicação
para um possível erro do altímetro declarou que “Há uma tomada estática de ar que fica fora do
avião, na fuselagem externa. O piloto não percebe, então, se a tomada está funcionando por causa
do excesso de gelo. Como a temperatura era baixa demais, havia muitos morros, o avião bateu [...]”
(TP, 30 jul. 1981, p. 6)66. Ainda segundo o jornal, o fazendeiro Clóvis Vieira, parente das vítimas,
estava esperando a chegada do avião na Fazenda do Bamerindus, e sob forte nevoeiro ouviu o
barulho do motor do avião sobrevoando o local, para em seguida afastar-se67. O altímetro marcava
900 metros quando o avião bateu às 9 h 12 min e, segundo um técnico do Instituto Médico Legal,
um dos motivos para a aeronave não ter explodido, foi que o tanque de gasolina rompeu com o
primeiro choque com uma árvore e derramou o combustível68. Segundo o jornal, alguns fatos
ficaram por serem esclarecidos como, por exemplo, a hora marcada pelo relógio de bordo e o
sentido do vôo sugerem que o avião se dirigia para o campo de pouso de uma das Fazendas do
Bamerindus, o que não justificava o tempo de 40 minutos de vôo. Também o fato que o local do
acidente ficava a apenas 40 quilômetros de Piraí do Sul, base das operações de busca, bem como o
sinistro havia acontecido em uma grota rasa que ficava em campo aberto. (TP, 31 jul. 1981).
Ilustração 4-20: Seqüência da queda do avião.

69
Fonte: Tribuna do Paraná, 31 jul. 1981, p. 1.

65
Fonte: Ninguém sobreviveu. TP, Curitiba, 30 jul 1981, p. 6.
66
Fonte: Gelo no avião, um pesadelo no espaço. TP, Curitiba, 30 jul 1981, p. 6; Dalton, um ótimo piloto. TP, Curitiba, 30 jul
1981, p. 6.
67
Fonte: Todos mortos entre ferragens. TP, Curitiba, 30 jul 1981, p. 3.
68
Fonte: O Altímetro marcava 900 quando do choque. TP, Curitiba, 31 jul 1981; Avelino, Fábio e Maurício. TP, Curitiba, 31
jul 1981; Ele localizou o avião. TP, Curitiba, 31 jul 1981.
69
Fonte: Um silêncio de morte. TP, Curitiba, 31 jul 1981, p. 1; Necropsia em segredo. TP, Curitiba, 31 jul 1981; Os corpos
chegam hoje. TP, Curitiba, 30 jul 1981, p. 6.
205

536
Segundo o jornal, no dia 30 de julho, Curitiba parou à tarde para acompanhar o cortejo dos
seis carros que levaram os corpos ao cemitério da Água Verde. Esse último ato Veja (5 ago. 1981,
p. 84) classificou como “[...] a mais chocante tragédia a devastar, de uma vez só, uma família de
empresários brasileiros [...]”.70

4.5.2.5.4 MARIA CHRISTINA DE ANDRADE VIEIRA

537
As mulheres da família Vieira tiveram pouca expressão no Grupo Bamerindus, mesmo
considerando que Maria José de Andrade Vieira – mãe de JE, havia nascido em uma família com
tradição política que remontava o tempo do Império, não encontramos registro de sua participação
em atividades públicas ou na administração do Bamerindus.
538
Talvez uma das chaves para entender o papel desempenhado pelas mulheres da família
esteja num parágrafo da biografia de Avelino Vieira, publicado por Fernandino Caldeira de
Andrada71,em 1982:
101
Enquanto o marido sacrificava-se, viajando a serviço do banco, em tempos nem
sempre risonhos, Dona Maria, revelando grande espírito de renúncia, numa
compreensão plena de sua alta função, capacitada da nobre missão de que estava
investida, cuidava do lar, sede do seu poder, com mão forte, coração amoroso e com
igual sacrifício. Preparava uma geração para os difíceis embates da vida, educando-a
convenientemente. (ANDRADA, 1982, p. 27).

539
Essa passagem, assim como outras, revelam que uma forte tradição patriarcal condicionava
a atuação feminina da família Andrade Vieira, e nem mesmo Dinorá Bernardi Vieira, viúva e
principal herdeira de Tomaz Edison, assumiu atividades no banco após a morte do marido. Esse
padrão foi quebrado a partir de 1987, quando Maria Christina, após seu divórcio, passou a atuar
profissionalmente no grupo. Inicialmente como diretora-executiva da Associação Cultural
Bamerindus, depois como presidente da Associação comercial do Paraná (ACP) no período 1992 a
1994 e, em 1995 como diretora de Infra-Estrutura do Bamerindus, tendo também ensaiado alguns
passos no mundo político. Em entrevista à revista Carta Capital, logo após a intervenção do Bacen,
ela declarou:
102
Depois da morte do meu pai, nós não recebemos nada de herança e continuamos
sócios dessa empresa (Somael). Não houve uma prestação de contas [...]. Essa
empresa, dirigida por um irmão meu, quebrou na época. Precisaram fazer uso de uma
Operação 63; logo depois dessa operação houve uma maxidesvalorização, a empresa
entrou mais uma vez em dificuldades, houve necessidade de aumento de capital e as
irmãs não tinham dinheiro para colocar. Eram quatro homens e três mulheres. Os
irmãos ficaram com o dobro do nosso capital. A empresa parou de crescer, se
deteriorou, as ações que ela detinha do controle do banco foram vendidas. Como eles
eram majoritários na empresa, houve um deslocamento de controle acionário muito
grande e, de repente, quando quis sair da empresa, tinha uma fazenda e pronto. Foi o

70
Fonte: O drama do Bamerindus. Luís Antônio morreu em janeiro, agora, Tomaz Edison e Cláudio Enoch Vieira. O último
irmão, José Eduardo, assume o comando do banco. VEJA, 5 ago. 1981, p. 84-86.
71
Fernandino Andrada era amigo de Avelino, diretor do Bamerindus e publicou o livro Um comandante de bancos: vida e
obra de Avelino Vieira com financiamento do banco.
206

que herdei do meu pai. Já as irmãs não têm uma situação financeira boa, embora
tenham sobrevivido com dignidade graças aos dividendos das ações que hoje não
valem nada. (LETAIF, 1997, p. 41).

540
Em seu livro Herança, conta que seu pai:
103
[...] deixou um testamento (por diversas vezes modificado, inclusive quando se casou
de novo) que não foi lido. Isso mesmo, jamais foi lido! Deixou para os filhos uma
empresa familiar que detinha um percentual, significativo, mas não-majoritário, de
ações do Banco Bamerindus do Brasil, e cinco fazendas. Cerca de dois anos após sua
morte, ocorrida em 1974, as quatro irmãs (éramos oito ao todo) tiveram sua
participação no banco reduzida drasticamente. Os irmãos eram responsáveis pela
administração da empresa familiar. Numa das assembléias semestrais fomos
informadas de que a empresa atravessava dificuldades (Como, se o banco não
apresentava problemas?) e que fora realizada uma operação 63. Houve então uma
maxidesvalorização da moeda e a Somael S.A., empresa familiar detentora de quase
30% do controle acionário do Bamerindus, “quebrou”. Criou-se uma situação de
aumento de capital na empresa que nós, mulheres, obviamente não pudemos
Integralizar. Some-se a isso o fato de que não houve leitura do testamento de meu pai,
e, conseqüentemente, não recebemos nada, absolutamente nada, por ocasião de sua
morte. Assim, a herança se esvaiu, sem que nenhuma das herdeiras conseguisse fazer
alguma coisa. Ao procurar advogados em São Paulo, deparei-me com a força do
poder. Imagino, hoje, a cena: eu, com vinte e poucos anos, contando para um grande
advogado essa história, querendo discutir questões relativas ao controle acionário de
um dos grandes grupos do país! Naturalmente ninguém aceitou a causa e percebi que
me defrontava com uma força imbatível. (VIEIRA, Maria, 1998, p. 20-21)72.

541
Segundo Maria Christina, as herdeiras da família recebiam uma espécie de pensão mensal,
paga pelo Bamerindus. Estas mesmas divisões de papéis por gênero Pinçon & Pinçon-Charlot
(1998) encontraram na família Rothschild que, preparava os homens para a administração dos
negócios e as mulheres para casamentos, que eram arranjados de forma a manter ou ampliar o
poder e a influência da família, também através de práticas endogâmicas. Ao que parece, tal cenário
não era muito diferente das demais elites de banqueiros, pelo menos na Inglaterra entre 1890 e
1914, que segundo Cassis (1994) promoviam casamentos entre pares para manter ou ampliar seus
negócio. É importante observar que, durante a pesquisa, não foram encontrados registros ou
referências a mulheres no comando de bancos. Apesar do número de herdeiras, somente José
Eduardo estava na linha de sucessão no banco e, após a morte dos irmãos, ele assumiu a
Presidência do Grupo Bamerindus73.

4.6 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES

542
Neste capítulo apresentamos um breve histórico da família Vieira e da formação do Grupo
Bamerindus até 1981. Buscamos focalizar os diversos aspectos sociais, políticos, econômicos e
financeiros deste período, procurando subsídios para compreender a gestão de José Eduardo à
frente do Bamerindus nos anos posteriores.

72
Fonte: VIEIRA, Maria Christina de A. Herança! São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 1998.
73
Fonte: José substitui Tomaz Edison? TP, Curitiba, 30 jul 1981, p. 6.
207

543
A história da família Vieira como empresários financeiros teve início em 1926, quando
Miguel Antun – avô de JE, abriu uma seção bancária no seu armazém em Tomazina (PR). Essa
experiência resultou na criação, em 1929, do pequeno Banco Popular e Agrícola do Norte do
Paraná (BPANP). Em 1944, este banco foi incorporado pelo Banco Comercial do Paraná (Bancial),
o que possibilitou a integração dos empresários reunidos em torno da família Vieira, com outro
grande grupo de capitalistas emergentes de Ponta Grossa (PR) e o então já poderoso Grupo Lupion.
As disputas internas no banco e as divergências políticas entre Lupion (PSD) e Othon Mäder
(UDN) fizeram com que, em 1951, ocorresse à cisão do grupo. Avelino Vieira e alguns sócios
saíram do Bancial e adquiriram, no ano seguinte, o controle do Banco Meridional da Produção.
544
A história do Bamerindus começou no dia primeiro de setembro de 1938, quando os irmãos
Lupion compraram um grande lote de ações do Banco Alemão Transatlântico. Após a liquidação do
banco em agosto de 1942, decretada pelo governo Federal por suas conexões com o partido nazista,
a família Lupion criou, na sua sede em Curitiba, o Banco Meridional da Produção, em 06 de abril
de 1943. Como vimos, evidências apontam que no acordo de cisão do Bancial o grupo de Avelino
Vieira ficou com o Banco Meridional, tendo mudado seu nome logo em seguida para Banco
Mercantil e Industrial do Paraná. A expansão do banco resultou na criação, no início dos anos 1970,
do Banco Bamerindus do Brasil S.A. (BBB), na época presente nas principais praças financeiras do
Brasil. Junto com o banco, inúmeros outros negócios foram sendo agregados levando à constituição
do Grupo Bamerindus ainda durante os anos 1970, quando também ocorreram algumas iniciativas
em direção ao mercado internacional através de associações com grupos estrangeiros no Brasil.
545
Através da história do Bamerindus podemos verificar a formação, crescimento e declínio de
grupos de capitalistas que se reproduziram ao longo do século XX através de complexos arranjos
entre famílias tradicionais e elites emergentes, envolvendo conexões através de casamentos, novas
empresas, partidos políticos e cargos públicos. A família Andrade Vieira, por exemplo, é resultado
da união de capitalistas emergentes (Antun / Vieira) com uma família que tinha longa tradição de
atuação política em Minas Gerais e nacionalmente (Andrade). Esta elite reproduzia uma forma de
atuação que encontramos na comunidade de banqueiros ingleses entre 1890 e 1914 (CASSIS,
1994), na história da família Rothschild (PINÇON & PINÇON-CHARLOT, 1998) ou na
comunidade empresaria e financeira dos EUA, como demonstraram Mills (1975), Mintz &
Schwartz (1985) e Domhoff (2005) entre outros, cujos estudos apontam para a importância e
perenidade dos arranjos sociais constituídos em torno de famílias ricas e tradicionais, no mundo
político, econômico e financeiro.
546
Conforme pode ser conferido no Quadro 4-3, o grupo não deixava espaço vago entre os
mandatos de seus principais representantes.
208

Quadro 4-3: Relação parcial de pessoas que ocuparam cargos públicos eletivos e que tiveram ligações diretas com o
Grupo Bamerindus (1933 a 1981).

Ano de Ano de
Nome Cargo Público Nível Ligações com Bamerindus
Início Término
1933 1942 Avelino Vieira Prefeito de Tomazina Municipal Presidente do BPANP
1934 1945 Albary Guimarães Prefeito de Ponta Grossa Municipal Presidente do Bancial
1947 1951 Moysés Lupion Governador Estadual Sócio do Bancial
1947 1950 Avelino Vieira Deputado Estadual Diretor do Bancial
1951 1959 Othon Mäder Senador Federal Presidente do Bamerindus
1959 1963 Othon Mäder Deputado Federal Presidente do Bamerindus
1962 1971 Accioly Filho Deputado Federal Amigo de Avelino Vieira
1971 1979 Accioly Filho Senador Federal Amigo de Avelino Vieira
1973 1974 Jayme Canet Jr Vice-Governador Estadual Sócio do Bamerindus
1975 1979 Jayme Canet Jr Governador Estadual Sócio do Bamerindus
1979 1985 Affonso Camargo Senador Federal Conselheiro do Banco e Sócio J. Canet.
1979 1983 João Elísio Deputado Estadual Sócio e Diretor do Bamerindus
Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base nos dados contidos na Tese.

547
A rede esteve presente em quase todas as eleições ou nos processos de escolha dos nomes
que iriam assumir cargos públicos importantes, e tinha profundas conexões com a esfera política
nacional. Essa realidade exigia estabelecer e manter fortes conexões com as comunidades, tanto na
busca por votos como para legitimar indicações nos períodos mais autoritários. Mesmo nos tempos
mais duros do Estado Novo e do regime militar, os interesses locais organizados, em muitos casos,
conseguiram prevalecer sobre as escolhas do governo federal, privilegiando um ou outro grupo da
comunidade como, por exemplo, na troca do governador Haroldo Leon Peres por Parigot de Souza,
em 1971. Nesse contexto é importante destacar a importância que teve a UDN para a constituição e
crescimento do Grupo Bamerindus, tendo ela reunido no período 1947-1966, outros políticos /
banqueiros importantes como Magalhães Pinto, Herbert Lévy, do Itaú e o próprio Othon Mäder, do
Bamerindus. A história do Bamerindus também é a história do processo de formação da hegemonia
financeira no Brasil. Neste capítulo foi possível verificar que, se nas décadas de 1940 e 1950,
algumas evidências indicam que o centro de poder do Grupo Lupion estava na produção, mais
tarde, quando o Grupo Bamerindus entrou, nos anos 1970, o lócus de poder do grupo econômico
estava no núcleo financeiro. Também encontramos nos anos iniciais do BPANP ou mais tarde nas
décadas de 1950 e 1960, o banqueiro Avelino Vieira preocupado em estabelecer e manter o contato
direto com os produtores, no chão das fazendas de café ou no piso das fábricas, enxergando sua
atividade de banqueiro como apenas mais um meio facilitador numa complexa cadeia de produção.
Quando Avelino morreu, em 1974, o Bamerindus já se distanciava gradativamente dessa atuação,
pois deixava de ser apenas um banco para tornar-se um grande grupo econômico. A estrutura
econômica brasileira tornara-se mais complexa e diversificada, e com ela o Bamerindus seguia uma
trajetória profundamente moldada pelas transformações da estrutura regulatória do Estado. Nos
anos seguintes, o grupo enfrentou vários desafios e, talvez, o mais importante tenha sido o de
manter-se como instrumento de acumulação capitalista geradora de excedentes, visto que o
crescimento e complexidade das operações implicavam na tendência de redução da produtividade e
209

eficiência na apropriação da mais-valia. Além do que, as atividades políticas levaram o Grupo


Bamerindus a se envolver em operações financeiras no mínimo questionáveis, cujas conseqüências
condicionaram boa parte do desempenho da instituição nos anos seguintes; em 1997, quando os
interventores do Bacen chegaram no Bamerindus, encontraram operações financeiras que estavam
pendentes desde os anos 1970.
548
Finalmente, este capítulo demonstrou que a atuação política de José Eduardo nos anos 1990
estava muito longe de ser uma opção estranha ou deslocada do contexto histórico do Bamerindus.
Tal ação tinha raízes numa longa tradição política da sua família que envolvia seu pai e avós
principalmente pelo lado materno. Quanto ao Bamerindus, vimos que ao longo de toda a sua
história ele sempre esteve diretamente envolvido com a política, e sua criação ocorreu na sede de
um banco que havia sido fechado justamente pelo envolvimento com o financiamento de partidos
políticos.
549
Após essa breve revisão da história do Grupo Bamerindus, estamos prontos para seguir em
frente em nossa jornada, entrando agora no período 1981 a 1994, quando o grupo esteve sob o
comando de José Eduardo de Andrade Vieira.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA POLÍTICA

THULIO CÍCERO GUIMARÃES PEREIRA

BANCOS E BANQUEIROS, SOCIEDADE E POLÍTICA:

O BAMERINDUS E JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA

(1981 a 1994).

VOLUME 2-3

TESE DE DOUTORADO

Florianópolis - SC

2006
THULIO CÍCERO GUIMARÃES PEREIRA

BANCOS E BANQUEIROS, SOCIEDADE E POLÍTICA:

O BAMERINDUS E JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA

(1981 a 1994).

VOLUME 2-3

Tese na Linha de Pesquisa: Estado, mercado,


empresariado e sistema financeiro, apresentado ao
Programa de Pós-graduação em Sociologia Política,
do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, da
Universidade Federal de Santa Catarina, como
requisito parcial para obtenção do título de Doutor
em Sociologia Política.

Orientador: Prof. Dr. Ary César Minella.

Florianópolis

2006
P436b Pereira, Thulio Cícero Guimarães
Bancos e banqueiros, sociedade e política : o Bamerindus e José
Eduardo de Andrade Vieira (1981 a 1994) / Thulio Cícero Guimarães
Pereira ; orientador Ary César Minella. – Florianópolis, 2006.
3 v. (721 f.)

Tese – (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina,


Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política, 2006.

Inclui bibliografia

1. Sociologia Política. 2. Finanças – Brasil – 1981-1994 – História.


3. Banqueiros. 4. Hegemonia financeira. 5. Política econômica – Brasil.
6. Corporativismo. I. Minella, Ary César. II. Universidade Federal de
Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política.
III. Título.
CDU: 32:301
SUMÁRIO

VOLUME I

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................1

1.1 A TESE ................................................................................................................................ 4


1.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................................ 11
1.2.1 Redes sociais, políticas e corporativas.................................................................... 12
1.2.2 Aplicando a metodologia de redes sociais .............................................................. 16
1.2.3 Fontes de pesquisa .................................................................................................. 20

2 CAPÍTULO I: INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS E O PODER NO


CAPITALISMO FUNDAMENTOS TEÓRICOS .....................................................23

2.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 23


2.2 GRAMSCI E AS REDES SOCIAIS .......................................................................................... 23
2.2.1 Redes Políticas ........................................................................................................ 24
2.2.2 Rede corporativa, intercorporativas ou transcorporativas....................................... 32
2.3 CAPITAL FINANCEIRO....................................................................................................... 36
2.4 HEGEMONIA FINANCEIRA ................................................................................................. 45
2.4.1 O mundo político e a hegemonia financeira ........................................................... 51
2.4.2 Discurso ideológico e a hegemonia financeira ....................................................... 52
2.5 GRUPOS ECONÔMICOS ...................................................................................................... 54
2.5.1 O Grupo Bamerindus .............................................................................................. 60
2.6 ELITES ORGÂNICAS .......................................................................................................... 62
2.7 ORGANIZAÇÃO CORPORATIVA ......................................................................................... 68
2.8 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES.................................................................................... 72

3 CAPÍTULO II: O SISTEMA FINANCEIRO ................................................................75

3.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 75


3.2 O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL ....................................................................... 75
3.2.1 A hegemonia inglesa (1816-1914).......................................................................... 76
3.2.2 O interguerras (1918 – 1943).................................................................................. 80
3.2.3 Bretton Woods (1944-1970) ................................................................................... 81
3.2.4 A mundialização financeira (1971 – 1994)............................................................. 82
3.2.5 Dívida pública......................................................................................................... 88
3.2.6 Bancos..................................................................................................................... 89
3.3 ANÁLISES E INTERPRETAÇÕES ......................................................................................... 91
3.4 PARTE II: O SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO .............................................................. 95
3.4.1 Período: 1808 a 1979 .............................................................................................. 95
3.4.2 Período 1980 - 1994.............................................................................................. 104
3.4.3 Uma breve revisão dos anos 1995 a 1997............................................................. 132
3.5 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES .................................................................................. 135

4 CAPÍTULO III: A FAMÍLIA VIEIRA E O BAMERINDUS ....................................137


4.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 137
4.2 A FAMÍLIA VIEIRA E AS CONEXÕES POLÍTICAS DO BAMERINDUS (DAS ORIGENS
ATÉ 1981)........................................................................................................................ 138
4.2.1 Os avós de José Eduardo de Andrade vieira ......................................................... 138
4.2.2 Avelino Antônio Vieira e sua Família .................................................................. 140
4.3 O BANCO POPULAR E AGRÍCOLA DO NORTE DO PARANÁ (BPANP)............................ 145
4.3.1 Atalaia Cia de Seguros.......................................................................................... 148
4.3.2 O processo político paranaense............................................................................. 149
4.4 O BANCO COMERCIAL DO PARANÁ ............................................................................... 152
4.4.1 O Lupionismo – Parte I......................................................................................... 154
4.4.2 A saída do grupo de Avelino Vieira do Bancial ................................................... 160
4.5 O BANCO MERCANTIL E INDUSTRIAL DO PARANÁ ........................................................ 164
4.5.1 O café do Paraná ................................................................................................... 168
4.5.2 A formação do Grupo Bamerindus (1952-1981) .................................................. 170
4.6 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES .................................................................................. 206

VOLUME II

5 Capítulo IV - O GRUPO BAMERINDUS (1981 – 1994) ............................................210

5.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 210


5.2 O GRUPO BAMERINDUS (1981 – 1994)........................................................................... 210
5.2.1 A Composição do Grupo Bamerindus .................................................................. 211
5.2.2 As Seguradoras do Bamerindus (1981 a 1994)..................................................... 222
5.2.3 Indústria de Papel e Celulose Arapoti S.A. (Inpacel) ........................................... 227
5.2.4 Empresas de comunicação .................................................................................... 238
5.2.5 O Bamerindus e as privatizações .......................................................................... 243
5.2.6 Agronegócios e o Bamerindus .............................................................................. 252
5.3 O BANCO BAMERINDUS (1981 – 1994)........................................................................... 258
5.3.1 Introdução ............................................................................................................. 258
5.3.2 Incorporações de bancos ....................................................................................... 258
5.3.3 Análise econômico-financeira .............................................................................. 261
5.3.4 A Internacionalização do Bamerindus .................................................................. 317
5.3.5 Síntese do desempenho geral do Banco Bamerindus............................................ 332
5.4 O PODER NO GRUPO BAMERINDUS (1981 - 1994).......................................................... 338
5.4.1 Introdução ............................................................................................................. 338
5.4.2 A estrutura de poder.............................................................................................. 339
5.5 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES.................................................................................. 360

6 Capítulo V: A REDE POLÍTICA BAMERINDUS (1981 – 1994) .............................364

6.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 364


6.2 A HISTÓRIA POLÍTICA BRASILEIRA DO PERÍODO 1981 A 1994...................................... 364
6.2.1 O Partido Popular (PP).......................................................................................... 365
6.2.2 A sucessão de João Figueiredo ............................................................................. 368
6.2.3 A Nova República................................................................................................. 370
6.2.4 A Assembléia Nacional Constituinte .................................................................... 372
6.2.5 A campanha presidencial de 1989 ........................................................................ 373
6.2.6 A sucessão de Fernando Collor de Mello ............................................................. 376
6.2.7 A campanha presidencial de 1994 ........................................................................ 380
6.3 A REDE POLÍTICA BAMERINDUS (RPB) (1981 A 1994) ................................................ 384
6.3.1 Instituições que integraram a Rede Política Bamerindus...................................... 390
6.3.2 Pessoas que integraram a Rede Política Bamerindus............................................ 407
6.4 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES. ............................................................................... 452

VOLUME III

7 Capítulo VI: O BANQUEIRO E POLÍTICO JOSÉ EDUARDO DE


ANDRADE VIEIRA. (1990 A 1994) .........................................................................457

7.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 457


7.2 A AÇÃO POLÍTICA DO BANQUEIRO JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA .................... 458
7.2.1 Campanha Eleitoral para o Senado de 1990 ......................................................... 458
7.2.2 Senador e Ministro (1991-1993)........................................................................... 485
7.2.3 Sucessão Presidencial de 1994.............................................................................. 515
7.3 OS ÚLTIMOS ANOS DO BAMERINDUS (1995 A 1997) ...................................................... 551
7.3.1 O HSBC ................................................................................................................ 562
7.4 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES.................................................................................. 563

8 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES FINAIS .......................................................567

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................584

FONTES: PERIÓDICOS .............................................................................................................. 610


FONTE: DOCUMENTOS ITERNOS DO BAMERINDUS ................................................................... 633

GLOSSÁRIO .......................................................................................................................635

APÊNDICES ........................................................................................................................636

APÊNDICE A - LINHA DO TEMPO ............................................................................................. 636


APÊNDICE B - BANCO DE DADOS ECONÔMICO-FINANCEIROS DA AMOSTRA DE BANCOS
BRASILEIROS ................................................................................................. 656
APÊNDICE C - RELAÇÃO DAS ATIVIDADES NO SENADO FEDERAL............................................ 658
APÊNDICE D - TABELA DE CARGOS ......................................................................................... 661
APÊNDICE E - CÓDIGOS DE EMPRESAS .................................................................................... 662
APÊNDICE F - INTERVENÇÕES DO BACEN ................................................................................ 663
APÊNDICE G - QUANTIDADE DE INTERVENÇÕES DO BACEN .................................................... 664
APÊNDICE H - HISTÓRIA DO HSBC - THE HONGKONG AND SHANGHAI BANKING
CORPORATION LIMITED ................................................................................ 665
Principais membros do Grupo HSBC ...................................................... 665
Os interesses do grupo na Ásia ................................................................ 666
O HSBC na Europa.................................................................................. 667
Os interesses no Oriente Médio ............................................................... 668
O Grupo HSBC nas Américas ................................................................. 669
APÊNDICE I - CAPA DO PROJETO DE PESQUISA EM 2002.......................................................... 672
APÊNDICE J - CAPA DO PROJETO DE PESQUISA EM 2003 ......................................................... 673
ANEXOS ..............................................................................................................................674

ANEXO A - ETAPAS DA EMERGÊNCIA DAS FINANÇAS DE MERCADO MUNDIALIZADAS .............. 674


ANEXO B - FORMAÇÃO DO GRUPO BAMERINDUS ................................................................... 675
ANEXO C - GENEALOGIA DO GRUPO BAMERINDUS ................................................................. 676
ANEXO D - RELAÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS – (1945-2003) ......................... 677

ÍNDICE ANALÍTICO.........................................................................................................678
5 CAPÍTULO IV - O GRUPO BAMERINDUS (1981 – 1994)

“Rosebud”
Orson Welles1

5.1 INTRODUÇÃO

550
Neste capítulo vamos analisar o Grupo Bamerindus no período 1981–1994, abordando a
instituição com base nos princípios definidos nos capítulos anteriores, sendo o grupo econômico um
centro de poder que controla internamente e externamente, recursos materiais e financeiros e a
força de trabalho que emprega e que, pelo seu tamanho tem capacidade para interferir nos mercados
de produtos, serviços, financeiro e de capitais. O tamanho e complexidade do Bamerindus nos
levaram a escolher três aspectos que consideramos importantes para este trabalho, a saber:
551
Em primeiro lugar, vamos identificar qual a era composição do grupo e suas principais
empresas, para em seguida focalizar o Banco Bamerindus e, finalmente analisar o núcleo de poder
do grupo. Certamente que o retrato traçado é parcial, pois não pretendemos esgotar neste trabalho
toda a complexidade da instituição, mas apenas identificar os elementos que irão fornecer subsídios
para o próximo capítulo, no qual analisaremos as conexões entre o grupo e o mundo político.

5.2 O GRUPO BAMERINDUS (1981 – 1994)

552
Após ter sido consolidado durante as gestões de Avelino Vieira e Tomaz Edison, o grupo
econômico-financeiro que José Eduardo assumiu, em julho de 1981, estava desenvolvendo um
vigoroso movimento de expansão em direção ao mercado nacional. Esta história é marcada pela
crise da dívida externa, esgotamento do modelo de Estado desenvolvimentista, rápida incorporação
das inovações tecnológicas na área bancária, expansão dos incentivos fiscais para as regiões Norte e
Nordeste, altas taxas de inflação, desmonte dos mecanismos de poder do regime militar e uma
maior integração do Brasil com o mercado internacional.

1
Fonte: CITIZEN KANE / CIDADÃO KANE. Direction: Orson Welles. Writing credits: Herman J. Mankiewicz
(screenplay) and Orson Welles (screenplay). American (USA) (working title). John Citizen, U.S.A. (USA) (working title).
Runtime: 119 min. USA, Language: English. Color: Black and White. Sound Mix: Mono (RCA Sound System). USA, 1941.
DVD: Sep. 2001
211

5.2.1 A COMPOSIÇÃO DO GRUPO BAMERINDUS

553
Para analisar a composição do grupo, inicialmente apresentamos no Quadro 5-1 a evolução
da estrutura formada pelas empresas que integraram a organização, destacando as principais
instituições e os anos nos quais encontramos referências objetivas nos relatórios analisados, como
segue:
Quadro 5-1: Composição do Grupo Bamerindus (1981 a 1994).

1981
1983
1984
1985
1986
1988
1989
1990
1994
Cód Razão Social Área

1 Bamerindus Agro-Florestal Ltda. Agronegócio x x x


2 Bamerindus Agro-Pastoril e Industrial S.A. Agronegócio x x x x
3 Bamerindus Nordeste S.A. Indústria e Reflorestamento. Agronegócio x x
4 Bamerindus Roraima S.A. Agronegócio x x
5 Bamerindus S.A. Empreendimentos Florestais. Agronegócio x x x x x x
6 Bamerindus S.A. Sementes e Agricultura. Agronegócio x x
7 Caumé Agro-Pastoril S.A. Agronegócio x x x x x x
8 Fazenda Mitacoré Agricultura e Pecuária S.A. Agronegócio x x x x x x x
9 Lagoa da Serra Inseminação Artificial Ltda. Agronegócio x x
10 Marabá Agro-Pastoril S.A. Agronegócio x x x x x x x
11 Murupu Agro-Pastoril S.A. Agronegócio x x x x x x
12 Nordeste Florestal e Agrícola S.A. Agronegócio x x x x x x x
13 Associação Bamerindus Associação x x x x x x
14 Associação Cultural Avelino A. Vieira Associação x x
15 Atalaia Participações S/C Ltda. Controladora x x x x x x x
16 Bamerindus S.A. Administração e Serviços. Controladora x x x x x x x x
17 Bamerindus S.A. Participações - Empreendimentos. Controladora x
18 Flórida Participações S/C Ltda. Controladora x x x x x
19 Nova Esperança Serviços S/C Ltda. Controladora x x x x x x
20 Paraná Participações S/C Ltda. Controladora x
21 SMA - Participações S/C Ltda. Controladora x
22 Umuarama Participações S/C Ltda. Controladora x x
23 Bamerindus Cia Exportadora e Comércio Exportação x x x x x x x
24 BCE Comercial Exportadora Ltda. Exportação x x x
25 América S.A. Corretora de Planos de Previdência Aberta. Financeira x x x
26 Apepar – Associação de Poupança e Empréstimos Paranaense. Financeira x x x x x
27 Apesc - Associação de Poupança e Empréstimos de Sta Financeira
x
Catarina.
28 Bamerinclub - Fundo de Investimento Financeira x x x x x x
29 Bamerindus Capitalização S.A. Financeira x x x x x x
30 Bamerindus Centro-Oeste S.A. Cia de Crédito Imobiliário. Financeira x x x x x
31 Bamerindus Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Financeira
x x x x x x x x x
Ltda.
32 Bamerindus Leasing Arrendamento Mercantil S.A. Financeira x
33 Bamerindus Midland Arrendamento Mercantil S.A. Financeira x x x x x x x x
34 Bamerindus Rio Cia. de Crédito Imobiliário Financeira x x x x x
35 Bamerindus S.A. Capitalização S.A. Financeira x
36 Bamerindus S.A. Corretora de Câmbio e Valores Mobiliários. Financeira x x x x x x x x x
37 Bamerindus S.A. Crédito Imobiliário. Financeira x x x x x x
38 Bamerindus S.A. Financiamento, Crédito e Investimento. Financeira x x x x x x
39 Bamerindus São Paulo Cia. de Crédito Imobiliário Financeira x x x x x
40 Banco Bamerindus de Investimento S.A. Financeira x x x x x x
41 Banco Bamerindus do Brasil S.A. Financeira x x x x x x x x x
42 Banco F. Barreto S.A. Financeira x
43 F. Barreto S.A. Crédito Financiamento e Investimento. Financeira x
44 Financial Bragança Cia. de Crédito, Financiamento e Financeira
x
Investimentos.
45 Financial Bragança S.A. Distribuidora de Títulos e Valores Financeira
x
Mobiliários.
46 Financial Cia. de Capitalização S.A. Financeira x x x
47 Financial Promotora de Vendas S.A. Financeira x
48 Midland Banco de Investimentos S.A. Financeira x x x
49 Fundação Avelino Vieira Fundação x x x x x x x x
212

Quadro 5-1: Composição do Grupo Bamerindus (1981 a 1994).

1981
1983
1984
1985
1986
1988
1989
1990
1994
Cód Razão Social Área

50 Fundação Bamerindus de Assistência Social Fundação x x x x x x x x x


51 Fundação João XIII Fundação x x x x x x x x
52 Fundação São José Fundação x x x x x x x x x
53 Indústria de Papel e Celulose Arapoti S.A. Inpacel. Indústria x x x x x x x x
54 Enfactor - Empresa Paranaense de Fomento Industrial Ltda. Outros x x
55 Ouro Verde Cia. Nacional de Pesquisa e Mineração. Outros x x x
56 Rio das Cinzas S.A. Comercial e Industrial. Outros x
57 Tempo & Cia. Outros x
58 Umuarama S.A. Comércio e Indústria. Outros x x x x
59 Bamerindus Companhia de Seguros Seguros x x x x x x x x x
60 Bamerindus Financial Companhia de Seguros Seguros x
61 Bamerindus S.A. Corretora de Seguros. Seguros x x x x x x x x
62 Companhia de Seguros Rio Branco Seguros x x x x x x x
63 Financial Companhia de Seguros Seguros x x x
64 Financial Seguradora S.A. Seguros x x
65 Griffin Corretora de Seguros S.A. Seguros x
66 Mercosa Mercantil Corretora de Seguros S.A. Seguros x
67 Ouro Verde S.A. Corretora de Seguros. Seguros x x x x x x
68 Paraná Cia. de Seguros Seguros x
69 Paraná Cia de Seguros Germano-Brasileira. Seguros x x x x x x
70 Prever S. A Seguros e Previdência. Seguros x x x x x x x
71 American Express S.A. Turismo. Serviços x
72 Araucária Aerotáxi Ltda. Serviços x x x x
73 Aurora S.A. Segurança, Vigilância e Transporte de Valores. Serviços x
74 Aurora Segurança, Vigilância e Transporte de Valores Ltda. Serviços x
75 Bamerindus Barry Consultoria S/C Ltda. Serviços x x x x x x
76 Bancional Turismo Ltda. Serviços x
77 Bastec - Assist. Técnica Especializada Ltda. Serviços x x x x
78 Finplan - Financial Planejamentos S.A. Serviços x
79 Sólida Promotora de Vendas S/C Ltda. Serviços x
80 Umuarama Administração de Bens e Participações S/C Ltda. Serviços x x x
81 Umuarama Comunicações e Marketing Ltda. Serviços x x x x x x
82 Umuarama Planejamentos e Empreitadas Ltda. Serviços x x
83 Umuarama Publicidade Ltda Serviços x x x x x x
84 Umuarama S.A. Planejamento e Empreitadas. Serviços x x
85 Umuarama Viagens e Turismo Ltda. Serviços x x
TOTAL 28 32 45 44 45 41 41 43 28
Nota: Em certos anos não foram encontradas referências a algumas empresas nos relatórios analisados, apesar de elas
continuarem existindo. Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base nos dados extraídos de Bamerindus: Relatórios
Semestrais e Anuais de Acionistas e Diretores (1981 a 1994).

554
Observe-se que em 1994 houve uma sensível redução no número de empresas que, em
muitos casos ou foram absorvidas na criação do banco múltiplo, ou incorporadas a outras, como
parte do processo de reestruturação do grupo. Destacamos que essa relação é parcial, pois a falta de
informações não permitiu identificar a totalidade das empresas. Também salientamos que o grupo
era muito maior, e várias conexões com empresas ocorriam de forma indireta, principalmente
através de sócios do grupo. Dessa forma eram contornados impedimentos legais como, por
exemplo, a participação direta em empresas de comunicação como jornais, rádios e televisões. A
análise da composição do capital social das empresas do grupo indicou que havia participações
cruzadas e que, em muitos casos, tais empresas tinham sido formadas apenas para atender requisitos
legais exigidos para obter benefícios fiscais.
213

555 Gráfico 5-1: Bamerindus distribuição do PL por área de negócio


Analisando a composição do grupo
entre 31 dez. 1981 e 30 jun. 1992 (em %).
pelo critério do montante investido no 70

63
dez. 1981 ago. 1992
Patrimônio Líquido (PL)2 por áreas de 60

52
negócios, podemos constatar no Gráfico 5-1 50

que as empresas financeiras tiveram sua 40

participação reduzida de 63% em 1981, para


30 28
52% em 1992, diferente das seguradoras, que 23
20

aumentaram de 23% em 1981 para 28% em 13 14

1992. O crescimento mais expressivo foi na


10
6
- 1 1 1 0
área industrial, que partiu de uma -

Financeiras Seguros Agronegócio Indústria Serviços Outros


participação desprezível em 1981 para 14%
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos nos
em 1992, com os investimentos concentrados Relatórios Anuais dos Acionistas e Diretores (jan. 1982 e ago. 1992)

na Inpacel. Também vale destacar a redução da participação na área de agronegócios, e boa parte
dos investimentos em reflorestamentos foi incorporada pela Inpacel. Observamos que na
composição dos gráficos não foram computadas as participações do grupo nas empresas
privatizadas. Bem como, por falta de informações, não foi possível excluir dos cálculos os valores
referentes às participações cruzadas existentes entre as diversas empresas do grupo. Acreditamos
que, mesmo assim, os gráficos apresentam uma idéia aproximada da participação de cada segmento
na constituição formal do Grupo Bamerindus.
556 Gráfico 5-2: Maiores empresas do Grupo Bamerindus em
Se considerarmos a atividade de seguros
31 dez. 1981 e 30 jun. 1992.
como financeira, podemos então dizer que a Outros

composição formal do grupo era 100


INPACEL -
90 21 Ind. de
majoritariamente financeira. Esta participação 80
34 Papel
Bamerindus
Empr.
14
sofreu uma pequena redução, passando de 85,5% 70 Florestais
Bamerindus
9
60 Cia de
em 1981 para 79,5% em 1992, pela entrada dos 22 Seguros
50 19 Banco
Bamerindus
investimentos na Inpacel. Com relação à 40

30
relevância das empresas do grupo, podemos 20 39 44

observar, no Gráfico 5-2,que em 1981 o 10

-
Patrimônio Líquido (PL) de três delas % dez. 1981 % ago. 1992

representavam 66% do total do grupo e, em Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados
obtidos nos Relatórios Anuais e Semestrais dos Acionistas e
1992, esse percentual subiu para 79%, tendo o Diretores (jan. 1982 e ago. 1992).

Banco Bamerindus aumentado sua participação de 39% para 44%, a Bamerindus Cia de Seguros de
19% para 22%, e a Inpacel passou de 9 para 14%. Estes crescimentos estão relacionados à criação
do banco múltiplo, à incorporação do patrimônio de outras seguradoras do grupo na Bamerindus
Cia. de Seguros e à incorporação de boa parte dos investimentos em reflorestamentos da

2
Optamos por utilizar o mesmo critério de classificação utilizado nos relatórios internos do Bamerindus. Os ensaios que
realizamos com o Total dos Ativos demonstraram que o Banco Bamerindus concentrava, em média, uma participação
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
214

Bamerindus Empreendimentos Florestais pela Inpacel. Na Ilustração 5-1, apresentamos a


composição do Grupo Bamerindus no ano de 1981 e 1993. No Quadro 5-2 apresentamos um
comparativo das principais empresas nas quais o Bamerindus mantinha participação majoritária ou
minoritária, buscando identificar os sócios mais importantes de cada uma delas.

Quadro 5-2: Principais empresas do Grupo Bamerindus (controladas e minoritárias) e seus sócios (30 jun. 1981 e 30
dez. 1993)

Participação Participação
Empresa Sede Sócios
30 jun. 1981 30 dez. 1993
Aços Especiais Itabira - Acesita, Cia de. Belo 5,35% Banco Real S.A.
Horizonte 19,98% Previ;
(MG) 2,38% Banco do Brasil;
16,34% Sistel;
8,36% Albatroz, Grupo. Safra;
6,78% Ciga;
3% Petros;
4,05% Banco Comercial Bancesa S.A., Grupo
Machado Araújo;
0,15% Banco Bamerindus S.A.
American Express Serviços Internacionais São Paulo Controlador American Express, EUA,
S.A. (SP) 5% Bamerindus S.A. Participações e
Empreendimentos.
Argentino-Brasileña de Inversiones y Buenos 65% Bamerindus S A, Participações. e
Emprendimientos S.A. Cabie, CIA. Aires – Empreendimentos.
Argentina 35% Seguros Bernardino Rivadavia Coop. Ltda.
Cabie controla a Quilmes S.A. de Seguros
Generales, Argentina.
Bamerindus Barry Consultoria S. C. Ltda. Curitiba 51,00% Bamerindus S.A. Particip. e Empreend.
(PR) 49,00% Theodore Barry & Associates, (EUA)
Bamerindus Cia. de Seguros. Curitiba Controle Banco Bamerindus do Brasil;
(PR) 13,75% 13,80% Sociedade Mercantil de Adm. e Empreend.
Minoritário Grupo CCN.
17,20% Administradora de Bens Capela Ltda.
19,30% Fundação Bamerindus de Assistência
Social;
3,10% Bamerindus Capitalização;
5,80% Financial Cia. de Seguros;
6,40% Financial Cia. de Capitalização.
Bamerindus - Midland Arrendamento São Paulo 51,00% Bamerindus Sementes e Agricultura;
Mercantil S.A. 40,00% Grupo Midland - Montagu, Londres,
9,00% General Motors do Brasil.
100,00% Bamerindus S.A. Particip. e Empreend.
Bamerindus Rio Cia. de Crédito Imobiliário Rio de 15,67% Bamerindus Cia. de Seguros;
Janeiro 75,70% Banco Bamerindus do Brasil;
(RJ) Minoritário Grupo CCN.
Banco Bamerindus do Brasil S.A. (Banco Curitiba 7.112.000.000 Capital registrado em 30 jun. 1981. 100 %
Múltiplo) Incorporou o Banco. Bamerindus (PR) ords. s.v.n.
de Investimento, Bamerindus S.A. 391.574.034 Bamerindus Admin. e Serviços;
Financiamento, Crédito e Investimento e 17.913.400 Mercantil de Admin. e Empreendimentos;
Bamerindus S.A. Crédito Imobiliário. 476.916.705 1,50% Bamerindus Cia. de Seguros;
Minoritário Grupo CCN.
30,50% Bamerindus S.A. Participações e
Empreendimentos;
14,70% Atalaia Participações;
4,80% Flórida Participações S. C. Ltda.
2,20% Paraná Cia. de Seguros;
0,10% Bamerindus Capitalização;
0,60% Financial Cia. de Seguros;
0,30% Financial Cia. de Capitalização.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
superior a 93% dos investimentos da organização, diluindo assim a importância das demais empresas.
215

Quadro 5-2: Principais empresas do Grupo Bamerindus (controladas e minoritárias) e seus sócios (30 jun. 1981 e 30
dez. 1993)

Participação Participação
Empresa Sede Sócios
30 jun. 1981 30 dez. 1993
Banco Bamerindus de Investimento S.A. Curitiba 44,27% Banco Bamerindus do Brasil;
(PR). 2,73% Bamerindus Admin. e Serviços;
3,00% Bamerindus Corretora de Seguros;
Minoritário Grupo CCN.
Banco Financial S.A. Campo 40,00% Banco Bamerindus do Brasil;
Grande 35,00% A. Zamlutti;
(MS). 14,00% I. Coelho.
Continental de Óleos Vegetais Contioleos São Paulo 55,60% Continental Enterprises Bermuda Ltda.
Ltda.

19,70% Contibrasil, Grupo Continental Grain,


EUA.
7,50% Bamerindus S.A. Admin. e Serviços.
Copesul - Cia. Petroquímica do Sul. Canoas 17,60% Petroquisa;
(RS) 32,90% BNDESPAR;
2,70% Banco Bamerindus S.A.
1,40% Poliolefinas, etc.
Engenharia ELC - Electroconsult Ltda. São Paulo 95,00% ELC - Electroconsult do Brasil Ltda.
(Itália),
5,00% Bamerindus S.A. Adm, e Serviços.
Fertilizantes Fosfatados SA. – Fosfértil. Uberaba 57,90% Fertilfoz;
(MG) 11,00% Cia. Vale do Rio Doce;
5,70% Banco Bamerindus;
7,20% Grupo Sul América Seguros;
1,30% Grupo América do Sul;
9,50% Clube dos Funcionários.
Inpacel Indústria de Papel Arapoti S.A. Curitiba Controle Controlador Grupo Bamerindus
(PR)
Jarí, Cia. do. Rio de 85,50% JATA;
Janeiro Grupo Bamerindus,
(RJ) Grupo Itaú,
1,24% BNDESPAR
1,49% Eluma
Itamarati (Constran),
Camargo Corrêa (Construções),
Andrade Gutierrez (Construtora),
Econômico (E. Empreendimentos),
Mendes Júnior (Mineira de Participações.),
Grupo Finasa
Gafisa, Villares (Inds. e Aços),
João Fortes (Engenharia),
Grupo Monteiro Aranha
Odebrecht (S. A.),
Petróleo Ipiranga (Refinaria),
Grupo Sul América
Grupo Unibanco
Pedro Ometto (Usina da Barra).
Paraná Cia. de Seguros (ex-Germano – Curitiba 25,00% 20,00% Grupo Colonia - Nordstern , Alemanha;
Brasileira). (PR) 25,00% 40,00% Banco do Estado do Paraná (Banestado);
24,00% Público brasileiro;
Minoritário 10,17% Banco Bamerindus do Brasil.
Minoritário 29,83% Bamerindus Cia. de Seguros;
Minoritário Grupo CCN.
Prever S.A. Seguros e Previdência. Ex- São Paulo 1/3 Bamerindus Cia. de Seguros;
Prever Previdência Privada S.A. (SP) 1/3 Grupo Nacional,
1/3 Grupo Unibanco.
Siderúrgica Nacional, Cia. (CSN). Volta 29,30% Siderbrás;
216

Quadro 5-2: Principais empresas do Grupo Bamerindus (controladas e minoritárias) e seus sócios (30 jun. 1981 e 30
dez. 1993)

Participação Participação
Empresa Sede Sócios
30 jun. 1981 30 dez. 1993
Redonda 11,40% Caixa Benef. dos Empregs. da CSN;
(RJ) 7,70% Grupo Bradesco;
9,40% Grupo Vale do Rio Doce;
8,70% Grupo Vicunha;
9,10% Banco Bamerindus;
4,00% Banco Nacional;
2,50% Banco Real, etc.
Sistemas Avançados de Teleinformática Recife 70,00% Grupo Bamerindus;
S.A. (PE) 30,00% Philips Eletrônica do Nordeste.
Tecnologia Bancária S.A. São Paulo 11,10% Banco Bamerindus do Brasil;
(SP) Unibanco União de Bancos;
Banco Mercantil de São Paulo do Grupo
Finasa;
Banco Real S.A.,
Diversos bancos.
Transbanco Banco de Investimento S.A. São Paulo Controlador 24 Distribuidoras de Veículos Volvo;
(SP) Minoritário Bamerindus S.A. Particip. e Empreend.
Minoritário Midland Bank PLC, Reino Unido.
Umuarama Administração de Bens e Curitiba 25% Bamerindus S.A. Particip. Empreend.
Participações S.A. (PR) 75% Grupo Refripar. (Refripar / Clímax /
Sanyo)
URBS - Urbanização de Curitiba S.A. Curitiba Controlador Prefeitura Municipal de Curitiba;
(PR) Minoritário Fundação Bamerindus e Bamerindus
Seguros.
Vanguarda Cia. de Seguros Gerais. Ex São Paulo 26,70% Bamerindus Cia. de Seguros:
Tanguá Seguros S.A. (SP) 26,70% Icatu Seguros S.A.
26,70% Globo Participações Ltda., grupo Globo;
20,00% Postalis Instit. Seguridade Soc. Correios e
Telégrafos.
Volvo do Brasil - Motores E Veículos S.A. Curitiba 41,50% Grupo Volvo A.B.
(PR) 9,25% Grupo Bamerindus;
9,25% Banco do Estado do Paraná (BADEP)*;
9,25% Fundo Desenvolv. Econômico do Paraná;
25,00% Grupo Rocha – Paranaguá;
5,73% Viação Garcia, Brasil.

Nota: * O Atlas Financeiro (1981) não especifica se o sócio é o Banestado ou BADEP. Fonte: Quadro elaborado pelo autor,
com base nos dados do Atlas Financeiro (1981, p. 51-56) e Atlas Financeiro (1994, p. 56-61).

557
Analisando o Quadro 5-2, observamos que em 1981 o Bamerindus mantinha sociedade em
diversos empreendimentos com grandes grupos estrangeiros e nacionais, com destaque para o
Grupo CCN, que na época era controlado pela família de Paulo Ferraz. Segundo o Atlas
Financeiro (1981, p. 138-141), em 1981 esse grupo era formado por várias empresas e entre
elas a mais importante era a São Bento Importação e Exportação S.A., que controlava a Cia
Comércio e Navegação – então proprietária do Estaleiro Mauá. O Grupo CCN tinha participação
em empresas do Grupo Bamerindus e em outros empreendimentos, que na seqüência deste trabalho
veremos com mais detalhes. Em 1983, encontramos referências à participação minoritária do
Bamerindus em diversas outras empresas (ver Quadro 5-3), entre as quais cabe destacar: o Hotel
Deville Maringá do Grupo Deville, no qual segundo DHBB (2002d), Jayme Canet era um dos
217

principais sócios; a Brasilinvest, controlada pelos empresários Mario Bernardo Garnero (ADACHI,
24 out. 1997)3; a Gazeta Mercantil, que na época era comandada pelo banqueiro (sócio do Itaú),
jornalista e político Herbert Victor Levy; e Projeto Jarí. Na página FOLHAONLINE (2004)4 consta
que, após o empresário norte-americano Daniel Keith Ludwig decidir retirar-se do
empreendimento, este foi nacionalizado com a atuação direta do ministro do Planejamento, Delfim
Netto, que decidiu convocar um grupo de 23 empresas brasileiras para assumir o controle do
projeto e, entre elas, estava o Bamerindus.
Quadro 5-3: Empresas nas quais o Bamerindus detinha participação acionário inferior a 50% em
1983.

Nº Empresa
01 American Express do Brasil S.A. Turismo.
02 Agropecuária Lagoa da Serra Ltda.
03 Brasilinvest S.A. Investimento, Participações e Negócios.
04 Cimento Cauê S.A.
05 Companhia Brasileira de Entrepostos e Comércio Cobec.
06 Companhia Brasileira de Participação Agroindustrial - Brasagro
07 Companhia do Jarí
08 Companhia Fábrica de Tecidos Dona Izabel
09 Companhia Iochpe de Participações
10 Contioleos Continental Ltda.
11 Duratex S.A.
12 Eletrônica Digital do Brasil S.A.
13 Engenharia ELC Electroconsult Ltda.
14 Esquila Partic. e Empreendimentos
15 Gazeta Mercantil S.A. Gráfica e Comunicações.
16 Hotel Deville Maringá
17 Novotel Hotelaria e Turismo S.A.
18 Pisa-Papel de Imprensa S.A.
19 Prever Seguros S.A.
20 Tecnologia Bancária SA
21 Telstar Hotéis S.A.
22 Volvo do Brasil-Motores e Veículos S.A.
23 Votec Serviços Aéreos Regionais S.A.

Fonte: Bamerindus: Relatório Semestral (20 jul. 1983).

3
Fonte: ADACHI, V. Sai hoje o edital de venda do Meridional. FSP, 24 out. 1997. Editoria: Brasil, p. 1-9.
4 Fonte: FOLHAONLINE. Almanaque. Dinheiro. Cronologia 1980 e 1990. FSP, São Paulo, [2004].
218

Ilustração 5-1: Composição do Grupo Bamerindus em 1981

Fonte: Atlas Financeiro (1981 p. 53-54).


219

Ilustração 5-2: Composição do Grupo Bamerindus em 31 dez. 1993.

Fonte: Atlas Financeiro (1994 p. 61).


220

Gráfico 5-3: Rede de participações do Grupo Bamerindus em 31 dez. 1993.

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nas informações obtidas em Atlas Financeiro (1994).
221

558
A análise do Gráfico 5-4 demonstra que, nos anos 1990, o grupo ampliou o número de
participações em empresas de grande porte no cenário brasileiro, bem como suas conexões com
outros grandes grupos econômicos nacionais e estrangeiros.
559 Tabela 5-1: Maiores grupos empresariais privados do
Destacamos a saída do Grupo CCN, que
Brasil - classificação pelo valor do Patrimônio Líquido em
passou a enfrentar graves problemas de liquidez dezembro de cada ano.

1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1992
quando a Sunamam entrou em crise financeira; Empresa Média

observamos a participação da Fundação Votorantim 1 1 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1,5


Bradesco 2 2 1 1 1 1 1 3 3 4 3 2,0
Bamerindus como sócia em diversas empresas, Itaú 5 3 3 5 6 4 4 2 2 2 2 3,5
Camargo
entre elas a URBS – Urbanização de Curitiba S.A. 4 5 5 3 3 3 3 4 4 6 4 4,0
Corrêa
Bamerindus 3 4 4 4 4 5 5 6 5 7 5 4,7
controlada pela prefeitura e responsável pelo Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base em informações
transporte urbano do município de Curitiba. extraídas da revista Balanço Anual (1981–1992).

Também aparece a participação do grupo na empresa Tecnologia Bancária, junto a outros bancos,
numa tentativa de reduzir os custos das transformações na área de automação bancária. Também
podemos observar que existia parceria com o Grupo Globo, participações nas empresas privatizadas
e no grupo controlador da Refripar, junto com a família Prosdócimo.
560 Gráfico 5-4: Classificação do Grupo Bamerindus pelo valor do
Neste período o Bamerindus
Patrimônio Líquido (1981 a 1992)
tornou-se um banco múltiplo e mantinham
negócios com o Midland Bank que, por sua

vez, desde 1987 estava envolvido no
4º 4º 4º 4º
processo de aproximação com o HSBC, 5º 5º 5º 5º 4,7º
culminando na sua incorporação em 1992. 6º

Vale destacar a presença do grupo na
Argentina através da Cia Cabie, que
controlava a Quilmes S.A. de Seguros
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1992 Média
Generales; e as conexões com os fundos de
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base em informações
pensão Previ e Petros, através das extraídas da revista Balanço Anual (1981-1992).

empresas privatizadas. Na Tabela 5-1 e no


Tabela 5-2: Maiores grupos privados brasileiros por Patrimônio
Gráfico 5-4, podemos verificar a evolução Líquido em 1989 e 1992.(US$ milhões)
do desempenho do grupo no cenário Clas. 1989 1992
Grupo P. L. Grupo P. L.
brasileiro, no qual chegou a ocupar a
1º Votorantim 2.317,9 Votorantim 3.122,6
terceira posição em 1981, caindo para a 2º Itaú 2.273,6 Itaú 2.682,7
3º Bradesco 1.635,2 Bradesco 2.526,8
sétima em 1990. Segundo o Dieese
4º Camargo Correa 1.570,0 Camargo Correa 1.941,4
(1994)1, O Grupo Bamerindus era, desde 5º Bamerindus 1.313,5 Bamerindus 1.767,9
Fonte: Balanço Anual (1993). Apud Tabela 1 (DIEESE, 1994).
1989, o quinto maior grupo privado
nacional em Patrimônio Líquido.

1
Fonte: DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos. A atuação do Bamerindus na
economia nacional. Curitiba: DIEESE - 4. Subseção Bancários. Curitiba. Maio, 1994.
222

Apresentou em 1989 um total de US$ 1,313 bilhões, e em 1992 US$ 1,768 bilhões, 35% superior a
1989. Na Tabela 5-3 podemos verificar que em 1992 o Bamerindus computava a terceira maior
Receita Operacional Líquida do Brasil. Se analisarmos os sete maiores grupos por receita
operacional líquida encontramos os Grupos Bradesco, Itaú e Bamerindus, e até a sétima posição só
aparecem bancos:
561 Gráfico 5-5: Número de funcionários das empresas do
Podemos ver, no Gráfico 5-5, o número
Grupo Bamerindus – 1986 a 1994 (sem considerar o BBB)
total de funcionários das empresas do Grupo Outras Empresas
10.000

Bamerindus, sem considerar os números do 9.000

8.000

banco, pois este será analisado separadamente. 7.000

A redução ocorrida em 1989 está relacionada 6.000

5.000 9.283
7.878 * *
com a incorporação de todas as empresas 4.000
6.382 6.510 7.156
7.208
7.163
3.000 5.725 5.895
financeiras no BBB para a formação do banco 2.000

1.000
múltiplo. No Gráfico 5-3 apresentamos uma -
1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994
visão parcial da rede
Nota: (*) Valores estimados.
Tabela 5-3: Posição dos
maiores grupos nacionais de participações do Fonte: Diversos relatórios do Bamerindus, e o número de 1981
foi extraído da publicação Balanço Anual (1981, p. 30) e 1994
por Receita Operacional Bamerindus, no qual 2
de Blecher (2 jun. 1994, 2-3) .
Líquida. Brasil - 1992
se podem verificar conexões cruzadas com outros grandes grupos
Class EMPRESA
1º Bradesco econômicos e financeiros, como Bradesco, Itaú e Real. Observamos
2º Itaú
3º Bamerindus também que nas conexões apresentadas no gráfico não estão computadas as
4º Unibanco
5º REAL
transações bancárias que ocorriam entre as empresas, que na maioria dos
6º Econômico casos garantia a participação nas diversas transações financeiras destas
7º BCN.
8º Odebrecht organizações. Tais transações envolviam contas bancárias, operações com
9º Fenícia
10º Camargo Correa fundos de investimento, conta corrente para funcionários, intermediação de
Fonte: Balanço Anual (1993) operações de seguro, lançamento de ações, etc.
e Tabela 2. (DIEESE, 1994).

5.2.2 AS SEGURADORAS DO BAMERINDUS (1981 A 1994)

562
Das diversas empresas de seguros que o Bamerindus chegou a controlar no período (ver
Quadro 5-1), a mais importante depois do banco era a Bamerindus Cia de Seguros (BCS),
certamente a mais antiga empresa do grupo. Como vimos no capítulo anterior, ela, a BCS, tinha sua
origem na Atalaia Cia de Seguros, fundada em 1938 por um grupo de empresários liderados por
Othon Mäder. Este grupo tinha conexões tanto com o Bancial como com o Banco Meridional da
Produção, do Grupo Lupion. Mais tarde, em 1952, a Atalaia, junto com o grupo de empresários
liderados por Avelino Vieira, adquiriram o controle do Meridional da Produção e mudaram seu

2
Segundo Blecher (2 jun. 1994, 2-3), Belmiro Castor teria declarado, em 1994, que o quadro de funcionários do banco, em
1985, era de 42.000 empregados. Não foi possível cruzar esta informação com outras fontes. Segundo relatórios da época,
em 1986 o número de empregados do banco era de 31.496, e não encontramos registros da demissão de 10.500 funcionários
naquele ano. Possivelmente Belmiro estivesse se referindo ao total de funcionários do grupo.
223

nome para Banco Mercantil e Industrial do Paraná. Neste mesmo ano, a Atalaia Cia. de Seguros
Gerais mudou seu nome para Paraná Cia. de Seguros, e a Atalaia Cia Seguros Contra Acidentes de
Trabalho mudou sua denominação para Atalaia Cia de Seguros, e em 1955 o grupo Bamerindus
criou a Ouro Verde Cia de Seguros. Em 1972, nascia a Bamerindus Cia. de Seguros (BCS), produto
da fusão das seguradoras Atalaia, Paraná e Ouro Verde. Em 1975 houve a incorporação do Grupo
Segurador Comercial, empresa do Grupo Bancial, que havia sido adquirido pelo Bamerindus no
ano anterior.
563
Segundo o Relatório do Encontro Semestral dos Conselhos e Diretorias (1982, p. 8-9), a
BCS fechou o ano de 1981 participando de 3,8% do mercado nacional de prêmios diretos. E esteve
em 2º lugar em patrimônio e 5º lugar em prêmios arrecadados. Buscando ampliar a participação
neste mercado, em 1981 o grupo adquiriu a empresa Companhia de Seguros Rio Branco. No ano
seguinte comprou o restante da participação que a Ájax Cia. de Seguros detinha na Paraná Cia. de
Seguros Germano-Brasileira, no qual o Bamerindus tinha como sócios o Banco do Estado do
Paraná (Banestado) e o Grupo Colonia - Nordstern (Colonia Versicherungen A.G. e a Nordstern
Allgemeine Versicherungs A.G.). Segundo o Bamerindus, esse era na época considerado o segundo
maior grupo segurador da Alemanha. Também adquiriu o controle total da Financial Cia de
Seguros, sucessora da Banreal Companhia de Seguros. Em 1984, as seguradoras do Grupo
Bamerindus tinham sede em Curitiba, 16 sucursais em todo o país e operavam em todas as
modalidades de seguros de pessoas e ramos elementares. No conjunto o grupo ocupava a 4ª maior
posição no setor de seguros no Brasil, detendo uma participação de 4,6% no mercado. No ano
seguinte, o total do Patrimônio Líquido de quatro de suas empresas chegou a computar
aproximadamente US$ 128 milhões. Em 1990, foi reaberta a Paraná Cia de Seguros, com fusão da
Companhia de Seguros Rio Branco e da Paraná Cia de Seguros Germano-Brasileira. O contrato
social foi assinado dia 10 de janeiro pelo Bamerindus, Banestado e pelo grupo alemão Colônia /
Nordstern . A Paraná Cia de Seguros surgia já ocupando o 17º lugar no ranking das maiores
empresas do setor no País e o 3º no Paraná. Em setembro de 1992, segundo AE (15 set. 1992)3., a
BCS e a Brasil Assistência, empresa do grupo espanhol Mapfre, assinaram contrato para lançar no
mercado brasileiro um tipo de produto que garantia cobertura para toda a América Latina e Europa.
Segundo o Bamerindus, o acordo significava uma parceria com o maior grupo segurador da
Espanha e um dos dez maiores da Europa, que na época tinha cerca de 35% de seu faturamento de
US$ 3 bilhões anuais, obtidos no mercado latino-americano. Segundo Quarti & Dantas (2002), em
outubro deste mesmo ano, o deputado federal Augusto Silveira de Carvalho (PPS-DF) apresentou
ao TCU denúncia contra José Américo Peon de Sá, então presidente do Instituto de Resseguros do
Brasil (IRB), por ter autorizado o pagamento de uma indenização de US$ 1,6 milhão à Seguradora
do Bamerindus, contrariando os pareceres de técnicos do IRB e de peritos independentes.

3
Fonte: Bamerindus e Brasil Assistência lançam produto agregado ao seguro. AE, Aedata, Curitiba, 15 set. 1992.
224

5.2.2.1 O CASO LÉO - BANESTADO VERSUS BAMERINDUS

564
Ao assumir o governo do Paraná em 1983, José Richa convidou Léo de Almeida Neves4
para a presidência do Banestado, como forma de compensar o grupo de Neves pelo apoio nas
eleições e por ter concordado em abrir mão do cargo de vice-governador em favor de João Elísio
Ferraz de Campos, viabilizando assim a incorporação do PP ao PMDB. No seu livro, Neves (2002,
p. 396-397)5 conta que foi assessor da presidência da Cia. Cacique de Café Solúvel, o que na época
suscitou especulações na imprensa que Richa o indicara para atender a um pedido do então ministro
Delfim Neto, amigo de Horácio Sabino Coimbra – fundador e presidente da Cia Cacique.
565
De acordo com Léo, a única exigência feita por Richa para consumar a indicação era que
ele aceitasse o fato que toda a diretoria do grupo Banestado já havia sido nomeada, “quase todos
oriundos do ex-Partido Popular, liderado pelo ex-governador Jayme Canet Júnior, e pelo vice do
Richa, João Elísio Ferraz de Campos, boa parte egressos da antiga Arena”. (NEVES, 2002, p. 465)
Para complicar mais ainda a situação dele, sua nomeação contrariava o então secretário das
Finanças, Erasmo Garanhão. Os conflitos com Garanhão começaram já no dia da posse, quando o
secretário iniciou a cerimônia pública antes mesmo da chegada de Léo – empossando a diretoria
antes do presidente do grupo. Também oriundo do PTB, Garanhão assessorava Richa há muito
tempo em Brasília, tendo sido um dos caixas da sua campanha para o governo do Estado.
566
Léo não se intimidou e, ao assumir o Banestado, pediu auditoria do Banco Central e iniciou
o levantamento da situação do banco. Logo em seguida promoveu mudanças nas operações das
seguradoras e passou a exigir que o caixa do Estado fosse centralizado no Banestado, propondo a
criação do caixa único. Segundo Neves (2002, p. 48-49), o banco era sócio de duas empresas de
seguros: a Paraná Cia. de Seguros – 25% do capital, o Bamerindus com 50% e um grupo alemão
com o restante; e Companhia de Seguros Rio Branco – com o Banestado dividindo meio a meio
com o Bamerindus. Na época, as agências do Banestado captavam seguros para estas empresas.
Segundo depoimento de Neves,
104
[...] a clientela imaginava que essas duas seguradoras eram de propriedade exclusiva do
Bamerindus. Todos os automóveis utilizados pelos funcionários a serviço dessas duas
seguradoras estavam pintados com o logotipo e as cores do Bamerindus. Se algum segurado
telefonava para essas seguradoras (Paraná e Rio Branco) ouvia “Bamerindus Seguradora às
ordens”. Os recursos das reservas técnicas dessas duas empresas eram aplicados a critério e
escolha exclusiva do Bamerindus. (NEVES, 2002, p. 408).

567
Apesar da prática ser antiga, Léo decidiu modificar a situação, “mesmo porque os gerentes

4
Segundo o DHBB (2002h) Léo de Almeida Neves nasceu em 1932, na cidade de Ponta Grossa - PR. Iniciou sua carreira
política como secretário-geral do PTB, tendo ocupado uma cadeira na Assembléia Legislativa, de 1959 a 1961. Mais tarde se
filiou ao MDB e, como candidato a deputado federal em 1966, foi o mais votado da legenda no Paraná. Em 1979, filiou-se
ao PMDB e em 1982 foi candidato a deputado federal, obtendo uma suplência. Foi superintendente do INPS em 1987 e
diretor de Produção do IBC entre 1988 e 1990; em outubro de 1990 elegeu-se segundo suplente do senador José Eduardo,
chegando a exercer o mandato de maio a dezembro de 1995; em outubro de 1994 elegeu-se suplente do senador Roberto
Requião, do PMDB.
5
Fonte: NEVES, Léo de Almeida. Vivência de fatos históricos. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra AS. 2002.
225

das agências do Bamerindus captavam seguros apenas para a seguradora Bamerindus”. Em reunião
com a diretoria do Bamerindus, comunicou a decisão de personalizar a identidade das seguradoras.
Foi então constituído um grupo de trabalho com funcionários dos dois bancos, que criaram, entre
outras coisas, os logotipos e marcas diferenciadas para as empresas. Logo em seguida, todos os
impressos, contratos, veículos, etc. passaram a exibir os “novos” nomes, e até “[...] as telefonistas
passaram a atender e identificar-se como ‘Paraná Cia. de seguros’ e ‘Companhia de Seguros Rio
Branco” (NEVES, 2002, p. 409). Além disso, Léo procurou as diretorias das empresas, órgãos e
instituições controladas pelo Estado, bem como a Assembléia Legislativa, solicitando que os
seguros fossem contratados com estas duas seguradoras, “[...] que passaram a competir com a
Bamerindus Seguradora em faixa de mercado no qual ela tinha predominância, senão
exclusividade”. (NEVES, 2002, p. 409). Conta ele que não pediu “[...] licença para o governador
José Richa nem para o secretario Erasmo Garanhão para tomar essas providencias, que considerava
de meu âmbito de atribuições, embora sabendo que o ex-governador Jayme Canet Junior era o
maior acionista do Bamerindus, depois da família Andrade Vieira, e que o vice-governador João
Elísio Ferraz de Campos havia sido diretor exatamente da Seguradora Bamerindus” (NEVES, 2002,
p. 409. Grifo nosso).
568
Além dos seguros, Léo também passou a pleitear a concentração no Banestado de todas as
operações financeiras do Estado e de suas empresas de economia mista:
105
[...] órgãos e empresas governamentais e fundações de seus funcionários estavam depositando
dinheiro em bancos particulares, o que era inadmissível. A imprensa publicara que a Fundação
Copel mantinha CR$ 284 milhões e a Sanepar, CR$ 80 milhões aplicados no Banco Coroa
Brastel, que sofrera intervenção do Banco Central do Brasil. (NEVES, 2002, p. 426).

569
Léo de Almeida Neves assumiu a presidência do Banestado em março de 1983 e em agosto
do mesmo ano foi demitido, num episódio que ficou conhecido como a primeira crise do governo
Richa. Segundo seu depoimento, ele ficou sabendo de sua demissão quando ela foi anunciada em
um programa de televisão pelo secretário Erasmo, tornando sua saída um fato consumado, apesar
da reação de boa parte do PMDB. De acordo com Léo, o problema básico estava no fato de ser ele
um forte candidato para suceder Richa nas eleições seguintes.
570
Este episódio nos pareceu bastante emblemático, pelas muitas possíveis conexões entre o
Estado, um banco público e os interesses privados. Tais conexões aparecem com mais detalhes no
caso que envolveu o então governador Roberto Requião e o Bamerindus, a seguir apresentado.

5.2.2.2 REQUIÃO E O BAMERINDUS

571
Nos anos 1990, a associação do Banestado com o Bamerindus na área de seguros gerou
outra polêmica pública. A diferença era que, em 1991, quem comprou a briga foi o então
governador Roberto Requião de Melo e Silva.
226

572
Segundo Silva (1993)6, ao assumir o governo do Estado, Requião determinou que a KPMG-
Peat, Marwick, Dreyfuss7, realizasse um minucioso levantamento dos negócios realizados pela
Paraná Companhia de Seguros, que na época tinha como sócios o Banestado, o Bamerindus e o
grupo alemão Colonia - Nordstern . Em 30 de janeiro de 1992, as conclusões foram apresentadas à
Procuradoria Geral da Justiça do Estado do Paraná, como segue:
106
Ficou constatado que o Acordo de Acionistas da Paraná Cia. de Seguros, em vigor desde 2-1-
90, foi quase integralmente descumprido pelo Bamerindus. Utilizando seu poder de sócio
controlador (inside control), usou e abusou dos recursos gerados pelo Banestado para promover
seus próprios negócios. O cerceamento de informações sobre a qualidade da produção que o
Bamerindus aporta à Paraná Seguros é tão forte que, até hoje, não conseguimos rompê-lo: o
mesmo vale para os investimentos da Paraná Seguros nas empresas do Bamerindus (em
montante quase igual ao do seu patrimônio – mais de 90%), sem o retorno mínimo de
dividendos que os justificasse, já que as empresas intermediárias Atalaia e Florida, gerenciadas
pelo Senador [José Eduardo], ao invés de repassarem os recursos, aplicavam-nos nas empresas
do próprio Bamerindus e do Senador. Desvio de poder, descumprimento do dever de lealdade,
conflito de interesses, inobservância do dever de informar e abuso de poder são outros itens
devidamente fundamentados no expediente formal da denúncia. Acrescente-se que, de janeiro
de 1990 a maio de 1993, enquanto o Banestado produziu superávit de 9,9 milhões, o
Bamerindus e a Colônia / Nordstern tiveram déficits de, respectivamente, US$ 2 milhões e
US$ 7,9 milhões. Ademais, o Bamerindus apenas repassa seguros de suas empresas para a
Paraná Seguros, por meio de cosseguros de qualidade duvidosa pela falta de informações, e a
Colônia / Nordstern tão-somente administra a sucursal de São Paulo; vale dizer, apenas o
Banestado gera produção direta, de qualidade inquestionável e com superávit considerável.
(SILVA, 1993).

573
Segundo Requião, a partir de 1º de julho daquele ano, como conseqüência das denúncias
formalizadas, a produção de seguros das agências Banestado foi bloqueada à Paraná Seguradora,
sendo criada a Cia de Seguros Gralha Azul, reunindo como sócios o Banestado e Sul América
Seguros.
574
Em outro pronunciamento no Senado, em setembro de 1999, Requião denunciava que, na
época, Roberto Civita – da Editora Abril – ao saber do processo contra o Bamerindus, passou a
procurá-lo para obter os dados. Em um almoço em São Paulo a convite de Civita, Requião teria
ouvido dele:- “Governador, o senhor não pode ocultar da opinião pública o comportamento do Sr.
José Eduardo de Andrade Vieira e do Bamerindus em relação ao patrimônio do Paraná. É uma
informação que deve ser divulgada” (SILVA, 1999)8. Convencido, recebeu mais tarde jornalistas
especializados em assuntos econômicos enviados por Roberto Civita, que durante 15 dias tiveram
acesso aos documentos referentes aos conflitos que existiam entre o Estado e o Grupo Bamerindus,
em relação ao Banestado e a um outro caso que envolvia a Copel.

6
Fonte: SILVA, Roberto Requião de Mello e. Artigos: Seguradora Gralha Azul, entra no mercado. Congresso Nacional,
Senado, [1993]. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/web/senador/requiao/artigosvariados.htm>. Acesso em: 10 set.
2004 e <http://www.flexsite.com.br/senador/index.php?pag=noticias&id_noticia=152&conjunto=152&id_usuario=&enoti
cia=S&noticias=S&PHPSESSID=e4b77c07a2b65bcef9e3e0efabf3a571> Acesso em: 3 maio 2006.
7
Segundo SILVA (1993), a Empresa KPMG-Peat, Marwick, Dreyfuss havia sido contratada pelo Grupo Colônia - Nordstern
sócio da Paraná Seguros.
8
Fonte: SILVA, Roberto Requião de Mello e. Discurso 24 set. 1999. Senado Federal. Resumo: Necessidade de abertura de
uma CPI para analisar a atuação do grupo Abril. Brasília: Brasília: Congresso Nacional, Senado. Diário do Senado Federal,
25 set. 1999, p. 25186.
227

107
Numa bela quarta-feira, Senhor Presidente, recebi, no Palácio do Iguaçu, um telefonema do Sr.
Civita. Ele me disse: “Governador, o senhor achava que não publicaríamos notícia alguma”.
Eu havia dito a ele exatamente isso, pelo fato de o Bamerindus ser um dos grandes anunciantes
do Brasil. Disse ainda: “Compre a Veja no final da semana, que o senhor verá o que é uma
revista independente”. No fim da semana, a Veja chegou às minhas mãos, com quatro ou seis
páginas de propaganda do Bamerindus, o que se repetiu durante seis meses a um ano, e
nenhuma linha foi publicada sobre a denúncia. As informações obtidas junto ao Estado do
Paraná, à Copel e ao Banco do Estado tinham servido para o Sr. Roberto Civita - já que quem
fez o contato comigo foi ele e não o editor da revista ou os jornalistas isoladamente - para que o
Bamerindus fosse chantageado. (SILVA, 1999).

575
Na seqüência deste trabalho vamos ver que os conflitos entre Requião e o Bamerindus
vinham desde a campanha eleitoral para o governo do Estado em 1990, quando José Eduardo
apoiou o adversário de Requião, José Carlos Martinez. Também vamos acompanhar os episódios
nos quais a Editora Abril, através da revista Veja, formulou pesadas críticas à atuação de José
Eduardo em momentos decisivos de sua carreira política.

5.2.2.3 ANÁLISE DE DESEMPENHO DA BCS

576 Gráfico 5-6: Bamerindus Cia de Seguros - Retorno sobre o


No Gráfico 5-6, podemos verificar o
Patrimônio Líquido - 1990 / 1994 (em US$ mil).
desempenho do BCS no período 1990 a 1994, 14
12,98 70.000

63.124
com destaque para o fato que os lucros da 12 60.000

seguradora aumentaram de US$ 22,9 milhões 10,34


10 50.000

em 1993 para US$ 63,1 milhões em 1994, ou


7,51 7,84
8 40.000
175%. Mas tal resultado, quando comparado 6,48
com o Patrimônio Líquido, demonstra que a 6

23.257 23.859
30.000

21.703 22.994
rentabilidade, ainda assim, ficou menor que em 4 20.000

1990, visto que houve um aumento de 72% na 2 10.000

quantidade de capital próprio da seguradora.


0 0

Este aumento refletia o processo de 1990 1991 1992 1993 1994


Lucro Líquido (LL) Retorno % (LL/PL)
reestruturação que estava sendo promovido no
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados
grupo. extraídos do Relatório Anual do Bamerindus, 1994.

5.2.3 INDÚSTRIA DE PAPEL E CELULOSE ARAPOTI S.A. (INPACEL)

577
Localizada no município de Arapoti, no Paraná, atualmente ainda é considerada como a
única empresa do Hemisfério Sul que produz papéis couché de baixa gramatura, conhecidos como
LWC (light weight coated), que segundo Macedo, Valença & Lima (1997)9, é classificado no grupo
de papéis de imprimir e escrever revestidos, sendo utilizado na impressão de revistas, encartes,

9
Fonte: MACEDO, A. R. P. ; VALENÇA, A. C. de V.; LIMA, A. dos S. Papéis de imprimir e escrever revestidos.
BNDES, Área de Operações Industriais 2. Gerência Setorial de Produtos Florestais. Maio 1997. Disponível em:
<http://http://www.bndes.gov.br/conhecimento/relato/relato6.pdf>. Acesso em: 23 maio 2005.
228

suplementos especiais, catálogos, folhetos e papel de presente. Segundo a empresa norte-americana


International Paper Company10, atual proprietária da fábrica, a Inpacel atingiu qualidade
internacional em razão da tecnologia empregada em todo o processo produtivo. Os papéis LWC são
fabricados à base de celulose de pinus cultivados, de fibra longa branqueada, e pasta de alto
rendimento. O grande diferencial desses papéis é a alvura, além de outras características, como
resistência superficial e “printabilidade”; acabamento em brilho, lisura e matiz. Desde 1998, a
produção de papel, que era de 160 mil t. /ano, cresceu 18%, atingindo 190 mil toneladas ao fim do
ano 2001.
578
O registro mais antigo que encontramos da Inpacel foi em Vaz (1986, p. 403), informando
que em 1916 era promulgada a Lei Estadual 1.637, que concedia a um certo Doutor Ferrencz o
direito de exploração de madeira de pinho para a produção de papel na região de Jaguariaíva, no
Norte-Pioneiro. A empresa teria sido criada11 em 1921 e fazia parte do grupo econômico de Percival
Farquhar12, cujos interesses incluíam inúmeros serviços públicos, como gás e iluminação, telefonia,
hotelaria, madeireiras e empresas e sistemas aduaneiros, inúmeras obras de grande porte, como cais
de portos, ferrovias, etc. Entre suas empresas vamos encontrar a Light and Power Co.; a São Paulo
Transway Light and Power Co.; Brasilianische Elektrizitätsgesellschaft (Cia Telefônica
Brasileira); e as concessões das obras do Porto de Belém; da Estrada de Ferro Madeira - Mamoré.
Também fazia parte do grupo a empresa Southern Lumber and Colonization Co., então
proprietária da maior serraria da América do sul, e que na época esteve no centro dos
acontecimentos da “Guerra do Contestado”, na região de fronteira entre o Paraná e Santa Catarina;
e a Estrada de Ferro Norte do Paraná.
579
A I Guerra Mundial estrangulou o fluxo de capitais para os investimentos no Brasil e em
outros países lançando o Grupo Farquhar do Brasil numa situação econômico-financeira próxima
da falência, quando então Percival foi destituído do comando das empresas e, em 1920, William
Cameron Forbes13 assumiu o cargo.
580
Em 1921 era criada a empresa Companhia Industrias Brasileiras de Papel Ltda, sendo mais

10
A International Paper Company foi constituída em 1898 e, com as absorções da Union Camp, em 1999, e da Champion
International em 2000, tornou-se a maior companhia de papel e de produtos florestais do mundo. Com sua sede localizada
nos Estados Unidos, em Stamford, CT, a companhia tem operações em 40 países nos continentes Americano, Europeu e
Asiático (no Brasil desde 1960), e exporta para mais de 120 países. Fonte: INTERNATIONAL PAPER do Brasil.
Institucional. Mogi Guaçu, [2002] Disponível em: <http://www.inpacel.com.br/>. Acesso em: 24 maio 2005.
11
Não foi possível confirmar esta informação. Provavelmente a empresa já existia e teria sido incorporada pelo grupo Farquhar
em 1921.
12
Fonte: RONDÔNIA (Estado). Secretaria de Estado dos Esportes, da Cultura e do Lazer - SECEL História de Rondônia.
Estrada de Ferro Madeira Mamoré: Percival Farquhar. Porto Velho. [2002]. Disponível em: <http://www.rondonia.ro.
gov.br/secretarias/secel/estrada_ferro_farquhar.htm>. Acesso em: 25 maio 2005.
13
William Cameron Forbes (1870-1959) — empresário norte-americano e diplomata dos EUA em 1904 foi designado para a
Philippine Commission pelo então presidente Theodore Roosevelt, ocupando no período 1909 a 1913 o cargo de governador
geral das ilhas Filipinas. Ele também foi membro da Wood-Forbes Commission, bem como em 1930 foi o presidente da
Hoover Commissions to Haiti. Serviu ente 1931 e 1932 como embaixador no Japão durante a crise da Manchúria. Fonte:
FORBES, William Cameron. In: The Columbia Electronic Encyclopedia. New York: Columbia University Press, 2003.
Apud Allrefer.com. Disponível em: <http://reference.allrefer.com/encyclopedia/E/E-Forbes-W.html>. Acesso em: 25 maio
2005..
229

tarde, em 22 jul. 1940, desapropriada pelo governo Federal através do Decreto-Lei 2.436, que
determinava a incorporação ao patrimônio da União de todo o ativo existente em território nacional
da Brazil Railway Company e empresas a ela filiadas, entre elas, a fábrica de papel. A
desapropriação era justificada pelo fato que a empresa era inadimplente com aos credores das
operações realizadas nas Bolsas de Paris, Londres e Bruxelas. Desde 18 de julho de 1917, a Brazil
Railway Company estava sob o regime de concordata sem a homologação judicial necessária. Os
administradores não pagavam as obrigações e estavam “entrando em conflito público com seus
debenturistas e permitindo que continuem a circular, em condições desmoralizadoras para o crédito
do País, os títulos de dívida das mencionadas empresas [...] esses valores de resgate orçaram em
cerca de dois milhões de libras esterlinas” (Decreto-Lei nº 2.436 22 jul 1940).
581
Vaz (1986, p. 378) conta que desde 1936, o Grupo Lupion era fornecedor de madeira para a
fábrica de papel, e que a Sociedade Indústrias Brasileiras de Papel Ltda acabou sendo adquirida
pelo grupo em 27 jan. 1951 em leilão público promovido pelo governo federal. Em 1955, Moysés
Lupion, num discurso no Senado, respondia a declarações de Othon Mäder, que em tom de
denúncia pedia que a operação fosse investigada. Lupion explicava que nada tinha haver com a
empresa, como segue:
108
Inicialmente, quero declarar que não tenho uma ação sequer na aludida sociedade anônima, que
adquiriu a fábrica de papel Arapoti. Trinta mil são as ações, as quais estão distribuídas por sete
acionistas, cujos nomes cito: João Fernandes Menin, João Sguário, Pedro Máximo Lupion,
Adélio Ramiro de Assis, Luiz José Sguário, João Lupion Filho e Anacleto Furiatti. Estes são os
únicos acionistas, integralizando o total de Cr$ 30.000.000,00, representativos do capital da
citada Indústrias Brasileiras de Papel, sociedade anônima, que em concorrência pública
adquiriu das Empresas Incorporadas ao Patrimônio Nacional o acervo da fábrica de papel de
Arapoti. Posto a claro esse ponto, de que não trato do assunto discutindo interesse de meu
patrimônio pessoal, quero também salientar que o mesmo vem servindo para combate ao meu
nome no terreno político, com o objetivo de soldá-lo à operação realizada e aos trâmites que
foram seguidos depois de sua consumação. (TROYA, 17 out. 1955)14.

582
Na seqüência dos fatos que ocorreram após Moysés Lupion ter sido cassado, em 1968 o
governo militar determinou a intervenção na empresa e, em 15 de set. 1969, a Junta Militar, através
do Decreto 65.154, declarou nulos os atos de alienação ou oneração de bens integrantes do
patrimônio da Indústrias Brasileiras de Papel S.A., confiscando e incorporando ao patrimônio da
União todos os seus bens.
583
Em 9 out. 1981, o Decreto nº 86.455 determinou a alienação da “Companhia Indústrias
Brasileiras de Papel”, que em 1982, agora com o nome de Cia Brasileira de Papel – Inbrapel, foi
colocada à venda. Vencedor do leilão público, o Bamerindus, para realizar a compra, constituiu a
empresa Indústria de Papel e Celulose Arapoti S.A., e toda a operação só foi concluída em 28 de

14
Fonte: TROYA, Moysés Lupion de. Pronunciamento no Senado Federal em 17 de outubro de 1955. Disponível em:
<http://fundacaomoyseslupion.com.br/ml%20-%20senado%20pronunciamento%2017%20outubro%201955.html>. Acesso
em: 23 maio 2005. Também ver: Discurso no Senado Federal em 19 out. 1955. Considerações sobre a negociação de bens
pela Superintendência das empresas incorporadas ao patrimônio da União. Catálogo: Administração Pública. Brasília: Diário
do Congresso Nacional (DCN2), 20 out. 1955, p. 2493.
230

fevereiro de 1983. Na época, o objetivo do grupo era absorver a matéria-prima disponível em uma
área que, segundo o Bamerindus, tinha cerca 30 mil hectares, reflorestada com “Pinus Elliottii”,
cultivada desde 1969 e cujo desbaste estava sendo vendido a três fábricas da região15.
584
Logo em seguida, em 1984, a Inpacel aumentou a produção de 115 t./mês para 400 t./mês,
operando com equipamentos que, em certos casos, tinham mais de 60 anos, datando alguns do final
do século XIX. Possuía ainda duas hidrelétricas próprias, uma no Rio Tigrinho e a outra no Rio
Cinzas, com capacidade de 2.200 kW, que supriam toda a fábrica, a serraria e a vila residencial. Em
1987 produziu 893 t. de celulose, 97 t. de papel-jornal, 3.077 t. de papel para impressão, 1.471 t. de
cartão / cartolina e 2.539 t. de pasta mecânica, atingindo um faturamento anual de Cz$
125.104.647. Nesta época, segundo o Bamerindus, o grupo terminava os estudos para investir US$
100 milhões no biênio 1988/89 numa nova unidade de produção de papel de alta qualidade, com
capacidade para 72 mil t./ano, e mais tarde este projeto foi ampliado.
109
Em 1989, numa reunião na Vila Hauer, então sede do grupo em Curitiba, Andrade Vieira expôs
o seu projeto: US$ 300 milhões seriam investidos numa fábrica de papel, a Inpacel — US$ 120
milhões de capital próprio e US$ 180 milhões financiados junto ao sistema BNDES. Orçada
em RS$ 300 milhões, a operação terminaria custando o dobro. A jogada era alta, mas havia um
lastro e uma certeza. A certeza, que levou à diversificação, era a intervenção do PT de Lula no
sistema financeiro em caso de vitória. Recordemos o então presidente da Fiesp, Mário Amato,
e seu aviso-ameaça: “Trinta mil empresários deixarão o País se o Lula ganhar”. O lastro eram
os 30 mil hectares da reserva florestal do Bamerindus na região do Paraná conhecida como
norte pioneiro. A operação foi em frente, com o presidente da Inpacel, José Carlos Gomes
de Carvalho, costurando a operação de financiamento em parceria com Andrade Vieira.
(FERNANDES, 1997, pp 32-33. Grifo nosso)16

585
Ainda em 1989 foi iniciada a ampliação da fábrica que, segundo o Bamerindus, previa
agora uma capacidade de 140.000 t./ano de papel revestido. A estimativa era que o projeto
necessitaria de um investimento total de US$ 338 milhões, a construção de três centrais
hidrelétricas e continuidade no reflorestamento. Segundo o grupo, na época o número de árvores
plantadas chegava a 66 milhões que, em boa parte, já estavam em fase de corte. Os cálculos
indicavam que em breve a empresa alcançaria a auto-suficiência em matéria-prima, que duraria
aproximadamente 25 anos. Neste ano a empresa chegou a produzir 5.000 t. de papel, 1.200 t. de
celulose e 2.000 t. de pasta mecânica.
586
Em 1990, o projeto Inpacel já havia consumido um total de US$ 70 milhões em
investimentos, e havia sido formada uma associação com 13 empresas paranaenses, encabeçadas
pelo Bamerindus e a Indústria Eletromecânica do Paraná – Inepar, para a construção, através da
Copel, da usina hidrelétrica de Segredo, que forneceria parte da energia necessária para o projeto.
No ano seguinte, os investimentos na fábrica chegaram a US$ 104 milhões.
587
Segundo Jorge, Soares & Naretto (1993, p. 49)17, a importância da Inpacel estava não

15
Não conseguimos verificar se no passado estas áreas teriam integrado o patrimônio do Grupo Lupion.
16
Fonte: FERNANDES, B. Bamerindus: como se quebra um banco. O medo do PT de Lula, o envolvimento do Banco Central,
as ligações perigosas de Andrade Vieira. Carta Capital, São Paulo, 16 abr. 1997, Ano II, nº 46, p. 32-35.
17
Fonte: JORGE, M. M; SOARES, S. J. M. & NARETTO, N. de A. Estudo da competitividade da indústria brasileira:
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
231

apenas no seu porte, mas também pela linha de produto e de processo escolhida. Era a primeira
grande máquina para produzir o papel LWC no país e a utilizar processo produtivo mecânico e base
florestal de pinus. “A produção foi iniciada em 1991 e atingiu 43 mil toneladas em 1992. A fábrica
possui capacidade nominal de 130 mil t de pasta de alto rendimento integrada com produção de 160
mil t de papel”.
588
Quando a nova fábrica foi inaugurada em 28 de agosto de 1992, o grupo projetava produzir
200.000 t no final de 1996, e os investimentos, segundo o Bamerindus, já haviam atingido a marca
de US$ 750 milhões. Os dados são controvertidos, pois segundo Fadel (12 ago. 1992)18, o
investimento tinha sido de US$ 600 milhões (cerca de Cr$ 2,7 trilhões pelo câmbio comercial da
época). Segundo ele, a fábrica era considerada como a mais moderna da América Latina, uma das
seis mais avançadas do mundo, e a capacidade total seria atingida em 1995, com 200 mil toneladas
de papel por ano, gerando um faturamento de US$ 200 milhões (Cr$ 900 bilhões). Em agosto de
1992, estavam em fase final de montagem os equipamentos de acabamento que permitiriam
produzir os papéis à base de pasta, do tipo revestido – LWC e MWC (middle weight coated) e os
não revestidos do tipo SC (super calandrados), todos usados em revistas e listas. A previsão era que
o complexo industrial estaria totalmente pronto em dezembro de 1992.
589
A empresa apostava no potencial brasileiro de consumo, bem como na exportação para os
mercados europeu, norte-americano, latino americano e Asiático. Segundo informações do grupo, o
projeto contava com recursos da ordem de 45% financiados pelo BNDES, e o investimento total
tinha sido de aproximadamente US$ 700 milhões, dos quais US$ 500 milhões aplicados
diretamente na área industrial. Neste total estava incluída a compra antecipada de energia elétrica
da Copel e, segundo a FSP (25 jul. 1996, p. 2-3)19, entre 1989 e 1992 a Inpacel havia recebido
aproximadamente R$ 250 milhões em financiamentos do BNDES. Também possuía 55 milhões de
árvores das espécies pinus, eucalyptus e araucária, em 45 mil hectares de terras próprias nos
municípios de Arapoti, Reserva e Curiúva, no Norte Pioneiro do Estado do Paraná. Na época,
segundo Rodrigues (02 set. 1997, p. 2-4)20 a Inpacel, junto com a Bamerindus Agro-Florestal,
chegaram a manter mais de mil funcionários.
590
Um estudo realizado para o BNDES por Macedo, Valença & Lima (1997), aponta que os
preços no mercado nacional acompanhavam, de modo geral, as tendências do mercado
internacional na época. No período 1995 a 1997, os preços do LWC no Brasil chegaram a variar
entre 10% e 20% maiores que os do mercado internacional, ao passo que os dos papéis “woodfree”
situaram-se em patamares mais elevados, custando em média 60% mais. Também observam eles

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
competitividade da indústria de papel. Nota Técnica Setorial do Complexo Papel e Celulose. Campinas: Ministério da
Ciência e Tecnologia – MCT. Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP. Programa de Apoio ao Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – PADCT. 1993. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/publi/Compet/nts_cel.pdf>. Acesso em:
27 maio 2005.
18
Fonte: FADEL E. Bamerindus investe US$ 600 mi em fábrica de celulose e papel. AE, Aedata, Curitiba. 12 ago. 1992.
19
Fonte: BNDES suspende dívida de R$ 20 milhões da Inpacel. FSP, Rio de Janeiro, 25 jul. 1996, p. 2-3.
20
Fonte: RODRIGUES, C. Rombo no Bamerindus superava R$ 1,5 bi. FSP, Brasília, 02 set. 1997, p. 2-4.
232

que a produção brasileira de papéis cresceu 3,8% ao ano no período 1990/96, e o tipo LWC teve
uma taxa média de crescimento de 21,3% ao ano, resultado da entrada da produção da nova fábrica
da Inpacel.
591
Naquele período, a produção de papéis revestidos Tabela 5-4: Produção de Papéis
concentrava-se na Inpacel – então única produtora do tipo Revestidos no Brasil em 1996 (em
mil t)
LWC – na Cia. Suzano e na VCP, do Grupo Votorantim, Empresa CWF LWC Total
ambas fabricantes de papéis couché (papéis woodfree Votorantim 31,0 - 31,0
Suzano 60,2 - 60,2
revestidos). Essas três empresas dominavam 95% da Inpacel - 148,9 148,9
produção brasileira (ver Tabela 5-4), mas destacam os Outros 11,8 - 11,8
Total 103,0 148,9 251,9
autores que “cada uma das maiores empresas produtoras
Fonte: ANFPC apud Macedo, Valença
mundiais de papéis revestidos [...] [tinha] capacidade mais & Lima (1997, p. 6-7).
elevada que toda a produção nacional”. (MACEDO,
VALENÇA & LIMA, 1997, p. 7). Tal situação certamente comprometia a possibilidade de
concorrer com tais fabricantes no mercado local e internacional. Mesmo assim, segundo
declarações de José Eduardo na CPI dos Bancos, em 1999, o “[...] Brasil importava 100% desse
papel [LWC] e a Inpacel passou a produzir praticamente aquilo de que o Brasil necessitava. Mas,
por uma questão estratégica, ela vendia metade no mercado interno e exportava metade”. (VIEIRA
/ CPI DOS BANCOS, 1999, p. SC 8). Neste contexto, certamente a viabilidade do projeto dependia
de proteção aduaneira e subsídios, o que parece ter sido muito difícil de implantar ou manter após a
posse de Fernando Collor na Presidência da República.

5.2.3.1 OS PROBLEMAS DA INPACEL

592 Gráfico 5-7: Rentabilidade da Inpacel (1988 a 1994)


Quanto ao desempenho da Inpacel, no
Gráfico 5-7 e Gráfico 5-8 podemos verificar que 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994
20,0%

desde 1988 a empresa vinha acumulando 12,8%


10,0%

prejuízos, e no ano de 1993 chegou a computar (0,1%) (0,6%) (0,2%) (1,5%) (0,5%)
0,0%

um valor de R$ 70,029 milhões, representando -10,0%

51% do Patrimônio Líquido. Em 1994, -20,0%

conseguiu reverter o quadro ao obter um lucro -30,0%

de R$ 51,447 milhões ou uma rentabilidade de -40,0%

12,8%, mas voltou a ter prejuízo de R$ 27 -50,0%

milhões em 1996 (ALVES, 20 mar. 1997, p. (51,0%)


-60,0%

C1)21. Ainda segundo José Eduardo em seu Fonte: Bamerindus: Relatório Anual de 1994.

depoimento na CPI dos Bancos, os problemas com a Inpacel levaram o Bamerindus a procurar
possíveis compradores, como segue:

21
Fonte: ALVES, Ubirajara. Bamerindus investiu US$ 600 mi. GM, Curitiba, 20 mar. 1997, p. C1.
233

110
[...] a administração da Inpacel começou a cuidar da venda dela em 1993. Mas, pela baixa
credibilidade do País, a pouca disposição dos investidores estrangeiros investirem no Brasil e a
falta de capitalização das empresas nacionais, tivemos várias manifestações de interesses, mas,
ao final das negociações, as pessoas diziam: - Bom, gostaríamos muito, mas não temos
condições de fazer esse negócio. [...] em 95 toda a indústria papeleira estava em crise pela
deterioração dos preços do papel no mercado internacional. Já em 94 nós queríamos vender a
indústria [...] quer dizer, antes da crise nós já tratávamos da venda [...] (VIEIRA / CPI DOS
BANCOS, 1999, p. SC 54).

593
Segundo Alves (20 mar. 1997, p. Gráfico 5-8: Rentabilidade da Inpacel em 1993 e 1994 (em R$
C1), em 1989 quando o Grupo Bamerindus milhões).
500,000

anunciou pela primeira vez que estava


402,740
estudando ampliar a fábrica, a direção do 400,000
1993
1994
grupo falava em investir US$ 250 milhões, e 300,000

na produção de 140 mil toneladas anuais de


200,000

papel. No final daquele ano a notícia era que 137,188

os investimentos ficariam na ordem de US$ 100,000


51,477
12,8
338 milhões, dos quais 47% financiados pelo -
%

BNDES. Quando da inauguração das


(100,000)
(70,029) (51,0) %

instalações, os investimentos totais


Patrimônio Líquido Lucro Líquido Rentabilidade (LL/PL)
anunciados eram de US$ 600 milhões, sendo Fonte: Bamerindus: Relatório 1994.
53% com recursos próprios e o restante
financiado pelo BNDES.
111
Estariam nascendo aí, segundo especula-se, as dívidas que levariam o próprio Banco
Bamerindus a enfrentar as dificuldades financeiras que explodiriam com a crise do sistema
financeiro de 1995. Tais dívidas seriam resultado de gastos excessivos na construção da
indústria que, apesar de ser uma empresa moderna e com potencial enorme de mercado, não
conseguiu acompanhar a evolução da sua dívida, estimada em R$ 720 milhões. ALVES (20
mar. 1997, p. C1).

594
Na mesma reportagem o autor informava que, em junho de 1996, o Bamerindus realizou
uma reestruturação societária, transferindo o controle da Inpacel para a Bamerindus Companhia de
Seguros, o que acabou afetando o resultado da seguradora. O lucro de 1996 caiu para R$ 48,4
milhões, enquanto em 1995 havia sido de R$ 50,8 milhões. A seguradora teve que absorver R$ 27
milhões de prejuízo da Inpacel. Ao que parece, boa parte dos problemas da empresa estavam
relacionados ao volume de produção e endividamento, como segue:
112
Um detalhado diagnóstico da Inpacel, realizado em 1995 pela canadense Simons Eastern
Consulters, indicou a necessidade de pesados investimentos, tanto para reduzir o
endividamento quanto para aumentar a produção e adequar a geração de caixa da empresa à sua
dívida. O volume destes recursos, segundo estimativas da época, beiravam os US$ 500
milhões. (ALVES 20 mar. 1997, p. C1).

595
Segundo Santanna (22 jul. 1996, p. 2-10)22, a situação financeira da Inpacel em 1996 era

22
Fonte: SANTANNA, M. Canadense negocia a compra da Inpacel. FSP, Curitiba, 22 jul. 1996, p. 2-10. Bamerindus deverá
vender 50% da Inpacel. FSP, 22 jul. 1996.
234

considerada um dos maiores problemas do grupo Bamerindus e, caso fosse vendida à empresa, os
novos proprietários teriam que investir aproximadamente mais R$ 700 milhões na construção de
uma segunda unidade de produção para atingir a escala compatível com os preços praticados no
mercado, equacionando o problema das dívidas acumuladas ao longo de dez anos, por erro na
estrutura dos investimentos feitos no período. Segundo a Agência Folha, estas as operações eram de
curto prazo, e a indústria não estava ajustada para produzir e vender em escala industrial. Nesta
época, José Carlos Gomes de Carvalho havia sido substituído na Presidência da empresa por
Adelino Ramos, um dos conselheiros do grupo, mas, segundo Santanna (22 jul. 1996, p. 2-10),
quem comandava de fato era o então senador José Eduardo. “Só ele dá as informações sobre a
empresa, que um dia foi considerada a menina dos olhos do grupo”.
596
Segundo Bezerra (1º abr. 1998)23, quando a Inpacel foi vendida em Janeiro de 1998 para a
Champion Papel e Celulose Ltda., subsidiária brasileira da empresa Stamford, Connecticut-based
Champion International Corp, a empresa ainda era a única a produzir no Brasil o papel do tipo
LWC, mas enfrentava problemas em razão de não ter alcançado a escala de produção necessária
para obter rentabilidade. O projeto original previa a produção com duas máquinas, mas por cauda
do alto custo destes equipamentos e os gastos com a construção da fábrica, o Bamerindus decidiu
instalar apenas uma delas e, com isto, não conseguiu atingir níveis competitivos de produção. Em
declaração ao jornalista Emerick (02 abr. 1997, p. 2-6)24, José Eduardo dizia que os problemas da
Inpacel não eram resultados de “[...] má gestão nem projeto errado. Ela sofreu seu primeiro impacto
financeiro no Plano Collor e o segundo no Plano Real”. No depoimento seu na CPI dos Bancos,
José Eduardo deu novas explicações sobre os problemas da Inpacel, como segue:
113
[...] o investimento que o Bamerindus fez, na época, [...] da ordem de US$ 450 milhões. [...]
com essa crise, em 95, todas as empresas industriais e comerciais também foram afetadas,
naquela época em que os juros subiram de 25%, 20% - não me lembro exatamente quanto -
para 80%. E a Inpacel, que tinha financiamentos tanto do BNDES quanto internacionais,
obviamente, sofreu com isso, e isso ocasionou um grande prejuízo para ela. (VIEIRA / CPI
DOS BANCOS, 1999, p. SC 8-9)

597
Necessitando de apoio financeiro do BNDES, José Eduardo conta que encontrou
resistências da instituição para recompor a dívida da fábrica, como segue:
114
Então, fomos ao BNDES pedir, como todas as empresas do setor papeleiro fizeram, uma
renegociação daquela dívida. A Inpacel gerava US$ 45 milhões de caixa por ano, devia US$
190 milhões para o BNDES. Esse superávit de caixa anual permitia a renegociação desse
débito em oito anos com juros praticados pelo BNDES, que fez isso para todas as demais
empresas papeleiras e, para o Bamerindus, não fazia, não fazia, não fazia. Até que um dia fui
ao Rio de Janeiro, perguntei ao Luiz Carlos Mendonça de Barros, que era o Presidente, e disse:
“Escute, vocês fizeram para todo mundo. Por que não fazem para o Bamerindus? Nós não
estamos pedindo nada diferente do que foi feito para todos os outros”.E ele respondeu: “O
Banco Central recomendou que não fizesse nada com vocês”.Perguntei: “Mas o que tem a ver

23
Fonte: BEZERRA, P. Champion Buys Inpacel. Boxboard Containers International, 1 Apr. 1998. [Emeryville, CA]:
PRIMEDIA Business Magazines & Media Inc, 2005. Nossa tradução. Disponível em: <http://boxboard.com/ar/boxboard_
champion_buys_ inpacel/index.htm>. Acesso em: 23 maio 2005.
24
Fonte: EMERICK, S. Vieira diz que BC vendeu barato a marca. FSP, Brasília, 02 abr. 1997, p. 2-6.
235

a Inpacel, uma indústria, com problemas do sistema financeiro?” Ele disse: “Eu não sei. A
única coisa que posso lhe dizer é isso”.Eu era Ministro da Agricultura na época. (VIEIRA /
CPI DOS BANCOS, 1999, p. SC:8-9)

598
No entender dele, o endividamento da Inpacel estava relacionado ao ambiente econômico
brasileiro de altas taxas de juros, como segue:
115
Há, nesses valores [investimento de US$ 450 milhões], uma grande parte de juros pagos no
mercado em função daquelas elevações das taxa de juros [...] para 80% ao ano, uma dívida de
60 a 70 milhões, que o Bamerindus [e] a Inpacel tinham no mercado, rapidamente se
transformou em 200 e tantos milhões, o que elevou esses valores a números absurdos. O
investimento real foi da ordem de 450 milhões. O restante foi de juros pagos no mercado em
função das altas taxas. Então, pode-se dizer que a Inpacel tinha esse prejuízo, mas o
Bamerindus tinha capacidade para absorver isso, como absorveu. (VIEIRA / CPI DOS
BANCOS, 1999, p. SC:8-9)

599
Finalmente, José Eduardo admitiu que se a Inpacel na época fosse vendida, Grupo
Bamerindus teria que arcar com um prejuízo de US$ 100 milhões, como segue:
116
Entre ativo e passivo havia a fábrica e as ações de uma outra empresa, que era detentora de 55
mil hectares de florestas de pinus e de araucária, lá no Paraná. [...] Entre o valor patrimonial de
450 milhões, mais cento e poucos milhões, 550 milhões, que eram as florestas, e os 700
milhões havia os empréstimos para estabelecer o equilíbrio. [...] se a Inpacel fosse vendida pelo
seu valor patrimonial, deveria ser vendida por US$ 550 ou US$ 600 milhões, menos o que ela
devia. Então, ela nos daria um prejuízo, por essas diferenças, de US$ 100 milhões. (VIEIRA /
CPI DOS BANCOS, 1999, p. SC:8-9)

600
Segundo o depoimento na CPI do Proer do ex-Diretor da Área de Fiscalização do Banco
Central e ex-interventor do Bamerindus, Luiz Carlos Alvarez25,
117
O problema da Inpacel é que foi investido um valor muito grande na Inpacel. A Inpacel tinha
um ativo imobilizado de quase 1 bilhão, mas tinha dívidas desse valor. Não se pode querer
dizer quanto vale uma sociedade pelos seus ativos. Têm ativos, mas se as dívidas forem
maiores. (ALVAREZ / CPI DO PROER, 06 nov. 2001)

5.2.3.1.1 DÍVIDA E POLÍTICA

601
Na reportagem publicada em 1997 na Carta Capital, Fernandes (1997) sugere que parte da
dívida acumulada pela empresa era resultado de financiamentos de campanhas eleitorais, como
segue:
118
Em 28 de setembro de 1994 a Bamerindus Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários doa
R$ 64 mil ao comitê de Fernando Henrique. No mesmo dia o Bamerindus Leasing entrega R$
186 mil e a Bamerindus Distribuidora emite um cheque nominativo de R$ 64 mil. Cinco dias
depois, Fernando Henrique e Lula estão no segundo turno. Em 9 de outubro, mais um cheque:
R$ 26 mil, do Bamerindus S.A. Dez dias depois, outro cheque: R$ 26 mil. [...] A dívida da
Inpacel no mercado havia quase duplicado. O patrimônio do grupo, R$ 1,5 bilhão, era
indiscutível. Cobria o buraco da fábrica, que beirava os R$ 600 milhões. A fábrica de papel,
ainda que sendo engolida pela dívida, aparentava produzir também dinheiro. [...] A primeira
doação do Grupo Bamerindus para a campanha Fernando Henrique saiu do caixa da Inpacel:

25
Fonte: ALVAREZ, Luiz Carlos. Depoimento na CPI DO PROER. Câmara dos Deputados - Departamento de Taquigrafia,
Revisão e Redação, Núcleo de Revisão de Comissões. Texto com redação final. Número: 001276/01 - Transcrição Ipsis
Verbis. Brasília: 06 nov. 2001. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/Internet/comissao/index/cpi/proer_nt061101.
doc>. Acesso em: 29 jun. 2005.
236

R$ 193 mil, em 21 de setembro. No total, gastou-se mais de meio milhão de dólares. [...] [JE
era então] Ministro da Agricultura. Presidente do PTB. Financiador da fracassada campanha de
Walmir Campello ao governo do Distrito Federal. Cresce, muito, a dívida da Inpacel. [...] Da
porta do banco para fora, o banqueiro e senador queria mais. Queria ser candidato à Presidência
da República. Para tanto, comprou no Paraná a CNT, emissora de tevê de José Carlos Martinez.
Irritou, para começar, o ex-governador Paulo Pimentel, dono do SBT e do jornal O Estado do
Paraná. Tornou-se concorrente também de Francisco Cunha Pereira, dono da tevê Globo local e
do jornal Gazeta do Povo. [...] Dinheiro gasto a rodo. A Inpacel? Cada vez pior. Tempos antes,
ainda presidente, José Carlos Gomes de Carvalho, o “Carvalhinho”, convencera o Grupo
Gazeta Mercantil a trocar de fornecedor, comprar papel na Inpacel. Assim foi feito. Até que,
por descuido, uma fatura não foi paga de imediato, indo a protesto. Outubro de 1995. Numa
matéria irretocável, absolutamente correta, a Gazeta Mercantil radiografou as dificuldades da
Inpacel. O mercado percebeu: o Bamerindus, banco, corria riscos de contaminação.
(FERNANDES, 1997, p. 32-35).

602
Vale a pena observar que, na condição de única produtora de papel de imprensa no Brasil, a
Inpacel ocupava um lugar estratégico na cadeia produtiva da mídia impressa.

5.2.3.1.2 O BACEN E A INPACEL

603
Segundo Rodrigues (02 set. 1997), a Comissão de Inquérito do Banco Central instalada no
Bamerindus após a intervenção em 1997, teria descoberto que o Grupo Bamerindus contabilizava a
Inpacel com valor acima do efetivo, e a reportagem teve o cuidado de informar que José Eduardo
contestava esta afirmação.
119
Os inspetores do Banco Central também descobriram que a Inpacel, indústria de papel e
celulose construída no Estado do Paraná, constava da contabilidade do grupo Bamerindus com
um valor equivalente a R$ 600 milhões, enquanto não valia mais do que R$ 100 milhões,
apurou a Folha. (RODRIGUES, 02 set. 1997, p. 2-4).

604
Nesta época, Santos (13 out. 1997, p. 1-13) 26 conta que o Bacen vinha estudando formas
para restringir a compra de empresas não-financeiras pelo setor bancário, pois estava preocupado
em evitar que os bancos direcionassem parcelas excessivas dos seus patrimônios para investimentos
em empresas, comprometendo a liquidez do sistema. Também queria evitar o investimento dos
bancos em projetos de difícil maturação que poderiam contaminar a saúde financeira do próprio
banco, citando como exemplo o caso Inpacel / Bamerindus.
605
Gustavo Loyola27 havia declarado, pouco antes de sair da Presidência do Bacen, que o
projeto de limitar a participação dos bancos em capitais de empresas não-financeiras deveria ser
uma prioridade do Banco Central. O assunto estava sendo considerado como uma das medidas
preventivas a serem tomadas para evitar maiores problemas, na hipótese de uma nova crise bancária
no país. O Bacen considerava que a legislação brasileira era muito liberal ao permitir a compra por

26
Fonte: SANTOS, C. BC quer limitar bancos nas privatizações. FSP, Rio de Janeiro, 13 out. 1997, p. 1-13.
27
Gustavo Jorge Laboissière Loyola nasceu em dezembro de 1952, em Goiânia (GO), filho de Cleomar de Barros Loyola e
Maria Antonieta Laboissière Loyola, é Mestre e Doutor em economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Foi diretor do
Bacen na Área de Administração (DIRAD) em mar. 1990 e da Área de Normas e Organização do Sistema Financeiro
(DINOR), no período de mar. 1990 a nov. 1992, e presidente do banco por duas ocasiões: nov. 1992 a mar. 1993 e de jun.
1995 a ago. 1997. Em 2002 era membro efetivo do Conselho Fiscal do Banco Itaú S.A. Fonte: Banco Itaú (2002) e Bacen
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
237

bancos de empresas não-financeiras, pois nada proibia.


120
Nos Estados Unidos, modelo do capitalismo mundial, a proibição é total, segundo o BC. A
Febraban [...] não gostou dos primeiros sinais dados pelo BC sobre o que ele gostaria que
fossem os limites aos seus investimentos fora da área financeira. Para um operador do sistema
bancário que preferiu não se identificar, o setor não pode perder a capacidade potencial de
investimento. (SANTOS, 13 out. 1997, p. 1-13).

606
Mas a capacidade potencial criativa destes operadores para contornar as restrições legais
não pode ser subestimada. Gramacho (25 maio 2000, p. B2)28 informava que o Bacen havia
descoberto que o Grupo Bamerindus teria usado o Banco Safra para triangular empréstimos entre
suas empresas, em uma operação proibida pela legislação. Uma suposta transação de US$ 25
milhões teria sido identificada e condenada pela comissão de inquérito do Bacen. Segundo o
jornalista, citando o relatório da comissão, no dia 21 de setembro de 1993 o Bamerindus teria
aplicado CR$ 2,9 bilhões (US$ 25 milhões ao câmbio do dia) num certificado de depósito
interbancário (CDI) do Safra, que por sua vez, no mesmo dia, emprestou idênticos CR$ 2,9 bilhões
à Inpacel, e as duas operações venciam no dia 21 de dezembro.
121
“Conforme fica evidenciado, os recursos emprestados à Inpacel são originários do Bamerindus,
que, impedido por determinação legal de emprestar diretamente àquela empresa ligada,
emprestou recursos ao Safra, e este os repassou à Inpacel”, registraram os fiscais do BC no
relatório final da comissão de inquérito. (GRAMACHO, 25 maio 2000, p. B2).

607
Para a reportagem, José Eduardo explicou que não dirigia mais o banco à época da
operação, mas achava estranho o negócio, pois “A Inpacel não tinha necessidade de fazer isso.
Naquela ocasião, a empresa ainda captava recursos no exterior”, e também afirmou que as relações
entre os dois bancos nunca foram muito próximas. “Sempre tive uma relação formal com a família
Safra, sem intimidades”.
608
Questionada a direção do Banco Safra, eles também se disseram surpreendidos com a
informação, mas que a operação foi legítima e legal. A Inpacel era uma empresa de grande porte
que mantinha vários créditos de alto valor no Safra.
122
Segundo a avaliação final da comissão de inquérito, os empréstimos cruzados entre as
empresas do grupo foram uma das principais razões para o colapso do Bamerindus.
(GRAMACHO, 25 maio 2000, p. B2).

5.2.3.2 COPEL E A USINA DE SEGREDO

609
Segundo AE (28 set. 1992 e 29 set. 1992)29, a Companhia Paranaense de Energia (Copel)
inaugurou em setembro de 1992 a Usina Hidrelétrica de Segredo, construída no Rio Iguaçu, a cerca
de 350 quilômetros de Curitiba. Na época, o presidente da empresa, Francisco Gomide, declarou

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
(2002).
28
Fonte: GRAMACHO, W. Para BC, Bamerindus fez operação ilegal. FSP, Brasília, 25 maio 2000, p. B2.
29
Fonte: Copel inaugura hoje a Usina Hidrelétrica de Segredo no PR. AE, Aedata, Curitiba, 28 set. 1992, e Hidrelétrica de
Segredo é inaugurada hoje. AE, Aedata, Curitiba, 29 set. 1992.
238

que a potência final instalada era de 1.260 Megawatts - equivalente a 10% da potência de Itaipu - e
o custo global teria sido de US$ 950 milhões. A obra foi financiada com 36% de recursos próprios,
11% do governo do Estado, 24% da Eletrobrás, 14% do Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID) e 11% do BNDES / Finame. O saldo restante de 4% foi captado pela venda antecipada de
energia a três indústrias: Inpacel; Cia. De Cimento Portland Rio Branco e a Peróxidos do Brasil. Os
contratos garantiam o fornecimento por dez anos sem interrupção por racionamentos provocados
por uma eventual falta de investimentos no setor energético.
610
Nesta época estava na Justiça uma ação contra a Copel, movida pela empreiteira C. R.
Almeida, que pedia indenização no valor de US$ 93,5 milhões em razão de, em março de 1988, por
determinação do então governador Álvaro Dias, a Copel anulou a concorrência para a construção
da usina e decidiu tocar a obra por conta própria. A decisão fora respaldada numa suposta diferença
entre o preço máximo fixado pela estatal, de US$ 170 milhões, e o preço da C. R. Almeida, de US$
263,5 milhões.
611
Em 9 de agosto de 2000, durante o governo Jaime Lerner, a Copel decidiu fazer acordo com
a construtora C. R. Almeida, aceitando pagar R$ 95 milhões correspondentes à metade do valor
exigido pela empresa. O então presidente da Copel, Ingo Hübert, defendeu o pagamento do acordo,
argumentando que a Justiça já havia dado ganho de causa à C. R. Almeida, embora “seja possível
para a Copel postergar o efetivo pagamento, em função dos possíveis recursos judiciais”.
(KARAM, 2000)30. Vale destacar que o lucro líquido da Copel no primeiro semestre de 2000 teria
sido de R$ 172,3 milhões.

5.2.4 EMPRESAS DE COMUNICAÇÃO

612
Quando o grupo Bamerindus adquiriu o Grupo Bancial, Francisco Cunha Pereira e
Edmundo Lemanski, então sócios daquele banco, receberam ações do Bamerindus como parte do
pagamento de suas respectivas participações. Segundo Oliveira Filha (2005)31, na época eles eram
sócios controladores de uma rede de comunicação que incluía o jornal Gazeta do Povo, e desde
1973 a TV Paranaense, Canal 12, de Curitiba, em sociedade com Roberto Marinho. Nos anos
seguintes, o grupo montou ou comprou mais sete emissoras de televisão, cobrindo todas as regiões
do Estado, consolidando a atual Rede Paranaense de Comunicação (RPC) como a maior do Estado.
613
Formalmente, os investimentos diretos do Grupo Bamerindus em empresas de comunicação
começaram em 1992 quando, segundo AE (15 out. 1992)32, o grupo aparece como cotista

30
Fonte: KARAM, M. Copel faz acordo para pagar a CR Almeida. Valor Online. Apud Energia News, nº 91 - Edição 000804,
ago. 2000. Disponível em: <http://www.energynews.efei.br/anterior/EEN-000804.htm>. Acesso em: 12 mar. 2003.
31
Fonte: OLIVEIRA FILHA, E. A. de. Apontamentos sobre a história de dois jornais curitibanos: “Gazeta do Povo” e “O
Estado do Paraná”. Trabalhos apresentados no 3º Encontro Nacional da Rede Alfredo de Carvalho, GT – Jornalismo, nos
dias 14, 15 e 16 de abril de 2005. Novo Hamburgo, 2005. Disponível em: <http://www.jornalismo.ufsc.br/redealcar/
cd3/midia/elzaaparecidadeoliveirafilha.doc>. Acesso em: 07 de jul. 2005.
32
Fonte: Eduardo J. Vieira chega ao governo depois de financiar campanha de Collor. AE, Curitiba 15 out. 1992.
239

majoritário do jornal Folha de Londrina. No ano seguinte, segundo Veja (23 mar. 1994, p. 29)33,
José Eduardo (então pré-candidato do PTB a presidente da República) já havia investido cerca de
US$ 3,3 milhões na formação de uma rede de comunicação através da compra de ações de
empresas do setor. Em 1994 era proprietário de 22,5% do jornal Folha de Londrina, 23% da
Televisão de Londrina, 22,5% da Rádio FM Folha de Londrina e 22,5% da Rádio Cruzeiro do Sul.
Segundo Veja (8 mar. 1995)34, o Bamerindus havia adquirido naquele mês participação no jornal
Indústria e Comércio, de Curitiba, e desde outubro de 1994 o Bamerindus controlava a TV Caiobá,
de Americana (interior de São Paulo), que antes era afilada à Rede Record.

5.2.4.1 A FOLHA DE LONDRINA / FOLHA DO PARANÁ

614
A Empresa Jornalística Folha de Londrina S.A. foi fundada em 13 de Novembro de 1948
por João Milanez, que veio de Criciúma (SC) para Londrina em novembro de 1947 – “[...] diz que
veio para [...] [a] 'capital’ [...] do café, onde afirmavam que 'dava dinheiro em árvore”. Logo fez
amizades com o então prefeito Aquiles Pimpão, Hugo Cabral (primeiro prefeito eleito), David
Dequech, Nicolau Lunardelli, Hosken de Novaes, Salim Sahão, Anísio Figueiredo, Joaquim Alho,
Maria e Aristides de Souza Mello, Teodoro Victorelli, Aurora e Hermínio Victorelli (que recebeu
Assis Chateaubriand para almoçar, quando ele e Milanez fundaram a TV Coroados, que integrava a
Rede Tupi), Rui Cunha, Romão Sessak, Lisandro Araújo, Raul Lessa e Mister Thomas, o fundador
de Londrina.35
615
Segundo Veja (1º fev. 1995)36, a Folha era o maior jornal do interior do Paraná, com
tiragem diária de 47.000 exemplares. Sua linha editorial procurava atender as demandas das
municipalidades, pretendendo ser a “porta voz” das grandes causas paranaenses. Segundo dados de
julho de 1997 do IVC, o jornal era o 13º colocado no Brasil, 18º em circulação paga no País e 1º em
circulação paga fora das capitais. A Folha de Londrina/ Folha do Paraná começou a mudar a partir
de 1994, com a venda de parte da empresa para o Grupo Bamerindus e a posse de João Antônio
Vieira Filho como Membro do Conselho de Administração e Diretor Superintendente do jornal.
Segundo a Folha de Londrina, na época ela era considerada como o jornal estadual com a maior
rede de sucursais, correspondentes e representantes comerciais no Estado, com escritórios em
Curitiba, Maringá, Cascavel, Foz do Iguaçu, São Paulo, Apucarana, Campo Mourão, Cornélio
Procópio, Francisco Beltrão, Ponta Grossa, Guarapuava, Umuarama e ainda representantes
nacionais no Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Florianópolis, Campo Grande e Belo Horizonte.

33
Fonte: Andrade Vieira monta rede. VEJA, 23 mar. 1994, p. 29.
34
Fonte: O Chateaubriand do Paraná. VEJA, 08 mar. 1995.
35
Fonte: MILITÃO, Osvaldo Londrina: Folha de Londrina, 19 jul. 2003. Disponível em: <http://www.londrinatecnopolis.
org.br/novo_portal/noticias/imprime.asp?codNoticia=796>. Acesso em: 1º maio 2004.. Atualmente, José Eduardo de A.
Vieira é Diretor-superintendente do jornal.
36
Fonte: Um banqueiro na rede. O ministro da Agricultura e dono do Bamerindus assume o controle da CNT, a quinta maior
rede de televisão do país. VEJA, 1º fev. 1995, p. 95.
240

Para a Aberje (1998)37, a Folha de Londrina / Folha do Paraná era o único jornal do Paraná que
cobria os 399 municípios do Estado, circulando em 488 localidades do PR, SC e MS, atingindo 300
mil leitores por dia, segundo Diário da Manhã (23 nov. 2002)38.
616
Para o cargo de diretor superintendente do jornal foi designado João Antônio Vieira Filho,
primo de JE, na época advogado, diretor do grupo Bamerindus e sócio da Rádio Cruzeiro FM Ltda.
de Londrina. Segundo Bamerindus / HSBC (2003)39, ele também era acionista da Bamerindus S.A.
Participações e Empreendimentos em 31 dez. 1997 e proprietário de 20.712 ações ordinárias, que
representavam 0,0665% do capital votante da empresa.

5.2.4.2 CNT - CENTRAL NACIONAL DE TELEVISÃO

617
A CNT (2004)40 foi criada no Paraná com o objetivo de ser uma rede de televisão aberta no
Brasil, fora do eixo Rio – São Paulo. Sua origem remonta o ano de 1975, quando foi criada a TV
Tropical, com a razão social de Rádio e Televisão OEME de Londrina Ltda. Na época, o rico
fazendeiro Oscar Martinez expandiu sua atuação para a área de comunicação quando “adquiriu” a
TV Coroados de Paulo Pimentel. Segundo Braga (2002e)41, por pressão de Ney Braga, Jayme Canet
Jr e do governo Geisel, Paulo Pimentel não conseguiu renovar o contrato de retransmissão da
programação da Rede Globo, e foi forçado a vender a TV Coroados para o Grupo Oscar Martinez
que, vinte e quatro horas depois da venda, retomou a programação da Rede Globo. Mais tarde, em
ação judicial, Martinez recusou-se a pagar os valores estipulados no contrato de venda, alegando
irregularidades na documentação da empresa.
618
Em abril de 1980, a então Rede OM associou-se à TV Paraná, Canal 6 de Curitiba – na
época integrante do grupo Diários Associados, que acabou se tornando a matriz do grupo. Nesse
mesmo ano, a TV Paraná, então à beira da falência por causa do fim da Rede Tupi, foi comprada
pelas Organizações Martinez. Diferente das demais emissoras da Rede Tupi, que acabaram
compondo duas redes distintas, a Manchete e o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), a nova TV
Paraná não teve nenhuma afiliada, concorrendo diretamente com a TV Paranaense, afiliada da Rede
Globo, e TV Iguaçu, canal 4, afiliada ao SBT.

37
Fonte: ABERJE - Associação Brasileira de Comunicação empresarial. Artigo: nov. 1998. São Paulo, 1998. Disponível em:
<http://www.aberje.com.br/antigo/hotnews/199811/folha.htm>. Acesso em: 28 jan. 2003..
38
Fonte: Diário da Manhã, Ponta Grossa: 23 nov. 2002. Disponível em: <http://www.diariodamanha.com.br
/edicoesanteriores/021123/rubens.htm>. Acesso em: 28 jan. 2003.
39
Fonte: BAMERINDUS / HSBC. Relação Geral de Acionistas: posição do Banco Bamerindus do Brasil S.A. em 31 dez.
1996 p. 1-5 e Bamerindus S.A. Participações – Empreendimentos em 31 dez. 1996, p. 1-6 emitida em 25 abr. 2003, e
posição do BBB em 31 dez. 1997 p. 1-5 e BPE p. 1-7. Curitiba: HSBC, 05 maio 2003.
40
Fonte: CNT – Central Nacional de Televisão. Página oficial. [2004]. Disponível em: <http://www.cnt.com.br/>. Acesso em:
18 nov. 2004.. Também foram consultadas as páginas disponíveis em PRÓ-TV. Rede Meridional. Canal 1 – Memória da
Televisão Brasileira. CNT – Central Nacional de Televisão. [2002] Disponível em: <http://www.geocities.com/
marenostrum_br/cntind.htm>. Acesso em: 23 jan. 2003; e TV HISTÓRIA. CNT – Central Nacional de Televisão [2002].
Disponível em: <http://www.tvhistoria.hpg.ig.com.br/cnt.htm>. Acesso em: 23 jan. 2003.
41
Fonte: BRAGA, S. S. Verbete: PIMENTEL, Paulo. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós-1930. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, CPDOC, 2002e. CD-Rom.
241

619
Mais tarde, nos ano de 1990, José Carlos Martinez e seu irmão e sócio, Flávio de Castro,
mudaram o nome da empresa para Rádio e Televisão OM Ltda., que passou a atuar também no
interior do Paraná e em outras capitais brasileiras. Em fevereiro de 1992 o grupo comprou a TV
Corcovado, canal 9, do Rio de Janeiro, antiga TV Continental. E em março a OM assinou contrato
de parceria com a TV Gazeta, canal 11, da Fundação Cásper Líbero, de São Paulo. Desta forma
entrava no ar a primeira rede nacional de fora do eixo Rio - São Paulo, com programação gerada
em Curitiba e retransmitida por dez emissoras em Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo e
Brasília. Sua linha editorial era claramente favorável ao governo Collor. A nova rede de televisão
inaugurou sua programação exibindo o filme “Calígula” 42.
620
Segundo Braga (2002d)43, a OM integrava o projeto do grupo político do presidente
Fernando Collor de Mello e visava consolidar sua presença na região Sul. Segundo a AE (29 jul.
1992), em julho de 1992 o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) apontou Martinez como um dos
mentores do segundo depoimento do ex-secretário do presidente Fernando Collor, Cláudio Vieira, à
CPI. No mês seguinte, durante os trabalhos da CPI da corrupção, Martinez foi acusado de ter
participado do “esquema de Paulo César Farias” no Paraná, ao receber cheques de 4,5 milhões de
dólares, do “fantasma” José Carlos Bonfim, para quitar dívidas referentes à compra da TV
Corcovado, do SBT de Sílvio Santos.
621
Em outubro de 1992, ele e seu irmão foram julgados e condenados por crime de falsidade
documental e sonegação fiscal pelo juiz Edgard Lippmann Júnior, da 6ª Vara da Justiça Federal do
Paraná, numa ação popular contra a venda da concessão da TV Carimã. Segundo o OESP (09 out.
1992), a ação também acusava o empresário Mário Petrelli, e o juiz determinou a anulação da
concessão outorgada à TV Carimã Ltda., que teria sido transferida ilegalmente à TV Independência
Ltda. Em maio de 1993, Martinez mudou o nome da empresa para CNT (Central Nacional de
Televisão), buscando desvincular a organização do “esquema PC Farias” e Fernando Collor. A
“nova” rede estreou com o programa “Clodovil em Noite de Gala”, com transmissão ao vivo do
Teatro Ópera de Arame em Curitiba, e foi na CNT que o apresentador Carlos Roberto Massa, o
“Ratinho” fez grande sucesso com os programas “Cadeia” e “190 Urgente”.
622
Quando o Bamerindus adquiriu formalmente o controle da CNT em janeiro de 1995,
Martinez assumiu o cargo de presidente do Conselho de Administração da rede. Segundo Veja (1º
fev. 1995, p. 95), a CNT passou para o comando do Bamerindus em troca do pagamento das
dívidas, estimadas em US$ 30 milhões. Na época, um problema legal impedia o grupo de assumir
formalmente a rede, já que era proprietária de uma emissora de TV no interior de São Paulo e sócio
de uma outra no Paraná. Pela lei, não poderia comprar a concessão de mais cinco emissoras sem
prévia autorização do Ministério das Comunicações. Para contornar esse obstáculo, no novo

42
Fonte: CALÍGULA. Direção: Tinto Brass e Bob Guccione. Escrito por Gore Vidal e Bob Guccione. Produção: Bob
Guccione, Franco Rosselini e Penthouse Vídeo. Origem: Itália e EUA, 1979.
43
Fonte: BRAGA, S. S. Verbete: MARTINEZ, José Carlos. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós-
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
242

organograma da CNT, José Carlos e Flávio Martinez continuaram como donos da concessão, e José
Eduardo entrou como sócio minoritário. “Isso tudo apenas no papel. Na prática, será dele o
comando da rede” (VEJA, 1º fev. 1995, p. 95). Ainda segundo a reportagem, João Antonio Vieira
Filho, na época com 42 anos, assumiu o posto-chave de diretor superintendente e, segundo suas
declarações, “Não queremos entrar nesse meio para fins políticos [...] O segmento de televisão é
muito interessante do ponto de vista econômico”. As outras duas vagas no conselho foram
ocupadas por Flávio Martinez e pelo jornalista Mauro Guimarães.
623
Ainda segundo Veja, desde 1993 a CNT sobrevivia com a ajuda do Bamerindus e estimava
que, nesse período, o banco emprestou mais de 3 milhões de dólares aos Martinez. Segundo
declarações de Maurício Schulman, a última dívida de US$ 500 mil teria sido paga recentemente.
Na época, José Eduardo contratou o apresentador de televisão e deputado estadual no Paraná,
Carlos Simões, que trabalhava para a TV Independência de Curitiba, afiliada à Rede Manchete. Na
reportagem, Veja observou que a contratação incluiu a troca de partido político, “[...] Para ficar
mais afinado com o novo patrão. Carlos Simões trocou o PFL pelo PTB”. (VEJA, 1º fev. 1995, p.
95). Mais tarde, em 1996, antes da intervenção do Bacen, o Bamerindus devolveu aos Martinez o
controle da organização e, em dezembro, a CNT fechou um acordo de cooperação com a empresa
mexicana Televisa.
624
Segundo Gramacho (13 ago. 2002a/b )44, Martinez renunciou em 2002 à coordenação da
campanha de Ciro Gomes, “após ser revelado que paga até hoje a parentes de Paulo César Farias
parcelas de uma dívida contraída com o ex-tesoureiro de Fernando Collor”. A reportagem também
afirmava que um relatório de fiscalização do Bacen apontava Martinez e suas empresas como
devedores de um empréstimo de R$ 73,5 milhões do Banco Bamerindus, em atraso desde 1996.
Segundo o autor, o relatório fora produzido pela Comissão de Inquérito do Bacen, que apurou as
razões da falência do banco, listou as operações consideradas duvidosas e irregularidades que
minaram a solidez financeira da instituição. Entre elas, identificava a operação da CNT “como uma
das várias causas da quebra do banco”. Segundo o relatório, em março de 1996 o Bamerindus tinha
a receber R$ 27,75 milhões do grupo Martinez, numa operação cujas garantias eram notas
promissórias assinadas por José Carlos e Flávio Martinez. Na renegociação do débito, foi proposta
a “promessa de pagamento em títulos da Dívida Agrária [TDAs] a serem emitidos pelo Incra”, e
que seriam emitidos “caso a Justiça Federal assim determinasse numa ação de desapropriação em
curso e ‘sem prazo previsto para decisão” (GRAMACHO, 13 ago. 2002a/b), e o acordo firmado
entre Martinez e o Bamerindus reconheciam o valor da ação como de R$ 73,5 milhões.
123
Como a dívida com o banco era de R$ 27,75 milhões, o Bamerindus entregou em dinheiro a
diferença de R$ 45,75 milhões. A soma, segundo o relatório, foi utilizada “para o pagamento
de dívidas com outras empresas ligadas ao Bamerindus e, ainda, para comprar (ou

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1930. 1ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, CPDOC, 2002d. CD-Rom.
44
Fonte: GRAMACHO, W. Martinez deve R$ 73 mi a banco, diz BC. FSP, Brasília, 13 ago. 2002a, p. A7 e A5. Ver também
GRAMACHO, W. Relatório do banco aponta que operação com ex-coordenador de Ciro foi uma das várias causas da
quebra do Bamerindus. FSP, Brasília, 13 ago. 2002b, p. A5.
243

recomprar) participação acionária em várias empresas de televisão, de cujo capital, empresas


ligadas ao Bamerindus participavam”. GRAMACHO (13 ago. 2002)

625
Gramacho também destaca que a comissão de inquérito recomendou a punição de
funcionários do Bamerindus por “gestão fraudulenta” e “gestão temerária”, e que não era atribuição
do Bacen sugerir punições ao Grupo Martinez. Segundo o autor, durante o governo Collor,
Martinez obteve empréstimos da CEF e ainda devia R$ 10 milhões que estavam sendo executadas
na Justiça. Este empréstimo da Caixa, mais as operações com o esquema PC e com o Bamerindus,
teriam sido as principais fontes de recursos para a constituição da rede CNT.

5.2.5 O BAMERINDUS E AS PRIVATIZAÇÕES

626
O Relatório Semestral do Bamerindus de 1983 criticava o crescimento “descontrolado” das
empresas estatais, e reclamava pela redução do intervencionismo do Estado, sugerindo que o Brasil
deveria adotar o modelo de “capitalismo pluralista”, que durante muitos anos fora defendido pelo
ex-governador e membro do Conselho de Administração do grupo, Munhoz da Rocha. Segundo ele,
“[...] o investimento cabe à iniciativa privada e, de algum, à economia de mercado, bem como à
ação do Estado como disciplinador, com o seu planejamento e como investidor. O capitalismo na
sua forma pluralista é o caminho único do crescimento com dignidade e com liberdade, sobretudo
porque leva em conta que além do crescimento existe o homem a que o desenvolvimento deve
beneficiar [...]” (RELATÓRIO SEMESTRAL, 19 jan. 1983, p. 3).
627
Nos anos 1980, as empresas estatais foram utilizadas pelo governo para levantar recursos
para o Estado, em crise financeira. No final da década uma boa parte dessas empresas estava em
situação de insolvência, sem condições de honrar uma grande quantidade de títulos por elas
emitidos e acumulados nas carteiras dos bancos. Tal situação refletia o esgotamento da capacidade
financeira do Estado, com reflexos sobre o crescimento econômico do país. Entre as várias
possibilidade de romper com este quadro, estava o projeto de privatização dessas empresas para
amortizar parte de suas dívidas. Ao tomar posse na Presidência da República em 1990, Fernando
Collor anunciou o Plano Nacional de Desestatização (PND), criado pela Lei nº 8.031/90, que
incluía empresas dos setores de siderurgia, mineração, petroquímico e outros. O processo teve
início com a edição da Resolução 1.721 do Banco Central, que regulamentou as condições para
aquisição dos certificados de privatização previstos pela Lei nº 8.018, de 11.04.90. A Resolução
determinava que as instituições financeiras e demais entidades autorizadas a funcionar pelo Bacen
teriam que adquirir Certificados de Privatização (CPs), observando alguns critérios.
628
Vários grupos estavam engajados na ampliação e diversificação de suas participações em
outras empresas. Entre eles, por exemplo, estava o Bradesco que, segundo Ferreira (17 dez. 1992)45,
desde 1988 vinha desenvolvendo sua estratégia de investimento no setor industrial. Em 1989,

45
Fonte: FERREIRA A. Bradesco amplia estratégia no setor industrial. AE, OESP, 17 dez. 1992.
244

operadores do mercado financeiro estimavam que o grupo já havia aplicado mais de US$ 250
milhões neste setor. Segundo o autor, o Bradesco participava de diversos grupos, entre eles a
Brasmotor, Tupy, Alpargatas, Metal Leve, Monteiro Aranha, Antarctica, Refripar, Romi, Belgo
Mineira, Artex, Pirelli Pneus e Cabos, Villares, Moinho Santista e Moinho Fluminense, Manah,
Brasilit, Eternit, Sadia Concórdia, Ericsson, Newtchnos, Latasa, Duratex, Brahma, Pirelli Cabos,
Vidraria Santa Marina e Ripasa. Também teria adquirido 18% da Sharp, e vendido ao Grupo
Machline, controlador da Sharp, sua empresa de informática e automação bancária, a Digilab. No
final de 1991, o Bradesco aumentou sua participação no grupo Gerdau, em troca do financiamento
que concedeu ao grupo para a compra da siderúrgica Cosinor, por US$ 14 milhões.
629
Em 1992, o Bradesco dispunha de US$ 130 milhões em letras hipotecárias para
investimento, bem como já havia utilizado outros ativos de baixa liquidez, como debêntures da
Siderbrás ou Certificados de Privatização (CPs). Na época, ainda segundo Ferreira, a política do
Bradesco era de não participar como controlador das empresas, nem mesmo em conselhos de
administração, para não desviar a atenção de sua atividade principal. Também havia estudos para
participar do setor de telefonia celular, em associação com as Organizações Globo, o grupo
Monteiro Aranha, a Stet italiana e a Southwest, dos EUA.
630
Seguindo igual caminho, o Grupo Bamerindus participou das privatizações, buscando
utilizar os CPs e títulos públicos de baixa liquidez, que também tinha acumulado em diversos casos,
como da Sunamam, Siderbrás, entre outros. Segundo o Bamerindus, até 1992 foram compradas
ações de três grandes estatais, num investimento total de US$ 82,2 milhões, como segue: Usiminas,

Tabela 5-5: Participações do Bamerindus em empresas privatizadas em 1993.


Data do
Empresa Razão Social % Participação
Leilão
Usiminas Usinas Siderúrgicas de Minas 2,35 24 10 1991
Gerais S.A.
Copesul Cia. Petroquímica do Sul 2,65 15 05 1992
Fosfértil Fertilizantes Fosfatados S.A. 6,01 12 08 1992
Acesita Cia. Aços Especiais Itabira 0,17 23 10 1992
CSN Cia. Siderúrgica Nacional 9,11 02 04 1993
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nas informações do Bamerindus: Relatório Anual dos Acionistas, 1993 e
Empresas Privatizadas. BNDES (2002) e BRASIL (2006)..

Fosfértil, Copesul e, em 1993, foram adquiridos 9,11% do capital da CSN. Segundo declarações de
Maurício Schulman à AE (12 ago. 1992)46, os negócios faziam parte da estratégia do grupo de
comprar participações minoritárias nessas empresas para diversificar a carteira de investimentos do
banco. Em 1993, o Bamerindus já havia investido cerca de US$ 90 milhões em certificados de
privatizações, na aquisição de parte das empresas vendidas pelo governo federal. Na época, o banco
ainda tinha debêntures da Siderbrás e letras hipotecárias trocadas por uma dívida que a CEF tinha
com o Bamerindus, que seriam utilizadas nos próximos leilões. No final de 1993, o grupo
245

Bamerindus já havia investido aproximadamente US$ 260 milhões em participações nas empresas
relacionadas na Tabela 5-5. Agora o grupo estava presente em mais três setores: siderurgia,
petroquímica e fertilizante e a tentativa de comprar uma parte do capital da Petroflex acabou
esbarrando no preço, que segundo Schulman, estava “muito alto”.

5.2.5.1 USINA SIDERÚRGICA DE MINAS GERAIS – USIMINAS

631
A privatização da Usiminas teve a participação de vários bancos, entre eles o Bamerindus,
que no dia 24 de outubro de 1991 adquiriu no leilão 25.431.011.586 ações ordinárias, pelo valor de
Cr$ 33,4 bilhões (Cr$ 11,7 bilhões em CPs e Cr$ 21,7 bilhões em créditos da Siderbrás), ou 2,3%
do capital da empresa47. A operação total teria rendido ao governo federal Cr$ 709,6 bilhões (US$
1,17 bilhão), conseguindo um preço 14,26% superior ao preço mínimo estipulado para o leilão. A
Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (PREVI) arrematou 195.777 lotes,
equivalentes a 14,94% do controle acionário, e a Companhia Vale do Rio Doce comprou 192.041
lotes, correspondentes a 14,62%. Segundo Galazi & Guilhermino (25 out. 1991)48, o controle
acionário ficou com um grupo de investidores formado pelo Banco Bozzano Simonsen, Nippon
Usiminas, Associação dos Funcionários e quatro empresas distribuidoras de aço. Para que ocorresse
o leilão, foram mobilizados oitenta policiais militares, que garantiram o acesso dos investidores ao
prédio da Bolsa de Valores Minas - Espírito Santo - Brasília, no centro de Belo Horizonte.
632
Segundo a Madureira & Ferreira (24 out. 1991)49, o tenente-coronel da PM, Edvaldo
Piccinini, que comandou a operação do leilão, informou que nenhuma prisão foi realizada, porque
as pequenas manifestações foram pacíficas, não justificando a ação policial, “nem mesmo quando,
às 16 h 15 mim, com a saída de investidores e corretores, o grupo de manifestantes protestou com
palavrões, à distância”. No Rio de Janeiro, que na época tinha Leonel Brizola como governador, os
fatos foram bastante diferentes. O então presidente em exercício da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), Avelino Ganzer, declarou que:
124
[...] a privatização da Usiminas representa o início da destruição do modelo industrial brasileiro
[e que] “a central não vai assumir responsabilidade pelos incidentes entre manifestantes e
polícia no Rio de Janeiro, com saldo de 81 feridos”. Para ele, não foram os cutistas que
começaram a atirar pedras nos policiais, mas elementos infiltrados no movimento. O
governador do Rio, Leonel Brizola, caiu em desgraça na CUT. Para Ganzer, ele agiu “como o
motorista que liga a seta para a esquerda e vira à direita”, tumultuando o trânsito. “A máscara
caiu. Continuaremos conversando com Brizola, mas da mesma forma que conversamos com o
presidente Collor”.(PINHEIRO, 25 out. 1991)50.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
46
Fonte: Bamerindus compra 10% das ações da Fosfértil. AE, Aedata, Curitiba, 12 ago. 1992.
47
Fonte: Relatório do Encontro Semestral dos Conselhos & Diretorias realizado em 31 jan. 1992.
48
Fonte: GALAZI J. e GUILHERMINO L. OESP, 25 out. 1991.
49
Fonte: MADUREIRA M. & FERREIRA L. Manifestações fracassam em Minas. AE, 24 out. 1991.
50
Fonte: PINHEIRO L. CUT não se responsabiliza por incidentes. AE, 25 out. 1991
246

5.2.5.2 COMPANHIA PETROQUÍMICA DO SUL - COPESUL

633
Em 15 de maio de 1.992 o Bamerindus adquiriu 415.246.000 ações ordinárias nominativas
da Copesul, no montante de Cr$ 125,50 bilhões, equivalentes a 2,8% do capital, tornando-se um
dos maiores acionistas da empresa.

5.2.5.3 FERTILIZANTES FOSFATADOS S.A. - FOSFÉRTIL.

634
Segundo a AE (30 jul. 1992)51, em julho de 1992 três consórcios estavam sendo formados
para disputar a compra das ações da Fosfértil no leilão de privatização previsto para agosto, na
Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ). Entre os bancos interessados estavam o Bozzano,
BCN, Bamerindus, Bradesco, Nacional, Citibank e Boavista.
635
Com sede em Uberaba (MG), a Fosfértil era controlada pela Petrobrás Fertilizantes S.A.
(Petrofértil), com participação acionária da BNDES Participações S.A. (BNDESPAR), Cia Vale do
Rio Doce (CVRD) e Companhia Mineradora de Minas Gerais (Cemig). Avaliada em US$ 160
milhões, seu faturamento médio dos últimos quatro anos tinha variado entre US$ 150 milhões e
US$ 200 milhões. Estava previsto o leilão de 78,33% do capital total da empresa, dentre os quais
havia 30 bilhões de ações da Fosfértil pertencentes à Petrofértil e à BNDESPAR. O preço mínimo
era de Cr$ 13,97 (valor de maio de 1992), atualizado pela Taxa de Referencia Diária (TRD) até o
dia do leilão. Um total de 10% das ações da Fosfértil ficou à disposição para a compra pelos
empregados.
636
Segundo a AE (13 ago. 1992)52, um grupo formado por 19 empresas de fertilizantes, a
Fertilfoz, em 12 de agosto de 1992 acumulou cerca de 58% do controle da empresa. Os bancos
Bamerindus, América do Sul, Sul América e Vera Cruz Seguradora, aliados da Fertilfoz,
adquiriram 20%. No total o Grupo Fertilfoz comprou 78% do capital votante da Fosfértil, tendo o
Bamerindus investiu US$ 12 milhões nessa operação. Em 24 de junho de 1993, a Fosfértil adquiriu
no leilão de privatização o controle acionário da Ultrafértil S.A. Ind. e Com. de Fertilizantes.

5.2.5.4 COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL CSN

637
Em dezembro de 1992, o presidente Itamar Franco determinou que todos os leilões do
Programa Nacional de Desestatização (PND) fossem adiados por 90 dias, inclusive o leilão da
CSN. Marcado para o dia 22, o leilão só aconteceu no dia 5 de abril de 1993. Entre os motivos do
adiamento, segundo a AE (15 dez. 1992)53, estaria a indefinição das normas para o leilão. Os
agentes financeiros queriam um quadro mais nítido sobre as regras e o prévio conhecimento do

51
Fonte: Três consórcios disputarão ações da Fosfértil. AE, Aedata, Rio de Janeiro, 30 jul. 1992.
52
Fonte: Governo vende Fosfértil por Cr$ 841 bi. Fertilfoz fica com 58%. AE. Aedata, 13 ago. 1992.
53
Fonte: Governo adia privatizações por 90 dias. AE, Rio de Janeiro, 15 dez. 1992.
247

plano econômico que o governo vinha preparando54, para decidir sobre novos investimentos.
Também estavam previstas novas diretrizes, entre as quais a participação de dinheiro em porcentual
de 0 a 30%, mantidos os títulos da dívida interna e externa que integravam a cesta de moedas aceita
na privatização.
638
Segundo Abreu (2002), a CSN foi criada em 9 de abril de 1941, como sociedade anônima
de economia mista, e sempre esteve diretamente ligada ao projeto nacional-desenvolvimentista
brasileiro. A empresa era um dos principais marcos de afirmação desse projeto, e sua criação estava
vinculada à Revolução de 1930, que tinha entre suas principais propostas a criação de uma grande
indústria siderúrgica, identificada com a noção de soberania nacional.
639
Ao final da Segunda Guerra Mundial, 80% da usina Presidente Vargas (usina de Volta
Redonda) estava concluída. Em junho de 1946, a companhia iniciou sua produção, com 8.180
toneladas de aço em lingotes e 13.011 toneladas de aço laminado, e nos anos seguintes (1952-1954,
1956-1960 e 1965) passou por várias expansões. Ao longo do tempo, a CSN tornou-se acionista de
diversas empresas, entre elas a Companhia Brasileira de Material Ferroviário (Cobrasma), a
Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), a Usiminas, a Companhia Ferro e Aço de Vitória, as
Centrais Elétricas de Minas Gerais S.A. (Cemig), a Companhia Telefônica de Pernambuco, a
Companhia Telefônica de Arcos, a Companhia Telefônica de Minas Gerais, a Empresa Telefônica
de Campo Belo, a Companhia Riograndense de Telecomunicações, a Empresa Brasileira de
Telecomunicações e a Petrobrás.
640
Na década de 1980 a CSN, assim como todo o setor siderúrgico nacional, enfrentou um
período de sérias dificuldades. Houve retração da demanda de produtos de aço, o que determinou
uma redução de suas vendas internas, exigindo que a empresa direcionasse seu esforço comercial
para o mercado externo, mesmo com os preços internacionais em baixa e a demanda retraída. O
Plano Cruzado, lançado no primeiro semestre de 1986, afetou de forma negativa o desempenho da
companhia, principalmente as suas exportações, e no segundo semestre de 1986 foram reduzidas as
vendas para o mercado externo com o objetivo de atender ao crescimento da demanda interna.
Como resultado da crise que atingiu todo o setor, a Siderbrás entrou em colapso financeiro, com
graves conseqüências para o sistema financeiro, o que exigiu o envolvimento da Febraban nas
negociações com o governo, buscando uma solução para os títulos que estavam em poder dos
bancos. Em 1989, com o Plano Verão, novamente a CSN foi atingida duramente com o
congelamento dos seus preços de venda e elevação das taxas de juros reais incidentes sobre os seus
débitos. Na década de 1990, com a economia ainda estagnada e a recessão econômica nos países
industrializados, segundo Abreu (2002), a produção mundial de aço apresentou uma baixa de 30%
da capacidade instalada e manteve os preços em queda.
641
Em 1990, teve início o processo de saneamento da CSN, buscando sua privatização. Para

54
O então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, estava preparando o plano econômico que mais tarde ficou
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
248

tanto, foram implementadas diversas ações, entre elas, a reestruturação do quadro de pessoal, a
reformulação dos contratos de compra e venda de serviços e a alteração da política comercial,
eliminando-se as cotas de aço e extinção do monopólio entre os transportadores de aço. Em 1991, a
empresa alcançou um pequeno lucro após oito anos de sucessivos prejuízos, sendo este o início do
seu processo de recuperação.
642
Em 02 de abril de 1993, a CSN foi privatizada e seu capital social pulverizado, tendo
havido a participação estimada de 30 mil acionistas, entre bancos, indústrias, fundos de pensão,
corretoras, distribuidoras e os empregados da empresa. Naquele ano ela continuou a política de
negociação de suas dívidas, a fim de melhorar o seu perfil de endividamento, chegando a negociar a
totalidade de seus débitos com o BNDES55. Segundo Galazi, Franco & Soares (05 abr. 1993)56, em
abril de 1993 o governo vendeu 60,1% do capital votante da empresa por Cr$ 28,693 trilhões,
equivalentes a US$ 1,057 bilhão, e o maior comprador foi outra estatal, a Companhia Vale do Rio
Doce (CVRD), por intermédio de uma das suas empresas, a Navegação Vale do Rio Doce S.A. –
Docenave. Não foi possível vender a totalidade de ações ordinárias ofertadas em leilão, sobrando
4,9% do capital, o equivalente a 3,839 milhões de lotes de mil ações. A CVRD passou a integrar o
grupo que controlava a CSN, tornando-se assim uma das principais forças na siderurgia brasileira,
pois participava do controle da Usiminas e da Companhia Siderúrgica de Tubarão.
643
O grupo controlador da CSN era formado pela Vale, com 9,4% do capital votante, o Grupo
Bamerindus, com 9,1%, o Grupo Vicunha, com 9,1%, a “trading” Emesa, com 1,5%, e os
empregados, com 20%, somando um total de 49,10% do capital da empresa. O grupo havia sido
articulado pelo ex-presidente da CSN, Roberto Procópio Lima Netto57. Também adquiriram
participação a União de Comércio e Participações, do Grupo Bradesco, com 7,6%, o Itaú, com
7,3%, e os bancos Nacional, Garantia e Pactual, e o fundo de pensão dos funcionários, que já
detinha 9,25% do capital da empresa antes do leilão. Também faziam parte da relação de acionistas
alguns grupos estrangeiros, que ficaram com 1,4% das ações. O leilão não foi pacífico, pois
aproximadamente cem pessoas da CUT, que protestavam contra a privatização, foram retiradas à
força por soldados da Polícia Militar, do portão de entrada da Bolsa de Valores do Rio.
644
Em maio de 1993, Maurício Schulman, representando o Bamerindus, foi eleito presidente
do conselho administrativo da empresa, cargo que deixou em outubro de 1995, substituído pelo
empresário Benjamim Steinbruch, representante do grupo Vicunha. Na eleição de 1993, segundo

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
conhecido como Plano Real.
55
Fonte: Parte do texto foi extraído de Abreu (2002). ABREU, A. A. de. Verbete: COMPANHIA SIDERÚRGICA
NACIONAL (CSN). In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós 1930. 1ª edição. Rio de Janeiro:
Fundação Getulio Vargas, 2002. CD-Rom.
56
Fonte: GALAZI J., FRANCO C. & SOARES N. Governo consegue privatizar CSN. AE, Rio de Janeiro, 05 abr. 1993.
57
Roberto Procópio foi encarregado de comandar o processo de saneamento da CSN e segundo Duarte & Sousa (2002), ele
teria se empenhado em desarticular a influência sobre os trabalhadores da siderúrgica do Sindicato dos Metalúrgicos do
Estado do Rio de Janeiro, na época ligado à CUT, apoiando a ascensão da Força Sindical à direção do Sindicato dos
Metalúrgicos de Volta Redonda. Durante sua gestão à frente da CSN ocorreu a maior greve da história da companhia, tendo
demitido cerca de seis mil trabalhadores. Roberto foi eleito deputado federal em 1994 pelo PFL-RJ, tendo por base eleitoral
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
249

Vladimir Netto (05 nov. 1997, p. 40)58, durante a intensa disputa entre José Eduardo e Benjamin
Steinbruch, pelo controle da empresa, o futuro secretário-geral da Presidência da República,
Eduardo Jorge59, mobilizou sindicalistas aliados do governo para ajudar o Bamerindus. Também
segundo a Veja (10 maio 1995, p. 40-41)60 e declarações de Roberto Procópio Lima Netto61, em
1995 a disputa pela indicação do presidente executivo da empresa levou Eduardo Jorge a mobilizar
novamente a Força Sindical para apoiar o candidato do Bamerindus, Marcos Jacobsen. Segundo a
FSP (12 maio 1995)62, o secretário também teria ligado para o presidente da CVRD, Francisco
Schettino, pedindo apoio a Jacobsen. Na época, Paulo Henrique Cardoso, filho de FHC, trocou o
cargo que ocupava na Rede Manchete por um contrato de prestação de serviços para a CSN na área
de comunicação e relações com a imprensa, despachando sob o comando de Jacobsen, então diretor
financeiro.
645
Para enfrentar as crescentes dificuldades do Banco Bamerindus, e alegando ter que reduzir a
dívida da Inpacel, neste mesmo ano o Grupo Bamerindus decidiu vender as participações que tinha
nas empresas privatizadas. No dia 1º de dezembro de 1995, a FSP63 informava que o Bamerindus
havia fechado no dia anterior, o acordo de venda de seu lote de ações da CSN para os grupos
Vicunha (4%), Bradesco (2,6%) e Previ (2,5%) pelo valor de R$ 250 milhões. Desta forma o grupo
Vicunha passou a ser o principal detentor de ações ordinárias da CSN – 13,2% do total, superando
os empregados da empresa (10,5%) e a Docenave (9,4%). A Previ aumentou sua participação de
7,8% para 10,3% e pretendia ocupar um lugar no conselho de administração O Bradesco, que até
então tinha apenas ações preferenciais, passou a participar do controle da empresa.
646
Para entender a importância da CSN temos que considerar que a empresa possuía ações
cruzadas com a CVRD, e o grupo que viesse a controlar a CSN teria vantagens estratégicas na
privatização da Vale que, segundo Veja (7 dez. 1994, p. 49)64, já havia iniciado em 1994 o processo
de reestruturação para ser vendida. A previsão era que a empresa valesse entre US$ 10 bilhões e
US$ 15 bilhões e que o BNDES precisaria de seis meses para preparar o processo. Entre os
interessados estavam os empresários José Eduardo, Júlio Bozano (Grupo Bozzano Simonsen),
Guilherme Freering (Grupo Caemi), Antônio Ermírio de Moraes (Grupo Votorantim), Jorge Gerdau
Johannpeter (Grupo Gerdau) e Benjamin Steinbruch (Grupo Vicunha). Controlar a Vale significava
assumir uma posição hegemônica sobre o setor siderúrgico brasileiro e participar das inúmeras

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Volta Redonda.
58
Fonte: VLADIMIR NETTO. O homem - Interpol. Eduardo Jorge sairá do Planalto e o governo continuará olhando as
dívidas dos parlamentares. VEJA, 05 nov. 1997. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/051197/p_040.html>. Acesso em:
31 mar. 2003..
59
Eduardo Jorge Caldas Pereira trabalhou 27 anos no Congresso, até se aposentar em 1990. Com mestrado e doutorado nos
Estados Unidos, foi convidado pelo então senador Fernando Henrique Cardoso para trabalhar em seu gabinete em 1983.
Fonte: VLADIMIR NETTO (05 nov. 1997).
60
Fonte: Feito uma estatal. VEJA, 10 maio 1995, p. 40-41.
61
Fonte: Duarte & Sousa (2002).
62
Fonte: Presidente da CSN será escolhido hoje. FSP, Rio de Janeiro, 12 maio 1995, p. 2-8.
63
Fonte: Bamerindus fecha venda de seu lote na CSN. FSP, Rio de Janeiro, 1º dez. 1995, p. 2-7
64
Fonte: Começou a privatização da Vale. VEJA, 7 dez. 1994, p. 49.
250

conexões importantes da rede de relações econômicas e políticas da empresa.

5.2.5.4.1 O GRUPO VICUNHA E A COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD)

647
Concorrente direto do Bamerindus pelo controle da CSN, segundo PRIMEIRA LEITURA
(06 maio 2002) 65, o Grupo Vicunha foi fundado nos anos 1950 por Mendel Steinbruch e Jacks
Rabinovich. No começo dos anos 1990, o grupo partiu para diversificar seus negócios, buscando
aproveitar o início do processo de privatização. Pois, para estimular empresas privadas nacionais, o
governo permitiu que títulos públicos pudessem ser utilizados pelo valor de face nos leilões,
vendidos no mercado com aproximadamente 70% de deságio.
648
A Vicunha ganhou expressão nacional quando o consórcio que liderou venceu no dia 6 de
maio de 199766, o leilão de privatização da CVRD, assumindo o controle da maior produtora
mundial de minério de ferro e a terceira maior empresa de mineração do mundo. A operação,
liderada pelo empresário Benjamin Steinbruch, reuniu sócios como o banco norte-americano
Nations Bank, fundos de pensão nacionais, o banco Opportunity de Daniel Dantas67 e Pérsio Arida68
e o Citibank. Na ocasião a Vicunha derrotou o consórcio formado pelo grupo Votorantim, do
empresário Antonio Ermírio de Morais, que havia se associado a grupos japoneses.
649
Segundo Pedro Felipe Borges, superintendente da Vicunha Nordeste (BANCO DO
NORDESTE, 1998)69, o Grupo Vicunha em 1996 chegou a produziu quase 6% do índigo vendido
em todo o mundo, também comprou participações em empresas de telefonia celular, na fábrica de
latas de aço Metalic, em ferrovias, na estatal Light, distribuidora de energia elétrica do Rio de
Janeiro, bem como controlava o Banco Fibra, especializado em crédito ao consumidor e a pequenas

65
Fonte: Steinbruch ganhou notoriedade com a privatização da Vale. Primeira Leitura, 06 maio 2002 - Política — Brasil.
Disponível em: <http://www.primeiraleitura.com.br/html/edicoes/524,20020506/leia/polit_brasil.php#1>. Acesso em: 17
ago. 2004
66
Um pouco antes, no dia 26 de março de 1997, o Bacen decretava intervenção no Grupo Bamerindus.
67
Daniel Valente Dantas, é baiano, tem 50 anos, é engenheiro e economista com doutorado no Massachusetts Institute of
Technology (EUA). Um dos homens mais ricos do Brasil, trabalhou como engenheiro na empreiteira baiana Odebrecht.
Aproximou-se do senador Antonio Carlos Magalhães por indicação de Mário Henrique Simonsen, tendo sido conselheiro do
PFL e do governo federal nas questões relativas ao Banco Econômico. Durante dez anos foi sócio do também baiano Nizan
Guanaes na agência de publicidade DM9. Também trabalhou no Bradesco, onde conheceu Antônio Carlos de Almeida
Braga, ex-presidente do banco, que o levou para o banco Icatu, no qual era presidente. O Banco Opportunity começou a
operar em 1996, tendo Pérsio Arida como sócio. O império de Dantas foi montado com recursos dos fundos de pensão
públicos e de sócios estrangeiros como a Telecom Itália, o grupo canadense TIW e o Citibank. Em 1998, Dantas esteve no
centro das investigações sobre suspeitas de favorecimento na privatização de empresas do Sistema Telebrás. Fonte: Discreto,
Daniel Dantas iniciou império na Bahia. FSP, [São Paulo], 21 set. 2005. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u72584.shtml>. Acesso em: 20 out. 2005..
68
Pérsio Arida nasceu em março de 1952, em São Paulo (SP), filho de Riad Arida e Alice Farah Arida. Formado Economista
pela USP é PhD. em Economia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), EUA. Também foi membro do Institute
for Advanced Study de Princeton, EUA e do Smithsonian Institute de Washington, EUA. Também foi secretário de
Coordenação Social da SEPLAN em 1985, membro da Diretoria do Bacen em 1986. Presidente do BNDES, em 1993 e 1994
e presidente do Bacen em 1995. Em abril de 2001 foi eleito membro do Conselho de Administração do Itaú. Fonte: Bacen
(2002) e Banco Itaú (2002).
69
Fonte: BANCO DO NORDESTE. Grupo Vicunha. 1998. Disponível em: <http://www.banconordeste.gov.br>. Acesso em:
31 mar. 2003.
251

e médias empresas. Segundo Simonetti (1º dez. 1999)70, em 1999 os investimentos já haviam
consumido mais dinheiro do que o previsto, ao mesmo tempo em que a indústria têxtil brasileira
passou a enfrentar a competição internacional, perdendo mercado e diminuindo a receita do grupo.
Elze (1º dez. 199)71 destaca que para pagar as dívidas, o grupo resolveu vender parte das ações que
detinha em empresas como a CVRD, Light, Telefonia celular da banda B em Minas Gerais, Bahia e
Sergipe e a Metalic.
650
Para vender a CVRD e permanecer com a CSN, foi necessário realizar o “descruzamento”
das ações, processo que, por causa do alto custo e complexidade, demorou mais de um ano. O
chamado “descruzamento” era uma operação de separação das participações que a Companhia
Vale do Rio Doce, 10% das ações da CSN, e a Companhia Siderúrgica Nacional, 32% do capital da
CVRD, tinham uma no capital da outra. A CSN possuía 32% da Valepar, empresa controladora da
CVRD, com 42,6% do capital, adquiridos no leilão de privatização; e a Vale detinha 10,2% do
capital da própria CSN. Com base nesta posição, Steinbruch pode acumular, durante um bom
tempo, a presidência do conselho das duas empresas. Em março de 2000, o descruzamento final foi
anunciado, ficando o Bradesco e a Previ com 32% do capital votante da CVRD e cerca de 20% do
capital total, e a Vicunha com 46% do capital da CSN. Para tanto, a Bradespar e a Previ compraram
a participação que a CSN tinha na Vale por R$ 2,5 bilhões; e o grupo Vicunha teve que emitir R$
1,9 bilhão em títulos para comprar a parcela da CSN, em poder da Vale. Segundo PRIMEIRA
LEITURA (6 maio 2002)72, mais tarde, em janeiro de 2001, para poder completar a operação, a
Vicunha teve que contrair um empréstimo de US$ 860 milhões junto ao BNDES.

5.2.5.5 BANCOS, PRIVATIZAÇÕES E O BACEN.

651
Segundo Santos (13 out. 1997)73, em 1997 o setor bancário já era responsável por 15% do
total de aproximadamente US$ 2,61 bilhões arrecadado pelo governo no processo de privatizações,
e o setor pretendia continuar participando, pois estava interessado no setor de telefonia. Como já
vimos, na época o Bacen estava estudando restrições para a compra de empresas não-financeiras
pelo setor bancário, pois estava preocupado com excessivo comprometimento do setor com tais
empresas, que poderia contaminar a saúde financeira do próprio banco e do sistema como um todo.
Neste sentido, a Febraban considerou que:
125
[...] as primeiras propostas apresentadas pelo BC para exame do setor eram radicais,
envolvendo proibições e estabelecimento de prazos curtos para que os bancos vendessem suas

70
Fonte: SIMONETTI, E.Está na hora de fazer dinheiro. Benjamin Steinbruch vende parte de seu império para pagar as
dívidas da Vicunha. VEJA, 1º dez. 1999. Disponível em: <http://veja.abril.uol.com.br/ 011299/p_182.html>. Acesso em: 31
mar. 2003.
71
Fonte: ELZE, D. A gula e a indigestão da Vicunha. VEJA, 1º dez. 1999. Disponível em: <http://veja.abril.uol.com.br/
011299/p_182.html>. Acesso em: 31 mar. 2003.
72
Fonte: Venda das participações cruzadas da Vale e da CSN levou mais de 1 ano. Primeira Leitura, 06 maio 2002 —
Política — Brasil. Disponível em: <http://www.primeiraleitura.com.br>. Acesso em: 17 ago. 2004.
73
Fonte: SANTOS, C. BC quer limitar bancos nas privatizações. FSP, Rio de Janeiro, 13 out. 1997.
252

participações já compradas. A posição da entidade é que qualquer medida que venha a ser
tomada não pode ser retroativa, obrigando os bancos a vender seus investimentos com
prejuízos, diante da pressa. (SANTOS, 13 out. 1997).

652
A Febraban declarava que estava aberta para discutir limites e aprovisionamentos, desde
que os bancos continuassem com liberdade para investir como desejassem. A incorporação das
empresas privatizadas representava trazer para dentro do setor financeiro problemas acumulados no
patrimônio destas organizações, que resistiram ao processo de saneamento promovido pelo governo
antes da venda de cada uma delas.
653
Como podemos ver, nas privatizações estava em jogo o redesenho da estrutura de poder
econômico e político no Brasil, e o Bamerindus se posicionou como forte concorrente dos demais
grandes grupos nacionais e estrangeiros. As participações nos leilões de grupos como o Grupo
Vicunha e o Opportunity demonstram que as pretensões de José Eduardo estavam baseadas em
análises bastante objetivas das chances do Bamerindus de enfrentar seus oponentes, principalmente
pelo seu tamanho. Estamos convictos que o estudo das causas da falência do Bamerindus
necessariamente passa pelas disputas nos leilões de privatização.

5.2.6 AGRONEGÓCIOS E O BAMERINDUS

654
É importante destacar que os investimentos do Bamerindus na área de Agricultura eram, na
sua grande maioria, derivados de incentivos fiscais. Segundo o Bamerindus, no Relatório Anual de
1981, naquele ano Cr$ 4.800 milhões ou, 59,1% do total de Cr$ 9.980 milhões registrados no
Patrimônio Líquido de suas empresas desta área, eram reservas de reavaliação. Também temos que
observar que 69% do patrimônio líquido eram de empresas reflorestadoras, no qual somente o
Balanço Patrimonial da Bamerindus S.A. Empreendimentos Florestais registrava uma reserva de
reavaliação de aproximadamente Cr$ 4.779 milhões, ou seja, 72% do seu patrimônio líquido. Para
captar incentivos fiscais, o Bamerindus atuava nas áreas da Sudam, Sudene, bem como com
projetos de reflorestamento regulados pelo IBDF. Sendo assim, temos que destacar que tais
investimentos, longe de ser resultado de uma suposta vocação do Bamerindus para a agricultura, na
verdade eram induzidos pelo poder público74.
655
Os relatórios internos registram que em 1981, através da Bamerindus Empreendimentos
Florestais, o grupo possuía uma área de terras de 45.286,65 ha nos Municípios de Arapoti, Curiúva,
Reserva, Antonina e Guaratuba, todos no Paraná, onde tinha reflorestamentos numa área total de
35.946,22 ha, com 36,2 milhões de pés de pinus, 2,5 milhões de eucaliptos, 5 milhões de araucárias
e 51,7 milhões de pés de palmito. Uma nova regulamentação do IBDF passou a restringir os
incentivos para reflorestamento no sul do país, redirecionando recursos para projetos na área do
polígono das secas. Buscando estes recursos o grupo criou a empresa Bamerindus Nordeste S.A.

74
Neste período vários outros grandes grupos econômicos também optaram por aproveitar tais incentivos fiscais; mais tarde
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
253

Indústria e Reflorestamento, que iniciou a implantação de projeto de reflorestamento de 3 milhões


de árvores de pinus caribaea, em Correntina, na Bahia. Também para captar recursos dos
incentivos fiscais na área da Sudam, foi criada a empresa Bamerindus Roraima S.A. Agricultura e
Reflorestamento, com sede em Boa Vista (RO), onde adquiriu dois lotes de 21.317 ha. cada, que
foram destinados para pecuária, reflorestamento e plantio de arroz. No Paraná, a Bamerindus S.A.
Sementes e Agricultura, através da Fazenda Mitacoré, localizada em São Miguel do Iguaçu,
desenvolvia atividades de pesquisa com as culturas de milho e soja numa área de 887,5 ha.
656
Em 1982 foi adquirido 45% de participação na Agropecuária Lagoa da Serra Ltda., uma
empresa especializada em inseminação artificial e transplante de embriões, e 55% do controle
continuaram com a família Biagi. Neste ano, do total de Cr$ 17,383 bilhões aplicados pelo banco
na agricultura, cerca de 88%, ou Cr$ 15,329 bilhões, foram efetuados para cumprir o
contingenciamento determinado pelo Bacen.
657
Em 1983, foram adquiridos 4.852.70 ha de terras, e os reflorestamentos totalizavam
115.072.234 árvores das espécies pinus, araucária, eucalipto e palmito; e as empresas contavam
com dois viveiros florestais, localizados em Arapoti e Curiúva, com 6.400.00 mudas. Também
encontramos investimentos em agropecuária, tendo o grupo um rebanho de gado nelore constituído
de 20.000 cabeças, entre reprodutores, matrizes, novilhas, bezerros e gado de engorda, criados em
20.000 ha de pastagens em Marabá (PA). Em 1984 o grupo estava desenvolvendo o plantio de
castanheiras na região, bem como foram transportadas 2.750 cabeças de gado, de Marabá até Boa
Vista, onde foram instaladas nos 4 mil hectares de pastagens da Murupu Agro-pastoril S.A.
658
O Bamerindus possuía, além da Murupu, outros quatro Empreendimentos no setor
agropecuário e florestal. A Bamerindus S.A. Empreendimentos Florestais, no Paraná, tinha cerca de
37.500 hectares de reflorestamento de pinus, araucária e palmito, além de projetos de pecuária, com
mais de 2.500 animais, e de agricultura, com 300 hectares de milho e arroz irrigado. A Marabá
Agro-pastoril S.A. desenvolvia projetos de pecuária, com aproximadamente 16 mil cabeças, e
castanha, com 1.400 hectares plantados e 50 hectares de mudas enxertadas. Possuía ainda 400 mil
árvores de castanha nativas nas florestas da fazenda. Na Bahia, tinha a Nordeste Florestal e
Agrícola S.A., com 12.500 hectares, utilizados em projetos de reflorestamento de pinus tropicalis.
659
Em 1985 o Grupo possuía seis companhias com investimentos na agricultura, que juntas
somam 226.658 hectares de terra, 23.000 cabeças de gado, 190 milhões de árvores em
reflorestamentos, bem como 500.000 árvores nativas – castanhas do Pará – em produção que,
segundo o Bamerindus, somavam um total de aproximadamente US$ 100 milhões. Também neste
ano a Bamerindus S.A. Empreendimentos Florestais implantou 3 novos projetos, numa área de
1.300 ha. de eucaliptos e pinus, e a Murupu Agro-Pastoril consolidou um patrimônio de 10.000 ha.
de pastagens com 4.000 cabeças de gado e a Marabá Agro-Pastoril, construiu com recursos próprios

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
muitos destes projetos acabaram envolvidos em grandes escândalos de desvios de recursos públicos.
254

200 Km de estradas e consolidou um patrimônio com 20.000 ha. de pastagens, 20.000 cabeças de
gado e 400.000 castanheiras nativas preservadas. A Bamerindus Indústria e Reflorestamento
chegou ao final de 1985 com 135 milhões de árvores: araucárias, pinus, eucaliptos, castanheiras,
palmitos; viveiros para produção de pinus tropicais; com uma capacidade de produção de 15
milhões de mudas por ano; 7.000 ha. de pastagens consolidadas e 10.000 cabeças de gado.
660
No final dos anos 1980 grande parte dos reflorestamentos foi reavaliado e incorporado ao
patrimônio da Inpacel, servindo em muitos casos como garantia para os financiamentos realizados
para a expansão da fábrica.

5.2.6.1 CONFLITOS NO CAMPO

5.2.6.1.1 A FAZENDA BAMERINDUS

661
O jornal Tribuna do Paraná (19 set. 1990, p. 3), de propriedade do ex-governador Paulo
Pimentel – que, na época disputava a vaga no Senado com José Eduardo – publicou uma
reportagem sobre as denúncias veiculadas nos programas de propaganda política do PDT, no
horário gratuito, promovidos pelo também candidato ao Senado, Tadeu França. Os programas
mostravam depoimentos sobre uma série de supostas ações violentas contra posseiros que teriam
ocorrido em 1987, na Fazenda Bamerindus, no Pará.
662
No dia 17 set. 199075, o jornal publicou na página 2 o conteúdo de uma suposta carta
assinada por quatro bispos da região, que denunciavam as operações da Polícia Militar do Pará, que
tiveram como sede as fazendas Bamerindus, CIB, Pau Ferrado e Pau Preto, onde houve ações de
tortura e morte de posseiros e suas famílias. Na carta eram denunciados fatos como segue:
126
[...] No início de fevereiro de 1987 articulou-se mais uma vez em nossa região, sob pretexto de
garantir a paz e a tranqüilidade, uma operação de desarmamento. A operação foi violenta em
vários lugares. A Polícia Militar do Estado do Pará, sob o comando do Cel. Antônio Carlos da
Silva Gomes, desencadeou uma verdadeira caça aos posseiros e às suas famílias. Entre os
lugares onde essa polícia deixou o rastro de sua barbárie e violência queremos destacar Paraúna
e Monte Santo, distrito de São Geraldo, no município de Xinguara e a área de São Felix do
Xingu. Temos em nossas mãos depoimentos de posseiros, laudos médicos, declarações de
autoridades, depoimentos de sindicatos dos Trabalhadores que relatam os tristes
acontecimentos. Tendo a sede da fazenda do Banco Bamerindus como quartel general e sob o
comando do Capitão Saldanha, cerca de 100 soldados a pistoleiros vestidos com fardas da PM,
portando fuzis e metralhadoras, investiram contra os povoados. Mulheres estupradas, crianças
amarradas e penduradas pelos cabelos, obrigadas a servir de chamariz para os pais; homens
amarrados e espancados com coronha de fuzil, pisoteados e chutados, forçados e comer
excremento de animais, engolir cigarros e folhas com espinhos; bombas de gás lacrimogêneo
atiradas no templo da Assembléia os Deus; tiros ininterruptos e espancamentos dentro da igreja
católica; [...] interrogatórios sob coação dentro da sede da Fazenda Bamerindus [...] numa
operação que contou com o apoio de viaturas, aviões, rádios, alimentação e alojamento para
soldados nas fazendas Bamerindus, CIB, Pau Ferro e Pau Preto. [...] Belém, 5 de abril os 1987.
[Assinaturas:] Altamiro Rossato, Bispo de Marabá. Patrício José Hanrahan, Bispo de

75
Fonte: Fazenda Bamerindus, um inferno. Invasão e saques nas casas. Noite de terror no povoado. Bispos denunciam
violência. Tribuna do Paraná (TP), Curitiba, 17 set. 1990, p. 2.
255

Conceição do Araguaia, José Elias Chaves, Bispo de Cometa e Erwin Krautler, Bispo do
Xingu. (Tribuna do Paraná, 17 set. 1990, p. 2).

663
Segundo Peres (24 set. 1990, p. 2)76, em reportagem publicada pela Tribuna do Paraná, em
1990 Dom Erwin teria reafirmado as denúncias contidas na carta que os bispos haviam assinado em
1987, e teria declarado que:
127
[...] assinara a Carta por não agüentar mais tanta violência dos grandes fazendeiros da região,
principalmente a Fazenda Bamerindus porque além de pagar pistoleiros essa fazenda ainda
serviu de “quartel general” à Polícia Militar e aos outros pistoleiros das outras fazendas, por
mais de seis meses. (PERES, 24 set. 1990, p. 2).

664
Não conseguimos confirmar estes episódios de violência, e destacamos que as reportagens
foram publicadas em plena campanha eleitoral quando José Eduardo ocupava o primeiro lugar nas
pesquisas. Também é importante observar que as denúncias apareceram no programa do PDT, que
também veiculou o chamado “caso Ferreirinha”, que envolvia o candidato ao governo estadual,
José Carlos Martinez. O caso ficou famoso por envolver denúncias de violências contra
trabalhadores rurais no Paraná e que, até hoje, não foi totalmente esclarecido se o caso existiu de
fato ou se foi deliberadamente montado pelos adversários de Martinez. No próximo capítulo vamos
abordar o episódio com maior profundidade.
665
Após a intervenção no Bamerindus, em 1997, a fazenda, com área de 60 mil hectares, foi
desapropriada pelo Incra e destinada à reforma agrária. Em 2003 a área vivia uma rotina criminosa
constituída por assassinatos, contrabando de armas, plantio e comercialização de drogas e
extrativismo ilegal de madeira. Na época da desapropriação, a área tinha sido destinada para a
implantação de quatro assentamentos que se estenderiam pelos municípios de São Geraldo do
Araguaia, Eldorado dos Carajás e Piçarras. O projeto serviria de modelo de colonização, mas não
deu certo devido às inúmeras invasões de posseiros que tomaram conta do local. Na época, nem o
próprio Incra podia entrar na fazenda para fazer a fiscalização e não se tinha idéia de quantas
famílias estavam no local. (O PARAENSE, 2003)77.

5.2.6.1.2 TRABALHO ESCRAVO.

666
Também a Tribuna do Paraná publicou uma reportagem assinada por Denise Peres (24 set.
1990, p. 2)78, enviada pelo jornal ao Pará com a missão de verificar os acontecimentos na Fazenda
Bamerindus em São Geraldo do Araguaia, no Sul do Pará. Segundo ela,
128
[...] são 60 mil hectares, dos quais 20 mil conseguidos a base de expulsão de pequenos
lavradores que vivem na região há anos. Ou, ainda, com o trabalho escravo como provamos
com uma queixa trabalhista, protocolada na Delegacia Regional do Trabalho, em Belém, por
parte de Jurandir Pinheiro que denuncia o fato. (PERES, 24 set. 1990, p. 2).

76
Fonte: PERES, Denise. “Nós também provamos que ele faz”. TP, Curitiba, 24 set. 1990, p. 2.
77
Fonte: O PARAENSE. Edição On-Line. Semana 37. Belém / Brasília: Agência Amazônia de Notícias, [2003] Disponível
em: <http://www.oparaense.com/ASEMANA-37.html>. Acesso em: 19 fev. 2003.
78
Fonte: PERES, Denise. “Nós também provamos que ele faz”. TP, Curitiba, 24 set. 1990, p. 2.
256

667
Outra referência ao trabalho escravo envolvendo o Bamerindus aparece num texto assinado
por Dodge (2002)79, então Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão Adjunta,no qual ela afirma
que:
129
A lista das empresas envolvidas com escravidão branca é encabeçada por multinacionais do
porte da alemã Volkswagen; de bancos como Bradesco – o maior do Brasil – e Bamerindus
(hoje HSBC, de capital britânico); construtoras como a falida Encol; seguradoras gigantes
como a Atlântica Boa Vista e a Sul-América, além de potências econômicas como
Supergasbrás, Grupo Matsubara e Manah Fertilizantes. DODGE (2002, p. 18).

668
Também no artigo de Cacciamali80 & Azevedo (2003)81, que é um estudo produzido no
âmbito do convênio de pesquisa entre o Ministério do Trabalho e Emprego e a Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas, conveniada com o Departamento de Economia da Universidade de São
Paulo, os autores observam que:
130
No Brasil, a forma contemporânea de trabalho forçado mais comum parece ser a servidão por
dívida, que foi utilizada para promover a ocupação da região amazônica na década de 70,
segundo as denúncias públicas de D. Pedro Casaldáliga, bispo católico, em carta pastoral
(CASALDÁLIGA, 1971). Essa forma de trabalho continuou a ser largamente empregada na
década de 1980 em empreendimentos agrícolas de grandes e modernas empresas como o
Bradesco, BCN, Bamerindus, Volkswagen. (CACCIAMALI & AZEVEDO, 2003, p. 8).

669
Em sua defesa, a Volkswagen alegou na época que o desmatamento das áreas era
contratado com terceiros, e que era muito difícil controlar os acontecimentos no meio da floresta
amazônica. Segundo Martins (1997)82,
131
Na lista das empresas envolvidas estão todos os grandes grupos econômicos do Brasil, como o
Bradesco, BCN, Bamerindus [...] Os nomes desses grupos aparecem nas denúncias feitas nos
últimos trinta anos, sobretudo o do Bradesco. [...] Há casos que ficaram famosos, como o da
Volkswagen, que tinha quinhentos escravos na Fazenda Vale do Rio Cristalino, no Pará, no
final dos anos 80. Depois de comprovadas as denúncias, a empresa vendeu a fazenda.

670
Segundo BRASILIENSE (2003)83, com relação às denúncias contra o Bamerindus, “José
Eduardo Andrade Vieira, diz que outros religiosos comprovam a falsidade da acusação”.
671
Na seqüência deste trabalho vamos analisar este episódio no contexto da campanha eleitoral

79
Fonte: DODGE, Raquel Elias Ferreira. A defesa do interesse da união em erradicar formas contemporâneas de escravidão no
Brasil. Palestra apresentada na I Jornada de Debates sobre o Trabalho Escravo, promovida pela Organização
Internacional do Trabalho, Ministério da Justiça – Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Ministério do Trabalho,
Superior Tribunal de Justiça, Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, Ministério Público do Trabalho. Brasília: set.
2002. Disponível em: <http://www.ilo.org/public/portugue/ region/ampro/brasilia/trabalho_forcado/brasil/documentos/
escravidaocontemporanea.pdf>. Acesso em: 19 fev. 2003.
80
Maria Cristina Cacciamali é Professora Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade
de São Paulo, onde leciona e pesquisa na área de estudos do trabalho. Atualmente é presidente do Programa de Integração da
América Latina da Universidade de São Paulo (Prolam / USP), presidente da Associação Brasileira de Estudos do Trabalho
(Abet) e consultora do conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho no segmento à promoção e
aplicação dos direitos fundamentais do trabalho. (CACCIAMALI & AZEVEDO, 2003)
81
Fonte: CACCIAMALI, M. C & AZEVEDO, F. A. G. Dilemas da erradicação do trabalho forçado no Brasil. Apud
Chahad, J.P. & Cacciamali, M.C., Mercado de trabalho no Brasil Novas práticas, negociações coletivas e direitos
fundamentais no trabalho, São Paulo: LTr, 2003, p. 501-529.
82
Fonte: MARTINS, José de Souza. Trabalho escravo. Entrevista com José de Souza Martins. A Igreja no Brasil aberta ao
mundo. N° 251, Junho 1997, p. 5. Disponível em: <http://ospiti.peacelink.it/zumbi/news/semfro/251/sf251p05.html>.
Acesso em: 30 maio 2005.
83
Fonte: BRASILIENSE, Ronaldo. Trabalho escravo. Pelourinhos na floresta. Amazonpress.com.br, Belém, 02 dez. 2003.
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
257

de José Eduardo para o Senado e nos Ministérios.

5.2.6.1.3 TERRAS INDÍGENAS

672
Em 25 de Setembro de 1990, a repórter Rosane Mendes publicava na Tribuna do Paraná
uma matéria com o título “Bamerindus vende terra dos índios” (p. 5)84, na qual denunciava que, em
agosto de 1982, o Bamerindus havia vendido a um ex-fazendeiro de Londrina, Alcindo Oliver
Perez, cerca de 3 mil hectares de terras, junto ao Rio Iquê no município de Vila Bela da Santíssima,
no Norte do Mato Grosso, num negócio de CR$ 37,1 milhões. Segundo o jornal apurou, o
Bamerindus havia recebido as terras em pagamento de dívidas de Flávio Donin e da Agro Industrial
Vilhena.
673
Quando tentou registrar a escritura no Cartório de Cáceres, Alcino foi informado que se
tratavam de terras indígenas. Ao procurar o Bamerindus para desfazer o negócio, foi informado
pelos advogados do banco, que as terras haviam sido vendidas anteriormente para José Ritti Filho e
Orides Gomes Peppes. Ao que parece, Ritti e Orides teriam comprado as terras do Bamerindus e
mais tarde as vendeu para Alcindo. A primeira operação não havia sido registrada em cartório.
Segundo Osmar Dias85, em seu discurso do dia 10 abril de 1995, a revista Veja havia publicado uma
reportagem sobre essa questão, nos seguintes termos:
132
[...] José Ritti Filho havia recebido uma procuração do banco e, nove meses depois, vendeu as
terras a Perez. Procurado por Veja, Ritti assumiu sua condição de intermediário. “Só fiz aquilo
porque o Zé Eduardo pediu”, disse Ritti, que mora num apartamento de classe média em
Curitiba e já foram acionadas pelo banco outras cinco vezes para fazer negócios semelhantes.
“Ele me prometeu 5% do negócio se eu assumisse os riscos da operação”, conta. O processo
está há sete anos na Justiça, tem Ritti como réu, mas não saiu de sua fase inicial. Ritti, que
ganhou 6.500 dólares de comissão pelo negócio, está sendo defendido por um advogado
contratado pelo Bamerindus. (DIAS, 1995).

674
Esta denúncia aconteceu pela primeira vez durante a campanha eleitoral para o Senado em
1990, e em 1995 voltou a ser notícia na revista Veja. Na seqüência deste trabalho, vamos analisar as
conexões entre a divulgação dessas denúncias e o cenário político da época.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Disponível em: <http://www.amazonpress.com.br/manchete/dedoc/manch02122003a.htm>. Acesso em: 31 maio 2005.
84
Fonte: MENDES, Rosane. Bamerindus vende terra dos índios. TP, 25 set. 1990, p. 5.
85
Fonte: DIAS, Osmar. Discursos: Discurso ressaltado a hipocrisia, por parte do governo e também por parte dos agricultores,
na questão da derrubada do veto, referente ao financiamento agrícola. Diário do Congresso Nacional. Seção II. Anais do
Senado. Subsecretaria de Anais. Brasília: 11 abr. 1995, p. 5040. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/
sf/publicacoes/anais/Regra/Pesquisar.asp?TIPO=1>. Acesso em: 10 ago. 2005. Gabinete do Senador Osmar Dias, discurso
do dia 10 abr. 1995. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/web/senador/odias/ trabalho/Discurso1995/950410.htm>.
Acesso em: 27 mar. 2003.
258

5.3 O BANCO BAMERINDUS (1981 – 1994)

5.3.1 INTRODUÇÃO

675
Neste segmento vamos analisar o Ilustração 5-3: Instituições incorporadas pelo BBB (1981 a 1994)
Banco Bamerindus, buscando identificar CASA BANCÁRIA
BANCO INTERPART S. A. TOCANTINS S.A.
GRUPO BRASILINVEST Incorp
alguns aspectos que consideramos 1983.
(05.02.47)
Alt. Den.
09.08.54
importantes para o nosso estudo. BANCO FINANCIAL S.A.
Incorp. BANCO DAS NAÇÕES
30.09.83 PABREU UNIÃO
Certamente não vai ser possível analisar o EMPRESARIAL S.A
BANCO F. BARRETTO S.A.
banco no seu todo, por isso escolhemos (04.02.49) Cisão Parcial
Incorp.
07.08.84
30.11.88

alguns pontos que consideramos mais


BANCO BAMERINDUS DO BRASIL
relevantes: Inicialmente vamos identificar Sociedade Anônima

as principais aquisições e incorporações de BAMERINDUS S.A. Incorp. Incorp.


BANCO BAMERINDUS DE
FINANCIAMENTO, CRÉDITO 28.04.89 28.04.89
INVESTIMENTO S.A.
outros bancos efetuadas pelo Bamerindus. E INVESTIMENTOS
Incorp.
28.04.89
APESC
Na seqüência apresentamos uma análise BAMERINDUS S.A. CRÉDITO
Incorp.
1983
ASSOCIAÇÃO DE
IMOBILIÁRIO POUPANÇA E
(29.01.69) EMPRÉSTIMO DE
econômico, financeiro e operacional, para SANTA CATARINA

em seguida verificarmos a trajetória do Incorp.


Incorp.
BAMERINDUS S. PAULO
29.02.88 29.02.88 BAMERINDUS RIO CIA. DE
banco rumo ao mercado internacional. CIA. DE CRÉDITO
IMOBILIÁRIO
CRÉDITO IMOBILIÁRIO

Encerramos com uma breve síntese e


Incorp. Incorp. APEPAR
BAMERINDUS CENTRO- 29.02.88 19.06.86 ASSOCIAÇÃO DE POUPANÇA E
análise do desempenho do banco no OESTE S.A. CRÉDITO
IMOBILIÁRIO
EMPRÉSTIMO PARANAENSE
(20.05.68)
período. Fonte: Bamerindus / HSBC (1998).

5.3.2 INCORPORAÇÕES DE BANCOS

676
Quando José Eduardo assumiu o Grupo Bamerindus, este já havia consolidado a sua
estrutura nacional, sendo pequeno o movimento de fusões e incorporações se comparado com os
anos 1960 e 1970. Na sua administração, o banco concentrou seus investimentos na abertura de
novas agências. Na Ilustração 5-3, podemos verificar que no período apenas quatro bancos de
terceiros foram incorporados, e houve também a reorganização da área de crédito imobiliário numa
única empresa, e mais tarde, em 1989, ocorreu a criação do banco múltiplo com a incorporação da
financeira, crédito imobiliário e do banco de investimento, formando assim o Banco Bamerindus do
Brasil S.A. banco múltiplo. (BBB).
677
Em 1983 o Bamerindus adquiriu o Banco Interpart S.A. do Grupo Brasilinvest, que na
época passava por graves dificuldades. Também neste ano o BBB concluiu as negociações para a
compra de ações do Banco Financial, com sede em Corumbá (MS), mantendo seu principal
acionista, Alfredo Zamlutti, como diretor e membro efetivo do Conselho de Administração. Com a
operação, foram adquiridas também várias empresas do Grupo Financial e o Bamerindus passou a
ter a maior rede bancária privada na região Centro-Oeste. O negócio abriu espaço para a
aproximação do banco com o governo do Estado.
259

678
Em setembro de 1988 o Bamerindus comprou, por aproximadamente US$ 30 milhões, o
Banco F. Barretto, que na época possuía 31 agências, 26 das quais localizadas em São Paulo, quase
todas no interior do Estado.
679
Segundo Veja (5 out. 1988, p. 113)86, o F. Barretto foi criado em 1902 na cidade de
Mococa, no interior de São Paulo e atuava principalmente na região paulista de Mogi da Cruzes e
no sul de Minas Gerais, sendo ele um dos últimos pequenos bancos familiares. A instituição tinha
sido muito importante durante o período de expansão das culturas do café e da laranja. Segundo
seus diretores, apesar da situação financeira ser sólida, para enfrentar a expansão dos grandes
bancos o F. Barretto teria que investir muito em automação para acompanhar a concorrência.
Diante disso, a família optou pela venda para poder concentrar sua ação nos outros negócios do
grupo, que na época era integrado por diversas empresas, entre elas a laticínios Mococa, um
frigorífico e fazendas de pecuária. Felismino Barretto, de 76 anos de idade, então presidente do
banco, lamentava desfazer-se de um negócio que estava com a família há 86 anos.
680
Em 29 de fevereiro de 1988 foi homologada a incorporação pelo Bamerindus S.A. Crédito
Imobiliário das empresas de crédito imobiliário do Rio de Janeiro, São Paulo e da Região Centro-
Oeste e, em 21 de setembro daquele ano o governo federal criou a figura jurídica do banco
múltiplo, através da Resolução nº 1.524 do CMN87, facultando aos bancos comerciais, de
investimento e desenvolvimento, sociedades de crédito imobiliário e sociedades de crédito,
financiamento e investimento, a organização opcional em uma única instituição financeira, com
personalidade jurídica própria. Também permitiu o acesso ao novo sistema de organização, a
instituições financeiras independentes, instituições financeiras não-vinculadas ao controle de um
mesmo grupo de acionistas, sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários e sociedades
corretoras de câmbio, títulos e valores mobiliários. Dessa forma o Estado dava início a um novo
ciclo de transformações do SFN, permitindo a abertura de vários novos bancos. Na seqüência deste
trabalho veremos algumas das conseqüências desta nova configuração institucional para o SFN e o
Bamerindus.
681
Em 28 de abril de 1989 foi homologada a reorganização do Bamerindus em banco múltiplo,
mediante incorporação do banco de investimentos, da financeira e do crédito imobiliário ao Banco
Bamerindus do Brasil S.A., e a unificação permitiu estender as atividades de captação de poupança
a todas as regiões do País. No ano seguinte o Bamerindus criou um serviço especializado para
atender as novas instituições financeiras que surgiram após a Resolução 1.524. Segundo os
relatórios do banco, mais de 40 instituições haviam sido conveniadas, de pequenos bancos
múltiplos de uma só agência até grandes instituições nacionais e internacionais. Eles contratavam
serviços como cobrança, pagamento de cheques, representação na câmara de compensação,

86
Fonte: Conta fechada. Bamerindus compra o F. Barretto. VEJA, 5 out. 1988, p. 113.
87
Fonte: BACEN - Banco Central do Brasil. Legislação e normas. Brasília, [2003]. Disponível em: <http://www5.bcb.
gov.br/?LEGISLACAO>. Acesso no período 2000 - 2006.
260

transferência de fundos, crédito rural, seguros, operações no mercado de capitais e suprimento de


numerários. Também em 1990, segundo o Bamerindus, o banco consolidou sua presença no Mato
Grosso do Sul como líder do setor bancário no Estado, ao assumir as funções de Banco Estadual
junto aos órgãos do governo e às empresas privadas e estatais, já que o Estado não dispunha de um
banco próprio88.
682
Em maio de 1994, Ademar César Ribeiro, que havia sido diretor do Bamerindus e nos
últimos anos tinha assento no Conselho de Administração, saiu do Grupo e reabriu o Banco das
Nações, que havia sido adquirido pelo Bamerindus, em 1984.

5.3.2.1 BANCO DAS NAÇÕES

683
O Banco das Nações foi criado por Paulo Abreu em 1954, no qual exerceu a função de
diretor-presidente. Paulistano de origem humilde, Paulo nasceu em 1912, filho de Manuel Abreu e
de Ana Abreu. Mais tarde tornou-se industrial com a criação da Indústria Têxtil Paulo Abreu S.A.
Diversificou seus negócios, tornando-se proprietário do jornal O Progresso, da Rádio Difusora de
Itatiba (SP), da Companhia Marajó Imobiliária e da Calçados Paulo Abreu S.A. Abreu também foi
deputado federal por São Paulo nos anos 1951-1955 e 1967-1975 e senador em 1955, 1958 e 1959.
684
Além do banco, Paulo Abreu também fundou o Consórcio Federal S.A. – Empreendimentos
Gerais e a Abreu Rural e Comercial S.A., foi diretor do Instituto de Cultura Religiosa e integrou o
Conselho Consultivo da Fiesp. Também foi diretor-presidente da Pabreu – Cia. Industrial de
Tecidos Finos, da Cia. Marajó – Comercial e Administradora e da Pabreu Agrícola S.A. Quando
Paulo faleceu em janeiro de 199189, era proprietário de mais de quinhentos imóveis na capital
paulista, avaliados na época em duzentos milhões de dólares.
685
Logo após a venda do banco, seu genro, Ademar César Ribeiro, casado com Maria Paula
Abreu, assumiu a diretoria geral do Banco Bamerindus em São Paulo, tornando-se responsável pela
rede de agências no Estado90. Nos últimos anos Ademar tinha assento no Conselho de
Administração do Bamerindus e administrava sua fazenda em Ribeirão Preto, onde criava
quinhentas cabeças de gado nelore. Segundo Humberto (27 ago. 2002)91, Ademar é irmão de Maria
Lúcia Guimarães Ribeiro Alckmin, casada com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
686
Em maio de 1994, Ademar saiu do Bamerindus e reabriu, em julho, o Banco das Nações92,

88
Fonte: MIYA, Fideo. Bamerindus atua como banco oficial. Instituição opera como caixa único de Tocantins e MS e
desmente mito de que governo é mau cliente. FSP, 08 maio 1995, p. 2-1. Ver também MS conta com rede de 103 agências.
FSP, 08 maio 1995, p: 2-1.
89
Fonte: DHBB. Verbete: ABREU, Paulo. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós-1930. 1ª edição. Rio
de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, CPDOC, 2002b. CD-Rom.
90
Fonte: Banco das Nações volta a operar dez anos após sua venda ao Bamerindus. GM, 25 maio 1994, p. 23; e Projeto
Memória Bamerindus (1995, ano 1991).
91
Fonte: HUMBERTO, C. Saudosismo paulista. Tribuna do Norte, Natal, 27 ago. 2002. Disponível em:
<http://www.tribunadonorte.com.br/anteriores/020827/colunas/chumberto.html>. Acesso em: 20 ago. 2004.
92
Fonte: Banco das Nações reabre este mês em São Paulo. FSP, 03 jul. 1994. Editoria: Dinheiro, p. 2-3.
261

com um capital inicial de US$ 5 milhões, voltado para o financiamento de pessoas jurídicas em
linhas de crédito para aquisição de bens de capital, de consumo e capital de giro. Anos mais tarde o
banco foi incorporado ao Grupo Bradesco. Ademar César Ribeiro tornou-se notório pela sua
atuação junto com JE, como tesoureiros na campanha eleitoral de FHC para a Presidência da
República em 1994.

5.3.3 ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA

5.3.3.1 A AMOSTRA

687
Para analisarmos os aspectos econômico-financeiros do Bamerindus, formamos uma
amostra com as informações financeiras de nove grandes bancos brasileiros, sendo dois estatais:
Banco do Brasil S.A. (B Brasil) e Banco do Estado de São Paulo S.A. (Banespa), e sete privados –
Banco Bamerindus do Brasil S.A. (Bamerindus), Banco Bradesco S.A. (Bradesco), Banco Itaú S.A.
(Itaú), Unibanco União de Bancos Brasileiros S.A. (Unibanco), Banco Nacional S.A.
(NACIONAL), Banco Real S.A. (REAL) e Banco Econômico S.A. (ECONÔMICO). A escolha
teve como critério o tamanho das instituições e a disponibilidade das informações referentes ao
período 1976 a 199493, no banco de dados do anuário Melhores e Maiores (2002)94.
688
Todos os dados foram obtidos já corrigidos, de modo a refletirem o valor em reais e dólares
no dia 31 de dezembro de 2001, de acordo com os índices de inflação utilizados pela publicação.
Segundo a revista Exame, “os números foram atualizados de modo a obter os índices mais reais e
fiéis à metodologia usada nos diversos anuários”, e optamos pelo dólar por ser a moeda
predominante no mercado financeiro internacional. Não podemos considerar tais valores como
absolutos, mas apenas como uma aproximação da realidade destas empresas. Na Tabela 5-6,
podemos verificar que a amostra escolhida representou 66% do valor total dos ativos dos bancos
informados pela publicação.
689
Nesta amostra, o Banco do Brasil tem uma posição hegemônica (ver Gráfico 5-9), tendo
uma participação média de 56,8% no total dos Ativos, e a participação de 4,8% do Bamerindus o
coloca na quinta posição, logo depois do Itaú, e terceiro colocado entre os bancos privados.

93
Faltaram apenas as informações do Banespa referentes ao exercício encerrado em 31 dez. 1994, cuja publicação foi suspensa
pela intervenção do Bacen decretada no dia anterior (em 30 dez. 1994). Neste caso específico repetimos os dados do ano
anterior.
94
A publicação Melhores e Maiores (2002) foi criada e dirigida durante muitos anos por Stephen Charles Kanitz, que além de
articulista da Revista VEJA - Editora Abril, é Doutor em Ciências Contábeis pela Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade (EAC / FEA) da Universidade de São Paulo (USP) e Professor Titular da mesma instituição. Disponível em:
<http://portalexame.abril.uol.com.br/>. Acesso em: 09 nov. 2002. A partir de 1996 todo o suporte técnico e administrativo
para a pesquisa, coleta, tratamento e análise dos dados para publicação, vem sendo realizado pela Fundação Instituto de
Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) da EAC / FEA / USP. O Prof. Dr. Luiz Nelson Guedes de Carvalho,
pesquisador da fundação e professor da EAC / FEA / USP, foi contratado pela Revista Exame para ser o Coordenador Geral
da publicação anual e a coordenação técnica ficou a cargo do também pesquisador da Fundação e professor da EAC / FEA /
USP, Prof. Dr. Ariovaldo dos Santos. Atualmente o projeto conta com 31 anos de existência. Fonte: Fipecafi (2004).
262

Tabela 5-6: Média do Total dos Ativos da amostra de Gráfico 5-9: Composição da amostra de bancos - valores médios
bancos brasileiros de 1976 a 1994. (em US$ milhões) do Total dos Ativos dos bancos brasileiros no período 1976 a
1994 (em US$ milhões e %)
Class. Descrição Média Amostra (Média 1976 a 1994)
1 Banco do Brasil 63.651
2 Bradesco 10.944 B BRASIL
3 Banespa 9.720 63.651
56%
4 Itaú 7.469
5 Bamerindus 5.364
6 Unibanco 4.142
7 NACIONAL 3.944
8 REAL 3.920
9 ECONÔMICO 2.857 BRADESCO
10.944
Total da amostra 112.011 9%

BAMERINDUS
Total dos Bancos* 169.751 5.364
UNIBANCO BANESPA
ITAÚ
5% ECONÔMICO REAL NACIONAL 7.469
3.920 3.944 4.142 9.720
% Total da amostra / Total dos 2.857 9%
7%
66% 3%
3% 4% 4%
Bancos
Nota: * Do valor total dos bancos, informado pela publicação, foram excluídos o Banorte, Bandepe, e o Bank Boston, por
distorcerem significativamente o resultado. Tabela e gráfico elaborados pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e
Maiores (2002).

5.3.3.1.1 QUALIDADE DAS INFORMAÇÕES

690
O banco de dados da Melhores e Maiores (2002) foi composto pelas informações contábeis
fornecidas pelos bancos, e sua qualidade deve ser avaliada levando-se em consideração algumas
questões, como segue.
691
Inicialmente temos que considerar as “[...] dificuldades para a construção de séries longas,
pela necessidade de compatibilizar as informações de balanço, orientadas por critérios alterados
com freqüência e sujeitos muitas vezes a interpretações distintas num mesmo ano” (CARVALHO,
2003a, p. 6). Outra questão importante é que os dados foram atualizados monetariamente, e por
melhor que tenha sido a técnica utilizada95, variações inflacionárias muito elevadas acabam
distorcendo consideravelmente os resultados obtidos. Também devemos considerar que:
133
Estimativas de profissionais do mercado indicam que, no caso dos grandes bancos, o volume de
recursos em trânsito seria maior que o total de depósitos à vista, podendo chegar ao dobro ou
até o triplo. Contudo, não há dados que comprovem esta tese, baseada na convicção de que os
bancos utilizam diversos expedientes para “esconder” estes recursos e reduzir o recolhimento
compulsório devido. (CARVALHO, 2003a, p. 8).

692
Mas a ressalva mais importante é que a base de dados foi obtida a partir dos balanços
publicados e auditados por empresas de auditorias e pelo Bacen, e neste caso é importante
considerar os fatos constantes no Relatório Final da CPI dos Bancos96, como segue:

95
Também é importante considerar que apesar das várias solicitações que fizemos, os editores de MAIORES & MELHORES
(2002) e a Fipecafi não divulgaram a metodologia, critérios e indexadores utilizados para a correção monetária dos relatórios
financeiros.
96
Fonte: RELATÓRIO FINAL – CPI DOS BANCOS. Comissão Parlamentar de Inquérito. CPI dos Bancos.. Comissão
Parlamentar de Inquérito, criada através do Requerimento nº 127, de 1999-SF, “destinada a apurar fatos do conhecimento do
Senado Federal, veiculados pela imprensa nacional, envolvendo instituições financeiras, sociedades de crédito,
financiamento e investimento que constituem o Sistema Financeiro Nacional”. Brasília: Congresso Nacional, Senado, 1999.
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
263

134
A liquidação extrajudicial do Banco Nacional foi um escândalo de proporções crescentes. [...]
Em fevereiro de 1996 [...] A fiscalização do Banco Central detectou manipulações fraudulentas
de balancetes e centenas de contas fantasmas que vinham sendo mantidas desde o Plano
Cruzado. [...] O presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, foi convocado a explicar o
porquê de, durante esses nove anos, nenhum fiscal do Banco Central ter constatado tais
problemas. Em depoimento no Senado, em 5 de março de 1996, o Presidente do Banco Central
afirmou que a fiscalização do BC errou ao não detectar as fraudes praticadas pelo Nacional
desde 86, no valor de R$ 5,3 bilhões. O Presidente do BC fez uma eloqüente confissão de
culpa: “Assumo a parcela de responsabilidade do BC [...] O BC não é perfeito e estamos
abertos a críticas. A fiscalização teve sua parcela de culpa. Erramos”. As declarações do
Presidente do Banco Central acerca da incompetência do setor de fiscalização, naquelas
circunstâncias, colocavam a responsabilidade maior nas costas do corpo de funcionários da
autarquia. No entanto, especialistas acreditam que uma fraude de tais proporções dificilmente
poderia passar despercebida durante tanto tempo. Reportagens jornalísticas denunciaram que a
situação delicada do Banco Nacional já era conhecida de autoridades do primeiro escalão antes
da intervenção, pelo menos desde julho de 1995. (RELATÓRIO FINAL - CPI DOS BANCOS,
1999, p. 312).

693
Segundo o deputado federal Ivan Valente, em declaração na CPI do Proer,
135
[...] desde 87 têm relatórios do Banco Central apontando imensas irregularidades no Banco
Nacional. E em 16 de março de 89, o setor de fiscalização do Bacen arquivou o processo contra
o Nacional, sem sequer encaminhá-lo ao Departamento de Fiscalização, inclusive. (ALVAREZ
/ CPI DO PROER, 06 nov. 2001, p. 35).

694
Em abril de 2000, a FSP (15 abr. 2000, p. 1-13)97 informava que Marcos Magalhães Pinto e
Clarimundo Sant'Anna, ambos dirigentes do Banco Nacional, foram condenados em processo
administrativo do Bacen, a não mais poderem exercer cargos em instituições financeiras por 20
anos. “A principal irregularidade punida pelo BC foi o fato de o Nacional criar 652 contas fictícias,
que por quase dez anos simularam uma boa situação financeira do banco”.
695
Longe de ser uma questão circunscrita apenas ao Banco Nacional e da simples aplicação de
leis ou normas do Bacen, a ambigüidade do tema e suas implicações para o SFN também foi objeto
de análise da CPI dos Bancos, como segue:
136
No caso do Econômico, constatou-se profundas divergências entre o comportamento adotado
pela fiscalização do BC em 1988 e após a intervenção, em 1996 [...]. Em um primeiro
momento o BC autorizou o Econômico a realizar certas operações financeiras; posteriormente
as consideraram irregulares e passíveis de multa; depois decidiu considerá-las criminosa,
chegando a apresentar notícia crime contra os diretores do banco; e, por último, o Conselho
Superior de Recursos do Sistema Financeiro (composto por representantes do setor público –
Ministério da Fazenda, Banco Central, Fazenda Nacional, CVM, Secex – e setor privado –
bancos comerciais, bancos de investimento bolsas de valores e empresas abertas) decidiu
absolver todos os acusados, em decisão recente (RELATÓRIO FINAL - CPI DOS BANCOS,
1999, p. 317).

696
Ao que parece, o Bacen enfrentava dificuldades operacionais na área de fiscalização, e
neste caso temos que considerar as declarações de Cláudio Ness Mauch na CPI do Proer, no qual

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Disponível em: <http://webthes.senado.gov.br/sil/Comissoes/CPI/Comissoes/BANCOS/Relatorios/RF199901.rtf >. Acesso
em: 29 jun. 2005.
97
Fonte: BC aplica pena máxima no caso Nacional. Magalhães Pinto e Sant'Anna, dirigentes do banco, não podem exercer
cargos no setor por 20 anos. FSP, Brasília, 15 abr. 2000, p. 1-13. Ver também: O golpe do balanço fraudado. Durante dez
anos o banco dos Magalhães Pinto falsificou números para esconder que estava quebrado. VEJA Edição: 1433 de 21 fev.
1996, p. 82-8. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/idade/em_dia/nacional_capa1.html>. Acesso em: 04 abr. 2005.
264

ele faz algumas avaliações dos problemas dessa área:


137
[...] em 88, nós tivemos o advento da criação do Banco Múltiplo, e aquela segmentação que nós
tínhamos no passado, ela modificou, ou seja, aquilo que era separado, o banco comercial do
banco de investimento de uma financeira, pôde passar a serem feitas todas as operações dentro
de uma única instituição financeira. O que seria uma análise de um lado? Melhorou
extremamente, digamos, a administração de caixa de um grupo financeiro. De outro lado
colocou, dentro dessa mesma instituição, a possibilidade de algumas participações acionárias
fora do Sistema Financeiro que não estavam cobertas, inclusive, pela supervisão do Banco
Central do Brasil. (MAUCH / CPI DO PROER, 2001, p. 14-15).

697
Mas, segundo Mauch, o problema era mais antigo:
138
[...] nós podíamos voltar um pouco no tempo, quando nós olharmos que nós tivemos um
período, foi lá também nos anos 70, início dos anos 80, ainda com os fundos setoriais
[SUDAM, SUDENE, etc.] que eram abatidos do Imposto de Renda. Então, uma empresa
financeira ou não financeira destinava uma parte para fazer uma aplicação em determinada
área. Isso os bancos também terminaram participando de empresas não financeiras, sejam
fazendas, sejam, enfim, empresas das mais variadas naturezas que contam dessa criação dos
incentivos fiscais. (MAUCH / CPI DO PROER, 2001, p. 14-15).

698
Em relação às privatizações, Mauch segue dizendo:
139
E culminou essa participação no Plano Collor, quando as instituições financeiras de um modo
geral foram obrigadas a comprar os certificados de privatização de uso compulsório e único na
aquisição de participações ou da totalidade do capital ou do controle de capital de empresas
estatais. Então, o que nós tivemos? Chegamos no início da década de 90 com bancos que, de
certa maneira, tinham uma característica de empresas holding, ou seja, tinham atividade
bancária, atividade de prestação de serviço, atividade financeira de um modo geral e tinham
também uma gama de participações muito grandes, e essas empresas não financeiras não
estavam sob a fiscalização do Banco Central do Brasil [...] (MAUCH / CPI DO PROER, 2001,
p. 14-15).

699
Finalmente, Mauch completa dizendo que essas empresas, nas quais os bancos passaram a
ter participação, eram “[...] instituições que não tinham a regulamentação, não tinham
eventualmente o mesmo critério de apropriação contábil, não tinham a mesma estrutura de
estatística a apresentar para permitir comparações de desempenho com as instituições financeiras,
ou seja, a própria análise das instituições financeiras sem dúvida nenhuma ficou também bastante
prejudicada em função disso” (MAUCH / CPI DO PROER, 2001, p. 14-15). As declarações de
Mauch trazem para o debate a questão que as mudanças estruturais ocorridas no SFN com o
advento do banco múltiplo e as privatizações, ocorreram sem o devido preparo do poder público
para controlar e fiscalizar as instituições financeiras que resultaram dessas transformações. A
estrutura que existia até 1988 era produto de décadas de história bancária no Brasil, cujo princípio
básico, na maior parte do tempo, era a separação desta atividade dos demais setores. A liberalização
normativa acabou trazendo para dentro das instituições bancárias problemas de outras instituições,
quando, ao que parece, o Bacen não tinha ainda uma experiência formada para normatizar e
controlar tais operações. Uma das bases do sistema de fiscalização eram as empresas de auditoria, e
com relação a elas Vasconcelos (21 out. 1997, p. 2-6)98 observava que naqueles anos estava

98
Fonte: VASCONCELOS, F. Omissão marca dois parceiros. FSP, 21 out. 1997, Editoria: DINHEIRO, p. 2-6.
265

ocorrendo a fusão internacional das empresas de auditoria KPMG e a Ernst & Young, que no Brasil
estiveram associadas a “[...] casos de negligência e omissão. Um auditor da KPMG cuidava do
Banco Nacional havia 20 anos e deixou passar a fraude. A empresa reformulou o parecer daquele
balanço. A Ernst & Young é acusada de omissão no caso do Econômico. Era também a auditora do
Bamerindus”. (VASCONCELOS, 21 out. 1997, p. 2-6).
700
Segundo Adachi (13 dez. 1997, p. 2-4)99, a KPMG também era a auditora dos negócios do
HSBC no mundo e passou a auditar as contas das empresas do grupo no Brasil, substituindo a Ernst
& Young. Mas ao que parece os problemas com os registros contábeis não ocorreram apenas no
Brasil, pois a história do sistema financeiro internacional é repleta de casos parecidos100 Horta (15
jul. 2002)101. Por exemplo, nos EUA, até...
140
[...] o presidente George W. Bush e seu vice, Dick Cheney, [...] viram-se envolvidos em
acusações de falcatruas semelhantes às cometidas por executivos que eles querem jogar na
cadeia, como os presidentes das empresas ImClone e Adelphia [...] Nomes como Enron,
WorldCom, Tyco, Xerox, Arthur Andersen, Global Crossing, Qwest, Merck e Bristol-Myers,
com modelos de gestão que lhes rendiam citações regulares em revistas especializadas, lideram
uma longa lista de manipuladores de balanços. Regras contábeis amplamente aceitas e a
existência de um órgão de fiscalização dos mercados de capitais, não foram suficientes para
brecar o avanço da má-fé. (HORTA, 15 jul. 2002).

701
No Quadro 5-4 apresentamos uma breve relação de alguns dos casos recentes e famosos
que ocorreram nos EUA:
Quadro 5-4: Relação de empresas sob investigação nos EUA em 2002.
Empresa Data Descrição
Enron 2 dez. 2001 A sétima maior empresa dos EUA pede concordata. Ela inflou os ganhos e diminuiu os
prejuízos, deixando um rombo de US$ 13 bilhões na praça. Sua auditora, a Arthur Andersen,
foi conivente com a fraude.
Global Crossing 28 jan. 2002 Com dívidas de quase US$ 27 bilhões, a companhia de redes de fibras ópticas para
telecomunicações pede concordata. O governo americano suspeita que suas receitas foram
infladas por contratos de longo prazo fictícios.
Xerox 1º abr. 2002 A empresa é multada em US$ 10 milhões por aumentar artificialmente seus resultados. Mais
tarde, admitiu ter classificado de modo errado vendas de equipamentos no valor de US$ 6,4
bilhões nos últimos cinco anos. A receita não existiu de fato.
Tyco 4 jun. 2002 O executivo Dennis Kozlowski é acusado de fraudar o fisco americano em mais de US$ 1
milhão, em transações com obras de arte. Na empresa, recursos podem ter sido usados
irregularmente para comprar imóveis para executivos.
WorldCom 26 jun. 2002 Ao lançar como investimentos o que na verdade eram despesas, a gigante global de serviços
de telecomunicações aumentou seus resultados: transformou em lucro um prejuízo de US$
3,8 bilhões. O artifício foi utilizado ao longo de cinco trimestres.
Merck 8 jul. 2002 Depois de auditar as contas do terceiro maior fabricante de remédios do mundo, o governo
americano revelou que uma receita de US$ 12,4 bilhões, contabilizada pela empresa desde
1999, na realidade nunca existiu.
102
Fonte: Quadro elaborado pelo autor com o texto integral extraído de Luz & Brandão (15 jul. 2002) .

99
Fonte: ADACHI, Vanessa. Seguradora Bamerindus tem rombo. Patrimônio cai R$ 410 mi. FSP, 13 dez. 1997, Editoria:
Dinheiro, p. 2-4.
100
Um resumo dos casos mais importantes que ocorreram nos anos 1980 e 1990 pode ser encontrado em ROBERTS (2000,
capítulo 10, p. 219-235).
101
Fonte: HORTA, A. M. O capitalismo bandido. Escândalos chegam à Casa Branca e minam a confiança dos americanos no
sistema. Ainda há ética nos negócios? Revista Época: Edição 217, 15 jul. 2002.
102
Fonte: LUZ, C. & BRANDÃO, V. Cada vez mais para baixo. As fraudes levaram o índice Dow Jones a patamares de 1997 –
em 1.000 pontos. Revista Época: Edição 217, 15 jul. 2002.
266

OS REGISTROS CONTÁBEIS DO BAMERINDUS

702
Com relação ao Bamerindus, segundo Vasconcelos (19 jul. 1996, p. 2-3)103, em 1996 o
Bacen mantinha uma equipe de funcionários dentro do Bamerindus para acompanhar e fiscalizar as
operações do banco. Na reportagem o autor conta que:
141
As divergências técnicas entre a fiscalização do BC e o Bamerindus vêm de longa data. A
situação do Bamerindus é tida como complicada desde a época da quebra do Comind e do
Auxiliar, em 1986. Na ocasião, por motivos distintos, outros bancos, um deles, o Nacional,
também apresentavam dificuldades. Segundo ex-dirigentes do BC, o Bamerindus conseguiu
apresentar lucros nos últimos anos a partir de práticas contábeis questionadas internamente pelo
órgão oficial. Ou eram maquiagens contábeis ou lucros fictícios que a inflação ajudava a
encobrir [...] O banco paranaense não fazia provisão (ou seja, reservas para perdas previstas)
para vários créditos podres, além do FCVS [...]. Acumulava créditos contra devedores
duvidosos, como o grupo Atalla, sem fazer provisionamento. O banco contabilizava como
lucro a diferença entre o valor de face e o de venda no mercado (como os de empresas
incentivadas no Nordeste). Na avaliação desses técnicos do BC, a Inpacel pode ter sido o fator
que veio a agravar uma situação já crítica. O banco ainda não fechou o balancete de maio. O
último rearranjo é visto como maquilagem, que só faria sentido se fosse para passar o banco
adiante (VASCONCELOS, 19 jul. 1996, p. 2-3).

703
Em reportagem publicada no dia seguinte, Vasconcelos (20 jul. 1996, p. 2-1)104 também
contava que:
142
O presidente da Ernst & Young, George Roth, nega que a empresa tenha auditado balanços do
Bamerindus com lucros fictícios. “Às vezes, determinados bancos têm práticas mais ou menos
conservadoras”, diz. “Pode-se ter um lucro contábil que não é um lucro financeiro”, admite.
Mas Roth considera que a idéia de lucro fictício poderia implicar fraude, o que ele recusa. [...]
O Bamerindus nega que tinha créditos sem provisionamento contra o grupo Atalla ou que
contabilizasse como lucro a diferença entre o valor de face e o de venda no mercado de títulos
de empresas incentivadas no Nordeste. [...] As divergências entre o Bamerindus e o BC sobre
os critérios contábeis são antigas. Segundo Roth, que não nega essa fiscalização, “o Banco
Central mudou a metodologia de trabalho desde o ano passado”. [...] Roth se sente incomodado
com a associação feita entre o Econômico e o Bamerindus. As duas instituições são auditadas
pela Ernst & Young. Ele diz que o banco paranaense além dos problemas criados com o Plano
Real enfrenta dois pontos específicos: os créditos difíceis do FCVS e da Sunamam, e a situação
da Inpacel. [Para ele] “São situações distintas” (VASCONCELOS, 20 jul. 1996, p. 2-1).

704
Segundo Pinto (1º abr. 1997, p. 1-11.)105, quando houve a intervenção no Bamerindus, o
Bacen constatou que:
143
Os fundos de renda fixa do Bamerindus carregavam R$ 900 milhões em debêntures emitidas
pelo próprio grupo e que viraram pó com a intervenção. Somando esse rombo a outros, o
buraco patrimonial do Bamerindus pode chegar até a R$ 3 bilhões, segundo o presidente do
Banco Central, Gustavo Loyola. [...] Por enquanto, não se constatou nenhuma fraude, mas pode
ter havido irregularidade nos fundos de renda fixa. Eles absorveram R$ 900 milhões em
debêntures emitidas pela Bamerindus Participações, a “holding” do grupo. A lei permite que
os fundos absorvam papéis do próprio grupo, até o limite de 10% do total, limite que pode ter
sido ultrapassado. (PINTO, 1º abr. 1997, p. 1-11).

103
Fonte: VASCONCELOS, Frederico. Bamerindus seria vendido se a decisão fosse só do BC. FSP, 19 jul. 1996. Editor do
Painel S.A. Editoria: Dinheiro, p. 2-3.
104
Fonte: VASCONCELOS, Frederico. Ernest & Young descarta lucros fictícios em balanço. Práticas contábeis do Bamerindus
foram questionadas pelo BC. FSP, São Paulo, 20 jul. 1996, Editor do Painel S.A., Dinheiro, p. 2-1.
105
Fonte: PINTO, Celso. O buraco do Bamerindus. FSP, 1º abr. 1997, Editoria: Brasil, p. 1-11.
267

705
Mais tarde, Adachi (13 dez. 1997, p. 2-4) conta que o HSBC, ao assumir o Bamerindus
após a intervenção, teria encontrado ativos registrados no balanço da seguradora do grupo, por
valor superior ao que realmente valiam e passivos que estavam subestimados, e a HSBC
Bamerindus Seguros foi obrigada a reduzir o Patrimônio Líquido de R$ 632 milhões para R$ 222
milhões.
144
A decisão de reduzir o patrimônio foi aprovada pelo conselho de administração da seguradora
no último dia 11 e seguiu recomendações da empresa de auditoria KPMG Peat Marwick. [...]
“Ao analisar as contas da seguradora, a KPMG mostrou que era necessário fazer um ajuste
de preços”, diz José Gaspar da Cruz, gerente de comunicação do grupo. Basicamente, boa
parte dos ativos teve seu valor reduzido, enquanto parte dos passivos aumentou de valor.
(ADACHI, 13 dez. 1997, p. 2-4).

706
Com base nestas considerações, vamos utilizar as informações financeiras publicadas pelos
bancos apenas como indicadores de uma realidade muito mais complexa, cuja totalidade
dificilmente será captada pela contabilidade. Neste trabalho, tais dados servirão de sinalizadores
parciais de questões que exigirão análises mais aprofundadas, e vamos procurar priorizar as análises
verticais, obtidas pelas correlações percentuais anuais, deixando a análise horizontal comparativa
das séries anuais para alguns casos específicos.

5.3.3.2 ANÁLISE DA AMOSTRA DOS BANCOS

707
A análise econômico-financeira da amostra aponta para alguns indícios importantes quanto
ao comportamento da rentabilidade (RPL) das instituições bancárias no período analisado.
Consideramos como rentabilidade ou Retorno sobre o Patrimônio Líquido (RPL), o resultado da
divisão do Lucro Líquido do Exercício pelo valor do Patrimônio Líquido no final do exercício
(RLP = LL/PL), que demonstraria a taxa de lucratividade obtida pelos acionistas sobre o seu capital
investido. Observamos que esta é apenas uma das diversas opções de cálculo existentes na literatura
que trata do assunto, e apesar de suas limitações, optamos por ela por ser a mais simples e a mais
utilizada para análise financeira. Também é importante destacar que estes indicadores foram
obtidos a partir dos dados corrigidos monetariamente pela Maiores & Melhores (2002), que não
forneceu o detalhamento técnicos dos cálculos e, dependendo do indexador ou dos critérios
utilizados, podemos chegar a resultados diferentes. A publicação também não informa se foram
consideradas as alterações que ocorreram, durante o período analisado, nos critérios contábeis
utilizados pelos bancos para elaboração dos relatórios financeiros. No Gráfico 5-10, podemos
observar que o período foi marcado pela queda contínua da rentabilidade da amostra, apesar do
crescimento do total dos investimentos, aqui considerado como o total dos Ativos. As linhas de
tendência106 demonstram que as duas variáveis tiveram um comportamento nitidamente oposto, uma

106
Linhas de tendência são usadas para exibir graficamente tendências nos dados e analisar problemas de previsão. Esta análise
também é chamada de análise de regressão. O tipo utilizado foi a linha logarítmica, que é uma linha curva de melhor ajuste
usada quando a taxa de alteração nos dados aumenta ou diminui rapidamente e depois se nivela. Fonte: Excel (2002).
268

correlação negativa, sugerindo que a rentabilidade diminuía na medida que o tamanho dos
investimentos aumentava, e as duas linhas se cruzam justamente em 1981, ano em que JE assumiu
o Bamerindus. Outro indício importante aparece no Gráfico 5-11, no qual o comportamento da
rentabilidade foi confrontado com a variação da inflação, aqui entendida como a variação do IGP
(DI). As linhas de tendência mostram que também havia uma correlação negativa entre o
crescimento da inflação e a lucratividade da amostra, o que parece contradizer a assertiva que os
bancos ganham mais em contexto inflacionário.

Gráfico 5-10: Rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido e Gráfico 5-11: Rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido
evolução do Total dos Ativos da amostra de bancos no da amostra de bancos e evolução do IGP (DI) no período
período 1977 a 1994 (em %) 1977 a 1994 (em %)
30,0% 180.000 30,0% 3000
RPL = (LL/PL) e Ativo Total
Rentabilidade (LL/PL) e IGP (DI)
160.000 2500
25,0% 25,0%

140.000
2000

20,0%
20,0% 120.000
1500

100.000
15,0% 1000
15,0%

80.000
500
10,0%
10,0% 60.000
0

40.000 5,0%
5,0% -500

20.000

0,0% -1000

0,0% -
77

78

79

80

81

82

83

84

85

86

87

88

89

90

91

92

93

94
19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19

19
1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

AMOSTRA LL/PL Ativo Total Log. (Ativo Total) Log. (AMOSTRA LL/PL) AMOSTRA LL/PL IGP - DI Log. (IGP - DI) Log. (AMOSTRA LL/PL)

Nota: A Rentabilidade foi plotada no eixo y da escala principal Nota: A Rentabilidade foi plotada na escala do eixo y principal
(esquerda) e o Ativo total no eixo y da escala secundária (esquerda) e o IGP (DI) no eixo y secundário (direita). As
(direita). As linhas de tendência são do tipo logarítmicas. linhas de tendência são do tipo logarítmicas.
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002).

708
O gráfico também parece ser um indicador do processo de financeirização, demonstrando
uma tendência de aumento constante dos investimentos em ativos financeiros, apesar da queda da
rentabilidade. Tal movimento pode ser entendido como acumulação progressiva do capital na forma
financeira diante da perspectiva de lucratividade decrescente. A grande maioria das análises
econômicas da época apontava para a crescente transferência de recursos para o mercado
financeiro, por ser este mais lucrativo que a produção. Neste caso, a taxa de acumulação
decrescente pode ter induzido os agentes econômicos a buscarem no mercado financeiro um porto
seguro para o capital acumulado, esperando o momento em que houvesse reversão da tendência.
Desta forma teríamos que considerar a hipótese que o crescimento dos bancos no período, além de
estar relacionada com a função de intermediários entre investidores e produtores, também possuía
conexões com a necessidade dos demais agentes econômicos em estocar suas reservas de capital.
Nesta situação, a principal tarefa dos bancos era a de tentar manter o valor dos estoques de capital
financeiro apesar da rentabilidade decrescente dos investimentos.
709
Nos Gráfico 5-12 e Gráfico 5-13, podemos ver que o comportamento das participações dos
bancos Bradesco, Itaú, Bamerindus, Unibanco e Nacional, no Total dos Ativos da amostra, é
bastante simétrico ao movimento das variações do IGP (DI). Ao que parece estes bancos
conseguiam aumentar suas participações no Total dos Ativos, nos período de alta inflacionária.
269

Gráfico 5-12: Participação dos bancos no Total dos Ativos Gráfico 5-13: Correlação entre a participação dos bancos
da amostra de bancos brasileiros (1981 a 19994) no Total dos Ativos da amostra e a taxa de inflação (1982 a
1994)
80%
16 3.000,0

14
14 60%

BRADESCO
2.500,0

BAMERINDUS
12

NACIONAL

AMOSTRA
77%
12

UNIBANCO
40%

ITAÚ
62%

62%

62%
62%
11
10

54%
2.000,0
10
10
20%
8
8 8 8 1.500,0
7 7 8 7 0%
Bradesco 7

ECONÔMICO
6
6 6

Banco BRASIL
5

BANESPA
1.000,0
5 Itaú 6 5 -20%

-54%
5

-62%

REAL
-69%
-69%
4

-40%
3 3 500,0
2 2 3

Bamerindus -60%
- -
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

BRADESCO ITAÚ BAMERINDUS UNIBANCO NACIONAL REAL ECONÔMICO IGP - DI -80%

Nota: Todos os bancos estão representados no eixo y da Nota: A correlação foi calculada atribuindo-se o valor um (1)
escala primária (esquerda) e a variação do IGP (DI) no eixo y para os momentos em que o crescimento ou redução da
da escala secundária (direita). participação no total da amostra acompanhou o crescimento
ou redução na variação do IGP (DI), e o valor menos um (-1),
quando esta relação foi inversa.
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002). IGP (DI) obtido em FGV
(2005).
710
Por outro lado, tanto o Banco do Brasil como o Banespa apresentaram uma correlação107
negativa de 69% e 62% (ver Gráfico 5-13) respectivamente, o que seria indício que, em boa parte
do período, perderam posição para os demais banco nos momentos em que houve aumentos nas
taxas de inflação. Também é possível verificar que a evolução da amostra apresentou uma
correlação positiva em 62% dos anos do período 1982 a 1994, significando que, na média, os
investimentos dos bancos acompanhavam a evolução (positiva ou negativa) da inflação.
711 Gráfico 5-14: Crescimento da participação dos bancos
No Gráfico 5-14, podemos verificar que
(1994 x 1981) - em %.
entre 1981 e 1994 houve crescimento nas
3,6 3,1
5,0 2,6 2,2 2,1 1,9
participações de todos os bancos da amostra, 1,6 0,8
com exceção do Banco do Brasil, cuja
-

participação caiu 17,9%, tendo sido o


N A C IO N A L

BANESPA
B R A S IL

REAL
IT A Ú
B A M E R IN D U S

BRADESCO
U N IB A N C O
BANCO

E C O N Ô M IC O

Bamerindus o banco que mais se beneficiou com


(5,0)

o fenômeno. Tal situação configura uma troca de


posições entre o banco público e as demais (10,0)

instituições integrantes da amostra, que pode ser


um forte indício de um processo de privatização (15,0)

informal de uma boa parte dos investimentos do


(17,9)
Banco do Brasil. Em síntese, podemos dizer que (20,0)

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados


o contexto econômico-financeiro do período, obtidos em Melhores e Maiores (2002).

107
A correlação foi calculada atribuindo um (1) para os momentos em que crescimento ou redução da participação no total da
Amostra acompanhou o crescimento ou redução na variação do IGP (DI) e o valor de menos um (-1) quando esta relação foi
inversa.
270

marcado pelas altas taxas de inflação, favorecia os bancos privados em detrimento do Banco do
Brasil. Por outro lado e apesar disto, o período foi marcado pelo crescimento do estoque de ativos
financeiros e queda na rentabilidade das instituições que formam a amostra.
712
Finalmente, é importante observar que entre 1981 e 1994 o PIB registrou um crescimento
acumulado de 30,5% e o Total dos Ativos da amostra cresceu 102,9%, já descontada a inflação do
período. No Gráfico 5-15 podemos verificar que se o Total dos Ativos da amostra tivesse
acompanhado o comportamento do PIB, este teria crescido de US$ 78 bilhões em 1980 para US$
102 bilhões em 1994. Mas como chegou ao final do período com um montante acumulado de US$
159 bilhões, seu crescimento superou a variação do PIB em US$ 57 bilhões, ou 56% a mais. Tal
quadro nos parece ser um forte indício do processo de financeirização do capital. No Gráfico 5-16,
podemos verificar que este crescimento atingiu seu ápice em 1989, quando acumulou uma
diferença de 82%. Mesmo com o Plano Real a diferença permaneceu superior a 50%.

Gráfico 5-15: Crescimento do Total dos Ativos em relação Gráfico 5-16: Diferença entre o crescimento do Total dos
ao PIB de 1980 a 1994 (em US$ bilhões) Ativos em relação ao PIB de 1980 a 1994 (em %)
76 72 100

56 57
180
Ativo Total (-) Ativo x PIB 59
160 40
90 82
Ativo x PIB 34 75
80
26
140
21 64
70
17 58 56
120
10 60
- 9 6 10
100
50
43
37
80
40
28
60
30 23
102 20
90 93 93 96 92 93 92 97 12 9 13 13
40
78 75 76 73 77 83 20

20 10

-
-

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002) e o PIB de IBGE (2005)108.

5.3.3.3 O BANCO BAMERINDUS

5.3.3.3.1 PLANOS DE ESTABILIZAÇÃO ECONÔMICA

713
No período entre 1981 e 1994, o Bamerindus teve que enfrentar sete planos de estabilização
econômica, que provocaram grandes impactos nos resultados da organização. No Gráfico 5-17
podemos observar as evoluções do IGP (DI) e do PIB, bem como as datas de implantação dos
planos, cuja análise dos efeitos sobre o Bamerindus apresentamos a seguir.
714
No Plano Cruzado, decretado em fevereiro de 1986, as mudanças impostas exigiram que o
Bamerindus fizesse um enorme esforço de adaptação operacional, tanto de seus procedimentos
internos como no processamento das informações, assim como o banco aproveitou o aumento na

108
Fonte: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. PIB. Indicadores conjunturais. Brasília, [2005]. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/default.php>. Acesso em: 8 jun. 2005.
271

liquidez geral e euforia na busca por créditos provocados pelo plano. O quadro foi revertido
bruscamente em novembro, logo após o término das eleições, quando foi anunciado o Plano
Cruzado II. Este segundo plano não conseguiu conter o quadro de inflação crescente, exigindo do
governo a edição do Plano Bresser, em junho de 1987. Esses três episódios tiveram forte impacto
financeiro e operacional sobre o Bamerindus. As agências, por muitos dias, estiveram superlotadas
e os sistemas de processamento foram sobrecarregados, exigindo procedimentos especiais para o
volume de transações e de mudanças nas normas do setor. A política operacional do Banco
Bamerindus incluiu a prioridade para o segmento de operações de crédito e na área administrativa,
e foram reforçadas as recomendações e determinações com relação à maior austeridade nos gastos e
suspensão de novas admissões.

Gráfico 5-17: Planos Econômicos e as variações do IGP (DI) e PIB – 1981 a 1994. (em %)

3000 Plano Real 10


Cruzeiro Real
01 ago. 1993
7,9
IGP - DI Plano FHC 8
2500 7,5 07 dez. 1993
URV 5,9
28 fev. 1994 6
PIB 4,9
5,4 Real R$
Plano Collor II 01 jul. 1994
2000
31 jan. 1991
Plano Cruzado II 4
21 nov. 1986
3,5 3,2

1500 Plano Bresser 2


12 jun. 1987
0,8
(0,1) 1,0 0
Plano Verão
1000 15 jan. 1989
(0,5)
Plano Collor
-2
Plano Cruzado 16 mar. 1990
28 fev. 1986
500
(2,9)
-4
(4,3) (4,4)

0 -6
dez/81 dez/82 dez/83 dez/84 dez/85 dez/86 dez/87 dez/88 dez/89 dez/90 dez/91 dez/92 dez/93 dez/94

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados IGP (DI) obtido em FGV (2005) do PIB fornecido pelo IBGE (2005).
Nota: A variação do IGP (DI) está representada no eixo y da escala primária (esquerda) e a variação do PIB no eixo y da escala
secundária (direita).

715
O Plano Bresser acabou não alcançando os resultados esperados, levando então o governo a
editar, em janeiro de 1989, o Plano Verão. Entre as medidas decretadas, dois pontos eram
desfavoráveis aos bancos: a extinção da correção monetária e a elevação do compulsório para os
depósitos à vista. Além disso, houve uma redução dos ganhos com as aplicações no mercado aberto
(“Open market” e o “Overnight”) e aumento na arrecadação de tributos e encargos sociais.
Mudanças significativas no mercado de investimentos levaram os investidores para outros ativos,
basicamente ouro, dólar, ações e imóveis. A dificuldade de captação através de CDB’s incentivou o
mercado interbancário, através de operações lastreadas em Certificados de Depósitos Interbancários
(CDI’s). Entretanto, no final do 1º semestre de 1989, o descongelamento de preços e as
perspectivas de crescimentos da inflação provocaram alta na taxa de juros praticada pelos bancos
272

em seus CDB’s, e o “Open” e o “Over” subiram vertiginosamente. Apesar do esforço, a inflação


voltou a subir chegando a atingir 79,1% (IGP (DI)) em janeiro de 1990, o que levou o novo
governo a anunciar o Plano Collor109 logo após a posse do novo presidente da República, em março
de 1990.
716
Para José Eduardo, tanto a eleição de Fernando Collor, em 1990, como o pacote econômico
serviram para evitar a estatização dos bancos. Mas segundo ele as perdas foram grandes e levaria
bastante tempo para recuperá-las. Em entrevista para o jornal Folha da Tarde publicada em 17 mar.
1990110, JE definiu como “calote necessário” a restrição imposta para a retirada do dinheiro
aplicado no mercado financeiro, “Na medida em que o resultado de baixar a inflação ocorra, o
calote será então, um mal necessário”. Segundo a Folha, era visível a perplexidade dele diante do
Plano Collor, para JE as medidas causaram surpresa porque eram mais duras do que imaginava o
mercado financeiro. A equipe do banco esperava novos impostos somente sobre as futuras
aplicações financeiras, e não sobre o que já estava aplicado. Segundo JE “[...] Isso é um calote. O
governo tomou dinheiro que é teu e vai te pagar com uma taxa fixada por ele, de forma unilateral.
Na medida que o plano acerte a economia, será o calote um mal necessário”. (FT, 17 mar. 1990).
717
Questionado pela Folha sobre qual seria a saída para os bancos, já que não iriam ter
dinheiro para operar, JE respondeu que era uma situação passageira e que contida a inflação poder-
se-ia suspender o tabelamento dos preços, “[...] que não funciona. Mais do que 30 dias, a economia
ficará engessada”. Diante das medidas que enxugaram a liquidez nos bancos, o Bamerindus
esperava a interrupção das operações bancárias e industriais, bem como medidas que amenizassem
o problema. Com a queda da inflação JE admitia que haveria prejuízo aos bancos, mas que eles
poderiam suportar até seis meses sem lucro, até “[...] o início do ano havia uma previsão de que a
inflação menor que 6% ao mês daria prejuízo. Agora não sei”.
718
Segundo Blecher (08 abr. 1990)111, prevendo que o novo presidente da República pretendia
atacar o problema da inflação, o Bamerindus formulou planos para enfrentar os problemas que
viriam com o esperado plano econômico, mas, nas palavras de JE, — “Só que eu pensava que vinha
um tiro de revólver, não de canhão. [...] O momento é de cautela [...]” embora, na sua opinião, tais
medidas fossem necessárias para conter a inflação e a especulação no mercado financeiro. O novo
plano, segundo ele, tinha alguns aspectos recessivos que afetavam o setor produtivo, mas afirmava
estar apostando no seu sucesso.
719
Assim como todos os bancos, o Bamerindus foi atingido em cheio pelo plano. Medidas
como o confisco dos depósitos bancários e aplicações financeiras, nova troca de moeda, o fim da
indexação, e a suspensão, extinção ou transformação dos fundos de aplicações financeiras,

109
Na época chamado de Plano Brasil Novo.
110
Fonte: Para banqueiro, calote é mal necessário. FT, 17 mar. 1990.
111
Fonte: BLECHER, Nelson. Banqueiro caubói. O presidente do Bamerindus dispara críticas a pacotes na economia. FSP, 08
abr. 1990, Repórter Varig, p. s.n..
273

colocaram a instituição numa situação delicada. Naquelas primeiras semanas após o anúncio do
plano, o banco teve que lidar com a ansiedade generalizada dos clientes, bem como de seus
funcionários, pois as instruções que chegavam de Brasília eram muitas vezes desencontradas e
confusas. A exemplo do que fez quando da decretação dos planos Cruzado I e Cruzado II, o
Bamerindus colocou em operação o serviço de atendimento a clientes, tentando oferecer
explicações completas e detalhadas sobre todas as medidas do pacote econômico. Segundo o jornal
interno Ponto de Encontro (1990, s/n.), o Disque Bamerindus, em uma semana chegou a atender
cerca de 45 mil ligações; e para poder abrir suas agências às 12 horas do dia 19, o banco teve que
adaptar e alterar aproximadamente 20 mil programas de processamento eletrônico para poder
operar com as duas moedas, o cruzado novo e o cruzeiro. Também foram colocados televisores nas
agências, que em muitos casos eram aparelhos dos próprios funcionários, para poderem
acompanhar a mudanças determinadas pela equipe econômica. A gravidade da situação pode ser
avaliada no seguinte relato:
145
Não havia como evitar o tumulto no sistema bancário depois da intervenção tão abrangente,
preparada às pressas por um pequeno grupo de técnicos. Era impossível detalhar as medidas e
prever seus desdobramentos. Só no início de abril surgiram orientações precisas para o efetivo
bloqueio de cruzados e títulos na contabilidade dos bancos, sem o que era impossível conhecer
sua posição de caixa. A situação se agravou com a reabertura das agências já em 19/3, sem
tempo para que os bancos analisassem as medidas e preparassem sua implementação, mas o
adiamento não evitaria os problemas, inclusive porque parte deles só poderia se revelar na
prática, como de fato ocorreu. (CARVALHO, 2003b, p. 314).

720
Todo o setor financeiro teve que reformular grande parte dos seus produtos, para adaptá-los
às novas exigências legais. O Bamerindus foi obrigado a extinguir a Conta Remunerada, e teve que
reformular vários outros produtos, entre eles: Arrecadação, Vendor Bamerindus, CDB Rural,
Bamerindus individual, Seguro Gratuito, Banco Institucional Bamerindus (BIB), Assessoria a
Novos Bancos Múltiplos, Cobrança, Ouro Bamerindus, “Open market”, Cartão Sollo, Caixas
Automáticas, Poupança Automáticas, Programa de Moralização de Cheque, Fundos de
Investimentos; e em junho de 1990 o Bacen extinguiu o Fundo de Aplicação de Curto Prazo
Bamerindus que era ao portador. Nesse quadro, teve ainda que enfrentar a fuga dos investimentos
para ativos reais devido à instabilidade provocada pelas eleições marcadas para o final do ano.
721
Sem conseguir conter a inflação, em 31 de janeiro de 1991 o governo decretou o Plano
Collor II. O Bamerindus foi atingido pela elevação dos juros, extinção da BTN, criação da Taxa
Referencial de Juros (TR) e pela desindexação das aplicações financeiras. Houve uma significativa
redução nos investimentos de curtíssimo prazo, contingenciamento do crédito às pessoas físicas,
extinguiu-se o “Open-Market”, que era uma fonte importante de receitas do banco, e foi criado o
Fundo de Aplicações Financeiras, com reflexos imediatos sobre os resultado da instituição.
722
Também a retração do mercado imobiliário atingiu as operações de crédito do banco pela
redução da oferta de novos produtos, além de certo acomodamento na comercialização de imóveis
usados. A falta de investimentos na produção e a redução da demanda por crédito face à recessão
estreitaram as atividades e o volume das operações do banco, bem como houve o acirramento da
274

concorrência na área de captação de recursos e concessão de crédito. O ajuste fiscal atingiu as


operações do banco com Estados e municípios, comprometendo por um lado novos negócios e por
outro aumentou a inadimplência do setor público.
723
Outro impacto sofrido pelo Bamerindus foi Plano Real, que iniciou em 1993 com a
implantação do Cruzeiro Real, no dia 1º de agosto. O plano era diferente dos anteriores na medida
que o governo antecipava os anúncios para que os agentes econômicos pudessem se adaptar às
mudanças que seriam implantadas. As expectativas na época eram que o novo plano promoveria
também transformações culturais. Nesse sentido, em depoimentos colhidos por Fernandes (1996),
ex-diretores do Bamerindus declararam que o Plano Real teve grande impacto não só no
Bamerindus, mas em todo o sistema bancário, pois numa...
146
[...] economia inflacionária, a visão do negócio é distorcida. Não se preocupa com a
competência, mas com a oportunidade e com massa crítica de recursos, o que gera uma bola de
neve. Nem sempre quem ganha mais é mais eficiente: ganha quem tem uma maior participação
especulativa no mercado. Com a estabilização da economia, de início, “a cabeça das pessoas
não mudou muito. Fomos formados numa cultura inflacionária, estamos acostumados com
isso. Hoje temos um preço de $ 10,00, amanhã de $ 12,00, e aceitamos isso naturalmente. E
isso é um absurdo. Não há atividade produtiva que resista a uma majoração de 20% em pouco
tempo.” Como a estabilização da economia implicou fechar as portas ao ganho especulativo
[...] “Os bancos viram-se, então, com uma ampla rede de agências, um capital imobilizado que
aumenta significativamente os custos fixos, e uma estrutura inchada. Com a queda da receita,
não houve outro modo de retomar a competitividade senão pela redução dos custos e um
aumento da eficiência”. (FERNANDES, 1996, p. 95-96).

724
Nesse contexto o investimento em processos políticos e ocupação de postos de comando na
estrutura do Estado, tornaram-se um instrumento estratégico de atuação no mercado,
principalmente quando os resultados objetivos da atividade dependiam de planos econômicos. É
sintomático que José Eduardo entrasse pessoalmente na vida pública justamente em 1990, quando o
Bamerindus enfrentava um ambiente econômico e financeiro bastante volátil e imprevisível.

5.3.3.3.2 INVESTIMENTOS

725
Quando José Eduardo assumiu a Presidência do Grupo Bamerindus, em 1981, o total dos
investimentos do banco somavam US$ 2,4 bilhões (ver Gráfico 5-18 e Gráfico 5-19), e em 1986
ocorre um crescimento de 50% e, no ano seguinte de 147%, atingindo assim o seu máximo, com
US$ 13,9 bilhões. O Plano Collor derrubou bruscamente os investimentos para US$ 7,0 bilhões em
1990 (-49%) e US$ 5,8 em 1991, voltando a crescer 20% no ano seguinte, fechando o período com
um total de US$ 11,8 bilhões, em 1994. É importante ressaltar que os dados foram corrigidos pela
inflação do período, sendo assim, as variações registradas refletem em boa medida uma realidade
econômico-financeira de grande instabilidade e de difícil – senão impossível – planejamento
empresarial.
275

Gráfico 5-18: Bamerindus: valor do Total dos Ativos (em Gráfico 5-19: Bamerindus: variação anual no Total dos
US$ milhões) Ativos (em %)

180
Ativo Total
13.892
14.000

11.767 130
147
12.000

10.000
9.745
9.122
8.482 80

8.000
7.034 6.981
5.839 50 52
6.000 30
40
21 5 24 2 8 20 21
3.258
4.000 3.179 3.440
2.566
2.444 2.298 (20)

2.000
(17)
(29)
- (70)
(49)
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Fontes: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002).

726
Com relação à participação do
Gráfico 5-20: Participação sobre o Total dos Ativos da amostra (em
Bamerindus no total de Ativos da %).
amostra, podemos verificar, no Gráfico 16
62 63
65
70

60 60 60
14
59
5-20, que até 1986 o banco estava 14 58
56
56 60
53
12 11
bastante distante dos dois líderes, 12 50
49
50
10 45
42 10
Bradesco e Itaú. Em 1987 o Bamerindus 10
9 10
40

conseguiu alcançar o Itaú e manteve-se 8 7 8


7 8 7 30
como 3º maior banco privado da 7
6 5 5 6
6 5
amostra por todo o período seguinte. 5 6 5 20
4 5
4 4
Também é possível observar que, o 3 10
2 3 3
2
Banco do Brasil teve sua participação - -
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
M édia
reduzida de 62% em 1981 para 42% em
1994, e o total das participações do
BRADESCO ITAÚ BAMERINDUS B BRASIL
Bradesco, Itaú e Bamerindus cresceu de
Nota: Todos os bancos estão representados na escala primária (esquerda)
15% em 1981 para 26% em 1994; o que e o Banco do Brasil (BRASIL) na escala secundária (direita).
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em
demonstra que o discurso liberal de JE, Melhores e Maiores (2002).

exigindo redução da participação do


Estado na economia, tinha por base uma boa percepção das possibilidades de ganho do setor
privado, pelo menos dos bancos ou, mais precisamente, do Bamerindus.

727
Entre 1986 e 1987, o banco aumentou seus ativos de US$ 3,440 milhões para US$ 8,482
milhões, ou 147% (ver Gráfico 5-18 e Gráfico 5-19). Esse foi um resultado muito superior ao
obtido pelos demais bancos, como pode ser visto no Gráfico 5-23. Essa evolução pode ser
explicada, em boa parte, pelo lançamento da Conta Remunerada Bamerindus (CRB), que veremos
em detalhe na seqüência deste trabalho.
276

728
Já o crescimento registrado em 1989 Gráfico 5-21: Evolução do Total dos Ativos em 1989 (em
%)
pode ser atribuído à recuperação econômica, 125%

B A M E R IN D U S : 5 2 %
quando o crescimento do PIB apresentou uma
105%
variação positiva de 3,16%, acompanhada do

U N IB A N C O : 1 1 7 %
aumento da inflação, que registrou uma 85%

E C O N Ô M IC O : 1 7 %

B A N C O B R A S IL : (1 6 % )
BRADESCO : 13%
variação de 1782,89% (IGP (DI)) acumulada 65%

N A C IO N A L : 8 %
IT A Ú : 2 4 %
no ano. Como pode ser visto no Gráfico 5-21,

BANESPA : 6%

A M O S T R A : -1 %

R E A L : (3 4 % )
45%

com exceção do Banco do Brasil e do REAL,


todos os bancos registraram aumento no total 25%

dos seus investimentos, e os maiores 5%

crescimentos foram dos bancos Unibanco (com


-15%

117%) e Bamerindus (com 52%). Em


compensação, com a implantação do Plano -35%

Fontes: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados


Collor em 1990, todos os bancos registraram obtidos em Melhores e Maiores (2002).
redução nos seus investimentos, com exceção
do ECONÔMICO que cresceu 20%. O Bamerindus foi o banco que teve a maior queda (de -49% -
ver Gráfico 5-22), em boa parte devido à extinção da Conta Remunerada (CRB).

Gráfico 5-22: Evolução do Total dos Ativos em 1990. (em Gráfico 5-23: Evolução do Total dos Ativos em 1987 (em
%) %)

20%
145%
E C O N Ô M IC O

125%
20%

B A N C O B R A S IL ; 3 4 %

10%
B A M E R IN D U S : 1 4 7 %

105%

0%
A M O STR A : 23%

1
85%
B A N C O B R A S IL

B R A D ESC O : 5%
(2 1 % )
REAL
N A C IO N A L

BANESPA

U N IB A N C O : -3 1 %
E C O N Ô M IC O : 0 %

N A C IO N A L : -1 1 %
B A N ESPA : 5%
AM OSTRA

-10%
65%
(2 9 % )
(2 9 % )

(5 % )
(3 3 % )
U N IB A N C O
B A M E R IN D U S

R E A L : -1 4 %
BRADESCO

(4 2 % )

45%
IT A Ú : 4 %
(4 5 % )

-20%
IT A Ú
(4 8 % )
(4 9 % )

25%

-30%
5%

1
-40% -15%

-35%
-50%

Fontes: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002).
277

729
No total, do período 1981 a 1994, cabe
Gráfico 5-24: Evolução do Total dos Ativos dos bancos de
destacar que o Bamerindus foi o banco com 1981 a 1994. (em %)

maior crescimento, atingindo 381% (ver Gráfico


400%

5-24), e a amostra registrou 89%, o que é


350%
bastante significativo se levarmos em
300%
consideração que os dados foram corrigidos pela

B A M E R IN D U S
inflação do período. No Gráfico 5-25, podemos 250%

381%
N A C IO N A L
observar que a evolução da participação do 200%

287%
E C O N Ô M IC O

B A N C O B R A S IL
U N IB A N C O
Bamerindus apresentou uma correlação positiva

270%
150%

BRADESCO
235%

28%
192%
IT A Ú

REAL
178%
com a variação do IGP (DI), registrando uma

166%
100%

BANESPA
AM OSTRA
tendência de crescimento ligeiramente superior à

86%
89%
50%

tendência de crescimento da inflação. A 0%


112
correlação entre as variações da participação
Fontes: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados
do Bamerindus no total dos Ativos da amostra e obtidos em Melhores e Maiores (2002).
a variação da inflação (ver Gráfico 5-26), foi
positiva em 62% dos anos observados. Com destaque para o período 1989 a 1993, indicando
indicaria que a participação do banco acompanhava, na maioria dos casos, a evolução das variações
da inflação e que o crescimento dessa poderia significar o crescimento da sua participação no
mercado financeiro.

Gráfico 5-25: Evolução da participação do Bamerindus no Gráfico 5-26: Correlação entre a participação do
Total dos Ativos da amostra e a variação do IGP (DI) ( 1981 Bamerindus no Total dos Ativos da amostra e a variação do
a 1994) IGP (DI)

9 3.000,0 1,5

8
8 2.500,0

7
7
1 1 1 1 1 1 1 1 1
2.000,0

6
6 1.500,0
62%
0,5
6 6
5
5 5
5 5 1.000,0
4

4 4 500,0 0
3
3
1.981

1.982

1.983

1.984

1.985

1.986

1.987

1.988

1.989

1.990

1.991

1.992

1.993

1.994

1.995

3 3 -
2
2 -0,5
(500,0)
1

- (1.000,0)
-1 -1 -1 -1 -1 -1
1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

Média

BAMERINDUS IGP - DI Log. (IGP - DI) Log. (BAMERINDUS) -1,5

Nota: No todos os bancos estão representados na escala primária (esquerda) e a variação do IGP (DI) na escala secundária
(direita).
Fonte: Gráficos elaborados pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002). IGP (DI) obtido em FGV
(2005).

112
Nota do autor: A correlação foi calculada atribuindo o valor um (1) para os momentos em que crescimento ou redução da
participação do Bamerindus no total da amostra acompanhou o crescimento ou redução na variação do IGP (DI), e menos
um (-1) quando esta relação foi inversa.
278

730
A análise da carteira de investimentos do Bamerindus demonstra que as contas mais
importantes eram os investimentos no Mercado Aberto (Open market e Overnight) e os
Empréstimos e Financiamentos, que analisaremos a seguir.

O OPEN BAMERINDUS (OB) E O OVERNIGHT

TÍTULOS PÚBLICOS

731
O segundo choque do petróleo e a elevação das taxas de juros internacionais causaram, a
partir de 1979, o desequilíbrio do balanço de pagamentos brasileiro. O aumento dos encargos da
dívida externa e a necessidade de contratar empréstimos com taxas cada vez mais altas levaram o
governo brasileiro a estimular as exportações através da maxi-desvalorização do dólar, em
dezembro de 1979, e a praticar uma política monetária antiinflacionária, bem como estimular a
captação privada da dívida. Diante dessas medidas que elevaram os riscos cambiais e de juros, o
setor privado partiu para a redução do endividamento, restando ao governo buscar recursos para
fechar o balanço de pagamentos através do endividamento das empresas estatais. O esgotamento
das reservas cambiais brasileiras levou o Brasil, em 1982, a uma grave crise cambial, cujas
conseqüências, entre outras, foi o governo ter que adotar políticas recessivas para reduzir as
importações, e gerar saldos para pagar os compromissos da dívida externa.

Gráfico 5-27: Títulos da dívida pública federal em Gráfico 5-28: Operações de crédito dos bancos comerciais
dezembro de 1989 (em Cr$ milhões) privados. Principais tomadores (em %).
1,9
600,0
100%
8,6 Setor
500,0 90% 22,3 Governam
29,7 ental
80%
400,0
70%

300,0 60%
50% 94,10 Setor
200,0
83,9 Privado
40% 71,5
62,8
100,0 30%
20%
0,0 10%
1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985
LTN 121,1 152,2 173,7 136,1 62,0 135,4 90,0 93,2 33,6 112,3 0%
ORTN 147,3 150,1 145,6 126,6 141,3 243,9 393,6 409,9 517,8 441,7 1978 1980 1983 1 985

Nota: De 1983 até dezembro de 1985, títulos também em poder do Banco do Brasil. Fonte: Gráficos elaborados pelo autor com
base nos dados fornecidos pelo Bacen apud Alves Júnior (1992, p. 73 e 75)113.

732
Apesar da dívida ser do Estado, os saldos de divisas eram em sua grande maioria de
empresas privadas, o que obrigou o Estado a comprar divisas do setor privado e, para tanto, o
governo preferiu expandir a dívida pública (ver Gráfico 5-27), pressionando as taxas de juros e
aumentando os encargos da dívida interna, trocando a dívida externa pela interna. O setor privado

113
Fonte: ALVES JÚNIOR, Antônio. J. Conta Remunerada: um estudo de caso sobre inovação financeira. Dissertação
(Mestrado). Instituto de Economia Industrial. Rio de Janeiro, UFRJ, 1992.
279

reagiu reduzindo os investimentos e o endividamento e buscando aumentar a sua liquidez, gerando


com isso a grande crise econômica do período 1980 – 1983.
733
Diante da inflação crescente, os agentes econômicos buscaram manter a liquidez através de
aplicações indexadas de curtíssimo prazo, como, por exemplo, o overnight, trocando por moeda
apenas diante da necessidade de realizar pagamentos, que eram reaplicados novamente pelo
recebedor. Os bancos reduziram o volume de empréstimos e se concentraram nas operações de
curto prazo, principalmente nos negócios com o setor público, através de títulos e operações
indexadas com o Tesouro e empresas estatais. Os bancos se tornaram os principais agentes
intermediários das operações de rolagem da crescente dívida do setor público (ver Gráfico 5-28).
734
O principal instrumento utilizado na época foram as operações de overnight, através das
quais os bancos conseguiam rolar a dívida pública diariamente. A aplicação tinha total liquidez no
prazo de apenas um dia, com lastro em títulos públicos indexados contra a inflação.

MERCADO ABERTO (OVERNIGHT E OPEN MARKET)

735
O Bamerindus iniciou suas atividades no mercado aberto em 1973, ao criar o “Open”
Bamerindus (OB). Na época, o setor tinha apenas um funcionário no Rio de Janeiro, que realizava
as operações de compra e venda de títulos e fazia a contabilidade, o controle e a liquidez diária. Aos
poucos o setor foi crescendo e, em 1975, já contava com 28 funcionários no Rio e 5 em São Paulo.
No ano seguinte, o Bamerindus recebeu a posição de “dealer”, isto é, de instituição intermediária
entre o Bacen e as outras instituições financeiras que operavam no mercado. Com o tempo, o setor
foi ganhando importância dentro do banco, e teve que enfrentar as diversas crises que atingiram o
mercado, como as que levaram o Bacen a intervir em varias empresas durante os anos 1970 e 1980.
As operações estavam dirigidas para captar recursos de maneira a obter lucros a partir da diferença
entre a rentabilidade da aplicação e o custo pago na captação, e o papel das instituições financeiras
era conciliar os títulos com seus prazos e com as disponibilidades financeiras do mercado.
736
Em 1983, o OB chegou a contar com uma equipe de 350 funcionários, distribuídos em
Mesas de Captação que atendiam todas as agências e clientes espalhados pelo Brasil, além do Rio
de Janeiro, onde estava o centro operacional-técnico-administrativo, o atuavam através de 19 Mesas
de Captação. O produto permitia que o cliente de qualquer agência do banco no país pudesse
aplicar no mercado. A agência captadora se comunicava por telefone com a mesa mais próxima
que, por sua vez, passava os dados por telex ao departamento correspondente. Nesse departamento,
as operações eram digitadas em microcomputadores e enviadas, via linha de transmissão de dados,
para o computador no Rio de Janeiro, onde eram processadas todas as operações realizadas
diariamente. Uma vez terminado o processamento, os dados finais eram remetidos de volta para o
departamento de origem, onde eram impressos e micro-filmados os relatórios e notas
correspondentes.
737
Segundo o Bamerindus, em 1985 o banco conquistou a posição de segunda maior
280

instituição em operações no mercado aberto do Brasil, atuando com aproximadamente 500


funcionários em 27 mesas de operações, nos Estados do Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Pará,
Ceará, Goiás, Amazonas, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia e Espírito
Santo, cobrindo todo o território Nacional. Três delas – Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo – eram
classificadas como mesas básicas ou centralizadoras, onde estavam as diretorias adjuntas do setor.
Nessa época as mesas do Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba eram interligadas por sistemas
integrados que possibilitavam trabalhar em três praças diferentes ao mesmo tempo. Ainda nesse
ano, o Bamerindus lançou um novo produto na forma de uma conta especial: O cliente fazendo a
aplicação, o dinheiro seria reaplicado em seguida e automaticamente no dia-a-dia. O novo serviço
oferecia uma série de outras vantagens para os clientes, como o fornecimento de extratos
consolidados, aplicações e retiradas programadas e a possibilidade de resgate imediato a qualquer
hora do expediente bancário. Mais tarde este produto deu origem à CRB.
738
Segundo o Bamerindus, em 1986 o BBB foi o primeiro banco privado do Brasil a atuar
como agente de emissão de títulos da divida pública, ao realizar a operação de lançamento das
Obrigações Reajustáveis do Tesouro do Estado do Mato Grosso do Sul (ORTMS), através de
convênios assinados com o Governo daquele Estado. Mais tarde as Operações financeiras entre o
Bamerindus e o Estado acabaram resultando numa grande dívida, que diante das dificuldades
financeira do Estado, provocadas pelo Plano Real, os débitos e juros foram sendo acumulados sem
perspectiva de composição no médio prazo. Em 1996 esta dívida foi apontada como uma das causas
das dificuldades enfrentadas pelo Bamerindus.
739
Em 1993, segundo a Gazeta Mercantil (10 dez. 1993)114, a carteira de investimentos no
mercado aberto do Bamerindus chegava a US$ 6 bilhões, e a FSP (05 dez. 1993, p. 2)115 informava
que o banco estava inaugurando a maior mesa de operações da América Latina.

EMPRÉSTIMOS E FINANCIAMENTOS

740
Depois do mercado aberto, a segunda maior carteira de investimentos era formada pelos
Empréstimos e Financiamentos. Esta carteira passou por três grandes momentos, a saber: a crise de
liquidez de 1985, o lançamento da CRB em 1987 e a recuperação, após o Plano Collor, em 1990. O
período começa com um total de US$ 993 milhões investidos em 1981 e termina com um montante
de US$ 5.224 milhões em 1994 (ver Gráfico 5-29). Em 1985, o banco enfrentou uma grave crise de
liquidez em razão das operações com bancos e empresas que sofreram intervenção do Bacen. A
CRB foi lançada em 1987 e deslocou boa parte dos recursos da carteira de empréstimos e
financiamentos para o mercado aberto, ocorrendo uma significativa queda da participação dessa
carteira no conjunto dos investimentos do banco (ver no Gráfico 5-30). A recuperação da carteira
de empréstimos ocorreu após o Plano Collor, quando o Bacen proibiu o funcionamento da CRB e

114
Fonte: Nova mesa centraliza US$ 6 bilhões. GM, 10 dez. 1993, p. 15.
281

promoveu uma profunda reformulação das aplicações no mercado aberto. O direcionamento dos
investimentos para empréstimos e financiamentos atingiu o seu auge em 1994, quando
representavam 44% dos ativos do banco.

Gráfico 5-30: Participação dos Empréstimos e


Gráfico 5-29: Bamerindus: Empréstimos e Financiamentos
Financiamentos no Total dos Ativos do BBB no período
- 1981 a 1994. (em US$ milhões)
1981 a 1994. (em %)

6.000 50

5.224 45
44
43
5.000 40
40
37 43
41
35 38 33 35 32
4.000 31
34 35
30 28 33
27 28
3.200 25 29 27
3.000
25
27 26
25
20 23 22
21
1.515 1.883 19
2.000 15
1.342
1.269 1.246
993 983 799
10
746 11
1.000 784 693 784 9
5 8

0
- 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 Média
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 Empréstimos e Financiamentos / Ativo Total AMOSTRA

Nota: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002).

741
No Gráfico 5-31, podemos
verificar que o Bamerindus ocupava Gráfico 5-31: Participação dos bancos no total de Empréstimos e
a 5º posição entre os bancos privados Financiamentos da amostra - 1981 a 1994 (em %)
70,0

da amostra. O movimento das 14,0


Plano Bresser
Empréstimos e Financiamentos
12 jun. 1987 60 59
operações de Empréstimos e 58 60,0
12,0
54
Financiamentos acompanhou a 50
46 50,0
prática dos outros bancos, com 10,0
43 43 44
43 42
exceção do Banco do Brasil, cujo 40 39
38 37 40,0
8,0
comportamento parece ser oposto
aos demais. Também podemos 6,0
30,0

observar que em 1987, os efeitos do


4,0 20,0
Plano Cruzado II e do Plano Bresser 7,7
6,0
parecem interromper o crescimento 2,0 4,1 4,4 3,7 4,3 10,0
3,4 2,9 2,9 3,7
das participações dos demais bancos 2,8 3,0 3,1
1,6 1,6
na amostra, quando então o Banco - -

1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 Média
do Brasil recuperou temporariamente BRADESCO ITAÚ BAMERINDUS B BRASIL UNIBANCO NACIONAL
a posição que ocupava em 1981. Ao Nota: Todos os bancos foram aparecem no eixo y principal (esquerda) e o
Banco do Brasil no eixo secundário (direita).
que parece, o Banco do Brasil Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em
Melhores e Maiores (2002).
acabava atuando como instância

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
115
Fonte: Bamerindus inaugura maior mesa da AL. FSP, São Paulo, 05 dez. 1993, p. 2.
282

reguladora do mercado em momentos de crise.


742 Gráfico 5-32: Relação dos depósitos sobre empréstimos e
No Gráfico 5-32, podemos verificar que
financiamentos - 1981 a 1994. (em %)
o Bamerindus, em 10 dos 15 anos (69%) 200 193
BAMERINDUS 183
analisados, conseguiu manter o saldo da carteira 180
AMOSTRA 168
160

de empréstimos e financiamentos inferior ao 145


140
129 132
125 123 120
montante captado na conta depósitos, o que 120
109

significa que na maioria dos anos o banco 100

78
80 71 76 71 73
conseguiu financiar sua carteira de empréstimos
60

com recursos de depósitos. Também é 40

importante observar que, com exceção apenas do 20

ano de 1988, em todos os outros anos essa 0


1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 Média

relação foi superior à obtida pelo total da Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados
obtidos em Melhores e Maiores (2002). IGP (DI) obtido em
amostra. Ao longo dos anos, a carteira de FGV (2005).

Empréstimos e Financiamentos do banco acumulou uma grande quantidade de títulos de baixa


liquidez, que foram apontados como uma das causas dos problemas do Bamerindus nos anos 1990.
Neste sentido, Carvalho & Oliveira (2002, p. 83) consideram que a quebra do Bamerindus “[...] não
pode ser atribuída ao aumento do crédito após a queda da inflação, ao contrário do que se afirma
[...] foram decisivos os problemas herdados dos anos anteriores ao Plano real”. Para os autores, o
“[...] esclarecimento sobre o que de fato acorreu depende do aprofundamento da pesquisa sobre a
trajetória [do banco]”. Como veremos ver na seqüência, boa parte dessa herança eram operações
que ocorreram ainda nos anos 1970 e início dos anos 1980, e que levaram o banco a enfrentar uma
grave crise de liquidez em 1985.

A CRISE DE LIQUIDEZ DO BANCO BAMERINDUS

743 Gráfico 5-33: Número de intervenções do Bacen (1979 a


A recessão e a crise da dívida pública
1987)
brasileira nos anos 1980 afetaram todo o SFN, e 60
Intervenções do BACEN

56 56
teve um considerável impacto no gerenciamento 50

da liquidez dos bancos, principalmente devido à 40


41
inadimplência do setor público e das grandes
30
34
empresas estatais. Essa situação de desequilíbrio
20
acabou levando à intervenção do Bacen em
17
14
diversas instituições financeiras, como pode ser 10

7
5 5
visto no Gráfico 5-33. O Bamerindus foi afetado 0

1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987


duramente quando, em fevereiro e março de Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nos dados
1985, aconteceram as intervenções nos grupos disponíveis em Bacen (2004).
283

Habitasul, Sul Brasileiro, e Brasilinvest116 e, em novembro, nos grupos Auxiliar, Maisonnave e


Comind. Grande parte das dificuldades dessas organizações vinha de suas conexões com o Grupo
Delfin (1983), a Coroa-Brastel (1983), o Montepio da Família Militar (MFM) – controlador do
Banco Sul Brasileiro – e o Banco Nacional de Crédito Cooperativo (BNCC). Na época, os boatos
no mercado financeiro referiam-se às intervenções como o “caso ABC” – (A) para Auxiliar, (B)
para Bamerindus e (C) para o Comind. Segundo declarações de um ex-funcionário do Banco
Central lotado em Curitiba117, a crise foi tão grave que, para enfrentar a corrida dos clientes ao
banco, o Bacen foi obrigado a abastecer as agências do Bamerindus com carregamentos de dinheiro
em caminhões e avião.
744
Na época, além das operações com os bancos sob intervenção, o Bamerindus também
mantinha em seu estoque títulos da Siderbrás, Centralsul e da Companhia de Comércio e
Navegação do grupo CCN, este último avalizado pela Sunamam. Os títulos da Centralsul estavam
relacionados com o caso BNCC e fraudes nos contratos de câmbio praticadas por diversas
instituições118, que na época abalaram o sistema financeiro brasileiro. Segundo o Bamerindus, no
decorrer do 2º semestre de 1985, os créditos vencidos que o Banco Bamerindus de Investimento
possuía da Centralsul teriam sido baixados e absorvidos por uma empresa não financeira do grupo,
como descrito nas notas explicativas publicadas no Balanço Patrimonial de 31 de dezembro de
1985. Outros ativos com mais de dois anos, que pertenciam ao BBB e somavam, em 31 dez. 1985,
aproximadamente US$ 36,5 milhões, representavam renovações de contratos para um período de
nove anos, permanecendo no balanço à espera de uma futura solução, pois ainda estavam no
período de carência. A Siderbrás, como vimos no capítulo II, vinha passando por dificuldades
crescentes nos anos 1980, afetada pela profunda crise financeira que atingiu todo o setor
siderúrgico. As possíveis soluções para esses títulos estavam sendo negociadas no âmbito da
Febraban com o governo federal, e boa parte deles acabou sendo utilizada pelo Bamerindus na
compra da Usiminas e CSN nos anos 1990.
745
No início de 1996, o banco informava119 que em dezembro daquele ano a carteira de
empréstimos do grupo com o governo, empresas estatais e a CCN, chegava a aproximadamente
US$ 185,6 milhões (em valores da época) ou 23% do total, e US$ 23,1 milhões já estavam vencidos
e US$ 162,6 milhões tinham prazo até 1989. Do montante vencido, US$ 3,5 milhões eram do grupo
Siderbrás e US$ 17,5 milhões do CCN. Também no caso da CCN, pelo seu tamanho e pelo fato de
envolver vários bancos e o governo federal em razão dos avais da Sunamam (ver capítulo II), os
acordos passaram a ser coordenados pela Febraban.

116
Como já vimos, o Grupo Bamerindus tinha participação minoritária em empresas do grupo Brasilinvest.
117
Fonte: Declarações verbais colhidas pelo autor.
118
Para mais detalhes sobre estes casos, ver Capítulo II e Oliveira (jan. 1985 e dez. 1985).
119
Fonte: Bamerindus: Annual Report (1985, p. s.n., item 2.3.7).
284

GRUPO CCN - CIA. COMÉRCIO E NAVEGAÇÃO.

746
Controlado pela família de Paulo Ferraz no início dos anos 1980, o Grupo CCN passou a
enfrentar basicamente dois problemas, um no setor de financiamento imobiliário (que passava pela
crise do BNH) e outro no setor de estaleiros, que foi duramente atingido pela crise financeira da
Sunamam. No Quadro 5-5 apresentamos a composição do grupo, destacando as empresas que
tinham conexões com o Bamerindus, e os principais sócios do CCN em outros empreendimentos:
Quadro 5-5: Composição do Grupo CCN em 1981.
Empresa Participação Sócios
São Bento Importação e 95,00% Família Ferraz.
Exportação S.A. Diretoria Diretor Presidente. Paulo Ferraz e Diretor Executivo, Hélio Paulo
Ferraz.
Cia. Comércio e Navegação. 88,00% São Bento Importação e Exportação S.A.
(CCN)
Bamerindus S.A. Financiamento, Minoritário Cia. Comércio e Navegação, Grupo CCN.
Crédito e Investimentos.
Bamerindus S.A. Rio Cia. de Minoritário Cia. Comércio e Navegação, Grupo CCN.
Crédito Imobiliário.
Bamerindus S.A. São Paulo Cia. Minoritário Cia. Comércio e Navegação, Grupo CCN.
de Crédito Imobiliário.
Bamerindus Cia. de Seguros Minoritário Cia. Comércio e Navegação, Grupo CCN.
Banco Bamerindus do Brasil S.A. Minoritário Cia. Comércio e Navegação, Grupo CCN.
Banco Bamerindus de Minoritário Cia. Comércio e Navegação, Grupo CCN.
Investimento S.A.
Paraná Cia. de Seguros Germano- 25,00% Grupo Colonia - Nordstern , Alemanha,
Brasileira 25,00% Banco do Estado do Paraná (Banestado)
24,00% Público brasileiro;
Minoritário Grupo Bamerindus;
Minoritário Cia. Comércio e Navegação, Grupo CCN.
Cia Bozano, Simonsen Comércio e Controle Grupo Bozano, Simonsen;
Indústria. Minoritário Cia. Comércio e Navegação, Grupo CCN.
CEC - Equipamentos Marítimos 15,00% Grupo Ishikawajima, Japão,
Industriais S.A. 10,00% M.A.N., Grupo Gutehoffnungshütte, Alemanha Germany,
75,00% Cia. Comércio e Navegação, grupo CCN. Incl. São Bento Imp. e
Exp. S.A., Estaleiro 56, Emaq Engenharia e Máquinas;
CEC-VICINAY Amarras E 51,64% CEC Equips. Marit. Industriais;
Âncoras S.A. 48,36% Vicinay S.A., Espanha.
Empresa Brasileira De Reparos 17,00% Ishikawajima do Brasil Estaleiros, Grupo Ishikawajima-Harima,
Navais S.A. – RENAVE. 17,00% Ishikawajima Harima Ltda.
17,00% Cia. Comércio e Navegação; Grupo CCN.
49,00% Docenave, Grupo CVRD, Lloyd Brasileiro, Petrobrás – Fronape.
Helistone Indústria E Comércio 20,60% Cia. Comércio e Navegação, Grupo CCN.
De Hélices S.A. 44,00% Stone Manganese Marine Ltd.
18,00% Grupo Cohn
5,00% Daico S.A., Grupo Hambros Bank Ltd;
minoritário Emaq S.A.
Cia Imobiliária N. Sra. da Penha 21,00% Atlântica Cia. Nac. de Seguros, Grupo Atlântica Boavista.
— Cabo Frio Minoritário S.D. Participações S.A., Grupo Sérgio Dourado, Brasil;
26,00% Cia. Comércio e Navegação; Grupo CCN.
Minoritário São Bento Importação e Exportação S.A.
Renx—Zanini S.A. 51,00% Zanini S.A., Grupo Biagi;
25,00% Zahnräderfabrik Renk, Alemanha;
10,00% Cia. Comércio e Navegação, Grupo CCN.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base nos dados extraídos de Atlas Financeiro do Brasil (1981, p. 138-141).120

120
Fonte: Atlas financeiro do Brasil. 1º Edição. Rio de Janeiro: Interinvest Editora e Distribuidora Ltda. Outubro de 1981, p.
138-140.
285

747
Podemos verificar, no Quadro 5-5, que o Grupo CCN era sócio de diversas empresas, junto
a grandes grupos brasileiros e estrangeiros, tais como: Bozano Simonsen, Atlântica Boa Vista,
CVRD, Petrobrás, Lloyd, Ishikawajima e o Grupo Biagi, que também era sócio do Bamerindus em
outro empreendimento. As conexões com os grupos estrangeiros foram importantes para as
operações de financiamento realizadas no mercado internacional, através de títulos, com aval da
Sunamam. Mais tarde, entre as exigências dos credores para renegociar a dívida externa brasileira,
estavam incluídos os débitos do Estaleiro Mauá, da CCN, com instituições estrangeiras.

ESTALEIRO MAUÁ - COMPANHIA COMÉRCIO E NAVEGAÇÃO - CCN

748
Integrante do Grupo CCN, o Estaleiro Mauá estava envolvido na crise da Sunamam
principalmente por ser a maior empresa do setor. Na época, seu volume de encomendas chegou a
atingir a marca de 45 navios. No auge da sua produção, na segunda metade dos anos 1970,
empregava aproximadamente 6.500 operários nas suas instalações em Niterói. Em 1985, em meio
ao escândalo dos chamados “navios de papel” investigados por uma CPI, o então presidente do
grupo, Paulo Ferraz, se suicidou. Todos os bancos que operavam com as empresas do setor naval
do grupo ficaram com títulos sem valor de mercado, mesmo com o aval da Sunamam. Desde 1984,
o governo não reconhecia mais os avais e havia determinado a apuração das irregularidades
ocorridas.
749
Segundo Patú (24 mar. 1996, p. 2-1)121, o montante dessas operações pode ser avaliado
considerando que só o Banco do Brasil, por exemplo, ficou com títulos no valor de R$ 231,4
milhões. A solução para tais créditos pendentes começou a surgir nos anos 1990, quando em 1991 o
Bamerindus – Midland Arrendamento Mercantil, recebeu aproximadamente US$ 24,815 milhões da
União pelas operações contratadas em 1982. Segundo Lobato (02 set. 1996, p. 1-6.)122, em janeiro
1996 o governo FHC reconheceu a responsabilidade pela dívida do estaleiro Mauá, na época
avaliada em R$ 2.091 milhões oriunda dos empréstimos contraídos junto a bancos nacionais e
estrangeiros para produzir os navios encomendados por meio da Sunamam. Segundo declarações de
dois ex-funcionários do Banco Central123, na época lotados em Curitiba, a crise da Sunamam atingiu
o Bamerindus através do grupo CCN, e atrapalhou os planos de Mário Andreazza para suceder João
Figueiredo na Presidência da República, devido às suas ligações com o CCN. Segundo eles, como
sócios, o Bamerindus e o grupo CCN investiram muito dinheiro na candidatura derrotada de Mário
Andreazza na convenção do PDS.

121
Fonte: PATÚ, Gustavo. Uso político do BB provoca rombo. Gastos do banco com ações governamentais, como o Proálcool,
geraram dívidas de R$ 2,4 bilhões. FSP, Brasília, 24 mar. 1996, DINHEIRO, p. 2-1.
122
Fonte: LOBATO, Elvira. Pitta atuou em setor que beneficiou. Candidato foi executivo de estaleiro após participar de
programa de financiamento de navios. FSP, Rio de Janeiro, 02 set. 1996, BRASIL, p. 1-6
123
Fonte: Declarações verbais colhidas pelo autor.
286

MÁRIO DAVI ANDREAZZA

750
Ministro dos Transportes no governo Médici, Mário Andreazza124 deixou o Ministério em
março de 1974 e passou a dedicar-se à iniciativa privada, quando assumiu a presidência da CEC –
Equipamentos Marítimos e Industriais, do Grupo CCN, e a vice-presidência da Companhia de
Seguros Atlântica Boavista, em São Paulo. Em 1977, foi um dos principais articuladores da
candidatura à Presidência da República do general João Figueiredo, junto a empresários e
autoridades dos governos dos quais havia participado anteriormente. Em março de 1979, agora no
governo Figueiredo, Mário assumiu o Ministério do Interior. Apontou como prioritários os
investimentos nas regiões do Nordeste e da Amazônia, através das duas grandes superintendências
lotadas no seu Ministério: a Sudene e a Sudam. Também apontou como prioridade investimentos na
área de saneamento e habitação, com recursos do BNH. Na época, Andreazza declarou ser
favorável ao Projeto Jarí – ainda controlado pelo empresário norte-americano Daniel Ludwig.
Candidato à Presidência da República em 1983, viu-se envolvido no escândalo da Delfin Crédito
Imobiliário, então a maior empresa privada a operar com cadernetas de poupança. Segundo seu
depoimento na CPI formada na época para investigar o caso, teria ocorrido um equívoco nas
denúncias de irregularidades na transação Delfin-BNH. A empresa enfrentava dificuldades com o
BNH, pois grande parte dos mutuários do sistema não tinha recursos para pagar suas prestações. A
caderneta de poupança, o FGTS e o retorno dos empréstimos, o chamado tripé de sustentação do
BNH, não mais conseguiam manter o sistema, devido à evasão de recursos. Andreazza declarou,
então, que o problema era o estado crítico da economia, com uma inflação crescente que havia se
tornado não só a maior inimiga do SFH como também o nosso maior problema social. Apontou
alguns caminhos para tentar manter em funcionamento pelo menos duas das bases do SFH:
aumentar as atrações oferecidas pelas cadernetas de poupança e bloquear, na medida do possível, as
retiradas do FGTS.
751
Derrotado em 1984, na Convenção Nacional do PDS que elegeu Paulo Maluf como
candidato do partido à presidência da República, Mário Andreazza, em 15 de março de 1985, com o
fim do governo Figueiredo, deixou o Ministério do Interior e em seguida assumiu uma diretoria na
Companhia Bradesco de Seguros125, aí permanecendo até março de 1986.

GERENCIAMENTO DA CRISE

752
Segundo o Bamerindus126, o banco reagiu à crise de liquidez reforçando os instrumentos de

124
Fonte: DHBB. Verbete: ANDREAZZA, Mário. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós-1930. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, CPDOC, 2002c. CD-Rom.
125
Desde 1972 a Cia Atlântica Boa Vista estava associada ao Banco Brasileiro de Descontos S.A., e entre 1974 e 1982 passou
por uma fase de grande expansão. Em 1983, o Bradesco adquiriu o controle acionário da Atlântica Companhia Nacional de
Seguros – “holding” das demais seguradoras, que passou a denominar-se Bradesco Seguros S.A. Fonte: Bradesco Seguros
(2002).
126
Fonte: Bamerindus: Annual Report (1985, p. s.n., item 2.3.7).
287

obtenção de informações para avaliação e concessão de crédito, bem como na recuperação de


empréstimos, redução das aplicações em companhias e setores com problemas, especialmente para
certas empresas estatais. Também reforçou a estrutura interna de análise e concessão de crédito,
estabelecendo critérios e limites mais conservadores, atribuindo maior importância às decisões
coletivas, através do uso de Comitês de Crédito (por agência, regional, nacional e diretoria,
respectivamente). Mas não encontramos nos relatórios do banco quais foram as providências
tomadas para os créditos que possuía com instituições como o Comind, Auxiliar, BNCC,
Maisonnave e as dívidas com aval do IAA, como as do Grupo Atalla127. Nos relatórios não há
nenhuma referência aos problemas com o crédito imobiliário, em crise desde 1983. Segundo
Vasconcelos (19 jul. 1996, p. 2-3)128, “A situação do Bamerindus é tida como complicada desde a
época da quebra do Comind e do Auxiliar [...] Na ocasião, por motivos distintos, outros bancos, um
deles, o Nacional, também apresentavam dificuldades”.
753
Temos que lembrar que na época, José Richa, além de governador do Estado do Paraná, era
um dos principais articuladores da base de apoio do Governo Sarney e tinha como vice-governador
João Elísio, que havia sido indicado pelo antigo PP, controlado pelo grupo político de Jayme Canet.
Elísio, além de ter sido diretor do Bamerindus, era um dos seus grandes acionistas. Uma
intervenção no BBB significaria dificultar ainda mais a manutenção do acordo PMDB / PP no
Estado eliminaria a principal fonte de financiamento de campanha do PMDB e lançaria João Elísio,
então secretário da Fazenda do Estado, no centro de mais um grande escândalo financeiro.
754
Segundo o Bamerindus129 dando continuidade ao programa de saneamento do patrimônio do
banco, em 1986 foram baixados, contra a rubrica “Provisão de Créditos em Liquidação”, todos os
ativos resultantes das as operações com a Centralsul. Em 1987, várias outras operações de grande
porte tiveram igual destino, entre elas o valor de aproximadamente US$ 60 milhões, relativos aos
créditos do Grupo CCN, que alterou de forma significativa o resultado do 1º semestre. O relatório
observava também que se fossem efetivados os entendimentos da Febraban buscando a composição
das dívidas da Sunamam, os créditos recuperados seriam então integralmente escriturados como
resultado.
755
Nos anos 1990, boa parte desses títulos foi utilizada na privatização da CSN e Usiminas,
bem como, segundo Fernandes (1997, p. 34), entre as primeiras propostas para solucionar a crise do
Bamerindus, em 1996, estava o pedido para que o governo federal pagasse aproximadamente R$
400 milhões pelas dívidas com avais da Sunamam, que o banco ainda mantinha em sua carteira de
empréstimos.

127
“O banco [Bamerindus] [...] Acumulava créditos contra devedores duvidosos, como o grupo Atalla, sem fazer
provisionamento.” (VASCONCELOS, 19 jul. 1996, p. 2-3).
128
Fonte: VASCONCELOS, F. Bamerindus seria vendido se a decisão fosse só do BC. FSP, 19 jul. 1996. Editor do Painel S.A.
Editoria: Dinheiro, p. 2-3.
129
Fonte: Bamerindus: Relatório Anual (1987, p. 11)
288

O CRÉDITO IMOBILIÁRIO

756
Nos anos 1980, o Bamerindus operava com o crédito imobiliário através de cinco empresas,
que em 1988 foram incorporadas ao Bamerindus S.A. Crédito Imobiliário e no ano seguinte, com a
criação do banco múltiplo, houve a incorporação deste último ao BBB.
757
Segundo o Bamerindus130, em 1981 o grupo tinha um total de 3.847.000 de contas de
poupança, que correspondiam a aproximadamente 10% das cadernetas do mercado nacional; bem
como o saldo depositado representava 3,66% do mercado nacional. No ano seguinte, o número de
cadernetas de poupança teria crescido 10%, e a participação no mercado nacional teria subido para
3,91%, e do total captado no setor imobiliário, o banco teria repassado parte dos recursos para
1.272 contratos no âmbito do BNH. No ano seguinte, o banco conquistou a posição de terceiro
maior em rede de agências, depósitos à vista e captação de Poupança.
758
Em 1984, o Bamerindus adquiriu a Tropical Cia. de Crédito Imobiliário, com sede em
Manaus, cuja área de atuação abrangia os Estados do Pará, Amazonas e Acre, e os Territórios de
Roraima e Amapá; ao passo que as empresas de Crédito Imobiliário e a Apepar ocupavam, no
mercado nacional, o 3º lugar em depósitos de Poupança, com 5.496.070 contas, captando e
financiando mutuários através de 116 lojas próprias e das 801 agências do BBB. Segundo o
Bamerindus, em 1985 a caderneta de poupança apresentou, no final do ano, um volume total de
depósitos de aproximadamente US$ 800 milhões, e as operações com recursos repassados pelo
BNH chegavam a um total de 1.001 contratos, tendo encerrado o exercício com 5.060.856
cadernetas de poupança. No ano seguinte, as empresas de Crédito Imobiliário participaram na
aquisição de 11 entidades de Crédito Imobiliário, totalizando 86 casas e 628.540 contas.
759
Com vimos nos capítulos anteriores, desde o início dos anos 1980 o sistema de crédito
imobiliário brasileiro passava por grandes problemas, principalmente pelos efeitos da alta inflação
sobre as prestações dos mutuários, cuja renda não conseguia acompanhar os reajustes das
prestações. Numa ponta os bancos captavam recursos através da poupança e FGTS para, na outra,
financiar a compra de imóveis através do sistema BNH. O descasamento entre a captação e
aplicação acabou sendo a solução encontrada pelo governo para evitar a falência do setor. A
diferença passou a ser coberta pelo FCVS, que diante da crise financeira do Estado passou a
acumular saldos crescentes na forma de dívida com os bancos.
760
Segundo Fernandes (1997, p. 34), entre as primeiras propostas para solucionar a crise do
Bamerindus em 1996, estava a compra pela CEF da carteira imobiliária do banco, por cerca de R$
2,0 bilhões, ou, simplesmente, R$ 1,0 bilhão do Fundo de Compensação das Variações Salariais
(FCVS), dos quais R$ 500 milhões já haviam vencido.

130
Fonte: Bamerindus: Relatório Semestral, jan. 1982, p. 8-11.
289

PLANO CRUZADO

761
Outro grande problema enfrentado pelo banco nos anos 1980 foram os empréstimos
realizados durante a euforia do Plano Cruzado, que na seqüência foram atingidos pela forte
inadimplência provocada pelas medidas adotadas pelos planos Cruzado II (nov. 1986) e Bresser
(jun. 1987). Como já vimos, essa situação acabou gerando graves desequilíbrios no SFN, cujo caso
mais notório foi o Banco Nacional.
762
Segundo o Bamerindus, em 1987 o banco ofereceu anistia para os débitos de micros,
pequenos e médios empresários. Com todas as baixa realizadas, o Bamerindus encerrou o ano sem
nenhum ativo de “expressão” com expectativa de risco. Dos seus quase 37.000 devedores
classificados pelo banco como “vítimas do cruzado”, 34.000 procuraram o BBB para fazer o
acordo e, pouco depois, o Banco Central criou um plano de refinanciamento para todo o Sistema
Financeiro, impondo seis meses de carência na correção monetária e opção de pagamento em
prazos de 18 a 36 meses. Este fato voltou a repetir-se após o declínio do Plano Verão, quando o
Bamerindus novamente renegociou as dívidas dos seus clientes inadimplentes em seis prestações,
com redução de 50% na correção monetária.

PLANO REAL

763
Por causa do Plano Real, Belmiro Valverde declarou que o Bamerindus ampliou sua
carteira de empréstimos e financiamentos como parte da estratégia para enfrentar as mudanças
impostas pelo governo. A administração do banco considerava que era “[...] um grande equívoco
achar que bancos precisam de inflação para sobreviver [...] As instituições internacionais mais
lucrativas operam em ambiente não inflacionário. Estamos prontos a reassumir a função tradicional
de um grande banco de varejo: prestar serviços e estender o crédito”. (BLECHER, 2 jun. 1994, p. 2-
3)131,
764
Os planos do Bamerindus estavam sendo formulados apostando que o Plano Real
promoveria a incorporação às redes bancárias de uma boa parte do mercado informal, atraída pela
concessão de crédito. O banco pretendia cooptar clientes de pequenos bancos, que voltariam a
operar em mercados especializados. “Na época, o BBB aumentou sua carteira de crédito de US$ 2,2
bilhões para US$ 4,8 bilhões em apenas um ano e meio”. (BLECHER, 2 jun. 1994, p. 2-3).

5.3.3.3.3 ESTRUTURA DE CAPITAL

765
A estrutura de capital do BBB, formada pelas fontes de financiamento do banco (ver
Gráfico 5-34), teve um acentuado crescimento nos anos de 1987, 1988 e 1989, quando atingiu o
total de US$ 13.892 milhões. Nos anos seguintes, por causa do Plano Collor, o total dos

131
Fonte: BLECHER, N. Bamerindus estuda baixar as tarifas para atrair clientes. FSP, 2 jun. 1994, 2-3.
290

financiamentos recuou consideravelmente, para voltar a crescer em 1992 e atingir o patamar de


US$ 11.767 milhões em 1994. Note-se que no período 1987 – 1989, a principal fonte era o capital
de terceiros, aqui considerado como o total do passivo descontado o saldo dos depósitos.
Gráfico 5-34: Estrutura de Capital do Banco Bamerindus - 1981 a 1994 (em US$ milhões)

US$ 13.892 US$ 11.767


14.000 568
milhões milhões

2.204
12.000 Capital Próprio (Kp)
881

10.000 Depósitos (K3d) 651


395
434 569
8.000 758 6.427
Capital de Terceiros 4.220
(K3) 401 605

6.000 1.728
11.121 655
US$ 2.444
milhões 3.161

8.157 2.407
4.000 7.291
373 419
375
351 606 930 4.905 4.874
286 4.459
398
2.000 778 701 2.324
560 3.214
2.777
2.197 1.954
1.380 1.514 1.341
697
-
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Nota: Capital de Terceiros = Total do Passivo (-) Depósitos; Capital Próprio = Total do Patrimônio Líquido. Gráfico
elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002).

Gráfico 5-35: Estrutura de Capital do Banco Bamerindus - 1981 a 1997 (em %)

100% 5 4 4 6 7 Patrimônio
9 7
12 14 12 11 12 11 Líquido /
17 6
9 Ativo Total
16
25
80% 19
29
32 27 43
24
41 45
55 Depósito /
Ativo Total
60%
68

86 89
80
40%
Capital de
69 70
Terceiros /
56 59 60 58 Ativo Total
48 50
46
20% 38

20

0%
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Nota: Capital de Terceiros = Total do Passivo (-) Depósitos, Capital Próprio =Total do Patrimônio Líquido. Gráfico
elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002).
291

766
No Gráfico 5-35, apresentamos a participação de cada fonte de financiamento na estrutura
de capital do BBB, no qual é possível observar que até 1990, o capital de terceiros era a principal
fonte de financiamento, com exceção do ano de 1986, quando este lugar foi ocupado pela conta
Depósitos (68%), provavelmente em razão do aumento da liquidez no mercado, provocada pelo
Plano Cruzado. Nos dois gráficos é possível constatar que o crescimento do banco, a partir de 1987,
foi atingido principalmente através do aumento no endividamento, tendo o Bamerindus operado de
forma alavancada até 1990. Na seqüência, apresentaremos a análise detalhada de cada uma dessas
fontes.

DEPÓSITOS

767
Formada pelo montante de recursos Gráfico 5-36: Depósitos do Banco Bamerindus - 1981 a
1994 – (em US$ milhões)
depositados pelos clientes, a importância para os 7.000
6.427
bancos dessa fonte de financiamento está no fato 6.000

de ser ela que normalmente tem o menor custo 5.000

4.220
de captação, sendo a conta Depósitos uma das 4.000

principais características da instituição bancária. 3.161


3.000

2.324 2.407
O Gráfico 5-36 apresenta a evolução dos saldos 2.204
2.000 1.728
da conta no período, no qual é possível observar
1.000 778 701 606 930 758
560 569
uma significativa redução, nos anos 1987 e
-

1988, provavelmente devido à criação da CRB, 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados


que teve o efeito de transferir boa parte dos obtidos em Melhores e Maiores (2002).
valores para o as contas de capital de terceiros. Com isto o banco pode contornar grande parte dos
contingenciamentos impostos pelo Bacen para os recursos de depósitos, como por exemplo, o
depósito compulsório. Também podemos observar que a partir de 1990, após a extinção da CRB,
essa conta passou a registrar um crescimento constante, chegando ao seu máximo em 1994 com o
valor de US$ 6.427 milhões.
768
Quanto à participação dessa fonte na Gráfico 5-37: Participação do Depósitos na estrutura de
Capital (em %)
estrutura de capital, podemos observar no
Gráfico 5-37 que em 1986 ela registrou o seu 70
Depósito / Ativo Total

60
ponto máximo, com 68%, recuando nos anos
50

seguintes, principalmente por causa dos efeitos


40

do Plano Cruzado II, do Plano Bresser e pela 68


30
55
implantação da CRB. Em 1991 a conta 45 43
20
41
32
ultrapassou a marca histórica dos 40%, 27 29
24 25
10 19 16
conseguindo chegar a 55% em 1994. 9 6
0

1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados


obtidos em Melhores e Maiores (2002).
292

769
Com relação aos demais bancos da Gráfico 5-38: Participação dos Depósitos por banco no
amostra (ver Gráfico 5-38) é possível total da amostra (em %)
70,0
observar que a maioria deles perdeu posição 30,0
62
60,0
para o Banco do Brasil em 1987, Depósitos
25,0

possivelmente pela fuga dos depósitos para 43


47 50,0

41
20,0
38 38
os bancos oficiais devido à incerteza criada 37
34
36 40,0
32 31
pelos planos econômicos. Podemos ver que 15,0 28 28
26 25
30,0

no ano seguinte boa parte deste recurso 10,0


10
20,0

9 9
migrou do Banco do Brasil para o Bradesco 5,0
9 10,0
7 8
5 5 6
e Itaú. Também é possível notar que o -
4 4 4 4 2 2 -

1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 Média
Bamerindus ocupou a 5º posição entre os BRADESCO ITAÚ BAMERINDUS B BRASIL UNIBANCO REAL

bancos privados da amostra até 1988, e nos Nota: Todos os bancos foram plotados no eixo y principal
(esquerda) e o Banco do Brasil no eixo secundário (direita). Gráfico
anos seguintes assumiu a 3º, para em 1994 elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e
Maiores (2002).
superar o Itaú e colocar-se como o segundo
maior banco privado em depósito. Vale lembrar que foi a partir de 1986 que o caso NACIONAL
teve início, o que pode ter alterado a composição final da amostra. Observamos também que o
processo de privatização significava a reorganização das estruturas de poder capitalista no Brasil, e
para os bancos em particular, poderia significar ganhar ou perder grandes clientes, dependendo do
resultado do leilão. Nesse processo, os bancos ocupavam uma posição privilegiada, pois uma boa
parte dos investimentos na aquisição das empresas leiloadas poderia ser financiada com o saldo em
conta corrente destas empresas após sua aquisição, caso elas ainda não estivessem operando com o
banco. Se fosse cliente, a derrota no leilão poderia significar a perda de uma importante conta, com
capacidade de influir nos resultados da instituição.

CONTA REMUNERADA BAMERINDUS (CRB)

770
Criada em 1985, somente em 1987 a Conta Remunerada Bamerindus (CRB) adquiriu
plenas condições para ser lançada em todo o país. O Bamerindus foi o primeiro banco a mobilizar
sua tecnologia, permitindo ao mesmo tempo manter os recursos disponíveis e oferecer
132
remuneração. Para aplicar no “over” , os bancos impunham limites mínimos aos seus clientes,
por vários motivos. Entre eles, o custo operacional envolvido com o atendimento individualizado e
o fato que a receita gerada pela aplicação do saldo disponível seria apropriada pelo cliente,
sobrando para o banco apenas a taxa de intermediação. A liquidez era imediata e a movimentação
da conta era normal, porque sua operação era simples e automática. Na prática, ao impor limites
para aplicação no “Overnight” os bancos estavam apenas tentando manter seus grandes clientes,
que poderiam trocar de banco caso não lhes fosse permitido aplicar suas sobras de caixa. Mas, para
a grande massa de pequenos e médios clientes, as possibilidades de aplicar eventuais sobras de
293

caixa estava limitada aos mecanismos tradicionais, como a poupança, que não tinha liquidez diária.
Os bancos só podiam aplicar no “over” o saldo da conta corrente após descontar as parcelas de
aplicação compulsória exigidas pelo Bacen. O Bamerindus enxergou nessa situação uma
oportunidade de mercado, lançando então a CRB, cuja grande característica era a aplicação
automática do saldo em conta corrente no “over”. Em última análise, o sistema permitia que as
aplicações fossem movimentadas através de cheques, como se fossem contas correntes comuns, só
que agora remuneradas. O banco vinha estudando, desde 1983, diversas possibilidades de
introdução de novos produtos. Entre eles estavam aqueles que permitiam ao grande público acesso
às operações indexadas de curtíssimo prazo. Segundo a VEJA (5 jul. 1989, p. 134-135)133, a conta
remunerada não era novidade, já tinha sido lançada “antes pelo Banco de Tóquio, que tem uma
clientela muito seleta e não faz muita propaganda. O próprio Bamerindus já havia lançado a conta
remunerada anteriormente, mas ela foi extinta depois de um retumbante fracasso”.
771
Segundo o Bamerindus134, quando a CRB foi lançada, em agosto, o banco contava com
30.000 clientes e, em dezembro, o quadro havia evoluído para mais de 800.000 clientes. Segundo o
banco, em 1988 os investidores continuaram concentrando seus negócios no curto prazo dando
preferência para a aplicação no “Overnight”, cadernetas de poupança e fundos ao portador. Nesse
contexto, a CRB havia atraído, até então, um total de mais de 5.000 empresas como clientes.
Fernandes (1996, p. 92) identificou, em entrevista com diretores do banco, que a partir da criação
de uma unidade voltada para a engenharia de produtos, em 1985, a postura inovadora do banco
ganhou impulso, gerando vários produtos novos, entre eles a conta corrente remunerada. Para o
autor, a CRB na verdade consistia em um depósito à vista remunerado diariamente. O produto
exigia o acordo prévio entre o cliente e o gerente da agência, que estabeleciam um patamar mínimo,
sobre o qual não haveria remuneração; a partir daí, qualquer saldo seria aplicado imediatamente em
operações de overnight, remunerando o equivalente à taxa preferencial do “over” por um dia,
descontada a taxa de intermediação do banco. A conta podia ser movimentada normalmente com
operações sem aviso prévio, todos os saques e depósitos seriam debitados ou creditados
automaticamente nas suas aplicações em “overnight”. Dessa forma, os saldos para transação dos
clientes passavam também a ser remunerados e parcialmente protegidos da inflação. O Bamerindus
apostava na conveniência da CRB para atrair novos depositantes, oferecendo a possibilidade de
atender uma grande quantidade de clientes ao permitir aos gerentes negociarem os patamares
mínimos para aplicação no over. Num estudo sobre inovações bancárias e a CRB, Alves Júnior
(1992, p. 78) identificou que havia sido decisivo para a implantação do produto o suporte dado pela
informática, pois de acordo com declarações de diretores do Bamerindus, sem ela seria impossível
atender a todos os clientes com operações manuais. Por outro lado, a CRB era uma brecha para o
banco captar recursos livres das obrigações associadas aos depósitos à vista em conta corrente ou,

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
132
Jargão utilizado na época para se referir às operações com o overnight.
133
Fonte: O banqueiro rebelde. VEJA, 5 jul. 1989, p. 134-135
294

até mesmo, à poupança, tais como o depósito compulsório no Banco Central, e as aplicações
também compulsórias no crédito rural, imobiliário, etc.
147
Poderia-se argumentar que a Conta Remunerada implicava, para o Bamerindus, em aplicações
somente em títulos públicos federais em detrimento dos empréstimos e outras aplicações
possíveis com a captação via depósitos à vista, reduzindo seus lucros. Mas como a aplicação
dos ativos em títulos públicos federais e em outros haveres de curto prazo foi uma tendência
que se manifestou fortemente no sistema bancário dos anos 80, a Conta Remunerada mostrava-
se perfeitamente compatível com essa evolução. (ALVES JÚNIOR, 1992, p. 79).

772
O problema com a CRB, entretanto, estaria na perda da receita obtida pelo banco, sobre o
montante de recursos que ficavam disponíveis por não alcançarem o patamar mínimo de aplicação.

A CRB E SUA MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO

773
Para Alves Júnior (1992), a margem de contribuição135 obtida com os depósitos à vista
dependiam de vários fatores, entre eles, do montante de depósito compulsório no Banco Central,
sem remuneração, destinações compulsórias como para o crédito rural, das taxas de juros nominais,
atreladas à inflação e das taxas de juros reais praticadas nas operações de empréstimos, bem como
dos custos operacionais. Nas CRBs, a margem de contribuição dependia da taxa de intermediação
cobrada dos clientes sobre as operações, bem como do valor do patamar sem remuneração destas
contas. Uma análise de cada operação apontaria para uma realidade na qual a taxa de intermediação
deveria ser superior à margem obtida com as operações tradicionais:
148
Segundo informações prestadas pelo Bamerindus, a rentabilidade mensal dos depósitos à vista,
no ano de lançamento da Conta Remunerada, era da ordem de 6%, enquanto a Conta
Remunerada tinha rentabilidade de 4,5% mensais. Se o lançamento da Conta Remunerada
provocasse a conversão de todos os depósitos à vista de seus clientes, o banco teria uma
rentabilidade global inferior à que obtinha antes do seu lançamento, se as rentabilidades
permanecessem constantes. O sucesso mercadológico da Conta Remunerada seria um fracasso
financeiro. (ALVES JÚNIOR, 1992, p. 82)

774
Para viabilizar o produto, as análises do Bamerindus contavam com um cenário no qual o
aumento da inflação desencadearia uma política monetária restritiva, com medidas como a elevação
do depósito compulsório no Banco Central. O próprio crescimento da inflação seria um dos grandes
pontos de atração para a CRB:
149
Pronto desde o início de 1986, o lançamento esperou pelo período pós-Plano Cruzado, pois [...]
o banco esperava que com o fracasso do Cruzado a inflação voltaria a crescer, o Governo se
manteria ávido em colocar títulos públicos no mercado, e a demanda por liquidez aumentaria, a
Conta Remunerada poderia ser um sucesso [...] (ALVES JÚNIOR, 1992, p. 93)

775
Mas o grande objetivo da CRB era aumentar a carteira de clientes do banco. Qualquer
avaliação do resultado líquido do novo produto teria que computar o custo do esforço
mercadológico para angariar esses clientes para as contas tradicionais. Esse aumento não poderia

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
134
Fonte: Bamerindus: Relatório Anual (1987, p. 9).
135
Margem de contribuição aqui é entendida como a diferença entre a receita variável e o total dos custos e despesas variáveis
relacionadas diretamente ao produto em análise. (Nota do autor)
295

vir do crescimento global de novos clientes, mas sim da migração de clientes de outros bancos para
o Bamerindus.

ALGUNS RESULTADOS

776
Para alcançar esse objetivo, o banco contava com a vantagem tecnológica sobre a maioria
dos seus concorrentes, com exceção dos grandes bancos privados como Bradesco e Itaú. Apesar de
boa parte do SFN ter investido pesadamente na área de informática durante os anos 1970 e 1980,
Alves Júnior (1992) menciona uma hipótese levantada, na época, pelos funcionários do
Bamerindus, que identificava uma vantagem tecnológica não intencional do banco com relação aos
seus mais fortes concorrentes.
150
Segundo o Bamerindus, a arquitetura de seus sistemas era descentralizada, o que era uma
desvantagem sobre muitos aspectos, mas foi muito importante como vantagem [...] [a]
economia de transmissão e processamento de dados advindos de sua arquitetura. [...] Como o
seu sistema era descentralizado, após a compensação de cheques e o estabelecimento dos
saldos de cada cliente, cada agência calculava a rentabilidade diária da Conta Remunerada e
creditava nas respectivas contas. Era enviado, de cada agência, para a central de processamento
do banco, apenas o saldo total a ser lastreado. O banco então “casava” este saldo com seu
estoque de títulos públicos federais, fechando sua posição junto ao Banco Central. Somente no
dia seguinte, seriam enviados os saldos de cada conta para serem efetivamente lastreados, isto
é, que para cada saldo de conta fosse destinado um volume correspondente de títulos. Essa
transmissão, no dia seguinte, poderia ser feita por meios mais econômicos e com limite de
tempo ampliado. [...] No caso dos bancos com arquitetura centralizada, o processamento era
todo feito numa base central. Assim, após a compensação, o saldo de cada conta deveria ser
enviado para essa base, para que fossem calculadas as rentabilidades de cada conta e remetidos
de volta a sua agência de origem. [...] Como a rentabilidade das contas deveria estar à
disposição dos clientes no dia seguinte, o custo de transmissão de dados ficaria muito alto, uma
vez que tudo deveria ser transmitido e recebido no mesmo dia. Além disso, o processamento
das várias operações nos computadores centrais poderia exigir investimentos em novos
equipamentos que tornassem a Conta Remunerada não lucrativa. Tal sistema poderia mesmo se
inviabilizar, pois dependeria da obtenção de canais suficientes pela EMBRATEL para
transmissões via satélite do conjunto destes dados. (ALVES JÚNIOR, 1992, p. 85-86)136.

777
Na verdade, o Bamerindus abriu mão de parte de sua rentabilidade com o intuito de ampliar
sua base de clientes, atitude que foi encarada com muita cautela pelos seus concorrentes que, para
tentar neutralizar o novo produto, adotaram como estratégia negociar caso a caso nas agências. Eles
ofereciam algumas vantagens quando fosse necessário, tentando evitar a universalização do
produto, pois a denominação Conta Remunerada remetia ao modelo clássico de remuneração dos
depósitos.
151
Em março de 1988, a Conta Remunerada apresentava 921.438 correntistas, onde pelo menos
600.000 eram novos clientes do banco, num universo de 2.500.000 correntistas, e atingia um
percentual de 53,8% dos correntistas pessoas físicas. [...] Além disso, com o aumento da
captação o Bamerindus obteve maior independência dos aplicadores de maior porte e reduziu a
remuneração do seu overnight para 80% da taxa de mercado Com isso, seu spread na Conta
Remunerada, que variava de 20% até 30% da sua taxa de over permitia ao banco obter um

136
Segundo Alves Júnior (1992), trata-se de hipótese a espera de verificação, o Bamerindus a utilizava para tentar entender
porque o Bradesco não lançou sua versão de Conta Remunerada e, o Itaú só ter introduzido a sua, no final de 1989.
296

spread total sobre o “produto” da ordem de 36% a 44% sobre saldos aplicados de overnight.
(ALVES JÚNIOR, 1992, p. 89-90).

778
No mercado financeiro somente alguns bancos acompanharam o Bamerindus, entre eles,
ainda em 1987, estavam o Banco do Estado do Ceará S.A. (BANCESA), o Banco de Tókio e o
Banco Nacional em 1988, os bancos Real, Bozano Simonsen, Citibank e o Banerj. Segundo
Ademar Padron, que na época era coordenador de investimentos do Bamerindus, um fator muito
importante teria sido levado em consideração pela administração do Bamerindus para tomar a
decisão de lançar a CRB:
152
[...] ainda em 1985 [...] [era] difícil [a] situação financeira enfrentada [pelo Bamerindus] no
período. Houve uma série de quebras de bancos do sul, como o Auxiliar, o Comind e o Sul-
Brasileiro, e o Bamerindus chegou também a ficar em situação difícil. [...] O novo presidente,
José Eduardo Andrade Vieira decidiu pela introdução do novo produto, mesmo com o risco de
o seu principal resultado ser a perda de depósitos à vista. (ALVES JÚNIOR, 1992, p. 88-89).

779
A crise de liquidez enfrentada pelo Bamerindus na época, e a perspectiva de mais uma
intervenção, e agora numa instituição daquele porte, com todas as conseqüências políticas e
econômicas, talvez explique, em parte, a aparente passividade do Bacen e dos grandes concorrentes
perante o lançamento da CRB. Depois de implantada a conta, o volume de recursos acumulado e
aplicado em títulos passou a condicionar a decisão do governo, pois para acabar com ela teria que
indicar ou criar fontes alternativas para cobrir boa parte dos recursos que seriam deslocados dos
títulos em carteira. O Bamerindus operou com a CRB até o anúncio do Plano Collor em 16 de
março de 1990, data em que o Bacen suspendeu e reformulou todas as operações no mercado aberto
e determinou ao Bamerindus que encerrasse este tipo de operação. O banco ainda tentou lançar um
substituto, que acabou não se viabilizando.

O ENDIVIDAMENTO: CAPITAL DE TERCEIROS – EMPRÉSTIMOS (K3)

780
As fontes de financiamento com capital de terceiros, aqui entendido como o total do passivo
descontado o saldo da conta depósitos, tem por característica a remuneração dos valores captados
no mercado financeiro. Como já vimos, ao lançar a CRB, boa parte dos depósitos migraram para
esta conta, já que agora eram remunerados. Percebe-se que no ano do lançamento da CRB, o saldo
da conta de capital de terceiros saltou de US$ 0,7 bilhões para US$ 7,3 bilhões (ver Gráfico 5-39).
Este crescimento no período 1987 a 1989 (ver Gráfico 5-40) fez com que o Bamerindus aumentasse
o nível de endividamento, tendo chegado a operar em 1988 com 89% de sua estrutura de capital
baseada no capital de terceiros, ao passo que a amostra atingia 69%. No total do período, apenas
nestes três anos o banco manteve o endividamento acima do comportamento da amostra.
297

Gráfico 5-39: Capital de Terceiros (K3) do Banco Gráfico 5-40: Participação do K3 na estrutura de capital
Bamerindus (1981 a 1994) do Bamerindus no período 1981 a 1994. (em %)

12.000 100
11.121
90

10.000 89
80 86
70 71
69
80 75
8.157 70 67 67 65 74 65
8.000
7.291 69 69 70 65
59
60 60
48 51
60 58 59
50 56 59
6.000
4.874
4.905 48 46 50
4.459 40

4.000
3.214 30
38
2.197 2.777
20
1.514 1.954
20
2.000
1.380 1.341 10
697
0
- 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 Média
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 Capital de Terceiros / Ativo Total AMOSTRA

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002).
781 Gráfico 5-41: Participação do Capital de Terceiros no total
Quando verificamos a participação do
da amostra no período 1981 a 1994 (em %)
banco na amostra (ver Gráfico 5-41), podemos 12
11
90

Capital de Terceiros 78
80
perceber que no período 1987 a 1989 o 10
69 69 68
67 9
66 65
67 9 70
64 64
Bamerindus superou o Itaú, bem como a sua 8
9 60
61

60
55
52

evolução acompanhou a tendência dos demais 6


6 7 7
50

bancos privados no restante do período. Vale 4


5 6
5 5
40

4 30

observar que, assim como vários bancos, nos 3 2


3

4
4
4
20
3 4
anos 1990 o Bamerindus também realizou 2
2
2
4

10

1
diversas operações de captação de recursos no - -

1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 Média

exterior, buscando aproveitar taxas menores que BRADESCO ITAÚ BAMERINDUS B BRASIL NACIONAL

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados


as praticadas internamente. obtidos em Melhores e Maiores (2002).

PATRIMÔNIO LÍQUIDO

782 Gráfico 5-42: Capital Próprio (Kp) ou Patrimônio Líquido


Em 1981 o Banco Bamerindus tinha do Bamerindus (1981 a 1994)
US$ 286 milhões de capital próprio (ver Gráfico 900

881
5-42), aqui entendido como o valor acumulado 800

655 651
no Patrimônio Líquido; em 1994 este montante 700
605
568
600

chegou a US$ 881 milhões, ou 434


500
398 419 395
401
375 373
aproximadamente três vezes o valor inicial. 400
351
286
Parte do crescimento registrado em 1989 tem 300

relação com a criação do banco múltiplo e a 200

100
conseqüente incorporação das empresas
-

financeiras do grupo ao banco. A queda, em 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados


1990, está relacionada às perdas com o Plano obtidos em Melhores e Maiores (2002).
298

Collor. Note-se que em 1994 houve um aumento de US$ 230 milhões que, em boa parte, era
resultado da reorganização patrimonial que estava sendo realizada no grupo.
783
O crescimento de 1985 está relacionado Gráfico 5-43: Participação do Capital Próprio (Kp) na
estrutura de capital do Bamerindus no período 1981 a
aos ajustes na estrutura face à crise de liquidez 1994 (em %).
(ver Gráfico 5-43). A estratégia do Bamerindus 18
Patrimônio Líquido / Ativo Total

para crescer no período 1987 a 1989 estava 16

baseada no aumento da alavancagem financeira, 14

pois saiu de um patamar que desde 1976 não era 12

10
inferior a 9%, para 4% em 1988 e 1989, 17
8

aumentando significativamente a exposição do 14


6 12 12 11 12 11
banco ao risco de mercado. A este quadro devem 9
4
7 7
5 6
ser acrescentadas as declarações dos técnicos do 2
4 4

Bacen, que o banco não havia feito as provisões 0

1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993

necessárias para os títulos de baixa liquidez que Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados
obtidos em Melhores e Maiores (2002).
estavam registrados na conta empréstimos e
financiamentos. Caso não tenham sido realmente efetuadas tais provisões, o valor de fato do
Patrimônio Líquido era menor que o publicado. Esta posição de relativa fragilidade pode explicar
em boa parte a decisão de JE de participar diretamente da política. Também devemos lembrar que
na época, para manter sua posição, o banco tinha que promover investimentos crescentes na
expansão não só da rede de agências, como na automação dos processos e logo em seguida,
participar do processo de privatização. Vale lembrar que a privatização também significava para o
banco a possibilidade de ter valorizado o seu estoque de títulos públicos, sendo esta uma das
oportunidades oferecidas pelo Estado para resgatar parte da sua dívida com os agentes econômicos.
784
Essa situação expõe as ambigüidades das relações entre o Sistema Financeiro e o setor
público, pois, se por um lado a crise financeira do Estado reduzia ou aniquilava o valor dos títulos
da dívida pública, que em boa parte estavam estocados nos bancos, por outro o Bacen, como
autoridade reguladora pública e integrante da estrutura do Estado, tinha por função exigir que os
bancos reconhecessem em seus balanços as perdas com esses mesmos títulos. Em muitos momentos
JE declarou que as dificuldades do Bamerindus tinham como principal fato gerador a crise
financeira do Estado, que não “honrava seus compromissos”. É neste contexto que podemos
compreender as constantes trocas de posição da área de fiscalização do Bacen no caso do
ECONÔMICO e a aparente liberalidade ou “incompetência” do poder público perante os
problemas do NACIONAL, ou a atuação das empresas de auditorias envolvidas, que aparecem no
Relatório Final da CPI dos Bancos.
785
Intervenções para sanear o sistema implicavam, no governo, ter que enfrentar uma delicada
equação político-financeira que envolvia desde o financiamento de campanhas eleitorais, até o
reconhecimento de dívidas de discutível base legal, como as da Sunamam, BNCC, Coroa-Brastel,
IAA, etc. Neste cenário encontramos, de um lado, o Bacen considerando que boa parte da dívida
299

pública em poder dos bancos era recurso de depósitos, sendo os bancos meros intermediários
operando sob concessão do poder público; se o Estado tinha dificuldades financeiras para cumprir
os prazos dos títulos, caberia aos bancos apenas esperar, pois os saldos em conta corrente
continuariam financiando tais títulos estocados em suas carteiras. Do outro lado, os bancos
consideravam tais títulos como de sua propriedade (privada), com direito à liquidez e remuneração
conforme contratado na época do lançamento dos títulos. Segundo Fernandes (1997), JE temia que
o PT no governo acabasse escolhendo a estatização do sistema como um dos caminhos para
desempatar o jogo.
786
Quando comparamos a participação do capital próprio do Bamerindus na estrutura de
capital com a amostra (ver Gráfico 5-44), podemos verificar que a média do banco (9,4%) estava
muito abaixo de seus maiores concorrentes, como o Bradesco (16,9%) e o Itaú (16%), bem como
era menor que os resultados obtidos pelos bancos ECONÔMICO (11,2%) e Unibanco (11,1%). Por
outro lado, estava bastante próximo da média da amostra (10,7%) e do Banco do Brasil (9,9%). Tal
situação significa que, para o Bamerindus atingir os índices de capitalização do Itaú e do Bradesco
em 1994, teria que aumentar a participação do capital dos acionistas com um aporte aproximado de
US$ 1,2 bilhões (mais 136%) ou reduzir seus investimentos em aproximadamente US$ 6,8 bilhões
(menos 58%). Para tanto, teria que levar em consideração que boa parte dos seus investimentos em
carteira eram títulos públicos com baixa liquidez.

Gráfico 5-44: Percentual do Patrimônio Líquido por banco (1981 a 1994) (em %).

22
% PL/AT
20

18

16

14

12

10

0
1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 Média
BRADESCO 16 20 20 20 21 18 18 10 8 10 21 19 15 19 16,9
BAMERINDUS 12 14 12 11 17 12 5 4 4 6 11 9 7 7 9,4
ITAÚ 13 14 18 20 19 15 16 13 10 11 21 21 16 18 16,0
ECONÔMICO 9 11 10 12 14 13 18 15 12 5 11 10 10 8 11,2
UNIBANCO 9 11 10 10 15 11 17 15 9 9 13 9 8 8 11,1
AMOSTRA 10 12 12 13 13 12 10 9 8 7 11 11 10 10 10,7

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002).

787
Também temos que considerar que o uso da alavancagem como instrumento nos negócios
tem limites no tempo e na quantidade de capital utilizado. Após ultrapassar tais limites, os prêmios
de risco exigidos pelos investidores nas operações com a instituição acabam superando as
300

expectativas de ganho, invertendo a relação custo / benefício.


788
Neste cenário, e necessitando de capital para financiar a agenda de investimentos do banco,
entre as diversas alternativas disponíveis para manter-se no jogo, JE tinha que: conseguir transferir
para o Estado boa parte dos problemas acumulados no patrimônio do banco; ou encontrar novos
sócios, o que implicaria ter que dividir ou perder o poder; ou reduzir a agenda de investimentos e
perder posição para os concorrentes ou até mesmo inviabilizar o negócio pela perda de escala; ou
vender o banco e entrar num novo negócio, como o de comunicação de massa, por exemplo.
789
Este cenário de baixa capitalização do Bamerindus e de outros bancos foi objeto de análise
da CPI dos Bancos, cujo Relatório Final registrou que:
153
Mesmo antes da decretação do Plano Real, a situação do Sistema Financeiro nacional já era
frágil. A grande maioria das instituições financeiras não tinha estrutura de capital sólida. Os
bancos costumavam trabalhar muito alavancados, ou seja, emprestando várias vezes seu
capital. Antes da adesão do Brasil ao Acordo da Basiléia, nossos bancos podiam trabalhar com
até 15 vezes o capital. Além disso, a qualidade da fiscalização deixava muito a desejar.
Empréstimos ruins eram muitas vezes contabilizados como bons, e os episódios de fraude eram
endêmicos.
154
A introdução do Plano Real, em 1994, produziu grandes impactos no Sistema Financeiro. [...]
Uma das primeiras conseqüências do Plano Real foi uma drástica redução das transferências
inflacionárias, o que diminuiu a lucratividade potencial das instituições financeiras.
155
O segundo grande impacto aconteceu a partir de agosto de 1994, quando o Brasil aderiu, com
sete anos de atraso, às normas do Acordo da Basiléia . O acordo [...] estabeleceu padrões
internacionais de capitalização para as instituições bancárias, com o objetivo de diminuir a
fragilidade dessas instituições em face da onda de globalização da economia.
156
O Acordo da Basiléia estabeleceu, para os bancos [...] um limite mínimo de capitalização de
8% do total dos ativos, ponderados de acordo com classes de risco. Como conseqüência deste
acordo, os bancos foram pressionados a aumentar sua base de capital, reduzindo, portanto, os
riscos de falência. No Brasil, o prazo estipulado para que as instituições financeiras se
enquadrassem nos princípios desse acordo foi relativamente curto: oito meses. Em outros
países, como os EUA, concedeu-se um prazo de cinco anos. A adesão brasileira [...] se
traduziu, no curto e médio prazo, em um fator de perturbação do mercado. Os bancos foram
forçados a fazer um severo esforço de adaptação que se traduziu em encolhimento da oferta de
empréstimos e nova queda da lucratividade potencial. (RELATÓRIO FINAL - CPI DOS
BANCOS, 1999, p. 279-280).

790
O atraso na implantação do Acordo da Basiléia pode ser explicado, em boa parte, pelo fato
que a ponderação dos ativos por classe de risco encontraria pela frente muitos títulos públicos, não
só federais, mas também estaduais e municipais bem como o FCVS, o que exigiria contrapartidas
do Estado, como por exemplo, a reforma da dívida pública. Quanto ao número de acionistas, na
Tabela 5-7 podemos verificar que oscilou entre 61.896, em 1988, e 54.564, em 1994, observando
que neste último ano o Itaú possuía 72.657 acionistas e o Bradesco 2.523.709. Comparado com este
último, podemos dizer que no tocante aos acionistas, o Bamerindus tinha uma baixa densidade
social, o que em certos momentos de crise pode significar fragilidade diante do poder público. Caso
contrário, ações ou medidas mais duras contra o banco certamente exigiriam uma reflexão mais
cuidadosa do poder público diante de um quadro de alguns milhões de sócios. Quadro este que, por
outro lado, também estabeleceria condicionamentos diferenciados para a gestão do Bamerindus.
301

Tabela 5-7: Acionista do BBB e do Grupo Bamerindus (1982 a 1994)

Ano BBB Total do Grupo


1982 n.i. 50.000
1984 n.i. 68.000
1986 n.i. 80.000
1988 61.896 81.787
1989 62.000 n.i.
1990 58.901 72.351
1991 56.780 69.531
1992 54.558 76.908
1993 53.269 n.i.
1994 54.564 104.500
Nota: n.i = não informado.
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nos dados extraídos dos relatórios financeiros do Grupo
Bamerindus (diversas datas).

5.3.3.3.4 RENTABILIDADE

791 Gráfico 5-45: Lucro Líquido do BBB no período 1981 a 1994 (em US$
No Gráfico 5-45, podemos
milhões).
verificar que no ano que JE assumiu
100 Lucro Líquido (LL) 103
a Presidência do Grupo, o BBB 87

declarou um Lucro Líquido137 de 80


82
75

US$ 82 milhões, tendo atingido o 59 59 59


60
seu ponto mais baixo em 1984, com 48 46 46

US$ 21 milhões. Aumentos 40


36 37
29
significativos ocorreram em 1985, 21

1989, 1993 e 1994, quando então 20

registrou um lucro de US$ 103 -


1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994
milhões. Na comparação destes
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores
resultados com o Patrimônio Líquido e Maiores (2002).
verificamos que, apesar dos aumentos significativos dos valores absolutos, em termos relativos a
rentabilidade manteve a tendência de queda por todo o período (1976 a 1994), conforme pode ser
conferido no Gráfico 5-46. Esta tendência acompanhava o comportamento da amostra, cuja
simetria só foi quebrada no ano de 1978. De certa forma as taxas de lucratividade do BBB não
acompanharam, na mesma proporção, o aumento do risco. É importante observar que, ao optar pela
maior exposição ao endividamento a administração do banco certamente esperava aumentar a
rentabilidade sobre o Patrimônio Líquido, o que acabou acontecendo, mas de forma
desproporcional ao risco assumido, e sem reverter a tendência de queda.

137
Nesta análise consideramos o Lucro Líquido como o resultado final obtido pelo banco após a provisão do imposto de renda,
e publicado na peça contábil Demonstração do Resultado do Exercício (nota do autor).
302

Gráfico 5-46: Rentabilidade do Patrimônio Líquido no período 1976 a 1994 (em %)


35,0%
Rentabilidade (LL/PL)
BAMERINDUS LL/PL
32%

30,0%
AMOSTRA LL/PL

25%
25,0% 25% (LL/((PL1+PL2))/2)

Log. (BAMERINDUS LL/PL)


20,0%
19% 19%
19%
Log. (AMOSTRA LL/PL)
17%
15,0% 15%
15% 15%
13%
26% 12% 29% 12%
25% 11%
21% 11%
10,0% 10% 10%
10%
20% 16% 16% 15% 7%
12% 13%
12%
5,0% 10% 10% 12%
8% 8%
7%
6% 6%

0,0%
1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Nota: Rentabilidade = Lucro Líquido / Patrimônio Líquido. Linha de tendência do tipo logarítmica.
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002).
792
No Bamerindus, observamos que Gráfico 5-47: Correlação da rentabilidade do Bamerindus com a
taxa de inflação no período 1977 a 1994 (em %).
havia uma correlação negativa entre a Bamerindus

tendência de queda na rentabilidade e o 35,0% 3000

2500
crescimento da inflação. Como pode ser 30,0%

2000

verificado no Gráfico 5-47, tal 25,0%

1500

comportamento é bastante similar ao da 20,0%

1000

amostra. Ao que parece, no longo prazo, o 15,0%


500

aumento da taxa de inflação teria 10,0%


0

influência negativa sobre a rentabilidade 5,0%


-500

do banco, apesar dos esforços realizados 0,0%


1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994
-1000

Rentabilidade do Patrimônio Líquido (LL/PL) IGP - DI


Log. (IGP - DI) Log. (Rentabilidade do Patrimônio Líquido (LL/PL))
pelo BBB para expandir a rede de agências
e outros pontos de captação, bem como os Nota: A Rentabilidade foi plotada na escala do eixo y principal
(esquerda) e o IGP (DI) no eixo y secundário (direita). As linhas de
investimentos em automação bancária. tendência são do tipo logarítmicas.
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados de Melhores
793
Em comparação com os demais e Maiores (2002) e IGP (DI) obtido de FGV (2005).

bancos (ver Gráfico 5-48), na média a rentabilidade do Bamerindus (11,6%) foi apenas superior ao
Banco do Brasil (10,7%), e inferior aos 13% obtidos pela amostra. No Gráfico 5-49 é possível
verificar que a participação do Bamerindus no Lucro Líquido da amostra era bastante inferior ao
registrado pelo Bradesco e Itaú, ficando atrás do Unibanco e do REAL. Neste mesmo gráfico é
possível observar que em 1986, 1989 e 1994, os picos de lucratividade dos bancos privados eram
acompanhados de quedas significativas na participação do Banco do Brasil. Os resultados do
Bamerindus estão relacionados a vários fatores. Entre os mais importantes estariam a rede de
agências e os gastos com empregados, que na seqüência analisaremos.
303

Gráfico 5-48: Rentabilidade do Patrimônio Líquido no Gráfico 5-49: Participação do BBB no Lucro Líquido da
período 1976 a 1994 (em %) amostra no período 1981 a 1994 (em %)

30,0 70,0
20,0% 29 28
Média LL/PL (1981 A 1994) 62 Lucro Líquido (LL) 26
59
58 58
18,0% 57 60,0
25,0 55 23
16,0%
48 21
50,0
20
20,0
14,0%
18 17
17 17 40
16 40,0
12,0%
15 17
BANESPA

15,0 33
31 31
19,4%
BRADESCO

10,0% 14 30,0
ECONÔMICO
16,3%

24
NACIONAL

UNIBANCO
15,0%

BAMERINDUS
AMOSTRA
ITAÚ

28
13,9%

8,0%
13,7%

13,5% 10,0

13,3%
REAL

13,0%

B BRASIL
20,0

11,6%

10,7%
6,0%

5,0 8
4,0% 6 10,0
6,6
4,7 4,8 5,1
3,9 3,8 3,7 3,8 3,1 3,5
2,0% 2,4 2,1 1,7 2,2
1,3
- -

0,0% 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 Média
BRADESCO ITAÚ BAMERINDUS B BRASIL UNIBANCO REAL

Nota: Rentabilidade = Lucro Líquido / Patrimônio Líquido. Nota: Todos os bancos foram plotados no eixo y primário
Linha de tendência do tipo logarítmica. (esquerda) e o Banco do Brasil no eixo secundário (direita).

Fonte: Gráficos elaborados pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002).

AS AGÊNCIAS

794 Gráfico 5-50: Número de agências do Banco Bamerindus. (1981 a


Fisicamente, o crescimento do
1994)
Bamerindus no período pode ser Total de Agências (Branches)

1.352
1.300

1.325
1.324
avaliado pela expansão de sua rede de

1.297
1.200

1.219
agências, que pode ser conferida no
1.100
Gráfico 5-50. É importante observar
1.000
que a principal fonte de dados foram os
1.003
942

900
relatórios do próprio banco, e que o
864

859

800
número de agências era importante
818

810

801

700
para a promoção da instituição. Apenas
704

alguns dados foram passíveis de


634

600

cruzamento com outras fontes. 500

1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Também destacamos que, por falta de Fontes: Gráfico elaborado pelo autor, com base nos dados extraídos dos
Relatórios anuais e semestrais dos Conselhos e Diretorias e Annual Report
fontes consistentes não foi possível (diversos anos), revista Balanço Anual (1981-1994), e Guia Brasil 1993
identificar o número total de pontos de apud Tabela 4, (DIEESE, 1994).

atendimento, que incluiriam, além das agências, terminais eletrônicos, postos de atendimento
bancário, etc. No Gráfico 5-50 é possível observar que o número de agências evoluiu de 634 em
1981, para 1.352 em 1994, o que equivale a um aumento de 113%. No Gráfico 5-51, podemos
verificar que apesar da aquisição em 1986 de 33 agências dos bancos sob intervenção, Comind e
Auxiliar, das quais 26 localizadas no Estado de São Paulo, neste ano e no ano seguinte, pela
primeira vez desde 1972, houve redução no número de agências (-141). O fechamento delas fazia
parte de uma série de medidas adotadas pela administração para enfrentar a grave crise vivida pelo
grupo em 1985.
304

Gráfico 5-51: Evolução no número de agências do Banco Bamerindus no período de 1972 a 1994. (em %)
35%
34%
30%

25%
22%
20%
16% 17%
15%
15%
11%
10% 9%
10%
7% 8% 7%
6% 6% 6%
5% 3% 4%
3% 2% 2%
1%
0%
0%

(1%)
-5%

-10%

(14%)
-15%
1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

Fontes: Gráfico elaborado pelo autor, com base nos dados extraídos dos Relatórios anuais e semestrais dos Conselhos e
Diretorias, Annual Report (diversos anos), revista Balanço Anual (1981-1994), e Guia Brasil 1993, apud Tabela 4 (DIEESE,
1994).
795
Na seqüência dos fatos, no dia 5 de outubro de 1989 foi inaugurada a 1001º agência
Bamerindus, a Pacaembu, em São Paulo (SP), e segundo relatórios internos, com ela o Banco
atingia a marca de 2º maior rede bancária privada atendendo aproximadamente 1,2 milhões de
correntistas. Em 1993, o banco chegou a possuir 4.169 pontos de atendimento, compostos por
agências conectadas em tempo real, postos avançados, terminais eletrônicos, etc., que abrangiam
um total de 936 cidades. Mantinha em sua carteira de clientes 2.700 grandes empresas nacionais e
estrangeiras. Em 1994, o Banco contava com 5.137 pontos de atendimentos, sendo 1.350 agências
no País, duas no exterior, 1.128 Postos de atendimento bancário especiais, 84 postos de arrecadação
e pagamentos, 19 departamentos de câmbio, 3 escritórios de representação: Londres, Buenos Aires
e Hong-kong, 1.679 caixas automáticas, 416 quiosques do Banco 24 Horas e 456 terminais da Rede
Fácil.138

Tabela 5-8: Localização das agências do Bamerindus por Estados e Regiões.


Rede de Agências 1983 1984 1986 1988 1991 1992 1994 Média
Distrito Federal 2 3 3 5 13 5
Goiás 38 40 32 34 41 37
Tocantins 13 13
Mato Grosso 32 36 42 43 57 42
Mato Grosso do Sul 48 51 50 49 81 56
Centro-Oeste 120 130 127 131 205 208 209 161
Alagoas 10 10 3 4 4 6
Bahia 25 25 19 18 40 25
Ceará 13 19 7 6 11 11
Maranhão 7 9 5 7 13 8
Paraíba 10 11 3 5 8 7
Pernambuco 3 2 2 3 13 5
Piauí 2 2 2 4 3
Rio Grande do Norte 3 3 1 2 4 3

138
Fonte: Dados extraídos do Projeto Memória Bamerindus (1995) e Bamerindus: Relatórios Semestrais e Annual Report
(vários anos).
305

Tabela 5-8: Localização das agências do Bamerindus por Estados e Regiões.


Rede de Agências 1983 1984 1986 1988 1991 1992 1994 Média
Sergipe 4 4 1 2 4 3
Nordeste 75 85 43 49 101 110 111 82
Acre 1 1 1 1 2 1
Amapá 1 2 3 3 2
Amazonas 1 1 3 4 6 3
Pará 10 20 30 32 43 27
Rondônia 11 15 17 18 19 16
Roraima 1 1 1 1 1 1
Norte 24 39 54 59 74 66 91 58
Espírito Santo 3 3 5 8 14 7
Minas Gerais 77 81 55 54 90 71
Rio de Janeiro 64 67 65 68 112 75
São Paulo 150 152 175 211 309 199
Sudeste 294 303 300 341 525 531 532 404
Paraná 210 210 197 194 242 211
Rio Grande do Sul 41 43 36 35 75 46
Santa Catarina 53 53 51 48 73 56
Sul 304 306 284 277 390 406 407 339
Cayman Islands / B. W. I. 1 1 1 1 1 1
Nova York - EUA 1 1 1 1 1 1 1 1
Exterior 1 1 2 2 2 2 2 2
Total de Agências 818 864 810 859 1.297 1.323 1.352 838
Fontes: Tabela elaborada pelo autor com base nos dados extraídos dos Relatórios anuais e semestrais dos Conselhos e
Diretorias, Annual Report (diversos anos), revista Balanço Anual (1983-1994), e Guia Brasil 1993, apud Tabela 4. (DIEESE,
1994).

796
Desde 1983, o BBB estava presente em todos os Estados brasileiros (ver Tabela 5-8), e as
Regiões Sul e Sudeste concentravam 71% das agências (ver Gráfico 5-54 Gráfico 5-53). Os
relatórios internos sempre enfatizaram os investimentos em região de fronteira como estratégicos
para o futuro do banco. Como exemplo reproduzimos a declaração a seguir:
157
Grande parte das agências inauguradas em 1984 estava localizada em regiões pioneiras como:
Ananindeua (PA), São Gabriel do Oeste (MS), Aldeota / Fortaleza (CE), Redenção (PA),
Açailândia (MA), Imperatriz (MA), Colorado D’oeste (RO), Capanema (PA), Castanhal (PA),
Couto Magalhães de Goiás (GO), Altamira (PA), Santarém (PA), além da primeira agência
Bamerindus no Estado do Amapá, em Macapá. (MEMÓRIA BAMERINDUS, 1995, anos
1981-1994)

Gráfico 5-52: Número médio de agências por Região - 1983 Gráfico 5-53: Participação média das agências por Estado
a 1994 (em %) (1983 a 1988)
Pará Bahia
25 Roraima
Goiás 27 Cayman lslands / B.W.I.
3% 1
37 3% 1
0%
Centro- Nordeste 4% 0%
Nova Iorque - EUA
Oeste 8% Mato Grosso 1

Sul 15%
42
4%
0%

33% Paraná
Rio Grande do Sul
211
22%
Norte 46
5%

Sudeste 5%
39% Santa Catarina
56
Exterior 6%
0,2% Mato Grosso do São Paulo
Sul Minas Gerais Rio de Janeiro 199
56 71 75 21%
6% 8% 8%
Fontes: Gráficos elaborados pelo autor, com base nos dados extraídos dos Relatórios anuais e semestrais dos Conselhos e
Diretorias, Annual Report (diversos anos), revista Balanço Anual (1983-1994), e Guia Brasil 1993, apud Tabela 4, (DIEESE,
1994).
306

797
Também podemos verificar que o percentual de agências da Regiões Sul decrescia de 37%
em 1983 para 30% em 1994 (ver Gráfico 5-54, Gráfico 5-52 e Gráfico 5-53), e no mesmo período a
Região Sudeste crescia em importância ao ter sua participação elevada de 36% para 39%. Na
média, as agências destas duas Regiões estavam concentradas basicamente no Estado do Paraná,
que detinha 24% do total do BBB, e no Estado de São Paulo com 20%. Neste sentido é importante
observar que o número de agências no Paraná foi reduzido de 210 agências em 1983 para 194 em
1994 (-7,6%), ao passo que no Estado de São Paulo este número cresceu de 150 em 1983 para 211
no final do ano de 1994, o que equivale a 40% de acréscimo. Tal movimento parece indicar que o
Paraná vinha perdendo importância no arranjo institucional do banco, havendo um avanço no
território paulista, aumentando a pressão sobre seus maiores concorrentes: Bradesco, Itaú e
Unibanco.

Gráfico 5-54: Evolução e participação médias das agências do Bamerindus por Região (em %)
45
40
40
40

39

40 1983 1984 1986 1988 1991 1992 1994


37
37
36

35
35

35
32

35
31
31
30

30

25

20
16
16
16

15
15
15
15

15
10
9

8
8
8

10

7
7
6
5

5
5
5
5
3

Sudeste Sul Centro-Oeste Nordeste Norte


Fontes: Gráficos elaborados pelo autor, com base nos dados extraídos dos Relatórios anuais e semestrais dos Conselhos e
Diretorias, Annual Report (diversos anos), revista Balanço Anual (1983-1994), e Guia Brasil 1993, apud Tabela 4, (DIEESE,
1994).
798
Segundo o Bamerindus, em 1990 a Tabela 5-9: Imóveis utilizados pelo Bamerindus (1990 a 1992)
rede de agências e outras instalações Ano Próprios Locados Arrendados Comodato Total

chegaram a utilizar 2.791 imóveis (ver Tabela 1990 728 1.279 784 2.791
1991 702 1.319 36 264 2.321
5-9). Para se ter uma idéia da complexidade
1992 684 1.370 44 367 2.465
do gerenciamento desta estrutura, desde 1987
estava em curso um programa interno Fontes: Gráfico elaborado pelo autor, com base nos dados
extraídos dos Relatórios anuais e semestrais dos Conselhos e
chamado “Cruzada pela Legalidade”, cujo Diretorias e Annual Report, de diversos anos.

objetivo era avaliar e enquadrar todas as


agências do banco nos critérios estabelecidos pela legislação e normas internas. Segundo Gilmar
Tadeu Strasbach, na época coordenador do programa, em 1989 já era possível “[...] avaliar os
resultados da Cruzada. No ano passado, 70% de nossas agências foram consideradas regulares após
avaliação realizada. Hoje, estamos invertendo essa posição. Das quase 50% de agências avaliadas,
307

86% estão classificadas como regulares, ótimas e boas. As restantes 14% estão classificadas como
regulares”. (Cruzada pela legalidade, Espalhafato, nº 27, 1989). Percebe-se, ao analisar a Tabela
5-9, que o banco estava realizando esforços para reverter recursos imobilizados, reduzindo não só o
número de imóveis próprios como a quantidade total utilizada pela instituição.
799 Gráfico 5-55: Total dos Ativos e Lucro Líquido por agência - 1981 a 1994.
Com relação à produção
(em US$ mil)
destas agências, no Gráfico 5-55 129
Ativo Total / Agência (US$ Mil) Lucro Líquido / Agência (US$ Mil)
130

16.000

podemos observar a relação entre o 106 13.851


110
14.000

total de investimentos e 90
12.000 10.619 76
72
lucratividade com o número de 63
10.589 66
70
10.000 59
agências. A maior relação entre 45
8.703
50
8.000
35 56 38 7.355
35
investimentos e agência foi 29
25 5.770 30
6.000
5.276
alcançado no período 1987 – 1989, 4.247 4.502
3.855 3.644 3.886 3.770 10
4.000
quando o banco conseguiu atingir a 2.440
2.000 (10)
marca de US$ 13.851 mil por 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

agência, e no ano seguinte esta Nota: A relação Lucro Líquido / Agências foi plotada no eixo secundário
(direita). Fontes: Gráfico elaborado p elo autor com base nos dados obtidos em
relação caiu para US$ 5.770 mil e Melhores e Maiores (2002), Relatórios anuais e semestrais dos Conselhos e
Diretorias e Annual Report, de diversos anos; revista Balanço Anual (1981-
em 1991 chegou à US$ 4.502 mil. 1994), e Guia Brasil 1993, apud Tabela 4, (DIEESE, 1994)
Nos anos seguintes teve início uma lenta recuperação, chegando a US$ 8.703 mil em 1994. Mas
este movimento não foi capaz de inverter a queda da lucratividade, pois a marca de US$ 128.864
por agência registrado em 1981 não foi mais alcançada, e o ponto mais alto somente foi registrado
em 1994, quando atingiu a marca de US$ 75.888. Tal resultado foi bem menor se considerados
todos os pontos de atendimento, bem como, o total dos Ativos por agência. Somente em 1994
esteve acima do patamar histórico de 1983.

O PLANO REAL

800
Nos anos 1990, o banco passou a enfrentar o dilema entre investir na ampliação da rede
física de agências ou utilizar tais recursos em terminais eletrônicos. A rede física era fundamental
para a captação, principalmente nas áreas de fronteira do desenvolvimento. Boa parte dos seus
custos era coberta pelas altas taxas de inflação. Uma possível queda nos índices comprometeria não
só os planos para novas agências, como também muitas das que já estavam instaladas. Os terminais
eletrônicos, por outro lado, exigiam alto investimento em tecnologia sem a garantia de aumento na
captação. Em 1993, o dilema passou a envolver dois cenários: no primeiro, as reformas
preconizadas pelo Plano Real continuariam após a eleição de Fernando Henrique, e a inflação seria
reduzida e controlada. Neste caso, para estancar o prejuízo gerado pelas agências deficitárias seria
necessário investir para desativá-las, e investir para ampliar a rede de atendimento eletrônico.
801
O segundo cenário apontava para o retorno da inflação, como conseqüência da
impossibilidade política para realizar as reformas necessárias, principalmente quanto à
reestruturação da dívida pública. Neste caso, a rede de agências continuaria sendo uma das
308

principais fontes de lucratividade do banco, e investimentos na sua ampliação continuaria sendo


decisivos para manter a posição do banco diante da concorrência. Nessa época, Horita (9 jan. 1994,
p. 2-3)139 publicou declarações de Belmiro Castor Valverde, que dizia estar o Bamerindus, assim
como outros bancos, esperando enfrentar mais dificuldades que outros setores com o processo de
adaptação a um ambiente de baixas taxas inflacionárias;.A estratégia do banco era investir mais em
tecnologia para reduzir os custos fixos da instituição. Os bancos ensaiavam novas estratégias de
negócios, tendo como principais objetivos a modernização de agências, a expansão dos serviços
eletrônicos e a interiorização das agências. Segundo Blecher (2 maio 1994, p. 2-1)140, o Bamerindus
estava limitando a expansão das agências para casos específicos, pois esperava que o ambiente
econômico resultante das medidas adotadas pelo governo deveria conter a expansão da rede
bancária. O banco esperava que a estabilização econômica aliviasse a sobrecarga operacional e
direcionasse as instituições bancárias para reorganizar as atividades de crédito. A estratégia do
banco estava sendo montada com a perspectiva que não haveria expansão no número de agências,
mas que também não haveria o encolhimento da rede, pois o grupo a considerava como um “ativo
estratégico”. Segundo o autor, Belmiro Valverde entendia que a expansão de serviços eletrônicos
resultaria no desaparecimento das agências convencionais, e que elas teriam menor porte, processos
automatizados e menos funcionários.

OS EMPREGADOS

Gráfico 5-56: Número de funcionários do Grupo Bamerindus (1981 a 1994)

BBB Outras Empresas


50.000 46.396

39.374 5.725
6.510
40.000 * 36.895
9.283 7.156 *
7.878 6.382 7.208
7.163 5.895

30.000

20.000 40.671 39.153


34.397
31.496 31.886 32.122 31.489 31.325 31.000
27.000
10.000

-
1981 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994
Nota: Para elaborar a série histórica foi necessário pesquisar várias fontes, pois os relatórios do banco não forneciam esta
informação de forma sistemática, e alguns dados foram (*) estimados com base na média dos anos anteriores e outros obtidos
na imprensa. Fonte: Diversos relatórios do Bamerindus. O número de 1981 foi extraído da publicação Balanço Anual (1981, p.
30) e 1994 em Blecher (2 jun. 1994, 2-3)141.

139
Fonte: HORITA, N. Bancos se preparam para a estabilidade. FSP, 9 jan. 1994, p. 2-3.
140
Fonte: BLECHER, N. Grandes redes armam estratégias. FSP, São Paulo, 2 maio 1994, p. 2-1.
141
Segundo Blecher (2 jun. 1994, 2-3), Belmiro Castor teria declarado, em 1994, que o quadro de funcionários do banco em
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
309

802 Gráfico 5-57: Variação percentual no número de funcionários do Banco


Com relação aos
Bamerindus.
funcionários, no Gráfico 5-56 32%

27% % Variação
27%
apresentamos a série histórica do
22%

banco, incluindo o número de 17%


17%
15%

empregados do grupo. Podemos 12%

7%
observar que em 1981 o banco tinha 1% 1%
2%
142
27.000 empregados , elevou este -3% (1%) (1%)
(4%)
número para um total de 40.671 em -8%

(8%)
-13%
1989, e a partir desse ano veio (12%)
-18%

reduzindo até estabilizar em 86/81 87/86 88/87 89/88 90/89 91/90 92/91 93/92 94/93 94/81

Fontes: Gráficos elaborados pelo autor com base nos dados extraídos dos
aproximadamente 31.000 a partir de Relatórios anuais e semestrais dos Conselhos e Diretorias, Annual Report,
1992. revista Balanço Anual (1981-1994), e Guia Brasil 1993, apud Tabela 4 de
Dieese (1994) e Balanço Anual (1981, p. 30) e o ano de 1994 informado por
803 Blecher (2 jun. 1994, 2-3).

804
Entre 1981 e 1986, o número de funcionários cresceu 17% (ver Gráfico 5-57), e nos anos
seguintes teve crescimento residual, para ter um grande salto em 1989, quando incorpora
empregados de outras instituições do grupo, ao ser criado o banco múltiplo. A partir de 1990, o
quadro foi sendo reduzido, chegando em 1994 com apenas 15% a mais que em 1981 apesar do
BBB ter crescido muito mais na maioria dos outros indicadores. Quando comparado o número de
empregados com a quantidade de agências, perceber-se que a média de 43 funcionários por agência
de 1981 foi reduzida em 46%, chegando a 23 em 1994. Na realidade, o aumento da produtividade
foi muito maior, se considerados todos os demais pontos de atendimento bancário (PAB, caixas
eletrônicos, etc.) que não estão computados no cálculo, e que cresceram consideravelmente no
período.
Gráfico 5-58:Relação entre o número de funcionários e a Gráfico 5-59: Relação entre o número de funcionários e a
quantidade de agências do Bamerindus - 1981 a 1994. quantidade de agências do Bamerindus - 1981 a 1994 (base
(base agências) empregados)
1.500 50
50

1.400 1.352 40.671


43 1.297 1.323 1.325 45 40.000
43 39.153 45
1.300
40 41 1.219
39 39 40
1.200
37 40
37 40

1.100 35.000 41 34.397


1.003 35
32.122 35
1.000
31.496 31.886 32 31.489 31.325 31.000
900 859
30 30.000
810 801 32 27
30
800
27
27.000
24 24 23 24 24
700 25 23 25
634
25.000
600
20 20
500 Total de Agências Empregados / Agência Empregados (BBB) Empregados / Agência
400 15 20.000 15

1981 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1981 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1985 era de 42.000 empregados. Não foi possível cruzar esta informação com outras fontes, bem como, segundo relatórios
da época, em 1986 o número de empregados do banco era de 31.496. Não encontramos registros da demissão de 10.500
funcionários naquele ano. Possivelmente Belmiro estivesse se referindo ao total de funcionários do grupo. BLECHER, N.
Bamerindus estuda baixar as tarifas para atrair clientes. Fonte: FSP, 2 jun. 1994, 2-3.
142
Fonte: São 24 empresas e 27 mil empregados. TP, Curitiba, 30 jul 1981, p. 6.
310

Fontes: O Total de Agências e o Total Empregados de estão representados no eixo y primário (esquerda) e o número de
funcionários por agência no eixo secundário (direita).
805
Com relação aos investimentos Gráfico 5-60: Investimentos e Lucro Líquido por empregado - 1981 a
1994. (em US$ mil)
do banco, no Gráfico 5-60 podemos
400 Ativo Total / Empregados (US$ Mil)
380
Lucro Líquido / Empregados (US$ Mil)
verificar que a relação entre os 4,000
350 342
investimentos totais do banco e o 311 3,3
300 3,0 284 3,200
número de empregados, cresceu de 266
250
US$ 91.511 em 1981 para US$ 222 2,8
2,400
200 180
379.571 em 1994, o que representou 170
1,5 1,5 1,5
150 1,600
um aumento de 319%, e o Lucro 1,1
109
91
Líquido por empregado cresceu de 100
1,2 1,1 0,800
0,9
US$ 3.026 em 1981 para US$ 3.310 50

em 1994, o que equivale à um - -


1981 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994
acréscimo de apenas 9%. Analisando o
Nota: A relação Empregados / Agência foi plotada no eixo y secundário
gráfico, percebe-se que desde 1986 a (direita).
Fontes: Gráficos elaborados pelo autor com base nos dados extraídos dos
lucratividade manteve-se abaixo da Relatórios anuais e semestrais dos Conselhos e Diretorias, Annual Report,
Melhores e Maiores (2002); revista Balanço Anual (1981-1994), e Guia
alcançada em 1981. No mesmo Brasil 1993, apud Tabela 4, (DIEESE, 1994).
período, os investimentos se
mantiveram acima da marca alcançada naquele ano. Mesmo o esforço realizado entre 1987 e 1989
não conseguiu reverter a tendência de queda. Segundo o Dieese (1994), boa parte da recuperação
alcançada em 1994 se devia ao amadurecimento dos projetos de automação bancária.
806
Segundo o Bamerindus, em 1985 o grupo era o 8º maior empregador do país, tendo criado
naquele ano mais de 1.074 novos empregos diretos e absorvidos 1.492 ex-funcionários das agências
do Comind e Auxiliar. Mesmo assim, somente em 1987 é que foi implantada a Diretoria de
Recursos Humanos e o Plano de Cargos e Salários, bem como o serviço de assistência social para
funcionários em São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro. Na época, em entrevista ao jornal interno
Espalhafato, José Eduardo justificou tais mudanças como motivadas em razão de...
158
[...] termos sentido a necessidade e a oportunidade de adotarmos uma nova postura na
Administração de pessoal, a partir do final de 1986, num momento em que nosso País se
prepara para a realização de um pacto social, de uma nova constituição e que tantas mudanças
estão à nossa frente, sentimos necessidade de participar mais ativamente possível deste
processo. [...] Daremos maior ênfase ao treinamento, à profissionalização de nosso pessoal, e
teremos uma política salarial mais divulgada, mais conhecida. A inflação alta inibe as
atividades sociais do empresário no Brasil. E a legislação trabalhista, também por ser
extremamente paternalista, inibe inicialmente o empresário no sentido de conceder benefícios
ao seu pessoal. Agora com a Constituinte à vista, eu acho oportuno estudar e propor alguma
mudança nesse sentido, de maneira a viabilizar uma Administração de pessoal mais dinâmica e
que permita a participação do pessoal da empresa na discussão de algumas políticas.
(Entrevista, Espalhafato 1987, p. 072)

807
É possível perceber, no discurso de JE, os primeiros sinais de suas pretensões políticas, ao
vincular as mudanças internas ao processo político da Constituinte e às reformas na legislação
trabalhista. No próximo capítulo, vamos verificar que em muitos momentos JE buscou capitalizar
politicamente a quantidade de empregos gerados pelo grupo, os aumentos salariais e benefícios,
311

bem como o próprio número de funcionários como potenciais eleitores.


808
Em 1988 o grupo implantou e realizou uma série de planos e programas para os
funcionários, tais como: treinamento de pessoal; vale-refeição; vale-transporte; antecipação salarial
por conta do futuro acordo sindical; concessão de um salário extra como “Prêmio participação e
desempenho”; serviços de assistência médico-odontológica; programa de concessão de
empréstimos, financiamentos e serviços especiais para os funcionários e plano de cargos, salários e
carreira. Na época, o país passava por um período de efervescência e expansão do movimento
sindical, e o Bamerindus, assim como a grande maioria das organizações empresariais, promoveu
mudanças na estrutura de gestão da mão-de-obra, buscando adaptá-la ao novo ambiente de
liberdade sindical e política. Em 1993, um relatório de análise do Bamerindus elaborado pelo
Dieese (1994) dizia que, desde 1991, o BBB havia acumulado US$ 500 milhões só de receitas de
serviços, cobradas em forma de tarifa. Em 1993, 45% das despesas com pessoal, salários, encargos,
treinamento, etc., foram cobertas com esta receita.
159
A rentabilidade desde 1991 é crescente, alcançando 12,8% em 1993. Ao mesmo tempo o
numero de bancários caiu gradativamente, passando a ter no final de 1993 quase ¼ a menos de
empregados do que tinha no início de 1990, o que proporciona a menor média de empregados
por agência e por pontos de atendimentos entre os bancos do Brasil [...] (DIEESE, 1994).

809
Para o Dieese os investimentos em tecnologia realizados entre 1990 e 1993 resultaram na
redução de 23% no número de empregados do banco, e no aumento de 28% no número de pontos
de atendimento (agencias e PAB’s).

PLANO REAL

810
Em 1994, Belmiro Castor havia declarado em entrevista que a perspectiva de estabilidade
econômica não provocaria novos cortes de pessoal, pois na época o banco tinha “um quadro enxuto
de 31 mil funcionários em comparação ao contingente de [...] 35 mil ao início desta década”
(BLECHER, 2 jun. 1994, 2-3). A instituição esperava que a redução das atividades ligadas aos
ganhos financeiros gerados pela inflação seriam compensadas pelo aumento nas operações de
crédito. Também era publicado um artigo sobre as mudanças no perfil profissional dos bancários.
Segundo Bernardo (23 out. 1994, p. 7-1)143, o então diretor de planejamento corporativo do grupo
Bamerindus, Nelson Luiz Fanaya, teria declarado que o
160
“[...] número de pessoas na administração central – compensação de cheques, cobrança – deve
diminuir. O de profissionais ligados a empréstimos e aplicações vai aumentar”. Na época,
Sílvio Genesini, sócio-diretor da Andersen Consulting, que prestava serviços de consultoria em
planejamento estratégico aos bancos, declarava que antes [...] “os bancos tinham três pessoas
na retaguarda para uma em atendimento. A tendência é ficar um para um”. (BERNARDO, 23
out. 1994, p. 7-1)

811
Mas essa perspectiva tinha, pela frente, a resistência sindical dos bancários. Que segundo a

143
Fonte: BERNARDO, J. V. Perfil do bancário muda com Real. FSP, São Paulo, 23 out. 1994, 7-1.
312

FSP (21 out. 1994, p. 1-6)144, no dia 20 de outubro de 1994, haviam promovido novos protestos, no
qual eles consideravam o Dia Nacional de Luta. Houve paralisações de duas a três horas em oito
agências do Mercantil de São Paulo no Rio, Cornélio Procópio, Paranavaí, Londrina, Umuarama
(PR), Florianópolis, Assis e Campinas (SP), uma agência do Econômico, uma do Unibanco e uma
do Bamerindus. Em São Paulo, Vitória e Cuiabá houve caminhadas e manifestações. Na época, os
bancários queriam 119% de reajuste salarial, e os bancos ofereciam 16%.
812
Na relação com o sindicato e os salários, segundo o Dieese (1994), o Bamerindus praticou
uma política diferenciada dos demais bancos no último trimestre de 1993, pois havia concedido
reajustes mensais integrais pela inflação para todos os empregados. Mas, a partir de janeiro de
1994, voltou a dar os reajustes acertados pela Fenaban, e descontou todas as antecipações integrais
concedidas anteriormente para as faixas acima de 6 salários mínimos.
161
Importante destacar que a preocupação com a imagem do banco é tamanha que o pagamento
diferenciado dos reajustes foi precedida de uma divulgação completamente diferente do
silêncio com a qual foi retirada. [...] Além do retorno à prática da política salarial no âmbito da
FENABAN, o Bamerindus seguiu rigorosamente o que determinou a Medida Provisória que
converteu os salários em URV pela média dos últimos quatro meses. [...] Este procedimento
proporcionou uma perda salarial para os Escriturários, Caixas e Técnicos Bancários de 24,10%,
necessitando de um reajuste salarial de 31,75% para que os salários em URV de março
passassem a representar o mesmo poder aquisitivo do início de janeiro. Para os Comissionados
a perda salarial foi de 24,37% até 27,99%, necessitando de reajustes que variam de 32,20%
38,87%. (DIEESE, 1994, s/n)

813
Desde 1991, o banco vinha Gráfico 5-61: Desempenho do Banco Bamerindus - 1991 A
1993 (em US$ mil).
aumentando o volume de receitas de serviços 7,5 Receitas Serviços / Agências Receitas Serviços / Empregados 180

158
(ver Gráfico 5-61). Ela evoluiu de US$ 7,0 160

6,5 140
105.012 por agência / ano em 1991 para US$ 128 6,7
6,0 120
157.811 por agência / ano em 1993, o que 105
5,5 100

representou um aumento de 50%. Quando 5,0 5,4 80

comparamos esta evolução por empregado, 4,5 60

podemos verificar que o valor subiu de US$ 4,0 40

4,0
3.960 por empregado / ano para US$ 6.675 3,5 20

3,0 -
por empregado / ano, o que representou um 1991 1992 1993

aumento de 69%, evidenciando que o banco Nota: A Receita Serviços / Agência está representada no eixo y
primário (esquerda) e a Receita Serviços / Empregados no eixo y
já havia iniciado o movimento em busca da secundário (direita). Valores em dólares da época.
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nas informações
receita de serviços para cobrir parte das obtidas em Guia Brasil 1993, apud Tabela 6, Dieese (1994).

despesas com pessoal.

CUSTOS DAS AGÊNCIA E “DÉBITOS ILEGAIS”

814
Quanto aos custos das agências, vale a pena conhecer uma reportagem de SOUZA (2 dez.

144
Fonte: Bancários. FSP, 21 out. 1994, p. 1-6.
313

1999, p. 2-5)145, no qual consta que, com base numa denúncia feita em abril de 1999 ao Ministério
Público de Santa Catarina pelo ex-gerente-adjunto do Bamerindus, Donato Pereira, a Justiça do
Estado estava recebendo as primeiras ações movidas por pessoas que se diziam lesadas pelo
Bamerindus com débitos irregulares em suas contas correntes.
815
Segundo a denúncia do ex-gerente, irregularidades teriam sido cometidas, pelo menos, na
agência da cidade de Tubarão, onde ele trabalhou entre 1988 e 1994. Dizendo possuir documentos
em que a diretoria do Bamerindus determinava à gerência a aplicação de taxas de juros e tarifas
inexistentes para cobrir os custos da agência com folha de pagamento, telefone e fax. O montante
dessas despesas, segundo seus cálculos, ficava entre R$ 180 mil e R$ 200 mil incluindo a folha de
pagamento e encargos da agência. Segundo Donato, era possível que este procedimento fosse
aplicado a toda a rede de 76 agências do banco em Santa Catarina.
162
“Os clientes mais visados eram os desatentos, que não controlavam os extratos e tinham boa
movimentação”, disse o ex-gerente. Ele explicou que, na maior parte do tempo, os
funcionários, ele incluído, não sabiam que algo errado estava sendo feito. Pereira, que foi
demitido do Bamerindus “sem justa causa” em 97, depois de quase 20 anos de trabalho, disse
que 60% dos cerca de 1.800 correntistas tinham “boa movimentação”, o que, segundo ele,
facilitava a aplicação de juros e taxas fictícias. (SOUZA, 2 dez. 1999, p. 2-5).

816
Por outro lado, Gilberto Loscilha, que na época era liquidante do Bamerindus, teria
declarado “não acreditar que exista documento do próprio banco orientando para uma ação ilegal.
Ele lembrou que uma comissão de inquérito do Banco Central ‘fez uma devassa em todos os
documentos’, durante oito meses, e nada foi encontrado sobre esse tipo de irregularidade”.
(SOUZA, 2 dez. 1999, p. 2-5).
817
Uma das saídas para reduzir o custo das agências estava na automação bancária, cujos
investimentos vinham sendo realizados no Bamerindus desde o início dos anos 1960.

5.3.3.3.5 TECNOLOGIA: PROCESSAMENTO DE DADOS E TELECOMUNICAÇÕES

818
A informatização das operações do Bamerindus começou em 1961, quando foi contratada a
assessoria da Remington / Univac, que resultou na instalação de um equipamento Univac 1004146
em 1963. O processamento eletrônico começou efetivamente em 1964 com a informatização da
carteira de cobrança e empréstimos, sendo seguida pela Conta Corrente, controle de acionistas e
folha de pagamento, todos implantados em 1967. A expansão do sistema continuou nos anos
seguintes e, em 1969, além do Centro de Processamento de Dados (CPD) que possuía em Curitiba,
o banco instalou um outro no Rio de Janeiro, com um computador IBM 360/20 - 16 kb. Em 1976

145
Fonte: SOUZA, C. A. de. Bamerindus é acusado de débito ilegal. Ex-gerente diz possuir documento do banco com
instruções para cobrança de taxas irregulares. FSP, Porto Alegre, 2 dez. 1999, Editoria: Dinheiro, p. 2-5.
146
“O UNIVAC 1004 utilizava cartões perfurados, impressora, leitora de cartões, leitora de fita de papel perfurado,
perfuradora de cartões e fita magnética. Não existiam discos magnéticos, e a memória tinha 1024 bytes (1 K) [ou 4 k].[...]
O programa era montado em painéis com fios de ligação entre circuitos. Os painéis eram tabuleiros perfurados onde se
'plugavam' os fios, especificando a operação e as coordenadas de memória de cada um dos operandos envolvidos no
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
314

começou a operar o teleprocessador de transmissão de dados que passou a integrar os CPDs. Quatro
anos depois foi implantado outro CPD em Cascavel (PR), bem como o banco passou a operar as
atividades de cobrança através do Telex.
819
Quando JE assumiu o Bamerindus em 1981, o banco estava investindo na informatização
das operações com o mercado aberto (Open e Over) e integração em tempo real (“on-line”), das
agências aos CPDs. No ano seguinte foi inaugurada a primeira agência a operar “on-line”, (agência
Luiz Xavier em Curitiba), e o foi criada a empresa Tecnologia Bancária S.A. - Banco 24 horas, em
associação com o Banco Nacional e o Unibanco, cujo primeiro terminal entrou em operação no dia
18 de dezembro de 1982.
820
A constituição da empresa Tecnologia Bancária S.A. foi concluída em 1983, tendo sido
criada em sociedade com o Unibanco e o Nacional. Em julho era inaugurado em Curitiba o
primeiro quiosque do Banco 24 horas, que na época já havia instalado 22 máquinas em São Paulo e
Rio de Janeiro. Também neste ano foi instalado um computador Fujitsu M200 com 16 MB de
memória no CPD de Curitiba, e iniciado o processamento eletrônico das operações com o mercado
aberto. Neste ano a área de informática foi reorganizada e o desenvolvimento de programas e
sistemas ou a ser feito diretamente por algumas áreas do banco, como a Diretoria de Produtos e as
áreas de “open market”, câmbio, seguros e “leasing”. Ao mesmo tempo, a operação de
computadores passou para a Diretoria de Serviços. Pouco tempo depois foi criada a Diretoria de
Informática, que ficou com a responsabilidade de analisar, planejar e projetar a tecnologia para
todas essas áreas.
821
O Bamerindus instalou no CPD de Curitiba um computador IBM 3084-QX com 64 MB de
memória em 1984, e implantou um CPD em Campo Grande (MS). Também neste ano o
Bamerindus ingressou na Rede SWIFT147 e, para tanto, foram instalados terminais conectados aos
computadores da rede internacional nos departamentos de Câmbio do banco. Segundo relatórios
internos do BBB, a instituição teria sido a primeira a filiar-se à SWIFT no Brasil, e que a rede
reunia quase todos os seus correspondentes nas principais praças do mercado internacional. Ainda
em 1984, o Relatório da Diretoria do Bamerindus informava que a empresa Mercapaulo e o Banco
Real entraram de sócios na Tecnologia Bancária S.A., e que haviam sido inaugurados na cidade de
São Paulo, os primeiros Terminais de Compras (Sistema Eletrônico de Transferência de Fundos) do
Banco 24 Horas, que permitia aos clientes fazerem compras dispensando o uso de dinheiro, talão de
cheques e cartão de Crédito. Ainda segundo o relatório, em abril daquele ano foram processados
4.250.000 transações “on-line”, nos terminais de caixa. Destas, 217.000 transações foram remotas

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
processo.” (MULLER, 2003)
147
A Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication. - SWIFT é uma sociedade cooperativa integrada por
bancos que formam uma rede de comunicação de dados para a transferência eletrônica de recursos financeiros, com garantia
de segurança, permitindo efetuar transações financeiras como ordens de pagamento, transferências interbancárias, cobranças,
cartas de créditos, entre outros. Criada em 1973, com o apoio inicial de 239 bancos em 15 países, a instituição tem sede em
Bruxelas, Bélgica, e conta com mecanismos de segurança que permitem confirmar a autenticidade das mensagens recebidas.
Em 2003 a SWIFT computava 7.600 membros e participantes em 200 países, que trocavam regularmente mais de 9 milhões
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
315

ou interligadas, bem como o Banco 24 Horas já computava mais de 100.000 clientes.


822
Em maio de 1984, o Bamerindus informava que possuía 94 agências “on-line”, num
sistema de processamento descentralizado, em que micro-computadores dedicados às transações
básicas das agências estavam interligados através de concentradores de agências e, através destes,
aos computadores do centro de processamento de dados. O sistema era composto por uma rede de
94 micro-computadores em agências, 1.417 terminais de caixa, 180 terminais de vídeo, 205
terminais de consulta por cliente e 94 terminais de impressoras; operando em Curitiba, Porto
Alegre, Rio de Janeiro e Niterói. Também neste ano foi assinado um protocolo de cooperação
técnica com a Embratel, que permitia a utilização das redes de comunicação da empresa e o
desenvolvimento de novos projetos e estudos para aplicação de novos serviços. No dia 29 de
dezembro, o banco passou a oferecer seus serviços através do Sistema Piloto de Videotexto da
Telesp, sistema este que era formado por cerca de 1.000 terminais, instalados em residências e
empresas.
823
No CPD de Curitiba foi instalado em 1985 um novo computador – IBM 3090-400 E (128
MB de memória central e 256 MB de memória expandida), e foram transferidos para os CPDs de
São Paulo o computador IBM 3084-QX e para o Rio de Janeiro o IBM 3081-K 16. No ano
seguinte, a empresa Tecnologia Bancária já havia interligado uma rede nacional com 179 agências
e 30 postos, e o Banco 24 horas já realizava cerca de 60.000 operações mensais. Também o
Bamerindus instalou novos centros de entrada de dados (PRDs) em Brasília, Alta Floresta,
Corumbá e Pelotas, conectando 43 unidades apoiadas em 6 centros de processamento de dados. Em
dezembro de 1987, a rede interligada de agências “on-line” era composta por 390 unidades, 4.210
terminais de caixa, e 647 terminais de cliente, alem de 540 microcomputadores de consulta, 106
terminais de “Home Banking”. Neste ano o Banco 24 Horas tinha 123 quiosques distribuídos nas
32 principais cidades do País e 157 terminais de compras para saques e pagamentos. Também neste
ano o Bamerindus lançou o Caixa Automático Bamerindus (CAB), implantado inicialmente em
cinco agências de Curitiba. O CAB oferecia um serviço operado pelo próprio cliente, realizando
saques, consulta de saldo e retirada de extratos, operações estas normalmente efetuadas pelos caixas
tradicionais. A diferença em relação aos sistemas terminais de auto-serviço em uso, era que o CAB,
além de oferecer maior amplitude de serviços, estava interligado aos computadores do banco,
permitindo acesso imediato e direto à conta corrente do cliente, não ficando limitado a valores pré-
determinados.
824
Em 1988 o Bamerindus criou a empresa Bastec Assistência Técnica Especializada -
Manutenção de Computadores e Telecomunicações. Em junho, a rede de atendimento dispunha de
130 terminais de compra, 133 quiosques do Banco 24 Horas, além de 250 microcomputadores
interligados que atendiam as agências das maiores praças. Segundo o Bamerindus ainda no
primeiro semestre foi celebrado o maior contrato da América Latina com a IBM, para aquisição do

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
de mensagens diárias. Fontes: Sun Microsystems (1996) e SWIFT. SCRL (2003).
316

computador IBM 3090, com capacidade para processar 56 milhões de instruções por segundo e
com discos magnéticos capazes de armazenar 120 bilhões de caracteres de dados. No ano seguinte,
foi instalado em Curitiba um outro computador – IBM AMDAHL 5890-600 com 77 MIPS; quatro
impressoras a laser Xerox 8700; mais de 700 agências já estavam interligadas. Em 1989, o Banco
contava com 7.800 terminais de caixas e 580 microcomputadores, e a rede interligava cerca de 70%
das agências em 360 municípios, e 500 grandes clientes tinham acesso ao “Home Banking”.
Também o banco estava investindo US$ 10 milhões em equipamentos e instalações, e assinara um
contrato com a Embratel para a interligar via satélite 250 pontos remotos do País, o que possibilitou
ao banco inaugurar no ano seguinte a primeira rede da América do Sul com transmissão de dados
bancários via satélite. Para tanto, foram instaladas duas antenas especiais do sistema de
comunicação em Guarapuava (PR) e Pato Branco (PR), e o banco previa que o novo sistema
permitiria a economia de 60% em relação ao serviço de comunicação de dados por cabos
telefônicos.
825
As mudanças impostas pelo Plano Collor, em 1990, obrigaram o Bamerindus a ter que
alterar 20 mil programas de computador, e na época 76% das agências já estavam interligadas
eletronicamente e o parque de microinformática era composto por 1.316 microcomputadores.
Também foi implantado o Darf Eletrônico, um sistema de automação do recebimento de tributos
federais, e os beneficiários do INSS passaram a receber através de cartões magnéticos, que
substituía o carnê trimestral. Neste mesmo mês, o banco instalou um computador IBM 9021-
modelo 720, bem como renovou e ampliou o seu parque de impressoras a laser e meios magnéticos
de armazenamento de informações. No final do ano, o Banco 24 horas contava com 800 mil
clientes.
826
Para ampliar as operações via satélite do Bamerindus, em 1992 o banco Bamerindus
Midland realizou operações de leasing para financiar a compra de equipamentos e instalações.
Também foi adquirido 70% do capital votante da empresa Sistemas Avançados de Teleinformática
S.A., em parceria com a Philips do Brasil Ltda. A operação, avaliada em US$ 30 milhões, tinha por
objetivo participar do mercado de centrais telefônicas privadas. No final do ano o banco havia
conseguido automatizar 90% de suas agências. Segundo a AE (16 jul. 1992 e 10 ago. 1992)148, o
investimento total do Bamerindus no setor de informática no primeiro semestre de 1992, havia sido
de US$ 6,65 milhões e abrangia a automação bancária, transmissão de dados via satélite e aquisição
de equipamentos e programas, que exigiam um dispêndio de US$ 269,91 milhões em aluguéis e
manutenção. Foram gastos US$ 71,0 milhões na atualização e manutenção dos equipamentos de
telecomunicação e processamento de dados. Naquele ano, o Bamerindus importou dos EUA uma
impressora Xerox a laser High Light Color 4580, a única em operação na América Latina. Com
um custo de US$ 400 mil, o grupo optou pelo regime de aluguel, no valor de US$ 6 mil mensais.

148
Fontes: Bamerindus importa impressora a laser. AE, Aedata, Curitiba, 16 jul. 1992, e, Bamerindus investe US$ 350 mil em
rede de fibra ótica. AE, Aedata, Curitiba 10 ago. 1992.
317

Mesmo assim teve que pagar US$ 60 mil de taxa de importação. Para sua instalação o grupo
investiu na ampliação da velocidade de transmissão de dados entre duas unidades em Curitiba,
através de uma rota própria de fibra óptica. Considerado pioneiro no setor privado na América
Latina, o grupo conseguiu aumentar em mais de 300 vezes a velocidade da impressão remota de
grandes volumes de formulários. Segundo Arno Brandes, na época coordenador de tecnologia de
base do grupo, o projeto começou a ser desenvolvido no final de 1991 e consumiu cerca de US$
350 mil. A tecnologia de fibra ótica utilizava a infra-estrutura da Telecomunicações do Paraná -
Telepar, além dos postes de iluminação pública da Copel. (AE, 16 jul. 1992 e 10 ago. 1992)
827
Em diversos depoimentos, ex-funcionários do Bamerindus contam que a informatização nos
anos 1990 gerou conflitos internos, quando muitos processos e departamentos começaram a ser
desativados por conta da automação. A rapidez com que estavam sendo implantados os novos
procedimentos fez com que rotinas importantes fossem desarticuladas, provocando muita confusão
e desencontros nas operações diárias das agências. A instituição passou a enfrentar a ansiedade
crescente do corpo de funcionários diante da perspectiva de demissão em massa. Nesse contexto,
temos que acrescentar que muitas das vagas nos postos de trabalho do Bamerindus eram objetos de
disputa política, principalmente nas pequenas cidades do interior. A perspectiva de demissão em
massa entrava em conflito com a implantação dos novos processos automatizados e com os projetos
políticos e eleitorais de José Eduardo. Tais transformações estruturais ocorriam não só no
Bamerindus, mas na grande maioria dos bancos brasileiros, e foi justamente neste momento que o
Plano Real foi implantado. A relativa fragilidade das estruturas organizacionais bancárias, neste
momento, deve ter contribuído bastante para a baixa resistência das instituições aos planos do
governo.
828
Segundo a FSP (06 out. 1993)149, o projeto de automação bancária e reorganização
operacional e institucional do Bamerindus previam investimentos de aproximadamente US$ 200
milhões em tecnologia de comunicação e automação bancária, bem como no treinamento dos
funcionários. Tal valor veio a se somar à já carregada agenda de investimentos do Bamerindus nos
anos 1990. Como vimos anteriormente, vários milhões de dólares estavam sendo gastos em
diversos novos projetos, tais como: ampliação da fábrica Inpacel, compra de empresas nos leilões
de privatizações, aquisição e expansão das empresas de comunicação, campanhas eleitorais e no
processo de integração do banco no mercado financeiro internacional, que vamos abordar a seguir.

5.3.4 A INTERNACIONALIZAÇÃO DO BAMERINDUS

829
O Bamerindus iniciou sua trajetória rumo ao mercado internacional em 1980, quando José
Eduardo se afastou da administração do banco e partiu para os Estados Unidos e Europa,
oficialmente com a missão de preparar o lançamento das operações internacionais do banco. Em
318

1981, JE retornou ao Brasil para assumir a Presidência do grupo e no ano seguinte o Bamerindus
inaugurou sua primeira agência no exterior, na cidade de Nova York.
830
Fernandes (1996, p. 92-94) conta que logo após a abertura da agência, o Brasil declarou
moratória. E numa jogada “audaciosa”, o banco apostou que a moratória não seria superior a 90
dias. A agência de Nova York pagou à vista boa parte das obrigações que seus clientes tinham no
exterior, lançando em contrapartida empréstimo no valor correspondente contra os clientes no
Brasil. A aposta estava certa, e o banco foi o único a realizar a operação na época. Segundo o autor,
a abertura da agência era incentivada pela política do governo federal, que necessitava diversificar
as fontes de crédito para financiar a dívida externa brasileira. Durante os anos seguintes a agência
serviu ao banco quase que exclusivamente para captar recursos de baixo custo, não sendo muito
utilizada pela área de câmbio na aquisição de divisas, ou mesmo no apoio aos exportadores clientes
do Bamerindus. Durante muito tempo sua importância foi marginal nos negócios do grupo. Os
problemas enfrentados pelo Brasil com a dívida externa dificultavam muito a ação no mercado
internacional dos agentes financeiros brasileiros privados.
831
Um segundo passo foi dado em 1988, com a abertura de uma unidade internacional nas
Ilhas Cayman, buscando aproveitar os benefícios da condição de paraíso fiscal. Para o Bamerindus,
a abertura desta agência permitia contabilizar operações realizadas no mercado de Nova York, não
permitidas pela legislação norte-americana.

5.3.4.1 FRAUDE NA CARTEIRA DE CÂMBIO DO BAMERINDUS

832
No final de 1989, o Bamerindus foi envolvido num grande escândalo, quando, segundo
Martins (27 nov. 1989)150, em 9 de novembro o ministro da Justiça Saulo Ramos denunciou haver
fraude cambial envolvendo quinze instituições bancárias, entre elas o Bamerindus, que teria
intermediado operações que somavam um total de US$ 50,9 milhões em importações inexistentes.
Segundo a reportagem, José Eduardo havia declarado que uma auditoria particular havia
identificado o Bamerindus como intermediário de operações cambiais fraudulentas no valor
aproximado de US$ 100 milhões. JE teria admitido falhas operacionais na área de câmbio e afirmou
que oito operadores que trabalhavam no Rio de Janeiro pediram demissão em agosto daquele ano.
Nessa entrevista, José Eduardo declarou que a fraude envolveu vários bancos e estimava que o
valor das operações oscilava entre US$ 500 a US$ 800 milhões, mas que poderia chegar a US$ 1
bilhão. A prática teria sido estimulada pela diferença grande entre o câmbio oficial e o paralelo, e
afirmava que o Bamerindus foi usado pelos fraudadores, assim como outros bancos. Segundo ele,
os operadores envolvidos

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
149
Fonte: Bamerindus investe US$ 200 mi em agências. FSP, 06 out. 1993, p. 2.
150
Fonte: MARTINS, T. Fraude pode atingir US$ 1 bi, prevê Bamerindus. FSP, 27 nov. 1989.
319

163
[...] tiravam guias na Cacex de US$ 10 mil, falsificavam para US$ 100 mil ou 2 milhões [...]
que vinha no nome de uma importadora, era carimbada e assinada pela Cacex [...] O fraudador
ia à Receita Federal, que também carimbava a guia, e, do exterior, conseguia o documento
mostrando que o produto da guia estava sendo exportado e que tinha sido expedido de Nova
York para cá [...] ia à corretora, que conferia a documentação toda e dizia aos bancos que
estava “ok”. A corretora vinha ao Bamerindus pegava o dinheiro e dava para o malandro. [...]
O banco fazia o pagamento e mandava a documentação ao Banco Central e Cacex. A Cacex
carimbava e dizia que estava tudo “ok”. (MARTINS 27 nov. 1989)

833
José Eduardo acreditava haver uma quadrilha, integrada por funcionários dos bancos e
funcionários dos órgãos públicos, responsáveis pela fiscalização e liberação dos recursos; e
afirmava que foi “um golpe bem feito e foi o Bamerindus que descobriu [...] Fui eu que denunciei
ao Banco Central e ao Ministro da Fazenda a fraude em agosto” (MARTINS, 27 nov. 1989).
Segundo ele, os primeiros sinais foram detectados pelas auditorias internas em fevereiro, mas em
pequeno valor, que foi crescendo com o tempo, chegando em agosto a um total aproximado de US$
100 milhões. A explicação para um valor tão elevado no Bamerindus era pelo fato de ser a
instituição, uma das maiores operadoras em volume de negócios com o câmbio. No seu depoimento
na CPI dos Bancos, em junho de 1999, o assunto veio à tona novamente. Agora como ex-banqueiro,
José Eduardo declarou que:
164
[...] o Bamerindus foi usado em uma fraude cambial [...] e que, de imediato, levei ao
conhecimento do Ministro da Fazenda de então e do Presidente do Banco Central [...] a atitude
do Banco Central em relação a esse fato foi muito estranha. Não foram tomadas medidas
efetivas e imediatas a respeito do assunto. O Banco Central, mesmo após a CPI na Câmara dos
Deputados, buscou passar da posição de culpado para uma posição de acusador, instaurando
um processo administrativo contra o Bamerindus e passando ele a denunciar os fatos
periodicamente na imprensa, procurando denegrir a imagem do Bamerindus. E essa fraude
cambial que pelos nossos levantamentos, era da ordem de US$ 60 milhões, o Banco Central
denunciava como sendo mais de US$ 200 milhões, que o Bamerindus tinha que devolver esses
recursos, pois isso era motivo para enfraquecer a instituição, sendo que essa fraude foi
praticada com documentação totalmente legalizada pelas autoridades da Secretaria da Receita
Federal, da Polícia Federal e do porto. Isso quer dizer que a instituição financeira não tinha
nenhuma culpa no processo, porque o processo era todo legal. [...] Cito o Bamerindus, mas
houve uma dezena de outros bancos vítimas do mesmo processo e nunca vi o nome de nenhum
outro banco ser denunciado na imprensa como era, periodicamente, o do Bamerindus. Por isso,
faço essa ressalva. [...] Senhores, estamos falando em milhões e milhões de dólares.
Inegavelmente interesses não declarados foram contrariados. A fraude no Bamerindus era da
ordem de US$ 60 milhões. No sistema bancário, era de US$ 550 a 600 milhões. Se não
bastasse a instalação do processo contra o Bamerindus, o Banco Central ainda veio a público
trazer esse fato como se isso fosse de nossa responsabilidade.(VIEIRA / CPI DOS BANCOS,
1999, p. SC-3-4).

834
Também Gustavo Franco151, em depoimento na CPI dos Bancos152, declarou que entre 1988
e 1989, a diferença entre o câmbio oficial e o “paralelo” chegou a oscilar entre 150% e 200%, o

151
Gustavo Henrique de Barroso Franco: nasceu em 10 de abril de 1956 no Rio de Janeiro - RJ, filho de Guilherme Arinos
Lima Verde de Barroso Franco e Maria Isabel Barbosa de Barroso Franco. Formado em Economia, foi diretor da Área de
Assuntos Internacionais (DIREX) do Bacen no período de set. 1993 a ago. 1997 e 22º Presidente do Bacen no período 20
ago. 1997 a 04 mar. 1999, no governo FHC. Fonte: Bacen (2002).
152
Fonte: FRANCO, Gustavo Henrique de Barroso. Depoimento na CPI DOS BANCOS. Notas da Comissão Parlamentar de
Inquérito referente a 34 a Reunião Especial de 24 ago. 1999 da CPI: CPI dos Bancos (1999). Brasília: Senado Federal.
Secretaria-Geral da Mesa Subsecretaria de Taquigrafia. Serviço de Comissões. Brasília: 24 ago. 1999. Disponível em:
<http://www.econ.puc-rio.br/gfranco/cpi.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2004 e Disponível em: <http://webthes.senado.gov.br/
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
320

que contribuiu para a proliferação desse tipo de fraude. Basicamente era criada uma documentação
para uma importação fictícia, e com ela o fraudador comprava dólares ao câmbio oficial na rede
bancária e remetia o dinheiro para alguém da quadrilha no exterior. Em seguida, os dólares
retornavam ao país e, ao ser vendido pelo câmbio do mercado paralelo usava-se parte do dinheiro
para liquidar a fatura, pagar as comissões de intermediação, sobrando parte do ágio recebido na
operação no câmbio paralelo. Após a denúncia o Governo começou a investigar, e identificou
vários contratos fraudados, que envolveram bancos e corretores no uso de cadastros de empresas
existentes ou fictícias.
835
Segundo Gustavo Franco, ao assumir a direção da Área de Assuntos Internacionais (Direx)
do Bacen em 1993, cujo Departamento de Câmbio era na época chefiado por Alcino Ferreira, foi
formado um grupo de trabalho para cuidar da questão. Logo no início dos trabalhos, o grupo
constatou que a quantidade de contratos de câmbio fraudados era maior do que se sabia, partiram
então para identificar as empresas compradoras e as corretoras que intermediavam esses contratos.
O total apurado de fraudes chegou a 762 contratos, no valor de US$ 544 milhões, operadas por
165
[...] aparentemente duas quadrilhas diferentes. [...] Uma delas utilizava, com freqüência, o
cadastro de empresas existentes e fazia as importações com documentos de uma empresa que
existia e que nem sabia que o seu cadastro estava sendo utilizado. Mas a importação era feita
em seu nome. Eles nem ficavam sabendo porque a importação era feita, paga, com o dinheiro
da própria operação. (FRANCO / CPI DOS BANCOS, 1999, p. 11).

836
Outra modalidade de fraude é citada por Gustavo Franco:
166
[...] tinha muitos bancos e muitas corretoras, com a concentração em alguns bancos.
Especificamente, vou citar os três maiores envolvidos: Banco Bamerindus, Banco Econômico e
Banco Credireal [...] Operavam com várias corretoras. [...] Uma segunda família de fraudes era
executada sempre com empresas que não existiam [...] o interessante é notar que [da] maior
parte [...] dos 550 contratos de câmbio envolvendo empresas fantasmas, 540 eram feitos por
uma corretora só. E, a nosso juízo, seria muito difícil que essa corretora não conhecesse esse
assunto. (FRANCO / CPI DOS BANCOS, 1999, p. 11-12)

837
É importante destacar que em 1989 Fernando Collor de Mello foi eleito Presidente da
República e teria recebido amplo apoio de José Eduardo. A campanha eleitoral de Collor foi
marcada pelas denúncias sistemáticas de corrupção contra o governo do então presidente José
Sarney, e o primeiro turno ocorreu seis dias depois da denúncia – em 15 de novembro, e o segundo
turno aconteceu em 17 de dezembro – 32 dias após o ministro da Justiça denunciar o Bamerindus
por fraude.

5.3.4.2 OS ANOS 1990

838
Até 1990, a atuação do Bamerindus no mercado internacional estava concentrada nas
operações com contratos de câmbio, e a carteira do banco era a segunda maior entre os bancos
privados. Segundo Maurício Schulman, o volume de operações realizadas pelo câmbio Bamerindus

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
sil/Comissoes/CPI/Comissoes/BANCOS/Notas/19990824ES034.rtf>. Acesso em: 29 jun. 2005.
321

em 1990 “[...] totalizaram mais de 6,5 bilhões de dólares, [...] atingindo mais de 10% do Mercado,
153
com um crescimento no período, em dólares, de 27,5% [...]” . Nos anos seguintes o Bamerindus
assumiu a liderança entre os bancos privados, e em 1995 passou a liderar também na emissão e
colocação de ações, debêntures e “commercial papers” no mercado internacional. A evolução foi
bastante rápida, se considerarmos que até 1990, segundo Fernandes (1996, p. 97), outros serviços
no mercado internacional eram prestados de forma esporádica.
839
Foi a partir de 1990 que o Bamerindus começou a definir estratégias consistentes para atuar
neste mercado, como segue:
167
O plano do Bamerindus consistiu, basicamente, em estabelecer rede internacional de negócios
sem o custo da rede de agências. Neste sentido, procuraram ocupar as [...] “esquinas do
mundo”, [que] segundo diretores do Banco, são os mercados de Nova York, Londres e Hong-
Kong, as “três principais praças nos três continentes ao norte do equador”. Além disso, o
Bamerindus também procurou estar presente no Mercosul [...] (FERNANDES, 1996, p. 93-94).

840
Neste sentido, a agência de Nova York foi reestruturada para atender às novas demandas e,
em 1990, foi criada uma representação em Tóquio, para divulgar e estabelecer relações com
instituições financeiras e empresas dos países da costa do Pacifico na Ásia. Nos anos seguintes o
banco inaugurou um escritório em Londres (mar. 1991) e outro em Buenos Aires (mar. 1992). De
acordo com o Bamerindus, a abertura de uma agência em Miami, em 1992, estava dependendo
apenas da aprovação pelo Banco Central. Segundo FERNANDES (1996, p. 65), o Bamerindus
começou a operar em Hong-Kong, no segundo semestre de 1994, e tinha por objetivo estabelecer
contatos na Ásia, buscando a abertura do mercado chinês. Entre outras operações, o escritório
procurava negociar linhas de crédito com o Eximbank e intermediar a vinda de empresas coreanas
para o Brasil. No ano seguinte o banco chegou à Europa continental ao inaugurar uma subsidiária
em Luxemburgo.
841
No contexto interno do Bamerindus foi estabelecido o objetivo de integrar as estruturas do
setor doméstico e internacional, definindo que o “banco de câmbio deveria entrar dentro da carteira
comercial”. Na época tanto a área de câmbio como as agências internacionais, praticamente
formavam um outro banco dentro do Bamerindus onde, o “banco comercial e a área de câmbio
representavam quase que dois bancos distintos.” (FERNANDES, 1996, p. 93). Foram promovidas
alterações na estrutura organizacional, como a criação de Regionais de Câmbio, com o objetivo de
facilitar o processo de integração do banco com o setor de câmbio. A administração passou a
promover várias ações para estimular a organização interna, a fim de assimilar e desenvolver
processos operacionais com o mercado internacional, buscando superar barreiras culturais da
organização.
168
A partir de 1991, o banco estruturou melhor a área de serviços internacionais, ao mesmo tempo
em que iniciava operações de arbitragem financeira e emissões de médio e longo prazo. A
primeira emissão de certificados de depósitos no valor de US$ 50 milhões foi realizada em

153
Fonte: Bamerindus: Encontro Semestral dos Conselhos e Diretorias. Curitiba: Bamerindus, 25 jan. 1991, p. 6.
322

conjunto com o Hamilton Bank, de Miami - EUA, e o Banco de La Pechincha, do Equador.


Nesse mesmo ano, o Bamerindus fez sua segunda emissão, no valor de US$ 70 milhões, que
despertou a atenção dos grandes bancos americanos. (FERNANDES, 1996, p. 67)

842
Em 1992, o banco passou a realizar operações no mercado de eurobônus e papéis
comerciais (“Commercial papers”), intermediando operações financeiras internacionais para a
Glassurit do Brasil – filial da BASF AG – US$ 15 milhões, Petrobrás, US$ 50 milhões, Odebrecht,
US$ 50 milhões em eurobônus, Ripasa, US$ 40 milhões, bem como o banco emitiu certificados de
depósito, em eurobônus, num total de US$ 500 milhões. Segundo o Bamerindus, no final do
primeiro semestre daquele ano o banco intermediou operações de câmbio que representaram
11,79% do mercado nacional, atingindo o montante de US$ 3,59 bilhões, dos quais US$ 2,23
bilhões em exportação e US$ 1,83 bilhões em importações, tendo também acumulado US$ 1,48
bilhões com outras transações financeiras. Só na área de câmbio, o crescimento em relação ao 1º
semestre de 1991 teria sido de 15,86%. No segundo semestre, as linhas de crédito do exterior
utilizadas somaram US$ 700 milhões, sendo 85% de financiamentos à exportação e 15% de
financiamentos à importação. Os adiantamentos sobre contratos de câmbio cresceram 33,74% neste
semestre em relação a 31 de dezembro de 1991, atingindo US$ 419,5 milhões. Neste ano, o total de
transações internacionais, com importação, exportação e transferências financeiras do Banco
chegou à marca de US$ 12,1 bilhões.
843
Segundo o Bamerindus, em 1993 o total das operações com câmbio chegaram à marca de
US$ 14,9 bilhões, e no ano seguinte o banco já havia aperfeiçoado suas operações de arbitragem
financeira e prestação de serviços internacionais. Em 1994, o Bamerindus criou na sua rede de
agências uma área especializada em negócios de câmbio para clientes do chamado “segmento
Middle Market”, para prestar serviços e assessoria a negócios com exportação, importação e
transferência financeira para o exterior. (FERNANDES, 1996, p. 80). Neste mesmo ano, o banco
era líder no Brasil na emissão de eurobônus e pioneiro na estruturação de operações com
“commercial papers” domésticos.

5.3.4.3 MERCOSUL - MERCADO COMUM DO SUL.

844
O Bamerindus inaugurou sua presença no Mercosul com a instalação do escritório de
representação em Buenos Aires, em 1992, e segundo a AE (3 ago. 1992)154, na época os negócios na
região enfrentaram graves problemas, entre eles, a dolarização Argentina. O chamado Plano
Cavallo155 resultou em uma defasagem cambial de 30% a 40%, e estimulou importações em
detrimento das exportações, tendo como conseqüência, a desindustrialização do País. O
crescimento de 146% no volume das exportações brasileiras, no primeiro semestre de 1992 em
relação ao do ano anterior, gerou saldo em favor do Brasil na ordem de US$ 700 milhões, e no

154
Fonte: Dolarização argentina é um empecilho para formação do Mercosul. AE, Aedata, Rio de Janeiro, 03 ago. 1992.
323

período 1989 a 1991, o saldo acumulado em favor da Argentina tinha sido de US$ 1 bilhão.
Segundo a AE, o então diretor do Bamerindus, Jair Capristo, havia declarado que a inversão não
prejudicava os negócios do banco no financiamento de exportações da Argentina para o Brasil e
que elas haviam passado de US$ 20 milhões por mês em 1991 para US$ 60 milhões em junho
845
daquele ano. Ainda segundo Capristo, o Bamerindus havia priorizado as ações de comércio
exterior na região, tendo sido em 1991 o segundo maior agente de apoio às exportações, perdendo
apenas para o Banco do Brasil. Era também o primeiro nas importações, com um total de operações
no valor de US$ 10 bilhões.
846
Em 1993, boa parte das operações com câmbio do Bamerindus foi realizada no Mercosul,
onde as exportações cresceram 43%, atingindo US$ 5,4 bilhões. Segundo a Gazeta Mercantil (10
nov. 1993, p. 19)156, a Bamerindus Seguros vinha desenvolvendo estudos para lançar produtos
específicos para aquele mercado, bem como criou, em parceria com a empresa Bernardino
Rivadavia Group, a companhia Quilmes S.A. de Seguros Generales. A Quilmes era controlada pela
Argentino-Brasileña de Inversiones y Emprendimientos S.A., na qual o Bamerindus S.A.
Participações e Empreendimentos possuía 65% das ações e a Seguros Bernardino Rivadavia Coop.
Ltda., 35%. No dia 14 de outubro de 1994, a FSP157 informava que o Banco Del Sud, um dos
maiores bancos privados da Argentina, acabara de incorporar o também argentino Shaw, outra
conhecida instituição financeira do país. O patrimônio resultante deveria ultrapassa US$ 2 bilhões e
a união era vista como forma de compensar os efeitos da concorrência de grandes bancos
brasileiros na Argentina como Bradesco,
Gráfico 5-62: AEAT - Relação entre o Total dos Ativos
Bamerindus e Itaú. Segundo a FSP, na época no exterior e o Total dos Ativos do Bamerindus (US$
o mercado financeiro argentino estava milhões).
18.000 16%
Ativos Totais Ativos Externos AEAT
16.292
preocupado com os bancos brasileiros no 16.000
14,0%
14%
12,4%
Mercosul. 14.000
13.698
12.825 11,3% 12%

847
No Gráfico 5-62 apresentamos a 12.000
10,0%
10%

11.007 10,2%
relação entre os Ativos que o Bamerindus 10.000

8%

mantinha no exterior e o total dos 8.000 7.646


7.335 6%

investimentos do banco, no qual é possível 6.000


5.656
4,4% 4%
observar alguns dos resultados da estratégia 4.000
3,1%
1.541 1.840 2%
de expansão internacional do banco. O Total 2.000

424 568 913


1.312
335
dos Ativos no exterior, que em 1989 -

1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995


0%

representavam 3,1% dos investimentos do Nota: Eventuais diferenças entre os valores apresentados neste
gráfico e os anteriores, correspondem a diferentes critérios de
banco, saltou para 10% em 1991, tendo conversão dos relatórios financeiros para outras moedas. Fonte:
chegado a 14% em 1993. Segundo o Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados extraídos de
Balanços anuais. Apud Tabela 6, Fernandes (1996, p. 66).

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
155
Plano de reformas econômicas lançado pelo então ministro da economia daquele país, Domingo Cavallo.
156
Fonte: Seguros: Mercosul é alvo da Bamerindus. GM, 10 nov. 1993, p. 19..
157
Fonte: Contas conjuntas. Por antecipação. Mercado regional. FSP, 14 out. 1994, p. 2-2.
324

Bamerindus158 naquele ano o retorno sobre o Patrimônio Líquido consolidado das agências no
exterior foi muito superior ao obtido pelo banco como um todo (ver Tabela 5-10), o que seriam um
indício que o banco havia encontrado uma importante alternativa para diversificar suas fontes de
lucro. Por outro lado, tal lucratividade
Tabela 5-10: Retorno sobre o Capital Próprio. Lucro
refletia, em boa medida, o risco das Líquido sobre o Patrimônio Líquido - 1991 e 1992 (em
%)
operações externas do Brasil e do mercado Descrição 1991 1992
financeiro internacional, principalmente na (A) Total do BBB 5,31 7,08
área de câmbio. Na época, o Brasil ainda não (B) Agências no exterior 12,50 23,26
havia equacionado o problema da dívida (C) Variação (B / A) * 100 135,41 228,53
externa, e nos anos 1990 o mercado Nota: Eventuais divergências com outros indicadores são
resultado de diferentes metodologias de conversão cambial e
financeiro internacional enfrentou várias correção dos resultados pela inflação. Fonte: Bamerindus:
Annual Report (1992, p. 20 e 27).
crises financeiras.

5.3.4.4 SÓCIOS E PARCEIROS ESTRANGEIROS

848
Outro caminho trilhado pelo Quadro 5-6: Sócios estrangeiros do Grupo
Bamerindus, e que acabou sendo decisivo para a Bamerindus em diversos empreendimentos (1981 a
1994)
internacionalização do banco, foi a constituição Sócios
de diversas parcerias com grupos estrangeiros American Express, EUA.
Grupo Volvo, Suécia
que atuavam no Brasil. No Quadro 5-6 Theodore Barry & Associates, EUA.
Grupo Midland - Montagu, Londres. RU.
apresentamos alguns grupos com os quais o General Motors, EUA.
Bamerindus manteve sociedade direta em vários Grupo Continental Grain, EUA.
ELC - Electroconsult do Brasil Ltda., Itália.
empreendimentos. Também devemos considerar Grupo Colonia - Nordstern , Alemanha.
que desde os anos 1970, o grupo mantinha Grupo Philips, Holanda.
Grupo Refripar. (Refripar / Clímax / Sanyo)
conexões indiretas com importantes grupos Postalis Instit. Seguridade Soc. Correios e Telégrafos.
Itália
estrangeiros, como por exemplo, através do
Fonte: Quadro elaborado pelo autor, com base nos dados
Grupo CCN (ver Quadro 5-5). Mas a associação do Atlas Financeiro (1981, p. 51-56 e 1994, p. 56-61).
mais significativa sob o prisma histórico, foi com o Grupo Midland - Montagu, de Londres, que
teve início em 1978 e acabou se transformando no controlador do Bamerindus em 1997, após o
Midland ter sido incorporado pelo HSBC no início dos anos 1990.

5.3.4.4.1 MIDLAND BANK

849
A história do Midland Bank se confunde com a história do capitalismo internacional,
especialmente do Reino Unido, tendo sido um das mais importantes instituições representantes do
capital inglês. Segundo o HSBC (2000), o Midland Bank foi inaugurado na Union Street,

158
Fonte: Bamerindus: Annual Report (1992, p. 20 e 27).
325

Birmingham, Inglaterra, em 1836, por um grupo de importantes comerciantes e industriais,


liderados por Charles Geach. O banco foi aberto numa região considerada um dos epicentros da
Revolução Industrial, e tinha como clientes empresas que exploravam, entre outras atividades,
estradas de ferro, fundições de ferro, engenharia, utilidades etc. Suas primeiras filiais foram a
Stourbridge Old Bank, fundada em 1770 e adquirida em 1851, e a Nichols, Baker and Crane of
Bewdley, de Worcestershire, fundada em 1782 e adquirida em 1862; todas pioneiras na área
bancária em West Midlands. Em 1889, Midland adquiriu bancos em Coventry, Leamington Spa e
Derby, e em 1890 comprou dois bancos em Leeds. Em 1891, entrou no mercado nacional inglês ao
adquirir o Central Bank of London, recebendo com ele um assento na London Clearing House.
850
Em 1900, Midland era um dos quatro maiores bancos do Reino Unido. Em 1918, com
depósitos de £ 335 milhões, tornou-se o maior banco do mundo, posição conquistada pela
incorporação de um número superior a vinte outros bancos e abertura de novas filiais no Reino
Unido, realizadas desde 1898. No mercado internacional, o Midland foi o primeiro banco britânico
a montar um departamento de câmbio e, antes de 1919, já era o banco correspondente, em Londres,
para aproximadamente 650 bancos estrangeiros, entre os quais estava o HSBC desde 1907.
851
Depois da I Guerra Mundial, o Midland direcionou seus investimentos para a expansão da
sua rede de filiais e, desde 1928, na mecanização de suas operações. A Segunda Guerra Mundial
paralisou abruptamente estas iniciativas, e ao final da guerra, 31 filiais haviam sido totalmente
destruídas.159
852
Em 1958, o Midland adquiriu a casa financeira Forward Trust, e tornou-se um dos
principais operadores na área de arrendamento mercantil (“leasing”) e serviços de fomento
mercantil (“factoring”). Em 1967, compra uma participação na Montagu Trust, de Samuel
Montagu & Co. Limited160, que veio a se tornar uma subsidiária integral do Midland em 1974 e,
em 1993, seus negócios foram transferido para o HSBC Investment Banking. Em 1972, o Midland
tornou-se o sócio principal do consórcio que adquiriu o Thomas Cook Travel Business e mais
tarde, em 1977, se tornou o dono exclusivo da empresa. Até 1992, quando vendeu o negócio, apesar
de continuar oferecendo os serviços da Thomas Cook através da rede de filiais do banco. Até 1974,
os negócios internacionais do Midland eram realizados através de bancos correspondentes ou, nos
anos sessenta, através de sociedade com vários consórcios de bancos europeus e internacionais. A
partir de 1974, iniciou a abertura de filiais e escritórios nos principais centros financeiros do mundo
e, em seguida, iniciou a aquisição de subsidiárias internacionais.
853
Em 1981, com a compra do controle do Crocker National of California, EUA, o Midland
experimentou seu primeiro grande problema com o projeto de expansão internacional. Após uma

159
Como já vimos anteriormente, a II Guerra contribuiu muito para o crescimento dos negócios da família Vieira.
160
Fundada em 1853, Edwin Samuel Montagu liderou a chamada Missão Montagu que veio ao Brasil em 1923. Como foi visto
no capítulo anterior, nesta missão veio Lorde Lovat, que nos anos seguintes criou a Cia de Terras do Norte do Paraná
(CTNP) cujos investimentos na região certamente contribuíram para enriquecer a família Vieira e os grupos de capitalistas
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
326

série de grandes perdas no Californian Bank, o Midland comprou todas as suas ações em 1985 e
vendeu a Crocker para a Wells Fargo no ano seguinte. Em compensação, no mercado bancário
europeu o Midland conseguiu construir uma sólida plataforma no continente. Na Alemanha,
concentrou suas atividades na Trinkaus & Burkhardt KGaA, um banco privado criado em
Düsseldorf por volta de 1785, e adquirido pelo Midland em 1980. Com ele, o Midland passou a ter
representação na Alemanha, Luxemburgo e Zurique. Na Suíça, mantinha o controle do Guyerzeller
Bank AG, e abriu diversas filiais e subsidiárias na França e em outros centros financeiros da
Comunidade Européia.
854
Em 1987, para ampliar sua atuação na Inglaterra e na Europa, o HSBC adquiriu 14,9% das
ações do Midland Bank e firmou um acordo de cooperação que permitiu aos dois bancos
consolidarem e racionalizarem suas atividades internacionais por transferências recíprocas de
negócio como, por exemplo, a transferência do Midland Bank Canadá para Hongkong Bank of
Canada em 1988. Também neste ano o Midland adquiriu participação no Banco Roberts S.A. na
Argentina, através da Midland Montagu Administração Ltda.
855
Segundo Bernet, (1992), em 1991 a sede do Midland Bank Plc161 era em Londres e entre
suas subsidiárias estavam a Thomas Cook Group Ltd. e a Samuel Montagu & Co. (Holdings) Ltd.
Seus principais acionistas eram: Hongkong & Shanghai Bank (15%), Investmentfond M & G
(6,5%), Hanson Trust (5,2%) e o Kuwait Investment Office (5%). Naquele ano, o Midland estava
classificado como 52º banco comercial do mundo, com ativos de US$ 102.367 milhões, depósitos
de £ 52.881 milhões e teve um prejuízo líquido de £ 373 milhões. Em 1992 o HSBC comprou o
controle acionário do Midland Bank plc de Birmingham, que acabou sendo renomeado em 1999
para HSBC Bank Plc., como parte da adoção da marca do HSBC em todo o grupo.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
que criaram o Bamerindus.
161
Plc: “public limited company”. Sociedade de responsabilidade limitada e capital aberto (passível de subscrição pública). A
“Plc” têm o seu capital dividido em ações e, em caso de dissolução da sociedade, cada sócio apenas está obrigado a
contribuir com o valor não liberado das ações que detém. Este tipo de empresa pode fazer apelo à subscrição pública. Esta
denominação é utilizada no Reino Unido, e a firma de uma “public company” termina com os dizeres “public limited
company” (ou, p. l.c.). Fonte: COSTA, Pedro Coral. A tradução de inglês para português de documentos constitutivos de
sociedades. CONFLUÊNCIAS - Revista de Tradução Científica e Técnica, nº 2. Lisboa: maio 2005.
327

O BAMERINDUS E O MIDLAND BANK

856 Ilustração 5-4: Midland Bank no Brasil (1991)


Segundo o Bamerindus:
Relatório dos Conselhos e Diretorias (14 Midland Bank PLC Grupo Bamerindus
Londres (RU)
jul. 1978), no primeiro semestre daquele
ano, o Midland Bank entrou como sócio Midland Bank Intl Midland Holding Particip.,
Financial Services Ltd. Adm. E Represe. Ltda.
numa das empresas do grupo, a Celease
Arrendamento Mercantil, que em 1979
Cannon Invests. Bamerindus Midland
mudou de nome para Bamerindus - e Particips. Ltd. Arrend. Merc. S. A.

Midland Arrendamento Mercantil S.A.,


Midpar Invests. Umuarama Adm. De
onde, segundo o Atlas Financeiro E Particips. Ltda. Bens e Particips. S. A.

(1981, p. 52), em 1981 o Bamerindus


possuía 51% das ações ordinárias, o Fonte: BERNET (1992).
Midland - Montagu, 40% e a General Motors, 9%. Também segundo o Bamerindus162 foi criado
naquele ano o MidBank Banco de Investimento S.A. em sociedade com o Midland Bank e a Cia
Mineira de Participações Industriais e Comerciais. Em 1992, segundo Bernet (1992)163, os
interesses do grupo Midland Bank no Brasil tinham a seguinte configuração:
857
A empresa Midland Holding Participação, Administração e Representações Ltda. tinha sede
em São Paulo (SP), e 100% do seu capital era da Midland Bank Intl. Finance Services Ltd., que
em 1992 possuía 41% das ações do Bamerindus Midland Arrendamento Mercantil S.A. O controle
continuava com o Bamerindus (51%) e a General Motors (GM)164 com 8%. Nesta época, a GM
controlava as empresas Hughes que atuavam em diversas áreas, entre elas a de telecomunicações e
satélites. Também, junto com o Bamerindus (2/3), o Midland tinha 1/3 das ações ordinárias da
Umuarama Administração de Bens e Participações S.A. Segundo a AE (26 jun. 1992)165, no mês de
junho de 1992 a Associação Brasileira dos Distribuidores Volvo (Abravo) aguardava do Banco
Central autorização para o funcionamento de um banco múltiplo – Transbanco, apelidado de
“Banco Volvo”. Para constituir o banco, o Bamerindus e o Midland venderam o controle acionário
do Midbank Banco de Investimento para concessionários Volvo, que ficaram com 67% das ações
ordinários, e a fábrica da Volvo, que comprou 33%. Segundo o Atlas Financeiro (1994, p.
65), em 1993 o Bamerindus e o Midland Banco continuavam como sócios minoritários do
Transbanco. Também em 1991 o Bamerindus - Midland administrava o acordo Brasilinvest e
Comind, e o banco entrava no negócio de leasing internacional, ao viabilizar o financiamento

162
Fonte: Bamerindus: Annual Report (1987, p. 11).
163
Fonte: BERNET, J. Guia interinvest guide: O Brasil e o capital internacional. Brazil and international capital. 7º edição.
Rio de Janeiro: INTERINVEST Ed.., 1992., p. 270 e 426.
164
“Em 1995, o [...] Bamerindus então começou a perder mercados importantes em suas operações. Perdeu 40% de fatia do
mercado de atacado, entre estes, clientes como a General Motors e a Fiat. O banco sofreu várias corridas, assim como
outras instituições. No meio institucional, sua imagem foi bastante prejudicada. Devido às corridas, o banco teve que
recorrer ao sistema de redesconto, no sistema interbancário, várias vezes. Esse sistema começou a se retrair para o
Bamerindus em seus momentos mais difíceis”. (ROIEK, 1999, p. 168)
328

através de arrendamento dos equipamentos utilizados nas operações por satélite do Banco
Bamerindus. Em 1992, o Bamerindus comprou as ações que o Midland Bank possuía da
Bamerindus Midland Arrendamento Mercantil S.A., e mudou seu nome para Bamerindus Leasing
Arrendamento Mercantil. Provavelmente a saída do Midland do negócio tenha relação com a
transferência, naquele ano, do controle do Midland Bank Plc. para o HSBC.

5.3.4.5 HSBC - THE HONGKONG AND SHANGHAI BANKING CORPORATION


LIMITED

858
A história do HSBC está diretamente relacionada à história da expansão colonial da
Inglaterra no último quartel do século XIX, especialmente na China. Mais tarde o banco incorporou
os negócios ingleses no setor de petróleo no Oriente Médio, e finalmente, a partir dos anos 1980
engajou-se no esforço de expansão do capitalismo financeiro internacional formando um dos
maiores bancos de varejo do mundo. Segundo Blecher (30 dez. 1994, p. 2-9)166, em 1994 o Grupo
HSBC167 tinha sede em Londres e era considerado o oitavo maior conglomerado financeiro
internacional e o maior banco não japonês, e o total dos seus ativos ultrapassava os US$ 300
bilhões, e operava em 68 países através de mais de 3.000 escritórios. Na América do Sul possuía
participação minoritária no banco chileno O'Higgins e no argentino Roberts. Neste mesmo ano o
Bamerindus acumulava ativos num total de US$ 11,8 bilhões, que representavam 3,92% do HSBC.
859
O crescimento econômico da região costeira da China na segunda metade do século XIX
levou o então Superintendente em Hong-Kong da empresa Peninsular and Oriental Steam
Navigation Company, Thomas Sutherland, a fundar em 1865 o The Hongkong and Shanghai
Banking Corporation Limited. Na época os diretores do banco conseguiram que o Tesouro da
Inglaterra aceitasse a incorporação sob uma ordenação especial, permitindo ao banco manter a
matriz em Hong-Kong sem perder o privilégio de emitir títulos bancários e operar com o governo
inglês. Em 1866, o banco mudou sua denominação para The Hongkong and Shanghai Banking
Corporation, que ficou inalterada até 1989. Logo após sua formação o banco estabeleceu uma rede
de agentes e filiais ao redor o mundo e, embora tenha alcançado a Europa e a América do Norte, o
HSBC concentrou os esforços na construção de representações na China e no restante da região da
Ásia - Pacífico.
860
Mesmo com o declínio do comércio internacional gerado pela I Guerra Mundial, o grupo se
manteve ao longo dos anos 1920168 e 1930 como principal agente financeiro do governo chinês. Ao
contrário dos negócios da família Vieira no Brasil, que cresceram muito durante a II Guerra

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
165
Fonte: Volvo aguarda novas regras para consórcio. AE, Aedata, Santo André, 26 jun. 1992.
166
Fonte: BLECHER, N. Bamerindus alia-se ao 8º banco mundial. FSP, 30 dez. 1994. Dinheiro, p. 2-9.
167
A maioria das informações sobre o HSBC foi extraída de HSBC Holdings plc. The HSBC Group: a brief history. London,
2000. Nossa tradução. Disponível em: <http://www.hsbc.com/hsbc/about_hsbc/group-history>. Acesso em: 09 jul. 2004.
168
Não podemos descartar a hipótese de que o HSBC tivesse participação na empresa inglesa Brazil Plantations Limited,
controladora da Companhia de Terras Norte do Paraná (CTNP).
329

Mundial, as operações do HSBC foram interrompidas durante o conflito, e a maioria dos


funcionários europeus do banco se tornou prisioneira de guerra do Japão. No período imediato do
pós-guerra, o banco assumiu um papel importante na reconstrução da economia de Hong-Kong,
mas perdeu vários mercados, principalmente após a guerra civil na China, onde a maioria de suas
filiais foi fechada, exceto o escritório de Xangai. Entre 1953 e 1965, o banco diversificou seus
negócios em uma série de aquisições e alianças. Na região da Ásia - Pacífico, foram efetuadas
várias aquisições importantes tais como o Mercantile Bank em 1959 e o Hang Seng Bank Limited
em 1965. A abertura internacional de tradicionais mercados financeiros nos anos 1980 e 1990,
levou o grupo a abrir um banco na Austrália em 1986 e outro na Malásia em 1994. A retomada da
soberania sobre Hong-Kong pela República Popular da China, em 1997, permitiu ao grupo ampliar
suas conexões com a China, aonde já atuava desde os anos 1970, através de vários escritórios e
filiais.
861
Na Europa, o grupo cresceu principalmente através da aquisição de negócios já existentes,
inicialmente comprando em 1973 uma participação no banco inglês Antony Gibbs, cujo controle
total acabou adquirindo em 1980. Também comprou em 1986 a James Capel & Co. Limited e em
1987 adquiriu 14,9% das ações do Midland Bank Plc., cujo controle total acabou acontecendo em
junho de 1992, numa transação que na época foi considerada como uma das maiores operações da
história bancária. A fusão foi completada em 1999, com a troca do nome Midland Bank para HSBC
Bank.
862
A entrada do HSBC no Oriente Médio ocorreu em 1959, quando comprou o controle do
British Bank of the Middle East. Criado em Londres em 1889169 pelo Barão Julius de Reuter,
originalmente o banco era denominado The British Bank of the Middle, também conhecido como
The Imperial Bank of Persia. Na época Reuter obteve do Xá da Pérsia a concessão bancária por 60
anos, que permitia emitir títulos e agir como o banco do Estado da Pérsia. Após o nome do país ter
sido modificado para Irã, o Imperial Bank foi renomeado em 1935 para Imperial Bank of Iran e, em
1951, sua licença para operar com o câmbio exterior foi cancelada. A mudança obrigou o banco a
remodelar sua estratégia e reorganizar sua representação, processo este que já estava ocorrendo
desde o início dos anos 1940, quando entrou nos Estados do Golfo Pérsico. Nesta região o banco
teve um papel vital no desenvolvimento da indústria petrolífera, tendo aberto diversas filiais e
mudado o seu nome em 1949 para The British Bank of Iran and the Middle East. Ao ter que sair do
Irã, em 1952, o banco recebeu uma nova Royal Charter sob o nome de British Bank of the Middle
East. Em 1959 a instituição foi reaberta no Irã, onde operou até 1979 quando a Revolução Islâmica
nacionalizou todos os bancos estrangeiros instalados no país. Um ano antes os negócios do banco
na Arábia Saudita haviam sido transferidos para o The Saudi British Bank, instituição na qual o
HSBC detinha 40% de participação. Em 1999, o British Bank foi renomeado para HSBC Bank

169
Mais ou menos nesta época, Miguel Antun – avô de José Eduardo, partia do Líbano em direção ao Brasil.
330

Middle East.
863
Nas Américas, o HSBC estava presente desde que abriu uma agência em São Francisco
(EUA), em 1865 e uma filial em Nova York em 1880, todas com atuação marginal no mercado. O
passo decisivo nos EUA aconteceu quando, em 1987, comprou o Marine Midland Bank, um
importante e tradicional banco cuja história remonta o anos de 1850, quando foi criada a Marine
Trust Company em Búfalo, Nova York. Em 1989 o HSBC estabeleceu uma aliança estratégica com
o Wells Fargo Bank da Califórnia que evoluiu para a criação, em outubro de 1995, do Wells Fargo
HSBC Trade Bank, N. A. Em 1996, o banco adquiriu os negócios do East River Savings Bank, e em
1997 foi finalizada a compra do Federal Savings and Loans Association of Rochester e uma aliança
com a Wachovia Corporation. Em 1999, o Marine Midland Bank foi renomeado como HSBC Bank
USA. A aquisição do Marine trouxe para o HSBC vários escritórios do banco na América Central e
do Sul e, com a compra do Midland, o grupo passou a ter representações no Brasil, Argentina e no
México. Em 1987 o Midland Bank havia adquirido participação no Banco Roberts S.A. da
Argentina, e em agosto de 1997 comprou o controle da instituição, quando então mudou o seu
nome para HSBC Banco Roberts S.A. – atualmente HSBC Bank Argentina S.A. O grupo também
está presente no Chile, onde participa do Banco O’Higgins.
864
A presença maior do grupo na América do Sul aconteceu em março de 1997, quando criou
o Banco HSBC Bamerindus S.A. e assumiu o controle sobre parte dos ativos, passivos e
subsidiárias do Banco Bamerindus do Brasil S.A., tendo mudado seu nome em 1999 para HSBC
Bank Brasil S.A. - Banco Múltiplo.
865
Nos Apêndices desta tese apresentamos um histórico mais detalhado que extraímos e
traduzimos da publicação The HSBC Group: a brief history. HSBC Holdings plc (2000) publicada
pela instituição na sua página na Internet.

OS NEGÓCIOS DO BAMERINDUS COM O HSBC

866
Blecher (30 dez. 1994, p. 2-9)170 informava que em dezembro de 1994 estava na reta final a
negociação entre o Bamerindus e o HSBC, envolvendo a participação inferior a 10% no banco
brasileiro. Segundo Anthony Pain, então diretor internacional do Bamerindus, tratava-se “[...]
basicamente, de uma aliança estratégica entre um dos poucos grandes bancos brasileiros que ainda
não tinham um sócio estrangeiro e um banco com cobertura global” (BLECHER, 30 dez. 1994, p.
2-9). Com a aliança, o Bamerindus esperava alavancar seus negócios internacionais, oferecendo aos
clientes a possibilidade de “[...] ampliar suas operações externas tanto comerciais como no mercado
de capitais ou de captação de recursos à medida que o país for liberalizando seu relacionamento
com o exterior” (BLECHER, 30 dez. 1994, p. 2-9). Pain também declarou que o HSBC foi
escolhido por ser talvez “[...] o único banco global, por estar bem estruturado e operar com força na

170
Fonte: BLECHER, N. Bamerindus alia-se ao 8º banco mundial. FSP, 30 dez. 1994. Dinheiro, p. 2-9.
331

Ásia, Europa, Oriente Médio e Estados Unidos” (BLECHER, 30 dez. 1994, p. 2-9), e na América
Latina, o HSBC possuía participação minoritária de 10% no banco chileno O'Higgins e de 30% no
argentino Roberts.
867
A participação no Bamerindus estava sendo negociada através do Midland Bank, que já
havia sido o maior credor inglês da dívida externa brasileira, e mantinha US$ 600 milhões em
linhas de empréstimos a bancos e empresas nacionais. A transação precisava ser aprovada pelo
Banco Central, pois a legislação restringia a participação de instituições estrangeiras no Sistema
Financeiro brasileiro. A parceria fazia parte do projeto de expansão internacional do Bamerindus,
cuja estratégia envolvia ter apenas algumas agências, Nova York e Ilhas Cayman, e escritórios de
representação em Buenos Aires, Londres e Hong-kong, e associar-se com um banco que tivesse
uma rede espalhada pelo mundo.
868
Oito meses depois, em agosto de 1995 o Bamerindus e o HSBC ainda estavam esperando
pela aprovação do governo federal. A FSP (31 ago. 1995, p. 2-5)171 publicou que Belmiro Valverde
havia declarado que o banco venderia 6% de suas ações, por aproximadamente R$ 60 milhões ao
HSBC, e que o contrato deveria ser assinado até outubro, após homologação do acordo pelo CMN,
já que o Bacen havia autorizado a participação de bancos estrangeiros em bancos brasileiros.
Segundo Belmiro, as negociações haviam sido iniciadas quando o Bamerindus estava montando o
escritório de negócios em Hong-kong: “Eles [representantes do HSBC] nos procuraram e disseram
que não tinham representantes no Brasil e se aproximaram com essa idéia de participar do capital
do banco de uma forma pequena, mas significativa”. (FSP, 31 ago. 1995). Finalmente, em 26 de
dezembro de 1995 foi anunciada a formalização do acordo com a venda de 6,14% das ações do
Bamerindus por um valor aproximado de US$ 65 milhões. Segundo Anthony Pain, era “[...] a
consolidação de uma aliança estratégica rumo à internacionalização [...] [o] Bamerindus queria um
parceiro grande que desse competitividade para a clientela”. (OESP, 27 dez. 1995)172
869
Mais tarde José Eduardo, no seu depoimento na CPI dos Bancos em 1999, declarou que
depois de efetivada a participação minoritária, o Bamerindus aceitou
169
[...] e fazia parte do acordo que eles indicassem um membro para o conselho de administração
do banco. Isso, antes de se iniciarem os boatos, antes de qualquer coisa. Essa pessoa nunca
assumiu suas funções como conselheiro, mantendo-se como assessor especial. Nós cobrávamos
para assumir a condição de conselheiro, fazia parte do acordo. Mas ele se recusava, pedia para
esperar um pouco, dava alguma desculpa para não assumir. Peter Negols, indicado pelo HSBC
para essa assessoria especial até que ele se decidisse a assumir um cargo no conselho do banco,
passou a deter as informações privilegiadas que solicitava aos órgãos de contabilidade e
controle do Bamerindus, sabendo em detalhes, diariamente, como estavam nossas contas. O
HSBC sabia de tudo que acontecia no Bamerindus. (VIEIRA / CPI DOS BANCOS, 9 jun.
1999, p. SC11)

870
Tais fatos foram contestados por Michael Francis Geoghegan, na época principal executivo

171
Fonte: Bamerindus vai vender ações à banco britânico. FSP, Curitiba, 31 ago. 1995. Dinheiro, p. 2-5.
172
Fonte: Bamerindus fecha parceria com Midland. OESP, 27 dez. 1995. Disponível em: <http://www.estado.estadao.com.br/
jornal/95/12/27/WHITE27.HTM>. Acesso em: 14 abr. 2002.
332

do HSBC no Brasil. Declarou na CPI dos Bancos que “Não houve [...] qualquer tipo de
interferência no dia-a-dia do banco ou de participação nos altos comitês responsáveis por suas
políticas e estratégias”. (GEOGHEGAN, 16 jun. 1999, p. SC 6)
871
Ainda segundo Geoghegan:
170
[...] no decorrer de 1996, notou-se o agravamento das dificuldades do Banco Bamerindus.
Nesse contexto, representantes do HSBC mantiveram contatos, no Brasil e em Londres, com
diretores do Banco Bamerindus e do Banco Central. Procurava-se uma solução para a aflitiva
situação do Banco Bamerindus. [...] Ainda nesse contexto e no período compreendido entre
abril e outubro de 1996, houve diversos contatos com o HSBC, por iniciativa do grupo
Bamerindus, com vistas a aumentar a nossa participação. O HSBC, entretanto, considerou a
intenção como sendo de difícil viabilização econômica, uma vez que, no nosso entender, não
detínhamos informações suficientes sobre o grupo controlador e coligadas. Havia muitas
incertezas. As complexas inter-relações entre o Banco Bamerindus e outras empresas do grupo
Bamerindus tornavam a situação difícil. E justificava-se tal cautela, pois, como fatos
subseqüentes demonstraram, o Banco Central, depois de consultar outros possíveis
interessados, após analisar mais friamente os números do Bamerindus, também chegou à
conclusão de que não haveria uma solução adequada para o problema a não ser que se
realizasse operação semelhante a que ocorrera em outros casos, ou seja, a segregação dos ativos
e passivos do banco. (GEOGHEGAN, 16 jun. 1999, p. SC 6)

872
Segundo Cristino (17 jun. 1999, p. s.n.)173, Geoghegan garantiu aos senadores da CPI que:
171
[...] o velho Banco Bamerindus S. A não valia nada. “Um banco vale os ativos que tem e, no
caso do Bamerindus, seus ativos não eram bons” sustentou [...] ao justificar a afirmação de que
o valor do Bamerindus deveria ter sido zero. Ele disse que só pagou R$ 381 milhões pela marca
Bamerindus porque o Banco Central não abriu mão. (CRISTINO, 17 jun. 1999, p. s.n.).

873
A marca da história da expansão do HSBC foi a incorporação de grandes e tradicionais
bancos, na Ásia, Europa e na América. Nos parece que suas pretensões em relação ao Bamerindus
dificilmente se limitavam a uma participação minoritária, como declararam os dirigentes da
instituição. Também é interessante observar que a transferência do controle do Bamerindus para o
HSBC parece fazer parte de um grande ciclo histórico de retomada da importância de Londres
como centro financeiro internacional, que teria sido interrompido na I Guerra Mundial e retomada
durante os anos 1960 e 1970. Em última análise, a incorporação do Bamerindus está diretamente
ligada aos avanços do processo de hegemonia financeira nos anos 1970 e sua internacionalização
nos anos 1980 e 1990. No Brasil, esse processo atinge seu auge nos anos 1990, justamente com a
transferência do terceiro maior banco privado para o controle do capital inglês.

5.3.5 SÍNTESE DO DESEMPENHO GERAL DO BANCO BAMERINDUS

874
Como foi visto, o contexto econômico-financeiro do período analisado foi marcado pela
crise financeira do Estado brasileiro e das grandes empresas estatais, aumento do endividamento
público, altas taxas de inflação e sete planos de estabilização econômica. Neste cenário, a análise da

173
Fonte: CRISTINO, V. Presidente do HSBC derruba tese de Vieira. À CPI, Geoghegan afirmou que o Bamerindus não valia
nada porque seus ativos “eram ruins”. AE, Brasília, 17 jun. 1999. Fonte: Disponível em
<http://www.estado.estadao.com.br/edicao/ pano/99/06/16/pol764.html>. Acesso em: 16 maio 2003.
333

amostra de bancos indicou que o Total dos Ativos cresceu em termos reais consideravelmente ao
mesmo tempo em que a lucratividade mantinha uma tendência de queda.

5.3.5.1 ANÁLISE DE VOLUME

875
O Bamerindus sempre foi apontado pela grande maioria das publicações especializadas no
setor bancário, como o terceiro maior banco privado brasileiro. Segundo o Bamerindus174, o anuário
“os 500 maiores”, da revista Euromoney de junho de 1983, classificava o Banco Bamerindus como
o 177º maior banco do mundo, e o Bradesco ocupava o 46º lugar e o Itaú estava na 134º posição.
Na classificação dos bancos brasileiros, o BBB estava em quarto lugar e terceiro entre os privados.
Segundo a Veja (05 out. 1988, p. 113), o Bamerindus em 1988 era o sexto maior banco privado do
país, e no ano seguinte conseguiu, segundo o banco, atingir o 1º lugar no ranking nacional de
captação de tributos federais e líder nacional na captação de contribuições do Instituto de
Administração da Previdência e Assistência Social (Iapas). Ainda segundo o Bamerindus, em 1990
a instituição alcançou o 3º lugar na classificação dos bancos privados brasileiros, sendo o 2º em
número de agências, bem como era líder no ranking dos grandes bancos em arrecadação de tributos,
conseguindo atingir 15% no mercado de tributos federais no mês de agosto. Em 1994 era o terceiro
maior banco privado brasileiro em ativos e o segundo em depósitos e empréstimos. Também nos
anos 1990, o banco se tornou líder dos bancos privados no mercado de contratos de câmbio e em
operações brasileiras no mercado financeiro internacional.
876
A análise da amostra comprova em boa parte estas classificações (ver Tabela 5-11), e no
item Ativos Totais, em 1986, o Bamerindus ocupava a 8º posição, e a partir de 1987 passou a
ocupar o 5º lugar na amostra, obtendo a classificação média de 3º colocado entre os bancos
privados.
Tabela 5-11: Classificação do BBB por tamanho (1981 a 1994).
Classificação
1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

Descrição Bancos
amostra
Privados
Ativo Total 8 8 6 7 8 8 5 5 4 5 5 5 5 5 5 3
Emprést. Financiam. 6 7 7 9 9 8 9 7 6 7 8 8 5 4 7 5
Depósitos 8 8 8 8 9 8 8 8 5 5 5 6 5 4 5 3
Capital de Terceiros 7 8 5 5 8 8 3 2 3 5 5 6 6 4 4 2
Patrimônio Líquido 5 5 4 5 6 7 8 8 6 5 5 6 6 5 6 4
Lucro Líquido 5 4 4 8 7 9 9 7 8 6 7 8 7 7 7 5
Média Geral 7 7 6 7 8 8 7 6 5 6 6 7 6 5 6 4
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002).

877
Ponderando todos os indicadores da Tabela 5-11 podemos verificar que, na média geral, o
Bamerindus era o sexto maior banco da amostra e o quarto maior banco privado depois de

174
Fonte: Informativo Bamerindus, nº 44, 1983. Apud Projeto Memória Bamerindus (1995).
334

Bradesco, Itaú e Unibanco. Pelo uso da fonte capital de terceiros ficou em segundo lugar e, no
volume de investimentos e depósitos, ficou como o terceiro maior banco privado. É importante
observar que apesar de ser o terceiro maior em volume de investimentos, ficou em quinto lugar em
volume de lucro líquido, ou seja, o Bamerindus era um banco grande, mas com baixa lucratividade
quando comparado com os seus maiores concorrentes privados.

5.3.5.2 ANÁLISE DE DESEMPENHO

878
Para analisar o desempenho da instituição, reunimos seis principais indicadores que já
comentamos anteriormente, buscando sintetizar o desempenho do banco em relação aos demais
integrantes da amostra. Para tanto, calculamos o desvio percentual dos indicadores em relação aos
índices obtidos com o total da amostra e classificamos a posição obtida para cada banco, chegando
aos resultados apresentados na Tabela 5-12 e no Gráfico 5-63, como segue.

Tabela 5-12: Classificação do BBB por indicadores (1981 a 1994)

Classificação
1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994
Cód Descrição (%) Bancos
amostra
Privados
Empréstimos e
01 Financiamentos 4 4 7 8 7 8 9 9 8 8 8 7 5 4 7 5
/ Ativo Total
Depósito /
02 7 7 7 7 7 3 9 9 6 4 3 5 3 2 6 5
Ativo Total
Depósito /
03 Empréstimos e 7 7 6 4 4 2 1 5 2 1 1 3 4 4 4 4
Financiamentos
Capital de
04 Terceiros / 6 6 7 6 4 3 9 9 6 5 4 5 6 4 6 5
Ativo Total
Patrimônio
05 Líquido / Ativo 3 3 5 6 3 4 9 9 9 7 5 7 8 8 6 5
Total
Lucro Líquido /
06 Patrimônio 4 2 4 9 6 8 9 5 8 8 8 8 6 8 7 6
Líquido
Média 5,2 4,8 6,0 6,7 5,2 4,7 7,7 7,7 6,5 5,5 4,8 5,8 5,3 5,0 5,8 5
Classificação Final 7 6 7 8 7 7 9 9 6 5 4 6 6 4 7 6
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002).
335

879
A classificação geral (ver Gráfico 5-63 Gráfico 5-64) posicionou o Bamerindus em 7º lugar
na amostra, e o 6º colocado entre os bancos privados, na frente apenas do Banco Nacional. Esta
posição foi influenciada pela quantidade de títulos de baixa liquidez na carteira de empréstimos e
financiamentos, perdas com a falência de bancos e empresas no início dos anos 1980, maior
exposição ao risco em conseqüência
Gráfico 5-63: Desvio médio total dos indicadores em relação à amostra -
da conta remunerada, que transferiu 1981 a 1994 (em %)
recursos da conta Depósitos para
Capital de Terceiros. Também teve 50

E C O N Ô M IC O
influência a baixa participação do

BRADESCO
40

B A M E R IN D U S
18
Capital Próprio na estrutura de capital

48
30

IT A Ú
do banco, que o colocava em 6º lugar

N A C IO N A L
40

8
U N IB A N C O

BANESPA
entre os bancos privados, na frente 20

4
23

REAL
20
apenas do Nacional. Tal exposição ao

16
10

risco não foi compensada pelo -

aumento na rentabilidade, e neste


(10)
quesito o Bamerindus teve um
desempenho apenas superior ao do (20)
BANCO BRASIL
Banco do Brasil, que no caso era um (20)
(30)

banco público historicamente voltado Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em
para o fomento da atividade Melhores e Maiores (2002).

econômica.
Gráfico 5-64: Classificação dos Bancos por indicadores de desempenho (1981 a 1994).
10
1981 1987 1994 Média
9º 9º 9º 9º
9

8º 8º 8º 8º
8

7º 7º 7º 7º
7

6º 6º 6º 6º
6

5º 5º 5º 5º
5

4º 4º 4º 4º
4

3º 3º 3º 3º
3

2º 2º 2º 2º
2

1º 1º 1º 1º
1

0
BRADESCO ITAÚ UNIBANCO BANESPA ECONÔMICO REAL BAMERINDUS NACIONAL BRASIL

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002).

880
Ao que parece, nos últimos anos esta situação do Bamerindus estava sendo modificada por
uma série de reformas estruturais, como a automação crescente dos processos, conexão via satélite
das agências e escritórios, redução no número de funcionários. Em 1994 o banco já ocupava a 4º
posição na amostra. Ao que parece, o Banco Bamerindus tinha problemas de gestão, provavelmente
pelo tamanho da organização e por ser parte integrante de um grande grupo econômico. Deixamos
336

como sugestão para trabalhos futuros, a realização de estudos com base na Teoria dos Custos de
Transação (TCT) nos termos apontados por Portugal (1994), que poderiam identificar e explorar
com mais profundidade os principais os problemas de eficiência econômica da organização.
881
Como foi possível verificar ao longo deste capítulo, boa parte dos problemas de
lucratividade do banco tinham relação com a função de financiar o crescimento do grupo. Ver, por
exemplo, Pinto (1º abr. 1997, p. 1-11.), Marx (1991) e Hilferding (1985). No Capítulo I, o Banco
Bamerindus estava a serviço do movimento de concentração da propriedade e da dinâmica do
capital financeiro como fator determinante das mudanças na estrutura empresarial e concentração
de poder. Nesse sentido, a rentabilidade no curto prazo passa a ser secundária, pois no longo prazo
seria maior, caso a concentração do capital Gráfico 5-65: Desempenho do Bradesco, Itaú e Bamerindus
permitisse ampliar a esfera de influência e (1981 a 1994)
10
BRADESCO
poder do grupo, possibilitando impor ao 9
ITAÚ
8
9º 9º
mercado taxas de retorno compatíveis com 8º BAMERINDUS
7

os investimentos realizados. 6
7º 7º 7º 7º 7º
6º 6º 6º 6º
5
882
No Gráfico 5-65 podemos comparar 4
5º 5º
4º 4º
a situação geral do banco em relação aos 3
3º 3º 3º 3º

2
2º 2º 2º 2º 2º 2º 2º
seus dois maiores concorrentes, o Bradesco e 1
2º 1º
2º 1º 2º 2º 2º
1º 1º
1º 1º 1º 1º 1º 1º 1º 1º
Itaú. Cabe destacar que foram utilizados 0
1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

1994

Média
apenas seis indicadores na análise e que estes
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados obtidos
refletem uma posição parcial e relativa de em Melhores e Maiores (2002).
uma realidade muito mais complexa, não sendo possível considerá-las como absolutas para avaliar
a qualidade da gestão da instituição, ou mesmo para afirmar se tal administração era boa ou ruim.
Por outro lado, reunindo estes indicadores com as análises anteriores, podemos concluir, com
certeza, que a gestão do Banco Bamerindus era muito diferente dos demais bancos, principalmente
com relação aos seus dois maiores concorrentes, o que de certa forma pode ser explicado pelo fato
que a sobrevivência e o crescimento do Bamerindus exigiam que sua estratégia fosse efetivamente
diferenciada e, como já vimos anteriormente, esta história teve lances de audácia e quebra de
paradigmas, como no lançamento da conta remunerada e, ao que parece, esta atuação se devia em
boa parte à presença de José Eduardo no comando da organização.
883
Sobre este tema, Blecher (08 abr. 1990), em reportagem publicada pela FSP, descrevia JE
como o banqueiro do chapéu de “cowboy” que adora “[...] uma prosa desfiada em sotaque caipira”
que em dez anos transformou “[...] um banco com forte sotaque regional no terceiro maior do país
em depósitos e o segundo em número de agências”. Para o jornalista, JE era um “heterodoxo em
termos de moda’, bem como não combinava ‘com o perfil ‘low profile” da maioria de seus pares e
não abria mão de suas opiniões. “No Brasil, todo mundo é a favor do governo [...] Mas quanto mais
sou independente, mais respeito ganho”. Na ocasião, comentando o Plano Collor, dizia continuar
sendo contra confiscos e medidas provisórias, e afirmava com convicção que “comunista no poder
não faz reforma agrária [e] [...] se o plano econômico fosse de Lula, haveria uma insurreição no
337

país”. (BLECHER, 08 abr. 1990).


884
Neste caso é importante lembrar as colocações de Fernandes (1976) sobre a importância da
análise sociológica de personalidades divergentes do meio cultural em que estão inseridos. No caso
de JE podemos verificar que seu estilo, divergente de seu grupo social, gerava conflitos e
dificuldades para os concorrentes que eram ao mesmo tempo iguais (do seu meio), mas muito
diferentes (no seu comportamento). JE soube transformar esta divergência com os padrões de
comportamento e valores sociais consagrados, em vantagem competitiva no mercado capitalista,
conseguindo transformar o Bamerindus, que ocupava a 6º posição entre os grandes bancos privados
da amostra em 1981, no terceiro maior banco privado do país. Tal personalidade é descrita com
clareza numa reportagem publicada pela Veja em 1989, como segue:
172
[O] [...] dono do grupo Bamerindus, de Curitiba, é conhecido no mundo financeiro como um
rebelde [...] “Zé Eduardo” [...] já fez de tudo o que os banqueiros consideram estranho em seu
tipo de negócio. No Plano Cruzado, por iniciativa própria, perdoou parte da dívida de
microempresários contraída no Bamerindus. Na Constituinte, Vieira defendeu o tabelamento
dos juros em 12% ao ano. Em 1987, repartiu com os correntistas os lucros do banco oriundos
da inflação ao lançar a conta corrente remunerada. Nem por isso, entretanto, seu negócio
piorou. Ao contrário, nunca esteve tão viçoso. Em vez de um banqueiro louco, hoje ele é
considerado até muito esperto, por capitalizar essas decisões a favor da imagem do Bamerindus
— com a qual ganhou mais de 900.000 novos clientes nos dois últimos anos. (VEJA, 5 jul.
1989, p. 134-135)

885
Outro exemplo que deixa claro o estilo de atuação do Bamerindus foi o lançamento do
título de capitalização Coopercap.

5.3.5.2.1 O COOPERCAP

886
Em outubro de 1984, o Grupo Bamerindus comprou a empresa Letra Capitalização, com
sede no Rio de Janeiro, que além da carta-patente para operar no setor, tinha um patrimônio
formado por aproximadamente 130 mil títulos de capitalização, 20 agências – 10 no Rio de Janeiro
e as restantes espalhadas por todo o Brasil, onde trabalhavam cerca de 400 funcionários. Em maio
de 1989, o grupo Bamerindus resolveu lançar um título de capitalização diferenciado que chamou
de Coopercap. O produto era um tipo de aplicação de dinheiro que misturava vantagens da
caderneta de poupança com o sistema dos consórcios. O interessado escolhia um dos vários planos
existentes e pagava prestações mensais por um prazo de até 48 meses. No final do período,
receberia o que pagou com os mesmos juros da poupança e correção monetária.
887
A entrada do título no mercado foi marcada pela polêmica e teve que enfrentar a oposição
pública, que se deu através de artigos publicados nos jornais, que reproduziam o discurso da
deputada Dirce Tutu Quadros, no qual acusava o Bamerindus de tentar “acabar com as cadernetas
de poupança, desmantelar os consórcios e levar ao desemprego 100.000 brasileiros”. (VEJA, 5 jul.
1989, p. 134-135). A repercussão levou o Ministério da Fazenda a suspender temporariamente o
produto, para que fossem efetuadas análises mais detalhadas pelos órgãos do Governo. Para a
deputada, o Coopercap era uma espécie de consórcio que entregava dinheiro em vez de produtos. O
338

presidente da União Nacional dos Administradores de Consórcios Independentes, José Wellington


Soares, declarou que a entrada do banco neste segmento de mercado deixaria as empresas
tradicionais em desvantagem. O Bamerindus respondeu em artigo publicado nos jornais, desafiando
que “A melhor coisa para acabar com o Coopercap é criar um produto melhor que ele”. No meio do
tiroteio, o Ministério da Fazenda tentava encontrar, sem sucesso, amparo legal para proibir o
Coopercap de voltar a funcionar.
888
Ainda segundo Veja (5 jul. 1989) o Coopercap não era novidade, pois títulos de
capitalização existiam há muito tempo no Brasil. A diferença estava no fato que o investidor
poderia receber o dinheiro antes de acabar de pagar o plano, bastava ter seu número sorteado nas
extrações semanais da Loteria Federal. Nesse caso, o sorteado levava o dinheiro, podia escolher o
que comprar e continuava pagando as prestações. Em caso de desistência antes do final do plano, o
investidor poderia receber de volta o que foi pago. O grande diferencial competitivo em relação aos
consórcios era que estes últimos eram obrigados a entregar o produto ao invés do dinheiro. É
importante observar que, nos anos 1980, era comum haver cobrança de ágio na venda de veículos
novos. Caso o consorciado contemplado em sorteio ou lance quisesse trocar a carta de crédito do
consórcio pelo veículo, tinha que pagar o valor do ágio e esperar na fila dos compradores.
889
No final de 1989, o Banco informava que já havia comercializado cerca de 505 mil títulos
do Coopercap, acumulando um total de aproximadamente 1,4 milhão de títulos, o que representava
um incremento de 31% sobre o desempenho do primeiro semestre.
890
Como veremos no próximo capítulo, José Eduardo levará este estilo de atuação para o
mundo político, onde em muitos momentos, significou a possibilidade de composição, acordos e
alianças inesperadas e pragmáticas.

5.4 O PODER NO GRUPO BAMERINDUS (1981 - 1994)

5.4.1 INTRODUÇÃO

891
Neste segmento vamos analisar a estrutura de poder do Grupo Bamerindus, buscando
identificar alguns aspectos que consideramos importantes para o nosso estudo. Certamente que não
vai ser possível conhecer todos os detalhes dessa estrutura, por isso escolhemos alguns pontos que
consideramos mais relevantes. Inicialmente vamos analisar a trajetória de José Eduardo no
comando da instituição, para em seguida verificar alguns aspectos da estrutura de poder, a
composição do núcleo estratégico e alguns de seus principais personagens. Também durante a
análise vamos abordar brevemente alguns outros aspectos que consideramos importantes como
subsídios para o próximo capítulo no qual analisaremos as conexões do grupo com a política e o
Estado.
339

5.4.2 A ESTRUTURA DE PODER

5.4.2.1 JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA

892
José Eduardo assumiu a Presidência do Grupo Bamerindus no dia 31 de julho de 1981,
tendo sido ele o principal dirigente até a intervenção do Bacen em 26 de março de 1997. Filho de
Avelino e Maria José, JE nasceu em 30 de dezembro de 1938175, em Tomazina, e teria começado a
trabalhar aos 19 anos como escriturário e datilógrafo na agência do banco em Curitiba, no dia 1º de
janeiro de 1957. Alguns meses depois, em julho daquele ano, foi transferindo para a agência de
Itararé (SP), e em outubro enviado para trabalhar na agência da cidade de Foz do Iguaçu (PR). Em
março do ano seguinte assumiu o cargo de contador da agência, sendo transferido em setembro para
Joinville (SC). Promovido a chefe de serviços em janeiro de 1959, foi trabalhar na agência de
Maringá (PR) onde ficou até fevereiro de 1962 para, em março, assumir a função de inspetor do
banco em São Paulo e Paraná. Designado pelo pai, teria coordenado o processo de incorporação do
Banco Tietê de São Paulo e do Banco Costa Monteiro, do Rio de Janeiro. Nos anos seguintes,
foram abertas várias agências no interior do estado de São Paulo, tendo sido JE o principal dirigente
do processo e, em setembro de 1965, assumiu a diretoria do então Banco Mercantil e Industrial no
Rio de Janeiro.
893
Novamente foi designado pelo pai para coordenar, durante os anos 1970, a fusão dos
diversos bancos do grupo, formando o Banco Bamerindus do Brasil S.A. que, segundo Braga &
Aragão (2002), em 1971 era classificado como o nono maior banco privado do Brasil pela revista
Visão. Nesse ano, José Eduardo ocupou o cargo de diretor administrativo e coordenou o processo
de reestruturação de diversas áreas, como a contabilidade, informática e recursos humanos.
894
Após a morte de Avelino Vieira, em 01 de setembro de 1974, JE assumiu a função de
diretor-vice-presidente do Grupo Bamerindus e, em junho de 1978, assumiu o cargo de diretor da
Bamerindus Companhia de Seguros. Nesse mesmo ano foi, substituído na Vice-Presidência do
Grupo pelo seu irmão Cláudio Enoch, permanecendo apenas no Conselho Administrativo e,
segundo Braga & Aragão (2002), em 1980 foi designado para dirigir o projeto de expansão das
atividades do banco no mercado internacional, tendo sido enviado, em janeiro daquele ano, para os
EUA e Europa a fim de preparar o lançamento das operações do Bamerindus nesse mercado.
Segundo Roiek (1999)176, José Eduardo e o irmão Tomaz Edison disputavam o poder no grupo e
tinham visões divergentes sobre os rumos dos negócios. O cargo de vice-presidente, então ocupado
por José Eduardo, apesar de formalmente ser responsável pelo esforço de produção,

175
Grande parte das informações biográficas de José Eduardo foi extraída do seu currículo pessoal, de Braga & Aragão (2002),
e da biografia dos senadores disponível no Senado Federal, onde no item profissão, ele aparece como Empresário e
Bancário. Fonte: SENADO FEDERAL. Biografia do senador José Eduardo. Brasília: Congresso Nacional, [1997].
Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/senadores/senadores_biografia.asp?codparl=85>. Acesso em: 29 jun. 2005.
176
Fonte: ROIEK, R. S. O Declínio organizacional do Banco Bamerindus: estudo de caso sobre fatores contextuais,
estruturais e gerenciais críticos. Dissertação (Mestrado). setor de Ciências Sociais Aplicadas, Centro de Pesquisa e Pós-
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
340

173
[...] era um cargo um tanto quanto decorativo: não havia estrutura abaixo dele. Ele e seu Edison
tiveram um sério desentendimento pela postura e forma de atuação. JE [...] achava que o banco
tinha que ser mais agressivo no mercado, disputar classificações, [Edison] [...] dizia que o
momento era de repensar, economizar, mantendo a posição. (ROIEK, 1999, p. 153-154).

895
Segundo Brandão (1993, p. 145), “José Eduardo tinha temperamento forte, opositor, viveu
sempre uma situação de arestas mal aparadas e a maior parte do tempo longe da família”. Como
vamos ver, na seqüência deste trabalho, que seu estilo divergente e competitivo se confirmará tanto
no comando do grupo como na política. Segundo Roiek e muitos depoimentos, a viagem de JE para
o exterior teria sido uma forma de afastá-lo dos negócios e consolidar o poder de Tomaz Edison.
Uma nota do jornal Tribuna do Paraná (30 jul. 1981), informava que JE havia retornado
recentemente dos Estados Unidos onde estava sendo preparado para assumir a Diretoria
Internacional do banco, mas, com a morte dos irmãos, o Conselho Administrativo e Fiscal pretendia
eleger JE como diretor-presidente do grupo e nomear Mathias Vilhena de Andrade como seu
assessor e vice-presidente.
896
Segundo Brandão (1993, p. 67), Mathias também nasceu em Tomazina, nos anos 1920, e
era irmão de Maria José – mãe de JE. Na época que assumiu a Vice-Presidência tinha 53 anos e
ocupava o cargo de diretor do banco desde a administração Avelino Vieira. Em nota oficial, a
Direção do Bamerindus informava que as diretrizes traçadas pela gestão anterior não seriam
modificadas por dois anos e, segundo Roiek (1999, p. 154), quem assumiu o poder de fato foi
Ottorino Marini177, ao ser designado para o cargo de superintendente do banco. Marini também
trabalhava no Bamerindus desde os tempos de Avelino, e ocupou a Superintendência até 1984. Na
época, a Veja informava que os comentários davam conta que era Vilhena quem realmente dirigiria
o banco, mas acrescentava a observação: “Quem espera ver em Mathias a muleta de José Eduardo
está enganado’, garante um diretor do banco. ‘O novo presidente tem sua própria cabeça” (Veja, 05
ago. 1981, p. 86)178. Em março de 1982, JE passou a exercer também a presidência da Bamerindus
Companhia de Seguros.
897
Ainda segundo Roiek e vários depoimentos, José Eduardo, então com 43 anos, assumiu a
Presidência do grupo em meio a muita rejeição dos quadros internos, bem como da família, pois,
diferente do que havia sido previsto por Avelino Vieira, o processo de sucessão foi interrompido
pelas tragédias consecutivas na família, e o controle acabou nas mãos
174
[...] de um membro familiar não escolhido para tal fim, conforme declaração dos entrevistados.
De imediato, segundo a maioria deles, José Eduardo não tinha a confiança, o respeito e a
aceitação de sua liderança entre os diretores. Essa transferência de liderança e de posse dos
negócios estava implícita num conflito familiar [...] O “fantasma” do fundador ainda rondava
as decisões a serem tomadas e a dispensa de dirigentes, que há muito tempo estavam no banco,
foi adiada em virtude de uma dívida moral com a memória do fundador. Uma das

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Graduação em Administração. Curitiba: UFPR, mar. 1999.
177
Não conseguimos confirmar essa informação nos documentos consultados.
178
Fonte: O drama do Bamerindus. Luís Antônio morreu em janeiro, agora, Tomaz Edison e Cláudio Enoch Vieira. O último
irmão, José Eduardo, assume o comando do banco. VEJA, 5 ago. 1981, p. 84-86.
341

conseqüências foi a resistência, entre os diretores, em fazer as coisas diferentemente de como


eram feitas anteriormente, conforme relato dos entrevistados. (ROIEK, 1999, p. 202-203).

898 Ilustração 5-5: Organograma organizacional do Grupo Bamerindus em


Como foi visto no Capítulo I,
1982.
independente do modo como se
Presidente
organiza, a identidade do grupo
econômico se estabelece pela
capacidade de um núcleo de poder Vice-Presidente

controlar as decisões estratégicas, ou


seja, definindo ou vetando decisões
Superintendência Superintendência de Superintendência de
de investimento e financiamento de Bancária Crédito Imobiliário Seguros

longo prazo, para um conjunto de Diretoria de Produção Curitiba Cia. de Seguros

entidades, condicionando as Diretoria São Paulo Corretoras de Seguros


Administrativa
principais relações de autoridade,
Diretoria Financeira Rio de Janeiro
fluxo de informações, ativos reais e
financeiros, recursos humanos e Diretoria de Câmbio Goiânia

capacitação tecnológica. Nesse


Diretoria de APEPAR
Contabilidade e
sentido, segundo o Bamerindus, Orçamento

Encontro Semestral dos Conselhos e


Fonte: Organograma elaborado pelo autor com base nos dados extraídos do
Diretorias de 16 jul. 1982, buscando Bamerindus: Relatório Semestral dos Acionistas e Diretores de jan. 1983.

consolidar a posição do novo arranjo


de poder ainda no primeiro semestre de 1982, foram promovidas mudanças na estrutura
organizacional do Grupo, reformulando as estruturas administrativa e operacional com o objetivo
de implantar o modelo de administração por produto voltado para o mercado. Também foram
redefinidas as funções da Vice-Presidência, tornando-a mais atuante, bem como foram criadas três
novas Superintendências que passaram a assumir funções antes centralizadas na Presidência.
899
A superintendência de Crédito Imobiliário passou a coordenar de forma centralizada todas
as empresas e atividades do setor imobiliário; a Superintendência de Seguros passou a coordenar
todas as empresas e atividades do setor de seguros e finalmente, a Superintendência bancária
passou a coordenar as empresas financeiras, integrando as atividades operacionais e administrativas
do BBB, Banco Bamerindus de Investimento e o Bamerindus S.A. Financiamento, Crédito e
Investimentos, estando a ela subordinadas as seguintes Diretorias:
900
Diretoria de Produção: responsável pela gestão das atividades operacionais dos bancos e
financeiras; Diretoria Administrativa: responsável pela gestão das atividades administrativas e pelo
aparelhamento tecnológico da organização; Diretoria Financeira: responsável pela gestão integrada
dos recursos financeiros, bem como das disponibilidades diárias dos bancos e financeiras, traçando
políticas de preços e de captação / aplicação; Diretoria de Contabilidade e Orçamento: responsável
pela coordenação das atividades contábeis e orçamentárias e de controle de fontes e usos dos
recursos dos bancos e financeiras; Diretoria de Câmbio e Relações no Exterior: responsável pelas
342

atividades relacionadas com o câmbio e relações com o mercado externo. Nessa reforma
organizacional do grupo foram redimensionados todos os órgãos internos, o que abrangeu desde as
Diretorias e Gerências Regionais até antigos departamentos, buscando adequar à nova estrutura de
gestão por produto. Também os gerentes regionais foram enquadrados como diretores-gerente, bem
como foram ampliadas as alçadas de competência e autonomia de ação.
901
A estratégia do grupo a partir de 1982 passou a ser basicamente a seguinte:
902
(1) expandir geograficamente a rede de agências; (2) direcionar a atenção do Bamerindus
para os grandes centros populacionais; (3) reforçar a presença do Bamerindus no mercado; (4)
investir na modernização; (5) desenvolver um “mix” de produtos e serviços; (6) qualificar a
clientela e melhorar a qualidade dos ativos e (7) profissionalizar os recursos humanos. (PROJETO
MEMÓRIA BAMERINDUS, 1995, ano 1982).
903
Essa reformulação pode ter sido uma tentativa de esvaziar o poder do novo presidente, pois
pretendia transferir parte de suas funções para as novas Superintendências e ampliava as funções do
Vice-Presidente, mas pelo que ROIEK conta, com o tempo, parte dessa reforma acabou sendo
revertida:
175
[...] o novo superintendente [José Eduardo] realizou mudanças estruturais [...] centralizou toda
a organização na matriz sob seu comando, aumentando o controle sobre toda a estrutura,
centralizando não somente as decisões estratégicas, mas, inclusive, as operacionais na
superintendência. Os diretores regionais perderam a autonomia e ficaram mais voltados ao
negócio, respondendo diretamente à diretoria da matriz e à superintendência. (ROIEK, 1999, p.
155).

904
Em 1984, José Eduardo “[...] assumiu a superintendência do banco em meio a divergências
familiares. Se seguiram então desentendimentos por causa do patrimônio familiar. E a situação
tanto interna quanto externa do banco (em relação ao mercado) estava complicada. Internamente, a
organização contava com uma equipe de diretores e gerentes fiéis a Edison, outros, ainda, a seu
Avelino. Começaram os conflitos de ideologias e filosofias” (ROIEK, 1999, p. 154).
905
Desde o início dos anos 1980, o grupo enfrentava problemas com títulos de vários clientes
e, a partir de 1984, passou a enfrentar a crise de liquidez, analisada anteriormente, causada pelos
negócios com grandes clientes como os grupos Atalla, Siderbrás, Centralsul, BNCC, Brasilinvest,
bem como com sócios como o CCN, e operações com outros bancos como o Comind, Auxiliar,
Maisonnave e o BNH. A crise foi grave e chegou a envolver boatos de “crise dos bancos ABC”
(ROIEK, 1999, 156) e suporte de liquidez do Bacen.
906
É possível que o poder de JE sobre o grupo tenha aumentado na medida em que a crise se
agravava, pois os problemas do banco desqualificavam as decisões tomadas pelas gestões
anteriores. Internamente, essa herança comprometia mitos construídos em torno de Avelino e
Tomaz Edison, e os diretores que ainda ocupavam a maior parte dos postos de comando da
organização. Na medida que cresciam os problemas do banco, diminuía o poder desses grupos,
abrindo espaço para JE formar sua equipe e aumentar sua influência, principalmente porque a
situação exigia ações audaciosas para romper com o cenário de falência. Conforme aumentava o
343

poder de José Eduardo, outros personagens ascendiam aos postos de comando, entre eles, o
publicitário Sérgio Sibel Soares Reis, João Elísio Ferraz de Campos e Maurício Schulman, entre
outros. Estes novos personagens iriam promover mudanças na organização interna do grupo, nos
produtos e na imagem da instituição que, de certa forma, foram decisivas para reverter o processo
de falência. Como foi visto anteriormente, o lançamento de novos produtos, entre eles a Conta
Remunerada, não só contribuiu para reverter a situação como, em 1987, colocou a instituição entre
os três maiores bancos privados brasileiros.
907
Uma nova reforma na estrutura de comando do grupo ocorreu em 1985, quando foi
anunciado que o Bamerindus S.A. Administração e Serviços, então empresa controladora do grupo,
havia criado a Coordenadoria de Planejamento e Controle Empresarial, com a responsabilidade de
desenvolver, implantar e controlar o sistema de acompanhamento e avaliação de resultados
empresariais no grupo. O programa de avaliação estabelecia três planos distintos: (1) desempenho
estratégico; (2) desempenho tático e (3) desempenho operacional. Três aspectos foram escolhidos
como principais indicadores: (1) desempenho econômico e financeiro, (2) desempenho de mercado
e (3) outros aspectos relevantes da filosofia empresarial do grupo.
908
No final dos anos 1980, diversos bancos iniciaram o movimento de diversificar suas fontes
de lucratividade e ampliar as esferas de influência. O Bamerindus vinha ensaiando expandir suas
atividades desde 1988 e, na opinião de Fernandes (1997), em 1989, diante da possibilidade de
vitória do Partido dos Trabalhadores nas eleições presidenciais e de uma provável intervenção do
novo governo no sistema financeiro, levou JE “[...] a tomar a decisão comunicada à diretoria do
Grupo Bamerindus numa manhã que antecedeu o embate de Lula e Collor nas urnas: — O Lula tem
chances. Por razões estratégicas, vamos diversificar” (FERNANDES, 1997, p. 32). Na época foi
tomada a decisão de investir na Inpacel. Mais tarde, em 1990, oficialmente José Eduardo se afastou
do comando da organização para concorrer nas eleições para o Senado pelo Paraná, na coligação
PTB / PDS e, em seguida, segundo suas declarações, após a vitória nas urnas manteve-se afastado
do banco para assumir o cargo em Brasília.
909
Em 1992, José Eduardo licenciou-se do mandato de senador para assumir o cargo de
Ministro da Indústria, Comércio e Turismo (MICT) e, segundo a AE (17 jan. 1992)179, em janeiro
daquele ano o Grupo Bamerindus anunciou uma nova estrutura organizacional, criando uma
empresa “holding” – Bamerindus S.A. Participações e Empreendimentos, presidida por JE.
Também foi criado o Comitê Executivo Estratégico, composto pelos conselheiros executivos das
três principais empresas do grupo, o banco, a seguradora e a Inpacel. Na época, Maurício
Schulman, então presidente do Conselho de Administração do Banco Bamerindus declarou:
“Queremos criar condições para que o banco e todas as demais empresas do grupo continuem
crescendo naturalmente, para nos prepararmos para os desafios do futuro” AE (17 jan. 1992).

179
Fonte: Holding comanda Grupo Bamerindus. AE, Aedata, Curitiba, 17 jan. 1992.
344

910
A “holding”, de natureza administrativa, tinha por função controlar todas as empresas do
Grupo, estabelecendo modelos de gestão e seus rumos estratégicos. O Comitê tinha por função
decidir todas as ações do grupo, promover o planejamento estratégico com a missão de estabelecer
as diretrizes de orientação para todas as empresas da organização, valorização da missão do
Conselho de Administração, integração das estratégias empresariais às diretrizes de cada empresa,
bem como o compartilhamento do poder decisório entre os membros da alta administração. Como
princípios para a nova estrutura organizacional, foram definidos: (1) fortalecimento do trabalho em
conjunto; (2) racionalização dos níveis hierárquicos com simplificação da estrutura agilizando as
decisões; (3) racionalização da estrutura definindo funções, sendo as Unidades conhecidas pela sua
missão principal; (4) valorização das pessoas na organização; (5) orientação da organização para
satisfazer os clientes, gerar oportunidades de negócios, obter lucro e ganho de Mercado. Segundo
Roiek (1999) e várias pessoas entrevistadas, o desligamento de José Eduardo do comando da
organização para assumir o cargo no Senado, não ocorreu de fato. Ele não nomeou um
superintendente para assumir o banco, mas formou um colegiado com os diretores, dando a eles
igual poder de voto e, com isto, mantinha o poder em suas mãos:
176
Não funcionou porque o superintendente, quando afastou-se do banco, não delegou poder nem
a tomada de decisões [...] Houve vários problemas de insubordinação e o que mais valia era
quem tinha maior intimidade com José Eduardo. Porque, mesmo depois de seu afastamento, ele
ainda tomava as decisões. Dada a confusão instaurada, ele nomeou um superintendente, que,
teoricamente, teria o controle e poder de tomada de decisão. Isso não aconteceu [...] porque o
que passou a valer era a influência de determinados diretores junto ao controlador [...] diretores
do banco iam à casa do controlador, em Brasília (então Senador e Ministro) para despacharem,
inclusive decisões operacionais; ou vendiam idéias que imediatamente eram implementadas na
organização, sem um prévio debate e discussão de toda a equipe de diretores com a
superintendência. (ROIEK, 1999, p. 189-190).

911
A reestruturação fazia parte do projeto “Bamerindus 2000” e utilizava métodos
preconizados nos modelos dos chamados projetos de “reengenharia” organizacional. O objetivo
declarado era readequar a instituição aos novos processos operacionais automatizados, que como já
vimos, estavam transformando de forma acelerada as operações do banco; também pretendia
facilitar o processo de integração interna das atividades ligadas ao mercado internacional e
desenvolver processos de controle para as novas empresas que estavam sendo adquiridas nos leilões
de privatização. A implantação desse projeto provocou vários problemas na estrutura interna do
banco, visto que a “reengenharia” organizacional e a automação de processos, desestruturaram
departamentos e rotinas operacionais importantes de controle e fluxo de informações necessárias
nas atividades diárias. Além disso, o Bamerindus também enfrentava grandes transformações
estruturais que tiveram impactos significativos na estrutura de poder do grupo. Entre elas
encontramos: a ampliação e entrada em operação da fábrica da Inpacel, aquisições de participações
em grandes empresas privatizadas como a CSN, ampliação das atividades do grupo no mercado
internacional, bem como as adaptações necessárias impostas pelos planos Collor e Real. Nessa
agenda, também temos que acrescentar a perspectiva de reformas para ajustar o banco aos
princípios do Acordo da Basiléia que, na época, estavam sendo discutidas pelo Bacen. A partir de
345

1995 a organização também teve que enfrentar as tensões das disputas políticas do governo FHC,
quando JE ocupava o Ministério da Agricultura. Nesse sentido, quando Letaif (1997) questionou
Maria Christina sobre se as atividades políticas de JE em Brasília teriam prejudicado o seu trabalho
no comando do Bamerindus, ela respondeu que em parte sim, pois
177
Em primeiro lugar, pelo distanciamento físico dele do banco, do cotidiano do banco. Enquanto
era senador, ele conseguia com mais habilidade e com mais disponibilidade de tempo acumular
tudo. Ele sempre foi uma pessoa muito trabalhadora, trabalhava aos sábados e domingos e fazia
todos trabalharem, conseguia dar conta. Quando começou a galgar outros escalões em termos
de política, sem dúvida isso atrapalhou. (LETAIF, 1997, p. 40-419) (Grifo nosso).

912
Na Tabela 5-13 podemos identificar boa parte dos cargos que José Eduardo ocupou no
período analisado:
Tabela 5-13: Cargos ocupados por José Eduardo no Grupo Bamerindus (1981 a 1994)
1981

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1989

1990

1990

1991

1992

1992

1992

1993

1994

1994

1995

1996

1997
Cargo Empresa

Acionista BPE X
Conselheiro BBB X X
BCS X X X X X
Diretor BBB X
BCS X
Diretor BAS X X X X
Presidente BBB X X X X X X
BPE X X
Presidente BBB X X X
BPE X
GBB X X X
Presidente FBAS
X X X X X X X
(nato)
Presidente BAS X X X X X
Conselho BBB X X X
Administração BBI X
BPE X
Fonte: Ver no Apêndice: Código de empresas, a descrição das abreviações de cada uma das empresas.
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nas referências encontradas nos relatórios anuais e semestrais das Diretorias e
Conselhos de Administração (diversos anos) A ausência de indicações significa que não foram encontradas referências
objetivas nos relatórios analisados apesar de que, em muitos casos, o personagem continuava ocupando o cargo.

913 Quadro 5-7: Líderes Empresariais brasileiros - 1989 A 1992.


No Quadro 5-7 podemos verificar
que, na comunidade empresarial, desde Posição 1989 1990 1991 1992
Mario Ricardo Ricardo
1º Mario Mato
1989 JE aparecia classificado entre os 10 Amato Semler Semler
Olacyr de Olacyr de Olacyr de Emerson
principais líderes empresariais brasileiros, 2º
Moraes Moraes Moraes Kapaz
Ricardo
conforme publicado pela revista Balanço 3º José EduardoMario Mato
Semler
Mario Mato

Anual da Gazeta Mercantil. Quanto à sua Olacyr De


4º Ozires Silva José Eduardo Alencar Burti
Moraes
formação acadêmica, Lachini (20 abr. 5º
Guilherme Paes
Luiz Mandeli José Eduardo
Afif Mendonça
1990) informava que JE era formado em Emerson
Lázaro
6º Abílio Diniz Luiz Mandeli
Kapaz
Brandão
Ciências Contábeis, mas em seu Roberto Edson V. Edson V.
Edson V.

CURRÍCULO (1995) ele declarava ser Marinho Musa. Musa.Musa.
Luiz Lázaro Roberto
8º José Eduardo
formado em Administração de Empresas. Mandeli Brandão Marinho
Amador Wagner
Entre os vários trabalhos publicados e 9º Alencar Burti Carlos Ferreira
Aguiar Canhedo
Wolfgang Roberto
assinados por JE encontramos: Bases para 10º
Sauer Marinho
Paulo Cunha Alencar Burt
Fonte: Balanço Anual (1993), apud Tabela 5, Dieese (1994).
346

uma nova política, Revista de política agrícola, v. 4, nº 3, p. 4/11, jul. / set. 1995; A impunidade é
pior que a saúva, Exame, v. 23, nº 11, p. 89, maio 1991. Com a colaboração de Leonel Brizola:
Mais uma vez o parlamentarismo seria uma panacéia? Visão, v. 41, nº 36, p. 16, set. 1992; O pacto
da seriedade, discursos e artigos no Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, de outubro
de 1992 a outubro de 1993. São Paulo: DBA, 1994 (SENADO FEDERAL, 1997).

5.4.2.2 NÚCLEO ESTRATÉGICO

914
Segundo depoimento de Maria Christina, a estrutura de poder dentro do Bamerindus
remontava ainda o tempo de Avelino Vieira:
178
Papai montou a estrutura do banco baseado na filosofia dele. Ele nunca teve mais do que 30%
do controle do banco, ainda isso pulverizado entre os filhos numa empresa chamada Somael, de
que todos eram sócios. Nunca foi seu intuito ser dono do Bamerindus, mas sim ser eleito
automaticamente por um conselho e conduzir o banco, enquanto ele fosse capaz e tivesse a
confiança daqueles que acreditaram nele e lhe deram dinheiro para começar o banco. [da] [...]
maneira como ele criou a estrutura do Bamerindus [...] os irmãos nunca teriam o domínio, o
controle. [...] papai, [...] não fez um banco para ele, mas para os acionistas. E ele se sentiu
sempre orgulhoso, no bom sentido, das pessoas confiarem no nome dele. E nunca houve a
ambição ou pretensão de qualquer familiar em ser dono no sentido de controle, acima de 50%
ou qualquer coisa do gênero dentro do Bamerindus. Esse conceito dado pelo papai se dissolveu,
de certa forma, muito rápido. (LETAIF, 1997, p. 41).

915
Quanto ao controle acionário do Bamerindus, Maria Christina declarou que:
179
[...] [era] muito curioso o mecanismo, porque a fundação controla a holding, se não estou
enganada, o José Eduardo era o presidente dela, a qual tem o conselho que elege o José
Eduardo. Então havia todo um mecanismo criado, montado dessa forma e com esse espírito.
Quem quer que estivesse exercendo a Presidência do banco ficava se fosse capaz, caso
contrário era tirado por esse conselho. Claro que quem está na presidência executiva escolhe o
conselho que quer. Então acabou se deteriorando. Papai sempre foi muito exigente com essa
coisa do público, sempre prestou muita conta, todos os semestres havia uma prestação de
contas para o acionista. Fazia parte da história do banco em janeiro e julho prestar contas aos
acionistas dos resultados do banco e justificar os investimentos, tudo que tinha sido feito.
Quando o José Eduardo foi para a política, isso acabou. E foi muito sentido pelos acionistas.
(LETAIF, 1997, p. 42).

916
A fundação que Maria Christina se referia era a Fundação Bamerindus de Assistência
Social (FBAS). Inicialmente foi criada a Fundação Bamerindus – em 9 de julho de 1965, com o
objetivo de complementar a aposentadoria e pecúlio de funcionários. Para aproveitar os incentivos
fiscais vigentes na época e atender exigências do Banco Central, foram realizadas operações de
capitalização do banco através dessa fundação. Somente em julho de 1971 é que foi criada a
Fundação Bamerindus de Assistência Social (FBAS), tendo como instituidores, a Fundação
Bamerindus e os membros dos Conselhos Consultivos e Diretores das empresas Bamerindus. O
objetivo era promover obras e programas de assistência social e cultura nas cidades onde o
Bamerindus mantinha agências e, em 1977, a Fundação Bamerindus foi extinta. Mais tarde, para
continuar atendendo os beneficiários da ex-Fundação Bamerindus e do ex-Banco Nacional do
Comércio S.A., foi criada, em 29 de maio de 1981, a Fundação Avelino Vieira que incorporou os
fundos contábeis em funcionamento e que se destinavam à concessão de benefícios
347

complementares aos da previdência social. Com o tempo a FBAS passou a ser acionista de várias
empresas do grupo, como pode ser verificado na Tabela 5-14:
Tabela 5-14: Participações acionárias da Fundação Bamerindus de Assistência Social (FBAS) em 31 dez. 1993.
Empresa Participação Sócios Participações em controladas e coligadas
Bamerindus 80,77% Mercosa Mercantil Corretora de 14,14% Bamerindus Agro Pastoril; 11,78% Marabá
Capitalização S.A. Seguros Agro-Pastoril; 2,8% Bamerindus Cia. de Seguros;
minoritário Fundação Bamerindus de 2,37% Banco Bamerindus; 1,02% Ind. de Papel e
Assistência Social. Celulose Arapoti; 4,03% Murupu Agro-Pastoril S.A.
Bamerindus S.A. 39,79% Atalaia Participações 30,48% Banco Bamerindus do Brasil; 59.3%
Participações e 5,72% Paraná Cia. de Seguros Bamerindus Corretora de Câmbio; 100% Aurora
Empreendimentos. 5,91% Fundação Bamerindus de Segurança; 17,07% Marabá Agro-Pastoril S. A; 10.09%
Seguridade Social Murupu; 59,61% Ind. de Papel Arapoti; 51%
1,81% Associação Bamerindus. Bamerindus Barry Consultoria S. C. Ltda; 100%
1,29% Fundação São José Umuarama Comunicações; 7,05% Caumé Agro-Pastoril
1,25% Mercosa Mercantil Corretora S. A; 92,85% Lagoa da Serra Inseminação Artificial;
Seguros 25% Araucária Aerotáxi Ltda; 9,85% Bamerindus
5,81% Financial Cia. de Seguros Agro-Pastoril Ltda; 100% Umuarama Participações S.
2,52% Bamerindus Cia. de Seguros C. Ltda: 100% Bamerindus Leasing Arrendamento
6,03% Bamerindus Capitalização Mercantil S. A: 99.96% Bamerindus DTVM: 1,33%
Financial Cia. de Capitalização; 51% Sistemas
Avançados de Teleinformática S. A; 100% Fazenda
Mitacoré Agricultura e Pecuária Ltda: 25% Bamerindus
Vida Seguros S. A; 19.62% Nordeste Florestal e
Agrícola S. A; 99,98% Chatauá Agro Pecuária Ltda:
100% Distribuidora de Papel Barra Mansa Ltda.
Presidente: José Eduardo de Andrade Vieira.
Diretores: Adelino Soares, João Antonio Vieira Filho, Luiz C. Sálvaro, Maria J. S. B. Vieira, Maria
Christina de A. Vieira, Nelson Luiz Silva Fanaya, Renato Bardelli dos Santos, Sérgio S. Soares Reis.
Bamerindus Cia. 17,23% Administradora de Bens Capela 95,51% Atalaia Participações S. C. Ltda; 29,84%
de Seguros. Ltda. Paraná Cia. de Seguros; 21,92% Flórida Participações;
3.13% Bamerindus Capitalização 23,57% Marabá Agro Pastoril S. A; 1/3 Prever; 12,03%
6,43% Financial Cia. de Capitalização. Murupu; 17,53% Nordeste Florestal; 100% Financial
13,75% Sociedade Mercantil de Cia. de Capitalização; 8,1% Ind. Papel Arapoti; 31,54%
Administração e Empreendimentos Banco Bamerindus do Brasil; 2.52% Bamerindus S.A.
5,81% Financial Cia. de Seguros Participações e Empreendimentos; 25% Bamerindus
19,27% Fundação Bamerindus de Vida Seguros; 10,78% Bamerindus Agro Pastoril;
Assistência Social 3,225% Caumê.
Inpacel Indústria 8,10% Bamerindus Cia. de Seguros
de Papel Arapoti 38,17% Bamerindus S.A. Participações e
S.A. Empreendimentos (41,32%
ordinárias.).
4,38% Umuarama Publicidade
0,25% Mercosa Mercantil Corretora
Seguros
0,25% Banco Bamerindus do Brasil S.A.
0,11% Ouro Verde Corretora de Seguros
2,55% Financial Cia. de Seguros
3,43% Paraná Cia. de Seguros
1,02% Bamerindus Capitalização
9,10% Financial Cia. de Capitalização e
Aurora S.A.
10,00% Fundação Bamerindus de
Assistência Social
0,40% Bamerindus Leasing Arrendamento
Mercantil
MERCOSA Acionistas: pessoas físicas Bamerindus Capitalização; Bamerindus Agro-Pastoril
Mercantil Fundação Bamerindus de Ltda; Murupu Agro-Pastoril. Bamerindus
Corretora de Assistência Social. Empreendimentos; Nordeste Florestal; Caumê; Flórida
Seguros S.A. Participações; Banco Bamerindus do Brasil; Ind. de
Papel e Celulose Arapoti.
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nos dados de Atlas Financeiro (1994, p. 56-61).

917
Na Tabela 5-14 podemos verificar que a FBAS estava presente nas participações cruzadas
das principais empresas do grupo o que, segundo Maria Christina, permitia controlar a empresa
348

“holding” – Bamerindus S.A. Participações e Empreendimentos. Nesse cenário, o controle da


FBAS garantia o controle sobre o Bamerindus, e segundo o Relatório Composição da Diretoria e
Conselho de Curadores, José Eduardo era denominado como “Presidente Nato”, ao passo que os
demais membros tinham que passar periodicamente por um processo de votação e com mandatos
pré-fixados.

Tabela 5-15: Principais membros da Diretoria e Conselho de Curadores da FBAS (1989 a 1996).

1989

1990

1991

1991

1992

1993

1994

1995

1995

1996
SOBRENOME Nome

VIEIRA José Eduardo de Andrade X X X X X X X X X X


PEIXOTO José Márcio X X X X X X X X
VIEIRA Maria Christina de Andrade X X X X X X
VIEIRA FILHO João Antônio X X X X X X
CAMPOS João Elísio Ferraz de X X X X X X
SÁLVARO Luiz Carlos X X X X X X
STARK Glaucos Ernesto X X X X X
MUGGIATI José Luiz Osti X X X X X
CASTOR Belmiro Valverde Jobim X X X X
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base do relatório Composição da Diretoria e Conselho de Curadores nos últimos cinco
anos da Fundação Bamerindus de Assistência Social, (sem data). Para alguns anos não foram encontradas referências objetivas
da participação de alguns nomes ocupando cargos, o que não significa que não estavam no exercício da função.

918
Na Tabela 5-15 podemos verificar que o poder sobre a FBAS estava concentrado na família
Vieira, e que José Eduardo acumulou, durante todo o período, a posição de presidente da
instituição, o que garantia o controle do grupo. Note-se que a FBAS era a proprietária daquelas
ações, e JE era formalmente o seu presidente e não proprietário. Conforme vimos no Capítulo I, tal
situação parece confirmar a posição de algumas correntes teóricas que não consideram a
propriedade formal direta como fundamental para o controle dos grupos econômicos.

5.4.2.2.1 A ELITE BAMERINDUS

919
Apesar de Dreifuss (1986) ter proposto o conceito de “Elites Orgânicas” para a análise das
grandes estruturas de poder na sociedade, consideramos ser ele bastante útil também para a análise
do núcleo de comando do Bamerindus. Dreifuss utiliza as noções de córtex político e estado maior,
como um “núcleo de vanguarda político-intelectual e de um braço operacional, organicamente
vinculado a uma classe, bloco ou fração”. Este núcleo seria constituído por um conjunto de
lideranças recrutadas entre “empresários, tecno-empresários, intelectuais, burocratas e militares”
capacitados para “articular e organizar os seus interesses num projeto de Estado para si e para a
sociedade” (DREIFUSS, 1986, p. 24). A luta política dessas elites está pautada pelos interesses
gerais da classe e transcende os limites puramente econômicos, bem como, faz parte da sua ação
transformar seus interesses em objetivos do conjunto social. “Estas elites são as que denominamos
de elites orgânicas: agentes coletivos político-ideológicos especializados no planejamento
estratégico e na implementação da ação política de classe, através de cuja ação se exerce o poder de
classe” (DREIFUSS, 1986, p. 24).
920
No caso Bamerindus, a diretoria do grupo formava um estado maior que formulava e
349

controlava a política estratégica da organização, e sua esfera de influência extrapolava os limites da


instituição, abrangendo partes do Estado e da esfera pública. As ações eram planejadas e
coordenadas buscando defender os interesses do grupo que, em muitos casos, transcendiam os
aspectos puramente econômicos. As pessoas que integravam esse núcleo de comando eram
oriundas da classe dominante ou tinham vínculos históricos profundos com as elites do poder no
Estado, formando o que denominamos como a “Elite Bamerindus”. Para identificar os principais
personagens, elaboramos um banco de dados com todas as referências objetivas, nomes e cargos
que encontramos nos relatórios do Bamerindus. Para tentar identificar os principais personagens e a
importância de cada um na estrutura de poder, atribuímos um (1) ponto para cada nível hierárquico
de forma cumulativa (ver Apêndice: Cargos de comando do Bamerindus).
921
Observamos que ocorrem divergências entre os nomes atribuídos aos cargos publicados por
instituições externas e os relatórios do Bamerindus; sendo assim, nos limitamos apenas às
referências e denominações encontradas nos documentos do grupo. Nos poucos casos em que o
mesmo cargo apresentou duas ou mais denominações diferentes, foram mantidas as referências do
ano anterior. Também é importante destacar que, em muitos casos, apesar de os cargos continuarem
sendo ocupados pelas mesmas pessoas, não encontramos referências nos documentos analisados.
Com relação aos acionistas, destacamos que só tivemos acesso aos dados fornecidos pelo
Bamerindus / HSBC (2003), através da Relação Geral de Acionistas (RGA) emitida em 25 abr.
2003, com a posição em 31 dez. 1996 e a RGA emitida em 5 maio 2003, com a posição de 31 dez.
1997; todas elas referentes ao Banco Bamerindus do Brasil S.A. e a Bamerindus S.A. Participações
e Empreendimentos.
922
Apesar de ser bastante arbitrário atribuir valores para os níveis hierárquicos, o método nos
permitiu identificar os principais nomes da estrutura de comando do grupo, num banco de dados
com 1.085 registros, para 114 nomes, 40 cargos em 16 instituições do grupo. Na Tabela 5-16
apresentamos uma amostra do banco de dados com os nomes que acumularam maior quantidade de
pontos. A análise desta tabela deve considerar que faltaram referências em alguns anos analisados e
muitos cargos acumulavam poder informalmente ou os personagens formavam subgrupos fortes,
com ligações através de outras empresas fora do Bamerindus, como era o caso de Jayme Canet
Júnior, João Elísio Ferraz de Campos e Affonso Camargo Netto, e este último nem aparece nos
registros analisados. Também deve ser considerado que os relatórios disponíveis para consulta eram
limitados e continham informações parciais.

Tabela 5-16: Relação dos principais Diretores, Acionistas e Controladores do Grupo Bamerindus (1981 a 1997)
Tipo
1981
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997

SOBRENOME Nome Total

ANDRADE Germano Vilhena de D 36 60 30 31 31 188


Mathias Vilhena de D 48 81 129
Vilson Ribeiro de D 12 12
CAMPOS João Batista de Castro D 12 12 12 12 12 12 12 12 12 108
João Elísio Ferraz de AD 19 19 18 18 18 48 138 30 94 30 30 50 512
Maria C. de M. Ferraz de A 25 25
CANET Jayme D 26 26 52
350

Tabela 5-16: Relação dos principais Diretores, Acionistas e Controladores do Grupo Bamerindus (1981 a 1997)

Tipo
1981
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
SOBRENOME Nome Total

JUNIOR
CARVALHO José Carlos Gomes D 24 24
Maria Vitorina Vieira A 25 25
Newton Sérgio de A 25 25
Olavo Alberto de A 50 50
Sebastião Dias de AD 27 25 52
CASTOR Belmiro Valverde Jobim D 12 12 56 32 85 32 229
DIEDRICHS Oscar AD 60 20 20 20 20 20 20 20 66 26 46 50 388
JACOBSEN Marcos de Aguiar D 12 12 12 12 12 12 12 12 24 12 132
LEMANSKI Elizabeth A 25 25
Mariano A 25 25
Mauricio Broglio A 25 25
MARINI Ottorino D 75 45 48 50 50 45 130 73 43 559
MOCELIN Jair Jacob A
72 41 50 50 50 45 119 73 105 125 20 64 50 864
D
Lycia Maria Braga A 25 25
MUGGIATI José Luiz Osti D 12 12 12 12 12 12 12 12 12 79 29 62 29 29 336
OLIVEIRA Jayro Ortiz Gomes de D 12 12 12 12 56 40 144
PEIXOTO José Márcio A
48 12 20 50 34 34 32 126 109 109 186 34 114 34 34 25 1001
D
PEREIRA Carlos Moraes A 50 50
Francisco da Cunha A
26 26 25 77
D
Jurandy Antonio A 25 25
Paulo Branco D 12 12 52 76
PIZZATTO Antero Sadi A 25 25
Dorcel Antonio D 27 27 54
Hamílcar D 12 12 20 36 37 39 63 44 70 333
Vera Antonina A 50 50
RIBEIRO Adhemar César D 24 24 24 24 24 24 48 192
Assis Rodrigues D 12 12 24
Ranoel de Souza D 3 3
SÁLVARO Luiz Carlos D 12 12 40 52 28 40 28 28 240
SCHULMAN Maurício A
48 12 12 12 12 12 12 12 24 53 48 24 25 306
D
VIEIRA Clóvis A
26 26 26 25 103
D
Didi Bernardi A
40 20 50 110
D
José Eduardo de Andrade A
18 84 49 43 37 37 57 158 97 62 179 35 72 35 35 25 1023
D
Luiz Fernando A 25 25
Marco Antônio de A
20 20 20 40 20 25 145
Andrade D
Maria Christina de A. A
12 39 97 33 65 33 33 25 337
D
Maria José Santos A
12 12 12 24 12 25 97
Buquera D
Maria Lúcia de Andrade A
12 12 12 25 61
D
João Antônio Vieira Filho A
36 48 31 63 31 31 25 265
D
XAVIER José Olímpio de Paula D 12 12
Luly Rocha de Paula A 25 25
Mário Nascimento de A
60 31 20 20 20 40 26 26 26 50 319
Paula D
ZAMLUTTI Alfredo A
60 20 20 20 20 32 25 197
D
Alfredo (JR) D 50 50
ZANINI Antônio D 12 12 12 12 32 32 60 60 232
351

Tabela 5-16: Relação dos principais Diretores, Acionistas e Controladores do Grupo Bamerindus (1981 a 1997)

Tipo
1981
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
SOBRENOME Nome Total

Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nos dados extraídos de diversos documentos entre outros, os Relatórios
Semestrais e Anuais da Diretoria, Annual Report (diversos anos).
Nota: A = Acionista e D = refere-se a personagens que ocuparam cargos na administração do grupo. Ver Apêndice: Cargos de
comando do Bamerindus para identificação dos tipos e valores atribuídos aos cargos. Em alguns anos não foram encontradas
referências objetivas da participação de alguns nomes ocupando cargos, o que não significa que não estavam no exercício da
função.

923
A Tabela 5-16 apresenta uma visão dos principais personagens da estrutura hierárquica do
Bamerindus e, devido à complexidade, não foram consideradas conexões familiares existentes entre
eles, mesmo assim, no Gráfico 5-66 apresentamos a composição por sobrenome, o que permite uma
aproximação da estrutura de poder por família. Nesse gráfico, constatamos que também no grupo, o
poder estava bastante concentrado na família Vieira e, apesar de os valores indicados no gráfico não
serem absolutos, eles demonstram que pessoas da família ocuparam durante muito tempo uma
grande quantidade de postos importantes na hierarquia do grupo.

Gráfico 5-66: Distribuição do poder no Grupo Bamerindus, classificado por sobrenome. (1981 a 1997)

0 500 1000 1500 2000 2500

VIEIRA 2280
PEIXOTO 1001
MOCELIN 889
CAMPOS 645
MARINI 559
PIZZATTO 462
DIEDRICHS 388
XAVIER 356
MUGGIATI 336
ANDRADE 329
SCHULMAN 306
ZAMLUTTI 297
STARK 260
SÁLVARO 240
ZANINI 232
FRARE 231
CASTOR 229
PEREIRA 228
RIBEIRO 219
BRAIDO 206
GOUVÊA 176
CARVALHO 176
GOMES 170

Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nos dados extraídos de diversos documentos internos do Bamerindus, entre
outros, os Relatórios Semestrais e Anuais da Diretoria, Annual Report (diversos anos) do Grupo Bamerindus.
Nota: Os dados foram classificados por sobrenome e, em alguns, casos ocorrem coincidências entre eles e diferentes famílias.

924
A pontuação dos Vieiras cresce quando agregamos 1001 pontos de José Márcio Peixoto,
que era casado com Maria da Glória Vieira Peixoto – irmã de JE, e os 329 pontos acumulados pela
família Andrade – tios de JE. No Gráfico 5-67 é possível identificar três nomes importantes que
352

estiveram presentes durante todo o período estudado: José Eduardo, José Márcio Peixoto e Jair
Jacob Mocelin, bem como é possível verificar que 45% da pontuação dos Vieiras estava
concentrada em José Eduardo. A elite Bamerindus pode ser dividida em dois grupos básicos: os
gerentes e os políticos. Os gerentes se dedicavam às instâncias de poder interno do grupo, com
alguma participação em órgãos de representação de classe, e normalmente eram funcionários de
carreira; os políticos, além de deterem alguns cargos internos, também acumulavam posições em
órgão de classe, na esfera política e na estrutura do Estado.
Gráfico 5-67: Distribuição do poder no Bamerindus por pessoa (1991 a 1997)

0 200 400 600 800 1000 1200

José Eduardo de Andrade VIEIRA 1023


José Márcio PEIXOTO 1001
Jair Jacob MOCELIN 832
Ottorino MARINI 559
João Elísio Ferraz de CAMPOS 512
Oscar DIEDRICHS 388
Maria Christina de Andrade VIEIRA 337
José Luiz Osti MUGGIATI 336
Hamilcar PIZZATTO 333
Mário Nascimento de Paula XAVIER 319
Maurício SCHULMAN 306
João Antônio VIEIRA FILHO 265
Luiz Carlos SÁLVARO 240
Antônio ZANINI 232
Belmiro Valverde Jobim CASTOR 229
Alfredo ZAMLUTTI 197
Adhemar César RIBEIRO 192
Germano Vilhena de ANDRADE 188
Marco Antôniode Andrade VIEIRA 145
Jayro Ortiz Gomes de OLIVEIRA 144
Marcos de Aguiar JACOBSEN 132
Mathias Vilhena de ANDRADE 129
Roberto Coutinho de GOUVÊA 128
Pedro José GOMES 120

Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nos dados extraídos de diversos documentos internos do Bamerindus, entre
outros, os Relatórios Semestrais e Anuais da Diretoria, Annual Report (diversos anos).

OS GERENTES

925
Do grupo dos gerentes, escolhemos alguns dos principais dirigentes dedicados ao controle
interno do Bamerindus, como segue:

JOSÉ MÁRCIO PEIXOTO

926
Segundo Brandão (1993, p. 144), José Márcio começou a trabalhar no banco em 1959,
sendo casado com Maria da Glória. Na Tabela 5-17 podemos identificar os diversos cargos que
ocupou no grupo, e durante vários anos foi conselheiro e vice-presidente do Conselho de
Administração e de diversas empresas do grupo. De acordo como Bamerindus / HSBC (2003), em
31 dez. 1997, era acionista do Bamerindus S.A. Participações – Empreendimentos, proprietário de
160.643 ações ordinárias que representavam 0,5158% do capital votante da empresa. Em 26 de
353

março de 1997, Peixoto teve os seus bens bloqueados com a intervenção do Bacen no Grupo
Bamerindus.

Tabela 5-17: Cargos ocupados por José Márcio Peixoto no Grupo Bamerindus (1981 a 1994).

Total
1981
1981
1981
1981
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1989
1990
1990
1991
1991
1992
1992
1992
1993
1994
1994
1995
1996
1997
Cargo Empresa

1º Vice-
FBAS 34 34 34 34 34 34 34 34 272
Presidente
Acionista BPE 25 25
BAS 20 20 20 20 80
BBB 20 20 20 60
BCS 20 20 20 20 20 20 20 140
Conselheiro
BPE 20 20 40
GBB 20 20
INP 20 20 40
BBB 12 12 12 12 12 60
Diretor
BCS 12 12 12 12 12 12 72
BBB 17 17
Vice-
BCS 17 17 34
Presidente
GBB 17 17 34
Vice-
Presidente do
BBB 15 15
Comitê de
Diretoria
Vice-
Presidente do
BBB 23 23 23 23 92
Conselho de
Administração
Total 12 12 12 12 12 20 50 34 34 32 34 92 75 34 75 34 72 80 34 34 34 80 34 34 25 1001
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base no relatório Composição da Diretoria e Conselho de Curadores nos últimos cinco
anos da Fundação Bamerindus de Assistência Social, (sem data). Para alguns anos não foram encontradas referências objetivas
da participação de alguns nomes ocupando cargos, o que não significa que não estavam no exercício da função.

JAIR JACOB MOCELIN

927
Entrou no Bamerindus em 1954 como contínuo; após concluir o curso de graduação em
Direito, foi promovido para diversas posições na hierarquia do banco, até se tornar vice-presidente
diretor da rede de agências. Segundo a Gazeta Mercantil (26 abr. 1990, p. 31)180, sob seu comando
foram implantadas aproximadamente 309 agências em 1989. Jair ocupou diversos cargos no grupo,
conforme pode ser visto na Tabela 5-18, bem como também aparece em Bamerindus / HSBC
(2003) como acionista do Banco Bamerindus do Brasil S.A., em 31 dez. 1997, com 20.375 ações
ordinárias que representavam 0,0615% do capital votante do banco. Também naquele ano era
proprietário de 237.272 ações ordinárias da empresa Bamerindus S.A. Participações -
Empreendimentos, que representavam 0,7618% do capital votante. Jair também teve seus bens
bloqueados pelo decreto de intervenção do Bacen.
354

Tabela 5-18: Cargos ocupados por Jair Jacob Mocelin no Grupo Bamerindus (1981 a 1994)

Total
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1989
1990
1991
1991
1992
1992
1994
1996
1997
Cargo Empresa
3º Vice-Presidente FBAS 32 32 96 32
BBB 25 25
Acionista
BPE 25 25
BAS 20 20 20 20 20 100
BBB 20 20 20 60
Conselheiro BBI 20 20
BCS 20 20
BPE 20 20 40
BBB 12 12 12 36
Diretor
BCS 12 12 12 12 12 12 72
Diretor Presidente BBB 18 18 36
Diretor Superintendente BBB 13 13
Diretor Vice-Presidente BBB 16 16 16 16 64
Diretor Vice-Presidente do Conselho de Administração BBB 22 22
BBB 17 17 34
Vice-Presidente BCS 17 17 34
GBB 17 17 17 51
Vice-Presidente do Comitê de Diretoria BBB 15 15
Vice-Presidente do Conselho de Administração BBB 23 23 23 69
Total 72 41 50 50 50 45 32 87 73 73 32 65 60 20 32 50 832
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base no relatório Composição da Diretoria e Conselho de Curadores nos últimos cinco
anos da Fundação Bamerindus de Assistência Social, (sem data). Para alguns anos não foram encontradas referências objetivas
da participação de alguns nomes ocupando cargos, o que não significa que não estavam no exercício da função.

OTTORINO MARINI

928
Funcionário de carreira do Bamerindus desde a gestão Avelino Vieira, ocupou vários cargos
executivos, entre eles o de vice-presidente do Conselho de Administração do Banco Bamerindus.
Quando JE assumiu a Presidência do Grupo, em 1981, Marini foi designado pelo Conselho de
Administração para assumir o cargo de superintendente do banco, num movimento que pareceu
indicar uma tentativa de esvaziamento do poder do então novo presidente. Quando ocorreu a
intervenção em 1997, Marini já estava afastado do Bamerindus e não aparece como sócio na
relação fornecida pelo HSBC, bem como, também não consta da lista de ex-administradores cujos
bens ficaram indisponíveis com a intervenção.

Tabela 5-19: Cargos ocupados por Ottorino Marini no Grupo Bamerindus (1981 a 1994)
Total
1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1989

1990

1990

1991

Cargo Empresa

2º Tesoureiro FBAS 30 30 60
Conselheiro BAS 20 20 20 60
BAS 12 12
Diretor
BCS 12 12 12 12 48
Diretor de Desenvolvimento e Controle BBB 8 8
BAS 21 21
Diretor Gerente do Conselho de
BBB 21 21
Administração
BBI 21 21
Diretor Vice-Presidente BBB 16 16 16 16 16 80
BBB 17 17 17 51
Vice-Presidente BCS 17 17 34
GBB 17 17 17 51

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
180
Fonte: GM (26 abr. 1990, p. 31).
355

Tabela 5-19: Cargos ocupados por Ottorino Marini no Grupo Bamerindus (1981 a 1994)

Total
1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1989

1990

1990

1991
Cargo Empresa

Vice-Presidente do Conselho de
BBB 23 23 23 23 92
Administração
Total 75 45 48 50 50 45 30 100 43 30 43 559
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base no relatório Composição da Diretoria e Conselho de Curadores nos últimos cinco
anos da Fundação Bamerindus de Assistência Social, (sem data). Para alguns anos não foram encontradas referências objetivas
da participação de alguns nomes ocupando cargos, o que não significa que não estavam no exercício da função.

HAMÍLCAR PIZZATTO

929
É um bom exemplo do quadro de burocratas formado pelo Bamerindus ao longo da sua
história. Provavelmente o mais antigo funcionário do grupo, a biografia de Pizzatto, segundo o
Sindiseg-Pr (2004)181, se confunde com a história do seguro no Paraná. Nascido em maio de 1922,
em Araucária (PR), aos 19 anos ingressou como “praticante” na Atalaia Companhia de Seguros
contra Acidentes de Trabalho, dirigida na época por Othon Mäder. Em 1942, formou-se em
Ciências Contábeis pela Faculdade de Ciências Econômicas do Paraná e, dois anos depois, foi
promovido a Sub-Chefe de Seção da Atalaia. Em janeiro de 1947 assumiu o cargo de Chefe Geral
do Escritório e, mais tarde, em 1948, foi designado para a Chefia da Seção de Contabilidade. Em
1966, juntamente com Avelino Vieira, fundou a Mercosa - Mercantil Corretagem de Seguros S.A.,
uma empresa voltada para o aproveitamento do potencial da rede de agências Bamerindus na
comercialização de seguros. Mais tarde, em agosto de 1973, a razão social da Mercosa teria sido
alterada para Bamerindus S.A. Corretora de Seguros.
930
Em janeiro de 1980 assumiu o cargo de Diretor-Coordenador de Produção da Bamerindus
Companhia de Seguros, bem como passou a integrar o Conselho Diretor do Banco Bamerindus do
Brasil S.A., para a área de Seguros. Também nesse ano foi eleito para ocupar o cargo de Diretor-
Secretário da Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg),
na qual já havia ocupado, por dois mandatos consecutivos, o cargo de Diretor-Tesoureiro. No
Bamerindus assumiu o cargo de Superintendente de Seguros, em dezembro de 1981 que, na época,
era vinculado diretamente à Presidência do grupo. Em maio de 1982 tornou-se membro do
Conselho de Administração da Seguradora Bamerindus e, no ano seguinte, foi escolhido para a
Presidência da Bamerindus Seguros. Ao se aposentar, em março de 1991, estava exercendo a
Presidência do Conselho de Administração da Bamerindus Seguros, quando então renunciou ao
mandato de presidente do Sindiseg-Pr, o qual exerceu por dez anos, no período de 1981 a 1991,
tendo ainda participado por sete mandatos consecutivos da Diretoria da entidade.

181
Fonte: SINDISEG PR - Sindicato das Empresas de Seguros Privados e Capitalização no Estado do Paraná. Biografia de
Amílcar Pizzatto. Curitiba, [2004]. Disponível em: <http://www.sindisegpr.com.br/hist_15.htm#atalaia>. Acesso em: 17
jan. 2005.
356

Tabela 5-20: Cargos ocupados por Hamílcar Pizzatto no Grupo Bamerindus (1981 a 1994).

Total
1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1991
Cargo Empresa

BBB 20 20 20 20 20 100
Conselheiro
GBB 20 20 40
Diretor BCS 12 12 24
Diretor Vice-Presidente BCS 16 16
Membro Efetivo Cons Adm. FBAS 26 26
Presidente BCS 19 19 38
Presidente do Conselho de
BCS 24 24 24 72
Administração
Vice-Presidente BCS 17 17
Total 12 12 20 36 37 39 63 44 44 26 333
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base no relatório Composição da Diretoria e Conselho de Curadores nos últimos cinco
anos da Fundação Bamerindus de Assistência Social, (sem data). Para alguns anos não foram encontradas referências objetivas
da participação de alguns nomes ocupando cargos, o que não significa que não estavam no exercício da função.
931
Na Tabela 5-20 apresentamos os cargos ocupados por Hamílcar, segundo os relatórios do
Bamerindus do período; observamos que alguns cargos à que se refere a Sindiseg-Pr (2004) são
diferentes daqueles que encontramos nos relatórios do Bamerindus. Também foram encontrados
registros do seu nome na relação de acionistas do Bamerindus / HSBC (2003) e no decreto de
intervenção do Bacen.

MAURICIO SCHULMAN

932
Maurício Schulman é um dos melhores exemplos da elite Bamerindus, forjado no exercício
de funções de comando na burocracia estatal. Segundo DHBB (2002i)182, Maurício nasceu em
Curitiba, em janeiro de 1932; seu pai, Bernardino Schulman, foi eleito, em março de 1947,
presidente do Centro Mosaico do Paraná, nome provisório do Centro Israelita do Paraná. Formado
em Engenharia Civil pela Universidade do Paraná, em 1954, dois anos depois, participou do Grupo
Especial de Energia Elétrica, do Plano Estadual de Desenvolvimento Econômico, bem como já
trabalhava na Copel. Em maio de 1958, assumiu a chefia da Divisão de Estudos Contratados e, em
1960 passou por um estágio em empresas de eletricidade na França. Na volta, assumiu o
departamento de Engenharia da Copel em março de 1961, tendo sido designado para o cargo de
superintendente-técnico, em outubro daquele ano.
933
A partir de dezembro, passou a integrar o grupo do então governador Ney Braga quando foi
nomeado para o cargo de diretor do Departamento de Águas e Energia Elétrica. Mais tarde,
assumiu o cargo de diretor administrativo da Codepar e, em 1962, foi eleito diretor-técnico da
Copel para o período de 1962 a 1965. Em novembro de 1963, passou a integrar também o conselho
de administração da Central Elétrica Capivari - Cachoeira e o conselho deliberativo do Instituto de
Engenharia do Paraná. Por indicação de Ney Braga, assumiu o cargo de assessor do Ministro do
Planejamento e Coordenação Econômica, Roberto Campos, permanecendo no cargo até 1966, bem
como foi reeleito diretor-técnico da Copel para o período de 1966 a 1969. Dirigiu a Eletrobrás de

182
Fonte: DHBB. Verbete: SCHULMAN, Maurício. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós-1930. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, CPDOC, 2002i. CD-Rom.
357

1967 a 1971 quando, por indicação de Ney Braga, foi nomeado secretário de Fazenda do Paraná, no
governo de Parigot de Sousa, permanecendo no cargo durante o governo de Emílio Gomes.
Novamente indicado por Ney Braga, em 1974 assumiu a presidência do BNH, permanecendo no
cargo durante todo o governo do general Geisel; durante nesse período foi membro do Conselho
Monetário Nacional, do Conselho de Administração do BNDE, da junta diretiva da Administração
da Agência Especial de Financiamento (Finame), e do conselho diretor do Banco Interamericano de
Poupança e Empréstimo, com sede em Caracas, Venezuela.
934
Segundo Assis (1983, p. 206)183, ao assumir o BNH em 1974, iniciou as pressões para que
Ronald Guimarães Levinsohn, então controlador do Grupo Delfin, iniciasse um programa de
saneamento financeiro do grupo com o objetivo de gerar recursos para quitar parte de suas dívidas
com o BNH. “O acerto estava para ser formalizado, quando Schulman, recebendo ordens
superiores, decidiu empurrar o problema com a barriga”. ASSIS conta que, quando Schulman
deixou a Presidência do BNH, no final do governo Geisel, Levinsohn mandou celebrar o evento
“com um anúncio fúnebre em jornal convidando para a missa de 7º dia – O aviso fúnebre chegou a
levar amigos de Maurício Schulman à igreja”.
935
Mais tarde, em 1979, o então futuro ministro das Minas e Energia, César Cals, indicou seu
nome para assumir novamente a presidência da Eletrobrás. Em setembro de 1980, saiu da
Eletrobrás, sendo substituído por José Costa Cavalcanti, presidente da Itaipu Binacional. Maurício
também foi Presidente dos conselhos de administração da Companhia Hidro Elétrica do São
Francisco (Chesf) e da Light S.A. – Serviços de Eletricidade, entre 1979 e 1980, bem como fez
parte do Conselho de Administração da Itaipu Binacional no período 1979-1989, tendo participado
também do Conselho Superior de Energia, dirigido pelo então vice-presidente Aureliano Chaves.
936
Pela sua experiência na Presidência do BNH, assumiu, em outubro de 1980, o cargo de
diretor-coordenador de quatro empresas da área de crédito imobiliário do Bamerindus, quando
também passou a responder pela diretoria financeira do banco em 1982, e pela vice-presidência da
Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Em 1990, passou
a integrar o conselho de administração do Bamerindus, assumindo em seguida a presidência quando
José Eduardo afastou-se para candidatar-se à vaga de Senador; tendo permaneceu no cargo até a
intervenção em março de 1997.
937
Em março de 1990 passou a integrar também o cargo de conselheiro da Febraban e da
Fenaban e, em outubro de 1991, foi eleito para a diretoria executiva da entidade. Em abril de 1993
assumiu a presidência do Conselho de Administração da CSN e só deixou o cargo em outubro de
1995, substituído pelo empresário Benjamim Steinbruch. Schulman também foi membro do
Conselho Superior de Economia da Fiesp de 1994 a 1997 e, em dezembro de 1994, foi eleito
presidente da Febraban e Fenaban para um mandato de três anos, participando do conselho da

183
Fonte: ASSIS, J. C. A chave do tesouro: anatomia dos escândalos financeiros: Brasil 1974-1983. Rio de Janeiro: Editora
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
358

Confederação Nacional de Instituições Financeiras e do Conselho Superior do Trabalho, órgão do


Ministério do Trabalho. Sua gestão na Febraban foi marcada pelo processo de reestruturação do
SFN devido à implantação do Plano Real.
938
Ao assumir o cargo de presidente da Febraban no dia 8 de dezembro de 1994, Maurício
Schulman184 declarava que as reformas fiscal e previdenciária seriam os dois assuntos prioritários
na sua agenda de trabalho para 1995. Em entrevista a Miya & Vergill (12 dez. 1994, p. 1-4)185,
Schulman apresentou suas principais idéias e propostas, e em relação aos preparativos dos bancos
para enfrentar o plano de estabilização econômica, Maurício entendia que as instituições vinham se
preparando desde o primeiro plano econômico em 1986, e citou que o Bamerindus tinha feito
grandes investimentos na informatização de suas agências, buscando reduzir custos através do auto-
atendimento. Também promoveu ações mercadológicas importantes como o projeto “Gente que
faz”, reconhecido com o prêmio da Aberje; promoveu investimentos em direção ao mercado
externo, e o Bamerindus na época era o principal agente financeiro brasileiro na área das
importações e era o primeiro banco latino-americano a ter escritórios em Hong-kong. Na sua posse
esteve presente o presidente do Bacen, então já considerado como futuro Ministro da Fazenda,
Pedro Malan.
939
Com a intervenção no Bamerindus, Schulman teve seus bens bloqueados, bem como se
afastou de todos os cargos públicos que ocupava. Na época, segundo Bamerindus / HSBC (2003),
Maurício era acionista da Bamerindus S.A. Participações e Empreendimentos, detendo, em 31 de
dezembro de 1997, 187.046 ações ordinárias que representavam 0,6005% do capital votante da
empresa. Segundo ISTOÉ (27 ago. 1997)186, em agosto de 1997, Maurício Schulman passou a
integrar o Conselho do Grupo Inepar – tradicional empresa do Paraná, juntamente com o ex-
ministro Aureliano Chaves e o ex-presidente do Conselho de Administração da Vale do Rio Doce,
Eliezer Batista. Na Tabela 5-21 podemos verificar os cargos que Schulman ocupou no grupo,
segundo os relatórios do Bamerindus, como segue:

Tabela 5-21: Cargos ocupados por Maurício Schulman no Grupo Bamerindus (1981 a 1994).
Total
1981
1981
1981
1981
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1991
1992
1992
1994
1997

Cargo Empresa
1º Secretário FBAS 29 29
Acionista BPE 25 25
Diretor BBB 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 132
Presidente do Conselho de
BBB 24 24 24 24 24 120
Administração
Total 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 24 24 29 24 24 24 25 306
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base no relatório Composição da Diretoria e Conselho de Curadores nos últimos cinco
anos da Fundação Bamerindus de Assistência Social, (sem data). Para alguns anos não foram encontradas referências objetivas
da participação de alguns nomes ocupando cargos, o que não significa que não estavam no exercício da função.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Paz e Terra, 1983.
184
Fonte: Reforma fiscal será prioridade da Febraban. FSP, 9 dez. 1994, p. 2-5.
185
Fonte: MIYA, Fideo. & VERGILI, Rodney. Compulsório gera efeitos danosos, diz Schulman. FSP, 12 dez. 1994, Edição:
Nacional, Editoria: Brasil, p. 1-4.
186
Fonte: Breves. ISTOÉ, 27 ago. 1997. Disponível em: <http://www.zaz.com.br/istoe/economia/145608.htm>. Acesso em: 05
jul. 2005.
359

OS POLÍTICOS

940
Com exceção de José Eduardo, todos os personagens que atuavam diretamente na política,
não concentravam muitos cargos dentro da estrutura do grupo, entre eles talvez o mais discreto de
todos tenha sido Jayme Canet Júnior, cuja única indicação objetiva que encontramos foi a de
Membro Efetivo do Conselho de Curadores da Fundação Bamerindus de Assistência Social no
período 1989 a 1990, sendo importante observar que a relação a que tivemos acesso começa em 31
de outubro de 1989. Outro personagem importante, mas também teve uma participação discreta, foi
José Carlos Gomes de Carvalho, que aparece como presidente do Conselho de Administração da
Inpacel, em 1992. No próximo capítulo vamos analisar em profundidade a biografia e atuação dos
personagens políticos, e, neste momento, vamos apenas identificar as principais posições que
controlavam dentro do grupo Bamerindus.

JOÃO ELÍSIO FERRAZ DE CAMPOS

941
João Elísio foi um dos mais importantes personagens da “elite Bamerindus”; atuava tanto
na administração interna do grupo como na esfera política e em cargos da estrutura do Estado.
Como já vimos nos capítulos anteriores, seu pai foi um dos fundadores da seguradora do Grupo
Bancial, incorporada pelo Bamerindus em 1974, e João chegou a ser governador do Estado do
Paraná. No próximo capítulo, vamos analisar em profundidade a sua atuação política e sua
importância para o Grupo Bamerindus. Com a intervenção do Bacen, João Elísio teve seus bens
bloqueados.
Tabela 5-22: Cargos ocupados por João Elísio Ferraz de Campos no Grupo Bamerindus (1981 a 1994)

Total
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1991
1992
1992
1992
1993
1994
1994
1995
1996
1997
Cargo Empresa
2º Tesoureiro FBAS 30 30 30 30 30 30 180
BBB 25 25
Acionista
BPE 25 25
BBB 20 20 20 60
Conselheiro
INP 20 20 40
Diretor Presidente BCS 18 18 18 18 72
Presidente BCS 19 19 38
Presidente do Conselho de
BCS 24 24 24 72
Administração
Total 19 19 18 18 18 18 30 44 64 30 30 30 64 30 30 50 512
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base no relatório Composição da Diretoria e Conselho de Curadores nos últimos cinco
anos da Fundação Bamerindus de Assistência Social, (sem data). Para alguns anos não foram encontradas referências objetivas
da participação de alguns nomes ocupando cargos, o que não significa que não estavam no exercício da função.

BASÍLIO VILLANI

942
Não encontramos referências diretas ao seu nome nos relatórios analisados, mas como
veremos no próximo capítulo, ele ocupou durante muito tempo o cargo de diretor em instituições do
grupo. Seu nome não consta da relação de dirigentes do Grupo Bamerindus que tiveram os bens
bloqueados.
360

MARIA CHRISTINA DE ANDRADE VIEIRA

943
Na Tabela 5-23 podemos verificar que Maria Christina ocupou diversos cargos no grupo a
partir dos anos 1990, sem contar que alguns anos antes já atuava na Fundação Avelino Vieira. No
próximo capítulo vamos analisar com mais detalhes sua presença e ações nas instituições
integrantes do Grupo Bamerindus. Apesar de não ter atuado diretamente na política partidária ou
disputado cargos em eleições, Maria Christina teve um importante papel na articulação política dos
empresários paranaenses através da Presidência da Associação Comercial do Paraná (ACP), cargo
que ocupou nos anos 1990. Com a intervenção, seus bens também ficaram indisponíveis.

Tabela 5-23: Cargos ocupados por Maria Christina de Andrade Vieira no Grupo Bamerindus (1981 a 1994)

Total
1990

1991

1991

1992

1992

1992

1993

1994

1994

1995

1996

1997
Cargo Empresa
2º Vice-Presidente FBAS 33 33 33 165 33 33
Acionista BPE 25 25
Conselheira BAS 20 20
BPE 20 20 40
Diretora BAS 12 12 12 36
BPE 12 12 24
Membro Suplente Cons Adm. FBAS 27 27
Total 12 12 27 32 32 33 33 33 32 33 33 25 337
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base no relatório Composição da Diretoria e Conselho de Curadores nos últimos cinco
anos da Fundação Bamerindus de Assistência Social, (sem data). Para alguns anos não foram encontradas referências objetivas
da participação de alguns nomes ocupando cargos, o que não significa que não estavam no exercício da função.

5.5 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES.

944
Neste capítulo analisamos o Grupo Bamerindus no período 1981 a 1994, sendo possível
constatar que as principais instituições que formavam o Grupo Bamerindus, foram o Banco
Bamerindus e a Bamerindus Cia de Seguros, que juntos chegaram a concentrar em média 82,5% do
total do patrimônio líquido da instituição. No final dos anos 1980, o grupo iniciou um grande
esforço para diversificar suas atividades, com investimentos na ampliação da Inpacel e
participações em leilões de privatização.
945
A seguradora, além de ter sido uma das empresas mais antigas do grupo, durante todo o
período esteve entre as maiores do Brasil; foi lucrativa e teve que absorver prejuízos da Inpacel nos
anos 1990. Vários indícios apontam que, boa parte desses prejuízos, era decorrente de problemas
que ocorreram durante a expansão da fábrica e levaram o Grupo Bamerindus a aumentar seu
endividamento. No processo de privatização, o grupo comprou participações em algumas empresas,
e na CSN disputou o controle da organização com o Grupo Vicunha, conseguindo eleger Maurício
Schulman, presidente, com a ajuda do grupo político de Fernando Henrique Cardoso. A análise da
CSN indicou ser a empresa estratégica para o controle da CVRD cujo processo de privatização já
361

estava em andamento na época e que acabou sendo leiloada 40 dias após a intervenção do Bacen no
Bamerindus.
946
Também vimos que os investimentos do grupo no setor agropecuário e reflorestamento
foram induzidos pelas políticas oficiais de incentivos fiscais. Durante a campanha eleitoral de José
Eduardo para o Senado, a imprensa, controlada pelos adversários, publicou denúncias de um
suposto envolvimento da Fazenda Bamerindus, no Pará, em graves conflitos entre posseiros,
grileiros e a Polícia Militar, com relatos de violências praticadas contra pequenos agricultores. Na
mesma época também foram publicadas denúncias que envolviam a fazenda com trabalho escravo e
o Banco Bamerindus com a venda de terras indígenas.
947
O grupo também mantinha investimentos em empresas de comunicação, algumas delas com
vínculos indiretos através de sócios em comum (Gazeta do Povo e a TV Paranaense) e outras, como
a CNT e a Folha de Londrina, que integraram a organização através da compra de ações nos anos
1990, em operações que envolveram políticos importantes tanto no Estado do Paraná como na
esfera federal.
948
Quanto ao Banco Bamerindus, foi possível verificar que ele ocupou a posição de terceiro
maior banco privado brasileiro, tanto na amostra analisada como em várias publicações
especializadas. A análise comparativa do desempenho do BBB com os outros bancos mostrou que,
na média do período, seu desempenho foi inferior aos demais, ficando muito próximo do Banco do
Brasil. Tal comportamento parece indicar que o objetivo principal do grupo era ampliar sua esfera
de influência, mesmo que tivesse que sacrificar parte da lucratividade. Também foi possível
verificar que o banco acumulou ao longo dos anos, uma carteira de títulos de baixa liquidez
resultante de operações com empresas privadas, estatais e o Estado, o que levou o banco a enfrentar
uma grave crise entre 1984 e 1985. No período analisado, o Bamerindus passou por sete planos de
estabilização econômica que promoveram mudanças bruscas e significativas na estrutura de
investimentos e financiamentos do banco e grandes problemas operacionais. Também foi possível
verificar que os negócios do banco deram um salto considerável no ano de 1987, alcançando a
terceira posição entre os maiores bancos privados; entre as causas dessa evolução encontramos o
lançamento da Conta Remunerada Bamerindus e o aumento no endividamento da instituição.
949
Com relação ao capital próprio, o banco tinha um baixo índice de capitalização quando
comparado com os dois maiores concorrentes, Bradesco e Itaú, mas que era bastante próximo dos
demais bancos da amostra. A baixa capitalização do setor foi observada no Relatório Final da CPI
dos bancos, que ressaltou o curto prazo dado aos bancos para se adaptarem ao Acordo de Basiléia;
isso acabou sendo mais um fator que contribuiu para aumentar a turbulência no SFN brasileiro, na
segunda metade dos anos 1990. Também temos que observar que as liberações para abertura de
novos bancos, a partir de 1988, contribuíram para aumentar a concorrência no mercado financeiro,
bem como, grandes clientes passaram a operar bancos próprios. Um caso bastante emblemático
dessa situação foi a saída de Ademar César Ribeiro do Bamerindus em 1994 para reabrir o Banco
das Nações, que havia sido adquirido pelo grupo, em 1984.
362

950
Com relação à rentabilidade do banco, apesar do aumento da inflação e do volume de ativos
financeiros, tanto o Bamerindus como os demais bancos da amostra enfrentaram, durante todo o
período analisado, a tendência de queda na rentabilidade do patrimônio líquido. Como parte das
medidas adotadas para reverter essa tendência, o setor bancário e o Bamerindus realizaram grandes
investimentos na ampliação da rede de agências, automação das operações bancárias e redução do
quadro de funcionários. Nesse sentido, o Bamerindus chegou a ser considerado pelo Dieese como
um dos bancos com maior índice de produtividade do sistema, no início dos anos 1990.
951
Entre as prioridades estratégicas do grupo, também estava o objetivo de expandir as
atividades do banco para o mercado internacional, e, no início dos anos 1990, passou a atuar de
forma planejada e consistente, buscando abrir representações nas principais praças do mercado
financeiro internacional e no Mercosul. Desde o final dos anos 1970, o grupo mantinha diversas
parcerias com empresas estrangeiras no Brasil e, entre elas, encontramos um grande e antigo banco
inglês, o Midland Bank que, no início dos anos 1990, foi incorporado por outro grande e tradicional
banco do Reino Unido, o HSBC. A aquisição do Midland fazia parte de uma agressiva política de
expansão no mercado internacional, e, na época, o HSBC também controlava um dos mais
tradicionais bancos dos EUA. A compra do Midland Bank possibilitou estender as operações do
HSBC para as principais praças financeiras da Europa, através da rede de filiais e agências que o
banco possuía no continente. Além das suas tradicionais relações com o Midland no Brasil, o
Bamerindus iniciou sua aproximação com o HSBC quando abriu seu escritório de representação em
Hong-kong. Mais tarde, vendeu uma participação minoritária para o HSBC e, com a intervenção do
Bacen, em 26 de março de 1997, boa parte do patrimônio do banco e da seguradora foram
transferidos para o grupo inglês.
952
O Grupo Bamerindus era controlado por um alto comando estratégico que determinava as
políticas para as demais empresas, sendo este núcleo de poder composto por uma elite
organicamente vinculada aos interesses de classe, através de conexões que envolviam relações
familiares, políticas e funcionários da instituição. O alto comando era ocupado basicamente por
dois grupos; o primeiro dedicava-se especificamente às atividades internas, acumulando cargos em
diversas empresas do Bamerindus, bem como, em alguns casos, integravam também as diretorias de
órgãos de representação de classe; o segundo grupo era formado por pessoas que, além de
ocuparem cargos na estrutura de comando da instituição, também atuavam em entidades de classe
na estrutura do Estado e na política.
953
A análise da estrutura de poder do grupo demonstrou que havia grande concentração de
poder na família Vieira, principalmente em José Eduardo. Também foi possível identificar que o
poder de José Eduardo sobre a organização cresceu ao longo dos anos, e, ao substituir seus irmãos
no comando do grupo, em 1981, enfrentou forte resistência de familiares, diretores e da própria
estrutura da instituição. Algumas evidências indicam um provável fortalecimento de sua autoridade
quando comandou a organização durante a grave crise de liquidez enfrentada pelo Banco
Bamerindus nos anos de 1984 e 1985.
363

954
O fundamental para este trabalho é observar que, essa crise e a sua superação não podem
ser analisadas estritamente pelo prisma econômico-financeiro. Os indícios que encontramos
apontam que a crise teve conexões com os acontecimentos políticos da época, como a disputa pela
Presidência da República. A sua superação da crise esteve também vinculada às conexões que o
grupo mantinha com o Estado, seja através de negócios diretos como na área de seguros ou com a
área financeira do Estado; ou indiretos através de cargos públicos ocupados por acionistas e
diretores do Bamerindus, como no caso de João Elísio Ferraz de Campos que, na época, chegou a
ser vice-governador, secretário de Finanças e governador do Estado do Paraná.
955
Nos anos 1990, o Grupo Bamerindus teve que enfrentar uma agenda carregada por
necessidades de investimentos, tais como diversificação das atividades – na Inpacel e nos leilões de
privatização – automação bancária e telecomunicações, reestruturação organizacional, Plano Real e
a perspectiva de adequação ao Acordo de Basiléia, entre outros. Além disso, a organização teve que
lidar com as tensões das disputas no campo político, determinadas pela participação de José
Eduardo como Ministro nos governos Itamar e FHC.
956
Finalmente, destacamos que o Grupo Bamerindus participou do processo de construção e
consolidação da hegemonia do capital financeira no Brasil, cujo movimento envolveu a formação
de grandes grupos econômico-financeiros atuando em múltiplas áreas de influência. A análise do
desempenho do Bamerindus demonstra que esse processo não é isento de riscos, e que o Estado
assumiu um importante papel na definição dos arranjos institucionais e regulatórios bem como de
indutor, fiador e, em última análise, o grande financiador de boa parte desse processo. Nesse
sentido, consideramos ser impossível excluir a política do campo de análise ou considerá-la como
uma variável menor nessa intrincada equação econômica e social.
957
Sendo assim, acreditamos que, neste momento, temos os principais subsídios para, no
próximo capítulo, identificar e analisar as conexões políticas do Bamerindus com o Estado e o
mundo político no período 1981 – 1994.
6 CAPÍTULO V: A REDE POLÍTICA BAMERINDUS (1981 – 1994)

"The Matrix"
Wachowski1

6.1 INTRODUÇÃO

958
Neste capítulo identificamos e analisamos a rede política Bamerindus formada pelo
conjunto das conexões e vínculos do grupo com a sociedade política e civil através de pessoas e
instituições públicas e privadas. Com o objetivo de contextualizar nossa análise, inicialmente
apresentamos uma breve revisão da história política nacional e paranaense do período 1981-1994,
para em seguida analisar a rede política identificando seus principais personagens e instituições.

6.2 A HISTÓRIA POLÍTICA BRASILEIRA DO PERÍODO 1981 A 1994.

959
O regime militar iniciou-se com a deposição de João Goulart em março de 1964 e terminou
com a eleição de Tancredo Neves em 15 de janeiro de 1985. O período foi marcado por uma
sucessão de atos institucionais, emendas constitucionais, leis e decretos-leis com os quais o regime
militar conduziu o processo político de maneira a adequar e manter uma maioria favorável ao
governo e aos grupos que promoveram o golpe de 1964.
960
Desgastado pelos anos de poder e enfrentando uma crescente dissidência na sua base de
sustentação política, bem como o fortalecimento das oposições, o general Geisel assumiu a
Presidência da República em 1974 com o compromisso de promover o retorno à ordem
democrática, através de um processo de transição política. Em novembro daquele ano, o MDB
obteve expressiva votação nas eleições para as casas legislativas, mostrando que o projeto de
“transição lenta, gradual e segura” teria que enfrentar a ansiedade crescente das oposições. O
governo reagiu mudando as regras para as eleições municipais de 1976, editando a Lei nº 6.639
(Lei Falcão), que restringiu a propaganda eleitoral gratuita nas rádios e TVs. Em 14 de abril de
1977, utilizando os poderes conferidos pelo AI-5, Geisel fechou o Congresso Nacional e editou a
Emenda Constitucional nº 8/77 – que ficou conhecida como o “Pacote de Abril” que estendeu a
Lei Falcão até as eleições de 1978 e criou os “senadores biônicos”, estes ocupariam um terço do
Senado e seriam eleitos de forma indireta. Com isso foi possível garantir a composição do Colégio

1
Fonte: THE MATRIX. Direction: Andy Wachowski, Larry Wachowski, Color, Dolby, Special edition, Widescreen, Ntsc,
Widescreen Anamorphic. Format: DVD. Studio: Warner Home Video. Color, language: English, duration: 144 min.
Production: Groucho II Film Partnership, Silver Pictures, Village Roadshow Pictures, 1999.
365

Eleitoral necessária para eleger o seu sucessor com um mandato de seis anos, o general João Batista
Figueiredo, e quorum necessário para aprovação de emendas constitucionais no Congresso.
961
No ano seguinte, a Emenda Constitucional nº 11/78 revogou os atos institucionais e
complementares impostos pelos militares, modificou as exigências para a organização dos partidos
políticos2 e, em 15 de março de 1979, João Figueiredo tomou posse na presidência da República.
Em agosto, Figueiredo sancionou a Lei de Anistia e em dezembro, a Lei nº 6.767 extinguiu a Arena
e o MDB e restabeleceu o pluripartidarismo, sinalizando para o início da abertura política. Como
prática política, o pluripartidarismo já estava previsto no Código Eleitoral de 1932, que o permitia
implicitamente em seu art. 99. O Decreto nº 7.586 de 1945 determinava que a candidatura aos
cargos eletivos estava condicionada à filiação partidária, o que levou à criação de 13 legendas. Em
1964, os militares impuseram, por meio do AI nº 2, o bipartidarismo, que só foi extinto 15 anos
depois, e atualmente é garantido pelo art. 17 da Constituição Federal de 19883.
962
Em 1980 foi aprovado o programa do Partido Democrático Social (PDS), criado para
substituir a Arena, bem como também foi aprovado o manifesto de criação do Partido dos
Trabalhadores (PT) e o então senador Tancredo Neves lançou o plano de ação política do Partido
Popular (PP). Em 08 de maio, o TSE deu à Ivete Vargas o registro do PTB, e em junho, Luiz Inácio
Lula da Silva foi eleito presidente do PT. Ainda nesse ano, três bombas explodiram em um único
dia no Rio de Janeiro, bem como foi aprovada a Emenda constitucional que prorrogava os
mandatos dos prefeitos por mais dois anos. Também Leonel Brizola fundou o Partido Democrático
Trabalhista (PDT), e o Congresso aprovou a emenda constitucional que restabeleceu eleições
diretas para governador e extinguiu os cargos de senadores “biônicos”.
963
Em 1981 mais duas bombas explodiram no Riocentro, no Rio de Janeiro, durante o show do
Dia do Trabalho, fato que levou o general Golbery do Couto e Silva a renunciar a chefia Gabinete
Civil, cargo que ocupava desde o início do governo de Ernesto Geisel.

6.2.1 O PARTIDO POPULAR (PP)

964
O PP foi criado em dezembro de 1979, após o restabelecimento do pluripartidarismo. A
extinção da Arena e do MDB levou um grupo de políticos dos dois partidos a fundar uma nova
agremiação que, até poucos dias antes de sua criação, era chamada pela imprensa de Partido
Democrático Brasileiro (PDB), ou Partido Popular Brasileiro (PPB). Devido à composição de seus
quadros e à posição moderada de seus principais dirigentes, o PP recebia a simpatia dos ministros
Petrônio Portela e Golbery do Couto e Silva, membros do governo Figueiredo, que o consideravam

2
Nos anexos apresentamos um quadro com os principais partidos políticos do período 1945-2003.
3
Fonte: TSE - Tribunal Superior Eleitoral. Institucional. Centro de Memória. História do TSE. O Regime Militar. Brasília,
[2005]. Disponível em: <http://www.tse.gov.br/institucional/centro_memoria/historia_tse/regime.html>. Acesso em: 16 jul.
2005.
366

importante para a transição do poder dos militares para os civis. Segundo Couto (2002)4, tanto a
imprensa como os demais setores políticos classificavam o PP como o partido da “oposição
confiável”.
965
Entre os principais líderes do partido estavam dois antigos adversários políticos em Minas
Gerais: o senador Tancredo Neves, ex-PSD e do MDB, e o ex-governador e então deputado federal
Magalhães Pinto, ex-UDN e Arena, que além de banqueiro tinha sido um dos principais líderes
civis do golpe militar de 1964. Apesar da criação do partido, continuou a rivalidade entre os dois
adversários, que passaram a disputar espaços políticos em seu interior. Junto com Magalhães Pinto,
então diretor do Banco Nacional, outros banqueiros também ajudaram a construir o partido, como
Olavo Setúbal e Herbert Levy do Banco Itaú; e Affonso Camargo, Jayme Canet e João Elísio todos
ligados ao Bamerindus; tal quadro “fez com que por vezes o PP fosse caracterizado como ‘partido
de banqueiros”. (COUTO, 2002). Lançado em 20 de dezembro de 1979, a nova agremiação se
definia “como um partido de oposição – popular, progressista e nacionalista – que visa a conquistar
democraticamente o governo” (COUTO, 2002). Entre suas principais lideranças, estavam o
governador Chagas Freitas, Tales Ramalho e Miro Teixeira, e os ex-governadores Paulo Egídio
Martins, de São Paulo, Jayme Canet, do Paraná e Roberto Santos, da Bahia; no Congresso
formavam a terceira maior força política, com seis senadores e aproximadamente 70 deputados
federais.
966
Em março de 1981, Tancredo Neves admitiu publicamente que as eleições indiretas
também poderiam ser democráticas, e ele não acreditava que o governo convocasse as “Diretas Já”
para 1984. Para ele, o sucessor de Figueiredo deveria ser escolhido por um colégio eleitoral
composto não só por deputados e senadores, mas também por representantes de categorias
profissionais formando o que seria, segundo ele, um “colégio eleitoral autêntico”. Na época, por
diversas vezes correligionários lançaram seu nome como candidato a presidente.
967
As convenções municipais do PP, realizadas em Quadro 6-1: Candidatos aos cargos de
março de 1981 levaram o deputado Tales Ramalho a governadores pelo PP (1981)

declarar que o partido tinha diretórios em 2.142 Estado Nome


Paraná Jayme Canet
municípios. Em maio aconteceram as convenções
Rio de Janeiro Miro Teixeira
estaduais e, em junho, a nacional, estando esse partido São Paulo Olavo Setúbal
Minas Gerais Tancredo Neves
organizado em 19 dos 22 estados brasileiros, e no
Rio Grande do Norte Aluísio Alves
território de Rondônia. A convenção elegeu a executiva Rio Grande do Sul Sinval Guazzelli
nacional com a seguinte composição: presidente – Piauí Alberto Silva
Bahia Roberto Santos
Tancredo Neves, presidente de honra – Magalhães Paraíba. Antônio Mariz
Pinto, primeiro-vice-presidente – Aluísio Alves, e Fonte: Couto (2002)

secretário-geral – Miro Teixeira. Também foi escolhido

4
Fonte: COUTO, A. Verbete: PARTIDO POPULAR (PP). In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós
1930. 1ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002. Cd-rom.
367

para líder do partido na Câmara o deputado Tales Ramalho (PE) e para a liderança no Senado –
Evelásio Vieira (SC). Nessas convenções foram definidos os candidatos do partido às eleições para
governador e no Quadro 6-1 podemos identificar a indicação de Jayme Canet para o Paraná.
968
Segundo Ramos & Costa (2002)5, preocupado em não perder a maioria no Congresso
Nacional, o governo propôs, ainda em 1981, mudanças nas regras eleitorais que a oposição
qualificou de “casuísmos”. Em abril, um projeto do deputado governista Bezerra de Melo pretendia
prorrogar os mandatos dos parlamentares federais, mas acabou sendo rejeitado:
180
Na convenção nacional do partido, em junho, o governo sofreu críticas de Tancredo Neves,
para quem a nação estava “amordaçada pela pequena minoria que usurpou o poder pela força e
dele não quer sair senão pela força”. Radicalizando suas críticas ao governo, o senador
denunciou ainda a interferência do grande capital internacional na vida do país ao afirmar que a
própria nomeação dos ministros de Estado era feita “por indicação das nossas nações credoras”.
O deputado Magalhães Pinto também criticava o governo, mas o fazia de forma menos
veemente, ressaltando que faria o possível para que o PP crescesse dentro dos princípios pelos
quais sempre havia lutado, expressos, segundo ele, no Manifesto dos mineiros e na Revolução
de 1964. (COUTO, 2002).

969
As dificuldades enfrentadas pelo partido levaram inclusive a ser cogitada a proposta de
fusão com o PTB, na época dirigido pela então deputada federal paulista Ivete Vargas. A proposta
foi duramente criticada por Olavo Setúbal, que não queria dividir espaço político, em São Paulo,
com Jânio Quadros. Em 10 de setembro de 1981, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concedeu o
registro definitivo ao PP, mas o sucesso da legenda nas eleições marcadas para 1982 dependia
muito da extinção do instituto da sublegenda, que permitia acomodar correntes diferentes dentro
dos partidos. Sua extinção significava que muitas correntes abrigadas no PDS teriam que buscar
filiação em outras legendas ou migrar para o P.
970
Instituída pelos militares em novembro de 1965, por meio do Ato Complementar nº 4, era a
sublegenda o principal mecanismo que permitia manter a unidade dos partidos nacionais em um
bipartidarismo. Através dela as agremiações podiam lançar, num mesmo diretório, mais de um
candidato para disputar cargos majoritários. O total de votos recebidos pelo partido reverteriam
para o candidato que recebesse mais votos individualmente, o que permitia a convivência
partidária, acomodando diferentes forças políticas dentro da mesma agremiação. Em outubro de
1981, a sublegenda foi derrubada para as eleições aos governos estaduais, contrariando as
expectativas da liderança do PDS e alterando o jogo de forças dentro dos partidos. O comando
pedessista tentou reverter a decisão, mas ao perceber que seria impossível, retaliou com o que ficou
conhecido como “o pacote de novembro”. Naquele mês, o Congresso recebeu mensagem do
Executivo estabelecendo a vinculação total de votos, quando o eleitor era obrigado a votar na chapa
integral de um único partido para os cargos de governador, senador, deputado federal, deputado
estadual, prefeito e vereador. Também proibia as coligações de partidos, em qualquer nível e

5
Fonte: RAMOS, P de A.; COSTA, M. Verbete: FIGUEIREDO, João Batista. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico
Brasileiro: pós 1930. 1ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002. Cd-rom.
368

elevava o território de Rondônia à categoria de Estado, com direito de eleger três senadores e seis
deputados federais. A oposição reagiu obstruindo e dificultando o estabelecimento do quorum
regimental necessário, mas a aprovação acabou ocorrendo em janeiro de 19826, por decurso de
prazo:
181
Com tais medidas o governo forçava a divisão entre os partidos oposicionistas e reduzia as
possibilidades eleitorais das agremiações que não possuíssem bases municipais sólidas. O PP,
apesar de ser o terceiro maior partido do país, apresentava ainda uma estrutura organizacional
precária na maioria dos estados, mesmo naqueles em que alimentava expectativas de vencer a
disputa pelo governo estadual. (COUTO, 2002).

971
A reação do PP foi buscar a fusão com o PMDB, já que este tinha uma ampla estrutura
partidária. A proposta acabou sendo aceita pela grande maioria dos pepistas, apesar de combatida
por lideranças como Olavo Setúbal, Magalhães Pinto, Tales Ramalho e Herbert Levy. No dia três
de dezembro de 1981, a bancada do partido na Câmara aprovou a fusão e, na convenção nacional
extraordinária realizada no dia 21, a proposta foi aprovada por 162 votos a favor e 96 contra e, em
14 de fevereiro do ano seguinte, a convenção conjunta PP e PMDB confirmou a incorporação.
972
Entre os inconformados, Olavo Setúbal optou por manter-se sem filiação partidária;
Magalhães Pinto, Tales Ramalho e Herbert Levy, preferiram ir para o PDS; no Paraná, Jayme
Canet, Affonso Camargo e João Elísio foram para o PMDB. O governo ainda tentou impugnar a
incorporação no TSE, alegando a sua inconstitucionalidade, mas, em março de 1982, o tribunal
colocou um ponto final na questão. Em 15 de novembro de 1982 ocorreram eleições diretas para
governadores, senadores, prefeitos, deputados federais e estaduais, quando as oposições
conquistaram uma expressiva vitória nas urnas.

6.2.2 A SUCESSÃO DE JOÃO FIGUEIREDO

973
Desde 1982, o Brasil enfrentava uma grave crise econômica e seus reflexos no mundo
político minavam a credibilidade do governo. O rápido crescimento da inflação, a crise cambial,
queda significativa da variação do PIB, crescimento da dívida externa e queda da renda dos
trabalhadores minavam a autoridade de um governo desgastado por anos no poder e sem
mecanismos políticos eficazes para lidar com os conflitos inerentes a tal situação. Esse quadro vai
se agravar no processo de escolha do sucessor de Figueiredo que potencializou as disputas entre as
diversas correntes políticas abrigadas no partido do governo. Entre os vários candidatos que
postulavam a indicação do PDS, estavam: o vice-presidente Aureliano Chaves, o ex-governador de
São Paulo, Paulo Maluf, o ministro do Interior Mário Andreazza, o presidente da Itaipu Binacional,
Costa Cavalcanti, o senador e ex-governador de Pernambuco, Marco Maciel, e o então bastante
popular ministro da Previdência e da Desburocratização, Hélio Beltrão. Segundo Ramos & Costa
(2002), diante desse quadro de divisão, em 11 de janeiro de 1984, Figueiredo resolveu abdicar da

6
A sublegenda acabou sendo completamente revogada pela Lei nº 7.551 de 12 dez. 1986.
369

função de coordenador da sua sucessão.


974
Para evitar que Paulo Maluf se tornasse Presidente da República, caso conquistasse a
indicação na convenção do PDS, o chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, Leitão de
Abreu, iniciou contatos com o PMDB, PTB e PDT, buscando formar um projeto de união nacional
em torno de um candidato que se tornaria imbatível no Colégio Eleitoral. Na época, Leonel Brizola,
então governador do Rio de Janeiro pelo PDT, apoiava a idéia da extensão do mandato do
presidente João Figueiredo por mais dois anos, em troca da eleição direta em 1986. Mas, durante o
ano de 1984, a Campanha pelas “Diretas Já” tomou as ruas das principais cidades do país, sendo
amplamente coberta pela mídia e apoiada pelos governadores da oposição que governavam os
maiores Estados. A largada foi dada em 5 de janeiro quando o PT organizou um comício na cidade
de Olinda; logo em seguida o então governador do Paraná, José Richa e o Prefeito de Curitiba,
Maurício Fruet, todos os dois do PMDB, organizaram, em 12 de janeiro de 1984, uma grande
manifestação na cidade, chamada de Campanha pelas Diretas e que serviu de teste para o apoio
popular. Segundo Ramos & Costa (2002), foram distribuídos dois milhões e meio de material
panfletário, 15 mil cartazes, 30 mil cédulas simbólicas e três mil camisetas “pró-Diretas Já”,
garantindo ainda, 15 inserções publicitárias na TV Globo Regional, nos intervalos do Jornal
nacional.
975
José Richa foi fundamental no processo, promovendo, organizando e garantindo as
condições básicas para a realização da manifestação. O comício iniciou às 17 horas, o comércio
fechou as portas e cerca de 30 mil pessoas compareceram ao evento. Tanto este comício como os
demais que se seguiram, tiveram amplo apoio da população com a participação de artistas e de
personalidades públicas. Segundo Moreira, M. (2002)7, no dia 13 de janeiro, três mil pessoas
fizeram uma passeata em Porto Alegre, no dia seguinte em Camboriú (SC); no dia 20, quinze mil
pessoas se reuniram na praça municipal de Salvador (BA). Em 25 de janeiro, aproximadamente
duzentas mil pessoas participaram do comício, sob uma chuva de duas horas, na praça da Sé em
São Paulo, que reuniu no mesmo palanque vários políticos como Franco Montoro, então
governador do Estado de São Paulo (PMDB-SP), Leonel Brizola, Ulisses Guimarães, presidente do
PMDB e Luís Inácio Lula da Silva. Vários artistas ocuparam o palco e a Rede Globo cobriu o
comício como se estivesse transmitindo um show artístico pelo aniversário da cidade. No mês
seguinte, a campanha espalhou-se por todo o país, e em 24 de fevereiro chegou a Belo Horizonte
onde o então governador Tancredo Neves (PMDB-MG) temia represálias do Planalto caso
houvesse ataques diretos ao Presidente da República e referências ao vice-presidente Aureliano
Chaves, também mineiro e um dos candidatos à convenção do PDS.
976
Em 9 de março, Ulisses Guimarães, Franco Montoro, Tancredo Neves e os líderes do
PMDB na Câmara e no Senado, Freitas Nobre e Humberto Lucena, decidiram que o PMDB não

7
Fonte: MOREIRA, M. E. L. Verbete: DIRETAS JÁ. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós 1930. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002. Cd-rom.
370

negociaria com o governo a emenda Figueiredo que propunha eleições diretas para 1988. Em 21 de
março de 1984, uma multidão tomou conta da avenida Rio Branco, realizando uma passeata sem a
presença do governador do Estado, Leonel Brizola. Nessa época, foi divulgada a programação da
“Marcha a Brasília”, quando o então comandante do II Exército, general Sérgio de Ari Pires
advertiu aos governadores e organizadores que medidas de emergência seriam tomadas na Capital.
Em 10 de abril, um grande comício ocorreu no Rio de Janeiro sendo seguido por várias outras
manifestações em Goiânia, Porto Alegre, São Paulo. Na véspera da votação da emenda Dante de
Oliveira, os motoristas das principais cidades do país orquestraram as buzinas de seus automóveis,
ao mesmo tempo em que ocorria um “panelaço” nas residências, rojões e piscar de luzes em
demonstração de apoio à aprovação da emenda. Em 25 de abril de 1984, numa das mais
movimentadas sessões da história do Congresso Nacional, a emenda Dante de Oliveira8 recebeu
298 votos dos 320 necessários para sua aprovação. Nos dias seguintes, oito dos nove governadores
do PDS da região Nordeste anunciaram que Tancredo Neves era o político mais indicado para,
naquele momento, coordenar as negociações em busca de um acordo entre os diversos partidos
políticos para que se evitasse um impasse na sucessão presidencial.
977
Segundo Dias & Lemos (2002)9, com a certeza da vitória de Paulo Maluf na convenção do
PDS, Marco Maciel e Aureliano Chaves retiram suas candidaturas e, em 13 de julho, Aureliano
anunciou seu apoio ao candidato Tancredo Neves. Em seguida, os dissidentes do PDS organizaram
a Frente Liberal que, em 18 daquele mês, indicou Sarney para vice na chapa de Tancredo. Dias;
depois Sarney desligou-se do Diretório Nacional do PDS e, o PMDB e a Frente Liberal fecharam
um acordo para a candidatura de Tancredo. Em agosto foi ratificada a candidatura de Sarney pela
Frente Liberal e aconteceu a formalização da Aliança Democrática. No dia 15 de janeiro de 1985,
Tancredo Neves e José Sarney foram eleitos pelo Colégio Eleitoral, encerrando assim o regime
militar no Brasil.

6.2.3 A NOVA REPÚBLICA

978
José Sarney assumiu interinamente a Presidência da República, pois Tancredo Neves estava
gravemente doente. Figueiredo se recusou a participar da cerimônia de transmissão do cargo em 15
de março, alegando considerar Sarney traidor do PDS e de seu governo. Por coincidência ou não, o
Bacen decretou, no mês de fevereiro, intervenção nos grupos Sul Brasileiro e Habitasul, deixando
para depois da posse do novo presidente a intervenção no Grupo Brasilinvest.
979
Após a morte de Tancredo em abril, Sarney assumiu definitivamente o cargo com o

8
“Em março de 1983, por um acordo entre os partidos de oposição, o deputado federal Dante de Oliveira (PMDB-MT)
apresentou ao Congresso Nacional uma emenda constitucional que propunha o fim do Colégio Eleitoral e o retorno das
eleições diretas para presidente e vice-presidente para as eleições seguintes, previstas para 1985” (MOREIRA, M, 2002).
9
Fonte: DIAS, S. e LEMOS, R. Verbete: SARNEY, José. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós
1930. 1ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002. Cd-rom.
371

compromisso de convocar a Assembléia Nacional Constituinte e eleições diretas para o seu


sucessor. A primeira etapa da constituinte foi marcada pelo que se chamou de “remoção do entulho
autoritário”, e ficou a cargo de uma comissão interpartidária instalada no Congresso Nacional em
13 de março, cuja tarefa era elaborar um conjunto de reformas da legislação eleitoral e partidária. A
comissão formulou a proposta de Emenda Constitucional nº 25, que foi votada e aprovada pelo
Congresso em 8 de maio e promulgada no dia 15. A Emenda, entre outras medidas, estabeleceu o
voto para os analfabetos, legalizou os partidos comunistas e estabeleceu eleições para prefeitos de
capitais e municípios considerados área de segurança nacional. Também aboliu a fidelidade
partidária e revogou o artigo que previa a adoção do sistema distrital misto, promovendo com isso a
ampliação do pluripartidarismo.
980
Em junho de 1985, Sarney enviou uma mensagem ao Congresso Nacional propondo a
concessão de poderes constituintes ao deputados e senadores que seriam eleitos em novembro de
1986. Em agosto de 1985, foi constituída uma comissão mista do Congresso para elaborar um
parecer, e o cargo de relator foi entregue ao deputado Flávio Bierrenbach (PMDB-SP). Em outubro,
Bierrenbach apresentou um substitutivo para a proposta original do governo, este previa um
plebiscito para decidir se a Constituinte seria exclusiva ou congressual. Valmor Giavarina (PMDB-
PR), apoiado pelas lideranças da Aliança Democrática, apresentou outro substitutivo que tornava a
constituinte congressual. Votada e aprovada em dois turnos na Câmara e no Senado, a Emenda
Constitucional nº 26 convocando a Assembléia Geral Constituinte na forma congressual foi
promulgada no dia 27 de novembro de 1985. Também em novembro daquele ano, aconteceram as
eleições municipais sendo eleitos Jânio Quadros pelo PTB, em São Paulo; Saturnino Braga pelo
PDT, no Rio de Janeiro e, em Curitiba, o candidato do PMDB, Roberto Requião, apoiado pelo
governador José Richa, venceu o então popular ex-prefeito Jaime Lerner.
981
O Presidente Sarney, preocupado com as eleições marcadas para o final do ano, quando
seriam disputados os cargos de senadores e deputados – que também seriam constituintes – e de
governadores dos Estados, e diante de um quadro econômico em crescente deterioração, em 28 de
fevereiro de 1986 o presidente anunciou o Plano Cruzado. As medidas do plano tiveram grande
impacto na economia brasileira angariando o apoio ostensivo da população, principalmente por ter
promovido o aumento na renda dos trabalhadores, congelamento dos preços e expansão da liquidez
e do crédito. As eleições no final do ano foram marcadas por esse apoio da população e pelos
partidos políticos recém-criados que, com raras exceções, eram pouco estruturados e tiveram que
buscar constituir coalizões partidárias, então permitidas pela legislação. O resultado foi a formação
de intrincadas composições determinadas pela diversidade dos interesses das elites de Estados e
regiões, e a atenção acabou sendo direcionada, em grande parte, para a escolha dos governadores:
182
O Plano Cruzado, idealizado por economistas ligados ao PMDB e que propiciou ao presidente
Sarney altos índices de popularidade, concentrou os interesses do eleitor, reduzindo a agenda
das discussões políticas ao problema da estabilização da economia. As eleições proporcionaram
372

uma estrondosa vitória ao PMDB, que conquistou 22 dos 23 governos estaduais. (NOGUEIRA,
2002)10.

982
Dias depois, em 21 de novembro, o presidente Sarney anunciou o Plano Cruzado 2 com o
objetivo de corrigir as distorções criadas pelo plano anterior, mantido até as eleições.

6.2.4 A ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE

983 Gráfico 6-1: Partidos que atuaram na


Assembléia Nacional Constituinte foi instalada
Assembléia Nacional Constituinte em 1987. (em
no dia 1º de fevereiro de 1987, e computava um total de %)

559 constituintes distribuídos por 13 partidos (ver PTB 3%

PT 3%
Gráfico 6-1). Essa composição foi sendo modificada PFL 24%
PL 1%

durante os trabalhos, e boa parte dos políticos mudou de PDS 7% PDC 1%

PDT 5% PCB 1%
legenda migrando ou criando novos partidos. No dia
PC do B 1%
dois ocorreu a primeira sessão ordinária, quando então PMDB 54%
PSB 0%

PSC 0%
foi aprovada a participação dos congressistas eleitos PMB 0%

anteriormente, e que ainda estavam no exercício de seus


Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nas
mandatos. Também Ulisses Guimarães (PMDB-SP) foi em Nogueira (2002)
eleito presidente da Assembléia, então regida pela norma
provisória – Resolução nº 1, de 5 de fevereiro – definida em acordo de lideranças, até ser redigido e
aprovado o Regimento Interno. Para os trabalhos foram constituídas oito comissões temáticas e
uma Comissão de Sistematização cujos membros eram indicados pelos partidos, respeitando a
proporcionalidade da representação partidária. Cada comissão foi dividida em três subcomissões
encarregadas de promover o debate da matéria constitucional e elaborar seu anteprojeto para, na
seqüência, juntar sua proposta com as demais e elaborar o novo anteprojeto da comissão.
Finalmente a Comissão de Sistematização receberia os anteprojetos das comissões e promoveria os
ajustes necessários para formatar um único projeto constitucional que, na seqüência, seria enviado
ao plenário para votação em dois turnos:
183
No dia 22 de setembro de 1988, o plenário da ANC, na 1.021ª votação, aprovou, por 474 votos
contra 15 – todos de constituintes do PT – e seis abstenções, o Projeto de Constituição “D”. [...]
Em sessão solene, realizada no dia 5 de outubro de 1988, e com a participação das maiores
autoridades do país e de convidados do exterior, foi promulgada a Constituição da República
Federativa do Brasil. O texto final ficou composto por 315 artigos, dos quais 245 distribuídos
por oito títulos das disposições permanentes e 70 nas disposições transitórias. (NOGUEIRA,
2002).

984
A nova Carta determinou a realização de plebiscito para definir a forma de governo, se
república ou monarquia constitucional, e o sistema, se parlamentarista ou presidencialista. Também
definiu que o presidente e os governadores, bem como os prefeitos dos municípios com mais de

10
Fonte: NOGUEIRA, A. M. Verbete: ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE de 1987-88. In: DHBB - Dicionário
Histórico-Biográfico Brasileiro: pós 1930. 1ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002. Cd-rom.
373

200 mil eleitores, seriam eleitos por maioria absoluta ou em dois turnos se nenhum candidato
obtivesse a maioria absoluta na primeira votação e, naqueles municípios com menos de duzentos
mil eleitores, os chefes do executivo seriam eleitos por maioria simples. Também estabeleceu que o
período de mandato do presidente seria de cinco anos – vedando a reeleição, e fixou o prazo de
desincompatibilização de seis meses antes do pleito para os chefes dos executivos.
985
Ainda em 1988, dissidentes do PMDB fundaram o PSDB e ocorreram eleições municipais
com a oposição, PT e PDT, ganhando algumas das principais capitais, e, no Paraná, com o apoio do
PDS de Ney Braga e do PTB, e suporte ostensivo do Grupo Bamerindus, Jaime Lerner, pelo PDT,
venceu sua primeira eleição, derrotando o candidato do PMDB.

6.2.5 A CAMPANHA PRESIDENCIAL DE 1989

986
Em 1989 foi fundado o Partido da Reconstrução Nacional (PRN) para abrigar a candidatura
de Fernando Affonso Collor de Mello à Presidência da República. O candidato, apesar de pertencer
ao PMDB desde o início dos anos 1980, criou o PRN por achar que não teria chance de concorrer
dentro da máquina do PMDB. Sua campanha explorou o desgaste do PMDB no governo, a imagem
de “caçador de marajás”, o personalismo e o antipartidarismo. O então governador do Paraná,
Álvaro Dias, também era postulante a candidato do PMDB às eleições presidenciais e, em abril,
licenciou-se do cargo para buscar a indicação na convenção do partido, mas acabou derrotado por
Ulisses Guimarães. Em seguida, Álvaro Dias liderou um movimento dentro do PMDB apoiando a
candidatura Mário Covas (PSDB). A campanha presidencial potencializou as divergências entre as
diversas correntes políticas contribuindo para inflacionar a fragmentação partidária. Vinte e quatro
candidatos entraram na disputa que resultou na polarização ideológica, no segundo turno, entre
Lula e Collor.
987
Os nomes mais importantes que disputaram o cargo foram: Aureliano Chaves (PFL),
Fernando Collor (PRN), Guilherme Afif Domingos (PL), Leonel Brizola (PDT), Luís Inácio Lula
da Silva (PT), Mário Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS), Roberto Freire (PCB), Ronaldo Caiado
(PSD) e Ulisses Guimarães (PMDB). Brizola e Lula iniciaram na liderança, mas logo em seguida
Fernando Collor assumiu a dianteira, centrando sua campanha no combate à corrupção,
principalmente no governo Sarney. Quinze dias antes do primeiro turno, tentou-se repetir a
estratégia que havia dado certo em Curitiba, com Jaime Lerner, e lançou-se a candidatura de Sílvio
Santos pelo pequeno Partido Municipalista Brasileiro (PMB). As pesquisas de opinião indicavam
que Sílvio teria 30% das intenções de voto nas classes mais pobres, nas quais Collor tinha grande
apoio. Sarney, formalmente neutro, seria um dos beneficiados de uma possível vitória de Sílvio,
pois Collor ameaçava fazer uma devassa na administração, caso vencesse. Sarney havia vetado o
artigo que limitava o prazo de filiação partidária da lei eleitoral aprovada no Congresso, dessa
forma, Sílvio Santos pôde se filiar ao PMB e ameaçar Collor. Vários pedidos de impugnação foram
apresentados ao TSE, denunciando a condição da candidatura de um proprietário de uma rede de
374

televisão.
988
Collor reagiu capitalizando o episódio como manobra de Sarney e, no horário eleitoral
gratuito de quatro de novembro, classificou o presidente como “corrupto, incompetente e safado”.
No dia 09 de novembro, o ministro da Justiça, Saulo Ramos, denunciou haver fraude cambial
envolvendo quinze instituições bancárias, entre elas o Bamerindus, que teria intermediado
operações que somavam um total de US$ 50,9 milhões em importações inexistentes. Na época, José
Eduardo era um dos principais coordenadores e financiadores da campanha de Collor. Em 14 de
novembro, Sarney convocou rede nacional de rádio e televisão para declarar que a transição
democrática seria consumada com a eleição presidencial do dia seguinte, considerada por ele como
“a mais livre, a mais limpa e a mais democrática de toda a nossa história”. (DIAS & LEMOS,
2002). No dia 15, Collor e Lula conquistam a vaga para o segundo turno.
989
Marcada para dezembro, a disputa polarizou claramente as forças políticas. Lula recebeu o
apoio do PSDB, PMDB, PDT, PCB e dos pequenos partidos de esquerda, além da CUT. Todos os
demais partidos apoiaram Collor, assim como a FIESP, a Confederação das Associações
Comerciais do Brasil (CACB) e a Confederação Geral dos Trabalhadores (CGT); Collor também
recebeu apoio de várias lideranças empresariais:
184
Roberto Marinho, proprietário da Rede Globo; Albano Franco, senador (PFL-SE) e presidente
da Confederação Nacional da Indústria (CNI); Pedro Irujo, um dos mais ricos empresários da
Bahia; José Eduardo Andrade Vieira, controlador do Banco Bamerindus; Adauto Bezerra, um
dos mais poderosos “coronéis” da política nordestina; Ronaldo Caiado, candidato derrotado à
presidência como representante dos grandes proprietários rurais e líder da União Democrática
Ruralista11 (UDR); Mário Amato, presidente da FIESP; e Eduardo Rocha Azevedo, presidente
da Bolsa de Valores de São Paulo. (LEMOS, 2002a)12.

990
Na campanha, Fernando Collor atacou seu adversário declarando ser ele incendiário, e que
o PT seria capaz de tomar o poder pela luta armada; já no seu discurso de campanha, Collor
defendia um programa econômico neoliberal e prometia acabar com a inflação. Com isso procurava
capitalizar o sentimento de descontentamento e frustração da população com a grave crise
econômica, marcada pelo fracasso dos quatro planos de estabilização econômica anunciados
durante o governo Sarney. Também buscou vincular sua imagem ao frei Damião, obtendo inclusive
apoio de vários pastores das diferentes igrejas evangélicas. Na última fase da campanha, radicalizou
ainda mais o discurso de oposição a Sarney dizendo ser ele o responsável por todos os males do
país e afirmando que faria uma devassa em seu governo:

11
A bancada ou grupo ruralista era um “grupo temporário público de interesse particular” formado pelo conjunto
suprapartidário de atores públicos eletivos vinculados aos interesses da elite agrária, e que “não possuem um programa de
médio ou longo prazo e se articulam em defesa de interesses localizados, sujeitos às flutuações conjunturais”. A bancada
articulava interesses de várias associações como a CNA - Confederação Nacional da Agricultura e a SRB - Sociedade
Ruralista Brasileira, e tinha vínculos com a UDR - União Democrática Ruralista. Suas principais lideranças nos anos 1990
eram: Ronaldo Caiado (PFL-GO), Otto Cunha (PPR-PR), Fábio Meirelles (PPR-SP), Roberto Cardoso Alves (PTB-SP),
Dejandir Pasquale (PMDB-SC), Victor Faccioni (PPR-SC), Moacir Micheletto (PMDB-PR), Osvaldo Bender (PPR-RS).
Fonte: Vigna (2001, p. 10-18) (Grifo nosso).
12
Fonte: LEMOS, R. Verbete: COLLOR, Fernando. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós 1930. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002a. Cd-rom.
375

185
Segundo o Jornal do Brasil de 22 de julho de 1990, a intensificação dos ataques de Collor a
Sarney era uma tática usada como último recurso para evitar a vitória de Lula. O próprio
Sarney teria sido informado disso no início de dezembro por um emissário de Collor, que lhe
pedira para assimilar os golpes em nome de um interesse comum: derrotar a ameaça
encabeçada por Lula. (LEMOS, 2002a).

991
Como a candidatura de Lula ainda crescia, na reta final da campanha, Collor partiu para
vários ataques, entre eles apresentou um depoimento que teve forte repercussão na opinião pública:
186
[...] Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula e mãe de sua filha Lurian, que o acusou de lhe ter
oferecido dinheiro para um aborto quando ela ficou grávida. Logo em seguida à exibição desse
depoimento no horário eleitoral destinado a Collor, uma jornalista que participava da
elaboração de seu programa eleitoral na TV, Maria Helena Amaral, desligou-se da campanha,
revelando que o irmão mais velho de Collor, Leopoldo, havia comprado o depoimento de
Miriam por duzentos mil cruzados novos. (LEMOS, 2002a).

992
Também Schwartsman (30 jun. 2005)14 Gráfico 6-2: Resultado do primeiro turno das eleições
presidenciais de 1989 no Paraná (em %).
lembra que a “polícia paulista fantasiou os
Ulysses
então recém-capturados seqüestradores do Paulo Salim Guimarães
Affonso Alves
Maluf (PDS) de Camargo
(PMDB)
8% Netto (PTB)
empresário Abílio Diniz com camisetas do PT 4%
2%

antes de exibi-los à imprensa, às vésperas do Mario Covas


Junior (PSDB)
Fernando
segundo turno”. Em 14 de dezembro, Collor 8%
Affonso
Collor de
venceu Lula com 42,75% dos votos contra Luiz Inácio Mello (PRN)
Lula da Silva 42%
37,86%, ganhando em Minas Gerais, Paraná, (PT)
9%
Leonel de
São Paulo e nos estados do Nordeste. Lula Guilherme Afif Moura Brizola
Domingues (PDT)
venceu no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e (PL) 15%
12%
no Distrito Federal. A vitória de Collor no
Paraná, (ver Gráfico 6-2 e Gráfico 6-3), se deveu
em boa parte ao fato que o PRN havia recebido Gráfico 6-3: Resultado das eleições presidenciais no
primeiro turno em 1989 no Paraná (em %)
importantes adesões, principalmente de
políticos que não conseguiam espaço nas Luiz Inácio
Lula da
disputas dentro dos partidos, como é o caso de Silva (PT)
Fernando
33%
Affonso
José Carlos Martinez. Também José Eduardo Collor de
Mello (PRN)
apoiou Collor desde o primeiro turno, apesar de 67%

seu partido, o PTB, ter lançado a candidatura de


Affonso Camargo à Presidência da República.
Outra adesão importante foi de Alceny Guerra,
Fonte: Gráficos elaborados pelo autor com base nos dados
do PFL, que também coordenou a campanha extraídos de TRE PR (2002)13

Collor, mesmo tendo Aureliano Chaves como candidato do seu partido. Também tiveram grande
peso no resultado, os votos recebidos por Brizola na comunidade de imigrantes gaúchos do Paraná.

13
Fonte: TRE PR – Tribunal Regional Eleitoral – Paraná. Resultados das eleições gerais de 1982 a 1994. Curitiba, 2002. CD-
Rom.
14
Fonte: SCHWARTSMAN, Hélio. O golpe fatal. FSP, 30 jun. 2005.
376

Tais votos conferiam ao PDT uma importante posição no quadro eleitoral do Estado.
993
Uma parte do PMDB do Paraná, liderada por Álvaro Dias, apoiou Mário Covas e outra
apoiou o candidato do PRN. A busca pelos candidatos com maiores chances de chegar ao segundo
turno, derrubou barreiras partidárias e dissolveu boa parte da coesão interna dos partidos. Na
disputa pelo segundo turno, a executiva estadual do PT vetou a participação do então senador José
Richa (PSDB), o prefeito de Curitiba, Jaime Lerner (PDT), e o governador Álvaro Dias (PMDB),
apesar de, no Paraná, Collor ter recebido sozinho mais votos que a somatória de todos os candidatos
considerados de esquerda.
994
Veremos na seqüência deste trabalho que o estilo de campanha eleitoral desenvolvido pelo
comitê de Collor, no Paraná, será reproduzido e aperfeiçoado nas eleições de 1990, quando os
candidatos usaram e abusaram do uso de técnicas sofisticadas de propaganda, mistificações,
denúncias, acusações bombásticas e ataques pessoais.

6.2.6 A SUCESSÃO DE FERNANDO COLLOR DE MELLO

995
Empossado em 15 de março de Gráfico 6-4: Inflação mensal entre mar. 1989 e abr. 1990 (em %)

1990, Fernando Collor15 em seus primeiros 80


81
atos como presidente assinou medidas 70
72 72
provisórias e decretos que reduziam o 60

50
número de ministérios, demitiam servidores 49
40
44
públicos e determinavam a venda de 38 36 39 40
30

imóveis do patrimônio federal. Para o 20 27

Ministério da Economia, Fazenda e 10 4 5


13
16 11
Planejamento , nomeou Zélia Cardoso de 0
m a r/8 9
abr
m a io

ju l
ju n

ago
set
out
nov
dez
ja n /9 0
fe v
m ar
abr

Mello que, no dia seguinte da posse,


anunciou o Plano de Estabilização
Econômica ou Plano Brasil Novo, que ficou Fonte: FGV (2005).

conhecido como Plano Collor. Na área administrativa, o governo extinguiu cargos comissionados,
órgãos e empresas públicas como a Portobrás, a Siderbrás, o IAA, o IBC e o Departamento
Nacional de Obras e Saneamento (DNOS). Com os parlamentares, as relações do presidente logo se
tornaram conflituosas, em decorrência de desacordo no preenchimento de cargos federais nos
Estados. Em junho de 1990, esboçou uma tentativa de aproximação com a oposição, recebendo no

15
Fonte: parte do texto foi extraída e adaptada de Lemos (2002a).
16
A Lei nº 8.028, de 12 abr. 1990, art. 27, item V, extinguiu o Ministério da Fazenda; e o art. 17, item VIII, criou o Ministério
da Economia, Fazenda e Planejamento, que havia sido criado pela MPV nº 150, de 15 mar. 1990. A Lei nº 8.490, de 19 nov.
1992, art. 20, transformou o Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento em Ministério da Fazenda, estabelecida pela
MPV nº 309, de 16 out. 1992. Fonte: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Federativa do Brasil. Histórico da Criação dos
Ministérios e Órgãos da Presidência da República. Legislação Básica. Ministérios. Brasília, [2003] Disponível em :
<https://http://www.planalto.gov.br/Infger_07/ministerios/Ministe.htm>. Acesso em: 7 nov. 2005.
377

Palácio do Planalto os líderes do PSDB no Senado e na Câmara dos Deputados, respectivamente


Fernando Henrique Cardoso (SP) e Euclides Scalco (PR). No campo econômico, após o declínio,
nos dois primeiros meses, resultante do choque monetário, a taxa de inflação voltou a subir, só que
agora em ambiente econômico recessivo e desemprego crescente, e em dezembro de 1990 a
variação do IGP (DI) chegou a atingir o índice de 16,5% ao mês.
996
O ano de 1991 começou com o governo tentando ampliar sua base política, aproximando-se
do PFL ao entregar dois ministérios ao partido e a coordenação política para o então ex-senador
Jorge Konder Bornhausen (SC), que na reforma ministerial de 1992 criou a Secretaria de Governo,
responsável pela coordenação da ação política da Presidência. Também se aproximou de Leonel
Brizola, então governador eleito do Rio de Janeiro, acertando uma política de cooperação entre os
governos federal e estadual. Collor buscou ainda o apoio de governadores para seu plano de
austeridade, que pretendia implantar políticas de controle e redução dos gastos públicos. Na época,
tentou negociar com o Congresso, chegando a apoiar projetos de leis propostos por outros partidos.

Gráfico 6-5: Inflação mensal no período abr. 1990 a out. 1992 (em %)
30

27 27
Plano Collor II 26 26 26
Plano Collor I 25 25
25

22 22
21 21 22
21
20
20
19
17
16 16
15
15 14
13 13 13
11 12
10
10 9 9 9
7
7

0
jul

mar
abr

jul

mar
abr

jul
set
out
nov
dez

fev

set
out
nov
dez

fev

set
abr/90
maio
jun

ago

jan/91

maio
jun

ago

jan/92

maio
jun

ago

out/92

Fonte: FGV (2005).

997
Diante da escalada inflacionária, em 31 janeiro de 1991, foi baixado o Plano Collor II e,
buscando apoio parlamentar, o Presidente voltou a procurar o PSDB através do então senador
Fernando Henrique Cardoso e o deputado federal José Serra. Collor convidou o partido para
participar do governo, mas a direção descartou a hipótese, tendo sido o senador Mário Covas (SP)
um dos maiores opositores do acordo.
998
No mês de fevereiro, a Legião Brasileira da Assistência (LBA) foi acusada de fazer
compras superfaturadas de cestas básicas. Na época a LBA era presidida pela esposa do Presidente,
378

Rosane Malta Collor de Mello. Também surgiram denúncias de fraudes na Previdência Social e o
ministro Antônio Rogério Magri foi acusado de omissão na apuração dos fatos. No primeiro
aniversário de governo, a variação do IGP (DI) acumulada até março chegou a 359%; a taxa de
desemprego era de 5,23%; o PIB teve uma redução de 4,35% no ano anterior e queda acentuada na
renda per capita. No mês seguinte, Collor foi a Assunção, no Paraguai, assinar o tratado de criação
do Mercado Comum do Sul (Mercosul) e, em maio, substituiu a ministra Zélia Cardoso por
Marcílio Marques Moreira, então embaixador do Brasil em Washington. O novo ministro tinha um
bom trânsito na comunidade financeira internacional e, logo que assumiu, afastou a hipótese de
novos congelamentos e determinou a eliminação gradativa do controle dos preços, manteve a taxa
de juros elevada, conteve a emissão monetária e abriu o mercado de capitais aos investidores
estrangeiros. Segundo Lemos (2002a), um dos primeiros atos de Marcílio Moreira foi determinar,
por meio do Banco do Brasil, o pagamento de parte de uma dívida de usineiros alagoanos de US$
85,9 milhões, junto ao Midland Bank17.
999
Em junho de 1991, após o tesoureiro da campanha presidencial, Paulo César Farias (PC
Farias), comprar o jornal Tribuna de Alagoas, teve início um conflito envolvendo a família do
Presidente. Diante da possibilidade de Paulo Farias controlar o mercado editorial do Estado, em
dezembro, o principal dirigente do jornal Gazeta de Alagoas, Pedro Collor de Mello, levantou
publicamente suspeitas quanto à origem dos recursos utilizados por PC Farias na compra do jornal.
Também surgiram novas denúncias de irregularidades na área federal envolvendo compras do
Ministério da Saúde, que teriam beneficiado uma empresa do Paraná, base eleitoral do ministro
Alceny Ângelo Guerra.
1000
Ainda nesse governo, teve início a execução do Programa Nacional de Desestatização, com
a privatização da Usiminas, em outubro de 1991, enfrentando protestos de entidades sindicais e
representantes de partidos de oposição (PDT, PT, PCB, e PSB). Durante a administração Collor,
foram privatizadas várias empresas públicas, e a maior parte dos pagamentos foram realizados com
as chamadas “moedas podres” – títulos vencidos e a vencer de dívidas da União.
1001
As acusações de corrupção se agravaram quando, em fevereiro de 1992, Pedro Collor em
entrevista à Veja, acusou o tesoureiro da campanha presidencial, PC Farias, de utilizar a amizade
com o presidente para enriquecer. Dias depois, a imprensa denunciou que Pedro Paulo Leoni
Ramos, titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos e amigo próximo do Presidente, montara na
Petrobrás um esquema para intermediar negócios. Na mesma época, o ministro do Trabalho,
Antônio Rogério Magri, foi acusado de ter recebido suborno. Perdendo o apoio político e sob
pressões das seguidas denúncias de corrupção, no dia 30 de março os Ministros apresentaram ao
Presidente um pedido de renúncia coletiva, abrindo caminho para que o presidente pudesse
promover uma ampla reforma ministerial para ampliar sua base de sustentação política.

17
Na época o Midland Bank tinha empresas no Brasil em sociedade com o Bamerindus.
379

1002
Na reforma, alguns nomes foram mantidos e outros substituídos como, por exemplo, Eliezer
Batista da Silva, nomeado para a Secretaria de Assuntos Estratégicos, Hélio Jaguaribe Gomes de
Mattos para a Secretaria de Ciência e Tecnologia e Celso Lafer para o Ministério das Relações
Exteriores, sendo estes dois últimos ligados ao PSDB. Também o banqueiro Ângelo Calmon de Sá
foi indicado para a Secretaria de Desenvolvimento Regional, o empresário Marcus Vinícius Pratini
de Morais assumiu o Ministério das Minas e Energia e, Affonso Camargo (PTB-PR) o Ministério
dos Transportes e Comunicações. Em seguida, o governo apresentou ao Congresso uma proposta de
reforma fiscal, mas problemas na sua base política impediram a aprovação do projeto.
1003
Em maio de 1992 o conflito entre Pedro Collor e PC Farias agravou-se quando o irmão do
Presidente entregou à revista Veja documentos que atribuíam a Paulo César pelo menos sete
empresas no exterior mantidas irregularmente. Nos dias seguintes, Leda Collor de Mello, mãe do
Presidente e a matriarca da família, destituiu Pedro Collor de Mello da chefia do grupo Arnon de
Mello, alegando estar ele psicologicamente perturbado. Em nova entrevista à Veja, Pedro Collor
apontou operações ilegais de PC Farias que envolviam o Presidente. Apesar da pressão da família
exigindo que parasse com as denúncias, concedeu uma terceira entrevista quando acusou PC Farias
de ser “testa-de-ferro” do seu irmão presidente.
1004
Diante da gravidade das denúncias, em 26 de maio, a Câmara dos Deputados aprovou a
criação de uma CPI para apurar as denúncias. Instalada em 1º de junho e controlada pelos
deputados governistas, a CPI iniciou com Jorge Bornhausen afirmando que ela não chegaria a lugar
nenhum. Durante o mês de junho, a CPI colheu depoimentos e material que comprovavam ligações
entre atividades ilegais de PC Farias e o governo federal. Também entidades civis e partidos
oposicionistas lançaram o Manifesto Democrático contra a Impunidade e fizeram no Senado uma
manifestação que ficou conhecida como Vigília pela Ética na Política. Em 30 de junho, o jornal
Folha de S. Paulo exigia a imediata renúncia do presidente.
1005
Uma reação foi tentada quando parlamentares governistas acusaram de revanchismo os
partidos derrotados na eleição presidencial e os setores econômicos, supostamente ameaçados pelas
reformas, entre eles os cartéis das indústrias de cimento e automóveis. Em julho, o Presidente
recebeu o apoio de representantes de entidades corporativas, entre eles, o presidente da CNI,
senador Albano Franco, o senador José Eduardo de Andrade Vieira e Leonel Brizola. No dia 16 de
agosto de 1992, milhares de manifestantes fizeram passeatas em dez capitais brasileiras, exigindo o
impedimento do presidente. Alguns dias depois, os grupos oposicionistas escolheram o jornalista
Alexandre José Barbosa Lima Sobrinho, então presidente da Associação Brasileira de Imprensa
(ABI), para apresentar o pedido de impedimento de Collor. Nessa época, os líderes governistas no
Congresso já admitiam que a base de apoio do presidente estava dividida e a dissidência atingia
uma boa parte do PFL e a maioria do PDS – os dois maiores partidos da base governista.
1006
O grande complicador da CPI era a campanha eleitoral para prefeitos, quando o assunto
passou a dominar os debates e a propaganda dos candidatos. “[...] Paulo Maluf, padrinho de
casamento de Collor e candidato a prefeito de São Paulo na eleição daquele ano, anunciou, no
380

programa eleitoral do PDS na televisão, no dia 23, que aderia à campanha pelo impeachment”.
(LEMOS, 2002a). Segundo Bessa (17 ago. 1992)18, no Paraná, quase todos os programas eleitorais
de televisão dos candidatos à prefeitura de Curitiba, abordaram a questão:
187
Até mesmo o candidato do PRN, Tony Garcia, começou seu programa mostrando a
manifestação das cores, de domingo, e disse: “Por causa de Collor, o Brasil amanheceu com
vergonha.” Garcia, que insistiu na mesma tecla de campanha do presidente, de atacar os
políticos, perguntou: “Que classe de gente é essa, que depois de tanta vergonha e frustração,
vem pedir o seu voto?”. (BESSA, 17 ago. 1992).

1007
Ainda segundo Bessa, no programa eleitoral do deputado Rafael Greca, então candidato a
prefeito pelo PDT, apoiado por Lerner, Brizola e José Eduardo, apareceu o candidato ao lado do rio
Atuba (em Curitiba) que declarou: “O Brasil anda muito sujo e precisa ficar como o nosso Atuba,
limpo e despoluído”. No programa do PMDB, Requião chamou Collor de “imprevisível” e disse
que o presidente, de “personalidade extravagante, mergulhou o País na vergonha da corrupção”.
Também mostrou o ato pró-impedimento realizado na semana anterior, em Curitiba, e perguntava
por que os candidatos do PDT, PRN e PFL não compareceram.
1008
No dia 24 de agosto de 1992, o relatório da CPI sugeriu o impedimento do Presidente, por
ter recebido US$ 6,5 milhões do “esquema PC”. O relatório final foi aprovado por ampla maioria
no plenário da comissão no dia 26 de agosto e, segundo Nunes (26 ago. 1992)19, as oposições
tinham decidido acelerar o processo de impedimento e iniciaram as articulações para a formação de
um governo de coalizão nacional em torno do vice-presidente Itamar Franco. O pedido de abertura
do processo de impedimento da Câmara foi entregue no dia 1º de setembro e, segundo a AE (2 set.
1992)20, os líderes empresariais teriam reagido bem à notícia que o ministro da Economia
permaneceria no cargo até a votação do pedido. No dia 29, a Câmara dos Deputados, por 441 votos
contra 38, aprovou a admissibilidade do processo. Afastado da presidência, Collor foi substituído
interinamente em 2 de outubro pelo vice-presidente Itamar Franco, um dia antes das eleições para
prefeito. O julgamento no Senado realizou-se em 29 de dezembro e, diante da iminente
condenação, Collor renunciou, sendo horas depois efetivado Itamar Franco na Presidência.

6.2.7 A CAMPANHA PRESIDENCIAL DE 1994

1009
A campanha eleitoral para presidente da República começou em abril de 1993 com as
caravanas da cidadania que promoviam a candidatura Lula pelo PT. Na mesma época, o nome de
Fernando Henrique Cardoso (FHC)21 também foi lançado pelo PSDB. Desde o início do ano o
governo Itamar Franco vinha sendo pressionado para fazer uma reforma ministerial para poder
continuar tendo apoio político. Na primeira semana de maio de 1993, o líder do governo na

18
Fonte: BESSA, R. Até candidato do PRN critica Collor em Curitiba. AE, Aedata, Curitiba, 17 ago. 1992.
19
Fonte: NUNES, P. Oposições articulam transição para governo de Itamar. AE, Aedata, Brasília, 26 ago. 1992.
20
Fonte: Empresários reagem bem à notícia da saída de Marcílio. AE, Aedata, São Paulo, 02 set. 1992.
21
Fonte: parte do texto foi extraída e adaptada de LEMOS (2002c).
381

Câmara, deputado Roberto João Pereira Freire (PPS-PE) sugeriu ao presidente Itamar Franco que
nomeasse FHC para o Ministério da Fazenda, em substituição a Eliseu Resende (PFL-MG), que
estava sendo acusado de ter favorecido a Construtora Norberto Odebrecht22. A empresa na qual ele
foi presidente do Conselho de Administração, havia conseguido aprovação para um financiamento
de US$ 115 milhões para o governo do Peru, o que tornava viável a construção de um projeto de
irrigação naquele país pela construtora. Fernando Henrique foi nomeado no dia 19 daquele mês
para o Ministério e empossado no dia 21 de maio de 1993. Na época, especulações interpretavam a
nomeação como um passo preparatório para a sua candidatura a presidente, bem como para um
novo choque antiinflacionário, o que o levou a declarar publicamente que não proporia qualquer
plano milagroso. Para ele, a chave do problema inflacionário não estava na economia, mas no
déficit público crônico. O combate à inflação deveria ser articulado com a reforma do Estado, que
envolveria a continuidade do processo de privatização e o controle e redução dos gastos públicos.
1010
No início de junho, o Ministro anunciou o Plano de Ação Imediata (PAI), cuja proposta
básica era a redução do déficit público através de um conjunto de medidas como cortes no
orçamento da União, combate à sonegação de impostos, cobrança dos Estados e municípios
inadimplentes com o governo federal, e aceleração e ampliação do programa de privatização,
incluindo agora empresas dos setores elétrico e ferroviário. Também passou a pressionar o
Congresso para aprovar a criação do Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF),
considerado fundamental para o programa de estabilização econômica. No dia 29 de julho de 1993,
FHC anunciou a reforma da moeda, quando o cruzeiro perdeu três zeros e fixou a data de 2 de
agosto para que a nova moeda oficial do país passasse a se chamar Cruzeiro Real.
1011
No campo externo, desde 1º de julho foram reduzidas as alíquotas de importação sob a
justificativa que a medida induziria a modernização do setor industrial, elevando a produtividade e
reduzindo seus custos, bem como combateria o controle dos preços pelos cartéis e monopólios.
Também foram unificados os mercados de câmbio comercial e flutuante, o que acabou provocando
a queda na cotação do dólar no mercado paralelo. As negociações da dívida externa avançaram,
apesar de o acordo com os bancos privados ter enfrentado dificuldades pelas exigências do FMI
quanto à adoção de um programa de estabilização cujas metas, principalmente o ajuste fiscal,
passariam por difíceis negociações com o Congresso. Com relação ao programa de privatizações,
Fernando Henrique não só manteve a orientação de seu antecessor como também acelerou o
processo e adotou um novo regulamento. Na época foram privatizadas subsidiárias da Petrobrás e
as siderúrgicas CSN, a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa) e a Aço Minas Gerais (Açominas).
1012
Em 7 de dezembro de 1993, FHC apresentou ao Congresso o novo programa econômico do
governo que tinha como principais pontos o ajuste fiscal e a preparação de uma nova moeda,
prevendo a adoção da URV como indexador provisório da economia nacional. A reação dos

22
Fonte: Odebrecht nega favores do governo Itamar. AE, Aedata, Rio de Janeiro, 3 de maio de 1993.
382

parlamentares foi, em geral, negativa e o governo foi acusado de não ter negociado com os partidos
a elevação das alíquotas dos impostos e das contribuições. Para muitos parlamentares o programa
era rígido demais para um ano eleitoral. A grande divergência estava na criação do Fundo Social de
Emergência (FSE), dispositivo orçamentário que incorporava parcelas de alguns tributos e
redirecionava cerca de 20% dos recursos arrecadados por todos os impostos e contribuições da
União, reduzindo o montante das transferências para estados, municípios e a área social. O líder do
governo na Câmara, deputado Roberto Freire, abandonou a função em protesto, e o plano também
foi interpretado como plataforma de lançamento da candidatura de FHC à presidência da República.
1013
Em fevereiro de 1994, Henrique Eduardo Ferreira Hargreaves23, afastado do governo pelas
investigações da CPI do Orçamento, foi reintegrado à equipe de Itamar no comando do Gabinete
Civil da Presidência. Voltando a atuar como negociador do Plano FHC, Hargreaves foi
recepcionado por todo o ministério e no Congresso foi recebido com abraços. Suas declarações
sugeriam que seu afastamento pode ter sido um dos problemas que levaram o governo Itamar a
sofrer derrotas no Congresso. Para demonstrar sua confiança na aprovação do FSE, ele declarou
que o “Congresso nunca faltou com o país quando necessário” e justificou a derrota do aumento de
impostos para pessoa jurídica dizendo que “nada acontece por acaso”. Nesse mesmo mês, depois de
obter o apoio do PFL, o Congresso aprovou o FSE.
1014
No dia 1º de março, a URV entrou em vigor sob críticas da oposição liderada pelo PT e a
CUT. Nos primeiros momentos, houve aumento nos preços, colocando em cheque o plano e a
candidatura de Fernando Henrique, na época em desvantagem nas pesquisas de intenção de votos.
Para combater os aumentos, o governo baixou as alíquotas de importação de cerca de 130 produtos.
Também naquele momento a equipe econômica esperava avançar nas negociações da dívida
externa com o FMI, pois boa parte dos débitos com os bancos privados estrangeiros havia sido
negociada em outubro 1993, sem o aval do Fundo, e a abertura econômica para o exterior tinha sido
ampliada. Na época, o FMI anunciou que decidira esperar pela adoção da nova moeda – o Real.
1015
Ao vencer o prazo para a desincompatibilização dos ocupantes de cargos públicos que
quisessem disputar as eleições de outubro, em 2 de abril de 1994, Fernando Henrique deixou o
ministério e retornou ao Senado, entregando o cargo a Rubens Ricúpero. Na época, as pesquisas
apontavam uma tendência majoritária pelo candidato do PT, e o quadro econômico do país não era
favorável à FHC, pois a inflação continuava elevada, tendo superado o índice de 40% no mês
anterior. Buscando neutralizar uma possível aliança do PFL com o PDS em torno da candidatura
Paulo Maluf, Fernando Henrique conseguiu aprovação do PSDB para uma aliança com o PFL,
oficializada em maio. Com isto também conseguia viabilizar seu nome no Nordeste, onde o PFL
tinha grande força eleitoral, e neutralizar uma possível aliança em torno do candidato Orestes
Quércia (PMDB). Para tanto, Guilherme Gracindo Soares Palmeira (PFL-AL) foi indicado como

23
Fonte: Hargreaves é reintegrado com festa e se envolve nas negociações do plano. FSP, Brasília, 9 Fev. 1994, p. 1-6.
383

candidato a vice-presidente. Mas a aprovação pelo PSDB não foi pacífica, tendo que enfrentar forte
resistência de setores do partido. A convenção do partido realizada em 18 de maio em Contagem
(MG), foi tensa e tumultuada, tendo os candidatos que enfrentar vaias e ameaças de agressão, mas
acabou conseguindo a aprovação. No PFL, a aliança foi oficializada na convenção realizada quatro
dias depois. Em seguida a aliança incorporou o PTB, então presidido por José Eduardo, que
também passou a integrar o Comando da campanha junto com os presidentes do PSDB e PFL.
1016
Nessa época, o Congresso Revisor aprovou a redução do mandato do Presidente da
República e determinou a coincidência das datas das eleições para a presidência, o Congresso, as
Assembléias Legislativas e Executivos estaduais. Na ocasião, o acordo partidário incluiu o
compromisso de aprovar, no futuro, uma emenda constitucional que permitiria a reeleição para os
cargos majoritários.
1017 Gráfico 6-6: Variação mensal do IGP (DI) em 1994 (em %)
Como pode ser verificado no Gráfico
50,0%
47%
6-6, o Plano Real começava a apresentar 45%
45,0%
42% 42% 42%
41%
resultados justamente quando iniciava a 40,0%

campanha eleitoral, passando então a serem 35,0%

30,0%
capitalizados por FHC. Durante o lançamento 25%
25,0%

da nova moeda em julho, Fernando Henrique 20,0%

afirmou em Minas Gerais que sua candidatura 15,0%

iria “dar um salto” (ver Gráfico 6-6). No 10,0%

3,3% 2,6%
5,0%
1,5% 2,5%
mercado de câmbio, o real acabou sendo 0,6%
0,0%

valorizado, o que serviu para pressionar para


mai

jul
mar
abr

set
out

dez
fev

nov
jan

jun

ago

baixo os preços internos e controlar a inflação.


Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados
As primeiras pesquisas eleitorais feitas em extraídos de FGV (2005).

seguida indicaram que Fernando Henrique provavelmente disputaria o segundo turno da eleição.
1018
Ainda em julho de 1993, denúncias de favorecimento de interesses privados envolvendo o
senador Guilherme Palmeira ameaçaram a campanha FHC. Dias antes, o senador gaúcho José
Paulo Bisol, candidato à vice-presidente da chapa de Lula, havia sido acusado pela Folha de São
Paulo de propor emendas superestimadas em US$ 8 milhões em favor de Buritis (MG), uma delas
era para uma ponte que facilitaria a comunicação entre sua fazenda e a cidade. Diante das
denúncias, Guilherme Palmeira foi substituído na chapa por Marco Antônio de Oliveira Maciel e
José Bisol pelo deputado federal Aluísio Mercadante Oliva (PT-SP).
1019
Outro episódio que ameaçou a campanha FHC aconteceu no início de setembro, quando o
ministro Rubens Ricúpero, em conversa informal com um repórter, enquanto aguardava o começo
de um programa de televisão, fez comentários que indicavam o envolvimento da máquina do
governo na campanha de Fernando Henrique. Captada por antenas parabólicas, a conversa foi
tornada pública, mas seus adversários não puderam tirar proveito do fato porque o TSE proibiu a
reprodução do diálogo na propaganda gratuita de rádio e TV. Ricúpero renunciou e o episódio não
chegou a afetar o crescimento da candidatura FHC que, com a inflação já em patamares pouco
384

superiores a 1%, assumiu a posição de favorito nas pesquisas. Fernando Henrique Cardoso foi
eleito no dia 3 de outubro, ainda no primeiro turno, obtendo a vitória por 54,3% dos votos contra
27% dados a Lula.

6.3 A REDE POLÍTICA BAMERINDUS (RPB) (1981 A 1994)

1020
A rede política Bamerindus (RPB) no Gráfico 6-7: Rede Política Bamerindus

período 1981-1994 era formada pelo conjunto


de instituições e pessoas através das quais o
grupo estabelecia vínculos com a sociedade
política e civil. As conexões diretas com o
plano nacional ocorriam através dos senadores
Affonso Alves de Camargo Netto (1981-1994)
e José Eduardo de Andrade Vieira (1991-1994),
e indiretamente através do ministro Mário
David Andreazza (1981-1984). Várias
evidências apontam que a rede teria sido
liderada por Jayme Canet Júnior até o momento
em que José Eduardo assumiu o cargo de
senador em 1991, quando então este passou a Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.

concentrar maior parcela de poder. Outro personagem importante foi João Elísio Ferraz de Campos
que, além de ter sido vice-governador e mais tarde governador do Paraná, era sócio e diretor do
Bamerindus. Várias instituições integraram a rede, entre elas as mais importantes foram os partidos
políticos, órgãos do Estado, a Associação Comercial do Paraná (ACP) e o Instituto Liberal do
Paraná (ILP). No Quadro 6-2 e no Quadro 6-3 apresentamos os principais personagens paranaenses
da RPB e os principais cargos públicos ocupados no executivo e legislativo, observando que vários
atores não foram incluídos nessas relações. Os quadros demonstram que a atividade política era
uma tradição do grupo desde 1933, quando Avelino Vieira ocupou o cargo de prefeito de
Tomazina, nomeado pelo interventor Manuel Ribas; também demonstram que os cargos políticos
foram ocupados de forma constante durante todo o período, o que significa que, por mais de 60
anos, a RPB participou de quase todas as eleições e ou dos processos de escolha dos nomes que
iriam assumir alguns dos cargos públicos mais importantes. Essa atuação exigia estabelecer e
manter fortes conexões com as comunidades, tanto na busca por votos como para legitimar
indicações nos períodos mais autoritários. Mesmo nos tempos mais duros do Estado Novo e do
regime militar, os interesses locais organizados, em muitos casos, conseguiram prevalecer sobre as
escolhas do governo federal, privilegiando um ou outro grupo da comunidade, como por exemplo,
na troca do governador Haroldo Leon Peres por Parigot de Souza, em 1971. Nesse contexto, é
importante destacar a importância que teve a UDN para a constituição e crescimento do Grupo
385

Bamerindus, tendo ela reunido no período 1947-1966, outros políticos / banqueiros importantes
como Magalhães Pinto, Herbert Levy, do Itaú e o próprio Othon Mäder, do Bamerindus.
1021
Nos dois quadros também é possível verificar que, entre 1973 e 1997, a RPB sempre esteve
representada no Senado Federal e ocupou por duas vezes o cargo de governador do Estado e em
diversos momentos manteve o controle de pelo menos um Ministério.

Quadro 6-2: Relação parcial de pessoas que ocuparam cargos públicos e integravam a Rede Política Bamerindus.

Mandato
(ano)
Nome Cargo Público Nível Conexões com o Bamerindus
Iníci Térm
o ino
1933 1942 Avelino Vieira Prefeito de Tomazina Municipal Presidente do BPANP
1934 1945 Albary Guimarães Prefeito de Ponta Grossa Municipal Presidente do Bancial
1947 1951 Moysés Lupion Governador Estadual Sócio do Bancial / BMP
1947 1950 Avelino Vieira Deputado Estadual Diretor do Bancial
1951 1959 Senador
Othon Mäder Federal Presidente do Bamerindus
1959 1963 Deputado
1962 1971 Deputado
Accioly Filho Federal Amigo de Avelino Vieira
1971 1979 Senador
1973 1974 Vice-Governador
Jayme Canet Jr Estadual Sócio do Bamerindus
1975 1979 Governador
1979 1985 Affonso Camargo Senador Federal Conselheiro do Banco e Sócio J. Canet.
1979 1983 Deputado
1983 1986 Vice-Governador
João Elísio Estadual Sócio e Diretor do Bamerindus
1983 1984 Presidente do Badep
1984 1986 Secretário da Fazenda
1985 1986 Affonso Camargo Ministro Transportes Federal Conselheiro do Banco e Sócio J. Canet.
1986 1995 Affonso Camargo Senador Federal Conselheiro do Banco e Sócio J. Canet.
1986 1987 João Elísio Governador Estadual Sócio e Diretor do Bamerindus
1987 1988 Affonso Camargo Constituinte Federal Conselheiro do Banco e Sócio J. Canet.
1987 1998 Basílio Villani Deputado Federal Sócio e Diretor do Bamerindus
1987 1989 J. C. G. Carvalho Secretário da Ind. e Com. Estadual Sócio e Presidente da Inpacel
1989 1989 Affonso Camargo Ministro Transportes. Federal Conselheiro do Banco e Sócio J. Canet.
1989 1990 J. C. G. Carvalho Senador Federal Sócio e Presidente da Inpacel
1991 1999 Senador
1992 1993 José Eduardo Ministro Ind. Com. Tur. Federal Sócio e Presidente do Grupo
1993 1993 Ministro Agricultura
1993 1996 J. C. G. Carvalho Vice-Prefeito de Curitiba Municipal Sócio e Conselheiro do Grupo l
1995 1999 Affonso Camargo Deputado Federal Conselheiro do Grupo e Sócio J. Canet.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base nos dados contidos nesta Tese.
386

Quadro 6-3: Relação parcial dos principais integrantes da Rede Política Bamerindus no Paraná (1933-1997)

1933
1934
1942
1945
1946
1947
1950
1951
1959
1960
1962
1963
1970
1971
1973

1974

1975
1976
1979
1980
1982
1983
1984
1985

1986

1987
1988

1989

1990
1991

1992

1993

1994

1995

1996
1997
Conexões
Nome Grupo
com o BBB
BPANP
Avelino Prefeito Deputado
Presidente /
Vieira Tomazina Estadual
Bancial
Albary Prefeito
Presidente Bancial
Guimarães P. Grossa

Moysés Bancial
Sócio Governador
Lupion / BMP

Othon BMP e Deputado


Presidente Senador
Mäder BBB Federal
Amigo de
Accioly Deputado
Avelino BBB Senador
Filho Federal
Vieira
Jayme Vice-
Sócio BBB Governador
Canet Jr Governador

Affonso Deputado
Conselheiro BBB Senador Ministro Senador MinistroSenadorMinistro Senador
Camargo Federal
João
Sócio e Deputado Vice-
Elísio F. BBB Governador
Diretor Estadual Governador
Campos.
Basílio Sócio e
BBB Deputado Federal
Villani Diretor

J. C. G. Sócio e BBB Sec. Ind.


Senador Vice-Prefeito
Carvalho Presidente Inpacel e Com.

José Sócio e
BBB Senador MinistroSenadorMinistro Senador
Eduardo Presidente
Fonte: Quadro elaborado pelo autor.
387

1022
No Gráfico 6-8 apresentamos uma visão parcial da rede política Bamerindus (RPB) no
período 1981-1987, e destacamos as conexões no plano federal através de Mário Andreazza no
governo João Figueiredo; Affonso Camargo na campanha presidencial de Tancredo Neves e o
governo José Sarney; Jayme Canet e os partidos PP e PMDB; e João Elísio Ferraz de Campos no
Badep, na Secretaria da Fazenda e no cargo de vice-governador e governador do Paraná. Neste
período a RPB tentou criar o PP que, ao ser integrado ao PMDB, permitiu à rede controlar boa parte
da estrutura deste partido. No Gráfico 6-9 apresentamos a configuração da RPB no período 1988-
1994, com destaque para vários personagens importantes da rede que entraram no PTB, o que levou
ao posterior controle do partido pela rede no Paraná. O gráfico também demonstra as conexões com
o PRN, PDT e PSDB no Estado. Outro destaque são as importantes conexões de Affonso Camargo
e José Eduardo com o governo Collor de Mello, Itamar Franco e campanha presidencial de FHC. O
gráfico também apresenta o envolvimento de Jayme Canet na criação do PPR com a fusão do PDC
e o PDS para apoiar a candidatura Paulo Maluf em 1994. Neste período José Carlos Gomes de
Carvalho passou a ter maior presença política, bem como através dele a RPB estabeleceu e manteve
diversas conexões com associações de classe e sindicatos. Percebe-se nestes dois momentos da
rede, que o Bamerindus manteve ao longo de todo o período, ligações com a Rede Paranaense de
Comunicação (Jornal do Povo e TV Paranaense) através de Francisco Cunha Pereira.
1023
A pesquisa também indicou que existiram conexões diretas e indiretas com um número
muito maior de personagens e instituições tanto privadas como públicas, grandes clientes do banco,
da seguradora e da Inpacel, prefeituras, governos estaduais, judiciário estadual e federal, sindicatos
e associações de classe. Procuramos nos concentrar nas conexões que indicavam maior densidade e
importância política, buscando estabelecer os vínculos entre a esfera nacional e local, e os eventos
políticos mais importantes do período.
388

Gráfico 6-8: Rede Política Bamerindus (1981 a 1987)

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor, com base nas referências deste trabalho.
389

Gráfico 6-9: Rede Política e Corporativa Bamerindus (1988 a 1994)

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nas informações da Tese.
390

6.3.1 INSTITUIÇÕES QUE INTEGRARAM A REDE POLÍTICA BAMERINDUS

1024 Gráfico 6-10: Rede Política Bamerindus -


Entre as diversas instituições que integram a rede
Instituições
política Bamerindus, certamente as três mais importantes
foram os partidos políticos, o Instituto Liberal do Paraná (IL-
PR) e a Associação Comercial do Paraná (ACP). Nesta parte
do trabalho vamos analisar as conexões e importância de cada
uma delas para o Bamerindus.

6.3.1.1 PARTIDOS POLÍTICOS


Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.
1025
Nos anos 1980, a RPB tentou criar o PP no Paraná, mas ao tornar-se inviável o projeto via
mudanças na legislação, a saída foi transferir-se para o PMDB, no qual passou a dividir poder e a
influência com os políticos oriundos do MDB. No final dos trabalhos da Constituinte, os principais
nomes da RPB se instalaram no PTB. Jayme Canet criou o PDC e Basílio Villani participou do
PRN. Em diversos momentos, o PSDB e o PDT do Paraná chegaram a integrar a rede através das
conexões com José Richa e Jaime Lerner. Mas a atuação política através dos partidos apresentava
uma série de restrições, como por exemplo, com exceção do PMDB e do PDS, todos os demais
partidos haviam sido criados recentemente, e não tinham estrutura, propostas nem um corpo de
políticos consolidado. Outro problema era a ausência de mecanismos que garantissem a fidelidade
partidária e impedissem a criação de novos partidos. Nesse ambiente, a partir dos anos 1988, o
Bamerindus concentrou boa parte dos investimentos na estruturação do PTB no Paraná. Para
compreender essas e outras dificuldades da RPB com os partidos políticos, temos que analisar mais
de perto a questão partidária no Paraná.
1026 Gráfico 6-11: Rede Política Bamerindus - Partidos
A história dos partidos políticos no Estado
demonstra que eles sempre foram profundamente
marcados pelo regionalismo, e que somente em breves
momentos houve correspondências significativas com
a orientação nacional. Mesmo durante o período do
bipartidarismo, os diversos grupos somente
conseguiram conviver dentro das duas legendas por
causa do regime militar e à instituição da sublegenda.
Com a mudança legal em 1979, as correntes políticas
partiram para a formação de novas agremiações que
acabaram refletindo, em muitos casos os interesses
eleitorais imediatos, projetos pessoais e pequenos
grupos. Mesmo aqueles que ficaram com os espólios
da Arena e do MDB, nos anos 1990, estavam Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.
391

reduzidos a partidos pequenos e vinculados ao personalismo de suas principais lideranças e


ameaçados pela liberdade dos seus integrantes de trocarem de partido a qualquer momento. Nesse
cenário, as propostas de partidos nacionais foram atropeladas, na maioria dos casos, pelas questões
locais, e nem a questão ideológica pode ser invocada como balizadora da composição geral das
agremiações.
1027 Tabela 6-1: Número de vezes que cada Deputado mudou de partido
Um bom exemplo talvez seja
na Assembléia Legislativa do Paraná (1987-1997).
o do grupo Lerner que, eleito pelo
N° de Legislatura
PDT de Leonel Brizola, ao longo de vezes
1987-1991 1991-1995 1995-1997
em que
seu governo, ensaiou transferir-se mudou
de Nº de Nº de Nº de
% % %
para o PSDB, e terminou no PFL. Ao partido deputados deputados deputados
1X 21 84,0 26 86,7 22 75,8
que parece, a estrutura partidária
2X 3 12,0 3 10,0 6 20,7
estaria ao sabor da conjuntura 3X 1 4,0 1 3,2 1 3,5
TOTAL 25 100,0 30 100,0 29 100,0
política, sofrendo forte influência dos Fonte: Anais da ALP, Tabela 2.20 apud Lepre (2000, p. 79).
grupos que dominavam o executivo
estadual ou federal, transformando a sigla partidária numa espécie de instrumento temporário para
disputar eleições. A necessidade de compor uma base aliada no Congresso e nas Assembléias,
induzia o poder executivo a promover migrações partidárias que acabavam dissolvendo a maior
parte das propostas de identidade das legendas (ver Tabela 6-1).
1028
Também os conflitos entre grupos locais acabavam muitas vezes gerando tensões dentro do
partido ou mesmo entrando em conflito com o comando nacional. E se não se conseguia gerir tais
conflitos e promover o encontro mínimo entre as diversas regiões, a legenda era abandonada.
Também os projetos pessoais encontravam espaço e mecanismos para se imporem sobre a estrutura
partidária que, se não correspondia às expectativas, a sigla era abandonada rapidamente. É nesse
quadro institucional que a rede política do Bamerindus foi forjada ao longo das décadas de 1980 e
1990, e dois trabalhos, o primeiro de Oliveira (1998) e o segundo de Lepre (2000), serviram de base
para o nosso estudo da questão política partidária paranaense do período.
1029
Com o discurso anti-regime, o MDB do Paraná chegou ao final dos anos 1970 com o
monopólio virtual das oposições no Estado, tendo diante de si uma Arena desgastada pelos anos de
governo e envolvida em disputas internas entre as correntes lideradas pelo então governador Ney
Braga, Paulo Pimentel e Jayme Canet Júnior. Esse quadro era uma reprodução do que acontecia nos
principais colégios eleitorais do Brasil; em São Paulo, por exemplo, a Arena enfrentava uma
profunda divisão entre a corrente malufista e as demais, e crescia o desempenho eleitoral do MDB.
No Paraná, a extinção do bipartidarismo levou à divisão da Arena e ao fortalecimento da oposição,
na época a corrente política liderada por Canet / Affonso Camargo / Aníbal Khury fundou o PP que
em seguida foi incorporado ao PMDB; Paulo Pimentel foi inicialmente para o PDS, transferindo-se
logo em depois para o PTB, o que transformou o PDS no partido exclusivo de Ney Braga e seus
seguidores. Emedebistas históricos, como o então senador José Richa e Alencar Furtado tiveram
apenas que acrescentar um P na sigla do MDB.
397

em Porto Velho, e no total elegeu 332 prefeitos conquistando assim o quarto lugar entre os partidos
com maior quantidade de administrações municipais. Nas eleições presidenciais de 1989, o partido
entrou dividido entre Brizola, Collor e o candidato próprio, o senador Affonso Camargo. Com dez
minutos no horário eleitoral gratuito, o PTB optou pelo candidato próprio que, apesar de ter sido
indicado por 60% dos votos dos convencionais, não conseguiu unir o partido em torno de sua
candidatura. No cômputo geral, Camargo ficou em 11º lugar entre os candidatos à presidente e no
segundo turno o partido apoiou Fernando Collor.

Gráfico 6-13: Bancadas por partidos e Ano na Assembléia Legislativa do Paraná (1987-1997) (em %)

100%

PMDB
PMDB PMDB
PMDB PMDB PMDB 15
PMDB 19 19
22 24 22 22
PMDB
PMDB 35 PT; 7
80%
43 PT; 9 PT; 9
PT; 6 PT; 6 PT; 6
PMDB PT; 6 PDS/PPR
57 PSDB; 4 PSDB; 6 PPB; 13
PMDB PSDB: 7 PDS/PPR PDS/PPR
PSDB: 7
68 PPB; 11 PPB; 11
PSDB; 4
60% PST PST Outros
PST PP; 20 PST
PP; 15
PP; 15 PP; 22 PSDB PSDB
PSDB
PSDB 19 17
20
11 Outros Outros
Outros
PFL
40%
Outros Outros PFL: 15 PFL: 9 35
PSDB PFL: 13 PFL: 9 PFL: 11 PFL: 11
11
PFL: 9
PFL: 9 PDT
Outros PDT: 9 PDT: PDT 13
PDT: 9 11 15 PDT PDT;
PFL: 11 PDT; 4
20% PFL: 11 PDT: 9 20 20
PRN: 7
PRN: 7
PDT: 7 PRN: 9 PTB
PDT: 7 PTB PTB
PRN;:9 PTB 20
PTB 17 PTB PTB 19
PTB: 7 PTB: 7 13 11
PTB: 6 11 11
PTB: 4
0%

1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados do TRE PR (2002) e Anais da ALP apud Tabela 2.11 (LEPRE, 2000,
p. 53).

1045
Em março de 1990, o deputado federal
Gastone Righi5 formalizou o apoio integral do PTB Tabela 6-3: Deputados eleitos pelo PTB em 03 out. 1990

ao governo Collor. O crescimento do partido Cargo Nome do candidato Nº Votos


Federal Matheus Iensen 24.631
continuou nas eleições de 1990, quando elegeu Federal Onaireves Nilo Rolim De Moura 24.240
dois governadores, Pedro Pedrossian, do Mato Estadual Erondy Silvério 20.083
Estadual Aníbal Khury 18.537
Grosso do Sul, e Otomar Pinto, de Roraima, e Estadual Jose Alves dos Santos 13.943
Estadual João Falavinha Iensen 12.049
quatro senadores: José Eduardo, do Paraná; Jonas
Estadual Luiz Antonio Penteado Setti 11.516
Borges, do Amapá; Marluce Pinto, de Roraima; e Fonte: TRE PR (2002)
Valmir Campelo, de Brasília; além de 38
deputados federais e 79 deputados estaduais.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
fins de reforma agrária”. (GUANABARA, 2002).
392

1030
Oliveira (1998) observa que o PMDB do Paraná tinha algumas características distintas dos
demais Estados. Como a Região Norte do Estado era a que apresentava maior densidade
populacional, é de lá que vieram os líderes mais influentes do partido, forjados em boa parte nas
eleições municipais que continuaram existindo no interior durante os anos de ditadura, diferente da
Capital cujo prefeito era nomeado. Também boa parte das lideranças do antigo PTB, que poderiam
ter engrossado as fileiras do MDB, foram perseguidos e cassados, sobrando assim, para o norte
paranaense, a tarefa de fornecer as novas lideranças políticas necessárias ao partido. Também no
Paraná, os setores mais conservadores foram para a Arena:
188
Portanto, o início do pluripartidarismo, advindo com a reforma partidária de 1979, ocorreu em
um momento em que a política estadual encontrava-se polarizada entre duas propostas. Com a
reforma, as divergências, presentes tanto no MDB quanto na Arena, foram se tornando mais
claras e se direcionando para novos alinhamentos partidários. Se, por um lado, esse processo
representou um avanço democrático, à medida que permitiu a liberdade de organização
partidária, por outro, acarretou um embaralhamento político que destruiu a antiga
inteligibilidade do sistema. Durante toda a década de 80 foi intenso o movimento de
transferência e criação de siglas. (OLIVEIRA, 1998, p. 52).

1031
Também cabe observar que a Região Norte do Paraná tornou-se economicamente forte e
buscou formar lideranças para disputar o poder político com as demais regiões. Historicamente o
MDB, e depois o PMDB do Paraná, comportava duas correntes, uma mais “conservadora” liderada
por José Richa e uma mais “radical” sob o comando de Alencar Furtado. Este último entrou para o
MDB logo na criação do partido, vindo a compor, nos anos 1970, o “grupo dos autênticos”.
Deputado estadual eleito em 1966, deputado federal em 1970 e reeleito em 1974, assumiu como
líder da oposição na Câmara Federal no início de 1970 e acabou sendo cassado por Geisel em 1977,
no episódio que serviu de estopim para o chamado “Pacote de Abril”.
1032
José Richa iniciou sua vida política no PDC de Curitiba, trabalhou como oficial-de-gabinete
do governo do Paraná, em 1961, durante a 1º gestão de Ney Braga; em 1962 foi eleito deputado
federal, e na reforma partidária de 1965, filiou-se ao MDB, e trabalhou muito na construção do
partido no Estado, tendo sido eleito deputado federal em 1966, prefeito de Londrina em 1972 e
senador em 1978.
1033
Em outubro de 1981, a extinção da sublegenda alterou o jogo de forças dentro dos partidos.
O PMDB tinha até então quatro candidatos ao governo, o favorito era José Richa, e as demais
sublegendas, com Léo de Almeida Neves, o deputado Nivaldo Krüger e o senador Leite Chaves,
seriam lançadas para angariar votos para o PMDB. O PDS havia definido três nomes: Paulo
Pimentel, Antônio Belinati e Saul Raiz. Quando caiu a sublegenda, Richa convidou Léo Neves1
para ser o seu vice-governador, preocupado em angariar os votos do antigo PTB que, no passado
havia sido muito forte nos centros urbanos do Paraná. Nesse momento, a perspectiva era ter que
enfrentar a força de Ney Braga bem como o candidato do PP, o ex-governador Jayme Canet. A
incorporação do PP levou ao rompimento do equilíbrio entre essas duas correntes internas do
393

PMDB paranaense, pendendo a balança para o lado de José Richa, que se aliou aos seus antigos
companheiros dos primórdios do neísmo – Canet / Affonso Camargo. No acordo de incorporação, o
cargo de vice-governador para as eleições de 1982 ficou com o PP, que indicou João Elísio Ferraz
de Campos. Dois fatores pesaram nessa indicação, o primeiro foi a penetração partidária no PP no
interior do Estado, resultado do trabalho realizado durante o governo Jayme Canet, e o segundo foi
que, conforme vários depoimentos, a campanha contaria com o financiamento do Bamerindus,
grupo do qual Canet era sócio e João Elísio sócio-diretor.
1034
Disputavam a indicação o senador Leite Chaves, o líder do partido, Alencar Furtado que já
havia sido preterido na disputa da vaga para o governo do Estado, e o então político emergente
deputado Álvaro Dias, integrante do grupo Richa e um dos mais ativos participantes da vida
partidária. Em julho de 1982, a convenção estadual do PMDB indicou a chapa José Richa / João
Elísio Ferraz de Campos para disputar o governo do Estado; Leite Chaves e Álvaro dias para o
Senado. Segundo Oliveira (1998), no saldo final, Alencar Furtado e seu grupo acabaram como os
grandes derrotados. Com o monopólio do discurso de oposição ao regime, mais a máquina
partidária montada e fortalecida com as adesões dos redutos eleitorais do PP, o PMDB entrou
imbatível na primeira eleição direta para o governo estadual, marcando o início do período que
ficou conhecido como “A Era do PMDB”, que se estenderia por aproximadamente 14 anos.

Tabela 6-2: Resultados eleitorais do Paraná – 1982


Câmara Assembléia Legislativa Governador Senador Prefeito
Partidos % % % % %
% Votos % Votos
Cadeiras Cadeiras Votos Votos Cadeiras
PMDB 49,7 58,8 48,9 58,7 53,5 53,5 55,5
PDS 34,2 41,2 34,3 41,3 35,2 35,4 44,5
PTB 0,9 - 0,9 - 0,9 0,9 -
PT 0,4 - 0,3 - 0,4 0,4 -
PDT 0,2 - 0,2 - 0,2 0,2 -
Brancos e nulos 14,6 15,4 9,8 11,6
TOTAL 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fontes: Ipardes. Resultados Eleitorais - Paraná: 1945-82. Curitiba: 1989. Tabelas 3/5/9: Famepar. Municípios do Estado do
Paraná e Respectivos Partidos (1983/1988). Tabela 5 Apud Oliveira (1998, p. 75).

1035
O PMDB, além de eleger José Richa governador, conseguiu derrotar Ney Braga com a
candidatura de Álvaro Dias para o Senado, e conquistou a maioria na Assembléia e na Câmara dos
Deputados, bem como a maioria absoluta das prefeituras (ver Tabela 6-2). Com a vitória, o partido
passou a enfrentar o problema de ter que acomodar as várias tendências com as quais, durante o
regime militar, tiveram que conviver forçosamente; também agora tinha que atender as demandas
do recém-chegado grupo Canet / Affonso Camargo / João Elísio. Muitos dos emedebistas históricos
acabaram perdendo espaço, comprometendo assim muitas das reformas mais progressistas,
forçando a saída de alguns políticos, como por exemplo, o Secretário da Agricultura, Claus Germer
que saiu do governo e se filiou ao PT. (LEPRE 2000, p. 24-25). Ao longo das décadas de 1980 e
1990 ocorreu a progressiva descaracterização do PMDB, como também foram criados novos

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1
Fonte: Neves (2002, p. 373).
394

partidos. A marca política desse período foi o fenômeno da intensa migração partidária que, se por
um lado aumentou a liberdade de escolha, por outro acabou pulverizando e enfraquecendo a
representação partidária.
1036
Lepre (2000) sustenta que esse fenômeno teria duas causas básicas; a primeira, relacionada
à questão histórica do caráter regionalista dos partidos, e a outra estaria relacionada ao problema do
presidencialismo que, para manter a governabilidade, necessitava formar maioria nas casas
legislativas e, para tanto, tinha que promover alianças com partidos que no âmbito nacional nem
sempre representavam os interesses locais. Com a necessidade de compor a maioria, a saída
institucional muitas vezes estava na criação de novas legendas ou na transferência de blocos
políticos para outras agremiações, cuja lógica dependeria do momento político eleitoral ou da
conjuntura do grupo que dominava o executivo. Nesse período, três governadores encabeçaram as
disputas políticas no Estado: José Richa, Álvaro Dias e Roberto Requião; mas nenhum deles
conseguiu remontar o domínio centralizado e personalista que caracterizara o lupionismo e o
neísmo; muito pelo contrário, a marca dessa época foi a relativa pulverização do poder e a crescente
concorrência política.

6.3.1.1.1 PTB - PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO

1037 Gráfico 6-12: Rede Política Bamerindus – PTB (1987-


O PTB foi fundado por Getúlio Vargas em
1994)
1945; portanto tinha 60 anos de história,
interrompida apenas durante o regime militar, mas
prontamente restabelecido em 1980 por Ivete
Vargas. Se no passado o PTB tinha sido uma
agremiação muito forte no Paraná, muitas vezes
reduto da resistência popular, nos anos 1980 era
apenas uma pálida sombra que, segundo
depoimentos de funcionários do partido, muitas
vezes não tinha recursos para pagar os salários e
“os políticos só aparecem aqui quando tem
eleições” 2. Extinto em 1965 pelo Ato Institucional
nº 2, a sigla foi disputada por vários políticos no
final dos anos 1970, já que o PTB tinha tido grande
apoio popular até 1965, tendo sido sua maior
característica o crescimento constante em todo o
Brasil até aquela data. Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.

2
Fonte: Depoimento verbal colhido pelo autor.
395

1038
Segundo Guanabara (2002)3, basicamente dois grupos disputavam a legenda, um liderado
por Leonel Brizola que retornava do exílio e havia conseguido reunir em Lisboa oitenta políticos
brasileiros que, com o apoio de diversos socialistas entre eles Mário Soares, realizaram o “Encontro
dos trabalhistas do Brasil com trabalhistas no exílio”. No evento, foi elaborada a carta contendo as
bases programáticas do novo PTB, que defendiam o “socialismo democrático”. O outro grupo,
liderado por Ivete Vargas, tinha por base política São Paulo e contava com diversos políticos, entre
eles Lutero Vargas e Gilberto Mestrinho. Em 1978, Ivete teve um encontro com Brizola, em
Lisboa, tentando um acordo que garantisse a liderança dela e que, ao ser recusada, deu início à luta
pelo controle da legenda. Considerando-se a legítima herdeira de Getúlio, Ivete criticava Brizola
pela proposta socialista e o acusava de responsável pelo que chamou de “radicalização” do
governo João Goulart. Com a anistia política de agosto de 1979, Leonel Brizola retornou ao país em
setembro e, junto com Doutel de Andrade, Luís Fernando Bocaiúva Cunha, Valdir Pires e Darci
Ribeiro, iniciou a batalha pela sigla.
1039
O critério que definiu a posse da legenda foi a data em que cada grupo encaminhou seu
pedido de registro ao TSE. Como Ivete havia dado entrada no pedido de registro em 21 de
novembro de 1979, e a extinção do bipartidarismo acabou sendo decretada no dia 29 de novembro,
teve seu pedido deferido pelo TSE em maio de 1980, visto que Brizola só havia protocolado o
pedido alguns dias mais tarde:
189
O grupo ligado a Leonel Brizola denunciou a decisão do TSE como sendo uma “manobra”
realizada pelo governo federal com o intuito de transformar o PTB em um partido “patronal”.
Ivete Vargas passaria a pregar o caráter de oposição de seu partido, mas de uma oposição
“patriótica e não demagógica” e “disposta ao diálogo”. A nova legenda nascia disposta ainda a
abranger “todos os segmentos da sociedade brasileira, inclusive o empresariado nacional”.
(GUANABARA, 2002).

1040
Ainda segundo Guanabara, em fevereiro de 1981, alguns jornais e revistas publicaram
matéria informando que Ivete Vargas teria contado com a ajuda do general Golbery para obter o
registro do PTB. Os papéis referentes ao registro do partido teriam tramitado pelo palácio do
Planalto, tendo a colaboração de Alberto Eduardo Costa, subchefe do Gabinete Civil, e seguiram de
Brasília para o Rio, no malote da Agência Nacional. Derrotado, Brizola fundou um novo partido, o
Partido Democrático Trabalhista (PDT). Com o registro definitivo do PTB, em novembro em 1981,
Ivete partiu para a reconstrução da agremiação. Nesse mesmo ano, entraram no partido a ex-
lacerdista Sandra Cavalcanti, Jânio Quadros, Gilberto Mestrinho, do Amazonas, e Aarão
Steinbruch, do Rio de Janeiro. Em 1982 recebeu vários parlamentares descontentes com a fusão do
PP com o PMDB, conseguindo, em agosto de 1982, a terceira maior bancada do Congresso, com 14
deputados e dois senadores.
1041
A primeira grande tentativa de se firmar como partido aconteceu nas eleições de 1982,

3
Fonte: GUANABARA, R. Verbete: PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO – PTB (1980-). In: DHBB - Dicionário
Histórico-Biográfico Brasileiro: pós 1930. 1ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002. Cd-rom.
396

quando lançou candidatos a governador em dez estados, com Jânio Quadros em São Paulo e Sandra
Cavalcanti no Rio de Janeiro. Perdeu em todos, conseguindo eleger apenas 13 deputados federais,
dos quais oito eram de São Paulo. Também conseguiu eleger dezoito deputados estaduais e sete
prefeitos. Seu trunfo foi ajudar a compor a maioria para o governo federal, colocando sua bancada
como fiel da balança entre o PDS, com 235 deputados e a oposição com 231, obtendo em troca
cargos na administração federal e nas empresas estatais. Com a morte de Ivete Vargas em janeiro
de 1984, Nélson Marchezan, entre outros, passaria então a se preocupar com a manutenção dos
acordos políticos com o governo. Na votação da emenda constitucional Dante de Oliveira, a
oposição foi derrotada por 22 votos, mesmo com a maioria da bancada do PTB votando a favor da
emenda.
1042
Na questão da candidatura de Tancredo Neves para presidente, o PTB teve pouca
participação nas negociações, tendo contribuído com os votos para a vitória de Tancredo no
Colégio Eleitoral. Apoiou o novo governo participando de sua base de sustentação, principalmente
cobrindo a saída de parlamentares descontentes do PMDB, recebendo em troca o governo do
território de Roraima. Sua primeira grande vitória eleitoral aconteceu em 1985, quando o PTB
conseguiu eleger Jânio Quadros para a prefeitura de São Paulo, derrotando Fernando Henrique
Cardoso; quando Jânio recebeu o apoio do banqueiro e político Olavo Setúbal que estava no PFL.
Também elegeu 12 prefeitos em outros municípios considerados como estâncias hidrominerais e
áreas de segurança nacional. Nas eleições de 1986, o partido conseguiu a adesão de Antônio
Ermírio de Morais sendo em seguida lançado candidato ao governo de São Paulo, também com o
apoio de Olavo Setúbal; e no Mato Grosso do Sul lançou Lúdio Coelho. O Sergipe foi o único
estado que elegeu um candidato a governador não peemedebista. Antônio Ermírio fora derrotado
por Orestes Quércia em São Paulo, mas conseguiu eleger 17 deputados federais e 43 deputados
estaduais, dos quais 13 em São Paulo. Durante os trabalhos da Constituinte, parlamentares do PTB
integraram o Centrão4 e teve três representantes na Comissão de Sistematização: os deputados
paulistas Francisco Rossi, Gastone Righi e Joaquim Bevilacqua.
1043
No Paraná, o partido ganhou fôlego quando Affonso Camargo entrou para o PTB em 1987,
marcando o início da integração do PTB na rede política Bamerindus (ver Gráfico 6-13), recebendo
mais tarde políticos como José Carlos Gomes de Carvalho, Aníbal Khury, José Eduardo e Basílio
Villani. Por sua vez Requião não poupou críticas a esse movimento dos adversários:
190
[...] e com muita ironia ia definindo-os. “Que estranho PTB [...] Vocês imaginem, numa
reunião, o Basílio [Villani] lendo a carta-testamento de Getúlio Vargas e levando às lágrimas o
José Eduardo [Vieira], o Affonso [Camargo] e o Borges da Silveira”. (PAZ, 1990 p. 55).

1044
Os resultados do PTB nas eleições municipais de novembro de 1988 foram melhores,
conseguindo eleger Sahid Xerfan em Belém; Lúdio Coelho, em Campo Grande e Francisco Erse

4
Centrão: movimento político suprapartidário de tendências conservadoras, foi criado em 1987 em reação ao anteprojeto da
Comissão de Sistematização, que previa itens como “estabilidade total no emprego” e “expropriação da propriedade para
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
398

1046
Nessa época, o Banco Bamerindus passou a Tabela 6-4: Número de deputados federais e
estaduais por partido, eleitos em 03 out. 1990.
investir na expansão da rede de agências na região que
Deputados
definia como a nova fronteira do desenvolvimento Partido Estadual Federal
Qtde. % Qtde. %
(Mato Grosso do Sul, Rondônia, Acre, Amapá e PMDB 16 29,6% 7 23,3%
PRN 10 18,5% 8 26,7%
Roraima). No Paraná, o PTB conseguiu eleger 2 PDT 6 11,1% 2 6,7%
deputados federais e 5 estaduais (ver Tabela 6-3) e, no PFL 6 11,1% 4 13,3%
PSDB 5 9,3% 4 13,3%
quadro geral dos resultados, o PMDB continuou sendo PTB 5 9,3% 2 6,7%
PT 3 5,6% 3 10,0%
o partido com a maior bancada na Assembléia PL 2 3,7% 0,0%
PSB 1 1,9% 0,0%
Legislativa (PR) (ver Tabela 6-4), seguido de perto pelo Total 54 100,0% 30 100,0%
PRN. O PTB manteve-se pequeno, apesar de ter Fonte: TRE PR (2002)

conseguido eleger José Eduardo, senador. No Protocolo nº 11869 de 07 dez. 1990, do TRE PR, está
registrado o Ofício nº 05/90 do presidente nacional do PTB6, comunicando que, na reunião da
Comissão Executiva Nacional, em 06 de dezembro, foi decidida a dissolução do Diretório
Regional, por renúncia da maioria absoluta dos seus membros e informava a composição da nova
Comissão Regional Provisória composta pelos seguintes membros: Presidente: José Eduardo de
Andrade Vieira; Membros: José Carlos Gomes Carvalho, Onaireves Nilo Rolim de Moura, Jorge
Mathias Júnior, José Alves dos Santos, Antonio José Nascimento e Luiz Camargo Antunes.
1047
Na crise que levou Collor à renúncia, alguns petebistas, como o deputado Roberto Jefferson
(PTB RJ), apoiaram o presidente até o fim, apesar das conclusões da CPI. Também o deputado
Onaireves Moura (PTB PR)7, ofereceu um jantar de apoio a Collor, dias antes da votação que
autorizaria a abertura do processo de impedimento. Mesmo assim, a maioria do partido acabou
votando pelo afastamento do presidente, inclusive Onaireves que mudou repentinamente de lado,
numa atitude que surpreendeu a todos.
1048
A vocação situacionista do PTB ficou confirmada pelo apoio ao novo governo Itamar
Franco ao passar a integrar sua base no congresso e recebendo em contrapartida o Ministério
Indústria, Comércio e Turismo (MICT), pela indicação de José Andrade nas eleições de 1994
integrou a coligação liderada pelo PSDB e PFL que lançou Fernando Henrique à Presidência da
República. No cômputo geral, o desempenho eleitoral do PTB nesse ano foi inferior ao das eleições
de 1990, elegeu apenas um governador, Neudo Ribeiro Campos, em Roraima, com amplo apoio da
rede política Bamerindus; três senadores: Maria Marluce Moreira Pinto também em Roraima,
Emília Xavier Fernandes (RG) e Arlindo Porto Neto (MG); sua representação na Câmara dos
Deputados diminuiu de 38 para 31 deputados federais, e elegeu 72 deputados estaduais.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
5
Fonte: Guanabara (2002).
6
Fonte: BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral – Paraná (TRE PR). Ofício nº 05/90 do presidente nacional do PTB. Protocolo
nº 11869 de 07 dez. 1990a.
7
Segundo DHBB (2002k), Onaireves Moura deixou o PTB em 1993, e ingressou no PSD, para liderar a bancada do partido
na Câmara. Acusado por Álvaro Dias de aliciar parlamentares, acabou sendo incriminado pela Polícia Federal por prática de
sonegação de impostos e estelionato. No final de 1993, seu mandato foi cassado e sua vaga foi ocupada pelo suplente Ervin
Bonkoski (PTB PR). Em julho de 1994, tentou registrar-se como candidato a deputado federal pelo PSD, mas o TRE-PR
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
399

1049
O Gráfico 6-13 permite verificar que, entre 1991 e 1994, o poder do PTB no Paraná cresceu
com o movimento da troca de legenda, pois ampliou o seu poder na Assembléia Legislativa,
chegando a ocupar, em 1991, 13% das cadeiras; em 1993, 17%; em 1994, 20%. Segundo Lepre
(2000), a ascensão de JE fez do PTB “um partido promissor para os políticos estaduais. [...] No ano
de 1991, 2 deputados do PRN filiaram-se ao PTB. O líder Andrade Vieira dava mostras de ser
candidato ao governo do Estado em 1994, ou até mesmo à Presidência da República”. Esse
movimento se repetiu nos outros partidos, resultando na redução da participação do PMDB, que
praticamente estabilizou-se nos anos seguintes, mostrando que no ano de 1991 o partido atingiu o
seu ponto de equilíbrio no ambiente pluripartidário.
1050
No plano dos municípios do Paraná, após ser integrado à rede política do Bamerindus, o
PTB experimentou um crescimento vertiginoso; segundo declarações de José Carlos de Carvalho8,
durante a sua gestão na Presidência do PTB no Estado, o partido cresceu de 53 diretórios em 1990
para 352 em 1993, cobrindo quase todos os municípios. Nessa análise, também temos que
considerar que o PRN recebeu muito apoio da Rede Política Bamerindus (RPB) e que em vários
momentos atuou em conjunto com o PTB, tendo contado inclusive com a filiação de alguns
personagens da RPB.

6.3.1.1.2 INSTITUTO LIBERAL DO PARANÁ (IL-PR)

1051
Outra instituição importante para a rede
Gráfico 6-14: Rede Política Bamerindus – IL-PR
política Bamerindus foi o Instituto Liberal do (1987-1994)

Paraná (IL-PR). Segundo Lima (2003, p. 70-71)9,


José Eduardo, ao receber o troféu “banqueiro do
ano” concedido pelo Jornal Diário Popular,
afirmou que estava disposto a “subir em
palanques”, e, durante todo o ano de 1988,
percorreu o país fazendo palestras sobre a
“Participação do empresariado na política”. Tal
movimentação, em boa parte estava relacionada às
atividades do IL-PR, que havia sido formalmente
criado em dezembro de 1987 por um grupo de
empresários paranaenses. Lima (2003, p. 39)
observa que, na época, o estatuto social da entidade Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nas
informações extraídas de Lima (2003, p. 40 e 49) e
foi subscrito por José Eduardo, Cleverson Marinho Bamerindus / HSBC (2003)

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
impugnou sua pretensão por unanimidade.
8
Fonte: Carvalho fala dos planos 1994 e da pretensão ao Senado. Indústria e Comércio (IC), Curitiba 11 jun. 1993.
9
Fonte: Gazeta do Povo, 22 dez. 1987, p. 12, apud Lima (2003, p. 70-71).
400

Teixeira, José Luiz Osti Muggiati, Marcos José Olsen, Orlando Otto Kaesemodel Filho, Renato
Campos, Roberto Demeterco e Sérgio Marcos Prosdócimo. Na seqüência, várias empresas
importantes do Paraná passaram a fazer parte da entidade (ver Quadro 6-4). O primeiro IL foi fundado
em 1983, no Rio de Janeiro, e nos anos seguintes vários ILs foram organizados em estados como
São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia, Brasília e Minas Gerais:
191
A organização do empresariado paranaense na defesa das idéias de livre mercado, a partir do
fim de 1987 estava concentrada no IL - PR, coincide com a realização da Assembléia Nacional
Constituinte. Este momento histórico brasileiro mostrava a força dos partidos de esquerda que,
apesar de ser minoria na Assembléia, obtinham vitórias nas votações relativas às questões
trabalhistas e de setores considerados estratégicos. [...] a organização dos ILs responde ao
temor de que as esquerdas brasileiras, agora legalizadas e organizadas em partidos políticos,
passassem a ditar as regras políticas nacionais. A necessidade de combater as idéias de
esquerda, estatizantes e nacionalistas é evidente em grande parte dos textos produzidos pelos
liberais no Paraná. Podendo ser este apontado, como um dos motivos do surgimento da
organização em 1987. (LIMA, 2003, p. 55-57).

Quadro 6-4: Empresários e empresas participantes do Instituto Liberal do Paraná (1987-2000)


Sobrenome Nome Empresa Ramo de atuação
Aischinger Eduardo Minerva Dimax Com. Farmacêutico Ltda. Comercial – Farmacêutico
Bley Luiz Ernesto Voupar Com. de Automóveis Ltda. Comercial – Automóveis
Bório Rogério Macedo Banco Bamerindus do Brasil S.A. Financeiro
Camargo Álvaro Luiz Advogado Advocacia
Campos Renato Slaviero Hotéis e Turismo Ltda. Comercial – Hotelaria
Capristo Jair Euclides Banco Bamerindus do Brasil S.A. Financeiro
Carvalho José Carlos Gomes de Servopa S.A. Comercial – Automóveis
Casagrande Darcy Estil Móveis e Decorações Industrial - Madeireiro
Demeterco Roberto Apras Associação dos Supermercados do
Paraná
Demeterco Roberto Demeterco e Cia Ltda. (Mercadorama). Supermercadista
Demeterco Rui Demeterco e Cia Ltda. (Mercadorama). Supermercadista
Faria Paulo Afonso Siemens Eletro-mecânico
Maranhão
Fontana Fernando Moinhos Unidos Brasil-Mate Industrial – Alimentos
Guimarães Oriovisto Sociedade Educacional Positivo Educação e gráfico
Manoel Eduardo Guy de Banco Bamerindus do Brasil S.A. Financeiro
Martins José Pio Sociedade Educacional Positivo Educação e gráfico
Muggiati José Luiz Osti Banco Bamerindus do Brasil S.A. Financeiro
Neto Ângelo Volpi Cartorário. Serviços
Olsen Marcos José Olsen Veículos S.A. Comercial - Veículos
Oms Atilano de Inepar S.A. Industrial – Elétrico
Sobrinho
Probst Lorici Voupar Com. de Automóveis Ltda. Comercial - Automóveis
Prosdócimo Sérgio Marcos Refrigeração Paraná S.A. Industrial – Eletrodomésticos
Prosdócimo Sérgio Marcos Umuarama Holding Industrial – Eletrodomésticos
Romanoski Antonio Carlos Refrigeração Paraná S.A. Industrial – Eletrodomésticos
Rosário Wilson do Paraná Equipamentos S.A. Comercial - Equipamentos
Sampaio Ruy Corujão Comércio de Automóveis Comercial - Automóveis
Teixeira Cleverson Marinho Advogado Advocacia
Tolentino Cláudio Francisco Eletrofrio Eletro-mecânico
Tureck Mário Servopa S.A. Comercial – Automóveis
Ulandowski Estefano Advogado Advocacia
Vieira José Eduardo de Banco Bamerindus do Brasil S.A. Financeiro
Andrade
Vieira Maria Christina de Banco Bamerindus do Brasil S.A. Financeiro
Andrade
n. i. n. i Âncora Auto Veículos Ltda. Comercial - Automóveis
n. i. n. i Banco Araucária S.A. Financeiro
n. i. n. i Belga Indústrias Químicas Ltda. Industrial - Química
n. i. n. i Berneck e Cia. Industrial - Madeireiro
n. i. n. i Bolsa de Valores do Paraná Financeiro
n. i. n. i. Brasholanda S.A. Equipamentos Industrial
401

Quadro 6-4: Empresários e empresas participantes do Instituto Liberal do Paraná (1987-2000)


Sobrenome Nome Empresa Ramo de atuação
Industriais.
n. i. n. i. Britânia Eletrodomésticos Industrial - Eletro-eletrônicos
n. i. n. i. Café Alvorada S.A. Industrial - Alimentos
n. i. n. i. Casteval Construção e Incorp. Ltda. Construção Civil
n. i. n. i. Demeterco e Cia Ltda. Supermercadista
n. i. n. i. Distribuidora de Bebidas Favreto Comercial – Alimentos
n. i. n. i. Emílio Romani S.A. Indústria e Comércio de alimentos
n. i. n. i. Hermes Macedo S.A. Comercial - Varejista
n. i. n. i. Hoje Imóveis Ltda. Imobiliário
n. i. n. i. Hotel Bourbon & Tower Comercial – Hotelaria
n. i. n. i. Ico Comercial Industrial – Couro
n. i. n. i. Impressora Paranaense S.A. Gráfico
n. i. n. i. Incepa Ind. Cerâmica Paraná S.A. Industrial – Cerâmica
n. i. n. i. Ivaí Engenharia de Obras Construção Civil
n. i. n. i. Kusma e Cia Ltda. Supermercadista
n. i. n. i. La Violetera Ind. Com. Gen. Alimentícios Comercial – Alimentos
Ltda.
n. i. n. i. Moinhos Carlos Guth Ltda Industrial – Alimentos
n. i. n. i. Nutrimental S.A. Industrial – Alimentos
n. i. n. i. Plastipar Ind. Com. Ltda. Industrial – Plásticos
n. i. n. i. Selectas S.A. Industrial – Madeireiro
n. i. n. i. Trombini S.A. Industrial - Papel e Celulose
Observações: n. i. = não informado. Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nas informações extraídas de Lima (2003, p.
40 e 49) e Bamerindus / HSBC (2003).

6.3.1.1.3 ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO PARANÁ (ACP) E O BAMERINDUS

1052 Gráfico 6-15: Rede Política Bamerindus – ACP GEC


Provavelmente a mais antiga associação de
(1987-1994)
empresários do Paraná, a ACP também integrou a
rede política Bamerindus durante alguns períodos
de sua história. No final dos anos 1980 e início da
década de 1990, a instituição promoveu várias
ações buscando a mobilização política de
empresários e trabalhadores em torno de uma
agenda de reformas institucionais e econômicas.
Para tanto, segundo COUTO (1998)10, teria
articulado a criação informal de um grupo de
empresários de Curitiba (GEC). Nesse período,
Maria Christina de Andrade Vieira assumiu a
Presidência da instituição e promoveu várias ações
políticas nitidamente articuladas com a rede política
Bamerindus. Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.

10
Fonte: COUTO, I. C. Ação política empresarial: o caso do GEC (Grupo de Empresários de Curitiba) - 1990/1998.
Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 1998.
402

GEC - GRUPO DE EMPRESÁRIOS DE CURITIBA

1053
Segundo Couto (1998), existem várias evidências que apontam para a constituição de um
grupo denominado GEC - Grupo de Empresários de Curitiba, e que teria atuado entre os anos 1990
e 1998; articulados em torno do discurso que reivindicava “o fim do Estado-empresário
hipertrofiado que só servia ao ‘empreguismo’, o incentivo às políticas de privatizações, um
posicionamento mais firme dos políticos em geral, maiores ajustes fiscais para o benefício do
empresariado e uma resolução à crise política que vivia a sociedade” (COUTO, 1998, p. 3); bem
como cobravam o apoio do governo federal para suas demandas. Para a autora, boa parte dos
membros desse grupo estava reunida na ACP e através dela faziam suas reivindicações, tendo
organizado movimentos como o “Levanta Brasil”, “Luto pelo Brasil”, “Manifesto à Nação” e
“Carta ACP”. Essas ações coordenadas aconteceram apenas em duas gestões da ACP, na de
Werner Schrappe (1990 a 1992) e na de Maria Christina Andrade Vieira (1992 a 1994). Estas
gestões articulavam o apoio de empresários que ocupavam postos nas Vice-Presidências e no
Conselho Superior, que reuniam as principais lideranças de diversos setores produtivos do Estado
(ver Quadro 6-5). O Grupo tinha por “[...] objetivo principal influenciar políticas governamentais
através dos financiamentos de campanhas políticas ou a partir das associações representativas de
classe (ACP / Fiep / Faciap11 / Faep12). O GEC [...] era um grupo informal constituído em Curitiba,
cuja trajetória pode ser restabelecida através de algumas manifestações e notícias de empresários
como Renato Trombini, Sérgio Prosdócimo, Atilano Sobrinho e Keizo Assahida”. (COUTO, 1998,
p. 3).
Quadro 6-5: Empresários integrantes do GEC - Grupo de empresários de Curitiba. (1990 a 1994)
Nome Instituição Setor
Jayme Canet Júnior Hotéis Deville e Bamerindus Hotelaria
Jaime Lerner PDT Política / Financeiro
João Elísio Ferraz de Campos Bamerindus Financeiro
José Carlos Gomes de Carvalho Grupo Corujão / Inepar / Inpacel / Bamerindus Revendas de automóveis
José Eduardo de A. Vieira Bamerindus Financeiro
José Richa PSDB / Bamerindus Política
Karlos Rischbieter Refripar / Oberdorfer / Umuarama / Bamerindus Eletroeletrônico
Maria Christina de A. Vieira Bamerindus Financeiro
Maria Ondina Slaviero Slaviero – Ford / Bamerindus ** Revendas de automóveis
Maurício Schulman Bamerindus Financeiro
Saul Raiz Refripar / Oberdorfer / Umuarama / Bamerindus Eletroeletrônico
Sérgio Marcos Prosdócimo Refripar / Oberdorfer / Brasholanda / Umuarama / Eletroeletrônico / Embalagens
Bamerindus.
Atilano de Oms Sobrinho Inepar / Carbomafra Eletroeletrônico / Químico
Cecílio do Rego Almeida CR Almeida Construções
José Carlos Pisani Dipave - Chevrolet Revendas de automóveis
Keizo Assahida. YOK Mecânico
Luiz Antônio Fayet Labra Madeira e derivados
Luiz Ary Radunz Carbomafra / Civema – Mercedez-Benz Químico / Ver. Automóveis
Marcos José Olsen Olsen - Ford Revendas de automóveis
Nelson Pisani Civema - Mercedez-Benz Revendas de automóveis
Renato Alcides Trombini Trombini. Madeira e derivados
Werner Schrappe Impressora Paranaense Embalagens

11
Federação das Associações Comerciais e Empresarias do Paraná (Faciap).
12
Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
403

Nota Os empresários acima participavam também de vários órgãos, associações de classe e dos sindicatos representantes de
seus setores. ** Nely Gomes e Rubens Slaviero e *** Felipe Lerner apareceram como acionistas do Banco Bamerindus do
Brasil em 31 dez. 1997. Fonte: Tabela elaborada pelo autor, com base nos dados extraídos de COUTO (1998) e Bamerindus /
HSBC (2003).

1054
O estudo destaca uma entrevista publicada pela revista Balanço Anual da Gazeta Mercantil
- Especial Paraná, na qual Sérgio Prosdócimo teria afirmado que participou do grupo, e que este era
“[...] composto por alguns de seus melhores amigos: os ex-ministros Karlos Rischbieter e José
Eduardo Vieira, o empresário Atilano Sobrinho, o economista Antônio Fayet, o ex-governador
Jayme Canet Júnior e o presidente do Conselho de Administração do Bamerindus, Maurício
Schulman, entre outros”. (MONTEIRO, 1995, apud COUTO, 1998, p. 4)13.
1055
Vale destacar que, desde o final do ano de 199114, o Bamerindus possuía 25% do capital da
Umuarama Administração de Bens e Participações S.A. em sociedade com a família Prosdócimo15.
1056
Couto procurou resgatar a ação política empresarial do GEC no período 1990 – 1998,
analisando as duas gestões da ACP comandadas por membros do grupo, e os novos
direcionamentos dados à economia paranaense a partir das eleições gerais de 1994. Também analisa
as estratégias utilizadas pelo GEC para influenciar esses processos, destacando que, na eleição de
Jaime Lerner para governador em 1994, encontrou grande parte desses empresários financiando a
campanha. Segundo Couto (1998, p. 4), um dos resultados da ação do grupo teria sido a aprovação
de um projeto de lei pela Assembléia Legislativa logo no início da administração Lerner, que
praticamente quebrou o monopólio da Copel para geração e distribuição de energia elétrica. Logo
em seguida, foi criada uma associação entre a Copel e a Inepar para a construção da Usina
Hidrelétrica de Salto Caxias. Outro resultado também apontado pela autora teria sido a assinatura
do contrato entre o Estado e a Inepar, sem concorrência pública, para a construção de uma
subestação de energia para atender a montadora de automóveis francesa Renault, que estava sendo
instalada na Região Metropolitana de Curitiba.
1057
Entre as várias conclusões obtidas pelo estudo, uma delas nos chamou a atenção
principalmente no que se refere aos partidos políticos, quando a autora diz que “[...] chegou à
conclusão que os partidos políticos não eram a principal via de participação empresarial. Os
sindicatos eram específicos para cada área e poucos chegaram a cruzar suas trajetórias através
deles. O local verificado e que congregava grande parte deles era a ACP por isso, essa foi a
associação escolhida para se analisar as atividades em conjunto”. (COUTO, 1998, p. 7-8).

13
Fonte: MONTEIRO Nilson. “A autoridade na medida certa”. In: Revista Balanço Anual – Paraná 94/95, ano 1. V.1. Apud
Couto (1998, p. 4).
14
Fonte: Fato relevante. Aquisição de 25% do capital da Umuarama Administração de Bens e Participações S.A. GM, 28 nov.
1991, p. 3.
15
Fonte: Bamerindus compra 25% da Prosdócimo. Os dois grupos não revelam o valor da transação, articulada desde maio
para expansão da empresa. FSP, 30 nov. 1991, Dinheiro, p. 3-12.
404

A GESTÃO DE WERNER SCHRAPPE (1990–1992).

1058
A gestão de Werner Egon Schrappe – 1990 a 1992, ocorreu no período em que o país
passava pelos ajustes econômicos e institucionais promovidos pela administração Collor; no Paraná
surgiram alguns movimentos pregando o retorno à produtividade através de ações “articuladas”
entre empresariado e trabalhadores e a revitalização das políticas sociais como saúde e educação.
Um desses movimentos ficou conhecido como “[...] ‘Levanta Brasil’ que pretendia vincular as
discussões sobre diversos temas nacionais e locais às ações efetivas do empresariado
local”.(COUTO, 1998, p. 8).
1059
Nessa época, Schrappe era presidente da ACP e da Federação das Associações Comerciais e
Industriais do Paraná (Facip) e do Conselho Administrativo da Impressora Paranaense. Durante sua
gestão, fizeram parte da Diretoria da ACP: Karlos Rischbieter, Maria Christina Andrade Vieira e
Keizo Assahida. Como conselheiros no Conselho Superior estavam Atilano de Oms Sobrinho, José
Carlos Gomes de Carvalho, José Carlos Pisani, Marcos José Olsen, Renato Alcides Trombini e
Sérgio Prosdócimo. A política básica dessa gestão foi promover grandes entendimentos entre a
classe empresarial e a sociedade, pregando a necessidade que os empresários deveriam dar mais
atenção aos problemas nacionais. O lançamento, em novembro de 1991, da campanha “Levanta
Brasil” recebeu o apoio do então governo Roberto Requião e de entidades de classe como a Facip,
Fiep, Faep e a central sindical de trabalhadores Força Sindical. O objetivo era abordar problemas
pontuais de Curitiba como, por exemplo, a abertura do ambulatório do Hospital Evangélico em
Curitiba; bem como foi elaborado o documento “Carta de Curitiba” que propunha ações para a
retomada do desenvolvimento nacional. Com o tempo o movimento recebeu apoio do jornal
Indústria e Comércio, a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) e a Federação dos
Bancários do Paraná:
192
Em nome deste movimento, as entidades paranaenses de representação empresarial saíam de
uma discussão pontual e localizada, para uma discussão mais ampla que abrangia toda a
sociedade brasileira em geral, ou seja, a desestabilização econômica brasileira. Sob um lema
específico pretendiam propor um programa mínimo de estabilização econômica com as
parcerias entre os empresários, trabalhadores, os governos e os políticos. “Vamos cobrir o
Congresso Nacional com cartazes do movimento Levanta Brasil”. Assim definiu o vice-
presidente da Associação Comercial do Paraná, Odone Fortes Martins, a estratégia de ação para
conscientizar os senadores e deputados sobre a importância de se buscar o entendimento
nacional. “[...] Só vamos baixar a inflação, realmente com preços, tarifas públicas e salários
negociados. Se ninguém tomar a iniciativa desse diálogo, dificilmente o país caminhará em
direção ao progresso”. (COUTO, 1998, p. 48)16.

A GESTÃO DE MARIA CHRISTINA DE A. VIEIRA(1992-1 994).

1060
Em 31 de maio de 1992, a Gazeta do Povo17 de Curitiba publicava matéria informando que,
pela primeira vez na história da ACP, uma mulher exerceria a presidência da entidade, pois no dia

16
Fonte: Jornal Folha do Comércio ACP. 2ª quinzena mar. 1992. Encarte FACIP p. 3. Apud COUTO (1998, p. 48).
17
Fonte: Maria Christina, desafio de presidir ACP. Gazeta do Povo (GP), Curitiba, 31 maio 1992.
405

1º de maio o conselho deliberativo homologaria a única chapa inscrita para disputar a diretoria.
Com mandato de dois anos previsto para iniciar em agosto, Maria Christina de Andrade Vieira,
então 2ª vice-presidente, pretendia “quebrar um jejum de um século onde (sic) as mulheres
estiveram fora ou ocupando papéis secundários dentro da associação”. Segundo a reportagem,
Maria havia declarado que:
193
Minha motivação para aceitar disputar a presidência foi acontecendo aos poucos, de acordo
com o fortalecimento do compromisso que estabeleci com as propostas renovadoras do
presidente Werner Schrappe já na época da sua campanha. Talvez dois anos atrás eu nem
tivesse idéia da responsabilidade que estava assumindo, mas quando mais defendia o trabalho
da associação mais caminhava rumo a um estreitamento neste compromisso. A indicação para a
presidência foi quase natural neste processo. (Gazeta do Povo, 31 maio 1992).

1061
Sua meta à frente da ACP era manter o trabalho que vinha sendo realizado pelo então
presidente Schrappe e do presidente anterior, Carlos Alberto Pereira de Oliveira:
194
Quero priorizar a melhoria dos serviços prestados pela ACP aos associados e ampliar o nosso
quadro de sócios. Quando o Werner assumiu a ACP tinha apenas 2.300 associados, hoje são
quase 4 mil, mas queremos crescer e nos fortificar muito mais. (Gazeta do Povo, 31 maio
1992).

1062
Maria Christina estava na ACP desde 1989 quando ingressou na Associação de Mulheres de
Negócios, e em 1990 integrou a chapa encabeçada por Schrappe:
195
Eu estou há bastante tempo atuando dentro do meio empresarial. Já tive uma loja, uma galeria
de arte e estou há 5 anos e meio no Bamerindus, além de administrar pessoalmente minhas
fazendas. Por isso, não vejo dificuldade em assumir a presidência da ACP. (Gazeta do Povo, 31
maio 1992).

1063
Na época, Christina declarou que acreditava que “a herança de força e de responsabilidade,
‘que herdei de meu pai’, seja maior de que todos os empecilhos que possam aparecer”. Seu maior
desafio seria o de tentar juntar forças em torno de objetivos comuns. Para tanto, Marina Taniguchi,
a primeira mulher a integrar a diretoria da ACP esposa de Cássio Taniguchi18, sócio e amigo de
Jaime Lerner e ex-presidente do Ippuc, declarava seu apoio, pois Christina era “[...] uma empresária
muito competente”. A chegada de Maria Christina ao posto de comando da ACP, fazia parte da
estratégia de um grupo de empresários paranaenses reunidos em torno de algumas propostas em
comum, buscando potencializar a articulação de seus interesses conhecidos como GEC – Grupo de
Empresários de Curitiba.
1064
A indicação de Maria Christina para a presidência da ACP recebeu algumas críticas, pois
“segundo uma publicação no suplemento paranaense da revista ‘Veja” (COUTO, 1998, p. 49)19, sua
candidatura havia sido imposta pelo irmão, o senador José Eduardo. O desmentido veio através do
jornal publicado pela Folha do Comércio ACP, com manifestações de apoio de empresários sócios
da ACP que “[...] davam a ela total credibilidade devido a sua competência em administrar, e,
portanto, seria ela legítima sucessora de Schrappe [...]”, bem como “[...] Maria Cristina era a 2ª

18
Cássio foi eleito prefeito de Curitiba em 1996, com o apoio de Jaime Lerner.
406

vice-presidente estando à sua frente Karlos Rischbieter que, segundo a 'Folha do Comércio',
recusou-se a disputar a eleição [...]”. (COUTO, 1998, p. 49). É importante observar que, segundo
Braga (2002h)20, Rischbieter foi membro dos Conselhos de Administração da Refripar – empresa
controlada pela Umuarama Participações - e do Banco Bamerindus.
1065
Christina deu continuidade ao trabalho iniciado por Schrappe, mas com uma maior ênfase
para as políticas de integração entre o empresariado, os trabalhadores e a sociedade em geral. Na
sua gestão, Maria lançou outra campanha, o “Luto pelo Brasil” que conservou as mesmas
premissas da primeira, levando à Brasília um manifesto, que reivindicava políticas de
desenvolvimento sem a interferência estatal. Ao ser eleita para a ACP, Christina clamava pelo “[...]
‘renascimento’ do Brasil e da sociedade paranaense através do combate à miséria e ao desemprego.
Conclamava as entidades de classe para que todas questionassem tais problemas e enfim
pressionassem diretamente o governo, estadual e federal”. (COUTO, 1998, p. 10). Nessa época,
faziam parte do Conselho Superior da ACP os seguintes empresários: Atilano de Oms Sobrinho,
Jayme Canet Júnior, João Elísio Ferraz de Campos, José Carlos Gomes de Carvalho, Karlos
Rischbieter, Keizo Assahida, Renato Alcides Trombini, Saul Raiz e Sérgio Marcos Prosdócimo.
1066
Em janeiro de 1993, foi lançada a Carta ACP que tinha como propósito expor os objetivos
da nova administração, suas expectativas e o modo como seriam realizadas as articulações da classe
empresarial, bem como a posição da instituição em relação à realidade brasileira. No entender dessa
administração, o problema brasileiro era de vontade política, e exigia
196
[...] definições firmes e inteligentes sobre os caminhos a serem adotados na busca do
fortalecimento econômico e desenvolvimento sócio-cultural. [...] Os recursos naturais e a mão
de obra são mal aproveitados. Impera o individualismo e a desorganização. Onde o âmbito
associativo tem se mostrado forte, há sempre um motivo mais corporativo do que solidário. [...]
O Estado brasileiro tem servido ao empreguismo e à ineficácia na realização de suas funções, e
tem se submetido a pressões para a liberação de recursos fora das prioridades técnicas
recomendáveis. O enfrentamento a tais pressões é necessário em benefício dos interesses
maiores do país. [...] Fundamental e prioritário é o exercício democrático mediante
representação que se realiza através de organismos coletivos. Conselhos e parlamentos? A
forma de representação tem provocado inúmeras discussões. Afinal, o que deve ser
representado: unidades federadas ou regiões, parcelas da população, ou as idéias e o povo como
um todo? [...] (CARTA ACP apud COUTO, 1998, p. 51-52)21.

1067
Como soluções para esses problemas, a ACP apresentava as seguintes propostas:
197
a) a manutenção de uma política de livre mercado, de modernidade e de abertura e integração
ao mercado mundial, e de estímulo à livre iniciativa, à competitividade e à busca de novas
tecnologias, com o que alcançaremos maiores índices de produtividade;
198
b) que o Estado reduza drasticamente a sua interferência normativa no campo econômico,
restringindo-se aos setores monopolizados ou cartelizados, e ao controle de moeda, do
orçamento público, do câmbio e da política externa [...]

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
19
Fonte: Couto (1998, p. 49).
20
Fonte: BRAGA, S. S. Verbete: RISCHBIETER, Carlos. In: Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós-1930. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, CPDOC, 2002h. CD-Rom..
21
Fonte: Folha do Comércio ACP. 1ª e 2ª quinzena jan. 1993, p. 6-7 apud Couto (1998, p. 51-52).
407

199
c) que a participação direta de investimentos governamentais somente ocorra em setores
estratégicos do desenvolvimento econômico ou social, onde a iniciativa privada não tenha, ou
não possa direcionar a sua ação produtiva, ou ainda não haja estabelecido a competição;
200
d) colocar fim à recessão, com a baixa dos juros e um eficaz controle do processo inflacionário,
o que ocorrerá com a diminuição de demanda oficial por recursos financeiros [...] devendo o
Governo valer-se, também, de uma política mais agressiva de privatização [...];
201
A governabilidade passa por tais providências, possibilitando dessa forma a retomada dos
investimentos que oferecem à sociedade, o emprego e a renda; ao Estado [cabe] [...] realizar a
segurança e a justiça, normatizar as relações conflituosas e suprir carências sociais,
especialmente nas áreas de saúde, moradia e ensino. (CARTA ACP apud COUTO, 1998, p.
52).

1068
Grande parte dessa agenda estava presente nos discursos de José Eduardo, no Senado, bem
como muitas propostas articuladas pelo Instituto Liberal do Paraná. Toda esta movimentação tinha
como propósito influenciar tanto o plebiscito sobre a troca do regime de governo como as eleições
e, principalmente, a Revisão Constitucional.

6.3.2 PESSOAS QUE INTEGRARAM A REDE POLÍTICA BAMERINDUS

1069
As conexões entre as instituições políticas e o Bamerindus ocorriam através de vários
personagens que atuavam tanto no plano nacional como no local. Nesta parte do trabalho vamos
identificar os principais atores da rede, bem como apresentamos uma breve biografia de cada um
deles, buscando focalizar os vínculos diretos e indiretos com o Bamerindus e a importância
histórica as ações no campo político e social. Inicialmente, identificamos os personagens que
atuaram no plano nacional – Mario Andreazza, Affonso Camargo e José Eduardo; na seqüência
abordarmos as conexões da rede no âmbito do Paraná através de personagens como Jayme Canet
Jr., Brazílio de Araújo Netto, Ney Braga, José Richa, João Elísio Ferraz de Campos, Belmiro
Valverde Jobim Castor, Álvaro Dias, José Carlos Gomes de Carvalho, Jaime Lerner, José C.
Martinez e Basílio Villani. Também apresentamos uma breve análise dos principais adversários
políticos, buscando identificar as principais conexões antagônicas (negativas) da rede, fundamentais
para a definição da identidade da RPB.

6.3.2.1 CONEXÕES DA REDE COM A POLÍTICA NACIONAL

6.3.2.1.1 MÁRIO DAVI ANDREAZZA

1070
Andreazza era uma das conexões do Bamerindus com a política nacional, com o regime
militar e com a comunidade de informação. Natural de Caxias do Sul (RS), nasceu em 1918 e, aos
vinte anos, sentou praça no Exército, matriculando-se na Escola Militar do Realengo, no Rio de
Janeiro, tendo chegado a tenente-coronel em dezembro de 1960.
408

1071
Segundo DHBB (2002c)22, Mário era ligado Gráfico 6-16: Rede Política Bamerindus: Mario
Andreazza (1980-1985)
à comunidade de informação desde 1961, quando
trabalhou junto com os coronéis Valter Pires e João
Batista Figueiredo, sob o comando do então coronel
Golbery do Couto e Silva, no Serviço Federal de
Informações e Contra-Informações, embrião do
futuro Serviço Nacional de Informações (SNI). No
governo Castelo Branco, Andreazza foi nomeado
oficial-de-gabinete do então ministro da Guerra,
general Costa e Silva que, ao assumir a Presidência,
o nomeou em 1967 para o Ministério dos
Transportes. No governo Médici, Andreazza
continuou na pasta dos Transportes tendo
inaugurado em janeiro de 1974 a rodovia
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.
Transamazônica.
1072
No governo Geisel, deixou o Ministério e assumiu a presidência da CEC – Equipamentos
Marítimos e Industriais, sediada em Niterói. Como já vimos anteriormente, o sócio-controlador da
CEC era o Grupo CCN, que também controlava a Cia Imobiliária Nossa Senhora da Penha junto
com o Grupo Atlântica Boavista. Na época, o CCN era sócio da Bamerindus S.A. Financiamento,
Crédito e Investimentos, Bamerindus S.A., Rio Cia. de Crédito Imobiliário, São Paulo Cia. de
Crédito Imobiliário, Bamerindus Cia. de Seguros, Banco Bamerindus do Brasil S.A., Banco
Bamerindus de Investimento S.A. e a Paraná Cia. de Seguros Germano-Brasileira. No período de
1974 a 1978, Andreazza também assumiu a vice-presidência da Companhia de Seguros Atlântica
Boavista, em São Paulo que, desde 1972, estava associada ao Banco Brasileiro de Descontos S.A.
e, é interessante observar que, segundo (KUNHAVALIK , 1999, p. 132), no período entre 1968 e
1969, Ney Braga também ocupou o cargo de vice-presidente da Cia Atlântica Boavista.
1073
Em 1977, Andreazza foi um dos principais articuladores da candidatura de Figueiredo,
então chefe do SNI, junto a empresários e autoridades dos governos dos quais havia participado. Ao
assumir o governo em março de 1979, Figueiredo nomeou Andreazza pra o Ministério do Interior
que, na época, controlava a Sudene, Sudam e o BNH; ainda nesse ano filiou-se ao PDS. Em maio
de 1981, iniciadas as articulações do governo para assegurar a vitória do PDS nas eleições de 1982,
desenvolveu um programa de aplicação de aproximadamente sete bilhões de cruzeiros em dois mil
municípios, através de projetos de pequeno porte desenvolvidos pelo Conselho Nacional de
Desenvolvimento Urbano (CNDU) e pelo Departamento Nacional de Obras contra as Secas
(Dnocs).

22
Fonte: DHBB: Verbete: ANDREAZZA, Mário. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós 1930. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002c. Cd-rom.
409

1074
Em fevereiro de 1983, admitiu ser presidenciável, mas condicionava o lançamento de sua
candidatura ao consentimento do presidente Figueiredo, que ainda tinha 1/3 de mandato a cumprir.
Na mesma época, ele e o ministro Delfim Neto foram envolvidos em vários escândalos econômicos
como o Montepio Capemi, Coroa Brastel e a Delfin Crédito Imobiliário, todos envolvendo
operações com o BNH; chegou a depor na Câmara sobre a intervenção federal nas empresas do
Grupo Delfin. Também nessa época, segundo depoimento de ex-funcionários do Banco Central,
então lotados em Curitiba, o escândalo da Sunamam atingiu Andreazza e o Bamerindus através do
Grupo CCN, o que de certa forma teria comprometido bastante as pretensões políticas de
Andreazza. Como vimos no capítulo anterior, na época, tanto o CCN como o Bamerindus estavam
engajados na sua candidatura a presidente da República. A CPI do Senado realizada em 1985
demonstrou que o setor de estaleiros navais estava endividado por conta do gigantismo das
operações e de gestões financeiras “temerárias”, bem como a Sunamam havia avalizado estaleiros
em operações de desconto de duplicatas na rede bancária para que continuassem construindo os
navios encomendados. Com a crise, em 1983, a Sunamam foi extinta e, em 1984, o governo decidiu
não reconhecer os avais da Sunamam e determinou a apuração das irregularidades. Na época, o
CCN controlava o Estaleiro Mauá que, por ser o maior do Brasil, havia acumulou a maior dívida do
setor23.
1075
Em setembro, Andreazza lançou oficialmente sua candidatura à presidência da República à
revelia do presidente Figueiredo, pois avaliava que estava sendo atropelado por Paulo Maluf e
Aureliano Chaves. Em 1984, enquanto as multidões reivindicavam o restabelecimento das eleições
diretas para Presidente, sua candidatura se desgastava. O senador José Sarney, então presidente
nacional do PDS, reconhecia que a opinião pública não aceitava o nome de Mário Andreazza nem o
de Paulo Maluf. Em julho, ele anunciou que poderia considerar a possibilidade de retirar a sua
candidatura se Maluf também o fizesse em favor de Aureliano que, na sua opinião, tinha maiores
condições de unir o PDS. Em conseqüência do silêncio do seu oponente, retirou sua proposta, ao
mesmo tempo em que o partido governista caminhava em progressiva desagregação. Em 11 de
agosto, na convenção do PDS, perdeu para Paulo Maluf a indicação para disputar a Presidência.
Com o término do governo Figueiredo, Andreazza deixou o Ministério e assumiu uma diretoria na
Companhia Bradesco de Seguros.

6.3.2.1.2 AFFONSO CAMARGO

1076
Affonso Alves de Camargo Netto nasceu em Curitiba em 1929, numa das famílias mais
tradicionais do Estado. Em 1968, em sociedade com Jayme Canet Júnior, criou a empresa
Habitação S.A. que chegou a ser a maior construtora de prédios do Estado. Affonso também era
sócio-proprietário junto com João Elísio Ferraz de Campos de duas emissoras de rádio em Curitiba,

23
Ver detalhes no Capítulo IV.
410

a Caiobá e a Ouro Verde.


1077
Segundo Braga (2002b)24, no início dos Gráfico 6-17: Rede Política Bamerindus: Affonso Camargo
(1981 a 1994)
anos 1970, Affonso saiu do MDB e entrou para
a Arena, tendo sido nomeado presidente do
Banestado em 1973, no governo de Emílio
Gomes cujo vice era Jayme Canet; nessa época,
registros o apontam como conselheiro do
Bamerindus. Em 1974, substituiu Maurício
Schulman como secretário de Finanças do
Estado do Paraná, quando este saiu para assumir
a Presidência do BNH por indicação de Ney
Braga. Com a posse do novo governador, Jayme
Canet, em 1975, Affonso continuou ocupando
por um ano a presidência do Banestado; em
setembro de 1978, por indicação de Ney Braga,
foi nomeado senador “biônico” pela Arena.
Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.
1078
Em 1979 assumiu o cargo no Senado e formou o primeiro grupo dissidente da Arena, o
Independente. A partir desse ano, Camargo foi um dos principais articuladores do PP, tendo sido
escolhido vice-presidente da Comissão Executiva Nacional do novo partido; mais tarde assumiu a
vice-presidência e a vice-liderança do PP no Senado. Em 1982 Affonso foi um dos principais
articuladores da fusão PP / PMDB nacional, o que foi decisivo para a vitória de José Richa nas
eleições para governador do Paraná, cujo vice era seu sócio João Elísio:
202
O sucesso da fusão PP / PMDB no estado, considerado por muitos políticos paranaenses como
o maior triunfo político da vida de Camargo, e a vitória da agremiação oposicionista nas
eleições de novembro de 1982, abriram espaço para sua ascensão dentro do partido. Nessa
época, consolidou sua reputação de hábil articulador político e estreitou seus laços com o então
senador Tancredo Neves. (BRAGA, 2002b).

1079
Outra vitória de Camargo aconteceu em dezembro de 1983, na convenção do PMDB,
quando venceu Francisco Pinto, apoiado pela ala esquerda do partido; foi eleito secretário-geral
apesar dos protestos pelo fato de ser ele senador “biônico” e ex-arenista. Sua vitória fortaleceu os
chamados setores moderados da oposição liderados por Tancredo Neves, em detrimento dos setores
encabeçados por Ulisses Guimarães. Camargo pertenceu ao grupo Unidade que apoiava Tancredo
Neves como candidato à presidência da República, como também apoiava a negociação de garantia
da transição democrática em caso de derrota da campanha pelas “Diretas Já”. Votou a favor da
emenda Dante de Oliveira, em abril de 1984, e integrou a corrente do PMDB que defendia a
participação do partido no Colégio Eleitoral. Trabalhou muito no Congresso para abrir canais de

24
Fonte: BRAGA, S. S. Verbete: CAMARGO, Afonso. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós 1930. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002b. Cd-rom.
411

diálogo com o grupo “pró-diretas” do PDS. Em 1984, foi chefe de gabinete e um dos
coordenadores da campanha presidencial de Tancredo Neves, tendo sido um dos mais importantes
articuladores do apoio do general Leônidas Pires de Gonçalves e Ernesto Geisel à sua candidatura.
1080
Apesar de ter sido cotado para assumir a chefia do Gabinete Civil de Tancredo Neves,
Affonso foi nomeado por Sarney para o Ministério dos Transportes, no qual lutou pela
implementação do “Vale-Transporte”.25 Deixou o Ministério em fevereiro de 1986, reassumindo
então seu mandato de senador, apoiando o governo Sarney contra a ala mais radical do partido. Em
maio foi substituído na Secretaria Geral da Executiva Nacional do PMDB pelo deputado federal
Euclides Scalco, também do Paraná, bem como em novembro, foi eleito pela primeira vez para um
cargo público, como senador pelo PMDB-PR, e logo em seguida assumiu a terceira-vice-
presidência do PMDB, permanecendo na função até o final do processo constituinte. Segundo
Nahass (25 abr. 2002), enquanto esteve no ministério de Sarney, Camargo queria tornar obrigatória
a distribuição do vale-transporte pelas empresas e, em 1986, elegeu-se senador com a promessa de
colocar a proposta em prática, conseguindo incluir o benefício até na Constituição de 1988.
1081
Na Assembléia Nacional Constituinte, Affonso foi um dos principais críticos do governo
Sarney dentro do PMDB, principalmente contra a chamada “rodovia Norte-Sul”. Foi membro
titular da Subcomissão de Tributos, Participação e Distribuição das Receitas, da Comissão do
Sistema Tributário, Orçamento e Finanças e suplente da Subcomissão da Questão Urbana e
Transporte, da Comissão da Ordem Econômica. Nesta posição “defendeu o limite de 12% ao ano
para os juros reais”, e combateu a proposta de estatização do sistema financeiro. Votou a favor do
limite de 12% ao ano para os juros reais, da proteção ao trabalho contra a despedida sem justa
causa, da remuneração 50% superior para o trabalho extra, da jornada semanal de 40 horas, do
turno ininterrupto de seis horas, do aviso prévio proporcional, da pluralidade sindical, do
presidencialismo, da nacionalização do subsolo; fez pronunciamentos contra a limitação do direito
de propriedade privada, “contra a estatização do sistema financeiro” e contra o mandato de cinco
anos para Sarney. O texto final aprovado e promulgado da Constituição acabou deixando o tema do
SFN, no artigo 192, para ser regulado por lei complementar.
1082
Mais tarde, Affonso lançou sua candidatura à Presidência da República pelo PMDB,
apresentando-se então como líder da “ala esquerda” do partido e ligando-se ao Movimento de
Unidade Progressista (MUP), críticos ao governo Sarney e à ampliação do seu mandato
presidencial. Ainda em 1987, Camargo desligou-se do PMDB e filiou-se ao PTB assumindo a
liderança do partido no Senado. Em julho de 1989, então no cargo de presidente nacional interino
do PTB, Affonso Camargo foi escolhido candidato à Presidência da República na convenção do
partido, apesar da oposição de setores do partido que apoiavam a candidatura de Jânio Quadros,
então prefeito de São Paulo. Em 15 de novembro de 1989, conseguiu obter apenas 379.284 votos

25
Um tipo de subsídio direto para o transporte dos trabalhadores urbanos.
412

numa campanha na qual seu principal cabo eleitoral era o comediante Tião Macalé – que na época
se intitulava como “o Nojento” – e tinha por tema o vale-transporte. No segundo turno, apoiou
Fernando Collor:
203
Camargo se empolgou e achou que o vale-transporte o levaria à Presidência da República no
ano seguinte. Candidato pelo PTB, obteve apenas 0,6% dos votos. “Pelo menos ganhei do
Enéas”, brinca. Mas a marca do ministro vale-transporte ficou. Camargo credita à obra metade
dos votos que recebeu nas eleições para deputado federal em 1994 e 1998. (NAHASS, 25 abr.
2002)26.

1083
Affonso exerceu o mandato de senador até ser nomeado, em abril de 1992, Ministro dos
Transportes e Comunicações do governo Collor. Durante a crise do chamado caso “PC Farias”,
Affonso Camargo atendia aos políticos e deu ordem para que todos os pedidos fossem anotados:
204
Logo depois, criticou a estratégia que o governo pretendia usar para impedir a aprovação da
abertura do processo de impeachment contra o presidente Collor. Afonso Camargo declarou
que foi escolhido para o ministério por uma composição partidária, não por questões pessoais, e
negou ter usado verbas da pasta para conseguir votos para o governo no Congresso. Disse ainda
que permaneceria no governo até a votação do pedido, e logo depois, junto com os outros
ministros, entregaria o cargo. (BRAGA, 2002b).

1084
No Senado, assumiu o cargo de Relator do projeto de Lei dos Portos, em substituição a José
Eduardo, quando este assumiu o MICT. Ao voltar ao Senado em 1993, assumiu o cargo de membro
titular das comissões de Infra-Estrutura, de Assuntos Sociais e de Assuntos Econômicos, e suplente
das comissões de Educação e de Constituição, Justiça e Cidadania.
1085
Ao ser definido que o candidato a senador pelo PTB seria José Carlos de Carvalho, em abril
de 1993 Camargo saiu do PTB para acompanhar Jayme Canet na criação do Partido Progressista
Reformador (PPR) através da fusão do PDS com o PDC. No Paraná as negociações foram
comandadas por Jayme Canet (PDC) que pretendia colocar Affonso Camargo (PR) na comissão
executiva nacional27. Entre os objetivos da nova agremiação estava a formação de possíveis
coligações com o PFL e o PTB para apoiar a candidatura de Paulo Maluf à Presidência da
República, em 1994. Em outubro de 1994 foi eleito deputado federal pelo PPR.

6.3.2.1.3 JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA

1086
Com a eleição de José Eduardo senador em 1990, a rede política Bamerindus passou por
transformações, como a redução significativa do poder de Jayme Canet e Affonso Camargo e o
crescimento político de José Carlos Gomes de Carvalho, José Carlos Martinez e Jaime Lerner.
Nesse período, ocorreu o crescimento do PTB no Paraná e basicamente o poder passou a ser mais
concentrado em José Eduardo, ao mesmo tempo em que aumentavam as dificuldades do grupo com
o então governador Roberto Requião. Pela primeira vez desde 1956, quando Lupion assumiu o

26
Fonte: NAHASS, D. Lições do clientelismo eleitoral. Brasília: Correio Braziliense, 25 abr. 2002. Disponível em:
<http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20020425/pri_tem_250402_114.htm>. Acesso em: 20 out. 2004.
27
Fonte: CARDOSO, T. Maluf cria o PPR com a fusão de PDS E PDC. AE, Aedata, Brasília, 04 abr. 1993.
413

governo do Estado, o Bamerindus tinha um adversário no Palácio do Iguaçu.


1087
Oficialmente José Eduardo28 começou a Gráfico 6-18: Rede Política Bamerindus José Eduardo de
Andrade Vieira (1990-1994)
trabalhar no banco com 19 anos, em janeiro de
1957, passando por diversas agências e
diretorias. Após a morte do pai em 1974,
assumiu a Vice-Presidência do grupo, sendo em
1978 substituído no cargo pelo seu irmão
Cláudio Enoch, permanecendo apenas no
Conselho Administrativo. Em 1980 foi para o
exterior preparar o lançamento das operações do
banco no mercado internacional. Com a morte
dos irmãos, assumiu a Presidência do grupo no
final de julho de 1981, apesar da resistência de
alguns familiares e funcionários. Algumas
evidências apontam que seu poder sobre o grupo Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.

somente se consolidou após a grave crise de liquidez que o banco enfrentou em 1985, e boa parte
das operações que comprometiam a estrutura de investimentos da instituição foi realizada ainda nas
gestões anteriores. Também é importante destacar que a crise do banco tinha relação com as
diversas intervenções efetuadas pelo Bacen em outras instituições financeiras cujos escândalos
atingiram a candidatura de Mário Andreazza. Nos anos seguintes, JE dedicou a maior parte do seu
tempo na consolidação do seu poder sobre a organização e na expansão das atividades do grupo.
Sob sua gestão, o banco alcançou a posição de terceiro maior banco e sexto maior grupo econômico
brasileiro, todas no setor privado.
1088
Apesar de o Bamerindus promover e manter a rede política, as atividades diretas neste
campo estavam sob o comando de Jayme Canet e Affonso Camargo, tendo JE concentrado sua
atuação nos bastidores ou junto às associações de classe ou nas atividades públicas promovidas por
empresários. Seu envolvimento público com a política começou na campanha presidencial de 1989
quando, segundo a AE (15 out. 1992)29, foi um dos primeiros a apoiar e financiar a candidatura de
Fernando Collor à Presidência da República; desde 1987 a rede política Bamerindus estava
concentrando seus investimentos no PTB, legenda que passou a abrigar a maioria dos seus
integrantes.
1089
Segundo Pedro Washington de Almeida (1999)30, logo após patrocinar a campanha de
Enéas Faria em 1988, JE começou a alimentar pretensões políticas. A idéia inicial era disputar o

28
Grande parte das informações biográficas de José Eduardo foram extraídas do seu currículo pessoal, de Braga & Aragão
(2002), e da biografia dos senadores disponível no Senado Federal, onde no item profissão, ele aparece como Empresário e
“Bancário”. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/senadores/senadores_biografia.asp?codparl=85>. Acesso em: 29
jun. 2005.
29
Fonte: Eduardo J. Vieira chega ao governo depois de financiar campanha Collor. Curitiba: AE, 15 out. 1992.
414

cargo de governador, e decidiu-se então por começar a divulgar seu nome e imagem. Para
comandar essa tarefa, foi designado Sérgio Sibel Soares Reis, que comandava o setor de marketing
e propaganda do Bamerindus e onde trabalhava há 25 anos. Sob o comando de Reis foi
desenvolvida e lançada uma campanha publicitária que promovia as cidades paranaenses e
vinculava a imagem do banco com um chapéu texano. Também o nome de José Eduardo31 passou a
ser promovido com mais intensidade através de notas e entrevistas em diversos jornais e revistas,
explorando a imagem do banco como empresa inovadora e identificada com os valores regionais
(como a campanha “Bicho do Paraná”) e JE como uma pessoa polêmica e corajosa, que não tinha
medo de dizer a verdade.
1090
Em 1990 JE foi lançado candidato do PTB ao Senado pelo Paraná, tendo sido favorecido
pela desistência de última hora de Álvaro Dias, então governador e candidato pelo PMDB. Na
campanha utilizou o nome de “Zé do Chapéu” que remetia à imagem de homem simples do interior
– “o caipira” e o chapéu texano. Entre seus adversários de campanha estavam o ex-governador e
político experiente, Paulo Pimentel, que na época controlava vários jornais e uma rede de televisão;
também concorreu com o jovem estreante na política, Tony Garcia. Sua campanha foi caracterizada
pelas várias denúncias dos adversários sobre abuso do poder econômico, utilização da propaganda
do Bamerindus para promover seu nome, um suposto atentado violento contra Tony Garcia,
violência contra posseiros supostamente promovidas na Fazenda Bamerindus, no Pará, em 1987 e,
venda de terras indígenas. Enquanto a propaganda o promovia como trabalhador, seus adversários
procuravam explorar a sua condição de banqueiro. Tendo iniciado a campanha com 5% das
intenções de votos32, no dia 03 de outubro de 1.990 venceu a disputa com 1.036.787 votos, numa
eleição caracterizada por 47,7% de votos brancos ou nulos e ausências, e o uso intensivo de
sofisticadas técnicas de propaganda, denúncias e informações contra candidatos que até hoje não
foram comprovadas. No segundo turno da eleição para governador, José Eduardo recusou apoiar o
candidato Roberto Requião que, depois de eleito, passou a combater publicamente o Bamerindus.
1091
José Eduardo assumiu em 1º de fevereiro de 1991 o mandato no Senado Federal para a 49ª
e 50ª Legislaturas, com o término previsto para 31 de janeiro de 1999. No Senado, atuou como
membro titular nas comissões de Assuntos Econômicos, de Constituição, Justiça e Cidadania, e de
Serviços de Infra-Estrutura bem como, foi suplente nas comissões de Assuntos Sociais e de
Educação, e da Comissão Mista (Câmara e Senado) de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização;
também foi relator do projeto de modernização dos portos.
1092
Participou das articulações que levaram o presidente Collor a fazer a reforma ministerial em
1992, quando Reinhold Stephanes (PFL-PR) foi indicado para Ministério do Trabalho e da
Previdência Social, em janeiro de 1993, e Affonso Camargo (PTB-PR) para o Ministério dos

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
30
Jornalista e assessor de imprensa da campanha de José Eduardo em 1990.
31
Fonte: Correio de Noticias, [Curitiba], 26 set. 1988.
32
Fonte: Gazeta do Povo, 7 out. 1991 apud Panke (1999, p. 4).
415

Transportes e Comunicações em abril. No Paraná, José Eduardo e Jaime Lerner comandaram a


formação da coligação do PTB, PDT e PTR para a chapa Rafael Greca (PDT) e José Carlos Gomes
de Carvalho (PTB), nas eleições municipais de Curitiba. Maurício Fruet era o candidato do PMDB
apoiado pelo governador Requião e, Tony Garcia concorria pelo PRN com o apoio do presidente
Collor e José Carlos Martinez. Ao elegerem Greca ainda no primeiro turno, tanto José Eduardo
como Jaime Lerner aumentaram seus cacifes políticos e, na época, Lerner33 fora apontado como
favorito à disputa pelo governo do Estado em 1994.
1093
Entre os vários projetos de leis que JE apresentou, destacamos o Projeto de Lei do Senado
nº 14, de 12 de março de 1993, que previa basicamente restaurar o sistema formado pelos antigos
institutos de aposentadorias que vigorou entre os anos 1940 e parte dos anos 1960. José Eduardo
também participou das articulações que buscavam evitar a instalação da CPI para investigar o caso
“PC Farias”, tendo o PTB apoiado o governo durante os trabalhos da comissão. Mais tarde,
participou das articulações que aceleraram o término do governo Collor, tendo colocado o avião do
Bamerindus para transportar congressistas que pretendiam votar a favor do impedimento.
1094
A posse do novo presidente da República e a vitória nas urnas garantiram a JE a indicação
para ser o titular do Ministério da Indústria, Comércio e Turismo (MICT), cargo no qual tomou
posse em 19 de outubro de 1992, quando a Medida Provisória (MPV) nº 309 recriou o Ministério34.
Logo após sua indicação, JE35 criticou publicamente a decisão do governo de criar o Imposto sobre
Transações Financeiras (ITF)36 e defendeu as empresas que ingressaram na justiça contra o
recolhimento do Finsocial37, considerado na época como uma das causas da queda de arrecadação
tributária do governo, tendo sido o Bamerindus uma das primeiras empresas a apelar judicialmente
contra essa cobrança. Na época, Alcides Tápias, então presidente da Febraban38, declarou que a
opinião da entidade também era contrária ao imposto, e que os bancos apoiariam a criação do ITF,

33
Fonte: EDUARDO, J. Popularidade foi decisiva para eleição de Lerner em Curitiba. AE, Aedata, Curitiba, 04 out. 1992.
Disponível em: <http://www.estadao.com.br/ext/diariodopassado/20021004/000230429.htm>. Acesso em: 04 ago. 2005.
34
A Lei nº 8.028, de 12 abr. 1990, art. 27, item V. havia extinguido o Ministério do Desenvolvimento da Indústria e do
Comércio. Somente em 19 de novembro foi sancionada a Lei nº 8.490, que tratava da organização da Presidência da
República e dos Ministérios, e que criou no seu artigo 22 o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo (MICT),
tendo sob sua competência várias áreas, entre elas: (1) política de desenvolvimento da indústria, do comércio e dos serviços;
(2) comércio exterior e (3) política relativa ao café, açúcar e álcool.
35
Fonte: NASTARI J. Novo ministro ataca o próprio governo e se coloca contra o ITF. AE, Aedata, Brasília, 15 out. 1992.
36
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 17 de 26 jun. 1991, apresentada pelo deputado Flávio Gurgel Rocha (PRN-
RN), instituía o Imposto sobre Transações Financeiras (ITF), apesar de aprovada pela Comissão de Justiça, acabou não
passando no Congresso. Mais tarde foi aprovado o Imposto sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e
Direitos de Natureza Financeira (IPMF), cuja cobrança foi autorizada pela Emenda Constitucional nº 3, de 17 mar. 1993 e
Lei Complementar nº 77, de 13 jul. 1993. A arrecadação iniciou em 26 ago. 1993, e através de liminar na Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADIN) nº 939-7/DF - houve a suspensão da cobrança entre 15 set. a 31 de dez. 1993, retornando a
partir de 1º jan. 1994 e vigorando até 31 de dezembro do mesmo ano. Fonte: Câmara dos Deputados (2003) e Senado
Federal (2002).
37
A contribuição ao Fundo de Investimento Social (Finsocial) foi criada pelo Decreto-Lei nº 1.940, de 25 de maio de 1982 e, a
partir de 1992 foi substituída pela Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), que entre o período de
Março de 1989 a Abril de 1992 teve, de acordo com entendimento definitivo do STF, sua alíquota majorada de forma
inconstitucional de 0,5%, chegando a 2%, o que tornou possível aos contribuintes que recolheram tal tributo recuperar todos
os valores pagos acima de 0,5% devidamente atualizados, inclusive por meio de compensação em pagamentos futuros da
Cofins.
38
Fonte: Bancos são contra a criação do ITF. AE, Aedata, Brasília 15 out. 1992.
416

desde que o tributo substituísse outros, como o Finsocial39, o PIS / Pasep40 ou a CSLL41. As
declarações de JE tiveram ampla repercussão na imprensa, levando o presidente Itamar Franco a
declarar que “[...] os ministros têm ampla liberdade de discutir as medidas a serem adotadas
internamente, e a mesma liberdade para manifestar discordâncias externamente, não participando
do governo”. (O Globo, 18 out. 1992)42. Em seguida, JE contemporizou suas declarações e assumiu
o cargo.
1095
Com a criação do PPR em 4 de abril de 1993, através da fusão do PDS com o PDC, a
candidatura de Paulo Maluf à Presidência da República passou a receber no Paraná apoio formal de
Jayme Canet e Affonso Camargo. Na época, integrantes da nova agremiação declaravam que o
partido buscava também o apoio do PFL e do PTB em torno de Maluf. Em 7 de abril de 1993, o
presidente nacional do PTB, Paiva Muniz43, lançou o nome de José Eduardo como o candidato
natural do partido à Presidência da República e declarou que o partido não descartava coligações
em torno de alternativas, como a candidatura do senador José Sarney (PMDB) ou Jaime Lerner
(PDT), mas afastava a possibilidade de apoiar Paulo Maluf.
1096
Também em abril de 1993, o Bamerindus44 participou do grupo de investidores que
adquiriu, no leilão de privatização, o controle acionário da CSN e, em maio do mesmo ano,
Maurício Schulman foi eleito presidente do Conselho de Administração da CSN, com a ajuda do
grupo político liderado por FHC (ver capítulo IV). Ainda nesse mês, José Eduardo foi o pivô de
uma crise que envolveu o então Ministro da Fazenda Eliseu Resende e a Construtora Norberto
Odebrecht45. José Eduardo, como Ministro, recusou-se a aprovar um empréstimo sob a alegação que
sua experiência de banqueiro não recomendava aprovar um novo crédito a quem já era devedor
inadimplente. Mais tarde, JE procurou Eliseu Resende para dizer que mudara de idéia e garantia
aprovação ao empréstimo. Mas era tarde demais, logo em seguida, o presidente Itamar Franco
suspendeu a operação. Sob pressão, no dia 19 de maio de 1993, Eliseu Resende deixou o Ministério
da Fazenda46. José Eduardo declarou ter sido convidado pelo presidente para assumir a pasta47, mas
recusou, pois na sua avaliação não teria suporte político suficiente para manter-se no cargo, tendo

39
Finsocial: Fundo de Investimento Social foi instituído pelo Decreto-Lei nº 1.940, de 25 de maio de 1982, Destina a custear
investimentos de caráter assistencial em alimentação, habitação popular, saúde, educação, justiça e amparo ao pequeno
agricultor.
40
Contribuições para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PIS / Pasep).
41
CSLL: Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, criada através da MPV 22, de 06 dez. 1988, e convertida na Lei nº 7.689
de 15 de dezembro de 1988.
42
Fonte: Itamar responde a Vieira em nota que sugere demissão. O Globo, Brasília, 18 out. 1992.
43
Fonte: Paiva lança Vieira para a presidência. JB, Brasília, 08 abr. 1993.
44
Fonte: FRANCO, C. Bamerindus assegura conclusão de leilão da CSN. AE, Aedata, Rio de Janeiro, 5 abr. 1993.
45
Fonte: Odebrecht nega favores do governo Itamar. AE, Aedata, Rio de Janeiro, 3 de maio de 1993.
46
Ver também: SOTERO, P. Fernando Henrique não quer lugar de Eliseu. AE, Aedata, Washington, 11 maio 1993.
47
Fonte: VIEIRA, José E. de A. Depoimento público em 29 nov. 2005. Governo do Paraná. TV Cultura, 29 nov. 2005. José
Eduardo Vieira faz palestra e conta situações de bastidores da política brasileira. FOZNET, 29 nov. /2005. Disponível em:
<http://www.foznet.com.br/ler_news.php?cd_not=469>: Acesso em: 7 dez. 2005. Como o HSBC engoliu o Bamerindus. Por
Zé do Banco. A crise do Bamerindus, na verdade, foi provocada pelo Banco Central. CMI, 29 nov. 2005. Disponível em:
<http://brasil.indymedia.org/pt/blue/2005/11/339676.shtml>. Acesso em: 7 dez. 2005. Causos do Zé 1. Causos do Zé 2.
Causos do Zé 3. Causos do Zé 4. Panorama Político. Paraná-Online, 30 dez. 2005. Disponível em: <http://www.parana-
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
417

então manifestado o seu apoio à indicação de Fernando Henrique Cardoso.


1097
Em junho, JE48 foi pessoalmente à Câmara convencer os deputados do PTB a votarem, com
o governo, a regulamentação do Imposto Provisório sobre Movimentação Financeira (IPMF)49,
considerado fundamental para o plano de estabilização econômica que estava sendo desenvolvido
no Ministério da Fazenda. Desta vez, José Eduardo agiu de forma bastante diferente com relação ao
imposto que substituía o ITF, e no dia 22 de junho a proposta do governo foi aprovada por 308
votos a favor, 87 contra e seis abstenções.
1098
Em 1º de setembro, José Eduardo foi nomeado Ministro da Agricultura, Abastecimento e
Reforma Agrária, substituindo interinamente José Antônio Barros Munhoz. Durante a cerimônia de
posse, declarou50 que seria candidato ao governo do Paraná nas eleições de 1994 e que, por conta
disso, não permaneceria definitivamente na pasta. Como objetivos para o Ministério, destacou que
pretendia executar programas para aumentar a safra agrícola para 100 milhões de toneladas e
promover a reforma agrária. O seu primeiro ato no Ministério foi enviar uma ordem por escrito ao
INCRA, determinando que a reforma agrária fosse estendida às propriedades rurais que estivessem
com foco de febre aftosa51. Tal medida provocou forte reação da bancada ruralista no Congresso,
desencadeando uma série de críticas tanto de parlamentares como da imprensa. No dia 29, o
presidente da Comissão de Agricultura e Política Rural da Câmara52, Romel Anísio Jorge (PRN-
MG), encaminhou requerimento ao presidente Itamar, no qual manifestava estranheza pelo fato de
Ministro José Eduardo ter adquirido, por meio do Banco Bamerindus, parte das ações da
Ultrafértil53 e, ao mesmo tempo, sugeria ao governo que elevasse a taxação sobre importação de
fertilizantes. O deputado Ronaldo Caiado pediu à comissão que aprovasse um requerimento
solicitando que o Ministro da Fazenda não acolhesse a sugestão de JE e que enviasse ao presidente
da República o requerimento do deputado Anísio Jorge que alertava para o aumento dos preços dos
alimentos caso fosse adotada a sugestão do Ministro. Diante das pressões, no dia 14 de outubro,
Itamar Franco substituiu José Eduardo, na Agricultura, pelo deputado federal Dejandir Dalpasquale
(PMDB-SC), que logo após assumir passou a enfrentar denúncias de envolvimento com o
escândalo do BNCC.
1099
Na gestão à frente do Ministério da Indústria, Comércio e Turismo, José Eduardo
reestruturou a pasta que havia sido extinta durante a gestão Collor. Em seguida, investiu na
formação de parcerias do governo com empresários, trabalhadores, consumidores, meio acadêmico
e Congresso Nacional, tendo reativado as câmaras setoriais. Durante sua administração foi

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
online.com.br/noticias/colunista.php?op=ver&id=176430&caderno=15&colunista=140>. Acesso em: 7 dez. 2005.
48
Fonte: Câmara aprova IPMF. AE, Aedata, Brasília, 22 jun. 1993.
49
Nova versão para o ITF.
50
Fonte: Vieira assume Agricultura e admite que é candidato. AE, OESP, Brasília 02 set. 1993.
51
Fonte: Vieira toma posse e altera reforma agrária. FSP, Brasília, 02 set. 1993.
52
Fonte: Andrade Vieira comprou ações da Ultrafértil e quer sobretaxar importação de fertilizante. AE, OESP, 30 set. 1993.
53
A Ultrafértil S.A. Ind. e Com. de Fertilizantes foi adquirida pela Fosfértil Fertilizantes Fosfatados S.A.no leilão de
privatização em 24 jun. 1993. O Bamerindus tinha participação acionária na Fosfértil desde que esta foi privatizada em 12
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
418

promovido, na Câmara Setorial da Indústria Automotiva, um acordo assinado pelos governos


federal e estadual e 32 entidades patronais e de trabalhadores, e que gerou sucessivos recordes em
produção e comercialização no setor; também foram abertos espaços para que a política industrial
brasileira passasse a ser discutida em duas instâncias, quando o Ministério promoveu a criação do
Conselho Consultivo Empresarial para a Competitividade (Cancec) e o Conselho Consultivo do
Trabalhador para a Competitividade. Outro setor beneficiado teria sido a cafeicultura que, na época,
enfrentava uma grave crise e segundo consta, as ações do Ministério no sentido de reorganizar a
produção e o mercado reverteu o quadro, fazendo com que o produto voltasse a ter importância na
pauta de exportações brasileiras.
1100
Em depoimento na CPI dos Bancos em 199954, JE descreveu com detalhes dois episódios
que teriam ocorrido enquanto era ministro de Itamar Franco. Segundo ele, inconformado com as
altas taxas de juros, o Presidente lhe pediu para interferir junto ao Ministério da Fazenda e o Bacen
para que as taxas fossem reduzidas. Em duas ocasiões José Eduardo teria enfrentado duras reuniões
com representantes da Fazenda e do Bacen exigindo a adoção das medidas determinadas por Itamar
e que resultaram na redução das taxas. Segundo José Eduardo, tais episódios explicariam em boa
medida o comportamento rígido do Bacen durante a crise do Bamerindus a partir de 1995. Como
parte da reforma ministerial promovida por Itamar Franco para obter apoio político para o novo
plano de estabilização econômica na época chamado55 de Plano FHC 2- em 23 de dezembro, José
Eduardo deixou o MICT, sendo substituído interinamente por Ailton Barcelos Fernandes.
1101
Em janeiro de 1994, em entrevista a Traumann (12 jan. 1994, p. 1-4)56, José Eduardo falou
sobre seus planos e preparativos para sua candidatura presidencial. Sua estratégia era trabalhar para
ser eleito presidente nacional do PTB em março e buscar lideranças políticas com José Sarney
(PMDB), Joaquim Domingos Roriz (PP-DF), Antônio Carlos Peixoto de Magalhães (ACM) (PFL-
BA) e Luis Antônio Fleury Filho (PMDB-SP). Apesar de reconhecer não ter definido ainda uma
plataforma de governo, JE prometia que, se eleito acabaria com a inflação e reduziria o número de
ministérios.
1102
Após saírem as primeiras pesquisas de intenção de votos e avaliando que teria poucas
chances de chegar ao segundo turno, no início de abril, José Eduardo abandonou sua candidatura e
fechou acordo57 para a coligação do PTB e PSDB em torno da chapa FHC. No início de maio, o
PSDB, PFL e PTB58 formaram um conselho político que ficou conhecido como “Comando
Unificado de Campanha”, integrado pelos presidentes dos três partidos, Tasso Jereissati (PSDB),
Jorge Bornhausen (PFL) e José Eduardo (PTB), além do então virtual vice da chapa, senador

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
ago. 1992 – para mais detalhes, ver o capítulo IV que analisa o Grupo Bamerindus.
54
Fonte: Vieira (1999, p. 16068-16070).
55
Fonte: OLIVEIRA, R. Governo lança o Plano FHC 2. AE, Brasília, 07 dez. 1993.
56
Fonte: TRAUMANN, T. Andrade Vieira anuncia sua candidatura. FSP, Curitiba, 12 jan. 1994, p. 1-4.
57
Fonte: Xadrez eleitoral. FSP, 11 abr. 1994, Painel, p. 1-4.
58
Fonte: WOLTHERS, G. Aliados criam conselho político. FSP, Brasília, 5 maio 1994, p. 1-8.
419

Guilherme Palmeira (PFL-AL). Grande parte da literatura pesquisada apresenta vários relatos que
atribuem importância fundamental a José Eduardo na gestão financeira da campanha presidencial
de Fernando Henrique Cardoso.
1103
No dia 21 de maio, o PTB59 realizou a convenção nacional quando oficializou o apoio à
candidatura de FHC. No Paraná, o PTB apostou na coligação dos partidos que apoiavam Jaime
Lerner e na candidatura de José Carlos Gomes de Carvalho (PTB-PR) para o Senado. Em agosto, os
partidos políticos já discutiam a formação da base aliada do governo FHC no Congresso, e a
escolha do presidente do Senado60 era fundamental; disputavam o cargo José Sarney, Élcio Álvares
(PFL-ES) e José Eduardo. No final de setembro, JE esperava que uma eventual divisão do PMDB
poderia inviabilizar a candidatura de Sarney para a Presidência do Senado, situação esta em que
reverteria em apoio de boa parte do PTB, PFL, e do próprio PMDB. Mas sua pretensão dependia da
mudança no regimento que conferia a partidos, e não a blocos, o poder de indicar o presidente.
1104
As eleições do dia 3 de outubro resultaram na vitória de FHC em quase todos os Estados da
Federação, com exceção do Distrito Federal e do Rio Grande do Sul. No Paraná, ele recebeu 60%
dos votos contra 23% de Lula. Mas se JE participava da vitória de FHC, no Senado perdeu a
companhia de Affonso Camargo e não conseguiu eleger José Carlos Gomes de Carvalho como
senador pelo Paraná. Na nova legislatura, teria como companheiros, no Senado, o seu mais ferrenho
adversário, Roberto Requião, e o irmão de Álvaro Dias, Osmar Dias (PP). Nessa eleição o PTB teve
um fraco desempenho, conseguindo eleger para os cargos de deputados federais e estaduais pelo
Paraná, respectivamente apenas 4 e 6 candidatos tendo sua participação na Assembléia Legislativa
do Paraná (ALP) reduzida de 20% das cadeiras para 11% na eleição. No plano nacional, José
Eduardo ainda apoiou duas campanhas eleitorais de segundo turno: ao governo do Distrito Federal,
onde Antônio Valmir Campello Bezerra (PTB) acabou perdendo para Cristovam Ricardo
Cavalcanti Buarque (PT); e em Roraima, onde Neudo Ribeiro Campos (PTB) venceu Getúlio de
Souza Cruz (PSDB).
1105
Logo após a vitória nas urnas61, José Eduardo reivindicou o Ministério da Agricultura para o
Paraná, enfrentando outros pretendentes como Pedro Simon (PMDB-RS), José Richa (PSDB-PR)
Alysson Paulinelli (PFL-MG), o paulista Roberto Rodrigues, ex-secretário da Agricultura de São
Paulo e então presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Antônio Cabrera Mano Filho,
presidente do PFL de São Paulo, que concorria também para assumir a Secretaria da Agricultura e
Abastecimento do Estado daquele Estado. Também postulavam o cargo o presidente da Comissão
de Agricultura da Câmara, Nelson Marquezelli (PTB-SP)62, e o deputado Odacir Klein (PMDB-
RS), todos os dois integrantes da bancada ruralista do Congresso, sendo Klein apoiado pelo
governador eleito do Rio Grande do Sul, Antônio Britto, principal aliado de FHC no PMDB.

59
Fonte: PTB realiza convenção hoje. Folha ABCD, 21 maio 1994, p. 1-6.
60
Fonte: Caras e bocas. Foi dada a largada. FSP, 30 ago. 1994, Painel, p. 1-4.
61
Fonte: SILVA, E. PTB exige cargos para dar apoio a FHC. FSP, São Paulo, 9 nov. 1994, p. 1-5.
420

1106
Diante da decisão de FHC de não nomear presidentes de partido para assumirem
ministérios, José Eduardo indicou João Elísio Ferraz de Campos para a Agricultura, mas na última
hora Fernando Henrique acabou confirmando José Eduardo para a pasta. Na época, a FSP publicou
que “Durante as negociações com FHC, o PMDB desdenhou a Agricultura. Na avaliação do
partido, o ministério será um local de desgaste político enquanto a equipe econômica seguir dando
as cartas”. (FSP, 17 dez. 1994, Painel, p. 1-4)63.
1107
Com a sua indicação confirmada, no dia 18, JE declarou que a extinção da TR seria uma
das prioridades do próximo governo, pois “Não é possível corrigir os preços mínimos dos produtos
agrícolas por um índice e as dívidas dos produtores rurais por outro” (BRAMATTI & SOUZA, 18
dez. 1994, p. 1-8)64. Na época, a TR corrigia os financiamentos agrícolas e as cadernetas de
poupanças. Uma das alternativas que estavam em estudo era substituir a TR nas cadernetas de
poupança por uma outra taxa, baseada na média dos juros praticados no mercado. Mesmo com essa
declaração que atendia à principal reivindicação do setor, JE teve que enfrentar pesadas críticas de
grupos ligados à bancada rural, principalmente de lideranças do PTB de São Paulo que ameaçaram
destituí-lo da Presidência do partido e eleger seu adversário Hélio Garcia (MG). No Congresso
lideranças da bancada rural ameaçaram não votar os projetos do governo. A indicação de José
Eduardo somente foi aceita após uma reunião realizada com FHC, José Eduardo, o presidente da
Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), deputado Dejandir Dalpasquale (PMDB-SC), e o
presidente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), Antônio Ernesto de Salvo. Segundo a
FSP, os dois, no entanto, “não fizeram a defesa incondicional do nome de Vieira. ‘A Agricultura
vai estar em boas mãos porque vai ser administrada pelo presidente eleito’, disse Dalpasquale. ‘Nós
achamos que Andrade Vieira não tem ligações com as lideranças da classe, mas esperamos que ele
cumpra o programa de governo de Fernando Henrique’” (FSP, 21 dez. 1994, p. 1-5) (grifo nosso)65.
Ainda segundo a FSP (21 dez. 1994, p. 1-4)66, José Eduardo teria se reunido com membros da
bancada ruralista e falando em nome de FHC, disse que sua nomeação para a Agricultura era
irreversível e se comprometeu a ouvir a bancada na composição do segundo escalão do ministério.
Por outro lado, lideranças da bancada declaravam que o apoio a FHC no Congresso seria restrito
inicialmente às reformas tributária, fiscal e previdenciária, pois estavam aguardando as nomeações
do segundo escalão do governo para definir um futuro apoio ao Executivo.
1108
No dia 2 de janeiro de 199567, José Eduardo de Andrade Vieira tomou posse no Ministério
da Agricultura junto com 18 outros ministros do governo Fernando Henrique Cardoso. Na
cerimônia estiveram presentes os banqueiros Ângelo Calmon de Sá e Lázaro Brandão, o presidente
da Febraban, Maurício Schulman, e diversos parlamentares da bancada ruralista.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
62
Fonte: Discreto. FSP, 9 dez. 1994, Painel, 1-4.
63
Fonte: Sem intermediários. Por exclusão. FSP, 17 dez. 1994, Painel, p. 1-4.
64
Fonte: BRAMATTI, D.; SOUZA, G. de. TR acaba, diz futuro ministro. FSP, Brasília, 18 dez. 1994, p. 1-8.
65
Fonte: FHC anuncia nomes de ministros hoje. FSP, 21 dez. 1994, p. 1-5.
66
Fonte: Paz temporária. Apoio precário. FSP, 21 dez. 1994, Painel, p. 1-4.
421

6.3.2.2 CONEXÕES DA REDE COM A POLÍTICA PARANAENSE

1109
No Paraná, a rede política do Bamerindus era comandada por Jayme Canet Júnior que, além
de grande empresário, havia sido governador e integrante do grupo político de Ney Braga.

6.3.2.2.1 JAYME CANET JR

1110
Natural de Ourinhos, fronteira de São Gráfico 6-19: Rede Política Bamerindus: Jayme Canet Jr
(1981 a 1995)
Paulo com o Norte do Paraná, nasceu em 1925;
segundo DHBB (2002d)68, era um dos homens
mais ricos do Estado, sendo proprietário de uma
das mais modernas fazendas de café do Norte do
Paraná, a Fazenda do Horizonte, em Bela Vista
do Paraíso. Ligado a Ney Braga desde os anos
1950, em 1960 foi um dos fundadores da
empresa Horizonte Ltda - Administração e
Participações, dedicada à compra, venda e
administração de bens móveis e imóveis. Ele e
seu pai também participaram, em 1958, da
fundação da Comercial Companhia de Seguros –
incorporada pelo Bamerindus em 1975, tendo Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.
sido presidente do Banestado no governo Paulo Pimentel. Também foi diretor da Exportadora
Canet e da Bley Canet de Comercialização de Café69, bem como junto com Affonso Camargo era
sócio presidente da Construtora e Incorporadora Habitação e, segundo o DHBB (2002d), era
integrante do conselho de administração do Banco Bamerindus já nos anos 1960.
1111
Em 1973 foi indicado por Ney Braga para o cargo de vice-governador e, em outubro de
1975, assumiu como governador do Estado. Segundo sua declaração patrimonial publicada no
jornal O Estado do Paraná70, em 28 de agosto de 1974, página 8, ele era sócio do Banco
Bamerindus de Investimento e da Bamerindus Companhia de Seguros, e as ações desta última eram
sucessões das participações na Seguradora Ouro Verde e Atalaia Cia de Seguros. Também criou o
Hotel Deville Guaíra Ltda, sendo um dos maiores acionistas da Deville Hotéis e Turismo,
representado por Jayme Canet Neto, e tendo entre seus sócios o Banestado S.A. Crédito Imobiliário
e o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), bem como em 1983, o Bamerindus informava ser
sócio minoritário no Hotel Deville Maringá. Canet também era proprietário da Construtora

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
67
Fonte: Tomam posse 19 ministros; Pelé e general assumem hoje. FSP, São Paulo, 3 jan. 1995, p. 1-5.
68
Fonte: DHBB. Verbete CANET JÚNIOR, Jaime. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós 1930. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002d. Cd-rom.
69
Bley aparece como sócio do Bamerindus – ver Cap IV
422

Harbour, em Curitiba e, de acordo com NEVES (2002, p. 408-409), em 1983 Jayme Canet Júnior
era o maior acionista do Bamerindus, depois da família Vieira; também, segundo suas declarações,
a convite do Ministro da Fazenda do governo Figueiredo, foi membro do Conselho Monetário
Nacional, representando a Agricultura, (CANET JÚNIOR, 2003, p. SF.2)71.
1112
Quando o general Figueiredo extinguiu o bipartidarismo em 1979, Jayme não ficou no PDS,
preferindo liderar a fundação do PP no Paraná, apesar de ter reiterado pouco antes seu apoio a Ney
Braga. No PP, rompeu com Ney e lançou sua candidatura ao governo do Estado, recusando, em
agosto de 1981, um convite do ex-presidente Geisel para ser o candidato do PDS e uma
reconciliação com Braga. Canet foi parar no PMDB com a incorporação do PP em fevereiro de
1982, retirou sua candidatura em favor de José Richa, recebendo em troca o cargo de vice-
governador, para o qual indicou João Elísio Ferraz de Campos que, na época, também era sócio e
diretor do Bamerindus. Por outro lado, Paulo Pimentel anunciou a retirada de sua candidatura pelo
então novo PTB em apoio ao candidato de Ney Braga, Saul Raiz. A vitória do PMDB, em
novembro de 1982, fortaleceu Canet em detrimento de Braga e Pimentel. Nos anos seguintes,
concentrou sua atuação nos bastidores da política, tendo sido de fundamental importância suas
ações na organização do apoio ao empresariado local aos políticos de seu grupo. Desde o tempo de
seu governo em 1974, conservava uma forte base política no interior do Estado, tendo participado
ativamente das articulações que elegeram Requião para a prefeitura de Curitiba, em 1985, e de
Álvaro Dias na sucessão de José Richa, em 1986. Saiu do PMDB em dezembro de 1988 para
fundar o PDC.
1113
Em 31 de outubro de 1989, Jayme Canet, João Scheffer e Francisco Cunha Pereira foram
eleitos membros efetivos do Conselho de Curadores da Fundação Bamerindus de Assistência
Social, com mandato até 31 de outubro de 1992, mas acabou sendo substituído em 31 de outubro de
1991 o que, segundo alguns depoimentos, indicaria o seu gradativo distanciamento do Bamerindus.
1114
Para compreender esse movimento de Jayme Canet, é importante observar seu depoimento
na CPMI Banestado em 2003, como segue:
205
Quero deixar claro que o que senti por parte de alguns amigos era que se dava a impressão de
que eu tinha alguma ligação com o Banco Araucária72. Na realidade, não tenho nenhuma
ligação, mas a tive, na origem, por intermédio de um filho. Tenho um filho que foi criado
praticamente junto com o Alberto Dalcanale e o Fernando Peixoto. Estudaram juntos do
primário ao ginásio, formaram-se juntos na Universidade e resolveram, depois, por volta de

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
70
Fonte: Os bens de Jayme Canet Júnior. O Estado do Paraná, 28 ago. 1974, p. 8.
71
Fonte: CANET JÚNIOR, Jaime. Depoimento. Notas da CPMI - Comissão Parlamentar Mista de Inquérito “Banestado”.
Referente a 28ª Reunião Ordinária de 18 set. 2003. Secretaria-Geral da Mesa. Subsecretaria de Taquigrafia. Brasília: Senado
Federal, 18 set. 2003, p. SF – 2. Disponível em: <http://webthes.senado.gov.br/sil/Comissoes/CPI/Comissoes/
BANESTADO/Notas/20030918RO028.rtf >. Acesso em: 8 dez. 2005.
72
“[...] o esquema Banestado funcionou ancorado em alguns pilares: Youssef, Paolicchi, Cristiane Mocelin Canet
(ligadíssima à família Lerner e aos Bornhausen), Banco Araucária (família Bornhausen e José Richa) [...] havia uma
conexão direta entre o governo Lerner e as operações do Banestado [...] com a utilização sistemática das CC-5” [...].
Fonte: CAMPANA, Flávio. Banestado: Lerner, FHC e a maior evasão de divisas da história do país. Hora do Povo, 18 jul.
2003. Disponível em: <http://www.horadopovo.com.br/2003/julho/18-07-03/pag4b.htm>. Acesso em: 8 dez. 2005. Nota:
Em várias declarações à imprensa, Jorge Bornhausen nega que sua família tivesse algum tipo de ligação de propriedade ou
de comando do Banco Araucária.
423

1980, abrir uma corretora de valores, como o fizeram, de fato. O meu menino era sócio, nunca
participou da corretora, porque já trabalhava comigo nas nossas empresas de hotéis. Em 1989,
a corretora conseguiu ser transformada em banco. Conversei com meu filho, dizendo-lhe que
banco é um negócio muito sério, muito responsável, que ele não tinha participação nenhuma, e
o aconselhei a sair. Realmente, dali a alguns meses, ele se retirou. Portanto, desde 1990, ele não
tem participação nenhuma. Isso não o impediu de continuar a amizade. [...] Era um pessoal de
confiança. Com isso, nós trabalhamos com o Banco. Quando digo “nós”, refiro-me a mim, a
meu filho, à minha filha, às minhas empresas, tanto é que [...] da massa falida73, sou credor de
quase R$ 900 mil. Meus filhos, minha nora, minha filha e minha empresa hoteleira são
credores, na massa falida, de mais um outro tanto igual a esse ou até um pouco mais. [...] Eu
usava o Banco como um private bank. Nunca emiti um cheque nesse Banco, nunca tomei um
tostão emprestado, sempre fui um investidor. Usava muito a corretora de valores do Banco,
para operar na Bolsa [...] Eles nem me mandavam extrato, porque minha operação não era de
um banco múltiplo [...] era só de investimento. (CANET JÚNIOR, 2003, p. SF.3)

1115
Em abril de 1993, Canet liderou no Paraná a fusão do PDC com o PDS, dando origem ao
PPR, que, segundo Cardoso (4 abr. 1993)74, era o partido pelo qual Paulo Maluf pretendia disputar a
Presidência da República em 1994. O programa da nova agremiação foi redigido basicamente por
Jarbas Passarinho (PA), e a fusão integrava dez senadores e 73 deputados. O partido seria presidido
pelo senador Esperidião Amin (PDS-SC), e a comissão executiva seria formada por Affonso
Camargo (PR), Delfim Neto (SP), Borges da Silveira (PR), Francisco Dornelles (RJ), e Pratini de
Moraes (RS), além dos deputados Armando Pinheiro (SP) e Victor Faccioni (RS), Siqueira Campos
(TO) e Rosalvo Azeredo (DF). A nova agremiação conseguiu também a adesão de alguns políticos
do PFL e do PL. Na época Maluf teria declarado que o “O PPR chegará ao fim do ano como a
maior bancada do Congresso”, CARDOSO (4 abr. 1993). Entre os objetivos da nova agremiação
estava a formação de possíveis coligações com o PFL e o PTB para apoiar o nome de Maluf.
1116
Jayme Canet casou com Maria de Lurdes de Araújo.

6.3.2.2.2 BRAZÍLIO DE ARAÚJO NETTO

1117
Outro nome importante para a rede política do Bamerindus foi Brazílio de Araújo Netto.
Quando João Elísio assumiu o governo do Paraná, em 1986, nomeou Brazílio75 para a Secretaria da
Agricultura. Grande produtor rural e pecuarista, na época tinha 39 anos e era formado pela
Faculdade Nacional de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, turma 1969. Também
era superintendente da Sociedade Rural do Paraná, entidade da qual era membro desde 1978, tendo
atuado nos departamentos de trigo e soja. Brazílio de Araújo também foi membro da Câmara de
Estudos e Debates Econômicos e Sociais (CEDES) e do Conselho Nacional da Pecuária de Corte,

73
O Bacen decretou em 27 mar. 2001 a liquidação extrajudicial da Araucária Corretora de Câmbio, Títulos e Valores
Mobiliários S.A. e do Banco Araucária S.A., mais tarde todos os dois foram objeto de investigação da CPMI BANESTADO
- Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, criada através do Requerimento nº 05, de 2003-CN “com a finalidade de apurar
as responsabilidades sobre a evasão de divisas do Brasil, especificamente para os chamados paraísos fiscais, em razão de
denúncias veiculadas pela imprensa, reveladas pela operação macuco, realizada pela Polícia Federal, a qual apurou a
evasão de divisas do País, efetuada entre 1996 e 2002, por meio das chamadas contas CC5”. Fonte: SENADO FEDERAL
(2005).
74
Fonte: CARDOSO, T. Maluf cria o PPR com a fusão de PDS E PDC. AE, Aedata, Brasília, 04 abr. 1993.
75
Fonte: Gazeta do Povo, 06 maio 1986.
424

ambas com sede em São Paulo, e participava ativamente da Federação da Agricultura do Estado do
Paraná. Observamos que, nessa época, o governo federal confiscou bois no pasto para combater o
ágio na venda de carne. Veremos que mais tarde, em 1995, será chamado por José Eduardo para a
Presidência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).

6.3.2.2.3 NEY BRAGA

1118 Gráfico 6-20: Rede Política Bamerindus: Ney Braga (1988)


Nas eleições de 1982, Ney Braga, foi
duplamente derrotado. Em primeiro lugar
como candidato ao Senado pelo PDS, perdeu
para Álvaro Dias do PMDB; e em segundo
lugar, seu candidato ao governo do Estado, o
velho aliado Saul Raiz (PDS), foi derrotado
pelo seu ex-oficial-de-gabinete (1961) José
Richa do PMDB. Em 1983, Ney foi eleito
presidente do diretório do PDS do Paraná,
derrotando o grupo liderado por Pimentel e,
em 1984, apoiou Aureliano Chaves para a
Presidência da República. Derrotados por
Maluf na convenção do PDS, Ney Braga
segue Aureliano Chaves na formação da Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.

Frente Liberal, apoiando Tancredo Neves para a Presidência da República e, em novembro de


1984, desligou-se do PDS para filiar-se ao recém criado PFL, levando consigo cerca de dez
deputados federais que pertenciam ao PDS. No governo, José Sarney indicou, para o Ministério das
Minas e Energia, Aureliano Chaves, e Ney Braga assumiu em maio de 1985 a Diretoria Geral da
Itaipu Binacional. Sua gestão na Itaipu recebeu críticas de adversários políticos por concentrar
grande poder na região oeste do Paraná. Álvaro Dias, então governador pelo PMDB, chegou a dizer
que Ney promovia um “governo paralelo” nessa região. Em 1988, Ney Braga desempenhou papel
ativo nas articulações políticas que levaram à vitória de Jaime Lerner (PDT) nas eleições para a
prefeitura de Curitiba e que contou também com o apoio ostensivo do Bamerindus, impondo a
primeira derrota ao PMDB. Nas eleições presidenciais de 1989, apoiou Aureliano Chaves no
primeiro turno e Fernando Collor no segundo turno. Ney Braga acabou afastado da direção geral de
Itaipu em maio de 1990, permanecendo no Conselho de Administração da empresa até 1995 e na
administração Requião, foi nomeado presidente do Conselho de Administração da Copel.76
1119
Ao longo dos anos 1980, seu poder político declinou com a entrada dos novos políticos
forjados em eleições populares. Sobre o neísmo, Kunhavalik (1999) destaca o editorial do jornal O

76
Fonte: BRAGA (2002a).
425

Estado do Paraná, que descrevia o estilo de Ney Braga:


206
[...] “o comando, era personalíssimo, impedindo a manutenção de qualquer traço próprio de
estilo ou até de personalidade aos componentes do grupo [...] foi duro imaginar um Paraná sem
Ney, e doloroso para aquele que foi um dos últimos caciques políticos deste País ficar sem o
Paraná”. (O Estado do Paraná, 18 nov. 1982, p. 4) [...] como que o poder exercido por Ney
Braga no Paraná, e as suas relações com o seu grupo político, eram marcados pelo
personalismo político. Ney Braga era o chefe político. Ele próprio afirmava: “No meu exército,
o único general sou eu” (VEJA, 5 abr. 1978, nº 500, p. 32). Ou seja, no decorrer de sua
influência política no Estado, sempre trabalhou para evitar o surgimento de lideranças que
pudessem ameaçar o seu comando político.(KUNHAVALIK, 1999: cap 3, p. 195).

6.3.2.2.4 JOSÉ RICHA

1120 Gráfico 6-21: Rede Política Bamerindus: José Richa (1981


Nascido em São Fidélis (RJ) em 1934,
a 1989)
José Richa foi criado na região do Norte
Pioneiro do Paraná, em Joaquim Távora e
Jacarezinho, tendo se formado pela Faculdade
de Odontologia da UFPR, em 1959. Segundo
BRAGA (2002g)77, Richa iniciou na política
como repórter do jornal Diário do Paraná e
como secretário e presidente da União
Paranaense dos Estudantes, em 1956. Foi um
dos fundadores e presidente do diretório
nacional da Juventude Democrata Cristã do
Brasil, em 1961, bem como secretário de
Organização Partidária do PDC, oficial-de-
gabinete do governador Ney Braga, em 1961, e Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.

chefe do gabinete da Secretaria do Interior e Justiça, em 1962. Com a extinção dos partidos, filiou-
se ao MDB, afastando-se de Ney Braga; em 1972 foi eleito prefeito de Londrina, e em 1978,
senador pelo Paraná.
1121
Com a extinção do bipartidarismo, filiou-se ao PMDB, participando da comissão executiva
no Estado. Em março de 1983, assumiu o Governo do Estado, tendo sido um dos nove
governadores do PMDB eleitos diretamente após a implantação do pluripartidarismo. Ao assumir,
convidou Léo de Almeida Neves (PMDB) para a presidência do Banestado, buscando compensar o
grupo de Neves pelo apoio nas eleições, bem como por ter concordado em abrir mão do cargo de
vice-governador para viabilizar a incorporação do P.
1122
De acordo com Almeida Neves, a única exigência feita por Richa, foi que ele teria que
aceitar o fato que toda a diretoria do grupo Banestado já havia sido nomeada, “quase todos oriundos

77
Fonte: BRAGA, S. S. Verbete: RICHA, José. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós 1930. 1ª edição.
Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002g. Cd-rom.
426

do ex-Partido Popular, liderado pelo ex-governador Jayme Canet Júnior, e pelo vice do Richa, João
Elísio Ferraz de Campos, boa parte egressos da antiga Arena”. (NEVES, 2002, p. 465). Sua
nomeação contrariava os interesses do então secretário das Finanças78 Erasmo Garanhão com quem
os conflitos começaram já no dia da posse, quando o secretário iniciou a cerimônia antes mesmo da
chegada de Almeida Neves, empossando a diretoria antes do presidente do grupo. Também oriundo
do PTB, Garanhão assessorava Richa há muito tempo em Brasília, tendo sido um dos caixas da
campanha. Ao assumir o Banestado, Almeida Neves, além de pedir auditoria ao Banco Central,
contrariando vários interesses, iniciou o levantamento da situação do banco. Logo em seguida,
promoveu mudanças nas operações da seguradora que o grupo tinha em sociedade com o
Bamerindus, bem como passou a exigir que o caixa do Estado fosse centralizado no Banestado,
propondo a criação do caixa único.
1123
Alguns meses, depois aconteceu a primeira crise do governo Richa, quando a demissão de
Almeida Neves foi anunciada em um programa de televisão pelo secretário Erasmo, tornando um
fato consumado a saída dele, apesar da reação contrária de boa parte do PMDB. De acordo com
Almeida Neves, o problema básico estava no fato de ele ser um forte candidato para suceder Richa
nas eleições seguintes. O governador, então, nomeou o vice-governador João Elísio para a
presidência do Badep, cargo no qual permaneceu pelo período 1983-1984 quando então foi
designado Secretário de Finanças do Estado (1984-1986), logo após a segunda crise do governo
Richa, causada pelos conflitos internos do PMDB para acomodar os interesses dos egressos do P. A
crise começou quando o secretário de Planejamento, Belmiro Valverde, também ex-PP e que mais
tarde seria diretor do Bamerindus, levantou suspeitas sobre a atuação da Secretaria de Finanças,
comandada por Erasmo Garanhão, na negociação de um contrato em dólares com o Midland
Bank79. Segundo Oliveira (1998, p. 76-77), Garanhão havia aumentado a arrecadação do Estado
através de uma fiscalização mais rigorosa, entrando em conflito com vários grupos econômicos. Na
época “grupos conservadores diretamente ligados aos interesses econômicos, quanto amplos setores
do Legislativo queriam vê-lo fora do governo”. A oposição na Assembléia, principalmente através
de Luiz Alberto Martins de Oliveira, do PDS, com seus discursos, amplificou o clima de confronto
entre os dois secretários. Diante da crise, Richa demitiu os dois e nomeou João Elísio para a
Secretaria das Finanças. Outra crise importante envolveu o secretário da Agricultura, Claus
Germer, cuja política voltada para o desenvolvimento dos pequenos e médios agricultores,
incentivos ao cooperativismo e promoção da reforma agrária, acabaram colocando-o em conflito
com os setores ligados aos grandes grupos empresariais e proprietários de terra que atuavam dentro
e fora do governo:
207
Após inúmeros pequenos incidentes e acusações, o secretário pediu demissão. Sentindo-se
rejeitado, acusou o governo de retirar a autonomia da Secretaria da Agricultura, transferindo o
controle da reforma agrária para assessorias paralelas (como os grupos empresariais

78
Atual Secretaria da Fazenda.
79
Na época o Midland Bank era sócio do Bamerindus na Bamerindus-Midland Leasing
427

Bamerindus e Fundação da Agricultura do Estado do Paraná - FAEP). (OLIVEIRA, 1998, p.


77).

1124
A atuação de Richa era muito forte no cenário nacional, tendo sido o primeiro governador a
promover a campanha “Diretas Já”. Também coordenou, em setembro de 1983, uma reunião com
todos os governadores peemedebistas em Foz do Iguaçu, onde foi acertada a participação de todos
na campanha. Em 12 de janeiro de 1984, Richa e o prefeito que ele nomeou para Curitiba, Maurício
Fruet, promoveram o primeiro comício nacional da campanha “Diretas Já”. Após a derrota do
movimento, foi um dos articuladores da Aliança Democrática. Em 1985, licenciou-se do cargo de
governador e foi para as ruas apoiar a candidatura de Roberto Requião à prefeitura de Curitiba,
contra o então prestigiado ex-prefeito Jaime Lerner, do PDT, eleição esta que o PMDB venceu por
pequena margem, sendo o Paraná o único Estado onde o partido elegeu o prefeito em todas as 13
cidades onde se disputavam eleições.
1125
Além das conexões de integrantes de seu governo com o Bamerindus, em 1985, seu filho
Carlos Alberto80 casou-se com Fernanda Bernardi Vieira, filha de Thomaz Edison de Andrade
Vieira, ex-presidente do Bamerindus e irmão de José Eduardo. Segundo a AGCS (24 ago. 2002),
em entrevista Fernanda declarou que:
208
As nossas famílias [Vieira e Richa] sempre foram amigas [...] Em um período de férias, eles
foram para Guaratuba (no litoral do Paraná) e ficaram hospedados na nossa casa [...] Eu
trabalhei na campanha para o Governo do Paraná, quando o meu sogro foi candidato e venceu
as eleições, na década de 80. (AGCS - Agência Cone Sul de Notícias)81.

1126
A vitória do PMDB projetou José Richa como uma das principais lideranças políticas do
PMDB no cenário nacional, alimentando as esperanças de seus correligionários para uma possível
candidatura à Presidência da República. Richa afastou-se do governo no início de maio de 1986,
para candidatar-se ao Senado pelo PMDB, bem como para poder ajudar na campanha de Álvaro
Dias para o governo do Estado. Na ocasião, passou o cargo de governador para o seu vice, João
Elísio. Vitoriosos novamente, Richa não só se elegeu pela segunda vez senador, como o PMDB
conseguiu eleger Álvaro Dias governador, Ary Veloso Queiroz como vice-governador e Affonso
Camargo para o Senado. Como constituinte, José Richa ocupou os postos de relator da Comissão da
Organização do Estado e membro titular da Comissão de Sistematização, tendo sido um dos
organizadores do “Grupo dos 32”, integrado por parlamentares de diversas correntes políticas. Em
junho de 1988, juntamente com outros peemedebistas como Fernando Henrique Cardoso, Mário
Covas, Franco Montoro, Euclides Scalco, Pimenta da Veiga, Tasso Jereissati e José Serra,
organizou e fundou o PSDB.
1127
A característica principal do governo Richa foi a chamada “arenização” do PMDB
provocada pela “[...] disposição do PMDB em aceitar todos os que se dispusessem a entrar para o

80
Carlos Alberto Richa, também conhecido como Beto Richa, atualmente é prefeito de Curitiba.
81
Fonte: Entrevista com Fernanda Richa. Agência Cone Sul - AGS, 24 ago. 2002. Fonte: Disponível em:
<http://www.agcs.com.br/especial/24_08/FernandaRicha.htm>. Acesso em: 28 jan. 2003..
428

partido provocou uma grande evasão no PDS, partido tradicionalmente governista, que havia se
colocado na oposição desde 1982. Certamente, esse processo de ‘arenização’ do PMDB não se
restringiu ao Paraná [...] uma retrospectiva da transição política nos anos 80 denota, claramente, a
progressiva descaracterização programática do PMDB” (OLIVEIRA, 1998, p. 79).
1128
Candidato ao governo do Paraná pelo PSDB, em 1990, Richa foi derrotado e seu prestígio
político entrou em declínio na política local, mesmo tendo assumido a Secretaria-Geral da Frente
Parlamentarista e a Presidência após a morte de Ulisses Guimarães, em outubro de 1992, cargo que
exerceu até a derrota do parlamentarismo no plebiscito de 1993.

6.3.2.2.5 JOÃO ELÍSIO FERRAZ DE CAMPOS

1129 Gráfico 6-22: Rede Política Bamerindus: João Elísio Ferraz


João Elísio nasceu em 1942 em
de Campos (1981 a 1989)
Paranaguá (PR), e começou a trabalhar em
1962 como diretor acionista da empresa
Corretores de Seguros do Paraná (Cosepa).
Formado em Direito pela PUC-PR, em 1966,
foi diretor da União do Comércio e Indústria de
Seguros Gerais de Joinville (SC), diretor da
Nova América Companhia de Seguros Gerais,
do Rio de Janeiro, e procurador da Companhia
Comercial de Seguros Gerais criada por seu
pai, Jayme Canet e um grupo de capitalistas,
em 1958; também foi secretário do Sindiseg-
Pr82 e presidiu o Clube das Seguradoras do
Paraná. Em 1973, no governo Emílio Gomes Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.
cujo vice-governador era Jayme Canet, foi
nomeado superintendente da Fundação Educacional do Paraná (Fundepar), e, mais tarde, no
governo Canet, foi nomeado Secretário de Administração. Quando a Cia Comercial foi incorporada
ao Bamerindus Companhia de Seguros, em 1975, assumiu o cargo de diretor da empresa. Segundo
Castro (2002)83, João também era sócio de Affonso Camargo nas emissoras de rádio Caiobá e Ouro
Verde de Curitiba. Em 1978, foi eleito deputado estadual pela Arena e, em novembro de 1979,
ingressou no PP junto com Jayme Canet, Affonso Camargo e Aníbal Khury. Em fevereiro de 1982,
com a incorporação do PP pelo PMDB, foi indicado por Canet para candidato a vice-governador,
licenciando-se da Diretoria da Bamerindus Cia de Seguros. Eleito, assumiu em março de 1983,
sendo nomeado logo em seguida para o cargo de presidente do Badep (antiga Codepar),

82
Fonte: SINDISEG-PR (2003).
83
Fonte: CASTRO, G. Verbete: CAMPOS, João Elísio Ferraz de. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro:
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
429

permanecendo na função durante o período 1983 – 1984.


1130
O Banco Desenvolvimento do Paraná (BADEP)84 foi muito importante para a história
econômica paranaense. Durante o primeiro governo Ney Braga na década de 1960, atuou como
Codepar e ao lado do Fundo de Desenvolvimento Econômico (FDE) financiou a montagem da
infra-estrutura econômica do Estado. Com a reforma do sistema financeiro nacional em 1967, a
Codepar deu lugar ao Badep, que passou a operar em 1968. Por ocasião da criação do FDE, este
representava um verdadeiro orçamento paralelo tanto para gastos e investimentos públicos quanto
para o financiamento de projetos privados. O fundo também possibilitava a participação acionária
do Estado em projetos por meio da integralização de ações preferenciais sem direito a voto. Nas
décadas de 1970 e 1980, o Badep e o Banestado eram os principais instrumentos financeiros do
Estado. Em 1991, o Badep foi liquidado extrajudicialmente pelo Banco Central, e segundo a AE
(05 dez. 1991)85, com dívida de aproximadamente US$ 91 milhões.
1131
No governo, João Elísio enfrentou, em 1983, a turbulência criada por Léo de Almeida
Neves, que, ao assumir a presidência do Banestado, promoveu mudanças nas operações da
seguradora sócia do Bamerindus (ver Capítulo IV). Um pouco mais tarde, em maio de 1984, Elísio
assumiu a pasta de Finanças após a crise criada com as denúncias do Secretário de Planejamento,
Belmiro Valverde86, seu parceiro político no ex-PP e ligado ao grupo Canet, assumindo então a
Secretaria de Finanças. Quando em maio de 1986 José Richa de afastou do cargo para concorrer ao
Senado, João Elísio assumiu o governo do Estado, permanecendo no cargo até março de 1987,
completando o mandato para o qual ele e Richa haviam sido eleitos.
1132
Segundo Couto (1998, p. 111-112), João Elísio também fez parte da Diretoria do
Banestado, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CEDES), Conselho de Política
Fazendária (Confaz), Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa do PR (Ceag-Pr)87, Associação
Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), Centro de Desenvolvimento Industrial (Cendi), Centro
Eletrônico de Processamento de Dados do Paraná (Celepar), Empresa de Obras Públicas do Paraná
(Emopar), Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e da Companhia de Habitação do Paraná
(Cohapar).
1133
Após o término do seu mandato voltou para o Bamerindus e, no período 1990-1994 João
Elísio não assumiu cargos públicos tendo concentrado sua atividade na estrutura do Grupo
Bamerindus e de entidades de classe. Em 1990 era membro do Conselho de Administração da
Paraná Companhia de Seguros, presidente do Conselho de Administração Bamerindus Companhia
de Seguros, integrou o Conselho Administrativo da Inpacel, bem como participou do Conselho da

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
pós 1930. 1ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002. Cd-rom.
84
Fonte: LOURENÇO, Gilmar Mendes. Ambiens Sociedade Cooperativa [2003]. Disponível em: <http://www.coopere.net/
direitoshumanosrmc/Programa%20de%20Incentivos%20Fiscais.htm>. Acesso em: 17 fev. 2003.
85
Fonte: Linha do tempo: 1991. AE, Aedata, [São Paulo], 05 fev 1991. Disponível em: <http://www11.estadao.com.br/
ext/diariodopassado/20030205/home.htm>. Acesso em: 17 fev. 2003.
86
Belmiro Valverde aparecerá como diretor do Bamerindus nos anos 1990.
430

Associação Comercial do Paraná (ACP) durante a gestão de Maria Cristina Andrade Vieira.
Segundo Castro (2002), em 1992, durante o governo Requião, João Elísio, juntamente com mais 52
ex-diretores do Badep, foi acusado de irresponsabilidade administrativa na gestão do banco em uma
ação de responsabilidade civil. Nesse mesmo ano, foi eleito Presidente da Fenaseg e, mais tarde,
Presidente da Fundação Escola Nacional de Seguros (Funenseg) no triênio 1994-1997, bem como
se reelegeu presidente da Fenaseg em 1995.

6.3.2.2.6 BELMIRO VALVERDE JOBIM CASTOR

1134
Mineiro de Juiz de Fora, Belmiro88, em Gráfico 6-23: Rede Política Bamerindus: Belmiro Valverde
(1981 a 1994)
1975, então com 32 anos, foi indicado pelo
governador Jayme Canet Júnior para a
Secretaria de Estado do Planejamento (1974 a
1978). Na época era diretor do Departamento do
Trabalho, Indústria e Comércio, coordenador
adjunto da Coordenação de Planejamento
Estadual, coordenador técnico da execução de
convênios com o Ministério do Planejamento e
Secretário Extraordinário do Planejamento e
Coordenação Geral. Mais tarde assumiu o cargo
de professor titular no Departamento Acadêmico
de Administração da UFPR e membro do Centro
de Pesquisa em Administração da UFPR
(CEPPAD). Graduado em Direito pela
Universidade do Estado da Guanabara, é Mestre Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.

e Phd em Administração Pública pela University of Southern California89, foi Secretário de Estado
do Planejamento (PR) no governo Richa entre 1983 e 1984 e secretário de Educação no governo
Álvaro Dias, e as indicações sempre fizeram parte dos acordos políticos para apoio do grupo
liderado por Jayme Canet. No Grupo Bamerindus90, foi diretor-superintendente, diretor
internacional e membro do Comitê Executivo91 responsável pela área Internacional do banco.

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
87
Atualmente denominado como Sebrae-PR
88
Fonte: Diário do Paraná, 26 fev. 1975 – Arquivo Temático da Biblioteca Pública do Paraná.
89
Fonte: UFPR. Disponível em: <http://www.ufpr.br>. Acesso em: 28 jan. 2003
90
Fonte: INSTITUTO CIÊNCIA E FÉ. Jornal. Belmiro Valverde Jobim Castor. Curitiba, [2002]. Disponível em:
<http://www.cienciaefe.org.br/jornal/arquivo/belmiro/o_brasil.htm>. Acesso em: 22 jul. 2005..
91
Fonte: Projeto Memória Bamerindus, 1995, ano 1991, Estrutura /19/91.
431

6.3.2.2.7 ROBERTO REQUIÃO

1135 Gráfico 6-24: Rede Política Bamerindus: Roberto Requião


Filho de Wallace Tadeu de Melo e Silva,
(1981-1989)
ex-prefeito de Curitiba em 1951, nomeado pelo
governador Munhoz da Rocha, Wallace ainda
tentou eleger-se prefeito em 1954, mas foi
derrotado por Ney Braga. Segundo Braga
(2002f)92, Roberto nasceu em 1941, em Curitiba,
e formou-se em jornalismo pela PUC – PR em
1964, e em direito pela UFPR em 1966. Durante
a década de 1970 participou de diversos
movimentos sociais, exercendo a advocacia em
sindicatos e associações de moradores da cidade
e, mais tarde, no início da década de 1980,
entrou para PMDB. Sua primeira campanha foi
em 1982, quando foi eleito deputado estadual Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.

pelo PMDB tendo sido o segundo candidato mais votado em Curitiba. Na Assembléia inaugurou o
seu estilo polêmico ao apresentar projeto de lei propondo a estatização dos transportes coletivos e
de todos os serviços públicos da capital paranaense, entrando assim em conflito com os interesses
da família Gulin que tradicionalmente atuava no setor de transporte. A primeira grande batalha
política de Requião foi para conseguir a indicação de sua candidatura para prefeito da Capital, pelo
PMDB, em 1985. Concorrendo com ele estava o radialista Ervin Bonkoski da Rádio Colombo do
Paraná, que havia tido um bom desempenho na eleição de 1982. As apresentações da oração da Ave
Maria, todos os dias, durante muitos anos na sua Rádio, bem como as romarias que promovia
anualmente em homenagem a Nossa Senhora de Guadalupe, garantiam uma grande popularidade
para Bonkoski. Com o então prefeito Maurício Fruet fora da disputa, visto que a lei não permitia a
reeleição, Requião e seu grupo de companheiros – Edison Feltrin, Lineu Thomaz, Pastor Agenor
Dias da Silva93, Fábio Campana e Luiz Carlos Romaneli, partiram para o confronto na convenção.
Ervin Bonkoski acabou desistindo da disputa, sobrando Amadeu Geara, candidato apoiado pelo ex-
P. Vale lembrar que, nessa época, o Bamerindus enfrentava a grave crise de liquidez. Apesar de
Requião não ser o preferido de Richa, este manteve uma postura de eqüidistância:
209
[...] [a] convenção do PMDB para [a] definição da candidatura ocorreu em clima de guerra.
Agressivos, partidários de Requião promoveram um verdadeiro massacre verbal ao grupo de

92
Fonte: BRAGA, S. S. Verbete: REQUIÃO, Roberto. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós 1930. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002f. Cd-rom.
93
Pastor Agenor: “Presidia a famosa 145, à época a zona eleitoral mais forte de Curitiba, com mais de 300 mil eleitores,
considerada um modelo pelo PMDB nacional. Tão forte era a liderança do Pastor que, era difícil para os adversários,
fazerem campanha na região. Ali, maior pólo do fluxo migratório que invadia Curitiba, [expulsos do campo pela
substituição da cultura do café pelo soja] atraído pelos fortes apelos da Cidade Industrial implantada por Jaime Lerner,
concentrava-se a força do PMDB. Adversário político era mal recebido”. (ALMEIDA, 2002, p. 74-75)
432

Geara. Era a esquerda mostrando sua força e seu estilo. Vencedor, Requião iniciou sua
campanha calcada em baixíssimo índice de conhecimento e aprovação popular: cinco por
cento, nas primeiras pesquisas [...] contra [...] o popularíssimo arquiteto Jaime Lerner, no
[PDT]. Jaime que ocupara a prefeitura de Curitiba por dois períodos (1971 a 1975) e (1979 a
1983) [...] Sua performance refletia-se nos 63% de aceitação que as pesquisas lhe davam.
(ALMEIDA, 1999, p. 74-75).

1136
Indicado Requião pelo partido, Richa foi obrigado a assumir pessoalmente a campanha e,
junto com Maurício Fruet e Aníbal Khury, e com o apoio do grupo ex-PP, montaram comícios por
toda a cidade apresentando o candidato para a população. O objetivo era evitar o fortalecimento de
Ney Braga que apoiava Lerner. Além do bom desempenho de Requião nos meios de comunicação,
também contou com o apoio da maioria dos vereadores, entre eles, Horácio Rodrigues, presidente
da Câmara. Alguns vereadores como Moacir Tosin94, primo de Maurício Fruet, Luiz Gil Leão, Aziz
Domingos e Lauro Carvalho Chaves, apoiaram Jaime Lerner. Apesar da apertada vitória, Requião
credenciou o seu grupo para disputar mais espaço dentro do PMDB:
210
Dessa campanha de 85 consta um momento forte de solidariedade partidária. Prefeitos do
interior foram chamados a colaborar na campanha de Curitiba. Como não havia coincidência de
mandatos e, portanto, as prefeituras do interior não estavam em jogo, os prefeitos
peemedebistas montaram caravanas de eleitores do interior que, se deslocavam a Curitiba, para
ajudar na “boca de urna”. Valdemar Gonçalves, um bioquímico engajado na campanha, ficou
encarregado da recepção, na altura do Café Damasco, na Rodovia do Café. Dali encaminhava
os ônibus para a 145. Lá o Pastor Agenor saberia o que fazer com eles. Calcula-se que pelo
menos seiscentos ônibus vieram a Curitiba, deslocando algo em torno de dezoito mil pessoas.
Uma verdadeira invasão peemedebista que garantiu a vitória por mirrados 18.800 votos.
Comprovadamente, até morto votou! (ALMEIDA, 1999, p. 80).

1137
Na sua gestão, Requião concentrou os investimentos na periferia do município, criou as
secretarias de Abastecimento e do Bem-Estar Social, a Associação dos Meninos e Meninas de Rua
de Curitiba (ASSOMA), bem como promoveu um programa de construção de creches e postos de
saúde:
211
Confirmando a previsão de Gulin, na área de transporte urbano criou a frota pública de ônibus
e requereu judicialmente a anulação de concessões outorgadas a empresários após a apuração
de irregularidades em diversas empresas. [...] O ex-vereador, ex-deputado estadual e multi-
empresário Donato Gulin, em suas militâncias política e empresarial, teve sérios atritos com o
Requião. Ele que durante muito tempo tivera forte influência sobre setores da prefeitura e
principalmente da Câmara Municipal, através o poderoso Sindicato das Empresas de
Transportes Coletivos, (leia-se João Simões) temia as medidas que Requião, caso eleito,
ameaçava tomar. Num pronunciamento público, Donato afirmou alto e bom som que, Requião
eleito, ele “iria embora de Curitiba”. Dito e feito. Proclamado o resultado, com a vitória de
Requião sobre Lerner por 227.248 votos a 208.348, Donato e família mudaram-se para
Campinas, São Paulo. Lá, para não fugir às origens, foi atuar na área de transporte coletivo.
Durante todo o mandato de Requião, Donato permaneceu fora de Curitiba. (ALMEIDA, 1999,
p. 77-78).

1138
A gestão de Requião também foi marcada pela intensificação das invasões de terrenos pela
população de baixa renda, bem como pelo apoio ostensivo da administração municipal a estes

94
Moacir Tosin era conhecido pelo apelido de Jacaré. Ao vencer a eleição, Requião avisou-o: “Jacaré se come pelo rabo. É
pelo rabo que eu vou te comer.” Com Requião na prefeitura, Aziz Domingos e Luiz Gil não durariam no PMDB. Nem
Horácio. (ALMEIDA, 1999, p. 76-77)
433

movimentos. Em seu depoimento (VIEIRA, 2005), José Eduardo conta que para reformar o Palácio
Avenida (sede do Bamerindus), necessitava da licença da prefeitura de Curitiba. Durante todo o
governo Jaime Lerner, a licença foi sistematicamente recusada, mas assim que Roberto Requião
assumiu, a obra foi liberada. Mas Requião também trouxe para a prefeitura sua equipe que era
formada por Cláudio Fajardo, Narciso Pires, José Maria Correia, Marlene Zanin, Doático Santos,
originários do PCB, PC do B, MR 8. Logo após a posse, teve início uma “guerra de cotoveladas”
dentro do PMDB que foi decisiva para, nos anos seguintes, saírem do partido diversos grupos em
busca de espaço político, entre eles José Richa que fundou o PSDB no Paraná; Álvaro Dias, o PST;
Jayme Canet, o PDC; e Affonso Camargo que foi para o PTB. Dessa forma, Requião se distanciou
da rede política Bamerindus. Logo após terminar seu mandato em dezembro de 1988, foi nomeado
secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano no governo Álvaro Dias,
permanecendo no cargo até o início do ano seguinte, quando saiu para concorrer à sucessão no
governo estadual. Quando Roberto Requião chegou ao governo do Estado, em 1991, utilizou seu
estilo polêmico e agressivo para enfrentar seus adversários, iniciando logo após a posse uma intensa
campanha contra o Bamerindus, José Eduardo e boa parte das oligarquias paranaenses.

6.3.2.2.8 ÁLVARO FERNANDES DIAS

1139
Paulista de Quatá, Álvaro Dias Gráfico 6-25: Rede Política Bamerindus: Álvaro Dias (1981 a
1989)
nasceu em 1944; seu pai migrou com a
família para a região de Maringá, no norte
do Paraná, onde se tornou proprietário de
terras e cafeicultor. Segundo DHBB
(2002f)95, Álvaro graduou-se em História,
em 1967, pela Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Universidade Estadual
de Londrina (UEL); foi presidente do
diretório acadêmico da Faculdade de
Filosofia; professor; apresentador de
programas de auditório; locutor e redator de
rádio-teatro nas emissoras Paiquerê e Rádio
Atalaia. Eleito vereador em Londrina pelo
MDB, em 1968, foi líder do partido e vice-
presidente da Câmara Municipal, bem como
deputado estadual em 1971. No ano Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.

95
Fonte: DHBB. Verbete: DIAS, Álvaro. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós 1930. 1ª edição. Rio
de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002f. Cd-rom.
434

seguinte, candidatou-se a prefeito de Londrina por uma das sublegendas do MDB, ajudando a
eleger José Richa.
1140
Em 1974, conseguiu a maior votação da história do Estado quando foi eleito deputado
federal. Radical oposicionista do governo federal, teve seu nome incluído em diversas listas de
cassação. Reeleito em 1978, foi novamente o candidato mais votado do Paraná. Com a
reformulação partidária de 1979, filiou-se ao PMDB e, em novembro de 1982, derrotou Ney Braga
na vaga para o Senado. No Congresso, foi presidente da Comissão de Educação e Cultura e da CPI
encarregada de investigar atos de terrorismo. Também foi presidente do diretório regional do
PMDB paranaense, tendo participado ativamente da campanha “Diretas Já”, contrariando a
opinião dos setores moderados do partido que relutavam em levar a campanha às ruas. Também foi
presidente da Comissão de Agricultura, vice-presidente da Comissão de Economia e vice-líder do
PMDB no Senado.
1141
Em novembro de 1986, a chapa Álvaro Dias / Ary Queiroz ganhou as eleições para
governador do Paraná, derrotando a Frente Popular de Oposições que havia lançado a chapa
formada por Alencar Furtado (PMB) e Jaime Lerner (PDT), apoiados pelo PFL de Ney Braga.
Como já vimos, nessa campanha também foram eleitos os senadores pelo PMDB José Richa e
Affonso Camargo, e essa eleição marca a estréia política de José Carlos Gomes de Carvalho –
conhecido no meio político como “Carvalhinho”, também ligado ao Bamerindus, eleito suplente de
Affonso Camargo, e que será nomeado por Álvaro Dias para a Secretaria da Indústria e Comércio,
cargo que ocupará até 1989, quando substitui Affonso Camargo no Senado, que saiu para disputar
as eleições presidenciais. Foi nestas eleições que o PMDB, com uma boa ajuda do Plano Cruzado,
conseguiu eleger 22 governadores nas 23 unidades da federação. Álvaro Dias foi o primeiro
governador do Paraná (pós-1964) que não tinha origem nos quadros políticos de Ney Braga, mas
em compensação, seu vice, Ary Queiroz, tinha conexões de longa data com Jayme Canet, Affonso
Camargo e Aníbal Khury. No governo, Álvaro Dias enfrentou as disputas dentro do PMDB pela
sucessão desde o início de sua gestão. O grupo de Requião enfrentava o grupo Richa, bem como a
provável candidatura de Maurício Fruet. Na disputa, surgiram acusações contra o grupo Richa que,
junto com a ala ex-PP tornaram-se adversários do governo de Álvaro Dias e, mais tarde, em 1988,
Richa e seu grupo vão para o PSDB com Euclides Scalco e Deni Schwartz. Um dos casos mais
notórios do governo Dias foi a anulação, por suspeitas de irregularidade, da concorrência de US$
263 milhões para a construção da Usina de Segredo, que havia sido ganha pela empreiteira C. R.
Almeida. Na época, o projeto de expansão da Inpacel previa a compra antecipada da energia de
Segredo:
212
Cecílio do Rego Almeida [...] comprou [...] briga, xingando o [...] governador Álvaro Dias.
“Tudo nele é falso. Até o cabelo”, atacava Cecílio. Dias está processando o empreiteiro por ter
mandado grampear suas conversas depois de desclassificar a CR Almeida da construção da
Usina [...] Ora embargando obras, ora impugnando licitações, Cecílio sempre contou com a boa
vontade da Justiça para obter gordos contratos na área de infra-estrutura. “Ele tem uma
empreiteira anexa à Justiça”, define um observador político. Foi graças a uma decisão do
Supremo Tribunal Federal, no ano passado, que o empreiteiro recebeu um presente dos deuses.
435

Por ter construído para o Estado a ferrovia Paraná Central, em 1968, que liga Apucarana a
Ponta Grossa, a CR Almeida entrou com uma ação indenizatória exigindo o pagamento da obra
concluída há mais de 20 anos. Os advogados do empreiteiro calculam que o superprecatório
pode chegar a R$ 1,8 bilhão. [...] Para um ex-colaborador, o dono da CR Almeida age
igualzinho a todo empreiteiro, com a diferença de que não faz suas coisas em silêncio [...] Em
1993 chamou a imprensa para acusar a construtora OAS de transformar as licitações públicas
no governo Collor em um grande balcão de negócios. “Os empreiteiros morrem de medo dele,
porque ele fala o que pensa”, diz o senador Roberto Requião (PMDB-PR). “No fundo, ele é um
sujeito que se arrepende do que faz. Mas faz e sem escrúpulos”, completa [...] (VIEIRA, André,
21 jul. 2005).96

1142
É importante observar que Cecílio Almeida e Aníbal Khury eram muito amigos desde os
anos 1960 (HELLER, 2000); Aníbal, além de ter sido por várias vezes presidente da Assembléia
Legislativa do Paraná, foi um dos fundadores do PP junto com Canet e Affonso Camargo; entrou
para o PTB junto com Affonso no final dos anos 1980, e tinha conexões familiares com o vice de
Álvaro Dias, Ary Queiroz. Segundo a AE (14 nov. 1998)97, Cecílio teria mandado gravar conversas
de Álvaro Dias e de pessoas próximas a ele, ainda no final do governo Itamar. Mais tarde, teria
enviado cópias ao “então governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, que estava sob a mira da
CPI do Orçamento”. As eleições de 1990 marcaram a cisão definitiva entre José Richa e Álvaro
Dias que, no cargo de governador, participou ativamente da campanha, desempenhando papel
decisivo na vitória de Requião. Vencida a eleição, Álvaro, antes de passar o cargo, decretou a
extinção do Badep – em março de 1991, transferindo suas funções para o Banestado. Fora do
governo, foi um dos que mais combateu o grupo Quércia dentro do PMDB, o que o levou a
desligar-se do partido em agosto de 1991 para organizar o PST, agremiação esta que em 1993
transformou-se no Partido Progressista (PP), quando houve a fusão PST / PTR, este último liderado
por Joaquim Roriz. O novo partido chegou a ter a quinta maior bancada do Congresso Nacional.
Álvaro lançou sua candidatura à presidência em 1994, renunciando logo a seguir em apoio ao
candidato do PSDB, Fernando Henrique Cardoso. Candidato às eleições para governador do Paraná
pela coligação PP / PMDB, foi derrotado no primeiro turno por Jaime Lerner. Sua derrota só não
foi completa porque conseguiu eleger seu irmão, Osmar Dias (PP), para uma das vagas no Senado.

6.3.2.2.9 ARY VELOSO QUEIROZ

1143
Ary Veloso Queiroz98 nasceu em Curitiba, em 1938; diplomou-se Engenheiro Civil pela
UFPR e foi trabalhar na construção do complexo industrial de fertilizantes para as empresas
Quimbrasil - Química Industrial Brasileira e Serrana S.A. de Mineração, do grupo Bunge e Born.

96
Fonte: VIEIRA, André. O homem do barulho: o empreiteiro Cecílio do Rego Almeida se vinga de Sérgio Motta e insiste em
entrar na telefonia celular. ISTOÉ, Curitiba, 20 maio 1998.
97
Fonte: AE, 14 nov. 1998. Disponível em: <http://www2.estado.com.br/edicao/pano/98/11/14/pol850.html>. Acesso em: 13
fev. 2003.
98
Fonte: CARNEIRO, D. e VARGAS, T. História biográfica da República no Paraná. Curitiba: Banestado, 1994. Apud,
Casa Civil do Governo do Estado do Paraná, Curitiba, 2000. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/casacivil/gov_aryveloso.
shtml>. Acesso em: 25 jul. 2005.
436

1144 Gráfico 6-26: Rede Política Bamerindus: Ary Queiroz


Retornou a Curitiba para assumir a
(1981 a 1989)
diretoria de produção da Habitação S.A.,
empresa de Jayme Canet e Affonso Camargo e,
no governo Richa, saiu da Habitação para
assumir a presidência da Copel. No acordo para
a formação da chapa Álvaro Dias em 1986, foi
indicado como candidato a vice-governador pelo
grupo ex-PP, tendo sido um dos coordenadores
da campanha. Eleito, assumiu a Secretaria do
Interior, que veio a ser substituída pela
Secretaria do Desenvolvimento Urbano e Meio
Ambiente.
1145
Segundo Almeida (1999, p. 91), Ary
Queiroz era casado com uma filha do general Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.
Ítalo Conti, que havia sido um personagem muito importante nos governos de Ney Braga e Jayme
Canet, sendo ele “sobrinho por afinidade de Aníbal Khury (as esposas de Ítalo e Aníbal são irmãs)”.

6.3.2.2.10 JOSÉ CARLOS GOMES DE CARVALHO - CARVALHINHO

1146 Gráfico 6-27: Rede Política Bamerindus: José Carlos Gomes de


Também natural do Norte do
Carvalho (1990 a 1997)
Paraná, José C. G. de Carvalho nasceu em
Santo Antônio da Platina, em 1935.
Segundo o jornal Estado do Paraná (10
jun. 1984), seu pai, José Domingos
Marcondes Carvalho, natural de
Pindamonhangaba (SP), foi o fundador de
Cambará e um dos pioneiros do Norte
Velho; muito rico viveu por 40 anos em
Santo Antônio da Platina. Não
conseguimos verificar se havia algum grau
de parentesco entre José Domingos
Marcondes Carvalho e o Coronel Felippe
M. de Carvalho, também rico fazendeiro e
importante político na região que chegou a
comandar o executivo municipal de
Tomazina. Nos anos 1920, Avelino Vieira
foi trabalhar na seção bancária do
armazém do coronel em Brazópolis (PR) – Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.
437

atual Wenceslau Brás, que na época chegou a representar o Banco Francês e Italiano, Banco do
Brasil, Banco de Curitiba e Noroeste do Estado de São Paulo. (ANDRADA, 1982, p. 19).
1147
Josephina Gomes de Carvalho, mãe de José Carlos, vinha da família mineira de Brazópolis,
do ex-presidente da República Wenceslau Brás Pereira Gomes (1914 - 1918) que, por sua vez, era
filho do coronel Francisco Brás Pereira Gomes. Durante muitos anos a família Gomes controlou
uma usina hidrelétrica que abastecia a região do Paranapanema. Como vimos no capítulo III, a
família dos avós maternos de José Eduardo era amiga da família de Wenceslau Brás e migraram
para Tomazina para cuidar de uma fazenda que eles possuíam na região. Na infância, José Carlos
estudou no Colégio Cristo Rei, em Jacarezinho, onde se tornou amigo de José Richa. Assim como
boa parte das elites da região, também freqüentou o Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba e,
segundo DHBB (2002e)99, bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito
de Curitiba, em 1959. Mais tarde especializou-se em administração de empresas na FGV.
1148
Iniciou sua vida profissional na Seção de Cobrança da Hermes Macedo S.A. em 1950,
vindo a trabalhar mais tarde na Transparaná, a maior concessionária de automóveis da Willys no
Brasil, onde permaneceu por 13 anos. Carvalho foi um dos fundadores da Associação Brasileira de
Distribuidores de Veículos Automotores (Abrave) em 1965 e, no ano seguinte, fundou a empresa
Copava, concessionária da Volkswagen, em sociedade com os irmãos Gulin que, já na época,
exploravam o setor de transporte coletivo em Curitiba. Mais tarde, em 1972, Carvalho saiu da
Copava para criar o Grupo Corujão em associação com Ciro Frare100, Helmuth e Phillipp Altheim.
O Quadro 6-6 apresenta a composição das empresas controladas por José Carlos em 1984.

Quadro 6-6: Empresas do Grupo José Carlos Gomes de Carvalho em 1984 e Grupo Corujão em
1990
Anos
Empresa 1984 Observações
1990
Água Mineral Platina x
Corujão Comércio de Automóveis x x Concessionária Volkswagen
Corujão Shopping Center - Pinhais x
Corujão Empreendimentos S.A. x
Corujonda Comércio de Veículos x x Concessionária Honda em Ponta Grossa e Região;
Disavel - Distribuidora de Veículos Concessionária Mercedez-Benz (em 1984 atendia 27 municípios
x x
do Paraná com 8 filiais e sede em Santo Antônio da Platina)
Horizonte - Assessoria de Vendas e
x
Serviços
Liquidez Factoring x Financeira
Liquidez Seguros. x
Liquidez Corretora de Seguros x Curitiba
Posto Corujinha x Distribuidor Petrobrás em Curitiba;
Proserc - Processamento de Dados, Prestava serviços para o grupo e para terceiros, nas áreas de
x x
Serviços e Representações Comerciais. computação e auditoria.
Reflorestadora Rodeio Velho Declarava possuir um milhão e cem mil pés de pinus elliotis em
x x
Ponta Grossa.
Reflorestadora Vale do Palmital x x Declarava possuir cinco milhões e meio de pés de palmito em

99
Fonte: DHBB. Verbete: CARVALHO, José Carlos Gomes de. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós
1930. 1ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002e. Cd-rom.
100
Ciro Frare, Vânia Zacarias Frare e Celso Antonio Frare aparecem como acionistas e membros efetivos do conselho Curador
da Fundação Bamerindus de Assistência Social no período 1991 a 1997.
438

Quadro 6-6: Empresas do Grupo José Carlos Gomes de Carvalho em 1984 e Grupo Corujão em
1990
Anos
Empresa 1984 Observações
1990
Antonina.
Reúno Administração de Consórcios x x Curitiba
Reúno Mercantil de Automotores x x Comércio de veículos automotores em Curitiba.
Rocar Empreendimentos S.A. x
Temalivre Comunicações x x Empresa de promoções e propaganda em Curitiba;
Tramac x Revenda de tratores no Sudoeste do Paraná;
Unionda - Comércio de Veículos x
Avião próprio. x
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nos dados extraídos de Estado do Paraná (10 jun. 1984) e COUTO (1998, p. 67).

1149
Em setembro de 1984, Carvalho assumiu a Presidência Nacional da ABRAVE, em
cerimônia bastante concorrida. No jornal da Abrave101, entre as inserções em homenagem,
encontramos notas das seguintes instituições: Bamerindus, Gabinete do Governador José Richa,
Corporação Nasser, Paraná Financeira, Banestado e Prefeitura de Santo Antônia da Platina.
Também foram publicadas fotografias de eventos nas quais José Carlos aparecia ao lado do
Governador, do Presidente João Figueiredo, do ex-Ministro Karlos Rischbieter, do presidente da
Volkswagen do Brasil Wolfgang Sauer e do ex-Ministro César Cals.
1150
Em 1986 disputou pelo PMDB o primeiro cargo público como suplente de Affonso
Camargo na chapa vitoriosa para o Senado Federal. No ano seguinte, na gestão do governador
Álvaro Dias (1987-1991), assumiu a Secretaria da Indústria e Comércio, nomeação resultante do
acordo de apoio do grupo ex-PP para a campanha eleitoral. Permaneceu na Secretaria até 1989
quando então assumiu a cadeira no Senado substituindo Affonso Camargo no cargo até o retorno do
titular em janeiro de 1990. Nesse ano, transferiu-se do PMDB para o PTB assumindo em junho do
ano seguinte, a presidência do partido no Paraná, bem como, segundo a AE (01 ago. 1992), foi
eleito suplente do senador José Eduardo. Em outubro de 1992 foi eleito vice-prefeito de Curitiba na
chapa encabeçada por Rafael Greca; sua indicação fazia parte do acordo que previa o apoio do
PTB, de José Eduardo e do Bamerindus. Assumiu o cargo em 1º de janeiro de 1993, e mais tarde,
nesse mesmo ano, Carvalhinho deixou a presidência do PTB. Empresário, atuava como diretor
presidente do Grupo Corujão que controlava inúmeras empresas como demonstrado no Quadro 6-6.
Também foi um dos fundadores da Mega Energia Participações S.A., em sociedade com Atilano de
Oms Sobrinho e o Grupo Inepar. Segundo Bortot (GM, 18 nov. 2004)102 e Couto (1998, p. 67), José
Carlos também era sócio do Banco Bamerindus, bem como integrou o Conselho de Administração
do Grupo Bamerindus e presidente da Inpacel. Segundo o jornal Indústria e Comércio (11 ago.
1993)103, José Carlos Gomes de Carvalho, em entrevista, falou de seus planos para o Senado nas
eleições de 1994. Segundo ele, quando entrou no PTB em 1990, foi eleito por unanimidade

101
Fonte: ABRAVE. Líderes / Leaders AUTO, nº 1 – ANO III – Set. 1984, edição especial comemorativa.
102
Fonte: BORTOT, Ivanir José. Justiça vai julgar caso de desvio de mais de R$ 1,8 milhões da Fiep. GM, 18 nov. 2004.
103
Fonte: Carvalho fala dos planos 1994 e da pretensão ao Senado. Indústria e Comércio, Curitiba, 11 jun. 1993.
439

presidente regional do partido; nessa época a agremiação tinha apenas 53 diretórios no Paraná e ao
final de sua gestão; em 1993, estava presente em 352 municípios do Estado. Segundo ele, apesar de
ter sido encorajado por companheiros para candidatar-se a prefeito de Curitiba, entendia que a
eleição passava por Jaime Lerner e Requião. No Quadro 6-7 apresentamos os diversos cargos que José
Carlos ocupou nas administrações de instituições e associações de classe, como segue:
Quadro 6-7: Cargos ocupados por José Carlos Gomes de Carvalho.
Cargo Órgão Sigla Nome da instituição
Presidente Diretoria Assoaudi Associação Brasileira dos Distribuidores Audi – SP - SP
Membro Conselho Superior ACSP Associação Comercial do estado de São Paulo
Membro Conselho Superior ACP Associação Comercial do Paraná
Membro Conselho Deliberativo ADVB Associação dos Dirigentes de Vendas no Brasil – PR
Membro Aladda Associação Latino Americana de Distribuidores de Automotores
Presidente Diretoria
Membro Bracelpa Associação Nacional dos Fabricantes de Papel e Celulose – SP
Vice-presidente Diretoria
Presidente Conselho de Administração Badep Banco de Desenvolvimento do Paraná.
Presidente Diretoria Ciep Centro das Indústrias do Estado do Paraná
Presidente Diretoria Citpar Centro de Integração e Tecnologia do Paraná
Presidente Conselho Deliberativo CIC Cidade Industrial de Curitiba
Membro CNI Confederação Nacional da Indústria
Presidente Comissão de Centralização em
Brasília de todas as Entidades
do Sistema CNI
Presidente Diretoria Coind Conselho Consultivo da Política Industrial e Comercial do
Paraná
Membro CAP Conselho de Autoridade Portuária dos Portos de Paranaguá e
Antonina – PR
Membro Coal Conselho Permanente de Assuntos Legislativos – Brasília - DF
Presidente Conselho de Administração Ferroeste Estrada de Ferro Paraná - Oeste S.A.
Membro Fiesp Federação das Indústrias do Estado de São Paulo
Presidente Diretoria Fiep Federação das Indústrias do Estado do Paraná
Membro Fenabrave Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores
Presidente Diretoria
Membro Conselho de Administração IBPQ PR Instituto Brasileiro de Produtividade e Qualidade no Paraná
Presidente Conselho Deliberativo IEL Instituto Euvaldo Lodi do Paraná
Presidente Conselho de Administração Mineropar Mineropar - Minerais do Paraná S.A.,
Presidente Conselho Deliberativo Senai-PR Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
Diretor Diretoria Sesi PR Serviço Social da Indústria
Regional
Presidente Diretoria Sinpacel Sindicato de Papel e Celulose e Derivados do Estado do Paraná
Presidente Comissão de Administração Sesi e Senai
dos Conselhos Nacionais
Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base nos dados extraídos de Couto, 1998, p. 67-69.

6.3.2.2.11 JAIME LERNER

1151
Filho de imigrantes judeus poloneses, nasceu em 1937, em Curitiba, formou-se em
Engenharia Civil em 1961 pela UFPR e durante o governo Ney Braga, integrou a equipe que
auxiliou na elaboração do novo Plano Diretor de Curitiba, assessoria que em 1965 foi transformada
no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (IPPUC).Segundo Braga (2002c)104, além de

104
Fonte: BRAGA, S. S. Verbete: LERNER, Jaime. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós 1930. 1ª
edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002c. Cd-rom.
440

professor de Planejamento Urbano no Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFPR, Lerner


foi presidente do IPPUC e presidente do Instituto dos Arquitetos do Paraná.
1152
Lerner Iniciou sua carreira política em Gráfico 6-28: Rede Política Bamerindus: Jaime Lerner
(1988 a 1993)
1971 ao ser nomeado prefeito de Curitiba pelo
governador Leon Peres, permanecendo no cargo
até 1975. Na sua gestão, criou a Cidade
Industrial de Curitiba (CIC) em 1973 que foi
objeto de críticas de seus adversários políticos
como Requião, que a classificou “como ‘um
imenso campo de golfe’ para executivos”
(ALMEIDA, 1999, p. 79), pois ainda hoje
grande parte dessa área permanece desocupada.
Em março de 1975 foi substituído por Saul Raiz,
político nomeado pelo então governador Jayme
Canet sob a indicação de Ney Braga. Assumiu
seu segundo mandato como prefeito de Curitiba
em março de 1979, nomeado pelo governador Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.

Ney Braga, tendo apoiado ativamente os candidatos do PDS, Saul Raiz para governador e Ney
Braga para o Senado em 1982. Derrotado e sem espaço político no PDS, deixou o cargo em março
de 1983, e filiou-se ao PDT de Leonel Brizola. Em 1985, estréia sua primeira campanha eleitoral,
buscando pela primeira vez os votos para a sua candidatura pelo PDT para a prefeitura de Curitiba.
Nessa eleição, o então governador Richa apostou todo o seu prestígio político, indo para as ruas e
comícios em apoio a Roberto Requião. Como já vimos, Lerner acabou derrotado por uma pequena
margem de votos. O difícil caminho eleitoral vai ser novamente trilhado em novembro de 1986,
quando novamente é derrotada a chapa que integrava como candidato a vice-governador de Alencar
Furtado.
1153
Com o término do mandato de Requião na prefeitura de Curitiba, em 1988, o PMDB lançou
a candidatura Maurício Fruet, contra Enéas Farias que era “escudado num forte apoio financeiro,
montado pelo banqueiro José Eduardo de Andrade Vieira, dono do Bamerindus e do PTB”
(ALMEIDA, 1999, p. 80-81); o radialista Algaci Túlio pelo PDT e o advogado e também radialista
Airton Cordeiro pelo PFL. Lerner havia se transferido para o Rio de Janeiro para participar do
governo Brizola, levando junto o seu domicílio eleitoral provavelmente visando ser candidato a
prefeito com o apoio de Brizola. Sem espaço político no Rio de Janeiro, tentou lançar-se candidato
na campanha para a prefeitura de Curitiba; viu-se impedido, visto que já havia vencido o prazo para
retornar ao Paraná seu domicílio eleitoral. Foi então que Giovani Gionédis e Saulo Ramos,
ingressam com um pedido de liminar no TSE em Brasília e, atropelando o TRE do Paraná, eles
conseguiram que o tribunal julgasse o processo a tempo de viabilizar a candidatura de Lerner. Em
29 de outubro, com a cobertura da Rádio Clube Paranaense, o plenário do TSE decidiu em favor de
441

Lerner:
213
Pesou muito na decisão do TSE, o parecer do ministro Oscar Corrêa. Amigo pessoal dos
grupos udenistas carioca e catarinenses - família Bornhausen, Padre Godinho, Carlos Lacerda e
do paranaense Jorge Khury, udenista a eles ligado. (ALMEIDA, 1999, p. 82).

1154
Lerner entrou na campanha com Algaci Túlio, candidato até então pelo PDT, como seu
vice-prefeito, mais o apoio do PFL e PTB; as avaliações nas pesquisas indicavam uma vitória
tranqüila, considerando que o candidato do PTB, Enéas Faria, e do PFL, Airton Cordeiro,
renunciaram em favor de Lerner e, tendo em vista o fato que a eleição seria em apenas um turno.
Sem o desgaste peculiar das campanhas, com amplo suporte da rede política Bamerindus e apoio do
grupo Richa, Lerner entrou na disputa nos doze dias finais, abrindo vantagem de 136 mil votos
sobre Maurício Fruet, impondo assim a primeira derrota do PMDB no Paraná desde 1980. A
campanha de Lerner tinha como símbolo um coração “o coração curitibano” criado por Sérgio
Mercer em 1985, que segundo Almeida (1999, p. 84) “como por encanto aflorou em todos os
cantos da cidade”, e vários depoimentos afirmam que o tal “encanto” teria acontecido dentro da
gráfica do Bamerindus, de onde saiu não só o coração, mas grande parte do material promocional
da campanha.
1155
Ao terminar seu mandato, Lerner conseguiu eleger seu sucessor para a prefeitura em 1992,
também com forte apoio do PTB. Passou então a articular sua candidatura ao governo do Estado.
Ao ser eleito governador ainda no primeiro turno em 1994, apoiado pela coligação PDT, PTB, PFL,
PSDB e PV, Lerner teria colocando um fim a 12 anos de hegemonia política do PMDB no Paraná.
A sua campanha recebeu o apoio decisivo da rede política do Bamerindus, com a participação
direta de José Eduardo, Carvalhinho, João Elísio, Jayme Canet, Affonso Camargo e Aníbal Khury.
Buscando obter os votos do interior do Estado, foi escolhida para candidata a vice-governadora, a
ex-deputada estadual Emília Salles Belinati, cujo marido Antônio Casemiro Belinati e filhos
constituíam um clã muito influente na região de Londrina. Se em 1992 Jaime Lerner já era
considerado como um forte candidato do PDT ao cargo de Presidente da República, com a vitória
em 1994, seu nome passou a fazer parte definitivamente do rol dos presidenciáveis para suceder
FHC em 1998.

6.3.2.2.12 JOSÉ CARLOS MARTINEZ

1156
José Carlos era paulista, nasceu em 1948, filho de um grande proprietário de terras, no
Paraná e São Paulo, Oscar Martinez. A família expandiu sua atuação para a área de comunicação
quando adquiriu a TV Coroados105 de Paulo Pimentel, durante o governo Canet.

105
Aquisição esta que, segundo Braga (2002e), não foi paga.
442

1157 Gráfico 6-29: Rede Política Bamerindus: José Carlos


Segundo Braga (2002d), José Carlos
Martinez (1985 a 1995)
iniciou sua vida política em 1982, quando foi
deputado federal pelo PDS, compondo a ala
conservadora. Em 1984 votou contra a emenda
das Diretas e entre 1983-1987 foi membro e
vice-presidente da Comissão de Comunicação,
membro das comissões de Esporte e Turismo e
de Serviço Público, da CPI do pólo
petroquímico do Sul, e suplente das comissões
de Economia, Indústria e Comércio e de
Fiscalização Financeira e Tomada de Contas. No
Colégio Eleitoral votou em Paulo Maluf e, em
1986, elegeu-se deputado federal constituinte
pelo PMDB. Na Constituinte, assumiu a função Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.
de segundo vice-presidente da Subcomissão da Ciência, Tecnologia e Comunicação, da Comissão
da Família, Educação, Cultura e Esportes, e suplente da Subcomissão do Poder Judiciário e do
Ministério Público, da Comissão da Organização dos Poderes e Sistemas de Governo. Apoiou as
propostas defendidas por setores empresariais e pela UDR e foi contra a limitação do direito de
propriedade privada, a participação popular no processo legislativo, a proteção da empresa nacional
e a desapropriação da propriedade produtiva; também foi a favor do mandato de cinco anos para o
presidente Sarney e à entrada de capital estrangeiro. Em 1989, filiou-se ao PRN e, além de
tesoureiro, foi um dos principais organizadores da campanha Collor no Paraná, que também era
apoiado pela rede política Bamerindus. Com a vitória eleitoral, cresceu o seu prestígio político bem
como do partido, passando a ser cortejado pelas principais lideranças políticas do Estado. Ao
terminar seu mandato deixou a Câmara em 1991 e só retornou à política em 1998. Em 1992,
organizou a rede Organizações Martinez de Rádio e Televisão (OM)106, tendo como sócio seu irmão
Flávio de Castro. Segundo Braga (2002d), a OM integrava o projeto do grupo político de Collor e
visava consolidar sua presença na região Sul. Mais tarde, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP)107
apontou Martinez como um dos mentores do segundo depoimento do ex-secretário do presidente
Collor, Cláudio Vieira, à CPI. No mês seguinte, durante os trabalhos da Comissão, foi acusado de
ter participado do “esquema P. C. Farias” no Paraná, ao receber cheques de 4,5 milhões de dólares
para quitar dívidas referentes à compra da TV Corcovado, do Sistema Brasileiro de Televisão
(SBT), de Sílvio Santos. Em outubro de 1992, ele e seu irmão foram julgados e condenados por
crime de falsidade documental e sonegação fiscal na 6ª Vara da Justiça Federal do Paraná, numa
ação contra a venda da concessão da TV Carimã. Segundo o OESP (09 out. 1992), a ação também

106
Ver capítulo IV.
107
Fonte: EVELIN, G. Secretária denuncia Operação Uruguai. AE, Aedata, Brasília, 29 jul. 1992..
443

acusava o empresário Mário Petrelli108 e, a sentença determinou a anulação da concessão outorgada


à TV Carimã Ltda., que teria sido transferida ilegalmente à TV Independência Ltda. Com relação à
acusação levantada pela CPI, Martinez declarou que já havia apresentado sua declaração de renda
na Comissão de Comunicação da Câmara, na qual demonstrava o pagamento do empréstimo
recebido de P. C. Farias. Segundo Braga (2002d), José Carlos defendeu as ações do tesoureiro da
campanha de Collor declarando, em 1993, que “crucificaram PC até onde queriam, mas todo
mundo sempre fez campanha do mesmo jeito no Brasil”; também reconheceu ter recebido “doações
das construtoras Andrade Gutierrez e CR Almeida para sua campanha eleitoral”. No ano seguinte, a
rede OM mudou o nome para Central Nacional de Televisão (CNT), e Martinez assumiu o cargo de
diretor-presidente da nova rede. Em 1995 o controle da rede foi adquirido formalmente pelo
Bamerindus.

6.3.2.2.13 BASÍLIO VILLANI

1158
Villani foi um dos mais notórios Gráfico 6-30: Rede Política Bamerindus: Basílio Villani
(1981 a 1994)
políticos promovidos pelo Bamerindus. Natural
de Bauru (SP), nasceu em 1940, formou-se em
Administração de Empresas pela UFPR em 1982
e, como bancário, foi um dos fundadores da
Associação dos Funcionários do Bamerindus,
tendo presidido a instituição entre 1970 e 1978.
Após se formar, foi promovido a diretor do
banco bem como foi presidente da Cooperativa
dos Bancários de Curitiba nos anos 1985 e 1986.
Sua vida política começou em 1986 quando,
filiado ao PMDB, conseguiu eleger-se deputado
federal constituinte. Durante a campanha foi
acusado de abuso de poder econômico por
diversos concorrentes, inclusive por colegas do Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.

próprio partido. Julgado pelo TRE, teve seu registro negado por unanimidade. Segundo Veloso &
Sousa (2002)109, a imprensa na época publicou que na sua campanha “trabalharam quinhentos cabos
eleitorais recrutados no quadro de funcionários do banco”.
1159
Os autos do processo julgado pelo TSE110 e publicado no Diário da Justiça em 12 set. 1988,

108
Petrelli é ex-diretor do BB e foi o principal assessor Jorge Bornhausen quando este era ministro Gabinete Civil do presidente
Fernando Collor. Fonte: ROCHA, Leonel. A teia – continuação. ISTOÉ, No 1610 04 ago. 2000. Disponível em:
<http://www.terra.com.br/istoe/1610/politica/1610caixinha_3.htm>. Acesso em: 10 ago. 2005.)
109
Fonte: VELOSO, V. & SOUSA, M. G. Verbete: VILLANI, Basílio. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico
Brasileiro: pós 1930. 1ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002. Cd-rom.
110
Fonte: BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral (TSE ). Acórdão nº 9.081 de 28 jun. 1988 – Recurso nº 6.893 – Classe 4ª -
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
444

página 22.689 – Acórdão nº 9.081 – Recurso nº 6.893 – Classe 4ª - Paraná, descreve em detalhes o
esquema montado pelo Bamerindus para financiar a campanha. Segundo a acusação, o comitê teria
recebido computadores e móveis, para os quais foram apresentados contratos em que o Bamerindus
alugava os bens para Basílio. Também o Bamerindus teria doado móveis para algumas entidades,
através do comitê eleitoral; após ser cassado pelo TRE PR, uma medida liminar restabeleceu seu
registro provisoriamente até que, em junho de 1988, o TSE decidiu por unanimidade de votos
cassar a decisão do TRE-PR e tornar efetiva a diplomação de Villani no cargo de deputado federal.
1160
Basílio Villani assumiu o mandato em 1º de fevereiro de 1987, filiou-se ao PTB e no
Congresso somou, ao lado da UDR, na questão da reforma agrária e, segundo o jornal Tribuna do
Paraná (22 set. 1990) 111, foi um dos principais articuladores do “Centrão”. Também foi titular da
Subcomissão do Sistema Financeiro, da Comissão do Sistema Tributário, Orçamento e Finanças;
suplente da Subcomissão do Sistema Eleitoral e Partidos Políticos e da Comissão da Organização
Eleitoral, Partidária e Garantia das Instituições.
1161
Segundo Veloso & Sousa (2002), Basílio votou a favor da unicidade sindical, da soberania
popular, do presidencialismo, do mandato de cinco anos para o presidente José Sarney e da anistia
ao micro e pequenos empresários. Votou contra: a demissão sem justa causa, o rompimento de
relações diplomáticas com países praticantes de uma política de discriminação racial, a pena de
morte, a limitação do direito de propriedade privada, o mandado de segurança coletivo, o aborto, a
remuneração 50% superior para o trabalho extra, a jornada semanal de 40 horas, o turno
ininterrupto de seis horas, a pluralidade sindical, o voto aos 16 anos, a nacionalização do subsolo, a
estatização do sistema financeiro, o limite de 12% ao ano para juros reais, a proibição do comércio
de sangue, a limitação dos encargos da dívida externa, a criação de um fundo de apoio à reforma
agrária, a legalização do jogo do bicho e a desapropriação da propriedade produtiva.
1162
Em 1988, foi eleito presidente do diretório regional do PTB e, no ano seguinte, assumiu a
função de secretário-geral do partido. Em 1989 transferiu-se para o PRN e liderou a campanha de
Collor na Região Sul e, em 1990, foi reeleito deputado federal pelo PRN com 34.337 votos112;
segundo o DIAP (2002)113, novamente com o apoio do Bamerindus; mais tarde posicionou-se
contra o impedimento do presidente Collor. Ainda em 1990, Basílio assumiu uma das vice-
lideranças do PRN na Câmara e tornou-se vice-presidente do partido no Paraná. Em setembro de
1992 foi um dos 38 parlamentares que se opuseram à abertura de processo de impedimento de
Collor. Ainda naquele ano, agora filiado ao PDS, assumiu o cargo de vice-líder e atuou na CPI
mista (Câmara e Senado) sobre irregularidades no FGTS e na Comissão Mista de Planos,

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Paraná. . Brasília: Diário da Justiça, 12 set. 1988, p. 22.689, 28 jun. 1988. Ver também BRASIL. Tribunal Regional
Eleitoral - Paraná (TRE PR). Processo nº 11.583 e 9.147 (Representação) – Classe 5ª. Acórdão nº 14.428. Curitiba, 30 dez.
1986.
111
Fonte: Recordando. TP, Curitiba, 22 set. 1990, p. 2. Coluna Tribuninhas.
112
Fonte: TRE PR (2002).
113
Fonte: DIAP - Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. QQCN - Quem foi quem no Congresso Nacional
nas matérias de interesse dos assalariados: 1999/2003: 2002. Brasília, 2002.
445

Orçamentos Públicos e Fiscalização. Como segundo-vice-presidente atuou na comissão especial do


projeto de Emenda Constitucional nº 17/91 que tratou do sistema tributário nacional. Em 1993,
participou da fusão do PDS com o PDC de Jayme Canet que gerou PPR e, no ano seguinte, atuou
na CPI sobre a fuga de capital e evasão de divisas. Em outubro de 1994, reelegeu-se, agora pelo
PPR, obtendo a maioria dos votos em suas bases eleitorais nas regiões Centro-Oeste e Norte do
Estado.

6.3.2.3 ALGUNS ADVERSÁRIOS

1163
A identidade da rede política Bamerindus é determinada não só pelos seus integrantes, mas
também pela contraposição com redes adversárias, na medida que formam conexões antagônicas,
ou negativas nas disputas políticas, e que irão determinar limites e condicionamentos no exercício
do poder. Sendo assim, consideramos importante conhecer algumas das principais conexões
negativas estabelecidas no período analisado.

6.3.2.3.1 LÉO DE ALMEIDA NEVES

1164
Um personagem importante nas redes adversárias foi Léo de Almeida Neves, que procurou
ocupar posições nas regiões de transição entre as principais redes políticas do Paraná. Nascido em
Ponta Grossa (PR), em 1932, também estudou no Colégio Estadual do Paraná, em Curitiba. Iniciou
a carreira política como secretário-geral do PTB e, em 1958 candidatou-se a deputado estadual
obtendo uma suplência. Segundo DHBB (2002h)114, em 1961 assumiu a Diretoria da Carteira de
Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil. Em 1962 foi membro do Conselho Deliberativo
do Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura e do Conselho Administrativo do Grupo
Executivo de Crédito Rural, e a partir de 1963, do Conselho Deliberativo da Superintendência
Nacional de Abastecimento (Sunab). Filiou-se ao MDB e foi candidato a deputado federal em 1966,
tendo sido o deputado mais votado da legenda no Paraná.
1165
Foi o principal articulador, no Paraná, da Frente Ampla, tendo sido um dos cassados pelo
AI-5. Com a extinção do bipartidarismo, em 1979, filiou-se ao PMDB e concorreu a uma cadeira na
Câmara dos Deputados em 1982, obtendo uma suplência. Foi superintendente do INPS em 1987 e
diretor de Produção do IBC entre 1988 e 1990. Em outubro de 1990, elegeu-se segundo suplente de
José Eduardo no Senado, tendo exercido o mandato de maio a dezembro de 1995. No pleito de
outubro de 1994, elegeu-se novamente suplente de senador, agora de Roberto Requião do PMDB. É
interessante observar que Almeida Neves transitava com facilidade entre lados aparentemente
opostos, pois José Eduardo e Requião eram adversários políticos de longa data. Em 1997 foi um

114
Fonte: DHBB. Verbete: NEVES, Léo. In: DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós 1930. 1ª edição. Rio de
Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2002h. Cd-rom.
446

dos líderes do movimento “Reage Brasil”, contrário à privatização da Companhia Vale do Rio
Doce.
1166
Segundo DHBB (2002h), Léo Neves trabalhou como jornalista no Diário do Paraná, no
Jornal dos Trabalhadores e no Trabalhismo em Marcha, tendo sido secretário do Sindicato dos
Jornalistas Profissionais do Paraná; anos mais tarde, escreveu para jornais do Paraná, São Paulo e
Rio de Janeiro. Também foi assessor da presidência da Cia Cacique de Café Solúvel, o que suscitou
especulações na imprensa que sua indicação para a Presidência do Banestado, em 1983 atendia a
um pedido do Ministro Delfim Neto, amigo do presidente da Cia Cacique de Café, Horácio Sabino
Coimbra, fundador e presidente da empresa. (NEVES, 2002, p. 396-397). Criada em 1959, a
Cacique tornou-se uma das maiores empresas de café solúvel do Brasil e tinha sua sede em
Londrina (PR). Segundo EFEX (19 out. 2004)115, Horácio Coimbra era, em 1952, um dos principais
acionistas do Nossobanco, Banco Nacional do Paraná e Santa Catarina, bem como foi durante
muitos anos um importante membro da Sociedade Rural do Paraná.

6.3.2.3.2 PAULO PIMENTEL

1167
Na campanha eleitoral para o Senado de 1990, o adversário de José Eduardo com maior
peso e densidade política era sem dúvida Paulo Cruz Pimentel. Paulista de Avaré, nasceu em 1928,
bacharelou-se em 1952 pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP); casou-se
com Ivone Lunardelli e foi trabalhar na empresa de seu sogro Ricardo Lunardelli. Em 1955,
assumiu a Diretoria da Usina Central do Paraná, em Porecatu (PR), empresa da família Lunardelli,
que também era grande proprietária de terras no norte do Estado. No início dos anos 1960,
participou da campanha de Ney Braga para governador e foi nomeado para Secretaria de
Agricultura; em 1965, com o apoio da UDN e do PDC foi eleito governador. Segundo BRAGA
(2002e), sua campanha foi financiada não só pelo sogro, mas também por Jayme Canet Júnior e,
segundo Almeida (1999), na campanha, Pimentel apelava para “o povo do chapéu de palha”, que
teria servido de inspiração para o personagem “Zé do Chapéu” de JE, em 1990.
1168
A trajetória política de Paulo inclui o rompimento com Ney Braga nos anos 1960 e 1970, a
construção de um dos maiores grupos de comunicação do sul do país, tendo chegado a controlar
dois jornais de Curitiba, a Rádio Iguaçu – antiga Guairacá do Grupo Lupion, a TV Iguaçu
(Curitiba), a TV Tibagi (Apucarana - PR), a TV Coroados (Londrina - PR) e o jornal O Panorama,
de Londrina. Por conta dos conflitos com Ney Braga e Jayme Canet, nos anos 1970 perdeu parte de
suas empresas e o contrato com a Rede Globo e Rede Tupi por força de intervenções de Brasília116.
Ao que parece, um dos grandes pecados de Pimentel foi ter promovido politicamente Álvaro Dias

115
Fonte: EFEX Comunicação. CACIQUE, café solúvel e o agronegócio no Paraná. Guia Paraná.com.br. Últimas Notícias.
19 out. 2004 - 11:12. Disponível em: <http://www.guiaparana.com.br/noticias/1098195153.shtml>. Acesso em: 24 jul. 2004.
116
Paulo Pimentel conta que nesta ocasião chegou a receber ameaça de morte por militares que ocupavam cargos importantes
em Brasília. Fonte: Depoimento verbal colhido pelo autor.
447

que na época era do MDB:


214
[...] à base dos generosos espaços que Paulo lhe concedia. Álvaro na eleição de 74 alcançaria a
maior votação já dada a um deputado federal do Paraná até então, em função principalmente
dos comentários diários que fazia, na TV Tibagi de Apucarana (175.000 votos). Antônio
Belinati igualmente dispunha de espaços na TV Coroados, de Londrina e assim elegeu-se com
expressiva votação (135.000 votos) (ALMEIDA, 1999, p. 66-67).

1169
Segundo Braga (2002e), Pimentel foi obrigado a vender a TV Coroados ao grupo Oscar
Martinez (OM), que logo em seguida, através de ação judicial, o grupo se recusou a pagar os 25
milhões estipulados no contrato, sem contar que a TV Iguaçu e a TV Tibagi passaram a enfrentar
graves problemas financeiros. Em 1978, Pimentel ofereceu apoio à candidatura do general João
Figueiredo à Presidência e obteve do Banco do Brasil um empréstimo equivalente à cerca de meio
milhão de dólares. Logo em seguida, reconciliou-se com Ney Braga e, nesse mesmo ano, se elegeu
deputado federal pela Arena.
1170
Em 1981 desligou-se do PDS e lançou sua candidatura pelo PTB e, em agosto de 1982,
voltou ao PDS e engajou-se na campanha para governador de Saul Raiz que, apesar do apoio dos
seus jornais e emissoras de televisão, acabou perdendo para Richa. Durante o governo Richa, Paulo
promoveu nos seus veículos de comunicação, uma intensa campanha política contra o governador
e, na sucessão de João Figueiredo, Pimentel e Antônio Carlos Magalhães coordenaram a campanha
de Andreazza. Em 1985, Paulo foi candidato a prefeito de Curitiba, perdendo para Requião e, em
1986, agora no PFL, apoiou Alencar Furtado que perdeu para Álvaro Dias, e Pimentel conseguiu
eleger-se deputado federal.
1171
Em 1990 disputou a vaga no Senado, e seu maior trunfo eram suas emissoras de TV que,
segundo Braga (2002e), no início dos anos 1990 atingiam 350 dos 371 municípios paranaenses, e
aproximadamente 97% da população do Estado. Na campanha eleitoral que o elegeu governador
em 1965, Paulo Pimentel explorou a imagem de grande empresário que pretendia modernizar o
Paraná e gerar empregos, algo bastante próximo do discurso de Moysés Lupion nos anos 1950.
Essa mesma imagem seria utilizada por José Eduardo em 1990, que troca o chapéu de palha dos
anos 1960 pelo tipo “Texano”. Apesar de toda a sua história e experiência política, Paulo Pimentel
recebeu apenas 291.187 votos, classificando-se em quarto lugar na contagem final.

6.3.2.3.3 TONY GARCIA (PRN)

1172
Outro adversário importante da rede política Bamerindus foi Antonio Celso Garcia117 que
também disputou com José Eduardo a vaga no Senado em 1990. Nascido em 1954 na cidade de São
Paulo (SP), formou-se em Economia e Comércio Exterior, tendo morado alguns anos em Los
Angeles (EUA), junto com seu irmão Marco Antônio Garcia. Voltando ao Brasil, Antônio fixou-se

117
Fonte: Antes do Garibaldi, Tony Garcia quebrou a Valtec. O Estado do Paraná, Curitiba, 24 jun. 2004. Envolvidos em
fraudes no Garibaldi são condenados. O Estado do Paraná, Curitiba, 24 jun. 2004. Disponível em:
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
448

em Curitiba, onde namorou uma das filhas do então governador Ney Braga, Nice Maria, mais tarde
passaram a viver junto e tiveram um filho. Segundo O Estado do Paraná (24 jun. 2004), por
influência de Ney Braga, foi trabalhar numa agência de publicidade de Curitiba que tinha a conta
do Governo do Estado. Em seguida ingressou na Valtec - Distribuidora de Títulos e Valores
Mobiliários, tendo como sócio Newton Coutinho Filho. Em 9 mar. 1984, em razão de
irregularidades detectadas na corretora, o Bacen decretou a intervenção na Valtec nomeando como
interventor Moacir Hércules de Souza; os sócios tiveram seus bens bloqueados bem como
responderam a processo administrativo.
1173
Há cinco anos atuando em Curitiba, a Valtec tinha cerca de 1,2 bilhão de cruzeiros de
clientes e conexões com uma empresa de Newton Coutinho, a Plantec - Florestamento e
Reflorestamento que, também, segundo o jornal, estava envolvida no “escândalo do palmito”. O
episódio envolveu diversas empresas que foram denunciadas pelo desvio de incentivos fiscais
destinados ao plantio de palmito no Paraná, e a extensão do caso pôde ser avaliada pelo fato que
grandes empresas do Paraná tinham investimentos nessa área. O Bamerindus declarava, em seus
relatórios de 1981, que possuía área de reflorestamento com 51,7 milhões de pés de palmito. O
jornal destacava também que Newton Coutinho foi dono da patente do Banco de Crédito Comercial
vendida a Assis Paim Cunha pouco antes do escândalo Coroa-Brastel.
1174
Tony iniciou sua carreira política em 1990 como candidato ao Senado, tendo perdido a
eleição apesar de ter recebido 691.246 votos; em 1992 perdeu novamente na eleição para prefeito
de Curitiba pelo PRN e em 1994 sofre outra derrota na campanha para o Senado.
1175
Segundo o jornal O Estado do Paraná (18 abr. 2004)118, Antônio Garcia também era o
proprietário do Consórcio Nacional Garibaldi – Administração. Cons. SC. Ltda, que em 14 out.
1994 sofreu intervenção do Bacen, e nesse ano vários outros consórcios sofreram intervenção do
Banco Central, entre eles o Consórcio Nasser S/C Ltda. também do Paraná. Segundo o jornal, o
nome do consórcio tinha origem no fato que Antônio Garcia havia mudado seu nome de Garcia
para Garibaldi no período em que morou em Los Angeles, para contornar o preconceito contra
mexicanos e, parte do dinheiro utilizado para a abertura do consórcio era da namorada do irmão
mais velho de Tony, Priscila Presley.

6.3.2.3.4 TADEU FRANÇA (PDT)

1176
Também adversário de José Eduardo em 1990, José Tadeu Bento França nasceu em 1946,

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
<http://www.paranaonline.com.br/index.php?pag=busca#>. Acesso em: 18 abr. 2003.
118
Fonte:Tony no banco dos réus por crime do colarinho branco. O Estado do Paraná, Curitiba, 11 jul. 2004. Disponível em:
<http://www.paranaonline.com.br/index.php?pag=busca#>. Acesso em: 18 abr. 2005; Antes do Garibaldi, Tony Garcia
quebrou a Valtec. O Estado do Paraná, Curitiba, 24 jun. 2004. Disponível em: <http://www.paranaonline.com.br/
index.php?pag=busca#>. Acesso em: 18 abr. 2003. O Estado do Paraná, Curitiba, 11 jul. e 24 jun. 2004. Envolvidos em
fraudes no Garibaldi são condenados. O Estado do Paraná, Curitiba, 24 jun. 2004. Disponível em:
<http://www.paranaonline.com.br/index.php?pag=busca#>. Acesso em: 18 abr. 2003.
449

em Santa Fé (PR), e começou sua vida política em 1976 ao ser eleito vereador de Maringá pelo
MDB. Mais tarde foi novamente eleito para a vaga de deputado estadual pelo PMDB em 1982, e
deputado federal constituinte em 1986. Em março de 1988 filiou-se ao PDT e no período 1991 a
1993 foi Secretário Estadual do Meio Ambiente do Paraná durante o governo de Roberto Requião.

6.3.2.3.5 MAURÍCIO FRUET (PSDB, PCB E PC DO B).

1177
Maurício Roslindo Fruet nasceu em 1939, em Curitiba, tendo se formado advogado pela
Faculdade de Direito da UFPR, em 1962; atuou como advogado, jornalista e locutor de rádio e
televisão e ingressou no mundo político em 1968, ao ser eleito vereador em Curitiba pelo MDB.
Também foi deputado estadual de 1971 a 1979 e em 1978 foi eleito deputado federal, cargo para o
qual foi reeleito em 1982. No ano seguinte, deixou a Câmara para assumir a prefeitura de Curitiba,
nomeado pelo governador Richa. Na prefeitura, foi um dos principais organizadores do comício da
campanha “Diretas Já” em 12 de janeiro de 1984; em 1986, após terminar o mandato na prefeitura,
foi eleito deputado federal constituinte; em 1989 concorreu às eleições para a prefeitura de Curitiba,
sendo derrotado por Jaime Lerner. Em outubro de 1990 foi derrotado por José Eduardo na eleição
para o Senado e, com o término de seu mandato em janeiro de 1991, assumiu a secretaria de Estado
no governo Roberto Requião. Mais tarde, em 1992, perdeu a disputa pela prefeitura de Curitiba
para Rafael Greca. Em novembro de 1994, como candidato a vice-governador na chapa de Álvaro
Dias (PMDB), foi derrotado novamente por Jaime Lerner.

6.3.2.3.6 WALDYR PUGLIESI (PMDB, PMN. PT DO B).

1178
Waldir Ortêncio Pugliesi nasceu em janeiro de 1936, na cidade de Monte Alto (SP); foi
morar no norte do Paraná na cidade de Arapongas em 1963, ano em que se elegeu vereador pelo
PTB. Durante o regime militar ingressou no MDB, sendo reeleito vereador em 1968; e Eleito
prefeito da cidade em 1972, em 1978 ganhou a eleição para deputado estadual; e, ao assumir o
cargo no ano seguinte, foi escolhido secretário do partido no Paraná. Em 1982 foi eleito novamente
prefeito de Arapongas, pelo PMDB e, apesar de simpatizante do PCB, permaneceu no PMDB
mesmo após a legalização do partido em 1985; Deputado federal constituinte em 1986, após o
término de seu mandato foi nomeado diretor administrativo e financeiro do porto de Paranaguá. Em
outubro de 1990 perdeu a eleição para o Senado, e em 1992 elegeu-se pela terceira vez prefeito de
Arapongas.

6.3.2.3.7 O GOVERNO REQUIÃO

1179
Roberto Requião concentrou e liderou a oposição à rede política Bamerindus no final dos
anos 1980 e durante os anos 1990. Ao assumir o governo do Estado em 1991, Requião entrou na
disputa pela presidência do PMDB, apoiando a candidatura de Álvaro Dias contra Orestes Quércia,
450

chegando a criar durante a campanha o “Disque-Quércia”, para receber denúncias de corrupção.


Acabou sendo afastado do PMDB pela Comissão Executiva do partido, sendo mais tarde
reintegrado. Seus programas de governo – “Panela Cheia” e “Bom Emprego”, voltados para
crédito subsidiados para pequenos e médios empresários, gerou, segundo suas declarações119,
conflitos com os interesses do Grupo Bamerindus e José Eduardo, a quem chamava de “Zé do
Banco” como contraponto ao “Zé do Chapéu”. Na verdade, Requião colocou a rede política do
Bamerindus sob pressão desde o início de seu governo, pois esse grupo apoiava seus adversários
políticos. Também entrou em conflitos com o Judiciário estadual, quando determinou a isonomia
salarial e reduziu salários e benefícios dos juízes, bem como se negou a cumprir ordens judiciais
contra ocupações e manifestações de “sem-teto” e “sem-terra”. Também se recusou a cumprir a
ordem judicial referente ao aumento das tarifas dos transportes urbanos. O conflito chegou a ponto
de a Associação dos Magistrados Paranaenses pedir ao governo federal intervenção no Estado.
1180
O seu primeiro embate eleitoral como governador aconteceu nas eleições municipais de
1992, quando as forças que derrotou em 1990 se reuniram na coligação União Trabalhista em
Defesa de Curitiba formada pelo PTB, PDT e PTR, cujo candidato a prefeito era Rafael Greca
(PDT), apoiado por Jaime Lerner, e o vice-prefeito – José Carlos Gomes de Carvalho (PTB),
apoiado pelo Bamerindus. Em torno desta chapa, reuniu-se o chamado “grupo dos cinco jotas”
que, segundo Braga (2002f), teria sido o nome que a imprensa atribuiu ao grupo informal
constituído por José Eduardo (PTB), José Carlos Gomes de Carvalho (PTB), Jayme Canet (PDC),
José Richa (PSDB) e Jaime Lerner (PDT); certamente que ficou faltando o nome de Affonso
Camargo (PTB).
1181
Rafael Greca de Macedo, então com 36 anos, vinha de família tradicional de Curitiba,
formado Engenheiro Civil e Economista pela UFPR, trabalhou no Ippuc e seu primeiro cargo
político foi de vereador pelo PDS, em 1982. Em 1986 foi eleito deputado estadual pelo PDT, cargo
para o qual foi reeleito em 1990 e, segundo OESP (01 ago. 1992)120, sua campanha para prefeito
teria recebido apoio econômico do Grupo Bamerindus:
215
“Os bichos do Paraná” ganharam perto de US$ 60 mil [...] em cachês e, agora, um presente do
Bamerindus, que já havia financiado seu último disco. A banda viaja [para a Europa] com
passagens de ida e volta pagas pelo banco, como uma espécie de agradecimento por seu
trabalho nos palanques. (AE, 03 dez. 1992)121.

1182
João Lopes – autor da música “Bicho do Paraná”, e sua banda foram animadores dos
comícios do PTB pelo interior do Estado e da campanha de Greca. Através de José Eduardo, foi
contratada a GW para produzir, além da campanha de Curitiba, a do deputado federal Wilson
Moreira (PSDB) para a prefeitura de Londrina, e de Arnaldo Curioni (PTB) em Cascavel. Maurício
Fruet (PMDB) acabou perdendo a eleição para Greca e, em Londrina, o vencedor acabou sendo

119
Fonte: Braga (2002f).
120
Propaganda favorece candidato do PDT à prefeitura de Curitiba. AE, OESP, Curitiba, 1º ago. 1992.
121
Fonte: João Lopes, “Bicho do Paraná”, vai cantar na Europa. AE, Aedata, Curitiba, 03 dez. 1992.
451

Luiz Eduardo Cheida (PT) apoiado por Antonio Belinati (PDT). O PST, partido liderado por Álvaro
Dias, conseguiu eleger 62 prefeitos no Paraná contra 138 do PMDB. Ao fazer seu sucessor batendo
o candidato do governador já no primeiro turno, Lerner e JE conseguiram se afirmar como líderes
da oposição ao PMDB paranaense, viabilizando suas candidaturas para o Governo do Estado, em
1994. A vitória em Curitiba não se resumiu apenas à conquista da prefeitura, mas também na
Câmara de Vereadores, onde a coligação elegeu uma bancada de 13 vereadores – oito do PDT e
cinco do PTB. Segundo Almeida (1999), em Cascavel, o candidato Arnaldo Curioni (PTB) perdeu
a eleição por um erro de avaliação do comitê de campanha; ao contratar a GW preteriu a equipe da
TV Tarobá, dos grupos Mufato e Folha de Londrina de João Milanez, que acabou apoiando Edgar
Bueno do PDT; mais tarde o Bamerindus compraria o jornal de Milanez.
1183
Com a saída de Álvaro Dias para criar o seu próprio partido e a derrota de Maurício Fruet,
Requião passou a dominar a máquina partidária do PMDB no Paraná, ao mesmo tempo em que o
partido perdia poder – dos 7 deputados federais eleitos em 1990 restaram apenas dois em janeiro de
1994. Em 16 de julho de 1993, uma decisão do TRE PR afastou Requião do cargo sob a acusação
de fraude eleitoral no caso “Ferreirinha”, tal decisão acabou sendo anulada pelo TSE uma semana
depois; este episódio serve para ilustrar as ambigüidades do sistema partidário e dos acordos
políticos em vigor nessa época, no Paraná. Requião afirmava que sua defesa se basearia no relatório
dos próprios juízes do TRE PR, pois segundo ele, o texto afirmava “não se tratar de crime
eleitoral”, o que era uma evidência de contradição, pois admitia que ele não havia cometido o
crime. Para Requião, “Os juízes estão interessados em ganhar salários 35% acima do permitido pela
Constituição Estadual” (AE, 21 jul. 1993a)122, referindo-se ao conflito entre o executivo e o
judiciário estadual que surgiu durante o seu governo. Em sua defesa, Requião afirmava que a ação
de impugnação foi irregular por estar baseada em pesquisas fraudadas; Martinez estava na dianteira
na campanha de 1990 para o governo estadual e, além dos juízes, também José Eduardo tentava
derrubá-lo. Requião fazia questão de declarar que JE “se associou ao candidato derrotado, José
Carlos Martinez, envolvido no esquema PC e dono da rede de TV ‘CNT’ (ex-‘Rede OM’); ‘Ele
[JE] comprou os débitos da rede, mas não aparece’[como proprietário]” (AE, 21 jul. 1993a).
1184
Ao chegar a Curitiba, o Governador cassado foi recebido com festa em um comício em
frente à sede do Governo que, segundo a AE (21 jul. 1993b)123, reuniu cerca de 20 mil pessoas, ou
40 mil, de acordo com os organizadores. O Governador estava em viagem ao Equador quando o
TRE-PR cassou seu mandato e, no aeroporto, foi recepcionado pelo governador interino, Mário
Pereira; Secretários de Estado e lideranças do PMDB, além do governador do Rio Grande do Sul,
Alceu Collares (PDT) e o governador de Santa Catarina, Vilson Kleinubing (PFL). Segundo as
declarações de Collares, que veio “em apoio à democracia e à liberdade”, os confrontos entre
Requião e o Poder Judiciário do Estado comprometeram “a serenidade com que o processo deveria

122
Fonte: Requião vai usar texto de juízes do TRE para contestar cassação. AE, Aedata, Rio de Janeiro, 21 jul. 1993a.
123
Fonte: Curitiba recebe governador cassado com festa. AE, Aedata, Curitiba, 21 jul. 1993b.
452

ser julgado”. Ele temia que o fato de o TRE julgar o caso após tanto tempo poderia ser um sinal que
“nunca mais haverá tranqüilidade política no País”, (AE, 21 jul. 1993 b). É interessante observar
que o adversário de Requião, Jaime Lerner, também do PDT, em nota, manifestava seu repúdio ao
governador cassado e a “todos os políticos que, açodadamente, declararam apoio” apesar de estar
entre eles o governador do Rio, Leonel Brizola (PDT), representado por Collares, que na ocasião
declarou: “O Jaime deveria estar aqui nesta manifestação pela democracia”.
1185
A sucessão de Requião em 1994 marcou a ascensão política de Jaime Lerner quando a
aliança com PTB / PSDB / PFL / PDT / PV reuniu o apoio de José Eduardo, Aníbal Khury, Richa,
Hélio Duque e Euclides Scalco; e de José Carlos Gomes de Carvalho – candidato ao Senado (PTB)
e Reinhold Stephanes (PFL) – candidato a deputado federal. O PMDB não lançou candidato ao
governo, preferindo integrar a coligação PP / PMDB / PMN / PPR e apoiar Álvaro Dias. Dividido o
partido, a ala comandada pelo vice-governador Mário Pereira entrou em atrito com o grupo
Requião, forçando-os a entregarem os cargos que ocupavam no governo assim que este renunciou
para candidatar-se ao Senado. Com isto, Requião não pôde ser responsabilizado diretamente pela
falta de apoio do governador na eleição de Álvaro Dias, fato que Álvaro nunca perdoou, pois
entendia que Requião deveria permanecer no governo retribuindo o que ele fez em 1990. A
campanha de Jaime Lerner foi novamente promovida pela GW e, como estratégia, Hélio Duque
assumiu a tarefa de criticar o governo Requião, poupando Lerner de fazer críticas diretas ao
adversário. Jaime venceu já no primeiro turno, como também Requião e Osmar Dias foram eleitos
para o Senado, derrotando J. C. Gomes de Carvalho (PTB). Também em 1994, Requião foi
derrotado por Orestes Quércia na indicação do partido para presidência da República; decidiu então
apoiar a candidatura de Lula do PT, adversário de Fernando Henrique Cardoso.

6.4 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES.

1186
Neste capítulo verificamos que, desde 1933, um grupo de empresários financeiros manteve
uma complexa rede de conexões políticas cujos vínculos abrangiam instituições da sociedade
política, civil e partes do aparelho do Estado. Tal rede denominamos de rede política Bamerindus
(RPB) por ser formada por conexões de natureza política estabelecidas através de vínculos de
propriedade, parentesco, partidários e sociais consteladas em torno do Grupo Bamerindus. Sua
história demonstra que, ao longo do tempo, as conexões com a sociedade política envolviam vários
partidos, campanhas eleitorais e diversos cargos públicos eletivos ou não, como por exemplo,
presidente da República, ministros, governadores estaduais, senadores, deputados federais e
estaduais, prefeitos e vereadores. Na sociedade civil, a RPB tinha várias conexões com associações
de classe, sindicatos patronais e de trabalhadores, diversas órgãos de comunicação, bem como
mantinha vínculos diretos com fundações e associações de assistência social, cultural, institutos e
clubes sociais. No aparelho do Estado, a rede esteve diretamente conectada a Secretarias de Estado,
Ministérios, prefeituras, tribunais e empresas estatais, nas esferas municipal, estadual e federal;
453

também constatamos que as ações promovidas pela RPB eram em grande parte planejadas e
coordenadas por uma elite que formava um núcleo de comando estratégico, liderada por Jayme
Canet Júnior, Affonso Camargo Netto, João Elísio Ferraz de Campos e José Eduardo de Andrade
Vieira. No plano local, as principais redes adversárias da RPB foram as redes políticas de Moysés
Lupion de Troya nos anos 1950; Paulo Cruz Pimentel no período 1970-1990; e Roberto Requião de
Mello e Silva, nos anos 1990, no plano nacional, a RPB concorreu com várias outras redes políticas
consteladas em torno de bancos, grupos econômicos, produtores e trabalhadores rurais, e de
interesses regionais. No período 1981-1994 a configuração da rede foi profundamente marcada pelo
processo de transição entre o regime militar e a Nova República. Percebe-se claramente que o
crescente avanço do processo de socialização da política brasileira tornou a manutenção da RPB
uma tarefa de vital importância para a sobrevivência do Bamerindus, como por exemplo, para
superar a crise de liquidez do banco de 1985-1986, ao mesmo tempo em que a ação política se
tornava mais complexa e dispendiosa, pois tinha que se adaptar às mudanças institucionais que
buscavam disciplinar a atividade política, como por exemplo, a reforma partidária que implantou o
pluripartidarismo.
1187
Durante boa parte do período analisado, a RPB funcionou como uma espécie de partido
informal, visto que os partidos políticos ainda não tinham estrutura suficiente para enfrentar
campanhas eleitorais cada vez mais complexas, e que exigiam políticos populares, logística e
suporte técnico a cada dia mais sofisticados na área de comunicação e propaganda. Nesse contexto,
certamente o que encarecia a manutenção da rede era a quase ausência de regras para disciplinar a
fidelidade partidária que, se por um lado permitia ampliar o quadro de um partido atraindo
personagens de outras agremiações, por outro aumentava o custo para manter e controlar a legenda.
Outra transformação importante que percebemos foi a crescente dificuldade da RPB de manter seus
principais personagens na atividade política diante da concorrência dos novos atores forjados nas
urnas, cujo capital eleitoral era suficiente para que assumissem posições mais independentes e
condicionadas pela lógica das urnas, muitas vezes em detrimento dos interesses do Grupo
Bamerindus. No plano nacional, a socialização da política se traduzia na crescente multiplicidade e
complexidade da equação de interesses políticos locais e nacionais constelados no Congresso
Nacional e no Palácio do Planalto, que conferia um elevado grau de volatilidade, incerteza e
transitoriedade aos acordos, alianças e coligações. Assim como as forças de oposição aos interesses
da RPB enfrentavam a fragmentação crescente da representação política, também a rede tinha
grande dificuldade para manter sua coesão interna. É importante observar que, desde 1988 também
o segmento bancário estava passando por transformações devido à extinção da carta-patente.
1188
Nesse sentido, o processo de socialização da política ampliava-se na direção de outros
setores da sociedade, avançando no que podemos chamar de processo de socialização do capital. A
Assembléia Nacional Constituinte foi palco de duras batalhas em torno dessa questão, envolvendo
interesses de todos os setores da sociedade, afetando diretamente o sistema financeiro nacional e
particularmente os bancos. Entre as diversas mudanças que a Constituinte trouxe para este setor,
454

três novos marcos institucionais tiveram grande repercussão sobre o sistema financeiro; o primeiro
deles foi a determinação de novas bases para a construção das regras para a dívida e o orçamento
público, no sentido de disciplinar e socializar o controle sobre as operações econômicas e
financeiras do Estado; o segundo foi o artigo 192 que abriu espaço para uma futura reforma do
sistema financeiro nacional, colocando todo o setor sob permanente pressão de uma iminente
mudança das regras disciplinadoras do sistema; o terceiro marco institucional importante foi a
extinção da carta-patente que abriu espaço para a criação de novos bancos. Nos anos seguintes
grandes capitalistas e grupos econômicos que eram obrigados a operar com os bancos tradicionais,
partiram para a abertura de suas próprias instituições. Esse movimento fragmentou o arco de
alianças do grande capital financeiro, abrindo espaço para novas composições. No caso do
Bamerindus, por exemplo, um dos seus grandes sócios e diretores, Ademar César Ribeiro, saiu do
Grupo em 1994 e reabriu o Banco das Nações, que havia sido adquirido pelo Bamerindus em 1984.
Ademar Ribeiro e José Eduardo tiveram uma importante atuação no financiamento da campanha
FHC. Como vimos nos capítulos anteriores, ao incorporar o Bancial em 1974, o Bamerindus passou
a ser o centro estratégico para boa parte dos grandes grupos econômicos do Paraná. Em 1989 este
“monopólio” foi quebrado quando importantes capitalistas e políticos da região iniciaram a criação
de outros bancos.
1189
Nesse contexto, a rede política Bamerindus teve que enfrentar a fragmentação de seu núcleo
de comando, com o gradativo afastamento de Jayme Canet e Affonso Camargo, principalmente
após a eleição de José Eduardo, em 1990, e a ascensão de novos personagens como José Carlos
Gomes de Carvalho e Maria Christina de Andrade Vieira, todos eles sem histórico político-
eleitoral. Nesse contexto, seguindo a tendência política da época, a RPB optou por ampliar a
estrutura do PTB no Paraná e em outros Estados, assumindo assim a posição de mais um
concorrente no fragmentado e disputado sistema partidário brasileiro e paranaense. Ao engajar-se
em tal tarefa, o Bamerindus entrou num arriscado e difícil jogo político, pois diferente do grupo
empresarial, a instituição partidária no contexto legal da época não comportava a rigidez das
estruturas hierárquicas, e era condicionada pela liberdade do político de trocar de legenda ou criar
novos partidos quando assim entendesse ser necessário.
1190
Este quadro político institucional de avanço do processo de socialização da política
brasileira e a conseqüente ampliação do tamanho e da complexidade da sociedade política e civil,
deram curso a um complexo movimento de reestruturação do Estado brasileiro, no sentido de
socializar suas funções e desarticular ou constranger os seus principais mecanismos de controle e
coerção. Tal objetivo era de interesse das principais forças sociais organizadas, já que a perspectiva
de ter os adversários no poder significava o risco de, no futuro, ter que enfrentá-los munidos com
instrumentos de controle e coerção do Estado. Em última análise, este processo gradativamente
desarticulava os mecanismos estatais que garantiam a continuidade do modo de acumulação
capitalista, abrindo espaço para a socialização do capital. Nesse sentido, as privatizações retiraram
do Estado boa parte de sua estrutura econômico-empresarial, estratégica para a acumulação
455

capitalista, mas, mesmo assim, o Estado ainda mantinha poder suficiente para ameaçar a
continuidade do sistema capitalista. Como vimos ao longo desta tese, na eleição presidencial de
1989 havia a ameaça da socialização do capital financeiro caso as esquerdas ganhassem a disputa,
pois a estatização dos bancos configurava-se como uma das possíveis saídas para conter o processo
inflacionário. Também vimos que o processo de hegemonia financeira emergiu na sociedade como
um mecanismo de proteção do sistema capitalista perante um Estado em processo de socialização e,
no Brasil, a resistência das forças sociais organizadas ao controle financeiro se materializava no uso
de múltiplas moedas, descontrole da dívida pública e inflação. Nesse sentido, o Plano Real veio
restabelecer o controle centralizado da moeda, desarticulou a capacidade de reação dos governos
estaduais e de grandes grupos econômico-financeiros, e organizou a dívida pública de forma que
esta passou a condicionar grande parte das ações do Estado e do Governo aos imperativos da lógica
financeira. Num certo sentido, o ano de 1994 seria o marco inicial desse processo e,
paradoxalmente, o Bamerindus, pela sua posição historicamente vinculada aos interesses regional e
externo ao eixo Rio - São Paulo, fazia parte dessa resistência.
1191
Com base nas evidências que apresentamos até este momento do trabalho, podemos afirmar
que a rede política Bamerindus não era fruto da vontade extemporânea deste ou daquele capitalista
ou, uma opção deliberada de um grupo de empresários financeiros, mas um imperativo da atividade
econômica. A ação política organizada era uma extensão necessária e inseparável da atividade
empresarial privada. A rede política era parte integrante e inseparável de um organismo social
complexo – o grupo econômico, e sua centralidade no Bamerindus, está vinculada à posição
estratégica que as instituições bancárias ocupavam na estrutura de produção capitalista. Uma
próxima etapa do processo de socialização da política certamente avançaria sobre os enclaves e
redutos que concentrassem poder econômico e político como o Bamerindus. Nesse contexto, tais
instituições teriam que mudar caso quisessem sobreviver como unidade de acumulação capitalista.
Novos mecanismos de controle e resistência da burguesia teriam que ser construídos ou ampliados,
como por exemplo, a hegemonia financeira, para enfrentar a ameaça da socialização do capital.
1192
O estudo da rede política Bamerindus também mostra que não é possível entender o jogo
político sem conhecer suas conexões com o mundo econômico, bem como não é possível entender
o desempenho econômico desses grupo sem conhecer suas conexões com o jogo político e o
Estado. Normalmente as análises, tanto econômicas como políticas, relegam essas conexões para
notas de rodapé ou breves comentários, refletindo uma certa visão na qual este fenômeno seria uma
espécie de desvio de conduta ou falhas na organização da estrutura institucional do Estado e da
política. Ora, o que constatamos foi, desde a criação do primeiro banco da família Vieira em 1929
até o momento da intervenção em 1997, ou seja, em 67 anos de história, as conexões políticas
sempre estiveram presentes e, não podemos alegar que o Bamerindus tenha sido um caso atípico,
pois também são abundantes os indícios que o mesmo continua ocorrendo com outros bancos, tanto
no Brasil como na Inglaterra ou mesmo nos EUA. Tais conexões são parte integrante e essencial
tanto do mundo econômico como do político, que formam um todo inseparável e assim devem ser
456

estudadas.
1193
Para finalizar este trabalho, e consolidar a compreensão dessas conexões entre o capital
financeiro e a política, no próximo e último capítulo vamos focalizar e analisar com mais detalhes a
atuação do personagem mais popular e notório do Bamerindus, o banqueiro e senador José Eduardo
de Andrade Vieira. Convidamos o leitor a nos acompanhar na análise dessa trajetória e ações no
complexo jogo político do Paraná e de Brasília no período 1990-1994.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA POLÍTICA

THULIO CÍCERO GUIMARÃES PEREIRA

BANCOS E BANQUEIROS, SOCIEDADE E POLÍTICA:

O BAMERINDUS E JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA

(1981 a 1994).

VOLUME 3-3

TESE DE DOUTORADO

Florianópolis - SC

2006
THULIO CÍCERO GUIMARÃES PEREIRA

BANCOS E BANQUEIROS, SOCIEDADE E POLÍTICA:

O BAMERINDUS E JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA

(1981 a 1994).

VOLUME 3-3

Tese na Linha de Pesquisa: Estado, mercado,


empresariado e sistema financeiro, apresentado ao
Programa de Pós-graduação em Sociologia Política,
do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, da
Universidade Federal de Santa Catarina, como
requisito parcial para obtenção do título de Doutor
em Sociologia Política.

Orientador: Prof. Dr. Ary César Minella.

Florianópolis

2006
P436b Pereira, Thulio Cícero Guimarães
Bancos e banqueiros, sociedade e política : o Bamerindus e José
Eduardo de Andrade Vieira (1981 a 1994) / Thulio Cícero Guimarães
Pereira ; orientador Ary César Minella. – Florianópolis, 2006.
3 v. (721 f.)

Tese – (Doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina,


Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política, 2006.

Inclui bibliografia

1. Sociologia Política. 2. Finanças – Brasil – 1981-1994 – História.


3. Banqueiros. 4. Hegemonia financeira. 5. Política econômica – Brasil.
6. Corporativismo. I. Minella, Ary César. II. Universidade Federal de
Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política.
III. Título.
CDU: 32:301
SUMÁRIO

VOLUME I

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................1

1.1 A TESE ................................................................................................................................ 4


1.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................................................ 11
1.2.1 Redes sociais, políticas e corporativas.................................................................... 12
1.2.2 Aplicando a metodologia de redes sociais .............................................................. 16
1.2.3 Fontes de pesquisa .................................................................................................. 20

2 CAPÍTULO I: INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS E O PODER NO


CAPITALISMO FUNDAMENTOS TEÓRICOS .....................................................23

2.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 23


2.2 GRAMSCI E AS REDES SOCIAIS .......................................................................................... 23
2.2.1 Redes Políticas ........................................................................................................ 24
2.2.2 Rede corporativa, intercorporativas ou transcorporativas....................................... 32
2.3 CAPITAL FINANCEIRO....................................................................................................... 36
2.4 HEGEMONIA FINANCEIRA ................................................................................................. 45
2.4.1 O mundo político e a hegemonia financeira ........................................................... 51
2.4.2 Discurso ideológico e a hegemonia financeira ....................................................... 52
2.5 GRUPOS ECONÔMICOS ...................................................................................................... 54
2.5.1 O Grupo Bamerindus .............................................................................................. 60
2.6 ELITES ORGÂNICAS .......................................................................................................... 62
2.7 ORGANIZAÇÃO CORPORATIVA ......................................................................................... 68
2.8 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES.................................................................................... 72

3 CAPÍTULO II: O SISTEMA FINANCEIRO ................................................................75

3.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 75


3.2 O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL ....................................................................... 75
3.2.1 A hegemonia inglesa (1816-1914).......................................................................... 76
3.2.2 O interguerras (1918 – 1943).................................................................................. 80
3.2.3 Bretton Woods (1944-1970) ................................................................................... 81
3.2.4 A mundialização financeira (1971 – 1994)............................................................. 82
3.2.5 Dívida pública......................................................................................................... 88
3.2.6 Bancos..................................................................................................................... 89
3.3 ANÁLISES E INTERPRETAÇÕES ......................................................................................... 91
3.4 PARTE II: O SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO .............................................................. 95
3.4.1 Período: 1808 a 1979 .............................................................................................. 95
3.4.2 Período 1980 - 1994.............................................................................................. 104
3.4.3 Uma breve revisão dos anos 1995 a 1997............................................................. 132
3.5 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES .................................................................................. 135

4 CAPÍTULO III: A FAMÍLIA VIEIRA E O BAMERINDUS ....................................137


4.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 137
4.2 A FAMÍLIA VIEIRA E AS CONEXÕES POLÍTICAS DO BAMERINDUS (DAS ORIGENS
ATÉ 1981)........................................................................................................................ 138
4.2.1 Os avós de José Eduardo de Andrade vieira ......................................................... 138
4.2.2 Avelino Antônio Vieira e sua Família .................................................................. 140
4.3 O BANCO POPULAR E AGRÍCOLA DO NORTE DO PARANÁ (BPANP)............................ 145
4.3.1 Atalaia Cia de Seguros.......................................................................................... 148
4.3.2 O processo político paranaense............................................................................. 149
4.4 O BANCO COMERCIAL DO PARANÁ ............................................................................... 152
4.4.1 O Lupionismo – Parte I......................................................................................... 154
4.4.2 A saída do grupo de Avelino Vieira do Bancial ................................................... 160
4.5 O BANCO MERCANTIL E INDUSTRIAL DO PARANÁ ........................................................ 164
4.5.1 O café do Paraná ................................................................................................... 168
4.5.2 A formação do Grupo Bamerindus (1952-1981) .................................................. 170
4.6 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES .................................................................................. 206

VOLUME II

5 Capítulo IV - O GRUPO BAMERINDUS (1981 – 1994) ............................................210

5.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 210


5.2 O GRUPO BAMERINDUS (1981 – 1994)........................................................................... 210
5.2.1 A Composição do Grupo Bamerindus .................................................................. 211
5.2.2 As Seguradoras do Bamerindus (1981 a 1994)..................................................... 222
5.2.3 Indústria de Papel e Celulose Arapoti S.A. (Inpacel) ........................................... 227
5.2.4 Empresas de comunicação .................................................................................... 238
5.2.5 O Bamerindus e as privatizações .......................................................................... 243
5.2.6 Agronegócios e o Bamerindus .............................................................................. 252
5.3 O BANCO BAMERINDUS (1981 – 1994)........................................................................... 258
5.3.1 Introdução ............................................................................................................. 258
5.3.2 Incorporações de bancos ....................................................................................... 258
5.3.3 Análise econômico-financeira .............................................................................. 261
5.3.4 A Internacionalização do Bamerindus .................................................................. 317
5.3.5 Síntese do desempenho geral do Banco Bamerindus............................................ 332
5.4 O PODER NO GRUPO BAMERINDUS (1981 - 1994).......................................................... 338
5.4.1 Introdução ............................................................................................................. 338
5.4.2 A estrutura de poder.............................................................................................. 339
5.5 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES.................................................................................. 360

6 Capítulo V: A REDE POLÍTICA BAMERINDUS (1981 – 1994) .............................364

6.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 364


6.2 A HISTÓRIA POLÍTICA BRASILEIRA DO PERÍODO 1981 A 1994...................................... 364
6.2.1 O Partido Popular (PP).......................................................................................... 365
6.2.2 A sucessão de João Figueiredo ............................................................................. 368
6.2.3 A Nova República................................................................................................. 370
6.2.4 A Assembléia Nacional Constituinte .................................................................... 372
6.2.5 A campanha presidencial de 1989 ........................................................................ 373
6.2.6 A sucessão de Fernando Collor de Mello ............................................................. 376
6.2.7 A campanha presidencial de 1994 ........................................................................ 380
6.3 A REDE POLÍTICA BAMERINDUS (RPB) (1981 A 1994) ................................................ 384
6.3.1 Instituições que integraram a Rede Política Bamerindus...................................... 390
6.3.2 Pessoas que integraram a Rede Política Bamerindus............................................ 407
6.4 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES. ............................................................................... 452

VOLUME III

7 Capítulo VI: O BANQUEIRO E POLÍTICO JOSÉ EDUARDO DE


ANDRADE VIEIRA. (1990 A 1994) .........................................................................457

7.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 457


7.2 A AÇÃO POLÍTICA DO BANQUEIRO JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA .................... 458
7.2.1 Campanha Eleitoral para o Senado de 1990 ......................................................... 458
7.2.2 Senador e Ministro (1991-1993)........................................................................... 485
7.2.3 Sucessão Presidencial de 1994.............................................................................. 515
7.3 OS ÚLTIMOS ANOS DO BAMERINDUS (1995 A 1997) ...................................................... 551
7.3.1 O HSBC ................................................................................................................ 562
7.4 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES.................................................................................. 563

8 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES FINAIS .......................................................567

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................584

FONTES: PERIÓDICOS .............................................................................................................. 610


FONTE: DOCUMENTOS ITERNOS DO BAMERINDUS ................................................................... 633

GLOSSÁRIO .......................................................................................................................635

APÊNDICES ........................................................................................................................636

APÊNDICE A - LINHA DO TEMPO ............................................................................................. 636


APÊNDICE B - BANCO DE DADOS ECONÔMICO-FINANCEIROS DA AMOSTRA DE BANCOS
BRASILEIROS ................................................................................................. 656
APÊNDICE C - RELAÇÃO DAS ATIVIDADES NO SENADO FEDERAL............................................ 658
APÊNDICE D - TABELA DE CARGOS ......................................................................................... 661
APÊNDICE E - CÓDIGOS DE EMPRESAS .................................................................................... 662
APÊNDICE F - INTERVENÇÕES DO BACEN ................................................................................ 663
APÊNDICE G - QUANTIDADE DE INTERVENÇÕES DO BACEN .................................................... 664
APÊNDICE H - HISTÓRIA DO HSBC - THE HONGKONG AND SHANGHAI BANKING
CORPORATION LIMITED ................................................................................ 665
Principais membros do Grupo HSBC ...................................................... 665
Os interesses do grupo na Ásia ................................................................ 666
O HSBC na Europa.................................................................................. 667
Os interesses no Oriente Médio ............................................................... 668
O Grupo HSBC nas Américas ................................................................. 669
APÊNDICE I - CAPA DO PROJETO DE PESQUISA EM 2002.......................................................... 672
APÊNDICE J - CAPA DO PROJETO DE PESQUISA EM 2003 ......................................................... 673
ANEXOS ..............................................................................................................................674

ANEXO A - ETAPAS DA EMERGÊNCIA DAS FINANÇAS DE MERCADO MUNDIALIZADAS .............. 674


ANEXO B - FORMAÇÃO DO GRUPO BAMERINDUS ................................................................... 675
ANEXO C - GENEALOGIA DO GRUPO BAMERINDUS ................................................................. 676
ANEXO D - RELAÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS – (1945-2003) ......................... 677

ÍNDICE ANALÍTICO.........................................................................................................678
7 CAPÍTULO VI: O BANQUEIRO E POLÍTICO JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE
VIEIRA. (1990 A 1994)

“[...] Sou bicho do Paraná


[...] A gente que nasceu no mato
No mato tem que morar
[...] Quero voltar pra minha terra
‘pro’ norte do Paraná.”
João Lopes1

7.1 INTRODUÇÃO

1194
Neste capítulo final buscamos consolidar o estudo das conexões entre o Bamerindus e a
política, focalizando com mais detalhes alguns episódios da atuação política de José Eduardo no
período 1990-1994. Inicialmente, analisamos a Campanha Eleitoral para o Senado de 1990, para
em seguida abordar sua atividade política como Senador e Ministro (1991-1993) e, finalmente,
identificar sua participação na Sucessão Presidencial de 1994. Nesse período, JE assumiu o
comando da rede política do Bamerindus, a Presidência do PTB nacional, foi Ministro da Indústria,
Comércio e Turismo (MICT), tendo acumulado por um breve período o comando do Ministério da
Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária, todos no governo Itamar Franco. Também foi um
dos mais importantes coordenadores e tesoureiros da campanha presidencial de Fernando Henrique
Cardoso de 1994. Encerramos o capítulo e a tese apresentando uma breve revisão dos
acontecimentos ocorridos nos últimos anos do Bamerindus (1995-1997) que culminaram com a
intervenção do Bacen no grupo e a transferência de parte do seu patrimônio para o HSBC.
1195
Boa parte das análises apresentadas neste capítulo está baseada apenas em fontes
jornalísticas, pois não temos a pretensão de produzir história, mas verificar como e em que
momentos um banqueiro / senador participou diretamente do processo político do período. Grande
parte das notícias e análises que encontramos nos jornais estava visivelmente comprometida com
importantes correntes político-partidárias, e serve para avaliar as situações em que houve
aproximações e distanciamentos de José Eduardo com relação aos grandes grupos políticos
brasileiros no período 1990-1994.

1
Letra da música “Bicho do Paraná”: “Seu motorista toque o carro /Me tire desse lugar / Me leve logo motorista 'pro' outro
lado de lá / Não vou cortar o meu cabelo, não / Só pra dar o que falar / Eu não sou gato de Ipanema / Sou bicho do Paraná /
A vida pra mim na cidade grande 'tá' difícil par danar / A gente que nasceu no mato / No mato tem que morar / No mato a
gente se ajeita / Tudo o que se planta dá / Quero voltar pra minha terra ‘pro’ norte do Paraná”. Fonte: LOPES, João.: “João
Lopes”. [São Paulo]: Gravadora Continental, 1981. 1 disco sonoro (Lp). Disponível em: <http://www.brasilnamusica.
hpg.ig.com.br/discleo2.htm>, <http://www.96radiorock.com.br/banda/> e <http://www.ouroweb.com/celiamartha/discos/
disco2.html#2>. Acesso em: 09 jul. 2004.
458

7.2 A AÇÃO POLÍTICA DO BANQUEIRO JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA

7.2.1 CAMPANHA ELEITORAL PARA O SENADO DE 1990

1196
Segundo Lima (2003, p. 70-71)2, ao receber o troféu “banqueiro do ano” em dezembro de
1987, concedido pelo Jornal Diário Popular, José Eduardo afirmou que estava disposto a “subir em
palanques”. Durante todo o ano de 1988 percorreu o país fazendo palestras sobre a “Participação
do empresariado na política” – tal movimentação, em boa parte estava relacionada às atividades
do Instituto Liberal do Paraná (IL-PR). Para Pedro Washington de Almeida (1999) – assessor de
imprensa da campanha de JE em 1990 – ele teria começado a alimentar pretensões políticas logo
após patrocinar a candidatura de Enéas Faria3, em 1988, tendo recebido o apoio e incentivo de um
grupo de petebistas liderados por Nelson Jorge e Erwin Bonkoski. A idéia inicial era disputar o
cargo de governador, e decidiu-se então divulgar seu nome na imprensa. Para tanto foi convocado
Sérgio Sibel Soares Reis, que comandava o setor de “marketing” e propaganda do Bamerindus. Na
época foi desenvolvida e lançada uma campanha do banco promovendo as cidades paranaenses.
216
[...] um chapéu texano sobrevoava a cidade focalizada, mostrando seus pontos mais destacados.
A primeira a ser veiculada foi Curitiba. Depois Londrina, Maringá, Cascavel, Ponta Grossa,
Paranaguá e mais duas dezenas de cidades [...] A frase que encerrava o passeio do chapéu era
sempre a mesma. ‘Curitiba’, ou ‘Londrina’, ou ‘Maringá é de se tirar o chapéu. (ALMEIDA,
1999, p. 15).

1197
O nome de José Eduardo passou a ser divulgado através de notas e reportagens em diversos
jornais e revistas. O jornal Correio de Noticias, de 26 de setembro de 19884, publicou uma
entrevista com Sérgio Soares Reis, na qual o apresentou como a pessoa encarregada não só de
promover o Bamerindus, como também José Eduardo. Na reportagem foi explorada a imagem do
banco como empresa inovadora e identificada com os valores regionais e lançou o perfil político
eleitoral de JE:
217
Você não pode dizer que todos os bancos são iguais. Você vai dizer que tem um banco que é
diferente. Pode ser polêmico, mas ele é diferente. Por que? Por causa dessa coragem do nosso
presidente de dizer o que pensa, de se posicionar em posições críticas sabendo as vezes que isto
pode trazer problemas para o banco.

1198
O jornal perguntou se “estas posições críticas, como a que ele disse que os bancos
ganhavam demais, tem aumentado a credibilidade do banco junto aos clientes?” Sergio Reis

2
Fonte: Gazeta do Povo, 22 dez. 1987, p. 12, apud Lima (2003, p. 70-71).
3
Enéas Eugênio Pereira Faria foi senador entre 1982 e 1986, assumindo a vaga de José Richa, quando este se elegeu
governador do Paraná. Faria foi um dos fundadores do MDB no Paraná em 1966, sendo eleito dois anos depois vereador de
Curitiba e reeleito em 1972. Na eleição de 1974, ele recebeu a maior votação proporcional da história paranaense como
deputado estadual, com 84 mil votos. Em 1978, foi suplente na chapa de Richa para o Senado, assumindo em 1982. Em
1988, candidatou-se à Prefeitura de Curitiba pelo PTB, mas acabou desistindo em favor de Jaime Lerner, que se elegeu. A
partir daí, passou a se dedicar à televisão com programas de jornalismo político. Fonte: FADEL, Evandro. Ex-senador
paranaense Enéas Faria morre em Curitiba. AE, Curitiba, 1º set. 2004. Disponível em: <http://www.tveldorado.com.br/
agestado/noticias/2004/set/01/46.htm>. Acesso em: 14 dez. 2005.
4
Fonte: Correio de Noticias, 26 set. 1988.
459

respondeu que JE não disse que os bancos estavam ganhando demais, mas que
218
[...] o bancário estava ganhando menos que deveria ganhar e que não se deve tomar dinheiro
emprestado de banco com uma taxa de inflação de 20%. Ai todo mundo fica espantado. [...] E
ele tem tido coragem de dizer isto. Qualquer pessoa que pense um pouquinho, ou pare um
pouco para pensar vai achar que ele tem razão. Eu acho que ele é um homem corajoso e que
tem tido coragem para tomar decisões. De criticar, fazer autocrítica aos bancos, ele não fica
dizendo assim: “vocês estão errados”. Ele diz: “Nós estamos errados”. Sob o meu ponto de
vista, eu acho que e ótimo trabalhar com um presidente como este.

1199
O Correio perguntou: – “E o que ele tem feito na prática para corrigir estes erros apontados
nas criticas pessoais? Afinal, não é fácil mudar alguma coisa no sistema financeiro do País [...]”.
Sérgio Reis respondeu que:
219
É muito difícil, muito difícil mesmo. Veja bem, até você consegue mudar, mas as pessoas vão
sempre dizer: “não, não mudou ainda não. No fundo, no fundo, continua o mesmo”. Mas ele
tem feito [...] anistia que ele deu para o microempresário foi uma coisa que ele fez na frente dos
outros. Depois todo mundo veio atrás e o governo também [...] Na área de funcionários, nos
últimos três anos, ele tem feito uma política realmente grande e tem dito que nem que isto
venha reduzir o lucro do banco, ele vai pagar mais aos funcionários. E já tem pago. Em julho
deste ano, ele deu uma gratificação extra aos funcionários de no mínimo, um salário. Quem
ganhava menos ganhou 110%, Ele tem que ter coerência com o discurso dele. Enquanto ele
tiver coerência, eu tenho certeza que ele está sendo um bom cidadão e um bom empresário.

1200
A entrevista termina com o jornal perguntando: “O senhor acha que ele deve também
assumir uma posição política como ele assumiu dentro do PTB?” Sergio Reis respondeu:
220
O que ele tem falado nas palestras que ele tem feito, no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina,
São Paulo, em Minas e também aqui, é que todo mundo tem que ter uma participação política,
que escolha um partido que for das suas convicções, mas que vá para a rua para defender suas
idéias e, sobretudo cobrar depois dos eleitos o cumprimento daquilo que eles prometeram em
praça pública. Uma participação política ampla.

1201
Nas eleições municipais de novembro de 1988, o PTB conseguiu eleger um total de 332
prefeitos em todo o Brasil, conseguindo a posição de quarto maior partido em número de prefeitos.
Desde 1987 o partido tinha o senador Affonso Camargo como líder no Senado. No Paraná as
migrações partidárias ocorridas na legislatura 1987-1991 colocaram o PTB como o único partido a
aumentar sua bancada em 1986. Neste período a agremiação reuniu alguns nomes importantes que
saíram do PMDB, como Enéas Faria e,
221
[...] contava com a simpatia do banqueiro Andrade Vieira, que acabou aderindo ao
partido para disputar as eleições de 1990. (No período 1987-1989, Andrade Vieira
era cotado para disputar o governo do Estado. Contava com o apoio de dois ex-
governadores [e sócios] Jayme Canet Jr. e João Elísio.). (LEPRE, 2000, p. 42).
1202
Segundo a EDUARDO (15 out. 1992)5, José Eduardo também participou da eleição
presidencial de 1989, quando financiou boa parte da campanha de Collor, mas teria se desiludido ao
ficar sabendo do caso “PC Farias”, tendo então passado a apoiar o processo de impedimento do
presidente:

5
Fonte: EDUARDO, J. Vieira chega ao governo depois de financiar campanha Collor. AE, Curitiba, 15 out. 1992.
460

222
Em 1981, quando assumiu o Banco, seus adversários afirmavam que ele quebraria
o banco em menos de um ano, mas, em 11 anos, José Eduardo e sua equipe
elevaram o Bamerindus do oitavo para o terceiro lugar no ranking nacional dos
bancos privados. [...] Segundo o próprio José Eduardo disse a amigos, o
Bamerindus tem uma extensão de terras ‘maior que Portugal. (EDUARDO, 15 out.
1992).

1203
Com uma imagem pública de administrador polêmico, eficiente e inovador, JE também se
projetava como líder empresarial. Temos que lembrar que nessa época vários empresários
apareciam como candidatos a cargos eletivos, entre eles Olavo Setúbal e Antonio Ermírio de
Moraes, que havia disputado o governo de São Paulo, em 1986, pelo PTB.
1204
Segundo Memória Bamerindus (1995, ano 1989), em abril de 1989, o grupo Bamerindus
promoveu o Encontro Nacional de Sindicalistas Bamerindus, reunindo, em Curitiba, 63
sindicalistas6 no clube de Campo Avelino Vieira; no final do evento elaborou a “Carta de
Curitiba” com as reivindicações dos funcionários. Em julho, José Eduardo reuniu novamente os
sindicalistas para responder à carta. Ainda neste ano o Grupo Bamerindus implantou uma série de
planos e programas de benefícios para os funcionários. Também em 1989, JE foi escolhido líder
empresarial nacional pela revista Balanço Anual do jornal Gazeta Mercantil e recebeu o Prêmio
Personalidades - Líderes de Finanças do jornal Indústria e Comércio, de Curitiba. Seu prestígio
político havia crescido muito com a eleição de Jaime Lerner em 1988, pois o apoio da rede política
Bamerindus teria sido decisivo para abrir uma importante brecha na hegemonia do PMDB no
Paraná, pelo menos na capital.
1205
No plano federal, JE entrou na campanha presidencial apoiando Collor, atuando
diretamente ou através de Basílio Villani, designado como coordenador de campanha na Região
Sul, apesar de Affonso Camargo ser o candidato do PTB. Segundo Fernandes (1997), em 1989, JE
tinha medo de perder o banco caso Luis Inácio Lula da Silva fosse eleito Presidente da República,
pois temia a intervenção do PT no sistema financeiro:
223
[...] [ele] dizia a quem quisesse ouvir: “Estou bancando a campanha do Fernando Collor no
Paraná”. Isso e ainda mais. Aqueles eram tempos em que as doações eleitorais passavam ao
largo da fiscalização do Tribunal Superior Eleitoral. Andrade Vieira, ao que diriam depois
assessores de Collor, gastou mais de US$ 1 milhão na campanha. (FERNANDES, 1997, p. 32-
35).

1206
Mas acreditamos que o grande desafio que impulsionava JE para a ação política direta era a
perspectiva de implantação do programa de privatização das grandes empresas estatais federais. Ele
tinha que buscar aumentar o seu cacife para poder enfrentar a concorrência na privatização, que
poderia envolver também os bancos estaduais e federais. A transferência de controle de algumas
grandes empresas estatais poderia significar ganhar ou perder grandes clientes do Bamerindus, bem
como o banco acumulava em sua carteira grande quantidade de títulos públicos sem liquidez, que
certamente seriam valorizados no processo de privatização. Considerado como “de fora do eixo

6
O documento não especifica os nomes dos sindicalistas que estiveram presentes no evento.
461

Rio - São Paulo”, o grupo Bamerindus teria que aumentar sua força política para poder competir
em iguais condições com os grandes grupos paulistas, principalmente aqueles reunidos em torno do
Bradesco e Itaú.
1207
Em 1989, aumentaram as especulações que cotavam JE como candidato ao governo do
Estado, principalmente depois que em maio liderou, no Paraná, o movimento “retorno à
produção”, que paralisou as atividades industriais e comerciais em todo o Estado, por uma hora,
em protesto contra a política econômica do governo e os baixos salários dos trabalhadores. Vieira
dirigiu pessoalmente a comissão que organizou o que Veja (5 jul. 1989, p. 135)7 considerou como
“um irreverente puxão de orelhas no governo federal”. Os empresários do Paraná pararam suas
fábricas por uma hora e fizeram reuniões com seus empregados, pagando a eles horas extras, para
reclamar da política econômica. Também o lançamento em maio do Coopercap colocou JE na
imprensa, pela polêmica que gerou no mercado financeiro. Ainda segundo a Veja:
224
[...] [o] dono do grupo Bamerindus, de Curitiba, é conhecido no mundo financeiro como um
rebelde [...] Zé Eduardo [...] já fez de tudo o que os banqueiros consideram estranho em seu
tipo de negócio. No Plano Cruzado, por iniciativa própria, perdoou parte da dívida de
microempresários contraída no Bamerindus. Na Constituinte, Vieira defendeu o tabelamento
dos juros em 12% ao ano. Em 1987, repartiu com os correntistas os lucros do banco oriundos
da inflação ao lançar a conta corrente remunerada. Nem por isso, entretanto, seu negócio
piorou. Ao contrário, nunca esteve tão viçoso. Em vez de um banqueiro louco, hoje ele é
considerado até muito esperto, por capitalizar essas decisões a favor da imagem do Bamerindus
— com a qual ganhou mais de 900 000 novos clientes nos dois últimos anos. (VEJA, 5 jul.
1989, p. 134-135).

1208
Dois acontecimentos marcaram o Bamerindus em 1990, o primeiro foi o Plano Collor e o
segundo, a eleição de José Eduardo para o cargo de Senador na coligação PTB / PDS / PTR / PST,
representando o Paraná. O ano começou com a inflação fora de controle, marcando o período de
transição entre os governos Sarney e Collor e culminou no Plano Brasil Novo (Plano Collor),
lançado em 16 de março.
225
“O momento é de cautela” afirmou José Eduardo em relação ao plano Brasil Novo embora, na
sua opinião, tais medidas eram necessárias para conter a inflação e a especulação no mercado
financeiro. O novo plano, segundo ele tinha alguns aspectos recessivos que afetavam o setor
produtivo, mas afirmava estar apostando no seu sucesso. (Folha da Tarde de 17 mar. 1990) 8

1209
Para JE, a eleição de Collor e o pacote econômico afastaram o risco da estatização dos
bancos, mas as perdas foram grandes e levariam bastante tempo para recuperá-las. Em entrevista
para o jornal Folha da Tarde, de 17 mar. 1990, JE definiu como “calote necessário” a restrição
imposta para a retirada do dinheiro aplicado no mercado financeiro, “Na medida em que o resultado
de baixar a inflação ocorra, o calote será então, um mal necessário”. Segundo JE “[...] Isso é um
calote. O governo tomou dinheiro que é teu e vai te pagar com uma taxa fixada por ele, de forma
unilateral. Na medida que o plano acerte a economia, será o calote um mal necessário”.

7
Fonte: O banqueiro rebelde. José Eduardo Vieira, do Bamerindus, compra mais uma briga com a criação do Coopercap.
VEJA, 5 jul. 1989, p. 134-135.
8
Fonte: Para banqueiro, calote é mal necessário. FT, 17 mar. 1990.
462

Questionado pela Folha sobre qual seria a saída para os bancos, já que não iriam ter dinheiro para
operar, JE respondeu que era uma situação passageira e que contida a inflação poder-se-ia
suspender o tabelamento dos preços, “[...] que não funciona. Mais do que 30 dias, a economia ficará
engessada”. Com a queda da inflação, JE admitia que haveria prejuízo aos bancos, mas que eles
poderiam suportar até seis meses sem lucro, até “[...] o início do ano havia uma previsão de que a
inflação menor que 6% ao mês daria prejuízo. Agora não sei”. Buscando explorar as contradições
do momento, a Folha perguntou: — “O sacrifício imposto pelas novas medidas é melhor que o Lula
na Presidência?”. JE responde dizendo que era “[...] melhor do que o Lula na Presidência. Aí sim a
economia do país iria se desestruturar totalmente. O socialismo do Lula é o comunismo, que não
deu certo. O sacrifício valerá a pena desde que eliminada a inflação”.
1210
A última semana de março de 1990 foi de intensa movimentação política no PTB,
culminando com a entrada de vários políticos no partido, e no Paraná o deputado federal Erwin
Bonkoski, proprietário da Rádio Colombo, anunciava no dia 1º de abril novas filiações e que, de
imediato entrou no PTB o deputado federal Maurício Nasser bem como o partido passou a ter uma
bancada de cinco deputados estaduais: Bonkoski, Erondy Silvério, Luiz Antonio Setti, José Alves e
Aníbal Khury. A adesão de Aníbal Khury tinha grande significado, pois estava ele entre os
personagens políticos mais importantes da história recente do Paraná, tendo ocupado por diversas
vezes seguidas a presidência da Assembléia Legislativa, e era considerado como político
articulador de grande competência. Acumulou muito poder e influência na Assembléia durante
muitos anos. Além desses políticos, também se filiaram ao PTB em 1990, José Eduardo, José
Carlos Gomes de Carvalho e João Elísio Ferraz de Campos. Em abril, JE anunciou o apoio à
candidatura de Martinez (PRN) ao Governo do Paraná e que, segundo Braga (2002d), fazia parte de
um acordo que envolvia as eleições municipais de 1992.

7.2.1.1 O “ZÉ DO CHAPÉU”

1211
Nelson Blecher9 publicou reportagem na Folha de São Paulo em 08 abr. 1990 na qual
descreveu JE como o banqueiro do chapéu de “cowboy” que adora “[...] uma prosa desfiada em
sotaque caipira” que em dez anos transformou “[...] um banco com forte sotaque regional no
terceiro maior do país em depósitos e o segundo em número de agências [...]” Quanto ao Plano
Color, JE teria declarado que — “[...] eu pensava que vinha um tiro de revólver, não de canhão”.
Blecher também comenta que havia especulações que diziam que “o sonho secreto de Andrade
Vieira era ser o ministro da Economia de Fernando Collor, a quem apoiou desde o início da
campanha eleitoral”, mas observa que JE desmentia tais pretensões bem como elogiava o plano de
estabilização, “embora ao mesmo tempo critique a ‘inexperiência’ dos economistas e a ineficácia de

9
Fonte: BLECHER, Nelson. Banqueiro caubói. O presidente do Bamerindus dispara críticas a pacotes na economia. FSP, 08
abr. 1990, Repórter Varig, p. s.n.
463

pacotes econômicos”.
1212
Para o jornalista, JE era um “heterodoxo Ilustração 7-1: José Eduardo como candidato “Zé do
Chapéu”10
em termos de moda”, bem como na não
combinava “com o perfil ‘low profile’ da
maioria de seus pares e não abria mão de suas
opiniões. ‘No Brasil, todo mundo é a favor do
governo’, diz ele. ‘Mas quanto mais sou
independente, mais respeito ganho”. JE dizia
que continuava sendo contra confiscos e
medidas provisórias e que, “[...] comunista no
poder não faz reforma agrária, ele confidencia
que se o plano econômico fosse de Lula, haveria
uma insurreição no país”. Em 19 de abril de
1990, JE anunciou que iria licenciar-se dos
cargos que ocupava no Bamerindus para
candidatar-se ao Senado pela coligação
partidária que apoiava o Presidente Fernando
Collor (PRN / PTB / PFL)12, tendo formalmente
Fonte: ALVES (1997)11.
se afastado no dia 24 de abril de 1990. Almeida
(1999, p. 14) conta que, seguindo o plano político formulado e iniciado em 1988, havia chegado a
hora de “enfiar o Zé dentro do chapéu”. Numa reportagem de Baraldi13, publicada na Gazeta
Mercantil em 20 de abril, JE justificava sua entrada na política dizendo que:
226
[...] durante décadas, os empresários mantiveram-se afastados da política. “Não podemos mais
mantermo-nos enclausurados. Os empresários têm experiência na administração de problemas
e devem começar a se preocupar não apenas com o que se passa no interior das empresas, mas
com o que acontece com toda a sociedade”. Após a vitória do candidato do PRN [Collor de
Mello], Andrade Vieira foi insistentemente cogitado para ocupar um ministério. BARALDI (20
abr. 1990)

1213
O jornalista Lachini (20 abr. 1990)14 destacava, noutra reportagem, que JE havia assumido o
Bamerindus quando este ocupava o oitavo lugar no ranking nacional em 1981, e que conduziu o
banco para a terceira posição com mais de mil agências distribuídas por todo o País:
227
José Eduardo se define como um banqueiro vinculado às origens rurais de sua família, em
Tomazina, no interior do Paraná. Daí advém o seu apelido de “banqueiro caipira”, traço que
cultiva no seu modo de falar e no uso habitual de um chapéu Panamá, quando em viagem. José

10
A escolha da imagem não significa que compartilhamos as opiniões da revista. A manchete foi mantida para não
comprometer a integridade da imagem de José Eduardo como “Zé do Chapéu”.
11
Fonte: ALVES, Guilherme; Prensa Três. [José Eduardo de Andrade Vieira]. Carta Capital, São Paulo, 16 abr. 1997, ano II,
nº 46, Capa. 1 fotografia, color.
12
Na seqüência dos fatos o PRN acabou lançando candidato próprio – Tony Garcia, e o PFL – Paulo Pimentel.
13
Fonte: BARALDI, R. Saindo da clausura. GM, 20 abr. 1990.
14
Fonte: LACHINI, C. Andrade Vieira deixa o Bamerindus para candidatar-se ao Senado. GM, Curitiba, 20 abr. 1990.
464

Eduardo diz que a decisão de ingressar na carreira política é fruto de sua observação de que os
empresários, pelas facilidades encontradas no último quarto de século de regime autoritário,
divorciaram-se dos problemas do País.

1214
Ainda segundo esse jornalista, JE era um defensor...
228
[...] intransigente da livre iniciativa como solução definitiva para a crise brasileira, o presidente
do Bamerindus procurou orientar o seu trabalho no sentido de que o banco se tornasse cada vez
mais independente do governo federal. Para isso, trabalhou sempre com o planejamento [...]
diversificando os investimentos para o meio rural, onde comanda onze fazendas, e para o setor
industrial, no qual está investindo US$ 330 milhões em uma fábrica de celulose [Inpacel].

1215
Em 8 de maio, Bentes15 publicou, na Folha da Tarde, uma entrevista com JE na qual o
descreve “[...] Conhecido como homem caipira e rebelde, ele implantou na empresa o seu estilo
pessoal, tornando o banco um dos mais inovadores da praça”. E diz que a meta do Bamerindus
agora era conquistar São Paulo;
229
Seus feitos [de JE] demonstram que este homem ousado consegue o que quer. [...] este
empresário, que não pratica o capitalismo selvagem e aposta na produtividade [...] [e que] Sem
o respaldo das lideranças políticas do seu Estado, mas com a vantagem de ter apoiado o
presidente Collor desde a primeira hora, este homem, que se apresenta caracterizado como
fazendeiro, de botas e chapéu, tem forte pronúncia interiorana e fala acentuando os erres. [...]
Com a franqueza dos homens do interior, ele fala de política, políticos, Plano Collor, inflação
zero, reforma bancária, miséria [...] (BENTES, 8 maio 1990a).

1216
Questionado pelo jornalista se não tinha medo de ser derrotado como foi o também
empresário Antonio Ermírio de Moraes, JE respondeu que “Não me chamo Antonio Ermírio e não
moro em São Paulo”. Também admitiu que “empresário no Brasil é político” e que entrava na
política para lutar “contra a má fé de uns, maldade de outros e burrice de muitos”, bem como
prometia “lutar para melhorar a situação concreta dos assalariados”. Para ele “[...] O empresário no
Brasil é muito político. [...] Não é essa politicagem demagógica, de palanque, de comício, onde se
oferece tudo e não se faz nada. Somos outro tipo de político e é como esse político que eu vou
chegar ao Senado, ao Congresso Nacional”. (BENTES, 8 maio 1990a).
1217
Com relação ao lucro, JE disse não ter medo de admitir que “[...] quanto mais lucro melhor.
Mas tem que ser um lucro fruto do trabalho, da produtividade, do desempenho. Os nossos ganhos
não são fruto da especulação financeira”. Solicitado a explicar porque o Bamerindus havia
recentemente baixado a taxa de juros de suas operações, JE respondeu que o seu banco foi o
primeiro a fazer isso, ao passo que todos os outros esperavam pelo Bacen:
230
No momento em que nós temos a convicção de que realmente a inflação é baixa e vai continuar
baixa, não temos que esperar o Banco Central para determinar a taxa que nos convém. Se a
inflação é realmente próxima de zero, as taxas têm que ser reduzidas, não podem ficar em 12%,
13% com inflação zero. Tomamos a iniciativa de reduzir nossas taxas a 6%, 7% para atender
nossos clientes e para colaborar com o sucesso do plano, mostrar para o público que realmente
a inflação está baixa. (BENTES, 8 maio 1990a)

1218
Também na reportagem com o título “O caipira dono do banco da praça. Tem 11

15
Fonte: BENTES, P. Política, o novo desafio do banqueiro. FT, 08 maio 1990a, Especial.
465

fazendas em Roraima e no Paraná”, Bentes16 apresentava José Eduardo como tendo a ocupação
de ex-presidente do Banco Bamerindus, o terceiro maior banco do país com 43 mil empregados.
Também dizia que ele era a favor da livre iniciativa, contra o gigantismo estatal, e que apoiou
Collor no 1º e no 2º turno da eleição de 1989. Com relação a outros temas, o jornal destacava as
opiniões de JE:
231
Lula: “O socialismo dele é o comunismo que não deu certo”. (out. 1989); Plano Collor: “Um
calote necessário” (25 mar. 1990); Calote: “Não beneficia ninguém”. (8 out. 1989); Déficit
Público: “Se no Bamerindus um gerente gasta mais do que é destinado, é demitido”. (30 ago.
1984); Reforma Agrária: “Não para tomar a minha terra para dar a quem não tem, mas
ajudando aqueles que têm baixa produtividade a aumentá-la”. (29 out. 1984); Remédio para o
Brasil: “o empresário tem que se preocupar não só com sua empresa, mas com toda a
sociedade”. (1990); Milagres: “Há dois mil anos não existem mais”. Finalmente, descreve JE
como homem que “não tem motorista particular, dirige o seu próprio carro, uma picape, usando
sempre chapéus Panamás”. (BENTES, 08 maio de 1990b).

1219
Essas reportagens desenharam o perfil básico que seria explorado na campanha eleitoral no
segundo semestre de 1990. Note-se que a estratégia de JE era de apresentar uma imagem diferente
do político profissional, um homem que veio do povo, tão “caipira” quanto ele. Tenta reunir a
imagem do homem rebelde que fala as verdades, com a de empresário de sucesso. Em junho, numa
outra entrevista publicada em Curitiba Hoje (24 jun. 1990)17, o repórter fala em classe política
desacreditada e JE se posiciona como empresário novo na política. Questionado se a população iria
votar num banqueiro, JE responde que 90% dos funcionários do Bamerindus iriam votar nele e que
a “imagem de aversão ao banqueiro não existe”. Com relação aos funcionários do banco, que no
passado acusaram o Bamerindus de pagar mal, JE respondeu que o banco paga seus empregados
melhor que a maiorias dos outros, e que não tinha participado da recente decisão do Bamerindus de
conceder um aumento de 35%, pois estava afastado do grupo. Também afirmava que o poder
econômico não tinha influenciado o apoio que tinha recebido dos demais políticos paranaenses.
“Poderio econômico é lá no Palácio do Governo, aqui não existe isso. [...] Até hoje ninguém veio
aqui pedir nada, graças a Deus. [...] Só devo elogiar a classe política do Paraná”. Também
aproveitou a entrevista para declarar que “[...] o poder na mídia não influi em nada na minha
campanha. Na do Martinez e do Pimentel tem que perguntar a eles, que são donos de empresas de
comunicação”; Martinez tinha a Rede OM e Paulo Pimentel controlava um grande grupo de
comunicação que incluía Rádios, Televisões e diversos jornais.
1220
Com relação ao chapéu de vaqueiro, o repórter lembrou que ele havia sido utilizado como
um dos símbolos da campanha para o governo do Estado, em 1965, por Paulo Pimentel; JE
respondeu:
232
[...] nem sabia que o Pimentel havia usado chapéu em sua campanha. Uso chapéu na cabeça,
aqui em Curitiba, no interior, em todo lugar. Às vezes me esqueço que estou de chapéu e

16
Fonte: BENTES, Patricio. O caipira dono do banco da praça. Tem 11 fazendas em Roraima e no Paraná. FT, 08 maio 1990b,
Especial.
17
Fonte: Boiadeiro, braço forte! É “Seu Zé” Eduardo. Curitiba Hoje, 24 jun. 1990.
466

alguém tem que alertar na hora de me sentar à mesa. O chapéu se tornou una marca minha.
Quanto ao Bamerindus, a empresa adotou o chapéu como ligação dela com o homem da terra.
A mensagem é que o fato de o Bamerindus ter se sofisticado na informática e
tecnologicamente, ele não se desligou de suas origens, do homem da terra. (Curitiba Hoje, 24
jun. 1990).

1221
Em 30 de junho, o jornal O Estado de São Paulo, na matéria “O banqueiro caipira”,
informava que JE dedicava tempo para visitar semanalmente suas fazendas nos finais de semana,
“Mais do que lazer, o 'banqueiro caipira' percorria o interior do Paraná para terminar a jornada de
trabalho semanal”. Segundo o jornal, Andrade Vieira didaticamente falava que “Os agricultores têm
de entender que não se deve tomar empréstimos para financiamento de, por exemplo, uma nova
safra”, e recomendava que o sucesso na agricultura também dependia de “[...] dois ingredientes
fundamentais: competência e amor à terra, adquiridos na infância em Tomazina, no norte do
Paraná, de onde Vieira saiu aos 18 anos. [...] Esse contato rotineiro com suas fazendas integra, na
verdade, um sentimento agora reprimido: o carinho pela vida simples do Interior. ‘Andar a cavalo e
jogar papo pro ar, só depois de 3 de outubro prevê o candidato”. (OESP, 30 jun. 1990)18.
1222
A coordenação mercadológica da campanha de JE foi entregue ao comando de Sérgio Reis,
e executada pela empresa GW - Gonzales e Woiler Guimarães de São Paulo, Emanuel Públio Dias
e a equipe de Tereza Souza, então produtora de “jingles” e programas de rádio. A candidatura “Zé
do Chapéu” estava pronta para a batalha eleitoral:
233
O chapéu é o símbolo do trabalhador do campo. É o homem que trabalha de sol a sol, às vezes
na chuva que usa o chapéu para se proteger. Eu nasci numa fazenda, sempre trabalhei na
agricultura até os 18 anos depois ingressei no banco, mas sempre usei chapéu. Nunca me
desvinculei da minha ligação com a agricultura paranaense. Todo o fim-de-semana passo na
fazenda que eu tenho em Joaquim Távora trabalho com gado, trabalho com agricultura. Sou
plantador de milho, soja, trigo então eu conheço bem os problemas do homem do campo
porque também sou um agricultor. E sempre usei o chapéu para me proteger das intempéries do
sol. (PANKE, 1999, p. 40).

7.2.1.1.1 A MÁQUINA DE PROPAGANDA DO BAMERINDUS

1223
A campanha de JE tinha duas grandes bases, a primeira era a vitória de Collor, um
desconhecido dos eleitores que teriam votado nele por não acreditarem mais nos políticos
tradicionais; a segunda, o uso de técnicas sofisticadas de propaganda, e neste caso o Bamerindus
tinha uma das melhores máquinas do Brasil cuja experiência tinha sido acumulada durante anos de
serviços prestados ao grupo. Historicamente a influência da propaganda do Bamerindus acontecia
principalmente em dois sentidos: (1) pelo lado do orçamento e seu peso na receita dos órgãos de
imprensa e, (2) o próprio discurso, mesmo quando veiculado através de propagandas comerciais.
Para aumentar sua penetração e influência, buscou engajar organizações sociais, Igrejas, o meio
artístico e os órgãos do Estado.
1224
Em 1983, o Bamerindus realizou uma campanha publicitária especial no rádio e TV,

18
Fonte: O banqueiro caipira. OESP, [São Paulo], 30 jun. 1990.
467

promovendo a Poupança Bamerindus e, segundo o jornal Ponto de Encontro (nº 119, mar. 1983), a
programação foi veiculada na televisão entre 20 de março a 9 de abril, na Rede Globo: Jornal
Nacional, Novela das 19 horas e 20 horas, Fantástico e Tv Mulher; no SBT: Programa Sílvio
Santos; na Bandeirantes: Programa Boa Noite Brasil. Aproximadamente 40 emissoras veicularam a
propaganda com cobertura nacional. No rádio aconteceu no período de 21 de março a 31 de junho,
e se estendeu por mais tempo que na de televisão, ocupando os principais horários de 100 emissoras
de rádio em todas as regiões onde o Bamerindus atuava. Também nesse ano foi desenvolvida, pela
Umuarama Publicidade, em parceria com a Rede Brasil Sul de Comunicação, o projeto Pró-
memória Gaúcha, com a finalidade de divulgar personagens e locais que faziam parte da história do
Rio Grande do Sul. O programa foi divulgado através da TV gaúcha, Jornal Zero Hora, Rádio
Gaúcha e Radio Farroupilha FM.
1225
Em 1984, foram feitas exibições em sessões especiais para autoridades, empresários e
jornalistas, nas cidades de Campo Grande (MS), Porto Velho (RO) e Cuiabá (MT), o documentário
produzido pelo Bamerindus sobre os Estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Rondônia.
“Centro-Oeste, A nova fronteira” era um filme mostrando o povo, a economia, as tradições, a
paisagem e o “progresso” da região. Ainda nesse ano, o banco lançou talões de cheques com
reproduções de gravuras brasileiras do século XIX, que retratavam o quotidiano de diversas regiões
do Brasil, com temas que enfocavam as pessoas, os costumes, o folclore, a natureza e a “alma
Brasileira” (Bamerindus: Relatório da Diretoria, 1984). Em 1985, o banco patrocinou a publicação
do livro Revolução Farroupilha, de Barbosa Lessa e o ensaio fotográfico de Liane Neves.
1226
Entre abril e agosto de 1984, o Bamerindus promoveu uma campanha publicitária no rádio,
com a chamada: “Ponha a Safra pra render na Poupança Bamerindus”:
234
[...] veiculada em mais de 180 emissoras de rádio nas cidades do interior, das principais regiões
agrícolas do país. Segundo o banco, foi feito um trabalho de pesquisa no sentido de levantar as
cidades de maior interesse, as datas de safras, os tipos de produtos e o perfil de região e de sua
população, visando a direcionar-se a campanha. A partir disso, foram confeccionados “jingles”
e “spots” específicos para cada região, ajustados à cultura local. Foram escolhidos ainda
horários específicos da programação para se atingir o publico desejado. A campanha envolveu
também os próprios comunicadores de cada emissora, que durante os seus programas, dirigiam
mensagens aos seus ouvintes sobre a Poupança Bamerindus, buscando maior aproximação com
o público, capitalizando a identificação existente entre o comunicador e a comunidade,
valorizando sua maneira de falar, de se expressar ou brincar. (MEMÓRIA BAMERINDUS,
1995, ano 1984).

1227
No ano de 1987, o banco iniciou um trabalho conjunto com o Banco da Mulher, através da
abertura de linhas de Crédito, com intuito de financiar e fomentar o pequeno empresariado
Nacional. A Associação Brasileira para o Desenvolvimento da Mulher19 havia sido fundada em
1984, por iniciativa e interesse do Conselho da Mulher Executiva da Associação Comercial do Rio
de Janeiro, e era a mais antiga instituição de microcrédito sem fins lucrativos funcionando no

19
Fonte: BANCO DA MULHER (BM). O que é o BM. Rio de Janeiro, [2002]. Disponível em: <http://www.bancodamulher.
org.br/instituicao.php>. Acesso em: 9 jul. 2004.
468

Brasil. Atuava através de uma rede de seis filiadas, Manaus, Pelotas, Caxias do Sul, Uberlândia,
Salvador e Curitiba. A organização também recebia apoio do Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef) e do BID, e era filiada ao Women's World Banking, bem como tinha conexões e
apoio das associações comerciais, federações de indústrias, Sebrae e Rotary Clube.
1228
Outra campanha importante foi intitulada de “Bicho do Paraná”, criada a partir do título
da música do compositor João Lopes, cuja expressão designava “pessoas nascidas no Estado do
Paraná”. Segundo o Bamerindus: Relatório Anual de 1987, a intenção da campanha era levar o
paranaense a sentir orgulho de sua terra e seu povo, conhecendo pessoas que se destacaram
nacional e internacionalmente, em diversas atividades profissionais. Até dezembro de 1987, tinham
sido produzidos e veiculados 116 filmes, destacando escritores, cientistas, educadores, inventores,
esportistas, músicos, atores, entre outros. Um dos principais criadores da campanha foi o jornalista
João José de Arruda Neto20, ex-diretor-superintendente da Rede Paranaense de Comunicação, e teve
o apoio da equipe do publicitário Sérgio Reis, da Umuarama Publicidade do grupo Bamerindus, e
da Rede Paranaense de Televisão21, filiada à Rede Globo de Televisão. Ao final da apresentação de
uma breve biografia, o nome do personagem era seguido dos dizeres: “[...] ele é Bicho do
Paraná”. João Lopes havia lançado a música em 1981, no seu primeiro disco, pela gravadora
Continental, tendo iniciado sua carreira inspirando-se na música caipira de Tonico e Tinoco, no
baião de Luiz Gonzaga, no Xote de Teixeirinha, entre outros. Com letra de cunho regionalista,
acabou fazendo sucesso na época, sendo mais tarde gravada e divulgada por vários artistas, entre
eles Leandro & Leonardo.
1229
O publicitário Sérgio Sibel Soares Tabela 7-1: Cargos ocupados por Sérgio Sibel Soares no Grupo
Reis trabalhou no Bamerindus por 25 anos Bamerindus (1981 a 1994)
1985

1991

1992

1992

1992

1993
e dirigiu a maioria das principais Cargo Empresa
campanhas mercadológicas do grupo Diretor BPE x
Diretor Adjunto BBB x x
durante os anos 1980 até 1994, muitas das Diretor de Marketing
BBB x
quais receberam vários prêmios e Comunicação
Membro Efetivo Cons
FBAS x
empresariais importantes. Sua fama no Adm
Membro Suplente
mundo político ocorreu pelo seu trabalho FBAS x
Cons Adm
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nas referências
como assessor de comunicação da encontradas nos relatórios anuais e semestrais das Diretorias e
campanha de José Eduardo para o Senado Conselhos de Administração (diversos anos).

em 1990. Nesse ano, Sérgio Reis foi eleito pelo júri do Prêmio Colunista (nacional) o
“Profissional de Propaganda do Ano”. Segundo a FSP (23 jun. 1994)22, nos tempos em que JE
comandava o MICT, Sérgio foi consultor informal do então Presidente Itamar Franco e, em junho
de 1994 saiu da diretoria de Marketing do Bamerindus para abrir a Coopermarkerting, especializada

20
Fonte: SINDIJORPR - Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná. Extra Pauta, [1998], edição 55, p. 29. Disponível
em: <http://www.sindijorpr.org.br/extrapauta/edicao55/pag29.htm >. Acesso em: 15 Jan. 2002.
21
Cujos principais acionistas controladores eram também sócios do Bamerindus.
22
Fonte: Iniciativa própria. FSP, 23 jun. 1994, Painel S/A, p. 2-2.
469

em imagem institucional. É interessante observar a opinião de Luis Nassif (24 jun. 1994, p. 2-3)23
publicada na sua coluna na Folha de São Paulo, avaliando Sérgio Reis:
235
[...] ao longo de mais de dez anos, Reis foi de longe o mais importante homem de marketing do
país, ajudando não só a mudar a imagem do marketing bancário, como a própria mentalidade
do setor financeiro. [Antes de Sérgio] [...] o setor limitava-se a explorar a desinformação dos
investidores para ampliar sua margem de lucros. Depois dele, o atendimento e respeito ao
cliente-investidor tornou-se ponto central das políticas bancárias. (NASSIF, 24 jun. 1994, p. 2-
3).

7.2.1.1.2 A DEFINIÇÃO DOS CANDIDATOS

1230
Na opinião de Almeida (1999), os estrategistas de JE cometeram um erro grave na
campanha. Inicialmente preparada para disputar o governo estadual, preferiram disputar o Senado
depois que Álvaro Dias abandonou o páreo. Para o assessor de imprensa, o momento era para
colocar o “Zé do Chapéu” no Palácio Iguaçu, pois considerava que suas chances de vitória eram
boas.
1231
O candidato mais importante para o Senado era o então Governador Álvaro Dias, que
apesar de ter anunciado que pretendia deixar o cargo de governador para concorrer pelo PMDB,
dois dias antes da data marcada para desincompatibilizar-se, anunciou que ficaria no governo até o
final do mandato. O cargo seria transferido para o vice, Ary Veloso Queiroz, que possuía ligações
históricas com Jayme Canet e Affonso Camargo, bem como relações familiares com Aníbal Khury,
todos do PTB e alinhados com a candidatura José Eduardo. Entre as diversas versões para a
desistência de Álvaro, muitos depoimentos asseguram que ele teria sido alertado sobre o
movimento do novo governo na direção de vazar informações que o comprometeriam com diversos
casos na secretaria da Agricultura e de detalhes das obras de construção da Usina de Segredo pela
Copel. O objetivo seria atrapalhar sua campanha e a de Requião, pois apoiava José Richa, o
preferido de Aníbal Khury. O anúncio no dia 2 de abril de 1990 da sua desistência de concorrer ao
Senado, aumentou em muito as chances de José Eduardo logo em seguida, foi tentada uma grande
coligação unindo PTB / PFL / PRN / PDC / PDS quando surgiram vários problemas que acabaram
por inviabilizá-la. Como o PRN tinha muitos deputados federais e estaduais, resolveu indicar seu
próprio candidato ao governo do Paraná, lançando José Carlos Martinez, bem como decidiu lançar
candidatos para todos os cargos, formando chapa completa. Já o PFL, apesar de o Ministro da
Saúde, Alceny Guerra, defender uma grande coligação, o grupo Ney Braga / Paulo Pimentel lançou
candidatura própria, pois não perdoavam o governo federal por ter tirado Ney Braga da direção de
Itaipu, posto que exercia desde o início do governo Sarney.

23
Fonte: NASSIF, L. Os abusos contra contratos. FSP, 24 jun. 1994, p. 2-3.
470

1232
O PTB estava disposto a compor uma grande frente partidária, desde que José Eduardo
fosse indicado para o Senado, mas ao mesmo tempo, Aníbal Khury (PTB) queria compor com o
PSDB. Oliveira (1998) observa que, apesar de
todos perceberem as vantagens das alianças, os Quadro 7-1: Candidatos a governador do Paraná em 1990
projetos pessoais das lideranças bloquearam a Nome Partidos Nome da coligação
composição de uma grande frente conservadora Jose Carlos de PRN / PFL / PDC /PRN / PFL / PDC /
Castro Martinez PSC PSC
no Estado. O PRN indicou o empresário Tony Roberto Requião PMDB / PMN / PTPMDB / PMN / PT
de Mello e Silva DO B DO B
Garcia como candidato ao Senado, impedindo Jose Richa PSDB / PCB / PCPSDB / PCB / PC
DO B DO B
assim um possível acordo com o PTB, e no PFL, Henrique PT / PSB PT / PSB
Paulo Pimentel também se lançou ao Senado. O Pizzollato
Jussara das Graças PST Social Trabalhista
PDC de Jayme Canet Júnior decidiu ficar fora da Toledo Cavalheiro
Tasso Gouvêa PSD Social Democrático
disputa majoritária, e apoiou JE para senador e Nota: Note-se que formalmente o PTB não participou das
Martinez para governador. Como resultado final, coligações para candidato ao governo do Estado.
Fonte: TRE PR (2002)
a “direita” concentrou seu apoio na candidatura
Martinez para governador, dividiu-se entre os três candidatos ao Senado e formou dois grupos para
as vagas da Assembléia Legislativa e Câmara dos Deputados “[...] um com a coligação PRN / PFL /
PDC / PSC (160 candidatos a deputado estadual e 90 a deputado federal) e outro com a aliança PTB
/ PDS”. (OLIVEIRA, 1998, p. 106).
1233
Com relação aos outros Quadro 7-2: Candidatos ao Senado pelo Paraná em 1990
partidos, conversações sobre alianças Nome Apelidos Partidos Nome da coligação
Jose Eduardo de A. “Zé do PTB / PDS / PTB / PDS / PTR / PST
estavam em andamento desde 1989, e de Vieira Chapéu” PTR / PST
Antonio Celso Tony PRN Da Reconstrução Nacional
PDT e PSDB ensaiavam, para essa Garcia Garcia
eleição uma união não só estadual, mas Paulo Cruz Pimentel Pimentel PFL Da Frente Liberal
Jose Tadeu Bento Tadeu PDT Democrático Trabalhista
também uma grande coalizão nacional Franca França
Marilza Tavares PSD Social Democrático
de centro – esquerda, que incluiria os Martinelli
Edson Carlos PSB Socialista Brasileiro
PCs e o PT. Esta coalizão tinha por Pereira de Sá
base a saída de políticos identificados Mauricio Roslindo Fruet PSDB Da Social Democracia
Fruet Brasileira
com a esquerda do PMDB para outros Waldyr Ortêncio Pugliesi PMDB Movimento Democrático
Pugliesi Brasileiro
partidos, como o PDT e PSDB. Fonte: TRE PR (2002)
1234
No Paraná, o deputado federal Helio Duque foi para o PDT e passou a promover a
composição do partido com o PSDB, pelos quais Duque seria o candidato ao Senado e José Richa
ao governo do Estado. Mas a idéia enfrentou forte resistência de muitos pedetistas que defendiam o
PMDB, pois segundo Hélio, muitos tinham “[...] no medo da perda de espaço político para os
tucanos em suas regiões.” (OLIVEIRA, 1998, p. 107)24. A disputa foi para a convenção do partido,
que acabou decidindo lançar Tadeu França para o Senado e não fazer aliança com os tucanos. O

24
Fonte: Para Duque, coligação com o PSDB faz parte de um projeto nacional. Folha de Londrina, 15 maio 90, p. 3. Apud
Oliveira, 1998, p. 107 e 119.
471

PSDB fez aliança com o PC e PC do B, lançou José Richa para governador e indicou políticos do
partido para os demais cargos majoritários. Mas a história não parou por aí, como a decisão do PDT
do Paraná contrariou o acordo nacional PDT / PSDB, Tadeu França reagiu às pressões atacando
publicamente a direção nacional do PDT e o PSDB.
1235
Em resposta rápida, a executiva nacional do partido colocou sob intervenção o diretório
estadual entregando a direção para Hélio Duque, mas não foi longe, pois o TRE não reconheceu a
intervenção e Tadeu França retomou o controle do partido. O PT preferiu não participar da
coligação e lançou candidatos próprios. Já o PTB, para obter o apoio do PDS, escolheu para
primeiro-suplente de José Eduardo o líder do PDS na Assembléia Legislativa (1982-1990), Luís
Alberto Martins de Oliveira. O arranjo final das composições e alianças pode ser verificado no
Quadro 7-1, no qual apresentamos a relação de candidatos para o cargo de governador do Paraná e,
no Quadro 7-2, para Senador.

7.2.1.1.3 A CAMPANHA PARA O SENADO

1236
O PDT entrou na campanha com o seu espaço na TV formalmente dividido, uma parte
defendia José Richa do PSDB, e a outra promovia Roberto Requião do PMDB; e no Oeste do
Estado, reduto brizolista, os pedetistas atacavam Brizola pelo seu envolvimento com o grupo
Lerner. Já o PMDB buscou atrair todos os apoios possíveis, procurando envolver a dissidência do
PDT e Paulo Pimentel (PFL), e boa parte do PMDB apoiava José Eduardo, ou seja, o partido estava
envolvido com quatro candidatos que disputavam uma vaga para o Senado. Na busca desse apoio,
chegou-se a montar um comitê Requião / Zé Eduardo na praça Rui Barbosa, no centro de Curitiba.
Os embates entre os candidatos foram duros, envolvendo acusações, denúncias sem provas, abuso
do poder econômico e até um suposto atentado à bala.
236
[...] campanha eleitoral de 1990 foi das mais desnorteantes e conflitivas da história do Paraná.
Além do número excessivo de candidatos disputando as eleições majoritárias, a campanha
descambou para a difamação pura, impedindo que o eleitor distinguisse o perfil político de
cada candidato. (OLIVEIRA. 1998, p. 108).

1237
A estratégia do PMDB era conseguir colocar Requião no segundo turno, se possível
enfrentando Martinez. Para tanto era necessário vencer Richa, contra quem Requião teria muita
dificuldade caso o embate fosse entre os dois. José Eduardo tinha pela frente três concorrentes
difíceis, caso Waldyr Pugliesi contasse com o apoio integral do PMDB, seria muito difícil vencê-lo,
mas como o interesse do partido estava voltado para o cargo de governador, houve espaço para
negociar o apoio de parte do PMDB, o que contribuiu bastante para esvaziar a campanha de
Waldyr.
1238
Inicialmente o grande adversário de JE era Pimentel, cuja história eleitoral era bastante
robusta em relação ao banqueiro novato na política, mas justamente essa condição de iniciante o
fortaleceu como candidato “não comprometido com os velhos conchavos, que não tinha rabo
preso”. Essa imagem também era disputada por outro estreante na política, Tony Garcia, que além
472

disso tinha a vantagem de ser muito mais moço e concorrer com a imagem de “galã de novela”.
Alguns depoimentos destacaram que a assessoria de José Eduardo chegou a controlar com muito
cuidado todas as imagens produzidas pelo comitê, determinando até o ângulo da face do candidato
que podia ser fotografada.
1239
As eleições aconteceram num momento em que o país ainda sentia os efeitos da acirrada
disputa do segundo turno da campanha presidencial de 1989 e os primeiros sinais do fracasso do
plano econômico. A vitória alcançada por Collor, no Paraná, indicava que a preferência do eleitor
era por novos candidatos, sem vínculos com os políticos tradicionais e com discurso pela mudança
pautada no espectro ideológico de centro - direita. Em outras palavras, a imagem do candidato ideal
teria que somar a rebeldia e coragem para promover mudanças institucionais, mas com uma história
vinculada aos setores tradicionais da sociedade. Desta forma a imagem pública de JE foi construída
cuidadosamente, buscando dosar uma mistura de rebeldia, determinação, tradicionalismo e
modernidade.
1240
O personagem “Zé do Chapéu” era ao mesmo tempo rebelde para não aceitar o jogo dos
demais banqueiros, o Bamerindus era diferente e enfrentava os poderosos. O “Zé” era o “caipira”
que andava de caminhonete importada e seu banco (Bamerindus) tinha muitos computadores, e
apesar de viajar pelo mundo, continuava sendo o mesmo homem simples de Tomazina. O “Zé
Eduardo” era empresário, buscava mudanças e enfrentava desafios, era cristão, gente de bem e
paranaense.
237
A imagem construída para apresentar Vieira ao eleitor está solidificada em valores e procura
mostrar um candidato novo que não é político, homem humilde que progrediu na vida e
trabalha bastante. Uma das formas de enfatizar essas características foi se incluir nos
auditórios: enfatizou ser trabalhador e amar o Paraná, tirando dessas premissas a justificativa de
ser candidato. (PANKE, 1999, p. 19).

1241 25
Almeida (1999) conta que, para evitar a exposição prolongada de JE, os “showmícios”
eram organizados de forma que os artistas como Gaúcho da Fronteira e Sérgio Reis chamassem
José Eduardo durante as apresentações para emitir opiniões curtas sobre diversos temas. Nestas
ocasiões, ostentava então “[...] um vistoso chapéu texano e [havia] [...] farta distribuição de chapéus
de palha [então ele falava] [...] pouco e dizia tudo que as pesquisas indicavam, [e] o público queria
ouvir. Era chapéu voando para todo lado”. (ALMEIDA, 1999, p. 14-16).
1242
Ao que parece, não foi muito fácil para o banqueiro tornar-se político, pois segundo
Almeida, José Eduardo era “homem pouco afeito à perda de tempo” e ficava desesperado quando
em “[...] cada nova localidade, na sua hora de falar, ele não entendia a necessidade de saudar o Luiz
Alberto, seu suplente, o Jaime Canet, o Afonso Camargo, quem estivesse viajando com ele. Achava
que tendo cumprimentado uma vez na primeira reunião do dia, bastava”. (ALMEIDA, 1999, p.
135).

25
Comícios realizados em conjunto com apresentações de artistas.
473

1243
No Horário Eleitoral Gratuito, de 02 de agosto, logo no início da campanha, o programa
veiculado na TV procurou apresentar JE para os eleitores, contando um pouco do que supostamente
seria sua história de vida:
238
O Zé nasceu na casa da vó em Tomazina e se criou no sítio da família em Joaquim Távora. Lá
tinha um pouco de café, umas vacas, galinha e muito trabalho. Todo o dia das cinco da manhã
até o fim do sol. Aos 12 anos o Zé teve que largar a vida que ele gostava pra estudar em
Curitiba. E aos 18, sempre sonhando em voltar pra terra; realizou um desejo do Seo Avelino, o
pai, virou auxiliar no Banco Mercantil e Industrial. (PANKE, 1999, p. 20)

1244
Nos seus discursos, JE insistia em afirmar que “[...] nunca tive papa na língua [...] Tenho
coragem para falar porque não tenho telhado de vidro e não tenho rabo preso”. (PANKE, 1999, p.
23). Os programas de 13 e 14 de agosto procuraram desfazer as diferenças entre o banqueiro e os
trabalhadores comuns, apresentando JE junto com um garçom nos seguintes termos:
239
O que um garçom com mais de 50 anos de tortas e coalhadas tem em comum com um
banqueiro com 45 mil funcionários? Se o banqueiro é o Zé Eduardo e o garçom o seu Nilton, o
Barão da Confeitaria Schaffer, eles são iguaizinhos na principal marca deste Estado: amor ao
trabalho. (PANKE, 1999, p. 23).

1245
Diversos exageros e mistificações aconteceram durante a campanha, como por exemplo, o
programa veiculado em 21 e 22 de agosto que colocou um depoimento de um popular dizendo que:
“vou votar pro José Eduardo porque ele foi pobre. Ele começou do nada e sabe o que o pobre
passou”. (PANKE, 1999, p. 29). Outro depoimento, agora de um sindicalista e gravado na fábrica
da Inpacel, dizia: “Se todo o empresário pensasse como Seo Zé Eduardo, em favor dos
trabalhadores, então esse país não tava do jeito que tá.” (PANKE, 1999, p. 40). Em 1º de setembro,
um dos assessores de Requião, Germinal Pocá, declarava ao jornal Tribuna do Paraná (TP)26, que
era possível uma aproximação de Requião com José Eduardo, buscando apoio de ambos para suas
campanhas. Nos programas dos dias 4 e 5 de setembro, apresentaram uma funcionária pública
manifestando o seu apoio ao JE com o seguinte depoimento:
240
Eu acredito que o povo está com o Zé Eduardo porque o Zé Eduardo nunca foi político e o
povo tá cansado das velhas raposas. E também por um outro fator: o povo está com o Zé
porque o Zé fala a linguagem do povo. O Zé é o povo. O Zé é assim e o povo gosta. (PANKE,
1999, p. 24).

1246
Mas a corrida estava apenas começando, e JE – e o Bamerindus – iriam enfrentar pesadas
críticas públicas, intrigas, armações, difamação e denúncias promovidas pelos adversários. Se JE
contava com o melhor esquema de propaganda, Pimentel tinha vários jornais e o canal de televisão
para não só desferir seus ataques, como também para ampliar as acusações formuladas pelos
demais candidatos. Nunca antes José Eduardo e o Bamerindus receberam publicamente tantos
ataques, denúncias e críticas sistemáticas.

26
Fonte: TP, 1º set. 1990.
474

TIROTEIO NA CAMPANHA

1247
No dia 03 de setembro, Tony Garcia acusou JE de utilizar a violência contra ele na
campanha; em declarações à TP (03 set. 1990, p. 2)27, ele disse que estava decidido a processar por
crime eleitoral e tentativa de homicídio o prefeito de Santo Antônio da Platina, José Ritti Filho e
JE. Tony Garcia acusava os dois de estarem envolvidos no atentado a tiros que tinham sofrido na
noite de sábado, quando retornava de um comício, do qual foi impedido de participar. Garcia
contou que:
241
[...] os tiros foram disparados de uma Saveiro bege ou branca, que tinha os números e as letras
da placa cobertos por adesivos de Vieira. De acordo com seu relato, em entrevista coletiva, [...]
os carros da comitiva de Garcia — um Opala e uma Veraneio — ficaram retidos para exame
pericial, já que as portas foram perfuradas por oito balas de grosso calibre. (TP, 3 set. 1990, p.
2).

1248
Na mesma reportagem, Tony Garcia também afirmava que havia sido impedido, por
ameaças, de discursar em Santo Antônio da Platina (PR). Segundo ele, uma suposta “turma do
chapelão”, partidários de JE, prometia confusão no comício do candidato do PRN José Martinez.
“Se tivesse falado teriam ocorrido mortes, com certeza”, Garcia afirmava que o então prefeito José
Ritti “[...] disse abertamente a todos que era sócio do candidato do PTB e que a cidade era do Zé
Eduardo [...] nervoso [Ritti], parecia que estava ligeiramente alcoolizado, e em nome de José
Eduardo e do João Elísio Ferraz de Campos — ex-governador e assessor de Vieira — disse que
tinha ordens para não deixar que eu falasse no comício”. (TP, 4 set. 1990, p. 2)28.
1249
Quanto ao atentado, Garcia declarou que aconteceu por volta das 23 h, na saída de Santo
Antônio da Platina; ele estava num Opala e seus assessores numa Veraneio quando se dirigia para a
cidade de Ourinhos (SP), onde pegaria o seu avião, e ao “[...] passar pelo Posto Policial Garcia
pensou que as coisas estavam mais calmas. Porém pouco depois uma Saveiro emparelhou com seu
carro e disparou oito tiros — sete contra a Veraneio e um contra o Opala. [...] Garcia foi então para
a cidade de Jacarezinho onde deu queixa para que fosse aberto inquérito”. (TP, 4 set. 1990, p. 2).
1250
Tony Garcia acusou também o filho do prefeito, José Arthur Ritti, que na época era
candidato a deputado estadual pelo PRN, e afirmou que o candidato do PTB também era
responsável pelo atentado:
242
Ele tem jogado pesado com o seu poder, o poder econômico. Vários candidatos, vereadores e
prefeitos têm falado abertamente que acertaram com o José Eduardo, que receberam dinheiro
dele para isso, ele não passa de mentiroso, um falso caipira, um falso bonitinho que agrada as
criancinhas. A população precisa saber quem está do lado dele, essas pessoas que não permitem
que falemos em comícios, e que nos ameaçam de morte. Dois ex-governadores aposentados —
João Elísio e Jaime Canet — um é biônico — estão com ele no palanque. Todos os partidos
apontam ele, inclusive o PT. Precisamos denunciar tudo isso. Vou até as últimas conseqüências
para descobrir quem disparou contra a gente. Vou processar o prefeito de Santo Antônio da
Platina, seu filho e o candidato do PTB. (TP, 04 set. 1990, p. 2).

27
Fonte: Oito tiros contra a comitiva de Tony Garcia. Candidato acusa o banqueiro José Eduardo pela violência. TP, 3 set.
1990, p. 2.
28
Fonte: PF apura atentado contra Garcia. TP, 4 sete. 1990, p. 2.
475

1251
O jornal destacava que, no dia seguinte, o clima na cidade era calmo e segundo o radialista
José Lima, “Se aconteceu alguma coisa foi longe do palanque. Ninguém aqui tá dando bola para
isso”29. José Eduardo respondeu às acusações declarando:
243
Fiquei perplexo, o Paraná todo me conhece, sabe da maneira que me estou conduzindo nesta
campanha. O meu passado é a garantia e testemunho que jamais fiz e farei qualquer coisa
contra qualquer pessoa. (TP, 04 set. 1990, p. 2)30.

1252
Na ocasião, afirmou ter dado entrada com uma representação no TRE pedindo que a Policia
Federal investigasse os fatos, pois segundo ele, “Nunca dei ordem para alguém fazer isso, muito
menos para qualquer prefeito”. JE também reconheceu suas ligações com José Ritti Filho: “Eu o
conheço há muito tempo e pelo que sabemos nunca cometeu nenhum ato contra alguém. Seu apoio
não depõe contra a minha candidatura. Ele é uma pessoa íntegra e cumpridora de seus deveres”.
Para JE, esse incidente estava relacionado à sua posição na disputa, pois “[...] Se estivesse com 5%
nas pesquisas e ficasse atrás dele nada disso iria acontecer, como estou em primeiro, acho que é
isso”. (TP, 04 set. 1990, p. 2). Este episódio demonstrou a fragilidade dos acordos políticos no
plano nacional diante dos conflitos locais, pois a aliança José Eduardo / Fernando Collor que levou
a rede política Bamerindus a apoiar este último na campanha Presidencial do ano anterior, parece
não ter sobrevivido aos conflitos de campanha na pequena cidade do interior do Paraná.
1253
No dia 9 de setembro, o jornal O Estado de São Paulo31, na coluna 3, publicava que os
assessores de JE buscavam uma forma legal para transformar sua candidatura ao Senado em
candidato a governador. A idéia era tentar repetir o que aconteceu na eleição para prefeito, quando
Jaime Lerner venceu após entrar na disputa quando faltavam apenas 12 dias para a votação, e as
pesquisas indicavam empate virtual entre os adversários. A idéia ficou apenas na intenção, pois
diferente de Lerner, que contou com uma conjuntura legal favorável e a pressão do presidente José
Sarney sobre o TSE, José Eduardo não pôde contar com a boa vontade Collor, que além de não ter
a mesma influência de Sarney, apoiava Martinez, candidato do seu partido. Um dia depois, a
Datafolha divulgava o empate técnico entre os candidatos: Requião (PMDB) 24%, Richa (PSDB)
23% e Martinez (PRN) 19%; também neste dia aparece pela primeira vez na propaganda do PMDB,
Requião com o chapéu do “Zé” na cabeça.

“DINHEIRINDUS”

1254
No dia 12 de setembro, o candidato Waldyr Pugliesi (PMDB) atacou a campanha de JE
através de outro flanco, denunciando o poder econômico. “Sou um ser humano, não sou
mercadoria; estão tentando me vender, mas não vou me entregar em balcão de negócio nenhum”.
Na opinião de Waldyr, “[...] essa era postura que o eleitor deve ter diante da candidatura do

29
Fonte: Clima tranqüilo na cidade. TP, 4 set. 1990, p.2.
30
Fonte: Zé Eduardo nega acusações. TP, 4 set. 1990, p.2.
31
Fonte: OESP, 9 set. 1990, Coluna 3.
476

banqueiro Jose Eduardo Vieira” (TP, 12 set. 1990, p. 2)32, declarou no programa “Espaço Aberto”
da TV Iguaçu (TV de Pimentel). Pugliesi se referia aos boatos que Álvaro Dias havia negociado sua
candidatura ao Senado, bem como outros candidatos do PMDB estavam trocando o seu apoio por
recursos para suas campanhas. Avançando no ataque, Waldyr declarou que:
244
[...] o banqueiro não passa de um “gigolô” que toma dinheiro empresta do Estado (US$ 500
milhões) para construir sua fábrica de papel em Arapoti e dobrar seu patrimônio particular:
“Ora” indigna-se o deputado, “pega bilhões com juros subsidiados e depois aparece no
horário eleitoral dizendo que vai criar empregos”. (TP, 12 set. 1990, p. 2).

1255
O jornal continua a matéria dizendo que, assim como Paulo Pimentel, Pugliesi vinha
denunciar o “abuso do poder econômico praticado pelo banqueiro cowboi (sic)”. A notícia que 230
prefeitos haviam declarado seu apoio a JE, levou Pugliesi a declarar que:
245
[...] [ocorrera] o surgimento de um novo cartão de crédito na praça: o “Dinheirindus”. Com
esse cartão, ironiza Pugliesi, “o candidato pode comprar vice-presidente de diretório regional,
segundo vice, suplente de comissão executiva, prefeitos, vereadores, etc, só não pode comprar
o partido inteiro porque aí precisa consultar a diretoria”.(TP, 12 set. 1990, p. 2).

1256
Pugliesi também acusava JE de utilizar aluguel de siglas Ilustração 7-2: Caricatura “Zé
Dinheirindus”
partidárias, referindo-se ao Partido Liberal. Segundo o jornal, no final
do programa o deputado ainda reclamou da falta de engajamento das
lideranças do partido em sua campanha e atribuiu a isso a forma
traumática como nasceu a sua candidatura: “Imagine, o partido só fez
400 mil santinhos, não tenho propaganda, só o horariozinho do TRE.
É pior que campanha para vereador”. (TP, 12 set. 1990, p. 2). Sem
nunca ter tido dificuldades com a imprensa ou tribunais, JE passou a
enfrentar processos por abuso do poder econômico no TRE, bem
como sua imagem passou a ser caricaturada nos jornais de Pimentel,
como pode ser observado na Ilustração 7-2. Segundo Hélio
Fernandes, em sua coluna no jornal Tribuna da Imprensa, de 17 set.
199034, a campanha de JE já havia custado US$ 50 milhões, coberto
em parte pelo Bamerindus e a Febraban. Também no dia 18, a TP35
publicava uma nota dizendo: “Voto, não. Circulam pela cidade
adesivos confeccionados nas cores verde e branco, com o logotipo do
Bamerindus e os dizeres: ‘Tem o meu dinheiro, mas o meu voto,
não’”. Em resposta de JE acusou o então governador Álvaro Dias, de
estar comprando apoio de prefeitos do PMDB através da liberação de Fonte: TP, 18 set. 1990, p. 1.33

32
Fonte: Pugliesi denuncia Zé Eduardo. TP, Curitiba, 12 set. 1990, p.2.
33
Fonte: Quatro bilhões para colocar Zé no Senado! TP, Curitiba, 18 set. 1990, p. 1. 1 ilustração.
34
Fonte: Tribuna da Imprensa, 17 set. 1990; apud Bilhões para eleger banqueiro. TP, Curitiba, 18 set. 1990, p.2.
35
Fonte: Voto não. TP, Curitiba, 18 set. 1990, Tribuninhas, p.2.
477

recursos36. Álvaro se defendeu dizendo que estavam sendo liberados para os municípios com base
em critérios técnicos e não políticos. A TP observava que as acusações de JE significavam o
fracasso da estratégia de Jayme Canet, então coordenador da campanha do PTB, que postulava pelo
apoio do PMDB ao Senado em troca de apoio de JE no segundo turno. Neste mesmo dia, a Tribuna
do Paraná publicava que Álvaro Dias havia assinado convênios para repasse de CR$ 436.600 mil a
19 municípios do Nordeste do Estado e Vale do Ivaí37. Segundo o jornal, JE abandonou a estratégia
por acreditar que o PMDB estava auxiliando o PDT na produção de matérias sobre violação dos
direitos humanos na Fazenda Bamerindus, no Pará.
1257
Em 25 de setembro, o TRE-PR38 no processo 10.371, por unanimidade de votos julgou
improcedente a reclamação de Paulo Pimentel que pedia a suspensão da propaganda de JE por
entender que estaria havendo “[...] uma interligação, interconexão entre a publicidade desenvolvida
pelo Grupo Bamerindus e a propaganda eleitoral desenvolvida pelo candidato. [...] dá-se grande
importância ao chapéu, que seria [...] um índice simultâneo do Grupo Bamerindus e do Candidato.
[...] estaria sendo explorada [...] a existência do Grupo Bamerindus, do que representa na economia
do Estado, e o fato de ter sido dirigido pelo Sr. J. E. A. Vieira [...]” (BRASIL, 1990d). Na
seqüência do processo, o Relator observou que é “[...] possível dizer-se que este chapéu foi
utilizado numa propaganda que o Grupo Bamerindus manteve durante algum tempo; quanto a isto
não há a menor dúvida; mas essa propaganda foi retirada do ar; [...] se a partir desse momento, o
Banco não fez mais uso do chapéu, o que viria, eventualmente beneficiar o candidato? Beneficiar
como?” (BRASIL, 1990d).
1258
O Tribunal também entendeu que neste processo (10.371) não poderia avaliar se houve
abuso de poder econômico, pois teria que ser objeto de uma ação específica, que observasse as
regras exigidas pela Lei Complementar de nº 64.

FAZENDA BAMERINDUS

1259
No dia 12 de setembro, a Tribuna do Paraná publicava que as denúncias de arbitrariedades
contra posseiros e sem-terras ocorridas na Fazenda Bamerindus em Altamira, Pará, continuariam
sendo veiculadas nos programas do PDT. O partido estava apresentando, em seus espaços na TV,
depoimentos de posseiros que foram despejados “numa verdadeira operação paramilitar naquela
região”, em 1987, questão que, segundo o coordenador da campanha, Maurício Appel, estava sendo
discutida na justiça:
246
Os posseiros estavam a mais de 10 anos naquela parte de terra que estava em litígio. Eles
fizeram a mando dos donos do Bamerindus [...] uma limpeza na área utilizando tortura contra
os agricultores, mulheres e crianças. Até os bispos daquela região repudiaram a ação do
Bamerindus [...] naquela época todos os deputados receberam uma carta dos bispos da região,

36
Fonte: E acusa Álvaro de ‘comprar’ apoio. TP, Curitiba, 18 set. 1990, p.2.
37
Fonte: Governo libera verba do Pedu no Nordeste. TP, Curitiba, 18 set. 1990, p.2.
38
Fonte: BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral – Paraná (TRE PR). Processo nº 10.371 – Classe 5ª. Curitiba: 25 set. 1990d.
478

denunciando as arbitrariedades. [...] Essa falsa imagem do banqueiro precisa ser repudiada.
(TP, 12 set. 1990, p. 3)39

1260
Como resposta às acusações, no dia 13 de setembro, o jornal Diário Popular40 publicava que
José Eduardo havia recebido, no dia 11 daquele mês, o título de Comendador da Ordem de São
Gregório Magno, concedido pelo Vaticano e entregue pelo Núncio Apostólico – Dom Carlo Furno.
JE recebeu o título em uma solenidade realizada em Ponta Grossa com a presença do Bispo
Diocesano da cidade, Dom Geraldo Pellanda, do Arcebispo Metropolitano de Curitiba, Dom Pedro
Fedalto, do prefeito de Ponta Grossa, Pedro Wosgrau e contou com a presença de muitos
empresários e amigos. Nessa ocasião ficou clara a posição de apoio de parte da Igreja Católica ao
candidato.
1261
O TRE-PR41 nos processos nº 10.348 e nº 10.354, por unanimidade, deferiu os pedidos de
resposta solicitados por JE e da Sociedade Marabá Agro-Pastoril S.A. pelas acusações sobre a
Fazenda Bamerindus. O Tribunal determinou ao PDT abrir espaço para as respostas em seis
programas, nos dias 14, 15 e 16 de setembro. No dia 17, a Tribuna voltava a publicar diversas
reportagens sobre a Fazenda Bamerindus42; iniciava as matérias dizendo que JE insistia nos
programas de rádio e televisão que suas fazendas tinham altos índices de produtividade, bem como
seus empregados recebiam bons salários e bom tratamento. O jornal de Paulo Pimentel afirmava
que, para verificar a verdade dos fatos, enviou uma jornalista e um cinegrafista para constatar de
perto a realidade das fazendas. Segundo o jornal, foram encontrados documentos que descreviam
atrocidades que teriam ocorrido em dois povoados próximos, e que tiveram a participação de
pistoleiros empregados da Fazenda Bamerindus43. Também nesta mesma, época surge no programa
do MDT, e depois no PDT, o caso “Ferreirinha” envolvendo a família de Martinez em denúncias
de práticas de violência contra agricultores, pela empresa Colonizadora Norte do Paraná.
1262
No dia 21, a Tribuna do Paraná44 publicava que o arcebispo de Curitiba, D. Pedro Fedalto,
ao ser questionado sobre a sua aparição em público entregando a comenda da Ordem de São
Gregório Magno ao candidato JE e respondeu que: “A igreja católica não está apoiando nenhuma
tendência política, nem partidária e muito menos candidatos isolados” (TP, 21 set. 1990, p. 2).
Questionado também quanto à carta denúncia assinada pelos quatro bispos do Pará em 1987,
segundo o jornal, D. Pedro Fedalto argumentou que:
247
[...] “as informações do bispo não devem ser muito exatas”. Segundo o arcebispo, José
Eduardo se propôs a ir até o local do massacre junto com os bispos para confirmar a acusação,
mas os bispos se recusaram. “Os bispos deveriam ter ido. O José Eduardo não é tão assassino
assim como dizem”. (Tribuna do Paraná, 21 set. 1990, p. 2).

39
Fonte: Violência na fazenda Bamerindus. TP, Curitiba, 12 sete. 1990, p. 3.
40
Fonte: Vaticano homenageia José Eduardo. Diário Popular, 13 set. 1990, p. 4.
41
Fonte: BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral – Paraná (TRE PR). Processos nº 10.358 e 10.354. Curitiba: set. 1990c.
42
Fonte: Fazenda Bamerindus, um inferno. Invasão e saques nas casas. Noite de terror no povoado. Bispos denunciam
violência. TP, Curitiba, 17 set. 1990, p. 2.
43
Para mais detalhes, ver o capítulo anterior.
44
Fonte: Zé apela até para o Papa. TP, Curitiba, 21 set. 1990, p.2.
479

1263
Se esta última frase é verdadeira ou não, dificilmente será possível constatar, mas a sua
publicação demonstra o quanto a campanha eleitoral estava comprometida com toda a sorte de
expedientes. No dia 24 de setembro, a Tribuna do Paraná volta a publicar denúncias de conflitos
envolvendo a Fazenda Bamerindus, onde a repórter Denise Peres (24 set. 1990, p. 2)45 descreve sua
viajem pela região e o depoimentos do bispo Dom Erwin Krautler (do Xingu), onde reafirmou as
denúncias da Carta que assinara em 1987. No dia 26, o TRE-PR46, ao julgar o Processo 10.401 –
Classe 5ª, reconheceu o direito de resposta de JE e Martinez contra o programa eleitoral do PDT,
bem como determinou a sua retirada do ar por 72 horas. José Eduardo reclamava da reincidência do
PDT na veiculação de denúncias sobre a Fazenda Bamerindus, no Pará, e Martinez de denúncias
que o apontavam como envolvido no caso “Ferreirinha”.

TERRAS INDÍGENAS

1264
Em 25 de setembro, Mendes publica na Tribuna do Paraná uma matéria com o título
“Bamerindus vende terra dos índios” (p. 5)47, onde denuncia que, em agosto de 1982, o
Bamerindus havia vendido a um ex-fazendeiro de Londrina, Alcindo Oliver Perez, cerca de 3 mil
hectares de terras, junto ao Rio Iquê, no município de Vila Bela da Santíssima, no Norte do Mato
Grosso. Ao descobrir que eram terras indígenas, Alcindo Peres procurou o Bamerindus para
desfazer o negócio, quando então foi informado pelos advogados do banco que as terras haviam
sido vendidas anteriormente para José Ritti Filho e Orides Gomes Peppes. Ao que parece, Ritti e
Orides teriam comprado as terras do Bamerindus e, mais tarde as venderam para Alcindo Peres, e a
primeira operação não havia sido registrada em cartório.
1265
Segundo a revista Veja citada no discurso do senador Osmar Dias, em 10 abril de 1995:
248
José Ritti Filho havia recebido uma procuração do banco e, nove meses depois, vendeu as
terras a Perez. Procurado por Veja, Ritti assumiu sua condição de intermediário. “Só fiz aquilo
porque o Zé Eduardo pediu”, disse Ritti, que mora num apartamento de classe média em
Curitiba e já foram acionados pelo banco outras cinco vezes para fazer negócios semelhantes.
“Ele me prometeu 5% do negócio se eu assumisse os riscos da operação”, conta. O processo
está há sete anos na Justiça, tem Ritti como réu, mas não saiu de sua fase inicial. Ritti, que
ganhou 6.500 dólares de comissão pelo negócio, está sendo defendido por um advogado
contratado pelo Bamerindus. (DIAS, 1995, p. 5040).

1266
José Ritti é o mesmo personagem que foi acusado por Tony Garcia de ser o mandante do
suposto atentado à bala em Santo Antônio da Platina.

O FINAL DA CAMPANHA

1267
Para completar o quadro de adversidades enfrentado pela campanha “Zé do Chapéu”, os
bancários estavam em plena campanha salarial, e no dia 11 de setembro, 50 mil bancários do

45
Fonte: PERES, Denise. “Nós também provamos que ele faz”. TP, Curitiba, 24 set. 1990, p. 2.
46
Fonte: BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral – Paraná (TRE PR). Processo nº 10.401 – Classe 5ª. Curitiba: 26 set. 1990b.
47
Fonte: MENDES, Rosane. Bamerindus vende terra dos índios. TP, 25 set. 1990, p. 5.
480

Paraná participaram de dezenove assembléias regionais para definir o início da greve a partir do dia
12. Também o PSDB divulgava neste dia que não haveria abalos na campanha com queda nas
pesquisas da candidatura Richa, mas que o partido iria promover mudanças no conteúdo dos
programas de rádio e televisão do partido. Álvaro Dias48 anunciou a liberação de Cr$ 23,5 milhões
do orçamento do Estado, para obras e aquisição de equipamentos na área da saúde, para atender 15
municípios. Em 24 de setembro49, Requião assumiu a dianteira nas pesquisas, garantindo um lugar
no segundo turno. Segundo muitos analistas, esta dianteira tinha muito haver com a grande
repercussão do caso “Ferreirinha”.
1268
Segundo o Diário Popular50, em 28 de setembro, Jose Eduardo já era o virtual representante
do Paraná no Senado. As últimas pesquisas do Instituto Bonilha indicavam JE com 31%, seguido
por Paulo Pimentel com 14% e Tony Garcia com 12%. JE liderava em todas as pesquisas com 29%
no Ibope e 29% no Datafolha. Nesta reportagem, Jayme Canet Junior declarava que o “Paraná terá
um dos ‘melhores senadores do Brasil”, afirmando que ele tinha “as virtudes que todos políticos
deveriam ter: seriedade, competência e capacidade de trabalho”. Também Antonio Belinati, na
época prefeito de Londrina, declarava que “[...] a população de sua região (Londrina) aguarda,
ansiosa, o dia da eleição para depositar em José Eduardo o voto consciente e de esperança para o
Estado. José Eduardo já é o nosso representante no Senado Federal”. (Diário Popular, 28 set. 1990,
p. 4) No dia seguinte, em 1º de outubro de 1990, a Gazeta do Povo51, na página 7, divulgava nova
pesquisa, realizada no dia 30 de setembro pelo Datafolha, na qual JE estava com 30% e Garcia com
17%. No dia 03 de outubro de 1990, José Eduardo vencia a disputa com 1.036.787 votos, sendo
eleito senador pelo Paraná para o mandato 1991-1999. É interessante observar os termos da
avaliação publicada pelo jornal Gazeta do Povo:
249
Zé Eduardo supera todas as barreiras políticas. O desempenho de Zé como candidato ao
Senado da República pelo Paraná o coloca como um dos fenômenos políticos das eleições deste
ano. Com menos de 5% das intenções de voto há dois meses, ele chega ao dia das eleições com
um percentual superior a 30%, segundo os institutos Ibope, Datafolha e Bonilha. Nenhum outro
político no país entre os que disputam os cargos de senador ou governador, conseguiu
performance semelhante. Com a adesão de candidatos a deputado de todos os partidos a
candidatura de Zé, filiado ao PTB, e que se apresentava em nome da coligação União Paraná
(PTB, PDS, PST e PTR) transformou-se, de fato, numa candidatura suprapartidária. (GAZETA
DO POVO, 7 out. 1990 apud PANKE, 1999, p. 4).

1269
A análise destes resultados (ver Tabela 7-2) deve levar em consideração que, dos
5.112.793 de eleitores aptos a votar, 2.434.776 (47,6%) anularam seu voto, ou votaram em branco
ou simplesmente não compareceram. Oliveira (1998, p. 112-113) entende que entre os diversos
fatores que produziram tal resultado, teríamos: (1) a complexidade da cédula e a quantidade de
candidatos inscritos, que teriam provocado muita confusão e mal entendidos; (2) a gravidade da

48
Fonte: Verbas liberadas à saúde. TP, Curitiba, 12 set. 1990, p. 3.
49
Fonte: Requião assume a ponta. E Martinez vai chegando. TP, Curitiba, 24 set. 1990, p. 2.
50
Fonte: “Zé Eduardo será um dos melhores senadores”. Curitiba: DP, 28 set. 1990, p. 4.
51
Fonte: GP, Curitiba, 1º out. 1990, p. 7.
481

situação econômica de 1990 teria contribuído para desmotivar o eleitorado e, (3) problemas na
relação representativa, havendo grande distância entre a política e os cidadãos. Os fatos
demonstraram que JE foi eleito com os votos de apenas 20,3% dos eleitores, num processo eleitoral
marcado por denúncias e informações contra candidatos, até hoje não esclarecidas.
Tabela 7-2: Resultado da eleição para o Senado em 03 out. 1990
Candidato Partido Cód Votação V/S V/C V/T
Jose Eduardo de A. Vieira PTB/PDS
E 1.036.787 38,70% 23,60% 20,30%
PTR/PST
Antonio Celso Garcia PRN N 691.246 25,80% 15,70% 13,50%
Mauricio Roslindo Fruet PSDB N 322.232 12,00% 7,30% 6,30%
Paulo Cruz Pimentel PFL N 291.187 10,90% 6,60% 5,70%
Waldyr Ortêncio Pugliesi PMDB N 129.908 4,90% 3,00% 2,50%
Edson Carlos Pereira Sá PSB N 102.800 3,80% 2,30% 2,00%
Jose Tadeu Bento Franca PDT N 56.846 2,10% 1,30% 1,10%
Marilza Tavares Martinelli PSD N 47.011 1,80% 1,10% 0,90%
Subtotal 2.678.017 100,00% 60,90% 52,40%
Brancos e nulos 1.721.438 39,10% 33,70%
Comparecimento 4.399.455 100,00% 86,00%
Abstenção: 713.338 14,00%
Total de Eleitores: 5.112.793 100,00%
Observações: E = eleito, N = não eleito.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base nos dados extraídos de TRE PR (2002)

ANÁLISE DO DISCURSO DE CAMPANHA

1270
Um interessante estudo de caso sobre o papel da linguagem na criação de uma imagem
pública, analisou o discurso da campanha eleitoral de José Eduardo. De autoria de Luciana
PANKE52, o trabalho se propôs a aplicar a teoria da argumentação de Chaim Perelman e Lucie
Olbrech-Tyteca nos discursos eleitorais. A questão era tentar entender como um banqueiro
conseguiu eleger-se senador com votos dos trabalhadores. A idéia era investigar esta suposta
contradição e verificar qual era o papel da linguagem nas mudanças políticas e sociais do país. Para
tanto, a pesquisa analisou a propaganda eleitoral de JE que foram transmitidas pela televisão no
Horário Eleitoral Gratuito do TRE. Segundo a autora,
250
[...] [a] campanha de Vieira construiu uma imagem que omitia, diversas vezes, as reais
características do candidato. Isto fez com que ele se aproximasse do público-alvo de forma a
provocar uma identificação com o mesmo através de outros aspectos ressaltados. O mais
impressionante foi que a argumentação de Vieira baseou-se, praticamente, apenas na ligação
entre a pessoa e seus atos. Isto significa que não houve uma preocupação de mostrar, de forma
objetiva, as propostas eleitorais e, sim de fazer com que a população confiasse em Vieira e se
identificasse com ele. Os argumentos enfatizaram características pessoais que eram de interesse
para a solidificação da imagem do candidato. (PANKE, 1999).

52
Fonte: PANKE, Luciana. O papel da linguagem na criação de uma imagem. Um estudo de caso: José Eduardo Vieira, o
banqueiro senador dos trabalhadores. Dissertação de Mestrado. Curso de Pós-Graduação em Lingüística de Língua
Portuguesa da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 1999.
482

1271
Na Tabela 7-3 apresentamos os
temas que, segundo Panke (1999, p. Tabela 7-3: Temas explorados na campanha eleitoral “Zé do Chapéu”.

64), foram abordados na campanha de Ocorrência


TEMA PREMISSA
Parcial Total %
JE. Para a autora, apesar dos CATEGORIA REAL
Emprego É preciso gerar mais empregos e
adversários terem procurado mostrar 14 7,03
aumentar os salários
Produção É preciso aumentar a produção 11 5,52
que, sendo banqueiro ele era o Agricultura Falta incentivo 10 5,02
candidato do poder econômico e que Economia Poucos recursos
6 3,01
impostos
defenderia os interesses de algumas Educação Faltam escolas 6 3,01
Estradas Péssimas condições 1 0,50
minorias ricas, o argumento não teve Pobreza Falta ação do governo 1 0,50
Saúde Falta atendimento 1 0,50
efeito sobre o eleitorado. A campanha CATEGORIA / PREFERÍVEL
de Vieira foi mais eficaz, buscando Paranismo Devemos ter amor ao Paraná 27 13,56
Renovação classe Políticos são ladrões e não fazem
26 13,06
restringir a expressão “banqueiro”, política nada
Civismo O voto é um dever 21 10,55
preferindo sempre que possível a Trabalho O trabalho é um valor fundamental
21 10,55
na sociedade
palavra “empresário”. Soube ele Linguagem Iguais falam iguais 17 8,54
Honestidade/ Existem qualidades essenciais a um
explorar a sua condição de Competência /bom político 17 8,54
empreendedor para alimentar a Simplicidade
Família A família é a base 14 7,03
esperança popular de geração de novas Ufanismo O Brasil é um grande país 6 3,01
Fonte: Panke (1999, p. 64).
fábricas e empregos.
1272
A campanha procurou veicular a idéia que:
251
[...] a posição que ele ocupava na época fosse um reflexo de esforço pessoal, única e
exclusivamente. Além disso, o fato de Vieira ser rico também reforçou um acordo estabelecido
com o auditório: ele não precisaria “roubar” como outros políticos que se beneficiariam do
poder público para favorecimentos pessoais. Então, o que se observa é a inversão de conceitos
para a construção de uma imagem baseada em valores. (PANKE, 1999, p. 109).

1273
O emprego de sofisticadas técnicas compôs uma imagem de JE como segue:
252
[...] homem trabalhador, vitorioso, novo na política, de origens na agricultura, com família,
preocupado com o desenvolvimento do Paraná. O candidato foi apresentado com um passado:
origens na roça, trabalho, antepassados, com um presente: empresário e pai bem sucedido e
com um futuro: lutar pelo Estado. (PANKE, 1999, p. 111).

7.2.1.1.4 ACORDOS DO SEGUNDO TURNO

1274
O PMDB, com Requião e o PRN, com Martinez foram para o segundo turno. Richa saiu da
disputa ferido pelos fortes ataques que recebeu e desistiu de candidatar-se a novos cargos. Requião
uniu o PMDB em torno de sua candidatura, recebeu o apoio do PDT e PCs, bem como conseguiu a
adesão da base do PSDB, mesmo contra a decisão da cúpula de apoiar Martinez. Após a eleição, JE
viajou para as fazendas do banco em Roraima e Pará, e quinze dias depois, na volta, seu avião Lear
Jet 55 fez escala em Brasília para uma audiência com o então Ministro Antônio Kandir. Requião
aproveitou a notícia para criar programas para sua campanha, mostrando imagens dos bons
momentos dos grandes comícios do “Zé do Chapéu”; Fábio Campana criou textos que elogiavam
483

JE, como por exemplo: “Zé do Chapéu que ainda nem assumiu e já está trabalhando em favor do
Paraná” (ALMEIDA, 1999, p. 97). A idéia era deixar claro que JE apoiava Requião; quando foi ao
ar, a propaganda recebeu forte reação de Martinez, que informalmente recebia não só o apoio de JE,
mas também a assessoria da equipe de propaganda do Bamerindus. Para surpresa de muitos
observadores, José Eduardo preferiu declarar, tanto na televisão como nas rádios, que não apoiava a
nenhum dos candidatos e que desautorizava o uso de suas imagens e seu nome nas campanhas.
1275
A campanha de segundo turno foi marcada por diversos lances que qualificam Requião
como uma personalidade diferente na política paranaense. Determinado e apesar das adversidades,
entrou em campo disposto a conquistar a vitória. Na convenção conseguiu, derrubar adversários
poderosos como Luiz Carlos Hauly, secretário de Finanças do Governo e amigo de Álvaro, bem
como o secretário do Trabalho, Rubens Bueno, secretário particular de Álvaro, considerado na
época como seu fiel escudeiro e herdeiro político.
1276
No início da eleição, Richa, pelo PSDB, estava em primeiro lugar nas pesquisas, Requião
no segundo lugar e Martinez, do PRN, com o apoio de Fernando Collor, estava na terceira posição.
O comando da campanha decidiu então escolher Richa como principal adversário no primeiro
turno, a estratégia era concentrar as ações sobre o candidato que seria mais difícil enfrentar no
segundo turno, já que todas as pesquisas indicavam a segunda etapa do pleito.
253
Munido de documentação do Tribunal de Contas, atestando o recebimento de aposentadoria,
Requião partiu para cima do Richa. [...] Requião começou a demolição da candidatura do ex-
companheiro. Enquanto isso, promovia uma verdadeira devassa na vida do futuro adversário,
Martinez. (ALMEIDA, 1999, p. 94-95).

1277
Vitorioso, Requião foi para o segundo turno com Martinez, e concentrou a campanha na
história da família deste, proprietária de uma colonizadora que atuou no município de Assis
Chateaubriand, no Oeste paranaense, região que foi palco de grandes conflitos pelas terras nas
décadas de 1950 e 1960. Se nos anos 1950 a televisão não estava disponível para as campanhas,
esta eleição foi marcada pela utilização de forma intensa e profissional não só por José Eduardo. A
equipe de Requião gravou vários depoimentos de supostos camponeses que perderam suas terras de
forma violenta para a colonizadora do pai de Martinez. A campanha acabou veiculando um caso
que ficou famoso pela controvérsia gerada, e até hoje não ficou esclarecido inteiramente. Foram
produzidas peças de propaganda que apresentavam uma entrevista com um suposto pistoleiro, o
“Ferreirinha”, que afirmava ter sido contratado pelo pai de Martinez, Oscar Martinez, para
expulsar agricultores de suas terras. Fitas com as acusações foram distribuídas em todo o Estado e
utilizadas intensamente na campanha. Inicialmente, Martinez tentou não responder às denúncias,
apenas protocolou junto ao TRE uma ação pedindo a sustação da veiculação da matéria. Como
resultado, o TRE determinou a suspensão do programa do PMDB por três dias. Requião voltou à
carga com informações fornecidas por Sílvio Sebastiani, que já havia sido assessor do deputado
federal José Carlos. Tais informações davam conta que Martinez não era formado em Direito e
Administração conforme afirmava, pois os cursos não atestavam tais afirmações. Requião chegou a
484

trazer o diretor da faculdade para testemunhar ao vivo na televisão.


1278
Mas o grande inconveniente de Martinez era mesmo Collor, cujo governo já dava sinais de
desgaste junto à opinião pública devido à política econômica e à retirada de subsídios à agricultura,
bem como as suspeitas de corrupção que posteriormente o levariam à renúncia. Requião ganhou a
eleição, mas iria governar sob forte pressão do judiciário, onde transitariam ações impetradas por
fraude eleitoral; o TRE do Paraná chegou a declarar, por duas vezes, a inelegibilidade Requião; mas
tarde o Tribunal Superior Eleitoral declarou extintos os processos. Em resposta às acusações de
estelionato eleitoral, Requião afirmou:
254
Meu adversário, José Carlos Martinez, teve sua campanha financiada pelo esquema Collor-PC
(conforme este declarou na imprensa de todo o País). Apresentando-se como bacharel em
Direito e Administrador de Empresas (sem ser portador de diploma superior), envolvido em
bingos ilegais, tinha seu nome intimamente ligado à violência contra posseiros no oeste do
Paraná. Depoimentos de testemunhas da época, conhecidas e com endereço certo;
documentação da CPI da Terra; o depoimento do Bispo de Palmas, Dom Agostinho Sartori;
tudo isto foi coletado pela nossa equipe e serviu de base para o programa eleitoral. De maior
impacto foi o depoimento candente do “Baiano Foice”, testemunha ocular das atrocidades.
Dentre tantos depoimentos a corroborar as pesquisas históricas que ainda hoje se desenvolvem,
foi ao ar um depoimento de um cidadão, o dito “Ferreirinha”, que foi dado justamente com
outras oito testemunhas. (SILVA, 2000)53

1279
Segundo depoimento de vários assessores de sua campanha, JE não apoiou Requião porque
acreditava que tanto as denúncias sobre a Fazenda Bamerindus como da venda de terras indígenas
haviam sido elaboradas no comitê de campanha de Requião. Ao se colocar em posição de
neutralidade na disputa Requião / Martinez, JE gerou para o Bamerindus inúmeros problemas com
o governo Requião, e pela primeira vez desde os anos 1950, o banco tinha um adversário no Palácio
Iguaçu. Após assumir o governo do Estado, Requião nomeou seu primo Heitor Walace para o
Banestado, e promoveu campanhas comerciais agressivas contra o Bamerindus, e até “[...] um sósia
do Zé Eduardo foi utilizado para caracterizar o banco do Estado, como um 'banco sem banqueiro”,
(ALMEIDA, 1999, p. 98). Também foram abertos vários processos judiciais contra personagens da
rede política Bamerindus que haviam ocupado cargos em empresas do Estado e, promovidas
auditorias nas empresas em que o Estado era sócio junto com o Bamerindus. Nesta época, o BBB
enfrentava sérias dificuldades com o Plano Collor, mantinha em seus ativos uma quantidade
considerável de títulos públicos e privados com baixa liquidez, bem como vinha operando desde
1987 com elevado grau de “alavancagem”.

53
Fonte: SILVA, Roberto Requião de Melo e. Artigos: O Judiciário do Paraná e o “Ferreirinha”. Brasília: Congresso Nacional,
Senado, [2000]. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/web/senador/requiao/artigosvariados.htm#_Toc494189876>.
Acesso em: 30 abr. 2004 e <http://www.flexsite.com.br/senador/index.php?pag=noticias&id_noticia=169&conjunto=169
&id_usuario=&enoticia=S&noticias=S>. Acesso em 3 maio de 2006..
485

7.2.2 SENADOR E MINISTRO (1991-1993)

7.2.2.1 O SENADOR (1º FEV. 1991 A 18 OUT. 1992).

1280
José Eduardo assumiu em 1º de fevereiro de 1991 o mandato no Senado Federal para a 49ª
e 50ª Legislaturas, com o término previsto para 31 de janeiro de 1999. No Senado, atuou como
membro titular nas comissões de Assuntos Econômicos, de Constituição, Justiça e Cidadania, e de
Serviços de Infra-Estrutura, bem como foi suplente nas comissões de Assuntos Sociais e de
Educação, e da Comissão Mista (Câmara e Senado) de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização;
também foi relator do projeto de modernização dos portos.
1281
Segundo O Globo (5 mar. 1991, p. 2)54, na época, JE defendeu a convocação de uma CPI
para investigar as condições em que o Tesouro Nacional concedeu socorro financeiro para alguns
bancos estaduais, no valor aproximado de um trilhão de cruzeiros. Para ele, a ajuda provocou
expansão monetária e desequilibrou o controle sobre o déficit público, causando o crescimento da
inflação. Na sua opinião a decisão era desleal com os bancos privados e com os trabalhadores, mas
recusou-se a relacionar o dinheiro recebido pelo Banespa com a decisão do PMDB de apoiar o
Plano Collor II, o que aconteceu logo após alguns parlamentares, ligados ao então governador de
São Paulo, Orestes Quércia, declararem que apoiavam as novas medidas. Na opinião de JE, o
Congresso devia dedicar-se a duas questões prioritárias: a regulamentação do uso das medidas
provisórias e a discussão de um projeto para livrar o País da crise econômica:
255
O Presidente Collor não deve pedir o apoio do Congresso às suas propostas econômicas. Deve,
isto sim, comandar a execução do grande pacto que deputados e senadores discutirão até o final
do ano [...] considero que os dois pontos fundamentais deste projeto são o combate à inflação e
a retomada do crescimento econômico. (O GLOBO, 5 mar. 1991).

1282
No seu primeiro discurso55 no Senado, em 24 de abril, após apresentar sua análise dos
problemas do Brasil sob visão marcadamente liberal, JE foi buscar inspiração em Mao Tse-tung
para propor os passos necessários para tirar o País do “atoleiro”. Segundo ele, o primeiro passo
seria político, através do fortalecimento institucional do Poder Legislativo, pois “[...] o povo precisa
aprender a procurar o Parlamento para se fazer ouvir. O Parlamento precisa ter consciência de seu
papel de porta-voz da vontade popular, deixando de ser o panteão dos privilégios”. O passo
seguinte seria promover “[...] o verdadeiro entendimento entre trabalhadores e empresários [...] um
clima de confiança e seriedade entre as duas partes”.
1283
O senador Eduardo Suplicy (PT SP) pediu aparte e observou que, para haver confiança, os
empresários deveriam “[...] abrir as informações econômico-financeiras, por ocasião das
negociações que fazem com os trabalhadores [...]”, JE continuou com o discurso afirmando que

54
Fonte: Vieira pede CPI para apurar ajuda a bancos. O Globo, 05 mar. 1991, p. 2.
55
Todas as referências aos discursos, apartes e outras atividades de JE no Senado, estão relacionadas no Apêndice Relação
parcial das atividades do senador José Eduardo no Senado (1991 A 1994), onde constam as datas das publicações no Diário
do Congresso Nacional (DCN2) e suas respectivas páginas.
486

defenderia o “[...] crescimento da economia como saída para os problemas brasileiros” que,
segundo ele, vinha defendendo desde 1983. Durante o discurso, JE foi aparteado e cumprimentado
pelos senadores Marco Maciel (PFL), Affonso Camargo (PTB), Divaldo Suruagy (PFL), Josaphat
Marinho (PFL), Albano Franco (PRN), Almir Gabriel (PSDB), Humberto Lucena (PMDB),
Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Mário Covas (PSDB), Raimundo Lira (PRN) e Eduardo
Suplicy (PT).
1284
No dia 19 de junho fez novo discurso, quando se posicionou contra a implantação do
parlamentarismo sem que houvesse antes uma ampla reforma política, na qual era contra o voto
proporcional e a favor do sistema distrital, pedia o fim do voto obrigatório e de legenda e a
implantação da fidelidade partidária. Também era favorável a limitações para a criação de novos
partidos, era contra o horário eleitoral gratuito e a favor da unificação do calendário eleitoral. No
discurso de 26 de junho, teceu pesadas críticas ao governo pela falta de uma política agrícola
consistente que evitasse o baixo resultado da safra 1990/1991. Para ele, os prejuízos causados pela
seca registrada no Sul do país não se comparavam às perdas causadas pela falta de crédito oficial,
preços mínimos fixados em patamares inferiores aos custos de produção, atrasos na liberação do
Proagro56, política cambial artificial e nociva aos interesses dos agricultores e à falta de
financiamento para a infra-estrutura do setor. Finalizou pedindo ao Executivo uma política agrícola
urgente, para salvar a safra do ano seguinte.
1285
Novamente na tribuna, em 08 de agosto JE criticou o governo que, no Plano Collor I,
dizendo que o governo “[...] teve coragem política suficiente para pôr a mão no bolso de
praticamente todos os cidadãos brasileiros [...] Mas faltou, ainda mais uma vez, à equipe
comandada por Zélia Cardoso de Mello, a disposição política para promover a verdadeira cirurgia
[...]”. No entender do Senador, o governo deveria ter promovido a reforma tributária e cortado gasto
público. Para JE a esperanças estavam sendo renovadas com a nomeação do novo ministro Marcílio
Marques Moreira, porque estaria formando uma equipe de trabalho mais democrática e aberta ao
diálogo.
1286
O tema do discurso proferido em 15 de agosto foi o seminário “Brasileiro: Cidadão?”,
promovido pela Associação Cultural Avelino A. Vieira, em Curitiba, cuja organização parece ter
tido fortes ligações com Instituto Liberal do Paraná. O seminário contou com palestras proferidas
por Roberto da Matta, Antônio Ermírio de Moraes, José Mindlin, Murilo de Carvalho, Francisco
Weffort e Gilberto Velho. No discurso, também criticou o PMDB pelo fato de não ter convocado
uma Assembléia Nacional Constituinte exclusiva, bem como se posicionou contra a idéia de adotar
o parlamentarismo. No dia 27 de agosto, JE voltou à tribuna para apoiar a criação da comissão de

56
O Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro) foi instituído pela Lei nº 5.969, de 11 dez. 1973, com a
finalidade de exonerar o produtor rural do cumprimento de obrigações financeiras relativas a operações de crédito rural,
quando da ocorrência de perdas das receitas esperadas em conseqüência de fenômenos naturais, pragas e doenças que
atingissem bens, rebanhos e plantações. Fonte: BACEN - Banco Central do Brasil. Programa de Garantia da Atividade
Agropecuária – Proagro. Relatório Circunstanciado - 1991 a 1996. Brasília, [1997]. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/htms/proagro/1996/rel01.asp#sintese>. Acesso em: 15 dez. 2005.
487

alto nível pelo Ministério da Economia para estudar a reforma tributária, bem como se pronunciou a
favor da revisão de todo o sistema de impostos buscando a sua racionalização. No dia 03 set. 1991,
José Eduardo criticou a forma “desastrada” com que o presidente Collor tentava “impor” a reforma
constitucional ao Congresso Nacional. Segundo ele, o anúncio que o Presidente iria convocar o
Conselho da República era uma demonstração inequívoca que o governo não sabia mais o que fazer
para superar a crise gerada pela recessão e inflação. Também se posicionou contra a alternativa de
implantar o parlamentarismo para sair da crise, e pediu uma ampla e profunda reforma ministerial,
destacando que não estava pedindo mudanças no Ministério da Economia. No seu entender, o
diagnóstico da crise formulado pelo então senador Fernando Henrique Cardoso em discurso, e
publicado na revista Veja, condizia com a realidade do momento.
1287
Em 5 de setembro, JE se pronunciou contra a antecipação do plebiscito que iria decidir
sobre o regime e sistema político brasileiro, bem como se colocou contra a estratégia do Governo
de envolver o apoio dos Governadores na proposta de reforma constitucional, conhecida como
“Emendão”. Entendia que a proposta não tocava no problema da reforma política que era urgente,
pois o sistema ainda refletia os “casuísmos” do chamado “pacote de abril”, editado no tempo do
regime militar, e que provocava distorções na representação federativa. Também reclamava que o
“Emendão” não tocava em diversos problemas urgentes como, entre outros, a reforma tributária e
da previdência. Segundo ele, “[...] dependemos de esmolas do Banco do Brasil, da Caixa
Econômica Federal, dos Ministérios da Educação, da Infra-Estrutura e da Ação Social, da LBA e de
muitos outros órgãos da administração federal. Temos que cortar tais amarras, pois, na verdade, não
precisamos do Governo Federal. O Governo Federal é que precisa de nós”. Ainda nesse discurso, o
Senador e proprietário do terceiro maior banco brasileiro dizia que “[...] corremos o risco de imitar
as Repúblicas bálticas, que lutam pela independência, depois de terem passado décadas e décadas
sustentando, economicamente, e sendo, politicamente, oprimidas pelo governo central, em Moscou.
Temos de deixar claro que não suportamos mais o ônus do Governo Federal em nossas costas. É
hora de virarmos essa mesa” (grifo nosso), e completou o pronunciamento dizendo:
256
Como acontece de forma surpreendente na União Soviética, os Governadores dos Estados
brasileiros precisam aproveitar a força política que lhes está sendo transferida pelo Governo
Federal, para dar um grito de liberdade e trabalhar para a formação de uma Federação
autêntica. (VIERA, 1991, vol. 12, p. 5762)57.

1288
Em 05 de outubro, voltou a criticar a política do governo federal para a agricultura,
reclamando da falta de incentivos para a cultura do trigo, bem como da importação deste produto
do Canadá e da Argentina que chegava ao Brasil fortemente subsidiada por estes países. Em 17 de
outubro, elogiou alguns resultados da política econômica, bem como o pacote de crédito agrícola
liberado pelo governo. Também considerou como uma boa notícia o leilão da Usiminas, mas

57
Fonte: VIEIRA, José Eduardo de A. Discursos. Diário do Congresso Nacional. Seção II. Anais do Senado. Subsecretaria de
Anais. Brasília: 1991, vol. 12, p. 5762. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/publicacoes/anais>. Acesso em: 18
jan. 2005.
488

criticava as restrições para o uso dos títulos de dívida pública, como, por exemplo, os Títulos da
Dívida Agrária (TDA), lembrando que a casa (Senado) era avalista do que estariam chamando de
“moedas podres”. Pediu também que o governo atuasse no caso da dívida mobiliária dos governos
estaduais58 e criticou a política monetarista praticada nos últimos dez anos.
1289
No pronunciado do dia 31 de outubro, JE denunciou a difícil situação financeira da rede
hospitalar do Paraná, gerada pelos atrasos nos repasses dos pagamentos do Governo Federal. No dia
12 de dezembro, JE fez um aparte no discurso do senador Suplicy que apresentava o projeto de
Renda Mínima. No aparte, Vieira perguntou se o projeto não iria gerar mais inflação. Na resposta,
Suplicy explicou que estudos realizados pela área econômica do Governo indicavam que não
haveria inflação se a implantação do programa fosse gradual e com recursos do orçamento previstos
para outros programas. Mais tarde, no dia 16 de dezembro, JE pediu a palavra para discutir
novamente o projeto Renda Mínima que, na sua opinião, seria melhor investir na geração de
empregos e aumentar o valor do salário mínimo: “Para encerrar, Senador Eduardo Suplicy, eu diria
que esse projeto, ao meu ver, é mais uma dessas soluções simplistas que se buscam tanto no
Brasil”.
1290
Suplicy rebateu perguntando quanto tempo os brasileiros que vivem na miséria terão de
esperar por incentivos fiscais do governo, “V. Exa sabe, por exemplo, o que os bancos fazem com
os Títulos da Dívida Agrária” que, segundo depoimentos de funcionários do Incra, “[...] os bancos
hoje deixam de pagar uma parcela extraordinária do Imposto de Renda através do seguinte
mecanismo: compram as TDA, registrando-as pelo valor de face, pelo valor de deságio, logo depois
as vendem registrando o prejuízo”. Para Suplicy, só estas operações já seriam suficientes para
cobrir o programa. Também lembrou que o projeto Renda Mínima foi considerado por Roberto
Campos como de acordo com a “filosofia liberal”, e que, recebia o apoio dos maiores economistas
brasileiros e internacionais como Milton Friedman, portanto, “[...] Não venha desmerecer o projeto
como pequeno, senador José Eduardo”. Em resposta JE disse que “os argumentos utilizados no
aparte concedido a V. Exa nada tem a ver com a questão discutida e por isso não merecerão
considerações da minha parte. Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente”. (DIÁRIO DO
CONGRESSO NACIONAL, 17 dez. 1991, p. 9667-9669)59.
1291
Em outubro daquele ano, o Bamerindus participou do leilão de privatização da Usiminas,
adquirindo 2,3% do capital cujo pagamento foi feito também com títulos públicos em poder do
Bamerindus.
1292
O “radicalismo” de JE diminuiu bastante quando Collor iniciou a reforma ministerial. No
discurso de 19 de fevereiro de 1992, no Senado, JE elogiou as mudanças promovidas pelo

58
Desde 1990 o Bamerindus desempenhava as funções de banco estadual do Estado do Mato Grosso do Sul, junto aos órgãos
do governo e às empresas privadas e estatais, já que o Estado não dispunha de um banco próprio (ver capítulo IV).
59
Fonte: DIÁRIO DO CONGRESSO NACIONAL. Seção II. (DCN2) Anais do Senado. Subsecretaria de Anais. Brasília, 17
dez. 1991, p. 9667-9669. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/publicacoes/anais/regra/edita.asp?Periodo=2&
Ano=1991&Livro=19&Tipo=9&Pagina=9667>. Acesso em: 18 jan. 20056.
489

Presidente, destacando a substituição de ministros como Zélia Cardoso por Marcílio M. Moreira no
Ministério da Economia; a inclusão de Jorge Bornhausen na articulação política do Planalto e Adib
Jatene na Saúde. Aproveitou para reforçar sua visão otimista do cenário econômico e pediu ao
governo que realizasse uma ampla e profunda reforma da administração pública dentro de um
projeto maior de reforma do Estado brasileiro. Finalizou dizendo que certamente o apoio ao esforço
do Presidente aumentaria se medidas forem tomadas nesta direção. Em 28 de fevereiro, voltou à
tribuna para pedir pela redução da taxa de juros e retomada do crescimento econômico, buscando
aproveitar a conjuntura econômica favorável do momento.
1293
No dia 18 de março discursou para defender seu Projeto de Lei do Senado nº 14, de 12 de
março de 1993; pretendia criar os Institutos de Aposentadoria e Pensões de base profissional bem
como, para lembrar a história de Lindolfo Leopoldo Boeckel Collor, criador do Ministério do
Trabalho e que, em 1931, assinou o Decreto que traçou as diretrizes do seguro social brasileiro. JE
também apresentou um breve histórico do sistema previdenciário e destacou as virtudes do sistema
privado. Humberto Lucena pediu um aparte e observou que o sistema que vigorou antes da reforma
dos anos 1960 era bom, mas que o sistema público devia ser preservado, garantindo pelo menos o
teto de 10 salários mínimos. JE continuou o discurso dizendo que o gigantismo do Estado diminuía
a qualidade dos serviços e que sua proposta visava abrir o leque de oportunidades para que o
cidadão pudesse escolher o melhor plano para sua aposentadoria. O senador Albano Franco (PRN)
fez um aparte para elogiar a iniciativa de JE e disse que o projeto não vinha para atrapalhar, mas
sim para ajudar a resolver o grave problema da previdência, bem como elogiou a proposta de
formar a administração dos fundos com representantes dos trabalhadores e empresários. JE
finalizou dizendo que via a privatização da previdência como uma forma eficaz de acelerar o
desenvolvimento econômico e social, mediante aplicação dos recursos excedentes que ficariam ao
dispor dos novos institutos de aposentadorias e pensões. O projeto previa basicamente restaurar o
sistema formado pelos antigos institutos de aposentadorias que vigoraram entre os anos 1940 e
parte dos anos 1960. A gestão compartilhada entre representantes dos empregados e empregadores
era estratégica para conseguir a adesão dos sindicatos, podendo os institutos contratar empresas
para gerir seus fundos, o que certamente abriria um novo mercado para os bancos.
1294
Para ampliar sua base de sustentação política, o Governo Collor foi buscar o apoio do PDT
de Brizola e, para tanto, o então futuro Ministro-chefe da Secretaria de Governo, Jorge Bornhausen,
convidou, no dia 30 de março, o prefeito de Curitiba, Jaime Lerner (PDT), sem especificar o cargo
que seria oferecido. Segundo a AE (31 mar. 1992)60, Lerner não confirmou se o convite era para
assumir o Ministério da Infra-Estrutura, a Secretaria do Meio Ambiente ou a Secretaria de
Desenvolvimento Regional, e justificou a sua recusa dizendo que não poderia abandonar os
compromissos como prefeito e o fato que 1992 era ano eleitoral. Decidido a não participar, Lerner
procurou Leonel Brizola que respeitou sua decisão. Segundo a AE, Lerner confirmou que foi e

60
Fonte: Jaime Lerner recusou convite para integrar governo Collor. AE, Curitiba, 31 mar. 1992.
490

voltou de Brasília no avião particular de José Eduardo. Segundo Sato (10 abr. 1992)61, em abril, o
Presidente Collor assinou uma medida provisória criando os ministérios do Trabalho e
Administração, da Previdência Social, das Minas e Energia e dos Transportes e Comunicação. O
Ministro da Previdência, Reinhold Stephanes (PFL PR), passou a cuidar exclusivamente das
aposentadorias e seguridade social, e o senador Affonso Camargo (PTB PR) ficou com o Ministério
dos Transportes e Comunicações.
1295
Em 14 de abril, JE discursou para defender o Projeto de Lei que havia apresentado e cujo
objetivo era combater a corrupção através do aumento da transparência dos contratos de obras
públicas. Caso aprovada, a lei obrigaria as autarquias e empresas públicas a publicarem balancetes
trimestrais e a se submeterem a auditorias externas. Também anunciava que o projeto previa a
possibilidade de transformar os valores a receber dos contratos de obras públicas em certidões de
crédito emitidos pelo Estado, que poderiam ser utilizadas para pagar impostos ou simplesmente
serem negociadas no mercado. No dia 30 de abril, voltou à tribuna do Senado para alertar que a
aparente queda do índice de inflação não poderia ser motivo para aumentar o gasto público e, na
sua opinião, as reclamações dos Governadores contra a política econômica do governo federal e a
favor da retomada do crescimento econômico eram justas, mas que podiam levar ao descontrole
orçamentário e ao aumento da inflação.
1296
No discurso de 3 de junho, JE informou que havia participado do seminário América Latina
– Um Desafio, promovido pelos jornais O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde e patrocinado pelo
Bamerindus. Na ocasião, declarou que a saída para a crise brasileira passava por dois caminhos: 1)
pulverização da poupança privada nas mãos das próprias empresas e famílias; 2) descentralização
da decisão de investimento estatal; e citou como exemplo a ser seguido, as experiências com
microcrédito realizadas em Bangladesh de Mohammed Yunus.
1297
Enquanto isto, no Paraná, o cenário político era agitado pelos preparativos para a eleição do
final do ano. Os partidos corriam para ampliar suas bases de sustentação e abrangência territorial
bem como buscavam compor alianças e coligações. O jornal Correio de Notícias (23 jun. 1992)62
publicou a cobertura de uma reunião do PTB realizada em Londrina, e observou que, apesar de
disputar com políticos experientes e com grande força eleitoral como Álvaro Dias, Jaime Lerner e o
governador Roberto Requião, JE “parecia estar à vontade na política paranaense”. O encontro
reuniu os candidatos do PTB à Câmara Municipal e muito dos novos filiados. JE aproveitou a
ocasião para declarar que aceitava ser “[...] o novo homem forte da política do Estado, ocupando o
lugar que foi do ex-ministro e ex-governador Ney Braga [...]”, e também declarou que o Paraná
precisava de liderança política como havia na Bahia, com Antônio Carlos Magalhães, no Rio, com
Brizola e em São Paulo, com Maluf, Quércia e Lula. Segundo o jornal, o Senador declarou que:

61
Fonte: SATO, S. Collor assina MP criando novos ministérios. AE, Brasília, 10 abr. 1992.
62
Fonte: Zé Eduardo quer ser o novo homem forte da política / PTB reforça o time e mostra força. CN, 23 jun. 1992.
491

257
[...] topa ser o novo líder. Para isso está montando o seu “staff” em todas as cidades do
Estado. Acha que com 1 milhão e 35 mil votos para o Senado, lhe dá a condição, desde já, de
candidato ao governo do Paraná. É a mesma quantidade de votos que José Carlos Martinez e
Roberto Requião fizeram no primeiro turno, cada um, na disputa pelo governo do Estado. Zé
Eduardo já é o candidato do PTB ao governo do Paraná. Ele “amarra” várias alianças. Em
Londrina; por exemplo, apóia Wilson Moreira, em troca de apoio de Wilson, do senador José
Richa e do ex-governador João Elísio Ferraz de Campos para a sua candidatura ao governo do
Paraná. (CORREIO DE NOTÍCIAS, 23 jun. 1992) (Grifo nosso).

1298
Ainda segundo esse jornal, todas as fichas de novas filiações “foram abonadas pelo Senador
José Eduardo e por Carvalhinho, presidente estadual do PTB”.
1299
Ao discursar em 24 de junho, no Senado, JE alegava que não defendia o Presidente Collor,
mas que era dever das forças políticas e da imprensa defender o processo legal, que a CPI devia
apurar tudo, mas os envolvidos deviam ser julgados dentro da lei; repudiava ações que visavam
pressionar a CPI e pediam o afastamento do Presidente. Segundo Salomon (9 jul. 1992)63, na época,
Collor havia acusado “[...] setores insatisfeitos com a abertura da economia ao capital externos e
partidos derrotados nas eleições presidenciais de se unirem na tentativa de desestabilizar o governo.
Durante uma audiência a parlamentares do PTB, Collor identificou o ‘cartel’ do cimento, a
indústria automobilística, o PT e a CUT como integrantes do chamado ‘sindicato do golpe’, a quem
vem atribuindo, desde a semana passada, a autoria das denúncias de corrupção contra o governo”.
(SALOMON, 09 jul. 1992).
1300
Segundo o líder do PTB, deputado Nelson Marquezelli (SP), o Presidente havia
mencionado que os produtores de cimento não se conformavam com a importação liberada pelo
Governo cujos preços eram mais baratos do que o nacional; também a indústria automobilística
estava inconformada com a importação de automóveis que chegavam com tecnologia mais
avançada e preços semelhantes aos nacionais; “O presidente insistiu em dizer que os ‘insatisfeitos e
derrotados nas urnas’ em 90 querem promover um novo turno das eleições presidenciais. E
garantiu: ‘Não vão conseguir” (SALOMON, 09 jul. 1992). Na ocasião, Collor recebeu o apoio de
metade da bancada de 31 deputados do PTB e reafirmou que as denúncias que o envolviam em
corrupção eram mentirosas, bem como descartou novamente a possibilidade de renúncia e reiterou
que pretendia cumprir seu mandato até o final:
258
Embora considere difícil que o plenário da Câmara aprove um pedido de abertura de processo
de “impeachment”, Marquezelli admitiu que parte da bancada do PTB está “descontente” com
o governo. Durante a audiência de hoje, deputados de Roraima reclamaram da indicação do
novo secretário nacional de Habitação, Romero Jucá, inimigo do partido na região. Collor
encaminhou os deputados ao ministro-chefe da Secretaria de Governo, Jorge Bornhausen,
responsável pelas indicações. (SALOMON, 09 jul. 1992).

1301
Segundo Salomon (15 jul. 1992)64, nos dias seguintes, o Presidente atenuou as críticas aos
adversários, políticos e à CPI. Durante café da manhã com empresários, Collor deixou de lado o
discurso do “sindicato do golpe” para pedir apoio e explicou: “Tem horas que eu penso que estou

63
Fonte: SALOMON, M. Collor acusa PT e CUT de integrar “sindicato do golpe”. AE, Brasília, 09 jul. 1992.
64
Fonte: SALOMON, M. Presidente diminui tom das críticas e pede apoio. AE, 15 jul. 1992.
492

num palanque e digo coisas”. Marco Maciel (PFL PE), então líder do governo no Senado avaliou
que “Ele quis fazer uma retificação”. No seu discurso, o Senador Raimundo Lira (PRN PB) –
anfitrião do café disse: “Eu sei que Vossa Excelência não precisa de apoio”, quando então foi
interrompido por Collor dizendo: “Preciso sim”. Ao referir-se aos aplausos recebidos pelo
Presidente durante o encontro, José Eduardo disse: “Isso só pode ser entendido como apoio”. É
importante observar que no dia 23 de abril daquele ano, a expansão da fábrica da Inpacel havia sido
inaugurada e como já vimos, a viabilidade do projeto dependia em grande parte da disposição de o
Governo Federal levantar barreiras para a importação do papel produzido pela fábrica.
1302
Em 29 de maio, véspera da instalação da CPI que iria investigar as denúncias de Pedro
Collor, o então articulador político do Governo, Jorge Bornhausen, afirmava, em entrevista a
Varella (29 maio 19952)65, que o Palácio do Planalto não temia as investigações. Após ter
trabalhado para desviar o alvo das investigações do Presidente para as denúncias a “P. C. Farias”, o
Ministro apostava: “Esta CPI não vai levar a nada nem a lugar nenhum. [...] Não queremos que a
CPI seja palco de passeata política da oposição”; tendo influído na indicação de boa parte dos 22
Deputados e Senadores titulares da comissão, e um dos critérios para a escolha dos governistas na
comissão foi o de excluir parlamentares candidatos a prefeito. A presidência da CPI foi entregue ao
deputado Benito Gama (PFL BA), ligado ao então governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães
(PFL); mas os trabalhos da CPI acabaram sendo contaminados pelas articulações políticas das
eleições municipais, e o PRN aparecia como mais um novo concorrente nas acirradas disputas
locais. Este conflito acabou transformando o Congresso e, mais especificamente a CPI, em campo
de batalha.
1303
No Paraná, o PTB de José Eduardo estava coligado com o PDT de Jaime Lerner, em torno
da candidatura de Rafael Greca e José Carlos Gomes de Carvalho, lançados pela chapa da coligação
PDT, PTB e PTR. Maurício Fruet era o candidato do PMDB apoiado pelo governador Requião e
sua equipe, que já havia sido apresentada na sua campanha de 1990. Na disputa entre adversários
históricos, entrou para dividir mais ainda os votos, o PRN de Collor e Martinez com a candidatura
de Tony Garcia. No dia 15 de julho, o conflito explodiu na CPI durante o depoimento de Requião
que, segundo Domingos (15 jul. 1992)66, acabou sendo transformado em uma grande discussão. O
depoimento do governador durou quatro horas e 45 minutos com muita confusão, ofensas e
ameaças entre os parlamentares.
1304
É importante destacar que a CPI era abastecida com uma grande quantidade de cópias de
cheques e operações bancárias como indícios ou provas de corrupção. Na época, comentava-se, em
Brasília que tais documentos circulavam com freqüência entre deputados, jornalistas e autoridades
que apesar de serem provas ilegais e portanto sem valor legal, eram indicadores seguros para as
investigações e facilitavam em muito o trabalho da CPI no momento de solicitar a quebra do sigilo

65
Fonte: VARELLA, José. Brasília: Bornhausen: “A CPI não vai dar em nada”. AE, 29 maio 1992.
66
Fonte: DOMINGOS J. Sessão tumultuada durante depoimento de Requião. AE, Brasília, 15 jul. 1992.
493

bancário ou mesmo cópias legais de documentos, as fontes, na maioria dos casos, eram
desconhecidas.
1305
Enquanto isso, Bessa (17 ago. 1992)67 destacava que quase todos os programas eleitorais de
televisão dos candidatos à prefeitura de Curitiba abordaram o escândalo PC Farias; “[...] [até]
mesmo o candidato do PRN, Tony Garcia, começou seu programa mostrando a manifestação das
cores, de domingo, e disse: ‘Por causa de Collor, o Brasil amanheceu com vergonha’. Garcia, que
insistiu na mesma tecla de campanha do Presidente, de atacar os políticos, perguntou: ‘Que classe
de gente é essa, que depois de tanta vergonha e frustração, vem pedir o seu voto?”. O candidato do
PDT, apoiado por Lerner, Brizola e José Eduardo, preferiu usar uma metáfora; o deputado Rafael
Greca aparecia ao lado do rio Atuba (em Curitiba) e declarava: “O Brasil anda muito sujo e precisa
ficar como o nosso Atuba, limpo e despoluído”. No programa do PMDB, Requião chamou Collor
de “imprevisível” e disse que o Presidente, de “personalidade extravagante, mergulhou o País na
vergonha da corrupção”.
1306
As investigações da CPI continuaram e, no dia 18 de agosto, o Deputado Aloizio
Mercadante Oliva declarou que o “esquema PC” continuava atuando mesmo depois da instalação
da CPI68; segundo ele, em 1º de junho, quando a Comissão começou a funcionar, P. C. Farias
inventou três novos “fantasmas” para encobrir a movimentação de Cr$ 800 milhões, em uma
sofisticada operação através de cheques administrativos que envolveram novas contas no Banco
Rural, transferências através do Bamerindus e, mais tarde, outros bancos. Em 25 de agosto, após a
divulgação do relatório da CPI apontando o envolvimento do Presidente com os negócios de Paulo
César Farias, a AE (25 ago. 1992)69 informava que os Ministros demonstravam tranqüilidade e
resolveram esperar o momento mais oportuno para decidir seu futuro. A maioria deles pretendia
ficar nos cargos pelo menos até a votação do pedido de impedimento na Câmara. Na ocasião, o
Ministro Affonso Camargo declarou que “Ajudamos o País se ficarmos e a tendência é não sair”;
segundo ele era preciso apressar a votação de projetos de lei para tornar mais rigorosa a legislação
bancária e disciplinar o financiamento de campanhas eleitorais. A intenção de Camargo era deixar o
governo somente no caso de a bancada do PTB decidir votar a favor do impedimento: “Não
podemos ver apenas só o lado negativo das coisas, do constrangimento que a CPI está causando,
pois há um clima efetivo de combate à corrupção no País”. No dia seguinte, Nunes (26 ago. 1992)70
informava que as oposições iniciavam as articulações para apressar a formação de um governo de
coalizão nacional em torno do vice-presidente Itamar Franco e tinha decidido acelerar o processo de
impedimento. Dias depois, a AE (2 set. 1992)71 informava que líderes empresariais reagiram bem à
notícia que o Ministro da Economia iria permanecer no cargo até a votação do pedido de

67
Fonte: BESSA, R. Até candidato do PRN critica Collor em Curitiba. AE, Curitiba, 17 ago. 1992.
68
Fonte: BERGAMASCHI, M. Fantasmas agiram mesmo durante a CPI. AE, Brasília, 18 ago. 1992.
69
Fonte: Ministros ficam até votação do impeachment. AE, Brasília, 25 ago. 1992.
70
Fonte: NUNES, P. Oposições articulam transição para governo de Itamar. AE, Brasília, 26 ago. 1992.
71
Fonte: Empresários reagem bem à notícia da saída de Marcílio. AE, São Paulo, 02 set. 1992.
494

impedimento.
259
Em Curitiba, a presidente da Associação Comercial do Paraná, Maria Cristina de Andrade
Vieira, disse que o importante é que a pessoa que venha a substituir Marcílio mantenha os
“princípios da modernidade”. “As questões de política partidária não podem prejudicar os
princípios da política econômica”. (AE, 25 ago. 1992).

1307
No discurso do dia 16 de setembro, JE manifestou-se novamente pela manutenção da
legalidade e declarou que o caso envolvendo a “Casa da Dinda” não podia obscurecer a urgência
de continuar as reformas do Estado. Dias depois, segundo (AE 19 set. 1992)72, o presidente do
Banco do Brasil, Lafaiete Coutinho fora afastado da presidência da Fundação Banco do Brasil pela
Justiça, acusado de distribuir verbas públicas para fins políticos, tendo divulgado uma lista de
parlamentares oposicionistas que teriam se beneficiado com liberações de dinheiro da Fundação.
Ele já havia divulgado outra lista com mais de 800 pedidos de Deputados e Senadores que
defendiam o impedimento do Presidente. Na relação divulgada, estavam os nomes de 24
parlamentares que tiveram seus pedidos, feitos à Fundação Banco do Brasil, atendidos em 1991 e
1992. Entre eles estavam o presidente da Câmara, Ibsen Pinheiro, o deputado José Serra, o ex-
presidente José Sarney, José Múcio Monteiro (PFL) e Maciel Cavalcante (PFL), o líder do PDT na
Câmara, Éden Pedroso e o deputado Odacir Klein (PMDB). Segundo a AE (19 set. 1992), entre
aqueles que mais ganharam estavam: José Eduardo, com Cr$ 1 bilhão 632 milhões 347 mil para a
Santa Casa de Londrina e a prefeitura da cidade de 1º de Maio; o Deputado Paulo Mandarino, ex-
presidente da CEF do Governo Sarney, com mais de Cr$ 2 bilhões para as cidades de Buriti Alegre
e Francisco Cândido Xavier, e o senador Esperidião Amin, com Cr$ 1 bilhão 55 milhões 876 mil
para a UFSC.
1308
Para garantir quorum nas sessões da Câmara e a tramitação do pedido de impedimento,
segundo o JT (23 set. 1992)73, quatro jatinhos foram colocados à disposição dos parlamentares,
cedidos pelos deputados Pedro Irujo (PRN BA), Sérgio Naya (PMDB MG) e José Eduardo de
Andrade Vieira (PTB).
1309
Enquanto isto, Greca74 era o favorito na disputa pela prefeitura de Curitiba e a expectativa
era que poderia vencer ainda no primeiro turno, pois liderava com folgas as pesquisas de opinião
desde o início da campanha. Na pesquisa divulgada em 02 de outubro, Greca mantinha-se com 43%
das intenções de votos, Maurício Fruet (PMDB) com 18% e Luciano Pizzatto (PFL) havia subido
de 11% para 14%; estando Florisvaldo Fier (PT) e Tony Garcia (PRN) empatados em quarto lugar
com 5%. No dia 04 de outubro, Eduardo (4 out. 1992)75 apontava Lerner como o grande vitorioso
na eleição em Curitiba, identificando sua popularidade como decisiva para a vitória de Greca ainda
no primeiro turno, passando a ser Lerner o favorito para disputar o governo do Estado em 1994.

72
Fonte: Lafaiete divulga lista dos beneficiados com dinheiro da Fundação. AE, São Paulo, 19 set. 1992.
73
Fonte: Estratégia oposicionista: jatinhos para garantir a presença de parlamentares. AE, JT, 23 set. 1992.
74
Fonte: Greca pode vencer no 1º turno em Curitiba. AE, OESP, Curitiba, 03 out 1992.
75
Fonte: EDUARDO, J. Popularidade foi decisiva para eleição de Lerner em Curitiba. AE, Curitiba, 04 out. 1992. Disponível
em: <http://www.estadao.com.br/ext/diariodopassado/20021004/000230429.htm>. Acesso em: 04 ago. 2005.
495

Ainda segundo esse autor, amigos mais chegados falavam em tentar convencê-lo a pensar também
na Presidência da República, mas em ambos os casos ele teria duas dificuldades:
260
[...] A primeira é o senador José Eduardo de Andrade Vieira (PTB-PR), presidente
do Grupo Bamerindus e possível Ministro da Agricultura no governo Itamar
Franco, cargo para o qual tem manobrado nos bastidores. No segundo caso, a
Presidência, a dificuldade é o governador do Rio, Leonel Brizola, até ontem o
grande derrotado da eleição.
1310
Segundo declarações do vice-prefeito eleito, José Carlos Gomes de Carvalho (PTB), “[...] a
definição do nome do candidato ao governo pela coligação PDT-PTB para 1994. [dependerá de]
‘Quem estiver melhor no momento será o candidato’, [e] segundo Greca, ‘A ambição pessoal não
pesará na indicação, pois os dois [Lerner e JE] são irrestritamente patriotas”. Na opinião de
Eduardo, na época, Jaime Lerner era muito popular em todo o País, e no momento que entregasse a
prefeitura a seu sucessor, Lerner iniciaria discretamente sua campanha ao Governo e, se houvesse
condições, poderia ser o candidato de Brizola à Presidência.
1311
No Planalto, o Presidente em exercício, Itamar Franco, mesmo tendo ampliado de 14 para
23 o número de ministérios, não conseguia contentar a ambição dos aliados políticos por cargos no
primeiro escalão do governo; “Estamos na expectativa de participar do ministério e não queremos
carguinhos não”, avisou José Eduardo, irritado por não ter recebido ainda um convite de Itamar
Franco; “Se isso é um governo de coalizão, queremos participar”. (SALOMON, 8 out. 1992)76. A
definição foi comunicada em 14 de outubro, quando mais três ministros foram anunciados e entre
eles estava a pasta da MICT para José Eduardo. Segundo a AE (14 out. 1992)77, apesar de a
preferência dele ser pelo Ministério da Agricultura, entregue ao deputado Lázaro Barbosa do
PMDB-GO.

7.2.2.2 O MINISTRO DA INDÚSTRIA, COMÉRCIO E TURISMO (MICT) (19 OUT. 1992


A 23 DEZ. 1993).

1312
José Eduardo somente tomou posse como ministro do MICT no dia 19 de outubro de 1992,
quando a Medida Provisória (MPV) nº 309 recriou o Ministério. A Lei nº 8.028, de 12 abr. 1990,
art. 27, item V. havia extinguido o então Ministério do Desenvolvimento da Indústria e do
Comércio, e somente em 19 de novembro de 1992 foi sancionada a Lei nº 8.490 que criou, no seu
artigo 22, o Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo (MICT), prevendo que teria sob sua
competência as seguintes áreas: (1) política de desenvolvimento da indústria, do comércio e dos
serviços; (2) propriedade industrial, marcas e patentes e transferência de tecnologia; (3) metrologia,
normalização e qualidade industrial; (4) comércio exterior; (5) turismo; (6) formulação da política
de apoio à micro, pequena e média empresa; (7) execução das atividades de registro do comércio.

76
Fonte: SALOMON, M. Itamar amplia ministério. Mas não consegue satisfazer partidos. AE, Brasília, 08 out. 1992.
77
Fonte: Itamar escolhe mais três ministros. AE, Brasília, 14 out. 1992.
496

Segundo declarações de José Eduardo78, para compensar não ter assumido o Ministério da
Agricultura, durante as negociações para composição do Ministério, foi decidido que a política
relativa ao café, açúcar e álcool também integrariam as atribuições do MICT, para tanto teria
recebido apoio do Senador Gerson Camata.
1313
Inicialmente Itamar havia oferecido o Ministério para Álvaro Dias, então presidente do
PST, e segundo a AE (14 out. 1992)79, declarações de correligionários afirmavam que ele teria
aceitado, mas o Presidente teve que ceder às pressões do presidente do PMDB, Orestes Quércia e
do governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho, inimigos declarados de Álvaro e de
Requião. Cotado para a Agricultura, em São Paulo, a indicação de JE para o Ministério surpreendeu
os empresários da Fiesp, pois muitos dos seus diretores esperavam a nomeação do paulista Boris
Tabacof. Segundo OESP (16 out. 1992)80, apesar de surpresos, mesmo assim JE recebeu alguns
elogios da classe empresarial, e Carlos Eduardo Moreira Ferreira, então presidente da Fiesp, disse
que “Vieira é homem de sucesso e é de uma região do Paraná vizinha e que recebe ventos de São
Paulo”. Segundo a Agência Estado, José Eduardo andava
261
[...] mais comedido, mas já se perdeu pela palavra ao manifestar suas opiniões. Antes de o líder
sindical Chico Mendes ser assassinado no Acre, chegou a ser qualificado como “responsável
pelo atraso da Amazônia”. Na época, bispos do Pará chegaram a divulgar um documento em
que acusavam o Bamerindus de ter trabalhadores em regime de semi-escravidão em sua
fazenda naquele Estado, mas nada foi apurado pela Justiça. José Eduardo manobrou no novo
governo para assumir o Ministério da Agricultura, mas seu nome foi afastado porque o cargo
pertencia ao PMDB. Ser ministro não é o objetivo final de José Eduardo: seu plano principal é
ter o prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, como candidato à Presidência da República para poder
concorrer, apoiado por ele, ao governo do Paraná em 1994. (AE, 15 out. 1992)81

1314
Jaime Lerner também havia sido sondado por Itamar Franco, para assumir um ministério no
novo governo; provavelmente o Ministério da Ciência e Tecnologia ou o Ministério do Meio
Ambiente. Segundo a AE, Lerner recusou por não considerar conveniente participar do governo
naquele momento, pois estaria estudando seu futuro político que passaria primeiro
262
[...] pelo governo do Paraná e pode chegar à Presidência da República, em 1994. Lerner
tenderia a disputar a Presidência caso haja um recuo do governador Leonel Brizola e se a
acomodação de forças o favorecer, como, por exemplo, a desmoralização do ex-governador
Orestes Quércia pela CPI da Vasp. O prefeito seria a alternativa mais conservadora para
enfrentar a provável candidatura de Luís Inácio Lula da Silva, pelo PT e partidos de esquerda.
Nesse caso, Jaime Lerner apoiaria ao governo do Estado o senador José Eduardo de Andrade
Vieira (PTB), presidente do Grupo Bamerindus. (AE, 14 out. 1992)82

78
Fonte: Vieira (2005).
79
Fonte: Álvaro Dias é convidado para assumir o Ministério da Indústria e Comércio. AE, Brasília, 14 out. 1992.
80
Fonte: Novo ministro defende ação contra o Finsocial. AE, OESP, 16 out. 1992.
81
Fonte: Novo ministro ataca o próprio governo e se coloca contra o ITF. AE, 15 out. 1992.
82
Fonte: Lerner recusa convite para participar do governo Itamar. AE, Curitiba, 14 out. 1992.
497

7.2.2.2.1 A CRISE DO IMPOSTO SOBRE TRANSAÇÕES FINANCEIRAS (ITF)

1315
Logo após a indicação para Ministro, José Eduardo83 participou de um debate promovido
pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), quando estavam presentes os Ministros da
Economia, Planejamento e Trabalho; diante de uma platéia constituída por outros ministros e
lideranças empresarias, JE criticou a decisão do governo de criar o ITF e defendeu as empresas que
ingressaram na justiça contra o recolhimento do Finsocial, considerado na época como uma das
causas da queda de arrecadação tributária do governo, tendo sido o Bamerindus uma das primeiras
empresas a apelar judicialmente contra a sua cobrança. Segundo Nastari (15 out. 1992), Gustavo
Krause “[...] levava apressadamente a mão ao nó de gravata, enquanto Vieira atacava o imposto,
alertando que o imposto é altamente regressivo e pressionará as taxas de juros e a inflação”. O
ministro da Economia havia mencionado um pouco antes, durante o debate, que a Fazenda “[...]
enfrentava mais de 260 mil ações na Justiça por causa, em parte, ‘da falta de ética fiscal de alguns
contribuintes”. Durante seu pronunciamento JE declarou que “[...] o Finsocial foi criado durante o
regime militar e nos foi empurrado goela abaixo”; mais tarde, no Senado, falou que, se depois das
discussões no Congresso, o Governo tomar uma posição favorável ao ITF, ele “[...] seguirá essa
posição e a defenderá como integrante do governo [...] Não tenho medo de desagradar aos
banqueiros, em termos de voto eles não representam nada. Fui eleito com o voto dos bóias-frias e
dos portuários”. (NASTARI, 15 out. 1992).
1316
Alcides Tápias, então presidente da Febraban84, declarou que a opinião da entidade também
era contrária ao imposto: “Se o ITF for criado como um simples imposto a mais, surtirá efeito por
apenas seis ou sete meses. Depois disso, pessoas e empresas descobrirão mecanismos para fugir de
sua incidência” (AE, 15 out. 1992). Para ele, os bancos apoiariam a criação do ITF, desde que o
tributo substituísse outros, como o Finsocial, o PIS / Pasep ou a CSLL - Contribuição Social sobre
o Lucro Líquido; “Isso vai retirar a visibilidade do mercado financeiro, dificultando a fixação da
política monetária e aumentará os custos para os bancos.” Mas Gustavo Krause85 mostrou-se
irredutível e anunciou que a criação do ITF era questão fechada da proposta de ajuste fiscal de
emergência que o Governo pretendia negociar com o Congresso.
1317
As críticas de JE tiveram ampla repercussão na imprensa, quase gerando uma crise política,
que somente esfriou quando ele enviou uma mensagem ao Presidente se retratando das críticas
feitas à proposta. Segundo O Globo (18 out. 1992)86, JE assinava a mensagem como “senador José
Eduardo” e afirmava ser contrário aos pacotes econômicos e aos aumentos indiscriminados de
impostos e tarifas, mas que pretendia discutir as soluções para o déficit público com a equipe
econômica e, “obviamente”, apoiaria as soluções encontradas pelos Ministros. A mensagem

83
Fonte: NASTARI J. Novo ministro ataca o próprio governo e se coloca contra o ITF. AE, Brasília, 15 out. 1992.
84
Fonte: Bancos são contra a criação do ITF. AE, Brasília 15 out. 1992.
85
Fonte: “Criação do ITF já é ponto fechado”, diz Krause. AE, Brasília, 15 out. 1992.
86
Fonte: Itamar responde a Vieira em nota que sugere demissão. O Globo, Brasília, 18 out. 1992.
498

ressaltava que o déficit e o ajuste fiscal era “assunto da alçada exclusiva da Pasta da Fazenda” e,
apesar de não estar satisfeito, concluía a mensagem dizendo que “[...] a sociedade terá oportunidade
de discutir o assunto, quando a mensagem com a reforma fiscal de emergência for encaminhada ao
Congresso Nacional”. (AE, 18 out. 1992), Em resposta, Itamar Franco declarou que “[...] os
ministros têm ampla liberdade de discutir as medidas a serem adotadas internamente, e a mesma
liberdade para manifestar discordâncias externamente, não participando do governo”; segundo o
porta-voz, Itamar deixava claro que demitiria o Ministro que se manifestassem publicamente contra
as decisões do Governo. Em 19 de outubro, o discurso de JE foi de apoio à equipe escolhida por
Itamar, bem como alertava que a questão central no Brasil era o retorno à pauta política e
econômica do desenvolvimento econômico sustentado, e a continuidade das reformas institucionais
como a política, a tributária e da administração pública; Segundo ele,
263
[...] [no] Brasil, juros bancários são instrumentos freqüentemente utilizados de política
monetária. Eis outro erro, nesse universo de distorções. É preciso acabar com a intervenção do
governo no sistema bancário, pondo fim ao dirigismo do crédito e devolvendo aos bancos sua
condição de agentes econômicos promotores do desenvolvimento pela livre escolha de
aplicação de seus recursos em projetos mais rentáveis e de retorno mais rápido. Uma
verdadeira política econômica deve privilegiar esse tipo de providência, pois é a única capaz
de, produzindo mais empregos e fazendo isso rapidamente, minimizar os problemas sociais.
(VIEIRA, 20 out. 92, Vol. 18, p. 8265)87.

1318
Segundo Veja (21 out. 1992)88, a contrariedade de JE com relação ao ITF era
264
[...] perfeitamente explicável. O Ministro é senador pelo PTB do Paraná e, sobretudo, principal
acionista do Bamerindus [...] O ITF, por sua vez, é um imposto que recairá sobre as operações
com cheques, poupança, saques com cartões eletrônicos e outras operações financeiras,
atingindo os bancos no coração. Eles terão um custo para recolher o imposto. Não sabem de
quanto, apenas que será alto. Também temem que as pessoas se afastem deles, preferindo
dinheiro vivo, ou que passem os cheques de mão em mão, longe dos caixas.

7.2.2.2.2 A REFORMA MINISTERIAL

1319
Para recompor a sua base política, Itamar Franco teve que fazer uma nova reforma
ministerial, envolvendo pastas importantes como a Fazenda e a Agricultura. Nesse momento, era
possível perceber que já existia uma aliança da rede política Bamerindus com o grupo político de
Fernando Henrique Cardoso.
1320
No dia 5 de abril de 1993, o Bamerindus89 anunciou que teve que investir mais US$ 100
milhões no último momento para assegurar a conclusão do leilão de privatização da CSN e adquirir
o controle da empresa para o grupo de acionistas do qual fazia parte. O grupo respondia por 58,65%
do capital votante, total necessário para controlar a assembléia geral da empresa que iria ocorrer no
dia 22 ou 23 de abril. Em maio, o representante do Bamerindus na CSN, Maurício Schulman, foi

87
Fonte: VIEIRA, José Eduardo de A. Discursos. Diário do Congresso Nacional. Seção II. Anais do Senado. Subsecretaria de
Anais. Brasília: 20 out. 92, Vol. 18, p. 8265. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/publicacoes/anais>. Acesso em:
18 jan. 2005.
88
Fonte: O desafio do novato. VEJA. 21 out. 1992, p. 100.
89
Fonte: FRANCO, C. Bamerindus assegura conclusão de leilão da CSN. AE, Rio de Janeiro, 5 abr. 1993.
499

eleito presidente do Conselho de Administração da empresa, com a ajuda do grupo político liderado
por FHC (ver capítulo IV), cargo que só deixou em outubro de 1995, quando foi substituído por
Steinbruch, representante do grupo Vicunha.
1321
A ajuda do grupo de FHC pode ter ligações com a criação do PPR que, segundo Cardoso (4
abr. 1993)90, havia acontecido porque Maluf estava convencido que, depois da experiência Collor,
ninguém chegaria à Presidência da República eleito por um partido pequeno. Como pretendia
disputar o cargo em 1994, celebrou, em 4 de abril, a fusão do PDS com o PDC criando o Partido
Progressista Reformador (PPR), cujo programa foi redigido basicamente por Jarbas Passarinho
(PA). No Paraná, o PPR era comandado por Jayme Canet e a fusão integrava dez Senadores e 73
Deputados, entre eles estava Affonso Camargo na comissão executiva. O novo partido havia
conseguido também a adesão de alguns políticos do PFL e do PL e, na época Maluf declarava que o
“O PPR chegará ao fim do ano como a maior bancada do Congresso”. Três dias depois, o
presidente nacional do PTB, Paiva Muniz, anunciava que o candidato natural do partido à
Presidência da República nas eleições de 1994 era o Ministro José Eduardo, e ele mesmo já havia
admitido em entrevista ao Jornal do Brasil, que o lançamento de seu nome era uma sugestão de
correligionário. Segundo o JB (8 abr. 1993)91, Muniz também disse que o assunto seria debatido
internamente pelo partido, e que não estavam descartadas alternativas como o Senador José Sarney,
do PMDB ou Jaime Lerner, do PDT, mas afastou a possibilidade de apoiar Paulo Maluf.
1322
Em 3 de maio, a Construtora Norberto Odebrecht foi acusada de ter sido favorecida pelo
Ministro Eliseu Resende – empresa da qual ele foi presidente do Conselho de Administração – ao
conseguir a aprovação para um financiamento de US$ 115 milhões para o governo do Peru, o que
tornou viável a construção de um projeto de irrigação naquele país pela Odebrecht. Segundo a AE
(3 maio 1993)92, José Eduardo, como Ministro teria interferido no caso recusando-se a aprovar o
empréstimo sob a alegação que sua experiência de banqueiro não recomendava aprovar um novo
crédito a quem já era devedor inadimplente.
1323
Representantes do MICT no Comitê de Financiamento à Exportação (CFE) teriam
apresentado votos contrários ao empréstimo93, e os demais membros do Comitê - BB, Bacen,
Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), Itamaraty e do próprio Ministério da Fazenda, haviam
votado a favor. A Fiesp chegou a distribuir nota oficial94 pedindo a apuração dos episódios que,
segundo ela, indicavam corrupção nas relações entre o poder público e a iniciativa privada. A
entidade propunha que fossem estabelecidas regras claras e estáveis para disciplinar o
relacionamento do governo com seus fornecedores, bem como uma nova lei que regulasse os

90
Fonte: CARDOSO, T. Maluf cria o PPR com a fusão de PDS E PDC. AE, Brasília, 04 abr. 1993.
91
Fonte: Paiva lança Vieira para a presidência. JB, Brasília, 08 abr. 1993.
92
Fonte: Odebrecht nega favores do governo Itamar. AE, Rio de Janeiro, 3 de maio de 1993.
93
Fonte: Indústria e Comércio foi contra empréstimo ao Peru. AE, Brasília, 3 maio 1993.
94
Fonte: Fiesp exige apuração de relações entre governo e empresas privadas. AE, São Paulo, 3 maio 1993.
500

recursos aplicados nas campanhas eleitorais. Segundo a AE (3 maio 1993)95, instalou-se um clima
de confronto entre os Ministérios da Fazenda e o da Indústria e do Comércio, envolvendo o
primeiro escalão do Governo. As informações que vazaram do Ministério de JE, davam conta que o
secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Wando Borges, estava trabalhando pela aprovação
do financiamento:
265
[...] Irritado com as perguntas dos jornalistas sobre o caso, o Ministro Eliseu Resende disse que
o crédito para a Odebrecht ainda não foi aprovado. “Mais detalhes, perguntem ao Andrade
Vieira” [...] (AE, 03 maio 1993).

1324
Ainda segundo a AE, José Eduardo, em conversas reservadas, considerava que os
financiamentos do governo brasileiro às exportações deviam privilegiar a indústria de bens de
capital, que enfrentava séria crise por falta de mercado e trabalhava com elevada capacidade ociosa.
Segundo Abreu & Oliveira (9 maio 1993)96, a crise se agravou com a denúncia que, ao contrário do
que informou à Comissão de Finanças da Câmara, Eliseu Resende teria acompanhado a decisão de
liberar empréstimos; Resende havia falado aos deputados que não havia participado das reuniões
em que se discutiu a operação. Na seqüência, JE pediu uma audiência com Resende para discutir a
questão quando disse que mudara de idéia e garantia aprovação ao empréstimo; mas era tarde
demais, pois logo em seguida o Presidente Itamar Franco suspendera a operação.
1325
Em plena reforma ministerial, Itamar pretendia atender ao PP, de Joaquim Roriz e Álvaro
Dias, e estaria reservando lugar para Carlos Sant'Anna. Também cogitava Aloísio Nunes Ferreira
para o MICT no lugar de JE, que poderia deixar o governo ou ser remanejado para o Ministério da
Agricultura, no lugar de Lázaro Barbosa ou Virgílio Galasse, indicado pelo governador de Minas
Gerais, Hélio Garcia. No dia 19, finalmente Eliseu Resende foi demitido, bem como a Ministra-
chefe da Secretaria de Administração Federal, Luíza Erundina e o Ministro da Agricultura, Lázaro
Barbosa (PMDB) que, segundo a AE (19 maio 1993)97, seria substituído por José Eduardo, que
cederia o lugar no MICT para alguém indicado pelo governador Luiz Antônio Fleury Filho.
Também nesse dia, apesar de o Palácio do Planalto não ter confirmado oficialmente a indicação de
FHC98, Eliseu Resende informava que ele iria substituí-lo na Fazenda.99 Com esta reforma, desde a
última eleição presidencial em 1989, os governos Collor e Itamar já haviam nomeado 74100 nomes
diferentes em seus ministérios e secretarias com status de ministério. Na sua carta de demissão,
Eliseu disse que suas declarações de Imposto de Renda atestam publicamente que não tem
escritório particular, participação societária em empresa e não é proprietário de “um só metro
quadrado de terra, uma cabeça de boi ou pé de café”. Segundo Abreu (20 maio 1993)101, ao ser

95
Fonte: Empréstimo à Odebrecht põe Eliseu e Andrade Vieira em confronto. AE, Brasília, 3 maio 1993.
96
Fonte: ABREU, B.; OLIVEIRA, R. Resende omitiu dados sobre empréstimos. AE, OESP, [São Paulo], 9 maio 1993.
97
Fonte: Itamar demite Resende e Erundina. AE, Brasília, 19 maio 1993.
98
Fonte: Presidente convida Fernando Henrique para a Fazenda. AE, [São Paulo], 19 maio 1993.
99
Fonte: Saída de Eliseu Resende foi negociada. AE, Brasília 19 maio 1993.
100
Fonte: Em três anos e meio, País teve 74 ministros. AE, São Paulo, 19 maio 1993.
101
Fonte: ABREU, B.Eliseu se despede lamentando humilhação no Senado. AE, Aedata, Brasília, 20 maio 1993.
501

indagado por um repórter se a frase não seria uma crítica ao ministro José Eduardo, Eliseu
respondeu que: “Mineiro quando quer dizer que não tem nada diz que não tem pé de café”. Como já
vimos anteriormente, José Eduardo contou, em um evento promovido pelo Governo Requião, em
29 de novembro de 2005102, ter sido chamado ao Palácio do Planalto pelo Presidente Itamar Franco
por voltas da 22 horas do dia 19, quando então foi convidado para assumir a pasta da Fazenda; JE
declarou que não aceitou porque não teria apoio político suficiente, e que sabendo da preferência de
Itamar por Fernando Henrique sugeriu ao presidente que o convidasse. Itamar respondeu dizendo
que já havia convidado, mas que FHC tinha recusado. Achando “esquisita a história”, JE disse ao
Presidente que ele deveria insistir e repetir o convite – “Eu tenho certeza que ele vai aceitar”, pois
Fernando queria muito ocupar o cargo; Itamar tornou a telefonar e Fernando Henrique aceitou o
convite.
1326
FHC assumiu o Ministério da Fazenda no dia 21 de maio, e preferia não chamar de pacto a
negociação que pretendia conduzir para conseguir apoio para o seu plano de ação. Segundo a AE (8
jun. 1993)103, José Eduardo manifestava o apoio ao então amigo e sugeriu que o melhor caminho
para as negociações seria através das câmaras setoriais do seu Ministério. Ele alertava que era
necessário promover acordos com diversos setores já que, na sua opinião, não havia ninguém que
pudesse “falar em nome de todo o Brasil”. Em 14 de junho apareciam as primeiras medidas
econômicas da gestão FHC, quando foi anunciado o Programa de Ação Imediata. O programa
previa o corte de US$ 6 bilhões nas despesas do Orçamento da União e ação rigorosa da Secretaria
da Receita Federal contra os sonegadores. No dia 29 de julho anunciou nova reforma da moeda,
quando o cruzeiro perdeu três zeros, e fixou a data de 2 de agosto para que a nova moeda oficial do
país passasse a se chamar Cruzeiro Real. O sucesso do plano dependia da aprovação da
regulamentação do Imposto sobre Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e
Direitos de Natureza Financeira (IPMF), para tanto foi mobilizada toda a base governista no
Congresso. No dia 22 de junho, José Eduardo104 foi pessoalmente à Câmara convencer os deputados
do PTB a votarem com o Governo, o que acabou acontecendo por 308 votos a favor e 87 contra e
seis abstenções. Com isto o projeto seguiu para o Senado.

7.2.2.2.3 O MINISTRO E O PARANÁ

1327
Alguns episódios que apresentamos a seguir permitem avaliar como o cargo de Ministro era
importante para a política dos municípios paranaenses, bem como para os grandes interesses
econômicos do Estado.

102
Fonte: Vieira (2005).
103
Fonte: FHC não quer usar a palavra “pacto”. AE, Brasília, 08 jun. 1993.
104
Fonte: Câmara aprova IPMF. AE, Brasília, 22 jun. 1993.
502

1328
Segundo Sotero (13 dez. 1992)105, o Governador do Ceará, Ciro Gomes teria relatado que:
266
Estávamos precisando comprar milho para o Ceará. Podíamos importar dos Estados Unidos por
US$ 98 por tonelada ou comprar no Paraná, por US$ 143. Fui a Brasília negociar a importação
com o Ministério da Fazenda, que me mandou para o da Indústria e Comércio, que ia me
mandando para o da Agricultura, quando protestei. O Ministro (José Eduardo Vieira) me disse
que eu não podia importar o milho porque os EUA subsidiam suas exportações. A razão
verdadeira é que ele é dono do Bamerindus, que é um banco do Paraná, e quer proteger o
interesse do seu estado. (SOTERO, 13 dez. 1992).

1329
Em outra ocasião, o Correio de Notícias, (26 ago. 1993)106, conta que José Eduardo recebeu
em Brasília uma comissão de Londrina formada pelo prefeito, Luis Eduardo Cheida, o presidente
da Associação Comercial e Industrial da cidade, Farage Koury, o presidente da Câmara dos
Vereadores, Alex Canziani, bem como dos deputados federais Paulo Bernardo, do PT e Antonio
Ueno, do PFL que buscavam apoio para acelerar a liberação do prédio do Palácio do Café, de
propriedade do IBC e que estava sob a administração do Ministério da Agricultura, porque queriam
instalar ali uma unidade do Centro Federal de Educação Tecnológica – Cefet Pr, em Londrina. Na
ocasião, José Eduardo também confirmou ao prefeito a destinação de US$ 1,5 milhões do Fundo
Geral de Turismo (Fungetur) para a construção do centro de convenções do Município. Cheida
também solicitou a inclusão no orçamento do Ministério de mais US$ 2,5 milhões para a conclusão
do prédio, e previsão de recursos para obras de infra-estrutura turística em Mato do Godoi e Salto
do Apucaraninha.
1330
O Ministro também recebeu os prefeitos de Santo Antonio do Sudoeste, Pranchita, Palmas e
Dois Vizinhos, que foram acompanhados do Deputado Estadual Ademar Traiano (PTB) e dos
Deputados Federais Ivânio Guerra e Luciano Pizzatto, ambos do PFL. Na ocasião, José Eduardo
informou que já estavam previstos, no Orçamento de 1994, recursos para os projetos regionais de
instalação de barracões industriais nos pequenos municípios, incluindo os dos prefeitos destas
cidades e de Pérola do Oeste, Pinhal de São Bento, Nova Prata do Iguaçu, Salto do Lontra, Verê e
Renascença. Também o prefeito de Itapê do Sul, Manoel Joeckel, foi pedir ao Ministro apoio ao seu
município, recentemente desmembrado de Rio Branco do Sul. A preocupação do prefeito era com a
redução do número de empregos em razão da transferência do controle acionário da fábrica de
cimento Itaú. Segundo Joeckel, a Itaú era responsável por 90% do recolhimento do ICMS do
município e o seu receio era que fosse instalado outro forno na unidade de Rio Branco, desviando
completamente a fábrica de Itapê. Segundo o Correio de Notícias, o Ministro garantiu ao prefeito
que faria contato com o empresário Antonio Ermírio de Moraes, para solicitar a manutenção da
fábrica no município.

105
Fonte: SOTERO, P. Ciro Gomes fala em deixar a vida pública. AE, Washington, 13 dez. 1992.
106
Fonte: José Eduardo auxilia prefeitos paranaenses em Brasília. CN, 26 ago. 1993.
503

7.2.2.2.4 O MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, DO ABASTECIMENTO E DA


REFORMA AGRÁRIA.

1331 Quadro 7-3: Ministros da Agricultura, Abastecimento e


Finalmente em setembro de 1993,
Reforma Agrária do Brasil do governo Itamar Franco (1993 e
José Eduardo conseguia realizar seu objetivo 1994)
Mandato
de ser indicado para o comando do Ministério Nº Nome Ministro Dias Cargo
Início Término
da Agricultura, e pela primeira vez teve que 1 Lázaro Ferreira Barbosa 14/1092 25/05/93 223 Ministro
2 Benedito R. E. Santo. - Interino
enfrentar pesadas críticas públicas de grupos
3 Wilson Brandi Romão 25/05/93 05/06/93 11 Interino
de interesses que também disputavam a vaga. 4 Nuri Andraus Gassani 05/06/93 16/06/93 11 Ministro
Quando o novo Ministro da Agricultura, José 5 Wilson Brandi Romão 16/06/93 17/06/93 1 Interino
Antônio Barros Munhoz, tomou posse, em 17 6 José Antônio Barros 17/06/93 01/09/93 76 Ministro
Munhoz
de junho de 1993, defendeu, na cerimônia de 7 José Eduardo de Andrade 01/09/93 13/10/93 42 Ministro
Vieira
transmissão de cargo, a adoção do sistema de 8 Alberto Duque Portugal - Interino
equivalência-produto e avisou não temer 9 Dejandir Dalpasquale 13/10/93 21/12/93 69 Ministro
10 Alberto Duque Portugal 21/12/93 25/01/94 35 Interino
pressões, “porque quem mais defende esse
11 Synval S. Duarte Guazzelli 25/01/94 01/01/95 341 Ministro
sistema é o Presidente da República”, 12 Ricardo Alves da - Interino
107 Conceição
(SOARES, 17 jun. 1993) . Munhoz chegava Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base nas informações
ao Ministério com o apoio dos governadores extraídas de Presidência da República (2003)

de Goiás, Íris Resende e Fleury, de São Paulo e contrariava logo de início a expectativa dos
técnicos do Ministério da Agricultura de manter-se discreto em relação à proposta de equivalência-
produto. Como uma modalidade de financiamento rural, a proposta previa o uso do produto como
referência de pagamento, que já havia sido defendida pelo ex-Ministro da Agricultura Nuri Andraus
que acabou deixando o cargo acusando os bancos por sua queda. Segundo Soares (17 jun. 1993),
além dos bancos privados e públicos, eram contra o sistema quase todos os especialistas em crédito
agrícola, até o Ministério da Fazenda. O governador Fleury Filho defendia a equivalência-produto
no discurso de saudação a Munhoz, dizendo que o sistema fora adotado com sucesso em São Paulo
e poderia ser estendido a todo o país. Segundo a AE (17 jun. 1993)108, Barros Munhoz afirmou em
entrevista “[...] que a pressão dos banqueiros contra a instituição da equivalência-produto para os
financiamentos era natural na democracia”.
1332
O Ministro da Agricultura anterior, Nuri Andraus, entregou o cargo por não resistir aos
efeitos causados pela divulgação de seu envolvimento na morte do fazendeiro Waldemar José de
Oliveira, ocorrida no interior de Goiás, em 1975 e cujo processo ainda tramitava na Justiça.
Também fora acusado de sonegar impostos, favorecer parentes em licitação pública e de manter
litígios com o Incra. Em entrevista Andraus negava as denúncias e atribuía...
267
[...] sua queda ao setor financeiro, adversário tenaz, segundo ele, de sua proposta de
equivalência-produto. Esta proposta prevê, entre outras coisas, o aumento dos percentuais de

107
Fonte: SOARES, A. R. Munhoz defende equivalência-produto e diz não temer pressões. AE, Brasília, 17 jun. 1993.
108
Fonte: Munhoz: pressão dos banqueiros é natural. AE, Brasília, 17 jun. 1993.
504

financiamento bancário para o crédito agrícola e a diminuição da taxa de juros. “Meu pecado
foi esse”, disse Andraus. “No dia da posse, a Febraban (a Federação dos Bancos) jurou que
eu não ficaria nem 12 dias no cargo”, completou. “Os banqueiros, fabricantes da miséria,
sitiaram o País”. (BERGAMASCHI & EVELIN, 15 jun. 1993)109

1333
Em 30 de agosto de 1993, José Eduardo110 declarava que o governo reconhecia a
importância do apoio do PMDB e estava tentando contornar a crise política gerada pela demissão
do então presidente do BNDES, Luiz Carlos Delben Leite, e o pedido de dispensa do Ministro do
Planejamento, Alexis Stepanenko. No mesmo dia, o Governador de São Paulo anunciava o
rompimento com o governo Itamar, logo após uma reunião de três horas com toda a bancada
federal do PMDB paulista no Palácio dos Bandeirantes. Inconformado com a demissão de Delben
Leite, Fleury decidiu pelo afastamento do governo federal, sendo seguido pelos 14 deputados da
bancada paulista do partido. O Governador afirmou que iria tentar articular um rompimento formal
do PMDB na próxima convenção nacional, buscando a saída dos cinco ministros e de todos os
peemedebistas que ocupava cargos no Governo Federal. Como foi indicação de Fleury, o Ministro
da Agricultura, Barros Munhoz, também deixou o governo. A crise forçou a cúpula do PMDB111 a
antecipar em dois dias a decisão sobre o apoio ao governo, certo que o partido reafirmaria a
condição de principal aliado do Presidente Itamar Franco. Os resultados da operação anti-
rompimento teriam que vir a tempo de o PMDB indicar o sucessor de Barros Munhoz; o então líder
do governo no Senado, Pedro Simon (PMDB-RS) queria conservar o Ministério da Agricultura com
o partido, mas acreditava que Itamar manteria a indicação de José Eduardo interinamente no cargo
até o PMDB se definir e reconhecia que a legenda não tinha o direito de reivindicar a vaga.
1334
No dia 1º de setembro, José Eduardo admitiu, ao tomar posse interinamente no Ministério
da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária, que era candidato nas eleições do próximo
ano, alegando isso como justificativa para não assumir definitivamente a pasta. Anunciou que
dentro de sete meses, quando vencia o prazo de desincompatibilização, deixaria o cargo para
disputar o governo do Paraná. Também afirmou que pretendia executar programas para aumentar a
safra agrícola para 100 milhões de toneladas e promover a reforma agrária. Um mês antes, a FSP
(1º ago. 1993, p. 1-12)112 já havia publicado que José Eduardo queria disputar o governo do Paraná
e agora OESP (02 set. 1993 p. 5)113 dizia ser ele o candidato à Presidência da República pelo PTB.
1335
Como o novo Ministro interino, garantiu que daria continuidade às ações que vinham sendo
desenvolvidas pela gestão anterior, como o programa de combate à febre aftosa e a negociação para
incluir a soja no crédito rural de modo a não frustrar as expectativas do setor. José Eduardo disse
que sua indicação para acumular a pasta da Agricultura “foi uma demonstração de confiança do

109
Fonte: BERGAMASCHI, M.; EVELIN, G. Nuri Andraus deixa o ministério da Agricultura depois de dez dias. AE, Brasília,
15 jun. 1993.
110
Fonte: Vieira diz que crise entre PMDB e governo ameaça plano econômico. AE, Campinas, 30 ago. 1993.
111
Fonte: SALOMON, M.; Rita TAVARES, R. PMDB reunirá conselho para discutir o apoio ao governo. AE, Brasília, 1º set.
1993.
112
Fonte: Andrade Vieira quer disputar governo do PR. FSP, 1º ago. 1993, p. 1-12.
113
Fonte: Vieira assume Agricultura e admite que é candidato. AE, OESP, Brasília 02 set. 1993.
505

Presidente” (Indústria e Comércio, 02 set. 1993)114, e voltou a afirmar que sua permanência na
função seria breve, porque já comunicara ao Presidente seu desejo de terminar o trabalho que vinha
desenvolvendo no MICT, pois sua intenção era fechar o acordo com os países produtores de café,
alcançar as metas para o aumento das exportações e incrementar o fluxo turístico para o Brasil
através de um programa que já estava pronto para ser operacionalizado a partir do ano seguinte.
1336
O primeiro ato de JE na Agricultura foi enviar uma ordem por escrito ao Incra,
determinando que a reforma agrária fosse estendida às propriedades rurais que estivessem com foco
de febre aftosa: “O governo deve desapropriar inclusive terras produtivas que estejam com gado
portador de febre aftosa. A providência visa punir os fazendeiros que não vacinam o gado”. (FSP, 2
set. 1993)115. Segundo o jornal, no Congresso, a medida foi interpretada como uma estratégia para
tentar obter apoio para se manter no Ministério da Agricultura, pois teria sido vetado por uma ala da
bancada ruralista ligada à UDR, quando seu nome foi cogitado, em maio, como alternativa de
substituição a Lázaro Barbosa. A FSP destacava que Vieira sempre quis o Ministério da
Agricultura, bem como agora esperava ocupar um suposto Ministério da Produção, que seria criado
a partir da junção dos dois ministérios que estavam sob seu comando, e que fazia parte das
discussões sobre uma nova reforma administrativa que juntaria ainda a Fazenda e o Planejamento.
Em setembro, Sato (5 set. 1993)116 contava que, para ajudar
268
[...] o amigo e colega de Ministério Fernando Henrique Cardoso a se desligar por alguns
momentos das inquietações diárias e dos problemas da economia, o ministro José Eduardo
Andrade Vieira ofereceu há duas semanas um passeio pelo Pantanal mato-grossense. Cardoso
foi hóspede especial do barco-hotel Tuiuiú, que cobra US$ 3,2 mil por um passeio de fim de
semana nas águas do Rio Paraguai. A conta ficou com Andrade Vieira.

1337
Segundo um assessor de FHC, ele havia sido convidado por José Eduardo, pois os “[...] dois
são muito amigos, costumavam tomar café da manhã juntos quando estavam no Senado”. Segundo
Sato, FHC aceitou o convite, mas fez uma ponderação: “Será que não vão pensar que estou me
escondendo para fazer um plano econômico?”.
1338
As críticas ao novo Ministro começaram já no dia 1 de setembro, numa matéria de Onofre
Ribeiro, do jornal A Gazeta de Cuiabá, Mato Grosso:
269
[...] além da soja [...] a chamada cesta básica vai sofrer o mesmo destino do encarecimento de
custo desta safra. O arroz, feijão, milho, mandioca, algodão e trigo que estão na pauta da
equivalência-produto do pacote agrícola aprovado pelo governo federal, também cairão na vala
comum do custo financeiro mais caro. [...] A denúncia é do secretário de Agricultura de Mato
Grosso, Aréssio Paquer. Segundo ele, a armação começa no preço do fertilizante, termina nos
juros e acaba onerando em pelo menos 25% o preço final do produto na sua origem. Somados
os custos intermediários, o produto do ano que vem estará muito mais caro no mercado e
reduzindo a faixa dos consumidores. A armação começa no preço dos fertilizantes, diz o
secretário. E o preço está começando a ser manipulado no Ministério da Indústria, Comércio e
Turismo. O jogo é simples. As estatais ligadas à produção de fertilizantes foram adquiridas no
programa de privatização por empresas que, segundo o secretário, conseguiram inflacionar o

114
Fonte: José Eduardo diz que vai continuar ações iniciadas por Barros Munhoz. Indústria e Comércio, 02 set. 1993.
115
Fonte: Vieira toma posse e altera reforma agrária. FSP, Brasília, 02 set. 1993.
116
Fonte: SATO, S. Colega paga conta de viagem de Cardoso. AE, Brasília, 05 set. 1993.
506

preço da tonelada de fertilizante de modo que nesta e na próxima safra terão pago o valor do
investimento na sua compra. Em termos de preços o quadro é este: o preço do fertilizante está
hoje em US$ 135 a tonelada. Mas já esteve em outras épocas de até US$ 220,00 dólares /
tonelada. A estimativa é de que após a privatização os donos conseguirão do Ministério da
Indústria e Comércio, condições para majoração e no mínimo US$ 170,00. O preço atual se
deve à existência de grandes estoques em países da ex-União Soviética, que forçam uma baixa
e cuja importação é taxada de 10%. O lobby que elevará os preços elevará também a alíquota
de importação para 25 ou 30% refletindo no novo preço da tonelada já para esta safra. Depois,
a questão se agrava na produção de alimentos. Quer seja na chamada equivalência-produto da
cesta básica, quer seja no tratamento dado à soja com a finalidade de aumentar a faixa de ganho
bancário. Não importa nesse caso, frisa Aréssio Paquer, a questão do preço final. Está em jogo
somente o lucro financeiro operado pela rede bancária. A pressão estaria sendo exercida pela
Federação Brasileira dos Bancos - Febraban, através do ministro José Eduardo Vieira. A
propósito, a equipe econômica da área de preços agrícolas foi completamente dispersa no
Ministério da Economia e os elementos da formação dos preços agrícolas distorcidos para
atenderem ao lobby dos banqueiros. No caso da soja, a situação é vergonhosa. O lobby
conseguiu induzir o Ministério da Fazenda a cortar pela metade o prazo existente para o
financiamento externo em dólares, obtido através das antecipações de crédito por conta de
vendas futuras. O prazo caiu para 180 dias e não dá para acompanhar o ciclo da safra. O
mínimo seria de 270 dias. Assim, cortou-se uma importante fonte de financiamento muito
utilizada por grandes plantadores de soja. O governo impôs no pacote agrícola para esta safra,
um limite de US$ 200/hectare para os produtos da cesta básica a 12 % de juros anuais. Mas
para a soja, que é o produto onde se concentram os grandes tomadores de empréstimos, a taxa
de juros ficou livre. O custo final do produto deverá ficar em 25% mais caro por conta do custo
financeiro dos juros que no Banco do Brasil estão na faixa de 21,9% e nos bancos privados
começam em 24 e chegam a, 33%. (RIBEIRO, 1º set. 1993)117.

1339
Em 5 de setembro, Soares (5 set. 1993)118 publicou matéria no jornal O Estado de São
Paulo, analisando a atuação de JE no mundo político. Inicialmente destacou que o Ministro estava
conseguindo “fazer sua estrela brilhar”; no começo da gestão de Itamar teve seu nome encabeçando
as listas dos ministros cotados para perderem o cargo, mas graças ao seu maior aliado e amigo e
também Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, conseguiu não só manter-se no cargo
como também aumentou sua influência, mas, segundo o jornalista, JE começou no novo cargo
270
[...] comprando uma briga com os proprietários rurais ao ameaçar de desapropriação terras com
gado contaminado pela febre aftosa. [...] [para os] companheiros e desafetos políticos, esta é
uma marca do “Zé Eduardo” , como é chamado no Paraná ou de “Zé Bamerindus”, como
preferem os maliciosos. Comandante de um império econômico avaliado em mais de US$ 1
bilhão, Andrade Vieira não se incomoda com nada. “Ele nunca teve jogo de cintura” observa
um deputado do PPR paranaense. “Ele não é do ramo”, resume o ex-líder do PTB na Câmara
dos Deputados Nélson Marchezelli de SP. (SOARES, 5 set. 1993. Grifo nosso).

1340
Soares ainda publicou que assessores do Planalto asseguravam que o prestígio de JE estava
em ascensão junto ao Presidente da República, o que explicaria uma suposta função de “ministro-
coringa”, pronto para assumir vagas no primeiro escalão em momentos de crise, sendo considerado
“imexível” no governo: “Os mais irreverentes chegam a cantarolar uma paródia do slogan do
Banco Bamerindus: ‘O tempo passa o tempo voa, e o ministro Bamerindus continua numa boa”.
Por outro lado, a reportagem lembrava que freqüentemente JE provocava embaraços ao Governo,
lembrando que logo depois de assumir o cargo de Ministro, em outubro de 1992, Vieira passou a

117
Fonte: RIBEIRO, Onofre. Fome contra fome (I). A Gazeta, Cuiabá, 1º set. 1993.
118
Fonte: SOARES, A. R. Andrade Vieira ganha espaço no Planalto. AE, OESP, Brasília, 05 set. 1993.
507

criticar publicamente a criação do ITF pelos ministros Haddad e Krause, tendo também criticado
publicamente a política econômica; “pelo menos uma vez, teve de se desculpar com Itamar Franco
por seu 'ânimo exaltado”. O jornalista também revelava que em uma “[...] reunião ministerial no
Palácio do Planalto, ainda no governo Collor, em que participou como convidado, Andrade Vieira
surpreendeu ao declarar enfaticamente: ‘Todos somos sonegadores’. O deputado Reinhold
Stephanes, ex-ministro da Previdência Social, até hoje não esquece o constrangimento que tomou
conta da mesa”. Na opinião de Soares, desejando suceder o governo estadual do seu adversário
mais ferrenho, Roberto Requião do PMDB,
271
[...] Andrade Vieira até se esforça em parecer popular. Ele costuma visitar o interior do Paraná
vestido de jeans e com um chapelão branco de vaqueiro. O estilo caipira endinheirado,
associado com a imagem de quem não tem ‘papas na língua’, quase não foi suficiente para
elegê-lo senador nas eleições de 1990. Por pouco ele não perdeu a vaga para Tony Garcia, um
candidato desconhecido.119 (SOARES, 5 set. 1993).

1341
O autor continua, dizendo que, de acordo com um parlamentar anônimo do Paraná, José
Eduardo estaria empenhado em sair candidato ao governo do Estado e que, apesar da negativa do
ministro, “Eu só sou candidato a permanecer no governo”, nas articulações dos bastidores, JE
estaria “[...] fazendo tudo para sair candidato ou para, pelo menos, fazer do ex-prefeito de Curitiba
Jaime Lerner (PDT) o futuro governador paranaense. Mas Andrade Vieira, com todo seu poder
econômico, faz uma exigência, só apoiaria Lerner se este abandonasse o governador do Rio de
Janeiro, Leonel Brizola [...] ‘Se os dois disputarem, Requião ganha’, resume o parlamentar.”
(SOARES, 5 set. 1993). A frase em negrito chama a atenção para a complexidade da equação das
campanhas eleitorais que incorporaram a sutil possibilidade de dividir os votos do eleitorado. Para
o Soares,
272
[...] no front político do Paraná o ministro não tem conseguido êxito, e no Congresso sua
primeira medida à frente do Ministério da Agricultura também não agradou aos políticos. A
proposta de reforma agrária via febre aftosa do ministro foi atacada por todos. “Isso é
‘nonsense’”, reagiu o deputado Delfim Netto (PPR SP). O ex-líder da UDR deputado Ronaldo
Caiado, (PFL-GO), colocou o ministro em sua lista de desafetos. “Ele deveria propor o
bloqueio dos bens dos banqueiros que cobram mais de 12% de juros ao ano”. (SOARES, 5
set. 1993).

1342
No dia 29, o presidente da Comissão de Agricultura e Política Rural da Câmara120, Romel
Anísio Jorge (PRN-MG), encaminhou um requerimento ao presidente Itamar, no qual manifestava
estranheza pelo fato de o Ministro José Eduardo ter adquirido no leilão de privatização, por meio do
Bamerindus, parte das ações da Ultrafértil e, ao mesmo tempo, sugeria ao Governo que elevasse a
taxação sobre importação de fertilizantes. José Eduardo havia admitido, em depoimento na CPI do
endividamento agrícola, que o Bamerindus tinha comprado parte das ações da Ultrafértil, tendo
admitido também que sugeriu ao Ministro da Fazenda sobretaxar a importação de fosfato utilizado

119
Neste pormenor, é importante lembrar que JE foi eleito com 1.036.787 votos contra os 691.246 obtidos por Garcia, ou 50%
a mais que recebeu seu adversário.
120
Fonte: Andrade Vieira comprou ações da Ultrafértil e quer sobretaxar importação de fertilizante. AE, OESP, Brasília, 30 set.
1993.
508

na fabricação de fertilizantes. Ronaldo Caiado pediu à comissão que aprovasse um requerimento


solicitando que o Ministro da Fazenda não acolhesse a sugestão de JE e que enviasse ao Presidente
da República requerimento do deputado Anísio Jorge que alertava para o aumento dos preços dos
alimentos caso fosse adotada a sugestão do Ministro.
1343
Nesse momento, tornou-se claro que, se JE quisesse ampliar sua atuação na política
nacional, teria que investir mais na imprensa, pois sua reposta às críticas teve que sair no pequeno
jornal de Curitiba, o Indústria e Comércio. Segundo reportagem publicada no dia 06 de outubro121, o
jornal destacava que estava em andamento ações que pretendiam fomentar intrigas e que o Ministro
estava sendo atingido pela “má fé dos que, inescrupulosamente tentam torcer os fatos e impor
interpretações capciosas, em oposição à lógica e ao bom senso”. Para o Indústria e Comércio, o
primeiro fato sistematicamente distorcido era a ligação entre o Ministro e o Bamerindus, já que ele
estava licenciado do cargo de dirigente do banco, e lembrava que a instituição estava sendo
administrado por uma equipe de profissionais. Destacava também que a experiência empresarial de
JE se contrapunha a “ministros sem passado empresarial, sem experiência na área econômica, sem
nenhuma sensibilidade e tirocínio”. Para o jornal os “intrigantes” queriam denegrir sua imagem
“com base em inferências absurdas como essa sistemática e maldosa identificação entre o Ministro
e o Bamerindus”. A reportagem segue justificando a participação do banco no processo de
privatização, alegando que ele foi obrigado por lei a comprar certificados de privatização, e que os
converteu em participação acionária das empresas leiloadas pelo governo; classificou como
“cínica” a versão que buscava “[...] implicar o ministro em transação condenável. Versão sórdida,
pois o banco teria de aplicar de alguma forma o dinheiro bom convertido em certificados e escolheu
uma empresa situada no Paraná e ligada a setor importante para o desenvolvimento”. (Indústria e
Comércio, 06 out. 1993). A matéria afirmava que as ações da Ultrafértil adquiridas pelo
Bamerindus representavam apenas 5% do capital, o que
273
[...] não significa que a empresa seja do Zé Eduardo. Mas, por incrível que pareça, há
deputados que estão pedindo ao presidente Itamar a cabeça do ministro, por “favorecimento à
Ultrafértil”, por ter sugerido a elevação do imposto de importação incidente sobre fertilizantes.
O ministro justificava sua posição lembrando que historicamente tal recurso foi utilizado
inúmeras vezes para proteger a indústria local em “situações singulares no mercado
internacional” e que na época, devido à “derrocada do comunismo”, os países do Leste
europeu estavam inundando o mercado com ofertas a preços mais baixos do que o custo de
produção. A medida tinha por finalidade proteger toda a indústria de fertilizantes brasileira,
“tenha ou não o Bamerindus 5% de suas ações”. (Indústria e Comércio, 06 out. 1993).

1344
É interessante observar que esta reportagem esclarece que, um dos limites do discurso
liberal, defendido por José Eduardo, estava justamente nas fronteiras que separam o mercado
interno brasileiro da concorrência internacional, o que marca a diferença em relação ao discurso
liberal do Governo Collor e entra em contradição com a Carta ACP, promovida pela sua irmã Maria
Christina na Associação Comercial do Paraná.

121
Fonte: A posição patriótica de Zé Eduardo e a intriga rasteira. IC, 06 out. 1993.
509

1345
No dia 14 de outubro de 1993, Itamar Franco nomeou o deputado federal Dejandir
Dalpasquale (PMDB-SC) para o cargo de Ministro da Agricultura. Segundo Araújo (2002)122, essa
indicação teria sido acompanhada por denúncias de envolvimento com irregularidades durante a
gestão de Dejanir no BNCC; sem que se apresentassem provas das acusações e apoiado pelo
presidente do partido, Luís Henrique da Silveira, no dia 15 de outubro, Dalpasquale tomou posse
como Ministro.

7.2.2.2.5 A SAÍDA DO MICT

1346
No dia 15 de outubro, o economista José Carlos Alves dos Santos acusou 23 deputados e
senadores, seis ministros e três governadores de irregularidades na inclusão de emendas no
Orçamento e, no dia 20, teve início a CPI que iria investigar tais irregularidades. No dia 18, diante
da notícia que o Presidente Itamar Franco estava disposto a aceitar a redução de seu mandato caso o
Congresso decidisse antecipar as eleições, o presidente do PP, Álvaro Dias, considerou a proposta
como “açodamento” de Itamar; o governador Roberto Requião, ao defender a honestidade do
Presidente, sugeriu que ele demitisse todos os ministros e auxiliares suspeitos. Requião considerou
que proposta de Itamar Franco lembrava “[...] o que aconteceu na Guiana, com Jim Jones (o pastor
que levou centenas de pessoas ao suicídio com suco de uva envenenado) ‘Acredito na seriedade do
presidente, mas ele precisa se livrar de gente como Hargreaves [...] e o Zé Eduardo [...]”.
(EDUARDO, 18 jun. 1993)123
1347
O anúncio do Presidente aconteceu pouco depois de os ministros do Gabinete Civil,
Henrique Hargreaves, e da Integração Regional, Alexandre Costa, colocarem os cargos à
disposição. Os dois estavam sendo acusados pelo ex-diretor do Departamento de Orçamento da
União, José Carlos Alves dos Santos, de envolvimento com corrupção.
1348
Em novembro, O Globo (20 nov. 1993a)124 publicou matéria dando conta de constantes
atritos entre José Eduardo e o presidente Itamar franco e que JE havia dito que poderia deixar o
Ministério em dezembro, visto que Itamar Franco pretendia fazer mais uma reforma ministerial
quando somente ficariam os ministros militares e o titular da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso;
“Já que o presidente quer fazer uma reforma no Governo, acho que é o momento oportuno para
sair. Mas não sou candidato a nada no próximo ano — disse ele, numa primeira entrevista”. Mais
tarde, numa segunda entrevista, “[...] o ministro tentou consertar o que dissera antes. Disse que
aproveitará o fim de semana para pensar e que, só na terça-feira, comunicará sua decisão ao
presidente Itamar. Acrescentou que estuda a possibilidade de se candidatar em 1994 ao Governo do
Paraná ou mesmo à Presidência da República”. (O Globo, 20 nov. 1993a).

122
Fonte: ARAÚJO, R. Verbete: DALPASQUALE, Dejandir. DHBB - Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro: pós 1930.
1ª edição. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, CPDOC, 2002. CD-Rom.
123
Fonte: EDUARDO, J. Requião e Dias criticam disposição de Itamar em reduzir mandato. AE, Curitiba, 18 out. 1993.
124
Fonte: Vieira pode deixar cargo em dezembro. O Globo, Rio de Janeiro, 20 nov. 1993a.
510

1349
Segundo o jornal, o Porta-voz da Presidência, Francisco Baker e o deputado federal Raul
Belém declararam que o Presidente não havia recebido “oficialmente qualquer informação sobre a
demissão de Andrade Vieira. Segundo eles, até agora, o presidente só recebeu as respostas de três
ministros, mas não quis dizer quais eram”. A possível saída de JE foi recebida com surpresa pelos
participantes do almoço promovido pelo Instituto Brasileiro dos Executivos Financeiros (Ibef), no
Jockey Club do Rio de Janeiro. Segundo O Globo (20 nov. 1993b)125, assim que chegou, o Ministro
teve um encontro reservado com a diretoria do Instituto, tendo participado o presidente da
Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), Fernando Wrobel, o
presidente da Associação Comercial do Rio, Humberto Mota, o presidente da CSN, Roberto
Procópio Lima Netto, e o vice-presidente da Federação das Indústrias do Rio (FIRJAN), Antenor
Barros Leal, entre outros. Segundo Lima Netto, José Eduardo fez até “apologia” do Governo Itamar
Franco. Lima teria lamentando o anúncio da saída do Ministro, bem como estava surpreso com a
notícia. Barros Leal declarou não saber os motivos que teriam levado JE a decidir deixar o governo,
e o vice-presidente da Firjan elogiou o trabalho do ministro e disse estar chocado com a sua
decisão. Segundo O Globo (20 nov. 1993c)126, ao anunciar publicamente que estava deixando o
Ministério antes de conversar com o Presidente, não seria “[...] a primeira trapalhada de Andrade
Vieira no Governo. Em outubro de 1992, assim que assumiu a pasta da Industria e Comércio, ele
criticou a criação do [...] ITF [...] e recebeu um recado duro do presidente Itamar Franco, sugerindo
que quem não concordasse com as diretrizes oficiais pedisse demissão”. (O GLOBO, 20 nov.
1993c).
1350
Também teria criado problemas em junho daquele ano, quando, falando sobre a inflação e a
popularidade do Governo, disse que “[...] não existe capital de acerto que justifique o otimismo da
opinião pública”, e recebeu “[...] um novo ‘pito’ do presidente. Na mesma época, o ministro
reclamou das altas taxas da inflação e disse que estava na hora de ‘a conta parar de ser paga pelos
trabalhadores’, transferindo o ônus para empresários e políticos”. No dia 19 de novembro, José
Eduardo teria criticado novamente o Governo, ao dizer que “[...] não acredita na eficácia da
Unidade de Conta (UC), o indexador que o Governo pretendia adotar em substituição aos demais:
O Governo pode adotar um único índice para todas as operações oficiais, mas o mercado acaba
criando outros referenciais. É um meio de ele se proteger contra eventuais diferenças”. (O GLOBO,
20 nov. 1993c). Dois dias depois, a FSP (22 nov. 1993)127 também informava uma possível saída de
JE, bem como a sua intenção de disputar a Presidência da República, em 1994.
1351
No dia 23, o jornal Diário Popular128 de Curitiba publicou uma matéria na qual fazia um
balanço da gestão JE no Ministério. Segundo a reportagem, o seu primeiro desafio foi a
reestruturação do MICT que havia sido desmembrado entre vários outros Ministérios, durante a

125
Fonte: Notícia surpreende empresários. O Globo, Rio de Janeiro, 20 nov. 1993b.
126
Fonte: Atritos com Itamar foram freqüentes. O Globo, Rio de Janeiro, 20 nov. 1993c.
127
Fonte: Andrade Vieira quer ser candidato à presidência. FSP, 22 nov. 1993, p. 1-7.
128
Fonte: José Eduardo: o Paraná bem representado no governo federal. Diário Popular, 23 nov. 1993, p. 7.
511

gestão Collor; em seguida, investiu na formação de parcerias permanentes do governo com


empresários, trabalhadores, consumidores, meio acadêmico e Congresso Nacional, tendo reativado
as câmaras setoriais, que segundo o jornal, “[...] deixaram de ser um foro para simples discussão de
preços e custos, passando a ser o local adequado para a discussão democrática e transparente entre
governo, trabalhadores e iniciativa privada, para o encontro de soluções práticas para o
desenvolvimento dos diversos setores da economia”. Um dos resultados destacado pelo Diário
Popular teria sido o “[...] sucesso alcançado pela Câmara Setorial da Indústria Automotiva,
coordenada pessoalmente por José Eduardo, cujo acordo assinado pelo governo e por 32 entidades
patronais e de trabalhadores possibilitou a geração de 90 mil empregos e sucessivos recordes em
produção e comercialização no setor”. (Diário Popular, 23 nov. 1993, p. 7) Segundo um estudo
sobre a competitividade da indústria brasileira, produzido por um consórcio formado pelos Instituto
de Economia (IE / Unicamp), o Instituto de Economia Industrial (IEI /UFRJ), a Fundação Dom
Cabral (FDC) e a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), José Eduardo teve
uma importante participação nas Câmaras Setoriais:
274
O ministro José Eduardo Andrade Vieira passou a participar intensamente, dirigindo
pessoalmente os trabalhos, ao lado do Secretário-Executivo que, após a saída da Secretária
Dorothéa Werneck, procurou manter o dinamismo das Câmaras Setoriais. [...] [mais tarde]
Andrade Vieira criticou também as montadoras, ameaçando as fábricas de automóveis
instaladas no Brasil de aumentar a concorrência pela abertura do mercado para empresas de
outros países, caso a indústria automobilística não fizesse investimentos para a melhoria da
qualidade. O ministro lamentou que a indústria não tivesse feito a sua parte do Acordo, apesar
de ter conseguido substancial aumento das vendas e da produção, em conseqüência da redução
dos impostos. Referiu-se ainda ao excesso de horas-extras que as montadoras vinham pagando,
o que estaria indicando que o setor não estava aumentando a oferta de emprego, contrariando o
compromisso assumido. (DINIZ, p. 21, 33-34)129.

1352
O Diário Popular também informava que foram alcançados bons resultados nas câmaras
setoriais da indústria naval, da agroindústria, de jóias e pedras preciosas e artigos eletroeletrônicos.
Sob sua gestão, foram abertos espaços para que a política industrial brasileira passasse a ser
discutida em duas instâncias, promovendo a criação do Conselho Consultivo Empresarial para a
Competitividade (CANCEC) e o Conselho Consultivo do Trabalhador para a Competitividade; no
campo da redução do desperdício, segundo o jornal, o Ministério promoveu seminários com
empresários, trabalhadores e técnicos do governo, no âmbito do Programa Brasileiro de Qualidade
e Produtividade (PBQP). A matéria continuou abordando a atuação do Ministro na área do
comércio e exterior, atribuindo à gestão de José Eduardo o salto nos níveis médios de exportação e
importação, que em um ano teria passado de aproximadamente US$ 2 bilhões em exportação e US$
1 bilhão em importações, para US$ 3,5 bilhões em exportações e US$ 2,7 bilhões em importações.
Também para ampliar o comércio, teria ele defendido junto ao Governo e vários segmentos do setor
produtivo, a necessidade de o Brasil ampliar as relações comerciais com a Rússia e China; outro

129
Fonte: DINIZ, Eli. Estudo da competitividade da indústria brasileira. Articulação dos atores na implementação da
política industrial: a experiência das câmaras setoriais - retrocesso ou avanço na transição para um novo modelo? Ministério
da Ciência e Tecnologia – MCT / FINEP / PADCT. Campinas: IE / UNICAMP – IEI / UFRJ - FDC – FUNCEX, 1993.
512

setor beneficiado teria sido a cafeicultura que, segundo o jornal, quando ele assumiu o setor
enfrentava uma grave crise com as lavouras em decadência, constante queda de produtividade,
aumento de custo e endividamento cada vez maior. Em seis meses, ele teria conseguido reverter o
quadro, reorganizando a produção e o mercado, de maneira que os preços da saca praticamente
dobraram no período. Segundo Wilson Baggio, cafeicultor e presidente da Comissão Técnica de
Café da Federação da Agricultura do Paraná, durante homenagem prestada ao Ministro em
Londrina por aproximadamente 500 lideranças rurais ligadas ao setor, o Ministro conseguiu um fato
“histórico e inédito”, que foi o aumento do preço do café em plena safra, e com “[...] sua
competência de empresário já reconhecida, o Ministro José Eduardo salvou a cafeicultura nacional
e até mundial”. Também Gilson Ximenes elogiou a atuação de JE em discurso de posse da diretoria
do Conselho Nacional do Café (CNC), em 19 de abril de 1995130.
1353 Ilustração 7-3: Fotografias de JE publicadas pelo jornais.
É interessante observar que as
diferenças de opiniões dos dois jornais
também são expressas de forma sutil
através das fotografias de JE publicadas;
como pode ser observado na Ilustração 7-3,

enquanto o Diário Popular publicava uma


foto da face esquerda – o ângulo
recomendado pela assessoria de JE, o
jornal O Globo utilizava a face direita. Fonte: Diário Popular, 23 nov. Fonte: Ivo Gonzalez. O Globo,
1993, p. 7. Rio de Janeiro, 20 nov. 1993131
1354
Em 1994, após um aparte ao seu
discurso, o Senador Pedro Simon132elogiou JE dizendo que, na “[...] sua passagem pelo Ministério,
salientando apenas a questão do café, V. Exa fez uma revolução conseguindo que esse produto, que
estava praticamente ‘zerado’ nas vendas externas do País, voltasse como um dos artigos mais
importantes da pauta de exportação. V. Exa reuniu os países produtores, que estavam numa
desmoralização conjunta, fazendo todos sentarem-se à mesma mesa, para reconstituir o que existia
no passado”. (SIMON, 1994, p. 4738).
1355
No dia 7 de dezembro, Fernando Henrique dava início ao novo plano econômico – na época
chamado de Plano FHC 2 (OLIVEIRA, 07 dez. 1993)133 – que seria executado em três etapas,
graduais e sem quebra de contratos. O plano recebeu o apoio explícito do presidente Itamar Franco
que divulgou nota oficial declarando que “O Presidente aprovou o texto e declara que o rumo
apontado é o melhor para o País”. No dia, 20 Itamar Franco promoveu nova reforma ministerial;

130
Fonte: XIMENES, Gilson. Discurso de posse da diretoria do Conselho Nacional do Café (CNC) em 19 abr. 1995.
Disponível em: <http://www.bertone.com.br/perfil.htm>. Acesso em: 16 dez. 2005.
131
Fonte: GONZALEZ, Ivo. Fotografia. O Globo, Rio de Janeiro, 20 nov. 1993.
132
Fonte: SIMON, Pedro. Discurso. Diário do Congresso Nacional. Seção II. (DCN2). Anais do Senado. Subsecretaria de
Anais. Brasília: 18 ago. 1994, Livro Vol. 15, p. 4733-4739. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/sf/publicacoes/anais/
Regra/Pesquisar.asp?TIPO=1>. Acesso em: 10 ago. 2005.
133
Fonte: OLIVEIRA, R. Governo lança o Plano FHC 2. AE, Brasília, 07 dez. 1993.
513

durante o dia o governo havia anunciado que a empresária Cosette Alves134 substituiria José
Eduardo no MICT, mas, às 8 horas da noite o Porta-voz de Itamar, Francisco Baker, anunciou que a
empresária desistira do Ministério. Segundo a AE (20 dez. 1993)135, o Presidente aguardava apenas
a chegada de José Eduardo, que se encontrava no Exterior, para anunciar oficialmente o nome da
nova ministra. A empresária controlava o Mappin desde 1982 e, na época da indicação para o
Ministério, estava casada com o ex-ministro do Planejamento João Sayad.
1356
José Eduardo ocupou o MICT até o dia 23 de dezembro, quando então foi substituído
interinamente por Ailton Barcelos Fernandes, que ficou no cargo até 25 de janeiro de 1994, quando
assumiu o senador Élcio Álvares (PFL ES), que permaneceu no cargo até 1º de janeiro de 1995.
1357
Finalmente é importante observar que, conforme declarações de José Eduardo, o MICT
tinha um orçamento de aproximadamente US$ 100 milhões por ano, o que era relativamente pouco
se comparado com os US$ 9.244,3 milhões de ativos do Banco Bamerindus136.

7.2.2.2.6 OS CONFLITOS ENTRE JE E A ÁREA ECONÔMICA DO GOVERNO


ITAMAR.

1358
Para compreendermos melhor a trajetória política de JE à frente do MICT durante o
governo Itamar Franco, temos que considerar também o seu depoimento no Senado, na CPI dos
Bancos em 1999, quando ele descreveu com detalhes alguns episódios que teriam ocorrido durante
sua gestão, quando entrou em conflito com o Ministério da Fazenda e o Banco Central:
275
[...] o Presidente Itamar Franco me chamou um dia e disse que tinha visto as minhas posições
contra os juros altos e me perguntou como se poderiam baixar os juros, já que eu era banqueiro.
[...] Disse: Presidente, pode-se fazer assim. Sua Excelência chamou o Presidente do Banco do
Brasil, meu amigo Alcir Calliari e, na minha presença, questionou-o sobre o que eu estava
dizendo. O Presidente do Banco do Brasil confirmou o que eu disse. O Presidente Itamar
Franco perguntou se havia algum risco de corrida às cadernetas de poupança [...] se os juros
forem baixados, e o Presidente do Banco do Brasil [...] disse que não iria acontecer nada. O
Presidente chamou o então Ministro da Fazenda, Sr. Paulo Hadad, e disse: “José Eduardo, vá
com o Ministro e faça o que ele disser, tome as medidas que ele está apontando como
necessárias para baixar os juros”. Então, o Ministro da Fazenda convocou o Presidente do
Banco Central, Dr. Paulo Ximenes, que pediu que eu expusesse o que era preciso para reduzir
os juros [...] houve uma resistência brutal [...] não queria de maneira nenhuma, a ponto de no
final da reunião, eu dizer: fui encarregado pelo Presidente de dizer o que era preciso. Não vim
aqui para discutir; a discussão já aconteceu no Gabinete do Presidente, e Sua Excelência quer
que faça. De modo que se você entende que não deve ser feito vai dizer a ele. Não cabe dizer a
mim. Eu acho que pode fazer, que não vai acontecer absolutamente nada, e o Presidente quer
que faça. [...] Os juros baixaram de 28% para 23% ou 24%.
276
Passados dois meses, o Presidente me chamou novamente e me perguntou: “Dá para baixar
mais os juros?”. Dá, Presidente. “Para quanto?” Respondi; acho que dá para baixar para 17%
ou 18% que não vai acontecer nada. “Como é que faz?” Eu disse: a mesma coisa que fizemos
na vez passada. Não tem que mudar nada. [...] De novo, o Presidente chamou o Ministro da
Fazenda, que já era o Sr. Eliseu Resende. Discutimos de novo. Chamou o Alcir Calliari, que

134
Fonte: Reforma surpreende políticos e cria confusão. AE, Brasília, 20 dez. 1993.
135
Fonte: Cosette desiste de assumir ministério da Indústria e do Comércio. AE, São Paulo, 20 dez. 1993.
136
Fonte: Bamerindus: Annual Report 1993 – Banco Bamerindus do Brasil S.A.
514

concordou com o que eu estava dizendo e garantiu ao Presidente que não havia risco de corrida
à poupança. O Presidente, então, encarregou-me, de novo, de conversar com o Presidente do
Banco Central. [...] No dia seguinte, o Ministro Eliseu Resende me telefonou e disse:
“Conversei com o Paulo Ximenes. Ele foi para o Rio, porque tinha uma reunião lá. Você não
pode ir ao Rio para fazermos a reunião lá?” [...].
277
Fui para o Rio. [...] Estava lá reunida toda a Diretoria do Banco Central, o que já me causou
estranheza porque a reunião era com o Ministro da Fazendo e com o Presidente do Banco
Central. Por que toda a diretoria do Banco Central? Sentei-me. O Ministro me apresentou,
explicou por que estávamos ali, e eu disse: não tenho nada a acrescentar sobre o que foi feito na
vez passada. É só fazer a mesma coisa, e os juros vão cair cinco ou seis pontos; vão cair de
23%, 24% para 17%, 18%. Garanto que não vai ter o temor que o Banco Central demonstra.
[...] Tenho 40 anos de experiência no mercado e sei as reações, a não ser que surja algum
evento que perturbe, conheço e sei avaliar as reações do mercado a essas medidas.
278
[...] O Presidente do Banco Central, à época, quis me questionar. Ele estava bastante veemente
nas suas verberações e quis me colocar em conflito com toda a diretoria do Banco Central. De
novo eu disse: “Olha, não vim aqui para discutir, com todo o respeito às pessoas que estão
presentes; vim cumprindo uma determinação do Presidente, que quer que se faça isso. Se
vocês acreditam que não deve ser feito, vão lá e digam para ele. Ministro, com todo o respeito,
a minha mensagem está dada e vou embora, porque não ficarei batendo boca aqui com
diretoria do Banco Central, nem com ninguém; não é do meu estilo”. [...]. Nesse caso, retirei-
me. [...] Novamente, ninguém teve coragem de dizer ao Presidente Itamar que não poderia ser
feito, e por isso fizeram. As taxas de juros baixaram para 17%, 18%.
279
[...] Fui agredido verbalmente pelo Presidente do Banco Central [...] que me acusou de estar
defendendo isso, porque o Bamerindus se beneficiaria. Disse-lhe eu o seguinte: “Não sei. Não
acompanho as operações do Bamerindus. Mas o Brasil será beneficiado, com certeza, e, se o
for, o Bamerindus também será”. Ele respondeu: “Não. O Bamerindus comprou títulos em um
leilão ontem”. Eu disse: “Se o Bamerindus comprou títulos em um leilão ontem, faça outro
leilão amanhã que o Bamerindus os revenderá pelo mesmo preço que comprou”. (VIEIRA /
CPI DOS BANCOS, 1999, 23 jun. 1999, p. 16068-16070).

1359
Segundo José Eduardo, tais intervenções explicariam boa parte da rigidez do Bacen com o
Bamerindus durante a crise do banco em 1995-1997. Em razão de ele não ter especificado as datas
em que ocorreram os dois eventos, não foi possível identificar os seus efeitos na taxa de juros.
Também não encontramos outras referências que permitissem verificar detalhes do ocorrido, a não
ser indiretamente num discurso do senador Pedro Simon, de agosto de 1994, quando elogia JE
declarando que:
280
Tenho respeito pelas preocupações sociais de V. Exa, que é proprietário de um dos maiores
bancos deste país. Estive presente em reuniões do Governo onde (sic) V. Exa insistia, junto ao
Presidente da República e aos Ministros da Fazenda, em que (sic) os juros deveriam baixar, não
sendo necessário que permanecessem altos como estavam, fortalecendo a tese defendida pelo
Presidente. (SIMON, 1994, p. 4738).

1360
Para este o nosso trabalho, o importante é registrar que José Eduardo tinha perfil e
disposição para enfrentar embates políticos duros com vários setores econômicos, políticos e do
aparelho do Estado brasileiro. Sendo possível afirmar que, pelo menos durante o período 1991-
1994, ele integrou de fato a elite orgânica brasileira, tendo sido um dos seus mais importantes
personagens.
515

7.2.3 SUCESSÃO PRESIDENCIAL DE 1994

1361
Nesta parte analisamos a participação de José Eduardo no processo de sucessão do
Presidente Itamar Franco, em 1994, buscando identificar as ações na definição dos candidatos, na
campanha eleitoral e na composição do novo governo. A leitura deste período, realizada através da
grande imprensa paulista, permitiu identificar momentos em que a atuação de José Eduardo se
aproximava ou se afastava dos interesses dos grandes grupos políticos de São Paulo e da
candidatura Fernando Henrique Cardoso. Naquele momento tornava claro que um dos pontos mais
fracos da rede política Bamerindus era a baixa densidade das conexões com a grande imprensa
paulista e nacional.
1362
Logo no início do ano, o então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso (FHC),
fazia aparições públicas como candidato à sucessão de Itamar Franco, recebendo aplausos e
cumprimentos. FHC137 declarava que defendia a flexibilização dos monopólios estatais do petróleo
e telecomunicações e que pretendia acelerar os estudos sobre a privatização do setor elétrico ou
mesmo a possibilidade formar parcerias nessa área. Sua candidatura caminhava com o suporte do
plano econômico, cujo cronograma e principais medidas eram negociadas previamente para evitar
especulações e permitir que os agentes econômicos pudessem programar ajustes com antecedência,
o que colocava FHC numa posição estratégica para negociar as alianças necessárias para o seu
projeto político. Nessa época138, os bancos estavam promovendo ajustes estruturais para mudar o
quadro de dependência da receita inflacionária. Tais ajustes envolviam transformações nem sempre
possíveis no curto prazo e, grande parte deles dependia da reestruturação da dívida pública, o que
necessariamente passava pelo campo político institucional. As administrações direta e indireta dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios tinham o prazo legal até 4 de abril para a assinatura
dos contratos de renegociação de suas dívidas com a União nos termos da Lei nº 8.727 de 5 de
novembro de 1993, que estabelecia diretrizes para a consolidação e o reescalonamento, pela União,
da dívida interna das administrações, permitindo-lhes o pagamento em um prazo ajustado às suas
receitas. Na prática, o refinanciamento ou rolagem das suas dívidas significava a transferência dos
créditos das instituições financeiras federais para o Tesouro Nacional e a transferência dos débitos
das companhias e instituições financeiras estaduais para os tesouros estaduais. A dívida consolidada
era financiada139 à taxa de juros de 9% no exercício de 1994 e de 11% nos anos subseqüentes e, a
amortização era calculada sobre a receita líquida da administração. O não pagamento permitia ao
governo federal reter o valor devido do Fundo de Participação e, se fosse insuficiente, a União
poderia reter parte da receita própria da administração. É importante destacar que o limite de
rolagem da dívida de cada unidade dependia da análise e autorização do Bacen e da aprovação do
Senado. Com isto o Ministério da Fazenda passou a ter mais influência sobre os governos estaduais

137
Fonte: FRANCO, C. FHC passeia em Angra e adia reunião com Itamar. AE, Angra dos Reis, 03 jan. 1994.
138
Fonte: HORITA, N. Bancos se preparam para a estabilidade. FSP, 9 jan. 1994, p. 2-3.
139
Fonte: São Paulo refinancia dívida com a União. FSP, 26 mar. 1994, p. 1-11.
516

e municipais, reforçando assim o poder estratégico do grupo FHC sobre os governadores dos
Estados e prefeitos dos principais colégios eleitorais.
1363
Mas a pretensão de FHC enfrentava problemas dentro do PSDB e no PMDB, e uma aliança
PMDB / PSDB em São Paulo, por exemplo, era muito difícil por causa dos conflitos entre tucanos e
quercistas. Mario Covas Júnior tinha o apoio do líder do governo no Senado, Pedro Jorge Simon
(PMDB RS), que defendia uma candidatura unificada articulada com PMDB, PSDB, PDT, PP e
PTB. Na proposta de Pedro Simon, cada partido apresentaria dois candidatos, tendo Mário Covas e
FHC pelo PSDB, José Eduardo e Hélio Carvalho Garcia pelo PTB, Orestes Quércia e o Antônio
Britto Filho pelo PMDB, Brizola e Lerner pelo PDT, Álvaro Dias e Luiz Antônio Medeiros140 pelo
PP. José Eduardo teria aderido ao esforço de Pedro Simon admitindo que desistiria da sua
candidatura em favor de uma chapa de consenso declarando que: “Quando se busca a coligação o
nome fica em aberto” (FSP, 24 jan. 1994)141, mas a desistência estava condicionada ao lançamento
de um candidato único, sendo assim, ainda estava concorrendo.
1364
Numa entrevista a Traumann (12 jan. 1994, p. 1-4)142, José Eduardo falou sobre seus planos
e preparativos para sua candidatura, quando teria afirmado que “[...] terá os 33 mil funcionários das
1.300 agências do banco como cabos eleitorais de sua campanha”. Segundo ele,
281
Hoje eu estou trabalhando para viabilizar a minha candidatura a Presidente da República. [...] A
minha estratégia é ser eleito presidente nacional do PTB em março, conversar com lideranças
políticas e viabilizar a minha candidatura para abril. [...] Estou conversando com o ex-
presidente José Sarney, com os governadores Joaquim Roriz143 (DF), Antônio Carlos
Magalhães144 (BA). Vou conversar com o Fleury145. Se eu sair candidato, o Álvaro Dias (PP)
não vai se lançar a presidente. Eu apoiei o Jaime Lerner quando ele foi candidato, agora é a vez
dele devolver. (TRAUMANN, 12 jan. 1994, p. 1-4).

1365
Com relação às chances da candidatura FHC, José Eduardo entendia que:
282
[...] Com estes índices inflacionários de janeiro, ele se distancia muito de uma eventual
candidatura. Ele tem muito pouco tempo (para deixar o governo e sair candidato) e, em tendo
sucesso, não poderia deixar o governo por uma candidatura duvidosa. (TRAUMANN, 12 jan.
1994, p. 1-4).

1366
Reconhecendo que os candidatos preferidos do presidente Itamar eram Antônio Britto e
Fernando Henrique, na sua avaliação Lula já estava no segundo turno e, no primeiro turno seus
adversários seriam “Brizola, Maluf, Quércia, o Tasso146 ou o Ciro147”. Para ele, o Bamerindus seria
um dos grandes trunfos para a sua eleição, pois “[...] tem a melhor imagem (entre os bancos). Vou
usar o Bamerindus como exemplo, temos agências [...] no Brasil inteiro. Quem quiser saber quem é

140
Medeiros foi presidente da Força Sindical em 1991. Como vimos no capítulo anterior, a Força Sindical teve um papel
importante na eleição de Maurício Schulman para a Presidência da CSN em 1993.
141
Fonte: Costura complicada. Choque de egos. Um já topou. FSP, 24 jan. 1994, Painel, p. 1-4.
142
Fonte: TRAUMANN, T. Andrade Vieira anuncia sua candidatura. FSP, Curitiba, 12 jan. 1994, p. 1-4.
143
Joaquim Domingos Roriz. (PP-DF)
144
Antônio Carlos Peixoto de Magalhães (ACM) (PFL-BA).
145
Luis Antônio Fleury Filho (PMDB-SP)
146
Tasso Ribeiro Jereissati (PSDB-CE).
147
Ciro Ferreira Gomes (PSDB-CE)
517

José Eduardo de Andrade Vieira pergunte a qualquer funcionário do Bamerindus. Com certeza, eles
serão meus cabos-eleitorais embora eu ache que os funcionários não devem se envolver em política
partidária”. Apesar de reconhecer não ter definido ainda uma plataforma de governo, JE prometia
que, se eleito “[...] vou acabar com a inflação. Eu não tenho um tiro só, tenho uma metralhadora
com munição para mudar o país em um ano [...]’. Também prometia retomar o desenvolvimento
econômico e cortar gastos públicos, pois pretendia reduzir o número de ministérios ‘pela metade ou
até menos”. (TRAUMANN, 12 jan. 1994, p. 1-4).
1367
Entre as repercussões causadas por suas declarações, no dia seguinte a FSP (13 jan. 1994)148
publicou que sindicalistas em Curitiba não teriam gostado da afirmação que bancários seriam cabos
eleitorais do banqueiro e “já começam a buscar munição para o contra-ataque”; no dia 15 a FSP
publicou uma carta de José Elias Alex Neto, de Foz do Iguaçu, que dizia:
283
Fiquei impressionado com a falta de tato e com a arrogância do Senador José Eduardo de
Andrade Vieira em depoimento prestado à Folha (12/01). O que mais choca em sua entrevista é
sua afirmação de que cada funcionário do BAMERINDUS será um cabo eleitoral seu, apesar
de não gostar que seus funcionários tenham participação político-partidária. Essa é a
democracia brasileira, que permite que um banqueiro compre quem ele quiser para ser
Presidente da República. Lamentável! (FSP, 15 jan. 1994, p. 1-3)149.

1368
No final de janeiro, os preparativos de José Eduardo para sua campanha incluíram
mudanças em sua imagem pessoal150, que repercutiram no Congresso e mereceram notas na
imprensa151. Na época, Pascowitch (26 jan. 1994, p. 5-2)152 observou que José Eduardo havia saído
na frente na corrida presidencial em pelo menos um quesito: “Já tem caixa de campanha: Ele
próprio – e com fundos próprios”.
1369
No Paraná, Martinez153 filiou-se ao PTB para se candidatar à Câmara, trazendo consigo o
apoio da rede de televisão CNT e, no PDT, a definição dos candidatos do partido seria um teste
para o poder de Brizola, pois Jaime Lerner estava sendo “pressionado pelos correligionários mais
próximos a disputar com Brizola a convenção que decidirá o nome do PDT à sucessão do
presidente Itamar Franco” (OTÁVIO, 08 jan. 1994)154. Brizola teria afirmado que não criaria
obstáculos, mas preferia ver Lerner disputando o governo do Paraná. Mais tarde, Lerner anunciou
que descartava a possibilidade de disputar com o Brizola a indicação de candidato do partido à
Presidência, e que decidira disputar o governo do Estado por uma coligação de oito partidos;
Também declarou que continuava “[...] defendendo uma aliança dos partidos social-democratas (na
eleição presidencial). Se houver o lançamento de vários candidatos social-democratas e liberais,
existe a possibilidade de o PT ganhar as eleições no primeiro turno. Ou então, uma polarização com

148
Fonte: Troco. FSP, 13 jan. 1994, Painel, 1-4.
149
Fonte: Vieira candidato. FSP, 15 jan. 1994, Painel do Leitor, p. 1-3.
150
Fonte: A cor da esperança. FSP, [São Paulo], 19 jan. 1994, p. 1-4.
151
Fonte: Novo visual. FSP, 20 jan. 1994, p. 1-8.
152
Fonte: PASCOWITCH, J. Silvio Santos. FSP, 26 jan. 1994, p. 5-2.
153
Fonte: No palanque. FSP, 12 jan. 1994, Painel, p. 1-4.
154
Fonte: OTAVIO, C. Rio tem apenas um presidenciável: Brizola. AE, Rio de Janeiro, 08 jan. 1994.
518

um anti-Lula igual a 1989”. (FSP, 14 jan. 1994, p. 1-11) 155.


1370
Lerner tentava construir uma aliança de oposição ao governador Requião, e que pretendia
envolver o PTB, PDT, PSDB, PPR, PFL, PPS, PSB e PV. Na ocasião não quis comentar qual seria
a posição da aliança em relação às pretensões de JE à Presidência, declarando que “Muita coisa
pode acontecer até abril [...]”, mas deixou claro que JE não teria apoio do PDT nem de outros
grandes partidos. No Paraná, faltava apenas a definição de Álvaro Dias (PP)156, que pretendia
esperar até abril para ver se conseguia viabilizar-se como candidato à Presidência da República,
caso contrário pretendia candidata-se ao governo do Estado com o apoio de Requião que, por sua
vez, tinha planos de ser o candidato à Presidência pelo PMDB.
1371
Nesta época, as principais lideranças políticas brasileiras movimentavam-se para a criação
de novos partidos157. Enquanto isto, após dois meses de negociações sem sucesso com o Congresso
para convencer os partidos políticos a aprovarem mais uma etapa do Plano FHC, Fernando
Henrique ameaçou renunciar: “Se eu não conseguir convencê-los, vocês terão de procurar o
entendimento com outro ministro da Fazenda” (AE. Aedata, 02 fev. 1994)158. A implantação da
URV dependia da aprovação do Orçamento sem déficit e, para tanto, era necessário aprovar o
Fundo Social de Emergência (FSE). Se a votação na revisão constitucional atrasasse, o governo
corria o risco de não poder colocar em prática o novo indexador antes de abril. Um dos grandes
entraves159 era a resistência dos governadores em abrirem mão de parte da arrecadação para
constituir o fundo. Na ocasião, faltavam dois meses para terminar o prazo que o Ministro tinha para
decidir se deixava o cargo para disputar as eleições; FHC reclamou com Itamar Franco de pressões
que estaria sofrendo por conta do plano, dizendo que as dificuldades no Congresso não eram só por
causa das questões eleitorais, “mas também porque não tem cedido a 'pressões' dos parlamentares
para votarem a favor do plano em troca do ‘fisiologismo’ e porque está sofrendo ‘traições’ dentro
do governo”. (FARIA & MOSSRI, 6 fev. 1994, p. 1-9)160. Segundo ele, entre os traidores estariam
ministros e ex-ministros civis e militares, deputados e até José Eduardo, que teria trabalhado em
plenário para que a taxação sobre o lucro operacional dos bancos só entrasse em vigor após lei
complementar. O desabafo de FHC teve grande repercussão, e Maurício Schulman, então
presidente do Conselho de Administração do Bamerindus declarou que: “Depois do desabafo do
Ministro na semana passada, ganhei tranqüilidade com o discurso. Ficou claro que ele não fará
jamais medidas duras e prova que é consistente em todas as horas naquilo que diz”. (FSP, 8 fev.
1994)161.

155
Fonte: Lerner desiste da Presidência e vai disputar governo do Paraná. FSP, Curitiba, 14 jan. 1994, p. 1-11.
156
Fonte: No Paraná, articulações já estão avançadas. FSP, 16 jan. 1994, p. 1-14.
157
Fonte: PACOLA, J. F. Políticos montam novos partidos. AE, OESP, 31 jan. 1993.
158
Fonte: Cardoso ameaça pedir demissão. AE, 02 fev. 1994.
159
Fonte: Plano FHC 2 tem semana decisiva no Congresso. AE, Brasília, 16-01-1994.
160
Fonte: FARIA, T. & MOSSRI, S. FHC se queixa de “traição” no governo. FSP, Brasília, 6 fev. 1994, p. 1-9.
161
Fonte: Repercussão. FSP, 8 fev. 1994, p. 1-8.
519

1372
Logo em seguida, Henrique Hargreaves162, afastado do governo pelas investigações da CPI
do Orçamento, foi reintegrado à equipe de Itamar no comando do Gabinete Civil da Presidência.
Voltando a atuar como negociador do Plano FHC, Hargreaves foi recepcionado por todo o
Ministério e no Congresso foi recebido com abraços; suas declarações sugeriam que seu
afastamento pode ter sido um dos problemas que levaram o Governo a sofrer derrotas no Congresso
e, para demonstrar sua confiança na aprovação do FSE, ele declarou que o “Congresso nunca faltou
com o país quando necessário” e justificou a derrota do aumento de impostos para pessoa jurídica
dizendo que “nada acontece por acaso”.
1373
Segundo Clóvis Rossi163, a batalha dos possíveis candidatos às eleições também era travada
nas articulações para mudar, na Revisão Constitucional, o prazo de desincompatibilização dos
ocupantes de cargos do Executivo. A pretensão de alguns era reduzir o prazo de seis meses para
três, o que beneficiaria entre outros, Maluf, ACM, FHC e Antônio Britto, mas não interessava a
Lula, Quércia e José Eduardo. Finalmente o Congresso revisor164 aprovou, no dia 23 de fevereiro, o
texto básico do FSE e, em troca, o Governo mobilizou sua bancada e aprovou a prorrogação da
Revisão Constitucional para o dia 31 de maio.
1374
Naquela época, lideranças do PSDB165 achavam que a aliança com melhores chances para a
chapa presidencial era com o PTB, tendo Hélio Garcia como vice. O então governador de Minas
Gerais era oriundo do PMDB e, desde fevereiro de 1992, estava sem partido já que o TSE indeferiu
o pedido de registro definitivo da agremiação que havia fundado em 1990 – Partido das Reformas
Sociais (PRS). Em abril de 1993, Milton Reis, então presidente do PTB em Minas, ofereceu-lhe a
legenda para disputar a presidência da República em 1994. Ao entrar no PTB, em janeiro de 1994,
líderes petebistas cogitaram de lançá-lo candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por JE.
Como o plano de Hélio Garcia era ser o vice da chapa FHC, José Eduardo tornou-se o seu maior
obstáculo, porque controlava 95% dos delegados do PTB166, e preferiu aliar-se com PP e PL no
primeiro turno e depois com o PPR de Maluf e Jayme Canet e o PFL de Antônio Carlos Magalhães,
no segundo turno.
1375
Segundo FSP (5 fev. 1994, p. 1-4)167, Álvaro Dias estava esperando o fim do Carnaval para
também conversar com Maluf e ACM sobre uma eventual coligação unindo o seu PP ao PTB, PPR,
PFL e PL. Na corrida presidencial José Eduardo e Álvaro Dias tinham um acordo que não sairiam
candidatos ao mesmo tempo para não dividir os votos do eleitorado do Paraná. Na época, José
Eduardo declarou que aprovava a elaboração de um programa de governo antes da escolha do
candidato da coligação entre os quatro partidos. Tanto JE como Dias queriam que o candidato da

162
Fonte: Hargreaves é reintegrado com festa e se envolve nas negociações do plano. FSP, Brasília, 9 Fev. 1994, p. 1-6.
163
Fonte: Candidatos tentam ficar mais tempo em cargos, 11 fev. 1994, p. 1-1.
164
Fonte: FSE foi aprovado. FSP, 27 fev. 1994, p. 1-4.
165
Fonte: Peso mineiro. Dobrando à direita. Na mesma trilha. FSP, 3 fev. 1994, Painel, p. 1-4.
166
Fonte: Porteira fechada. Tempo ao tempo. Ponto de vista. Fora do mundo. FSP, 13 mar. 1994, p. 1-4.
167
Fonte: PP e PTB estudam aliança. FSP, Curitiba, 5 fev. 1994, p. 1-4.
520

possível coligação só fosse definido no final de março; até lá, eles esperavam ter condições de
fortalecer as suas candidaturas e não queriam negociar alianças sem que tivessem tempo para
aparecer nas pesquisas.
1376
Numa entrevista à Lucena (6 fev. 1994, p. 1-16)168, José Eduardo falou sobre sua
candidatura, possíveis alianças e perspectivas de campanha; na ocasião admitiu que ainda não tinha
um projeto de governo, mas que conhecia
284
[...] os problemas sociais, o desemprego, o problema da saúde, da educação. São problemas que
nestes 15 anos não vêm sendo tratados com a devida atenção por parte das autoridades. Tem a
questão da infra-estrutura básica, que está abandonada há 10 anos, estradas, da agricultura, da
armazenagem. Eu acho que a política industrial como um todo cabe ao empresariado definir,
não ao governo. Obviamente o governo tem que dar um suporte. Nós vamos resolver o
problema do desemprego gerando emprego, através de uma política econômica e industrial. A
questão agrária é problema por sua baixa produtividade na maioria das regiões e pelo êxodo
rural. Porque nós não tivemos nenhuma política que fixasse o homem no campo. [...] É o caso
de uma reforma agrária. Não no sentido de tomar a terra e desapropriar. Tem que ser de uma
maneira fiscal: se não eliminar o uso da terra como reserva de valor, pelo menos tirar esse
aspecto especulativo que existe hoje, tanto na área rural como na urbana. Acho que os impostos
sobre a terra improdutiva são muito baixos, são mal aplicados. É preciso também mudar o
Estatuto da Criança, que contribui para piorar a situação do menor de rua. (LUCENA, 6 fev.
1994, p. 1-16).

1377
Com relação à dívida externa, JE declarou que era um problema de desconfiança dos
investidores no governo e, em alguns casos, de especulação:
285
[...] eu, com certeza, daria [solução] porque eu conheço o mercado [ele precisa de] [...]
tranqüilidade, dando perspectiva do que vai acontecer no futuro [...] O que acontece é que há
insegurança em relação ao Plano, à URV, ao aumento da carga tributária. Como eu sou do
ramo financeiro, eu conheço, acho que teria condições de resolver isso rapidamente. [...] De
uma maneira boa, que ninguém perca. Porque o que gera desconfiança são as peças que o
governo prega no sistema de vez em quando. Não é só no sistema financeiro. Os trabalhadores
vivem sofrendo calote, seja no salário, no fundo de garantia, nas suas poupanças. Isso gera esse
clima de desconfiança. E a primeira coisa é acabar com isso, é cumprir a lei. (LUCENA, 6 fev.
1994, p. 1-16).

1378
Questionado se o fato de ser banqueiro não dificultava a sua candidatura, JE respondeu:
286
[...] Eu não sou banqueiro. Eu sou empresário, fazendeiro, pecuarista, industrial. Se isso fosse
problema eu não seria senador. Fui senador com o dobro de votos do segundo colocado no meu
Estado. Quem quiser saber quem eu sou, pergunte a qualquer funcionário do BAMERINDUS.
Tem no Brasil inteiro. Eles podem ser avalistas da minha conduta. (LUCENA, 6 fev. 1994, p.
1-16).

1379
Segundo ele, os banqueiros não têm problemas com a opinião pública porque
287
[...] a maioria do público não lê jornal. [...] Eles não têm informação correta e os que têm
sabem que quem fixa a política de juros no Brasil é o Banco Central. Não são os banqueiros
[quem] [...] ganha com a inflação é o governo. [...] São sócios da inflação todos aqueles que
têm uma poupança. [...] ganham mais com os juros do que trabalhando. [...] Se eu vender todo
o meu patrimônio e puser nos bancos, eu vou ganhar mais do que trabalhando. [Na sua opinião]
[...] os especuladores [...] têm que ser punidos [...].(LUCENA, 6 fev. 1994, p. 1-16).

1380
Quanto aos problemas que os bancos enfrentariam com a queda da inflação, JE entendia

168
Fonte: LUCENA, E. de. Vieira procura alianças anti-Lula. FSP, São Paulo, 6 fev. 1994, p. 1-16.
521

que inicialmente haveria dificuldades, mas


288
[...] se a inflação acabar e as taxas de juros caírem, os empresários vão voltar a investir nas suas
empresas para aumentar a produção [...]: gerar emprego para resolver o problema do
trabalhador [o que] [...] há é uma intervenção brutal no sistema bancário, que cria distorções
muito grandes na economia. [...] o pessoal que dirige o Brasil não entende nada de economia
nem de banco; os economistas não entendem nada, pois eles não conhecem o mercado. Eles
conhecem a teoria. (LUCENA, 6 fev. 1994, p. 1-16).

1381
Definindo-se como “liberal”, achava que o governo não deveria intervir na economia, a
não ser em casos de desvios “que possam acarretar perdas para a população”; a ação do governo
deveria se limitar a “ser um avalista do sistema [...] O governo tem que ser um agente de inibição à
especulação e de estímulo à produção”; quanto à composição do seu governo, José Eduardo
declarou que:
289
[...] nomearia um ministério de, no máximo, 12 pessoas; os presidentes das oito principais
estatais, faria uma reunião com esse pessoal, definindo a política. E daria um aviso: quem
desviar está na rua. [...] Mas eu vou dar oportunidade de discussão. Eu tenho um projeto e vou
discutir o projeto. Quem aceitar o projeto e depois desviar será demitido sumariamente. [...] E
eu assumo esse compromisso e arrumo o Brasil em 12 meses. Se eu não arrumar, eu saio.
(LUCENA, 6 fev. 1994, p. 1-16).

1382
Com relação ao problema da inflação, ele avaliava que o déficit público não era sua
principal causa, pois considerava o déficit pequeno, ele pretendia atacar o que considerava as três
causas fundamentais: “[...] desconfiança dos planos e das mudanças na política econômica; a
excessiva carga tributária, e a questão da carestia, da entressafra, porque não há uma política de
abastecimento”. Segundo José Eduardo, assim que ganhasse a eleição, os juros cairiam, porque
haveria confianças “[...] a classe empresarial vai dizer: esse homem conhece o sistema”. Segundo
ele, “[...] vários segmentos da classe empresarial estão comigo. Assim como dos trabalhadores”.
Definindo-se como um “outsider” em relação ao demais candidatos, declarou: “[...] eu não sou um
político. Sou um empresário. Eu estou na política para dar uma contribuição”. Neste aspecto
considerava-se diferente de Collor, pois ele “correu por fora falando mal da classe política. [...]. Eu
nunca falei mal de políticos. Esse governo, por exemplo, é sério. Eu participei dele, conheço as
pessoas”.
1383
Segundo José Eduardo, os problemas enfrentados pelo governo ocorriam porque seus
integrantes...
290
[...] querem realizar mudanças, mas não sabem, não têm a experiência necessária. Os
economistas que estão lá nunca trabalharam no mercado. O próprio ministro não é do ramo.
Mas ninguém pode questionar o esforço que eles estão fazendo para acertar. O que o Brasil
precisa é de um gerente certo. E eu seria esse gerente, porque tenho a experiência da área da
agricultura, da indústria, da financeira e da trabalhista. Porque eu sou um dos grandes
empregadores do país. Eu vou governar com os políticos, fazer alianças com eles. Eu vou
conseguir do Congresso tudo o que eu quiser porque eu conheço a Casa. Assim como eu
conheço acadêmicos e empresários e políticos para formar uma ótima equipe para dirigir o
Brasil. (LUCENA, 6 fev. 1994, p. 1-16, grifo nosso).

1384
Para tanto José Eduardo pretendia formar alianças com outros partidos, mas dizia que via
apenas duas possibilidades, uma com o PTB, PSDB, PDT e parte do PMDB já no primeiro turno, e
522

o nome não estaria ainda definido, podendo ser Tasso Jereissati, FHC, ele mesmo, Simon, ou
Britto, mas a escolha ainda estava aberta. Reconhecia que pelo fato de a eleição não ser apenas para
a Presidência, havia grandes dificuldades para formar as alianças, pois as disputas nos Estados
muitas vezes travavam os acordos nacionais. Também havia uma outra aliança possível, integrando
o PTB, PPR, PFL e PP. Ele entedia que naquele momento apenas duas candidaturas já estavam
definidas: Lula e Brizola, e nem mesmo a de FHC já estava consumada: “Ele está na minha
posição: é uma alternativa. Eu me coloco como uma alternativa dentro de uma aliança [...] se o
ministro Fernando Henrique conseguir melhorar a situação da inflação, ele cresce.” (LUCENA, 6
fev. 1994, p. 1-16). Quanto ao seu projeto, JE declarou que até “março, abril, temos muito tempo.
De repente a minha pregação pode cair no agrado do eleitor e eu surpreender nas pesquisas. Eu não
descarto nenhuma hipótese, mas eu não sou um aventureiro”. Considerava que o fracasso eleitoral
de outros empresários no passado, como por exemplo, Antonio Ermírio, aconteceram por que eles
não tinham experiência política. Finalmente, questionado sobre a privatização da Petrobrás,
respondeu que:
291
[...] Como um liberal, sou a favor da privatização de tudo. Obviamente que, num país como o
Brasil, a Petrobrás com sua história, o Banco do Brasil, a própria Eletrobrás, não se conseguiria
fazer isso tudo em dois ou três anos. Nem eu acho que fosse o caso. Dado o tamanho e as
implicações que a estatização tem, teria que ser feito um programa de médio e longo prazos.
(LUCENA, 6 fev. 1994, p. 1-16).

1385
Mais tarde, ao ser questionado por Dimenstein (11 fev. 1994)169, “se era mesmo candidato a
Presidente ou estava, como é normal, buscando espaço para negociar”, JE respondeu: “Sou
candidato de verdade. Não especulo com votos. Só com dinheiro” 170.
1386
Em 24 de fevereiro, JE publicava um artigo na FSP171 no qual diagnosticava que o principal
problema do país era o “cenário de fragmentação de interesses econômicos e políticos, refletido
num espelho institucional embaçado e quebradiço”. Para ele a solução era construir uma “versão
brasileira [do] Pacto de Moncloa”. Considerava ser “possível encontrar soluções isoladas para
problemas específicos, com a assinatura de pactos setoriais que, somados, poderão levar à
superação da crise e a uma melhor sintonia entre o Brasil de hoje e o mundo contemporâneo”. De
acordo com o seu diagnóstico, era um mundo “regido pela competição aberta entre os mercados,
desde a queda do Muro de Berlim, a dissolução do império soviético e a regionalização do
172
comércio internacional” . Na sua opinião, negociações setoriais bem sucedidas aconteceram
durante sua gestão à frente do MICT, como por exemplo, o acordo da câmara setorial da indústria
automotiva, “cujos efeitos benéficos no crescimento da economia alcançado em 1993 são públicos
e notórios”. Também a criação da Associação dos Países Produtores de Café (APPC) e o plano de

169
Fonte: DIMENSTEIN, G. PT dá bom exemplo. FSP, Brasília, 11 fev. 1994, p. 1-1.
170
Grifo nosso.
171
Fonte: VIEIRA, J. E. de A. Mutirão de parcerias. FSP, [São Paulo], 24 fev. 1994, p. 1-3.
172
É importante observar que em 1994 Giovanni Arrighi publicou o livro O longo século XX, que somente será traduzido e
publicado no Brasil em 1996.
523

retenção de estoques conseguiram atingir “o alvo, até então considerado impossível, de elevar e
manter no alto as cotações do café no mercado internacional pela primeira vez em cinco anos”.
Considerava ele que os êxitos dessas duas iniciativas, autorizava-o a “propor um grande mutirão
nacional, com a realização de pequenos pactos setoriais, trabalhados no dia-a-dia, com paciência e
determinação [...] para arrastar o Brasil para fora do atoleiro da crise atual”, (VIEIRA, 1994, p. 1-
3). Numa demonstração de pragmatismo, JE também disse que o acordo envolveria todas as forças
políticas organizadas, inclusive o...
292
[...] PT, tido por muitos grupos políticos como o bicho-papão da eleição [...] tem de ser
convocado a participar. [...] A quem julga impossível a parceria (a palavra é esta) com o partido
de Lula há, pelo menos, um fato histórico capaz de convencer do contrário, mostrando a
competência e o discernimento dos petistas na negociação dos pactos setoriais. O presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Vicente Paulo da Silva, foi um dos mais esforçados e
eficientes parceiros na negociação bem-sucedida do Pacto de Brasília, ou seja, o acordo da
Câmara Setorial da Indústria Automotiva, há um ano. (VIEIRA, 24 fev. 1994, p. 1-3).

1387
Neste mesmo dia, a ACP e a Força Sindical realizaram em Curitiba um protesto contra o
excesso de impostos, juros altos e corrupção. Maria Christina de Andrade Vieira, então presidente
da ACP, na ocasião declarou que: “A sociedade precisa reagir contra o atual estado de coisas. A
intenção é chamar atenção das autoridades”, (FSP, 23 fev. 1994, p. 1-8)173. O movimento recebeu o
apoio do presidente da Federação das Associações Comerciais, Guilherme Afif Domingos, e do
presidente da Força Sindical no Paraná, Feliciano Moreira; também contava com o apoio de 80174
entidades diferentes e dos presidentes das federações do Rio de Janeiro, Santa Catarina e Minas
Gerais. A manifestação reuniu, no palanque montado no centro de Curitiba, cerca de 400
empresários e trabalhadores175 – segundo Maria Cristina – ou 200 pessoas – segundo a Polícia
Militar. Também foi inaugurado um placar que comparava com a taxa brasileira os índices de
inflação de oito países. As lojas do centro de Curitiba amanheceram com tarjas pretas nas vitrines e
os empresários vestiram roupas ou portavam tarja da mesma cor no braço; mil camisetas e 80 mil
panfletos foram distribuídos. O movimento elaborou um documento que pretendia enviar ao
presidente Itamar Franco e aos Presidentes da Câmara e do Senado, bem como um manifesto que,
segundo Maria Christina, já havia recolhido mais de 10 mil assinaturas e pretendia chegar a um
milhão.
1388
Os últimos dias de fevereiro foram marcados pelas expectativas quanto aos efeitos da
implantação da URV e parte da equipe de FHC trabalhava para o Congresso não votar a medida
provisória da URV, pois assim, com uma ou duas reedições, ela chegaria intocada ao momento de
implantação da nova moeda. Houve também muitos boatos que movimentaram os principais
“lobbies” empresariais e lideranças no Congresso contra um eventual congelamento dos preços.
Para aclamar os ânimos, FHC garantia que “[...] Não estamos às vésperas de um Plano Cruzado ou

173
Fonte: Empresários e Força Sindical fazem protesto contra excesso de impostos. FSP, Curitiba, 23 fev. 1994, p. 1-8.
174
Fonte: Protesto contra impostos reúne 80 entidades. FSP, 24 fev. 1994, 1-8.
175
Fonte: SANTANNA, M. Movimento faz protesto contra inflação. FSP, Curitiba, 25 fev. 1994, p. 1-9.
524

de um Plano Collor. Tudo que for aumentado de preços usando a URV como pretexto é pura
especulação”. (FSP, 26 fev. 1994, Painel, p. 1-4)176.
1389
No dia 28 de fevereiro entrou em vigor a URV, e o PTB anunciava sua adesão à proposta de
aliança eleitoral PFL / PSDB, com a declaração de José Eduardo informando sua disposição de
abrir mão da candidatura em favor da aliança. “Eu me engajo nessa chapa. E é claro que não se
pode entrar em negociação com a candidatura fechada”. Logo em seguida, Álvaro Dias também
declarou estar “disposto” a uma coalizão eleitoral com o PFL e o PSDB mas todos os dois estavam
descrentes quanto à possibilidade de Fernando Henrique encabeçar a chapa. Segundo JE era “[...]
muito complicado ele [FHC] deixar o governo em abril, e acho que não vai ser aprovada pelo
Congresso revisor a redução dos prazos de desincompatibilização”; e Álvaro Dias entendia que
“[...] em abril também não se terá certeza sobre os resultados do plano econômico, o que tornaria
um risco a escolha de FHC”, (FARIA, 1º mar. 1994, p. 1-4)177. Segundo nota178 publicada na FSP,
“[...] a disposição de Andrade Vieira (PTB-PR) de abandonar a candidatura à Presidência e apoiar a
chapa FHC-PFL, caso esta se viabilize, foi festejada pelos tucanos. ‘Isto seria o fim de nossos
problemas de caixa’, disse um deles”. (FSP, 1º mar. 1994, Painel, p. 1-4) Dias mais tarde, a FSP (15
mar. 1994, p. 1-5)179 observou que José Eduardo estava usando como slogan de campanha a frase
“Gente que Faz” da série publicitária do Banco Bamerindus veiculada algum tempo antes no
horário nobre da Rede Globo. A resposta do Bamerindus veio rápida em nota180 endereçada ao
jornal, pela qual Sérgio Reis declarava:
293
Sobre notícia veiculada dia 15.03, esclarecemos que o senador José Eduardo de Andrade Vieira
não foi e não será personagem do programa “Gente que Faz”, embora, por sua atuação e sua
história, seja conhecido nacionalmente como empresário realizador. O programa está a serviço
do povo brasileiro, da gente que faz. Desde o seu início, jamais esteve e jamais estará
envolvido em nenhum outro processo de comunicação. (FSP, 17 mar. 1994, Painel, p. 1-3).

1390
“Gente que Faz” era uma derivação da campanha “Bicho do Paraná”, só que voltado
para o público nacional. Iniciado em 1990, para a produção da campanha o Bamerindus contratou o
jornalista Sérgio Motta Mello que, na época, estava à frente da sua produtora TV1. Além dos
programas de TV, fitas com a série foram distribuídas como material didático para escolas de
administração de empresas em todo o Brasil, e na época o Bamerindus estava engajado no Instituto
Liberal do Paraná. A série buscava explorar o lado empreendedor do empresário; mostrar suas
dificuldades e a forma “criativa” com que as superou e, o objetivo declarado do Bamerindus era
promover o que eles consideravam como “fazedores do Brasil” anônimos. Segundo a Conrerp
(2002)181, os programas eram uma campanha semanal em defesa da “livre iniciativa”. A partir de

176
Fonte: Versão original. Forma definitiva. Revoada aflita. Sonhos de verão. Nuvens no horizonte. Promessa de segurança.
Foro escolhido. FSP, 26 fev. 1994, Painel, p. 1-4.
177
Fonte: FARIA, T. PTB e PP aderem à aliança PFL-PSDB. FSP, Brasília, 1º mar. 1994, p. 1-4.
178
Fonte: Reforço providencial. FSP, 1º mar. 1994, Painel, p. 1-4.
179
Fonte: Andrade Vieira critica propostas de Betinho contra o desemprego. FSP, Rio de Janeiro, 15 mar. 1994, p. 1-5.
180
Fonte: Gente que faz. FSP, São Paulo, 17 mar. 1994, Painel, p. 1-3.
181
Fonte: CONRERP – SP / PR. Conselho Regional de Relações Públicas 2ª Região. Prêmio Opinião Pública. Organizações
–––––––––––– continua na próxima página ––––––––––––
525

1993, a série passou a ser veiculada na Rede Globo aos sábados à noite e, na época, o
Bamerindus182 pretendia investir 30% de sua verba institucional de publicidade na série.
1391
A importância dos bancos para a imprensa pode ser Tabela 7-4: Investimento
avaliada na Tabela 7-4, na qual é possível verificar que eles publicitário por grupo em 1993.
(em US$ milhões)
ocupavam um lugar privilegiado entre os grandes orçamentos. No Instituição Valor
Bradesco 45,2
cômputo geral, o Bamerindus ocupava a 19º posição entre os Itaú 39,1
Banespa 31,3
maiores anunciante do país. Nesta mesma época, Veja (23 mar. Bamerindus 26,0
1994)184 informava que José Eduardo “[...] Seguindo um hábito Mappin 23,8
Fiat 22,0
comum entre políticos brasileiros [...]” estava investindo US$ 3,3 Governo Federal 17,7
Caixa Econômica 17,0
milhões na compra de ações de empresas da área das Federal
Ministério da Educação 14,3
comunicações; já havia adquirido 22,5% do jornal Folha de Nossa Caixa Nosso 13,2
Londrina, 23% da Televisão de Londrina, 22,5% da Rádio FM Banco
Banco do Brasil 7,9
Folha de Londrina e 22,5% da Rádio Cruzeiro do Sul. Fonte: Tabela elaborada pelo autor
com base nos dados extraídos de
1392
Em março, as lideranças do PFL185 já entendiam como Nielsen Serviços de Mídia, apud Néri
(16 mar. 1994, p. 1-10)183.
certa a aliança eleitoral com o PSDB e que caberia ao partido a
indicação do vice na chapa FHC, e o nome mais cotado era o do líder do PFL no Senado, Marco
Maciel. Bornhausen, por exemplo, comunicou às cúpulas do PPR, PP e PTB que, após consultar as
bases do partido nos Estados, o PFL concluiu que deveria fechar a aliança com o PSDB, caso ACM
não fosse o candidato.
1393
No dia 20 de março, José Eduardo foi eleito presidente nacional do PTB186 e, com discurso
e postura de candidato à presidência, lançou a proposta de realizar a “Revolução Trabalhista”, bem
como disse que pretendia apresentar o seu programa de governo em uma semana. Em ritmo de
campanha eleitoral, a assessoria de JE levou para a convenção nacional do partido vários modelos e
recepcionistas que distribuíram chapéus (símbolo da campanha Zé do Chapéu), calendários e
adesivos, todos com sua foto. Também foram colocadas faixas com o nome dele e de algumas de
suas promessas de campanha no auditório Nereu Ramos, da Câmara dos Deputados, local utilizado
para o evento. O líder da bancada do PTB, na Câmara, o deputado Nelson Trad (MS), reagiu
declarando que a promoção partiu do próprio José Eduardo e que essa “[...] posição é de natureza
pessoal e não do partido [...]” pois, segundo ele, os petebistas queriam “[...] muito mais um
presidente que fortaleça o partido programaticamente do que um patrocinador [...]”, referindo-se ao
fato de o Senador ser banqueiro, industrial e fazendeiro:

––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
premiadas. Bamerindus: Gente que Faz. Organização:Banco Bamerindus. Profissional Responsável: Sérgio Sibel Soares
Reis. Ano da Premiação: 1991-1992. São Paulo, [2002]. Disponível em: <http://www.conrerp-sp.org.br/1991_92_02.asp>.
Acesso em: 23 ago. 2005.
182
Fonte: Banco faz minissérie com história de sucesso. FSP, 23 mar. 1993, p. 2-9.
183
Fonte: NÉRI, E. Pelo terceiro ano, Banespa lidera ranking de gastos do setor público. FSP, 16 mar. 1994, p. 1-10.
184
Fonte: Andrade Vieira monta rede. VEJA, 23 mar. 1994, p. 29.
185
Fonte: Maciel é o mais cotado para vice na aliança. FSP, Brasília, 18 mar. 1994, p. 1-12.
186
Fonte: Senador Andrade Vieira é eleito presidente nacional do PTB. FSP, Brasília, 21 mar. 1994, p. 1-5.
526

294
O deputado Cardoso Alves (PTB-SP) afirmou que Andrade Vieira é o seu candidato a
candidato à presidência, mas que há a possibilidade de o governador de Minas, Hélio Garcia,
disputar a vaga. “O governador não tem talhe para ser vice e sim presidente. Se ele for
candidato, o quadro será outro. Minas é um Estado poderoso, ele (Garcia) fez um bom
governo é um nome forte. Se ele se desincompatibilizar em dois de abril, será para disputar a
convenção”. (FSP, 21 mar. 1994, p. 1-5).

1394
No dia 23, a FSP publicou nota na seção Painel, dizendo que “Nélson Trad [...] e Andrade
Vieira [...] se estranharam. Trad havia declarado que o PTB precisava 'de um presidente e não de
um dono’; Vieira foi tomar satisfação e ouviu a frase de novo” (FSP, 23 mar. 1994, p. 1-4)187. José
Eduardo respondeu que: “O PTB não é meu nem tem dono. Por isso, não tenho como passar
escritura para ninguém, nem mesmo para um companheiro tão cheio de merecimento como o
governador Hélio Garcia”, (FSP, 24 mar. 1994, p. 1-4)188.
1395
No final de março, a candidatura FHC acumulava pelo menos dois grandes problemas: o
primeiro relacionava-se a um suposto dossiê, que segundo Rossi (24 mar. 1994, p. 1-14)189, tinha
origem no quercismo. O segundo problema eram as reações desfavoráveis de alas do PSDB
resistentes à aliança com PFL. Para contornar a resistência interna, articuladores da candidatura
FHC passaram a buscar diluí-la em uma coalizão mais ampla envolvendo o PTB e o PP. Álvaro
Dias já havia aceitado, desde que o PSDB o apoiasse como candidato ao governo do Paraná, o que
abriria outra frente de conflitos no PSDB, em razão dos problemas existentes entre Richa e Álvaro.
1396
No dia 30 de março, Paulo Maluf190 (PPR) desistiu de se desincompatibilizar para concorrer
à Presidência e Hélio Garcia ainda tentava obter o apoio de José Eduardo para um acordo com
Brizola, tendo Hélio como vice; a idéia tinha o apoio de Itamar Franco, mas José Eduardo avisava
que iria se encontrar191 com Maluf, na semana seguinte, para prosseguir com os entendimentos para
uma eventual coligação de apoio à sua candidatura pelo PTB, já que no Paraná o PPR era
controlado por Jayme Canet e Affonso Camargo. No dia 31, Hélio Garcia192 decidiu permanecer no
governo de Minas, mas declarou estar disposto a participar das articulações políticas relativas à
eleição, sinalizou seu apoio a FHC e afirmou que sua decisão não foi influenciada pelo fato de JE
ser o candidato do PTB.
1397
No dia 1º de abril, o PFL e o PSDB já haviam fechado acordo193 para a escolha do vice na
chapa dos dois partidos, o nome seria escolhido pelo PSDB nos quadros do PFL e estavam cotados
os deputados Luís Eduardo Magalhães, Gustavo Krause, do PFL-PE, Roberto Magalhães do PFL-
PE, Vilson Kleinubing e Marco Maciel. Mas o PSDB ainda estava levando em consideração uma
pesquisa de opinião que apontava que, caso Hélio Garcia fosse o vice na chapa, FHC poderia contar

187
Fonte: Olho no olho. FSP, 23 mar. 1994, Painel, p. 1-4.
188
Fonte: Tiroteio. FSP, 24 mar. 1994, Painel, p. 1-4.
189
Fonte: ROSSI, C. Dois tipos de receios retardam decisão de FHC. FSP, São Paulo, 24 mar. 1994, p. 1-14.
190
Fonte: Cronologia da campanha. FSP, 2 out. 1994, p. Especial-8-9.
191
Fonte: BLECHER, N. Andrade Vieira vai pedir o apoio de Maluf. FSP, Cuiabá, 31 mar. 1994, p. 1-11.
192
Fonte: PEIXOTO, P. Petebista desiste de ser vice e fica no governo. FSP, Belo Horizonte, 1º abr. 1994, 1-5.
193
Fonte: DIMENSTEIN, G & FARIA, T. PFL propõe que o PSDB indique o vice. FSP, Brasília, 1 abr. 1994, p. 1-5.
527

com 19% das intenções de votos. Segundo Garcia seu erro político foi ter se filiado ao PTB,
comandado por José Eduardo. Na tentativa de tornar Garcia vice, Itamar chegou a convocar José
Eduardo ao Palácio do Planalto dias antes; a resposta dele ao Presidente, a Garcia e à cúpula do
PSDB foi que só tomaria uma decisão nesse sentido em maio, caso ficasse convencido que o plano
econômico daria certo, baixando a inflação. Caso contrário, ele pretendia mesmo sair candidato por
acreditar que seria então o único nome viável contra Lula.
1398
No dia 2 de abril venceu o prazo final para a desincompatibilização dos ocupantes de cargos
públicos que quisessem disputar a eleição. FHC deixou a Fazenda, Leonel Brizola, o governo do
Rio de Janeiro e Roberto Requião, o governo do Paraná. Segundo o editorial194 da Folha, em 3 de
abril, no mundo político a impressão generalizada era que a disputa presidencial seria resumida a
um número de candidatos menor do que na eleição 1989. O primeiro dos nomes era o de Lula com
aproximadamente 30% das intenções de voto em todas as pesquisas, que o colocava praticamente
no segundo turno e, o primeiro turno provavelmente se resumiria à escolha do seu adversário.
Nesse quadro, dois nomes se destacavam: Fernando Henrique e Orestes Quércia mas o PMDB de
Quércia estava tão dividido que sequer era definitivo que ele fosse lançado candidato, e as várias
tentativas realizadas pela cúpula peemedebista de lançar outro nome, como Antônio Britto e depois
Luiz Antonio Fleury, acabaram esbarrando em Quércia. Para resolver a questão, o partido convocou
uma prévia e se José Sarney confirmasse a sua intenção de também concorrer, ficava mais difícil
saber quem sairia vencedor.
1399
Entre os demais candidatos, o mais forte, segundo as pesquisas, era Brizola, no entanto não
tinha força eleitoral nos dois Estados que concentravam cerca de um terço dos eleitores – São Paulo
e Minas Gerais. Outro nome seria José Eduardo, mas sua candidatura era, no entender da Folha,
frágil por alguns motivos, a saber: primeiro, pelo fato que banqueiros “não são exatamente
personagens populares, o que é um 'handicap' fortemente negativo em campanhas eleitorais, nas
quais as imagens, justas ou injustas, costumam contar muito”; como segundo motivo, o jornal
apontava para o fato que o PTB era um partido ainda “mal estruturado nacionalmente e não dispõe,
em princípio, de candidatos fortes aos governos dos principais Estados, o que prejudica o candidato
presidencial”. Já o segundo maior partido, o PFL, teria se enfraquecido ao apostar na coligação com
o PSDB, pois admitia, assim, que, apesar de ser grande, não tinha um candidato potencialmente
forte. Outro partido que havia perdido antecipadamente teria sido o PPR, pois a desistência do seu
“candidato natural” Paulo Maluf, cotado em segundo lugar nas pesquisas, colocou outros nomes
do partido como Esperidião Amin ou Jarbas Passarinho como candidatos de segunda mão. A
perspectiva final, a seis meses da eleição, seria de um cenário no qual a disputa tenderia a girar em
torno dos nomes de Lula, FHC e Quércia ou Sarney. A folha finalizava dizendo que “[...] desta vez,
até agora, os concorrentes principais são todos nomes com muita quilometragem rodada nas
estradas da política, ao contrário do que ocorreu em 1989, quando eram muitas as novidades na

194
Fonte: O “grid” de largada. FSP, 3 abr. 1994, Editorial, p. 1-1.
528

corrida sucessória. Logo, reduzem-se as possibilidades de grandes surpresas”. (FSP, 3 abr. 1994,
Editorial, p. 1-1).
1400
No dia 5 de abril eram publicados os primeiros resultados obtidos pela pesquisa eleitoral, do
Datafolha, feita após desincompatibilização dos candidatos; os números mostravam uma vantagem
de 16 pontos percentuais de Lula (37%) sobre FHC (21%). Neste mesmo dia, o jornal Correio de
Notícias publicava uma entrevista com José Eduardo na qual Rodrigues (5 abr. 1994)195 dizia que
ele preparava-se para alçar vôos mais altos, rumo à Presidência da República e sua candidatura iria
influenciar diretamente o quadro político estadual; sua posição no quadro político federal
provocaria novas alianças estaduais e poderia desfazer as já existentes. Por isso, ele preferia não
assumir qual candidato teria seu apoio, ficando entre Lerner e Álvaro Dias. Segundo o jornalista, JE
tinha seus “dias abarrotados de entrevistas, entremeados por pequenas viagens, e compromissos
com o Bamerindus”, e observava que havia opiniões “divergentes” a respeito dele: “há quem diga
que ele é um excelente administrador, e há quem tenha horror ao fato de ser banqueiro”.
1401
Na entrevista, JE começou afirmando que era candidato à Presidente e que estava buscando
alianças com PDT, PSDB, PPR, PP e PFL, sempre sendo ele o titular da chapa; afirmava que sua
proposta de governo já estava na gráfica para ser impressa, e que sua “meta principal é uma política
econômica de crescimento para gerar mais emprego”. Sobre a definição do candidato ao governo
estadual que seria apoiado por ele, disse que a decisão só aconteceria em maio, e deixou claro que
não era candidato nem a vice-presidente nem a governador. Neste mesmo dia, foi à sede da CSN196,
em Volta Redonda (RJ), para debater com os metalúrgicos o seu plano de governo o qual, segundo
JE, dava um enfoque especial para o problema das relações capital-trabalho, principalmente para
questões referentes à cogestão de empresas privadas com a participação de patrões e empregados.
1402
Enquanto isso, a procura por alianças eleitorais levou Maluf197 a dizer que o partido aceitava
compor com o PTB e o PP, desde que o candidato a presidente fosse do PPR. Esta decisão foi
referendada pelo Diretório Nacional do PPR, quando então Esperidião Amin foi aclamado como o
mais provável candidato do partido; isso inviabilizava um possível acordo com o PTB, já que José
Eduardo também não abria mão de sua candidatura.
1403
No dia 6 de abril, o presidente do PSDB198, Tasso Jereissati, e o presidente do PFL, Jorge
Bornhausen, formalizavam a aliança entre os dois partidos e decidiram optar pelo nome do
deputado Luís Eduardo Magalhães para ser o companheiro de chapa de Fernando Henrique. Tasso
Jereissati também pretendia se reunir com Álvaro Dias, para apressar a entrada do PP na coalizão.
No dia anterior, Fernando Henrique chegou a conversar com José Eduardo, mas ele avisou que

195
Fonte: RODRIGUES, M. Entrevista. Não cogitei ser vice nem candidato ao governo do PR. Correio de Notícias, 5 abr.
1994.
196
Fonte: Andrade Vieira vai à CSN para discutir programa. FSP, Curitiba, 5 abr. 1994, p. 1-8.
197
Fonte: FARIA, T. Maluf diz que PPR só faz alianças em torno de candidatura própria. FSP, Brasília, 6 abr. 1994, p. 1-6.
198
Fonte: DIMENSTEIN, G; FARIA, T. & NÉRI, E. PSDB e PFL fecham com filho de ACM. FSP, São Paulo, 6 abr. 1994, p.
1-6.
529

também pretendia concorrer à Presidência e adiou para maio a negociação sobre alianças, mas dava
sinais que poderia desistir199 da candidatura presidencial para disputar o governo de seu Estado e,
nesse caso, apoiaria Fernando Henrique em troca do apoio do PSDB nas eleições do Paraná. No dia
7 de abril, José Eduardo200 anunciou que desistira de disputar a Presidência, e que o PTB iria
integrar a aliança PSDB / PFL; a decisão seria comunicada à bancada federal do PTB e aos
governadores do partido no dia 12:
295
Minha candidatura foi assumida pela Executiva Nacional do PTB. Não posso abandoná-la sem
consultar o partido, mas eu contava formar uma aliança em torno do meu nome e acho que o
quadro ficou difícil com a adesão do PFL ao PSDB. (FSP, 8 ABR. 1994, p. 1-6).

1404
A decisão fazia parte do acordo pelo qual, em troca da aliança, PSDB apoiaria o
candidatura de JE ao governo do Paraná, apesar de seu partido já ter formalizado o apoio a Jaime
Lerner; porém Sérgio Motta achava que “[...] o apoio ao Jaime, hoje, prejudica mais o partido do
que ajuda”, pois a aliança com o PTB dificultava a aproximação com o PP, pois Álvaro Dias
também queria o apoio do PSDB à sua candidatura ao governo do Paraná. Segundo nota publicada
na FSP do dia 9 de abril201, ao “[...] negociar o apoio do PTB a FHC, o banqueiro Andrade Vieira
virou motivo de piada no Congresso. Tudo porque sempre disse: ‘Só especulo com dinheiro,
nunca com votos’. Os colegas parlamentares se deliciam: ‘Ele aprendeu”.
1405
Logo em seguida, Álvaro Dias declarou202 que, na reunião com líderes do PP, iria “pedir sua
liberação da candidatura à Presidência” para se lançar candidato ao governo do Paraná. Para
justificar a decisão, Álvaro disse que a formação da aliança PSDB / PFL e a falta de estrutura
nacional do PP foram os principais motivos para desistir da candidatura; também disse que outro
motivo teria sido a decisão de José Eduardo de apoiar FHC e concorrer ao governo do Paraná o
que, segundo ele, aumentou suas chances de ganhar as eleições “ainda no primeiro turno”. No dia
11, uma nota na seção Painel da FSP203 informava que, após fechar a coligação com o PTB, líderes
do PSDB já davam como certo o acordo com o PP de Álvaro Dias, pois acreditavam poder
convencer JE a não se candidatar ao governo do Paraná e deixar o caminho livre para o PP.
Segundo Rodrigues (12 abr. 1994, p. 1-6)204, FHC teve um encontro sigiloso com Álvaro Dias, com
o objetivo de acelerar as negociações para aliança entre os dois partidos; após o encontro, Fernando
Henrique anunciou205 que havia decidido fechar primeiro o acordo para a entrada do PTB na aliança
e adiar para maio a decisão sobre o PP, pois o PSDB não podia deixar de apoiar, em Minas Gerais,
a coligação comandada por Hélio Garcia, então adversário do candidato do PP ao governo, Hélio
Costa, o que tornava inviável um acordo nacional com o partido. Fernando Henrique também disse

199
Fonte: BONASSA, E. C. Reunião decide hoje candidato do PPR. FSP, São Paulo, 7 abr. 1994, p. 1-8.
200
Fonte: Vieira abandona candidatura e vai apoiar FHC. FSP, Brasília, 8 abr. 1994, p. 1-6.
201
Fonte: Lição de vida. FSP, 9 abr. 1994, Painel, p. 1-4.
202
Fonte: Álvaro Dias apóia candidatura de FHC. FSP, Londrina, 10 abr. 1994, p. 1-6.
203
Fonte: Xadrez eleitoral FSP, 11 abr. 1994, Painel, p. 1-4.
204
Fonte: RODRIGUES, F. Fernando Henrique se reúne com Álvaro Dias. FSP, São Paulo, 12 abr. 1994, p. 1-6.
205
Fonte: FARIA, T. & WOLTHERS, G. “O PTB já está com a gente”, diz FHC. FSP, Brasília, 13 abr. 1994, p. 1-10.
530

que, no Paraná, o PSDB abandonaria o apoio formal à candidatura de Jaime Lerner (PDT). Logo
em seguida, o deputado Gastone Righi (PTB-SP) declarava que, por decisão unânime, a Executiva
Nacional do PTB206 decidia que o presidente do partido, José Eduardo, seria o primeiro nome a ser
indicado para o Ministério do Trabalho, caso o presidente Itamar Franco confirmasse a vaga para o
PTB. No dia 15 de abril, sob o título “Nome indesejado”, a FSP207 publicou nota informando que
segundo “o Planalto, procede a informação que o PTB foi convidado a indicar um nome para
ocupar o Ministério do Trabalho. Mas não procede que Andrade Vieira (PTB-PR) seja bem-vindo.
O cargo não é para banqueiros”.(FSP, 15 abr. 1994, Painel, p. 1-4).
1406
No início de maio, o PSDB, PFL e PTB208 formaram um “conselho político” que assumiu
o comando da campanha FHC. O conselho foi criado após a cúpula destes partidos terem avaliado
que a imagem de FHC sofrera desgaste com as inúmeras reuniões políticas para a definição das
alianças e do nome do vice de sua chapa. O “Comando Unificado de Campanha” era formado
pelos presidentes dos três partidos, Tasso Jereissati pelo PSDB, Jorge Bornhausen pelo PFL e José
Eduardo pelo PTB, além do então virtual candidato a vice-presidente da chapa, Senador Guilherme
Palmeira do PFL de Alagoas. Segundo José Eduardo “[...] Chegamos à conclusão de que Fernando
Henrique não pode continuar coordenando os entendimentos dentro dos partidos [...] Ele agora vai
para a rua fazer campanha e nós resolvemos a parte burocrática”, JE também declarou que o
conselho iria deliberar sobre conflitos estaduais, analisar pesquisas e montar as teses mestras do
programa de governo, bem como tinha o compromisso de reunir-se pelo menos uma vez por
semana em Brasília; também foi mantido como coordenador da campanha Euclides Scalco e
segundo declarações de FHC “[...] o conselho vai definir a estratégia, o Scalco executa, mas a
decisão final é minha”. (WOLTHERS, 5 maio 1994, p. 1-8).
1407
Logo após a definição de JE e o PTB pela chapa FHC, Leonel Brizola209 prometeu
reestatizar a CSN e denunciava que o processo da sua privatização tinha sido o mais irregular entre
todos os já executados desde o governo Sarney; para ele, o escândalo maior foi o fato que o
acionista majoritário da CSN privatizada era o grupo Bamerindus, do Senador José Eduardo. “Em
qualquer lugar do mundo seria um escândalo” já que na época do leilão ele, JE, comandava o
MICT. Em dezembro, a Veja (7 dez. 1994, p. 49)210 informava que a CSN havia contribuído com
R$ 800.000 reais para a campanha de Brizola, e desde então teriam cessado os problemas da usina
com o órgão estadual responsável pelo meio ambiente no Rio de Janeiro, bem como teria feito com
que Brizola parasse de “acusar o senador José Andrade Vieira de ter comprado a empresa a preço
de banana”. Segundo Trevisan (2 dez. 1994, p. 1-12)211, na relação de financiadores da campanha

206
Fonte: PTB indicará Andrade Vieira para o Trabalho. FSP, 14 abr. 1994, p. 1-5.
207
Fonte: Nome indesejado. FSP, 15 abr. 1994, Painel, p. 1-4.
208
Fonte: WOLTHERS, G. Aliados criam conselho político. FSP, Brasília, 5 maio 1994, p. 1-8.
209
Fonte: ROSSI, C. Brizola diz que pretende reestatizar a Companhia Siderúrgica Nacional. FSP, 6 maio 1994, p. 1-6.
210
Fonte: Silêncio do PDT custou caro. VEJA, 7 dez. 1994, p. 49.
211
Fonte: TREVISAN, C. Odebrecht pagou 42% da campanha do PT. FSP, 2 dez. 1994, p. 1-12.
531

eleitoral do então candidato da coligação PP / PPR ao governo de São Paulo, Luiz Antônio de
Medeiros, a CSN apareceu com a contribuição de R$ 40 mil, e o Banco Bamerindus com R$ 50 mil
reais. Ainda em São Paulo212, o PTB corria o risco de dividir-se caso se concretizasse a intervenção
da direção nacional do partido na seção paulista, e a disputa poderia acabar nos tribunais, pois JE
decidira apoiar Covas ao passo que os demais continuavam apoiando o PMDB.
1408
No PMDB213, as disputas pela candidatura a Presidente tiveram novo lance no dia 12,
quando José Sarney decidiu não mais concorrer à prévia do partido, pois ainda considerava duas
opções, a saber: a primeira delas era ingressar em um micropartido e fazer uma aliança com um
partido médio para garantir um espaço razoável no horário gratuito da televisão; para tanto
dependia do resultado do julgamento pelo STF de uma liminar pedida pelo PSC que reivindicava a
reabertura dos prazos de filiação. A outra opção era esperar Orestes Quércia vencer a prévia do
partido e sua provável renúncia após ser denunciado pelo STJ no caso das importações de
equipamentos de Israel. A garantia de maior espaço no horário eleitoral gratuito viria de dois
partidos, do PP de Álvaro Dias e, ou, do PTB de José Eduardo, bem como estava decidido a
procurar o PFL para ter um provável apoio informal de lideranças do partido. Com a renúncia de
Sarney, restaram apenas dois candidatos no PMDB, Quércia e Roberto Requião. Sarney já havia
sido beneficiado por uma primeira decisão do STF, no dia 11, quando o tribunal determinou que os
partidos sem representação no Congresso poderiam lançar candidatos a Presidente da República.
Na época, Requião declarou que foi procurado por Pedro Simon que pediu para ele renunciar à
candidatura: “Ele pediu isso para mim e para o Sarney, para viabilizar um candidato do consenso.
Mas eu sou o candidato do dissenso”, (VAZ, 13 maio 1994, p. 1-9).
1409
Diante do crescimento de Sarney, as cúpulas do PFL e do PTB214 iniciaram manobras para
tentar impedir que a base dos dois partidos abandonasse a chapa FHC para apoiar o ex-presidente.
Luís Eduardo Magalhães alertou FHC que a bancada do PFL estava se sentindo excluída do quadro
sucessório e que era necessário uma maior aproximação com os parlamentares. Já no PTB, o
deputado Roberto Cardoso Alves (SP) afirmava que “me baterei pelo ingresso do Sarney no PTB e
para que ele dispute a Presidência pelo partido”, Gastone Righi dizia que continuava a apoiar FHC,
mas que já existia uma “corrente razoável” dentro do PTB que preferia Sarney e queria ganhar
tempo, adiando a convenção do partido marcada para 21 de maio. Para evitar que a idéia
prosperasse, José Eduardo publicou rapidamente o edital de convocação da convenção; os
dirigentes do PFL e do PTB215 acreditavam que o STF não iria alterar o prazo para filiações
partidárias e, com isso, Sarney ficaria amarrado ao PMDB.
1410
No dia 14, o PSDB216 homologou a candidatura de Fernando Henrique com dois problemas,

212
Fonte: Pior a emenda. FSP, 6 maio 1994, p. 1-4.
213
Fonte: VAZ, Lucio. Sarney desiste de disputar prévia do PMDB. FSP, Brasília, 13 maio 1994, p. 1-9.
214
Fonte: WOLTHERS, G. PFL e PTB tentam manter apoio das bases a FHC. FSP, Brasília, 13 maio 1994, p. 1-9.
215
Fonte: FARIA, T. PFL e PTB entram em ação. FSP, Brasília, 14 maio 1994, p. 1-7.
216
Fonte: CRUZ, V. & WOLTHERS, G. FHC começa campanha sem programa. Contagem: FSP, 4 maio 1994, p. 1-8.
532

não tinha ainda um programa de governo e o temor que políticos do PFL e do PTB se rebelassem
para apoiar Sarney; para afirmar o apoio ao candidato, as cúpulas do PFL e do PTB estiveram
presentes na convenção do PSDB em Contagem (MG). A homologação do vice da chapa somente
aconteceria no dia 18, na convenção do PFL, em Brasília. Segundo Lemos (2002c) e Néri, Muzzi,
& Ribeiro (15 maio 1994, p. 1-10)217, a convenção do PSDB acabou sendo marcada por tumultos,
quando os integrantes da Juventude do PSDB protestaram contra a coligação com o PFL e vaiaram
o candidato. FHC desistiu de ler o discurso oficial, que atacava o “Estado mínimo” e fazia críticas
ao neoliberalismo. Quando ele entrou no recinto da convenção acompanhado do vice, Guilherme
Palmeira e de políticos do PFL, houve muita confusão, o sistema de som foi colocado na altura
máxima para abafar as vaias e Fernando foi chamado até de “traidor”. Segundo ele, as
manifestações contrárias foram articuladas pelos membros do MR-8, com ligações com Orestes
Quércia. Os líderes do PFL criticaram a desorganização e, durante “o discurso de FHC, os
pefelistas praticamente se esconderam no fundo do palanque. Receosos com as vaias, eles se
postaram atrás da mesa e ficaram encobertos pelas lideranças do PSDB”, (MUZZI & CRUZ, 16
maio 1994, p. 1-8)218. Marcos Maciel conta que, diante do tumulto ocorrido, “Me agarrei ao José
Eduardo [...], o único que tinha avião próprio”, Souza (19 maio 1994, p. 1-7)219. Além de José
Eduardo e Maciel, estiveram presentes Guilherme Palmeira, Luís Eduardo Magalhães, Jorge
Bornhausen e o deputado Benito Gama.
1411
No dia 15, Quércia venceu Requião na convenção nacional do PMDB sendo indicado
candidato à Presidência, num contexto onde houve 52% de abstenção dos peemedebistas
credenciados a votar.
1412
Se no discurso de FHC constava o combate à idéia do “Estado Mínimo”, Maria Christina
lançava, no dia 18 de maio, através da ACP220, uma campanha a favor da eleição de uma assembléia
exclusiva para a revisão da Constituição porque, segundo ela, o “[...] Congresso está
lamentavelmente desacreditado. A revisão constitucional deve ficar sob a responsabilidade de
pessoas de notável saber, isentas e sem objetivos eleitoreiros”. Um dos principais pontos
defendidos pela entidade era a reforma tributária, pois o “[...] Brasil precisa de uma redução da
carga tributária para que o setor produtivo possa voltar a crescer”. Segundo Christina Vieira, era
possível o governo federal tornar-se eficiente sem aumentar a arrecadação, através da redução da
estrutura do Estado. (FSP, 18 maio 1994, p. 1-9).
1413
Enquanto isso, no dia 19 de maio, a medida provisória que criava a URV era aprovada pelo
Congresso, após o governo ter negociado, com a bancada ruralista, o perdão de parte das dívidas
agrícolas. Segundo Souza (19 maio 1994, p. 1-7), ACM admitia em diálogos reservados que o

217
Fonte: NÉRI, E.; MUZZI, I. & RIBEIRO, A. FHC é vaiado e muda discurso. FSP, São Paulo, 15 maio 1994, p. 1-10.
218
Fonte: MUZZI, I & CRUZ, V. PFL aponta desorganização. FSP, 16 maio 1994, p. 1-8.
219
Fonte: SOUZA, J. Coligação quer que governo adie medidas impopulares. Para ACM, plano pode sepultar candidatura de
FHC. FSP, Brasília, 19 maio 1994, p. 1-7.
220
Fonte: Entidade do PR quer assembléia exclusiva. FSP, Curitiba, 18 maio 1994, p. 1-9.
533

“plano econômico pode ser o grande cabo eleitoral de Fernando Henrique, mas também pode
sepultar a sua candidatura”, o que era também a preocupação de vários líderes do PSDB, entre eles
Tasso Jereissati. O temor era que a equipe econômica, comandada por Rubens Ricúpero, adotasse
medidas como a limitação do crédito ou cortes bruscos de gastos públicos, logo após a adoção da
nova moeda, o Real, em 1º de julho, medidas que eram consideras essenciais por parte da equipe
econômica, como forma de assegurar a sobrevida do plano após as eleições. ACM defendeu uma
administração “política” num encontro com Rubens Ricúpero junto com Henrique Hargreaves.
1414 Quadro 7-4: Candidatos a governador e senador
No dia 20 de maio de 1994, o STF decidiu não
no Paraná em 1994.
reabrir o prazo de filiação partidária para candidatos,
Candidato Partido Coligação
fazendo com que Sarney desistisse de disputar a eleição Governador
Jaime Lerner PDT PDT / PTB /
e fechasse acordo com FHC em troca do apoio para sua PFL / PSDB /
PV
filha Roseana Sarney, candidata ao governo do Álvaro Fernandes Dias PP PP / PMDB
Maranhão. No dia seguinte, o PTB221 realizou sua Jorge Miguel Samek PT PT
Rosemeri Vieira Kredens PRN PRN
convenção nacional para oficializar o apoio à Jaime Schmitt Kreusch Prona Prona
Jose Antonio Cardoso PL PL
candidatura de Fernando Henrique. A convenção Orlando Kulkamp PSD PSD
Senador
aconteceu na Câmara Municipal de São Caetano do Sul, Roberto Requião dePMDB PMDB
no ABCD paulista, tendo a participação de Mello e Silva
Osmar Fernandes Dias PP PP
aproximadamente 300 pessoas, entre elas 187 Antônio Celso Garcia PRN PRN
222
Jose Carlos Gomes de PTB PTB
convencionais de todos os Estados do país, e a Carvalho
Helio Moacyr de SouzaPSDB PSDB
presença de Fernando Henrique. Na ocasião, José Duque
Eduardo declarou que o objetivo da coligação era criar Pedro Irno Tonelli PT PT
Luiz Carlos Borges daPPR PPR
condições de governabilidade ao futuro presidente e que Silveira
Flaminio de OliveiraPSTU PSTU
FHC já estava eleito; durante o evento as declarações do Rangel
Iran Getulio ZaniniPRONA PRONA
secretário da executiva do PTB, Dorival de Abreu, Longhi
marcaram a posição do partido como adversário do PT Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nos
dados do TRE PR (2002).
nas eleições. (Folha ABCD, 22 maio 1994, p. 1-11).
1415
No Paraná, o PTB apostou na coligação de partidos que apoiavam Jaime Lerner e na
candidatura de José Carlos Gomes de Carvalho para o Senado (ver Quadro 7-4). No dia 29 de maio
223
Fernando Henrique esteve na cidade de Pato Branco, no sudoeste do Paraná, acompanhado de
José Eduardo e José Richa (PSDB-PR), onde discursou sobre o Plano Real para um público de
cerca de 500 pessoas formado por lideranças políticas e empresariais reunidas no Centro Regional
de Eventos.

221
Fonte: PTB realiza convenção hoje. Folha ABCD, 21 maio 1994, p. 1-6.
222
Fonte: PTB aprova apoio a Fernando Henrique. Folha ABCD, 22 maio 1994, p. 1-11.
223
Fonte: SCHENATTO, L. Para tucano, saída é “fofoca”. FSP, 30 maio 1994, p. 1-5.
534

7.2.3.1 A CAMPANHA ELEITORAL

1416
Um dos problemas enfrentados pela chapa FHC224 era como acomodar, no comando da
campanha, todas as lideranças políticas que a apoiavam; na ocasião, a direção era integrada pelos
presidentes do PSDB, Pimenta da Veiga, do PFL, Jorge Bornhausen e do PTB, José Eduardo. Nessa
época, ACM vinha criticando os rumos da campanha, afirmando que ela estava sem comando e que
Fernando Henrique não devia basear sua candidatura apenas no Plano Real; José Eduardo reagiu
logo em seguida declarando que “os amigos estão atrapalhando mais que os inimigos”. (FSP, 7 jun.
1994, p. 1-10).
1417
Em 13, de junho o Banco Central iniciou a distribuição das moedas do Real (R$) às
agências bancárias, dando início a uma nova fase do Plano Real e, no dia 23, o Governo pediu
explicações a Levy Nogueira, então presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras),
pela sua declaração pública que 10% dos produtos vendidos pelos supermercados poderiam ser
reajustados após a entrada em vigor da nova moeda. Logo em seguida, o Governo iniciou a
fiscalização de empresas para apurar eventuais abusos nas conversões à URV e, no dia 28 de junho,
o Procon de São Paulo autuou a Nestlé e a Gessy Lever acusadas de vender produtos aos
supermercados por preços acima da média dos últimos quatro meses de 1993. Enquanto isso,
Henrique Hargreaves225 submetia, ao comando da campanha FHC, o texto da medida provisória do
Plano Real. Ele fez questão de levar pessoalmente a MP à reunião do comando para discutir a
estratégia de sua tramitação no Congresso. Na reunião, ficou decidido que os partidos da base de
sustentação do governo não iriam fazer esforço para votar a MP antes do primeiro turno das
eleições, cabendo ao governo reeditá-la até outubro. O comando também referendou o valor de R$
70 para o salário mínimo que entraria em vigor no dia 1º de setembro, bem como considerou que
FHC deveria assumir a imagem de “fiscal do Real” a partir do dia 1º de julho, data marcada para o
lançamento da nova moeda; no dia 29, o governo fixou o último valor de conversão da URV em
CR$ 2.750,00. No dia 1º de julho entrou em circulação o Real e Fernando Henrique Cardoso, em
226
campanha em Minas Gerais, afirmava que sua candidatura iria “dar um salto” , completando
assim mais uma etapa de uma trajetória iniciada em 21 de maio de 1993, quando assumiu o
Ministério da Fazenda. No dia 5, a previsão se confirmou quando a primeira pesquisa do Datafolha
após o lançamento do Real, identificou que a diferença entre Lula e FHC227 havia caído para 17
pontos; Lula estava com 38% das intenções de votos e FHC 21%, o que provavelmente levaria a
disputa para o segundo turno. A pesquisa também identificou que 62% dos entrevistados achavam
que o Plano Real era bom para o país.

224
Fonte: ACM entra na campanha. FSP, Brasília, 7 jun. 1994, p. 1-10.
225
Fonte: FARIA, T. & WOLTHERS, G. Governo leva MP à aprovação de tucanos. FSP, 29 jun. 1994, p. 1-8.
226
Fonte: FOLHAONLINE. Almanaque. Dinheiro. Cronologia 1980 e 1990. FSP, São Paulo, [2004]. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/almanaque/dinheiro80.htm>. Acesso em: 11 jun. 2004..
227
Fonte: ALVES, C. E. FHC vai ao segundo turno contra Lula. FSP, 07 jul. 1994, p. 1-8.
535

1418
No dia 29 de junho, a FSP228 denunciou que o senador José Paulo Bisol (PSB-RS), então
candidato a vice-presidente da chapa Lula, havia apresentado emendas ao Orçamento de 1995
superfaturadas. Uma delas previa a construção de uma ponte em Buritis (MG) onde o Senador tinha
uma fazenda. Em 6 de julho, dois ex-funcionários da empreiteira Sérvia acusaram a empresa de
pagar suborno a parlamentares e assessores, entre eles estava Guilherme Palmeira, vice de FHC. No
dia 26, diante das denúncias envolvendo Bisol, o PT e os partidos que apoiavam a chapa
encabeçada por Lula, decidiram pela substituição do Senador pelo deputado federal Aloizio
Mercadante. No dia seguinte, o ex-motorista da empresa Sérvia afirmou ter feito 15 depósitos na
conta de Carlos Abraão Moura, assessor de Guilherme Palmeira. Diante das novas denúncias, no
dia 2 de agosto, o comando de campanha de FHC decidiu trocar Palmeira pelo senador Marco
Maciel, como vice da chapa.
1419
No dia 10 de agosto, denúncias de uso ilegal dos bônus eleitorais envolvendo Nevaldo
Rocha — pai do candidato à Presidência, Flávio Gurgel Rocha (PL-RN), obrigaram o candidato a
renunciar; logo em seguida o partido anunciou seu apoio à FHC. Na época o então tesoureiro-geral
do PTB, deputado Gastone Righi, declarou, em entrevista à Wolthers & Faria (11 ago. 1994, p.
Especial-1)229, que os partidos estavam utilizando uma nova forma de contornar a lei que regulava o
financiamento de campanhas eleitorais; segundo o Deputado, empresários e pessoas físicas estavam
fazendo doações diretas para candidatos ou partidos políticos, sem receber o valor em bônus
eleitorais. Tais doações eram então contabilizadas como recursos próprios, e não doação de
terceiros, e finalizavam a operação emitindo os bônus em seu próprio nome, e não no nome da
firma ou pessoa doadora; com isso, atendiam ao desejo de alguns doadores de manter o anonimato.
Sem registro nominal, as doações poderiam ser financiadas pelo caixa paralelo das empresas;
Gastone Righi declarou que todos os partidos recorriam ao mesmo procedimento.
1420
As repercussões das declarações levaram o Procurador-Geral da República230, Aristides
Junqueira, que na época também era Procurador-Geral Eleitoral, a declarar que iria solicitar ao TSE
que convocasse Gastone Righi “para que o deputado diga quem é que está fazendo isso”. O
presidente do PSDB, Pimenta da Veiga, disse que o PTB “deve dar uma declaração” sobre as
afirmações do deputado. (LEON, 12 ago. 1994, p. Especial-7)231; e assessores de José Eduardo
afirmaram que ele não iria comentar o assunto porque desconhecia qualquer fraude.
1421
Sobre essa questão do financiamento de campanha, grande parte da literatura pesquisada
apresenta vários relatos que atribuem uma importância fundamental a José Eduardo na montagem
da estrutura de financiamento da campanha FHC, e entre elas destacamos as que consideramos
mais significativas:

228
Fonte: O peso dos vices. FSP, 3 ago. 1994, p. Especial – 1.
229
Fonte: WOLTHERS, Gabriela. & FARIA, Tales. Tesoureiro do PTB diz que todos os partidos fraudam bônus eleitoral. FSP,
Brasília, 11 ago. 1994, p. Especial-1.
230
Fonte: LEON, F. de. & WOLTHERS, G. Aristides quer nomes de fraudadores. FSP, 12 ago. 1994, p. Especial-7.
231
Fonte: LEON, F. de. TSE cobra explicações sobre fraudes. FSP, Blumenau, 12 ago. 1994, p. Especial-7.
536

1422
Segundo Bonassa & Silva (16 nov. 1994, p. 1.4)232, boa parte das reuniões do grupo FHC
foram realizadas nas dependências do Banco Bamerindus em São Paulo. Em 1998 José Eduardo
teria declarado em entrevista ao jornal Hora do Povo que:
296
[...] chegou-se a pedir milhões de reais para pôr a campanha nas ruas. [...] Como eu entendo
bem disso, a minha recomendação foi no sentido de que o Sérgio Motta deveria dizer o que
queria e o próprio Emerson233 [assessor de Vieira] faria as contratações. [Mas] [...] o Sérgio
Motta queria contratar ele mesmo. (Hora do Povo, 6 jun. 1998)234.

1423
Ainda segundo o jornal, José Eduardo “[...] foi o primeiro político a apoiar Fernando
Henrique para presidente. Foi, também, quem sustentou financeiramente a campanha quando os
índices nas pesquisas estavam abaixo do sofrível. Em resumo, a ele, Fernando Henrique deve o fato
de que sua candidatura não tenha sido natimorta”. (Hora do Povo, 6 jun. 1998).
1424
Outro registro encontramos na Carta Capital que publicou uma matéria sobre o Bamerindus
logo após a intervenção do Bacen, na qual Fernandes (1997, p. 32-33) conta que a dívida da Inpacel
crescia a cada embate eleitoral no qual o Grupo Bamerindus tivesse interesse; segundo ele, a “[...]
primeira doação do Grupo Bamerindus para a campanha Fernando Henrique saiu do caixa da
Inpacel: R$ 193 mil, em 21 de setembro. No total, gastou-se mais de meio milhão de dólares”.
(FERNANDES, 1997, p. 33).
1425
Em março de 2002, em pronunciamento no Senado, José Sarney relatou que:
297
O Senador Antonio Carlos Magalhães conta, como testemunho [...] sobre a memória de seu
grande filho, Luís Eduardo Magalhães, que viu, em 1994, o Senador Andrade Vieira entregar
R$ 5 milhões - hoje, atualizado, R$ 10 milhões - como contribuição à pré-campanha do
Presidente Fernando Henrique Cardoso, com a presença do candidato. (SARNEY, 2002, p.
2601)235.

1426
Segundo Veja (21 dez. 1994, p. 39)236, a indicação de JE para a agricultura, após a eleição
de FHC, deveu-se não só ao financiamento direto que recebeu do Grupo Bamerindus, como
também pelo fato que José Eduardo mobilizou várias pessoas e instituições que fizeram importantes

232
Fonte: BONASSA, E. C. & SILVA, F. de B. e. Fernando manda Pimenta para negociações com PMDB. FSP, 16 nov. 1994,
p. 1-4.
233
Emerson Palmieri começou a carreira como administrador de campanhas em 1986, quando era funcionário do Bamerindus,
quando foi encarregado por JE para fazer uma campanha para deputado (possivelmente de Basílio Villani). Também fez a
campanha de JE para senador, e participou das campanhas FHC em 1994 e 1998. Em 2002, como o PTB estava na
campanha de Ciro, também ajudou. Com a saída de JE da vida pública, Palmieri se aproximou de Martinez e se consolidou
na posição de tesoureiro informal do partido. Com a morte de Martinez em 2003, continuou influente na gestão de Roberto
Jefferson. Fonte: O segredo do cofre do PTB. Federação Nacional dos Policiais Federais – Fenape, 20 jun. 2005. Fonte:
Extraído de O Globo. Disponível em: <http://www.fenapef.org.br/htm/com_noticias_exibe.cfm?Id=28772>. Acesso em: 29
ago. 2005.
234
Fonte: “FH empurra tudo com a barriga e não se compromete com nada”. “É preciso ter coragem para enfrentar os
problemas do governo. E o Fernando não tem", afirmou Andrade Vieira. Hora do Povo, 6 de jun. 1998. Disponível em:
<http://www.djweb.com.br/1998/junho/06-06-98/p30606.htm>. Acesso em: 24 jan. 2005.
235
Fonte: SARNEY, José. Discurso em 20 mar. 2002. Secretaria-Geral da Mesa - Subsecretaria de Taquigrafia. Secretaria de
Informação e Documentação - Subsecretaria de Informações. Senado Federal. Diário do Senado Federal (DSF). Brasília:
Congresso Nacional, Senado. 21 mar. 2002, p 2601. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/sf/atividade/pronunciamento/detTexto.asp?t=323198>. Acesso em: 22 ago. 2005.
236
Fonte: Deu banqueiro na lavoura. VEJA, 21 dez. 1994, p. 39.
537

contribuições financeiras; também Roberto Requião237, em seu depoimento em agosto de 2000, na


3ª reunião ordinária da Subcomissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal,
afirmou que:
298
[...] declarações do primeiro tesoureiro ou um dos primeiros tesoureiros da primeira campanha
do Presidente Fernando Henrique Cardoso, [...] José Eduardo de Andrade Vieira, que dizia a
mim, ao Senador Pedro Piva, ao Sr. Senador Esperidião Amin e ao Sr. Senador Gilberto
Miranda. R$ 30 milhões ou US$ 30 milhões à época - parece-me que as moedas estavam a par
- sobraram no caixa oficial e, com a autoridade de um tesoureiro, nos informava que seriam
mais de US$ 100 milhões, num caixa sem comprovação das doações feitas por grupos
econômicos que não desejavam a eleição do Sr. Luiz Ignácio Lula da Silva e nos perguntava o
ex-Ministro do Governo Fernando Henrique e ex-Senador: “O que vocês acham que eles
fizeram com as sobras de campanha?”. E ironizava: “Costuraram no travesseiro da filha do
Presidente ou no colchão da Dª Ruth”. A ironia não é minha, é dele, mas é uma circunstância
do processo eleitoral. (PEREIRA, 2000, p. SC-40).

1427
Nessa época, o PPR238 estava se preparando para abandonar a candidatura de Esperidião
Amin e aderir à coligação PSDB-PFL-PTB, pois a tendência na base do partido era de optar pelo
voto útil no PSDB já no primeiro turno. Néri & Alonso (19 ago. 1994, p. Especial-1) observaram
que se o PPR apoiasse FHC, estaria sendo ampliado o espectro ideológico da Aliança Democrática
que apoiou Tancredo Neves / José Sarney em 1984, e que somente o PMDB quercista estaria fora, e
muitos dissidentes do PMDB também estavam desembarcando da campanha de Fernando
Henrique. No dia 29, o PTB anunciou a troca de candidato a governador, em São Paulo, deixando o
PMDB para aderir ao PSDB apesar de, na Gráfico 7-1: Variação mensal do IGP (DI) em 1994.
50,0%
semana anterior, Campos Machado, líder do 47%
45%
45,0%
42% 42% 42%
41%
partido, ter dito que “O PTB não tem duas 40,0%

caras. Seguimos com Barros Munhoz”.239 35,0%

30,0%
1428
Conforme avançava a implantação do 25,0%
25%

Plano Real e caía a taxa de inflação, cresciam 20,0%

não só as intenções de votos em Fernando 15,0%

10,0%
Henrique, mas também a movimentação em 3,3% 2,6%
5,0%
1,5% 2,5%
0,6%
torno da formação da base aliada para o novo 0,0%
mai

jul

set
out
mar
abr

dez
fev

nov
jan

jun

ago

governo no Congresso, que certamente passaria


pela escolha do presidente do Senado240; e já Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados
extraídos de FGV (2005).
disputavam essa vaga José Sarney, Élcio
Álvares (PFL-ES), e José Eduardo – que, segundo O Globo241, já havia lançado sua candidatura no

237
Fonte: PEREIRA, Eduardo Jorge Caldas. Depoimento na 3ª reunião ordinária da Subcomissão de Constituição, Justiça
e Cidadania, criada por indicação da Comissão Parlamentar de Inquérito do Judiciário. Senado Federal Secretaria-
Geral da Mesa. Subsecretaria de Taquigrafia. Serviço de Comissões, 03 ago. 2000. Disponível em:
<http://www.eduardojorge.com.br/pdf/link17_depoimento.pdf>. Acesso em: 1º dez. 2004.
238
Fonte: NÉRI, E. & ALONSO, G. PPR já se prepara para abandonar Amin e aderir à candidatura FHC. FSP, 19 ago. 1994, p.
Especial-1.
239
Fonte: Caras e bocas. FSP, 30 ago. 1994, Painel, p. 1-4.
240
Fonte: Foi dada a largada. FSP, 30 ago. 1994, Painel, p. 1-4.
241
Fonte: Vieira se lança para presidente do Senado. O Globo, 24 ago. 1994, p. 4.
538

dia 24 de agosto. Segundo Faria (18 set. 1994, p. Especial-4)242, em setembro, o grupo ligado a
Sarney, do PFL e do PTB estavam articulando uma operação para condicionar o PSDB no
Congresso, evitando assim que FHC eleito, tentasse governar só com o PSDB ou fosse buscar
alianças à esquerda. Sarney era o candidato preferido do PFL para presidir o Senado, pois além de
amigo, era aliado de ACM e considerado de confiança pela cúpula pefelista. Para os pefelistas, com
Sarney na Presidência do Senado, estaria assegurado o controle do Congresso, pois o deputado Luís
Eduardo Magalhães pretendia presidir a Câmara dos Deputados. Caso Sarney não fosse eleito, o
comando do PFL já havia informado José Eduardo que pretendia apoiá-lo para o cargo:
299
“Com você presidindo a Câmara e eu o Senado é que poderemos tornar efetiva no governo a
coligação PFL-PTB-PSDB”, disse Andrade Vieira ao filho de ACM, na conversa em que ficou
acertada a aproximação. (FARIA, 18 set. 1994, p. Especial-4)

1429
No final de setembro, José Eduardo apostava que uma eventual divisão do PMDB poderia
inviabilizar também a candidatura de Sarney para a Presidência do Senado. Segundo ele, a “[...]
divisão enfraquece Sarney, pois se dois ou três senadores saírem do partido após as eleições, o
243
PMDB pode perder a maioria no Senado”, (WOLTHERS, 28 set. 1994, p. Especial-4) . Pelo
Regimento do Senado, o partido que elegesse o maior número de senadores em 3 de outubro, teria o
direito de indicar o novo presidente para a legislatura de 1995, e pelas suas projeções, o PMDB
deveria eleger o maior número de senadores, cerca de 24, deixando o PFL com o segundo lugar. A
articulação de José Eduardo dependia da mudança no regimento, que conferia a partidos e não a
blocos, o poder de indicar o presidente. Nessa época, corria uma lista244 dos prováveis ministros do
governo FHC e José Eduardo aparecia como cotado para o Ministério da Agricultura, Reinhold
Stephanes (PFL-PR) para o Ministério da Previdência e Luiz Eduardo Magalhães, para a
presidência da Câmara.
1430
As eleições do dia 3 de Tabela 7-5: Resultado das eleições para o Senado no Paraná em 1994.
outubro resultaram na vitória de FHC Candidato Eleito Partido Nº Votos
Roberto Requião de M. e Silva S PMDB 2.301.209
em quase todos os Estados da Osmar Fernandes Dias S PP 1.449.698
Antonio Celso Garcia N PRN 896.511
Federação, com exceção do Distrito Jose Carlos Gomes de Carvalho N PTB 695.887
Helio Moacyr de Souza Duque N PSDB 457.367
Federal e do Rio Grande do Sul. No
Pedro Irno Tonelli N PT 317.764
Paraná, ele recebeu 60% dos votos Luiz Carlos Borges da Silveira N PPR 202.320
Fonte: TER – PR (2002).
contra 23% de Lula; mas se JE
participava da vitória de FHC, no Senado perdeu a companhia de Affonso Camargo e não
conseguiu eleger José Carlos Gomes de Carvalho como senador pelo Paraná. Seu candidato foi
derrotado pelo seu mais ferrenho adversário, Roberto Requião, e pelo irmão de Álvaro Dias, Osmar
Dias (PP) – ver Quadro 7-4. É importante observar que JE foi eleito senador em 1990, com 1.036.787
votos, muito inferior ao recebido pelos dois candidatos vitoriosos, bem como, José Carlos

242
Fonte: FARIA, T. PFL aciona Sarney para cercar FHC. FSP, Brasília, 18 set. 1994, p. Especial-4.
243
Fonte: WOLTHERS, G.; FARIA, T. “Divisão enfraquece Sarney”, diz Vieira. FSP, Brasília, 28 set. 1994, p. Especial-4.
244
Fonte: Os ministeriáveis de FHC. FSP, 24 set. 1994, p. Especial-1.
539

conseguiu apenas a quarta colocação. Em compensação, JE participava da coligação que elegeu


Jaime Lerner governador já no primeiro turno, derrotando Álvaro Dias (ver Tabela 7-5). Além da
rede política Bamerindus, a eleição de Jaime Lerner fortaleceu o grupo político reunido em torno da
INEPAR que, diferente do Bamerindus, não enfrentava as mesmas restrições legais que eram
impostas aos bancos para se associarem ao capital estrangeiro. Em torno da INEPAR formou-se, ao
longo do governo Lerner, uma poderosa rede econômica e política, com conexões importantes com
o capital estrangeiro, fundos de pensão, empresas estatais – Banestado, Copel e Telepar, e partidos
políticos como o PDT, PFL e PSDB. O estudo da falência do Bamerindus passa necessariamente
pela pesquisa e análise da rede corporativa e política da Inepar.
1431
Para os cargos de deputados federais e estaduais, o PTB conseguiu eleger respectivamente 4
e 6 candidatos (ver Tabela 7-7).

Tabela 7-6: Resultado da votação para governador do Tabela 7-7: Candidatos do PTB para os cargos de
Paraná em 1994. deputado federal e estadual, eleitos em 1994.

Candidato Nº Votos
Candidato Partido Nº Votos
Deputado Federal
Jaime Lerner PDT 2.070.970 Paulo Roberto Cordeiro 68.908
Jose Rodrigues Borba 42.923
Álvaro Fernandes Dias PP 1.455.648 Vilson Santini 35.051
João Falavinha Iensen 31.308
Jorge Miguel Samek PT 159.221
Deputado Estadual
Rosemeri Vieira Kredens PRN 37.437 Luiz Carlos Alborghetti 65.345
Jose Marcos Alves Dos Santos 44.769
Jaime Schmitt Kreusch PRONA 20.222
Aníbal Khury 36.978
Jose Antonio Cardoso PL 17.522 Hermas Eurídes Brandão 24.851
Nelson Roberto de Plácido e Silva Justus 23.627
Orlando Kulkamp PSD 14.809 Eduardo Lacerda Trevisan 22.187
Fonte: TRE PR (2002)

1432
A Tabela 7-8 e o Gráfico 7-2 permitem verificar que o PTB teve sua participação, na ALP,
reduzida de 20% das cadeiras para 11%, na eleição, bem como o PP, de Álvaro Dias, teve um
desempenho superior tanto no plano federal como estadual. Diante do fraco resultado do PTB,
restava a José Eduardo esperar o início do processo de negociações para troca de partidos, quando
poderia recompor a bancada que possuía na Assembléia Legislativa, mas para isso teria que
enfrentar a forte concorrência do PDT – agora no governo. No plano nacional, José Eduardo ainda
enfrentava duas campanhas eleitorais de segundo turno: Antônio Valmir Campello Bezerra (PTB)
que disputava com Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque (PT) pelo governo do Distrito Federal e,
em Roraima, Neudo Ribeiro Campos (PTB) com Getúlio de Souza Cruz (PSDB).
540

Tabela 7-8: Resultado das eleições para deputado Gráfico 7-2: Percentual de cadeiras ocupadas pelo PTB na
federal e estadual em 1994 (em %). Assembléia Legislativa do Paraná. (1990-1994)

Partido Federal % Estadual % 20%


25

PP 6 20 10 19
PFL 6 20 6 11 20

PMDB 4 13 12 22
PTB 4 13 6 11 15
9% 11%
PDT 3 10 9 17
PT 3 10 5 9 10

PPR 2 7 2 4
PSDB 1 3 3 6
5
PC DO B 1 3
PSC 0 1 2
0
Total
30 100 54 100 1990 e 1994 t 1994 e
geral
Observações: (e) eleições e (t) final do mandato. Fonte: quadro e Gráfico elaborados pelo autor com base nos dados extraídos
de TRE PR (2002) e Anais da ALP, apud Tabela 2.7, Tabela 2.9 e Tabela 2.13 (LEPRE, 2000, p. 47, 50 e 62).

7.2.3.2 FORMAÇÃO DO GOVERNO FHC

1433
De acordo com a Constituição245, o presidente do Senado também preside o Congresso e, na
disputa pela vaga, Sarney estava esperando apenas terminarem as eleições para tentar uma
reaproximação com Orestes Quércia, e fechar um acordo buscando a divisão do poder dentro do
PMDB. No início de outubro, a perspectiva de Sarney era de disputar o cargo com o ex-governador
de Goiás Íris Rezende (PMDB); O ex-presidente também enfrentava resistências entre os políticos
mais próximos de Fernando Henrique, pois o temor no PSDB era que, Sarney presidindo o Senado
e Luís Eduardo Magalhães na Presidência da Câmara, o PFL promoveria um cerco ao governo FHC
no Congresso. Sarney acreditava que FHC e o PSDB teriam interesse em integrar o PMDB à base
de sustentação do governo. Como Pedro Simon havia desistido de disputar o cargo, um provável
acordo com Quércia praticamente inviabilizava qualquer outra candidatura até mesmo as de José
Eduardo e Elcio Álvares. Na época, Sérgio Motta estimulava a adesão dos que chamava de
“peemedebistas éticos” ao projeto de criar um novo partido no Brasil, o Social-Democracia
Brasileira (SDB) e, segundo ROSSI & CRUZ (4 out. 1994, p. Especial A-6)246, para tanto já
contava com adesões de fatias importantes do PDT e até do PT, com o que, o partido ficaria mais
inclinado à esquerda, contrabalançando a presença de pefelistas e petebistas; José Eduardo
considerava que esse era um projeto de médio prazo, e que uma reformulação partidária tão
profunda só viria com uma revisão constitucional que, nesse caso, incluiria uma reformulação da
legislação partidária e eleitoral.

245
Fonte: FARIA, T. & MADUENO, D. Sarney e Íris disputam Presidência do Senado. FSP, Brasília, 3 out. 1994, p. Especial-
9.
246
Fonte: ROSSI, C. & CRUZ, V. Maioria no Congresso dependerá do PMDB. FSP, Brasília, 4 out. 1994, Caderno Especial, p.
Especial A-6.
541

1434
No dia 6, Fernando Henrique convocou um reunião247 com as cúpulas do PSDB, PFL e PTB
para tentar impor a lei do silêncio sobre pedidos de ministérios, pois temia que as constantes
declarações sobre cargos passassem à opinião pública a idéia de fisiologismo. Apesar de
publicamente defenderem a extinção de órgãos públicos e redução da máquina do Estado, tanto o
PTB como parte do PFL estavam pressionando FHC para ocuparem cargos federais. As
repercussões negativas fizeram o PFL e o PTB mudarem o discurso antes mesmo da reunião.
Bornhausen, por exemplo, declarou que FHC iria “comandar o processo e escolher livremente seu
ministério” e advertiu publicamente ACM, que afirmara que seu Estado deveria ter “lugar de
destaque” no Governo; José Eduardo, por sua vez, afirmou que a imprensa distorcia suas palavras
e que seu partido não estava “pleiteando nada”.
1435
Enquanto isso, as negociações que Pimenta da Veiga248 estava fazendo com o PMDB no
final de outubro, levaram Bornhausen e JE a marcarem uma reunião com FHC para reclamar.
Lideranças do PFL estavam convencidas que Veiga estava armando as alianças nacionais do PSDB
com base nos interesses dos tucanos mineiros no segundo turno, no qual o partido enfrentava a
aliança PP / PFL de Hélio Costa. Nessa época, eram intensas as negociações para a fusão PP /
PTB249, tendo a participação de JE, o líder do PP na Câmara, Raul Belém (PP-MG), e outros
parlamentares. A fusão faria com que o novo partido disputasse com o PSDB o título de terceira
maior bancada. Para FHC, a eventual fusão facilitaria a formação de uma maioria no Congresso,
mas aumentaria a força do PTB e PP na negociação de cargos. Nesta época, segundo a FSP250,
lideranças do PFL ameaçavam formar um bloco para enfrentar a possível aliança PSDB / PMDB e
planejavam apoiar Sarney para presidente do Senado, formando um segundo bloco de poder no
país. Na época, Bornhausen não poupava críticas aos contatos de Pimenta da Veiga com o PMDB;
a questão central era a presidência da Câmara251, pois os pefelistas enxergaram nas negociações de
Pimenta uma possibilidade de o PSDB apoiar a indicação de um peemedebista para o cargo, e não
abriam mão de Luís Eduardo. Outro ponto de discórdia era o apoio de FHC às campanhas da
coligação que disputavam o segundo turno.
1436
A participação do PTB no governo de FHC foi o principal assunto de uma reunião da
executiva nacional do partido, no início de novembro, quando José Eduardo chegou a declarar que
o “[...] PTB é governo e deve participar da formulação das propostas do governo. Ou o partido é
tratado como tal ou vira oposição”. (FSP, 9 nov. 1994, p. 1-5.)252. Logo após à vitória nas urnas253
José Eduardo havia reivindicado o Ministério da Agricultura para o Paraná; um dos principais
adversários do PTB na disputa pelos cargos era Pedro Simon, a quem o deputado estadual Sérgio

247
Fonte: DIMENSTEIN, G.; CRUZ, B; WOLTHERS, G. Tucano tenta evitar pedidos. FSP, 6 out. 1994, p. Especial-1.
248
Fonte: Chumbo quente. Questão mineira. FSP, 26 out. 1994, Painel, p. 1-4.
249
Fonte: Busca de espaço. Toma lá, dá cá. Na outra ponta. FSP, 27 out. 1994, Painel, p. 1-4.
250
Fonte: Espinha de peixe. Fazendo sombra. Facas afiadas. FSP, 28 out. 1994, Painel, p. 1-4.
251
Fonte: WOLTHERS, G. & ULHÔA, R. PFL e PTB exigem de FHC mais influência na aliança. FSP, 1º nov. 1994, p. 1-4.
252
Fonte: FHC volta a ser o ministro do Real. FSP, Brasília, 9 nov. 1994, p. 1-5.
253
Fonte: SILVA, E. PTB exige cargos para dar apoio a FHC. FSP, São Paulo, 9 nov. 1994, p. 1-5.
542

Zambiasi (PTB-RS) acusava de controlar os cargos federais no Estado. Segundo a FSP (9 nov.
1994, Painel, p. 1-4)254, José Eduardo teria articulado a presença da imprensa na reunião do PTB
para evitar discussões sobre a cota do partido no governo FHC, pois pretendia manter-se como o
único ministeriável. Também nesta época o PSDB do Paraná255 articulava a indicação de José Richa
para o Ministério da Agricultura.
1437
Nas eleições de segundo turno, o PTB queria o apoio de FHC pelo menos no Distrito
Federal (DF), aonde a disputa radicalizara, havendo troca de insultos e acusações. Durante o debate
na TV, por exemplo, Cristovam Buarque (PT-DF) chegou a dizer a Campello que: “O senhor
lambeu as botas dos militares. [...] Se prefere um candidato apoiado por banqueiro, ali está, se
prefere o apoio de Lula, o candidato é outro”. (FSP, 2 nov. 1994, p. 1-6).256 A referência ao
banqueiro devia-se ao fato que José Eduardo destacara assessores para reforçar a campanha, pois o
Distrito Federal era um dos poucos locais onde Lula teve mais votos que FHC, e a pesquisa do
Datafolha indicava que Buarque tinha 49% das intenções de voto conta 41% de Campello. Na
época, JE conseguiu articular uma reunião entre FHC e Campello, bem como colocou a equipe da
campanha257 vitoriosa de Lerner, como a produtora de TV GW, para ajudar seu candidato. O que
estava em jogo258 era o prestígio do PT, que esperava compensar a derrota para a Presidência com o
governo de Brasília, bem como José Eduardo precisava mostrar uma vitória do seu partido sobre o
PT para aumentar o seu prestígio no Planalto.
1438
As eleições de segundo turno ocorreram no dia 15, e no DF, o comitê do candidato do PTB
“importou” 241 moradores da cidade de Volta Redonda (RJ) para fazer boca-de-urna e trabalhar
no esquema de transporte de eleitores nas cidades-satélites. Como responsável pelas caravanas de
transporte, estava Luís Antônio Vieira Albano, membro da diretoria da Força Sindical de Volta
Redonda. Segundo declarações do sindicalista, ele e seus companheiros resolveram “[...] trabalhar
aqui porque essa cidade é uma caixa de ressonância para o Brasil, e as despesas dos ‘convidados’
estão sendo bancadas pelo PTB. ‘Tudo com o aval do presidente do partido, José Eduardo Andrade
Vieira”. Na ocasião Pinheiro & Menezes (15 nov. 1994, p. Especial-10)259, entrevistaram alguns dos
cabos eleitorais e contam que a maioria deles era formada por:
300
[...] donas-de-casa, desempregados, estudantes secundaristas e aposentados. “Gente que pode
ficar cinco dias sem trabalhar”, disse Simone Cristina, 23; e Ela estava eufórica não por
trabalhar em uma eleição, mas pela oportunidade de viajar de graça. A caravana de cabos
eleitorais está com cinco diárias pagas no hotel Bristol (R$ 112 por apartamento triplo),
almoço, jantar e R$ 70 (um salário mínimo) ao final da apuração para todos os viajantes.
Perguntadas sobre o que vieram fazer em Brasília, 23 pessoas disseram que não sabiam. “Mas

254
Fonte: Voz do dono. FSP, 9 nov. 1994, Painel, p. 1-4.
255
Fonte: Mais pressões. FSP, 31 out. 1994, Painel, p. 1-4.
256
Fonte: Troca de insultos marca debate no DF. FSP, São Paulo, 2 nov. 1994, p. 1-6.
257
Fonte: Ocupando espaço. FSP, 2 nov. 1994, Painel, p. 1-4.
258
Fonte: MADUEÑO; D. & SILVA, E. Insultos e denúncias marcam disputa no DF. FSP, Brasília, 7 nov. 1994, p. 1-6.
259
Fonte: PINHEIRO, Daniela; MENEZES, Cynara. Campelo traz cabos eleitorais do Rio. FSP, Brasília, 15 nmov. 1994, p.
Especial-10.
543

uma coisa é certa: uma 'boca' dessas não vai ter nunca mais”, disse o contratado Marcelo
Silva. (PINHEIRO & MENEZES, 15 nov. 1994, p. Especial-10)

1439
Mas, apesar do esforço, o resultado da apuração deu vitória para Cristovam Buarque, e
Joaquim Roriz atribuiu a derrota à aliança entre PT e PSDB260; o governador e seu partido (PP) e o
PTB saíram como os grandes derrotados; ele havia se licenciado do mandato para fazer campanha
para Antônio Valmir Campello apenas cinco dias antes da eleição. Um dos motivos teria sido o
temor de perder espaço no PTB-DF devido à participação ostensiva de José Eduardo.
1440
Já em Roraima261, a disputa dividiu a coligação nacional PSDB, PFL e PTB. Os candidatos
Neudo Campos (PTB) e Getúlio Cruz (PSDB) receberam ajuda das direções nacionais dos seus
partidos. Na última semana de campanha, tanto José Eduardo como Pimenta da Veiga estiveram em
Boa Vista participando diretamente de comícios. Sérgio Motta cuidou pessoalmente da campanha
na TV, bem como foram enviados profissionais e equipamentos para Boa Vista. Neudo Campos,
apoiado pelo então governador Ottomar de Souza Pinto (PTB-RR), espalhou outdoors com
fotografias ao lado de FHC, bem como tinha o apoio do senador eleito Romero Jucá (PPR) e da
prefeita de Boa Vista, Tereza Jucá (PPR). Vitorioso, Neudo Campos negociou o apoio ao governo
FHC em troca de verbas federais para o Estado.
1441
Nessa mesma época, PP e PTB estavam esperando terminar o segundo turno para voltarem
a negociar a fusão das duas siglas; buscavam fechar um acordo antes da posse do novo Congresso,
em fevereiro. Derrotado nas eleições, o PP estava dividido, com três líderes sem mandato Álvaro
Dias, Joaquim Roriz e Hélio Costa – derrotados pelo PSDB em Minas. O motivo da divisão era a
idéia de fusão com outra legenda. Uma parte dos parlamentares queria se juntar a outro partido para
amenizar o desgaste com as derrotas, e conversavam com José Eduardo; a outra parte queria virar
governo entrando no bloco de apoio ao PSDB. Quem se reuniu com JE para discutir a fusão foi o
líder do PP na Câmara, Raul Belém (MG), ao passo que o PP do Paraná estava resistindo à união,
pois Álvaro Dias era adversário de JE no Estado. Segundo Luiz Carlos Hauly (PP-PR), eles não
estavam “[...] querendo fazer uma fusão, mas integrar um bloco de apoio ao governo que, mais
tarde, pode ser transformado em um grande partido com 300 parlamentares” (MADUEÑO &
NOGUEIRA, nov 18, 1994, p. 1-9). Para Pedro Teixeira, vice-presidente do PP do Distrito Federal,
o “[...] PP vai implodir. As eleições impediam a disputa interna, mas agora haverá um grupo
262
dissidente disposto a se somar com o PTB” , pois segundo ele, não havia motivos para o PP e o
PTB sobreviverem isolados. No final de novembro, Álvaro Dias reuniu-se com a bancada federal e,
segundo Raul Belém263, a idéia da fusão foi abandonada.

260
Fonte: NOGUEIRA, R. & MADUEÑO, D. Para Roriz, apoio tucano definiu eleição. FSP, 17 nov 1994, p. 1-10.
261
Fonte: TEIXEIRA, M. Disputa pelo governo em Roraima divide coligação que elegeu FHC. FSP, Boa Vista, 15 nov. 1994,
p. Especial-10.
262
Fonte: MADUEÑO, D. & NOGUEIRA, R. PP discute fusão com PTB; grupo do PR é contra. FSP, nov 18, 1994, p. 1-9.
263
Fonte: Fim de namoro. Pelos cotovelos. FSP, 24 nov. 1994, Painel, p. 1-4.
544

7.2.3.3 O MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, ABASTECIMENTO E REFORMA


AGRÁRIA.

1442
No dia 4 de dezembro, Pascowitch264 publicava nota na FSP, dizendo que o “vento começou
a soprar novamente a favor de José Eduardo Andrade Vieira. O Ministério da Agricultura está tão
próximo que ele até voltou a fazer seu Cooper matinal na Península dos Ministros com aquele
chapelão de vaqueiro – dos bons tempos de J.R”. (p. 6-2.) Como vimos anteriormente, o Ministério
da Agricultura tinha um histórico bastante complicado; em 18 meses de governo, Itamar nomeou
nove ministros para a agricultura: Lázaro Barbosa ficou sete meses; Wilson Romão, como interino,
ficou 11 dias; Nuri Andraus, nove dias; Wilson Romão, novamente interino, por um dia; Barroz
Munhoz, 76 dias; José Eduardo, também interino conseguiu permanecer por 42 dias; Dejandir
Dalpasquale, 69 dias; Alberto Duque Portugal, outro interino, 35 dias e Synval Guazzelli, no dia 31
de março de 1994 completava 65 dias no cargo (ver Quadro 7-3). Durante esse período
301
A produção de trigo, que chegou perto da auto-suficiência em 87 (6 milhões de t), despencou
para 2 milhões de t em 93, como resultado da drástica redução das tarifas de importação sobre
trigo e farinhas. [...] A troca do trigo nacional pelo importado provocou o desemprego de pelo
menos 400 mil trabalhadores rurais durante a safra. [...] No algodão, o Brasil passou de
exportador a importador, depois que o governo eliminou a tarifa de importação. De 1,221
milhão de ha em 84, a área plantada no Centro-Sul foi reduzida a apenas 652 ha nesta safra.
[...] a crise do algodão levou ao desemprego cerca de 300 mil trabalhadores no campo.
(BLECHER, 31 mar. 1994, p. A-4)265

1443
No início de dezembro, Blecher (6 dez. 1994, p. 1-6)266 informava que JE seria o novo
Ministro da Agricultura, e que agora só dependia de ele aceitar ou não. Caso o “convite” não fosse
aceito, o cargo poderia ser preenchido por Alysson Paulinelli (PFL-MG), que já havia ocupado a
pasta no governo Geisel; o paulista Roberto Rodrigues, ex-secretário da Agricultura de São Paulo e
então presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), ou Antonio Cabrera Mano Filho, presidente
do PFL de São Paulo, que também concorria pelo cargo de secretário da Agricultura e
Abastecimento do Estado de São Paulo.
1444
Enquanto isso, no dia 8, o presidente do Grupo Bamerindus, Maurício Schulman, assumiu a
Presidência da Febraban267, cargo para o qual havia sido eleito em chapa única, em outubro.
Segundo a FSP (6 out. 1994, p. 2-2)268, o “[...] banco do Paraná sempre foi independente em relação
à entidade [...]” e, na época, algumas especulações chegaram a cogitar o nome de Ângelo Calmon
de Sá do Banco Econômico. Na posse estiveram presentes o presidente do Bacen e o então já
considerado futuro Ministro da Fazenda, Pedro Malan. Na mesma cerimônia Cristiano Buarque
Franco Netto (Grupo Bozano Simonsen) assumiu a Presidência da Confederação Nacional das

264
Fonte: PASCOWITCH, J. Waldick. FSP, 4 dez. 1994, p. 6-2.
265
Fonte: BLECHER, B. Safra bate recorde apesar do governo. O presidente Itamar nomeou nove ministros para a Agricultura;
a maioria não fez nada. FSP, 31 mar. 1994, p. Especial A-4.
266
Fonte: BLECHER, B. Agricultura é de Andrade Vieira. FSP, 6 dez. 1994, p. 1-6.
267
Fonte: Reforma fiscal será prioridade da Febraban. FSP, 9 dez. 1994, p. 2-5.
268
Fonte: Mudança real, FSP, 6 out. 1994, Painel, p. 2-2.
545

Instituições Financeiras (CNF).


1445
Apesar do favoritismo de JE para assumir o Ministério da Agricultura, o presidente da
Comissão de Agricultura da Câmara, Nelson Marquezelli (PTB-SP) 269, também estava interessado
no cargo. Nelson Marquezelli tinha ligações históricas com a bancada ruralista no Congresso e
articulava para assumir sua liderança. Na época, o PMDB270 também estava articulando para ocupar
dois ministérios, e pleiteava a Agricultura e a Justiça. Para a Agricultura o nome mais cotado era do
deputado Odacir Klein (PMDB-RS), que também era da bancada ruralista e apoiado pelo
governador eleito do Rio Grande do Sul, Antônio Britto, principal aliado de FHC no PMDB.
Segundo Dimenstein, Cruz & Bramatti (13 dez. 1994, p. 1-7), José Eduardo teria desistido do
cargo, pois como presidente do PTB, pretendia integrar o Conselho Político do futuro governo. Os
petebistas não teriam representantes no ministério, mas iriam indicar os presidentes de duas
estatais, sendo a Itaipu Binacional uma delas. O Conselho Político seria integrado por José
Eduardo, Luiz Henrique (PMDB-SC), Pimenta da Veiga e Jorge Bornhausen e, segundo Luiz
Henrique, o conselho teria reuniões semanais com FHC, para discutir as ações do Executivo e seria
“o núcleo do poder”. No dia 16, saiu a notícia que FHC271 havia definido alguns nomes para o seu
ministério, entre eles, Odacir Klein para o Ministério dos Transportes e Nelson Jobim para a Justiça
e Cidadania; e que era intenção de Cardoso entregar a Agricultura para o PTB. Apesar de José
Eduardo querer ocupar o cargo, FHC teria decidido não indicar nenhum presidente de partido para
assumir ministérios. O PTB poderia acabar ficando com o MICT, pois o nome do partido mais
cotado era de Roberto Brant, ex-secretário de Indústria e Comércio do governador Hélio Garcia.
Para o PFL, o Presidente eleito teria escolhido Reinhold Stephanes (PR) para a Previdência Social e
Gustavo Krause para o Meio Ambiente; para a ala do PFL comandada por ACM foi reservado o
Ministério das Minas e Energia, no qual estavam subordinadas duas importantes estatais, a
Petrobrás e a CVRD. Naquele mês, a Embraer tinha sido privatizada e, segundo VEJA (7 dez.
1994)272, o governo estava iniciando o processo de privatização da CVRD e o BNDES teria
condições de fazer todos os preparativos legais em seis meses. Entre os compradores interessados
estavam: José Eduardo, Julio Bozano, Guilherme Frering273, Antonio Ermírio de Moraes e Jorge
Gerdau Johanpeter. Segundo Souza; Silva e Wolthers, para atender Antônio Britto, FHC pretendia
colocar Odacir Klein, na Agricultura, mas o problema era que:
302
[...] FHC já havia prometido o Ministério da Agricultura para o presidente do PTB, Andrade
Vieira. Klein foi deslocado para o Transportes, antes cobiçado por ACM. Fernando Henrique
inventou um critério para excluir Andrade Vieira, que considera controvertido. Disse que
presidentes de partido não teriam cargos. Mas Vieira não abriu mão de indicar o ministro.
Pinçou João Elísio, diretor do seu Bamerindus, para a Agricultura. E, ontem à noite, ainda

269
Fonte: Discreto. FSP, 9 dez. 1994, Painel, 1-4.
270
Fonte: DIMENSTEIN, G.; CRUZ, V. ; BRAMATTI, D. PMDB deve ficar com duas pastas. FSP, 13 dez. 1994, p. 1-7.
271
Fonte: SILVA, E. & WOLTHERS, G. Justiça e Transportes ficam com o PMDB. FSP, Brasília, 16 dez. 1994, p. 1-8.
272
Fonte: Começou a privatização da Vale. VEJA, 7 dez. 1994, p. 49.
273
Fonte: Herdeiro e dirigente do Grupo CAEMI, fundado por Augusto Trajano de Azevedo Antunes.
546

insistia para que fosse ele próprio o ministro. (SOUZA; SILVA e WOLTHERS, 16 dez. 1994,
1-8)274.

1446
No dia 16, FHC decidiu que Minas Gerais receberia três ministérios: Ciência e Tecnologia,
Trabalho e Indústria e Comércio e, também colocou José Eduardo na Agricultura. Ao entregar três
pastas aos mineiros, FHC atendia às reivindicações dos seus três maiores aliados no Estado: Hélio
Garcia (PTB), o governador eleito, Eduardo Azeredo do (PSDB), e o presidente nacional do PSDB,
Pimenta da Veiga. A escolha de José Eduardo para a Agricultura teria sido “um caso à parte no
quebra-cabeça para a montagem do ministério”,275 Fernando Henrique já havia decidido que
nenhum presidente de partido seria indicado para o primeiro escalão; JE indicou então João Elísio
para assegurar a vaga ao PTB. Após contentar o PMDB e PFL, segundo WOLTHERS & SILVA
(17 dez. 1994, p. 1-6), FHC “não estava satisfeito com Elísio, [e] Vieira deu como alternativa seu
próprio nome. Foi aceito”. No dia seguinte, a FSP publicava outra versão para os fatos:
303
Ao ficar sabendo da má repercussão em torno da indicação de João Elísio, diretor do
Bamerindus, para a Agricultura, FHC fez chegar a Andrade Vieira, dono do banco, que era ele
quem deveria ficar com o cargo de ministro [...] (FSP, 17 dez. 1994, Painel, p. 1-4)276.

1447
É importante destacar que:
304
Durante as negociações com FHC, o PMDB desdenhou a Agricultura. Na avaliação do partido,
o ministério será um local de desgaste político enquanto a equipe econômica seguir dando as
cartas. (FSP, 17 dez. 1994, Painel, p. 1-4.).

1448
Logo após ser confirmado para o cargo, JE declarou que a extinção da TR seria uma das
prioridades do próximo governo, pois “Não é possível corrigir os preços mínimos dos produtos
agrícolas por um índice e as dívidas dos produtores rurais por outro”. (BRAMATTI & SOUZA, 18
dez. 1994, p. 1-8)277. Na época, a TR corrigia os financiamentos agrícolas e as cadernetas de
poupanças. Um das alternativas que estavam em estudo era substituir a TR nas cadernetas de
poupança por uma outra taxa, baseada na média dos juros praticados no mercado. Com essa
declaração, José Eduardo já se posicionava em rota de colisão com a equipe econômica, pois
mudanças no crédito agrícola poderiam significar novos subsídios, pressões sobre a dívida pública,
bem como, caso o reajuste dos preços mínimos seguisse a TR, poderia ter impacto sobre o índice de
inflação, por outro lado, a inadimplência dos produtores afetava as carteiras de crédito rural dos
bancos.
1449
Os problemas de JE na pasta da Agricultura começaram antes mesmo de assumir, pois já no
dia 18, Bornhausen teria dito que “[...] não digeriu a nomeação do presidente do PTB, Andrade
Vieira, para a Agricultura. Presidente do PFL, ele acreditou que os presidentes dos partidos teriam

274
Fonte: SOUZA, J. de; SILVA, E.; WOLTHERS, G. FHC loteia seu ministério entre partidos. FSP, São Paulo, 16 dez. 1994,
1-8.
275
Fonte: WOLTHERS, Gabriela; SILVA, Eumano. Minas vai ter 3 ministérios em futuro governo. FSP, Brasília, 17 dez.
1994, p. 1-6.
276
Fonte: Sem intermediários. Por exclusão. FSP, 17 dez. 1994, Painel, p. 1-4.
277
Fonte: BRAMATTI, D. & SOUZA, G. de. TR acaba, diz futuro ministro. FSP, Brasília, 18 dez. 1994, p. 1-8.
547

lugar apenas no conselho político de FHC”. (FSP, 18 dez. 1994, p. 1-45).278 No dia 19, a seção
Painel da FSP informava em nota sob o título “Persona non grata” 279 que:
305
A bancada ruralista, que chega a reunir 200 congressistas, não gostou da nomeação de Andrade
Vieira para a Agricultura, e pode complicar as coisas para FHC. A última pessoa que eles
queriam ver na pasta era um banqueiro. [...] Ex-ministro da Agricultura no governo Itamar, o
deputado Lázaro Barbosa define a reação dos ruralistas a Andrade Vieira: “O setor agrícola foi
tão penalizado pelo setor financeiro que há uma cultura de reserva aos banqueiros”.(FSP, 19
dez. 1994, p. 1-4).

1450
No dia seguinte, Nelson Marquezelli (PTB-SP) avisava que, caso Fernando Henrique não
substituísse José Eduardo no Ministério da Agricultura, poderia vir a ter a bancada ruralista na
oposição; o deputado ameaçava dizendo que “Ele vai ver o resultado das votações da nossa bancada
no Congresso”, (NERI, 20 dez. 1994)280. Caso Fernando Henrique não cedesse, a primeira
insatisfação dos ruralistas aconteceria já no dia 21, na votação do chamado “Jumbão”, um pacote
de projetos econômicos que seria votado na Câmara. Marquezelli afirmava que, dias antes, 48
integrantes da bancada ruralista havia se reunido em São Paulo e decidido exigir a substituição de
JE, pois segundo ele, o futuro Ministro estava dificultado o encontro da bancada com FHC. Diante
da dificuldade, Nelson teria procurado Mário Covas para encaminhar a reclamação a Fernando
Henrique; Marquezelli também afirmou que:
306
Vieira procurou o presidente eleito dizendo ter sido indicado pela bancada petebista. Segundo o
petebista, seu partido não o apoiou. O deputado acusou Vieira de ter obtido lucros exorbitantes
com a inflação, a ponto de seu banco pular em poucos anos de 22 para 2.000 agências em todo
o país. (NERI, 20 dez. 1994).

1451
José Eduardo reagiu dizendo que solicitaria à comissão de ética do partido que tomasse
providências contra Marquezelli, pois “Não fica bem para o partido que essas críticas sejam feitas
em público”, e declarou que sua indicação para o Ministério da Agricultura não iria atrapalhar o
relacionamento do futuro governo com a bancada ruralista281. Segundo um parlamentar paulista, a
rebelião de alguns deputados do PTB contra a nomeação do presidente do partido para a
Agricultura era “[...] sinal de que Andrade Vieira vendeu para FHC o que não tinha para entregar”,
(FSP, 20 dez. 1994, Painel Rural, p. 1-4)282. Na época, rebeldes do PTB falavam até em destituir
José Eduardo da presidência do partido, e citavam o estatuto da agremiação que impedia o
presidente da legenda de ocupar cargos executivos. Para o seu lugar poderia ser eleito o seu
adversário Hélio Garcia, isolando José Eduardo dentro da legenda, ou também poderiam sair em
bloco do PTB. A nota da seção Painel sob o título “Onde o calo aperta”, observava que, ao “[...]
alvejarem o ‘jumbão’ para tentar derrubar Andrade Vieira da Agricultura, os ruralistas acertaram no
que não viram: o projeto prevê R$ 16 bi em créditos suplementares e tem R$ 3 milhões para as

278
Fonte: Pulga atrás da orelha. FSP, 18 dez. 1994, Painel , p. 1-45.
279
Fonte: Persona non grata. Alhos e bugalhos. FSP, 19 dez. 1994, Painel, p. 1-4.
280
Fonte: NERI, E. Ruralistas pedem troca de Andrade Vieira. FSP, 20 dez. 1994, p. 1-6.
281
Fonte: Fumaça branca. Deu bicudo. Importação. FSP, 20 dez. 1994, Painel Rural, p. 6-2.
282
Fonte: Boi e boiada. No limite. Embrulho vazio. Casa de ferreiro.. Onde o calo aperta. ..espeto de pau. FSP, 20 dez. 1994,
Painel Rural, p. 1-4.
548

despesas com a posse de FHC”. (FSP, 20 dez. 1994, Painel Rural, p. 1-4).
1452
Com o título “Deu banqueiro na lavoura”, Veja (21 dez. 1994)283 comentava que João
Elísio Ferraz de Campos havia sido anunciado como futuro Ministro da Agricultura no Jornal da
Rede Globo, do dia 15, mas acabou não permanecendo no cargo, pois antes mesmo de terminar o
programa, a apresentadora corrigia a informação dizendo que José Eduardo era quem assumiria a
pasta. Segundo a reportagem, a nomeação de José Eduardo teria sido uma derrota de Fernando
Henrique, que não queria o banqueiro com cargos no seu governo. Além de lembrar que o
Ministério da Agricultura tinha se tornado uma pasta de alta rotatividade, a reportagem descrevia
José Eduardo como uma pessoa...
307
[...] Teatral (faz o gênero caipira ingênuo), habituado a sempre dizer o que pensa, o dono do
Bamerindus é um nome polêmico para comandar os financiamentos e as colheitas de safras
agrícolas, boa parte dos agricultores tem verdadeiro horror a banqueiros. “Entre o que é bom
para o país e o próprio bolso, os banqueiros sempre fazem o que é melhor para o bolso”,
critica o deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO), líder da bancada ruralista do Congresso. Como
ministro da Agricultura, José Eduardo terá à sua disposição no orçamento do próximo ano 8
bilhões de reais para financiamento de safra, investimentos no setor e armazenamento de grãos.
“É colocar a raposa dentro do galinheiro”, diz Caiado. (VEJA, 21 dez. 1994, p. 39).

1453
A reação de JE veio em seguida, reuniu-se com FHC, o presidente da Organização das
Cooperativas Brasileiras (OCB), deputado Dejandir Dalpasquale (PMDB-SC), e o presidente da
Confederação Nacional de Agricultura (CNA), Antônio Ernesto de Salvo, ao que pareceu, no final
da reunião, os dois “[...] não fizeram a defesa incondicional do nome de Vieira. ‘A Agricultura vai
estar em boas mãos porque vai ser administrada pelo presidente eleito’, disse Dalpasquale. ‘Nós
achamos que Andrade Vieira não tem ligações com as lideranças da classe, mas esperamos que
ele cumpra o programa de governo de Fernando Henrique” (FSP, 21 dez. 1994, p. 1-5. Grifo
nosso)284. Na seqüência, José Eduardo reuniu-se com membros da bancada ruralista e, segundo a
FSP (21 dez. 1994, p. 1-4)285, falando em nome de FHC, disse que sua nomeação para a Agricultura
era irreversível e se comprometeu a ouvir a bancada na composição do segundo escalão do
ministério. Por outro lado, lideranças do PTB declaravam que o apoio a FHC no Congresso seria
restrito, inicialmente, às reformas tributária, fiscal e previdenciária, pois estavam aguardando as
nomeações de segundo escalão para definir um futuro apoio ao governo. Com relação às críticas da
bancada ruralista à sua nomeação, José Eduardo respondia que a “[...] rebelião é coisa de gatos-
pingados. As principais lideranças ruralistas me apóiam” (FSP, 21 dez. 1994, p. 1-4). No dia 22,
Nelson Marquezelli publicava nota na FSP dizendo que:
308
Esse conceituado jornal publicou na edição de 9/12, na coluna Painel, o comentário
“Discreto”, citando meu nome e o nome do senador José Eduardo Andrade Vieira. Quero
esclarecer que mantenho com o ilustre senador um laço de amizade e admiração que ultrapassa
os limites da política. O senador é um excelente empresário, um político admirável, idealista,
honrado, competente e que em qualquer ministério engrandecerá o governo do presidente

283
Fonte: Deu banqueiro na lavoura. VEJA, 21 dez. 1994, p. 39.
284
Fonte: FHC anuncia nomes de ministros hoje. FSP, 21 dez. 1994, p. 1-5.
285
Fonte: Paz temporária. Apoio precário. FSP, 21 dez. 1994, Painel, p. 1-4.
549

Fernando Henrique Cardoso. [Assinado] Nelson Marquezelli, deputado federal pelo PTB-SP
(Pirassununga, SP). (FSP, 22 dez. 1994, p. 1-3) 286.

1454
Em resposta, José Roberto de Toledo, editor do Painel, publicou:
309
O autor da carta é o mesmo que há poucos dias liderou o ensaio de rebelião da bancada do PTB
contra a nomeação de Andrade Vieira para o Ministério da Agricultura. Na semana passada, o
fax do gabinete de FHC ficou congestionado por mensagens de políticos e associações ligadas
a Marquezelli pedindo sua nomeação para Ministro da Agricultura. Agora, depois de chegar a
acordo com o futuro Ministro, Marquezelli desencava uma carta datada de 12 de dezembro e só
enviada no dia 20, curiosamente, a partir do gabinete de Andrade Vieira. [...] “A Comissão
Técnica de Café da Federação da Agricultura do Estado do Paraná dá conhecimento do total
apoio de todos os agricultores nacionais e, em especial os paranaenses, pela feliz indicação do
senador José Eduardo de Andrade Vieira para o Ministério da Agricultura. Wilson Baggio,
presidente da Comissão Técnica de Café da Federação da Agricultura do Estado do Paraná
(Cornélio Procópio, PR)”. (FSP, 22 dez. 1994, p. 1-3).

1455
Por outro lado, ao ser criticado por formar um ministério predominantemente paulista,
Fernando Henrique287 teria lembrado que os titulares da Previdência, Reinhold Stephanes, e da
Agricultura, José Eduardo, eram do Paraná. Também avisou288 à bancada ruralista, que iria exigir do
futuro Ministro da Agricultura, o combate à sonegação no campo: “É um absurdo que, num país
deste tamanho, não se pague o ITR (Imposto Territorial Rural) [...] Não é um imposto para esmagar
o agricultor, mas para evitar que a terra seja apenas reserva de valor” (FSP, 22 dez. 1994, p. 1-8).
Outro apoio veio do senador eleito Íris Rezende (PMDB-GO) que declarou:
310
Ele [FHC] escolheu bem. Como ex-ministro da Agricultura, não vejo fundamento em restrições
ao senador José Eduardo Andrade Vieira para a pasta. Ele será um grande ministro. Esperamos
que todos os ministros atuem como estadistas para atender todos os Estados. (FSP, 22 dez.
1994, p. 1-10)289.

1456
Confirmado oficialmente para o Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma
Agrária desde o dia 21290, José Eduardo teve que se licenciar da presidência do diretório nacional do
PTB, sendo substituído pelo então vice-presidente, Manuel Antônio Rodrigues Palma (PTB-MT). O
principal problema que seria enfrentado por ele no Ministério291 era a aplicação da TR sobre os
empréstimos de custeio e investimentos agrícolas. A questão estava num documento entregue ao
Presidente eleito e ao novo Ministro, durante a reunião em Brasília na qual participaram os
presidentes da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Roberto Rodrigues, CNA, Antônio Salvo, e OCB,
Dejandir Dalpasquale. As lideranças pediam, ainda, que o governo antecipasse soluções às notórias
deficiências operacionais do governo na armazenagem da safra e que têm provocado perdas
significativas aos produtores e desgaste público ao setor agrícola e ao governo. A comercialização
da safra a ser colhida em 1995 seria estatizada, pois de acordo com o documento, o custo alto dos
financiamentos levaria os agricultores a entregar grande parte da produção ao Governo, através do

286
Fonte: Andrade Vieira ministro. FSP, 22 dez. 1994, Painel do Leitor, p. 1-3.
287
Fonte: WOLTHERS, G. & BRAMATTI, D. FHC muda o ministério na última hora. FSP, 22 dez. 1994, p. 1-8.
288
Fonte: Eleito quer reduzir sonegação do ITR. FSP, Brasília, 22 dez. 1994, p. 1-8.
289
Fonte: Repercussão. FSP, São Paulo, 22 dez. 1994, p. 1-10.
290
Fonte: Fernando Henrique divulgou seu ministério; o nome de Pelé surpreende. FSP, 25 dez. 1994, p. 1-4.
291
Fonte: Lideranças levam reivindicações a FHC. FSP, 27 dez. 1994, p. 6-2.
550

sistema de equivalência. Os produtores rurais queriam que o Governo se definisse em relação ao


descasamento entre preços e correção dos financiamentos agrícolas ocorrido no Plano Collor.
Quanto à política de abertura comercial, as lideranças reivindicavam a eliminação do ICMS nas
exportações de produtos agrícolas e ampliação dos estudos sobre a tributação compensatória nas
importações subsidiadas, bem como consideravam urgente a isenção do ICMS sobre a cesta básica.
1457
No dia 30 de dezembro, antes mesmo de terminar o governo Itamar, o Bacen decretou a
intervenção em regime de Administração Especial Temporária (RAET) no Banespa, Banerj e no
Banco Desenvolvimento Rio Grande do Norte S.A. A medida já era esperada pelo mercado, visto
que os bancos estaduais passavam por grandes problemas para se ajustarem ao Plano Real.
Também neste dia, Anthony Pain292, diretor internacional do Bamerindus, informava que estava na
reta final a negociação entre o Bamerindus e o Grupo HSBC, envolvendo a participação inferior a
10% no banco brasileiro. A formalização do acordo dependia da aprovação do CMN e do Bacen,
que só viria a ocorrer um ano depois. O HSBC era o oitavo conglomerado financeiro mundial, o
maior banco não-japonês e, na América Latina, já possuía participação minoritária no banco
chileno O'Higgins e no argentino Roberts. Segundo Pain, tratava-se “[...] de uma aliança estratégica
entre um dos poucos grandes bancos brasileiros que ainda não tinham um sócio estrangeiro e um
banco com cobertura global” (FSP, 30 dez. 1994, p. 2-9). Segundo ele, a idéia era que o
Bamerindus pudesse alavancar seus negócios internacionais.
1458
No dia 2 de janeiro de 1995294, José Tabela 7-9: Intervenções de JE no Senado (1991 – 1994)
Eduardo de Andrade Vieira tomou posse Média
Tipo Cód 1991 1992 1994 Total
Mensal
no Ministério da Agricultura junto com 18 Aparte APA 11 4 3 18 0,53
Debate DEB 1 1 0,03
outros Ministros do governo Fernando Discurso DIS 14 15 13 42 1,24
Justificação JUS 1 1 0,03
Henrique Cardoso. Na cerimônia estiveram Parecer PAR 10 4 2 16 0,47
presentes os banqueiros Ângelo Calmon de Prop. Emenda PEC
1 1 0,03
Constitucional
Sá e Lázaro Brandão, o presidente da Projeto de Lei PLS
2 4 3 9 0,26
do Senado
Febraban, Maurício Schulman, e diversos Requisição de RAU
14 10 28 52 1,53
Ausência
parlamentares da bancada ruralista. Requerimento RQS 3 3 1 7 0,21
1459 Total 55 41 51 147 4,32
Na Tabela 7-9 e no Gráfico 7-3 Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nos dados nos
apresentamos a atuação de José Eduardo quadros extraídos de VIEIRA (1990-2005)293.

nos trabalhos do Senado Federal, tendo realizado 42 discursos – em média um discurso a cada 24
dias – 18 apartes – um aparte a cada dois meses – apresentou 9 projetos de lei e uma proposta de
emenda constitucional.

292
Fonte: BLECHER, N. Bamerindus alia-se ao 8º banco mundial. FSP, 30 dez. 1994, p. 2-9.
293
Fonte: VIEIRA, José Eduardo de A. Discursos e depoimentos. Diário do Congresso Nacional. Seção II. Anais do Senado.
Subsecretaria de Anais. Brasília: diversos números, período 1990-1998. Disponível em:
<http://www.senado.gov.br/sf/publicacoes/anais/Regra/Pesquisar.asp?TIPO=1>. Acesso em: 10 ago. 2005.
294
Fonte: Tomam posse 19 ministros; Pelé e general assumem hoje. FSP, São Paulo, 3 jan. 1995, p. 1-5.
551

1460
Tal atuação foi bastante diferente de seu Gráfico 7-3: Intervenções de JE no Senado no período 1991
- 1994. (em %)
pai, pois como foi visto nos capítulos
Requerimento Aparte
anteriores, Avelino Vieira quase não participou 5% 12%
Requisição de
das atividades da Assembléia Legislativa, Ausência Debate
34% 1%
preferindo deixar a política para os sócios e
amigos. José Eduardo também teve uma
Discurso
atuação bastante diferente dos banqueiros / Projeto de Lei
29%
do Senado
Proposta de
políticos ingleses que, segundo CASSIS (1994), 6%
Emenda à Justificação
Constituição Parecer 1%
preferiam agir de forma mais discreta; como 1% 11%

exemplos, o autor cita que não foram Fonte: Gráfico elaborado pelo autor com base nos dados
extraídos de VIEIRA (1990-2005).
encontrados registros de intervenção de Eric
Hambro durante seu mandato (1900-1906); ou Alexandre Hargreaves Brow que, nos vinte anos de
sua atuação parlamentar, falou 17 vezes, ou menos que uma vez por ano295. O fato de José Eduardo
ser banqueiro e ter tal desempenho, em boa parte justificava a sua classificação entre “Os 'cabeças'
do Congresso Nacional”, publicado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar
(DIAP)296. Nessa pesquisa, foram identificados os 100 parlamentares mais influentes no poder
Legislativo, e JE aparecia classificado como de tendência política de “centro” 297 e “Articulador /
298
Organizador” ; também é importante observar que, quando Letaif (1997) questionou Maria
Christina sobre as atividades políticas de JE, em Brasília, se teriam prejudicado o seu trabalho no
comando do Bamerindus, ela respondeu que em parte sim, pois...
311
Em primeiro lugar, pelo distanciamento físico dele do banco, do cotidiano do banco. Enquanto
era senador, ele conseguia com mais habilidade e com mais disponibilidade de tempo acumular
tudo. Ele sempre foi uma pessoa muito trabalhadora, trabalhava aos sábados e domingos e fazia
todos trabalharem, conseguia dar conta. Quando começou a galgar outros escalões em
termos de política, sem dúvida isso atrapalhou. (LETAIF, 1997, p. 40-41. Grifo nosso).

7.3 OS ÚLTIMOS ANOS DO BAMERINDUS (1995 A 1997)

1461
Nesta parte finalizamos o capítulo e a tese apresentando uma breve revisão dos principais
acontecimentos que culminaram na intervenção do Bacen no Grupo Bamerindus. Os

295
Fonte: Cassis (1994, p. 273).
296
Fonte:DIAP - Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar. Revela: Os “cabeças” do Congresso Nacional. Uma
pesquisa sobre os 100 parlamentares mais influentes no poder Legislativo. Boletim do DIAP. Informativo do Departamento
Intersindical de Assessoria Parlamentar. Brasília: SBS Ed. Seguradoras, Edição Especial, março de 1994.
297
“A definição do perfil político dos líderes de opinião do Congresso levou em consideração vários fatores, entre os quais, os
votos dados em determinadas matérias, os pronunciamentos, acordos, filiação partidária. vinculação a grupos políticos, visão
da economia, entre outros”. Fonte: DIAP (1994, p. 6).
298
“Articuladores / Organizadores: São parlamentares com excelente trâmite nas diversas correntes políticas e cuja facilidade
de interpretar o pensamento da maioria os credencia a ordenar e criar as condições para o consenso. Muitos deles exercem
um poder invisível entre seus colegas de bancadas, sem aparecer na imprensa ou nos debates de plenários e comissões.
Como interlocutores dos líderes de opinião, encarregam-se de difundir e sustentar as decisões ou intenções dos tomadores de
decisão, formando uma massa de apoio à iniciativa dos dirigentes dos grupos políticos a que pertencem. Normalmente, têm
livre acesso aos bastidores, ao poder institucional, e alto grau de fidelidade às diretrizes partidárias ou ideológicas do grupo
político a que pertencem. Não são necessariamente eruditos, intelectuais, mas possuem instinto político e o dom da síntese”.
Fonte: DIAP (1994, p. 3).
552

acontecimentos que se seguiram, a partir de janeiro de 1995, formam a história da agonia da


instituição que durou até 26 de março de 1997, quando o Bacen decretou a intervenção no grupo e
transferiu o controle de parte do banco e da seguradora para o HSBC. A análise deste período é
uma outra história, que vamos deixar para uma próxima oportunidade, pois a complexidade dos
acontecimentos exige uma pesquisa específica e detalhada.
1462
Ao assumir o Ministério da Agricultura, José Eduardo pôde constatar que a previsão do
PMDB estava absolutamente correta299. Até deixar a pasta em abril de 1996, JE passou por um
longo processo de desgaste político, tendo que enfrentar protestos tanto de produtores como de
trabalhadores rurais e de políticos. Logo que assumiu o cargo, ele tentou enfrentar Pedro Malan300,
buscando resolver a questão da TR e dos preços agrícolas, mas não deu certo. Ao mesmo tempo o
Bamerindus enfrentava problemas crescentes para ajustar-se ao Plano Real. Desde dezembro de
1994, o Brasil e todo o sistema financeiro estavam sob pressão da crise cambial mexicana. Na
época, os boatos que corriam no mercado financeiro internacional colocavam a economia brasileira
seria a próxima a entrar em crise – “a bola da vez”. Também a intervenção, em dezembro, nos
dois maiores bancos estaduais, Banespa e Banerj, sinalizaram ao mercado e à sociedade que o novo
Governo estava disposto a prosseguir nos ajustes estruturais que considerava necessários para que o
Plano Real continuasse existindo, principalmente porque esse projeto incluía a reeleição de FHC.
1463
No início de 1995, o Bamerindus assumiu formalmente o controle da rede de televisão
CNT, da família Martinez, numa operação que mais tarde será relacionada com as dificuldades
enfrentadas pelo banco. Também nesse, ano foi anunciado que o grupo havia adquirido participação
no jornal Indústria e Comércio, de Curitiba. A entrada de um novo e forte concorrente colocaram de
sobreaviso não só a imprensa brasileira, como o mundo político.
1464
Como uma das conseqüências da crise do México, em março de 1995, o Bacen teve que
enfrentar a saída do mercado financeiro brasileiro de aproximadamente US$ 1,5 bilhão em
investimentos estrangeiros, o que causou forte impacto na confiança dos investidores na política
econômica do novo governo e no mercado financeiro. Em abril, o grupo FHC obteve uma
importante vitória no Congresso, quando a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara
aprovou a admissibilidade da proposta de emenda constitucional que permitiria a reeleição para os
cargos dos executivos federal, estadual e municipal, o que contrariava os interesses de muitos
políticos que sonhavam com a Presidência da República. Nessa época, José Eduardo enfrentava
protestos crescentes dos produtores rurais, principalmente gaúchos, que culminaram na “Marcha
sobre Brasília”. Em meio ao fogo cruzado entre produtores e Governo, JE entrou novamente em
conflito com Malan ao tentar mudar a política do crédito rural e preços mínimos. Nos gabinetes
mais influentes do Planalto, as dificuldades de José Eduardo eram atribuídas aos seus inimigos

299
Fonte: “Durante as negociações com FHC, o PMDB desdenhou a Agricultura. Na avaliação do partido, o ministério será um
local de desgaste político enquanto a equipe econômica seguir dando as cartas”. (FSP, 17 dez. 1994, Painel, p. 1-4).
300
Fonte: Preços agrícolas opõem Malan a Andrade Vieira. FSP, 6 jan. 1994, p. 1-9.
553

políticos, como por exemplo, o deputado Nelson Marchezelli (PTB-SP), o presidente da


Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Francisco Urbano, e de produtores de
algodão. O movimento em algumas cidades gaúchas chegou a recolher assinaturas num manifesto
que pedia a demissão do Ministro, que era considerado, segundo Mário Luiz Bertani, presidente da
Cotriel - Cooperativa Tritícola de Espumoso Ltda (RS), “um inimigo na trincheira”, (Jornal do
Brasil, 14 jul. 1995)301. Os protestos de várias categorias de produtores rurais culminaram na
organização de manifestações com centenas de caminhões, os chamados “caminhonaços”,
seguidas de uma grande carreata a Brasília no mês de julho de 1995. Na época, boatos falavam na
queda iminente do Ministro302. Para complicar mais ainda a situação política de JE, no dia 9 de
agosto, no conflito ocorrido durante a desocupação da fazenda Santa Elina, em Corumbiara,
Rondônia, morreram dez trabalhadores sem-terra e dois policiais. O Relatório da Polícia Federal
classificou a ação da PM como um “massacre”. Na imprensa, José Eduardo era criticado por ter
colocado o seu amigo e grande produtor rural, Brazílio de Araújo Netto, para comandar o Incra.
1465
No dia 11 de agosto de 1995, o Bacen decretou intervenção no Banco Econômico, o que
provocou forte reação de Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), na época um dos principais líderes
da base de sustentação do Governo. Na ocasião, os boatos diziam que as próximas intervenções
seriam nos bancos Nacional e Bamerindus. No dia 18, a Gazeta Mercantil publicou a seguinte nota:
“Bamerindus está bem. José Eduardo considerou infundados e maldosos os boatos de que seu
banco tenha qualquer dificuldade de liquidez”, (GM, 18 ago. 1995, p. B-3)303. Quatro dias depois,
uma reportagem da Gazeta Mercantil304 focalizou a Inpacel, classificando-a como “combalida” e
que seus sucessivos prejuízos exigiam constantes aportes de capital pelo Bamerindus. As
reportagens aconteceram num momento em que a Gazeta Mercantil também passava por
dificuldades financeiras e,
312
[...] Tempos antes, ainda presidente [da Inpacel], José Carlos Gomes de Carvalho, o
“Carvalhinho” convencera o Grupo Gazeta Mercantil a trocar de fornecedor, comprar papel na
Inpacel. Assim foi feito. Até que, por descuido, uma fatura não foi paga de imediato, indo a
protesto. (FERNANDES, 1997, p. 34)305.

1466
Nessa época, JE também estava negociando a fusão do PTB como o PPB, partido que
estava sendo criado a partir da fusão do PPR de Maluf / Jayme Canet com o PP de Álvaro Dias,
mas havia muita resistência dentro dos partidos.

301
Fonte: Agricultores irritados. JB, Porto Alegre, 14 jul. 1995, p.3. Agricultores pedirão demissão de ministro.
“Caminhonaço” chega amanhã a Brasília exigindo a “cabeça” de Andrade Vieira e fim da TR nos financiamentos da safra
94/95. JB, Brasília, 17 julho 1995, p. 4.
302
Fonte: CARMO, Márcia. Demissão de Andrade Vieira é quase certa. Só um detalhe ainda segura o ministro: sua
colaboração para a eleição de Cardoso. JB, 14 jul. 1995.
303
Fonte: Bamerindus está bem. GM, 18 ago. 1995, p. B-3.
304
Fonte: Uma saída para a Inpacel. GM, 22 ago. 1995, p. A-1 e A-6.
305
Fonte: FERNANDES, B. Com medo de Lula, Andrade Vieira quebrou. Carta Capital, São Paulo, 16 abr. 1997, nº 46, p.
32-43.
554

1467
Em setembro, a Veja (6 set. 1995, p. 100-101)306, velha conhecida de José Eduardo307, foi
bastante explícita ao publicar os boatos que corriam no mercado financeiro, dizendo que os bancos
Econômico, Nacional e Bamerindus “foram apontados pela boataria do mercado como bancos
frágeis”. No dia 27, por causa das pressões dos setores ligados à Igreja Católica e o Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Fernando Henrique demitiu o presidente do Incra, Brazílio
de Araújo. Na ocasião, circularam notícias dizendo que o Planalto esperava o pedido de demissão308
do Ministro José Eduardo. A situação do Bamerindus piorou quando, em 26 de outubro, a Agência
Moody´s309 anunciou que estava revisando para baixo a classificação de risco do Bamerindus e do
Banco Nacional. Em novembro, o Governo editou às pressas uma nova MP que ampliava os
poderes do Bacen para intervir em instituições financeiras e, no dia 18, anunciou que assumia a
administração do Banco Nacional. A importância dessa intervenção estava no fato que a família
Magalhães Pinto tinha ligações com a família de Fernando Henrique; para o mercado financeiro, o
recado foi bastante claro, o Governo estava determinado a promover a reestruturação do sistema
financeiro nacional.
1468
Nesse cenário, o Bamerindus também tinha muitos problemas internos por resolver,
principalmente na estrutura de comando da organização. Quando Maria Christina assumiu a
Diretoria de Infra-estrutura, em janeiro de 1995, “[...] ela não tardou a perceber os problemas
trazidos pela falta de comando no banco — embora distante fisicamente do quartel-general do
Bamerindus, o senador Andrade Vieira nunca abriu mão da condução dos negócios”,
(FERNANDES, 1997, p. 37). Ainda segundo o jornalista, até iniciarem os problemas do
Bamerindus, ele era um banco
313
[...] extremamente líquido. No interbancário, todo o dia, injetava de R$ 3 bilhões a R$ 4
bilhões. Internamente, o banco iniciava seus ajustes; demitiu 5 mil funcionários, enxugou
despesas no valor de R$ 200 milhões / ano. [...] Rapidamente esta situação se inverteu com as
intervenções no Econômico e Nacional [...] O mercado percebeu: o Bamerindus [...] corria
riscos de contaminação. Começava a corrida. De início [...] os bancos — mais de 20 — que
emprestavam à Inpacel, no vencimento não quiseram renovar. O Bamerindus [...] pela primeira
vez começou a despejar dinheiro próprio no sorvedouro [...] [na] corrida contra o Bamerindus
[...] No vencimento [de contratos] os grandes bancos não renovaram. Os grandes clientes,
multinacionais como a GM, pularam fora. De outubro a dezembro o Bamerindus perdeu R$ 6
bilhões dos R$ 16 bilhões que movimentava. (FERNANDES, 1997, p. 34).

1469
Para sair da crise, o grupo iniciou um processo de reestruturação, vendeu o controle
acionário da CSN, Copesul, Fosfértil, CNT e Refripar, aumentou o capital social e tentou sanear a
Inpacel, bem como, em 26 dez. 1995310, conseguiu oficialmente formalizar a parceria com o HSBC

306
Fonte: A hora da fusão. VEJA, 6 set. 1995, p. 100-101.
307
Para mais detalhes sobre a revista Veja, consultar CARVALHO, Vanderlei S. Imprensa e neoliberalismo no Brasil (1995-
1998): o posicionamento da revista Veja no primeiro governo FHC. Dissertação (mestrado). Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas. Campinas: UNICAMP, 2004.
308
Fonte: Planalto espera o pedido de demissão de Andrade Vieira. O Globo, 29 set. 1995, O País, p. 4.
309
Fonte: Bancos derrubam bolsas. GM, 26 out. 1995, p. A-1, B-1 e B-7.
310
Fonte: Bamerindus fecha parceria com Midland. OESP, 27 dez. 1995. Disponível em: <http://www.estado.estadao.com.br/
jornal/95/12/27/WHITE27.HTM>. Acesso em: 14 abr. 2002.
555

após a aprovação do Bacen. Também abriu negociações com o Banco Central para tirar o banco da
crise e uma das primeiras propostas foi que:
314
[...] a Caixa Econômica compraria a carteira imobiliária do banco por cerca de R$ 2 bilhões.
Ou, simplesmente, o governo federal pagaria o que devia ao banco: R$ 400 milhões da
Superintendência Nacional da Marinha Mercante (Sunamam), mais R$ 1 bilhão do Fundo de
Compensação das Variações Salariais (FCVS), dos quais R$ 500 milhões já haviam vencido. A
proposta tinha um desdobramento: que o governo federal ajudasse Estados e municípios —
nada no Paraná — a pagar ao Bamerindus dívidas superiores a R$ 600 milhões. Diante das
alternativas, incluídas as que seriam apresentadas ao longo de 1996, [o Bacen dava] a mesma
resposta: — Não podemos expandir a base monetária. (FERNANDES, 1997, p. 34-35).

1470
A pressão política aumentou quando, em dezembro de 1995, o Tribunal de Contas da União
(TCU) acusou José Eduardo e o Senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) de terem recebido
incentivos fiscais irregulares para instalar empresas na Amazônia. Mais tarde, a Justiça considerou
que essas empresas receberam apenas os incentivos fiscais concedidos a qualquer empresa que
tivesse se estabelecido na região.
1471
Em 1996, intensificaram-se boatos sobre as dificuldades financeiras do banco, e em abril, a
Moody´s novamente rebaixou sua classificação. A situação política de JE se tornou insustentável no
dia 17 daquele mês, quando ocorreu o chamado “Massacre de Eldorado dos Carajás” onde, em
conflito com a Polícia Militar, foram mortos 19 trabalhadores rurais num acampamento na região.
Na ocasião, José Eduardo declarou à imprensa que não tinha responsabilidade alguma pelos
confrontos e culpou as lideranças dos trabalhadores sem-terra pelos conflitos rurais. Em nota, a
Comissão Pastoral da Terra (CPT) considerou que o Governo Federal também era responsável pelo
massacre, pois criou expectativas não realizadas em relação à reforma agrária e acusou o Ministro
da Agricultura, José Eduardo, de ter “sucateado” o Incra311. A repercussão internacional do
incidente e as pressões de vários segmentos da sociedade civil levaram José Eduardo a entregar
oficialmente o cargo no dia 23 de abril de 1996. Pressionado e desgastado politicamente, ele ainda
tentou colocar João Elísio no cargo, mas acabou sendo substituído pelo Senador Arlindo Porto
(PTB-MG), indicado pelo seu adversário Hélio Garcia. Fora do governo, José Eduardo retornou ao
Senado e às atividades no Bamerindus.
1472
No dia 17 de junho, as negociações com as ações do Bamerindus foram suspensas pela
terceira vez na Bolsa de Valores, por causa dos boatos de iminente intervenção do Bacen. Em 1º de
julho o Banco Central iniciou negociações com os controladores do grupo, oficialmente buscando
um acordo para salvar o banco, mas passou a exigir a saída de José Eduardo para colocar o
Bamerindus no Proer. Nesse mês, segundo Maria Christina312, foi instalada no banco uma equipe de
funcionários do Bacen que formalmente passou a determinar ações e metas que eram então
repassadas aos funcionários, para que cada área cumprisse aqueles objetivos. Em outubro, as ações
do Bamerindus foram suspensas novamente nas bolsas e, em dezembro, fracassou a tentativa de

311
Fonte: Pará é recordista em crimes no campo. FSP, Maceió, 19 abr. 1996, p. 1-8.
312
Fonte: Fernandes (1997, nº 46, p. 39).
556

acordo com o Bacen; na época falava-se que o governo teria que injetar aproximadamente R$ 6
bilhões313 para sanear o banco.
1473
Em 26 de novembro, o Senado aprovava a criação da CPI dos Precatórios para investigar
operações ilegais com títulos públicos, o que acabou envolvendo alguns políticos que se
preparavam para serem candidatos a Presidente da República em 1998, entre eles Paulo Maluf e
Jaime Lerner. Roberto Requião participou ativamente dos trabalhos da CPI, e a utilizou como
palanque para atacar seu rival Lerner. Mais tarde, Jaime e seu grupo deixaram o PDT, tentaram sem
sucesso entrar no PSDB e acabaram se filiando ao PFL. Esse movimento praticamente excluiu
Lerner da corrida presidencial, já que o partido tinha FHC como candidato.
1474
Segundo Fernandes (1997), diante das dificuldades, no final de 1996, JE finalmente
concordou em assinar um documento garantindo seu afastamento do banco. O documento chegou a
ser redigido, mas o Bacen já estava negociando a venda do banco ao HSBC. José Eduardo e Marcos
de Aguiar Jacobsen314 já haviam proposto a venda do Bamerindus ao grupo inglês, mas o vice-
presidente do banco, na Inglaterra, e presidente do grupo no Brasil, Michael Geoghegan, respondeu
que não havia interesse. No balanço de 1996, o HSBC lançou como perda a sua participação no
Bamerindus enquanto “[...] abria negociações para a compra do Bamerindus, com Pedro Malan [...]
Esse é um episódio muito, muito estranho — disse Andrade Vieira a conhecidos. Saneado, segundo
o ex-banqueiro, o Bamerindus valeria R$ 1,5 bilhão [...]”. (FERNANDES, 1997, p. 35) Em 25 de
janeiro, a Fazenda Barreira Branca do Bamerindus, no Pará, foi ocupada por aproximadamente 70
trabalhadores sem-terra. Também neste mesmo mês, a emenda da reeleição foi aprovada na Câmara
e, no dia 15 de março, o governo brasileiro formalizou a adesão do Brasil ao Bank for International
Settlements (BIS), o que significava a adoção das normas e diretrizes recomendadas pelo organismo
internacional, destinadas a padronizar o sistema bancário dos países membros.
1475
No dia 26 de março de 1997, o Banco Central do Brasil decretou a intervenção no
Grupo Bamerindus do Brasil S.A. e transferiu parte do patrimônio do banco e a seguradora
para o HSBC.
1476
Segundo a Lavarotti & Previdello (27, 28 e 29 mar. 1997, p. B1)315, um total de R$ 10
bilhões de ativos e passivos foram transferidos para o HSBC e, aproximadamente R$ 5 bilhões
ficaram com o Bacen. Também a carteira imobiliária, de R$ 2,5 bilhões foi para a Caixa Econômica
Federal e as linhas de crédito no exterior e a carteira rural, num total de US$ 300 milhões, foram
transferidos para o Banco do Brasil.

313
Fonte: Bamerindus pode receber R$ 6 bi do BC. FSP, 05 dez. 1996, p. 1-1.
314
Marcos de Aguiar Jacobsen foi diretor do Bamerindus e membro do Comitê Executivo responsável pela área de Finanças do
Banco Bamerindus do Brasil SA. Também foi presidente e 1º vice-presidente da Associação Nacional das Instituições do
Mercado Aberto (ANDIMA) e presidente do Conselho de Administração da Central de Custódia e de Liquidação Financeira
de Títulos (CETIP) em 24 abr. 1987. Fonte: Projeto Memória Bamerindus (1995, ano 1991); CETIP (1987); O Globo, 24
jun. 1988. Disponível em: <http://www.debentures.com.br/imagens/SND_10anos.pdf>. Acesso em: 29 jan. 2003
315
Fonte: LAVAROTTI, L. E. & PREVIDELLO, M. BC intervém e anuncia venda do Bamerindus. GM, Brasília, 27, 28, 29
mar. 1997, p. B-1.
557

Ilustração 7-4: Gazeta Mercantil anuncia a intervenção do Bacen no Bamerindus.

Fonte: reprodução elaborada pelo autor da primeira página da Gazeta Mercantil de 27, 28 e 29 de março de 1997.

1477
Segundo o Relatório da Comissão de Inquérito do Bacen, criada para investigar a situação
no Bamerindus no momento da intervenção,
315
[...] os empréstimos cruzados entre as empresas do grupo foram uma das principais razões para
o colapso do Bamerindus. As outras cinco razões apontadas pelo BC para a quebra do
Bamerindus foram: o volume de créditos podres em carteira, o passivo judicial do banco, a
quantidade de TDAs (títulos da dívida agrária) recebidos como garantias, os duvidosos
financiamentos imobiliários concedidos e o alto grau de inadimplência em todos seus
empréstimos. A instituição acumulava prejuízos de R$ 4,2 bilhões no momento da intervenção
do BC, em março de 97, segundo apurou a comissão de inquérito. GRAMACHO (25 maio
2000, p. B2)316.

1478
Para Fernandes (1997), desta história restaram algumas perguntas:

316
Fonte: GRAMACHO, W. Para BC, Bamerindus fez operação ilegal. FSP, Brasília, 25 maio 2000, p. B2.
558

316
Por que o HSBC pagou tão barato? Por que o banco não foi oferecido a outros grupos
internacionais? Por que fazer as negociações à revelia dos controladores e diretores? Por que, lá
no começo da crise, o governo não pagou ao Bamerindus o que a ele devia? Como, com que
conhecimento e acesso através de quem e ao quê, 45 funcionários do HSBC estavam prontos
para assumir o banco no dia seguinte à intervenção? Por que o HSBC? Por que um ano e meio
até o desfecho...? (FERNANDES, 1997, p. 35).

1479
Numa entrevista para o jornal Correio Braziliense e publicada pelo jornal Hora do Povo, em
6 de junho de 1998, José Eduardo desabafou dizendo que “FH empurra tudo com a barriga e não se
compromete com nada [...] Fernando Henrique nunca desagrada um interlocutor. Ele nunca diz não.
Mas também raramente diz um sim. É preciso ter coragem para enfrentar os problemas do governo.
E o Fernando não tem”. Sobre as negociações para salvar o Bamerindus, José Eduardo teria
afirmado que:
317
[...] o BC espalhava a boataria de que o Bamerindus estava quebrando. Eles alegavam sempre
que eram pessoas de terceiro ou quarto escalão e assessores que soltavam os boatos. Mas como
eles negociaram com o HSBC a compra durante um ano e nunca saiu notícia alguma e muito
menos boato sobre o assunto? [...] Certa vez, eu levei para o Presidente um calhamaço de
notícias dos jornais. Falei: “estão aqui os fatos. Você fala que o Bamerindus é um banco sério.
Mas no dia seguinte sai uma matéria no jornal onde o BC diz o contrário”. [...] No final de
abril de 1996 eu recebi a visita do ministro Pedro Malan. Ele me disse: “para que nós
possamos dar algum tipo de apoio, você terá de deixar o governo, para que não haja
denúncias de favorecimento ou coisas desse tipo”. [...] Deixei o ministério. Havia soluções
fáceis, já que o Bamerindus era credor dos Estados de MT, MS e RO. [...] Se isso tivesse sido
feito na época [a renegociação das dívidas destes estados] não era favor nenhum, o governo
simplesmente estaria pagando uma conta que devia. [...] Mas ao invés de pagar a dívida, o
governo interviu (sic) no Bamerindus, já tendo engatilhado o HSBC para tomá-lo. (Hora do
Povo, 6 jun. 1998).

1480
Segundo Filgueiras & Gramacho (16 jun. 1999)317, em 1999, durante os depoimentos à CPI
dos Bancos no Senado, José Eduardo teria agido com muita cautela, pois o “[...] Banco Central tem
um dossiê levantado pelos interventores no Bamerindus que mostra o volume milionário de
empréstimos concedidos sem garantias a políticos e partidos quando o então banqueiro decidiu
virar político. Um crédito que chamou a atenção dos diretores do BC foi concedido ao então
deputado federal José Carlos Martinez, dono da tevê paranaense CNT, que serviria para sustentar
na mídia a campanha do ex-banqueiro”. (FILGUEIRAS & GRAMACHO, 16 jun. 1999).
1481
Segundo Azevedo, Pereira & Gomes (1998)318, José Eduardo teria dito que o Bacen
negociou com o HSBC “pelas suas costas” e que nos dias finais da negociação, secretamente,
uma equipe de peritos do HSBC ficou examinando as contas do banco junto com funcionários do
Banco Central. Como resultado do negócio com o HSBC, José Eduardo “Recebeu umas poucas
centenas de milhões de dólares pelo patrimônio vendido e foi curtir suas mágoas. Fernando
Henrique, de algum modo, sabia que não deveria temer muito dos aliados que deixou pelo caminho.
Era um entendido a respeito da burguesia brasileira. No passado, enquanto os outros sociólogos

317
Fonte: FILGUEIRAS, S. & GRAMACHO, W. Gente que enrola. ISTOÉ, nº 1550, 16 de junho de 1999.
318
Fonte: AZEVEDO, Carlos; PEREIRA, Raimundo & GOMES, Luiz M. O esquema tático de FHC. Como se montou a
conflitante estrutura de poder que comanda o país. Reportagem Caros Amigos e Oficina de Informações, nº 2. São Paulo:
Editora Casa Amarela, dez. 1998.
559

estudavam os trabalhadores, ele estudou os empresários”. (AZEVEDO, PEREIRA, & GOMES,


1998) Alguns depoimentos contestam que José Eduardo tenha recebido “algumas centenas de
milhões de dólares” pelo grupo Bamerindus, mas confirmam que ele, junto com alguns outros
sócios, continuaram controlando alguns negócios que não foram atingidos pela intervenção do
Bacen.
1482
É interessante observar que, enquanto José Eduardo perdia o Bamerindus e seu prestígio
político, o projeto liberal do Estado Mínimo defendido durante anos por ele, era promovido pelo
governo FHC, e no Paraná, por Jaime Lerner.
1483
Quanto à rede política Bamerindus, o PTB integrou a base parlamentar do governo
Fernando Henrique, apoiou o programa de privatização e as reformas propostas pelo novo governo.
Em 1996, o desempenho do partido ficou abaixo do esperado, elegendo apenas um prefeito de
capital, em Boa Vista. Segundo Guanabara (2002), no cômputo geral, conseguiu apenas o sexto
lugar entre os partidos que mais elegeram prefeitos no Brasil – 382 prefeituras sendo 54 no Paraná.
Na votação da emenda da reeleição, a maioria dos deputados e senadores votou a favor. Em 1998 o
partido apoiou a reeleição de FHC, bem como elegeu 31 deputados federais e 80 deputados
estaduais em todo o país, não conseguindo eleger nenhum governador ou senador. Eleito deputado
federal, Carlos Martinez substituiu JE em 1999 na Presidência nacional do partido. Permaneceu no
cargo até sua morte em outubro de 2003, quando então assumiu Roberto Jefferson Monteiro
Francisco. No Paraná, em 1995, José Carlos Gomes de Carvalho assumiu a Presidência da
Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) e a Vice-Presidência da Confederação
Nacional da Indústria (CNI). No início de 1996 trocou o PTB pelo PFL, assumindo a Presidência
do partido no Paraná em novembro de 1996.
1484
Quanto aos outros personagens da rede política Bamerindus, Affonso Camargo Netto
deixou o Senado no início de 1995 para assumir seu mandado na Câmara; em agosto deixou o PPR
para também entrar no PFL, quando estava sendo formado o PPB a partir da fusão do PPR com o
PP. No Paraná, esta fusão foi comandada por Jayme Canet Júnior, sob a liderança nacional de Paulo
Maluf. Na época, Basílio Villani que estava no PPR, participou da fusão e assumiu a vice-liderança
da nova agremiação. Em sua trajetória política, Villani passou pelo PMDB, PTB, PRN, PDS, PPR,
PPB, e, em 1997, deixou o partido para filiar-se ao PSDB. Com a criação do novo partido, Álvaro
Dias deixou o PP ainda em 1995, para entrar no PSDB levando junto vários deputados estaduais e
federais. Também assumiu a Presidência da Companhia Telefônica do Paraná S.A. (TELEPAR) –
na época ainda estatal, bem como consolidou sua liderança ao impedir a entrada do grupo Lerner,
em setembro de 1997, conseguindo, no ano seguinte, eleger-se senador pelo PSDB319. José Richa
afastou-se das atividades políticas após o término do seu mandato de Senador, no início de 1995, e
passou a dedicar-se às atividades empresariais como representante da empresa de engenharia Nativa

319
Fonte: DHBB (2002f).
560

Construções Elétricas S.A. Também assumiu o cargo de membro do Conselho de Administração da


Itaipu Binacional, do Conselho da VASP e da empresa Racimec Informática320. Seu filho, Beto
Richa, foi eleito deputado estadual em 1995 pelo PSDB e atualmente é prefeito de Curitiba.
1485
No Senado, Roberto Requião, em dezembro de 1996, assumiu o posto de relator da CPI dos
Precatórios321, cujo Relatório Final responsabilizou vários governadores, prefeitos e secretários de
Fazenda de Estados e municípios, entre eles alguns notórios pretendentes ao cargo de Presidente da
República em 1998. As investigações também atingiram a rede bancária quando foram encontradas
conexões com instituições financeiras como os bancos Banestado, Itaú, Vetor, Maxi Divisa e
Bradesco, além de vários fundos de pensão, e resultou no fechamento de 22 instituições financeiras
pelo Bacen. Seu adversário, o governador Jaime Lerner, desenvolveu uma agressiva política de
industrialização do Paraná, direcionando grande parte dos recursos do Estado para a atração e
implantação de projetos industriais de grupos estrangeiros, tais como as montadoras Renault, Audi-
Volkswagen, Chrysler Corporation, e as fábricas de motores BMW e Detroit Diesel Corporation,
que por coincidência ou não, acabaram chegando junto com o HSBC. Também no governo Lerner
consolidou-se no Paraná uma outra rede econômica e política em torno da INEPAR, bem como
cresceu muito o Banco Araucária. A oposição do PDT nacional, e o fortalecimento do PSDB
paranaense com a filiação de Álvaro Dias, colocaram Lerner numa posição bastante desconfortável
diante do Governo Federal. Em 1996 Jaime conseguiu eleger o seu ex-secretário de Planejamento e
sócio, Cássio Taniguchi, prefeito de Curitiba; desde vitória em 1994, a boa imagem pública de
Jaime Lerner o colocava como um forte candidato à Presidência da República, e contava com o
apoio de José Eduardo e do Bamerindus. Mas, a CPI dos Precatórios envolveu seu governo através
das operações realizadas pelo Banestado com títulos públicos de Estados como Alagoas e
Pernambuco, bem como de prefeituras como a de Osasco. O Relatório Final observou que “[...]
nenhuma instituição pública comprou mais títulos de precatórios do que o Banestado, e que as
aquisições que efetuou a preços elevados podiam ter sido evitadas se houvessem, seus responsáveis,
contactado o Estado”. (RELATÓRIO FINAL – CPI DOS PRECATÓRIOS, 1997, item 5.8.2).
1486
Sob pressão, Lerner afastou-se de Leonel Brizola, aproximando-se do governo do FHC e,
em 1997, manifestou-se favorável à emenda da reeleição que acabou sendo aprovada322, em junho
de 1997. Mas a pressão somente foi amenizada quando, em setembro, Lerner se filiou ao PFL
levando consigo cem prefeitos, vários deputados e sua equipe de governo. Ao entrar no PFL, Jaime
viu o seu projeto político de Presente da República ser transferido para um futuro distante, visto que
o partido já possuía candidato – Fernando Henrique Cardoso. Abandonado o sonho do Planalto,
Jaime Lerner foi reeleito governador em outubro de 1998, apoiado pela coligação integrada entre

320
Fonte: Braga (2002g).
321
Fonte: RELATÓRIO FINAL – CPI DOS PRECATÓRIOS. Comissão Parlamentar de Inquérito destinada a apurar
irregularidades relacionadas à autorização, emissão e negociação de títulos públicos, Estaduais e Municipais, nos exercícios
de 1995 e 1996. Relatório Final. Relator: Senador Roberto Requião. Brasília: Congresso Nacional, Senado. DSF nº 150 de
27 ago. 1997. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/web/cpif/cpi.htm>. Acesso em: 04 maio 2004.
322
Emenda Constitucional nº 16, 04 jun. 1997.
561

outros, pelo PFL, PTB, PPB, PSB, PPS e PL, derrotando Requião (PMDB).
1487
Outro importante integrante da rede política Bamerindus, João Elísio Ferraz de Campos,
permaneceu no grupo até a intervenção do Bacen, tendo seus bens bloqueados. Ele e Maria C. de
M. Ferraz de Campos apareciam como acionistas de empresas do Grupo Bamerindus, em 31 de
dezembro de 1997. João também foi presidente da Fundação Escola Nacional de Seguros
(FUNENSEG) no triênio 1994-1997 e reelegeu-se presidente da Fenaseg em 1995.323 O publicitário
Sérgio Sibel Soares Reis seguiu outro caminho ao ser indicado pelo presidente FHC para ocupar
uma das subsecretarias de Comunicação. Segundo Bergamaschi (11 ago. 1996)324, Sérgio foi
nomeado para supervisionar o conteúdo das campanhas de todos os ministérios, pois Fernando
Henrique queria maior eficácia na divulgação de seu discurso político.
1488
As mudanças estruturais no Bamerindus, em 1996, provocaram a saída de Belmiro
Valverde Jobim Castor do cargo de superintendente do banco, substituído por Jair Jacob Mocelin.
Segundo Gamez (04 abr. 1996, p. 2-6)325, Castor, na época tinha 53 anos, e saiu após 11 anos de
trabalho no grupo e quatro anos na Superintendência do banco. “A velha guarda assumiu de vez
[...]”, com Sérgio Vieira Proença, na administração, Antônio Zanini na produção, Sérgio Bochese
na área de crédito e Anthony Pain na diretoria internacional e finanças. Castor era considerado
como um “elemento estranho” pelos funcionários mais antigos, pois tinha feito sua carreira no
setor público, ao contrário de Jair Jacob Mocelin, que tinha 42 anos de banco. Maurício Schulman,
após a intervenção no Bamerindus, teve seus bens bloqueados, deixou a Presidência da Febraban e
passou a dedicar-se a outros negócios; em agosto de 1997, foi convidado, juntamente com
Aureliano Chaves e Eliezer Batista, para participar do Conselho do Grupo Inepar326.
1489
Finalmente, Maria Christina de Andrade Vieira, além de ter participado do Conselho de
Administração da Bamerindus Participações e Empreendimentos e do Conselho da Fundação
Bamerindus, também assumiu, em janeiro de 1995, a Diretoria de Infra-estrutura do Banco
Bamerindus, permanecendo no cargo até 28 fev. 1997 e, com a intervenção, também teve seus bens
bloqueados.
1490
No Quadro 7-5 podemos constatar que a história dos banqueiros brasileiros continua, mas
com importantes mudanças. O que nos chama a atenção é que, se o interior rural e a cultura do café
deram origem a importantes banqueiros / políticos que dominaram o mundo financeiro brasileiro
durante quase todo o século XX, boa parte da nova safra de banqueiros que surgiu nos últimos anos
da década de 1990 eram de origem urbana e vinculados à estrutura do Estado, onde ocuparam

323
Fonte: Castro (2002).
324
Fonte: BERGAMASCHI, M. Sérgios brigam por comando na publicidade Porta-voz e publicitário têm idéias diferentes
sobre como aplicar a verba de divulgação. OESP, Brasília, 11 ago. 1996. Disponível em: <http://www.estado.com.br/
jornal/96/08/11/GOVESEG.HTM>. Acesso em: 14 abr. 2002.
325
Fonte: GAMEZ, M. Mudança no Bamerindus chega à cúpula. Belmiro Castor deixa a superintendência e assume Jacob
Mocelin; banco cria quatro super diretorias. FSP, Curitiba, 04 abr. 1996, p. 2-6.
326
Fonte: Breves. ISTOÉ, 27 ago. 1997. Disponível em: <http://www.zaz.com.br/istoe/economia/145608.htm>. Acesso em: 29
ago. 2005.
562

importantes cargos públicos.

Quadro 7-5: Novos banqueiros brasileiros

Nome Cargo público anterior Cago em 1995


André Lara Resende Diretor do Bacen Sócio do Banco Matrix
Antoninho Trevisan Séc. Cont. Estatais Sócio da Trevisan
Antonio Lengruber Presidente do Bacen Vice do Banco Liberal
Armínio Fraga Neto Diretor Bacen Funcionário de Georges Soros
Eduardo Modiano Pres. do BNDES Vice do Banco Itamarati
Francisco Gros Presidente do Bacen BFC e Morgan Stanley
José Luiz Alqueres Pres. da Eletrobrás Diretor Bozano Simonsen
Luiz Chrisóstomo Diretor do BNDES Diretor do Banco Cindam
Maílson da Nóbrega Ministro da Fazenda Proprietário da MCM
Marcílio M Moreira Ministro da Fazenda Consultor Merril Lynch
Pedro Bodim Diretor do Bacen Diretor do Banco Icatu
Sérgio Zendron Diretor do BNDES Diretor do Graphus
Winston Fritsch Sec. de Pol. Econômica. Pres. Kieinwort Benson
Luiz A. Gonçalves Sec. Geral MF / Sec. Tesouro Pres. do Banco Cindam
Fonte: Jornal do Brasil, 13 ago. 1995, p. 2327.

7.3.1 O HSBC

1491
Como um moto-contínuo, a “roda viva” completava mais uma longa volta, fechando o
grande ciclo na história do Bamerindus. Ao mesmo tempo em que, no final dos anos 1880,
banqueiros ingleses abriam, no Oriente Médio, o The Imperial Bank of Persia, o jovem e humilde
Miguel Antun partia do Líbano em busca de uma chance no novo mundo. Após alguns anos
percorrendo o interior do Brasil, ele se estabeleceu em Tomazina e abriu uma pequena casa
comercial, onde mais tarde criou uma seção bancária com a ajuda de seu filho Avelino Vieira.
Enquanto os negócios da família cresciam no rastro da cultura do café, alcançando nos anos 1970 a
forma do Grupo Bamerindus, no Oriente Médio, o Imperial Bank enfrentou duas guerras mundiais,
várias revoluções, transformou-se no British Bank of the Middle East e mais tarde foi incorporado
pelo grupo HSBC.
1492
Em janeiro de 2004, aqueles dois movimento iniciados no Oriente Médio se encontraram
novamente, agora no interior do Paraná, quando o HSBC fechou a agência nº 1 do agora “antigo”
Bamerindus em Tomazina. Segundo Leprevost (16 mar. 2004)328, a atitude do HSBC causou
consternação não só na pequena Tomazina, com seus 9.321 habitantes, mas também em Siqueira
Campos, Pinhalão, Ibaiti, Wenceslau Braz e outras cidades do Norte Pioneiro.

327
Fonte: Consultorias vendem informações do governo. Os exemplos do Passado. JB, 13 ago. 1995, p.2.
328
Fonte: LEPREVOST, N. Coluna de Ney Leprevost. JE, [Curitiba], 16 mar. 2004. Disponível em:
<http://www.feebpr.org.br/Diarios/ag_160304.htm>. Acesso em: 26 ago. 2005.
563

7.4 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES.

1493
Muito diferente de seu pai, José Eduardo entrou na arena política com gosto e disposição
para atuar ostensivamente, buscando ocupar todos os espaços possíveis no Paraná e em Brasília.
Como estreante na política, foi possível identificar momentos em que ele enfrentou dificuldades
para lidar com o ritual próprio desse campo, e com a imprensa; mas, no cômputo geral, até o final
de 1994, ele conseguiu conquistar e manter posições importantes nas principais articulações
políticas nos governos estadual e federal.
1494
Reconhecido como uma das principais lideranças do Congresso pelo Diap (1994), no
Senado, JE participou de importantes articulações políticas tanto de apoio ao governo Collor, como
no processo de impedimento e renúncia desse Presidente. Também participou da formação do
governo Itamar Franco e do seu processo de sucessão que culminou com a eleição de Fernando
Henrique Cardoso. Ainda no governo Itamar, assumiu o MICT e interinamente o Ministério da
Agricultura, enfrentando neste último posto, grandes resistências políticas de vários grupos e de
segmentos do próprio partido. Sua saída da pasta aconteceu após o governo sofrer pressões políticas
que incluíram ataques públicos tanto no Congresso como na grande imprensa nacional.
1495
Durante sua gestão no MICT, reorganizou o Ministério, promoveu diversos acordos nas
Câmaras Setoriais – notadamente no setor Automobilístico, e foi um dos principais articuladores da
criação da Associação dos Países Produtores de Café (APPC). Como Ministro, JE foi um dos
principais protagonistas do acordo que recuperou o preço do café no mercado internacional e
resgatou a importância do produto para a pauta das exportações brasileiras.
1496
Apesar do pouco tempo de atuação pública como político, JE teve um papel fundamental
nas articulações e eventos que levaram FHC para o Ministério da Fazenda. Na campanha
presidencial de 1994, inicialmente concorreu como candidato, avaliando que tinha as mesmas
chances que levaram Collor ao poder em 1989, mas tinha consciência que suas pretensões
esbarravam no fato que essa eleição dependeria muito das intrincadas composições e alianças com
as forças que disputavam os governos estaduais, Assembléias Legislativas, a Câmara dos
Deputados e o Senado. Seu posicionamento como candidato foi importante para a formação dos
acordos que viabilizaram a candidatura do “amigo” FHC. Na época, integrou o “Comando da
Campanha”, tendo participado das decisões estratégicas junto com os presidentes do PFL e PSDB,
tendo sido um dos principais tesoureiros e financiadores da candidatura Fernando Henrique. Muitos
analistas atribuíam sua força política ao fato de ser um grande banqueiro e à posição de liderança
que ocupava no PTB.
1497
Sua indicação para a Agricultura, por Fernando Henrique, no final de 1994, novamente
despertou fortes reações contrárias ao seu nome, mobilizando os órgãos de representação de classe
de produtores e trabalhadores rurais, bem como grupos dissidentes dentro do próprio PTB,
principalmente de São Paulo. Certamente JE perdeu a chance de colocar João Elísio F. de Campos
no Ministério, preservando-se assim do desgaste político que passou a enfrentar desde o dia em que
564

seu nome foi confirmado para o Ministério. Na época, o PMDB havia recusado o cargo por
entender que haveria muito desgaste político por cauda do Plano Real, e estava absolutamente
correto. Também temos que considerar que, naquele momento, a rede política do Bamerindus
estava passando por importantes mudanças, principalmente com o distanciamento crescente de
Jayme Canet e Affonso Camargo e, não podemos descartar a hipótese que a indicação de João
Elísio poderia fortalecer mais Jayme Canet do que José Eduardo. Nesse período, também ocorreu o
crescimento acelerado da estrutura do PTB no Paraná que, partindo de 52 diretórios em 1990,
chegou a 352 em 1994, abrangendo praticamente todas as cidades do Estado. No plano nacional, o
partido crescia mas não conseguia alcançar a unidade necessária para uma ação coordenada,
comportando-se na maioria das vezes como um aglomerado de projetos pessoais ou de grupos
locais, cujos interesses pontuais muitas vezes eram conflitantes. Nesse contexto, JE enfrentou
várias reações internas às suas tentativas de controlar o diretório nacional, principalmente do PTB
de Minas Gerais e de São Paulo. JE também apoiou outros partidos nas coalizões eleitorais, apesar
de estar investindo muito na estruturação do PTB no Paraná.
1498
A ação do banqueiro e político José Eduardo abrangeu tanto questões estratégicas nos
níveis federal e estadual, como no dia-a-dia dos trabalhos do Legislativo e do Executivo, no
exercício do poder de classe através do Governo e do Estado. Como banqueiro-político,
verificamos que ele atuou tanto na pequena como na grande política, não se limitando apenas à
defesa dos interesses específicos do Bamerindus ou do setor financeiro o que, em muitos casos,
colocaram-no em conflito com seus pares banqueiros. Ou seja, sua atuação em muitos momentos
ultrapassou os limites do corporativismo do setor, atuando num plano acima dos interesses
imediatos do segmento, para defender os interesses da classe. Também desempenhou um
importante papel nas articulações políticas que pressionaram o governo Itamar buscando manter e
ampliar o processo de privatização iniciado pelo governo Collor. Sua atuação também foi
importante para o condicionamento das ações dos ministros da área econômica, bem como foi ele
um dos pivôs da crise política que abriu caminho para FHC ocupar o Ministério da Fazenda. Pouco
tempo antes Maurício Schulman havia sido eleito para a Presidência do Conselho de Administração
da CSN com a ajuda do grupo político de FHC.
1499
Ao longo desta tese, foi possível acompanhar o crescimento do poder de José Eduardo
inicialmente sobre o grupo e a família, culminando nos anos 1990 com uma posição forte de
comando também sobre a rede política. Entre suas ambições, podemos incluir os cargos de
Governador do Paraná, Ministro da Indústria e Comércio, Ministro do Trabalho, ministro da
Agricultura, tendo aspirado também o comando do Ministério da Fazenda e, desde a eleição de
Fernando Collor, a posição de Presidente da República. Para realizar tais objetivos, não hesitou em
lançar mão dos vários recursos disponíveis no Grupo Bamerindus, até sobrepondo campanhas
publicitárias do banco com a campanha eleitoral “Zé do Chapéu” para o Senado. Tal fenômeno
relação com a fragilidade do sistema partidário que estava em processo de reestruturação após a
reforma de 1979. Naquele contexto, o Bamerindus acabou assumindo funções de partido político, e
565

José Eduardo, como controlador do grupo, era o seu candidato natural para os cargos mais
importantes em disputa na arena política.
1500
Em sua trajetória, encontrou oposição de importantes grupos das elites não só do Paraná
como nacional, tendo que enfrentar, por exemplo, grupos como de Paulo Pimentel ou de Roberto
Requião, e boa parte da bancada ruralista no Congresso, que na época incluía políticos do próprio
PTB. Tais conflitos chegaram a momentos de confronto direto, como nos enfrentamentos públicos
promovidos por Requião contra o Bamerindus; ou as declarações agressivas de políticos da bancada
ruralista contra a sua indicação para o Ministério da Agricultura. Um dos ataques mais graves veio
do grupo Paulo Pimentel que publicou em seus jornais denúncias de violências praticadas contra
camponeses na Fazenda Bamerindus no Pará. Observe-se que tais denúncias foram divulgadas
mesmo sendo Pimentel historicamente vinculado a grandes grupos de latifundiários e fazendeiros
do Paraná e de São Paulo.
1501
Entre os vários motivos que levaram JE a se envolver diretamente na política, certamente
podemos destacar a sua posição na liderança da rede política Bamerindus, que o colocava como o
candidato natural dos interesses constelados em torno do Grupo Bamerindus Quando comparamos a
história da instituição com as de outros grupos, como por exemplo, Lupion e Paulo Pimentel,
vamos entender que tal atuação política ultrapassa em muito as questões de vontade ou escolha,
entrando na esfera dos imperativos para a sobrevivência e continuidade da instituição. A análise do
caso Bamerindus demonstra que havia relações interativas e complementares entre o mundo
financeiro e o político, e que tais correlações eram construídas e mantidas pela lógica da
sobrevivência e continuidade do processo de acumulação capitalista, cabendo aos atores escolhas
numa faixa bastante restrita de posições que tivessem maior probabilidade de sucesso.
1502
Tal jogo acontecia num ambiente marcado pela crescente socialização da política e
ampliação da sociedade civil, o que tornava a cada dia mais complexas e sofisticadas as regras de
atuação, impondo limites crescentes aos atores sociais. Se no período 1960-1980, os banqueiros
desfrutavam de uma imagem pública respeitável e inatacável tendo elegido vários representantes,
nos anos 1990, quando José Eduardo resolveu entrar para a política, encontrou pela frente um
ambiente bastante refratário às suas pretensões, tendo que enfrentar um suposto “estigma” público
à figura do banqueiro que seus adversários políticos faziam questão de explorar nos embates
públicos. Se até o final dos anos 1980 o Bamerindus, como instituição, pôde manter uma imagem
pública favorável, nos anos 1990, tal imagem não resistiu aos holofotes da sociedade civil, política
e da opinião pública. Nesse ambiente tornou-se claro o paradoxo sobre o qual estão assentadas as
instituições bancárias: ao mesmo tempo em que ocupam uma posição estratégica poderosa no
sistema econômico capitalista, são extremamente frágeis diante da opinião pública e do aparelho do
Estado329.

329
Para mais detalhes ver Pereira (2002).
566

1503
As ambições políticas de JE e do Grupo Bamerindus incluíam: o monopólio da produção do
papel de imprensa (revistas) no Brasil, o que talvez pudesse conter o ímpeto crítico e refratário da
revista Veja da Editora Abril para com o Bamerindus; a formação de uma grande rede nacional de
televisão, provavelmente um forte concorrente da Rede Globo; e os cargos de Ministro da Fazenda
e Presidente da República. Seguramente JE se enquadra entre os raros personagens que entraram na
política brasileira e, em menos de dois anos, tornaram-se líderes no Congresso. Suas demonstrações
de pragmatismo permitem afirmar que ele não teria problemas de ordem pessoal ou ideológica para
buscar coligações com as principais forças políticas buscando compor chapas ou governos. As
posições que ocupou no comando do terceiro maior banco privado brasileiro, na política e no
aparelho do Estado, são evidências bastante sólidas para afirmar que, no período 1981-1994, José
Eduardo de Andrade Vieira foi um dos mais importantes líderes do conjunto das elites orgânicas do
Brasil.
1504
Após terminar seu mandato de senador em 1999, José Eduardo, como um autêntico “Bicho
do Paraná”, voltou para sua terra, recolhendo-se ao sossego de Londrina, interior do Norte do
Estado, onde, junto com seu sobrinho, comanda o jornal Folha de Londrina.

Ilustração 7-5: José Eduardo de Andrade Vieira

Fonte: Imagem extraída de Varella & Dusek (1998)330.

330
Fonte: VARELLA, José e DUSEK, André. Andrade Vieira e Loyola. Fusão cromática sobre fotos. Largura: 270 px. Altura:
112 px. Tamanho: 8.58 KB (8781 bytes) ISTOÉ, 5 ago. 1998. Disponível em: <http://zaz.com.br/istoe/economia/images/
150540.jpg>. Acesso em: 21 set. 2005.
8 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES FINAIS

“Solve et Coagula”
Altus, Mutus Liber.

1505
Não é novidade para a pesquisa científica o estudo do fenômeno das conexões entre o
capital financeiro, a sociedade civil e a política, mas poucos são os trabalhos no Brasil que se
propuseram a analisá-lo de forma sistemática. Nesta tese buscamos contribuir para ampliar esse
acervo, focalizando e analisando a rede corporativa e política constituída em torno do Bamerindus,
que foi uma das maiores e mais importantes instituições financeiras brasileiras e que, durante muito
tempo, concentrou poder suficiente para influenciar de forma significativa grande parte da
sociedade, por isso, consideramos não ser possível compreender a história econômica e política
recente do Paraná e parte da brasileira, sem levar em consideração a atuação dessa instituição. Com
base nas evidências que coletamos na pesquisa e apresentadas neste trabalho, podemos afirmar que,
devido à quantidade, qualidade e perenidade das conexões do Grupo Bamerindus com a sociedade
política e a sociedade civil, tais vínculos fizeram parte da estrutura da instituição e as atividades
decorrentes dessas ligações, em conjunto com as demais operações de caráter econômico, formaram
o escopo das operações normais do grupo. Também podemos afirmar que, nesse contexto, os papéis
políticos e sociais desempenhados pelos seus principais sócios e diretores foram muito mais
complexos que os de empresários financeiros, não sendo possível enquadrá-los apenas como
banqueiros, empresários ou políticos, mas seguramente também podemos descrevê-los como
importantes comandantes nas batalhas pelo poder político e econômico e pela manutenção e
ampliação da hegemonia de sua classe social.
1506
Inicialmente é importante destacar que a opção que fizemos pela teoria gramsciana não
significa desconsiderar o importante debate existente entre as correntes estruturalistas,
instrumentalistas e pluralistas, com relação ao Estado e sua função social. Nossa opção foi
determinada pela necessidade objetiva de utilizar categorias de análise mais abrangentes, que
permitissem abordar a complexidade da equação social Bamerindus, que não se enquadrava nas
categorias tradicionais de empresa, grupo econômico, ou simplesmente como organização
econômica. Este estudo exigiu ampliar tais conceitos para incorporar suas atividades nos campo da
sociedade civil e da política, para captar aspectos dessa equação social que incluía regiões especiais
da sociedade onde freqüentemente ocorre a fusão do público com o privado. Neste caso específico,
os conceitos de “Estado ampliado”, “Sociedade Civil”, “Sociedade Política” e “Hegemonia”,
568

permitiram analisar o Bamerindus de forma mais abrangente e flexível, sem perder de vista o
contexto histórico brasileiro que, no período estudado, foi marcado pela transição do regime militar
para a Nova República, construção e implantação de um novo marco constitucional, redefinição do
Estado brasileiro, ampliação da sociedade civil e da política e importantes transformações na
estrutura do Estado, da economia e do sistema financeiro. Em determinados momentos o
Bamerindus perdeu parte de suas características de grupo privado, ao ser tomado por inúmeras
operações financeiras com o Estado e a sociedade política, comportando-se muitas vezes como uma
agência de desenvolvimento ou partido político; ou atuou como um autêntico grupo privado
capitalista dependente do poder público, ou também com autonomia suficiente para avançar sobre
partes importantes da máquina pública, utilizando-a para constranger, dirigir ou influenciar a ação
do poder público e da sociedade em benefício dos interesses do grupo.
1507
Esses movimentos de fluxo e refluxo entre as esferas pública e privada podem ser
analisados utilizando-se o conceito de guerra de posições de Gramsci, com avanços e recuos
segundo as transformações na correlação de forças entre as classes sociais. Também podemos
analisar como ciclos de acumulação capitalista que, em certos momentos, necessita de amplos
movimentos coordenados e centralizados no Estado e, em outros, da ação fragmentada dos agentes
privados. Tais ciclos ampliam ou reduzem a esfera pública e / ou privada, obedecendo à lógica da
acumulação capitalista ou das demandas sociais sobre a produção. Neste contexto, podemos dizer
que, em determinados momentos a rede política Bamerindus constituiu-se de fato num comitê da
burguesia para controlar o Estado e parte da sociedade, mas, em outros, percebe-se que seu poder se
diluía ou submergia na esfera pública, arrastado pela dinâmica do processo político, pois nesse
campo os atores, sejam indivíduos ou organizações privadas, convivem constantemente com o risco
de serem arrebatados pela lógica do interesse público. Nesse contexto, as maiores críticas à atuação
política da elite Bamerindus formuladas por muitos profissionais do setor financeiro, referem-se ao
envolvimento político como o principal motivo do banco ter-se diluído no setor público. Para
muitos, José Eduardo sucumbiu aos encantos da política e acabou perdendo a noção dos limites
entre estes setores; para outros, a instituição foi arrastada pela força dos fluxos e refluxos da
política, submergindo na esfera pública.
1508
As análises do período 1981-1994 apontam para um momento histórico marcado pela
ampliação do processo de socialização da política brasileira, tendo avançando em determinados
momentos na direção do que chamamos de processo de socialização do capital. A Assembléia
Nacional Constituinte foi palco de duras batalhas em torno dessa questão, envolvendo interesses de
vários setores da sociedade, afetando diretamente o sistema financeiro nacional e particularmente
os bancos. Entre as grandes mudanças institucionais implantadas pela nova Constituição, três novos
marcos institucionais tiveram grande repercussão sobre o setor. O primeiro deles foi a determinação
de novas bases para a construção das regras para a dívida e o orçamento público, buscando ampliar
os mecanismos disciplinadores e maior controle social sobre as operações econômicas e financeiras
do Estado; o segundo foi o artigo 192 que abriu espaço para reformar o sistema financeiro,
569

colocando todo o setor sob permanente pressão de uma iminente mudança na sua estrutura
regulatória; o terceiro marco institucional importante foi a extinção da carta patente, que abriu
espaço para a criação de novos bancos. Logo após a extinção deste instituto legal, grandes
capitalistas e grupos econômicos, até então obrigados a operar com os bancos tradicionais, partiram
para a abertura de suas próprias instituições. Esse movimento fragmentou a estrutura de alianças
tradicionais do grande capital financeiro brasileiro, abrindo espaço para a construção de novos
acordos e composições financeiras, econômicas, empresariais e políticas. Se a incorporação do
Bancial em 1974 consolidou o Bamerindus como centro do comando estratégico para boa parte dos
grandes grupos econômicos do Paraná, em 1989 este “monopólio” começou a ser desmontado
quando importantes capitalistas e políticos ligados ao Bamerindus partiram para criação de novos
bancos. Neste contexto, a rede política Bamerindus enfrentou a crescente fragmentação de seu
núcleo de comando, bem como teve que buscar formar novos quadros políticos e investir na
estruturação de um partido, o PTB.
1509
Nesse período também ocorreram profundas mudanças no sistema financeiro brasileiro, que
aceleraram e consolidaram o processo de hegemonia do capital financeiro e maior integração ao
sistema financeiro internacional (SFI). Tal processo, apesar de ter começado na Europa e EUA nos
anos 1960 com a entrada e o crescimento de novas operações e atores, entre eles os chamados
investidores institucionais, ganhou contornos significativos nos grandes centros capitalistas durante
os anos 1970, em razão do progressivo crescimento do mercado financeiro internacional e
desmonte do acordo de Bretton Woods; e foi acelerado nos anos 1980 quando vários países
adotaram políticas mais liberais para os seus sistemas financeiros, buscando facilitar sua integração
ao mercado internacional. No Brasil, o processo de liberação e maior integração ao SFI, teve início
quando o país passou a enfrentar a grave crise da dívida externa nos primórdios dos anos 1980.
Essa crise interrompeu o fluxo de capitais e estrangulou a capacidade financeira do Estado, com
reflexos sobre a estrutura social, política e econômica do país, dando início a um processo de
reformas do sistema financeiro nacional. Inicialmente, estas reformas foram buscaram enfrentar os
graves problemas acumulados no patrimônio das instituições financeiras durante os anos de regime
militar, e promover alterações na estrutura de subsídios e do gasto público em todas as esferas do
Estado. Na seqüência foram implantados vários planos de estabilização econômica que envolveram
sucessivas alterações na moeda e na estrutura institucional do sistema econômico e financeiro. Esse
processo culminou com a implantação do Plano Real em 1994, que aprofundou a reforma da dívida
pública e o controle do orçamento da União, Estados, Municípios e empresas estatais. Tais
transformações foram condicionadas, em muitos momentos, pela agenda de organismos financeiros
internacionais através da pauta das negociações da dívida externa, tendo resultado no aumento do
grau de integração do sistema financeiro brasileiro ao mercado internacional, bem como na
privatização de grande parte de sua estrutura, transferência de importantes instituições para o
controle estrangeiro e a ampliação de grandes grupos econômicos e financeiros com a participação
dos bancos no programa de privatização. Esse redesenho da estrutura econômica brasileira
570

aumentou a concentração do poder econômico e produziu significativas mudanças na correlação de


forças políticas. Essas transformações fizeram parte de um processo maior, que segundo Chesnais,
constituiu-se numa nova fase do capitalismo, caracterizada pela hegemonia do capital financeiro
sobre o sistema econômico internacional.
1510
O Grupo Bamerindus foi parte integrante deste processo no Brasil, tendo se tornado um
grande grupo econômico-financeiro com atuação em múltiplos setores da economia. A análise do
desempenho do grupo demonstra que estas transformações não foram isentas de riscos, e que o
Estado assumiu um importante papel na definição dos arranjos institucionais e regulatórios
necessários para o processo de hegemonia financeira, como indutor, fiador e, em última análise, o
grande financiador de boa parte dessa transformação. Nesse sentido, a participação no processo
decisório do Estado tornou-se fundamental para a sobrevivência dos grupos econômicos, fazendo
com que ficasse impossível excluir a política do campo de análise ou considerá-la como uma
variável menor dessa intrincada equação econômica e social.
1511
Também temos que incluir nesse contexto político e institucional, os avanços registrados no
processo de socialização da política brasileira e a conseqüente ampliação do tamanho e da
complexidade da sociedade civil e da política, que desencadeou um complexo movimento de
reestruturação do Estado brasileiro, promovendo a socialização suas funções e a desarticulação e /
ou constrangimento dos seus principais mecanismos de controle e coerção. Em última análise, esse
processo tinha uma forte tendência para gradativamente desarticular os mecanismos do Estado que
garantiam a continuidade do modo de acumulação capitalista.
1512
Como reação burguesa a esse movimento, as privatizações retiraram do Estado boa parte de
sua estrutura econômico-empresarial estratégica e, diante da possibilidade de socialização do
capital financeiro caso as esquerdas chegassem ao poder – pois na época a estatização dos bancos
configurava-se como uma das possíveis saídas para conter o processo inflacionário, ganhou
impulso o processo de hegemonia do capital financeiro como um dos mecanismos de proteção do
sistema capitalista perante um Estado em processo de socialização. No Brasil, a resistência das
forças sociais ao controle financeiro também se materializou no uso de múltiplas moedas,
descontrole da dívida pública e inflação. Nesse sentido, o Plano Real veio restabelecer o controle
centralizado da moeda, desarticulou a capacidade de reação dos governos estaduais e de grandes
grupos econômico-financeiros privados e estatais, e organizou a dívida pública de forma que esta
passou a condicionar grande parte das ações do Estado e do governo aos imperativos da lógica
financeira. Num certo sentido, o ano de 1994 seria o marco inicial deste processo e paradoxalmente,
o Bamerindus, pela sua posição historicamente vinculada a interesses regionais e externos ao eixo
Rio - São Paulo, fazia parte da resistência.
1513
Analisando a história do Bamerindus, foi possível observar o processo de formação da
hegemonia do capital financeiro no Brasil, pois se algumas evidências indicam que nos anos 1940 e
1950, o centro de poder do Grupo Lupion estava na produção, mais tarde, quando o Bamerindus
entrou nos anos 1970, o lócus de poder do grupo econômico já estava no núcleo financeiro.
571

Também encontramos nos anos iniciais do Banco Popular e Agrícola do Norte do Paraná (BPANP)
ou mais tarde nas décadas de 1950 e 1960, o banqueiro Avelino Vieira preocupado em manter o
Bamerindus em contato direto com os produtores, no chão das fazendas ou no piso das fábricas,
entendendo sua atividade como apenas mais um meio facilitador numa grande cadeia de produção.
Quando Avelino morreu em 1974, o Bamerindus já havia se distanciado muito desta atuação, pois
deixara de ser apenas um banco para tornar-se um grande grupo econômico-financeiro. A estrutura
econômica brasileira tornara-se mais complexa e diversificada, e com ela o Bamerindus seguia uma
trajetória em grande parte moldada pela estrutura regulatória e incentivos do Estado, distanciando-
se cada vez mais da lógica da produção, envolvido pelo crescimento acelerado das atividades
financeiras. Finalmente, um episódio ocorrido no início dos anos 1990 nos parece emblemático do
estágio de alienação causada pelo processo de hegemonia do capital financeiro, quando o filho de
Avelino Vieira usou a palavra, na tribuna do Senado, para exaltar a experiência do microcrédito em
Bangladesh. Neste momento tornou-se evidente que o grau de sofisticação atingido pelo processo
de financeirização do capital no Brasil, já havia levado o Bamerindus e a família Vieira ao
rompimento com a sua rica história empresarial e ideológica, pois o termo microcrédito nada mais
era que um nome sofisticado para a maior parte das atividades desenvolvidas pelo banco enquanto
Avelino Vieira comandou a instituição1. Os discursos, manifestações públicas e atitudes de José
Eduardo contra a especulação financeira e as altas taxas de juros, em boa medida são evidências
que ele tinha consciência dos efeitos negativos desse processo sobre os negócios do grupo e que,
mesmo o poderoso banqueiro e seu grande banco não reuniam a força necessária para reverter a
crescente financeirização do capital e o movimento de expansão da espiral especulativa instalada no
mercado financeiro brasileiro e internacional.
1514
Entre as empresas mais importantes do grupo estavam o Banco Bamerindus e a Bamerindus
Cia de Seguros que, juntos, chegaram a concentrar em média 82,5% do total do Patrimônio Líquido
da instituição. A seguradora além de ter sido uma das empresas mais antigas do grupo, durante todo
o período esteve entre as maiores do Brasil. Seguindo a tendência dos grupos econômicos
brasileiros, no final dos anos 1980, o Bamerindus iniciou um grande esforço para diversificar suas
atividades investindo, por exemplo, na ampliação da Inpacel e na aquisição de participações nos
leilões de privatização. Vários indícios apontam que parte dos problemas do grupo nos anos 1990
estava relacionada aos prejuízos acumulados com a indústria de papel, causados por problemas
estruturais do projeto de expansão da fábrica, e da impossibilidade política de o governo Fernando
Collor criar reserva de mercado para os produtos que ela produzia. Durante o processo de
privatização, o grupo comprou participações em algumas grades empresas e disputou o controle da
CSN com o Grupo Vicunha, conseguindo eleger seu representante para a Presidência da empresa
com a ajuda do grupo político de Fernando Henrique Cardoso. A análise da CSN indicou ser ela

1
É interessante observar que as biografias de Avelino Vieira patrocinadas e publicadas pelo Bamerindus nos anos de 1982,
1986 e 1993, trazem uma grande quantidade de frases atribuídas ao velho banqueiro e que faziam parte do seu discurso
ideológico, no qual os bancos eram apenas facilitadores do processo de produção.
572

estratégica para o controle da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), cujo processo de privatização
já estava em andamento na época, e que acabou sendo leiloada 40 dias após a intervenção do Bacen
no Bamerindus. Outros investimentos do grupo, como no setor agropecuário e reflorestamento
foram induzidos pelas políticas oficiais de incentivos fiscais e, durante a campanha eleitoral de José
Eduardo para o Senado em 1990, a imprensa, controlada pelos seus adversários, publicou denúncias
de um suposto envolvimento da Fazenda Bamerindus, no Pará, em graves conflitos entre posseiros,
grileiros e a Polícia Militar, com relatos de violências praticadas contra pequenos agricultores. Na
mesma época também foram publicadas denúncias que envolviam fazendas do grupo com trabalho
escravo e o Banco Bamerindus com a venda de terras indígenas.
1515
Na década de 1980 e início dos anos 1990, o grupo enfrentou vários desafios e, talvez o
mais importante tenha sido o de manter-se como instrumento de acumulação capitalista geradora de
excedentes, visto que o crescimento e complexidade das operações implicavam na tendência de
redução da produtividade e eficiência na apropriação da mais-valia. Também as atividades políticas
e partidárias levaram o grupo a se envolver em várias operações financeiras, tecnicamente
questionáveis, cujas conseqüências iriam condicionar boa parte do desempenho da instituição nos
anos seguintes. Segundo informações extraídas pela Folha de São Paulo, do relatório do Bacen, em
1997, os interventores e auditores encontraram na contabilidade do Bamerindus, operações
financeiras que estavam pendentes desde os anos 1970.
1516
A história do grupo está intimamente ligada à família Vieira cujas atividades no setor
financeiro se iniciaram em 1926, quando Miguel Antun – avô de JE, abriu uma seção bancária no
seu armazém em Tomazina (PR). Esta experiência resultou na criação, em 1929, do pequeno Banco
Popular e Agrícola do Norte do Paraná (BPANP) que em 1944 foi incorporado pelo Banco
Comercial do Paraná (Bancial), integrando assim os empresários reunidos em torno dos Vieiras,
com outro grande grupo de capitalistas de Ponta Grossa (PR) e, o então já poderoso Grupo Lupion.
As disputas internas no banco e as divergências políticas entre Lupion (PSD) e Othon Mäder
(UDN) levaram à cisão do grupo em 1951, quando Avelino Vieira e alguns sócios saíram do
Bancial e adquiriram, no ano seguinte, o Banco Meridional da Produção da família Lupion. O
Meridional havia sido criado sobre parte do espólio de um banco estrangeiro, na época acusado de
financiar partidos políticos no Brasil. Quando o grupo liderado por Othon Mäder e Avelino Vieira
assumiu o controle, mudou o nome para Banco Mercantil e Industrial do Paraná, e seu crescimento
no período 1952-1981 resultou na criação do grande Banco Bamerindus do Brasil S.A. ainda nos
anos 1970.
1517
Nos anos 1980, ele conquistou o lugar entre os três maiores bancos privados brasileiros e
disputou com os paulistas, Bradesco e Itaú, posições estratégicas no sistema econômico nacional,
com interesses em amplas áreas, entre elas o Estado. No início dos anos 1990, o comando
estratégico do grupo elegeu as operações financeiras com Estados e Municípios como um dos
principais segmentos de mercado a ser explorado pelo banco, direcionando boa parte dos
investimentos para ampliação destas atividades. É difícil avaliar o tamanho e extensão da sua
573

crescente influência nos orçamentos de Prefeituras e Estados, observando que nos anos 1990
direcionou investimentos para a expansão de suas atividades nas regiões de fronteira econômica e
política que abrangiam Estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e
Acre. A análise comparativa do desempenho do Bamerindus com os outros bancos mostrou que na
média do período, o seu desempenho foi inferior aos demais, ficando muito próximo do Banco do
Brasil. Tal comportamento parece indicar que o objetivo principal do grupo era ampliar sua esfera
de influência, mesmo que para isso tivesse que sacrificar parte da lucratividade.
1518
A carteira de títulos de baixa liquidez que o banco acumulou ao longo dos anos, resultantes
de operações com empresas privadas, estatais e o Estado, e as intervenções do Bacen em vários
bancos, levaram o Bamerindus a enfrentar uma grave crise de liquidez entre os anos 1984 e 1985.
Essa crise e a sua superação não podem ser analisadas estritamente sob o prima econômico-
financeiro. Os indícios que encontramos apontam que ela tinha conexões com os acontecimentos
políticos da época, como a disputa pela Presidência da República; e a sua superação esteve também
vinculada às conexões que o grupo mantinha com o Estado, através de negócios diretos, como na
área de seguros ou com áreas financeiras do setor público estadual e municipal, ou indiretos através
de cargos públicos ocupados por acionistas e diretores do grupo, como no caso de João Elísio
Ferraz de Campos, que na época chegou a ser vice-governador, secretário de Finanças e governador
do Estado do Paraná.
1519
Entre 1981 e 1994 o banco enfrentou sete planos de estabilização econômica que
promoveram mudanças bruscas e significativas na sua estrutura de investimentos, financiamentos e
operacional. Em 1987, seus negócios deram um salto considerável alcançando a terceira posição
entre os maiores bancos privados, e boa parte desta evolução deveu-se ao lançamento da Conta
Remunerada Bamerindus e ao aumento no endividamento da instituição. Com relação ao capital
próprio, o banco tinha um baixo índice de capitalização quando comparado com os seus dois
maiores concorrentes, Bradesco e Itaú, mas era bastante próximo dos demais banco da amostra.
Também temos que observar que as liberações para abertura de novos bancos a partir de 1988
contribuíram para aumentar a concorrência no mercado financeiro, pois grandes clientes e sócios
passaram a operar bancos próprios. Um caso bastante emblemático desta situação foi a saída de
Ademar César Ribeiro do Bamerindus em 1994, para reabrir o Banco das Nações, que havia sido
adquirido pelo grupo em 1984.
1520
O Bamerindus entrou nos anos 1990 com uma agenda carregada de investimentos
necessários para manter sua posição no mercado, tendo que direcionar recursos significativos para a
diversificação das atividades – na Inpacel, nos leilões de privatização, automação bancária,
telecomunicações, reestruturação organizacional e patrimonial para adaptar-se aos novos processos
informatizados e aos planos de estabilização econômica e à perspectiva de adequação ao Acordo da
Basiléia, entre outros. Além disso, a organização teve que lidar com as tensões das disputas no
campo político, determinadas pela participação de José Eduardo como ministro nos governos
Itamar Franco e FHC. Também integrava as prioridades estratégicas do banco, a expansão das
574

atividades no mercado internacional, e, no início dos anos 1990, passou a atuar de forma planejada
e consistente neste setor, buscando abrir representações nas principais praças do mercado financeiro
internacional e no Mercosul. Na época, um de seus mais tradicionais parceiros estrangeiros no
Brasil, o Midland Bank, foi incorporado pelo HSBC, que também comprou uma participação no
Banco Bamerindus e passou a operar como parceiro do grupo no mercado internacional.
1521
No comando do Bamerindus encontramos uma elite específica, formada por banqueiros,
empresários, intelectuais, burocratas e políticos – a “elite Bamerindus”, que formava um núcleo de
vanguarda econômica, política e intelectual cuja ação e poder foi suficiente para interferir e
influenciar no desenho do Estado e da sociedade local. Suas lutas políticas eram pautadas pelos
interesses gerais da classe e transcendiam os limites puramente econômicos. Tal grupo agia para
transformar seus interesses em objetivos do conjunto social, promovendo ações coletivas no campo
econômico, político e ideológico, planejando e implementando ações objetivas através de uma
ampla rede corporativa e política que abrangia tanto conexões locais como nacionais.
1522
A história do Bamerindus é a história da formação, crescimento e declínio desses grupos
que se reproduziram ao longo do século XX através de complexos arranjos entre famílias
tradicionais e elites emergentes, envolvendo conexões através de casamentos, novas empresas,
partidos políticos e cargos públicos. A família Andrade Vieira, por exemplo, é resultado da união
de capitalistas emergentes (Antun / Vieira) com uma família que tinha longa tradição de atuação
política em Minas Gerais e nacionalmente (Andrade). Esta elite reproduzia uma forma de atuação
que encontramos na comunidade de banqueiros ingleses entre 1890 e 1914 (CASSIS, 1994), na
história da família Rothschild (PINÇON & PINÇON-CHARLOT, 1998) ou na comunidade
empresaria e financeira dos EUA, como demonstraram Mills (1975), Mintz & Schwartz (1985) e
Domhoff (2005) entre outros, cujos estudos apontam para a importância e perenidade dos arranjos
sociais constituídos em torno de famílias ricas e tradicionais, no mundo político, econômico e
financeiro.
1523
O comando estratégico do Bamerindus era constituído basicamente por dois grupos, o
primeiro dedicava-se mais às atividades internas, acumulando cargos em diversas empresas da
organização, bem como, em alguns casos, participava também de diretorias de órgãos de
representação de classe; o segundo grupo era formado por pessoas que, além de ocuparem cargos
na estrutura de comando do Bamerindus, também atuavam em entidades de classe, na estrutura do
Estado e na política. Com o tempo, o poder se concentrou na família Vieira, principalmente em
José Eduardo que, ao assumir a Presidência do grupo em 1981, teve que enfrentar forte resistência
de familiares, sócios, diretores e da própria estrutura da instituição. Algumas evidências indicam
um provável fortalecimento de sua autoridade após comandar a instituição durante a grave crise de
liquidez enfrentada pelo banco nos anos de 1984 e 1985.
1524
O Bamerindus tinha uma forte tradição de atuação no mundo político, estando presente em
quase todas as eleições ou nos processos de escolha dos nomes que iriam assumir cargos públicos
importantes, bem como mantinha profundos vínculos com a esfera política nacional, formando uma
575

ampla rede de conexões políticas – a “rede política Bamerindus” (RPB). Tais conexões eram
estabelecidas através de vínculos de propriedade, parentesco, partidários, públicas e sociais,
envolvendo vários partidos, campanhas eleitorais e diversos cargos públicos eletivos ou não, como
os de presidente da República, ministros, governadores estaduais, senadores, deputados federais e
estaduais, prefeitos e vereadores. Na sociedade civil, a RPB tinha várias conexões com associações
de classe, sindicatos patronais e de trabalhadores, e com diversos órgãos de imprensa. Também
mantinha vínculos diretos com fundações e associações de assistência social, cultural, institutos e
clubes sociais. No aparelho do Estado, a rede esteve diretamente conectada às Secretarias de
Estado, ministérios, prefeituras, tribunais e empresas estatais – nas esferas municipal, estadual e
federal.
1525
Ao longo do período estudado, a RPB foi liderada por personagens como José Eduardo de
Andrade Vieira, Jayme Canet Júnior, Affonso Camargo Netto, João Elísio Ferraz de Campos e José
Carlos Gomes de Carvalho. Numa sucessão complexa de conexões cruzadas, diretas e indiretas
com outras redes, chegou a envolver personagens como Mário Andreazza, Tancredo Neves,
Fernando Collor de Mello, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, entre outros. A análise dos
dados da pesquisa demonstra que, durante toda a sua história, o comprometimento do Bamerindus
não se resumiu apenas às campanhas eleitorais e manutenção de alguns representantes, mas
promoveu intervenções constantes e sistemáticas no campo político, como por exemplo, na eleição
de governadores como José Richa, Álvaro Dias e Jayme Lerner, na Assembléia Nacional
Constituinte, na Revisão Constitucional, na eleição para presidente de Fernando Collor de Mello e
Fernando Henrique Cardoso, e nas aprovações de leis consideradas necessárias para a implantação
do Plano Real.
1526
No plano local, seus principais adversários foram as redes políticas de Moysés Lupion de
Troya, nos anos 1950; Paulo Cruz Pimentel no período 1970-1990 e Roberto Requião de Mello e
Silva nos anos 1990. No plano nacional, a RPB concorreu com várias outras redes políticas
formadas em torno de bancos, grupos econômicos, produtores e trabalhadores rurais, e de interesses
regionais. No período 1981-1994, a sua configuração foi profundamente marcada pelo processo de
transição entre o regime militar e a Nova República. Percebe-se claramente que o crescente avanço
do processo de socialização da política brasileira tornou a manutenção da RPB uma tarefa de vital
importância para a sobrevivência do Bamerindus, ao mesmo tempo em que, a ação política se
tornava mais complexa e dispendiosa, pois tinha que se adaptar às mudanças institucionais, como
por exemplo, o pluripartidarismo. Essa rede não era fruto da vontade extemporânea deste ou
daquele capitalista, ou uma opção deliberada de um grupo de empresários financeiros, mas um
imperativo da atividade econômica. A ação política organizada era uma extensão necessária e
inseparável da atividade empresarial privada. Naquele contexto histórico, a RPB era parte
integrante e inseparável de um organismo social complexo, e sua centralidade no Bamerindus
estava vinculada à posição estratégica que as instituições bancárias ocupavam na estrutura de
produção capitalista.
576

1527
O estudo da RPB também mostra que não é possível entender o jogo político sem conhecer
suas conexões com o mundo econômico, bem como não é possível entender o desempenho
econômico dos grupos sem conhecer suas conexões com a sociedade política e o aparelho do
Estado. Normalmente as análises tanto econômicas como políticas, relegam estas conexões para
notas de rodapé ou breves comentários, refletindo uma certa visão que tal fenômeno seria uma
espécie de desvio de conduta ou falha na organização da estrutura institucional do Estado e da
política. Ora, o que constatamos foi que, desde a criação do primeiro banco da família Vieira, em
1929 até o momento da intervenção em março de 1997, ou seja, durante 67 anos de história, uma
elite de banqueiros e empresários manteve uma importante rede política e não podemos alegar que
o Bamerindus tenha sido uma exceção, pois também são abundantes os indícios que os
envolvimentos cruzados entre bancos e a política continua ocorrendo tanto no Brasil como na
Europa ou mesmo nos EUA. O caso Bamerindus e as revelações tornadas públicas em 20052, dando
conta das conexões entre partidos políticos brasileiros, bancos e demais instituições financeiras,
reforçam nossa tese que tais conexões, além de não serem pautadas por “diferenças” político-
partidárias, são parte integrante e essencial tanto do mundo econômico como do político, e formam
um todo inseparável e assim devem ser estudadas. É neste contexto que podemos entender a
história do Bamerindus, da elite que o comandava e da sua rede política.
1528
Durante boa parte do período analisado, o Bamerindus e a RPB atuaram com uma espécie
de partido político informal, visto que as agremiações formais ainda não tinham estrutura suficiente
para enfrentar campanhas eleitorais cada vez mais complexas, e que exigiam organização e suporte
técnico, a cada dia mais sofisticado, principalmente para apoio aos comícios, rede de diretórios e
comunicação e propaganda. Mas é importante observar que o simples fato de controlar tais meios
não era garantia de vitória, pois na eleição para o senado em 1990, JE enfrentou e venceu Paulo
Pimentel, que controlava desde os anos 1960 uma tradicional rede de televisão no Paraná. Neste
contexto um dos fatores que encarecia a manutenção da rede política eram as regras bastante
flexíveis que disciplinavam a fidelidade partidária que, se por um lado permitia ampliar o quadro de
um partido atraindo personagens de outras agremiações, por outro aumentava o custo para mantê-
los e controlar a legenda. Outra grande dificuldade da RPB no período foi a de eleger seus
representantes diante da concorrência dos novos atores populares, e a crescente autonomia que a
legislação trouxe para os candidatos eleitos, cuja atuação passou a ser condicionada muito mais
pela lógica das urnas do que pelos interesses do Bamerindus. No plano nacional, a socialização da
política se traduziu na crescente multiplicidade e complexidade da equação de interesses políticos
locais e nacionais constelados no Congresso Nacional e no Palácio do Planalto, e que conferiam um
elevado grau de volatilidade, incerteza e transitoriedade aos acordos, alianças e coligações. Assim
como as forças de oposição aos interesses da RPB enfrentavam a fragmentação crescente da

2
É interessante observar que no centro do chamado “Escândalo do Mensalão” estavam personagens que foram importantes
para a rede política Bamerindus como por exemplo, o PTB e Emerson Palmieri.
577

representação política, também a rede tinha grande dificuldade para manter sua coesão interna.
Além disso, também teve que lidar com a crescente fragmentação do núcleo formato pelos seus
principais acionistas após a extinção da carta-patente.
1529
No final dos anos 1980, as principais lideranças políticas movimentavam-se para criar seus
próprios partidos, o Bamerindus seguiu o mesmo caminho optando por investir na estruturação do
PTB no Paraná e em alguns outros Estados, assumindo assim a posição de mais um concorrente no
disputado sistema partidário brasileiro e paranaense. Ao engajar-se em tal tarefa, o grupo entrou
num arriscado e complexo jogo político, pois diferente do grupo empresarial, a instituição
partidária no contexto legal da época, não comportava a rigidez das estruturas hierárquicas, e era
condicionada pela liberdade de o político trocar de legenda ou de criar novos partidos quando assim
entendesse ser necessário. Nesse período, ocorreu o crescimento acelerado da estrutura do PTB no
Paraná que, partindo de 52 diretórios em 1990 chegou a 352 em 1994, abrangendo praticamente
todas as cidades do Estado. Vale observar que um dos objetivos iniciais da nossa pesquisa era
verificar possíveis conexões diretas entre a abertura de novos diretórios do PTB e a rede de
agências do Bamerindus no Estado, mas não conseguimos evidências consistentes para estabelecer
esta relação, a não ser alguns depoimentos verbais dando conta que, no início dos anos 1990,
gerentes e funcionários das agências do Bamerindus, nas cidades do interior do Paraná, foram
estimulados a apoiarem e participarem da abertura de diretórios municipais da agremiação. No
plano nacional, o partido crescia, mas não conseguia alcançar a unidade necessária para uma ação
coordenada, comportando-se na maioria das vezes como um aglomerado de projetos pessoais ou de
grupos locais, cujos interesses pontuais muitas vezes eram conflitantes. Nesse contexto, José
Eduardo enfrentou várias reações internas às suas tentativas de controlar o diretório nacional,
principalmente do PTB de Minas Gerais e de São Paulo e, nas eleições do período, teve que apoiar
vários outros partidos nas coalizões eleitorais, apesar de estar investindo muito na estruturação do
PTB.
1530
Com base nas evidências apresentadas neste trabalho, podemos afirmar que o núcleo de
comando formado pelas principais lideranças da rede corporativa e política Bamerindus participava
do conjunto das “elites orgânicas” do Paraná, e que durante grande parte do período estudado, foi
capaz de manter a hegemonia sobre a região e influenciar de forma significativa a vida nacional, e é
neste contexto que podemos entender a atuação política do senador e banqueiro José Eduardo.
1531
Muito diferente de seu pai, JE entrou na arena política com gosto e disposição para atuar
ostensivamente, buscando ocupar todos os espaços possíveis no Paraná e em Brasília. Como
estreante na política, houve momentos em que ele teve dificuldades para lidar com o ritual próprio
deste campo e com a imprensa, mas, no cômputo geral, até o final de 1994, ele conseguiu
conquistar e manter posições importantes nas principais articulações políticas nos governos
estadual e federal. Reconhecido como uma das principais lideranças do Congresso pelo DIAP
(1994), no Senado JE participou de importantes articulações políticas tanto de apoio ao governo
Collor, como no processo do impedimento e renúncia deste presidente. Também participou da
578

formação do governo Itamar Franco e da sua sucessão que culminou na eleição de Fernando
Henrique Cardoso. Ainda no governo Itamar, assumiu o Ministério da Indústria e Comércio e,
interinamente, o Ministério da Agricultura, enfrentando, neste último posto, grande resistência
política de vários grupos e de segmentos do próprio partido. Sua saída da pasta aconteceu após o
governo sofrer pressões políticas que incluíram ataques públicos no Congresso e na grande
imprensa nacional. Durante sua gestão no MICT, foram promovidas várias ações, entre elas
destacamos a reorganização do Ministério, acordos nas Câmaras Setoriais e criação da Associação
dos Países Produtores de Café (APPC), cujas ações promovidas pela instituição garantiram na
época a recuperação do preço do café no mercado internacional e resgatou a importância do
produto para a pauta das exportações brasileiras.
1532
A atuação do banqueiro e político abrangeu tanto questões estratégicas nos níveis federal e
estadual, como no dia-a-dia dos trabalhos do Legislativo e do Executivo, no exercício do poder de
classe através do Governo e do Estado. Ele atuou tanto na pequena como na grande política, não se
limitando apenas à defesa dos interesses específicos do Bamerindus ou do setor financeiro, o que,
em muitos casos, levaram-no a assumir posições em conflito com alguns de seus pares banqueiros.
Ou seja, suas ações em muitos momentos ultrapassaram os limites do corporativismo do setor,
atuando num plano acima dos interesses imediatos do segmento, para defender os interesses da
classe. Também desempenhou um importante papel nas articulações políticas que pressionaram o
governo Itamar Franco a fim de manter e ampliar o processo de privatização iniciado pelo governo
Collor. Sua atuação também foi importante para o condicionamento das ações dos ministros da área
econômica, bem como foi ele um dos pivôs da crise política que abriu caminho para FHC ocupar o
Ministério da Fazenda. Pouco tempo antes, Maurício Schulman havia sido eleito para a Presidência
do Conselho de Administração da CSN com a ajuda do grupo político de Fernando Henrique
Cardoso.
1533
Ao longo desta tese foi possível acompanhar o crescimento do poder de José Eduardo
inicialmente sobre o grupo e a família, culminando, nos anos 1990, com uma posição também forte
no comando da rede política Bamerindus. Para realizar seus objetivos políticos, José Eduardo não
hesitou em lançar mão dos vários recursos disponíveis no Grupo Bamerindus, inclusive conectando
campanhas publicitárias do banco com a sua campanha eleitoral “Zé do Chapéu” para o Senado.
Tal fenômeno tem relação com a fragilidade do sistema partidário que estava em processo de
reestruturação desde a reforma de 1979, e a transição política do regime militar para a Nova
República. Nesse contexto, o Bamerindus acabou assumindo várias funções de partido político, e
José Eduardo, como controlador do grupo, era o candidato natural para os cargos mais importantes
em disputa na arena política.
1534
Na campanha presidencial de 1994, JE inicialmente concorreu como candidato, avaliando
que tinha as mesmas chances que levaram Collor ao poder em 1989, mas tinha consciência que seu
projeto dependia de intrincadas composições e alianças com as forças que também disputavam as
eleições para os governos estaduais, Assembléias Legislativas, a Câmara dos Deputados e o
579

Senado. O posicionamento de JE como candidato contribuiu muito para a equação política que
viabilizou a candidatura do “amigo” Fernando Henrique Cardoso. Na época integrou o “Comando
da Campanha FHC”, participando das decisões estratégicas junto com os presidentes do PFL e
PSDB, assumindo também a função de um dos principais tesoureiros e financiadores da chapa. Sua
indicação para o Ministério da Agricultura do governo Fernando Henrique, no final de 1994,
novamente despertou fortes reações contrárias ao seu nome, mobilizando órgãos de representação
de classe de produtores e trabalhadores rurais, e grupos dissidentes do PTB de São Paulo e Minas
Gerais. Certamente JE perdeu a chance de colocar João Elísio Ferraz de Campos no Ministério,
preservando-se assim do desgaste político que passou a enfrentar desde o dia em que seu nome foi
confirmado para a pasta. Na época, segundo a FSP, o PMDB havia recusado o cargo por entender
que haveria muito desgaste político por causa dos efeitos do Plano Real sobre o setor agrícola. Mas
também não podemos descartar a possibilidade que a indicação de João Elísio poderia fortalecer
mais Canet / Camargo do que José Eduardo. As críticas públicas que ele recebeu nos dois
momentos em que foi indicado para o Ministério da Agricultura demonstram que um dos pontos
fracos da RPB era a baixa densidade das suas conexões com a grande imprensa paulista e nacional,
o que tornavam estratégicos os investimentos na rede de televisão CNT, na Folha de Londrina e na
fábrica de papel. Também temos que considerar que a principal base eleitoral da RPB era o Paraná,
cujo colégio eleitoral era muito menor que o de São Paulo e Minas Gerais, e que JE tinha
dificuldades para reunir as principais lideranças políticas locais em torno do seu nome.
1535
Em sua trajetória política, JE encontrou oposição de importantes grupos das elites do
Paraná, São Paulo e Minas Gerais, entre outras, tendo que enfrentar, por exemplo, grupos como de
Paulo Pimentel, de Roberto Requião, Álvaro Dias, Hélio Garcia, e boa parte da bancada ruralista no
Congresso. Tais conflitos chegaram a momentos de confronto aberto, como nos enfrentamentos
públicos promovidos pelo governo Requião contra o Bamerindus, ou as declarações agressivas de
políticos da bancada ruralista contra a sua indicação para o Ministério da Agricultura, e as
persistentes críticas do Grupo Abril. Um dos ataques mais graves veio do grupo Paulo Pimentel,
que publicou em seus jornais, denúncias de violências praticadas contra camponeses na Fazenda
Bamerindus, no Pará. Apesar de ocupar uma cadeira no Senado representando o Paraná, a partir de
1995, José Eduardo passou a enfrentar sérios problemas para manter-se entre as lideranças das
elites orgânicas da região, encontrando forte resistência de setores importantes do Estado, em boa
parte por causa do baixo desempenho eleitoral do PTB nas eleições de 1994, quando o partido teve
a sua participação na Assembléia Legislativa reduzida e não conseguiu eleger José Carlos Gomes
de Carvalho, como senador.
1536
Entre os vários motivos que levaram JE a se envolver diretamente na política, certamente
podemos destacar a sua posição na liderança da rede política Bamerindus, que o colocava como o
candidato natural dos interesses constelados em torno do grupo, num momento em que as principais
lideranças como Jayme Canet e Affonso Camargo gradativamente se afastavam da RPB. Também
temos que considerar que, se comparamos a história da instituição com as de outros grupos
580

econômicos, como por exemplo, Lupion e Paulo Pimentel, vamos entender que a opção pela
atuação política ultrapassava em muito as questões de vontade ou escolha, entrando na esfera dos
imperativos para a sobrevivência e continuidade da instituição. A análise do caso Bamerindus
demonstra que a RPB era mantida pela lógica da sobrevivência e continuidade do processo de
acumulação capitalista, cabendo aos atores escolhas numa faixa bastante restrita de posições que
tivessem maior probabilidade de sucesso. Tal jogo acontecia num ambiente marcado pela crescente
socialização da política e ampliação da sociedade civil que tornavam, a cada dia, mais complexas e
sofisticadas as regras de atuação pública, impondo limites crescentes aos atores sociais e às
instituições. Se no período 1960-1980 os banqueiros desfrutavam de uma imagem pública
respeitável e inatacável, conseguindo eleger vários representantes, quando José Eduardo disputou
sua primeira eleição em 1990, encontrou pela frente um ambiente bastante refratário às suas
pretensões, tendo que enfrentar um suposto “estigma” à figura do banqueiro que seus adversários
políticos faziam questão de explorar nos embates públicos. Até o final dos anos 1980, o
Bamerindus tinha uma imagem pública favorável, mas, nos anos 1990, apesar de toda a sofisticação
técnica do setor de propaganda do banco, tal perfil não resistiu às análises críticas que emergiram
na sociedade civil, política e na opinião pública. Nesse ambiente tornou-se claro o paradoxo sobre o
qual estavam assentadas as instituições bancárias, ao mesmo tempo em que ocupavam uma posição
estratégica poderosa no sistema econômico capitalista, eram extremamente frágeis diante da
opinião pública e do aparelho do Estado.
1537
Entre as ambições políticas de JE, podemos incluir os cargos de Governador do Estado do
Paraná, Ministro da Indústria e Comércio, Ministro do Trabalho e Ministro da Agricultura, tendo
aspirado também ao comando do Ministério da Fazenda, à Presidência do Congresso Nacional e,
pelo menos desde a eleição de Fernando Collor, à posição de Presidente da República. Entre os
projetos do Grupo Bamerindus que tinham impacto na sociedade políticas estavam um possível
monopólio da produção de papel de imprensa (revistas) no Brasil, o que talvez pudesse conter ou
domesticar a disposição crítica da Editora Abril para com o Bamerindus; a formação de uma grande
rede nacional de televisão (CNT), provavelmente para disputar com a Rede Globo; e certamente
seus concorrentes não duvidaram quando José Eduardo declarou que o Bamerindus pretendia
participar do controle da Companhia Vale do Rio Doce. Seguramente JE se enquadrava entre os
raros personagens que entraram na política brasileira e, em pouco tempo, tornaram-se líderes no
Congresso (DIAP, 1994). Suas demonstrações de pragmatismo em declarações públicas e nos
trabalhos das Câmaras Setoriais durante sua gestão à frente do MICT, permitem considerar que ele
não teria problemas pessoais de natureza ideológica para buscar coligações com as principais forças
políticas, buscando compor chapas ou governos. As posições que ele ocupou tanto no comando do
terceiro maior banco privado brasileiro, como na política e no governo, são evidências bastante
sólidas para afirmar que, durante grande parte do período estudado, José Eduardo de Andrade
Vieira foi um dos mais importantes líderes do conjunto das elites orgânicas do Brasil.
1538
A história do Bamerindus é a história da forma como um grupo de pessoas de um segmento
581

da classe dominante se organizou e desenvolveu a luta política, buscando manter o poder ou


conquistar novas posições e privilégios. Nesta tese apresentamos vários exemplos de como um
segmento de classe transformou em poder político o seu poderio econômico, utilizando capacidades
intelectuais, acervo cultural e suas redes de conexões pessoais e familiares e, principalmente, a
instituição bancária privada. Também apresentamos uma boa amostra das artimanhas e conchavos
utilizados nos jogos do poder e, a atuação dos personagens que formavam o grupo durante a
sucessão de Itamar Franco, é um bom exemplo de ação política para construir alianças e vencer
adversários, bem como neutralizar e desviar a atenção de questões que contrariavam seus interesses
e de sua classe.
1539
A pesquisa se mostrou particularmente difícil no aspecto que, muitas conexões do grupo
com o Estado e a política eram dissimuladas, sendo raras as análises encontradas que focalizavam
essas conexões que, apesar de bastante conhecidas e valorizadas no setor financeiro e empresarial,
normalmente as informações eram filtradas quando se tratava de levá-las a um público mais amplo.
Nesse sentido, Jayme Canet foi bastante competente na arte de dissimular suas ligações, o que não é
válido para José Eduardo. Mas esta é uma questão de estilo e personalidade, já que a história está
cheia de exemplos de banqueiros que atuaram ostensivamente na política, como por exemplo,
Magalhães Pinto, Herbert Levy, Laudo Natel e Ângelo Calmon de Sá, ou mesmo Othon Mäder
enquanto ocupou a Presidência do Bamerindus; lembrando que na história recente, a discrição não
tem sido uma boa garantia para evitar problemas com a opinião pública, a política e o judiciário.
Mas a grande dificuldade da pesquisa foi identificar as operações financeiras do grupo com o
Estado, principalmente pela reduzida quantidade de informações nos seus relatórios financeiros e
pela proteção do Estado ao sigilo bancário de tais atividades. Todas as operações bancárias ativas e
passivas com o setor público, necessariamente deveriam ser destacadas e segregadas do patrimônio
total dos bancos, exigindo-se que, para operar neste segmento deveriam constituir empresas
específicas, regidas por um estatuto especial no que tange às questões como personalidade jurídica,
garantias, tributação, fiscalização do Bacen e, por que não, do Ministério Público e do Tribunal de
Contas. Os balanços e relatórios financeiros dessas entidades financeiras especiais deveriam ser
publicados periodicamente de forma ampla e detalhada, apontando seus clientes mais importantes,
suas principais operações com o Estado, e sua contabilidade aberta à pesquisa e verificação pública.
1540
Durante os trabalhos nos deparamos com várias questões que merecem futuros estudos mais
detalhados, como por exemplo, o papel dos bancos no financiamento de campanhas eleitorais, a
história do Grupo Lupion – principalmente pelos indícios de conexões com interesses dos Estados
alemão e japonês durante a Segunda Guerra Mundial, e pelo tamanho e complexidade das suas
instituições financeiras e suas conexões com o Grupo Bradesco e Amador Aguiar nos anos 1950.
Também merece um estudo mais detalhado as conexões políticas do Bamerindus com o regime
militar no período 1964 a 1980 e seus vínculos com os governos estaduais de Ney Braga e Paulo
Pimentel. Outro tema importante é a história do Banco Comercial do Paraná (Bancial), pois como
foi possível constatar, sua importância para a história política e econômica da região ainda espera
582

por estudos mais aprofundados, sendo ele uma das peças-chave para entender a trama política da
época.
1541
Após este amplo estudo das conexões entre o Bamerindus, a sociedade civil e a política,
podemos compreender com mais clareza e profundidade as palavras de Maria Christina de Andrade
Vieira à Carta Capital, logo após a intervenção do Bacen, “[...] o político sempre predominando
sobre o financeiro” 3 sintetiza em boa medida a lógica dominante na intrincada trama de vínculos
que envolviam a instituição e a sociedades civil e a política, e que nos remete à imagem colhida em
depoimentos que caracterizavam tais relações como a de um casamento de “[...] aliança e papel
passado4”. Também podemos entender melhor o significado das palavras do auditor quando disse
que os problemas do banco se agravaram quando “acabou caindo nas mãos dos políticos de
Brasília” 5. Nesse momento, com base em todas as evidências que reunimos neste trabalho,
podemos concluir que, ao longo de sua história, o Grupo Bamerindus manteve uma importante
rede econômica, financeira, política e empresarial, que atuou de forma sistemática e contínua
sobre mercados, governos, Estado e a sociedade, caracterizando-se como um complexo
conglomerado de interesses econômicos, financeiros, políticos e empresariais, controlado por
uma elite específica formada por banqueiros, empresários, burocratas, intelectuais e políticos.
1542
Finalmente concluímos que a equação social formada pelas conexões dos bancos com o
Estado, e de seus banqueiros com a política, resultava da posição especial que os bancos ocupavam
na sociedade, como uma das principais instâncias mediadoras dos conflitos alocativos e
distributivos do sistema capitalista e, sob o prisma sociopolítico, essa atividade era importante
demais para ser deixada apenas nas mãos de banqueiros6.
1543
Infelizmente, não temos mais tempo e espaço nesta tese, para prosseguir o estudo e analisar
o processo de falência do Bamerindus e a atuação dos seus novos controladores. Este assunto ficará
para um futuro próximo e, para encerrar, concluímos que, grande parte das preocupações com o
poder financeiro, que ao longo da história do capitalismo mereceu a atenção de vários autores, entre
eles Adam Smith, Andrew Jackson, Marx, Hilferding, Lenin e Weber, continuam tão atuais quanto
a velha prática de emitir e negociar títulos da dívida pública.

3
Fonte: Letaif (1997, p.41) grifo nosso.
4
Fonte: Depoimentos verbais.
5
Fonte: Ibidem.
6
“la guerre est une chose trop grave pour la confier à des militaires ” Georges Benjamin Clemenceau, 1886. Apud PIERRE,
Miquel. Clémenceau: le père, la victoire. Paris: Tallandier, 1999.
583

EPÍLOGO

“A BEM DIZER, sou Ponciano de Azeredo Furtado, coronel de patente, do que tenho honra e faço
alarde. Herdei do meu avô Simeão terras de muitas medidas, gado do mais gordo, pasto do mais
fino. Leio no corrente da vista e até uns latins arranhei em tempos verdes da infância, com uns
padres-mestres a dez tostões por mês. Digo, modéstia de lado, que já discuti e joguei no assoalho do
Foro mais de um doutor formado. Mas disso não faço glória, pois sou sujeito lavado de vaidade,
mimoso no trato, de palavra educada. Já morreu o antigamente em que Ponciano mandava saber nos
ermos se havia uma casa de lobisomem a sanar ou pronta justiça a ministrar. Só de uma regalia não
abri mão nesses anos todos de pasto e vento: a de falar alto, sem freio nos dentes, sem medir
consideração, seja em compartimento do governo, seja em sala de desembargador. Trato as partes no
macio, em jeito de moça. Se não recebo cortesia de igual porte, abro o peito: – Seu filho de égua, que
pensa que é?”

José Cândido de Carvalho (2000, p.7).


584

REFERÊNCIAS

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428
Banco das Nações reabre este mês em São Paulo. Folha de São Paulo, [São Paulo], 03 jul. 1994.
Editoria: Dinheiro, p. 2-3.
429
Banco das Nações volta a operar dez anos após sua venda ao Bamerindus. Gazeta Mercantil,
[Curitiba], 25 maio 1994, p. 23.
430
Banco faz minissérie com história de sucesso. Folha de São Paulo, [Curitiba], 23 mar. 1993, p. 2-
9.
431
Bancos derrubam bolsas. Gazeta Mercantil, [São Paulo], 26 out. 1995, p. A-1, B-1 e B-7.
432
Bancos são contra a criação do ITF. Agência Estado. Aedata, Brasília 15 out. 1992.
433
BARALDI, R. Saindo da clausura. Gazeta Mercantil, [São Paulo], 20 abr. 1990.
434
BC aplica pena máxima no caso Nacional. Magalhães Pinto e Sant’Anna, dirigentes do banco, não
podem exercer cargos no setor por 20 anos. Folha de São Paulo, Brasília, 15 abr. 2000, p. 1-
13.
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BENTES, Patricio. O caipira dono do banco da praça. Tem 11 fazendas em Roraima e no Paraná.
Folha da Tarde, [Curitiba], 08 maio 1990b, Especial..
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BENTES, Patricio. Política, o novo desafio do banqueiro. Folha da Tarde, [Curitiba], 08 maio
1990a, Especial.
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BERGAMASCHI, M. Sérgios brigam por comando na publicidade Porta-voz e publicitário têm
idéias diferentes sobre como aplicar a verba de divulgação. O Estado de São Paulo, Brasília,
11 ago. 1996. Disponível em: <http://www.estado.com.br/jornal/96/08/11/
GOVESEG.HTM>. Acesso em: 14 abr. 2002.
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BLECHER, Bruno. Agricultura é de Andrade Vieira. Folha de São Paulo, [Curitiba], 6 dez. 1994,
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BLECHER, Bruno. Safra bate recorde apesar do governo. O presidente Itamar nomeou nove
ministros para a Agricultura; a maioria não fez nada. Folha de São Paulo, [São Paulo], 31
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446
BLECHER, Nelson. Andrade Vieira vai pedir o apoio de Maluf. Folha de São Paulo, Cuiabá, 31
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447
BLECHER, Nelson. Bamerindus alia-se ao 8º banco mundial. Folha de São Paulo, [Curitiba], 30
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BLECHER, Nelson. Bamerindus estuda baixar as tarifas para atrair clientes. Folha de São Paulo,
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BLECHER, Nelson. Banqueiro caubói. O presidente do Bamerindus dispara críticas a pacotes na
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BLECHER, Nelson. Grandes redes armam estratégias. Folha de São Paulo, São Paulo, 2 maio
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BLECHER, Nelson. Mapa revela concentração bancária. Folha de São Paulo, São Paulo, 2 maio
1994, p. 2-1.
452
BNDES suspende dívida de R$ 20 milhões da Inpacel. Folha de São Paulo, Rio de Janeiro, 25 jul.
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Boi e boiada. No limite. Embrulho vazio. Casa de ferreiro.. Onde o calo aperta. ..espeto de pau.
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Boiadeiro, braço forte! É “Seu Zé” Eduardo. Curitiba Hoje, [Curitiba], 24 jun. 1990.
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BONASSA, E. C. Reunião decide hoje candidato do PPR. Folha de São Paulo, São Paulo, 7 abr.
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BONASSA, E. C.; e SILVA, F. de B. e. Fernando manda Pimenta para negociações com PMDB.
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Caras e bocas. Folha de São Paulo, [São Paulo], 30 ago. 1994, Painel, p. 1-4.
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CARMO, Márcia. Demissão de Andrade Vieira é quase certa. Só um detalhe ainda segura o
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Carvalho fala dos planos 1994 e da pretensão ao Senado. Indústria e Comércio, Curitiba, 11 jun.
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Causos do Zé 1. Causos do Zé 2. Causos do Zé 3. Causos do Zé 4. Panorama Político. Paraná-
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noticias/colunista.php?op=ver&id=176430&caderno=15&colunista=140>. Acesso em: 7 dez.
2005.
471
Chumbo quente. Questão mineira. Folha de São Paulo, [São Paulo], 26 out. 1994, Painel, p. 1-4.
472
Ciro diz que bancos estatais ‘quebrariam’ sem socorro. Folha de São Paulo, Brasília, 24 nov. 1994,
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Clima tranqüilo na cidade. Tribuna do Paraná, Curitiba, 4 set. 1990, p.2.
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Collor se diz vítima de um “golpe civil”. Agência Estado, O Estado de São Paulo, São Paulo, 1º
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Começou a privatização da Vale. VEJA, São Paulo, 7 dez. 1994, p. 49.
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Como o HSBC engoliu o Bamerindus. Por Zé do Banco. A crise do Bamerindus, na verdade, foi
provocada pelo Banco Central. CMI, [Curitiba], 29 nov. 2005. Disponível em:
<http://brasil.indymedia.org/pt/blue/2005/11/339676.shtml>. Acesso em: 7 dez. 2005.
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Consultorias vendem informações do governo. Os exemplos do Passado. Jornal do Brasil, [Rio de
Janeiro], 13 ago. 1995, p.2.
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Conta fechada. Bamerindus compra o F. Barretto. VEJA, São Paulo, 5 out. 1988, p. 113.
616

479
Copel inaugura hoje a Usina Hidrelétrica de Segredo no PR. Agência Estado. Aedata, Curitiba, 28
set. 1992.
480
CORREIO DE NOTICIAS, [Curitiba], 26 set. 1988.
481
Cosette desiste de assumir ministério da Indústria e do Comércio. Agência Estado. Aedata, São
Paulo, 20 dez. 1993.
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Costura complicada. Choque de egos. Um já topou. Folha de São Paulo, [São Paulo], 24 jan. 1994,
Painel, p. 1-4.
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CRISTINO, V. Presidente do HSBC derruba tese de Vieira. À CPI, Geoghegan afirmou que o
Bamerindus não valia nada porque seus ativos “eram ruins”. Agência Estado. Aedata,
Brasília, 17 jun. 1999. Fonte: <http://www.estado.estadao.com.br/edicao/pano/99/06/16/
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Cronologia da reeleição. Folha de São Paulo, [São Paulo], 18 maio 1997.
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CRUZ, V.; WOLTHERS, G. FHC começa campanha sem programa. Folha de São Paulo,
Contagem-MG, 4 maio 1994, p. 1-8.
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Curitiba recebe governador cassado com festa. Agência Estado. Aedata, Curitiba, 21 jul. 1993b.
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Da hiperinflação ao hiperjuro. Em dez anos, o governo pagou 999,9% de juros contra uma inflação
de 167%. Gazeta do Povo, Curitiba, 27 jun. 2004. Caderno de Economia, 10 anos de Plano
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Dalton, um ótimo piloto. Tribuna do Paraná, Curitiba, 30 jul 1981, p. 6.
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Deu banqueiro na lavoura. VEJA, São Paulo, 21 dez. 1994, p. 39.
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DIÁRIO DA MANHÃ, Ponta Grossa, 23 nov. 2002. Disponível em:
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DIMENSTEIN, G; FARIA, T. PFL propõe que o PSDB indique o vice. Folha de São Paulo,
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Discreto, Daniel Dantas iniciou império na Bahia. Folha de São Paulo, [São Paulo], 21 set. 2005.
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E acusa Álvaro de ‘comprar’ apoio. Tribuna do Paraná, Curitiba, 18 set. 1990, p.2.
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EDUARDO, J. Requião e Dias criticam disposição de Itamar em reduzir mandato. Agência
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EDUARDO, J. Vieira chega ao governo depois de financiar campanha Collor. Agência Estado,
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Ele localizou o avião. Tribuna do Paraná, Curitiba, 31 jul 1981.
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Eleito quer reduzir sonegação do ITR. Folha de São Paulo, Brasília, 22 dez. 1994, p. 1-8.
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ELZE D. A gula e a indigestão da Vicunha. VEJA, São Paulo, 1º dez. 1999. Disponível em:
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Em três anos e meio, País teve 74 ministros. Agência Estado. Aedata, São Paulo, 19 maio 1993.
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EMERICK, S. Vieira diz que BC vendeu barato a marca. Folha de São Paulo, Brasília, 02 abr.
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Empresários e Força Sindical fazem protesto contra excesso de impostos. Folha de São Paulo,
Curitiba, 23 fev. 1994, p. 1-8.
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Empresários reagem bem à notícia da saída de Marcílio. Agência Estado. Aedata, São Paulo, 02
set. 1992.
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Empréstimo à Odebrecht põe Eliseu e Andrade Vieira em confronto. Agência Estado. Aedata,
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Entidade do PR quer assembléia exclusiva. Folha de São Paulo, Curitiba, 18 maio 1994, p. 1-9.
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Entrevista com Fernanda Richa. Agência Cone Sul - AGS, [São Paulo], 24 ago. 2002. Fonte:
Disponível em: <http://www.agcs.com.br/especial/24_08/FernandaRicha.htm>. Acesso em:
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Disponível em: <http://www.paranaonline.com.br/index.php?pag=busca#>. Acesso em: 18
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Espinha de peixe. Fazendo sombra. Facas afiadas. Folha de São Paulo, [São Paulo], 28 out. 1994,
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Esposa vem dos Estados Unidos. Tribuna do Paraná, Curitiba, 27 jul 1981, p. 12.
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EVELIN, G. Secretária denuncia Operação Uruguai. Agência Estado. Aedata, Brasília, 29 jul.
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FADEL, E. Bamerindus investe US$ 600 mi em fábrica de celulose e papel. Agência Estado.
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FADEL, E. Ex-senador paranaense Enéas Faria morre em Curitiba. Agência Estado, Curitiba, 1º
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FARIA, T. PFL aciona Sarney para cercar FHC. Folha de São Paulo, Brasília, 18 set. 1994, p.
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FARIA, T. PFL e PTB entram em ação. Folha de São Paulo, Brasília, 14 maio 1994, p. 1-7.
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FARIA, T. PTB e PP aderem à aliança PFL-PSDB. Folha de São Paulo, Brasília, 1º mar. 1994, p.
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FARIA, T.; MADUEÑO, D. Sarney e Íris disputam Presidência do Senado. Folha de São Paulo,
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FARIA, T.; MOSSRI, S. FHC se queixa de ‘traição’ no governo. Folha de São Paulo, Brasília, 6
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13 abr. 1994, p. 1-10.
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FARIA, T.; WOLTHERS, G. Governo leva MP à aprovação de tucanos. Folha de São Paulo, [São
Paulo], 29 jun. 1994, p. 1-8.
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Fato relevante. Aquisição de 25% do capital da Umuarama Administração de Bens e Participações
S.A. Gazeta Mercantil, [Curitiba], 28 nov. 1991, p. 3.
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Fazenda Bamerindus, um inferno. Invasão e saques nas casas. Noite de terror no povoado. Bispos
denunciam violência. Tribuna do Paraná, [Curitiba], 17 set. 1990, p. 2.
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Feito uma estatal. VEJA, São Paulo, 10 maio 1995, p. 40-41.
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FERNANDES, B. Bamerindus: como se quebra um banco. O medo do PT de Lula, o envolvimento
do Banco Central, as ligações perigosas de Andrade Vieira. Carta Capital, São Paulo, 16
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619

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Fernando Henrique divulgou seu ministério; o nome de Pelé surpreende. Folha de São Paulo, [São
Paulo], 25 dez. 1994, p. 1-4.
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FERREIRA A. Bradesco amplia estratégia no setor industrial. O Estado de São Paulo, [São
Paulo], 17 dez. 1992.
538
FHC anuncia nomes de ministros hoje. Folha de São Paulo, [São Paulo], 21 dez. 1994, p. 1-5.
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FHC não quer usar a palavra “pacto”. Agência Estado. Aedata, Brasília, 08 jun. 1993.
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FHC volta a ser o ministro do Real. Folha de São Paulo, Brasília, 9 nov. 1994, p. 1-5.
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Fiesp exige apuração de relações entre governo e empresas privadas. Agência Estado. Aedata, São
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542
FILGUEIRAS, S.; GRAMACHO, W. Gente que enrola. ISTOÉ, São Paulo, nº 1550, 16 de junho
de 1999.
543
Fim de namoro. Pelos cotovelos. Folha de São Paulo, [São Paulo], 24 nov. 1994, Painel, p. 1-4.
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Foi dada a largada. Folha de São Paulo, [São Paulo], 30 ago. 1994, Painel, p. 1-4.
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FOLHA DE SÃO PAULO, [São Paulo], 21 jan. 1983.
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política empresarial: o caso do GEC (grupo de empresários de Curitiba) - 1990/1998.
Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em História Curitiba: UFPR, 1998, p.
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FOLHAONLINE. Arquivos Folha: anos 1994 a 2006. Folha de São Paulo, [São Paulo], [2005].
CD-ROM e Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/arquivos/>. Acesso no
período 1999 a 2005.
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FRANCO, C. Bamerindus assegura conclusão de leilão da CSN. Agência Estado. Aedata, Rio de
Janeiro, 5 abr. 1993.
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FRANCO, C. FHC passeia em Angra e adia reunião com Itamar. Agência Estado. Aedata, Angra
dos Reis, 03 jan. 1994.
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FSE foi aprovado. Folha de São Paulo, [São Paulo], 27 fev. 1994, p. 1-4.
551
Fumaça branca. Deu bicudo. Importação. Folha de São Paulo, [São Paulo], 20 dez. 1994, Painel
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GALAZI J., FRANCO C.; SOARES N. Governo consegue privatizar CSN. Agência Estado.
Aedata, Rio de Janeiro, 05 abr. 1993.
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GALAZI J.; GUILHERMINO L. [Venda da Usiminas]. O Estado de São Paulo, São Paulo, 25
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GAMEZ, M. Mudança no Bamerindus chega à cúpula. Belmiro Castor deixa a superintendência e
assume Jacob Mocelin; banco cria quatro super diretorias. Folha de São Paulo, Curitiba, 04
abr. 1996, p. 2-6.
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GAZETA DO POVO, Curitiba, 1º out. 1990, p. 7.
620

556
GAZETA DO POVO. Curitiba, 06 maio 1986.
557
GAZETA DO POVO. Curitiba, 22 dez. 1987, p. 12, apud Lima (2003, p. 70-71).
558
GAZETA DO POVO. Curitiba, 7 out. 1990, apud Panke (1999, p. 4).
559
GAZETA MERCANTIL. Curitiba, 26 abr. 1990, p. 31.
560
GAZETA MERCANTIL. São Paulo, 27, 28 e 29 mar. 1997, 1º página.
561
Gelo no avião, um pesadelo no espaço. Tribuna do Paraná, Curitiba, 30 jul 1981, p. 6.
562
Gente que faz. Folha de São Paulo, São Paulo, 17 mar. 1994, Painel, p. 1-3.
563
GONZALEZ, Ivo. Fotografia. O Globo, Rio de Janeiro, 20 nov. 1993.
564
Governo adia privatizações por 90 dias. Agência Estado. Aedata, Rio de Janeiro, 15 dez. 1992.
565
Governo libera verba do Pedu no Nordeste. Tribuna do Paraná, Curitiba, 18 set. 1990, p.2.
566
Governo vende Fosfértil por Cr$ 841 bi. Fertilfoz fica com 58%. Agência Estado. Aedata, [São
Paulo], 13 ago. 1992.
567
GRAMACHO, W. Martinez deve R$ 73 mi a banco, diz BC. Folha de São Paulo, Brasília, 13 ago.
2002a, p. A7 e A5.
568
GRAMACHO, W. Para BC, Bamerindus fez operação ilegal. Folha de São Paulo, Brasília, 25
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569
GRAMACHO, W. Relatório do banco aponta que operação com ex-coordenador de Ciro foi uma
das várias causas da quebra do Bamerindus. Folha de São Paulo, Brasília, 13 ago. 2002b, p.
A5.
570
Greca pode vencer no 1º turno em Curitiba. Agência Estado, Curitiba, O Estado de São Paulo, 03
out 1992.
571
Hargreaves é reintegrado com festa e se envolve nas negociações do plano. Folha de São Paulo,
Brasília, 9 Fev. 1994, p. 1-6.
572
Hidrelétrica de Segredo é inaugurada hoje. Agência Estado. Aedata, Curitiba, 29 set. 1992.
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Itamar escolhe mais três ministros. Agência Estado. Aedata, Brasília, 14 out. 1992.
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Itamar muda de estilo e decide fazer governo participativo. Agência Estado. Aedata, Brasília, 8
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Itamar responde a Vieira em nota que sugere demissão. O Globo, Brasília, 18 out. 1992.
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Jaime Lerner recusou convite para integrar governo Collor. Agência Estado. Aedata, Curitiba, 31
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Para banqueiro, calote é mal necessário. Folha da Tarde, [São Paulo], 17 mar. 1990.
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Para Duque, coligação com o PSDB faz parte de um projeto nacional. Folha de Londrina, 15 maio
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PEIXOTO, P. Petebista desiste de ser vice e fica no governo. Folha de São Paulo, Belo Horizonte,
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PERES, Denise. “Nós também provamos que ele faz”. Tribuna do Paraná, Curitiba, 24 set. 1990,
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Persona non grata. Alhos e bugalhos. Folha de São Paulo, [São Paulo], 19 dez. 1994, Painel, p. 1-
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Peso mineiro. Dobrando à direita. Na mesma trilha. Folha de São Paulo, [São Paulo], 3 fev. 1994,
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PF apura atentado contra Garcia. Tribuna do Paraná, Curitiba, 4 sete. 1990, p. 2.
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PINHEIRO L. CUT não se responsabiliza por incidentes. Agência Estado. Aedata, [São Paulo], 25
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Pior a emenda. Folha de São Paulo, [São Paulo], 6 maio 1994, p. 1-4.
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Planalto espera o pedido de demissão de Andrade Vieira. O Globo, [Rio de Janeiro], 29 set. 1995,
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Plano FHC 2 tem semana decisiva no Congresso. Agência Estado. Aedata, Brasília, 16-01-1994.
699
Porteira fechada. Tempo ao tempo. Ponto de vista. Fora do mundo. Folha de São Paulo, [São
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700
PP e PTB estudam aliança. Folha de São Paulo, Curitiba, 5 fev. 1994, p. 1-4.
701
Preços agrícolas opõem Malan a Andrade Vieira. Folha de São Paulo, [São Paulo], 6 jan. 1994, p.
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702
Presidente convida Fernando Henrique para a Fazenda. Agência Estado. Aedata, [São Paulo], 19
maio 1993.
703
Presidente da CSN será escolhido hoje. Folha de São Paulo, Rio de Janeiro, 12 maio 1995, p. 2-8.
704
Propaganda favorece candidato do PDT à prefeitura de Curitiba. Agência Estado, Curitiba, O
Estado de São Paulo, 1º ago. 1992.
705
Protesto contra impostos reúne 80 entidades. Folha de São Paulo, [São Paulo], 24 fev. 1994, 1-8.
706
PTB aprova apoio a Fernando Henrique. Folha ABCD, [São Paulo], 22 maio 1994, p. 1-11.
707
PTB indicará Andrade Vieira para o Trabalho. Folha de São Paulo, [São Paulo], 14 abr. 1994, p.
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708
PTB realiza convenção hoje. Folha ABCD, [São Paulo], 21 maio 1994, p. 1-6.
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Público e privado. Por conta. Folha de São Paulo, [São Paulo], 18 mar. 1994, Painel, p. 2-2.
710
Pugliesi denuncia Zé Eduardo. Tribuna do Paraná, Curitiba, 12 set. 1990, p.2.
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Pulga atrás da orelha. Folha de São Paulo, [São Paulo], 18 dez. 1994, Painel , p. 1-45.
712
Quatro bilhões para colocar Zé no Senado! Tribuna do Paraná, Curitiba, 18 set. 1990, p. 1. 1
ilustração.
713
Quércia elogia a decisão do tribunal. Folha de São Paulo, São Paulo, 15 set. 1994, p. Especial-4.
714
Recordando. Tribuna do Paraná, [Curitiba], 22 set. 1990, p. 2. Coluna Tribuninhas.
715
Reforço providencial. Folha de São Paulo, [São Paulo], 1º mar. 1994, Painel, p. 1-4.
716
Reforma fiscal será prioridade da Febraban. Folha de São Paulo, [São Paulo], 9 dez. 1994, p. 2-5.
717
Reforma surpreende políticos e cria confusão. Agência Estado. Aedata, Brasília, 20 dez. 1993.
718
Repercussão. Folha de São Paulo, [São Paulo], 8 fev. 1994, p. 1-8.
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719
Repercussão. Folha de São Paulo, São Paulo, 22 dez. 1994, p. 1-10.
720
Requião assume a ponta. E Martinez vai chegando. Tribuna do Paraná, Curitiba, 24 set. 1990, p.
2.
721
Requião vai usar texto de juízes do TRE para contestar cassação. Agência Estado. Aedata, Rio de
Janeiro, 21 jul. 1993a.
722
REZENDE JR, J. Hélio Garcia, [Belo Horizonte], 20 ago. 1998. Disponível em:
<http://www.joserezendejr.jor.br/reportag/heliogarcia.htm>. Acesso em: 19 fev. 2005.
723
RIBEIRO, Onofre. Fome contra fome (I). A Gazeta, Cuiabá, 1º set. 1993.
724
ROCHA, Leonel. A teia – continuação. ISTOÉ, [São Paulo], No 1610 04 ago. 2000. Disponível
em: <http://www.terra.com.br/istoe/1610/politica/1610caixinha_3.htm>. Acesso em: 10 ago.
2005.
725
RODRIGUES, C. Rombo no Bamerindus superava R$ 1,5 bi. Folha de São Paulo, Brasília, 02 set.
1997, p. 2-4.
726
RODRIGUES, F. Fernando Henrique se reúne com Álvaro Dias. Folha de São Paulo, São Paulo,
12 abr. 1994, p. 1-6.
727
RODRIGUES, M. Entrevista. Não cogitei ser vice nem candidato ao governo do PR. Correio de
Notícias, [Curitiba], 5 abr. 1994.
728
ROSSI, C. Brizola diz que pretende reestatizar a Companhia Siderúrgica Nacional. Folha de São
Paulo, [São Paulo], 6 maio 1994, p. 1-6.
729
ROSSI, C. Dois tipos de receios retardam decisão de FHC. Folha de São Paulo, São Paulo, 24
mar. 1994, p. 1-14.
730
ROSSI, C.; CRUZ, V. Maioria no Congresso dependerá do PMDB. Folha de São Paulo, Brasília, 4
out. 1994, Caderno Especial, p. Especial A-6.
731
Saia justa. Folha de São Paulo, [São Paulo], 21 ago. 1994, Painel, p. 1-4.
732
Saída de Eliseu Resende foi negociada. Agência Estado. Aedata, Brasília 19 maio 1993.
733
SALOMON, M. Collor acusa PT e CUT de integrar “sindicato do golpe”. Agência Estado. Aedata,
Brasília, 09 jul. 1992.
734
SALOMON, M. Itamar amplia ministério. Mas não consegue satisfazer partidos. Agência Estado.
Aedata, Brasília, 08 out. 1992.
735
SALOMON, M. Presidente diminui tom das críticas e pede apoio. Agência Estado. Aedata, [São
Paulo], 15 jul. 1992.
736
SALOMON, M.; Rita TAVARES, R. PMDB reunirá conselho para discutir o apoio ao governo.
Agência Estado. Aedata, Brasília, 1º set. 1993.
737
SANTANNA, M. Bamerindus deverá vender 50% da Inpacel. Folha de São Paulo, [São Paulo], 22
jul. 1996, p..
738
SANTANNA, M. Canadense negocia a compra da Inpacel. Folha de São Paulo, Curitiba, 22 jul.
629

1996, p. 2-10.
739
SANTANNA, M. Movimento faz protesto contra inflação. Folha de São Paulo, Curitiba, 25 fev.
1994, p. 1-9.
740
SANTOS, C. BC quer limitar bancos nas privatizações. Folha de São Paulo, Rio de Janeiro, 13
out. 1997, p. 1-13.
741
São 24 empresas e 27 mil empregados. Tribuna do Paraná, Curitiba, 30 jul 1981, p. 6.
742
São Paulo refinancia dívida com a União. Folha de São Paulo, [São Paulo], 26 mar. 1994, p. 1-11.
743
SARDENBERG, C. A Demissão ameaça bancários. Folha de São Paulo, [São Paulo], 26 ago.
1994, p. 1-6.
744
SARDENBERG, C. A. Ganhos vieram da ciranda financeira. Folha de São Paulo, [São Paulo], 28
ago. 1994, p. Especial A-9.
745
SARDENBERG, C. A. Os bancos ganham US$ 9 bi. com inflação. Folha de São Paulo, [São
Paulo], 28 ago. 1994, Caderno Especial, p. Especial A-9.
746
SATO, S. Colega paga conta de viagem de Cardoso. Agência Estado. Aedata, Brasília, 05 set.
1993.
747
SATO, S. Collor assina MP criando novos ministérios. Agência Estado. Aedata, Brasília, 10 abr.
1992.
748
SCHENATTO, L. Para tucano, saída é ‘fofoca’. Folha de São Paulo, [São Paulo], 30 maio 1994,
p. 1-5.
749
SCHWARTSMAN, Hélio. O golpe fatal. Folha de São Paulo, [São Paulo], 30 jun. 2005.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/ult510u202.shtml>. Acesso em:
21 jul. 2005.
750
Seguros: Mercosul é alvo da Bamerindus. Gazeta Mercantil, [São Paulo], 10 nov. 1993, p. 19.
751
Sem intermediários. Por exclusão. Folha de São Paulo, [São Paulo], 17 dez. 1994, Painel, p. 1-4.
752
Senador Andrade Vieira é eleito presidente nacional do PTB. Folha de São Paulo, Brasília, 21
mar. 1994, p. 1-5.
753
Sêneca remove corpos. Tribuna do Paraná, Curitiba, 31 jul 1981.
754
Silêncio do PDT custou caro. VEJA, São Paulo, 7 dez. 1994, p. 49.
755
SILVA, E. PTB exige cargos para dar apoio a FHC. Folha de São Paulo, São Paulo, 9 nov. 1994,
p. 1-5.
756
SILVA, E.; WOLTHERS, G. Justiça e Transportes ficam com o PMDB. Folha de São Paulo,
Brasília, 16 dez. 1994, p. 1-8.
757
SIMONETTI, E. Está na hora de fazer dinheiro. Benjamin Steinbruch vende parte de seu império
para pagar as dívidas da Vicunha. VEJA, São Paulo, 1º dez. 1999. Disponível em:
<http://veja.abril.uol.com.br/011299/p_182.html>. Acesso em: 31/03/2003.
630

758
SINDIJORPR - Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná. Extra Pauta, [Curitiba], [1998],
edição 55, p. 29. Disponível em: <http://www.sindijorpr.org.br/extrapauta/
edicao55/pag29.htm >. Acesso em: 15 Jan. 2002.
759
SOARES, A. R. Andrade Vieira ganha espaço no Planalto. Agência Estado, O Estado de São
Paulo, Brasília, 05 set. 1993.
760
SOARES, A. R. Munhoz defende equivalência-produto e diz não temer pressões. Agência Estado.
Aedata, Brasília, 17 jun. 1993.
761
SOTERO, P. Ciro Gomes fala em deixar a vida pública Washington: Agência Estado. Aedata, [São
Paulo], 13 dez. 1992.
762
SOTERO, P. Fernando Henrique não quer lugar de Eliseu. Agência Estado. Aedata, Washington,
11 maio 1993.
763
SOUZA, C. A. de. Bamerindus é acusado de débito ilegal. Ex-gerente diz possuir documento do
banco com instruções para cobrança de taxas irregulares. Folha de São Paulo, Porto Alegre,
2 dez. 1999, Editoria: Dinheiro, p. 2-5.
764
SOUZA, J. de. Coligação quer que governo adie medidas impopulares. Para ACM, plano pode
sepultar candidatura de FHC. Folha de São Paulo, Brasília, 19 maio 1994, p. 1-7.
765
SOUZA, J. de. O drama de FHC. Folha de São Paulo, Brasília, 30 ago. 1994, p. Especial-1.
766
SOUZA, J. de; SILVA, E.; WOLTHERS, G. FHC loteia seu ministério entre partidos. Folha de
São Paulo, São Paulo, 16 dez. 1994, 1-8.
767
Steinbruch ganhou notoriedade com a privatização da Vale. Primeira Leitura, [São Paulo], nº 524,
06 maio 2002 - Política — Brasil. Disponível em:
<http://www.primeiraleitura.com.br/html/edicoes/524/20020506/leia/polit_brasil.php#1>.
Acesso em: 17 ago. 2004
768
TEIXEIRA, M. Disputa pelo governo em Roraima divide coligação que elegeu FHC. Folha de São
Paulo, Boa Vista, 15 nov. 1994, p. Especial-10.
769
Tiroteio. Folha de São Paulo, [São Paulo], 24 mar. 1994, Painel, p. 1-4.
770
Todos mortos entre ferragens. Tribuna do Paraná, Curitiba, 30 jul 1981, p. 3.
771
Tomam posse 19 ministros; Pelé e general assumem hoje. Folha de São Paulo, São Paulo, 3 jan.
1995, p. 1-5.
772
Tony no banco dos réus por crime do colarinho branco. O Estado do Paraná, Curitiba, 11 jul.
2004. Disponível em: <http://www.paranaonline.com.br/index.php?pag=busca#>. Acesso
em: 18 abr. 2005.
773
TRAUMANN, T. Andrade Vieira anuncia sua candidatura. Folha de São Paulo, Curitiba, 12 jan.
1994, p. 1-4.
774
Três consórcios disputarão ações da Fosfértil. Agência Estado. Aedata, Rio de Janeiro, 30 jul.
1992.
775
TREVISAN, C. Odebrecht pagou 42% da campanha do PT. Folha de São Paulo, [São Paulo], 2
dez. 1994, p. 1-12.
631

776
Tribuna da Imprensa, 17 set. 1990; apud Bilhões para eleger banqueiro. Tribuna do Paraná,
Curitiba, 18 set. 1990, p.2.
777
TRIBUNA DO PARANÁ, [Curitiba], 1º set. 1990.
778
Troca de insultos marca debate no DF. Folha de São Paulo, São Paulo, 2 nov. 1994, p. 1-6.
779
Troco. Folha de São Paulo, [São Paulo], 13 jan. 1994, Painel, 1-4.
780
TYUMEN OIL COMPANY (TNK): First Urals Cargo Arrives for the US Strategic Petroleum
Reserve. Russian Press Release, Moscow, Oct. 14th, 2002. Disponível em:
<http://www.capitallinkrussia.com/press/companies/50010275/257.html >. Acesso em:
12.abr. 2003.
781
Um banqueiro na rede. O ministro da Agricultura e dono do Bamerindus assume o controle da
CNT, a quinta maior rede de televisão do pais. VEJA, São Paulo, 1º fev. 1995, p. 95.
782
Um silêncio de morte. Tribuna do Paraná, Curitiba, 31 jul 1981, p. 1.
783
Uma complicada dança das cadeiras. Agência Estado, O Estado de São Paulo, [São Paulo], 26 set.
1993.
784
Uma saída para a Inpacel. Gazeta Mercantil, [São Paulo], 22 ago. 1995, p. A-1 e A-6.
785
VARELLA, J.; DUSEK, A. Andrade Vieira e Loyola. Fusão cromática sobre fotos. Largura: 270
px. Altura: 112 px. Tamanho: 8.58KB (8781 bytes). ISTOÉ, [São Paulo], 5 ago. 1998.
Disponível em: <http://zaz.com.br/istoe/economia/images/150540.jpg.
786
VARELLA, José. Brasília: Bornhausen: “A CPI não vai dar em nada”. Agência Estado. Aedata,
[São Paulo], 29 maio 1992.
787
VASCONCELOS, Frederico. Bamerindus seria vendido se a decisão fosse só do BC. Folha de São
Paulo, [São Paulo], 19 jul. 1996. Editor do Painel S.A. Editoria: Dinheiro, p. 2-3.
788
VASCONCELOS, Frederico. Ernest; Young descarta lucros fictícios em balanço. Práticas
contábeis do Bamerindus foram questionadas pelo BC. Folha de São Paulo, São Paulo, 20
jul. 1996, Editor do Painel S.A., Dinheiro, p. 2-1.
789
VASCONCELOS, Frederico. Omissão marca dois parceiros. Folha de São Paulo, [São Paulo], 21
out. 1997, Editoria: Dinheiro, p. 2-6.
790
VASCONCELOS, Frederico. Processo envolvia cúpula econômica. Folha de São Paulo, São
Paulo, 1º out. 1998, p. 2-12 10/263.
791
Vaticano homenageia José Eduardo. Diário Popular, [Curitiba], 13 set. 1990, p. 4.
792
VAZ, Lucio. FHC pede voto a adversário do PSDB. Folha de São Paulo, São Paulo, 20 ago. 1994,
p. Especial-3.
793
VAZ, Lucio. Sarney desiste de disputar prévia do PMDB. Folha de São Paulo, Brasília, 13 maio
1994, p. 1-9.
794
VEJA, São Paulo, 05 abr. 1978, nº 500, p.32. Apud KUNHAVALIK, J. P. Ney Braga: trajetória
política e bases do poder. Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em
Sociologia Política. Florianópolis: UFSC, dezembro, 1999
632

795
VEJA, São Paulo, 20 nov. 1974.
796
Venda das participações cruzadas da Vale e da CSN levou mais de 1 ano. Primeira Leitura, [São
Paulo], 06 maio 2002 — Política — Brasil. Disponível em:
<http://www.primeiraleitura.com.br/html/edicoes/524/20020506/leia/polit_brasil.php#1>.
Acesso em: 17 ago. 2004.
797
Verbas liberadas à saúde. Tribuna do Paraná, Curitiba, 12 set. 1990, p. 3.
798
Versão original. Forma definitiva. Revoada aflita. Sonhos de verão. Nuvens no horizonte. Promessa
de segurança. Foro escolhido. Folha de São Paulo, [São Paulo], 26 fev. 1994, Painel, p. 1-4.
799
Vieira abandona candidatura e vai apoiar FHC. Folha de São Paulo, Brasília, 8 abr. 1994, p. 1-6.
800
Vieira assume Agricultura e admite que é candidato. Agência Estado, O Estado de São Paulo,
Brasília 02 set. 1993.
801
Vieira candidato. Folha de São Paulo, [São Paulo], 15 jan. 1994, Painel do Leitor, p. 1-3.
802
Vieira diz que crise entre PMDB e governo ameaça plano econômico. Agência Estado. Aedata,
Campinas, 30 ago. 1993.
803
Vieira pede CPI para apurar ajuda a bancos. O Globo, [Rio de Janeiro], 05 mar. 1991, p. 2.
804
Vieira pode deixar cargo em dezembro. O Globo, Rio de Janeiro, 20 nov. 1993a.
805
Vieira se lança para presidente do Senado. O Globo, [São Paulo], 24 ago. 1994, p. 4.
806
Vieira toma posse e altera reforma agrária. Folha de São Paulo, Brasília, 02 set. 1993.
807
VIEIRA, André. O homem do barulho. O empreiteiro Cecílio do Rego Almeida se vinga de Sérgio
Motta e insiste em entrar na telefonia celular. Cecílio gravou conversa que derrubou Peres (à
dir.). Usina da Eletropaulo foi pivô de briga com ministro. Curitiba: ISTOÉ, 20 maio 1998.
Ed. Três. Disponível em: <http://www.zaz.com.br/istoe/ economia/149429.chtm>. Acesso
em: 21 jul. 2005.
808
Violência na fazenda Bamerindus. Tribuna do Paraná, Curitiba, 12 set. 1990, p. 3.
809
VLADIMIR NETTO. O homem - Interpol. Eduardo Jorge sairá do Planalto e o governo continuará
olhando as dívidas dos parlamentares. VEJA, São Paulo, 05 nov. 1997. Disponível em:
<http://veja.abril.com.br/051197/p_040.html>. Acesso em: 31 mar. 2003.
810
Volvo aguarda novas regras para consórcio. Agência Estado. Aedata, Santo André, 26 jun. 1992.
811
Voto não. Tribuna do Paraná, Curitiba, 18 set. 1990, Tribuninhas, p.2
812
Voz do dono. Folha de São Paulo, [São Paulo], 9 nov. 1994, Painel, p. 1-4.
813
WOLTHERS, Gabriela. Aliados criam conselho político. Folha de São Paulo, Brasília, 5 maio
1994, p. 1-8.
814
WOLTHERS, Gabriela. PFL e PTB tentam manter apoio das bases a FHC. Folha de São Paulo,
Brasília, 13 maio 1994, p. 1-9.
815
WOLTHERS, Gabriela; BRAMATTI, D. FHC muda o ministério na última hora. Folha de São
633

Paulo, [São Paulo], 22 dez. 1994, p. 1-8.


816
WOLTHERS, Gabriela; FARIA, T. “Divisão enfraquece Sarney”, diz Vieira. Folha de São Paulo,
Brasília, 28 set. 1994, p. Especial-4.
817
WOLTHERS, Gabriela; FARIA, T. Tesoureiro do PTB diz que todos os partidos fraudam bônus
eleitoral. Folha de São Paulo, Brasília, 11 ago. 1994, p. Especial-1.
818
WOLTHERS, Gabriela; SILVA, Eumano. Minas vai ter 3 ministérios em futuro governo. Folha de
São Paulo, Brasília, 17 dez. 1994, p. 1-6.
819
WOLTHERS, Gabriela; ULHÔA, R. PFL e PTB exigem de FHC mais influência na aliança. Folha
de São Paulo, Brasília, 1º nov. 1994, p. 1-4.
820
Xadrez eleitoral. Folha de São Paulo, [São Paulo], 11 abr. 1994, Painel, p. 1-4.
821
Zé apela até para o Papa. Tribuna do Paraná, Curitiba, 21 set. 1990, p.2.
822
Zé Eduardo nega acusações. Tribuna do Paraná, [Curitiba], 4 set. 1990, p.2.
823
Zé Eduardo quer ser o novo homem forte da política / PTB reforça o time e mostra força. Correio
de Notícias, [Curitiba], 23 jun. 1992.

FONTE: DOCUMENTOS INTERNOS DO BAMERINDUS

824
BAMERINDUS / HSBC. Posição Acionária em 19 jan. 1998 - BPE - Administração Societária.
Nível de Qualidade 04/05. Atualizado em 24 out. 1994. Curitiba: Bamerindus, 1998.
825
BAMERINDUS / HSBC. Relação Geral de Acionistas: posição do Banco Bamerindus do Brasil
S.A. em 31 dez. 1996 p. 1-5 e Bamerindus S.A. Participações – Empreendimentos em 31 dez.
1996, p. 1-6 emitida em 25 abr. 2003, e posição do BBB em 31 dez. 1997 p. 1-5 e BPE p. 1-
7. Curitiba: HSBC, 05 maio 2003.
826
ENCONTRO SEMESTRAL DOS CONSELHOS E DIRETORIAS. Curitiba: Bamerindus, diversos
anos (1978 a 1986, 1988 a 1992).
827
ESPALHAFATO. Curitiba: Bamerindus, out. 1986, jan. a dez. de 1987 a 1990.
828
INFORMATIVO BAMERINDUS, nº 19. Curitiba: Bamerindus.
829
INFORMATIVO BAMERINDUS. Curitiba: Bamerindus, out. 1969, jan. a dez. Jan / dez. De 1970
a 1979, nov. 1982, mar. a dez 1983, mar. a set 1984, fev. a maio 1985, out. 1986, mar. a out.
1987, abr. a out 1988 e jan. 1989.
830
PONTO DE ENCONTRO. Curitiba: Bamerindus, mar. 1983, jan. a dez. 1990, jan. a out. 1991 e
jan. 1992.
831
PROJETO MEMÓRIA BAMERINDUS. Cópia fornecida por Maria Christina de Andrade Vieira.
Não publicado. Curitiba: Bamerindus, [1995], não paginado.
832
REGULAMENTO INTERNO de 1961 do Banco Mercantil e Industrial do Paraná S.A. Curitiba,
[1961].
833
RELAÇÃO DE PRESIDENTES E DIRETORES DA FUNDAÇÃO BAMERINDUS. Curitiba:
634

Bamerindus, diverso anos, 1952-1974.


834
RELAÇÃO DE PRESIDENTES E DIRETORES DO BAMERINDUS. Curitiba: Bamerindus,
diverso anos, 1952-1974.
835
RELATÓRIO ANUAL DA DIRETORIA. Curitiba: Bamerindus, diverso anos, 1957 a 1961 e 1964.
836
RELATÓRIO ANUAL DOS ACIONISTAS / ANNUAL REPORT. Curitiba, diversos anos (1970 a
1975, 1983 a 1988, 1990 a 1994).
837
RELATÓRIO DO ENCONTRO SEMESTRAL DOS CONSELHOS & DIRETORIAS. Curitiba,
diversos anos (1975-1993).
838
RELATÓRIO SEMESTRAL / SEMESTER REPORT HIGHLIGHTS. Curitiba, diversos anos
(1981-1993).
839
TC BAMERINDUS. Curitiba: Bamerindus, jan. mar. 1991, abr. a jun. 1991, jul. a set. 1991 e out. a
dez. 1991.
840
VIEIRA, Thomaz E. de A. Pronunciamento do presidente do Grupo Bamerindus em 30 abr.
1981. Curitiba, Bamerindus, 10 p.
841
VIEIRA, Thomaz E. de A. Pronunciamento do presidente do XIV Congresso Nacional de
Bancos na Sessão Solene de Encerramento. Salvador, 08 maio 1981.
635

GLOSSÁRIO

Nomenclatura Descrição
Ativo Conjunto dos investimentos.
CDB Certificado de Depósito Bancário
CDI Certificado de Depósito Interbancário
Cr$ Cruzeiro (Decreto Lei Decreto nº 4.791, de 05 out. 1942, instituiu o Cruzeiro,
com equivalência a mil réis. A Resolução nº 144, de 31 mar 1970, do CMN,
restabeleceu a denominação Cruzeiro em substituição ao Cruzeiro Novo, a partir
de 15 maio 1970)
CR$ Cruzeiro (Medida Provisória nº 168, de 15 mar. 1990, transformada em Lei
Decreto nº 8.024, de 12 abr. 1990, e a Resolução nº 1.689, de 18 mar. 1990, do
CMN, restabeleceram a denominação Cruzeiro, em substituição ao Cruzado
Novo)
CR$R Cruzeiro Real (denominação em substituição ao Cruzeiro, com equivalência a mil
cruzeiros, a partir de 1993)
Cz$ Cruzado (Decreto Lei Decreto nº 2.283, de 27 fev. 1986, revogado pelo Decreto
Lei Decreto nº 2.284, de 10 mar. 1986, e a Resolução nº 1.100, de 28 fev. 1986,
do CMN, instituíram o Cruzado com equivalência de mil cruzeiros,
restabelecendo o centavo)
K3 Capital de Terceiros (Total do Passivo dos bancos (-) Depósitos).
Kp Capital Próprio (Total do Patrimônio Líquido)
NCr$ Cruzeiro Novo (Decreto Lei Decreto nº 1, 13 nov 1965, regulamentado pelo
Decreto lei nº 60.190, de 08 fev. 1967, instituiu o Cruzeiro Novo, equivalente a
mil cruzeiros antigos, restabelecendo o centavo. Entrou em vigor a partir de 13
fev. 1967, conforme a Resolução nº 47, de 08 fev. 1967, do CMN)
NCz$ Cruzado Novo (Medida provisória nº 32, de 15 jan. 1989, e a Resolução nº 1.565,
de 16 jan. 1989, do CMN, instituíram o Cruzado Novo, equivalente a mil
cruzados)
PAB Posto de Atendimento Bancário
Passivo Conjunto das obrigações com terceiros
Patrimônio Parcela do patrimônio que pertence aos acionistas. Total dos Ativos (-) o Passivo.
Líquido
PEPS Postos Especiais de Prestação de Serviços
PIB Produto Interno Bruto
PL Patrimônio Líquido
Proer Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema
Financeiro Nacional.
R$ Real (denominação em substituição ao Cruzeiro Real, com equivalência a CR$R
2.750,00, a partir de 1º jul. 1994)
RDB Recibo de Depósito Bancário
RSPL Retorno sobre o Patrimônio Líquido. Relação entre o Lucro Líquido e o
Patrimônio Líquido.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor.
636

APÊNDICES

APÊNDICE A - LINHA DO TEMPO

Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1763 Francis Baring cria a John and Francis Baring Company que, mais tarde em 1806, torna-se a
Baring Brothers and Company.
1776 Adam Smith publica: A Riqueza das nações: investigação sobre sua natureza e causas.
1808 É criado o primeiro Banco do Brasil (BB), por D. João VI, que inicia suas atividades em 1809.
1810 É criada a M. A. Rothschild et Fils na Europa.
1816 A Inglaterra adota o padrão ouro para a libra esterlina.
1817 David Ricardo publica: Princípios de economia e política de tributação.
1829 BB fecha as portas. D. João VI teria levado para Portugal boa parte do lastro metálico depositado
e o banco teria perdido dinheiro em exportações.
1831 É criada a primeira Caixa Econômica, sediada no Rio de Janeiro; mas não obteve sucesso.
1833 É criado o segundo Banco do Brasil que não conseguiu integralizar o capital.
1834 Comerciantes baianos liderados por Miguel Calmon Du Pin e Almeida – bisavô de Ângelo
Calmon de Sá, criam a Caixa Econômica da Cidade da Bahia que funcionou irregularmente por
25 anos.
1836 É criado o primeiro banco comercial privado, o Banco do Ceará, que fechou em 1839.
1836 Midland Bank é criado em Birmingham, Inglaterra, região epicentro da Revolução Industrial.
1838 É criado o Banco Comercial do Rio de Janeiro.
1848 Friedrich Wilhelm Raiffeisen funda na Alemanha a primeira cooperativa de crédito.
1848 Marx e Engels publicam: O manifesto comunista.
1850 Lei nº 556 Art 119 e 120 definem o banqueiro e as operações bancárias no Brasil.
1851 Grupo de capitalistas liderados por Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, criam o
terceiro Banco do Brasil, de controle privado.
1851 Midland Bank inaugura a primeira filial ao comprar a Stourbridge Old Bank, fundada em 1770.
1853 É criado o quarto Banco do Brasil, originário da primeira fusão bancária; o Banco do Brasil
criado em 1851 uniu-se ao Banco Comercial do Rio de Janeiro.
1862 Midland Bank adquire a Baker and Crane of Bewdley, de Worcestershire, (Inglaterra) fundada
em 1782.
1863 São instalados no Brasil os primeiros bancos estrangeiros: o London & Brazilian Bank e o The
Brazilian and Portuguese Bank.
1865 Capitalistas ingleses e chineses criam o HSBC em Hong-kong – China.
1865 O italiano Luigi Luzzatti organiza, na cidade de Milão, o primeiro banco cooperativo na Itália.
1867 Engels e Marx publicam: O capital: livro I.
1877 Nasce Miguel Antun, em Bahabda, Líbano, (outras datas prováveis: 1869, 1877, 1878).(avô de
JE)
1882 É criada a freguesia de Tomazina no Paraná, que se torna vila em 1888.
1885 Engels publica: O capital: livro II, de Karl Marx
1888 Assinada a Lei nº Áurea que liberta aproximadamente 800.000 escravos.
1889 Chega ao Brasil o imigrante libanês Miguel Antum – avô de JE. Outras versões situam o evento
em 1894.
1889 Capitalistas ingleses criam, em Teerã, The Imperial Bank of Persia.
1889 Início do processo chamado de encilhamento, que durou até 1891.
1890 Ocorre a fusão do Banco Nacional do Brasil com o Banco dos Estados Unidos do Brasil, dando
origem ao Banco da República dos Estados Unidos do Brasil.
1891 Fim do encilhamento.
1891 Nascimento de Jacob Safra, em Alepo - Síria
637

Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1891 Midland Bank entrou no mercado nacional inglês ao adquirir o Central Bank of London,
recebendo com ele um assento na London Clearing House.
1892 Início da chamada Contra-Reforma que, nos três primeiros anos, implementou um esforço de
estabilização, relaxado nos dois anos seguintes, buscando combater os efeitos do encilhamento.
1892 Fusão do Banco da República dos Estados Unidos do Brasil e do Banco do Brasil, dando origem
ao Banco da República do Brasil.
1893 A Caixa Econômica da Cidade da Bahia (1834) muda de nome para Banco Econômico da Bahia
1894 Engels publica o livro de Marx: O capital: crítica da economia política. Livro III: o processo
global da produção capitalista.
1895 Nascimento de Othon Mäder em Paranaguá - PR.
1898 O império chinês arrenda ao império britânico, por noventa e nove anos, o território de Hong-
kong.
1898 Até 1919 o Midland Bank comprou 20 bancos e abriu novas filiais no Reino Unido.
1900 Midland Bank era um dos quatro maiores bancos do Reino Unido.
1904 Nascimento de Amador Aguiar em Ribeirão Preto – SP (Bradesco.)
1905 Nasce Avelino Antônio Vieira, em 03 de novembro de 1905, em Tomazina (PR) – pai de JE.
1905 HOBSON, J. A. publica: Imperialism: A Study.
1905 Decreto n° 1.455 criou o atual Banco do Brasil que incorpora o patrimônio do Banco da
República do Brasil.
1906 Constituída a primeira cooperativa de crédito do tipo luzzatti no Brasil, em Lajeado (RS),
denominada Caixa Econômica de Empréstimo de Lajeado.
1906 Fim da chamada Contra-Reforma que visava a combater os efeitos do encilhamento.
1908 Nascimento de Maria José Vilhena de Andrade – mãe de José Eduardo.
1908 Nascimento de Moysés Lupion de Troya em Jaguariaíva – PR. (Bancial e Bamerindus)
1909 Nascimento de Magalhães Pinto em Santo Antônio do Monte – MG (Banco Nacional).
1910 Rudolf Hilferding publica: O capital financeiro.
1910 Francisco Marques de Góis Calmon, avô de Ângelo Calmon de Sá, assume a presidência do
Banco Econômico da Bahia.
1911 Nascimento de Herbert Victor Levy em São Paulo – SP (Itaú e Gazeta Mercantil).
1912 Nascimento de Walther Moreira Salles, em Pouso Alegre – MG (Unibanco).
1914 Início do governo Wenceslau Brás Pereira Gomes – Presidente da República.
1914 Início da I Guerra Mundial.
1916 Início do 1º governo de Affonso Alves de Camargo no Paraná, tendo como vice-governador
Caetano Munhoz da Rocha (1916-1920).
1916 Inpacel: Lei nº Estadual 1.637 concedia a um certo Dr. Ferrencz o direito de exploração de
madeira de pinho para a produção de papel na região de Jaguariaíva, no Norte-Pioneiro do
Paraná.
1917 Vladimir Lenin publica: O imperialismo: fase superior do capitalismo.
1918 Midland Bank sob o comando de Edward Holden torna-se o maior banco do mundo.
1919 Avelino Vieira volta de Curitiba e vai trabalhar em Brazópolis (Wenceslau Braz) na seção
bancária de uma casa comercial.
1919 Midland Bank foi o primeiro banco britânico a montar um departamento de câmbio e, antes de
1919, já era o banco correspondente em Londres para aproximadamente 650 bancos estrangeiros,
entre eles o HSBC desde 1907.
1920 Início do governo de Caetano Munhoz da Rocha, no Paraná (1920-1924).
1920 É criada a Inspetoria Geral dos Bancos.
1920 A Casa Moreira Salles chegou a representar 13 bancos e 200 clientes nos primeiros anos de
1920., (Unibanco).
1920 É fundado o Jacob Safra Maison de Banque em Beirute – Líbano.
1920 Nasce Laudo Natel em São Manuel – SP. (Bradesco).
1921 É criada a Companhia Indústrias Brasileiras de Papel Ltda, pelo grupo econômico de Percival
Farquhar (futura Inpacel).
1921 É aprovado o regulamento para a fiscalização dos bancos e das casas bancárias.
638

Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1921 É criada a Câmara de Compensação de Cheques do Rio de Janeiro, sob a responsabilidade do BB.
1921 Ano da criação da Companhia Brasileira de Seguros Geraes - mais tarde chamada de Itaú
Seguros.
1922 Artur Bernardes toma posse como Presidente da República
1923 Chega ao Brasil uma missão inglesa liderada pelo Lorde Montagu. Entre seus integrantes
estavam: Charles Addis, presidente do HSBC, e Lorde Lovat, que convenceu sócios ingleses a
criarem a Companhia de Terras Norte do Paraná.
1923 Avelino Vieira vai para Curitiba prestar o serviço militar e estudar contabilidade.
1923 São criadas as Caixas de Aposentadorias e Pensões, nas companhias de estradas de ferro.
1923 Nascimento de Olavo E. Setúbal em São Paulo – SP (Banco Itaú).
1924 Joaquim Martins de Andrade (avô de JE) muda com a família para Tomazina, para cuidar das
terras da família do ex-presidente Wenceslau Brás.
1924 A Casa Moreira Salles obteve a carta-patente para atuar na área financeira (futuro Unibanco).
1924 Início do 2º governo de Caetano Munhoz da Rocha no Paraná, tendo como vice-governador
Marins Alves de Camargo. (1924-1928).
1925 Nascimento de Jayme Canet Jr. (Bancial e Bamerindus).
1925 Clemente Soares Faria funda uma Cooperativa de Crédito, futuro Banco da Lavoura de Minas
Gerais.
1926 Avelino Vieira volta de Curitiba e abre a seção bancária na casa comercial da família Vieira em
Tomazina.
1926 Nasce Lázaro de Mello Brandão. (Bradesco).
1926 Washington Luís é empossado como Presidente da República.
1928 A família Vieira inicia as atividades para abrir um banco em Tomazina.
1928 Início do 2º governo de Affonso Alves de Camargo no Paraná (1928-1930).
1928 Midland Bank inicia a mecanização de suas operações.
1929 Magalhães Pinto começa a trabalhar no Banco da Lavoura do Estado de Minas Gerais.
1929 Bolsa de Valores de Nova York entra em colapso no dia conhecido como “crash de 1929”.
1929 Avelino Vieira e um grupo de capitalistas criam o Banco Popular e Agrícola do Norte do Paraná
(BPANP) na forma de cooperativa.
1930 Nascimento de Cláudio Enoch de Andrade Vieira em Tomazina – irmão de JE.
1930 Albary Guimarães é presidente da Câmara de Vereadores de Ponta Grossa. (Bancial).
1930 Criação do Bank for International Settlements (BIS) durante a Conferência de Haia, Holanda.
1930 Revolução de 30 – liderada por Getúlio Vargas, que assume a Presidência da República.
1930 Início do governo do Interventor Mario Alves Monteiro Tourinho, no Paraná.
1931 A seção bancária de Moreira Salles é transformada em casa bancária.
1931 Nascimento de Tomaz Edison de Andrade Vieira, em Tomazina – Irmão de JE.
1932 É criada a Câmara de Compensação de São Paulo.
1932 Nascimento de Edmund Safra, em Beirute - Líbano.
1932 Início do governo do Interventor Manuel Ribas, no Paraná.
1932 Ministério da Fazenda emite carta patente que transforma bancos agrícolas em bancos
Comerciais.
1933 Michal Kalecki publica: Esboço de uma teoria do ciclo econômico.
1933 Avelino Vieira assume cargo de prefeito de Tomazina (1933 - 1942) nomeado pelo interventor
Manuel Ribas.
1934 São criadas as Caixas Econômicas Federais através do Decreto nº 24.427.
1934 José Alfredo Almeida transforma a Casa Almeida em casa bancária. (Bradesco).
1934 Albary Guimarães é nomeado prefeito de Ponta Grossa (1934-1945) (Bancial).
1935 Nascimento de Ângelo Calmon de Sá, em Salvador – Bahia. (Banco Econômico).
1936 John Maynard Keynes publica: Teoria geral do emprego, do juro e do dinheiro.
1936 É criada a empresa Possatto, Lupion & Cia.
1936 Inpacel: Grupo Lupion fornece madeira para a fábrica.
1937 Nascimento de Jorge Konder Bornhausen no Rio de Janeiro. (Unibanco).
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Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1937 Nascimento de Maria Lúcia de Andrade Vieira – irmã de JE.
1938 Irmãos Lupion compram lote de ações do Banco Alemão Transatlântico.
1938 Fundada a Atalaia Cia de Seguros Contra Acidentes de Trabalho, presidida por Othon Mäder.
1938 Nasce José Eduardo de Andrade Vieira (JE), em Tomazina – PR
1939 Início da II Guerra Mundial
1940 Companhia Indústrias Brasileiras de Papel Ltda, é desapropriada pelo Governo Federal.
1941 O Governo Federal cria a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
1941 A empresa Possato, Lupion & Cia., passa a denominar-se M. Lupion & Cia.
1941 Nascimento de Maria da Glória de Andrade Vieira, irmã de JE.
1942 Último ano da gestão de Avelino Vieira como de prefeito de Tomazina (1933-1942).
1942 Fundação do Banco Comercial do Paraná (Bancial).
1942 Governo liquida o Banco Alemão Transatlântico, por suas ligações com o partido nazista.
1942 Reforma monetária no Brasil - o Cruzeiro (Cr$) substitui o Réis, Cr$ 1,00 equivale a mil réis.
1942 É criado o Banco de Crédito da Borracha e a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD).
1943 A família Lupion cria, em 18 de junho, o Banco Meridional da Produção (BMP) na sede do
Banco Alemão Transatlântico, em Curitiba.
1943 Herbert Victor Levy cria o Banco da América, que, no futuro, fará parte do Banco Itaú.
1943 A Casa Bancária Almeida é transformada no Banco Brasileiro de Desconto – Bradesco, onde
foram trabalhar Amador Aguiar e Laudo Natel.
1943 Magalhães Pinto assina o Manifesto dos mineiros contra o Estado Novo e é demitido do Banco da
Lavoura do Estado de Minas Gerais. (1925).
1944 O Banco Comercial do Paraná (Bancial) incorpora o BPANP - Avelino e seu grupo assumem
Diretorias do banco.
1944 Nascimento de Luiz Antônio de Andrade Vieira, irmão de JE.
1944 Conferência de Bretton Woods cria o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e
estabelece o dólar como padrão de câmbio para operações financeiras internacionais.
1944 Magalhães Pinto e grupo de capitalistas contrários ao Estado Novo criam o Banco Nacional.
1944 É criado o Banco Itaú, entre acionistas estava o Cel. Juventino Dias, ligado à Cia. de Cimento
Itaú.
1945 Getúlio Vargas é deposto após oito anos de ditadura.
1945 São criados os partidos políticos UDN, PSD e o PTB.
1945 Eurico Gaspar Dutra é eleito Presidente e Getúlio Vargas, Senador por SP (PTB) e RS (PSD).
1945 É criada a Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC).
1945 Alfredo Egydio de Souza Aranha funda o Banco Central de Crédito, futuro Banco Federal de
Crédito. (Itaú).
1945 Midland Bank teve 31 de suas filiais totalmente destruídas durante a Segunda Guerra Mundial.
1946 Criação da primeira sociedade de crédito, financiamento e investimento (financeira).
1946 Início do Governo Federal de Eurico Gaspar Dutra.
1946 São iniciados os trabalhos da Constituinte.
1947 Eleições para governadores, deputados estaduais, prefeituras e vereadores.
1947 Início do 1º governo Moysés Wille Lupion de Tróia, no Paraná, eleito pela coligação PSD / UDN.
1947 Avelino Vieira toma posse como deputado estadual constituinte pelo PSD.
1950 Getúlio Vargas é eleito Presidente da República com 49% dos votos.
1951 Início do 2 º governo do Presidente Getúlio Vargas.
1951 Início do governo Bento Munhoz da Rocha Netto (PR, UDN, PTB, PSP e PRP) no Paraná.
1951 Othon Mäder (UDN) assume o mandato de Senador pelo Paraná (1951-1959), eleito pela
coligação UDN, PR, PST, PL e o PRT. Sua campanha e mandato foram marcados pelo combate
incessante ao Grupo Lupion.
1951 O grupo de capitalistas liderado por Avelino Vieira sai do Bancial.
1951 Inpacel: Grupo Lupion adquire a fábrica em leilão público.
1951 Início do governo do Prefeito Wallace Tadeu de Mello e Silva, em Curitiba.
1951 Família Safra sai do Líbano e se instala no Brasil.
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Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1952 Grupo de Avelino Vieira e Atalaia assumem o controle do Banco Meridional da Produção S.A.
da família Lupion e mudam o nome para Banco Mercantil e Industrial do Paraná (BMIP). Othon
Mäder é mantido na Presidência do banco; João Lupion Filho, na Diretoria e, Avelino assume o
cargo de Diretor Superintendente.
1952 Atalaia Companhia de Seguros Gerais muda o nome para Paraná Companhia de Seguros.
1952 O BMIP cria a Companhia Mercantil de Armazéns Gerais.
1952 Nasce Maria Christina de Andrade Vieira.
1952 É criado o Banco do Nordeste do Brasil S.A. (BNB).
1952 É criado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE).
1952 O Imperial Bank of Pérsia (1889) sai do Irã e muda seu nome para British Bank of the Middle
East.
1953 Getúlio Vargas promulga a lei que cria a Petrobrás.
1954 Morre Getúlio Vargas e Café Filho é empossado Presidente.
1954 Crise cambial atinge diretamente a lavoura do café e o Banco Mercantil Industrial.
1954 Início do governo do prefeito eleito Ney Amintas de Barros Braga, em Curitiba.
1954 Início do governo de Café Filho - Presidência da República (24.08.1954 a 08.11.1955).
1954 Ocorrem eleições para o Congresso e são renovados a Câmara e dois terços do Senado.
1955 Início do Governo de Carlos Luz - Presidência da República. (08.11.1955 a 11.11.1955).
1955 Início do Governo de Nereu de O. Ramos - Presidência da República. (11.11.1955 a 31.01.1956).
1955 Início do governo Adolpho de Oliveira Franco, no Paraná (diretor-presidente do Bancial).
1955 O BMIP cria a Ouro Verde Companhia de Seguros.
1956 Início do governo do Presidente Juscelino Kubitschek.
1956 Charles Wright Mills publica: A elite do poder.
1956 Início do 2º governo Moysés Wille Lupion de Tróia ,no Paraná – PSD.
1957 Tratados instituem o Mercado Comum Europeu ou Comunidade Econômica Européia (CEE).
1957 Augusto Justus assume o cargo de vice-presidente do Banco Mercantil Industrial.
1957 JE inicia suas atividades profissionais como escriturário no BMIP, em Curitiba.
1958 O BMIP assume o controle do Banco Tietê, em São Paulo.
1958 JE assume o cargo de contador nas agências de Foz do Iguaçu (PR).
1958 Midland Bank compra a casa financeira Forward Trust, e tornou-se um dos principais operadores
na área de arrendamento mercantil (“leasing”) e serviços de fomento mercantil (“factoring”).
1958 JK implementa o Plano de Estabilização Monetária elaborado por Roberto Campos e Lucas
Lopes.
1958 Raymundo Faoro publica: Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro.
1959 Othon Mäder (UDN) assume o mandato de deputado federal (1959-1963).
1959 JE assume a chefia de serviços da agência do Banco Mercantil Industrial (BMIP) em Maringá
(PR).
1959 O BMIP adquire o controle do Banco Costa Monteiro, no Rio de Janeiro.
1959 Morre João Lupion Filho (em 1959 ou 1958), diretor e fundador do Banco Mercantil Industrial.
1959 Estado do Paraná se torna o maior produtor mundial de café.
1959 Alfredo Egydio de Souza Aranha convida o sobrinho Olavo E. Setúbal para organizar o Banco
Federal de Crédito.
1959 É fundado o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
1959 O Grupo HSBC adquire o controle do British Bank of the Middle East. (1952).
1960 Othon Mäder continua como presidente do BMIP e Terézio de Paula Xavier assume a vice-
presidência.
1960 Inauguração do edifício sede do Banco Mercantil, Industrial em Curitiba.
1960 Criação do Banco Mercantil Industrial de São Paulo com a mudança do nome do Banco Tietê.
1960 Criação do Banco Mercantil Industrial de Santa Catarina com alteração do nome do Banco
Excelsior.
1960 JE coordena a implantação da filial do Banco Mercantil e Industrial, no Rio de Janeiro.
1960 Jânio Quadros é eleito presidente e Carlos Lacerda, Governador da Guanabara.
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Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1960 Deputado por SP, Herbert Levy assume a Presidência da UDN, no lugar de Magalhães Pinto.
1960 É criada a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
1960 É aprovada a lei que criava a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).
1961 Início do Governo de Jânio Quadros - Presidência da República.
1961 Início do 1º governo Ney Aminthas de Barros Braga, no Paraná, que abre vários processos contra
o Grupo Lupion.
1961 Início do 1º governo Magalhães Pinto (UDN) em Minas Gerais.
1961 Jânio Quadros renuncia ao cargo de Presidente da República.
1961 Clemente M. Bittencourt deixa o cargo de Ministro da Fazenda, e é substituído por Walter
Moreira Salles. (Unibanco).
1961 Início do governo do Presidente João Goulart.
1961 A Emenda Constitucional n° 4 institui o Parlamentarismo.
1961 Brasil assina novo acordo “stand-by” com o FMI.
1961 Mario Henrique Simonsen e Julio Bozano criam o Bozano, Simonsen & Cia Limitada, que mais
tarde se tornou o Banco Bozano Simonsen.
1961 Início estudos para informatizar o BBB com a assessoria Remington / Univac.
1962 A Lei Decreto nº 4.131 regulamenta o capital estrangeiro.
1962 Adolpho de Oliveira Franco é eleito Senador do Paraná pela UDN.
1962 Edmond Safra abre seu primeiro banco, o Trade Development Bank (TDB), em Genebra - Suíça.
1962 Walter Moreira Salles (Unibanco) deixa o cargo de Ministro da Fazenda, substituído por Miguel
Calmon du Pin e Almeida Sobrinho. (Banco Econômico).
1962 JE passou a inspetor do Banco Mercantil Industrial de São Paulo.
1963 O Mercantil Industrial instala o computador Univac 1004.
1964 Após o golpe militar, é editado o AI-1 que depõe o Presidente e inicia as cassações políticas.
Entre as lideranças civis do golpe estavam Ney Braga e os banqueiros / políticos: Magalhães
Pinto (Nacional), Herbert Levy (Itaú) e Laudo Natel (Bradesco).
1964 O Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, assume a Presidência da República.
1964 Lei nº 4.380 - Institui a correção monetária, cria o BNH, e Sociedades de Crédito Imobiliário, as
Letras Imobiliárias e o Serviço Federal de Habitação e Urbanismo.
1964 Criadas as leis que autorizam o governo a emitir as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional
(ORTN) e a extinção do centavo de cruzeiro.
1964 A Lei Decreto nº 4.595 da Reforma Bancária é sancionada pelo Presidente Castelo Branco.
1964 Criação do Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Banco Central da República do Brasil
(BCRB) que substitui a Sumoc.
1964 É criado o Banco Federal Itaú com a fusão do Banco Itaú (1944) e Banco Federal de Crédito
(1945).
1964 Othon Mäder continua presidente do Bamerindus e Augusto Justus assume como vice-presidente.
1964 O BMIP cria as empresas: América Adm. Empreendimentos Ltda, incorpora o Banco Comercial
e Hipotecário de Campos, o Banco Vaz e adquire o controle Acionário do Banco Mercantil e
Industrial do Mato Grosso e informatiza a Carteira de Cobrança e Empréstimos.
1964 José Cândido de Carvalho publica: O coronel e o lobisomem.
1965 JE assume o cargo de diretor do Bamerindus no Rio de Janeiro.
1965 Aparece pela primeira vez a palavra BAMERINDUS na razão social de uma de suas instituições,
quando foi criada a Fundação Bamerindus.
1965 Bamerindus cria a Fundação São José, em Tomazina - PR.
1965 11 Estados elegem seus governadores. A oposição vence na Guanabara e em Minas Gerais.
1965 Governo militar inicia reestruturação da economia e obtém empréstimo do FMI.
1965 A Lei Decreto nº 4728 regulamenta o Mercado de Capitais.
1966 Início do 1º governo de Laudo Natel, em São Paulo (1966-1967) (Diretor do Bradesco)
1966 Início do governo Paulo Cruz Pimentel, no Paraná, apoiado por Ney Braga.
1966 Ato Institucional nº 2: punições extralegais de adversários e extinção dos partidos políticos.
1966 Ato Institucional nº 3: eleições indiretas para governador e a nomeação de prefeitos.
642

Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1966 CMN regulamenta a abertura de bancos de investimento.
1966 O CMN regulamenta as sociedades de crédito, financiamento e investimento (financeiras).
1966 É criado o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
1966 São criados os bancos de investimento, instituídos pela Resolução nº 18, de 18.02.66, do CMN.
1966 Decreto nº Lei nº 70 cria a Associação de Poupança e Crédito.
1966 Decreto nº 57.663 - Lei nº Uniforme Relativa às Letras de Câmbio e Notas Promissórias
1966 São criados os partidos políticos Arena e o MDB
1966 Bamerindus cria a Mercantil Corretagem de Seguros, incorpora o Banco do Comércio e Industrial
do Brasil, o Banco de Crédito da Bahia e Banco da Administração e cria o Banco Mercantil e
Industrial do Nordeste.
1966 Edmond Safra funda o Republic National Bank of New York – EUA.
1966 Fusão do Banco Sul Americano do Brasil com o Banco Federal Itaú (1964) formando o Banco
Federal Itaú Sul Americano.
1967 É empossado como Presidente da República, o Marechal Costa e Silva e entra em vigor a
Constituição de 1967.
1967 Octavio G. Bulhões deixa o Ministério da Fazenda, em seu lugar assume Antônio Delfim Netto.
1967 O BCRB passa a denominar-se Banco Central do Brasil (Bacen).
1967 Entra em circulação o Cruzeiro Novo (NCr$), que equivalia a mil Cruzeiros antigos.
1967 Entra em vigor a Resolução nº 63 do CMN, que autoriza os bancos a captarem empréstimos
externos destinados ao repasse às empresas no país.
1967 O SFN experimentou uma fase de crescimento nas operações de crédito a partir de 1967, com a
estabilidade da moeda. O sistema intensificou o financiamento tanto da produção como do
consumo.
1967 Bamerindus cria a Aurora Sociedade Corretora Ltda.
1967 Bamerindus informatiza a Conta Corrente, controle de acionistas e folha de pagamento.
1967 Midland Bank compra parte do Montagu Trust, de Samuel Montagu & Co. Ltd., fundada em
1853.
1968 Othon Mäder deixa a Presidência do Bamerindus e assume uma Diretoria do banco.
1968 Inpacel: Governo militar intervém na fábrica e declara nula a alienação realizada em 1951 para o
Grupo Lupion.
1968 O governo decreta o Ato Institucional nº 5 (AI 5); suspende direitos políticos e determina o
recesso do Congresso, das Assembléias Legislativas e Câmara dos Vereadores.
1968 Governo cria a caderneta de poupança com juros de 6% ao ano mais correção monetária.
1968 Bamerindus cria a Apepar - Associação de Poupança e Crédito.
1968 Começa a vigorar a tarifa exterior comum na Comunidade Econômica Européia
1969 Avelino Vieira assume a Presidência do Bamerindus.
1969 A junta de ministros militares assume o poder no Brasil.
1969 O general Emílio Garrastazu Médici, assume a Presidência da República.
1969 É criado o Sistema Integrado Regional de Compensação (SIRC), permitindo a integração várias
praças financeiras.
1969 Fusão do Banco da América (1943) de Herbert Levy com o Banco Federal Itaú Sul Americano,
surgindo assim o Banco Itaú América.
1969 Bamerindus cria a Agepar - Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda.
1969 É alterada a razão social da empresa Campos Gerais S.A. Financiamento, Crédito e Investimentos
para Banco Bamerindus de Investimento S.A. e é criado o Bamerindus S.A. Crédito Imobiliário.
1969 Bamerindus implanta no CPD, no Rio de Janeiro, um computador IBM 360/20 - 16 kb.
1969 S. Menshikov publica: Millionaires and Managers: Structure of the U.S. Financial Oligarchy.
1969 Ralph Miliband publica: O Estado na sociedade capitalista.
1969 Nicos Poulantzas publica: O problema do Estado capitalista.
1970 JE é designado para administrar a fusão dos sete bancos regionais do Bamerindus.
1970 Bamerindus incorpora o Banco de Crédito da Bahia S.A., cria o Bamerindus S.A. Financiamento
Crédito e Investimento, a Agropecuária Lagoa da Serra Ltda., o Fundo Bamerindus de
Investimento, a Fundação João XXIII, o Instituto Maria José, a Fundação Bamerindus de
643

Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
Assistência Social, a Bamerindus Administração de Imóveis Ltda., a Bamerindus
Empreendimentos Florestais, a Bamerindus S.A. Administração e Serviços, a Bamerindus S.A.
Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários e a Bamerindus S.A. Turismo e Câmbio.
1970 A cisão do Banco da Lavoura de Minas Gerais resulta na criação do Banco Real e do Banco
Bandeirante.
1970 A moeda brasileira volta a se chamar Cruzeiro (Cr$).
1970 Fitch & Oppenheimer publicam: Who Rules the Corporations?
1970 Ralph Miliband publica: O Estado capitalista: resposta a Nicos Poulantzas.
1971 Início do governo Haroldo Leon Peres no Paraná. (15/03/1971 a 23/11/1971).
1971 Início do 1º mandato do prefeito Jaime Lerner, em Curitiba, indicado por Ney Braga.
1971 Início do 2º governo de Laudo Natel, em São Paulo (1971-1975) (Diretor do Bradesco).
1971 Início do governo Pedro Viriato Parigot de Souza, no Paraná. (23/11/1971 a 11/07/1973).
1971 EUA abandonam a conversibilidade do dólar em ouro estabelecida em Bretton Woods.
1971 Bamerindus passava a ser o 9º maior banco privado brasileiro.
1971 Banco Bamerindus do Brasil S.A. (BBB) é criado com a mudança na denominação do Banco
Mercantil e Industrial do Paraná e fusão dos bancos regionais.
1972 Emenda constitucional torna indiretas as eleições de governadores a partir de 1974.
1972 Ocorrem as eleições municipais e a Arena elege 80% dos prefeitos.
1972 Criação do Bamerindus Cia. Seguros com a fusão das seguradoras: Atalaia, Paraná e Ouro Verde
e a empresa de Entreposto e Trading Bamerindus.
1972 Morre Maria José de Andrade Vieira – mãe de JE.
1972 Midland Bank torna-se o sócio principal do consórcio que adquiriu o Thomas Cook Travel
Business
1973 Avelino Vieira assume como membro do CMN. (1973 - 1974).
1973 Início do Governo Emilio Hoffmann Gomes, no Paraná – vice-governador Jayme Canet.
1973 Bamerindus incorpora o Banco de Crédito Territorial.
1973 Morre Miguel Antun ou Miguel Antônio Vieira – avô de JE.
1973 A crise do petróleo, por causa do embargo dos países árabes, eleva o preço para US$ 40 por
barril.
1974 O general Ernesto Geisel assume a presidência da República e o general João Figueiredo é
nomeado para a chefia do SNI.
1974 Escolha de Jayme Canet Jr para Governador do Estado do Paraná (Sócio do Bamerindus).
1974 Morre Avelino Antônio Vieira e, seus filhos Tomaz Edison assume a Presidência e José Eduardo
a Vice-Presidência do Bamerindus.
1974 Morre Othon Mäder.
1974 Bamerindus incorpora o Bancial e absorve os acionistas com aumento de capital.
1974 Bamerindus é classificado como o 5º maior banco do Brasil.
1974 Antônio Delfim Netto é substituído no Ministério da Fazenda por Mário H. Simonsen. (Banco
Bozano, Simonsen).
1974 Olavo E. Setúbal (Itaú) assume o cargo de Membro do Conselho Monetário Nacional (até 1975).
1974 Lei nº 6.024 - Regulamenta as Intervenções e Liquidações do Bacen.
1974 Intervenção do Bacen no Banco Halles S.A.
1974 Ney Braga é nomeado Ministro da Educação e Cultura.
1974 Intervenção do Bacen no Banco União Comercial (BUC), sendo incorporado pelo Banco Itaú.
1974 Ocorrem as eleições para o Congresso Nacional. O MDB faz 16 senadores contra seis da Arena.
1974 Bamerindus adquire o edifício Palácio Avenida no centro de Curitiba.
1974 Os presidentes do Brasil e Paraguai assinam a ata de constituição da Hidrelétrica de Itaipu.
1974 Midland Bank inicia abertura de filiais e escritórios nos principais centros financeiros
internacionais e transforma o Midland Bank Montagu Trust, de Samuel Montagu & Co. Ltd., em
subsidiária.
1975 Início do governo Jayme Canet Júnior (Arena), no Paraná (Acionista do Bamerindus).
1975 Início do governo do Prefeito Saul Raiz, em Curitiba.
644

Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1975 Olavo E. Setúbal (Itaú) assume o cargo de Prefeito de São Paulo (até 1979).
1975 Plantações de café no Paraná e em São Paulo são dizimadas pela geada.
1975 Acontece o chamado “Mayday” quando, no dia 1º de maio, a Bolsa de Valores de Nova York
aboliu a cobrança de comissões mínimas fixas.
1975 É criado o Comitê da Basiléia para a Supervisão da Atividade Bancária.
1975 São criadas as sociedades de arrendamento mercantil, através da Resolução nº 351 do CMN.
1975 Intervenção do Bacen no Banco Ipiranga e na Coenge.
1975 O governo Geisel cria o Programa Nacional do Álcool (Proálcool).
1975 Criação da empresa Bamerindus Agro-Pastoril e Industrial S.A.
1975 Implantação projeto agrícola do Bamerindus em Marabá – PA – incentivos fiscais da SUDAM.
1975 Poulantzas & Miliband publicam: Debate sobre o Estado capitalista.
1976 Geisel promulgou a Lei nº Falcão (Lei Decreto nº 6.339/76) que restringia a propaganda eleitoral
1976 É criada a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), através da Lei Decreto nº 6.385.
1976 Bamerindus instala o Teleprocessador de Transmissão de dados entre CPDs.
1976 Bacen determina a Liquidação Extrajudicial do Banco Crédito Rural do Paraná Soc. Coop.
1976 Florestan Fernandes publica: Ensaios de sociologia geral e aplicada.
1977 Geisel fecha o Congresso Nacional e decreta o Pacote de Abril. Emenda Constitucional nº 8, de
14 de abril de 1977, instituiu a figura do senador biônico, e eleição indireta para governadores e
vices.
1977 Karlos Heinz Rischbieter assume a Presidência do BB (1977 a 1979), indicado por Ney Braga.
1977 É sancionada a lei que cria o Estado do Mato Grosso do Sul.
1977 Inaugura agência do Bamerindus em Marabá - PA.
1977 Midland Bank se tornou o dono exclusivo da Thomas Cook Travel Business.
1977 John Kenneth Galbraith publica: A era da incerteza.
1978 Entra em vigor a nova Lei nº de Segurança Nacional.
1978 O Presidente Ernesto Geisel revoga o AI-5.
1978 O General João Baptista Figueiredo é escolhido Presidente da República pelo Colégio Eleitoral.
1978 Ocorrem eleições para o Congresso.
1978 JE assume o cargo de diretor da Bamerindus Companhia de Seguros.
1978 Associação do Bamerindus com o Midland Bank na empresa Celease Arrendamento Mercantil
S.A.
1978 Criação da empresa Paraná Cia de Seguros Germano Brasileira: associação com Banestado 25%,
Bamerindus 26% e Colônia Nordstern 25%.
1978 N. H. Leff publica: Industrial organization and entrepreneurship in developing countries: the
economic groups. Economic Development and Cultural Changes.
1978 D. M. Kotz publica: Bank control of large corporations in the United States.
1979 JE deixa a vice-presidência do Grupo, permanecendo apenas no conselho administrativo.
1979 Paul A. Volcker assume o cargo de Chairman of Board of Governors of the Federal Reserve
System, e inicia as reformas liberais no sistema financeiro dos EUA.
1979 Assume o Gabinete Thatcher na Inglaterra (RU: 1979-1992) que inicia as reformas neoliberais na
Inglaterra
1979 Segunda crise mundial do petróleo eleva o preço do barril a US$ 95.
1979 Toma posse o general Figueiredo como Presidente da República.
1979 Início do 2º governo do general Ney Aminthas de Barros Braga, no Paraná.
1979 Início do 2º mandato do prefeito Jaime Lerner, em Curitiba, indicado por Ney Braga.
1979 O Congresso aprova emenda que extingue a Arena e o MDB, e permite a criação de novos
partidos.
1979 Mário H. Simonsen é substituído no Ministério da Fazenda por Karlos Heinz Rischbieter (PR)
(mar. 1979 a jan. 1980), indicado por Ney Braga.
1979 É criado o Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC).
1979 Governo promove maxidesvalorização do câmbio.
1979 O presidente Figueiredo sanciona a Lei nº de Anistia e Leonel Brizola retorna do exílio.
645

Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1979 Bamerindus cria a empresa Umuarama Adm de Bens SC Ltda.
1979 A Celease Arrendamento Mercantil mudou de nome para Bamerindus-Midland Arrendamento
Mercantil S.A.
1980 JE se afasta da administração do Bamerindus e parte para os Estados Unidos e a Europa –
oficialmente para preparar o lançamento das operações internacionais do banco.
1980 Karlos Heinz Rischbieter deixa o Ministério da Fazenda, em seu lugar assume Ernane Galvêas.
1980 É aprovado o manifesto de criação do PT, e o programa do PDS, partido que substitui a Arena.
1980 Emenda constitucional prorroga mandatos dos prefeitos por mais dois anos.
1980 O TSE concede à Ivete Vargas o registro do PTB e Leonel Brizola funda o PDT.
1980 Congresso aprova a emenda constitucional que restabelece eleições diretas para governador e
extingue a figura dos senadores biônicos.
1980 O senador Tancredo Neves lança plano de ação política do PP e Jayme Canet assume a liderança
do partido no Paraná rompendo com Ney Braga (PDS).
1980 O governo passa a prefixar a inflação (45%), mas ela termina o ano ultrapassando os 50%.
1980 Bamerindus, em associação com a American Express, lança Cartão de Crédito, cria o Bamerindus
Nordeste S.A. Indústria e Reflorestamento - Correntina – Bahia, e implanta CPD em Cascavel
(PR) e Cobrança via Telex.
1980 O HSBC incorpora o Marine Midland Bank, N. A. de Buffalo – EUA, retomando assim o
processo de expansão internacional do grupo.
1980 Midland adquire a Trinkaus & Burkhardt KgaA, criado em Düsseldorf, Alemanha por volta de
1785. Com ele, o banco passou a ter representação na Alemanha, Luxemburgo e Zurique. Na
Suíça, mantinha o controle do Guyerzeller Bank AG.
1980 C. E. Lindblom publica: O processo de decisão política.
1981 Morre em janeiro, Luís Antônio de Andrade Vieira, diretor de várias empresas do Grupo
Bamerindus e presidente da Caixa Econômica do Estado de São Paulo – irmão de JE.
1981 Morrem em acidente aéreo, no mês de julho, Tomas Edison e Cláudio Enoch de Andrade Vieira,
presidente e vice-presidente do Grupo Bamerindus – irmãos de JE.
1981 JE assume a Presidência do grupo Bamerindus em julho de 1981.
1981 Bamerindus adquire a empresa Cia de Seguros Rio Branco e ações com direito a voto do Banco
Financial S.A.
1981 Decreto nº 86.455 determina a alienação da Companhia Indústrias Brasileiras de Papel
(INBRAPEL).
1981 Inviabilizado pela Justiça Eleitoral, o PP de Tancredo Neves; – Jayme Canet se une ao PMDB.
1981 Início da Administração Reagan (1981- 1989) – implantação das reformas neoliberais nos EUA.
1981 O valor do DES é atrelado às moedas dos EUA, Alemanha, França, Japão e Reino Unido.
1981 Estado de Minas Gerais assume posto de maior produtor nacional de café.
1981 A inflação acumulada do ano de 1981 foi de 95,18%.
1981 Midland Bank compra o controle da Crocker National of California (EUA), e experimenta seu
primeiro grande problema com o seu projeto de expansão internacional.
1981 O HSBC chega ao Canadá ao criar o Hongkong Bank of Canadá em Vancouver.
1981 René Dreifuss publica: 1964: a conquista do Estado: ação política, poder e golpe de classe.
1982 Ocorrem as eleições diretas para governadores, senadores, prefeitos, deputados federais e
estaduais.
1982 São eleitos José Richa (PMDB) para Governador e João Elísio (ex-PP e diretor do Bamerindus)
para vice-governador do PR.
1982 Crise da dívida externa do México agrava crise da dívida na América Latina, levando países
como o Brasil a fazerem ajustes fiscais e monetários, e a buscarem ajuda do FMI.
1982 Bacen incentiva bancos a buscarem crédito no exterior através da Resolução 63.
1982 A inflação acumulada do ano de 1982 foi de 99,71%.
1982 Bamerindus informatiza as operações com o Open-Market.
1982 Bamerindus adquire a Inbrapel - Cia Brasileira de Papel e cria a Inpacel.
1982 Bamerindus adquire 48% do controle acionário do Banreal Companhia de Seguros, cria a
empresa Prever Previdência Privada S.A., tendo como sócios: Bamerindus 25%, Nacional 25%,
646

Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
Unibanco 25% e Brasil Cia Seguros 25%.
1982 Criação da Tecnologia Bancária S.A. - Banco 24 horas - ATM - Associação do Bamerindus com
Unibanco e Nacional, que inaugura o Banco 24 horas em 18 de dezembro.
1982 F. C. de Andrada publica: Um comandante de bancos: vida e obra de Avelino A. Vieira.
1983 Início do governo José Richa tendo como vice-governador, João Elísio, que assume a Presidência
do Banco de Desenvolvimento do Paraná BADEP (1983 e 1984).
1983 Início do governo do prefeito nomeado de Curitiba, Maurício Fruet (PMDB).
1983 Ernane Galvêas, Ministro da Fazenda, negocia com o FMI e promove maxidesvalorização de
30%.
1983 Insolvência Polônia, Argentina e México - estrangulamento do crédito internacional para países
periféricos.
1983 Criação da Compensação Nacional interligando todo as praças financeiras do Brasil.
1983 Bamerindus conclui a operação de compra da fábrica da Inpacel.
1983 Bamerindus inaugura agência em Nova York e adquire o controle do Banco Financial S.A. de
Corumbá - MS - mantendo Alfredo Zamlutti como diretor.
1983 Intervenção do Bacen nas empresas do Grupo Delfin e Coroa (Coroa-Brastel).
1983 Governo determina a extinção da Superintendência da Marinha Mercante (Sunamam).
1983 Grupo CCN, sócio do Bamerindus, entra em crise financeira por causa dos problemas da
Sunamam.
1883 Morre Ivete Vargas.
1983 Ocorre o congresso de fundação da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
1983 O deputado Dante de Oliveira (PMDB) apresenta, no Congresso Nacional, emenda que
estabelece as eleições diretas para a Presidência da República.
1983 Seis governadores do PMDB, entre eles José Richa (PR), reunidos no Palácio dos Bandeirantes
(SP), assinam um manifesto pelo restabelecimento das eleições diretas para a Presidência da
República.
1983 A inflação acumulada do ano de 1983 foi de 211,02%.
1984 Campanha pelas Diretas-já reúne entre 30 e 50 mil pessoas na Boca Maldita, no centro de
Curitiba.
1984 Ocorre no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, a maior manifestação pelas “Diretas-já!”, com
cerca de 1,7 milhão de pessoas.
1984 A Câmara dos Deputados rejeita a emenda Dante de Oliveira.
1984 Nove governadores do PMDB e Leonel Brizola do PDT reúnem-se em São Paulo e indicam
Tancredo Neves como candidato da oposição à sucessão presidencial.
1984 Mário Andreazza lança sua candidatura pelo PDS apoiado por Antônio Carlos Magalhães e o
Bamerindus.
1984 Paulo Maluf lança sua candidatura na sede do PDS, em Brasília.
1984 A Frente Liberal, formada por José Sarney, Aureliano Chaves e Marco Maciel, rompe com o
Governo. Sarney aceita ser o vice de Tancredo Neves e se filia ao PMDB.
1984 Convenção Nacional do PDS elege Paulo Maluf candidato do Partido à presidência da República.
1984 Convenção do PMDB escolhe Tancredo Neves e Sarney como candidatos a presidente e vice-
presidente da República.
1984 Início das operações internacionais da SWIFT - Society for Worldwide Interbank Financial
Telecommunication.
1984 Intervenção do Bacen no Brascred Cia Brasileira Crédito Financiamento e Investimento.
1984 Bamerindus compra da Embraer um Avião Carajás, implanta o cartão de débito do Banco 24
horas e operações com inaugura vídeo-texto, em São Paulo.
1984 Instalado no CPD em Curitiba o IBM 3084-QX - 64 MB - maior computador da América Latina.
1984 JE discursa na Associação Comercial de São Paulo contra o “Estado Patrão” e o “Estado
Empresário”.
1984 Bamerindus e o Midland Bank levam governadores, empresários e autoridades para EUA.
1984 A inflação acumulada do ano de 1984 foi de 223,90%.
1984 M. Moran publica: Politics, Banks and Markets: an Anglo-American comparison.
647

Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1985 No Colégio Eleitoral, Tancredo Neves (PMDB) vence com 480 votos contra 180 de Paulo Maluf.
1985 O presidente eleito Tancredo Neves é internado no Hospital de Base de Brasília.
1985 Tancredo Neves morre depois de 38 dias de internação.
1985 Toma posse o vice-presidente José Sarney.
1985 O Congresso aprova emenda constitucional que estende o voto aos analfabetos, legaliza os
partidos comunistas e promove eleições diretas para prefeitos das capitais e para presidente.
1985 É criado o PFL (Partido da Frente Liberal).
1985 Olavo E. Setúbal assume o cargo Ministro de Relações Exteriores (até 1986).
1985 Acontecem as eleições municipais e Roberto Requião (PMDB) vence em Curitiba (PR) com
apoio do Bamerindus.
1985 Ernane Galvêas deixa o Ministério da Fazenda, em seu lugar assume Francisco O. Neves
Dornelles.
1985 O governo retorna à variação plena pela inflação do mês anterior, com a fixação da correção
somente no final do mês, quando a inflação já seria conhecida.
1985 O CMN, alicerçado no artigo 4º, inciso IX, da Lei Decreto nº 4.595/64, liberou para o regime de
mercado as taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras, através da Resolução nº 1.064,
de 05.12.85.
1985 Intervenção do Bacen no grupo Habitasul, Banco Sul Brasileiro, Brasilinvest, Maisonnave,
Auxiliar e Comind. Com problemas de liquidez, o Bamerindus é cotado pelas especulações como
o próximo banco a sofrer intervenção.
1985 Francisco Dornelles deixa o Ministério da Fazenda, em seu lugar assume Dílson Domingos
Funaro.
1985 Sarney anuncia na ONU que o Brasil “não pagará a dívida externa com a fome do povo”.
1985 Lançado o “Plano Baker” para reestruturação da dívida externa dos países periféricos.
1985 O Decreto nº 91.152 cria o Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional.
1985 O Decreto nº 92.061 regulamenta o artigo 31 da Lei nº 6.024 - Intervenções e Liquidações.
1985 Entra em vigor a Lei nº 7357 que regulamenta o cheque.
1985 Ocorre o 1º Congresso Nacional do MST, em Curitiba.
1985 A Resolução nº 1.062 do CMN unifica as bases de reajuste de remuneração de capital e do
trabalho, substituindo o IGP-DI (FGV) pelo IPCA, calculado pelo IBGE.
1985 Bamerindus implanta processos de Planejamento Estratégico e lança a conta especial com
aplicação e resgate automático no open.
1985 Midland Bank comprou todas as ações do Californian Bank, após umas séries de grandes
prejuízos.
1985 A inflação acumulada do ano de 1985 foi de 235,11%.
1985 Beth Mintz e Michael Schwartz publicam: The power structure of american business.
1986 Início do governo João Elísio Ferraz de Campos no Paraná. (Acionista e Diretor do Bamerindus).
1986 É decretada a moratória da dívida externa brasileira.
1986 O Ministro Dílson Funaro anuncia o Plano Cruzado I.
1986 Começa a vigorar a nova moeda. Cada cruzado equivale a Cr$ 1.000.
1986 Início do governo do prefeito Roberto Requião de Mello e Silva, em Curitiba.
1986 Gerentes de filiais de supermercados em SP são denunciados por crime contra a economia
popular.
1986 Governo confisca boi no pasto para combater o ágio na venda de carne.
1986 Lançamento da CRB - Conta Remunerada Bamerindus.
1986 Bamerindus adquire 33 agências do ex-Banco Comind Auxiliar.
1986 Lei nº 7492 - Regulamenta os crimes do Colarinho Branco (crimes financeiros).
1986 É criada a Central de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos (CETIP).
1986 O Decreto-Lei nº 2.291 extingue o BNH e transfere seu patrimônio para a CEF.
1986 Depois da vitória do PMDB nas eleições, o Governo Federal anuncia o Plano Cruzado II, com
choque fiscal, fim do congelamento e aumento dos preços de combustíveis e tarifas públicas.
1986 Bresser Pereira assume a Fazenda, substituindo Dílson Funaro.
1986 A inflação acumulada do ano de 1986 foi de 65,04%.
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Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1986 Acontece o chamado “Big Bang” na bolsa de Londres – quando é abolida a cobrança de
comissões mínimas fixas, bem como são revistas as regras quanto à propriedade de empresas de
corretagem.
1986 Midland Bank vende a Crocker para a Wells Fargo.
1986 HSBC cria o Hongkong Bank of Australia Limited de Sydney.
1986 M. R. Nogueira publica: Avelino Vieira: Biografia Dinâmica.
1986 René Dreifuss publica: A internacional Capitalista: estratégias e táticas do empresariado
transnacional 1918 – 1988.
1987 Início do Governo Álvaro Fernandes Dias, no Paraná.
1987 É instalada a 5ª Assembléia Constituinte e são criadas oito comissões temáticas.
1987 O deputado Ulysses Guimarães é eleito presidente do Congresso Constituinte.
1987 Dílson Funaro deixa o Ministério da Fazenda, em seu lugar assume Luiz Carlos B. G. Pereira.
1987 A inflação volta a subir e o governo Sarney decreta moratória da dívida externa.
1987 Governo anuncia o Plano Bresser, com congelamento de preços e salários por noventa dias.
1987 Bamerindus oferece anistia para débitos de micro, pequenos e médios empresários e lança a
campanha publicitária Bicho do Paraná.
1987 O Decreto Lei nº 2321 - Regulamenta o Regime de Administração Especial Temporária (RAET),
para instituições financeiras privadas e públicas não federais.
1987 O Bacen coloca, sob o regime do RAET, o Banco Crédito Real de Minas Gerais, a Caixa
Econômica do Estado de Minas Gerais e os bancos dos Estados de SC, CE, MA, MT, RJ, PA e
BA.
1987 O PT lança Luiz Inácio Lula da Silva candidato a Presidente da República.
1987 A inflação acumulada do ano de 1987 foi de 415,83%.
1987 Alan Greenspan assume o cargo de Chairman of Board of Governors of the Federal Reserve
System, substituindo Paul A. Volcker.
1987 A Bolsa de Valores de Nova York vive uma segunda-feira de pânico. O índice Dow Jones cai
22%, e os investidores do mundo todo entram em desespero. Bancos ficam sem dinheiro para
compensar os saques e têm de ser socorridos pelos bancos centrais nacionais
1987 O HSBC amplia sua atuação na Inglaterra e na Europa, ao comprar 14,9% das ações do Midland
Bank e firmar um acordo de cooperação que permitiu aos dois bancos consolidar e racionalizar as
suas atividades internacionais.
1987 Criação de empresas MidBank Banco de Investimento S.A. uma associação do Bamerindus com
o Midland Montagu Administração Ltda e Cia Mineira de Participação Industriais e Comerciais.
1988 Promulgada a nova Constituição brasileira, o artigo 192 que trata do SFN, será regulado por lei
complementar.
1988 O bloco independente do PMDB abandona a legenda e funda o PSDB.
1988 Nas eleições municipais, a oposição (PT e PDT), ganha nas principais capitais. PMDB perde dois
terços do eleitorado.
1988 Jaime Lerner (PDT), apoiado pelo Bamerindus, torna-se candidato a prefeito de Curitiba 12, dias
antes do pleito, derrotando o candidato do PMDB.
1988 Luiz C. B. Pereira deixa o Ministério da Fazenda, em seu lugar assume Maílson F. da Nóbrega.
1988 Governo Federal promove corte de subsídios.
1988 Resolução nº 1.524, de 21 de set. do CMN cria os bancos múltiplos.
1988 Bamerindus inicia o processo de enxugamento da estrutura administrativa e torna-se banco
múltiplo.
1988 Bamerindus cria a empresa Bastec Assist. Técnica Especializada - Manutenção de Computadores
e Telecomunicações.
1988 Emitida a Carta de Curitiba após o encontro de 63 sindicalistas no clube de campo Avelino
Vieira.
1988 É criada a Compensação Eletrônica.
1988 Bacen determina a liquidação extrajudicial do Banco do Estado de Alagoas S.A.
1988 Acordo de Basiléia estabelece os “Princípios Fundamentais para a Supervisão Eficaz da
Atividade Bancária”.
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Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1988 Bamerindus abre a agência Grand Cayman.
1988 Midland adquiriu participação no Banco Roberts na Argentina, através da Midland Montagu
Administração Ltda, implanta o cartão de débito “Switch” e transfere filial no Canadá para o
HSBC.
1988 A Inflação acumulada do ano de 1988 foi de 1.037,56%.
1988 A. C. Minella. publica: Banqueiros: organização e poder político no Brasil.
1988 J. Scott publica: Social network analysis and intercorporate relations.
1989 Início do 3º mandato do prefeito Jaime Lerner, em Curitiba.
1989 É criado o PRN e JE entra na campanha presidencial apoiando Collor de Mello.
1989 Denúncia de fraude na Carteira de Câmbio do Bamerindus e de outros bancos.
1989 JE escolhido líder empresarial nacional pelo Balanço Anual do jornal Gazeta Mercantil.
1989 JE recebe o Prêmio Personalidade - Líderes de Finanças do jornal Indústria e Comércio de
Curitiba.
1989 Ocorrem as primeiras eleições diretas para Presidente depois de 29 anos, e Fernando Collor
ganha a disputa com 53,03% dos votos contra 46,97% de Lula.
1989 Governo desvaloriza o Cruzado acima da inflação, em relação ao dólar, determina cortes nos
subsídios para carvão, álcool e trigo e a extinção do Instituto Brasileiro de Café (IBC).
1989 Bamerindus inaugura a 1001ª agência em São Paulo, alcançando assim a 2º maior rede bancária
privada, é o maior banco com conta remunerada - 1,2 milhões de contas e inaugura a 1º agência
com sistema on-line.
1989 Início do Projeto de ampliação da fábrica Inpacel, aquisição do Banco F. Barretto e investimento
de US$ 10 milhões para utilizar satélite Brasilsat, lançamento do Cartão de Crédito Sollo e o
título de capitalização Coopercap.
1989 Bamerindus lança a série “Credite no Brasil” com Roland Boldrin – o programa é veiculado nas
4 maiores redes de TV, 200 emissoras de rádio e 1100 outdoors em todo Brasil.
1989 O ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, anuncia o Plano Verão.
1989 Intervenção do Bacen nos bancos estaduais do Acre, Piauí e Alagoas.
1989 Lançado o “Plano Brady” para renegociação da dívida externa dos países.
1989 Queda do Muro de Berlin e reunificação das duas Alemanhas.
1989 A Inflação acumulada do ano de 1989 foi de 1.782,90%.
1989 Midland Bank lança o banco por telefone, com atendimento 24 horas durante 365 dias por ano.
1989 Swedberg publica: Banks from a Sociological Perspective.
1989 René Dreifuss publica: O jogo da direita na nova república.
1990 Collor assume a Presidência da República e decreta o Plano Brasil Novo que ficou conhecido
como Plano Collor I.
1990 Maílson da Nóbrega deixa o Ministério da Fazenda, em seu lugar assume Zélia Cardoso de
Mello.
1990 Plano Collor: Bamerindus recebe 45 mil ligações telefônicas em 1 semana e altera 20 mil
programas de computador.
1990 Lançamento do Plano Nacional de Desestatização (PND).
1990 A Lei nº 8.036 cria o Conselho Curador do FGTS e centraliza seus recursos na CEF.
1990 Intervenção do Bacen em vários bancos estaduais.
1990 Início da chamada Revisão Constitucional.
1990 Homologação em 28 de abril do Bamerindus como banco Múltiplo.
1990 Bamerindus atua como banco estadual no Estado do Mato Grosso do Sul
1990 Bacen proíbe o Bamerindus de continuar com a Conta Remunerada.
1990 Bamerindus inaugura a 1º rede de transmissão via satélite da América do Sul e investe na
montagem de Caixas Automáticos e torna-se o sexto maior conglomerado empresarial privado do
país.
1990 Bamerindus patrocina e produz o programa de TV Gente que Faz e restaura o Palácio Avenida.
1990 JE lança sua candidatura ao Senado e Maurício Schulman assume a Presidência do grupo.
1990 Assessores de JE buscam forma legal para transformar sua candidatura ao Senado para
governador.
650

Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1990 JE é eleito senador na coligação PTB / PDS e por mais duas outras legendas, para o mandato
1991-1999.
1990 JE apóia a candidatura de Martinez (PRN) ao governo do Paraná.
1990 Martinez reage à denúncia do caso Ferreirinha.
1990 Requião assume a ponta nas pesquisas para a campanha eleitoral.
1990 A inflação acumulada do ano de 1990 foi de 1.476,56%.
1990 Bamerindus conquista o 2° lugar em fechamento de câmbio entre os bancos privados e instala
Representação em Tóquio – Japão.
1990 Mintz & Schwartz publicam: Capital flow and the process of financial hegemony.
1990 Swedberg. publica: International financial networks and institutions.
1991 JE assume o mandato de Senador.
1991 JE defende a convocação de uma CPI para investigar a ajuda do Tesouro Nacional para salvar
alguns bancos estaduais.
1991 Início do governo Roberto Requião de Mello e Silva, no Paraná.
1991 Requião ataca Bamerindus após tomar posse no governo do Estado do Paraná.
1991 JE assume o cargo de presidente do diretório do PTB no estado do Paraná.
1991 JE pede no Senado reforma ministerial.
1991 Pedro Collor coloca em dúvida origens dos recursos de PC.
1991 JE pede a renúncia do presidente Collor, em discurso no Senado.
1991 Zélia C. de Mello deixa o Ministério da Economia e Marcílio Marques Moreira assume o cargo
1991 Plano Collor II decreta novo congelamento de preços e salários, eleva os juros e reduz tarifas de
importação. É extinto o BTN e criada a Taxa Referencial de Juros (TR).
1991 Entra em vigor a Lei nº Federal 8078 - Código de Defesa do Consumidor.
1991 A Lei nº 8.177 estabelece regras para a desindexação da economia.
1991 Intervenção do Bacen nos bancos estaduais: Grande Rio, Piauí, Pernambuco, Caixa Econômica
do Estado Minas Gerais e no Banco Desenvolvimento do Paraná (BADEP).
1991 Morre Amador Aguiar.
1991 É assinado o Tratado de Assunção que cria o Mercosul.
1991 Bamerindus e grupos privados financiam a Usina de Segredo, em construção pela Copel.
1991 No leilão de privatização o Bamerindus adquire 2,35% da Usiminas.
1991 Bamerindus compra 25% da Prosdócimo.
1991 Conclusão da reforma do Edifício Avelino Vieira no antigo Palácio Avenida.
1991 Lançada a Conta Multiplicada Bamerindus, e a poupança em dólares, inaugurado o escritório em
Londres e mantém a maior carteiras de câmbio entre dos bancos privados.
1991 A inflação acumulada do ano de 1991 foi de 480,2%.
1991 Reinaldo Gonçalves publica: Grupos econômicos: uma análise conceitual e teórica.
1991 B. Hammond publica: Banks and politics in America: from the Revolution to the Civil War.
1992 Congresso instala a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do caso P. C. Farias.
1992 Câmara dos Deputados aprova o processo de impedimento do Presidente Collor.
1992 Collor é julgado no Senado e renuncia logo após o início da sessão.
1992 Itamar Franco assume a Presidência da República.
1992 Jaime Lerner recusa convite para participar do Governo Itamar.
1992 JE assume o cargo de ministro da Indústria, Comércio e Turismo (MICT) do Governo Itamar.
1992 Marcílio Marques Moreira deixa o Ministério da Fazenda, em seu lugar assume Gustavo Krause
Gonçalves Sobrinho.
1992 JE no MICT é repreendido pelo presidente Itamar Franco por ter criticado Krause e Haddad pela
criação do Imposto sobre Transações Financeiras (ITF), e por defender as empresas que
recorreram na Justiça contra o pagamento do Finsocial.
1992 Bamerindus adquire 415.246.000 ações ordinárias da Copesul - 2,8% do capital.
1992 Gustavo Krause deixa o Ministério da Fazenda e Paulo Roberto Haddad passa a responder pela
pasta
1992 Ocorre a privatização do Banco Meridional.
651

Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1992 JE é eleito líder do PTB no Senado.
1992 Balanço Anual da Gazeta Mercantil escolhe JE para o Prêmio líder empresarial nacional.
1992 Bamerindus fornece suporte financeiro ao Estado do Mato Grosso do Sul.
1992 JE recusa convite para assumir o Ministério do Trabalho.
1992 Maria Christina assume o cargo de Presidente da ACP (até 11/8/1994).
1992 Bamerindus compra 10% das ações da Fosfértil.
1992 Bamerindus inaugura a nova fábrica da Inpacel.
1992 Copel inaugura a Usina Hidrelétrica de Segredo no PR.
1992 Rafael Greca (PDT), candidato de Lerner, é eleito em Curitiba, tendo José Carlos Gomes de
Carvalho (PTB) como vice, apoiados pelo Bamerindus.
1992 A inflação acumulada do ano de 1992 foi de 1158,0%.
1992 Lançamento do Natal do Bamerindus no Palácio Avenida – centro de Curitiba.
1992 Bamerindus inicia operações com eurobônus e “commercial papers” e abre escritório em Buenos
Aires.
1992 O Bamerindus Midland administra o acordo Brasilinvest e Comind.
1992 Bamerindus Midland viabiliza leasing para financiar as operações de satélite do Banco
Bamerindus.
1992 Bamerindus compra as ações que o Midland Bank possuía da Bamerindus Midland
Arrendamento Mercantil S.A., e muda o nome da empresas para Bamerindus Leasing
Arrendamento Mercantil.
1992 Bamerindus e o Midland Bank vendem o controle acionário do MidBank Banco de Investimento
para Associação Brasileira dos Distribuidores Volvo (Abravo), que criou o Transbanco,
apelidado de “Banco Volvo”. O Bamerindus e o Midland continuam como sócios minoritários.
1992 Midland Bank vende a Thomas Cook Travel Business.
1992 O HSBC incorpora o Midland Bank plc. - Birmingham - Inglaterra.
1992 Fim da era Thatcher - Início do Gabinete de John Major (RU: 1992-1997).
1992 Estados Unidos, México e Canadá fecham o acordo de criação do Acordo de Livre Comércio da
América do Norte (Nafta).
1993 Início do governo do prefeito Rafael Greca de Macedo, em Curitiba.
1993 Plebiscito decide manter a República (com 66% dos votos) e o presidencialismo (55,4%).
1993 Paulo Roberto Haddad deixa o Ministério da Fazenda sendo substituído por Elizeu Resende.
1993 Fernando H. Cardoso assume o cargo de Ministro da Fazenda em substituição a Eliseu Resende.
1993 FHC anuncia o plano econômico que prevê a criação do Fundo Social de Emergência (FSE).
1993 Governo anuncia que o cruzeiro perde três zeros e a partir de 2 de agosto a moeda oficial passou a
ser o cruzeiro real.
1993 Plano FHC cria a Unidade Real de Valor (URV), indexador base para a nova moeda, o Real.
1993 Começa a CPI do Orçamento.
1993 O Bamerindus participa do consórcio que comprou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN).
1993 Maurício Schulman é eleito presidente do Conselho Administrativo da CSN.
1993 JE assume o cargo de 1º presidente da Associação dos Países Produtores de Café (APPC).
1993 Bamerindus faz minissérie “Gente que Faz” veiculada no horário nobre da televisão.
1993 JE ocupa interinamente o Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária,
posto que acumulou, por um curto período, com a pasta da Indústria e Comércio, na qual
permaneceu até dezembro de 1993, quando reassumiu seu mandato de senador.
1993 JE anuncia que pretende disputar governo do PR ou a Presidência da República.
1993 Inpacel publica balanço com prejuízo de R$ 70 milhões.
1993 Pedro Malan, presidente do Banco Central, anuncia a saída de André Lara Resende, coordenador
da dívida externa.
1993 A inflação acumulada do ano de 1993 foi de 2.780,6%
1993 Bamerindus atinge o 1° lugar no ranking de câmbio entre os bancos privados.
1993 Bamerindus investe na renovação os processos informatizados da área de câmbio.
1993 Bamerindus emite títulos no Euromercado (médio e longo prazos).
652

Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1993 Transferência em janeiro da matriz do Grupo HSBC (HSBC Holdings) de Hong-kong para
Londres.
1993 A Montagu Trust, de Samuel Montagu & Co. Ltd., é transferida para HSBC Investment Banking.
1993 Entra em vigor o Tratado de Maastricht, que cria a União Européia.
1993 I. de L Brandão publica: Olhos de banco: Avelino A. Vieira.
1994 Congresso aprova, durante a revisão constitucional, a medida provisória que cria o FSE.
1994 JE lança sua candidatura à Presidência da República, em janeiro.
1994 Divulgada a MP 434, que institui a URV. As Bolsas de Valores de São Paulo e Rio batem
recordes.
1994 O real é lançado e FHC, em campanha em MG, afirma que sua candidatura vai “dar um salto”.
1994 O Bacen inicia a distribuição das moedas do real às agências bancárias.
1994 Decreto nº 1.304 - Regimento Interno da Comissão Técnica da Moeda e do Crédito.
1994 Decreto nº 1.307 - Regimento Interno do Conselho Monetário Nacional.
1994 Bacen divulga a Resolução nº 2.099 que trata da adequação dos bancos às bases do Acordo de
Basiléia.
1994 Bacen determina a Liquidação Extrajudicial do Banco Desenvolvimento Rio Grande do Norte,
Consórcio Nac. Garibaldi - Adm. Cons. Sc Ltda e o Consórcio Nasser S/C Ltda.
1994 Bamerindus adquire ações da Folha de Londrina, TV Londrina e das rádios FM e Cruzeiro do
Sul.
1994 JE assume como Presidente Nacional do PTB, permanecendo no cargo até 1999.
1994 JE articula a participação do PTB na coalizão PSDB / PFL para a campanha de Fernando
Henrique Cardoso para a Presidência da República.
1994 Paulo Maluf (PPR), desiste de concorrer à Presidência.
1994 FHC deixa o Ministério da Fazenda e Requião o governo do Paraná, assumindo o vice-
governador Mário Pereira.
1994 Rubens Ricúpero assume o Ministério da Fazenda substituindo FHC.
1994 JE anuncia que desiste de sua candidatura para apoiar FHC.
1994 Primeira pesquisa Datafolha feita após desincompatibilização dos candidatos mostra vantagem de
16 pontos percentuais de Lula sobre FHC (37% a 21%).
1994 Acordo Dívida Externa brasileira nos termos do Plano Brady.
1994 O candidato do PMDB,. Orestes Quércia, é denunciado no STJ pelo Ministério Público.
1994 PSDB enfrenta problemas para a escolha do vice de FHC, no PFL. O deputado Luís Eduardo
Magalhães (BA), e o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), são vetados.
1994 FHC participa da solenidade do governo que anuncia implantação do real para 1º de julho.
1994 Sarney desiste de disputar a prévia do PMDB contra Requião e Quércia. Ela é vencida por
Quércia, que é indicado candidato à Presidência.
1994 PSDB oficializa candidatura de FHC em convenção em Contagem (MG). Tucano é vaiado ao se
apresentar com seu vice. Quatro dias depois, PFL homologa a aliança,, que inclui o PTB de JE.
1994 Governo negocia com deputados ligados ao setor rural o perdão de parte das dívidas agrícolas.
1994 Banco das Nações volta a operar dez anos após sua venda ao Bamerindus.
1994 Candidatura a presidente da República de Brizola é homologada.
1994 Na primeira pesquisa Datafolha após o lançamento do real, a diferença entre Lula e FHC cai para
17 pontos (38% a 21%), o que levaria ao segundo turno. 62% acha que o real é bom para o país.
1994 Segundo o Datafolha, FHC com 36% passa Lula (29%) já no primeiro turno, (36% a 29%).
1994 PL obriga Flávio Rocha a renunciar e passa a apoiar FHC.
1994 JE anuncia sua candidatura para presidente do Senado.
1994 Rubens Ricúpero deixa o Ministério da Fazenda, em seu lugar assume Ciro Ferreira Gomes.
1994 Fernando Henrique Cardoso é eleito Presidente da República no primeiro turno com 54,3% dos
votos.
1994 Ocorrem as eleições de 2º turno para governadores de Estado.
1994 Início do processo de privatização da CVRD.
1994 A Cúpula das Américas aprova a Área de Livre-Comércio das Américas (ALCA) a partir de
2005.
653

Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1994 Bacen determina a Liquidação Extrajudicial do Banco Desenvolvimento Rio Grande do Norte.
1994 A inflação acumulada do ano de 1994 foi de 1.093,8%.
1994 Inpacel publica balanço com um lucro de R$ 51 milhões.
1994 Criação do Instituto Monetário Europeu, futuro Banco Central Europeu.
1994 Crise cambial no México. A moeda mexicana, o peso, é desvalorizada em 40% em quatro dias.
1994 Bamerindus pioneiro nas operações com “commercial papers” domésticos.
1994 Bamerindus mantém o 1° lugar no ranking de câmbio entre os bancos privados.
1994 Bamerindus lidera, no Brasil, a emissão de eurobônus.
1994 Bamerindus coloca eurobônus no mercado alemão.
1994 Bamerindus implanta, nas agências, áreas especializadas em câmbio para clientes (“Middle
Market”).
1994 Bamerindus obtém autorização e instala escritório em Hong-kong.
1994 Bamerindus alia-se ao HSBC, e vende uma participação 6,7% no banco.
1994 O HSBC incorpora o Hongkong Bank Malaysia Berhad de Kuala Lumpur – Malásia.
1994 Intervenção do Bacen no Banespa e no Banerj.
1994 Arrighi publica: O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nosso tempo.
1994 É publicado o Atlas financeiro do Brasil / Financial atlas of Brazil.
1994 Y. Cassis publica: City Bankers, 1890-1914.
1994 W. Coleman publica: Banking, interest intermediation and political power. A framework for
comparative analysis.
1994 M. Granovetter publica: Business Groups.
1994 A. C. Minella publica: O discurso empresarial no Brasil: com a palavra os senhores banqueiros.
1994 J. G. Portugal JR publica: Grupos econômicos: expressão institucional da unidade empresarial
contemporânea.
1995 Início do 1º governo do presidente Fernando H. Cardoso
1995 JE assume como Ministro da Agricultura no governo FHC.
1995 Com o apoio de FHC, o deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA) é eleito presidente da
Câmara.
1995 Bamerindus assume o controle da rede de televisão CNT e do jornal Indústria e Comércio.
1995 Início do 1º governo Jaime Lerner, no Paraná.
1995 Agrava-se a crise cambial mexicana que estourou em dezembro de 1994. FMI e governo norte-
americano socorrem o México;, caem bolsas de valores nas principais cidades da América Latina
e em Nova York.
1995 Após a crise do México são retirados do Bacen mais de US$ 1,5 bilhão por investidores
estrangeiros.
1995 O Bacen intervém no Banco Econômico, Banco Mercantil (PE) e o Banco Comercial (SP).
1995 O governo edita medida provisória 1.179 que instituindo o Proer.
1995 O Banco Central assume a administração do Banco Nacional.
1995 O governo anuncia a desindexação da economia e proíbe o reajuste salarial por índices de preços.
1995 É criado formalmente o Fundo Garantidor de Créditos – FGC.
1995 Bamerindus declara ter interesse de participar do leilão da CVRD.
1995 O Mercosul começa a existir formalmente.
1995 PTB tenta atrair deputados do PP e PL.
1995 Intervenção do Bacen no Banco do Estado do Mato Grosso S.A. (Bemat).
1995 Bamerindus tenta compensar perda de receita inflacionária com tarifas e empréstimos.
1995 A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprova a emenda da reeleição.
1995 Maria Christina assume o cargo de Diretoria de infra-estrutura do Bamerindus.
1995 Bamerindus emite mais eurobônus.
1995 Representantes do setor agrícola iniciam a Marcha sobre Brasília, para protestar contra a perda
com o Plano Real e pedem a demissão de JE do Ministério da Agricultura.
1995 JE tenta convencer Malan a acabar com a TR e entra em conflito com a equipe econômica.
1995 Senado aprova, em 2º turno, as emendas que mudam o conceito de empresa nacional, extingue a
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Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
reserva de mercado para navegação de cabotagem e o monopólio estatal nas telecomunicações.
1995 A desocupação da fazenda Santa Elina, em Corumbiara (RO), resulta na morte de dez
trabalhadores sem-terra e dois policiais. Relatório divulgado pela Polícia Federal classifica a ação
da PM como massacre.
1995 FHC demite o presidente do Incra, Brazílio de Araújo Netto, homem de confiança de JE.
1995 Planalto espera o pedido de demissão de Andrade Vieira.
1995 Diretores do Econômico são acusados de desviar dinheiro.
1995 JE anuncia que pretende deixar o PTB e aderir ao novo partido PPB, e acerta a adesão do PTB
(PR).
1995 Para desfazer boatos no mercado financeiro, JE declara que Bamerindus está bem.
1995 Cai avaliação do Bamerindus pelo Moody´s.
1995 Inpacel publica um prejuízo de R$ 27 milhões.
1995 Bamerindus inicia processo de reestruturação.
1995 Bamerindus tenta sanear Inpacel com venda de ações e aumento de capital.
1995 Bamerindus vende seu lote na CSN, CNT, e da Refripar.
1995 Tribunal de Contas da União (TCU) acusa JE e o Senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) de
terem recebido incentivos fiscais irregulares para instalar empresas na Amazônia.
1995 A inflação acumulada do ano de 1995 foi de 14,7%.
1995 Bamerindus inaugura a subsidiária, em Luxemburgo.
1996 O Grupo Bamerindus enfrenta onda de boatos e grave crise de liquidez.
1996 Classificação da Moody's rebaixa Banco do Brasil e Bamerindus.
1996 JE critica BC e é repreendido.
1996 A rodovia PA-150, ocupada por um protesto dos sem-terra contra a lentidão da reforma agrária, é
desobstruída pela Polícia Militar. O saldo é de 19 mortos, em apenas 20 minutos de ação em
Eldorado dos Carajás.
1996 JE deixa o Ministério Agricultura
1996 Ação do Bamerindus é suspensa pela 3º vez.
1996 O BC inicia acordo com o Bamerindus e exige a saída de JE para colocar o banco no Proer.
1996 A CPI dos Precatórios é instalada tendo como relator Roberto Requião (PMDB-PR).
1996 Fracassa tentativa de acordo para sanear Bamerindus.
1996 JE lança candidatura à prefeitura de Curitiba pelo PTB.
1996 Morre Magalhães Pinto (Nacional).
1996 A. C. Minella publica: Grupos financeiros e organização da burguesia financeira no Brasil.
1996 François Chesnais organiza e publica o livro A mundialização financeira: gênese, custos e riscos.
1997 Início do governo do prefeito Cássio Taniguchi. de Curitiba.
1997 A Emenda Constitucional da reeleição é aprovada na Câmara.
1997 O dólar de Hong-kong sofre ataque especulativo, o que ocasiona queda nas bolsas em todo
mundo.
1997 É criada a Central de Risco de Crédito, mantida pelo Bacen.
1997 Intervenção do Bacen no Grupo Bamerindus e transferência do controle de parte das empresas do
grupo para o HSBC.
1997 Privatização da Cia Vale do Rio Doce (CVRD).
1997 HSBC compra o controle do Banco Roberts S.A. da Argentina, atual HSBC Bank Argentina.
1997 HSBC adquire por US$ 9,85 bilhões o Republic New York Co. e o Safra Republic Holdings que
pertenciam a Edmund Safra, reforçando assim sua presença nos EUA, Suíça e Luxemburgo.
1997 Lei nº 9447 - Regulamenta a Responsabilidade Solidária de controladores de instituições
financeiras.
1997 Resolução nº 2.399 do Bacen modifica o percentual exigido de patrimônio líquido dos bancos
para 10%.
1997 Crise asiática derruba a Bolsa de Valores de Nova York, que sofre a maior queda desde 1987.
1997 Países asiáticos desvalorizam suas moedas e perdem reservas.
1997 Fazenda Bamerindus é invadida no Pará.
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Quadro Apêndice-1: Bamerindus: cronologia dos eventos históricos.


Data Descrição
1997 A adesão do Brasil ao BIS concluiu-se com a publicação do Decreto Legislativo n° 15.
1997 Mayer publica: The Bankers: The Next Generation.
1998 Bacen decreta o fim do processo e a liquidação extrajudicial do Bamerindus.
1998 Inpacel é vendida para a Champion Papel e Celulose Ltda., subsidiária brasileira da Stamford,
Connecticut-based Champion International Corp.
1998 Crises asiáticas e russas levam governo FHC a negociar novo acordo com FMI.
1998 FHC se reelege presidente no 1º turno com 54,27% dos votos válidos contra 31,71% de Lula.
1998 J. de S. Martins publica: Vida e história na sociologia de Florestan Fernandes.
1998 François Chesnais publica: A mundialização financeira: gênese, custos e riscos. (1º ed.
Brasileira)
1998 Pinçon & Pinçon-Charlot publicam: Les Rothschild. une famille bien ordonnée.
1999 R. Chernow publica: A morte dos banqueiros.
1999 A. C. Minella publica: Fundamentos teóricos e metodológicos para análise do empresariado
financeiro no atual contexto de globalização financeira.
1999 Início do 2º mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso.
1999 Início do 2º governo Jaime Lerner, no Paraná.
1999 Depoimento de JE na CPI dos Bancos no Senado.
1999 Termina o mandato e JE deixa o Senado.
1999 HSBC incorpora o Republic National Bank of New York (Suisse) de Genebra e Nova York.
1999 Início da pesquisa sobre o Bamerindus para a tese de doutorado.
1999 Midland Bank foi renomeado como HSBC Bank como parte da unificação da marca do HSBC.
2001 Bacen determina a Liquidação Extrajudicial do Banco Araucária S.A. e envolve Jayme Canet Jr.
2002 A Fundação Getúlio Vargas publica: Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro (DHBB).
2002 Depoimento de JE na CPI do Proer, na Câmara dos Deputados.
2003 Início do Governo de Luiz Inácio Lula da Silva e do 2º governo Roberto Requião, no Paraná.
2003 François Chesnais organiza e publica: Uma nova fase do capitalismo?
2004 HSBC fecha a agência nº 1 do Bamerindus, em Tomazina.
Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base nos dados extraídos das referências bibliográficas desta
tese.
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APÊNDICE B - BANCO DE DADOS ECONÔMICO-FINANCEIROS DA AMOSTRA DE BANCOS BRASILEIROS


Tabela Apêndice-1: Banco de dados econômico-financeiros da amostra de bancos brasileiros - 1976 a 1994 (em US$ milhões).
Banco Conta 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994
Bamerindus AT 1.865 2.566 2.834 2.589 2.023 2.444 2.566 3.179 3.258 2.298 3.440 8.482 9.122 13.892 7.034 5.839 6.981 9.745 11.767
B Brasil AT 48.087 52.653 50.265 59.646 51.146 52.474 49.593 50.000 50.662 62.909 73.702 98.580 99.716 84.175 59.779 65.739 64.647 68.514 67.088
Bradesco AT 4.998 5.400 6.792 6.251 5.214 6.286 6.504 7.178 7.968 8.665 12.798 13.450 21.112 23.932 12.503 10.911 13.366 17.885 16.717
Itaú AT 3.124 3.301 3.843 3.822 3.587 4.379 4.761 4.551 4.619 5.694 8.352 8.696 13.452 16.676 9.214 9.037 9.215 12.778 12.806
Banespa AT 5.778 7.341 9.231 9.302 7.881 8.361 8.082 7.459 7.522 8.820 9.161 9.607 9.449 10.003 9.508 11.483 14.531 15.583 15.583
Unibanco AT 1.951 2.140 2.604 2.768 2.315 2.882 2.898 3.192 3.605 3.169 4.911 3.411 3.297 7.160 4.147 4.379 6.571 7.630 9.668
NACIONAL AT 2.166 2.656 2.203 2.207 2.068 2.615 2.956 2.691 4.150 3.403 4.060 3.624 4.497 4.849 3.434 3.566 5.655 8.039 10.108
REAL AT 2.216 2.463 3.137 2.872 2.641 3.022 2.839 2.665 2.977 3.062 4.365 3.738 5.700 3.783 2.986 3.340 6.329 7.945 8.394
ECONÔMICO AT 1.458 1.765 1.891 1.823 1.501 1.861 1.940 2.299 2.359 2.123 2.587 2.579 2.823 3.297 3.946 3.855 4.631 4.654 6.884
Amostra AT 71.644 80.287 82.800 91.279 78.376 84.323 82.138 83.213 87.121 100.143 123.376 152.165 169.167 167.768 112.551 118.149 131.926 152.773 159.013
Bamerindus EF 1.177 1.392 1.528 1.411 946 993 983 799 746 784 1.269 693 784 1.515 1.342 1.246 1.883 3.200 5.224
B Brasil EF 32.038 34.025 31.881 29.597 23.286 20.780 17.583 12.698 8.403 10.036 18.724 25.619 29.677 15.876 13.028 14.728 18.351 21.115 26.450
Bradesco EF 3.010 3.031 3.386 3.064 1.991 2.365 2.094 1.759 2.022 2.872 6.005 3.232 5.472 5.104 3.336 2.960 3.393 4.124 6.854
Itaú EF 1.839 1.813 1.988 1.988 1.626 1.973 1.953 1.474 1.559 2.011 3.157 1.912 3.693 3.469 2.697 2.445 2.433 3.025 4.888
Banespa EF 4.323 5.320 6.407 6.502 5.477 5.944 6.358 5.704 5.397 6.373 6.656 6.604 6.252 6.371 5.561 7.180 9.067 9.806 9.806
Unibanco EF 1.091 1.170 1.151 1.341 969 991 848 583 1.098 1.421 2.606 1.688 1.660 2.066 1.581 1.641 1.976 2.960 4.348
NACIONAL EF 1.354 1.276 1.184 1.175 891 937 1.014 684 991 1.409 1.667 1.003 854 1.322 997 1.499 2.595 4.049 5.165
REAL EF 1.295 1.411 1.604 1.457 1.086 1.223 1.074 861 1.017 1.318 2.230 1.023 750 349 323 433 2.365 2.582 2.872
ECONÔMICO EF 932 1.007 1.062 904 697 784 845 943 948 957 980 744 760 650 1.606 1.499 1.794 2.214 2.545
Amostra EF 47.058 50.444 50.191 47.438 36.970 35.989 32.752 25.505 22.182 27.182 43.293 42.517 49.901 36.721 30.469 33.629 43.857 53.076 68.153
Bamerindus D 1.022 1.101 1.200 1.063 814 778 701 606 930 560 2.324 758 569 2.204 1.728 2.407 3.161 4.220 6.427
B Brasil D 11.359 10.242 9.268 10.977 8.577 7.722 7.643 7.059 7.406 5.844 18.863 19.543 12.624 9.637 5.493 7.858 9.953 11.267 18.942
Bradesco D 3.181 3.226 3.617 3.693 2.987 2.841 2.740 2.161 2.754 2.566 8.492 3.219 11.926 7.946 4.240 5.333 6.290 6.769 9.578
Itaú D 1.937 2.131 2.309 2.168 1.835 1.739 1.827 1.216 2.057 1.926 5.858 1.618 6.844 4.646 2.627 3.337 4.281 5.045 6.123
Banespa D 1.976 2.561 2.993 2.454 1.561 1.825 1.285 1.090 1.642 1.483 3.695 2.696 2.386 2.701 2.786 3.943 5.994 6.735 6.735
Unibanco D 1.216 1.097 1.211 1.457 1.087 1.178 928 900 1.352 897 2.866 1.409 888 1.872 869 1.505 2.178 3.002 4.427
NACIONAL D 1.331 1.369 1.388 1.416 1.138 1.181 868 664 1.383 1.176 2.773 851 398 875 782 1.574 1.021 1.060 2.042
REAL D 1.315 1.328 1.548 1.362 1.140 1.033 1.020 752 1.095 916 2.792 767 783 178 381 830 3.296 4.104 4.388
ECONÔMICO D 609 608 627 690 577 680 662 590 860 566 1.571 694 666 206 708 1.398 2.188 2.227 2.548
Amostra D 23.945 23.662 24.161 25.280 19.716 18.976 17.673 15.038 19.480 15.932 49.233 31.553 37.083 30.265 19.614 28.184 38.363 44.428 61.209
Bamerindus K3 640 1.227 1.377 1.286 1.013 1.380 1.514 2.197 1.954 1.341 697 7.291 8.157 11.121 4.905 2.777 3.214 4.874 4.459
B Brasil K3 30.870 35.424 34.801 42.939 37.953 39.204 36.048 36.990 36.339 49.435 46.572 70.338 79.094 67.655 50.474 52.384 48.062 50.409 42.845
Bradesco K3 1.242 1.510 2.285 1.641 1.456 2.420 2.468 3.591 3.622 4.241 2.047 7.783 7.073 13.971 7.061 3.265 4.496 8.397 3.913
Itaú K3 873 818 1.139 1.257 1.355 2.084 2.253 2.503 1.634 2.713 1.259 5.720 4.904 10.363 5.574 3.827 3.006 5.688 4.337
Banespa K3 3.400 4.323 5.730 6.405 5.996 6.191 6.426 5.998 5.477 6.850 4.829 5.995 6.106 6.107 5.981 6.382 7.303 7.492 7.492
Unibanco K3 571 875 1.179 1.087 1.030 1.444 1.658 1.971 1.883 1.804 1.508 1.424 1.914 4.616 2.889 2.310 3.819 4.002 4.443
657

Tabela Apêndice-1: Banco de dados econômico-financeiros da amostra de bancos brasileiros - 1976 a 1994 (em US$ milhões).
Banco Conta 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994
NACIONAL K3 690 1.142 692 652 822 1.296 1.912 1.845 2.562 1.993 1.003 2.466 3.826 3.711 2.477 1.691 4.248 6.460 7.342
REAL K3 665 903 1.392 1.296 1.322 1.738 1.527 1.580 1.538 1.787 1.143 2.465 4.470 3.181 2.357 2.117 2.316 3.090 3.139
ECONÔMICO K3 683 1.003 1.099 965 775 1.007 1.071 1.487 1.222 1.270 677 1.419 1.722 2.707 3.023 2.029 2.001 1.979 3.781
Amostra K3 39.633 47.226 49.693 57.527 51.722 56.765 54.876 58.161 56.231 71.433 59.735 104.902 117.266 123.432 84.741 76.782 78.464 92.390 81.752
Bamerindus PL 204 239 257 240 196 286 351 375 373 398 419 434 395 568 401 655 605 651 881
B Brasil PL 5.858 6.988 6.196 5.730 4.616 5.548 5.901 5.952 6.917 7.630 8.267 8.700 7.999 6.882 3.812 5.498 6.633 6.838 5.301
Bradesco PL 575 664 890 917 771 1.026 1.296 1.426 1.592 1.858 2.259 2.447 2.113 2.015 1.202 2.313 2.580 2.719 3.227
Itaú PL 315 352 394 397 397 556 681 832 929 1.055 1.236 1.358 1.704 1.667 1.013 1.873 1.928 2.045 2.346
Banespa PL 402 457 508 443 324 344 372 371 403 488 638 916 957 1.195 741 1.159 1.234 1.356 1.356
Unibanco PL 164 169 215 224 198 260 313 322 371 468 537 578 495 673 390 564 574 626 797
NACIONAL PL 145 146 123 139 109 138 176 182 204 233 285 307 274 262 176 301 386 520 724
REAL PL 236 231 197 214 179 251 293 332 344 360 430 506 448 424 248 393 717 751 867
ECONÔMICO PL 167 154 166 169 148 174 207 222 277 287 338 466 435 384 215 428 442 448 554
Amostra PL 8.067 9.399 8.945 8.472 6.938 8.582 9.589 10.015 11.410 12.778 14.408 15.711 14.818 14.071 8.197 13.184 15.099 15.954 16.053
Bamerindus LL 51 47 68 24 31 82 75 59 21 59 29 36 48 59 46 37 46 87 103
B Brasil LL 1.988 1.717 1.061 637 973 1.254 900 892 1.027 1.433 386 996 1.204 123 297 298 480 412 100
Bradesco LL 163 238 230 132 124 366 275 251 244 447 395 356 311 446 168 192 310 391 411
Itaú LL 60 78 45 48 74 172 126 116 177 236 207 211 203 311 139 175 240 277 295
Banespa LL 101 141 169 32 28 35 46 44 50 112 138 260 254 401 162 109 168 226 226
Unibanco LL 46 42 30 28 30 50 48 49 45 67 81 67 55 92 63 56 65 92 111
NACIONAL LL 28 30 25 19 13 31 24 21 15 25 35 45 27 28 27 33 52 79 129
REAL LL 52 55 11 41 24 83 44 57 27 45 67 60 44 69 39 33 68 97 114
ECONÔMICO LL 63 43 52 33 34 41 46 50 52 60 44 43 54 61 29 39 42 43 74
Amostra LL 2.552 2.391 1.690 995 1.331 2.113 1.585 1.539 1.659 2.483 1.380 2.076 2.199 1.590 970 973 1.471 1.704 1.562
IGP (DI) 46,3 38,8 40,8 77,2 110,2 95,20 99,72 211,99 223,81 235,11 65,03 415,83 1.037,56 1782,89 1.476,71 480,23 1157,84 2.708,17 1.093,89
Variação do PIB -4,25 0,83 -2,93 5,40 7,85 7,49 3,53 -0,06 3,16 -4,35 1,03 -0,54 4,92 5,85

Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nos dados obtidos em Melhores e Maiores (2002), IGP (DI), IGP (DI) em FGV (2005) e PIB fornecido pelo IBGE (2005).
Nota 1: AT = Ativo Total, EF = Empréstimos e Financiamentos (conta do Ativo), D = Depósitos (conta do Passivo); K3 = Capital de Terceiros (total do Passivo – Depósitos), PL - Patrimônio Líquido, LL
= Lucro Líquido do Exercício. Contas classificadas conforme disponível na fonte.
Nota 2: Todos os dados foram obtidos já corrigidos, conforme critérios da publicação. Segundo o Portal Exame da Editora Abril os dados foram atualizados de modo a refletir seu valor em dólares (US$
2,3204) e reais do dia 31 de dezembro de 2001, de acordo com os índices de inflação, de modo a obter os índices mais próximos da realidade e fiéis à metodologia usada nos diversos anuários. A Fipecafi /
EAC / FEA / USP. e os editores da Melhores e Maiores (2002) não forneceram o detalhamento técnico do método utilizado para corrigir pela inflação os valores publicados, apesar de realizarmos várias e
insistentes solicitações.
658

APÊNDICE C - RELAÇÃO DAS ATIVIDADES NO SENADO FEDERAL.

Quadro Apêndice-2: Relação parcial das atividades do Senador José Eduardo no Senado (1991-1994).
Diário do Congresso Nacional
TipoCód Data RESUMO
Data Volume Página
DIS 24 abr. 91 Discurso inaugural traduzindo o pensamento do 25 abr. 91 Vol. 5 1807
empresariado brasileiro frente à crise econômica e
enfatizando a necessidade da restauração do valor do
trabalho, em conseqüência de uma preocupação maior e
prioritária com a educação.
PLS 221 19 jun. 91 Autoriza o desmembramento da superintendência 20 jun. 91 Vol. 9 3486
regional Curitiba da Rede Ferroviária Federal S.A., SR-
5, cria a Rede Viação Paraná - Santa Catarina S.A., e dá
outras providências.
DIS 19 jun. 91 Presidencialismo e Parlamentarismo em análise 20 jun. 91 Vol. 9 3519
histórica da democracia praticada no Brasil. Adoção do
voto distrital como solução para a representatividade
política no Brasil. Fortalecimento do partido político no
Brasil.
DIS 26 jun. 91 A tragédia agrícola. 27 jun. 91 Vol. 9 3817
DIS 08 ago. 91 Análise da política econômica do Governo. 09 ago. 91 Vol. 10 4598
DIS 15 ago. 91 A cidadania brasileira como prioridade absoluta para 16 ago. 91 Vol. 10 4934
uma sociedade politicamente justa e economicamente
próspera.
DIS 23 ago. 91 Visita ao Senado de Vice-Prefeitos de municípios 24 ago. 91 DCN2 5112
brasileiros.
DIS 27 ago. 91 Reforma tributária. 28 ago. 91 Vol. 11 5264
DIS 03 set. 91 Crise brasileira, com ênfase para o aspecto político. 04 set. 91 Vol. 12 5578
Defesa de reforma ministerial, objetivando a
concretização do entendimento nacional e a
governabilidade do país.
DIS 05 set. 91 Alteração do texto constitucional através do 06 set. 91 Vol. 12 5762
“emendão”.
PLS 330 26 set. 91 Dispõe sobre o exercício da profissão de detetive 27 set. 91 Vol. 13 6488
profissional, e dá outras providências.
DIS 03 out. 91 Defesa de uma solução para a falta de recursos na 04 out. 91 Vol. 14 6730
comercialização da safra de trigo.
DIS 17 out. 91 Política econômica do atual Governo federal. 18 out. 91 Vol. 15 7091
DIS 31 out. 91 Atrasos no pagamento dos serviços de saúde prestados 1º nov. 91 Vol. 15 7646
pelos hospitais paranaenses.
DIS 28 nov. 91 Congelamento da correção do imposto de renda na 29 nov. 91 Vol. 17 8368
fonte.
DIS 19 dez. 91 Preocupação com a política econômica conduzida pelo 20 dez. 91 DCN2* 5292
governo federal.
DIS 19 fev. 92 Confirmação das expectativas otimistas destacadas pelo 20 fev. 92 Vol. 2 354
orador, no panorama econômico, em pronunciamento
feito em outubro de 1991. Reforma ampla e profunda
da administração pública.
DIS 28 fev. 92 Redução da taxa de juros. 29 fev. 92 Vol. 2 639
PLS 14 12 mar. 92 Autoriza a criação de institutos de aposentadorias e 13 mar. 92 Vol. 3 836
pensões, de base profissional, e dá outras providências.
DIS 18 mar. 92 Sentido histórico de projeto de autoria do orador, que 19 mar. 92 Vol. 4 1121
cria os institutos de aposentadorias e pensões de base
659

Quadro Apêndice-2: Relação parcial das atividades do Senador José Eduardo no Senado (1991-1994).
Diário do Congresso Nacional
TipoCód Data RESUMO
Data Volume Página
profissional.
DIS 07 abr. 92 Considerações contra o golpe de estado na república do 08 abr. 92 Vol. 5 1887
Peru.
PLS 40 08 abr. 92 Regulamenta dispositivos constitucionais que enunciam 09 abr. 92 Vol. 5 1952
normas sobre os pagamentos pelo poder público a seus
fornecedores de bens e serviços, assim como a
executores de obras, e dá outras providências.
DIS 14 abr. 92 Projetos de sua autoria em tramitação no senado, 15 abr. 92 Vol. 5 2178
objetivando o combate à corrupção na administração
pública pela transparência, e pelo estabelecimento de
normas para o pagamento de obras contratadas pelo
poder público com empresas privadas.
DIS 30 abr. 92 Queda da inflação e medidas para a retomada do 1º maio 92 Vol. 6 2654
crescimento econômico.
DIS 05 maio 92O princípio da isonomia no país. 06 maio 92 DCN2 2820
PLS 76 28 maio 92Dispõe sobre a proteção de topografias de circuitos 29 maio 92 Vol. 8 4175
integrados.
DIS 03 jun. 92 Sugestões para o crescimento do Brasil sem ajuda 04 jun. 92 Vol. 9 4301
internacional. Experiência vitoriosa do banqueiro
Mohamed Yunus, de Bangladesh, com financiamento
direto a camponeses sem terra.
DIS 09 jun. 92 Homenagem ao professor Luiz Simões Lopes pela 10 jun. 92 Vol. 9 4529
passagem dos seus oitenta e oito anos, no momento em
que deixa a presidência do FGV, por ele presidido
desde a sua fundação.
DIS 11 jun. 92 Campanha de divulgação das propostas do FMI de 12 jun. 92 Vol. 9 4641
apoio à reforma fiscal promovida pelo Diretor-Gerente
do FMI, Michel Camdessus. Considerações a respeito
de artigo de Jacques Julliard sobre a autodestruição da
democracia, publicado na revista francesa 'Le Nouvel
Observateur'.
DIS 24 jun. 92 Atual crise política. 25 jun. 92 Vol. 10 5226
RQS 498 08 jul. 92 Requer a transcrição nos Anais, do artigo publicado no 09 jul. 92 Vol. 11 5750
jornal O Estado de São Paulo, edição de 08 de julho de
1992, de autoria do analista político Jarbas Holanda,
intitulado O 'fora Collor' e as reformas.
DIS 16 jul. 92 Modernização exigida pela sociedade brasileira e pelo 17 jul. 92 Vol. 12 5985
empresariado nacional.
RQS 638 21 ago. 92 Requer a transcrição nos Anais, do documento 'a crise 22 ago. 92 Vol. 14 6878
política e a nação', do presidente da Força Sindical,
Luiz Antonio de Medeiros.
DIS 26 ago. 92 Elogio à atuação do ministro Reinhold Stephanes, da 27 ago. 92 Vol. 14 6962
Previdência Social.
DIS 16 set. 92 Premência da modernização do Estado brasileiro com 17 set. 92 Vol. 16 7545
as reformas fiscal e tributária e pela antecipação da
Revisão Constitucional.
PEC 9 16 out. 92 Dá nova redação ao artigo terceiro do ato das
Disposições Constitucionais Transitórias.
DIS 19 out. 92 Retomada do crescimento econômico brasileiro 20 out. 92 Vol. 18 8265
dependendo da agilidade do Congresso Nacional na
tramitação dos projetos de modernização.
DIS 31 jan. 94 Balanço de suas atividades no Ministério da Indústria, 1º fev. 94 Vol. 1 407
660

Quadro Apêndice-2: Relação parcial das atividades do Senador José Eduardo no Senado (1991-1994).
Diário do Congresso Nacional
TipoCód Data RESUMO
Data Volume Página
do Comércio e do Turismo.
DIS 03 mar. 94 Acordo da Câmara Setorial da Indústria Automotiva, de 04 mar. 94 Vol. 4 1049
redução das alíquotas de ICMS na comercialização de
veículos, favorecendo o preço final. Apelo para o
fechamento do Confaz.
DIS 07 mar. 94 Índice de desemprego. 08 mar. 94 Vol. 4 1121
DIS 17 mar. 94 Comentários sobre o atual momento político nacional. 18 mar. 94 Vol. 5 1256
DIS 04 abr. 94 Atendimento, à época em que desempenhava as 05 abr. 94 Vol. 6 1557
funções de Ministro da Indústria, do Comércio e do
Turismo, do pleito dos empresários de exclusão do café
solúvel do esquema de retenção e ampliação das vendas
que resultou em significativo aumento nas exportações
brasileiras do produto.
DIS 13 abr. 94 Retomada do preço do café e sua valorização em dólar. 14 abr. 94 Vol. 6 1795
DIS 19 abr. 94 Visita à Volta Redonda para debater os problemas 20 abr. 94 Vol. 7 1924
brasileiros com os integrantes do Sindicato dos
Metalúrgicos daquele município.
DIS 1º jun. 94 Bom desempenho dos preços do café no mercado 02 jun. 94 Vol. 10 2681
internacional.
DIS 1º jun. 94 Realização da convenção nacional do PTB, no último 02 jun. 94 Vol. 10 2660
dia 21, em São Caetano do Sul - SP.
DIS 07 jun. 94 Regozijo pelo sucesso da indústria automobilística no 08 jun. 94 Vol. 10 2760
mês de abril, batendo recordes de produção de vendas
no mercado interno e de exportação.
DIS 16 jun. 94 Defesa da Revisão Constitucional através de uma 17 jun. 94 Vol. 11 3239
Assembléia Revisora exclusiva.
DIS 06 jul. 94 Promover e preservar a estabilidade político - jurídico - 07 jul. 94 Vol. 12 3942
institucional é tarefa primordial do poder legislativo e
condição prévia à retomada do crescimento econômico.
Críticas ao abuso na edição de Medidas Provisórias.
DIS 14 set. 94 Contrário à perspectiva de greve do ABC por ser 15 set. 94 Vol. 16 5208
instrumento eleitoreiro do PT. Considerações sobre o
'Pacto de Brasília', acordo firmado entre o governo, os
produtores de automóveis e as metalúrgicas.
JUS 14 set. 94 Projeto de Lei nº 60. 15 set. 94 Vol. 16 5192
Fonte: Quadro elaborado pelo autor com base nas informações extraídas do Diário do Congresso Nacional
(1990-1998). Disponível em < http://www.senado.gov.br/sf/atividade/pronunciamento/ Consulta_Parl.asp?
p_cod_senador=85>. Acesso em 12 dez. 2005.
Nota: * referência não confirmada. DCN2 = Diário do Congresso Nacional. Seção II. Tipo (APA – Aparte,
DEB – Discussão, DIS – Discurso, JUS – Justificação, PAR – Parecer, PEC - Proposta de Emenda à
Constituição, PLS - Projeto de Lei nº do Senado, RQS – Requerimento).
661

APÊNDICE D - TABELA DE CARGOS

Tabela Apêndice-2: Cargos de comando no Bamerindus.


Valor Valor
Cargo Tipo Cargo Tipo
Cargo Cargo
Atuário D 1 Presidente D 19
Auditor D 2 Conselheiro D 20
Contador D 3 Diretor-Gerente do Conselho de D 21
Administração
Diretor-Assistente D 4 Diretor Vice-Presidente do Conselho de D 22
Administração
Diretor-Adjunto D 5 Vice-Presidente do Conselho de D 23
Administração
Representante no Distrito D 6 Presidente do Conselho de D 24
Federal Administração
Diretor-Técnico D 7 Acionista A 25
Diretor de Desenvolvimento D 8 Membro Efetivo Cons Adm - FBAS D 26
e Controle
Diretor de Marketing e D 9 Membro Suplente Cons Adm - FBAS D 27
Comunicação
Diretor Departamento Legal D 10 2º Secretário - FBAS D 28
Diretor de Relações com D 11 1º Secretário - FBAS D 29
Associados
Diretor D 12 2º Tesoureiro - FBAS D 30
Diretor-Superintendente D 13 1º Tesoureiro - FBAS D 31
Secretário-Executivo D 14 3º Vice-Presidente - FBAS D 32
Vice-Presidente do Comitê D 15 2º Vice-Presidente - FBAS D 33
de Diretoria
Diretor Vice-Presidente D 16 1º Vice-Presidente - FBAS D 34
Vice-Presidente D 17 Presidente (nato) - FBAS D 35
Diretor-Presidente D 18 –––––––––––––––––––––––––––––––– – –
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nos dados extraídos de diversos documentos internos do
Grupo Bamerindus, entre outros, os Relatórios Semestrais e Anuais dos Conselhos e Diretorias,
Annual Report (diversos anos).
662

APÊNDICE E - CÓDIGOS DE EMPRESAS

Quadro Apêndice-3: Código de empresas.

Código Denominação da empresa


AY Arthur Young Auditores Associados S/C
BFCI Bamerindus S.A. Financiamento, Crédito e Investimento.
BAS Bamerindus S.A. Administração e Serviços.
BCS Bamerindus Companhia de Seguros
BPE Bamerindus S.A. Participações - Empreendimentos.
BBI Banco Bamerindus de Investimento S.A.
BBB Banco Bamerindus do Brasil S.A.
E&Y Ernest & Young, Sotec Auditores Independentes S. C.
FBAS Fundação Bamerindus de Assistência Social
GBB Grupo Bamerindus
INP Inpacel - Indústria de Papel Arapoti S.A.
PB Poupança Bamerindus
PW Price Waterhouse Auditores Independentes S. C.
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nos dados extraídos de diversos documentos
internos do Grupo Bamerindus, entre outros, os Relatórios Semestrais e Anuais dos Conselhos e
Diretorias, Annual Report (diversos anos).
663

APÊNDICE F - INTERVENÇÕES DO BACEN

Tabela Apêndice-3: Intervenções do Bacen ( 1974-1980)


Data Tipo Instituição
16/04/1974 Intervenção Banco Halles S.A.
16/04/1974 Intervenção Halles Financeira S.A. Cred. Fin. Invest.
16/04/1974 Intervenção Halles Corretora Câmbio Valores. Mobiliários. S.A.
16/04/1974 Intervenção Halles Distribuidora. Nacional de Valores. Mobiliários. S. A
16/04/1974 Intervenção Banco Halles de Investimentos S.A.
25/03/1975 Intervenção Coenge S.A. Engenharia e Construções
25/03/1975 Intervenção Ipiranga Agropecuária S.A.
25/03/1975 Intervenção Ipiranga de Leasing e Serviços S.A.
25/03/1975 Intervenção Banco Comercial Ipiranga S.A.
25/03/1975 Intervenção Seguradora Industrial e Mercantil S.A.
25/03/1975 Intervenção Ipitrade S.A. Exportação e Importação
25/03/1975 Intervenção Ipitur Ipiranga Turismo S.A.
25/03/1975 Intervenção Cia Brasileira de Administração e Participações S.A.
Cobrasap
25/03/1975 Intervenção Banco Ipiranga de Investimentos S.A.
25/03/1975 Intervenção Ipiranga Corretagem e Adm. de Seguros S.A.
20/06/1975 Liquidação Tabajara S.A. Crédito Imobiliário
Extrajudicial
19/03/1976 Liquidação Banco Crédito Rural do Paraná Soc. Coop.
Extrajudicial
19/04/1977 Liquidação Ferraz de Campos Soc. Corret. C.V.M. Ltda.
Extrajudicial
12/12/1980 Intervenção Tieppo S.A. Corretora de Câmbio e Títulos
Nota: Foram listados apenas os casos considerados mais importantes no período. Fonte: Bacen
(2004).
664

APÊNDICE G - QUANTIDADE DE INTERVENÇÕES DO BACEN

Tabela Apêndice-4: Quantidade de intervenções do Bacen (1950 a 1999)


Ano nº Ano nº Ano nº Ano nº Ano nº
1950 1960 1 1970 3 1980 14 1990 15
1951 1961 1 1971 1981 17 1991 29
1952 1962 1972 2 1982 7 1992 17
1953 13 1963 1973 2 1983 41 1993 13
1954 5 1964 1974 17 1984 34 1994 49
1955 10 1965 4 1975 51 1985 56 1995 55
1956 1 1966 8 1976 27 1986 5 1996 23
1957 1967 1977 42 1987 56 1997 45
1958 10 1968 4 1978 2 1988 17 1998 18
1959 1969 34 1979 5 1989 24 1999 19
Total 39 52 151 271 283
Total geral 796
Fonte: Tabela elaborada pelo autor com base nos dados disponíveis em Bacen (2004).
665

APÊNDICE H - HISTÓRIA DO HSBC

HSBC - THE HONGKONG AND SHANGHAI BANKING CORPORATION LIMITED

1544
A história do HSBC está diretamente relacionada à história da expansão colonial da
Inglaterra no último quartel do século XIX, especialmente quanto aos seus interesses na China.
Mais tarde o banco incorporou os negócios ingleses no setor de petróleo no Oriente Médio, e
finalmente, a partir dos anos 1980, engajou-se no esforço de expansão do capitalismo financeiro
internacional formando um dos maiores bancos de varejo do mundo. Segundo BLECHER (30 dez.
1994)1, em 1994 o Grupo HSBC2 tinha sede em Londres e era considerado o oitavo maior
conglomerado financeiro internacional e o maior banco não japonês. O total dos seus ativos
ultrapassava os US$ 300 bilhões, e operava em 68 países através de mais de 3.000 escritórios, bem
como possuía participação minoritária de 10% no banco chileno O'Higgins e de 30% no argentino
Roberts. Nesse mesmo ano, o Bamerindus acumulava ativos num total de US$ 11,8 bilhões que
representavam 3,92% do HSBC. Conforme pode ser verificado no Quadro Apêndice-4, muitas de
suas principais companhias iniciaram suas atividades há mais de um século.

PRINCIPAIS MEMBROS DO GRUPO HSBC

Quadro Apêndice-4: Expansão do Grupo HSBC - 1865 a 1999.

Data de
Nome da instituição Nome original da Local de País de Data de
entrada no
em 2000 instituição origem origem fundação
Grupo
The Hongkong and Hongkong and Hong-Kong Hong- 1865 1865
Shanghai Banking Shanghai Banking Kong
Corporation Limited Company Limited
HSBC Bank Middle The British Bank of Londres Inglaterra 1889 1959
East the Middle East
Hang Seng Bank Hang Seng Bank Hong-Kong Hong- 1933 1965
Limited Limited Kong
HSBC Bank USA Marine Midland Búfalo E. U. A. 1850 1980
Bank, N. A.
HSBC Bank Canada Hongkong Bank of Vancouver Canadá 1981 1981
Canada
HSBC Bank Australia Hongkong Bank of Sydney Austrália 1986 1986
Limited Australia Limited
HSBC Bank plc Midland Bank plc Birmingham Inglaterra 1836 1992
HSBC Trinkaus & Trinkaus & Düsseldorf Alemanha 1785 1992
Burkhardt KGaA Burkhardt KGaA
HSBC Guyerzeller Bank Guyerzeller AG Zurich Alemanha 1894 1992

1
Fonte: BLECHER, N. Bamerindus alia-se ao 8º banco mundial. FSP, 30 dez. 1994. Dinheiro, p. 2-9.
2
A maioria das informações sobre o HSBC foram extraídas e traduzidas de HSBC (2000).
666

Quadro Apêndice-4: Expansão do Grupo HSBC - 1865 a 1999.

Data de
Nome da instituição Nome original da Local de País de Data de
entrada no
em 2000 instituição origem origem fundação
Grupo
Bank AG
HSBC Bank Malaysia Hongkong Bank Kuala Malásia 1994 1994
Berhad Malaysia Berhad Lumpur
HSBC Bank Brasil Banco Bamerindus Curitiba Brasil 1952 1997
S.A. -Banco Múltiplo do Brasil S.A.
HSBC Bank Argentina Banco Roberts S.A. Buenos Aires Argentina 1903 1997
S.A.
Fonte: Tabela extraída de HSBC (2000, p.3), nossa tradução.

1545
O crescimento econômico da região costeira da China, na segunda metade do século XIX,
levou o então Superintendente em Hong-Kong da empresa Peninsular and Oriental Steam
Navigation Company, Thomas Sutherland, a fundar o The Hongkong and Shanghai Banking
Corporation Limited no dia 3 de março de 1865, tendo como sócios desde comerciantes locais até
norte-americanos e empresas européias e, como clientes, tanto a comunidade empresarial
estrangeira como influentes comerciantes chineses que operavam na região.
1546
Na época, a incorporação do banco demandou um arranjo legal especial, em lugar de operar
sob a regulamentação britânica ou colonial – que exigia a matriz em Londres – os diretores do
banco conseguiram que o Tesouro da Inglaterra aceitasse a incorporação sob uma ordenação
especial, permitindo ao banco manter a matriz em Hong-Kong sem perder o privilégio de emitir
títulos bancários e operar com o governo inglês. Em dezembro de 1866, o banco mudou sua
denominação legal para The Hongkong and Shanghai Banking Corporation, que ficou inalterada
até 1989. Logo após sua formação o banco estabeleceu uma rede de agentes e filiais do redor o
mundo e, embora tenha alcançado a Europa e a América do Norte, o HSBC concentrou os esforços
na construção de representações na China e no restante da região da Ásia - Pacífico. Desde o início,
sua característica mais forte foi o financiamento do comércio e operações com ouro e câmbio.

OS INTERESSES DO GRUPO NA ÁSIA

1547
No Japão, onde uma filial foi aberta em Yokohama em 1866, o banco atuava como um
conselheiro do governo nos assuntos bancários e monetários, bem como em 1888, foi o primeiro
banco a se estabelecer na Tailândia onde imprimiu as primeiras notas bancárias do país. Até 1900, a
rede de filiais na Ásia foi estendida para a Índia (1867), Filipinas (1875), Cingapura (1877),
Malásia, Myanmar, Sri Lanka e Vietnã. Até os anos 1880, o HSBC atuava como banqueiro do
governo de Hong-kong e britânico nos negócios com a China, Japão, Penang (Malásia) e
Cingapura, financiando a construção de estradas de ferro e outros projetos de infra-estrutura e, até
1910, o banco era o principal agente no China Consortium, uma agência multinacional de
empréstimos para a China.
667

1548
Mesmo com o declínio do comércio internacional devido à I Guerra Mundial, o HSBC se
manteve, ao longo dos anos 1930, como principal agente financeiro do governo chinês. Ao
contrário dos negócios da família Vieira no Brasil, que cresceram muito durante a II Guerra
Mundial, as operações do HSBC foram interrompidas durante o conflito, e a maioria dos
funcionários europeus do banco se tornou prisioneira de guerra do Japão. No período imediato do
pós-guerra, o banco assumiu um papel importante na reconstrução da economia de Hong-Kong,
mas perdeu vários mercados, principalmente após a guerra civil na China, onde a maioria de suas
filiais foi fechada entre 1949 e 1955, ficando apenas com o escritório de Xangai. Entre 1953 e
1965, o banco buscou diversificar seus negócios com uma série de aquisições e alianças. Na região
da Ásia - Pacífico, foram efetuadas várias aquisições importantes tais como o Mercantile Bank em
1959 e o Hang Seng Bank Limited em 1965.
1549
A abertura de tradicionais mercados financeiros, nos anos 1980 e 1990, permitiram ao
banco criar, em 1986, um HSBC na Austrália e adquirir uma licença bancária na Nova Zelândia e,
em 1994, criar o Hongkong Bank Malaysia Berhad. A retomada da soberania sobre Hong-Kong
pela República Popular da China no dia 1º de julho de 1997, permitiu ao Grupo ampliar suas
conexões com a China, onde atuava desde os anos 1970, através de vários escritórios e filiais.

O HSBC NA EUROPA

1550
O HSBC buscou crescer na Europa principalmente através da aquisição de negócios já
existentes, para tanto, em 1973, o banco adquiriu participação no tradicional banco londrino de
investimento, Antony Gibbs. Em 1980, o HSBC comprou o controle total dessa instituição e seus
negócios na área de seguros na qual constava como uma das maiores corretoras do Lloyd no
mercado de Londres. Em 1981, seus planos para comprar o Royal Bank of Scotland, cobrindo uma
oferta do Standard Chartered Bank, foram contrariados quando a UK Monopolies and Mergers
Commission reagiu negativamente contra ambas as ofertas.
1551
Quando ocorreu o “Big Bang” na Bolsa de Valores de Londres, nos anos 1980, o HSBC
aproveitou a oportunidade para adquirir, em 1986, uma das mais antigas casas financeiras, a James
Capel & Co. Limited, fundada nos anos 1770. Em 1987, o HSBC comprou 14,9% das ações do
Midland Bank Plc., dando início assim ao processo de aquisição do Midland cujo controle total
acabou sendo comprado cinco anos depois. Em março de 1992, HSBC Holdings anunciou que faria
uma oferta para a compra do controle do Midland. No final de abril, o Lloyds Bank, anunciou que
também estava fazendo uma oferta pelo banco logo em seguida derrubada após o HSBC oferecer,
em junho de 1992, £ 3.9 bilhões. Na época, a transação foi considerada como uma das maiores
fusões da história bancária e, com ela, o HSBC passou a ter uma ampla presença na Europa. A
fusão foi completada em 1999, com a troca do nome Midland Bank para HSBC Bank. Durante os
anos 1990, o grupo ampliou sua presença na Europa através da abertura de novos escritórios e
aquisições seletivas, entre elas abriu uma nova subsidiária na Armênia, em 1996, e uma filial do
668

Midland foi aberta em Praga, na República Tcheca, em 1997.

OS INTERESSES NO ORIENTE MÉDIO

1552
A entrada do HSBC no Oriente Médio ocorreu em 1959, quando comprou o controle do
British Bank of the Middle East. Criado em Londres em 18893 pelo Barão Julius de Reuter –
também criador da Agência Reuters, originalmente o banco era denominado The British Bank of the
Middle East bem como também era conhecido como The Imperial Bank of Persia. Na época,
Reuter obteve do Xá da Pérsia a concessão bancária por 60 anos, que permitia emitir títulos e agir
como o banco do Estado da Pérsia. Nos anos seguintes, assumiu os negócios da New Oriental
Banking Corporation em toda a Pérsia e abriu sete filiais no país. Nos anos 1930 e 1940,
transformações políticas mudaram o perfil do Imperial Bank, como por exemplo, em 1930 a
emissão de cédulas foi transferida para o Bank Melli Iran, que havia sido recentemente estabelecido
como o banco nacional da Pérsia. Quando o nome do país foi mudado para Irã, o Imperial Bank foi
renomeado para Imperial Bank of Iran em 1935, e em 1949, todos os bancos estrangeiros foram
obrigados a transferir 55% dos depósitos para o banco estatal iraniano e, dois anos depois, sua
licença para operar com o câmbio exterior foi cancelada.
1553
Essas mudanças obrigaram o banco a remodelar sua estratégia e reorganizar sua
representação. O processo já estava ocorrendo desde o início dos anos 1940, quando o Imperial
Bank abriu caminho entrando nos Estados do Golfo Pérsico. Nessa região, os bancos tiveram um
papel vital no desenvolvimento da indústria petrolífera no Oriente Médio, onde foram abertas filiais
no Kuwait, 1942; Bahrein em 1944; Dubai em 1946 e Muscat (Omã) no ano de 1948; bem como
foram abertas filiais em Beirute no ano de 1946, Damasco (Síria) em 1947 e Amã (Jordânia) em
1949. Essa diversificação ao longo do Oriente Médio levou à mudança do nome em 1949 para The
British Bank of Iran and the Middle East. Com a saída do Irã, em 1952, o banco recebeu uma nova
Royal Charter sob o nome de British Bank of the Middle East.
1554
Em 1959, o banco tinha escritórios na Arábia Saudita, Áden, Líbia, Sharjah, Qatar, Tunísia,
Marrocos e Abu Dabi. Em 1959, o banco foi reaberto novamente no Irã, mas esse retorno terminou
quando os bancos do país foram nacionalizados em 1979. A nacionalização do setor bancário foi
contínua no Oriente Médio dos anos 1960 e, como resultado, o banco encerrou sua presença na
Síria, Iraque, Áden e Líbia. Por outro lado, e especialmente nas ricas economias petrolíferas do
Golfo, o banco reforçou sua rede de filiais e alianças com bancos locais. Em 1978, os negócios do
banco na Arábia Saudita foram transferidos para um banco novo, o The Saudi British Bank, do qual
o HSBC tinha 40% de participação.
1555
Em 1994, a matriz do British Bank of the Middle East foi transferida para o Jersey e, em
1999, o banco foi renomeado HSBC Bank Middle East. Além de mais de 35 filiais do HSBC Bank

3
Mais ou menos nesta época, Miguel Antun imigrava do Líbano para o Brasil.
669

Middle East, o Grupo atua, ainda hoje, nesse mercado através do The Saudi British Bank, com 80
filiais, e através do Egyptian British Bank S.A., aberto em 1982, tendo o HSBC participação de 40%
das ações. Outras empresas associadas do HSBC Group na região são o The Cyprus Popular Bank
Limited, cuja participação foi adquirida em 1971, e o British Arab Commercial Bank Limited,
formalmente conhecido como UBAF Bank Limited, do qual o Midland Bank tornou-se um acionista
em 1972.

O GRUPO HSBC NAS AMÉRICAS

1556
Os interesses do HSBC nas Américas englobam desde o mercado da América do Norte
como os da América Central e do Sul. Em 1980, o grupo comprou 51% das ações do Marine
Midland Bank N. A., um dos principais bancos regionais com sede em Búfalo, Nova York. O HSBC
estava presente nos EUA desde que abriu uma agência em São Francisco em 1865 e uma filial em
Nova York em 1880, todas com pequena atuação no mercado local. O passo decisivo do HSBC nos
EUA aconteceu quando, em 1987, comprou o Marine Midland Bank.

MARINE MIDLAND BANK

1557
A história do Marine Midland Bank remonta a 1850, quando foi criada a Marine Trust
Company, em Búfalo, Nova York. O banco foi formado para financiar o comércio de grãos entre o
Meio-Oeste, os Grandes Lagos e o litoral oriental. Nos anos seguintes, ocorreu a transformação da
economia do Estado de Nova York de agrária para industrial e uma rede de estradas de ferro foi
construída, cruzando o Estado. A indústria siderúrgica que surgiu na região cresceu centrada em
Troy, e projetos de aproveitamento do Niágara induziram o desenvolvimento da indústria
eletroquímica e eletro-metalúrgica. Com isto os bancos locais cresceram, embora a legislação não
permitisse se expandir ao longo do Estado.
1558
Para contornar restrições legais, em 1918, o então Marine National Bank foi transformado
no que o Estado caracterizava como empresa fiduciária. Essa nova personalidade jurídica permitiu
ao Marine fundir-se com vários bancos de Búfalo durante os anos 1920. Mais tarde, os negócios
Marine abrangiam toda região, sendo ele o maior operador bancário dentro do Estado e fora da
cidade de Nova York. A expansão foi possível quando o Marine tornou-se Marine Midland
Corporation em 1929 e teve suas ações cotadas na Bolsa de Valores de Nova York. A adição de
Midland no seu nome refletia a extensão geográfica da companhia que atuava em toda a
“midlands” do Estado de Nova York, agrupando vários bancos dentro do Estado. Em 1929, o
Marine foi pioneiro no papel de holding de diversos bancos quando o Marine Midland Corporation
chegou a ser integrado por quase 80 bancos locais. Por causa das leis estaduais, esses bancos
associados continuaram operando como entidades separadas, mas era o Marine quem promovia os
serviços e a administração. A mais velha instituição financeira a unir-se à corporação foi o First
670

Bank and Trust Company, fundada em Utica, em 1812.


1559
Os serviços do Marine Midland na área comercial e de varejo continuaram se expandindo
depois da Segunda Guerra Mundial, através de aquisições que mais tarde foram agrupados em 10
filiais com uma cobertura regional distinta no Estado, depois reunidas como um único banco em
1976, quando o Estado de Nova York aboliu a centenária legislação que disciplinava filias
bancárias. A unificação do banco, com ativos totais de US$ 10,5 bilhões, foi uma das maiores
fusões bancárias nos Estados Unidos. Em 1989, o Grupo estabeleceu uma aliança estratégica com o
Wells Fargo Bank, o mais antigo banco da Califórnia e, em de outubro 1995, a aliança conduziu à
criação do Wells Fargo HSBC Trade Bank, N. A.,. que opera na costa ocidental. Em 1996, o banco
adquiriu os negócios do East River Savings Bank, e em 1997 foi finalizada a compra do Federal
Savings and Loans Association of Rochester e uma aliança com a Wachovia Corporation.
1560
Adquirido pelo HSBC em 1987, o Marine Midland foi renomeado como HSBC Bank USA,
em 1999.

AMÉRICA LATINA

1561
Através do Marine Midland Bank, o grupo adquiriu escritórios na América Central e do
Sul, que haviam sido abertos na metade dos anos 1960. Igualmente, a aquisição do Midland Bank
deu ao Grupo HSBC representações no Brasil, Argentina e no México. Nos anos 1990, o grupo
expandiu sua presença na região, buscando capitalizar o crescimento intra-regional e o fluxo do
comércio internacional. Em 1987 Midland Bank adquiriu uma participação no Banco Roberts S.A.
na Argentina e, em agosto de 1997, comprou o controle da instituição, quando então mudou o seu
nome para HSBC Banco Roberts S.A., atualmente HSBC Bank Argentina S.A. O Banco Roberts
foi criado em Buenos Aires em 1903 e expandiu seus interesses ao longo do século XX. Em 1918,
adquiriu a seguradora Imperial que foi renomeada para La Buenos Aires Compañia Argentina de
Seguros S.A. Outras subsidiárias incluíam o fundo de pensão Máxima S.A., criado em 1994,
considerado como o segundo maior fundo privado do país e a empresa Docthos S.A., fundada no
final dos anos 1970 para fornecer planos de seguro-saúde. O grupo também está presente no Chile,
onde comprou uma participação no Banco O’Higgins que, apesar de ter sido fundado em 1956,
partes dos seus negócios remontam o ano de 1888. Em janeiro de 1997, o Banco O'Higgins fundiu-
se com Banco de Santiago, criando o Banco Santiago, na época o maior banco comercial privado
do país. A presença maior do HSBC na América do Sul aconteceu em março de 1997, quando criou
o Banco HSBC Bamerindus S.A. e assumiu o controle sobre parte dos ativos, passivos e
subsidiárias do Banco Bamerindus do Brasil S.A., que em 1999 mudou de nome para chamar-se
HSBC Bank Brasil S.A. - Banco Múltiplo.
1562
Entre 1990 e 1998, William Purves ocupou o cargo de presidente do HSBC Holdings Plc,
671

tendo sido diretor da Shell Transport and Trading Company entre 1993 e maio de 2002
(MaCAlister, 20024 e THE SHELL, 20015); e Peter Walters ocupou o cargo de Presidente do
Conselho de Administração do Midland Bank plc entre 1991 e 1994, Deputy Chairman do HSBC
Holding plc entre 1992 e 2001, e Presidente do Conselho de Administração da British Petroleum
Company Plc entre 1981 to 1990. (MaCAlister, 2002 e Tyumen Oil Company, 20026)
1563
Grande parte dos dados da história do HSBC foram extraídos e traduzimos da publicação
HSBC Holdings plc. The HSBC Group: a brief history. London, 2000. Nossa tradução. Disponível
em: <http://www.hsbc.com/hsbc/about_hsbc/group-history>. Acesso em: 09 jul. 2004. É
importante observar que o HSBC mantém um importante arquivo sobre bancos que incluem
registros do The Hongkong and Shanghai Banking Corporation, HSBC Bank plc (Midland Bank
plc), HSBC Bank Middle East (The British Bank of the Middle East) e o Mercantile Bank of India.
O acervo está disponível para consultas e pesquisas externas. Para mais informações, consultar:
Group Archives - HSBC Holdings plc. Level 36, 8 Canada Square - London E14 5HQ - United
Kingdom.

4
Fonte: MACALISTER, Terry. Privatiser Putin Begins to Win War Against Russia’s Mafia: World Power in Oil and
Equities is Erasing Wild East Image of the 90s. London: The Guardian, 24 set. 2002. Disponível em:
<http://www.guardian.co.uk/business/story/0,3604,797685,00.html>. Acesso em: 27 ago. 2003.
5
Fonte: THE “SHELL” Transport and Trading Company, p.l.c. Annual Report and Accounts 2001. [London], 2002.
Disponível em: <http://www.shell.com/html/investor-en/shellreport01/reports2001/doc/pdf/stt_full.pdf >. Acesso em:
12/04/2003
6
Fonte: TYUMEN OIL COMPANY (TNK): First Urals Cargo Arrives for the US Strategic Petroleum Reserve. Russian Press
Release, Moscow, October 14th, 2002. Disponível em: <http://www.capitallinkrussia.com/press/companies/50010275/
257.html >. Acesso em: 12.abr. 2003.
672

APÊNDICE I - CAPA DO PROJETO DE PESQUISA EM 2002

Algumas histórias de Bancos, Banqueiros, Políticos,

Bancários e outros Bichos do Paraná.

(1981 a 1997)

Por

Thulio Cícero Guimarães Pereira

Florianópolis

2002
673

APÊNDICE J - CAPA DO PROJETO DE PESQUISA EM 2003

THULIO CÍCERO GUIMARÃES PEREIRA

BANCOS E BANQUEIROS, SOCIEDADE E POLÍTICA:

JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA E O BANCO

BAMERINDUS.

Florianópolis

2003
674

ANEXOS

ANEXO A - ETAPAS DA EMERGÊNCIA DAS FINANÇAS DE MERCADO


MUNDIALIZADAS

Quadro Anexo-1: As três etapas da emergência das finanças de mercado mundializadas.


1960-1979 1980-1985 1986-1995
Internacionalização financeira Passagem simultânea para as Acentuação da interligação,
“indireta” de sistemas nacionais finanças de mercado e para a extensão da arbitragem e
fechados. Evolução dos Estados interligação dos sistemas incorporação dos “mercados
Unidos em direção às finanças nacionais pela liberalização emergentes” do terceiro mundo.
de mercado. financeira.
Formação nos Estados Unidos Início do monetarismo nos “Big-bang” na City.
de mercados de títulos de crédito Estados Unidos e Reino Unido.
(papéis de caixa) utilizados
principalmente pelos bancos.
Formação dos mercados de Liberalização dos movimentos Abertura e desregulamentação
eurodólares como em “off- de capitais. dos mercados de ações.
shore”.
Desagregação e liquidação do Securitização da dívida pública. Explosão das transações sobre os
sistema de Bretton Woods mercados de câmbio.
(1966-1971).
Fim do enquadramento do Rápida expansão dos mercados Abertura e desregulamentação
crédito no Reino-Unido (1971). de bônus. dos mercados de matérias-
primas.
Passagem aos câmbios flexíveis Políticas monetárias de atração Crescimento rápido dos
(1973) e início do crescimento de investidores estrangeiros. mercados derivados de matérias-
dos mercados de câmbio. primas.
Falência do Banco Herstatt, Arbitragem internacional sobre Explosão dos derivativos.
início dos trabalhos referentes a os mercados de bônus.
normatização no BIS.
Expansão acelerada do mercado Início da desintermediação da Aceleração do crescimento dos
de eurodólares, reciclagem dos demanda privada de liquidez dos mercados de bônus.
petrodólares, empréstimos grupos industriais e das
bancários tomados de instituições financeiras.
consórcios.
Internacionalização acelerada Crescimento muito rápido dos A partir de 1990, início da
dos bancos americanos, ativos dos fundos de pensão e abertura e desregulamentação
(compreendidos aí, sob forma de dos “mutual funds”. dos mercados de bônus e
empréstimos não-sindicais e de Crescimento rápido dos acionário dos NPI e de países do
créditos internacionais). derivativos. Terceiro Mundo.
Início do endividamento do Expansão internacional das Expansão para além da zona da
Terceiro Mundo. operações dos fundos de pensão OCDE do regime das finanças
e dos “mutual funds”. diretas e da securitização da
dívida pública.
Surgimento de mercados “Junk bonds” e recursos Discussões sobre a extensão do
derivados (futuros e de opções) alavancando os mercados de papel do FMI (1995), em
sobre as moedas e as taxas de títulos das propriedades de seguida da crise mexicana.
juros. empresas em Nova York e em
Londres.
Fonte: Quadro extraído de Chesnais (1998, p.24)
675

ANEXO B - FORMAÇÃO DO GRUPO BAMERINDUS

Ilustração Anexo-1: Genealogia do Grupo Bamerindus - I

Fonte: Andrada (1982, p.62)


676

ANEXO C - GENEALOGIA DO GRUPO BAMERINDUS


Ilustração Anexo-2: Genealogia do Grupo Bamerindus - II
Alt. Den. Alt. Den. Incorp. Incorp. Alt. Den.
ROCHA MIRANDA, FILHOS & CASA BANCÁRIA ROCHA BANCO DO POVO DE MATO BANCO MERCANTIL E INDL. BANCO DE CRÉDIT O Incorp. BANCO NACIONAL DO CASA BANCÁRIA CONDE E
04.04.55 27.09.61 01.08.67 28.05.70 ARIJU S.A. COM ÉRCIO E 10.09.36
CIA. LTDA. CASA BANCÁRIA MIRANDA, FILHOS & CIA. DO M AT O GROSSO S.A. TERRIT ORIAL S.A. 31.10.74 COMÉRCIO DE SÃO PAULO ALMEIDA
GROSSO S.A. INDÚST RIA
(16.09.43) LTDA. (02.01.68) (08.11.28) S.A. (10.09.36)
Incorp. Incorp.
28.02.74 28.02.74
Alt. Den. Alt. Den. Alt. Den. Alt. Den. Incorp.
OLIMAR S.A. MERCANT IL E
08.09.52 CASA BANCÁRIA ABELARDO 12.02.54 09.06.54 07.11.60 31.10.74
ABELARDO QUEIROZ & CIA. CASA BANCÁRIA DA LAPA S.A. BANCO TIETÊ S.A. AGRÍCOLA
QUEIROZ S.A. (22.04.60)
(04.09.35)

Incorp. BANCO COMERCIAL DO Incorp. BANCO POPULAR E AGRÍCOLA DO


Alt. Den. Incorp.
CASA BANCÁRIA 17.04.75 17.01.45
15.09.54 BANCO REAL DO 19.12.68 PARANÁ S.A. NORTE DO PARANÁ S.A.
CIRCULADORA DE CRÉDIT O
PROGRESSO S.A. (14.09.42) (10.03.29)
(28.07.52)

Incorp. BANCO METROPOLITANO DE


11.06.55
SÃO PAULO S.A.
(27.11.52)
Alt. Den. Incorp. Alt. Den. Incorp.
BANCO AGRÍCOLA NACIONAL BANCO M ERCANTIL E
11.06.64 BANCO AGRÍCOLA NACIONAL 13.10.67 20.06.70 BANCO BAMERINDUS DE SÃO 15.04.71
COOPERAT IVA INDUSTRIAL DE SÃO PAULO
S.A. PAULO S.A.
(01.01.61) S.A.
Incorp. Alt. Den. Alt. Den.
CASA BANCÁRIA SÃO
21.12.73 BANCO DE SÃO CAETANO DO 30.08.51 CASA BANCÁRIA DE SÃO 06.10.47
CAETANO LTDA.
SUL S.A. CAETANO S.A.
(26.08.43)
Alt. Den. Alt. Den. Incorp.
BANCO COMERCIAL E BANCO MERCANT IL E
19.12.63 BANCO MERCANTIL E 09.03.67 15.04.71
INDUSTRIAL DO BRASIL S.A. INDUSTRIAL DO RIO DE
INDUST RIAL DO BRASIL S.A. Incorp. Alt. Den.
(05.08.37) JANEIRO S.A. CASA BANCÁRIA VICENTE
03.01.70 BANCO VICENT E FIORILLO 01.01.63
FIORILLO
S.A.
(01.01.46)

Alt. Den. Alt. Den. Incorp.


BANCO COST A MONTEIRO E BANCO MERCANT IL E
23.10.50 BANCO COSTA MONTEIRO 01.07.61 13.10.67
CIA. LTDA. INDUST RIAL DO RIO DE Incorp. Alt. Den.
S.A. CASA BANCÁRIA NACIONAL
31.05.67 BANCO NACIONAL DO RIO DE 25.08.59
(15.04.32) JANEIRO S.A. S.A.
JANEIRO S.A.
(23.11.36)

Incorp.
COOPERATIVA BANCO Incorp. BANCO COMERCIAL E BANCO BAMERINDUS DO BRASIL
24.08.70
HIPOTECÁRIO DO BARRETO HIPOTECÁRIO DE CAMPOS Incorp.
Sociedade Anônima TABAJARA S.A.
LT DA. S.A. (09.10.1872) 17.04.75
ADMINIST RAÇÃO E
EMPREENDIMENTOS

Alt. Den. Alt. Den. Incorp.


BANCO MERCANTIL E Incorp. Alt. Den. Alt. Den. Alt. Den.
30.04.59 BANCO NACIONAL DA 29.05.67 27.02.70 CASA BANCÁRIA ALFREDO
CASA BANCÁRIA LIBERAL S.A. INDUSTRIAL DO NORDEST E 30.09.83 06.10.74 BANCO FINANCIAL DE M ATO 30.03.51 CASA BANCÁRIA FINANCIAL 19.06.41
INDÚSTRIA E COMÉRCIO S.A. BANCO FINANCIAL S.A. ZANLUTTI
(12.06.56) S.A. GROSSO S.A. LTDA.
(31.01.38)

Alt. Den. Incorp.


17.08.66 22.11.69
CASA BANCÁRIA MARINHO BANCO VAZ S.A. Incorp. Alt. Den.
09.08.54
CASA BANCÁRIA TOCANTINS
(01.01.55) 07.08.84
BANCO DAS NAÇÕES S.A. S.A.
(05.02.47)

Alt. Den. Alt. Den. Incorp.


CIA. DE ADMINIST RAÇÃO 08.01.38 01.01.45
BANCO DE ADMINIST RAÇÃO BANCO DA ADMINISTRAÇÃO 07.08.84 PABREU UNIÃO
GARANTIDA BAHIANA
GARANTIDA - BAHIANA S.A. EM PRESARIAL S.A.
(29.06.15)

CASA BANCÁRIA Fusão Incorp.


Incorp. Cisão Parcial
THEMISTOCHES DA ROCHA 14.12.70 BANCO BAMERINDUS DO 01.06.72
04.12.67 30.11.88
COSTA BANCO DO PAÍS BANCO F. BARRETT O S.A.
NORDESTE S.A.
(01.01.43) (04.02.49)

Alt. Den. Incorp.


BANCO DE CRÉDIT O Incorp. Alt. Den.
CASA BANCÁRIA POPULAR 22.06.53 11.06.66 BANCO DE CRÉDITO DA BAMERINDUS S.A. CAMPOS GERAIS S.A.
URBANA BANCÁRIA LTDA. POPULAR DA BAHIA S.A. 28.04.89 25.10.69
LTDA. BAHIA S.A. FINANCIAMENTO, CRÉDITO E FINANCIAMENTO, CRÉDITO E
(01.01.56) INVEST IMENTOS INVESTIMENT OS (24.03.65)

Incorp. Incorp. Alt. Den.


CASA BANCÁRIA CIDADE DE BANCO CIDADE DE BANCO COMÉRCIO E 08.08.66 BANCIAL S.A. CRÉDITO, CREFIPAR S.A. CRÉDIT O
01.04.75 12.02.71
SALVADOR SALVADOR S.A. INDÚST RIA DA BAHIA S.A. FINANCIAM ENTO E FINANCIAMENT O E
INVEST IMENT OS INVEST IMENT O (10.03.65)
Incorp. Incorp.
01.01.69 28.04.89 Incorp.
FIPAR S.A. FINANCIADORA DO
BAMERINDUS S.A. CRÉDIT O 09.02.74
PARANÁ - CRÉD. FINANC. E CIA. FINANCEIRA DE
CAIXA ECONÔM ICA DA BANCO AGRO-MERCANTIL BANCO AGRO-MERCANT IL DE IMOBILIÁRIO
CAIXA COM ERCIAL S.A. INVESTIM ENTOS (27.11.64) INVESTIM ENTOS-CONFINANCE
CIDADE DE MACEIÓ S.A. ALAGOAS S.A. (29.01.69)
-CREDITO E FINANC.(04.10.52)
Incorp. Alt. Den.
AURORA S.A. INVEST IMENT O,
28.04.89 BANCO BAMERINDUS DE 30.06.69
Alt. Den. Incorp. CRÉDITO E FINANCIAMENTO
CASA BANCÁRIA LLOYOT 20.06.62 29.09.72 INVESTIMENTO S.A.
BANCO BRASILEIRO DA (27.05.60) FINASA-PR-SC -
PORTUGUÊS LT DA.
INDÚST RIA E COMÉRCIO S.A. FINANCIAMENT O, CRÉDITO E
(01.01.43)
Fusão
INVESTIM ENTO (21.03.61)
Incorp.
26.08.71
Alt. Den. Alt. Den. 03.04.75 BANCO BANCIAL DE
Incorp.
CASA BANCÁRIA EXCELSIOR 26.05.43 27.12.60 BANCO MERCANTIL E 11.12.70 INVESTIMENT OS S.A. PARFISA S.A. CRÉDITO,
LT DA. BANCO EXCELSIOR LTDA. INDUSTRIAL DE SANTA FINANCIAMENT O E
(26.05.43) CATARINA S.A. Alt. Den. INVEST IMENT O (19.05.65)
Incorp. CREFISUL RIO S.A. CRÉDITO
29.02.88 BAM ERINDUS RIO CIA. DE 30.09.77
IMOBILIÁRIO
CRÉDITO IMOBILIÁRIO
Alt. Den. Incorp. (22.08.67)
BANCO INDUST RIAL E 31.10.68 BANCO M ERCANTIL E
11.12.70 PARANACREDIT O S.A.
CASA BANCÁRIA GERMANO COMÉRCIO DA GUANABARA INDUSTRIAL DO RIO GRANDE
Incorp. Alt. Den. FINANCIAM ENTO, CRÉDIT O E
S.A. DO SUL S.A. (22.03.43) 30.09.77 CREFISUL SP S.A. CRÉDITO
29.02.88 BAM ERINDUS S. PAULO CIA. INVEST IMENT OS (02.08.65)
IM OBILIÁRIO
DE CRÉDIT O IM OBILIÁRIO
Alt. Den. Incorp. (28.06.67)
BANCO NACIONAL DE 15.06.62 26.08.65
BANCO NACIONAL DE
CRÉDIT O LTDA.
CRÉDITO S.A. Alt. Den.
(22.03.43) Incorp. BAMERINDUS 30.04.79 SOMA CRÉDITO IMOBILIÁRIO
29.02.88 CENTRO-OESTE S.A. S.A.
Alt. Den. Incorp. CRÉDIT O IM OBILIÁRIO (16.01.78)
CASA BANCÁRIA FRANCISCO 18.01.52 14.10.69
BANCO FRANCISCO T ELLES
TELLES
S.A. Incorp.
(01.01.12) APEPAR-ASSOCIAÇÃO DE
BANCO MERIDIONAL DA Alt. Den. Alt. Den. 19.06.86
POUPANÇA E EMPRÉSTIMO

Alt. Den. Incorp.


PRODUÇÃO S.A.
(06.04.43)
23.09.52 BANCO MERCANT IL E
INDUSTRIAL DO PARANÁ S.A.
19.02.71
PARANAENSE (20.05.68) P o s iç ã o A c io n á r ia e m : 1 9 .0 1 .9 8
CASA BANCÁRIA LOTHAR
STHENT HAL LTDA.
10.03.62
BANCO TIBAGI S.A.
31.08.70 30.09.94
(13.04.55)
BPE - Administração Societária Nível de Qualidade 04/05 Atualizado: 24/10/94
Rogério/José Luiz - Fone: (041) 321 - 6228 g:\transfer\societar\organogr\INCORP.GFC
677

ANEXO D - RELAÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS – (1945-2003)


Quadro Anexo-2: Relação dos partidos políticos brasileiros – (1945-2003)
Sigla Denominação Período
Arena Aliança Renovadora Nacional 1965-79
MDB Movimento Democrático Brasileiro 1965-79
PAN Partido dos Aposentados da Nação
PC do B Partido Comunista do Brasil
PCB Partido Comunista Brasileiro
PCO Partido da Causa Operária
PDC Partido Democrata Cristão 1945-65
PDC Partido Democrático Cristão (Fusão com PDS e Criação do PPR)
PDS Partido Democrático Social (Fusão com PDS e Criação do PPR)
PDT Partido Democrático Trabalhista
PFL Partido da Frente Liberal
PH Partido Humanista
PHS Partido Humanista da Solidariedade (Antigo PSN)
PJ Partido da Juventude
PL Partido Liberal
PMB Partido Municipalista Brasileiro
PMC Partido Municipalista Comunitário
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PMN Partido da Mobilização Nacional
PND Partido Nacionalista Democrático
PP Partido Popular
PP Partido Progressista (Antigo PPB)
PPB Partido Progressista Brasileiro
PPR Partido Progressista Reformador (Fusão com PP e formação do PPB)
PPS Partido Popular Socialista- (Antigo PCB)
PR Partido Republicano 1945-65
PRN Partido da Reconstrução Nacional
Prona Partido de Reedificação da Ordem Nacional
PRP Partido Republicano Progressista
PRTB Partido Renovador Trabalhista Brasileiro
PS Partido Social Democrático
PSB Partido Socialista Brasileiro
PSC Partido Social Cristão
PSD Partido Social Democrático 1945-65
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
PSDC Partido Social Democrata Cristão
PSL Partido Social Liberal
PSN Partido Solidarista Nacional
PSP Partido Social Progressista 1945-65
PST Partido Social Trabalhista
PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado
PT Partido dos Trabalhadores
PT do B Partido Trabalhista do Brasil
PTB Partido Trabalhista Brasileiro 1945-65
PTB Partido Trabalhista Brasileiro
PTC Partido Trabalhista Cristão (Antigo PRN)
PTN Partido Trabalhista Nacional
PTN Partido Trabalhista Nacional 1945-65
PTR Partido Trabalhista Renovador
PV Partido Verde
UDN União Democrática Nacional 1945-65
Fonte: Lepre (2000), Oliveira (1998) e TSE (2004).
Nota: Quando o período estiver em branco significa que o partido foi criado após 1979.
678

ÍNDICE ANALÍTICO

VOLUME I

1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................1
1.1 A TESE ...........................................................................................................................................4
1.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .........................................................................................11
1.2.1 . REDES SOCIAIS, POLÍTICAS E CORPORATIVAS. ......................................................................12
1.2.2 . APLICANDO A METODOLOGIA DE REDES SOCIAIS..................................................................16
1.2.3 . FONTES DE PESQUISA ............................................................................................................20

2 CAPÍTULO I: INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS E O PODER NO


CAPITALISMO FUNDAMENTOS TEÓRICOS ......................................................................23
2.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................................23
2.2 GRAMSCI E AS REDES SOCIAIS ...................................................................................................23
2.2.1 . REDES POLÍTICAS ..................................................................................................................24
2.2.2 . REDE CORPORATIVA, INTERCORPORATIVAS OU TRANSCORPORATIVAS ...............................32
2.3 CAPITAL FINANCEIRO ................................................................................................................36
2.4 HEGEMONIA FINANCEIRA ..........................................................................................................45
2.4.1 . O MUNDO POLÍTICO E A HEGEMONIA FINANCEIRA ................................................................51
2.4.2 . DISCURSO IDEOLÓGICO E A HEGEMONIA FINANCEIRA ..........................................................52
2.5 GRUPOS ECONÔMICOS................................................................................................................54
2.5.1 . O GRUPO BAMERINDUS .........................................................................................................60
2.6 ELITES ORGÂNICAS.....................................................................................................................62
2.7 ORGANIZAÇÃO CORPORATIVA ..................................................................................................68
2.8 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES.............................................................................................72

3 CAPÍTULO II: O SISTEMA FINANCEIRO.............................................................................75


3.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................................75
3.2 O SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL ................................................................................75
3.2.1 . A HEGEMONIA INGLESA (1816-1914)....................................................................................76
3.2.1.1 . Estados Unidos da América do Norte (EUA) .............................................................78
3.2.2 . O INTERGUERRAS (1918 – 1943) ...........................................................................................80
3.2.3 . BRETTON WOODS (1944-1970) .............................................................................................81
3.2.4 . A MUNDIALIZAÇÃO FINANCEIRA (1971 – 1994)....................................................................82
3.2.5 . DÍVIDA PÚBLICA ....................................................................................................................88
3.2.6 . BANCOS .................................................................................................................................89
3.3 ANÁLISES E INTERPRETAÇÕES...................................................................................................91
3.4 PARTE II: O SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO ......................................................................95
3.4.1 . PERÍODO: 1808 A 1979 .........................................................................................................95
3.4.2 . PERÍODO 1980 - 1994 .........................................................................................................104
3.4.2.1 . Planos econômicos ....................................................................................................111
3.4.2.2 . O Plano Real e a reforma do sistema bancário..........................................................122
3.4.2.2.1 Receitas inflacionárias........................................................................................122
3.4.2.2.2 Estrutura de agências..........................................................................................127
3.4.2.2.3 Tarifas.................................................................................................................129
3.4.2.2.4 Bancários............................................................................................................129
3.4.2.2.5 Febraban .............................................................................................................130
3.4.3 . UMA BREVE REVISÃO DOS ANOS 1995 A 1997...................................................................132
3.5 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES ...........................................................................................135
679

4 CAPÍTULO III: A FAMÍLIA VIEIRA E O BAMERINDUS ................................................137


4.1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................................137
4.2 A FAMÍLIA VIEIRA E AS CONEXÕES POLÍTICAS DO BAMERINDUS (DAS ORIGENS
ATÉ 1981)...................................................................................................................................138
4.2.1 . OS AVÓS DE JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA .............................................................138
4.2.1.1 . Miguel Antun ou Miguel Antônio Vieira..................................................................138
4.2.1.2 . Joaquim Martins de Andrade ....................................................................................139
4.2.2 . AVELINO ANTÔNIO VIEIRA E SUA FAMÍLIA .....................................................................140
4.3 O BANCO POPULAR E AGRÍCOLA DO NORTE PARANÁ (BPANP)............................................145
4.3.1 . ATALAIA CIA DE SEGUROS..................................................................................................148
4.3.2 . O PROCESSO POLÍTICO PARANAENSE...................................................................................149
4.4 O BANCO COMERCIAL DO PARANÁ .........................................................................................152
4.4.1 . O LUPIONISMO – PARTE I ....................................................................................................154
4.4.2 . A SAÍDA DO GRUPO DE AVELINO VIEIRA DO BANCIAL .......................................................160
4.5 O BANCO MERCANTIL E INDUSTRIAL DO PARANÁ ................................................................164
4.5.1 . O CAFÉ DO PARANÁ ...........................................................................................................168
4.5.2 . A FORMAÇÃO DO GRUPO BAMERINDUS (1952-1981) ......................................................170
4.5.2.1 . O período Othon Mäder (1952-1968) ....................................................................170
4.5.2.1.1 O Bancial............................................................................................................171
4.5.2.1.2 O banco e a política no período Othon Mäder (1952 a 1968) ............................171
Othon Mäder................................................................................................171
Bento Munhoz da Rocha Netto ...................................................................173
O Lupionismo – parte II ..............................................................................174
O Neísmo - Parte I (1952 – 1967) ...............................................................175
Jayme Canet Júnior ........................................................................ 177
Affonso Alves de Camargo Netto.................................................. 178
Aníbal Khury.................................................................................. 179
4.5.2.2 . O período Avelino Antônio Vieira (1969 – 1974) .................................................182
4.5.2.2.1 O banco e a política no período Avelino Vieira (1969 a 1974)..........................187
Accioly Filho ...............................................................................................188
O Neísmo - parte II (1968 – 1973) ..............................................................189
4.5.2.3 . O período Tomaz Edison de Andrade Vieira (1974 - 1981) ................................190
A incorporação do grupo Bancial ................................................................191
4.5.2.3.1 O banco e a política no período Tomaz Edison (1974 a 1981) ..........................194
O Neísmo - parte III (1974-1981)................................................................194
Jayme Canet Júnior ........................................................................ 194
Affonso Camargo Netto ................................................................. 195
João Elísio Ferraz de Campos........................................................ 196
4.5.2.4 . Evolução do Grupo Bamerindus (1976 - 1981).....................................................198
4.5.2.5 . As sucessões no Bamerindus ..................................................................................201
4.5.2.5.1 Luiz Antônio de Andrade Vieira ........................................................................201
4.5.2.5.2 Cláudio Enoch de Andrade Vieira......................................................................201
4.5.2.5.3 Tomaz Edison de Andrade Vieira ......................................................................202
O acidente aéreo ..........................................................................................202
4.5.2.5.4 Maria Christina de Andrade Vieira ....................................................................205
4.6 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES ...........................................................................................206

VOLUME II

5 CAPÍTULO IV - O GRUPO BAMERINDUS (1981 – 1994)...................................................210


5.1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................................210
5.2 O GRUPO BAMERINDUS (1981 – 1994).....................................................................................210
5.2.1 . A COMPOSIÇÃO DO GRUPO BAMERINDUS .......................................................................211
680

5.2.2 . AS SEGURADORAS DO BAMERINDUS (1981 A 1994) .........................................................222


5.2.2.1 . O caso Léo - Banestado versus Bamerindus .............................................................224
5.2.2.2 . Requião e o Bamerindus ...........................................................................................225
5.2.2.3 . Análise de desempenho da BCS ...............................................................................227
5.2.3 . INDÚSTRIA DE PAPEL E CELULOSE ARAPOTI S.A. (INPACEL) ........................................227
5.2.3.1 . Os problemas da Inpacel ...........................................................................................232
5.2.3.1.1 Dívida e política .................................................................................................235
5.2.3.1.2 O Bacen e a Inpacel............................................................................................236
5.2.3.2 . Copel e a Usina de Segredo ......................................................................................237
5.2.4 . EMPRESAS DE COMUNICAÇÃO ..........................................................................................238
5.2.4.1 . A Folha de Londrina / Folha do Paraná ....................................................................239
5.2.4.2 . CNT - Central Nacional de Televisão .......................................................................240
5.2.5 . O BAMERINDUS E AS PRIVATIZAÇÕES ..............................................................................243
5.2.5.1 . Usina Siderúrgica de Minas Gerais – Usiminas........................................................245
5.2.5.2 . Companhia Petroquímica do Sul - Copesul ..............................................................246
5.2.5.3 . Fertilizantes Fosfatados S.A. - Fosfértil....................................................................246
5.2.5.4 . Companhia Siderúrgica Nacional CSN.....................................................................246
5.2.5.4.1 O Grupo Vicunha e a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) ..........................250
5.2.5.5 . Bancos, privatizações e o Bacen. ..............................................................................251
5.2.6 . AGRONEGÓCIOS E O BAMERINDUS ...................................................................................252
5.2.6.1 . Conflitos no campo ...................................................................................................254
5.2.6.1.1 A Fazenda Bamerindus ......................................................................................254
5.2.6.1.2 Trabalho escravo. ...............................................................................................255
5.2.6.1.3 Terras indígenas .................................................................................................257
5.3 O BANCO BAMERINDUS (1981 – 1994).....................................................................................258
5.3.1 . INTRODUÇÃO ......................................................................................................................258
5.3.2 . INCORPORAÇÕES DE BANCOS ............................................................................................258
5.3.2.1 . Banco das Nações .....................................................................................................260
5.3.3 . ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA..................................................................................261
5.3.3.1 . A amostra.................................................................................................................261
5.3.3.1.1 Qualidade das informações ................................................................................262
Os registros contábeis do Bamerindus ............................................................266
5.3.3.2 . Análise da amostra dos bancos ..............................................................................267
5.3.3.3 . O Banco Bamerindus ..............................................................................................270
5.3.3.3.1 Planos de estabilização econômica.....................................................................270
5.3.3.3.2 Investimentos .....................................................................................................274
O Open Bamerindus (OB) e o Overnight ....................................................278
Títulos públicos........................................................................... 278
Mercado Aberto (Overnight e Open Market) ............................. 279
Empréstimos e Financiamentos ...................................................................280
A crise de liquidez do Banco Bamerindus.................................. 282
Grupo CCN - Cia. Comércio e Navegação.............................. 284
Estaleiro Mauá - Companhia Comércio e Navegação - CCN . 285
Mário Davi Andreazza............................................................. 286
Gerenciamento da crise............................................................ 286
O Crédito Imobiliário............................................................... 288
Plano Cruzado .............................................................................................289
Plano Real....................................................................................................289
5.3.3.3.3 Estrutura de Capital ............................................................................................289
Depósitos .....................................................................................................291
Conta Remunerada Bamerindus (CRB)...................................... 292
A CRB e sua margem de contribuição..................................... 294
Alguns resultados..................................................................... 295
O endividamento: Capital de Terceiros – Empréstimos (K3)......................296
Patrimônio Líquido......................................................................................297
681

5.3.3.3.4 Rentabilidade......................................................................................................301
As Agências....................................................................................................303
O Plano Real .................................................................................. 307
Os empregados ..............................................................................................308
Plano Real ...................................................................................... 311
Custos das agência e “débitos ilegais”........................................... 312
5.3.3.3.5 Tecnologia: processamento de dados e telecomunicações .................................313
5.3.4 . A INTERNACIONALIZAÇÃO DO BAMERINDUS ..................................................................317
5.3.4.1 . Fraude na Carteira de Câmbio do Bamerindus .........................................................318
5.3.4.2 . Os anos 1990.............................................................................................................320
5.3.4.3 . Mercosul - Mercado Comum do Sul.........................................................................322
5.3.4.4 . Sócios e parceiros estrangeiros .................................................................................324
5.3.4.4.1 Midland Bank .....................................................................................................324
O Bamerindus e o Midland Bank....................................................................327
5.3.4.5 . HSBC - The Hongkong and Shanghai Banking Corporation ...................................328
Os negócios do Bamerindus com o HSBC .....................................................330
5.3.5 . SÍNTESE DO DESEMPENHO GERAL DO BANCO BAMERINDUS ..........................................332
5.3.5.1 . Análise de volume.....................................................................................................333
5.3.5.2 . Análise de desempenho.............................................................................................334
5.3.5.2.1 O Coopercap.......................................................................................................337
5.4 O PODER NO GRUPO BAMERINDUS (1981 - 1994)...................................................................338
5.4.1 . INTRODUÇÃO ......................................................................................................................338
5.4.2 . A ESTRUTURA DE PODER ...................................................................................................339
5.4.2.1 . José Eduardo de Andrade Vieira...............................................................................339
5.4.2.2 . Núcleo Estratégico ....................................................................................................346
5.4.2.2.1 A Elite Bamerindus ............................................................................................348
Os gerentes.....................................................................................................352
José Márcio Peixoto ....................................................................... 352
Jair Jacob Mocelin ......................................................................... 353
Ottorino Marini .............................................................................. 354
Hamílcar Pizzatto........................................................................... 355
Mauricio Schulman ........................................................................ 356
Os Políticos.......................................................................................... 359
João Elísio Ferraz de Campos........................................................ 359
Basílio Villani ................................................................................ 359
Maria Christina de Andrade Vieira................................................ 360
5.5 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES...........................................................................................360

6 CAPÍTULO V: A REDE POLÍTICA BAMERINDUS (1981 – 1994) ....................................364


6.1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................................364
6.2 A HISTÓRIA POLÍTICA BRASILEIRA DO PERÍODO 1981 A 1994.............................................364
6.2.1 . O PARTIDO POPULAR (PP)...................................................................................................365
6.2.2 . A SUCESSÃO DE JOÃO FIGUEIREDO .....................................................................................368
6.2.3 . A NOVA REPÚBLICA ............................................................................................................370
6.2.4 . A ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE .........................................................................372
6.2.5 . A CAMPANHA PRESIDENCIAL DE 1989 ................................................................................373
6.2.6 . A SUCESSÃO DE FERNANDO COLLOR DE MELLO ................................................................376
6.2.7 . A CAMPANHA PRESIDENCIAL DE 1994 ................................................................................380
6.3 A REDE POLÍTICA BAMERINDUS (RPB) (1981 A 1994)..........................................................384
6.3.1 . INSTITUIÇÕES QUE INTEGRARAM A REDE POLÍTICA BAMERINDUS ...............................390
6.3.1.1 . Partidos Políticos.....................................................................................................390
6.3.1.1.1 PTB - Partido Trabalhista Brasileiro ..................................................................394
6.3.1.1.2 Instituto Liberal do Paraná (IL-PR)....................................................................399
6.3.1.1.3 Associação Comercial do Paraná (ACP) e o Bamerindus..................................401
682

GEC - Grupo de Empresários de Curitiba................................................402


A gestão de Werner Schrappe (1990–1992). ...........................................404
A gestão de Maria Christina de A. Vieira(1992-1 994). ..........................404
6.3.2 . PESSOAS QUE INTEGRARAM A REDE POLÍTICA BAMERINDUS........................................407
6.3.2.1 . Conexões da rede com a política nacional.............................................................407
6.3.2.1.1 Mário Davi Andreazza .......................................................................................407
6.3.2.1.2 Affonso Camargo ...............................................................................................409
6.3.2.1.3 José Eduardo de Andrade Vieira ........................................................................412
6.3.2.2 . Conexões da rede com a política paranaense........................................................421
6.3.2.2.1 Jayme Canet Jr ...................................................................................................421
6.3.2.2.2 Brazílio de Araújo Netto ....................................................................................423
6.3.2.2.3 Ney Braga...........................................................................................................424
6.3.2.2.4 José Richa...........................................................................................................425
6.3.2.2.5 João Elísio Ferraz de Campos ............................................................................428
6.3.2.2.6 Belmiro Valverde Jobim Castor .........................................................................430
6.3.2.2.7 Roberto Requião.................................................................................................431
6.3.2.2.8 Álvaro Fernandes Dias .......................................................................................433
6.3.2.2.9 Ary Veloso Queiroz............................................................................................435
6.3.2.2.10 José Carlos Gomes de Carvalho - Carvalhinho..................................................436
6.3.2.2.11 Jaime Lerner .......................................................................................................439
6.3.2.2.12 José Carlos Martinez ..........................................................................................441
6.3.2.2.13 Basílio Villani ....................................................................................................443
6.3.2.3 . Alguns adversários ..................................................................................................445
6.3.2.3.1 Léo de Almeida Neves .......................................................................................445
6.3.2.3.2 Paulo Pimentel....................................................................................................446
6.3.2.3.3 Tony Garcia (PRN) ............................................................................................447
6.3.2.3.4 Tadeu França (PDT)...........................................................................................448
6.3.2.3.5 Maurício Fruet (PSDB, PCB e PC do B). ..........................................................449
6.3.2.3.6 Waldyr Pugliesi (PMDB, PMN. PT do B). ........................................................449
6.3.2.3.7 O governo Requião.............................................................................................449
6.4 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES...........................................................................................452

VOLUME III

7 CAPÍTULO VI: O BANQUEIRO E POLÍTICO JOSÉ EDUARDO DE


ANDRADE VIEIRA. (1990 A 1994) ..........................................................................................457
7.1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................................457
7.2 A AÇÃO POLÍTICA DO BANQUEIRO JOSÉ EDUARDO DE ANDRADE VIEIRA ..........................458
7.2.1 . CAMPANHA ELEITORAL PARA O SENADO DE 1990 ..........................................................458
7.2.1.1 . O “Zé do Chapéu”...................................................................................................462
7.2.1.1.1 A máquina de propaganda do Bamerindus.........................................................466
7.2.1.1.2 A definição dos candidatos.................................................................................469
7.2.1.1.3 A campanha para o Senado ................................................................................471
Tiroteio na campanha......................................................................................474
“Dinheirindus” ................................................................................................475
Fazenda Bamerindus.......................................................................................477
Terras indígenas ..............................................................................................479
O final da campanha .......................................................................................479
Análise do discurso de campanha ...................................................................481
7.2.1.1.4 Acordos do segundo turno..................................................................................482
7.2.2 . SENADOR E MINISTRO (1991-1993) ..................................................................................485
7.2.2.1 . O senador (1º fev. 1991 a 18 out. 1992)....................................................................485
7.2.2.2 . O ministro da Indústria, Comércio e Turismo (MICT) (19 out. 1992 a
23 dez. 1993).............................................................................................................495
683

7.2.2.2.1A crise do Imposto sobre Transações Financeiras (ITF)....................................497


7.2.2.2.2A reforma ministerial .........................................................................................498
7.2.2.2.3O ministro e o Paraná .........................................................................................501
7.2.2.2.4O Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma
Agrária. ...........................................................................................................503
7.2.2.2.5 A saída do MICT................................................................................................509
7.2.2.2.6 Os conflitos entre JE e a área econômica do governo Itamar.............................513
7.2.3 . SUCESSÃO PRESIDENCIAL DE 1994 ...................................................................................515
7.2.3.1 . A campanha eleitoral ................................................................................................534
7.2.3.2 . Formação do governo FHC.......................................................................................540
7.2.3.3 . O Ministério da Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária. ............................544
7.3 OS ÚLTIMOS ANOS DO BAMERINDUS (1995 A 1997) ..............................................................551
7.3.1 . O HSBC...............................................................................................................................562
7.4 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES...........................................................................................563

8 SÍNTESE, ANÁLISE E CONCLUSÕES FINAIS....................................................................567

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................584
FONTE: PERIÓDICOS ..........................................................................................................................610
FONTE: DOCUMENTOS INTERNOS DO BAMERINDUS .........................................................................633

GLOSSÁRIO ......................................................................................................................................635

APÊNDICES.......................................................................................................................................636
APÊNDICE A - LINHA DO TEMPO.......................................................................................................636
APÊNDICE B - BANCO DE DADOS ECONÔMICO-FINANCEIROS DA AMOSTRA DE
BANCOS BRASILEIROS...............................................................................................656
APÊNDICE C - RELAÇÃO DAS ATIVIDADES NO SENADO FEDERAL. ..................................................658
APÊNDICE D - TABELA DE CARGOS ..................................................................................................661
APÊNDICE E - CÓDIGOS DE EMPRESAS .............................................................................................662
APÊNDICE F - INTERVENÇÕES DO BACEN .........................................................................................663
APÊNDICE G - QUANTIDADE DE INTERVENÇÕES DO BACEN ............................................................664
APÊNDICE H - HISTÓRIA DO HSBC - THE HONGKONG AND SHANGHAI BANKING
CORPORATION LIMITED ............................................................................................665
PRINCIPAIS MEMBROS DO GRUPO HSBC...........................................................665
OS INTERESSES DO GRUPO NA ÁSIA ...................................................................666
O HSBC NA EUROPA ..........................................................................................667
OS INTERESSES NO ORIENTE MÉDIO ..................................................................668
O GRUPO HSBC NAS AMÉRICAS ........................................................................669
Marine Midland Bank ..............................................................................669
América Latina.........................................................................................670
APÊNDICE I - CAPA DO PROJETO DE PESQUISA EM 2002 ..................................................................672
APÊNDICE J - CAPA DO PROJETO DE PESQUISA EM 2003 ..................................................................673

ANEXOS .............................................................................................................................................674
ANEXO A - ETAPAS DA EMERGÊNCIA DAS FINANÇAS DE MERCADO MUNDIALIZADAS ..................674
ANEXO B - FORMAÇÃO DO GRUPO BAMERINDUS ............................................................................675
ANEXO C - GENEALOGIA DO GRUPO BAMERINDUS .........................................................................676
ANEXO D - RELAÇÃO DOS PARTIDOS POLÍTICOS BRASILEIROS – (1945-2003)................................677

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