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OPERAÇÕES APLICADAS NA SEGURANÇA PÚBLICA

PROFESSOR ESP. KLEBER MARTINS FERREIRA

CAPÍTULO I: CONCEITOS E ORIGENS DA POLÍCIA

Antes de iniciarmos o estudo propriamente dito da nossa disciplina, é de suma importância a


compreensão de alguns conceitos e distinções inerentes a um gestor de Segurança Pública. Tais
conhecimentos têm uma conexão direta com o curso em questão, pois alicerçam e facilitam o
entendimento de conceitos e definições quase que onipresentes na área de Segurança Pública.
Também, veremos a origem da polícia e seu modus operandi no decorrer dos tempos, de modo a
manter o foco nas instituições brasileiras.

1. CONSTITUIÇÃO

A constituição ou Carta Magna é um conjunto de regras de um governo, muitas vezes codificada


como um documento escrito, que enumera e limita os poderes e funções de uma entidade política. Essas
regras formam, ou seja, constituem o que a entidade é. No caso dos países e das regiões autônomas dos
países, o termo se refere especificamente a uma constituição que define a política fundamental, princípios
políticos, e estabelece uma estrutura, procedimentos, poderes e direitos de um governo. Ao limitar o
alcance do próprio governo, a maioria das constituições garantem certos direitos para o povo. O termo
constituição pode ser aplicado a qualquer sistema global de leis que definem o funcionamento de um
governo, incluindo várias constituições históricas não codificadas que existiam antes do desenvolvimento
de modernas constituições codificadas.
Uma constituição se aplica a diferentes níveis de organização política. Eles existem em nível
nacional (por exemplo, a codificada Constituição do Canadá, a não codificada Constituição do Reino
Unido), regional (a Constituição do Rio de Janeiro) e, às vezes, em níveis mais baixos (municipal,
distrital, etc). Ela também define os vários grupos políticos e outros, como partidos políticos, grupos de
pressão e sindicatos. Pode também ocorrer a formulação de uma constituição supranacional (por exemplo,
se propôs a Constituição da União Europeia). A tradicional soberania absoluta das nações modernas
assumiu uma constituição que é frequentemente limitada pela ligação internacional dos tratados como a
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, e a Convenção Europeia dos Direitos do Homem, que
vincula os 47 países membros do Conselho da Europa.
A teoria constitucional moderna (técnica específica de limitação do poder com fins garantistas,
segundo a definição do constitucionalista português J.J. Gomes Canotilho) tem a sua origem nas
Revoluções Estadunidense e Francesa, coincidindo com a positivação dos direitos fundamentais.
A constituição rígida situa-se no topo da pirâmide normativa, recebe nomes como Lei
Fundamental, Lei Suprema, Lei das Leis, Lei Maior ou Magna Carta.
A constituição é elaborada pelo poder denominado constituinte originário ou primário (cujo poder
é, segundo a teoria clássica hoje questionada, soberano e ilimitado) e nos países democráticos é exercido
por uma Assembleia Constituinte.
A reforma (revisão ou emenda) da constituição é feita pelo denominado poder constituinte
derivado reformador. O poder reformador é derivado, condicionado e subordinado à própria constituição,
enfim é limitado pela vontade soberana do poder constituinte originário. Se for uma constituição escrita e
rígida, exigirá procedimentos mais difíceis e solenes para elaboração de emendas constitucionais do que
exige para a criação de leis ordinárias.

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Muitas constituições proíbem a abolição do conteúdo de algumas normas consideradas
fundamentais (núcleo intangível).
A Constituição da Índia é a constituição mais longa escrita de qualquer país soberano do mundo,
contendo 448 artigos e 94 emendas com 117.369 palavras em sua versão na língua inglesa.

1.1. CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA

A constituição brasileira (cuja atual foi promulgada em 1988) é conhecida por possuir núcleos
intangíveis denominadas cláusulas pétreas, sendo previstas pelo artigo 60 da CF/88 (implicitamente
irreformável), o qual também prevê além das cláusulas pétreas (limitações materiais), limitações
circunstanciais e formais. Dentre as cláusulas pétreas, podemos citar os artigos 1º (fundamentos da
República Federativa do Brasil), 3º (objetivos de nossa sociedade), 5º (garantias e direitos fundamentais e
invioláveis), 6º (elenca um grupo de direitos mínimos - piso vital mínimo - sem os quais o ser humano no
Brasil não se desenvolve plenamente), 170 (atividade econômica), 225 (Meio Ambiente), etc.
Nos estados federativos, além da Constituição Federal, temos constituições de cada estado
federado, subordinadas às previsões da Constituição Federal. É o poder constituinte derivado decorrente.
A principal garantia dessa superioridade (supremacia, primazia) das constituições rígidas são os
mecanismos de controle de constitucionalidade, que permitem afastar num caso concreto a aplicação de
uma norma incompatível com texto constitucional (controle difuso) ou anulá-las quando uma norma, em
tese, violar a constituição (controle concentrado).
As demais normas jurídicas (ditas infraconstitucionais) devem estar em concordância com a
constituição, não podendo contrariar as exigências formais impostas pela própria constituição para a
edição de uma norma infraconstitucional (constitucionalidade formal) nem o conteúdo da constituição
(constitucionalidade material).
Entidades não políticas, como corporações e associações, incorporadas ou não, têm muitas vezes
que é efetivamente uma constituição, muitas vezes chamado de memorandos e estatutos.
A Constituição Brasileira e as diversas normas (ou leis) brasileiras se organizam da seguinte
forma:
 Preâmbulo* (apenas na Constituição)
 Título (Algarismos Romanos)
 Capítulo (Algarismos Romanos)
 Seção (Algarismos Romanos)
 Artigos (1º ao 9º, 10...) – Caput
 Incisos (Algarismos Romanos) ou Parágrafos (§1º ao 9º, 10...)
 Alíneas (a, b, c...)
*Preâmbulo: é o "enunciado solene do espírito de uma Constituição, do seu conteúdo ideológico e
do pensamento que orientou os trabalhados da assembleia nacional constituinte". Em sentido comum
significa introdução, como já foi respondido acima.
Em se tratando de ordenação entre os itens acima descritos, “incisos”, “parágrafos” e
“alíneas” não necessariamente obedecerão sempre esta ordem.

2. SEGURANÇA PÚBLICA
Segundo uma visão reducionista e emocional existente no senso comum do povo, segurança
pública é um sinônimo de polícia. Existe ainda o entendimento deturpado, esposado até por setores

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pretensamente bem informados da população, de que polícia é sinônimo de força bruta, de truculência e
que os problemas de segurança pública, tanto nos seus aspectos de segurança individual como nos da
segurança comunitária, são de fácil solução, bastando para isso colocar mais policiais nas ruas, comprar
mais armas ou mais viaturas, ou ainda, convocar as Forças Armadas para o patrulhamento da cidade.
Evidentemente que premissas falsas conduzem a metas inatingíveis e a dose do remédio aplicado se
concentra, então, no uso puro e simples da repressão, do combate e do confronto que, pela repetição leva
à perplexidade dos esforços inúteis, do abandono da atividade preventiva, da utilização limitada da
investigação apenas para viabilizar o confronto e a sensação de impotência diante do fato consumado.
A segurança pública deve ser entendida como um grande sistema integrado, que envolve
organismos estatais e não estatais, que compreende governo e população, que estrutura nas devidas
proporções os juízos criminais, defensores, advogados e órgãos cartorários; que envolve o ministério
público e os órgãos prisionais; que compreende tanto a polícia ostensivo-preventiva como a judiciário-
investigativa. É um grande sistema que também envolve os órgãos assistenciais, a imprensa e as
instituições de ensino e religiosas; que envolve fundamental e criticamente a estrutura da família, num
esforço conjugado de prevenção primária. É sem sombra de dúvidas, um dever do estado e uma
responsabilidade difusa em toda a sociedade, cujo exercício objetiva a preservação da ordem pública, da
incolumidade das pessoas e do seu patrimônio. É também um direito a que todo cidadão deve ter acesso,
para manter incólume sua integridade física e o seu patrimônio.
Quando o preceito constitucional atribui a todos uma parcela da responsabilidade sobre a
segurança pública, essa responsabilidade então se difundiu por todas as pessoas que convivem sob a égide
desse preceito, sem que se possa nesse sistema de responsabilidade difusa, atribuir a esse ou àquele, tal ou
qual parcela de responsabilidade. Porém, tal não ocorre com o dever atribuído ao Estado para com a
segurança pública e com o seu exercício para a preservação da ordem pública. Ao estabelecer a
vinculação entre ordem e segurança, o mandamento constitucional impõe a ordem pública como objeto da
segurança pública e como estado ou situação que se deseja preservar, elencando por consequência os
órgãos envolvidos na sua execução, funções e competências.
A segurança pública é fundamentada de forma legal no artigo 144 da Constituição Federal de
1988. Mais a frente, estudaremos com mais detalhes sobre este tópico.

3. JURISDIÇÃO X CIRCUNSCRIÇÃO

Jurisdição é uma palavra que provém do latim (juris quer dizer “direito” e dicere significa
“dizer”). Significa, portanto, “dizer o direito”. É o poder do Estado para aplicar o direito (coisa abstrata)
através de um juiz de Direito, ao caso concreto, conforme a lei.
E quem possui jurisdição? Os órgãos do Poder Judiciário. Soa incorreto, portanto, quando
ouvimos uma autoridade policial dizer que está fora de sua “jurisdição”, uma vez que ela não diz o direito
e não tem jurisdição, e sim circunscrição (do latim circumscriptĭo, de onde provém o verbo
circunscrever, ou seja, “traçar limites ao redor de um ponto”), que significa a área de competência na qual
exerce sua autoridade.

4. MODELO FRANCÊS DE POLÍCIA X MODELO INGLÊS DE POLÍCIA

As polícias no Brasil são mais comumente divididas em polícia administrativa e polícia judiciária.
Tal divisão provém do modelo francês. Em 1667, quando da separação dos poderes naquele país, houve a
separação da Justiça e da Polícia, surgindo assim a necessidade de distinção da polícia nos dois ramos
supracitados. Essa separação ocorreu efetivamente em 1791, através da Assembleia Nacional Francesa,
porém, tais princípios sobre a legislação policial surgiram com a Revolução Francesa em 1789.
No Brasil, a influência francesa chegou em 1831, com a publicação da Lei nº 261, de 3 de
dezembro e com o Regulamento nº 120, de 31 de janeiro de 1842, que tratava sobre a execução policial e

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criminal, versando sobre a polícia administrativa e polícia judiciária, ficando a polícia judiciária com a
função de auxiliar a Justiça na busca da verdade real e de sua autoria, desta forma, agindo a posteriori,
isto é, depois que a segurança foi violada e a boa ordem perturbada; enquanto que a polícia administrativa
ficou com a função preventiva, agindo a priori, para evitar a infração. Para MENDES DE ALMEIDA, “A
polícia administrativa informa; a polícia judiciária prova” (1973, p. 60). No entendimento do professor
CRETELLA JÚNIOR, a polícia brasileira acumula sucessivamente a função de polícia administrativa e
de polícia judiciária, desta forma deveria receber a denominação de polícia eclética ou mista.
O professor Hely Lopes MEIRELES exemplifica assim a distinção entre a atuação da polícia
administrativa e da judiciária: “quando a autoridade apreende uma carta de motorista por infração de
trânsito, pratica ato de polícia administrativa, quando prende o motorista por infração penal, pratica ato de
polícia judiciária”.
O modelo inglês de polícia acrescentou às características do modelo francês a aproximação da
instituição com a sociedade, lançando mão do consenso como forma de se legitimar como “[...] tecnologia
de poder que realiza a governabilidade do Estado-Nação” (SANTOS, 1997, p. 161). A diminuição das
desordens, a cooperação voluntária da população, o uso mínimo da força física e a prestação adequada de
serviços a toda a sociedade destacam-se entre as principais características desse modelo.
Foi Sir Robert Peel, um inglês, quem criou em 1829 a Polícia Metropolitana de Londres, isto
depois de observar a anarquia e a perturbação coletiva em sua sociedade, sendo mundialmente o precursor
do policiamento comunitário-interativo, onde policiais e cidadãos trabalham em conjunto.
Ele acreditava que o uso da força era um privilégio do cargo e que a mesma não deveria ser
modelo de policiamento. Peel sepultou os atos repressivos da polícia inglesa. Como no Brasil de hoje,
naquele tempo a desigualdade social na Inglaterra era enorme e o distanciamento entre os ricos e pobres
era abismal. Peel entendia que os serviços policiais deveriam ser prestados em tempo integral, bem como
serem financiados pela Coroa.
A Polícia Metropolitana de Londres nasceu disciplinada, organizada militarmente, porém com a
investidura civil para os seus membros.
É notório que a reforma da polícia no mundo teve o seu início com a criação da Polícia
Metropolitana de Londres, sendo ainda hoje extremamente atual, a principiologia adotada à época para a
modelagem inédita da segurança pública do Reino Unido.
O novaz modelo inglês lançou os alicerces da abordagem proativa que busca a história do crime,
conhecendo os seus atores principais, seus locais habituais de ocorrência, suas causas e as soluções para
evitá-lo, enquanto na abordagem reativa a polícia responde a cada incidente toda vez que ela é acionada
pela central de operações, sem, contudo se preocupar com a história do incidente criminal.
Os nove princípios de Peel são: a prevenção, a necessidade de respeito público, a cooperação do
público para com a polícia, a diminuição do uso da força física, a imparcialidade da polícia, o
esgotamento de todas as possibilidades antes de qualquer ação de força, a interação com a sociedade
organizada, a ação policial obedecendo à legalidade, e por fim, a ausência do crime.
A grande descoberta inglesa foi a de que o teste de eficiência da polícia estava na ausência do
crime e da desordem pública, e não na evidência da ação policial, e ainda de que a polícia é o público e o
público é a polícia.
No Brasil, no início da década de 80 do séc. XX, o mentor das reformas policiais foi o notável
coronel Carlos Magno Nazareth Cerqueira, à época comandante-geral da Polícia Militar do Estado do Rio
de Janeiro. Após visitar a Police Foundation nos EUA, Nazareth Cerqueira introduziu na PMERJ a
metodologia do policiamento comunitário que a partir daí se irradiou para o Espírito Santo, onde foi
criada a mais relevante metodologia brasileira de interação com a comunidade, ou seja, a Polícia
Interativa, iniciada em 1994 na cidade de Guaçuí e depois replicada em mais de duas dezenas de estados
brasileiros. Foi Nazareth Cerqueira quem alinhavou uma ampla reforma na polícia carioca, destacando-se
como o pioneiro reformador policial de nosso país. Nazareth Cerqueira foi barbaramente assassinado no
centro da cidade do Rio de Janeiro em meados de 1999.
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CAPÍTULO II: POLÍCIA: CONCEITO E SUAS CLASSIFICAÇÕES

1. CONCEITO DE POLÍCIA

Quando pensamos em “POLÍCIA”, pode nos parecer à primeira vista que a resposta é obvia e
clara, e com facilidade podemos dizer o que ela faz, o que é e para que ela sirva. Porém, essa resposta
aparentemente simples e espontânea é complexa e pede um estudo mais detalhado e cuidadoso.
A definição de “POLÍCIA” é diretamente associada ao ato de policiar, com o realizar o
policiamento. Policiar, por sua vez, é vigiar de acordo com as leis vigentes, realizado por organizações
policiais, que tem como objetivo o controle da ordem social e a proteção da integridade física e da vida
das pessoas e da propriedade, seja privada ou estatal, além das funções de repressão como as de controle
de uma manifestação.
O termo provém do vocábulo grego, politeia, donde derivou para o latim, politia, ambos com o
mesmo significado: governo de uma cidade, administração, forma de governo.
Não é tarefa das mais fáceis caracterizar o conceito de “POLÍCIA” devido a sua pluralidade de
funções desempenhadas pelos órgãos policiais, dificultando a formação de um conceito único.
Deve-se considerar também que vários outros órgãos públicos e civis (não policiais), também
exercem ações de policiamento em domínios específicos, como os agentes da Fazenda Estadual, atuando
como fiscais de produtos e sua circulação dentro do Estado.
A Constituição de 1988, como veremos mais adiante, definiu as funções de cada instituição
policial em nosso país, porém, essa definição funcional ainda não permite construir uma definição de
polícia mais abrangente.
A palavra “POLÍCIA” estará bastante presente em nosso curso durante todo o seu transcorrer,
desta forma é importantíssimo que tenhamos de imediato a compreensão conceitual do que vem a ser
polícia.
Segundo David Bayley, “Polícia” é:
“… pessoas autorizadas por um grupo para regular as relações interpessoais dentro deste
grupo através da aplicação da força física.”
Esta afirmação possui três elementos definidores essenciais para a existência da “POLÍCIA”:
força física, uso interno e autorização para seu uso, sendo que a falta de um deles descaracteriza o
conceito apresentado. À frente, temos a explanação destes elementos:
- Força física: a função precípua da polícia é o uso da força física, seja real ou presencial (por
ameaça). Os policiais são os agentes executivos da força do Estado.
- Uso interno: é o uso da força física dentro os limites do território nacional, parâmetro esse
fundamental para excluir daí os exércitos. Porém, quando as forças militares forem usadas para a
manutenção da ordem dentro da sociedade, estas devem ser vistas como forças policiais.
- Autorização para seu uso: este elemento é necessário para que se possa excluir daí grupos que
usam a força com propósitos não coletivos, como por exemplo, milícias e torcidas organizadas,
quadrilhas, terroristas, proprietários de terras, grupos como o MST, etc.
As polícias vêm acompanhando o desenvolvimento histórico das sociedades na qual estão
inseridas. Desta forma, novas características vão se agregando a seu conceito. Logo, a ideia primordial é
que se devem escolher estas novas características de acordo com sua importância no contexto
sócio/cultural, de forma que o conceito seja aceito pela sociedade.

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Segundo Bayley, para a maioria das pessoas, as forças policiais mais autoritárias e importantes são
aquelas públicas, especializadas e profissionais. Estas três características são quase um sinônimo de
policiamento moderno.
Estas características merecem uma breve passagem para melhor entendê-las:
- Públicas: refere-se à natureza da agência policial. Elas devem ser formadas, pagas e controladas
pelo poder público. Para ser considerada como uma força policial, o poder desta deve advir do poder
estatal e não de grupos privados.
- Especializados: é uma força policial concentrada no uso da força física.
- Profissionais: refere-se a uma preparação explicita para realizar atividades exclusivas de policia.
A profissionalização envolve: recrutamento por mérito, treinamento formal, evolução na carreira
estruturada, disciplina sistemática e trabalho em tempo integral.
As forças policiais variam de acordo com a cultura de cada sociedade e acompanha o grau de
desenvolvimento da mesma. Variam também em outros aspectos como: estrutura, treinamento, formas de
emprego da força, reputação, poder e composição social.
Desta maneira podemos, através da ótica de Bayley, formular o nosso conceito de polícia:
“Instituição pública, profissional e especializada autorizada legalmente por um grupo social
para regular as relações interpessoais dentro de uma sociedade, através do uso da força física”.
É importante colocar que a “POLÍCIA” possui três dimensões da sua atuação:
- Legalidade: existe lei que ampara a atuação?
- Necessidade: a atuação é necessária?
- Conveniência: é conveniente a atuação seja da maneira como você planejou?

2. PODER DE POLÍCIA

Já conseguimos em nossa curta caminha neste curso uma definição de “Polícia” através de suas
características modernas. Mas se a polícia tem o poder de representar o Estado e em nome deste usar a
força, conclui-se que o seu poder de agir é concedido pelo próprio Estado.
No Código Tributário Nacional, encontramos um dos mais, se não o mais completo conceito de
Poder de Polícia de nosso ordenamento jurídico. Como vemos a seguir:
“Art. 78: considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato, em razão de
interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e
do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder
Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”.
O Poder de Polícia é definido no artigo 78 do Código Tributário Nacional uma vez que o exercício
desse poder constitui um dos fatos geradores da taxa, conforme prescreve a Constituição Federal no seu
art. 145, II.
Podemos destacar neste conceito trazido pelo Código Tributário, apresar de sua clareza
incontestável, que ele vai além das atividades notoriamente policiais (atividade da administração pública
que, limitando ou disciplinando direito… individuais e coletivos), se estendendo ao campo da saúde
pública, aos costumes sociais e a circulação de mercadorias além de outras. Isso com o objetivo também
de resguardar a dar poder à ação dos agentes fazendários, que também possuem Poder de Polícia no
exercício de suas funções.
As polícias trabalham diretamente com os principais bens tutelados pelo Estado; vida, liberdade e
propriedade, nesta sequência de importância. Ela é o órgão com poderes para impedir o indivíduo de se
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locomover como bem lhe convém. É a instituição que possui por obrigação funcional o dever de proteger
a vida de terceiros, mesmo que para isso tenha que usar os meios necessários para tal, ou seja, mesmo que
tenha que tirar a vida do agressor. Ela esta autorizada a desapropriar o morador que se recusa a cumprir a
ordem judicial para deixar um determinado local, mesmo que para isso tenha que se valer da força física.
E é justamente por lidar com a vida, a liberdade e o patrimônio das pessoas – que são os bens mais
importantes que possuímos – que por várias vezes conflitos entre a sociedade e as forças policiais são
comuns. Somando-se ai os inúmeros casos de abusos cometidos pelas forças policiais no desempenho de
suas funções.
Constata-se que o Poder de Polícia foi instituído e outorgado aos integrantes da Administração
Pública para evitarem as colisões no exercício dos direitos individuais de todos os indivíduos da
sociedade, possuindo atributos específicos e peculiares para o seu exercício, que são a discricionariedade,
a autoexecutoriedade e a coercibilidade.
Como bem ensina Maria Sylvia Zanella Di Pietro (2001, p.107), “de um lado, o cidadão quer
exercer plenamente os seus direitos; de outro, a Administração tem por incumbência condicionar o
exercício daqueles direitos ao bem-estar coletivo, e ela o faz usando de seu poder de polícia”.
Em direito, o exercício do poder de polícia se refere à prática de um ente ou agente
governamental de executar serviços voltados ao registro, fiscalização ou expedição de algum ato.
Não existe POLÍCIA sem PODER DE POLÍCIA, mas existe PODER DE POLÍCIA sem
POLÍCIA.

2.1. PODER DE POLÍCIA X PODER DA POLÍCIA

Para não haver qualquer tipo de confusão, vamos diferenciar aqui duas expressões muito
semelhantes, porém com significados desiguais. “Poder de Polícia”, já conceituado acima, refere-se à
atividade da Polícia Administrativa, tendo basicamente como objetivo limitar ou restringir os direitos
individuais em prol do bem estar da coletividade. Já o “Poder da Polícia” é a possibilidade atuante da
polícia, é a polícia quando age. Numa expressão maior, que abrigasse as designações que estamos
esclarecendo, diríamos: em virtude do poder de polícia, o poder da polícia é empregado pela polícia a fim
de assegurar o bem-estar público ameaçado.

3. CICLO COMPLETO DE POLÍCIA X CICLO DE POLÍCIA COMPLETO

O ciclo completo de polícia baseia-se na ideia de que as funções de prevenção e investigação dos
crimes sejam realizadas por uma única instituição. Este modelo é trazido de diversas experiências de
outros países como Canadá, França, Estados Unidos, Portugal, onde a polícia é dividida em áreas
territoriais, sendo que, nestes lugares, não existe uma divisão funcional da polícia, adotando-se um
modelo de ciclo completo de polícia onde na mesma instituição, dividem-se funções de prevenção, com
policiamento fardado, e funções de repressão, com policiamento à paisana.
Os entusiastas deste modelo alegam que o ciclo completo de polícia é a solução para a crescente
criminalidade instalada no Brasil. O erro, contudo, é a importação de modelos prontos, advindos de países
onde a realidade social e jurídica não é a mesma encontrada no Brasil. Partindo-se da lastimável ideia de
que tudo que é produzido em países desenvolvidos é melhor, tentou-se implantar alguns modelos que não
frutificaram no Brasil, como por exemplo, a criação dos juizados de instrução.
A tarefa é árdua, primeiramente deve-se analisar o ordenamento jurídico interno a fim de se
verificar se os modelos adotados em outros países se compatibilizam com a ordem constitucional vigente,
sendo que o objetivo do presente trabalho é demonstrar que o ciclo completo de polícia é totalmente

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incompatível com os ideais democráticos insculpidos na Constituição Federal, bem como atentatório os
princípios do devido processo legal e da garantia dos direitos fundamentais.
Já o ciclo de polícia completo, consiste num agente policial que possui todas as características dos
órgãos pertencentes à Segurança Pública. Ou seja, um policial será capaz de agir na prevenção, repressão,
investigação, coleta e análise de provas, e as demais tarefas concernentes. Tal fato, em tese, seria
impossível de se cumprir, ao passo que concentrar todas as funções de Segurança Pública em um só
profissional acarretaria numa tendência de declinar a qualidade dos serviços prestados à sociedade. Tal
sistema, também, necessitaria de um imenso investimento e tempo para uma aceitável profissionalização
dos agentes. No Brasil, normalmente, um curso de formação tem uma duração relativamente curta e baixo
investimento. Seria, para os cofres públicos e a demanda de agentes, um impacto profundo.

4. CLASSIFICAÇÃO DA POLÍCIA

Para fins didáticos, podemos dividir as forças policiais em Polícia Administrativa, Polícia
Judiciária e Polícia Eclética ou Mista, como veremos adiante.

4.1. POLÍCIA ADMINISTRATIVA

Distinguido pelo seu uniforme, armamento, equipamento ostensivo, por suas viaturas
caracterizadas e identificadas e pelo seu treinamento diferenciado e tem por finalidade agir
preventivamente a fim de evitar que o crime aconteça e no caso de ocorrência do delito realizar a prisão
em flagrante do autor, além de preservar a ordem pública. Como exemplo, podemos citar a Polícia Militar
e a Polícia Rodoviária Federal (PRF).

4.2. POLÍCIA JUDICIÁRIA

É a polícia investigativa, age após a ocorrência do crime de modo velado com o objetivo de apurar
os crimes, apontar sua autoria e coletar provas que ajudem a confirmação desta autoria. Como exemplo,
citamos o Departamento de Polícia Federal (DPF) e a Polícia Civil.

4.3. POLÍCIA ECLÉTICA OU MISTA

Além das polícias administrativa e judiciária existe também a polícia eclética, ou mista, que
exerce simultaneamente as funções de polícia administrativa e judiciária. A polícia brasileira se encaixa
nesta definição, pois um mesmo órgão acumula as duas funções.
A prática ensina que a distinção entre Polícia Judiciária e Polícia Administrativa é delicada,
passando muitas vezes, um agente, durante a sua atuação, da função de Polícia Administrativa para a de
Polícia Judiciária.
Em seu tratado, CAVALCANTI acredita que esta divisão não corresponde à realidade: “a divisão
embora aceita pela generalidade dos autores, merece ser criticada porque, dificilmente, será possível
estabelecer uma distinção perfeita entre as duas categorias de polícia”.
A verdade é que mesmo dentro de determinada manifestação do poder de polícia, a medida pode
revestir-se ou de um caráter administrativo, ou puramente policial, quer sua finalidade seja a tranquilidade
pública, quer o cumprimento de um regulamento administrativo. “A classificação interessa, por
conseguinte, mais à natureza da medida, do que propriamente à esfera dentro da qual deve agir a
autoridade”. (CAVALCANTI, 1956, pp. 10-11).
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4.4. EXEMPLIFICAÇÃO DA ATUAÇÃO

Podemos então entender que as polícias agem da seguinte forma:


Linha do Crime
DELITO
_____________________I_____________________

POLÍCIA MILITAR POLÍCIA CIVIL

A Polícia Militar realiza o patrulhamento ostensivo e preventivo nas ruas, facilmente reconhecida
através de suas viaturas e seu fardamento, com o objetivo de impedir que o crime ou delito aconteça e de
manter a ordem pública (Polícia Administrativa). Ocorrendo o crime, a PM tem por obrigação realizar
diligências com o objetivo de prender o autor, ainda em situação de flagrância. Não localizado o autor do
crime passa a ser competência da Polícia Civil, que procederá às investigações para determinar a autoria
do crime e efetuar a prisão do mesmo, conduzindo-o ao Poder Judiciário para seu devido julgamento
(Polícia Judiciária). Ou seja, de um modo simplista, antes do crime ocorrer é a PM que deve trabalhar
após a ocorrência do crime a obrigação é por conta da PC.

5. ORDEM PÚBLICA

Ordem Pública é a situação e o estado de legalidade normal, em que as autoridades constituídas


exercem suas precípuas atribuições e os cidadãos as respeitam e acatam. A expressão ordem pública tem
definição vaga e ampla, e varia no tempo e no espaço. Constituir-se-ia assim pelas condições mínimas
necessárias a uma conveniente vida social, a saber: segurança pública, salubridade pública e tranquilidade
pública.
A ordem pública se materializa pelo convívio social pacífico e harmônico, pautado pelo interesse
público, pela estabilidade das instituições e pela observância dos direitos individuais e coletivos.
Numa democracia, a preservação da ordem pública deve, portanto, realizar-se dentro do ordenamento
jurídico e pelos Poderes de Estado, de forma integrada e harmoniosa de modo a garantir os direitos e
interesses de uma nação livre e soberana.

5.1. PRESERVAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA

Do ponto de vista formal, a ordem pública é o conjunto de valores, princípios e normas que se
pretende sejam observados em uma sociedade.
Do ponto de vista material, ordem pública é a situação de fato ocorrente em uma sociedade,
resultante da disposição harmônica dos elementos que nela interagem, de modo a permitir um
funcionamento regular e estável, que garanta a liberdade de todos.
Por preservação da ordem pública se entende a manutenção da ordem do Estado e do bem social,
através de ações coativas objetivando coibir as ameaças à convivência pacífica em sociedade. Estas ações
coativas estão presentes em instrumentos judiciais, policiais, prisionais e promotorias públicas.

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A segurança pública é a garantia que o Estado proporciona de preservação da ordem pública
diante de toda espécie violação que não contenha conotação ideológica. É o conjunto de processos
políticos e jurídicos, destinados a garantir a ordem pública na convivência de homens em sociedade.
Trata-se de função pertinente aos órgãos estatais e à comunidade como um todo, realizada com o fito de
proteger a cidadania, prevenindo e controlando manifestações de criminalidade e violência, efetivas ou
potenciais, bem como garantindo o exercício pleno da cidadania nos limites da lei.
O regulamento para as Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares do Brasil, aprovado
pelo Decreto n. 88.777/1983, conceitua ordem pública como sendo o conjunto de regras formais, que
emanam do ordenamento jurídico da Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os
níveis no interesse público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado
pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem comum.

6. USO DA FORÇA COMO MEIO DE CONTROLE SOCIAL

Controle social é “a capacidade de uma sociedade de se autorregular de acordo com princípios e


valores desejados” (COSTA, 2004:38)
Como já dito anteriormente, a polícia é o único órgão autorizado a fazer uso da força, seja
presencial ou real, com o fim de manter a ordem pública e os interesses da coletividade. No âmbito
interno, as polícias são o braço forte do Estado e estas são sempre usadas quando o Estado necessita se
impor pelo uso da força.
Desta forma, o Estado ao usar a força física como instrumento de controle e de coerção social
através das polícias, faz delas instrumento de controle social, teoricamente, a serviço da coletividade.
A atividade policial é crucial para se definir a extensão prática da liberdade humana. Além disso,
a manutenção de um controle social é fundamentalmente uma questão política. Não apenas ela define
poderosamente o que a sociedade pode tornar-se, mas é uma questão pela qual os governos têm um
grande interesse, porque sabem que sua própria existência depende disso. Por todas essas razões, a
polícia entra na política, querendo ou não. (BAYLEY, 2001:203)
Porém, com o aumento dos índices de violência urbana e de criminalidade, as forças policiais
tendem a endurecer seus procedimentos, o que acarreta o uso mais frequente da força física para realizar o
controle social.
É preciso considerar outra linha de discussão sobre a violência que considera o “conflito social”
condição para a estruturação social. Isso implica dizer que o conflito é algo presente em qualquer
sociedade e surge em função de elementos individuais tais como ódio, inveja e necessidade e interesses
pessoais.
Sob esse aspecto é importante ressaltar que a violência é apenas uma forma de manifestação do
conflito social. O problema que surge não é o conflito, mas sim os mecanismos sociais disponíveis para
controlá-lo, já que nem a sociedade nem o Estado podem extinguir por completo os conflitos sociais e a
violência decorrente desses conflitos.
Existem inúmeras outras funções desempenhadas pelas polícias que não estão ligadas à função
regulador-coercitiva, tais como: assistência às populações carentes; apoio às atividades comunitárias;
socorro à comunidade; e ações de prevenção conjuntas com as associações comunitárias, entre outras.
A ideia de que as polícias são tão somente órgãos executores dos ditames estatais ou “braços
executivos” do Estado e a atribuição do papel das polícias como instrumentos deste para o exercício do
controle social não se sustentam e devem ser repensadas.
Quanto mais legítima for percebida a forma como as polícias realizam suas tarefas, mais fácil será
a aceitação da sua autoridade e, portanto, menor a necessidade de recurso à violência. O acatamento da
autoridade almejado pelo Estado e seus agentes diz respeito ao grau de legitimidade de que esta
autoridade política desfruta junto à sociedade.

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CAPÍTULO IV: SISTEMAS DE POLICIAMENTO

O Estado Nacional Brasileiro apresenta um sistema de policiamento moderadamente


descentralizado, pluralista e multiplamente descoordenado.
Porém, antes de tratamos do Sistema Brasileiro de Policiamento, elencaremos abaixo alguns tópicos e
definições para que possamos entender com mais clareza as composições e caracterizações do nosso sistema
de policiamento.

1. MONISMO E DUALISMO/PLURALISMO

No que diz respeito ao tipo de organização policial adotada por cada estado nacional, dois são
característicos face às estruturas político-administrativas para as quais foram concebidas. De um lado
aparece o monismo. De outro lado o dualismo ou o pluralismo.
O Monismo, sistema em que uma só força de polícia cobre a integridade do território, pode ser
encontrado na Europa (Irlanda, Grécia, Polônia, Hungria, Dinamarca, Suécia, Noruega e Finlândia), no
Oriente Médio (Israel), na Ásia (Japão) e na América do Sul (Uruguai). Como se vê, não procede a tese
de que o sistema monista seria a marca de sistemas políticos autoritários. Por vezes, é consequência de
um território de pequenas dimensões, de população pouco numerosa ou de reduzidos níveis de
criminalidade. Por vezes é resultado de um processo de fusão entre múltiplos corpos policiais (Grécia) ou
consequência de razões histórico-legais (Irlanda).
O Dualismo, sistema em que duas forças de polícia cobrem a totalidade do território, dá margem a
estruturas caracterizadas por Pluralismo (multiplicidade de forças), podendo ser qualificado como
Moderado (Grã-Bretanha), Forte (Canadá, EUA, etc.), Horizontal (Espanha, Itália, França, Bélgica, etc.)
ou Vertical (EUA, Canadá, etc.). O Pluralismo na verdade é um desdobramento do sistema dualista.
A qualificação utilizada para caracterizar os diferentes sistemas pluralistas, com a consagração de
Categorias ou Dimensões de Análise tais como Moderado, Forte, Horizontal ou Vertical, é uma
consequência direta da necessidade de estabelecer diferenças para sistemas semelhantes, que atendem a
circunstâncias histórico-legais diversas, bem como ao papel do observador-analista que ideologicamente
exerce sua influência ao caracterizar este ou aquele sistema, mesmo porque as categorias de análise nem
sempre são suficientemente conceituadas, não são de aceitação unânime, nem influenciarão diretamente
na análise final do sistema, onde a macro análise procedida não levará em consideração a questão de
escalas e sim da essência.

2. PROATIVIDADE E REATIVIDADE

Dois marcos balizadores são significativos na história da polícia moderna ou da “Nova Polícia”.
Seu primeiro marco foi a própria criação do trabalho policial moderno, em Londres no primeiro terço do
século XIX, como consequência do esforço de Robert Peel, como já vimos. As primeiras estruturas
profissionais de policiamento, derivadas da experiência londrina, impunham como trabalho policial a
prevenção da ocorrência do delito, a perseguição de infratores da lei, a preservação da ordem, a
fiscalização de serviços públicos e privados, bem como zelar pelas regras de moral e dos bons costumes.
Essa estrutura importava em vínculos bastante próximos dos cidadãos, estabelecidos a partir das “Rondas
Policiais”, feitas a pé por patrulheiros conhecidos pelos cidadãos. Essas patrulhas eram em regra,
apoiadas por “Postos de Policiamento133”, que serviam como pontos de referência, tanto para os
cidadãos como para os patrulheiros. Essa estrutura era bastante descentralizada, pouco especializada,
proporcionava o recrutamento de novos policiais dentro das comunidades atendidas e era
caracteristicamente proativa, em termos de estratégia de policiamento,

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O segundo marco balizador, foi a introdução de três inovações tecnológicas em meados do século
XX, que iria modificar fundamentalmente o perfil das estruturas policiais. O emprego do automóvel no
patrulhamento, a popularização do telefone e a utilização de rádios para intercomunicação das patrulhas,
condicionou a centralização e a especialização do trabalho policial, o atendimento mais rápido das
demandas dos cidadãos, a desestruturação das patrulhas a pé, a desnecessidade dos “Postos de
Policiamento” como vantagem logística e de apoio aos patrulheiros. A reatividade como estratégia típica
desse novo trabalho policial, implicou que a ação policial passou a ser iniciada e direcionada a partir da
demanda dos cidadãos. A centralização decorrente possibilitou pelo menos teoricamente, maior
capacidade de supervisão sobre o trabalho desenvolvido, maior eficiência e controle sobre da execução do
trabalho policial. O modelo reativo adotado provocou também um afastamento do policiamento para com
os cidadãos, em compensação pelo aumento do raio de ação das patrulhas, agora motorizadas e
despachadas por um centro de comando e controle.
Será Proativa a ação policial, quando iniciada e direcionada pela própria organização policial ou
por iniciativa de seus policiais, independente da demanda da população e por vezes, em conflito de tais
demandas.
Será Reativa a ação policial, quando iniciada e direcionada pela demanda da população.
Hoje as estruturas policiais alternam essas duas estratégias de trabalho, dando ênfase ou prioridade
ora ao aspecto reativo, ora ao aspecto proativo, oscilando entre duas naturezas igualmente necessárias do
policiamento e criando duas racionalidades distintas e por vezes conflitantes no trabalho policial.

3. ÓRGÃOS QUE COMPÕEM A SEGURANÇA PÚBLICA E SUAS MISSÕES

Nossa Constituição Federal (CF), na parte que trata da Segurança Pública (Título V, Capítulo III),
mais precisamente no artigo 144, traz em seu bojo, os órgãos que compõem a Segurança Pública no país,
bem como suas funções e missões. Vejamos a seguir:
“Art. 144: a segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida
para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos
seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
VI - polícias penais federal, estaduais e distrital. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 104, de 2019)
§ 1º - A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, estruturado em carreira,
destina-se a:
§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela
União e estruturado em carreira, destina-se a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de
1998)
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e
interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações
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cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se
dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o
descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de
competência;
III - exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras;
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
§ 2º - A polícia rodoviária federal, órgão permanente, estruturado em carreira, destina-se, na
forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.
§ 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias
federais. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, estruturado em carreira, destina-se, na
forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais .
§ 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, organizado e mantido pela União e
estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias
federais. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a
competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as
militares.
§ 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos
de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de
defesa civil.
§ 5º-A. Às polícias penais, vinculadas ao órgão administrador do sistema penal da unidade
federativa a que pertencem, cabe a segurança dos estabelecimentos penais. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 104, de 2019)
§ 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército,
subordinam-se, juntamente com as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e
dos Territórios.
§ 6º As polícias militares e os corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do
Exército subordinam-se, juntamente com as polícias civis e as polícias penais estaduais e distrital, aos
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 104, de 2019)

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§ 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança
pública, de maneira a garantir a eficiência de suas atividades.
§ 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens,
serviços e instalações, conforme dispuser a lei.
§ 9º A remuneração dos servidores policiais integrantes dos órgãos relacionados neste artigo
será fixada na forma do § 4º do art. 39. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
§ 10. A segurança viária, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das
pessoas e do seu patrimônio nas vias públicas: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de
2014)
I - compreende a educação, engenharia e fiscalização de trânsito, além de outras atividades
previstas em lei, que assegurem ao cidadão o direito à mobilidade urbana eficiente; e (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 82, de 2014)
II - compete, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, aos respectivos órgãos
ou entidades executivos e seus agentes de trânsito, estruturados em Carreira, na forma da lei.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 82, de 2014)

Podemos perceber que o comando das forças policiais é descentralizado, vez que a Constituição
colocou o comando das policiais civis e militares e do corpo de bombeiros subordinados ao Governo dos
Estados e do Distrito Federal. Sendo que no Distrito Federal as polícias militares e corpos de bombeiros
foram mantidos como forças auxiliares e de reserva do Exército, no caso de ameaça à segurança nacional.

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