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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 1ª Turma Criminal

Processo N. APELAÇÃO CRIMINAL 0705095-53.2023.8.07.0014

APELANTE(S) LUIS CARLOS DA SILVA

APELADO(S) MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E DOS TERRITORIOS


Relatora Desembargadora SIMONE LUCINDO

Revisor Desembargador ESDRAS NEVES

Acórdão Nº 1791094

EMENTA

APELAÇÃO CRIMINAL. DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO DA


DEFESA. FURTO SIMPLES (ART. 155, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL). ATIPICIDADE DA
CONDUTA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. INOBSERVÂNCIA
DOS REQUISITOS. PEQUENO VALOR E BAIXA REPROVABILIDADE. NÃO
CONSTATAÇÃO. POSSE DA RES FURTIVA EVIDENCIADA. CONSUMAÇÃO DO CRIME.
ALTERAÇÃO DE REGIME DE CUMPRIMENTO DA PENA. REINCIDÊNCIA E
ANTECEDENTES. REGIME SEMIABERTO.

1. De acordo com o Supremo Tribunal Federal, o princípio da insignificância incide quando presentes,
cumulativamente, as seguintes condições objetivas: (i) mínima ofensividade da conduta do agente, (ii)
nenhuma periculosidade social da ação; (iii) grau reduzido de reprovabilidade do comportamento; e,
(iv) inexpressividade da lesão jurídica provocada, ressaltando, ainda, que a contumácia na prática
delitiva impede a aplicação do princípio. Em se tratando de réu reincidente por crime contra o
patrimônio, portanto, incabível a aplicação do princípio da insignificância, porquanto ausente o
requisito consubstanciado no grau reduzido de reprovabilidade do comportamento do agente.

2. Conforme entendimento firmado pelo STJ em sede de apreciação de Recurso Representativo da


Controvérsia (RESP 1.524.450/RJ – Tema 934), o crime de furto se consuma quando, cessada a
clandestinidade, o agente detém a posse de fato sobre o bem subtraído, ainda que seja possível à vítima
retomá-lo, sendo prescindível a posse mansa, pacífica e desvigiada. Teoria da Apprehensio (ou da
Amotio).

3. Considera-se consumado o delito do furto se o agente detém a posse do aparelho celular subtraído,
ainda que por breve espaço de tempo, sendo abordado por policiais logo em seguida.
4. Na fixação do regime inicial para o cumprimento da pena, o juiz deve atentar para três fatores:
quantidade de pena, reincidência e circunstâncias judiciais favoráveis.

5. Deve ser fixado o regime prisional semiaberto se a pena fixada for inferior a 4 anos, o réu for
reincidente, mas, das circunstâncias judiciais, tiver apenas os antecedentes valorados negativamente.

6. Apelação conhecida e parcialmente provida.

ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 1ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, SIMONE LUCINDO - Relatora, ESDRAS NEVES - Revisor e GISLENE
PINHEIRO - 1º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora SIMONE LUCINDO, em
proferir a seguinte decisão: DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME, de acordo
com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 01 de Dezembro de 2023

Desembargadora SIMONE LUCINDO


Presidente e Relatora

RELATÓRIO

Cuida-se de apelação criminal interposta pela defesa de Luiz Carlos da Silva contra a r. sentença de
ID 50985190, em que o d. juízo a quo julgou procedente a pretensão punitiva estatal para condenar o
réu pela prática do crime tipificado no artigo 155, caput, do Código Penal (furto simples), à pena de 01
(um) ano, 05 (cinco) meses e 26 (vinte e seis) dias de reclusão, em regime inicial fechado, e 16
(dezesseis) dias-multa, à razão unitária mínima.

Em suas razões recursais (ID 51850631), o apelante sustenta a aplicação ao caso do princípio da
insignificância, uma vez que o delito não produziu maiores consequências, sendo o celular devolvido à
vítima. Aponta contradição no depoimento do policial militar Tyago Ferreira de Paula, no sentido de
que, primeiro, ele afirmou que o celular estava na mão do apelante, e, logo em seguida, afirmou que a
vítima estava chegando com o celular. Assim, afirma que a verdade dos fatos pode ter sido alterada,
devendo ser reconhecida a nulidade do depoimento. Subsidiariamente, pugna pela desclassificação do
crime de furto para sua forma tentada, sob o fundamento de que o réu confessou a tentativa de furto,
afirmando, contudo, que ao sair do local, foi abordado por duas pessoas e imediatamente devolveu o
celular.

Requer, pois, o conhecimento e provimento do apelo, a fim de absolver o réu com base no artigo 386,
III, ou VII, do Código de Processo Penal. Subsidiariamente, pugna pela desclassificação do delito para
a forma tentada.

O Ministério Público não apresentou contrarrazões formais (ID 51879610).

A d. 11ª Procuradoria de Justiça Criminal oficiou pelo conhecimento e não provimento da apelação (ID
51935978).

É o relatório.

À douta revisão.

VOTOS

A Senhora Desembargadora SIMONE LUCINDO - Relatora

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço da apelação criminal.

Na origem, o sentenciado foi denunciado como incurso nas penas do artigo 155, caput, do Código
Penal (furto simples), nos seguintes termos (ID 50985139):

No dia 13 de junho de 2023, por volta das 22h, no SRIA II, QE 40, conjunto I, Lote 11, Pizzaria
Pallazzio, Guará/DF, o denunciado subtraiu, para si, 01 (um) aparelho celular, marca Motorola,
modelo Moto G5 S Plus, IMEI 356477081210833 / 356477081210841, pertencente à P. M. C.

Pretendendo a subtração de bens alheios, o denunciado adentrou o estabelecimento comercial e


solicitou um copo de água. A funcionária que estava no balcão foi buscar a água, momento em que o
denunciado se apossou do celular que estava carregando atrás do balcão.

Após ele ter deixado o local, a funcionária deu falta do telefone. A proprietária do estabelecimento e
dona do aparelho celular acessou o sistema de monitoramento e confirmou que o denunciado havia
subtraído o aparelho.

Em seguida, um outro funcionário saiu atrás do denunciado, visualizando-o algumas ruas a frente.
Neste momento, uma guarnição avistou pessoas correndo atrás do denunciado e foram averiguar.

Ao serem informados do furto, verificaram que o denunciado estava com o celular em mãos.
Prontamente, a vítima reconheceu como seu o aparelho celular apreendido. Após, foi o denunciado
encaminhado à Delegacia de Polícia para as medidas cabíveis.

Após o trâmite processual, foi proferida sentença em audiência, sendo o réu condenado pelo crime
tipificado no artigo 155, caput, do Código Penal (furto simples), à pena de 01 (um) ano, 05 (cinco)
meses e 26 (vinte e seis) dias de reclusão, em regime inicial fechado, e 16 (dezesseis) dias-multa, à
razão unitária mínima. Não foram concedidos os benefícios da substituição da pena privativa de
liberdade por restritivas de direitos ou sursis, em razão da reincidência, e mantida a prisão preventiva.

A defesa recorreu requerendo, em suma, a absolvição do réu ante a aplicação do princípio da


insignificância. Sustenta contradições no depoimento da testemunha policial e invoca sua nulidade
como meio de prova. Subsidiariamente, pugna pela desclassificação do delito para a forma tentada.

1 - Da autoria e materialidade

Conquanto não tenha havido insurgência em relação à autoria e a materialidade do delito, imperioso
ressaltar que são incontroversas nos autos, tendo sido devidamente comprovadas através dos
documentos que instruíram a ação penal: Auto de Prisão em Flagrante de ID 50983953; Auto de
Apresentação e Apreensão de ID 50985111; Termo de Restituição de ID 50985112; Ocorrência
Policial de ID 50985117; imagens de câmera de segurança de ID 50985115; Relatório Final de ID
50985119; bem como pelas provas orais produzidas nas duas fases da persecução penal.

Sobre a suposta contradição no depoimento da testemunha policial Tyago Ferreira de Paula, sem razão
a defesa.

Inicialmente, cumpre esclarecer que a referida testemunha, em verdade, era o policial militar Samuel
Alves Carreiro de Araújo. A testemunha Tyago Ferreira, embora devidamente requisitada, não
compareceu à audiência, tendo as partes desistido de sua oitiva.

No que tange à suposta nulidade, como apontado pela própria defesa, o magistrado em audiência, tão
logo constatada a contradição, inquiriu a testemunha para que esclarecesse se o celular estava na mão
do réu, tendo a testemunha esclarecido que sim.

Seu depoimento, inclusive, é harmônico e coerente com aquele prestado quando da prisão em
flagrante do réu, em que ele também relatou que o aparelho celular estava na posse do réu (ID
50983953).

Além disso, a condenação do réu baseou-se em todo o conjunto probatório, e não somente no referido
depoimento. Veja-se que, inclusive, há imagens do circuito de segurança do estabelecimento em que é
possível visualizar claramente a ação delitiva (ID 50985115).

Some-se a isso a própria confissão do réu.

Assim, não há qualquer nulidade a ser reconhecida.

2 - Do pleito absolutório – incidência do princípio da insignificância

A defesa alega que deve ser reconhecida a atipicidade material da conduta, ante a incidência do
princípio da insignificância.

O pleito não merece acolhimento.

O princípio da insignificância ou da bagatela própria, embora não previsto em lei, tem aplicação
consagrada pela doutrina e pela jurisprudência pátria, a fim de excluir a tipicidade penal nos casos em
que a ofensividade da conduta, de tão ínfima, não é penalmente relevante. Tal postulado decorre dos
princípios da fragmentariedade e da intervenção mínima do Estado em matéria criminal, pois o Direito
Penal só deve alcançar os fatos que acarretem prejuízo efetivo ao titular do bem jurídico ou à
sociedade.

De fato, a tipicidade penal ocorre quando a conduta do agente se amolda à descrição abstrata da
norma; todavia, se a lesão não chega a atingir o bem jurídico tutelado, diante de sua insignificância,
não há que se falar em adequação entre o fato e o tipo penal. Isso porque a atuação do Direito Penal
somente se legitima quando insuficientes os demais ramos do direito, de modo que uma conduta
inexpressiva não merece a censura tão grave como a restrição à liberdade.

É necessária, pois, uma ofensividade mínima para que se caracterize a tipicidade penal. Assim, a
atuação estatal não pode ir além do que o necessário para a preservação do interesse público, para a
proteção dos indivíduos, da sociedade e dos bens jurídicos tutelados pela lei. Dessa forma, além do
enquadramento formal ao tipo penal, deve haver também relevância material, consubstanciada em um
grau mínimo de lesão ao bem jurídico protegido.

O entendimento do excelso Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que o princípio da


insignificância incide quando presentes, cumulativamente, as seguintes condições objetivas: (i)
mínima ofensividade da conduta do agente, (ii) nenhuma periculosidade social da ação; (iii) grau
reduzido de reprovabilidade do comportamento; (iv) inexpressividade da lesão jurídica provocada,
ressaltando, ainda, que, embora a reincidência, por si só, não seja obstáculo para o reconhecimento do
instituto, a contumácia na prática delitiva impede a aplicação do princípio.

Deste modo, consoante vasta jurisprudência desta egrégia Corte de Justiça, a reincidência do autor do
crime, em especial em crimes contra o patrimônio, é motivo suficiente para impedir a aplicação do
princípio da insignificância, porquanto demonstra a elevada reprovabilidade do comportamento do
agente. Confira-se:

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE FURTO. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DA


DEFESA. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO
ACOLHIMENTO. AUSÊNCIA DOS VETORES CARACTERIZADORES. RÉU REINCIDENTE E
COM MAUS ANTECEDENTES. AFASTAMENTO DA PENA DE MULTA. INVIABILIDADE.
NÃO ACOLHIMENTO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO DAS EXECUÇÕES PENAIS. FIXAÇÃO DO
REGIME ABERTO. ACOLHIMENTO. JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL. SUBSTITUIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR PENAS
RESTRITIVAS DE DIREITOS. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.

1. O princípio da insignificância exige, para a sua aplicação, a mínima ofensividade da conduta


do agente, nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do
comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica. No caso dos autos, verifica-se que o
recorrente é reincidente e ostenta outras condenações definitivas por crimes contra o
patrimônio, tornando a conduta mais reprovável e inviabilizando a aplicação do princípio da
insignificância.

2. A pena de multa é uma sanção de caráter penal, de aplicação cogente, e a possibilidade de sua
isenção viola o princípio constitucional da legalidade. Todavia, no caso de insolvência absoluta do
réu, a pena pecuniária pode não ser executada até que a sua situação econômica permita a execução.
De qualquer forma, tal possibilidade fica a cargo do Juízo das Execuções.

(...)

5. Recurso conhecido e parcialmente provido para, mantida a sentença que condenou o réu nas
sanções do artigo 155, caput, do Código Penal, à pena de 01 (um) ano, 01 (um) mês e 15 (quinze) dias
de reclusão e 11 (onze) dias-multa, à razão mínima, alterar o regime inicial de cumprimento de pena
do semiaberto para o aberto e deferir a substituição da pena corporal por duas penas restritivas de
direitos, nos moldes e condições a serem fixados pelo Juízo da Vara de Execução das Penas e
Medidas Alternativas.

(TJDFT, Acórdão 1602552, 07049077720208070010, Relator: ROBERVAL CASEMIRO


BELINATI, 2ª Turma Criminal, data de julgamento: 28/7/2022, publicado no DJE: 23/8/2022. Pág.:
Sem Página Cadastrada; grifo nosso)

PENAL E PROCESSO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO SIMPLES. CRIME


IMPOSSÍVEL. INEFICÁCIA ABSOLUTA DO MEIO. SISTEMA DE SEGURANÇA. PRINCÍPIO
DA INSIGNIFICÂNCIA. REITERAÇÃO CRIMINOSA. IMPOSSIBILIDADE. SENTENÇA
MANTIDA.

1. É assente na jurisprudência que a existência de sistema de vigilância e de segurança no


supermercado não impede a consumação do delito, mas apenas dificulta o sucesso da ação. Súmula
567 do Superior Tribunal de Justiça.

2. O princípio da insignificância pressupõe a presença simultânea de quatro requisitos: a


mínima ofensividade da conduta do agente, nenhuma periculosidade social da ação,
reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento do agente e a inexpressividade da
lesão jurídica provocada, sendo incabível a sua aplicação quanto comprovada a reiteração
criminosa do réu.

3. Recurso conhecido e desprovido.

(TJDFT, Acórdão 1436654, 00024655920188070008, Relator: SEBASTIÃO COELHO, 3ª Turma


Criminal, data de julgamento: 7/7/2022, publicado no PJe: 14/7/2022. Pág.: Sem Página Cadastrada;
grifo nosso)

Furto privilegiado. Princípio da insignificância. Não se reconhece a insignificância da conduta,


ainda que o valor dos bens subtraídos seja inferior a 10% do salário-mínimo vigente na data do
fato, se provada a habitualidade do acusado em crimes contra o patrimônio. Apelação não
provida.

(TJDFT, Acórdão 1602436, 07333728920218070001, Relator: JAIR SOARES, 2ª Turma Criminal,


data de julgamento: 28/7/2022, publicado no PJe: 19/8/2022. Pág.: Sem Página Cadastrada; grifo
nosso)

PENAL. APELAÇÃO. FURTO QUALIFICADO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA PRÓPRIA E


IMPRÓPRIA. INAPLICABILIDADE. CONCURSO DE AGENTES. AFASTAMENTO.
DESCABIMENTO. DESCLASSIFICAÇÃO PARA MODALIDADE TENTADA.
IMPOSSIBILIDADE. DOSIMETRIA DA PENA. CULPABILIDADE. EXAME DESFAVORÁVEL.
CABIMENTO.

1. Apelação criminal contra sentença que condenou o réu à pena de 2 (dois) anos e 4 (quatro) meses
de reclusão, no regime inicial semiaberto, além do pagamento de 11 (onze) dias-multa, calculados à
razão de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente à época dos fatos, pela prática do crime
previsto no artigo 155, § 4º, inciso I, do Código Penal.

2. Não há que se falar na aplicação do princípio da insignificância própria ou imprópria se,


embora restituída a coisa subtraída, o réu é reincidente por crime contra o patrimônio, situação
que interfere negativamente no tocante ao reduzido grau de reprovabilidade do comportamento
do agente. Precedentes.

(TJDFT, Acórdão 1429390, 07231262820218070003, Relator: CESAR LOYOLA, 1ª Turma


Criminal, data de julgamento: 9/6/2022, publicado no PJe: 27/6/2022. Pág.: Sem Página Cadastrada;
grifo nosso)

O referido entendimento, aliás, se coaduna com o exarado pelo colendo Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. FURTO


TENTADO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO.
ATIPICIDADE MATERIAL. RECONHECIMENTO. INVIABILIDADE. REINCIDÊNCIA. MAUS
ANTECEDENTES. REPROVABILIDADE DA CONDUTA. REGIME INICIAL FECHADO.
ILEGALIDADE. AUSÊNCIA. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO.

1. A aplicabilidade do princípio da insignificância no delito de furto é cabível quando se


evidencia que o bem jurídico tutelado (no caso, o patrimônio) sofreu mínima lesão e a conduta
do agente expressa pequena reprovabilidade e irrelevante periculosidade social.

2. Na espécie, não se verifica o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento, tampouco a


mínima ofensividade da conduta, pois o Apenado, além de ser reincidente e possuir maus
antecedentes, era foragido do sistema carcerário e procurado pela polícia, pois abandonou o cárcere na
"saída temporária do Dia das Mães" e 3 meses depois estava novamente preso por este processo.

3. O Agravante possui maus antecedentes e é reincidente. Assim, constatada a habitualidade


delitiva em crimes patrimoniais, revela-se impossível a aplicação do princípio da insignificância
no caso concreto, ante a evidente reprovabilidade da conduta.

4. O regime fechado foi fixado em razão da existência de circunstância judicial negativa


(antecedentes), além da reincidência. Dessa forma, as instâncias ordinárias decidiram em consonância
com a jurisprudência deste Superior Tribunal, sedimentada no sentido de que a existência de vetorial
negativa e de reincidência justifica idoneamente o regime mais severo para o início do cumprimento
da sanção.

5. Agravo regimental desprovido.

(STJ, AgRg no AREsp n. 1.950.073/SP, relatora Ministra Laurita Vaz, Sexta Turma, julgado em
23/8/2022, DJe de 31/8/2022; grifo nosso)

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. FURTO. PRISÃO PREVENTIVA. AUSÊNCIA


DE ILEGALIDADE MANIFESTA. IMPRESCINDIBILIDADE DA PRISÃO PREVENTIVA
FUNDAMENTADA. SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS.
IMPOSSIBILIDADE. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.
1. A imprescindibilidade da prisão preventiva justificada no preenchimento dos requisitos dos arts.
312, 313 e 315 do CPP impede a aplicação das medidas cautelares alternativas previstas no art. 319 do
CPP.

2. O STJ sedimentou orientação jurisprudencial no sentido de que a incidência do princípio da


insignificância pressupõe a concomitância de quatro vetores: a) a mínima ofensividade da conduta do
agente; b) nenhuma periculosidade social da ação; c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do
comportamento; e d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada (HC n. 588.860/RJ, relator
Ministro Nefi Cordeiro, Sexta Turma, DJe de 17/9/2020).

3. A reincidência específica na prática de crime contra o patrimônio e a extensa folha de


antecedentes criminais evidenciam a acentuada reprovabilidade do comportamento, situação
incompatível com a aplicação do princípio da insignificância.

4. Agravo regimental desprovido.

(STJ, AgRg no HC n. 745.250/SP, relator Ministro João Otávio de Noronha, Quinta Turma, julgado
em 2/8/2022, DJe de 8/8/2022; grifo nosso)

In casu, a folha de antecedentes penais do acusado (ID 50985145) demonstrou que ele possui diversas
outras condenações, inclusive por crimes contra o patrimônio.

Nesta toada, a análise casuística revela a contumácia na prática delitiva, constatada pelos diversos
antecedentes, em especial em crimes contra o patrimônio, o que obsta veementemente a aplicação do
princípio da insignificância por restar ausente o requisito do reduzido grau de reprovabilidade do
comportamento, exigido pela excelsa Suprema Corte.

Além disso, não foi realizada a avaliação indireta do bem, o que inviabiliza o reconhecimento do
pequeno valor, consoante entendimento do STJ, confira-se:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. FURTO SIMPLES. AUSÊNCIA DE LAUDO


DE AVALIAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE AFERIR A INEXPRESSIVIDADE DA LESÃO
JURÍDICA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. AGRAVO
REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Acerca dos crimes de bagatela, sedimentou-se a orientação
jurisprudencial no sentido de que a incidência do princípio da insignificância pressupõe a
concomitância de quatro vetores: a) a mínima ofensividade da conduta do agente; b) nenhuma
periculosidade social da ação; c) o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento; e d) a
inexpressividade da lesão jurídica provocada. 2. Razoável é a argumentação do juízo local de que
enquanto não realizado o laudo de avaliação, fica impossibilitada a discussão de insignificância
do dano. 3. Agravo regimental improvido. (AgRg no HC n. 530.472/ES, relator Ministro Nefi
Cordeiro, Sexta Turma, julgado em 10/12/2019, DJe de 13/12/2019. Grifo nosso)

Assim, o pleito da defesa deve ser rejeitado.

3 - Da tentativa ou consumação do crime

A defesa requer, ainda, a reforma da sentença para que o crime de furto seja considerado na sua forma
tentada e não consumada, sob a alegação de que o réu, tão logo saiu do estabelecimento, foi abordado
por duas pessoas, tendo prontamente restituído o aparelho celular.

Sem razão.
Sobre a questão, vale pontuar que a consumação do crime de furto se opera com a simples inversão da
posse do bem, ainda que por breve instante, não sendo necessário que a coisa subtraída saia da esfera
de vigilância da vítima, tampouco que a posse seja mansa e pacífica.

A propósito, a jurisprudência adota a Teoria da Apprehensio (ou Amotio), segundo a qual se considera
consumado o crime de furto quando, cessada a clandestinidade, o agente detém a posse de fato sobre o
bem subtraído, ainda que seja possível à vítima retomá-lo, sendo prescindível a posse mansa, pacífica
e desvigiada.

Acerca do momento da consumação do crime de furto, aliás, o Superior Tribunal de Justiça, no


julgamento do REsp 1.524.450/RJ (Tema 934), se posicionou no sentido de que a posse mansa e
pacífica é prescindível para consumação do delito, bastando, para tanto, a posse da res furtiva, ainda
que por breve espaço de tempo e seguida de perseguição ao agente. Confira-se:

RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA. RITO PREVISTO NO ART.


543-C DO CPC. DIREITO PENAL. FURTO. MOMENTO DA CONSUMAÇÃO. LEADING CASE.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 102.490/SP. ADOÇÃO DA TEORIA DA APPREHENSIO (OU
AMOTIO). PRESCINDIBILIDADE DA POSSE MANSA E PACÍFICA. PRECEDENTES DO STJ E
DO STF. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.

1. Recurso especial processado sob o rito do art. 543-C, § 2º, do CPC e da Resolução n. 8/2008 do
STJ.

2. O Plenário do Supremo Tribunal Federal, superando a controvérsia em torno do tema,


consolidou a adoção da teoria da apprehensio (ou amotio), segundo a qual se considera
consumado o delito de furto quando, cessada a clandestinidade, o agente detenha a posse de fato
sobre o bem, ainda que seja possível à vítima retomá-lo, por ato seu ou de terceiro, em virtude
de perseguição imediata. Desde então, o tema encontra-se pacificado na jurisprudência dos
Tribunais Superiores.

3. Delimitada a tese jurídica para os fins do art. 543-C do CPC, nos seguintes termos:
Consuma-se o crime de furto com a posse de fato da res furtiva, ainda que por breve espaço de
tempo e seguida de perseguição ao agente, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou
desvigiada.

4. Recurso especial provido para restabelecer a sentença que condenou o recorrido pela prática do
delito de furto consumado.

(REsp n. 1.524.450/RJ, relator Ministro Nefi Cordeiro, Terceira Seção, julgado em 14/10/2015, DJe
de 29/10/2015. Grifo nosso)

Nesse mesmo sentido é a orientação jurisprudencial deste e. Tribunal de Justiça:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO SIMPLES. RÉU


ABORDADO NO ESTACIONAMENTO DO SUPERMERCADO NA POSSE DA "RES
FURTIVA". ABSOLVIÇÃO POR FALTA DE PROVAS. INVIABILIDADE. CONJUNTO
PROBATÓRIO ROBUSTO E COESO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. NÃO APLICAÇÃO.
TIPICIDADE NÃO ELIDIDA. DESCLASSIFICAÇÃO PARA MODALIDADE TENTADA.
IMPERTINÊNCIA. PENA PECUNIÁRIA. PROPORCIONALIDADE À PENA CORPORAL. 1. O
conjunto probatório constituído por prova documental (auto de prisão em flagrante, auto de
apresentação e apreensão dos bens subtraídos em poder do acusado, termo de restituição da "res
furtiva" e ocorrência policial) e oral (depoimento do segurança do supermercado vítima e dos policiais
atuantes na prisão) é suficiente para a condenação pelo delito de furto simples consumado.

2. A jurisprudência adota a teoria daapprehensio(ouamotio), segundo a qual se considera


consumado o crime de furto quando, cessada a clandestinidade, o agente detenha a posse de fato
sobre o bem, ainda que seja possível àvitimaretomá-lo, por ato seu ou deterceiro, em virtude
de perseguição imediata, sendo prescindível a posse mansa e pacífica ou não vigiada. No caso, o
réu foi abordado no estacionamento do supermercado logo após a prática do furto noticiado, na
posse da "res furtiva", não havendo que se falar em tentativa.

3. Conforme sedimentado pela jurisprudência, a insignificância da prática delitiva pode ser


reconhecida mediante a presença cumulativa dos seguintes requisitos: a) mínima ofensividade da
conduta do agente; b) ausência de periculosidade social da ação; c) reduzidíssimo grau de
reprovabilidade do comportamento; e d) inexpressividade da lesão jurídica provocada. Na hipótese, o
réu é transgressor contumaz, ostentando inúmeras condenações definitivas por crimes patrimoniais - 6
(seis) condenações por furto - o que caracteriza suamultirreincidênciaespecífica e elide a incidência
do princípio da insignificância, ante a recalcitrância na prática de crimes contra o patrimônio,
revelando periculosidade social e reprovabilidade da conduta, não obstante o ínfimo valor da "res
furtiva".

4. A quantidade de dias-multa da pena pecuniária deve guardar proporcionalidade com a pena


corporal estabilizada, enquanto o valor do dia-multa deve refletir a situação econômica do réu.

5. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. DE OFÍCIO, REDIMENSIONADA A


QUANTIDADE DE DIAS-MULTA.

(Acórdão 1388304, 00061658720208070003, Relator: HUMBERTO ULHÔA, 1ª Turma Criminal,


data de julgamento: 25/11/2021, publicado no PJe: 7/12/2021. Pág.: Sem Página Cadastrada. Grifo
nosso)

DIREITO PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL. FURTO SIMPLES. MATERIALIDADE E AUTORIA


COMPROVADAS. FORMA TENTADA. IMPROCEDENTE. COMPROVADA A CONSUMAÇÃO
DO DELITO. DOSIMETRIA DA PENA. VETOR ANTECEDENTES AVALIADO
NEGATIVAMENTE. CRITÉRIO OBJETIVO/SUBJETIVO. PENA-BASE MANTIDA. PENA
PECUNIÁRIA. PROPORCIONALIDADE. REDUÇÃO. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO.

1. Mantém-se a condenação pelo crime de furto consumado, porquanto houve a inversão da


posse dos bens subtraídos pelo réu quando ele colocou a res furtiva no interior de sua bolsa e se
retirou do estabelecimento comercial sem passar pelos caixas e sem efetuar o pagamento dos
objetos, ainda que, logo em seguida, tenha sido abordado por seguranças no estacionamento da
loja.

2. Decorre da aplicação do critério subjetivo-objetivo, adotado pela jurisprudência pátria, o acréscimo


relativo a 1/8 (um oitavo) à quantidade de meses obtidos entre as penas mínima e máxima
abstratamente cominadas ao crime, para cada circunstância judicial valorada negativamente, na
fixação da pena-base.

3. A pena pecuniária deve guardar proporcionalidade com a pena privativa de liberdade. 4. Apelação
criminal conhecida e parcialmente provida.

(Acórdão 1369031, 07013576720218070001, Relator: WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR, 3ª


Turma Criminal, data de julgamento: 2/9/2021, publicado no PJe: 11/9/2021. Pág.: Sem Página
Cadastrada. Grifo nosso)
No caso dos autos, o acusado, enquanto a atendente buscava um copo de água que ele havia pedido,
subtraiu o aparelho celular que estava em cima do balcão.

Assim que ele saiu do estabelecimento, ao acessarem as imagens das câmeras de segurança, viram sua
ação delituosa, tendo um funcionário saído imediatamente a sua procura. Contudo, ele fugiu, sendo
logo em seguida abordado pelos policiais militares na posse do aparelho celular.

Desse modo, consoante se verifica, houve a inversão da posse, uma vez que o recorrente saiu do
estabelecimento com o aparelho celular, não havendo que se falar em tentativa de furto, mas sim do
delito em sua forma consumada.

Nesse sentido confira-se:

RECURSOS DE APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES DE FURTO QUALIFICADO PELO


CONCURSO DE AGENTES, CORRUPÇÃO DE MENOR E FALSA IDENTIDADE. SENTENÇA
CONDENATÓRIA. RECURSOS DEFENSIVOS. PRIMEIRO E SEGUNDO APELANTES.
PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO PELO CRIME DE FURTO. CRIME IMPOSSÍVEL. NÃO
ACOLHIMENTO. PLEITO DE DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO DE FURTO PARA A
MODALIDADE TENTADA. INVIABILIDADE. PLEITO DE ABSOLVIÇÃO PELO CRIME DE
CORRUPÇÃO DE MENOR. IMPOSSIBILIDADE. PRIMEIRA APELANTE.
RECONHECIMENTO DA CAUSA DE DIMINUIÇÃO PREVISTA NO ARTIGO 155, §2º, DO
CÓDIGO PENAL NA FRAÇÃO DE 1/2 (METADE). SEGUNDO APELANTE. PEDIDO DE
ABSOLVIÇÃO PELO DELITO DE FALSA IDENTIDADE. CRIME IMPOSSÍVEL. NÃO
ACOLHIMENTO. REDUÇÃO DO QUANTUM DE AUMENTO NA PRIMEIRA FASE DA
DOSIMETRIA. DESPROPORCIONALIDADE. PEDIDO DE RECONHECIMENTO DA
ATENUANTE DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA. INVIABILIDADE. PLEITO DE FIXAÇÃO DE
REGIME INICIAL SEMIABERTO. NÃO ACOLHIMENTO. RECURSOS CONHECIDOS E
PARCIALMENTE PROVIDOS.

1. Crime impossível é a tentativa não punível, que ocorre quando o agente se vale de meios
absolutamente ineficazes para produzir o evento criminoso ou quando a sua conduta se volta contra
objetos absolutamente impróprios, de maneira a tornar impossível a consumação do crime.

2. Segundo entendimento pacífico no Superior Tribunal de Justiça, a presença de sistema de


monitoramento instalado em estabelecimento comercial e/ou vigilância por agente de segurança
apenas dificulta a prática de furtos em seu interior, mas não obsta, por si só, a realização da conduta
delituosa, não havendo afastar-se a punição, porquanto existe o risco, ainda que mínimo, de que o
agente logre êxito na consumação do furto e cause prejuízo à vítima.

3. A jurisprudência dominante adota a teoria da apprehensio ou amotio para definir o momento


consumativo dos crimes de roubo e furto, segundo a qual não se exige que o agente adquira a
posse tranquila da res, bastando que ocorra a inversão da posse, ainda que efêmera. Na hipótese,
os recorrentes chegaram a passar pelos caixas do estabelecimento, tendo sido abordados quando já
estavam no estacionamento do mercado, não havendo que se falar em desclassificação do crime de
furto para a modalidade tentada.

(...)

(Acórdão 1260076, 00008630220198070007, Relator: ROBERVAL CASEMIRO BELINATI, 2ª


Turma Criminal, data de julgamento: 25/6/2020, publicado no PJe: 10/7/2020. Pág.: Sem Página
Cadastrada. Grifo nosso)
Desse modo, a sentença não merece reparo, pois o presente crime, de fato, se consumou.

4 - Da dosimetria da pena

Destaca-se, nesse ponto, que, ante o efeito devolutivo em profundidade, conferido à apelação criminal,
forçosa a análise das demais matérias não alegadas nas razões recursais.

Denota-se da r. sentença que, na primeira fase, os antecedentes criminais foram valorados


negativamente, confira-se (ID 50985190 - Pág. 3):

A culpabilidade é própria do crime.

O réu, além de ser multirreincidente, pois ostenta condenações por roubo circunstanciado (ID
164392916, fls. 12-13) e furto qualificado (ID 164392916, fls. 29-36), tráfico de drogas (ID
164392916, fls. 14 e 25-27), também tem maus antecedentes, pois ostenta condenação por crime de
dano qualificado (ID 164392916, fls. 21-22).

O feito não traz elementos que permitam a análise adequada da personalidade e da conduta social do
réu.

O motivo é próprio do delito.

As circunstâncias e consequências não são especialmente relevantes.

A vítima não contribuiu para o fato.

Assim, considerando que há circunstância judicial desfavorável (antecedentes), fixo a pena base em 1
(um) ano, 4 (quatro) meses e 15 (quinze) dias de reclusão, mais 15 (quinze) dias-multa.

Assim, observa-se que a pena-base foi fixada a partir da aplicação da fração de 1/8 sobre a diferença
entre as penas mínima e máxima em abstrato, não merecendo qualquer reparo.

Na segunda fase, o magistrado considerou a atenuante da confissão espontânea. Por outro lado,
reconheceu a multirreincidência do réu.

Como cediço, embora a agravante da reincidência e a atenuante da confissão sejam igualmente


preponderantes, levando à compensação integral entre elas, a multirreincidência autoriza a
compensação parcial.

No caso, o magistrado, sopesando os dois fatores, entendeu pela majoração da pena em 1 (um) mês e
11 (onze) dias de reclusão e em 1 (um) dia-multa, de modo que a sentença também não merece
reforma nesse particular.

Por fim, inexistindo causas de aumento ou diminuição da pena, a pena foi definitivamente fixada em 1
(um) ano, 5 (cinco) meses e 26 (vinte e seis) dias de reclusão.

5 - Do regime de cumprimento

A sentença entendeu pela fixação do regime inicial fechado para cumprimento da pena, em razão da
reincidência e maus antecedentes do réu.

Contudo, entendo que o regime não é compatível com a pena imposta, mesmo diante da reincidência e
maus antecedentes do réu.
Acerca do regime de cumprimento insta constar que, na sua fixação, o juiz deve atentar para três
fatores: [a] quantidade de pena; [b] reincidência; e [c] circunstâncias judiciais favoráveis.

A propósito, confira-se o teor dos §§ 2º e 3 º, do artigo 33 do Código Penal:

§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o


mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a
regime mais rigoroso:

a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;

b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito),
poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;

c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o
início, cumpri-la em regime aberto.

§ 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos


critérios previstos no art. 59 deste Código.

In casu,verifica-se que a pena fixada é inferior a 4 anos, mas o recorrente é reincidente, de modo que,
deve ser fixado o regime semiaberto para o cumprimento da reprimenda.

Ademais, a Súmula 269 do colendo Superior Tribunal de Justiça reconhece ser “admissível a adoção
do regime prisional semi-aberto aos reincidentes condenados a pena igual ou inferior a quatro anos
se favoráveis as circunstâncias judiciais”.

Nesse contexto, em que pese o recorrente ter antecedentes criminais desfavoráveis, as demais
circunstâncias judiciais são favoráveis, de modo que deve ser reformada a sentença no ponto em
questão para que o regime inicial de cumprimento de pena seja o semiaberto.

Nesse sentido confira-se:

PENAL. APELAÇÃO. FURTO QUALIFICADO TENTADO. DOSIMETRIA. PENA-BASE.


MAJORAÇÃO EM 1/8 (UM OITAVO). ATE

FRAÇÃO DE 1/6 (UM SEXTO). RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. ATENUANTE


DA CONFISSÃO ESPONTÂNEA E AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA. COMPENSAÇÃO.
CABIMENTO. CAUSA DE AUMENTO DO REPOUSO NOTURNO. EXCLUSÃO. REGIME
INICIAL SEMIABERTO ADEQUADO.

1. Apelação na qual a Defesa postula a reforma da decisão condenatória para que seja redimensionada
a pena.

2. Conforme entendimento jurisprudencial prevalente considera-se proporcional e razoável aumentar a


pena-base em 1/8 (um oitavo) do intervalo entre as penas, por cada circunstância judicial
desfavorável, bem como a aplicação da fração de 1/6 (um sexto), no caso de atenuantes ou agravantes.

3. Condenação já utilizada para considerar maculados os antecedentes penais não pode ser
considerada também como reincidência.
4. Segundo entendimento prevalente no Superior Tribunal de Justiça a agravante da reincidência
compensa-se integralmente com a atenuante da confissão.

5. Inviável a causa de aumento do repouso noturno no furto qualificado porque ela só se aplica na sua
modalidade simples.

6. Mantém-se o regime inicial semiaberto para o cumprimento da pena se o réu possui maus
antecedentes e é reincidente, ainda que a pena aplicada seja inferior a 04 (quatro) anos de
reclusão.

7. Recurso conhecido e parcialmente provido.

(Acórdão 1434347, 07081155020218070005, Relator: CESAR LOYOLA, 1ª Turma Criminal, data de


julgamento: 30/6/2022, publicado no PJe: 12/7/2022. Pág.: Sem Página Cadastrada, grifo nosso)

Assim, entendo que a sentença merece reparo nesse ponto, devendo ser fixado o regime inicial
semiaberto para início do cumprimento da pena.

6 - Da substituição por pena restritiva de direito e da suspensão da pena

Uma vez não preenchidos os requisitos dos artigos 44 e 77 do Código Penal, a apelante não faz jus à
substituição da pena privativa de liberdade por sanção restritiva de direitos e nem à suspensão
condicional da pena. Naturalmente, em virtude da reincidência específica do réu, a medida não é
socialmente recomendável.

7 - Da prisão preventiva

Em relação à manutenção da prisão preventiva não há reparos a se fazer, uma vez que esta não é
incompatível com a fixação do regime para cumprimento semiaberto, se atendidos os requisitos
previstos nos artigos 282, § 6º, 311, 312 e 313, II, todos do CPP.

Ademais, na espécie, verifica-se, pela extensa folha de antecedentes penais do apelante, que a
atividade criminosa lhe é contumaz, motivo pelo qual se justifica a manutenção da prisão preventiva
para evitar a reiteração delitiva.

Ante o exposto, CONHEÇO do recurso e DOU-LHE PARCIAL PROVIMENTO, apenas para


fixar o regime inicial de cumprimento de pena semiaberto, por força do art. 33, §§ 2º e 3 º, do Código
Penal.

É como voto.

O Senhor Desembargador ESDRAS NEVES - Revisor


Com o relator
A Senhora Desembargadora GISLENE PINHEIRO - 1º Vogal
Com o relator
DECISÃO

DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. UNÂNIME

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