Você está na página 1de 4

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2020.0000328599

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1021226-


90.2019.8.26.0224, da Comarca de Guarulhos, em que são apelantes J. A. F.
N. e L. G. DA S. F., é apelado J. DA C..

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 5ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:
Deram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do
relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores MOREIRA


VIEGAS (Presidente) e JAMES SIANO.

São Paulo, 11 de maio de 2020.

J.L. MÔNACO DA SILVA


RELATOR
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto : 33080
Apelação : 1021226-90.2019.8.26.0224
Apelante : José Antonio Fernandes Neto e outra
Apelado : O Juízo
Comarca : Guarulhos
Juiz : Anderson Pestana de Abreu

RETIFICAÇÃO DE ASSENTO DE
CASAMENTO - Alteração do regime de bens -
Improcedência do pedido - Inconformismo -
Acolhimento - Requerentes que se divorciaram
após 32 anos de casamento e casaram-se
novamente após 2 anos do divórcio - Segundo
casamento regido pela separação de bens em razão
da ausência de partilha - Desnecessidade de
partilha porque o casamento ocorreu entre os
mesmos requerentes - Certidões apresentadas que
demonstram a ausência de ações judiciais ou
protestos em face dos requerentes - Efeitos ex nunc
do regime da comunhão parcial - Preservação dos
direitos de terceiros - Inteligência do art. 1.639, §
2º, do Código Civil - Sentença reformada para
acolher o pedido - Recurso provido.

Trata-se de ação de retificação de assento


ajuizada por José Antonio Fernandes Neto e outra, tendo a
r. sentença de fls. 109/111, de relatório adotado, julgado
improcedente o pedido.

Inconformados, apelam os autores


sustentando, em síntese, que a causa suspensiva, que
determinava a adoção do regime da separação de bens,
desapareceu com a contração de novo matrimônio.
Salientam que não possuem dívidas, inexistindo
Apelação Cível nº 1021226-90.2019.8.26.0224 - Fe 2
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

justificativa para manutenção do regime da separação de


bens. Por fim, requerem o provimento do recurso para
reformar a r. sentença (v. fls. 119/122).

Nesta instância, a douta Procuradoria Geral de


Justiça opinou pelo desprovimento do recurso (v. fls.
132/134).

É o relatório.

O recurso merece provimento.

Com efeito, o art. 1.639, § 2º, do Código Civil


preceitua que: “É admissível alteração do regime de bens,
mediante autorização judicial em pedido motivado de
ambos os cônjuges, apurada a procedência das razões
invocadas e ressalvados os direitos de terceiros”.

No caso dos autos, os requerentes foram


casados pelo regime da comunhão parcial de bens entre
1982 e 2014 (v. fls. 13 e 16/17), tendo celebrado novo
matrimônio em 8 de janeiro de 2016 (v. fls. 14).

O regime da separação de bens foi adotado no


segundo casamento em razão da causa suspensiva
prevista no art. 1.641, inc. I, do Código Civil, que impede a
adoção de outro regime pelo divorciado enquanto não
houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens
do casamento anterior.

Respeitada a convicção do MM. Juiz, a


ausência de partilha dos bens amealhados no primeiro
casamento não impede a alteração do regime de bens,
uma vez que o casamento ocorreu entre os mesmos
requerentes. Ademais, as certidões de fls. 66/102
demonstram a ausência de ações judiciais ou protestos em
face dos requerentes. E a execução fiscal ajuizada em
2017 contra o coautor José não impede a modificação do
regime, cujos efeitos são ex nunc para não prejudicar os

Apelação Cível nº 1021226-90.2019.8.26.0224 - Fe 3


PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

direitos de terceiros (v. fls. 64/65).

No mesmo sentido é o entendimento do


Colendo Superior Tribunal de Justiça: “O ordenamento
jurídico pátrio, ressalvadas raras exceções, não admite a
retroatividade das normas para alcançar ou modificar
situações jurídicas já consolidadas. Portanto, em regra, a
alteração de regime de bens tem eficácia ex nunc.
Precedentes” (AgInt nos EDcl no AREsp 1415841/SP, Rel.
Ministro MOURA RIBEIRO, TERCEIRA TURMA, julgado
em 14/10/2019, DJe 16/10/2019).

Finalmente, não cabe a fixação de honorários


advocatícios, uma vez que se trata de procedimento de
jurisdição voluntária sem o estabelecimento do
contraditório.

Em suma, impõe-se a reforma da r. sentença


para acolher o pedido e modificar o regime de bens para o
de comunhão parcial.

Ante o exposto, pelo meu voto, dou provimento


ao recurso.

J.L. MÔNACO DA SILVA


Relator

Apelação Cível nº 1021226-90.2019.8.26.0224 - Fe 4

Você também pode gostar