ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

EJLC
Nº 70063796577 (N° CNJ: 0065035-72.2015.8.21.7000)
2015/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. CONSÓRCIO DE BEM IMÓVEL.

DEVOLUÇÃO PARCELAS. ENCERRAMENTO.
TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. MANUTENÇÃO DO
PERCENTUAL.
DEVOLUÇÃO PARCELAS: Levando-se em conta que
a desistência do negócio se deu por vontade da parte
autora, mostra-se descabida a devolução imediata,
devendo esta ocorrer em até 30 dias a contar do prazo
previsto contratualmente para encerramento do grupo
de consórcio, nos termos do Recurso Especial nº
1.119.300/RS.
TAXA ADMINISTRAÇÃO: O percentual da taxa de
administração, conforme entendimento do Superior
Tribunal de Justiça, não tem limitação legal.Inaplicável
o CDC, porquanto não há abuso no patamar de 22%.
NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO DE
APELAÇÃO.

APELAÇÃO CÍVEL DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL

Nº 70063796577 (N° CNJ: 0065035- COMARCA DE LAJEADO

72.2015.8.21.7000)

LEONILDA DE FATIMA REMPEL APELANTE

HERVAL ADMINISTRADORA DE APELADO

CONSORCIOS LTDA

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Décima Nona
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar
provimento ao recurso de apelação.
Custas na forma da lei.

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Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes

Senhores DES. VOLTAIRE DE LIMA MORAES (PRESIDENTE E
REVISOR) E DES.ª MYLENE MARIA MICHEL.
Porto Alegre, 09 de abril de 2015.

DES. EDUARDO JOÃO LIMA COSTA,

Relator.

RELATÓRIO
DES. EDUARDO JOÃO LIMA COSTA (RELATOR)
Trata-se de recurso de apelação interposto por LEONILDA DE
FÁTIMA REMPEL contra a sentença que julgou improcedente a ação de
restituição de quotas de consórcio nº 017/10900101161, movida em face de
HERVAL ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA.
A sentença, na parte dispositiva, está assim lançada (fl. 96 –
verso e seguinte):

Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE a

pretensão formulada por LEONILDA DE FÁTIMA
REMPEL em face de HERVAL ADMINISTRADORA
DE CONSÓRCIO LTDA, nos termos da presente
fundamentação.

Pelo princípio da sucumbência, condeno a autora ao

pagamento das custas, bem como honorários
advocatícios em favor do advogado da parte contrária,
os quais tributo em R$ 1.000,00 (um mil reais), na
forma do art. 20, §4º, do CPC, atualizável com o IGP-
M e juros legais a partir da sentença, considerando a
natureza da causa, o tempo decorrido e o zelo
profissional do procurador. Fica suspensa a
exigibilidade por litigar a autora aos auspícios da AJG.

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Leonilda de Fátima Rempel, em seu apelo, menciona a

aplicação da regra contida no Código de Defesa do Consumidor, o que
autoriza reconhecer como abusivas as obrigações assumidas.
Relembra que o ajuste consortil foi firmado em fevereiro de
2008, constituído em 150 parcelas, restando quitadas 15 delas, pretendendo
desligamento do grupo, bem com a restituição dos valores pagos.
Pede devolução imediata do valor, trazendo enunciado da
Súmula nº 15, das Turmas Recursais Cíveis do TJRS.
Requer a incidência de juros de mora a partir da citação e
correção monetária a contar de cada pagamento.
Postula a redução da taxa de administração, devendo esta ser
limitada a 10% dos valores pagos.
Colaciona jurisprudência, além de ter mencionando o artigo 42,
da Lei 5.768/71, regulamentada pelo Decreto 70.951/72.
Pediu o provimento do apelo
Ausente preparo.
Recebido o apelo e intimada a parte demandada, esta deixou
de oferecer contrarrazões (fl. 109 – verso).
Vieram os autos conclusos para decisão.
É o relatório.

VOTOS
DES. EDUARDO JOÃO LIMA COSTA (RELATOR)
Conheço do recurso, porquanto preenchidos os seus requisitos
de admissibilidade.

RELAÇÃO CONTRATUAL.

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As partes, em 23 de fevereiro de 2008, firmaram Contrato de

Participação em Grupo de Consórcio para aquisição de bem imóvel, de nº
116117, relativo ao grupo 1018, cota 347. A parte autora busca a restituição
da parcelas pagas, sustentando não ter mais interesse na continuidade do
ajuste.
A sentença foi de improcedência, tendo a autora apresentado
recurso de apelação.
Passo, assim, ao enfrentamento do tema recursal.

DEVOLUÇÃO IMEDIATA DOS VALORES PAGOS.

Postula a parte a restituição imediata dos valores
correspondentes às parcelas pagas, o que não merece acolhimento.
Ocorre que levando-se em conta que a desistência do negócio
se deu por vontade da parte autora, mostra-se descabida a devolução
imediata, devendo esta ocorrer em até 30 dias a contar do prazo previsto
contratualmente para encerramento do grupo de consórcio, nos termos do
REsp nº 1.119.300/RS:

RECURSO ESPECIAL Nº 1.119.300 - RS

(2009/0013327-2)
RELATOR : MINISTRO LUIS FELIPE SALOMÃO
RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. JULGAMENTO
NOS MOLDES DO ART. 543-C DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL. CONSÓRCIO. DESISTÊNCIA.
DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS PELO
CONSORCIADO. PRAZO. TRINTA DIAS APÓS O
ENCERRAMENTO DO GRUPO.
1. Para efeitos do art. 543-C do Código de Processo
Civil: é devida a restituição de valores vertidos por
consorciado desistente ao grupo de consórcio, mas
não de imediato, e sim em até trinta dias a contar do
prazo previsto contratualmente para o encerramento
do plano.

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2. Recurso especial conhecido e parcialmente provido.

A orientação é seguida por este Colegiado, eis que o Superior

Tribunal de Justiça, nos termos artigo 543 – C, §7º, II, do Código de
Processo Civil, uniformizou o entendimento a respeito forma de garantir
isonomia no julgamento das relações jurídicas advindas de contrato de
consórcio.
Cito precedente:

DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO.

CONSÓRCIO DE BEM IMÓVEL. RECURSO
ESPECIAL. ART. 543-C, §7º, II, DO CPC. JUÍZO DE
RETRATAÇÃO. ORIENTAÇÃO PACIFICADA NO STJ.
DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS NO PRAZO
DE 30 DIAS A CONTAR DA ÚLTIMA ASSEMBLÉIA
DO GRUPO CONSORCIAL. OS JUROS
MORATÓRIOS DEVEM INCIDIR A PARTIR DO
VENCIMENTO DO PRAZO PREVISTO PARA
DEVOLUÇÃO. APELAÇÃO PARCIALMENTE
PROVIDA.
(Apelação Cível Nº 70038730495, Décima Nona
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Mylene Maria Michel, Julgado em 31/01/2012)

Logo, mostra-se descabida a restituição imediata, como postula

a parte autora, devendo ser observado o Recurso Especial nº 1.119.300/RS,
acima transcrito, devendo, assim, a devolução dos valores pagos ocorrer no
prazo de 30 dias a contar da última assembléia.
Não é caso de se acolher o apelo, no ponto.

DA TAXA DE ADMINISTRAÇÃO.

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Inicialmente, esclareço que, no caso em comento, a taxa em

questão foi fixada em 22% (cláusula oitava – fl. 14) e não em 40% conforme
afirmado pela apelante.
O percentual da taxa de administração, conforme entendimento
do Superior Tribunal de Justiça, não tem limitação legal. Malgrado
anteriormente o entendimento fosse diverso, o tema a respeito da não
limitação do percentual em questão já está pacificado no âmbito deste
colegiado e no Superior Tribunal de Justiça, na medida em que o Decreto n.
70.951/72 está ab rogado pela Lei n. 8.177/91, autorizando o Banco Central
do Brasil regulamentar, via administrativa, o funcionamento de grupo
consortil, dispondo às administradoras de consórcio de poderes para fixar os
limites máximo e mínimo da taxa de administração.
No caso em tela, a taxa de administração foi fixada em 22%, o
que não se mostra abusivo.
No âmbito deste colegiado, o tema já está pacificado, conforme
os seguintes precedentes:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVISIONAL. CONTRATO

DE CONSÓRCIO. AQUISIÇÃO DE IMÓVEL. TAXA
DE ADMINISTRAÇÃO. MANUTENÇÃO DO
PERCENTUAL CONTRATADO. INEXISTÊNCIA DE
ABUSIVIDADE. Mantido o percentual de 22% fixado a
título de taxa de administração. Apelação improvida.
(Apelação Cível Nº 70057463556, Décima Nona
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Voltaire de Lima Moraes, Julgado em 29/04/2014)

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO

ESPECIFICADO. CONSÓRCIO DE BEM IMÓVEL.
TAXA DE ADMINISTRAÇÃO. As administradoras de
consórcio têm liberdade para fixar a respectiva taxa de
administração, inexistindo ilegalidade ou abusividade
da taxa contratada superior a 10% (dez por cento),
conforme orientação dos recursos repetitivos (REsp n.
1.114.604 e 1.114.606). PRAZO PARA RESTITUIÇÃO
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DOS VALORES INTEGRALIZADOS. AUSÊNCIA DE

INTERESSE RECURSAL. Requisito intrínseco não
preenchido. Apelação não conhecida no ponto por
ausência de interesse recursal. DEDUÇÃO DAS
MULTAS CONTRATUAIS. Inovação recursal
inadmissível. CORREÇÃO MONETÁRIA. Aplicável a
correção monetária a partir da data de cada
desembolso. APELAÇÃO DO AUTOR DESPROVIDA.
RECURSO ADESIVO DA RÉ CONHECIDO EM
PARTE E, NESTA PARTE, DESPROVIDO. (Apelação
Cível Nº 70055890453, Décima Nona Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Antonio
Angelo, Julgado em 17/12/2013)

Não caracterizada, pois, a abusividade é caso de se manter

percentual fixado (22%), devendo o valor correspondente ser descontado do
valor a ser devolvido.

DISPOSITIVO.
Ante o exposto, voto em negar provimento ao recurso de
apelação, modo pelo qual mantenho a sentença como proferida.
É o voto.

DES. VOLTAIRE DE LIMA MORAES (PRESIDENTE E REVISOR) - De

acordo com o(a) Relator(a).
DES.ª MYLENE MARIA MICHEL - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. VOLTAIRE DE LIMA MORAES - Presidente - Apelação Cível nº

70063796577, Comarca de Lajeado: "NEGARAM PROVIMENTO AO
RECURSO DE APELAÇÃO. UNÂNIME."

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Julgador(a) de 1º Grau: DEBORA GERHARDT DE MARQUE