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Supremo Tribunal Federal

RECLAMAÇÃO 15.086 RIO GRANDE DO SUL

RELATORA : MIN. CÁRMEN LÚCIA


RECLTE.(S) : CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA DA V
REGIÃO
ADV.(A/S) : SHEILA MENDES PODLASINSKI E OUTRO(A/S)
RECLDO.(A/S) : TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 4ª
REGIÃO
INTDO.(A/S) : CLERIS ROSA DO NASCIMENTO
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

DECISÃO

RECLAMAÇÃO. CONSTITUCIONAL.
TRÂNSITO EM JULGADO DA AÇÃO DE
CONHECIMENTO. SÚMULA N. 734 DO
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
PRECEDENTES. RECLAMAÇÃO À QUAL
SE NEGA SEGUIMENTO.

Relatório

1. Reclamação, com pedido de medida liminar, ajuizada pelo


Conselho Regional de Química da 5ª Região, em 17.12.2012, contra
julgado do juiz da 28ª Vara do Trabalho de Porto Alegre/RS, que, no
Agravo de Petição n. 0017100-67.2008.5.04.0028, teria desrespeitado o que
decidido na Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 1717.

2. A decisão impugnada tem o teor seguinte:

“1. O Embargante alega que a decisão que acolheu o bloqueio de


valores das contas bancárias por intermédio do convênio Bacen Jud
determina que se inclua a executada no Banco Nacional de Devedores
Trabalhistas. Acentua que os valores bloqueados pelo Juízo são
oriundos da arrecadação do embargante e reservados exclusivamente
para capital para cobrir as despesas do Conselho, garantindo o
pagamento dos salários de seus funcionários ativos e arcando com

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despesas oriundas de suas atividades para mantença da autarquia.


Frisa que o bloqueio deste numerário trará sérias consequências ao
bom andamento das atividades da demanda, inclusive a sobrevivência
da autarquia, comprometendo de maneira irreparável o cumprimento
de suas obrigações com os demais funcionários. Argumenta que é
dotado de personalidade jurídica de direito público, sendo
absolutamente vedada a penhora de seus bens. Ressalta que eventuais
dívidas devem ser pagas através de precatórios ou, se for o caso,
através de requisição de pequeno valor, como acontece rotineiramente.
Salienta que a atividade de fiscalização do exercício profissional é
estatal. Adverte que a decisão determina e efetiva o bloqueio de ativos
financeiros via Bacen Jud, sendo que este bloqueio é ilegal, porque
caracteriza penhora de bens, o que é proibido em relação aos entes
públicos, consoante previsto no artigo 100 da Constituição da
República. Afirma que mesmo as contribuições cobradas pelas
Conselhos de Fiscalização das profissões têm caráter tributário por
serem contribuições de interesse de categorias profissionais, assim
como contribuições corporativas (CF, artigo 149). Assevera que a
execução contra a Fazenda Pública apresenta peculiaridades que não
se harmonizam com a regra do artigo 739-A do CPC e, em decorrência
da norma constitucional, a Fazenda não pode efetuar o pronto
pagamento de seus débitos judiciais, estando adstrita ao trânsito em
julgado da sentença judicial e ao procedimento via precatório, assim
regrado no artigo 730 do CPC. Cita jurisprudência. Sustenta que é
este o posicionamento do Tribunal Superior do Trabalho, que
transcreve. Acentua que sempre cumpriu com seus compromissos,
principalmente perante o Judiciário e, no caso em tela, a execução
demonstra a intenção de honrar com a dívida existente nos autos,
inobstante buscar o exercício do direito que a Constituição Federal lhe
garante. Requer que os embargos sejam recebidos e acolhidos para
levantar a penhora sobre a conta do Conselho, a fim de que lhe seja
devolvido o valor bloqueado.
O embargado sustenta a existência de coisa julgada. Alega que,
após o trânsito em julgado da decisão condenatória e ultrapassada a
fase de liquidação de sentença, o embargado insistiu que a execução
deveria se operar através de precatório, o que foi rechaçado por

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despacho, contra o qual houve interposição de mandado de segurança,


no qual o E. TRT decidiu denegar a segurança pretendia, cassando a
liminar antes deferida. Aduz que a decisão transitou em julgado e que
mais uma vez o embargante retorna ao tema, que já está superado pela
coisa julgada. Requer que os presentes embargos sejam extintos, de
plano, sem resolução de mérito, forte no artigo 267, inciso V, do CPC,
devendo a execução prosseguir normalmente, condenando o réu ao
pagamento de todos os ônus da sucumbência, inclusive custas
processuais e honorários sucumbenciais. Defende que os embargos não
possuem efeito suspensivo. Afirma que o protocolo dos embargos foi
feito depois do prazo de cinco dias da efetivação da penhora. Registra
que a jurisprudência dominante se inclina no sentido de que o réu,
como entidade de fiscalização profissional, que desempenha atividades
voltadas exclusivamente ao interesse da própria categoria, não guarda
relação com o serviço público típico. Informa que o réu é uma
autarquia federal atípica, não sujeita ao rito estabelecido pelo artigo
730 do CPC e nem amparo no artigo 100, parágrafo 1º, da
Constituição da República. Cita jurisprudência. Impugna a alegação
de que o bloqueio de valores comprometeria a sustentabilidade do réu.
Destaca que o embargado tem orçamento anual de alguns milhares de
reais e centenas de veículos e outros bens móveis e imóveis. Adverte
que o réu procura, por todos os modos, opor injustificada resistência a
regular andamento da execução, inclusive apresentando razões
recursais já alcançadas pela coisa julgada, revelando atitude
meramente procrastinatória, o que configura a lide temerária, pede a
condenação do embargante nas penas do artigo 601 do CPC.
1.1. O embargante impetrou mandado de segurança junto ao E.
TRT, com pedido de liminar, contra a decisão que entendendo que os
Conselhos Regionais de Fiscalização Profissional não estão ao abrigo
do artigo 100 da Constituição Federal, manteve o bloqueio de ativos
pelo Sistema Bacen Jud, requerendo o cancelamento do bloqueio e a
devolução dos valores bloqueados bem como a suspensão de qualquer
medida constritiva via Bacen Jud.
Na decisão proferida no Mandado de Segurança o E. TRT
decidiu que o embargante não detém direito líquido e certo de vê-la
processada mediante a expedição de precatório, porquanto não goza

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dos privilégios da Administração Pública, salientando, ainda, que não


há prova de que a constrição judicial irá inviabilizar as atividades do
executado. Contra a decisão não foram interpostos recursos.
Assim, ainda que numa primeira análise a decisão do mandado
de segurança não seja impedimento para que o executado pleiteia na
via própria seus direitos, a jurisprudência é no sentido de que isso
somente é possível quando o acórdão que julgou o mandado de
segurança não adentra ao mérito da controvérsia, conforme a previsão
contida no artigo 19 da Lei n. 12.016/2009.
Desta forma, tendo apresentado sua inconformidade ao
Judiciário, que apreciou o mérito do ato que determinou o bloqueio de
bens e decidiu quanto a possibilidade de penhora de bens do executado,
bem como pela ausência de direito a ver a execução processada na
forma dos artigos 730 do CPC e artigo 100 da Constituição da
República, não pode, agora com outro tipo de providência submeter a
mesma hipótese a apreciação, sob pena de acarretar decisões
contraditórias.
Desta forma, na decisão proferida no Mandado de Segurança
impetrado pelo embargante, cuja cópia está juntada nas fls. 345/347, o
E. TRT analisou o mérito, o que impede a repetição do mesmo pleito
em sede de embargos à execução, consoante os termos da
jurisprudência dominante e do artigo 19 da Lei nº 12.016/2009.
Acolho a preliminar de coisa julgada e determino a extinção dos
embargos à execução, sem resolução de mérito, na forma do artigo 267,
inciso V, do CPC.
1.2. Considero, no entanto, que o ajuizamento dos presentes
embargos à execução não representa ato atentatório à dignidade da
Justiça ou revela intuito protelatório, sendo indevida multa.
1.3. Entendo que não há falar em honorários de sucumbência no
âmbito do processo do trabalho e, por isso, indefiro o requerimento do
embargante.
Ante o exposto, acolho a preliminar de coisa julgada e determino
a extinção dos Embargos à Execução sem resolução de mérito. Custas
de R$44,26, pelo Embargante, na forma do artigo 789-A, inciso V, da
CLT. Intimem-se as partes. Decorrido o prazo legal, prossiga-se a
execução. Em 30 de abril de 2010” (doc. 3, grifos nossos).

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É contra essa decisão que se ajuíza a presente reclamação.

3. O Reclamante alega que “inconformado com a sentença das fls. 349-


350, que determinou a extinção dos embargos à execução sem resolução do
mérito, a ora reclamante interpôs agravo de petição. O Agravo de Petição
(Processo n. 00171-67.2008.5.04.0028), com pedido de efeito suspensivo, foi
processado e julgado pela Secretaria da Seção Especializada em Execução do E.
Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, mantendo a decisão outrora
proferida pelo Juiz ‘a quo’ nos autos da execução” (fls. 1-2).

Sustenta que, “contrariamente à doutrina, à jurisprudência, às leis e à


Carta Magna, a decisão das autoridades coatoras, ora reclamadas, em admitir a
penhora de valores em conta corrente do reclamante, posto que assim procedendo
se está penhorando valores de um ente público, pois o reclamante, assim como
todo Conselho de Fiscalização Profissional, por ser uma Autarquia Federal, é
dotado de personalidade jurídica de direito público” (fl. 6).

Assevera que “como Autarquia Federal, é absolutamente vedado ter seus


bens penhorados, quanto mais oferecer bens à penhora pelos seus gestores, o que,
‘in casu’, configuraria ato de improbidade administrativa, ou seja: uma
ilegalidade. Como toda Autarquia Pública Federal, suas eventuais dívidas devem
ser pagas através de precatórios ou, se for o caso, através de Requisição de
Pequeno Valor” (fl. 6).

Requer “liminar, a fim de que seja cancelada a determinação judicial que


manteve o bloqueio dos valores deste Conselho, a fim de que lhes sejam
devolvidos, bem como a suspensão e o impedimento de qualquer outra medida
constritiva via BacenJud” (fl. 7).

Pede, no mérito, “seja julgado totalmente procedente o pedido” (fl. 7).

Examinados os elementos havidos nos autos, DECIDO.

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4. Na espécie vertente, o juiz da 28ª Vara do Trabalho de Porto


Alegre/RS acolheu a preliminar de coisa julgada e extinguiu os embargos
à execução sem resolução do mérito.

5. Este Supremo Tribunal assentou que o cabimento de reclamação


contra decisões judiciais pressupõe que o ato decisório por meio dela
impugnado ainda não tenha transitado em julgado, conforme dispõe a
Súmula n. 734 do Supremo Tribunal Federal, porque esta ação não se
presta para resolver questões típicas do processo de execução.

Nesse sentido:

“Não cabimento de reclamação como instrumento de resolução


de incidentes no processo de execução. 6. Impossibilidade de utilizar-se
a reclamação para renovar debate sobre questões típicas do processo de
execução, as quais receberam soluções desfavoráveis quando
submetidas ao juízo natural da execução. 7. Agravo não provido” (Rcl
2.680-AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, Plenário, DJ 4.8.2006).

“DECISÃO RECLAMADA QUE TRANSITOU EM


JULGADO - OCORRÊNCIA DO FENÔMENO DA RES
JUDICATA - INVIABILIDADE DA VIA RECLAMATÓRIA -
RECLAMAÇÃO DE QUE NÃO SE CONHECE. A EXISTÊNCIA
DE COISA JULGADA IMPEDE A UTILIZAÇÃO DA VIA
RECLAMATÓRIA. - Não cabe reclamação, quando a decisão por ela
impugnada já transitou em julgado, eis que esse meio de preservação
da competência do Supremo Tribunal Federal e de reafirmação da
autoridade decisória de seus pronunciamentos - embora revestido de
natureza constitucional (CF, art. 102, I, 'e') - não se qualifica como
sucedâneo processual da ação rescisória. - A inocorrência do trânsito
em julgado da decisão impugnada em sede reclamatória constitui
pressuposto negativo de admissibilidade da própria reclamação, que
não pode ser utilizada contra ato judicial que se tornou irrecorrível.
Precedentes” (Rcl 1.438-QO, Rel. Min. Celso de Mello, Plenário,

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DJ 22.11.2002).

“RECLAMAÇÃO - ALEGADO DESRESPEITO A


DECISÕES PROFERIDAS PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL EM SEDE DE FISCALIZAÇÃO ABSTRATA - ATO
JUDICIAL, OBJETO DA RECLAMAÇÃO, JÁ TRANSITADO EM
JULGADO - INCIDÊNCIA DE OBSTÁCULO FUNDADO NA
SÚMULA 734/STF - IMPOSSIBILIDADE DE RENOVAÇÃO DO
LITÍGIO EM SEDE DE EXECUÇÃO - TANTUM JUDICATUM
QUANTUM DISPUTATUM VEL DISPUTARI DEBEBAT -
INADMISSIBILIDADE DO EMPREGO DA RECLAMAÇÃO
COMO SUCEDÂNEO DA AÇÃO RESCISÓRIA, DE RECURSOS
OU DE AÇÕES JUDICIAIS EM GERAL - EXTINÇÃO DO
PROCESSO DE RECLAMAÇÃO - PRECEDENTES - RECURSO
DE AGRAVO IMPROVIDO” (Rcl 8.716-AgR, Rel. Min. Celso de
Mello, Plenário, DJe 26.5.2011).

Portanto, ausentes os requisitos processuais que viabilizariam o


regular trâmite da presente reclamação.

6. Pelo exposto, nego seguimento a esta reclamação (art. 21, § 1º, do


Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal), prejudicada, por
óbvio, a medida liminar pleiteada.

Publique-se.

Brasília, 18 de dezembro de 2012.

Ministra CÁRMEN LÚCIA


Relatora

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