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UNIVERSIDADE TÉCNICA

DE MOÇAMBIQUE
TRAUMATOLOGIA
FORENSE I
Docente: Dr. Afonso Teixeira Lopes Agostinho

06/18/2021 Maputo, 21 de Abril


Traumatologia Forense I de 2021 1
SUMÁRIO
Conceito de Traumatologia Forense;
Conceito e tipos de violência segundo a OMS;
Natureza dos actos violentos;
Avaliação do Dano em Direito Comum;
Elementos médico-legais que agravam os crimes de ofensas
corporais;
Elaboração do laudo pericial

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No final do tema os estudantes deverão:
Conhecer o conceito da Traumatologia Forense;
Conhecer o conceito de Violência e seus tipos segundo a
OMS;
Conhecer a natureza dos actos violentas;
Saber o conceito de Dano em Direito Comum e sua avaliação;
Conhecer os elementos médico-legais que agravam os crimes
de ofensas corporais e sua importância médico-legal.

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TRAUMATOLOGIA FORENSE

Conceito
É o capitulo da Medicina Legal que estuda as lesões e estados patológicos,
imediatos ou tardios, produzidos por violência sobre o corpo humano.

Objecto de estudo para o Direito:


- Diagnóstico
- Prognóstico
- Implicações legais e socioeconômicas da violência/trauma.

Constituem 2/3 das perícias realizadas no SML do HCM.

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TRAUMATOLOGIA FORENSE
VIOLÊNCIA
Conceito:

O uso intencional da força física ou ameaça, contra si


próprio, contra outra pessoa ou contra um grupo ou uma
comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de
resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de
desenvolvimento ou privação (O.M.S., 2002).

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TRAUMATOLOGIA FORENSE
TIPOS DE VIOLÊNCIA
1. Violência Auto-infligida 2. Violência Interpessoal

Comportamento suicida: Violência no seio da família:


• Pensamentos suicidas; • Abuso infantil;
• Tentativas de suicídios • Abuso contra os idosos.
(parassuicídios);
• Suicídio.

Auto-abusos: Violência perpetrada por


• Actos de auto-mutilação parceiros íntimos

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TRAUMATOLOGIA FORENSE
TIPOS DE VIOLÊNCIA
3. Violência Comunitária
Violência que ocorre entre pessoas sem nenhum laço parentesco
(consaguíneos ou não) e que podem conhecer-se ou não, geralmente
fora de casa.

a) Violência Juvenil: nas escolas, entre gangues: nos bairros,


campos desportivos, etc.
b) Violência Institucional: nos lares/escolas, locais de trabalho,
prisões, asilos, etc.
c) Actos aleatórios de violência perpetrado por estranhos.
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TRAUMATOLOGIA FORENSE
TIPOS DE VIOLÊNCIA
4. Violência Colectiva
Sugere a existência de possíveis motivações/agendas para o cometimento da
violência por um grupo de pessoas ou de Estados (países).

a)Violência Colectiva Social: “crimes por ódio” cometidos por grupos


organizados; actos terroristas e violência de multidões.
b)Violência Colectiva Política: inclui guerras e conflitos de violência do Estado
e actos semelhantes por grupos maiores (movimentos/partidos politicos, etc).
c)Violência Colectiva Económica: ataques de grupos/movimentos visando
interromper a actividade económica, impedir acesso a serviços essenciais ou
criar segmentação/fragmentação económica.
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TRAUMATOLOGIA FORENSE
NATUREZA DOS ACTOS VIOLENTOS

Podem ser:

I. a) Física; II. a) Sexual.

b) Psicológica;
c) Privação;
d) Negligência.

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AVALIAÇÃO DO DANO EM DIREITO
COMUM
O conceito de Dano é jurídico.

Ele pode ser:


Dano Patrimonial - são danos corporais passíveis de avaliação
pecuniária ou de ressarcimento.

Danos não patrimoniais - são danos corporais em que não é


possível a sua avaliação pecuniariamente, mas servem para que
com a sua menção se faça a Justiça Social, pedindo agravação
ou não da sentença.

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AVALIAÇÃO DO DANO EM DIREITO COMUM
• Incapacidade Fisiológica Permanente (I.F.P.) também
designada por Incapacidade Funcional ou ainda por,
Handcap pessoal - é o atentado a uma ou várias funções
orgânicas intelectuais ou físicas, provocando a diminuição
parcial ou total da performance do individuo na esfera física,
intelectual ou mental.
É expressa em percentagem (%).

• Handcap Profissional – é definido como sendo o atentado a


uma função orgânica que compromete a actividade profissional
do individuo.

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AVALIAÇÃO DO DANO EM DIREITO COMUM

Exs.: de Incapacidade Fisiológica:


Amputação de vários dedos da mão: atentado a função de
preensão.
Problemas da memória (amnésia) e da atenção: atentado a
função intelectual.
Problemas de pensamento, de julgamento, do comportamento:
atentado a função psíquica.

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AVALIAÇÃO DO DANO EM DIREITO COMUM

A avaliação é feita de:


Forma qualitativa: descrição da lesão.

Forma quantitativa: por meio da “Tabela Internacional de


Invalidez”.

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AVALIAÇÃO DO DANO EM DIREITO
COMUM
As Regras ou Leis tem certos princípios.
1ª Lei ou Principio: mesmo nos casos de enfermidades gravíssimas não
existe em Direito Comum a taxa de incapacidade fisiológica de 100%.

2ª Lei ou Principio - “teoria das restantes capacidades”: o perito ao


avaliar a Taxa de Incapacidade Fisiológica não deve fazer outro cálculo,
deve considerar que o indivíduo vale 100% da sua capacidade fisiológica,
e que a soma da capacidade perdida (expressa pela taxa de incapacidade)
e da capacidade restante é igual ao indivíduo inteiro, isto é, 100%.

Incapacidade fisiológica permanente + capacidade restante = 100

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AVALIAÇÃO DO DANO EM DIREITO
COMUM

 3ª Lei ou Princípio - “hierquização estrita das


incapaciades segundo a gravidade real”: a tabela deve
avaliar e classificar as enfermidades segundo a sua real
gravidade; as enfermidades de gravidade similar devem ter a
mesma taxa de incapacidade, inversamente as enfermidades
de gravidade diferente devem ter coeficientes de incapacidade
distinto.

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AVALIAÇÃO DO DANO EM DIREITO
COMUM
• 4ª Lei ou Principio – “independência estrita da
incapacidade fisiológica da incapacidade profissional”.

• Não existe nenhuma proporcionalidade e paralelismo entre as


Taxas de Incapacidade Fisiológica (Handcap pessoal) e da
Incapacidade Profissional visto que os dois conceitos são
distintos e devem ser analisados e quantificados
separadamente.
• Ex.1: pianista que tem amputação do 2º dedo: T.I.F. (8%)
em Direito Comum e acidente de trabalho (Incapacidade
Profissional total-100%).
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AVALIAÇÃO DO DANO EM DIREITO COMUM
DANOS PATRIMONIAIS

• Uma parte dos danos patrimoniais não é calculada ou feita pelo


perito, corresponde ao custo de todo o tratamento médico-cirúrgico,
psicológico, fisioterapêutico, de transporte, etc. que a vítima se sujeita
devido ao dano.

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AVALIAÇÃO DO DANO EM DIREITO COMUM
DANOS PATRIMONIAIS

Tempo de cura das lesões: avaliado em dias.

Incapacidade total para o trabalho: avaliado em dias.

Incapacidade parcial para o trabalho: avaliado em


percentagem (%) do tempo diário de trabalho que a vítima deve
dispender até completar o tempo de cura atribuído pelo perito.
 Incapacidade fisiológica: avaliada em percentagem (%).

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AVALIAÇÃO DO DANO EM DIREITO COMUM
DANOS NÃO PATRIMONIAIS

Preterium Doloris ou quantum doloris: também foi


designada de Prejuízo Moral.
Avaliada como dor ou sofrimento que a vítima sofre, sente
dependendo muitas das vezes do tipo de tratamento médico-
cirúrgico e às circunstâncias em que terá ocorrido o facto
delitivo.

É avaliado numa tabela de 1 à 5 ou de 1 à 7; isto é, ligeiríssimo,


ligeiro, ligeiro à moderado, moderado, moderado à grave,
grave, gravíssimo.

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AVALIAÇÃO DO DANO EM DIREITO COMUM
DANOS NÃO PATRIMONIAIS
• Prejuízo estético: quando o dano ou sequela causa
deformidade notável, isto é, alteração de forma que afeie e
deturpe o indivíduo no complexo do seu organismo.

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AVALIAÇÃO DO DANO EM DIREITO COMUM
DANOS NÃO PATRIMONIAIS
Prejuízo profissional: quando o dano ou sequela resulte em
prejuízo (impossibilitando ou incapacitando total ou
parcialmente) às actividades habituais ou profissionais da
vítima.

Prejuízo de idade: este é avaliado para as idades extremas, à


1ª e a 3ª idade, quando o dano ou sequela resulte em prejuízo
(impossibilidade ou incapacidade) da criança brincar (por
exemplo correr, jogar, etc) como outras da mesma idade.

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AVALIAÇÃO DO DANO EM DIREITO COMUM
DANOS NÃO PATRIMONIAIS
 Prejuízo de lazer: quando o dano ou sequela resulte em prejuízo
para as actividades não renumeráveis ou ao hobby à vítima.

Prejuízo obstétrico: quando o dano ou sequela resulte em


prejuízo que impossibilite a vítima de engravidar ou manter uma
gravidez.
Ex.: devido as lesões da parede abdominal.

Prejuízo de vida de relação: quando o dano ou sequela resulte


em lesão gravissimo aos órgãos ou aparelhos de vida de relação.

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ELEMENTOS MÉDICO-LEGAIS QUE AGRAVAM
OS CRIMES DE OFENSAS CORPORAIS
Definição
• Ofensas corporais - definida médico legalmente e com base no
Código Penal como a perturbação ílicita da integridade corporal
de outrem. (C.P. Cap.II, Art.171 e seguintes).

A classificação legal das lesões traumáticas visam dotar ao


magistrado elementos que lhe possam guiar na tomada da
sentença.

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ELEMENTOS MÉDICO-LEGAIS QUE AGRAVAM
OS CRIMES DE OFENSAS CORPORAIS

Importância médico-legal
Nas consequências ou sequelas físicas, psicológicas e
psíquicas que a vítima apresenta.

Elementos médico legais que agravam o crime de ofensas


corporais. Estes elementos vêm explicitados no Código Penal.

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ELEMENTOS MÉDICO-LEGAIS QUE AGRAVAM
OS CRIMES DE OFENSAS CORPORAIS
1) Elementos qualitativos
 Vitriolagem: consiste no arremesso geralmente para a face
da vítima de uma substância caústica (ácido sulfúrico ou
vitríolo) com intenção de desfigurar ou afear.

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ELEMENTOS MÉDICO-LEGAIS QUE AGRAVAM
OS CRIMES DE OFENSAS CORPORAIS
Elementos qualitativos
 Sevícias - pressupõe toda acção ou omissão que consiste no mau
trato físico, psicológico ou sexual, praticado por um membro da
família contra a mulher ou contra qualquer dos integrantes do
núcleo familiar. Tipificado com Violência Doméstica.

 Sevícias (maus tratos) - estamos perante este tipo de ofensa


corporal , quando a vítima é menor de idade e o acto é praticado por
uma autoridade familiar (pais, encarregados de educação ou outros
membros da familia adultos) ou por uma autoridade instituicional
(professor, encarregado dos lares, creches ou instituições afins).

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ELEMENTOS MÉDICO-LEGAIS QUE AGRAVAM
OS CRIMES DE OFENSAS CORPORAIS
Elementos qualitativos
 Sevícias (maus tratos e/ou torturas) - o acto é practicado
por agentes ou elementos das autoridades policiais,
penitenciários, judiciais, policia secreta e de segurança privada.

Singulares ou grupos de indivíduos populares que decide fazer


justiça popular com as próprias mãos.

 Um (uns) indivíduo(s) que ao ser(em) abordado(s) por estas


autoridades, usam ou empregam excesso de força ou de zelo.
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ELEMENTOS MÉDICO-LEGAIS QUE AGRAVAM
OS CRIMES DE OFENSAS CORPORAIS
Elementos qualitativos
Sevícias (maus tratos) - estamos perante este tipo quando
existe uma relação íntima de compromisso amoroso e/ou
patrimonial entre um casal ou parelha com omissão ou
privação, violência moral e psicológica, violência física e
psíquica.

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ELEMENTOS MÉDICO-LEGAIS QUE AGRAVAM
OS CRIMES DE OFENSAS CORPORAIS
Elementos qualitativos
 Intenção médico legal de matar (animus necandi), artigos Código Penal.
Sede ou região do corpo atingida ou alvejada;
Natureza dos ferimentos, os seus caracteres e número;
Violência com que os ferimentos foram produzidos;
Instrumento empregue.

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ELEMENTOS MÉDICO-LEGAIS QUE AGRAVAM
OS CRIMES DE OFENSAS CORPORAIS
Elementos qualitativos
• Perigo eminente de vida da vítima: se as lesões puseram ou
não em perigo a vida da vítima.

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ELEMENTOS MÉDICO-LEGAIS QUE AGRAVAM OS
CRIMES DE OFENSAS CORPORAIS
2) Elementos quantitativos
Fazem parte dos Danos Patrimoniais da avaliação do Dano em Direito
Comum:
Tempo de cura das lesões: dado em dias.

Incapacidade ou Impossibilidade Total para o Trabalho: avaliado em


dias.

 Deformidade: alteração de forma que afeie e deturpe o indivíduo no


complexo do seu organismo.
• Considerada em relação unicamente ao prejuízo estético (pouco
notável ou notável).

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ELEMENTOS MÉDICO-LEGAIS QUE AGRAVAM OS
CRIMES DE OFENSAS CORPORAIS

Elementos quantitativos
Cortamento: é a ablação parcial ou total dum órgão ou
membro por instrumento agressivo de gume.

Privação: é a ablação parcial ou total de membro ou órgão.

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ELEMENTOS MÉDICO-LEGAIS QUE AGRAVAM OS
CRIMES DE OFENSAS CORPORAIS
Elementos quantitativos

Aleijão: é o defeito físico de um membro ou órgão consistindo


em alteração da sua forma normal ou da sua posição com
diminuição da sua potência funcional. Com prejuízo estético e
funcional.

 Inabilitação: é a alteração funcional, mais ou menos


acentuada, do membro ou órgão, sem modificação morfológica,
isto é, alteração de um membro ou órgão de que resulta
prejuízo funcional sem prejuízo estético. Ex. paralisias de
membro.
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ELEMENTOS MÉDICO-LEGAIS QUE AGRAVAM
OS CRIMES DE OFENSAS CORPORAIS
Privação da razão: devido ao trauma há uma lesão cerebral e/ou
encefálica com uma psicoce traumática.
• Diagnosticada pelo psiquiatra confirmada ou homologada
posteriormente pela Comissão de Psiquiatria Forense.

 Incapacidade ou Impossibilidade por toda a vida de trabalhar.


• O perito deve indicar a impossibilidade perpétua de trabalhar
relativamente ao trabalho e geral

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ELABORAÇÃO DO LAUDO PERICIAL
1. Identificação da vítima;
2. Informação policial/judicial;
3. Informação da vítima ou História da doença actual;
4. História clínica pregressa;
5. Informação hospitalar;
6. Exame objectivo;
7. Considerações médico-legais;
8. Conclusões.

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BIBLIOGRAFIA
• Zacarias, António Eugênio, Temas de Medicina Legal e
Seguros, Editora Impressa Universitária Maputo, 2004.

• Zacarias AE. Violência Social: “quo vadis?”- Uma visão


médico-legal. Cadernos de Ciências Sociais: O que é violência
social. 2014.

• Lei 24-2019-Lei de Revisão do Código Penal

• Gisbert Calabuig, Medicina Legal y Toxicología, 6a Edición,


Editora Masson–Espanha, 2004.
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OBRIGADO PELA ATENÇÃO!

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