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O DANO EXISTENCIAL NA
JURISPRUDÊNCIA ITALIANA E BRASILEIRA
– UM ESTUDO DE DIREITO COMPARADO
Adeus ao grande Responsabilidade civil A TUTELA EXTERNA RESPONSABILIDAD O SISTEMA ABERTO
Resumo por dano
mestre parental DE CRÉDITO E O E CIVIL NAS DO DIREITO CIVIL E
afetivo PAPEL DO… RELAÇÕES…
Este artigo apresenta um estudo comparado do dano existencial no Direito brasileiro e
SEUS DIÁLOGOS…
TERCEIRO
italiano. Tal estudo parte da delimitação conceitualNO
e evolutiva doCONJUGAIS
dano existencial no COM O CPC/2015
Direito italiano para examinar a CONTRATO
viabilidade e utilidade de aplicação do dano existencial
no Direito brasileiro.
Palavras-chave: respondabilidade civil, dano existencial, dano biológico, dano moral,
dano extrapatrimonial. Posts Recentes

The existential damage in the Italian and Brazilian Law - a comparative law
study.
Nota de pesar

Abstract

This article explain a comparative study under the existential damage between the
Brazilian and Italian law. The research starts whit the conceptual and evolutionary Adeus ao grande mestre
study from the existential damage in the Italian law, to verify the viability and utility to
apply the existential damage in the Brazilian law.

Key-words: torts, existential damage, biological damage, non-pecuniary losses.


Responsabilidade civil
INTRODUÇÃO parental por dano afetivo

O Direito brasileiro sofreu grande evolução nos últimos anos na esfera da


responsabilidade civil. Pode-se dizer que a responsabilidade evoluiu mais da metade
do século passado para cá, do que em toda a história da responsabilidade. A TUTELA EXTERNA DE
CRÉDITO E O PAPEL DO
Essa orientação também foi percebida no ordenamento italiano, que é objeto de
TERCEIRO NO CONTRATO
comparação neste estudo.
Ao comparar os dois ordenamentos, é visível que a realidade jurídica original dos dois
é distinta, como se percebe da análise comparativa entre sistemas abertos e fechados.
RESPONSABILIDADE CIVIL
Assim, os ordenamentos modernos se dividem em duas correntes bem distintas: a
DAS OPERADORAS DE
corrente dos ordenamentos típicos ou fechados, que estabelecem os interesses cuja
PLANOS DE SAÚDE
violação enseja um dano reparável, e a corrente dos ordenamentos atípicos ou
abertos que não estabelece previamente esta definição[1].
O sistema brasileiro é atípico, seguiu o modelo da codificação francesa (embora não
RESPONSABILIDADE CIVIL
tenha seguido a tipificação jurisprudencial experimentada na França, e por isso é
NAS RELAÇÕES CONJUGAIS
muito amplo). Mesmo tendo sido inspirado no modelo francês e alemão, o sistema
italiano, é típico, e acabou sendo mais fechado que o próprio sistema alemão atual, o
qual pode ser considerado atualmente como semitípico, tendo em vista a evolução
pela qual passou o ordenamento, que na sua origem era típico, ao definir de forma
O SISTEMA ABERTO DO
expressa quais eram os interesses que geravam a reparação dos danos e depois DIREITO CIVIL E SEUS
passou incluir outros[2]. DIÁLOGOS COM O…
Com isso percebe-se que no Brasil reinou a regra de um Direito positivo ilimitado, CPC/2015
composto de cláusula geral de indenização[3], com uma noção aberta de dano,
vigorante desde o CC de 1916 pelo art. 159. Já na Itália existe um direito positivo que ATO ILÍCITO E
limitava a viabilidade dos danos não patrimoniais aos casos previstos em lei[4]. EXCLUDENTES DE
Além disso, se percebe que no Brasil, não existe grande movimento no sentido de ILICITUDE (PUBLICADO E…
classificar o dano moral (extrapatrimonial) e na Itália se experimenta a classificação do 2005).
dano extrapatrimonial em três categorias: moral subjetivo, dano biológico e dano
existencial (existe um movimento crescente da doutrina italiana representada por A NECESSIDADE DE UM
Paolo Cendon, que entende que esta última categoria, o dano existencial estaria apta MODELO DE DIRETIVAS
a ser dividida em dano existencial biológico e o dano existencial não biológico)[5]. ANTECIPADAS DE VONTA…
A tradição do Direito brasileiro é de somente reconhecer duas espécies de danos: os PARA O BRASIL: ESTUDO
danos patrimoniais e os morais, havendo assim uma dicotomia dos danos (longa
jornada se seguiu até os dias de hoje para que se tivesse o reconhecimento da DANO AMBIENTAL: A
admissão dos danos morais, a sua cumulatividade com os morais e o seu RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL
reconhecimento à pessoa jurídica). Talvez pela utilização equivocada do termo dos NO BRASIL
danos morais passou a se entender que o dano moral está sempre ligado à idéia de
dor, angústia, sofrimento, vexame, ou seja, sempre ligado ao que se convencionou
chamar no direito brasileiro de dano moral subjetivo.
A esse respeito Clóvis do Couto e Silva defendia que embora a CF de 1988 fosse um
avanço para o Direito Brasileiro, porque trouxe a pacificação da necessidade de
indenização do dano moral, acabou trazendo uma visão limitativa da responsabilidade
civil, porque o termo dano moral pode não englobar alguns casos nos quais não se
buscava a indenização antes da CF de 88 e também continuava não se buscando
Arquivo
depois dela, como nos casos consagrados pela Jurisp. Francesa (“préjudice d'agrément”
–indenização pelo prejuízo juvenil, perda do gosto do olfato, perda das atividades de junho de 2020 (2)
lazer ...), por isso é necessária uma interpretação ampla do artigo para incluir também novembro de 2018 (1)
outras formas de danos extrapatrimoniais[6]. Nesse contexto, embora não referido junho de 2018 (1)
pelo autor de forma expressa, pode também ser incluído o dano existencial. abril de 2018 (11)
Por isso, seria mais adequado considerar a expressão dano moral como gênero, março de 2018 (18)
denominando de dano extrapatrimonial[7] e separando-o como espécies divididas
entre o dano moral subjetivo, objetivo, dano estético, dano existencial e tantas outras
categorias que fossem necessárias e suficientes para estabelecer a adequada e
integral reparação do dano injusto.
Assim, para além de examinar o dano existencial, se quer estabelecer neste estudo, a Procurar por tags
premissa de que a reparação deve ser integral e antes de se ficar disputando a “guerra
abandono afetivo
de etiquetas” a que se referia Ruy Rosado[8], é necessário entender que o dano deve
ser reparado em sua integralidade, daí a importância desse estudo, para se definir abandono afetivo parental
quais são os possíveis danos hoje e que havendo dano deverá se buscar a sua
Alasdair MacIntyre
indenização. Isso reforça a relevância da classificação: definir qual é o dano e poder se
proceder a sua adequada liquidação. Barragem de Rejeito
Antes de fazer a análise do dano existencial em si, considerando que o Direito italiano Brazilian courts Canadá
foi escolhido como critério comparativo neste trabalho, em virtude de ser o berço do
instituto jurídico em estudo, e que a jurisprudência será muito citada, é necessário Civil Rights dano existencial
esclarecer uma breve noção conceitual de alguns termos técnicos que dizem respeito dano extrapatrimonial
ao funcionamento do sistema judicial italiano.
Assim, Tribunal significa juízo de primeiro grau (exerce jurisdição civil e penal. Corte de dano moral direito civil
Apelação é o órgão colegiado que julga os recursos contra as sentenças dos Tribunais Dano ambiental dano biológico
em matéria civil e penal. Corte de Cassação é órgão de última instância do sistema
jurisdicional ordinário civil e penal italiano. É composta de seções, e em casos mais Dano-Evento Dano-Prejuízo
importantes nos quais há divergência entre as seções, a Corte se reúne em Seções Direito Ambiental
Unidas. A Corte da Cassação tem por objetivo garantir a observância e a interpretação
Direito de morrer
uniforme do Direito, a unidade do direito objetivo nacional, o respeito dos limites das
várias jurisdições (art. 65 do Ordenamento Jurídico Italiano RD 30 de junho de 1941, n. Diretivas Antecipadas de Vontade
12)[9].
Do direito à intimidade doutrina

I – O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO ITALIANO Domestic and International Law

Ecoturismo ética fato jurídico


A) Origens e desenvolvimento do Dano Existencial
Função Preventiva Legislação
Pela legislação italiana, o regime da responsabilidade civil é típico, assim a
possibilidade de indenização é vislumbrada no art. 2043, consagradamente utilizado Mineração moralidade
para os danos patrimoniais, e o art. 2059, é destinado aos danos não patrimoniais,
Mariana Tragedy novo CPC
havendo assim clara dicotomia entre o dano moral e o patrimonial, a se ver[10]:
“Art. 2043. Ressarcimento por ato ilícito – Qualquer ato doloso ou culposo que causa a omissão parental OMS
outros um dano injusto, obriga quem o cometeu a ressarcir o dano.”
professor
“Art. 2059. Danos não-patrimoniais – o dano não patrimonial deve ser ressarcido
apenas nos casos determinados pela lei.” Pacientes em fim de vida
Além disso, o sistema italiano enfrentou grande problemática para fixação de dano relações parentais
não patrimonial, porque segundo a legislação, a indenização decorrente de dano
moral somente será devida nos casos previstos na lei ou se for originado de um crime respondabilidade civil
de uma conduta típica penal, conforme dispõe o art. 2059 do CC italiano e do Responsabilidade civil
Art.185[11] do Código Penal italiano, vislumbrando-se assim um sistema fechado de
responsabilidade. Responsabilidade Civil Ambiental
Assim, embora haja previsão de casos de responsabilidade por dano extrapatrimonial, service providers
tais situações são tímidas sendo previstas de forma expressa nas seguintes hipóteses:
“a) danos processuais, como emprego expressões ofensivas em escritos judiciários - Secondary liability
artigo 89 do CPC italiano; b) responsabilidade dos magistrados (na Itália, membros do Superior Tribunal de Justiça
Poder Judiciário e do MP) por dolo ou culpa grave no exercício da função (Lei 117 de
Sylvio Capanema de Souza
1988); c) de injusta detenção (artigo 314 do CPP italiano); d) violação das normas de
tratamento de dados pessoais (Lei 675 de 31.12.1996)”.[12] tabaco the right to be let alone
Em virtude da limitação das situações indenizáveis, a partir da década de 60 passou a
Testamento vital virtudes
se ponderar na Itália a possibilidade de ampliar o rol de danos não patrimoniais, e
surgiu a classificação dano à vida de relação tendo em vista que o ser humano é um
ser social, não vive sozinho, precisa se relacionar e quando sofre alguma lesão que Siga
impede ou diminui a possibilidade de realizar atividades recreativas, sociais tem uma
alteração no seu ânimo o que pode impedir ou diminuir a capacidade laborativa e por
conseqüência os seus rendimentos[13].
O dano à vida de relação estava sempre ligado à diminuição da capacidade laborativa,
ou seja, para a sua configuração se exigia como conseqüência que a lesão ocasionasse
uma dificuldade de relação e por conseqüência uma diminuição ou impossibilidade de
desenvolvimento da atividade laboral.
Porém, havia grande dificuldade de determinar no caso concreto até que ponto a
dificuldade de relação culminava com reflexos na atividade laboral, o que deu início à
construção das linhas do dano existencial, que é uma ampliação do dano à vida de
relação, tendo em vista que não exige para a sua configuração o reflexo no exercício
da atividade laboral[14].
A grande evolução ocorreu no Direito italiano através da sentença 184, de 14.07.1986,
proferida pela Corte Constitucional italiana, que admitiu a indenização diante da
ocorrência de um dano à sua saúde, independentemente da prova da existência de
um prejuízo patrimonial para o ofendido, bem como da prova de que o dano se
originasse de uma conduta típica penal, de um crime (art. 2059 do CC italiano e 185 do
CP italiano). Assim, passou a ser possível a indenização a dano extrapatrimonial
mesmo que não decorresse de crime[15].
Com essa decisão o sistema italiano passou a reconhecer três espécies de dano: os
patrimoniais, os morais e os biológicos[16].
A decisão reconheceu que o dano biológico ou dano à saúde deve ser ressarcido
mesmo que não tenha origem em prática de crime e que não cause dano patrimonial.
Essa orientação foi possível, pelo raciocínio conjugado do art. 2043 do CC italiano que
prevê que todos os danos injustos devem ser ressarcidos (mesmo não definindo quais
são os danos), e do art. 32 da CF Italiana que consagra o direito à saúde como direito
fundamental. Além disso, foi fixado que o dano biológico não era propriamente um
dano moral, e por isso não lhe seria incidente o art. 2059 do CC italiano que exigiria o
ilícito penal ou o dano patrimonial para a sua reparabilidade.[17]
Assim, não sendo considerado um dano patrimonial ou moral, passou a ser
indenizável pela regra do art. 2043 do CC italiano. A decisão teve o condão de passar a
inserir no art. 2043 outras formas de dano que não o dano patrimonial, abrindo assim
a passagem para o dano existencial.
Além disso, o teor da decisão foi importante para criar no Direito italiano a orientação
de uma lesão pode causar mais de um dano e todos eles deverão ser reparados.
A esse respeito interessante referir aqui as decisões que seguem[18]:
1) “o chamado dano à vida de relação se encaixa no dano à saúde (dano biológico) e é
liquidado só a este título: todavia permite-se que o juiz proceda a uma liquidação
distinta com respeito a outras manifestações do dano componentes do dano
biológico.” (Cassazione 8.260, del 13.09.1996);
2) “tratando-se de evento lesivo da integridade pessoal, o dano biológico e o
patrimonial se referem a duas distintas esferas de repercussão, o primeiro concerne
ao o chamado direito à saúde e o segundo considera a capacidade de produzir
rendimentos, de forma que o juiz deve proceder a duas distintas liquidações.”
(Cassazione 8.443, del 24.09.1996);
3) “o dano patrimonial como conseqüência da redução da capacidade laborativa
genérica de uma pessoa é ressarcível autonomamente do dano biológico apenas se
existe prova de que o sujeito lesado desenvolvesse - ou presumivelmente estivesse em
condições de desenvolver - uma atividade laborativa rentável, ainda que figurativa
(como na hipótese da dona de casa).” (Cassazione 10.015, del 15.11.1996).
A partir da decisão 184 a doutrina e a jurisprudência italiana passaram a perceber que
a lesão a direito de personalidade configura dano à existência da pessoa o que fez
render a discussão em torno do dano existencial por aplicação do art. 2º da CF italiana
que trata da proteção da dignidade do homem[19].
Outro efeito da decisão foi o reconhecimento de outros tipos de danos que antes não
eram cogitados tendo em vista a imposição do art. 2059 que condicionava a
configuração de dano moral ao ilícito penal[20].
Isso fez com que houvesse também uma vulgarização do termo dano biológico e
algumas situações que em verdade não configuram dano biológico acabavam
ganhando essa feição como o objetivo de escapar do art. 2059. Assim, tanto na
doutrina como na jurisprudência houve a necessidade de definir adequadamente o
tipo de dano, e por influência de Paolo Cendon e Patrizia Ziviz passou a se utilizar a
denominação dano existencial no início da década de 90[21].
O dano existencial passou a ser considerado aquele decorrente da violação a qualquer
direito fundamental da pessoa, tutelado pela Constituição Federal, que repercute
numa mudança negativa do modo de ser do indivíduo, ou nas atividades que ele
exerce com relação ao projeto de vida pessoal, sem que para isso seja necessário a
comprovação de qualquer prejuízo econômico[22].
A expressão projeto de vida, foi referida pelo doutrinador Carlos Fernandez Sessarego
início dos anos 90. Para ele o ser humano é um ser social, é o único ser que tem
capacidade de fazer projetos de vida.[23]
Aliada a essa idéia merece ser acrescentada a de que o ser humano é o único ser vivo
que tem a possibilidade de moldar o seu futuro para o bem ou para o mal. Com isso o
critério clássico de distinção entre o animal e homem, consistente na inteligência,
sensibilidade e sociabilidade está superado. O critério colocado por Roussau para
diferenciar o homem do animal está na liberdade, na perfectibilidade, na faculdade
que os homens têm de se aperfeiçoar ao longo da vida. Já o animal será sempre
guiado pelo seu instinto, que é considerado perfeito de imediato, desde o seu
nascimento. Por isso, os animais não têm a capacidade de se aperfeiçoar, estão
previamente programados e seguem o seu destino[24]. Já os homens, como podem
moldar o seu futuro fazem escolhas, estabelecem um projeto de vida futuro.
É característica do homem fazer escolhas na vida com o objetivo de alcançar um
projeto de vida futuro e quando as suas escolhas são frustradas pela ação de
terceiros, ou então nas situações em que o indivíduo é levado a ter que reformular as
suas escolhas, haverá a configuração do dano ao projeto de vida[25].
Assim Sessarego conceituava o dano existencial como um “dano radical e profundo,
que compromete o ser mesmo do homem (...) afeta a liberdade a pessoa (...) frustra o
projeto de vida (...) impede que a pessoa desenvolva livremente sua personalidade”.
[26]
Além da doutrina a jurisprudência também passou a tratar da matéria e em 22 de
julho de 1999 a Corte de Cassação italiana (Sezione Unite) proferiu a sentença 500,
que teve por efeito confirmar a nova orientação dada à responsabilidade civil, ao
admitir a reparabilidade do dano causado a um interesse legítimo desde que
presentes: “a) a injustiça do dano; b) a lesão a uma posição constitucionalmente
garantida”[27].
O desenvolvimento da matéria na jurisprudência culminou com a Decisão 7.713,
proferida em 07 de junho de 2000, pela Suprema Corte Italiana, primeira a reconhecer
a indenizabilidade do dano existencial como uma espécie de dano extrapatrimonial. O
processo tratava de um caso em que o pai foi acionado por intencionalmente não ter
prestado sustendo adequado ao filho, já que somente pagou os alimentos devidos ao
filho anos depois de seu nascimento e somente depois de intervenção judicial para tal
fim. A Corte se posicionou no sentido que a Constituição italiana garante os valores
pessoais e impõe indenização a quem impede a atividade realizadora da pessoa
humana.[28]
Interessante referir que a ação já tinha sido ajuizada na esfera Penal por abandono
material do filho menor (o delito correspondente, em italiano, é de violação das
obrigações de assistência familiar - artigo 570, n. 2, Código Penal). O réu foi absolvido
do crime tendo em conta o fato de que a criança sempre foi sustentada pela mãe e
por isso não seria considerada realmente necessitada. Em virtude disso, foi ajuizada a
ação indenizatória contra o pai pelo ressarcimento dos danos sofridos. A ação
indenizatória foi julgada procedente, ainda que o réu tivesse alegado em sua defesa
ter sido absolvido do crime de abandono e ter efetivamente pago a pensão
alimentícia[29].
A decisão foi importantíssima para o desenvolvimento da matéria tendo em vista que
alçou ao dano existencial a denominação de uma espécie própria de dano, distinta do
dano moral puro e não condicionada ao ilícito penal[30].
Depois dessa decisão, foram proferidas pela Corte de Cassação as decisões 8827 e
8828 julgadas em 31 de maio de 2003 (conhecidas como sentenças gêmeas) e pela
Corte Constitucional a decisão n. 233 proferida em 11 de julho de 2003, que
consolidaram o entendimento em fundamentar a indenização dos danos biológicos
com base no art. 2059 (danos não patrimoniais) e não mais no art. 2043 (danos
materiais), através da constitucionalização do art. 2059 do CC italiano[31].
A sentença 8.827 cuidou da indenização decorrente de erro médico durante parto
Cesário, em que a criança nasceu tetraplégica e com atrofia cerebral, tendo de viver
em estado vegetativo. Foi reconhecido pela Corte de Cassação que os pais da criança
sofreram grave dano existencial tendo em vista que tiveram completamente alterada a
sua rotina em virtude dos cuidados que deveriam ser destinados ao filho dependente.
E, como se tratava de casal sem grandes posses não poderiam delegar os cuidados a
outrem tendo a necessidade de renunciar às suas atividades sociais, culturais e de
lazer para cuidarem do filho. Já a sentença 8.828 tratou da indenização devia a uma
mulher em virtude da morte de seu marido em um acidente automobilístico[32].
As decisões foram proferidas com o objetivo de tentar ressistematizar a matéria
relativa aos danos extrapatrimoniais, pois com o objetivo de alcançar a indenização
aos danos imateriais passou-se a utilizar de forma vulgarizada o termo dano biológico
com o objetivo de proteger os direitos da personalidade sob a denominação de dano à
pessoa ligada ao dano biológico. Também é importante frisar que das decisões se
percebe a preocupação de que não haja o ajuizamento de novas ações, evitando “la
superposición de reclamos o demandas posteriores o tramitando por separado,
tratando de diferentes tipos de daños extrapatrimoniales sufridos por una persona
que ha sido víctima de un evento perjudicial”[33].
Essa também foi a preocupação do direito francês quando incluiu a figura do dano por
ricochete e tentou limitar a legitimidade para propositura da indenização a pessoas
que realmente sejam consideradas lesadas[34].
Além disso, a Corte de Cassação determinou que a avaliação de todos os danos
imateriais pode ser global, sem distinção ou necessidade de uma classificação
bastando a definição de uma soma em dinheiro, sem que seja necessária a concessão
de indenizações distintas[35].
A decisão 233 de 2003 proferida pela Corte Constitucional italiana estabeleceu a
distinção de três espécies de danos não patrimoniais: “dano moral subjetivo seria a
transitória perturbação do estado de ânimo da vítima; dano biológico em sentido
estrito: lesão do interesse constitucionalmente garantido à integridade psíquica e
física da pessoa, medicamente comprovada; dano existencial: derivado da lesão a
outros interesses de natureza constitucional inerentes à pessoa”[36].
Além dessa decisão, é importante referir a decisão n. 6.572 proferida pela Corte de
Cassação em 24 de março de 2006 (Sezione Unite) que diferenciou o dano moral do
dano existencial. Assim, definiu o dano existencial como “prejuízo que o ilícito (...)
provoca sobre atividades não econômicas do sujeito, alterando seus hábitos de vida e
sua maneira de viver socialmente, perturbando seriamente a sua rotina diária e
privando-o da possibilidade de exprimir e realizar sua personalidade no mundo
externo”. Diferencia-se do dano moral por se “fundar sobre a natureza não
meramente emotiva e interiorizada (...), mas objetivamente constatável do dano,
através da prova de escolhas de vida diversa daquela que seriam feitas, caso não
tivesse ocorrido o evento danoso”[37].
Assim a doutrina demonstra que o dano existencial está sempre vinculado a um fazer
ou não fazer, uma nova tomada de atitude, uma alteração de hábitos, da própria
agenda da vítima, frente às conseqüências do ato lesivo, frustrando o projeto de vida
original do indivíduo.
Podem ser citados como exemplos dessas situações: 1) a mãe que por ato negligente
do médico sofre aborto e com isso vê frustrado o projeto de ter o filho[38], 2) o
aposentado que é atropelado, fica paraplégico e agora não poderá mais dar as
caminhadas no parque[39], 3) paciente que ao fazer transfusão de sangue é
contaminado pelo vírus HIV[40], ou por hepatite 4) vítimas de talidomida[41], 5) caso
dos refugiados ambientais, 6) pessoa que não terá condições de manter relações
sexuais com o parceiro[42], 7) casos Iruan, Pedrinho[43], Sean, e Serena[44], 8)
alienação parental[45], 9) indenizações na esfera trabalhista a empregados que ficam
viciados em produtos que experimentam (mestre cervejeiro) ou então que se tornam
obesos por serem obrigados a degustar alimentos[46].
B) Tendências Jurisprudenciais Contemporâneas
Como visto acima, a matéria em torno do dano existencial, passou por grandes
mudanças doutrinárias e jurisprudenciais, partindo-se de um período no qual não
havia a possibilidade de indenização do dano moral (por influência da mera
interpretação da lei – art. 2059 do CC italiano exigia ilícito penal para caracterizar o
dano), até a consagração do dano existencial como categoria autônoma.
No entanto, embora tenha sido grande a evolução, o Direito italiano enfrentou novo
problema em relação à matéria: a banalização do dano existencial. Isso em
decorrência da própria criatividade de “advogados e magistrados para ‘inventar’ novas
espécies de danos” [47], o que acaba por trazer um grande perigo ao Direito tendo em
vista que por vezes são indenizadas situações que não necessariamente
representariam “interesses merecedores de tutela”[48].
Para se perceber a importância do debate, basta lançar os olhos para situação análoga
também experimentada no Brasil, em torno do dano moral, tendo em vista que num
primeiro momento (anterior à CF 88) não havia a indenização para danos morais e
depois tudo passou a ser considerado dano moral (existe hoje uma discussão muito
grande em torno da chamada indústria do dano moral tendo em vista a banalização
nas ações indenizatórias).
A preocupação com essa problemática está presente na decisão 26.972, proferida
pelas Seções Unidas da Corte de Cassação, em 11 de novembro de 2008, que teve por
objetivo colocar freio na aplicação dos danos existenciais nos casos de ações
frívolas[49].
O caso tratava da ação indenizatória interposta em virtude de erro médico em que um
paciente foi operado de hérnia inguinal e sofreu uma atrofia do testículo esquerdo.
Porém, a lesão não comprometeu a sua capacidade reprodutiva. No caso concreto o
Tribunal de Veneza reconheceu o dano biológico, mas excluiu a configuração de dano
existencial, porque não teria sido requerida pelo autor, e não seria admissível a sua
invocação na esfera recursal. A decisão é criticada pela doutrina não pelo seu teor em
si, mas pelo fato de trazer novamente à discussão do tema a consideração do dano
existencial como um dano autônomo, em um caso sobre o qual não teria ocorrido
dano existencial, porque o indivíduo não perdeu a capacidade reprodutiva e também
não provou sofrer grande alteração na sua vida[50].
Além de considerar que não era adequada a indenização pelo dano existencial de
forma autônoma a Corte de Cassação também referiu que era inoportuna a
indenização por dano existencial nos casos de quebra de salto de sapato de noiva,
espera por vôo em aeroporto, impossibilidade de transmissão de jogo de futebol
tendo em vista apagão, o corte de cabelo equivocado, o mal estar pela contaminação
de salmonela, e o dano pela venda de um produto defeituoso[51].
A partir dessas decisões, várias se seguiram com a característica de incluir a
indenização por dano existencial, sem, no entanto, usar essa denominação (sem
etiquetá-lo), passando a se usar a denominação de dano extrapatrimonial por se
entender que não havia a possibilidade de classificar o dano extrapatrimonial[52].
Tal situação se vislumbrou com a decisão do Tribunal de Trieste, de 15 de dezembro de
2008, que examinou um caso que uma esposa ajuizou ação para buscar indenização
por ter ficado viúva em razão de acidente de trabalho sofrido pelo marido, e por isso
não teria mais a companhia do marido. A decisão reconheceu a indenização, mas não
classificou o dano extrapatrimonial, não determinou a “etiqueta do dano” como dano
existencial, pois considerou que o que importava era a quantificação do dano
patrimonial, e que a indenização deveria ser unitária[53].
Em 06 de julho de 2009 o Tribunal de Veneza acolheu o pedido de indenização pelo
dano existencial no caso de menina que nasceu com seqüelas decorrentes de erro
médico.[54]
Em 30 de janeiro de 2009 o Tribunal de Milão julgou o caso de um jogador foi atingido
por um vidro deixado negligentemente muito próximo do campo e por isso a vítima
sofreu muitos danos e ficou longo período sem poder jogar e por negligência de uma
empresa de e em virtude disso não pode mais praticar esportes ou continuar os
estudos por longo tempo. Isso configura também o dano existencial, pela mudança de
projeto de vida, mas a indenização foi concedida por danos biológico, e danos
materiais diversos do dano biológico, mas não foi utilizada a expressão dano
existencial[55].
Em 23 de dezembro de 2008 o Tribunal de Milão determinou a indenização à mulher,
que por ser mãe de jovem ferido em acidente de trânsito teve que alterar a sua vida
para cuidar do filho. A indenização foi deferida sob a etiqueta dano a vida de relação,
embora se trate claramente de dano existencial[56].
Em 24 de novembro de 2008 a Corte de Apelação de Perugia reconheceu a
indenização por danos extrapatrimoniais a uma menina de 04 anos que foi atacada
por um cachorro. A decisão é importante porque embora tenha se reportado à
decisão 26972 e não tenha utilizado o termo dano existencial, advertiu que para uma
reparação integral, na liquidação todas as perdas sofridas pela pessoa devem ser
consideradas, e que a decisão 26972 não tinha a finalidade de reduzir a proteção
jurídica da pessoa humana, mas sim de dar um novo tratamento ao tema[57].
Em 22 de janeiro de 2009 o Tribunal de Nola reconheceu a indenização por decorrente
de seqüelas por ataque de cão, com a etiqueta dano existencial. Além disso, o Tribunal
de Nola fixou a orientação de que as Seções Unidas da Corte de Cassação antes de ter
eliminado a figura de dano existencial, deu espaço de atuação aos que tratam dos
danos extrapatrimoniais[58].
Assim, percebe-se que a orientação que está sendo seguida pela jurisprudência e pela
doutrina italiana, não é de excluir a indenização pelo dano existencial, mas de incluí-lo
nos danos extrapatrimoniais, sem utilizar obrigatoriamente a etiqueta dano
existencial.

II – O DANO EXISTENCIAL NO DIREITO BRASILEIRO

O sistema jurídico brasileiro da responsabilidade civil goza de situação mais favorável


que o sistema italiano, pois o regime adotado é o da atipicidade, o sistema é aberto,
não se define o tipo de dano, a responsabilidade se impõe a qualquer dano.
Essa orientação já se vislumbrava no CC de 1916, que com a regra disposta no art. 159,
autorizou o grande avanço no Direito brasileiro permitindo a indenização pelo dano
moral, mesmo antes da CF de 1988.
Esse dispositivo pode ser descrito como verdadeira cláusula geral que constava no cc
de 1916, e que agora no CC de 2002, ganha grande força, tendo em vista a foram da
redação dos dispositivos.
Assim, na fixação da indenização pelo dano moral, o legislador brasileiro não vinculou
a sua ocorrência de ilícito penal.
O fato do regime brasileiro não se parecer com o regime italiano, faz surgir na
doutrina defensores de que não seria necessária a criação de uma forma autônoma
de dano, classificando como dano existencial, como afirma Fernando Noronha:
“realmente é preciso considerar o dano existencial, mas não é necessário fazer dele
uma categoria autônoma, para ser contraposta ao dano anímico. Pelo menos entre
nós, em que não existem restrições à reparação desta espécie de danos, o dano
existencial será um dos tipos que é possível distinguir dentro dos danos anímicos. Não
é necessária a criação dessa nova categoria e, por outro lado, não parece ser exata a
classificação dos danos em geral (danos patrimoniais, morais e existenciais) em que
ela assenta e que é pressuposta pelos juristas que a sustentam.[59]”
A esse respeito Judith Martins-Costa alerta que não se pode confundir as
peculiaridades do sistema italiano com o sistema brasileiro, e por isso seria indevida a
mera transposição conceitual, já que no sistema brasileiro não há limitação ao dano
moral e à formação de fattispecies, tendo em vista que o sistema da responsabilidade
civil está baseado nas cláusulas gerais.[60]
Ainda a doutrina aponte como relevante a constatação de que os sistemas são
distintos, também pondera a relevância do dano existencial no direito brasileiro, e por
conta disso, é importante estabelecer a pertinência e utilidade do estudo a respeito do
dano existencial.

Compatibilidade do Dano Existencial no Direito brasileiro

Como já referido anteriormente, no Direito brasileiro o sistema da responsabilidade


civil é atípico, ao contrário do que se vislumbra no Direito italiano. Essa constatação,
por si só, serve para conduzir à conclusão de que se no Direito italiano, que adota um
sistema típico de responsabilidade, se introduzir a idéia de dano existencial, no Brasil o
permissivo para essa caracterização é mais viável ainda, já que no nosso sistema não
se limita as espécies de dano, o regime de responsabilidade civil segue a orientação do
CC de 2002, inspirado nas cláusulas gerais abrindo o leque de possibilidades.
Nesse sentido, o fato do legislador ter colocado a expressão dano de forma genérica,
não impede que a doutrina e a jurisprudência façam a classificação dos danos, como
aliás já tem se percebido pela uso de expressões que hoje são correntes na
responsabilidade civil, mas que não estão referidas da legislação, podendo ser citado a
título meramente exemplificativo os termos perda de uma chance, dano por ricochete,
dano moral objetivo, dano moral subjetivo, dano estético, entre outras...
Num Código que se primou pelo uso das cláusulas gerais, seria contraditório acreditar
que por não inserir a expressão dano existencial de forma explícita no Código Civil,
esse dano não se vislumbraria.
Assim, pode-se buscar na legislação vigente a compatibilidade do dano existencial no
Direito brasileiro, como se vê a respeito da indenização pelo dano extrapatrimonial
que autoriza a inserção o dano existencial, pelos dispositivos constitucionais (arts. 1.º,
III, e 5.º, V e X, da CF/1988).
Além disso, cabe reforçar que o Código Civil trata da proteção dos direitos da
personalidade nos art. 12 e ss, e o art. 186 do CC de 2002 trata da regra geral da
indenização, incluindo o dano moral (de forma genérica) sem estabelecer o empecilho
constante no art. 2043 do CC italiano que condicionava o dano moral a ilícito. No
mesmo sentido, o at. 927 e os artigos art. 948 e 949 que tratam da indenizabilidade
nos casos de morte e ofensa à saúde, são expressos em referir que além da
indenização patrimonial caberá ao ofendido a indenização de qualquer dano que tiver
sofrido, deixando clara a abertura do sistema.
Assim, no Brasil, mais do que na Itália, se vislumbra viável a indenização do dano
existencial.[61] E embora haja grande discussão sobre a viabilidade de considerar o
dano existencial como um dano autônomo ou não, deve ser ter presente que em
virtude do princípio da reparação integral, haverá a necessidade de se identificar a
ocorrência do dano existencial para que seja considerado na liquidação do dano e sua
correta indenização, evitando-se assim alguns equívocos vivenciados na doutrina e na
jurisprudência que ou não consideram o dano existencial na sua apreciação ou então
o indenizam sob outro nome.
B) O Dano Existencial na perspectiva dos Tribunais brasileiros
O que tem se visto hoje na jurisprudência nacional é o emprego do termo dano moral
para indenizar todas as situações de danos extrapatrimoniais, até por decorrência da
opção da lei e da CF.
Como já afirmado acima, na maioria das decisões proferidas pela jurisprudência
brasileira, não há a classificação do dano moral.
Assim, se verifica que o termo o dano moral é utilizado de forma genérica, e por conta
disso, a indenização acaba não abrangendo algumas situações de danos que ocorrem,
mas que muitas vezes não são considerados, na fixação do valor da indenização, a
exemplo do que ocorria através da confusão entre dano moral e estético, tendo em
vista que houve um tempo, antes da Súmula 387 do STJ (26.08.2009) em que o dano
moral não podia ser cumulado com o dano estético.
Assim, embora se concorde com Ruy Rosado de que deve ser deixar de lado a guerra
de etiquetas, no sentido de dar nome aos danos, não se pode descuidar que a
reparação deve ser integral, por isso no caso concreto é importante definir quais
danos ocorreram para estabelecer o quantum indenizatório.
Partindo desse enfoque, a matéria será abordada considerando a formação dos
grupos de decisões que tratam do assunto, separados em decisões que estabelecem a
indenização do dano moral de forma genérica; decisões que utilizam o termo dano ao
projeto de vida; e; decisões que passaram a admitir, de forma expressa, o termo dano
existencial.
1)Decisões tratando do dano moral de forma genérica
Como dito anteriormente, a responsabilidade civil experimentou grande evolução no
Direito brasileiro nos últimos anos. Mas, ainda que tenha se constatado a evolução da
matéria, ainda são muitos os casos nos quais não há a definição precisa de todos os
danos sofridos pela vítima como se vê nas decisões proferidas que estabelecem a
indenização do dano moral de forma genérica, ou ainda que se refiram a alguma
forma de indenização pelo dano moral não analisam todas as possíveis formas de
dano extrapatrimonial.
Isso se verifica em decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em
26 de novembro de 2009, que determinou indenização por dano moral decorrente de
paraplegia em virtude de bala perdida em assalto no interior de supermercado. Na
ementa da decisão embora haja a referência à cumulação de dano estético e dano
moral, não há o exame de outras formas de dano, como o dano existencial e o dano
por ricochete. No caso concreto a vítima ficou paraplégica e isso além de causar dano
estético e moral, fatalmente irá ocasionar o prejuízo ao projeto de vida ou à vida de
relação, se impondo o questionamento a respeito do dano existencial[62].
Outra decisão que merece destaque neste artigo é a que foi proferida pelo Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul, em 31 de agosto de 2006, que trata de indenização
decorrente de acidente de trabalho, que resultou em tetraplegia ao autor da ação. No
caso concreto a indenização se restringiu ao título genérico dano moral, sem destaque
a qualquer outro dano[63].
Também o Tribunal de Justiça de São Paulo examinando caso tetraplegia e
incapacidade permanente, determinou a indenização por dano moral me decorrência
do padecimento da vítima. A decisão é importante porque mesmo descrevendo a
situação da vítima que ficou completamente dependente e não tem mais o controle
motor e de suas necessidades fisiológicas, não referiu a existência de dano existencial.
Além disso, a decisão estabelece a indenização pela tetraplegia, que é caso de
incapacidade permanente em 1/3 do salário mínimo e não considerando os seus
rendimentos integrais. Percebe-se assim, que não só não considera o prejuízo ao
projeto de vida, mas também não respeitou os critérios de indenização já pacificados
pela jurisprudência pátria.[64]
Examinando caso que trata de tetraplegia de jovem marido, o STJ reconheceu a
indenização aos pais e à esposa da vítima, atendendo às orientações do dano por
ricochete (embora não tenha feito referência expressa a essa espécie de dano), mas
no que refere ao dano extrapatrimonial da vítima (de tetraplegia!) ainda que tenha
referido a mudança da vida e também tenha considerado que a esposa não poderá
realizar o projeto de vida familiar o dano foi somente fixado como dano moral, sem
referir o dano existencial.[65]
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais, examinando caso de acidente de trânsito que
culminou com a lesão em testículo e conseqüente perda de capacidade reprodutiva,
determinou a indenização devida pelo ofensor por danos morais e estéticos sem
referência ao dano existencial que resta vislumbrado no caso concreto em decorrência
da perda da capacidade reprodutiva[66].
Por fim, merece ser referido caso julgado pelo TRT4, que trata da condenação à
franqueada da rede Mc Donald’s por dano moral em decorrência da obesidade a que
foi submetido o empregado por ser obrigado a experimentar produtos. Embora no
processo tenha sido considerado que em virtude da obesidade o autor teria que
alterar o seu projeto de vida, a indenização somente referiu o dever de indenizar o
dano moral de forma genérica, sem destacar a indenização pelo dano existencial[67].
As decisões examinadas demonstram que existe uma tendência de considerar o dano
moral de forma genérica, sem definir no caso concreto quais os danos
extrapatrimoniais se vislumbrariam, e isso pode prejudicar a reparação integral,
porque definir uma verba indenizatória sem determinar o que compõe o quantum
indenizatório pode fazer com que a decisão seja desprovida de fundamentação
jurídica e por isso objeto de discussão e questionamento.
O que se pretende demonstrar com as decisões acima é que cada caso é diferente e
por isso o valor da indenização merece também ser diferente, tendo em vista a
ocorrência de dano moral e outras formas de danos extrapatrimoniais.
2)Decisões que referem o termo dano ao projeto de vida
Em relação às decisões referidas acima, as que serão estudadas a seguir representam
grande avanço, pois trazem em seu bojo a expressão dano ao projeto de vida, como se
vê a seguir.
Nesse sentido é interessante referir decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Pará,
no qual um militar foi atropelado e se entendeu que houve a frustração ao projeto de
vida, vislumbrada pela diminuição dos rendimentos tendo em vista não receber as
gratificações restritas ao militar na ativa, ao fato de não poder ascender na carreira e
ter de interromper a Faculdade de Enfermagem, tendo em vista ficar impossibilitado
de caminhar pelo período de 19 meses e estar usando muletas[68].
Além dessa decisão, é importante referia outra, que examinou acidente do trabalho,
resultando em morte para o empregado e foi indenizada a família por quebra do
projeto de vida, já que os familiares não podem mais contar com a presença do
pai[69].
Também refere o projeto de vida o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que
examinando acidente de trânsito no qual vítima ficou tetraplégica, faz referência ao
fato de que a lesão ocasionou a interrupção do projeto de vida[70].
Outro caso interessante, julgado pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, é o da
decisão determinando ao Estado o dever de indenizar idosa pela perda de suas terras.
As terras eram indígenas teriam sido ocupadas indevidamente pelo Estado, e
transferidas ao particular. Mesmo determinando a perda das terras, o judiciário impôs
a indenização devidda pelo dano moral no caso concreto, tendo em vista que a
senhora, pela idade avançada, sentiria de forma mais efetiva os efeitos da frustração
do projeto de vida[71].
Por fim, merece ser referido, caso julgado pelo Tribunal Justiça do Rio Grande do Sul,
que ao examinar definição de guarda de menor determinou manutenção de tutela da
criança com a madrasta, já que se tratava de pais falecidos (primeiro morreu a mãe e
depois o pai) e os avôs disputavam a tutela. No caso concreto o Tribunal manteve a
guarda com a madrasta, mas deixou clara a necessidade de se preservar os vínculos
com os avôs, tendo em vista a relevância desses vínculos para a formação do projeto
de vida da pessoa[72].
A referida decisão é importante para demonstrar que no âmbito do Direito de Família
o dano existencial ganha grande relevo, porque os traumas familiares podem conduzir
aos piores prejuízos ao projeto de vida.
3)Decisão que refere o termo dano existencial
O exame das decisões acima demonstra que em regra a indenização pelo dano moral
é tratada de forma genérica, ou quando muito se faz referência tímida ao termo
projeto de vida.
Na jurisprudência brasileira o uso do termo dano existencial é raro, mas começa a ser
referido de forma expressa conforme se vê da decisão proferida pelo Tribunal de
Justiça de São Paulo, que julgando caso das “pílulas de farinha” reconheceu a
configuração do dano existencial à mulher que sofre os efeitos de uma gravidez
indesejada[73].
O fato da decisão considerar de forma expressa o termo dano existencial abre a
viabilidade de reconhecimento dessa nova forma de dano extrapatrimonial, o que se
defende neste artigo como mecanismo de atingir de forma satisfatória o princípio da
reparação integral.

CONCLUSÃO

Ao se fazer o estudo da matéria, através da comparação dos sistemas italiano e


brasileiro, impõe-se não perder de vista, que embora seja necessária a consideração
do dano existencial para estabelecer o valor da indenização no Direito brasileiro, não
se está diante do mesmo problema enfrentado no Direito italiano, o qual dependia do
alargamento do conceito de dano, já o sistema brasileiro é baseado nas cláusulas
gerais.
O fato dos ordenamentos italiano e brasileiro estarem sob realidades distintas, não
melindra a utilidade do estudo em torno da matéria, ao contrário a reforça tendo em
vista que se no sistema italiano, que era típico e fechado, se autorizou a construção da
doutrina em torno do dano existencial, isso por óbvio é possível no Direito brasileiro.
Além de possível a consideração do dano existencial é extremamente útil, para que se
alcance de maneira mais efetiva o atendimento do princípio da reparação integral da
indenização.
Além disso, a definição de termos é importante para distinguir o dano existencial de
outras figuras que têm sido aplicadas de forma equivocada, como por exemplo, os
casos de vulgarização da perda de uma chance, grande crítica estabelecida por Rafael
Pettefi da Silva.
Também tem grande importância a caracterização do dano existencial para incidir a
indenização nos casos de algumas situações polêmicas, nas quais hoje em dia existe
grande relevância para o reconhecimento da viabilidade de indenização como no caso
de abandono parental (não é dano moral em si, mas sim está baseado na frustração
do projeto de vida), alienação parental, refugiados ambientais.
Por fim, é importante referir, que o fato de não se fazer referência expressa ao dano
existencial na legislação ou na jurisprudência, não pode ser encarado em si como uma
opção e sim reflexo da necessidade contínua de discussão e estudo aprofundado da
matéria em torno dos danos extrapatrimoniais.

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Notas

[1]SCHEREIBER, Anderson. Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil. Da Erosão


dos Filtros da Reparação à Diluição dos Danos. São Paulo: Atlas, 2ª ed., 2009, p. 98.

[2] SCHEREIBER, Anderson. Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil. Da Erosão


dos Filtros da Reparação à Diluição dos Danos. São Paulo: Atlas, 2ª ed., 2009, p. 99.

[3] A respeito da noção de cláusulas gerais e a sua repercussão no CC de 2002,


importante consultar a obra MARTINS-COSTA, Judith e BRANCO, Gerson Luiz Carlos.
Diretrizes Teóricas do Novo Código Civil Brasileiro. Editora Saraiva, São Paulo, 2002.

[4]SCHEREIBER, Anderson. Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil. Da Erosão


dos Filtros da Reparação à

[5] SCHEREIBER, Anderson. Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil. Da Erosão


dos Filtros da Reparação à Diluição dos Danos. São Paulo: Atlas, 2ª ed., 2009, p. 113.

[6] COUTO E SILVA, Clóvis do. O Conceito de Dano no Direito Brasileiro e Comparado.
In Revista dos Tribunais, n. 667, maio de 1991p. 7-16.

[7] Termo empregado por Sergio Severo em importante obra a respeito da matéria (Os
Danos Extrapatrimoniais).

[8] REsp 226190-RJ, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar Jr., STJ, 4.ª T., DJ 1.º.02.2000,
unânime, sendo partes Milton Oliveira Rufino e Grêmio Recreativo Escola de Samba
Beija-Flor, em decisão assim fundamentada: “Independentemente da nomenclatura
aceita quanto ao dano extrapatrimonial e sua classificação em dano moral, dano à
pessoa, dano biológico, dano fisiológico, dano à saúde, dano à vida de relação etc.,
cada um constituindo, com autonomia, uma espécie de dano, ou todos reunidos sob
uma ou outra dessas denominações, a verdade é que para o juiz essa disputa que se
põe no âmbito da doutrina, essa verdadeira “guerra de etiquetas” de que nos fala
Mosset Iturraspe (“El daño fundado en la dimensión del hombre en su concreta
realidad”. Revista de Derecho Privado y Comunitario 1-9) somente interessa para
evidenciar a multiplicidade de aspectos que a realidade lhe apresenta, a fim de melhor
perceber como cada uma delas pode e deve ser adequadamente valorizada do ponto
de vista jurídico”. MARTINS-COSTA, Judith. Os Danos à Pessoa No Direito Brasileiro e a
Natureza da sua Reparação. In Revista dos Tribunais, n. 789, p. 21 e ss.

[9] SOARES, Flaviana Rampazzo. El Camino Tortuoso Del Daño Existencial Para Ser
Reconocido Como Especie Autónoma Del Género “Daños Extrapatrimoniales” In:
PUERTAS, Carlos Alberto Calderón et al. (coord.). La Responsabilidad civil. Lima:
Motivensa, 2010. No prelo, p. 20.

[10] SCHEREIBER, Anderson. Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil. Da Erosão


dos Filtros da Reparação à Diluição dos Danos. São Paulo: Atlas, 2ª ed., 2009, p. 105 -
106.

[11]Art. 185 Codice Penale: “Ogni reato obbliga alle restituzioni, a norma delle leggi
civili (2.043 c.c.). Ogni reato, che abbia cagionato um danno patrimoniale o non
patrimoniale, obbliga al risarcimento il colpevole e le persone che, a norma delle leggi
civili, debbono rispondere per il fatto di lui.” [Todo crime obriga à restituição, de acordo
com as leis civis (2.043 CC). Todo crime, que tenha causado um dano patrimonial ou
não patrimonial, obriga ao ressarcimento o culpado e as pessoas que, segundo as leis
civis, devem responder pelos atos daquele].

[12] ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano Existencial a Tutela da Dignidade da
Pessoa Humana. Revista de Direito Privado, v.6, n. 24, out./dez. 2005, p. 21-53.

[13] ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano Existencial a Tutela da Dignidade da
Pessoa Humana. Revista de Direito Privado, v.6, n. 24, out./dez. 2005, p. 21-53.

[14] ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano Existencial a Tutela da Dignidade da
Pessoa Humana. Revista de Direito Privado, v.6, n. 24, out./dez. 2005, p. 21-53.

[15] ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano Existencial a Tutela da Dignidade da
Pessoa Humana. Revista de Direito Privado, v.6, n. 24, out./dez. 2005, p. 21-53.

[16] SOARES, Flaviana Rampazzo. Responsabilidade civil por dano existencial. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, prefácio Prof. Doutor Eugênio Facchini
Neto.

[17] ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano Existencial a Tutela da Dignidade da
Pessoa Humana. Revista de Direito Privado, v.6, n. 24, out./dez. 2005, p. 21-53.

[18] ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano Existencial a Tutela da Dignidade da
Pessoa Humana. Revista de Direito Privado, v.6, n. 24, out./dez. 2005, p. 21-53.

[19] Art. 2.º CR: “La Repubblica riconosce e garantisce i diritti inviolabili dell'uomo, sia
come singolo sia nelle formazioni sociali, ove si svolge la sua personalità, e richiede
l'adempimento dei doveri inderogabili di solidarietà politica, economica e sociale.”
ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano Existencial a Tutela da Dignidade da Pessoa
Humana. Revista de Direito Privado, v.6, n. 24, out./dez. 2005, p. 21-53.

[20] SOARES, Flaviana Rampazzo. Responsabilidade civil por dano existencial. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, p. 42.

[21] SOARES, Flaviana Rampazzo. Responsabilidade civil por dano existencial. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, p. 43.

[22] ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano Existencial a Tutela da Dignidade da
Pessoa Humana. Revista de Direito Privado, v.6, n. 24, out./dez. 2005, p. 21-53.

[23] SESSAREGO, Carlos Fernández. ¿Existe un daño al proyecto de vida? Disponível no


site: http://www.revistapersona.com.ar/Persona11/11Sessarego.htm. Acesso em: 13 de
outubro de 2010.

[24] FERRY, Luc. Aprender a Viver – Filosofia para os novos tempos. Tradução Véra
Lucia dos Reis, Rio de Janeiro: Objetiva, 2010, p. 135-138.

[25] SESSAREGO, Carlos Fernández. ¿Existe un daño al proyecto de vida? Disponível no


site: http://www.revistapersona.com.ar/Persona11/11Sessarego.htm. Acesso em: 13 de
outubro de 2010.

[26] ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano Existencial a Tutela da Dignidade da
Pessoa Humana. Revista de Direito Privado, v.6, n. 24, out./dez. 2005, p. 21-53.

[27] ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano Existencial a Tutela da Dignidade da
Pessoa Humana. Revista de Direito Privado, v.6, n. 24, out./dez. 2005, p. 21-53.

[28] SOARES, Flaviana Rampazzo. Responsabilidade civil por dano existencial. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, p. 81.

[29] ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano Existencial a Tutela da Dignidade da
Pessoa Humana. Revista de Direito Privado, v.6, n. 24, out./dez. 2005, p. 21-53.

[30] Importante referir que no Direito brasileiro existe grande relutância em considerar
viável a indenização por abandono parental. Nesse aspecto relevante utilizar o dano
existencial em virtude da repercussão negativa que causa o fato de não se pagar os
alimentos devidos.

[31] SOARES, Flaviana Rampazzo. Responsabilidade civil por dano existencial. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, prefácio Prof. Doutor Eugênio Facchini
Neto.

[32] SOARES, Flaviana Rampazzo. El Camino Tortuoso Del Daño Existencial Para Ser
Reconocido Como Especie Autónoma Del Género “Daños Extrapatrimoniales” In:
PUERTAS, Carlos Alberto Calderón et al. (coord.). La Responsabilidad civil. Lima:
Motivensa, 2010. No prelo, p. 20.

[33] SOARES, Flaviana Rampazzo. El Camino Tortuoso Del Daño Existencial Para Ser
Reconocido Como Especie Autónoma Del Género “Daños Extrapatrimoniales” In:
PUERTAS, Carlos Alberto Calderón et al. (coord.). La Responsabilidad civil. Lima:
Motivensa, 2010. No prelo, p. 21.

[34] Inserir nota Sergio Severo.

[35] SOARES, Flaviana Rampazzo. El Camino Tortuoso Del Daño Existencial Para Ser
Reconocido Como Especie Autónoma Del Género “Daños Extrapatrimoniales” In:
PUERTAS, Carlos Alberto Calderón et al. (coord.). La Responsabilidad civil. Lima:
Motivensa, 2010. No prelo, p. 20.

[36] SOARES, Flaviana Rampazzo. Responsabilidade civil por dano existencial. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, prefácio Prof. Doutor Eugênio Facchini
Neto.

[37] SOARES, Flaviana Rampazzo. Responsabilidade civil por dano existencial. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, prefácio Prof. Doutor Eugênio Facchini
Neto.

[38] ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano Existencial a Tutela da Dignidade da
Pessoa Humana. Revista de Direito Privado, v.6, n. 24, out./dez. 2005, p. 21-53.

[39] ALMEIDA NETO, Amaro Alves de. Dano Existencial a Tutela da Dignidade da
Pessoa Humana. Revista de Direito Privado, v.6, n. 24, out./dez. 2005, p. 21-53.

[40] SOARES, Flaviana Rampazzo. Responsabilidade civil por dano existencial. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, p. 65.

[41] SOARES, Flaviana Rampazzo. Responsabilidade civil por dano existencial. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, p. 68.

[42] SOARES, Flaviana Rampazzo. Responsabilidade civil por dano existencial. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, p. 69.

[43] SOARES, Flaviana Rampazzo. Responsabilidade civil por dano existencial. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, p. 70-71.

[44] Caso Serena é referido por CANOTILHO, José Joaquim Gomes. A “Principialização”
da Jurisprudência através da Constituição. Revista de Processo, n. 98, junho de 2000,
p. 83 e ss. Trata-se de caso em que menina foi irregularmente adotada ou
“seqüestrada”, e o autor defende que na avaliação do caso os juízes deveriam ir além
do discurso cômodo da segurança jurídica e da repercussão do caso para outras
situações e deveriam observar outros princípios assim o autor refere: “O caso é difícil,
mas por ser difícil não deveriam ter sido minimizados princípios tão importantes como
os da dignidade da pessoa e do livre desenvolvimento da personalidade”. (grifou-se)

[45] “Quem pratica a alienação parental causa afastamento entre filho e genitor,
provocando o desinteresse da criança ou do adolescente em relação ao pai ou à mãe,
o que prejudicaria o convívio em família e a formação deste indivíduo enquanto ser
social.” Wlademir Paes de Lira, titular da 26ª Vara Cível da Capital Família – Alagoas
http://www.jusbrasil.com.br/noticias/2411543/alienacao-parental-sera-tema-do-
interagindo-com-a-almagis, acesso em 07 de novembro de 2010.

[46] Decisão proferida pelo TRT 4 que impôs indenização à franqueado do Mc


Donald’s: RO 0010000-21.2009.5.04.0030, Rel. JOÃO GHISLENI FILHO julg. em
06/10/2010 Origem: 30ª Vara do Trabalho de Porto Alegre

[47] SCHEREIBER, Anderson. Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil. Da Erosão


dos Filtros da Reparação à Diluição dos Danos. São Paulo: Atlas, 2ª ed., 2009, p. 112-
113.

[48] SCHEREIBER, Anderson. Novos Paradigmas da Responsabilidade Civil. Da Erosão


dos Filtros da Reparação à Diluição dos Danos. São Paulo: Atlas, 2ª ed., 2009, p. 115.

[49] SOARES, Flaviana Rampazzo. Responsabilidade civil por dano existencial. Porto
Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2009, prefácio Prof. Doutor Eugênio Facchini
Neto.

[50] SOARES, Flaviana Rampazzo. El Camino Tortuoso Del Daño Existencial Para Ser
Reconocido Como Especie Autónoma Del Género “Daños Extrapatrimoniales” In:
PUERTAS, Carlos Alberto Calderón et al. (coord.). La Responsabilidad Civil. Lima:
Motivensa, 2010. No prelo, p. 26.

[51] SOARES, Flaviana Rampazzo. El Camino Tortuoso Del Daño Existencial Para Ser
Reconocido Como Especie Autónoma Del Género “Daños Extrapatrimoniales” In:
PUERTAS, Carlos Alberto Calderón et al. (coord.). La Responsabilidad Civil. Lima:
Motivensa, 2010. No prelo, p. 19.

[52] SOARES, Flaviana Rampazzo. El Camino Tortuoso Del Daño Existencial Para Ser
Reconocido Como Especie Autónoma Del Género “Daños Extrapatrimoniales” In:
PUERTAS, Carlos Alberto Calderón et al. (coord.). La Responsabilidad Civil. Lima:
Motivensa, 2010. No prelo, p. 26.

[53] SOARES, Flaviana Rampazzo. El Camino Tortuoso Del Daño Existencial Para Ser
Reconocido Como Especie Autónoma Del Género “Daños Extrapatrimoniales” In:
PUERTAS, Carlos Alberto Calderón et al. (coord.). La Responsabilidad Civil. Lima:
Motivensa, 2010. No prelo, p. 26.

[54] SOARES, Flaviana Rampazzo. El Camino Tortuoso Del Daño Existencial Para Ser
Reconocido Como Especie Autónoma Del Género “Daños Extrapatrimoniales” In:
PUERTAS, Carlos Alberto Calderón et al. (coord.). La Responsabilidad Civil. Lima:
Motivensa, 2010. No prelo, p. 26.

[55] SOARES, Flaviana Rampazzo. El Camino Tortuoso Del Daño Existencial Para Ser
Reconocido Como Especie Autónoma Del Género “Daños Extrapatrimoniales” In:
PUERTAS, Carlos Alberto Calderón et al. (coord.). La Responsabilidad Civil. Lima:
Motivensa, 2010. No prelo, p. 26.

[56]SOARES, Flaviana Rampazzo. El Camino Tortuoso Del Daño Existencial Para Ser
Reconocido Como Especie Autónoma Del Género “Daños Extrapatrimoniales” In:
PUERTAS, Carlos Alberto Calderón et al. (coord.). La Responsabilidad Civil. Lima:
Motivensa, 2010. No prelo, p. 26.

[57] SOARES, Flaviana Rampazzo. El Camino Tortuoso Del Daño Existencial Para Ser
Reconocido Como Especie Autónoma Del Género “Daños Extrapatrimoniales” In:
PUERTAS, Carlos Alberto Calderón et al. (coord.). La Responsabilidad Civil. Lima:
Motivensa, 2010. No prelo, p. 27.

[58] SOARES, Flaviana Rampazzo. El Camino Tortuoso Del Daño Existencial Para Ser
Reconocido Como Especie Autónoma Del Género “Daños Extrapatrimoniales” In:
PUERTAS, Carlos Alberto Calderón et al. (coord.). La Responsabilidad Civil. Lima:
Motivensa, 2010. No prelo, p. 28.

[59] NORONHA, Fernando. Os Danos à Pessoa, Corporais (Ou Biológicos)


e Anímicos (ou Morais em Sentido Estrito),
e suas Relações com os Danos Patrimoniais
E Extrapatrimoniais. Revista De Direito Privado v. 22, abril-junho 2005, p. 83.

[60] MARTINS-COSTA, Judith. Os Danos À pessoa e a Natureza da sua Reparação. A


Reconstrução do Direito Privado. Org. MARTINS-COSTA, Judith, São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2002, p.408-446.

[61] Nesse sentido, merece referência:“um ato, doloso ou culposo, que cause uma
mudança de perspectiva no cotidiano do ser humano, provocando uma alteração
danosa no modo de ser do indivíduo ou nas atividades por ele executadas com vistas
ao seu projeto de vida pessoal, prescindindo de qualquer repercussão financeira ou
econômica que do fato da lesão possa decorrer, deve ser indenizado, como um dano
existencial, um dano à existência do ser humano”ALMEIDA NETO, Amaro Alves de.
Dano Existencial a Tutela da Dignidade da Pessoa Humana. Revista de Direito Privado,
v.6, n. 24, out./dez. 2005, p. 21-53.

1. Responsabilidade civil. ação de indenização por danos materiais e morais.


assalto no interior de supermercado. PARAPLEGIA DA VÍTIMA ATINGIDA POR
PROJÉTIL DE ARMA DE FOGO, derivado de confronto dos prepostos da apelante
e assaltantes que pretendiam se apoderar de malote contendo valores
arrecadados do supermercado. presença do nexo causal.Segundo o disposto no
parágrafo único do art. 927 do Código Civil, haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente da culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por natureza,
risco para os direitos de outrem. Sendo a atividade da empresa demandada
considerada de risco, e sendo a mesma objetiva, incumbia-lhe a demonstração
de culpa exclusiva ou concorrente da vítima, ônus do qual não se desincumbiu.
A concessão de pensionamento vitalício à mãe do ofendido se justifica na
medida em que será exigido dela permanente cuidado e atenção ao ofendido
diante das sequelas apresentadas pelo mesmo. Existência de seqüela
determinante de agravo à harmonia física do ofendido em vista do infortúnio.
Possível cumular o dano estético com o dano moral derivados do mesmo fato
quando inconfundíveis suas causas. Valor da indenização majorada. Valor do
pensionamento fixado na sentença que se mostra condizente com a situação
dos demandantes e as circunstâncias dos fatos. O recebimento de
pensionamento vitalício, in casu, engloba, necessariamente, os lucros cessantes.
Desnecessidade de constituição de capital frente à possibilidade de inclusão dos
demandantes na folha de pagamento da empresa demandada. Desconto dos
valores já pagos, a título de tutela antecipada, que se mantém, considerando
que a sentença determinou o acerto de contas, pena de enriquecimento
indevido dos demandantes. Verba honorária que deve ser fixada em
consonância com o trabalho, o zelo e a complexidade da causa. Valor da verba
honorária fixada com base em percentual sobre o valor da condenação, que se
mostra mais adequada à hipótese dos autos. Apelação da demandada não-
provida. Apelação dos demandantes provida, em parte. Decisão unânime.
Apelação Cível Nº 70026404996 Décima Câmara Cível, TJRS, Julgado em 26 de
novembro de 2009.

[63] EMENTA: ACIDENTE DE TRABALHO. EMPRESA. PRETENSÃO FULCRADA NO DIREITO


COMUM. CULPA DO PREPOSTO CONFIGURADA. AUSÊNCIA DE CULPA CONCORRENTE
DE EMPREGADA. NEXO CAUSAL PRESENTE. PRELIMINARES. JULGAMENTO ULTRA
PETITA. AFASTAMENTO. MÉRITO. RESPONSABILIDADE DA EMPREGADORA. LESÃO
CERVICAL. TOTAL INCAPACIDADE PARA EXERCÍCIO DE ATIVIDADES LABORATIVAS.
TETRAPLEGIA. QUANTUM INDENIZATÓRIO. PENSIONAMENTO VITALÍCIO,
QUANTIFICADO EM 100% DO SALÁRIO LIQUIDO QUE PERCEBIA A EMPREGADA NA
DATA DO ACIDENTE. IMPOSSIBILIDADE DE COMPENSAÇÃO COM OS VALORES PAGOS
PELO INSS, A TÍTULO DE BENEFÍCIO DE INVALIDEZ ACIDENTÁRIA. 1 - Julgamento ultra
petita. Inocorrência. Condenação definitiva conforme determinado em sentença,
restando definitiva a antecipação de tutela deferida. Análise do pedido. Interpretação
lógico-sistemática da petição inicial. 2 - Mérito. Impõe-se a responsabilização da
empresa ré, por culpa de seu empregado, que negligenciou ao manobrar ônibus nas
dependências da empresa, sem verificar devidamente eventual obstrução no veículo,
vindo a atropelar a autora. Culpa exclusiva do preposto da ré reconhecida. Nexo de
causalidade presente, a ensejar a obrigação da empregadora em reparar os danos. 3 ¿
Pensionamento mensal e vitalício. Parcelas do INSS. Havendo incapacidade laborativa
de caráter permanente, justifica-se o pensionamento vitalício. A indenização
acidentária não exclui a indenização pelo direito comum, que vem fulcrada no artigo
159 do CC, adotada aqui a teoria da responsabilidade subjetiva. Da mesma forma, a
introduzir a responsabilidade, a Carta Magna, no artigo 7º, XXVIII. Montante do
pensionamento que será equivalente ao valor líquido auferido pela laboradora na data
do acidente, após efetuados os descontos legais. 4 ¿ Dano moral. Montante
compensatório arbitrado adequadamente e que atende às circunstâncias específicas
do caso. Manutenção. 5 ¿ Constituição de capital. Substituição por inclusão da
obrigação em folha de pagamento. CPC, art. 475-Q,§ 2º. Apelo da ré parcialmente
provido. Apelo da autora improvido. (Apelação Cível Nº 70008800252, Décima Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Paulo Antônio Kretzmann, Julgado em
31/08/2006)

[64] INDENIZAÇÃO POR DANOS MA TEMAIS E MORAIS - ACIDENTE DE VEÍCULO -


INCAPACIDADE TOTAL E PERMANENTE(TETRAPLEGIA) - PENSÃO MENSAL E REEMBOLSO
DE DESPESAS MÉDICAS E AFINS - CONDENAÇÃO BEM DECRETADA - DANO MORAL -
REDUÇÃO - O acidente versado nos autos, comprovadamente causado pelo réu,
resultou na tetraplegia da demandante, o que torna inafastável o acolhimento do
pedido de condenação ao pagamento de pensão mensal e reembolso de despesas
médicas e afins - Incontroverso o padecimento psicológico acarretado à autora,
igualmente devida é a indenização por dano moral, o qual, contudo, em obediência
aos princípios da moderação e razoabilidade, merece redução - Apelo provido em
parte. TJSP - Apelação: APL 992070353912 SP Relator(a): José Malerbi Julgamento:
17/05/2010 Órgão Julgador: 35ª Câmara de Direito Privado Publicação: 21/05/2010

[65] STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp 1065747 PR 2008/0126234-0 Relator(a): Ministro


FERNANDO GONÇALVES
Julgamento: 15/09/2009 Órgão Julgador: T4 - QUARTA TURMA Publicação: DJe
23/11/2009
“FIXAÇÃO DA INDENIZAÇÃO (a) R$ 24.437,04 (vinte e quatro mil, quatrocentos e trinte e
sete reais e quatro centavos), a título de danos materiais; (b) pensão mensal vitalícia
no valor de R$ 2.250 (dois mil duzentos e cinqüenta reais); (c) pensão mensal a
Melyssa Toniolo Branco Doria, esposa do acidentado, no importe de R$ 1.550 (mil
quinhentos e cinqüenta reais) até fevereiro de 2002 e, a partir de então, no valor de R$
775,00 (setecentos e setenta e cinco reais), até quando logre retornar às atividades
laborais em período integral; (d) R$ 3.061,72 (três mil e sessenta e um reais e setenta e
dois centavos) mensais e vitalícios ao autor Maurer Andres Doria, para custeio de
despesas com empregada, enfermeiro, fisioterapeuta, medicamentos de uso contínuo
e material para esvaziamento de intestino e bexiga; bem como (e) indenização por
danos morais fixada em R$ 520.000,00 (quinhentos e vinte mil reais), assim divididos:
R$ (duzentos e cinqüenta mil reais) para Maurer Andres Doria, R$ (cento e dez mil
reais) para Melyssa Toniolo Branco Doria, R$ (oitenta mil reais) para Ramon Andres
Doria, pai da vítima, e R$ (oitenta mil reais) para Cleuza Ramos Doria, mãe do
acidentado.
Em grau recursal, a 10ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná deu
parcial provimento à apelação (a) reduzindo a pensão mensal da vítima para R$ (mil e
oitocentos reais), (b) excluindo da condenação a pensão mensal deferida à sua esposa,
bem como (c) minorando o valor dos danos morais para R$ (trezentos e doze mil
reais), assim distribuídos: R$ 150.000,00 (cento e cinqüenta mil reais) para Maurer
Andres Doria, R$ (sessenta e seis mil reais) para Melyssa Toniolo Branco Doria e R$
(quarenta e oito mil reais) para cada um dos genitores da vítima. Vencido o vogal, que
mantinha integralmente a sentença. "Quanto aos danos morais fixados em favor de
Melyssa, é sabido que parte de sua juventude e de sua vida foi abortada. A
constituição de família se desboroou com a gravidade do estado de saúde do marido,
totalmente dependente, acarretou a perda de um projeto de vida familiar, constituição
de prole e sucesso profissional. Sensível e humana a sentença ao reportar a dor,
sofrimento, a perda das expectativas de uma vida feliz, de concretizações de sonhos
de recém-casados, de um futuro promissor que foram desmantelados, razão pela qual
o dano moral fixado pela sentença no valor de R$ 110.000,00, deve ser restabelecido.
Embora tão sabido que a dor, o sofrimento, não têm preço, esse valor, por certo, trará
um certo alívio, uma certa segurança quanto à sobrevivência, diante de tamanha
tragédia, como forma de amenizar e de esperança que outras tragédias dessa ordem
não se repitam. (...) Inegável o direito dos familiares de ver reparada a sua dor, ainda
que de impossível mensuração pecuniária, daí o papel relevante do juiz de aferir,
segundo as regras da experiência e a prova dos autos. Por isso, a fixação de R$
80.000,00, para cada um dos pais de Maurer, que tinham na vida e na formação
proporcionadas ao filho uma perspectiva de vida saudável, produtiva e de sucesso
profissional. Porém, convivem e compartilham com este filho todas as dificuldades por
ele verificadas, alimentados pela dor, tristeza, decepção e sem nenhuma esperança de
melhora de vida para este filho.

[66] TJMG: 101450633291250011 MG 1.0145.06.332912-5/001(1) Relator MÁRCIA DE


PAOLI BALBINO, julg. em 02 de abril de 2009.
Jefferson Fortunato da Costa, menor representado por seus pais, ajuizou ação de
reparação de danos contra Viação São Francisco Ltda, em decorrência de acidente de
trânsito. Sustentou, em suma: que em 31.01.2006 viajava como passageiro no ônibus
de propriedade da ré, placa GVI 3327, quando sofreu acidente em decorrência de
manobra brusca do preposto da ré ao passar em um buraco; que em razão do
acidente teve esmagamento do testículo direito e foi submetido à cirurgia; que sofreu
dano de ordem moral por ter ficado fisicamente impossibilitado de ter filhos; que
também sofreu dano estético com a perda de um testículo e danos materiais
decorrentes do tratamento; que a ré é civilmente responsável por reparar os danos
decorrentes do acidente. Requereu a concessão da gratuidade judiciária e a
condenação da ré ao pagamento de indenização de 500 salários mínimos a título de
dano moral, indenização de 500 salários mínimos a título de dano estético e ao
ressarcimento das despesas realizadas com tratamento. Juntou documentos.

[67] RO 0010000-21.2009.5.04.0030, Rel. JOÃO GHISLENI FILHO julg. em 06/10/2010


Origem: 30ª Vara do Trabalho de Porto Alegre.

[68] APELAÇÃO CÍVEL Nº. 20063005198-2, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ,


SECRETARIA DA 1ª CÂMARA CÍVEL ISOLADA, RELATORA: DESª. MARNEIDE TRINDADE
PEREIRA MERABET, julg. 15 de dezembro de 2008.

[69] Apelação: APL 992050425179 SP, TJSP, 30ª Câmara de Direito Privado, Relator(a):
Lino Machado, Julgamento: 19/05/2010

[70] APELAÇÃO. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. COLISÃO DE


CAMINHÃO MUNICIPAL CONTRA AUTOMÓVEL. TETRAPARESIA DA VÍTIMA. DANOS
MORAIS TAMBÉM AOS PAIS. 1.Legitimidade passiva. Inviável a rediscussão acerca da
responsabilidade do Município demandado, pois já apreciada em anterior demanda.
Situação em que seu preposto, condenado em processo-crime, invadiu a contramão,
ocasionando colisão frontal, já no acostamento, contra o automóvel que vinha em
sentido contrário, no qual estava a autora. Circunstâncias apontando que,
diferentemente do alegado, o condutor do caminhão - preposto do Município - estava
em serviço no momento do acidente. E mesmo se assim não fosse, o proprietário
responde pelos danos causados pelo veículo, seja por culpa in vigilando, seja por culpa
in eligendo. 2.Danos materiais. Cabível a liquidação de sentença, a fim de serem
apuradas a totalidade das despesas de tratamento médico, adotando-se os recibos e
notas fiscais já apresentados e os gastos suportados no curso da ação. Em tal
oportunidade, poderá o Município compensar os valores já desembolsados em meio à
demanda, vedando-se, dessa forma, o alegado enriquecimento sem causa. 3.Lucros
cessantes ao pai da vítima. Devida a parcela, tendo em vista que necessitou afastar-se
da atividade profissional para atender à filha, diante de sua dependência física. 4.É
possível a reparação cumulada por danos morais e estéticos à vítima, se a causa de
pedir for diversa, situação evidenciada no presente caso. Súmula 387 do STJ. 4.1.Danos
morais. A autora que restou com sequelas neurológicas e motoras em virtude do
traumatismo cranioencefálico (tetraparesia), estando agora em cadeira de rodas e
totalmente dependente de seus familiares. Interrupção de projeto de vida. Majoração
da quantia, considerando em especial os parâmetros desta Câmara. 4.2.Danos
estéticos que derivam de cicatrizes e da paralisia. Majoração da verba arbitrada,
sopesada a gravidade do quadro em que se encontra a autora e os parâmetros usuais
da Câmara. 4.3.Danos morais reflexos aos pais. Inquestionável que o atual estado de
saúde da filha causou, e ainda causa, intensa aflição aos pais da vítima, sendo cabível
a manutenção da reparação por danos morais reflexos. Precedente do STJ.
5.Pensionamento. Embora a autora, em idade escolar, ainda não trabalhasse ao
tempo do acidente, cabível a indenização mensal, pois restou tolhida do exercício de
qualquer profissão. Redução da prestação mensal, porque não pode ser incluída nessa
indenização parcela relativa a tratamento ou acompanhamento médicos que integram
a rubrica danos materiais. Fixação da verba tendo em conta a formação escolar,
devida após prazo razoável para formação de ensino superior. 6.Honorários
advocatícios. Fixação em 10% sobre a soma da condenação (soma das parcelas
vencidas, uma anuidade das vincendas e da verba por danos morais e materais), em
consonância com a complexidade e tempo de duração da demanda.
7.Prequestionamento. Desnecessária a indicação de todos os fundamentos legais
eventualmente incidentes no caso. Apelos parcialmente providos. (Apelação Cível Nº
70030096911, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Orlando Heemann Júnior, Julgado em 01/04/2010)

[71] TERRAS INDÍGENAS. OCUPAÇÃO PELO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.


TRANSFERÊNCIA A PARTICULARES. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E SUA
DEVOLUÇÃO ÀS COMUNIDADES INDÍGENAS. RESPONSABILIDADE INDENIZATÓRIA DO
ESTADO. ART. 32, ADCT, CONSTITUIÇÃO ESTADUAL DE 1989. É inegável a
responsabilidade indenizatória do Estado do Rio Grande do Sul, quanto a aqueles que
estão submissos à devolução das terras pertencentes a comunidades indígenas,
indevidamente ocupadas pelo Estado e por ele transferidas a particulares, que por
elas pagaram, sendo tal conduta ilícita estampada na própria Constituição Estadual
(art. 32, ADCT), sendo que, não promovido assentamento, a solução pecuniária
afigura-se óbvia. DANO MORAL. ANCIÃ. AFASTAMENTO DAS SUAS TERRAS. SITUAÇÃO
DOLOROSA. QUANTUM RAZOÁVEL. Apresenta-se clara a ocorrência de dano moral
quanto a anciã, forçada a abandonar suas terras e remetida a dificultoso, senão
inviável, reinício de projeto de vida, desmerecendo corrigenda o quantum fixado pela
sentença. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. COMPENSAÇÃO DAS VERBAS HONORÁRIAS.
GRATUIDADE DA JUSTIÇA. Havendo sucumbência recíproca, não exclui a gratuidade da
justiça a compensação das verbas honorárias (Súmula 306, STJ). (Apelação e Reexame
Necessário Nº 70012670493, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Armínio José Abreu Lima da Rosa, Julgado em 09/11/2005)

[72] REJEITADA A PRELIMINAR DO MINISTERIO PUBLICO: OS AUTOS ESTIVERAM EM


CARGA COM O PROMOTOR DE JUSTICA, SENDO IMPOSSIVEL EXTRACAO DE COPIAS
JUNTADA POSTERIOR ADMITIDA. INEXISTENCIA DE VICIO FORMAL. NOVA AVALIACAO
PSICOLOGICA. MESMO ENCERRADA A INSTRUCAO E CABIVEL A REABERTURA PARA A
COLETA DE NOVO ELEMENTO PONDERAVEL DE CONVICCAO. TRATA-SE DE CRIANCA
SOFRIDA PELAS PERDAS QUE A VIDA IMPOS, PRIMEIRO DA MAE BIOLOGICA, DEPOIS
DO PAI, E, AGORA, DEFINE-SE A TUTELA. TODA ALTERACAO DE GUARDA E FATO
TRAUMATICO PARA A CRIANCA, ANTE A MUDANCA DOS SEUS REFERENCIAIS, DEVENDO
SER TAO EVITADA QUANTO POSSIVEL. A CRIANCA ESTA A MAIS DE SEIS ANOS
MORANDO COM A AGRAVANTE, COMPANHEIRA DO FALECIDO PAI, SENDO BEM
CUIDADO E COM VINCULACAO AFETIVA, EMBORA EXISTAM AVOS MATERNOS E
PATERNOS EM CONDICOES DE EXERCEREM A TUTELA. O INTERESSE DA CRIANCA DEVE
PREVALECER SOBRE TODOS OS DEMAIS. E OPORTUNA A REALIZACAO DE LAUDO
PSICOLOGICO PARA AFERIR, AS CONDICOES DO INFANTE DIANTE DAS SUAS
CIRCUNSTANCIAS PESSOAIS: O SEU GRAU DE EQUILIBRIO EMOCIONAL, A ADEQUACAO
DA CONVIVENCIA COM A AGRAVANTE, A INTENSIDADE DESSE VINCULO AFETIVO E A
VERIFICACAO DOS SEUS REFERENCIAIS, ISTO E, A IMPORTANCIA DAS AVOS NO SEU
PROJETO DE VIDA. E ESSA A FINALIDADE DO LAUDO DE AVALIACAO PSICOLOGICA.
RECURSO PROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 597101559, Sétima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em
13/08/1997)

[73] Caso conhecido como das "pílulas de farinha", sendo de se anotar que o fato de o
STJ admitir a indenização em ação civil pública promovida pelos danos decorrentes da
ingestão do anticoncepcional Microvlar, da Schering [Resp. 866.636 SP], referendando-
a em ação individual [Resp.1.096.325 SP], constrói modalidade de sentença de efeito
erga omnes quanto ao tema jurídico, desautorizando decisões diversas quando as
situações fáticas se assemelham - Hipótese em que a autora, com a juntada de carteia
e duas drágeas restantes que não possuíam os princípios ativos a que se destinavam,
prova ter engravidado pela falha da indústria em não destruir os produtos
manufaturados para testes [placebos] da máquina empacotadora recém adquirida e
pela culpa quanto à guarda desse material que, infelizmente, foi inserido no comércio
como produto regular - Dever de compensar a mulher pela concepção indesejada ou
inesperada, como espécie de dano existencial, conforme já admitido pelo Tribunal
Superior, inclusive em lide ajuizada por defeito de outro anticoncepcional produzido
pela Schering [Resp. 918.257 SP] e de pagar pensão à filha, aceita essa fórmula de
indenizar como reparação pela perda de chance de cumprir o princípio do cuidado
previsto na Constituição Federal, no Estatuto da Criança e do Adolescente e na
Convenção Internacional sobre os Direito da Criança. Agravo retido não provido e
provimento em parte dos recursos [apenas para consignar que a correção monetária
do dano moral tem início a partir da sentença que arbitrou o quantum e para elevar a
verba honorária para 10% do valor atualizado das condenações. Apelação
4820374000, Relator(a): Enio Zuliani, julg. em 29/01/2009, 4ª Câmara de Direito
Privado, Tribunal de Justiça de São Paulo.

Tags:

respondabilidade civil dano existencial dano biológico dano moral

dano extrapatrimonial

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