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19/04/2018 Envio | Revista dos Tribunais

Contraditório participativo: evolução, impactos no Processo Civil e restrições

CONTRADITÓRIO PARTICIPATIVO: EVOLUÇÃO, IMPACTOS NO PROCESSO


CIVIL E RESTRIÇÕES
Participative contradictory: evolution, impacts on Civil Procedure and restrictions
Revista de Processo | vol. 279/2018 | p. 19 - 40 | Maio / 2018
DTR\2018\12708

Andre Vasconcelos Roque


Doutor e mestre em Direito Processual pela UERJ. Professor de Direito Processual Civil da FND (UFRJ).
Advogado. andreroque@andreroque.adv.br

Área do Direito: Processual


Resumo: O presente artigo foi elaborado a partir de prova escrita realizada para o concurso ao cargo
de Professor Adjunto de Direito Processual Civil, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O texto
principal corresponde à resposta da prova escrita, ao passo que as notas de rodapé são anotações
inseridas posteriormente e referências bibliográficas relativas aos autores citados. Neste estudo, busca-
se definir o conceito do que se vem chamando de contraditório participativo e analisar o seu
desenvolvimento histórico, sua relação com a vedação às decisões-surpresa, com o princípio da
cooperação, com o direito à prova e com o dever de motivação das decisões judiciais. Ao final, são
apontadas as principais restrições ao contraditório no processo civil.

Palavras-chave: Contraditório participativo – Vedação às decisões-surpresa – Cooperação – Direito à


prova – Dever de motivação
Abstract: This article was elaborated from written test for the contest for the position of Adjunct
Professor of Civil Procedural Law, at the University of the State of Rio de Janeiro. The main text
corresponds to the answer of the written test, while the footnotes are annotations inserted later and
bibliographical references related to the authors cited in the text. The purpose of this study is to define
the concept of what is being called a “participative contradictory”, to analyze its historical development,
its relation to the prohibition of the so-called surprise decisions, the principle of cooperation, the right
to proof and the duty of motivation of judicial decisions. At the end, the main restrictions to the
contradictory principle in civil procedure are pointed out.

Keywords: Participative contradictory – Prohibition of the surprise decisions – Principle of cooperation


– Right to proof – Duty of motivation
Sumário:

1Delimitação do tema e fundamentos do contraditório - 2Histórico - 3Vedação às discussões-surpresa


ou de terceira via - 4Diálogo processual e cooperação - 6Restrições ao contraditório - 7Conclusão

1 Delimitação do tema e fundamentos do contraditório


O contraditório é considerado hoje um dos mais importantes princípios do Direito Processual Civil e
significa, em sua acepção mais básica, que ninguém deve ser atingido em sua esfera de interesses por
uma decisão judicial em processo no qual não teve a oportunidade de se manifestar.

No Brasil, o contraditório é assegurado constitucionalmente (art. 5º, LV, CF/1988 (LGL\1988\3))1,


sendo difícil separá-lo da ampla defesa. A dificuldade é também enfrentada em outros países. Não
surpreende, assim, que autores como Comoglio sustentem tratar-se de duas faces da mesma moeda2.
A doutrina contemporânea, contudo, tem traçado uma distinção: o contraditório se relaciona a um
aspecto mais estrutural e objetivo do processo, atinente à possibilidade de participação das partes no
processo como fator de sua legitimação democrática, ao passo que a ampla defesa se relaciona com a
defesa técnica em juízo, com a concretização do ideal projetado pelo contraditório no processo (nesse
sentido, Andolina e Vignera, “Il modelo costituzionale del processo civile italiano”3; José Rogério Cruz e
Tucci, em sua obra sobre limites subjetivos da eficácia natural e da coisa julgada)4. Para tornar ainda
mais claro esse traço distintivo, vale destacar o conteúdo da ampla defesa por Joan Picó y Junoy, de
acordo com quem tal princípio se desdobra na defesa técnica, na congruidade dos prazos, na
participação em audiência, na acessibilidade (direito a um intérprete e, mais recentemente, do acesso
ao processo eletrônico – evidência disso é o art. 198 do CPC/2015 (LGL\2015\1656), segundo o qual as
unidades do Poder Judiciário deverão manter gratuitamente à disposição dos interessados
equipamentos necessários à prática dos atos por meio eletrônico, devendo, na sua impossibilidade, ser
admitida a prática de atos por meio não eletrônico) e, no direito a propor, produzir e participar das
provas no processo5.

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A partir desta delimitação fica claro que o contraditório possui dois fundamentos principais: (i) legitimar
democraticamente o exercício da jurisdição, mediante a possibilidade de participação das partes, o que
é um corolário do Estado Democrático de Direito, que não se contenta com a simples submissão do
Estado à lei, exigindo que todo exercício de poder seja amparado pela legitimação democrática; e (ii)
servir de garantia das partes contra o risco de arbítrio judicial, como bem ressaltado por Alvaro de
Oliveira em sua clássica obra sobre o formalismo-valorativo no processo civil6.
O contraditório possui hoje, portanto, uma função humanitária e de grande legitimação política no
processo. Há, inclusive, quem o considere essencial ao próprio conceito de “processo”, como Fazzalari,
para quem o processo é o procedimento realizado em contraditório7. Esse posicionamento é criticado
por Araken de Assis, que assevera que, cada vez mais, toda atividade estatal se submete ao devido
processo legal e, consequentemente, ao contraditório. Para Araken, associar o conceito de processo ao
contraditório conduziria à perda da marca distintiva do processo judicial em relação às demais
atividades do Estado, sobretudo ao processo administrativo8.
Independentemente de tal discussão, nem sempre o contraditório teve a importância que hoje lhe
conferem a Constituição, a lei e, sobretudo, a doutrina. A denominação “contraditório participativo”
marca a mais recente etapa de evolução nesse processo de revisitação e fortalecimento do
contraditório.
2 Histórico
A problemática relativa ao contraditório, embora remeta a alguns antecedentes históricos na Grécia
antiga, relacionados à dialética em Aristóteles e aos sofistas, não teve uma evolução histórica linear.
Não se concebia o contraditório como um princípio nos estágios iniciais do direito romano, por uma
simples razão: o juiz não tinha poder, ao tempo das leges actiones e mesmo no período formulário, de
julgar o processo caso o réu se recusasse a comparecer. Foi apenas no período pós-clássico, da cognitio
extra ordinem, com o fortalecimento do Estado, que o juiz assumiu tais poderes no direito romano9.
Durante a Idade Média, o princípio do contraditório se enraizou no processo como um instrumento de
busca pela verdade. Progressivamente, porém, com a concentração dos poderes nas mãos do príncipe,
o contraditório se transmudou em princípio meramente formal. Na fase da revolução positivista, então,
o contraditório foi relegado a segundo plano, fenômeno este agravado com o publicismo processual que
se desenvolveu a partir das obras de Klein, Bülow e Menger, no final do século XIX10. Concentrava-se o
poder nas mãos do juiz, dotado de amplos poderes instrutórios e da direção formal do processo, de
maneira a assegurar que esse atingisse as suas finalidades.
A essa altura, a compreensão do contraditório se resumia ao binômio informação-reação, ou seja, à
bilateralidade de audiência e à possibilidade de participação das partes no processo. Como diriam os
norte-americanos, o contraditório seria simplesmente a day incourt (um dia na corte).
No período que se sucede à 2ª Guerra Mundial, o princípio do contraditório começa a ser revisitado, em
primeiro lugar, pelos estudos da doutrina alemã e o desenvolvimento da matéria naquele país. De
acordo com Gerhard Walter, o juiz, além de franquear a participação das partes no processo, tem o
dever-ônus de considerar a sua argumentação na decisão de levar a sério e sopesar as alegações
trazidas pelas partes ao processo11. Nesse mesmo período, a doutrina italiana também revisita o
contraditório a partir da perspectiva da paridade de armas (para os alemães, Waffengleichheit), como
se depreende dos estudos de Fazzalari12. Daquela dupla dimensão inicial (informação-reação), o
contraditório passa a assumir um terceiro aspecto (informação-reação-consideração). Não basta que as
partes tenham assegurada a possibilidade de participação formal no processo, é fundamental que o juiz
leve em consideração os argumentos trazidos pelas partes. Sob perspectiva inversa, às partes é
conferido o direito de influenciar na construção da decisão judicial. Somente assim é que o processo se
legitima como instrumento democrático de exercício da função jurisdicional no Estado Democrático de
Direito13.
Essa revitalização do contraditório, que se inicia na Alemanha e na Itália após a 2ª Guerra Mundial e se
espalha por outros países, incluindo o Brasil (neste caso, após a Constituição de 1988) é que tem sido
denominada pela doutrina de “contraditório participativo”14. Dinamarco critica tal denominação, uma
vez que não se concebe contraditório que não seja “participativo”15. De todo modo, discussões
terminológicas à parte, confere-se hoje capital importância à participação das partes no processo, que
não se deve limitar a uma simples manifestação formal, sem qualquer garantia de que será sopesada
pelo julgador. É como diz Araken de Assis: para além do contraditório estritamente processual, que se
esgota na ciência dos atos processuais às partes (informação) e na possibilidade de sua participação
(reação), deve ser assegurado o contraditório substancial, o qual exige que as partes tenham a
possibilidade real de influir na decisão e que o julgador considere, em seu provimento, todos os aportes
fáticos e jurídicos submetidos pelas partes ao debate processual16.

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O contraditório assume, assim, função estrutural fundamental no processo civil, o qual deve também
ser revisitado, colocando em questão várias premissas e posições consolidadas no passado, as quais,
no entanto, não se compatibilizam com a atual extensão das garantias fundamentais no processo e, em
especial, com o contraditório.
3 Vedação às discussões-surpresa ou de terceira via
Uma das consequências da renovada compreensão sobre o contraditório diz respeito à proibição das
chamadas “discussões-surpresa” ou de terceira via, que encontra previsão nas legislações austríaca
(após a reforma de 2002), portuguesa, francesa (art. 16 do Código de Processo Civil francês), italiana
e, agora, também na brasileira (art. 10 do CPC/2015 (LGL\2015\1656))17.
O juiz não pode surpreender as partes com algum fundamento não submetido ao debate processual,
com perspectiva sobre a qual os demais sujeitos do processo não tiveram a oportunidade de se
manifestar. Isso porque, se o contraditório hoje exige que as partes tenham a possibilidade de influir na
construção da decisão, a elaboração de uma nova perspectiva argumentativa solitariamente pelo juiz
significa negar às partes qualquer possibilidade de influência, inclusive para demonstrarem,
eventualmente, o equívoco de tal raciocínio.
Permito-me aqui trazer uma experiência pessoal de clara violação a essa regra. Em uma determinada
apelação, interposta em embargos à execução, discutia-se a autenticidade da assinatura no título
executivo extrajudicial atribuída ao executado. Após ampla e complexa prova pericial, com a sentença
de procedência dos embargos, foi interposta apelação pelo exequente, na qual se esclareceu a razão
social da pessoa jurídica recorrente, por motivo de incorporação societária. A apelação foi recebida –
ainda estava em vigor o CPC/1973 (LGL\1973\5) – e remetida ao Tribunal de Justiça. O relator, sem
qualquer sobressalto, lançou o relatório, encaminhou os autos ao revisor e este pediu dia para
julgamento. Na sessão, após sustentação oral de apelante e apelado, ainda sobre a autenticidade das
assinaturas, o relator, para a surpresa de todos, votou por não conhecer da apelação, sob o
fundamento (questionável) de que o apelante falhou em não instaurar incidente de alienação da coisa
litigiosa, em vez de simplesmente interpor a apelação pela pessoa jurídica incorporadora. Revisor e
vogal acompanharam o voto, diante dos olhares perplexos dos advogados de ambas as partes...
Por isso, a vedação à decisão-surpresa (ou de terceira via) não se aplica somente no 1º grau, mas
também em fase recursal, como é evidência o art. 933 do CPC/2015 (LGL\2015\1656), o qual obriga o
relator, que se depara com o fato ou questão não submetida ao debate processual, a intimar as partes
para que ao debate processual, a intimar as partes para que se manifestem em cinco dias. Se tal
contestação ocorrer na própria sessão de julgamento, este será suspenso para que as partes possam se
manifestar especificamente (art. 933, § 1º, do CPC/2015 (LGL\2015\1656)).
A vedação à decisão-surpresa não significa, por óbvio, que o juiz não possa conhecer de determinadas
matérias de ofício, como é evidência o art. 485, § 3º, do CPC/2015 (LGL\2015\1656) (possibilidade de
o juiz conhecer de ofício de pressupostos processuais, perempção, litispendência, coisa julgada,
condições da ação e intransmissibilidade da ação da parte que faleceu). Conhecer de ofício não é
suprimir o debate no processo, mas simplesmente ter a iniciativa do debate, ou seja, tratando-se de
matéria cognoscível de ofício, o juiz poderá, por sua iniciativa, instaurar o contraditório sobre a
questão, instando as partes a se manifestarem. O que não se permite é que o juiz suscite de ofício
alguma questão sem qualquer debate processual sobre ela e já profira decisão, caso em que, aí sim,
terá sido violado o contraditório.
4 Diálogo processual e cooperação
O contraditório torna essencial, portanto, o diálogo de todos os sujeitos do processo. O Estado
Democrático de Direito já não se satisfaz com um processo excessivamente liberal-dispositivo, ante os
fins publicísticos do processo e da função jurisdicional, como enfatizado por Dinamarco, a explicitar os
fins sociais (pacificar com justiça), jurídicos (fazer valer a vontade concreta do direito) e políticos
(reafirmar a autoridade do Estado) da jurisdição18. Além disso, o processo de corte liberal é também
um reprodutor, no exercício da função jurisdicional, das desigualdades na sociedade. Definitivamente o
processo não pode ser encarado, como se fazia até a primeira metade do século XIX, como coisa das
partes (Sache der Parteien, como diriam os alemães).
Por outro lado, um processo fortemente inquisitório também não satisfaz a sociedade contemporânea,
que anseia por participar do exercício do poder. Em um processo amplamente inquisitório, corre-se o
risco de se recair no arbítrio judicial, no enfraquecimento das garantias fundamentais do processo e até
mesmo na quebra da imparcialidade decorrente da ânsia de superar no processo eventual desigualdade
social, econômica ou política das partes. Ademais, como enfatizado por autores norte-americanos19 e,
no Brasil, por Dierle Nunes e Lúcio Delfino20, há o risco de ancoramento cognitivo do juiz, decorrente de
algum preconceito inconsciente de aproveitamento ao trabalho realizado (confirmativebias) – como são
evidências os casos em que o juiz que concedeu liminar inaudita altera parte, em que dificilmente há
mudança de entendimento, mesmo após ampla cognição exaustiva, ou da contaminação do magistrado

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com eventuais provas excluídas do processo por ilicitude. Ainda nesse aspecto, de ancoramento
cognitivo, não se deve perder de vista a observação de Carlos Maximiliano, que destacava que os juízes
tinham propensão a enfatizar nos precedentes sempre os argumentos que reforçavam suas próprias
conclusões, relegando a aspectos secundários outras considerações nesses mesmos precedentes que
pudessem conduzir a entendimento distinto21. Embora antiga, essa é uma preocupação que ganha
atualidade no CPC/2015 (LGL\2015\1656), com o fortalecimento dos precedentes, como se depreende
especialmente de seus arts. 926 e 927.
O importante é que diante da insuficiência dos modelos dispositivo e inquisitorial desenvolve-se a noção
de processo cooperativo (art. 6º do CPC/2015 (LGL\2015\1656)), que coloca a tônica da divisão de
trabalho no diálogo entre todos os sujeitos do processo. Estrutura-se o processo contemporâneo em
uma comunidade de trabalho (Arbeitsgemeinschaft), em que todos os sujeitos podem e devem
contribuir para o exercício da função jurisdicional22. As partes não detêm a primazia dos direitos e
faculdades processuais (como no modelo dispositivo), nem o juiz concentra os poderes em suas mãos
(como no modelo inquisitório). Há no modelo cooperativo verdadeiro policentrismo processual (Nicola
Picardi)23, ficando o juiz no mesmo plano das partes para o debate processual e acima delas apenas no
momento em que toma sua decisão, como o ato final de exercício do poder jurisdicional.
Recomenda-se, contudo, não recair no exagero. O art. 6º do CPC/2015 (LGL\2015\1656) não pode ser
interpretado com viés autoritário como se só as partes devessem cooperar com o juiz para a obtenção
de uma decisão de mérito justa e efetiva. Uma perspectiva estatalista da cooperação processual
poderia conduzir a distorções. As partes não necessitam, mesmo em um processo civil cooperativo,
abrir mão de defender suas posições e não devem ser levadas a abandonar sua conduta parcial em
nome de um suposto processo civil do arco-íris da cooperação, como jocosamente apontado por
Marcelo Pacheco Machado24. Em definitivo, se todos os sujeitos devem cooperar entre si, o órgão
jurisdicional também deve participar do diálogo processual.
Especificando um pouco mais a cooperação, vale aqui recorrer aos ensinamentos de Miguel Teixeira de
Sousa, para quem a cooperação se desdobra em quatro aspectos para o juiz: (i) dever de
esclarecimento – o juiz deve se inteirar das postulações das partes, de seu conteúdo; além disso deve
também proferir decisões claras e coerentes, sob pena de estar a decisão sujeita a embargos de
declaração (art. 1022 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)); (ii) dever de prevenção – o juiz deve alertar as
partes a respeito da eventual deficiência em suas postulações ou de consequências negativas de seus
atos processuais; são evidências disso os arts. 321 (dever de dar oportunidade às partes de emendar a
petição inicial – e, no CPC/2015 (LGL\2015\1656), exige-se que o juiz indique explicitamente o que
deve ser corrigido ou completado) e 772, inciso II (advertência pelo juiz ao executado de que seu
procedimento constitui ato atentatório à dignidade da justiça); (iii) dever de auxílio – deve o juiz
romper eventual obstáculo ao exercício do contraditório pela parte, como são exemplos a distribuição
dinâmica do ônus da prova (art. 373, § 1º, do CPC/2015 (LGL\2015\1656)) e a ampliação de prazos
(art. 139, VI, do CPC/2015 (LGL\2015\1656)); e (iv) dever de consulta – segundo o qual o juiz está
obrigado a consultar as partes sobre eventual argumento não submetido ao debate processual, ainda
que se trate de matéria cognoscível de ofício, o que se identifica com a vedação às decisões-surpresa,
já examinada no item anterior25.
Ainda sobre a cooperação, não se pode deixar de notar que o CPC/2015 (LGL\2015\1656) amplia o
espaço da autonomia privada, como são exemplos os novos casos de convenções processuais, como a
delimitação consensual das questões de fato e de direito a serem submetidas à homologação do juiz
(art. 357, § 2º), da escolha consensual do perito (art. 471) e, claro, os frisantes casos de calendário
processual (art. 191) e da convenção processual atípica (art. 190), que pode tanto ser dispositiva
(mudança no procedimento) como obrigacional (sobre ônus, poderes, faculdades e deveres
processuais), conforme classificação de Antonio Cabral26. Ademais, insere-se na temática da
cooperação o saneamento em audiência, realizado mediante o diálogo entre os sujeitos do processo,
para a definição de questões sobre as quais recairá a atividade probatória e as questões de direito
relevantes, conforme previsto no art. 357, § 3º, para as causas mais complexas. Trata-se do
“saneamento compartilhado”, como apontado por Paulo Hoffman27, infelizmente limitado no CPC/2015
(LGL\2015\1656) apenas às causas complexas, ficando as causas ordinárias relegadas a uma
burocrática decisão escrita de saneamento, nem sempre exaurindo todos os pontos relacionados a essa
atividade processual nos incisos do art. 357.
Se o contraditório, na visão contemporânea, exige que as partes possam influir na formação do
convencimento do juiz, é evidente que também a elas deve ser assegurada a possibilidade de
comprovar os fatos que alegam. Afinal, sem a prova do que afirmam, a tutela jurisdicionada restará
sensivelmente prejudicada.

Trata-se do direito de defender-se provando, como destacado por Leonardo Greco28. Tal impõe uma
visão metajurídica da prova, tal como proposto por Bentham, em superação às suas concepções lógica

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(que privilegia excessivamente a argumentação das partes) e processual (que se contenta com suma
construção artificial da verdade no processo, uma verdade meramente formal)29.
A prova não tem, portanto, apenas a função de formar o convencimento do juiz, porque tal
entendimento legitimaria o subjetivismo e o arbítrio, acentuando a perda da credibilidade da justiça,
ainda mais na sociedade contemporânea, em que eventual apuração imperfeita dos fatos logo é
desmentida pelas informações bombardeadas pela imprensa e pelos meios de comunicação em geral,
em especial a internet. Como aponta Häberle, a verdade é valor essencial ao Estado Democrático de
Direito30. O processo precisa se reconciliar com a verdade, como aponta Michele Taruffo, pois tal é
pressuposto para a efetividade da tutela jurisdicional, conforme observa também Ferrajoli31.
Nessa linha de raciocínio, as limitações probatórias devem ser submetidas à crítica, pois podem impedir
a busca da verdade no processo. É claro que essa busca não pode ser ilimitada – a própria ciência tem
seus limites em tal tarefa –, mas o processo não deve se contentar com uma verdade simplesmente
formal.
As limitações probatórias, portanto, embora sirvam de orientação ao juiz menos experiente, devem ser
relativizadas, pois pode ser que determinada prova suspeita (por exemplo, testemunha menor de
idade) seja a única prova disponível ou que seja, justamente, no caso concreto, a prova mais confiável.
Isso sem falar que a limitação probatória imposta pelo legislador pode estar simplesmente
ultrapassada. Em todos esses casos, poderá o juiz superar a limitação probatória, desde que justifique
especificamente a necessidade de seu afastamento (ônus de argumentação qualificado)32.
Há quem sustente que o princípio do contraditório no novo CPC (LGL\2015\1656) teria conduzido à
superação do livre convencimento do juiz, já que seu convencimento agora estará balizado pelo debate
processual. É o que sustentam, entre outros, Lenio Streck e Lúcio Delfino33. Assim, não me parece livre
convencimento significar apenas que as provas não têm um valor predeterminado, como no sistema da
prova legal, nem o juiz pode se convencer sem externar as razões de seu convencimento (como no
sistema da íntima convicção). Mesmo no CPC/1973 (LGL\1973\5), livre convencimento não significava
autorização para a arbitrariedade34.
De todo modo, e como mais uma decorrência do contraditório dito participativo, não basta ao juiz
considerar em seu íntimo a argumentação das partes, deve também explicitar suas razões e, mais do
que isso, expor por que motivo rejeitou os argumentos das partes que conduziriam à conclusão oposta
(art. 489, § 1º, IV, do CPC/2015 (LGL\2015\1656)). Não é compatível com o contraditório o
entendimento de que o juiz não está obrigado a se manifestar sobre todas as alegações das partes, as
quais somente podem deixar de ser enfrentadas se por acaso forem impertinentes ou insuscetíveis de
levar à conclusão distinta35.
6 Restrições ao contraditório
O contraditório não pode ser suprimido do processo; no entanto, pode sofrer restrições em três
situações principais.
Primeira, no caso de urgência. A efetividade da jurisdição exige que por vezes seja concedida a tutela
inaudita altera parte em situação de urgência extrema, que não pode sequer esperar a oitiva da outra
parte (art. 9º, I, do CPC/2015 (LGL\2015\1656)). Nesse caso, o contraditório será diferido ou
postecipado. Mas somente se admite tal possibilidade na urgência extrema, caso contrário, deve o
requerido ser ouvido antes da apreciação da tutela de urgência.
O CPC/2015 (LGL\2015\1656) também permite que a tutela de evidência seja concedida liminarmente
se amparada em precedente de caso repetitivo, súmula vinculante e no caso de pedido reipersecutório
fundado em contrato de depósito (art. 311, II e III, c/c art. 9º, II). Mitidiero justifica tal previsão na
redistribuição do ônus do processo pela elevada possibilidade do direito alegado pelo autor36, mas é
bastante ponderável a posição de Leonardo Greco, para quem não se compatibiliza tal tutela liminar
com o contraditório, já que a tutela de evidência se caracteriza justamente pela ausência de urgência37.
Uma segunda hipótese de restrição ao contraditório diz respeito à função instrumental do processo.
Assim é que, na execução, o contraditório é limitado aos seus requisitos de validade, e aos atos
processuais nela praticados. O contraditório pleno e exauriente quanto à obrigação executada e
veiculada em título extrajudicial somente será instaurado pela ação autônoma dos embargos do
executado. O mesmo ocorre na ação monitória (arts. 9º, III, c/c art. 701 do CPC/2015
(LGL\2015\1656)), caracterizada pela inversão da iniciativa do contraditório, o qual deve ser deflagrado
pelo réu, sob pena de imediata constituição do título executivo judicial. Lembre-se ainda do processo
para cobrança de cambiais e documental no direito alemão (Urkunden und Wechselprozess), em que a
defesa se limita à prova documental38, sendo ao final proferida – em caso de procedência – uma
condenação com reserva, ressalvando-se a possibilidade de ação autônoma pelo réu condenado

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(Nachverfahren), em que este poderá produzir outras provas39. Enquadra-se aqui também o mandado
de segurança, em regra limitado ao direito líquido e certo (prova documental pré-constituída).
É claro que esses casos, que se enquadram na tutela jurisdicional diferenciada, pagam um preço em
termos de estabilidade, em maior ou menor extensão. Afinal, como apontado por Proto Pisani em seu
estudo (Sulla tutela giurisdizionale differenziata, 1979)40, o pressuposto para a coisa julgada fundada
em cognição exauriente é o exercício do contraditório de forma plena e antecipada.
Um terceiro caso de restrição ao contraditório se dá no caso em que a discussão já é favorável à parte
que não teve oportunidade de se manifestar. É por isso que se admite o indeferimento liminar da
petição inicial (art. 330) e a improcedência liminar do pedido (art. 332) sem a citação do réu, pois
esses provimentos lhe são favoráveis. Quanto à sentença liminar de improcedência, contudo, cabe uma
ressalva: o autor não deve ser surpreendido pelo juiz, com o enquadramento de sua inicial nas
hipóteses do art. 332 sem ter tido a oportunidade de se manifestar antes (nesse sentido, Georges
Abboud, Ticiano Alves e Silva)41. Não convence a tese de Marinoni42 e Didier de que o contraditório
para o autor será exercido por ocasião da apelação, por esta ter juízo de retratação43, já que o
contraditório, em regra, é anterior à decisão (art. 9º do CPC/2015 (LGL\2015\1656)). Isso sem falar do
elevado preparo do recurso em alguns estados, o qual deverá ser recolhido para provocar a retratação
do juiz44.
7 Conclusão
Essas são, em síntese, as principais reflexões sobre o contraditório participativo. Desculpem-me, mas o
tempo não me permitiu explorar a influência do contraditório sobre a coisa julgada (especialmente, na
coisa julgada sobre prejudiciais, e de seus limites subjetivos, como na vinculação do substituído à coisa
julgada) ou no regime dos repetitivos e a situação das partes que forem atingidas pela suspensão45 ou,
ainda, enfrentar a crítica à modulação da alteração da jurisprudência prevista no art. 927, § 3º, do
CPC/2015 (LGL\2015\1656), que poderá acabar considerando questões não submetidas ao debate
processual, como alertado por Leonardo Greco46, ou examinar a regra que vincula o assistente à justiça
da decisão, ainda que sua atuação no processo não possa contrariar postulação expressa do assistido
(art. 123 do CPC/2015 (LGL\2015\1656)). Fica para uma próxima oportunidade.
ABBOUD, Georges; SANTOS, José Carlos Van Cleef de Almeida. Comentários ao art. 332. In:ARRUDA
ALVIM WAMBIER, Teresa et al. (Coord.). Breves comentários ao novo Código de Processo Civil
(LGL\2015\1656). São Paulo: Ed. RT, 2016.
ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. Do formalismo no processo civil: proposta de um formalismo-
valorativo. São Paulo: Saraiva, 2010.
AMARAL, Felipe Marinho. Intervenção de terceiros nos incidentes de formação de precedentes. Revista
da Faculdade de Direito da UERJ, v. 2, n. 26, p. 86, 2014. Disponível em: [http://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/rfduerj/article/view/7418/10753]. Acesso em: 03.03.2017.
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1 Art. 5º, LV, da Constituição: “LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes.”

2 COMOGLIO, Luigi Paolo. Le garanzie costituzionale. In: COMOGLIO, Luigi Paolo; FERRI, Corrado;
TARUFFO, Michele. Lezioni sul processo civile. Bologna: Il Mulino, 1995. p. 64/66. No mesmo sentido,
na doutrina brasileira, BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Os elementos objetivos da demanda
examinada à luz do contraditório. In:CRUZ E TUCCI, José Rogério; BEDAQUE, José Roberto dos Santos
(Coord.). Causa de pedir e pedido no processo civil (questões polêmicas). São Paulo: Ed. RT, 2002. p.
19.

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3 ANDOLINA, Italo; VIGNERA, Giuseppe. Il modelo costituzionale del processo civile italiano. Torino: G.
Giappichelli, 1990. p. 153/154.

4 CRUZ E TUCCI, José Rogério. Limites subjetivos da eficácia da sentença e da coisa julgada civil. São
Paulo: Ed. RT, 2006. p. 106. Apontando a ampla defesa como consequência do contraditório, ASSIS,
Araken de. Processo civil brasileiro. São Paulo: Ed. RT, 2015. v. I, p. 426.

5 PICÓ Y JUNOY, Joan. Las garantías constitucionales del proceso. Barcelona: J. M. Bosch, 1997. p.
104/105.

6 ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. Do formalismo no processo civil: proposta de um formalismo-


valorativo. São Paulo: Saraiva, 2010, passim.

7 FAZZALARI, Elio. Procedimento e processo. Enciclopedia del Diritto. Milano: Giuffrè, 1986, p. 833. v.
35. Ainda, na doutrina italiana, v. tb. PICARDI, Nicola. La sucessione processuale. Milano: Giuffrè,
1964. p. 120. Na doutrina brasileira, entre outros, DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito
processual civil. São Paulo: Malheiros, 2001. v. 2, p. 25/28; WATANABE, Kazuo. Cognição no processo
civil. São Paulo: Ed. RT, 2012. p. 128/131.

8 ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro..., cit., p. 414/415.

9 Nesse sentido, apontando que o conceito de jurisdição nas primeiras fases do direito romano se
resumia à declaração de direitos, como consequência da oposição entre iurisdictio e imperium, SILVA,
Ovídio A. Baptista da. Jurisdição e execução na tradição romano-canônica. Rio de Janeiro: Forense,
2007. p. 17/19.

10 Ilustrativamente, BÜLOW, Oskar Von. Teoria das exceções e dos pressupostos processuais. Trad.
Ricardo Rodrigues Gama. Campinas: LZN, 2003, passim; MENGER, Antonio. El derecho civil y los
pobres. Trad. Adolfo Posada. Madrid: Librería General de Victoriano Suárez, 1898, passim. A respeito da
influência da obra legislativa de Franz Klein na Áustria sobre o desenvolvimento do processo civil, entre
outros, CIPRIANI, Franco. Nel centenario del Regolamento di Klein (Il processo civile tra libertà e
autorità). Rivista di Diritto Processuale, n. 4, p. 969/1004, 1995.

11 WALTER, Gerhard. I diritti fondamentali nel processo civile tedesco. Rivista di Diritto Processuale, n.
3, p. 734, 2001.

12 FAZZALARI, Elio. Diffusione del processo e compiti della dottrina. Rivista Trimestrale di Diritto e
Procedura Civile, n. 3, p. 861/890, 1958.

13 Sobre o ponto, GUINCHARD, Serge et al.Droit processuel: droits fondamentaux du procès. Paris:
Dalloz, 2011. p. 7 (associando contraditório às modernas aspirações de democracia no processo).

14 Sobre a evolução do contraditório, na doutrina brasileira, entre muitos outros, embora nem sempre
adotando a terminologia indicada no texto, THEODORO JR., Humberto et al. Novo CPC – Fundamentos
e sistematização. Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 104 e ss.; BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Os
elementos objetivos da demanda examinados à luz do contraditório. In: CRUZ E TUCCI, José Rogério;
BEDAQUE, José Roberto dos Santos (Coord.). Causa de pedir e pedido no processo civil..., cit., p. 20-23
(asseverando que o juiz também deve participar ativamente do diálogo processual); GRECO, Leonardo.
Instituições de processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. I, p. 513/514; DIDIER JR., Fredie.
Curso de Direito Processual Civil. Salvador: Juspodivm, 2017. v. 1, p. 91-97; CABRAL, Antonio do
Passo. Contraditório. In: TORRES, Ricardo Lobo; KATAOKA, Eduardo Takemi; GALDINO, Flávio (Org.).
Dicionário de princípios jurídicos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. p. 193-210 (apontando que o
contraditório, para além do poder de influência, impõe deveres, como resultado da exigência de
colaboração e participação dos sujeitos do processo).

15 DINAMARCO, Cândido Rangel; LOPES, Bruno Vasconcelos Carrilho. Teoria geral do novo processo
civil. São Paulo: Malheiros, 2016. p. 62.

16 ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro..., cit., p. 415. No mesmo sentido, SANTOS, Guilherme
Luís Quaresma Batista. Algumas notas sobre o contraditório no processo civil. Revista de Processo, n.
194, p. 86, 2011.

17 § 182a da ZPO austríaca: “Das Gericht hat das Sach- und Rechtsvorbringen der Parteien mit diesen
zu erörtern. Außer in Nebenansprüchen darf das Gericht seine Entscheidung auf rechtliche
Gesichtspunkte, die eine Partei erkennbar übersehen oder für unerheblich gehalten hat, nur stützen,
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wenn es diese mit den Parteienerörtert (§ 182) und ihnen Gelegenheit zur Äußerung gegeben hat.” Art.
3, 3 do atual Código de Processo Civil português: “O juiz deve observar e fazer cumprir, ao longo de
todo o processo, o princípio do contraditório, não lhe sendo lícito, salvo caso de manifesta
desnecessidade, decidir questões de direito ou de facto, mesmo que de conhecimento oficioso, sem que
as partes tenham tido a possibilidade de sobre elas se pronunciarem.” Art. 16 do Código de Processo
Civil francês: “Le juge doit, en toutes circonstances, faire observer et observer lui-même le principe de
la contradiction. Il ne peut retenir, dans sa décision, les moyens, les explications et les documents
invoqués ou produits par les parties que si celles-ci ont été à même d’en débattre contradictoirement. Il
ne peut fonder sa décision sur les moyens de droit qu’il a relevés d’office sans avoir au préalable invité
les parties à présenter leurs observations.” Arts. 101, comma 2 e 183, comma 4 do Código de Processo
Civil italiano, respectivamente: “Se ritiene di porre a fondamento della decisione una questione rilevata
d’ufficio, il giudice riserva la decisione, assegnando alle parti, a pena di nullità, un termine, non
inferiore a venti e non superiore a quaranta giorni dalla comunicazione, per il deposito in cancelleria di
memorie contenenti osservazioni sulla medesima questione” e “Nell’udienza di trattazione ovvero in
quella eventualmente fissata ai sensi del terzo comma, il giudice richiede alle parti, sulla base dei fatti
allegati, i chiarimenti necessari e indica le questioni rilevabili d’ufficio delle quali ritiene opportuna la
trattazione”. Art. 10 do Código de Processo Civil brasileiro: “O juiz não pode decidir, em grau algum de
jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de
se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.”

18 DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. São Paulo: Malheiros, 2011. p. 149.
Mais recentemente, DINAMARCO, Cândido Rangel; LOPES, Bruno Vasconcelos Carrilho. Teoria geral do
novo processo civil..., cit., p. 20/22.

19 O assunto é tratado em diversos textos doutrinários nos Estados Unidos e seu aprofundamento não
pode ser feito nos estreitos limites do presente artigo. Entre outros, sem qualquer pretensão de esgotar
as citações sobre o tema naquele país, MALIN, Martin H. BIERNAT, Monica. Do cognitive biases infect
adjudication? A study of labor arbitrators, University of Pennsylvania Journal of Business Law, v. 11, p.
175 e ss., 2008; KANG, Jerry etal. Implicit bias in the courtroom. UCLA Law Review, v. 59, p. 1.124 e
ss., 2012; KAHAN, Dan M. Cognitive bias and the Constitution. Chicago-Kent Law Review, v. 88, p. 367
e ss., 2013; PERSAD, Govind. When, and how, should cognitive bias matter to law. Law and Inequality:
a journal of theory and practice, v. XXXII, p. 31 e ss., 2014.

20 NUNES, Dierle; DELFINO, Lúcio. Juiz deve ser visto como garantidor de direitos fundamentais, nada
mais. Conjur, publicado em 03.07.2014. Disponível em: [http://www.conjur.com.br/2014-set-03/juiz-
visto-garantidor-direitos-fundamentais-nada#_ftnref4]. Acesso em: 30.07.2017; NUNES, Dierle; BAHIA
Alexandre. Processo e república: uma relação necessária. Justificando, publicado em 09.10.2014.
Disponível em: [http://justificando.cartacapital.com.br/2014/10/09/processo-e-republica-uma-relacao-
necessaria/]. Acesso em: 30.07.2017. V. tb. a tese de doutorado de Eduardo Fonseca Costa sobre o
tema: COSTA, Eduardo José da Fonseca. Levando a imparcialidade a sério: proposta de um modelo
interseccional entre direito processual, economia e psicologia. Tese (Doutorado em Direito Processual
Civil) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2016, passim.

21 SANTOS, Carlos Maximiliano Pereira dos. Hermenêutica e aplicação do direito. Rio de Janeiro:
Forense, 1993. p. 181.

22 ROSENBERG, Leo. Tratado de Derecho Procesal Civil. Trad. Angela Romera Vera. Buenos Aires:
EJEA, 1955. t. I, p. 8.

23 PICARDI, Nicola. Manuale del processo civile. Milano: Giuffrè, 2006. p. 208.

24 MACHADO, Marcelo Pacheco. Princípio da cooperação e processo civil do arco-íris. Jota, publicado
em 27.04.2015. Disponível em: [https://jota.info/colunas/novo-cpc/novo-cpc-principio-da-cooperacao-
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25 SOUSA, Miguel Teixeira de. Estudos sobre o novo processo civil. Lisboa: Lex, 1997. p. 65/66.

26 CABRAL, Antonio do Passo. Convenções processuais. Salvador: Juspodivm, 2016. p. 72/75. A rigor,
como aponta o autor, trata-se de classificação que encontra eco na tradição doutrinária germânica, que
divide os acordos processuais em dois grupos: aqueles que impactam o rito processual
(Verfügungsverträge, ou “acordos de disposição”) e os que possuem efeitos abdicativos
(Verpflichtungsverträge ou “acordos obrigacionais”).

27 HOFFMAN, Paulo. Saneamento compartilhado. São Paulo: Quartier Latin, 2011, passim.

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28 GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil. Rio de Janeiro: Forense, 2015. v. II. p. 106.

29 BENTHAM, Jeremias. Tratado de las pruebas judiciales. Trad. C. M. V. Paris: Bossange Frères, 1825.
p. 19-20.

30 HÄBERLE, Peter. Diritto e verità. Trad. Fabio Fiore. Torino: Einaudi, 2000, passim.

31 TARUFFO, Michele. La prova dei fatti giuridici. Milano: Giuffrè, 1992. p. 144; FERRAJOLI, Luigi.
Diritto e ragione: teoria del garantismo penale. Roma-Bari: Laterza, 1998. p. 11.

32 Sobre o ponto, tive a oportunidade de escrever com José Aurélio de Araújo, em justificativa ao
Anteprojeto de Direito Probatório, desenvolvido no âmbito do grupo de pesquisa “Observatório das
Reformas Processuais”, no Programa de Pós-Graduação em Direito da UERJ, sob a coordenação do Prof.
Leonardo Greco: “Princípio da ampla admissibilidade da prova testemunhal e a remessa de sua
avaliação para o conjunto probatório. Ao contrário do sistema atual, que prevê causas de
inadmissibilidade da prova testemunhal como a incapacidade, o impedimento e a suspeição, o
anteprojeto segue o princípio da ampla admissibilidade da prova (artigo 18), deixando ao livre
convencimento a valoração de credibilidade, fidelidade e utilidade da prova quando o juiz estiver diante
do conjunto probatório. Assim, seguindo o processo evolutivo de outros ordenamentos estrangeiros, o
anteprojeto exclui as hipóteses de impedimento e suspeição, como causas que impossibilitam a
produção do testemunho e, quanto à capacidade, permite a oitiva de incapazes quando o juiz
evidenciar que possuem discernimento necessário para dizer a verdade e quando o testemunho não for
capaz de gerar riscos à sua integridade psicológica (art. 95).” (ROQUE, Andre Vasconcelos; ARAÚJO,
José Aurélio de. Da prova testemunhal. In: GRECO, Leonardo (Coord.). A reforma do direito probatório
no processo civil brasileiro – Anteprojeto do grupo de pesquisa “Observatório das reformas processuais”
da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Revista Eletrônica de Direito
Processual, v. XIII, p. 429-430, 2014).

33 Nesse sentido, STRECK, Lenio Luiz. Dilema de dois juízes diante do fim do Livre Convencimento do
NCPC. Conjur, publicado em 19.03.2015. Disponível em: [http://www.conjur.com.br/2015-mar-19/
senso-incomum-dilema-dois-juizes-diante-fim-livre-convencimento-ncpc,]. Acesso em: 31.07.2017;
DELFINO, Lúcio; LOPES, Ziel Ferreira. A expulsão do livre convencimento motivado do Novo CPC e os
motivos pelos quais a razão está com os hermeneutas. Justificando, publicado em 13.04.2015.
Disponível em: [http://justificando.cartacapital.com.br/2015/04/13/a-expulsao-do-livre-
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Acesso em: 31.07.2017.

34 GAJARDONI, Fernando da Fonseca. O livre convencimento motivado não acabou no novo CPC. Jota,
publicado em 06.04.2015. Disponível em: [https://jota.info/colunas/novo-cpc/o-livre-convencimento-
motivado-nao-acabou-no-novo-cpc-06042015]. Acesso em: 11.07.2017.

35 Lamentavelmente, assim não vem entendendo o Superior Tribunal de Justiça, como se observa,
entre outros julgados, de ementa em precedente proferido já na vigência do atual Código de Processo
Civil: “Processual civil. Embargos de declaração em mandado de segurança originário. Indeferimento da
inicial. Omissão, contradição, obscuridade, erro material. Ausência. 1. Os embargos de declaração,
conforme dispõe o art. 1.022 do CPC, destinam-se a suprir omissão, afastar obscuridade, eliminar
contradição ou corrigir erro material existente no julgado, o que não ocorre na hipótese em apreço. 2.
O julgador não está obrigado a responder a todas as questões suscitadas pelas partes, quando já tenha
encontrado motivo suficiente para proferir a decisão. A prescrição trazida pelo art. 489 do CPC/2015
veio confirmar a jurisprudência já sedimentada pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça, sendo dever
do julgador apenas enfrentar as questões capazes de infirmar a conclusão adotada na decisão
recorrida. (…) 5. Embargos de declaração rejeitados.” (STJ, EDcl no MS 21.315, rel. Min. Diva Malerbi
(Desembargadora Convocada TRF 3ª Região), 1ª S., j. 08.06.2016).

36 MITIDIERO, Daniel. Comentários ao art. 311. In: ARRUDA ALVIM WAMBIER et al. (Coord.). Breves
comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: Ed. RT, 2016. p. 884.

37 GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, cit., v. II, p. 370/371.

38 Nesse sentido, dispõe o § 595 da Zivilprozessordnung (ZPO) alemã que somente é admissível o
meio de prova documental neste tipo de processo.

39 A condenação com reserva é prevista no § 599 da ZPO alemã, cujo item 3 indica expressamente
que se considera como uma sentença definitiva para efeitos de recursos e execução.

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19/04/2018 Envio | Revista dos Tribunais

40 PROTO PISANI, Andrea. Sulla tutela giurisdizionale differenziata. Rivista di Diritto Processuale, n. 4,
p. 536-591, out.-dez. 1979.

41 ABBOUD, Georges; SANTOS, José Carlos Van Cleef de Almeida. Comentários ao art. 332. In:
ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa et al. (Coord.). Breves comentários ao novo Código de Processo Civil.
São Paulo: Ed. RT, 2016. p. 952/953; SILVA, Ticiano Alves e. O contraditório na improcedência liminar
do pedido do novo CPC. In: SANTANA, Alexandre Ávalo; ANDRADE NETO, José de (Coord.). Novo CPC:
análise doutrinária sobre o novo direito processual brasileiro. Campo Grande: Contemplar, 2016. p. 63.
De minha parte, também já havia aderido a tal entendimento (com exceção dos casos de prescrição e
decadência, ante a ressalva prevista no art. 487, parágrafo único, do CPC/2015) em GAJARDONI,
Fernando da Fonseca et al. Processo de conhecimento e cumprimento de sentença – Comentários ao
CPC de 2015. São Paulo: Método, 2016. p. 59/60.

42 MARINONI, Luiz Guilherme et al. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: Ed. RT,
2015. p. 354.

43 Deve-se recordar que o texto-base foi escrito por ocasião da prova escrita prestada em agosto de
2016, tendo a referência por base a posição encontrada em DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito
Processual Civil. Salvador: Juspodivm, 2015. v. 1, p. 594 [“Essa possibilidade de juízo de retratação é o
que garante o respeito ao direito do demandante ao contraditório, que, com as razões da apelação,
poderá convencer o juiz do equívoco de sua decisão, inclusive com a possibilidade de demonstrar a
distinção do seu caso (art. 489, § 1º, VI, CPC)”]. No entanto, o autor tem repensado a questão, como
discutido em conversas pessoais, o que se confirma pela supressão do parágrafo correspondente na
edição de 2017 de seu curso: DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Salvador:
Juspodivm, 2017. v. 1, p. 668/669.

44 Na Justiça Estadual de São Paulo, por exemplo, o preparo da apelação corresponde a quatro por
cento do valor da causa, com teto de expressivos R$ 75.210,00 para o ano de 2017.

45 Assunto sobre o qual tive a oportunidade de escrever alguns meses depois do concurso docente que
deu origem ao presente artigo, ainda que focado na temática do incidente de resolução de demandas
repetitivas: “3. Os sujeitos sobrestados. Uma preocupação que se deve ter, nos procedimentos que se
destinam precipuamente à formação de precedentes qualificados, como é o caso do IRDR, diz respeito
à possibilidade de participação dos que serão afetados pela decisão do tribunal, entre os quais figuram
as partes dos processos não selecionados como representativos. São os chamados “sujeitos
sobrestados” (TEMER, Sofia. Incidente de resolução de demandas repetitivas. Salvador: JusPodivm,
2016, p. 166). 3.1. Sua intervenção não se enquadra em nenhuma das formas tradicionalmente
conhecidas no processo civil (contra, entre outros, entendendo haver assistência, DANTAS, Bruno.
Comentários ao art. 983. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim et al. (coord.). Breves comentários ao
novo Código de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016 p. 2.438; considerando haver
assistência litisconsorcial; CAVALCANTI, Marcos. Incidente de resolução de demandas repetitivas e
ações coletivas. Salvador: JusPodivm, 2015, p. 454 e NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código
de Processo Civil comentado. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 1.610), pois não está relacionada a
repercussões diretas na relação jurídica de direito material de que é titular o interveniente, justificando-
se estritamente em razão de seu interesse na formação do precedente (AMARAL, Felipe Marinho.
Intervenção de terceiros nos incidentes de formação de precedentes. Revista da Faculdade de Direito
da UERJ, v. 2, n. 26, 2014, p. 86. Disponível em: <http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/rfduerj/
article/view/7418/10753>. Acesso em: 3 mar. 2017). 3.2. Tal modalidade de intervenção deve ser
admitida, sob pena de transformar o IRDR em instrumento autoritário de formação de precedentes
vinculantes pelos tribunais, sem qualquer possibilidade de que os jurisdicionados influam na formação
da tese jurídica que lhes atingirá, em franca violação ao contraditório (SILVA, Ticiano Alves e.
Intervenção do sobrestado no julgamento por amostragem. Revista de Processo, v. 182, abr. 2010, p.
234-257). 3.3. Há, porém, uma exigência adicional para que se admita a intervenção dos sujeitos
sobrestados, a qual não é assegurada de plano, como ocorre em relação às partes do processo
originário. Para que o IRDR não se transforme em uma tumultuada sucessão de intervenções
desnecessárias dos sujeitos sobrestados, é indispensável que o interveniente apresente novos
argumentos, os quais deverão ser considerados pelo tribunal na definição da tese jurídica (entre outros,
TEMER, Sofia. Incidente de resolução de demandas repetitivas. Salvador: JusPodivm, 2016, p. 177;
SILVA, Ticiano Alves e. Intervenção do sobrestado no julgamento por amostragem. Revista de
Processo, v. 182, abr. 2010, p. 234-257). Se a intervenção do sujeito sobrestado traz apenas alegações
impertinentes (por exemplo, limitadas ao seu processo que ficou suspenso, sem adentrar no
enfrentamento da questão comum) ou irrelevantes (porque já exploradas exaustivamente pelos demais
sujeitos no incidente), sua participação no IRDR deve ser indeferida pelo relator. 3.4. O Superior
Tribunal de Justiça, na vigência do CPC/1973, já teve a oportunidade de rejeitar a intervenção de
sujeito sobrestado no procedimento dos recursos repetitivos (STJ, REsp 1.418.593, Rel. Min. Luis Felipe
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19/04/2018 Envio | Revista dos Tribunais

Salomão, j. 14.05.2014). Ainda que se acredite – e se lamente – que, de forma geral, os tribunais
adotarão esta prática no IRDR, de maneira a obstar o ingresso das partes que figuram nos processos
que ficaram suspensos, não se pode deixar de registrar que tal orientação não se mostra compatível
com o contraditório em sua concepção contemporânea, sobretudo em consideração ao direito de
influência que o jurisdicionado possui na formação das decisões judiciais que o atingem.” (GAJARDONI,
Fernando da Fonseca et al. Execução e recursos – Comentários ao CPC de 2015. São Paulo: Método,
2017. p. 874-875).

46 GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil, cit., v. I, p. 52.

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