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Indice
Livre Apreciação da Prova e a Fundamentação da Convicção do Juiz ____________________1
Introdução _____________________________________________________________________1
Livre Apreciação de Prova em Processo Penal ________________________________________2
A admissibilidade do Artigo 127.º do Código do Processo Penal ------------------------------------------2
Teoria da probabilidade quantitativa objectiva e subjetiva --------------------------------------------------3
A discricionaridade -----------------------------------------------------------------------------------------------5
Utilização de todos os meios de prova disponíveis ----------------------------------------------------------6
A argumentação ---------------------------------------------------------------------------------------------------6
Justificação Interna e Argumentação não dedutiva -----------------------------------------------------------7
Decisão contrária as regras a experiência ---------------------------------------------------------------------8
A Prova como Fonte do Convencimento _____________________________________________9
O princípio iudex debate iudicare secundam allegata et probata -------------------------------------------9
O princípio iudex debate iudicare sedundum conscientiam -------------------------------------------------9
Factos extra-processuais ----------------------------------------------------------------------------------------10
Juízo de inferência lógica --------------------------------------------------------------------------------------10
Processo Penal com uma estrutura acusatória ---------------------------------------------------------------11
O Dever de Fundamentação da Decisão Penal _______________________________________11
Juízo científico diferente e a arbitrariedade ------------------------------------------------------------------11
Princípios constitucionais da fundamentação da sentença -------------------------------------------------13
a)Princípio de Generalidade ...................................................................................................13
b)Princípio da indispensabilidade...........................................................................................13
Introdução
O presente relatório debruça-se sobre a livre apreciação da prova e o dever de
fundamentação do juiz. Para tal, iremos caminhar pela admissibilidade do artigo 127.º do Código de
Processo Penal e alguns pontos que achamos pertinentes abordar neste âmbito .
Abordaremos a teoria das probabilidades quantitativas para explicar que com cálculos
matemáticos não se alcança nenhuma verdade e que esta não é absoluta, daí o preceito de verdade
material.
Iremos abordar de forma mais intensa o prisma do julgador e como este deve construir o seu
juízo de forma mais coerente para assim se afirmar o poder e garantia jurisdicional. Então iremos
abordar o juízo de ingerência lógica afastando a arbitrariedade da decisão, mas mantendo o poder
discricionário do julgador.
Posteriormente iremos tocar no dever de fundamentação da decisão penal diferenciando o
juízo cientifico da arbitrariedade do julgador, passando por alguns princípios basilares da sentença
penal.
Abordaremos a importância da construção da motivação do juiz e como esta deve ser
realizada para não criarmos anomalias na construção da sentença.
Ulterior a isto, iremos abordar as possíveis patologias da sentença penal que pode culminar
na sua inconstitucionalidade abrindo portas ao recurso.
1 Código de Processo Penal Comentando, Edições Almedina, junho de 2014 , página 464;
2FIGUEIREDO DIAS, Jorge de in Direito Processual Penal. I Volume, Coimbra Editora, 1974, página 203 e
seguintes;
3 Artigo 127º do Código de Processo Penal - Lei n.º 13/2022, de 01/08
2
defendida é a teoria de BAYES, onde a probalidade é a medida de incerteza de um facto que não se
pode afirmar de forma absoluta de verdadeiro ou falso4.
Logo, a livre apreciação da prova é um principio máxime que vale para todo o processo
penal e para todos os orgãos de justiça criminal permitindo que estes possam apreciar a prova
existente nos autos com base na livre valoração destas e na sua própria convicção pessoal.
No tocante à constitucionalidade deste preceito, o Tribunal Constitucional tem vindo a
afirmar que esta regra não se pode confundir com uma apreciação arbitrária ou discricionária da
prova5.
Mas existem exceções que aparecem quando enunciamos os outros meios de prova
admitidos em Processo Penal, como a Prova Testemunhal; declarações do arguido, quando este
negue, fica esta negação à mercê da livre apreciação por parte do julgador; o silêncio confere outro
limite ao princípio da livre apreciação da prova, pois nunca poderá desfavorecer o arguido, isto
porque em direito o silêncio é exatamente isto, silêncio, e nada diz sobre o arguido. Entre outras
limitações. Logo, segundo Roxin, a livre convicção determina que o juiz considere de forma certa e
inequívoca um estado de coisas sem “sombra” de dúvidas.
No tocante ao arguido este deve ser amparado dos possíveis erros de valoração realizado
pelo juiz aquando da formação da sua convicção, daí que existem os recursos para permitir que
outros juizes possam controlar a sentença por estarem alheios a meras suposições6
4Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 ed.. - Madrid : Editorial Trotta,
2005, pp 191;
5Acórdão 1165/96, Diário da República I série, de 6 de fevereiro de 1997 "o julgador, ao apreciar livremente
aprova, ao procurar através dela atingir a verdade material, deve observância a regras da experiência comum
utilizando como método de avaliação e aquisição do conhecimento critérios objetivos, genericamente
susceptíveis de motivação e controlo.” in Código de Processo Penal Comentado, Almedina, junho de 2014,
anotação 5. ao art. 127.º, página. 466;
6 Código de Processo Penal Comentando, Edições Almedina, junho de 2014 , página 468;
3
aceitação de uma hipótese bem como o grau de aceitação do facto que se pretende conhecer, devido
a sua frequência na classe de acontecimentos7.
Com o tempo a teoria de BAYES transforma-se num método de calculo que se baseia na
valorarão da aceitação de uma hipótese quanto a um facto, bem como a frequência deste dentro de
uma determinada classe de eventos, o que faz com que os precedentes deste facto permita atribuir a
frequência da probabilidade, que representa o grau de convencimento racional sobre o facto8.
Contudo opina-se que esta teoria para a resolução da valoração da prova apreciada
livremente pelo juiz não é a melhor, desde logo, a esfera racional não é alcançada através de
cálculos matemáticos e posteriormente por este cálculo se tornar complicado é difícil aplica-lo na
resolução de situações de inferência lógica mais complexas, por se precisar colocar na balança
várias proposições inferênciais e as características próprias do problema em concreto, o que torna
tudo muito complexo para ser resolvido por um calculo matemático9.
O que conseguimos perceber é que há a necessidade de sae aceitar que não é possível
alcançar verdades absolutas, assim sendo, aplicar a probabilidade lógica, apoiada em critérios
racionais, parece-nos ser o caminho mais correto para a resolução do problema.
Isto é, quando estamos perante um processo que muitas vezes se apresenta com falhas ou
dados irrelevantes para determinar a eficácia da prova, exclui, desde logo, a possibilidade de nos
socorremos ao calculo matemático de probabilidade, o que por sua vez, leva-nos para o lado do
senso comum, presunções e mais alto grau de experiência na resolução do caso. Certamente que
esta teoria não nos dá certezas nem garantias absolutas, pois o conhecimento não é quantificável,
nem podem ser sujeitos a cálculos, mas no tocante aos critérios de inferência funcionam e têm
capacidade de relacionara-se com os meios de prova ao caso concreto10.
A probabilidade lógica, melhor dizendo, define-se pela solução do problema através dos
componentes de prova que o próprio caso possibilita, ou seja, pela comprovação que os meios de
prova transmitem ao facto, podendo ser dado como provado ou não.
7Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição - Madrid : Editorial
Trotta, 2005 página 193 e 194;
8Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição - Madrid : Editorial
Trotta, 2005, página 195;
9Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição - Madrid : Editorial
Trotta, 2005,página 196 e 197;
10Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição - Madrid : Editorial
Trotta, 2005, página 227;
4
Todavia, a arbitrariedade que se encontra na essência da apreciação livre da prova por parte
do juiz tem de ser limitada11. Para tal o legislador criou mecanismos de controlo como a
admissibilidade dos meios de prova, com o intuito de evitar erros na valoração de prova, excluindo,
ab initio, as provas inadmissíveis, o que traz uma racionalidade à valoração da prova e afasta a
discricionaridade, o que por sua vez, determina o valor de cada prova pela garantia e regras da
prova legal12.
A discricionaridade
É um acto legal permitido pelo legislador para que o agente administrativo possa ver a
realidade que está na sua frente e aplicar a melhor solução para o problema apresentado13. Assim
sendo, os critérios de racionalidade tombem deverão ser colocados em pratica no controlo da livre
apreciação de prova, isto, porque a função endo-processual é permitir a discricionaridade do juiz
face à fundamentação do seu raciocínio. Mas não confunde-mos a discricionaridade com o livre
arbitro. Já a função extra-processual permite, aos juizes dos tribunais superiores, afirmarem, ou não,
a validade dos argumentos e motivações declaradas pelo juiz na valoração da prova14.
A ciência inspirada na experiência e observação tem critérios de racionalidade bastante
exigentes que as ciências humanas, uma vez aplicado estes critérios mais exigentes ao Direito, iria
culminar na irracionalidade do raciocínio jurídico, assim sendo, para se alcançar a racionalidade no
Direito temos de utilizar critérios menos exigentes, como a razoabilidade15. A inspiração divida, a
intuição ou a certeza moral são critérios irracionais, logo, sem aplicabilidade pelo juiz na valoração
da prova livre16, isto porque, aplicando-se, torna-se difícil de controlar a motivação do juiz sobre
estes critérios.
11 FIGUEIREDO DIAS, Jorge de in Direito Processual Penal. I Volume, Coimbra Editora, 1974, página 203
e seguintes.
12Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição. - Madrid : Editorial
Trotta, 2005, página 420 e 421;
Neves, Rosa Vieira, A livre apreciação da Prova e a Obrigação de Fundamentação da Condição ( Na
13
Decisão Penal). - 1.ª edição. - Coimbra : Coimbra Editora, S.A, 2011, página 119;
14Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição. - Madrid : Editorial
Trotta, 2005, página 422;
15Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição - Madrid : Editorial
Trotta, 2005, página 422 e 423;
16Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição. - Madrid : Editorial
Trotta, 2005, página 423;
5
17Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição. - Madrid : Editorial
Trotta, 2005, página 423;
18Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição. - Madrid : Editorial
Trotta, 2005, página 424;
19Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição. - Madrid : Editorial
Trotta, 2005, página 424 e 425;
20Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição. - Madrid : Editorial
Trotta, 2005, página 424 e 425;
21Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição. - Madrid : Editorial
Trotta, 2005, página 425;
6
22Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição. - Madrid : Editorial
Trotta, 2005, página 426 e 427;
23 AROSO LINHARES, José Manuel, O Binómio casos fáceis/casos difíceis e a categoria da inteligibilidade
sistema jurídico, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017, página 60;
7
se fossem, de alguma maneira, mais frágeis ou menos importantes, devessem ter um tratamento
mais leviano e menos linear e por este enquanto permite identificar todos os elementos ilegítimos
para a investigação da descoberta na medida em que aprova o papel concreto da da argumentação
não dedutiva24
Decisão contrária as regras a experiência
É possível o julgamento de um caso que contrarie as regras da experiência, como ocorrido
num caso do Tribunal da Relação de Coimbra que veio julgar parcialmente o recurso com o
fundamento que uma lógica construída somente sobre as regras da experiência comum não é
suficiente, devido os padrões de normalidade estarem em constante mutação pela realidade do
quotidiano, logo, o Tribunal vem dizer que não há regras absolutas.
O Tribunal a quo veio condenar o casal por denúncia caluniosa, condenando também a
mulher que somente assinou por se limitar a fazer aquilo que marido, recorrente, lhe pedira, sem
grandes duvidas ou hesitações, estando totalmente alheia ao teor da denúncia realizada contra o
advogado.
Assim, contra as regras da experiência comum, veio o Tribunal da Relação de Coimbra
absolver a mulher do recorrente pois a lógica da experiência comum do Tribunal a quo conduziu a
um resultado que é desmentido por uma prova credível25.
24 AROSO LINHARES, José Manuel, O Binómio casos fáceis/casos difíceis e a categoria da inteligibilidade
sistema jurídico, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017, página 63;
25 Ac.
Tribunal da Relação de Coimbra, 693/09.3TACVL.C1, de 15 de março de 2013, disponível em: http://
www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/9c054f4c28b686d080257b9000327d70?
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8
26 A prova indiciaria ou prova indireta, para ESTRAMPES, advém de um processo intelectual de inferência
praticada pelo julgador num momento posterior ao da produção de prova. O julgador irá analisar um
conjunto de indícios que transformará esta inferência, através de um processo lógico e casual existente entre
ambos, numa afirmação integrada pelas máximas de experiência e regras da lógica. Este tipo de prova, nos
dias de hoje, foi colocado em segundo plano, o que importa um impasse na tentativa de criminalização de
agentes nos crimes organizados, onde a sua conduta é tortuosa, logo, a prova indiciária tem um papel
essencial relativamente aos crimes complexos onde a dificuldade da prova aumenta exponencialmente. De
outro prisma também se torna improvável alcançar uma justiça uniforme ao sujeitar-mo-nos a uma prova
indiciária muito exigente. Em teoria percebe-se a necessidade de abstração da prova indireta, mas em
concreto existe uma necessidade de comprovar exaustivamente que os indícios apontados serviram de base
para o curso lógico da conclusão tomada. No nosso Processo Penal, o indício tem de ter uma suficiência, ou
seja, são considerados como suficientes o nascer de uma possibilidade razoável de ser aplicado ao arguido,
por força destes, uma pena ou medida de segurança
Neves, Rosa Vieira, A livre apreciação da Prova e a Obrigação de Fundamentação da Condição ( Na
27
Decisão Penal). - 1.ª ed.. - Coimbra : Coimbra Editora, S.A, 2011, p. 18;
28 Artigo 2.º da Constituição da República Portuguesa, 8ª ed.. - Edições Almedina, 2022;
Neves, Rosa Vieira, A livre apreciação da Prova e a Obrigação de Fundamentação da Condição ( Na
29
Decisão Penal). - 1.ª ed.. - Coimbra : Coimbra Editora, S.A, 2011, p. 19 e 20;
9
nao aconteça, este princípio tem o seu lado secundem conscieantiam mais desenvolvido, ou seja,
permite que o julgador valore as provas, mas obriga a este obter o resulta intra-processualmente30.
Factos extra-processuais
Outro problema é quando julgador tem contacto com factos fora do processo, devendo
somente ser atendidos aqueles os intra-processuais. Se forem factos dentro do processo no exercício
das suas funções, a situação é pacifica, mas se o julgador se afastar do campo intra-processual onde
o seu conhecimento vem ex ofício ou do seu conhecimento privado, o problema deixa de ser
pacifico. Certo é que o julgador não é um autómato, mas a decisão não pode estar contaminada
emocionalmente, nem pode ser puramente subjectiva, tem de estar sustentada por um ponto de vista
lógico face aos dados expostos31.
Juízo de inferência lógica
Não há um grau de certeza absoluta em cada inferência realizada, o que há é a soma das
probabilidades verificada a cada facto indiciado que determinar-se-á a certeza, por outras palavras, a
lógica interliga-se com a livre convicção do juiz, assim existe uma convergência dos factos
indiciados para a certeza sobre o facto32. Isto será possível através do critério da máxima
experiência, que figura um juízo de probabilidade por não pertencer à esfera dos factos, tem de ser
realizada uma dedução rigorosa para se poder afirmar um facto, não com plena certeza, mas como
uma possibilidade mais ou menos ampla33.
A prova indiciária é comprovada pela explicação, sendo esta uma explicação causal que
parte de duas premissas. A primeira consubstanciam as leis, regras da experiência, e a segunda são
as condições iniciais singulares, ou seja, factos históricos34.
35 N.º 5 Artigo 32.º da Constituição da Republica Portuguesa, 8ª ed.. - Edições Almedina, 2022;
Neves, Rosa Vieira, A livre apreciação da Prova e a Obrigação de Fundamentação da Condição ( Na
36
Decisão Penal). - 1.ª ed.. - Coimbra : Coimbra Editora, S.A, 2011, p. 36;
Neves, Rosa Vieira, A livre apreciação da Prova e a Obrigação de Fundamentação da Condição ( Na
37
Decisão Penal). - 1.ª ed.. - Coimbra : Coimbra Editora, S.A, 2011, p. 37;
38Ruço, Alberto, “ Prova indiciária” in “ Da prova indireta ou por indícios” , CEJ, julho de 2020, p. 41, site:
https://cej.justica.gov.pt/LinkClick.aspx?fileticket=2Q2jAFdx_c4=&portalid=30
11
45Lopes, António José Mouraz, A fundamentação da sentença no sistema penal português: Legitimar,
diferenciar, simplificar, Coimbra: Almedina Edições, 2011, p. 92;
46Lopes, António José Mouraz, A fundamentação da sentença no sistema penal português: Legitimar,
diferenciar, simplificar, Coimbra: Almedina Edições, 2011, p. 94;
47Lopes, António José Mouraz, A fundamentação da sentença no sistema penal português: Legitimar,
diferenciar, simplificar, Coimbra: Almedina Edições, 2011, p. 97;
48Lopes, António José Mouraz, A fundamentação da sentença no sistema penal português: Legitimar,
diferenciar, simplificar, Coimbra: Almedina Edições, 2011, p. 101 e 102;
13
Como vimos o convencimento deve ter impulso pela razão lógica que é alcançada por um
esforço psicológico, pondo de parte a liberdade absoluta do julgador, sempre alinhado com a sua
imparcialidade. Não quer isto dizer que não exista arbitrariedade do julgador, existe uma falsa
sensação de liberdade absoluta na apreciação das provas.
O julgamento de fato é a capacidade do julgador reconstruir a realidade com base nos
elementos trazidos pelas partes aos autos, tendo sempre respeito pelo thema decidendum. Mas o
julgador nao se deve contentar somente com isto, deverá olhar para outros factos que contribuam de
forma satisfatória para a descoberta da verdade material tomando o seu quadro de fatualididades
relevantes para, livremente, tomar o o seu convencimento sobre o caso49.
O papel da motivação
A motivação das decisões judiciais têm tido como foco a discussão da apreciação da matéria
de facto e a exigência da motivação relativa a esta. É importante olhas para a matéria de facto numa
visão narrativista, pois os factos realmente estão lá, de forma a organizar o discurso que encaminha
para uma irrelevância da descoberta da verdade ou tornar esta organização discursiva coerente com
o texto narrativo interno com o sentido de reconstrução do processo mental do juiz.
Certamente afirma-se que se trata de um ponto prévio quando se pergunta qual o objetivo do
processo, deve-se ser orientado para a descoberta da verdade material e se esta é possível de se
alcançar e também perceber se os factos dados como provados têm relevância ou não
compatibilizando-os com a verdade, se for possível.
É válido notar que a decisão judicial pode ser uma subespécie de decisão que se guia pelos
mesmo tramites e utiliza os mesmo instrumentos que se aplicam de forma geral à formação de
juízos e decisões humanas50.
Com as devidas modificações, a decisão judicial não pode ser controlada por medidas
racionais estritas, sendo muito mais ajustado ao fenómeno decisório que a justificação da sentença
judicial tenha um silogismo fundamentado por meio em que o juiz mostra que a decisão teve a sua
sustentação em numa linha lógica idónea para a tornar aceitável.
A reconstrução de processos mentais aparenta-se tanto impossível como desvantajosa, desde
logo, porque a formação da decisão não é exclusiva da pura racionalidade visto que existe um
conjunto de factores emocionais e alguns até da esfera inconsciente, como é sabido os
comportamentos humanos podem ser manipulados por estímulos externos.
49 Estudos de Direito, Ciência e Prova, Escola de Direito da universidade do Minho, 2019, página 38.
50De Carvalho, Maria Clara Calheiros, A base Argumentativa na decisão judicial in revista Julgar n.º 6,
2008, página 71;
14
51De Carvalho, Maria Clara Calheiros, A base Argumentativa na decisão judicial in revista Julgar n.º 6,
2008, página 73;
De Carvalho, Maria Clara Calheiros, A base Argumentativa na decisão judicial in revista Julgar n.º 6,
52 52
2008, página 74;
53N.º 1 do artigo 205.º da Constituição da República Portuguesa, que pode ser encontrada aqui: https://
dre.pt/dre/legislacao-consolidada/decreto-aprovacao-constituicao/1976-34520775-49557075
15
54Romão Pinto, Emanuel Alcides, Do dever de fundamentação das decisões judiciais como garantia
constitucional: em especial a sentença penal, página 112.
55Citado por Romão Pinto, Emanuel Alcides, in Do dever de fundamentação das decisões judiciais como
garantia constitucional: em especial a sentença penal, página 113.
56Romão Pinto, Emanuel Alcides, Do dever de fundamentação das decisões judiciais como garantia
constitucional: em especial a sentença penal, página 114.
16
Conclusão
Chegado ao fim deste relatório apresentamos as seguintes conclusões.
Com a construção deste relatório chegamos à conclusão que o principio da livre apreciação
da prova é bastante relevante, mas limitado, não podendo ser visto como um preceito arbitrário, mas
sim como uma forma de liberdade conjugada com um dever, assim sendo, deverá cingir-se a
critérios certos e idóneos para ser passível de controlo pelos tribunais superiores.
O Professor FIGUEIREDO DIAS vem referir sobre a livre apreciação da prova como
objetivo munir o tribunal com elementos suficientes para este poder formar a sua condição sobre a
existência ou a inexistência dos factos relevantes.
Concluímos que a livre apreciação da prova em Processo Penal pode abranger dois
caminhos, um deles é a entidade que decide aprecia livremente em compromisso com a sua
convicção que tem como alicerce toda a prova apresentada no processo, por outro lado, essa
convicção, formada de forma objetiva e linear com o apoio das regras técnicas e das máximas de
experiência, não devendo estar sujeitas a qualquer limitações legalmente determinadas.
Posteriormente tocamos na teoria de BAYES que tem duas versões, uma objetiva e outra
subjectiva. Quando a probabilidade indica acontecimentos concretos, ou seja, indica a periodicidade
com que certo facto ocorre dentro uma classe de acontecimentos, sendo então uma viabilidade
estatística, estamos perante um prisma objetivo desta teoria. Então concluímos que com o tempo a
teoria de BAYES transforma-se num método de cálculo que se baseia na valoração da aceitação de
uma hipótese quanto a um facto, bem como a frequência deste dentro de uma determinada classe de
eventos.
Contudo conclui-se que esta teoria para a resolução da valoração da prova apreciada
livremente pelo juiz não é a melhor porque vimos que a esfera racional não é alcançada através de
cálculos matemáticos e posteriormente por este cálculo se tornar complicado é difícil aplica-lo na
resolução de situações de inferência lógica mais complexas.
Ao tocar no juízo de inferência lógica concluímos que não há um grau de certeza absoluta
em cada inferência realizada, o que há é a soma das probabilidades verificada a cada facto indiciado
que determinar-se-á a certeza. Isto será possível através do critério da máxima experiência, que
figura um juízo de probabilidade por não pertencer à esfera dos factos.
Ao falarmos do dever de fundamentação vimos que a decisão é um ato pelo qual permite -se
concretizar de forma abstrata uma norma jurídica. Isto tem como objetivo permitir ao juiz um
17
contacto real com a realidade dos factos, podendo formar a sua convicção e aplicar o direito da
melhor forma divergindo assim o juízo científico da arbitrariedade.
Vimos também que a obrigatoriedade de fundamentação nasce devido as regras processuais
com o intuito da descoberta de um crime então concluímos que, devido à possibilidade de utilização
de medidas de coação que coloquem em causa direitos, liberdades e garantias, sendo algumas delas
limitações à liberdade do arguido, tem de haver uma justificação rigorosa da sua utilização. Isto
decorre da própria Constituição da República Portuguesa que indica precisamente em quais
situações se pode utilizar tais mecanismos processuais.
Também concluímos que a motivação das decisões judiciais têm tido como foco a discussão
da apreciação da matéria de facto e a exigência da motivação relativa a esta. É importante olhar para
a matéria de facto numa visão narrativista, de forma a organizar o discurso e dar sentido de
reconstrução do processo mental do juiz.
Assim conclui-se que poderão haver algumas patologias na sentença tais como a falta de
fundamentação da sentença ou a insuficiência desta fundamentação ou a contradição desta, tendo
sempre em atenção que só fundamentado uma decisão judicial de forma completa, coerente e linear
é que iremos fortalecer a ideia que complementa o ato jurisdicional e afirma a legitimidade
democrática do exercício jurisdicional e permite que o público em geral consiga perceber o sentido
da motivação do juiz.
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Bibliografia
• Código de Processo Penal Comentando, Edições Almedina, junho de 2014;
• FIGUEIREDO DIAS, Jorge de in Direito Processual Penal. I Volume, Coimbra Editora de 1974.
• Código de Processo Penal, legislação online.
• Código de Processo Penal Comentando, Edições Almedina, junho de 2014;
• Taruffo, Michele, La prueba de los hechos, trad. de Jordi Ferrer Beltrán. - 4 edição. - Madrid :
Editorial Trotta, 2005;
• Neves, Rosa Vieira, A livre apreciação da Prova e a Obrigação de Fundamentação da Condição
( Na Decisão Penal). - 1.ª edição. - Coimbra : Coimbra Editora, S.A, 2011;
• AROSO LINHARES, José Manuel, O Binómio casos fáceis/casos difíceis e a categoria da
inteligibilidade sistema jurídico, Imprensa da Universidade de Coimbra, 2017;
• Constituição da República Portuguesa, legislação online
• Cabral, José António dos Santos, “ Prova direta e indireta” in “ Da prova indireta ou por indícios”
, CEJ, julho de 2020;
• Ruço, Alberto, “ Prova indiciária” in “ Da prova indireta ou por indícios” , CEJ, julho de 2020, p.
37;
• Lopes, António José Mouraz, A fundamentação da sentença no sistema penal português:
Legitimar, diferenciar, simplificar, Coimbra: Almedina Edições, 2011;
• Estudos de Direito, Ciência e Prova, Escola de Direito da universidade do Minho, 2019;
• De Carvalho, Maria Clara Calheiros, A base Argumentativa na decisão judicial in revista Julgar
n.º 6, 2008;
• Romão Pinto, Emanuel Alcides, Do dever de fundamentação das decisões judiciais como
garantia constitucional: em especial a sentença penal;
19