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A apologia de Sócrates

A acusação
“A seguinte acusação escreve e jura Meleto,
filho de Meleto, do povoado de Piteo, contra
Sócrates, filho de Sofronisco, do povoado
de Alópece. Sócrates é culpado de não
aceitar os deuses que são reconhecidos pelo
Estado, de introduzir novos cultos, e,
também, é culpado de corromper a
juventude. Pena: a morte” (Platão. 1999,
p.59).
Os acusadores
Meleto
Poeta trágico novo e desconhecido de
cabelo raro, barba escassa e nariz adunco,
era o acusador oficial, porém nada exigia
que ele como acusador oficial fosse o mais
respeitável, hábil ou temível, mas somente
aquele que assinava a acusação. 
Representava a classe dos poetas e
adivinhos
Lícon
Era um retórico obscuro e o seu nome
teve pouca importância e autoridade no
decorrer da condenação de Sócrates. 
Representava a classe dos oradores e
professores de retórica.
Ânito
• Líder democrático tinha um filho discípulo de Sócrates
(que ria dos deuses do pai). Era um rico tanoeiro que
representava os interesses dos comerciantes e
industriais, era poderoso e influente não sendo um
homem de escrúpulos e finezas da moral interior. Foi o
mais importante dos acusadores e foi aquele que deu a
impressão de conhecer Sócrates, que a ele aludecomo
se Meleto fosse seu subordinado, como se deste tivesse
originado a ideia de pena de morte para persuadir
Sócrates a abandonar a cidade antes que o processo
tivesse seguimento.
– Representava a classe dos políticos.
Atenas
• Não podia mover ações contra uma pessoa,
porém um cidadão podia – neste caso esta
pessoa assumiria o risco de a acusação não
ser considerada pelo júri.
– Sócrates era “réu de haver-se ocupado de
assuntos que não eram de sua alçada,
investigando o que existe embaixo da terra
e no céu, procurando transformar a
mentira em verdade e ensinando-as às
pessoas” (Platão. 1999. p. 69).
Sócrates tinha consciência de que estava sendo
acusado injustamente e tinha certeza que se um justo
estava sendo incriminado os injustos também seriam.

Não passará muito tempo, atenienses, e


serão conhecidos e acusados pelos
detratores do Estado como assassinos de
Sócrates, um sábio
Apologia
Significa: defesa, elogio, justificativa e louvor
• Platão  428/27 aC, morreu 348/7 aC
– Sua família era rica e aristocrática
– Ele era descendente da antiga família real de Atenas (os
Medontids). 
– Seus parentes (especialmente Kritias seu primo) estavam
envolvidos no governo de ocupação do pós-guerra de Atenas
("Os Trinta Tiranos", 403 aC). 
– Ele estudou com Sócrates por cerca de 10 anos, ca. 409-399. 
• Cerca de 388 aC, ele formou seu próprio grupo de
estudiosos em Atenas, que se chamava Academia (em
honra de Apolo Akademos)
• O aluno mais famoso de Platão foi Aristóteles de Estagira
(384-322 aC). 
– Escreveu 26 diálogos e mais algumas cartas.
É também digno de
nota que
a Apologia Sócrates
nunca menciona
um juiz. 
Todos os seus
comentários são
dirigidos ao júri
Estrutura da obra
1ª. Parte: “a defesa” de Sócrates dialoga
com Meleto

2ª. Parte: “a pena” e “do esperado da pena”

3ª. Parte: após a condenação onde Sócrates


faz uma reflexão sobre as suas convicções
sobre a vida e a morte
Parte 1 - introdução e refutação
PROEMION (Introdução)
O Júri deve ser conquistado a partir de uma hostilidade
estabelecida para a Defesa 
por causa da má reputação de Sócrates
Sócrates diz que não é um orador, e na idade de 70 ele
é velho demais para aprender 
Prólogo
• A primeira frase dá o tom e a direção para todo o
diálogo. 
• Sócrates, ao abordar os homens de Atenas, afirma que
quase se esqueceu quem ele era. 
• Os discursos de seus acusadores o levaram a este
ponto. 
– O diálogo será assim uma espécie de "recordar" por
Sócrates de quem ele é. Ou seja, a Apologia se tornará
resposta de Sócrates à pergunta: "Quem é Sócrates?"
• Não sei, Atenienses, que influência
exerceram os meus acusadores em vosso
espírito; a mim próprio, quase me fizeram
esquecer quem sou, tal a força de persuasão
da sua eloquência. Verdade, porém, a bem
dizer, não proferiram nenhuma. Uma,
sobretudo, me assombrou das muitas
aleivosias que assacaram: a recomendação
de cautela para não vos deixardes embair
pelo orador formidável que sou.
• Com efeito, não corarem de me haver eu de
desmentir prontamente com os fatos, ao
mostrar-me um orador nada formidável, eis o
que me pareceu o maior dos seus
descaramentos, salvo se essa gente chama
formidável a quem diz a verdade; se é o que
entendem, eu cá admitiria que, em contraste
com eles, sou um orador. Seja como for,
repito-o, verdade eles não proferiram nenhuma
ou quase nenhuma; de mim, porém, vós ides
ouvir a verdade inteira.
• Mas não, por Zeus, Atenienses, não ouvireis discursos
como os deles, aprimorados em nomes e verbos, em
estilo florido; serão expressões espontâneas, nos termos
que me ocorrerem, porque deposito confiança na justiça
do que digo; nem espere outra coisa quem quer de vós.
Deveras, senhores, não ficaria bem, a um velho como eu,
vir diante de vós plasmar seus discursos como um
rapazola. Faço-vos, no entanto, um pedido, Atenienses,
uma súplica premente; se ouvirdes, na minha defesa, a
mesma linguagem que habitualmente emprego na praça,
junto das bancas, onde tantos dentre vós me tendes
escutado, e noutros lugares, não a estranheis nem vos
amotineis por isso.
• Acontece que venho ao tribunal pela primeira
vez aos setenta anos de idade; sinto-me,
assim, completamente estrangeiro à
linguagem do local. Se eu fosse de fato um
estrangeiro, sem dúvida me desculparíeis o
sotaque e o linguajar de minha criação; peço-
vos nesta ocasião a mesma tolerância, que é de
justiça a meu ver, para minha linguagem - que
poderia ser talvez pior, talvez melhor - e que
examineis com atenção se o que digo é justo ou
não. Nisso reside o mérito de um juiz; ou de
um orador, em dizer a verdade.
Refutação
Velhas acusações
• Sócrates não é um físico (ou seja, cosmólogo)
• Sócrates não é um sofista (ou seja, um profissional de
professores das artes dos políticos) 
• Sócrates não é um ateu: Apollo o chamou de 'sábio' Sócrates
(menção ao oráculo de Delfos)
– A Verdade do Oráculo de Delfos - Depois de "testar" a palavra do
deus, Sócrates tornou-se ciente da verdade do ditado que "Sócrates
é o mais sábio" - pode ser expressa da seguinte forma: Sócrates era
o mais sábio, porque ele era Ciente de sua ignorância. 
• A resposta de muitos para essa experiência foi a confusão e a raiva. Ao longo
dos anos, essa raiva tomou a forma de um ressentimento geral contra
Sócrates.
• Sócrates não é responsável pelo comportamento dos jovens
• Sócrates, longe de ser um corruptor da juventude
irreverente, é na verdade uma bênção enviada pelos
deuses.
• Para mostrar isso, Sócrates se compara a uma mosca,
assim como ela agita constantemente um cavalo,
prevenindo que ele se torne lento, assim também, ele
impede que as pessoas se tornem descuidadas e
intolerantes  achando que sabem alguma coisa quando
não sabem
• Em última análise, toda a vida de Sócrates foi um bem
para as pessoas (desde que o Oráculo falou dele)
• Cumpre, Atenienses, me defenda, em
primeiro lugar, das primeiras mentiras
contra mim e dos primeiros acusadores;
depois, das recentes e dos recentes.
• Com efeito, muitos acusadores tenho
junto de vós, há muitos anos, que nada
dizem de verdadeiro. A esses tenho mais
medo que aos da roda de Ânito, posto que
estes também são temíveis.
Mais temíveis, porém, senhores, são aqueles, que,
encarregando-se da educação da maioria de vós desde
meninos, fizeram-vos crer, com acusações inteiramente
falsas, que existe certo Sócrates, homem instruído, que
estuda os fenômenos celestes, que investigou tudo o que
há debaixo da terra e que faz prevalecer a razão mais
fraca.

Por terem espalhado esse boato, Atenienses, são esses os


meus acusadores; temíveis, porque os seus ouvintes
acham que os investigadores daquelas matérias não
creem tão pouco nos deuses.
Em conclusão, concordai comigo em
que meus acusadores são de duas
classes: os que acabam de acusar-me
e os do passado, a quem aludi;
admiti, também, que destes me deva
defender em primeiro lugar, pois que
a suas acusações destes ouvido
primeiro e muito mais que às dos
últimos.
• Sócrates fala de uma maneira muito simples, coloquial. 
• Ele explica que ele não tem experiência com os tribunais e
que, ao contrário, falam de maneira a que ele está
acostumado: com honestidade e franqueza. 
• Ele explica que seu comportamento decorre de uma
profecia do oráculo de Delfos, que alegou que ele era o
mais sábio de todos os homens. 
• Reconhecendo a sua ignorância, na maioria dos assuntos
mundanos, Sócrates concluiu que ele deve ser mais sábio do
que os outros homens apenas no que ele sabe que nada sabe
Oráculo de Delfos
• Bem, Atenienses, é mister que apresente minha defesa,
que empreenda delir em vós os efeitos dessa calúnia, a
que destes guarida por tantos anos, e isso em prazo tão
curto.
• Eu quisera que assim acontecesse, para o meu e para o
vosso bem, e que lograsse êxito a minha defesa;
considero, porém, a empresa difícil e não tenho a mínima
ilusão a esse respeito.
• Seja como for, que tomem as coisas o rumo que aprouver
ao deus, mas cumpre obedecer à lei e apresentar defesa.
A fim de difundir essa sabedoria peculiar, Sócrates explica
que ele considerava seu dever de questionar supostos
"sábios" homens e expor sua falsa sabedoria como a
ignorância. 
Essas atividades lhe renderam muita admiração entre os
jovens de Atenas, mas muito ódio e raiva das pessoas que
ele envergonhado. 
Ele cita o seu desprezo como a razão para ele ser levado a
julgamento.
Defesa de sua vida
• Sócrates não tem medo da morte; deserção é desonra
• Sócrates está a agir em obediência a Apollo como um homem da
ciência
• Sócrates não pode concordar com encerrar sua missão, seria
contra deus
– Devoção de Sócrates ao seu trabalho fez com que ele não fosse
politicamente ativo: seu daimon o alertou para não entrar na política. 
• Missão de Sócrates em ensinar a virtude é uma grande bênção
para Atenas. 
• Morte de Sócrates seria uma ofensa contra Apollo. 
Sócrates então passa a interrogar Meleto,
o homem o principal responsável por
trazer Sócrates perante o júri. 
Sua conversa com Meleto, no entanto, é
um mau exemplo deste método, como
parece mais voltada para embaraçar
Meleto do que para chegar à verdade.
Dize-me cá, Meleto: Dás muita importância a que os jovens sejam
melhores?
Dou, sim.
Faze, então, o favor de dizer a estes senhores quem é que os torna
melhores; evidentemente o sabes, pois que te importa. Descoberto o
corruptor, segundo afirmas, tu me conduzes à presença destes
senhores e me acusas; portanto, faze o favor de dizer quem os torna
melhores; conta-lhes quem é. Estás vendo, Meleto, que te calas e não
sabes o que dizer? Com efeito, não achas que isso é feio e prova que
não fazes o mínimo caso, como eu disse? Vamos, bom rapaz, fala;
quem é que os torna melhores?
São, as leis.
Não é isso o que estou perguntando, excelente rapaz; pergunto que
homem é, o qual, para começar, sabe exatamente isso, as leis.
As pessoas presentes, Sócrates; os juízes.
Que dizes, Meleto? Os presentes são capazes de educar os moços e os
tornam melhores?
Sem dúvida.
Todos? Ou uns sim e outros não?
Todos.
Boa notícia nos dás, por Hera! Sobram benfeitores! Que
mais? E esses da assistência os tornam melhores, ou não?
Eles também.
Que dizer dos conselheiros? - Também os conselheiros. -
Mas, então, Meleto, acaso os homens da assembleia, os
eclesiastas corrompem a mocidade? Ou eles todos também
a tornam melhor?
Também eles.
Logo, não é assim? todos os atenienses tornam os jovens
gente de bem, menos eu; eu sou o único a corrompê-la! É
isso o que dizes?
Exatamente Isso é o que digo
Que imensa desgraça apontas em mim!
Responde também a esta pergunta: no teu entender, com os
cavalos sucede o mesmo? Toda gente os melhora e um só
os vicia? Ou se dá inteiramente o contrário: quem os sabe
melhorar é um só, ou muito poucos, os adestradores; a
maioria, quando trata de cavalos e os monta, vicia-os?
Não é assim, Meleto, com os cavalos e com todos os outros
animais?
Que bom para os moços, se há um só a corrompê-los e os
outros todos a fazer-lhes bem! Ora, Meleto, estás dando
provas acabadas de que nunca te preocupaste com a
mocidade e revelando claramente a tua indiferença para
com o crime de que me acusas!
• Sócrates é considerado culpado por uma margem estreita e é
convidado a propor uma pena. 
• Sócrates sugere brincando que se fosse para conseguir o que ele
merece, ele deveria ser homenageado com uma grande refeição
por ser esse tipo de serviço ao Estado. 
• Em uma nota mais séria, ele rejeita prisão e exílio,
oferecendo talvez em vez de pagar uma multa. 
• Quando o júri rejeita sua sugestão e sentenças à morte, Sócrates
estoicamente aceita o veredicto com a observação de que
ninguém, mas os deuses sabem o que acontece após a morte e
por isso seria tolice temer o que não se sabe. 
• Ele também adverte os jurados que votaram contra ele que,
silenciando a sua crítica ao invés de ouvi-lo, eles
prejudicaram a si mesmos muito mais do que o prejudicado.
Sustenta-o uma certeza: mais difícil que evitar a morte é
"evitar o mal, porque ele corre mais depressa que a morte".
Quanto a esta, apenas pode ser uma destas duas coisas: “
aquele que morre é reduzido ao nada e não tem mais qualquer
consciência, ou então, conforme ao que se diz, a morte é uma
mudança, uma transmigração da alma do lugar onde nos
encontramos para outro lugar. Se a morte é a extinção de todo
sentimento e assemelha-se a um desses sonos nos quais nada se
vê, mesmo em sonho, então morrer é um ganho maravilhoso.
(...). Por outro lado, se a morte é como uma passagem daqui
para outro lugar, e se é verdade, como se diz, que todos os
mortos aí se reúnem, pode-se, senhores juízes, imaginar maior
bem?".
Apoiado nessas hipóteses – as únicas existentes a respeito
de um fato que não permite certezas racionais -, o
septuagenário Sócrates despede-se, tranqüilo, de seus
concidadãos: "Mas eis a hora de partirmos, eu para a
morte, vós para a vida. Quem de nós segue o melhor
rumo, ninguém o sabe, exceto o deus".
Parte 2
A condenação e penas alternativas
• Sócrates é condenado culpado por uma margem de
cerca de 30 votos. A pena proposta é a morte por
cicuta. 
• Neste ponto, Sócrates tem a oportunidade de propor
uma pena alternativa  argumenta que desde que a
pena deve ser algo que ele merece, e desde que ele
passou sua vida livremente oferecer seus serviços para
a cidade, ele merece refeições gratuitas para o resto de
sua vida.
Discursos finais
Para aqueles que votaram em sua morte  Na sua
idade de 70, a morte teria logo chegou naturalmente. 
Mas agora essas pessoas vão ter a responsabilidade de
tê-lo mandado matar
Ele diz que ele poderia ter vencido o seu caso se ele
tivesse apelado aos sofismas, mas ele preferiu falar a
verdade.
Ele profetiza que haverá outros para tomar seu
lugar. Não é a pessoa que está em questão aqui,
mas a atividade da própria filosofia.
O resultado deve ser para o bem. Afinal, a morte
é uma das duas coisas: um sono profundo ou uma
mudança de lugar.
• Se ele fosse para entrar no Hades, por outro lado, ele
teria a oportunidade de conhecer todos os grandes
pensadores gregos e heróis. E aqui ele poderia
perguntar-lhes as mesmas perguntas que ele pediu os
homens de Atenas.
• Então ele tem de forma alguma foram prejudicados,
pois ele quer dormir em paz ou continuar falando.
Eles o julgaram esquecendo que um dia também
seriam, pois na realidade eles é que estavam errados,
julgando um homem justo.

Porque fazem isso comigo na esperança de


não ter que prestar contas de suas vidas, mas
lhes digo que o resultado será bem diferente.
Aqueles que irão forçá-los a prestar contas
serão em número bem maior do que o foram
até aqui...”
Eu nunca fui mestre de ninguém, conquanto nunca
me opusesse a moço ou velho
que me quisesse ouvir no desempenho de minha tarefa.
Tampouco falo se me pagam, e se não pagam, não;
estou igualmente à disposição do rico e do pobre,
para que me interroguem ou, se preferirem ser interrogados,
para que ouçam o que digo.
Se algum deles vira honesto ou não,
não é justo que eu responda pelo que
jamais prometi nem ensinei a ninguém.
Platão indica que a maioria dos juízes votaram a favor
da pena de morte, mas ele não indica exatamente
como muitos o fizeram. 
Nossa única fonte para os números reais desses votos
é Diógenes Laércio, que diz que mais 80 votaram a
favor da pena de morte que tinha votado por culpa de
Sócrates
os detalhes dessa conta foram contestados.  
outros concluíram a partir disso que discurso de Sócrates
irritou o júri. 
Sócrates responde agora ao veredicto. Ele
primeiro se destina àqueles que votaram para a
morte.
Ele alega que não é a falta de argumentos, que
resultou em sua condenação, mas sim falta de
tempo e sua recusa a vergar-se aos apelos
emotivos habituais esperados de qualquer réu
diante da morte.
Mais uma vez ele insiste que a perspectiva
da morte não absolve alguém de perseguir o
caminho da bondade e da verdade.
Sócrates profetizou que os críticos mais jovens
ainda o seguiriam, o que se constituiria num
vexame
Para aqueles que votaram por sua absolvição,
Sócrates dá-lhes encorajamento
Ele diz que seu daimon não o impediu de
realizar sua defesa da forma que ele fez, que
este era um sinal de que era a coisa certa a
fazer.
Parte 3
A terceira parte da Apologia pretende ser a
transcrição das últimas palavras endereçadas por
Sócrates aos que haviam acabado de condená-lo
a morrer bebendo cicuta. Em sua alocução, a
mesma serenidade, o mesmo tom altaneiro:
"Não foi por falta de discursos que fui
condenado, mas por falta de audácia e porque
não quis que ouvísseis o que para vós teria
sido mais agradável, Sócrates lamentando-se,
gemendo, fazendo e dizendo uma porção de
coisas que considero indignas de mim, coisas
que estais habituados a escutar de outros
acusados".
Desta forma, o seu daimon foi mesmo
dizendo-lhe que a morte deve ser uma bênção. 
Para tanto, é uma aniquilação (assim trazer a
paz eterna de todas as preocupações, e,
portanto, não algo para ser verdadeiramente
medo) ou uma migração para um outro lugar
para encontrar almas de pessoas famosas,
como Hesíodo e Homero e heróis
como Ulisses 
Com elas, será uma alegria para continuar a
prática do diálogo socrático.
Sócrates conclui sua Apologia com a
alegação de que ele não tem qualquer
rancor contra aqueles que acusado e
condenado, e pede-lhes para cuidar de
seus três filhos à medida que crescem,
garantindo que eles colocaram bem
antes de interesses egoístas.
Sócrates deixou os juízes e foi para a
prisão, teve que esperar mais de um mês a
morte no cárcere, pois uma lei vedava as
execuções capitais durante a viagem
votativa de um navio sagrado a Delos.
Se tivesse dinheiro, estipularia uma multa de minhas posses;
não sofreria nada com isso.
Infelizmente, não tenho mesmo,
salvo se quiserdes estipular tanto quanto possa pagar.
Talvez vos possa pagar uma mina de prata;
é quanto estipulo, portanto.
Mas aí está Platão, Atenienses, com Críton, Critobulo e
Apolodoro, mandando que estipule trinta minas, sob sua fiança.
Estipulo, pois, essa quantia; serão fiadores da soma essas
pessoas idóneas.
Este navio sagrado ía todos os anos à ilha natal
de Apolo para celebrar a ajuda que o Deus
Apolo havia dado a Teseu para vencer um
minotauro (monstro) que obrigou durante anos
Atenas a pagar um cruel tributo.
A lei exigia que nenhuma execução tivesse
lugar antes do regresso do navio. Por isso,
Sócrates ficou a ferros 30 dias, sobre custódia
dos Onze, magistrados encarregados, em
Atenas, da polícia e da administração
penitenciária.
 Durante estes 30 dias recebeu os seus amigos e conversou
com eles.
Uma manhã o discípulo Criton preparou e propôs a fuga ao
Mestre, porém Sócrates recusou, declarando não querer
absolutamente desobedecer às leis da pátria.
E passou o tempo preparando-se para o passo extremo em
palestras espirituais com os amigos.
Especialmente famoso é o diálogo sobre a imortalidade da
alma que se teria realizado pouco antes da morte e foi
descrito por Platão no Fédon com arte incomparável.
 Após 3 dias a proposta de Críton, deu-se o dia da
execução. Estiveram presentes todos os amigos de
Sócrates exceto Aristipo, Xenofonte (estava na Ásia) e
Platão (estava doente),  Xantipa e seus filhos. 
Recusou ser vestido depois de morto por uma rica túnica que
Apolodoro lhe havia trazido, preferia o seu manto que havia
sido suficientemente bom até ali e que continuaria a sê-lo
depois da sua morte.
Passou os seus últimos momentos a conversar sobre a
imortalidade da alma.
Tomou um banho, e antes que o sol tivesse
inteiramente desaparecido no horizonte pediu o
veneno.
Críton argumentou proferindo que Sócrates ainda tinha
tempo pois o sol ainda ía sobre as montanhas.
No entanto Sócrates não quis adiar o inevitável uma
vez que não valia apena economizar quando já não lhe
sobrava mais nada.
Pediu o veneno e pegou na taça de cicuta com uma mão
firme e bebeu sem desgosto nem hesitação até ao fundo.
Fédon: a imortalidade da alma
Então responde-me, se -Existe.

puderes: qual é a coisa que, -Qual é?

entrando num corpo, o torna -A morte.

vivo? -Não é verdade que a alma jamais

-A alma. aceitará o contrário do que ela traz


consigo?
-Mas é sempre assim? -Decididamente!
-Como não! -(...) Bem, e ao que não admite a
-Portanto a alma, empolgando morte como chamaremos?
-Imortal.
uma coisa, sempre traz vida
-A alma não admite a morte, não
para essa coisa?
é?
-Sempre traz vida!
-É.
-Existe um contrário da vida, -Logo, a alma é imortal?
ou não? -É imortal!
• E antes de chegar o momento de partir, Sócrates fez uma
petição: “Punam meus filhos quando eles crescerem,
senhores, perturbando-os como eu perturbei vocês, caso
lhes pareça que eles se preocupam menos com a virtude
do que com o dinheiro ou outra coisa qualquer e pensam
ser mais do que são, repreendam-nos como eu repreendi
vocês por se preocuparem com o que não deveriam e
acharem que significam alguma coisa quando não valem
nada. Se fizerem isso, tanto eu quanto meus filhos
teremos recebido o justo tratamento”.
• O que ele quis dizer é que às vezes é necessário escutarmos
um “não”, e aprender que determinadas coisas são fúteis, e
que não nos trazem conteúda algum. E que dessa forma seus
filhos estariam sendo educados segundo a verdade, a qual,
Sócrates ensinou e praticou esse ideal de vida até o momento
de sua morte.    
Sócrates não tinha medo da morte porque sabia que o
verdadeiro julgamento estaria por vir, seria julgado por
juízes corretos após a morte.

“ ...Se a morte é, por assim dizer, uma mudança de


casa daqui para algum outro lugar e se, como afirmam,
todos os mortos estão lá, que benção maior poderia
existir, juízes? Pois se ao chegar no outro mundo,
deixando para trás os que se disseram juízes, o homem
vai encontrar os verdadeiros juízes que ali se reuniram
em julgamento...”
A maneira mais fácil e mais segura de vivermos
honradamente, consiste em sermos, na realidade, o que
parecemos ser.
Há quatro características que um juiz deve possuir: escutar
com cortesia, responder sabiamente, ponderar com
prudência e decidir imparcialmente.
Só sei que nada sei, e o fato de saber isso, me coloca em
vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa
O poder se torna mais forte quando ninguém pensa
A mentira nunca vive o suficiente para envelhecer
Melhor fazer um bem pequeno, do que um grande mal.
Eu não me importo que as pessoas dizem sobre mim.
Eu me importo com os meus erros.
Referências
 APOLOGIA DE SÓCRATES (excertos) in
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/protagoras/links/apol_soc.htm
 COMMENTARY ON PLATO'S Apology of Socrates In.
http://www.friesian.com/apology.htm
 MADJAROF, ROSANA. Introdução à Apologia de Sócrates. In.
http://www.mundodosfilosofos.com.br/socrates1.htm
 MARROW, Daniel. The apology of Socrates- defense In.
http://www.ancientgreece.com/essay/v/the_apology_socrates_defensePLATÃO.
Apologia de Sócrates. São Paulo:Saraiva. 2011
 PESSANHA. J.A.MOTTA. Comentário Sobre A "Apologia De Sócrates” In
"Sócrates", coleção "Os Pensadores", Editora Nova Cultural, 1987, pág. VIII a XI. In
http://www.cefetsp.br/edu/eso/filosofia/comentarioapologia.html
 SPARK NOTES. Apology. In.
http://www.sparknotes.com/philosophy/apology/summary.html

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