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instituto de filosofia e ciências humanas .

departamento de história

H U M 03034
Oficina de leitura e escrita de textos históricos
2021/I . turma b . professor anderson zalewski vargas.

ENSINO e CORRUPÇÃO DA JUVENTUDE


alguns excertos de fontes greco-romanas antigas

NA GRÉCIA
na DEFESA DE SÓCRATES, de Platão1
“Mais temíveis, porém, senhores, são aqueles, que, encarregando-se da
educação da maioria de vós desde meninos, fizeram-vos crer, com
acusações inteiramente falsas, que existe certo Sócrates, homem
instruído, que estuda os fenômenos celestes, que investigou tudo o que
há debaixo da terra e que faz prevalecer a razão mais (18c) fraca. Por terem
espalhado esse boato, Atenienses, são esses os meus acusadores
temíveis, porque os seus ouvintes acham que os investigadores
daquelas matérias não crêem tampouco nos deuses. Depois, esses
acusadores são numerosos e vêm acusando há muito tempo; mais ainda,
falavam convosco na idade em que mais crédulos podíeis ser, quando
alguns de vós éreis crianças ou rapazes, e a acusação era feita a
inteira revelia, sem defensor algum. (...)
“Na realidade, não têm fundamento nenhum essas balelas; tampouco
falará verdade quem vos disser que ganho (19e) dinheiro lecionando. Sem
embargo, acho bonito ser capaz de ensinar, como Górgias de Leontino,4
Pródico de Ceos e Hípias de Élis. Cada um deles, senhores, é capaz de ir de
cidade em cidade, persuadindo os moços – que podem frequentar um de
seus concidadãos a sua escolha e de graça – a deixarem essa companhia e
virem (20a) para a sua, pagando e ficando-lhes, ainda, agradecidos.(...)
“Além disso, os moços que espontaneamente me acompanham – e são os
que dispõem de mais tempo, os das famílias mais ricas - sentem prazer em
ouvir o exame dos homens; eles próprios imitam-me muitas vezes; nessas
ocasiões, metem-se a interrogar os outros; suponho que descobrem uma
multidão de pessoas que supõem saber alguma coisa, mas pouco sabem,
quiçá nada Em consequência, os que eles examinam se exasperam contra
mim e não contra si mesmos, e propalam que existe um tal Sócrates, (23d)

1
Tradução de Jaime Bruna (com adaptações) São Paulo: Abril Cultural, Coleção Os
Pensadores, 1980. Disponível em: encurtador.com.br/GMX47. Acesso em 17 nov. 2021.
1
um grande miserável, que corrompe a mocidade. Quando se lhes pergunta
por quais atos ou ensinamentos, não têm o que responder; não sabem,
mas, para não mostrar seu embaraço, aduzem aquelas acusações contra
todo filósofo, sempre à mão: ‘os fenômenos celestes – o que há sob a terra
a descrença dos deuses – o prevalecimento da razão mais fraca’. "

EM ROMA
no DE RHETORIBUS, DE SUETÔNIO2
“XXV – 1 A retórica também foi recebida entre nós do mesmo modo que a
gramática, tardiamente e ainda com um pouco mais de dificuldade, com
efeito, essa consta, não raro, até ter sido proibida de ser exercida. Para
que isso a ninguém seja duvidoso, acrescentarei um antigo
senatoconsulto, e também um édito dos censores: “no consulado de C.
Fânio Estrabão e M. Valério Messala3, o pretor M. Pompônio consultou o
senado. Uma vez que a pauta foi feita a respeito dos filósofos e dos
rétores, sobre este assunto assim decidiram que o pretor M. Pompônio
repreendesse e cuidasse de que do ponto de vista do bem da república e
da sua fidelidade lhe parecesse que não devessem estar em Roma”.
Sobre os mesmos, transcorrido um tempo, os censores Cn. Domício
Aenobarbo e L. Licínio Crasso assim proclamaram este édito4: “Foi
relatado a nós haver homens que instituíram um novo gênero de
disciplina, aos quais a juventude se reuniria em uma escola: estes se
autodenominaram rétores Latinos. Lá os jovens ainda rapazinhos passam
dias inteiros desocupados. Os nossos antepassados instituíram o que
gostariam que os seus descendentes aprendessem e a quais escolas
frequentassem, estas inovações, que se fazem contra o hábito e o
costume dos antepassados, nem agradam e nem parecem corretas; por
isso, tanto para estes que possuem estas escolas, quanto para aqueles
que se acostumaram a ir para lá, parece que o que se deve fazer é anunciar
a nossa sentença: a nós não agradam”.
2 Paulatinamente, a própria retórica mostrou-se útil e honesta, e muitos
a procuraram tanto por causa de defesa quanto de glória. 3 Cícero até a
pretura declamou continuamente ainda em grego, em latim, de certo,
também até mais velho, e seguramente com os cônsules Hírcio e Pansa,
aos quais ele chamava de ‘discípulos e grandes pretextados’. “

2
COSTRINO, Artur. De Rhetoribus de Suetônio. Classica - Revista Brasileira De Estudos
Clássicos, Vol. 27, nº 2, p. 257–270, 2014 Disponível em: .
https://doi.org/10.24277/classica.v27i2.320. Acesso em 17 nov. 2021.
3
c. 161 AEC.
4
c. 92 AEC.
2

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