Você está na página 1de 2

A MORTE DE SÓCRATES

Sabe qual foi a acusação a Sócrates?

ATEÍSMO.

Foi isso.

Ele acreditava em deuses... Mas outros, não os de Atenas. A um escroque que queria
aprender as ideias de Sócrates para driblar seus credores, Estrepsíades, ele disse que
“Zeus não existe”, e os únicos deuses eram “o Caos, a Respiração e o Ar”. Mas ateísmo
não era crime, na Grécia Antiga. Pelo contrário, a cidade se orgulhava de admitir todas
as correntes de pensamento.

Já asebeia (ἀσέβεια) era um crime grave, caracterizado pela "irreverência, profanação e


zombaria do panteão dos deuses do Estado". Em suma, “impiedade”. A piedade, a
“eusebeia”, era o que se desejava e esperava de um cidadão. Ser classificado pelo
tribunal como ímpio (ἀσεβής) já seria uma forma de punição. Um cidadão ímpio era
desprezível.

Meleto (ou Melitus... cada povo dá sua grafia) foi quem apresentou a acusação:
“Sócrates é culpado  do crime de não reconhecer os deuses reconhecidos pelo Estado e
introduzir divindades novas; é ainda culpado de corromper a juventude. Punição
pedida: a morte”.

O tribunal era formado por 501 cidadãos. Os acusadores eram Meleto, Ânito e Lícon.
Meleto representava a classe dos poetas e adivinhos. Era um poeta pouco conhecido.
Lícon representava a classe dos oradores e professores de retórica. Ânito representava a
classe dos políticos. Era tanoeiro e um líder democrático rico e influente que defendia
os interesses dos comerciantes e industriais. Ânito e Lícon tinham filhos discípulos de
Sócrates.

Há historiadores que consideram que Sócrates não queria ser absolvido, pois ele
ridicularizava e expunha a falsidade da pretensa liberdade de expressão de que Atenas
se orgulhava. Se fosse absolvido, ficaria comprovado que havia liberdade de expressão.
Se fosse condenado por suas ideias, ficaria demonstrado que de fato não havia essa
liberdade.

Sócrates nunca escreveu nada; quem escreveu foram seus discípulos Platão e
Xenofonte. Ele só falava e pensava.... E fazia pensar. Fazia mais perguntas do que
afirmações. Então, em sua defesa, perguntou a Meleto quem eram os bons cidadãos de
Atenas. Meleto citou os juízes, em primeiro lugar. Depois, concluiu que todos os
atenienses eram bons cidadãos e contribuíam para melhorar acidade – exceto Sócrates.

Sócrates congratulou Atenas por ser tão afortunada, pois é melhor ter bons cidadãos do
que ter maus cidadãos. Disse que os bons cidadãos são incorruptíveis, portanto não era
possível que ele os corrompesse os bons cidadãos. Se ele tentava corromper, sem
conseguir, ele não tinha cometido um crime. Só teria a intenção. Deveria ser orientado e
não punido. Mas na verdade não tinha essa intenção.

Disse também que havia muitos discípulos seus entre os presentes, e poderiam atestar
que não foram corrompidos. Mas não tinham sido chamados para testemunhar
(testemunho ainda era levado a sério, naquele tempo.... Como não havia câmeras de
vídeo nem gravações, o testemunho era considerado. Não era como hoje, em que
testemunho não prova nada. Só flagra filmado ou gravado).

Era usual apresentar os filhos chorando, para defender os pais acusados. Sócrates se
recusou a fazer isso, dizendo que essa cena ridicularizava a cidade e o acusado. Ele não
queria pedir clemência, queria demostrar que não era culpado de crime nenhum.

O acusado poderia propor a pena que considerasse justa. Sócrates propôs


uma multa de trinta minas. O tribunal considerou o valor ridículo.

     

                                                                                                                                              
                                                                        

Você também pode gostar